Dissetação Vesão FinalL LEITURA
Dissetação Vesão FinalL LEITURA
Dissetação Vesão FinalL LEITURA
BELÉM/PA
2015
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BELÉM/PA
2015
BELÉM/PA
2015
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ter me dado saúde, discernimento e sabedoria para chegar ao
fim dessa jornada.
Meus amados pais Nilton e Leonilia, meus irmãos Nilton Jr, Lenilton e Quétsia
Bianca, que são meu porto seguro, neles tenho total apoio. Minha vozinha Socorro
que sempre intercede por mim em suas orações.
Não poderia deixar de agradecer a todos que me acolheram em suas casas ao
longo desse mestrado, abrindo não somente as portas do seu lar como também o
coração, meu querido primo Joaquim, que carinhosamente chamo de “parente”, sua
esposa Rita que foi uma mãe para mim quando estive em sua casa, seus filhos Ari e
Rosana. Minha amada amiga Rachel, seu esposo Bruno e seu filho Pedrinho, a
Josylenne e seus pais Rubem e Joana.
Meu amigo, companheiro, confidente Renan, quantas vezes chorei minhas mágoas,
e angustias, e ele sempre com seu jeito todo especial de ser me consolava e dizia
“Calma Leozinha, no final tudo dará certo”.
Minha amiga irmã Christiane Rodrigues, que mesmo distante me orientou e ajudou
na construção desse trabalho, indicando leituras, sempre de uma forma muito
divertida, impossível ficar triste ao lado dessa mulher fantástica.
Minha orientadora Dra. Lia Braga, que tem sido muito mais que uma orientadora
para mim, foi uma mãezona, não sei o que teria sido na vida academica sem o apoio
dela. Obrigada pela paciencia e ensinamenetos compartilhados.
Aos colegas do mestrado, em especial Gláucia, Letícia, Joelma, Danihelen, Antonio,
esse caminhada foi muito mais prazerosa por ter encontrado voces.
Aos professores do PPGArtes, Áureo Deo Freitas, Sonia Chada, Paulo Murilo, Lílian
Cohen e Miguel Santa Brigida.
Ao querido Júlio Heleno Lages Pereira, caso estudado nessa pesquisa. Obrigada
pelas conversas e trocas de experiencias, sempre muito gentil e solícito em todos
nossos encontros, me recebendo até mesmo nos fins de semana e feriado.
E a todos que direta ou indiretamente participaram desse processo.
8
RESUMO
ABSTRACT
This research has the purpose to understand how a music teacher articulates their
experiences in music band in Santarém-PA to the training degree in music in his
performance in basic education. I opted for a qualitative approach, using the
interview from the perspective of oral history. The survey results indicate diverse
knowledge in dialogue throughout the professional development of teacher
interviewed music, and the place that each occupies in its operations. Among these
knowledge, there was the strong contribution of experiential knowledge, experienced
in family, school, academic knowledge and tradition of knowledge. Through this study
aims to contribute to the understanding of music teacher training process in the early
twenty-first century, in Santarem, in order to support decision-making to increase the
teaching of music in basic education school in Santarém -PA.
LISTA DE FIGURAS
Lazer
Figura 48: Júlio Heleno, Gesival e esposa, Fábio Ferreira 92
Figura 49: Júlio Heleno regendo a Orquestra Jovem Wilson 93
Fonseca
Figura 50: Fábio Ferreira e Júlio Heleno com os troféus 94
coquistados
Figura 51: Organograma das ideias de Gautier (1998) e Tardif 104
(2014)
Figura 52: Organograma da proposta de formação do docente 107
em música
Figura 53: Triângulo dos saberes do professor de música 109
13
LISTA DE QUADROS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 16
JUSTIFICATIVA 19
OBJETIVOS 21
METODOLOGIA DA PESQUISA 22
ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO 29
1 CONTEXTUALIZAÇÃO: BANDAS DE MÚSICA E A 30
LICENCIATURA EM MÚSICA COMO LUGARES DE FORMAÇÃO
MUSICAL EM SANTAREM
1.1 BANDAS DE MÚSICA 30
1.1.1 Definições e classificações de bandas de música 30
1.1.2 Bandas de música em Santarém 34
1.1.3 Festivais de bandas e fanfarras em Santarém 55
1.2 LICENCIATURA EM MÚSICA DA UEPA 60
2 RESULTADOS: NARRATIVA DE UM PROFESSOR DE MÚSICA 63
EM SANTARÉM – PA
2.1 NAS ORIGENS FAMILIARES 63
2.2 FORMAÇÃO ESCOLAR 64
2.3 FORMAÇÃO ACADÊMICA 68
2.4 ATUAÇÃO COMO INSTRUMENTISTA E CANTOR 72
2.5 ATUAÇÃO COMO PROFESSOR 76
2.6 ATUAÇÃO COMO REGENTE 91
2.7 OS FESTIVAIS DE BANDAS E FANFARRAS EM SANTARÉM 93
3 ANÁLISE DOS RESULTADOS 99
3.1 SABERES EXPERIENCIAIS 108
3.2 SABERES ACADÊMICOS (CURRICULARES/DISCIPLINARES/DE 112
FORMAÇÃO PROFISSIONAL)
3.3 SABERES DE TRADIÇÃO 116
3.4 À GUISA DE EPÍLOGO DESTA SEÇÃO: SER PROFESSOR 116
CONSIDERAÇÕES FINAIS 120
REFERÊNCIAS 122
15
INTRODUÇÃO
musical dos regentes das bandas escolares na cidade de Goiânia; Cislaghi (2011),
que realizou três estudos de caso com o objetivo de registrar e analisar as
concepções dos professores sobre educação musical e os processos de ensino e
aprendizagem de música presentes no projeto de bandas e fanfarras de São José
(SC); Almeida (2010), que investigou as aprendizagens provenientes do repertório
das bandas de música; Campos (2008), que relata as práticas e os aprendizados
presentes nas bandas e fanfarras escolares; Almeida (2008), que descreve sua
experiência como regente da Banda de Música do município de Icapuí (CE) e
conclui que a banda de música proporciona formação musical, profissional e
pessoal, na medida em que esta contribui com o processo de formação cooperativa
através de vivências musicais.
Na Revista Opus n. 4, ago. 1997, da Associação Nacional de Pesquisa e
Pós-graduação em Música - ANPPOM, foi divulgada lista de dissertações de
mestrado em música até 1996, dentre as quais verifiquei algumas que tratavam, já
há duas décadas, sobre bandas de música: “A banda de música na escola de 1° e 2°
graus” (ANDRADE, 1988); “Banda escolar: um processo de desenvolvimento
musical, educativo e social”(HIGINO, 1994); “Bandas de música - fenômeno cultural
e educacional no contexto da microrregião de Barra do Piraí” (FIGUEIREDO, 1996);
“As bandas de música de Nova Friburgo - sua organização, sua trajetória e o seu
papel enquanto agentes de Educação Musical” (FIDALGO, 1996). Ainda nessa
revista, Moreira (2009) faz uma abordagem do processo de ensino, utilizando o
método Da Capo na Filarmônica do Divino.
Em buscas realizadas na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e
Dissertações – BDTD, pude visualizar alguns trabalhos sobre bandas de música,
dentre os quais destaco: a tese que Cajazeira (2004) desenvolveu abordando a
construção e aplicação de um modelo de educação continuada a distância para
músicos da Sociedade Lítero Musical Minerva Cachoeirana; e a dissertação de
Kandler (2011) sobre as Bandas musicais do meio oeste catarinense, apontando as
características e processos de musicalização presentes nesses grupos musicais.
Mas há muitas outras investigações, como as de: Lima, M. A. (2000; 2005), Lima, S.
S. (2006), Lima, R. F. de (2006), Magalhães (2006), Moreira (2007), Gonçalves
(2007), Albernaz (2008), Costa (2008), Gomes (2008), Vecchia (2008),
Cislaghi(2009), Silva, C. F. da (2009), Abreu (2010), Fagundes (2010), Fontoura
(2011), Schneider (2011), Benedito (2011), Silva, T. B. da (2012), Westrupp (2012),
Sartori (2013).
18
JUSTIFICATIVA
OBJETIVOS
METODOLOGIA DA PESQUISA
acesso.
À medida que venho realizando as entrevistas, tenho feito sua transcrição,
processo definido por Alberti (idem, p. 174) como a “primeira versão escrita do
depoimento, base de trabalho das etapas posteriores”. A autora conceitua como
“processamento” a transferência da entrevista da forma oral para a escrita. Para ela,
essa etapa pode ser dividida em três fases: transcrição, conferência de fidelidade da
transcrição e copidesque.
Enfim, no processo de documentação oral e escrita da entrevista, tenho
aplicado o seguinte esquema indicado por Alberti (idem):
Escuta para
consulta
ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO
Fonte:http://riodasmacas.blogspot.com.br/2011/05/fanfarras-dos-
bombeiros-voluntarios-do.html. Acesso em: 10 mai. 2015.
Fonte:http://www.eventoscaisur.com/viewcategory.php?idc=4http://bmangelitab
atista.blogspot.com.br/. Acesso em: 10 mai. 2015.
34
Fonte:http://go2uttyler.blogspot.com.br/2013/03/spring-
wind-ensemble-concert.html. Acesso em: 10 mai. 2015.
Orquestra “Tapajós” (1918): Segundo Salles (1985), foi fundada por José
Agostinho da Fonseca.
37
Figura 14: Escudo da Banda Marcial Irmão Figura 15: Banda Marcial Colégio Dom Amando
José Ricardo.
Fonte:https://www.facebook.com/BandaMarcialIrmaoJoseRicardo/photos/pb.376147715786158.-
2207520000.1429202397./571089042958690/?type=3&theater. Acesso em: 10 mai. 2015.
Fonte:http://filarmonicadesantarem.blogspot.com.br/p/hist
orico.html. Acesso em: 10 mai. 2015.
Figura 17: Banda de Música da E.E.E.F.M. Almirante Soares Dutra. Figura 18: Brasão da
Banda de Música da
E.E.E.F.M. Almirante
Soares Dutra.
batalhão não possuía uma banda para prestar as honras militares. Por essa razão,
em 1981 foi transferido para Santarém o primeiro músico, o Sgt Zaranza, que tocava
Saxofone soprano. Durante as cerimônias, ele executava as músicas sozinho.
Porém, o Cel. Alves disse que isso não era uma banda, conversou com o
comandante geral e decidiram chamar alguns civis para um teste de seleção para
formarem a banda da polícia militar em Santarém.
A idéia inicial era que esses civis fossem incorporados ao batalhão de polícia
como sargento músico, porém eles tinham mais de 30 anos, e de acordo com as
normas da polícia militar, já tinham passado da idade para ingressar nessa patente.
Foram então contratados com carteria assinada pelo periodo de 1983 a 1989.
Ensaiavam nos dias de segunda, quarta e sexta, geralmente até às 11 horas da
manhã, e como todos trabalhavam em outros lugares, era possível conciliar seus
horários com os ensaios e apresentações da Banda.
No ano de 1989, vieram mais 14 músicos de Belém para compor a Banda de
Música em Santarém, e aos poucos os civis foram saindo. Em entrevista, o 1º Sgt
Brindeiro relata que ao conversar com alguns desses ex-integrantes civis, eles
falaram que ficaram muito tristes pelo falecimento de um dos integrantes da banda,
o trompetista Veloso, e aos poucos foram pedindo para sair da banda.
Em 1991, uma outra turma de músicos de Belém, liderados pelo Sub Ten
Alexandre, que depois foi promovido a Ten Alexandre, vieram para Santarém
integrar a banda de música. Esses sargentos músicos, que chegaram a Santarém,
apesar de terem sido transferidos para compor a banda, eram escalados para
trabalharem nas ruas como os demais policiais do destacamento. Este é um fato que
até hoje permanece.
46
A gente tira serviço, e isso é ruim, não é? Porque, por exemplo, para
alguns serviços da polícia tem que estar preparado fisicamente,
então nós temos um lá na banda que ele fica preparado fisicamente,
mas só que o seguinte: os dedos dele não enrolam, porque ele faz
flexão, e aí quando é para tocar, o dedo fica duro, geralmente quem
faz muita flexão os dedos ficam duros, todos os músculos ficam
duros, ele não consegue dobrar o dedo e aí na hora de tocar perde
um pouco a agilidade, isso dá muito problema. A maioria das
pessoas não entende isso, acha que é preguiça, inclusive eu até falei
com o médico do batalhão e ele ficou rindo, pensando que a gente tá
com preguiça, mas se você for para prática, você pode ver que o
dedo da pessoa que faz muita flexão e faz muito exercício físico, ele
não enrola não. (José de Moura Brindeiro - 1º Sgt Brindeiro. Entrevista
realizada em 30 mar. 2015)
Figura 20: Apresentação da Banda no Hospital Figura 21: Banda da Polícia Militar de Santarém,
Municipal. no Desfile Cívico.
Pensava que a gente tinha que tocar algumas músicas mais lentas,
mas eles não querem não, eles querem é agitar, eles pedem para
tocarmos carimbó, e sabe? É algo divertido! A primeira vez em que
nós fomos lá, eu fui nos quartos avisando que íamos tocar e aí uma
paciente disse assim: “Eu nunca tinha imaginado que no hospital eu
iria ver isso”! Ela era uma das doentes, mas você ouvir a música ao
invés de um gemido de dor, um grito de dor, poxa é como se você
estivesse curado. Então, eu achei muito legal. (José de Moura
Brindeiro - 1º Sgt Brindeiro. Entrevista realizada em 30 mar. 2015)
1994.
Em suas participações nos festivais em Santarém, sempre esteve entre os
primeiros colocados, conquistando o título de campeã, na categoria fanfarra com
melodia no ano de 1999.
A partir de 2011, passou por uma reestruturação instrumental, ingressando
na categoria de banda marcial. Seu atual regente é Drailton Pinto Feitosa, e a
equipe de coordenação é composta por Dennis de Sousa Lima e Reinaldo Junior da
Costa Santos, apoiada pela equipe gestora da escola.
Fonte:https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2467507121985
67&set=a.104645736409066.1073741828.100005909195294&typ
e=3&theater. Acesso: 10 mai. 2015.
59
Fonte:https://aelstm.wordpress.com/category/ger
al/page/5/. Acesso: 10 mai. 2015.
3
Dados extraídos do regulamento do VIII Festival de Bandas e Fanfarras de Santarém.
60
4
Dados extraídos de http://www.uepa.br/portal/institucional/uepa_numeros.php. Acesso em: 29 mar.
2015.
61
6
Dados extraídos de http://www.uepa.br/portal/ensino/musica_lic_principal.php.
Acesso em: 18 mai. 2015.
63
Figura 36: Júlio Heleno L. Pereira. ela ir se eu fosse junto. Isto acabou de certa forma
me forçando a ingressar no mundo musical.
Para entrar na escola havia um teste
habilitatório, e para nossa surpresa eu acabei
passando e minha irmã não obteve aprovação.
Então, em 1995 iniciei meus estudos musicais na
Escola de Música Maestro Wilson Fonseca.
Nessa época, a escola ainda era polo de
interiorização da Fundação Carlos Gomes, de
Belém. Recordo que na parte frontal do nosso
uniforme estava escrito “Fundação Carlos Gomes”
e, em baixo, “Escola de Música Maestro Wilson
Fonseca”. Nas costas, tinha a imagem do Carlos
Fonte: Acervo particular de Júlio
Gomes. Depois se tornou somente Escola de
Heleno Lages Pereira.
Música Maestro Wilson Fonseca, e atualmente é
Instituto Maestro Wilson Fonseca. Nesse ano, em que ingressei, houve a estréia da
Banda Maestro Wilson Fonseca e eu assisti a primeira apresentação. Um fato
curioso é que vendo a banda tocar não
Figura 37: Júlio Heleno Lages Pereira, na
me via participando como músico e muito Escola de Música Maestro Wilson Fonseca.
Elizety Rego. Passei um ano na musicalização por meio do canto coral. Nessa
escola, na época em que estudei lá, inicialmente o aluno era musicalizado através
do canto coral, depois seguia para a flauta doce, que era dividida em nível 1, nível 2
e nível 3, até passar para os instrumentos da banda de música. Confesso que o
processo de musicalização estava se tornando um pouco tedioso, pois era um ano
inteiro somente no canto, e eu já estava apaixonado pelos tambores da fanfarra da
E.E.E.F.M. Almirante Soares Dutra, onde eu cursava a educação básica. O que me
segurou mesmo na Escola de Música Maestro Wilson Fonseca foram as amizades
que já havia conquistado.
Após o primeiro ano de musicalização, passei para o nível 1 e 2 de flauta
doce, sendo Railena Corrêa minha professora, e no nível avançado (nível 3) de
flauta doce tive como professor Paulo Marcelo Pedroso Pereira. No ano de 1998, fiz
teste para passar ingressar na banda de música da Escola de Música Maestro
Wilson Fonseca. Meu primeiro instrumento foi flauta transversal, mas fiquei somente
três meses nesse instrumento, pois não me adaptei muito bem a ele. Experimentei
alguns instrumentos de boquilha, até chegar aos bocais, onde fui apresentado ao
saxhorn. Após um ano de estudo nesse instrumento, as trompas chegaram à Escola
de Música, e acabei migrando do saxhorn para trompa. Foi difícil essa mudança,
posso até dizer que foi um processo doloroso, pois não tinha muita informação de
como usar a trompa, não tinha acesso à Internet, era muito difícil. Foi um improviso
passar para a trompa. Mas, depois eu fiquei dez anos com esse instrumento,
tocando na banda. Meu professor de trompa foi Rodnei Bentes da Silva. Passei a
integrar a Banda Wilson Fonseca no final do ano de 1999.
No mesmo ano que ingressei na Escola de Música Maestro Wilson Fonseca,
em 1995, comecei a estudar na E.E.E.F.M. Almirante Soares Dutra, cursando a 5ª
série. Assim que entrei nessa escola, senti interesse em participar da fanfarra por
causa do desfile da Semana da Pátria e do Festival de Bandas e Fanfarras. Em
Santarém, eram muitos comentários sobre esses eventos, a escola já havia
conquistado vários títulos nas competições. A banda me encantou não somente pela
parte musical, mas pelo clima de família e cooperação que vi presente naquele
grupo. Então, em 1997, iniciei o estudo na caixa, sendo meu professor Gesival Melo
Vieira. A banda era formada por cerca de 90 componentes, somente percussão. Os
participantes eram em sua maioria um público adulto, eu era um dos poucos
adolescentes a integrar o grupo.
67
Figura 38: Júlio Heleno Lages Para ingressar na banda do Almirante bastava
Pereira na Fanfarra da
ter disponibilidade. Havia uns testes classificatórios,
E.E.E.F.M. Almirante Soares
Dutra. mas basicamente seriam para saber se Você
precisava mais ou de menos atenção, mas não havia
testes eliminatórios por exemplo. Entrava na banda
quem quisesse, tivesse disponibilidade, e tinha a
questão financeira, porque pagar a roupa, o uniforme
sempre foi algo muito caro para quem toca em banda,
e pagar transporte também. Como eu andava de
bicicleta, não pagava transporte com frequência, mas
o Almirante sempre foi uma escola muito visitada por
alunos vindos de bairros distantes, que vêm de
ônibus. Muita gente deixa de tocar por falta de
dinheiro para pagar transporte. Isso acontece até hoje.
Não havia aulas, já eram os ensaios, você
pegava o instrumento de percussão e já ia para os
ensaios, e tinha que se esforçar para fazer o que já
Fonte: Acervo particular de
estavam fazendo. Basicamente, já tinha muita gente
Júlio Heleno Lages Pereira.
tocando de anos anteriores, experientes. Então, Você
chegava cedo, ficava observando como funcionava, como eles faziam os
movimentos. O Gesival, que era o instrutor, ensinava de maneira geral o que queria
que fosse tocado, tocava para o pessoal assistir, e depois o pessoal copiava,
tentava copiar o que ele estava fazendo. Era assim o processo.
Iniciei aos 11 anos o estudo formal de música na Escola de Música Maestro
Wilson Fonseca, e apesar de no primeiro momento não ter partido de mim iniciar
esse estudo, com o passar do tempo percebia que tinha uma certa afinidade com o
meio musical. Consegui me desenvolver musicalmente, e percebi que poderia
continuar fazendo isso, então fui me deixando levar. Ao concluir o ensino médio, no
ano de 2001, senti aquela dúvida típica de qual carreira seguir, e justamente no ano
que terminei meu ensino médio, a UEPA - Universidade do Estado do Pará -
Campus Santarém, que ofertava o curso superior em música, não ofertou. Então,
passei dois anos fazendo cursos técnicos, fiz técnico em Informática no IESPES -
Instituto Esperança de Ensino Superior, com bolsa ofertada pela escola de música
Maestro Wilson Fonseca, e em 2004, finalmente a Universidade ofertou novamente
68
a graduação em Música, e agora com uma nova grade, pois o curso passou a ser
Licenciatura em Música, e não mais Educação Artística com habilitação em Música.
Eu decidi buscar a formação acadêmica pela minha prática de banda. Isso já
é um ponto crucial na minha formação profissional. Pensava: “Por que eu quero
fazer UEPA? Porque eu já trabalho nisso, eu já sou professor de música, preciso me
tornar um professor de música gabaritado, com formação acadêmica e tudo. Se eu
tenho essa possibilidade em Santarém eu vou fazer”.
Avalio esse curso como essencial para Santarém, ele é imprescindível para
o município e região. Fala-se muito da história musical do município, mas não me
deterei somente à história musical, vou pelo presente, o agora de Santarém.
Podemos observar nas escolas programas educacionais como: Mais Educação;
Ensino Médio Inovador7, o Projeto Mais Cultura. Todos esses programas e projetos
implementam dentro das suas ações a possibilidade de ter atividades musicais e as
escolas necessitam dos profissionais da música. Nós temos escolas especializadas,
Escola de Música Wilson Fonseca, Escola de Música Wilde Fonseca da Filarmônica
Municipal. Nós temos esses projetos voluntários como é o caso da Escola Almirante,
Escola Pedro Álvares Cabral, Escola Terezinha Rodrigues, Escola Rodrigues dos
Santos, Escola Álvaro Adolfo. Enfim, são várias escolas estaduais, e não se pode
esquecer das escolas particulares como o Colégio Dom Amando, Colégio Batista, e
também a Igreja Assembléia de Deus. Todas essas instituições possuem escola de
música funcionando, e os profissionais que estão atuando nesses locais, e os que
querem atuar precisam da formação acadêmica. Não vejo outra possibilidade de
capacitação, senão na continuidade do curso de música, e no fortalecimento do
mesmo, embora saiba também que é difícil a manutenção do curso.
Muitas coisas precisam melhorar no curso ofertado pela UEPA, em
Santarém. Percebo que ele está demorando a se reorganizar. Considero um ponto
7
Portaria nº 971, de 9 de outubro de 2009 - Art. 1º - Instituir, no âmbito do Ministério da Educação, o
Programa Ensino Médio Inovador, com vistas a apoiar e fortalecer o desenvolvimento de propostas
curriculares inovadoras nas escolas do ensino médio não profissional.
Art. 2º - O Programa visa apoiar as Secretarias Estaduais de Educação e do Distrito Federal no
desenvolvimento de ações de melhoria da qualidade do ensino médio não profissionalizante, com
ênfase nos projetos pedagógicos que promovam a educação científica e humanística, a valorização
da leitura, da cultura, o aprimoramento da relação teoria e prática, da utilização de novas
tecnologias e o desenvolvimento de metodologias criativas e emancipadoras.
69
meu tio: o timbre, a voz, a intensidade na hora de explicar o assunto. Meu tio é
professor de Matemática. Hoje, ele trabalha em Oriximiná, ele é professor da
SEDUC lá. A minha mãe é técnica, ela foi diretora de escola por muitos anos e hoje
ela é técnica, ela é pedagoga, lá na Escola Aluísio Martins, que fica perto da minha
casa, no Maracanã.
abertura, no ano de 2001, fui convidado para participar da fanfarra, composta por 60
músicos, distribuídos em cornetas e percussão, e em alguns momentos outros
instrumentos de sopro como trompa, trompete, trombone e saxofone, executavam
alguns trechos. Esse grupo foi corrdenado pelo Draw Feitosa (Drailton Feitosa).
Além de Santarém, participamos também do congresso de referida igreja, que
aconteceu no município de Juruti. Toquei corneta e trompa nesse evento.
Esse mesmo grupo que participou da abertura do Congresso da Paz em
Santarém e Juruti, foi convidado pelo Draw Feitosa (Drailton Feitosa), para participar
do desfile da Escola Santa Maria Gorete, em Oriximiná, no ano de 2001.
Além das bandas de música, participei também do Quinteto de Metal,
tocando trompa. Cheguei a viajar com o Quinteto para Trombetas, Oriximiná, essas
cidades próximas a Santarém. Era o Quinteto de Metal da Escola de Música Wilson
Fonseca. Esse quinteto era composto pelo Divaldo no trombone, Adonias na tuba, o
Fabrício Fonseca (que substituiu o José Rolin Júnior) e o Luis Carlos no trompete e
eu na trompa.
Também participei como coralista de diversos grupos vocais em Santarém.
Sou baritono. Eu fui do grande coral quando criança, no processo de musicalização
da Escola de Música Wilson Fonseca. Integrei o coral Expedito Toscano, coral misto
a quatro vozes dessa mesma escola. Participei da gravação dos dois CDs do Coral
da FIT - Faculdades Integradas do Tapajós, a convite da Professora Ádrea Taiana,
nos anos 2005 e 2011. O processo de gravação desses CDs do coral foi bem
tranquilo, havia um clima mais
Figura 41: Júlio Heleno do Quinteto de Metal da
extrovertido, o repertório era um Escola de Música Wilson Fonseca.
pouco mais simples, mais leve,
comparado com o processo de
gravação dos CDs da Orquestra
Jovem Wilson Fonseca.
Participei ainda, de algumas
apresentações do Coral do IESPES
- Instituto Esperança de Ensino
Superior, a convite da professora
Eliane [Fonseca], que era regente Fonte: Arquivo particular de Júlio Heleno L. Pereira.
anos, no Brasil.
76
cantata foi da Monique Marinho, ela já havia realizado esse tipo de evento na igreja
da qual ela participava, que era a Igreja Batista. Ela já tinha essa experiencia junto
com o Edmarcio que é o marido dela, e trouxe essa ideia para Rita como gestora do
Esporte e Lazer, que abraçou a causa e as cantatas foram desenvolvidas.
Atuei também em grupo de flautas doce, porque eu estudei 3 anos só flauta
doce na Escola de Música Maestro Wilson Fonseca. Toquei em quartetos de flauta
nos eventos, sempre toquei soprano e tenor, nunca toquei contralto e baixo.
dificuldade muito grande de aprender daquela maneira que eles ensinavam, pude
observar essa dificuldade, e naquele momento eu já tinha criado uma expectativa de
que eu poderia ajudar, pois já vinha de outro processo de ensino musical na escola
de música. Eu pensava: “O pessoal poderia aprender melhor se fosse feito assim”,
mas eu guardava isso.
No ano seguinte, eu comecei a ter um pouco mais de respaldo dentro da
banda, porque o pessoal reconheceu em mim certo valor, tinha facilidade de
aprender, e aí fui me aproximando e comecei a propor para o Gesival cadências
percussivas, e ele começou a gostar das ideias que eu ia levando e começou a
deixar que eu mostrasse para o outros integrante Eu fui começando a ensinar, com
mais paciencia, chegava bem cedo nos ensaios, e o pessoal começou a chegar
cedo comigo e a pedir para que eu ensinasse o toque da percussão, e comecei a
fazer esse trabalho.
Então, antes mesmo de assumir a coordenação da banda, já começava a
mudar a metodologia de ensino. Isso foi reconhecido de cara pelas pessoas que
estavam lá.Algumas pessoas acharam legal, mas muita gente não gostou - “É um
garoto querendo aparecer, não é?” -, mas fui enfrentando todos esses desafios.
Em 2001, apesar de ter apenas 17 anos, recebi um convite feito pelo
Drailton Feitosa (Draw), para ministrar aulas de corneta e flauta doce, no município
de Oriximiná, na Banda da Escola Santa Maria Gorete. Esse município possui uma
tradição muito forte de bandas, apesar de não realizarem festivais com caráter
competitivo, como acontece em Santarém. Mas os desfiles cívicos são o momento
das bandas realizarem suas apresentações. Aceitei o desafio, pois via a
possibilidade de beneficiar a banda da escola Almirante, trocando meu pagamento
por peles para os instrumentos, pois a escola não tinha dinheiro para comprar peças
de reposição. Já havia três ou quatro anos que eu tocava a minha caixa toda
remendada, a pele furava e fazíamos reparos utilizando cola fórmica, mas a pele já
esta alta de tantos consertos realizados. Ir ao município de Oriximiná seria a solução
dos problemas referentes à troca das peles dos instrumentos da banda, e assim fiz:
em troca do pagamento do meu trabalho naquele município, consegui as peles.
Passei quatro anos desenvolvendo essa atividade no município de Oriximiná.
Fomos eu, o Denis e o Reinaldo, nós todos éramos bem jovens, temos a
mesma faixa etária, e dividimos aquela responsabilidade, que era gigantesca,
assumir uma banda escolar, formada por cerca de 200 alunos, numa única escola,
78
8 o
Resolução nº 4, de 31 de março de 2014 - Art. 2 O Programa Mais Cultura nas Escolas, iniciativa
conjunta dos Ministérios da Cultura e da Educação, tem por finalidade fomentar ações que
promovam o encontro entre experiências culturais e artísticas em curso na comunidade local e o
projeto pedagógico de escolas públicas.
80
música dentro da banda. Nós tínhamos uma banda composta por instrumentos de
percussão e pensávamos em desenvolver também a parte do sopro, com as
cornetas e com as flautas doces. Essa organização culminou no projeto Educ’Art.
Após esse início, o projeto foi sendo adaptado, e com o passar do tempo, a partir
das premiações do festival da prefeitura, chegamos à formatação da atual banda
marcial.
O Mais Cultura é um programa pequeno. Ele promoveu a compra de alguns
materiais que nós necessitávamos e priorizamos a musicalização, através do canto
coral e a flauta doce. Nós já desenvolvíamos toda a parte de banda marcial.
Tentamos fortalecer o início do processo com o canto coral para alunos que ainda
não tinham idade para tocar os sopros, pois estabelecemos que somente a partir
dos 13 anos o aluno pode ingressar na banda. Não é uma regra, sempre existem
exceções, mas por conta principalmente dos horários que a banda marcial funciona,
sempre à noite, criamos o curso de musicalização com flauta doce pela manhã e
tarde, duas vezes na semana com duração de uma hora e meia cada aula, isso a
partir do ano de 2014.
No projeto inicial do Educ’Arte, o objetivo geral era:
contribuir para a formação ética-moral e cidadã do aluno, em um
ambiente de cooperação e participação, tendo como enlace principal
a linguagem artística da música, através da prática do Coral Infanto
Juvenil, da Flauta Doce e da Banda de Música. (E.E.E.F.M.
ALMIRANTE SOARES DUTRA, 2014)
doce. Essas turmas não só formavam o grupo de flauta doce da escola, mas elas
acabavam servindo também de ponte para entrada nos instrumentos de sopro. Mas
isso foi só por um período, porque meu tempo sempre foi muito escasso, e como no
Almirante é voluntariado, precisei trabalhar em outros lugares, e eu deixei de fazer a
musicalização, passei a fazer somente a inicialização nos instrumentos de sopro
com o método coletivo.
As aulas eram duas vezes por semana, com duração de uma hora e meia.
Eu organizava e ensinava alguns instrumentos de metal e levava amigos para
colaborar com as palhetas, que íam algumas vezes, e quando não estavam eu
mesmo gerenciava os alunos a partir das informações que eles tinham recebido.
Utilizamos o método elementar para o ensino coletivo de instrumentos de Banda de
Música “Da Capo”, de autoria de Joel Barbosa, para os iniciantes e depois
introduzimos outros métodos. Gosto de trabalhar com o do Jorge Nobre, que é um
método coletivo também, mas não utilizo para tocar junto, aplico para estudo
individual. Há alguns métodos tradicionais de escola técnica que a gente utiliza
algumas partes, dependendo do nível do aluno, após a inicialização coletiva. As
aulas coletivas são duas vezes por semana, e durante os três dias da semana, os
próprios alunos montam seus horários de estudos individuais. Sempre estamos
acompanhando-os.
Conheci o método Da
Figura 45: Júlio Heleno Lages Pereira ministrando
aula, na E.E.E.F.M. Almirante Soares Dutra. Capo, através de colegas da igreja
Assembléia de Deus de Santarém.
Esses colegas me falaram que lá
eles estavam aprendendo com um
tal de método Da Capo, que era um
método que ensinava
coletivamente. Na época, a pessoa
que coordenava esse trabalho de
música na Igreja veio até a ser meu
colega de universidade, o Jonielson.
Fonte: Acervo particular de Júlio Heleno L. Pereira.
Quando eu conheci o Jonielson,
antes mesmo da UEPA, ele era da Policial Militar e eu tinha amigos na Polícia. A
gente se esbarrou por aí e eu perguntei para ele: “Tu coordenas o projeto na
Assembléia de Deus? Qual é o método que vocês utilizam lá?”. Ele me explicou o
82
que era o método, mas eu não tinha visto ainda o método. Isso aconteceu lá pelo
ano de 2002 / 2003, já tava começando a ensinar banda por conta própria, já tinha
ido para Oriximiná, mas como ainda não trabalhava com instrumentos de sopro de
uma banda marcial ou banda de música, eu não tinha pesquisado a fundo o método.
O Jonielson me falou, e quando a gente foi para Universidade eu conversei mais
com ele, e me mostrou o método, e só anos depois quando fui iniciar no Almirante
essa educação para sopros de banda marcial e bandas de música, que eu fui
realmente acessá-lo. Eles conseguiram esse método porque o Jonielson era bem
informado, a Assembléia de Deus é uma rede nacional.
Na Banda da Escola Almirante Soares Dutra, para o aluno escolher o
instrumento musical que gostaria de estudar, realizamos no primeiro encontro uma
apresentação didática da banda de música, mostrando cada instrumento que integra
a banda, falando de sua origem e demonstrando seu som. Trazemos também os
instrumentos da banda marcial para eles conhecerem. Além da apresentação,
também exibimos vídeos da banda marcial dos anos anteriores, e assim eles têm
algumas noções sobre cada instrumento. No período que dura cerca de duas
semanas, os alunos podem ficar experimentando vários instrumentos até escolher
de forma definitiva, sempre sob nossa orientação para evitar danos aos
instrumentos. Após esse processo, iniciamos as aulas coletivas, com o método Da
Capo.
Algumas vezes, montamos de forma itinerante grupos de flauta doce, para
atender alguma apresentação. Nós temos até estrutura para o grupo, mas nós não
conseguimos manter por causa de nosso tempo para direcionar os alunos para
tocar. Mas de vez em quando a gente faz, junta os alunos apresenta um quarteto,
quinteto, mas não tem um ensaio regular, só para determinada ocasião. A mesma
coisa com o coral, nós chegamos a fazer um coral em dezembro no Almirante para
nosso evento natalino, mas também foi só para aquele momento ali, não
conseguimos manter assim as aulas, até mesmo porque o coral envolveu alunos
que não faziam parte ainda do projeto Educ’Arte.
Houve duas outras ocasiões que formamos o coral. Como eu era professor
de Arte no Almirante, por dois anos eu fiz esse trabalho como servidor temporário.
Nós apresentamos no dia das mães, junto com a banda e em junho no periodo do
aniversário de Santarém, músicas regionais e depois disso só no Natal. Ativamos
83
Figura 46: Júlio Heleno Lages Pereira sábados, ministrava aula pela parte da
ministrando aulas de violão no Programa manhã.
Esporte e Lazer.
No ano de 2007, durante sete
meses, ministrei aulas de violão no
Programa Esporte e Lazer, da Prefeitura
Municipal de Santarém.
No ano de 2008, a Prefeitura
Municipal de Santarém, através da
Assessoria de Esporte e Lazer,
Fonte: Acervo particular de Júlio Heleno Pereira. implementou na rede pública municipal o
projeto “Música na Escola”,
contemplando as escolas E.M.E.F. Deputado Ubaldo Corrêa, E.M.E.F. Maria de
Lourdes, E.M.E.F. Wilde Fonseca, E.M.E.F.Princesa Izabel, com aulas de
musicalização através do canto coral, flauta doce, fanfarra e banda de música.
Nesse projeto, coordenei uma equipe composta por seis professores de sopro e
percussão, e formamos três bandas de música em três daquelas quatro escolas:
E.M.E.F. Deputado Ubaldo Corrêa, E.M.E.F. Maria de Lourdes e E.M.E.F.Princesa
Izabel.
Tive carta branca para montar essa equipe, que era composta por sete
pessoas na zona urbana e uma na região de Lagos. Inicialmente, o projeto era
denominado “Bandas Marciais Municipais”, mas depois ficou sendo o “Música na
Escola”. Esses profissionais selecionados por mim iam atuar como formadores e
regentes, ficando um em cada escola. Alguns já trabalhavam comigo no Almirante e
outros eu conhecia desde os tempos de escola de música. Integravam esse grupo: o
Marcelo Queiroz, que tinha sido meu colega de turma desde os tempos de escola de
84
instrumental, viu-se que era inviável para a prefeitura disponibilizar recursos para
todas as escolas, e foi aí que se sugeriu fortalecer três escolas.
O projeto Música na Escola me levou a participar da Caravana do Esporte e
da Música realizado em Aracajú pela CNN e ESPN/Ministério do Esporte e Ministério
da Cultura, em 2010. Essa caravana é um grupo de artistas que encabeça no Brasil
essa atividade com o apoio e
Figura 47: Júlio Heleno Lages Pereira, no Programa
organização do ESPN. Eles
Esportebe Lazer.
tentam traçar metas para o
esporte, para música, para
cultura de um modo geral, para
que seja atendido, a partir de
programas sociais, um público
que não tem acesso, e aí eles
pediram colaboração e apoio de
uma forma geral das prefeituras,
Fonte: Acervo particular de Júlio Heleno L. Pereira.
que toparam participar e
enviaram suas lideranças em cada área para discutir o esporte, a música, a cultura
de uma forma geral com as pessoas de todo Brasil, que culminou nesse encontro,
um fórum. Da música, somente eu fui, mas eu fui no segundo ano, no primeiro ano
foi a Monique. Eu fui contar a experiência do Projeto Música na Escola, e a Monique
tinha ido contar a experiência de ter feito o Octeto, a Cantata, o Encontro das Artes,
que faziam parte de outro evento para o aniversário de Santarém. Apresentamos
nossas vivências dentro do Fórum e ouvimos as vivências dos outros e havia ali uma
construção.
No ano de 2010, passei a trabalhar como professor horista na UEPA-
Universidade do Estado do Pará, apesar de ter apenas a graduação. O curso
necessitava de professor, e isso acabou abrindo essa porta para mim. Ministrei as
disciplinas Percepção e Análise e Flauta Doce. Permaneci como horista nos anos de
2011 e 2012. Em agosto de 2013, fui aprovado no processo de seleção para
professor substituto, e assim estou contratado por 2 anos, até 2015. Já ministrei as
seguintes disciplinas no curso de Licenciatura em Música da UEPA: Prática de
Banda II, Projetos Interdisciplinares, Flauta Doce II, Leitura e Escrita Musical e
Percepção e Analise da Música.
86
positiva que ocorreu dentro da escola, a partir do projeto de música. Para mim, é
difícil falar, pois fiz parte desse processo, mas se me colocasse de fora, tenho
certeza de que teria a mesma opinião. Há dez anos, eu ouvi isso da antiga diretora
da escola, que hoje é coordenadora do Mais Educação9. Ela me relatou que quando
chegou na escola no ano de 2004, a escola era caracterizada na comunidade
santarena como uma escola de vândalos, era muito comum se falar da gangue do
Almirante, que confrontava com a gangue do Cabral que é uma escola próxima, que
confrontava com a gangue do bairro vizinho. A escola era caracterizada, não faz
muito tempo, como uma escola de gangueiro. Hoje, quando se fala em Escola
Almirante Soares Dutra, se fala na Banda da Escola Almirante Soares Dutra.
Fui aluno da Escola Almirante, e por diversas vezes presenciei cenas de
violência e encontro de gangues, não dentro da escola, mas ao redor. Dentro da
escola, devido ao grande espaço físico que dispõe, havia uma bandidagem que
tomava conta dos espaços onde não havia atividades acontecendo. Cheguei a ver
dentro da escola: drogados, bandidos usando drogas dentro do ambiente escolar,
bêbados pulavam o muro e ficavam próximos a um local onde tinham um mato alto,
víamos brigas entre eles, armas, alguns alunos envolvidos em desentendimentos
com esses bandidos. A polícia entrava na escola para fazer a abordagem policial, e
tudo isso era muito negativo para a imagem da escola.
A partir da sistematização do ensino da música, em 2004, iniciamos uma
espécie de ocupação territorial. Recordo-me que estávamos fazendo instrumentos
de percussão de madeira, de compensado, e usávamos cola fórmica, que os
chamados “cheira-cola” utilizam como entorpecente. Nós chegamos a fornecer esse
material para alguns, pois eles chegavam conosco e falavam: “A gente está tomando
uma ali atrás, arranja essa lata de cola aí, esse restinho pra gente”, e nós
acabávamos cedendo, para evitar o confronto. Geralmente, confeccionávamos
esses instrumentos em horários que não ficava ninguém na escola, ou final de
semana, e esses indivíduos estavam na escola, meia noite, uma hora da
madrugada, todos esse horários já passamos na escola, posso até afirmar que já
vivemos nessa escola 24 horas por dia.
9
Mais Educação é um programa, instituído pela Portaria Interministerial nº 17/2007 e regulamentado
pelo Decreto 7.083/10, constitui-se como estratégia do Ministério da Educação para induzir a
ampliação da jornada escolar e a organização curricular na perspectiva da Educação Integral.
88
saber, acho que ele estava cansado de ficar andando atrás de garoto indisciplinado,
então ele já deixava rolar. Às vezes, o menino saía do ensaio antes de terminar,
chegava atrasado... Comigo na coordenação foi diferente, mudei tudo isso, não
podia chegar atrasado, até podia mas com uma boa justificativa sempre. O Fábio já
estava junto comigo e o Dinho também, e nós três falávamos a mesma linguagem
em relação às cobranças aos alunos, em relação à vida deles dentro da banda.
Eu trouxe vários exemplos da escola de música para dentro do Almirante,
em termos de comportamento, de disciplina, mas eu reconhecia bem até onde eu
poderia ir com essas modificações. Eu sempre tentei usar do bom senso, nada
extrapolado.
Ao longo dos últimos dez anos (2004 - 2014), presenciei uma mudança na
escola, vários fatores contribuíram para que a criminalidade diminuísse, alguns
bandidos foram presos, as políticas públicas ajudaram, atividades esportivas, uma
noite durante a semana a quadra de esporte é liberada para comunidade, e muitos
outros fatores. Como resultado, a escola que antes era referência de escola violenta,
sempre presente nos confrontos de gangues, atualmente é conhecida como a escola
que tem uma banda marcial que ganha festival de bandas e realiza apresentações
no cenário artístico local. Essa referência é a principal identificação hoje da escola.
Quando assumi a coordenação da banda do Almirante, em 2004, a minha
expectativa era passar dez anos nesse trabalho, porque eu sabia que iria exigir
muito, e eu me entreguei para a escola ao longo de cada ano, me entreguei de
corpo e alma, eu nunca pensava em feriado, final de semana, em horário. Eu queria
estar no Almirante fazendo o trabalho. Então, eu projetei essa “lenha” para queimar
em dez anos, porque quando eu assumi a coordenação da banda eu tinha 20 anos,
e pensei que com 30 anos eu precisaria fazer outras coisas, precisaria cuidar de
uma família. Eu sabia que teria aqueles dez anos para me entregar e me entreguei.
Hoje, eu estou aqui exatamente vendo esse filme que passou, analisando toda essa
trajetória, porque eu cheguei no ponto que a minha expectativa de dez anos atrás
me levava a pensar que poderia chegar, que era construir o trabalho da banda do
Almirante até chegar em um nível para ser referência, eu queria ser referência, não
eu pessoalmente, queria que a Banda do Almirante fosse referência em termos de
Banda Escolar em Santarém, e acho modestamente que consegui contribuir para
isso. Minha expectativa a partir de agora é que a banda e a escola tenham
90
condições de continuar crescendo sem mim, porque eu quero e preciso fazer outras
coisas.
Para mim, ser professor de música, é ser um trabalhador com um fardo
muito pesado, carregar uma cruz pesada com várias pessoas em cima, sem rodinha,
sem nada. Isto é ser professor, é colocar-se a serviço social, a serviço comunitário,
sem esperar grande salário, sem esperar grande valorização, sem grandes
expectativas do ponto de vista financeiro, mas ter consciência de que você é
fundamental para a sociedade. Isto é ser professor.
É complexo falar quais os saberes necessários para ser professor de
música, mas para ser professor é necessário sensibilidade, paciência. Os primeiros
saberes que me fizeram professor de música, o primeiro foi a necessidade de fazer
algo ao próximo: se você está vindo até mim para querer tocar nessa banda, eu
preciso lhe ajudar, é uma obrigação minha porque eu quero essa banda e para essa
banda existir tem que ter você lá, a sensibilidade de entender o que o outro quer e
ao mesmo tempo propor para ele o que ele precisa.
Outro saber é a dedicação absoluta, extrema, sem restrição, a dedicação de
passar na escola o final de semana, ou o domingo, feriado, altas horas da noite. Eu
já amanheci várias vezes na escola, consertando instrumentos, preparando as
coisas, enfim, eu sou um daqueles que quer fazer uma aula que me vem na cabeça,
eu estou ensinando leitura, e estou perdendo aluno, eles não querem aprender
porque está chato, então o que eu vou fazer? Já passei a noite preparando a aula na
escola: “Vou fazer uma organização diferente nessa aula, vou logo lavar...”, aí eu
começo a lavar a sala meia noite. Ligo para o Fábio, que hoje é o coordenador do
projeto, ele é vigia noturno, e digo: “Sai daí e vem para cá!”. Aí, lá vem o Fábio, e eu
digo: “Vamos lavar logo essa sala porque amanhã tenho que dar uma aula ‘do
caramba’ aqui!”. Lavamos. “Coloca umas cadeiras assim. Não! Sem cadeiras!
Coloca as cadeiras, e bem aqui tem que entrar um data show!”. Então penso: “Mas
para a escola me emprestar um data show em cima da hora?! Mas eu vou
conseguir!”. E o pano? Onde tem um para projetar o data show? Lá em casa tem:
“Vamos lá em casa!”. Nisso, já eram 2h00, aí eu preparo todo o ambiente. No outro
dia, chegam os alunos e eu me realizo fazendo aula porque eu preparei tudo para
eles, e no final fica aquela “coisa” autêntica, bacana e envolvente, e aí meu coração
fica livre, fiz o que eu podia e assim a gente vai conquistando todo o trabalho.
91
Percebia que Gesival via em mim uma possibilidade de o trabalho que ele
desenvolvia de forma voluntária há quase 25 anos ter continuidade. Ele já
apresentava certo cansaço, demonstrava vontade de aposentar-se. Durante o último
ano que esteve na escola, tivemos vários desentendimentos, conflitos de idéias, que
resultaram em afastamento. Foi um processo doloroso, tanto para ele que estava
vendo um aluno chegando e tomando parte do que ele havia construído, e por outro
lado eu também sofria, pois sabia que não seria fácil sem a liderança dele. Mas em
2004, passei a representar de fato a liderança para banda, apesar de muitas coisas
se voltarem contra mim.
Atualmente, com minha saída da escola Almirante, percebo uma situação
bem diferente da que aconteceu comigo. O meu substituto é o Fábio da Costa
Ferreira. Estivemos juntos desde que assumi a coordenação da banda, ele passou
os dez anos (2004-2014) comigo na banda, então ele conhece todo o projeto, como
eu conheço, conhece os caminhos que precisa percorrer para deixar as coisas
funcionando, conhece inclusive quais eram as minhas pretensões. Foi bem natural,
não está havendo nenhum problema conflitante como quando eu entrei. Na verdade,
está sendo como se eu não saísse, apesar de haver mudanças, está acontecendo
como se eu continuasse. A intenção é que eu continue como regente da banda de
música, e o Fábio conduza como regente a Banda Marcial e toda questão da gestão
do projeto.
Em 2006, o regente auxiliar da Banda Sinfônica Wilson Fonseca, Paulo
Marcelo Pedroso Pereira, anunciou que ao final daquele iria sair da escola, e indicou
93
meu nome para substitui-lo nesta função. Atuei como regente auxiliar nesse grupo
no período de 2006 a 2008. Na Escola de Música, não havia muito o que mudar,
pois as coisas tinham uma boa dinâmica já estabelecida, então apenas conduzia os
ensaios (não todos) e regia a banda nas apresentações rotineiras.
Cheguei a organizar, juntamente com outros professores, recitais de metais,
madeira e percussão. Esses recitais foram inovadores na escolar por trabalharem
um repetório diferente daquele que era utilizado na Orquestra Jovem Wilson
Fonseca, e acabavam por movimentar os alunos/músicos em torno de algo incomum
na escolar, uma vez que todos viviam normalmente em torno dos ensaios e
apresentações da Orquestra.
Figura 49: Júlio Heleno regendo a Orquestra Jovem
Wilson Fonseca.
opção nossa para dar conta de preparar tudo o que almejamos para apresentar no
dia. Há bandas que ensaiam bem menos, mas são as bandas que tem perdido para
gente. Sábados e domingos, arrumando os instrumentos, ensinando aquele aluno
que não consegue tocar determinada parte, feriados, férias de julho inteiras, de
manhã, à tarde e à noite. No ano passado, eu trabalhava os naipes separados
durante o dia, para dar conta de ir preparando as músicas, e à noite o geral e mais o
trabalho coreográfico, que apesar de não ser eu que tenha essa responsabilidade de
criar as coreografias, mas tenho a responsabilidade de olhar para ver se está tudo
funcionando. Porque, no final das contas, o crivo sou eu que faço, do que vai ficar,
das coreografias que vão dar certo. Coreografia, por exemplo, que prejudique muito
a parte sonora da banda, peço para modificar, e se eu não estiver olhando eles vão
querer tocar de cabeça para baixo e não vão estar se importando com a música, e a
respiração do músico é um problema. Mas é um trabalhão e isso consome demais, e
é disso tudo que já estou muito saturado, 21 festivais...
Ainda continuo com essa ideia, mas uma coisa aconteceu: esse ano estou
me sentindo mais descansado, porque a “galera” do Almirante está conseguindo
levar o trabalho à frente sem eu estar coordenando. Já estou afastado desde
outubro de 2014, como coordenação, mas eu continuo regente da banda de música.
Eu me dispus a estar lá um dia por semana, na quarta feira, para ensaiar a banda de
música. Não é a banda marcial, e tem sido legal esse trabalho porque como eu não
tenho o peso de coordenar, de verificar instrumento que quebrou, de aluno que está
faltando, estou indo e fazendo os ensaios, atuando como regente. É uma novidade
para mim e tem me feito muito bem porque estou saindo de lá satisfeito com os
resultados dos ensaios, estou conseguindo produzir. Eu não me afastei literalmente
do projeto, eu continuo apoiando, atuando como regente da banda.
E eu até já me coloquei à disposição para o Fábio. Não é certa a
participação da banda do Almirante este ano no Festival, independente da minha
presenca lá ou não, não é certo. Por quê? Porque já se discutiu muito isso dentro do
Almirante, dentro da escola, não se faz mais necessária a participação do Almirante,
sem falsa modestia, não tem quem enfrente a banda do Almirante, porque a banda
do Almirante é muito forte hoje, com o pessoal que a gente conseguiu formar ao
longo desses dez anos, os que criam a coreografia. Nossos alunos são muito fortes
nisso, inclusive eles têm participado de outros festivais, convidados por outras
bandas e tem vencido as disputas por aí, então tem ganhado autonomia também.
97
Mas há uma saturação dentro da escola em relação aos festivais, não tem quem a
enfrente. Mas se a escola resolver participar, claro que vai querer fazer bem feito e
vai querer vencer.
Mesmo se a banda fizer só uma participação especial, ela vai requerer toda
uma preparação. Se vai ter toda uma preparação é melhor participar da disputa. Mas
a gente vai deixar para resolver isso mais tarde. A minha cabeça hoje é o seguinte:
se o Almirante não participar – “beleza!” –, eu estou tranquilo, são mais de 20
festivais; se resolver participar, eu vou apoiar, não como antes, não vou mais estar
totalmente à disposição do projeto porque eu quero me dispor mais para família.
Comecei a trabalhar em outubro de 2014 no Colégio Dom Amando, e estou
sofrendo por antecipação, porque o Dom Amando não ensaia a banda em julho. Fui
meio que proibido até de ensaiar, de ter aluno em julho, porque é contra as leis
trabalhistas do colégio e tudo mais. Mas eu disse: “Gente, como é que uma banda
escolar não vai ensaiar em julho?”. E eu estou sofrendo por conta disso, e como eu
realmente não vou poder estar no Dom Amando em julho, ensaiando a banda, eu
vou para o Almirante. Mas lá para o futuro resolveremos, se a banda vai participar
de festival, se eu vou reger festival ou não.
Apesar de ter participado de vários festivais, não sinto uma pressão por
parte do Colégio Dom Amando para participarmos dessa competição. Ao contrário,
há uma pressão minha, não necessariamente em relação ao Festival de Bandas,
mas para que o Dom Amando de alguma modo atue de forma mais incisiva como
banda marcial na Semana da Pátria. Ele não tem atuado, não estava atuando, e há
uma pressão minha para que participe. Mas essa pressão eu não sinto de volta. Eles
mesmos sabem da realidade, não ensaiam em julho, ensaiam pouco em agosto
porque têm outras atividades, têm o folclore, e não tem realmente como pegar a
banda do Dom Amando e fazê-la tocar e coreografar para participar de um festival
de bandas. Não tem como, pois em julho não pode ensaiar e em agosto disputa com
outras atividades que são muito fortes dentro do colégio. O festival é em setembro
depois da Semana da Pátria, fica complicado, mas eu quero que a banda do Dom
Amando pelo menos participe de forma mais incisiva no cenário artístico local,
apresentações comunitárias, na própria Semana da Pátria. Antes faziam, eu mesmo
toquei quando estudei lá, participei em várias apresentações.
98
SABERES DAS
SABERES DE CIENCIAS DA
FORMAÇÃO EDUCAÇÃO
PROFISSIONAL
SABERES
SABERES DISCIPLINARES
DISCIPLINARES
T G
A SABERES A
SABERES CURRICULARES U
R
D CURRICULARES T
SABERES DA H
I
TRADIÇÃO I
F
PEDAGÓGICA E
R
SABERES
EXPERENCIAIS
SABERES SABERES DA
EXPERENCIAS AÇÃO
PEDAGÓGICA
A
T
A
Ç
U
M
A
R
ÇÃ
Professor
F
O
O
de
Música
F A M Í L I A
Cunha (1989, p. 25) diz que essas vivências cotidianas são fundamentais
para esse docente, e acaba construindo conhecimento de ser professor, que muitas
vezes não são aprendidos na escola, na academia.
O conhecimento do professor é construído no seu próprio cotidiano,
mas ele não é só fruto da vida na escola. Ele provém, também, de
outros âmbitos e, muitas vezes, exclui de sua prática elementos que
pertencem ao domínio escolar. A participação em movimentos
sociais, religiosos, sindicais e comunitários pode ter mais influência
no cotidiano do professor que a própria formação docente que
recebeu acadêmicamente.
banda, ele também pode conseguir com aqueles jovens em situação de risco, pois
ao assumir a direção da banda na escola Almirante, encontra um cenário dominado
pela violência, relata que a imagem do Almirante na sociedade santarena era de
uma escola de vândalos, de gangueiros, e acredita que “através da música podemos
melhorar a realidade escolar”. Ele traz o saber experencial da família, o saber da
formação pedagógica e os aplica adequando-os na atuação.
Isso é explicado por Nóvoa (2013, p. 17), quando expõe que “a maneira
como cada um de nós ensina está diretamente dependente daquilo que somos como
pessoa quando exercemos o ensino”, nossas ações docentes revelam muito do que
somos.
As opções que cada um de nós tem de fazer como professor, as
quais cruzam a nossa maneira de ser com a nossa maneira de
ensinar e desvendam na nossa maneira de ensinar a nossa maneira
de ser (NÓVOA, 2013, p. 17)
momentos mais inusitados em que fui sendo exigido nesse trabalho de docência, de
coordenação e de regência no Almirante”.
Um professor não pensa somente com a cabeça, mas com a vida,
com o que foi, com o que viveu, com aquilo que acumulou em termos
de experiencia de vida, em termos de lastro de certezas. Em suma,
ele pensa a partir de sua história de vida não somente intelectual, no
sentido rigoroso do termo, mas também emocional, afetiva, pessoal e
interpessoal. (TARDIF 2013, p. 103)
SEMESTRE DISCIPLINAS CH CH
SEMESTRAL SEMANAL
1. APRECIAÇÃO MUSICAL 40 02
2. PERCEPÇÃO E ANÁLISE I 40 02
1 3. LEITURA E ESCRITA MUSICAL 40 02
4. PRÁTICA MUSICAL EM CONJUNTO I 40 02
5. TÉCNICAS DE ESTUDO E PESQUISA I 40 02
200 10
6. PERCEPÇÃO E ANÁLISE II 40 02
7. PRÁTICA MUSICAL EM CONJUNTO II 40 02
2 8. MÚSICA E SOCIEDADE 40 02
9. PRÁTICA CORAL I 80 04
200 10
6 240 12
SEMESTRE DISCIPLINAS CH CH
SEMESTRAL SEMANAL
Gesival de Melo Vieira, que esteve como regente desta banda ao longo de 25 anos.
Durante as entrevistas, Júlio Heleno comenta que os instrutores de bandas de
música em Santarém são voluntarios.
Essa é uma prática que pode ser observada, desde a época de José
Agostinho da Fonseca («1886 - V 1945), que chegou em Santarém no ano de 1906,
e organizou orquestras e bandas de música em Santarém, e repetida por seus filhos,
como relata Wilson Fonseca:
Eu nunca tive um tostão de salário de música e até hoje a banda de
música, às vezes, dá uma gratificação e eu nunca recebo nada. Eu e
o Wilde, nós não recebemos nada, nem o Bazinho (Sebastião
Sirotheau). Assim como o meu pai nunca recebia dinheiro e, se
recebia, era alguma coisa que depois chegava um músico dizendo
que estava ruim daquilo e daquele dinheiro mesmo que ele tinha
recebido, ele transferia para outro. (SENA, 2012, p. 173)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALBERTI, Verena. Manual de História Oral. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV,
2005.
ALBERTI, Verena. Ouvir contar: textos em história oral. Rio de Janeiro: Ed. FGV,
2004.
CUNHA, Maria Isabel da. O bom professor e sua prática. Campinas: Papirus,
1989.
DEWEY, John. Arte como experiência. São Paulo: Martins fontes, 2010.
FONSECA, Vicente José Malheiros da. A vida e obra de Wilson Fonseca (Maestro
Isoca). Rio de Janeiro: Gráfica Banco do Brasil, 2012.
123
FONSECA, Wilde Dias da. Santarém Momentos Históricos. 5. Ed. ICBS- Instituto
Cultural Boanerges Sena- Santarém, 2006.
ROSSATO, Ricardo. Século XXI: saberes em construção. Passo Fundo: UPF, 2002.
SADIE, Stanley (Org.). Dicionário Grove de Música. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
SILVA, Thallyana Barbosa da. Banda Marcial Augusto dos Anjos: processos de
ensino-aprendizagem musical. Dissertação (Mestrado em Música) Universidade
Federal da Paraíba, 2012.