Tge.4.1. HOBBES. O Medo e A Esperan+ºa
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Tge.4.1. HOBBES. O Medo e A Esperan+ºa
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A ~guerrase Começamos por essa crítica porque espontanea- - de reconhecer em muitos outros maior inteligência, maior eloqüência
generaliza mente, quando um homem do século XX lê os ou maior saber, dificilmente acreditam que haja muitos tão sábios co-
contratualistas, de sente a mesma estranheza que mo eles próprios; porque vêem sua própria sabedoria bem de perto,
Maine. E por isso é preciso ver que erro Maine cometeu. Raro, ou e a dos cutros homens à distância. Mas isto prova que os homens
nenhum, contratualista pensou que selvagens isolados se juntam nu- são iguais quanto a esse ponto, e não que sejam desiguais. Pois ge-
ma clareira para fazer um simulacro de constituinte. Voltaremos a ralmente não há sinal mais claro de uma oistribuição eqüitativa de
isso depois (ao ver o que é ciência política para Hobbes) . Por ora, alguma coisa do que o fato de todos estarem contentes com a parte
que lhes coube.
só isso: o homem natural de Hobbes não é um selvagem. É o mes-
mo homem que vive em sociedade. Melhor dizendo, a natureza do (Leviatã, capo XIII, p. 74.)
homem não muda conforme o tempo, ou a história, ou a vida so- Nesse texto célebre - e o que causou maior irritação contra
cial. Para Hobbes, como para a maior parte dos autores de antes Hobbes - ele não afirma que os homens são absolutamente iguais,
do século XVIII , não existe a história entendida como transforman- mas que são" tão iguais que ... ": iguais o bastante para que nenhum
do os homens. Estes não mudam. É por isso que Hobbes, e outros, possa triunfar de maneira total sobre outro. Todo homem é opaco . ~~
citam os gregos e romanos quando querem conhecer ou exemplifi - aos olhos de seu semelhante - eu não sei o que o outro deseja, e
car algo sobre o homem, mesmo de seu tempo. por isso tenho que fazer uma suposição de qual será a sua atitude
Como o homem é, naturalmente? mais prudente, mais razoável. Como ele também não sabe o que '. ~ , ."
A natureza fez o s hom ens tão iguais , qu anto às fac uldades do
quero, também é forçado a supor o que farei. Dessas suposiç ões re-
corpo e do espírito, qu e, embora por vezes se encontre um homem cíprocas, decorre que geralmente o mais razoável para cada um é :~ ~ ,
manifestamente mai s forte de corpo , ou de espírito mais vivo do qu e atacar o outro, ou para vencê-lo, ou simplesmente para evitar um
outro , mesmo assim , quando se considera tudo isso em con junto, a ataque possivel: assim a guerra se generaliza entre os homens. Por
diferença entre um e outro homem não é sufic ientemente considerá- isso, se não há um Estado controlando e reprimindo, fazer a guer-
vel para que qualquer um po ssa com base nela reclama r qualquer be- ra contra os outros é a atitude mais racional que eu posso adotar
nefício a que outro não possa também aspirar , tal como ele. Porque (é preciso enfatizar esse ponto, para ninguém pensar que o " homem
quanto à força corporal o ma is fraco tem fo rça suficiente para ma- lobo do homem", em guerra contra todos, é um anormal; suas
tar o mai s forte , quer por secreta maquinação , quer aliando-se com .. . .
ações e cálculos são .os únicos racionais, no estadode natureza). '::.r,
outros que se encontrem ameaçados pelo mesmo perigo.
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Quanto às faculdades do espírito (pondo de lado as artes qu e [Da] ígualdade quanto à capacidade deriva a igualdade quan-
dependem das palavras, e especialmente aquela capacidade para pro- to à esperança de atingirmos nossos fin s. Portanto se dois homens
ceder de acordo com regras gerais e infalíveis a que se chama ciência; desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo que é impossível ela ser go-
a qual muito poucos têm, e apenas numas poucas coisas, pois não é zada p'()ramlJ()s,eles tornam-se inimigos. E no caminho para seu fim
uma faculdade nativa; nascida conosco, e não pode ser conseguida (queéprincipalmente suapr ópríaconservação.jsàs vezes apenas seu
- como a prudência - ao mesmo tempo que se está procurando al- deleite) esforçam-se por se destruir ou subjugar um ao outro. E dis-
guma outra coisa), encontro entre os homens uma igualdade ainda to se segue que ,quando um Invasor nadamaistem a recear do que
maior do que a igualdade de força. ' Porque a prudência nada ma is é o poder de um 'único outro' homem; se algu ém planta; semeia, cons-
. do que experiência, que um tempo igual igualmente oferece a todos tr ó] ou possui um lugar conveniente, é provavelm'ente deesperar que
os homens, naquelas coisas a que igualmente se dedicam. O que tal - outros 'venham preparados com forças conjugadas , para desapossá-
vezpossa tornar inaceitável essa igualdade é simplesmente a concep- lo e privá-lo, não apenas do fruto de seu trabalho , mas também de
ção vaidosa da própria sabedoria, a qual quase todos-o s-homens su-- ._.- sua vida e desua liberdade. Por sua vez, o invasor ficará no mesmo
põem possuir em maior grau do que o vulgo; quer dizer, em maior perigo em relação aos outros.
grau do que todos menos eles próprios, e alguns outros qu e, ou devi, E contra esta desconfiança de uns em relação ao s outros, ne-
do à fama ou dev ido a concor da rem com eles, mere cem sua apro va- nhuma maneira de se garantir é tão razoável como a antecipação; is-
ção. Poi s a natureza dos homens é tal qu e, embora sejam capazes to é, pela força ou pela astúcia, subjugar as pessoas de todos os ho-
mens que puder, durante o tempo necessário para chegar ao momento
HOaBEs: c .\f~DO Ê À. ESPERANÇA. 57
em que não veja qualquer outro poder,; suficieptementegrande para chover que .dura vários dias seguidos, assim também a natureza da
ameaçá-lo. E isto não é mais do que suapr;;priaconservação exige, guerra não consiste na luta real, mas na conhecida disposição para
conforme é geralmente admitido. .Também por causa de alguns que, tal, durante todo o tempo em que não há garantia do contrário. To-
comprazendo-se em contemplar seu próprio poder nos atos de con- do o tempo restante t: de paz.
quista, levam estes atos mais longe do que sua segurança exige, se ou- (Ibidem, capo XIII, p. 74-6.)
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tros que, do contrário, se contentariam em manter-se tranqüilamen- Hobbes tem perfeita consciência de que essa definição há de
te dentro de modestos limites, não aumentarem seu poder por meio chocar seus leitores, que se prendem à definição aristotélica do ho-
de invasões, eles serão incapazes de subsistir durante muito tempo, mem como zoon politikon, animal social. Para Aristóteles, o ho-
se se limitarem apenas a uma atitude de defesa. Conseqüentemente
mem naturalmente vive em sociedade, e só desenvolve todas as suas
esse aumento do domínio sobre os homens, sendo necessário para a
potencialidades dentro do Estado. Esta é a convicção da maioria
conservação de cada um, deve ser por todos admitido.
Por outro lado, os homens não tiram prazer algum da compa-
das pessoas, que preferem fechar os olhos à tensão que há na con-
nhia uns dos outros (e sim, pelo contrário, um enorme desprazer), vivência com os demais homens, e conceber a relação social como
quando não existe um poder capaz de manter a todos em respeito . harmônica. Por isso Hobbes acrescenta um apelo à experiência pessoal:
Porque cada um pretende que seu companheiro lhe atribua o mes- Poderá parecer estranho a alguém que não tenha considerado
mo valor que ele se atribui a si próprio e, na presença de todos os si- bem estas coisas que a natureza tenha assim dissociado os homens,
nais de desprezo ou de subestirnação, naturalmente se esforça, na me- tornando-os capazes de atacar-se e destruir-se uns aos outros. E po-
dida em que a tal se atreva (o que, entre os que não têm um poder derá portanto talvez desejar, não confiando nesta inferência, feita a
comum capaz de os submeter a todos, vai suficientemente longe pa- partir das paixões, que a mesma seja confirmada pela experiência.
ra levá-los a destruir-se uns aos outros), por arrancar de seus conten- Que seja portanto ele a considerar-se a si mesmo, que quando empre-
dores a atribuição de maior valor , causando-lhes dano, e dos outros ende uma viagem se arma e procura ir bem acompanhado; que quan-
também, através do exemplo. do vai dormir fecha suas portas; que mesmo quando está em casa tran-
De modo que na natureza do homem encontramos três causas ca seus cofres; e isto mesmo sabendo que existem leis e funcionários
principais de discórdia . Primeiro, a competição; segundo, a descon- públicos armados, prontos a vingar qualquer injúria que lhe possa
fiança; e terceiro, a glória . ser feita. Que opinião tem ele de seus compatriotas, ao viajar arma -
A primeira leva os homens a atacar os outros tendo em vista do; de seus concidadãos, ao fechar suas portas; e de seus filhos e ser-
o lucro; a segunda, a segurança; e a terceira, a reputação. Os primei- vidores, quando tranca seus cofres? Não significa isso acusar tanto
ros usam a violência para se tomarem senhores das pessoas, mulhe- a humanidade com seus atos como eu o faço com minhas palavras?
res, filhos e rebanhos dos outros homens; os segundos, para defen- Mas nenhum de nós acusa com isso a natureza humana. Os desejos
dê-los; e os terceiros por ninharias, como uma palavra, um sorriso, e outras paixões do homem não são em si mesmos um pecado. Nem
uma diferença de opinião, e qualquer outro sinal de desprezo, quer tampouco o são as ações que derivam dessas paixões, 'até ao momen-
seja diretamente dirigido a suas pessoas, quer indiretamente a seus .. toem que se tome conhecimento de uma lei que as proíba; o que se-
pare~tes, seus 'aJ1ligos; sua naçãÓ, sua: p~ofissão ou seu .nome. . . .. rá impossível até ao momento em:que sejam feitas asleisjenenhu-..
ma lei pode ser feita antes de se ter determinado qual a .pessoa que
Com isto se toma manifesto que; durante o tempo em que os
deverá fazê~la. ·"
homens vivem -semum poder -,comulI1.~c;ªpazde os manter a todos
(Ibidem, capo XIII, p. 76.)
se
em respeito, eles se encontram .naquela condição a que chama guer-
ra; e uma guerra que é de todos os homens contra todos os homens. O que Hobbes pede é um exame de consciência: "conhece-te
Pois .a guerra não consiste apenas na' batalha, ou no ato de lutar, .; 'a l i mesmo" . .Estamos carregados de .preconceitos , acha Hobbes,
mas naquele lapso de tempo durante o qual a vontade de:travar bata- :.-.que vêm basicamente de Aristóteles e da filosofia escolástica medie-
lha é suficientemente conhecida. Portanto a noção de tempo deve ser val. Mas o mito de que o homem é sociável por natureza nos impe-
levada em conta quanto à natureza da guerra, do mesmo modo que de de identificar onde está o conflito, e de contê-lo. A política só
quanto à natureza do clima. Porque tal como a natureza do mau tem- será uma ciência se soubermos como o homem é de fato, e não na
po não consiste em dois ou três chuviscos, mas numa tendência para
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ilusão; e só' coma 'ciência política"será possível 'construirmos Esta, se não encontram o mesmo em si próprios. Pois esta 'espécie de dou- v
dos que se sustentem; em vez de tornarem permanente a guerra civíl.. trina não admite outra demonstração, . . '
~ ... ] há um ditado que ultimamente tem sido muito usado: que . (Introdução, Ibidem, p . 6.)
a sabedoria não se adquire pela leitura dos livros, mas do homem. Dessa perspectiva algo cética, sem ilusões, Hobbes deduz que
Em conseqüência do que aquelas pessoas, que regra geral são incapa- no estado de natureza todo homem tem direito a tudo:
zes de apresentar outras provas de sua sabedoria, comprarem-se em
mostrar o que pensam ter lido nos homens, através de impiedosas O direito de natureza, a que os autores geralmente chamam
censuras que fazem umas às outras, por trás das costas. Mas há um jus natura/e, é a liberdade que cada homem possui de usar seu pró-
outro ditado que ultimamente não tem sido compreendido, graças prio poder, da maneira que quiser, para a preservação de sua pró-
ao qual os homens poderiam realmente aprender a ler-se uns aos ou- pria natureza, ou seja, de sua vida; e conseqüentemente de fazer tu-
tros, se se dessem ao trabalho de fazê-lo: isto é, Nosce te ipsum, " Lê- do aquilo que seu próprio julgamento e razão lhe indiquem como
te a ti mesmo". O que não pretendia ter sentido, atualmente habi. meios adequados a esse fim.
tual, de pôr cobro à bárbara conduta dos detentores do poder para (Ibidem, capo XIV, p. 78.)
com seus inferiores, ou de levar homens de baixa estirpe' a um com-
portamento insolente para com seus superiores. Pretendia ensinar-
nos que, a partir da semelhança entre os pensamentos e paixões dos
diferentes homens, quem quer que olhe para dentro de si mesmo, e
examine o que faz quando pensa, opina, raciocina, espera, receia Como pôr termo a Para Hobbes o homem é o indi íd
etc., e por que motivos . o f az, po derá
era por esse meio . Ier e con hecer essecon f'"ItO? Mas atenção ' a t 1 d f I IVI . uo..
. .. ' " d d
quais sao os pensamentos e paixoes e to os os outros omens, em
h vid li. b ' nA
es e a armos
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em indi- '-"
no ,~maranh~d~s e confusoscOl~lO sao,. devído. a _dlsslmulaça?, ;~ ' 0 "t.::l:~~nte. dirigido a suas pessoas, quer indiretamente a seus parentes,
mentira, ao fingimento e às doutnnas erroneas, so se tornam legíveis seus amigos, sua nação, sua profissão ou seu " (Ibid . ~.>
'. .. E b d b nome. I em cap
para quem mvestiga os coraçoes. , em ora por vezes escu ramos XIII, p. 75.) A honra é o valo tribuíd I ' ."
os desígnios dos homens através de suas ações, tentar fazê-lo sem.. aparências e t r a TI UI o a a guem em funçao das
compara- . Ias com as nossas, d"istmgum . d o,tod as as circunstancias
. o·
capa-.:' '
,' . O h ornemx emas.
,. hobb . •.•
zes de alterar o caso, é o mesmo que decifrar sem ter uma chave, L . . _ ,: ,., .. esrano nao e entao um homo ceconomicus,
deixar-se o mais das vezes enganar, quer por excesso de confiança... ."porque s:u x,nalOr mteresse não está em produzir riquezas, nem mes-
ou por excesso de desconfiança, conforme aquele que lê seja um borii:~' " :::0 0 em pilhá-las, Ornais iinportante para ele é ter os sinais de hon-
ou um mau homem. ... ' . ... . '. .. .~~;l~, entre ós' qUéiis se inclui a própriariqueza (mais corno.meio .d o,
Mas mesmo . que um homem
_... seja capaz de ler . . ... :~:.. ~ue
perfeitamente'" . ' como . fim em si). . Que...r dize.r. . .'q ue. .o .hom'e m vive basi '
asrcarnente
um outro atraves de suas açoes, ISSO servir-lhe-á apenas com seus co- .de imaginação, Ele imagina ter um puder" .
.. hecid . ..' A I' . - . . . .. , Imagma ser respeítado
n eCI os, que sao muito poucos. que e que vai governar uma naçao· · ··c,,.~ou ofendido - pelos sem Ih . t ... . . . .: . " .
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inteira deve ler, em si mesmo, não este ou aquele indivíduo em .parti-...: .:..zer....Da imagina _ ' . .. e a~ eS'HImagma o que o outro vai f.a-
. çao - ,e neste ponto obb . . rd ...
cular, mas o gênero humano . O que é coisa difícil, mais ainda do - . . . r . es concor a com muitos
. .. .
que aprender qualquer língua ou qualquer ciencia, mas amda aSSIm,. . pensadores
h do_ seculo XVII e XVIII - d .
ecorrem perigos, porque o
depois de eu ter exposto claramente e de maneira ordenada minha ornem se . poe • a fant asiar . o que e, irrea. I . O estado ' de natureza é
própria leitura , o trabalho que a outros caberá será apenas verificar uma condição de guerra, porque cada um se imagina (com razão
ou sem) poderoso, perseguido, traído.
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.Como pôr !erriioâ:es~e';cÓ~fm9? ' Hátimá base "jurídica 'para \s;~ não a dispor-se para a paz.É. esta alei do Evangelho: f az,.aos ou-
isso; depois do direito de natuféza~qué já vimos, Hobbes define o" ; :'~~'
tros o que queres quetefaçam a ti. E esta é a lei de todos .os ho-
mens : Quod tibi fieri nonvis: alteri ne feceris . . .,'
que é a lei de natureza: Renunciar ao direito a alguma coisa é o mesmo que privar-se
Uma lei de natureza ile»: naturalist é um preceito ou regra ge- da liberdade de negar ao outro o benefício de seu próprio direito à
ral, estabelecido pela razão, mediante o qual se proíbe a um homem mesma coisa. Pois quem abandona ou renuncia a seu direito não dá
fazer tudo o que possa destruir sua vida ou privá-lo dos meios neces- a qualquer outro homem um r'ireito que este já não tivesse antes ,
sários para preservá-la, ou omitir aquilo que pense poder contribuir porque não há nada a que um homem não tenha direito por nature -
melhor para preservá-la. Porque embora os que têm tratado deste as- za; mas apenas se afasta do caminho do outro, para que ele possa go-
sunto costumem confundir jus e lex, o direito e a lei, é necessário dis- zar de seu direito original, sem que haja obstáculos da sua parte,
tingui-los um do outro. Pois o direito consiste na liberdade de fazer mas não sem que haja obstáculos da parte dos outros. De modo que
ou de omitir, ao passo que a lei determina ou obriga a uma dessas a conseqüência que redunda para um homem da desistência d e outro :;"
duas coisas. De modo que a lei e o direito se distinguem tanto co- a seu direito é simplesmente uma diminuição equivalente d05 impedi-
mo a obrigação e a liberdade, as quais são incompat íveis quando se mentos ao uso de seu próprio direito original.
referem à mesma matéria. ' (Ibidem cap oXIV, p. 78-9.)
E dado que a condição do homem (conforme foi declarado no Mas não basta o fundamento jurídico . É preciso que exista
capítulo ante rior) é uma condição de guerra de todos contra todos ,
um Estado dotado da espada, armado, para forçar os homens ao
sendo neste caso cada um governadc por sua própria razão, e não ha-
respeito . Desta maneira, aliás, a imaginação será regulada melhor,
vendo nada, de que possa lançar mão , que não possa servir-lhe de aju-
da para a preservação de sua vida contra seus inimigos , segue-se da- porque cada um receberá o que o soberano determinar.
qui que numa tal condição todo homem tem direito a todas as coisas, Po rque as leis de natureza (como a j ustiça, a eqüidade, a mo -
incluindo os corpos dos outros. Portanto, enquanto perdurar este di- déstia , a p iedade , ou, em resumo, fazer aos outros o que queremos
reito de cada homem a todas as coisas, não poderá haver para ne- que nos façam) por si mesmas , na aus ência do temor de algum po-
nhum homem (por mais forte e sábio que seja) a segurança de viver der capaz de levá-las a ser respeitadas, são contrárias a nossas pai-
todo o tempo que geralmente a natureza permite aos homens viver. xões naturais , as quais nos fazem tender para a parcialidade, o orgu-
Conseqü entemente é um preceito ou regra geral da razão, Que todo lho , a vingança e coisas semelhantes. E os pacto s sem a espada não
homem deve esforçar-se pela paz, na medida em que tenha esperan- passam de palavras, sem força para dar qualquer segurança a nin-
ça de consegui-Ia, e caso não a consiga pode procurar e usar todas guém. Portanto, apesar das leis de natureza (que cada um respeita ~~ >=
as ajudas e vantagens da guerra. A primeira parte desta regra encer- quando tem vontade de respeitá-las e quandc pode fazê-lo com segu-
ra a lei primeira e fundamental de natureza, isto é, procurar a paz , e rança), se não for instituído um poder suficientemente grande para
segui-la. A segunda encerra a suma do direito de natureza, isto é, por ..: nossa segurança, cada um confiará, e poderá legitimamente confiar,
todos os meios que pudermos, defendermo-nos a nós mesmos. apenas em sua própria força e capacidade, como proteção contra to -
....-..Destalei fundarnental -de natureza,meàiante a qual se ordena dos os out ros. Em todos os lugares onde os ' homens viviam em pe-
a todosos'hómensquepr"ocurem a paz , deriva esta segunda lei: Que : :~ quenas famílias, roubar-se e espoliar-se uns aos outros sempre foi
um homem concorde; quando outros também o façam, e na·medida ·~ "· "' uma ocupação legítima, e tão longe de ser considerada contrária à
emque tal considere llecessárioparaapaz e para a defesa de si mes-.•,' . lei de natureza que quanto maior era a espoliação conseguida maior
mo, em renunciar a seu direito a todas as coisas, contentando-se, ... era a honra adquirida.
em.relação aos outros homens, com a mesma liberdade que aos oU~ . (Ibidem, cap oXVIl ,p. 103.)
tros homens permite em relação asi mesmo. Porque enquanto cada
homem detiver seu direito-de -fazer tudo quanto queira todos os ho- - .. Masopoderde'Estado tem que ser pleno. O Estado medieval
mens se encontrarão 'numa condição de guerra. Mas se os outros 'ho- não conhecia poder absoluto, nem soberania - os poderes do rei
mens não renunciarem a seu direito , assim como ele próprio , nesse eram contrabalançados pelos da nobreza, das cidades, dos Parla-
caso não há razão par a que alguém se prive do seu, pois isso equiva- mentos. Jean Bodin, no século ~VI , é O primeiro teórico a afirmar
leria a ofere cer-se como presa (coisa a que ninguém é obrigado), e que no Estado deve haver um poder soberano, isto é, um foco de
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62 OS CLÁSSICOS DA POLlTICA . .u
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autoridade que possa resolver todas as pendências e arbitrar qual- 'm issão (que institui um poder político.ium -góvemo. .e é firmado en- ::'t .
quer decisão. Hobbes desenvolve essa idéia, e monta um Estado ' tre "a sociedade" e "o príncipe"). A novidade de Hobbes está em
que é condição para existir a própria sociedade. A sociedade nasce fundir os dois num só. Não existe primeiro a sociedade, p depois o
com o Estado. poder ("o Estado"). Porque, se há governo, é justamente para que
os homens possam conviver em paz : sem governo, já vimos, nós
A única maneira de instituir um tal poder comum, capaz de de-
fendê-los das invasões dos estrangeiros e ~as injúrias uns dos outros,
nos matamos uns aos outros. Por isso, o poder do governante tem
garantindo-lhes assim uma segurança suficiente para que, mediante que ser ilimitado. Pois, se ele sofrer alguma limitação, se o gover-
seu próprio labor e graças aos frutos da terra, possam alimentar-se nante tiver de respeitar tal ou qual obrigação (por exemplo. tiver
e viver satisfeitos, é conferir toda sua força e poder a um homem, que ser justo) - então quem irá julgar se ele está sendo ou não jus-
ou a uma assembléia de homens, que possa reduzir suas diversas von- to? Quem julgar terá também o poder de julgar se o príncipe conti-
tades, por pluralidade de votos, a uma só vontade. O que equivale nua príncipe ou não - e portanto será, ele que julga, a autorida-
a dizer: designar um homem ou unia assembléia de homens como re- de suprema. Não há alternativa: ou o poder é absoluto, ou conti- .. ' ''
presentante de suas pessoas, considerando-se e reconhecendo-se ca- nuamos na condição de guerra, entre poderes que se enfremam.
da um como autor de todos os atos que aquele que representa sua Para montar o poder absoluto, Hobbes concebe um contrato
pessoa praticar ou levar a praticar, em tudo o que disser respeito à diferente, sui generis. Observemos que o soberano não assina o con-
paz e segurança comuns; todos submetendo assim suas vontades à trato - este é firmado apenas pelos que vão se tornar súditos, não
vontade do representante, e suas decisões a sua decisão. Isto é mais pelo beneficiário. Por uma razão simples: no momento do contra-
do que consentimento, ou concórdia , é uma verdadeira unidade de to- to não existe ainda soberano, que só surge devido ao contrato. Dis-
dos eles, numa só e mesma pessoa, realizada por um pacto de cada so resulta que ele se conserva fora dos compromissos, e isento de
homem com todos os homens , de um modo que é como se cada ho-
qualquer obrigação.
mem dissesse a cada homem : Cedo e transfiro meu direito de gover-
nar-me a mim mesmo a este homem, ou a esta assembléia de ho- Diz-se que um Estado foi institutdo quando uma multidão de
mens, com a condição de transferires a ele teu direito, autorizando homens concordam e pactuam, cada um com cada um dos outros,
de maneira semelhante todas as suas ações. Feito isto , à multidão as- que a qualquer homem ou assembléia de homens a quem seja atribuí-
sim unida numa só pessoa se chama Estado , em latim civitas. É es- do pela maioria o direito de representar a pessoa de todos eles (ou se-
ta a geração daquele grande Leviatã, ou antes (para falar em termos ja, de ser seu representante), todos sem,exceção, tanto os que vota-
, mais reverentes) daquele Deus Mortal,lio'qual devemos, abaixo do ram a favor dele como os que votaram contra ele, deverão autorizar
Deus Imortal , nossa paz e defesa. Pois graças a esta autoridade que todos os atos e decisões desse homem ou assembléia de homens, tal
lhe é dada por cada indivíduo no Estado, é-lhe conferido o uso de ta- como se fossem seus próprios atos e decisões, a fim de viverem em
manho poder e força que o terror assim inspirado ,o t ornll .capazd c paz uns com os outros e serem protegidos dos restantes homens.
conformar as vontades de todos eles, no sentido da paz em seu pró- É desta Instituiçâo do Estado que derivam iodos os direitos e
prio país, e da ajuda mútua contra os inimigos estrangeiros. É nele a
faculdades daquele ou daqueles quem o poder soberano é conferi-
que consiste a essência do Estado, a qual pode ser assim definida: do mediante o consentimento do povo reunido .
Uma pessoa decujos atos uma grande multidão, mediante pactos re- Em primeiro lugar. na medida em que pactuam, deve entender-
ciprocosuns com os outros, foi instituída por cada um como auto- se que não se encontr àmobrigados porum pacto anterior a qual-
ra, de modo a ela poder usar a força e os recursos de todos, da ma- " quer coisa que contradiga o atual. ' Conseqüentemente, aqueles que
neiraque considerarconveniente, para assegurarapaz e a defesa comum . já instituíram um Estado, dado que sãoobrigadospelopacto a reco-
Aquele que é portador dessa pessoa se chama soberano, e de- nhecer como seus os atos e decisões dealguém,não podem legitima-
le se diz' que possui poder soberano. Todos os restantes são súditos. mente celebrar entre si um novo pacto no sentido de obedecer a ou -
(Ibidem, cap, XVII , p. 105-6.) trem, seja no que for, sem sua licença. Portanto , aqueles que estão
submetidos a um monarca não podem sem licença deste renunciar à
Na tradição contratualista, às vezes se distingue o contrato monarquia, voltando à confusão de uma multidão desunida, nem
de associação (pelo qual se forma a sociedade) do contrato de sub- transferir sua pessoa daquele que dela é portador para outro homem,
6S
" ;"b Uó u outra assembléia de homenst.Pois são .obrigados, cada homem pl'- 'ti; . :_ i .m eJos, :s-()ntr~riaII1e~t,e.: à }n.tençã() !. que . o .levara àquela instituição.
' :o rante cada homem; 1>. reconhecere a ser considerados autores de tu- Portanto éinútil preteIld~rc()nferir a soberania através de um 'pacto
do quanto .aquele que já é seu soberano fizer e considerar bom fazer, anterior. A opinião segundo a qual o monarca recebe de um pacto
Assim, a dissensão de alguém levaria todos cs restantes a romper u seu poder, quer dizer, sob certas cond ições, deriva de não se compre-
pacto feito com esse alguém, o que constitui injustiça. Por outro la- ender esta simples verdade: que os pactos , não passando de palavra s
do, cada homem conferiu a soberania àquele que é portador de Sua e vento, não têm qualquer força para obrigar , dominar, constranger
pessoa, portanto se o depuserem estarão tirando-lhe o que é seu, o ou proteger n.nguém, a não ser a que deriva da espada pública. Ou
que também constitui injustiça. Além do mais, se aquele que tentar seja, das mãos livres e sem peias daquele homem, ou assembléia de
depor seu soberano for morto, ou por ele castigado devido a essa ten- homen s, que detém a soberania, cujas ações são garantida s por to .
tativa, será o autor de seu próprio castigo, dado que por instituição dos, e realizada s pela força de todos os que nele se encontram uni
é autor de tudo quanto seu soberano fizer. E, dado que constitui in- dos. Quando se confere a soberania a uma assembléia de homens. .. .~ .~
justiça alguém fazer coisa devido à qual possa ser castigado por sua ninguém deve imaginar que um tal pacto faça parte da instituição . ~~i
própria autoridade, também a esse título ele estará sendo injusto. E Pois ninguém é suficientemente tolo para dizer, por exemplo, que o
quando alguns homens, desobedecendo a seu soberano, pretendem povo de Roma fez um pacto com os romanos para deter a soberania I, f
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ter celebrado um novo pacto, não com homens, mas com Deus, tam- sob tais e tais condições, as quais, quando não cumpridas , dariam
bém isto é injusto, pois não há pacto com Deus a não ser através
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aos romanos o direito de depor o povo de Roma. O fato de os ho-
da mediação de alguém que represente a pessoa de Deus, e ninguém mens não verem a razão para que se passe o mesmo numa monar - ".; . ..
o faz a não ser o lugar-tenente de Deus, o detentor da soberania abai- quia e num governo popular deriva da ambição de alguns, que vêem
xo de Deus. E esta pretensão de um pacto com Deus é uma mentira com mais simpatia o governo de uma assembléia, da qual podem ter
tão evidente, mesmo perante a própria consciência de quem tal pre- a esperança de vir a participar, do que o de uma monarquia, da
tende, que não constitui apenas um ato injusto, mas também um ato qual é impossível esperarem desfrutar .
próprio de um caráter vil e inumano. Em terceiro lugar, se a maioria, por voto de consentimento, es-
Em segundo lugar, dado que o direito de representar a pessoa colher um soberano, os que tiverem discordado devem passar a con-
de todos é conferido ao que é tornado soberano mediante um pacto sentir juntamente com os restantes. Ou seja, devem aceitar reconhe-
celebrado apenas entre cada um e cada um, e não entre o soberano cer todos os atos que ele venha a praticar, ou então serem justamen- : . 0,''-,
e cada um dos outros, não pode haver quebra do pacto da parte do te destruídos pelos restantes. Aquele que voluntariam ente ingressou . ~'.
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soberano, portanto nenhum dos súditos pode libertar-se da sujeição, na congregação dos que constituíam a assembléia, declarou suficien-
sob qualquer pretexto de infração. É evidente que quem é tornado so- temente com esse ato sua vontade (e portanto tacitamente fez um ;:~:f
berano não faz antecipadamente qualquer pacto com seus súditos, pacto) de se conformar ao que a maioria decidir. Portanto, se depois
porque teria ou que celebrá-lo com toda a multidão, na qualidade recusar aceitá-la, ou protestar contra qualquer de seus decretos, age
...departe _d-º .pll.~~() , ou que celebrar diversos pactos, um com cada contrariamente ao pacto, isto é, age injustamente. E quer faça parte
. ..um deles: Com o todo, na qualidade de parte, é impossível, porque . da congregação ;'quernâo faça','~querseu consentimentoseja pedi-
nessemomeino eles ainda-não constituem uma pessoa . E se fizer tan-.. do, quer não seja; outerá que~submetel'~se a séusdecretósouserá
tos pactos quantos forem os homens, depois de eÍe receber a sobera- 'deixado: na condição de :guerraem que antes se encontrava, e na
-nia essespactos serão nulos, pois qualquer ato que possa ser apresen- qual pode, sem injustiça; ser destruído por qualquer um.
- tado.por um deles como rompimentodopacto seráum atopratíca-": "; Emquartolugar,dadoqlle todo"$údito épor instituição autor
do tanto~'porêÍe mesmo corno por todosos outros, porque seráum e
de todos os atos decisões do .soberano instituído, segue-se que na-
ato praticado na pessoa e pelo direito de cada um deles em particu- da do que este faça pode .ser considerado injúria para com qualquer
lar. Além disso, se algum ou mais de um deles pretender que houve de seus súditos.seque nenhum deles pode acusá-lo de injustiça. Pois
infração do pacto feito pelo soberano quando de sua instituição, e quem f~~ .él.lgu~él.foisa em virtude da autoridade de um outro não
outros ou um só de seus súditos, ou mesmo apenas ele próprio, pre- pode nunca causar injúria àquele em virtude de cuja autoridade está
tender que não houve tal infra ção , não haverá nesse caso qualquer agindo. Por esta instituição de um Estado, cada indivíduo é autor
juiz capaz de decidir a controvérsia. Volta portanto a ser a força a de tudo quanto o soberano fizer, por conseqüência aquele que se quei-
decidir , e cada um recupera o direito de se defender por seus próprio s xar de uma injúria feita por seu soberano estar-se-á queixando
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daquilo dequeelepróprío é .autor, portanto não deve acusar nin- pedra está parada,ou ·um homem se encontra amarrado ao leito pe-
guém a não ser asi próprio; e não pode acusar-se a si próprio de in- la doença. ." . . / ",: .,< :; ;.;." .,' . ., e
júria, pois causar injúria a si próprio é impossível. É certo qUI: os de- Conformernente a este significado próprio e geralmente aceite
tentores do poder soberano podem cometer iniqüidades, mas não po- da palavra, um homem livre "é aquele que, naquelas coisas que gra-
dem cometer injustiça nem injúria em sentido próprio. ças a sua força e engenho 1 capaz do; fazer, não é impedido de fazer
Em quinto lugar, e em conseqüência do que foi dito por últi- o que tem vontade de fazer.
mo, aquele que detém o poder soberano não pode justamente ser
(Ibidem, capo XXI, p. 130.)
morto, nem de qualquer outra maneira pode ser punida por seus sú-
ditos. Dado que cada súdito é autor dos atos de seu soberano, cada Este capítulo , o XXI, é um dos mais importantes e menos li-
um estaria castigando outrem pelos atos cometidos por si mesmo . dos do Leviatã. Hobbes começa reduzindo a liberdade a uma deter-
(Ibidem, capo XVIII. p . 107·9) minação física, aplicável a qualquer corpo. Com isso ele praticamen-
te elimina o valor (a seu ver retórico) da liberdade como um cla-
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mor popular, como um princípio pelo qual homens lutam e morrem.
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[...] é coisa fácil os homens se deixarem iludir pelo especioso no- . ,,'
Igualdade e liberdade Nesse Estado, em que o poder é ab- me de liberdade e, por falta de capacidade de distinguir, tomarem por
soluto - perguntará o leitor -. herança pessoal e direito inato seu aquilo que é apenas direito do Esta-
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que papel caberão à liberdade e à igualdade, estes grandes valores do . E quando o .nesmo erro é confirmado pela autoridade de autores
que aprendemos a respeitar? Ora, o que Hobbes faz é justamente reputados por seus escritos sobre o assunto, não é de admirar que ele
provoque sedições e mudanças de governo. Nestas partes ocidentais
desmontar o valor retórico que atribuímos a palavras capazes de ge-
do mundo, costumamos receber nossas opiniões relativas à instituição
rar tanto entusiasmo - e, dirá ele; tanta ambição, descontentamen-
e aos direitos do Estado, de Aristóteles, Cícero e outros autores, gre-
to e guerra. A igualdade, já vimos, é o fator que leva à guerra de gos e romanos, que viviam em Estados populares, e em vez de fazerem
todos. Dizendo que os homens são iguais, Hobbes não faz uma pro- derivar esses direitos dos princípios da natureza os transcreviam para
clamação revolucionária contra o Antigo Regime (como fará a Re- seus livros a partir da prática de seus próprios Estados, que enm po-
volução Francesa: "Todos os homens nascem livres e iguais ... ") , pulares. Tal como os gramáticos descrevem as regras da linguagem a
simplesmente afirma que dois ou mais homens podem que! er a mes- partir da prática do tempo, ou as regras da poesia a partir dos poe
ma coisa, e por isso todos vivemos em. tensa competição. E a liber- mas de Homero e Virgílio.Ecomo aos atenienses se ensinava (para ne-
dade? Hobbes vai defini-la de modo que também deixa de ser um valor. les impedir o desejo de mudar de governo) que eram homens livres, e ·... ~'f
Resta~rporém, uma liberdade ao homem: Quando o indivíduo <" Se o soberano ordenar aalguém (mesmo quejustamente conde-
firmou o contrato social, renunciou ao seu direito de natureza, is- nado)que se mate, se fira. ou se mutile a si mesmo, ou que não resis-
to é, ao fundamento jurídico da guerra de todos. É que, neste direi- ta aOS que o atacarem, ou que se abstenha de usar os alimentos, o
ar, os medicamentos, ou qualquer outra coisa sem a qual não pode-
to, o meio (fazer o que julgasse mais conveniente) contradizia o fim
rá viver, esse alguém tem a liberdade de desobedecer.
(preservar a própria vida). O homem percebeu que, como todos ti- Se alguém for interrogado pelo soberano ou por sua autorida-
nham esse direito tanto quanto ele, o resultado só podia se!' a guer- de, relativamente a um crime que cometeu, não é obrigado (a não
ra - "e a vida do homem [era] solitária, pobre, sórdida, embrute- ser que receba garantia de perdão) a confessá-lo, porque ninguém (con-
cida e curta". (Ibidem, capo XIII, p. 76.) Mas, dando poderes ao forme mostrei no mesmo capítulo) pode ser obrigado por um pacto
soberano, a fim de instaurar a paz, o homem só abriu mão de seu a recusar-se a si próprio.
Por outro lado, o consentimento de um súdito ao poder sobera- .,
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direito para proteger a sua própria vida. Se esse fim não for atendi- ,~,~
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do pelo soberano, o súdito não lhe deve mais obediência - não no está contido nas palavras eu autorizo, ou assumo como minhas, ~J
todas as suas ações, nas quais não há qualquer espécie de restrição
porque o soberano violou algum compromisso (isso é impossível,
a sua antiga liberdade natural. Porque ao permitir-lhe que me mate
pois o soberano não prometeu nada), mas simplesmente porque de- não fico obrigado a matar-me quando ele mo ordena. Uma coisa é
sapareceu a razão que levava o súdito a obedecer. Esta é a "verda- dizer mata-me, ou a meu companheiro, se te aprouver, e outra coi-
deira liberdade do súdito". sa é dizer matar-me-ei, ou a meu companheiro. Segue-se portanto que:
Ninguém fica obrigado pelas próprias palavras a matar-se a si
Passando agora concretamente à verdadeira liberdade dos súdi- mesmo ou a outrem. Por conseqüência, que a obrigação que às ve-
tos, ou seja, quais são as coisas que, embora ordenadas pelo sobera- zes se pode ter, por ordem do soberano, de executar qualquer missão
no, não obstante eles podem sem injustiça recusar-se a fazer, é preci- perigosa ou desonrosa, não depende das palavras de nossa submissão,
so examinar quais são os direitos que transferimos no momento em mas da intenção, a qual deve ser entendida como seu fim. Portanto, ;:r
que criamos um Estado. Ou então, o que é a mesma coisa, qual a li- quando nossa recusa de obedecer prejudica o fim em vista do qual
berdade que a nós mesmos negamos, ao reconhecer todas as ações foi criada a soberania, não há liberdade de recusar; mas caso contrá-
(sem exceção) do homem ou assembléia de quem fazemos nosso sobe- rio há essa liberdade.
rano. Porque de nosso ato de submissão fazem parte tanto nossa . Por esta razão, um soldado a quem se ordene combater o ini-
obrigação quanto nossa liberdade, as quais portanto devem ser infe- migo, embora seu soberano tenha suficiente direito de puni-lo com
ridas por argumentos daí tirados, pois ninguém tem qualquer obriga- a morte em caso de recusa, pode não obstante em muitos casos recu-
ção que não derive de algum de seus próprios atos, visto que todos sar, sem injustiça, como quando se faz substituir por um soldado su-
os homens são, por natureza, igualmente livres. Dado que tais argu- ficiente em seu lugar, caso este em que não está desertando do servi-
.mentos terão que ser tirados ou das palavras expressas, eu autorizo ço do Estado. E deve também dar-se lugar ao temor natural, não só
todas as suas ações, ou da intenção daquele que se submete a seu po- o das mulheres (das quais não se espera o cumprimento de tão perigo-
der (intenção que deve ser ehtendidacomo o fim devido ao qual as- so.dever), mas também o dos homens-de coragem feminina. Quan-
sim se submeteu), a obrigação e a liberdade do súdito deve ser deriva- do dois exércitos combatem há sempre OS queJogem,de um dós la-
dos, ou de ambos; mas quando não o fazem por traição, e sim por
da, ou daquelas palavras (ou outras equivalentes), ou do fim da insti-
medo, não se considera que ofazem injustamente, mas desonrosa-
tuiçãóda soberania, a saber: a paz dos súditos entre si, e sua defesa
mente. Pela mesma razão, evitaro combate não é injustiça, écobar-
contra um inimigo comum. dia. Mas aquele que se alista como soldado, ou torna dinheiro públi-
Portanto, em primeiro lugar, dado que a soberania por insti-
co emprestado, perde a desculpa de uma natureza timorata, e fica
tuição assenta num pacto entre cada um e todos os outros, e a sobe- obrigado não apenas a ir para o combate, mas também a dele nào fu-
rani~-por aquisiçãoempac:tos entre ovenCido e o vencedor, ouentre--I---- gir sem licença de!seu comandãnte. E quando a defesa. do Estado exi-
o filho e o pai, torna-se evidente que todo súdito tem liberdade em ge o concurso simultâneo de todos os que são capazes de pegar em
todas aquelas coisas cujo direito não pode ser transferido por um armas, todos têm essa obrigação, porque de outro modo teria sido
pacto. Já no capítulo 14 mostrei que os pactos no sentido de cada em vão a instituição do Estado, ao qual não têm o propósito ou a co-
um abster-se de defender seu próprio corpo são nulos. Portanto: ragem de defender.
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•. . .,70 OS CLÁSSICOS DA POLITICA 71
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Ninguém tem aliberdade de resistir à espada do Estado, em de" , é súdito, 'é porque prometeu obedecer -a fim de não morrer na
fesa de outrem, seja culpado ou inocente. Porque essa liberdade pri- gúeJ.ra generalizada; por isso, de seu pomo de vista, tanto faz a sua
va a soberania das meios para proteger-nos, sendo portanto destruti- " vida ser ameaçada por um soberano impiedoso e iníquo , quanto
va da própria essência do Estado. Mas caso um grande número de por um governante que o julgou concedendo-lhe a mais ampla defe-
homens em conjunto tenha já resistido injustamente ao poder sobera-
sa. O que ternos, em todos os casos, é o mesmo esquema: um go-
no, ou tenha cometido algum crime capital, pelo qual cada um deles
po.Ie esperar a morte, terão eles ou não a liberdade de se unirem e vernante que fere e, por isso, um súdito que recupera sua liberda-
se ajudarem e defenderem uns aos outros? Certamente que a têm: de natural.
porque se limitam a defender suas vidas, o que tanto o culpado co-
mo o inocente podem fazer. Sem dúvida , havia injustiça na primei-
ra falta a seu dever; mas o ato de pegar em armas subseqüente a es-
sa primeira falta, embora seja para manter o que fizeram , não cons- o Estado, o medo Este esquema mostra que, no Estado ab - ~"""
titui um novo ato injusto. E se for apenas para defender suas pesso- e a propriedade soluto de Hobbes , o indivíduo conserva
as de modo algum será injusto . Mas a oferta de perdão tira àqueles um direito à vida talvez sem paralelo
a quem é feita o pretexto da defesa própria, e torna ilegítima sua in- em nenhuma outra teoria política moderna. Só para compararmos .~
sistência em ajudar ou defender os restantes . com Locke (caps. 2 e 4 do Segundo tratado do governo): o indiv í-
Quanto às outras liberdades, dependem do silêncio da lei. Nos .,,-,
duo que comete crime grave perde o direito de viver e reduz-se a fe-
casos em que o soberano não tenha estabelecido uma regra , o súdi-
to tem a liberdade de fazer ou de omitir , conformemente a sua dis- ra , que por todos deve ser destruída.
crição. Portanto essa liberdade em alguns lugares é maior e noutro s Ma s esse Estado hobbesiano continua marcado pelo medo. ,:
menor , e em algumas épocas maior e noutras menor, conform e os Veja-se a capa da primeira edição do Leviat ã (1651), que mostra
que detêm a soberania consideram mais conveniente. Por exemplo, um príncipe, cuj a armadura é feita de escamas que são os seus súdi -
houve um tempo na Inglaterra em que um homem podia entrar em tos, brandindo ameaçadora espada. Ou veja-se o próprio nome, " Le-
suas próprias terras, desapossando pela força quem ilegitimamente viatã" , que é de um monstro bíblico, que aparece no Livro de JÓ.
delas se houvesse apossado . Mas posteriormente essa liberdade de en- Hobbes diz: o soberano governa pelo temor (awe) que inflige a
trada à força foi abolida por um estatuto que o rei promulgou no seus súditos. Porque, sem medo, ninguém abriria mão de toda a li-
Parlamento. E em alguns lugares do mundo os homens têm a liberda- berdade que tem naturalmente; se não temesse a morte violenta,
de de possuir muitas esposas, sendo que em outros lugares talliberda- que homem renunciaria ao direito que possui , por natureza, a to- ,.:~ ..
asformas, se estas forem suficientemente perfeitas para proteger os pulares à terra comunal ou privada -mas, ao mesmo tempo, es-
súditos. E isto sem levar em conta que a condição do homem nunca belece um limite muito forte à pretensão burguesa de autonomia:
pode deixar de ter uma ou outra incomodidade, e que a maior que as terras e bens estão controlados' pelo soberano.
é possível cair sobre o povo em geral, em qualquer forma de gover-
no, é de pouca monta quando comparada com as misérias e horrí- A distribuição dos materiais dessa nutrição é a constituição
veis calamidades que acompanham a guerra civil, ou aquela condição de meu, do teu e do seu. Isto é, numa palavra, da propriedcde. E
dissoluta de homens sem senhor, sem sujeição às leis e a um poder em todas as espécies de Estado é da competência do poder soberano.
coercitivo capaz de atar suas mãos, impedindo a rapina e a vingan- Porque onde não há Estado, conforme já se mostrou, há uma guer-
ça. E também sem levar em conta que o que mais impulsiona os so- ra perpétua de cada homem contra seu vizinho, na qual portanto ca-
beranos governantes não é qualquer prazer ou vantagem que esperem da coisa é de quem a apanha e conserva pela força, o que não é pro-
recolher do prejuízo ou debilitamento causado a seus súditos, em cu- priedade nem comunidade, mas incerteza. O que é á tal ponto eviden- ... ~: /
...
jo vigor consiste sua própria força e glória, e sim a obstinação daque- te que até Cícero (um apaixcnado defensor da liberdade), numa aren- ~,
les que, contribuindo de má vontade para sua própria defesa, tornam ga pública, atribuiu toda propriedade às leis civis: "Se as leis civis",
.... "~
necessário que seus governantes deles arranquem tudo o que podem disse ele, "alguma vez forem abandonadas, ou negligentemente con-
em tempo de paz, a fim de obterem os meios para resistir oú vencer servadas (para não dizer oprimidas), não haverá nada mais que al-
a seus inimigos, em qualquer emergência ou súbita necessidade. Por- guém possa estar certo de receber de seus antepassados, ou deixar a
que todos os homens são dotadoo por natureza de grandes lentes de seus filhos". E também: "Suprimi as leis civis, e ninguém mais sabe-
aumento (ou seja, as paixões e o amor de si), através das quais to- rá o que é seu e o que é dos outros". Visto portanto que a introdu-
do pequeno pagamento aparece como um imenso fardo; mas são des- ção da propriedade é um efeito do Estado, que nada pode fazer a
tituídos daquelas lentes prospectivas (a saber, a ciência moral e civil) não ser por intermédio da pessoa que o representa, ela só pode ser
que permitem ver de longe as misérias que os ameaçam, e que sem um ato do soberano, e consiste em leis que só podem ser feitas por
tais pagamentos não podem ser evitadas. quem tiver o poder soberano. Bem o sabiam os antigos, que chama-
(Ibidem, capo XVl1l, p. 112-3.) vam Nômos (quer dizer, distribuição) ao que nós chamamos lei, e de-
finiam a justiça como a distribuição a cada um do que é seu.
E, terceiro, o Estado não se limita a deter a morte violenta.
Nesta distribuição, a primeira lei diz respeito à distribuição
Não é produto apenas do medo à morte - se entramos no Estado
da própria terra, da qual o soberano atribui a todos os homens uma
é também com uma esperança (em filosofia, o medo e a esperança porção, conforme o que ele, e não conforme o que qualquer súdito,
são um velho par) de ter vida melhor e mais confortável. ou qualquer número deles, considerar compatível com a eqüidade e ;-~:ii
O conforto, em grande parte, deve-se à propriedade. A socie- com o bem comum. Os filhos de Israel eram um Estado no deserto,
dade burguesa, que no tempo de Hobbes já luta para se afirmar, es- e careciam dos bens da terra, até ao mom~nto em que se tornaram
tabelece a autonomia do proprietário para fazer com seu bem o senhores da Terra Prometida, a qual foi posteriormente dividida en-
que_ bem entenda. Naldade Média,' a propriedade era um direito li- tre elesvnão conforme sua própria discrição masconformeadiscri-
mitado, porquéhaviainúmerós costumes e obrigações que acontro- çãodo sacerdote Eleazar ido genenil }osúé.Os quais, quando já ha-
lavam: Por exemplo, o senhor de terras nãopodia impedir o pobre" via doze tribos,-ao fazer delas treze mediante a subdivisão da tribo
de colher espigas, ou frutas, na proporçã() necessária para saciara de José, apesar disso dividiram a terra em apenas doze porções,e
fome. Se havia um servo ligado à gleba, nem este podia deixá-la, não atribuíram qualquer terra à tribo déLevi, atribuindo-lhe a déci-
nem o senhor podia expulsá-lo para dar outro uso à terra. "Mas, ma parte da totalidade dos frutos da terra, divisão que portanto era
nos tempos modernos, o proprietário adquire o direito não só ao arbitrária. E embora quando um povo toma posse de umterritório
por meio da guerra nem sempre ele extermine os antigos habitantes
uso do bem e-a seus frutos (que somam-se na palavrausufruto),ÇQ-_
(como fizeram osJ~ldeus)ideixanao suas terras a muitos, ouà maior
mo também ao abuso: isto é, o direito de alienar o bem, de destruí-
parte, ou a todos, é apesar disso evidente que posteriormente essas
lo, vendê-lo ou dá-lo. Hobbes reconhece o fim das velhas limita-
terras passam a ser patrimônio do vencedor, como aconteceu com o
ções feudais à propriedade - e nisso ele está de acordo com as clas- povo da Inglaterra, que recebeu todas as suas terras de Guilherme,
ses burguesas, empenhadas em acabar com os direitos das classes o Conquistador.
", "", t' "'" """"' ; * _'r ' _ IM ... ' . "W """fIM_" *. ti " ..... "'ff"íW str:ttNZ ilr:..... ~ 2'.. "'" • 1lR: .... ) S'f • • %"1"$& * "i"lIi ,,'j " ti;,," ,*",,'W"
te que estivesse livre das paixões e enfermidades humanas . Mas sen- é necessário que os homens distr ibuam o que são capazes de poupar,
do a natureza humana o que é, a atribuição de terras públicas ou transferindo essa propriedade mutuamente uns aos outros, através
de uma renda determinada para o Estado seria inútil, e faria tender da troca e de contratos mútuos. Compete portanto ao Estado, isto
",'" para a dissolução do governo e a condição de simples natureza e guer- , - " é; ao soberano, determinar de que maneira devem fazer-se entre os
ra, sempre que ocorresse o poder soberano cair nas mãos de um mo- súditos todas as espécies de contrato (de compra, vendá, troca, em-
narca, ou de uma assembléia, que ou fosse excessivamente negligen- ",',' .pr éstimo , arrendamento), e mediante que palavras e sinais esses con-
te em questões de dinheiro, ou suficientemente ousada para arriscar', tratos devem ser considerados v álidos., ,
o patrimônio público numa guerra longa e dispendiosa. Os Estados' -'~, (Ibidem, cap o XXIV, p. 150-3.)
não podem suportar uma dieta, pois não sendo suas despesas limita-<:'
dasporseupróprio apetite, e sim por acic;entesexternos e pelos ape-. ";
tites de seus vizinhos ; li riqueza pública'não pode ser limitada por ou- ,,:l=,..,
tr óslimites senão os que forem exigidos por cada ocasião. Embora~~ ~ ,U m pensador mâl~ito E aqui podemos entender porque
na Inglaterra o Conquistador tenha 'reservado algumas terras para Hobbes é, com Maquiavel e em cer-
seu próprio uso (além de florestas e coutadas, tanto para sua recreá- ta medida Rousseau , um dos pensadores mais "malditos" da histó -
ção corno para a pre servação dos bosques), e tenha também reserva- ria da filosofia política - pois, no século XVII, o termo "hobbis-
do diver sos serviços na s terras que deu a seus súditos, parece apesar ta" é quase tão ofensivo quanto "maquiavélico" . Não é só porque
' ...'...