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Agravo de Instrumento-Cv Nº 1.0000.22.

069864-1/001

<CABBCAADDAABCCBACBBCADCBACBBCABACADAADDADAAAD>
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - JUSTIÇA GRATUITA - PESSOA
FÍSICA - DECLARAÇÃO DE INSUFICIÊNCIA DE RECURSOS -
REQUISITOS LEGAIS - CRITÉRIO SUBJETIVO PARA INDEFERIMENTO. A
pessoa natural com insuficiência de recursos para pagar as custas, as
despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à
gratuidade de justiça, presumindo-se verdadeira a alegação de
insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural. No quadro
probatório encontrado nos autos, preenchidos os requisitos legais,
deve-se reconhecer direito do requerente aos benefícios da justiça
gratuita. “Há violação dos artigos 2º e 4º da Lei n. 1.060/50 [artigos 98 e
99, §§ 2º e 3°, CPC/2015] quando os critérios utilizados pelo magistrado
para indeferir o benefício revestem-se de caráter subjetivo, ou seja,
criados pelo próprio julgador, e pelos quais não se consegue inferir se o
pagamento pelo jurisdicionado das despesas com o processo e dos
honorários irá ou não prejudicar o seu sustento e o de sua família”.
AGRAVO DE INSTRUMENTO-CV Nº 1.0000.22.069864-1/001 - COMARCA DE RIBEIRÃO DAS NEVES -
AGRAVANTE(S): JOSE LUIZ DE SOUZA - AGRAVADO(A)(S): VIA VAREJO S/A

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 12ª CÂMARA CÍVEL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da
ata dos julgamentos, em DAR PROVIMENTO AO RECURSO.

JD. CONVOCADO MARCELO PEREIRA DA SILVA


RELATOR

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Agravo de Instrumento-Cv Nº 1.0000.22.069864-1/001

JD. CONVOCADO MARCELO PEREIRA DA SILVA (RELATOR)

VOTO

JOSÉ LUIZ DE SOUZA interpõe agravo de instrumento contra a


decisão (ordem 08) proferida nos autos da ação de procedimento
comum ajuizada em desfavor de VIA VAREJO S.A., que indeferiu
pedido de justiça gratuita nos seguintes termos:

“Considerando que vige como princípio de acesso à


Justiça, a concessão de isenção temporária das
exações processuais, àqueles que, efetivamente,
sejam necessitados, verdadeiramente
hipossuficientes economicamente, observa-se que a
parte Exequente não faz jus ao aludido beneplácito,
porquanto não se reveste da condição de
hipossuficiente, nos termos da legislação de regência
da espécie, não sendo tal conclusão derivada de
presunção, mas sim, da análise dos fatos e do acervo
histórico real que emerge dos autos. Posto isto,
INDEFIRO a Justiça Gratuita ora formulada,
determinando seja a parte Autora intimada para
recolher as custas processuais, no prazo de 15
(quinze) dias, sob pena de cancelamento da
distribuição”.

O agravante alega que “para a concessão do benefício da


justiça gratuita não é necessário o caráter de miserabilidade do
requerente, pois em princípio, a simples afirmação da pessoa natural
no sentido de que não está em condições de pagar às custas do
processo sem prejuízo do próprio sustento e de sua família, já se
afigura como sendo suficiente para o seu deferimento, conforme
disposição contida no art. 99, §3º do Código de Processo Civil. [...] fez
a juntada da declaração de isenção de IRPF, sempre esteve no rol dos
isentos pela Receita Federal, nunca tendo o declarado, juntou ainda
cópia da CTPS, sendo que atualmente está DESEMPREGADO e não
é aposentado, juntou extratos bancários, comprovante de Situação

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Cadastral do CPF, que comprova que o documento está em situação


Regular com a Receita Federal. Ou seja, não declara Imposto de
Renda por não ter rendimentos para isso e está em situação regular” ”
(ff. 07/08 doc. único).
Afirma que “a renda que o Agravante possui de trabalho informal
quando faz “bicos” é para a subsistência de sua família, qualquer valor
arbitrado em custas judiciais tornará ainda mais escassa as condições
de vida, podendo ferir preceito básico do nosso Estado Democrático de
Direito, a dignidade da pessoa humana. [...] Mister salientar que o §2º
do art. 99 do CPC, assevera que o pedido de justiça gratuita só deve
ser indeferido se houverem elementos que evidenciem a falta de
pressupostos legais para a concessão do benefício citado e a não
comprovação da parte dos referidos pressupostos. [...] que o
Agravante fez muito mais do que simplesmente anexar uma
declaração de pobreza, pois juntou aos autos documento
comprobatório de sua renda (declaração de isenção de IRPF, carteira
de trabalho, extratos bancários e comprovante de Situação Cadastral
do CPF) comprovando que não aufere renda mensal superior a dez
salários mínimos. Assim verifica-se que o pedido está de acordo com o
art. 98 do Código de Processo Civil, como supra colacionado, sendo
impositiva a concessão do benefício.[...] o entendimento balizado pelo
juízo a quo é totalmente incompatível com os princípios da isonomia e
razoabilidade, que se encontram preconizados na própria Constituição
da República, em seu art. 5º, XXXIV, onde fica assegurado a todos o
direito de acesso à justiça, independente do pagamento de taxas” (ff.
08/11 doc. único).
Pede a antecipação da tutela recursal para “conceder ao
Agravante a benesse da justiça gratuita, objetivando que o feito tramite
devidamente, e ao final seja reformada a decisão a quo; Seja deferido
o efeito ativo ao presente Agravo de Instrumento para suspender os

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Agravo de Instrumento-Cv Nº 1.0000.22.069864-1/001

efeitos da decisão interlocutória, determinando o prosseguimento do


feito sem o recolhimento das custas e despesas processuais; Ao final,
seja dado provimento ao presente recurso a fim de reformar a r.
decisão agravada, concedendo assim o benefício da justiça gratuita
nos termos dos artigos 10, 98 e 99 do CPC”.
Recurso dispensado de preparo porque tem por objeto
indeferimento de justiça gratuita.
Deferido pedido para atribuir efeito suspensivo ao recurso.
É o relatório.
Satisfeitos os pressupostos de admissibilidade, conheço do
recurso.
O recurso comporta julgamento sem a necessidade de oitiva da
agravada, porque a decisão agravada contraria disposição literal de lei
e está em manifesto confronto com a jurisprudência consolidada do
Superior Tribunal de Justiça sobre o tema.
A pessoa natural com insuficiência de recursos para pagar as
custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios tem
direito à gratuidade de justiça (CPC, art.98), presumindo-se verdadeira
sua declaração de carência financeira para arcar com os encargos
processuais (CPC, art.99, §3º).
Em caso de dúvida, o juiz pode determinar a apresentação de
elementos probatórios capazes de confirmar tal declaração.
O agravante requereu na petição inicial da ação de
procedimento comum os benefícios da justiça gratuita, consoante
declaração de insuficiência de recursos (ordem 17).
A decisão agravada assinalou que o agravante “[...] não faz jus
ao aludido beneplácito, porquanto não se reveste da condição de
hipossuficiente, nos termos da legislação de regência da espécie, não
sendo tal conclusão derivada de presunção, mas sim, da análise dos
fatos e do acervo histórico real que emerge dos autos”.

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Tais fundamentos não devem prevalecer, pois não há nos autos


elementos de convicção para desconstituir a declaração de ausência
de condições financeiras do agravante para suportar os encargos
relativos às despesas processuais (ordem 07).
A jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de Justiça
assentou: “para o indeferimento da gratuidade de justiça, conforme
disposto no artigo 5º da Lei n. 1.060/50, o magistrado, ao analisar o
pedido, perquirirá sobre as reais condições econômico-financeiras do
requerente, podendo solicitar que comprove nos autos que não pode
arcar com as despesas processuais e com os honorários de
sucumbência. Isso porque, a fundamentação para a desconstituição da
presunção estabelecida pela lei de gratuidade de justiça exige perquirir,
in concreto, a atual situação financeira do requerente” (REsp
1196941/SP, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 15/03/2011, DJe 23/03/2011).
Sendo o benefício da justiça gratuita garantia de acesso à
justiça (CRFB/1988, art.5º, XXXV), quando a lei se refere a
“insuficiência de recursos”, exige apenas que situação financeira do
requerente, no momento, não lhe permita pagar as despesas do
processo e honorários de advogado sem sacrificar a própria
subsistência e/ou da família.
O agravante comprova ser “trabalhador rural” e que atualmente
está desempregado. A última anotação em sua CTPS informa ter sido
admitido em 02/05/2018 com remuneração de R$ 957,00, e em
08/03/2020 teve seu contrato de trabalho encerrado, não havendo
desde então qualquer outra anotação na sua CTPS (ordem 05). É
isento de declarar Imposto de Renda.
Nesse cenário, constata-se que o agravante não possui
condições de assumir os custos do processo, sem prejudicar a própria
subsistência e de sua família.

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Em “Garantia de Acesso à Justiça: Benefício da Gratuidade”, o


Araken de Assis pontifica:

“À concessão do benefício, nos termos postos na Lei


nº 1.060/50, fundamentalmente interessa que
situação econômica da parte não lhe permita atender
às despesas do processo. É irrelevante a renda da
pessoa, porque as causas podem ser vultuosíssimas
e sem recurso para elas o interessado. Igualmente,
nenhum é o relevo da existência de patrimônio. Na
opinião de Marcacini, se mesmo tendo um bem
imóvel, os rendimentos da parte não lhe são
suficientes para arcar com as custas e honorários
sem prejuízo do sustento, tal propriedade não é
empecilho à concessão da gratuidade, parecendo
pouco razoável exigir que alguém se desfaça de seus
bens para atender às despesas do processo, o qual
não lhe dará, provavelmente, garantias de retorno à
situação patrimonial anterior” (Garantias
Constitucionais do Processo Civil, coordenador José
Rogério Cruz e Tucci, São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 1999, p. 18/19).

Os critérios subjetivos do juiz não devem ser admitidos, pois


revelam literal afronta ao texto legal.
A jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de Justiça
assentou:

“PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO


ORDINÁRIA. GRATUIDADE DE JUSTIÇA.
VIOLAÇÃO A DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL.
ANÁLISE. IMPOSSIBILIDADE. COMPETÊNCIA DO
STF. DECLARAÇÃO DE INSUFICIÊNCIA DE
RECURSOS DO REQUERENTE. PRESUNÇÃO
IURIS TANTUM. CONTRARIEDADE. PARTE
ADVERSA E JUIZ, DE OFÍCIO, DECORRENTE DE
FUNDADAS RAZÕES. CRITÉRIOS OBJETIVOS. 1.
Trata-se de recurso especial cuja controvérsia orbita
em torno da concessão do benefício da gratuidade de
justiça. 2. O STJ, em sede de recurso especial,
conforme delimitação de competência estabelecida
pelo artigo 105, III, da Constituição Federal de 1988,
destina-se a uniformizar a interpretação do direito
infraconstitucional federal, razão pela qual é defeso,
em seu bojo, o exame de matéria constitucional, cuja
competência é do STF. 3. Há violação dos artigos 2º e

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4º da Lei n. 1.060/50, quando os critérios utilizados


pelo magistrado para indeferir o benefício revestem-
se de caráter subjetivo, ou seja, criados pelo próprio
julgador, e pelos quais não se consegue inferir se o
pagamento pelo jurisdicionado das despesas com o
processo e dos honorários irá ou não prejudicar o seu
sustento e o de sua família. 4. A constatação da
condição de necessitado e a declaração da falta de
condições para pagar as despesas processuais e os
honorários advocatícios erigem presunção relativa em
favor do requerente, uma vez que esta pode ser
contrariada tanto pela parte adversa quanto pelo juiz,
de ofício, desde que este tenha razões fundadas. 5.
Para o indeferimento da gratuidade de justiça,
conforme disposto no artigo 5º da Lei n. 1.060/50, o
magistrado, ao analisar o pedido, perquirirá sobre as
reais condições econômico-financeiras do requerente,
podendo solicitar que comprove nos autos que não
pode arcar com as despesas processuais e com os
honorários de sucumbência. Isso porque, a
fundamentação para a desconstituição da presunção
estabelecida pela lei de gratuidade de justiça exige
perquirir, in concreto, a atual situação financeira do
requerente. 6. No caso dos autos, os elementos
utilizados pelas instâncias de origem para indeferir o
pedido de justiça gratuita foram: a remuneração
percebida e a contratação de advogado particular.
Tais elementos não são suficientes para se concluir
que os recorrentes detêm condições de arcar com as
despesas processuais e honorários de sucumbência
sem prejuízo dos próprios sustentos e os de suas
respectivas famílias. 7. Recurso especial provido,
para cassar o acórdão de origem por falta de
fundamentação, a fim de que seja apreciado o pedido
de gratuidade de justiça nos termos dos artigos 4º e
5º da Lei n. 1.060/50”. (REsp 1196941/SP, Rel.
Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 15/03/2011, DJe 23/03/2011).

“PROCESSUAL CIVIL. JUSTIÇA GRATUITA.


DECLARAÇÃO DE POBREZA. PRESUNÇÃO
RELATIVA. EXIGÊNCIA DE COMPROVAÇÃO.
ADMISSIBILIDADE. 1. A declaração de pobreza, com
o intuito de obter os benefícios da assistência
judiciária gratuita, goza de presunção relativa,
admitindo, portanto, prova em contrário. 2. Para o
deferimento da gratuidade de justiça, não pode o juiz
se balizar apenas na remuneração auferida, no
patrimônio imobiliário, na contratação de advogado
particular pelo requerente (gratuidade de justiça difere

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de assistência judiciária), ou seja, apenas nas suas


receitas. Imprescindível fazer o cotejo das condições
econômico-financeiras com as despesas correntes
utilizadas para preservar o sustento próprio e o da
família. 3. Dessa forma, o magistrado, ao analisar o
pedido de gratuidade, nos termos do art. 5º da Lei
1.060/1950, perquirirá sobre as reais condições
econômico-financeiras do requerente, podendo
solicitar que comprove nos autos que não pode arcar
com as despesas processuais e com os honorários de
sucumbência. Precedentes do STJ.4. Agravo
Regimental não provido”. (AgRg no AREsp 257029 /
RS. Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN. Segunda
Turma. DJe 15/02/2013).

Querendo, a agravada pode “oferecer impugnação na


contestação, na réplica, nas contrarrazões de recurso ou, nos casos de
pedido superveniente ou formulado por terceiro, por meio de petição
simples, a ser apresentada no prazo de 15 (quinze) dias, nos autos do
próprio processo, sem suspensão de seu curso” (art. 100, Código de
Processo Civil).
DIANTE DO EXPOSTO, com fundamento no artigo 93, IX, da
Constituição da República, dou provimento ao recurso para reformar a
decisão agravada, deferir os benefícios da justiça gratuita ao agravado
e determinar o prosseguimento normal do feito.
Custas ao final pela parte sucumbente

DES. JOSÉ AUGUSTO LOURENÇO DOS SANTOS - De acordo com


o(a) Relator(a).

DESA. JULIANA CAMPOS HORTA - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "DERAM PROVIMENTO AO RECURSO"

Fl. 8/8

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