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SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

Unidade II
5 CICLO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA

Veremos as etapas envolvidas na assistência farmacêutica, que consiste em um conjunto de


atividades que devem atuar de forma integrada com o objetivo de garantir o acesso e o uso racional
de medicamentos pela população. Recebe o nome de ciclo da assistência farmacêutica, pois essas
ações precisam atuar de forma coordenada e sincronizada para atingir esses objetivos. Dessa forma, o
ciclo da assistência farmacêutica pode ser dividido em atividades de gerenciamento dos produtos para
assegurar que o medicamento chegue ao paciente e, também, em atividades assistenciais ou educativas
para que o paciente faça a utilização correta dos medicamentos (MARIN et al., 2003; BRASIL, 2011b;
NEVES; PINA, 2015).

A figura seguinte ilustra o ciclo da assistência farmacêutica que compreende as atividades de


gerenciamento de medicamentos com os processos de: seleção, programação, aquisição, armazenamento,
distribuição e utilização, o que inclui a dispensação. Já as atividades assistenciais estão presentes dentro
do processo de dispensação, como mostra a figura seguinte, em que ocorre a atenção farmacêutica,
também denominada de cuidado farmacêutico, o que inclui, além da entrega dos medicamentos, as
ações de orientação farmacêutica e acompanhamento farmacoterapêutico para garantir o uso seguro
desses produtos (BRASIL, 2005a).

Programação

Seleção Aquisição

Utilização/ Armazenamento
dispensação

Distribuição

Figura 15 – Ciclo de assistência farmacêutica

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Acompanhamento
farmacoterapêutico

Orientação Dispensação
farmacêutica

Ações
educativas

Figura 16 – Dispensação e ações para atenção farmacêutica/cuidado farmacêutico

A seguir, discutiremos todas as atividades do ciclo de assistência farmacêutica.

5.1 Seleção de medicamentos

A primeira atividade do ciclo da assistência farmacêutica é a escolha dos medicamentos necessários


para atender o sistema de saúde com base em critérios epidemiológicos, técnicos e econômicos.

Por que o processo de seleção de medicamentos é importante para o ciclo da assistência farmacêutica?

Para responder a essa pergunta, precisamos considerar alguns fatores (MARIN et al., 2003;
BRASIL, 2006a):

• Os medicamentos padronizados direcionam todas as outras atividades da assistência farmacêutica,


que discutiremos a seguir.

• Número de produtos disponíveis no mercado. Você já parou para pensar quantas especialidades
farmacêuticas são produzidas pela indústria? Existem muitos medicamentos da mesma classe
terapêutica e com indicações semelhantes. Considerando isso, o serviço de saúde não consegue
comprar todos os medicamentos produzidos, por isso, é fundamental selecionar quais são os
medicamentos essenciais para o atendimento das necessidades da população.

• Escassez de recursos no sistema de saúde. Não há recursos para compra de todos os produtos
disponíveis na terapêutica, esse é mais um motivo para selecionar os medicamentos mais seguros,
eficazes e com custo-efetividade e, dessa forma, otimizar e racionalizar os recursos financeiros.

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• Uniformização dos protocolos terapêuticos no sistema de saúde para promoção do uso racional de
medicamentos. Com a seleção e padronização dos medicamentos, é possível definir os protocolos
clínicos a serem adotados pelos serviços de saúde, com o intuito de racionalizar a utilização de
medicamentos. No entanto, para a efetivação desse objetivo, é necessário conscientizar e orientar
a equipe de saúde por meio de ações educativas para prescritores, dispensadores e usuários que
levem as informações sobre os medicamentos padronizados e disponíveis na unidade de saúde.

Observação

Especialidade farmacêutica é o medicamento proveniente da indústria


farmacêutica registrado na Anvisa e comercializado em farmácias e drogarias.

Você já ouviu falar da Rename?

A Rename é a lista de medicamentos selecionados para a disponibilização no SUS a nível federal.


São os medicamentos que estarão disponíveis nas unidades de saúde. Além da Rename, que é
federal, existem também as listas de medicamentos essenciais para os estados e municípios, denominadas
Resme e Remume. Algumas unidades de saúde podem ter a relação de medicamentos essenciais
própria e específica para a sua necessidade, que é o que acontece em alguns hospitais. Conjuntamente
com a relação, o processo de seleção elabora, também, o formulário farmacoterapêutico, que conta com
informações científicas sobre os medicamentos, selecionados para a orientação da prescrição, dispensação
e utilização dos produtos padronizados (MARIN et al., 2003; NEVES; PINA, 2015).

Lembrete

Rename: relação nacional de medicamentos.

Resme: relação estadual de medicamentos essenciais.

Remume: relação municipal de medicamentos essenciais.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os medicamentos essenciais são aqueles
que atendem as prioridades de saúde da população. Dessa forma, os medicamentos essenciais
são eficazes, seguros, devem estar sempre disponíveis nos sistemas de saúde a todo o momento,
em quantidade suficiente para o atendimento das necessidades de saúde da população, nas formas
farmacêuticas e doses adequadas, com qualidade assegurada e a preços acessíveis. Em 1977, a OMS
criou a primeira lista de medicamentos essenciais, sendo que a última atualização ocorreu em 2019,
trazendo 400 medicamentos essenciais. Portanto, esses medicamentos são selecionados considerando:
a relevância para o atendimento das necessidades em saúde da população local, eficácia, segurança e a
relação custo-benefício (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2011).

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5.1.1 Comissão de farmácia e terapêutica, padronização de medicamentos do município,


inclusão e exclusão de medicamentos

Já vimos a importância do processo de seleção de medicamentos, mas quem é responsável por


selecionar os medicamentos?

A seleção de medicamentos é realizada por uma equipe multidisciplinar, conhecida como Comissão
de Farmácia e Terapêutica (CFT), que é composta por profissionais de saúde de diferentes áreas
com competências em farmacoeconomia, farmacoepidemiologia, farmacologia, terapêutica clínica,
farmacovigilância, biofarmacotécnica e farmacocinética. Exemplos de profissionais presentes na CFT são:
médicos de diferentes especialidades, farmacêuticos, enfermeiros, odontologistas e outros profissionais de
saúde. Portanto, a CFT é um órgão que assessora o gestor de saúde quanto à elaboração e atualização
da relação de medicamentos selecionados, dos formulários farmacoterapêuticos para a orientação quanto
ao uso racional, bem como na elaboração dos protocolos clínicos a serem seguidos pela equipe de saúde.
A CFT deve ter reuniões com periodicidade mínima de 30 dias (MARIN et al., 2003; BRASIL, 2006a).

Quais são os critérios usados pela CFT para a seleção de medicamentos (BRASIL, 2006a; BRASIL, 2011b)?

• Escolha de medicamentos com base na eficácia, segurança, conveniência e custo-efetividade.

• Seleção de medicamentos que contenham um único princípio ativo. Deve-se evitar o uso de
associações de fármacos, exceto em casos de vantagem terapêutica em relação aos insumos
farmacêuticos ativos isolados.

• As necessidades e prioridades de saúde locais, considerando dados epidemiológicos e


populacionais, como incidência de doenças, morbimortalidade, grupos populacionais e faixa
etária. Para isso, deve-se utilizar estudos que determinem o perfil de prescrição e utilização.

• As listas existentes são usadas como referência, por exemplo, a Rename.

• Os medicamentos são padronizados com o nome do princípio ativo conforme a DCB. Quando não
houver, é utilizada a denominação comum internacional (DCI).

• Consideram-se as propriedades farmacocinéticas e vias de administração, que promovam maior


comodidade no uso e melhor adesão ao tratamento.

• Escolha de formas farmacêuticas de fácil utilização com flexibilidade posológica.

• Disponibilidade dos medicamentos no mercado.

Você tem ideia do que faz o farmacêutico na CFT?

O farmacêutico é membro efetivo da CFT e atua na fundamentação dos medicamentos a serem


padronizados por meio da escolha e análise dos estudos científicos. O farmacêutico pode estar envolvido,
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também, na elaboração de protocolos clínicos e do formulário farmacoterapêutico com normas e


diretrizes que orientem a prescrição, dispensação, uso e avaliação de medicamentos. Além disso, o
farmacêutico pode desenvolver estudos de farmacoeconomia para auxiliar o processo de seleção.

Saiba mais

No artigo científico a seguir, você terá mais informações sobre o


processo de seleção de medicamentos nos serviços de saúde:

KARNIKOWSKI, M. G. O. et al. Caracterização da seleção de medicamentos


para a atenção primária no Brasil. Revista de Saúde Pública, v. 51, supl. 2,
2017. Disponível em: https://cutt.ly/qROPs0B. Acesso em: 25 out. 2021.

Com o estabelecimento da lista de medicamentos padronizados, quais benefícios são promovidos ao


serviço de saúde?

• Uso racional dos medicamentos disponíveis.

• Aquisição de medicamentos com valor terapêutico para o sistema de saúde.

• Redução do número de produtos em estoque.

• Otimização dos espaços de armazenamento.

Quais são os critérios que a CFT deve considerar para inclusão de novos medicamentos? Impedir
a multiplicidade de fármacos com a mesma finalidade, assim a inclusão de um novo produto precisa
estar associada à possibilidade de exclusão de um representante da mesma classe, que já tenha sido
padronizado; padronizar medicamentos de fornecedores que tenham passado por avaliação técnica;
evitar a associação de medicamentos. Em caso de associação, ela deve ser justificada considerando que
o efeito terapêutico da combinação deve ser maior que o uso dos fármacos separadamente, os custos
devem ser menores, além de facilitar a administração do medicamento ao paciente (MARIN et al., 2003;
MAIA NETO, 2005; SFORSIN et al., 2012).

Se precisar excluir produtos da lista de medicamentos essenciais, o que você deve considerar?

Devem ser excluídos medicamentos cuja comercialização esteja proibida ou descontinuada


pela agência reguladora; especialidades farmacêuticas que possam ser substituídas por outras que
apresentem mais vantagens terapêuticas; e o baixo consumo por período considerável que não justifique
a padronização do produto (PORTO VELHO, 2017).

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Nas instituições públicas, diferentes profissionais de saúde podem requerer a inclusão de novos
medicamentos, tais como: médicos, odontólogos, farmacêuticos e enfermeiros que atuem nesses
serviços. Os pedidos devem ser feitos por meio de solicitação de alteração da Remume. Além disso,
devem ser anexados os estudos que justifiquem a inclusão do medicamento, mostrando a eficácia e
segurança do produto em questão e vantagens terapêuticas, essas informações devem ser oriundas de
ensaios clínicos randomizados de grande porte com metodologia adequada, revisões sistemáticas
de literatura e metanálises. A partir disso, a documentação é encaminhada para a CFT, que analisará a
solicitação (PORTO VELHO, 2017).

Anteriormente, comentamos alguns estudos que estão envolvidos no processo de seleção de


medicamentos e são usados pela CFT para a padronização de medicamentos. Nos tópicos a seguir, você
entenderá melhor os estudos de farmacoeconomia e farmacoepidemiologia aplicada.

5.1.2 Farmacoeconomia

Exemplo de aplicação

Você é o gestor de uma empresa que irá avaliar a realização da campanha de vacinação de seus
funcionários para gripe. Para isso, você deve avaliar o benefício clínico da realização da campanha, que
é a redução dos casos de gripe e os benefícios econômicos para a empresa, pois considera-se a redução
do número de faltas ao trabalho por funcionários acometidos por gripe. Para a tomada de decisão,
sugere‑se que você realize o estudo de custo-benefício para determinar se o investimento na campanha
trará rentabilidade financeira para a empresa. Dessa forma, hipoteticamente, seguem os dados para
avaliação de custo-benefício:

• Número de funcionários: 2.500.

• Sem vacina:

— Faltas por gripe: 1 dia/homem/ano, custo de R$ 100,00 por trabalhador, portanto são 2.500 dias
parados motivados por gripe, o que equivale a perda de R$ 250.000,00 anuais.

• Com vacina:

— Valor da vacina: 20,00/dose/homem para 2.500 funcionários = R$ 50.000,00.

— Eficácia da vacina: 70% durante um ano. Assim, as faltas caem para 0,3 dia/homem/ano,
passando ao custo de R$ 75.000,00 em relação às faltas + R$ 50.000,00 (custo da vacina) =
125.000,000, o que gera economia de R$ 125.000,00 para a empresa.

Além do benefício clínico, a análise de custo-benefício mostra que vale a pena vacinar os
funcionários, pois é gerada a economia de R$ 125.000,00 para a empresa.

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A análise de custo-efetividade correlaciona os custos com os resultados clínicos obtidos. Nesse


estudo, os custos são calculados em unidades monetárias e a efetividade é contabilizada em unidades
clínicas, assim, a medida é expressa em custos por resultado clínico, por exemplo, custos por mortes
evitadas ou custo por anos de vida ganhos. Dessa forma, é possível comparar o impacto de diferentes
opções terapêuticas, visando à escolha da melhor intervenção quanto aos efeitos do tratamento e à
aplicação dos recursos disponíveis (MARIN et al., 2003; SECOLI et al., 2005; GUIMARÃES et al., 2007;
PACKEISER; RESTA, 2014).

A análise de custo-utilidade relaciona os custos com a percepção do paciente quanto à qualidade de


vida proporcionada pelo tratamento, ou seja, pela satisfação que o tratamento pode trazer ao paciente.
Para tal, existem alguns indicadores de qualidade de vida que são utilizados para essa análise, como
o Quality of life (QoF) e o Anos de vida ajustados a qualidade (Avaq), este combina mortalidade e a
percepção de qualidade relacionada à saúde. O estudo de custo-utilidade é expresso por custos/QoF ou
custos/Avaq (MARIN et al., 2003; SECOLI et al., 2005; GUIMARÃES et al., 2007; PACKEISER, RESTA, 2014).

5.1.3 Farmacoepidemiologia aplicada

Você já ouviu falar da farmacoepidemiologia ou da farmacovigilância?

A farmacoepidemiologia ou epidemiologia do medicamento estuda o uso e os efeitos benéficos e


adversos dos medicamentos em grandes populações, ou seja, os efeitos do medicamento no mundo
real. Essa área combina a farmacologia clínica, que estuda os efeitos dos fármacos em humanos,
e a epidemiologia, que avalia a ocorrência e a distribuição das doenças na população. Assim,
a farmacoepidemiologia aplica os conceitos de epidemiologia nos estudos dos efeitos do uso de
medicamentos na sociedade, que podem ser benéficos ou adversos. Além disso, a farmacoepidemiologia
proporciona aos profissionais de saúde maior conhecimento sobre os medicamentos, o que facilita
o processo de escolha do melhor tratamento a ser padronizado. Além disso, essa ciência revela os
problemas que os medicamentos podem apresentar. Assim, é possível buscar o aumento da eficiência
e redução da toxicidade desses produtos. A farmacoepidemiologia aplicada é subdividida em dois grupos
de estudos: de farmacovigilância e de utilização de medicamentos (CASTRO, 1999; MARIN et al.,
2003; MOTA, 2011).

A farmacovigilância é a face mais conhecida da farmacoepidemiologia, que se dedica a determinar


as propriedades terapêuticas e toxicológicas dos fármacos nas diferentes condições em que eles
são utilizados, como no uso por populações de diferentes faixas etárias e condições clínicas. A
farmacovigilância é a vigilância do fármaco no mundo real, ou seja, quando esse produto chega no
mercado e é utilizado por diferentes indivíduos, em que é realizada a detecção de efeitos adversos,
permitindo a descoberta de reações adversas raras, que não foram detectadas durante a realização dos
ensaios clínicos. Dessa forma, a segurança do medicamento é continuamente monitorada, inclusive após
a aprovação pela agência reguladora. Por outro lado, com a farmacovigilância, é possível detectar novas
indicações terapêuticas. Para a detecção dos efeitos adversos, são utilizados os estudos de: relatos de
caso, análise de séries de casos, estudos clínicos controlados de coorte e caso controle. Já os estudos de
utilização de medicamentos são desenvolvidos de forma qualitativa ou quantitativa (MARIN et al., 2003).

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Por que os estudos de farmacovigilância são importantes?

Durante os ensaios clínicos, alguns grupos de indivíduos são excluídos, como é o caso das crianças
e gestantes. Os ensaios clínicos de fase 3 são realizados com milhares de pessoas, mas quando o
medicamento for consumido pela população em geral, esse produto atingirá centenas de milhares
ou até mesmo milhões de pessoas, e alguns efeitos adversos podem surgir na proporção de um para
um milhão de indivíduos expostos, o que dificulta a detecção desses eventos durante a etapa clínica.
Além disso, os ensaios clínicos têm curta duração e o efeito da administração dos medicamentos a
longo prazo, como após exposição durante 10 a 20 anos, não é avaliado.

E como o farmacêutico pode atuar nessa área?

Nos estudos de farmacoepidemiologia, os farmacêuticos apresentam papel de destaque, pois são


os primeiros a identificar os problemas que os medicamentos podem causar e indicar a necessidade
de investigação mais profunda sobre o evento. Assim, o farmacêutico é primordial na identificação e
notificação de reações adversas ao medicamento (CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE
SÃO PAULO, 2017).

5.1.4 Quais são os medicamentos disponíveis no SUS e que constituem os componentes


básico, estratégico e especializado?

Você já parou para pensar como ocorre o financiamento dos medicamentos disponibilizados
pelo SUS?

Os medicamentos disponíveis no SUS são financiados pelas três esferas de governo (União, estados
e municípios). De acordo com a preconização da Portaria n. 204, de 29 de janeiro de 2007, do Ministério
da Saúde, os recursos federais são repassados na forma de blocos de financiamento da assistência
farmacêutica compostos por três componentes: básico, estratégico e especializado (BRASIL, 2007b;
OLIVEIRA; ASSIS; BARBONI, 2010).

O componente básico corresponde aos medicamentos destinados ao atendimento das necessidades


prioritárias da atenção primária à saúde. Entre os medicamentos contemplados por esse componente,
temos os medicamentos que pertencem à Rename, alguns medicamentos fitoterápicos e homeopáticos.
O financiamento desse componente é compartilhado entre União, estados e municípios com valores
mínimos a serem aplicados por cada ente da federação, sendo os valores atuais por habitante/ano
de R$ 5,58 para a União, R$ 2,36 para os estados e R$ 2,36 para os municípios. Esses valores são
atualizados constantemente por meio de novas portarias (BRASIL, 2007b; OLIVEIRA; ASSIS; BARBONI,
2010). Medicamentos do componente básico da assistência farmacêutica são:

• Anti-hipertensivos.

• Antidiabéticos.

• Antiasmáticos e fármacos para tratar rinite.


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• Fármacos para saúde mental.

• Insulina NPH e regular humana.

• Contraceptivos e insumos do programa de saúde da mulher.

• Medicamentos fitoterápicos.

• Medicamentos homeopáticos.

O componente estratégico contempla os medicamentos utilizados em doenças consideradas


grandes problemas de saúde pública, enfermidades que atingem ou colocam em risco a coletividade.
Esses medicamentos são considerados de caráter estratégico pelo Ministério da Saúde. Dessa forma, o
financiamento, a aquisição e o repasse são de responsabilidade da União aos estados e municípios, que
são responsáveis pela distribuição e dispensação. A seguir, são descritos os medicamentos pertencentes
aos programas considerados estratégicos, que tratam doenças de caráter transmissível e/ou alto impacto
na saúde da população brasileira (BRASIL, 2007b).

• Endemias (doença de Chagas, esquistossomose, hanseníase, leishmaniose, malária, tuberculose).

• Influenza (oseltamivir e zanamivir).

• HIV e Programa de DST/aids.

• Sangue e seus derivados.

• Imunobiológicos.

• Tabagismo (adesivos de nicotina, goma de mascar, bupropiona etc.).

• Alimentação e nutrição.

O componente especializado da assistência farmacêutica engloba os medicamentos comumente


conhecidos como “alto custo”, aqueles utilizados para doenças raras. Esses medicamentos têm
financiamento tripartite e são divididos em três grupos (1, 2 e 3), com características, responsabilidades
e formas de organização diferentes. O financiamento do grupo 1 é de responsabilidade da União, pois
esses medicamentos apresentam alto impacto financeiro e são utilizados para doenças mais complexas
e para os casos de intolerância aos fármacos de primeira/segunda escolha ou refratariedade. O grupo 2 é
financiado pelos estados e Distrito Federal. São medicamentos de menor complexidade em relação ao
grupo 1 ou usados para tratar casos de refratariedade ou intolerância à primeira linha de tratamento.
O grupo 3 tem o financiamento tripartite com a aquisição e distribuição sob responsabilidade dos
municípios e contempla os fármacos de primeira escolha para o tratamento das doenças descritas a
seguir. A dispensação desses medicamentos segue critérios de diagnóstico, indicação de tratamento,
esquemas terapêuticos, monitoramento e acompanhamento conforme os protocolos clínicos e
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diretrizes terapêuticas determinados pelo Ministério da Saúde, de abrangência nacional. A seguir, estão
as doenças que são tratadas com os medicamentos do componente especializado da assistência
farmacêutica (BRASIL, 2007b).

• Toxoplasmose aguda na gestação.

• Imunoglobulina anti-D (isoimunização Rh em gestantes).

• Doença pulmonar obstrutiva crônica.

• Fibrose cística.

• Alergia à proteína do leite de vaca.

• Reposição de ferro.

Agora que você entendeu a importância da seleção de medicamentos, os critérios utilizados nessa
etapa e o financiamento dos medicamentos disponíveis no SUS, podemos passar para a próxima etapa
do ciclo de assistência farmacêutica, que é a programação de medicamentos.

5.2 Programação de medicamentos

A programação visa ao planejamento das compras, ou seja, estima a quantidade de medicamentos


a ser comprada para atender determinado período, garantindo a quantidade adequada no tempo certo.
Essa etapa é fundamental para eficiência da assistência farmacêutica, pois o planejamento otimiza os
recursos financeiros, define as prioridades e evita compras emergenciais, que geralmente são mais caras
(MARIN et al., 2003; BRASIL, 2006a).

Para sua maior compreensão, enumeramos o que o farmacêutico deve considerar para a programação
de medicamentos (MARIN et al., 2003; SFORSIN et al., 2012):

• A programação deve ser baseada na relação de medicamentos essenciais definida na etapa


de seleção.

• Essa atividade precisa de sistema de informação e gestão de estoque eficiente com dados confiáveis
e consistentes sobre o consumo de medicamentos, sazonalidade e nível de estoque.

• Considera as necessidades epidemiológicas conforme as demandas do serviço de saúde.

• Disponibilidade de recursos financeiros para a aquisição dos medicamentos e infraestrutura para


o armazenamento dos produtos adquiridos.

• Leva em conta o tempo para reposição do estoque, que é o período entre o pedido de compra e
a entrega do produto. Além disso, a programação considera o “ponto de reposição” ou “ponto de
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ressuprimento”, que é a quantidade de produto em estoque que indica o momento da compra.


Nesse período, a unidade de saúde dispõe da quantidade de medicamento necessária para atender
a demanda durante o tempo para abastecimento.

• A maioria das compras no serviço público acontece por meio de processos licitatórios, assim, a
programação deve considerar o tempo para a realização da licitação.

• Quais são as consequências dos erros de programação de medicamentos? E o que fazer para evitar
essas falhas?

Erros nesse processo podem causar a compra de produtos em quantidade acima da necessária,
levando ao mau uso dos recursos financeiros, necessidade de maior espaço para armazenamento, além
da possibilidade de perdas por expiração do prazo de validade. Por outro lado, se forem comprados em
quantidade inferior à requerida, ocorrerá a falta desses produtos e a população ficará sem acesso aos
medicamentos. Para evitar as falhas, existem alguns métodos de programação de medicamentos, tais
como: oferta de serviço, perfil epidemiológico e consumo histórico (MARIN et al., 2003; BRASIL, 2011b).
A seguir, você encontra a explicação desses métodos de programação.

Oferta de serviço é a estimativa de produtos necessária para atender a disponibilidade de serviços


ofertados à população-alvo. Isso acontece, por exemplo, nas campanhas de vacinação, em que é estimada
a quantidade de vacinas para atingir a cobertura vacinal desejada durante a oferta da vacinação. Assim,
as vacinas estarão disponíveis durante a campanha, o que não significa que as unidades de saúde terão
esse produto fora desse período (MARIN et al., 2003; BRASIL, 2006a).

Consumo histórico, também denominado de consumo médio mensal (CMM), é baseado na média
histórica de consumo de medicamentos dos últimos meses. Nesse método, você considera as entradas
e saídas dos meses anteriores, o estoque atual e o prazo de validade dos produtos. Para o cálculo, é
usada a média aritmética móvel, que é a soma dos medicamentos consumidos dividida pelo número
de meses, móvel porque a média se move conforme o mês mais recente é finalizado. Assim, este mês
entra para o cálculo, e o mês mais distante é excluído da média. Na tabela a seguir, você vê um exemplo
considerando o consumo histórico para a programação de compra (MARIN et al., 2003; BRASIL, 2006a).

Exemplo de aplicação

Tabela 4 – Exemplo do método de programação por consumo histórico


ou consumo médio mensal

Medicamento Meses/consumo
Captopril Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Total CMM
25 mg comp. 500 600 500 700 600 800 3.700 616,67

Aplicamos o conceito da média aritmética móvel nos dados da tabela anterior, gerando como
resultado a tabela seguinte, em que a média se move conforme os meses são finalizados. Dessa forma,

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por exemplo, o mês de julho foi finalizado e ele será usado para o cálculo da média aritmética móvel
substituindo o mês mais distante, que é o mês de janeiro.

Tabela 5 – Exemplo do método de programação por consumo histórico


aplicando a média aritmética móvel

Medicamento Meses/consumo
Captopril Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Total CMM
25 mg comp. 600 500 700 600 800 1.000 4.200 700
Obs.: estão em destaque as variações provocadas pelo uso da média aritmética móvel em relação à tabela anterior.

Perfil epidemiológico considera os dados populacionais, esquemas terapêuticos, incidência e


prevalência das doenças em determinada população, capacidade de cobertura e o histórico de consumo
dos medicamentos.

Exemplo de aplicação

A tabela seguinte mostra um exemplo de programação considerando o perfil epidemiológico, em


que são abordados: doença, esquema terapêutico, porcentagem da população atingida e a quantidade
a ser adquirida para tratar essa população (MARIN et al., 2003; BRASIL, 2006a).

Tabela 6 – Exemplo do método de programação


por perfil epidemiológico

Problema de saúde e Esquema terapêutico Cobertura e quantidade necessária


população atingida
População Tempo de N. de pessoas Quantidade total
Doença Medicamento Dose/dia
atingida tratamento atingidas para aquisição
Metronidazol 5 mL 3x/dia 15 mL x 5 dias = 1 vidro x 1.000
Giardíase Crianças 1.000 vidros
suspensão oral 4% -15 mL/dia 75 mL = 1 vidro crianças atingidas

Qual é o papel do farmacêutico na programação de medicamentos?

O processo de programação é compartilhado entre a área farmacêutica e a administração


da unidade de saúde, cabendo ao farmacêutico preparar a relação dos medicamentos necessários
com base na lista de medicamentos essenciais seguida pela unidade, definir as especificações para a
aquisição, priorizar as necessidades, acompanhar o processo de programação e, caso necessário, apontar
os produtos mais urgentes.

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5.3 Aquisição de medicamentos

A aquisição é a efetivação da compra, conforme o planejamento definido pelo processo de


programação de medicamentos. Essa atividade tem o intuito de garantir a regularidade do abastecimento
nas unidades de saúde, disponibilizando os medicamentos em quantidade, qualidade e pelo menor
custo possível (BRASIL, 2006a).

Você já se perguntou como acontece a compra de medicamentos no sistema público de saúde?


As aquisições no âmbito do SUS devem ser realizadas por meio de processos licitatórios ou podem ter
dispensa de licitação, conforme os critérios estabelecidos pela Lei n. 14.133/2021, que institui normas
para licitações e contratos administrativos. Assim, as aquisições devem ter igualdade de condições
entre os concorrentes e busca-se pelas propostas mais vantajosas quanto a preços, sendo selecionada
a proposta que cumprir as especificações do edital e apresentar o menor preço. Esse processo é público
e vinculado a um edital que detalha as condições de participação, descrição do objeto de compra, data
de abertura e encerramento da entrega das propostas. O edital deve ser bem elaborado, pois nenhuma
exigência não descrita no edital poderá ser solicitada ao fornecedor posteriormente (MARIN et al., 2003;
BRASIL, 2011b).

O farmacêutico é o profissional que tem os requisitos técnicos para auxiliar na elaboração das
especificações que irão fazer parte do edital, por exemplo. Além disso, o farmacêutico pode ser responsável
por solicitar os pedidos de compra/licitação, bem como a elaboração de pareceres técnicos dos processos
de aquisição de medicamentos. Por fim, o farmacêutico pode avaliar a compra e o desempenho dos
fornecedores, analisando se o fornecedor é qualificado para compras futuras (BRASIL, 2006a).

Quais especificações você deve considerar para a elaboração do edital? As especificações técnicas
que devem constar no edital são: procedência/fabricante, forma farmacêutica, dosagem, condições de
conservação, registro sanitário emitido pela Anvisa, descrição da embalagem. As especificações das
compras de medicamentos devem adotar obrigatoriamente a DCB ou, na sua falta, a DCI. Além disso,
devem ser considerados os preços de referência dos medicamentos a serem comprados, esses valores
estão disponíveis no banco de preços em saúde (BPS) (BRASIL, 2011b).

Observação

Banco de preços em saúde é uma base de dados do Ministério da Saúde


que divulga os valores pagos por medicamentos e produtos da área da
saúde adquiridos por instituições públicas.

As seguintes modalidades são empregadas na aquisição e contratação de bens e serviços da


administração pública: pregão, concorrência, concurso, leilão e diálogo competitivo. O quadro seguinte
descreve as características dessas modalidades de licitação. Brevemente, compras de medicamentos
com valores baixos de até R$ 50.000,00 não requerem processo licitatório, portanto estão dispensadas
de licitação.

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A modalidade mais empregada na aquisição de medicamentos é o pregão, em que as propostas e os


lances são realizados em sessão pública. Existe a modalidade pregão eletrônico, em que esse processo é
feito de forma virtual.

Quadro 15 – Tipos de licitação e descrição dos processos


licitatórios, conforme a Lei 14.133/2021

Modalidade Descrição
Até R$ 100.000,00 para serviços de engenharia
Dispensa de licitação
Demais bens e serviços até R$ 50.000,00
Escolha de trabalho técnico, científico ou artístico, e a escolha
Concurso considera a melhor técnica ou conteúdo artístico, em que o
vencedor receberá prêmio ou remuneração
Venda de imóveis ou móveis inservíveis ou legalmente
Leilão apreendidos a quem oferecer o maior lance
Contratação de bens, serviços especiais, obras e serviços comuns
Concorrência e especiais de engenharia
Aquisição de bens e serviços comuns com a escolha baseada no
Pregão menor preço ou maior desconto
Contratação de obras, serviços e compras em que há diálogo
com licitantes previamente selecionados mediante critérios
Diálogo competitivo objetivos, e os licitantes apresentam proposta final após o
encerramento dos diálogos

5.4 Armazenamento de medicamentos

Agora que você compreendeu o processo de compra de medicamentos, vamos abordar a etapa de
armazenamento, que é a atividade seguinte do ciclo de assistência farmacêutica, em que os medicamentos
são recebidos e devem ser armazenados de forma a assegurar sua qualidade e segurança. O processo
de armazenamento é composto por várias atividades, como: recebimento, estocagem, conservação e
controle de estoque. O armazenamento inadequado pode gerar perdas e desperdícios de medicamentos
e recursos financeiros (BRASIL, 2006a; BRASIL, 2011b).

5.4.1 Central de abastecimento farmacêutico e atividades do armazenamento

Você já deve ter ouvido falar que o local de armazenamento de medicamentos é o almoxarifado.
O nome correto do ambiente destinado ao armazenamento de medicamentos é central de
abastecimento farmacêutico (CAF). A CAF deve ter características compatíveis com o tipo e a
quantidade de produtos armazenados, como boa localização para recebimento e expedição dos
medicamentos, tamanho adequado para a quantidade de produtos a ser estocada, identificação
e sinalização das diferentes áreas da CAF, condições ambientais com controle de temperatura e
umidade para assegurar a conservação dos medicamentos ali armazenados e higienização constante
(MARIN et al., 2003).

86
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

A seguir, vamos abordar as atividades envolvidas no processo de armazenamento. A primeira etapa é


o recebimento, que consiste em avaliar a conformidade entre os produtos requisitados com os entregues.
Essa conferência deve considerar as especificações administrativas, como nota fiscal, quantidade, prazo
de entrega e preços, e também os aspectos técnicos, como laudo de controle de qualidade com os
respectivos resultados, embalagem, lote e validade (BRASIL, 2006a).

Depois, o medicamento é encaminhado para a estocagem e guarda, em que os produtos são


organizados e ordenados nos locais apropriados de acordo com as condições adequadas para a
sua conservação. Para tal, deve-se ter espaço físico suficiente e apropriado aos diferentes tipos de
medicamentos (PINTO, 2016).

O controle de estoque deve registrar todas as entradas e saídas de forma precisa com os dados do
lote para o rastreamento dos produtos. As informações sobre a gestão do estoque são fundamentais
para o gerenciamento de todo o ciclo de assistência farmacêutica. O sistema de gestão de estoque deve
informar quando o estoque atingir o ponto de reposição para orientar a compra, bem como o estoque
mínimo, também conhecido como estoque de segurança, que é a menor quantidade necessária para
atender a demanda da unidade de saúde até o reabastecimento. Assim, o controle de estoque fornece
informações para a programação e aquisição de medicamentos com a quantidade a ser comprada e
o intervalo de tempo necessário para assegurar a regularidade do abastecimento, evitando perdas ou
faltas de produtos (BRASIL, 2006a; SFORSIN et al., 2012).

O sistema de gestão pode ser informatizado ou manual, com fichas de controle de estoque. Para
auxiliar no processo de controle de estoque, são utilizadas algumas ferramentas de gestão, como é o
caso da curva ABC, que classifica os produtos em três agrupamentos, conforme a demanda.

Como a curva ABC pode te ajudar na gestão de estoque? A curva ABC permite a definição das
prioridades de reabastecimento da unidade de saúde. O emprego dessa ferramenta contribui para o
melhor uso dos recursos disponíveis, compras mais assertivas que assegurem estoques coerentes com a
demanda e redução de perdas por validade.

Na curva ABC, o grupo A é representado por 20% dos produtos que equivalem a 80% dos medicamentos
consumidos pela unidade de saúde, o que significa que, apesar de serem menos produtos, eles são os
que têm maior demanda. Portanto, o gestor deve ficar mais atento com esses medicamentos, pois o
consumo é maior e, consequentemente, a reposição é mais frequente. O grupo B corresponde a 30%
dos itens e representa 15% dos medicamentos consumidos, apresentando importância intermediária
para o controle de estoque. E, por fim, o grupo C equivale a 50% dos produtos, mas corresponde a 5%
do que é consumido, sendo menos representativos para a unidade de saúde (SFORSIN et al., 2012).
A seguir, você vê a classificação dos grupos conforme a curva A, B e C.

87
Unidade II

Grupo A → 20% dos


produtos correspondem
a 80% dos medicamentos
consumidos

Grupo B → 30% dos produtos correspondem a


15% dos medicamentos consumidos

Grupo C → 50% dos produtos correspondem a


5% dos medicamentos consumidos

Figura 17 – Classificação dos grupos da curva ABC

O farmacêutico é o responsável técnico pela CAF, atuando na supervisão e orientação de todas as


atividades da equipe. Dessa forma, o farmacêutico deve assegurar que o medicamento mantenha todas
as suas características físico-químicas, microbiológicas, além da eficácia e segurança desses produtos.
Adicionalmente, o farmacêutico é responsável por estabelecer todos os procedimentos realizados na
CAF por meio da elaboração dos procedimentos operacionais padrão (POP). Nesse sentido, cabe ao
farmacêutico elaborar o manual de boas práticas de armazenagem com informações e procedimentos
sobre normas de armazenamento, limpeza/higienização, controles de temperatura e umidade, controle
de qualidade, controle de pragas, área de produtos em quarentena, interditados e de produtos sujeitos
a controle especial. Vale ressaltar que o farmacêutico deve treinar a equipe para que ela execute os
procedimentos estabelecidos sob a sua supervisão (NEVES; PINA, 2015).

Outro fator importante sob responsabilidade do farmacêutico é o estabelecimento de um sistema


de controle de estoque eficiente que gere relatórios consistentes do que há em estoque, fundamental
para alimentar com informações gerenciais as etapas de programação e aquisição, permitindo um
gerenciamento adequado (BRASIL, 2006a).

5.4.2 Boas práticas de armazenamento de medicamentos

Você precisa ter em mente os critérios adotados para as boas práticas de armazenamento. A maioria
dos medicamentos devem ser armazenados em locais secos e frescos, com temperatura variando entre
15 °C e 25 °C e com umidade relativa do ar entre 40%-70%. Além disso, a temperatura e umidade
relativa são controladas diariamente para assegurar as condições de conservação (MARIN et al., 2003).
88
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

Todos os medicamentos precisam ser armazenados pelo prazo de validade mais antigo, os primeiros
que vencem devem estar na frente para serem usados o quanto antes. Vale destacar que os prazos
de validade têm que ser monitorados para não ocorrerem desperdícios e perdas. Outro método para
armazenamento é o sistema PEPS, que significa “primeiro que entra, primeiro que sai”. Dessa forma,
a avaliação dos produtos é feita por ordem cronológica de entrada, pois acredita-se que o primeiro
produto a chegar tenha o prazo de validade menor do que os produtos recebidos posteriormente.
De qualquer forma, é fundamental o monitoramento do prazo de validade para que os produtos com
menor validade sejam consumidos mais rapidamente (MARIN et al., 2003).

As regras de boas práticas de armazenagem foram estabelecidas recentemente pela Resolução da


Diretoria Colegiada (RDC) da Anvisa n. 304, de 17 de setembro de 2019, que define boas práticas
de armazenamento de medicamentos como o conjunto de ações que garantem a qualidade do produto
por meio do controle adequado do processo, bem como ter um sistema que garanta a proteção quanto
a medicamentos falsificados, reprovados, ilegalmente importados, roubados ou avariados/adulterados
(ANVISA, 2019).

Para tal, a CAF deve contar com quantidade de funcionários adequada à demanda e devidamente
treinados, conforme a complexidade das atividades desempenhadas. Além disso, é fundamental registrar
os treinamentos realizados com a equipe, em que esses registros devem conter as seguintes informações:
nome do colaborador, objetivos e a data da realização do treinamento, além da carga horária. Na CAF é
proibido fumar, comer, beber, manter plantas, alimentos ou qualquer objeto estranho ao setor.

As condições de armazenamento devem seguir as especificações do fabricante. Os medicamentos


avariados devem ser armazenados separadamente. Para o armazenamento, deve-se manter a distância
entre os produtos, paredes, tetos, chão e até mesmo quanto ao empilhamento, de forma a garantir a
circulação de ar e evitar a formação de zonas de calor, que elevam a temperatura do local, prejudicando
a conservação. Adicionalmente, os produtos não podem ter contato com paredes, teto ou chão, por
conta da umidade que pode favorecer o crescimento microbiano e alterar características organolépticas
(consistência, sabor, odor, cor) e tempo de desintegração. Por fim, os produtos precisam ser protegidos
da luz para evitar reações de degradação. A figura seguinte mostra estantes com prateleiras usadas para
estocagem geral dos medicamentos; para produtos empilhados ou grandes volumes são usados estrados
e pallets, que devem ser de material de fácil higienização e não sejam fonte de contaminação, como
alumínio ou plástico (BRASIL, 2006a).

89
Unidade II

A)

B)

C)

Figura 18 – Pallet, estrado e estante com prateleiras para estocagem de medicamentos

Disponível em: A) https://bit.ly/3GpbuGM; B) https://bit.ly/3miZ6QJ; C) https://bit.ly/3GrrtE2.


Acesso em: 26 out. 2021.

Você já parou para pensar em como deve ser a organização dentro da CAF?

A organização deve ser de forma lógica para evitar trocas/erros e facilitar o acesso, identificação,
manuseio e controle. Algumas formas de organização dos medicamentos são por ordem alfabética
baseada no nome genérico; forma farmacêutica, o que contribui para a otimização do espaço; grupo
terapêutico, que permite a organização de diferentes medicamentos da mesma classe; e alfanumérico,
usando sistema de sinalização das áreas, prateleiras e estrados, indicado para grandes volumes.

Periodicamente, deve-se emitir relatórios de acompanhamento do estoque e realizar inventários


para conferir se o que está registrado no sistema corresponde ao estoque físico de medicamentos.
90
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

Essa atividade consiste na contagem física dos produtos estocados para detectar possíveis divergências
no que está registrado no sistema de gestão.

Em relação aos inventários, com qual periodicidade os farmacêuticos devem fazê-los? Os


farmacêuticos devem fazer inventários sempre que assumirem a responsabilidade pela unidade de saúde
ou, ao menos, uma vez ao ano. As discrepâncias devem ser registradas e investigadas para detecção das
razões que levam as essas inconsistências, que podem ser o resultado de misturas de produtos, erros de
faturamento ou furtos (BRASIL, 2006a).

Quanto à higienização, os locais de estocagem devem ser livres de pó, lixo, animais e insetos.
As janelas devem ter tela de proteção que impeçam a entrada de insetos.

Alguns produtos exigem áreas específicas para estocagem, são eles: produtos termolábeis precisam
ser armazenados na temperatura indicada, psicofármacos devem ser estocados em áreas trancadas e
reservadas sob cuidados especiais conforme as instruções da Portaria n. 344/1998, produtos inflamáveis
devem ser armazenados em armários corta-fogo (BRASIL, 1998b; BRASIL, 2006a).

A conservação tem o intuito de manter a estabilidade e integridade do medicamento durante o seu


prazo de validade. As condições ambientais podem interferir na estabilidade dos produtos, destacando‑se:
temperatura, ventilação, luz, umidade, condições de higiene, como poeira e contaminantes. Para o
controle de temperatura, é utilizado o termômetro nas áreas de estocagem com controle e registros
diários em mapa de controle. Na tabela seguinte, você observa as temperaturas indicadas para os
diferentes ambientes de armazenamento de medicamentos.

Tabela 7 – Temperatura de ambientes para


armazenamento de medicamentos

Condição ambiental Temperatura

Temperatura ambiente 15 °C - 30 °C
Recomendada 20 °C
Ambiente fresco 8 °C - 15 °C
Câmara fria ou refrigerador 2 °C - 8 °C
Congelador ou freezer -20 °C - 0 °C

Adaptada de: Marin et al. (2003).

5.5 Distribuição e transporte de medicamentos

Agora que você compreendeu as regras para o armazenamento de medicamentos na CAF, vamos
passar para a etapa subsequente do ciclo de assistência farmacêutica, a distribuição, que visa a garantir
o suprimento da unidade de saúde durante um período, evitando o desabastecimento. Esse processo se
inicia com a solicitação da unidade de saúde para a CAF, posteriormente ocorre a separação, expedição
dos medicamentos e, por fim, o transporte até o serviço de saúde (MARIN et al., 2003; BRASIL, 2006a).

91
Unidade II

A distribuição e transporte de medicamentos devem assegurar a entrega rápida e segura para evitar
atrasos e falta de produtos, além de garantir que as quantidades corretas cheguem com a qualidade
desejada. Outro ponto importante é a rastreabilidade dos medicamentos por meio do registro dos
lotes distribuídos. Normalmente, há um cronograma de distribuição com prazos e entregas periódicas,
conforme o planejamento do serviço de saúde (BRASIL, 2011b).

O transporte deve garantir a integridade e estabilidade dos medicamentos. Para isso, esses serviços
passam por avaliação da autoridade sanitária local e seguem as boas práticas de fabricação e controle
de produtos farmoquímicos, conforme as orientações do fabricante. Para o transporte de medicamentos,
o veículo deve ter isolamento térmico, especialmente para longas distâncias e produtos como vacinas,
soros e insulina. Os motoristas devem ser treinados e orientados sobre o material transportado, bem como
sobre as condições que possam provocar alterações na qualidade do produto, como o empilhamento,
que pode danificar as embalagens. Todo esse processo deve ser monitorado por meio de sistema de
informação que controle as quantidades distribuídas pela CAF e as quantidades recebidas pelo serviço
de saúde (CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2016b).

Na distribuição, o farmacêutico é responsável pela supervisão do processo, pela elaboração dos POPs
e normas e deve treinar a equipe envolvida nessa atividade (CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO
ESTADO DE SÃO PAULO, 2016b).

5.6 Utilização de medicamentos

O principal objetivo do ciclo de assistência farmacêutica é o atendimento das necessidades de


saúde da população: garantir o acesso e o uso correto e seguro da medicação. Nesse contexto, a
utilização de medicamentos inclui as atividades de prescrição, dispensação e uso de medicamentos, que
são abordadas a seguir (BRASIL, 2011b).

5.6.1 Prescrição

A prescrição é um documento com valor legal em que todos os profissionais de saúde envolvidos
no processo de provimento de medicamentos para o paciente, tais como aqueles que prescrevem,
dispensam e administram, assumem as suas respectivas responsabilidades relativas ao tratamento.
O receituário deve ter informações claras e objetivas para fácil interpretação quanto aos medicamentos
e a sua utilização. No processo de dispensação de medicamentos, são atribuições do farmacêutico a
avaliação e interpretação das prescrições quanto aos aspectos técnicos e legais; se o receituário foi
prescrito por profissional habilitado; em caso de medicamentos sujeitos a controle especial, se segue as
exigências da Portaria n. 344/1998. Outra legislação importante na dispensação é a RDC n. 20/2011, que
determina os critérios legais necessários para o aviamento de medicamentos antimicrobianos (BRASIL,
1998b; BRASIL, 2011b; ANVISA, 2011; CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO,
2017). Na tabela a seguir, você vê o resumo dos aspectos legais exigidos pela Portaria n. 344/1998 e pela
RDC n. 20/2011.

92
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

Tabela 8 – Resumo das exigências legais para a dispensação de


medicamentos constantes na Portaria n. 344/1998 e na RDC n. 20/2011

Cor da
Tipo de notificação/ Qtde. máxima/ Validade
receita ou Qtde. máxima/
receita e outros Listas Medicamentos receita e período da
notificação receita
termos de tratamento receita
de receita
5 ampolas e
demais formas
Notificação 1 medicamento
A1, A2 e A3 Entorpecentes Amarela farmacêuticas – 30 dias
de receita A ou substância
tratamento para
30 dias
5 ampolas e
demais formas 1 medicamento
B1 Psicotrópicos Azul 30 dias
farmacêuticas ou substância
Notificação para 60 dias
de receita B
Tratamento para,
Psicotrópicos 1 medicamento
B2 Azul no máximo, 30 30 dias
anorexígenos ou substância
dias
Notificação de
receita especial 5 ampolas e
Retinoides de uso demais formas 1 medicamento
“retinoides” + termo C2 Branca 30 dias
sistêmico farmacêuticas ou substância
de consentimento para 30 dias
pós-informação
Notificação de
receita especial
“imunossupressores” Tratamento para,
+ termo de Imunossupressores 1 medicamento
C3 Branca no máximo, 30 20 dias
esclarecimento para (talidomida) ou substância
dias
o usuário + termo
de responsabilidade
do médico
C1 Controle especial 5 ampolas e
demais formas
C5 Anabolizantes farmacêuticas
para 30 dias 3 medicamentos 30 dias
5 ampolas e ou substâncias
Receita de controle Antiparkinsonianos demais formas
especial C1 e anticonvulsivantes Branca farmacêuticas
para 180 dias
Máximo 90 dias, desde que não seja
Antimicrobianos - na mesma receita de medicamento 10 dias
sujeito de controle especial

Adaptada de: Adami (2018).

5.6.2 Dispensação e uso de medicamentos

A dispensação de medicamentos consiste na entrega ou disponibilização de medicamentos ao


usuário como resposta à prescrição de um profissional habilitado, assegurando o medicamento certo, na
dose correta, em quantidade adequada e com as devidas orientações quanto à utilização desse agente
terapêutico (BRASIL, 2011b).

93
Unidade II

Como mencionado anteriormente, na dispensação de medicamentos, deve-se avaliar a prescrição.


Nessa análise, você deve garantir que a receita está legível e sem dificuldades de interpretação,
contendo o medicamento correto, na dose e posologia adequadas (BRASIL, 2011b). A dispensação não
pode ser realizada em receituários ilegíveis, com rasuras, emendas ou outro problema que possa induzir
ao erro ou confusão. Você deve analisar toda a prescrição antes da dispensação e, se houver alguma
dúvida ou problema no receituário, é seu dever entrar em contato com o prescritor para realizar os
devidos esclarecimentos. Por exemplo, se houver superdosagem, subdosagem, posologia inadequada ou
incompatibilidades/interação com os outros produtos prescritos, você deve confirmar as informações
com o prescritor, podendo inclusive não atender ao receituário se julgar essa a melhor atitude. Para tal,
você deve esclarecer os motivos da negativa do atendimento por escrito, com nome legível, número
de registro no Conselho Regional de Farmácia (CRF) e assinatura do farmacêutico, em duas vias, uma
entregue ao paciente e outra arquivada na farmácia com a assinatura do paciente.

A figura seguinte ilustra as informações que você deve conferir no receituário de medicamentos:
identificação do estabelecimento ou consultório do prescritor com dados como telefone e endereço;
nome completo do paciente; descrição do medicamento prescrito conforme a DCB, dosagem, forma
farmacêutica, posologia, quantidade a ser dispensada e duração do tratamento; identificação do
prescritor com número de registro no conselho de classe, assinatura e carimbo; informações adicionais;
local e data (BRASIL, 2006a).

Figura 19 – Modelo de receituário de medicamentos

Adaptada de: Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (2017).

94
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

Você pode conferir as informações da prescrição com o paciente por meio de perguntas como: “essa
medicação é para você?”. Se não for, você deve investigar a relação do comprador com o paciente. Essa
confirmação é necessária para esclarecer as outras informações da prescrição como o medicamento
utilizado, indicação terapêutica, forma de uso e, com isso, identificar possíveis problemas na prescrição
ou evitar erros de medicação (GALATO et al., 2008).

Observação

Erros de medicação são erros de prescrição, dispensação ou


administração de medicamentos. Estudo da Universidade Federal de Minas
Gerais (2016) estimou que, a cada 3 minutos, 2,47 brasileiros morrem em
hospitais públicos ou privados como consequência de erros de dosagem
ou administração de medicamentos, uso incorreto de equipamentos ou
infecção hospitalar.

Além da avaliação da prescrição, você deve realizar a dispensação ativa com as orientações
necessárias para assegurar o uso correto dos medicamentos. Nesse contexto, ocorre a orientação
farmacêutica, que é fundamental para sensibilizar o paciente quanto à adesão ao tratamento, o que
contribui de forma decisiva para a eficácia terapêutica. Outro ponto importante na dispensação é a
boa acolhida ao paciente, pois a abordagem humanizada pode ajudar nesse processo de sensibilização
do usuário quanto a sua responsabilidade no sucesso do tratamento. Para o atendimento humanizado,
sempre que possível, chame o paciente pelo nome, desenvolvendo a relação com o usuário para que
ele assuma as suas responsabilidades em relação à terapia, buscando a sua participação ativa (BRASIL,
1997; BRASIL, 2011b).

A seguir, destacamos as orientações que você deve transmitir ao paciente durante a dispensação,
visando a assegurar o uso correto desses agentes terapêuticos (MARIN et al., 2003; ANGONESI;
RENNÓ, 2011):

• Por que usar o medicamento: o paciente precisa saber a condição clínica que o medicamento
tratará, isso é fundamental para a sua conscientização.

• Modo de usar: orientar a posologia com os horários corretos, via de administração, quantidade e
a duração do tratamento.

• Principais interações com alimentos e outros medicamentos que possam prejudicar o efeito
terapêutico.

• Condições de armazenamento domiciliar: medicamentos que requerem refrigeração devem


ser armazenados na geladeira, mas evitar as regiões da porta e do congelador. A maioria dos
medicamentos deve ser estocada em locais frescos e secos, assim, evitar o banheiro e a cozinha,
por exemplo. Outra informação importante é destacar a importância da checagem periódica do
prazo de validade.
95
Unidade II

É dentro da dispensação que se realiza a atenção farmacêutica, ou cuidado farmacêutico, que


consiste na atuação do farmacêutico voltada diretamente para o paciente com o intuito de potencializar
a eficácia terapêutica. A atenção farmacêutica é composta por ações de: orientação farmacêutica, que
ocorre no ato de dispensar o medicamento; educação em saúde, por meio de campanhas de orientação
sobre a utilização correta desses agentes terapêuticos; e pelo acompanhamento farmacoterapêutico,
em que o farmacêutico realiza toda a avaliação do paciente quanto aos medicamentos utilizados e os
resultados clínicos obtidos e, em caso de necessidade, realiza intervenções farmacêuticas para maximizar
os resultados clínicos do paciente (MARIN et al., 2003; BRASIL, 2011b). Anteriormente, abordou-se de
forma mais detalhada as ações do farmacêutico no cuidado farmacêutico, com o intuito de garantir o
melhor uso dos medicamentos e, dessa forma, obter os melhores resultados clínicos.

Saiba mais

A seguir, você encontrará mais informações sobre o ciclo de assistência


farmacêutica nos serviços de saúde:

JARAMILLO, N. M. Uso racional de medicamentos: fundamentação em


condutas terapêuticas e nos macroprocessos da assistência farmacêutica.
Brasília: OPAS/OMS, 2016. Disponível em: https://bit.ly/3pGiLvJ. Acesso em:
26 out. 2021.

No artigo a seguir, você encontrará mais informações sobre o processo


de dispensação de medicamentos nos serviços de saúde:

GALATO, D. et al. A dispensação de medicamentos: uma reflexão


sobre o processo para prevenção, identificação e resolução de problemas
relacionados à farmacoterapia. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas,
v. 44, n. 3, p. 465-475, 2008. Disponível em: https://bit.ly/3jBmwPy. Acesso
em: 26 out. 2021.

6 GESTÃO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA

Agora que você aprendeu todo o ciclo da assistência farmacêutica, podemos comentar os aspectos
de gestão da assistência farmacêutica, destacando o papel do gestor, em que, em muitos casos, o
farmacêutico atua como responsável. Para iniciar, o que você entende como gestão?

Gestão é o conjunto de ações que visa a planejar, coordenar, controlar, avaliar, liderar e organizar.
Um dos principais pontos no processo de gestão é a liderança para o gerenciamento das atividades
envolvidas na assistência farmacêutica, pois o principal papel do gestor é conduzir pessoas e recursos
para alcançar os objetivos e obter resultados esperados (LEITE et al., 2011; VEBER et al., 2011).

96
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

Dois conceitos importantes e que se confundem muito são gestão e gerência, tanto na área
administrativa, como no campo da saúde. Dessa forma, de acordo com a Norma operacional básica do
Sistema Único de Saúde - SUS (BRASIL, 1996), gerência consiste na administração de uma unidade
de saúde que presta serviço ao SUS, por exemplo, ambulatório, hospital ou Unidade Básica de Saúde
(UBS), enquanto a gestão é mais abrangente e caracteriza-se como a atividade e responsabilidade de
administrar o sistema de saúde, que pode ser a nível municipal, estadual ou federal, desempenhando
a coordenação, negociação, planejamento, acompanhamento, controle e avaliação do sistema. Nesse
sentido, gestão é um processo técnico, político e social com o intuito de atingir resultados. A gestão
da assistência farmacêutica exige embasamento científico, informações robustas sobre o sistema de
saúde e o uso de medicamentos por uma determinada população, de forma sistematizada, atualizada e
baseada em dados epidemiológicos e sociais para orientar os processos de tomada de decisão e conduzir
para o resultado desejado. Assim, a gestão da assistência farmacêutica exige o uso de técnicas para
o diagnóstico situacional, para identificação e priorização de problemas com o intuito de orientar o
planejamento das ações necessárias para atingir os resultados esperados, ou seja, para fazer a assistência
farmacêutica acontecer (BRASIL, 2007b).

Vale destacar que a assistência farmacêutica é um dos setores que tem maior impacto financeiro
na área da saúde em âmbito municipal, estadual e federal. Além disso, essa demanda é crescente. Dessa
forma, a gestão adequada dos recursos escassos é primordial para evitar perdas, desperdícios e qualquer
outro mau uso do investimento público (BRASIL, 2011a).

Como realizar a gestão da assistência farmacêutica?

A boa gestão da assistência farmacêutica é o resultado de ações de planejamento, execução,


acompanhamento e avaliação contínua dos resultados, o que ocorre como um ciclo, em que a avaliação
levará a novas atividades de planejamento, execução, acompanhamento e avaliação de forma sucessiva
e contínua, como você pode visualizar a seguir (MARIN et al., 2003; VEBER et al., 2011).

Planejamento Execução

Avaliação Acompanhamento

Figura 20 – Ciclo de gestão da assistência farmacêutica


para a maximização dos resultados

97
Unidade II

A seguir, são descritas algumas estratégias para a organização e gestão da assistência farmacêutica.
Uma das principais ferramentas de gestão é o planejamento, que orienta as ações do presente para a
organização e estrutura as atividades com vistas a modificar e melhorar uma realidade. Nesse sentido,
existem algumas regulamentações que são instrumentos utilizados para orientar o planejamento da
assistência farmacêutica, tais como Plano Nacional de Saúde, Plano Plurianual, Lei Orçamentária Anual
e Programação Pactuada e Integrada (MARIN et al., 2003).

Entre as atividades que devem ser planejadas e executadas na gestão da assistência farmacêutica,
destaca-se: estrutura física nos serviços de saúde, capacidade instalada para o atendimento das
demandas da população, a modernização dos serviços, a capacidade de ampliação das atividades e os
equipamentos necessários para a execução das tarefas. Além disso, é fundamental a existência de fluxo
administrativo lógico, ágil, simples e racional dos processos e do conhecimento e treinamento de todos
os envolvidos com a implantação e execução dos procedimentos de acordo com os POPs, que visam à
padronização de todas as ações (BRASIL, 2007b).

6.1 Estrutura e gestão de pessoas

A gestão da assistência farmacêutica deve contar com estrutura organizacional por meio da definição
da coordenação ou gestor para a condução das diferentes ações dessa complexa área, que requer recursos
físicos, financeiros, humanos e tecnológicos. A assistência farmacêutica é multidisciplinar, envolvendo
diferentes profissionais, mas o farmacêutico é um dos atores principais, pois é o profissional legalmente
responsável pelo medicamento, sendo imprescindível sua ação no ciclo da assistência farmacêutica.
A estrutura das ações de assistência farmacêutica pode ser realizada por meio de núcleos de atividades
(núcleos de aquisição, programação, distribuição, capacitação de recursos humanos, entre outros) ou
utilizando os grupos de medicamentos (componente básico, estratégico e especializado) (MARIN et al.,
2003; BRASIL, 2011a).

Para a estruturação, aprimoramento e integração da assistência farmacêutica, o Ministério da Saúde


criou, em 2012, o Programa Nacional de Qualificação da assistência farmacêutica no SUS (Qualifar-SUS)
para os municípios elegíveis. Esse programa visa à qualificação das áreas de gestão e cuidado da
assistência farmacêutica, sendo dividido em quatro eixos (BRASIL, 2012):

• Eixo estrutura: promove estruturação física da assistência farmacêutica, visando à ampliação do


acesso a medicamentos. Para tal, houve a destinação de recursos financeiros para reestruturação
das CAFs e farmácias da atenção básica com equipamentos, mobiliários e recursos humanos
(BRASIL, 2012; BRASIL, 2021b).

• Eixo educação: proporciona programas de educação e capacitação permanente para o


aprimoramento das atividades dos profissionais de saúde envolvidos na assistência farmacêutica.
Dessa forma, são ofertados cursos de gestão em programas de EaD, como o curso da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, intitulado “Farmacêuticos na atenção básica/primária à saúde:
trabalhando em rede”, que é uma excelente oportunidade para o desenvolvimento profissional
(BRASIL, 2012).

98
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

• Eixo informação: elaboração de sistema de informação capaz de avaliar as ações e serviços


de saúde e favorecer o processo contínuo de obtenção de dados para o acompanhamento e avaliação da
gestão da assistência farmacêutica. Assim, foi criado o Sistema Hórus (Sistema Nacional de Gestão
da assistência farmacêutica), que é disponibilizado pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2012).
• Eixo cuidado: inseriu as práticas clínicas nos serviços farmacêuticos por meio do monitoramento
dos resultados terapêuticos. Esse eixo visa à otimização dos benefícios do tratamento e a
redução dos riscos relacionados aos medicamentos por meio do uso racional de medicamentos
e a disponibilização de informações farmacoepidemiológicas para os profissionais de saúde
(BRASIL, 2012).

Um dos pontos críticos nos processos de gestão, inclusive, da assistência farmacêutica é a gestão
de pessoas, que é uma tarefa complexa, pois os recursos humanos são determinantes para a execução
das atividades e a concretização dos objetivos. Assim, o líder deve ter influência positiva sobre a sua
equipe de forma a motivá-la para a extração dos melhores resultados. Nesse sentido, os colaboradores
precisam compreender a importância do seu trabalho e estar comprometidos e motivados para atingir
os objetivos. Além de treinamento, o gestor deve manter canais de comunicação permanentes com
a equipe, além de incentivar a participação coletiva, inclusive nas tomadas de decisão, para que o
colaborador se sinta parte do processo e continue engajado na busca da melhoria contínua dos serviços
prestados (BRASIL, 2011b).

A capacitação permanente da equipe é fundamental para a qualificação dos serviços farmacêuticos.


Para isso, as Secretarias Estaduais de Saúde têm a Escola de Saúde Pública, que promove cursos com
essa finalidade, além da possibilidade de organização de fóruns de discussão, seminários ou oficinas de
gestão para o envolvimento de servidores (BRASIL, 2007b).

Vimos a importância do gestor para o processo de gestão da assistência farmacêutica, mas qual é o
perfil do gestor ideal?

O gestor ideal deve ser: íntegro, flexível, ético, proativo, ter visão estratégica e de toda a organização
envolvida no serviço. Além disso, deve ter as seguintes habilidades: liderança, negociação e foco no
resultado, além das capacidades de tomar decisão, estimular e motivar a equipe (MARIN et al., 2003;
LEITE et al., 2013).

6.2 Acompanhamento e avaliação

O acompanhamento e a avaliação das atividades garantem a solidificação da assistência


farmacêutica. Para isso, é fundamental a implantação de sistemas de gerenciamento de informação
para o controle das ações e subsídio para a tomada de decisão dos gestores. Esses sistemas devem
refletir a realidade dos serviços em tempo real e disponibilizar indicadores definidos pelo gestor para
o aprimoramento, qualificação dos serviços e tomada de decisão, bem como para a racionalização
do uso dos recursos públicos (BRASIL, 2011b).

Para acompanhar e avaliar a gestão da assistência farmacêutica, você deve ter em mente a
necessidade da elaboração e monitoramento dos indicadores, que darão a dimensão do desempenho

99
Unidade II

da atividade, apontando para as conquistas e problemas do serviço e indicando os pontos a serem


aprimorados. Na maioria das vezes, a assistência farmacêutica é vista apenas como operação técnica
com foco na disponibilização do medicamento, com visão simplista e reduzida desse processo. Assim, é
comum a interpretação de que a gestão da assistência farmacêutica consiste em um conjunto de ações
técnico-operacionais delimitadas a garantir o acesso e os cuidados necessários para a preservação do
medicamento. No entanto, dentro da assistência farmacêutica estão os serviços farmacêuticos, em que
mais que disponibilizar o produto, o farmacêutico deve atuar integrado ao processo de cuidado do usuário
e junto à equipe de saúde na busca pelos melhores resultados terapêuticos, garantindo as informações e
orientações necessárias para a utilização segura e racional dos medicamentos. Nesse contexto, o foco
parte do produto para o usuário do sistema de saúde e como ele irá utilizar o medicamento, que é o
instrumento para o tratamento de sua condição clínica. É muito comum termos indicadores que enfatizam os
aspectos logísticos da disponibilização do medicamento, mas não ferramentas que mensurem a atuação
do profissional junto ao paciente, diferente do que acontece com outras profissões da área da saúde.
Portanto, é preciso integrar tanto ações que garantam o acesso como as atividades que visam ao uso
racional do medicamento (BRASIL, 2007b).

Em geral, não temos indicadores para a medida da produtividade da atuação direta dos farmacêuticos
junto à população na atenção básica. Para isso, deve-se determinar as atividades desenvolvidas pelos
serviços farmacêuticos com os procedimentos e ações para definir os indicadores capazes de medir essas
atividades (LEITE et al., 2013).

O gestor deve enxergar o processo de avaliação como uma forma de identificar os fatores que
precisam ser corrigidos, assim como os avanços/acertos e os rumos que a organização deve tomar.
A avaliação deve ser conduzida de forma que a equipe não tenha medo de ser avaliada, mas que todos
enxerguem a avaliação como instrumento para identificar os obstáculos a serem percorridos. Além
do caráter fiscalizador, a avaliação é uma ferramenta educativa e que permite a troca de experiências
positivas (LEITE et al., 2011).

6.3 Indicadores para avaliação da assistência farmacêutica

Como saber se a assistência farmacêutica atingiu os seus objetivos? Para isso, a medida do desempenho
do serviço é fundamental para retratar a situação inicial por meio de indicadores de desempenho que
permitirão a identificação dos problemas em caso de resultados insatisfatórios e a elaboração de um
plano de ação para alcançar os resultados almejados. A avaliação de desempenho é realizada em relação
à distância entre a situação atual e o que se pretende alcançar. Os indicadores de desempenho estão
muito relacionados à garantia da qualidade e excelência do serviço de saúde (LEITE et al., 2013).

Situação atual Distância Objetivos

Indicadores de desempenho

Figura 21 – Processo de avaliação

100
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

E como você pode elaborar esses indicadores de desempenho importantes para o monitoramento da
gestão da assistência farmacêutica?

Os indicadores podem ser de estrutura, processos ou resultados. Estudos propõem alguns indicadores
que podem ser utilizados pelo SUS para a avaliação de desempenho da assistência farmacêutica.
A seguir, são descritos alguns indicadores que você pode utilizar para medir a eficiência do serviço
(BRASIL, 2006a; BRASIL, 2011b; SANTOS; LIMBERGER, 2018):

• Existência da assistência farmacêutica na estrutura organizacional do serviço de saúde.

• Existência da CFT estruturada, atuante e com reuniões periódicas.

• Existência da relação de medicamentos essenciais, o que compatibiliza os recursos financeiros


com a necessidade do serviço.

• Número de reclamações dos usuários dos serviços de saúde.

• Estrutura física adequada para as atividades desempenhadas.

• Número de farmacêuticos adequado à demanda do serviço.

• Número de farmacêuticos atuando no serviço de farmácia clínica que podem identificar erros
de medicação como dose incorreta, duplicidade terapêutica, forma farmacêutica e vias de
administração inadequadas.

• Indicador de aderência dos pacientes ao protocolo terapêutico.

• Índice de erros de medicação, que permite determinar a qualidade da assistência e segurança do


paciente, bem como a definição dos principais erros.

• Capacitação de recursos humanos por meio da existência de programas de educação continuada


para o aumento de profissionais capacitados, visando a garantir a qualidade dos serviços prestados.

• Participação dos farmacêuticos em comissões.

• Número de servidores em cada atividade.

• Porcentagem média da programação de medicamentos efetivada.

• Recursos financeiros para aquisição de medicamentos por fonte de financiamento.

• Recursos gastos por componente de financiamento da assistência farmacêutica.

101
Unidade II

• CAF organizada com eficiente controle de estoque.

• Existência de procedimentos preventivos para evitar desperdício de medicamentos, por exemplo,


por perda por validade.

• Porcentagem de demanda não atendida.

• Porcentagem de medicamentos atendidos.

• Porcentagem de medicamentos disponíveis em estoque.

• Porcentagem de medicamentos vencidos em estoque.

• Número médio de medicamentos por prescrição.

• Consumo médio mensal, estoque mínimo e ponto de ressuprimento para cada item constante da
padronização para o monitoramento do estoque.

• Índice de devolução de materiais e medicamentos, com vistas a evitar o empenho de recursos


financeiros pela ineficiência da assistência farmacêutica, racionalizando o investimento de
recursos públicos, além de garantir a disponibilidade dos produtos necessários.

• Cumprimento dos POPs com avaliação periódica e estabelecimento de padrões de qualidade.

• Conciliação medicamentosa para redução do número de problemas relacionados a medicamentos


e otimização de recursos financeiros e humanos no tratamento dos pacientes.

Observação

Conciliação medicamentosa consiste na avaliação terapêutica


da posologia, interações medicamentosas ou com alimentos, via de
administração, indicação terapêutica e os efeitos adversos, o que poderá
resultar em alguma intervenção farmacêutica.

Além desses indicadores, outros podem existir, o importante é que a equipe de gestão da assistência
farmacêutica selecione os indicadores que correspondem a sua realidade, que devem ser medidos com
o intuito de monitorar o desempenho e aprimorar o processo. Infelizmente, na assistência farmacêutica
no SUS, poucos são os indicadores implantados e avaliados efetivamente (BRASIL, 2007b).

O que você deve considerar para a seleção de um indicador? Deve-se considerar: se a atividade a ser
medida é relevante para o que se pretende avaliar, se os dados podem ser coletados e se são confiáveis,
e se o indicador pode ser usado em todas as situações a serem avaliadas (LEITE et al., 2011).

102
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

6.4 Critérios utilizados, dados epidemiológicos e respectivos bancos de


dados (DataSUS)

O acesso às informações permite o conhecimento da rede de saúde, do perfil dos usuários, dos
serviços prestados e a obtenção dos indicadores. Você sabia que o Brasil tem um sistema unificado para
o compartilhamento de dados em saúde? O DataSUS é o sistema unificado do SUS, que coleta, processa
e dissemina as informações sobre o sistema de saúde brasileiro. É uma plataforma única e integrada
que proporciona a informatização do SUS e mantém atualizadas as bases de dados estatísticos sobre
vários indicadores de saúde no país, como os indicadores e dados básicos para a saúde (IDB), dados de
morbidade e incapacidade.

As informações disponibilizadas pelo DataSUS subsidiam a elaboração de políticas públicas por


meio da análise da situação sanitária e tomadas de decisão baseadas em evidências, além de serem
importantes para orientar os profissionais de saúde. O DataSUS permite a disseminação de dados
em saúde para pesquisa, gestão e controle social; desenvolvimento de outros sistemas necessários
para o SUS, além do incentivo e apoio à Rede Nacional de Informações em Saúde. Em relação à
assistência à saúde da população, no DataSUS estão disponíveis informações sobre as redes hospitalares
e ambulatoriais cadastradas, bem como sobre os recursos financeiros e os dados demográficos e
socioeconômicos. Entre os dados epidemiológicos, no DataSUS obtém-se informações sobre nascidos
vivos, mortalidade, serviços ambulatoriais (consultas, exames e cirurgias), internações para a pesquisa e
tomada de decisão dos gestores públicos, profissionais de saúde e pesquisadores.

Com o auxílio do DataSUS, foi criado o sistema Hórus, que proporciona aos gestores o controle
mais eficiente dos recursos financeiros nos processos logísticos da assistência farmacêutica, como
as atividades de: aquisição e distribuição dos medicamentos; maior controle de estoque, evitando
desperdícios e paralisação no fornecimento de produtos; obtenção de informações que serão convertidas
em indicadores para o planejamento de ações, acompanhamento e avaliação desse processo. Para os
profissionais de saúde, é possível determinar o perfil de consumo de medicamentos pela população, bem
como os problemas de saúde e o rastreamento dos medicamentos dispensados. Quanto aos usuários,
o sistema permite o agendamento da dispensação e informações sobre os medicamentos dispensados
(BRASIL, 2012).

7 ASPECTOS LEGAIS DA PRESCRIÇÃO DE MEDICAMENTOS POR FARMACÊUTICOS


E OUTROS PROFISSIONAIS NÃO MÉDICOS

Você sabia que farmacêuticos podem prescrever medicamentos?

Os farmacêuticos habilitados à prescrição devem ser capazes de realizar a anamnese farmacêutica,


o que requer conhecimentos e habilidades clínicas em semiologia farmacêutica, fisiopatologia,
comunicação interpessoal, farmacologia clínica e terapêutica, regulamentações sanitárias e profissionais.
Nesse sentido, observa-se nos profissionais farmacêuticos a busca por essa capacitação por meio de
cursos de especialização que tragam essa formação (CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO
DE SÃO PAULO, 2017).

103
Unidade II

Observação

Semiologia farmacêutica é a ciência que busca a identificação de sinais


e sintomas do quadro clínico que o paciente apresenta.

A RDC do Conselho Federal de Farmácia (CFF) n. 585, de 29 de agosto de 2013, determina a consulta
farmacêutica como uma das atribuições clínicas do farmacêutico relacionada ao cuidado da saúde
individual ou coletiva. A consulta farmacêutica deve ser realizada em consultório farmacêutico ou
ambiente isolado adequado. No mesmo dia, o CFF publicou, também, a RDC n. 586, que regulamenta a
prescrição de medicamentos por farmacêuticos. A prescrição farmacêutica poderá ocorrer em diferentes
estabelecimentos farmacêuticos, como consultórios, serviços e níveis de atenção à saúde. Além dos
conhecimentos requeridos para a prática da prescrição farmacêutica, o farmacêutico deve estar
devidamente registrado no CRF da sua jurisdição. A prática da prescrição deve obedecer ao Código de
Ética Farmacêutica, em que os farmacêuticos respondem pelos seus atos e pelos atos que autorizarem
outras pessoas a realizar durante o exercício profissional (BRASIL, 2013a; BRASIL, 2013b; CONSELHO
REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2017).

7.1 Protocolos de prescrição por profissionais não médicos

Além dos médicos e dos farmacêuticos, quais outros profissionais podem fazer a prescrição de
medicamentos? E o que os profissionais não médicos podem prescrever?

A prescrição de medicamentos por profissionais não médicos visa à ampliação do acesso aos serviços
de saúde pela população, aumentando a cobertura da assistência e a capacidade de resolução dos
problemas, além de atribuir maior responsabilidade aos demais profissionais no manejo clínico
dos pacientes e a intensificação do processo de cuidado. Assim, a prática de prescrição ganha caráter
multiprofissional, de acordo com as especificidades de cada profissão. Existem diferentes regulamentações
específicas para a prescrição de medicamentos por profissionais não médicos. No quadro seguinte, você
pode visualizar os outros profissionais aptos a dar prescrição e o que eles podem prescrever (CONSELHO
REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DO PARANÁ, 2017).

Quadro 16 – Resumo das atribuições de profissionais não médicos na


prescrição de medicamentos

Legislação que
Profissional de saúde Atribuições
regulamenta
Lei n. 5081/1966 Especialidades farmacêuticas indicadas em odontologia, incluindo
produtos controlados e antimicrobianos, além de medicamentos
Cirurgião-dentista Portaria n. 344/1998 e de urgência em casos de acidentes graves que comprometam a
RDC Anvisa n. 20/2011 vida e a saúde do paciente
RDC do Conselho Federal Biomédicos habilitados em estética podem prescrever
Biomédico de Biomedicina medicamentos usados nas técnicas estéticas e intradermoterapia,
n. 241/2014 como toxina botulínica, peelings químicos e enzimáticos

104
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

Legislação que
Profissional de saúde Atribuições
regulamenta
É permitida a prescrição de medicamentos estabelecidos em
programas de saúde pública e em rotina aprovada pela instituição
Enfermeiro Lei n. 7498/1986 de saúde, de acordo com os protocolos aprovados. Os receituários
prescritos por enfermeiros não podem ser atendidos em
farmácias particulares
É permitida a prescrição de suplementos nutricionais para
complementação da dieta. A RDC autoriza o uso da fitoterapia
Lei n. 8234/1991 apenas para complementar a prescrição dietética. A receita de
Nutricionista RDC do Conselho Federal plantas medicinais e chás é autorizada, enquanto a prescrição de
de Nutrição n. 556/2015 medicamentos fitoterápicos, produtos tradicionais fitoterápicos e
preparações magistrais fitoterápicas isentas de prescrição só
é permitida ao portador de título de especialista em fitoterapia
Especialidades farmacêuticas indicadas para uso veterinário,
incluindo controlados e antimicrobianos. Em algumas situações,
Portaria n. 344/1998 e
Médico-veterinário o veterinário pode prescrever medicamentos para uso humano,
RDC Anvisa n. 20/2011 desde que eles contribuam no tratamento do animal. Nesse caso,
a legislação não proíbe essa conduta e prevê essa possibilidade
Medicamentos isentos de prescrição e, sob circunstâncias
Farmacêutico RDC CFF n. 586/2013 excepcionais, medicamentos sujeitos à prescrição

Adaptado de: Conselho Regional de Farmácia do Estado do Paraná (2017).

A prescrição farmacêutica destina-se, principalmente, a problemas de saúde autolimitados,


contribuindo na redução da demanda dos profissionais médicos na atenção primária à saúde para que
possam se dedicar ao cuidado de pacientes com condições clínicas de maior complexidade. Na área
farmacêutica, a consulta e prescrição são grandes marcos que colaboram no processo de reconhecimento
do farmacêutico como profissional de saúde pública e para que a farmácia seja valorizada como
estabelecimento de saúde (BRASIL, 2013a).

7.2 Consulta farmacêutica

Agora que você viu que o farmacêutico pode prescrever medicamentos dentro do seu âmbito
profissional, vamos abordar os passos necessários para que a prescrição possa ser feita, entre essas
etapas importantes, está a consulta farmacêutica.

A consulta farmacêutica é uma ferramenta para a acompanhamento farmacoterapêutico do


paciente e que pode resultar na prescrição farmacêutica. Na consulta por meio da interação direta com
o paciente, o profissional busca a prevenção e resolução de problemas relacionados ao tratamento, bem
como suprir as necessidades de saúde do paciente. Essa atividade deve ser composta por: acolhimento,
análise situacional, elaboração do plano de cuidado e monitoramento do usuário. Nesse sentido, a
seguir, discutiremos as etapas importantes da consulta farmacêutica, que dentro do plano de cuidado,
pode gerar a prescrição de medicamentos (CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO
PAULO, 2016a).

O acolhimento se inicia quando o paciente faz algum relato ou solicita algum medicamento. Nessa
etapa, há a construção do relacionamento terapêutico com o paciente, em que o farmacêutico deve

105
Unidade II

descrever os objetivos e a estrutura da consulta farmacêutica e do acompanhamento farmacoterapêutico


para que o paciente decida se tem interesse em prosseguir com o atendimento.

A anamnese farmacêutica é a coleta de dados em relação ao histórico clínico e de medicamentos,


bem como as necessidades de saúde. Nesse momento, o farmacêutico traça o perfil do paciente.

Como pode ser feita a coleta de dados?

Para a coleta de dados, é importante que o usuário leve os medicamentos utilizados, receituários
e os exames mais recentes. A coleta de informações requer do farmacêutico os conhecimentos de
anamnese e semiologia para a melhor condução dessa atividade e, posterior, avaliação dos dados
coletados. A seguir, você pode observar as informações que devem ser colhidas durante a anamnese
na consulta farmacêutica.

Identificação do paciente

Histórico familiar e social

Descrição dos problemas de saúde

Consulta Histórico médico pregresso

Medicamentos utilizados

Uso de outras terapias

Alergias e reações adversas a medicamentos

Figura 22 – Informações importantes a serem coletadas durante a anamnese farmacêutica

A seguir, nós destrinchamos as informações que precisam ser colhidas para orientação da anamnese
farmacêutica (CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2016a).

Na identificação do paciente, as informações coletadas são nome, data de nascimento, idade, gênero,
peso, altura, escolaridade, ocupação, telefone e endereço.

Histórico familiar e social são sobre o consumo de bebidas alcoólicas, tabagismo, drogas, hábitos
alimentares e prática de atividade física. Além disso, questionar o histórico de doenças dos pais, como
hipertensão, diabetes, hipercolesterolemia e câncer.

Deve ser feita a descrição dos problemas de saúde quanto a quais doenças já foram diagnosticadas
e são tratadas – esse registro deve ser realizado com base em exames clínico-laboratoriais. Na figura
a seguir, constam alguns questionamentos importantes que você pode fazer ao paciente em relação à
descrição dos problemas de saúde.

106
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

Início e duração
dos sintomas

Situações que Localização dos


aliviam e agravam sintomas
os sintomas
Descrição dos
problemas de saúde

Percepção do Características com


paciente quanto descrição específica
à gravidade

Figura 23 – Dados que devem ser coletados para a descrição dos problemas de saúde do paciente

O histórico médico pregresso diz respeito ao histórico de hospitalizações, cirurgias, acidentes e lesões.

Quanto aos medicamentos utilizados, é importante saber se são aqueles que podem ser prescritos
por profissionais de saúde ou usados na prática da automedicação. O farmacêutico precisa conhecer
a rotina de medicação do paciente. Aqui, você precisa coletar o nome do medicamento, concentração,
indicação, via de administração, dose, frequência, posologia, uso concomitante com outros
medicamentos ou alimentos, percepção do paciente e se há dificuldades na utilização.

Outras terapias incluem medicina tradicional chinesa, acupuntura, homeopatia e fitoterapia.

Por fim, deve-se questionar sobre alergias e reações adversas a medicamentos: se o paciente tem
alergia a medicamentos ou alimentos, se já passou mal com algum medicamento ou apresentou efeitos
adversos que possam contraindicar o uso de produto.

Na análise situacional, após a anamnese farmacêutica, o profissional deve analisar os problemas


de saúde do paciente e os medicamentos utilizados com o intuito de identificar resultados negativos
associados ao tratamento. Nessa etapa, o farmacêutico avalia se os medicamentos utilizados são
necessários, efetivos, seguros ou se há alguma condição clínica não tratada. A partir dessa análise,
desenvolve-se o plano de ação com potenciais intervenções farmacêuticas, como conversas com o
médico que acompanha o paciente ou a prescrição de medicamentos de acordo com o âmbito do
profissional farmacêutico.

A elaboração do plano de ação é feita após a avaliação situacional do paciente. O farmacêutico


irá elaborar um plano de cuidado com o intuito de tratar os problemas de saúde e potencializar

107
Unidade II

o tratamento. Esse plano deve ter metas terapêuticas, intervenções farmacêuticas, ações e
responsabilidades pactuadas entre o paciente e o farmacêutico.

São necessários o retorno e acompanhamento do paciente para avaliar o cumprimento das metas
terapêuticas estabelecidas no plano de cuidado (CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE
SÃO PAULO, 2016a).

7.3 Prescrição farmacêutica

A prescrição farmacêutica é uma das intervenções clínicas do farmacêutico, que consiste na seleção
e documentação dos medicamentos adequados para o tratamento de sinais e sintomas autodelimitados
do paciente, visando a atender as necessidades do usuário de forma técnica e precisa por meio da
terapia farmacológica, não farmacológica, cuidados relativos à saúde ou encaminhamento para outro
profissional indicado para avaliar o problema reportado pelo paciente. A prescrição é o resultado de
um plano de cuidado estabelecido pelo farmacêutico, de acordo com a análise da situação para o
atendimento das suas necessidades de saúde e com base em evidências científicas e princípios éticos.
Para a prescrição, define-se o objetivo terapêutico e seleciona-se a opção medicamentosa ou não,
conforme os seus limites profissionais e de acordo com os critérios de segurança, eficácia, custo e
conveniência. Em seguida, a prescrição é redigida e o paciente é orientado. Posteriormente, avaliam-se
os resultados obtidos (BRASIL, 2013b). A prescrição farmacêutica deverá ser realizada em local reservado
e documentada em receituário próprio, garantindo a privacidade e segurança do paciente.

Como fazer a prescrição farmacêutica?

A prescrição farmacêutica deve ser redigida por extenso, de forma legível, sem rasuras e deve conter
nome completo do paciente, descrição do tratamento com nome do medicamento de acordo com
a DCB ou DCI, concentração/dinamização, forma farmacêutica, via de administração, frequência de
uso, duração do tratamento e demais informações que forem necessárias para a sua utilização correta
e segura. Adicionalmente, a prescrição deve conter a identificação do estabelecimento de saúde,
do farmacêutico com nome completo, assinatura, número do registro no CRF, carimbo e local e data do
receituário. Na figura seguinte, você pode observar um modelo de prescrição farmacêutica com as
informações que devem constar nesse documento (BRASIL, 2013b; CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA
DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2016a).

Atenção: no processo de prescrição são proibidos o uso de códigos, abreviaturas, receitas sem
identificação do paciente, a assinatura do farmacêutico em receituários em branco e a utilização da
prescrição para propaganda e publicidade (BRASIL, 2013b; CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO
ESTADO DE SÃO PAULO, 2016a).

108
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

Figura 24 – Ilustração da prescrição farmacêutica

Adaptada de: Conselho Regional de Farmácia do Estado de Minas Gerais (2013).

Agora você deve estar se perguntando: o que o farmacêutico pode prescrever?

Ao farmacêutico é permitida a prescrição de medicamentos e produtos com fins terapêuticos que


não exijam prescrição médica, sejam especialidades farmacêuticas ou medicamentos manipulados
alopáticos ou homeopáticos, plantas medicinais ou drogas vegetais. Os medicamentos isentos
de prescrição (MIP) podem ser prescritos por farmacêutico legalmente habilitado e registrado
no CRF de sua jurisdição. Os MIP são utilizados para o tratamento de doenças de alta morbidade e baixa
gravidade, como resfriados, diarreias, desidratação leve, dor de cabeça, azia e má digestão. Além disso,
esses medicamentos são considerados de elevada segurança e uso tradicionalmente reconhecido.
A lista de MIP foi atualizada em 2021 e atualmente estão disponíveis 257 fármacos e 51 medicamentos
fitoterápicos (CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2010; CONSELHO
REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2017).

109
Unidade II

Saiba mais

No link a seguir, você encontra a lista de MIP recentemente atualizada:

BRASIL. Instrução Normativa n. 86, de 12 de março de 2021. Define


a lista de medicamentos isentos de prescrição. Diário Oficial da União,
Brasília, 17 mar. 2021. Disponível em: https://bit.ly/3GmUvVB. Acesso em:
26 out. 2021.

Já para prescrições de maior complexidade, como os medicamentos que exigem receituário médico
para a dispensação, o farmacêutico deve ter título de especialista na área clínica. Além disso, é permitida
a prescrição farmacêutica desses produtos, desde que haja diagnóstico prévio e apenas de medicamentos
definidos em programas, protocolos clínicos, diretrizes terapêuticas ou normas técnicas determinadas
para utilização de medicamentos em instituições de saúde. Nesse ponto, observa-se a intenção de
regulamentar práticas que ocorrem nas unidades públicas de saúde e hospitais, em que o farmacêutico,
em determinadas situações, prescreve medicamentos para pacientes que já estão em tratamento de
doenças crônicas não transmissíveis. Apesar de possível, a prescrição de medicamentos que requerem
prescrição, em farmácias comunitárias e em consultórios farmacêuticos, é menos comum, pois depende
de diagnóstico e da formalização de acordos com outros profissionais de saúde (CONSELHO REGIONAL
DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2017).

A prescrição de medicamentos dinamizados e práticas integrativas e complementares (PIC) devem


seguir os conhecimentos relativos as essas opções terapêuticas, e do farmacêutico é exigido o título de
especialista em homeopatia ou antroposofia (BRASIL, 2013b; CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO
ESTADO DE SÃO PAULO, 2017).

Observação

Práticas integrativas e complementares são recursos terapêuticos que


estimulam mecanismos naturais para prevenção e recuperação da saúde.

Outra possibilidade de prescrição é de terapias não farmacológicas e outras intervenções relacionadas


ao cuidado do paciente, como mudanças de hábitos alimentares e prática de exercícios físicos leves a
moderados (BRASIL, 2013a).

Você precisa ter em mente que o farmacêutico que prescrever medicamentos, além do seu âmbito
profissional preconizado pela RDC do CFF n. 586/2013, poderá responder a processo ético-disciplinar,
conforme o Código de Ética Farmacêutica, com penalidades que podem variar de advertência, multa ou
suspensão da atividade profissional. Além disso, esse profissional poderá responder, também, a processo
civil e criminal. Por fim, ao farmacêutico é proibida a modificação de prescrição de medicamentos

110
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

emitida por outro profissional de saúde, com exceção em caso de autorização do prescritor. Nessa
situação, a alteração deverá ser acompanhada de justificativa (BRASIL, 2013b).

8 CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS E DESCARTE E


GERENCIAMENTO DE MEDICAMENTOS

Você já ouviu falar sobre os centros de informação de medicamentos (CIM)?

O CIM é o setor que reúne, analisa, avalia, promove e divulga informações técnico-científicas sobre
medicamentos, assim, atua no atendimento de necessidades específicas de informação. As orientações
podem ser fornecidas de forma verbal ou escritas aos profissionais de saúde, pacientes ou consumidores.
Muitas vezes, o serviço de informação sobre medicamentos (SIM) é utilizado como sinônimo de CIM,
mas o SIM difere do CIM em relação aos recursos, estrutura e alcance do trabalho, sendo que o SIM visa
ao fornecimento da informação para atendimento da demanda interna de uma instituição ou unidade
de saúde, como de um hospital. Já o CIM é mais abrangente e atende a demanda de informações de um
país, região ou estado (SOUSA, 2013).

O primeiro serviço de informação sobre medicamentos foi criado no Centro Médico da Universidade
de Kentucky nos Estados Unidos em 1962. As contribuições farmacoterapêuticas que os CIMs trouxeram
aos serviços de saúde levaram a sua rápida expansão ao redor do mundo. No Brasil, o primeiro SIM surgiu
em 1979 no Hospital Professor Onofre Filho da Universidade do Rio Grande do Norte e, atualmente, o
país conta com a Rede Brasileira de Centros e Serviços de Informação sobre Medicamentos (Rebracim),
instituída pelo Ministério da Saúde através da Portaria n. 2647/2013 (SILVA et al., 1997; SOUSA, 2013).

8.1 Objetivos do CIM

Os medicamentos precisam estar acompanhados da informação adequada para o seu uso correto
e seguro. Nesse sentido, a Organização Mundial de Saúde considera o CIM uma atividade efetiva para
garantir o uso racional de medicamentos, por meio do fornecimento de informações seguras, precisas,
efetivas, econômicas, atualizadas e com base na ciência. É preciso ter em mente que a qualidade e
a independência das informações são tão importantes quanto a qualidade dos medicamentos, pois
influenciam na seleção e utilização desses instrumentos terapêuticos. A necessidade de informações
confiáveis fica ainda mais evidente quando consideramos que boa parte dos dados usados por profissionais
de saúde são oriundos de conteúdo publicitário e comercial produzido pela indústria farmacêutica.

Agora que você teve um pouco de contato com o CIM, você consegue enxergar as contribuições
desse serviço para a sociedade, especialmente nos dias de hoje, em que enfrentamos uma avalanche de
notícias falsas?

Os CIMs provêm informações independentes; atendem as necessidades individuais e coletivas em


tempo mínimo com ampla cobertura e baixo custo; subsidiam as tomadas de decisão terapêuticas
baseadas em evidências científicas; identificam problemas relacionados a medicamentos; funcionam
como acervo documental de informação à disposição dos profissionais de saúde; auxiliam na
formação de especialistas em informação sobre medicamentos e estimulam a busca por informação
111
Unidade II

independentemente pela equipe de saúde; ampliam o conhecimento sobre medicamentos para pacientes
e público em geral, visando a uma maior adesão ao tratamento e ao autocuidado; reduzem os custos
dos serviços de saúde relativos ao tratamento; ajudam na elaboração de políticas públicas em âmbito
nacional, regional ou institucional com a criação e implantação de listas de medicamentos essenciais,
formulários farmacoterapêuticos e protocolos clínicos (BRASIL, 2020a).

Quais são as atividades realizadas pela equipe do CIM?

• Dar suporte às práticas clínicas da equipe de saúde relacionadas à farmacoterapia, pois


responde a consultas de diversas especialidades sobre medicamentos utilizados em pacientes
específicos ou não.

• Identificar potenciais interações medicamentosas e erros de medicação a partir das consultas


realizadas, podendo gerar as intervenções necessárias para a melhora da prática clínica.

• Subsidiar as CFTs na elaboração de políticas da instituição sobre medicamentos por meio do


suporte técnico-científico para o desenvolvimento e manutenção do formulário terapêutico e
guia para a padronização de condutas clínicas.

• Participar de auditorias clínicas, por exemplo, em relação à administração de antimicrobianos.

• Promover treinamentos para a formação continuada dos colaboradores do serviço de saúde.

• Realizar outras atividades de formação profissional, como orientação de estágios, palestras e


cursos com temas relativos à farmacoterapia.

• Disseminar informação por meio da publicação de materiais informativos, tais como boletins,
alertas, newsletter, websites para orientar a farmacoterapia.

• Divulgar e promover as atividades desenvolvidas pelo CIM para os demais profissionais de saúde
saberem da existência desse serviço e, assim, incorporar o uso do CIM na prática clínica.

• Buscar parcerias para o fortalecimento do CIM por meio de convênios com universidades e centros
de pesquisa.

• Apoiar as atividades de pesquisa sobre o uso de medicamentos e investigações clínicas com o


monitoramento farmacoterapêutico e de eventos adversos.

• Reanalisar o uso de medicamentos.

• Coordenar os programas de farmacovigilância por meio da identificação, monitoramento e


notificação de reações adversas.

• Fornecer informações toxicológicas (BRASIL, 2020a).


112
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

Observação

Newsletter é um boletim informativo disparado para uma lista de


contatos via e-mail e tem o intuito de divulgar as informações do serviço.

Entre todas as atribuições do CIM, a principal é responder as dúvidas de profissionais de saúde e


usuários. Para isso, deve-se estabelecer um fluxo de trabalho que inclua recebimento das questões,
coleta de dados e análise das informações, elaboração das respostas, documentação, arquivamento e
avaliação da qualidade do serviço para a resolução do problema do solicitante. Atualmente, todo esse
processo pode ser feito de forma informatizada, contendo informações sobre o solicitante, o paciente,
a doença, os medicamentos utilizados, a dúvida, a resposta e as referências utilizadas. Em adição, as
consultas recebidas podem gerar um banco de dados para questionamentos futuros (BRASIL, 2020a).

Produção de informação do CIM

O CIM pode produzir informações de forma reativa ou proativa. Ao responder aos questionamentos,
o CIM fornece informação de maneira reativa ou passiva, pois é provocado por meio de uma pergunta do
solicitante. Já a informação proativa é quando o CIM tem a iniciativa de comunicação e disseminação da
informação de forma espontânea, em que o profissional do CIM analisa qual é a informação necessária
para os usuários do serviço e busca vias de comunicação para o atendimento dessa necessidade por meio
de formulários, boletins, revisão do uso de medicamentos e farmacovigilância. Consultas recorrentes
realizadas pelos usuários contribuem como o direcionamento para o profissional do CIM detectar as
necessidades de informação para todo o serviço de saúde e, assim, orienta a elaboração dos materiais
informativos para a disseminação da informação. Os boletins devem ter periodicidade de, pelo menos,
quatro publicações ao ano. Outro canal de comunicação que o CIM precisa considerar é o uso das redes
sociais e blogues para a divulgação de informações verdadeiras com base na ciência, de forma imparcial
e segura para a população. De forma geral, a atuação proativa do CIM tem maior visibilidade e impacto
junto à comunidade atendida. A colaboração nas atividades da CFT também é considerada informação
proativa (MARIN et al., 2003; VIDOTTI; SILVA; HOEFLER, 2010).

Qual deve ser o perfil do farmacêutico que atua no CIM? O profissional que mais atua no CIM
é o farmacêutico, que deve ser especialista em informação sobre medicamento com treinamento,
experiência clínica e habilidades para selecionar, utilizar e avaliar criticamente a literatura biomédica
consultada para a difusão das informações. Esse profissional deve ter conhecimentos em prática
clínica, habilidades de busca, avaliação crítica e compreensão dos benefícios e riscos das alternativas
selecionadas, conhecimentos de fisiologia e metodologia científica, sensibilidade, comunicação verbal
e escrita de forma clara e concisa e, por fim, capacidade de tomada de decisão. Adicionalmente, a
experiência clínica contribui para comunicação mais efetiva com os outros profissionais de saúde
(MARIN et al., 2003; BRASIL, 2020a).

113
Unidade II

Estrutura do CIM

O CIM deve estar integrado ao setor clínico do serviço de saúde, além de ter estrutura, pessoal
capacitado, fontes de informação apropriadas, instalações, recursos financeiros e materiais compatíveis
com as necessidades do serviço. Além do farmacêutico, o número de profissionais necessários dependerá
do tipo de serviço prestado, mas é importante contar com uma secretária para cuidar das questões
administrativas (MARIN et al., 2003; BRASIL, 2020a).

Em relação à estrutura física, apesar de desejável que haja um espaço destinado ao CIM, esse
setor pode ser desenvolvido no consultório farmacêutico ou em outros locais em que ocorram
atividades farmacêuticas, como no serviço de farmacovigilância. Se houver o local, sugere-se a área
mínima de 30 m2. Adicionalmente, o setor deve contar com computadores com acesso à internet,
impressora, telefone, fax, fotocopiadora e móveis de escritório (mesa, cadeira, armário e estante)
(VIDOTTI; SILVA; HOEFLER, 2010).

Você precisa ter em mente a importância das fontes de informação para o CIM, pois essa é a
ferramenta que determinará a qualidade do serviço prestado, para isso, deve-se utilizar bibliografia
internacionalmente reconhecida e atualizada. Vale destacar que a grande maioria das referências
de boa qualidade sobre medicamentos estão em inglês. Assim, o farmacêutico que atua no CIM
deve ser capaz de ler e interpretar essas referências. Fonte em português que pode ser ressaltada
é o formulário terapêutico nacional, mas que se limita aos medicamentos constantes da Rename
(VIDOTTI; SILVA; HOEFLER, 2010).

Como você pode selecionar uma fonte de informação?

Você deve considerar a imparcialidade da fonte, o padrão científico, se está atualizada, linguagem
e custo. Nesse sentido, a literatura pode ser dividida em fontes primárias, secundárias e terciárias.
A definição de cada uma delas está descrita a seguir (VIDOTTI; SILVA; HOEFLER, 2010; BRASIL, 2020a):

• Primárias são os artigos científicos que reportam ensaios clínicos randomizados, estudos de coorte
e caso-controle publicados em revistas na área da saúde, sendo a primeira vez que a literatura
aborda a informação científica nova. Portanto, essa é a fonte mais atualizada. Essas referências
são usadas para fundamentar as outras fontes de informação, por exemplo, artigos científicos
publicados na The Lancet ou no Journal of American Medical Association.

• Secundárias são serviços de indexação que resumem a fonte primária, por exemplo, o Medline
(Index Medicus on-line), que pode ser acessado de forma gratuita por meio da Biblioteca Regional
de Medicina (Bireme).

• Terciárias trazem o conhecimento de forma condensada e são as informações de consenso, por


exemplo, livros-textos como o Goodman e Gilman (As bases farmacológicas da terapêutica),
compêndios como o American hospital formulary service drug information e bibliotecas
eletrônicas, como o Micromedex e artigos de revisão e meta-análise.

114
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

O Micromedex é uma base de dados on-line presente no Portal de Saúde Baseada em Evidências,
em que estão disponíveis monografias de medicamentos com informações sobre indicação, posologia,
interações medicamentosas, incompatibilidades, segurança, doença e orientações ao paciente. Existem
outras fontes alternativas, tais como organizações profissionais, agências reguladoras, boletins
independentes, centros de informação toxicológica e de medicamentos. Podemos classificar as fontes de
informação confiáveis e fundamentais, que devem ser usadas no CIM. Você pode visualizar as diferentes
fontes, bem como o grau de importância dessas referências, a seguir.

Quadro 17 – Referências importantes para o CIM e classificação de


acordo com o grau de importância dessas fontes de dados

Fonte Grau de importância


- AHFS Drug Information
- British National Formulary
- Dorland´s Medical Dictionary
- Farmacologia Clínica
Essencial
- Formulário Terapêutico Nacional
- Martindale – The Extra Pharmacopeia
- Medicina Interna
- Trissel – Handbook on Injectable Drugs
- Briggs – Drugs in Pregnancy and Lactation
- Drugs Facts and Comparisons
- Farmacologia
- Aronson – Meyler´s side effects of drugs Recomendada
- Stockley – Drug Interactions ou Trato – Drug Interactions Facts
- Remington – A Ciência e a Prática da Farmácia
- Rowe – Handbook of Pharmaceutical Excipients
- Farmacopeia Brasileira
- Guia de especialidades farmacêuticas Útil
- The Merck Index

Adaptado de: Vidotti, Silva e Hoefler (2010).

A avaliação crítica da referência é fundamental para a qualidade da informação prestada pelo CIM.
Dessa forma, devido ao excesso de informação disponível e de pesquisas com variadas qualidades e
metodologias, o profissional deve ter habilidades para buscar, analisar e julgar as melhores e mais sólidas
evidências para fundamentar as decisões clínicas dos profissionais de saúde (VIDOTTI; SILVA; HOEFLER,
2010; BRASIL, 2020a).

Algumas perguntas podem ajudá-lo na seleção das fontes a serem utilizadas pelo CIM, tais como:

• O artigo foi publicado em revista que tem revisão por pares?

115
Unidade II

• As informações do resumo e da conclusão são importantes?

• A conclusão está bem fundamentada nos resultados obtidos?

• Há conflito de interesse? Quem financiou o estudo?

• O estudo foi bem desenhado quanto aos objetivos e métodos?

• Os dados são estatisticamente significativos?

• O artigo usou as referências fundamentais da área?

• Se o dado vier do produtor, a informação foi aprovada pela agência reguladora competente?
A informação é demasiadamente positiva? (VIDOTTI; SILVA; HOEFLER, 2010; BRASIL, 2020a).

8.2 Como responder aos questionamentos sobre medicamentos?

A solicitação deverá conter o questionamento, a identificação do solicitante (nome, endereço,


telefone) para a criação do canal de comunicação que será utilizado para a resposta. Se a consulta
estiver relacionada a um paciente, informações adicionais são necessárias, tais como gênero, idade,
peso, doença de base e medicamentos em uso para que a devolutiva seja adequada às necessidades e
características do indivíduo (VIDOTTI; SILVA; HOEFLER, 2010).

Para você ter uma ideia das dúvidas recebidas pelo CIM, destacamos os questionamentos mais
frequentes: identificação de fármacos e medicamentos nacionais e estrangeiros, disponibilidade
e equivalência no mercado nacional ou internacional, mecanismo de ação, usos clínicos, eficácia,
posologia, duração do tratamento, uso correto dos medicamentos em pacientes com necessidades
especiais (crianças, idosos, diabéticos, cardiopatas, nefropatas, gestantes e lactantes), farmacocinética,
interações com medicamentos e alimentos, interferência dos medicamentos em exames laboratoriais,
conservação de medicamentos, incompatibilidades de misturas, reações adversas e toxicidade (VIDOTTI;
SILVA; HOEFLER, 2010).

O profissional do CIM adquire a informação por meio da pesquisa bibliográfica e apropria-se do


conteúdo para fornecer o conhecimento adquirido ao solicitante da informação. Cinco etapas são
necessárias para a devolutiva de uma solicitação de informação sobre medicamentos, o que inclui:
classificação do questionamento; coleta de dados adicionais para contextualização da solicitação;
a busca sistemática da literatura a partir de referências gerais e depois com o aprofundamento em
fontes secundárias e primárias; organização das informações coletadas e elaboração da resposta oral
ou escrita (BRASIL, 2020a). A seguir, você pode observar as etapas necessárias para a produção da
resposta a um questionamento.

116
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

Busca sistemática da
literatura, inicialmente, com
Coleta de dados adicionais para
Classificação da solicitação referências gerais com posterior
contextualizar a solicitação aprofundamento com fontes
secundárias e primárias

Organização das Elaboração de resposta


informações coletadas oral ou escrita

Figura 25 – Processo de produção de respostas às consultas ao CIM

Adaptada de: Brasil (2020a).

Considerando que você é o farmacêutico do CIM, como você deve formular a resposta?

Para formular a resposta, você deve contextualizar a solicitação (medicamentos envolvidos


e dados do paciente), descrever as informações encontradas e analisadas com base na literatura,
expor pontos convergentes e divergentes sobre o assunto e sintetizar os dados para a elaboração da
recomendação final com as ações necessárias para a solicitação. A resposta deve ser compreensível e
sucinta. A sugestão é que as pesquisas iniciais sejam realizadas em fontes terciárias, que condensam
e compilam as informações, mas que podem ser desatualizadas. Em muitos casos, é necessário se
aprofundar com consultas em referências secundárias e, por fim, fontes primárias, que são as mais
atualizadas (BRASIL, 2020a).

Você precisa ter em mente que toda a informação influenciará a vida de um paciente, de forma
direta ou indireta. A comunicação direta ao paciente, tanto na informação reativa quanto na proativa,
deve ser realizada em formato e linguagem compreensíveis e acessíveis, de forma que um leigo na área
consiga entender a resposta. Além disso, a comunicação precisa ser realizada de forma coloquial, sem
uso de abreviações, códigos e termos técnicos. Na elaboração da resposta, o profissional do CIM deve
considerar o grau de instrução do público-alvo para que a mensagem seja transmitida de forma direta
e eficiente. Em caso de informação proativa para o público em geral, as redes sociais têm maior alcance
na população e os textos elaborados precisam ser curtos, simples e com ilustrações.

No quadro seguinte, você consegue ver as informações necessárias para a elaboração de conteúdo
de divulgação para a população em geral. O profissional do CIM também se comunicará e interagirá
com os demais profissionais de saúde, por isso as relações interpessoais são importantes para o trabalho
colaborativo (BRASIL, 2020a).

117
Unidade II

Quadro 18 – Características importantes para a elaboração


de conteúdo para o público em geral

Estrutura da frase e
Apresentação da mensagem Interação
seleção das palavras
— Apresentar ao paciente, no — Usar frases curtas — Interagir com o destinatário por
máximo, 4 ideias por documento meio de perguntas curtas
— Escrever de forma informal
— Desenvolver uma ideia por vez — Criar jogos ou campos de
— Usar voz ativa e palavras simples preenchimento para o leitor
— Priorizar imagens e ilustrações
— Utilizar analogias familiares ao
— Adicionar apenas informações público em geral
necessárias
— Evitar siglas e abreviaturas

Adaptado de: Moreira, Nobrega e Silva (2003).

8.3 Documentação, acompanhamento e avaliação

O CIM deve registrar todas as consultas e devolutivas. O processo de documentação funciona como
um banco de dados do serviço, que permite a recuperação rápida da informação, reduz erros e aprimora
o trabalho desenvolvido.

Você deve estar se perguntando, quais informações devem ser documentadas?

Devem ser documentados, ao menos, a solicitação, os materiais utilizados na pesquisa e a resposta.


O acompanhamento consiste no feedback com a verificação da utilidade da informação prestada,
avaliando a exatidão e qualidade da resposta (BRASIL, 2020a).

Como todo o serviço, o CIM também precisa passar por avaliação para determinar a efetividade no
processo de resposta das questões recebidas, sua produtividade e o seu impacto nas outras atividades do
serviço de saúde. Mas como isso pode ser feito? O CIM pode desenvolver questionários a serem aplicados
aos usuários para conhecer o grau de satisfação. Além disso, podem ser criados indicadores como o
tempo gasto para resolução das dúvidas e o número de solicitações atendidas em um determinado
período (VIDOTTI; SILVA; HOEFLER, 2010).

Outra ferramenta importante para a qualidade do CIM é o manual de procedimentos, que favorece
a padronização das atividades. Considerando isso, quais POPs são necessários para o CIM? Exemplos
de POPs necessários são para seleção e uso de fontes de informação para elaboração de resposta a
uma consulta; formulação da resposta e recomendações a um questionamento; uso de termos de
busca em saúde e busca de informações em fontes primárias; elaboração de nota técnica e parecer
técnico‑científico; elaboração de boletim de informação sobre medicamentos; avaliação da satisfação
dos solicitantes (BRASIL, 2020a).

8.4 Descarte de medicamentos e gerenciamento de resíduos nos serviços de saúde

Uma das grandes preocupações da humanidade é em relação à geração de resíduos. Você sabe o que
são os resíduos de serviços de saúde (RSS)?
118
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

RSS são todos os resíduos resultantes das ações realizadas em unidades de saúde e são
considerados geradores todos os serviços que tenham atividades relativas à saúde humana ou
animal, tais como os serviços de assistência domiciliar, laboratórios analíticos de produtos para
saúde, necrotérios, funerárias, serviços de medicina legal, drogarias, farmácias, estabelecimentos de
ensino e pesquisa na área de saúde, serviços de controle de zoonoses, distribuidores e importadores
de produtos farmacêuticos, unidades móveis de atendimento à saúde, entre outros (ANVISA, 2018).
Os medicamentos vencidos são exemplos de RSS. Você já descartou algum medicamento no lixo ou
na rede de esgoto? Esse é um dos pontos críticos do processo de descarte de medicamentos, que
requerem o devido gerenciamento.

E o que é gerenciamento de resíduos? É o grupo de ações de gestão realizadas de acordo com


evidências científicas, técnicas, normativas e legais, que visam a minimizar a geração dos resíduos
e garantir o processamento seguro e eficiente para proteção da saúde e do meio ambiente. Nesse
contexto, a legislação vigente que regulamenta as boas práticas de gerenciamento de RSS é a
RDC n. 222, de 11 de junho de 2018, da Anvisa, que é destinada a todos os geradores que realizam
qualquer atividade do gerenciamento de RSS. Assim, os serviços de farmácia devem seguir e cumprir os
parâmetros estabelecidos por essa resolução quanto à gestão dos resíduos gerados, o que inclui desde o
momento da geração até a sua destinação final (ANVISA, 2018).

Quem fiscaliza o gerenciamento de RSS? A fiscalização do gerenciamento é realizada de forma


descentralizada, sendo dever das vigilâncias sanitárias estaduais e municipais, com o auxílio de órgãos
ambientais regionais. Muitos dos RSS têm risco semelhante aos resíduos domiciliares, o que permite a
mesma destinação final desses resíduos, que é o esgoto ou aterro sanitário (ANVISA, 2018).

8.4.1 Plano de gerenciamento de RSS

Os geradores são responsáveis pela correta destinação do RSS gerados e, para tal, devem elaborar,
implementar e monitorar o Plano de Gerenciamento de RSS (PGRSS), sendo que essa atividade pode ser
terceirizada a uma empresa ou profissional autônomo desde que cumpram as exigências legais.
Na instituição, os setores envolvidos na elaboração e desenvolvimento do PGRSS são o departamento de
higiene e limpeza, os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho
e as Comissões de Controle de Infecção Hospitalar e de Biossegurança. Os geradores de RSS têm o
período de 180 dias para apresentar o PGRSS ao órgão regulador, contados a partir do começo das ações
geradoras (ANVISA, 2018).

Você deve estar se perguntando, como elaborar um PGRSS? O PGRSS deve descrever as atividades
desenvolvidas, recursos físicos, materiais e humanos requeridos, reportando ainda as características e
riscos dos resíduos gerados. Em relação às ações, o PGRSS precisa apresentar as seguintes atividades:
geração, identificação, segregação, acondicionamento, coleta, armazenamento, transporte, destinação
e disposição final ambientalmente adequada para proteção da saúde pública, dos trabalhadores e
do meio ambiente. Além disso, o PGRSS contempla o planejamento das atividades e as tomadas de
decisão relativas às áreas administrativas, operacionais, financeiras, sociais e ambientais. Nele, deve
constar o sistema de identificação dos grupos de resíduos e o uso de equipamentos apropriados para
o manejo desse material. Adicionalmente, o PGRSS deve estimar a quantidade de RSS gerados por
119
Unidade II

grupos (A, B, C, D e E); reportar as medidas em casos de emergência e acidentes relativas ao gerenciamento
dos RSS; relatar as ações preventivas e corretivas de controle integrado de vetores e pragas urbanas
e apresentar programas de capacitação e treinamento permanentes, abrangendo os funcionários nas
unidades geradoras de RSS. Por fim, esse documento deve ser monitorado e atualizado periodicamente
e conforme a necessidade. O PGRSS deve estar disponível para consulta da equipe, dos pacientes e do
público em geral (ANVISA, 2018).

8.4.2 Grupos de RSS e as peculiaridades no tratamento desses resíduos

Os RSS recebem a classificação por grupos. A seguir, você pode visualizar os diferentes grupos de
RSS, bem como as peculiaridades no manejo desses resíduos.

Quadro 19 – Descrição dos grupos de RSS

Grupo Descrição Peculiaridade no manejo


Resíduo que requer tratamento deve ser
acondicionado em saco vermelho. Resíduo já
A Resíduos biológicos com risco de infecção tratado ou que não precisa ser tratado deve ser
acondicionado em saco branco leitoso
Resíduos químicos com risco à saúde pública
B ou ao meio ambiente (agentes inflamáveis, -
corrosivos, reativos e tóxicos)
O manejo dos rejeitos radioativos deve estar de
acordo com a Resolução da Comissão Nacional
de Energia Nuclear (CNEN). Para tal, deve-se ter
C Rejeitos radioativos um plano de proteção radiológica, que é definido
e coordenado pelo supervisor de proteção
radiológica devidamente qualificado pela CNEN
Resíduos sem risco biológico, químico ou Os sacos de acondicionamento não requerem
radiológico à saúde ou ao meio ambiente,
D identificação. Assim, podem ser utilizados sacos de
considerados similares aos resíduos lixo comum
domésticos
E Material perfurocortante ou escarificante -

Adaptado de: Anvisa (2018).

Você já deve ter ouvido falar do termo rejeito. Mas você sabe o que isso significa? Na área de
saúde, os rejeitos são os RSS que precisam passar por tratamento, recuperação e terão disposição final
ambientalmente adequada. De maneira geral, os resíduos tratados são considerados rejeitos.

Grupo A

Os resíduos do grupo A são divididos nos subgrupos A1, A2, A3, A4 e A5. Para você ter uma ideia de
quais são os resíduos desse grupo, apresentamos, a seguir, alguns exemplos e características específicas
para o manejo (ANVISA, 2018):

• Subgrupo A1: culturas, meios de culturas e utensílios usados no manuseio de microrganismos;


material empregado na fabricação de produtos biológicos; resíduos de vacinas e de laboratórios de

120
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

manipulação genética; amostras de laboratório contaminadas com sangue ou fluídos corpóreos,


outros materiais oriundos do atendimento de pacientes portadores desses agentes biológicos.
Os resíduos contendo microrganismos devem passar por tratamentos de inativação microbiana
nível III antes da disposição final em aterros sanitários.
• Subgrupo A2: carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros materiais oriundos de animais que
passaram por ensaios com inoculação de microrganismos, cadáveres de animais portadores
de microrganismos de impacto epidemiológico e com risco de contaminação e disseminação.
Os resíduos contendo microrganismos com alto risco de transmissibilidade e letalidade devem
sofrer inativação microbiana nível III no local de geração. Dessa forma, devem ser autoclavados
onde foram gerados.
• Subgrupo A3: membros anatômicos humanos; material fecundado sem sinais vitais, contendo
peso menor que 500 g, estatura inferior a 25 centímetros ou tempo gestacional menor que
20 semanas, que não foi requerido pelo paciente ou familiares. Esses resíduos devem ser sepultados,
cremados, incinerados, conforme a orientação do órgão ambiental competente.
• Subgrupo A4: resíduos e recipientes contendo fezes, urina e secreções de pacientes não
infectados com agentes classe de risco 4; materiais provenientes de atendimento à saúde
que não contenham sangue ou fluídos corpóreos na forma livre; órgãos e tecidos oriundos de
procedimentos cirúrgicos, anatomopatológicos ou diagnóstico; bolsas de transfusão sanguínea
com resíduo pós‑transfusional. Esses RSS não requerem tratamento para a disposição final em
aterro sanitário.
• Subgrupo A5: órgãos, tecidos e líquidos orgânicos de alta infectividade para príons. Esses RSS
devem ser incinerados.

Os resíduos do grupo A podem ser classificados de acordo com o grau de risco que apresentam,
sendo divididos em classe de risco 1, 2 3 e 4. A seguir, você visualiza a classificação de risco.

Quadro 20 – Classes de risco dos RSS

Classe de Descrição
risco
Baixo risco individual e coletivo. São agentes biológicos que não causam doenças no homem ou
1 nos animais
Moderado risco individual e limitado risco coletivo. São agentes biológicos responsáveis por
2 causar infecções em humanos ou animais, mas que o potencial de proliferação na sociedade e
no meio ambiente é limitado e também existem tratamentos e ações profiláticas eficientes
Alto risco individual e moderado risco coletivo. São agentes biológicos transmitidos por via
respiratória e que provocam doenças em humanos ou animais com potencial letal, mas para as
3 quais existem tratamentos e ações profiláticas. São os agentes que se propagam de indivíduo
para indivíduo
Elevado risco individual e coletivo. São agentes biológicos considerados grandes ameaças ao
4 homem e aos animais, apresentando grande potencial de transmissibilidade de um indivíduo a
outro e sem ações profiláticas e terapêuticas para esses agentes

Adaptado de: Anvisa (2018).

121
Unidade II

Grupo B

Para facilitar o seu entendimento dos resíduos do grupo B, trouxemos alguns exemplos:
medicamentos, saneantes, desinfetantes, materiais contaminados com metais pesados; reagentes
de laboratório, o que inclui os recipientes contaminados; reveladores e fixadores de exames de
imagem ou de análises clínicas. Os RSS sem periculosidade podem ser recuperados ou reutilizados e
devem ser acondicionados de forma individual para que possam ser regenerados de forma segura.
As embalagens primárias desses resíduos podem ser recicladas. Os hemoderivados submetidos a
processos de industrialização são manejados como resíduo do grupo B, sem periculosidade, e não
requerem tratamento prévio para destinação ou disposição final (ANVISA, 2018).

Como é o manejo de rejeitos sólidos do grupo B que apresente algum risco? Os rejeitos sólidos que
são inflamáveis, corrosivos, reativos, tóxicos, mutagênicos, carcinogênicos ou teratogênicos do grupo B
devem ser dispostos em aterros de classe I para resíduos perigosos, que são ambientes para a disposição
final de resíduos perigosos no solo, usando processos específicos de engenharia capazes de não causar
riscos à saúde e diminuir os impactos ambientais (ANVISA, 2018).

Já os resíduos líquidos que apresentem a mesma periculosidade mencionada para os sólidos,


eles não podem ser dispostos em aterros sanitários, devendo ser tratados antes da disposição
final. A Anvisa não indica o tratamento que deve ser realizado, pois o responsável pela geração do
resíduo deve realizar o tratamento de acordo com as peculiaridades, periculosidades e a legislação
vigente correspondente ao resíduo em questão. No caso dos resíduos líquidos, eles podem sofrer
o processo de solidificação, que promove maior segurança no acondicionamento, transporte e
disposição final (ANVISA, 2018).

O serviço de saúde deve ter atenção na segregação dos RSS compostos por medicamentos
como hormônios, antimicrobianos, citostáticos, antineoplásicos, imunossupressores, digitálicos,
imunomoduladores e antirretrovirais, que devem ser tratados ou dispostos em aterro de resíduos
perigosos classe I. Além disso, é fundamental observar as incompatibilidades químicas entre esses
resíduos. Por fim, as embalagens e outros materiais que tiveram contato com esses resíduos devem
receber o mesmo processamento do RSS e não podem ser recicladas. Já as embalagens secundárias,
se não estiverem contaminadas, podem ser descaracterizadas e manejadas como resíduo do grupo D
(ANVISA, 2018).

Grupo C

Os RSS do grupo C (radioativos) devem ser acondicionados em recipientes blindados, individualizados


e armazenados até o decaimento da atividade radioativa a níveis que permitam a dispensa, conforme
a medição da radiação e seguindo os parâmetros regulatórios em vigor. O mesmo manejo deve ser
empregado aos materiais contaminados por rejeitos radioativos, como seringas usadas na
administração de radionucleotídeos. O local onde será armazenado esse rejeito pode ser a sala de
manipulação, desde que a exposição ocupacional esteja em conformidade com a norma da Comissão
Nacional de Energia Nuclear (CNEN), ou pode haver uma sala específica, denominada “sala de
decaimento”, devidamente identificada e com acesso restrito (ANVISA, 2018).
122
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

Grupo D
De todos os RSS, você deve estar mais familiarizado com os resíduos do grupo D, que são aqueles que
não apresentam risco e são similares aos resíduos domiciliares. Nesse grupo, podemos ter equipamentos
de proteção individual (gorros, máscaras, luvas de procedimento sem contaminação química, biológica
ou radiológica), restos de alimentos, resíduos do setor administrativo, restos de gesso e materiais
recicláveis não contaminados. Esses resíduos podem ser encaminhados para reutilização, recuperação
e reciclagem; quando isso não for possível, os rejeitos sólidos devem ser dispostos em aterros sanitários.
Já os rejeitos líquidos podem ser lançados na rede de tratamento de esgoto (ANVISA, 2018).
Grupo E
O último grupo de RSS é o E, caracterizado por materiais perfurocortantes e escarificantes, como:
agulhas, ampolas de vidro, lancetas, micropipetas, lâminas e lamínulas e todos os materiais de vidro
quebrados em laboratório. Esses resíduos devem ser descartados em recipientes rígidos e resistentes a
vazamento e ruptura, contendo tampa e identificação, devendo ser substituídos quando a capacidade
alcançar ¾. Estes recipientes não podem ser reaproveitados ou esvaziados de forma manual. Existe uma
nova tecnologia em que recipientes de plástico específicos são destinados a materiais perfurocortantes,
em que esse reservatório é recolhido e substituído por outro vazio e descontaminado. O recipiente
recolhido é esvaziado automaticamente, higienizado e, posteriormente, poderá ser reutilizado pelo
serviço de saúde. Além disso, se o resíduo E estiver contaminado com substâncias químicas, biológicas
ou radiológicas, deve ser manejado conforme o grupo do contaminante (A, B e C). Os materiais que não
apresentem riscos e, assim, não precisem de tratamento prévio, podem ter a sua disposição final de
forma ambientalmente correta (ANVISA, 2018).
8.4.3 Atividades do gerenciamento de RSS
Agora que você teve contato com os grupos de RSS, vamos abordar cada atividade pertinente
ao gerenciamento de RSS. O manejo dos resíduos gerados consiste em todas as atividades de
processamento, desde a geração até a destinação final, o que inclui as etapas de: segregação,
acondicionamento, identificação, transporte interno, armazenamento temporário, armazenamento
externo, coleta interna, transporte externo, destinação e disposição final ambientalmente adequadas.
A seguir, você verá as etapas envolvidas no gerenciamento desses resíduos.
A primeira ação consiste na segregação, em que o RSS é separado de acordo com a classificação dos
grupos mencionados anteriormente, levando em conta as características físicas, químicas, biológicas,
estado físico e riscos envolvidos.
A próxima atividade é o acondicionamento, em que o resíduo é embalado em sacos ou recipientes física
e quimicamente compatíveis, resistentes e impermeáveis para evitar vazamentos. Os reservatórios ou sacos
devem ter seu limite de capacidade preenchido por resíduos até, no máximo, 2/3 de sua capacidade, para
garantir a integridade e fechamento. Em caso de resíduos de fácil putrefação, esses devem ser trocados, no
máximo, a cada 24 horas para evitar o apodrecimento, emissão de odores e contaminação (ANVISA, 2018).
Outra etapa importante e que você deve ter cuidado é com a identificação do RSS para o devido
reconhecimento do material contido nos sacos ou recipientes, o que orienta para o manejo adequado

123
Unidade II

do material. A identificação também ocorre nos locais e carros de coleta interna e externa, bem como
nos ambientes de armazenamento, devendo ser clara, legível, permanente e de fácil visualização, usando
os símbolos, cores e frases que correspondem ao resíduo contido no local. A seguir, você visualiza as
informações e os símbolos utilizados para a identificação dos diferentes grupos de resíduos (ANVISA, 2018).

Grupo Símbolo

A – Resíduos biológicos: uso do símbolo de substância


de risco infectante, fundo branco e contornos pretos,
além de conter o dizer “resíduo infectante”

Resíduo infectante

B – Resíduos químicos: identificação com a expressão e Explosivo Perigoso para Nocivo para Nocivo ao meio
o símbolo do risco que o resíduo é capaz de provocar a saúde a saúde ambiente

Comburente Inflamável Tóxico Corrosivo

GRUPO C

C – Resíduos radioativos: uso do símbolo de presença


de radiação ionizante, fundo amarelo e contornos
pretos, além de conter o dizer “resíduo radioativo”
RESÍDUO
RADIOATIVO
SIMBOLOGIA

Metais Vidro
D – Resíduos comuns

Plástico
Papel Orgânico

GRUPO E

E – Resíduos perfurocortantes: uso do símbolo de risco


biológico, fundo branco, desenho e contornos pretos,
além de conter o dizer “resíduo perfurocortante” RESÍDUO
PERFUROCORTANTE

Figura 26 – Grupos de resíduos e símbolos para identificação

Adaptada de: Anvisa (2018).

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SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

A coleta e transporte interno são caracterizados pelo translado do RSS entre o local de geração
até o local determinado para o armazenamento temporário ou externo. São usados carros de coleta
compostos por material rígido, lavável, impermeável e com tampa articulada, além de ter identificação com
símbolo de risco e pneus de borracha para reduzir o ruído. Carros com capacidade maior que 400 L devem
ter válvula de dreno no fundo. Os grupos de RSS devem ser coletados de forma separada em recipientes
específicos. Adicionalmente, no transporte interno, não deve requerer esforço excessivo ou ter risco
de acidente para os colaboradores. O período de coleta e transporte interno deve ocorrer em horário
diferente da entrega de refeições, medicamentos ou outras rotinas que o serviço execute e possam
colocar em risco a segurança dos pacientes ou profissionais envolvidos (ANVISA, 2018).

O armazenamento interno é indicado para os serviços que produzem poucos volumes de resíduos
dos grupos B e C, que podem ser armazenados em local específico na área de trabalho em que foram
gerados até o acúmulo de volume suficiente para justificar o custo de coleta e tratamento, respeitando
as regulamentações sobre os rejeitos radioativos estabelecidos pela CNEN. O armazenamento temporário
é a guarda temporária dos recipientes contendo os resíduos acondicionados, com o intuito de facilitar
a coleta no serviço de saúde e agilizar o deslocamento entre onde o resíduo foi gerado e o local
para coleta externa. Outra possibilidade, de acordo com o volume de RSS gerado, o armazenamento
temporário poderá ser realizado de forma compartilhada na “sala de utilidades” da unidade de saúde
para os resíduos dos grupos A, D e E. Nessa situação, esse local deve ter, além da área mínima de 6 m2,
mais 2 m2 para os coletores de resíduos, que depois seguirão para o armazenamento externo. O local
para armazenamento de resíduos químicos deve ser fechado com telas para ventilação, protegido da
luz solar direta e conter pisos e paredes de materiais laváveis com sistema de retenção de líquidos. Além
disso, deve receber a identificação de “abrigo temporário de resíduos”. O armazenamento temporário
é opcional ao serviço de saúde, que dependendo do volume de resíduos, pode optar por levar os RSS
diretamente para o armazenamento externo (ANVISA, 2018).

O armazenamento externo é o acondicionamento dos RSS em abrigos exclusivos para aguardar


a coleta externa. Como deve ser o local de armazenamento externo dos RSS? De forma geral, deve
contar com: identificação; acessibilidade com boa localização para facilitar o transporte interno e
externo dos recipientes aos veículos coletores; exclusividade para o armazenamento de RSS; segurança
com condições físicas, estruturais apropriadas e proteção contra sol, chuva, ventos e animais (com
telas protetoras contra roedores e vetores); acesso restrito aos profissionais envolvidos no manejo dos
resíduos; higienização e local para lavagem dos carrinhos, coletores e demais equipamentos utilizados
no manejo dos resíduos; boa luminosidade com pontos de iluminação artificial, ventilação (aberturas
teladas) e ter piso e paredes revestidos de material resistente, lavável e impermeável, além de contar
com ponto de água e ralo sifonado com tampa. Em caso de resíduos do grupo B, o ambiente deve ter
sistema de combate a incêndios, como extintores de CO2 e pó químico seco (PQS) ou extintor multiuso
(ABC), bem como kit de emergência com absorventes, pá, vassoura em casos de derramamento ou
vazamento (ANVISA, 2018).

A coleta e transporte externos compreendem a remoção do RSS do armazenamento externo até o


local de tratamento ou disposição final. Como devem ser os veículos para coleta e transporte externos?
Os veículos devem ter identificação, superfícies internas lisas, de cantos arredondados, com ventilação
adequada e de fácil higienização. Após cada coleta, o veículo deverá ser higienizado. Em veículos com
125
Unidade II

capacidade inferior a 1 tonelada, o mecanismo de descarga dos resíduos pode ser mecânico ou manual
e deve ter equipamentos como pá, rodo, saco plástico e solução desinfetante.

Atenção: é proibido o uso de caminhões que fazem a compactação ou outro sistema que altere
os resíduos, exceto para os resíduos do grupo D. O transporte de rejeitos radioativos deve seguir as
regulamentações determinadas pela CNEN (ANVISA, 2018).

Muitos RSS precisam ser tratados antes da destinação final. Mas quando temos resíduos que não
apresentam riscos biológico, químico ou radiológico, qual pode ser a destinação desse material? Esse
material é semelhante aos resíduos domiciliares, podendo ser reutilizado, reciclado, recuperado ou
empregado em logística reversa.

Agora você deve estar se perguntando, qual é a diferença de reciclagem e recuperação? A reciclagem
é a alteração do resíduo para a obtenção de novos produtos, em que há modificação das características
físicas, químicas ou biológicas. Na reutilização, ocorre o aproveitamento dos resíduos sem nenhuma
transformação em suas características (ANVISA, 2018).

Observação

Logística reversa é um conjunto de ações que visam à restituição dos


resíduos gerados ao setor empresarial para o seu reaproveitamento no
próprio processo de origem ou em outro ciclo produtivo.

Como comentamos anteriormente, muitos resíduos precisam ser tratados antes da destinação final,
em que são usados processos para alterar as características físicas, químicas ou biológicas, de forma
a diminuir ou eliminar os perigos e potenciais danos ao meio ambiente ou à saúde da população.
Quando não for possível realizar as atividades de destinação final, ocorre a disposição final do resíduo
com a distribuição ordenada em aterros sanitários, conforme normas específicas. Os medicamentos
apreendidos ou recolhidos em ações de fiscalização sanitária devem ter destinação final em aterros
sanitários de resíduos perigosos de classe I.

O processo de gerenciamento deve passar por avaliação por meio de instrumentos que permitam
determinar a sua eficácia. Como podemos avaliar esse processo? Podemos avaliar o gerenciamento
de RSS por meio do emprego de indicadores, como: variação da geração de resíduos, percentual de
reciclagem e variação da proporção de resíduos dos grupos A, B, C, D, e E.

Lembrete

Aterro de classe I é o ambiente para a disposição final de resíduos


perigosos no solo, usando processos específicos de engenharia capazes de
não causar riscos à saúde e diminuir os impactos ambientais.

126
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

8.5 Saúde ocupacional

A segurança ocupacional dos colaboradores dos estabelecimentos geradores de RSS deve ser
considerada no PGRSS. O serviço de saúde deve utilizar ferramentas de análise de riscos, tais como:
reconhecer os riscos inerentes ao processo de trabalho, analisar a situação real da atividade considerando
os pontos críticos e controlando os riscos existentes naquele processo.

Como podemos controlar os riscos no gerenciamento de RSS? Entre as medidas de controle,


destacam-se: proteção coletiva, proteção individual, educação continuada dos colaboradores envolvidos
e avaliação periódica dos trabalhadores em relação à saúde ocupacional. Nesse sentido, o serviço deve
ter um programa de educação continuada para orientar e treinar a equipe em relação a: características
das atividades envolvidas; causas e potenciais riscos; ações preventivas e de controle dos riscos; equipe
requerida; processos e equipamentos de proteção individual e coletiva; medidas em casos de acidente,
incidente, doença ou agravos à saúde. A seguir, alguns temas que podem ser abordados no programa de
educação continuada na área de gerenciamento de RSS (ANVISA, 2018):

• Ciclo de vida dos resíduos.

• Noções sobre as legislações ambiental e sanitária de RSS.

• Conhecimentos básicos do gerenciamento de RSS e ações adotadas no serviço de saúde para


reduzir a geração de resíduos e reutilizar esses materiais.

• Tipos, grupos, riscos, responsabilidades, símbolos, expressões, padrões de cores adotados para o
gerenciamento de RSS, além de tarefas como identificação, segregação e acondicionamento e
manejo dos RSS, que são fundamentais para a destinação correta dos resíduos gerados.

• Orientações sobre segurança biológica, química e radiológica, bem como providências a serem
adotadas de forma preventiva e no caso de situações emergenciais.

• Uso e manutenção de equipamentos de proteção coletiva e equipamentos de proteção individual.

127
Unidade II

Resumo

Você teve contato com todas as atividades envolvidas no ciclo


de assistência farmacêutica, que visa a garantir tanto o acesso aos
medicamentos quanto o uso racional e correto desses agentes terapêuticos.

A primeira etapa do ciclo é a seleção de medicamentos, em que eles são


escolhidos de forma a atender as demandas na área da saúde com base em
critérios epidemiológicos, técnicos e econômicos. Como resultado da seleção
de medicamentos, são elaboradas as relações de medicamentos essenciais
para o serviço de saúde, os protocolos clínicos para uniformização das
condutas terapêuticas e é desenvolvido o formulário farmacoterapêutico
para orientar a prescrição, dispensação e utilização dos medicamentos.
A seleção de medicamentos é a base para todas as outras atividades do
ciclo de assistência farmacêutica.

A próxima etapa é a programação de medicamentos, que tem o objetivo


de estimar a quantidade de produtos que serão necessários e, assim,
planejar a aquisição. Com compras assertivas, são otimizados os recursos
financeiros e espaço físico para o armazenamento dos medicamentos, além
de evitar perdas por compras desnecessárias ou por desabastecimento.
Após a programação, efetiva-se a aquisição dos medicamentos, no SUS
existem diferentes modalidades de processos licitatórios. Atualmente,
a modalidade que é mais empregada na aquisição de medicamentos é
o pregão. Os medicamentos adquiridos seguem para o armazenamento na
CAF. O processo de armazenamento é composto por várias atividades, como:
recebimento, estocagem, conservação e controle de estoque. A distribuição
e transporte visa a garantir o suprimento da unidade de saúde durante
um período. A última etapa do ciclo de assistência farmacêutica é a
dispensação de medicamentos, na qual há a entrega de medicamentos ao
paciente como resposta à prescrição de profissional habilitado, assegurando
o medicamento certo, na dose correta, em quantidade adequada, com
as devidas orientações quanto à utilização desse agente terapêutico.
A orientação farmacêutica é uma das atividades da atenção farmacêutica
ou cuidado farmacêutico, em que o farmacêutico atua diretamente com o
paciente na busca por melhores resultados clínicos.

Adicionalmente, você teve contato com os aspectos envolvidos no


processo de gestão da assistência farmacêutica, em que abordamos a
importância da estruturação do serviço, da gestão de pessoas, da elaboração
de indicadores para o acompanhamento e avaliação. Além disso, discutimos
as iniciativas para a ampliação da assistência farmacêutica no âmbito do

128
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

SUS por meio do programa Qualifar-SUS, que é dividido em eixos, que


visam à estruturação da assistência farmacêutica, educação continuada
dos profissionais de saúde, intercâmbio de informações por meio da
implantação do sistema Hórus e o estímulo para a realização das ações de
cuidado nos serviços farmacêuticos prestados no SUS.

Outro assunto importante estudado foi a prescrição de medicamentos


por farmacêuticos e profissionais não médicos. Abordamos os aspectos
clínicos envolvidos por meio da consulta farmacêutica, que pode levar
à prescrição farmacêutica, que é uma intervenção clínica no processo
de cuidado do paciente. Nós discutimos, também, como a prescrição
farmacêutica deve ser feita, o que pode ser prescrito pelo farmacêutico
de acordo com o seu âmbito profissional, bem como os cuidados que o
farmacêutico deve tomar para não extrapolar nas suas atribuições clínicas.

Destacamos a importância dos CIM, especialmente em tempos de fake


news e que muitas das informações divulgadas têm conflito de interesse.
Você pôde ver os objetivos, as atividades do CIM, as fontes de informação
que devem ser usadas e o papel do farmacêutico nesse serviço.

Por fim, tratamos do gerenciamento de RSS, em que abordamos os


diferentes grupos de resíduos, os riscos envolvidos, algumas peculiaridades
e cuidados. Em adição, destacamos a elaboração do plano de gerenciamento
de resíduos e as etapas envolvidas nesse processo.

129
Unidade II

Exercícios

Questão 1. Leia o texto a seguir, de Marin et al. (2003), sobre o método de programação “perfil
epidemiológico”.

“Esse método baseia-se, fundamentalmente, nos dados de incidência e prevalência dos principais
problemas de saúde que acometem uma determinada população, considerando-se o perfil demográfico,
os esquemas terapêuticos preconizados, a capacidade instalada (oferta de serviços e estrutura oferecida
à população) e a possível ocorrência de fenômeno de sazonalidade. O método inicia-se com o diagnóstico
situacional de saúde da população, no qual são analisadas as enfermidades prevalentes e incidentes
sobre as quais devem incorrer as ações de intervenção sanitária que possam gerar impacto positivo no
quadro de morbi-mortalidade. Pode-se, ainda, aliar o aporte da farmacoepidemiologia para avaliar o padrão
de utilização de medicamentos de modo a aumentar a acurácia do método. O uso crítico dos dados
epidemiológicos é o primeiro caminho para que se possa melhorar a qualidade do serviço de saúde.”

Disponível em: https://bit.ly/3biiarG. Acesso em: 11 out. 2021.

Considerando o que foi exposto, os conhecimentos sobre o tema e a referência citada, avalie
as afirmativas.

I – A falta de notificação de certas doenças ajuda na aplicação desse método de programação para
a distribuição de medicamentos à população.

II – Erros de diagnóstico podem comprometer a programação pelo método descrito no texto.

III – O preenchimento incorreto de atestados de óbito pode comprometer a aplicação do método de


perfil epidemiológico.

É correto o que se afirma em:

A) I, apenas.

B) II, apenas.

C) I e III, apenas.

D) II e III, apenas.

E) I, II e III.

Resposta correta: alternativa D.

130
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

Análise das afirmativas

I – Afirmativa incorreta.

Justificativa: a notificação de doenças é uma das mais importantes ferramentas da epidemiologia.


A sua falta compromete a aplicação desse método de programação para a distribuição de medicamentos
à população, o qual depende da identificação das doenças incidentes e prevalentes.

II – Afirmativa correta.

Justificativa: o diagnóstico correto é uma das mais importantes etapas da história natural da doença
e, portanto, um dos pilares da epidemiologia. Do diagnóstico depende o tratamento a ser seguido, e
erros impactam diretamente a escolha do medicamento a ser utilizado, podendo comprometer a
programação pelo método de perfil epidemiológico.

III – Afirmativa correta.

Justificativa: o preenchimento correto de atestados de óbito é um dos aspectos fundamentais


para a garantia da qualidade de registros de mortalidade e a construção de seu índice, um dos
principais indicadores em epidemiologia. Portanto, o preenchimento incorreto desses atestados pode
comprometer a aplicação do método de programação por perfil epidemiológico (o qual se baseia na
situação epidemiológica local para a distribuição de medicamentos).

Questão 2. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define medicamentos essenciais e recomenda


que cada país estabeleça sua lista, de acordo com suas características individuais. Esse conceito sustenta
o ciclo de assistência farmacêutica no SUS.

Avalie as afirmativas a seguir quanto às características/exigências que definem medicamentos


essenciais, de acordo com a OMS.

I – Que não sejam genéricos.

II – Que sejam seguros e tenham eficácia comprovada.

III – Que sejam medicamentos de referência.

IV – Que estejam disponíveis a qualquer momento.

131
Unidade II

É correto o que se afirma apenas em:

A) I.

B) II.

C) I e III.

D) II, III e IV.

E) II e IV.

Resposta correta: alternativa E.

Análise da questão

Para analisar corretamente as afirmativas, é necessário conhecer o conceito de medicamentos


essenciais da OMS:

“[...] os que satisfazem as necessidades prioritárias de saúde da população. São selecionados tendo
devidamente em conta sua pertinência para a saúde pública, evidências de sua eficácia e segurança,
e sua eficácia comparativa em relação ao custo. Os medicamentos essenciais devem estar disponíveis
nos sistemas de saúde em todo momento, em quantidades suficientes, nas formas farmacêuticas
apropriadas, com garantia da qualidade e informação adequada, a um preço que os pacientes e a
comunidade podem pagar. A aplicação do conceito de medicamentos essenciais deve ser flexível e
adaptável a muitas situações diferentes; a determinação dos medicamentos considerados essenciais
é responsabilidade de cada país.”

WHO. The selection of essential medicines. [s.l.]: WHO, 2002. Disponível em: https://bit.ly/3Ep60Kt. Acesso em: 11 out. 2021.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa incorreta.

Justificativa: o conceito de medicamentos essenciais da OMS não exclui os genéricos. Pelo contrário,
considerando que esse tipo de medicamento foi criado para baixar custos tanto para o sistema de saúde
quanto para o indivíduo e que ele deve atender às exigências de segurança, eficácia e qualidade assim
como o medicamento referência, sua concepção encaixa-se no conceito de medicamento essencial.

II – Afirmativa correta.

Justificativa: evidências da eficácia e da segurança são exigências para um medicamento essencial.

132
SERVIÇOS DE FARMÁCIA E SAÚDE PÚBLICA

III – Afirmativa incorreta.

Justificativa: o conceito de medicamento essencial da OMS não se limita aos medicamentos de


referência. Qualquer tipo de medicamento que atenda às exigências do conceito pode ser considerado
essencial, seja ele de referência, genérico ou similar. O que deve ser observado no caso do Brasil é que a
legislação prevê que os medicamentos a serem distribuídos pelo SUS apresentem denominação genérica
(não comercial).

IV – Afirmativa correta.

Justificativa: o conceito de medicamentos essenciais da OMS exige a disponibilidade constante


desses produtos (“os medicamentos essenciais devem estar disponíveis nos sistemas de saúde em todo
momento, em quantidades suficientes”).

133
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Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000

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