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Literatura e Meio Ambiente: Entre o Realismo/Naturalismo e Concretismo II

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Língua Portuguesa

Literatura e meio ambiente: entre o


Realismo/Naturalismo e Concretismo II

2º bimestre - Aula 7
Ensino Médio
● O contexto ambiental na ● Relacionar a construção de
literatura; sentido do contexto literário
● O cortiço, Aluísio Azevedo; do século XIX ao contexto de
produção que o envolve e às
● Realismo/Naturalismo.
marcas linguísticas que o
caracterizam.
Discussão disciplinada

Como a arte e a literatura podem influenciar


nossa perspectiva em relação ao descarte do
lixo e à conscientização ambiental?

https://abre.ai/iMCZ

Lixo extraordinário, registro do


trabalho de Vik Muniz no Jardim
Gramacho.

6 MINUTOS Jacques-Louis David, “A morte de Marat”, 1793.


O contexto ambiental na literatura

Toda a atividade humana se relaciona com o meio ambiente,


partindo do pressuposto que o homem também é natureza.
Jurandyr Ross

A literatura nos amplia possibilidades de análise dos aspectos políticos,


históricos e culturais de uma sociedade. Sua interpretação pelo
contexto ambiental constitui parâmetros para diagnosticar e
prognosticar ações intervencionistas e protecionistas em relação aos
meios naturais.
Panorama do Rio no início do
século XX
No início do século XX, o Rio de Janeiro
enfrentava graves problemas sociais
devido ao rápido crescimento desordenado, O Palácio Monroe.
Cartão-postal anterior a 1930.
impulsionado pela imigração europeia e
transição do trabalho escravo para o trabalho livre. Quando Pereira
Passos assumiu a prefeitura, a cidade colonial com quase um milhão de
habitantes carecia de infraestrutura básica, resultando em cortiços,
epidemias e a reputação internacional de "cidade da morte".
Com a expulsão das populações de baixa
renda do centro do Rio de Janeiro, a
concentração demográfica passou a se
dar nos morros.

Aluísio Azevedo narrou o cotidiano de


moradores de um cortiço no Rio de
Janeiro em uma tentativa científica de
fazer um retrato da realidade.
Leitura em fase
O cortiço, Aluísio Azevedo
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a
sua infinidade de portas e janelas alinhadas.
Um acordar alegre e farto de quem dormiu, de uma assentada, sete horas de
chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras
notas da última guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra
da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia.
A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe
um farto acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da
lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha
e triste, feita de acumulações de espumas secas.
6 MINUTOS
Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se
amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por
toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café
aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as
primeiras palavras, os bons-dias; reatavam-se conversas interrompidas à
noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros
abafados de crianças que ainda não andam. No confuso rumor que se
formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber
onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns
quartos saiam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do
papagaio, e os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se
ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia.
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração
tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara,
incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco
palmos. O chão inundava-se.
As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as
molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas
despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses
não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário, metiam a cabeça
bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas,
fossando e fungando contra as palmas da mão. [...]
AZEVEDO, A. O Cortiço.

Indicamos a leitura da obra na íntegra


Todo mundo escreve
1. Foco narrativo
Em todo gênero narrativo há um narrador que conta a história. Ele,
basicamente, está definido em dois tipos: aquele que narra em 1ª pessoa
ou em 3ª pessoa. No caso da obra O cortiço, em qual deles o
narrador se encaixa? Esse tipo de narrativa permite ao leitor perceber as
intencionalidades desse narrador?

2 MINUTOS
Correção
1. Foco narrativo
O narrador está na 3ª pessoa. Esse tipo de narrativa permite ao
narrador fazer julgamentos daquilo que observa, valendo-se de
elementos descritivos presentes nos ambientes e nas personagens
daquele período.
De surpresa
2. As expressões e seus significados
a) Qual é a diferença entre dizer que as pessoas acordavam no cortiço
e dizer que “o cortiço acordava”?
b) Como o autor utiliza elementos sensoriais, como cheiros e sons,
para criar uma atmosfera vívida no cortiço?

3 MINUTOS
Correção
2. As expressões e seus significados
a) O narrador enfatiza a força do coletivo. Todo o cortiço é
apresentado como um personagem que, aos poucos, acorda
como uma colmeia humana.
b) O texto descreve que em volta das bicas no cortiço há um
"zunzum crescente" e uma "aglomeração tumultuosa de machos
e fêmeas". Esse trecho indica que as bicas se tornam um local
tumultuado e caótico pela manhã, devido à busca por água.
O Realismo/Naturalismo
"O Naturalismo, nas letras, é igualmente o retorno à natureza e ao homem, a
observação direta, a anatomia exata, a aceitação da pintura do que existe.”
ZOLA, Émile.

O Naturalismo, um estilo literário surgido no final do século XIX, foi


influenciado pela obra A Origem das Espécies de Charles Darwin.
Originado na França, é visto como uma forma mais extrema do
Realismo, frequentemente chamado de Realismo-Naturalismo.
Caracterizado por determinismo e zoomorfização, os escritores
naturalistas baseavam-se na ciência para criar seus personagens,
diferenciando-se dos realistas.
O Realismo/Naturalismo
O Naturalismo, uma evolução do Realismo, apresentava as seguintes
características:
● Utilização da ciência para analisar a sociedade;
● Personagens eram condicionadas pelo determinismo, influenciadas
por raça, meio e momento histórico;
● Predominância das motivações biológicas sobre a análise psicológica;
● Construção das personagens com base na ideia de que são animais
comandados por instintos.
● Ênfase no instinto sexual em detrimento da capacidade racional;
● Protagonismo das classes economicamente desfavorecidas,
exploradas em condições subumanas;
● Representação de uma sexualidade explícita, chocando o público
romântico;
● Tratamento da mulher como histérica, do negro como inferior e do
homossexual como doente;
● Uso de zoomorfização, associando características de animais a seres
humanos.
3 MINUTOS Todo mundo escreve
(ITA) adaptado
3. Analise as proposições acerca de O cortiço:
I. Constantemente, as personagens sofrem zoomorfização, isto é, a
animalização do comportamento humano, respeitando os preceitos da
literatura naturalista.
II. A visão patológica do comportamento sexual é trabalhada por meio do
rebaixamento das relações, do adultério, do lesbianismo, da prostituição etc.
III. O meio adquire enorme importância no enredo, uma vez que determina o
comportamento de todas as personagens, anulando o livre-arbítrio.
IV. O estilo de Aluísio Azevedo, dentro de O cortiço, confirma o que se
percebe também no conjunto de sua obra: o talento para retratar
agrupamentos humanos.
Está(ão) correta(s)

a) Todas.

b) Apenas I.

c) Apenas I e II.

d) Apenas I, II e III.

e) Apenas III e IV.


Correção
Está(ão) correta(s)

a) Todas.

b) Apenas I.

c) Apenas I e II.

d) Apenas I, II e III.

e) Apenas III e IV.


Responda em seu caderno.

Como você acredita que a representação da vida no cortiço, conforme


retratada na obra de Aluísio Azevedo, pode contribuir para uma reflexão
sobre questões ambientais contemporâneas?
● Relacionamos a construção de sentido
do contexto literário do século XIX ao
contexto de produção que o envolve e
às marcas linguísticas que o
caracterizam.
A relação homem e natureza: O Contexto Ambiental na Literatura. Revista USP. (páginas 2 a 4). Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/crioula/article/download/52747/56602/66038. Acesso em: 05 fev. 2024.
CMSP. 3a Série. 3a série EM - Língua Portuguesa - Retomada: O realismo e o naturalismo e o meio ambiente. Youtube.
https://www.youtube.com/watch?v=pfnYORKoURs. Acesso em: 06 fev. 2024.
Francisco Pereira Passos. CC BY 3.0 Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Pereira_Passos. Acesso em:
05 fev. 2024.
Filmes, D. LIXO EXTRAORDINÁRIO:TRAILER OFICIAL. Youtube. https://www.youtube.com/watch?v=_pyR9qCd2F8. Acesso em:
06 fev. 2024.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Aprender Sempre, 2022. Caderno do Aluno, Língua Portuguesa, 3a série EM, v. 1.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Currículo Paulista do Ensino Médio. São Paulo, 2019.
Imagens:
Slide 3 - Gettyimages. Disponível em. https://encurtador.com.br/alzO0. Acesso em: 06 fev. 2024.
Slide 3 - Wikimedia. Disponível em: https://encurtador.com.br/rHV48. Acesso em: 06 fev. 2024.
Slide 5 - Wikimedia. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pereira_Passos#/media/Ficheiro:Pal%C3%A1cio_Monroe_(cart%C3%A3o-postal_2).jpg. Acesso em: 06
fev. 2024.
Slide 6 - Pixabay. Disponível em: https://encurtador.com.br/bIOT6. Acesso em: 06 fev. 2024.
Slide 6 - Pixabay. Disponível em: https://encurtador.com.br/mrM24. Acesso em: 06 fev. 2024.

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