As Redes Sociais e o Vazio Existencial
As Redes Sociais e o Vazio Existencial
As Redes Sociais e o Vazio Existencial
RESUMO
Atualmente há um crescente avanço no uso das redes sociais e abrange um público de distintas idades, acredita-se
que as redes sociais favorecem o contato entre as pessoas que vivem distantes geograficamente. Além dos
encurtamentos de distância, através das redes sociais as pessoas podem postar fotos, compartilhar textos, ideias e
interagir com outros internautas através das curtidas, comentários e do Messenger. Não obstante, acredita-se que
há uma relação existente entre as redes sociais e o vazio existencial, de que o homem contemporâneo forja a sua
existência através de entretenimentos para não lidar com o seu eu, com os seus conflitos existenciais e se perde no
meio de tantas informações, se funde com o outro e se perde de si, tornando a sua existência inautêntica. Esta
pesquisa foi realizada através de materiais bibliográficos e da aplicação de entrevistas semiestruturadas e para a
análise dos resultados utilizou-se a análise fenomenológica. Os usuários das redes sociais permanecem muito
tempo conectados diariamente e se afastam das suas relações interpessoais, ademais há uma busca de aprovação e
aceitação que são advindas das curtidas e dos comentários dos outros amigos internautas. Ficou evidente que os
cibernautas permanecem mais tempo conectados quando se sentem entediados e que todos já vivenciaram
momentos desagradáveis advindos de comentários em publicações ou de notícias tristes que são divulgadas através
das redes sociais. É notório que os internautas publicam o que acreditam que terá aprovação por parte do seu
círculo de amigos cibernéticos e que deixam de compartilhar o que acreditam que não terá uma boa aceitação por
parte dos outros.
ABSTRACT
Currently there is a growing advancement in using social networks and covers an audience of different ages, it is
believed that social networks favor contact between people living geographically distant. Besides the shortening
distance, through social networks people can post photos, share texts, ideas and can interact with other Internet
users through tastings, comments and Messenger. Nonetheless, it is believed that there is an existing relationship
between social networks and existential emptiness, that contemporary man forges his existence through
entertainments not to deal with his self, with his existential conflicts and is lost in the middle of so much
information, merges with the other and loses itself, making its existence inauthentic. This research was carried out
through bibliographical materials and the application of semi-structured interviews and the analysis of the results
was used the phenomenological analysis. Users of social networks remain long connected daily and distance
themselves from their interpersonal relationships; in addition, there is a search for approval and acceptance that
come from the tastings and comments of other Internet friends. It became clear that netizens stay connected longer
when they feel bored and that everyone has experienced unpleasant moments from comments in publications or
sad news that are disseminated through social networks. It is notorious that netizens publish what they believe will
be approved by their circle of cyber friends and fail to share what they believe will not be well accepted by others.
Graduanda em Psicologia pela faculdade Ciências da Vida. E-mail: vanessarodriguesmacedo@outlook.com
Psicóloga, mestre em Administração Pública com ênfase em Gestão de Políticas Sociais. Docente na
faculdade Ciências da Vida. E-mail: flacaba@gmail.com
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1 INTRODUÇÃO
virtual e se essa nova realidade cibernética contribui para o vazio existencial do indivíduo e
para a inautenticidade do ser que tenta se adequar cada vez mais aos padrões sociais, às normas,
aos modismos e se afasta cada vez mais da sua essência, do seu eu.
Existe uma relação entre o uso intensificado das redes sociais e o vazio existencial?
Cabe um aprofundamento dessas questões através de pesquisas, a fim de corroborar ou refutar
as hipóteses levantadas quanto à relação existente entre o uso intensificado das redes sociais e
o vazio existencial. A relevância desta pesquisa se dá pelo crescente avanço do uso das redes
sociais, que em alguns casos substituem inclusive as relações pessoais e afastam o indivíduo
cada vez mais do seu eu e o imerge cada vez mais ao mundo cibernético. Dentre todas as
informações que são “postadas”, é relevante que a subjetividade do indivíduo por detrás da
máquina não se perca, que não se emerja no mundo cibernético fazendo com que o ser se
desnorteie e se afaste do seu eu para se aderir ao mundo tecnológico e as suas “correntes”,
através desta pesquisa, pretende-se conscientizar os indivíduos sobre as consequências que são
derivadas do uso exacerbado das redes sociais e promover a subjetividade, fomentando assim
uma melhoria nas relações sociais e na autonomia dos indivíduos quanto a apropriação do ser
no mundo e das possibilidades do ser-aí.
Objetiva-se com esta pesquisa analisar a relação entre o uso intensificado das redes
sociais e o vazio existencial. O capitalismo, o avanço tecnológico e a mídia promovem a
individualização e o hedonismo, o que favorece o aumento do vazio existencial, pois o
indivíduo busca constantemente o prazer e a felicidade movido pela ideia hedonista e a
individualização o afasta dos demais e sabe-se que a essência é construída através da relação
do indivíduo com o mundo, onde o mundo e o ser não estão separados (PATIÑO, 2014,
tradução minha).
2 REFERENCIAL TEÓRICO
A internet evoluiu muito nos últimos tempos e afetou diretamente na forma das pessoas
interagirem entre si. Independente da cultura ou do nível social, as pessoas estão mudando a
maneira como enxergam o mundo e as relações. A internet possibilita não só a busca de
informações, como também é possível interatuar através das redes sociais e esse
comportamento é reforçado continuamente pela aprovação dos outros internautas que se dá
através das curtidas e dos compartilhamentos do que é postado (REIHS, 2013, tradução minha).
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Uma pesquisa realizada em 2013 virtualmente com uma amostra de cem pessoas,
abrangendo diversos países da América Latina com indivíduos entre 17 e 66 anos de idade,
comprovou que o uso exacerbado das redes sociais não é positivo, pois, apesar de ser uma
inovação, as redes sociais podem contribuir para o isolamento dos indivíduos, fazendo com que
as pessoas se sintam mais vinculadas às amizades virtuais do que as pessoas que fazem parte
do seu círculo de convivência interpessoal. Não obstante, há vantagens no uso das redes sociais,
pois, através delas, as pessoas introvertidas se sentem pertencentes a um determinado grupo.
Há também uma liberdade de expressão, facilidade da comunicação entre as pessoas que estão
distantes, dentre outras características que são positivas, desde que haja um uso moderado das
redes sociais (REIHS, 2013, tradução minha).
Segundo Oliveira (2016), a era contemporânea contribui para que as pessoas sejam mais
frias, vive-se para o aqui e o agora, o ser está vinculado ao ter, a felicidade se tornou sinônimo
de ter e o capitalismo reforça continuamente essa ideia através das propagandas que visam fazer
com que o indivíduo esteja cada vez mais escravizado pelo sistema e mais distante do seu eu.
A superficialidade faz com que o indivíduo se angustie e se sinta perdido e se adentre cada vez
mais ao mundo cibernético, a fim de suprir o seu vazio existencial. As frustrações das relações
que as pessoas vivenciam em seus cotidianos são, de certa forma, supridas pelas redes sociais.
Segundo Ruano (2015), o existencialismo acredita que o homem é livre e responsável
por suas escolhas, que primeiro o homem existe e depois a sua essência é construída. A angústia
sempre está presente na vida do indivíduo, dado que toda escolha implica angústia devido à
incerteza que está relacionada ao desconhecido frente às decisões que o homem precisa tomar
e sabendo que, ainda que não escolha, ele está escolhendo. Frente à angústia, o ser é induzido
a escolher, pois a angústia gera possibilidades. Segundo Frankl (1984) a busca de sentido é
primordial para o homem, o indivíduo pode viver e morrer pelos seus ideais e esse “sentido” só
pode ser atribuído por cada pessoa, não podendo ser determinado pelo outro. Este mesmo autor,
afirma que através de uma pesquisa realizada na França foi possível constatar que 89% das
pessoas entrevistadas afirmaram que precisam de um sentido para viver. O homem passou por
várias mudanças ao longo das gerações, ele foi se distanciando do seu instinto primitivo que
lhe assegurava a sobrevivência e que, de certo modo, atribuía-lhe um sentido de existência.
Outra mudança que está vinculada ao vazio existencial é o enfraquecimento das tradições que
funcionavam como um embasamento para o homem sobre como deveria ser sua conduta. Sendo
assim, algumas pessoas se encontram desnorteadas e buscam que outros deem sentido a sua
existência, vivendo suas vidas fazendo o que os outros esperam que elas façam ou buscando
seu sentido através da vida dos outros.
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Estudos demonstram que os jovens que passam muito tempo conectados se isolam da família e
dos amigos, pois optam por interagir através das redes sociais simulando uma relação “face a
face” (MASEDA, 2012, tradução minha).
Algumas pessoas necessitam de aprovação externa para se sentirem seguras, enquanto
outras encontram essa aprovação na reafirmação de si. O ser humano é um ser livre, que é
lançado no mundo e cabe a cada um responsabilizar-se por suas escolhas. Frente à angústia
cabe a cada um tomar uma decisão, dado que a angústia possibilita que o Dasein escolha, o ser
é um “ser-aí” que está em constante aprendizado, não obstante o ser pode decidir permanecer
no lugar de objeto, que diz de quando o homem não assume a responsabilidade das suas escolhas
e permite que haja mais do outro em sua vida do que dele mesmo, ainda que o ser seja um ser-
para-com-outro, onde a relação com o outro o ajuda a construir o seu eu, sua essência, mas a
relação se torna inautêntica quando há mais do outro do que do próprio indivíduo
(HEIDEGGER, 1927).
Através das redes sociais, é possível “ostentar” uma ideia de felicidade, uma vez que se
publicam os melhores momentos, as melhores fotos a fim de manter uma idealização almejada,
busca-se a aprovação dos demais, e tudo é feito de forma mecanizada, sem imaginar que há,
por detrás de cada publicação, uma necessidade de ser visto, de ser enxergado e de ser aprovado
e esse exibicionismo se tornou banal, pois quem não se adere a esse costume é considerado
ultrapassado.
Segundo Heidegger (1927) o encontro com o vazio pode ocasionar mudanças, que é no
encontro com o nada que o homem se vê frente às possibilidades de escolhas e de mudanças.
Porém na contemporaneidade, há uma debilitação das tradições, dos valores e o homem se
encontra cada vez mais distante de si e do contato humano, onde a tecnologia exerce uma grande
influência nas relações humanas, é possível pensar que o homem contemporâneo substitui o
contato afetivo pelos contatos virtuais, e que há uma padronização de condutas e ideias que são
reforçadas pelas redes sociais.
O homem exerce sua liberdade quando assume a responsabilidade de suas escolhas.
Quando o homem não assume a responsabilidade por suas escolhas, ele se torna vítima do
mundo, dado que ele estará nesse momento vivenciando uma vida inautêntica, vivendo em
função dos outros e para os outros. O indivíduo que não toma consciência da sua liberdade não
se apropria de si mesmo. O homem nasce livre e é livre, pois pode fazer escolhas, assumir o
seu eu, se apropriar de si ou escolher ser um prisioneiro, limitando o seu eu e vivendo de forma
inautêntica (PAREDES, 2013, tradução minha).
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O tédio existencial segundo Kierkegaard (1990) apud Gabriela (2015) é uma parte da
angústia, ele distingue entre dois tipos de tédio, o tédio profundo e o tédio superficial. O tédio
profundo faz com que a vida perca as suas cores, o tédio se torna tudo na vida da pessoa, e ela
se vê presa a esse tédio que ao mesmo tempo é nada. O indivíduo vai em busca de diversões
para deixar de sentir o tédio, mas esta não é a solução, dado que a solução deve ser encontrada
no interior do indivíduo e não no exterior. O tédio diz de uma dificuldade em lidar com o vazio,
de entrar em contato consigo mesmo, a pessoa vai em busca de outras ocupações para fugir do
ócio.
Segundo Frankl (1984) uma das formas de manifestação do vazio existencial é através
do tédio, que o indivíduo não sabe como aproveitar as suas horas de lazer, o autor afirma que o
tédio existencial e o suicídio estão relacionados, assim como a “neurose dominical” que é um
tipo de depressão que é vivenciada por algumas pessoas que se sentem vazias de sentido depois
de terem trabalhado durante toda a semana e se ocupado de diversas tarefas, ao se depararem
consigo mesmas experimentam a sensação de vazio existencial. É relevante ressaltar que
atualmente é crescente a preocupação com o tédio dentre os psiquiatras, devido ao seu aumento.
Em alguns casos, o indivíduo busca preencher o seu vazio existencial através da busca pelo
prazer.
O homem é lançado no mundo e as suas possibilidades não estão pré-determinadas, as
suas inúmeras possibilidades poderão realizar-se ou não, isso dependerá das escolhas feitas por
ele ao longo de sua vida. Ao escolher, o homem pode se distanciar de quem ele é e se mesclar
com as tarefas do quotidiano. Os afetos permitem uma abertura do Dasein para o mundo e
influenciam na maneira em que o ser humano verá o mundo e as suas possibilidades, sendo
assim, é possível afirmar que o homem que tem o tédio como forma de existir fundamentará a
sua existência nesta tonalidade afetiva, o tédio. É através das tonalidades afetivas que o Dasein
constitui o seu mundo e é também através das tonalidades afetivas que surgem as aberturas para
o “ser aí”, para o “ser no mundo” e consequentemente para as ocupações e afastam o Dasein de
si mesmo (HEIDEGGER, 1927 apud SOFIA, 2015).
A angústia é a principal tonalidade afetiva, ela coloca o Dasein frente as possibilidades,
pois ela causa uma sensação de estranheza, faz com que o homem se sinta incômodo consigo
mesmo, com as suas escolhas e promove portanto uma abertura para que o indivíduo vá de
encontro ao seu eu. São as tonalidades afetivas que permitem ao homem conhecer a si mesmo
e se relacionar com o mundo a sua volta. A angústia permite ao Dasein ir de encontro com ele
mesmo, pois ao provocar o sentimento de inquietude e não familiarização ela abre as
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possibilidades e permite ao homem que ele saia do lugar de estranhamento em que ele se
encontra (HEIDEGGER, 1927 apud SOFIA, 2015).
3 METODOLOGIA
psicológico, dado que se fosse dessa maneira, poderia atrapalhar o pesquisador em sua tentativa
de capturar a essência do objeto, tal como se mostra.
Em um primeiro momento foi perguntado aos entrevistados como eles se sentiam após
o acesso as redes sociais, apesar das respostas diferirem, a maioria respondeu que quando se
conecta isso os desestrutura de alguma maneira, que os afeta durante o dia-a-dia, seja porque
veem notícias ruins, ou notícias do ex namorado, ou quando recebem comentários
desagradáveis, ou como receberam poucas curtidas, ou porque não receberam a curtida da
pessoa que queriam, ou porque mesmo alcançando os objetivos almejados, sentem que logo
precisam encontrar outra postagem para sentirem-se bem novamente, pois alguns dos
entrevistados afirmaram que quando estão com a auto estima baixa, ou tristes, eles publicam
nas redes sociais para sentirem-se melhor pelas curtidas e comentários, pelas aprovações que
recebem dos outros internautas. Alguns dos entrevistados disseram que quando permanecem
muito tempo conectados eles sentem tédio e todos os entrevistados admitiram que utilizam as
redes sociais para escapar do tédio.
“Nunca parei pra pensar nisso não, mas quando eu tô triste eu permaneço
mais tempo, é, no Instagram, né.” (A. 25 ANOS DE IDADE).
Foi perguntado aos entrevistados se quando estão entediados eles acessam mais a
internet, mais especificamente as redes sociais, através das respostas obtidas, foi possível
corroborar que há uma correlação entre o tédio e o uso das redes sociais, sendo o tédio um fator
preponderante para intensificar o uso das redes sociais. Segundo Heidegger (1929) apud Ana
(2012), a tecnologia distancia o homem da sua subjetividade, o homem apesar de ser livre,
torna-se mais automatizado com o uso da tecnologia, ou seja, ele busca repetir os padrões,
afastando-se da sua essência.
“Sim, claro! Quando a gente tá entediado, não tem nada pra fazer, não vai
sair, a gente entra nas redes sociais exatamente pra isso, pra passar o tempo!
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Aí a gente passa, entra nas páginas, nos perfis das pessoas, acompanha o feed
de notícias, serve também pra conversar, né? Chama as pessoas pra bater
papo, sim! Acho que todo mundo entediado com certeza vai pras redes
sociais.” (A. 43 ANOS DE IDADE)
.
“Quando eu tô entediada a melhor forma de passar o tempo é entrar nas redes
sociais.” (M. 25 ANOS DE IDADE).
“Quando eu me sinto entediada? Ah! Com certeza! Uso ela sim pra passar o
tempo e faz muito bem!” (E. 33 ANOS DE IDADE).
O tédio existencial diz de uma falta de significação do homem diante da vida, o homem
busca então formas de significar a sua existência, dentre elas, estão as redes sociais, que ocupam
um lugar de alegria ilusória, de uma tentativa do homem moderno de forjar a sua existência e
preencher as lacunas do tédio existencial. Kierkegaard (2006) apud Ana (2012), o tédio faz com
que o homem se movimente que ele saia do lugar onde se encontra para tentar se livrar do tédio,
o homem busca maneiras de escapar. Heidegger (1929) divide em categorias o tédio, dentre
eles está o tédio profundo, que se caracteriza por uma total falta de interesse em si mesmo, na
vida, o indivíduo cansado da rotina, das repetições do cotidiano sente-se vazio, sem sentido
existencial.
Quando perguntado aos entrevistados se eles procuram a aprovação dos demais ao
publicarem no Facebook, todos responderam que sim, é possível afirmar que há uma tentativa
de se adequar aos padrões, de uma repetição de condutas que são propagadas através do mundo
virtual. É de suma importância ressaltar que a necessidade de aprovação dos demais faz com
que o indivíduo se afaste da sua essência, que ele busque do outro, do mundo a sua forma de
existir.
“Claro. Fico super feliz ao ver que minhas publicações estão sendo curtidas
e comentadas.” (F. 23 ANOS DE IDADE).
“Sobre as aprovações até que sim, às vezes eu até deixo de postar algumas
coisas porque sei que vão gerar conflitos, aí pra não gerar dor de cabeça eu
prefiro nem postar.” (Y. 22 ANOS DE IDADE).
Segundo Heidegger (1998) apud Poliana (2012) o homem inautêntico não se apropria
do seu ser, ele busca na tecnologia formas de forjar a sua existência. O homem inautêntico
contemporâneo acredita que não pode viver sem a tecnologia, ele não se apropria do objeto, há
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uma fusão em que o ser e o ente não se distinguem. O homem e o mundo não se separam, o ser-
aí é um ser de possibilidades que utiliza os objetos para construir a sua essência, porém, o ser
inautêntico se projeta nos objetos que ele manipula e não se apropria das suas possibilidades.
Através das redes sociais, as pessoas buscam uma aceitação, buscam uma aprovação,
quiçá se pode falar sobre uma identidade, buscam uma fuga dos problemas cotidianos, do vazio
existencial. Sabe-se que na contemporaneidade há uma urgência, uma necessidade do aqui e
agora, as pessoas não querem lidar com a tristeza, e estão constantemente tentando fugir das
suas próprias frustrações, da realidade e o Facebook, dentre tantos outros meios de distração, é
considerado uma excelente ferramenta para distrair-se. Segundo John (2015) Um dos motivos
para que as pessoas acessem as redes sociais com tanta frequência é a ideia de sentirem-se
importantes, conectados, de poderem ter mais de uma identidade, pois através das redes sociais
é possível representar, fantasiar e agir de maneira distinta da vida real.
É perceptível que as pessoas permanecem muito tempo conectadas, o que as prejudica
nos estudos, trabalho, nas relações interpessoais e pode representar até risco de vida, dado que
através da desta pesquisa pode-se perceber que alguns dos entrevistados admitiram que acessam
as redes sociais enquanto dirigem, o que pode acarretar diversos problemas. Ainda com todos
os malefícios que podem ser ocasionados pelo uso exacerbado das redes sociais, os
entrevistados parecem não ter clareza quanto ao vislumbre que as redes sociais lhes causam.
“É, Instagram sempre. Toda hora que eu pego o meu celular eu dou um jeito
de entrar no Instagram é, postar até dirigindo, eu faço isso, e Facebook não
mais, Facebook eu não entro com tanta frequência assim não, só quando eu
tô muito a toa.” (C. 22 ANOS DE IDADE).
“Facebook afeta pouco meu tempo, mas às vezes eu penso que eu perco o meu
tempo de manhã mexendo com Facebook, tem dias que eu opto por mexer só
a noite porque já que é um lazer e tal, né? Então tem dias que eu opto por
mexer só a noite se eu não tiver nada pra fazer, mas é meio viciante, né? A
gente entrar, quando a gente acorda, a enquanto toma o café dá uma
olhadinha e as vezes tem assuntos, tem uns vídeos pra assistir e acaba
tomando um pouco mais de tempo, e você acaba se atrasando um pouco pra
sair de casa, pra trabalhar, essas coisas, então afeta o meu tempo sim e não
e de forma positiva não.” (A. 43 ANOS DE IDADE).
“Infelizmente hoje o Facebook consome quase que o meu tempo todo.” (Y. 22
ANOS DE IDADE).
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através desta pesquisa foi possível demonstrar que atualmente há uma busca de
preenchimento de um vazio existencial através das redes sociais, as pessoas buscam uma forma
de “passar o tempo”, quiçá seja uma maneira de não lidarem com os seus conflitos, angústias e
frustrações. Os indivíduos buscam nas redes sociais uma alegria ilusória e permanecem
dependentes dos comentários e das curtidas para sentirem-se bem, o que lhes ocasiona, em
alguns momentos, angústia e frustração, dado que a maioria relatou haver vivenciado momentos
angustiantes nas redes sociais quando fizeram alguma publicação. Muitos dos entrevistados
recorrem às redes sociais como forma de tamponar sentimentos como tristeza, para não lidarem
com sua singularidade. No entanto, corre o risco de o efeito ser contrário, o resultado dos
contatos das redes sociais expandirem tais sentimentos, alegando que se entristeciam com as
publicações de notícias desagradáveis comumente publicadas e divulgadas nas redes sociais.
Está evidente de que as redes sociais não afetam somente a nova geração, esta pesquisa
foi feita com um público com a faixa etária de dezoito a quarenta e cinco anos de idade e houve
um resultado semelhante para ambas às gerações, demonstrando que eles permanecem
conectados em uma média similar de tempo e que todos procuram uma aprovação em relação
aos seus posts, ou quiçá seja pertinente afirmar que se procura uma aprovação de si em relação
ao mundo.
Conclui-se que há uma relação existente entre as redes sociais e o vazio existencial,
que as redes sociais influenciam para aumentar o tédio e consequentemente o vazio existencial.
Percebe-se também que as pessoas utilizam as redes sociais como tentativa de forjar a sua
existência e de fugir do tédio existencial. Os indivíduos se afastam da sua essência e da sua
subjetividade por se adentrarem cada vez mais aos modelos padronizados que são reforçados
pelas redes sociais e buscam através das suas redes de amigos virtuais uma aprovação e uma
aceitação que advém dos outros.
Devido ao crescente avanço da tecnologia da internet, assim como do crescente
número de pessoas que se conectam a cada dia e da abrangência que as redes sociais possuem,
estando dentre os internautas: homens, mulheres, crianças, adolescentes, jovens e idosos.
Conclui-se que é relevante um aprofundamento em relação aos percalços que podem ser
ocasionados na vida dos indivíduos pelo uso excessivo das redes sociais, quiçá seja pertinente
a elaboração de intervenções que visem ajudar os cibernéticos que se fundiram as redes sociais
e se afastaram da sua essência, das suas relações interpessoais.
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REFERÊNCIAS
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FIGUEIRÊDO, Thiago Antonio Avellar De Aquino Joilson Pereira Da SilvaAna Thaís Belém
De; FARIAS, Érica Tailane Silva Dourado E Estefânia Coeli Santos De. Avaliação de uma
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HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. 15 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2005. 27-309 p.
SHORT, John Rennie. The value of unplugging in the Age of Distraction. The Conversation,
Estados Unidos, jul. 2015.