Revista Transporte y Territorio 1852-7175: E-Issn: Rtt@filo - Uba.ar
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E-ISSN: 1852-7175
rtt@filo.uba.ar
Universidad de Buenos Aires
Argentina
Transporte rodoviário de
passageiros no Brasil
Resumo
A circulação entre os lugares é uma ação que marca a história da humanidade. Com Palavras-chaves
o advento dos meios técnicos e as revoluções e evoluções dos transportes é possível Transporte
percorrer centenas de quilômetros em uma fração do dia ou da semana. Porém todo Estado
esse conjunto de técnicas que permitem essa proeza do deslocamento humano pos- Território
Organização
sui uma organização espacial complexa. Nesse contexto, este artigo busca apontar a Brasil
organização espacial do serviço de transporte rodoviário de passageiros no Brasil,
destacando a estrutura empresarial e o papel do Estado diante da organização desse
importante segmento de transporte.
Abstract
Passenger road transport in Brazil. Circulation between places is an action that Keywords
marks the history of mankind. With the development of the technical means and Transportation
the revolutions and evolutions on transportation it is possible to travel hundreds of State
kilometers in a fraction of the week or daytime. Nevertheless, all this group of tech- Territory
Organization
niques that allow such accomplishments on human movement have a complex spatial Brazil
organization. In this context, this paper aims to point out the spatial organization
of the passengers road transportation service in Brazil, highlighting the companies Palabras clave
structures and the role played by the state on the organization of this important Transporte
transportation field. Estado
Territorio
Organización
Brasil
Oliveira Neto, Batista Nogueira Revista Transporte y Territorio /17 (2017) ISSN 1852-7175 230
Transporte rodoviário de passageiros no Brasil [229-250]
Introdução
Após esta breve introdução, pontuaremos nesta seção uma discussão que tange ao
próprio subtítulo, apontando, obviamente, alguns aportes teóricos utilizados como
guia para construir algumas reflexões e compreender a própria organização espacial
dos transportes no Brasil, em destaque, aquele realizado pelo modal rodoviário com
o uso de ônibus.
Para iniciar esta abordagem, é preciso ter claro o papel do Estado em relação aos trans-
portes, sendo que este é responsável pela regulamentação de inúmeras atividades reali-
zadas no território, dentre as quais está à pratica efetuada pelas empresas de transporte
de passageiro, através do uso de veículos automotores. Queremos deixar claro, de início,
que existem várias modalidades de transporte de passageiro pelo modal rodoviário.
um lugar para outro em menor tempo possível. É nos transportes de mercadorias que
a indústria de transportes ganha seu destaque, pois implica diretamente na rotação do
capital industrial e no movimento de circulação do capital, enquanto que o transporte
de passageiro visa à realização da atividade de forma que propicie a mobilidade dos
indivíduos, ou seja, é outra lógica.
A construção desses fixos, rodovias e as estações rodoviárias, feitas pelo Estado asse-
guram a reprodução do empreendimento de capital privado das empresas que vão
atuar. Estas vão investir em outros objetos e no próprio material rodante que se des-
gasta rapidamente.2 2. Boa parte das infraestruturas
que atendem as demandas de
transportes, são quase sempre
Charles Wright (1982) aponta que a regulamentação de interesse público abrange leis uma infraestrutura de realização
de transito, credenciamento de veículos e proteção de infraestrutura, enquanto que do Estado tendo o uso pelas
empresas privadas (Juillet, 1971).
na regulamentação econômica o Estado determina, a partir de processos jurídicos, Isso ocorre substancialmente
quais empresários vão participar de determinado mercado e quanto será cobrado pelo com o transporte rodoviário, onde
as rodoviárias que centralizam
serviço, ainda aponta que existem duas possíveis hipóteses sobre a regulamentação: as plataformas de embarque
e desembarque, assim como
outros serviços, o uso é de capital
A “hipótese filantrópica” é apresentada pelos defensores da regulamentação, privado, apesar de ser inteiramente
notadamente pelas firmas que a pleiteiam e por seus aliados nos órgãos regulado pelo próprio Estado.
regulamentadores. Segundo eles, a regulamentação é a única maneira de garantir
que o público tenha um bom nível de serviço e uma indústria “estável”, pois a
regulamentação é necessária para evitar concentração, “discriminação”, “caos” e
“competição excessiva”. As firmas regulamentadas destinam elevadas somas de
recursos humanos e financeiros a “relações públicas”, na tentativa de convencer o
público de que a regulamentação só lhe traz benefícios, e sustentam um formidável
lobby no Poder Legislativo e nas repartições-chave do Executivo. Essa hipótese vem
sofrendo grande desgaste nos últimos 30 anos, pois as modalidades de transporte
sem regulamentação econômica têm apresentado menores custos e melhores
padrões de serviço que as modalidades regulamentadas. Desde meados da década
de 1960, essa evidência tem sido reforçada por numerosos estudos econômicos
que demonstram ser a “hipótese filantrópica” apenas uma “cortina de fumaça”
cuja finalidade é esconder os verdadeiros interesses econômicos das empresas
(incluindo-se as estatais). Desses estudos infere-se a hipótese alternativa de que
as empresas procuram a regulamentação do Estado em benefício próprio (Wright,
1982:130-131).
de tratamento aos usuários. Destacando ainda sobre estes apontamentos os critérios que
norteiam características gerais: geração de desordem social quando ocorre a suspensão do
serviço, mesmo que por pouco tempo e incapacidade da iniciativa privada de assegurar
o serviço de modo satisfatório e contínuo. Como decorrência disto “haveria uma série
de problemas jurídicos, políticos, econômicos e sociais na determinação de um serviço
público dada a multiplicidade de fatores em jogo” (C.P.E.E, 1936 apud Nogueira, 1994:17).
Para Quinet (1982) o serviço público é uma forma de contrato imposto pelos Poderes
Públicos às empresas fornecedoras de serviços de transporte, destacando também, que
o transporte de bens ou de pessoas se constitui em um vetor primordial da atividade
econômica e social. Em decorrência dessa relevância é normal que os poderes públicos
através das instituições do Estado, atuem na forma de assegurar o funcionamento dos
serviços de transportes evitando os mais variados entraves.
frequências e regularidade das viagens, incentivo fiscal e até subsídios (Godard, 1990).
setor de transporte não pode sobreviver completamente longe das ações do Estado.
Se por um lado, de forma contraditória, seus empreendedores defendem uma postura
liberal, por outro, estes solicitam subvenções, financiamentos e em alguns casos buscam
através do Estado exercer uma pressão para impedir novas permissões/concessões de
linhas e rotas para outras empresas, mantendo desta forma, o monopólio a quem já
detêm o “trecho” da permissão/concessão.
Capot-Rey (1947) aponta que a intervenção do Estado nos transportes ocorre de forma
direta por meio de tributos e tarifas que visam favorecer este ou aquele itinerário,
provocando ou impedindo curto-circuito.
Wright destaca ainda que a própria competição entre as empresas no mesmo segmento
é um aspecto saudável, seja no setor de transportes de passageiros, assim como qualquer
outra atividade econômica de mercado:
O monopólio7 em qualquer esfera do mercado resulta da existência de um produto ou 7. Monopólios públicos – são,
quase sempre, menos eficientes
um serviço inexistindo alternativas para substituí-lo. Esta situação ocorre com fre- do que os regimes competitivos.
quência quando se analisa o transporte de passageiros. Está prática é originária da Isto resulta de uma combinação
própria regulamentação realizada pelas instituições do Estado, quando este, por sua de interferência política, de
gestão pouco motivada, de
vez, permite que apenas uma única empresa atue em um determinado “trecho” ou força da organização sindical e de
linha que corresponde a uma licença especifica de operação, podendo em alguns casos, obrigações sociais etc. entretanto,
os monopólios públicos têm a
haver várias licenças em uma dada ligação (Wright, 1990:12) interestadual. vantagem de possibilitar um con-
trole mais direto sobre os serviços
e as tarifas pelo poder público.
A própria concorrência sem a presença de diretrizes ocasionaria a redução da taxa Também possibilitam estabelecer
de lucro de cada empresa, diminuindo consequentemente a reposição de material de forma mais fácil a integração
rodante que se desgasta ao longo das viagens. A tarifa regulada pelo Estado também dos transportes e sua harmoni-
zação com os interesses sociais e
mantém a constituição de mais-valia e de reprodução de uma estrutura empresarial da comunidade em geral. Mas isso
importantíssima para a manutenção do sistema de transportes. requer uma coerência de propó-
sitos e ações do setor público que
geralmente falta (Silva, 2003:50).
A alegação de que sem regulamentação haverá “competição excessiva” e uma
elevação dos índices de ociosidade não é justificada por evidência teórica ou
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empírica. As empresas não investirão em linhas em que seus ônibus andem vazios, a
não ser que a regulamentação o exija e dê, em troca, a possibilidade de gerar lucros
monopolistas noutras linhas (Wright, 1982: 144).
No final do seu texto, Wright dá uma pista no que tange aos interesses privados refe-
rente a própria regulamentação dos serviços de transportes rodoviário de passageiro.
AM 3 2 0
PA 6 1 0
CE 23 7 0
PE 46 1 1
BA 41 2 0
MG 128 10 0
RJ 69 6 0
SP 125 12 1
PR 75 7 0
RS 41 0 0
MT 7 1 0
GO 38 3 0
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Transporte rodoviário de passageiros no Brasil [229-250]
PB 19 2 0
RN 11 0 0
MA 6 0 0
SC 31 5 0
ES 35 4 0
PI 22 1 0
MS 7 2 0
AL 13 2 0
SE 17 0 0
DF 47 8 0
Total 810 76 2
Quando ocorre a licença de operação de três, quatro ou mais empresas nota-se a com-
posição de grupos empresariais que se formam para manter o monopólio do “trecho”
ao invés de competirem entre si.
transportadas nos bagageiros dos ônibus que desloca além dos passageiros também as
encomendas, sendo estas despachadas e entregues em pontos específicos ou na própria
estação rodoviária.
A metodologia adotada pela ANTT para estimar demanda por transporte rodoviário
de passageiros não considera o preço do próprio serviço em questão, o preço dos
serviços substitutos e complementares e a renda, variáveis essas que influenciam
a demanda por bens e serviços, de acordo com os conceitos solidificados na
microeconomia. Por outro lado, prevê a exploração das linhas mediante a utilização
de ônibus de 46 lugares, com ociosidade de 34% do veículo.
No Brasil foi o ônibus que permitiu a ampliação dos deslocamentos de inúmeras pessoas
do sudeste-sul e nordeste para a Amazônia, quando o próprio Estado almejava povoar
esta região, ou ainda, a própria necessidade de mão de obra em São Paulo que se cons-
tituiu em fluxos migratórios. Mas hoje a própria necessidade do ato de deslocar-se no
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As viagens de ônibus não têm apenas como pressuposto atender as demandas do sis-
tema capitalista de produção. O ato de viajar e de percorrer o país, conhecer regiões
com domínios morfoclimáticos distintos, serras, cidades ou rever parentes e amigos, 13. “Embratur/Fipe (2001) forne-
assim como ir a uma festa, remete a própria necessidade humana em circular entre os ceu, entre outras, as seguintes
lugares, sejam eles a uma dezena de quilômetros ou a centenas para satisfazer a uma constatações: a) o ônibus de
linha é o meio de transporte
dada necessidade subjetiva.13 mais procurado (36,6%) no
segmento das viagens de extensão
superior a 200 km, chamadas
Na organização espacial das cidades as rodoviárias possuem uma atenção especial de domésticas; e b) 76,1% das
pela capacidade de aglomeração de fluxos e com isto a atração também de inúmeros viagens domésticas têm por fim o
lazer, aí incluídos os passeios, as
serviços complementares a ela: alimentação, hospedagem, transporte complementar, visitas a parentes e a amigos, as
etc. alterando completamente a dinâmica do entorno. férias e outros” (Brasil, 2005:6).
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O transporte de ônibus no Brasil existe desde as primeiras décadas do século XX, quan-
do ocorreu à chegada dos primeiros veículos e se expandiu com a produção nacional
de chassis e carrocerias. Para Wright (1990:5) a gênese do Transporte Rodoviário de
Passageiros (TRP) ocorreu de forma espontânea, iniciada por meio de particulares que
adquiriram ônibus importados ou adaptaram caminhões para realizar o transporte
de passageiros. “As atuais “empresas de ônibus” típicas iniciaram-se com apenas um
veículo, dirigido pelo proprietário. Alguns empresários incorporaram logo outros
membros da família ao negócio, atraíram outros sócios, ou expandiram a contratação
de motoristas, mecânicos e outros empregados”.
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públicas responsáveis pelas permissões/concessões de serviços mesmo realizava o 18. Corrêa destaca que “as inte-
rações espaciais devem ser vistas
totalmente oposto (Hori, 1986). No passado notava-se que a instituição responsável como parte integrante da existên-
pela regulamentação era o próprio órgão que realiza e fiscalizava a construção de cia (e reprodução) e do processo de
transformação social e não como
estradas. A mudança para uma agência reguladora ocorre em junho de 2001 com a puros e simples deslocamentos
dissolução do DNER e a criação de uma agência reguladora dos transportes a ANTT, de pessoas, mercadorias, capital e
e a criação do Departamento Nacional de Infraestruturas dos Transportes DNIT, ambos informação no espaço. No que se
refere à existência e reprodução
pela Lei nº 10.233, de 5 de junho de 2001.17 social, as interações espaciais
refletem as diferenças de lugares
face às necessidades historica-
A efetivação dos processos produtivos atrelada à existência de uma infraestrutura e de mente identificadas” (1997: 280).
fluxos, pressupõe na constituição de novas interações espaciais18 em diversas escalas, e 19. Tietê: Inaugurado em 1982
na escala regional os fluxos entre estados e entre as cidades se desenvolve sobre uma base possui 120 bilheterias, 60 empresas
rodoviárias, 89 plataformas (72 de
praticamente rodoviária, nestas ocasiões, “as interações se fazem sobremaneira com base embarque e 17 de desembarque)
na utilização do ônibus” (Corrêa, 1997: 290) e de demais veículos automotores. atendendo 300 linhas com 3 mil
veículos partindo e chegando de
cerca de 1033 cidades, 21 estados,
Um grande exemplo de nó de rede é uma estação rodoviária que está interligada através 5 países Argentina, Chile Paraguai
de fluxos com “um conjunto de localizações geográficas interconectadas entre si por Peru e Uruguai tendo uma média
de circulação de 90 mil pessoas
um certo número de ligações” (Corrêa, 2001: 107) compostas pelas linhas de ônibus, por dia. Disponível em: <http://
que permitem a mobilidade espacial de pessoas, informações e carga fracionada. www.socicam.com.br/terminais/
terminais_rodoviarios/tiete>
Barra Funda: inaugurado 20 de
A organização das linhas de ônibus no caso do Estado de São Paulo é um grande dezembro de 1989, atualmente tem
exemplo de uma regionalização exercida por cada rodoviária. Na capital do Estado uma circulação diária de 40000
pessoas, parte e chegam ônibus
identificam-se três principais terminais de embarque e desembarque do transporte de seis estados das seguintes
rodoviário, o Tietê, Barra Funda e Jabaquara, ambos possuem distintos lugares servi- regiões: sudeste, sul, norte e
dos por linhas que partem desses fixos19. Esta espacialização e distribuição distinta centro oeste em 40 plataformas de
embarque (28 de embarque e 12 de
podem ser claramente observadas no Quadro 2. desembarque), atuam 34 empresas
que operam 139 linhas percorrendo
573 cidades incluindo a cidade de
Quadro 2. Distribuição espacial e regional das linhas de ônibus nos terminais Porto Soares -Bolívia. Disponível
em: <http://www.socicam.com.br/
rodoviários da cidade de São Paulo. Fonte: SOCICAM. Disponível em: <http://www. terminais/terminais_rodoviarios/
socicam.com.br> Acesso em: 02 de agosto de 2016. barra_funda> Jabaquara: inaugura-
do em 02 de maio de 1977 e possui
Rodoviária Plataformas Linhas N° de Empresas Estados Cidades uma circulação média de 15000
pessoas, é um terminal intermuni-
Tietê 89 300 62 23 1100 cipal, partem e chegam ônibus das
cidades do litoral paulista como:
Barra Funda 40 139 30 5 446 Bertioga, Cidade Ocian, Cubatão,
Jabaquara 24 10 05 Litoral de SP 9 Guarujá, Itanhaém, Mongaguá,
Peruíbe, Praia Grande, Santos e
São Vicente, em 24 plataformas (19
Essa distribuição espacial de nós de rede através de três rodoviárias mostra a organiza- plataformas de embarque e 05 de
ção espacial de um serviço na cidade de São Paulo, esta possui diversas centralizações desembarque) possui 5 empresas e
10 linhas. Disponível em: <http://
de serviços, existência de uma densa rede de rodovias conectando-a as demais cidades www.socicam.com.br/terminais/
brasileiras e latino-americanas, parques industriais, abriga um contingente populacional terminais_rodoviarios/jabaquara>
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Transporte rodoviário de passageiros no Brasil [229-250]
As rodovias e demais objetos físicos dão um primeiro suporte aos fluxos materiais se
constituindo em redes técnicas/infraestruturas que possibilitam a realização de uma
atividade em redes de serviços de uma corporação que se organiza conforme espacia-
liza seus fluxos.
A necessidade cada vez maior de realizar viagens em menor tempo, resulta na intensi-
ficação das viagens realizadas com menor tempo parado, etc., provocando um desgaste
do equipamento, cuja vida útil não é a mesma para cada modalidade de transporte de
passageiro. Diante disso, nota-se que as empresas necessitam criar mecanismos que
propiciem a renovação da frota, para o qual o recurso ao financiamento público surge
como uma solução alternativa, dado os valores elevados dos veículos que se apresentam
cada vez mais sofisticados.
A ampliação da frota das empresas ocorre através de financiamento público com recur-
sos de bancos nacionais –BNDE28- ou com a fusão entre empresas aumentando a área 28. Banco Nacional do Desen-
volvimento Econômico e Social.
de atuação sobre o território, reduzindo concorrências e se constituindo na formação
de oligopólios, este último, muitas vezes, se concentram onde existem os melhores
eixos, estes são os que possuem uma alta rentabilidade para a empresa, tendo poucos
concorrentes, um fluxo constante de pessoas utilizando rodovias em bom estado de
conservação.
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Transporte rodoviário de passageiros no Brasil [229-250]
Para além dos aspectos políticos, econômicos, organizacionais e jurídicos, existe uma
dimensão geopolítica, que está calcada na importância estratégica da existência da
rodovia como elemento primordial para existência de diversos fluxos inter e intra ter-
ritorial, possibilitando no passado a indução ao povoamento e colonização. Atualmente
a dimensão é outra, almeja-se a integração dos lugares e a possibilidade do transporte
de carga e de passageiros.
Independente de onde seja, e em qualquer área territorial que uma empresa ou grupo
atue, o Estado vai regular os transportes rodoviário de passageiros, sejam viagens entre
os estados, municípios ou internacionais, pois a própria regulamentação e, à existên-
cia de poucos pontos fixos de embarque e desembarque permite ao Estado realizar
um controle dos fluxos interiores. A existência de uma ou de até três rodoviárias que
centralizam diversos fluxos em uma cidade já denota esse controle. O propósito de
não delegar a construção de estações de embarque e desembarque para as empresas
operantes visa, de certa forma, manter a centralidade do nó da rede de circulação,
pois se cada empresa construísse seus pontos de embarque e desembarque em locais
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Transporte rodoviário de passageiros no Brasil [229-250]
Figura 5. Mosaico:
a) ônibus rodoviário articulado
da empresa Catarinense. Fonte:
<http://www.catarinense.net/web/
pt/empresa/galeriafotos.htm>;
b) Ônibus rodoviário 4X4
off Road da Eucatur. Fonte:
Ribeiro; Lodi, 2004: 85;
c) Primeiro ônibus DD (Double
Decker) modelo Gemini produzido
no Brasil pela extinta Thamco no
ano de 1990. Fonte: <https://onibus-
paraibanos.com/2013/07/page/2/>;
d) Ônibus rodoviário DD (Double
Decker) na rodoviária da cidade
de Porto Alegre (RS). Fonte:
Thiago O. Neto (14/12/14).
distintos tornariam ainda mais pulverizada o nó da rede e talvez uma maior dificuldade
na fiscalização de quem chega e de quem saí de uma dada porção territorial.
Considerações
Vale apontar que dentro deste serviço existem acordos entre empresas e entre outros
de cunho obscuro que visam manter sua atuação dentro do mercado de transportes,
na busca de ampliar sua atuação territorial, criar ou manter um monopólio sobre um/
uns determinado(s) trecho(s) com a finalidade de ampliar o lucro do empreendimento.
No universo das empresas, observa-se todo um arranjo existente para sua atuação no
território, para além da existência das rodoviárias. Existe também diversos pontos de
comercialização das passagens, pontos para realizar a troca ou manutenção dos veículos.
Isto demonstra que esta atividade precisa de inúmeros objetos geográficos para servir
de suporte a esta prática empresarial. Entre as maiores empresas em raio de atuação,
nota-se também a sua própria espacialidade no território nacional e internacional, e
em alguns casos, tendo linhas que atravessam mais 3 mil quilômetros e outras empresas
atuam apenas no raio de 600 km a partir de uma metrópole central, pois para além
dessa distância o passageiro tenderia a buscar outros meios para chegar ao seu destino.
Oliveira Neto, Batista Nogueira Revista Transporte y Territorio /17 (2017) ISSN 1852-7175 248
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## Bibliografía
LEIS/DECRETOS