Ciência Política - PDF 3
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Já em Maquiavel, afirma-se uma concepção Maquiavel pensava além do seu tempo e queria
contrária à ética platônica, pois o príncipe não uma Itália duradoura. A Inglaterra, a Espanha,
deve ser amado, e sim temido. Segunda tal França e outros países da Europa já eram
noção o governo almeja permanecer no estados nacionais e a Itália parecia estar vivendo
governo por interesses próprios e não pelo bem em um mundo muito distante.
da cidade. Se o idealismo platônico busca o ideal, No século XI a Inglaterra estava na Idade Média
tanto no exemplo dado pelo governante, como cronologicamente, mas não se falava mais em
pelo ideal ético voltado para o bem, Maquiavel feudalismo. Maquiavel estava vendo a diferença
considera o homem, por natureza, pérfido e desses países em comparação com a Itália e por
avarento. De acordo com o pensador, o homem
isso ele escreveu uma de suas maiores obras “O fatos ou razões. A racionalidade implica a
príncipe”, como um manual de conselhos para o conformidade de suas crenças com
governante da Itália. umas próprias razões para crer, ou de
suas ações com umas razões para a
Ele acreditava que era melhor que o governante
ação.
fosse amado pelo povo do que temido. No
entanto, quando o amor não viesse ou quando a A Itália de Maquiavel
situação não permitisse que o povo nutrisse
A Itália por vários séculos fora uma nação de
sentimentos positivos por seu governo, o
pequenos Estados. Com a queda do Império
governante poderia usar o temor como forma
Romano em 476, a península Itálica passou a ser
de garantir a submissão do povo e a sua
governada pelos seus invasores bárbaros, os
conseguinte governabilidade.
chamados Reis Bárbaros governaram por
Como medida de governabilidade, Maquiavel algumas décadas, mesmo assim o domínio
defendia, por exemplo, que ações boas e destes povos não garantiu uma identidade
positivas do governante deveriam ser tomadas unificada a Itália. Se antes os habitantes da Itália
aos poucos e gradativamente, assim ele se viam como romanos, eles passaram a se ver
manteria sempre boas lembranças ao seu povo. como romanos, florentinos, milaneses,
Ações negativas e ruins (se necessário fossem) genoveses, lombardos, venezianos, sicilianos,
deveriam ser feitas de uma vez, pois assim o napolitanos, etc.
povo esqueceria logo o que se passou.
Maquiavel, ao propor a separação entre política
e moral não está sendo amoral, o desejo dele
era acabar com a “guerra religiosa”, a religião é
individual, o Estado está acima pois visa algo
maior, a coletividade; impessoalidade.
♥ Pessimismo antropológico: a perspectiva
do pessimismo antropológico, marcada
pela moral de responsabilidade, para a
qual o direito não passa de uma
expressão da força. O homem é
ganancioso, traiçoeiro e ambiciosos.
Maquiavel acredita que o homem só
deixa de fazer o mal quando há um
poder político que imponha ordem.
♥ Força da lei: a ideia do príncipe é uma
ideia passageira que iria suprir as
necessidades da Itália naquele momento.
Enquanto a Europa adentrava a época feudal
É a ideia da força da lei é a de conter as
por volta do século IX, à Itália vivenciava uma
ambições e os egoísmos, só a força da lei
disparidade a respeito de que tipo de governo
faz com que o homem ande direito.
adotaria. O feudalismo diferente do que alguns
♥ Pensamento realista: é uma forma de
pensam, não fora algo que ocorreu por toda a
pensamento característico por ser
Europa, algumas nações na Europa Oriental e no
rigorosamente controlado pela realidade
norte do continente não vivenciara este sistema,
externa.
no caso da Itália, mesmo em pleno período
♥ Racionalidade calculista: é a qualidade ou
medieval existiam repúblicas (claro que a
estado de ser sensato, com base em
república daquela época possuía uma que enfraquecia a Itália como um todo, e isso a
identidade própria, contudo era baseada na deixou fraca as ameaças estrangeiras, como
república romana e em parte na democracia vieram a ser a dos franceses e espanhóis, além
grega). de vivenciar conflitos internos. Por isso, que
Maquiavel em o Príncipe fala acerca das
Assim, cidades como Florença, Pisa e Veneza era
melhores formas que um príncipe deve
repúblicas, enquanto, Nápoles era um reino e
governar e também apontará os caminhos que
Milão um ducado, que de certa forma adotavam
ele deve evitar para não cair na ruína.
o feudalismo. Contudo além de haver repúblicas
e ducados na Itália, existiam os chamados Ao longo da sua vida Maquiavel participou de
Estados Papais, os quais eram cidades e terras várias missões diplomáticas afim de impedir que
governadas e administradas diretamente pela guerras se alastrassem pela Itália. O sonho de
Igreja, e o papa possuía autoridade direta sobre Maquiavel de ver uma Itália unificada só iria se
tais regiões. concretizar quatro séculos depois de sua morte.
Ao longo da Idade Média, as nações italianas O Príncipe
vivenciaram a influência e em alguns períodos a
Maquiavel escreveu sua principal obra, O
autoridade do Império Bizantino, além de
Príncipe, em 1513, mas a obra só foi publicada em
vivenciar conflitos com os franceses, sérvios,
1532. O livro está dividido em 26 capítulos.
húngaros, bizantinos, turcos, árabes, espanhóis,
etc. Até chegarmos ao século XV quando
ocorrerá o fim do período medieval e o início do
Renascimento na Itália, algumas nações
europeias não viviam sob a condição de uma
pátria unida.
Dentre as principais nações europeias, a
Inglaterra e Portugal já eram estados unificados,
a França criaria uma identidade “francesa” após
o fim da Guerra dos Cem anos em 1453. A
Alemanha era na realidade o Sacro Império
Romano-Germânico, o qual consistia na
realidade, um aglomerado de pequenos Estados.
Inicialmente, Maquiavel exibe os tipos de
A Rússia também vivenciava um período feudal principado existentes e aponta as distinções de
e se estruturava em Estados, a região central da cada um deles. Na sequência, explica como os
Europa vivenciava as lutas de pequenos reinos, e Estados se decompõem em Repúblicas e
o outrora Império Bizantino havia caído nas Principados hereditários e adquiridos, bem como
mãos dos turcos-otomanos, os quais expandiam de senhorios eclesiásticos.
seus domínios para o interior do continente. A
Na segunda parte, o autor explica alicerces do
Grécia era província otomana. Sendo assim, a
poder analisando as leis e as armas. e de que
Itália não representava uma singularidade neste
forma os governos devem organizar o poder.
período.
Dando continuidade, na terceira parte da obra,
Maquiavel passou vários anos de sua vida em
ele irá debater as normas de conduta que um
viagens diplomáticas a fim de apaziguar os
Príncipe deve abraçar para reconstruir a Itália.
conflitos que corroíam os Estados italianos. Uma
das críticas que Maquiavel faz em o Príncipe é ❝ Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que
essa falta de união e hegemonia política, algo temido ou temido que amado. Responde-se que ambas as
coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito Segundo a interpretação do senso comum, a
mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar
uma das duas. Porque dos homens que se pode dizer, duma
frase significa que, para Maquiavel, o objetivo
maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, deveria ser alcançado de qualquer forma, sem
covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem são se importar com os outros e os efeitos das
inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os decisões.
filhos, quando, como acima disse, o perigo está longe; mas
quando ele chega, revoltam-se. Apesar de a frase não estar na obra, ela tem
O pensamento exposto em O Príncipe mostra origem na forma como Maquiavel separa a
que o autor separa o que é o dever do cidadão moral privada do cidadão comum do modo
da razão que regula o Estado. Para isso ele como o governante deve atuar.
desenvolve dois conceitos que serão a chave Por outro lado, O Príncipe assume uma grande
para a compreensão de O Príncipe e do relevância também por mostra que os governos
pensamento maquiavélico: virtù e fortuna. são suscetíveis à participação cívica dos
Fortuna, virtú e necessitã (italiano) indivíduos. Essa perspectiva elevou o cidadão a
um novo patamar no pensamento político da
Virtù é a qualidade do governante, que não deve época.
ser confundida com a virtude do cidadão.
Diferentemente do cidadão que age em
interesse próprio, o príncipe deve ter como
objetivo a harmonia e a paz em seu reinado.
Conhecimento; inteligência.
Assim, a virtù é a capacidade do governante de
controlar e superar as dificuldades impostas a
seu governo, criando estratégias para manter
sua estabilidade. Ora sendo piedoso e bom com
os seus cidadãos, ora severo e forte contra seus
inimigos e opositores. A pura bondade pode ser
uma falha do governo e não uma qualidade.
Já a fortuna se relaciona com a ideia de acaso
e sorte. Capacidade de fazer a leitura dos
acontecimentos. O governante deve estar
sempre atento à “roda da fortuna”. Ora em cima
e favorável ao governante, ora embaixo criando
surpresas, obstáculos e desafios para o seu
governo.
Cabe ao príncipe desenvolver sua virtù e criar
estratégias para estar sempre preparado para
o acaso, revertendo a fortuna sempre a seu
favor, criando oportunidades mesmo nas crises.
Já a necessitã impõe ações mediante alguma
necessidade.
Os fins justificam os meios
Também é uma referência comum a obra O
Príncipe a frase “os fins justificam os meios”.