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Admin, SAÚDE 26 (2) ART 09

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REVISÃO DE ANATOMIA E CORRELAÇÕES CLÍNICAS DO TRONCO

ENCEFÁLICO, PARTE I: BULBO


Lincoln da Silva Freitas1
Valéria Paula Sassoli Fazan2

FREITAS, L. da S.; FAZAN, V. P. S. Revisão de anatomia e correlações clínicas do tronco encefálico, parte i: bulbo. Arquivos
de Ciências da Saúde da UNIPAR, Umuarama, v. 26, n. 2, p. 175-186, maio/ago. 2022.

RESUMO: O Tronco encefálico (TE) é uma estrutura singular do sistema nervoso central, pois nele passam tratos sensoriais
ascendentes da medula espinal, tratos sensoriais da cabeça e do pescoço, os tratos descendentes motores originados no prosencéfalo
(divisão mais rostral do encéfalo), e as vias ligadas aos centros de movimento dos olhos. Contém ainda os núcleos dos nervos
cranianos e está envolvido na regulação do nível de consciência através de projeções ao prosencéfalo oriundas da formação
reticular. Todas essas estruturas coexistem em um espaço muito exíguo, o que faz com que o TE seja um local muito sensível
às alterações patológicas, sendo que os pacientes apresentam muitos sinais neurológicos mesmo com lesões muito pequenas
nesse local. Compreender a anatomia interna do TE é essencial para o diagnóstico neurológico e a prática da medicina clínica.
Outros profissionais da saúde também se beneficiam desse conhecimento para melhor manejo dos seus pacientes neurológicos.
Essa revisão apresenta detalhes da anatomia macroscópica e microscópica do bulbo, bem como seus correlatos clínicos frente às
lesões mais comuns dessa divisão particular do TE, conhecidas como síndromes bulbares.
PALAVRAS-CHAVE: Anatomia. Tronco encefálico. Bulbo. Síndromes bulbares.

REVIEW OF BRAIN ANATOMY AND CLINICAL CORRELATIONS, PART I: MEDULLA

Abstract: The brainstem is a unique structure in the central nervous system, since it gives way to ascending sensory tracts from
the spinal cord, sensory tracts from the head and neck, motor descending tracts originating from the forebrain, and the pathways
connected to the eye movement centers. It also contains the cranial nerve nuclei and is involved in the regulation of consciousness
levels through projections to the forebrain originating in the reticular formation. All these structures coexist in a very small space,
which makes the brainstem very sensitive to pathological changes, with patients presenting several neurological symptoms even
with very small brainstem lesions. Understanding the internal anatomy of the brainstem is essential for neurological diagnosis and
the practice of clinical medicine. Other health professionals also benefit from this knowledge to better manage their neurological
patients. This review presents detailed information on the macroscopic and microscopic anatomy of the medulla, as well as
its clinical correlates in the face of the most common lesions of this particular division of the brainstem, known as medullary
syndromes.
KEYWORDS: Anatomy. Brainstem. Medulla. Medullary syndromes.

Introdução do nível da própria consciência, realizado principalmente pela


formação reticular (GONÇALVES; MELO, 2009), que forma
O tronco encefálico (TE) é formado pelo bulbo o núcleo central do tronco encefálico. Esses três tipos gerais
(medula oblonga), ponte e mesencéfalo e está localizado na de atividade não são mutuamente exclusivas. Por exemplo,
fossa craniana posterior; limita-se posteriormente com o surgem vias ascendentes para o tálamo não só na medula
cerebelo e anteriormente com o clívus (parte posterior da lâmina espinal, mas também a partir de núcleos de nervos cranianos;
quadrilátera do esfenoide, atrás da sela turca). Superiormente permitindo que o tronco encefálico atue diretamente nas
se conecta ao diencéfalo e inferiormente é contínuo com a funções dos nervos cranianos (NOLTE, 2013).
medula espinal (SCIACCA et al., 2019). O tronco encefálico
apresenta três funções principais: 1) atua como uma via de O bulbo
passagem para os tratos ascendentes e descendentes que A estrutura básica do bulbo (ainda chamado de medula
interligam a medula espinal com as diversas partes dos centros oblonga em decorrência de sua tradução do inglês: medulla
superiores no procencéfalo; 2) contém centros de reflexos oblongata) é advinda de um plano estrutural semelhante àquele
importantes associados ao controle da respiração e do sistema visto na medula espinal. As placas basal e alar originam núcleos
cardiovascular e ao controle da consciência; e 3) contém os específicos e a camada do manto circunjacente é invadida
núcleos dos nervos cranianos, do III ao XII (SNELL, 2010; por axônios que se originam em outros níveis. Os neurônios
SCIACCA et al., 2019) em amadurecimento da placa basal do bulbo dão origem ao
Muitas funções integradoras são organizadas no TE, tal núcleo do hipoglosso, ao núcleo motor dorsal do vago, ao
como padrões complexos motores, vários aspectos da atividade núcleo salivatório inferior e ao núcleo ambíguo (Figura 1).
respiratória e cardiovascular, e até mesmo uma certa regulação Caudalmente ao óbex (região inferior do IV ventrículo, que

DOI: 10.25110/arqsaude.v26i2.2022.8423
1
Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. FMRP-USP.
2
Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. FMRP-USP. Departamento
de Cirurgia e Anatomia, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. FMRP-USP. vpsfazan@fmrp.usp.br

ISSN 1982-114X Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR, Umuarama, v. 26, n. 2, p. 175-186, maio/ago. 2022 175
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se estreita para formar o canal central da medula), todos esses Na face anterior do bulbo localiza-se a fissura mediana
núcleos estão localizados medialmente ao sulco mediano anterior, que é contínua inferiormente com fissura do mesmo
(VANDERAH; GOULD, 2009). nome na medula espinal. Em cada lado da fissura mediana,
Os núcleos dos nervos cranianos derivados da placa há um abaulamento denominado de pirâmides (Figura 2). As
alar no bulbo e seus componentes funcionais correspondentes pirâmides são compostas de feixes de fibras axonais, chamadas
incluem os núcleos vestibular e coclear, o núcleo do trato de tratos córticos espinhais, as quais se originam nas grandes
solitário e o núcleo trigêmeo. Neuroblastos da placa alar células de Betz no giro pré-central do lobo frontal do córtex
caudalmente ao óbex, dão origem aos núcleos grácil e cerebral. As pirâmides afilam-se inferiormente na parte mais
cuneiforme. Rostralmente ao óbex, algumas células da placa caudal do bulbo onde a maior parte das fibras axonais, cerca
alar migram ventral e medialmente para formar o complexo de 90%, cruzam para o lado oposto, formando a chamada
olivar inferior. Associados a esses eventos do desenvolvimento, decussação das pirâmides (Figura 2). Posterolateralmente entre
fibras ascendentes e descendentes estão atravessando o bulbo a fissura mediana anterior e a fissura antero-lateral existem
(Figura 1). Um feixe especialmente proeminente de axônios se duas elevações ovaladas (as olivas bulbares) que correspondem
agrupa na superfície anterior do bulbo para formar as pirâmides aos núcleos olivares inferiores subjacentes (VANDERAH;
(HAINES, 2006). GOULD, 2009).

Aspectos macroscópicos do bulbo


O bulbo conecta-se com a ponte superiormente e
com a medula espinal inferiormente. O limite entre o bulbo
e a medula espinal está na origem das raízes anterior e
posterior do primeiro nervo espinal cervical, que corresponde
aproximadamente ao nível do forame magno. O bulbo
apresenta a forma de um cone, e sua extremidade basal é
dirigida cranialmente onde compõe a parte inferior da fossa
rombencefálica (IV ventrículo).

Figura 2: Face anterior do bulbo (Modificado de NETTER,


2019).

Na fissura entre a pirâmide e a oliva emergem as


radículas do nervo hipoglosso. Posteriormente às olivas estão
os pedúnculos cerebelares inferiores, que conectam o bulbo
ao cerebelo. Na fissura entre a oliva e o pedúnculo cerebelar
inferior emergem as raízes dos nervos glossofaríngeo e vago e
as raízes cranianas do nervo acessório (SNELL, 2010).

Figura 1: Desenvolvimento do tronco encefálico. Figuras de A


à C descrevem o desenvolvimento do tronco cerebral inferior.
A organização nuclear é transformada a partir da orientação
dorsal-ventral e para na medula espinal, em uma orientação
medial-lateral mostrada nas figuras B e C. A figura C mostra
como os núcleos dos nervos cranianos são organizados no
tronco cerebral em sua disposição medial a lateral. Nota-se que
os núcleos motores (GSE, SVE) estão situados medial ao sulco
limitante, os núcleos sensitivos (SSA, GSA) estão localizados
lateral ao sulco limitante, e os núcleos autonômicos (GVA,
VAB, VAB) são encontrados em a região adjacente ao sulco
limitante. Figuras D e E representam o desenvolvimento do
cerebelo. Nota-se a formação e o desenvolvimento do cerebelo
a partir dos lábios rômbicos que se fundem na linha média.
Figura 3: Face posterior do bulbo (Modificado de NETTER,
(http://what-when-how.com/neuroscience/development-of-
2019).
the-nervous-system-gross-anatomy-of-the-brain-part-2/).

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A metade superior da face posterior do bulbo forma A decussação das pirâmides constitui a principal
a parte inferior do assoalho da fossa rombencefálica (IV estrutura anatômica no controle voluntário de metade do corpo
ventrículo) (Figura 3). A metade inferior da face posterior do pelo hemisfério oposto. As fibras do fascículo longitudinal
bulbo é contínua com a face posterior da medula espinal, que medial são deslocadas lateralmente (Yeo, et al., 2020)
também possui um sulco mediano posterior. Em cada lado do conforme as fibras piramidais se ligam. (Figura 4)
sulco mediano posterior observa-se uma tumefação alongada,
o tubérculo grácil, produzido pelo núcleo grácil subjacente.
Lateral ao tubérculo grácil há uma tumefação similar, o
tubérculo cuneiforme, produzido pelo núcleo cuneiforme
subjacente (AFIFI; BEGMAN, 2005).

Aspectos microscópicos do bulbo


Internamente, o bulbo apresenta substância branca e
cinzenta, mas um estudo mais minucioso com cortes transversais
dessa região mostra que elas foram extensamente rearranjadas
em relação à medula espinal (SCIACCA et al., 2019). Esse
rearranjo se explica embriologicamente pela expansão do tubo
neural formando a vesícula do metencéfalo (porção anterior
do rombencéfalo, que compreende o cerebelo e a ponte), que
se torna o IV ventrículo. A expansão lateral acentuada do IV
ventrículo resulta em uma alteração na posição dos derivados
das lâminas alar e basal do embrião. Considera-se a estrutura
interna do bulbo em três níveis: (1) nível da decussação das Figura 4: Corte axial do bulbo no nível das pirâmides e núcleos
pirâmides (decussação motora), (2) nível da decussação dos grácil e cuneiformes (http://anatpat.unicamp.br/)
lemniscos (decussação sensitiva), (3) nível das olivas
Núcleos da coluna posterior
Bulbo no nível da decussação das pirâmides Dois núcleos são evidentes na coluna posterior: o
O conceito de controle de um lado do corpo pelo núcleo grácil no fascículo grácil e o núcleo cuneiforme no
hemisfério contralateral (lei da condução cruciforme) existe fascículo cuneiforme. São conhecidos coletivamente como
desde a época de Hipócrates. O cruzamento das pirâmides não núcleos da coluna posterior ou dorsal. O núcleo grácil inicia
foi observado até 1790, sendo descrito apenas no ano seguinte. e termina inferiormente ao núcleo cuneiforme. Inferiormente,
No entanto, essa descrição foi ignorada e somente noticiada são observados tanto os núcleos quanto os fascículos que
em 1810 por Gall e Spurzheim (apud AFIFI; BERGMAN, os recobrem, mas superiormente, apenas os núcleos são
2005). Muitos anatomistas negaram a existência da decussação observados.
das pirâmides até 1835, quando Cruveilhier identificou os As projeções superficiais desses dois núcleos na face
feixes piramidais cruzando para o lado oposto (VANDERAH; posterior do bulbo formam os tubérculos grácil e cuneiforme
GOULD, 2009). (Figuras 3 e 4). Os núcleos da coluna posterior são organizados
As pirâmides contêm dois tipos de fibras nervosas de acordo com a origem espacial das fibras aferentes. As fibras
corticais descendentes: corticoespinais e corticonucleares aferentes de C1 a T7 projetam-se para o núcleo cuneiforme,
do bulbo. As fibras corticoespinais são organizadas enquanto as fibras abaixo de T7 projetam-se para o núcleo
somatotropicamente. As fibras dos membros inferiores são grácil.
mais laterais que as dos membros superiores. Ao descerem Os núcleos da coluna posterior não são massas
pelo bulbo, as fibras corticonucleares do bulbo deixam as celulares homogêneas. Eles contêm diferentes tipos de células
pirâmides e se estendem aos núcleos dos nervos cranianos. nervosas e, de acordo com a distribuição dessas células e suas
Próximo à margem inferior do bulbo, cerca de 75 a 90 % das conexões aferentes e eferentes, os núcleos da coluna posterior
fibras corticoespinais na pirâmide decussam para o lado oposto podem ser divididos em duas áreas distintas: uma região central
e formam o trato corticoespinal lateral (Figura 4). O restante e uma zona reticular. A região central compreende as partes
das fibras corticoespinais descem ipsilateralmente para formar inferior e média de cada núcleo. A zona reticular circunda a
o trato corticoespinal anterior. A pirâmide esquerda decussa região central e consiste nas porções superior e mais profunda
primeiro em 73% dos humanos; isso, entretanto não tem relação dos núcleos da coluna posterior (MARTIN, 2003). A atividade
com a destreza de um indivíduo (SCIACCA et al., 2019). nos núcleos da coluna posterior é controlada por influxos
Inicialmente cruzam as fibras corticoespinais que conduzem aferentes periféricos e modulada por influxos do córtex e
impulsos à musculatura do pescoço e dos membros superiores. outros centros supra-segmentares (formação reticular, núcleo
Essas fibras são mais superiores e separadas das fibras que caudado, e cerebelo). Em geral, a distribuição dos aferentes
conduzem impulsos aos membros inferiores; também estão descendentes é restrita à zona reticular. Os influxos aferentes
localizadas mais superficialmente e são identificadas na porção periféricos de mecanorreceptores cutâneos ativados por
inferior do bulbo bem próxima ao dente do áxis (segunda estímulos mecânicos (tato, pressão, vibração, deslocamento
vértebra cervical) (SCIACCA et al., 2019). do pelo) nos membros anteriores e posteriores de animais, são

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transmitidos à região central dos núcleos da coluna dorsal por oriundos do córtex geralmente inibe, através de interneurônios,
aferentes primários dessa coluna (MARTIN, 2003; AFIFI; a excitação de neurônios retransmissores.
BERGMAN, 2005).
A partir desses núcleos, a informação chega ao tálamo
(núcleo ventral póstero-lateral) pelo lemnisco medial. Essa via
primária é responsável por cerca de 20% das fibras da coluna
dorsal. Os ramos colaterais desses aferentes primários da
coluna dorsal estabelecem sinapses com neurônios sensitivos
de segunda ordem no corno posterior da medula espinhal.
Em seguida, os neurônios de segunda ordem
(sensitivos) estendem-se pelo trato espinotalâmico,
estabelecem sinapses com neurônios do núcleo cervical
lateral, e a partir desse associam-se ao lemnisco medial para
chegar ao tálamo (coluna dorsal e trato espinotalâmico). Essa
organização explica a preservação de sensibilidade relacionada
a esses mecanorreceptores (tato, pressão, vibração) após uma
lesão da coluna dorsal.
As vias proprioceptivas originadas em receptores
articulares (órgão neurotendíneo) e musculares (fuso
neuromuscular) conduzem informações relacionadas ao sentido
de movimento articular e posição, respectivamente e são mais
complexas do que as vias originadas em mecanorreceptores Figura 5: Corte axial do bulbo evidenciando os núcleos da
cutâneos. (MARTIN, 2003; AFIFI; BERGMAN, 2005). coluna posterior (http://anatpat.unicamp.br/)
Os aferentes proprioceptivos do membro superior
estendem-se pela coluna posterior (fascículo cuneiforme) e A principal projeção eferente dos núcleos da coluna
estabelecem sinapses com células retransmissoras no núcleo posterior é o lemnisco medial, que termina no tálamo. Outras
cuneiforme (Figura 5) e, a partir desse estendem-se pelo projeções, recentemente confirmadas, incluem as do complexo
menisco medial até o tálamo. Por outro lado, os aferentes olivar inferior, teto mesencefálico, medula espinal e cerebelo.
proprioceptivos do membro superior chegam ao tálamo As fibras cerebelares originam-se principalmente do núcleo
por duas vias. Os aferentes oriundos de alguns receptores cuneiforme com pequenas contribuições do núcleo grácil.
articulares estendem-se pela coluna posterior (fascículo grácil) A função dessas conexões extratalâmicas ainda não é bem
ao núcleo grácil (Figura 5) e, em seguida, projetam-se para o compreendida (AFIFI; BERGMAN, 2005).
tálamo pelo lemnisco medial. Os aferentes oriundos dos fusos
neuromusculares e dos receptores articulares de adaptação Núcleo espinhal do nervo trigêmeo
lenta abandonam o fascículo grácil e estabelecem sinapses Outra estrutura observada no nível da decussação das
com células do núcleo torácico posterior (de Clarke) na medula pirâmides é a presença do núcleo espinhal do nervo trigêmeo
espinal. (Figura 6). Esse núcleo ocupa uma posição póstero lateral no
Em seguida, os neurônios de segunda ordem bulbo e é recoberto pelo trato espinhal (descendente) do nervo
estendem-se pelo fascículo póstero-lateral até o núcleo Z, trigêmeo. O núcleo espinhal do nervo trigêmeo estende-se por
uma pequena coleção de células situada no bulbo na parte todo bulbo e desce até o segmento medular C3. Inferiormente
mais superior do núcleo grácil. As fibras desse núcleo cruzam é contínuo com a substância gelatinosa da medula espinal e
a linha mediana para compor o lemnisco medial e chegar ao superiormente com o núcleo principal do trigêmeo na ponte.
tálamo, A transmissão diferencial da informação cutânea e O trato e o núcleo espinal do trigêmeo estão relacionados à
proprioceptiva aparentemente é responsável pela diferente sensibilidade exteroceptivas (dor, temperatura, tato leve) da
perda de sensibilidade vibratória e do sentido de posição em metade ipsilateral da face. O núcleo espinal é dividido em três
alguns pacientes com lesão da medula espinal. partes ao longo de sua extensão rostrocaudal (súpero-inferior).
Os aferentes descendentes para os núcleos da coluna A parte caudal (núcleo caudal) estende-se superiormente do
dorsal originam-se principalmente do córtex somatossensitivo óbex do bulbo à substância gelatinosa da medula espinal, com a
primário com contribuições do córtex somatossensitivo qual é contínua inferiormente. É responsável pela mediação de
secundário e dos córtices motor primário e pré-motor. Esse dor e temperatura da metade ipsilateral da face. Superiormente
influxo é organizado somatotopicamente de forma que áreas ao óbex está o núcleo interpolar, que medeia a dor dental e é
corticais dos membros superiores projetam-se para o núcleo citologicamente distinto do núcleo caudal. Superiormente ao
cuneiforme e as áreas corticais dos membros inferiores núcleo interpolar e imediatamente inferior ao núcleo principal
projetam-se para o núcleo grácil. Os aferentes corticais para do nervo trigêmeo há o núcleo oral, que medeia sensibilidade
os núcleos da coluna dorsal estendem-se via cápsula interna tátil da túnica mucosa (MARTIN, 2003; AFIFI; BERGMAN,
e chegam aos núcleos pela pirâmide. Eles se projetam para 2005).
os interneurônios da zona reticular. (MARTIN, 2003; AFIFI; As fibras do trato espinal do nervo trigêmeo que
BERGMAN, 2005). A ativação de aferentes descendentes se originam da região mandibular da face projetam-se
inferiormente para o terceiro e quarto segmentos cervicais.

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As fibras oriundas da região perioral projetam-se para níveis lemniscos mediais (sensitiva) é o cruzamento dos neurônios de
medulares inferiores. Fibras que se originam entre a região segunda ordem do sistema da coluna posterior (Figura 6). Os
mandibular e perioral terminam na região cervical superior. axônios dos neurônios retransmissores dos núcleos da coluna
A evidência para esse padrão de distribuição em “casca de posterior formam as fibras arqueadas internas e cruzam para
cebola” é encontrada em pacientes que tiveram o trato espinhal o lado oposto (decussação sensitiva) acima das pirâmides e
do nervo trigêmeo seccionado (tratotomias) para aliviar a se unem para formar o lemnisco medial do lado contralateral
dor. Consequentemente as tratotomias que não atingem a (Figura 6).
parte inferior do bulbo conservam a sensibilidade térmica As informações das extermidades inferiores (axônios
e dolorosa ao redor da boca. Em contraste com o padrão de das células do núcleo grácil) são transportadas na parte anterior
distribuição em casca de cebola descrito por Dejerine em do lemnisco medial e as informações das extermidades
1914 (apud AFIFI; BERGMAN, 2005), algumas observações superiores (axônios do núcleo cuneiforme) são transportadas
sugerem que todas as fibras que conduzem impulsos dolorosos na parte posterior do lemnisco medial. O lemnisco medial
da face, não apenas aqueles da mandíbula, chegam a níveis projeta-se para os neurônios do núcleo ventral posterior lateral
cervicais inferiores. Os neurônios para dor no núcleo espinal do tálamo. Esse núcleo, por sua vez projeta-se para o córtex
do trigêmeo, assim como seu homólogo na medula espinal, somatossensitivo primário (HAINES, 2006).
foram classificados como neurônios de alto limiar, neurônios
de baixo limiar e neurônios dinâmicos de amplo aspecto.
Neurônios termoespecíficos foram localizados na margem do
núcleo. Os axônios de neurônios situados no núcleo espinal
do nervo trigêmeo cruzam a linha mediana para formar o trato
trigeminotalâmico anterior que se projetam para os neurônios
situados no núcleo ventral póstero medial do tálamo (AFIFI;
BERGMAN, 2005; SNELL, 2010).
A partir desse, as sensibilidades faciais são transmitidas
à área da face no córtex somatossensitivo primário. No interior
do trato trigeminotalâmico, as fibras do ramo oftálmico
(V1) do nervo trigêmeo estão localizadas mais lateralmente,
enquanto as fibras do ramo mandibular (V3) são mais mediais.
Além dos principais influxos oriundos de exterorreceptores
da face verificou-se que o núcleo espinal do trigêmeo recebe Figura 6: Corte axial do bulbo no nível dos núcleos olivares
um influxo do locus cerúleos na ponte e também envia fibras inferiores (http://anatpat.unicamp.br/)
para ele. O influxo do locus cerúleos é inibitório. Destaca-se
que o trato espinal do nervo trigêmeo possui, além de fibras Fascículo longitudinal medial
condutoras de sensibilidade exteroceptivas da face, fibras O fascículo longitudinal medial, situado póstero-
somáticas gerais pertencentes aos nervos facial (VII nervo lateralmente à decussação das pirâmides, é deslocado
craniano), glossofaríngeo (IX nervo craniano), e vago (X posteriormente pela decussação sensitiva fazendo com que
nervo craniano) (AFIFI; BERGMAN, 2005; SNELL, 2010). se estenda posteriormente ao lemnisco medial (Fiester et al.,
2020). Ele mantém essa posição por toda extensão do bulbo. As
Tratos espinotalâmicos e espinocerebelares fibras descendentes desse feixe são oriundas de vários núcleos
Os tratos espinotalâmicos estendem-se pelo bulbo do tronco encefálico. As fibras vestibulares originam-se dos
bem próximo ao núcleo e trato espinal do nervo trigêmeo núcleos vestibulares medial e inferior. A formação reticular da
(Figura 6). Embora os tratos espinotalâmicos lateral e anterior ponte contribui com o maior número de fibras descendentes.
mantenham suas posições medulares no bulbo inferior, a Pequenos grupos de fibras se originam do núcleo dorsal do
posição do trato espinotalâmico anterior na região bulbar nervo oculomotor (intersticial de Cajal) na região superior do
superior ainda não foi identificada de modo conclusivo em mesencéfalo (AFIFI; BERGMAN, 2005).
humanos, e suas fibras provavelmente se estendem juntamente
com o trato espinotalâmico lateral. Como na medula espinal, Núcleo cuneiforme acessório
diversos indícios apontam para uma segregação de fibras para Um grupo de grandes neurônios situados póstero
dor e para temperatura no interior do trato espinotalâmico lateral lateralmente ao núcleo cuneiforme é conhecido como
no bulbo. As posições dos tratos espinocerebelares anterior e núcleo cuneiforme acessório (Figura 6). Embora esse núcleo
posterior na medula espinal permanecem inalteradas no bulbo. compartilhe seu nome com o núcleo cuneiforme, não pertence
Outros tratos ascendentes e descendentes encontrados na funcionalmente ao sistema da coluna posterior; ele é parte
medula espinal estendem-se pelo bulbo até níveis superiores do sistema espinocerebelar posterior. As fibras do sistema
ou inferiores (MARTIN, 2003; AFIFI; BERGMAN, 2005; espinocerebelar posterior que entram na medula espinal acima
SNELL, 2010). do nível de C8 (limite superior do núcleo torácico posterior)
ascendem com as fibras da coluna posterior e terminam no
Nível da decussação dos lemniscos mediais núcleo cuneiforme acessório. Os neurônios da segunda ordem
A característica diferencial no nível da decussação dos oriundos desse núcleo estendem-se póstero-lateralmente como

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FREITAS, L. da S.; FAZAN, V. P. S.

fibras arqueadas externas posteriores e chegam ao cerebelo localizadas posteriormente às pirâmides (Figura 7). Esses
(fibras cuneocerebelares) pelo pedúnculo cerebelar inferior. complexos nucleares salientam-se na superfície ântero-lateral
Da mesma forma que o sistema espinocerebelar, o trato do bulbo como estruturas em formato de azeitonas. O complexo
cuneocerebelar está relacionado à propriocepção inconsciente. olivar inferior consiste em três grupos nucleares: núcleo olivar
Os neurônios do núcleo cuneiforme acessório recebem fibras principal (o maior núcleo), núcleo olivar acessório posterior
dos nervos glossofaríngeo e vago, assim como de áreas e o núcleo olivar acessório medial. Em humanos, estima-
vasopressoras e cardioaceleradoras do hipotálamo posterior. se que o complexo olivar inferior contenha quinhentos mil
A estimulação do núcleo cuneiforme acessório produz neurônios. Esse complexo é envolvido por um aglomerado
bradicardia e hipotensão e essa resposta ocorre devido a um de fibras conhecido como amículo olivar. O complexo olivar
estímulo vagal. Cogitou-se que a hipertensão estimule o núcleo inferior recebe fibras das seguintes áreas: Córtex cerebral,
cuneiforme acessório, por meios de reflexos cardiovasculares, através do trato corticoespinal, para os dois núcleos olivares
para produzir bradicardia e hipotensão (MARTIN, 2003; principais; Núcleos da base, através do trato tegmental central,
AFIFI; BERGMAN, 2005; SNELL, 2010). para os dois núcleos olivares principais; Substância cinzenta
periaquedutal e Núcleo rubro, através do trato tegmental
Núcleos arqueados do bulbo central, para o núcleo olivar principal ipsilateral; Cerebelo,
O grupo de neurônios situados na face anterior da através do pedúnculo cerebelar superior, e os núcleos denteado
pirâmide é conhecido como núcleo arqueado. Os núcleos e interpósito, projetam-se para os núcleos olivares principal e
arqueados aumentam significativamente de tamanho em níveis acessório; Medula espinal, através do trato espinolivar, para
superiores do bulbo e tornam-se contínuos com os núcleos da os núcleos olivares acessórios de ambos os lados (MARTIN,
ponte. As conexões aferentes e eferentes dos núcleos arqueados 2003; AFIFI; BERGMAN, 2005; SNELL, 2010). No bulbo,
são idênticas as dos núcleos da ponte. Seu principal influxo os núcleos da coluna posterior projetam-se para o núcleo olivar
provém do córtex cerebral contralateral; o principal efluxo acessório contralateral. Os núcleos vestibulares inferior e
estende-se às metades ipsi e contralateral do cerebelo através medial projetam-se para os dois complexos olivares inferiores,
do pedúnculo cerebelar inferior. As fibras aqueadocerebelares sendo os dois complexos olivares inferiores interconectados;
chegam ao pedúnculo cerebelar inferior por duas vias. Uma O principal efluxo do complexo olivar inferior dirige-
delas percorre a superfície do bulbo (fibras arqueadas externas se ao cerebelo (trato olivocerebelar). As fibras olivocerebelares
anteriores); a outra via se estende pela linha mediana do bulbo provêm dos dois complexos olivares inferiores mas originam-
curvando-se lateralmente no assoalho do IV ventrículo para se principalmente do complexo contralateral. Deixando o
formar as estrias medulares do IV ventrículo (MARTIN, 2003; hilo do núcleo olivar inferior, cruzam o lemnisco medial e
SNELL, 2010). se estendem através do complexo olivar inferior oposto, para
entrarem no cerebelo pelo pedúnculo cerebelar inferior. As
Área Postrema fibras olivocerebelares constituem o principal componente do
A área postrema descrita por Retzius em 1896 pedúnculo cerebelar inferior e estão localizadas em sua porção
(LINDBLAD, 2007) é uma estrutura bilateral, localizada na ântero-medial. As fibras olivocerebelares que se originam dos
porção inferior do assoalho do IV ventrículo, imediatamente núcleos olivares acessórios e da parte medial do núcleo olivar
acima do óbex, e separada do trígono do vago pelo funiculus principal projetam-se para o verme do cerebelo enquanto as
separans. Recebeu essa nomenclatura por estar localizada fibras que se originam do restante do núcleo olivar principal
na extremidade caudal do encéfalo. É uma das regiões mais projetam-se para os hemisférios cerebelares. Os núcleos
vascularizadas do encéfalo dos mamíferos, com o acesso cerebelares também recebem fibras do trato olivocerebelar.
exclusivo à circulação devido à presença de capilares Apesar de décadas de pesquisa e conhecimento detalhado
fenestrados. A área postrema é formada por células similares a da microanatomia e circuitos do sistema olivocerebellar,
astroblastos, arteríolas, sinusoides e alguns neurônios apolares sua função continuam a ser um tema de debate contínuo
e unipolares. Ela é uma dentre várias áreas do sistema nervoso (BLOEDEL; BRACHA, 1998).
central que não tem uma barreira hematoencefálica. Essas áreas O complexo olivar inferior está intimamente associado
são denominadas coletivamente de órgãos circunventriculares com o cerebelo, o que significa que ele está envolvido no
e incluem a área postrema, o órgão subfornicial, o órgão controle e coordenação dos movimentos, processamento
subcomissural, a glândula pineal, a eminência mediana, a neuro sensorial e tarefas cognitivas, provavelmente codificando o
hipófise e o órgão vascular da lâmina terminal. Todas essas momento da entrada sensorial independentemente de atenção
áreas com exceção da área postrema, são estruturas medianas ou consciência.
ímpares relacionadas ao diencéfalo. Em animais experimentais,
a estimulação da área postrema induz ao vômito, sugerindo
ser um centro emético quimissensitivo (AFIFI; BERGMAN,
2005).

Bulbo no nível das olivas


No bulbo, a característica diferencial no nível das
olivas é a presença do complexo de núcleos olivar inferior,
que formam lâminas contorcidas de substância cinzenta,

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zona lateral, que processa a informação aferente sensorial; 2)


a zona medial, que processa a informação eferente motora;
e 3) a soma dos sistemas neurotrasmissores que se projetam
para áreas amplas do SNC. Juntas, as projeções da formação
reticular que ascendem para o tálamo e córtex e atuam na
modulação da consciência são chamadas de sistema ativador
reticular ascendente (SARA) (GOLÇALVES; MELO, 2009).
A zona lateral da formação reticular recebe aferências
da medula espinal via trato espinorreticular. Seus neurônios
se projetam para a zona medial, a fim de modular a função
motora, para os núcleos de sistemas de neurotransmissores que
influenciam o nível de consciência, bem como para o tálamo.
Figura 7: Corte axial do bulbo no nível dos pedúnculos
Algumas projeções ascendentes também podem influenciar
cerebelares inferiores (http://anatpat.unicamp.br/)
o sistema nervoso autônomo por meio de projeções para o
hipotálamo.
Formação reticular bulbar
A zona medial da formação reticular tem projeções
A formação reticular do bulbo é caracterizada por
eferentes que modulam os estímulos motores. Tem conexões
grande quantidade de neurônios de vários tamanhos e formas,
recíprocas com todos os sitemas envolvidos no controle
entremeados por uma complexa rede de fibras (Figura 8). Ela
do movimento: o córtex e o tálamo; os núcleos da base, o
se estende pela área situada entre as pirâmides (anteriormente)
cerebelo; e a medula espinal. Projeta-se aos neurônios motores
e o assoalho do IV ventrículo (posteriormente). A formação
inferiores pelo trato reticuloespinhal. Uma das principais
reticular é uma região filogeneticamente antiga e, em seres
funções dessa parte da formação reticular é manter o tônus
inferiores, constitui a principal parte do sistema nervoso
muscular durante o movimento, o que é conseguido por um
central. Inferiormente, a formação reticular aparece no nível da
equilíbrio entre as projeções excitatórias e inibitórias para o
decussação das pirâmides. Superiormente, ela é contínua com
neurônio motor inferior. Esse equilíbrio decorre da integração
a formação reticular da ponte. Fisiologicamente, a formação
da toda a informação motora descendente com a informação
reticular é um sistema polissináptico rico em fibras colaterais
sensorial ascendente.
para distribuição de impulsos. Na formação reticular, núcleos
Os sistemas de neurotramissores mais importantes
distintos são praticamente impossíveis de se identificar,
incluem aqueles envolvendo a dopamina (DA), a
embora as unidades funcionais possam ser isoladas do ponto
noradrenalina(NA) e a serotonina(5-HT).
de vista fisiológico. A grande maioria dos neurônios dessa rede
é composta de interneurônios que têm múltiplas progessões
Funções da formação reticular
eferentes, resultando em inúmeros contatos sinápticos
A formação reticular é composta por mais de 100
(GOLÇALVES; MELO, 2009).
pequenas redes neurais, com funções variadas (MARTIN,
Todo neurônio da formação reticular pode processar
2003; WANG, 2009) incluindo o seguinte:
informações ipsilaterais e contralaterais. Além disso, as
1. Controle motor somático- Alguns neurônios
projeções de um único neurônio podem ser tanto ascendentes
motores enviam seus axônios para núcleos da formação
quanto descendentes. Todos os sistemas da formação reticular
reticular , dando origem aos tratos reticuloespinhal. A
são influenciados pelas projeções de outras áreas do cérebro e
função desses tratos é manter o tônus, equilíbrio e postura -
podem, por sua vez, influenciar a função dessas áreas. Assim, a
especialmente durante os movimentos do corpo. A formação
formação reticular é verdadeiramente o integrador do sistema
reticular também retransmite sinais das orelhas e olhos para o
nervoso central (SNC).
cerebelo, e assim o cerebelo pode integrar estímulos visuais,
auditivos e vestibulares com a coordenação motora. Outros
núcleos motores incluem centros do olhar, que permitem
os olhos acompanhar e fixar objetos, e geradores de padrão
central, que produzem sinais rítmicos para os músculos da
respiração e da deglutição.
2. Controle cardiovascular - A formação reticular
inclui centros vasomotores e cardíacos do bulbo.
3. Modulação da dor - A formação reticular é um meio
pelo qual os sinais de dor da parte inferior do corpo atinge
o córtex cerebral. É também a origem das vias analgésicas
descendentes. As fibras nervosas dessas vias agem na medula
Figura 8: Corte axial no nível da transição bulbo pontinha espinal bloqueando a transmissão de alguns sinais de dor ao
(http://anatpat.unicamp.br/). cérebro.
4. Sono e consciência - A formação reticular tem
A formação reticular pode ser subdividida (MARTIN, projeções para o tálamo e córtex cerebral, que lhe permitem
2003; WANG, 2009) em três componentes funcionais: 1) exercer algum controle sobre os sinais sensoriais que chegam

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ao cérebro e se tornam conscientes. Ela também desempenha intrínsecos e extrínsecos da língua. Contém também fibras
um papel central em estados de sono/vigília. Lesão da formação proprioceptivas originadas dos fusos neuromusculares
reticular pode resultar em coma irreversível. situados nos músculos da língua. A terminação central das
5. Habituação - Esse é um processo no qual o cérebro fibras aferentes proprioceptivas do nervo hipoglosso não é bem
aprende a ignorar estímulos repetitivos ou sem sentido. Um conhecida. Verificou-se que os núcleos do trato solitário e do
bom exemplo disso é quando uma pessoa consegue dormir nervo hipoglosso recebem essas aferências.
ouvindo o barulho de um alto tráfego em uma cidade grande, O núcleo do nervo hipoglosso estende-se por toda
mas é despertado prontamente devido ao som de um alarme ou a medula oblonga, exceto em seus níveis mais superiores e
bebê chorando. inferiores. Esse núcleo é dividido em grupos celulares que
correspondem aos músculos da língua inervados por eles.
Pedúnculo cerebelar inferior A estrutura onde está localizada este núcleo corresponde ao
O tronco encefálico e o cerebelo são conectados trígono do nervo hipoglosso, no assoalho do IV ventrículo.
por três pedúnculos: O pedúnculo cerebelar inferior (corpo O núcleo recebe fibras corticorreticulonucleares cruzadas
restiforme e corpo justarestiforme) entre o bulbo e o cerebelo; e diretas. As fibras radiculares do nervo estendem-se pelo
O pedúnculo cerebelar médio (braço da ponte), entre a ponte e bulbo lateralmente ao lemnisco medial e emergem na face
o cerebelo; e o pedúnculo cerebelar superior (braço conjuntivo) anterior, entre a pirâmide e a oliva. Alguns agrupamentos
entre o cerebelo e o mesencéfalo (Figura 7). nucleares bem próximos ao núcleo do nervo hipoglosso são
O pedúnculo cerebelar inferior localiza-se na margem provavelmente neurônios reticulares. Eles não contribuem
póstero-lateral do bulbo. Situa-se superiormente aos tubérculos com fibras para o nervo hipoglosso e são conhecidos como
grácil e cuneiforme e forma um feixe distinto aproximadamente núcleos periipoglossais ou satélites (núcleo intercalado, núcleo
no nível médio olivar. As fibras contidas no pedúnculo cerebelar prepósito, e núcleo subipoglossal). Esses núcleos recebem
inferior (corpo restiforme) incluem os seguintes tratos aferentes influxo de 1) córtex cerebral, 2) núcleos vestibulares, 3) núcleos
e eferentes (com origem ou destino bulbar e espinal): - Trato acessórios do nervo oculomotor e 4) formação reticular pontina
olivocerebelar (o maior componente desse pedúnculo), que paramediana. O efluxo desses núcleos termina nos 1) núcleos
conecta a oliva ao cerebelo; -Trato espinocerebelar posterior, dos nervos cranianos envolvidos nos movimentos oculares
que se origina no núcleo torácico posterior (de Clark) e chega (oculomotor, troclear e abducente) 2) cerebelo e 3) tálamo.
ao cerebelo; -Trato reticulocerebelar, que conecta a formação Os núcleos periipoglossais e suas conexões são parte de uma
reticular ao cerebelo; -Trato cuneo cerebelar que se origina circuitaria complexa relacionada aos movimentos oculares.
no núcleo cuneiforme acessório e se estende ao cerebelo,
sendo homólogo ao trato espinocerebelar posterior; -Trato 2-) Nervo acessório (XI nervo craniano)
arqueadocerebelar, que conecta o núcleo arqueado ao cerebelo; O nervo acessório possui duas raízes: espinal e
-Trato cerebelolivar, que conecta o cerebelo ao complexo craniana. A raíz espinal origina-se do núcleo do nervo acessório,
olivar inferior; -Trato trigeminocerebelar que se estende dos uma coleção de neurônios motores no corno anterior dos cinco
núcleos espinal (bulbo) e principal (ponte) do nervo trigêmeo ou seis primeiros segmentos medulares cervicas e da parte
ao cerebelo; -Fibras dos núcleos periipoglossais (relacionadas inferior do bulbo. A partir das células de origem, as radículas se
aos movimentos oculares) ao cerebelo (MARTIN, 2003; estendem póstero-lateralmente e emergem na região lateral da
AFIFI; BERGMAN, 2005; SNELL, 2010). medula espinal entre as raízes anterior e posterior dos nervos
Uma pequena parte medial do pedúnculo cerebelar espinais. A raíz espinhal do nervo acessório adentra a cavidade
inferior é conhecida como corpo justarestiforme e contém os do crânio através do forame magno e sai da mesma cavidade
seguintes tratos: -Trato cerebelorreticular que conecta o cerebelo pelo forame jugular. A raíz espinal contém fibras motoras
à formação reticular; -Trato cerebelovestibular, que conecta o somáticas que inervam os músculos esternocleidomastóideo e
cerebelo aos núcleos vestibulares; -Trato vestibulocerebelar, trapézio.
que contém fibras vestibulares secundárias dos núcleos A raíz craniana origina-se no bulbo, do polo inferior
vestibulares ao cerebelo; -Fibras nervosas vestibulares diretas do núcleo ambíguo. Essa raíz emerge na face lateral do bulbo,
ao cerebelo (sem sinapses nos núcleos vestibulares); -Trato une-se às radículas no nervo vago (formando seu ramo laríngeo
cerebeloespinal que se estende do cerebelo aos neurônios recorrente) e inerva os músculos intrínsecos da laringe.
motores da parte cervical da medula espinal. Consequentemente, a raíz craniana do nervo acessório é em
princípio, parte do nervo vago. O nervo laríngeo recorrente
Núcleos de nervos cranianos do bulbo é também conhecido como nervo de Galeno (130 a 200 AC)
Os nervos cranianos a seguir possuem seus núcleos o qual descobriu que esse nervo controlava a voz (AFIFI;
no bulbo: 1) Hipoglosso (XII nervo craniano); 2) Acessório BERGMAN, 2005).
(XI nervo craniano); 3) Vago (X nervo craniano); 4)
Glossofaríngeo (IX nervo craniano); e o 5) Vestibulococlear 3-) Nervo vago (X nervo Craniano)
(VIII nervo craniano). O nervo vago é um nervo misto que contém fibras
aferentes e eferentes, está associado a quatro núcleos do bulbo.
1) Nervo hipoglosso (XII nervo craniano) Núcleo posterior do nervo vago: é uma coluna de
O nervo hipoglosso contém principalmente fibras células situada póstero lateral ou lateralmente ao núcleo do
nervosas motoras somáticas que inervam os músculos nervo hipoglosso, estendendo-se superior e inferiormente

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alguns milimetros além desse último. Os axônios dos neurônios estão relacionados aos mesmos dois núcleos associados ao
situados nessa coluna estendem-se ântero-lateralmente vago.
pelo bulbo e emergem na face lateral desse, entre a oliva e Núcleo espinal do nervo trigêmeo: que recebe fibras
o pedúnculo cerebelar inferior. Os axônios originados desse aferentes somáticas gerais da região retroauricular (os corpos
núcleo são fibras parassimpáticas pré-gangilonares que neuronais de origem dessas fibras estão localizados no gânglio
conduzem impulsos eferentes viscerais gerais para as víceras superior dentro do forame jugular).
torácicas e abdominais. O núcleo posterior do nervo vago Núcleo do trato solitário: que recebe dois tipos de
recebe fibras dos núcleos vestibulares; consequentemente, a fibras aferentes viscerais: *Fibras aferentes viscerais gerais
estimulação vestibular excessiva resulta em náusea, vômito e (conduzem sensibilidade tátil, dolorosa e térmica das túnicas
alteração da frequência cardíaca. das mucosas do terço posterior da língua, tonsilas e tuba
Núcleo ambíguo: conhecido também como núcleo auditiva) e *Fibras aferentes viscerais especiais (conduzem
motor ventral do vago. É uma coluna de células situada a sensibilidade gustatória dos terço posterior da língua).
meio caminho entre a oliva e o núcleo espinal do trigêmio. Os corpos neuronais que originam as fibras aferentes
Seus axônios estendem-se póstero-medialmente e, em seguida, viscerais estão localizados no gânglio inferior (petroso). No
curvam-se ântero-lateralmente para emergir na face lateral do interior do bulbo, formam o trato solitário e projetam-se para o
bulbo, entre a oliva e o pedúnculo cerebelar inferior. Esses núcleo do trato solitário de modo semelhante ao descrito para
axônios conduzem impulsos eferentes viscerais especiais aos o nervo vago.
músculoas braquiméricos da faringe e da laringe (constrictores O nervo glossofaríngeo também contém uma
da faringe, cricotireóideo, músculos intrínsecos da laringe, ramificação com fibras aferentes especiais, o ramo para o seio
levantador do véu palatino, palatoglosso, palatofaríngeo e carótico. Esse ramo inerva o glomo e seio caróticos, que são os
músculo da úvula). Além do nervo vago, o núcleo ambíguo centros quimio e baroreceptores respectivamente. A elevação
contribui com fibras eferentes para os nervos glossofaríngeo da pressão arterial estimula o ramo para o seio carótico que,
e acessório. ao chegar ao bulbo, envia colaterais ao núcleo posterior do
Os componentes aferentes do nervo vago estão vago. Em seguida, os componentes eferentes viscerais gerais
relacionados a dois núcleos bulbares: do nervo vago chegam às células pós-ganglionares situadas
Núcleo espinal do nervo trigêmio: Esse núcleo recebe na parede cardíaca, que dimunuem a frequência cardíaca e
fibras afrentes somáticas gerais do pavilhão auricular, do meato reduzem a pressão arterial. O reflexo glossofaríngeo-vagal é
acústico externo e da face externa da membrana timpânica. particularmente sensível em pessoas idosas.
Núcleo do trato solitário: Esse núcleo recebe dois
tipos de fibras aferentes viscerais: 1) Fibras aferentes viscerais 5-) Nervo Vestíbulo-Coclear (VII nervo craniano)
gerais, que conduzem sensibillidade viscerais gerais da Trata-se de um nervo exclusivamente sensitivo que
faringe, laringe, traqueia e esôfago, assim como das vísceras ocupa, juntamente com os nervos facial (VII) e intermédio, o
torácicas e abdominais; 2) Fibras aferentes viscerais especiais, meato acústico interno. Apresenta uma parte vestibular e uma
que conduzem sensibilidade gustatória da região da epiglote parte coclear, que, apesar de unidas em um tronco comum,
(MARTIN, 2003; AFIFI; BERGMAN, 2005; SNELL, 2010). possuem origens, funções e conexões centrais diferentes. A
parte vestibular é formada por fibras sensitivas que se originam
4-) Nervo Glossofaríngeo (IX nervo craniano) dos neurônios sensitivos do gânglio vestibular, estando
O nervo glossofaríngeo é também um nervo misto, relacionada com a manutenção do equilíbrio do corpo. Já a
estando associado a quatro núcleos no bulbo. parte coclear é constituída por fibras originadas nos neurônios
Núcleo ambíguo: As fibras axonais que estão no sensitivos do gânglio espiral, estando relacionada com a
nervo glossofaríngeo tem sua origem nos nerônios situados audição. As fibras desse nervo classificam-se como aferentes
na parte posterior do núcleo ambíguo e inervam o músculo somáticas especiais.
estilofaríngeo, o qual eleva a faringe durante a fala e a
deglutição. Essa parte do nervo glossofaríngeo é pequena. Suprimento sanguíneo do bulbo
Núcleo salivatório inferior: O núcleo salivatório O bulbo recebe suprimento sanguíneo das seguintes
inferior é um agrupamento de neurônios situados na região artérias: 1) vertebral; 2) espinal anterior; 3) espinal posterior;
posterior do bulbo, de difícil distinção em relação aos neurônios 4) artéria cerebelar inferior posterior, podendo ser dividido em
reticulares. Os axônios dos neurônios situados nesse núcleo quatro áreas vasculares: paramediana, olivar, lateral e posterior.
saem do bulbo por sua face lateral. Esses axônios são fibras A área paramediana recebe suprimento sanguíneo da artéria
eferentes viscerais gerais pré-ganglionares que conduzem vertebral e ou artéria espinal anterior. Essa região abrange a
impulsos secretores motores em direção à glándula parótida. pirâmide, o lemnisco medial, o fascículo longitudinal medial e
Eles se estendem pelo nervo petroso menor até o gânglio ótico. o núcleo e nervo hipoglosso. A área olivar recebe suprimento
Como exemplo podemos ter “a boca seca” em resposta ao sanguíneo inconstante da artéria vertebral. Essa região inclui
medo e à ansiedade, e a salivação em resposta ao “cheiro da a maior parte do complexo olivar inferior. A área lateral
comida”, essas reações refletem influxos ao núcleo salivatório recebe suprimento sanguíneo constante da artéria vertebral
superior provenientes do hipotálamo e do sistema olfatório, e suprimento variável da artéria cerebelar inferior posterior.
respectivamente. Esse território engloba o núcleo posterior do nervo vago,
Os componentes aferentes do nervo glossofaríngeo o núcleo e trato solitário, os núcleos vestibulares, o núcleo

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ambíguo, o núcleo e trato espinhal do nervo trigêmeo, o trato da língua do tipo neurônio motor inferior e perda bilateral da
espinotalâmico lateral, o pedúnculo cerebelar inferior e a via cinestesia e tato discriminativo.
olivocerebelar. A área posterior é suprida superiormente pela
artéria cerebelar inferior posterior e inferiormente pela artéria Sindrome bulbar lateral
espinal posterior. Esse território inclui os núcleos vestibulares, A sindrome bulbar lateral (GAN; NORONHA,
os tratos e núcleos da coluna posterior e parte do pedúnculo 1995) é causada por oclusão da artéria vertebral ou, menos
cerebelar inferior (HAINES, 2006). frequentemente, do ramo medial da artéria cerebelar inferior
posterior, quando essa artéria irriga o bulbo. Também é
Correlatos clínicos do bulbo conhecida como síndrome da artéria cerebelar inferior
As lesões vasculares do bulbo são as mais condizentes posterior ou síndrome de Wallemberg. A área afetada (Figura
com as correlações anatomoclínicas. No passado, essas 10) geralmente inclui as seguintes estruturas: Núcleo espinal
síndromes eram disignadas pelas artérias responsáveis pela do nervo trigêmio e seu trato; Trato espinotalámico adjacente;
irrigação da região como por exemplo sindrome da artéria Núcleo ambíguo ou seus axônios; Base do pedúnculo cerebelar
espinal anterior, sindrome da antéria cerebelar posterior inferior; Núcleos vestibulares; Fibras simpáticas descendentes
inferior, síndrome da artéria vertebral). No entanto, em razão do hiptálamo; Fibras olivocerebelares.
das variaçãoes na origem do suprimento sanguíneo, atualmente
essas síndromes são designadas pela região afetada pela lesão
(BLUMENFELD, 2002).

Síndrome bulbar medial (síndrome bulbar anterior de


Dejerine)
A síndrome bulbar medial (GAN; NORONHA, 1995)
é causada por oclusão da artéria espinal anterior ou de ramos
paramedianos da artéria vertebral. A área afetada geralmente
inclui as seguintes estruturas: Lemnisco medial; Pirâmide;
Radículas do nervo hipoglosso ou seu núcleo (Figura 9).

Figura 10: Imagem de RM axial do bulbo evidenciando infarto


lateral direito. (http://radiopaedia.org/articles/brainstem-
stroke-syndromes).

Os sinais e sintomas neurológicos resultantes


do comprometimento dessas áreas incluem: Perda da
sensibilidade dolorosa e térmica da metade ipsilateral da
face em consequência do comprometimento do trato e do
núcleo espinhal do nervo trigêmio; Perda da sensibilidade
dolorosa e térmica da metade contralateral do corpo, devido
ao comprometimento do trato espinotalâmico; perda do reflexo
faríngeo, dificuldade para deglutir, roquidão e dificuldade
de articulação da fala, causado por paralisia dos músculos
Figura 9: Imagem de RM axia l do bulbo ponderada em T2 inervados pelo núcleo ambíguo (nervo glossofaríngeo e vago)
evidenciando infarto bulbar medial a direita (radiopaedia.org/ ipsilateral a lesão bulbar; perda ipsilateral de coordenação
articles/brainstem-stroke-syndromes). resultante do comprometimento da base do pedúnculo
cerebelar inferior. As lesões do pedúnculo cerebelar podem
Os sinais neurológicos que resultam do causar sintomas clínicos variáveis, que vão desde a vertigem
comprometimento dessas áreas são: Perda contralateral de ou vômitos como o único quadro clínico de paralisia facial,
cinestesia e tato discriminativo, resultante de comprometimento ataxia, nistagmo, diplopia, disfagia, disartria, surdez, fraqueza
do lemnisco medial; paralisia contralateral do tipo neurônio motora contralateral, perda sensorial trigeminal, dismetria do
motor superior (fraqueza, reflexos hiperativos, sinal de membro, perda de sensação de dor e temperatura, a síndrome de
Babinski, clônus e espasticidade) com preservação da face, Horner (causado por comprometimento das fibras simpáticas
causada por comprometimento da pirâmide; paralisia do descendentes do hipotálamo), e “síndrome do encarceramento”
tipo neurônio motor inferior da metade ipsilateral da língua (MORITANI et al., 2003). Lesões do núcleo olivar inferior
(fraqueza, atrofia e fibrilação) e desvio da língua protraida têm sido associados com uma diminuição da capacidade de
para o lado atrofiado, em decorrência do comprometimento do aprimorar tarefas motoras altamente especializadas, tais como
núcleo ou do nervo hipoglosso). melhorar a precisão de atingir um alvo com uma bola. Há
A síndrome bulbar medial pode ocorrer bilateralmente, alguma evidência de que ele é estimulado pela grelina (AFIFI;
resultando em fraqueza ou paralisia bilateral do tipo neurônio BERGMAN, 2005).
motor superior (com preservação da face), paralisia bilateral

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Revisão de anatomia e correlações clínicas...

Síndrome bulbar posterior Bloedel, J. R.; Bracha, V. Current concepts of climbing fiber
A síndrome bulbar posterior é causada por oclusão function. Anat. Rec. v. 253, n.4, p.118-126, 1998.
do ramo medial da artéria cerebelar inferior posterior. As
estruturas afetadas incluem os núcleos vestibulares e o Fiester, P.; Baig, S. A.; Patel, J.; Rao, D. An Anatomic,
pedúnculo cerebelar inferior. Imaging, and Clinical Review of the Medial Longitudinal
Estão presentes os seguintes sinais neurológicos: Fasciculus. J. Clin. Imaging. Sci. v.10, p.83, 2020.
Ataxia ipsilateral dos membros ou marcha atáxica, resultante do
comprometimento do pedúnculo cerebelar inferior; vertigem, Gan, R.; Noronha, A. The medullary vascular syndromes
vômito e nistagmo evocado pelo olhar ipsilateral, resultante do revisited. J. Neurol. v. 242, n. 4, p.195-202, 1995.
comprometimento dos núcleos vestibulares.
Gonçalves, L. A.; Melo, S. R. A base biológica da atenção.
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A paralisia pseudobulbar é uma síndrome clínica
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Alguns núcleos de nervos cranianos, entretanto recebem
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solitário, o núcleo motor do facial, o núcleo supraespinhal do Pathology of the Cerebellar Peduncle. Neurographics. v. 3,
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A interrupção bilateral das fibras corticuonucleares
indiretas ou corticonucleares diretas no tronco encefálico Netter, F. H. Netter Atlas de Anatomia Humana. 7. Ed. Rio
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neurológicas dessa síndrome incluem: Fraqueza dos músculos
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inervados pelos núcleos de nervos cranianos correspondentes,
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Popescu, B. F. G.; Lennon V. A.; Parisi, J. E.; Howe, C. L.;
Lesão na área postrema
Weigand, S. D.; Cabrera-Gómez, J. A.; Newell, K.; Mandler,
Semelhante a outras áreas periventriculares do
R. N.; Pittock, S. J.; Weinshenker, B. G.; Lucchinetti, C. F.
assoalho do IV ventrículo, a área postrema expressa em suas
Neuromyelitis optica unique area postrema lesions: Nausea,
células a proteína de membrana AQP4 (aquaporina-4), alvo
vomiting, and pathogenic implications. Neurology. v.76, n
principal das lesões da neuromielite óptica. Dessa forma,
14, p. 1229-1237, 2011.
manifestações dessa doença podem ser vômitos, náuseas e
soluços intratáveis por lesões na área postrema (POPESCU et
Sciacca, S.; Lynch, J.; Davagnanam, I.; Barker, R.
al., 2011).
Midbrain, Pons, and Medulla: Anatomy and Syndromes.
Radiographics. v.39, n 4, p. 1110-1125, 2019.
Conclusão
Snell, R. S. Clinical Neuroanatomy. 7. Ed. Philadelphia:
Compreender a anatomia interna do TE é essencial para Lippincott Williams & Wilkins, 2010. P 542.
o diagnóstico neurológico e a prática da medicina clínica. Outros
profissionais da saúde também se beneficiam desse conhecimento Vanderah, T. W.; Gould, D. J. Nolte´s the Human Brain.
para melhor manejo dos seus pacientes neurológicos. Essa revisão An Introduction to its Functional Anatomy. 6. Ed.
apresenta detalhes da anatomia macroscópica e microscópica Philadelphia: Elsevier, 2009. P.
do bulbo, bem como seus correlatos clínicos frente às lesões
mais comuns dessa divisão particular do TE, conhecidas como Wang, D. Reticular formation and spinal cord injury. Spinal
síndromes bulbares. Cord. v. 47, p. 204-212, 2009.

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Ed. New York: McGraw-Hill Companies Inc., 2005. 494p. Study. J. Clin. Med. v.9, n 5, p. 1340, 2020.
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ISSN 1982-114X Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR, Umuarama, v. 26, n. 2, p. 175-186, maio/ago. 2022 185
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Web sites:

http://anatpat.unicamp.br/

http://radiopaedia.org/articles/brainstem-stroke-syndromes

http://what-when-how.com/neuroscience/development-of-the-
nervous-system-gross-anatomy-of-the-brain-part-2/

Recebido em: 21/02/2021


Aceito em: 08/09/2021

ISSN 1982-114X Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR, Umuarama, v. 26, n. 2, p. 175-186, maio/ago. 2022 186

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