O Ser Humano e Seu Chamado

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O ser humano é chamado a ser ele mesmo em suas relações

É quase impossível falar sobre o ser humano sem pensar em suas relações. Mesmo quando
por opção, ele decide viver isolado, algum momento da vida ele manteve relações ou irá se
relacionar com outras pessoas. Família, escola, trabalho, vizinhos são relacionamentos que
mantemos em nosso dia-a-dia, e ainda pessoas que não são de nosso convívio, tais como as
que esbarramos em ônibus, supermercado ou na rua, e acabam fazendo parte desse convívio
coletivo. Sem falar da relação que mantemos com o nosso eu interior e com a nossa
espiritualidade.

Somos uma espécie dependente, ao nascer as tartarugas correm direto para a água, sem
precisar de ninguém ao seu lado para ensiná-las a andar ou nadar, e nós, se não houvesse
ninguém para nos dar o suporte básico de vida dificilmente teríamos sobrevivido. Estamos em
constante aprendizado e as relações são importantes nos processos de mudanças, podemos
moldar nossos comportamentos e repensar nosso modo de vida quando nos permitimos ser
quem verdadeiramente somos e quando damos chance de conhecer e aceitar o outro realmente
como ele é, respeitando seus direitos e suas escolhas.

Neste ponto podemos refletir sobre os tópicos da dimensão de imanência, a autopossessão,


liberdade e responsabilidade e a autofinalidade.

Apesar de acreditar que como seres relacionais somos dependentes de outros indivíduos, não
podemos confundir essa dependência relacional com submissão ou subordinação. Somos
indivíduos autônomos, donos de nós mesmos e temos liberdade em gerir a nossa vida,
efetuando racionalmente as próprias escolhas para atingir o nosso objetivo.

E também não temos direito de cercear a liberdade do outro, respeitando o espaço pessoal e
sem imposições.

A medida que avancei nos estudos das dimensões, veio em mente algo que convivi em minha
infância. Nascida em uma família simples do interior de São Paulo, quase na zona rural, não
era difícil de se deparar com casos, principalmente de mulheres, que eram escravizadas pelos
seus maridos. O mais absurdo é que de alguma forma isso era considerado algo natural.
Porém, na realidade se tratava de relacionamentos abusivos, onde o agressor pressionava de
forma física ou psicológica o outro a fazer algo pela força, intimidação ou ameaça.

O abuso emocional era tamanho que as esposas acreditavam que, realmente não tinham o
direito de respirar o mesmo ar que o marido e eram devotamente gratas por ter a oportunidade
de servi-los. Nunca tinham voz para nada e suas vontades e desejos nunca eram considerados,
nem mesmo por elas próprias.

Mesmo, nos dias de hoje, em nossa sociedade moderna e tecnológica, este tipo de
relacionamento abusivo ainda faz parte da realidade. A todo momento nos deparamos com
notícias nas mídias com casos de denúncias de mulheres que sofreram abusos e eram
manipuladas por seus companheiros, e ainda existem muitas que com medo ainda se
submetem a este tipo de escravidão.

Todo o indivíduo tem o direito a decidir o que acredita ser melhor para sua vida, temos o livre
arbítrio na escolha de nosso caminho, assumindo as responsabilidades de nossas escolhas,
sejam elas relacionadas estilo de vida, relações e crenças. Temos que respeitar as diferenças e
escolhas do outro, temos que ser mais abertos para aceitar que todos nós somos seres
imperfeitos, que estamos todos em constante evolução.

Portanto é necessário buscar o nosso melhoramento moral, nos tornando seres mais
conscientes de nossas atitudes e saber para que viemos pois sabemos que nossa ação tem
reflexos diretos nos outros e no meio onde vivemos.

Neste processo de autoconhecimento além de refletir sobre as orientações para a própria


interioridade em equilíbrio e harmonia com a dimensão de abertura ou transcendência: ao
mundo, ao outro e a Deus.

O ser humano tem explorado de forma indiscriminada a natureza, provocando profundas


alterações sobre o meio natural e a consequência são vistas de diversas formas, como
alterações climáticas, o efeito estufa e o aquecimento global, perda de recursos hídricos,
erosão e a poluição. Temos que aprender a ter mais cuidado com a natureza, apreciar sua
beleza e utilizar os seus recursos, tão necessários para nossa sobrevivência, de forma
respeitosa e sustentável, garantindo a preservação dos recursos naturais para nós e para as
próximas gerações.

Entre os animais, somos os mais fracos. Nossa força é inferior à de muitos animais, não temos
agilidade, nosso olfato e nossa visão também são inferiores à de muitos outros animais, porém
acredito que o que manteve viva a nossa espécie, além da racionalidade, foi a vivencia em
comunidade.
Somos seres gregários por natureza, fomos criados para viver em comunidade. E é no
convívio com o outro que conseguimos nos aprimorar como criatura humana, desenvolvendo
nosso senso de solidariedade, de respeito mútuo, de amor e de fraternidade.

Nossa vida é um ato de amor, nós, seres criados a partir do amor maior de nosso pai, somos
convidados a transcender, ou seja, ir além de nossos limites de convenção. A pensar além do
concreto e tangível, que é nosso corpo físico, para explorar o nosso ser espírito, nos
conectando com o nosso interior como seres de imortais, pois a alma humana é infinita e a
alma é a morada de Deus.

Este diálogo com o Pai Eterno nos traz a possibilidade de nos conectar com o bem universal,
de nos abrir a compreensão sobre a nossa existência, e entender que somos parte de um plano
de amor. Somos seres sedentos de respostas, porém para conseguir responder a estes
questionamentos temos que aprender a conversar com Deus, precisamos nos entender como
parte integrante do mundo e que temos nossas responsabilidades para com o outro e com a
natureza e nos tornar pessoas melhores.

Como reflexão interior, trago um texto de Sathya Sai Baba: “ O homem é uma parte da
comunidade humana. A humanidade é uma parte da natureza. A natureza é um membro de
Deus. O homem não reconhece essas inter-relações. Hoje, os homens estão esquecendo suas
obrigações. O Cosmo é um organismo integral de partes inter-relacionadas. Quando cada
um executa seu dever, os benefícios estão disponíveis para todos. O homem tem direito
somente a cumprir suas obrigações e não aos frutos delas. O homem é uma espécie de diretor
de palco do que acontece na natureza. Mas esquecendo de suas responsabilidades, o homem
luta por direitos. É tolice lutar por direitos sem cumprir suas obrigações. Todo o caos e
todos os conflitos no mundo devem-se ao fato de os homens terem esquecido suas obrigações.
Se todos cumprirem seus deveres diligentemente, o mundo será pacífico e próspero. ”

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