O Princípio Do Servir Na Perspectiva Bíblica E Histórica

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Vol. 9 n. 1 Junho | 2020

O PRINCÍPIO DO SERVIR NA PERSPECTIVA BÍBLICA E


HISTÓRICA
The principle of serving in the biblical and historical perspective

Me. Ricardo Lebedenco1

RESUMO
O artigo tem por objetivo apresentar um estudo do texto bíblico, no Antigo
e Novo Testamentos para investigar as definições do valor do servir ao longo
das Escrituras, além de observar como esse princípio estava presente nas
diversas ações narradas na história bíblica e na história contemporânea. A
partir desse estudo, o artigo apresenta sugestões para organizar um sistema de
ensino e treinamento a ser seguido pela igreja local que seja capaz de receber
o indivíduo voluntário e desenvolver suas capacidades e percepções a fim de
que este se torne um verdadeiro servo, e desenvolva um ministério excelente.
Palavras-chave: Serviço. Servo. Voluntário. Igrejas. Bíblia.

1
O autor é formado em Teologia pela FABAPAR – Faculdades Batista do Paraná e em Engenharia
Agronômica pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo. É mestre em Teologia Pastoral
pela FABAPAR. Trabalha como pastor na Primeira Igreja Batista em Ijuí e como professor na
Faculdade Batista Pioneira. E-mail: lebedenco@gmail.com.

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ABSTRACT
The article has a target to present a study of the biblical text, in the Old
and New Testaments to investigate the definitions of the value of serving
throughout the scriptures, in addition to observing how this principle was
present in the various actions narrated in biblical history and contemporary
history. Based on this study, the article presents suggestions for organizing a
teaching and training system to be followed by the local church that is able to
receive the individual volunteer and develop their skills and perceptions so
that they become a true servant, and develop an excellent ministry.
Keywords: Serving. Servant. Volunteer. Churches. Bible.

INTRODUÇÃO
Um verdadeiro servo é artigo raro em igrejas da atualidade, onde cada
pessoa quer ter sobretudo direitos, a despeito de seus deveres. Mas quando se
estuda a história bíblica e contemporânea da igreja cristã, percebe-se que esta
foi concebida a partir de memoráveis servos de Deus. Sem eles, a história não
teria acontecido e não teria chegado até nós.
O objetivo desse artigo é primeiramente apresentar o conceito e os aspectos
práticos do princípio do “serviço” na Bíblia. Para isso, o trabalho pretende
investigar alguns textos do Antigo e do Novo Testamento, e encontrar palavras
do texto original que são traduzidas por “serviço” na língua portuguesa. O
passo seguinte é verificar o contexto para descobrir o sentido de cada palavra
e sua aplicação na construção do conceito bíblico.
Na sequência, o trabalho apresentará exemplos de serviço no Antigo e
Novo Testamento, verificando o sentido da ação em cada um dos momentos
dos textos da Revelação. Esses exemplos podem ser de grupos gerais, como os
sacerdotes e os profetas ou de indivíduos específicos, como o apóstolo Paulo. A
intenção é verificar como o conceito de serviço foi se desenvolvendo ao longo
do texto bíblico até chegar aos nossos dias, e como podemos desenvolver uma
consciência e ação biblicamente sadia na vida dos voluntários atuais da igreja.
A principal palavra para designar serviço no idioma hebraico é a palavra
dbF:8 (‘ābad2), que, segundo Champlin, aparece cerca de cento e vinte vezes

2
A transliteração dos termos escritos em hebraico, será feita a partir do Dicionário internacional
de Teologia do Antigo Testamento e as dos termos escritos em grego, a partir do Dicionário
internacional de Teologia do Novo Testamento.

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no texto do Antigo Testamento.3 Ainda segundo Champlin, os conceitos da


palavra podem sugerir as possibilidades que seguem abaixo classificadas:
a. Serviço secular: como o prestado por Jacó a Labão, em troca de suas
filhas (Gn 30.26-29);
b. Serviço ritual: como o prestado pelos levitas que serviam na tenda da
congregação (1Cr 23.32);
c. Serviço espiritual: na medida que Deus foi se revelando, o serviço
foi ganhando uma dimensão mais ampla, até culminar no Novo
Testamento, com um conceito totalmente novo.
Kaiser4, diferente de Champlin, afirma que o termo ‘ābad aparece
duzentas e noventa vezes no Antigo Testamento, e a origem é uma mistura
de diversas raízes, entre elas a raiz aramaica que significa “fazer”, uma raiz
árabe que significa “adorar” e o seu grau intensivo, com o sentido de “reduzir
à escravidão”. Era usado para indicar o trabalho de algumas “coisas”, como
o solo ou uma vinha, e também em relação a pessoas, tanto em uma relação
de escravidão como de liberdade. Entretanto, quando usado em relação à
Deus, segundo Kaiser5, não constituía uma escravidão, mas “uma experiência
jubilosa e libertadora”.
O verbo servir, no idioma hebraico, é descrito através de várias palavras.
Segundo Hartley6, uma das palavras que aparece no texto bíblico descrevendo
o trabalho dos levitas (Nm 4.23 e 8.24), ainda que seu uso normalmente esteja
relacionado com guerras é 9Fbfx (tsābā’). Harris7, citando Dhorme, sugere que
este termo era usado para denotar o tempo gasto no exército. Austel8 menciona
a palavra tarfc (shārat) que pode ser usada de duas maneiras, a saber: o
serviço pessoal prestado a uma personalidade importante e o ministério de
adoração por parte daqueles que têm um relacionamento especial com Deus,
como os sacerdotes. Há ainda a palavra jlöP (pelah), que, segundo Isbell9, tem
o significado de “fender” ou “dividir em dois”. Segundo Isbell, a partir desse
sentido, a palavra admitiu o sentido de cultivar um campo, e cultivar adoração
a uma divindade, que enfim originou o termo serviço ou adoração. Esse uso

3
CHAMPLIN, 2002, p. 176.
4
In HARRIS, 1998, p. 1065.
5
In HARRIS, 1998, p. 1066.
6
In HARRIS, 1998, p. 1256.
7
HARRIS, 1998, p. 1257.
8
In HARRIS, 1998, p. 1621.
9
In HARRIS, 1998, p. 1725.

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acontece no texto bíblico do livro de Daniel, quando os amigos Sadraque,


Mesaque e Abede-Nego decidem não “servir” ao deus de Nabucodonosor.
Harris10 menciona também a palavra camöc (shemash), que, segundo esse autor,
é provavelmente um empréstimo do vocabulário egípcio e tem o significado de
ministrar ou servir.
No Novo Testamento, há quatro palavras para designar o serviço, segundo
Champlin.11 A primeira é δουλεία (douleia), que denota serviço escravo, e pode
ser encontrado no texto bíblico do livro de Romanos 8.15-21. Martins12 afirma
que o sentido é de alguém sem direito algum, que cumpre a vontade do seu
Senhor. A segunda é διακονία (diaconia), que tem a ideia de ministração ou
serviço, e aparece trinta e três vezes no Novo Testamento, como por exemplo,
no texto bíblico do livro de Atos 6.3. Martins13, ao especificar o sentido dessa
palavra, menciona a ideia de um garçom, que oferece o seu serviço como
cristão. A terceira é λατρεία (latreia), que tem o sentido de serviço religioso,
como encontrado no texto bíblico do livro de João 16.2. Segundo Martins14,
essa palavra aparece cinco vezes no Novo Testamento e se refere a qualquer
tipo de ação executada em um ambiente religioso. A última é λειτουργία
(leitourgia), que denota serviço público, como no texto bíblico de Lucas 1.23.
Martins15 afirma que essa palavra aparece seis vezes no Novo Testamento e
tem o sentido de culto, programação ou liturgia.
Hess16 discorre sobre a palavra servir, no infinitivo, citando três palavras no
grego já mencionadas no parágrafo anterior (diaconia, latreia e leitourgia).
Em todos esses conjuntos de palavras e seus derivados, pode-se notar uma
evolução do sentido conforme a revelação bíblica. Segundo Hess17, leitourgia
originalmente expressava o serviço voluntário à comunidade, mas depois o
serviço sacerdotal no ritual. A palavra latreia denotava os pormenores do
ritual, mas depois seu significado se amplia para a atitude interior da adoração.
Finalmente, ainda segundo Hess18 a palavra diaconia tinha o sentido de servir

10
HARRIS, 1998, p. 1744.
11
CHAMPLIN, 2002, v. 6, p. 176.
12
MARTINS, 2016, p. 23.
13
MARTINS, 2016, p. 23.
14
MARTINS, 2016, p. 23.
15
MARTINS, 2016, p. 23.
16
In COENEN, 1983, p. 448.
17
In COENEN, 1983, p. 448.
18
In COENEN,1983, p. 449.

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à mesa, sob aspecto de sujeição pessoal, isto é, debaixo de escravidão, mas


passa a ser usada para denotar o “servir” de modo geral, sem o sentido de
escravidão, mas com uma ideia de “serviço a uma causa”, algo que traga um
benefício à comunidade de modo geral.
É interessante afirmar, segundo Hess19, que mesmo conhecendo a ordem
de amar ao próximo (no texto bíblico de Lv 19.8), a forma principal de serviço
às pessoas eram as esmolas. Por isso, a palavra diaconia (e seus derivados)
não foi utilizada com o sentido de um serviço humilde no Antigo Testamento,
na Septuaginta. Essa palavra (ou suas derivações) aparece apenas sete
vezes, sempre apresentando o sentido de servos da corte (no livro de Ester e
Provérbios). Normalmente, no texto grego do Antigo Testamento as palavras
usadas com o significado de servir aos outros e a Deus são derivadas de douleia,
com o sentido de escravidão, e leitourgia e latreia nos contextos rituais.
Nessa breve pesquisa bibliográfica já pode-se notar um desenvolvimento
do conceito de serviço ao longo do texto bíblico. O estudo das palavras já
mostra isso. Contudo se faz necessário verificar os exemplos reais vivenciados
pelos personagens bíblicos, o que a pesquisa começa a fazer a partir desse
ponto.

1. EXEMPLOS DE SERVIÇO NO ANTIGO TESTAMENTO


Segundo Champlin20 o trabalho feito no sentido de servir, no Antigo
Testamento, tem sua primeira referência em Gênesis 30.26-29, quando Jacó
serve a Labão em troca de suas esposas, conforme informação indicada acima.
A palavra usada ali no sentido de serviço é dbF:8 (‘ābad), e tem o sentido de
um serviço secular, feito a pessoas, sem qualquer conotação espiritual. Na
Septuaginta, a palavra usada é δουλεία (douleia), normalmente utilizada para
trabalho escravo. O serviço feito a Deus ainda era completamente desconectado
do sentido horizontal, de apoio e generosidade voltado para pessoas.
Nos próximos itens serão apresentados exemplos de situações nas quais
o serviço aconteceu, ainda que em caráter de desenvolvimento de conceito. A
ideia de serviço estava sendo formada e passaria por um desenvolvimento ao
longo da revelação. Mas a ideia central já estava lá desde o início, e podemos
encontrá-la no texto bíblico do livro de Êxodo 21.1-6:

19
In COENEN, 1983, p. 449.
20
CHAMPLIN, 2002, p. 176.

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São estas as leis que você proclamará ao povo: “Se você


comprar um escravo hebreu, ele o servirá por seis anos.
Mas no sétimo ano será liberto, sem precisar pagar
nada. Se chegou solteiro, solteiro receberá liberdade;
mas, se chegou casado, sua mulher irá com ele. Se o
seu senhor lhe tiver dado uma mulher, e esta lhe tiver
dado filhos ou filhas, a mulher e os filhos pertencerão
ao senhor; somente o homem sairá livre. “Se, porém, o
escravo declarar: ‘Eu amo o meu senhor, a minha mulher
e os meus filhos, e não quero sair livre’, o seu senhor o
levará perante os juízes. Terá que levá-lo à porta ou à
lateral da porta e furar a sua orelha. Assim, ele será seu
escravo por toda a vida.
Essa ideia do escravo de orelha furada é muito semelhante à ideia do servo
que se desenvolve por todo o texto bíblico. Sanchez21 explica que o sentido é de
um escravo, que não tem escolha e nem vontade própria, mas segue a vontade
de seu Senhor. Contudo, o servo, conforme o ensino bíblico pode escolher
servir. Apesar dessa ideia ainda não estar presente no sentido da palavra
serviço nesse momento, o valor já se mostrava.

1.1 O SERVIÇO A PARTIR DOS SACERDOTES E LEVITAS


O sacerdócio começou a ser organizado nos tempos de Moisés, mas a
dedicação de ofertas é muito anterior a Moisés. Segundo Schultz22, o chefe de
cada família era responsável pelas ofertas e executava o serviço de representar
a família na adoração a Deus. Vaux23 acrescenta que os próprios patriarcas
sacrificavam nos santuários que edificavam.
Sicre24 concorda com Schultz, mencionando que, nessa época, quando
ainda não havia sacerdotes em Israel, o serviço do culto era normalmente
executado pelo chefe da família. Em algumas situações, como na ocasião
na qual Gideão ofereceu um sacrifício (no texto bíblico do livro de Jz 6.25-
26), nem sequer o chefe da família foi necessário. Ainda no livro de Juízes,
capítulo 17, Mica organiza um oratório, com imagens que ele mesmo idealizou
e um sacerdote (seu filho) que ele mesmo escolheu. Mas, segundo Sicre25, é

21
SANCHEZ, 2015, não paginado.
22
SCHULTZ, 1995, p. 44.
23
VAUX, 2003, p. 384.
24
SICRE, 2016, p. 394.
25
SICRE, 2016, p. 394.

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nesse momento que acontece algo significativo para o entendimento do novo


modelo que se tornaria o padrão. Um levita aparece na cidade, e é contratado
por Mica para ser o seu sacerdote pessoal ao invés do filho: “Os funcionários
do culto começam a impor sua autoridade e seu prestígio, até se tornarem
imprescindíveis”.26
Antes de Moisés, as únicas menções a algum sacerdote é a de Melquisedeque
no texto bíblico do livro de Gênesis 14.18 e sacerdotes egípcios em Gênesis
41.45. Mas depois da saída do Egito, Deus orienta a organização dessa função,
para que a adoração seja adequada e o culto efetivo, e então separa Arão e seus
filhos para o sacerdócio.
Não se pode afirmar que havia outros sacerdotes antes disso, mas segundo
Packer, Tenney e White27, se os havia, porque não foram citados? É possível
que os próprios patriarcas atuassem como sacerdotes, oferecendo sacrifícios a
Deus, dentro de suas casas. Não há evidências de que esses homens atuassem
como sacerdotes para outros que não fossem suas próprias famílias. Havia
um caráter de espontaneidade e simplicidade nessa época nos cultos. Os
altares ficavam expostos ao tempo, e por isso dependiam do clima para que
os sacrifícios acontecessem, visto que o fogo era parte essencial desses rituais.
Considerando que era Deus quem iniciava esses cultos, quando e como
quisesse, não havia necessidade de maiores planejamentos.
Vaux28 explica que o sacerdócio em Israel não é vocação, mas função.
Ao contrário dos reis e profetas, os sacerdotes não apresentam qualquer
tipo de carisma particular para a função. São apenas nomeados para servir
ao Senhor. O termo usado na língua original para essa nomeação tem o
sentido de “encher as mãos”, que pode significar algum tipo de compensação
financeira, mas Vaux29 enfatiza que provavelmente o sentido original é dar
uma responsabilidade de servir à pessoa nomeada. Esta agora é chamada para
servir.
No texto bíblico do livro de Números 8.11, Moisés está consagrando
os levitas para o serviço na tenda da congregação e a palavra usada para
designar o serviço também é ‘ābad. Interessante que, segundo Vaux30, nesse

26
SICRE, 2016, p. 394.
27
PACKER; TENNEY; WHITE, 1982, p. 156-157.
28
VAUX, 2003, p. 385.
29
VAUX, 2003, p. 386.
30
VAUX, 2003, p. 386.

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texto citado, “o gesto de impor as mãos não tem o sentido de um ritual


de investidura, mas de oferenda: os levitas são oferecidos a Iahvé como
substitutos dos primogênitos. Voltando ao termo ‘ābad, segundo Wenham31,
este tem uma evolução de significado ao longo do tempo. Nesse momento, no
qual está sendo organizada a estrutura de adoração, o “serviço” é o trabalho
físico de transportar o tabernáculo, mas mesmo nesse sentido mais simples,
as exigências para os servos já são grandes, evidenciando a importância para
Deus do trabalho. Segundo Schultz32, os levitas foram nomeados para auxiliar
os sacerdotes nas responsabilidades do culto, e a seriedade do trabalho
se evidenciava nas exigências de uma conduta diferenciada, marcada por
requisitos morais para poderem servir. Não era apenas um simples trabalho,
mas algo especial, e segundo o mesmo autor33, esses oficiais do templo
precisavam se abster de costumes pagãos, profanações e polução. No caso do
sumo-sacerdote, as exigências eram ainda mais pesadas.
Quais eram as principais funções do sacerdote? Segundo Sicre, as funções
eram:
1) Transmitir o oráculo divino mediante o uso do efod
e do urîm e tummîn. A partir de Davi, esta função
diminuiu ou desapareceu completamente, passando
para os profetas. 2) O ensino (torâ). Originariamente a
torâ era uma instrução breve sobre um ponto concreto,
principalmente em relação ao culto, para distinguir entre
o santo e o profano, entre o puro e o impuro. Mas a missão
de ensinar do sacerdote é mais ampla: refere-se também
ao conjunto de prescrições que regem as relações entre
Deus e o homem e dos homens entre si. Desta forma,
os sacerdotes se tornam mestres de moral e de religião.
Após o exílio, o ensino da Torá passou para os levitas e
rabinos. 3) O sacrifício. De per si, o sacerdote não é um
sacrificador. Pode encarregar-se de matar as vítimas,
mas esta sempre foi uma função secundária e nunca
privilégio exclusivo. A função do sacerdote começava
com a manipulação do sangue, a parte mais santa da
vítima. A relação do sacerdote com o sacrifício aumentou
com o passar do tempo, quando diminuiu sua função
oracular e ele compartilhou a docência com os levitas. 4)

31
WENHAM, 1991, p. 81.
32
SCHULTZ, 1995, p. 62.
33
SCHULTZ, 1995, p. 62.

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A mediação. Em todas as funções anteriores, o sacerdote


é o mediador entre Deus e o homem. Representa Deus
nas duas primeiras e o homem na terceira. Também o
rei e o profeta são mediadores, mas por carisma, não por
estado.34
Craigie35 explica que ambos (sacerdotes e levitas) eram descendentes
pertencentes à tribo de Levi, e tinham diferentes responsabilidades. A
responsabilidade principal dos sacerdotes era dirigir o culto, inicialmente no
tabernáculo e depois, no templo. O sumo sacerdote tinha por responsabilidade
dirigir o culto de Israel, além de executar todos os sacrifícios e as festas que
auxiliavam a continuidade da vida religiosa do povo. Esse ofício especial foi
transmitido, durante o Antigo Testamento, numa base hereditária. Porém,
com o crescente prestígio que essa posição trazia, a posição de sumo sacerdote
passa a ser alvo de disputas políticas, na época do Novo Testamento
Segundo Craigie36, os levitas eram funcionários de apoio, que faziam a
manutenção do recinto e outros deveres. Apesar de menos destaque, suas
funções eram também essenciais no culto do povo. Cumpriam uma variedade
enorme de serviços, como ensino no templo, organização da música para a
adoração, além da manutenção do prédio físico.
As roupas dos sacerdotes também expressavam a santidade com a qual
deveriam servir ao Senhor. Segundo Schultz37, os vários detalhes da roupa,
como tecidos, estola, peitoral e turbante faziam referência à pureza exigida
para fazer um bom trabalho.
Rad38 discorre sobre o ofício sacerdotal, afirmando que as exigências do
culto eram tão grandes, “que só alguém que tivesse crescido na continuidade
da tradição tribal e familiar estava à altura para cumpri-las satisfatoriamente”.
O serviço era tão importante que precisava de um preparo de vida.
No momento da entrada na Terra Prometida – Canaã – e na sequência,
quando um santuário central foi estabelecido, havia muito trabalho e poucos
sacerdotes, segundo Gower.39 A demanda por sacerdotes era maior do que
a oferta. Em contrapartida, havia um excesso de levitas, e por isso, pouco

34
SICRE, 2016, p. 394-395.
35
CRAIGIE, 1990, p. 329.
36
CRAIGIE, 1990, p. 330.
37
SCHULTZ, 1995, p. 63.
38
RAD, 2006, p. 238.
39
GOWER, 2002, p. 366.

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trabalho para eles. Nesse momento da história, a diferença entre os sacerdotes


e levitas praticamente desapareceu. Como já citado acima, no episódio
de Mica (no texto bíblico do livro de Jz 17), um levita se tornou sacerdote.
Segundo Gower40, foi Ezequiel quem exigiu que houvesse novamente uma
separação clara entre as funções de um sacerdote e um levita. Na volta do
exílio babilônico, os levitas se envolveram no ensino da Lei e nos deveres
religiosos normais.
Os levitas são mais um exemplo de como Deus foi construindo o valor
do serviço ao longo da história. Segundo Wiersbe41, os levitas ajudavam
os sacerdotes no serviço do templo, a partir dos trinta anos de idade. Mais
tarde essa idade mínima mudou para os vinte e dois anos de idade. Quando o
serviço do templo foi organizado, havia trinta e oito mil levitas, e eles foram
organizados em quatro grupos: vinte e quatro mil para auxiliar os sacerdotes
no templo, seis mil como oficiais e juízes, quatro mil como porteiros e quatro
mil como cantores.
O serviço dos levitas, segundo Wiersbe42, em nenhum momento foi
considerado inferior ou de menor importância do que o serviço dos sacerdotes:
O fato de os levitas tomarem conta do santuário enquanto
os sacerdotes ministravam no altar não significava que
seu trabalho era menos importante para o ministério
do Senhor. Cada servo era importante para Deus, e cada
ministério era necessário. [...] Nada do que os levitas [...]
faziam no templo foi deixado ao encargo do acaso ou da
invenção humana; antes, foi tudo ordenado por Deus.
[...] A construção do templo significava que os levitas
seriam necessários para novas incumbências. Uma de
suas tarefas seria manter o templo limpo e arrumado,
certificando-se de que os arredores do templo fossem
conservados cerimonialmente puros. Também deveriam
cuidar que houvesse farinha suficiente para as ofertas. Em
todos os sacrifícios diários, mensais e anuais realizados, o
coral dos levitas deveria oferecer louvores ao Senhor.43
Os levitas, segundo Rad44 também eram responsáveis, juntamente com
os sacerdotes, pelo ensino da Lei ao povo, na questão da interpretação e

40
GOWER, 2002, p. 366.
41
WIERSBE, 2006, p. 385.
42
WIERSBE, 2006, p. 385.
43
WIERSBE, 2006, p. 385.
44
RAD, 2006, p. 239.

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aplicação. Ou seja, eram eles os responsáveis por fazer com que a Lei pudesse
ser praticada no cotidiano da vida de cada pessoa. Eles também tinham a
responsabilidade, em parceria com os sacerdotes, de preparar os textos que
seriam lidos e recitados nas grandes festas de Israel, devido ao conhecimento
e autoridade que possuíam.
Havia ainda uma responsabilidade curiosa: segundo Rad, ainda na época
do tabernáculo, os levitas tinham um lugar especial para armar suas tendas no
acampamento, depois que o tabernáculo havia sido montado. Nesse momento,
os levitas acampavam em um círculo imediatamente próximo, rodeando todo
o tabernáculo, assumindo assim “uma função protetora, até mesmo expiadora,
impedindo que nenhuma “ira” sobreviesse à comunidade”.45
O princípio do serviço estava sendo aprendido pelo povo, e o ofício
sacerdotal foi uma das maneiras que Deus usou para ensinar. Contudo,
existiram outros exemplos do texto bíblico do Antigo Testamento que
mostraram o desenvolvimento do princípio a partir de outras pessoas, como
será mostrado no próximo item.

1.2 O SERVIÇO NA ATUAÇÃO DO POVO DE NEEMIAS


Os indivíduos que colaboraram com a obra de Neemias foram retratados
no capítulo 3 do livro de Neemias. Segundo McNair46 havia um significado
enorme o fato de terem seus nomes e o serviço de cada um registrado no
livro sagrado. Deus tinha um propósito de registrar isso, não apenas para
reconhecer o esforço de cada um, mas de se fazer lembrar o serviço de todos.
Neemias entende a própria posição e a de todo o povo como de servos. No
texto de Neemias 2.20, mais uma vez a palavra ‘ābad é usada para denominar
“servos”.
Segundo Waltke47, a lista das pessoas que serviram na construção do muro
incluía sacerdotes, leigos, habitantes de Jerusalém e até de cidades vizinhas.
Havia pessoas que foram identificadas pelo nome da família, e outras por sua
profissão. Toda a comunidade estava envolvida naquele serviço. Conforme
Waltke48, Neemias não está apenas restaurando o muro com aquele serviço,

45
RAD, 2006, p. 244.
46
MCNAIR, 1949, p. 237.
47
WALTKE, 2015, p. 880.
48
WALTKE, 2015, p. 880.

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está restaurando a comunidade, pois o valor do serviço estava sendo construído


em meio à atividade. Kidner49 também exalta o trabalho de Neemias e daquelas
pessoas. Isso pode ser observado, na seguinte fala:
Este catálogo de nomes e lugares quase totalmente
esquecidos revela uma façanha extraordinária de
organização e de ação conjunta. Tem todas as marcas de
um entusiasmo compartilhado, demonstrado nos grupos
heterogêneos que se puseram a trabalhar nos seus trechos
adjacentes do muro, uns como unidade familiares, outros
segundo suas cidades, suas perícias (e.g., os ourives e os
perfumistas do v. 8), suas profissões (os mercadores: 31-
32) e suas vocações (os sacerdotes: 1, 21-22, 28; os levitas:
17-18; os servos do templo: 26; os maiorais dos distritos:
9, 12, 15-17). Certo homem até mesmo mobilizou suas
filhas (12).50
Há diversas qualidades nos voluntários de Neemias, segundo Barber.51
Neemias conseguiu empreender uma consciência tamanha do serviço, que
cada um sabia exatamente o que precisava fazer e onde precisava fazer. Eles
estavam completamente coordenados. Ainda segundo Barber52, a cooperação
entre os voluntários era um sucesso. Mesmo solteiros (que teoricamente não
precisavam defender sua esposa e filhos) serviram na obra. O autor enfatiza
que ainda hoje organizações sofrem com o trabalho de baixa qualidade e de
pouco tempo de voluntários. Neemias conseguiu motivar aqueles homens e
mulheres a darem muito de seu tempo e servirem com excelência. Ainda que
não tenha conseguido sucesso total (a elite de Tecoa não quis se submeter ao
serviço), Neemias conseguiu um feito incrível: seus voluntários se motivaram,
se dedicaram e principalmente, terminaram cada qual a sua parte na obra.
Kelly53 afirma que, da mesma maneira que cada um executou a sua parte
no serviço de reconstrução do muro, nos dias de hoje cada um tem a sua parte
no trabalho. “É um grande erro supor-se que o trabalho de Deus depende de
grandes talentos”. Na igreja, cada pessoa e o seu trabalho são mais importantes
do que em qualquer outro lugar.
Mesquita54 ressalta o planejamento admirável realizado por Neemias em

49
KIDNER, 1985, p. 93.
50
KIDNER, 1985, p. 93.
51
BARBER, 1982, p. 43.
52
BARBER, 1982, p. 45.
53
KELLY, 1978, p. 50.
54
MESQUITA, 1974, p. 257.

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sua força voluntária de trabalho. Cada grupo tinha uma tarefa a cumprir e
sabia muito bem disso. Eram ao todo 38 grupos de trabalho que serviam
voluntariamente na obra. Segundo o mesmo autor55, a tarefa de cuidar da
alimentação era feita em alguns casos pelos próprios voluntários e em outros
por Neemias e sua equipe. Na verdade, o que aconteceu, segundo o autor, foi
um grande mutirão.
Dessa maneira, Deus estrategicamente ensinava nesse momento o povo
“simples” a servir. Não eram sacerdotes, levitas ou profetas, era o povo. Na
forma de mutirão, o valor do princípio de servir a Deus e às pessoas era
vivenciado e assimilado pelo povo de Israel. O próximo item vai tratar de mais
um exemplo de como o conceito foi sendo desenvolvido e praticado.

1.3 O SERVIÇO A PARTIR DOS PROFETAS


Os profetas também são um exemplo de serviço a Deus e ao povo. Segundo
Krüger e Kunz56, o profetismo já existia antes do século VIII, mas foi a partir
desse período que mais teve relevância. Nos dias de Samuel surgiram as
escolas proféticas, organizando melhor a atividade profética em toda a nação.
Os profetas eram conhecidos por vários termos, mas o presente trabalho
faz menção do termo “servo de Iahvé”, que era um desses títulos pelo qual
os profetas eram conhecidos, segundo Waltke.57 Em várias referências (nos
textos bíblicos de 2Rs 21.10 e 24.2; de Jr 25.4 e 26.5; de Am 3.7) a expressão
“... meus servos, os profetas...” é usada para designar esses homens de Deus
que proclamavam a Palavra do Senhor ao povo. O sentido, segundo Waltke, é
que esses homens tem uma missão dada por Deus, e não algo que ele mesmo
inventou. Por essa razão, conforme Seubert58, os profetas tiveram um grande
valor para o povo de Israel, pois suas palavras eram relevantes e impactantes
para mudar o coração de seu povo.
Krüger e Kunz59 indicam o termo “servo do Senhor” como descrição para os
profetas. As autoras explicam que o termo profeta é definido a partir do termo
grego “prophetes”, que tem por significado “aquele que fala em nome de um
deus e interpreta a sua vontade”. Os elementos “pro” (que significa “por, de

55
MESQUITA, 1974, p. 263.
56
KRÜGER; KUNZ, 2016, p. 12.
57
WALTKE, 2015, p. 900.
58
SEUBERT, 1992, p. 29-30.
59
KRÜGER; KUNZ, 2016, p. 10.

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152 Ricardo Lebedenco

para”) e “phemi” (que significa “falar”). Ou seja, profeta significa “aquele que
fala por alguém”. Isso se alinha com a ideia de “servo do Senhor”, pois o profeta
fala o que Deus o mandou falar, e não ideias de sua própria imaginação.
Para Bruce60, a obediência dos profetas também era uma marca desses
“servos do Senhor”, e contribuía para o entendimento de que estavam ali para
exercer as orientações de Deus. O profeta precisava entregar a mensagem
fielmente, ainda que não tivesse sendo ouvido ou assimilado. Krüger e Kunz61
lembram que o fato do povo não receber a mensagem ou não obedecer como
resultado, não interferia em nada na transmissão da mensagem. O profeta,
como servo do Senhor, tinha que obedecer, mesmo que os ouvintes fossem
rebeldes ou hostis.
Scott62 descreve o senso comum das pessoas em olhar para os profetas
como homens de gênio incomum, individualistas e reformadores radicais.
Mas a grande verdade é que eles foram os servos e enviados do Deus vivo,
homens a quem Iahvé chamou e falou ao ouvido. Como servos, não tinham
outra opção, senão serem instrumentos do propósito divino. Krüger e Kunz63
afirmam que a Palavra de Deus se tornava viva na experiência dos profetas e
então eles retratavam-na em suas próprias vidas.
A partir da análise dos exemplos citados e da etimologia da palavra serviço
a partir do hebraico, pode-se chegar ao entendimento de que o serviço no
Antigo Testamento foi instituído por Deus em um caráter infanto didático.
Havia princípios e conceitos a serem ensinados por Deus e aprendidos por
um povo que estava sendo formado dentro de uma nova cultura religiosa
monoteísta e guiado por um Deus vivo e presente, diferente de qualquer
situação com que haviam tido contato até então.
Embora seja possível ver um desenvolvimento desse conceito na cultura
geral do povo de Israel, não foi no Antigo Testamento que o conceito
atingiu seu pleno sentido. Por isso é necessário continuar o estudo no Novo
Testamento, para conseguir acompanhar esse desenvolvimento. É o que será
feito no próximo item.

60
BRUCE, 2009, p. 1127.
61
KRÜGER; KUNZ, 2016, p. 17.
62
SCOTT, 1968, p. 50.
63
KRÜGER; KUNZ, 2016, p. 14.

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O princípio do servir na perspectiva bíblica e histórica 153

2. EXEMPLOS DE SERVIÇO NO NOVO TESTAMENTO


A partir da experiência do Antigo Testamento, o conceito de serviço vai se
desenvolvendo e assumindo maior complexidade. A língua grega traz novas
palavras que apresentam sentidos diferentes e mais profundos.
Hess64 afirma que o ato de servir frequentemente é traduzido por diakonia
(e seus derivados) no Novo Testamento. Os sentidos são variados, como:
a. “Servir à mesa” (Mt 8.15);
b. “Cuidar de” (Mt 27.55);
c. O trabalho dos diáconos (1Tm 3.10);
d. Em conexão com ofertas feitas à igreja (Rm 15.24);
e. Como expressão para a proclamação do evangelho (2Co 3.3);
f. Como expressão feita pelo próprio Jesus por ocasião da sua entrega
em benefício de todos (Mt 20.28).
Essa palavra, diakonia, é usada na forma de substantivo, segundo Hess65,
com o sentido geral de um serviço amoroso (1Co 16.15) e para todos os serviços
da comunidade (Ef 4.12).
Segundo Hess,
...o significado neo-testamentário de diakonia deriva da
pessoa de Jesus e do seu evangelho [...]. Fica sendo um
termo que denota a ação amorosa em prol do irmão e
do vizinho, que por sua vez é derivada do amor divino, e
também descreve a operação da koinonia -> comunhão.
Quando Jesus serviu aos Seus discípulos e aos homens
em geral, tratava-se de uma demonstração do amor de
Deus, e da humanidade do tipo desejado por Deus. [...]
Todos devem servir com o dom (~ Dádiva) que Deus lhe
deu (1 Pe 4: 10). [...] Esta conclamação ao serviço torna-
se obrigatória porque, por detrás dela há o sacrifício de
Jesus, que “não veio para ser servido, mas para servir e
dar a sua vida em resgate por muitos (Mc 10.45).66
Os próximos subitens tratarão de modo mais detalhado o conceito de
serviço ensinado pelo grande exemplo Jesus, bem como do apóstolo Paulo,
que se considerava sobretudo um servo de Jesus Cristo.

64
In COENEN, 1983, p. 450.
65
In COENEN,1983, p. 450.
66
In COENEN, 1983, p. 451.

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154 Ricardo Lebedenco

2.1 O EXEMPLO DE SERVIR EM JESUS CRISTO


Jesus é o maior servo e o grande exemplo no servir. Em algumas passagens
bíblicas nas quais ele se apresenta, sempre se coloca como servo. Gusso67
discorre sobre isso ao falar do texto bíblico do livro de João 13, quando Jesus
está se apresentando como Mestre e Senhor. Jesus explica aos seus discípulos
essas verdades, e vai se aprofundando nos conceitos. Contudo, quando chega
no ponto mais elevado do ensino daquele dia, Jesus desafia seus discípulos a
seguirem a maior de suas lições: ser servo. Se Jesus, sendo Senhor e Mestre,
os serviu daquela maneira, também eles deveriam fazer o mesmo.
Piper também exalta essa qualidade na vida de Jesus, quando diz que
[...] o leão é admirável por sua força, ferocidade e
aparência de rei. O cordeiro é admirável por sua mansidão
e por fornecer lã para nossas roupas, com a humildade
de um servo. O mais admirável de tudo, porém, é um
cordeiro semelhante a um leão e um leão semelhante a um
cordeiro. O que torna Cristo glorioso, conforme Jonathan
Edwards comentou há mais de 250 anos, é “um conjunto
admirável de características excelentes e diversificadas.68
Entre essas características excelentes e diversificadas, estava a condição
de servo, mesmo em meio ao poder sem limites que poderia usufruir. Mello69
apresenta Jesus como o principal modelo de servo: o Filho de Deus que abdica
de todas as glórias terrenas para servir, e assim ensina que o serviço cristão
implica em uma submissão voluntária, uma doação humilde, a partir de ações
que beneficiam o outro sem se importar consigo mesmo.
O evangelho de Marcos é o que apresenta Jesus como o servo sofredor,
segundo Bock.70 Isso acontece, pois Marcos se dirige a uma igreja sofredora,
e falar do chamado para servir, descansar no plano de Deus e ter Jesus como
exemplo, é o antídoto para esse momento difícil que a igreja atravessa. Bock71
explica que a qualidade de servo de Jesus é um exemplo de como o povo de
Deus pode viver em um mundo que o rejeita.
O grande princípio de relacionamento que Jesus queria ensinar, segundo
Holladay72, está no texto bíblico do livro de Marcos 10.43: “...quem quiser

67
GUSSO, 2004, p. 83-84.
68
PIPER, 2005, p. 31.
69
MELLO, 2017, p. 418.
70
BOCK, 2006, p. 30.
71
BOCK, 2006, p. 30.
72
HOLLADAY, 2009, p. 263.

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O princípio do servir na perspectiva bíblica e histórica 155

tornar-se importante entre vocês deverá ser servo”. O princípio era: “Maior
é o que serve”. Jesus, de maneira graciosa, entendeu o desejo humano de
ser grande, mas o direcionou a ações de bondade e serviço. Dificilmente as
pessoas conseguem associar humildade com grandeza, mas Jesus mostrou
isso o tempo todo, assumindo a condição de servo. Holladay73 afirma que
Jesus ensinava que a verdadeira grandeza vinha do serviço, e este ponto foi um
assunto constante em seu ensino. Mello74 afirma que esse ensino é subversivo,
pois inverte a pirâmide social típica do sistema escravagista vigente na época
de Jesus, no qual os grandes são servidos.
Wilkes75 observa que Jesus usou sua condição de servo para influenciar
e liderar as pessoas, ensinando um novo e revolucionário paradigma de
liderança:
Para Jesus, o modelo de liderança era o serviço. Ele jamais
serviu a si mesmo. Num primeiro momento, liderou
como servo do Pai Celestial, o qual lhe dera a missão. Se
observarmos a vida de Jesus de um nível mais elevado,
veremos que tudo o que ele fazia estava a serviço de sua
missão. Sua missão pessoal era servir, não à sua própria
vontade, mas à vontade do Pai. Jesus disse: ‘Porque eu
desci do céu, não para fazer a minha própria vontade; e
sim, a vontade daquele que me enviou’.76
Wilkes77 fala a respeito da condição principal de Jesus para ser um servo:
Ele tinha um Senhor. Ele servia ao Pai. Isso é um ensinamento importante
quando se está estudando a condição de servo de Jesus. O autor diz, a partir
disso, que ninguém pode realmente ser um servo, se não tiver um Senhor para
servir. A obviedade dessa afirmação contrasta com a realidade das pessoas que
querem ser servas, mas não querem ter um Senhor. Outra condição ensinada
por Jesus é que, para ser servo, alguém precisa se humilhar. No texto bíblico
do livro de Filipenses 2.5-11, Paulo explica como isso aconteceu com Jesus:
Tenham entre vocês o mesmo modo de pensar de
Cristo Jesus, que, mesmo existindo na forma de Deus,
não considerou o ser igual a Deus algo que deveria ser
retido a qualquer custo. Pelo contrário, ele se esvaziou,
assumindo a forma de servo, tornando-se semelhante aos

73
HOLLADAY, 2009, p. 263.
74
MELLO, 2017, p. 419.
75
WILKES, 1999, p. 22.
76
João 6.38 - ARA.
77
WILKES, 2005, p. 9.

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156 Ricardo Lebedenco

seres humanos. E, reconhecido em figura humana, ele se


humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de
cruz. Por isso também Deus o exaltou sobremaneira e lhe
deu o nome que está acima de todo nome, para que ao
nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e
debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é
Senhor, para glória de Deus Pai.78
A respeito da mesma passagem, Holladay79 diz que o texto acima citado é
um daqueles capítulos que “pelos quais gostaríamos de passar na ponta dos
pés sem fazer barulho. É um lugar sagrado”. Holladay enfatiza a primeira
parte desse texto, que desafia as pessoas a serem servos como Jesus. O que
Ele fez não foi para ser guardado em um quadro na parede, mas para servir de
exemplo a toda a humanidade.
Wilkes80 ainda fala que, ao longo dos anos e da história da igreja, aos
poucos as mesas principais foram se tornando símbolos da liderança entre o
povo de Deus. As mesas não são ruins em si, mas o autor enfatiza que esses
novos símbolos substituíram os símbolos principais da liderança que Jesus
viveu e ensinou: a toalha e a bacia. São esses símbolos que precisam voltar a
ser os ícones principais da liderança entre o povo de Deus.
O texto bíblico do livro de Isaías 52.13 a 53.12, um dos textos messiânicos
mais conhecidos, trata também da qualidade de Jesus como servo, segundo
Champlin.81 Nesse texto profético, Jesus Cristo é retratado como o “servo
sofredor”, que é rejeitado, desprezado e odiado por seus próprios irmãos.
Entretanto, a despeito desse sofrimento, permanece focado em sua atitude
de servo. Archer82 fala da espantosa vitória de Cristo, através da humilhação.
Analisando o texto, Archer cita que o Servo não teria a grandeza terrena que
atrai a admiração humana, e sendo servo, não abriria sua boca diante do
sofrimento que lhe seria imputado.
Para Ridderbos83, o “Servo do Senhor” citado em Isaías, não pode ser outro,
senão o Messias. A interpretação de alguns teólogos judeus, que sugerem
que este seja o povo de Israel é completamente impossível. Jesus foi o servo

78
Filipenses 2.5-11.
79
HOLLADAY, 2009, p. 305.
80
WILKES, 1999, p. 26.
81
CHAMPLIN, 2001, p. 2937.
82
ARCHER, 2001, p. 55.
83
RIDDERBOS, 2006, p. 420.

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O princípio do servir na perspectiva bíblica e histórica 157

sofredor que sofreu calado para que seu povo pudesse ser abençoado. Esse
sofrimento, segundo Ridderbos84, é comparado ao que os escravos hebreus
foram submetidos no Egito, e tudo isso, como um cordeiro que é levado ao
matadouro. A condição de servo é levada ao extremo.
Até na eternidade, Cristo continuará servindo ao seu povo, segundo Piper.85
Nessa ocasião, ele não repartirá com ninguém a glória de ser o doador da graça.
No texto bíblico do livro de Lucas 12.37, em uma parábola, Jesus se descreve
como aquele que se reclinará à mesa e servirá os seus: “Felizes os servos cujo
senhor os encontrar vigiando, quando voltar. Eu lhes afirmo que ele se vestirá
para servir, fará que se reclinem à mesa, e virá servi-los” Ele será o doador da
graça e receberá sua glória por isso. Seguindo na análise no Novo Testamento,
na sequência será observado o exemplo de servir do apóstolo Paulo.

2.2 O EXEMPLO DE SERVIR NO APÓSTOLO PAULO


O apóstolo Paulo é um bom exemplo de alguém que decidiu servir a Deus
e o fez de maneira absolutamente livre e espontânea. Warren e Wiersbe86
lembram que Paulo nunca se envergonhou de chamar a si mesmo de “servo de
Cristo” (doulos). Interessante que esse termo também pode ser traduzido por
“escravo”, ou seja, o servo é um escravo, nesse sentido. Paulo faz isso e pode-se
observar tal questão nos textos bíblicos dos livros de Romanos 1.1, 2 Coríntios
4.5, Gálatas 1.10 e Filipenses 1.1. Em todos esses textos, Paulo cita com alegria
o privilégio de ser um escravo de Cristo. Nos textos bíblicos do livro de 1
Coríntios 3.5 e 2 Coríntios 3.6, como exemplo, Paulo ainda se apresenta como
diácono (servo) de Jesus Cristo. Ele não tinha nenhuma dúvida de que era
um servo de Deus e foi além, no relato descrito no texto bíblico do livro de 2
Coríntios 4.5, ele se apresenta também como servo do povo de Deus.
Paulo serviu ao povo de Deus como um pai espiritual, segundo Warren e
Wiersbe.87 Paulo os alimentou (1Co 3.1-3), os disciplinou (1Co 4.14-21) e os
protegeu (2Co 11.1-6). Essa visão de Paulo de assumir a condição de servo do
Povo de Deus era tão intensa, que ele chega a afirmar que trabalhou como
uma mãe que cuida dos próprios filhos (1Ts 2.7). Essa figura de uma mãe

84
RIDDERBOS, 2006, p. 432.
85
PIPER, 2005, p. 100-101.
86
WARREN; WIERSBE, 2013, p. 31.
87
WARREN; WIERSBE, 2013, p. 33.

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158 Ricardo Lebedenco

que cuida dos filhos sugere o cuidado e atenção que Paulo dedicou aos seus
“filhos espirituais”. Uma mãe cuidadosa não se afasta do bebê e nem o entrega
a babás. Paulo só agiu dessa maneira, pois entendia a condição de servo em
relação a Jesus Cristo. Warren e Wiersbe88 ainda enfatizam o cuidado com
o bom exemplo que Paulo tinha, afinal, ele sabia que, como qualquer pai,
precisava ensinar através de um bom testemunho, muito mais importante que
por palavras. No texto bíblico do livro de 1 Tessalonicenses 2.10 ele diz: “Tanto
vocês como Deus são testemunhas de como nos portamos de maneira santa,
justa e irrepreensível entre vocês, os que creem”.
Mello89 afirma que Paulo entendia que seu ministério era como uma
resposta à graça que lhe foi outorgada por Deus, para ser ele “ministro de
Cristo Jesus entre os gentios”. Esse fato o motivou cada vez mais a ser um servo
aos santos. Ele olhava para o exemplo de Jesus, que se esvaziou e assumiu a
condição de servo, e o imitava, se descrevendo sempre como servo de Jesus
Cristo. Mesmo quando a comunidade dos santos era hostil, como aconteceu
na igreja de Corinto, ele continuou a servir, entendendo que o fundamento do
servir é o amor a Deus e entender o senhorio de Jesus Cristo.
Caliguire90 diz que Paulo “nunca buscou as luzes da ribalta”, querendo
dizer que nunca buscou para si mesmo outro papel que não o de servo do
Senhor. Ele sabia o que era e para o que foi chamado. Ele entendia que, como
servo, era parte do trabalho de Deus e não a essência. Por isso, ao entender
que seu trabalho havia terminado em uma determinada região, passava de
boa vontade para outros irmãos, sem qualquer apego exagerado. Caliguire
também lembra que Paulo estava sempre orientando suas ovelhas a serem
servos.91 Quando escreve aos Gálatas, no texto bíblico encontrado no verso
5.13, os aconselha a “serem servos uns dos outros, pelo amor”. O desafio era
encontrar a maior e mais completa liberdade, justamente na medida que se
tornam servos uns dos outros e do Senhor. Esse é o princípio da liderança-
servo: aquele que escolhe servir aos outros enquanto lidera. A escolha não
é usar as pessoas para alcançar o sucesso pessoal, mas ajudar os outros a se
tornarem bem-sucedidos.

88
WARREN; WIERSBE, 2013, p. 34-35.
89
MELLO, 2017, p. 421.
90
CALIGUIRE, 2004, p. 58.
91
CALIGUIRE, 2004, p. 187.

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O princípio do servir na perspectiva bíblica e histórica 159

Esse entendimento de servo chega a tal ponto que Paulo prefere receber
o sofrimento a fim de que seus irmãos sofram menos! É o que escreve
Bruce.92 Segundo o autor, quando Paulo fica contente ao receber sua parte
nos sofrimentos de Cristo, não mostra apenas que o apóstolo tinha uma
excelente autoestima, mas que ele acreditava que quanto mais recebesse esses
sofrimentos pessoalmente, menos sobraria para os seus irmãos.
Por fim, Paulo tinha uma grande expectativa quando olhava para frente
e enxergava o final de sua vida. Ele não esperava receber pagamentos ou
comemorações que o engrandecessem e fizessem dele um homem notável e
bem-sucedido segundo os padrões da sociedade. Segundo Caliguire93, tudo o
que ele esperava era encontrar o próprio Deus e ouvir dele a seguinte frase:
“Muito bom, servo bom e fiel”. Quando Paulo, ao fim de sua vida, diz “Combati
o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”, citando o texto bíblico do
livro de 2 Timóteo 4.7, certamente está se lembrando do que fez na qualidade
de servo de Jesus Cristo.
É em Paulo e sobretudo em Jesus que se encontra a plenitude do conceito
de serviço na Bíblia. Ainda que na língua original do texto bíblico do Novo
Testamento haja também variações de palavras traduzidas como serviço na
língua portuguesa, o sentido de cada uma foi aprofundado e chegou ao seu
significado máximo em Jesus Cristo, que veio como Servo, para servir.
A partir desse sentido amplo e profundo ensinado por Jesus, pode-se fazer
uma aplicação mais precisa do sentido atual da palavra e também do valor
espiritual do serviço enquanto elemento presente no processo de santificação
de cada discípulo de Jesus. No próximo item, o trabalho pretende mostrar
como a igreja primitiva entendeu esse ensino e o aplicou em sua vida cotidiana.

2.3 O EXEMPLO DE SERVIR NA IGREJA PRIMITIVA


A igreja que estava iniciando no primeiro século demonstrou, desde o
início, ser voltada para servir. A partir do exemplo de Jesus e dos apóstolos,
esse valor foi assimilado e vivenciado por boa parte dos primeiros cristãos.
Segundo Gusso e Gusso94 a igreja se preocupava em cuidar dos membros
necessitados, e por isso desenvolvia vários serviços, entre eles a ajuda às

92
BRUCE, 2003, p. 133.
93
CALIGUIRE, 2004, p. 223.
94
GUSSO; GUSSO, 2015, p. 37.

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160 Ricardo Lebedenco

viúvas. Na ocasião citada no texto bíblico do livro de Atos 6.1-7, pode-se ver
uma igreja comprometida com o servir, e de maneira excelente. A princípio,
parece um trabalho simples que poderia ser feito por qualquer um, mas
quando se verifica o cuidado com o qual a escolha das pessoas foi realizada,
pode-se ver que não era um trabalho que a igreja primitiva acreditava que
podia ser feito por “qualquer um”.
Allen95 fala da reputação dos judeus por fazer boas obras em favor dos pobres
e viúvas. A igreja primitiva, formada por, entre outros, judeus convertidos,
perpetuaram essa prática, e fizeram das viúvas um grupo reconhecido pela
igreja. Segundo Allen96, “ninguém pode ser tão indefeso como uma viúva”,
então a igreja se organizou para cuidar desse grupo. E nessa organização,
separou homens de boa reputação e cheios do Espírito Santo e de sabedoria.
Para realizar esse serviço, mesmo parecendo algo simples, eram necessários
homens preparados: verdadeiros servos do Senhor.
Gusso e Gusso97, analisando o texto bíblico de Atos 6.1-7, informam que
cada pessoa que seria escolhida como servo para executar o trabalho de cuidar
das viúvas precisava apresentar as seguintes qualidades:
a. Boa reputação: pessoas que tinham uma boa fama na cidade, portanto
confiáveis perante o povo;
b. Cheios do Espírito: pessoas espirituais, que eram controladas pelo
Espírito Santo. Esses servos deveriam mostrar com suas ações que a
presença de Deus estava em suas vidas;
c. Cheios de sabedoria: os apóstolos sabiam que, mesmo uma tarefa
simples e urgente, precisava de homens que tinham a capacidade de
agir com sabedoria e de forma inteligente;
d. Cheios de fé: homens e mulheres que tinham uma confiança inabalável
no Senhor.
Segundo Marshall98, era um costume judaico escolher uma comissão
de sete homens para executarem alguma tarefa. Mas o mais notável nessa
passagem é o critério com o qual foram escolhidos (citada acima) e a forma
como foram empossados, seguindo um paralelo com a nomeação de Josué. A

95
ALLEN, 1984, p. 64.
96
ALLEN, 1984, p. 64.
97
GUSSO; GUSSO, 2015, p. 33-36.
98
MARSHALL, 1988, p. 123.

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O princípio do servir na perspectiva bíblica e histórica 161

igreja estava entendendo que aquela tarefa de servir às pessoas era algo muito
importante e por isso merecia tal cuidado.
Gusso e Gusso99 interpreta a perícope do texto bíblico do livro de Atos 6.1-7
do ponto de vista do serviço e chega à conclusão que a igreja de Atos era uma
igreja na qual o serviço uns aos outros tinha importância fundamental, pois:
a. A igreja cuidava das necessidades dos seus: eles se preocupavam
em cuidar dos membros necessitados, no caso, das viúvas. Naquele
momento, havia muitas viúvas em Jerusalém, pois voltavam da
Dispersão para viver seus últimos dias na cidade. Era uma necessidade
daquele cenário, e a igreja se empenhou em buscar soluções;
b. A igreja cuidava das questões materiais: a expressão usada no texto
bíblico do livro de Atos 6.2 - “servir as mesas” - pode ser também
entendida como sendo a administração das ofertas recolhidas.
Isso mostra o caráter prático dos ministérios da igreja da época.
Se houvesse necessidade de servir às pessoas, isso aconteceria em
qualquer âmbito da demanda, e não apenas no espiritual. Mas é bom
lembrar que em todos eles, as pessoas escolhidas para desempenhar a
missão precisavam ser bem preparadas, como visto acima;
c. A igreja cuidava das necessidades dos de fora: o texto lido mostra que
não há uma importância maior no cuidado com os membros internos
em relação às pessoas de fora. Tanto um quanto o outro precisava de
cuidado e para isso pessoas espirituais e bem preparadas deveriam
estar prontas para servir.
Gower100 também fala das dificuldades que as mulheres sofriam ao ficarem
viúvas nos tempos bíblicos. A viúva não tinha direito à herança do falecido,
nem tampouco tinha opções de trabalho digno. A estas, restava casar com
um parente próximo ou trabalhar como prostitutas. Por isso, segundo Gower,
as igrejas tinham listas com os nomes das viúvas com mais de 60 anos com
fins de auxiliá-las em suas necessidades. Paulo, no texto bíblico do livro de 1
Timóteo 5.3-11, recomenda que a igreja liderada pelo jovem pastor sustente as
viúvas que não tivessem possibilidade de serem sustentadas por suas famílias.
Tenney, Packer e White Jr101 citam a atividade de serviço da igreja no

99
GUSSO; GUSSO, 2015, p. 37-43.
100
GOWER, 2002, p. 74.
101
TENNEY; PACKER; WHITE Jr, 2001, p. 20.

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162 Ricardo Lebedenco

cuidado das pessoas, em especial as viúvas, no Novo Testamento. A igreja


se organizou para servir essas pessoas em suas necessidades. Mueller102 vai
além, dizendo que viver em comunidade é viver servindo aos outros, e a igreja
primitiva entendeu isso, vendo no exemplo de Jesus, aquele que “não veio
para ser servido, mas para servir”, citando o texto bíblico de Marcos 10.45103:
Ele demonstrou esse princípio, servindo ao Seu povo e
aos Seus (como ilustrado em Jo 13.1-17). Servir uns aos
outros é, assim, um chamado a sair de si mesmo e dos seus
problemas, e se dedicar aos outros. É nessa exteriorização
que está o fundamento da ética cristã, como vida de
serviço aos outros “enquanto outros” (ou seja, não uma
extensão de mim próprio, ou “outros” a quem eu comando
ou manipulo, e coloco dentro do meu esquema). A palavra
grega é diakonuntes, de onde vem diaconia, serviço.
Aqui, ela tem um significado abrangente, incluindo todo
tipo de serviço que se pode prestar a outros (em palavra
e ação).104
Mueller105 continua sua descrição, dizendo que esse valor do serviço uns aos
outros só foi possível, porque a igreja primitiva entendeu que cada discípulo
de Jesus recebeu dons (capacitações sobrenaturais dadas pelo Espírito
Santo à sua igreja), com os quais podem servir uns aos outros. Santos106,
estudando o texto bíblico do livro de Romanos 14.19, fala sobre a edificação
mútua que existia na igreja, na qual cada servo entendia a sua função como
promotores do crescimento e amadurecimento na fé. Como resultado, havia
um compartilhamento de ideias e conceitos que promoviam crescimento.
Muzio107 cita o caso de Dorcas, comentado por Lucas no texto bíblico do
livro de Atos 9.36-42. O trabalho de diaconia de Dorcas era tão bem feito,
que os pobres não podiam ficar sem ela. As roupas que ela fazia ajudavam a
muitos, e por isso Pedro foi convocado a ir até Jope para fazê-la reviver. Muzio
também afirma que a igreja primitiva vivia como uma comunidade diaconal,
pois compartilhavam suas posses uns com os outros para que ninguém
passasse necessidade.

102
MUELLER, 1991, p. 238.
103
BÍBLIA, 2007, p. 808.
104
MUELLER, 1991, p. 239.
105
MUELLER, 1991, p. 239.
106
SANTOS, 2016, p. 33-34.
107
MUZIO, 2010, p. 118.

Revista Batista Pioneira vol. 9 n. 1 Junho/2020


O princípio do servir na perspectiva bíblica e histórica 163

Mueller108 deixa claro que o grande propósito dos dons é o serviço dentro
da comunidade cristã: a igreja. Como cada discípulo de Jesus recebe ao
menos um dom, esse fato faz com que todos sejam considerados igualmente
importantes uns para com os outros. A igreja primitiva entendeu isso, e
todos serviam uns aos outros, dentro de suas próprias capacidades naturais
e sobrenaturais. Mueller discorre sobre o assunto, explicando que o termo
usado no texto bíblico de 1 Pedro 4.10 para descrever a pessoa que vai executar
o serviço é oikonomoi, traduzido como despenseiro:
[...] um termo técnico referente ao mordomo, o
administrador da casa (lembrando que “casa” é a oikos
do mundo da época, uma instituição social fundamental,
a “comunidade doméstica” que incluía família e
trabalhadores, bem como os hóspedes). O oikonomos
era o encarregado de atender as necessidades de todos,
administrando os bens nessa direção. É uma bela figura
para o papel dos cristãos na igreja. (e note-se que todos
o são). Todos na “casa de Deus” têm necessidade de
“graça”, e todos são chamados a suprir essa necessidade
mutuamente. E não devemos espiritualizar em demasia a
questão, pois essas necessidades muitas vezes serão bens
materiais e rotineiras. E o chamado ainda é para ser bons
despenseiros [...].109
O quadro a seguir mostra a evolução do termo servo nos exemplos citados,
desde o Antigo, até o Novo Testamento:
QUADRO 1: O desenvolvimento do sentido da palavra serviço na Bíblia110
Palavra no
Sentido Situação usada Texto
original
‘ābad Serviço militar Sacerdotes Números 8
Ajudantes de
‘ābad Serviço Neemias 3
Neemias
Escravo
doulos Paulo Romanos 1
espontâneo
diaconos Servo Paulo 1 Coríntios 3
Escravo
doulos Jesus João 13
espontâneo
diaconia Serviço amoroso Jesus Mateus 20

108
MUELLER, 1991, p. 239.
109
MUELLER, 1991, p. 239-240.
110
FONTE: Adaptado pelo autor

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164 Ricardo Lebedenco

A igreja primitiva conseguiu perceber no exemplo de Jesus e de seus


principais líderes o valor do servir uns aos outros, e construiu uma comunidade
viva e acolhedora, onde o “uns aos outros” tinha uma importância fundamental.
O grande desafio para a igreja atual é observar esses bons exemplos para
entender o princípio e aplicar em seus relacionamentos e prática de vida.
A próxima seção tem por objetivo mostrar como isso pode ser possível nos
tempos atuais.

3. A PRÁTICA DO SERVIR NA IGREJA CONTEMPORÂNEA


O serviço no meio da igreja atual tem sido um grande desafio para qualquer
igreja. A experiência do autor como pastor por mais de 20 anos em diferentes
igrejas mostra que trazer uma experiência viva do princípio de servir para
cada voluntário é um enorme desafio. Mais à frente o trabalho especificará
esses desafios.
Martins111 afirma que o servir é uma das principais características de
qualquer discípulo de Jesus, já que o modelo – Cristo – veio para servir, e não
para ser servido. Segundo o autor, muitos confundem o exercício do serviço
cristão com o cargo de diácono, o que é um equívoco. Mello112 indica que a
comunidade cristã atual deve se valer desse exemplo dado por Jesus e pautar
sua vida cristã pelo amor e serviço uns aos outros. Esse cuidado de uns para
com os outros é uma vocação do povo de Deus, portanto o serviço cristão deve
ser parte da vida de cada cristão.
Segundo Martins113, o serviço cristão...
[...] é uma prática de espiritualidade gerada no homem a
partir da graça de Deus, como vocação para preservar a
vida em todo o cuidado que ela requer. Destacando que
essa atitude de cuidado tem um brilho que ilumina ao
redor, o qual é emanado da Luz de Cristo e que impulsiona
o homem para servir e cuidar da vida. [...] O homem é
capacitado para o serviço cristão pelo Espírito Santo com
dons e talentos (1 Coríntios 12.5; 1 Pedro 4.10), que devem
ser usados visando o serviço do Reino.
Vaters114 fala da importância de as pessoas buscarem uma igreja não pelo

111
MARTINS, 2016, p. 28.
112
MELLO, 2017, p. 419.
113
MARTINS, 2016, p. 28-29.
114
VATERS, 2017, não paginado.

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O princípio do servir na perspectiva bíblica e histórica 165

que essas podem oferecer à pessoa, mas pensando no que essa pessoa pode
oferecer como serviço. Não buscando uma igreja que atenda bem a alguém,
mas que leve seus membros a servirem uns aos outros. Segundo Vaters,
muitas igrejas se esforçam para oferecer excelência técnica, quando deveriam
se preocupar em oferecer vida, através do serviço cristão legítimo.
Mas qual é a grande motivação que deve impulsionar esse serviço? Mello115
afirma que a compaixão e o servir ao próximo é o motor da ação diaconal.
Usando a parábola do bom samaritano, contada por Jesus e registrada no
texto bíblico do evangelho de Lucas, capítulo 10, Mello afirma:
[...] o evangelho de Lucas retrata Jesus como aquele que
veio em favor dos pobres e excluídos: crianças, mulheres,
viúvas, gentios e doentes ganham atenção especial.
[...] A perícope inicia quando um certo intérprete da
Lei questiona Jesus sobre o que deve ser feito para
herdar a vida eterna. Por seu interlocutor tratar-se de
alguém versado nas Escrituras, Jesus lhe devolve a
pergunta, que é prontamente respondida com base na
citação de Deuteronômio 6.5 e Levítico 19.18. Jesus
dá anuência à resposta. Contudo, o intérprete da Lei
insiste, questionando: ‘Quem é meu próximo?’ Jesus
então responde contando a parábola, cujo tema central
aponta a importância dos atos de misericórdia. [...] Em
todo o evangelho de Lucas, percebe-se na compaixão um
distintivo fulcral.116
Muzio117, falando de igrejas que transformam a nação, fala da importância
de trabalhar para implantar os valores do Reino na sociedade, e isso se faz
por meio da vocação da igreja para servir, entre outras coisas. Ele afirma que,
quando a igreja cumpre de maneira completa a sua missão, a consequência
natural é que o serviço e a dedicação à sociedade apareçam e sejam marcas
importantes. No decorrer da história, segundo Muzio, a igreja foi deixando
marcas na sociedade por sua vocação em servir, e isso precisa continuar a ser
uma característica do Povo de Deus. O serviço, segundo Muzio118 é uma das
marcas e funções da igreja. Ele lembra que essa era uma das marcas da igreja
primitiva. A igreja de hoje perdeu o equilíbrio entre o serviço a Deus (adoração)

115
MELLO, 2017, p. 420.
116
MELLO, 2017, p. 420.
117
MUZIO, 2010, p. 57.
118
MUZIO, 2010, p. 118.

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166 Ricardo Lebedenco

e o serviço aos seus semelhantes (diaconia/amor), e isso precisa ser repensado


para que não se perca as duas dimensões do amor que Jesus ensina nos dois
mandamentos: “Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a
sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento’ e ‘Ame o seu
próximo como a si mesmo’”, citando o texto bíblico do livro de Lucas 10.27.
Schwarz119, quando fala das oito marcas de uma igreja saudável, fala ao
menos de duas marcas que remetem ao serviço. A segunda marca que ele cita
é o “Ministério Orientado pelos dons”, no qual ele explica que quando uma
pessoa se orienta pelo seu dom onde vai servir, é capaz de fazer coisas muito
especiais, mesmo que seja bem normal. Infelizmente, segundo Schwarz,
muitas igrejas atuais inventam ministérios e depois saem à procura de
voluntários que se adaptem às tarefas, usando de pressão para ter sucesso
nessa empreitada. A oitava marca citada por Schwarz120 é “Relacionamentos
marcados pelo amor fraternal”. É uma marca voltada mais para a atividade
relacional, contudo uma igreja que vive esse amor tem mais facilidade para
servir uns aos outros. Pequenos atos de serviço acontecem de maneira natural
onde o ambiente é favorável a isso.
Mello121 cita a compreensão de que o serviço cristão seja um princípio
eclesiológico fundamental, isto é, um elemento da própria natureza da igreja,
que revela o seu caráter e finalidade, enquanto agente do reino de Deus.
Segundo Mello, “o serviço é uma prática orientada pelo amor a Deus e que
visa à glória de Deus”.
Ao longo das Escrituras, as pessoas são chamadas para servir àqueles que
as cercam. É o que afirma Crowe122, citando os textos bíblicos dos livros de 1
Pedro 4.10 e Gálatas 5.13. Quando pessoas comuns que amam a Jesus e sua
Igreja decidem servir, esse serviço faz todo sentido, pois vem naturalmente do
amor que fundamenta a fé. Entretanto, Crowe faz uma ponderação: serviço
aceitável não é só o que você pode fazer, mas também porque você faz e como
você faz. As razões que o levaram a servir e a excelência que você investe,
fazem toda a diferença.
Aqui cabe uma reflexão: não há dúvidas de que o valor bíblico do serviço

119
SCHWARZ, 1996, p. 24.
120
SCHWARZ, 1996, p. 36.
121
MELLO, 2017, p. 424.
122
CROWE, 2018, não paginado.

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O princípio do servir na perspectiva bíblica e histórica 167

precisa estar na vida de cada discípulo e na vida da igreja, permeando tudo o


que é feito. Servir faz parte da essência do cristão. Mas é necessário refletir
quais são as razões que devem motivar alguém a servir e como esse serviço
será feito. Uma tarefa qualquer sendo executada na igreja pode ser um simples
trabalho. Contudo, quando é feita com a motivação e o jeito correto, se torna
o serviço cristão que agrada o coração de Deus, como descreve o texto bíblico
do livro de Colossenses 3.23: “Tudo o que fizerem, façam de todo o coração,
como para o Senhor e não para as pessoas”.

4. O PRINCÍPIO DO SERVIÇO NA EXPERIÊNCIA DO VOLUNTARIADO


A primeira reflexão que pode ser feita sobre o princípio bíblico sendo
aplicado na experiência do voluntariado, é a respeito da motivação.
Infelizmente, um voluntário pode se apresentar na igreja para trabalhar com
motivações erradas. O serviço enquanto princípio bíblico é impossível de ser
feito sem a motivação correta: e essa precisa ser o amor, primeiramente a
Deus e em seguida, ao próximo. O texto bíblico do evangelho de João 13 traz
a narrativa da lavagem dos pés dos discípulos por Jesus, e começa dizendo
que Jesus amou os seus discípulos. Para servir de verdade, é necessário amar
ao Senhor e amar as pessoas, como o mandamento de Jesus ensina. A partir
desse amor, o discípulo de Jesus naturalmente investe tempo e recursos para
realizar ações que beneficiam o próximo e não exatamente a ele próprio.
Contudo, a igreja pode ter voluntários trabalhando em suas atividades com
motivações egoístas, como sugerido por Batson.123 As motivações egoístas,
segundo esse autor, promovem bem-estar ao próprio indivíduo, e na igreja isso
pode estar ligado a busca de status, poder ou influência dentro da comunidade.
Para Fischer e Schaffer124, isso ocorre quando o indivíduo busca aumentar seu
círculo de contatos através do trabalho voluntário para conseguir incremento
em sua condição sócio financeira. Infelizmente na igreja isso pode acontecer,
por isso é necessário um acompanhamento dos voluntários a fim de pastoreá-
los e fazê-los entender o que deve estar por trás do trabalho.
Piragine125 menciona os valores que precisam ser ensinados ou aprendidos
pela igreja para que se possa servir da maneira correta: crescer na intimidade

123
BATSON, 1991, não paginado.
124
FISCHER; SCHAFFER, 1993.
125
PIRAGINE, 2015, p. 66-73.

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168 Ricardo Lebedenco

com Deus, através da leitura da Palavra, de uma vida de oração e submissão


ao Espírito Santo, mas também crescer nas relações com as pessoas, sejam
de fora da igreja ou daquelas que fazem parte da igreja, aprendendo a amá-
las e servi-las com os dons recebidos pelo Espírito. Esse ensino vai levar o
voluntário a entender a quem Ele serve em primeiro lugar: a Deus. Mas ao
mesmo tempo que seus olhos estão voltados para o Senhor, suas mãos e pés
estão aqui na terra, voltados para as pessoas, na atividade de servir. Wright126
afirma que não é possível um indivíduo conhecer sua missão, sem conhecer
o seu Deus em profundidade, na experiência da revelação bíblica e de sua
própria salvação. Portanto, para que um voluntário se desenvolva e se torne
um servo, é necessário que ele aprenda esses valores e princípios em sua
jornada de crescimento.
A partir dessa experiência de aprendizado e crescimento, a igreja tende a se
motivar a servir pelos caminhos corretos. Warren escreve sobre as motivações
comuns que impulsionam a igreja atual:
a. Tradição: igrejas que são motivadas pela perpetuação daquilo que
já foi proposto no passado. Indivíduos servem, mas muitos não
entendem porque estão servindo;
b. Personalidades: igrejas que são motivadas pela vontade do líder. Se o
pastor pediu, o indivíduo faz. Se não pediu, não faz;
c. Programas: igrejas que são motivadas pela agenda. Aquilo que foi
planejado, precisa acontecer e por isso precisa de pessoas para
trabalhar.127
Nenhuma dessas motivações pode guiar a vida de um verdadeiro servo
de Deus. Warren explica que a igreja precisa ser motivada por propósitos,
descritos na Palavra de Deus. Um deles, segundo Warren, é o serviço, no qual
as pessoas demonstram amor a Deus e aos outros.
A segunda reflexão que se pode fazer é a maneira como são feitas as
ações. Um dos grandes problemas em qualquer organização que se utiliza
do voluntariado é a rotatividade. O voluntário frustra-se com o trabalho, e
isso o leva a abandonar o seu posto, causando prejuízos à sua organização.
Os motivos mais comuns desse abandono, segundo Lopes128 são: ausência de

126
WRIGHT, 2012, p. 39.
127
WARREN, 1998, p. 96-100.
128
LOPES, 1978, p.239.

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O princípio do servir na perspectiva bíblica e histórica 169

oportunidades de progresso, chefia autoritária, deficiência da seleção inicial,


ausência de treinamento, favoritismo, perigo e desconforto no trabalho e um
sistema de dois pesos e duas medidas.
A igreja atual precisa prestar atenção nesses motivos e criar mecanismos
que eliminem ou diminuam essas causas, ajudando o voluntário em seu
processo de estabilização e fidelização em sua atividade. O autor da pesquisa,
em palestra ministrada na cidade de Brasília, na Igreja Batista Memorial de
Brasília, em 16 de maio de 2010, menciona que o voluntário na igreja pode
passar por cinco sentimentos que desanimam o seu entusiasmo inicial, a
saber: sente-se usado, isolado, desvalorizado, desconectado e entediado.
Isso acontece, em parte, porque o voluntário não entendeu sua posição
de servo diante de Deus e das pessoas, e precisa ser ensinado a partir desses
princípios. Na mesma palestra, o autor sugere que a igreja local precisa
organizar-se para combater essas percepções e trabalhar para que elas não
se tornem crônicas em seus voluntários. Isso pode ser feito levando em
consideração questões necessárias para contrapor cada um dos sentimentos/
percepções, tais como:
a. O voluntário se sente usado: precisa ser apreciado;
b. O voluntário se sente isolado: precisa entender que pertence;
c. O voluntário se sente desvalorizado: precisa ser celebrado;
d. O voluntário se sente desconectado: precisa ser conectado;
e. O voluntário se sente entediado: precisa ser desafiado.

QUADRO 2: Os sentimentos do voluntário e as estratégias da organização129


Voluntário
Usado Isolado Desvalorizado Desconectado Entediado
se sente

Estratégia Apreciar Pertencer Celebrar Conectar Desafiar

Seguindo o raciocínio, o autor propõe estratégias para que o voluntário se


desenvolva dentro do conceito de servir, percebendo-se bem com sua condição
de servo:
a. O voluntário se sente usado: para auxiliar nessa dificuldade, o

129
FONTE: O autor.

Revista Batista Pioneira vol. 9 n. 1 Junho/2020


170 Ricardo Lebedenco

voluntário precisa se sentir afirmado. Isso significa que na prática ele


precisa entender que Deus observa o seu trabalho e aprecia o mesmo.
b. O voluntário se sente isolado: para auxiliar nessa questão, o voluntário
necessita perceber o amor de Deus e das pessoas por ele. A percepção
de pertencimento é algo importante. Reinke130 escreve sobre isso,
dizendo que o ser humano tem a necessidade básica de fazer parte de
um grupo. Afirma que cada um precisa sentir que pertence a um grupo
e que o grupo lhe pertence. O autor chama isso de “pertencimento”;
c. O voluntário se sente desvalorizado: para auxiliar nessa questão, o
voluntário precisa se sentir valorizado, percebendo o quanto Deus
valoriza aqueles que O servem, enquanto servem aos outros;
d. O voluntário se sente desconectado: para auxiliar nessa questão, o
voluntário precisa se sentir incluído, entendendo a grande visão: uma
igreja que se dedica a cumprir a missão de Deus;
e. O voluntário se sente entediado: finalmente, para auxiliar nessa
questão, o voluntário precisa se sentir desafiado a crescer nas
seguintes questões: intimidade com Deus, no relacionamento com as
pessoas e também nas ferramentas para desempenhar melhor o seu
serviço.
QUADRO 3: Os objetivos da organização em relação aos voluntários131
Voluntário
se sente Usado Isolado Desvalorizado Desconectado Entediado

Estratégia Apreciar Pertencer Celebrar Conectar Desafiar


Voluntário Amado Desafiado a crescer
precisa Valorizado Incluído
perceber-se Afirmado Necessário Motivado
Importante Parte do time
a aprender
Útil
Na prática, o autor ainda sugere ações que podem ser trabalhadas pelos
líderes a fim de alcançar os objetivos, para que o voluntário tenha a percepção
correta de sua função:
a. Se perceber afirmado:
- Agradeça;
- Faça afirmações positivas (bilhetes, palavras);

130
REINKE, In CONVENÇÃO BATISTA PIONEIRA DO SUL DO BRASIL, 2010, p. 10.
131
FONTE: O autor.

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O princípio do servir na perspectiva bíblica e histórica 171

- Lembre-os que Deus percebe o seu trabalho;


- Dê abraços, apertos de mão, cumprimentos;
- Mostre que você os notou: feedbacks;
- Crie uma cultura de afirmação - elogios;
- Pontue a contribuição individual para o time.

b. Se perceber amado:
- Mostre o quanto Deus o ama;
- Mostre que o grupo o ama;
- Crie um senso de time - no qual cada um faz sua parte, mas cada parte é
importante;
- Evite criar grupos (por horário ou escala) - Use “nós”;
- Lembre-os que seus dons são necessários para completar o time;
- Crie uma atmosfera de diversão e família.

c. Se perceba valorizado:
- Ensine o valor do serviço na Bíblia e o quanto Deus valoriza o servir;
- Mencione o valor que eles agregam para o Reino de Deus e a organização;
- Celebre vitórias individuais ou do time;
- Faça ligações entre o que eles estão fazendo e a visão geral do Reino de
Deus e o ministério;
- Sempre valorize a opinião pessoal;
- Faça festas de fim de ano.

d. Se perceba incluído:
- Ensine sobre a missão de Deus, e como a igreja, o ministério e o trabalho
dele se encaixam dentro dessa missão;
- Construa conexões pessoais entre o voluntário e a equipe desde o primeiro
dia;
- Mantenha-o informado com mensagens ou telefonemas;
- Ore por seus pedidos pessoais nas reuniões da organização;
- Mantenha contato regular;
- Crie um boletim impresso ou online que fale de tudo o que acontece na
organização e faça com que todos tenham acesso.

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172 Ricardo Lebedenco

e. Seja desafiado a crescer:


- Ensine sobre a importância imprescindível de buscar intimidade com
Deus para realizar com excelência qualquer tarefa no Reino de Deus;
- Ensine a importância de crescer no relacionamento com as pessoas e no
servir uns aos outros;
- Compartilhe necessidades e sonhos que Deus tem para a organização no
futuro;
- Inclua os voluntários nas decisões sobre o futuro;
- Desafie os voluntários a subir um degrau e aceitar desafios maiores,
espirituais e de serviço;
- Fale aos voluntários no que você os vê crescendo (especificamente);
- Coloque metas (espirituais e de serviço) para serem alcançadas.

QUADRO 4: Atividades práticas para cuidado do voluntário132


Voluntário
Usado Isolado Desvalorizado Desconectado Entediado
se sente
Estratégia Apreciar Pertencer Celebrar Conectar Desafiar
Amado Desafiado a
Voluntário
Valorizado Incluído crescer
precisa
Afirmado Necessário
perceber Importante Parte do time Motivado a
que é Útil aprender

- Ensinar que - Incentivar


Deus o ama a busca da
- Ensinar que Deus
intimidade
valoriza o servir - Fazer conexões
- Desenvolver com Deus
pessoais
- Abraçar senso de time
- Celebrar obje-
- Compartlhar
tivos - Orar pelos pedidos
- Cumprimen- - organizar tem- necessidades e
tar po de oração sonhos
- Evidenciar o - Compartilhar
Ações valor do serviço no comunidades
- Sorrir - Evitar grupos - Incluir os
Reino de Deus
voluntários nas
- Fazer a conexão
- Ensinar que - Identificar decisões
- Organizar festas do trabalho indi-
Deus percebe dons pessoais
de aniversariantes vidual com a visão
- Desafiar
- Agradecer do todo
- Criar atmosfe-
ra de diversão e - Colocar
- Elogiar família metas

O princípio bíblico do serviço deve ser aplicado a cada etapa desse processo,

132
FONTE: O autor.

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O princípio do servir na perspectiva bíblica e histórica 173

fazendo com que o voluntário entenda que está ali pela motivação correta:
servir a Deus e ao próximo. Muzio133 afirma que o serviço é parte fundamental
da natureza da igreja. Da mesma maneira que a igreja lê o texto bíblico do
livro de Mateus 28 e entende sua missão de evangelizar e discipular - a Grande
Comissão -, precisa ler o texto bíblico do livro de Mateus 25 e entender sua
missão de servir - A Grande Compaixão.
A cada etapa do processo de ensino do voluntário (Apreciar, Pertencer,
Celebrar, Conectar e Desafiar), é necessário aplicar o valor bíblico do servir.
Ao apreciar, o voluntário entende o seu valor para Deus e o privilégio de
servir. No processo de perceber que pertence a um grupo, o voluntário precisa
entender que recebeu seu dom do Espírito Santo e agora precisa usá-lo para
abençoar outros, servindo. Ao celebrar sua vida e presença, o voluntário
precisa entender o valor do serviço e das pessoas que o cercam. No processo
de conexão, o voluntário precisa entender o conceito de igreja e a missão que
Deus tem para esta. Finalmente, no desafio, a igreja tem o maior objetivo em
relação aos voluntários: fazê-los entender que necessitam buscar intimidade
profunda com o Senhor, de maneira que isso os leve a amar também as
pessoas, como Deus ama. Piragine134 afirma que esse amor verdadeiro pelas
pessoas se inicia a partir da proximidade e entendimento do amor de Deus
para com as pessoas. O indivíduo que se aproxima de Deus vive um novo estilo
de vida, e o amor deixa de ser uma figura retórica, mas algo real, capaz de
produzir mudança e transformação social.
Como pode ser observado, o sentido do princípio do serviço foi se
desenvolvendo ao longo da revelação bíblica. Iniciou-se com a ideia de algo
obrigatório, feito como um ritual ou serviço de guerra diretamente a Deus,
mas aos poucos foi se expandindo até chegar no binômio Deus/pessoas. O
ápice desse entendimento foi atingido por Jesus, que servia ao Pai, enquanto
servia amorosamente às pessoas. É exatamente esse tipo de serviço que deve
ser vivenciado por cada discípulo de Jesus nas igrejas espalhadas pelo país.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A grande motivação para a elaboração desse artigo era responder a
questionamentos feitos pelo autor durante seus anos de trabalho com

133
MUZIO, 2010, p. 119.
134
PIRAGINE, 2015, p. 90.

Revista Batista Pioneira vol. 9 n. 1 Junho/2020


174 Ricardo Lebedenco

voluntários em comunidades eclesiásticas. Ao longo da escrita, naturalmente


se levantaram outros questionamentos e o processo de levantamento
bibliográfico trouxe respostas claras e animadoras para o panorama atual do
voluntariado nas igrejas brasileiras.
As igrejas recebem voluntários para todos os fins. São pessoas que limpam
os prédios, servem as pessoas, cuidam de crianças, tocam instrumentos,
cantam músicas, ajudam a estacionar, preparam almoços, organizam
acampamentos, fazendo que o alcance dessas instituições seja multiplicado e
seu propósito atingido.
O desafio é receber os voluntários que chegam com alta motivação e orientá-
los, a partir dos conceitos bíblicos, para que possam se desenvolver e se tornar
verdadeiros servos. Entretanto, como um voluntário pode ser desenvolvido
para efetivamente servir?
O artigo verificou os contextos e significados da palavra “serviço” e seus
derivados (servir, servo) no texto bíblico. O que se percebeu, durante a pesquisa
bibliográfica, foi o desenvolvimento do sentido da palavra “serviço” no texto
bíblico, desde o Antigo Testamento até o Novo Testamento. São diversas
palavras nos originais hebraico e grego que são traduzidas para “serviço” no
português, e cada uma delas tem uma conotação ou origem diferentes. Há
uma nítida impressão de que o ensino do princípio bíblico precisava começar
com elementos simples, concretos, até chegar a elementos mais complexos e
abstratos. Esse desenvolvimento do sentido da palavra dá uma direção para o
indivíduo entender como pode crescer, como voluntário, através da vivência
do princípio bíblico nos dias de hoje. A pessoa pode até começar a trabalhar
como um simples voluntário, mas precisa se tornar um servo.
Paralelamente ao estudo da palavra “serviço”, foram pesquisados, também
no texto bíblico, exemplos de práticas da ação de servir, por parte de pessoas
ou grupos de pessoas que viveram em contextos diferentes e também foram
desenvolvendo o entendimento do princípio. Não era apenas o sentido da
palavra que se aprofundava e ampliava, mas o entendimento prático da ação,
conforme a revelação bíblica acontecia. Esse desenvolvimento acompanhou
a ampliação e aprofundamento de vários outros conceitos e valores que Deus
ensinava ao povo, como fidelidade, amor ou cuidado.
No contexto do Antigo Testamento, quando o processo de ensino foi
iniciado, o serviço era algo obrigatório, com uma conotação semelhante ao

Revista Batista Pioneira vol. 9 n. 1 Junho/2020


O princípio do servir na perspectiva bíblica e histórica 175

serviço militar. As pessoas eram escolhidas e obrigadas a fazer as tarefas. Isso


aconteceu com os sacerdotes e levitas. O indivíduo era como um escravo, sem
qualquer vontade ou escolha pessoal. Não havia um entendimento profundo
de que aquele trabalho estava agradando a Deus ou abençoando pessoas. O
indivíduo não precisava entender e assimilar todas essas nuances do princípio,
mas bastava que ele apenas executasse as tarefas. Ainda no Antigo Testamento,
esse sentido começou a se desenvolver, trazendo elementos de cooperação
entre pessoas (servos de Neemias) e da não obrigatoriedade militar (profetas).
Mas foi no contexto do Novo Testamento que o sentido chegou ao seu
ápice. Jesus Cristo trouxe uma nova maneira de pensar e viver a questão do
servir. Ele próprio, sendo Deus, decidiu vir ao mundo para servir, e não para
ser servido. Ele, por escolha própria, decidiu servir ao seu Senhor, o Pai. A
atmosfera é completamente diferente nessa situação. O servo continua a ser
servo, sem escolhas e sem vontade. Um escravo, de fato. Mas o indivíduo
escolhe ser servo, e esse elemento faz toda a diferença. Não é mais como um
serviço militar obrigatório, mas uma decisão pessoal de se submeter e servir,
para agradar ao seu Senhor e abençoar o próximo. Esse conceito foi percebido
no decorrer da pesquisa de duas formas: a ideia central já estava presente no
texto bíblico, no livro de Êxodo 21.1-6, quando explica a possibilidade de um
escravo escolher continuar a ser escravo de seu senhor, entretanto, o conceito
de servir foi se desenvolvendo lentamente até se encontrar com essa ideia, e
como Jesus, dar a possibilidade do indivíduo escolher continuar a servir por
livre e espontânea vontade.
Jesus Cristo, por escolha pessoal, feita não sem luta, decidiu viver entre os
homens, e servi-los. Por isso lavou os pés dos discípulos; por isso andou com
pessoas desprezadas pela sociedade da época; por isso foi o servo sofredor e
por isso vai servir ao seu povo até na eternidade. Jesus mudou completamente
o paradigma de liderança, ensinando que aquele que quiser ser o maior,
primeiro precisa ser o menor, aquele que serve.
A partir do exemplo de Jesus, o apóstolo Paulo também desenvolveu em
sua vida o princípio de servir: a Deus e ao próximo. Em várias situações ele
usou o termo “escravo” para se apresentar, deixando claro que estava ali para
servir. De fato, ele assim o fez, diante do povo de Deus, a quem considerava
filhos e os tratava como uma mãe serve aos seus filhos. Nunca quis aparecer
mais que ninguém, nunca buscou ser alguém além de um servo. Na verdade,

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nesse propósito de viver como um servo, chegou ao ponto de se alegrar no


sofrimento, pois acreditava que, fazendo isso, poderia fazer com que seus
companheiros pudessem ser aliviados.
A igreja primitiva também assimilou o ensino de Jesus e, de modo geral, foi
uma igreja diaconal, ou seja, preocupada em servir uns aos outros. Isso pode
ser visto no cuidado que tinham com as viúvas da época, e no “uns aos outros”,
termo tão presente em todo o Novo Testamento. A igreja primitiva entendeu
que os dons do Espírito Santo, recebidos por cada pessoa, além de glorificar
a Deus, tinham também por propósito o serviço e então viviam esse princípio
de maneira natural.
Todos esses exemplos mostraram que o princípio bíblico do serviço
foi se desenvolvendo e sendo assimilado pelo povo de Deus ao longo da
história. Como um pai ensina seus filhos primeiramente de maneira simples
e concreta, e conforme eles vão crescendo, vai aumentando a complexidade
e profundidade, Deus assim o fez. E seu povo foi respondendo ao ensino,
crescendo também na prática do serviço, até chegar aos tempos atuais.
A igreja contemporânea perdeu boa parte desse princípio ao longo dos
anos, e precisa imediatamente retornar a viver o ensino de Jesus nessa
questão. Isso se verifica quando a ênfase pende para a tarefa em si, e não a
maneira como ela é realizada. Vários estudiosos citados ao longo do trabalho
afirmaram que o serviço uns aos outros é uma das marcas que caracterizam
uma igreja saudável. O serviço faz parte da natureza do povo de Deus e por
isso precisa ser resgatado e valorizado enquanto princípio, independente
da tarefa, mais simples ou mais complexa. As pessoas podem se voluntariar
na limpeza e fazer essa tarefa como verdadeiros servos, e assim agradar ao
seu Senhor, tanto quanto a pessoa que se voluntaria para cantar nos cultos,
permeada com o mesmo princípio.
O que importa não é tanto o que alguém faz, mas como faz. A pessoa pode
desempenhar uma série de tarefas voluntárias na igreja e até ser excelente na
execução delas, mas ainda assim não ser um servo. A motivação precisa ser o
amor a Deus e às pessoas. Para desenvolver esse amor, cada indivíduo precisa
buscar intimidade com Deus, através de uma vida de oração, leitura da Palavra
de Deus e submissão ao Espírito Santo. Também precisa buscar crescer nas
relações interpessoais, pois, ao mesmo tempo que os olhos estão voltados para
o Senhor, as mãos e os pés estão na terra, voltados para as pessoas.

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O princípio do servir na perspectiva bíblica e histórica 177

Quando o amor a Deus e às pessoas está permeando o trabalho voluntário,


o indivíduo se aproxima do propósito de Deus para seu povo. O voluntário se
torna um servo. Esse indivíduo pode ser assalariado ou voluntário, e ele vai
servir onde estiver, pois entendeu o seu propósito. Entretanto, isso não quer
dizer que a instituição pode tratá-lo de qualquer jeito, pois ele continua sendo
uma pessoa, passível de sentimentos e percepções que podem desfigurar
sua atitude e propósito. Por isso o artigo sugeriu um modelo de gestão dos
voluntários que presta atenção no indivíduo e suas percepções.
O voluntário precisa fazer a parte dele, buscando os propósitos mais nobres
e excelentes, mas a instituição precisa tomar cuidado para que o voluntário
não se sinta usado, isolado, desvalorizado, desconectado ou entediado. Essas
percepções que o voluntário pode desenvolver, com frequência tem tirado o
foco do princípio, levando o voluntário a perder-se em seus objetivos iniciais.
Uma série de estratégias e ações precisam ser organizadas para manter o
voluntário no foco correto, entendendo que é importante para a organização.
Essa gestão pode resultar na retenção desse indivíduo, diminuindo assim a
rotatividade, problema tão recorrente entre o trabalho voluntário. Isso não é
privilégio apenas de grandes igrejas ou organizações, mas algo que pode ser
pensado, organizado e implantado em qualquer lugar.

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