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Colonial I Dade

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UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU - FURB

DISCIPLINA: HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS


PROFESSORA: BRUNA BOLDO ARRUDA
ALUNAS: LETÍCIA WOLTER; LUANA GIOVANELLA; YASMIN LARISSA PACHECO

IMPACTOS DA COLONIALIDADE NAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS NACIONAIS

A relação entre o processo de colonização brasileiro do século XVI e a construção


do conhecimento jurídico nacional é uma questão complexa e multifacetada, que se
perpetua na base das instituições jurídicas modernas brasileiras, visto que o pensamento
hegemônico europeu persistiu em suas colônias, e após suas independências, o
apagamento e a invisibilização dos povos marginalizados e “selvagens” — os outros - que
eram tratados como inferiores na colonização. Quijano (2005), aborda essa questão com o
conceito de colonialidade do poder, que traz a perspectiva de eurocentralização do poder
capitalista, moderno/colonial.
Em primeiro lugar, é importante destacar que a colonização brasileira foi um
processo fundamental na formação do conhecimento jurídico nacional, pois foi através da
colonização que o Estado Português estabeleceu suas primeiras instituições jurídicas no
Brasil, que serviram como base para a construção do conhecimento jurídico nacional atual.
Essas instituições incluíam as Ordenações Afonsinas, Manuelinas e as Filipinas e a criação
de tribunais. Elas eram muito burocráticas, bem como no Reino de Portugal, que imigrou
para o Brasil esse pensamento administrativo.
Ao mesmo tempo, a colonização também trouxe consigo a implantação de uma
sistema de pensamento e de produção de conhecimento eurocêntrico, que se baseava na
ideia de que a razão e o conhecimento eram exclusivamente europeus e que os povos
colonizados eram considerados como inferiores e incapazes de produzir conhecimento.
Para Quijano (2005), essa hegemonia que os europeus implantaram em suas colônias
advém de um movimento de controle que era evidenciado “como parte do novo padrão de
poder mundial, a Europa também concentrou sob sua hegemonia o controle de todas as
formas de controle da subjetividade, da cultura, e em especial do conhecimento e da
produção do conhecimento” (QUIJANO, 2005, p. 121).
Essa perspectiva de conhecimento eurocêntrica, que foi implantada durante a
colonização, teve um impacto significativo na formação do conhecimento jurídico nacional,
pois levou a uma série de conceitos e práticas jurídicas que foram baseadas na ideia de que
o direito e a justiça eram exclusivamente europeus e que os povos colonizados eram
considerados como inferiores e incapazes de produzir direito e justiça.
Essa dinâmica de colonização e imposição de um modelo jurídico exógeno à
realidade brasileira contribuiu para o aprofundamento das assimetrias de poder e para a
reprodução de uma estrutura social e política voltada à manutenção dos privilégios dos
colonizadores. Mesmo após a independência do Brasil, esse legado eurocêntrico
perpetuou-se, com a manutenção de uma cultura jurídica elitista e distanciada das
necessidades e demandas da sociedade brasileira, visto que as bases das instituições
jurídicas modernas brasileiras advém de um passado escravocrata e com elite agrária local
e submissa aos interesses econômicos metropolitanos. Além disso, a colonização também
influenciou a criação de leis específicas relacionadas à escravidão, propriedade de terras e
relações sociais, que tiveram impacto duradouro no desenvolvimento do conhecimento
jurídico nacional.
Ademais, o aumento de mercado e acumulação de riquezas eram os ideais que a
colonização buscava, explorando tudo o que a colônia poderia oferecer. Todo esse
apagamento e marginalização dos povos indígenas e dos escravizados trazidos da África,
vem dos elementos constituintes da própria modernidade, visto que não há um referencial
hegemônico sem a criação do “outro”, do “selvagem”, do “ruim”, do “ignorante” e do sem
“conhecimento”. No início, essa retórica hegemônica vem sob o pretexto de salvação
desses povos, com as justificativas de progresso, desenvolvimento e modernização,
confundindo-se assim “o bom e o ruim” com a própria cultura — sendo o bom os europeus
— e fazendo com que o Brasil sirva como uma estrutura anexa à estrutura portuguesa, ou,
melhor dizendo, não como uma estrutura em si, mas para servir à estrutura portuguesa.
Desse modo, vê-se que fora de fundamental importância a colonização para a
implantação da Modernidade, pois ela é um processo conjunto com a colonialidade (o
pensamento utilizado na colonização e que emerge como padrão de poder resultante do
período colonial). A colonialidade perpetua-se atualmente nas instituições jurídicas
nacionais, visto que essas ainda estão muito voltadas para a elite e os brancos,
invizibilizando e marginalizando os indígenas e os negros. Vê-se isso, como exemplo, o
Marco Temporal, uma tese jurídica que defende a alteração de demarcação das terras
indígenas no Brasil, concedendo-lhes — aos indígenas — o direito de ocupar apenas as
terras que ocupavam ou já disputavam em 5 de outubro de 1988, data de promulgação da
Constituição. A partir dessa tese, identifica-se a luta e dificuldade que esses povos ainda
enfrentam no Brasil, pois isso, de acordo com os próprios representantes dos povos
indígenas, ameaça a sobrevivência de muitas comunidades indígenas e de florestas. Além
do mais, o relator do caso, ministro Edson Fachin, afirmou que a Constituição reconhece
que o direito dos povos indígenas sobre suas terras de ocupação tradicional é um direito
originário, ou seja, anterior à própria formação do Estado. Salientou, também, que o
procedimento demarcatório realizado pelo Estado não cria as terras indígenas – ele apenas
as reconhece, já que a demarcação é um ato meramente declaratório.
Portanto, a relação entre o processo de colonização brasileira no século XVI e a
construção do conhecimento jurídico nacional evidencia a influência do eurocentrismo e dos
interesses do Estado Português na configuração de uma racionalidade jurídica que, por
muito tempo, atendeu aos propósitos do colonizador em detrimento das particularidades e
aspirações da população local. Essa herança colonial ainda se faz presente, demandando
um processo de descolonização epistêmica e de valorização dos saberes jurídicos locais
para a construção de um sistema de justiça mais representativo e alinhado às
especificidades da sociedade brasileira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CARMIGNANI, Maria Cristina da Silva. “A justiça no Brasil colônia”. São Paulo, 2018.

QUIJANO, Aníbal. “Colonialidade do poder, eurocetrismo e América Latina”. LANDER,


Edgardo (org). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas
latinoamericanas. CLACSO, Buenos Aires, Argentina. 2005.

MAIA, Bruna Soraia Ribeiro; MELO, Vico Dênis Sousa de. A colonialidade do poder e suas
subjetividades. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais - UFJF v. 15 n. 2 Julho.
2020.
CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2023. O que é Marco temporal e quais são os argumentos
favoráveis e contrários. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/noticias/966618-o-que-e-marco-temporal-e-quais-os-argumentos-
favoraveis-e-contrarios/#:~:text=Marco%20temporal%20%C3%A9%20uma%20tese,data%2
0de%20promulga%C3%A7%C3%A3o%20da%20Constitui%C3%A7%C3%A3o. Acesso em:
02/06/2024.

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