Inteiroteor 1747959
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(Da Sra. Deputada Federal CHRIS TONIETTO e do Sr. Deputado FILIPE BARROS)
Art. 1º Fica revogado o art. 128 do Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal).
JUSTIFICAÇÃO
A Constituição Federal, em seu artigo 5º, caput1, estabelece, como um dos seus princípios
basilares, o direito inviolável à vida, sendo certo que o Código Civil Brasileiro (Lei nº 10.406/2002)
dispõe, em seu artigo 2º, que ―a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro‖.
1
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
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No Direito Penal, quando há dúvida quanto à inocência de uma pessoa, aplicasse-lhe o princípio
do in dubio pro reo. Então, por analogia, se, em situação hipotética, houvesse dúvida sobre o início da
vida, jamais lhe seria permitido conceber o ―direito de matar‖, mas deveria ser aplicado o in dubio pro
nascituro.
Ocorre que não há dúvida quanto ao marco inicial da vida humana que, por evidência científica,
começa na concepção. Portanto, segundo a intelecção do próprio Ministro supracitado, ao legislador
cabe acompanhar o que a ciência atesta sobre o início da vida humana para a garantia de sua proteção
integral.
Nos artigos 124 a 127 do Diploma Repressor, resta tipificado o crime de aborto que está dentro
do Título I da sua Parte Especial, a qual versa sobre os crimes contra a pessoa e, da mesma maneira,
está dentro do Capítulo I que trata dos crimes contra a vida. Sendo assim, não pairam quaisquer dúvidas
de que, desde o advento do Código Penal em 1940, o próprio legislador sempre considerou o nascituro
como pessoa humana.
2. A personalidade do nascituro
E mais ainda, em seu artigo 3º: ―toda pessoa (ou seja, ―todo ser humano‖ para os efeitos da
Convenção – art. 1º. n. 2) tem direito ao reconhecimento de sua personalidade jurídica‖. Note-se que o
direito de ser reconhecido como pessoa é dado a todo ser humano, sem distinção da vida intra ou
extrauterina.
2
A cláusula ―em geral‖ só pode ser interpretada como generalização e não como excepcionalização. Pois se todo ser humano é pessoa (cf. art.
3º), não pode haver ser humano sem direito à vida.
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Se o nascituro é pessoa, e isso foi declarado por uma Convenção que tem status supralegal,
―estando abaixo da Constituição, porém acima da legislação interna‖ (acórdão do RE 349703/RS,
publicado em 05/06/2009), segue-se que não há lugar no Brasil para nenhum aborto ―legal‖.
Na opinião do Ministro Ayres Britto, relator da ADI 3510 (sobre a destruição de embriões
humanos para fins de pesquisa e terapia), a proibição do aborto não significa ―o reconhecimento legal
de que em toda gravidez humana já esteja pressuposta a presença de pelo menos duas pessoas: a da
mulher grávida e a do ser em gestação‖. Leiamos com atenção como prossegue o Ministro: ―Se a
interpretação fosse essa, então as duas exceções dos incisos I e II do art. 128 do Código Penal seriam
inconstitucionais, sabido que a alínea a do inciso XLVII do art.5º da Magna Carta Federal proíbe a
pena de morte (salvo „em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX‟)3”. Faltou ao Ministro
dizer que o que para ele era apenas uma hipótese é uma realidade. O direito brasileiro reconhece a
presença de duas pessoas: a da gestante e a da criança por nascer. Logo, qualquer “direito” ao aborto
é inconstitucional.
À mesma conclusão chega Ronald Dworkin, ardente defensor da sentença Roe versus Wade,
que em 1973 declarou constitucional o direito ao aborto nos EUA (graças a uma falsa alegação de
estupro, conforme depois confessou Norma McCorvey, protagonista do caso4). Segundo esse pensador,
a decisão da Suprema Corte norte-americana baseia-se fundamentalmente sobre a tese de que a criança
por nascer não é pessoa. Repetidas vezes em seu livro ―Domínio da vida‖5, o autor afirma que, se o
nascituro (que ele costuma chamar de ―feto‖) fosse pessoa, o aborto seria inadmissível em todos os
casos, inclusive em ―estado de necessidade‖ ou em caso de gravidez resultante de estupro. Leiamos
algumas de suas passagens: ―Em termos morais e jurídicos, é inadmissível que um terceiro, como um
médico, mate uma pessoa inocente mesmo quando for para salvar a vida de outra‖ (p. 131). ―Do ponto
de vista de que o feto é uma pessoa, uma exceção para o estupro é ainda mais difícil de justificar do que
uma exceção para proteger a vida da mãe. Por que se deve privar o feto de seu direito a viver e obrigá-
lo a pagar com a própria vida [por] um erro cometido por outra pessoa?” (p. 132). Criticando aqueles
que não aceitam o aborto quando o bebê foi fruto de uma relação sexual voluntária, mas o aceitam
quando ele foi concebido em um estupro, o autor afirma: ―Sem dúvida, a diferença não seria de modo
algum pertinente, como afirmei, se o feto fosse uma pessoa com direitos e interesses próprios, pois tal
pessoa seria completamente inocente a despeito de qual fosse a natureza ou a intensidade da culpa de
sua mãe‖ (p. 134).
Pelo que se percebe, o ponto vulnerável dos defensores do aborto, o seu ―calcanhar de Aquiles‖,
é a personalidade jurídica do nascituro. Demonstre-se que nascituro é pessoa e todo o edifício abortista
3
ADI 3510. Voto do relator, 5 mar. 2008, n. 28, p. 32.
4
Cf. WALDMAN, Steven, CARROL, Ginny. Roe v. Roe. Newsweek, Nova York, 21 Aug. 1995, p. 24.
5
DWORKIN, Ronald. Domínio da vida: aborto, eutanásia e liberdades individuais. São Paulo: Martins Fontes, 2003
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desaba. Ora, como o nascituro é pessoa – e isto não é algo ―de lege ferenda‖, mas pertencente ao atual
direito interno brasileiro – não há lugar para nenhuma das hipóteses do artigo 128 do Código Penal,
se forem interpretadas com excludentes de antijuridicidade.
Nem todos entendem a importância da vigência do Pacto de San José da Costa Rica em nosso
ordenamento jurídico. O célebre jurista Ricardo Dip, hoje desembargador do TJSP, na época juiz de
direito do antigo TACrimSP, já dizia em um acórdão:
―Em boa hora se vem invocando nos Pretórios o Pacto de São José de Costa
Rica (Convenção Americana sobre Direitos Humanos), que se fez direito
interno brasileiro, e que, pois, já não se configura, entre nós, simples meta ou
ideal de lege ferenda. É mesmo reclamável seu cumprimento integral, porque
essa Convenção foi acolhida sem reservas pelo Estado brasileiro. Parece que
ainda não se compreendeu inteiramente o vultoso significado da adoção do
Pacto entre nós: bastaria lembrar, a propósito, pela vistosidade de suas
consequências, que seu art. 2º modificou até mesmo conceito de pessoa
versado no art. 4º do Código Civil6, já que, atualmente, pessoa, para o direito
posto brasileiro, é todo ser humano, sem distinção de sua vida extra ou
intrauterina. Projetos, pois, destinados a viabilizar a prática de aborto direto
ou a excluir antijuridicidade para a prática de certos abortamentos voluntários
conflitam com a referida Convenção (Habeas Corpus n.º 323.998/6, TAcrim-
SP, 11ª Câm., v. un., Rel. Ricardo Dip, j.29.6.1998)‖.
Diz o artigo 128 do atual Código Penal, que este projeto pretende revogar:
Uma simples leitura atenta do artigo 128 do Código Penal bastaria para concluir que nele não
está contido um direito de abortar, mas tão-somente uma não aplicação da pena após o fato já
consumado. A expressão ―não se pune‖, que inicia o caput do artigo, não nos permite ir além.
Eis o que ensina o já citado mestre Ricardo Dip: ―Está a cuidar-se das chamadas escusas
absolutórias, causas que, excluindo a pena, deixam subsistir, contudo, o caráter delitivo do ato a que ela
6
Na época, estava em vigor o Código Civil de 1916. O artigo 4º do antigo Código corresponde ao artigo 2º do Código de 2002, atualmente em
vigor.
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se relaciona‖7. No mesmo sentido leciona Walter Moraes: ―Quanto ao aborto, a lei diz ‗não se pune‘.
Suprime a pena. Fica o crime‖.8 É o que diz ainda Maria Helena Diniz:
O art. 128, I e II, do Código Penal está apenas autorizando o órgão judicante a não
punir o crime configurado, por eximir da sanção o médico que efetuar prática abortiva
para salvar a vida da gestante ou para interromper gestação resultante do estupro. Tal
isenção não elimina o delito, nem retira a ilicitude da ação danosa praticada.
Suprimida está a pena, mas fica o crime. 9
Demais disso, convém lembrar, logo de imediato, que o art. 128, CP, e seus incisos,
não compõem hipóteses de descriminalização do aborto. Naquele artigo, não está
afirmado que „não constitui crime‟ o aborto praticado por médico nas situações dos
incisos I e II. O que lá está dito é que „não se pune‟ o aborto nas circunstâncias
daqueles incisos. Portanto, em nossa legislação penal, o aborto é e continua crime,
mesmo se praticado por médico para salvar a vida da gestante e em caso de estupro, a
pedido da gestante ou de seu responsável legal. Apenas - o que a legislação
infraconstitucional pode e deve fazer, porque a Constituição, como irradiação de
grandes normas gerais, não é código e nem pode explicitar tudo - não será punido
penalmente, por razões de política criminal. 10
No entanto, ainda que haja uma mera não aplicação da pena, é necessário que haja razões de
política criminal. Tais razões existem?
É difícil imaginar o caso em que a morte do bebê, por si só, ―cause‖ a salvação da vida da
gestante, seja um ―meio‖ utilizado para curá-la. Na verdade, a morte do nascituro não traz benefício
algum para a gestante. Convém citar esta frase lapidar da Academia de Medicina do Paraguai (1996):
7
Ricardo Henry Marques DIP. Uma questão biojurídica atual: a autorização judicial de aborto eugenésico: alvará para matar. Revista dos
Tribunais, dez. 1996. p. 531
8
Walter MORAES, O problema da autorização judicial para o aborto. Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo, mar./abr. 1986. p.21.
9
Maria Helena DINIZ, O estado atual do biodireito, 2. ed. aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei 10.406, de 10-01-2002). São
Paulo: Saraiva, 2002, p. 56.
10
Marco Antônio Silva LEMOS, O Alcance da PEC 25/A/95. Correio Braziliense, 18 dez. 1995, Caderno Direito e Justiça, p. 6.
11
ACADEMIA DE MEDICINA DEL PARAGUAY. Declaración aprobada por el Plenario Académico Extraordinario en su sesión de 4 jul.
1996, tradução nossa.
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A insistência de certos médicos em indicar o aborto como ―meio‖ — e até como ―único meio‖
— para se salvar a vida de uma gestante parece derivar de uma espécie de crendice. Analisemos o
exemplo análogo, retirado da Química:
Ácidos e bases neutralizam-se mutuamente, produzindo um sal e água. Assim, uma solução de
ácido clorídrico (HCl) é neutralizada por uma solução de hidróxido de sódio (NaOH), produzindo
cloreto de sódio (NaCl) e água (H2O).
HCl + NaOH NaCl + H2O
Imagine-se agora que, alguém, por acidente, tenha deixado derramar ácido clorídrico em sua
pele. Suponha-se que um químico, presente no laboratório, levado pela convicção de que um ácido é
neutralizado por uma base, aplicasse sobre a pele corroída da vítima uma solução de hidróxido de sódio
(soda cáustica). O resultado seria, não um alívio, mas um agravamento da corrosão.
Da mesma forma, diante do fato de que certas doenças se tornam mais complicadas com a
gravidez, há médicos que, à semelhança do químico do exemplo anterior, acreditam que o aborto fará
―desengravidar‖ a paciente, levando-a ao estado anterior à concepção do filho. Segundo Alberto Raul
Martinez, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (SP), em depoimento de 1967,
―(...) deve-se levar em conta que a reação mais comum do médico não afeito à
especialidade ginecológica, quando a prenhez ocorre em uma de suas
pacientes já afetadas por problema físico ou mental, é a de que a remoção da
gestação poderia simplificar a questão‖.12
Isso, porém, não ocorre. O aborto é uma prática tão selvagem que, além de condenar à morte um
inocente, agrava o estado de saúde da gestante enferma.
Sobre este assunto, convém citar a célebre aula inaugural ―Por que ainda o aborto terapêutico?‖
do médico-legal João Batista de Oliveira Costa Júnior para os alunos dos Cursos Jurídicos da Faculdade
de Direito da USP de 1965:
12
Apud João Evangelista dos Santos ALVES et al. Aborto: o direito do nascituro à vida, Rio de Janeiro: Agir, 1982, p. 85.
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A acusação é gravíssima. Segundo Costa Júnior, nunca ocorre o caso em que o aborto é
necessário para salvar a vida da gestante. O objetivo de se manter a impunidade em tal caso é, para ele,
única e exclusivamente, ocultar os verdadeiros e inconfessáveis motivos do aborto.
Em sua magnífica aula, Costa Júnior refuta, uma por uma, as principais ―indicações‖ para o
aborto terapêutico: nas cardiopatias, na hipertensão arterial, na tuberculose pulmonar, nas perturbações
mentais e nos vômitos incoercíveis. A título de ilustração, reproduzimos um trecho de sua argumentação
contra o aborto em gestantes tuberculosas:
13
João Batista de O. COSTA JÚNIOR, Por quê, ainda, o abôrto terapêutico? Revista da Faculdade de Direito da USP, 1965, volume IX, p.
314-329.
14
Ibidem, p. 315-316.
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Como, pois, conciliar o aborto terapêutico com a legislação penal ante esses
resultados, quando o previsto legalmente é para salvar a vida ou, segundo
outros códigos, também preservar a saúde da gestante, e não para aumentar o
índice de mortalidade ou a percentagem dos malefícios?15
A conclusão a que chegou Costa Júnior não difere daquela a que chegaram quatro médicos, em
1982, após consulta a colegas de várias especialidades: cardiologia, pneumologia, nefrologia,
psiquiatria, endocrinologia, metabiologia, hematologia, bioquímica, farmacologia, ginecologia e
obstetrícia. A obra foi laureada com o Prêmio Genival Londres, em 30 de julho de 1982, pela Academia
Nacional de Medicina. No capítulo final, intitulado ―Comentários e Conclusões‖ lê-se:
Na verdade, poder-se-ia dizer ironicamente que existem casos em que o aborto é ―necessário‖.
Vejamos:
1. Quando a bolsa amniótica se rompe antes da hora e a criança ainda está bem imatura, as
bactérias entram e começam um processo infeccioso. É perfeitamente possível para os bons médicos,
fiéis ao juramento de Hipócrates, controlar a infecção por meio de antibióticos e esperar que a criança
morra naturalmente, para só depois expulsá-la do útero materno. Mas isso despende tempo e trabalho.
Em vez de monitorar, com sucessivas ecografias, os batimentos cardíacos do bebê e esperar
pacientemente pela sua morte, é mais cômodo aplicar um comprimido de misoprostol no canal vaginal a
fim de induzir o aborto. Afinal, se o bebê vai morrer, por que não podemos logo matá-lo? Este é um
caso em que o aborto é ―necessário‖ para evitar trabalhos com uma criança por eles considerada indigna
de respeito e para estimular o pragmatismo na medicina.
2. Em uma gravidez ectópica, quando a criança se implanta não no útero (que é o seu lugar
natural), mas, por exemplo, na trompa de Falópio, é perfeitamente possível aos bons médicos adotar
15
Ibidem, p. 322. Acrescentamos o ponto de interrogação, que está faltando no original, sem dúvida por erro tipográfico.
16
João Evangelista dos Santos ALVES et al., Aborto: o direito do nascituro à vida, Rio de Janeiro: Agir, 1982, p. 135-136.
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uma conduta de espera. Em cerca de 65 % dos casos, a gestação evolui para um aborto espontâneo17.
Quando ela evolui para a ruptura tubária, pode-se esperar para intervir imediatamente após a ruptura a
fim de estancar a hemorragia. No entanto, em tal caso, é mais fácil para os maus médicos aplicarem
alguma droga (como o metrotexato) que cause a morte da criança já fadada a morrer. Em tal caso, o
aborto é ―necessário‖ para estimular a impaciência dos profissionais de saúde, para poupar-lhes trabalho
e para fomentar nele o desrespeito pela vida humana.
Espera-se, porém, que os parlamentares não queiram satisfazer tais tipos de ―necessidade‖.
Tudo o que foi dito até agora refere-se ao aborto diretamente provocado, isto é, querido como
fim ou como meio. Isso jamais pode ser admitido.
Caso totalmente diferente é o de um procedimento médico, que seria feito mesmo se a mulher
não estivesse grávida, o qual traz consigo o risco de causar danos ou mesmo a morte ao nascituro.
Por exemplo, uma intervenção cirúrgica cardiovascular em uma mulher grávida pode ter como
consequência a morte do bebê. Em tal caso, a morte do inocente não é um fim visado pela cirurgia (o
fim é a cura da cardiopatia). Também não é um meio (pois não é a morte da criança que ―causa” a cura
da mãe). É simplesmente um segundo efeito.
Para que se possa, porém, tolerar um efeito secundário mau, é preciso que o bem a ser alcançado
seja proporcionalmente superior ou ao menos equivalente a ele. No caso relatado, a cirurgia não seria
lícita se fosse possível esperar até o nascimento do bebê ou se houvesse outro meio terapêutico que
fosse inofensivo para a criança.
17
Cf. A. G. SPAGNOLO – M. L. DI PIETRO, ―Quale decisione per l‘embrione in una gravidanza tubarica?‖, Medicina e Morale 2 (1995), p.
298-299.
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De acordo com o princípio ético da ação com duplo efeito, é lícito praticar uma ação em si boa
que tenha dois efeitos: um bom e outro mal desde que:
a) o efeito bom não provenha do efeito mau (senão o efeito mau seria meio para alcançar o
efeito bom)
b) haja uma proporção entre o efeito bom, querido como fim, e o efeito secundário mau,
tolerado como efeito.
Se, porém, especulativamente, existisse um caso em que matar um inocente fosse o ―meio‖ de
salvar a vida de alguém, ainda que fosse outro inocente, não seria lícito praticar tal homicídio. No ano
70 d.C., segundo relata o historiador Flávio Josefo18, durante o cerco de Jerusalém pelos romanos, uma
mulher, oprimida pela fome, matou, cozinhou e devorou seu próprio filho recém-nascido. Alguém
poderia tentar justificar a atitude daquela mulher faminta dizendo que aquele era o único ―meio‖ de que
ela dispunha para salvar sua vida. E ainda mais: se ela deixasse de agir assim, morreria juntamente com
a criança. Mas nada justifica a morte direta de um ser humano inocente.
Analogamente, no século XIX, alguns médicos, diante de uma criança já encaixada na bacia da
mãe, mas com dificuldade de ser dada à luz, adotavam um horrível procedimento chamado
―craniotomia‖. Perfurava-se o crânio da criança, aspirava-se a massa cerebral e depois retirava-se o
corpo – obviamente morto – do bebê. Diante de uma assepsia precária e da ausência de antibióticos, a
cesariana era uma cirurgia arriscada e alguns médicos julgavam lícito praticar tamanha crueldade
alegando que, de outro modo, mãe e filho morreriam. Ao ser interrogada se a craniotomia em tal caso
era moralmente lícita, a Igreja respondeu negativamente19.
18
Flávio JOSEFO. História dos hebreus, II Parte, Livro Sexto, Capítulo XXI.
19
Cf. M. ZALBA – J. BOZAL, El magisterio eclesiástico y la medicina. Razón y Fe, Madrid, 1955, 74.
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Casos como o acima, que pertencem à história da Medicina, nem por isso justificam o aborto
diretamente provocado. Convém lembrar que em nenhum caso o fim justifica os meios.
Ao assegurar a inviolabilidade do direito à vida, a Constituição está dizendo que ninguém pode
ser morto arbitrariamente. Para se dizer que tal garantia constitucional não se aplica ao nascituro
concebido em um estupro seria preciso provar:
Nenhuma dessas hipóteses se verifica. O Código Civil diz explicitamente que ―a lei põe a salvo
desde a concepção os direitos do nascituro‖ (art. 2º). Logo, o nascituro é titular de direitos (a começar
pelo direito à vida, sem o qual nenhum dos demais teria consistência).
Além disso, o nascituro não é capaz de praticar atos culpáveis (por exemplo, uma agressão
injusta) que lhe tire o direito à vida. Das três pessoas envolvidas no crime do estupro — o estuprador, a
mulher estuprada, a criança concebida — certamente não se poderá negar a absoluta inocência da
última. A provocação de sua morte é uma injustiça monstruosa, cuja arbitrariedade fere frontalmente os
dispositivos constitucionais que protegem a vida.
Sem prejuízo, faz-se mister ressaltar que, com supedâneo no art. 5º, LVII, da Carta Magna que
trata do princípio da presunção de inocência, ninguém pode ser considerado culpado sem a sentença
penal condenatória transitada em julgado. No caso da vida intrauterina, o bebê não pode ser sentenciado
à morte sem culpa e sem julgamento.
Ao condenar sumariamente o bebê à morte, a pena não apenas passa do pai para o filho, mas é
aumentada: de pena de reclusão para pena de morte!
20
Considera-se aqui o estupro não qualificado pelo resultado lesão corporal grave nem pela idade precoce da vítima nem pelo resultado morte.
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O autor do estupro ao menos poupou a vida da mulher – senão ela não estaria grávida. Pergunta
que não quer calar: é justo que se faça com a criança o que nem sequer o agressor ousou fazer com a
mãe: matá-la?
Não se diga que em tal caso a escolha cabe ―à mulher‖. Não só porque ninguém – homem ou
mulher – tem o direito de decidir sobre a vida e a morte de outrem, mas ainda porque aproximadamente
cinquenta por cento das crianças concebidas (em um estupro ou não) são meninas; tão mulheres como
suas próprias mães. Se uma mulher deve decidir, pergunto eu: qual delas? A grande ou a pequena? A de
dentro ou a de fora? A que sobreviveu à violência ou aquela ameaçada de morte no ambiente
intrauterino?
Não é preciso ir muito longe para encontrar mulheres, atualmente adultas, que foram concebidas
em uma violência sexual. A ex-deputada Fátima Pelaes (PMDB/AP) declarou publicamente em uma
sessão da Comissão de Seguridade Social e Família de 19/05/2010, quando estava em discussão o
―Estatuto do Nascituro‖ (PL 478/2007), que ela havia sido concebida em decorrência de um abuso
sexual sofrido por sua mãe, que cumpria pena em um presídio e já tinha cinco filhas. A então deputada,
que nunca conheceu seu pai, confessou que outras vezes já defendera o direito ao aborto. ―Mas eu
precisava ser curada, ser trabalhada, porque eu estava com um trauma‖, acrescentou. Naquela sessão,
porém, ela estava decidida em votar em favor da vida: ―Se nós lutamos pelo direito à vida, temos que
lutar desde o nascituro‖.
Fabiana Silva, 34 anos, moradora de Goiânia, em outubro de 2018 veio a Anápolis (GO)
agradecer àqueles que a convenceram a não abortar seu filho Vítor, concebido em um estupro. O crime
se deu em meados de agosto de 1999, quando Fabiana tinha apenas 14 anos. O agressor havia sido o
―padrasto‖ (amásio da mãe), que fugiu logo após a agressão. A adolescente estava disposta a provocar o
aborto em si mesma se ninguém aceitasse provocá-lo nela. Em janeiro de 2000, ela aguardava do
Hospital de Jabaquara (São Paulo)21 uma resposta: se iriam ou não fazer o aborto. O fato ganhou
repercussão internacional. Dr. Jorge Andalaft, na época responsável pelos abortos daquele hospital,
reclamou que estava recebendo trinta telefonemas por hora (!) de toda a parte do mundo.
Uma das pessoas das que se comunicou com ele foi Julie Makimaa, de Fennville, estado de
Michigan, EUA, ela própria concebida em um estupro. No dia 3 de janeiro, ela lhe enviou um fax de
onze páginas, contando sua história pessoal e suplicando que poupasse a vida da criança por nascer. Eis
um pequeno trecho.
21
O Hospital Dr. Arthur Ribeiro de Saboya, conhecido como Hospital de Jabaquara, na capital paulista, foi o primeiro a usar o dinheiro público
para fazer abortos. Essa prática criminosa foi introduzida lá em 1989, graças à iniciativa da então prefeita Luíza Erundina (PT).
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O aborto não estava disponível para ela em 196422, mas seus amigos
ofereceram-lhe ajuda para obter um aborto. Diziam-lhe que ela não deveria
carregar um filho de um “estuprador” e que o aborto seria a melhor resposta.
Ela é tão grata hoje por nunca ter feito um aborto. Juntas nós
compartilhamos uma relação estreita e amorosa e ela também acalenta os
seus dois netos.
Descobrimos que a dor do passado foi substituída pelas alegrias do presente.
Fui concebida em uma violência, mas sou grata por não ter recebido a pena
de morte pelo crime de meu pai.
22
Somente em 1973 a Suprema Corte dos EUA, na infame decisão Roe versus Wade, declararia ―legal‖ o aborto em todo o território
estadunidense.
23
https://www.providaanapolis.org.br/index.php/todos-os-artigos/item/580-um-anjo-que-deus-colocou-na-minha-vida
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O que aconteceu com Fabiana não é absolutamente um caso isolado. Julie Makimaa, aquela
mulher fruto de um estupro que advogou em favor da vida do filho de Fabiana, publicou em 2000 o
livro ―Vítimas e vencedores: falando sobre gestações, abortos e filhos resultantes de violência sexual‖24.
A obra contém o resultado de uma pesquisa feita com 192 mulheres grávidas em razão de estupro ou
incesto e foi feita por Julie juntamente com o pesquisador David Reardon, especialista em síndrome
pós-aborto e fundador do Instituto Elliott. Das 192 vítimas, 56 fizeram aborto, 133 deram à luz, e 3
sofreram aborto espontâneo.
Das 56 que fizeram aborto, seis delas não forneceram nenhuma informação sobre como se
sentiam. Das 50 restantes, apenas uma vítima de estupro relatava não estar arrependida do aborto. Uma
vítima de incesto afirmou que o aborto tinha sido a decisão correta no seu caso, mas não comentou
sobre como o aborto a havia afetado. Quatro delas relataram vários arrependimentos em relação ao
aborto, mas foram ambivalentes ao dizer se o aborto era ou não a melhor escolha. Quarenta e quatro
(44) mulheres disseram explicitamente estar arrependidas de terem abortado e declararam que o aborto
não tinha sido a melhor solução para suas gravidezes25.
24
David REARDON; Julie MAKIMAA; Amy SOBIE. Victims and victors: speaking about their pregnancies, abortions and children resulting
from sexual assault. Springfield, IL: Acorn Books, 2000. ISBN 0-9648957-1-4.
25
Cf. David REARDON; Julie MAKIMAA; Amy SOBIE. Victims and victors…p. 19-20.
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Das 133 que levaram a gravidez a termo, 80% falaram explicitamente da felicidade de terem
escolhido dar à luz seus filhos. Nenhuma das mulheres declarou que não queria seu filho ou que
desejaria ter optado por fazer um aborto26.
―Para muitas pessoas, o argumento de que uma mulher não deve passar nove
meses carregando o filho do seu agressor parece uma extensão natural da
compaixão [para com as vítimas de estupro ou incesto].
Tal empatia com as vítimas de violência sexual, combinada com a
generalizada confusão, medo e repulsa associada ao estupro e ao incesto,
fazem disso um ―caso difícil‖ natural para os proponentes do aborto
legalizado. [...] Uma vez que essa ―exceção‖ é admitida, não há nenhuma base
racional para se proibir o aborto em outros casos onde a gravidez possa impor
dificuldades para a mulher.
[...]
Tudo isso é extremamente lamentável porque literalmente todas as evidências
relativas a essa questão estão do nosso lado. É um fato pouco conhecido que a
grande maioria das vítimas de violência sexual não quer abortar. Além disso,
quando as vítimas de violência sexual fazem o aborto, os efeitos psicológicos a
longo prazo, e mesmo a curto prazo, são devastadores. A maioria dessas
mulheres descreve os efeitos negativos do aborto em suas vidas como ainda
mais devastador que a violência sexual.
Violência sexual é na verdade uma contraindicação para o aborto. Um médico
tratando de uma gestante vítima de violência sexual deveria desaconselhar o
aborto precisamente por causa da natureza traumática da gravidez‖27.
Para corroborar a afirmação de Julie Makimaa, desejaria relatar a história de duas jovens costa-
ricenses, Elizabeth e Karol, ambas vítimas de estupro no mesmo dia28. A primeira, após as primeiras
reações de rejeição da gravidez, resolveu dar à luz sua filhinha, que se tornou o maior presente de sua
vida. A segunda resolveu abortar. Ouçamos as palavras de Elizabeth:
26
Cf. David REARDON; Julie MAKIMAA; Amy SOBIE. Victims and victors…p. 22.
27
David REARDON; Julie MAKIMAA; Amy SOBIE. Victims and victors… p. 9-10. Os itálicos são do original.
28
http://salvarel1.blogspot.com/2016/04/se-lo-horrible-que-es-la-violacion-pero.html. Postado em 11 abr. 2016.
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“Já passaram nove anos desde a sua chegada e graças a isso sou uma
mulher mais humana, forte e feliz. E sei que o aborto teria piorado
minha situação, já que não posso ter mais filhos e ela é minha bênção.
Nunca o aborto é uma solução. Obrigada, filhinha. Tu fazes da minha
vida um lugar cheio de amor e esperança.
O ato tão ruim que supõe um estupro não se pode sanar com outro tão
doloroso quanto o primeiro. Abortar nunca ajudará a vítima de um
estupro a superar o trauma; e piora a situação.
No mesmo dia em que me ultrajaram também estupraram uma amiga,
e ela decidiu abortar. Primeiro pensou que tudo iria bem. Mas nos
encontramos em São José29, em um parque. Era dezembro e meu bebê tinha
dez meses. Quando nos vimos, choramos muito. Logo viu a minha filha e só
me disse como deveria ser a carinha da sua. Porque não deixava de sentir-se
uma assassina. Sabia que sua filhinha não tinha culpa, mas havia
compreendido isso muito tarde e ninguém a quis ajudar. Todos diziam que
abortasse aquele bastardo filho do horror, filho de um maldito. Dizia-me:
“Eli, como te invejo porque eu jamais saberei como poderia ser...”
Meses depois, passei a visitá-la pela sua casa e Karol (assim se chamava
minha amiga) tinha-se suicidado. Sua mãe me disse que nunca voltou a ser
igual e que o aborto a derrotou. Recordo minha amiga como uma moça bela e
especial.
Não se precisa de “carniceiros”, mas de apoio psicológico, emocional;
profissionais que nos ajudem e não pessoas que agravem o problema. Oxalá
todas as mulheres tivessem a oportunidade de ser apoiadas para defender a
vida de quem não se pode defender. Aquelas crianças não têm culpa.
Não quero julgar. Sei como isso é horrível, mas abortar nunca ajudará a
ninguém. Em meu país30 não temos exército, porque não cremos que a
violência solucione mais violência. No entanto, há delinquentes e maldade,
mas fui criada com a certeza de que maldade com maldade jamais ajudará a
ninguém. Mas se, pelo contrário, dás amor, crê-me, isso dará frutos. O
estupro me marcou como mulher, mas esse “homem” não me pode causar
mais dano. Não tem esse poder. No dia de hoje sou mãe de uma bênção. Com
terapia, o amor de minha bebê e muita ajuda, sou feliz, isso eu garanto. E não
imagino como seria minha vida sem ela”.
29
Capital da Costa Rica.
30
Costa Rica.
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Por seu turno, no que diz respeito ao aborto em caso de gestação decorrente de estupro, não
obstante os incessantes óbices legais e constitucionais susomencionados, permitir a morte do bebê seria
praticamente puni-lo pelo crime de outrem. Apoiar a vítima do estupro consiste em prover-lhe
atendimento médico e psicológico, viabilizar a adoção do bebê, se assim o desejar, mas em hipótese
alguma buscar curar a dor do estupro causando-lhe outra dor, quiçá ainda pior que a primeira, pois é
inegável que depois de realizar um aborto, a mulher passa a ter diversos problemas31, sejam de ordem
física, emocional e psicológica, depressão, dores excruciantes, diagnósticos de câncer de mama,
sentimento de culpa, pensamentos suicidas, dentre outros.
Aborto, estupro, suicídio. Um ―remédio‖ pior do que o outro. Até onde permitiremos que, por
preconceito, ignorância e falsa compaixão, casos como o de Karol se repitam? Quando é que nós
abandonaremos a falácia de que a violência do estupro é ―curada‖ pela violência ainda maior do aborto?
Até quando pensaremos que o aborto serve para ―desestuprar‖ a gestante, ou seja, fazê-la voltar ao
estado anterior ao do estupro? Até quando acreditaremos na lenda – muito comum nos livros de Direito
Penal – de que a visão da criança nascida perpetua a lembrança do estupro sofrido pela mãe?
Ainda que a gestante não quisesse ficar com a criança (o que não é nada habitual, pois o
sofrimento faz crescer o amor da mãe pelo filho), em tal caso seria facílimo encaminhar o inocente
recém-nascido para um dos inúmeros casais que estão na fila de adoção em nossos Juizados da Criança
e da Juventude! Pergunto e repito: a solução é matar?
Uma última pergunta que faço é sobre quem se beneficia com o aborto em caso de estupro.
Certamente não é a criança, que será cruelmente assassinada. Também não é a gestante, que carregará
em si os terríveis traumatismos da síndrome pós-aborto, como acabamos de demonstrar. Resta um
terceiro, que é favorecido: o autor do estupro. Isso mesmo: uma vez abortada a criança, ele fica livre de
sua obrigação alimentícia de genitor! Tendo a certeza de que não terá nenhuma responsabilidade civil
pelo filho eventualmente gerado em uma agressão, o estuprador sente-se mais estimulado a praticar o
crime.
6. Conclusão
Termino dizendo que não sou eu a primeira a desejar acabar de uma vez com essas duas
hipóteses de não punição do aborto. O Código Penal de 1969, promulgado e revogado sem que chegasse
a entrar em vigor32, excluía a hipótese de não punição do aborto em caso de gravidez decorrente de
31
Coleman et. al. 2017. Women Who Suffered Emotionally from Abortion: A Qualitative Synthesis of Their Experiences. Journal of American
Physicians and Surgeons, Volume 22, Number 4, Winter 2017.
32
Tal Código foi promulgado pelo Decreto-Lei n.º 1004, de 21 de outubro de 1969, publicado no D. O. (Suplemento C) de 21 de outubro de
1969. Previsto para entrar em vigor em 1º de julho de 1974, o Código de 1969 teve sua data de entrada em vigor prorrogada pela lei 6.063, de
27 de junho de 1974. Finalmente foi revogado pela lei 6.578, de 11 de outubro de 1978, sem que nunca tivesse entrado em vigor.
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estupro. Bem antes disso, o deputado Arruda Câmara, em seu Projeto de Lei n. 910 de 194933, pretendia
revogar não apenas o inciso II, mas todo o artigo 128 de nosso Código Penal, destruindo também a não
punição ao chamado ―aborto terapêutico‖. Esse projeto foi explicitamente louvado em 1965 pelo Dr.
Costa Júnior, em sua aula inaugural já referida ―Por que ainda o aborto terapêutico?‖.
A proposta que ora apresento, se for aprovada, colaborará também para pôr um freio no
ativismo judicial do Supremo Tribunal Federal, que parece não conhecer limites em seu propósito de
impor a nós, legisladores, a liberação do aborto baseada na interpretação, reinterpretação e
―desinterpretação‖ subjetivista da Constituição Federal.
Diante de todo o exposto, conto com o apoio dos nobres pares para a aprovação deste Projeto de
Lei, eis que balizado nos princípios constitucionais que asseguram a proteção da vida humana, desde a
sua concepção.
33
Cf. Diário do Congresso Nacional, 1 out 1949, p. 9092.
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