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DOI - 10.23925/rct.i107.

66031

O estudo crítico da história do protestantismo


nas Ciências da Religião: reflexões a partir
da trajetória de Richard Shaull no Brasil

The critical study of the history of Protestantism within Religious


Studies: reflections from Richard Shaull’s trajectory in Brazil

*Jefferson Zeferino

Resumo
A presença pública das igrejas evangélicas tem desper-
tado interesse acadêmico acerca de suas relações sociais atu-
ais e de suas origens históricas no Brasil. Por meio de uma
revisão bibliográfica, o presente artigo objetiva refletir sobre
as Ciências da Religião como área de investigação crítica
dos cristianismos; interrogar as interfaces interdisciplinares
das Ciências da Religião no estudo dos protestantismos; pro-
blematizar a abordagem de figuras representativas do pro-
testantismo como caminho para a análise de seus contextos;
e, finalmente, refletir sobre o lugar do dado teológico no
interior dos estudos de religião. Para tanto, a trajetória de
Richard Shaull (1919-2002), missionário estadunidense, é
escolhida como caminho de pesquisa que permite o acesso às Texto enviado em
questões próprias do Brasil das décadas de 1950 e 1960 em 27.03.2024
Aprovado em
suas dimensões histórica, política, social, religiosa e teológi-
30.04.2024
ca. Como resultado, compreende-se que uma leitura atenta
sobre Shaull demonstra a multiplicidade de relações de um
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sujeito histórico e abre caminhos complementares de inves-
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tigação que ajudam a pensar o dado religioso em sua com-
plexidade e em recortes temporais específicos. Por meio de
Shaull, torna-se possível investigar as relações entre o pro-
testantismo estadunidense e o brasileiro; o desenvolvimento
do movimento ecumênico e dos movimentos estudantis e de
jovens; a consolidação da responsabilidade social das igrejas

* Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (pucpr). professor Programa de Estudos
do programa de pós-graduação em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Pós Graduados em
Católica de Campinas (PUC-Campinas). Contato: jefferson.zeferino@hotmail.com
Teologia - PUC/SP
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no seio do protestantismo ecumênico brasileiro; a história de teologias públicas desen-


volvidas em contexto latino-americano; o engajamento social de atores protestantes e
sua conexão com as lutas próprias do período; as tensões institucionais e teológicas entre
setores antagônicos dentro do protestantismo brasileiro.

Palavras-chave: História das Religiões. Estudos do Protestantismo. Ecumenismo. Richard Shaull.


Teologia Pública.

Abstract
The public presence of evangelical churches is a matter of academic interest in
their current social relations and their historical origins in Brazil. Through a bibliogra-
phic review, this article aims to reflect on the area of Religious Studies in Brazil, as an
area for the critical investigation of multiple Christianities; the work interrogates the
interdisciplinary interfaces of Religious Studies regarding the study of Protestantism; it
problematizes the research on representative figures of Protestantism as a way to analyse
their contexts; and finally, it reflects on the place of theology within religious studies. To
this end, the trajectory of Richard Shaull (1919-2002), an American missionary, is cho-
sen as a research path that allows access to the issues of Brazil in the 1950s and 1960s in
their historical, political, social, religious, and theological dimensions. As a result, it is
understood that an attentive reading of Shaull’s trajectory demonstrates the multiplicity
of relations of a historical subject and opens complementary paths of investigation that
help to think about the religious data in its complexity and in specific temporal cuts.
Through Shaull, it becomes possible to investigate the relations between American and
Brazilian Protestantism; the development of the ecumenical movement and the move-
ments of youth and students; the consolidation of the social responsibility of the churches
within Brazilian ecumenical Protestantism; the history of public theologies developed in
a Latin American context; the social engagement of Protestant agents and their connec-
tion with the struggles of the period; the institutional and theological tensions between
antagonistic sectors within Brazilian Protestantism.

Keywords: History of Religions. Studies of Protestantism. Ecumenism. Richard Shaull. Public


Theology.

1 Considerações iniciais

A
s Ciências da Religião, no Brasil, vêm se configurando como uma
área plural que oferece um acesso crítico às religiões e seus modos
de estruturação. É marcante o predomínio dos estudos sobre a fé cris-
tã, sendo a investigação sobre outras religiões e religiosidades uma

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tarefa ainda em curso e que carece de aprofundamentos1. Contudo, ao deparar-se


com os cristianismos, tal área tem permitido uma abordagem não confessional de
instituições e discursos e suas relações, auxiliando a perceber a presença pública
das igrejas em múltiplas dimensões e extensões. A árvore de conhecimento da
área de avalição Ciências da Religião e Teologia expressa isso na subárea Ciência
da Religião Aplicada, dentro da qual estão elencados entre seus temas correlatos:
“religião e espaço público, política, ética, saúde, ecologia, culturas” (CAPES,
2019). Ao se considerar tal área de investigação, o presente artigo aborda cri-
ticamente os estudos do protestantismo no Brasil no horizonte interdisciplinar
das Ciências da Religião. Para tanto, parte-se de uma figura representativa da
história do protestantismo ecumênico no país entre as décadas de 1950 e 1960, o
missionário estadunidense Richard Shaull (1919-2002).

A partir do referido recorte, o texto objetiva refletir sobre as Ciências da


Religião como possibilidade de uma abordagem crítica dos cristianismos; in-
terrogar as interfaces entre Ciências da Religião, Ciências Sociais, História e
Teologia nos estudos dos protestantismos; problematizar a abordagem de figuras
representativas do protestantismo como caminho para a análise de seus contex-
tos; e finalmente, refletir sobre o lugar do dado teológico no interior dos estudos
de religião.

2 Nota metodológica, estudos do protestantismo


e a pesquisa sobre Shaull no Brasil
Como objeto complexo e elusivo, a própria noção de religião carece de
discussão teórica. Em consequência, a viabilidade de uma área de estudos de
religião também evoca a necessidade de um debate contínuo sobre sua episte-
mologia. No Brasil, em virtude da autonomia da área de avaliação da CAPES
denominada Ciências da Religião e Teologia, tais reflexões têm sido uma pre-
ocupação constante (PASSOS; USARSKI, 2013; SENRA, 2015; VILLAS
BOAS, 2018; USARSKI; TEIXEIRA; PASSOS, 2022; ZEFERINO; VILLAS

1. Tal quadro foi apresentado pela coordenadora da área, a professora Carolina Teles Lemos, em
palestra proferida na ocasião do início do ano letivo e celebração da abertura da primeira turma de
doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC-Campinas.

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BOAS, 2022). Curiosamente, quando a ênfase se coloca nas religiões particu-


lares, as dúvidas conceituais parecem diminuir, justamente em virtude da pos-
sibilidade de se situar a abordagem em um evento, prática, ideia, texto ou dou-
trina específicos (cf. PIEPER, 2017). Nessa direção, a História das Religiões,
localizada no âmbito das Ciências da Religião, representa um significativo
aporte em virtude de sua ênfase historiográfica, perspectiva dialógica e recorte
em religiões concretas.

Como constituinte das Ciências da Religião, a História das Religiões se


apresenta como um caminho pertinente para a análise dos protestantismos. Vale
dizer que a história da disciplina de História das Religiões é marcada por uma
dinâmica discussão metodológica que revê permanentemente os procedimentos
das práticas de pesquisa. No decorrer do século XX, com as escolas francesa e
italiana, a historicização do objeto religião ganhou densidade e contornos teó-
ricos específicos no campo historiográfico (AGNOLIN, 2022; CLOCLET DA
SILVA; MANCINI, 2017).

Neste âmbito, vale indicar que a História Religiosa francesa é caracteriza-


da como um estudo acadêmico, não confessional, em diálogo com as ciências
humanas e sociais, valorizando o elemento historiográfico e o marco da secula-
rização. Na análise do religioso como produto cultural, abre-se o caminho para
uma História Cultural das Religiões, a partir da qual se estabelece um diálogo
com a Escola Italiana. Esta, também em perspectiva laica, dedica-se ao estudo
das religiões concretamente presentes na história, não assumindo, desse modo,
uma conceituação abstrata sobre a religião. Aqui, a abordagem comparativa pode
ajudar a perceber as permanências, mudanças e assimilações do religioso dentro
de diferentes realidades culturais. No Brasil, esse teor mais historiográfico tem
se evidenciado por meio de grupos como a Associação Brasileira de História
das Religiões (ABHR) e pela diversidade de pessoas pesquisadoras e trabalhos
acadêmicos, nesse marco conceitual, sobre o catolicismo, o protestantismo, o
espiritismo, as religiões afro-brasileiras, assim como sobre novos movimentos
religiosos, esoterismos, entre outras religiões e religiosidades (SILVA, 2009;
TORRES-LODOÑO, 2013; CLOCLET DA SILVA; MANCINI, 2017).

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Ao valorizar a dimensão historiográfica, portanto, os estudos do protes-


tantismo se colocam em continuidade com uma aproximação da História das
Religiões que analisa religiões particulares em diálogo com outros saberes e em
chave não confessional. Como um produto cultural, portanto, busca-se antes in-
vestigar como as afirmações e enunciados religiosos incidem numa cultura ou
sociedade e não propriamente tentar averiguar a condição de verdade de tais
afirmações religiosas (CLOCLET DA SILVA; MANCINI, 2017).

Os estudos do protestantismo, não raro, têm se dedicado a compreensão de


aspectos macrossociais e, em virtude disso, nota-se ainda uma predominância de
pesquisas que se localizam no âmbito das ciências sociais. Entre sociólogos, his-
toriadores e teólogos, vale fazer menção a alguns textos que constituem já uma
história da historiografia do protestantismo brasileiro. Émile Leonard, um his-
toriador francês, inaugura a historiografia do protestantismo brasileiro no início
dos anos 1950, sendo o primeiro pesquisador oriundo da escola dos Annales, a
se dedicar ao protestantismo brasileiro. Como calvinista, seu interesse no protes-
tantismo brasileiro está relacionado com sua preocupação em pensar o protestan-
tismo francês (LEONARD, 1981). Depois dele, vários outros trabalhos procu-
raram compreender diferentes aspectos do protestantismo no país. Já na década
de 1970 e com preocupações propriamente relacionadas às mudanças sociais no
Brasil, Cândido Procópio Ferreira de Camargo está atento já a um certo declínio
da adesão ao catolicismo e ao crescimento de religiões minoritárias como o pen-
tecostalismo e a umbanda. O que o autor relaciona com o processo de urbaniza-
ção e a não adaptação da população rural que, marginalizada, concentra-se nas
periferias dos grandes centros (CAMARGO, 1973). O sociólogo Waldo Cesar,
que além de pesquisador é também figura de interesse para se pensar a história
do ecumenismo e do protestantismo no Brasil, ocupou-se da reflexão sobre as re-
lações entre imperialismo e protestantismo e da preocupação em se elaborar uma
análise do fenômeno religioso denominado de protestantismo em suas dimen-
sões sociológicas e teológicas e suas influências exógenas (CESAR, 1968; 1973;
MOTT, 1975). Rubem Alves, em “Protestantismo e Repressão” (ALVES, 1979),
posteriormente reeditado sob o título “Religião e Repressão” (ALVES, 2020),
desenvolve o tipo ideal do Protestantismo da Reta Doutrina como categoria para

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se analisar a teologia e a ética protestantes em seus dogmatismos e a legitima-


ção de poder institucional e político. Duncan Alexander Reily, em 1983, reuniu
um extenso material documental a partir do qual elabora uma verdadeira histó-
ria do protestantismo no Brasil. É com Antonio Gouvêa de Mendonça (1984),
porém, que começa a surgir uma preocupação com os sujeitos históricos que
atuaram no desenvolvimento do protestantismo no país. Em “O celeste porvir:
a inserção do protestantismo no Brasil”, o autor elabora um arrazoado histórico
acerca da presença do protestantismo no Brasil, não sem remontar às suas raízes
sociais e teológicas europeias e à força da atividade missionária estadunidense.
Há, no texto de Mendonça, uma marcada preocupação pelos desdobramentos da
teologia protestante e por figuras centrais para sua instauração e consolidação
por aqui. Sem a pretensão de apresentar um quadro exaustivo, estas obras são
algumas das referências clássicas dos estudos do protestantismo no Brasil, não
raro sendo elaboradas por pessoas ligadas ao protestantismo. A relevância dos
estudos do protestantismo em perspectiva sociológica e historiográfica, portanto,
parece bastante consolidada na universidade brasileira2.

Dentro dos estudos do protestantismo, a ênfase em Shaull, no Brasil, é per-


cebida no âmbito da pesquisa desde ao menos a década de 1990. Com a disser-
tação de Eduardo Galasso Faria, na área de Ciências da Religião, defendida em
1993, seguindo um trilho biográfico, o texto reúne significativa documentação
sobre o período do missionário estadunidenste no país, enfatizando-se o caráter
inovador de sua teologia para o contexto local (FARIA, 2002). Em sua segunda
pesquisa de doutorado, agora no campo da História Social, Arnaldo Érico Huff
Junior (2012; 2020), naquele que é o mais completo trabalho sobre Shaull no
país até o momento, dedica-se ao estudo da história da produção da Teologia
da Revolução do missionário estadunidense. Sua ênfase está na Conferência do
Conselho Mundial de Igrejas sobre “Igreja e Sociedade” com o tema “Os cris-
tãos nas revoluções técnicas e sociais de nosso tempo”, ocorrida em Genebra em
1966. Nela, o missionário estadunidense profere uma conferência intitulada “O

2. Para uma abordagem menos sucinta de obras aqui listadas, indicam-se as teses de Tiago
Watanabe (2011) e de Rogério Véras (2018), onde nos baseamos para este levantamento. Entre
as várias obras que poderiam ainda ser citadas, destacam-se os trabalhos de Ribeiro (1973; 1991),
Vieira (1996); Santos (2006) e Alencar (2018).

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desafio revolucionário à igreja e à teologia”, permitindo-lhe apresentar ao públi-


co algumas das linhas principais de sua Teologia da Revolução3.

Fora do país, algumas pesquisas que podem ser indicadas são a tese do bra-
sileiro Raimundo Cesar Barreto (2019a), defendida, em 2006, em Princeton,
onde hoje atua como professor de World Christianity. Barreto elabora uma
história das relações entre os evangélicos e a questão da pobreza, inscrevendo-
-se, também, entre os estudos que abordam o desenvolvimento de uma respon-
sabilidade social no protestantismo brasileiro; o trabalho de Grenholm (1973)
demonstra especial interesse em uma ética social cristã; e a tese de Santiago-
Vendrell (2010), enfatiza a missiologia de Richard Shaull, percorrendo aspec-
tos da vida e da teologia do missionário estadunidense, explicitando seus ele-
mentos originais, suas experiências missionárias, em especial na Colômbia e
no Brasil, seu envolvimento com os movimentos jovens e ecumênicos, e as
tensões que vivenciou na América Latina. Vale ainda citar a detalhada história
do protestantismo brasileiro no período entre 1910 e 1959, na tese defendida

3. Entre os estudos que apresentam com algum destaque o pensamento e a atuação de Shaull po-
demos citar a dissertação de Hélerson da Silva (1996) que, dentro das Ciências da Religião e pas-
sando pela relevância da mocidade presbiteriana, investiga a história da Igreja Presbiteriana entre
1959 e 1966; a dissertação de Valdir G. Paixão Junior (2000), também no âmbito das Ciências da
Religião, que tematiza a repressão na igreja presbiteriana, personificada na figura de Boanerges
Ribeiro, dando atenção às tensões geradas contra teólogos ligados à instituição que possuíam,
como Shaull, um perfil mais ecumênico; a dissertação de mestrado em Teologia de Marcello
Fontes (2004) localiza Shaull como uma voz dissonante ao presbiterianismo dominante no país,
caracterizado pelo autor como um neopuritanismo; o fenômeno chamado de boanergismo dentro
da IPB é destacado por Eduardo Paegle (2006), em sua dissertação de mestrado em História,
considerando o papel de Shaull e de Rubem Alves como reação e resistência; a tese de Agemir
de Carvalho Dias (2007), também na área da História, estuda o movimento ecumênico brasileiro,
destacando a atuação de Shaull; a dissertação de mestrado em Ciências Sociais de Luiz Ernesto
Guimarães (2012) que refletiu sobre uma Teologia da Libertação de matriz protestante no contexto
da ditadura militar, com um recorte na região de Londrina, em sua abordagem destaca a relevância
teológica de Richard Shaull e de Rubem Alves; a tese de Fabio Henrique de Abreu (2015) em
Ciências da Religião, que avalia as origens de uma consciência ecumênica e com responsabilidade
social no protestantismo brasileiro, destacando em diferentes momentos a contribuição de Shaull;
a tese de Wanderley Pereira da Rosa (2015), na área da Teologia, mas com marcado corte histórico,
que elabora uma história de uma teologia social e política no protestantismo brasileiro, ressaltando,
sobretudo, a relação de Shaull com a promoção da responsabilidade social nas igrejas protestantes;
a tese de Fabio Py (2016), em Teologia, concentrando-se na figura de Lauro Bretones, explora suas
relações com Shaull, enfatizando, sobretudo, o período que marca a chegada deste missionário
estadunidense no Brasil; a dissertação de Colez Garcia Junior (2019), em sua pesquisa de mestra-
do em Educação, Arte e História da Cultura, que aborda Shaull como um educador presbiteriano,
buscando, justamente, explorar as contribuições pedagógicas de nosso autor.

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também em Princeton por Paul Everett Pierson (1974), que também atuou no
Brasil como missionário e na formação seminarística.

Em nível nacional e internacional, as pesquisas desenvolvidas sobre Shaull,


demonstram o caráter multifacetado deste missionário estadunidense, bem como
a possibilidade de avaliar sua vida e pensamento em diferentes chaves. A trajetó-
ria de vida de um dos expoentes do protestantismo e do ecumenismo brasileiros
nas décadas de 1950 e 1960 oferece variegadas opções de estudo sobre os con-
textos nos quais tal sujeito histórico transitou. Efetivamente, sua atuação e suas
ideias geraram controvérsias e perceber as solidariedades, rivalidades, medos,
expectativas e conflitos aí desenvolvidos, algo que não pode ser definido de an-
temão, auxilia a delinear contornos mais precisos dos fatos históricos dos quais
é testemunha (VERAS, 2018; BARROS, 2007).

Um indivíduo, localizado no interior de sistemas normativos possui ainda


alguma liberdade de interpretação e manejo das regras. Há, portanto, negocia-
ções entre o indivíduo e as estruturas onde está inserido, com maior ou menor
flexibilidade. Igrejas e outras instituições a elas ligadas possuem todo um sistema
normativo que regula a participação dos sujeitos, sendo os sujeitos dissonantes,
não raro, cerceados ou mesmo expelidos de algum modo. Mesmo as estruturas
que tendem a rigidez, contudo, também estão em transformação. Entre coerções,
adequações e adaptações, é interessante notar como figuras como Shaull tensio-
nam e geram fissuras em tais estruturas institucionais, explicitando suas contra-
dições e incoerências (VERAS, 2018; BARROS, 2007; LEVI, 2000).

Não se parte, portanto, de uma leitura da história feita de cima para baixo,
pelo contrário, são os sujeitos históricos em suas incertezas, angústias e dile-
mas que nos fornecem uma via de acesso para a compreensão de determinados
acontecimentos. Na pesquisa da história do protestantismo, portanto, interessa
questionar acerca dos sentimentos de fundo que possuíam diferentes grupos e
atores (DOESWIJK, 2002). Rubem Alves (2020b) fará, a seu modo, a pergunta
pelo espírito que dava coesão para o Protestantismo de Reta Doutrina que anali-
sa. Em “A herança imaterial”, de Giovanni Levi (2000), segundo Jacques Revel
(2000), são as incertezas que ocupam esse pano de fundo, isso em virtude das

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novas dinâmicas econômicas que vão tomando espaço ao mesmo tempo em que
desinstalam as organizações sociais até então vigentes. O poder visto de baixo
para cima também é um protagonista na obra de Levi. O poder adquirido por
esses agentes locais, como o exorcista Giovan Batista e seu pai, de quem recebe
essa herança imaterial, é construído nas relações de proximidade. Os agentes
locais movimentam estratégias para responder às incertezas econômicas, políti-
cas e culturais de seu tempo (DOESWIJK, 2002). Os cenários que circundam a
trajetória de Shaull, certamente, nos fazem soerguer tais questionamentos sobre
o poder construído desde as bases, na convivência entre professores e alunos, no
contexto ecumênico, na relação com o poder das autoridades eclesiásticas locais
e estadunidenses4.

A descrição dos fatos e dos processos históricos e sua interpretação são passos
necessários da análise historiográfica. Isto quer dizer que não basta descrever fatos,
assim como não basta lançar teorias ausentes de apoio empírico sobre a história.
Levi alcança tal equilíbrio e, além disso, assim como Ginzburg, oferece ao leitor
também uma visão das lacunas e limites de seu próprio processo de pesquisa, bus-
cando fugir da tentação de dar coerências artificiais aos resultados que encontra
na realidade que busca descrever, desnudando não somente possíveis imprecisões
e contradições de suas fontes, mas também as debilidades de sua própria prática
interpretativa (DOESWIJK, 2002; BARROS, 2007; LEVI, 2000).

São diversos os objetos que podem interessar o micro-historiador, entre eles,


destacamos a possibilidade de se estudar a trajetória de atores sociais. Debruçar-
se sobre uma história de vida, aqui, não significa biografar um indivíduo, mas

4. Neste contexto, faz-se referência à micro-história. Aqui, vale notar, que um comum mal-en-
tendido no que diz respeito à micro-história é confundi-la com uma história local, contudo, não é
o micro por si só que confere caráter fundamental ao método do micro-historiador, o que merece
atenção é o “jogo de escalas”. Ajustam-se as lentes do micro ao macro, do detalhe ao panorâmi-
co, das vivências individuais às transformações sociais. Busca-se notar, portanto, as ações desses
sujeitos históricos sendo afetadas pelas mudanças, mas interagindo com elas. As generalizações
possíveis oriundas da análise de realidades locais, aqui, operam como possibilidades de explicação
de processos mais amplos a serem lidos na comparação com outros estudos de outras realida-
des locais. Os problemas da micro-história, são problemas gerais, contudo, na redução da esca-
la, tornam-se visíveis discrepâncias e incongruências antes desconhecidas (DOESWIJK, 2002;
BARROS; 2007; LEVI, 2017; VERAS, 2018). Considerando-se a a trajetória de Shaull, portanto,
desperta o interesse observar como pequenos acontecimentos desvelam significados históricos
mais complexos.

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a partir desse personagem, acessar diferentes elementos de interesse da história.


Uma vida é analisada em função de um problema de fundo. Ademais, ao lidar
com a realidade cotidiana pode acessar a lógica de circulação de micropoderes.
A atenção às contradições se dá, sobretudo, compreendendo que o humano ape-
nas não é contraditório quando protegido de alguma camada de formalidade. A
atenção aos detalhes, numa análise intensiva das fontes, requer, justamente, um
diálogo entre as fontes para sua interpretação. A tarefa aqui, não é a eliminação
das ambiguidades numa sistematização homogeneizante, pelo contrário, ambi-
guidades e incongruências compõem a análise do objeto (BARROS, 2007).

Seguindo Veras (2018), entende-se que ao se optar pelo biográfico como meio
de acesso ao problema delimitado, aproxima-se o historiador e o leitor de suas
próprias vidas, isto é, há aí um caráter menos impessoal, o que não deve ser rea-
lizado às custas de um efetivo ganho de conhecimento sobre a história. Busca-se
compreender o sentido histórico do biografado por meio de seu percurso singular.
A escolha de análise da trajetória de Shaull, portanto, não prevê uma detalhada bio-
grafia cronológica narrando toda sua vida, mas a possibilidade de se problematizar
momentos que ajudem a compreender as transformações sociais e as relações entre
igrejas e vida pública no Brasil das décadas de 1950 e 1960.

3 M. Richard Shaull: aspectos biográficos e teológicos


O recurso à trajetória e produção textual de Shaull como meio de interpre-
tação da realidade histórica e social visa compreender como um indivíduo viveu
transformações sociais e políticas de seu tempo, atentando para sua atuação no
interior de uma religião em processo de consolidação no contexto nacional. Em
meados das décadas de 1950 e 1960, a população que se identificava como de
religião evangélica (composta, em geral, por protestantes históricos e pentecos-
tais) oscila de cerca de quase dois milhões de adeptos para aproximadamente três
milhões. Segundo dados do IBGE, em meados da década de 1960 os evangélicos
não chegavam a marcar 4,5% da população brasileira.

De certo modo, essa realidade demográfica diminuta, se comparada com dados


atuais, auxilia a reajustar as perspectivas na abordagem do protestantismo como
religião minoritária e lutando por espaço e reconhecimento no espaço público.

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Apesar de modesta em sua dimensão populacional, evidencia-se aí sua presença


como outro cristianismo ao lado do catolicismo dominante. Além disso, a presença
protestante, desde final do século XIX, caracterizava-se, também, por uma sólida
atuação educacional, em especial na formação de elites locais, de modo a represen-
tar uma identificação com os avanços da modernidade, bem como estratégia para
o crescimento do protestantismo (ROSA, 2015; CAMPOS, 2008; HUFF, 2020).

Ao mesmo tempo, o período da década de 1950 e início dos anos 1960 é


de marcada efervescência social, política e religiosa. Segundo o próprio Shaull
(1962), o clima revolucionário era bastante perceptível, algo que se devia às
insatisfações em nível tanto social como eclesial. Trabalhadores do campo e da
cidade estavam cada vez mais conscientes de suas situações de desfavorecimen-
to. Grupos de estudantes e de jovens, religiosos e não religiosos, explicitavam
suas indignações com a ordem vigente e consequente apelo por transformação
social. Dentro das igrejas começava a ecoar de igual modo tal inconformismo
com as injustiças sociais, soerguendo críticas incisivas às instâncias religiosas
que permaneciam indiferentes a tais cenários. Tal período foi marcado por um
volumoso êxodo rural, crescimento das cidades e outras crises relacionadas com
estes câmbios sociais.

Reserva-se a Shaull um espaço de destaque na memória de protestantes bra-


sileiros, sobretudo àqueles voltados à construção de perspectivas teológicas mais
preocupadas com a dimensão social da fé cristã. Em sua passagem pelo país, atua
no fortalecimento do movimento ecumênico e de suas preocupações sociais e
torna-se ponto de tensão com lideranças presbiterianas de seu tempo, instâncias
que posteriormente apoiariam a ditadura (ARAÚJO, 2020). Estudar tal persona-
gem histórico, permite pensar as imbricações religiosas, institucionais, políticas e
sociais, de um indivíduo, em um contexto de notáveis transformações culturais,
sociais e políticas na vida brasileira. Um olhar panorâmico para a vida de Richard
Shaull, auxilia a explicitar elementos de sua trajetória no Brasil que podem servir
de ponto de partida para investigações futuras que considerem os processos so-
ciais, políticos e religiosos determinantes para as transformações vividas pelo pro-
testantismo em meados do século passado, cujos desdobramentos podem auxiliar
na análise da presença protestante no espaço público brasileiro atual.

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Nascido em Felton (Pensilvania, Estados Unidos), no dia 24 de novembro de


1919, Richard Shaull, filho de agricultores de ascendência germânica, foi introdu-
zido à fé presbiteriana desde a infância. Sua família, como muitas outras naquele
contexto, sofre os efeitos da crise de 1929. Assim, para que pudesse estudar, recebe
uma bolsa e se forma em humanidades e sociologia no Elizabethtown College, uma
instituição religiosa de perfil anabatista e pietista, onde passa praticamente toda sua
adolescência. Em 1938, com interesse de se tornar pastor, inicia seus estudos no
Seminário Teológico de Princeton, onde é profundamente marcado pelo conví-
vio com John Mackay, mas também pelo tcheco Josef Hromadka (1889-1969).
Nesse período de formação teológica inicial, que se conclui em 1941, Shaull tem
acesso às grandes discussões teológicas do período como aquelas oriundas da teo-
logia neo-ortodoxa (teologia dialética) cujo principal representante foi Karl Barth
(1886-1968). Outros relevantes teólogos foram referências desse seu período for-
mativo, como Dietrich Bonhoeffer (1906-1945), Reinhold Niebuhr (1892-1971) e
Paul Tillich (1886-1965) (HUFF, 2020).

Ainda em 1941, concluídos os estudos iniciais em Princeton, atua como


pastor para logo em seguida iniciar sua trajetória como missionário. O período
na Colômbia (1942-19505), primeiro em Barranquilha e depois em Bogotá, é
marcado por uma atuação missionária em regiões mais pobres, pela preocupação
com questões sociais e pelo trabalho com jovens. Ele e sua esposa, Mildred,
viveram em localidades de operários, atuando também em nível educacional,
contrapondo o modo tradicional de atuação de missionários que se concentra-
vam ou nas escolas (de perfil mais elitizado) ou em práticas conversionistas e
individualistas (HUFF, 2020). É desse período seu encontro com o sociólogo
colombiano Orlando Fals Borda (1925-2008), ainda como estudante universi-
tário e, como diretor do coro, ativo na igreja que Shaull pastoreava em 1950
(STRECK, 2017). Com efeito, a experiência de Shaull com estudantes univer-
sitários da Universidad Nacional de Colombia, o colocou em contato com pers-
pectivas marxistas que não enxergava como estadunidense. No final da década

5. Nesse meio tempo, em 1945, retorna a Princeton em um ano sabático para executar seus estudos
de mestrado, comparando as místicas de Santa Teresa de Ávila (1515-1582), religiosa carmelita
que viveu no século XVI, e de John Bunyan (1628-1688), um puritano inglês do século XVII
(HUFF, 2020).

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de 1940, o clima entre católicos e protestantes não era amistoso (HUFF, 2020;
SANTIAGO-VENDRELL, 2010).

Com um período de retorno para os Estados Unidos já planejado, o momen-


to não era favorável para voltar à Colômbia. Aproveita este novo tempo sabático
para estudar com Reinhold Niebuhr no Union Theological Seminary, onde inte-
gra um seleto grupo de quinze missionários que possuíam a tarefa de estudar o
impacto do comunismo em nações do assim chamado terceiro mundo. Diferindo
dos professores que conduziram o grupo de estudos, entre eles Niebuhr, e de seus
colegas missionários, Shaull é levado a pensar sobre problemas estruturais na
análise da sociedade, bem como nas contradições dos Estados Unidos enquanto
símbolo da liberdade, mas que atuava em conchavos com as elites dominantes
de países latino-americanos.

Outro professor que conhece em seu período no Union acaba se tornando um


grande parceiro de sua jornada acadêmica. Se encaminha, então, novamente para
Princeton, onde Paul Lehmann (1906-1994) atuava, para iniciar o doutorado com
ele, etapa que concluiria apenas em 1959. Movido pela experiência na Colômbia,
pelo período de estudos no Union e pela relação com Lehmann, o tema da revolu-
ção já ressoava como uma preocupação sua diante do desafio de pensar a fé cristã
na relação com os contextos que enfrentava (HUFF, 2020; ROSA, 2015).

Em 1952 participa de um curso organizado pela Federação Universal de


Movimentos Estudantis Cristãos (FUMEC), no Brasil. Iniciava-se ali a participa-
ção de Shaull no movimento ecumênico internacional. Inspirado, sobretudo, em
Bonhoeffer, Shaull gerou um impacto significativo nos jovens presentes naque-
le evento, visto como alguém que pensava a igreja de um modo novo. Philipp
Murray, então secretário geral da FUMEC, intermediou a permanência de Shaull
no Brasil. A Missão Brasil Central, em pouco tempo, ofereceu-lhe uma oportuni-
dade de docência no Seminário Presbiteriano do Sul da IPB. Convite aceito tanto
em virtude da possibilidade de poder atuar na formação de lideranças religiosas da
Igreja Presbiteriana, como por conseguir conciliar sua agenda de cooperação com
a União Cristã de Estudantes do Brasil (UCEB) (HUFF, 2020; ROSA, 2015).

A passagem de Shaull como professor de História da Igreja, pelo Seminário

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Presbiteriano do Sul (SPS) foi marcante. Neste período, ele teve significativo
impacto em Rubem Alves. Sobre seu mestre, o intelectual mineiro reconhecia o
mérito de o ensinar a pensar. Alves, assim como outros de sua geração, estavam
por demais preocupados com “as coisas do céu” e Shaull os levou a considerar
mais seriamente a realidade terrena (BARRETO, 2019b). Esta ênfase em seu
pensamento coaduna-se com aquela de John A. Mackay (1889-1983), alguém
que marcou uma virada teológica na história do seminário de Princeton. Mackay
atuara como missionário no contexto latino-americano em Lima (1916-1925),
Montevideo (1925-1929) e na Cidade do México (1930-1932). Ao atuar como
reitor do seminário de Princeton, de 1936 até 1959, influencia a escolha mis-
sionária de Shaull. O tipo de protestantismo ao qual Mackay representa uma
alternativa, é aquele mais conservador presente em puritanos, evangelicais, pie-
tistas e fundamentalistas. Contudo, já na virada do século XIX para o XX se
demonstrava uma certa preocupação sobre questões sociais em diferentes igre-
jas. O evangelho social (Social Gospel) desempenha um papel relevante nesse
contexto. Com isso, mesmo partindo de movimentos avivalistas, as igrejas es-
tadunidenses se dividem aqui entre conservadoras e progressistas. As primeiras
acentuando aspectos espirituais, enquanto as últimas assumiam uma fundamen-
tal tarefa social no que diz respeito ao seu entendimento da mensagem evangéli-
ca. Esta tensão acontece também no contexto brasileiro, com Shaull participando
de algumas dessas disputas (HUFF, 2020).

Os anos no Brasil foram intensos e produtivos. Atuou com as juventudes


presbiterianas e ecumênicas; com a Confederação Evangélica do Brasil; parti-
cipou da Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas, em Evanston, em 1954,
que, ao refletir sobre Cristo como esperança para o mundo e a relevância social
das igrejas, impactou Shaull e encontra ressonância em suas próprias preocupa-
ções teológicas (SHAULL, 1953; 1955; 1959; 1962); fez parte da criação de um
setor da CEB voltado para a responsabilidade social. Este setor, por sua vez, foi
responsável pela organização de quatro conferências, a mais famosa delas, em
1962, sob o título de Cristo e o Processo Revolucionário Brasileiro, ficou co-
nhecida como Conferência do Nordeste; concluiu seus estudos de doutorado em
Princeton (1959); atuou na docência de História da Igreja no SPS (1952-1959);

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chegou a assumir o cargo de vice-presidente do Instituto Mackenzie em São


Paulo; atuou também na Junta Latino-Americana de Igreja e Sociedade (ISAL)
(FARIA, 2002; HUFF, 2020).

A perspectiva teológica de Shaull teve resistências, a ponto de sofrer um


processo que culminou em sua saída do seminário, em 1959. Ao ser bem-quisto
por estudantes dos movimentos ecumênicos e da mocidade presbiteriana, bem
como por muitos de seus alunos em Campinas, gerou a inveja de colegas e de
outros pastores. Ademais, no assim chamado “caso Shaull”, o então reitor do
seminário, reverendo Júlio Andrade Ferreira, reuniu vasta documentação a seu
respeito e, mesmo sendo desfavorável à sua saída, estava posta uma situação em
que a posição teológica e as críticas organizacionais de Shaull não seriam mais
toleradas (FARIA, 2002; HUFF, 2020).

Ao voltar de seu período sabático para a conclusão da tese, ainda leciona


por um tempo em Campinas, mas se desliga da instituição. Trabalha, então, na
criação de um novo seminário no interior de Minas Gerais e, logo na sequência,
assume interinamente a vice-presidência do Instituto Mackenzie, onde enten-
dia poder acompanhar com maior proximidade os movimentos estudantis. Essas
instâncias mais dialógicas, contudo, já despertavam insatisfações por parte da
IPB que acaba dissolvendo a Confederação da Mocidade Presbiteriana. O re-
crudescimento conservador da IPB assemelhava-se, assim, às repressões que o
país viveria em nível governamental. Com a ascensão de Boanerges Ribeiro à
presidência do Supremo Concílio da IPB o quadro se acirrou, sendo criada, in-
clusive, uma Comissão Especial dos Seminários de modo a cercear dissonâncias
doutrinais e eclesiásticas tanto em meio a alunos como professores. Entre 1963
e 1965, Shaull ainda retornaria ao Brasil em momentos pontuais, entretanto, foi
logo proibido de ingressar no país pelo regime militar. Um exílio que duraria
vinte anos. (HUFF, 2020).

John Mackay levou Shaull para lecionar em Princeton, onde assumiu as au-
las de ecumenismo entre 1962 e 1980. Nesse período, também atuou em ISAL e
participou com intervenções em importantes eventos do movimento ecumênico
internacional. Destaca-se, aqui, a já referida palestra, em 1966, na conferência do

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Conselho Mundial de Igrejas; a continuação de sua atuação junto aos movimen-


tos de jovens e estudantes; seu envolvimento com questões oriundas de países
latino-americanos; uma série de publicações que continuaram suas reflexões so-
bre cristianismo e revolução (FARIA, 2002; HUFF, 2020).

Após sua aposentadoria de Princeton, continua com atividades educacionais


em diferentes instituições nos Estados Unidos e na América Latina, inclusive
no Brasil, em 1993, quando atua junto à Universidade Metodista de São Paulo
e em outros seminários (FARIA, 2002; HUFF, 2020). O pentecostalismo se tor-
na um tema para Shaull em estudo realizado em companhia com o sociólogo
Waldo Cesar. Este encontro com a fé pentecostal constitui uma nova conversão
na trajetória de Shaull, em que a voz das pessoas empobrecidas que constituem o
movimento pentecostal precisaria ser ouvida com atenção também pelas igrejas
históricas (CESAR; SHAULL, 1993; BARRETO, 2003). Atua, ainda, como pas-
tor em Ardmore (EUA), antes de falecer no dia 25 de outubro de 2002.

4 À guisa de conclusão:
notas sobre os estudos do protestantismo nas Ciências da Religião
Apresentado esse panorama da vida e obra de Shaull, nota-se que um olhar
para sua presença no Brasil e produção textual possibilita o acesso a questões
mais amplas das quais ele participa. Entre elas, destaca-se a efervescência po-
lítica e social dos anos 1950 e 1960 no Brasil e na América Latina; o espírito
dialógico presente em iniciativas ecumênicas em processo de consolidação; seu
envolvimento com movimentos estudantis; os avanços na direção de uma maior
responsabilidade social vivenciada por igrejas ligadas ao movimento ecumêni-
co; a gestação de um pensamento libertário que contribuirá com a gênese da
Teologia da Libertação; as tensões teológicas geradas pelas disputas entre um
cristianismo mais afeito a estas preocupações sociais e aquele menos atento ou
mesmo negligente a tal dimensão.

Os estudos do protestantismo, dos quais as pesquisas sobre Shaull fazem


parte, se beneficiam de sua localização no interior das Ciências da Religião, pois,
ao participar de um conjunto maior de pesquisas sobre os cristianismos, colo-
ca-se em diálogo com uma diversidade de temas e abordagens que retroalimen-

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tam seus próprios procedimentos metodológicos e revisão de quadros teóricos.


Vê-se, assim, como salutar, a convivência entre estudos críticos de diferentes
setores cristãos e suas relações com as análises de outras religiões. Tal abertura
favorece uma revisão crítica das próprias práticas de análise, abrindo, inclu-
sive, espaço para uma certa calibragem epistemológica, fruto dessas relações
interdisciplinares.

Simultaneamente, os estudos dos cristianismos, aqui, nomeadamente, os


estudos do protestantismo, abrem-se para o diálogo com outras áreas fora do
âmbito das Ciências da Religião, em especial com a Teologia, a História e as
Ciências Sociais. Desse modo, a concentração em figuras representativas do pro-
testantismo se apresenta como caminho possível para a análise de seus contextos
sociais, políticos e religiosos.

Não se tem em mente, com isso, uma formulação romantizada desses per-
sonagens por meio da homogeneização acrítica de suas biografias (BOURDIEU,
1996), ou a criação de heróis históricos (CARR, 1982). O que está em jogo com
a ênfase em Richard Shaull, por exemplo, é a tentativa de se entender como um
agente religioso em suas lutas cotidianas, entre avanços, recuos, contradições e
conflitos, contribuiu para a configuração do protestantismo brasileiro em meados
do século XX. Cabe indicar que, ao se pensar o missionário estadunidense como
um indivíduo atuante em seu mundo, não se parte de um conceito biográfico abs-
trato, monolítico, sem alterações ao longo do tempo. Ao contrário disso, busca-se
percebê-lo em suas transformações subjetivas e reconfigurações identitárias na in-
teração com seu ambiente social e religioso (VERAS, 2018; BOURDIEU, 1996).
Daí que o estudioso do protestantismo, ao compreender que não há religiões sem
ambiguidades, também entende que não há intérpretes da religião sem contexto,
seja aquele que se está analisando, seja o autor da pesquisa (TRACY, 1994).

A análise da trajetória de Shaull, tarefa para pesquisas futuras, concentra-


-se na seleção de fatos a serem investigados em sua relação com seus contextos
circundantes, de modo a compreender as relações entre protestantismo e vida
pública e suas configurações e reconfigurações internas, com especial atenção
para o Brasil das décadas de 1950 e 1960. Com isso, torna-se possível expor

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os pertencimentos e as tensões sociais vividas por ele dentro de sua atuação no


presbiterianismo brasileiro e estadunidense, nos movimentos de jovens e no mo-
vimento ecumênico. Não se trata aqui de representar Shaull como herói e suas
contrapartes como vilões, mas de buscar interpretar esses sujeitos históricos nas
condições próprias de seu tempo (VERAS, 2018).

Richard Shaull, além de missionário, professor e ativista ecumênico e dos


movimentos de jovens, foi também, justamente em virtude dessas suas atuações,
um profícuo teólogo. Sua Teologia da Revolução, por exemplo, pode ser inves-
tigada em seu desenvolvimento dentro de um processo histórico que desemboca
em formulações teológicas sobre a revolução (KIRK, 1980). Como ator religioso
e sujeito histórico, Shaull produziu teologia. A análise crítica de sua teologia,
portanto, é parte integrante dos estudos sobre ele.

Aqui, contudo, no âmbito das Ciências da Religião, o dado teológico é


acessado no interesse da compreensão de Shaull e de seu contexto, especial-
mente, considerando as relações entre religião e espaço público. A teologia
de Shaull é testemunha de um momento particular da história da teologia no
Brasil. Novamente, a ênfase da pesquisa não recai sobre a tentativa de formu-
lações generalizantes oriundas do pensamento de Shaull, ou mesmo da cons-
trução de um certo modo de fazer teologia como serviço às comunidades de fé.
A análise de sua teologia, especialmente sua teologia sobre as questões da so-
ciedade, da política e da vida pública, em outras palavras, a análise da teologia
pública que tal sujeito histórico produz, é situada historicamente e pode ajudar
no processo de compreensão do protestantismo de seu tempo em suas tensões,
conflitos, movimentos, instituições e discursos. Vale pontuar, portanto, que a
clarificação das terminologias teológicas; a explicitação crítica do dado teo-
lógico nas tensões entre religião e espaço público dentro do protestantismo
das décadas de 1950 e 1960; assim como a compreensão de suas estruturas de
plausibilidade e pretensões de verdade; além de sua localização na história da
teologia; compõem aspectos do recurso metódico ao dado teológico no inte-
rior dos estudos de religião (cf. GROSS, 2001; TRACY, 1981; MARTY, 1974;
ZEFERINO; VILLAS BOAS, 2022).

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Finalmente, conclui-se que os estudos do protestantismo, localizados no


âmbito das Ciências da Religião, haurem de uma intensa relação dialógica entre
os saberes, de modo a se buscar uma compreensão do dado religioso em suas
variadas dimensões, incluindo-se aí o exame do dado teológico como pertinen-
te à análise de uma religião particular. Uma leitura atenta de um personagem
representativo de tal campo, como Richard Shaull, demonstra a multiplicidade
de relações de um sujeito histórico e abre caminhos complementares de investi-
gação que ajudam a pensar o dado religioso em sua complexidade e em recortes
temporais específicos, a saber, as relações entre o protestantismo estadunidense
e o brasileiro; o desenvolvimento do movimento ecumênico; a efervescência
dos movimentos estudantis e de jovens no ecumenismo brasileiro e internacio-
nal; a consolidação da responsabilidade social das igrejas no seio do protestan-
tismo ecumênico brasileiro; o processo de desenvolvimento de uma Teologia
da Revolução em contexto latino-americano; a história de teologias públicas;
o engajamento social de atores protestantes; a inserção de cristãos nas questões
ligadas aos trabalhadores industriais e camponeses em um período de marcada
urbanização e êxodo rural. Tais temas emergem dos estudos sobre Shaull no inte-
resse do exame de uma religião particular e podem se afirmar como contribuição
aos estudos do protestantismo no horizonte das Ciências da Religião no Brasil.

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