Carta 05-OC-11-04-1891 - Modernizada

|:| Corpus Compartilhado Diacrônico: cartas pessoais brasileiras
|:| Célia Lopes {celiar.s.lopes@gmail.com} e Silvia Cavalcante {silviare@gmail.com}
|:| carta 05-OC-11-04-1891
|:| Autor: Oswaldo Cruz
|:| Destinatário: Emilia
|:| Data: 12 de abril de 1891
|:| Versão modernizada
|:| Encoding: UTF-8
Jardim , 11 de abril de 1891
Minha querida Miloca
Não sei o que seria do homem se no meio das grandes dores não tivesse alguns
momentos de alegria que o reconfortassem para continuar a suportá-las . No meio da
grande dor que me produziu a tua separação tive hoje um lenitivo para meu sofrer :
recebi a tua carta do dia 9 deste mês . Antes de tudo , meu querido anjo , de
joelhos a teus pés venho agradecer-te a atenção , que tiveste para comigo ,
escrevendo-me mesmo na noite da tua chegada , cansada , aborrecida , incomodada ;
esta suprema prova de amor , meu anjo , ficará eternamente guardada no recanto mais
[pag]
íntimo de meu coração .
Deus é supremamente bom , minha simpática Miloca , e por isto eu já esperava que tu
tivesses chegado ao termo de tua jornada sem acidente algum a deplorar , contudo já
enviei a Ele as minhas preces de agradecimento .
Tu me mandaste , querida noiva , o teu coração , puro , angélico imaculado ;

recebi-o , meu anjo , sobre meus lábios , cobri-o de beijos , reguei-o com as
lágrimas do mais ardente amor e depois levei-o , meu anjo , para junto do meu que ,
só , chorava , gemia dentro de meu peito ferido .
Hoje de manhã teu Pai esteve aqui em casa , onde veio conversar com o meu e me
dirigir algumas palavras de consolo , assegurando-me que não foi ele a causa de
nossa separação . Só hoje tive coragem de ir buscar Dona Isabellinha , ela estava
de volta da cidade , onde tinha ido buscar Helena .
Na hora em que estou te escrevendo estão todos reunidos na sala , conversando ;
[pag]
tu não imaginas , meu bem , a saudade pungente que estou sentindo de ti ; Miloca ,
tu és a minha vida , a minha adoração ; sem ti não posso , não sei viver ; tem
compaixão de mim , meu bem , volta , volta o mais depressa possível , porque eu já
não posso resistir a tão grande dor , enlouqueço ; pede a tua Mãe em meu nome ,
invoca-a pelo amor que te tem , implora para voltar , para te trazer para junto de
mim . Diversas vezes , Miloca , tenho tomado a resolução de correr para perto de ti
, mas intervém sempre a razão que me manda ficar ; porque do contrário quem sofrerá
não serei eu , seremos nós dois , e eu , prostrado fico sofrendo .
Adeus , meu querido anjo , minha boa e idolatrada noiva , adeus . abraça-me ,
beija-me , muito , muito porque só assim poderei resistir até a tua chegada .
Dá muitas lembranças à tua
[pag]
boa Mãe e a todos ; aceita-as também as de meus pais e irmãs e tu , minha boa minha
adorada noiva aceita um fervoroso e saudoso amplexo
de teu noivo que só pensa em ti
Oswaldo
P. S. Escreve-me todos os dias e não te esqueças nem um segundo de mim , que te

adoro , sim ?

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|:| Autor: Oswaldo Cruz

|:| Destinatário: Emilia

|:| Data: 12 de abril de 1891

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|:| Encoding: UTF-8

Jardim , 11 de abril de 1891

Minha querida Miloca

íntimo de meu coração .

Tu me mandaste , querida noiva , o teu coração , puro , angélico imaculado ;

Na hora em que estou te escrevendo estão todos reunidos na sala , conversando ;

Dá muitas lembranças à tua

de teu noivo que só pensa em ti

P. S. Escreve-me todos os dias e não te esqueças nem um segundo de mim , que te

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