Reduação de Danos Uma Proposta Ética - Compressed
Reduação de Danos Uma Proposta Ética - Compressed
Reduação de Danos Uma Proposta Ética - Compressed
Resumo
O objetivo deste artigo é apresentar a Redução de Danos (RD) enquanto uma proposta
eminentemente ética. Assim sendo, este texto tenta fazer uma abordagem inicial da
história da redução de danos, dos princípios, das características e suas principais
estratégias. Situando ao longo de todo o texto a Redução de Danos como uma prática
em que o profissional possa estar situado no registro ético, a fim de que possa ouvir a
dor do outro no registro do acontecer humano. Situar-se frente às queixas dos usuários,
sem deturpá-las ou reduzi-las. Redução de danos enquanto um caminho promissor por
reconhecer cada usuário em sua singularidade, traçar com ele estratégias para promover
a saúde e garantir seus direitos enquanto cidadão. Redução de danos enquanto uma
aposta ética, uma aposta no humano.
Palavras-chave: Redução de danos, ética, singularidade, saúde, cidadão.
Abstract
The aim this paper is to present Harm Reduction (HR) as a highly ethical proposal.
Therefore, this paper attempts to make an initial approach on the Harm Reduction’s
history, principles, characteristic, and main strategies. Situating Harm Reduction
throughout the whole paper as a practice the professional may be situated in the ethical
registry, in order to be able to listen to the pain of other people in registry of human
happening. Facing user’s complaint’s without misconstruing or reducing them. Harm
reduction a promising way to recognize each user in the being’s uniqueness, to draw
strategies to promote health and ensure their Citizen’s rights. Harm reduction as an
ethical commitment, a commitment in the human.
Keywords: Harm Reduction, ethics. Individuality, health, citizen.
enfrentamento do uso indevido de drogas, mas pela primeira vez na história moderna a
dependência de drogas é vista de outra perspectiva, a qual trata a dependência como
problemática complexa devendo, ser abordada através de estratégias múltiplas e
singulares.
É somente durante a década de 90, com a atuação das organizações civis, que a
redução de danos se afirmará, gradativamente, como política governamental. Em 1994,
o Conselho Federal de Entorpecentes deu parecer favorável à realização de atividades
de Redução de Danos e o primeiro programa brasileiro sistemático começou, em 1995,
em Salvador-Bahia (ANDRADE, 2010). Se considerarmos o primeiro programa de
Redução de Danos desenvolvido na Holanda, constatamos que demoramos quase quinze
anos para oficializar o primeiro programa de RD no País. O atraso em adotar o
programa de Redução de Danos como uma política pública de prevenção do HIV/AIDS,
no Brasil, trouxe sérias consequências para o controle dessa epidemia (CRUZ, 2011).
Uma prática em que o profissional possa estar situado no registro ético, a fim de
que possa ouvir a dor do outro no registro de seu aparecimento (SAFRA, 2004). Situar-
se frente às queixas dos usuários, sem deturpá-las ou reduzi-las ao já conhecido, ao
simplesmente psíquico. A RD traduz-se em posturas e atitudes, políticas e programas,
que tem como objetivo contribuir para a transformação da visão de mundo das posturas
da sociedade diante das drogas, possibilitando diálogo na sociedade e expressão das
pessoas que usam drogas, sobre os usos, necessidades, desejos, direitos e deveres.
A redução de danos é uma aposta inovadora, uma aposta ética. Não tem como
meta fixa a eliminação desses comportamentos, o que a torna, desde logo diferente de
outras praticas outrora utilizadas no tratamento de dependentes químicos (como por
exemplo, os Alcoólicos Anônimos, que visam a abstinência total e permanente). O que
a redução de danos pretende é a construção de atitudes responsáveis em face de
comportamentos de risco (ROSSI, 2007). Percebemos com isso, que o conceito de
redução de danos traz como meta informar, se aproximar do usuário de drogas, além de
educar as pessoas e a sociedade no sentido de produzir atitudes saudáveis que
minimizem as consequências adversas do consumo de drogas.
Em síntese, RD, por ser um conceito experimental (como proposto por Nietzsche
em sua Ciência Alegre, Ciência da afirmação da vida, no livro ‘A gaia ciência’, assim
como em toda a sua obra, perpassa toda uma conversão da existência, que pode ousar
dar-se a si próprio como referência. Ou seja, a experimentação enquanto ousar estar
com o outro, concepção que se liberta de idealismos, como possibilidade de criar novos
valores, novos modos de ser, estar e entender a vida… como possibilidade de tornar-se
o que se é…, a experimentação. Possibilidade de encarar, de enfrentar, de lidar com um
problema em seus múltiplos aspectos, abordar uma questão a partir de diversos pontos
de vista, e agindo assim, estamos a fazer experimentos. Ou seja, experimentação
enquanto travessia de um modo de subjetivação para outro, enquanto campo de
produção ontológica. Experimental com uma prática um modo se portar diante do outro,
que não é definido a priori, e sim que valoriza o acontecer humano) e proxêmico (o
conceito de proxemia, como proposto aqui, foi discutido por Michel Maffesoli na sua
obra ‘O tempo das tribos’. Segundo ele, deve ser pensado dentro da proposição de
esvaziamento, desencantamento e desenraizamento, que caracteriza os tempos atuais,
onde o sujeito é substituido pelo individualismo. Ele utiliza o conceito de ‘proxemia’
como um processo social em que a individualidade se dissolve no grupo, se dissolve em
contato com o outro. Nessa vivência, o sujeito deixa de ser indivíduo e passa a ser
pessoa que desempenha um papel na teatralidade da vida cotidiana.), pressupõe que
suportemos a ideia de vivermos fora do campo das ideias, e nos aproximemos da a
realidade como ela se mostra diante de nós. Uma ferramenta para acolher o outro
enquanto outro, acolher o usuário que está prestes a perder os vínculos afetivos, cuja
ideia central poderia ser descrita assim: "Não sendo sempre possível interromper o uso
de drogas, que ao menos se tente minimizar o dano ao usuário e à sociedade”.
A redução de danos, diante disso, se propõe antes escutar o usuário e o uso que
ele faz das drogas e, partindo disso, ou seja, partindo da realidade nela mesma, agir
reduzindo tanto quanto possível os eventuais prejuízos que vem sendo acarretados a esta
pessoa ou a esta sociedade, bem como orientá-lo(s) no sentido de fazer um uso menos
prejudicial. Ou seja, redução de danos como uma ferramenta pautada no respeito ao
sujeito e a sociedade e no seu(s) direito(s) de consumir drogas.
Um primeiro princípio pode ser descrito como uma alternativa de saúde pública
aos modelos moral, criminal e de doença. O modelo moral defende a proibição do uso
ou da distribuição de certas drogas, atos considerados crimes sujeitos à punição. Como
extensão do modelo moral - que pressupõe o uso de drogas ilícitas como moralmente
incorreto - o sistema de justiça criminal tem colaborado com os formuladores de
políticas nacionais de “guerra às drogas”, cujo objetivo aparente é o de promover o
desenvolvimento de uma sociedade livre de drogas. Já o modelo doença enfatiza os
programas de tratamento e de prevenção que procuram remediar o desejo ou a demanda
por drogas por parte do individuo (redução da demanda), tendo como objetivo
primordial a abstinência. A RD como princípio experimental e empático, desvia-se de
tais princípios evitando julgamentos morais de certo ou errado e oferecendo uma
variedade de políticas e de procedimentos que visam a redução das consequências
prejudiciais do comportamento dependente.
aqueles que permanecem usando drogas. O princípio de tolerância zero estabelece uma
dicotomia absoluta entre nenhum uso e qualquer uso, sem distinguir os diferentes usos e
as diferentes dimensões de danos associados aos distintos padrões de uso. A proposta de
abstinência ou nada para o tratamento de dependência de drogas é uma proposta que
ainda é hegemônica no Brasil e na maior parte dos países do mundo (PETUCO, 2006).
desde que sejam criados em conjunto. Nos casos de uso controlado, trabalha-se uma
escala decrescente de risco, normalmente associados à via de utilização ou à quantidade,
para que o dependente perceba uma gradação de mudanças. Pequenos passos que levam
o usuário a sair de uma forma descontrolada de uso, para um uso mais seguro e menos
danoso para sua saúde. Por exemplo, ao propor que a pessoa utilize a cocaína aspirada
em substituição à cocaína injetada, busca-se que os prejuízos à saúde sejam menores
que os esperados na forma anterior de uso.
questão enfocando a partir dos vários pontos de vista, incluindo suas dimensões social,
espiritual, cultural, psicológica, biológica, jurídica, etc. A sociedade costuma tratar os
diferentes de uma forma não muito amigável. Os portadores de deficiência e de
distúrbios mentais são exemplos ao alcance de todos. Pessoas que trabalham no campo
de Redução de Danos devem aceitar as pessoas como elas são.
A Redução de Danos, com seu foco no contato, é uma estratégia mais lógica a
ser seguida, pois a partir dela procura-se: implementar medidas amplas para prevenir e
tratar o consumo nocivo de drogas, estando junto com a população, não perseguindo o
consumidor de drogas, mas sim, buscando formas de regulação que sejam social e
culturalmente aceitas pelos diferentes segmentos sociais. Na prática, tem como objetivo
a aproximação com os usuários de drogas, para que, num futuro próximo, seja possível
a criação de um vínculo de confiança, uma abertura. Instaurado, o vínculo funciona
como uma base sólida para inserir-se a discussão a respeito das possibilidades de
redução de danos à saúde do usuário, entre elas: a discussão do uso nocivo, a inclusão
destes usuários nos programas da rede pública de saúde e até, se o usuário desejar,
possibilitar tratamento ao uso nocivo de drogas, etc.
vida, pela saúde e responsabilidade pessoal, mais do que pela punição decorrente de
comportamento inadequado. Assim, suas propostas sempre enfatizam a necessidade de
combater a exclusão social. Reconhecimento, em primeiro lugar, a sua condição de
cidadão portador de direitos, antes da condição de usuário de drogas na sociedade.
Resgate da cidadania e não sua culpabilização. O objetivo das ações de Redução de
Danos deve ser a inclusão social e o rompimento da marginalização dos usuários de
drogas.
Para Secchi (2005), o conceito de redução de danos trouxe uma "leveza para o
olhar", e podemos acrescentar “uma ousadia para o atuar”, tirando o peso da
responsabilidade exclusiva do usuário, assim como do profissional. Além desta
característica, podemos elencar outras, conforme Petuco (2006); Anacleto (2011); Cruz
(2011) que são: o foco na prevenção do dano (e não no uso da droga em si); foco nas
pessoas que continuam a usar drogas; nos programas de redução de danos, há uma
proposta clara de controle e de auto cuidado com relação ao uso de drogas; permite
também desenvolver o sentido de responsabilidade sobre si mesmo e sobre as pessoas
do circulo de relação. Há um intenso incentivo ao protagonismo e à autonomia.
A redução de danos nos levou mais próximos da voz dos usuários em condições
de exclusão (PETUCO, 2006; SOUZA, 2007). Através da redução de danos, tem sido
possível retomar um olhar ao toxicômano, contrapondo-se à rigidez das exigências por
uma sociedade livre de drogas. A redução de danos, apresentada como uma estratégia
em saúde pública, tem sua importância como contribuição ao campo social pelo fato de
questionar consensos colocados de antemão em torno do usuário e das drogas, por
reconhecer diferentes relações de uso, uma vez que há a disposição a escutar quem
permanece envolvido, e propõe um diálogo com outras instâncias, permeando-as.
Existem, nos dias de hoje, duas posturas básicas diante do problema do uso e
abuso das substâncias psicoativas, de acordo com Almeida (2003), Dias (2008), Petuco
(2006), e, Souza (2007) a tradicional, ou "guerra às drogas", e a "redução de danos". Na
abordagem tradicional, a maior concentração de esforços se dá na redução da oferta, ou
seja, redução da disponibilidade dos produtos, assim como também, enfatiza a
transmissão de informações pautadas pelo amedrontamento e apelo moral, utilizando
técnicas que poderiam ser resumidas à persuasão dos indivíduos para a abstinência, o
slogan: "Diga não às drogas".
-Sigilo: o que for relatado pelos pacientes não deve ser comentado com pessoas
da comunidade, nem com seus amigos ou familiares. A discussão dos casos deve
ser feita em local apropriado, com as pessoas da equipe;
-Estar disponível ao outro. Fazer todo o esforço possível, verbal e não verbal,
para fazer com que o outro sinta que você o está entendendo. A outra pessoa
deve perceber este interesse em ouvi-la;
-Criar uma atmosfera de acolhimento. O objetivo não é definir quem está certo
ou errado e sim auxiliar o sujeito neste momento de grande sofrimento.
-Colocar-se nas brechas que a pessoa abre entre ela e a droga (no caso da
dependência), minimizando os riscos;
Isto se torna viável por meio de um paradigma que não centra sua atenção na
doença, mas, sim, no estabelecimento de uma relação com pessoas que pensam, opinam,
sofrem e que têm direito ao exercício pleno de cidadania. Reconhece diferentes relações
de uso de drogas uma vez que há a disposição de escutar quem está envolvido com o
uso de drogas, possibilitando o reconhecimento da função que esse uso ocupa em sua
vida. A Redução de Danos permite mobilidade, pois parte da criação de condições de
trabalho favoráveis ao acolhimento desses sujeitos, construindo com eles esquemas de
proteção e de autocuidado, fundamentais para o exercício da cidadania.
nos sujeitos que são alvo das políticas públicas faz-se necessário escutá-los e aceitar o
consumo de drogas independentemente dos aspectos legais que isso envolve.
a saúde e garantir seus direitos enquanto cidadão. E tratar, aqui significa aproximar,
possibilitar maior liberdade e co-responsabilidade daquele que está se tratando. Pois,
entendemos que qualquer política de prevenção deverá contribuir para a
responsabilização dos indivíduos a que se destina, buscando a sua conscientização e a
mudança de seus comportamentos e atitudes. Uma política de prevenção eficaz,
portanto, deverá estar em acordo com os princípios fundamentais da democracia e da
cidadania. Redução de danos enquanto uma aposta ética, uma aposta no humano.
Referências
ANEXO
Apóia organizações UD
Prevenção AIDS entre Dificultada por restrições legais Articulada como prioridade de
UDs/UDIs saúde pública