Infeccao e DRC
Infeccao e DRC
1
Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e94791110567, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10567
José Arimatéa de Oliveira Nery Neto
ORCID: http://orcid.org/0000-0002-8239-1548
Universidade Federal do Piauí, Brasil
E-mail: arineto@outlook.com
Rodrigo Luís Taminato
ORCID: http://orcid.org/0000-0001-9685-557X
Universidade Federal do Goiás, Brasil
E-mail: rodrigo.luis.japa@gmail.com
Evaldo Hipólito de Oliveira
ORCID: http://orcid.org/0000-0003-4180-012X
Universidade Federal do Piauí, Brasil
E-mail: evaldohipolito@gmail.com
Resumo
A alteração farmacocinética e farmacodinâmica de medicamentos, em virtude de
comprometimento da função renal, é frequentemente observada. Segundo a Organização
Mundial da Saúde - OMS (2015), é possível perder até 90% da função renal antes de
manifestar qualquer sintoma. O objetivo deste trabalho foi confeccionar uma tabela prática
para consulta de antibióticos que necessitam de ajustes em pacientes com insuficiência renal.
Realizou-se um estudo documental, descritivo e analítico com abordagem qualitativa a partir
da análise da farmacocinética dos antibióticos padronizados do Hospital Universitário do
Piauí buscando identificar a necessidade de ajustes de doses e frequências de uso conforme a
função renal do paciente. Para a execução do estudo foram consultadas referências descritas
em bulas para profissionais da saúde, sendo as informações comparadas às referências
descritas em guias farmacoterapêuticos dos principais hospitais de excelência do Brasil
segundo o Ministério da Saúde, e o guia Standford, além de revisões de literatura. Os
antimicrobianos foram organizados por classe farmacológica, descrevendo o ajuste da dose,
a depender do clearence de creatina, e dose suplementar após hemodiálise. Apesar das
orientações a respeito do ajuste posológico em pacientes com insuficiência renal, permanecem
ainda dúvidas, pois existem outros fatores que influenciam nessa correção como o método
dialítico empregado na hemodiálise que compreende: intermitente ou convencional,
ultrafiltração, diálise de baixa eficiência. O presente trabalho gerou uma tabela de consulta
rápida com finalidade de esclarecer dúvidas na prescrição ou dispensação dos
2
Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e94791110567, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10567
antimicrobianos padronizados no hospital, promovendo assim terapêutica antimicrobiana
mais segura e eficiente.
Palavras chave: Insuficiência renal; Hemodiálise; Antibióticos.
Abstract
Pharmacokinetic and pharmacodynamic changes in medicinal products due to impaired renal
function are frequently observed. According to the World Health Organization -WHO
(2015), it is possible to lose up to 90% of renal function before manifesting any symptoms.
The aim of this study was to create a practical table for consultation of antibiotics that need
adjustment in patients with renal failure. A documentary, descriptive and analytical study
with a qualitative approach was performed based on the pharmacokinetic analysis of
standardized antibiotics at the University Hospital of Piaui, seeking to identify the need for
dose adjustments and frequency of use according to the renal function of the patient. For the
execution of the study, references described in package inserts for health professionals were
consulted, and the information compared to references described in pharmacotherapeutic
guides of the main excellence hospitals in Brazil and the Standford guide, as well as literature
reviews. Antimicrobials were organized by pharmacological class, describing dose
adjustment depending on creatine clearance and supplemental dose after hemodialysis.
Despite the guidelines regarding dosage adjustment in patients with renal failure, there are
still doubts, as there are other factors that influence this correction such as the dialysis
method used in hemodialysis that includes: intermittent or conventional, ultrafiltration, low
efficiency dialysis. The present study generated a quick consultation table to clarify doubts in
the prescription or dispensation of standardized antimicrobials in the hospital, thus promoting
safer and more efficient antimicrobial therapy.
Keywords: Renal failure; Hemodialysis; Antibiotics.
Resumen
Con frecuencia se observan los cambios farmacocinéticos y farmacodinámicos de los
fármacos, debido a la función renal alterada. Según la Organización Mundial de la Salud -
OMS (2015), es posible perder hasta el 90% de la función renal antes de manifestar algún
síntoma. El objetivo de este trabajo fue crear una mesa práctica de consulta de antibióticos
que necesiten ajustes en pacientes con insuficiencia renal. Se realizó un estudio documental,
descriptivo y analítico con enfoque cualitativo basado en el análisis de la farmacocinética de
antibióticos estándar en el Hospital Universitario do Piaui, buscando identificar la necesidad
3
Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e94791110567, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10567
de ajustes en las dosis y frecuencia de uso de acuerdo con la función renal del paciente. Para
la ejecución del estudio se consultaron las referencias descritas en los prospectos para los
profesionales de la salud, comparándose la información con las referencias descritas en las
guías farmacoterapéuticas de los principales hospitales de excelencia de Brasil según el
Ministerio de Salud, y la guía Standford, además de las revisiones de la literatura. Los
antimicrobianos se organizaron por clase farmacológica, describiendo el ajuste de la dosis,
según el aclaramiento de creatina, y la dosis suplementaria después de la hemodiálisis. A
pesar de las pautas de ajuste de dosis en pacientes con insuficiencia renal, quedan dudas, ya
que existen otros factores que influyen en esta corrección, como el método de diálisis
utilizado en hemodiálisis, que comprende: intermitente o convencional, ultrafiltración, diálisis
de baja eficacia. El presente trabajo generó una mesa de consulta rápida con el fin de aclarar
dudas en la prescripción o dispensación de antimicrobianos estandarizados en el hospital,
promoviendo así una terapia antimicrobiana más segura y eficiente.
Palabras clave: Insuficiencia renal; Hemodiálisis; Antibióticos.
1. Introdução
4
Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e94791110567, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10567
diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica, atualmente são as doenças crônicas mais
comuns, que, se não tratadas e monitoradas permanentemente, podem trazer como
consequências Insuficiência renal aguda ou evoluir para cronicidade (Benichel, 2017).
Os sinais e sintomas da uma insuficiência renal são silenciosos levando muitas vezes a
um diagnóstico tardio e de difícil controle. No estágio crítico da doença, o paciente precisa de
internação hospitalar e, dependendo da gravidade, é encaminhado à uma UTI. Na maioria dos
casos, quando se encontra nessa situação, a melhor alternativa é iniciar o processo de
hemodiálise que se define pela filtração glomerular, onde são eliminadas substâncias tóxicas
dos pelos rins (Rudnicki, 2014).
Inúmeros medicamentos sofrem alteração na concentração plasmática em virtude da
alteração da função renal e com a terapia hemodialítica e, dentre esses, destacam-se os
antimicrobianos. Complicações como a nefrotoxicidade, alteração na excreção renal e reações
adversas relacionados à dose podem ocorrer, levando a uma piora do quadro do indivíduo.
Nesse momento é necessário exames rotineiros para uma melhor avaliação da função renal
desse paciente e para um possível ajuste de medicamentos, principalmente se internado em
uma UTI onde sua situação é mais crítica e instável (Echeverri et al., 2018).
O Clearence de Creatinina é um dos exames mais realizados para avaliar a função dos
rins e identificar disfunções renais. É realizado através da dosagem da creatinina no sangue e
os níveis dessa substância na urina. Ela serve também para auxiliar no ajuste de doses da
terapêutica antimicrobiana, contribuindo assim para uma redução da nefrotoxicidade no
organismo do paciente (Sodré et a.l, 2014).
A maioria dos pacientes hospitalizados fazem uso de diversos tipos de antibióticos e
geralmente por um longo período, isso pode levar a uma sobrecarga renal. Um dos eventos
adversos mais comuns associados ao uso de antibióticos chama-se injuria renal que é a
toxicidade que os rins sofrem durante o tratamento à base de antimicrobianos (Lima et al.,
2015).
Segundo os argumentos mencionados, a base desse estudo foi desenvolvida a partir de
antibióticos que são alterados pela função renal do paciente, bem como o ajuste de doses dos
antibióticos, contribuindo assim para uma antibioticoterapia segura e eficaz.
O objetivo deste trabalho foi confeccionar um guia prático de consulta de antibióticos
que necessitam de ajustes em pacientes com insuficiência renal, tomando como base o ajuste
posológico conforme o Clearence de creatinina e dose suplementar pós hemodiálise quando
necessário.
5
Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e94791110567, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10567
2. Metodologia
3. Resultados e Discussão
6
Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e94791110567, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10567
(oxacilina e penicilina G). O metronidazol e linezolida não precisam de ajuste posológico,
porém suas administrações devem ser feitas após hemodiálise, visto que o primeiro
rapidamente é eliminado e sua meia-vida diminuída para 2 horas e 30 minutos, o segundo
tem uma eliminação de 30% em uma sessão de diálise.
Na classe dos macrolídeos a azitromicina não necessita de ajuste, e se o Clearence de
creatinina for <10ml/min administrar com cautela. A eritromicina que também é um
macrolídeo não necessita de dose pós diálise pois seus níveis séricos não são alterados
significativamente.
Em relação aos glicopeptídeos a teicoplanina até o 4° dia de tratamento não necessita
de ajuste posológico, esse antibiótico não é dialisável.
Na análise foram encontrados antibióticos que não precisam de dose suplementar pós
hemodiálise, como é o caso da cefalotina, cefazolina, vancomicina, polimixina. O Guia
(Gilbert, 2016) recomenda no caso da vancomicina que se o Clcr for de 15-30ml/min e nos
dias que antecedem a hemodiálise fazer 15mg/kg se anteceder 1 dia, 25mg/kg se anteceder 2
dias e 25mg/kg se anteceder 3 dias. Já na polimixina, nos dias sem diálise administrar 75mg
dividido em 12 horas e nos dias que houver hemodiálise administrar 112,5mg. Dessa forma
haverá uma cobertura contínua do antibiótico sem a necessidade de doses extras e
diminuição da nefrotoxicidade. A seguir o Quadro 1 com o ajuste posológico para pacientes
com insuficiência renal e em hemodiálise.
de creatinina
7
Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e94791110567, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10567
Doses normais
em intervalos
prolongado
7,5mg/kg a cada 18 horas administrar após hemodiálise: 5-
creatinina
7,5mg/kg a cada 48-72 horas - 2g
15mg/kg/dia dividida em 2 sérica de
cada 12-24 horas, de acordo com o
ou 3x/dia 2mg/100ml
nível sérico.
Doses dose de ataque 7,5mg/kg Manutenção a
Reduzidas a cada 12 horas: deve-se reduzir a
Intervalos
dose de ataque proporcionalmente à
Fixos entre as redução do clearance
doses
Gentamicina
Dose/função Clearence de Ajuste posológico pacientes acima de 60kg (dose habitual Hemodiálise
renal normal com intervalo prolongado)
creatinina
≥100 100%
8
Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e94791110567, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10567
6,7-8,0 80%
55-70 65%
45-55 55%
40-45 50%
35-40 40%
30-35 35%
25-30 30%
20-25 25%
15-20 20%
10-15 15%
<10 10%
Carbapenêmicos
Imipenem+cilastatina
Dose/função renal Dose diária total Clearence de creatinina Ajuste posológico Hemodiálise
normal
3g/dia 500mg a cada 6h 500mg a cada 8h 500mg a cada 12h Administrar após
a hemodiálise e
1g a 2g 4g/dia 700mg a cada 8h 500mg a cada 6h 500mg a cada 12h
administradas em 3 a cada 12 horas a
≤ 5ml/min não
ou 4 doses diárias partir do final da
devem receber a
sessão de
menos que seja
hemodiálise.
instituída
hemodiálise.
Meropenem
9
Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e94791110567, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10567
Dose/função renal normal Clearence de creatinina Ajuste posológico dose (baseada Hemodiálise
na faixa de unidade de dose de 500
mg a 2,0 g a cada 8 horas)
horas
Cefalosporinas
diários
1g a cada 12 horas.
diários. 11 - 34 horas
<10 ou 24 horas
10
Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e94791110567, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10567
por dia. Limite de dose 29 – 10 1 a 2g a cada 12 - 24 horas Administrar uma
dose
Cefalosporinas
renal normal
Ceftriaxona 1 a 2g/dia a cada <10ml/min Não necessita de ajuste desde que a função
24h ou até 4g/dia hepática esteja preservada
50 1g em 12 horas
50 a 31 1g em 24 horas A dose de
manutenção
1g de 8 em 8
apropriada, deverá
horas ou 2g IV ou
Ceftazidime 30 a 16 1g em 24 horas
ser repetida após
IM de 12 em 12
cada sessão.
horas
15 a 6 0,5 em 24 horas
11
Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e94791110567, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10567
Clearence de Ajuste posológico
creatinina
>50
2g/8h 2g/12h 2g/8h 1g/24h 500mg/12h
30-50 500mg/24h
Cefepime 1g a cada 12 2g/24h 1g/24h administr
horas ar após a
diálise
Glicilciclina
Tigeciclina
Glicopeptídeos
Antibióticos Dose/função renal Clearence de creatinina Ajuste posológico Hemodiálise
normal
Dose de ataque: 3 doses de Até o 4°dia tratamento não é necessário ajuste
400mg IV a cada 12 horas
Teicoplanina
Administrar 1/3 da dose
<40ml/min e em
inicial ou 100% a cada 3
hemodiálise
dias
>80 500mg/6h ou 1g/12h
12
Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e94791110567, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10567
50 – 80 1g a cada 1-3 dias
500mg a cada 6 horas 10 – 50 1g a cada 3-7 dias
ou 1g a cada 12 horas <10 1g a cada 7-14 dias
Diminuição acentuada 250mg a 1g/dia
Vancomicina Anuria 1g a cada 7-10 dias
Lincosamida
Clindamicina
Dose/função renal normal Clearence de creatinina Ajuste posológico Hemodiálise
Macrolideos
Antibiótico Dose/função renal normal Clearence de creatinina Ajuste posológico Hemodiálise
Nitroimidazólico
Metronidazol
Dose/função Clearence de creatinina Ajuste posológico Hemodiálise
13
Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e94791110567, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10567
renal normal
Oxazolidinona
Linezolida
Dose/função Clearence de creatinina Ajuste posológico Hemodiálise
renal normal
Penicilinas
Antibiótico Dose/função renal Clearence de creatinina Ajuste posológico Hemodiálise
normal
>30 mL/min Sem mudanças de
posologia
14
Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e94791110567, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10567
máxima diária de 4 g 5-14ml/min Administrar a cada 24h 1,5-3g a cada 12-24
horas
Polimixinas
Polimixina
Dose/função renal normal Clearence de creatinina Ajuste posológico Hemodiálise
Normal ou >80% do normal 2,5mg/kg/dia
1,5mg/Kg/dia a 2,5mg/kg/dia <80% a >30% do normal 1°dia 2,5mg/kg/dia
IV a cada 12h
Após 1° dia:1,0 – 1,5mg/kg/dia
Não exceder dose diária de
2,5mg/kg/dia
<25% do normal 1° dia 2,5mg/kg/dia
15
Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e94791110567, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10567
A cada 2 – 3 dias após o início:
1,0 – 1,5 mg/kg/dia
Anúria
Primeiro dia: 2,5 mg/kg/dia
A cada 5 – 7 dias após o início:
1,0 mg/kg/dia
Quinolonas
Antibióticos Dose/função renal Clearence de creatinina Ajuste posológico Hemodiálise
normal
16
Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e94791110567, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10567
Sulfonamidas
Sulfametoxazol+trimetropina
Dose/função renal normal Clearence de creatinina Ajuste posológico Hemodiálise
Legenda: 1 Bula do medicamento; 2 Guia Hospital Albert Einstein;3 Guia Hospital Alemão Oswaldo Cruz;4
Guia Hospital Sírio Libanês.
Fonte: Autores.
17
Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e94791110567, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10567
O ajuste posológico dos antibióticos por si só não garante um tratamento totalmente
eficaz ao paciente. É necessário conhecimento da farmacologia desses medicamentos afim
de garantir efetividade no tratamento da infecção, contribuindo assim para que não ocorra
uma resistência bacteriana. Um exemplo disso é a Linezolida pertencente a classe das
oxazolidinonas, antibiótico de largo espectro, de alto custo, utilizado em último recurso ao
combate de Staphylococcus aureus resistentes à vancomicina, que se for administrado antes
de uma sessão de hemodiálise, 30% é excretado, comprometendo o esquema posológico.
(Pereira, et al., 2018)
Apesar das orientações a respeito de ajuste posológico e dose pós hemodiálise em
pacientes com insuficiência renal, permanecem ainda muitas dúvidas em relação a correta
dose a ser administrada, pelo qual existem fatores que influenciam no Clearence de
Creatinina, como o método dialítico empregado que compreende, hemodiálise intermitente
ou convencional, ultrafiltração, diálise de baixa eficiência. O tipo de dialisador que se for de
alto fluxo removerá moléculas maiores e com isso uma maior quantidade de fármaco será
eliminado, a característica do próprio fármaco pois se for hidrossolúvel e de baixo peso
molecular será excretado mais facilmente. (Oliveira, 2017). Assim, a terapia de substituição
renal contínua ou intermitente realizada em pacientes com insuficiência renal aguda
confunde a dosagem de antibióticos. A farmacocinética desses fármacos é altamente variável
e regimes de dosagem relevantes para a prática institucional devem ser estabelecidos.
Um estudo realizado por Freitas, (2018), identificou nos pacientes avaliados, baixas
concentrações de vancomicina ao final da sessão de diálise, o que pode levar a uma maior
mortalidade em consequência de uma provável resistência bacteriana. Em relação a
hemodiálise o guia Gilbert, (2016) recomenda que no dia que anteceder a diálise
administrar 15mg/kg; se anteceder 2 dias administrar 25mg/kg e se anteceder 3 dias
administrar 35mg/kg, ou seja, não haverá dose suplementar após diálise e sim ajustes
posológicos antes das sessões de hemodiálise. Observa-se que os guias são confusos em
relação a doses que devem ser implementadas em pacientes com vancomicina, sendo que
alguns recomendam adotar protocolos de vancocinemia para melhor avaliar a
farmacocinética clínica do fármaco e assim realizar possíveis ajustes na dose.
Dentre os aminoglicosídeos pesquisados, não é recomendada a administração da
amicacina em dose diária total em uma única tomada se o Clcr for <50ml/min. Essa
orientação é contrária aos estudos de Gilbert, (2016) e Frederico et al. (2017) que afirmam
melhoria na eficácia e segurança no uso de amicacina quando administrada uma vez ao dia,
inclusive com menor incidência para as reações adversas comuns: ototoxicidade,
18
Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e94791110567, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10567
nefrotoxicidade e neurotoxicidade. A amicacina tem ação antimicrobiana concentração-
dependente, ou seja, a capacidade bactericida é mais eficaz quando são utilizadas
concentrações mais elevadas, principalmente em infecções com alta carga bacteriana. Na
prática hospitalar, observa-se comumente a prescrição de aminoglicosídeos em dose única
diária, visto essa melhoria na relação Cmax/CIM (Frederico et al., 2017).
Ao realizar a análise da Polimixina B, os guias Albert Einstein, Alemão Oswaldo
Cruz e na bula, recomenda ajuste de dose na insuficiência renal, fato que não foi orientado
no guia do hospital Sírio Libanês. Somente o hospital Albert Einstein recomenda dose
suplementar a hemodiálise. No guia Sanfor, orienta administração, nos dias de hemodiálise,
112,5mg/kg dividido em 12 horas e nos dias sem diálise, 75mg/kg em 12 horas.
Rojas (2018) relatou que a Polimixina B é encontrada em baixos níveis na urina,
devido sofrer reabsorção nos túbulos renais, em consequência disso, sua eliminação não
acontece pelos rins, fato este que pode esclarecer a não administração de dose suplementar
pós diálise (Rojas, 2018). Frederico et al. (2017) reporta que algumas drogas não
necessitam de suplementação de dose após o procedimento de hemodiálise, como a
polimixina B e a levofloxacino
Os beta-lactâmicos são antimicrobianos que possuem reações adversas importantes
e são um dos mais utilizados na clínica médica, por essa razão merecem uma atenção
especial no seu uso, pois podem provocar convulsões se administrado em doses altas,
distúrbios renais como a hipocalemia, hepatotoxicidade. Em contra partida esses
antibióticos em doses reduzidas podem provocar uma resistência bacteriana. Por tudo isso
um ajuste posológico, principalmente em pacientes com lesão renal, bem realizado garante
uma ampla cobertura do antibiótico, sem causar excessos do medicamento ao organismo do
indivíduo (Azevedo, 2014).
A ceftriaxona não necessita de ajuste em pacientes com disfunção renal desde que a
função hepática esteja preservada, pois essa cefalosporina é eliminada concomitantemente
pelo rim e pelo fígado que na falta de um órgão de excreção há aumento na compensação da
eliminação do medicamento pelo outro órgão de excreção Dessa forma não necessitando de
dose suplementar pós hemodiálise. (Frederico et. Al., 2017). Em uma depuração de
creatinina
<10ml/min a dose de ceftriaxona não deve exceder 2g/dia. Na insuficiência renal aguda o
tempo de meia-vida desse betalactâmico é de 5,8 a 8,7 para 11 horas e na insuficiência grave
em 15 horas, valores esses considerados pouco significantes segundo (Pires & Fernandes,
2018).
19
Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e94791110567, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10567
Há de se considerar dentro da clínica do paciente, aqueles que tiverem insuficiência
renal aguda ocasionado por sepse, pois nesse caso, além da diminuição da filtração
glomerular, ocorre a diminuição da secreção tubular e reabsorção. O resultado será uma
menor diminuição da depuração de drogas hidrofílicas, como antibióticos β-lactâmicos,
aminoglicosídeos e glicopeptídeos, prolongando a meia vida e o potencial de toxicidade
devido a elevada concentração plasmática. Nesse caso, os fármacos podem ter necessidade
de ajuste de dose especiais. Na IRA induzida por sepse não está associada apenas à
diminuição da filtração glomerular, mas também a secreção tubular e a reabsorção.
Portanto, resultará em uma diminuição da depuração de antibióticos hidrofílicos,
prolongamento da meia-vida e potencial toxicidade a partir de concentração plasmáticas
elevadas de antibióticos e acumulações de metabólitos. Paciente que necessitarem de uma
terapia de reposição renal ou quando a IRA estiver presente, há uma necessidade de terapia
individualizada e ajuste de doses para refletir essas alterações (Pereira et al., 2018).
A relevância desse trabalho foi a confecção de um guia prático de ajuste posológico
de antibióticos em pacientes com insuficiência renal, baseada em evidencias cientificas,
contribuindo assim nos cuidados de diferentes profissionais para com o paciente renal,
garantindo uma segurança na qualidade da assistência da instituição.
4. Considerações Finais
20
Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e94791110567, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10567
tratamento do paciente poderá ficar comprometido. Nessa tabela, contemplou-se as doses
usadas em pacientes com função renal preservada, assim como de pacientes em hemodiálise.
É importante ressaltar que o presente estudo foi limitado em relação a dose
suplementar pós hemodiálise de alguns antibióticos, que em algumas fontes pesquisadas
sugere-se que se faça a dosagem sérica desses medicamentos após uma sessão de diálise
para uma melhor abordagem posológica, apesar dessa recomendação não ser prática na
instituição.
Como perspectivas de trabalhos futuros, temos uma complementação e confecção de
novos tabelas sobre outros medicamentos que serão bem aceitos, como também avaliar as
dosagens bioquímicas de ureia e creatinina dos pacientes em avaliação no Hospital.
Referencias
Lima, R. Q. & Nunes, C. P. (2015). Lesão renal aguda pós uso de antibióticos. Revista da
Faculdade de Medicina de Teresópolis; 2(1).
21
Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e94791110567, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10567
Lutz, B. H., Miranda, V. A. & Bertoldi, A. D. (2017). Inadequação do uso de
medicamentos entre idosos em Pelotas, RS. Revista de Saúde Pública, 51, 52.
Epub June 22, 2017.https://doi.org/10.1590/s1518-8787.2017051006556
OPAS – Organização Pan-Americana de Saúde. (2015). Dia Mundial do Rim: Saúde dos
rins para todos. Recuperado de
https://www.paho.org/bireme/index.php?option=com_content&view= article&id=277:dia-
mundial-do-rim-2015-saude-dos-rins-para- todos&Itemid=183&lang=en> Acesso em: 15
de Setembro de 2019.
Pereira A.S. et al. (2018). Metodologia da pesquisa científica. [e-book]. Santa Maria. Ed.
UAB/NTE/UFSM. Recuperado de
https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/15824/Lic_Computacao_Metodologia-
Pesquisa-Cientifica.pdf?sequence=1.
22
Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e94791110567, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10567
Rojas, D. B.(2018). Avaliação Da Nefrotoxicidade De Polimixina B E Colistimetato De
Sódio Em Pacientes De Um Hospital Universitário, Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Curso de Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde. Porto Alegre.
23