#Apostila PM-MA - Soldado Combatente - (2017) - Grupo Nova
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#Apostila PM-MA - Soldado Combatente - (2017) - Grupo Nova
PM-MA
Soldado Combatente
A Apostila Preparatória é elaborada antes da publicação do Edital Oficial, com base no
último concurso para este cargo, elaboramos essa apostila a fim que o aluno antecipe seus
estudos.
Quando o novo concurso for divulgado aconselhamos a compra de uma nova apostila
elaborada de acordo com o novo Edital.
A antecipação dos estudos é muito importante, porém essa apostila não lhe dá o direito
de troca, atualizações ou quaisquer alterações sofridas no Novo Edital.
FV035 - 2017
LÍNGUA PORTUGUESA
RACIOCINIO LÓGICO-QUANTITATIVO
Didatismo e Conhecimento
Índice
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
HISTÓRIA DO BRASIL
GEOGRAFIA DO BRASIL
Didatismo e Conhecimento
Índice
HISTÓRIA DO MARANHÃO
A Capitania do Maranhão: Os lotes de João de Barros e Fernão Álvares de Andrade. Expedição de Aires da
Cunha............................................................................................................................................................................. 01
Primitivos habitantes da Capitania........................................................................................................................ 05
Os franceses Jacques Riffault e Charles Des Vaux................................................................................................. 08
França Equinocial: expedição de Daniel de La Touche......................................................................................... 10
Fundação de São Luís.............................................................................................................................................. 13
Batalha de Guaxenduba.......................................................................................................................................... 16
Capitães-mores do Maranhão................................................................................................................................. 18
Carta Régia de 1621................................................................................................................................................. 24
A invasão holandesa................................................................................................................................................. 25
A expulsão dos holandeses....................................................................................................................................... 28
O Estado do Maranhão e
Grão-Pará: A Revolta de Bequimão. Causas.......................................................................................................... 29
Companhia de Comércio do Maranhão e Grão-Pará............................................................................................ 32
Os objetivos da Revolta........................................................................................................................................... 36
Período do Império: adesão do Maranhão............................................................................................................. 38
A Independência do Brasil...................................................................................................................................... 40
Causas da não adesão: a batalha do Jenipapo....................................................................................................... 46
A adesão de Caxias à independência do Brasil....................................................................................................... 49
Lorde Cochrane e a adesão de São Luís à independência do Brasil...................................................................... 52
A Balaiada: caracterização e causas do movimento............................................................................................... 55
A repressão: Caxias e a Balaiada............................................................................................................................ 59
Período Republicano: Adesão do Maranhão à República...................................................................................... 61
A Revolução de 1930 no Maranhão......................................................................................................................... 63
Os principais fatos poíticos, econômicos e sociais ocorridos no Maranhão, na segunda metade do século XX.. 65
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Didatismo e Conhecimento
SAC
SAC
DÚVIDAS DE MATÉRIA
A NOVA CONCURSOS oferece aos candidatos um serviço diferenciado - SAC (Serviço de Apoio ao
Candidato).
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edital.
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da matéria em questão.
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Estado/matéria/página). Por exemplo: Apostila Professor do Estado de São Paulo / Comum à todos os cargos
- Disciplina:. Português - paginas 82,86,90.
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NOVA CONCURSOS
Grupo Nova
Didatismo e Conhecimento
Artigo
O conteúdo do artigo abaixo é de responsabilidade do autor William Douglas, autorizado gentilmente e sem cláusula
de exclusividade, para uso do Grupo Nova.
O conteúdo das demais informações desta apostila é de total responsabilidade da equipe do Grupo Nova.
Todo mundo já se pegou estudando sem a menor concentração, pensando nos momentos de lazer, como também já deixou de
aproveitar as horas de descanso por causa de um sentimento de culpa ou mesmo remorso, porque deveria estar estudando.
Fazer uma coisa e pensar em outra causa desconcentração, estresse e perda de rendimento no estudo ou trabalho. Além da
perda de prazer nas horas de descanso.
Em diversas pesquisas que realizei durante palestras e seminários pelo país, constatei que os três problemas mais comuns de
quem quer vencer na vida são:
• medo do insucesso (gerando ansiedade, insegurança),
• falta de tempo e
• “competição” entre o estudo ou trabalho e o lazer.
*William Douglas é juiz federal, professor universitário, palestrante e autor de mais de 30 obras, dentre elas o best-seller
“Como passar em provas e concursos” . Passou em 9 concursos, sendo 5 em 1º Lugar
www.williamdouglas.com.br
Conteúdo cedido gratuitamente, pelo autor, com finalidade de auxiliar os candidatos.
Didatismo e Conhecimento
LÍNGUA PORTUGUESA
LÍNGUA PORTUGUESA
Exposição: Apresenta informações sobre assuntos, expõe
1. COMPREENSÃO E ideias; explica, avalia, reflete. (analisa ideias). Estrutura básica;
INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS. ideia principal; desenvolvimento; conclusão. Uso de linguagem
clara. Ex: ensaios, artigos científicos, exposições etc.
Didatismo e Conhecimento 1
LÍNGUA PORTUGUESA
Uma das mais famosas crônicas da história da literatura lu- De uma forma geral, passamos por diferentes níveis ou etapas
so-brasileira corresponde à definição de crônica como “narração até termos condições de aproveitar totalmente o assunto lido. Es-
histórica”. É a “Carta de Achamento do Brasil”, de Pero Vaz de sas etapas ou níveis são cumulativas e vão sendo adquiridas pela
Caminha”, na qual são narrados ao rei português, D. Manuel, o vida, estando presente em praticamente toda a nossa leitura.
descobrimento do Brasil e como foram os primeiros dias que os
marinheiros portugueses passaram aqui. Mas trataremos, sobretu- O Primeiro Nível é elementar e diz respeito ao período de
do, da crônica como gênero que comenta assuntos do dia a dia. alfabetização. Ler é uma capacidade cerebral muito sofisticada e
Para começar, uma crônica sobre a crônica, de Machado de Assis: requer experiência: não basta apenas conhecermos os códigos, a
gramática, a semântica, é preciso que tenhamos um bom domínio
O nascimento da crônica da língua.
“Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. O Segundo Nível é a pré-leitura ou leitura inspecional. Tem
É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando duas funções específicas: primeiro, prevenir para que a leitura pos-
as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente sa- terior não nos surpreenda e, sendo, para que tenhamos chance de
cudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos atmos- escolher qual material leremos, efetivamente. Trata-se, na verdade,
féricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras de nossa primeira impressão sobre o livro. É a leitura que comu-
sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e la glace mente desenvolvemos “nas livrarias”. Nela, por meio do salteio de
est rompue está começada a crônica. (...) partes, respondem basicamente às seguintes perguntas:
(Machado de Assis. “Crônicas Escolhidas”. São Paulo: - Por que ler este livro?
Editora Ática, 1994) - Será uma leitura útil?
- Dentro de que contexto ele poderá se enquadrar?
Publicada em jornal ou revista onde é publicada, destina-se
à leitura diária ou semanal e trata de acontecimentos cotidianos. Essas perguntas devem ser revistas durante as etapas que se
A crônica se diferencia no jornal por não buscar exatidão da in- seguem, procurando usar de imparcialidade quanto ao ponto de
formação. Diferente da notícia, que procura relatar os fatos que vista do autor, e o assunto, evitando preconceitos. Se você se pro-
acontecem, a crônica os analisa, dá-lhes um colorido emocional, puser a ler um livro sem interesse, com olhar crítico, rejeitando-o
mostrando aos olhos do leitor uma situação comum, vista por ou- antes de conhecê-lo, provavelmente o aproveitamento será muito
tro ângulo, singular. baixo.
O leitor pressuposto da crônica é urbano e, em princípio, um Ler é armazenar informações; desenvolver; ampliar horizon-
leitor de jornal ou de revista. A preocupação com esse leitor é que tes; compreender o mundo; comunicar-se melhor; escrever me-
faz com que, dentre os assuntos tratados, o cronista dê maior aten- lhor; relacionar-se melhor com o outro.
ção aos problemas do modo de vida urbano, do mundo contem-
porâneo, dos pequenos acontecimentos do dia a dia comuns nas Pré-Leitura
grandes cidades. Nome do livro
Jornalismo e literatura: É assim que podemos dizer que a crô- Autor
nica é uma mistura de jornalismo e literatura. De um recebe a ob- Dados Bibliográficos
servação atenta da realidade cotidiana e do outro, a construção da Prefácio e Índice
linguagem, o jogo verbal. Algumas crônicas são editadas em livro, Prólogo e Introdução
para garantir sua durabilidade no tempo.
O primeiro passo é memorizar o nome do autor e a edição do
Interpretação de Texto livro, fazer um folheio sistemático: ler o prefácio e o índice (ou
sumário), analisar um pouco da história que deu origem ao livro,
O primeiro passo para interpretar um texto consiste em de- ver o número da edição e o ano de publicação. Se falarmos em ler
compô-lo, após uma primeira leitura, em suas “ideias básicas ou um Machado de Assis, um Júlio Verne, um Jorge Amado, já esta-
ideias núcleo”, ou seja, um trabalho analítico buscando os con- remos sabendo muito sobre o livro. É muito importante verificar
ceitos definidores da opinião explicitada pelo autor. Esta operação estes dados para enquadrarmos o livro na cronologia dos fatos e na
fará com que o significado do texto “salte aos olhos” do leitor. Ler atualidade das informações que ele contém. Verifique detalhes que
é uma atividade muito mais complexa do que a simples interpre- possam contribuir para a coleta do maior número de informações
tação dos símbolos gráficos, de códigos, requer que o indivíduo possível. Tudo isso vai ser útil quando formos arquivar os dados
seja capaz de interpretar o material lido, comparando-o e incorpo- lidos no nosso arquivo mental. A propósito, você sabe o que seja
rando-o à sua bagagem pessoal, ou seja, requer que o indivíduo um prólogo, um prefácio e uma introdução? Muita gente pensa que
mantenha um comportamento ativo diante da leitura. os três são a mesma coisa, mas não:
Os diferentes níveis de leitura Prólogo: é um comentário feito pelo autor a respeito do tema
e de sua experiência pessoal.
Para que isso aconteça, é necessário que haja maturidade para
a compreensão do material lido, senão tudo cairá no esquecimento Prefácio: é escrito por terceiros ou pelo próprio autor, referin-
ou ficará armazenado em nossa memória sem uso, até que tenha- do-se ao tema abordado no livro e muitas vezes também tecendo
mos condições cognitivas para utilizar. comentários sobre o autor.
Didatismo e Conhecimento 2
LÍNGUA PORTUGUESA
Introdução: escrita também pelo autor, referindo-se ao livro ao retornarmos ao livro, consultamos os resumos. Não pense que
e não ao tema. é um exercício monótono. Nós somos capazes de realizar diaria-
O segundo passo é fazer uma leitura superficial. Pode-se, nes- mente exercícios físicos com o propósito de melhorar a aparência
se caso, aplicar as técnicas da leitura dinâmica. e a saúde. Pois bem, embora não tenhamos condições de ver com
o que se apresenta nossa mente, somos capazes de senti-la quando
O Terceiro Nível é conhecido como analítico. Depois de vas- melhoramos nossas aptidões como o raciocínio, a prontidão de in-
culharmos bem o livro na pré-leitura, analisamos o livro. Para isso, formações e, obviamente, nossos conhecimentos intelectuais. Vale
é imprescindível que saibamos em qual gênero o livro se enquadra: a pena se esforçar no início e criar um método de leitura eficiente
trata-se de um romance, um tratado, um livro de pesquisa e, neste e rápido.
caso, existe apenas teoria ou são inseridas práticas e exemplos. No
caso de ser um livro teórico, que requeira memorização, procure Ideias Núcleo
criar imagens mentais sobre o assunto, ou seja, veja, realmente, o
que está lendo, dando vida e muita criatividade ao assunto. Note O primeiro passo para interpretar um texto consiste em de-
bem: a leitura efetiva vai acontecer nesta fase, e a primeira coisa a compô-lo, após uma primeira leitura, em suas “ideias básicas ou
fazer é ser capaz de resumir o assunto do livro em duas frases. Já ideias núcleo”, ou seja, um trabalho analítico buscando os con-
temos algum conteúdo para isso, pois o encadeamento das ideias já ceitos definidores da opinião explicitada pelo autor. Esta operação
é de nosso conhecimento. Procure, agora, ler bem o livro, do início fará com que o significado do texto “salte aos olhos” do leitor.
ao fim. Esta é a leitura efetiva, aproveite bem este momento. Fique Exemplo:
atento! Aproveite todas as informações que a pré-leitura ofereceu.
Não pare a leitura para buscar significados de palavras em dicioná- “Incalculável é a contribuição do famoso neurologista aus-
rios ou sublinhar textos, isto será feito em outro momento. tríaco no tocante aos estudos sobre a formação da personalidade
humana. Sigmund Freud (1859-1939) conseguiu acender luzes
O Quarto Nível de leitura é o denominado de controle. Tra- nas camadas mais profundas da psique humana: o inconsciente
ta-se de uma leitura com a qual vamos efetivamente acabar com e subconsciente. Começou estudando casos clínicos de compor-
qualquer dúvida que ainda persista. Normalmente, os termos des- tamentos anômalos ou patológicos, com a ajuda da hipnose e em
conhecidos de um texto são explicitados neste próprio texto, à me-
colaboração com os colegas Joseph Breuer e Martin Charcot (Es-
dida que vamos adiantando a leitura. Um mecanismo psicológico
tudos sobre a histeria, 1895). Insatisfeito com os resultados obti-
fará com que fiquemos com aquela dúvida incomodando-nos até
dos pelo hipnotismo, inventou o método que até hoje é usado pela
que tenhamos a resposta. Caso não haja explicação no texto, será
psicanálise: o das ‘livres associações’ de ideias e de sentimentos,
na etapa do controle que lançaremos mão do dicionário.
estimuladas pela terapeuta por palavras dirigidas ao paciente
Veja bem: a esta altura já conhecemos bem o livro e o ato de
com o fim de descobrir a fonte das perturbações mentais. Para
interromper a leitura não vai fragmentar a compreensão do assunto
este caminho de regresso às origens de um trauma, Freud se uti-
como um todo. Será, também, nessa etapa que sublinharemos os
lizou especialmente da linguagem onírica dos pacientes, conside-
tópicos importantes, se necessário. Para ressaltar trechos impor-
tantes opte por um sinal discreto próximo a eles, visando principal- rando os sonhos como compensação dos desejos insatisfeitos na
mente a marcar o local do texto em que se encontra, obrigando-o a fase de vigília.
fixar a cronologia e a sequência deste fato importante, situando-o Mas a grande novidade de Freud, que escandalizou o mundo
no livro. cultural da época, foi a apresentação da tese de que toda neurose
Aproveite bem esta etapa de leitura. Para auxiliar no estudo, é é de origem sexual.”
interessante que, ao final da leitura de cada capítulo, você faça um (Salvatore D’Onofrio)
breve resumo com suas próprias palavras de tudo o que foi lido.
Primeiro Conceito do Texto: “Incalculável é a contribuição
Um Quinto Nível pode ser opcional: a etapa da repetição do famoso neurologista austríaco no tocante aos estudos sobre a
aplicada. Quando lemos, assimilamos o conteúdo do texto, mas formação da personalidade humana. Sigmund Freud (1859-1939)
aprendizagem efetiva vai requerer que tenhamos prática, ou seja, conseguiu acender luzes nas camadas mais profundas da psique
que tenhamos experiência do que foi lido na vida. Você só pode humana: o inconsciente e subconsciente.” O autor do texto afirma,
compreender conceitos que tenha visto em seu cotidiano. Nada inicialmente, que Sigmund Freud ajudou a ciência a compreender
como unir a teoria à prática. Na leitura, quando não passamos pela os níveis mais profundos da personalidade humana, o inconsciente
etapa da repetição aplicada, ficamos muitas vezes sujeitos àqueles e subconsciente.
brancos quando queremos evocar o assunto. Para evitar isso, faça
resumos. Segundo Conceito do Texto: “Começou estudando casos clí-
Observe agora os trechos sublinhados do livro e os resumos nicos de comportamentos anômalos ou patológicos, com a aju-
de cada capítulo, trace um diagrama sobre o livro, esforce-se para da da hipnose e em colaboração com os colegas Joseph Breuer e
traduzi-lo com suas próprias palavras. Procure associar o assunto Martin Charcot (Estudos sobre a histeria, 1895). Insatisfeito com
lido com alguma experiência já vivida ou tente exemplificá-lo com os resultados obtidos pelo hipnotismo, inventou o método que até
algo concreto, como se fosse um professor e o estivesse ensinando hoje é usado pela psicanálise: o das ‘livres associações’ de ideias
para uma turma de alunos interessados. É importante lembrar que e de sentimentos, estimuladas pela terapeuta por palavras dirigi-
esquecemos mais nas próximas 8 horas do que nos 30 dias poste- das ao paciente com o fim de descobrir a fonte das perturbações
riores. Isto quer dizer que devemos fazer pausas durante a leitura e mentais.” A segunda ideia núcleo mostra que Freud deu início a
Didatismo e Conhecimento 3
LÍNGUA PORTUGUESA
sua pesquisa estudando os comportamentos humanos anormais ou faminto: predicativo do sujeito, é o estado em que “ele” se
doentios por meio da hipnose. Insatisfeito com esse método, criou encontrava quando morreu.
o das “livres associações de ideias e de sentimentos”. - As orações coordenadas não têm oração principal, apenas as
Terceiro Conceito do Texto: “Para este caminho de regresso ideias estão coordenadas entre si;
às origens de um trauma, Freud se utilizou especialmente da lin- - Os adjetivos ligados a um substantivo vão dar a ele maior
guagem onírica dos pacientes, considerando os sonhos como com- clareza de expressão, aumentando-lhe ou determinando-lhe o sig-
pensação dos desejos insatisfeitos na fase de vigília.” Aqui, está nificado;
explicitado que a descoberta das raízes de um trauma se faz por - Esclarecer o vocabulário;
meio da compreensão dos sonhos, que seriam uma linguagem me- - Entender o vocabulário;
tafórica dos desejos não realizados ao longo da vida do dia a dia. - Viver a história;
- Ative sua leitura;
Quarto Conceito do Texto: “Mas a grande novidade de Freud, - Ver, perceber, sentir, apalpar o que se pergunta e o que se
que escandalizou o mundo cultural da época, foi a apresentação pede;
da tese de que toda neurose é de origem sexual.” Por fim, o tex- - Não se deve preocupar com a arrumação das letras nas al-
to afirma que Freud escandalizou a sociedade de seu tempo, afir- ternativas;
mando a novidade de que todo o trauma psicológico é de origem - As perguntas são fáceis, dependendo de quem lê o texto ou
sexual. como o leu;
- Cuidado com as opiniões pessoais, elas não existem;
Podemos, tranquilamente, ser bem-sucedidos numa interpre- - Sentir, perceber a mensagem do autor;
tação de texto. Para isso, devemos observar o seguinte: - Cuidado com a exatidão das questões em relação ao texto;
- Descobrir o assunto e procurar pensar sobre ele;
- Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do assunto; - Todos os termos da análise sintática, cada termo tem seu
- Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a leitu- valor, sua importância;
ra, vá até o fim, ininterruptamente; - Todas as orações subordinadas têm oração principal e as
- Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto pelo ideias se completam.
menos umas três vezes;
- Ler com perspicácia, sutileza, malícia nas entrelinhas; Vícios de Leitura
- Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar;
Por acaso você tem o hábito de ler movimentando a cabeça?
- Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do autor;
Ou quem sabe, acompanhando com o dedo? Talvez vocalizando
- Partir o texto em pedaços (parágrafos, partes) para melhor
baixinho... Você não percebe, mas esses movimentos são alguns
compreensão;
dos tantos que prejudicam a leitura. Esses movimentos são conhe-
- Centralizar cada questão ao pedaço (parágrafo, parte) do tex-
cidos como vícios de linguagem.
to correspondente;
Movimentar a cabeça: procure perceber se você não está
- Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada questão;
movimentando a cabeça enquanto lê. Este movimento, ao final
- Cuidado com os vocábulos: destoa (=diferente de...), não,
de pouco tempo, gera muito cansaço além de não causar nenhum
correta, incorreta, certa, errada, falsa, verdadeira, exceto, e outras;
efeito positivo. Durante a leitura apenas movimentamos os olhos.
palavras que aparecem nas perguntas e que, às vezes, dificultam a
Regressar no texto, durante a leitura: pessoas que têm dificul-
entender o que se perguntou e o que se pediu; dade de memorizar um assunto, que não compreendem algumas
- Quando duas alternativas lhe parecem corretas, procurar a expressões ou palavras tendem a voltar na sua leitura. Este movi-
mais exata ou a mais completa; mento apenas incrementa a falta de memória, pois secciona a linha
- Quando o autor apenas sugerir ideia, procurar um fundamen- de raciocínio e raramente explica o desconhecido, o que normal-
to de lógica objetiva; mente é elucidado no decorrer da leitura. Procure sempre manter
- Cuidado com as questões voltadas para dados superficiais; uma sequência e não fique “indo e vindo” no livro. O assunto pode
- Não se deve procurar a verdade exata dentro daquela respos- se tornar um bicho de sete cabeças!
ta, mas a opção que melhor se enquadre no sentido do texto;
- Às vezes a etimologia ou a semelhança das palavras denun- Ler palavra por palavra: para escrever usamos muitas pala-
cia a resposta; vras que apenas servem como adereços. Procure ler o conjunto e
- Procure estabelecer quais foram as opiniões expostas pelo perceber o seu significado.
autor, definindo o tema e a mensagem;
- O autor defende ideias e você deve percebê-las; Sub-vocalização: é o ato de repetir mentalmente a palavra.
- Os adjuntos adverbiais e os predicativos do sujeito são im- Isto só será corrigido quando conseguirmos ultrapassar a marca de
portantíssimos na interpretação do texto. Exemplos: 250 palavras por minuto.
Ele morreu de fome. Usar apoios: algumas pessoas têm o hábito de acompanhar a
de fome: adjunto adverbial de causa, determina a causa na leitura com réguas, apontando ou utilizando um objeto que salta
realização do fato (= morte de “ele”). “linha a linha”. O movimento dos olhos é muito mais rápido quan-
Ele morreu faminto. do é livre do que quando o fazemos guiado por qualquer objeto.
Didatismo e Conhecimento 4
LÍNGUA PORTUGUESA
Leitura Eficiente - Atitude: pensamento positivo para aquilo que deseja ler.
Manter-se descansado é muito importante também. Não adianta
Ao ler realizamos as seguintes operações: um desgaste físico enorme, pois a retenção da informação será
inversamente proporcional. Uma alimentação adequada é muito
- Captamos o estímulo, ou seja, por meio da visão, encami- importante.
nhamos o material a ser lido para nosso cérebro. - Ambiente: o ambiente de leitura deve ser preparado para ela.
- Passamos, então, a perceber e a interpretar o dado sensorial Nada de ambientes com muitos estímulos que forcem a dispersão.
(palavras, números etc.) e a organizá-lo segundo nossa bagagem Deve ser um local tranquilo, agradável, ventilado, com uma cadei-
de conhecimentos anteriores. Para essa etapa, precisamos de moti- ra confortável para o leitor e mesa para apoiar o livro a uma altura
vação, de forma a tornar o processo mais otimizado possível. que possibilite postura corporal adequada. Quanto a iluminação,
- Assimilamos o conteúdo lido integrando-o ao nosso “arqui- deve vir do lado posterior esquerdo, pois o movimento de virar a
vo mental” e aplicando o conhecimento ao nosso cotidiano. página acontecerá antes de ter sido lida a última linha da página di-
reita e, de outra forma, haveria a formação de sombra nesta página,
A leitura é um processo muito mais amplo do que podemos o que atrapalharia a leitura.
imaginar. Ler não é unicamente interpretar os símbolos gráficos, - Objetos necessários: para evitar que, durante a leitura, le-
mas interpretar o mundo em que vivemos. Na verdade, passamos vantarmos para pegar algum objeto que julguemos importante,
todo o nosso tempo lendo! devemos colocar lápis, marca-texto e dicionário sempre à mão.
O psicanalista francês Lacan disse que o olhar da mãe confi- Quanto sublinhar os pontos importantes do texto, é preciso apren-
gura a estrutura psíquica da criança, ou seja, esta se vê a partir de der a técnica adequada. Não o fazer na primeira leitura, evitando
como vê seu reflexo nos olhos da mãe! O bebê, então, segundo que os aspectos sublinhados parecem-se mais com um mosaico de
esta citação, lê nos olhos da mãe o sentimento com que é rece- informações aleatórias.
bido e interpreta suas emoções: se o que encontra é rejeição, sua Os concursos apresentam questões interpretativas que têm por
experiência básica será de terror; se encontra alegria, sua expe- finalidade a identificação de um leitor autônomo. Portanto, o can-
riência será de tranquilidade, etc. Ler está tão relacionado com o didato deve compreender os níveis estruturais da língua por meio
fato de existirmos que nem nos preocupamos em aprimorar este da lógica, além de necessitar de um bom léxico internalizado.
processo. É lendo que vamos construindo nossos valores e estes As frases produzem significados diferentes de acordo com o
são os responsáveis pela transformação dos fatos em objetos de contexto em que estão inseridas. Torna-se, assim, necessário sem-
nosso sentimento. pre fazer um confronto entre todas as partes que compõem o texto.
Leitura é um dos grandes, senão o maior, ingrediente da ci- Além disso, é fundamental apreender as informações apresentadas
vilização. Ela é uma atividade ampla e livre, fato comprovado por trás do texto e as inferências a que ele remete. Este procedi-
pela frustração de algumas pessoas ao assistirem a um filme, cuja mento justifica-se por um texto ser sempre produto de uma postura
história já foi lida em um livro. Quando lemos, associamos as in- ideológica do autor diante de uma temática qualquer.
formações lidas à imensa bagagem de conhecimentos que temos
armazenados em nosso cérebro e então somos capazes de criar, Como ler e interpretar uma charge
imaginar e sonhar.
É por meio da leitura que podemos entrar em contato com Interpretar cartuns, charges ou quadrinhos exigem três habi-
pessoas distantes ou do passado, observando suas crenças, convic- lidades: observação, conhecimento do assunto e vocabulário ade-
ções e descobertas que foram imortalizadas por meio da escrita. quado. A primeira permite que o leitor “veja” todos os ícones pre-
Esta possibilita o avanço tecnológico e científico, registrando os sentes - e dono da situação - dê início à descrição minuciosa, mas
conhecimentos, levando-os a qualquer pessoa em qualquer lugar que prioriza as relevâncias. A segunda requer um leitor “antenado”
do mundo, desde que saibam decodificar a mensagem, interpre- com o noticiário mais recente, caso contrário não será possível es-
tando os símbolos usados como registro da informação. A leitura tabelecer sentidos para o que vê. A terceira encerra o ciclo, pois,
é o verdadeiro elo integrador do ser humano e a sociedade em que sem dar nome ao que vê, o leitor não faz a tradução da imagem.
ele vive! Desse modo, interpretar charges - ou qualquer outra forma de
O mundo de hoje é marcado pelo enorme fluxo de informa- expressão visual – exige procedimentos lógicos, atenção aos deta-
ções oferecidas a todo instante. É preciso também tornarmo-nos lhes e uma preocupação rigorosa em associar imagens aos fatos.
mais receptivos e atentos, para nos mantermos atualizados e com-
petitivos. Para isso, é imprescindível leitura que nos estimule cada
vez mais em vista dos resultados que ela oferece. Se você pretende
acompanhar a evolução do mundo, manter-se em dia, atualizado e
bem informado, precisa preocupar-se com a qualidade da sua leitura.
Observe: você pode gostar de ler sobre esoterismo e uma pes-
soa próxima não se interessar por este assunto. Por outro lado, será
que esta mesma pessoa se interessa por um livro que fale sobre
História ou esportes? No caso da leitura, não existe livro interes-
sante, mas leitores interessados.
A pessoa que se preocupa com a qualidade de sua leitura e
com o resultado que poderá obter, deve pensar no ato de ler como
um comportamento que requer alguns cuidados, para ser realmente eficaz. Benett. Folha de São Paulo, 15/02/2010
Didatismo e Conhecimento 5
LÍNGUA PORTUGUESA
Charges são desenhos humorísticos que se utilizam da ironia los meios de comunicação não apenas é inevitável, como também
e do sarcasmo para a constituição de uma crítica a uma situação pode vir a ser benéfica no que tange ao processo da constituição
social ou política vigente, e contra a qual se pretende – ou ao me- de posicionamentos críticos e ideológicos no debate democrático.
nos se pretendia, na origem desse fenômeno artístico, na Inglaterra Reafirmando aquele lugar-comum, mas válido, do dramaturgo
do século XIX – fazer uma oposição. Diferente do cartoon, arte Nelson Rodrigues (do qual eu nunca encontrei a citação, confes-
também surgida na Inglaterra e que pretendia parodiar situações so), “toda unanimidade é burra”. Por isso, é preciso compreender
do cotidiano da sociedade, constituindo assim uma crítica dos e identificar a linha editorial do veículo de comunicação no qual a
costumes que ultrapassa os limites do tempo e projeta-se como charge foi publicada, pois esta revela a ideologia que inspira o foco
crítica de época, a charge é caracterizada especificamente por ser de parcialidade que este dá às suas notícias.
uma crônica, ou seja, narra ou satiriza um fato acontecido em de-
terminado momento, e que perderá sua carga humorística ao ser
desvencilhada do contexto temporal no qual está inserida. Toda-
via, a palavra cartunista acabou designando, na nossa linguagem
cotidiana, a categoria de artistas que produz esse tipo de desenho
humorístico (charges ou cartoons)
Na verdade, quatro passos básicos para uma boa interpretação
político-ideológica de uma charge. Afinal, se a corrida eleitoral
para a Presidência da República já começou, não vai mal dar uma
boa olhada nas charges publicadas em cada jornal, impresso ou
eletrônico, para ver o que se passa na cabeça dos donos da grande
mídia sobre esse momento ímpar no processo democrático nacional…
Didatismo e Conhecimento 6
LÍNGUA PORTUGUESA
magia contêm as mesmas cinco letras: image e magie. Toda ima- (A) Tendo isso em vista, há que se descongelar essa imagem.
gem é magia, e nosso olhar é a varinha de condão que descongela (B) Ainda assim, há mais que uma imagem descongelada.
o instante aprisionado nas geleiras eternas do tempo fotográfico. (C) Apesar de tudo, essa imagem descongela algo.
Toda fotografia é uma espécie de espelho da Alice do País (D) Há, não obstante, o que faz essa imagem descongelar.
das Maravilhas, e cada pessoa que mergulha nesse espelho de pa- (E) Há algo, outrossim, que essa imagem descongelará.
pel sai numa dimensão diferente e vivencia experiências diversas,
pois o lado de lá é como o albergue espanhol do ditado: cada um 5. Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre
só encontra nele o que trouxe consigo. Além disso, o significado o texto:
de uma imagem muda com o passar do tempo, até para o mesmo (A) Apesar de se ombrearem com outras artes plásticas, a fo-
observador. tografia nos faz desfrutar e viver experiências de natureza igual-
Variam, também, os níveis de percepção de uma fotografia. mente temporal.
Isso ocorre, na verdade, com todas as artes: um músico, por exem- (B) Na superfície espacial de uma fotografia, nem se imagine
plo, é capaz de perceber dimensões sonoras inteiramente insus- os tempos a que suscitarão essa imagem aparentemente congelada...
peitas para os leigos. Da mesma forma, um fotógrafo profissional (C) Conquanto seja o registro de um determinado espaço, uma
lê as imagens fotográficas de modo diferente daqueles que desco- foto leva-nos a viver profundas experiências de caráter temporal.
nhecem a sintaxe da fotografia, a “escrita da luz”. Mas é difícil (D) Tal como ocorrem nos espelhos da Alice, as experiências
imaginar alguém que seja insensível à magia de uma foto. físicas de uma fotografia podem se inocular em planos temporais.
(Adaptado de Pedro Vasquez, em Por trás daquela foto. (E) Nenhuma imagem fotográfica é congelada suficientemen-
São Paulo: Companhia das Letras, 2010) te para abrir mão de implicâncias semânticas no plano temporal.
1. O segmento do texto que ressalta a ação mesma da percep- Atenção: As questões de números 6 a 9 referem-se ao texto
ção de uma foto é: seguinte.
(A) A câmara fotográfica é uma verdadeira máquina do tempo.
(B) a fotografia congela o tempo. Discriminar ou discriminar?
(C) nosso olhar é a varinha de condão que descongela o ins-
tante aprisionado. Os dicionários não são úteis apenas para esclarecer o sen-
(D) o significado de uma imagem muda com o passar do tempo.
tido de um vocábulo; ajudam, com frequência, a iluminar teses
(E) Mas é difícil imaginar alguém que seja insensível à magia
controvertidas e mesmo a incendiar debates. Vamos ao Dicionário
de uma foto.
Houaiss, ao verbete discriminar, e lá encontramos, entre outras,
estas duas acepções: a) perceber diferenças; distinguir, discernir;
2. No contexto do último parágrafo, a referência aos vários
b) tratar mal ou de modo injusto, desigual, um indivíduo ou grupo
níveis de percepção de uma fotografia remete
de indivíduos, em razão de alguma característica pessoal, cor da
(A) à diversidade das qualidades intrínsecas de uma foto.
pele, classe social, convicções etc.
(B) às diferenças de qualificação do olhar dos observadores.
Na primeira acepção, discriminar é dar atenção às diferen-
(C) aos graus de insensibilidade de alguns diante de uma foto.
(D) às relações que a fotografia mantém com as outras artes. ças, supõe um preciso discernimento; o termo transpira o senti-
(E) aos vários tempos que cada fotografia representa em si do positivo de quem reconhece e considera o estatuto do que é
mesma. diferente. Discriminar o certo do errado é o primeiro passo no
caminho da ética. Já na segunda acepção, discriminar é deixar
3. Atente para as seguintes afirmações: agir o preconceito, é disseminar o juízo preconcebido. Discrimi-
I. Ao dizer, no primeiro parágrafo, que a fotografia congela o nar alguém: fazê-lo objeto de nossa intolerância.
tempo, o autor defende a ideia de que a realidade apreendida numa Diz-se que tratar igualmente os desiguais é perpetuar a de-
foto já não pertence a tempo algum. sigualdade. Nesse caso, deixar de discriminar (no sentido de dis-
II. No segundo parágrafo, a menção ao ditado sobre o alber- cernir) é permitir que uma discriminação continue (no sentido de
gue espanhol tem por finalidade sugerir que o olhar do observador preconceito). Estamos vivendo uma época em que a bandeira da
não interfere no sentido próprio e particular de uma foto. discriminação se apresenta em seu sentido mais positivo: trata-se
III. Um fotógrafo profissional, conforme sugere o terceiro pa- de aplicar políticas afirmativas para promover aqueles que vêm
rágrafo, vê não apenas uma foto, mas os recursos de uma lingua- sofrendo discriminações históricas. Mas há, por outro lado, quem
gem específica nela fixados. veja nessas propostas afirmativas a forma mais censurável de dis-
Em relação ao texto, está correto o que se afirma SOMENTE em criminação... É o caso das cotas especiais para vagas numa uni-
(A) I e II. versidade ou numa empresa: é uma discriminação, cujo sentido
(B) II e III. positivo ou negativo depende da convicção de quem a avalia. As
(C) I. acepções são inconciliáveis, mas estão no mesmo verbete do di-
(D) II. cionário e se mostram vivas na mesma sociedade.
(E) III. (Aníbal Lucchesi, inédito)
4. No contexto do primeiro parágrafo, o segmento Todavia, 6. A afirmação de que os dicionários podem ajudar a incendiar
existe algo que descongela essa imagem pode ser substituído, sem debates confirma-se, no texto, pelo fato de que o verbete discri-
prejuízo para a correção e a coerência do texto, por: minar
Didatismo e Conhecimento 7
LÍNGUA PORTUGUESA
(A) padece de um sentido vago e impreciso, gerando por isso Bom para o sorveteiro
inúmeras controvérsias entre os usuários.
(B) apresenta um sentido secundário, variante de seu sentido Por alguma razão inconsciente, eu fugia da notícia. Mas a
principal, que não é reconhecido por todos. notícia me perseguia. Até no avião, o único jornal abria na minha
(C) abona tanto o sentido legítimo como o ilegítimo que se cara o drama da baleia encalhada na praia de Saquarema. Afinal,
costuma atribuir a esse vocábulo. depois de quase três dias se debatendo na areia da praia e na tela
(D) faz pensar nas dificuldades que existem quando se trata de da televisão, o filhote de jubarte conseguiu ser devolvido ao mar.
determinar a origem de um vocábulo. Até a União Soviética acabou, como foi dito por locutores espe-
(E) desdobra-se em acepções contraditórias que correspon- cializados em necrológio eufórico. Mas o drama da baleia não
dem a convicções incompatíveis. acabava. Centenas de curiosos foram lá apreciar aquela monta-
nha de força a se esfalfar em vão na luta pela sobrevivência. Um
7. Diz-se que tratar igualmente os desiguais é perpetuar a belo espetáculo.
desigualdade. À noite, cessava o trabalho, ou a diversão. Mas já ao raiar
Da afirmação acima é coerente deduzir esta outra: do dia, sem recursos, com simples cordas e as próprias mãos, to-
(A) Os homens são desiguais porque foram tratados com o dos se empenhavam no lúcido objetivo comum. Comum, vírgula.
mesmo critério de igualdade. O sorveteiro vendeu centenas de picolés. Por ele a baleia ficava
(B) A igualdade só é alcançável se abolida a fixação de um encalhada por mais duas ou três semanas. Uma santa senhora
mesmo critério para casos muito diferentes. teve a feliz ideia de levar pastéis e empadinhas para vender com
(C) Quando todos os desiguais são tratados desigualmente, a ágio. Um malvado sugeriu que se desse por perdida a batalha e se
desigualdade definitiva torna-se aceitável. começasse logo a repartir os bifes.
(D) Uma forma de perpetuar a igualdade está em sempre tratar Em 1966, uma baleia adulta foi parar ali mesmo e em quinze
os iguais como se fossem desiguais. minutos estava toda retalhada. Muitos se lembravam da alegria
(E) Critérios diferentes implicam desigualdades tais que os voraz com que foram disputadas as toneladas da vítima. Essa de
injustiçados são sempre os mesmos. agora teve mais sorte. Foi salva graças à religião ecológica que
anda na moda e que por um momento estabeleceu uma trégua en-
tre todos nós, animais de sangue quente ou de sangue frio.
8. Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o
Até que enfim chegou uma traineira da Petrobrás. Logo uma
sentido de um segmento em:
estatal, ó céus, num momento em que é preciso dar provas da efi-
(A) iluminar teses controvertidas (1º parágrafo) = amainar
cácia da empresa privada. De qualquer forma, eu já podia reco-
posições dubitativas.
lher a minha aflição. Metáfora fácil, lá se foi, espero que salva,
(B) um preciso discernimento (2º parágrafo) = uma arraigada
a baleia de Saquarema. O maior animal do mundo, assim frágil,
dissuasão.
à mercê de curiosos. À noite, sonhei com o Brasil encalhado na
(C) disseminar o juízo preconcebido (2º parágrafo) = dissua- areia diabólica da inflação. A bordo, uma tripulação de camelôs
dir o julgamento predestinado. anunciava umas bugigangas. Tudo fala. Tudo é símbolo.
(D) a forma mais censurável (3º parágrafo) = o modo mais
repreensível. (Otto Lara Resende, Folha de S. Paulo)
(E) As acepções são inconciliáveis (3º parágrafo) = as versões
são inatacáveis. 10. O cronista ressalta aspectos contrastantes do caso de Sa-
quarema, tal como se observa na relação entre estas duas expressões:
9. É preciso reelaborar, para sanar falha estrutural, a redação (A) drama da baleia encalhada e três dias se debatendo na
da seguinte frase: areia.
(A) O autor do texto chama a atenção para o fato de que o (B) em quinze minutos estava toda retalhada e foram disputa-
desejo de promover a igualdade corre o risco de obter um efeito das as toneladas da vítima.
contrário. (C) se esfalfar em vão na luta pela sobrevivência e levar pas-
(B) Embora haja quem aposte no critério único de julgamento, téis e empadinhas para vender com ágio.
para se promover a igualdade, visto que desconsideram o risco do (D) o filhote de jubarte conseguiu ser devolvido ao mar e lá se
contrário. foi, espero que salva, a baleia de Saquarema.
(C) Quem vê como justa a aplicação de um mesmo critério (E) Até que enfim chegou uma traineira da Petrobrás e Logo
para julgar casos diferentes não crê que isso reafirme uma situação uma estatal, ó céus.
de injustiça.
(D) Muitas vezes é preciso corrigir certas distorções aplican- 11. Atente para as seguintes afirmações sobre o texto:
do-se medidas que, à primeira vista, parecem em si mesmas dis- I. A analogia entre a baleia e a União Soviética insinua, entre
torcidas. outros termos de aproximação, o encalhe dos gigantes.
(E) Em nossa época, há desequilíbrios sociais tão graves que II. As reações dos envolvidos no episódio da baleia encalhada
tornam necessários os desequilíbrios compensatórios de uma ação revelam que, acima das diferentes providências, atinham-se todos
corretiva. a um mesmo propósito.
III. A expressão Tudo é símbolo prende-se ao fato de que o au-
Atenção: As questões de números 10 a 14 referem-se à crônica tor aproveitou o episódio da baleia encalhada para também figurar
abaixo. o encalhe de um país imobilizado pela alta inflação.
Didatismo e Conhecimento 8
LÍNGUA PORTUGUESA
Em relação ao texto, está correto o que se afirma em A perfídia desse argumento está na falsa analogia entre uma
(A) I, II e III. função eminentemente técnica e uma função eminentemente polí-
(B) I e III, apenas. tica. No fundo, o ministro queria dizer que o governo estava indo
(C) II e III, apenas. muito bem nas mãos dos militares e que estes saberiam melhor que
(D) I e II, apenas. ninguém prosseguir no comando da nação.
(E) III, apenas. Entre a escolha pelo mérito e a escolha pelo voto há neces-
sidades muito distintas. Num concurso público, por exemplo, a
12. Foram irrelevantes para a salvação da baleia estes dois avaliação do mérito pessoal do candidato se impõe sobre qual-
fatores: quer outra. A seleção e a classificação de profissionais devem ser
(A) o necrológio da União Soviética e os serviços da traineira processos marcados pela transparência do método e pela adequa-
da Petrobrás. ção aos objetivos. Já a escolha da liderança de uma associação
(B) o prestígio dos valores ecológicos e o empenho no lúcido de classe, de um sindicato deve ocorrer em conformidade com o
objetivo comum. desejo da maioria, que escolhe livremente seu representante. Entre
(C) o fato de a jubarte ser um animal de sangue frio e o prestí- a especialidade técnica e a vocação política há diferenças profun-
gio dos valores ecológicos. das de natureza, que pedem distintas formas de reconhecimento.
(D) o fato de a Petrobrás ser uma empresa estatal e as iniciati- Essas questões vêm à tona quando, em certas instituições, o
vas que couberam a uma traineira. prestígio do “assembleísmo” surge como absoluto. Há quem pre-
(E) o aproveitamento comercial da situação e a força desco- tenda decidir tudo no voto, reconhecendo numa assembleia a “so-
munal empregada pela jubarte. berania” que a qualifica para a tomada de qualquer decisão. Não
por acaso, quando alguém se opõe a essa generalização, lembran-
13. Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o do a razão do mérito, ouvem-se diatribes contra a “meritocra-
sentido de um segmento em: cia”. Eis aí uma tarefa para nós todos: reconhecer, caso a caso, a
(A) em necrológio eufórico (1º parágrafo) = em façanha mortal. legitimidade que tem a decisão pelo voto ou pelo reconhecimento
(B) Comum, vírgula (2º parágrafo) = Geral, mas nem tanto. da qualificação indispensável. Assim, não elegeremos deputado
(C) que se desse por perdida a batalha (2º parágrafo) = que se
alguém sem espírito público, nem votaremos no passageiro que
imaginasse o efeito de uma derrota.
deverá pilotar nosso avião.
(D) estabeleceu uma trégua entre todos nós (3º parágrafo) =
(Júlio Castanho de Almeida, inédito)
derrogou uma imunidade para nós todos.
(E) é preciso dar provas da eficácia (4º parágrafo) = convém
explicitar os bons propósitos.
15. Deve-se presumir, com base no texto, que a razão do mé-
14. Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre rito e a razão do voto devem ser consideradas, diante da tomada
o último parágrafo do texto. de uma decisão,
(A) Apesar de tratar do drama ocorrido com uma baleia, o (A) complementares, pois em separado nenhuma delas satis-
cronista não deixa de aludir a circunstâncias nacionais, como o faz o que exige uma situação dada.
impulso para as privatizações e os custos da alta inflação. (B) excludentes, já que numa votação não se leva em conta
(B) Mormente tratando de uma jubarte encalhado, o cronista nenhuma questão de mérito.
não obsta em tratar de assuntos da pauta nacional, como a inflação (C) excludentes, já que a qualificação por mérito pressupõe
ou o processo empresarial das privatizações. que toda votação é ilegítima.
(C) Vê-se que um cronista pode assumir, como aqui ocorreu, o (D) conciliáveis, desde que as mesmas pessoas que votam se-
papel tanto de um repórter curioso como analisar fatos oportunos, jam as que decidam pelo mérito.
qual seja a escalada inflacionária ou a privatização. (E) independentes, visto que cada uma atende a necessidades
(D) O incidente da jubarte encalhado não impediu de que o de bem distintas naturezas.
cronista se valesse de tal episódio para opinar diante de outros fa-
tos, haja vista a inflação nacional ou a escalada das privatizações. 16. Atente para as seguintes afirmações:
(E) Ao bom cronista ocorre associar um episódio como o da I. A argumentação do ministro, referida no primeiro parágrafo,
jubarte com a natureza de outros, bem distintos, sejam os da eco- é rebatida pelo autor do texto por ser falaciosa e escamotear os
nomia inflacionada, sejam o crescente prestígio das privatizações. reais interesses de quem a formula.
II. O autor do texto manifesta-se francamente favorável à ra-
Atenção: As questões de números 15 a 18 referem-se ao texto zão do mérito, a menos que uma situação de real impasse imponha
abaixo. a resolução pelo voto.
III. A conotação pejorativa que o uso de aspas confere ao ter-
A razão do mérito e a do voto mo “assembleísmo” expressa o ponto de vista dos que desconsi-
deram a qualificação técnica.
Um ministro, ao tempo do governo militar, irritado com a Em relação ao texto, está correto SOMENTE o que se afirma em
campanha pelas eleições diretas para presidente da República, (A) I.
buscou minimizar a importância do voto com o seguinte argumen- (B) II.
to: − Será que os passageiros de um avião gostariam de fazer uma (C) III.
eleição para escolher um deles como piloto de seu voo? Ou prefe- (D) I e II.
ririam confiar no mérito do profissional mais abalizado? (E) II e III.
Didatismo e Conhecimento 9
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17. Considerando-se o contexto, são expressões bastante pró- Arroz-doce da infância
ximas quanto ao sentido:
(A) fazer uma eleição e confiar no mérito do profissional. Ingredientes
(B) especialidade técnica e vocação política. 1 litro de leite desnatado
(C) classificação de profissionais e escolha da liderança. 150g de arroz cru lavado
(D) avaliação do mérito e reconhecimento da qualificação. 1 pitada de sal
(E) transparência do método e desejo da maioria. 4 colheres (sopa) de açúcar
18. Atente para a redação do seguinte comunicado: 1 colher (sobremesa) de canela em pó
Didatismo e Conhecimento 10
LÍNGUA PORTUGUESA
“As pessoas simplificam Machado de Assis; elas o veem como “Durante o ensaio, o ator principal brigou com o diretor por
um pensador cín iço e descrente do amor e da amizade.” causa da sua arrogância.”
O pronome pessoal “elas” recupera o substantivo pessoas; o O anafórico “sua” pode estar-se referindo tanto à palavra ator
pronome pessoal “o” retoma o nome Machado de Assis. quanto a diretor.
“Os dois homens caminhavam pela calçada, ambos trajando “André brigou com o ex-namorado de uma amiga, que traba-
roupa escura.” lha na mesma firma.”
O numeral “ambos” retoma a expressão os dois homens. Não se sabe se o anafórico “que” está se referindo ao termo
amiga ou a ex-namorado. Permutando o anafórico “que” por “o
“Fui ao cinema domingo e, chegando lá, fiquei desanimado qual” ou “a qual”, essa ambiguidade seria desfeita.
com a fila.”
Retomada por palavra lexical
O advérbio “lá” recupera a expressão ao cinema. (substantivo, adjetivo ou verbo)
“O governador vai pessoalmente inaugurar a creche dos fun- Uma palavra pode ser retomada, que por uma repetição, quer
cionários do palácio, e o fará para demonstrar seu apreço aos por uma substituição por sinônimo, hiperônimo, hipônimo ou an-
servidores.” tonomásia.
Sinônimo é o nome que se dá a uma palavra que possui o
A forma verbal “fará” retoma a perífrase verbal vai inaugu- mesmo sentido que outra, ou sentido bastante aproximado: injúria
rar e seu complemento. e afronta, alegre e contente.
Hiperônimo é um termo que mantém com outro uma relação
- Em princípio, o termo a que o anafórico se refere deve estar do tipo contém/está contido;
presente no texto, senão a coesão fica comprometida, como neste Hipônimo é uma palavra que mantém com outra uma relação
exemplo:
do tipo está contido/contém. O significado do termo rosa está con-
tido no de flor e o de flor contém o de rosa, pois toda rosa é uma
“André é meu grande amigo. Começou a namorá-la há vários
flor, mas nem toda flor é uma rosa. Flor é, pois, hiperônimo de
meses.”
rosa, e esta palavra é hipônimo daquela.
Antonomásia é a substituição de um nome próprio por um
A rigor, não se pode dizer que o pronome “la” seja um anafó-
nome comum ou de um comum por um próprio. Ela ocorre, prin-
rico, pois não está retomando nenhuma das palavras citadas antes.
Exatamente por isso, o sentido da frase fica totalmente prejudica- cipalmente, quando uma pessoa célebre é designada por uma ca-
do: não há possibilidade de se depreender o sentido desse prono- racterística notória ou quando o nome próprio de uma personagem
me. famosa é usada para designar outras pessoas que possuam a mes-
Pode ocorrer, no entanto, que o anafórico não se refira a ne- ma característica que a distingue:
nhuma palavra citada anteriormente no interior do texto, mas que
possa ser inferida por certos pressupostos típicos da cultura em que “O rei do futebol (=Pelé) som podia ser um brasileiro.”
se inscreve o texto. É o caso de um exemplo como este:
“O herói de dois mundos (=Garibaldi) foi lembrado numa
“O casamento teria sido às 20 horas. O noivo já estava de- recente minissérie de tevê.”
sesperado, porque eram 21 horas e ela não havia comparecido.”
Referência ao fato notório de Giuseppe Garibaldi haver lutado
Por dados do contexto cultural, sabe-se que o pronome “ela” pela liberdade na Europa e na América.
é um anafórico que só pode estar-se referindo à palavra noiva. “Ele é um Hércules (=um homem muito forte).
Num casamento, estando presente o noivo, o desespero só pode ser
pelo atraso da noiva (representada por “ela” no exemplo citado). Referência à força física que caracteriza o herói grego Hér-
- O artigo indefinido serve geralmente para introduzir infor- cules.
mações novas ao texto. Quando elas forem retomadas, deverão ser
precedidas do artigo definido, pois este é que tem a função de indi- “Um presidente da República tem uma agenda de trabalho
car que o termo por ele determinado é idêntico, em termos de valor extremamente carregada. Deve receber ministros, embaixadores,
referencial, a um termo já mencionado. visitantes estrangeiros, parlamentares; precisa a todo momento
tomar graves decisões que afetam a vida de muitas pessoas; ne-
“O encarregado da limpeza encontrou uma carteira na sala cessita acompanhar tudo o que acontece no Brasil e no mundo.
de espetáculos. Curiosamente, a carteira tinha muito dinheiro Um presidente deve começar a trabalhar ao raiar do dia e termi-
dentro, mas nem um documento sequer.” nar sua jornada altas horas da noite.”
- Quando, em dado contexto, o anafórico pode referir-se a dois A repetição do termo presidente estabelece a coesão entre o
termos distintos, há uma ruptura de coesão, porque ocorre uma último período e o que vem antes dele.
ambiguidade insolúvel. É preciso que o texto seja escrito de tal
forma que o leitor possa determinar exatamente qual é a palavra “Observava as estrelas, os planetas, os satélites. Os astros
retomada pelo anafórico. sempre o atraíram.
Didatismo e Conhecimento 11
LÍNGUA PORTUGUESA
Os dois períodos estão relacionados pelo hiperônimo astros, “Meu pai começou a andar novamente, sentiu a pontada no
que recupera os hipônimos estrelas, planetas, satélites. peito e parou.”
“Eles (os alquimistas) acreditavam que o organismo do ho- Pode ocorrer também elipse por antecipação. No exemplo que
mem era regido por humores (fluidos orgânicos) que percorriam, segue, aquela promoção é complemento tanto de querer quanto de
ou apenas existiam, em maior ou menor intensidade em nosso cor- desejar, no entanto aparece apenas depois do segundo verbo:
po. Eram quatro os humores: o sangue, a fleuma (secreção pulmo-
nar), a bile amarela e a bile negra. E eram também estes quatro “Ficou muito deprimido com o fato de ter sido preferido. Afi-
fluidos ligados aos quatro elementos fundamentais: ao Ar (seco), nal, queria muito, desejava ardentemente aquela promoção.”
à Água (úmido), ao Fogo (quente) e à Terra (frio), respectivamen-
te.” Quando se faz essa elipse por antecipação com verbos que têm
Ziraldo. In: Revista Vozes, nº3, abril de 1970, p.18. regência diferente, a coesão é rompida. Por exemplo, não se deve
dizer “Conheço e gosto deste livro”, pois o verbo conhecer rege
Nesse texto, a ligação entre o segundo e o primeiro períodos complemento não introduzido por preposição, e a elipse retoma
se faz pela repetição da palavra humores; entre o terceiro e o se- o complemento inteiro, portanto teríamos uma preposição inde-
gundo se faz pela utilização do sinônimo fluidos. vida: “Conheço (deste livro) e gosto deste livro”. Em “Implico
É preciso manejar com muito cuidado a repetição de palavras, e dispenso sem dó os estranhos palpiteiros”, diferentemente, no
pois, se ela não for usada para criar um efeito de sentido de inten- complemento em elipse faltaria a preposição “com” exigida pelo
sificação, constituirá uma falha de estilo. No trecho transcrito a verbo implicar.
seguir, por exemplo, fica claro o uso da repetição da palavra vice Nesses casos, para assegurar a coesão, o recomendável é co-
e outras parecidas (vicissitudes, vicejam, viciem), com a evidente locar o complemento junto ao primeiro verbo, respeitando sua
intenção de ridicularizar a condição secundária que um provável regência, e retomá-lo após o segundo por um anafórico, acres-
flamenguista atribui ao Vasco e ao seu Vice-presidente: centando a preposição devida (Conheço este livro e gosto dele)
ou eliminando a indevida (Implico com estranhos palpiteiros e os
“Recebi por esses dias um e-mail com uma série de piadas dispenso sem dó).
sobre o pouco simpático Eurico Miranda. Faltam-me provas, mas
tudo leva a crer que o remetente seja um flamenguista.” Coesão por Conexão
Segundo o texto, Eurico nasceu para ser vice: é vice-presiden-
Há na língua uma série de palavras ou locuções que são res-
te do clube, vice-campeão carioca e bi vice-campeão mundial. E
ponsáveis pela concatenação ou relação entre segmentos do texto.
isso sem falar do vice no Carioca de futsal, no Carioca de basquete,
Esses elementos denominam-se conectores ou operadores discur-
no Brasileiro de basquete e na Taça Guanabara. São vicissitudes
sivos. Por exemplo: visto que, até, ora, no entanto, contudo, ou
que vicejam. Espero que não viciem.
seja.
José Roberto Torero. In: Folha de S. Paulo, 08/03/2000, p.
Note-se que eles fazem mais do que ligar partes do texto: es-
4-7.
tabelecem entre elas relações semânticas de diversos tipos, como
contrariedade, causa, consequência, condição, conclusão, etc. Es-
A elipse é o apagamento de um segmento de frase que pode sas relações exercem função argumentativa no texto, por isso os
ser facilmente recuperado pelo contexto. Também constitui um operadores discursivos não podem ser usados indiscriminadamen-
expediente de coesão, pois é o apagamento de um termo que seria te.
repetido, e o preenchimento do vazio deixado pelo termo apagado Na frase “O time apresentou um bom futebol, mas não alcan-
(=elíptico) exige, necessariamente, que se faça correlação com ou- çou a vitória”, por exemplo, o conector “mas” está adequadamen-
tros termos presentes no contexto, ou referidos na situação em que te usado, pois ele liga dois segmentos com orientação argumenta-
se desenrola a fala. tiva contrária.
Vejamos estes versos do poema “Círculo vicioso”, de Macha- Se fosse utilizado, nesse caso, o conector “portanto”, o resul-
do de Assis: tado seria um paradoxo semântico, pois esse operador discursivo
liga dois segmentos com a mesma orientação argumentativa, sen-
(...) do o segmento introduzido por ele a conclusão do anterior.
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:
- Gradação: há operadores que marcam uma gradação numa
“Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela série de argumentos orientados para uma mesma conclusão. Divi-
Claridade imorta, que toda a luz resume!” dem-se eles, em dois subtipos: os que indicam o argumento mais
Obra completa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1979, v.III, forte de uma série: até, mesmo, até mesmo, inclusive, e os que
p. 151. subentendem uma escala com argumentos mais fortes: ao menos,
pelo menos, no mínimo, no máximo, quando muito.
Nesse caso, o verbo dizer, que seria enunciado antes daquilo “Ele é um bom conferencista: tem uma voz bonita, é bem arti-
que disse a lua, isto é, antes das aspas, fica subentendido, é omitido culado, conhece bem o assunto de que fala e é até sedutor.”
por ser facilmente presumível.
Qualquer segmento da frase pode sofrer elipse. Veja que, no Toda a série de qualidades está orientada no sentido de com-
exemplo abaixo, é o sujeito meu pai que vem elidido (ou apagado) provar que ele é bom conferencista; dentro dessa série, ser sedutor
antes de sentiu e parou: é considerado o argumento mais forte.
Didatismo e Conhecimento 12
LÍNGUA PORTUGUESA
“Ele é ambicioso e tem grande capacidade de trabalho. Che- implícita, por manifestar uma voz geral, uma verdade universal-
gará a ser pelo menos diretor da empresa.” mente aceita): logo, portanto, por conseguinte, pois (o pois é con-
clusivo quando não encabeça a oração).
Pelo menos introduz um argumento orientado no mesmo
sentido de ser ambicioso e ter grande capacidade de trabalho; por “Essa guerra é uma guerra de conquista, pois visa ao contro-
outro lado, subentende que há argumentos mais fortes para com- le dos fluxos mundiais de petróleo. Por conseguinte, não é moral-
provar que ele tem as qualidades requeridas dos que vão longe mente defensável.”
(por exemplo, ser presidente da empresa) e que se está usando o
menos forte; ao menos, pelo menos e no mínimo ligam argumentos Por conseguinte introduz uma conclusão em relação à afirma-
de valor positivo. ção exposta no primeiro período.
“Ele não é bom aluno. No máximo vai terminar o segundo - Comparação: outros importantes operadores discursivos são
grau.” os que estabelecem uma comparação de igualdade, superioridade
ou inferioridade entre dois elementos, com vistas a uma conclusão
No máximo introduz um argumento orientado no mesmo sen- contrária ou favorável a certa ideia: tanto... quanto, tão... como,
tido de ter muita dificuldade de aprender; supõe que há uma escala mais... (do) que.
argumentativa (por exemplo, fazer uma faculdade) e que se está
usando o argumento menos forte da escala no sentido de provar a “Os problemas de fuga de presos serão tanto mais graves
afirmação anterior; no máximo e quando muito estabelecem liga- quanto maior for a corrupção entre os agentes penitenciários.”
ção entre argumentos de valor depreciativo.
O comparativo de igualdade tem no texto uma função argu-
- Conjunção Argumentativa: há operadores que assinalam mentativa: mostrar que o problema da fuga de presos cresce à me-
uma conjunção argumentativa, ou seja, ligam um conjunto de ar- dida que aumenta a corrupção entre os agentes penitenciários; por
gumentos orientados em favor de uma dada conclusão: e, também, isso, os segmentos podem até ser permutáveis do ponto de vista
ainda, nem, não só... mas também, tanto... como, além de, a par sintático, mas não o são do ponto de vista argumentativo, pois não
de. há igualdade argumentativa proposta, “Tanto maior será a cor-
rupção entre os agentes penitenciários quanto mais grave for o
problema da fuga de presos”.
“Se alguém pode tomar essa decisão é você. Você é o diretor
Muitas vezes a permutação dos segmentos leva a conclusões
da escola, é muito respeitado pelos funcionários e também é muito
opostas: Imagine-se, por exemplo, o seguinte diálogo entre o dire-
querido pelos alunos.”
tor de um clube esportivo e o técnico de futebol:
Arrolam-se três argumentos em favor da tese que é o interlo-
“__Precisamos promover atletas das divisões de base para
cutor quem pode tomar uma dada decisão. O último deles é intro-
reforçar nosso time.
duzido por “e também”, que indica um argumento final na mesma __Qualquer atleta das divisões de base é tão bom quanto os
direção argumentativa dos precedentes. do time principal.”
Esses operadores introduzem novos argumentos; não signifi- Nesse caso, o argumento do técnico é a favor da promoção,
cam, em hipótese nenhuma, a repetição do que já foi dito. Ou seja, pois ele declara que qualquer atleta das divisões de base tem, pelo
só podem ser ligados com conectores de conjunção segmentos que menos, o mesmo nível dos do time principal, o que significa que
representam uma progressão discursiva. É possível dizer “Dis- estes não primam exatamente pela excelência em relação aos ou-
farçou as lágrimas que o assaltaram e continuou seu discurso”, tros.
porque o segundo segmento indica um desenvolvimento da expo- Suponhamos, agora, que o técnico tivesse invertido os seg-
sição. Não teria cabimento usar operadores desse tipo para ligar mentos na sua fala:
dois segmentos como “Disfarçou as lágrimas que o assaltaram e
escondeu o choro que tomou conta dele”. “__Qualquer atleta do time principal é tão bom quanto os das
divisões de base.”
- Disjunção Argumentativa: há também operadores que in-
dicam uma disjunção argumentativa, ou seja, fazem uma conexão Nesse caso, seu argumento seria contra a necessidade da pro-
entre segmentos que levam a conclusões opostas, que têm orienta- moção, pois ele estaria declarando que os atletas do time principal
ção argumentativa diferente: ou, ou então, quer... quer, seja... seja, são tão bons quanto os das divisões de base.
caso contrário, ao contrário.
- Explicação ou Justificativa: há operadores que introduzem
“Não agredi esse imbecil. Ao contrário, ajudei a separar a uma explicação ou uma justificativa em relação ao que foi dito
briga, para que ele não apanhasse.” anteriormente: porque, já que, que, pois.
O argumento introduzido por ao contrário é diametralmente “Já que os Estados Unidos invadiram o Iraque sem autori-
oposto àquele de que o falante teria agredido alguém. zação da ONU, devem arcar sozinhos com os custos da guerra.”
- Conclusão: existem operadores que marcam uma conclusão Já que inicia um argumento que dá uma justificativa para a
em relação ao que foi dito em dois ou mais enunciados anteriores tese de que os Estados Unidos devam arcar sozinhos com o custo
(geralmente, uma das afirmações de que decorre a conclusão fica da guerra contra o Iraque.
Didatismo e Conhecimento 13
LÍNGUA PORTUGUESA
- Contra junção: os operadores discursivos que assinalam O operador discursivo introduz o que se considera a prova
uma relação de contra junção, isto é, que ligam enunciados com mais forte de que “Ele está num período muito bom da vida”; no
orientação argumentativa contrária, são as conjunções adversati- entanto, essa prova é apresentada como se fosse apenas mais uma.
vas (mas, contudo, todavia, no entanto, entretanto, porém) e as
concessivas (embora, apesar de, apesar de que, conquanto, ainda - Generalização ou Amplificação: existem operadores que
que, posto que, se bem que). assinalam uma generalização ou uma amplificação do que foi dito
Qual é a diferença entre as adversativas e as concessivas, se antes: de fato, realmente, como aliás, também, é verdade que.
tanto umas como outras ligam enunciados com orientação argu-
mentativa contrária? “O problema da erradicação da pobreza passa pela geração
Nas adversativas, prevalece a orientação do segmento intro- de empregos. De fato, só o crescimento econômico leva ao aumen-
duzido pela conjunção. to de renda da população.”
Didatismo e Conhecimento 14
LÍNGUA PORTUGUESA
- Explicação: há operadores que desencadeiam uma explica- não explicitados na superfície textual. Nesses casos, os lugares dos
ção, uma confirmação, uma ilustração do que foi afirmado antes: diferentes conectores estarão indicados, na escrita, pelos sinais de
assim, desse modo, dessa maneira. pontuação: ponto-final, vírgula, ponto e vírgula, dois-pontos.
“O exército inimigo não desejava a paz. Assim, enquanto se “A reforma política é indispensável. Sem a existência da fide-
processavam as negociações, atacou de surpresa.” lidade partidária, cada parlamentar vota segundo seus interesses
e não de acordo com um programa partidário. Assim, não há ba-
O operador introduz uma confirmação do que foi afirmado ses governamentais sólidas.”
antes.
Esse texto contém três períodos. O segundo indica a causa
Coesão por Justaposição de a reforma política ser indispensável. Portanto o ponto-final do
primeiro período está no lugar de um porque.
É a coesão que se estabelece com base na sequência dos enun-
ciados, marcada ou não com sequenciadores. Examinemos os prin- A língua tem um grande número de conectores e sequencia-
cipais sequenciadores. dores. Apresentamos os principais e explicamos sua função. É pre-
ciso ficar atento aos fenômenos de coesão. Mostramos que o uso
- Sequenciadores Temporais: são os indicadores de anterio- inadequado dos conectores e a utilização inapropriada dos anafó-
ricos ou catafóricos geram rupturas na coesão, o que leva o texto a
ridade, concomitância ou posterioridade: dois meses depois, uma
não ter sentido ou, pelo menos, a não ter o sentido desejado. Outra
semana antes, um pouco mais tarde, etc. (são utilizados predomi-
falha comum no que tange a coesão é a falta de partes indispensá-
nantemente nas narrações).
veis da oração ou do período. Analisemos este exemplo:
“Uma semana antes de ser internado gravemente doente, ele “As empresas que anunciaram que apoiariam a campanha de
esteve conosco. Estava alegre e cheio de planos para o futuro.” combate à fome que foi lançada pelo governo federal.”
- Sequenciadores Espaciais: são os indicadores de posição O período compõe-se de:
relativa no espaço: à esquerda, à direita, junto de, etc. (são usados - As empresas
principalmente nas descrições). - que anunciaram (oração subordinada adjetiva restritiva da
primeira oração)
“A um lado, duas estatuetas de bronze dourado, represen- - que apoiariam a campanha de combate à fome (oração su-
tando o amor e a castidade, sustentam uma cúpula oval de forma bordinada substantiva objetiva direta da segunda oração)
ligeira, donde se desdobram até o pavimento bambolins de cassa - que foi lançada pelo governo federal (oração subordinada
finíssima. (...) Do outro lado, há uma lareira, não de fogo, que o adjetiva restritiva da terceira oração).
dispensa nosso ameno clima fluminense, ainda na maior força do
inverno.” Observe-se que falta o predicado da primeira oração. Quem
José de Alencar. Senhora. escreveu o período começou a encadear orações subordinadas e
São Paulo, FTD, 1992, p. 77. “esqueceu-se” de terminar a principal.
Quebras de coesão desse tipo são mais comuns em períodos
- Sequenciadores de Ordem: são os que assinalam a ordem longos. No entanto, mesmo quando se elaboram períodos curtos é
dos assuntos numa exposição: primeiramente, em segunda, a se- preciso cuidar para que sejam sintaticamente completos e para que
guir, finalmente, etc. suas partes estejam bem conectadas entre si.
Para que um conjunto de frases constitua um texto, não bas-
ta que elas estejam coesas: se não tiverem unidade de sentido,
“Para mostrar os horrores da guerra, falarei, inicialmente,
mesmo que aparentemente organizadas, elas não passarão de um
das agruras por que passam as populações civis; em seguida, dis-
amontoado injustificado. Exemplo:
correrei sobre a vida dos soldados na frente de batalha; finalmen-
te, exporei suas consequências para a economia mundial e, por-
“Vivo há muitos anos em São Paulo. A cidade tem excelentes
tanto, para a vida cotidiana de todos os habitantes do planeta.”
restaurantes. Ela tem bairros muito pobres. Também o Rio de Ja-
neiro tem favelas.”
- Sequenciadores para Introdução: são os que, na conver-
sação principalmente, servem para introduzir um tema ou mudar
Todas as frases são coesas. O hiperônimo cidade retoma o
de assunto: a propósito, por falar nisso, mas voltando ao assunto, substantivo São Paulo, estabelecendo uma relação entre o segun-
fazendo um parêntese, etc. do e o primeiro períodos. O pronome “ela” recupera a palavra
cidade, vinculando o terceiro ao segundo período. O operador tam-
“Joaquim viveu sempre cercado do carinho de muitas pes- bém realiza uma conjunção argumentativa, relacionando o quar-
soas. A propósito, era um homem que sabia agradar às mulheres.” to período ao terceiro. No entanto, esse conjunto não é um texto,
- Operadores discursivos não explicitados: se o texto for pois não apresenta unidade de sentido, isto é, não tem coerência. A
construído sem marcadores de sequenciação, o leitor deverá in- coesão, portanto, é condição necessária, mas não suficiente, para
ferir, a partir da ordem dos enunciados, os operadores discursivos produzir um texto.
Didatismo e Conhecimento 15
LÍNGUA PORTUGUESA
Coerência partes ganha sentido. No poema acima, os subtítulos “Infância”,
“Adolescência”, “Maturidade” e “Velhice” garantem essa unidade.
Infância Colocar a participação formal do nascimento da filha, por exem-
plo, sob o título “Maturidade” dá a conotação da responsabilida-
O camisolão de habitualmente associada ao indivíduo adulto e cria um sentido
O jarro unitário.
O passarinho Esse texto, como outros do mesmo tipo, comprova que um
O oceano conjunto de enunciados pode formar um todo coerente mesmo sem
A vista na casa que a gente sentava no sofá a presença de elementos coesivos, isto é, mesmo sem a presença
explícita de marcadores de relação entre as diferentes unidades lin-
Adolescência guísticas. Em outros termos, a coesão funciona apenas como um
mecanismo auxiliar na produção da unidade de sentido, pois esta
Aquele amor
depende, na verdade, das relações subjacentes ao texto, da não-
Nem me fale
contradição entre as partes, da continuidade semântica, em síntese,
da coerência.
Maturidade
A coerência é um fator de interpretabilidade do texto, pois
O Sr. e a Sra. Amadeu possibilita que todas as suas partes sejam englobadas num único
Participam a V. Exa. significado que explique cada uma delas. Quando esse sentido não
O feliz nascimento pode ser alcançado por faltar relação de sentido entre as partes,
De sua filha lemos um texto incoerente, como este:
Gilberta A todo ser humano foi dado o direito de opção entre a medio-
Velhice cridade de uma vida que se acomoda e a grandeza de uma vida
voltada para o aprimoramento intelectual.
O netinho jogou os óculos A adolescência é uma fase tão difícil que todos enfrentam. De
Na latrina repente vejo que não sou mais uma “criancinha” dependente do
Oswaldo de Andrade. Poesias reunidas. “papai”. Chegou a hora de me decidir! Tenho que escolher uma
4ª Ed. Rio de Janeiro profissão para me realizar e ser independente financeiramente.
Civilização Brasileira, 1974, p. 160-161. No país em que vivemos, que predomina o capitalismo, o mais
rico sempre é quem vence!
Talvez o que mais chame a atenção nesse poema, ao menos à Apud: J. A. Durigan, M. B. M. Abaurre e Y. F. Vieira
primeira vista, seja a ausência de elementos de coesão, quer reto- (orgs).
mando o que foi dito antes, quer encadeando segmentos textuais. A magia da mudança. Campinas, Unicamp, 1987, p. 53.
No entanto, percebemos nele um sentido unitário, sobretudo se
soubermos que o seu título é “As quatro gares”, ou seja, as quatro Nesses parágrafos, vemos três temas (direito de opção; adoles-
estações. cência e escolha profissional; relações sociais sob o capitalismo)
Com essa informação, podemos imaginar que se trata de fla- que mantêm relações muito tênues entre si. Esse fato, prejudicando
shes de cada uma das quatro grandes fases da vida: a infância, a a continuidade semântica entre as partes, impede a apreensão do
adolescência, a maturidade e a velhice. A primeira é caracterizada todo e, portanto, configura um texto incoerente.
pelas descobertas (o oceano), por ações (o jarro, que certamente a Há no texto, vários tipos de relação entre as partes que o com-
criança quebrara; o passarinho que ela caçara) e por experiências
põem, e, por isso, costuma-se falar em vários níveis de coerência.
marcantes (a visita que se percebia na sala apropriada e o cami-
solão que se usava para dormir); a segunda é caracterizada por
Coerência Narrativa
amores perdidos, de que não se quer mais falar; a terceira, pela
formalidade e pela responsabilidade indicadas pela participação
formal do nascimento da filha; a última, pela condescendência A coerência narrativa consiste no respeito às implicações ló-
para com a traquinagem do neto (a quem cabe a vez de assumir gicas entre as partes do relato. Por exemplo, para que um sujeito
a ação). A primeira parte é uma sucessão de palavras; a segunda, realize uma ação, é preciso que ele tenha competência para tanto,
uma frase em que falta um nexo sintático; a terceira, a participação ou seja, que saiba e possa efetuá-la. Constitui, então, incoerên-
do nascimento de uma filha; e a quarta, uma oração completa, po- cia narrativa o seguinte exemplo: o narrador conta que foi a uma
rém aparentemente desgarrada das demais. festa onde todos fumavam e, por isso, a espessa fumaça impedia
Como se explica que sejamos capazes de entender esse poema que se visse qualquer coisa; de repente, sem mencionar nenhuma
em seus múltiplos sentidos, apesar da falta de marcadores de coe- mudança dessa situação, ele diz que se encostou a uma coluna e
são entre as partes? passou a observar as pessoas, que eram ruivas, loiras, morenas.
A explicação está no fato de que ele tem uma qualidade indis- Se o narrador diz que não podia enxergar nada, é incoerente dizer
pensável para a existência de um texto: a coerência. que via as pessoas com tanta nitidez. Em outros termos, se nega a
Que é a unidade de sentido resultante da relação que se esta- competência para a realização de um desempenho qualquer, esse
belece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a compreender a desempenho não pode ocorrer. Isso por respeito às leis da coerên-
outra, produzindo um sentido global, à luz do qual cada uma das cia narrativa. Observe outro exemplo:
Didatismo e Conhecimento 16
LÍNGUA PORTUGUESA
“Pior fez o quarto-zagueiro Edinho Baiano, do Paraná Clu- Coerência Espacial
be, entrevistado por um repórter da Rádio Cidade. O Paraná tinha
tomado um balaio de gols do Guarani de Campinas, alguns dias A coerência espacial diz respeito à compatibilidade dos enun-
antes. O repórter queria saber o que tinha acontecido. Edinho não ciados do ponto de vista da localização no espaço. Seria incoeren-
teve dúvida sobre os motivos: te, por exemplo, o seguinte texto: “O filme ‘A Marvada Carne’
__ Como a gente já esperava, fomos surpreendidos pelo ata- mostra a mudança sofrida por um homem que vivia lá no interior e
que do Guarani.” encanta-se com a agitação e a diversidade da vida na capital, pois
Ernâni Buchman. In: Folha de Londrina. aqui já não suportava mais a mesmice e o tédio”. Dizendo lá no
interior, o enunciador dá a entender que seu pronunciamento está
A surpresa implica o inesperado. Não se pode ser surpreendi- sendo feito de algum lugar distante do interior; portanto ele não
do com o que já se esperava que acontecesse.
poderia usar o advérbio “aqui” para localizar “a mesmice” e “o
Coerência Argumentativa tédio” que caracterizavam a vida interiorana da personagem. Em
síntese, não é coerente usar “lá” e “aqui” para indicar o mesmo
A coerência argumentativa diz respeito às relações de im- lugar.
plicação ou de adequação entre premissas e conclusões ou entre
afirmações e consequências. Não é possível alguém dizer que é a Coerência do Nível de Linguagem Utilizado
favor da pena de morte porque é contra tirar a vida de alguém. Da
mesma forma, é incoerente defender o respeito à lei e à Constitui- A coerência do nível de linguagem utilizado é aquela que con-
ção Brasileira e ser favorável à execução de assaltantes no interior cerne à compatibilidade do léxico e das estruturas morfossintáti-
de prisões. cas com a variante escolhida numa dada situação de comunicação.
Muitas vezes, as conclusões não são adequadas às premissas. Ocorre incoerência relacionada ao nível de linguagem quando, por
Não há coerência, por exemplo, num raciocínio como este: exemplo, o enunciador utiliza um termo chulo ou pertencente à
linguagem informal num texto caracterizado pela norma culta for-
Há muitos servidores públicos no Brasil que são verdadeiros mal. Tanto sabemos que isso não é permitido que, quando o faze-
marajás. mos, acrescentamos uma ressalva: com perdão da palavra, se me
O candidato a governador é funcionário público. permitem dizer. Observe um exemplo de incoerência nesse nível:
Portanto o candidato é um marajá.
“Tendo recebido a notificação para pagamento da chama-
Segundo uma lei da lógica formal, não se pode concluir nada
com certeza baseado em duas premissas particulares. Dizer que da taxa do lixo, ouso dirigir-me a V. Exª, senhora prefeita, para
muitos servidores públicos são marajás não permite concluir que expor-lhe minha inconformidade diante dessa medida, porque o
qualquer um seja. IPTU foi aumentado, no governo anterior, de 0,6% para 1% do
A falta de relação entre o que se diz e o que foi dito anterior- valor venal do imóvel exatamente para cobrir as despesas da mu-
mente também constitui incoerência. É o que se vê neste diálogo: nicipalidade com os gastos de coleta e destinação dos resíduos só-
lidos produzidos pelos moradores de nossa cidade. Francamente,
“__ Vereador, o senhor é a favor ou contra o pagamento de achei uma sacanagem esta armação da Prefeitura: jogar mais um
pedágio para circular no centro da cidade? gasto nas costas da gente.”
__ É preciso melhorar a vida dos habitantes das grandes ci-
dades. A degradação urbana atinge a todos nós e, por conseguin- Como se vê, o léxico usado no último período do texto destoa
te, é necessário reabilitar as áreas que contam com abundante completamente do utilizado no período anterior.
oferta de serviços públicos.”
Ninguém há de negar a incoerência de um texto como este:
Coerência Figurativa Saltou para a rua, abriu a janela do 5º andar e deixou um bilhe-
te no parapeito explicando a razão de seu suicídio, em que há
A coerência figurativa refere-se à compatibilidade das figuras evidente violação da lei sucessivamente dos eventos. Entretanto
que manifestam determinado tema. Para que o leitor possa per-
talvez nem todo mundo concorde que seja incoerente incluir guar-
ceber o tema que está sendo veiculado por uma série de figuras
danapos de papel no jantar do Itamarati descrito no item sobre
encadeadas, estas precisam ser compatíveis umas com as outras.
Seria estranho (para dizer o mínimo) que alguém, ao descrever um coerência figurativa, alguém poderia objetivar que é preconceito
jantar oferecido no palácio do Itamarati a um governador estran- considerá-los inadequados. Então, justifica-se perguntar: o que,
geiro, depois de falar de baixela de prata, porcelana finíssima, flo- afinal, determina se um texto é ou não coerente?
res, candelabros, toalhas de renda, incluísse no percurso figurativo A natureza da coerência está relacionada a dois conceitos bá-
guardanapos de papel. sicos de verdade: adequação à realidade e conformidade lógica
entre os enunciados.
Coerência Temporal Vimos que temos diferentes níveis de coerência: narrativa, ar-
gumentativa, figurativa, etc. Em cada nível, temos duas espécies
Por coerência temporal entende-se aquela que concerne à su- diversas de coerência:
cessão dos eventos e à compatibilidade dos enunciados do ponto - extratextual: aquela que diz respeito à adequação entre o
de vista de sua localização no tempo. Não se poderia, por exemplo, texto e uma “realidade” exterior a ele.
dizer: “O assassino foi executado na câmara de gás e, depois, - intratextual: aquela que diz respeito à compatibilidade, à
condenado à morte”. adequação, à não-contradição entre os enunciados do texto.
Didatismo e Conhecimento 17
LÍNGUA PORTUGUESA
A exterioridade a que o conteúdo do texto deve ajustar-se O texto apresenta os traços culturais da cidade, e todos con-
pode ser: vergem para um único significado: a celebração da capital do esta-
- o conhecimento do mundo: o conjunto de dados referentes do de São Paulo no seu aniversário. Os dois primeiros itens de nos-
ao mundo físico, à cultura de um povo, ao conteúdo das ciências, so exemplo referem-se a marcas linguísticas do falar paulistano; o
etc. que constitui o repertório com que se produzem e se entendem terceiro, a um prato que tornou conhecido o restaurante chamado
textos. O período “O homem olhou através das paredes e viu onde Jardim de Napoli; o quarto, a um verso da música “Sampa”, de
os bandidos escondiam a vítima que havia sido sequestrada” é Caetano Veloso; o sexto e o sétimo, à maneira como os dois times
incoerente, pois nosso conhecimento do mundo diz que homens mais populares da cidade são denominados na variante linguística
não veem através das paredes. Temos, então, uma incoerência fi- popular; o último à obediência a uma lei que na época ainda não
gurativa extratextual. vigorava no resto do país.
- os mecanismos semânticos e gramaticais da língua: o con- - A situação de comunicação:
junto dos conhecimentos sobre o código linguístico necessário à
codificação de mensagens decodificáveis por outros usuários da __A telefônica.
mesma língua. O texto seguinte, por exemplo, está absolutamente __Era hoje?
sem sentido por inobservância de mecanismos desse tipo:
“Conscientizar alunos pré sólidos ao ingresso de uma carrei- Esse diálogo não seria compreendido fora da situação de in-
ra universitária informações críticas a respeito da realidade pro- terlocução, porque deixa implícitos certos enunciados que, dentro
fissional a ser optada. Deve ser ciado novos métodos criativos nos dela, são perfeitamente compreendidos:
ensinos de primeiro e segundo grau: estimulando o aluno a forma-
ção crítica de suas ideias as quais, serão a praticidade cotidiana. __ O empregado da companhia telefônica que vinha conser-
Aptidões pessoais serão associadas a testes vocacionais sérios de tar o telefone está aí.
maneira discursiva a analisar conceituações fundamentais.” __ Era hoje que ele viria?
Apud: J. A. Durigan et alii. Op. cit., p. 58. - O conhecimento de mundo:
31 de março / 1º de abril
Fatores de Coerência
Dúvida Revolucionária
- O contexto: para uma dada unidade linguística, funcio-
Ontem foi hoje?
na como contexto a unidade linguística maior que ela: a sílaba é
Ou hoje é que foi ontem?
contexto para o fonema; a palavra, para a sílaba; a oração, para a
palavra; o período, para a oração; o texto, para o período, e assim
Aparentemente, falta coerência temporal a esse poema: o que
por diante.
significa “ontem foi hoje” ou “hoje é que foi ontem?”. No entanto,
“Um chopps, dois pastel, o polpettone do Jardim de Napo- as duas datas colocadas no início do poema e o título remetem a
li, cruzar a Ipiranga com a avenida São João, o “Parmera”, o um episódio da História do Brasil, o golpe militar de 1964, chama-
“Curíntia”, todo mundo estar usando cinto de segurança.” do Revolução de 1964. Esse fato deve fazer parte de nosso conhe-
cimento de mundo, assim como o detalhe de que ele ocorreu no dia
À primeira vista, parece não haver nenhuma coerência na enu- 1º de abril, mas sua comemoração foi mudada para 31 de março,
meração desses elementos. Quando ficamos sabendo, no entanto, para evitar relações entre o evento e o “dia da mentira”.
que eles fazem parte de um texto intitulado “100 motivos para
gostar de São Paulo”, o que aparentemente era caótico torna-se - As regras do gênero:
coerente:
“O homem olhou através das paredes e viu onde os bandidos
100 motivos para gostar de São Paulo escondiam a vítima que havia sido sequestrada.”
Didatismo e Conhecimento 18
LÍNGUA PORTUGUESA
- O sentido não literal: party, Blake Edwards, 1968, com Peter Sellers), há cenas em que
os respectivos protagonistas exibem comportamento incompatível
“As verdes ideias incolores dormem, mas poderão explodir a com a ocasião, mas não há incoerência nisso, pois todo o enredo
qualquer momento.” converge para que o espectador se solidarize com eles, por sua
ingenuidade e falta de traquejo social. Mas, se aparece num texto
Tomando em seu sentido literal, esse texto é absurdo, pois, uma figura incoerente uma única vez, o leitor não pode ter certeza
nessa acepção, o termo ideias não pode ser qualificado por adjeti- de que se trata de uma quebra de coerência proposital, com vistas
vos de cor; não se podem atribuir ao mesmo ser, ao mesmo tempo, a criar determinado efeito de sentido, vai pensar que se trata de
as qualidades verde e incolor; o verbo dormir deve ter como sujei- contradição devida a inabilidade, descuido ou ignorância do enun-
to um substantivo animado. ciador.
No entanto, se entendermos ideias verdes em sentido não li- Dissemos também que há outros textos que fazem da inversão
teral, como concepções ambientalistas, o período pode ser lido da da realidade seu princípio constitutivo; da incoerência, um fator de
seguinte maneira: “As ideias ambientalistas sem atrativo estão la- coerência. São exemplos as obras de Lewis Carrol “Alice no país
tentes, mas poderão manifestar-se a qualquer momento.” das maravilhas” e “Através do espelho”, que pretendem apre-
sentar paradoxos de sentido, subverter o princípio da realidade,
- O intertexto: mostrar as aporias da lógica, confrontar a lógica do senso comum
com outras.
Falso diálogo entre Pessoa e Caeiro
Reproduzimos um poema de Manuel Bandeira que contém
__ a chuva me deixa triste... mais de um exemplo do que foi abordado:
__ a mim me deixa molhado.
José Paulo Paes. Op. Cit., p 79. Teresa
Muitos textos retomam outros, constroem-se com base em A primeira vez que vi Teresa
outros e, por isso, só ganham coerência nessa relação com o texto
Achei que ela tinha pernas estúpidas
sobre o qual foram construídos, ou seja, na relação de intertextua-
Achei também que a cara parecia uma perna
lidade. É o caso desse poema. Para compreendê-lo, é preciso saber
que Alberto Caeiro é um dos heterônimos do poeta Fernando Pes-
Quando vi Teresa de novo
soa; que heterônimo não é pseudônimo, mas uma individualidade
Achei que seus olhos eram muito mais velhos
lírica distinta da do autor (o ortônimo); que para Caeiro o real é a
[que o resto do corpo
exterioridade e não devemos acrescentar-lhe impressões subjeti-
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando
vas; que sua posição é antimetafísica; que não devemos interpre-
[que o resto do corpo nascesse)
tar a realidade pela inteligência, pois essa interpretação conduz a
simples conceitos vazios, em síntese, é preciso ter lido textos de
Caeiro. Por outro lado, é preciso saber que o ortônimo (Fernando Da terceira vez não vi mais nada
Pessoa ele mesmo) exprime suas emoções, falando da solidão in- Os céus se misturaram com a terra
terior, do tédio, etc. E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face
[das águas.
Incoerência Proposital Poesias completas e prosa. Rio de Janeiro,
Aguilar, 1986, p. 214.
Existem textos em que há uma quebra proposital da coerência,
com vistas a produzir determinado efeito de sentido, assim como Para percebermos a coerência desse texto, é preciso, no míni-
existem outros que fazem da não-coerência o próprio princípio mo, que nosso conhecimento de mundo inclua o poema:
constitutivo da produção de sentido. Poderia alguém perguntar,
então, se realmente existe texto incoerente. Sem dúvida existe: é O Adeus de Teresa
aquele em que a incoerência é produzida involuntariamente, por
inabilidade, descuido ou ignorância do enunciador, e não usada A primeira vez que fitei Teresa,
funcionalmente para construir certo sentido. Como as plantas que arrasta a correnteza,
Quando se trata de incoerência proposital, o enunciador dis- A valsa nos levou nos giros seus...
semina pistas no texto, para que o leitor perceba que ela faz parte
de um programa intencionalmente direcionado para veicular de- Castro Alves
terminado tema. Se, por exemplo, num texto que mostra uma festa
muito luxuosa, aparecem figuras como pessoas comendo de boca Para identificarmos a relação de intertextualidade entre eles;
aberta, falando em voz muito alta e em linguagem chula, osten- que tenhamos noção da crítica do Modernismo às escolas literárias
tando sua últimas aquisições, o enunciador certamente não está precedentes, no caso, ao Romantismo, em que nenhuma musa se-
querendo manifestar o tema do luxo, do requinte, mas o da vulga- ria tratada com tanta cerimônia e muito menos teria “cara”; que fa-
ridade dos novos-ricos. Para ficar no exemplo da festa: em filmes çamos uma leitura não literal; que percebamos sua lógica interna,
como “Quero ser grande” (Big, dirigido por Penny Marshall em criada pela disseminação proposital de elementos que pareceriam
1988, com Tom Hanks) e “Um convidado bem trapalhão” (The absurdos em outro contexto.
Didatismo e Conhecimento 19
LÍNGUA PORTUGUESA
Estrutura e Formação de Palavras Desinências: são os elementos terminais indicativos das fle-
xões das palavras. Existem dois tipos:
Estudar a estrutura é conhecer os elementos formadores das - Desinências Nominais: indicam as flexões de gênero (mas-
palavras. Assim, compreendemos melhor o significado de cada culino e feminino) e de número (singular e plural) dos nomes.
uma delas. As palavras podem ser divididas em unidades menores, Exemplos: aluno-o / aluno-s; alun-a / aluna-s. Só podemos falar
a que damos o nome de elementos mórficos ou morfemas. em desinências nominais de gêneros e de números em palavras
Vamos analisar a palavra “cachorrinhas”. Nessa palavra ob- que admitem tais flexões, como nos exemplos acima. Em palavras
servamos facilmente a existência de quatro elementos. São eles: como mesa, tribo, telefonema, por exemplo, não temos desinência
cachorr - este é o elemento base da palavra, ou seja, aquele nominal de gênero. Já em pires, lápis, ônibus não temos desinên-
cia nominal de número.
que contém o significado.
inh - indica que a palavra é um diminutivo
- Desinências Verbais: indicam as flexões de número e pes-
a - indica que a palavra é feminina soa e de modo e tempo dos verbos. A desinência “-o”, presente
s - indica que a palavra se encontra no plural em “am-o”, é uma desinência número pessoal, pois indica que o
verbo está na primeira pessoa do singular; “-va”, de “ama-va”, é
Morfemas: unidades mínimas de caráter significativo. Exis- desinência modo-temporal: caracteriza uma forma verbal do pre-
tem palavras que não comportam divisão em unidades menores, térito imperfeito do indicativo, na 1ª conjugação.
tais como: mar, sol, lua, etc. São elementos mórficos:
- Raiz, Radical, Tema: elementos básicos e significativos Vogal Temática: é a vogal que se junta ao radical, preparan-
- Afixos (Prefixos, Sufixos), Desinência, Vogal Temática: do-o para receber as desinências. Nos verbos, distinguem-se três
elementos modificadores da significação dos primeiros vogais temáticas:
- Vogal de Ligação, Consoante de Ligação: elementos de li- - Caracteriza os verbos da 1ª conjugação: buscar, buscavas, etc.
gação ou eufônicos. - Caracteriza os verbos da 2ª conjugação: romper, rompemos, etc.
- Caracteriza os verbos da 3ª conjugação: proibir, proibirá, etc.
Raiz: É o elemento originário e irredutível em que se concen-
tra a significação das palavras, consideradas do ângulo histórico. Tema: é o grupo formado pelo radical mais vogal temática.
É a raiz que encerra o sentido geral, comum às palavras da mesma Nos verbos citados acima, os temas são: busca-, rompe-, proibi-
família etimológica. Exemplo: Raiz noc [Latim nocere = prejudi-
Vogais e Consoantes de Ligação: As vogais e consoantes de
car] tem a significação geral de causar dano, e a ela se prendem,
ligação são morfemas que surgem por motivos eufônicos, ou seja,
pela origem comum, as palavras nocivo, nocividade, inocente, ino-
para facilitar ou mesmo possibilitar a pronúncia de uma determi-
centar, inócuo, etc. nada palavra. Exemplos: parisiense (paris= radical, ense=sufixo,
vogal de ligação=i); gas-ô-metro, alv-i-negro, tecn-o-cracia, pau-l
Uma raiz pode sofrer alterações: at-o; at-or; at-ivo; aç-ão; ac -ada, cafe-t-eira, cha-l-eira, inset-i-cida, pe-z-inho, pobr-e-tão, etc.
-ionar;
Formação das Palavras: existem dois processos básicos pe-
Radical: los quais se formam as palavras: a Derivação e a Composição. A
diferença entre ambos consiste basicamente em que, no processo
Observe o seguinte grupo de palavras: livr-o; livr-inho; livr de derivação, partimos sempre de um único radical, enquanto no
-eiro; livr-eco. Você reparou que há um elemento comum nesse processo de composição sempre haverá mais de um radical.
grupo? Você reparou que o elemento livr serve de base para o sig-
nificado? Esse elemento é chamado de radical (ou semantema). Derivação: é o processo pelo qual se obtém uma palavra nova,
Elemento básico e significativo das palavras, consideradas sob o chamada derivada, a partir de outra já existente, chamada primiti-
aspecto gramatical e prático. É encontrado através do despojo dos va. Exemplo: Mar (marítimo, marinheiro, marujo); terra (enterrar,
elementos secundários (quando houver) da palavra. Exemplo: cer- terreiro, aterrar). Observamos que «mar» e «terra» não se formam
t-o; cert-eza; in-cert-eza. de nenhuma outra palavra, mas, ao contrário, possibilitam a for-
mação de outras, por meio do acréscimo de um sufixo ou prefixo.
Logo, mar e terra são palavras primitivas, e as demais, derivadas.
Afixos: são elementos secundários (geralmente sem vida autô-
noma) que se agregam a um radical ou tema para formar palavras
Tipos de Derivação
derivadas. Sabemos que o acréscimo do morfema “-mente”, por
exemplo, cria uma nova palavra a partir de “certo”: certamente, - Derivação Prefixal ou Prefixação: resulta do acréscimo de
advérbio de modo. De maneira semelhante, o acréscimo dos mor- prefixo à palavra primitiva, que tem o seu significado alterado:
femas “a-” e “-ar” à forma “cert-” cria o verbo acertar. Observe crer- descrer; ler- reler; capaz- incapaz.
que a- e -ar são morfemas capazes de operar mudança de classe - Derivação Sufixal ou Sufixação: resulta de acréscimo de
gramatical na palavra a que são anexados. sufixo à palavra primitiva, que pode sofrer alteração de significado
Quando são colocados antes do radical, como acontece com ou mudança de classe gramatical: alfabetização. No exemplo, o
“a-”, os afixos recebem o nome de prefixos. Quando, como “-ar”, sufixo -ção transforma em substantivo o verbo alfabetizar. Este,
surgem depois do radical, os afixos são chamados de sufixos. por sua vez, já é derivado do substantivo alfabeto pelo acréscimo
Exemplo: in-at-ivo; em-pobr-ecer; inter-nacion-al. do sufixo -izar.
Didatismo e Conhecimento 20
LÍNGUA PORTUGUESA
A derivação sufixal pode ser: exemplos de palavras formadas por derivação regressiva. o portu-
Nominal, formando substantivos e adjetivos: papel – papela- ga (de português); o boteco (de botequim); o comuna (de comu-
ria; riso – risonho. nista); agito (de agitar); amasso (de amassar); chego (de chegar)
Verbal, formando verbos: atual - atualizar.
Adverbial, formando advérbios de modo: feliz – felizmente. O processo normal é criar um verbo a partir de um substanti-
vo. Na derivação regressiva, a língua procede em sentido inverso:
- Derivação Parassintética ou Parassíntese: Ocorre quando a forma o substantivo a partir do verbo.
palavra derivada resulta do acréscimo simultâneo de prefixo e sufi-
xo à palavra primitiva. Por meio da parassíntese formam-se nomes - Derivação Imprópria: A derivação imprópria ocorre quando
(substantivos e adjetivos) e verbos. Considere o adjetivo “triste”. determinada palavra, sem sofrer qualquer acréscimo ou supressão
Do radical “trist-” formamos o verbo entristecer através da junção em sua forma, muda de classe gramatical. Neste processo:
simultânea do prefixo “en-” e do sufixo “-ecer”. A presença de Os adjetivos passam a substantivos: Os bons serão contem-
apenas um desses afixos não é suficiente para formar uma nova plados.
palavra, pois em nossa língua não existem as palavras “entriste”, Os particípios passam a substantivos ou adjetivos: Aquele ga-
nem “tristecer”. Exemplos: roto alcançou um feito passando no concurso.
emudecer Os infinitivos passam a substantivos: O andar de Roberta era
mudo – palavra inicial fascinante; O badalar dos sinos soou na cidadezinha.
e – prefixo Os substantivos passam a adjetivos: O funcionário fantasma
mud – radical foi despedido; O menino prodígio resolveu o problema.
ecer – sufixo Os adjetivos passam a advérbios: Falei baixo para que nin-
guém escutasse.
desalmado Palavras invariáveis passam a substantivos: Não entendo o
alma – palavra inicial porquê disso tudo.
des – prefixo Substantivos próprios tornam-se comuns: Aquele coordena-
dor é um caxias! (chefe severo e exigente)
alm – radical
ado – sufixo
Os processos de derivação vistos anteriormente fazem parte
da Morfologia porque implicam alterações na forma das palavras.
Não devemos confundir derivação parassintética, em que o
No entanto, a derivação imprópria lida basicamente com seu sig-
acréscimo de sufixo e de prefixo é obrigatoriamente simultâneo,
nificado, o que acaba caracterizando um processo semântico. Por
com casos como os das palavras desvalorização e desigualdade.
essa razão, entendemos o motivo pelo qual é denominada “impró-
Nessas palavras, os afixos são acoplados em sequência: desvalo-
pria”.
rização provém de desvalorizar, que provém de valorizar, que por
sua vez provém de valor. Composição: é o processo que forma palavras compostas, a
É impossível fazer o mesmo com palavras formadas por pa- partir da junção de dois ou mais radicais. Existem dois tipos:
rassíntese: não se pode dizer que expropriar provém de “propriar”
ou de “expróprio”, pois tais palavras não existem. Logo, expro- - Composição por Justaposição: ao juntarmos duas ou mais
priar provém diretamente de próprio, pelo acréscimo concomitante palavras ou radicais, não ocorre alteração fonética: passatempo,
de prefixo e sufixo. quinta-feira, girassol, couve-flor. Em «girassol» houve uma altera-
ção na grafia (acréscimo de um «s») justamente para manter inal-
- Derivação Regressiva: ocorre derivação regressiva quando terada a sonoridade da palavra.
uma palavra é formada não por acréscimo, mas por redução: com-
prar (verbo), compra (substantivo); beijar (verbo), beijo (substan- - Composição por Aglutinação: ao unirmos dois ou mais
tivo). vocábulos ou radicais, ocorre supressão de um ou mais de seus
elementos fonéticos: embora (em boa hora); fidalgo (filho de algo
Para descobrirmos se um substantivo deriva de um verbo ou - referindo-se a família nobre); hidrelétrico (hidro + elétrico); pla-
se ocorre o contrário, podemos seguir a seguinte orientação: nalto (plano alto). Ao aglutinarem-se, os componentes subordi-
- Se o substantivo denota ação, será palavra derivada, e o ver- nam-se a um só acento tônico, o do último componente.
bo palavra primitiva.
- Se o nome denota algum objeto ou substância, verifica-se o - Redução: algumas palavras apresentam, ao lado de sua for-
contrário. ma plena, uma forma reduzida. Observe: auto - por automóvel;
Vamos observar os exemplos acima: compra e beijo indicam cine - por cinema; micro - por microcomputador; Zé - por José.
ações, logo, são palavras derivadas. O mesmo não ocorre, porém, Como exemplo de redução ou simplificação de palavras, podem
com a palavra âncora, que é um objeto. Neste caso, um substanti- ser citadas também as siglas, muito frequentes na comunicação
vo primitivo que dá origem ao verbo ancorar. atual.
Por derivação regressiva, formam-se basicamente substanti- - Hibridismo: ocorre hibridismo na palavra em cuja forma-
vos a partir de verbos. Por isso, recebem o nome de substanti- ção entram elementos de línguas diferentes: auto (grego) + móvel
vos deverbais. Note que na linguagem popular, são frequentes os (latim).
Didatismo e Conhecimento 21
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- Onomatopeia: numerosas palavras devem sua origem a uma pros-: adjunção, em adição a: prosélito, prosódia.
tendência constante da fala humana para imitar as vozes e os ruí- proto-: início, começo, anterioridade: proto-história, protóti-
dos da natureza. As onomatopeias são vocábulos que reproduzem po, protomártir.
aproximadamente os sons e as vozes dos seres: miau, zumzum, poli-: multiplicidade: polissílabo, polissíndeto, politeísmo.
piar, tinir, urrar, chocalhar, cocoricar, etc. sin-, sim-: simultaneidade, companhia: síntese, sinfonia, sim-
patia, sinopse.
Prefixos: os prefixos são morfemas que se colocam antes dos tele-: distância, afastamento: televisão, telepatia, telégrafo.
radicais basicamente a fim de modificar-lhes o sentido; raramen-
te esses morfemas produzem mudança de classe gramatical. Os Prefixos de Origem Latina
prefixos ocorrentes em palavras portuguesas se originam do latim
e do grego, línguas em que funcionavam como preposições ou ad- a-, ab-, abs-: afastamento, separação: aversão, abuso, absti-
vérbios, logo, como vocábulos autônomos. Alguns prefixos foram nência, abstração.
pouco ou nada produtivos em português. Outros, por sua vez, tive- a-, ad-: aproximação, movimento para junto: adjunto,advoga-
ram grande vitalidade na formação de novas palavras: a- , contra- , do, advir, aposto.
des- , em- (ou en-) , es- , entre- re- , sub- , super- , anti-. ante-: anterioridade, procedência: antebraço, antessala, an-
teontem, antever.
Prefixos de Origem Grega ambi-: duplicidade: ambidestro, ambiente, ambiguidade, am-
bivalente.
a-, an-: afastamento, privação, negação, insuficiência, carên- ben(e)-, bem-: bem, excelência de fato ou ação: benefício,
cia: anônimo, amoral, ateu, afônico. bendito.
ana-: inversão, mudança, repetição: analogia, análise, anagra- bis-, bi-: repetição, duas vezes: bisneto, bimestral, bisavô,
ma, anacrônico. biscoito.
anfi-: em redor, em torno, de um e outro lado, duplicidade: circu(m)-: movimento em torno: circunferência, circunscrito,
anfiteatro, anfíbio, anfibologia. circulação.
anti-: oposição, ação contrária: antídoto, antipatia, antagonis-
cis-: posição aquém: cisalpino, cisplatino, cisandino.
ta, antítese.
co-, con-, com-: companhia, concomitância: colégio, coope-
apo-: afastamento, separação: apoteose, apóstolo, apocalipse,
rativa, condutor.
apologia.
contra-: oposição: contrapeso, contrapor, contradizer.
arqui-, arce-: superioridade hierárquica, primazia, excesso:
de-: movimento de cima para baixo, separação, negação: de-
arquiduque, arquétipo, arcebispo, arquimilionário.
capitar, decair, depor.
cata-: movimento de cima para baixo: cataplasma, catálogo,
de(s)-, di(s)-: negação, ação contrária, separação: desventura,
catarata.
discórdia, discussão.
di-: duplicidade: dissílabo, ditongo, dilema.
dia-: movimento através de, afastamento: diálogo, diagonal, e-, es-, ex-: movimento para fora: excêntrico, evasão, expor-
diafragma, diagrama. tação, expelir.
dis-: dificuldade, privação: dispneia, disenteria, dispepsia, en-, em-, in-: movimento para dentro, passagem para um es-
disfasia. tado ou forma, revestimento: imergir, enterrar, embeber, injetar,
ec-, ex-, exo-, ecto-: movimento para fora: eclipse, êxodo, ec- importar.
toderma, exorcismo. extra-: posição exterior, excesso: extradição, extraordinário,
en-, em-, e-: posição interior, movimento para dentro: encé- extraviar.
falo, embrião, elipse, entusiasmo. i-, in-, im-: sentido contrário, privação, negação: ilegal, im-
endo-: movimento para dentro: endovenoso, endocarpo, en- possível, improdutivo.
dosmose. inter-, entre-: posição intermediária: internacional, interpla-
epi-: posição superior, movimento para: epiderme, epílogo, netário.
epidemia, epitáfio. intra-: posição interior: intramuscular, intravenoso, intraverbal.
eu-: excelência, perfeição, bondade: eufemismo, euforia, eu- intro-: movimento para dentro: introduzir, introvertido, in-
caristia, eufonia. trospectivo.
hemi-: metade, meio: hemisfério, hemistíquio, hemiplégico. justa-: posição ao lado: justapor, justalinear.
hiper-: posição superior, excesso: hipertensão, hipérbole, hi- ob-, o-: posição em frente, oposição: obstruir, ofuscar, ocupar,
pertrofia. obstáculo.
hipo-: posição inferior, escassez: hipocrisia, hipótese, hipo- per-: movimento através: percorrer, perplexo, perfurar, per-
dérmico. verter.
meta-: mudança, sucessão: metamorfose, metáfora, metacarpo. pos-: posterioridade: pospor, posterior, pós-graduado.
para-: proximidade, semelhança, intensidade: paralelo, para- pre-: anterioridade: prefácio, prever, prefixo, preliminar.
sita, paradoxo, paradigma. pro-: movimento para frente: progresso, promover, prosse-
peri-: movimento ou posição em torno de: periferia, peripé- guir, projeção.
cia, período, periscópio. re-: repetição, reciprocidade: rever, reduzir, rebater, reatar.
pro-: posição em frente, anterioridade: prólogo, prognóstico, retro-: movimento para trás: retrospectiva, retrocesso, retroa-
profeta, programa. gir, retrógrado.
Didatismo e Conhecimento 22
LÍNGUA PORTUGUESA
so-, sob-, sub-, su-: movimento de baixo para cima, inferiori- resco; -este – agreste; -estre – terrestre; -enho – ferrenho; -eno
dade: soterrar, sobpor, subestimar. – terreno; -ício – alimentício; -ico – geométrico; -il – febril; -ino
super-, supra-, sobre-: posição superior, excesso: supercílio, – cristalino; -ivo – lucrativo; -onho – tristonho; -oso – bondoso;
supérfluo. -udo – barrigudo.
soto-, sota-: posição inferior: soto-mestre, sota-voga, soto-pôr.
trans-, tras-, tres-, tra-: movimento para além, movimento - de verbos:
através: transatlântico, tresnoitar, tradição. -(a)(e)(i)nte: ação, qualidade, estado – semelhante, doente,
ultra-: posição além do limite, excesso: ultrapassar, ultrarro- seguinte.
mantismo, ultrassom, ultraleve, ultravioleta. -(á)(í)vel: possibilidade de praticar ou sofrer uma ação – lou-
vice-, vis-: em lugar de: vice-presidente, visconde, vice-almi-
vável, perecível, punível.
rante.
-io, -(t)ivo: ação referência, modo de ser – tardio, afirmativo,
Sufixos: são elementos (isoladamente insignificativos) que, pensativo.
acrescentados a um radical, formam nova palavra. Sua principal -(d)iço, -(t)ício: possibilidade de praticar ou sofrer uma ação,
característica é a mudança de classe gramatical que geralmente referência – movediço, quebradiço, factício.
opera. Dessa forma, podemos utilizar o significado de um verbo -(d)ouro,-(t)ório: ação, pertinência – casadouro, preparatório.
num contexto em que se deve usar um substantivo, por exemplo.
Como o sufixo é colocado depois do radical, a ele são incorpora- Sufixos Adverbiais: Na Língua Portuguesa, existe apenas um
das as desinências que indicam as flexões das palavras variáveis. único sufixo adverbial: É o sufixo “-mente”, derivado do substan-
Existem dois grupos de sufixos formadores de substantivos extre- tivo feminino latino mens, mentis que pode significar “a mente,
mamente importantes para o funcionamento da língua. São os que o espírito, o intento”.Este sufixo juntou-se a adjetivos, na forma
formam nomes de ação e os que formam nomes de agente. feminina, para indicar circunstâncias, especialmente a de modo.
Exemplos: altiva-mente, brava-mente, bondosa-mente, nervo-
Sufixos que formam nomes de ação: -ada – caminhada; sa-mente, fraca-mente, pia-mente. Já os advérbios que se derivam
-ança – mudança; -ância – abundância; -ção – emoção; -dão – so- de adjetivos terminados em –ês (burgues-mente, portugues-men-
lidão; -ença – presença; -ez(a) – sensatez, beleza; -ismo – civismo; te, etc.) não seguem esta regra, pois esses adjetivos eram outrora
-mento – casamento; -são – compreensão; -tude – amplitude; -ura uniformes. Exemplos: cabrito montês / cabrita montês.
– formatura.
Sufixos Verbais: Os sufixos verbais agregam-se, via de regra,
Sufixos que formam nomes de agente: -ário(a) – secretário;
-eiro(a) – ferreiro; -ista – manobrista; -or – lutador; -nte – fei- ao radical de substantivos e adjetivos para formar novos verbos.
rante. Em geral, os verbos novos da língua formam-se pelo acréscimo
da terminação-ar. Exemplos: esqui-ar; radiograf-ar; (a)doç-ar;
Sufixos que formam nomes de lugar, depositório: -aria – nivel-ar; (a)fin-ar; telefon-ar; (a)portugues-ar.
churrascaria; -ário – herbanário; -eiro – açucareiro; -or – corre-
dor; -tério – cemitério; -tório – dormitório. Os verbos exprimem, entre outras ideias, a prática de ação.
-ar: cruzar, analisar, limpar
Sufixos que formam nomes indicadores de abundância, -ear: guerrear, golear
aglomeração, coleção: -aço – ricaço; -ada – papelada; -agem – -entar: afugentar, amamentar
folhagem; -al – capinzal; -ame – gentame; -ario(a) - casario, in- -ficar: dignificar, liquidificar
fantaria; -edo – arvoredo; -eria – correria; -io – mulherio; -ume -izar: finalizar, organizar
– negrume.
Verbo Frequentativo: é aquele que traduz ação repetida.
Sufixos que formam nomes técnicos usados na ciência: Verbo Factitivo: é aquele que envolve ideia de fazer ou cau-
-ite - bronquite, hepatite (inflamação), amotite (fósseis). sar.
-oma - mioma, epitelioma, carcinoma (tumores). Verbo Diminutivo: é aquele que exprime ação pouco in-
-ato, eto, Ito - sulfato, cloreto, sulfito (sais), granito (pedra).
tensa.
-ina - cafeína, codeína (alcaloides, álcalis artificiais).
-ol - fenol, naftol (derivado de hidrocarboneto).
-ema - morfema, fonema, semema, semantema (ciência lin- Exercícios
guística).
-io - sódio, potássio, selênio (corpos simples) 01. Assinale a opção em que todas as palavras se formam pelo
mesmo processo:
Sufixo que forma nomes de religião, doutrinas filosóficas, a) ajoelhar / antebraço / assinatura
sistemas políticos: - ismo: budismo, kantismo, comunismo. b) atraso / embarque / pesca
c) o jota / o sim / o tropeço
Sufixos Formadores de Adjetivos d) entrega / estupidez / sobreviver
e) antepor / exportação / sanguessuga
- de substantivos: -aco – maníaco; -ado – barbado; -áceo(a)
- herbáceo, liláceas; -aico – prosaico; -al – anual; -ar – escolar; 02. A palavra “aguardente” formou-se por:
-ário - diário, ordinário; -ático – problemático; -az – mordaz; a) hibridismo
-engo – mulherengo; -ento – cruento; -eo – róseo; -esco – pito- b) aglutinação
Didatismo e Conhecimento 23
LÍNGUA PORTUGUESA
c) justaposição 09. As palavras couve-flor, planalto e aguardente são forma-
d) parassíntese das por:
e) derivação regressiva a) derivação
b) onomatopeia
03. Que item contém somente palavras formadas por justa- c) hibridismo
posição? d) composição
a) desagradável – complemente e) prefixação
b) vaga-lume - pé-de-cabra
c) encruzilhada – estremeceu 10. Assinale a alternativa em que uma das palavras não é for-
d) supersticiosa – valiosas mada por prefixação:
e) desatarraxou – estremeceu a) readquirir, predestinado, propor
b) irregular, amoral, demover
04. “Sarampo” é:
c) remeter, conter, antegozar
a) forma primitiva
d) irrestrito, antípoda, prever
b) formado por derivação parassintética
c) formado por derivação regressiva e) dever, deter, antever
d) formado por derivação imprópria
e) formado por onomatopéia Respostas: 1-B / 2-B / 3-B / 4-C / 5-E / 6-E / 7-D / 8-A / 9-D
/ 10-E /
05. Numere as palavras da primeira coluna conforme os pro-
cessos de formação numerados à direita. Em seguida, marque a Classes de palavras
alternativa que corresponde à sequência numérica encontrada:
( ) aguardente 1) justaposição Substantivo
( ) casamento 2) aglutinação
( ) portuário 3) parassíntese Substantivo é a palavra que dá nomes aos seres. Inclui os no-
( ) pontapé 4) derivação sufixal mes de pessoas, de lugares, coisas, entes de natureza espiritual ou
( ) os contras 5) derivação imprópria mitológica: vegetação, sereia, cidade, anjo, árvore, passarinho,
( ) submarino 6) derivação prefixal abraço, quadro, universidade, saudade, amor, respeito, criança.
( ) hipótese Os substantivos exercem, na frase, as funções de: sujeito, pre-
dicativo do sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento
a) 1, 4, 3, 2, 5, 6, 1 nominal, adjunto adverbial, agente da passiva, aposto e vocativo.
b) 4, 1, 4, 1, 5, 3, 6 Os substantivos classificam-se em:
c) 1, 4, 4, 1, 5, 6, 6 - Comuns: nomeiam os seres da mesma espécie: menina, pia-
d) 2, 3, 4, 1, 5, 3, 6 no, estrela, rio, animal, árvore.
e) 2, 4, 4, 1, 5, 3, 6 - Próprios: referem-se a um ser em particular: Brasil, América
do Norte, Deus, Paulo, Lucélia.
06. Indique a palavra que foge ao processo de formação de - Concretos: são aqueles que têm existência própria; são in-
chapechape: dependentes; reais ou imaginários: mãe, mar, água, anjo, mulher,
a) zunzum alma, Deus, vento, DVD, fada, criança, saci.
b) reco-reco
- Abstrato: são os que não têm existência própria; depende
c) toque-toque
sempre de um ser para existir: é necessário alguém ser ou estar
d) tlim-tlim
e) vivido triste para a tristeza manifestar-se; é necessário alguém beijar ou
abraçar para que ocorra um beijo ou um abraço; designam quali-
07. Em que alternativa a palavra sublinhada resulta de deriva- dades, sentimentos, ações, estados dos seres: dor, doença, amor,
ção imprópria? fé, beijo, abraço, juventude, covardia, coragem, justiça. Os subs-
a) Às sete horas da manhã começou o trabalho principal: a tantivos abstratos podem ser concretizados dependendo do seu
votação. significado: Levamos a caça para a cabana. (caça = ato de caçar,
b) Pereirinha estava mesmo com a razão. Sigilo... Voto secre- substantivo abstrato; a caça, neste caso, refere-se ao animal, por-
to... Bobagens, bobagens! tanto, concreto).
c) Sem radical reforma da lei eleitoral, as eleições continua- - Simples: como o nome diz, são aqueles formados por apenas
riam sendo uma farsa! um radical: chuva, tempo, sol, guarda, pão, raio, água, ló, terra,
d) Não chegaram a trocar um isto de prosa, e se entenderam. flor, mar, raio, cabeça.
e) Dr. Osmírio andaria desorientado, senão bufando de raiva. - Compostos: são os que são formados por mais de dois ra-
dicais: guarda-chuva, girassol, água-de-colônia, pão de ló, para
08. Assinale a série de palavras em que todas são formadas raio, sem-terra, mula sem cabeça.
por parassíntese: - Primitivos: são os que não derivam de outras palavras; vie-
a) acorrentar, esburacar, despedaçar, amanhecer ram primeiro,deram origem a outras palavras: ferro, Pedro, mês,
b) solução, passional, corrupção, visionário queijo, chave, chuva, pão, trovão, casa.
c) enrijecer, deslealdade, tortura, vidente - Derivados: são formados de outra palavra já existente; vie-
d) biografia, macróbio, bibliografia, asteróide ram depois: ferradura, pedreiro, mesada, requeijão, chaveiro, chu-
e) acromatismo, hidrogênio, litografar, idiotismo veiro, padeiro, trovoada, casarão, casebre.
Didatismo e Conhecimento 24
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- Coletivos: os substantivos comuns que, mesmo no singular, Observe como são formados os femininos: parente, parenta
designam um conjunto de seres de uma mesma espécie: bando, / hóspede, hospeda / monge, monja / presidente, presidenta / gi-
povo, frota, batalhão, biblioteca, constelação. gante, giganta / oficial, oficiala / peru, perua / cidadão, cidadã /
Eis alguns substantivos coletivos: álbum – de fotografias; al- aldeão, aldeã / ancião, anciã / guardião, guardiã / charlatão, char-
cateia – de lobos; antologia – de textos escolhidos; arquipélago – latã / escrivão, escrivã / papa, papisa / faisão, faisoa / hortelão,
ilhas; assembleia – pessoas, professores; atlas – cartas geográficas; horteloa / ilhéu, ilhoa / mélro, mélroa / folião, foliona / imperador,
banda – de músicos; bando – de aves, de crianças; baixela – uten- imperatriz / profeta, profetisa / píton, pitonisa / abade, abadessa /
sílios de mesa; banca – de examinadores; biblioteca – de livros; czar, czarina / perdigão, perdiz / cão, cadela / pigmeu, pigmeia /
biênio – dois anos; bimestre – dois meses; boiada – de bois; cacho ateu, ateia / hebreu, hebreia / réu, ré / cerzidor, cerzideira / frade,
– de uva; cáfila – camelos; caravana – viajantes; cambada – de freira / frei, sóror / rajá, rani / dom, dona / cavaleiro, dama / zan-
vadios, malvados; cancioneiro – de canções; cardume – de peixes; gão, abelha /
casario – de casas; código – de leis; colmeia – de abelhas; concílio
– de bispos em assembleia; conclave – de cardeais; confraria – de Substantivos Uniformes
religiosos; constelação – de estrelas; cordilheira – de montanhas;
cortejo – acompanhantes em comitiva; discoteca – de discos; elen- Os substantivos uniformes apresentam uma única forma para
co – de atores; enxoval – de roupas; fato – de cabras; fornada – de ambos os gêneros: dentista, vítima. Os substantivos uniformes di-
pães; galeria – de quadros; hemeroteca – de jornais, revistas; horda videm-se em:
– de invasores; iconoteca – de imagens; irmandade – de religiosos; - Epicenos: designam certos animais e têm um só gênero, quer
mapoteca – de mapas; milênio – de mil anos; miríade – de muitas se refiram ao macho ou à fêmea. – jacaré macho ou fêmea / a cobra
estrelas, insetos; nuvem – de gafanhotos; panapaná – de borboletas macho ou fêmea / a formiga macho ou fêmea.
em bando; penca – de frutas; pinacoteca – de quadros; piquete – de - Comuns de dois gêneros: apenas uma forma e designam
grevistas; plêiade – de pessoas notáveis, sábios; prole – de filhos; indivíduos dos dois sexos. São masculinos ou femininos. A in-
quarentena – quarenta dias; quinquênio – cinco anos; renque – de dicação do sexo é feita com uso do artigo masculino ou feminino:
árvores, pessoas, coisas; repertório – de peças teatrais, música; res- o, a intérprete / o, a colega / o, a médium / o, a personagem / o, a
ma – de quinhentas folhas de papel; século – de cem anos; sextilha cliente / o, a fã / o, a motorista / o, a estudante / o, a artista / o, a re-
– de seis versos; súcia – de malandros, patifes; terceto – de três pórter / o, a manequim / o, a gerente / o, a imigrante / o, a pianista
pessoas, três versos; tríduo – período de três dias; triênio – período / o, a rival / o a jornalista.
de três anos; tropilhas – de trabalhadores, alunos; vara – de porcos; - Sobrecomuns: designam pessoas e têm um só gênero para
videoteca – de videocassetes; xiloteca – de amostras de tipos de homem ou a mulher: a criança (menino, menina) / a testemunha
madeiras. (homem, mulher) / a pessoa (homem, mulher) / o cônjuge (marido,
mulher) / o guia (homem, mulher) / o ídolo (homem, mulher).
Substantivos que mudam de sentido, quando se troca o gê-
Reflexão do Substantivo
nero: o lotação (veículo) - a lotação (efeito de lotar); o capital
(dinheiro) - a capital (cidade); o cabeça (chefe, líder) - a cabeça
“Na feira livre do arrabaldezinho
(parte do corpo); o guia (acompanhante) - a guia (documentação);
Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor
o moral (ânimo) - a moral (ética); o grama (peso) - a grama (relva);
__ O melhor divertimento para crianças!
o caixa (atendente) - a caixa (objeto); o rádio (aparelho) - a rá-
Em redor dele há um ajuntamento de menininhos pobres,
dio (emissora); o crisma (óleo salgado) - a crisma (sacramento); o
Fitando com olhos muito redondos os grandes
coma (perda dos sentidos) - a coma (cabeleira); o cura (vigário) - a
Balõezinhos muito redondos.” cura; (ato de curar); o lente (prof. Universitário) - a lente (vidro de
(Manoel Bandeira) aumento); o língua (intérprete) - a língua (órgão, idioma); o voga
(o remador) - a voga (moda).
Observe que o poema apresenta vários substantivos e apre-
sentam variações ou flexões de gênero (masculino/feminino), de Alguns substantivos oferecem dúvida quanto ao gênero. São
número (plural/singular) e de grau (aumentativo/diminutivo). masculinos: o eclipse, o dó, o dengue (manha), o champanha, o
Na língua portuguesa há dois gêneros: masculino e feminino. soprano, o clã, o alvará, o sanduíche, o clarinete, o Hosana, o es-
A regra para a flexão do gênero é a troca de o por a, ou o acréscimo pécime, o guaraná, o diabete ou diabetes, o tapa, o lança-perfume,
da vogal a, no final da palavra: mestre, mestra. o praça (soldado raso), o pernoite, o formicida, o herpes, o sósia, o
telefonema, o saca-rolha, o plasma, o estigma.
Formação do Feminino
São geralmente masculinos os substantivos de origem grega
O feminino se realiza de três modos: terminados em – ma: o dilema, o teorema, o emblema, o trema, o
- Flexionando-se o substantivo masculino: filho, filha / mestre, eczema, o edema, o enfisema, o fonema, o anátema, o tracoma, o
mestra / leão, leoa; hematoma, o glaucoma, o aneurisma, o telefonema, o estratagema.
- Acrescentando-se ao masculino a desinência “a” ou um sufi-
xo feminino: autor, autora / deus, deusa / cônsul, consulesa / can- São femininos: a dinamite, a derme, a hélice, a aluvião, a
tor, cantora / reitor, reitora. análise, a cal, a gênese, a entorse, a faringe, a cólera (doença),
- Utilizando-se uma palavra feminina com radical diferente: a cataplasma, a pane, a mascote, a libido (desejo sexual), a rês,
pai, mãe / homem, mulher / boi, vaca / carneiro, ovelha / cavalo, a sentinela, a sucuri, a usucapião, a omelete, a hortelã, a fama, a
égua. Xerox, a aguardante.
Didatismo e Conhecimento 25
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Plural dos Substantivos - Há substantivos que mudam de sentido quando usados no
plural: Fez bem a todos (alegria); Houve separação de bens. (patri-
Há várias maneiras de se formar o plural dos substantivos: mônio); Conferiu a féria do dia. (salário); As férias foram maravi-
Acrescentam-se: lhosas. (descanso); Sua honra foi exaltada. (dignidade); Recebeu
honras na solenidade. (homenagens); Outros: bem = virtude, be-
- S – aos substantivos terminados em vogal ou ditongo: povo, nefício / bens = valores / costa = litoral / costas = dorso / féria =
povos / feira, feiras / série, séries. renda diária / férias = descanso / vencimento = fim / vencimento =
- S – aos substantivos terminados em N: líquen, líquens / ab- salário / letra = símbolo gráfico / letras = literatura.
dômen, abdomens / hífen, hífens. Também: líquenes, abdômenes, - Muitos substantivos conservam no plural o “o” fechado:
hífenes. acordos, adornos, almoços, bodas, bojos, bolos, cocos, confortos,
- ES – aos substantivos terminados em R, S, Z: cartaz, carta- dorsos, encontros, esposos, estojos, forros, globos, gostos, moços,
zes / motor, motores / mês, meses. Alguns terminados em R mu- molhos, pilotos, piolhos, rolos, rostos, sopros, sogros, subornos.
dam sua sílaba tônica, no plural: júnior, juniores / caráter, caracte- - Substantivos empregados somente no plural: Arredores, be-
res / sênior, seniores. las-artes, bodas (ô), condolências, cócegas, costas, exéquias, fé-
- IS – aos substantivos terminados em al, el, ol, ul: jornal, rias, olheiras, fezes, núpcias, óculos, parabéns, pêsames, viveres,
jornais / sol, sóis / túnel, túneis / mel, meles, méis. Exceções: mal, idos, afazeres, algemas.
males / cônsul, cônsules / real, réis (antiga moeda portuguesa). - A forma singular das palavras ciúme e saudade são também
- ÃO – aos substantivos terminados em ão, acrescenta S: cida- usadas no plural, embora a forma singular seja preferencial, já que
dão, cidadãos / irmão, irmãos / mão, mãos. a maioria dos substantivos abstratos não se pluralizam. Aceita-se
os ciúmes, nunca o ciúmes.
Trocam-se:
“Quando você me deixou,
- ão por ões: botão, botões / limão, limões / portão, portões / meu bem,
mamão, mamões. me disse pra eu ser feliz
- ão por ãe: pão, pães / charlatão, charlatães / alemão, alemães e passar bem
/ cão, cães. Quis morrer de ciúme,
- il por is (oxítonas): funil, funis / fuzil, fuzis / canil, canis / quase enloqueci
pernil, pernis, e por EIS (Paroxítonas): fóssil, fósseis / réptil, rép- mas depois, como era
teis / projétil, projéteis. de costume, obedeci” (gravado por Maria Bethânia)
- m por ns: nuvem, nuvens / som, sons / vintém, vinténs /
atum, atuns. “Às vezes passo dias inteiros
- zito, zinho - 1º coloca-se o substantivo no plural: balão, ba- imaginando e pensando em você
lões; 2º elimina-se o S + zinhos. e eu fico com tanta saudade
Balão – balões – balões + zinhos: balõezinhos; que até parece que eu posso morrer.
Papel – papéis – papel + zinhos: papeizinhos; Pode creditar em mim.
Cão – cães - cãe + zitos: Cãezitos. Você me olha, eu digo sim...” (Fernanda Abreu)
- alguns substantivos terminados em X são invariáveis (valor
fonético = cs): os tórax, os tórax / o ônix, os ônix / a fênix, as fênix Atenção: avô – avôs (o avô materno e o avô paterno; avôs,
/ uma Xerox, duas Xerox / um fax, dois fax. fechado) avó - avós (o avô e a avó). Termos no singular com valor
- Outros (fora de uso) têm o mesmo plural que suas variantes de plural: Muito negro ainda sofre com o preconceito social. / Tem
em ice (ainda em vigor): apêndix ou apêndice, apêndices / cálix morrido muito pobre de fome.
o ucálice, cálices (x, som de s) / látex, látice ou láteces / códex
ou códice, códices / córtex ou córtice, córtices / índex ou índice, Plural dos Substantivos Compostos
índices (x, som de cs).
- substantivos terminados em ÃO com mais de uma forma Não é muito fácil a formação do plural dos substantivos com-
no plural: aldeão, aldeões, aldeãos; verão, verões, verãos; anão, postos.
anões, anãos; guardião, guardiões, guardiães; corrimão, corri-
mãos, corrimões; hortelão, hortelões, hortelãos; ancião, anciões, Somente o segundo (ou último) elemento vai para o plural:
anciães, anciãos; ermitão, ermitões, ermitães, ermitãos. - Palavra unida sem hífen: pontapé = pontapés / girassol =
girassóis / autopeça = autopeças.
A tendência é utilizar a forma em ÕES. - verbo + substantivo: saca-rolha = saca-rolhas / arranha-céu
= arranha-céus / bate-bola = bate-bolas / guarda-roupa = guarda
- Há substantivos que mudam o timbre da vogal tônica, no -roupas / guarda-sol = guarda-sóis / vale-refeição = vale-refeições.
plural. Chama-se metafonia. Apresentam o “o” tônica fechado no - elemento invariável + palavra variável: sempre-viva = sem-
singular e aberto no plural: caroço (ô), coroços (ó) / imposto (ô), pre-vivas / abaixo-assinado = abaixo-assinados / recém-nascido =
impostos (ó) / forno (ô), fornos (ó) / miolo (ô), miolos (ó) / poço recém-nascidos / ex-marido = ex-maridos / autoescola = autoes-
(ô), poços (ó) / olho (ô), olhos (ó) / povo (ô), povos (ó) / corvo (ô), colas.
corvos (ó). Também são abertos no plural (ó): fogos, ovos, ossos, - palavras repetidas: o reco-reco = os reco-recos / o tico-tico
portos, porcos, postos, reforços. Tijolos, destroços. = os tico-ticos / o corre-corre = os corre-corres.
Didatismo e Conhecimento 26
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- substantivo composto de três ou mais elementos não ligados Grau do Substantivo
por preposição: o bem-me-quer = os bem-me-queres / o bem-te-vi
= os bem-te-vis / o sem-terra = os sem-terra / o fora-da-lei = os fo- Os substantivos podem ser modificados a fim de exprimir
ra-da-lei / o João-ninguém = os joões-ninguém / o ponto e vírgula intensidade, exagero ou diminuição. A essas modificações é que
= os ponto e vírgula / o bumba-meu-boi = os bumba-meu-boi. damos o nome de grau do substantivo. São dois os graus dos subs-
- quando o primeiro elemento for: grão, grã (grande), bel: tantivos: aumentativo e diminutivo.
grão-duque = grão-duques / grã-cruz = grã-cruzes / bel-prazer = Os graus aumentativos e diminutivos são formados por dois
bel-prazeres.
processos:
- Sintético: com o acréscimo de um sufixo aumentativo ou di-
Somente o primeiro elemento vai para o plural:
- substantivo + preposição + substantivo: água de colônia = minutivo: peixe – peixão (aumentativo sintético); peixe-peixinho
águas-de-colônia / mula-sem-cabeça = mulas-sem-cabeça / pão- (diminutivo sintético); sufixo inho ou isinho.
de-ló = pães-de-ló / sinal-da-cruz = sinais-da-cruz. - Analítico: formado com palavras de aumento: grande, enor-
- quando o segundo elemento limita o primeiro ou dá ideia de me, imensa, gigantesca: obra imensa / lucro enorme / carro grande
tipo, finalidade: samba-enredo = sambas-enredos / pombo-correio / prédio gigantesco; e formado com as palavras de diminuição: di-
= pombos-correio / salário-família = salários-família / banana- minuto, pequeno, minúscula, casa pequena, peça minúscula / saia
maçã = bananas-maçã / vale-refeição = vales-refeição (vale = ter diminuta.
valor de, substantivo+especificador)
- Sem falar em aumentativo e diminutivo alguns substantivos
A tendência na língua portuguesa atual é pluralizar os dois exprimem também desprezo, crítica, indiferença em relação a cer-
elementos: bananas-maçãs / couves-flores / peixes-bois / saias-ba- tas pessoas e objetos: gentalha, mulherengo, narigão, gentinha,
lões.
coisinha, povinho, livreco.
- Já alguns diminutivos dão ideia de afetividade: filhinho, To-
Os dois elementos ficam invariáveis quando houver:
- verbo + advérbio: o ganha-pouco = os ganha-pouco / o cola- ninho, mãezinha.
tudo = os cola-tudo / o bota-fora = os bota-fora - Em consequência do dinamismo da língua, alguns substanti-
- os compostos de verbos de sentido oposto: o entra-e-sai = vos no grau diminutivo e aumentativo adquiriram um significado
os entra-e-sai / o leva-e-traz = os leva-e-traz / o vai-e-volta = os novo: portão, cartão, fogão, cartilha, folhinha (calendário).
vai-e-volta. - As palavras proparoxítonas e as palavras terminadas em sí-
labas nasal, ditongo, hiato ou vogal tônica recebem o sufixo zi-
Os dois elementos, vão para o plural: nho(a): lâmpada (proparoxítona) = lampadazinha; irmão (sílaba
- substantivo + substantivo: decreto-lei = decretos-leis / abe- nasal) = irmãozinho; herói (ditongo) = heroizinho; baú (hiato) =
lha-mestra = abelhas-mestras / tia-avó = tias-avós / tenente-coro- bauzinho; café (voga tônica) = cafezinho.
nel = tenentes-coronéis / redator-chefe = redatores-chefes. Colo- - As palavras terminadas em s ou z, ou em uma dessas con-
que entre dois elementos a conjunção e, observe se é possível a soantes seguidas de vogal recebem o sufixo inho: país = paisinho;
pessoa ser o redator e chefe ao mesmo tempo / cirurgião e dentista
rapaz = rapazinho; rosa = rosinha; beleza = belezinha.
/ tia e avó / decreto e lei / abelha e mestra.
- Há ainda aumentativos e diminutivos formados por prefixa-
- substantivo + adjetivo: amor-perfeito = amores-perfeitos /
capitão-mor = capitães-mores / carro-forte = carros-fortes / obra ção: minissaia, maxissaia, supermercado, minicalculadora.
-prima = obras-primas / cachorro-quente = cachorros-quentes.
- adjetivo + substantivo: boa-vida = boas-vidas / curta-metra- Substantivo caracterizador de adjetivo: os adjetivos referen-
gem = curtas-metragens / má-língua = más-línguas / tes a cores podem ser modificados por um substantivo: verde pisci-
- numeral ordinal + substantivo: segunda-feira = segundas- na, azul petróleo, amarelo ouro, roxo batata, verde garrafa.
feiras / quinta-feira = quintas-feiras.
Exercícios
Composto com a palavra guarda só vai para o plural se for
pessoa: guarda-noturno = guardas-noturnos / guarda-florestal = 01. Numa das seguintes frases, há uma flexão de plural grafa-
guardas-florestais / guarda-civil = guardas-civis / guarda-marinha da erradamente:
= guardas-marinha. a) os escrivães serão beneficiados por esta lei.
Plural das palavras de outras classes gramaticais usadas
b) o número mais importante é o dos anõezinhos.
como substantivo (substantivadas), são flexionadas como subs-
c) faltam os hífens nesta relação de palavras.
tantivos: Gritavam vivas e morras; Fiz a prova dos noves; Pesei
bem os prós e contras. d) Fulano e Beltrano são dois grandes caráteres.
e) os répteis são animais ovíparos.
Numerais substantivos terminados em s ou z não variam no
plural. Este semestre tirei alguns seis e apenas um dez. 02. Assinale o par de vocábulos que fazem o plural da mesma
forma que “balão” e “caneta-tinteiro”:
Plural dos nomes próprios personalizados: os Almeidas / os a) vulcão, abaixo-assinado;
Oliveiras / os Picassos / os Mozarts / os Kennedys / os Silvas. b) irmão, salário-família;
c) questão, manga-rosa;
Plural das siglas, acrescenta-se um s minúsculo: CDs / d) bênção, papel-moeda;
DVDs / ONGs / PMs / Ufirs. e) razão, guarda-chuva.
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03. Assinale a alternativa em que está correta a formação do 09. Dados os substantivos “caroço”, “imposto”, “coco” e
plural: “ovo”, conclui-se que, indo para o plural a vogal tônica soará aber-
a) cadáver – cadáveis; ta em:
b) gavião – gaviães; a) apenas na palavra nº 1;
c) fuzil – fuzíveis; b) apenas na palavra nº 2;
d) mal – maus; c) apenas na palavra nº 3;
e) atlas – os atlas. d) em todas as palavras;
e) N.D.A.
04. Indique a alternativa em que todos os substantivos são
abstratos: 10. Marque a alternativa que apresenta os femininos de “Mon-
a) tempo – angústia – saudade – ausência – esperança– imagem; ge”, “Duque”, “Papa” e “Profeta”:
b) angústia – sorriso – luz – ausência – esperança –inimizade; a) monja – duqueza – papisa – profetisa;
c) inimigo – luz – esperança – espaço – tempo; b) freira – duqueza – papiza – profetisa;
d) angústia – saudade – ausência – esperança – inimizade; c) freira – duquesa – papisa – profetisa;
e) espaço – olhos – luz – lábios – ausência – esperança. d) monja – duquesa – papiza – profetiza;
e) monja – duquesa – papisa – profetisa.
05. Assinale a alternativa em que todos os substantivos são
masculinos: Respostas: 01-D / 02-C / 03-E / 04-D / 05-C / 06-E / 07-D /
a) enigma – idioma – cal; 08-C / 09-E / 10-E /
b) pianista – presidente – planta;
c) champanha – dó(pena) – telefonema; Adjetivo
d) estudante – cal – alface;
e) edema – diabete – alface. Não digas: “o mundo é belo.”
Quando foi que viste o mundo?
06. Sabendo-se que há substantivos que no masculino têm Não digas: “o amor é triste.”
um significado; e no feminino têm outro, diferente. Marque a al- Que é que tu conheces do amor?
ternativa em que há um substantivo que não corresponde ao seu Não digas: “a vida é rápida.”
significado: Com foi que mediste a vida?
a) O capital = dinheiro; (Cecília Meireles)
A capital = cidade principal;
Os adjetivos belo, triste e rápida expressa uma qualidade dos
b) O grama = unidade de medida; sujeitos: o mundo, o amor, a vida.
A grama = vegetação rasteira; Adjetivo é a palavra variável em gênero, número e grau que
modifica um substantivo, atribuindo-lhe uma qualidade, estado, ou
c) O rádio = aparelho transmissor; modo de ser: laranjeira florida; céu azul; mau tempo; cavalo baio;
A rádio = estação geradora; comida saudável; político honesto; professor competente; funcio-
nário consciente; pais responsáveis. Os adjetivos classificam-se em:
d) O cabeça = o chefe;
A cabeça = parte do corpo; - simples: apresentam um único radical, uma única palavra em
sua estrutura: alegre, medroso, simpático, covarde, jovem, exube-
e) A cura = o médico. rante, teimoso;
O cura = ato de curar. - compostos: apresentam mais de um radical, mais de duas
palavras em sua estrutura: estrelas azul-claras; sapatos marrom
07. Marque a alternativa em que haja somente substantivos -escuros; garoto surdo-mudo;
sobrecomuns: - primitivos: são os que vieram primeiro; dão origem a outras
a) pianista – estudante – criança; palavras: atual, livre, triste, amarelo, brando, amável, confortável.
b) dentista – borboleta – comentarista; - derivados: são aqueles formados por derivação, vieram de-
c) crocodilo – sabiá – testemunha; pois dos primitivos: amarelado, ilegal, infeliz, desconfortável, en-
d) vítima – cadáver – testemunha; tristecido, atualizado.
e) criança – desportista – cônjuge. - pátrios: indicam procedência ou nacionalidade, referem-se a
cidades, estados, países.
08. Aponte a sequência de substantivos que, sendo original-
mente diminutivos ou aumentativos, perderam essa acepção e se Locução Adjetiva: é a expressão que tem o mesmo valor de
constituem em formas normais, independentes do termo derivante: um adjetivo. A locução adjetiva é formada por preposição + um
a) pratinho – papelinho – livreco – barraca; substantivo. Vejamos algumas locuções adjetivas: angelical = de
b) tampinha – cigarrilha – estantezinha – elefantão; anjo; abdominal = de abdômen; apícola = de abelha; aquilino = de
c) cartão – flautim – lingüeta – cavalete; águia; argente = de prata; áureo = de ouro; auricular = da orelha;
d) chapelão – bocarra – cidrinho – portão; bucal = da boca; bélico = de guerra; cervical = do pescoço; cutâ-
e) palhacinho – narigão – beiçola – boquinha. neo = de pele; discente = de aluno; docente = de professor; estelar
Didatismo e Conhecimento 28
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= de estrela; etário = de idade; fabril = de fábrica; filatélico = de Os adjetivos compostos recebem a flexão feminina apenas
selos; urbano = da cidade; gástrica = do estômago; hepático = do no segundo elemento: sociedade luso-brasileira / festa cívico-re-
fígado; matutino = da manhã; vespertino = da tarde; inodoro = ligiosa / saia verde-escura. Vejamos alguns adjetivos biformes que
sem cheiro; insípido = sem gosto; pluvial = da chuva; humano = apresentam uma flexão especial: ateu – ateia / europeu – europeia
do homem; umbilical = do umbigo; têxtil = de tecido. / glutão – glutona / hebreu – hebreia / Judeu – judia / mau – má /
Algumas locuções adjetivas não possuem adjetivos corres- plebeu – plebeia / são – sã / vão – vã.
pondentes: lata de lixo, sacola de papel, parede de tijolo, folha de
papel, e outros. Atenção:
- às vezes, os adjetivos são empregados como substantivos u
Cidade, Estado, País e Adjetivo Pátrio: Amapá: amapen- como advérbios: Agia como um ingênuo. (adjetivo como substan-
se; Amazonas: amazonense ou baré; Anápolis: anapolino; Angra tivo: acompanha um artigo).
dos Reis: angrense; Aracajú: aracajuano ou aracajuense; Bahia: - A cerveja que desce redondo. (adjetivo como advérbio: re-
baiano; Bélgica: belga; Belo Horizonte: belo-horizontino; Bra- dondamente).
sil: brasileiro; Brasília: brasiliense; Buenos Aires: buenairense ou - substantivos que funcionam como adjetivos, num processo
de derivação imprópria, isto é, palavra que tem o valor de outra
portenho; Cairo: cairota; Cabo Frio: cabo-friense; Campo Grande:
classe gramatical, que não seja a sua: Alguns brasileiros recebem
campo-grandese; Ceará: cearense; Curitiba: curitibano; Distrito
um salário-família. (substantivo com valor de adjetivo).
Federal: candango ou brasiliense; Espírito Santo: espírito-santense
- substituto do adjetivo: palavras / expressões de outra classe
ou capixaba; Estados Unidos: estadunidense ou norte americano; gramatical podem caracterizar o substantivo, ficando a ele subor-
Florianópolis: florianopolitano; Florença: florentino; Fortaleza: dinadas na frase.
fortalezense; Goiânia: goianiense; Goiás: goiano; Japão: japonês Semântica e sintaticamente falando, valem por adjetivos.
ou nipônico; João Pessoa: pessoense; Londres: londrino; Maceió: Vale associar ao substantivo principal outro substantivo em
maceioense; Manaus: manauense ou manauara; Maranhão: mara- forma de aposto.
nhense; Mato Grosso: mato-grossense; Mato Grosso do Sul: ma- O rio Tietê atravessa o estado de São Paulo.
to-grossense-do-sul; Minas Gerais: mineiro; Natal: natalense ou
papa-jerimum; Nova Iorque: nova-iorquino; Niterói: niteroiense; Plural do Adjetivo: o plural dos adjetivos simples flexionam
Novo Hamburgo: hamburguense; Palmas: palmense; Pará: paraen- de acordo com o substantivo a que se referem: menino chorão =
se; Paraíba: paraibano; Paraná: paranaense; Pernambuco: pernam- meninos chorões / garota sensível = garotas sensíveis / vitamina
bucano; Petrópolis: petropolitano; Piauí: piauiense; Porto Alegre: eficaz = vitaminas eficazes / exemplo útil = exemplos úteis.
porto-alegrense; Porto Velho: porto-velhense; Recife: recifense;
Rio Branco: rio-branquense; Rio de Janeiro: carioca/ fluminense - quando os dois elementos formadores são adjetivos, só o
(estado); Rio Grande do Norte: rio-grandense-do-norte ou po- segundo vai para o plural: questões político-partidárias, olhos cas-
tiguar; Rio Grande do Sul: rio-grandense ou gaúcho; Rondônia: tanho-claros, senadores democrata-cristãos com exceção de: surdo
rondoniano; Roraima: roraimense; Salvador: soteropolitano; Santa -mudo = surdos-mudos, variam os dois elementos.
Catarina: catarinense ou barriga-verde; São Paulo: paulista/pau- - Composto formado de adjetivo + substantivo referindo-se
listano (cidade); São Luís: são-luisense ou ludovicense; Sergipe: a cores, o adjetivo cor e o substantivo permanecem invariáveis,
sergipano; Teresina: teresinense; Tocantins: tocantinense; Três Co- não vão para o plural: terno azul-petróleo = ternos azul-petróleo
rações: tricordiano; Três Rios: trirriense; Vitória: vitoriano. (adjetivo azul, substantivo petróleo); saia amarelo-canário = saias
amarelo-canário (adjetivo, amarelo; substantivo canário).
- pode-se utilizar os adjetivos pátrios compostos, como: afro - As locuções adjetivas formadas de cor + de + substantivo,
-brasileiro; Anglo-americano, franco-italiano, sino-japonês (China ficam invariáveis: papel cor-de-rosa = papéis cor-de-rosa / olho
e Japão); Américo-francês; luso-brasileira; nipo-argentina (Japão e cor-de-mel = olhos cor-de-mel.
- São invariáveis os adjetivos raios ultravioleta / alegrias sem
Argentina); teuto-argentinos (alemão).
-par, piadas sem-sal.
- “O professor fez uma simples observação”. O adjetivo, sim-
ples, colocado antes do substantivo observação, equivale à banal.
Grau do Adjetivo
- “O professor fez uma observação simples”. O adjetivo sim-
ples colocado depois do substantivo observação, equivale à fácil. Grau comparativo de: igualdade, superioridade (Analítico e
Sintético) e Inferioridade;
Flexões do Adjetivo: O adjetivo, como palavra variável, sofre Grau superlativo: absoluto (analítico e sintético) ou relativo
flexões de: gênero, número e grau. (superioridade e inferioridade).
O grau do adjetivo exprime a intensidade das qualidades dos
Gênero do Adjetivo: Quanto ao gênero os adjetivos classifi- seres. O adjetivo apresenta duas variações de grau: comparativo
cam-se em: e superlativo.
- uniformes: têm forma única para o masculino e o feminino. O grau comparativo é usado para comparar uma qualidade
Funcionário incompetente = funcionária incompetente; Homens entre dois ou mais seres, ou duas ou mais qualidades de um mesmo
desonestos = mulheres desonestas ser. O comparativo pode ser:
- biformes: troca-se a vogal o pela vogal a ou com o acréscimo - de igualdade: iguala duas coisas ou duas pessoas: Sou tão
da vogal a no final da palavra: ator famoso = atriz famosa / jogador alto quão / quanto / como você. (as duas pessoas têm a mesma
brasileiro = jogador brasileira. altura)
Didatismo e Conhecimento 29
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- de superioridade: iguala duas pessoas / coisas sendo que - adjetivos repetidos: fofinho, fofinho (=fofíssimo) / linda,
uma é mais do que a outra: Minha amiga Many é mais elevante do linda (=lindíssima).
que / que eu. (das duas, a Many é mais) - diminutivo ou aumentativo: cheinha / pequenininha / gran-
O grau comparativo de superioridade possui duas formas: dalhão / gostosão / bonitão.
- linguagem informa, sufixo érrimo, em fez de íssimo: chi-
Analítica: mais bom / mais mau / mais grande / mais pequeno: quérrimo, chiquentérrimo, elegantérrimo.
O salário é mais pequeno do que / que justo (salário pequeno e
justo). Quando comparamos duas qualidades de um mesmo ser, - Superlativo Relativo: ressalta a qualidade de um ser entre
podemos usar as formas: mais grande, mais mau, mais bom,mais muitos, com a mesma qualidade. Pode ser:
pequeno. Superlativo Relativo de Superioridade: Wilma é a mais pren-
Sintética: bom, melhor / mau, pior / grande, maior / pequeno, dada de todas as suas amigas. (ela é a mais de todas)
menor: Esta sala é melhor do que / que aquela. Superlativo Relativo de Inferioridade: Paulo César é o menos
tímido dos filhos.
- de inferioridade: um elemento é menor do que outro: Somos
menos passivos do que / que tolerantes.
Emprego Adverbial do Adjetivo
O grau superlativo: a característica do adjetivo se apresenta O menino dorme tranquilo. / As meninas dormem tranquilas.
intensificada: O superlativo pode ser absoluto ou relativo. Em ambas as frases o adjetivo concorda em gênero e número com
- Superlativo Absoluto: atribuída a um só ser; de forma abso- o sujeito.
luta. Pode ser: O menino dorme tranquilamente. / As meninas dormem tran-
Analítico: advérbio de intensidade muito, intensamente, bas- quilamente. O adjetivo assume um valor adverbial, com o acrés-
tante, extremamente, excepcionalmente + adjetivo: Nicola é extre- cimo do sufixo mente, sendo, portanto, invariável, não vai para o
mamente simpático. plural.
Sintético: adjetivo + issimo, imo, ílimo, érrimo: Minha coma- Sorriu amarelo e saiu. / Ficou meio chateada e calou-se. O
dre Mariinha é agradabilíssima. adjetivo amarelo modificou um verbo, portanto, assume a função
de advérbio; o adjetivo meio + chateada (adjetivo) assume, tam-
- o sufixo -érrimo é restrito aos adjetivos latinos terminados bém, a função de advérbio.
em r; pauper (pobre) = paupérrimo; macer (magro) = macérrimo;
- forma popular: radical do adjetivo português + íssimo: po- Exercícios
bríssimo;
- adjetivos terminados em vel + bilíssimo: amável = amabi- 01. Assinale a alternativa em que o adjetivo que qualifica o
líssimo; substantivo seja explicativo:
- adjetivos terminados em eio formam o superlativo apenas a) dia chuvoso;
com i: feio = feíssimo / cheio = cheíssimo. b) água morna;
- os adjetivos terminados em io forma o superlativo em iís- c) moça bonita;
simo: sério = seriíssimo / necessário = necessariíssimo / frio = d) fogo quente;
friíssimo. e) lua cheia.
Algumas formas do superlativo absoluto sintético erudi- 02. Assinale a alternativa que contém o grupo de adjetivos
gentílicos, relativos a “Japão”, “Três Corações” e “Moscou”:
to (culto): ágil = agílimo; agradável = agradabilíssimo; agudo =
acutíssimo; amargo = amaríssimo; amigo = amicíssimo; antigo =
a) Oriental, Tricardíaco, Moscovita;
antiquíssimo; áspero = aspérrimo; atroz = atrocíssimo; benévolo =
b) Nipônico,Tricordiano, Soviético;
benevolentíssimo; bom = boníssimo, ótimo; capaz = capacíssimo; c) Japonês, Trêscoraçoense, Moscovita;
célebre = celebérrimo; cruel = crudelíssimo; difícil = deficílimo; d) Nipônico, Tricordiano, Moscovita;
doce = dulcíssimo; eficaz = eficacíssimo; fácil = facílimo; feliz = e) Oriental, Tricardíaco, Soviético.
felicíssimo; fiel = fidelíssimo; frágil = fragílimo; frio = frigidíssi-
mo, friíssimo; geral = generalíssimo; humilde = humílimo; incrí- 03. Ainda sobre os adjetivos gentílicos, diz-se que quem nasce
vel = incredibilíssimo; inimigo = inimicíssimo; jovem = juvenilís- em “Lima”, “Buenos Aires” e “Jerusalém” é:
simo; livre = libérrimo; magnífico = magnificentíssimo; magro = a) Limalho-Portenho-Jerusalense;
macérrimo, magérrimo; mau = péssimo; miserável = miserabilíssi- b) Limenho-Bonaerense-Hierosolimita;
mo; negro = nigérrimo, negríssimo; nobre = nobilíssimo; pessoal = c) Límio-Portenho-Jerusalita
personalíssimo; pobre = paupérrimo, pobríssimo; sábio = sapien- d) Limenho-Bonaerense-Jerusalita;
tíssimo; sagrado = sacratíssimo; simpático = simpaticíssimo; sim- e) Limeiro-Bonaerense-Judeu;
ples = simplícimo; tenro = teneríssimo; terrível = terribilíssimo;
veloz = velocíssimo. 04.No trecho “os jovens estão mais ágeis que seus pais”, te-
mos:
Usa-se também, no superlativo: a) um superlativo relativo de superioridade;
- prefixos: maxinflação / hipermercado / ultrassonografia / b) um comparativo de superioridade;
supersimpática. c) um superlativo absoluto;
- expressões: suja à beça / pra lá de sério / duro que nem d) um comparativo de igualdade.
sola / podre de rico / linda de morrer / magro de dar pena. e) um superlativo analítico de ágil.
Didatismo e Conhecimento 30
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05. Relacione a 1ª coluna à 2ª: Artigo
1 - água de chuva ( ) Fluvial
2 - olho de gato ( ) Angelical Artigo é a palavra que acompanha o substantivo, indicando-
3 - água de rio ( ) Felino lhe o gênero e o número, determinando-o ou generalizando-o. Os
4 - Cara-de-anjo ( ) Pluvial artigos podem ser:
- definidos: o, a, os, as; determinam os substantivos, trata de
Assim temos: um ser já conhecido; denota familiaridade: “A grande reforma do
a) 1 – 4 – 2 – 3; ensino superior é a reforma do ensino fundamental e do médio.”
b) 3 – 2 – 1 – 4; (Veja – maio de 2005)
c) 3 – 1 – 2 – 4;
- indefinidos: um, uma, uns, umas; estes; trata-se de um ser
d) 3 – 4 – 2 – 1;
e) 4 – 3 – 1 – 2. desconhecido, dá ao substantivo valor vago: “...foi chegando um
caboclinho magro, com uma taquara na mão.” (A. Lima)
06. Nas orações “Esse livro é melhor que aquele” e “Este livro
é mais lindo que aquele”, Há os graus comparativos: Usa-se o artigo definido:
a) de superioridade, respectivamente sintético e analítico; - com a palavra ambos: falou-nos que ambos os culpados fo-
b) de superioridade, ambos analíticos; ram punidos.
c) de superioridade, ambos sintéticos; - com nomes próprios geográficos de estado, pais, oceano,
d) relativos; montanha, rio, lago: o Brasil, o rio Amazonas, a Argentina, o ocea-
e) superlativos. no Pacífico, a Suíça, o Pará, a Bahia. / Conheço o Canadá mas não
conheço Brasília.
07. Selecione a alternativa que completa corretamente as la- - com nome de cidade se vier qualificada: Fomos à histórica
cunas da frase apresentada: “Os acidentados foram encaminhados Ouro Preto.
a diferentes clínicas ____” . - depois de todos/todas + numeral + substantivo: Todos os
a) médicas-cirúrgicas; vinte atletas participarão do campeonato.
b) médica-cirúrgicas; - com toda a/todo o, a expressão que vale como totalidade,
c) médico-cirúrgicas; inteira. Toda cidade será enfeitada para as comemorações de ani-
d) médicos-cirúrgicas;
versário. Sem o artigo, o pronome todo/toda vale como qualquer.
e) médica-cirúrgicos.
Toda cidade será enfeitada para as comemorações de aniversário.
08. Sabe-se que a posição do adjetivo, em relação ao substan- (qualquer cidade)
tivo, pode ou não mudar o sentido do enunciado. Assim, nas frases - com o superlativo relativo: Mariane escolheu as mais lindas
“Ele é um homem pobre” e “Ele é um pobre homem”. flores da floricultura.
a) 1ª fala de um sem recursos materiais; a 2ª fala de um ho- - com a palavra outro, com sentido determinado: Marcelo tem
mem infeliz; dois amigos: Rui é alto e lindo, o outro é atlético e simpático.
b) a 1ª fala de um homem infeliz; a 2ª fala de um homem sem - antes dos nomes das quatro estações do ano: Depois da pri-
recursos materiais; mavera vem o verão.
c) em ambos os casos, o homem é apenas infeliz, sem fazer - com expressões de peso e medida: O álcool custa um real o
referência a questões materiais; litro. (=cada litro)
d) em ambos os casos o homem é apenas desprovido de re-
cursos; Não se usa o artigo definido:
e) o homem é infeliz e desprovido de recursos materiais, em - antes de pronomes de tratamento iniciados por possessivos:
ambas. Vossa Excelência, Vossa Senhoria, Vossa Majestade, Vossa
Alteza.
09.O item em que a locução adjetiva não corresponde ao ad- Vossa Alteza estará presente ao debate?
jetivo dado é:
“Nosso Senhor tinha o olhar em pranto / Chorava Nossa Se-
a) hibernal - de inverno;
nhora.”
b) filatélico - de folhas;
c) discente - de alunos; - antes de nomes de meses:
d) docente - de professor; O campeonato aconteceu em maio de 2002. Mas: O campeo-
e) onírico - de sonho. nato aconteceu no inesquecível maio de 2002.
- alguns nomes de países, como Espanha, França, Inglaterra,
10. Assinale a alternativa em que todos os adjetivos têm uma Itália podem ser construídos sem o artigo, principalmente quando
só forma para os dois gêneros: regidos de preposição.
a) andaluz, hindu, comum; “Viveu muito tempo em Espanha.” / “Pelas estradas líricas de
b) europeu, cortês, feliz; França.” Mas: Sônia Salim, minha amiga, visitou a bela Veneza.
c) fofo, incolor, cru; - antes de todos / todas + numeral: Eles são, todos quatro,
d) superior, agrícola, namorador; amigos de João Luís e Laurinha. Mas: Todos os três irmãos eu vi
e) exemplar, fácil, simples. nascer. (o substantivo está claro)
- antes de palavras que designam matéria de estudo, empre-
Respostas: 1- D / 2- D / 3- B / 4- B / 5- D / 6- A / 7- C / 8- A gadas com os verbos: aprender, estudar, cursar, ensinar: Estudo
/ 9- B / 10-E Inglês e Cristiane estuda Francês.
Didatismo e Conhecimento 31
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O uso do artigo é facultativo: 04. Assinale a alternativa em que os topônimos não admitem
- antes do pronome possessivo: Sua / A sua incompetência é artigo:
irritante. a) Portugal, Copacabana.
- antes de nomes próprios de pessoas: Você já visitou Luciana b) Petrópolis, Espanha.
/ a Luciana? c) Viena, Rio de Janeiro.
- “Daqui para a frente, tudo vai ser diferente.” (para a frente: d) Madri, Itália.
exige a preposição) e) Alemanha, Curitiba.
Formas combinadas do artigo definido: Preposição + o = ao / Respostas: 01-B / 02-B / 03-D / 04-A /
de + o,a = do, da / em + o, a = no, na / por + o, a = pelo, pela.
Numeral
Usa-se o artigo indefinido: Os numerais exprimem quantidade, posição em uma série,
- para indicar aproximação numérica: Nicole devia ter uns multiplicação e divisão. Daí a sua classificação, respectivamente,
oito anos / Não o vejo há uns meses. em: cardinais, ordinais, multiplicativos e fracionários.
- antes dos nomes de partes do corpo ou de objetos em pares: - Cardinal: indica número, quantidade: um, dois, três, oito,
Usava umas calças largas e umas botas longas. vinte, cem, mil;
- em linguagem coloquial, com valor intensivo: Rafaela é uma - Ordinal: indica ordem ou posição: primeiro, segundo, tercei-
meiguice só. ro, sétimo, centésimo;
- para comparar alguém com um personagem célebre: Luís - Fracionário: indica uma fração ou divisão: meio, terço,
August é um Rui Barbosa. quarto, quinto, um doze avos;
O artigo indefinido não é usado: - Multiplicativo: indica a multiplicação de um número: duplo,
- em expressões de quantidade: pessoa, porção, parte, gente, dobro, triplo, quíntuplo.
quantidade: Reservou para todos boa parte do lucro.
- com adjetivos como: escasso, excessivo, suficiente: Não há Os numerais que indicam conjunto de elementos de quan-
suficiente espaço para todos. tidade exata são os coletivos: bimestre: período de dois meses;
- com substantivo que denota espécie: Cão que ladra não morde. centenário: período de cem anos; decálogo: conjunto de dez leis;
decúria: período de dez anos; dezena: conjunto de dez coisas; dís-
tico: dois versos; dúzia: conjunto de doze coisas; grosa: conjunto
Formas combinadas do artigo indefinido: Preposição de e em
de doze dúzias; lustro: período de cinco anos; milênio: período de
+ um, uma = num, numa, dum, duma.
mil anos; milhar: conjunto de mil coisas; novena: período de nove
dias; quarentena: período de quarenta dias; quinquênio: período de
O artigo (o, a, um, uma) anteposto a qualquer palavra trans- cinco anos; resma: quinhentas folhas de papel; semestre: período
forma-a em substantivo. O ato literário é o conjunto do ler e do de seis meses; septênio: período de sete meses; sexênio: período de
escrever. seis anos; terno: conjunto de três coisas; trezena: período de treze
dias; triênio: período de três anos; trinca: conjunto de três coisas.
Exercícios
Algarismos: Arábicos e Romanos, respectivamente: 1-I, 2-II,
01. Em que alternativa o termo grifado indica aproximação: 3-III, 4-IV, 5-V, 6-VI, 7-VII, 8-VIII, 9-IX, 10-X, 11-XI, 12-XII,
a) Ao visitar uma cidade desconhecida, vibrava. 13-XIII, 14-XIV, 15-XV, 16-XVI, 17-XVII, 18-XVIII, 19-XIX,
b) Tinha, na época, uns dezoito anos. 20-XX, 30-XXX, 40-XL, 50-L, 60-LX, 70-LXX, 80-LXXX, 90-
c) Ao aproximar de uma garota bonita, seus olhos brilhavam. XC, 100-C, 200-CC, 300-CCC, 400-CD, 500-D, 600-DC, 700-
d) Não havia um só homem corajoso naquela guerra. DCC, 800-DCCC, 900-CM, 1.000-M.
e) Uns diziam que ela sabia tudo, outros que não.
Numerais Cardinais: um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete,
02. Determine o caso em que o artigo tem valor qualificativo: oito, nove, dez, onze, doze, treze, catorze ou quatorze, quinze, de-
a) Estes são os candidatos que lhe falei. zesseis, dezessete, dezoito, dezenove, vinte..., trinta..., quarenta...,
cinquenta..., sessenta..., setenta..., oitenta..., noventa..., cem..., du-
b) Procure-o, ele é o médico! Ninguém o supera.
zentos..., trezentos..., quatrocentos..., quinhentos..., seiscentos...,
c) Certeza e exatidão, estas qualidades não as tenho.
setecentos..., oitocentos..., novecentos..., mil.
d) Os problemas que o afligem não me deixam descuidado.
e) Muito é a procura; pouca é a oferta. Numerais Ordinais: primeiro, segundo, terceiro, quarto,
quinto, sexto, sétimo, oitavo, nono, décimo, décimo primeiro,
03. Em uma destas frases, o artigo definido está empregado décimo segundo, décimo terceiro, décimo quarto, décimo quinto,
erradamente. Em qual? décimo sexto, décimo sétimo, décimo oitavo, décimo nono, vigé-
a) A velha Roma está sendo modernizada. simo..., trigésimo..., quadragésimo..., quinquagésimo..., sexagési-
b) A “Paraíba” é uma bela fragata. mo..., septuagésimo..., octogésimo..., nonagésimo..., centésimo...,
c) Não reconheço agora a Lisboa de meu tempo. ducentésimo..., trecentésimo..., quadringentésimo..., quingentési-
d) O gato escaldado tem medo de água fria. mo..., sexcentésimo..., septingentésimo..., octingentésimo..., non-
e) O Havre é um porto de muito movimento. gentésimo..., milésimo.
Didatismo e Conhecimento 32
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Numerais Multiplicativos: dobro, triplo, quádruplo, quíntu- - se o numeral vier antes do substantivo, usa-se o ordinal. O
plo, sêxtuplo, sétuplo, óctuplo, nônuplo, décuplo, undécuplo, duo- XX século foi de descobertas científicas. (vigésimo século)
décuplo, cêntuplo. - com referência ao primeiro dia do mês, usa-se o numeral
ordinal: O pagamento do pessoal será sempre no dia primeiro.
Numerais Fracionários: meia, metade, terço, quarto, quinto, - na enumeração de leis, decretos, artigos, circulares, portarias
sexto, sétimo, oitavo, nono, décimo, onze avos, doze avos, treze e outros textos oficiais, emprega-se o numeral ordinal até o nono:
avos, catorze avos, quinze avos, dezesseis avos, dezessete avos,
O diretor leu pausadamente a portaria 8ª. (portaria oitava)
dezoito avos, dezenove avos, vinte avos..., trinta avos..., quarenta
avos..., cinquenta avos..., sessenta avos..., setenta avos..., oitenta - emprega-se o numeral cardinal, a partir de dez: O artigo 16
avos..., noventa avos..., centésimo..., ducentésimo..., trecentési- não foi justificado. (artigo dezesseis)
mo..., quadringentésimo..., quingentésimo..., sexcentésimo..., sep- - enumeração de casa, páginas, folhas, textos, apartamentos,
tingentésimo..., octingentésimo..., nongentésimo..., milésimo. quartos, poltronas, emprega-se o numeral cardinal: Reservei a pol-
trona vinte e oito. / O texto quatro está na página sessenta e cinco.
Flexão dos Numerais - se o numeral vier antes do substantivo, emprega-se o ordi-
nal. Paulo César é adepto da 7ª Arte. (sétima)
Gênero - não se usa o numeral um antes de mil: Mil e duzentos reais
- os numerais cardinais um, dois e as centenas a partir de du- é muito para mim.
zentos apresentam flexão de gênero: Um menino e uma menina - o artigo e o numeral, antes dos substantivos milhão, milhar
foram os vencedores. / Comprei duzentos gramas de presunto e
e bilhão, devem concordar no masculino:
duzentas rosquinhas.
- os numerais ordinais variam em gênero: Marcela foi a nona - Quando o sujeito da oração é milhões + substantivo feminino
colocada no vestibular. plural, o particípio ou adjetivo podem concordar, no masculino,
- os numerais multiplicativos, quando usados com o valor de com milhões, ou com o substantivo, no feminino. Dois milhões de
substantivos, são variáveis: A minha nota é o triplo da sua. (triplo notas falsas serão resgatados ou serão resgatadas (milhões resgata-
– valor de substantivo) dos / notas resgatadas)
- quando usados com valor de adjetivo, apresentam flexão de - os numerais multiplicativos quíntuplo, sêxtuplo, sétuplo e
gênero: Eu fiz duas apostas triplas na lotofácil. (triplas valor de óctuplo valem como substantivos para designar pessoas nascidas
adjetivo) do mesmo parto: Os sêxtuplos, nascidos em Lucélia, estão reagin-
- os numerais fracionários concordam com os cardinais que do bem.
indicam o número das partes: Dois terços dos alunos foram con-
- emprega-se, na escrita das horas, o símbolo de cada unidade
templados.
- o fracionário meio concorda em gênero e número com o após o numeral que a indica, sem espaço ou ponto: 10h20min –
substantivo no qual se refere: O início do concurso será meio-dia e dez horas, vinte minutos.
meia. (hora) / Usou apenas meias palavras. - não se emprega a conjunção e entre os milhares e as cente-
nas: mil oitocentos e noventa e seis. Mas 1.200 – mil e duzentos (o
Número número termina numa centena com dois zeros)
- os numerais cardinais milhão, bilhão, trilhão, e outros, va-
riam em número: Venderam um milhão de ingressos para a festa Exercícios
do peão. / Somos 180 milhões de brasileiros.
- os numerais ordinais variam em número: As segundas colo- 01. Marque o emprego incorreto do numeral:
cadas disputarão o campeonato. a) século III (três)
- os numerais multiplicativos são invariáveis quando usados
com valor de substantivo: Minha dívida é o dobro da sua. (valor de b) página 102 (cento e dois)
substantivo – invariável) c) 80º (octogésimo)
- os numerais multiplicativos variam quando usados como ad- d) capítulo XI (onze)
jetivos: Fizemos duas apostas triplas. (valor de adjetivo – variável) e) X tomo (décimo)
- os numerais fracionários variam em número, concordando
com os cardinais que indicam números das partes. Alternativa correta: A
- Um quarto de litro equivale a 250 ml; três quartos equivalem O numeral quando for usado para designar Papas, reis, sécu-
a 750 ml. los, capítulos etc, usam-se: Os ordinais de 1 a 10; Os cardinais de
11 em diante.
Grau Logo, a letra A está incorreta por está grafado século três,
Na linguagem coloquial é comum a flexão de grau dos nume-
quando o correto é século terceiro.
rais: Já lhe disse isso mil vezes. / Aquele quarentão é um “gato”! /
Morri com cincão para a “vaquinha”, lá da escola.
02. Indique o item em que os numerais estão corretamente
Emprego dos Numerais empregados:
a) Ao Papa Paulo seis sucedeu João Paulo primeiro.
- para designar séculos, reis, papas, capítulos, cantos (na poe- b) após o parágrafo nono, virá o parágrafo dez.
sia épica), empregam-se: os ordinais até décimo: João Paulo II c) depois do capítulo sexto, li o capítulo décimo primeiro.
(segundo). Canto X (décimo) / Luís IX (nono); os cardinais para d) antes do artigo décimo vem o artigo nono.
os demais: Papa Bento XVI (dezesseis); Século XXI (vinte e um). e) o artigo vigésimo segundo foi revogado.
Didatismo e Conhecimento 33
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Alternativa correta: B me, te, lhe, nos, vos: quando colocado com verbos transitivos
Está corretamente grafado parágrafo nono e parágrafo dez na diretos (TD), têm sentido possessivo, equivalendo a meu, teu, seu,
alternativa B, pois os numerais ordinais são de 1 a 9. De 10 em dele, nosso, vosso: Os anos roubaram-lhe a esperança. (sua, dele,
diante usamos os cardinais. dela possessivo)
as formas conosco e convosco são substituídas por: com +
Pronome nós, com + vós. seguidos de: ambos, todos, próprios, mesmos, ou-
tros, numeral: Mariane garantiu que viajaria com nós três.
É a palavra que acompanha ou substitui o nome, relacionando o pronome oblíquo funciona como sujeito com os verbos: dei-
-o a uma das três pessoas do discurso. As três pessoas do discurso xar, fazer, ouvir, mandar, sentir e ver+verbo no infinitivo. Deixe-
são: me sentir seu perfume. (Deixe que eu sinta seu perfume me sujeito
1ª pessoa: eu (singular) nós (plural): aquela que fala ou emissor; do verbo deixar Mandei-o calar. (= Mandei que ele calasse), o=
2ª pessoa: tu (singular) vós (plural): aquela com quem se fala sujeito do verbo mandar.
ou receptor; os pronomes pessoais oblíquos nos, vos, e se recebem o nome
3ª pessoa: ele, ela (singular) eles, elas (plural): aquela de de pronomes recíprocos quando expressam uma ação mútua ou re-
quem se fala ou referente. cíproca: Nós nos encontramos emocionados. (pronome recíproco,
nós mesmos). Nunca diga: Eu se apavorei. / Eu já se arrumei; Eu
Dependendo da função de substituir ou acompanhar o nome, me apavorei. / Eu me arrumei. (certos)
o pronome é, respectivamente: pronome substantivo ou pronome - Os pronomes pessoais retos eu e tu serão substituídos por
adjetivo. mim e ti após preposição: O segredo ficará somente entre mim e ti.
Os pronomes são classificados em: pessoais, de tratamento, - É obrigatório o emprego dos pronomes pessoais eu e tu,
possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos e relati- quando funcionarem como Sujeito: Todos pediram para eu rela-
vos. tar os fatos cuidadosamente. (pronome reto + verbo no infinitivo).
Lembre-se de que mim não fala, não escreve, não compra, não
Pronomes Pessoais: Os pronomes pessoais dividem-se em: anda. Somente o Tarzã e o Capitão Caverna dizem: mim gosta /
- retos exercem a função de sujeito da oração: eu, tu, ele, nós,
mim tem / mim faz. / mim quer.
vós, eles:
- As formas oblíquas o, a, os, as são sempre empregadas
- oblíquos exercem a função de complemento do verbo (ob-
como complemento de verbos transitivos diretos ao passo que as
jeto direto / objeto indireto) ou as, lhes. - Ela não vai conosco. (ela
formas lhe, lhes são empregadas como complementos de verbos
pronome reto / vai verbo / conosco complemento nominal. São:
transitivos indiretos; Dona Cecília, querida amiga, chamou-a.
tônicos com preposição: mim, comigo, ti, contigo,si, consigo, co-
(verbo transitivo direto, VTD); Minha saudosa comadre, Nircleia,
nosco, convosco; átonos sem preposição: me, te, se, o, a, lhe, nos,
obedeceu-lhe. (verbo transitivo indireto,VTI)
vos, os,pronome oblíquo) - Eu dou atenção a ela. (eu pronome reto
- É comum, na linguagem coloquial, usar o brasileiríssimo a
/ dou verbo / atenção nome / ela pronome oblíquo)
gente, substituindo o pronome pessoal nós: A gente deve fazer ca-
ridade com os mais necessitados.
Saiba mais sobre os Pronomes Pessoais
- Os pronomes pessoais retos ele, eles, ela, elas, nós e vós
serão pronomes pessoais oblíquos quando empregados como com-
- Colocados antes do verbo, os pronomes oblíquos da 3ª pes-
soa, apresentam sempre a forma: o, a, os, as: Eu os vi saindo do plementos de um verbo e vierem precedidos de preposição. O
teatro. conserto da televisão foi feito por ele. (ele= pronome oblíquo)
- As palavras “só” e “todos” sempre acompanham os prono- - Os pronomes pessoais ele, eles e ela, elas podem se contrair
mes pessoais do caso reto: Eu vi só ele ontem. com as preposições de e em: Não vejo graça nele./ Já frequentei
- Colocados depois do verbo, os pronomes oblíquos da 3ª pes- a casa dela.
soa apresentam as formas: - Se os pronomes pessoais retos ele, eles, ela, elas estiverem
o, a, os, as: se o verbo terminar em vogal ou ditongo oral: funcionando como sujeito, e houver uma preposição antes deles,
Encontrei-a sozinha. Vejo-os diariamente. não poderá haver uma contração: Está na hora de ela decidir seu
o, a, os, as, precedidos de verbos terminados em: R/S/Z, as- caminho. (ela sujeito de decidir; sempre com verbo no infinitivo)
sumem as formas: lo, Ia, los, las, perdendo, consequentemente, as - Chamam-se pronomes pessoais reflexivos os pronomes pes-
terminações R, S, Z. Preciso pagar ao verdureiro. = pagá-lo; Fiz soais que se referem ao sujeito: Eu me feri com o canivete. (eu 1ª
os exercícios a lápis. = Fi-los a lápis. pessoa sujeito / me pronome pessoal reflexivo)
lo, la, los, las: se vierem depois de: eis / nos / vos Eis a prova - Os pronomes pessoais oblíquos se, si e consigo devem ser
do suborno. = Ei-la; O tempo nos dirá. = no-lo dirá. (eis, nos, vos empregados somente como pronomes pessoais reflexivos e funcio-
perdem o S) nam como complementos de um verbo na 3ª pessoa, cujo sujeito
no, na, nos, nas: se o verbo terminar em ditongo nasal: m, ão, é também da 3ª pessoa: Nicole levantou-se com elegância e levou
õe: Deram-na como vencedora; Põe-nos sobre a mesa. consigo (com ela própria) todos os olhares. (Nicole sujeito, 3ª pes-
lhe, lhes colocados depois do verbo na 1ª pessoa do plural, soa/ levantou verbo 3ª pessoa / se complemento 3ª pessoa / levou
terminado em S não modificado: Nós entregamoS-lhe a cópia do verbo 3ª pessoa / consigo complemento 3ª pessoa)
contrato. (o S permanece) - O pronome pessoal oblíquo não funciona como reflexivo se
nos: colocado depois do verbo na 1ª pessoa do plural, perde o não se referir ao sujeito: Ela me protegeu do acidente. (ela sujeito
S: Sentamo-nos à mesa para um café rápido. 3ª pessoa me complemento 1ª pessoa)
Didatismo e Conhecimento 34
LÍNGUA PORTUGUESA
- Você é segunda ou terceira pessoa? Na estrutura da fala, você - O pronome seu toma o sentido ambíguo, pois pode referir se
é a pessoa a quem se fala e, portanto, da 2ª pessoa. Por outro lado, tanto ao consultório de João Luís como ao de Laurinha. No caso,
você, como os demais pronomes de tratamento senhor, senhora, usa-se o pronome dele, dela para desfazer a ambiguidade.
senhorita, dona, pede o verbo na 3ª pessoa, e não na 2ª. - Os possessivos, às vezes, podem indicar aproximações nu-
- Os pronomes oblíquos me, te, lhe, nos, vos, lhes (formas de méricas e não posse: Cláudia e Haroldo devem ter seus trinta anos.
objeto indireto, 0I) juntam-se a o, a, os, as (formas de objeto dire- - Na linguagem popular, o tratamento seu como em: Seu Ri-
to), assim: me+o: mo/+a: ma/+ os: mos/+as: mas: Recebi a carta e cardo, pode entrar!, não tem valor possessivo, pois é uma alteração
agradeci ao jovem, que me trouxe. nos +o: no-lo / + a: no-la / + os: fonética da palavra senhor
no-los / +as: no-las: Venderíamos a casa, se no-la exigissem. te+ o: - Os pronomes possessivos podem ser substantivados: Dê
to/+ a: ta/+ os: tos/+ as: tas: Deite os meus melhores dias. Dei-tos. lembranças a todos os seus.
lhe+ o: lho/+ a: lha/+ os: lhos/+ as:lhas: Ofereci-lhe flores. Ofereci - Referindo-se a mais de um substantivo, o possessivo concor-
lhas. vos+ o: vo-lo/+ a: vo-la/+ os: vo-los/+ as: vo-las: Pedi-vos da com o mais próximo: Trouxe-me seus livros e anotações.
conselho. Pedi vo-lo. - Usam-se elegantemente certos pronomes oblíquos: me, te,
lhe, nos, vos, com o valor de possessivos. Vou seguir-lhe os passos.
No Brasil, quase não se usam essas combinações (mo, to, lho, (os seus passos)
no-lo, vo-lo), são usadas somente em escritores mais sofisticados. - Deve-se observar as correlações entre os pronomes pessoais
e possessivos. “Sendo hoje o dia do teu aniversário, apresso-me
Pronomes de Tratamento: São usados no trato com as pes- em apresentar-te os meus sinceros parabéns; Peço a Deus pela tua
soas. Dependendo da pessoa a quem nos dirigimos, do seu car- felicidade; Abraça-te o teu amigo que te preza.”
go, idade, título, o tratamento será familiar ou cerimonioso: Vossa - Não se emprega o pronome possessivo (seu, sua) quando se
Alteza-V.A.-príncipes, duques; Vossa Eminência-V.Ema-cardeais; trata de parte do corpo. Veja: “Um cavaleiro todo vestido de ne-
Vossa Excelência-V.Ex.a-altas autoridades, presidente, oficiais; gro, com um falcão em seu ombro esquerdo e uma espada em sua,
Vossa Magnificência-V.Mag.a-reitores de universidades; Vossa mão”. (usa-se: no ombro; na mão)
Majestade-V.M.-reis, imperadores; Vossa Santidade-V.S.-Papa;
Vossa Senhoria-V.Sa-tratamento cerimonioso. Pronomes Demonstrativos: Indicam a posição dos seres de-
- São também pronomes de tratamento: o senhor, a senhora, a signados em relação às pessoas do discurso, situando-os no espaço
senhorita, dona, você. ou no tempo. Apresentam-se em formas variáveis e invariáveis.
- Doutor não é forma de tratamento, e sim título acadêmico.
Nas comunicações oficiais devem ser utilizados somente dois fe- - Em relação ao espaço:
chos: Este (s), esta (s), isto: indicam o ser ou objeto que está próxi-
- Respeitosamente: para autoridades superiores, inclusive para mo da pessoa que fala.
o presidente da República. Esse (s), essa (s), isso: indicam o ser ou objeto que está próxi-
- Atenciosamente: para autoridades de mesma hierarquia ou mo da pessoa,com quem se fala, que ouve (2ª pessoa)
de hierarquia inferior. Aquele (s), aquela (s), aquilo: indicam o ser ou objeto que está
- A forma Vossa (Senhoria, Excelência) é empregada quando longe de quem fala e da pessoa de quem se fala (3ª pessoa)
se fala com a própria pessoa: Vossa Senhoria não compareceu à
reunião dos sem terra? (falando com a pessoa) - Em relação ao tempo:
- A forma Sua (Senhoria, Excelência ) é empregada quando Este (s), esta (s), isto: indicam o tempo presente em relação ao
se fala sobre a pessoa: Sua Eminência, o cardeal, viajou para um momento em que se fala. Este mês termina o prazo das inscrições
Congresso. (falando a respeito do cardeal) para o vestibular da FAL.
- Os pronomes de tratamento com a forma Vossa (Senhoria, Esse (s), essa (s), isso: indicam o tempo passado há pouco ou
Excelência, Eminência, Majestade), embora indiquem a 2ª pessoa o futuro em relação ao momento em se fala. Onde você esteve essa
(com quem se fala), exigem que outros pronomes e o verbo sejam semana toda?
usados na 3ª pessoa. Vossa Excelência sabe que seus ministros o Aquele (s), aquela (s), aquilo: indicam um tempo distante em
apoiarão. relação ao momento em que se fala. Bons tempos aqueles em que
brincávamos descalços na rua...
Pronomes Possessivos: São os pronomes que indicam posse
em relação às pessoas da fala. - dependendo do contexto, também são considerados prono-
Singular: 1ª pessoa: meu, meus, minha, minhas; 2ª pessoa: mes demonstrativos o, a, os, as, mesmo, próprio, semelhante, tal,
teu, teus, tua, tuas; 3ª pessoa: seu, seus, sua, suas; equivalendo a aquele, aquela, aquilo. O próprio homem destrói a
Plural: 1ª pessoa: nosso/os nossa/as, 2ª pessoa: vosso/os vos- natureza; Depois de muito procurar, achei o que queria; O profes-
sa/as. 3ª pessoa: seu, seus, sua, suas. sor fez a mesma observação; Estranhei semelhante coincidência;
Tal atitude é inexplicável.
Emprego dos Pronomes Possessivos - para retomar elementos já enunciados, usamos aquele (e va-
riações) para o elemento que foi referido em 1º lugar e este (e
- O uso do pronome possessivo da 3ª pessoa pode provocar, variações) para o que foi referido em último lugar. Pais e mães vie-
às vezes, a ambiguidade da frase. João Luís disse que Laurinha ram à festa de encerramento; aqueles, sérios e orgulhosos, estas,
estava trabalhando em seu consultório. elegantes e risonhas.
Didatismo e Conhecimento 35
LÍNGUA PORTUGUESA
- dependendo do contexto os demonstrativos também servem se que o pronome relativo que, substitui na 2ª oração, o carro, por
como palavras de função intensificadora ou depreciativa. Júlia fez isso a palavra que é um pronome relativo. Dica: substituir que por
o exercício com aquela calma! (=expressão intensificadora). Não o, a, os, as, qual / quais.
se preocupe; aquilo é uma tranqueira! (=expressão depreciativa) Os pronomes relativos estão divididos em variáveis e inva-
- as formas nisso e nisto podem ser usadas com valor de então riáveis.
ou nesse momento. A festa estava desanimada; nisso, a orquestra Variáveis: o qual, os quais, a qual, as quais, cujo, cujos, cuja,
atacou um samba é todos caíram na dança. cujas, quanto, quantos;
- os demonstrativos esse, essa, são usados para destacar um Invariáveis: que, quem, quando, como, onde.
elemento anteriormente expresso. Ninguém ligou para o incidente,
mas os pais, esses resolveram tirar tudo a limpo. Emprego dos Pronomes Relativos
Pronomes Indefinidos: São aqueles que se referem à 3ª pes- - O relativo que, por ser o mais usado, é chamado de relati-
soa do discurso de modo vago indefinido, impreciso: Alguém disse vo universal. Ele pode ser empregado com referência à pessoa ou
que Paulo César seria o vencedor. Alguns desses pronomes são coisa, no plural ou no singular: Este é o CD novo que acabei de
variáveis em gênero e número; outros são invariáveis. comprar; João Adolfo é o cara que pedi a Deus.
Variáveis: algum, nenhum, todo, outro, muito, pouco, certo, - O relativo que pode ter por seu antecedente o pronome de-
vários, tanto, quanto, um, bastante, qualquer. monstrativo o, a, os, as: Não entendi o que você quis dizer. (o que
Invariáveis: alguém, ninguém, tudo, outrem, algo, quem, = aquilo que).
nada, cada, mais, menos, demais. - O relativo quem refere se a pessoa e vem sempre precedido
de preposição: Marco Aurélio é o advogado a quem eu me referi.
Emprego dos Pronomes Indefinidos - O relativo cujo e suas flexões equivalem a de que, do qual,
de quem e estabelecem relação de posse entre o antecedente e o
Não sei de pessoa alguma capaz de convencê-lo. (alguma, termo seguinte. (cujo, vem sempre entre dois substantivos)
equivale a nenhum) - O pronome relativo pode vir sem antecedente claro, explí-
- Em frases de sentido negativo, nenhum (e variações) equi- cito; é classificado, portanto, como relativo indefinido, e não vem
vale ao pronome indefinido um: Fiquei sabendo que ele não é ne- precedido de preposição: Quem casa quer casa; Feliz o homem
nhum ignorante. cujo objetivo é a honestidade; Estas são as pessoas de cujos no-
- O indefinido cada deve sempre vir acompanhado de um mes nunca vou me esquecer.
substantivo ou numeral, nunca sozinho: Ganharam cem dólares - Só se usa o relativo cujo quando o consequente é diferente
cada um. (inadequado: Ganharam cem dólares cada.) do antecedente: O escritor cujo livro te falei é paulista.
- Colocados depois do substantivo, os pronomes algum/algu- - O pronome cujo não admite artigo nem antes nem depois
ma ganham sentido negativo. Este ano, funcionário público algum de si.
terá aumento digno. - O relativo onde é usado para indicar lugar e equivale a: em
- Colocados antes do substantivo, os pronomes algum/algu- que, no qual: Desconheço o lugar onde vende tudo mais barato. (=
ma ganham sentido positivo. Devemos sempre ter alguma espe- lugar em que)
rança. - Quanto, quantos e quantas são relativos quando usados de-
- Certo, certa, certos, certas, vários, várias, são indefinidos pois de tudo, todos, tanto: Naquele momento, a querida comadre
quando colocados antes do substantivo e adjetivos, quando coloca- Naldete, falou tudo quanto sabia.
dos depois do substantivo: Certo dia perdi o controle da situação.
(antes do substantivo= indefinido); Eles voltarão no dia certo. (de- Pronomes Interrogativos: São os pronomes em frases inter-
pois do substantivo=adjetivo). rogativas diretas ou indiretas. Os principais interrogativos são:
- Todo, toda (somente no singular) sem artigo, equivale a que, quem, qual, quanto:
qualquer: Todo ser nasce chorando. (=qualquer ser; indetermina, Afinal, quem foram os prefeitos desta cidade? (interrogativa
generaliza). direta, com o ponto de interrogação)
- Outrem significa outra pessoa: Nunca se sabe o pensamento - Gostaria de saber quem foram os prefeitos desta cidade. (in-
de outrem. terrogativa indireta, sem a interrogação)
- Qualquer, plural quaisquer: Fazemos quaisquer negócios.
Exercícios
Locuções Pronominais Indefinidas: São locuções pronomi-
nais indefinidas duas ou mais palavras que esquiva em ao pronome Reescreva os períodos abaixo, corrigindo-os quando for o
indefinido: cada qual / cada um / quem quer que seja / seja quem caso:
for / qualquer um / todo aquele que / um ou outro / tal qual (=certo)
/ tal e, ou qual / 01. “Jamais haverá inimizade entre você e eu “, disse o rapaz
lamentando e chorando”.
Pronomes Relativos: São aqueles que representam, numa 2ª 02. “Venha e traga contigo todo o material que estiver aí!”
oração, alguma palavra que já apareceu na oração anterior. Essa 03. “Ela falou que era para mim comer, e depois, para mim
palavra da oração anterior chama-se antecedente: Comprei um sair dali.”
carro que é movido a álcool e à gasolina. É Flex Power. Percebe- 04. Polidamente, mandei eles entrar e, depois, deixei eles sentar”
Didatismo e Conhecimento 36
LÍNGUA PORTUGUESA
05. “Durante toda a aula os alunos falaram sobre ti e sobre Perdoei-lhe por duas vezes
mim.” d) Tentei convencer o diretor de que a solução não seria justa
06. “Comunico-lhe que, quanto ao livro, deram-no ao professor.” Tentei convencê-lo de que a solução não seria justa.
07. “Informamo- lhe que tudo estava bem conosco e com e) A proposta não agradou aos jovens
eles.” A proposta não lhe agradou.
08. “Espero que V. Exa. e vossa distinta consorte nos honrem
com vossa visita. 32. Numa das frases, está usado indevidamente um pronome
09. “Vossa Majestade, Senhor Rei, sois generoso e bom para de tratamento. Assinale-a:
com o vosso povo.” a) Os Reitores das Universidades recebem o título de Vossa
10. “Ela irá com nós mesmo, disse o homem com voz grave Magnificência.
e solene. b) Senhor Deputado, peço a Vossa Excelência que conclua a
11. “Ele falou do lugar onde foi com entusiasmo e saudade ao sua oração.
mesmo tempo” c) Sua Eminência, o Papa Paulo VI, assistiu à solenidade.
12. “Você já sabe aonde ela foi com aquele canalha? d) Procurei a chefe da repartição, mas Sua Senhoria se recu-
13. “Espero que ele vá ao colégio e leve consigo o livro que sou a ouvir minhas explicações.
me pertence.
14. “Se vier, traga comigo o livro que lhe pedi” 33. Em “O que estranhei é que as substâncias eram transferi-
15. “Mandaram-no à delegacia para explicar o caso da morte.” das........!
16. Enviaremos lhe todo o estoque que estiver disponível. a) artigo - expletivo
17. “Para lhe dizer tudo, eu preciso de muito mais dinheiro.” b) pronome pessoal - pronome relativo
18. “Ela me disse apenas isto: me deixe passar que eu quero c) pronome demonstrativo - integrante
morrer.” d) pronome demonstrativo - expletivo
19. “Me diga toda a verdade porque, assim as coisas ficam e) artigo - pronome relativo
mais fáceis.” 34. Em “Todo sistema coordenado é...........”. “Mas o propó-
20. “Tenho informado-o sobre todos os pormenores da via- sito de toda teoria física é.......”. As palavras destacadas são.... e
gem.” significam, respectivamente:
21. “Mandei-te todo o material de que precisas.” a) pronomes substantivos indefinidos qualquer e qualquer
22. “Dir-lhe-ei toda a verdade sobre o caso do roubo do banco.” b) pronomes adjetivos indefinidos qualquer e inteiro
23. Espero que lhe não digam nada a meu respeito. c) pronomes adjetivos demonstrativos inteiro e cada um
24. “Haviam-lhe informado que ela só chegaria depois das d) pronomes adjetivos indefinidos inteiro e qualquer
três horas.” e) pronomes adjetivos indefinidos qualquer e qualquer.
25. “Nesse ano, muitos alunos passarão no vestibular.”
26. “Corria o ano de 1964. Neste ano houve uma revolução Respostas:
no Brasil.” 01 .... entre você e mim.
27. “Estes alunos que estão aqui podem sair, aqueles irão de- 02 ...Traga consigo...
pois.” 03 ....para eu comer... para eu sair
28. “Os livros cujas páginas estiverem rasgadas serão devol- 04 ... mandei-os entrar ... deixei-os sair
vidos.’ 05 ...sobre ele...
29. “Apalpei-lhe as pernas que se deixavam entrever pela saia 06 ...
rasgada.” 07 ...bem com nós
08 ...sua distinta ... com sua visita
30. “Agora, pegue a tua caneta e comece a substituir, abaixo 09 ...é generoso e ...seu povo...
os complementos grifados pelo pronome oblíquo correspondente: 10 ...
a) Mandamos o filho ao colégio. 11 ... aonde
b) Enviamos à menina um telegrama 12 ...
c) Informaram os meninos sobre a menina. 13 ...
d) Fez o exercício corretamente. 14 ... traga consigo.
e) Diremos aos professores toda a verdade. 15 ...
f) Ela nunca obedece aos superiores. 16 ... enviar-lhe-emos
g) Ontem, ela viu você com outra. 17 ...
h) Chamei a amiga para a festa. 18 ...deixe-me passar
19. Diga-me ...
31. Indique quando, na segunda frase, ocorre a substituição 20. Tenho- o...
errada das palavras destacadas na primeira, por um pronome: 21. Mandar- te- ei
a) O gerente chamou os empregados. 22 ...
O gerente chamou-os 23 ...
b) Quero muito a meu irmão. 24 ...
Quero-lhe muito. 25 ... neste ano
c) Perdoei sua falta por duas vezes. 26 ...
Didatismo e Conhecimento 37
LÍNGUA PORTUGUESA
27 ... Elementos Estruturais do Verbo: As formas verbais apresen-
28 ... tam três elementos em sua estrutura: Radical, Vogal Temática e
29 ... Tema.
30.
a) Mandamos-o... Radical: elemento mórfico (morfema) que concentra o signi-
b) Enviamos-lhe... ficado essencial do verbo. Observe as formas verbais da 1ª conju-
c) Informaram-nos gação: contar, esperar, brincar. Flexionando esses verbos, nota-se
d) Fê-lo que há uma parte que não muda, e que nela está o significado real
e) Dir-lhes-emos do verbo.
f) Ela nunca lhes obedece cont é o radical do verbo contar;
g) ...ela o viu... esper é o radical do verbo esperar;
h) Chamei-a ... brinc é o radical do verbo brincar.
31-A / 32-C /
Se tiramos as terminações ar, er, ir do infinitivo dos verbos,
33-A teremos o radical desses verbos. Também podemos antepor prefi-
xos ao radical: des nutr ir / re conduz ir.
Partícula expletiva ou de realce: pode ser retirada da frase,
sem prejuízo algum para o sentido. Nesse caso, a palavra que não Vogal Temática: é o elemento mórfico que designa a qual con-
exerce função sintática; como o próprio nome indica, é usada ape- jugação pertence o verbo. Há três vogais temáticas: 1ª conjugação:
nas para dar realce. Como partícula expletiva, aparece também na a; 2ª conjugação: e; 3ª conjugação: i.
expressão é que. Exemplo: Tema: é o elemento constituído pelo radical mais a vogal te-
- Quase que não consigo chegar a tempo. mática: contar: -cont (radical) + a (vogal temática) = tema. Se
- Elas é que conseguiram chegar. não houver a vogal temática, o tema será apenas o radical: contei
= cont ei.
Como Pronome, a palavra que pode ser:
Desinências: são elementos que se juntam ao radical, ou ao
tema, para indicar as flexões de modo e tempo, desinências modo
- Pronome Relativo: retoma um termo da oração antecedente,
temporais e número pessoa, desinências número pessoais.
projetando-o na oração consequente. Equivale a o qual e flexões.
Exemplo: Não encontramos as pessoas que saíram.
Contávamos
Cont = radical
- Pronome Indefinido: nesse caso, pode funcionar como pro-
a = vogal temática
nome substantivo ou pronome adjetivo.
va = desinência modo temporal
mos = desinência número pessoal
- Pronome Substantivo: equivale a que coisa. Quando for
pronome substantivo, a palavra que exercerá as funções próprias Flexões Verbais: Flexão de número e de pessoa: o verbo varia
do substantivo (sujeito, objeto direto, objeto indireto, etc.). Exem- para indicar o número e a pessoa.
plo: Que aconteceu com você? - eu estudo – 1ª pessoa do singular;
- nós estudamos – 1ª pessoa do plural;
- Pronome Adjetivo: determina um substantivo. Nesse caso, - tu estudas – 2ª pessoa do singular;
exerce a função sintática de adjunto adnominal. Exemplo: Que - vós estudais – 2ª pessoa do plural;
vida é essa? - ele estuda – 3ª pessoa do singular;
- eles estudam – 3ª pessoa do plural.
34-D
- Algumas regiões do Brasil, usam o pronome tu de forma di-
Verbo ferente da fala culta, exigida pela gramática oficial, ou seja, tu foi,
tu pega, tu tem, em vez de: tu fostes, tu pegas, tu tens. O pronome
Verbo é a palavra que indica ação, movimento, fenômenos da vós aparece somente em textos literários ou bíblicos. Os prono-
natureza, estado, mudança de estado. Flexiona-se em número (sin- mes: você, vocês, que levam o verbo na 3ª pessoa, é o mais usado
gular e plural), pessoa (primeira, segunda e terceira), modo (indi- no Brasil.
cativo, subjuntivo e imperativo, formas nominais: gerúndio, infi- - Flexão de tempo e de modo – os tempos situam o fato ou a
nitivo e particípio), tempo (presente, passado e futuro) e apresenta ação verbal dentro de determinado momento; pode estar em plena
voz (ativa, passiva, reflexiva). De acordo com a vogal temática, os ocorrência, pode já ter ocorrido ou não. Essas três possibilidades
verbos estão agrupados em três conjugações: básicas, mas não únicas, são: presente, pretérito, futuro.
1ª conjugação – ar: cantar, dançar, pular. O modo indica as diversas atitudes do falante com relação ao
2ª conjugação – er: beber, correr, entreter. fato que enuncia. São três os modos:
3ª conjugação – ir: partir, rir, abrir. - Modo Indicativo: a atitude do falante é de certeza, precisão:
o fato é ou foi uma realidade; Apresenta presente, pretérito perfei-
O verbo pôr e seus derivados (repor, depor, dispor, compor, to, imperfeito e mais que perfeito, futuro do presente e futuro do
impor) pertencem a 2ª conjugação devido à sua origem latina poer. pretérito.
Didatismo e Conhecimento 38
LÍNGUA PORTUGUESA
- Modo Subjuntivo: a atitude do falante é de incerteza, de dú- Futuro do Pretérito: comeria, comerias, comeria, comería-
vida, exprime uma possibilidade; O subjuntivo expressa uma in- mos, comeríeis, comeriam.
certeza, dúvida, possibilidade, hipótese. Apresenta presente, preté-
rito imperfeito e futuro. Ex: Tenha paciência, Lourdes; Se tivesse 3ª Conjugação: -IR
dinheiro compraria um carro zero; Quando o vir, dê lembranças
minhas. Presente: parto, partes, parte, partimos, partis, partem.
Pretérito Perfeito: parti, partiste, partiu, partimos, partistes,
- Modo Imperativo: a atitude do falante é de ordem, um dese- partiram.
jo, uma vontade, uma solicitação. Indica uma ordem, um pedido, Pretérito Imperfeito: partia, partias, partia, partíamos, par-
uma súplica. Apresenta imperativo afirmativo e imperativo nega- tíeis, partiam.
tivo Pretérito Mais-Que-Perfeito: partira, partiras, partira, partí-
ramos, partíreis, partiram.
Emprego dos Tempos do Indicativo Futuro do Presente: partirei, partirás, partirá, partiremos,
partireis, partirão.
- Presente do Indicativo: Para enunciar um fato momentâneo. Futuro do Pretérito: partiria, partirias, partiria, partiríamos,
Ex: Estou feliz hoje. Para expressar um fato que ocorre com fre- partiríeis, partiriam.
quência. Ex: Eu almoço todos os dias na casa de minha mãe. Na
indicação de ações ou estados permanentes, verdades universais. Emprego dos Tempos do Subjuntivo
Ex: A água é incolor, inodora, insípida.
- Pretérito Imperfeito: Para expressar um fato passado, não Presente: é empregado para indicar um fato incerto ou duvi-
concluído. Ex: Nós comíamos pastel na feira; Eu cantava muito doso, muitas vezes ligados ao desejo, à suposição: Duvido de que
bem. apurem os fatos; Que surjam novos e honestos políticos.
- Pretérito Perfeito: É usado na indicação de um fato passado Pretérito Imperfeito: é empregado para indicar uma condi-
concluído. Ex: Cantei, dancei, pulei, chorei, dormi... ção ou hipótese: Se recebesse o prêmio, voltaria à universidade.
- Pretérito Mais-Que-Perfeito: Expressa um fato passado
Futuro: é empregado para indicar um fato hipotético, pode
anterior a outro acontecimento passado. Ex: Nós cantáramos no
ou não acontecer. Quando/Se você fizer o trabalho, será generosa-
congresso de música.
mente gratificado.
- Futuro do Presente: Na indicação de um fato realizado num
instante posterior ao que se fala. Ex: Cantarei domingo no coro da
1ª Conjugação –AR
igreja matriz.
- Futuro do Pretérito: Para expressar um acontecimento pos-
Presente: que eu dance, que tu dances, que ele dance, que nós
terior a um outro acontecimento passado. Ex: Compraria um car-
dancemos, que vós danceis, que eles dancem.
ro se tivesse dinheiro
Pretérito Imperfeito: se eu dançasse, se tu dançasses, se ele
1ª conjugação: -AR dançasse, se nós dançássemos, se vós dançásseis, se eles danças-
sem.
Presente: danço, danças, dança, dançamos, dançais, dançam. Futuro: quando eu dançar, quando tu dançares, quando ele
Pretérito Perfeito: dancei, dançaste, dançou, dançamos, dan- dançar, quando nós dançarmos, quando vós dançardes, quando
çastes, dançaram. eles dançarem.
Pretérito Imperfeito: dançava, dançavas, dançava, dançáva-
mos, dançáveis, dançavam. 2ª Conjugação -ER
Pretérito Mais-Que-Perfeito: dançara, dançaras, dançara,
dançáramos, dançáreis, dançaram. Presente: que eu coma, que tu comas, que ele coma, que nós
Futuro do Presente: dançarei, dançarás, dançará, dançare- comamos, que vós comais, que eles comam.
mos, dançareis, dançarão. Pretérito Imperfeito: se eu comesse, se tu comesses, se ele
Futuro do Pretérito: dançaria, dançarias, dançaria, dançaría- comesse, se nós comêssemos, se vós comêsseis, se eles comessem.
mos, dançaríeis, dançariam. Futuro: quando eu comer, quando tu comeres, quando ele co-
mer, quando nós comermos, quando vós comerdes, quando eles
2ª Conjugação: -ER comerem.
Didatismo e Conhecimento 39
LÍNGUA PORTUGUESA
Emprego do Imperativo - Quando tiver o valor de Imperativo; Por exemplo: Soldados,
marchar! (= Marchai!)
Imperativo Afirmativo: - Quando é regido de preposição e funciona como comple-
- Não apresenta a primeira pessoa do singular. mento de um substantivo, adjetivo ou verbo da oração anterior;
- É formado pelo presente do indicativo e pelo presente do Por exemplo: Eles não têm o direito de gritar assim; As meninas
subjuntivo. foram impedidas de participar do jogo; Eu os convenci a aceitar.
- O Tu e o Vós saem do presente do indicativo sem o “s”. No entanto, na voz passiva dos verbos “contentar”, “tomar”
- O restante é cópia fiel do presente do subjuntivo. e “ouvir”, por exemplo, o Infinitivo (verbo auxiliar) deve ser fle-
xionado. Por exemplo: Eram pessoas difíceis de serem contenta-
Presente do Indicativo: eu amo, tu amas, ele ama, nós ama-
das; Aqueles remédios são ruins de serem tomados; Os CDs que
mos, vós amais, eles amam.
Presente do subjuntivo: que eu ame, que tu ames, que ele você me emprestou são agradáveis de serem ouvidos.
ame, que nós amemos, que vós ameis, que eles amem.
Imperativo afirmativo: (X), ama tu, ame você, amemos nós, Nas locuções verbais; Por exemplo:
amai vós, amem vocês. - Queremos acordar bem cedo amanhã.
- Eles não podiam reclamar do colégio.
Imperativo Negativo: - Vamos pensar no seu caso.
- É formado através do presente do subjuntivo sem a primeira
pessoa do singular. Quando o sujeito do infinitivo é o mesmo do verbo da oração
- Não retira os “s” do tu e do vós. anterior; Por exemplo:
- Eles foram condenados a pagar pesadas multas.
Presente do Subjuntivo: que eu ame, que tu ames, que ele - Devemos sorrir ao invés de chorar.
ame, que nós amemos, que vós ameis, que eles amem. - Tenho ainda alguns livros por (para) publicar.
Imperativo negativo: (X), não ames tu, não ame você, não
amemos nós, não ameis vós, não amem vocês. Quando o infinitivo preposicionado, ou não, preceder ou es-
tiver distante do verbo da oração principal (verbo regente), pode
Além dos três modos citados, os verbos apresentam ainda as ser flexionado para melhor clareza do período e também para se
formas nominais: infinitivo – impessoal e pessoal, gerúndio e par-
enfatizar o sujeito (agente) da ação verbal. Por exemplo:
ticípio.
- Na esperança de sermos atendidos, muito lhe agradecemos.
Infinitivo Impessoal: Exprime a significação do verbo de - Foram dois amigos à casa de outro, a fim de jogarem fute-
modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de substan- bol.
tivo. Por exemplo: Viver é lutar. (= vida é luta); É indispensável - Para estudarmos, estaremos sempre dispostos.
combater a corrupção. (= combate à) - Antes de nascerem, já estão condenadas à fome muitas
O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente (forma crianças.
simples) ou no passado (forma composta). Por exemplo: É preciso
ler este livro; Era preciso ter lido este livro. Com os verbos causativos “deixar”, “mandar” e “fazer” e seus
Quando se diz que um verbo está no infinitivo impessoal, isso sinônimos que não formam locução verbal com o infinitivo que os
significa que ele apresenta sentido genérico ou indefinido, não re- segue; Por exemplo: Deixei-os sair cedo hoje.
lacionado a nenhuma pessoa, e sua forma é invariável. Assim, con- Com os verbos sensitivos “ver”, “ouvir”, “sentir” e sinôni-
sidera-se apenas o processo verbal. Por exemplo: Amar é sofrer; O mos, deve-se também deixar o infinitivo sem flexão. Por exemplo:
infinitivo pessoal, por sua vez, apresenta desinências de número e Vi-os entrar atrasados; Ouvi-as dizer que não iriam à festa.
pessoa.
Observe que, embora não haja desinências para a 1ª e 3ª pes- É inadequado o emprego da preposição “para” antes dos ob-
soas do singular (cujas formas são iguais às do infinitivo impes- jetos diretos de verbos como “pedir”, “dizer”, “falar” e sinônimos;
soal), elas não deixam de referir-se às respectivas pessoas do dis- - Pediu para Carlos entrar (errado),
curso (o que será esclarecido apenas pelo contexto da frase). Por
- Pediu para que Carlos entrasse (errado).
exemplo: Para ler melhor, eu uso estes óculos. (1ª pessoa); Para
- Pediu que Carlos entrasse (correto).
ler melhor, ela usa estes óculos. (3ª pessoa)
As regras que orientam o emprego da forma variável ou inva-
riável do infinitivo não são todas perfeitamente definidas. Por ser Quando a preposição “para” estiver regendo um verbo, como
o infinitivo impessoal mais genérico e vago, e o infinitivo pessoal na oração “Este trabalho é para eu fazer”, pede-se o emprego do
mais preciso e determinado, recomenda-se usar este último sempre pronome pessoal “eu”, que se revela, neste caso, como sujeito. Ou-
que for necessário dar à frase maior clareza ou ênfase. tros exemplos:
- Aquele exercício era para eu corrigir.
O Infinitivo Impessoal é usado: - Esta salada é para eu comer?
- Ela me deu um relógio para eu consertar.
- Quando apresenta uma ideia vaga, genérica, sem se referir
a um sujeito determinado; Por exemplo: Querer é poder; Fumar Em orações como “Esta carta é para mim!”, a preposição está
prejudica a saúde; É proibido colar cartazes neste muro. ligada somente ao pronome, que deve se apresentar oblíquo tônico.
Didatismo e Conhecimento 40
LÍNGUA PORTUGUESA
Infinitivo Pessoal: É o infinitivo relacionado às três pessoas Gerúndio: O gerúndio pode funcionar como adjetivo ou ad-
do discurso. Na 1ª e 3ª pessoas do singular, não apresenta desinên- vérbio. Por exemplo: Saindo de casa, encontrei alguns amigos.
cias, assumindo a mesma forma do impessoal; nas demais, flexio- (função de advérbio); Nas ruas, havia crianças vendendo doces.
na-se da seguinte maneira: (função adjetivo)
Na forma simples, o gerúndio expressa uma ação em curso; na
2ª pessoa do singular: Radical + ES. Ex.: teres (tu) forma composta, uma ação concluída. Por exemplo: Trabalhan-
1ª pessoa do plural: Radical + mos. Ex.: termos (nós) do, aprenderás o valor do dinheiro; Tendo trabalhado, aprendeu o
2ª pessoa do plural: Radical + dês. Ex.: terdes (vós) valor do dinheiro.
3ª pessoa do plural: Radical + em. Ex.: terem (eles)
Particípio: Quando não é empregado na formação dos tempos
Por exemplo: Foste elogiado por teres alcançado uma boa co- compostos, o particípio indica geralmente o resultado de uma ação
locação. terminada, flexionando-se em gênero, número e grau. Por exem-
plo: Terminados os exames, os candidatos saíram. Quando o par-
Quando se diz que um verbo está no infinitivo pessoal, isso ticípio exprime somente estado, sem nenhuma relação temporal,
significa que ele atribui um agente ao processo verbal, flexionan- assume verdadeiramente a função de adjetivo (adjetivo verbal).
do-se. Por exemplo: Ela foi a aluna escolhida para representar a escola.
Didatismo e Conhecimento 41
LÍNGUA PORTUGUESA
Modo Subjuntivo Imperativo Negativo: não estejas tu, não esteja ele, não este-
Presente: que eu seja, que tu sejas, que ele seja, que nós seja- jamos nós, não estejais vós, não estejam eles.
mos, que vós sejais, que eles sejam. Infinitivo Pessoal: por estar eu, por estares tu, por estar ele,
Pretérito Imperfeito: se eu fosse, se tu fosses, se ele fosse, se por estarmos nós, por estardes vós, por estarem eles.
nós fôssemos, se vós fôsseis, se eles fossem.
Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tivesse sido. Formas Nominais
Futuro Simples: quando eu for, quando tu fores, quando ele Infinitivo: estar
for, quando nós formos, quando vós fordes, quando eles forem. Gerúndio: estando
Futuro Composto: tiver sido. Particípio: estado
Didatismo e Conhecimento 42
LÍNGUA PORTUGUESA
Pretérito Imperfeito: eu havia, tu havias, ele havia, nós ha- Anômalos: São aqueles que têm uma anomalia no radical.
víamos, vós havíeis, eles haviam. Ser, Ir
Pretérito Perfeito Simples: eu houve, tu houveste, ele houve,
nós houvemos, vós houvestes, eles houveram. Ir
Pretérito Perfeito Composto: tenho havido.
Pretérito Mais-que-Perfeito Simples: eu houvera, tu houve- Modo Indicativo
ras, ele houvera, nós houvéramos, vós houvéreis, eles houveram. Presente: eu vou, tu vais, ele vai, nós vamos, vós ides, eles
Pretérito Mais-que-Prefeito Composto: tinha havido. vão.
Futuro do Presente Simples: eu haverei, tu haverás, ele ha- Pretérito Imperfeito: eu ia, tu ias, ele ia, nós íamos, vós íeis,
verá, nós haveremos, vós havereis, eles haverão. eles iam.
Futuro do Presente Composto: terei havido. Pretérito Perfeito: eu fui, tu foste, ele foi, nós fomos, vós
Futuro do Pretérito Simples: eu haveria, tu haverias, ele ha- fostes, eles foram.
veria, nós haveríamos, vós haveríeis, eles haveriam. Pretérito Mais-que-Perfeito: eu fora, tu foras, ele fora, nós
Futuro do Pretérito Composto: teria havido. fôramos, vós fôreis, eles foram.
Futuro do Presente: eu irei, tu irás, ele irá, nós iremos, vós
Modo Subjuntivo ireis, eles irão.
Presente: que eu haja, que tu hajas, que ele haja, que nós ha- Futuro do Pretérito: eu iria, tu irias, ele iria, nós iríamos, vós
jamos, que vós hajais, que eles hajam. iríeis, eles iriam.
Pretérito Imperfeito: se eu houvesse, se tu houvesses, se ele Modo Subjuntivo
houvesse, se nós houvéssemos, se vós houvésseis, se eles houves- Presente: que eu vá, que tu vás, que ele vá, que nós vamos,
sem. que vós vades, que eles vão.
Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tivesse havido. Pretérito Imperfeito: se eu fosse, se tu fosses, se ele fosse, se
Futuro Simples: quando eu houver, quando tu houveres, nós fôssemos, se vós fôsseis, se eles fossem.
quando ele houver, quando nós houvermos, quando vós houver- Futuro: quando eu for, quando tu fores, quando ele for, quan-
des, quando eles houverem. do nós formos, quando vós fordes, quando eles forem.
Futuro Composto: tiver havido.
Modo Imperativo
Modo Imperativo Imperativo Afirmativo: vai tu, vá ele, vamos nós, ide vós,
Imperativo Afirmativo: haja ele, hajamos nós, havei vós, vão eles.
hajam eles. Imperativo Negativo: não vás tu, não vá ele, não vamos nós,
Imperativo Negativo: não hajas tu, não haja ele, não hajamos não vades vós, não vão eles.
nós, não hajais vós, não hajam eles. Infinitivo Pessoal: ir eu, ires tu, ir ele, irmos nós, irdes vós,
Infinitivo Pessoal: por haver eu, por haveres tu, por haver ele, irem eles.
por havermos nós, por haverdes vós, por haverem eles.
Formas Nominais:
Formas Nominais Infinitivo: ir
Infinitivo: haver Gerúndio: indo
Gerúndio: havendo Particípio: ido
Particípio: havido
Verbos Defectivos: São aqueles que possuem um defeito. Não
Verbos Regulares: Não sofrem modificação no radical duran- têm todos os modos, tempos ou pessoas.
te toda conjugação (em todos os modos) e as desinências seguem
as do verbo paradigma (verbo modelo) Verbo Pronominal: É aquele que é conjugado com o pro-
nome oblíquo. Ex: Eu me despedi de mamãe e parti sem olhar
Amar: (radical: am) Amo, Amei, Amava, Amara, Amarei, para o passado.
Amaria, Ame, Amasse, Amar.
Comer: (radical: com) Como, Comi, Comia, Comera, Come- Verbos Abundantes: “São os verbos que têm duas ou mais
rei, Comeria, Coma, Comesse, Comer. formas equivalentes, geralmente de particípio.” (Sacconi)
Partir: (radical: part) Parto, Parti, Partia, Partira, Partirei, Par-
tiria, Parta, Partisse, Partir. Infinitivo: Aceitar, Anexar, Acender, Desenvolver, Emergir,
Expelir.
Verbos Irregulares: São os verbos que sofrem modificações Particípio Regular: Aceitado, Anexado, Acendido, Desenvol-
no radical ou em suas desinências. vido, Emergido, Expelido.
Particípio Irregular: Aceito, Anexo, Aceso, Desenvolto,
Dar: dou, dava, dei, dera, darei, daria, dê, desse, der Emerso, Expulso.
Caber: caibo, cabia, coube, coubera, caberei, caberia, caiba,
coubesse, couber. Tempos Compostos: São formados por locuções verbais que
Agredir: agrido, agredia, agredi, agredira, agredirei, agrediria, têm como auxiliares os verbos ter e haver e como principal, qual-
agrida, agredisse, agredir. quer verbo no particípio. São eles:
Didatismo e Conhecimento 43
LÍNGUA PORTUGUESA
- Pretérito Perfeito Composto do Indicativo: É a formação de Exercícios
locução verbal com o auxiliar ter ou haver no Presente do Indi-
cativo e o principal no particípio, indicando fato que tem ocorrido 01. Assinale o período em que aparece forma verbal incorreta-
com freqüência ultimamente. Por exemplo: Eu tenho estudado de- mente empregada em relação à norma culta da língua:
mais ultimamente. a) Se o compadre trouxesse a rabeca, a gente do ofício ficaria
- Pretérito Perfeito Composto do Subjuntivo: É a formação exultante.
de locução verbal com o auxiliar ter ou haver no Presente do b) Quando verem o Leonardo, ficarão surpresos com os trajes
Subjuntivo e o principal no particípio, indicando desejo de que que usava.
algo já tenha ocorrido. Por exemplo: Espero que você tenha estu- c) Leonardo propusera que se dançasse o minuete da corte.
dado o suficiente, para conseguir a aprovação. d) Se o Leonardo quiser, a festa terá ares aristocráticos.
- Pretérito Mais-que-Perfeito Composto do Indicativo: É a e) O Leonardo não interveio na decisão da escolha do padri-
formação de locução verbal com o auxiliar ter ou haver no Preté- nho do filho.
rito Imperfeito do Indicativo e o principal no particípio, tendo o
mesmo valor que o Pretérito Mais-que-Perfeito do Indicativo sim- 02. ....... em ti; mas nem sempre ....... dos outros.
ples. Por exemplo: Eu já tinha estudado no Maxi, quando conheci a) Creias – duvidas
Magali. b) Crê – duvidas
- Pretérito Mais-que-perfeito Composto do Subjuntivo: É a c) Creias – duvida
formação de locução verbal com o auxiliar ter ou haver no Preté- d) Creia – duvide
rito Imperfeito do Subjuntivo e o principal no particípio, tendo e) Crê - duvides
o mesmo valor que o Pretérito Imperfeito do Subjuntivo simples.
Por exemplo: Eu teria estudado no Maxi, se não me tivesse mu- 03. Assinale a frase em que há erro de conjugação verbal:
dado de cidade. Perceba que todas as frases remetem a ação obri- a) Os esportes entretêm a quem os pratica.
gatoriamente para o passado. A frase Se eu estudasse, aprenderia b) Ele antevira o desastre.
é completamente diferente de Se eu tivesse estudado, teria apren- c) Só ficarei tranquilo, quando vir o resultado.
dido. d) Eles se desavinham frequentemente.
- Futuro do Presente Composto do Indicativo: É a formação e) Ainda hoje requero o atestado de bons antecedentes.
de locução verbal com o auxiliar ter ou haver no Futuro do Pre-
sente simples do Indicativo e o principal no particípio, tendo o 04. Dê, na ordem em que aparecem nesta questão, as seguintes
mesmo valor que o Futuro do Presente simples do Indicativo. Por formas verbais:
exemplo: Amanhã, quando o dia amanhecer, eu já terei partido. advertir - no imperativo afirmativo, segunda pessoa do plural
- Futuro do Pretérito Composto do Indicativo: É a formação compor - no futuro do subjuntivo, segunda pessoa do plural
de locução verbal com o auxiliar ter ou haver no Futuro do Pre- rever - no perfeito do indicativo, segunda pessoa do plural
térito simples do Indicativo e o principal no particípio, tendo o prover - no perfeito do indicativo, segunda pessoa do singular
mesmo valor que o Futuro do Pretérito simples do Indicativo. Por
exemplo: Eu teria estudado no Maxi, se não me tivesse mudado a) adverti, componhais, revês, provistes
de cidade. b) adverti, compordes, revestes, provistes
- Futuro Composto do Subjuntivo: É a formação de locução c) adverte, compondes, reveis, proviste
verbal com o auxiliar ter ou haver no Futuro do Subjuntivo sim- d) adverti, compuserdes, revistes, proveste
ples e o principal no particípio, tendo o mesmo valor que o Futuro e) n.d.a
do Subjuntivo simples. Por exemplo: Quando você tiver terminado
sua série de exercícios, eu caminharei 6 Km. Veja os exemplos: 05. “Eu não sou o homem que tu procuras, mas desejava
Quando você chegar à minha casa, telefonarei a Manuel. ver-te, ou, quando menos, possuir o teu retrato.” Se o pronome
Quando você chegar à minha casa, já terei telefonado a Ma- tu fosse substituído por Vossa Excelência, em lugar das palavras
nuel. destacadas no texto acima transcrito teríamos, respectivamente, as
seguintes formas:
Perceba que o significado é totalmente diferente em ambas as a) procurais, ver-vos, vosso
frases apresentadas. No primeiro caso, esperarei “você” praticar b) procura, vê-la, seu
a sua ação para, depois, praticar a minha; no segundo, primeiro c) procura, vê-lo, vosso
praticarei a minha. Por isso o uso do advérbio “já”. Assim, observe d) procurais, vê-la, vosso
que o mesmo ocorre nas frases a seguir: e) procurais, ver-vos, seu
Quando você tiver terminado o trabalho, telefonarei a Manuel.
Quando você tiver terminado o trabalho, já terei telefonado a 06. Assinale a única alternativa que contém erro na passagem
Manuel. da forma verbal, do imperativo afirmativo para o imperativo ne-
gativo:
- Infinitivo Pessoal Composto: É a formação de locução ver- a) parti vós - não partais vós
bal com o auxiliar ter ou haver no Infinitivo Pessoal simples e b) amai vós - não ameis vós
o principal no particípio, indicando ação passada em relação ao c) sede vós - não sejais vós
momento da fala. Por exemplo: Para você ter comprado esse carro, d) ide vós - não vais vós
necessitou de muito dinheiro e) perdei vós - não percais vós
Didatismo e Conhecimento 44
LÍNGUA PORTUGUESA
07. Vi, mas não ............; o policial viu, e também não ............, Afirmação: certamente, decerto, deveras, efetivamente, real-
dois agentes secretos viram, e não ............ Se todos nós ............ , mente, sim, seguramente.
talvez .......... tantas mortes. Negação: absolutamente, de modo algum, de jeito nenhum,
a) intervir - interviu - tivéssemos intervido - teríamos evitado nem, não, tampouco (=também não).
b) me precavi - se precaveio - se precaveram - nos precavísse- Intensidade: apenas, assaz bastante bastante, bem, de-
mos - não teria havido mais,mais, meio, menos, muito, quase, quanto, tão, tanto, pouco.
c) me contive - se conteve - contiveram - houvéssemos conti- Dúvida: acaso, eventualmente, por ventura, quiçá, possivel-
do - tivéssemos impedido mente, talvez.
d) me precavi - se precaveu - precaviram - precavêssemo-nos
não houvesse Advérbios Interrogativos: São empregados em orações in-
e) intervim - interveio - intervieram - tivéssemos intervindo - terrogativas diretas ou indiretas. Podem exprimir: lugar, tempo,
houvéssemos evitado modo, ou causa.
Onde fica o Clube das Acácias ? (direta)
08. Assinale a alternativa em que uma forma verbal foi empre- Preciso saber onde fica o Clube das Acássias.(indireta)
gada incorretamente: Quando minha amiga Delma chegará de Campinas? (direta)
a) O superior interveio na discussão, evitando a briga. Gostaria de saber quando minha amiga Delma chegará de
b) Se a testemunha depor favoravelmente, o réu será absol- Campinas. (indireta)
vido.
c) Quando eu reouver o dinheiro, pagarei a dívida. Locuçoes Adverbiais: São duas ou mais palavras que têm o
d) Quando você vir Campinas, ficará extasiado. valor de advérbio: às cegas, às claras, às toa, às pressas, às escon-
e) Ele trará o filho, se vier a São Paulo. didas, à noite, à tarde, às vezes, ao acaso, de repente, de chofre,
de cor, de improviso, de propósito, de viva voz, de medo, com
09. Assinale a alternativa incorreta quanto à forma verbal: certeza, por perto, por um triz, de vez em quando, sem dúvida, de
a) Ele reouve os objetos apreendidos pelo fiscal. forma alguma, em vão, por certo, à esquerda, à direta, a pé, a esmo,
b) Se advierem dificuldades, confia em Deus. por ali, a distância.
c) Se você o vir, diga-lhe que o advogado reteve os documentos. De repente o dia se fez noite.
d) Eu não intervi na contenda porque não pude. Por um triz eu não me denunciei.
e) Por não se cumprirem as cláusulas propostas, as partes de- Sem dúvida você é o melhor.
savieram-se e requereram rescisão do contrato.
Graus dos Advérbios: o advérbio não vai para o plural, são
10. Indique a incorreta: palavras invariáveis, mas alguns admitem a flexão de grau: com-
a) Estão isentados das sanções legais os citados no artigo 6º. parativo e superlativo.
b) Estão suspensas as decisões relativas ao parágrafo 3º do
artigo 2º. Comparativo de:
c) Fica revogado o ato que havia extinguido a obrigatoriedade Igualdade - tão + advérbio + quanto, como: Sou tão feliz
de apresentação dos documentos mencionados. quanto / como você.
d) Os pareceres que forem incursos na Resolução anterior são Superioridade - Analítico: mais do que: Raquel é mais ele-
de responsabilidade do Governo Federal. gante do que eu.
e) Todas estão incorretas. - Sintético: melhor, pior que: Amanhã será melhor do que
hoje.
Respostas: 01-B / 02-E / 03-E / 04-D / 05-B / 06-D / 07-E / Inferioridade - menos do que: Falei menos do que devia.
08-B / 09-D / 10-A /
Superlativo Absoluto:
Advérbio Analítico - mais, muito, pouco,menos: O candidato defendeu-
se muito mal.
Advérbio é a palavra invariável que modifica um verbo (Che- Sintético - íssimo, érrimo: Localizei-o rapidíssimo.
gou cedo), um outro advérbio (Falou muito bem), um adjetivo (Es-
tava muito bonita). De acordo com a circunstância que exprime, o Palavras e Locuções Denotativas: São palavras semelhantes
advérbio pode ser de: a advérbios e que não possuem classificação especial. Não se en-
quadram em nenhuma das dez classes de palavras. São chamadas
Tempo: ainda, agora, antigamente, antes, amiúde (=sempre), de denotativas e exprimem:
amanhã, breve, brevemente, cedo, diariamente, depois, depressa,
hoje, imediatamente, já, lentamente, logo, novamente, outrora. Afetividade: felizmente, infelizmente, ainda bem: Ainda bem
Lugar: aqui, acolá, atrás, acima, adiante, ali, abaixo, além, que você veio.
algures (=em algum lugar), aquém, alhures (= em outro lugar), Designação, Indicação: eis: Eis aqui o herói da turma.
aquém,dentro, defronte, fora, longe, perto. Exclusão: exclusive, menos, exceto, fora, salvo, senão, se-
Modo: assim, bem, depressa, aliás (= de outro modo ), deva- quer: Não me disse sequer uma palavra de amor.
gar, mal, melhor pior, e a maior parte dos advérbios que termina Inclusão: inclusive, também, mesmo, ainda, até, além disso,
em mente: calmamente, suavemente, rapidamente, tristemente. de mais a mais: Também há flores no céu.
Didatismo e Conhecimento 45
LÍNGUA PORTUGUESA
Limitação: só, apenas, somente, unicamente: Só Deus é per- 04. Classifique a locução adverbial que aparece em “Machu-
feito. cou-se com a lâmina”.
Realce: cá, lá, é que, sobretudo, mesmo: Sei lá o que ele quis a) modo
dizer! b) instrumento
Retificação: aliás, ou melhor, isto é, ou antes: Irei à Bahia na c) causa
próxima semana, ou melhor, no próximo mês. d) concessão
Explicação: por exemplo, a saber: Você, por exemplo, tem e) fim
bom caráter.
05. Indique a alternativa gramaticalmente incorreta:
Emprego do Advérbio a) A casa onde moro é excelente.
b) Disseram-me por que chegaram tarde.
c) Aonde está o livro?
- Na linguagem coloquial, familiar, é comum o emprego do
d) É bom o colégio donde saímos.
sufixo diminutivo dando aos advérbios o valor de superlativo sin-
e) O sítio aonde vais é pequeno.
tético: agorinha, cedinho, pertinho, devagarinho, depressinha, ra-
pidinho (bem rápido): Rapidinho chegou a casa; Moro pertinho da 06. Ele ficou em casa. A palavra em é:
universidade. a) conjunção
- Frequentemente empregamos adjetivos com valor de advér- b) pronome indefinido
bio: A cerveja que desce redondo. (redondamente) c) artigo definido
- Bastante antes de adjetivo, é advérbio, portanto, não vai d) advérbio de lugar
para o plural; equivale a muito / a: Aquelas jovens são bastante e) preposição
simpáticas e gentis.
- Bastante, antes de substantivo, é adjetivo, portanto vai para 07. Marque o exemplo em que ambas as palavras em negrito
o plural, equivale a muitos / as: Contei bastantes estrelas no céu. estão na mesma classe gramatical:
- Não confunda mal (advérbio, oposto de bem) com mau (ad- a) O seu talvez deixou preocupado o professor.
jetivo, oposto de bom): Mal cheguei a casa, encontrei a de mau b) Respondeu-nos simplesmente com um não.
humor. c) Boas notícias duram pouco.
- Antes de verbo no particípio, diz-se mais bem, mais mal: d) Nossa irmã é mais nova que a sua.
Ficamos mais bem informados depois do noticiário noturmo. e) n.d.a
- Em frase negativa o advérbio já equivale a mais: Já não se
fazem professores como antigamente. (=não se fazem mais) 08. Morfologicamente, a expressão sublinhada na frase abaixo
- Na locução adverbial a olhos vistos (=claramente), o particí- é classificada como locução: “Estava à toa na vida...”
pio permanece no masculino plural: Minha irmã Zuleide emagre- a) adjetiva
cia a olhos vistos. b) adverbial
- Dois ou mais advérbios terminados em mente, apenas no c) prepositiva
último permanece mente: Educada e pacientemente, falei a todos. d) conjuntiva
- A repetição de um mesmo advérbio assume o valor superla- e) substantiva
tivo: Levantei cedo, cedo.
09. Em todas as opções há dois advérbios, exceto em:
a) Ele permaneceu muito calado.
Exercícios b) Amanhã, não iremos ao cinema.
c) O menino, ontem, cantou desafinadamente.
01. Assinale a frase em que meio funciona como advérbio: d) Tranquilamente, realizou-se, hoje, o jogo.
a) Só quero meio quilo. e) Ela falou calma e sabiamente.
b) Achei-o meio triste.
c) Descobri o meio de acertar. 10. Leia o texto que segue:
d) Parou no meio da rua.
e) Comprou um metro e meio. “Não há muito tempo atrás
Eu sonhava um dia ter
02. Só não há advérbio em: Esse ordenado enorme
a) Não o quero. Que mal me dá pra viver.”
b) Ali está o material. (Millôr Fernandes)
c) Tudo está correto.
d) Talvez ele fale. “Um dia” e “mal” exprimem, respectivamente, circunstâncias de:
e) Já cheguei. a) tempo / intensidade.
b) tempo / modo.
03. Qual das frases abaixo possui advérbio de modo? c) lugar / intensidade.
a) Realmente ela errou. d) tempo / causa.
b) Antigamente era mais pacato o mundo. e) lugar / modo.
c) Lá está teu primo.
d) Ela fala bem. Respostas: 01-B / 02-C / 03-D / 04-B / 05-C / 06-E / 07-E /
e) Estava bem cansado. 08-B / 09-A / 10-B
Didatismo e Conhecimento 46
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Preposição Valores das Preposições
É a palavra invariável que liga um termo dependente a um ter- A (movimento=direção): Foram a Lucélia comemorar os
mo principal, estabelecendo uma relação entre ambos. As prepo- Anos Dourados. modo: Partiu às pressas. tempo: Iremos nos ver
sições podem ser: essenciais ou acidentais. As preposições essen- ao entardecer. A preposição a indica deslocamento rápido: Vamos
ciais atuam exclusivamente como preposições. São: a, ante, após, à praia. (ideia de passear)
até, com, contra, de, desde, em, entre, para, perante, por, sem, sob, Ante (diante de): Parou ante mim sem dizer nada, tanta era a
sobre, trás. Exemplos: Não dê atenção a fofocas; Perante todos emoção. tempo (substituída por antes de): Preciso chegar ao en-
disse, sim. contro antes das quatro horas.
As preposições acidentais são palavras de outras classes que Após (depois de): Após alguns momentos desabou num choro
atuam eventualmente como preposições. São: como (=na qualida- arrependido.
de de), conforme (=de acordo com), consoante, exceto, mediante, Até (aproximação): Correu até mim. tempo: Certamente te-
salvo, visto, segundo, senão, tirante: Agia conforme sua vontade.
remos o resultado do exame até a semana que vem. Atenção: Se
(= de acordo com)
a preposição até equivaler a inclusive, será palavra de inclusão e
não preposição. Os sonhadores amam até quem os despreza. (in-
- O artigo definido a que vem sempre acompanhado de um
substantivo, é flexionado: a casa, as casas, a árvore, as árvores, a clusive)
estrela, as estrelas. A preposição a nunca vai para o plural e não es- Com (companhia): Rir de alguém é falta de caridade; deve-se
tabelece concordância com o substantivo. Exemplo: Fiz todo o per- rir com alguém. causa: A cidade foi destruída com o temporal. ins-
curso a pé. (não há concordância com o substantivo masculino pé) trumento: Feriu-se com as próprias armas. modo: Marfinha, minha
- As preposições essenciais são sempre seguidas dos prono- comadre, veste-se sempre com elegância.
mes pessoais oblíquos: Despediu-se de mim rapidamente. Não vá Contra (oposição, hostilidade): Revoltou-se contra a decisão
sem mim. do tribunal. direção a um limite: Bateu contra o muro e caiu.
De (origem): Descendi de pais trabalhadores e honestos. lu-
Locuções Prepositivas: É o conjunto de duas ou mais pala- gar: Os corruptos vieram da capital. causa: O bebê chorava de
vras que têm o valor de uma preposição. A última palavra é sempre fome. posse: Dizem que o dinheiro do povo sumiu. assunto: Falá-
uma preposição. Veja quais são: abaixo de, acerca de, acima de, vamos do casamento da Mariele. matéria: Era uma casa de sapé.
ao lado de, a respeito de, de acordo com, dentro de, embaixo de, A preposição de não deve contrair-se com o artigo, que precede o
em cima de, em frente a, em redor de, graças a, junto a, junto de, sujeito de um verbo. É tempo de os alunos estudarem. (e não: dos
perto de, por causa de, por cima de, por trás de, a fim de, além de, alunos estudarem)
antes de, a par de, a partir de, apesar de, através de, defronte de, em Desde (afastamento de um ponto no espaço): Essa neblina
favor de, em lugar de, em vez de, (=no lugar de), ao invés de (=ao vem desde São Paulo. tempo: Desde o ano passado quero mudar
contrário de), para com, até a. de casa.
Em (lugar): Moramos em Lucélia há alguns anos. matéria: As
- Não confunda locução prepositiva com locução adverbial. queridas amigas Nilceia e Nadélgia moram em Curitiba. especia-
Na locução adverbial, nunca há uma preposição no final, e sim lidade: Minha amiga Cidinha formou-se em Letras. tempo: Tudo
no começo: Vimos de perto o fenômeno do “tsunami”. (locução aconteceu em doze horas.
adverbial); O acidente ocorreu perto de meu atelier. (locução pre- Entre (posição entre dois limites): Convém colocar o vidro
positiva) entre dois suportes.
- Uma preposição ou locução prepositiva pode vir com outra Para direção: Não lhe interessava mais ir para a Europa.
preposição: Abola passou por entre as pernas do goleiro. Mas é
tempo: Pretendo vê-lo lá para o final da semana. finalidade: Lute
inadequado dizer: Proibido para menores de até 18 anos; Financia-
sempre para viver com dignidade. A preposição para indica de
mento em até 24 meses.
permanência definitiva. Vou para o litoral. (ideia de morar)
Combinações e Contrações Perante (posição anterior): Permaneceu calado perante todos.
Por (percurso, espaço, lugar): Caminhava por ruas desconhe-
Combinação: ocorre combinação quando não há perda de fo- cidas. causa: Por ser muito caro, não compramos um DVD novo.
nemas: a+o,os= ao, aos / a+onde = aonde. espaço: Por cima dela havia um raio de luz.
Contração: ocorre contração quando a preposição perde fone- Sem (ausência): Eu vou sem lenço sem documento.
mas: de+a, o, as, os, esta, este, isto =da, do, das, dos, desta, deste, Sob (debaixo de / situação): Prefiro cavalgar sob o luar. Viveu,
disto. sob pressão dos pais.
- em+ um, uma, uns, umas,isto, isso, aquilo, aquele, aquela, Sobre (em cima de, com contato): Colocou ás taças de cristal
aqueles, aquelas = num, numa, nuns, numas, nisto, nisso, naquilo, sobre a toalha rendada. assunto: Conversávamos sobre política
naquele, naquela, naqueles. financeira.
- de+ entre, aquele, aquela, aquilo = dentre, daquele, daquela, Trás (situação posterior; é preposição fora de uso. É substi-
daquilo. tuída por atrás de, depois de): Por trás desta carinha vê-se muita
- para+ a = pra. falsidade.
A contração da preposição a com os artigos ou pronomes de-
monstrativos a, as, aquele, aquela, aquilo recebe o nome de crase Curiosidade: O símbolo @ (arroba) significa AT em Inglês,
e é assinalada na escrita pelo acento grave ficando assim: à, às, que em Português significa em. Portanto, o nome está at, em algum
àquele, àquela, àquilo. provedor.
Didatismo e Conhecimento 47
LÍNGUA PORTUGUESA
Exercícios a) preposição e artigo
b) preposição e preposição
01. Use o sinal de crase, se necessário: c) artigo e artigo
a) Não vai a festas nem a reuniões. d) artigo e preposição
b) Chegamos a Universidade as oito horas. e) artigo e pronome indefinido
02. No final da Guerra Civil americana, o ex-coronel ianque 08. “Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bol-
(...) sai à caça do soldado desertor que realizou assalto a trem com sa.”, os vocábulos em destaque são, respectivamente:
confederados. O uso da preposição com permite diferentes inter- a) pronome pessoal oblíquo, preposição, artigo
pretações da frase acima. b) artigo, preposição, pronome pessoal oblíquo
a) Reescreva-a de duas maneiras diversas, de modo que haja c) artigo, pronome demonstrativo, pronome pessoal oblíquo
um sentido diferente em cada uma. d) artigo, preposição, pronome demonstrativo
b) Indique, para cada uma das reações, a noção expressa da e) preposição, pronome demonstrativo, pronome pessoal oblí-
preposição com. quo.
03. No trecho: “(O Rio) não se industrializou, deixou explodir 09. Assinale a alternativa em que ocorre combinação de uma
a questão social, fermentada por mais de dois milhões de favela- preposição com um pronome demonstrativo:
dos, e inchou, à exaustão, uma máquina administrativa que não a) Estou na mesma situação.
funciona...”, a preposição a (que está contraída com o artigo a) b) Neste momento, encerramos nossas transmissões.
traduz uma relação de: c) Daqui não saio.
a) fim d) Ando só pela vida.
b) causa e) Acordei num lugar estranho.
c) concessão
d) limite 10. Classifique a palavra como nas construções seguintes,
e) modo numerando, convenientemente, os parênteses. A seguir, assinale a
alternativa correta:
04. Assinale a alternativa em que a norma culta não aceita a 1) Preposição
2) Conjunção Subordinativa Causal
contração da preposição de:
3) Conjunção Subordinativa Conformativa
a) Aos prantos, despedi-me dela.
4) Conjunção Coordenativa Aditiva
b) Está na hora da criança dormir.
5) Advérbio Interrogativo de Modo
c) Falava das colegas em público.
d) Retirei os livros das prateleiras para limpá-los.
( ) Perguntamos como chegaste aqui.
e) O local da chacina estava interditado.
( ) Percorrera as salas como eu mandara.
( ) Tinha-o como amigo.
05. Assinale a alternativa em que a preposição destacada es-
( ) Como estivesse muito frio, fiquei em casa.
tabeleça o mesmo tipo de relação que na frase matriz: Criaram-se
( ) Tanto ele como o irmão são meus amigos.
a pão e água.
a) Desejo todo o bem a você. a) 2 - 4 - 5 - 3 – 1
b) A julgar por esses dados, tudo está perdido. b) 4 -5 - 3 - 1 – 2
c) Feriram-me a pauladas. c) 5 - 3 - 1 - 2 – 4
d) Andou a colher alguns frutos do mar. d) 3 - 1 - 2 - 4 – 5
e) Ao entardecer, estarei aí. e) 1 - 2 - 4 - 5 - 3
Didatismo e Conhecimento 48
LÍNGUA PORTUGUESA
Conjunção Admiração ou Espanto: Oh!, Caramba!, Oba!, Nossa!, Meu
Deus!, Céus!
É a palavra que liga orações basicamente, estabelecendo entre Advertência: Cuidado!, Atenção!, Alerta!, Calma!, Alto!,
elas alguma relação (subordinação ou coordenação). As conjun- Olha lá!
ções classificam-se em: Alegria: Viva!, Oba!, Que bom!, Oh!, Ah!;
Coordenativas, aquelas que ligam duas orações independentes Ânimo: Avante!, Ânimo!, Vamos!, Força!, Eia!, Toca!
(coordenadas), ou dois termos que exercem a mesma função sintá- Aplauso: Bravo!, Parabéns!, Muito bem!
tica dentro da oração. Apresentam cinco tipos: Chamamento: Olá!, Alô!, Psiu!, Psit!
- aditivas (adição): e, nem, mas também, como também, bem Aversão: Droga!, Raios!, Xi!, Essa não!, lh!
como, mas ainda; Medo: Cruzes!, Credo!, Ui!, Jesus!, Uh! Uai!
- adversativas (adversidade, oposição): mas, porém, todavia, Pedido de Silêncio: Quieto!, Bico fechado!, Silêncio!, Che-
contudo, antes (= pelo contrário), não obstante, apesar disso; ga!, Basta!
- alternativas (alternância, exclusão, escolha): ou, ou ... ou, Saudação: Oi!, Olá!, Adeus!, Tchau!
ora ... ora, quer ... quer; Concordância: Claro!, Certo!, Sim!, Sem dúvida!
- conclusivas (conclusão): logo, portanto, pois (depois do ver-
Desejo: Oxalá!, Tomara!, Pudera!, Queira Deus! Quem me dera!
bo), por conseguinte, por isso;
- explicativas (justificação): - pois (antes do verbo), porque,
Observe na relação acima, que as interjeições muitas vezes
que, porquanto.
são formadas por palavras de outras classes gramaticais: Cuidado!
Subordinativas - ligam duas orações dependentes, subordi- Não beba ao dirigir! (cuidado é substantivo).
nando uma à outra. Apresentam dez tipos:
- causais: porque, visto que, já que, uma vez que, como, desde que; Exercício Geral
- comparativas: como, (tal) qual, assim como, (tanto) quanto,
(mais ou menos +) que; 01. A alternativa que apresenta classes de palavras cujos sen-
- condicionais: se, caso, contanto que, desde que, salvo se, tidos podem ser modificados pelo advérbio são:
sem que (= se não), a menos que; a) adjetivo - advérbio - verbo.
- consecutivas (conseqüência, resultado, efeito): que (prece- b) verbo - interjeição - conjunção.
dido de tal, tanto, tão etc. - indicadores de intensidade), de modo c) conjunção - numeral - adjetivo.
que, de maneira que, de sorte que, de maneira que, sem que; d) adjetivo - verbo - interjeição.
- conformativas (conformidade, adequação): conforme, se- e) interjeição - advérbio - verbo.
gundo, consoante, como;
- concessiva: embora, conquanto, posto que, por muito que, 02. Das palavras abaixo, faz plural como “assombrações”
se bem que, ainda que, mesmo que; a) perdão.
- temporais: quando, enquanto, logo que, desde que, assim b) bênção.
que, mal (= logo que), até que; c) alemão.
- finais - a fim de que, para que, que; d) cristão.
- proporcionais: à medida que, à proporção que, ao passo e) capitão.
que, quanto mais (+ tanto menos);
- integrantes - que, se. 03. Na oração “Ninguém está perdido se der amor...”, a pala-
vra grifada pode ser classificada como:
As conjunções integrantes introduzem as orações subordi- a) advérbio de modo.
nadas substantivas, enquanto as demais iniciam orações subordi-
b) conjunção adversativa.
nadas adverbiais. Muitas vezes a função de interligar orações é
c) advérbio de condição.
desempenhada por locuções conjuntivas, advérbios ou pronomes.
d) conjunção condicional.
Interjeição e) preposição essencial.
É a palavra invariável que exprime emoções, sensações, es- 04. Marque a frase em que o termo destacado expressa cir-
tados de espírito ou apelos: As interjeições são como que frases cunstância de causa:
resumidas: Ué ! =Eu não esperava essa! São proferidas com en- a) Quase morri de vergonha.
tonação especial, que se representa, na escrita, com o ponto de b) Agi com calma.
exclamação(!) c) Os mudos falam com as mãos.
Locução Interjetiva: É o conjunto de duas ou mais palavras d) Apesar do fracasso, ele insistiu.
com valor de uma interjeição: Muito bem! Que pena! Quem me e) Aquela rua é demasiado estreita.
dera! Puxa, que legal!
05. “Enquanto punha o motor em movimento.” O verbo des-
Classificação das Interjeições e Locuções Interjetivas tacado encontra-se no:
a) Presente do subjuntivo.
As interjeições e as locuções interjetivas são classificadas,’de b) Pretérito mais-que-perfeito do subjuntivo.
acordo com o sentido que elas expressam em determinado contex- c) Presente do indicativo.
to. Assim, uma mesma palavra ou expressão pode exprimir emo- d) Pretérito mais-que-perfeito do indicativo.
ções variadas. e) Pretérito imperfeito do indicativo.
Didatismo e Conhecimento 49
LÍNGUA PORTUGUESA
06. Aponte a opção em que muito é pronome indefinido: Quanto à estrutura da frase, as frases que possuem verbo (ora-
a) O soldado amarelo falava muito bem. ção) são estruturadas por dois elementos essenciais: sujeito e pre-
b) Havia muito bichinho ruim. dicado. O sujeito é o termo da frase que concorda com o verbo em
c) Fabiano era muito desconfiado. número e pessoa. É o “ser de quem se declara algo”, “o tema do
d) Fabiano vacilava muito para tomar decisão. que se vai comunicar”. O predicado é a parte da frase que contém
e) Muito eficiente era o soldado amarelo. “a informação nova para o ouvinte”. Ele se refere ao tema, consti-
tuindo a declaração do que se atribui ao sujeito.
07. A flexão do número incorreta é: Quando o núcleo da declaração está no verbo, temos o pre-
a) tabelião - tabeliães. dicado verbal. Mas, se o núcleo estiver num nome, teremos um
b) melão - melões. predicado nominal:
c) ermitão - ermitões. Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres de opi-
d) chão - chãos. nião.
e) catalão - catalões. A existência é frágil.
08. Dos verbos abaixo apenas um é regular, identifique-o: A oração, às vezes, é sinônimo de frase ou período (simples)
a) pôr. quando encerra um pensamento completo e vem limitada por pon-
b) adequar. to-final, ponto de interrogação, ponto de exclamação e por reti-
c) copiar. cências.
d) reaver. Um vulto cresce na escuridão. Clarissa encolhe-se. É Vasco.
e) brigar.
Acima temos três orações correspondentes a três períodos sim-
09. A alternativa que não apresenta erro de flexão verbal no ples ou a três frases. Mas, nem sempre oração é frase: “convém
presente do indicativo é: que te apresses” apresenta duas orações, mas uma só frase, pois so-
a) reavejo (reaver). mente o conjunto das duas é que traduz um pensamento completo.
b) precavo (precaver). Outra definição para oração é a frase ou membro de frase que
c) coloro (colorir).
se organiza ao redor de um verbo. A oração possui sempre um ver-
d) frijo (frigir).
bo (ou locução verbal), que implica na existência de um predicado,
e) fedo (feder).
ao qual pode ou não estar ligado um sujeito.
Assim, a oração é caracterizada pela presença de um verbo.
10. A classe de palavras que é empregada para exprimir esta-
Dessa forma:
dos emotivos:
Rua! = é uma frase, não é uma oração.
a) adjetivo.
Já em: “Quero a rosa mais linda que houver, para enfeitar a
b) interjeição.
c) preposição. noite do meu bem.” Temos uma frase e três orações: As duas últi-
d) conjunção. mas orações não são frases, pois em si mesmas não satisfazem um
e) advérbio. propósito comunicativo; são, portanto, membros de frase.
Respostas: 1-A / 2-A / 3-D / 4-A / 5-E / 6-B / 7-E / 8-E / 9-D Quanto ao período, ele denomina a frase constituída por
/ 10-B / uma ou mais orações, formando um todo, com sentido comple-
to. O período pode ser simples ou composto.
Frase, período e oração:
Frase é todo enunciado suficiente por si mesmo para estabele- Período simples é aquele constituído por apenas uma oração,
cer comunicação. Expressa juízo, indica ação, estado ou fenôme- que recebe o nome de oração absoluta.
no, transmite um apelo, ordem ou exterioriza emoções. Chove.
Normalmente a frase é composta por dois termos – o sujeito A existência é frágil.
e o predicado – mas não obrigatoriamente, pois em Português há Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres de opi-
orações ou frases sem sujeito: Há muito tempo que não chove. nião.
Enquanto na língua falada a frase é caracterizada pela entoa- Período composto é aquele constituído por duas ou mais ora-
ção, na língua escrita, a entoação é reduzida a sinais de pontuação. ções:
Quanto aos tipos de frases, além da classificação em verbais e “Quando você foi embora, fez-se noite em meu viver.”
nominais, feita a partir de seus elementos constituintes, elas podem Cantei, dancei e depois dormi.
ser classificadas a partir de seu sentido global:
- frases interrogativas: o emissor da mensagem formula uma Termos essenciais da oração:
pergunta: Que queres fazer?
- frases imperativas: o emissor da mensagem dá uma ordem ou O sujeito e o predicado são considerados termos essenciais
faz um pedido: Dê-me uma mãozinha! Faça-o sair! da oração, ou seja, sujeito e predicado são termos indispensáveis
- frases exclamativas: o emissor exterioriza um estado afetivo: para a formação das orações. No entanto, existem orações forma-
Que dia difícil! das exclusivamente pelo predicado. O que define, pois, a oração, é
- frases declarativas: o emissor constata um fato: Ele já chegou. a presença do verbo.
Didatismo e Conhecimento 50
LÍNGUA PORTUGUESA
O sujeito é o termo que estabelece concordância com o verbo. - com o verbo na terceira pessoa do singular, acrescido do pro-
“Minha primeira lágrima caiu dentro dos teus olhos.” nome se. Esta é uma construção típica dos verbos que não apresen-
“Minhas primeiras lágrimas caíram dentro dos teus olhos”. tam complemento direto:
Na primeira frase, o sujeito é minha primeira lágrima. Minha e Precisa-se de mentes criativas;
primeira referem-se ao conceito básico expresso em lágrima. Lá- Vivia-se bem naqueles tempos;
grima é, pois, a principal palavra do sujeito, sendo, por isso, deno- Trata-se de casos delicados;
minada núcleo do sujeito. O núcleo do sujeito relaciona-se com o Sempre se está sujeito a erros.
verbo, estabelecendo a concordância. O pronome se funciona como índice de indeterminação do su-
A função do sujeito é basicamente desempenhada por substan- jeito.
tivos, o que a torna uma função substantiva da oração. Pronomes,
substantivos, numerais e quaisquer outras palavras substantivadas As orações sem sujeito, formadas apenas pelo predicado, arti-
(derivação imprópria) também podem exercer a função de sujeito. culam-se a partir de um verbo impessoal. A mensagem está centra-
Ele já partiu; da no processo verbal. Os principais casos de orações sem sujeito
Os dois sumiram; com:
Um sim é suave e sugestivo.
- os verbos que indicam fenômenos da natureza:
Amanheceu repentinamente;
Os sujeitos são classificados a partir de dois elementos: o de
Está chuviscando.
determinação ou indeterminação e o de núcleo do sujeito.
Um sujeito é determinado quando é facilmente identificável
pela concordância verbal. O sujeito determinado pode ser simples - os verbos estar, fazer, haver e ser, quando indicam fenômenos
ou composto. meteorológicos ou se relacionam ao tempo em geral:
A indeterminação do sujeito ocorre quando não é possível Está tarde.
identificar claramente a que se refere a concordância verbal. Isso Ainda é cedo.
ocorre quando não se pode ou não interessa indicar precisamente Já são três horas, preciso ir;
o sujeito de uma oração. Faz frio nesta época do ano;
Estão gritando seu nome lá fora; Há muitos anos aguardamos mudanças significativas;
Trabalha-se demais neste lugar. Faz anos que esperamos melhores condições de vida;
O sujeito simples é o sujeito determinado que possui um único O predicado é o conjunto de enunciados que numa dada oração
núcleo. Esse vocábulo pode estar no singular ou no plural; pode contém a informação nova para o ouvinte. Nas orações sem sujei-
também ser um pronome indefinido. to, o predicado simplesmente enuncia um fato qualquer:
Nós nos respeitamos mutuamente; Chove muito nesta época do ano;
A existência é frágil; Houve problemas na reunião.
Ninguém se move;
O amar faz bem. Nas orações que surge o sujeito, o predicado é aquilo que se
declara a respeito desse sujeito.
O sujeito composto é o sujeito determinado que possui mais Com exceção do vocativo, que é um termo à parte, tudo o que
de um núcleo. difere do sujeito numa oração é o seu predicado.
Alimentos e roupas andam caríssimos; Os homens (sujeito) pedem amor às mulheres (predicado);
Ela e eu nos respeitamos mutuamente; Passou-me (predicado) uma ideia estranha (sujeito) pelo pen-
O amar e o odiar são tidos como duas faces da mesma moeda. samento (predicado).
Além desses dois sujeitos determinados, é comum a referência Para o estudo do predicado, é necessário verificar se seu núcleo
ao sujeito oculto ( ou elíptico), isto é, ao núcleo do sujeito que
está num nome ou num verbo. Deve-se considerar também se as
está implícito e que pode ser reconhecido pela desinência verbal
palavras que formam o predicado referem-se apenas ao verbo ou
ou pelo contexto.
também ao sujeito da oração.
Abolimos todas as regras. = (nós)
Os homens sensíveis (sujeito) pedem amor sincero às mulheres
O sujeito indeterminado surge quando não se quer ou não se de opinião.
pode identificar claramente a que o predicado da oração refere--se.
Existe uma referência imprecisa ao sujeito, caso contrário, tería- O predicado acima apresenta apenas uma palavra que se refere
mos uma oração sem sujeito. ao sujeito: pedem. As demais palavras ligam-se direta ou indireta-
Na língua portuguesa o sujeito pode ser indeterminado de duas mente ao verbo.
maneiras: A existência (sujeito) é frágil (predicado).
- com verbo na terceira pessoa do plural, desde que o sujeito
não tenha sido identificado anteriormente: O nome frágil, por intermédio do verbo, refere-se ao sujeito da
Bateram à porta; oração. O verbo atua como elemento de ligação entre o sujeito e a
Andam espalhando boatos a respeito da queda do ministro. palavra a ele relacionada.
Didatismo e Conhecimento 51
LÍNGUA PORTUGUESA
O predicado verbal é aquele que tem como núcleo significa- O objeto direto preposicionado ocorre principalmente:
tivo um verbo: - com nomes próprios de pessoas ou nomes comuns referentes
Chove muito nesta época do ano; a pessoas:
Senti seu toque suave; Amar a Deus;
O velho prédio foi demolido. Adorar a Xangô;
Os verbos acima são significativos, isto é, não servem apenas Estimar aos pais.
para indicar o estado do sujeito, mas indicam processos.
- com pronomes indefinidos de pessoa e pronomes de trata-
O predicado nominal é aquele que tem como núcleo signifi- mento:
cativo um nome; esse nome atribui uma qualidade ou estado ao Não excluo a ninguém;
sujeito, por isso é chamado de predicativo do sujeito. O predica- Não quero cansar a Vossa Senhoria.
tivo é um nome que se liga a outro nome da oração por meio de
- para evitar ambiguidade:
um verbo.
Ao povo prejudica a crise. (sem preposição, a situação seria
Nos predicados nominais, o verbo não é significativo, isto é,
outra)
não indica um processo. O verbo une o sujeito ao predicativo, in-
dicando circunstâncias referentes ao estado do sujeito: O objeto indireto é o complemento que se liga indiretamente
“Ele é senhor das suas mãos e das ferramentas.” ao verbo, ou seja, através de uma preposição.
Na frase acima o verbo ser poderia ser substituído por estar, Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres;
andar, ficar, parecer, permanecer ou continuar, atuando como ele- Os homens pedem-lhes amor sincero;
mento de ligação entre o sujeito e as palavras a ele relacionadas. Gosto de música popular brasileira.
A função de predicativo é exercida normalmente por um adje-
tivo ou substantivo. O termo que integra o sentido de um nome chama-se com-
plemento nominal. O complemento nominal liga-se ao nome que
O predicado verbo-nominal é aquele que apresenta dois nú- completa por intermédio de preposição:
cleos significativos: um verbo e um nome. No predicado verbo-no- Desenvolvemos profundo respeito à arte;
minal, o predicativo pode referir-se ao sujeito ou ao complemento A arte é necessária à vida;
verbal. Tenho-lhe profundo respeito.
O verbo do predicado verbo-nominal é sempre significativo,
indicando processos. É também sempre por intermédio do verbo Termos acessórios da oração e vocativo:
que o predicativo se relaciona com o termo a que se refere.
O dia amanheceu ensolarado; Os termos acessórios recebem esse nome por serem acidentais,
As mulheres julgam os homens inconstantes explicativos, circunstanciais. São termos acessórios o adjunto ad-
verbial, adjunto adnominal, o aposto e o vocativo.
No primeiro exemplo, o verbo amanheceu apresenta duas fun-
ções: a de verbo significativo e a de verbo de ligação. Esse predi- O adjunto adverbial é o termo da oração que indica uma cir-
cado poderia ser desdobrado em dois, um verbal e outro nominal: cunstância do processo verbal, ou intensifica o sentido de um ad-
O dia amanheceu; jetivo, verbo ou advérbio. É uma função adverbial, pois cabe ao
O dia estava ensolarado. advérbio e às locuções adverbiais exercerem o papel de adjunto
adverbial.
Amanhã voltarei de bicicleta àquela velha praça.
No segundo exemplo, é o verbo julgar que relaciona o comple-
mento homens como o predicativo inconstantes.
As circunstâncias comumente expressas pelo adjunto adver-
bial são:
Termos integrantes da oração: - acréscimo: Além de tristeza, sentia profundo cansaço.
- afirmação: Sim, realmente irei partir.
Os complementos verbais (objeto direto e indireto) e o comple- - assunto: Falavam sobre futebol.
mento nominal são chamados termos integrantes da oração. - causa: Morrer ou matar de fome, de raiva e de sede…
Os complementos verbais integram o sentido dos verbos tran- - companhia: Sempre contigo bailando sob as estrelas.
sitivos, com eles formando unidades significativas. Esses verbos - concessão: Apesar de você, amanhã há de ser outro dia.
podem se relacionar com seus complementos diretamente, sem a - conformidade: Fez tudo conforme o combinado.
presença de preposição ou indiretamente, por intermédio de pre- - dúvida: Talvez nos deixem entrar.
posição. - fim: Estudou para o exame.
O objeto direto é o complemento que se liga diretamente ao - frequência: Sempre aparecia por lá.
verbo. - instrumento: Fez o corte com a faca.
Os homens sensíveis pedem amor às mulheres de opinião; - intensidade: Corria bastante.
Os homens sinceros pedem-no às mulheres de opinião; - limite: Andava atabalhoado do quarto à sala.
Dou-lhes três. - lugar: Vou à cidade.
Houve muita confusão na partida final. - matéria: Compunha-se de substâncias estranhas.
Didatismo e Conhecimento 52
LÍNGUA PORTUGUESA
- meio: Viajarei de trem. A função de vocativo é substantiva, cabendo a substantivos,
- modo: Foram recrutados a dedo. pronomes substantivos, numerais e palavras substantivadas esse
- negação: Não há ninguém que mereça. papel na linguagem.
- preço: As casas estão sendo vendidas a preços exorbitantes.
- substituição ou troca: Abandonou suas convicções por privi- João, venha comigo!
légios econômicos. Traga-me doces, minha menina!
- tempo: Ontem à tarde encontrou o velho amigo.
PERÍODO COMPOSTO POR COORDENAÇÃO
O adjunto adnominal é o termo acessório que determina, es-
O período composto caracteriza-se por possuir mais de uma
pecifica ou explica um substantivo. É uma função adjetiva, pois
oração em sua composição. Sendo assim:
são os adjetivos e as locuções adjetivas que exercem o papel de
- Eu irei à praia. (Período Simples = um verbo, uma oração)
adjunto adnominal na oração. Também atuam como adjuntos ad- - Estou comprando um protetor solar, depois irei à praia. (Pe-
nominais os artigos, os numerais e os pronomes adjetivos. ríodo Composto =locução verbal, verbo, duas orações)
O poeta inovador enviou dois longos trabalhos ao seu amigo - Já me decidi: só irei à praia, se antes eu comprar um protetor
de infância. solar. (Período Composto = três verbos, três orações).
O adjunto adnominal liga-se diretamente ao substantivo a que Cada verbo ou locução verbal corresponde a uma oração. Isso
se refere, sem participação do verbo. Já o predicativo do objeto implica que o primeiro exemplo é um período simples, pois tem
liga-se ao objeto por meio de um verbo. apenas uma oração, os dois outros exemplos são períodos compos-
O poeta português deixou uma obra originalíssima. tos, pois têm mais de uma oração.
O poeta deixou-a. Há dois tipos de relações que podem se estabelecer entre as
(originalíssima não precisou ser repetida, portanto: adjunto ad- orações de um período composto: uma relação de coordenação ou
nominal) uma relação de subordinação.
Duas orações são coordenadas quando estão juntas em um
O poeta português deixou uma obra inacabada.
mesmo período, (ou seja, em um mesmo bloco de informações,
O poeta deixou-a inacabada.
marcado pela pontuação final), mas têm, ambas, estruturas indivi-
(inacabada precisou ser repetida, então: predicativo do objeto) duais, como é o exemplo de:
Estou comprando um protetor solar, depois irei à praia. (Pe-
Enquanto o complemento nominal relaciona-se a um substan- ríodo Composto)
tivo, adjetivo ou advérbio; o adjunto nominal relaciona-se apenas Podemos dizer:
ao substantivo. 1. Estou comprando um protetor solar.
2. Irei à praia.
O aposto é um termo acessório que permite ampliar, explicar, Separando as duas, vemos que elas são independentes.
desenvolver ou resumir a ideia contida num termo que exerça É esse tipo de período que veremos agora: o Período Composto
qualquer função sintática. por Coordenação.
Quanto à classificação das orações coordenadas, temos dois
tipos: Coordenadas Assindéticas e Coordenadas Sindéticas.
Ontem, segunda-feira, passei o dia mal-humorado.
Coordenadas Assindéticas
Segunda-feira é aposto do adjunto adverbial de tempo ontem.
Dizemos que o aposto é sintaticamente equivalente ao termo que São orações coordenadas entre si e que não são ligadas através
se relaciona porque poderia substituí-lo: Segunda-feira passei o de nenhum conectivo. Estão apenas justapostas.
dia mal-humorado.
O aposto pode ser classificado, de acordo com seu valor na Coordenadas Sindéticas
oração, em:
a) explicativo: A linguística, ciência das línguas humanas, per- Ao contrário da anterior, são orações coordenadas entre si,
mite-nos interpretar melhor nossa relação com o mundo. mas que são ligadas através de uma conjunção coordenativa. Esse
b) enumerativo: A vida humana compõe-se de muitas coisas: caráter vai trazer para esse tipo de oração uma classificação. As
amor, arte, ação. orações coordenadas sindéticas são classificadas em cinco tipos:
aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e explicativas.
c) resumidor ou recapitulativo: Fantasias, suor e sonho, tudo
isso forma o carnaval.
Orações Coordenadas Sindéticas Aditivas: suas principais
d) comparativo: Seus olhos, indagadores holofotes, fixaram-se conjunções são: e, nem, não só... mas também, não só... como,
por muito tempo na baía anoitecida. assim... como.
Não só cantei como também dancei.
O vocativo é um termo que serve para chamar, invocar ou in- Nem comprei o protetor solar, nem fui à praia.
terpelar um ouvinte real ou hipotético. Comprei o protetor solar e fui à praia.
Didatismo e Conhecimento 53
LÍNGUA PORTUGUESA
Orações Coordenadas Sindéticas Adversativas: suas princi- 1) ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS
pais conjunções são: mas, contudo, todavia, entretanto, porém, no
entanto, ainda, assim, senão. A oração subordinada substantiva tem valor de substantivo e
Fiquei muito cansada, contudo me diverti bastante. vem introduzida, geralmente, por conjunção integrante (que, se).
Ainda que a noite acabasse, nós continuaríamos dançando. Suponho que você foi à biblioteca hoje.
Não comprei o protetor solar, mas mesmo assim fui à praia. Oração Subordinada Substantiva
Orações Coordenadas Sindéticas Alternativas: suas princi- Você sabe se o presidente já chegou?
pais conjunções são: ou... ou; ora...ora; quer...quer; seja...seja. Oração Subordinada Substantiva
Ou uso o protetor solar, ou uso o óleo bronzeador.
Ora sei que carreira seguir, ora penso em várias carreiras di- Os pronomes interrogativos (que, quem, qual) também introdu-
ferentes. zem as orações subordinadas substantivas, bem como os advérbios
Quer eu durma quer eu fique acordado, ficarei no quarto. interrogativos (por que, quando, onde, como). Veja os exemplos:
O garoto perguntou qual seu nome.
Orações Coordenadas Sindéticas Conclusivas: suas prin- Oração Subordinada Substantiva
cipais conjunções são: logo, portanto, por fim, por conseguinte,
consequentemente, pois (posposto ao verbo) Não sabemos por que a vizinha se mudou.
Passei no concurso, portanto irei comemorar. Oração Subordinada Substantiva
Conclui o meu projeto, logo posso descansar.
Tomou muito sol, consequentemente ficou adoentada. Classificação das Orações Subordinadas Substantivas
A situação é delicada; devemos, pois, agir
De acordo com a função que exerce no período, a oração su-
Orações Coordenadas Sindéticas Explicativas: suas princi- bordinada substantiva pode ser:
pais conjunções são: isto é, ou seja, a saber, na verdade, pois (an- a) Subjetiva
teposto ao verbo). É subjetiva quando exerce a função sintática de sujeito do ver-
Só passei na prova porque me esforcei por muito tempo. bo da oração principal. Observe:
Só fiquei triste por você não ter viajado comigo. É fundamental o seu comparecimento à reunião.
Não fui à praia, pois queria descansar durante o Domingo. Sujeito
Didatismo e Conhecimento 54
LÍNGUA PORTUGUESA
b) Objetiva Direta e) Predicativa
A oração subordinada substantiva objetiva direta exerce fun- A oração subordinada substantiva predicativa exerce papel de
ção de objeto direto do verbo da oração principal. predicativo do sujeito do verbo da oração principal e vem sempre
depois do verbo ser.
Todos querem sua aprovação no concurso. Nosso desejo era sua desistência.
Objeto Direto Predicativo do Sujeito
Todos querem que você seja aprovado. (Todos querem Nosso desejo era que ele desistisse. (Nosso desejo era isso)
isso) Oração Subordinada Substantiva Predicativa
Oração Principal oração Subordinada Substantiva Objetiva Obs.: em certos casos, usa-se a preposição expletiva “de” para
Direta realce. Veja o exemplo: A impressão é de que não fui bem na pro-
va.
As orações subordinadas substantivas objetivas diretas desen-
volvidas são iniciadas por: f) Apositiva
- Conjunções integrantes “que” (às vezes elíptica) e “se”: A
professora verificou se todos alunos estavam presentes. A oração subordinada substantiva apositiva exerce função de
aposto de algum termo da oração principal.
- Pronomes indefinidos que, quem, qual, quanto (às vezes re- Fernanda tinha um grande sonho: a felicidade!
gidos de preposição), nas interrogações indiretas: O pessoal queria Aposto
saber quem era o dono do carro importado. (Fernanda tinha um grande sonho: isso.)
- Advérbios como, quando, onde, por que, quão (às vezes re- Fernanda tinha um grande sonho: ser feliz!
gidos de preposição), nas interrogações indiretas: Eu não sei por Oração Subordinada Substantiva Apositiva
que ela fez isso.
reduzida de infinitivo
c) Objetiva Indireta
* Dica: geralmente há a presença dos dois pontos! ( : )
A oração subordinada substantiva objetiva indireta atua como
objeto indireto do verbo da oração principal. Vem precedida de
2) ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS
preposição.
Meu pai insiste em meu estudo.
Uma oração subordinada adjetiva é aquela que possui valor
Objeto Indireto
e função de adjetivo, ou seja, que a ele equivale. As orações vêm
Meu pai insiste em que eu estude. (Meu pai insiste nisso) introduzidas por pronome relativo e exercem a função de adjunto
Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta adnominal do antecedente. Observe o exemplo:
Esta foi uma redação bem-sucedida.
Obs.: em alguns casos, a preposição pode estar elíptica na oração. Substantivo Adjetivo (Adjunto Adnominal)
Marta não gosta (de) que a chamem de senhora.
Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta Note que o substantivo redação foi caracterizado pelo adjetivo
bem-sucedida. Nesse caso, é possível formarmos outra construção,
d) Completiva Nominal a qual exerce exatamente o mesmo papel. Veja:
A oração subordinada substantiva completiva nominal com-
pleta um nome que pertence à oração principal e também vem Esta foi uma redação que fez sucesso.
marcada por preposição. Oração Principal Oração Subordinada Adjetiva
Sentimos orgulho de seu comportamento.
Complemento Nominal Perceba que a conexão entre a oração subordinada adjetiva e
o termo da oração principal que ela modifica é feita pelo prono-
Sentimos orgulho de que você se comportou. (Sentimos me relativo “que”. Além de conectar (ou relacionar) duas orações,
orgulho disso.) o pronome relativo desempenha uma função sintática na oração
Oração Subordinada Substantiva Completiva No- subordinada: ocupa o papel que seria exercido pelo termo que o
minal antecede.
Obs.: para que dois períodos se unam num período composto,
Lembre-se: as orações subordinadas substantivas objetivas altera-se o modo verbal da segunda oração.
indiretas integram o sentido de um verbo, enquanto que orações Atenção: Vale lembrar um recurso didático para reconhecer o
subordinadas substantivas completivas nominais integram o sen- pronome relativo que: ele sempre pode ser substituído por: o qual
tido de um nome. Para distinguir uma da outra, é necessário levar - a qual - os quais - as quais
em conta o termo complementado. Essa é, aliás, a diferença entre o Refiro-me ao aluno que é estudioso.
objeto indireto e o complemento nominal: o primeiro complemen- Essa oração é equivalente a:
ta um verbo, o segundo, um nome. Refiro-me ao aluno o qual estuda.
Didatismo e Conhecimento 55
LÍNGUA PORTUGUESA
Forma das Orações Subordinadas Adjetivas condição, hipótese, etc. Quando desenvolvida, vem introduzida
por uma das conjunções subordinativas (com exclusão das inte-
Quando são introduzidas por um pronome relativo e apresen- grantes). Classifica-se de acordo com a conjunção ou locução con-
tam verbo no modo indicativo ou subjuntivo, as orações subordi- juntiva que a introduz.
nadas adjetivas são chamadas desenvolvidas. Além delas, existem
as orações subordinadas adjetivas reduzidas, que não são introdu- Durante a madrugada, eu olhei você dormindo.
zidas por pronome relativo (podem ser introduzidas por preposi- Oração Subordinada Adverbial
ção) e apresentam o verbo numa das formas nominais (infinitivo,
gerúndio ou particípio). Observe que a oração em destaque agrega uma circunstância
Ele foi o primeiro aluno que se apresentou. de tempo. É, portanto, chamada de oração subordinada adverbial
Ele foi o primeiro aluno a se apresentar. temporal. Os adjuntos adverbiais são termos acessórios que indi-
No primeiro período, há uma oração subordinada adjetiva de- cam uma circunstância referente, via de regra, a um verbo. A clas-
senvolvida, já que é introduzida pelo pronome relativo “que” e sificação do adjunto adverbial depende da exata compreensão da
apresenta verbo conjugado no pretérito perfeito do indicativo. No circunstância que exprime. Observe os exemplos abaixo:
segundo, há uma oração subordinada adjetiva reduzida de infiniti- Naquele momento, senti uma das maiores emoções de minha
vo: não há pronome relativo e seu verbo está no infinitivo. vida.
Quando vi a estátua, senti uma das maiores emoções de minha
Classificação das Orações Subordinadas Adjetivas vida.
Na relação que estabelecem com o termo que caracterizam, No primeiro período, “naquele momento” é um adjunto adver-
as orações subordinadas adjetivas podem atuar de duas maneiras bial de tempo, que modifica a forma verbal “senti”. No segundo
diferentes. Há aquelas que restringem ou especificam o sentido do período, esse papel é exercido pela oração “Quando vi a estátua”,
termo a que se referem, individualizando-o. Nessas orações não que é, portanto, uma oração subordinada adverbial temporal. Essa
há marcação de pausa, sendo chamadas subordinadas adjetivas oração é desenvolvida, pois é introduzida por uma conjunção su-
restritivas. Existem também orações que realçam um detalhe ou bordinativa (quando) e apresenta uma forma verbal do modo in-
amplificam dados sobre o antecedente, que já se encontra suficien- dicativo (“vi”, do pretérito perfeito do indicativo). Seria possível
temente definido, as quais denominam-se subordinadas adjetivas reduzi-la, obtendo-se:
explicativas.
Exemplo 1: Ao ver a estátua, senti uma das maiores emoções de minha
Jamais teria chegado aqui, não fosse a gentileza de um homem vida.
que passava naquele momento.
Oração Subordinada Adjetiva Restritiva A oração em destaque é reduzida, pois apresenta uma das for-
mas nominais do verbo (“ver” no infinitivo) e não é introduzida
Nesse período, observe que a oração em destaque restringe e por conjunção subordinativa, mas sim por uma preposição (“a”,
particulariza o sentido da palavra “homem”: trata-se de um homem combinada com o artigo “o”).
específico, único. A oração limita o universo de homens, isto é, não Obs.: a classificação das orações subordinadas adverbiais é
se refere a todos os homens, mas sim àquele que estava passando feita do mesmo modo que a classificação dos adjuntos adverbiais.
naquele momento. Baseia-se na circunstância expressa pela oração.
Didatismo e Conhecimento 56
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Principal conjunção subordinativa consecutiva: QUE (precedi- f) Conformidade
do de tal, tanto, tão, tamanho)
É feio que dói. (É tão feio que, em consequência, causa dor.) As orações subordinadas adverbiais conformativas indicam
Nunca abandonou seus ideais, de sorte que acabou concreti- ideia de conformidade, ou seja, exprimem uma regra, um modelo
zando-os. adotado para a execução do que se declara na oração principal.
Não consigo ver televisão sem bocejar. (Oração Reduzida de
Principal conjunção subordinativa conformativa: CONFOR-
Infinitivo)
ME
c) Condição Outras conjunções conformativas: como, consoante e segundo
Condição é aquilo que se impõe como necessário para a reali- (todas com o mesmo valor de conforme).
zação ou não de um fato. As orações subordinadas adverbiais con- Fiz o bolo conforme ensina a receita.
dicionais exprimem o que deve ou não ocorrer para que se realize Consoante reza a Constituição, todos os cidadãos têm direitos
ou deixe de se realizar o fato expresso na oração principal. iguais.
Principal conjunção subordinativa condicional: SE
Outras conjunções condicionais: caso, contanto que, desde g) Finalidade
que, salvo se, exceto se, a não ser que, a menos que, sem que, uma As orações subordinadas adverbiais finais indicam a intenção,
vez que (seguida de verbo no subjuntivo). a finalidade daquilo que se declara na oração principal.
Se o regulamento do campeonato for bem elaborado, certa-
Principal conjunção subordinativa final: A FIM DE QUE
mente o melhor time será campeão.
Uma vez que todos aceitem a proposta, assinaremos o con- Outras conjunções finais: que, porque (= para que) e a locução
trato. conjuntiva para que.
Caso você se case, convide-me para a festa. Aproximei-me dela a fim de que ficássemos amigos.
Felipe abriu a porta do carro para que sua namorada entras-
d) Concessão se.
As orações subordinadas adverbiais concessivas indicam con-
cessão às ações do verbo da oração principal, isto é, admitem uma h) Proporção
contradição ou um fato inesperado. A ideia de concessão está dire- As orações subordinadas adverbiais proporcionais exprimem
tamente ligada ao contraste, à quebra de expectativa. ideia de proporção, ou seja, um fato simultâneo ao expresso na
Principal conjunção subordinativa concessiva: EMBORA oração principal.
Utiliza-se também a conjunção: conquanto e as locuções ainda
Principal locução conjuntiva subordinativa proporcional: À
que, ainda quando, mesmo que, se bem que, posto que, apesar de
que. PROPORÇÃO QUE
Só irei se ele for. Outras locuções conjuntivas proporcionais: à medida que, ao
A oração acima expressa uma condição: o fato de “eu” ir só se passo que. Há ainda as estruturas: quanto maior...(maior), quanto
realizará caso essa condição seja satisfeita. maior...(menor), quanto menor...(maior), quanto menor...(menor),
Compare agora com: quanto mais...(mais), quanto mais...(menos), quanto menos...
Irei mesmo que ele não vá. (mais), quanto menos...(menos).
A distinção fica nítida; temos agora uma concessão: irei de À proporção que estudávamos, acertávamos mais questões.
qualquer maneira, independentemente de sua ida. A oração desta- Visito meus amigos à medida que eles me convidam.
cada é, portanto, subordinada adverbial concessiva. Quanto maior for a altura, maior será o tombo.
Observe outros exemplos:
Embora fizesse calor, levei agasalho.
Conquanto a economia tenha crescido, pelo menos metade da i) Tempo
população continua à margem do mercado de consumo. As orações subordinadas adverbiais temporais acrescentam
Foi aprovado sem estudar (= sem que estudasse / embora não uma ideia de tempo ao fato expresso na oração principal, podendo
estudasse). (reduzida de infinitivo) exprimir noções de simultaneidade, anterioridade ou posteriorida-
de.
e) Comparação Principal conjunção subordinativa temporal: QUANDO
As orações subordinadas adverbiais comparativas estabelecem Outras conjunções subordinativas temporais: enquanto, mal e
uma comparação com a ação indicada pelo verbo da oração prin- locuções conjuntivas: assim que, logo que, todas as vezes que, an-
cipal. tes que, depois que, sempre que, desde que, etc.
Principal conjunção subordinativa comparativa: COMO Quando você foi embora, chegaram outros convidados.
Ele dorme como um urso.
Sempre que ele vem, ocorrem problemas.
Saiba que: É comum a omissão do verbo nas orações subordi-
nadas adverbiais comparativas. Por exemplo: Mal você saiu, ela chegou.
Agem como crianças. (agem) Terminada a festa, todos se retiraram. (= Quando terminou a
Oração Subordinada Adverbial Comparativa festa) (Oração Reduzida de Particípio)
Didatismo e Conhecimento 57
LÍNGUA PORTUGUESA
Questões sobre Orações Coordenadas D) “Quem dá esmola nas ruas contribui para a manutenção da
miséria E prejudica o desenvolvimento da sociedade”.
01. A oração “Não se verificou, todavia, uma transplantação E) “A vida dessas pessoas é marcada pela falta de dinheiro, de
integral de gosto e de estilo” tem valor: moradia digna, emprego, segurança, lazer, cultura, acesso à saúde
A) conclusivo E à educação”.
B) adversativo
C) concessivo
D) explicativo 07. Assinale a alternativa em que o sentido da conjunção subli-
E) alternativo nhada está corretamente indicado entre parênteses.
A) Meu primo formou-se em Direito, porém não pretende tra-
02. “Estudamos, logo deveremos passar nos exames”. A ora- balhar como advogado. (explicação)
ção em destaque é: B) Não fui ao cinema nem assisti ao jogo. (adição)
a) coordenada explicativa C) Você está preparado para a prova; por isso, não se preocupe.
b) coordenada adversativa (oposição)
c) coordenada aditiva D) Vá dormir mais cedo, pois o vestibular será amanhã. (al-
d) coordenada conclusiva ternância)
e) coordenada assindética E) Os meninos deviam correr para casa ou apanhariam toda a
chuva. (conclusão)
03. (Agente Educacional – VUNESP – 2013-adap.) Releia o
seguinte trecho:
Joyce e Mozart são ótimos, mas eles, como quase toda a cul- 08. Analise sintaticamente as duas orações destacadas no texto
tura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática. “O assaltante pulou o muro, mas não penetrou na casa, nem as-
Sem que haja alteração de sentido, e de acordo com a nor- sustou seus habitantes.” A seguir, classifique-as, respectivamente,
ma- -padrão da língua portuguesa, ao se substituir o termo em como coordenadas:
destaque, o trecho estará corretamente reescrito em: A) adversativa e aditiva.
A) Joyce e Mozart são ótimos, portanto eles, como quase toda B) explicativa e aditiva.
a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prá- C) adversativa e alternativa.
tica. D) aditiva e alternativa.
B) Joyce e Mozart são ótimos, conforme eles, como quase toda
a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prá-
tica. 09. Um livro de receita é um bom presente porque ajuda as
C) Joyce e Mozart são ótimos, assim eles, como quase toda a pessoas que não sabem cozinhar. A palavra “porque” pode ser
cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática. substituída, sem alteração de sentido, por
D) Joyce e Mozart são ótimos, todavia eles, como quase toda a A) entretanto.
cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática. B) então.
E) Joyce e Mozart são ótimos, pois eles, como quase toda a C) assim.
cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática. D) pois.
E) porém.
04. (Analista Administrativo – VUNESP – 2013-adap.)
Em – ...fruto não só do novo acesso da população ao automóvel 10- Na oração “Pedro não joga E NEM ASSISTE”, temos a
mas também da necessidade de maior número de viagens... –, os
termos em destaque estabelecem relação de presença de uma oração coordenada que pode ser classificada em:
A) explicação. A) Coordenada assindética;
B) oposição. B) Coordenada assindética aditiva;
C) alternância. C) Coordenada sindética alternativa;
D) conclusão. D) Coordenada sindética aditiva.
E) adição.
GABARITO
05. Analise a oração destacada: Não se desespere, que estare-
mos a seu lado sempre. 01. B 02. E 03. D 04. E 05. D
Marque a opção correta quanto à sua classificação: 06. A 07. B 08. A 09. D 10. D
A) Coordenada sindética aditiva.
B) Coordenada sindética alternativa.
C) Coordenada sindética conclusiva. RESOLUÇÃO
D) Coordenada sindética explicativa.
1-) “Não se verificou, todavia, uma transplantação integral de
06. A frase abaixo em que o conectivo E tem valor adversa- gosto e de estilo” = conjunção adversativa, portanto: oração coor-
tivo é: denada sindética adversativa
A) “O gesto é fácil E não ajuda em nada”.
B )“O que vemos na esquina E nos sinais de trânsito...”. 2-) Estudamos, logo deveremos passar nos exames = a oração
C) “..adultos submetem crianças E adolescentes à tarefa de pe- em destaque não é introduzida por conjunção, então: coordenada
dir esmola”. assindética
Didatismo e Conhecimento 58
LÍNGUA PORTUGUESA
3-) Joyce e Mozart são ótimos, mas eles... = conjunção (e Questões sobre Orações Subordinadas
ideia) adversativa
A) Joyce e Mozart são ótimos, portanto eles, como quase toda (Papiloscopista Policial – Vunesp/2013).
a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida práti- Mais denso, menos trânsito
ca. = conclusiva
B) Joyce e Mozart são ótimos, conforme eles, como quase toda As grandes cidades brasileiras estão congestionadas e em pro-
a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida práti- cesso de deterioração agudizado pelo crescimento econômico da
ca. = conformativa última década. Existem deficiências evidentes em infraestrutura,
C) Joyce e Mozart são ótimos, assim eles, como quase toda a mas é importante também considerar o planejamento urbano.
cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática. Muitas grandes cidades adotaram uma abordagem de descon-
= conclusiva centração, incentivando a criação de diversos centros urbanos, na
E) Joyce e Mozart são ótimos, pois eles, como quase toda a visão de que isso levaria a uma maior facilidade de deslocamento.
cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática. Mas o efeito tem sido o inverso. A criação de diversos centros
= explicativa e o aumento das distâncias multiplicam o número de viagens, di-
ficultando o investimento em transporte coletivo e aumentando a
Dica: conjunção pois como explicativa = dá para eu substituir necessidade do transporte individual.
por porque; como conclusiva: substituo por portanto. Se olharmos Los Angeles como a região que levou a des-
concentração ao extremo, ficam claras as consequências. Numa
4-) fruto não só do novo acesso da população ao automóvel região rica como a Califórnia, com enorme investimento viário,
mas também da necessidade de maior número de viagens... estabe- temos engarrafamentos gigantescos que viraram característica da
lecem relação de adição de ideias, de fatos cidade.
Os modelos urbanos bem-sucedidos são aqueles com elevado
5-) Não se desespere, que estaremos a seu lado sempre. adensamento e predominância do transporte coletivo, como mos-
= conjunção explicativa (= porque) - coordenada sindética ex- tram Manhattan e Tóquio.
plicativa O centro histórico de São Paulo é a região da cidade mais bem
servida de transporte coletivo, com infraestrutura de telecomuni-
6-) cação, água, eletricidade etc. Como em outras grandes cidades,
A) “O gesto é fácil E não ajuda em nada”. = mas não ajuda
essa deveria ser a região mais adensada da metrópole. Mas não
(ideia contrária)
é o caso. Temos, hoje, um esvaziamento gradual do centro, com
B )“O que vemos na esquina E nos sinais de trânsito...”. =
deslocamento das atividades para diversas regiões da cidade.
adição
A visão de adensamento com uso abundante de transporte co-
C) “..adultos submetem crianças E adolescentes à tarefa de pe-
letivo precisa ser recuperada. Desse modo, será possível reverter
dir esmola”. = adição
esse processo de uso cada vez mais intenso do transporte indivi-
D) “Quem dá esmola nas ruas contribui para a manutenção da
dual, fruto não só do novo acesso da população ao automóvel,
miséria E prejudica o desenvolvimento da sociedade”. = adição
mas também da necessidade de maior número de viagens em fun-
E) “A vida dessas pessoas é marcada pela falta de dinheiro, de
ção da distância cada vez maior entre os destinos da população.
moradia digna, emprego, segurança, lazer, cultura, acesso à saúde
E à educação”. = adição (Henrique Meirelles, Folha de S.Paulo, 13.01.2013. Adaptado)
Didatismo e Conhecimento 59
LÍNGUA PORTUGUESA
03. (UFV-MG) As orações subordinadas substantivas que apa- C) Assim como são verificados a desconcentração e o aumento
recem nos períodos abaixo são todas subjetivas, exceto: da extensão urbana no Brasil, é importante desenvolver e adensar
A) Decidiu-se que o petróleo subiria de preço. ainda mais os diversos centros já existentes...
B) É muito bom que o homem, vez por outra, reflita sobre sua D) Visto que com a desconcentração e o aumento da extensão
vida. urbana verificados no Brasil, é importante desenvolver e adensar
C) Ignoras quanto custou meu relógio? ainda mais os diversos centros já existentes...
D) Perguntou-se ao diretor quando seríamos recebidos. E) De maneira que, com a desconcentração e o aumento da
E) Convinha-nos que você estivesse presente à reunião extensão urbana verificados no Brasil, é importante desenvolver e
adensar ainda mais os diversos centros já existentes...
04. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 2013).
Considere a tirinha em que se vê Honi conversando com seu Na- 06. (Analista Administrativo – VUNESP – 2013). Em – É fun-
morado Lute. damental que essa visão de adensamento com uso abundante de
transporte coletivo seja recuperada para que possamos reverter
esse processo de uso… –, a expressão em destaque estabelece en-
tre as orações relação de
A) consequência.
B) condição.
C) finalidade.
D) causa.
E) concessão.
Didatismo e Conhecimento 60
LÍNGUA PORTUGUESA
(A) desde que garantam sua autenticidade. Questões sobre Análise Sintática
(B) no entanto garantam sua autenticidade.
(C) embora garantam sua autenticidade. 01. (Agente de Apoio Administrativo – FCC – 2013). Os tra-
(D) portanto garantam sua autenticidade. balhadores passaram mais tempo na escola...
(E) a menos que garantam sua autenticidade. O segmento grifado acima possui a mesma função sintática
que o destacado em:
GABARITO A) ...o que reduz a média de ganho da categoria.
B) ...houve mais ofertas de trabalhadores dessa classe.
01. B 02. B 03. C 04. D 05. A C) O crescimento da escolaridade também foi impulsionado...
06. C 07. D 08. E 09. C 10. A D) ...elevando a fatia dos brasileiros com ensino médio...
E) ...impulsionado pelo aumento do número de universida-
RESOLUÇÃO des...
1-) mais denso e menos trânsito = mais denso, consequente- 02.(Agente de Defensoria Pública – FCC – 2013). Donos de
mente, menos trânsito, então: causa e consequência uma capacidade de orientação nas brenhas selvagens [...], sabiam
os paulistas como...
2-) já que cumprem melhor as regras = estabelece entre as O segmento em destaque na frase acima exerce a mesma fun-
orações uma relação de causa com a consequência de “tem um ção sintática que o elemento grifado em:
efeito positivo”. A) Nas expedições breves serviam de balizas ou mostradores
para a volta.
3-) Ignoras quanto custou meu relógio? = oração subordinada B) Às estreitas veredas e atalhos [...], nada acrescentariam
substantiva objetiva direta aqueles de considerável...
A oração não atende aos requisitos de tais orações, ou seja, não C) Só a um olhar muito exercitado seria perceptível o sinal.
se inicia com verbo de ligação, tampouco pelos verbos “convir”, D) Uma sequência de tais galhos, em qualquer floresta, podia
significar uma pista.
“parecer”, “importar”, “constar” etc., e também não inicia com as
E) Alguns mapas e textos do século XVII apresentam-nos a
conjunções integrantes “que” e “se”.
vila de São Paulo como centro...
4-) a expressão contanto que estabelece uma relação de con-
03. Há complemento nominal em:
dição (condicional)
A)Você devia vir cá fora receber o beijo da madrugada.
B)... embora fosse quase certa a sua possibilidade de ganhar
5-) Apesar da desconcentração e do aumento da extensão urba-
a vida.
na verificados no Brasil = conjunção concessiva C)Ela estava na janela do edifício.
B) Uma vez que se verifica a desconcentração e o aumento da D)... sem saber ao certo se gostávamos dele.
extensão urbana no Brasil, = causal E)Pouco depois começaram a brincar de bandido e mocinho
C) Assim como são verificados a desconcentração e o aumento de cinema.
da extensão urbana no Brasil = comparativa
D) Visto que com a desconcentração e o aumento da extensão 04. (ESPM-SP) Em “esta lhe deu cem mil contos”, o termo
urbana verificados no Brasil = causal destacado é:
E) De maneira que, com a desconcentração e o aumento da A) pronome possessivo
extensão urbana verificados no Brasil = consecutivas B) complemento nominal
C) objeto indireto
6-) para que possamos = conjunção final (finalidade) D) adjunto adnominal
E) objeto direto
7-) “Como as músicas eram de protesto = expressa ideia de
causa da consequência “foi enquadrado” = causa e tem sentido 05. Assinale a alternativa correta e identifique o sujeito das se-
equivalente a visto que. guintes orações em relação aos verbos destacados:
- Amanhã teremos uma palestra sobre qualidade de vida.
8-) com tanto orgulho que chega a contaminar-me. – a constru- - Neste ano, quero prestar serviço voluntário.
ção estabelece uma relação de causa e consequência. (a causa da
“contaminação” – consequência) A)Tu – vós B)Nós – eu C)Vós – nós D) Ele - tu
9-) Os Estados Unidos são considerados hoje um país bem 06. Classifique o sujeito das orações destacadas no texto se-
mais fechado – embora em doze dias recebam o mesmo número guinte e, a seguir, assinale a sequência correta.
de imigrantes que o Brasil em um ano.” = conjunção concessiva: É notável, nos textos épicos, a participação do sobrenatural.
ainda que É frequente a mistura de assuntos relativos ao nacionalismo com
o caráter maravilhoso. Nas epopeias, os deuses tomam partido e
10-) contanto que garantam sua autenticidade. = conjunção interferem nas aventuras dos heróis, ajudando-os ou atrapalhan-
condicional = desde que do- -os.
Didatismo e Conhecimento 61
LÍNGUA PORTUGUESA
A)simples, composto 6-) É notável, nos textos épicos, a participação do sobrenatural.
B)indeterminado, composto É frequente a mistura de assuntos relativos ao nacionalismo com
C)simples, simples o caráter maravilhoso. Nas epopeias, os deuses tomam partido e
D) oculto, indeterminado interferem nas aventuras dos heróis, ajudando-os ou atrapalhan-
do-os.
07. (ESPM-SP) “Surgiram fotógrafos e repórteres”. Identi- Ambos os termos apresentam sujeito simples
fique a alternativa que classifica corretamente a função sintática e
a classe morfológica dos termos destacados: 7-) Surgiram fotógrafos e repórteres.
A) objeto indireto – substantivo O sujeito está deslocado, colocado na ordem indireta (final
B) objeto direto - substantivo da oração). Portanto: função sintática: sujeito (composto); classe
C) sujeito – adjetivo morfológica (classe de palavras): substantivos.
D) objeto direto – adjetivo
E) sujeito - substantivo
RESOLUÇÃO
1-) Os trabalhadores passaram mais tempo na escola “Ideias confusas geram redações confusas”. Esta frase leva-
= SUJEITO -nos a refletir sobre a organização das ideias em um texto. Signi-
A) ...o que reduz a média de ganho da categoria. = objeto direto fica dizer que, antes da redação, naturalmente devemos dominar
B) ...houve mais ofertas de trabalhadores dessa classe. = objeto o assunto sobre o qual iremos tratar e, posteriormente, planejar o
direto modo como iremos expô-lo, do contrário haverá dificuldade em
C) O crescimento da escolaridade também foi impulsionado... transmitir ideias bem acabadas. Portanto, a leitura, a interpretação
= sujeito paciente de textos e a experiência de vida antecedem o ato de escrever.
D) ...elevando a fatia dos brasileiros com ensino médio... = Obtido um razoável conhecimento sobre o que iremos escre-
objeto direto ver, feito o esquema de exposição da matéria, é necessário saber
E) ...impulsionado pelo aumento do número de universida- ordenar as ideias em frases bem estruturadas. Logo, não basta
des... = agente da passiva conhecer bem um determinado assunto, temos que o transmitir de
maneira clara aos leitores.
2-) Donos de uma capacidade de orientação nas brenhas selva- O estudo da pontuação pode se tornar um valioso aliado para
gens [...], sabiam os paulistas como... = SUJEITO organizarmos as ideias de maneira clara em frases. Para tanto,
A) Nas expedições breves = ADJUNTO ADVERBIAL é necessário ter alguma noção de sintaxe. “Sintaxe”, conforme o
B) nada acrescentariam aqueles de considerável...= adjunto dicionário Aurélio, é a “parte da gramática que estuda a disposi-
adverbial ção das palavras na frase e a das frases no discurso, bem como a
C) seria perceptível o sinal. = predicativo relação lógica das frases entre si”; ou em outras palavras, sintaxe
D) Uma sequência de tais galhos = sujeito quer dizer “mistura”, isto é, saber misturar as palavras de maneira
a produzirem um sentido evidente para os receptores das nossas
E) apresentam-nos a vila de São Paulo como = objeto direto
mensagens. Observe:
3-)
1)A desemprego globalização no Brasil e no na está Latina
A) o beijo da madrugada. = adjunto adnominal
América causando.
B)a sua possibilidade de ganhar a vida. = complemento nomi- 2) A globalização está causando desemprego no Brasil e na
nal (possibilidade de quê?) América Latina.
C)na janela do edifício. = adjunto adnominal
D)... sem saber ao certo se gostávamos dele. = objeto indireto Ora, no item 1 não temos uma ideia, pois não há uma frase, as
E) a brincar de bandido e mocinho de cinema = objeto indireto palavras estão amontoadas sem a realização de “uma sintaxe”, não
há um contexto linguístico nem relação inteligível com a realidade;
4-) esta lhe deu cem mil contos = o verbo DAR é bitransitivo, no caso 2, a sintaxe ocorreu de maneira perfeita e o sentido está
ou seja, transitivo direto e indireto, portanto precisa de dois com- claro para receptores de língua portuguesa inteirados da situação
plementos – dois objetos: direto e indireto. econômica e cultural do mundo atual.
Deu o quê? = cem mil contos (direto)
Deu a quem? lhe (=a ele, a ela) = indireto A Ordem dos Termos na Frase
5-) - Amanhã ( nós ) teremos uma palestra sobre qualidade de Leia novamente a frase contida no item 2. Note que ela é
vida. organizada de maneira clara para produzir sentido. Todavia, há
- Neste ano, ( eu ) quero prestar serviço voluntário. diferentes maneiras de se organizar gramaticalmente tal frase, tudo
Didatismo e Conhecimento 62
LÍNGUA PORTUGUESA
depende da necessidade ou da vontade do redator em manter o Todavia, ao repetir qualquer um dos termos da oração por
sentido, ou mantê-lo, porém, acrescentado ênfase a algum dos seus três vezes ou mais, então é necessário usar a vírgula, mesmo que
termos. Significa dizer que, ao escrever, podemos fazer uma série estejamos usando a ordem direta. Esta é a regra básica nº1 para a
de inversões e intercalações em nossas frases, conforme a nossa colocação da vírgula. Veja:
vontade e estilo. Tudo depende da maneira como queremos trans- A globalização, a tecnologia e a “ciranda financeira” cau-
mitir uma ideia. Por exemplo, podemos expressar a mensagem da sam desemprego… = (três núcleos do sujeito)
frase 2 da seguinte maneira: A globalização causa desemprego no Brasil, na América La-
No Brasil e na América Latina, a globalização está causando tina e na África. = (três adjuntos adverbiais)
desemprego. A globalização está causando desemprego, insatisfação e
sucateamento industrial no Brasil e na América Latina. = (três
Neste caso, a mensagem é praticamente a mesma, apenas mu- complementos verbais)
damos a ordem das palavras para dar ênfase a alguns termos (neste
caso: No Brasil e na A. L.). Repare que, para obter a clareza tive- 2)Em princípio, não devemos, na ordem direta, separar com
mos que fazer o uso de vírgulas. vírgula o sujeito e o verbo, nem o verbo e o seu complemento, nem
Entre os sinais de pontuação, a vírgula é o mais usado e o que o complemento e as circunstâncias, ou seja, não devemos separar
mais nos auxilia na organização de um período, pois facilita as com vírgula os termos da oração. Veja exemplos de tal incorreção:
boas “sintaxes”, boas misturas, ou seja, a vírgula ajuda-nos a não O Brasil, será feliz. A globalização causa, o desemprego.
“embolar” o sentido quando produzimos frases complexas. Com
isto, “entregamos” frases bem organizadas aos nossos leitores. Ao intercalarmos alguma palavra ou expressão entre os ter-
O básico para a organização sintática das frases é a ordem mos da oração, cabe isolar tal termo entre vírgulas, assim o sentido
direta dos termos da oração. Os gramáticos estruturam tal ordem da ideia principal não se perderá. Esta é a regra básica nº2 para a
da seguinte maneira: colocação da vírgula. Dito em outras palavras: quando intercala-
mos expressões e frases entre os termos da oração, devemos isolar
SUJEITO + VERBO + COMPLEMENTO VERBAL+ CIR- os mesmos com vírgulas. Vejamos:
CUNSTÂNCIAS A globalização, fenômeno econômico deste fim de século XX,
causa desemprego no Brasil.
A globalização + está causando+ desemprego + no Brasil
nos dias de hoje. Aqui um aposto à globalização foi intercalado entre o sujeito
e o verbo. Outros exemplos:
Nem todas as orações mantêm esta ordem e nem todas contêm A globalização, que é um fenômeno econômico e cultural, está
todos estes elementos, portanto cabem algumas observações: causando desemprego no Brasil e na América Latina.
- As circunstâncias (de tempo, espaço, modo, etc.) normal-
mente são representadas por adjuntos adverbiais de tempo, lugar, Neste caso, há uma oração adjetiva intercalada.
etc. Note que, no mais das vezes, quando queremos recordar algo As orações adjetivas explicativas desempenham frequente-
ou narrar uma história, existe a tendência a colocar os adjuntos nos mente um papel semelhante ao do aposto explicativo, por isto são
começos das frases: “No Brasil e na América…” “Nos dias de também isoladas por vírgula.
hoje…” “Nas minhas férias…”, “No Brasil…”. e logo depois os A globalização causa, caro leitor, desemprego no Brasil…
verbos e outros elementos: “Nas minhas férias fui…”; “No Brasil Neste outro caso, há um vocativo entre o verbo e o seu com-
existe…” plemento.
Observações: A globalização causa desemprego, e isto é lamentável, no
- tais construções não estão erradas, mas rompem com a or- Brasil…
dem direta;
- é preciso notar que em Língua Portuguesa, há muitas frases Aqui, há uma oração intercalada (note que ela não pertence
que não têm sujeito, somente predicado. Por exemplo: Está cho- ao assunto: globalização, da frase principal, tal oração é apenas
vendo em Porto Alegre. Faz frio em Friburgo. São quatro horas um comentário à parte entre o complemento verbal e os adjuntos.
agora; Obs: a simples negação em uma frase não exige vírgula:
- Outras frases são construídas com verbos intransitivos, que A globalização não causou desemprego no Brasil e na Amé-
não têm complemento: O menino morreu na Alemanha, (sujeito rica Latina.
+verbo+ adjunto adverbial), A globalização nasceu no século XX.
(idem) 3)Quando “quebramos” a ordem direta, invertendo-a, tal que-
- Há ainda frases nominais que não possuem verbos: Cada bra torna a vírgula necessária. Esta é a regra nº3 da colocação da
macaco no seu galho. Nestes tipos de frase, a ordem direta faz-se vírgula.
naturalmente. Usam-se apenas os termos existentes nelas. No Brasil e na América Latina, a globalização está causando
Levando em consideração a ordem direta, podemos estabele- desemprego…
cer três regras básicas para o uso da vírgula: No fim do século XX, a globalização causou desemprego no
1)Se os termos estão colocados na ordem direta não haverá a Brasil…
necessidade de vírgulas. A frase (2) é um exemplo disto: Nota-se que a quebra da ordem direta frequentemente se
A globalização está causando desemprego no Brasil e na dá com a colocação das circunstâncias antes do sujeito. Trata-
América Latina. -se da ordem inversa. Estas circunstâncias, em gramática, são
Didatismo e Conhecimento 63
LÍNGUA PORTUGUESA
representadas pelos adjuntos adverbiais. Muitas vezes, elas são e influente de uma sociedade. Constitui, em suma, a língua utiliza-
colocadas em orações chamadas adverbiais que têm uma função da pelos veículos de comunicação de massa (emissoras de rádio e
semelhante a dos adjuntos adverbiais, isto é, denotam tempo, lu- televisão, jornais, revistas, painéis, anúncios, etc.), cuja função é a
gar, etc. Exemplos: de serem aliados da escola, prestando serviço à sociedade, colabo-
Quando o século XX estava terminando, a globalização co- rando na educação;
meçou a causar desemprego. 2) a língua funcional de modalidade popular; língua popular
Enquanto os países portadores de alta tecnologia desen- ou língua cotidiana, que apresenta gradações as mais diversas, tem
volvem--se, a globalização causa desemprego nos países pobres. o seu limite na gíria e no calão.
Durante o século XX, a Globalização causou desemprego
no Brasil. Norma culta:
A norma culta, forma linguística que todo povo civilizado
Obs 1: alguns gramáticos, Sacconi, por exemplo, conside- possui, é a que assegura a unidade da língua nacional. E justa-
ram que as orações subordinadas adverbiais devem ser isoladas mente em nome dessa unidade, tão importante do ponto de vis-
pela vírgula também quando colocadas após as suas orações prin- ta político--cultural, que é ensinada nas escolas e difundida nas
cipais, mas só quando gramáticas. Sendo mais espontânea e criativa, a língua popular
a) a oração principal tiver uma extensão grande: por exem- afigura-se mais expressiva e dinâmica. Temos, assim, à guisa de
plo: A globalização causa… , enquanto os países…(vide frase exemplificação:
acima); Estou preocupado. (norma culta)
b) Se houver uma outra oração após a principal e antes da Tô preocupado. (língua popular)
oração adverbial: A globalização causa desemprego no Brasil Tô grilado. (gíria, limite da língua popular)
e as pessoas aqui estão morrendo de fome , enquanto nos países
portadores de alta tecnologia… Não basta conhecer apenas uma modalidade de língua; urge
conhecer a língua popular, captando-lhe a espontaneidade, expres-
Obs 2: quando os adjuntos adverbiais são mínimos, isto é, sividade e enorme criatividade, para viver; urge conhecer a língua
têm apenas uma ou duas palavras não há necessidade do uso da culta para conviver.
vírgula:
Podemos, agora, definir gramática: é o estudo das normas da
Hoje a globalização causa desemprego no Panamá.
língua culta.
Ali a globalização também causou…
A não ser que queiramos dar ênfase: Aqui, a globalização…
O conceito de erro em língua:
Obs3: na língua escrita, normalmente, ao realizarmos a or-
dem inversa, emprestamos ênfase aos termos que principiam as Em rigor, ninguém comete erro em língua, exceto nos casos
frases. Veja este exemplo de Rui Barbosa destacado por Garcia: de ortografia. O que normalmente se comete são transgressões da
“A mim, na minha longa e aturada e continua prática do norma culta. De fato, aquele que, num momento íntimo do dis-
escrever, me tem sucedido inúmeras vezes, depois de considerar curso, diz: “Ninguém deixou ele falar”, não comete propriamente
por muito tempo necessária e insuprível uma locução nova, en- erro; na verdade, transgride a norma culta.
contrar vertida em expressões antigas mais clara, expressiva e Um repórter, ao cometer uma transgressão em sua fala, trans-
elegante a mesma ideia.” gride tanto quanto um indivíduo que comparece a um banquete
Estas três regras básicas não solucionam todos os problemas trajando xortes ou quanto um banhista, numa praia, vestido de fra-
de organização das frases, mas já dão um razoável suporte para que e cartola.
que possamos começar a ordenar a expressão das nossas ideias. Releva considerar, assim, o momento do discurso, que pode
Em suma: o importante é não separar os termos básicos das ora- ser íntimo, neutro ou solene. O momento íntimo é o das liberdades
ções, mas, se assim o fizermos, seja intercalando ou invertendo da fala. No recesso do lar, na fala entre amigos, parentes, namora-
elementos, então devemos usar a vírgula. dos, etc., portanto, são consideradas perfeitamente normais cons-
truções do tipo:
- Quanto à equivalência e transformação de estruturas, Eu não vi ela hoje.
outro exemplo muito comum cobrado em provas é o enunciado Ninguém deixou ele falar.
trazer uma frase no singular, por exemplo, e pedir que o aluno Deixe eu ver isso!
passe a frase para o plural, mantendo o sentido. Outro exemplo Eu te amo, sim, mas não abuse!
é o enunciado dar a frase em um tempo verbal, e pedir para que Não assisti o filme nem vou assisti-lo.
a passe para outro tempo verbal. Sou teu pai, por isso vou perdoá-lo.
Nesse momento, a informalidade prevalece sobre a norma
Níveis de linguagem culta, deixando mais livres os inter locutores.
O momento neutro é o do uso da língua-padrão, que é a lín-
A língua é um código de que se serve o homem para elaborar gua da Nação. Como forma de respeito, tomam-se por base aqui as
mensagens, para se comunicar. Existem basicamente duas modali- normas estabelecidas na gramática, ou seja, a norma culta. Assim,
dades de língua, ou seja, duas línguas funcionais: aquelas mesmas construções se alteram:
1) a língua funcional de modalidade culta, língua culta ou Eu não a vi hoje.
língua-padrão, que compreende a língua literária, tem por base a Ninguém o deixou falar.
norma culta, forma linguística utilizada pelo segmento mais culto Deixe-me ver isso!
Didatismo e Conhecimento 64
LÍNGUA PORTUGUESA
Eu te amo, sim, mas não abuses! Isso não implica dizer que se deve admitir tudo na língua falada.
Não assisti ao filme nem vou assistir a ele. A nenhum povo interessa a multiplicação de línguas. A nenhuma na-
Sou seu pai, por isso vou perdoar-lhe. ção convém o surgimento de dialetos, consequência natural do enor-
me distanciamento entre uma modalidade e outra.
Considera-se momento neutro o utilizado nos veículos de co- A língua escrita é, foi e sempre será mais bem-elaborada que a
municação de massa (rádio, televisão, jornal, revista, etc.). Daí o língua falada, porque é a modalidade que mantém a unidade linguís-
fato de não se admitirem deslizes ou transgressões da norma culta tica de um povo, além de ser a que faz o pensamento atravessar o es-
na pena ou na boca de jornalistas, quando no exercício do trabalho, paço e o tempo. Nenhuma reflexão, nenhuma análise mais detida será
que deve refletir serviço à causa do ensino. possível sem a língua escrita, cujas transformações, por isso mesmo,
O momento solene, acessível a poucos, é o da arte poética, ca- processam-se lentamente e em número consideravelmente menor,
racterizado por construções de rara beleza. quando cotejada com a modalidade falada.
Vale lembrar, finalmente, que a língua é um costume. Como tal, Importante é fazer o educando perceber que o nível da lingua-
qualquer transgressão, ou chamado erro, deixa de sê-lo no exato ins- gem, a norma linguística, deve variar de acordo com a situação em
tante em que a maioria absoluta o comete, passando, assim, a cons- que se desenvolve o discurso.
tituir fato linguístico registro de linguagem definitivamente consa- O ambiente sociocultural determina o nível da linguagem a ser
grado pelo uso, ainda que não tenha amparo gramatical. Exemplos: empregado. O vocabulário, a sintaxe, a pronúncia e até a entoação va-
Olha eu aqui! (Substituiu: Olha-me aqui!) riam segundo esse nível. Um padre não fala com uma criança como se
Vamos nos reunir. (Substituiu: Vamo-nos reunir.) estivesse em uma missa, assim como uma criança não fala como um
Não vamos nos dispersar. (Substituiu: Não nos vamos dispersar adulto. Um engenheiro não usará um mesmo discurso, ou um mesmo
e Não vamos dispersar-nos.) nível de fala, para colegas e para pedreiros, assim como nenhum pro-
Tenho que sair daqui depressinha. (Substituiu: Tenho de sair fessor utiliza o mesmo nível de fala no recesso do lar e na sala de aula.
daqui bem depressa.) Existem, portanto, vários níveis de linguagem e, entre esses ní-
O soldado está a postos. (Substituiu: O soldado está no seu posto.) veis, destacam-se em importância o culto e o cotidiano, a que já fize-
mos referência.
As formas impeço, despeço e desimpeço, dos verbos impedir,
despedir e desimpedir, respectivamente, são exemplos também de
- Sinônimos
transgressões ou “erros” que se tornaram fatos linguísticos, já que
São palavras de sentido igual ou aproximado: alfabeto - abecedá-
só correm hoje porque a maioria viu tais verbos como derivados de
rio; brado, grito - clamor; extinguir, apagar - abolir.
pedir, que tem início, na sua conjugação, com peço. Tanto bastou
Observação: A contribuição greco latina é responsável pela exis-
para se arcaizarem as formas então legítimas impido, despido e de-
tência de numerosos pares de sinônimos: adversário e antagonista;
simpido, que hoje nenhuma pessoa bem escolarizada tem coragem
translúcido e diáfano; semicírculo e hemiciclo; contraveneno e antí-
de usar.
doto; moral e ética; colóquio e diálogo; transformação e metamorfo-
Em vista do exposto, será útil eliminar do vocabulário escolar
palavras como corrigir e correto, quando nos referimos a frases. se; oposição e antítese.
“Corrija estas frases” é uma expressão que deve dar lugar a esta, por
exemplo: “Converta estas frases da língua popular para a língua - Antônimos
culta”. São palavras de significação oposta: ordem - anarquia; soberba
Uma frase correta não é aquela que se contrapõe a uma frase - humildade; louvar - censurar; mal - bem.
“errada”; é, na verdade, uma frase elaborada conforme as normas Observação: A antonímia pode originar-se de um prefixo de sen-
gramaticais; em suma, conforme a norma culta. tido oposto ou negativo: bendizer e maldizer; simpático e antipático;
progredir e regredir; concórdia e discórdia; ativo e inativo; esperar e
Língua escrita e língua falada. Nível de linguagem: desesperar; comunista e anticomunista; simétrico e assimétrico.
A língua escrita, estática, mais elaborada e menos econômica, O que são Homônimos e Parônimos:
não dispõe dos recursos próprios da língua falada. - Homônimos
A acentuação (relevo de sílaba ou sílabas), a entoação (melodia a) Homógrafos: são palavras iguais na escrita e diferentes na pro-
da frase), as pausas (intervalos significativos no decorrer do discur- núncia:
so), além da possibilidade de gestos, olhares, piscadas, etc., fazem rego (subst.) e rego (verbo);
da língua falada a modalidade mais expressiva, mais criativa, mais colher (verbo) e colher (subst.);
espontânea e natural, estando, por isso mesmo, mais sujeita a jogo (subst.) e jogo (verbo);
transformações e a evoluções. denúncia (subst.) e denuncia (verbo);
Nenhuma, porém, sobrepõe-se a outra em importância. Nas es- providência (subst.) e providencia (verbo).
colas, principalmente, costuma se ensinar a língua falada com base b) Homófonos: são palavras iguais na pronúncia e diferentes
na língua escrita, considerada superior. Decorrem daí as correções, as na escrita:
retificações, as emendas, a que os professores sempre estão atentos. acender (atear) e ascender (subir);
Ao professor cabe ensinar as duas modalidades, mostrando as concertar (harmonizar) e consertar (reparar);
características e as vantagens de uma e outra, sem deixar transparecer cela (compartimento) e sela (arreio);
nenhum caráter de superioridade ou inferioridade, que em verdade censo (recenseamento) e senso (juízo);
inexiste. paço (palácio) e passo (andar).
Didatismo e Conhecimento 65
LÍNGUA PORTUGUESA
c) Homógrafos e homófonos simultaneamente: São palavras 02. A palavra em destaque no trecho –“Tirando alguns sen-
iguais na escrita e na pronúncia: sores, que precisamos comprar, é tudo reciclagem”... – pode ser
caminho (subst.) e caminho (verbo); substituída, sem alteração do sentido da mensagem, pela seguinte
cedo (verbo) e cedo (adv.); expressão:
livre (adj.) e livre (verbo). A) Pelo menos
B) A contar de
- Parônimos C) Em substituição a
São palavras parecidas na escrita e na pronúncia: coro e cou- D) Com exceção de
ro; cesta e sesta; eminente e iminente; osso e ouço; sede e cede; E) No que se refere a
comprimento e cumprimento; tetânico e titânico; autuar e atuar;
degradar e degredar; infligir e infringir; deferir e diferir; suar e 03. Assinale a alternativa que apresenta um antônimo para o
soar. termo destacado em – …“No início das aulas, eu achava meio cha-
to, mas depois fui me interessando”, disse.
h t t p : / / w w w. c o l a d a w e b . c o m / p o r t u g u e s / s i n o n i m o s , - A) Estimulante.
-antonimos,-homonimos-e-paronimos B) Cansativo.
C) Irritante.
Questões sobre Significação das Palavras D) Confuso.
E) Improdutivo.
01. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacu-
nas da frase abaixo: 04. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP
Da mesma forma que os italianos e japoneses _________ – 2013). Analise as afirmações a seguir.
para o Brasil no século passado, hoje os brasileiros ________ I. Em – Há sete anos, Fransley Lapavani Silva está preso por
para a Europa e para o Japão, à busca de uma vida melhor; inter- homicídio. – o termo em destaque pode ser substituído, sem altera-
namente, __________ para o Sul, pelo mesmo motivo. ção do sentido do texto, por “faz”.
II. A frase – Todo preso deseja a libertação. – pode ser reescri-
a) imigraram - emigram - migram
ta da seguinte forma – Todo preso aspira à libertação.
b) migraram - imigram - emigram
III. No trecho – ... estou sendo olhado de forma diferente aqui
c) emigraram - migram - imigram.
no presídio devido ao bom comportamento. – pode-se substituir a
d) emigraram - imigram - migram.
expressão em destaque por “em razão do”, sem alterar o sentido
e) imigraram - migram – emigram
do texto.
De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, está
Agente de Apoio – Microinformática – VUNESP – 2013 -
correto o que se afirma em
Leia o texto para responder às questões de números 02 e 03.
A) I, II e III. B) III, apenas.
C) I e III, apenas. D) I, apenas.
Alunos de colégio fazem robôs com sucata eletrônica E) I e II, apenas.
Você comprou um smartphone e acha que aquele seu celular 05. Leia as frases abaixo:
antigo é imprestável? Não se engane: o que é lixo para alguns 1 - Assisti ao ________ do balé Bolshoi;
pode ser matéria-prima para outros. O CMID – Centro Marista 2 - Daqui ______ pouco vão dizer que ______ vida em Marte.
de Inclusão Digital –, que funciona junto ao Colégio Marista de 3 - As _________ da câmara são verdadeiros programas de
Santa Maria, no Rio Grande do Sul, ensina os alunos do colégio a humor.
fazer robôs a partir de lixo eletrônico. 4 - ___________ dias que não falo com Alfredo.
Os alunos da turma avançada de robótica, por exemplo,
constroem carros com sensores de movimento que respondem à Escolha a alternativa que oferece a sequência correta de
aproximação das pessoas. A fonte de energia vem de baterias de vocábulos para as lacunas existentes:
celular. “Tirando alguns sensores, que precisamos comprar, é tudo a) concerto – há – a – cessões – há;
reciclagem”, comentou o instrutor de robótica do CMID, Leandro b) conserto – a – há – sessões – há;
Schneider. Esses alunos também aprendem a consertar compu- c) concerto – a – há – seções – a;
tadores antigos. “O nosso projeto só funciona por causa do lixo d) concerto – a – há – sessões – há;
eletrônico. Se tivéssemos que comprar tudo, não seria viável”, e) conserto – há – a – sessões – a .
completou.
Em uma época em que celebridades do mundo digital fazem 06. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP
campanha a favor do ensino de programação nas escolas, é ins- – 2013-adap.). Considere o seguinte trecho para responder à
pirador o relato de Dionatan Gabriel, aluno da turma avançada questão.
de robótica do CMID que, aos 16 anos, já sabe qual será sua pro- Adolescentes vivendo em famílias que não lhes transmi-
fissão. “Quero ser programador. No início das aulas, eu achava tiram valores sociais altruísticos, formação moral e não lhes
meio chato, mas depois fui me interessando”, disse. impuseram limites de disciplina.
(Giordano Tronco, www.techtudo.com.br, 07.07.2013. Adap- O sentido contrário (antônimo) de altruísticos, nesse tre-
tado) cho, é:
Didatismo e Conhecimento 66
LÍNGUA PORTUGUESA
A) de desprendimento. No trecho – Temos uma expectativa, um envolvimento e aceita-
B) de responsabilidade. ção... –, a palavra destacada apresenta sentido contrário de
C) de abnegação. A) vontade.
D) de amor. B) apreciação.
E) de egoísmo. C) avaliação.
D) rejeição.
07. Assinale o único exemplo cuja lacuna deve ser preen- E) indiferença.
chida com a primeira alternativa da série dada nos parênteses:
A) Estou aqui _______ de ajudar os flagelados das enchen- 10. (Agente de Apoio Operacional – VUNESP – 2013). Na frase
tes. (afim- a fim). – Os consumidores são assediados pelo marketing... –, a palavra desta-
B) A bandeira está ________. (arreada - arriada). cada pode ser substituída, sem alteração de sentido, por:
C) Serão punidos os que ________ o regulamento. (inflin- A) perseguidos.
girem - infringirem). B) ameaçados.
D) São sempre valiosos os ________ dos mais velhos. C) acompanhados.
(concelhos - conselhos). D) gerados.
E) Moro ________ cem metros da praça principal. (a cerca E) preparados.
de - acerca de).
GABARITO
08. Assinale a alternativa correta, considerando que à direi-
ta de cada palavra há um sinônimo. 01. A 02. D 03. A 04. A 05. D
a) emergir = vir à tona; imergir = mergulhar 06. E 07. E 08. A 09. D 10. A
b) emigrar = entrar (no país); imigrar = sair (do país)
c) delatar = expandir; dilatar = denunciar RESOLUÇÃO
d) deferir = diferenciar; diferir = conceder
e) dispensa = cômodo; despensa = desobrigação
1-) Da mesma forma que os italianos e japoneses imigraram
para o Brasil no século passado, hoje os brasileiros emigram para
09. (Agente de Apoio Operacional – VUNESP – 2013).
a Europa e para o Japão, à busca de uma vida melhor; internamente,
Leia o texto a seguir.
migram para o Sul, pelo mesmo motivo.
Temos o poder da escolha
2-) “Com exceção de alguns sensores, que precisamos comprar, é
tudo reciclagem”...
Os consumidores são assediados pelo marketing a todo
momento para comprarem além do que necessitam, mas so-
mente eles podem decidir o que vão ou não comprar. É como 3-) antônimo para o termo destacado : “No início das aulas, eu
se abrissem em nós uma “caixa de necessidades”, mas só nós achava meio chato, mas depois fui me interessando”
temos o poder da escolha. “No início das aulas, eu achava meio estimulante, mas depois fui
Cada vez mais precisamos do consumo consciente. Será me interessando”
que paramos para pensar de onde vem o produto que estamos
consumindo e se os valores da empresa são os mesmos em que 4-)
acreditamos? A competitividade entre as empresas exige que I. Em – Há sete anos, Fransley Lapavani Silva está preso por ho-
elas evoluam para serem opções para o consumidor. Nos anos micídio. – o termo em destaque pode ser substituído, sem alteração do
60, saber fabricar qualquer coisa era o suficiente para ter uma sentido do texto, por “faz”. = correta
empresa. Nos anos 70, era preciso saber fazer com qualidade e II. A frase – Todo preso deseja a libertação. – pode ser reescrita da
altos índices de produção. Já no ano 2000, a preocupação era seguinte forma – Todo preso aspira à libertação. = correta
fazer melhor ou diferente da concorrência e as empresas passa- III. No trecho – ... estou sendo olhado de forma diferente aqui no
ram a atuar com responsabilidade sócio ambiental. presídio devido ao bom comportamento. – pode-se substituir a expres-
O consumidor tem de aprender a dizer não quando a sua são em destaque por “em razão do”, sem alterar o sentido do texto. =
relação com a empresa não for boa. Se não for boa, deve com- correta
prar o produto em outro lugar. Os cidadãos não têm ideia do
poder que possuem. 5-)
É importante, ainda, entender nossa relação com a empresa ou 1 - Assisti ao concerto do balé Bolshoi;
produto que vamos eleger. Temos uma expectativa, um envolvimento e 2 - Daqui a pouco vão dizer que há (= existe) vida
aceitação e a preferência dependerá das ações que aprovamos ou não em Marte.
nas empresas, pois podemos mudar de ideia. 3 – As sessões da câmara são verdadeiros programas de
Há muito a ser feito. Uma pesquisa mostrou que 55,4% das pes- humor.
soas acreditam no consumo consciente, mas essas mesmas pessoas ad- 4- Há dias que não falo com Alfredo. (= tempo passado)
mitem que já compraram produto pirata. Temos de refletir sobre isso 6-) Adolescentes vivendo em famílias que não lhes transmiti-
para mudar nossas atitudes. ram valores sociais altruísticos, formação moral e não lhes impu-
(Jornal da Tarde 24.04.2007. Adaptado) seram limites de disciplina.
Didatismo e Conhecimento 67
LÍNGUA PORTUGUESA
O sentido contrário (antônimo) de altruísticos, nesse trecho, - Sentido Figurado - é o sentido “simbólico”, “figurado”, que
é de egoísmo podemos dar a uma palavra.
Altruísmo é um tipo de comportamento encontrado nos seres Vamos analisar a palavra cobra utilizada em diferentes con-
humanos e outros seres vivos, em que as ações de um indivíduo textos:
beneficiam outros. É sinônimo de filantropia. No sentido comum
do termo, é muitas vezes percebida, também, como sinônimo de 1. A cobra picou o menino. (cobra = réptil peçonhento)
solidariedade. Esse conceito opõe-se, portanto, ao egoísmo, que 2. A sogra dele é uma cobra. (cobra = pessoa desagradável,
são as inclinações específica e exclusivamente individuais (pes- que adota condutas pouco apreciáveis)
3. O cara é cobra em Física! (cobra = pessoa que conhece
soais ou coletivas).
muito sobre alguma coisa, “expert”)
No item 1 aplica-se o termo cobra em seu sentido comum
7-) (ou literal); nos itens 2 e 3 o termo cobra é aplicado em sentido
A) Estou aqui a fim de de ajudar os flagelados das en- figurado.
chentes. (afim = O adjetivo “afim” é empregado para indicar que Podemos então concluir que um mesmo significante (parte
uma coisa tem afinidade com a outra. Há pessoas que têm tempe- concreta) pode ter vários significados (conceitos).
ramentos afins, ou seja, parecidos)
B) A bandeira está arriada . (arrear = colocar arreio Denotação e Conotação
no cavalo)
C) Serão punidos os que infringirem o regulamento. - Denotação: verifica-se quando utilizamos a palavra com o
(inflingirem = aplicarem a pena) seu significado primitivo e original, com o sentido do dicionário;
D) São sempre valiosos os conselhos dos mais velhos; usada de modo automatizado; linguagem comum. Veja este exem-
(concelhos= Porção territorial ou parte administrativa de um dis- plo: Cortaram as asas da ave para que não voasse mais.
trito). Aqui a palavra em destaque é utilizada em seu sentido pró-
E) Moro a cerca de cem metros da praça principal. (acerca prio, comum, usual, literal.
de = Acerca de é sinônimo de “a respeito de”.).
MINHA DICA - Procure associar Denotação com Dicionário:
8-) trata-se de definição literal, quando o termo é utilizado em seu
sentido dicionarístico.
b) emigrar = entrar (no país); imigrar = sair (do país) = sig-
nificados invertidos
- Conotação: verifica-se quando utilizamos a palavra com o
c) delatar = expandir; dilatar = denunciar = significados seu significado secundário, com o sentido amplo (ou simbólico);
invertidos usada de modo criativo, figurado, numa linguagem rica e expressi-
d) deferir = diferenciar; diferir = conceder = significados va. Veja este exemplo:
invertidos Seria aconselhável cortar as asas deste menino, antes que
e) dispensa = cômodo; despensa = desobrigação = signifi- seja tarde demais.
cados invertidos
Já neste caso o termo (asas) é empregado de forma figurada,
9-) Temos uma expectativa, um envolvimento e aceitação... –, fazendo alusão à ideia de restrição e/ou controle de ações; discipli-
a palavra destacada apresenta sentido contrário de rejeição. na, limitação de conduta e comportamento.
Didatismo e Conhecimento 68
LÍNGUA PORTUGUESA
Já sei: devem ficar escondidos de mim, guardados numa caixa, I. Foi acusado de ser o cabeça do movimento. = o líder, o
lá em Sorocaba. mentor (figurado)
(Antônio Prata, Apolpando. Folha de S.Paulo, 29.05.2013) II. Ele emprega sempre a palavra literalmente atribuindo-lhe
um sentido inteiramente inadequado. (linguagem denotativa)
Considerando o contexto, assinale a alternativa em que há termos III. Ignoro o porquê de você se aborrecer comigo. (= o motivo;
empregados em sentido figurado. denotação)
(A) Outro dia, meu pai veio me visitar… (1.º parágrafo) IV. Seus pensamentos são fantasmagorias que não o deixam
(B) … e trouxe uma caixa de caquis, lá de Sorocaba. (1.º pará- em paz. (perturbações; figurado).
grafo)
(C) … devem ficar escondidos de mim, guardados numa caixa…
RESPOSTA: “B”.
(último parágrafo)
(D) Enquanto comia, eu pensava… (1.º parágrafo)
(E) … botei numa tigela na varanda e comemos um por um… 4-) (Agente de Promotoria – Assessoria – VUNESP – 2013).
(1.º parágrafo) Leia o texto a seguir.
Sublinhei os termos que estão relacionados (os pronomes e ver- Na FLIP, como na Copa
bos retomam os seguintes substantivos abaixo):
Meus amigos e amigas e parentes queridos são como os caquis... RIO DE JANEIRO – Durante entrevista na Festa Literária
Quando os encontro, relembro como é prazeroso vê-los... Internacional de Paraty deste ano, o cantor Gilberto Gil criticou
...devem ficar escondidos de mim, guardados numa caixa, lá em as arquibancadas dos estádios brasileiros em jogos da Copa das
Sorocaba... Confederações.
Poderia ter dito o mesmo sobre a plateia da Tenda dos Au-
Através da leitura acima, percebemos que o autor refere-se aos tores, para a qual ele e mais de 40 outros se apresentaram. A au-
amigos, amigas e parentes. Ao dizer que ficam guardados em caixas, diência do evento literário lembra muito a dos eventos Fifa: classe
obviamente, está utilizando uma linguagem conotativa, figurada. média alta.
RESPOSTA: “C”. Na Flip, como nas Copas por aqui, pobre só aparece “como
prestador de serviço”, para citar uma participante de um protesto
2-) (CREFITO/SP – ANALISTA FINANCEIRO – VU-
em Paraty, anteontem.
NESP/2012 - ADAPTADA) Para responder à questão, considere o
trecho a seguir. Como lembrou outro dos convidados da festa literária, o me-
Uma lei que, por todo esse empenho do governo estadual, “pe- xicano Juan Pablo Villalobos, esse cenário é “um espelho do que
gou”. E justamente no Rio, dos tantos jeitinhos e esquemas e da vista é o Brasil”.
grossa. (Marco Aurélio Canônico, Na Flip, como na Copa. Folha de
S.Paulo, 08.07.2013. Adaptado)
No contexto em que está empregada, a expressão “pegou” assu- O termo espelho está empregado em sentido
me um sentido que também está presente em: A) figurado, significando qualidade.
(A) Já não há dúvidas de que essa moda pegou. B) próprio, significando modelo.
(B) O carro a álcool não pegou por causa do frio. C) figurado, significando advertência.
(C) O trem pegou o ônibus no cruzamento. D) próprio, significando símbolo.
(D) Ele, sem emprego, pegou o serviço temporário. E) figurado, significando reflexo.
(E) Ele correu atrás do ladrão e o pegou.
05. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP
A alternativa que apresenta o verbo “pegou” em seu sentido co- – 2013). Leia o texto a seguir.
notativo é a letra “A”.
Violência epidêmica
RESPOSTA: “A”.
A violência urbana é uma enfermidade contagiosa. Embora
3-) (TRF – 4ª REGIÃO – TAQUIGRAFIA – FCC/2010) Cons-
titui exemplo de uso de linguagem figurada o elemento sublinhado possa acometer indivíduos vulneráveis em todas as classes sociais,
na frase: é nos bairros pobres que ela adquire características epidêmicas.
I. Foi acusado de ser o cabeça do movimento. A prevalência varia de um país para outro e entre as cidades
II. Ele emprega sempre a palavra literalmente atribuindo-lhe um de um mesmo país, mas, como regra, começa nos grandes centros
sentido inteiramente inadequado. urbanos e se dissemina pelo interior.
III. Ignoro o porquê de você se aborrecer comigo. As estratégias que as sociedades adotam para combater a vio-
IV. Seus pensamentos são fantasmagorias que não o deixam lência variam muito e a prevenção das causas evoluiu muito pouco
em paz. no decorrer do século 20, ao contrário dos avanços ocorridos no
Atende ao enunciado APENAS o que está em campo das infecções, câncer, diabetes e outras enfermidades.
a) I e II. A agressividade impulsiva é consequência de perturbações
b) I e IV. nos mecanismos biológicos de controle emocional. Tendências
c) II e III. agressivas surgem em indivíduos com dificuldades adaptativas
d) III e IV. que os tornam despreparados para lidar com as frustrações de
e) I e III. seus desejos.
Didatismo e Conhecimento 69
LÍNGUA PORTUGUESA
A violência é uma doença. Os mais vulneráveis são os que 06. O item em que o termo sublinhado está empregado no
tiveram a personalidade formada num ambiente desfavorável ao sentido denotativo é:
desenvolvimento psicológico pleno. A) “Além dos ganhos econômicos, a nova realidade rendeu
A revisão de estudos científicos permite identificar três fatores frutos políticos.”
principais na formação das personalidades com maior inclinação B) “...com percentuais capazes de causar inveja ao presiden-
ao comportamento violento: te.”
1) Crianças que apanharam, foram vítimas de abusos, humi- C) “Os genéricos estão abrindo as portas do mercado...”
lhadas ou desprezadas nos primeiros anos de vida. D) “...a indústria disparou gordos investimentos.”
E) “Colheu uma revelação surpreendente:...”
2) Adolescentes vivendo em famílias que não lhes transmiti-
ram valores sociais altruísticos, formação moral e não lhes impu-
07. (Analista em C&T Júnior – Administração – VUNESP –
seram limites de disciplina.
2013). Leia o texto a seguir.
3) Associação com grupos de jovens portadores de comporta- O humor deve visar à crítica, não à graça, ensinou Chico
mento antissocial. Anysio, o humorista popular. E disse isso quando lhe solicitaram
Na periferia das cidades brasileiras vivem milhões de crian- considerar o estado atual do riso brasileiro. Nos últimos anos de
ças que se enquadram nessas três condições de risco. Associados vida, o escritor contribuía para o cômico apenas em sua porção de
à falta de acesso aos recursos materiais, à desigualdade social, ator, impedido pela televisão brasileira de produzir textos. E o que
esses fatores de risco criam o caldo de cultura que alimenta a ele dizia sobre a risada ajuda a entender a acomodação de mui-
violência crescente nas cidades. tos humoristas contemporâneos. Porque, quando eles humilham
Na falta de outra alternativa, damos à criminalidade a res- aqueles julgados inferiores, os pobres, os analfabetos, os negros,
posta do aprisionamento. Porém, seu efeito é passageiro: o cri- os nordestinos, todos os oprimidos que parece fácil espezinhar,
minoso fica impedido de delinquir apenas enquanto estiver preso. não funcionam bem como humoristas. O humor deve ser o oposto
Ao sair, estará mais pobre, terá rompido laços familiares e sociais disto, uma restauração do que é justo, para a qual desancar aque-
e dificilmente encontrará quem lhe dê emprego. Ao mesmo tempo, les em condições piores do que as suas não vale. Rimos, isso sim,
na prisão, terá criado novas amizades e conexões mais sólidas do superior, do arrogante, daquele que rouba nosso lugar social.
com o mundo do crime. O curioso é perceber como o Brasil de muito tempo atrás sa-
Construir cadeias custa caro; administrá-las, mais ainda. bia disso, e o ensinava por meio de uma imprensa ocupada em
ferir a brutal desigualdade entre os seres e as classes. Ao percor-
Obrigados a optar por uma repressão policial mais ativa, aumen-
rer o extenso volume da História da Caricatura Brasileira (Gala
taremos o número de prisioneiros. As cadeias continuarão super-
Edições), compreendemos que tal humor primitivo não praticava
lotadas.
um rosário de ofensas pessoais. Naqueles dias, humor parecia ser
Seria mais sensato investir em educação, para prevenir a cri- apenas, e necessariamente, a virulência em relação aos modos
minalidade e tratar os que ingressaram nela. opressivos do poder.
Na verdade, não existe solução mágica a curto prazo. Preci- A amplitude dessa obra é inédita. Saem da obscuridade os no-
samos de uma divisão de renda menos brutal, motivar os policiais mes que sucederam ao mais aclamado dos artistas a produzir arte
a executar sua função com dignidade, criar leis que acabem com naquele Brasil, Angelo Agostini. Corcundas magros, corcundas
a impunidade dos criminosos bem-sucedidos e construir cadeias gordos, corcovas com cabeça de burro, todos esses seres compos-
novas para substituir as velhas. tos em aspecto polimórfico, com expressivo valor gráfico, eram os
Enquanto não aprendermos a educar e oferecer medidas pre- responsáveis por ilustrar a subserviência a estender-se pela Corte
ventivas para que os pais evitem ter filhos que não serão capazes Imperial. Contra a escravidão, o comodismo dos bem--postos e
de criar, cabe a nós a responsabilidade de integrá-los na socieda- dos covardes imperialistas, esses artistas operavam seu espírito
de por meio da educação formal de bom nível, das práticas espor- crítico em jornais de todos os cantos do País.
tivas e da oportunidade de desenvolvimento artístico. (Carta Capital.13.02.2013. Adaptado)
(Drauzio Varella. In Folha de S.Paulo, 9 mar.2002. Adaptado)
Na frase –… compreendemos que tal humor primitivo não
Assinale a alternativa em cuja frase foi empregada palavra ou praticava um rosário de ofensas pessoais. –, observa-se emprego
expressão com sentido figurado. de expressão com sentido figurado, o que ocorre também em:
A) O livro sobre a história da caricatura estabelece marcos
A) Tendências agressivas surgem em indivíduos com dificul-
inaugurais em relação a essa arte.
dades adaptativas ...(4.º parágrafo)
B) O trabalho do caricaturista pareceu tão importante a seus
B) A revisão de estudos científicos permite identificar três fa- contemporâneos que recebeu o nome de “nova invenção artística.”
tores principais na formação das personalidades com maior incli- C) Manoel de Araújo Porto Alegre foi o primeiro profissional
nação ao comportamento violento... (6.º parágrafo) dessa arte e o primeiro a produzir caricaturas no Brasil.
C) As estratégias que as sociedades adotam para combater a D) O jornal alternativo em 1834 zunia às orelhas de todos e
violência variam... (3.º parágrafo) atacava esta ou aquela personagem da Corte.
D) ...esses fatores de risco criam o caldo de cultura que ali- E) O livro sobre a arte caricatural respeita cronologicamente os
menta a violência crescente nas cidades. (10.º parágrafo) acontecimentos da história brasileira, suas temáticas políticas e sociais.
E) Os mais vulneráveis são os que tiveram a personalidade
formada num ambiente desfavorável ao desenvolvimento psicoló- 08. (Analista em Planejamento, Orçamento e Finanças Públi-
gico pleno. (5.º parágrafo) cas – VUNESP – 2013). Leia o texto a seguir.
Didatismo e Conhecimento 70
LÍNGUA PORTUGUESA
Tomadas e oboés B) desvalorizados, que não são devidamente reconhecidos.
C) indispensáveis, que consideram realizar um trabalho de
“O do meio, com heliponto, tá vendo?”, diz o taxista, apon- grande importância.
tando o enorme prédio espelhado, do outro lado da marginal: “A D) metódicos, que gerenciam com rigidez a vida corporativa.
parte elétrica, inteirinha, meu cunhado que fez”. Ficamos admi- E) flexíveis, que sabem valorizar os momentos de ócio.
rando o edifício parcialmente iluminado ao cair da tarde e penso
menos no tamanho da empreitada do que em nossa variegada hu- GABARITO
manidade: uns se dedicam à escrita, outros a instalações elétricas,
04. E 05. D 06. B 07. D 08. C
lembro- -me do meu tio Augusto, que vive de tocar oboé. “Fio,
disjuntor, tomada, tudo!”, insiste o motorista, com tanto orgulho RESOLUÇÃO
que chega a contaminar-me.
Pergunto quantas tomadas ele acha que tem, no prédio todo. 4-) O termo espelho está empregado em sentido figurado, sig-
Há quem ria desse tipo de indagação. Meu taxista, não. É um ho- nificando reflexo do que é o país.
mem sério, eu também, fazemos as contas: uns dez escritórios por
andar, cada um com umas seis salas, vezes 30 andares. “Cada 5-) criam o caldo de cultura que alimenta a violência crescente
sala tem o quê? Duas tomadas?” nas cidades. (10.º parágrafo)
“Cê tá louco! Muito mais! Hoje em dia, com computador, es- Criam o ambiente, as situações que alimentam, fortalecem a
violência.
sas coisas? Depois eu pergunto pro meu cunhado, mas pode botar
aí pra uma média de seis tomadas/sala.” 6-) com percentuais capazes de causar inveja ao presidente.
Ok: 10 x 6 x 6 x 30 = 10.800. Dez mil e oitocentas tomadas! Sentido denotativo = empregado com o sentido real da palavra
Há 30, 40 anos, uma hora dessas, a maior parte das tomadas
já estaria dormindo o sono dos justos, mas a julgar pelo núme- 7-) O jornal alternativo em 1834 zunia às orelhas de todos e
ro de janelas acesas, enquanto volto para casa, lentamente, pela atacava esta ou aquela personagem da Corte.
marginal, centenas de trabalhadores suam a camisa, ali no pré- Zunir: Produzir som forte e áspero. Empregado no sentido de
dio: criam logotipos, calculam custos para o escoamento da soja, “gritar” aos leitores as notícias.
negociam minério de ferro. Talvez até, quem sabe, deitado num
sofá, um homem escute em seu iPod as notas de um oboé. 8-) indispensáveis, que consideram realizar um trabalho de
Alegra-me pensar nesse sujeito de olhos fechados, ouvindo grande importância.
Comparando-se ao movimento de rotação, que acontece sem
música. Bom saber que, na correria geral, em meio a tantos profis-
a intervenção de quaisquer trabalhadores, “importantes” ou não.
sionais que acreditam estar diretamente envolvidos no movimento
de rotação da Terra, esse aí reservou-se cinco minutos de contem- Palavras e Locuções Denotativas são aquelas que, embora,
plação. em alguns aspectos (ser invariável, por exemplo), assemelhem-se
Está tarde, contudo. Algo não fecha: por que segue no escri- a advérbios, não possuem, segundo a Nomenclatura Gramatical
tório, esse homem? Por que não voltou para a mulher e os filhos, Brasileira, classificação especial. Do ponto de vista sintático, são
não foi para o chope ou o cinema? O homem no sofá, entendo ago- expletivas, isto é, não assumem nenhuma função; do ponto de vista
ra, está ainda mais afundado do que os outros. O momento oboé morfológico, são invariáveis (muitas delas vindas de outras classes
era apenas uma pausa para repor as energias, logo mais voltará à gramaticais); do ponto de vista semântico, são inegavelmente im-
sua mesa e a seus logotipos, à soja ou ao minério de ferro. portantes no contexto em que se encontram (daí seu nome). Clas-
“Onze mil, cento e cinquenta”, diz o taxista, me mostrando sificam-se em função da ideia que expressam:
Adição: ainda, além disso, etc. Por exemplo: Comeu tudo e
o celular. Não entendo. “É o SMS do meu cunhado: 11.150 toma-
ainda repetiu.
das.” Afastamento: embora. Por exemplo: Foi embora daqui.
Olho o prédio mais uma vez, admirado com a instalação elé- Afetividade: ainda bem, felizmente, infelizmente. Por exem-
trica e nossa heteróclita humanidade, enquanto seguimos, feito plo: Ainda bem que passei de ano.
cágados, pela marginal. Aproximação: quase, lá por, bem, uns, cerca de, por volta de,
(Antonio Prata, Folha de S.Paulo, 06.03.2013. Adaptado) etc.. Por exemplo: Ela quase revelou o segredo.
Designação: eis. Por exemplo: Eis nosso carro novo.
No trecho do sexto parágrafo – Bom saber que, na correria Exclusão: apesar, somente, só, salvo, unicamente, exclusive,
geral, em meio a tantos profissionais que acreditam estar dire- exceto, senão, sequer, apenas, etc. Por exemplo: Não me descon-
tamente envolvidos no movimento de rotação da Terra, esse aí tou sequer um real.
reservou-se cinco minutos de contemplação. –, o segmento em Explicação: isto é, por exemplo, a saber, etc. Por exemplo: Li
vários livros, a saber, os clássicos.
destaque expressa, de modo figurado, um sentido equivalente ao
Inclusão: até, ainda, além disso, também, inclusive, etc. Por
da expressão: profissionais que acreditam ser exemplo: Eu também vou viajar.
A) incompreendidos, que são obrigados a trabalhar além do Limitação: só, somente, unicamente, apenas, etc. Por exemplo:
expediente. Só ele veio à festa.
Didatismo e Conhecimento 71
LÍNGUA PORTUGUESA
Realce: é que, cá, lá, não, mas, é porque, etc. Por exemplo: E A palavra “manga” é um caso de homonímia. Ela pode sig-
você lá sabe essa questão? O que não diria essa senhora se soubes- nificar uma fruta ou uma parte de uma camisa. Não é polissemia
se que já fui famoso. porque os diferentes significados para a palavra manga têm origens
diferentes, e por isso alguns estudiosos mencionam que a palavra
Retificação: aliás, isto é, ou melhor, ou antes, etc. Por exem- manga deveria ter mais do que uma entrada no dicionário.
plo: Somos três, ou melhor, quatro. “Letra” é uma palavra polissêmica. Letra pode significar o
elemento básico do alfabeto, o texto de uma canção ou a caligrafia
Situação: então, mas, se, agora, afinal, etc. Por exemplo: Mas de um determinado indivíduo. Neste caso, os diferentes significa-
quem foi que fez isso? dos estão interligados porque remetem para o mesmo conceito, o
da escrita.
As palavras denotativas frequentemente ocorrem em frases e
textos diretamente envolvidos com as estratégias argumentativas. Polissemia e ambiguidade
Por esta razão, fique atento para o papel de palavras como até, aliás,
também, etc. e para os efeitos de sentido que produzem nas situações Polissemia e ambiguidade têm um grande impacto na inter-
efetivas de interlocução. Podem ser difíceis de classificar, mas isso pretação. Na língua portuguesa, um enunciado pode ser ambíguo,
não impede que sejam importantes e necessárias. ou seja, apresenta mais de uma interpretação. Essa ambiguidade
pode ocorrer devido à colocação específica de uma palavra (por
Polissemia exemplo, um advérbio) em uma frase. Vejamos a seguinte frase:
Pessoas que têm uma alimentação equilibrada frequentemente são
Consideremos as seguintes frases: felizes. Neste caso podem existir duas interpretações diferentes.
Paula tem uma mão para cozinhar que dá inveja! As pessoas têm alimentação equilibrada porque são felizes ou são
Vamos! Coloque logo a mão na massa! felizes porque têm uma alimentação equilibrada.
As crianças estão com as mãos sujas. De igual forma, quando uma palavra é polissêmica, ela pode
Passaram a mão na minha bolsa e nem percebi. induzir uma pessoa a fazer mais do que uma interpretação. Para
fazer a interpretação correta é muito importante saber qual o con-
texto em que a frase é proferida.
Chegamos à conclusão de que se trata de palavras idênticas no
que se refere à grafia, mas será que possuem o mesmo significado?
Existe uma parte da gramática normativa denominada Semânti-
ca. Ela trabalha a questão dos diferentes significados que uma mes-
ma palavra apresenta de acordo com o contexto em que se insere. 6. TIPOS E MODOS TEXTUAIS.
Tomando como exemplo as frases já mencionadas, analisare-
mos os vocábulos de mesma grafia, de acordo com seu sentido de-
notativo, isto é, aquele retratado pelo dicionário.
Na primeira, a palavra “mão” significa habilidade, eficiência Tipologia Textual
diante do ato praticado. Nas outras que seguem o significado é de:
participação, interação mediante a uma tarefa realizada; mão como Tipo textual é a forma como um texto se apresenta. As únicas
parte do corpo humano e por último simboliza o roubo, visto de tipologias existentes são: narração, descrição, dissertação ou ex-
maneira pejorativa. posição, informação e injunção. É importante que não se confun-
Reportando-nos ao conceito de Polissemia, logo percebemos da tipo textual com gênero textual.
que o prefixo “poli” significa multiplicidade de algo. Possibilidades
de várias interpretações levando-se em consideração as situações de Texto Narrativo - tipo textual em que se conta fatos que ocor-
aplicabilidade. reram num determinado tempo e lugar, envolvendo personagens e
Há uma infinidade de outros exemplos em que podemos verifi- um narrador. Refere-se a objeto do mundo real ou fictício. Possui
car a ocorrência da polissemia, como por exemplo: uma relação de anterioridade e posterioridade. O tempo verbal pre-
O rapaz é um tremendo gato. dominante é o passado.
O gato do vizinho é peralta. - expõe um fato, relaciona mudanças de situação, aponta an-
Precisei fazer um gato para que a energia voltasse. tes, durante e depois dos acontecimentos (geralmente);
Pedro costuma fazer alguns “bicos” para garantir sua sobre- - é um tipo de texto sequencial;
vivência - relato de fatos;
O passarinho foi atingido no bico. - presença de narrador, personagens, enredo, cenário, tempo;
- apresentação de um conflito;
Polissemia e homonímia - uso de verbos de ação;
- geralmente, é mesclada de descrições;
A confusão entre polissemia e homonímia é bastante comum. - o diálogo direto é frequente.
Quando a mesma palavra apresenta vários significados, estamos na
presença da polissemia. Por outro lado, quando duas ou mais pa- Texto Descritivo - um texto em que se faz um retrato por es-
lavras com origens e significados distintos têm a mesma grafia e crito de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. A classe
fonologia, temos uma homonímia. de palavras mais utilizada nessa produção é o adjetivo, pela sua
Didatismo e Conhecimento 72
LÍNGUA PORTUGUESA
função caracterizadora. Numa abordagem mais abstrata, pode-se organizados por uma narração feita por um narrador. É uma série de
até descrever sensações ou sentimentos. Não há relação de anterio- fatos situados em um espaço e no tempo, tendo mudança de um es-
ridade e posterioridade. É fazer uma descrição minuciosa do obje- tado para outro, segundo relações de sequencialidade e causalidade,
to ou da personagem a que o texto refere. Nessa espécie textual as e não simultâneos como na descrição. Expressa as relações entre os
coisas acontecem ao mesmo tempo. indivíduos, os conflitos e as ligações afetivas entre esses indivíduos
- expõe características dos seres ou das coisas, apresenta uma visão; e o mundo, utilizando situações que contêm essa vivência.
- é um tipo de texto figurativo; Todas as vezes que uma história é contada (é narrada), o narra-
- retrato de pessoas, ambientes, objetos; dor acaba sempre contando onde, quando, como e com quem ocor-
- predomínio de atributos; reu o episódio. É por isso que numa narração predomina a ação: o
- uso de verbos de ligação; texto narrativo é um conjunto de ações; assim sendo, a maioria dos
- frequente emprego de metáforas, comparações e outras verbos que compõem esse tipo de texto são os verbos de ação. O
figuras de linguagem; conjunto de ações que compõem o texto narrativo, ou seja, a his-
- tem como resultado a imagem física ou psicológica.
tória que é contada nesse tipo de texto recebe o nome de enredo.
As ações contidas no texto narrativo são praticadas pelas per-
Texto Dissertativo - a dissertação é um texto que analisa, in-
sonagens, que são justamente as pessoas envolvidas no episódio
terpreta, explica e avalia dados da realidade. Esse tipo textual re-
que está sendo contado. As personagens são identificadas (nomea-
quer reflexão, pois as opiniões sobre os fatos e a postura crítica em
relação ao que se discute têm grande importância. O texto disserta- das) no texto narrativo pelos substantivos próprios.
tivo é temático, pois trata de análises e interpretações; o tempo ex- Quando o narrador conta um episódio, às vezes (mesmo sem
plorado é o presente no seu valor atemporal; é constituído por uma querer) ele acaba contando “onde” (em que lugar) as ações do
introdução onde o assunto a ser discutido é apresentado, seguido enredo foram realizadas pelas personagens. O lugar onde ocorre
por uma argumentação que caracteriza o ponto de vista do autor uma ação ou ações é chamado de espaço, representado no texto
sobre o assunto em evidência. Nesse tipo de texto a expressão das pelos advérbios de lugar.
ideias, valores, crenças são claras, evidentes, pois é um tipo de Além de contar onde, o narrador também pode esclarecer
texto que propõe a reflexão, o debate de ideias. A linguagem ex- “quando” ocorreram as ações da história. Esse elemento da narra-
plorada é a denotativa, embora o uso da conotação possa marcar tiva é o tempo, representado no texto narrativo através dos tempos
um estilo pessoal. A objetividade é um fator importante, pois dá verbais, mas principalmente pelos advérbios de tempo. É o tempo
ao texto um valor universal, por isso geralmente o enunciador não que ordena as ações no texto narrativo: é ele que indica ao leitor
aparece porque o mais importante é o assunto em questão e não “como” o fato narrado aconteceu.
quem fala dele. A ausência do emissor é importante para que a A história contada, por isso, passa por uma introdução (parte
ideia defendida torne algo partilhado entre muitas pessoas, sendo inicial da história, também chamada de prólogo), pelo desenvolvi-
admitido o emprego da 1ª pessoa do plural - nós, pois esse não mento do enredo (é a história propriamente dita, o meio, o “miolo”
descaracteriza o discurso dissertativo. da narrativa, também chamada de trama) e termina com a conclu-
- expõe um tema, explica, avalia, classifica, analisa; são da história (é o final ou epílogo). Aquele que conta a história
- é um tipo de texto argumentativo. é o narrador, que pode ser pessoal (narra em 1ª pessoa: Eu...) ou
- defesa de um argumento: apresentação de uma tese que será impessoal (narra em 3ª pessoa: Ele...).
defendida; desenvolvimento ou argumentação; fechamento; Assim, o texto narrativo é sempre estruturado por verbos de
- predomínio da linguagem objetiva; ação, por advérbios de tempo, por advérbios de lugar e pelos subs-
- prevalece a denotação. tantivos que nomeiam as personagens, que são os agentes do texto,
ou seja, aquelas pessoas que fazem as ações expressas pelos ver-
Texto Argumentativo - esse texto tem a função de persuadir o bos, formando uma rede: a própria história contada.
leitor, convencendo-o de aceitar uma ideia imposta pelo texto. É o
Tudo na narrativa depende do narrador, da voz que conta a
tipo textual mais presente em manifestos e cartas abertas, e quando
história.
também mostra fatos para embasar a argumentação, se torna um
texto dissertativo-argumentativo.
Elementos Estruturais (I):
Texto Injuntivo/Instrucional - indica como realizar uma
ação. Também é utilizado para predizer acontecimentos e com- - Enredo: desenrolar dos acontecimentos.
portamentos. Utiliza linguagem objetiva e simples. Os verbos são, - Personagens: são seres que se movimentam, se relacionam e
na sua maioria, empregados no modo imperativo, porém nota-se dão lugar à trama que se estabelece na ação. Revelam-se por meio
também o uso do infinitivo e o uso do futuro do presente do modo de características físicas ou psicológicas. Os personagens podem
indicativo. Ex: Previsões do tempo, receitas culinárias, manuais, ser lineares (previsíveis), complexos, tipos sociais (trabalhador,
leis, bula de remédio, convenções, regras e eventos. estudante, burguês etc.) ou tipos humanos (o medroso, o tímido, o
avarento etc.), heróis ou anti-heróis, protagonistas ou antagonistas.
Narração - Narrador: é quem conta a história.
- Espaço: local da ação. Pode ser físico ou psicológico.
A Narração é um tipo de texto que relata uma história real, - Tempo: época em que se passa a ação. Cronológico: o tem-
fictícia ou mescla dados reais e imaginários. O texto narrativo po convencional (horas, dias, meses); Psicológico: o tempo inte-
apresenta personagens que atuam em um tempo e em um espaço, rior, subjetivo.
Didatismo e Conhecimento 73
LÍNGUA PORTUGUESA
Elementos Estruturais (II): Existem três tipos de foco narrativo:
Didatismo e Conhecimento 74
LÍNGUA PORTUGUESA
chovesse reiúnos acolherados ou que ventasse como por alma de Eles não têm pressa. O grande homem e seus dois meninos.
padre, nunca errou vau, nunca perdeu atalho, nunca desandou cru- E permanecem para sempre, humanos e indestrutíveis, sentados
zada!... naquela mesa.
(...) (Wander Piroli)
Aqui há poucos – coitado! – pousei no arranchamento dele.
Casado ou doutro jeito, afamilhado. Não no víamos desde muito Tipos de Discurso:
tempo. (...)
Fiquei verdeando, à espera, e fui dando um ajutório na matan- Discurso Direto: o narrador passa a palavra diretamente para
ça dos leitões e no tiramento dos assados com couro. o personagem, sem a sua interferência. Exemplo:
(J. Simões Lopes Neto – Contrabandista)
Caso de Desquite
- Em 3ª pessoa:
__ Vexame de incomodar o doutor (a mão trêmula na boca).
Onisciente: não há um eu que conta; é uma terceira pessoa.
Veja, doutor, este velho caducando. Bisavô, um neto casado. Agora
Exemplo:
com mania de mulher. Todo velho é sem-vergonha.
__ Dobre a língua, mulher. O hominho é muito bom. Só não
“Devia andar lá pelos cinco anos e meio quando a fantasiaram
de borboleta. Por isso não pôde defender-se. E saiu à rua com ar me pise, fico uma jararaca.
menos carnavalesco deste mundo, morrendo de vergonha da malha __ Se quer sair de casa, doutor, pague uma pensão.
de cetim, das asas e das antenas e, mais ainda, da cara à mostra, __ Essa aí tem filho emancipado. Criei um por um, está bom?
sem máscara piedosa para disfarçar o sentimento impreciso de ri- Ela não contribuiu com nada, doutor. Só deu de mamar no primei-
dículo.” ro mês.
(Ilka Laurito. Sal do Lírico) __Você desempregado, quem é que fazia roça?
__ Isso naquele tempo. O hominho aqui se espalhava. Fui jo-
Narrador Objetivo: não se envolve, conta a história como gado na estrada, doutor. Desde onze anos estou no mundo sem
sendo vista por uma câmara ou filmadora. Exemplo: ninguém por mim. O céu lá em cima, noite e dia o hominho aqui
na carroça. Sempre o mais sacrificado, está bom?
Festa __ Se ficar doente, Severino, quem é que o atende?
__ O doutor já viu urubu comer defunto? Ninguém morre só.
Atrás do balcão, o rapaz de cabeça pelada e avental olha o Sempre tem um cristão que enterra o pobre.
crioulão de roupa limpa e remendada, acompanhado de dois meni- __ Na sua idade, sem os cuidados de uma mulher...
nos de tênis branco, um mais velho e outro mais novo, mas ambos __ Eu arranjo.
com menos de dez anos. __ Só a troco de dinheiro elas querem você. Agora tem dois
Os três atravessam o salão, cuidadosamente, mas resoluta- cavalos. A carroça e os dois cavalos, o que há de melhor. Vai me
mente, e se dirigem para o cômodo dos fundos, onde há seis mesas deixar sem nada?
desertas. __ Você tinha amula e a potranca. A mula vendeu e a potranca,
O rapaz de cabeça pelada vai ver o que eles querem. O ho- deixou morrer. Tenho culpa? Só quero paz, um prato de comida e
mem pergunta em quanto fica uma cerveja, dois guaranás e dois roupa lavada.
pãezinhos. __ Para onde foi a lavadeira?
__ Duzentos e vinte. __ Quem?
O preto concentra-se, aritmético, e confirma o pedido. __ A mulata.
__Que tal o pão com molho? – sugere o rapaz.
(...)
__ Como?
(Dalton Trevisan – A guerra Conjugal)
__ Passar o pão no molho da almôndega. Fica muito mais gos-
toso.
O homem olha para os meninos. Discurso Indireto: o narrador conta o que o personagem diz,
__ O preço é o mesmo – informa o rapaz. sem lhe passar diretamente a palavra. Exemplo:
__ Está certo.
Os três sentam-se numa das mesas, de forma canhestra, como Frio
se o estivessem fazendo pela primeira vez na vida.
O rapaz de cabeça pelada traz as bebidas e os copos e, em se- O menino tinha só dez anos.
guida, num pratinho, os dois pães com meia almôndega cada um. Quase meia hora andando. No começo pensou num bonde.
O homem e (mais do que ele) os meninos olham para dentro dos Mas lembrou-se do embrulhinho branco e bem feito que trazia,
pães, enquanto o rapaz cúmplice se retira. afastou a idéia como se estivesse fazendo uma coisa errada. (Nos
Os meninos aguardam que a mão adulta leve solene o copo de bondes, àquela hora da noite, poderiam roubá-lo, sem que perce-
cerveja até a boca, depois cada um prova o seu guaraná e morde o besse; e depois?... Que é que diria a Paraná?)
primeiro bocado do pão. Andando. Paraná mandara-lhe não ficar observando as vitri-
O homem toma a cerveja em pequenos goles, observando cri- nes, os prédios, as coisas. Como fazia nos dias comuns. Ia firme
teriosamente o menino mais velho e o menino mais novo absorvi- e esforçando-se para não pensar em nada, nem olhar muito para
dos com o sanduíche e a bebida. nada.
Didatismo e Conhecimento 75
LÍNGUA PORTUGUESA
__ Olho vivo – como dizia Paraná. Narrativa e Narração
Devagar, muita atenção nos autos, na travessia das ruas. Ele
ia pelas beiradas. Quando em quando, assomava um guarda nas Existe alguma diferença entre as duas? Sim. A narratividade é
esquinas. O seu coraçãozinho se apertava. um componente narrativo que pode existir em textos que não são
Na estação da Sorocabana perguntou as horas a uma mulher. narrações. A narrativa é a transformação de situações. Por exem-
Sempre ficam mulheres vagabundeando por ali, à noite. Pelo jardim, plo, quando se diz “Depois da abolição, incentivou-se a imigra-
ção de europeus”, temos um texto dissertativo, que, no entanto,
pelos escuros da Alameda Cleveland. Ela lhe deu, ele seguiu. Igno-
apresenta um componente narrativo, pois contém uma mudança
rava a exatidão de seus cálculos, mas provavelmente faltava mais ou
de situação: do não incentivo ao incentivo da imigração européia.
menos uma hora para chegar em casa. Os bondes passavam. Se a narrativa está presente em quase todos os tipos de texto,
(João Antônio – Malagueta, Perus e Bacanaço) o que é narração?
Discurso Indireto-Livre: ocorre uma fusão entre a fala do per- A narração é um tipo de narrativa. Tem ela três características:
sonagem e a fala do narrador. É um recurso relativamente recente. - é um conjunto de transformações de situação (o texto de Ma-
Surgiu com romancistas inovadores do século XX. Exemplo: nuel Bandeira – “Porquinho-da-índia”, como vimos, preenche essa
condição);
A Morte da Porta-Estandarte - é um texto figurativo, isto é, opera com personagens e fatos
concretos (o texto “Porquinho-da-índia” preenche também esse
Que ninguém o incomode agora. Larguem os seus braços. requisito);
Rosinha está dormindo. Não acordem Rosinha. Não é preciso se- - as mudanças relatadas estão organizadas de maneira tal que,
gurá-lo, que ele não está bêbado... O céu baixou, se abriu... Esse entre elas, existe sempre uma relação de anterioridade e posterio-
temporal assim é bom, porque Rosinha não sai. Tenham paciên- ridade (no texto “Porquinho-da-índia” o fato de ganhar o animal é
anterior ao de ele estar debaixo do fogão, que por sua vez é anterior
cia... Largar Rosinha ali, ele não larga não... Não! E esses tambo-
ao de o menino levá-lo para a sala, que por seu turno é anterior ao
res? Ui! Que venham... É guerra... ele vai se espalhar... Por que de o porquinho-da-índia voltar ao fogão).
não está malhando em sua cabeça?... (...) Ele vai tirar Rosinha da
cama... Ele está dormindo, Rosinha... Fugir com ela, para o fundo Essa relação de anterioridade e posterioridade é sempre perti-
do País... Abraçá-la no alto de uma colina... nente num texto narrativo, mesmo que a sequência linear da tempo-
(Aníbal Machado) ralidade apareça alterada. Assim, por exemplo, no romance macha-
diano Memórias póstumas de Brás Cubas, quando o narrador come-
Sequência Narrativa: ça contando sua morte para em seguida relatar sua vida, a sequência
temporal foi modificada. No entanto, o leitor reconstitui, ao longo da
Uma narrativa não tem uma única mudança, mas várias: uma leitura, as relações de anterioridade e de posterioridade.
coordena-se a outra, uma implica a outra, uma subordina-se a ou- Resumindo: na narração, as três características explicadas
tra. acima (transformação de situações, figuratividade e relações de
A narrativa típica tem quatro mudanças de situação: anterioridade e posterioridade entre os episódios relatados) devem
estar presentes conjuntamente. Um texto que tenha só uma ou duas
- uma em que uma personagem passa a ter um querer ou um
dessas características não é uma narração.
dever (um desejo ou uma necessidade de fazer algo);
- uma em que ela adquire um saber ou um poder (uma compe- Esquema que pode facilitar a elaboração de seu texto narrativo:
tência para fazer algo);
- uma em que a personagem executa aquilo que queria ou de- - Introdução: citar o fato, o tempo e o lugar, ou seja, o que
via fazer (é a mudança principal da narrativa); aconteceu, quando e onde.
- uma em que se constata que uma transformação se deu e em - Desenvolvimento: causa do fato e apresentação dos perso-
que se podem atribuir prêmios ou castigos às personagens (geral- nagens.
mente os prêmios são para os bons, e os castigos, para os maus). - Desenvolvimento: detalhes do fato.
- Conclusão: consequências do fato.
Toda narrativa tem essas quatro mudanças, pois elas se pres-
supõem logicamente. Com efeito, quando se constata a realização Caracterização Formal:
de uma mudança é porque ela se verificou, e ela efetua-se porque
quem a realiza pode, sabe, quer ou deve fazê-la. Tomemos, por Em geral, a narrativa se desenvolve na prosa. O aspecto nar-
rativo apresenta, até certo ponto, alguma subjetividade, porquanto
exemplo, o ato de comprar um apartamento: quando se assina a
a criação e o colorido do contexto estão em função da individuali-
escritura, realiza-se o ato de compra; para isso, é necessário poder dade e do estilo do narrador. Dependendo do enfoque do redator, a
(ter dinheiro) e querer ou dever comprar (respectivamente, querer narração terá diversas abordagens. Assim é de grande importância
deixar de pagar aluguel ou ter necessidade de mudar, por ter sido saber se o relato é feito em primeira pessoa ou terceira pessoa. No
despejado, por exemplo). primeiro caso, há a participação do narrador; segundo, há uma in-
Algumas mudanças são necessárias para que outras se deem. ferência do último através da onipresença e onisciência.
Assim, para apanhar uma fruta, é necessário apanhar um bambu Quanto à temporalidade, não há rigor na ordenação dos acon-
ou outro instrumento para derrubá-la. Para ter um carro, é preciso tecimentos: esses podem oscilar no tempo, transgredindo o aspecto
antes conseguir o dinheiro. linear e constituindo o que se denomina “flashback”. O narrador
Didatismo e Conhecimento 76
LÍNGUA PORTUGUESA
que usa essa técnica (característica comum no cinema moderno) seja apreendido pelos sentidos e transformado, com palavras,
demonstra maior criatividade e originalidade, podendo observar as em imagens. Sempre que se expõe com detalhes um objeto, uma
ações ziguezagueando no tempo e no espaço. pessoa ou uma paisagem a alguém, está fazendo uso da descrição.
Não é necessário que seja perfeita, uma vez que o ponto de vista
Exemplo - Personagens do observador varia de acordo com seu grau de percepção. Dessa
forma, o que será importante ser analisado para um, não será para
“Aboletado na varanda, lendo Graciliano Ramos, O Dr. outro. A vivência de quem descreve também influencia na hora de
Amâncio não viu a mulher chegar. transmitir a impressão alcançada sobre determinado objeto, pes-
- Não quer que se carpa o quintal, moço? soa, animal, cena, ambiente, emoção vivida ou sentimento.
Estava um caco: mal vestida, cheirando a fumaça, a face es-
calavrada. Mas os olhos... (sempre guardam alguma coisa do pas- Exemplos:
sado, os olhos).”
(I) “De longe via a aleia onde a tarde era clara e redonda. Mas
(Kiefer, Charles. A dentadura postiça. Porto Alegre: Mer- a penumbra dos ramos cobria o atalho.
cado Aberto, p. 5O) Ao seu redor havia ruídos serenos, cheiro de árvores, peque-
nas surpresas entre os cipós. Todo o jardim triturado pelos instan-
Exemplo - Espaço tes já mais apressados da tarde. De onde vinha o meio sonho pelo
Considerarei longamente meu pequeno deserto, a redondeza qual estava rodeada? Como por um zunido de abelhas e aves. Tudo
escura e uniforme dos seixos. Seria o leito seco de algum rio. Não era estranho, suave demais, grande demais.”
havia, em todo o caso, como negar-lhe a insipidez.” (extraído de “Amor”, Laços de Família, Clarice Lispector)
(Linda, Ieda. As amazonas segundo tio Hermann. Porto
Alegre: Movimento, 1981, p. 51) (II) Chamava-se Raimundo este pequeno, e era mole, aplica-
do, inteligência tarda. Raimundo gastava duas horas em reter aqui-
Exemplo - Tempo lo que a outros levava apenas trinta ou cinquenta minutos; vencia
com o tempo o que não podia fazer logo com o cérebro. Reunia a
“Sete da manhã. Honorato Madeira acorda e lembra-se: a mu- isso grande medo ao pai. Era uma criança fina, pálida, cara doente;
lher lhe pediu que a chamasse cedo.” raramente estava alegre. Entrava na escola depois do pai e retirava-
(Veríssimo, Érico. Caminhos Cruzados. p.4) -se antes. O mestre era mais severo com ele do que conosco.
(Machado de Assis. “Conto de escola”. Contos. 3ed.
Tipologia da Narrativa Ficcional: São Paulo, Ática, 1974, págs. 31-32.)
Didatismo e Conhecimento 77
LÍNGUA PORTUGUESA
Quando alteramos a ordem dos enunciados, precisamos fazer Características Linguísticas:
certas modificações no texto, pois este contém anafóricos (pala-
vras que retomam o que foi dito antes, como ele, os, aquele, etc. ou O enunciado narrativo, por ter a representação de um aconte-
catafóricos (palavras que anunciam o que vai ser dito, como este, cimento, fazer-transformador, é marcado pela temporalidade, na
etc.), que podem perder sua função e assim não ser compreendi- relação situação inicial e situação final, enquanto que o enunciado
dos. Se tomarmos uma descrição como As flores manifestavam descritivo, não tendo transformação, é atemporal.
todo o seu esplendor. O Sol fazia-as brilhar, ao invertermos a Na dimensão linguística, destacam-se marcas sintático-se-
ordem das frases, precisamos fazer algumas alterações, para que o mânticas encontradas no texto que vão facilitar a compreensão:
texto possa ser compreendido: O Sol fazia as flores brilhar. Elas - Predominância de verbos de estado, situação ou indicadores
manifestavam todo o seu esplendor. Como, na versão original, o de propriedades, atitudes, qualidades, usados principalmente no
pronome oblíquo as é um anafórico que retoma flores, se alterar- presente e no imperfeito do indicativo (ser, estar, haver, situar-se,
mos a ordem das frases ele perderá o sentido. Por isso, precisamos existir, ficar).
mudar a palavra flores para a primeira frase e retomá-la com o - Ênfase na adjetivação para melhor caracterizar o que é des-
anafórico elas na segunda. crito;
Por todas essas características, diz-se que o fragmento do
conto de Machado é descritivo. Descrição é o tipo de texto em Exemplo:
que se expõem características de seres concretos (pessoas, objetos,
situações, etc.) consideradas fora da relação de anterioridade e de “Era alto, magro, vestido todo de preto, com o pescoço entala-
posterioridade. do num colarinho direito. O rosto aguçado no queixo ia-se alargan-
do até à calva, vasta e polida, um pouco amolgado no alto; tingia
Características: os cabelos que de uma orelha à outra lhe faziam colar por trás da
nuca - e aquele preto lustroso dava, pelo contraste, mais brilho à
- Ao fazer a descrição enumeramos características, compara- calva; mas não tingia o bigode; tinha-o grisalho, farto, caído aos
ções e inúmeros elementos sensoriais; cantos da boca. Era muito pálido; nunca tirava as lunetas escuras.
- As personagens podem ser caracterizadas física e psicologi- Tinha uma covinha no queixo, e as orelhas grandes muito despe-
camente, ou pelas ações; gadas do crânio.”
- A descrição pode ser considerada um dos elementos consti-
(Eça de Queiroz - O Primo Basílio)
tutivos da dissertação e da argumentação;
- É impossível separar narração de descrição;
- Emprego de figuras (metáforas, metonímias, comparações,
- O que se espera não é tanto a riqueza de detalhes, mas sim
sinestesias). Exemplo:
a capacidade de observação que deve revelar aquele que a realiza.
- Utilizam, preferencialmente, verbos de ligação. Exemplo:
“Era o Sr. Lemos um velho de pequena estatura, não muito
“(...) Ângela tinha cerca de vinte anos; parecia mais velha pelo
desenvolvimento das proporções. Grande, carnuda, sanguínea e gordo, mas rolho e bojudo como um vaso chinês. Apesar de seu
fogosa, era um desses exemplares excessivos do sexo que pare- corpo rechonchudo, tinha certa vivacidade buliçosa e saltitante que
cem conformados expressamente para esposas da multidão (...)” lhe dava petulância de rapaz e casava perfeitamente com os olhi-
(Raul Pompéia – O Ateneu) nhos de azougue.”
- Como na descrição o que se reproduz é simultâneo, não exis- (José de Alencar - Senhora)
te relação de anterioridade e posterioridade entre seus enunciados.
- Devem-se evitar os verbos e, se isso não for possível, que se - Uso de advérbios de localização espacial. Exemplo:
usem então as formas nominais, o presente e o pretério imperfeito
do indicativo, dando-se sempre preferência aos verbos que indi- “Até os onze anos, eu morei numa casa, uma casa velha, e essa
quem estado ou fenômeno. casa era assim: na frente, uma grade de ferro; depois você entrava
- Todavia deve predominar o emprego das comparações, dos tinha um jardinzinho; no final tinha uma escadinha que devia ter
adjetivos e dos advérbios, que conferem colorido ao texto. uns cinco degraus; aí você entrava na sala da frente; dali tinha um
corredor comprido de onde saíam três portas; no final do corredor
A característica fundamental de um texto descritivo é essa ine- tinha a cozinha, depois tinha uma escadinha que ia dar no quintal e
xistência de progressão temporal. Pode-se apresentar, numa descri- atrás ainda tinha um galpão, que era o lugar da bagunça...”
ção, até mesmo ação ou movimento, desde que eles sejam sempre (Entrevista gravada para o Projeto NURC/RJ)
simultâneos, não indicando progressão de uma situação anterior
para outra posterior. Tanto é que uma das marcas linguísticas da Recursos:
descrição é o predomínio de verbos no presente ou no pretérito
imperfeito do indicativo: o primeiro expressa concomitância em - Usar impressões cromáticas (cores) e sensações térmicas.
relação ao momento da fala; o segundo, em relação a um marco Ex: O dia transcorria amarelo, frio, ausente do calor alegre do sol.
temporal pretérito instalado no texto. - Usar o vigor e relevo de palavras fortes, próprias, exatas,
Para transformar uma descrição numa narração, bastaria concretas. Ex: As criaturas humanas transpareciam um céu sereno,
introduzir um enunciado que indicasse a passagem de um estado uma pureza de cristal.
anterior para um posterior. No caso do texto II inicial, para trans- - As sensações de movimento e cor embelezam o poder da
formá-lo em narração, bastaria dizer: Reunia a isso grande medo natureza e a figura do homem. Ex: Era um verde transparente que
do pai. Mais tarde, Iibertou-se desse medo... deslumbrava e enlouquecia qualquer um.
Didatismo e Conhecimento 78
LÍNGUA PORTUGUESA
- A frase curta e penetrante dá um sentido de rapidez do texto. Incapaz de assistir num só terreno,
Ex: Vida simples. Roupa simples. Tudo simples. O pessoal, muito mais propenso ao furor do que à ternura;
crente. bebendo em níveas mãos por taça escura
de zelos infernais letal veneno.
A descrição pode ser apresentada sob duas formas:
Obras de Bocage. Porto, Lello & Irmão, 1968, pág. 497.
Descrição Objetiva: quando o objeto, o ser, a cena, a passa-
gem são apresentadas como realmente são, concretamente. Exem- O poeta descreve-se das características físicas para as caracte-
plo: rísticas morais. Se fizesse o inverso, o sentido não seria o mesmo,
pois as características físicas perderiam qualquer relevo.
“Sua altura é 1,85m. Seu peso, 70kg. Aparência atlética, om- O objetivo de um texto descritivo é levar o leitor a visualizar
bros largos, pele bronzeada. Moreno, olhos negros, cabelos ne- uma cena. É como traçar com palavras o retrato de um objeto,
gros e lisos”. lugar, pessoa etc., apontando suas características exteriores, facil-
mente identificáveis (descrição objetiva), ou suas características
Não se dá qualquer tipo de opinião ou julgamento. Exemplo: psicológicas e até emocionais (descrição subjetiva).
Uma descrição deve privilegiar o uso frequente de adjetivos,
“A casa velha era enorme, toda em largura, com porta central também denominado adjetivação. Para facilitar o aprendizado des-
que se alcançava por três degraus de pedra e quatro janelas de gui- ta técnica, sugere-se que o concursando, após escrever seu texto,
lhotina para cada lado. Era feita de pau-a-pique barreado, dentro sublinhe todos os substantivos, acrescentando antes ou depois des-
de uma estrutura de cantos e apoios de madeira-de-lei. Telhado de te um adjetivo ou uma locução adjetiva.
quatro águas. Pintada de roxo-claro. Devia ser mais velha que Juiz
de Fora, provavelmente sede de alguma fazenda que tivesse ficado, Descrição de objetos constituídos de uma só parte:
capricho da sorte, na linha de passagem da variante do Caminho
Novo que veio a ser a Rua Principal, depois a Rua Direita – sobre - Introdução: observações de caráter geral referentes à proce-
a qual ela se punha um pouco de esguelha e fugindo ligeiramente dência ou localização do objeto descrito.
do alinhamento (...).”
- Desenvolvimento: detalhes (lª parte) - formato (comparação
(Pedro Nava – Baú de Ossos)
com figuras geométricas e com objetos semelhantes); dimensões
(largura, comprimento, altura, diâmetro etc.)
Descrição Subjetiva: quando há maior participação da emo-
- Desenvolvimento: detalhes (2ª parte) - material, peso, cor/
ção, ou seja, quando o objeto, o ser, a cena, a paisagem são transfi-
brilho, textura.
gurados pela emoção de quem escreve, podendo opinar ou expres-
- Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua uti-
sar seus sentimentos. Exemplo:
“Nas ocasiões de aparato é que se podia tomar pulso ao ho- lidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto como
mem. Não só as condecorações gritavam-lhe no peito como uma um todo.
couraça de grilos. Ateneu! Ateneu! Aristarco todo era um anún- Descrição de objetos constituídos por várias partes:
cio; os gestos, calmos, soberanos, calmos, eram de um rei...” - Introdução: observações de caráter geral referentes à proce-
(“O Ateneu”, Raul Pompéia) dência ou localização do objeto descrito.
- Desenvolvimento: enumeração e rápidos comentários das
“(...) Quando conheceu Joca Ramiro, então achou outra es- partes que compõem o objeto, associados à explicação de como as
perança maior: para ele, Joca Ramiro era único homem, par-de- partes se agrupam para formar o todo.
-frança, capaz de tomar conta deste sertão nosso, mandando por - Desenvolvimento: detalhes do objeto visto como um todo
lei, de sobregoverno.” (externamente) - formato, dimensões, material, peso, textura, cor
(Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas) e brilho.
- Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua uti-
Os efeitos de sentido criados pela disposição dos elementos lidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto em sua
descritivos: totalidade.
Didatismo e Conhecimento 79
LÍNGUA PORTUGUESA
- Desenvolvimento: observação do plano de fundo (explica- Tanque - O tanque de combustível é confeccionado em plás-
ção do que se vê ao longe). tico reciclável e posicionado entre as rodas traseiras, para evitar a
- Desenvolvimento: observação dos elementos mais próximos deformação em caso de colisão.
do observador - explicação detalhada dos elementos que compõem
a paisagem, de acordo com determinada ordem. Textos descritivos literários: Na descrição literária predo-
- Conclusão: comentários de caráter geral, concluindo acerca mina o aspecto subjetivo, com ênfase no conjunto de associações
da impressão que a paisagem causa em quem a contempla. conotativas que podem ser exploradas a partir de descrições de
pessoas; cenários, paisagens, espaço; ambientes; situações e coi-
Descrição de pessoas (I): sas. Vale lembrar que textos descritivos também podem ocorrer
- Introdução: primeira impressão ou abordagem de qualquer tanto em prosa como em verso.
aspecto de caráter geral.
- Desenvolvimento: características físicas (altura, peso, cor da Dissertação
pele, idade, cabelos, olhos, nariz, boca, voz, roupas).
- Desenvolvimento: características psicológicas (personali- A dissertação é uma exposição, discussão ou interpretação de
dade, temperamento, caráter, preferências, inclinações, postura, uma determinada ideia. É, sobretudo, analisar algum tema. Pres-
objetivos). supõe um exame crítico do assunto, lógica, raciocínio, clareza,
- Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de caráter coerência, objetividade na exposição, um planejamento de traba-
geral. lho e uma habilidade de expressão. É em função da capacidade
crítica que se questionam pontos da realidade social, histórica e
Descrição de pessoas (II): psicológica do mundo e dos semelhantes. Vemos também, que a
- Introdução: primeira impressão ou abordagem de qualquer dissertação no seu significado diz respeito a um tipo de texto em
aspecto de caráter geral. que a exposição de uma ideia, através de argumentos, é feita com
- Desenvolvimento: análise das características físicas, asso- a finalidade de desenvolver um conteúdo científico, doutrinário ou
ciadas às características psicológicas (1ª parte). artístico. Exemplo:
- Desenvolvimento: análise das características físicas, asso-
ciadas às características psicológicas (2ª parte).
Há três métodos pelos quais pode um homem chegar a ser pri-
- Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de caráter
meiro-ministro. O primeiro é saber, com prudência, como servir-se
geral.
de uma pessoa, de uma filha ou de uma irmã; o segundo, como
trair ou solapar os predecessores; e o terceiro, como clamar, com
A descrição, ao contrário da narrativa, não supõe ação. É uma
zelo furioso, contra a corrupção da corte. Mas um príncipe discreto
estrutura pictórica, em que os aspectos sensoriais predominam.
prefere nomear os que se valem do último desses métodos, pois
Porque toda técnica descritiva implica contemplação e apreen-
os tais fanáticos sempre se revelam os mais obsequiosos e sub-
são de algo objetivo ou subjetivo, o redator, ao descrever, precisa
servientes à vontade e às paixões do amo. Tendo à sua disposição
possuir certo grau de sensibilidade. Assim como o pintor capta o
mundo exterior ou interior em suas telas, o autor de uma descrição todos os cargos, conservam-se no poder esses ministros subordi-
focaliza cenas ou imagens, conforme o permita sua sensibilidade. nando a maioria do senado, ou grande conselho, e, afinal, por via
de um expediente chamado anistia (cuja natureza lhe expliquei),
Conforme o objetivo a alcançar, a descrição pode ser não- garantem-se contra futuras prestações de contas e retiram-se da
-literária ou literária. Na descrição não-literária, há maior preo- vida pública carregados com os despojos da nação.
cupação com a exatidão dos detalhes e a precisão vocabular. Por Jonathan Swift. Viagens de Gulliver.
ser objetiva, há predominância da denotação. São Paulo, Abril Cultural, 1979, p. 234-235.
Textos descritivos não-literários: A descrição técnica é um Esse texto explica os três métodos pelos quais um homem
tipo de descrição objetiva: ela recria o objeto usando uma lingua- chega a ser primeiro-ministro, aconselha o príncipe discreto a
gem científica, precisa. Esse tipo de texto é usado para descrever escolhê-lo entre os que clamam contra a corrupção na corte e jus-
aparelhos, o seu funcionamento, as peças que os compõem, para tifica esse conselho. Observe-se que:
descrever experiências, processos, etc. Exemplo: - o texto é temático, pois analisa e interpreta a realidade com
conceitos abstratos e genéricos (não se fala de um homem par-
Folheto de propaganda de carro ticular e do que faz para chegar a ser primeiro-ministro, mas do
homem em geral e de todos os métodos para atingir o poder);
Conforto interno - É impossível falar de conforto sem incluir - existe mudança de situação no texto (por exemplo, a mu-
o espaço interno. Os seus interiores são amplos, acomodando tran- dança de atitude dos que clamam contra a corrupção da corte no
quilamente passageiros e bagagens. O Passat e o Passat Variant momento em que se tornam primeiros-ministros);
possuem direção hidráulica e ar condicionado de elevada capaci- - a progressão temporal dos enunciados não tem importân-
dade, proporcionando a climatização perfeita do ambiente. cia, pois o que importa é a relação de implicação (clamar contra a
Porta-malas - O compartimento de bagagens possui capacida- corrupção da corte implica ser corrupto depois da nomeação para
de de 465 litros, que pode ser ampliada para até 1500 litros, com o primeiro-ministro).
encosto do banco traseiro rebaixado.
Didatismo e Conhecimento 80
LÍNGUA PORTUGUESA
Características: - Enumeração: enumerar as informações. Ex: “Ação à dis-
tância, velocidade, comunicação, linha de montagem, triunfo das
- ao contrário do texto narrativo e do descritivo, ele é temático; massas, Holocausto: através das metáforas e das realidades que
- como o texto narrativo, ele mostra mudanças de situação; marcaram esses 100 últimos anos, aparece a verdadeira doença do
- ao contrário do texto narrativo, nele as relações de século...”
anterioridade e de posterioridade dos enunciados não têm maior - Narração: narrar um fato.
importância - o que importa são suas relações lógicas: analogia,
pertinência, causalidade, coexistência, correspondência, implica- Desenvolvimento: é a argumentação da ideia inicial, de forma
ção, etc. organizada e progressiva. É a parte maior e mais importante do
- a estética e a gramática são comuns a todos os tipos de reda- texto. Podem ser desenvolvidos de várias formas:
ção. Já a estrutura, o conteúdo e a estilística possuem característi-
cas próprias a cada tipo de texto. - Trajetória Histórica: cultura geral é o que se prova com
este tipo de abordagem.
São partes da dissertação: Introdução / Desenvolvimento / - Definição: não basta citar, mas é preciso desdobrar a idéia
Conclusão. principal ao máximo, esclarecendo o conceito ou a definição.
- Comparação: estabelecer analogias, confrontar situações
Introdução: em que se apresenta o assunto; se apresenta a distintas.
ideia principal, sem, no entanto, antecipar seu desenvolvimento. - Bilateralidade: quando o tema proposto apresenta pontos
Tipos: favoráveis e desfavoráveis.
- Ilustração Narrativa ou Descritiva: narrar um fato ou des-
- Divisão: quando há dois ou mais termos a serem discutidos. crever uma cena.
Ex: “Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha - Cifras e Dados Estatísticos: citar cifras e dados estatísticos.
de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro...” - Hipótese: antecipa uma previsão, apontando para prováveis
- Alusão Histórica: um fato passado que se relaciona a um resultados.
fato presente. Ex: “A crise econômica que teve início no começo - Interrogação: Toda sucessão de interrogações deve apre-
dos anos 80, com os conhecidos altos índices de inflação que a dé- sentar questionamento e reflexão.
cada colecionou, agravou vários dos históricos problemas sociais - Refutação: questiona-se praticamente tudo: conceitos, va-
do país. Entre eles, a violência, principalmente a urbana, cuja es- lores, juízos.
calada tem sido facilmente identificada pela população brasileira.” - Causa e Consequência: estruturar o texto através dos por-
- Proposição: o autor explicita seus objetivos. quês de uma determinada situação.
- Convite: proposta ao leitor para que participe de alguma - Oposição: abordar um assunto de forma dialética.
coisa apresentada no texto. Ex: Você quer estar “na sua”? Quer se - Exemplificação: dar exemplos.
sentir seguro, ter o sucesso pretendido? Não entre pelo cano! Faça
parte desse time de vencedores desde a escolha desse momento! Conclusão: é uma avaliação final do assunto, um fechamento
- Contestação: contestar uma idéia ou uma situação. Ex: “É integrado de tudo que se argumentou. Para ela convergem todas as
importante que o cidadão saiba que portar arma de fogo não é a ideias anteriormente desenvolvidas.
solução no combate à insegurança.”
- Características: caracterização de espaços ou aspectos. - Conclusão Fechada: recupera a ideia da tese.
- Estatísticas: apresentação de dados estatísticos. Ex: “Em - Conclusão Aberta: levanta uma hipótese, projeta um pen-
1982, eram 15,8 milhões os domicílios brasileiros com televisores. samento ou faz uma proposta, incentivando a reflexão de quem lê.
Hoje, são 34 milhões (o sexto maior parque de aparelhos recepto-
res instalados do mundo). Ao todo, existem no país 257 emisso- Exemplo:
ras (aquelas capazes de gerar programas) e 2.624 repetidoras (que
apenas retransmitem sinais recebidos). (...)” Direito de Trabalho
- Declaração Inicial: emitir um conceito sobre um fato.
- Citação: opinião de alguém de destaque sobre o assunto do Com a queda do feudalismo no século XV, nasce um novo
texto. Ex: “A principal característica do déspota encontra-se no modelo econômico: o capitalismo, que até o século XX agia por
fato de ser ele o autor único e exclusivo das normas e das regras meio da inclusão de trabalhadores e hoje passou a agir por meio
que definem a vida familiar, isto é, o espaço privado. Seu poder, da exclusão. (A)
escreve Aristóteles, é arbitrário, pois decorre exclusivamente de A tendência do mundo contemporâneo é tornar todo o traba-
sua vontade, de seu prazer e de suas necessidades.” lho automático, devido à evolução tecnológica e a necessidade de
- Definição: desenvolve-se pela explicação dos termos que qualificação cada vez maior, o que provoca o desemprego. Outro
compõem o texto. fator que também leva ao desemprego de um sem número de tra-
- Interrogação: questionamento. Ex: “Volta e meia se faz a balhadores é a contenção de despesas, de gastos. (B)
pergunta de praxe: afinal de contas, todo esse entusiasmo pelo fu- Segundo a Constituição, “preocupada” com essa crise social
tebol não é uma prova de alienação?” que provém dessa automatização e qualificação, obriga que seja
- Suspense: alguma informação que faça aumentar a curiosi- feita uma lei, em que será dada absoluta garantia aos trabalhado-
dade do leitor. res, de que, mesmo que as empresas sejam automatizadas, não per-
- Comparação: social e geográfica. derão eles seu mercado de trabalho. (C)
Didatismo e Conhecimento 81
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Não é uma utopia?! Estes assuntos serão vistos com mais afinco posteriormente.
Um exemplo vivo são os bóias-frias que trabalham na colheita
da cana de açúcar que devido ao avanço tecnológico e a lei do go- Alguns pontos essenciais desse tipo de texto são:
vernador Geraldo Alkmin, defendendo o meio ambiente, proibindo
a queima da cana de açúcar para a colheita e substituindo-os então - toda dissertação é uma demonstração, daí a necessidade de
pelas máquinas, desemprega milhares deles. (D) pleno domínio do assunto e habilidade de argumentação;
Em troca os sindicatos dos trabalhadores rurais dão cursos de - em consequência disso, impõem-se à fidelidade ao tema;
cabeleleiro, marcenaria, eletricista, para não perderem o mercado - a coerência é tida como regra de ouro da dissertação;
de trabalho, aumentando, com isso, a classe de trabalhos informais. - impõem-se sempre o raciocínio lógico;
Como ficam então aqueles trabalhadores que passaram à vida - a linguagem deve ser objetiva, denotativa; qualquer ambi-
estudando, se especializando, para se diferenciarem e ainda estão guidade pode ser um ponto vulnerável na demonstração do que se
desempregados?, como vimos no último concurso da prefeitura do quer expor. Deve ser clara, precisa, natural, original, nobre, correta
Rio de Janeiro para “gari”, havia até advogado na fila de inscrição. gramaticalmente. O discurso deve ser impessoal (evitar-se o uso
(E) da primeira pessoa).
Já que a Constituição dita seu valor ao social que todos têm
o direito de trabalho, cabe aos governantes desse país, que almeja O parágrafo é a unidade mínima do texto e deve apresentar:
um futuro brilhante, deter, com urgência esse processo de desní- uma frase contendo a ideia principal (frase nuclear) e uma ou mais
veis gritantes e criar soluções eficazes para combater a crise gene- frases que explicitem tal ideia.
ralizada (F), pois a uma nação doente, miserável e desigual, não Exemplo: “A televisão mostra uma realidade idealizada (ideia
compete a tão sonhada modernidade. (G) central) porque oculta os problemas sociais realmente graves.
(ideia secundária)”.
1º Parágrafo – Introdução Vejamos:
Ideia central: A poluição atmosférica deve ser combatida ur-
A. Tema: Desemprego no Brasil. gentemente.
Contextualização: decorrência de um processo histórico pro-
blemático. Desenvolvimento: A poluição atmosférica deve ser comba-
tida urgentemente, pois a alta concentração de elementos tóxicos
2º ao 6º Parágrafo – Desenvolvimento põe em risco a vida de milhares de pessoas, sobretudo daquelas
que sofrem de problemas respiratórios:
B. Argumento 1: Exploram-se dados da realidade que reme-
tem a uma análise do tema em questão. - A propaganda intensiva de cigarros e bebidas tem levado
C. Argumento 2: Considerações a respeito de outro dado da muita gente ao vício.
realidade. - A televisão é um dos mais eficazes meios de comunicação
D. Argumento 3: Coloca-se sob suspeita a sinceridade de criados pelo homem.
quem propõe soluções. - A violência tem aumentado assustadoramente nas cidades e
E. Argumento 4: Uso do raciocínio lógico de oposição. hoje parece claro que esse problema não pode ser resolvido apenas
pela polícia.
7º Parágrafo: Conclusão - O diálogo entre pais e filhos parece estar em crise atualmen-
F. Uma possível solução é apresentada. te.
G. O texto conclui que desigualdade não se casa com moder- - O problema dos sem-terra preocupa cada vez mais a socie-
nidade. dade brasileira.
É bom lembrarmos que é praticamente impossível opinar sobre O parágrafo pode processar-se de diferentes maneiras:
o que não se conhece. A leitura de bons textos é um dos recursos
que permite uma segurança maior no momento de dissertar sobre Enumeração: Caracteriza-se pela exposição de uma série de
algum assunto. Debater e pesquisar são atitudes que favorecem o coisas, uma a uma. Presta-se bem à indicação de características,
senso crítico, essencial no desenvolvimento de um texto disserta- funções, processos, situações, sempre oferecendo o complemente
tivo. necessário à afirmação estabelecida na frase nuclear. Pode-se enu-
merar, seguindo-se os critérios de importância, preferência, classi-
Ainda temos: ficação ou aleatoriamente.
Exemplo:
Tema: compreende o assunto proposto para discussão, o as-
sunto que vai ser abordado. 1- O adolescente moderno está se tornando obeso por várias cau-
Título: palavra ou expressão que sintetiza o conteúdo discu- sas: alimentação inadequada, falta de exercícios sistemáticos e dema-
tido. siada permanência diante de computadores e aparelhos de Televisão.
Argumentação: é um conjunto de procedimentos linguísticos
com os quais a pessoa que escreve sustenta suas opiniões, de forma 2- Devido à expansão das igrejas evangélicas, é grande o nú-
a torná-las aceitáveis pelo leitor. É fornecer argumentos, ou seja, mero de emissoras que dedicam parte da sua programação à veicu-
razões a favor ou contra uma determinada tese. lação de programas religiosos de crenças variadas.
Didatismo e Conhecimento 82
LÍNGUA PORTUGUESA
3- Explicitação: Num parágrafo dissertativo pode-se conceituar,
- A Santa Missa em seu lar. exemplificar e aclarar as ideias para torná-las mais compreensí-
- Terço Bizantino. veis.
- Despertar da Fé. Exemplo: “Artéria é um vaso que leva sangue proveniente do
- Palavra de Vida. coração para irrigar os tecidos. Exceto no cordão umbilical e na
- Igreja da Graça no Lar. ligação entre os pulmões e o coração, todas as artérias contém san-
gue vermelho-vivo, recém oxigenado. Na artéria pulmonar, porém,
4- corre sangue venoso, mais escuro e desoxigenado, que o coração
- Inúmeras são as dificuldades com que se defronta o governo remete para os pulmões para receber oxigênio e liberar gás carbô-
brasileiro diante de tantos desmatamentos, desequilíbrios socioló- nico”.
gicos e poluição.
- Existem várias razões que levam um homem a enveredar Antes de se iniciar a elaboração de uma dissertação, deve
pelos caminhos do crime. delimitar-se o tema que será desenvolvido e que poderá ser enfo-
- A gravidez na adolescência é um problema seríssimo, porque cado sob diversos aspectos. Se, por exemplo, o tema é a questão
pode trazer muitas consequências indesejáveis. indígena, ela poderá ser desenvolvida a partir das seguintes ideias:
- O lazer é uma necessidade do cidadão para a sua sobrevivên-
cia no mundo atual e vários são os tipos de lazer. - A violência contra os povos indígenas é uma constante na
- O Novo Código Nacional de trânsito divide as faltas em vá- história do Brasil.
rias categorias. - O surgimento de várias entidades de defesa das populações
indígenas.
Comparação: A frase nuclear pode-se desenvolver através da - A visão idealizada que o europeu ainda tem do índio brasi-
comparação, que confronta ideias, fatos, fenômenos e apresenta- leiro.
-lhes a semelhança ou dessemelhança. - A invasão da Amazônia e a perda da cultura indígena.
Exemplo:
Depois de delimitar o tema que você vai desenvolver, deve
“A juventude é uma infatigável aspiração de felicidade; a ve- fazer a estruturação do texto.
lhice, pelo contrário, é dominada por um vago e persistente senti-
mento de dor, porque já estamos nos convencendo de que a felici- A estrutura do texto dissertativo constitui-se de:
dade é uma ilusão, que só o sofrimento é real”.
(Arthur Schopenhauer) Introdução: deve conter a ideia principal a ser desenvolvida
(geralmente um ou dois parágrafos). É a abertura do texto, por
Causa e Consequência: A frase nuclear, muitas vezes, encon- isso é fundamental. Deve ser clara e chamar a atenção para dois
tra no seu desenvolvimento um segmento causal (fato motivador) itens básicos: os objetivos do texto e o plano do desenvolvimento.
e, em outras situações, um segmento indicando consequências (fa- Contém a proposição do tema, seus limites, ângulo de análise e a
tos decorrentes). hipótese ou a tese a ser defendida.
Exemplos:
Desenvolvimento: exposição de elementos que vão funda-
- O homem, dia a dia, perde a dimensão de humanidade que mentar a ideia principal que pode vir especificada através da argu-
abriga em si, porque os seus olhos teimam apenas em ver as coisas mentação, de pormenores, da ilustração, da causa e da consequên-
imediatistas e lucrativas que o rodeiam. cia, das definições, dos dados estatísticos, da ordenação cronológi-
ca, da interrogação e da citação. No desenvolvimento são usados
- O espírito competitivo foi excessivamente exercido entre tantos parágrafos quantos forem necessários para a completa expo-
nós, de modo que hoje somos obrigados a viver numa sociedade sição da ideia. E esses parágrafos podem ser estruturados das cinco
fria e inamistosa. maneiras expostas acima.
Tempo e Espaço: Muitos parágrafos dissertativos marcam Conclusão: é a retomada da ideia principal, que agora deve
temporal e espacialmente a evolução de ideias, processos. aparecer de forma muito mais convincente, uma vez que já foi fun-
Exemplos: damentada durante o desenvolvimento da dissertação (um pará-
grafo). Deve, pois, conter de forma sintética, o objetivo proposto
Tempo - A comunicação de massas é resultado de uma lenta na instrução, a confirmação da hipótese ou da tese, acrescida da
evolução. Primeiro, o homem aprendeu a grunhir. Depois deu um argumentação básica empregada no desenvolvimento.
significado a cada grunhido. Muito depois, inventou a escrita e só
muitos séculos mais tarde é que passou à comunicação de massa. Texto Argumentativo
Espaço - O solo é influenciado pelo clima. Nos climas úmidos, Texto Argumentativo é o texto em que defendemos uma
os solos são profundos. Existe nessas regiões uma forte decompo- ideia, opinião ou ponto de vista, uma tese, procurando (por todos
sição de rochas, isto é, uma forte transformação da rocha em terra os meios) fazer com que nosso ouvinte/leitor aceite-a, creia nela.
pela umidade e calor. Nas regiões temperadas e ainda nas mais Num texto argumentativo, distinguem-se três componentes: a tese,
frias, a camada do solo é pouco profunda. (Melhem Adas) os argumentos e as estratégias argumentativas.
Didatismo e Conhecimento 83
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Tese, ou proposição, é a ideia que defendemos, necessaria- do usuário. Entre esses especialistas, deve-se mencionar o nome
mente polêmica, pois a argumentação implica divergência de opi- do Prof. Celso Pedro Luft com sus obra “Língua e liberdade: por
nião. uma nova concepção de língua materna e seu ensino” (L&PM,
Argumento tem uma origem curiosa: vem do latim Argumen- 1995). Com efeito, o velho pesquisar apaixonado pelos problemas
tum, que tem o tema ARGU, cujo sentido primeiro é “fazer bri- da língua, teórico de espírito lúcido e de larga formação linguísti-
lhar”, “iluminar”, a mesma raiz de “argênteo”, “argúcia”, “arguto”. ca, reúne numa mesma obra convincente fundamentação para seu
Os argumentos de um texto são facilmente localizados: identifica- combate veemente contra o ensino da gramática em sala de aula.
da a tese, faz-se a pergunta por quê? Exemplo: o autor é contra a Por oportuno, uma citação apenas:
pena de morte (tese). Por que... (argumentos). “Quem sabe, lendo este livro muitos professores talvez aban-
Estratégias argumentativas são todos os recursos (verbais e donem a superstição da teoria gramatical, desistindo de querer en-
não-verbais) utilizados para envolver o leitor/ouvinte, para im- sinar a língua por definições, classificações, análises inconsistentes
pressioná-lo, para convencê-lo melhor, para persuadi-lo mais fa- e precárias hauridas em gramáticas. Já seria um grande benefício”.
cilmente, para gerar credibilidade, etc. Deixando-se de lado a perspectiva teórica do Mestre, acima
referida suponha-se que se deva recuperar linguisticamente um
A Estrutura de um Texto Argumentativo jovem estudante universitário cujo texto apresente preocupantes
problemas de concordância, regência, colocação, ortografia, pon-
A argumentação Formal tuação, adequação vocabular, coesão, coerência, informatividade,
entre outros. E, estimando-lhe melhoras, lhe fosse dada uma gra-
A nomenclatura é de Othon Garcia, em sua obra “Comunica- mática que ele passaria a estudar: que é fonética? Que é fonolo-
ção em Prosa Moderna”. O autor, na mencionada obra, apresenta o gia? Que é fonemas? Morfema? Qual é coletivo de borboleta? O
seguinte plano-padrão para o que chama de argumentação formal: feminino de cupim? Como se chama quem nasce na Província de
Proposição (tese): afirmativa suficientemente definida e limi- Entre-Douro-e-Minho? Que é oração subordinada adverbial con-
tada; não deve conter em si mesma nenhum argumento. cessiva reduzida de gerúndio? E decorasse regras de ortografia,
Análise da proposição ou tese: definição do sentido da propo- fizesse lista de homônimos, parônimos, de verbos irregulares... e
sição ou de alguns de seus termos, a fim de evitar mal-entendidos. estudasse o plural de compostos, todas regras de concordância, re-
Formulação de argumentos: fatos, exemplos, dados estatís- gências... os casos de próclise, mesóclise e ênclise. E que, ao cabo
ticos, testemunhos, etc. de todo esse processo, se voltasse a examinar o desempenho do
Conclusão. jovem estudante na produção de um texto. A melhora seria, indubi-
tavelmente, pouco significativa; uma pequena melhora, talvez, na
Observe o texto a seguir, que contém os elementos referidos gramática da frase, mas o problema de coesão, de coerência, de in-
do plano-padrão da argumentação formal. formatividade - quem sabe os mais graves - haveriam de continuar.
Quanto mais não seja porque a gramática tradicional não dá conta
Gramática e desempenho Linguístico dos mecanismos que presidem à construção do texto.
Poder-se-á objetar que a ilustração de há pouco é apenas hi-
Pretende-se demonstrar no presente artigo que o estudo in- potética e que, por isso, um argumento de pouco valor. Contra
tencional da gramática não traz benefícios significativos para o argumentar-se-ia dizendo que situação como essa ocorre de fato
desempenho linguístico dos utentes de uma língua. na prática. Na verdade, todo o ensino de 1° e 2° graus é grama-
Por “estudo intencional da gramática” entende-se o estudo de ticalista, descritivista, definitório, classificatório, nomenclaturista,
definições, classificações e nomenclatura; a realização de análises prescritivista, teórico. O resultado? Aí estão as estatísticas dos ves-
(fonológica, morfológica, sintática); a memorização de regras (de tibulares. Valendo 40 pontos a prova de redação, os escores foram
concordância, regência e colocação) - para citar algumas áreas. estes no vestibular 1996/1, na PUC-RS: nota zero: 10% dos candi-
O “desempenho linguístico”, por outro lado, é expressão técnica datos, nota 01: 30%; nota 02: 40%; nota 03: 15%; nota 04: 5%. Ou
definida como sendo o processo de atualização da competência seja, apenas 20% dos candidatos escreveram um texto que pode
na produção e interpretação de enunciados; dito de maneira mais ser considerado bom.
simples, é o que se fala, é o que se escreve em condições reais de Finalmente pode-se invocar mais um argumento, lembran-
comunicação. do que são os gramáticos, os linguistas - como especialistas das
A polêmica pró-gramática x contra gramática é bem antiga; línguas - as pessoas que conhecem mais a fundo a estrutura e o
na verdade, surgiu com os gregos, quando surgiram as primeiras funcionamento dos códigos linguísticos. Que se esperaria, de fato,
gramáticas. Definida como “arte”, “arte de escrever”, percebe-se se houvesse significativa influência do conhecimento teórico da
que subjaz à definição a ideia da sua importância para a prática da língua sobre o desempenho? A resposta é óbvia: os gramáticos e os
língua. São da mesma época também as primeiras críticas, como se linguistas seriam sempre os melhores escritores. Como na prática
pode ler em Apolônio de Rodes, poeta Alexandrino do séc. II a.C.: isso realmente não acontece, fica provada uma vez mais a tese que
“Raça de gramáticos, roedores que ratais na musa de outrem, estú- se vem defendendo.
pidas lagartas que sujais as grandes obras, ó flagelo dos poetas que Vale também o raciocínio inverso: se a relação fosse signifi-
mergulhais o espírito das crianças na escuridão, ide para o diabo, cativa, deveriam os melhores escritores conhecer - teoricamente
percevejos que devorais os versos belos”. - a língua em profundidade. Isso, no entanto, não se confirma na
Na atualidade, é grande o número de educadores, filólogos e realidade: Monteiro Lobato, quando estudante, foi reprovado em
linguistas de reconhecido saber que negam a relação entre o estudo língua portuguesa (muito provavelmente por desconhecer teoria
intencional da gramática e a melhora do desempenho linguístico gramatical); Machado de Assis, ao folhar uma gramática declarou
Didatismo e Conhecimento 84
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que nada havia entendido; dificilmente um Luis Fernando Verís- Primeiro, porque o mesmo, além de violar os preceitos dos
simo saberia o que é um morfema; nem é de se crer que todos os arts. 126 e 127 do CPC, atenta de forma direta e frontal contra os
nossos bons escritores seriam aprovados num teste de Português à princípios da legalidade e da separação de poderes, esteio no qual
maneira tradicional (e, no entanto eles são os senhores da língua!). se assenta toda e qualquer ideia de democracia ou limitação de
Portanto, não há como salvar o ensino da língua, como re- atribuições dos órgãos do Estado.
cuperar linguisticamente os alunos, como promover um melhor Isso é o que salientou, e com a costumeira maestria, o insu-
desempenho linguístico mediante o ensino-estudo da teoria gra- perável José Alberto dos Reis, o maior processualista português,
matical. O caminho é seguramente outro. ao afirmar que: “O magistrado não pode sobrepor os seus próprios
juízos de valor aos que estão encarnados na lei. Não o pode fazer
Gilberto Scarton quando o caso se acha previsto legalmente, não o pode fazer mes-
mo quando o caso é omisso”.
Eis o esquema do texto em seus quatro estágios: Aceitar tal aberração seria o mesmo que ferir de morte qual-
quer espécie de legalidade ou garantia de soberania popular prove-
Primeiro Estágio: primeiro parágrafo, em que se enuncia cla- niente dos parlamentos, até porque, na lúcida visão desse mesmo
ramente a tese a ser defendida. processualista, o juiz estaria, nessa situação, se arvorando, de for-
Segundo Estágio: segundo parágrafo, em que se definem as ma absolutamente espúria, na condição de legislador.
expressões “estudo intencional da gramática” e “desempenho lin- A esta altura, adotando tal entendimento, estaria instituciona-
güístico”, citadas na tese. lizada a insegurança social, sendo que não haveria mais qualquer
Terceiro Estágio: terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo e oi- garantia, na medida em que tudo estaria ao sabor dos humores e
tavo parágrafos, em que se apresentam os argumentos. amores do juiz de plantão.
- Terceiro parágrafo: parágrafo introdutório à argumentação. De nada adiantariam as eleições, eis que os representantes in-
- Quarto parágrafo: argumento de autoridade. dicados pelo povo não poderiam se valer de sua maior atribuição,
- Quinto parágrafo: argumento com base em ilustração hipo- ou seja, a prerrogativa de editar as leis.
tética. Desapareceriam também os juízes de conveniência e oportu-
- Sexto parágrafo: argumento com base em dados estatísticos. nidade política típicos dessas casas legislativas, na medida em que
- Sétimo e oitavo parágrafo: argumento com base em fatos. sempre poderiam ser afastados por uma esfera revisora excepcional.
Quarto Estágio: último parágrafo, em que se apresenta a con- A própria independência do parlamento sucumbiria integral-
clusão. mente frente à possibilidade de inobservância e desconsideração
de suas deliberações.
Ou seja, nada restaria, de cunho democrático, em nossa civi-
A Argumentação Informal
lização.
Já o Poder Judiciário, a quem legitimamente compete fiscali-
A nomenclatura também é de Othon Garcia, na obra já referi-
zar a constitucionalidade e legalidade dos atos dos demais poderes
da. A argumentação informal apresenta os seguintes estágios:
do Estado, praticamente aniquilaria as atribuições destes, ditando
- Citação da tese adversária. a eles, a todo momento, como proceder.
- Argumentos da tese adversária. Nada mais é preciso dizer para demonstrar o desacerto dessa
- Introdução da tese a ser defendida. concepção.
- Argumentos da tese a ser defendida. Entretanto, a defesa desse entendimento demonstra, sem som-
- Conclusão. bra de dúvidas, o desconhecimento do próprio conceito de justiça,
incorrendo inclusive numa contradictio in adjecto.
Observe o texto exemplar de Luís Alberto Thompson Flores Isto porque, e como magistralmente o salientou o insuperável
Lenz, Promotor de Justiça. Calamandrei, “a justiça que o juiz administra é, no sistema da lega-
lidade, a justiça em sentido jurídico, isto é, no sentido mais aperta-
Considerações sobre justiça e equidade do, mas menos incerto, da conformidade com o direito constituído,
independentemente da correspondente com a justiça social”.
Hoje, floresce cada vez mais, no mundo jurídico a acadêmico Para encerrar, basta salientar que a eleição dos meios concre-
nacional, a ideia de que o julgador, ao apreciar os caos concretos tos de efetivação da Justiça social compete, fundamentalmente, ao
que são apresentados perante os tribunais, deve nortear o seu pro- Legislativo e ao Executivo, eis que seus membros são indicados
ceder mais por critérios de justiça e equidade e menos por razões diretamente pelo povo.
de estrita legalidade, no intuito de alcançar, sempre, o escopo da Ao Judiciário cabe administrar a justiça da legalidade, ade-
real pacificação dos conflitos submetidos à sua apreciação. quando o proceder daqueles aos ditames da Constituição e da Le-
Semelhante entendimento tem sido sistematicamente reitera- gislação.
do, na atualidade, ao ponto de inúmeros magistrados simplesmen- Luís Alberto Thompson Flores Lenz
te desprezarem ou desconsiderarem determinados preceitos de lei,
fulminando ditos dilemas legais sob a pecha de injustiça ou inade- Eis o esquema do texto em seus cinco estágios;
quação à realidade nacional.
Abstraída qualquer pretensão de crítica ou censura pessoal Primeiro Estágio: primeiro parágrafo, em que se cita a tese
aos insignes juízes que se filiam a esta corrente, alguns dos quais adversária.
reconhecidos como dos mais brilhantes do país, não nos furtamos, Segundo Estágio: segundo parágrafo, em que se cita um argu-
todavia, de tecer breves considerações sobre os perigos da genera- mento da tese adversária “... fulminando ditos dilemas legais sob a
lização desse entendimento. pecha de injustiça ou inadequação à realidade nacional”.
Didatismo e Conhecimento 85
LÍNGUA PORTUGUESA
Terceiro Estágio: terceiro parágrafo, em que se introduz a tese por meio de períodos. Alguns textos instrucionais possuem subtítu-
a ser defendida. los separando em tópicos as instruções, basta reparar nas bulas de
Quarto Estágio: do quarto ao décimo quinto, em que se apre- remédios, manuais de instruções e receitas. Pelo fato de o espaço
sentam os argumentos. destinado aos textos instrucionais geralmente não ser muito extenso,
Quinto Estágio: os últimos dois parágrafos, em que se conclui recomenda-se o uso de períodos. Leia os exemplos.
o texto mediante afirmação que salienta o que ficou dito ao longo
da argumentação. Texto organizado em itens:
No texto injuntivo-instrucional, o leitor recebe orientações Quem deseja economizar ao comprar deve:
precisas no sentido de efetuar uma transformação. É marcado pela - estabelecer um valor máximo para gastar;
presença de tempos e modos verbais que apresentam um valor di- - escolher previamente aquilo que deseja comprar antes de ir à
retivo. Este tipo de texto distingue-se de uma sequencia narrativa loja ou entrar em sites de compra;
pela ausência de um sujeito responsável pelas ações a praticar e - pesquisar os preços em diferentes lojas e sites, se possível;
pelo caráter diretivo dos tempos e modos verbais usado e uma se- - não se deixar levar completamente pelas sugestões dos ven-
quência descritiva pela transformação desejada. dedores nem pelos apelos das propagandas;
Nota: Uma frase injuntiva é uma frase que exprime uma or- - optar pela forma de pagamento mais cômoda, sem se esque-
dem, dada ao locutor, para executar (ou não executar) tal ou tal cer de que o uso do cartão de crédito exige certa cautela e plane-
ação. As formas verbais específicas destas frases estão no modo jamento.
injuntivo e o imperativo é uma das formas do injuntivo. Do mais, é só ir às compras e aproveitar!
Texto Instrucional - o texto instrucional é um tipo de texto in- Texto – é um conjunto de ideias organizadas e relacionadas
juntivo, didático, que tem por objetivo justamente apresentar orien- entre si, formando um todo significativo capaz de produzir
tações ao receptor para que ele realize determinada atividade. Como interação comunicativa (capacidade de codificar e decodificar).
as palavras do texto serão transformadas em ações visando a um ob-
jetivo, ou seja, algo deverá ser concretizado, é de suma importância Contexto – um texto é constituído por diversas frases. Em
que nele haja clareza e objetividade. Dependendo do que se trata, é cada uma delas, há uma certa informação que a faz ligar-se com a
imprescindível haver explicações ou enumerações em que estejam anterior e/ou com a posterior, criando condições para a estruturação
elencados os materiais a serem utilizados, bem como os itens de do conteúdo a ser transmitido. A essa interligação dá-se o nome
determinados objetos que serão manipulados. Por conta dessas ca- de contexto. Nota-se que o relacionamento entre as frases é tão
racterísticas, é necessário um título objetivo. Quanto à pontuação, grande, que, se uma frase for retirada de seu contexto original e
frequentemente empregam-se dois pontos, vírgulas e pontos e vír- analisada separadamente, poderá ter um significado diferente
gulas. É possível separar as orientações por itens ou de modo coeso, daquele inicial.
Didatismo e Conhecimento 86
LÍNGUA PORTUGUESA
Intertexto - comumente, os textos apresentam referências habitantes ficaram muito lentos, tão lentos que não conseguiram
diretas ou indiretas a outros autores através de citações. Esse tipo impedir a maldade do terrível pirata. Seu povo nunca mais foi o
de recurso denomina-se intertexto. mesmo. Lépida foi roubada em seu maior tesouro e permaneceu
estagnada por muitos anos.
Interpretação de Texto - o primeiro objetivo de uma Um dia nasceu um menino, que foi chamado de Zim. O único
interpretação de um texto é a identificação de sua ideia principal. A entre tantos que ficou livre da maldição que passara de geração em
partir daí, localizam-se as ideias secundárias, ou fundamentações, geração. Diferente de todos, era muito ágil e, ao crescer, saiu em
as argumentações, ou explicações, que levem ao esclarecimento busca de uma solução. Encontrou pelo caminho bruxas de olhar
das questões apresentadas na prova. feroz, gigantes de três, cinco e sete cabeças, noites escuras, dias de
chuva, sol intenso. Zim tudo enfrentou.
Textos Ficcionais e Não Ficcionais E numa noite morna, ao deitar-se em sua cama de folhas, viu
ao seu lado um velho de olhos amarelos e brilhantes. Era o mago
Os textos não ficcionais baseiam-se na realidade, e os que havia sido roubado pelo pirata muitos anos antes. Zim ficou
ficcionais inventam um mundo, onde os acontecimentos ocorrem apreensivo. Mas o velho mago (que tudo sabia) deu-lhe um frasco.
coerentemente com o que se passa no enredo da história. Nele havia um antídoto e Zim compreendeu o que deveria fazer.
Despejou o líquido no rio de sua cidade.
Ficcionais: Conto; Crônica; Romance; Poemas; História em Lépida despertou diferente naquela manhã. Um copo de água
Quadrinhos. aqui, um banho ali e eram novamente braços que se mexiam, pernas
que corriam, saltos e sorrisos. E a dança das sapatilhas cor-de-rosa.
Não Ficcionais: (Carla Caruso)
Didatismo e Conhecimento 87
LÍNGUA PORTUGUESA
ROMANCE autores das histórias em quadrinhos estão o suíço Rudolph
Töpffer, o alemão Wilhelm Bush, o francês Georges, e o brasileiro
O termo romance pode referir-se a dois gêneros literários. O Ângelo Agostini. A origem dos balões presentes nas histórias
primeiro deles é uma composição poética popular, histórica ou em quadrinhos pode ser atribuída a personagens, observadas em
lírica, transmitida pela tradição oral, sendo geralmente de autor ilustrações europeias desde o século XIV.
anônimo; corresponde aproximadamente à balada medieval. E As histórias em quadrinhos começaram no Brasil no século
como forma literária moderna, o termo designa uma composição XIX, adotando um estilo satírico conhecido como cartuns, charges
em prosa. Todo Romance se organiza a partir de uma trama, ou ou caricaturas e que depois se estabeleceria com as populares tiras.
seja, em torno dos acontecimentos que são organizados em uma A publicação de revistas próprias de histórias em quadrinhos no
sequência temporal. A linguagem utilizada em um Romance é muito Brasil começou no início do século XX também. Atualmente, o
variável, vai depender de quem escreve, de uma boa diferenciação estilo cômicos dos super-heróis americanos é o predominante,
entre linguagem escrita e linguagem oral e principalmente do tipo mas vem perdendo espaço para uma expansão muito rápida dos
de Romance.
quadrinhos japoneses (conhecidos como Mangá).
Quanto ao tipo de abordagem o Romance pode ser: Urbano,
A leitura interpretativa de Histórias em Quadrinhos, assim
Regionalista, Indianista e Histórico. E quanto à época ou Escola
como de charges, requer uma construção de sentidos que, para que
Literária, o Romance pode ser: Romântico, Realista, Naturalista
e Modernista. ocorra, é necessário mobilizar alguns processos de significação,
como a percepção da atualidade, a representação do mundo, a
POEMA observação dos detalhes visuais e/ou linguísticos, a transformação
de linguagem conotativa (sentido mais usual) em denotativa
Um poema é uma obra literária geralmente apresentada em (sentido amplificado pelo contexto, pelos aspetos socioculturais
versos e estrofes (ainda que possa existir prosa poética, assim etc). Em suma, usa-se o conhecimento da realidade e de processos
designada pelo uso de temas específicos e de figuras de estilo linguísticos para “inverter” ou “subverter” produzindo, assim,
próprias da poesia). Efetivamente, existe uma diferença entre sentidos alternativos a partir de situações extremas. Exemplo:
poesia e poema. Segundo vários autores, o poema é um objeto
literário com existência material concreta, a poesia tem um Observe a tirinha em quadrinhos do Calvin:
carácter imaterial e transcendente. Fortemente relacionado com
a música, beleza e arte, o poema tem as suas raízes históricas
nas letras de acompanhamento de peças musicais. Até a Idade
Média, os poemas eram cantados. Só depois o texto foi separado
do acompanhamento musical. Tal como na música, o ritmo tem
uma grande importância. Um poema também faz parte de um sarau
(reuniões em casas particulares para expressar artes, canções,
poemas, poesias etc). Obra em verso em que há poesia. Exemplo:
Soneto do amigo
Didatismo e Conhecimento 88
LÍNGUA PORTUGUESA
NÃO FICCIONAIS - JORNALÍSTICOS ou medir ingredientes para uma receita. Com essas ações práticas,
na edição de 2012 da Olimpíada, a escola conquistou nada menos
NOTÍCIA do que cinco medalhas de ouro, duas de prata, três de bronze e
12 menções honrosas. Orgulhosa, a professora conta que se sentia
O principal objetivo da notícia é levar informação atual a triste com a repulsa dos estudantes aos números, e teve a ideia de
um público específico. A notícia conta o que ocorreu, quando, pô-los para vivenciar a Matemática em suas vidas, aproximando-
onde, como e por quê. Para verificar se ela está bem elaborada, os da disciplina.
o emissor deve responder às perguntas: O quê? (fato ou fatos); O que parecia ser um grande desafio tornou-se realidade
Quando? (tempo); Onde? (local); Como? (de que forma) e Por e, hoje, a cidade inteira orgulha-se de seus filhos campeões
quê? (causas). A notícia apresenta três partes: olímpicos. Os estudantes paraibanos devem ser exemplo para
todo o País, que anda precisando, sim, de modelos a se inspirar.
- Manchete (ou título principal) – resume, com objetividade, O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA, na
o assunto da notícia. Essa frase curta e de impacto, em geral, sigla em inglês) – o mais sério teste internacional para avaliar
aparece em letras grandes e destacadas. o desempenho escolar e coordenado pela Organização para a
- Lide (ou lead) – complementa o título principal, fornecendo Cooperação e Desenvolvimento Econômico – continua sendo
implacável com o Brasil. No exame publicado de 2012, o País
as principais informações da notícia. Como a manchete, sua função
aparece na incômoda penúltima posição entre 40 países avaliados.
é despertar a atenção do leitor para o texto.
O teste aponta que o aprendizado de Matemática, Leitura e
- Corpo – contém o desenvolvimento mais amplo e detalhado
Ciências durante o ciclo fundamental é sofrível, e perdemos para
dos fatos. países como Colômbia, Tailândia e México. Já passa da hora de
as autoridades melhorarem a gestão de nossa Educação Pública e
A notícia usa uma linguagem formal, que segue a norma culta seguir o exemplo da pequena Paulista.
da língua. A ordem direta, a voz ativa, os verbos de ação e as frases Fonte: http://www.oestadoce.com.br/noticia/
curtas permitem fluir as ideias. É preferível a linguagem acessível editorial-cidade-paraibana-e-exemplo-ao-pais
e simples. Evite gírias, termos coloquiais e frases intercaladas.
Os fatos, em geral, são apresentados de forma impessoal e ARTIGOS
escritos em 3ª pessoa, com o predomínio da função referencial, já
que esse texto visa à informação. É comum encontrar circulando no rádio, na TV, nas revistas,
A falta de tempo do leitor exige a seleção das informações nos jornais, temas polêmicos que exigem uma posição por parte
mais relevantes, vocabulário preciso e termos específicos que o dos ouvintes, espectadores e leitores, por isso, o autor geralmente
ajudem a compreender melhor os fatos. Em jornais ou revistas apresenta seu ponto de vista sobre o tema em questão através do
impressos ou on-line, e em programas de rádio ou televisão, a artigo (texto jornalístico).
informação transmitida pela notícia precisa ser verídica, atual e Nos gêneros argumentativos, o autor geralmente tem a intenção
despertar o interesse do leitor. de convencer seus interlocutores e, para isso, precisa apresentar
bons argumentos, que consistem em verdades e opiniões. O artigo
EDITORIAL de opinião é fundamentado em impressões pessoais do autor do
texto e, por isso, são fáceis de contestar.
Os editoriais são textos de um jornal em que o conteúdo O artigo deve começar com uma breve introdução, que
expressa a opinião da empresa, da direção ou da equipe de descreva sucintamente o tema e refira os pontos mais importantes.
redação, sem a obrigação de ter alguma imparcialidade ou Um leitor deve conseguir formar uma ideia clara sobre o assunto
objetividade. Geralmente, grandes jornais reservam um espaço e o conteúdo do artigo ao ler apenas a introdução. Por favor tenha
predeterminado para os editoriais em duas ou mais colunas logo em mente que embora esteja familiarizado com o tema sobre o
qual está a escrever, outros leitores da podem não o estar. Assim,
nas primeiras páginas internas. Os boxes (quadros) dos editoriais
é importante clarificar cedo o contexto do artigo. Por exemplo, em
são normalmente demarcados com uma borda ou tipografia
vez de escrever:
diferente para marcar claramente que aquele texto é opinativo, e
Guano é um personagem que faz o papel de mascote do grupo
não informativo. Exemplo: Lily Mu. Seria mais informativo escrever:
Guano é um personagem da série de desenho animado Kappa
Cidade paraibana é exemplo ao País Mikey que faz o papel de mascote do grupo Lily Mu.
Caracterize o assunto, especialmente se existirem opiniões
Em tempos em que estudantes escrevem receita de macarrão diferentes sobre o tema. Seja objetivo. Evite o uso de eufemismos e
instantâneo e transcrevem hino de clube de futebol na redação do de calão ou gíria, e explique o jargão. No final do artigo deve listar
Exame Nacional do Ensino Médio e ainda obtém nota máxima no as referências utilizadas, e ao longo do artigo deve citar a fonte das
teste, uma boa notícia vem de uma pequena cidade no interior da afirmações feitas, especialmente se estas forem controversas ou
Paraíba chamada Paulista, de cerca de 12 mil habitantes. Alunos da suscitarem dúvidas.
Escola Municipal Cândido de Assis Queiroga obtiveram destaque CARTAS
nas últimas edições da Olimpíada Brasileira de Matemática das
Escolas Públicas. Na maioria dos jornais e revistas, há uma seção destinada a
O segredo é absolutamente simples, e quem explica é a cartas do leitor. Ela oferece um espaço para o leitor elogiar ou
professora Jonilda Alves Ferreira: a chave é ensinar Matemática criticar uma matéria publicada, ou fazer sugestões. Os comentários
através de atividades do cotidiano, como fazer compras na feira podem referir-se às ideias de um texto, com as quais o leitor
Didatismo e Conhecimento 89
LÍNGUA PORTUGUESA
concorda ou não; à maneira como o assunto foi abordado; ou à Um manual de introdução à física, destinado a alunos de
qualidade do texto em si. É possível também fazer alusão a outras primeiro grau, expõe um conceito de cada vez e, por conseguinte,
cartas de leitores, para concordar ou não com o ponto de vista vai definindo paulatinamente os termos específicos dessa ciência.
expresso nelas. A linguagem da carta costuma variar conforme Num livro de física para universitários não cabe a definição de
o perfil dos leitores da publicação. Pode ser mais descontraída, termos que os alunos já deveriam saber, pois senão quem escreve
se o público é jovem, ou ter um aspecto mais formal. Esse tipo precisaria escrever sobre tudo o que a ciência em que ele é
de carta apresenta formato parecido com o das cartas pessoais: especialista já estudou.
data, vocativo (a quem ela é dirigida), corpo do texto, despedida
e assinatura. RESUMOS
Didatismo e Conhecimento 90
LÍNGUA PORTUGUESA
Os padrões do gênero valorizam tanto a brevidade e a abordagem NÃO FICCIONAIS – EPISTOLARES
direta dos temas quanto o detalhamento e a completude da
informação. BILHETES
É um texto escrito, de caráter informativo, destinado a
explicar um conceito segundo padrões descritivos sistemáticos, O bilhete é uma mensagem curta, trocada entre as pessoas,
determinados pela obra de referência da qual faz parte: mais para pedir, agradecer, oferecer, informar, desculpar ou perguntar.
comumente, um dicionário ou uma enciclopédia. O verbete O bilhete é composto normalmente de: data, nome do destinatário
é essencialmente destinado a consulta, o que lhe impõe uma antecedido de um cumprimento, mensagem, despedida e nome do
construção discursiva sucinta e de acesso imediato, embora isso remetente. Exemplo:
não incorra necessariamente em curta extensão. Geralmente,
os verbetes abordam conceitos bem estabelecidos em algum Belinha,
paradigma acadêmico-científico, ao invés de entrar em polêmicas Passei na sua casa para contar o que aconteceu comigo
referentes a categorias teóricas discutíveis. ontem à noite.
Por sua pretensão universalista e pela posição respeitável que Telefone para mim hoje à tarde, que eu vou contar tudinho
ocupa no sistema de valores da cultura racionalista, espera-se que para você!
todo verbete siga as normas padrão de uso da língua escrita, em um Um beijinho da amiga Juliana. 14/03/2013
nível elevado de formalidade. Por sua natureza sistemática e por
ser destinado à consulta, espera-se que a linguagem do verbete seja CARTAS FAMILIARES E CARTAS FORMAIS
também o mais objetiva possível. As consequências gramaticais
desse princípio são: no nível lexical, precisão na escolha dos termos A carta é um dos instrumentos mais úteis em situações
e ausência de palavras que expressem subjetividade (opiniões, diversas. É um dos mais antigos meios de comunicação. Em uma
impressões e sensações); no nível sintático, simplificação das carta formal é preciso ter cuidado na coerência do tratamento, por
construções; e no nível estilístico, denotação (ausência de exemplo, se começamos a carta no tratamento em terceira pessoa
devemos ir até o fim em terceira pessoa, seguindo também os
ornamentos e figuras de linguagem).
pronomes e formas verbais na terceira pessoa. Há vários tipos de
É comum a presença de terminologia especializada na
cartas, o formato da carta depende do seu conteúdo:
construção do verbete, embora sua frequência varie conforme o
- Carta Pessoal é a carta que escrevemos para amigos,
público consumidor da obra de referência em que se insere o texto.
parentes, namorado(a), o remetente é a própria pessoa que assina a
Elementos de linguagens não verbais (especialmente pictóricos)
carta, estas cartas não têm um modelo pronto, são escritas de uma
são tradicionalmente agregados ao verbete com função de
maneira particular.
esclarecimento.
- Carta Comercial se torna o meio mais efetivo e seguro de
comunicação dentro de uma organização. A linguagem deve ser
BULAS clara, simples, correta e objetiva.
Bula pode referir-se a: A carta ao ser escrita deve ser primeiramente bem analisada
em termos de língua portuguesa, ou seja, deve-se observar a
Bula Pontifícia - documento expedido pela Santa Sé. Refere- concordância, a pontuação e a maneira de escrever com início, meio
se não ao conteúdo e à solenidade de um documento pontifício, e então o fim, contendo também um cabeçalho e se for uma carta
como tal, mas à apresentação, à forma externa do documento, a formal, deve conter pronomes de tratamento (Senhor, Senhora, V.
saber, lacrado com pequena bola (em latim, “bulla”) de cera ou Ex.ª etc.) e por fim a finalização da carta que deve conter somente
metal, em geral, chumbo. Assim, existem Litterae Apostolicae um cumprimento formal ou não (grato, beijos, abraços, adeus
(carta apostólica) em forma ou não de bula e também Constituição etc.). Depois de todos esses itens terem sido colocados na carta, a
Apostólica em forma de bula. Por exemplo, a carta apostólica mesma deverá ser colocada em um envelope para ser enviado ao
“Munificentissimus Deus”, bem como as Constituições Apostólicas destinatário. Na parte de trás e superior do envelope deve-se conter
de criação de dioceses. A bula mais antiga que se conhece é do alguns dados muito importantes tais como: nome do destinatário,
Papa Agapito I (535), conservada apenas em desenho. O mais endereço (rua, bairro e cidade) e por fim o CEP. Já o remetente
antigo original conservado é do Papa Adeodato I (615-618). (quem vai enviar a carta), também deve inserir na carta os mesmos
dados que o do destinatário, que devem ser escritos na parte da
Bula (medicamento) - folha com informações sobre frente do envelope. E por fim deve ser colocado no envelope um
medicamentos. Nome que se dá ao conjunto de informações selo que serve para que a carta seja levada à pessoa mencionada.
sobre um medicamento que obrigatoriamente os laboratórios
farmacêuticos devem acrescentar à embalagem de seus produtos NÃO FICCIONAIS – ADMINISTRATIVOS
vendidos no varejo. As informações podem ser direcionadas aos
usuários dos medicamentos, aos profissionais de saúde ou a ambos. REQUERIMENTOS
NOTAS EXPLICATIVAS DE EMBALAGENS É o instrumento por meio do qual o interessado requer a uma
autoridade administrativa um direito do qual se julga detentor.
As notas explicativas servem para que o fabricante do Estrutura:
produto esclareça ou explique aspectos da composição, nutrição, - Vocativo, cargo ou função (e nome do destinatário), ou seja,
advertências a respeito do produto. da autoridade competente.
Didatismo e Conhecimento 91
LÍNGUA PORTUGUESA
- Texto incluindo: Preâmbulo, contendo nome do requerente
(grafado em letras maiúsculas) e respectiva qualificação: 7. PONTUAÇÃO E ORTOGRAFIA.
nacionalidade, estado civil, profissão, documento de identidade,
idade (se maior de 60 anos, para fins de preferência na tramitação
do processo, segundo a Lei 10.741/03), e domicílio (caso o
requerente seja servidor da Câmara dos Deputados, precedendo à Ortografia
qualificação civil deve ser colocado o número do registro funcional
e a lotação); Exposição do pedido, de preferência indicando os A palavra ortografia é formada pelos elementos gregos orto
fundamentos legais do requerimento e os elementos probatórios “correto” e grafia “escrita” sendo a escrita correta das palavras da
de natureza fática. língua portuguesa, obedecendo a uma combinação de critérios eti-
- Fecho: “Nestes termos, Pede deferimento”. mológicos (ligados à origem das palavras) e fonológicos (ligados
aos fonemas representados).
- Local e data.
Somente a intimidade com a palavra escrita, é que acaba tra-
- Assinatura e, se for o caso de servidor, função ou cargo.
zendo a memorização da grafia correta. Deve-se também criar o
hábito de consultar constantemente um dicionário.
OFÍCIOS Desde o dia primeiro de Janeiro de 2009 está em vigor o Novo
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, por isso temos até 2012
O Ofício deve conter as seguintes partes: para nos “habituarmos” com as novas regras, pois somente em
2013 que a antiga será abolida.
- Tipo e número do expediente, seguido da sigla do órgão
que o expede. Exemplos: Esse material já se encontra segundo o Novo Acordo Orto-
gráfico.
Of. 123/2002-MME
Aviso 123/2002-SG Alfabeto
Mem. 123/2002-MF
O alfabeto passou a ser formado por 26 letras. As letras “k”,
- Local e data. Devem vir por extenso com alinhamento à “w” e “y” não eram consideradas integrantes do alfabeto (agora
direita. Exemplo: são). Essas letras são usadas em unidades de medida, nomes pró-
prios, palavras estrangeiras e outras palavras em geral. Exemplos:
Brasília, 20 de maio de 2013 km, kg, watt, playground, William, Kafka, kafkiano.
Vogais: a, e, i, o, u.
Consoantes: b,c,d,f,g,h,j,k,l,m,n,p,q,r,s,t,v,w,x,y,z.
- Assunto. Resumo do teor do documento. Exemplos:
Alfabeto: a,b,c,d,e,f,g,h,i,j,k,l,m,n,o,p,q,r,s,t,u,v,w,x,y,z.
Assunto: Produtividade do órgão em 2012. Emprego da letra H
Esta letra, em início ou fim de palavras, não tem valor fonéti-
Assunto: Necessidade de aquisição de novos computadores. co; conservou-se apenas como símbolo, por força da etimologia e
da tradição escrita. Grafa-se, por exemplo, hoje, porque esta pala-
- Destinatário. O nome e o cargo da pessoa a quem é dirigida vra vem do latim hodie.
a comunicação. No caso do ofício, deve ser incluído também o
endereço. Emprega-se o H:
- Inicial, quando etimológico: hábito, hélice, herói, hérnia, he-
- Texto. Nos casos em que não for de mero encaminhamento sitar, haurir, etc.
de documentos, o expediente deve conter a seguinte estrutura: - Medial, como integrante dos dígrafos ch, lh e nh: chave, bo-
liche, telha, flecha companhia, etc.
Introdução: que se confunde com o parágrafo de abertura, - Final e inicial, em certas interjeições: ah!, ih!, hem?, hum!, etc.
na qual é apresentado o assunto que motiva a comunicação. Evite - Algumas palavras iniciadas com a letra H: hálito, harmo-
o uso das formas: “Tenho a honra de”, “Tenho o prazer de”, nia, hangar, hábil, hemorragia, hemisfério, heliporto, hematoma,
hífen, hilaridade, hipocondria, hipótese, hipocrisia, homenagear,
“Cumpreme informar que”, empregue a forma direta;
hera, húmus;
- Sem h, porém, os derivados baianos, baianinha, baião, baianada, etc.
Desenvolvimento: no qual o assunto é detalhado; se o texto
contiver mais de uma ideia sobre o assunto, elas devem ser tratadas Não se usa H:
em parágrafos distintos, o que confere maior clareza à exposição; - No início de alguns vocábulos em que o h, embora etimoló-
gico, foi eliminado por se tratar de palavras que entraram na língua
Conclusão: em que é reafirmada ou simplesmente por via popular, como é o caso de erva, inverno, e Espanha, res-
reapresentada a posição recomendada sobre o assunto. pectivamente do latim, herba, hibernus e Hispania. Os derivados
Os parágrafos do texto devem ser numerados, exceto nos casos eruditos, entretanto, grafam-se com h: herbívoro, herbicida, hispâ-
em que estes estejam organizados em itens ou títulos e subtítulos. nico, hibernal, hibernar, etc.
Didatismo e Conhecimento 92
LÍNGUA PORTUGUESA
Emprego das letras E, I, O e U delatar = denunciar
dilatar = distender, aumentar
Na língua falada, a distinção entre as vogais átonas /e/ e /i/, /o/ descrição = ato de descrever
e /u/ nem sempre é nítida. É principalmente desse fato que nascem discrição = qualidade de quem é discreto
as dúvidas quando se escrevem palavras como quase, intitular, má- emergir = vir à tona
goa, bulir, etc., em que ocorrem aquelas vogais. imergir = mergulhar
emigrar = sair do país
Escrevem-se com a letra E: imigrar = entrar num país estranho
- A sílaba final de formas dos verbos terminados em –uar: con- emigrante = que ou quem emigra
tinue, habitue, pontue, etc. imigrante = que ou quem imigra
- A sílaba final de formas dos verbos terminados em –oar: eminente = elevado, ilustre
abençoe, magoe, perdoe, etc. iminente = que ameaça acontecer
- As palavras formadas com o prefixo ante– (antes, anterior):
recrear = divertir
antebraço, antecipar, antedatar, antediluviano, antevéspera, etc.
recriar = criar novamente
- Os seguintes vocábulos: Arrepiar, Cadeado, Candeeiro,
soar = emitir som, ecoar, repercutir
Cemitério, Confete, Creolina, Cumeeira, Desperdício, Destilar,
suar = expelir suor pelos poros, transpirar
Disenteria, Empecilho, Encarnar, Indígena, Irrequieto, Lacrimo-
gêneo, Mexerico, Mimeógrafo, Orquídea, Peru, Quase, Quepe, sortir = abastecer
Senão, Sequer, Seriema, Seringa, Umedecer. surtir = produzir (efeito ou resultado)
sortido = abastecido, bem provido, variado
Emprega-se a letra I: surtido = produzido, causado
- Na sílaba final de formas dos verbos terminados em –air/– vadear = atravessar (rio) por onde dá pé, passar a vau
oer /–uir: cai, corrói, diminuir, influi, possui, retribui, sai, etc. vadiar = viver na vadiagem, vagabundear, levar vida de vadio
- Em palavras formadas com o prefixo anti- (contra): antiaé-
reo, Anticristo, antitetânico, antiestético, etc. Emprego das letras G e J
- Nos seguintes vocábulos: aborígine, açoriano, artifício, ar- Para representar o fonema /j/ existem duas letras; g e j. Grafa-
timanha, camoniano, Casimiro, chefiar, cimento, crânio, criar, se este ou aquele signo não de modo arbitrário, mas de acordo com
criador, criação, crioulo, digladiar, displicente, erisipela, escárnio, a origem da palavra. Exemplos: gesso (do grego gypsos), jeito (do
feminino, Filipe, frontispício, Ifigênia, inclinar, incinerar, inigualá- latim jactu) e jipe (do inglês jeep).
vel, invólucro, lajiano, lampião, pátio, penicilina, pontiagudo, pri-
vilégio, requisito, Sicília (ilha), silvícola, siri, terebintina, Tibiriçá, Escrevem-se com G:
Virgílio. - Os substantivos terminados em –agem, -igem, -ugem: gara-
gem, massagem, viagem, origem, vertigem, ferrugem, lanugem.
Grafam-se com a letra O: abolir, banto, boate, bolacha, bole- Exceção: pajem
tim, botequim, bússola, chover, cobiça, concorrência, costume, en- - As palavras terminadas em –ágio, -égio, -ígio, -ógio, -úgio:
golir, goela, mágoa, mocambo, moela, moleque, mosquito, névoa, contágio, estágio, egrégio, prodígio, relógio, refúgio.
nódoa, óbolo, ocorrência, rebotalho, Romênia, tribo. - Palavras derivadas de outras que se grafam com g: massa-
gista (de massagem), vertiginoso (de vertigem), ferruginoso (de
Grafam-se com a letra U: bulir, burburinho, camundongo, ferrugem), engessar (de gesso), faringite (de faringe), selvageria
chuviscar, cumbuca, cúpula, curtume, cutucar, entupir, íngua, (de selvagem), etc.
jabuti, jabuticaba, lóbulo, Manuel, mutuca, rebuliço, tábua, tabua- - Os seguintes vocábulos: algema, angico, apogeu, auge, es-
da, tonitruante, trégua, urtiga.
trangeiro, gengiva, gesto, gibi, gilete, ginete, gíria, giz, hegemonia,
herege, megera, monge, rabugento, sugestão, tangerina, tigela.
Parônimos: Registramos alguns parônimos que se diferen-
ciam pela oposição das vogais /e/ e /i/, /o/ e /u/. Fixemos a grafia e
Escrevem-se com J:
o significado dos seguintes:
- Palavras derivadas de outras terminadas em –já: laranja (la-
área = superfície ranjeira), loja (lojista, lojeca), granja (granjeiro, granjense), gorja
ária = melodia, cantiga (gorjeta, gorjeio), lisonja (lisonjear, lisonjeiro), sarja (sarjeta), ce-
arrear = pôr arreios, enfeitar reja (cerejeira).
arriar = abaixar, pôr no chão, cair - Todas as formas da conjugação dos verbos terminados em
comprido = longo –jar ou –jear: arranjar (arranje), despejar (despejei), gorjear (gor-
cumprido = particípio de cumprir jeia), viajar (viajei, viajem) – (viagem é substantivo).
comprimento = extensão - Vocábulos cognatos ou derivados de outros que têm j: laje
cumprimento = saudação, ato de cumprir (lajedo), nojo (nojento), jeito (jeitoso, enjeitar, projeção, rejeitar,
costear = navegar ou passar junto à costa sujeito, trajeto, trejeito).
custear = pagar as custas, financiar - Palavras de origem ameríndia (principalmente tupi-guarani)
deferir = conceder, atender ou africana: canjerê, canjica, jenipapo, jequitibá, jerimum, jiboia,
diferir = ser diferente, divergir jiló, jirau, pajé, etc.
Didatismo e Conhecimento 93
LÍNGUA PORTUGUESA
- As seguintes palavras: alfanje, alforje, berinjela, cafajeste, - Substantivos e adjetivos terminados em –ês, feminino –esa:
cerejeira, intrujice, jeca, jegue, Jeremias, Jericó, Jerônimo, jérsei, burguês, burguesa, burgueses, camponês, camponesa, campone-
jiu-jitsu, majestade, majestoso, manjedoura, manjericão, ojeriza, ses, freguês, freguesa, fregueses, etc.
pegajento, rijeza, sabujice, sujeira, traje, ultraje, varejista. - Verbos derivados de palavras cujo radical termina em –s:
- Atenção: Moji palavra de origem indígena, deve ser escrita analisar (de análise), apresar (de presa), atrasar (de atrás), extasiar
com J. Por tradição algumas cidades de São Paulo adotam a grafia (de êxtase), extravasar (de vaso), alisar (de liso), etc.
com G, como as cidades de Mogi das Cruzes e Mogi Mirim. - Formas dos verbos pôr e querer e de seus derivados: pus,
pusemos, compôs, impuser, quis, quiseram, etc.
Representação do fonema /S/ - Os seguintes nomes próprios de pessoas: Avis, Baltasar,
O fonema /s/, conforme o caso, representa-se por: Brás, Eliseu, Garcês, Heloísa, Inês, Isabel, Isaura, Luís, Luísa,
- C, Ç: acetinado, açafrão, almaço, anoitecer, censura, cimen- Queirós, Resende, Sousa, Teresa, Teresinha, Tomás, Valdês.
to, dança, dançar, contorção, exceção, endereço, Iguaçu, maçarico, - Os seguintes vocábulos e seus cognatos: aliás, anis, arnês,
maçaroca, maço, maciço, miçanga, muçulmano, muçurana, paço- ás, ases, através, avisar, besouro, colisão, convés, cortês, corte-
ca, pança, pinça, Suíça, suíço, vicissitude. sia, defesa, despesa, empresa, esplêndido, espontâneo, evasiva,
- S: ânsia, ansiar, ansioso, ansiedade, cansar, cansado, descan- fase, frase, freguesia, fusível, gás, Goiás, groselha, heresia, hesitar,
sar, descanso, diversão, excursão, farsa, ganso, hortênsia, preten- manganês, mês, mesada, obséquio, obus, paisagem, país, paraíso,
são, pretensioso, propensão, remorso, sebo, tenso, utensílio. pêsames, pesquisa, presa, presépio, presídio, querosene, raposa,
- SS: acesso, acessório, acessível, assar, asseio, assinar, car- represa, requisito, rês, reses, retrós, revés, surpresa, tesoura, tesou-
rossel, cassino, concessão, discussão, escassez, escasso, essencial, ro, três, usina, vasilha, vaselina, vigésimo, visita.
expressão, fracasso, impressão, massa, massagista, missão, neces-
sário, obsessão, opressão, pêssego, procissão, profissão, profissio- Emprego da letra Z
nal, ressurreição, sessenta, sossegar, sossego, submissão, sucessivo. - Os derivados em –zal, -zeiro, -zinho, -zinha, -zito, -zita: ca-
- SC, SÇ: acréscimo, adolescente, ascensão, consciência, fezal, cafezeiro, cafezinho, avezinha, cãozito, avezita, etc.
consciente, crescer, cresço, descer, desço, desça, disciplina, discí- - Os derivados de palavras cujo radical termina em –z: cruzei-
pulo, discernir, fascinar, florescer, imprescindível, néscio, oscilar, ro (de cruz), enraizar (de raiz), esvaziar (de vazio), etc.
piscina, ressuscitar, seiscentos, suscetível, suscetibilidade, susci- - Os verbos formados com o sufixo –izar e palavras cognatas:
tar, víscera. fertilizar, fertilizante, civilizar, civilização, etc.
- X: aproximar, auxiliar, auxílio, máximo, próximo, proximi- - Substantivos abstratos em –eza, derivados de adjetivos e de-
dade, trouxe, trouxer, trouxeram, etc. notando qualidade física ou moral: pobreza (de pobre), limpeza
- XC: exceção, excedente, exceder, excelência, excelente, excel- (de limpo), frieza (de frio), etc.
so, excêntrico, excepcional, excesso, excessivo, exceto, excitar, etc. - As seguintes palavras: azar, azeite, azáfama, azedo, amizade,
aprazível, baliza, buzinar, bazar, chafariz, cicatriz, ojeriza, prezar,
Homônimos prezado, proeza, vazar, vizinho, xadrez.
Didatismo e Conhecimento 94
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Usa-se –eza (com z): Chá = planta da família das teáceas; infusão de folhas do chá
- Nos substantivos femininos abstratos derivados de adjetivos ou de outras plantas
e denotado qualidades, estado, condição: beleza (de belo), fran- Xá = título do soberano da Pérsia (atual Irã)
queza (de franco), pobreza (de pobre), leveza (de leve), etc. Cheque = ordem de pagamento
Xeque = no jogo de xadrez, lance em que o rei é atacado por
Verbos terminados em –ISAR e -IZAR uma peça adversária
Escreve-se –isar (com s) quando o radical dos nomes corres-
pondentes termina em –s. Se o radical não terminar em –s, grafa- Consoantes dobradas
se –izar (com z): avisar (aviso + ar), analisar (análise + ar), alisar - Nas palavras portuguesas só se duplicam as consoantes C,
(a + liso + ar), bisar (bis + ar), catalisar (catálise + ar), improvisar R, S.
(improviso + ar), paralisar (paralisia + ar), pesquisar (pesquisa + - Escreve-se com CC ou CÇ quando as duas consoantes soam
ar), pisar, repisar (piso + ar), frisar (friso + ar), grisar (gris + ar), distintamente: convicção, occipital, cocção, fricção, friccionar,
anarquizar (anarquia + izar), civilizar (civil + izar), canalizar (ca- facção, sucção, etc.
nal + izar), amenizar (ameno + izar), colonizar (colono + izar), - Duplicam-se o R e o S em dois casos: Quando, intervocá-
vulgarizar (vulgar + izar), motorizar (motor + izar), escravizar (es- licos, representam os fonemas /r/ forte e /s/ sibilante, respectiva-
cravo + izar), cicatrizar (cicatriz + izar), deslizar (deslize + izar), mente: carro, ferro, pêssego, missão, etc. Quando a um elemento
matizar (matiz + izar). de composição terminado em vogal seguir, sem interposição do
hífen, palavra começada com /r/ ou /s/: arroxeado, correlação,
Emprego do X pressupor, bissemanal, girassol, minissaia, etc.
- Esta letra representa os seguintes fonemas:
Ch – xarope, enxofre, vexame, etc. CÊ - cedilha
CS – sexo, látex, léxico, tóxico, etc. É a letra C que se pôs cedilha. Indica que o Ç passa a ter som
Z – exame, exílio, êxodo, etc. de /S/: almaço, ameaça, cobiça, doença, eleição, exceção, força,
SS – auxílio, máximo, próximo, etc. frustração, geringonça, justiça, lição, miçanga, preguiça, raça.
Nos substantivos derivados dos verbos: ter e torcer e seus de-
S – sexto, texto, expectativa, extensão, etc.
rivados: ater, atenção; abster, abstenção; reter, retenção; torcer,
torção; contorcer, contorção; distorcer, distorção.
- Não soa nos grupos internos –xce- e –xci-: exceção, exceder,
O Ç só é usado antes de A,O,U.
excelente, excelso, excêntrico, excessivo, excitar, inexcedível, etc.
- Grafam-se com x e não com s: expectativa, experiente, ex-
Emprego das iniciais maiúsculas
piar, expirar, expoente, êxtase, extasiado, extrair, fênix, texto, etc.
- A primeira palavra de período ou citação. Diz um provérbio
- Escreve-se x e não ch: Em geral, depois de ditongo: caixa,
árabe: “A agulha veste os outros e vive nua”. No início dos versos
baixo, faixa, feixe, frouxo, ameixa, rouxinol, seixo, etc. Excetuam-
que não abrem período é facultativo o uso da letra maiúscula.
se caucho e os derivados cauchal, recauchutar e recauchutagem. - Substantivos próprios (antropônimos, alcunhas, topônimos,
Geralmente, depois da sílaba inicial en-: enxada, enxame, enxa- nomes sagrados, mitológicos, astronômicos): José, Tiradentes,
mear, enxaguar, enxaqueca, enxergar, enxerto, enxoval, enxugar, Brasil, Amazônia, Campinas, Deus, Maria Santíssima, Tupã, Mi-
enxurrada, enxuto, etc. Excepcionalmente, grafam-se com ch: nerva, Via-Láctea, Marte, Cruzeiro do Sul, etc.
encharcar (de charco), encher e seus derivados (enchente, preen- - Nomes de épocas históricas, datas e fatos importantes, festas
cher), enchova, enchumaçar (de chumaço), enfim, toda vez que se religiosas: Idade Média, Renascença, Centenário da Independência
trata do prefixo en- + palavra iniciada por ch. Em vocábulos de ori- do Brasil, a Páscoa, o Natal, o Dia das Mães, etc.
gem indígena ou africana: abacaxi, xavante, caxambu, caxinguelê, - Nomes de altos cargos e dignidades: Papa, Presidente da Re-
orixá, maxixe, etc. Nas seguintes palavras: bexiga, bruxa, coaxar, pública, etc.
faxina, graxa, lagartixa, lixa, lixo, mexer, mexerico, puxar, rixa, - Nomes de altos conceitos religiosos ou políticos: Igreja, Na-
oxalá, praxe, vexame, xarope, xaxim, xícara, xale, xingar, xampu. ção, Estado, Pátria, União, República, etc.
- Nomes de ruas, praças, edifícios, estabelecimentos, agremia-
Emprego do dígrafo CH ções, órgãos públicos, etc: Rua do Ouvidor, Praça da Paz, Academia
Escreve-se com ch, entre outros os seguintes vocábulos: bu- Brasileira de Letras, Banco do Brasil, Teatro Municipal, Colégio
cha, charque, charrua, chavena, chimarrão, chuchu, cochilo, facha- Santista, etc.
da, ficha, flecha, mecha, mochila, pechincha, tocha. - Nomes de artes, ciências, títulos de produções artísticas, lite-
rárias e científicas, títulos de jornais e revistas: Medicina, Arqui-
Homônimos tetura, Os Lusíadas, O Guarani, Dicionário Geográfico Brasileiro,
Correio da Manhã, Manchete, etc.
Bucho = estômago - Expressões de tratamento: Vossa Excelência, Sr. Presidente,
Buxo = espécie de arbusto Excelentíssimo Senhor Ministro, Senhor Diretor, etc.
Cocha = recipiente de madeira - Nomes dos pontos cardeais, quando designam regiões: Os po-
Coxa = capenga, manco vos do Oriente, o falar do Norte. Mas: Corri o país de norte a sul. O
Tacha = mancha, defeito; pequeno prego; prego de cabeça lar- Sol nasce a leste.
ga e chata, caldeira. - Nomes comuns, quando personificados ou individuados: o
Taxa = imposto, preço de serviço público, conta, tarifa Amor, o Ódio, a Morte, o Jabuti (nas fábulas), etc.
Didatismo e Conhecimento 95
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Emprego das iniciais minúsculas Observe: Em vez de conversar, preferiu gritar para a escola
- Nomes de meses, de festas pagãs ou populares, nomes gen- inteira ouvir! (em lugar de) Ele pediu que fosse embora ao invés
tílicos, nomes próprios tornados comuns: maia, bacanais, carnaval, de ficar e discutir o caso. (ao contrário de)
ingleses, ave-maria, um havana, etc. Use “ao invés de” quando quiser o significado de “ao contrá-
- Os nomes a que se referem os itens 4 e 5 acima, quando em- rio de”, “em oposição a”, “avesso”, “inverso”.
pregados em sentido geral: São Pedro foi o primeiro papa. Todos Use “em vez de” quando quiser um sentido de “no lugar de”
amam sua pátria. ou “em lugar de”. No entanto, pode assumir o significado de “ao
- Nomes comuns antepostos a nomes próprios geográficos: o invés de”, sem problemas. Porém, o que ocorre é justamente o
rio Amazonas, a baía de Guanabara, o pico da Neblina, etc. contrário, coloca-se “ao invés de” onde não poderia.
- Palavras, depois de dois pontos, não se tratando de citação di-
reta: “Qual deles: o hortelão ou o advogado?”; “Chegam os magos A par: equivale a (bem informado, ciente): Estamos a par das
do Oriente, com suas dádivas: ouro, incenso, mirra”. boas notícias.
- No interior dos títulos, as palavras átonas, como: o, a, com, de, Ao par: indica relação (de igualdade ou equivalência entre va-
em, sem, grafam-se com inicial minúscula. lores financeiros – câmbio): O dólar e o euro estão ao par.
Algumas palavras ou expressões costumam apresentar dificul- Aprender: tomar conhecimento de: O menino aprendeu a lição.
dades colocando em maus lençóis quem pretende falar ou redigir Apreender: prender: O fiscal apreendeu a carteirinha do
português culto. Esta é uma oportunidade para você aperfeiçoar menino.
seu desempenho. Preste atenção e tente incorporar tais palavras À toa: é uma locução adverbial de modo, equivale a (inutilmen-
certas em situações apropriadas. te, sem razão): Andava à toa pela rua.
A anos: a indica tempo futuro: Daqui a um ano iremos à Europa. À toa: é um adjetivo (refere-se a um substantivo), equiva-
Há anos: há indica tempo passado: não o vejo há meses. le a (inútil, desprezível). Foi uma atitude à toa e precipitada. (até
01/01/2009 era grafada: à-toa)
“Procure o seu caminho Baixar: os preços quando não há objeto direto; os preços fun-
Eu aprendi a andar sozinho
cionam como sujeito: Baixaram os preços (sujeito) nos supermer-
Isto foi há muito tempo atrás
cados. Vamos comemorar, pessoal!
Mas ainda sei como se faz
Abaixar: os preços empregado com objeto direto: Os postos
Minhas mãos estão cansadas
(sujeito) de combustível abaixaram os preços (objeto direto) da
Não tenho mais onde me agarrar.”
gasolina.
(gravação: Nenhum de Nós)
Bebedor: é a pessoa que bebe: Tornei-me um grande bebedor
Atenção: Há muito tempo já indica passado. Não há necessi-
dade de usar atrás, isto é um pleonasmo. de vinho.
Bebedouro: é o aparelho que fornece água. Este bebedouro
Acerca de: equivale a (a respeito de): Falávamos acerca de está funcionando bem.
uma solução melhor.
Há cerca de: equivale a (faz tempo). Há cerca de dias resol- Bem Vindo: é um adjetivo composto: Você é sempre bem vin-
vemos este caso. do aqui, jovem.
Ao encontro de: equivale (estar a favor de): Sua atitude vai ao Benvindo: é nome próprio: Benvindo é meu colega de classe.
encontro da verdade.
De encontro a: equivale a (oposição, choque): Minhas opi- Boêmia/Boemia: são formas variantes (usadas normalmente):
niões vão de encontro às suas. Vivia na boêmia/boemia.
A fim de: locução prepositiva que indica (finalidade): Vou a Botijão/Bujão de gás: ambas formas corretas: Comprei um bo-
fim de visitá-la. tijão/bujão de gás.
Afim: é um adjetivo e equivale a (igual, semelhante): Somos
almas afins. Câmara: equivale ao local de trabalho onde se reúnem os ve-
readores, deputados: Ficaram todos reunidos na Câmara Municipal.
Ao invés de: equivale (ao contrário de): Ao invés de falar co- Câmera: aparelho que fotografa, tira fotos: Comprei uma câ-
meçou a chorar (oposição). mera japonesa.
Em vez de: equivale a (no lugar de): Em vez de acompanhar-
me, ficou só.´ Champanha/Champanhe (do francês): O champanha/
Faça você a sua parte, ao invés de ficar me cobrando! champanhe está bem gelado.
Quantas vezes usamos “ao invés de” quando queremos dizer Cessão: equivale ao ato de doar, doação: Foi confirmada a ces-
“no lugar de”! são do terreno.
Contudo, esse emprego é equivocado, uma vez que “invés” Sessão: equivale ao intervalo de tempo de uma reunião: A ses-
significa “contrário”, “inverso”. Não que seja absurdamente errado são do filme durou duas horas.
escrever “ao invés de” em frases que expressam sentido de “em Seção/Secção: repartição pública, departamento: Visitei hoje a
lugar de”, mas é preferível optar por “em vez de”. seção de esportes.
Didatismo e Conhecimento 96
LÍNGUA PORTUGUESA
Demais: é advérbio de intensidade, equivale a muito, aparece Fosforescente: adjetivo derivado de fósforo; que brilha no es-
intensificando verbos, adjetivos ou o próprio advérbio. Vocês falam curo: Este material é fosforescente.
demais, caras! Fluorescente: adjetivo derivado de flúor, elemento químico,
Demais: pode ser usado como substantivo, seguido de artigo, refere-se a um determinado tipo de luminosidade: A luz branca do
equivale a os outros. Chamaram mais dez candidatos, os demais carro era fluorescente.
devem aguardar.
De mais: é locução prepositiva, opõe-se a de menos, refere-se Haja - do verbo haver - É preciso que não haja descuido.
sempre a um substantivo ou a um pronome: Não vejo nada de mais Aja - do verbo agir - Aja com cuidado, Carlinhos.
em sua decisão.
Houve: pretérito perfeito do verbo haver, 3ª pessoa do singular
Dia a dia: é um substantivo, equivale a cotidiano, diário, que Ouve: presente do indicativo do verbo ouvir, 3ª pessoa do
faz ou acontece todo dia. Meu dia a dia é cheio de surpresas. (até singular
01/01/2009, era grafado dia a dia)
Dia a dia: é uma expressão adverbial, equivale a diariamente. Levantar: é sinônimo de erguer: Ginês, meu estimado cunha-
O álcool aumenta dia a dia. Pode isso?
do, levantou sozinho a tampa do poço.
Levantar-se: pôr de pé: Luís e Diego levantaram-se cedo e,
Descriminar: equivale a (inocentar, absolver de crime). O réu
dirigiram-se ao aeroporto.
foi descriminado; pra sorte dele.
Discriminar: equivale a (diferençar, distinguir, separar). Era
impossível discriminar os caracteres do documento. Cumpre dis- Mal: advérbio de modo, equivale a erradamente, é oposto de
criminar os verdadeiros dos falsos valores. /Os negros ainda são bem: Dormi mal. (bem). Equivale a nocivo, prejudicial, enfermida-
discriminados. de; pode vir antecedido de artigo, adjetivo ou pronome: A comida
Descrição: ato de descrever: A descrição sobre o jogador foi fez mal para mim. Seu mal é crer em tudo. Conjunção subordinati-
perfeita. va temporal, equivale a assim que, logo que: Mal chegou começou
Discrição: qualidade ou caráter de ser discreto, reservado: a chorar desesperadamente.
Você foi muito discreto. Mau: adjetivo, equivale a ruim, oposto de bom; plural=maus;
feminino=má. Você é um mau exemplo (bom). Substantivo: Os
Entrega em domicílio: equivale a lugar: Fiz a entrega em domicílio. maus nunca vencem.
Entrega a domicílio com verbos de movimento: Enviou as
compras a domicílio. Mas: conjunção adversativa (ideia contrária), equivale a po-
rém, contudo, entretanto: Telefonei-lhe mas ela não atendeu.
As expressões “entrega em domicílio” e “entrega a domicílio” Mais: pronome ou advérbio de intensidade, opõe-se a menos:
são muito recorrentes em restaurantes, na propaganda televisa, no Há mais flores perfumadas no campo.
outdoor, no folder, no panfleto, no catálogo, na fala. Convivem
juntas sem problemas maiores porque são entendidas da mesma Nem um: equivale a nem um sequer, nem um único; a palavra
forma, com um mesmo sentido. No entanto, quando falamos de um expressa quantidade: Nem um filho de Deus apareceu para ajudá-la.
gramática normativa, temos que ter cuidado, pois “a domicílio” Nenhum: pronome indefinido variável em gênero e número;
não é aceita. Por quê? A regra estabelece que esta última locução vem antes de um substantivo, é oposto de algum: Nenhum jornal
adverbial deve ser usada nos casos de verbos que indicam movi- divulgou o resultado do concurso.
mento, como: levar, enviar, trazer, ir, conduzir, dirigir-se.
Portanto, “A loja entregou meu sofá a casa” não está correto. Obrigada: As mulheres devem dizer: muito obrigada, eu
Já a locução adverbial “em domicílio” é usada com os verbos sem
mesma, eu própria.
noção de movimento: entregar, dar, cortar, fazer.
Obrigado: Os homens devem dizer: muito obrigado, eu
A dúvida surge com o verbo “entregar”: não indicaria movi-
mesmo, eu próprio.
mento? De acordo com a gramática purista não, uma vez que quem
entrega, entrega algo em algum lugar.
Porém, há aqueles que afirmam que este verbo indica sim mo- Onde: indica o (lugar em que se está); refere-se a verbos que
vimento, pois quem entrega se desloca de um lugar para outro. exprimem estado, permanência: Onde fica a farmácia mais próxima?
Contudo, obedecendo às normas gramaticais, devemos usar Aonde: indica (ideia de movimento); equivale (para onde) so-
“entrega em domicílio”, nos atentando ao fato de que a finalidade mente com verbo de movimento desde que indique deslocamento,
é que vale: a entrega será feita no (em+o) domicílio de uma pessoa. ou seja, a+onde. Aonde vão com tanta pressa?
Espectador: é aquele que vê, assiste: Os espectadores se far- “Pode seguir a tua estrada
taram da apresentação. o teu brinquedo de estar
Expectador: é aquele que está na expectativa, que espera algu- fantasiando um segredo
ma coisa: O expectador aguardava o momento da chamada. o ponto aonde quer chegar...”
(gravação: Barão Vermelho)
Estada: permanência de pessoa (tempo em algum lugar): A es-
tada dela aqui foi gratificante. Por ora: equivale a (por este momento, por enquanto): Por ora
Estadia: prazo concedido para carga e descarga de navios ou chega de trabalhar.
veículos: A estadia do carro foi prolongada por mais algumas se- Por hora: locução equivale a (cada sessenta minutos): Você
manas. deve cobrar por hora.
Didatismo e Conhecimento 97
LÍNGUA PORTUGUESA
Por que: escreve se separado; quando ocorre: preposição por+- 04. Preencha as lacunas com as seguintes palavras: seção, ses-
que - advérbio interrogativo (Por que você mentiu?); preposição são, cessão, comprimento, cumprimento, conserto, concerto
por+que – pronome relativo pelo/a qual, pelos/as quais (A cidade a) O pequeno jornaleiro foi à.........do jornal.
por que passamos é simpática e acolhedora.) (=pela qual); prepo- b) Na..........musical os pequenos cantores apresentaram-se mui-
sição por+que – conjunção subordinativa integrante; inicia oração to bem.
subordinada substantiva (Não sei por que tomaram esta decisão. c) O........do jornaleiro é amável.
(=por que motivo, razão) d) O..... das roupas é feito pela mãe do garoto.
Por quê: final de frase, antes de um ponto final, de interroga- e) O......do sapato custou muito caro.
f) Eu......meu amigo com amabilidade.
ção, de exclamação, reticências; o monossílabo que passa a ser tô-
g) A.......de cinema foi um sucesso.
nico (forte), devendo, pois, ser acentuado: __O show foi cancelado
h) O vestido tem um.........bom.
mas ninguém sabe por quê. (final de frase); __Por quê? (isolado)
i) Os pequenos violinistas participaram de um........ .
Porque: conjunção subordinativa causal: equivale a: pela cau-
sa, razão de que, pelo fato, motivo de que: Não fui ao encontro por- 05. Dê a palavra derivada acrescentando os sufixos ESA ou
que estava acamado; conjunção subordinativa explicativa: equivale EZA: Portugal; certo; limpo; bonito; pobre; magro; belo; gentil;
a: pois, já que, uma vez que, visto que: “Mas a minha tristeza é duro; lindo; China; frio; duque; fraco; bravo; grande.
sossego porque é natural e justa.”; conjunção subordinativa final
(verbo no subjuntivo, equivale a para que): “Mas não julguemos, 06. Forme substantivos dos adjetivos: honrado; rápido; escasso;
porque não venhamos a ser julgados.” tímido; estúpido; pálido; ácido; surdo; lúcido; pequeno.
Porquê: funciona como substantivo; vem sempre acompanha-
do de um artigo ou determinante: Não foi fácil encontrar o porquê 07. Use o H quando for necessário: alucinar; élice, umilde, esi-
daquele corre-corre. tar, oje, humano, ora, onra, aver, ontem, êxito, ábil, arpa, irônico,
orrível, árido, óspede, abitar.
Senão: equivale a (caso contrário, a não ser): Não fazia coisa 8. Complete as lacunas com as seguintes formas verbais: Houve
nenhuma senão criticar. e Ouve.
Se não: equivale a (se por acaso não), em orações adverbiais a) O menino .....muitas recomendações de seu pai.
condicionais: Se não houver homens honestos, o país não sairá des- b) ........muita confusão na cabeça do pequeno.
c) A criança não.........a professora porque não a compreende.
ta situação crítica.
d) Na escola........festa do Dia do Índio.
Tampouco: advérbio, equivale a (também não): Não compare-
ceu, tampouco apresentou qualquer justificativa.
9. A letra X representa vários sons. Leia atentamente as pala-
Tão pouco: advérbio de intensidade: Encontramo-nos tão pou- vras oralmente: trouxemos, exercícios, táxi, executarei, exibir-se,
co esta semana. oxigênio, exercer, proximidade, tóxico, extensão, existir, experiên-
cia, êxito, sexo, auxílio, exame. Separe as palavras em três seções,
Trás ou Atrás = indicam lugar, são advérbios conforme o som do X.
Traz - do verbo trazer - Som de Z;
- Som de KS;
Vultoso: volumoso: Fizemos um trabalho vultoso aqui. - Som de S.
Vultuoso: atacado de congestão no rosto: Sua face está vultuo-
sa e deformada. 10. Complete com X ou CH: en.....er; dei.....ar; ......eiro;
fle......a; ei.....o; frou.....o; ma.....ucar; .....ocolate; en.....ada; en.....
Exercícios ergar; cai......a; .....iclete; fai......a; .....u......u; salsi......a; bai.......a; ca-
pri......o; me......erica; ria.......o; ......ingar; .......aleira; amei......a; ......
01. Observe a ortografia correta das palavras: disenteria; pro- eirosos; abaca.....i.
grama; mortadela; mendigo; beneficente; caderneta; problema.
11. Complete com MAL ou MAU:
Empregue as palavras acima nas frases: a) Disseram que Carlota passou......ontem.
a) O......teve.....porque comeu......estragada. b) Ele ficou de......humor após ter agido daquela forma.
b) O superpai protegeu demais seu filho e este lhe trouxe c) O time se considera......preparado para tal jogo.
um.........: sua.......escolar indicou péssimo aproveitamento. d) Carlota sofria de um..........curável.
c) A festa......teve um bom.......e, por isso, um bom aproveitamento. e) O.......é se ter afeiçoado às coisas materiais.
f) Ele não é um........sujeito.
02. Passe as palavras para o diminutivo: g) Mas o.......não durou muito tempo.
- asa; japonês; pai; homem; adeus; português; só; anel;
- beleza; rosa; país; avô; arroz; princesa; café; 12. Complete as frases com porque ou por que corretamente:
- flor; Oscar; rei; bom; casa; lápis; pé. a) ....... você está chateada?
b) Cuidar do animal é mais importante........ele fica limpinho.
03. Passe para o plural diminutivo: trem; pé; animal; só; papel; c) .......... você não limpou o tapete?
jornal; mão; balão; automóvel; pai; cão; mercadoria; farol; rua; cha- d) Concordo com papai.............ele tem razão.
péu; flor. e) ..........precisamos cuidar dos animais de estimação.
Didatismo e Conhecimento 98
LÍNGUA PORTUGUESA
13. Preencha as lacunas com: mas = porém; mais = indica quan- g) Eis o motivo........errei.
tidade; más = feminino de mau. h) Creio que vou melhorar.......estudei muito.
a) A mãe e o filho discutiram,.......não chegaram a um acordo. i) O....... é difícil de ser estudado.
b) Você quer.......razões para acreditar em seu pai? j) ........ os índios estão revoltados?
c) Pessoas.........deveriam fazer reflexões para acreditar...... na k) O caminho ........viemos era tortuoso.
bondade do que no ódio.
d) Eu limpo,.........depois vou brincar. 21. Uso do S e Z. Complete as palavras com S ou Z. A seguir,
e) O frio não prejudica .........o Tico. copie as palavras na forma correta: pou....ando; pre....ença; arte.....
f) Infelizmente Tico morreu, ........comprarei outro cãozinho. anato; escravi.....ar; nature.....a; va.....o; pre.....idente; fa.....er; Bra.....
g) Todas as atitudes ......devem ser perdoadas,.......jamais ser re- il; civili....ação; pre....ente; atra....ados; produ......irem; a....a; hori...
petidas, pois, quanto............se vive,.........se aprende. onte; torrão....inho; fra....e; intru ....o; de....ejamos; po....itiva; pode-
ro....o; de...envolvido; surpre ....a; va.....io; ca....o; coloni...ação.
14. Preencha as lacunas com: trás, atrás e traz.
a) ........... de casa havia um pinheiro. 22. Complete com X ou S e copie as palavras com atenção: e....
b) A poluição.......consigo graves consequências. trangeiro; e....tensão; e....tranho; e....tender; e....tenso; e....pontâneo;
c) Amarre-o por......... da árvore. mi...to; te....te; e....gotar; e....terior; e....ceção; e...plêndido; te....to;
d) Não vou....... de comentários bobos.. e....pulsar; e....clusivo.
23. Tão Pouco / Tampouco
15. Preencha as lacunas com: HÁ - indica tempo passado; A -
tempo futuro e espaço. Complete as frases corretamente:
a) A loja fica ....... pouco quilômetros daqui. a) Eu tive ........oportunidades!
b) .........instantes li sobre o Natal. b) Tenho.......... alunos, que cabem todos naquela salinha.
c) Eles não vão à loja porque ........ mais de dois dias a merca- c) Ele não veio;.......virão seus amigos.
doria acabou. d) Eu tenho .........tempo para estudar.
d) .........três dias que todos se preparam para a festa do Natal. e) Nunca tive gosto para dançar;......para tocar piano.
e) Esse fato aconteceu ....... muito tempo.
f) As pessoas que não amam,........são felizes.
f) Os alunos da escola dramatizarão a história do Natal daqui
g) As pessoas têm.....atitudes de amizade.
......oito dias.
g) Ele estava......... três passos da casa de André. h) O governo daquele país não resolve seus problemas,....... se
h) ........ dois quarteirões existe uma bela árvore de Natal. preocupa em resolvê-los.
Didatismo e Conhecimento 99
LÍNGUA PORTUGUESA
09. Podemos concluir que, quando há uma relação sintática entre
Som de Z: exercícios, executarei, exibir-se, exercer, existir, êxi- termos da oração, não se pode separá-los por meio de vírgula. Não
to e exame. se separam por vírgula:
Som de KS: táxi, oxigênio, tóxico e sexo. - predicado de sujeito;
Som de S: trouxemos, proximidade, extensão, experiência e - objeto de verbo;
auxílio. - adjunto adnominal de nome;
- complemento nominal de nome;
10. encher, deixar, cheiro, flecha, eixo, frouxo, machucar, cho- - predicativo do objeto do objeto;
colate, enxada, enxergar, caixa, chiclete, faixa, chuchu, salsicha, bai-
- oração principal da subordinada substantiva (desde que esta
xa, capricho, mexerica, riacho, xingar, chaleira, ameixa, cheirosos,
abacaxi. não seja apositiva nem apareça na ordem inversa).
11. a) mal b) mau c) mal d) mal e) mau f) mau g) mal A vírgula no interior da oração
12. a) Por que b) porque c) Por que d) porque e) Porque É utilizada nas seguintes situações:
- separar o vocativo: Maria, traga-me uma xícara de café; A
13. a) mas b) más mais c) más d) mas e) mais f) mas g) más educação, meus amigos, é fundamental para o progresso do país.
mas mais mais - separar alguns apostos: Valdete, minha antiga empregada, es-
teve aqui ontem.
14. a) Atrás b) traz c) trás d) atrás - separar o adjunto adverbial antecipado ou intercalado: Che-
gando de viagem, procurarei por você; As pessoas, muitas vezes,
15. a) a b) Há c) há d) Há e) há f) a g) a h) A são falsas.
- separar elementos de uma enumeração: Precisa-se de pedrei-
16. a) De repente b) devagar c) por isso d) depressa e) Por cima ros, serventes, mestre de obras.
17. analisar; pesquisar; anarquizar; canalizar; civilizar; coloni- - isolar expressões de caráter explicativo ou corretivo: Amanhã,
zar; humanizar; suavizar; revisar; realizar; nacionalizar; finalizar; ou melhor, depois de amanhã podemos nos encontrar para acertar a
oficializar; monopolizar; sintonizar; centralizar; paralisar; avisar. viagem.
- separar conjunções intercaladas: Não havia, porém, motivo
18. a) Aja haja b) haja haja c) haja d) Aja para tanta raiva.
- separar o complemento pleonástico antecipado: A mim, nada
19. a) menos b) menos c) menos d) menos me importa.
- isolar o nome de lugar na indicação de datas: Belo Horizonte,
20. a) Por que b) por que c) por que d) por quê e) porque f) por 26 de janeiro de 2011.
quê g) por que h) porque i) porquê j) Por que k) por que - separar termos coordenados assindéticos: “Lua, lua, lua, lua,
por um momento meu canto contigo compactua...” (Caetano Ve-
21. Pousando; Presença; Artesanato; Escravizar; Natureza; loso)
Vaso; Presidente; Fazer; Brasil; Civilização; Presente; Atrasados; - marcar a omissão de um termo (normalmente o verbo): Ela
Produzirem; Asa; Horizonte; Torrãozinho; Frase; Intruso; Deseja- prefere ler jornais e eu, revistas. (omissão do verbo preferir)
mos; Positiva; Poderoso; Desenvolvido; Surpresa; Vazio; Caso; Co- Termos coordenados ligados pelas conjunções e, ou, nem dis-
lonização. pensam o uso da vírgula: Conversaram sobre futebol, religião e
política. Não se falavam nem se olhavam; Ainda não me decidi se
22. estrangeiro; extensão; estranho; estender; extenso; Espon-
tâneo; Misto; Teste; Esgotar; Exterior; Exceção; Esplêndido; Texto; viajarei para Bahia ou Ceará. Entretanto, se essas conjunções apa-
Expulsar; Exclusivo. recerem repetidas, com a finalidade de dar ênfase, o uso da vírgula
passa a ser obrigatório: Não fui nem ao velório, nem ao enterro, nem
23. a) tão poucas b) tão poucos c) tampouco d) tão pouco e) à missa de sétimo dia.
tampouco f) tampouco g) tão poucas h) tampouco
A vírgula entre orações
Pontuação É utilizada nas seguintes situações:
- separar as orações subordinadas adjetivas explicativas: Meu
pai, de quem guardo amargas lembranças, mora no Rio de Janeiro.
Os sinais de pontuação são sinais gráficos empregados na lín-
- separar as orações coordenadas sindéticas e assindéticas (ex-
gua escrita para tentar recuperar recursos específicos da língua fala-
da, tais como: entonação, jogo de silêncio, pausas etc. ceto as iniciadas pela conjunção “e”: Acordei, tomei meu banho,
comi algo e saí para o trabalho; Estudou muito, mas não foi aprova-
Ponto ( . ) do no exame.
- indicar o final de uma frase declarativa: Lembro-me muito
bem dele. Há três casos em que se usa a vírgula antes da conjunção:
- separar períodos entre si: Fica comigo. Não vá embora. - quando as orações coordenadas tiverem sujeitos diferentes: Os
- nas abreviaturas: Av.; V. Ex.ª ricos estão cada vez mais ricos, e os pobres, cada vez mais pobres.
- quando a conjunção e vier repetida com a finalidade de dar
Vírgula ( , ): É usada para marcar uma pausa do enunciado com ênfase (polissíndeto): E chora, e ri, e grita, e pula de alegria.
a finalidade de nos indicar que os termos por ela separados, apesar - quando a conjunção e assumir valores distintos que não seja
de participarem da mesma frase ou oração, não formam uma unida- da adição (adversidade, consequência, por exemplo): Coitada! Estu-
de sintática: Lúcia, esposa de João, foi a ganhadora única da Sena. dou muito, e ainda assim não foi aprovada.
3. Valor lógico
Considerando os princípios citados acima, uma proposição é
classificada como verdadeira ou falsa.
Sendo assim o valor lógico será:
- a verdade (V), quando se trata de uma proposição verdadeira.
- a falsidade (F), quando se trata de uma proposição falsa.
Proposição composta do tipo P(p, q, r)
4. Conectivos lógicos
Conectivos lógicos são palavras usadas para conectar as pro-
posições formando novas sentenças.
Os principais conectivos lógicos são:
~ não
∧ e
V Ou
Proposição composta do tipo P(p, q, r, s)
→ se…então A tabela-verdade possui 24 = 16 linhas e é formada igualmente
as anteriores.
↔ se e somente se
Didatismo e Conhecimento 1
RACIOCÍNIO LÓGICO
P ~P P q pVq
V F V V V
F V V F V
F V V
Exemplo:
F F F
p = 7 é ímpar
~p = 7 não é ímpar
Exemplo:
P ~P p = 2 é par
V F q = o céu é rosa
p ν q = 2 é par ou o céu é rosa
q = 24 é múltiplo de 5
~q = 24 não é múltiplo de 5 P q pVq
V F V
q ~q
F V 10. O conectivo se… então… e a condicional
A condicional se p então q é outra proposição que tem como
8. O conectivo e e a conjunção valor lógico F se p é verdadeira e q é falsa. O símbolo p → q re-
O conectivo e e a conjunção de duas proposições p e q é outra presenta a condicional, com a seguinte tabela-verdade:
proposição que tem como valor lógico V se p e q forem verda-
deiras, e F em outros casos. O símbolo p Λ q (p e q) representa a P q p→q
conjunção, com a seguinte tabela-verdade:
V V V
P q pΛq V F F
V V V F V V
V F F F F V
F V F Exemplo:
F F F P: 7 + 2 = 9
Q: 9 – 7 = 2
Exemplo p → q: Se 7 + 2 = 9 então 9 – 7 = 2
p = 2 é par P q p→q
q = o céu é rosa
p Λ q = 2 é par e o céu é rosa V V V
p=7+5<4
P q pΛq q = 2 é um número primo
V F F p → q: Se 7 + 5 < 4 então 2 é um número primo.
p=9<6 P q p→q
q = 3 é par
p Λ q: 9 < 6 e 3 é par F V V
p = 24 é múltiplo de 3 q = 3 é par
P q pΛq p → q: Se 24 é múltiplo de 3 então 3 é par.
F F F
P q p→q
9. O conectivo ou e a disjunção V F F
O conectivo ou e a disjunção de duas proposições p e q é ou-
tra proposição que tem como valor lógico V se alguma das propo- p = 25 é múltiplo de 2
sições for verdadeira e F se as duas forem falsas. O símbolo p ∨ q = 12 < 3
q (p ou q) representa a disjunção, com a seguinte tabela-verdade: p → q: Se 25 é múltiplo de 2 então 2 < 3.
Didatismo e Conhecimento 2
RACIOCÍNIO LÓGICO
P q p→q
F F V
P q p↔q
V V V
V F F
F V F
F F V
Exemplo
p = 24 é múltiplo de 3
q = 6 é ímpar
= 24 é múltiplo de 3 se, e somente se, 6 é ímpar.
P q p↔q
V F F
Exemplo
Veja como se procede a construção de uma tabela-verdade da proposição composta P(p, q) = ((p ⋁ q) → (~p)) → (p ⋀ q), onde p e q são
duas proposições simples.
Resolução
Uma tabela-verdade de uma proposição do tipo P(p, q) possui 24 = 4 linhas, logo:
a) Valores lógicos de p ν q
Didatismo e Conhecimento 3
RACIOCÍNIO LÓGICO
b) Valores lógicos de ~P
d) Valores lógicos de p Λ q
13. Tautologia
Uma proposição composta formada por duas ou mais proposições p, q, r, ... será dita uma Tautologia se ela for sempre verdadeira,
independentemente dos valores lógicos das proposições p, q, r, ... que a compõem.
Exemplos:
• Gabriela passou no concurso do INSS ou Gabriela não passou no concurso do INSS
• Não é verdade que o professor Zambeli parece com o Zé gotinha ou o professor Zambeli parece com o Zé gotinha.
Ao invés de duas proposições, nos exemplos temos uma única proposição, afirmativa e negativa. Vamos entender isso melhor.
Exemplo:
Grêmio cai para segunda divisão ou o Grêmio não cai para segunda divisão
Exemplo
A proposição p ∨ (~p) é uma tautologia, pois o seu valor lógico é sempre V, conforme a tabela-verdade.
Didatismo e Conhecimento 4
RACIOCÍNIO LÓGICO
V V V V V Exemplo
V F F F V A tabela-verdade da condicional (p Λ q) → (p ↔ q) será:
F V F F V
F F F V V p q pΛq P↔Q (p Λ q)→(P↔Q)
V V V V V
14. Contradição
Uma proposição composta formada por duas ou mais proposi- V F F F V
ções p, q, r, ... será dita uma contradição se ela for sempre falsa,
F V F F V
independentemente dos valores lógicos das proposições p, q, r, ...
que a compõem F F F V V
Exemplos:
• O Zorra total é uma porcaria e Zorra total não é uma porcaria Portanto, (p Λ q) → (p ↔ q) é uma tautologia, por isso (p Λ
• Suelen mora em Petrópolis e Suelen não mora em Petrópolis q) ⇒ (p ↔q)
Ao invés de duas proposições, nos exemplos temos uma única
proposição, afirmativa e negativa. Vamos entender isso melhor. 17. Equivalência lógica
Exemplo:
Lula é o presidente do Brasil e Lula não é o presidente do Definição
Brasil Há equivalência entre as proposições P e Q somente quando a
Vamos chamar a primeira proposição de “p” a segunda de bicondicional P ↔ Q for uma tautologia ou quando P e Q tiverem
“~p” e o conetivo de “^” a mesma tabela-verdade. P ⇔ Q (P é equivalente a Q) é o símbolo
Assim podemos representar a “frase” acima da seguinte for- que representa a equivalência lógica.
ma: p ^ ~p
Diferenciação dos símbolos ↔ e ⇔
Exemplo O símbolo ↔ representa uma operação entre as propo-
A proposição (p Λ q) Λ (p Λ q) é uma contradição, pois o seu sições P e Q, que tem como resultado uma nova proposi-
valor lógico é sempre F conforme a tabela-verdade. Que significa ção P ↔ Q com valor lógico V ou F.
que uma proposição não pode ser falsa e verdadeira ao mesmo O símbolo ⇔ representa a não ocorrência de VF e de FV na
tempo, isto é, o princípio da não contradição. tabela-verdade P ↔ Q, ou ainda que o valor lógico de P ↔ Q é
sempre V, ou então P ↔ Q é uma tautologia.
p ~P q Λ (~q)
V F F Exemplo
A tabela da bicondicional (p → q) ↔ (~q → ~p) será:
F V F
Didatismo e Conhecimento 5
RACIOCÍNIO LÓGICO
EQUIVALÊNCIAS LOGICAS NOTÁVEIS 1) Se p então q = Se não q então não p.
Ex: Se chove então me molho = Se não me molho então não
Dizemos que duas proposições são logicamente equivalentes chove
(ou simplesmente equivalentes) quando os resultados de suas tabe-
las-verdade são idênticos. 2) Se p então q = Não p ou q.
Uma consequência prática da equivalência lógica é que ao tro- Ex: Se estudo então passo no concurso = Não estudo ou passo
car uma dada proposição por qualquer outra que lhe seja equiva- no concurso
lente, estamos apenas mudando a maneira de dizê-la. Colocando estes resultados em uma tabela, para ajudar a me-
A equivalência lógica entre duas proposições, p e q, pode ser morização, teremos:
representada simbolicamente como: p q, ou simplesmente por p
= q.
Começaremos com a descrição de algumas equivalências ló-
gicas básicas.
Equivalências Básicas
Equivalências com o Símbolo da Negação
1. p e p = p Este tipo de equivalência já foi estudado. Trata-se, tão somen-
Ex: André é inocente e inocente = André é inocente te, das negações das proposições compostas! Lembremos:
2. p ou p = p
Ex: Ana foi ao cinema ou ao cinema = Ana foi ao cinema
3. p e q = q e p
Ex: O cavalo é forte e veloz = O cavalo é veloz e forte
4. p ou q = q ou p
Ex: O carro é branco ou azul = O carro é azul ou branco
5. p ↔ q = q ↔ p
Ex: Amo se e somente se vivo = Vivo se e somente se amo. É possível que surja alguma dúvida em relação a última
linha da tabela acima. Porém, basta lembrarmos do que foi apren-
6. p ↔ q = (pq) e (qp) dido:
Ex: Amo se e somente se vivo = Se amo então vivo, e se vivo
então amo p↔q = (pq) e (qp)
Para facilitar a memorização, veja a tabela abaixo: (Obs: a BICONDICIONAL tem esse nome: porque equivale
a duas condicionais!)
Para negar a bicondicional, teremos na verdade que negar a
sua conjunção equivalente.
E para negar uma conjunção, já sabemos, nega-se as duas par-
tes e troca-se o E por OU. Fica para casa a demonstração da nega-
ção da bicondicional. Ok?
Outras equivalências
Algumas outras equivalências que podem ser relevantes são
as seguintes:
1) p e (p ou q) = p
Ex: Paulo é dentista, e Paulo é dentista ou Pedro é médico =
Paulo é dentista
Equivalências da Condicional 2) p ou (p e q) = p
Ex: Paulo é dentista, ou Paulo é dentista e Pedro é médico =
As duas equivalências que se seguem são de fundamental Paulo é dentista
importância. Estas equivalências podem ser verificadas, ou seja,
demonstradas, por meio da comparação entre as tabelas-verdade. Por meio das tabelas-verdade estas equivalências podem ser
Fica como exercício para casa estas demonstrações. As equivalên- facilmente demonstradas.
cias da condicional são as seguintes:
Didatismo e Conhecimento 6
RACIOCÍNIO LÓGICO
Para auxiliar nossa memorização, criaremos a tabela seguinte: p v q= Pedro é o mais velho da classe ou Jorge é o mais novo
da classe.
~p=Pedro não é o mais velho da classe.
~q=Jorge não é o mais novo da classe.
~(p v q)=~p v ~q= Pedro não é o mais velho da classe ou Jorge
não é o mais novo da classe.
Didatismo e Conhecimento 7
RACIOCÍNIO LÓGICO
O réu não estiver preso por outro motivo = ~P C) Viviane dançar é condição necessária para Márcia cantar.
Deve ser imediatamente solto = S D) Viviane não dançar é condição suficiente para Márcia can-
Se o réu não estiver preso por outro motivo, deve ser imedia- tar.
tamente solto=P S E) Viviane dançar é condição necessária para Márcia não can-
Se o réu não for imediatamente solto, então, ele está preso por tar.
outro motivo = ~SP
De acordo com a regra de equivalência (A B) = (~B ~A) a Inicialmente, reescreveremos a condicional dada na forma de
questão está correta. condição suficiente e condição necessária:
7. A negação da proposição relativa à decisão judicial estará “Se Viviane não dança, Márcia não canta”
corretamente representada por “O réu não deve ser imediatamente
solto, mesmo não estando preso por outro motivo”. 1ª possibilidade: Viviane não dançar é condição suficiente
A) Certo para Márcia não cantar. Não há RESPOSTA: para essa possibi-
B) Errado lidade.
“O réu deve ser imediatamente solto, se por outro 2ª possibilidade: Márcia não cantar é condição necessária para
motivo não estiver preso” está no texto, assim: Viviane não dançar.. Não há RESPOSTA: para essa possibilidade.
P = “Por outro motivo não estiver preso” Não havendo RESPOSTA: , modificaremos a condicional
Q = “O réu deve ser imediatamente solto” inicial, transformando-a em outra condicional equivalente, nesse
PQ, a negação ~(P Q) = P e ~Q caso utilizaremos o conceito da contrapositiva ou contra posição:
P e ~Q = Por outro motivo estiver preso o réu não deve ser pq ~q ~p
imediatamente solto” “Se Viviane não dança, Márcia não canta” “Se Márcia canta,
Viviane dança”
8. (Polícia Civil/SP - Investigador – VUNESP/2014) Um Transformando, a condicional “Se Márcia canta, Viviane dan-
antropólogo estadunidense chega ao Brasil para aperfeiçoar seu ça” na forma de condição suficiente e condição necessária, obtere-
conhecimento da língua portuguesa. Durante sua estadia em nos- mos as seguintes possibilidades:
so país, ele fica muito intrigado com a frase “não vou fazer coisa
1ª possibilidade: Márcia cantar é condição suficiente para Vi-
nenhuma”, bastante utilizada em nossa linguagem coloquial. A dú-
viane dançar. Não há RESPOSTA: para essa possibilidade.
vida dele surge porque
2ª possibilidade: Viviane dançar é condição necessária para
A) a conjunção presente na frase evidencia seu significado.
Márcia cantar.
B) o significado da frase não leva em conta a dupla negação.
RESPOSTA: “C”.
C) a implicação presente na frase altera seu significado.
D) o significado da frase não leva em conta a disjunção.
11. (BRDE - ANALISTA DE SISTEMAS - AOCP/2012)
E) a negação presente na frase evidencia seu significado.
~(~p) é equivalente a p Considere a sentença: “Se Ana é professora, então Camila é médi-
Logo, uma dupla negação é equivalente a afirmar. ca.” A proposição equivalente a esta sentença é
RESPOSTA: “B”. A) Ana não é professora ou Camila é médica.
B) Se Ana é médica, então Camila é professora.
9. (Receita Federal do Brasil – Analista Tributário - C) Se Camila é médica, então Ana é professora.
ESAF/2012) A negação da proposição “se Paulo estuda, então D) Se Ana é professora, então Camila não é médica.
Marta é atleta” é logicamente equivalente à proposição: E) Se Ana não é professora, então Camila não é médica.
A) Paulo não estuda e Marta não é atleta. Existem duas equivalências particulares em relação a uma
B) Paulo estuda e Marta não é atleta. condicional do tipo “Se A, então B”.
C) Paulo estuda ou Marta não é atleta.
D) se Paulo não estuda, então Marta não é atleta. 1ª) Pela contrapositiva ou contraposição: “Se A, então B” é
E) Paulo não estuda ou Marta não é atleta. equivalente a “Se ~B, então ~A”
“Se Ana é professora, então Camila é médica.” Será equiva-
A negação de uma condicional do tipo: “Se A, então B” (AB) lente a:
será da forma: “Se Camila não é médica, então Ana não é professora.”
~(A B) A^ ~B
Ou seja, para negarmos uma proposição composta represen- 2ª) Pela Teoria da Involução ou Dupla Negação: “Se A, então
tada por uma condicional, devemos confirmar sua primeira parte B” é equivalente a “~A ou B”
(“A”), trocar o conectivo condicional (“”) pelo conectivo conjun- “Se Ana é professora, então Camila é médica.” Será equiva-
ção (“^”) e negarmos sua segunda parte (“~ B”). Assim, teremos: lente a:
RESPOSTA: “B”. “Ana não é professora ou Camila é médica.”
Ficaremos, então, com a segunda equivalência, já que esta
10. (ANVISA - TÉCNICO ADMINISTRATIVO - CE- configura no gabarito.
TRO/2012) Se Viviane não dança, Márcia não canta. Logo, RESPOSTA: “A”.
A) Viviane dançar é condição suficiente para Márcia cantar.
B) Viviane não dançar é condição necessária para Márcia não cantar.
Didatismo e Conhecimento 8
RACIOCÍNIO LÓGICO
(PC/DF – Agente de Polícia - CESPE/UnB/2013) Consideran- P4: Há criminosos livres.
do que P e Q representem proposições conhecidas e que V e F re- C: Portanto a criminalidade é alta.
presentem, respectivamente, os valores verdadeiro e falso, julgue Considerando o argumento apresentado acima, em que P1, P2,
os próximos itens. (374 a 376) P3 e P4 são as premissas e C, a conclusão, julgue os itens subse-
quentes. (377 e 378)
12. (PC/DF – Agente de Polícia - CESPE/UnB/2013) (PC/DF
– Agente de Polícia - CESPE/UnB/2013) As proposições Q e P (¬ 15. (PC/DF – Agente de Polícia - CESPE/UnB/2013) O argu-
Q) são, simultaneamente, V se, e somente se, P for F. mento apresentado é um argumento válido.
( )Certo ( ) Errado ( )Certo ( ) Errado
Observando a tabela-verdade da proposição composta “P (¬ Verificaremos se as verdades das premissas P1, P2, P3 e P4
Q)”, em função dos valores lógicos de “P” e “Q”, temos: sustentam a verdade da conclusão. Nesse caso, devemos conside-
rar que todas as premissas são, necessariamente, verdadeiras.
P Q ¬Q P→(¬Q) P1: Se a impunidade é alta, então a criminalidade é alta. (V)
P2: A impunidade é alta ou a justiça é eficaz. (V)
V V F F P3: Se a justiça é eficaz, então não há criminosos livres. (V)
V F V V P4: Há criminosos livres. (V)
F V F V Portanto, se a premissa P4 – proposição simples – é verdadei-
ra (V), então a 2ª parte da condicional representada pela premissa
F F V V P3 será considerada falsa (F). Então, veja:
Observando-se a 3 linha da tabela-verdade acima, ―Q‖ e ―P
® (¬ Q) são, simultaneamente, V se, e somente se, ―P‖ for F.
Resposta: CERTO.
P(P;Q) = VFVV
Portanto, essa proposição composta é uma contingência ou
indeterminação lógica.
Resposta: ERRADO.
Lembramos que uma disjunção simples, na forma: “P vQ”, Sendo verdadeira (V) a premissa P2 (disjunção simples) e
será verdadeira (V) se, pelo menos, uma de suas partes for ver- conhecendo-se o valor lógico de uma das partes como falsa (F),
dadeira (V). Nesse caso, se “P” for falsa e “PvQ” for verdadeira, então o valor lógico da outra parte deverá ser, necessariamente,
então “Q” será, necessariamente, verdadeira. verdadeira (V). Lembramos que, uma disjunção simples será con-
Resposta: CERTO. siderada verdadeira (V), quando, pelo menos, uma de suas partes
for verdadeira (V).
(PC/DF – Agente de Polícia - CESPE/UnB/2013)
P1: Se a impunidade é alta, então a criminalidade é alta. Sendo verdadeira (V) a proposição simples ―a impunidade
P2: A impunidade é alta ou a justiça é eficaz. é alta‖, então, confirmaremos também como verdadeira (V), a 1ª
P3: Se a justiça é eficaz, então não há criminosos livres. parte da condicional representada pela premissa P1.
Didatismo e Conhecimento 9
RACIOCÍNIO LÓGICO
EXEMPLOS:
1. Todos os cariocas são alegres.
Todas as pessoas alegres vão à praia
Todos os cariocas vão à praia.
2. Todos os cientistas são loucos.
Einstein é cientista.
Einstein é louco!
Seja P1 representada simbolicamente, por: A indução está relacionada a diversos casos pequenos que
A impunidade não é alta(p) então a criminalidade não é alta(q) chegam a uma conclusão geral. Nesse sentido podemos definir
A negação de uma condicional é dada por: também a indução fraca e a indução forte. Essa indução forte ocor-
~(pq) re quando não existe grandes chances de que um caso discorde da
Logo, sua negação será dada por: ~P1 a impunidade é alta e a premissa geral. Já a fraca refere-se a falta de sustentabilidade de
criminalidade não é alta. um conceito ou conclusão.
Resposta:ERRADO.
DEDUÇÕES
LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO
ARGUMENTOS DEDUTIVOS E INDUTIVOS
ARGUMENTO Os argumentos podem ser classificados em dois tipos: Dedu-
Argumento é uma relação que associa um conjunto de propo- tivos e Indutivos.
sições (p1, p2, p3,... pn), chamadas premissas ou hipóteses, e uma
proposição C chamada conclusão. Esta relação é tal que a estrutura 1) O argumento será DEDUTIVO quando suas premissas for-
lógica das premissas acarretam ou tem como consequência a pro- necerem informações suficientes para comprovar a veracidade da
posição C (conclusão). conclusão, isto é, o argumento é dedutivo quando a conclusão é
O argumento pode ser representado da seguinte forma: completamente derivada das premissas.
EXEMPLO:
Todo ser humano têm mãe.
Todos os homens são humanos.
Todos os homens têm mãe.
Didatismo e Conhecimento 10
RACIOCÍNIO LÓGICO
EXEMPLO: Argumento Válido
O Flamengo é um bom time de futebol. Um argumento será válido quando a sua conclusão é uma con-
O Palmeiras é um bom time de futebol. sequência obrigatória de suas premissas. Em outras palavras, po-
O Vasco é um bom time de futebol. demos dizer que quando um argumento é válido, a verdade de suas
O Cruzeiro é um bom time de futebol. premissas deve garantir a verdade da conclusão do argumento.
Todos os times brasileiros de futebol são bons. Isso significa que, se o argumento é válido, jamais poderemos che-
Note que não podemos afirmar que todos os times brasileiros gar a uma conclusão falsa quando as premissas forem verdadeiras.
são bons sabendo apenas que 4 deles são bons.
Exemplo: (CESPE) Suponha um argumento no qual as pre-
Exemplo: (FCC) Considere que as seguintes afirmações são missas sejam as proposições I e II abaixo.
verdadeiras: I - Se uma mulher está desempregada, então, ela é infeliz.
“Toda criança gosta de passear no Metrô de São Paulo.” II - Se uma mulher é infeliz, então, ela vive pouco.
“Existem crianças que são inteligentes.” Nesse caso, se a conclusão for a proposição “Mulheres desem-
Assim sendo, certamente é verdade que: pregadas vivem pouco”, tem-se um argumento correto.
(A) Alguma criança inteligente não gosta de passear no Me-
trô de São Paulo. SOLUÇÃO:
(B) Alguma criança que gosta de passear no Metrô de São Se representarmos na forma de diagramas lógicos (ver artigo
Paulo é inteligente. sobre diagramas lógicos), para facilitar a resolução, teremos:
(C) Alguma criança não inteligente não gosta de passear no I - Se uma mulher está desempregada, então, ela é infeliz. =
Metrô de São Paulo. Toda mulher desempregada é infeliz.
(D) Toda criança que gosta de passear no Metrô de São Paulo II - Se uma mulher é infeliz, então, ela vive pouco. = Toda
é inteligente. mulher infeliz vive pouco.
(E) Toda criança inteligente não gosta de passear no Metrô
de São Paulo.
SOLUÇÃO:
Representando as proposições na forma de conjuntos (diagra-
mas lógicos – ver artigo sobre diagramas lógicos) teremos:
“Toda criança gosta de passear no Metrô de São Paulo.”
“Existem crianças que são inteligentes.”
Didatismo e Conhecimento 11
RACIOCÍNIO LÓGICO
Conclusão: 3. A sentença “A justiça e a lei nem sempre andam pelos
“Ana é suspeita”. (Não se “desenha” a conclusão, apenas as mesmos caminhos” pode ser representada simbolicamente
premissas!) por PΛQ, em que as proposições P e Q são convenientemente
escolhidas.
A) Certo
B) Errado
Resposta: B.
Não, pois ^ representa o conectivo “e”, e o “e” é usado para
unir A justiça E a lei, e “A justiça” não pode ser considerada uma
proposição, pois não pode ser considerada verdadeira ou falsa.
EXERCICIOS:
Resposta: B.
Fazendo a tabela verdade:
Didatismo e Conhecimento 12
RACIOCÍNIO LÓGICO
TJ-AC - Técnico Judiciário - Informática - CESPE/2012)
5. O argumento cujas premissas correspondem às quatro afirmações do jornalista e cuja conclusão é “Pedro não disputará a
eleição presidencial da República” é um argumento válido.
A) Certo
B) Errado
Resposta: A.
Argumento válido é aquele que pode ser concluído a partir das premissas, considerando que as premissas são verdadeiras então tenho
que:
Se João for eleito prefeito ele disputará a presidência;
Se João disputar a presidência então Pedro não vai disputar;
Se João não for eleito prefeito se tornará presidente do partido e não apoiará a candidatura de Pedro à presidência;
Se o presidente do partido não apoiar Pedro ele não disputará a presidência.
6. A proposição “Se estou há 7 anos na faculdade e não tenho capacidade para assumir minhas responsabilidades, então não
tenho um mínimo de maturidade” é equivalente a “Se eu tenho um mínimo de maturidade, então não estou há 7 anos na faculdade
e tenho capacidade para assumir minhas responsabilidades”.
A) Certo
B) Errado
Didatismo e Conhecimento 13
RACIOCÍNIO LÓGICO
Resposta: B.
Equivalência de Condicional: P -> Q = ~ Q -> ~ P
Negação de Proposição: ~ (P ^ Q) = ~ P v ~ Q
7. Considere as seguintes proposições: “Tenho 25 anos”, “Moro com você e papai”, “Dou despesas a vocês” e “Dependo de mesa-
da”. Se alguma dessas proposições for falsa, também será falsa a proposição “Se tenho 25 anos, moro com você e papai, dou despesas
a vocês e dependo de mesada, então eu não ajo como um homem da minha idade”.
A) Certo
B) Errado
Resposta: A.
(A^B^C^D) E
Ora, se A ou B ou C ou D estiver falsa como afirma o enunciado, logo torna a primeira parte da condicional falsa, (visto que trata-se da
conjunção) tornando- a primeira parte da condicional falsa, logo toda a proposição se torna verdadeira.
8. A proposição “Se não ajo como um homem da minha idade, sou tratado como criança, e se não tenho um mínimo de matu-
ridade, sou tratado como criança” é equivalente a “Se não ajo como um homem da minha idade ou não tenho um mínimo de ma-
turidade, sou tratado como criança”.
A) Certo
B) Errado
Resposta: A.
A = Se não ajo como um homem da minha idade,
B = sou tratado como criança,
C= se não tenho um mínimo de maturidade
Didatismo e Conhecimento 14
RACIOCÍNIO LÓGICO
No caso de uma pesquisa de opinião sobre a preferência quan-
to à leitura de três jornais. A, B e C, foi apresentada a seguinte
2. DIAGRAMAS LÓGICOS. tabela:
Jornais Leitores
Diagramas Lógicos A 300
Os diagramas lógicos são usados na resolução de vários pro- B 250
blemas. Uma situação que esses diagramas poderão ser usados, é C 200
na determinação da quantidade de elementos que apresentam uma
determinada característica. AeB 70
AeC 65
BeC 105
A, B e C 40
Nenhum 150
Fora dos diagramas teremos 150 elementos que não são leito-
res de nenhum dos três jornais.
Na região I, teremos: 70 - 40 = 30 elementos.
Marcando o valor da intersecção, então iremos subtraindo esse Na região II, teremos: 65 - 40 = 25 elementos.
valor da quantidade de elementos dos conjuntos A e B. A partir dos Na região III, teremos: 105 - 40 = 65 elementos.
valores reais, é que poderemos responder as perguntas feitas. Na região IV, teremos: 300 - 40 - 30 - 25 = 205 elementos.
Na região V, teremos: 250 - 40 -30 - 65 = 115 elementos.
Na região VI, teremos: 200 - 40 - 25 - 65 = 70 elementos.
Didatismo e Conhecimento 15
RACIOCÍNIO LÓGICO
Com essa distribuição, poderemos notar que 205 pessoas leem Diagramas de Venn
apenas o jornal A. Verificamos que 500 pessoas não leem o jornal
C, pois é a soma 205 + 30 + 115 + 150. Notamos ainda que 700 Designa-se por diagramas de Venn os diagramas usados em
pessoas foram entrevistadas, que é a soma 205 + 30 + 25 + 40 + matemática para simbolizar graficamente propriedades, axiomas
115 + 65 + 70 + 150. e problemas relativos aos conjuntos e sua teoria. Os respectivos
diagramas consistem de curvas fechadas simples desenhadas sobre
Diagrama de Euler um plano, de forma a simbolizar os conjuntos e permitir a repre-
Um diagrama de Euler é similar a um diagrama de Venn, mas sentação das relações de pertença entre conjuntos e seus elementos
não precisa conter todas as zonas (onde uma zona é definida como (por exemplo, 4 ∉ {3,4,5}, mas 4 ∉ {1,2,3,12}) e relações
a área de intersecção entre dois ou mais contornos). Assim, um de continência (inclusão) entre os conjuntos (por exemplo, {1, 3}
diagrama de Euler pode definir um universo de discurso, isto é, ⊂ {1, 2, 3, 4}). Assim, duas curvas que não se tocam e estão
ele pode definir um sistema no qual certas intersecções não são uma no espaço interno da outra simbolizam conjuntos que pos-
possíveis ou consideradas. Assim, um diagrama de Venn contendo suem continência; ao passo que o ponto interno a uma curva repre-
os atributos para Animal, Mineral e quatro patas teria que con- senta um elemento pertencente ao conjunto.
ter intersecções onde alguns estão em ambos animal, mineral e de Os diagramas de Venn são construídos com coleções de cur-
quatro patas. Um diagrama de Venn, consequentemente, mostra vas fechadas contidas em um plano. O interior dessas curvas re-
todas as possíveis combinações ou conjunções. presenta, simbolicamente, a coleção de elementos do conjunto. De
acordo com Clarence Irving Lewis, o “princípio desses diagramas
é que classes (ou conjuntos) sejam representadas por regiões, com
tal relação entre si que todas as relações lógicas possíveis entre as
classes possam ser indicadas no mesmo diagrama. Isto é, o diagra-
ma deixa espaço para qualquer relação possível entre as classes, e
a relação dada ou existente pode então ser definida indicando se
alguma região em específico é vazia ou não-vazia”. Pode-se escre-
ver uma definição mais formal do seguinte modo: Seja C = (C1, C2,
... Cn) uma coleção de curvas fechadas simples desenhadas em um
Diagramas de Euler consistem em curvas simples fechadas plano. C é uma família independente se a região formada por cada
(geralmente círculos) no plano que mostra os conjuntos. Os tama- uma das interseções X1 X2 ... Xn, onde cada Xi é o interior ou o
nhos e formas das curvas não são importantes: a significância do
exterior de Ci, é não-vazia, em outras palavras, se todas as curvas
diagrama está na forma como eles se sobrepõem. As relações es-
se intersectam de todas as maneiras possíveis. Se, além disso, cada
paciais entre as regiões delimitadas por cada curva (sobreposição,
uma dessas regiões é conexa e há apenas um número finito de pon-
contenção ou nenhuma) correspondem relações teóricas (subcon-
tos de interseção entre as curvas, então C é um diagrama de Venn
junto interseção e disjunção). Cada curva de Euler divide o plano
para n conjuntos.
em duas regiões ou zonas estão: o interior, que representa simbo-
Nos casos mais simples, os diagramas são representados por
licamente os elementos do conjunto, e o exterior, o que represen-
círculos que se encobrem parcialmente. As partes referidas em um
ta todos os elementos que não são membros do conjunto. Curvas
cujos interiores não se cruzam representam conjuntos disjuntos. enunciado específico são marcadas com uma cor diferente. Even-
Duas curvas cujos interiores se interceptam representam conjun- tualmente, os círculos são representados como completamente
tos que têm elementos comuns, a zona dentro de ambas as curvas inseridos dentro de um retângulo, que representa o conjunto uni-
representa o conjunto de elementos comuns a ambos os conjuntos verso daquele particular contexto (já se buscou a existência de um
(intersecção dos conjuntos). Uma curva que está contido comple- conjunto universo que pudesse abranger todos os conjuntos possí-
tamente dentro da zona interior de outro representa um subconjun- veis, mas Bertrand Russell mostrou que tal tarefa era impossível).
to do mesmo. A ideia de conjunto universo é normalmente atribuída a Lewis
Os Diagramas de Venn são uma forma mais restritiva de dia- Carroll. Do mesmo modo, espaços internos comuns a dois ou mais
gramas de Euler. Um diagrama de Venn deve conter todas as pos- conjuntos representam a sua intersecção, ao passo que a totalidade
síveis zonas de sobreposição entre as suas curvas, representando dos espaços pertencentes a um ou outro conjunto indistintamente
todas as combinações de inclusão / exclusão de seus conjuntos representa sua união.
constituintes, mas em um diagrama de Euler algumas zonas podem John Venn desenvolveu os diagramas no século XIX, am-
estar faltando. Essa falta foi o que motivou Venn a desenvolver pliando e formalizando desenvolvimentos anteriores de Leibniz e
seus diagramas. Existia a necessidade de criar diagramas em que Euler. E, na década de 1960, eles foram incorporados ao currículo
pudessem ser observadas, por meio de suposição, quaisquer rela- escolar de matemática. Embora seja simples construir diagramas
ções entre as zonas não apenas as que são “verdadeiras”. de Venn para dois ou três conjuntos, surgem dificuldades quando
Os diagramas de Euler (em conjunto com os de Venn) são se tenta usá-los para um número maior. Algumas construções pos-
largamente utilizados para ensinar a teoria dos conjuntos no cam- síveis são devidas ao próprio John Venn e a outros matemáticos
po da matemática ou lógica matemática no campo da lógica. Eles como Anthony W. F. Edwards, Branko Grünbaum e Phillip Smith.
também podem ser utilizados para representar relacionamentos Além disso, encontram-se em uso outros diagramas similares aos
complexos com mais clareza, já que representa apenas as relações de Venn, entre os quais os de Euler, Johnston, Pierce e Karnaugh.
válidas. Em estudos mais aplicados esses diagramas podem ser
utilizados para provar / analisar silogismos que são argumentos
lógicos para que se possa deduzir uma conclusão.
Didatismo e Conhecimento 16
RACIOCÍNIO LÓGICO
Dois Conjuntos: considere-se o seguinte exemplo: suponha-
se que o conjunto A representa os animais bípedes e o conjunto B
representa os animais capazes de voar. A área onde os dois círcu-
los se sobrepõem, designada por intersecção A e B ou intersecção
A-B, conteria todas as criaturas que ao mesmo tempo podem voar
e têm apenas duas pernas motoras.
Intersecção de dois conjuntos: AB
Considere-se agora que cada espécie viva está representada Complementar de dois conjuntos: U \ (AB)
por um ponto situado em alguma parte do diagrama. Os humanos e
os pinguins seriam marcados dentro do círculo A, na parte dele que Além disso, essas quatro áreas podem ser combinadas de 16
não se sobrepõe com o círculo B, já que ambos são bípedes mas formas diferentes. Por exemplo, pode-se perguntar sobre os ani-
não podem voar. Os mosquitos, que voam mas têm seis pernas, mais que voam ou tem duas patas (pelo menos uma das caracte-
seriam representados dentro do círculo B e fora da sobreposição. rísticas); tal conjunto seria representado pela união de A e B. Já
Os canários, por sua vez, seriam representados na intersecção A-B, os animais que voam e não possuem duas patas mais os que não
já que são bípedes e podem voar. Qualquer animal que não fosse voam e possuem duas patas, seriam representados pela diferença
bípede nem pudesse voar, como baleias ou serpentes, seria marca- simétrica entre A e B. Estes exemplos são mostrados nas imagens
do por pontos fora dos dois círculos. a seguir, que incluem também outros dois casos.
Assim, o diagrama de dois conjuntos representa quatro áreas
distintas (a que fica fora de ambos os círculos, a parte de cada
círculo que pertence a ambos os círculos (onde há sobreposição),
e as duas áreas que não se sobrepõem, mas estão em um círculo
ou no outro):
- Animais que possuem duas pernas e não voam (A sem so-
breposição).
- Animais que voam e não possuem duas pernas (B sem so- União de dois conjuntos: A B
breposição).
- Animais que possuem duas pernas e voam (sobreposição).
- Animais que não possuem duas pernas e não voam (branco
- fora).
Complementar de A em U: AC = U \ A
Complementar de B em U: BC = U \ B
Didatismo e Conhecimento 17
RACIOCÍNIO LÓGICO
Três Conjuntos: Na sua apresentação inicial, Venn focou-se Proposições Categóricas
sobretudo nos diagramas de três conjuntos. Alargando o exemplo
anterior, poderia-se introduzir o conjunto C dos animais que pos- - Todo A é B
suem bico. Neste caso, o diagrama define sete áreas distintas, que - Nenhum A é B
podem combinar-se de 256 (28) maneiras diferentes, algumas delas - Algum A é B e
ilustradas nas imagens seguintes. - Algum A não é B
(B C) \ A
Didatismo e Conhecimento 18
RACIOCÍNIO LÓGICO
Nenhum A é B. É falsa. QUESTÕES
Algum A é B. É verdadeira.
Algum A não é B. É falsa. 01. Represente por diagrama de Venn-Euler
(A) Algum A é B
2. Se a proposição Nenhum A é B é verdadeira, então temos (B) Algum A não é B
somente a representação: (C) Todo A é B
(D) Nenhum A é B
Didatismo e Conhecimento 19
RACIOCÍNIO LÓGICO
O número total de alunos do colégio, no atual semestre, é Respostas
igual a:
(A) 93 01.
(B) 110
(C) 103 (A)
(D) 99
(E) 114
10. Em uma universidade são lidos dois jornais, A e B. Exa- 03. Seja C o conjunto dos músicos que tocam instrumentos de
tamente 80% dos alunos leem o jornal A e 60% leem o jornal B. corda e S dos que tocam instrumentos de sopro. Chamemos de F o
Sabendo que todo aluno é leitor de pelo menos um dos jornais, conjunto dos músicos da Filarmônica. Ao resolver este tipo de pro-
encontre o percentual que leem ambos os jornais. blema faça o diagrama, assim você poderá visualizar o problema e
(A) 40% sempre comece a preencher os dados de dentro para fora.
(B) 45%
(C) 50% Passo 1: 60 tocam os dois instrumentos, portanto, após fazer-
(D) 60% mos o diagrama, este número vai no meio.
(E) 65% Passo 2:
a)160 tocam instrumentos de corda. Já temos 60. Os que só
tocam corda são, portanto 160 - 60 = 100
b) 240 tocam instrumento de sopro. 240 - 60 = 180
Didatismo e Conhecimento 20
RACIOCÍNIO LÓGICO
Vamos ao diagrama, preenchemos os dados obtidos acima:
100 60 180
n = 20 + 7 + 8 + 9
Como já foi visto, não há uma representação gráfica única n = 44
para a proposição categórica do Alguns A são R, mas geralmente
a representação em que os dois círculos se interceptam (mostrada 06. Resposta “D”.
abaixo) tem sido suficiente para resolver qualquer questão.
n(FeB) = 45 e n(FeB -V) = 30 → n(FeBeV) = 15
n(FeV) = 17 com n(FeBeV) = 15 → n(FeV - B) = 2
n(F) = n(só F) + n(FeB-V) + n(FeV -B) + n(FeBeV)
60 = n(só F) + 30 + 2 + 15 → n(só F) = 13
n(sóF) = n(sóV) = 13
Agora devemos juntar os desenhos das duas proposições cate- n(B) = n(só B) + n(BeV) + n(BeF-V) → n(só B) = 65 - 20 –
góricas para analisarmos qual é a alternativa correta. Como a ques- 30 = 15
tão não informa sobre a relação entre os conjuntos A e G, então n(nem F nem B nem V) = n(nem F nem V) - n(solo B) = 21-
teremos diversas maneiras de representar graficamente os três con- 15 = 6
juntos (A, G e R). A alternativa correta vai ser aquela que é verda-
deira para quaisquer dessas representações. Para facilitar a solução Total = n(B) + n(só F) + n(só V) + n(Fe V - B) + n(nemF
da questão não faremos todas as representações gráficas possíveis nemB nemV) = 65 + 13 + 13 + 2 + 6 = 99.
entre os três conjuntos, mas sim, uma (ou algumas) representa-
ção(ões) de cada vez e passamos a analisar qual é a alternativa que
satisfaz esta(s) representação(ões), se tivermos somente uma alter-
nativa que satisfaça, então já achamos a resposta correta, senão,
desenhamos mais outra representação gráfica possível e passamos
a testar somente as alternativas que foram verdadeiras. Tomemos
agora o seguinte desenho, em que fazemos duas representações,
uma em que o conjunto A intercepta parcialmente o conjunto G, e
outra em que não há intersecção entre eles.
Didatismo e Conhecimento 21
RACIOCÍNIO LÓGICO
07. Resposta “E”.
3. TRIGONOMETRIA.
A B
80 20 130 + 110
Trigonometria no Triângulo Retângulo
09. Resposta “C”. Lembremo-nos de que, qualquer que seja o triângulo, a soma
dos seus três ângulos internos vale 180º. Logo, a respeito do triân-
A B
gulo ABC apresentado, dizemos que:
+ 59 α + β + 90 = 180 ⇒ α + β = 90
26 14 21
10. Resposta “A”. Portanto, dizemos que todo triângulo retângulo tem um ângu-
- Jornal A → 0,8 – x lo interno reto e dois agudos, complementares entre si.
- Jornal B → 0,6 – x De acordo com a figura, reconhecemos nos lados b e c os ca-
- Intersecção → x tetos do triângulo retângulo e em a sua hipotenusa.
Didatismo e Conhecimento 22
RACIOCÍNIO LÓGICO
Observemos que os ângulos α e β permanecem sendo os ângu-
los agudos internos do triângulo recém-construído.
Lançando Mao das medidas dos novos lados A1 B, BC 1eA1C1
(respectivamente 8, 10 e 6 unidades de comprimento), calculemos,
para o ângulo α, os valores de seno, co-seno e tangente:
8
sen α = = 0,6
10
cos α = 8 = 0,8
10
De fato, as medidas de seus lados (3, 4 e 5 unidades de com- tg α = 6 = 0,75
primento) satisfazem a sentença 52 = 32 + 42. 8
Apesar de nos apoiarmos particularmente no triângulo pitagó- Nosso intuito, na repetição dessas operações, é mostrar que,
rico, as relações que iremos definir são válidas para todo e qual- não importando se o triângulo PE maior ou menor, as relações defi-
quer triângulo retângulo. Apenas queremos, dessa forma, obter nidas como seno, co-seno e tangente têm, individualmente, valores
alguns resultados que serão comparados adiante. constantes, desde que calculados para os mesmo ângulos.
Definimos seno, co-seno e tangente de um ângulo agudo de Em outras palavras, seno, co-seno e tangente são funções ape-
um triângulo retângulo pelas relações apresentadas no quadro a nas dos ângulos internos do triângulo, e não de seus lados.
seguir:
Outras Razões Trigonométricas – Co-tangente, Secante e
Seno do ângulo = cateto ⋅ oposto ⋅ ao ⋅ ângulo Co-secante
hipotenusa
Além das razões com que trabalhamos até aqui, são definidas
Co-seno do ângulo = cateto ⋅ adjacente ⋅ ao ⋅ ângulo a co-tangente, secante e co-secante de um ângulo agudo de triân-
hipotenusa gulo retângulo através de relações entre seus lados, como defini-
mos no quadro a seguir:
Tangente do ângulo = cateto ⋅ oposto ⋅ ao ⋅ ângulo
cateto ⋅ adjacente ⋅ ao ⋅ ângulo cot do ângulo = cateto ⋅ adjacente ⋅ ao ⋅ ângulo
cateto ⋅ oposto ⋅ ao ⋅ ângulo
A partir dessas definições, o cálculo de seno, co-seno e tangen-
te do ângulo α, por exemplo, nos fornecerão os seguintes valores: sec do ângulo = hipotenusa
cateto ⋅ adjacente ⋅ ao ⋅ ângulo
sen α = 3 = 0,6
5 cosec do ângulo = hipotenusa
cos α = 4 = 0,8 cateto ⋅ oposto ⋅ ao ⋅ ângulo
5
tg α = 3 = 0,75 Por exemplo, para um triângulo retângulo de lados 3, 4 e 5
4 unidades de comprimento, como exibido na fig. 6, teríamos, para
Ao que acabamos de ver, aliemos um conhecimento adquirido o ângulo α,
da Geometria. Ela nos ensina que dois triângulos de lados propor-
cionais são semelhantes. cotg α = 4
Se multiplicarmos, então, os comprimentos dos lados de nos- 3
so triângulo pitagórico semelhante, com os novos lados (6, ,8 e 10)
igualmente satisfazendo o Teorema de Pitágoras. sec α = 5
4
Na fig. 3, apresentamos o resultado dessa operação, em que
mostramos o triângulo ABC, já conhecido na fig. 1 e A1BC1. cosec α = 5
3
Didatismo e Conhecimento 23
RACIOCÍNIO LÓGICO
Seno, Co-seno, Tangente e Co-tangente de Ângulos Com- 5 12 5
plementares senα = ¥ conα = ¥ tgα =
13 13 12
12 5 12
Já foi visto que em todo triângulo retângulo os ângulos agudos senβ = ¥ conβ = ¥ tgβ =
são complementares. 13 13 5
Ângulos Notáveis
Exemplo
Didatismo e Conhecimento 24
RACIOCÍNIO LÓGICO
Quanto ao triângulo equilátero, podemos escrever o seguinte: 30o 45o 60o
2
⎛ 1⎞
2 2
l 3l l 3 sen
l 2 = ⎜ ⎟ + h2 ⇒ h2 = l 2 − ⇒ h2 = ⇒∴ h = 1
⎝ 2⎠ 4 4 2 2 3
Sabemos, agora, que o triângulo hachurado no interior do qua- 2 2 2
drado tem catetos de medida a e hipotenusa a 2 . Para o outro
cos
triângulo sombreado, teremos catetos e medidas 1 e l 3 , enquanto 3 2 1
sua hipotenusa tem comprimento l. 2 2
Passemos, agora, ao cálculo de seno, co-seno e tangente dos 2 2 2
ângulos de 30om 45o e 60o. tg
3 1
3
Seno, Co-seno e Tangente de 30o e 60o. 3
Tomando por base o triângulo equilátero da figura 5, e conhe-
cendo as medidas de seus lados, temos:
Identidades Trigonométricas
l
sen 30 = 2 = 1 .1 = 1
o É comum a necessidade de obtermos uma razão trigonométri-
l 2 l 2 ca, para um ângulo, a partir de outra razão cujo valor seja conheci-
do, ou mesmo simplificar expressões extensas envolvendo várias
l 3 relações trigonométricas para um mesmo ângulo.
cos 30 = = 2 = 3
oh Nesses casos, as identidades trigonométricas que iremos de-
l l 2 duzir neste tópico são ferramentas de grande aplicabilidade.
Antes de demonstrá-las, é necessário que definamos o que
l l vem a ser uma identidade.
tg 30o= 2 l 2 1 3 3 Identidade em uma ou mais variáveis é toda igualdade ver-
= 2 = . . = dadeira para quaisquer valores a elas atribuídos, desde que verifi-
h l 3 2 l 3= 3 3 3 quem as condições de existência de expressão.
2 2x + 4 2
2 Por exemplo, a igualdade x + x = 2x é uma identidade em x,
pois é verdadeira para todo x real, desde q x≠0 (divisão por zero é
l 3 indeterminado ou inexistente).
sen 60 = = 2 = 3
o h
l 1 2
l
cos 60 = = l .1 = 1
o 2
l 2 l 2
l 3
tg 60o= h 3 2
= 2 = . = 3
l l 2 1
Vamos verificar agora como se relacionam as razões trigono-
2 2 métricas que já estudamos. Para isso, faremos uso do triângulo
Seno, Co-seno e Tangente de 45o ABC apresentado na figura A, retângulo em A.
A partir do quadrado representado na figura 4, de lado a e Aplicando as medidas de seus lados no teorema de Pitágoras,
diagonal a 2 , podemos calcular: obtemos a seguinte igualdade:
sen 45o=
a
=
a
=
1
.
2
=
2 b2 + c2 = a2
d a 2 2 2 2
Dividindo os seus membros por a2, não alteraremos a igualda-
a
cos 45 = =
o a
=
1
.
2
=
2 de. Assim, teremos:
d a 2 2 2 2 2 2
b2 c2 a2 ⎛ b⎞ ⎛ c⎞
+ 2 = 2 ⇒⎜ ⎟ +⎜ ⎟ =1
a
2
a a a ⎝ a⎠ ⎝ a⎠
tg 45 o = =1
a
Observemos que as frações entre parênteses podem definir,
Os resultados que obtivemos nos permitem definir, a seguir, com relação ao nosso triângulo, que:
uma tabela de valores de seno, co-seno e tangente dos ângulos
notáveis, que nos será extremamente útil. sen2α + cos2α = 1 e cos2β + sen2 β = 1
Didatismo e Conhecimento 25
RACIOCÍNIO LÓGICO
Podemos afirma, portanto, que a soma dos quadrados de seno sec x = 1
e co-seno de um ângulo x é igual à unidade, ou seja: cox x
cosec x = 1
Sen2x + cos2x = 1 sen x
Expliquemos o significado da partícula co, que inicia o nome Desde que seja respeitada a condição de os denominadores
das relações co-seno, cotangente e co-secante. Ela foi introduzida dos segundos membros dessas identidades não serem nulos.
por Edmund Gunter, em 1620, querendo indicar a razão trigono-
métrica do complemento. Por exemplo, co-seno de 22o tem valor Exercícios
idêntico ao seno de 68o (complementar de 22o)
Assim, as relações co-seno, co-tangente e co-secante de um 1. Sabe-se que, em qualquer triângulo retângulo, a medida
ângulo indicam, respectivamente, seno, tangente e secante do da mediana relativa à hipotenusa é igual à metade da medida
complemento desse ângulo. da hipotenusa. Se um triângulo retângulo tem catetos medindo
Assim, indicando seno, tangente e secante simplesmente pelo 5cm e 2cm, calcule a representação decimal da medida da me-
nome de razão, podemos dizer que: diana relativa a hipotenusa nesse triângulo.
⎧ a ⎧ c
⎪⎪ sen α = b E ⎪⎪cos α = a 6. Os lados de um triângulo são 3, 4 e 6. O cosseno do
⎨ ⎨ maior ângulo interno desse triângulo vale:
⎪cos ec α = a ⎪sec α = a
⎪⎩ b ⎪⎩ c a) 11 / 24
b) - 11 / 24
Teríamos encontrado inversões semelhantes se utilizássemos c) 3 / 8
o ângulo β. d) - 3 / 8
Dizemos, assim, que, para um dado ângulo x, e) - 3 / 10
Didatismo e Conhecimento 26
RACIOCÍNIO LÓGICO
7. Se x e y são dois arcos complementares, então podemos 3) Solução:
afirmar que A = (cosx - cosy)2 + (senx + seny)2 é igual a:
a) 0
x2 − 14x + 48 = 0
b) ½ 14 ± (−14)2 − 4.148
c) 3/2 x=
2.1
d) 1
e) 2 14 ± 196 − 192
x=
2
8. Calcule sen 2x sabendo-se que tg x + cotg x = 3. 14 + 2
x=
2
9. Qual o domínio e o conjunto imagem da função y = ar-
14 + 2
csen 4x? x1 = =8
2
10. Calcule o triplo do quadrado do coseno de um arco 14 − 2
x2 = =6
cujo quadrado da tangente vale 2. 2
h 2 = 62 + 82
Respostas
1) Solução: h 2 = 36 + 64
h2 = 52 + 22 h 2 = 100
h 2 = 25 + 4 h = 100
h = 29
2
h = 10cm
h = 29 P = 6 + 8 + 10 = 24cm
29 5, 38
mediana = = = 2,69 4) Solução:
2 2 Pela Lei dos senos, b = 2R . sen(B), logo 10 2 = 2R . sen(30)
e desse modo R = 10 2 .
2) Solução: Como a soma dos ângulos internos de um triângulo é igual a
4L 2 = 3L1 180º, calcularemos o ângulo A.
Pela Lei dos Senos, b . sem (A) = a . sen(B), de onde segue que
3
L2 = L 1 10 2 . sem(A) = 20 . sen(30), assim, sem (A) = 2
4 2
d 2 = L2 2 +L2 2 Como A é um dos ângulos do triângulo então A = 45º ou A =
135º.
d 2 = 2L2 2
Como B = 30°, da relação A + B + C = 180º, segue que A + C
d = L2 2 = 150° e temos duas possibilidades:
3 1. A = 45º e C = 105º
d = L1 2 2. A = 135º e C = 15º.
4
2
⎛L ⎞ 5) Solução:
L1 2 = ⎜ 1 ⎟ + h 2
⎝ 2⎠ No triângulo ABC, A + C = 54,42º, então: B = 180º - 54,42º
L1 2 = 125,58º
h 2 = L1 2 − A lei dos cossenos:
4 b² = a² + c² - 2ac cos(B)
4L −L1 2
2
h2 = 1
4 garante que:
2
3L
h2 = 1 b² = (1388)² + (2526)² - 2(1388)(2526) cos(125,58º)
4
h=
3L1 2 Assim, b = 3519,5433 e então garantimos que a maior dia-
4 gonal do paralelogramo mede aproximadamente 3519,54 metros.
L1 3
h= 6) Resposta “B”.
2 Solução: Sabemos que num triângulo, ao maior lado opõe-se o
L1 3 maior ângulo. Logo, o maior ângulo será aquele oposto ao lado de
h
= 2 = 1
L 3
×
4
=
4 3
×
2 4 6
= =
6 medida 6. Teremos então, aplicando a lei dos cossenos:
d 3L1 2 2 3L1 2 6 2 2 12 3 62 = 32 + 42 - 2 . 3 . 4 . cos b \ 36 - 9 - 16 = - 24 . cos b \ cos b =
4 - 11 / 24 e, portanto, a alternativa correta é a letra B.
Didatismo e Conhecimento 27
RACIOCÍNIO LÓGICO
Lembrete: TC - Teorema dos cossenos: Em todo triângulo, o
quadrado de um lado é igual à soma dos quadrados dos outros dois,
menos o dobro do produto desses lados pelo cosseno do angulo 4. ÁLGEBRA LINEAR.
que eles formam.
7) Resposta “E”.
Solução: Desenvolvendo os quadrados, vem: Sistema Linear
A = cos2 x - 2 . cosx . cosy + cos2 y + sen2 x + 2 . senx . seny + sen2 y
O estudo dos sistemas de equações lineares é de fundamental
Organizando convenientemente a expressão, vem: importância em Matemática e nas ciências em geral. Você
A = (cos2 x + sen2 x) + (sen2 y + cos2 y) - 2 . cosx . cosy + 2 . provavelmente já resolveu sistemas do primeiro grau, mais
senx . seny precisamente aqueles com duas equações e duas incógnitas.
A = 1 + 1 - 2 . cosx . cosy + 2 . senx . seny Vamos ampliar esse conhecimento desenvolvendo métodos
A = 2 - 2 . cosx . cosy + 2 . senx . seny que permitam resolver, quando possível, sistemas de equações
Como os arcos são complementares, isto significa que x + y = do primeiro grau com qualquer número de equações e incógnitas.
90º \ y = 90º - x. Esses métodos nos permitirão não só resolver sistemas, mas
Substituindo, vem: também classificá-los quanto ao número de soluções.
A = 2 - 2 . cosx . cos(90º - x) + 2 . senx . sen(90º - x)
Mas, cos(90º - x) = senx e sen(90º - x) = cosx, pois sabemos Equações Lineares
que o seno de um arco é igual ao cosseno do seu complemento e o Equação linear é toda equação do tipo a1x1 + a2x2 + a3x3+...anxn
cosseno de um arco é igual ao seno do seu complemento. = b, onde a1, a2, a3,.., an e b são números reais e x1, x2, x3,.., xn são
as incógnitas.
Logo, substituindo, fica: Os números reais a1, a2, a3,.., an são chamados de coeficientes
A = 2 - 2 . cosx . senx + 2 . senx . cosx e b é o termo independente.
A = 2 + (2senxcosx - 2senxcosx) = 2 + 0 = 2 , e portanto a
alternativa correta é a letra E. Exemplos
- São equações lineares:
8) Solução: x1 - 5x2 + 3x3 = 3
Escrevendo a tgx e cotgx em função de senx e cosx , vem: 2x – y + 2z = 1
0x + 0y + 0z = 2
senx cos x sen 2 x + cos 2 x 1
+ = 3∴ = 3∴ =3 0x + 0y + 0z = 0
cos x senx senx cos x senxconx - Não são equações lineares:
x3-2y+z = 3
Daí, vem: 1 = 3 . senx . cosx \ senx . cosx = 1 / 3. Ora, sabe- (x3 é o impedimento)
mos que sen 2x = 2 . senx . cosx e portanto senx . cosx = (sen 2x) 2x1 – 3x1x2 + x3 = -1
/ 2 , que substituindo vem: (-3x1x2 é o impedimento)
(sen 2x) / 2 = 1 / 3 e, portanto, sen 2x = 2 / 3.
2x1 – 3 3 + x3 = 0
x2
9. Solução:
Podemos escrever: 4x = seny. Daí, vem: ( 3 é o impedimento)
Para x: -1 £ 4x £ 1 Þ -1/4 £ x £ 1/4. Portanto, Domínio = D = x2
Observação: Uma equação é linear quando os expoentes das
[-1/4, 1/4]. incógnitas forem iguais a l e em cada termo da equação existir uma
Para y: Da definição vista acima, deveremos ter única incógnita.
-p /2 £ y £ p /2.
Resposta: D = [-1/4, 1/4] e Im = [-p /2, p /2]. Solução de ama Equação Linear
Uma solução de uma equação linear a1xl +a2x2 +a3x3+...anxn
10) Solução: = b, é um conjunto ordenado de números reais α1, α2, α3,..., αn
Seja x o arco. Teremos: para o qual a sentença a1{α1) + a2{αa2) + a3(α3) +... + an(αn) = b é
tg2x = 2 verdadeira.
Desejamos calcular 3.cos2x, ou seja, o triplo do quadrado do
coseno do arco. Exemplos
Sabemos da Trigonometria que: 1 + tg2x = sec2x - A terna (2, 3, 1) é solução da equação:
Portanto, substituindo, vem: 1 + 2 = sec2x = 3 x1 – 2x2 + 3x3 = -1 pois:
Como sabemos que: (2) – 2.((3) + 3.(1) = -1
secx = 1/cosx , quadrando ambos os membros vem: - A quadra (5, 2, 7, 4) é solução da equação:
sec2x = 1/ cos2x \ cos2x = 1/sec2x = 1/3 \ 3cos2x = 3(1/3) = 1 0x1 - 0x2 + 0x3 + 0x4 = 0 pois:
Portanto, o triplo do quadrado do coseno do arco cuja tangente 0.(5) + 0.(2) + 0.(7) + 0.(4) = 0
vale 2, é igual à unidade.
Resposta: 1
Didatismo e Conhecimento 28
RACIOCÍNIO LÓGICO
Conjunto Solução Exemplo
Chamamos de conjunto solução de uma equação linear o (3, 4) é solução do sistema
conjunto formado por todas as suas soluções. ⎧ x − y = −1
⎨
Observação: Em uma equação linear com 2 incógnitas, o ⎩2x + y = 10
conjunto solução pode ser representado graficamente pelos pontos
de uma reta do plano cartesiano. pois é solução de suas 2 equações:
(3)-(4) = -l e 2.(3) + (4) = 10
Assim, por exemplo, na equação
2x + y = 2 Resolução de um Sistema 2 x 2
Resolver um sistema linear 2 x 2 significa obter o conjunto
Algumas soluções são (1, 0), (2, -2), (3, -4), (4, -6), (0, 2), solução do sistema.
(-1,4), etc. Os dois métodos mais utilizados para a resolução de um
Representando todos os pares ordenados que são soluções da sistema linear 2x2 são o método da substituição e o método da
equação dada, temos: adição.
Para exemplificar, vamos resolver o sistema 2 x 2 abaixo
usando os dois métodos citados.
2x + 3y = 8
x - y = - 1
1. Método da Substituição:
2x + 3y = 8 (I)
x - y = - 1 (II)
Equação Linear Homogênea
Uma equação linear é chamada homogênea quando o seu Da equação (II), obtemos x = y -1, que substituímos na
termo independente for nulo. equação (I)
Exemplo 2(y- 1) +3y = 8 5y = 10 y = 2
2x1 + 3x2 - 4x3 + 5x4 - x5 = 0
Fazendo y = 2 na equação (I), por exemplo, obtemos:
Observação: Toda equação homogênea admite como solução Assim: S = {(1,2)}
o conjunto ordenado de “zeros” que chamamos solução nula ou
solução trivial. 2. Método da Adição:
2x + 3y = 8 (I)
Exemplo
x - y = - 1 (II)
(0, 0, 0) é solução de 3x + y - z – 0 Multiplicamos a equação II por 3 e a adicionamos, membro a
membro, com a equação I.
Equações Lineares Especiais 2x + 3y = 8
Dada a equação: 3 x − 3 y = −3
a1x1 + a2x2 +a3x3+...anxn = b, temos:
5x = 5 ⇒ x = 5 = 1
5
- Se a1 = a2 = a3 =...= na = b = 0, ficamos com:
0x1 + 0x2 +0x3 +...+0xn, e, neste caso, qualquer seqüências (α1, Fazendo x = 1 na equação (I), por exemplo, obtemos:
α2, α3,..., αn) será solução da equação dada. Assim: S = {(1,2)}
- Se a1 = a2 = a3 =... = an = 0 e b ≠ 0, ficamos com:
0x1 +0x2 + 0x3 +...+0xn= b ≠0, e, neste caso, não existe Sistema Linear 2 x 2 com infinitas soluções
seqüências de reais (α1, α2, α3,...,αn) que seja solução da equação dada.
Quando uma equação de um sistema linear 2 x 2 puder ser
Sistema Linear 2 x 2 obtida multiplicando-se a outra por um número real, ao tentarmos
Chamamos de sistema linear 2 x 2 o conjunto de equações resolver esse sistema, chegamos numa igualdade que é sempre
lineares a duas incógnitas, consideradas simultaneamente. verdadeira, independente das incógnitas. Nesse caso, existem
Todo sistema linear 2 x 2 admite a forma geral abaixo: infinitos pares ordenados que são soluções do sistema.
a1 x + b1 y = c1 Exemplo
a2 + b2 y = c2 ⎧2x + 3y = 8(I )
⎨
Um par (α1, α2) é solução do sistema linear 2 x 2 se, e somente ⎩−4x − 6y = −16(II )
se, for solução das duas equações do sistema.
Didatismo e Conhecimento 29
RACIOCÍNIO LÓGICO
Note que multiplicando-se a equação (I) por (-2) obtemos a Classificação
equação (II). De acordo com o número de soluções, um sistema linear 2x2
Resolvendo o sistema pelo método da substituição temos: pode ser classificado em:
- Sistema Impossíveis ou Incompatíveis: são os sistemas que
8 − 2x
Da equação (I), obtemos y = , que substituímos na não possuem solução alguma.
equação (II). 3 - Sistemas Possíveis ou compatíveis: são os sistemas que
apresentam pelo menos uma solução.
8 − 2x
-4x-6. 3/
=-16 →-4x-2(8-2x)=-16 - Sistemas Possíveis Determinados: se possuem uma única
solução.
-4x-16+4x=-16→-16=-16 - Sistemas Possíveis Indeterminados: se possuem infinitas
- 16= -16 é uma igualdade verdadeira e existem infinitos pares soluções.
ordenados que são soluções do sistema.
5
Sistema Linear m x n
8
Entre outros, (1, 2), (4, 0), ,1 e 0, são soluções do Chamamos de sistema linear M x n ao conjunto de m equações
2 3
sistema. a n incógnitas, consideradas simultaneamente, que podem ser
⎛ 8 − 2α ⎞
Sendo a, um número real qualquer, dizemos que ⎜⎝ α , ⎟ escrito na forma:
é solução do sistema. 3 ⎠
a11 x1 + a12 x2 + a13 x3 + ... + a1n xn = b1
(Obtemos 8 − 2α substituindo x =α na equação (I)). a x + a x + a x + ... + a x = b
3 21 1 22 2 23 3 2n n 2
x + 2 y = 5( I ) 2.
2 x + 4 y = 7( II ) x1 + 3 x2 − 2 x3 + x4 = 0
Multiplicando-se equação (I) por 2 obtemos: x1 + 2 x2 − 3 x3 + x4 = 2
2x+4y=10 x − x + x + x = 5
1 2 3 4
2x+10-2x=7→10=7
10=7 é uma igualdade falsa e não existe par ordenado que seja
solução do sistema.
Didatismo e Conhecimento 30
RACIOCÍNIO LÓGICO
Matriz Incompleta E dizemos que a forma matricial do sistema é A.X=B, ou seja:
Chamamos de matriz incompleta do sistema linear a matriz
formada pelos coeficientes das incógnitas. a11 a12 a13 a1n
x1 b1
a a22 a23 a2 n x2 b2
a a12 a13 a1n 21
11 x3 b3
a31 a32 a33 a3n
a21 a22 a23 a2 n
...................................
A = a31 a32 a33 a3n xn bm
am1 am 2 am 3 amn
.....................................
am1 am 2 am 3 amn Sistemas Lineares – Escalonamento (I)
Resolução de um Sistema por Substituição
Resolvemos um sistema linear m x n por substituição, do
Exemplo mesmo modo que fazemos num sistema linear 2 x 2. Assim,
No sistema: observemos os exemplos a seguir.
x − y + 2z = 1 Exemplos
- Resolver o sistema pelo método da substituição.
x + z=0
x + 2 y − z = −1 ( I )
− x + y = 5
2 x − y + z = 5 ( II )
A matriz incompleta é: x + 3 y − 2 z = −4( III )
1 −1 2
Resolução
A= 1 0 1 Isolando a incógnita x na equação (I) e substituindo nas
equações (II) e (III), temos:
− 1 1 0 x + 2y – z - 1→ x = -2y + z - 1
Na equação (II)
2(-2y + z - 1) – y + z = 5 → -5y + 3z = 7 (IV)
Na equação (III)
Forma Matricial (-2y + z - 1) + 3y - 2z = -4 → y – z = -3 (V)
Tomando agora o sistema formado pelas equações (IV) e (V):
Consideremos o sistema linear M x n:
⎪⎧−5y + 3z = 7 (IV )
a11 x1 + a12 x2 + a13 x3 + + a1n xn = b1 ⎨
⎪⎩ y − z = −3 (V )
a21 x1 + a22 x2 + a23 x3 + + a2 n xn = b2 Isolando a incógnita y na equação (V) e substituindo na
equação (IV), temos:
a31 x1 + a32 x2 + a33 x3 + + a3n xn = b3
........................................................ y – z = -3 → y = z - 3
-5 (z - 3) + 3z = 7→ z = 4
am1 x1 + am 2 x2 + am 3 x3 + + amn xn = bm
Substituindo z = 4 na equação (V)
y – 4 = -3 → y = 1
Sendo A a Matriz incompleta do sistema chamamos, Substituindo y = 1 e z = 4 na equação (I)
respectivamente, as matrizes x + 2 (1) - (4) = -1 →x = 1
Assim:
x1 S={(1, 1, 4)}
b1
x2 b2
2º) Resolver o sistema pelo método da substituição:
X = x3 e B = b3
⎧ x + 3y − z = 1 (I )
⎪
⎨ y + 2z = 10 (II )
xn bm ⎪
⎩ 3z = 12 (III )
de matriz incógnita e matriz termos independentes.
Didatismo e Conhecimento 31
RACIOCÍNIO LÓGICO
Resolução Veremos, a seguir, como transformar um sistema linear m x
Isolando a incógnita x na equação (I) e substituindo nas n qualquer em um sistema equivalente na “forma escalonada”.
equações (II) e (III), temos:
Sistemas Lineares Escalonados
x + 2y – z = -1 → x = -2y + z - 1 Dizemos que um sistema linear é um sistema escalonado
quando:
Na equação (II) - Em cada equação existe pelo menos um coeficiente não-
2(-2y + z - 1) – y + z = 5 →5y + 3z = 7 (IV) nulo;
- O número de coeficiente nulos, antes do primeiro coeficiente
Na equação (III) não-nulo, cresce “da esquerda para a direita, de equação para
(-2y + z - 1) + 3y - 2z = -4 → y – z = -3 (V) equação”.
Didatismo e Conhecimento 32
RACIOCÍNIO LÓGICO
Como D ≠ 0, os sistemas deste tipo são possíveis e determinados
e, para obtermos a solução única, partimos da n-ésima equação
2 + α na 1ª equação, temos:
Substituindo y =
que nos dá o valor de xn; por substituição nas equações anteriores, 2
2 +α
obtemos sucessivamente os valores de xn-1,xn-2,…,x3,x2 e x1. x+ = 1− 2α
2
Exemplo Agora para continuar fazemos o mmc de 2, e teremos:
Resolução
x + 2 y + z = 5 2 y + z + x = 5
A variável z é uma “variável livre” no sistema.
Então:
(S ) = x + 2 z = 1 ~ ( S1 ) 2z + x = 1
x + y = 1 − 2 z
2y = 2 + z 3x = 5 3x = 5
Fazendo z = α, temos: - Multiplicar (ou dividir) uma equação por um número real
não-nulo.
⎪⎧ x + y = 1− 2α
⎨
⎩⎪ 2y = 2 + α
2 +α
2y = 2 + α → y =
2
Didatismo e Conhecimento 33
RACIOCÍNIO LÓGICO
Exemplo 2º) Escalonar e classificar o sistema:
x + 2 y = 3 x + 2 y = 3
( S ) ~ ( S1 ) 3 x + y − z = 3
3 x − y = 1 6 x − 2 y = 3
2 x − y + 3 z = 5
8 x + y + z = 11
Multiplicamos a 2ª equação de S por 2, para obtermos S1.
- Adicionar a uma equação uma outra equação do sistema,
previamente multiplicada por um número real não-nulo. Resolução
Exemplo
x + 3 y = 5 x + 3 y = 5
(S ) = ~ ( S1 )
2 x + y = 3 − 5 y = −7
Resolução
⎧ x + 2y − z = 1 ⎧ x + 2y − z = 1 ⎧ x + 2y − z = 1
⎪ ⎪ ⎪
⎨ 3x − y − 2z = −2 ~ ⎨ 3x − y − 2z = −2 ← −3 ~ ⎨−7y + z = −5
⎪2x + y + z = 5 ⎪ ⎪
⎩ ⎩ 2x + y + z = 5 ← −2 ⎩−3y + 3z = 3 : −3
⎧ x + 2y − z = −1 ⎧ x + 2y − z = 1 ⎧ x + 2y − z = 1
⎪ ⎪ ⎪ O sistema obtido é impossível, pois a terceira equação nunca
⎨−7y + z = 5 ~ ⎨ y − z = −1 ~ ⎨ y − z = −1 será verificada para valores reais de y e z.
⎪ y − z = −1 ⎪−7y + z = −5 ← 7 ⎪
⎩ ⎩ ⎩ − 6z = −12 Observação
Dado um sistema linear, sempre podemos “tentar” o seu
O sistema obtido está escalonado e é do 1º tipo (nº de equações escalonamento. Caso ele seja impossível, isto ficará evidente pela
igual ao nº de incógnitas), portanto, é um sistema possível e presença de uma equação que não é satisfeita por valores reais
determinado. (exemplo: 0x + 0y = 3). No entanto, se o sistema é possível, nós
sempre conseguimos um sistema escalonado equivalente, que terá
nº de equações igual ao nº de incógnitas (possível e determinado),
ou então o nº de equações será menor que o nº de incógnitas
(possível e indeterminado).
Didatismo e Conhecimento 34
RACIOCÍNIO LÓGICO
Este tratamento dado a um sistema linear para a sua resolução Resolução
é chamado de método de eliminação de Gauss.
1 1−1
Sistemas Lineares – Discussão (I)
D2 3 1 = 9 + a − 2a + 3 − 6 − a 2
Discutir um sistema linear é determinar; quando ele é:
- Possível e determinado (solução única); 1 a 3
- Possível e indeterminado (infinitas soluções);
- Impossível (nenhuma solução), em função de um ou mais D=0 → -a2-a+6=0 → a=-3 ou a=2
parâmetros presentes no sistema.
Estudaremos as técnicas de discussão de sistemas com o Assim, para a≠-3 e a≠2, o sistema é possível e determinado.
auxilio de exemplos.
Para a=-3, temos:
Sistemas com Número de Equações Igual ao Número de
Incógnitas
x + y − z =1
x + y − z = 1 x + y − z = 1
Quando o sistema linear apresenta nº de equações igual ao nº 2 x + 3 y − 3 z = 3 ← −2 ~ y − z =1 ~ y − z =1
de incógnitas, para discutirmos o sistema, inicialmente calculamos x − 3 y + 3z = 2 ← −1 − 4 y + 4 z = 1 ←4 y + z = 5 sistema impossível
o determinante D da matriz dos coeficientes (incompleta), e:
1º) Se D ≠ 0, o sistema é possível e determinado.
2º) Se D = 0, o sistema é possível e indeterminado ou Para a=2, temos:
impossível.
Para identificarmos se o sistema é possível, indeterminado ou
x + y − z =1
impossível, devemos conseguir um sistema escalonado equivalente
x + y − z = 1 x + y − z =1
pelo método de eliminação de Gauss.
2 x + 3 y + 2 z = 3 ← −2
~ y + 4z = 1
~
y + 4z = 1 sistema possível in det er min ado
x + 2 y + 3 z = 2 ← −1 y + 4z = 1
Exemplos
Didatismo e Conhecimento 35
RACIOCÍNIO LÓGICO
Resolução:
Assim, temos:
m = +1 e k = 0 ou k = 1 ⎫
⎪
ou ⎬ ⇒ SPI
m = −1 e k = 0 ou k = −1⎪⎪
⎭
m = +1 e k ≠ 0 ou k ≠ 1 ⎫
⎪ Assim, para ∀k ∈ R , o sistema é possível e determinado.
ou ⎬ ⇒ SI
m = −1 e k ≠ 0 ou k ≠ −1⎪⎪ Sistemas Lineares – Discussão (II)
⎭ Sistema Linear Homogêneo
Já sabemos que sistema linear homogêneo é todo sistema
Sistemas com Número de Equações Diferente do Número cujas equações têm todos os termos independentes iguais a zero.
de Incógnitas São homogêneos os sistemas:
Exemplos x + 2 y + 2z = 0
01 – Discutir, em função de m, o sistema:
02 3 x − y + z = 0
⎧x + y = 3 5 x + 3 y − 7 z = 0
⎪
⎨2x + 3y = 8
⎪ x − my = 3
⎩ Observe que a dupla (0,0) é solução do sistema 01 e a terna
Resolução (0,0,0) é solução do sistema 02.
Todo sistema linear homogêneo admite como solução uma
⎧ x+y= 3 seqüência de zero, chamada solução nula ou solução trivial.
⎪⎪ Observamos também que todo sistema homogênea é sempre
⎨2z + 3y = 8 → −2 ~ possível podendo, eventualmente, apresentar outras soluções além
⎪ da solução trivial, que são chamadas soluções próprias.
⎪⎩ x − my = 3 → −1
⎧ x+y= 3 ⎧x + y = 3 Discussão e Resolução
⎪⎪ ⎪
~⎨ y=2 ~ ⎨y = 2 Lembre-se que: todo sistema linear homogêneo tem ao
⎪ ⎪0y = 2 + 2m menos a solução trivial, portanto será sempre possível.
⎪⎩(−1− m)y = 0 → 1+ m ⎩
2+2m=0→m=-1 Vejamos alguns exemplos:
Didatismo e Conhecimento 36
RACIOCÍNIO LÓGICO
Resolução 1 1 1
3 1 1 D = 1− k 1 = k 2 + 2k + 1 = (k + 1) 2 = 0 ⇒ k = −1
D = 1 5 − 1 = −12 k −1−1
1 2 −1
Resposta: k=-1
Como D≠0, o sistema é possível e determinado admitindo só
a solução trivial, logo: Exercícios
2 x + 3 y = 8
02 – Classifique e resolva o sistema: 1. Resolver e classificar o sistema:
3 x − 2 y = −1
a + b + 2c = 0
2. Determinar m real, para que o sistema seja possível e
a − 3b − 2c = 0 determinado: ⎧2x + 3y = 5
2 a − b + c = 0 ⎨
⎩ x + my = 2 3 x − y + z = 5
Resolução
3. Resolver e classificar o sistema: x + 3 y = 7
1 1 2 2 x + y − 2 z = −4
D = 1− 3 − 2 = 0 4. Determinar m real para que o sistema seja possível e
determinado. ⎧ x + 2y + z = 5
2 −1 1 ⎪
⎨2x − y + 2z = 5
⎪ 3x + y + mz + 0
Como D=0, o sistema homogêneo é indeterminado. ⎩
Fazendo o escalonamento temos:
5. Se o terno ordenado (2, 5, p) é solução da equação linear
a + b + 2c = 0 a + b + 2c = 0 6x - 7y + 2z = 5, qual o valor de p?
a + b + 2c = 0
a − 3b + −2c = 0 ~ 0 − 4b − 4c = 0 ~ 0 + b + 4c = 0 6. Escreva a solução genérica para a equação linear 5x - 2y
0 + 0 + 0 = 0
2a − b + c = 0 0 − 3b − 3c = 0 + z = 14, sabendo que o terno ordenado ( , , ) é solução.
Resolução
O sistema é homogêneo e, para apresentar soluções diferentes
da trivial, devemos ter D=0
Didatismo e Conhecimento 37
RACIOCÍNIO LÓGICO
Respostas Como D= -25 ≠ 0, o sistema é possível e determinado e:
1) Resposta “S= {(1, 2)}”.
Solução: Calculemos inicialmente D, Dx e Dy:
Dx −25 D −50 D 100
x= = = 1; y = y = = 2; z = z = =4
D −25 D −25 D −25
2 3
D= = −4 − 9 = −13 Assim: S = {(1, 2, 4)} e o sistema são possíveis e determinados.
3 −2
4) Resposta “ {
m ∈R / m ≠ 3} ”.
8 3
Dx = = −16 + 3 = 13
−1 −2 Solução: Segundo a regra de Cramer, devemos ter D ≠ 0.
Assim:
2 8
Dy = = −2 − 24 = −26 1 2 1
3 −1
D = 2 − 1 2 = −m + 12 + 2 + 3 − 2 − 4m
3 1 m
Como D =-13 ≠ 0, o sistema é possível e determinado e:
D = -5m + 15
Dx −13 D −26
x= = =1 y = y = =2 Assim: -5m + 15 ≠ 0 → m ≠ 3
D −13 e D −13 Então, os valores reais de m, para que o sistema seja possível e
determinado, são dados pelos elementos do conjunto:
Assim: S= {(1, 2)} e o sistema são possíveis e determinados.
3
{m ∈R / m ≠ 3}
2) Resposta “ m ∈ R / m ≠ ”.
2 5) Resposta “14”.
Solução: Segundo a regra de Cramer, devemos ter D ≠ 0, em Solução:
que: Teremos por simples substituição, observando que x = 2, y =
2 3
5 e z = p, 6 . 2 – 7 . 5 + 2 . p = 5.
D= = 2m − 3
1 m Logo, 12 - 35 + 2p = 5.
3
Assim: 2m -3 ≠ 0 → m ≠ Daí vem imediatamente que 2p = 28 e, portanto, p = 14.
2
Então, os valores reais de m, para que o sistema seja possível e 6) Solução:
determinado, são dados pelos elementos do conjunto: Podemos escrever: 5 α- 2 β + γ = 14. Daí, tiramos: γ = 14 - 5
⎧ 3⎫ α + 2 β. Portanto, a solução genérica será o terno ordenado (α,β,
⎨ m ∈R / m ≠ ⎬ 14 - 5 α + 2 β).
⎩ 2⎭
Observe que se arbitrando os valores para α e β, a terceira
variável ficará determinada em função desses valores.
3) Resposta “ S = {(1, 2, 4)}”. Por exemplo, fazendo-se α = 1, β= 3, teremos:
Solução: Calculemos inicialmente D, Dx, Dy e Dz γ = 14 - 5 α+ 2 β = 14 – 5 . 1 + 2 . 3 = 15,
ou seja, o terno (1, 3, 15) é solução, e assim, sucessivamente.
7) Solução:
Teremos, expressando x em função de m, na primeira equa-
ção:
x = (10 + my) / 2
Didatismo e Conhecimento 38
RACIOCÍNIO LÓGICO
(3m + 10)y = -14
y = -14 / (3m + 10) 1 3 −2
Δx2 = 2 12 1 = 48
Ora, para que não exista o valor de y e, em consequência não 4 6 −5
exista o valor de x, deveremos ter o denominador igual a zero, já
que , como sabemos, não existe divisão por zero.
Portanto, 3m + 10 = 0, de onde se conclui m = -10/3, para que Portanto, pela regra de Cramer, teremos:
o sistema seja impossível, ou seja, não possua solução. x1 = D x1 / D = 120 / 24 = 5
x2 = D x2 / D = 48 / 24 = 2
8) Resposta “E”. x3 = D x3 / D = 96 / 24 = 4
Solução: Como os sistemas são equivalentes, eles possuem a Logo, o conjunto solução do sistema dado é S = {(5, 2, 4)}.
mesma solução. Vamos resolver o sistema: 10) Solução:
S1: x + y = 1 ⎡ 2 −1 ⎤
x - 2y = -5 A=⎢ ⎥ ⇒ det A = 11
⎣ 1 5 ⎦
Subtraindo membro a membro, vem: x - x + y - (-2y) = 1 - (-5). ⎡ 7 −1 ⎤
Logo, 3y = 6 \ y = 2. A1 = ⎢ ⎥ ⇒ det A1 = 33
Portanto, como x + y = 1, vem, substituindo: x + 2 = 1 \ x = -1. ⎣ −2 5 ⎦
O conjunto solução é, portanto S = {(-1, 2)}.
⎡ 2 7 ⎤
Como os sistemas são equivalentes, a solução acima é tam- A2 = ⎢ ⎥ ⇒ det A2 = −11
bém solução do sistema S2. ⎣ 1 −2 ⎦
Logo, substituindo em S2 os valores de x e y encontrados para
det A1 33
o sistema S1, vem: x= = =3
det A 11
a(-1) - b(2) = 5 → - a - 2b = 5
det A2 −11
a(2) - b (-1) = -1 → 2 a + b = -1 y= = = −1
det A 11
Multiplicando ambos os membros da primeira equação por
2, fica: Resposta: S={(3,-1)}
-2 a - 4b = 10
Somando membro a membro esta equação obtida com a se-
gunda equação, fica: 5. PROBABILIDADES. 6. COMBINAÇÕES.
-3b = 9 \ b = - 3
Substituindo o valor encontrado para b na equação em ver- 7. ARRANJOS E PERMUTAÇÃO.
melho acima (poderia ser também na outra equação em azul), te-
remos:
Didatismo e Conhecimento 39
RACIOCÍNIO LÓGICO
Princípio fundamental da contagem: é o mesmo que a Regra ac e ca são agrupamentos que podem ser considerados
do Produto, um princípio combinatório que indica quantas vezes distintos ou não distintos pois se diferenciam somente pela ordem
e as diferentes formas que um acontecimento pode ocorrer. O dos elementos.
acontecimento é formado por dois estágios caracterizados como
sucessivos e independentes: Quando os elementos de um determinado conjunto A forem
algarismos, A = {0, 1, 2, 3, …, 9}, e com estes algarismos
• O primeiro estágio pode ocorrer de m modos distintos. pretendemos obter números, neste caso, os agrupamentos de 13
• O segundo estágio pode ocorrer de n modos distintos. e 31 são considerados distintos, pois indicam números diferentes.
Desse modo, podemos dizer que o número de formas diferente Quando os elementos de um determinado conjunto A
que pode ocorrer em um acontecimento é igual ao produto m . n forem pontos, A = {A1, A2, A3, A4, A5…, A9}, e com estes
pontos pretendemos obter retas, neste caso os agrupamentos
Exemplo: Alice decidiu comprar um carro novo, e inicialmente são iguais, pois indicam a mesma reta.
ela quer se decidir qual o modelo e a cor do seu novo veículo. Na
concessionária onde Alice foi há 3 tipos de modelos que são do Conclusão: Os agrupamentos...
interesse dela: Siena, Fox e Astra, sendo que para cada carro há
5 opções de cores: preto, vinho, azul, vermelho e prata. Qual é o 1. Em alguns problemas de contagem, quando os agrupamentos
número total de opções que Alice poderá fazer? se diferirem pela natureza de pelo menos um de seus elementos, os
agrupamentos serão considerados distintos.
Resolução: Segundo o Principio Fundamental da Contagem, ac = ca, neste caso os agrupamentos são denominados
Alice tem 3×5 opções para fazer, ou seja,ela poderá optar por 15 combinações.
carros diferentes. Vamos representar as 15 opções na árvore de
possibilidades: Pode ocorrer: O conjunto A é formado por pontos e o problema
é saber quantas retas esses pontos determinam.
2. Quando se diferir tanto pela natureza quanto pela ordem
de seus elementos, os problemas de contagem serão agrupados e
considerados distintos.
ac ≠ ca, neste caso os agrupamentos são denominados arranjos.
Didatismo e Conhecimento 40
RACIOCÍNIO LÓGICO
Arranjos simples: são agrupamentos sem repetições em que Combinações Simples: são agrupamentos formados com
um grupo se torna diferente do outro pela ordem ou pela natureza os elementos de um conjunto que se diferenciam somente pela
dos elementos componentes. Seja A um conjunto com n elementos natureza de seus elementos. Considere A como um conjunto com
e k um natural menor ou igual a n. Os arranjos simples k a k dos n elementos k um natural menor ou igual a n. Os agrupamentos
n elementos de A, são os agrupamentos, de k elementos distintos de k elementos distintos cada um, que diferem entre si apenas
cada, que diferem entre si ou pela natureza ou pela ordem de seus pela natureza de seus elementos são denominados combinações
elementos. simples k a k, dos n elementos de A.
Pn = An,n= n (n – 1) (n – 2) . … . (n – n + 1) = (n – 1) (n – 2)
. … .1 = n!
Portanto: Pn = n!
Didatismo e Conhecimento 41
RACIOCÍNIO LÓGICO
Também pode ser escrito assim: 03. Deseja-se criar uma senha para os usuários de um sistema,
começando por três letras escolhidas entre as cinco A, B, C, D e
E, seguidas de quatro algarismos escolhidos entre 0, 2, 4, 6 e 8. Se
entre as letras puder haver repetição, mas se os algarismos forem
todos distintos, o número total de senhas possíveis é:
(A) 78.125
Arranjos Completos: Arranjos completos de n elementos, de k (B) 7.200
a k são os arranjos de k elementos não necessariamente distintos. (C) 15.000
Em vista disso, quando vamos calcular os arranjos completos, (D) 6.420
deve-se levar em consideração os arranjos com elementos distintos (E) 50
(arranjos simples) e os elementos repetidos. O total de arranjos
completos de n elementos, de k a k, é indicado simbolicamente por 04. (UFTM) – João pediu que Cláudia fizesse cartões com
A*n,k dado por: A*n,k = nk todas as permutações da palavra AVIAÇÃO. Cláudia executou
a tarefa considerando as letras A e à como diferentes, contudo,
Permutações com elementos repetidos João queria que elas fossem consideradas como mesma letra. A
diferença entre o número de cartões feitos por Cláudia e o número
Considerando: de cartões esperados por João é igual a
(A) 720
α elementos iguais a a, (B) 1.680
β elementos iguais a b, (C) 2.420
γ elementos iguais a c, …, (D) 3.360
λ elementos iguais a l, (E) 4.320
Combinações Completas: Combinações completas de 06. (MACKENZIE) – Numa empresa existem 10 diretores,
n elementos, de k a k, são combinações de k elementos não dos quais 6 estão sob suspeita de corrupção. Para que se analisem
necessariamente distintos. Em vista disso, quando vamos calcular as suspeitas, será formada uma comissão especial com 5 diretores,
as combinações completas devemos levar em consideração as na qual os suspeitos não sejam maioria. O número de possíveis
combinações com elementos distintos (combinações simples) e comissões é:
as combinações com elementos repetidos. O total de combinações (A) 66
completas de n elementos, de k a k, indicado por C*n,k (B) 72
(C) 90
(D) 120
(E) 124
Didatismo e Conhecimento 42
RACIOCÍNIO LÓGICO
08. Numa clínica hospitalar, as cirurgias são sempre assistidas
por 3 dos seus 5 enfermeiros, sendo que, para uma eventualidade
qualquer, dois particulares enfermeiros, por serem os mais
experientes, nunca são escalados para trabalharem juntos. Sabendo- Assim, a diferença obtida foi 2.520 – 840 = 1.680
se que em todos os grupos participa um dos dois enfermeiros mais
experientes, quantos grupos distintos de 3 enfermeiros podem ser 05. Se as permutações das letras da palavra PROVA forem
formados? listadas em ordem alfabética, então teremos:
(A) 06 P4 = 24 que começam por A
(B) 10 P4 = 24 que começam por O
(C) 12 P4 = 24 que começam por P
(D) 15
(E) 20 A 73.ª palavra nessa lista é a primeira permutação que começa
por R. Ela é RAOPV.
09. Seis pessoas serão distribuídas em duas equipes para
concorrer a uma gincana. O número de maneiras diferentes de 06. Se, do total de 10 diretores, 6 estão sob suspeita de
formar duas equipes é corrupção, 4 não estão. Assim, para formar uma comissão de 5
(A) 10 diretores na qual os suspeitos não sejam maioria, podem ser
(B) 15 escolhidos, no máximo, 2 suspeitos. Portanto, o número de
(C) 20 possíveis comissões é
(D) 25
(E) 30
03.
Letras
V) Assim, o número total de grupos que podem ser formados
As três letras poderão ser escolhidas de 5 . 5 . 5 =125 maneiras. é2.3=6
Os quatro algarismos poderão ser escolhidos de 5 . 4 . 3 . 2 =
120 maneiras. 09.
O número total de senhas distintas, portanto, é igual a 125 .
120 = 15.000. 10.
a) 9 . A*10,3 = 9 . 103 = 9 . 10 . 10 . 10 = 9000
04. b) 8 . A*9,3 = 8 . 93 = 8 . 9 . 9 . 9 = 5832
I) O número de cartões feitos por Cláudia foi c) (a) – (b): 9000 – 5832 = 3168
d) 9 . A9,3 = 9 . 9 . 8 . 7 = 4536
e) (a) – (d): 9000 – 4536 = 4464
Didatismo e Conhecimento 43
RACIOCÍNIO LÓGICO
Binômio de Newton Fórmula do termo geral de um Binômio de Newton
Um termo genérico Tp+1 do desenvolvimento de (a+b)n , sendo
Denomina-se Binômio de Newton , a todo binômio da forma p um número natural, é dado por
(a + b)n , sendo n um número natural .
⎛ n⎞
Exemplo: T p+1 = ⎜ ⎟ .a n− p .b p
B = (3x - 2y)4 ( onde a = 3x, b = -2y e n = 4 [grau do binômio]
⎝ p⎠
).
onde
Exemplos de desenvolvimento de binômios de Newton :
⎛ n⎞ n!
a) (a + b)2 = a2 + 2ab + b2 ⎜⎝ p ⎟⎠ = Cn. p = p!(n − p)!
b) (a + b)3 = a3 + 3 a2b + 3ab2 + b3
c) (a + b)4 = a4 + 4 a3b + 6 a2b2 + 4ab3 + b4
d) (a + b)5 = a5 + 5 a4b + 10 a3b2 + 10 a2b3 + 5ab4 + b5 é denominado Número Binomial e Cn.p é o número de combi-
nações simples de n elementos, agrupados p a p, ou seja, o número
Nota: de combinações simples de n elementos de taxa p.
Este número é também conhecido como Número Combina-
Não é necessário memorizar as fórmulas acima, já que elas tório.
possuem uma lei de formação bem definida, senão vejamos:
Vamos tomar, por exemplo, o item (d) acima: Probabilidade
Observe que o expoente do primeiro e últimos termos são
iguais ao expoente do binômio, ou seja, igual a 5. Ponto Amostral, Espaço Amostral e Evento
A partir do segundo termo, os coeficientes podem ser obtidos Em uma tentativa com um número limitado de resultados,
a partir da seguinte regra prática de fácil memorização: todos com chances iguais, devemos considerar:
Multiplicamos o coeficiente de a pelo seu expoente e dividi- Ponto Amostral: Corresponde a qualquer um dos resultados
mos o resultado pela ordem do termo. O resultado será o coeficien- possíveis.
te do próximo termo. Assim por exemplo, para obter o coeficiente Espaço Amostral: Corresponde ao conjunto dos resultados
do terceiro termo do item (d) acima teríamos: possíveis; será representado por S e o número de elementos do
5.4 = 20; agora dividimos 20 pela ordem do termo anterior (2 espaço amostra por n(S).
por se tratar do segundo termo) 20:2 = 10 que é o coeficiente do Evento: Corresponde a qualquer subconjunto do espaço
terceiro termo procurado. amostral; será representado por A e o número de elementos do
Observe que os expoentes da variável a decrescem de n até 0 evento por n(A).
e os expoentes de b crescem de 0 até n. Assim o terceiro termo é
10 a3b2 (observe que o expoente de a decresceu de 4 para 3 e o de Os conjuntos S e Ø também são subconjuntos de S, portanto
b cresceu de 1 para 2). são eventos.
Usando a regra prática acima, o desenvolvimento do binômio Ø = evento impossível.
de Newton (a + b)7 será: S = evento certo.
(a + b)7 = a7 + 7 a6b + 21 a5b2 + 35 a4b3 + 35 a3b4 + 21 a2b5 +
7 ab6 + b7 Conceito de Probabilidade
As probabilidades têm a função de mostrar a chance
Como obtivemos, por exemplo, o coeficiente do 6º termo (21 de ocorrência de um evento. A probabilidade de ocorrer um
a2b5) ? determinado evento A, que é simbolizada por P(A), de um espaço
Pela regra: coeficiente do termo anterior = 35. Multiplicamos amostral S ≠ Ø, é dada pelo quociente entre o número de elementos
35 pelo expoente de a que é igual a 3 e dividimos o resultado pela A e o número de elemento S. Representando:
ordem do termo que é 5.
Então, 35 . 3 = 105 e dividindo por 5 (ordem do termo ante-
rior) vem 105:5 = 21, que é o coeficiente do sexto termo, conforme
se vê acima. Exemplo: Ao lançar um dado de seis lados, numerados de 1 a
6, e observar o lado virado para cima, temos:
Observações: - um espaço amostral, que seria o conjunto S {1, 2, 3, 4, 5, 6}.
1) o desenvolvimento do binômio (a + b)n é um polinômio. - um evento número par, que seria o conjunto A1 = {2, 4, 6}
2) o desenvolvimento de (a + b)n possui n + 1 termos . C S.
3) os coeficientes dos termos equidistantes dos extremos , no - o número de elementos do evento número par é n(A1) = 3.
desenvolvimento De (a + b)n são iguais . - a probabilidade do evento número par é 1/2, pois
4) a soma dos coeficientes de (a + b)n é igual a 2n .
Didatismo e Conhecimento 44
RACIOCÍNIO LÓGICO
Propriedades de um Espaço Amostral Finito e Não Vazio Considerando que A ∩ B, nesse caso A e B serão denominados
mutuamente exclusivos. Observe que A ∩ B = 0, portanto: P(A
- Em um evento impossível a probabilidade é igual a zero. Em B) = P(A) + P(B). Quando os eventos A1, A2, A3, …, An de S
um evento certo S a probabilidade é igual a 1. Simbolicamente: forem, de dois em dois, sempre mutuamente exclusivos, nesse
P(Ø) = 0 e P(S) = 1. caso temos, analogicamente:
- Se A for um evento qualquer de S, neste caso: 0 ≤ P(A) ≤ 1.
- Se A for o complemento de A em S, neste caso: P(A) = 1 - P(A1 A2 A3 … An) = P(A1) + P(A2) + P(A3) + ... +
P(A). P(An)
Considerando S como um espaço finito e não vazio, temos: Quando os eventos A1, A2, A3, …, An de S forem, de dois em
dois, mutuamente exclusivos, estes serão denominados exaustivos
se A1 A2 A3 … An = S
Então, logo:
Probabilidade Condicionada
A Veja:
B
S
Eventos Independentes
Logo: P(A B) = P(A) + P(B) - P(A B)
Considere dois eventos A e B de um espaço amostral S, finito
Eventos Mutuamente Exclusivos e não vazio. Estes serão independentes somente quando:
A P(A/N) = P(A) P(B/A) = P(B)
Intersecção de Eventos
B
S Considerando A e B como dois eventos de um espaço amostral
S, finito e não vazio, logo:
Didatismo e Conhecimento 45
RACIOCÍNIO LÓGICO
QUESTÕES
Didatismo e Conhecimento 46
RACIOCÍNIO LÓGICO
(A) 0,5 Dessa forma, p(B) = 50/500.
(B) 5/7
(C) 0,6 A Ω B: o número tem 3 algarismos e é múltiplo de 10;
(D) 7/15 A Ω B = {100, 110, ..., 500}.
(E) 0,7 De an = a1 + (n – 1) . r, temos: 500 = 100 + (n – 1) . 10 → n =
41 e p(A B) = 41/500
09. Uma urna contém 6 bolas: duas brancas e quatro pretas.
Retiram-se quatro bolas, sempre com reposição de cada bola antes Por fim, p(A.B) =
de retirar a seguinte. A probabilidade de só a primeira e a terceira
serem brancas é: 06.
Sejam A1, A2, A3, A4 as bolas amarelas, B1, B2 as brancas e V1,
(A) (B) (C) (D) (E) V2, V3 as vermelhas.
Temos S = {A1, A2, A3, A4, V1, V2, V3 B1, B2} → n(S) = 9
10. Uma lanchonete prepara sucos de 3 sabores: laranja, A: retirada de bola amarela = {A1, A2, A3, A4}, n(A) = 4
abacaxi e limão. Para fazer um suco de laranja, são utilizadas 3 B: retirada de bola branca = {B1, B2}, n(B) = 2
laranjas e a probabilidade de um cliente pedir esse suco é de 1/3.
Se na lanchonete, há 25 laranjas, então a probabilidade de que,
para o décimo cliente, não haja mais laranjas suficientes para fazer
o suco dessa fruta é:
01.
07.
02. Se apenas um deve acertar o alvo, então podem ocorrer os
A partir da distribuição apresentada no gráfico: seguintes eventos:
08 mulheres sem filhos. (A) “A” acerta e “B” erra; ou
07 mulheres com 1 filho. (B) “A” erra e “B” acerta.
06 mulheres com 2 filhos.
02 mulheres com 3 filhos. Assim, temos:
P (A B) = P (A) + P (B)
Comoas 23 mulheres têm um total de 25 filhos, a probabilidade P (A B) = 40% . 70% + 60% . 30%
de que a criança premiada tenha sido um(a) filho(a) único(a) é P (A B) = 0,40 . 0,70 + 0,60 . 0,30
igual a P = 7/25. P (A B) = 0,28 + 0,18
03. P(dama ou rei) = P(dama) + P(rei) = P (A B) = 0,46
P (A B) = 46%
04. No lançamento de dois dados de 6 faces, numeradas de 1 a
6, são 36 casos possíveis. Considerando os eventos A (dois números 08.
ímpares) e B (dois números iguais), a probabilidade pedida é: Sendo A e B eventos independentes, P(A B) = P(A) . P(B) e
como P(A B) = P(A) + P(B) – P(A B). Temos:
P(A B) = P(A) + P(B) – P(A) . P(B)
0,8 = 0,3 + P(B) – 0,3 . P(B)
05. Sendo Ω, o conjunto espaço amostral, temos n(Ω) = 500 0,7 . (PB) = 0,5
P(B) = 5/7.
A: o número sorteado é formado por 3 algarismos;
A = {100, 101, 102, ..., 499, 500}, n(A) = 401 e p(A) = 401/500 09. Representando por a
probabilidade pedida, temos:
B: o número sorteado é múltiplo de 10; =
B = {10, 20, ..., 500}. =
Didatismo e Conhecimento 47
RACIOCÍNIO LÓGICO
10. Supondo que a lanchonete só forneça estes três tipos de Ângulo
sucos e que os nove primeiros clientes foram servidos com apenas
um desses sucos, então:
I- Como cada suco de laranja utiliza três laranjas, não é
possível fornecer sucos de laranjas para os nove primeiros clientes,
pois seriam necessárias 27 laranjas.
II- Para que não haja laranjas suficientes para o próximo
cliente, é necessário que, entre os nove primeiros, oito tenham
pedido sucos de laranjas, e um deles tenha pedido outro suco.
A probabilidade de isso ocorrer é:
Definições.
A Geometria é a parte da matemática que estuda as figuras e Perímetro: entendendo o que é perímetro.
suas propriedades. A geometria estuda figuras abstratas, de uma Imagine uma sala de aula de 5m de largura por 8m de
perfeição não existente na realidade. Apesar disso, podemos ter comprimento.
uma boa ideia das figuras geométricas, observando objetos reais, Quantos metros lineares serão necessários para colocar rodapé
como o aro da cesta de basquete que sugere uma circunferência, nesta sala, sabendo que a porta mede 1m de largura e que nela não
as portas e janelas que sugerem retângulos e o dado que sugere se coloca rodapé?
um cubo.
c) Mediatriz de um segmento.
É a reta perpendicular ao segmento no seu ponto médio
Didatismo e Conhecimento 48
RACIOCÍNIO LÓGICO
Área
Área é a medida de uma superfície.
A área do campo de futebol é a medida de sua superfície
(gramado).
Se pegarmos outro campo de futebol e colocarmos em uma
malha quadriculada, a sua área será equivalente à quantidade de
quadradinho. Se cada quadrado for uma unidade de área:
Didatismo e Conhecimento 49
RACIOCÍNIO LÓGICO
Como todos os lados são iguais, podemos dizer que base é Primeiro: completamos as alturas no trapézio:
igual a e a altura igual a , então, substituindo na fórmula A = b .
h, temos:
A= .
A= ²
Trapézio
É o quadrilátero que tem dois lados paralelos. A altura de um Segundo: o dividimos em dois triângulos:
trapézio é a distância entre as retas suporte de suas bases.
A∆1 = B . h
2
Cálculo da área do ∆CFD:
A∆2 = b . h
2
Somando as duas áreas encontradas, teremos o cálculo da
área de um trapézio qualquer:
A área do trapézio está relacionada com a área do triângulo
que é calculada utilizando a seguinte fórmula: AT = A∆1 + A∆2
A = b . h (b = base e h = altura).
2 AT = B . h + b . h
2 2
Observe o desenho de um trapézio e os seus elementos mais
importantes (elementos utilizados no cálculo da sua área):
AT = B . h + b . h → colocar a altura (h) em evi-
2
dência, pois é um termo comum aos dois fatores.
AT = h (B + b)
2
Didatismo e Conhecimento 50
RACIOCÍNIO LÓGICO
h = altura Propriedades dos triângulos
B = base maior do trapézio
b = base menor do trapézio 1) Em todo triângulo, a soma das medidas dos 3 ângulos
internos é 180º.
Losango
Didatismo e Conhecimento 51
RACIOCÍNIO LÓGICO
Área do triangulo Exercícios
Semelhança de triângulos
Didatismo e Conhecimento 52
RACIOCÍNIO LÓGICO
8. Na figura a seguir, as distâncias dos pontos A e B à reta va- 5. 4 6 36
= ⇒ PR = =6
lem 2 e 4. As projeções ortogonais de A e B sobre essa reta são os PR 9 6
pontos C e D. Se a medida de CD é 9, a que distância de C deverá
estar o ponto E, do segmento CD, para que CÊA=DÊB
a)3 x 9
6.
= ⇒ x ² = 144 ⇒ x = 12
b)4 16 x
c)5
=a ) x 12(
= altura ); 2 x 24(comprimento)
d)6
e)7 b) AC = 9² + x ² = 81 + 144 = 15
a)6
b)4
c)3
d)2
e)
8.
Respostas
Substituindo na fórmula:
l² 3 5² 3
S
= ⇒= S = 6, 25 3 ⇒ =
S 10,8 9.
4 4
3. Sabemos que 2 dm equivalem a 20 cm, temos:
h=10
b=20
Substituindo na fórmula:
.
üüü =
= 20.10
= 100 =
² 2 ²
10.
4. Para o cálculo da superfície utilizaremos a fórmula que en-
volve as diagonais, cujos valores temos abaixo:
d1=10
d2=15
d1.d 2 10.15
S= ⇒ = 75cm ²
2 2
Didatismo e Conhecimento 53
RACIOCÍNIO LÓGICO
QUESTÕES COMPLEMENTARES A) “João e Maria não viajam sempre durante as férias
escolares”.
01. (SESP/MT - Perito Oficial Criminal - Funcab/2014) B) “João e Maria viajam sempre durante o período le-
Considerando verdadeira a proposição “todo churrasco é tivo”.
gostoso”, assinale a RESPOSTA: verdadeira. C) “João e Maria viajam algumas vezes durante as fé-
A) A proposição “algum churrasco é gostoso” é necessa- rias escolares”.
riamente verdadeira. D) “João e Maria viajam algumas vezes durante o pe-
B) A proposição “nenhum churrasco é gostoso” é neces- ríodo letivo”.
sariamente verdadeira. E) “João e Maria não viajam sempre durante o período
C) A proposição “algum churrasco é gostoso” é verda- letivo”.
deira ou falsa.
D) A proposição “algum churrasco não é gostoso” é ne- “João e Maria viajam sempre durante as férias escolares”
cessariamente verdadeira. a negação será “João e Maria não viajam sempre durante as
E) A proposição “algum churrasco não é gostoso” é ver- férias escolares”
dadeira ou falsa.
“todo churrasco é gostoso” é uma proposição universal RESPOSTA: “A”.
afirmativa A 04. (Polícia Civil/SP - Investigador – VUNESP/2014) O
“nenhum churrasco é gostoso” é uma proposição universal princípio da não contradição, inicialmente formulado por
negativa E Aristóteles (384-322 a.C.), permanece como um dos susten-
“algum churrasco é gostoso” é uma proposição tipo I táculos da lógica clássica. Uma proposição composta é con-
“algum churrasco não é gostoso” é uma proposição parti- traditória quando
cular negativa O A) seu valor lógico é falso e todas as proposições simples
Se a é Verdadeira a única que pode ser verdadeira é a tipo I que a constituem são falsas.
“algum churrasco é gostoso” B) uma ou mais das proposições que a constituem de-
corre/ decorrem de premissas sempre falsas.
RESPOSTA: “A”. C) seu valor lógico é sempre falso, não importando o
valor de suas proposições constituintes.
02. (Polícia Civil/SP - Investigador – VUNESP/2014) D) suas proposições constituintes não permitem inferir
Um antropólogo estadunidense chega ao Brasil para aper- uma conclusão sempre verdadeira.
feiçoar seu conhecimento da língua portuguesa. Durante E) uma ou mais das proposições que a constituem pos-
sua estadia em nosso país, ele fica muito intrigado com a sui/ possuem valor lógico indeterminável.
frase “não vou fazer coisa nenhuma”, bastante utilizada em
nossa linguagem coloquial. A dúvida dele surge porque * Uma proposição composta é contraditória quando seu
valor lógico é falso e todas as proposições simples que a cons-
A) a conjunção presente na frase evidencia seu signifi-
tituem são falsas.
cado.
Não, pois as proposição simples não são necessariamente
B) o significado da frase não leva em conta a dupla ne-
falsas.
gação.
* Uma ou mais das proposições que a constituem decorre/
C) a implicação presente na frase altera seu significado.
decorrem de premissas sempre falsas.
D) o significado da frase não leva em conta a disjunção.
Não importa o valor lógico das proposições simples cons-
E) a negação presente na frase evidencia seu significa-
tituintes.
do.
* Seu valor lógico é sempre falso, não importando o valor
de suas proposições constituintes - CORRETA
~(~p) é equivalente a p
Logo, uma dupla negação é equivalente a afirmar.
RESPOSTA: “C”.
RESPOSTA: “B”.
Didatismo e Conhecimento 54
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Calendar foram substituídos pelas suas respectivas contrapar-
1. SISTEMA OPERACIONAL tes do Windows Live, com a perda de algumas funcionalidades.
O Windows 7, assim como o Windows Vista, estará disponível
WINDOWS 7. em cinco diferentes edições, porém apenas o Home Premium, Pro-
fessional e Ultimate serão vendidos na maioria dos países, restando
outras duas edições que se concentram em outros mercados, como
mercados de empresas ou só para países em desenvolvimento.
Windows 7 Cada edição inclui recursos e limitações, sendo que só o Ultimate
O Windows 7 foi lançado para empresas no dia 22 de julho de não tem limitações de uso. Segundo a Microsoft, os recursos para
2009, e começou a ser vendido livremente para usuários comuns todas as edições do Windows 7 são armazenadas no computador.
dia 22 de outubro de 2009. Um dos principais objetivos da Microsoft com este novo Win-
Diferente do Windows Vista, que introduziu muitas novida- dows é proporcionar uma melhor interação e integração do siste-
des, o Windows 7 é uma atualização mais modesta e direcionada ma com o usuário, tendo uma maior otimização dos recursos do
para a linha Windows, tem a intenção de torná-lo totalmente com- Windows 7, como maior autonomia e menor consumo de energia,
patível com aplicações e hardwares com os quais o Windows Vista voltado a profissionais ou usuários de internet que precisam in-
já era compatível. teragir com clientes e familiares com facilidade, sincronizando e
Apresentações dadas pela companhia no começo de 2008 compartilhando facilmente arquivos e diretórios.
mostraram que o Windows 7 apresenta algumas variações como Recursos
uma barra de tarefas diferente, um sistema de “network” chamada Segundo o site da própria Microsoft, os recursos encontrados
de “HomeGroup”, e aumento na performance. no Windows 7 são fruto das novas necessidades encontradas pe-
· Interface gráfica aprimorada, com nova barra de tarefas e los usuários. Muitos vêm de seu antecessor, Windows Vista, mas
suporte para telas touch screen e multi-táctil (multi-touch) existem novas funcionalidades exclusivas, feitas para facilitar a
· Internet Explorer 8; utilização e melhorar o desempenho do SO (Sistema Operacional)
· Novo menu Iniciar; no computador.
· Nova barra de ferramentas totalmente reformulada; Vale notar que, se você tem conhecimentos em outras versões
· Comando de voz (inglês); do Windows, não terá que jogar todo o conhecimento fora. Ape-
· Gadgets sobre o desktop; nas vai se adaptar aos novos caminhos e aprender “novos truques”
· Novos papéis de parede, ícones, temas etc.; enquanto isso.
· Conceito de Bibliotecas (Libraries), como no Windows Me-
dia Player, integrado ao Windows Explorer; Tarefas Cotidianas
· Arquitetura modular, como no Windows Server 2008; Já faz tempo que utilizar um computador no dia a dia se tornou
· Faixas (ribbons) nos programas incluídos com o Windows comum. Não precisamos mais estar em alguma empresa enorme
(Paint e WordPad, por exemplo), como no Office 2007; para precisar sempre de um computador perto de nós. O Windows
· Aceleradores no Internet Explorer 8; 7 vem com ferramentas e funções para te ajudar em tarefas comuns
· Aperfeiçoamento no uso da placa de vídeo e memória RAM; do cotidiano.
· Home Groups;
· Melhor desempenho; Grupo Doméstico
· Windows Media Player 12; Ao invés de um, digamos que você tenha dois ou mais compu-
· Nova versão do Windows Media Center; tadores em sua casa. Permitir a comunicação entre várias estações
· Gerenciador de Credenciais; vai te poupar de ter que ir fisicamente aonde a outra máquina está
· Instalação do sistema em VHDs; para recuperar uma foto digital armazenada apenas nele.
· Nova Calculadora, com interface aprimorada e com mais Com o Grupo Doméstico, a troca de arquivos fica simplificada
funções; e segura. Você decide o que compartilhar e qual os privilégios que
· Reedição de antigos jogos, como Espadas Internet, Gamão os outros terão ao acessar a informação, se é apenas de visualiza-
Internet e Internet Damas; ção, de edição e etc.
· Windows XP Mode;
· Aero Shake; Tela sensível ao toque
O Windows 7 está preparado para a tecnologia sensível ao
Apesar do Windows 7 conter muitos novos recursos o número toque com opção a multitoque, recurso difundido pelo iPhone.
de capacidades e certos programas que faziam parte do Windows O recurso multitoque percebe o toque em diversos pontos da
Vista não estão mais presentes ou mudaram, resultando na remo- tela ao mesmo tempo, assim tornando possível dimensionar uma
ção de certas funcionalidades. Mesmo assim, devido ao fato de imagem arrastando simultaneamente duas pontas da imagem na
ainda ser um sistema operacional em desenvolvimento, nem todos tela.
os recursos podem ser definitivamente considerados excluídos. O Touch Pack para Windows 7 é um conjunto de aplicativos e
Fixar navegador de internet e cliente de e-mail padrão no jogos para telas sensíveis ao toque. O Surface Collage é um aplica-
menu Iniciar e na área de trabalho (programas podem ser fixados tivo para organizar e redimensionar fotos. Nele é possível montar
manualmente). slide show de fotos e criar papeis de parede personalizados. Essas
Windows Photo Gallery, Windows Movie Maker, Windows funções não são novidades, mas por serem feitas para usar uma
Mail e Windows tela sensível a múltiplos toques as tornam novidades.
Didatismo e Conhecimento 1
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Snap
Ao se utilizar o Windows por muito tempo, é comum ver vá-
rias janelas abertas pelo seu monitor. Com o recurso de Snap, você
pode posicioná-las de um jeito prático e divertido. Basta apenas clicar
e arrastá-las pelas bordas da tela para obter diferentes posicionamen-
tos.
O Snap é útil tanto para a distribuição como para a comparação
de janelas. Por exemplo, jogue uma para a esquerda e a outra na direi-
ta. Ambas ficaram abertas e dividindo igualmente o espaço pela tela,
permitindo que você as veja ao mesmo tempo.
Windows Search
O sistema de buscas no Windows 7 está refinado e estendido. Po-
demos fazer buscas mais simples e específicas diretamente do menu
iniciar, mas foi mantida e melhorada a busca enquanto você navega
pelas pastas.
Microsoft Surface Collage,
Menu iniciar
desenvolvido para usar tela sensível ao toque. As pesquisas agora podem ser feitas diretamente do menu iniciar.
É útil quando você necessita procurar, por exemplo, pelo atalho de
Lista de Atalhos inicialização de algum programa ou arquivo de modo rápido.
Novidade desta nova versão, agora você pode abrir diretamen- “Diferente de buscas com as tecnologias anteriores do Windows
te um arquivo recente, sem nem ao menos abrir o programa que Search, a pesquisa do menu início não olha apenas aos nomes de pas-
você utilizou. Digamos que você estava editando um relatório em tas e arquivos.
seu editor de texto e precisou fechá-lo por algum motivo. Quando Considera-se o conteúdo do arquivo, tags e propriedades tam-
quiser voltar a trabalhar nele, basta clicar com o botão direito sob bém” (Jim Boyce; Windows 7 Bible, pg 770).
o ícone do editor e o arquivo estará entre os recentes. Os resultados são mostrados enquanto você digita e são divididos
Ao invés de ter que abrir o editor e somente depois se preocu- em categorias, para facilitar sua visualização.
par em procurar o arquivo, você pula uma etapa e vai diretamente Abaixo as categorias nas quais o resultado de sua busca pode ser
para a informação, ganhando tempo. dividido.
· Programas
· Painel de Controle
· Documentos
· Música
· Arquivos
Didatismo e Conhecimento 2
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Windows Explorer O painel também é útil caso você sinta algo de estranho no
O que você encontra pelo menu iniciar é uma pequena parte computador. Basta checar o painel e ver se o Windows detectou
do total disponível. algo de errado.
Fazendo a busca pelo Windows Explorer – que é acionado
automaticamente quando você navega pelas pastas do seu compu-
tador – você encontrará uma busca mais abrangente.
Em versões anteriores, como no Windows XP, antes de se
fazer uma busca é necessário abrir a ferramenta de busca. No 7,
precisamos apenas digitar os termos na caixa de busca, que fica no
canto superior direito.
Windows Explorer com a caixa de busca (Jim Boyce; Windows 7 - Do seu jeito
Bible, pg 774). O ambiente que nos cerca faz diferença, tanto para nossa qua-
lidade de vida quanto para o desempenho no trabalho. O compu-
tador é uma extensão desse ambiente. O Windows 7 permite uma
A busca não se limita a digitação de palavras. Você pode apli-
alta personalização de ícones, cores e muitas outras opções, dei-
car filtros, por exemplo, buscar, na pasta músicas, todas as can-
xando um ambiente mais confortável, não importa se utilizado no
ções do gênero Rock. Existem outros, como data, tamanho e tipo.
ambiente profissional ou no doméstico.
Dependendo do arquivo que você procura, podem existir outras
Muitas opções para personalizar o Windows 7 estão na página
classificações disponíveis.
de Personalização1, que pode ser acessada por um clique com o
Imagine que todo arquivo de texto sem seu computador possui
botão direito na área de trabalho e em seguida um clique em Per-
um autor. Se você está buscando por arquivos de texto, pode ter a sonalizar.
opção de filtrar por autores. É importante notar que algumas configurações podem deixar
seu computador mais lento, especialmente efeitos de transparên-
Controle dos pais cia. Abaixo estão algumas das opções de personalização mais in-
Não é uma tarefa fácil proteger os mais novos do que visuali- teressantes.
zam por meio do computador. O Windows 7 ajuda a limitar o que
pode ser visualizado ou não. Para que essa funcionalidade fique Papéis de Parede
disponível, é importante que o computador tenha uma conta de ad- Os papéis de parede não são tamanha novidade, virou prati-
ministrador, protegida por senha, registrada. Além disso, o usuário camente uma rotina entre as pessoas colocarem fotos de ídolos,
que se deseja restringir deve ter sua própria conta. paisagens ou qualquer outra figura que as agrade. Uma das novi-
As restrições básicas que o 7 disponibiliza: dades fica por conta das fotos que você encontra no próprio SO.
· Limite de Tempo: Permite especificar quais horas do dia que Variam de uma foto focando uma única folha numa floresta até
o PC pode ser utilizado. uma montanha.
· Jogos: Bloqueia ou permite jogar, se baseando pelo horário A outra é a possibilidade de criar um slide show com várias
e também pela classificação do jogo. Vale notar que a classificação fotos. Elas ficaram mudando em sequência, dando a impressão que
já vem com o próprio game. sua área de trabalho está mais viva.
· Bloquear programas: É possível selecionar quais aplicativos
estão autorizados a serem executados. Gadgets
Fazendo download de add-on’s é possível aumentar a quanti- As “bugigangas” já são conhecidas do Windows Vista, mas
dade de restrições, como controlar as páginas que são acessadas, e eram travadas no canto direito. Agora elas podem ficar em qual-
até mesmo manter um histórico das atividades online do usuário. quer local do desktop.
Servem para deixar sua área de trabalho com elementos sor-
Central de ações tidos, desde coisas úteis – como uma pequena agenda – até as de
A central de ações consolida todas as mensagens de segurança gosto mais duvidosas – como uma que mostra o símbolo do Corin-
e manutenção do Windows. Elas são classificadas em vermelho thians. Fica a critério do usuário o que e como utilizar.
(importante – deve ser resolvido rapidamente) e amarelas (tarefas O próprio sistema já vem com algumas, mas se sentir necessi-
recomendadas). dade, pode baixar ainda mais opções da internet.
Didatismo e Conhecimento 3
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Personalização
Você pode adicionar recursos ao seu computador alterando o
tema, a cor, os sons, o plano de fundo da área de trabalho, a pro-
teção de tela, o tamanho da fonte e a imagem da conta de usuário.
Você pode também selecionar “gadgets” específicos para sua área
de trabalho.
Ao alterar o tema você inclui um plano de fundo na área de
trabalho, uma proteção de tela, a cor da borda da janela sons e, às
vezes, ícones e ponteiros de mouse.
Você pode escolher entre vários temas do Aero, que é um vi-
sual premium dessa versão do Windows, apresentando um design
como o vidro transparente com animações de janela, um novo
menu Iniciar, uma nova barra de tarefas e novas cores de borda
de janela.
Use o tema inteiro ou crie seu próprio tema personalizado al-
terando as imagens, cores e sons individualmente. Você também
pode localizar mais temas online no site do Windows. Você tam-
bém pode alterar os sons emitidos pelo computador quando, por
Gadgets de calendário e relógio. exemplo, você recebe um e-mail, inicia o Windows ou desliga o
computador.
Temas O plano de fundo da área de trabalho, chamado de papel de
Como nem sempre há tempo de modificar e deixar todas as parede, é uma imagem, cor ou design na área de trabalho que cria
configurações exatamente do seu gosto, o Windows 7 disponibiliza um fundo para as janelas abertas. Você pode escolher uma imagem
temas, que mudam consideravelmente os aspectos gráficos, como para ser seu plano de fundo de área de trabalho ou pode exibir uma
em papéis de parede e cores. apresentação de slides de imagens. Também pode ser usada uma
proteção de tela onde uma imagem ou animação aparece em sua
ClearType tela quando você não utiliza o mouse ou o teclado por determinado
“Clear Type é uma tecnologia que faz as fontes parecerem período de tempo. Você pode escolher uma variedade de proteções
mais claras e suaves no monitor. É particularmente efetivo para de tela do Windows.
monitores LCD, mas também tem algum efeito nos antigos mode- Aumentando o tamanho da fonte você pode tornar o texto, os
los CRT(monitores de tubo). O Windows 7 dá suporte a esta tec- ícones e outros itens da tela mais fáceis de ver. Também é possível
nologia” (Jim Boyce; Windows 7 Bible, pg 163, tradução nossa). reduzir a escala DPI, escala de pontos por polegada, para diminuir
o tamanho do texto e outros itens na tela para que caibam mais
Novas possibilidades informações na tela.
Os novos recursos do Windows 7 abrem, por si só, novas pos- Outro recurso de personalização é colocar imagem de conta
sibilidades de configuração, maior facilidade na navega, dentre de usuário que ajuda a identificar a sua conta em um computador.
outros pontos. Por enquanto, essas novidades foram diretamente A imagem é exibida na tela de boas vindas e no menu Iniciar. Você
aplicadas no computador em uso, mas no 7 podemos também inte- pode alterar a imagem da sua conta de usuário para uma das ima-
ragir com outros dispositivos. gens incluídas no Windows ou usar sua própria imagem.
E para finalizar você pode adicionar “gadgets” de área de tra-
Reproduzir em balho, que são miniprogramas personalizáveis que podem exibir
Permitindo acessando de outros equipamentos a um computa- continuamente informações atualizadas como a apresentação de
dor com o Windows 7, é possível que eles se comuniquem e seja slides de imagens ou contatos, sem a necessidade de abrir uma
possível tocar, por exemplo, num aparelho de som as músicas que nova janela.
você tem no HD de seu computador.
É apenas necessário que o aparelho seja compatível com o Aplicativos novos
Windows 7 – geralmente indicado com um logotipo “Compatível Uma das principais características do mundo Linux é suas
com o Windows 7». versões virem com muitos aplicativos, assim o usuário não precisa
ficar baixando arquivos após instalar o sistema, o que não ocorre
Streaming de mídia remoto com as versões Windows.
Com o Reproduzir em é possível levar o conteúdo do compu- O Windows 7 começa a mudar essa questão, agora existe uma
tador para outros lugares da casa. Se quiser levar para fora dela, serie de aplicativos juntos com o Windows 7, para que o usuário
uma opção é o Streaming de mídia remoto. não precisa baixar programas para atividades básicas.
Com este novo recurso, dois computadores rodando Windows Com o Sticky Notes pode-se deixar lembretes no desktop e
7 podem compartilhar músicas através do Windows Media Player também suportar entrada por caneta e toque.
12. É necessário que ambos estejam associados com um ID online, No Math Input Center, utilizando recursos multitoque, equa-
como a do Windows Live. ções matemáticas escritas na tela são convertidas em texto, para
poder adicioná-la em um processador de texto.
Didatismo e Conhecimento 4
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
O print screen agora tem um aplicativo que permite capturar
de formas diferentes a tela, como por exemplo, a tela inteira, partes
ou áreas desenhadas da tela com o mouse.
WordPad remodelado
Requisitos
Apesar desta nova versão do Windows estar mais leve em
relação ao Vista, ainda é exigido uma configuração de hardware
(peças) relativamente boa, para que seja utilizado sem problemas
de desempenho.
Esta é a configuração mínima:
· Processador de 1 GHz (32-bit)
· Memória (RAM) de 1 GB
· Placa de Vídeo compatível com DirectX 9.0 e 32 MB de
Paint com novos recursos. memória (sem
Windows Aero)
O WordPad também foi reformulado, recebeu novo visual · Espaço requerido de 16GB
mais próximo ao Word 2007, também ganhou novas ferramentas, · DVD-ROM
assim se tornando um bom editor para quem não tem o Word 2007. · Saída de Áudio
A calculadora também sofreu mudanças, agora conta com 2 Se for desejado rodar o sistema sem problemas de lentidão
novos modos, programador e estatístico. No modo programador e ainda usufruir de recursos como o Aero, o recomendado é a se-
ela faz cálculos binários e tem opção de álgebra booleana. A esta- guinte configuração.
tística tem funções de cálculos básicos.
Também foi adicionado recurso de conversão de unidades Configuração Recomendada:
como de pés para metros. · Processador de 2 GHz (32 ou 64 bits)
· Memória (RAM) de 2 GB
· Espaço requerido de disco rígido: 16 GB
Didatismo e Conhecimento 5
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
· Placa de vídeo com suporte a elementos gráficos DirectX 9 com Monitor de desempenho
256 MB de memória (para habilitar o tema do Windows Aero) Apesar de não ser uma exclusividade do 7, é uma ferramenta
· Unidade de DVD-R/W poderosa para verificar como o sistema está se portando. Podem-
· Conexão com a Internet (para obter atualizações) se adicionar contadores (além do que já existe) para colher ainda
mais informações e gerar relatórios.
Atualizar de um SO antigo
O melhor cenário possível para a instalação do Windows 7 é com Monitor de recursos
uma máquina nova, com os requisitos apropriados. Entretanto, é pos- Com o monitor de recursos, uma série de abas mostra infor-
sível utilizá-lo num computador antigo, desde que atenda as especifi- mações sobre o uso do processador, da memória, disco e conexão
cações mínimas. à rede.
Se o aparelho em questão possuir o Windows Vista instalado,
você terá a opção de atualizar o sistema operacional. Caso sua máqui- PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE AS VERSÕES
na utilize Windows XP, você deverá fazer a re-instalação do sistema Windows 7 Starter
operacional. Como o próprio título acima sugere, esta versão do Windows
Utilizando uma versão anterior a do XP, muito provavelmente é a mais simples e básica de todas. A Barra de Tarefas foi comple-
seu computador não atende aos requisitos mínimos. Entretanto, nada tamente redesenhada e não possui suporte ao famoso Aero Glass.
impede que você tente fazer a reinstalação. Uma limitação da versão é que o usuário não pode abrir mais do
que três aplicativos ao mesmo tempo.
Atualização Esta versão será instalada em computadores novo apenas nos
“Atualizar é a forma mais conveniente de ter o Windows 7 em países em desenvolvimento, como Índia, Rússia e Brasil. Disponí-
seu computador, pois mantém os arquivos, as configurações e os pro- vel apenas na versão de 32 bits.
gramas do Windows Vista no lugar” (Site da Microsoft, http://windo-
ws.microsoft.com/pt- Windows 7 Home Basic
BR/windows7/help/upgrading-from-windows-vista-to-windo- Esta é uma versão intermediária entre as edições Starter e
ws-7). Home Premium (que será mostrada logo abaixo). Terá também a
É o método mais adequado, se o usuário não possui conhecimen-
versão de 64 bits e permitirá a execução de mais de três aplicativos
to ou tempo para fazer uma instalação do método tradicional. Optando
ao mesmo tempo.
por essa opção, ainda devesse tomar cuidado com a compatibilidade
Assim como a anterior, não terá suporte para o Aero Glass
dos programas, o que funciona no Vista nem sempre funcionará no 7.
nem para as funcionalidades sensíveis ao toque, fugindo um pouco
da principal novidade do Windows 7. Computadores novos pode-
Instalação
rão contar também com a instalação desta edição, mas sua venda
Por qualquer motivo que a atualização não possa ser efetuada, a
instalação completa se torna a opção mais viável. será proibida nos Estados Unidos.
Neste caso, é necessário fazer backup de dados que se deseja uti-
lizar, como drivers e documentos de texto, pois todas as informações Windows 7 Home Premium
no computador serão perdidas. Quando iniciar o Windows 7, ele vai Edição que os usuários domésticos podem chamar de “com-
estar sem os programas que você havia instalado e com as configura- pleta”, a Home Premium acumula todas as funcionalidades das
ções padrão. edições citadas anteriormente e soma mais algumas ao pacote.
Dentre as funções adicionadas, as principais são o suporte à
Desempenho interface Aero Glass e também aos recursos Touch Windows (tela
De nada adiantariam os novos recursos do Windows 7 se ele sensível ao toque) e Aero Background, que troca seu papel de pa-
mantivesse a fama de lento e paranóico, adquirida por seu anteces- rede automaticamente no intervalo de tempo determinado. Haverá
sor. Testes indicam que a nova versão tem ganhou alguns pontos na ainda um aplicativo nativo para auxiliar no gerenciamento de redes
velocidade. wireless, conhecido como Mobility Center.
O 7 te ajuda automaticamente com o desempenho: “Seu sistema
operacional toma conta do gerenciamento do processador e memória
para você” (Jim Boyce; Windows 7 Bible, pg 1041, tradução nossa).
Além disso, as tarefas recebem prioridades. Apesar de não ajudar
efetivamente no desempenho, o Windows 7 prioriza o que o usuário
está interagindo (tarefas “foreground”).
Outras, como uma impressão, tem baixa prioridade pois são natu-
ralmente lentas e podem ser executadas “longe da visão” do usuário,
dando a impressão que o computador não está lento.
Essa característica permite que o usuário não sinta uma lentidão
desnecessária no computador.
Entretanto, não se pode ignorar o fato que, com cada vez mais
recursos e “efeitos gráficos”, a tendência é que o sistema operacional
se torne um forte consumidor de memória e processamento. O 7
disponibiliza vários recursos de ponta e mantêm uma performance Esta edição será colocada à venda em lojas de varejo e tam-
satisfatória. bém poderá ser encontrada em computadores novos.
Didatismo e Conhecimento 6
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Windows 7 Professional, voltado às pequenas empresas Para abrir a Ajuda e Suporte do Windows, clique no botão Ini-
Mais voltada para as pequenas empresas, a versão Professio- ciar e, em seguida, clique em Ajuda e Suporte.
nal do Windows 7 possuirá diversos recursos que visam facilitar Obter o conteúdo mais recente da Ajuda
a comunicação entre computadores e até mesmo impressoras de Se você estiver conectado à Internet, verifique se o Centro de
uma rede corporativa. Ajuda e Suporte do Windows está configurado como Ajuda Onli-
Para isso foram desenvolvidos aplicativos como o Domain ne. A Ajuda Online inclui novos tópicos da Ajuda e as versões mais
Join, que ajuda os computadores de uma rede a “se enxergarem” recentes dos tópicos existentes.
e conseguirem se comunicar. O Location Aware Printing, por sua Clique no botão Iniciar e em Ajuda e Suporte.
vez, tem como objetivo tornar muito mais fácil o compartilhamen- Na barra de ferramentas Ajuda e Suporte do Windows, clique
to de impressoras. em Opções e em Configurações.
Como empresas sempre estão procurando maneiras para se Em Resultados da pesquisa, marque a caixa de seleção Me-
proteger de fraudes, o Windows 7 Professional traz o Encrypting lhorar os resultados de pesquisa usando a Ajuda online (recomen-
File System, que dificulta a violação de dados. Esta versão também dado) e clique em OK. Quando você estiver conectado, as pala-
será encontrada em lojas de varejo ou computadores novos. vras Ajuda Online serão exibidas no canto inferior direito da janela
Ajuda e Suporte.
Windows 7 Enterprise, apenas para vários Pesquisar na Ajuda
Sim, é “apenas para vários” mesmo. Como esta é uma versão A maneira mais rápida de obter ajuda é digitar uma ou duas
mais voltada para empresas de médio e grande porte, só poderá palavras na caixa de pesquisa. Por exemplo, para obter informa-
ser adquirida com licenciamento para diversas máquinas. Acumula ções sobre rede sem fio, digite rede sem fio e pressione Enter. Será
todas as funcionalidades citadas na edição Professional e possui exibida uma lista de resultados, com os mais úteis na parte supe-
recursos mais sofisticados de segurança. rior. Clique em um dos resultados para ler o tópico.
Dentre esses recursos estão o BitLocker, responsável pela
criptografia de dados e o AppLocker, que impede a execução de
programas não-autorizados. Além disso, há ainda o BrachCache,
para turbinar transferência de arquivos grandes e também o Di-
rectAccess, que dá uma super ajuda com a configuração de redes
corporativas.
Windows 7 Ultimate, o mais completo e mais caro A caixa de pesquisa na Ajuda e Suporte do Windows
Esta será, provavelmente, a versão mais cara de todas, pois
contém todas as funcionalidades já citadas neste artigo e mais al- Pesquisar Ajuda
gumas. Apesar de sua venda não ser restrita às empresas, o Micro- Você pode pesquisar tópicos da Ajuda por assunto. Clique no
soft disponibilizará uma quantidade limitada desta versão do sistema. botão Pesquisar Ajuda e, em seguida, clique em um item na lista
Isso porque grande parte dos aplicativos e recursos presentes de títulos de assuntos que será exibida. Esses títulos podem conter
na Ultimate são dedicados às corporações, não interessando muito tópicos da Ajuda ou outros títulos de assuntos. Clique em um tópi-
aos usuários comuns. co da Ajuda para abri-lo ou clique em outro título para investigar
mais a fundo a lista de assuntos.
Didatismo e Conhecimento 7
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
OS SEGUINTES ATALHOS PODEM SER USADOS Pressione......BACKSPACE
COM O WINDOWS •Fechar a pasta selecionada e todas as pastas pai
Pressione......SHIFT enquanto clica no botão “Fechar”
Teclas Gerais do Windows Somente para o Windows Explorer
•Ir Para
Para Pressione......CTRL+G
•Alternar entre os painéis esquerdo e direito
•Consultar a Ajuda sobre o item selecionado na caixa de diá- Pressione......F6
logo •Expandir todas as subpastas sob a pasta selecionada
Pressione......F1 Pressione......NUMLOCK+ ASTERISCO (* no teclado nu-
•Fechar um programa. mérico)
Pressione......ALT+F4 •Expandir a pasta selecionada
•Exibir o menu de atalhos para o item selecionado Pressione......NUMLOCK+SINAL DE ADIÇÃO (+ no tecla-
Pressione......ESHIFT+F10 do numérico)
•Exibir o menu Iniciar •Ocultar a pasta selecionada.
Pressione......CTRL+ESC Pressione......NUMLOCK+SINAL DE SUBTRAÇÃO no te-
•Alternar para a janela anterior. Ou alternar para a próxima clado numérico)
janela mantendo pressionada a •Expandir a seleção atual se estiver oculta; caso contrário, se-
tecla ALT enquanto pressiona TAB repetidamente lecionar a primeira subpasta
Pressione......ALT+TAB Pressione......SETA À DIREITA
•Recortar. •Expandir a seleção atual se estiver expandida; caso contrário,
Pressione......CTRL+X selecionar a pasta pai
•Copiar Pressione......SETA À ESQUERDA
Pressione......CTRL+C
•Colar Para caixas de diálogo de propriedades
Pressione......CTRL+V
•Excluir Para
Pressione......DEL •Mover-se entre as opções, para frente
•Desfazer Pressione......TAB
Pressione......CTRL+Z •Mover-se entre as opções, para trás
•Ignorar a auto - execução ao inserir um CD Pressione......SHIFT+TAB
Pressione......SHIFT enquanto insere o CD-ROM •Mover-se entre as guias, para frente
Pressione......CTRL+TAB
Para a área de trabalho, Meu Computador e Windows Ex- •Mover-se entre as guias, para trás
plorer Pressione......CTRL+SHIFT+TAB
Para caixas de diálogo Abrir e Salvar Como
Quando um item está selecionado, você pode usar as seguintes Para
teclas de atalho. •Abrir a lista “Salvar em” ou “Procurar em”
Pressione......F4
Para •Atualizar
•Renomear um item. Pressione......F5
Pressione......F2 •Abrir a pasta um nível acima, se houver uma pasta selecio-
•Localizar uma pasta ou arquivo nada
Pressione......F3 Pressione......BACKSPACE
•Excluir imediatamente sem colocar o item na Lixeira
Pressione......SHIFT+DEL Teclas de Atalho para Opções de Acessibilidade
•Exibir as propriedades do item
Pressione......ALT+ENTER OU ALT+clique duplo Para usar teclas de atalho para Opções Acessibilidade, as
•Copiar um arquivo teclas de atalho devem estar ativadas. Para maiores informações
Pressione......CTRL enquanto arrasta o arquivo consulte “Acessibilidade, teclas de atalho” no Índice da Ajuda.
•Criar atalho
Pressione......CTRL+SHIFT enquanto arrasta um arquivo Para
Meu Computador •Ativar e desativar as Teclas de Aderência
Para Pressione......SHIFT 5 vezes
•Selecionar tudo •Ativar e desativar as Teclas de Filtragem
Pressione......CTRL+A Pressione......SHIFT DIREITA Durante 8 segundos
•Atualizar uma janela. •Ativar e desativar as Teclas de Alternação
Pressione......F5 Pressione......NUMLOCK Durante 5 segundos
•Exibir a pasta um nível •Ativar e desativar as Teclas do Mouse
Didatismo e Conhecimento 8
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Pressione......ALT ESQUERDA+ SHIFT ESQUERDA
+NUMLOCK
•Ativar e desativar o Alto Contraste
Pressione......ALT ESQUERDA+ SHIFT ESQUERDA +
PRINTSCREEN
Didatismo e Conhecimento 9
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Didatismo e Conhecimento 10
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
As opções são as seguintes:
Didatismo e Conhecimento 11
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Dica!
Adicionando texto
1.4 Entendendo melhor o menu do Word No documento criado, vamos inserir um pequeno texto,
que será utilizado posteriormente para praticarmos os demais
Vamos, agora, trabalhar com cada uma das opções do menu do comandos. O Word apresenta um grande número de configurações
Word, visualizadas ao clicar no Botão Office: que eliminam a necessidade de atentar para como o texto vai ficar
na página, diferentemente do tempo da máquina de escrever.
Ao começar a digitar, o cursor se movimenta para a direita, e os
caracteres que você digita vão aparecendo à esquerda dele. Digite
o texto abaixo e não se preocupe em como fazer o cursor passar
para a linha seguinte. Isso é feito automaticamente e se chama
rearranjo de linhas.
Didatismo e Conhecimento 12
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
• Use palavras-chave que facilitem a memorização.
• Digite as iniciais em maiúsculas.
• Evite preposições entre as palavras.
• Evite acentos e cedilhas.
• Insira datas, se necessário.
Exemplo:
Para salvar um relatório semanal de atividades, um bom nome
seria RelSemAtiv_12_Dez.
Nesse caso, o 12_Dez identifica a semana a que se refere o
relatório, sem ser necessário abri-lo.
Vamos salvar o documento que acabamos de digitar com o
nome de Parte_Pratica.
É importantíssimo o hábito de manter o documento salvo.
Contudo, caso você se esqueça de salvá-lo e, por algum problema,
o computador se desligue ou trave inesperadamente, ainda há
possibilidade de recuperar o documento, graças ao recurso
Recuperação automática de arquivos.
Como? Recuperação automática de arquivos?
Sim! Sem que você note, de tempo em tempo, automaticamente,
o Word salva o arquivo, para que, em ocasiões inesperadas, você
não perca seu trabalho.
Assim, na ocasião seguinte em que você abrir o Word
2007, aparecerá uma janela com a lista de todos os documentos
recuperados. Para abrir qualquer um dos arquivos, basta clicar
sobre ele.
Didatismo e Conhecimento 13
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Didatismo e Conhecimento 14
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
• Impressão Rápida - Imprime diretamente, sem nenhuma Dica
configuração.
• Visualização de Impressão – Possibilita conferir como
ficará impresso seu documento. Para voltar à visualização layout
de impressão, clique no botão Fechar Visualização de Impressão
Didatismo e Conhecimento 15
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Didatismo e Conhecimento 16
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Para fazer as alterações desejadas, é necessário que o texto
esteja selecionado. Veja os comandos de seleção no item 2.2.
Abra o arquivo Parte_Pratica e selecione a palavra
“melhores”. Clique na caixa de diálogo para abrir as opções de
fonte e vá passando o mouse sobre elas.
Observe que a palavra selecionada vai sendo visualizada de
acordo com o tipo de fonte sobre a qual o ponteiro do mouse é
deslocado. Após escolher a fonte desejada, clique sobre ela.
Dica
Quando você seleciona um texto e passa o mouse sobre
ele, aparece uma caixa de ferramentas, com algumas opções de
formatação, para tornar seu trabalho mais rápido.
Didatismo e Conhecimento 17
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Didatismo e Conhecimento 18
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
As listas podem apresentar um nível único ou vários níveis.
Na lista de nível único, todos os itens têm a mesma hierarquia e
o mesmo recuo. Já a lista de vários níveis significa que há uma
lista dentro de outra. Veja abaixo a diferença entre ambas:
-- Marcação do parágrafo
-- Margem esquerda
-- Margem direita
1 – Margem esquerda em 0cm.
2 – Parágrafo em 2cm.
3 – Margem direita em 15cm.
4 – Após o ENTER, o cursor fica automaticamente na posição Tanto marcadores quanto numeradores podem ser inseridos
2cm. nos parágrafos selecionados.
Há mais de uma maneira de iniciar uma lista. Uma das mais
Todos os comandos vistos até agora podem ser efetuados, utilizadas é criar a lista automaticamente, à medida que os dados
clicando-se no Iniciador de Caixa de Diálogo do grupo Parágrafo. são digitados.
Se você precisar de uma lista com marcadores, basta digitar
um asterisco (*), seguido de um espaço: o asterisco se transforma
em marcador, e a lista é iniciada. Quando terminar de digitar o
primeiro item, pressione ENTER, e um novo marcador aparecerá
na linha seguinte.
Existem vários símbolos que você pode usar para iniciar uma
lista. O marcador padrão é o bollet •. Ao abrir a caixa de diálogo
Marcadores, você poderá utilizar um marcador existente ou
Definir Novo Marcador
Didatismo e Conhecimento 19
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Os símbolos disponíveis dependerão da fonte selecionada. Marcadores ou números
Na figura, a fonte é Wingdings. Também poderão ser adicionadas Se você achar que escolheu o tipo inadequado de lista, ou
imagens. seja, iniciou-a com marcadores, mas entende que números seriam
Para criar automaticamente listas numeradas, digite o número melhores ou vice-versa, não se preocupe.
1 e um ponto (1.), seguido de um espaço. O numerador padrão é É fácil fazer a troca. Basta clicar em qualquer lugar na lista e,
1. De modo semelhante ao anterior, ao abrir a caixa de diálogo em seguida, no botão Marcadores ou Numeração , na
Numeração , você poderá utilizar um formato ou Definir Novo faixa de opções.
Formato de Número.
Curiosidade!
Criando lista de vários níveis Esses dois botões “memorizarão” o tipo de lista utilizado pela
Podemos criar automaticamente listas de vários níveis. Para última vez e farão uso desse tipo, quando você clicar nesses botões
isso, basta pressiona o botão e selecionar o modelo desejado. novamente.
Dica!
Para classificar uma lista após criá-la em ordem alfabética, por
exemplo, use o botão Classificar. Tenha em mente que, ao classificar
uma lista numerada, somente os itens serão classificados. A ordem
numérica continuará a mesma.
Interrompendo a lista
A maneira mais fácil de interromper a criação de uma lista é
pressionar a tecla ENTER duas vezes. Ao fazer isso, você estará
pronto para iniciar um novo parágrafo em uma nova linha.
Se estiver no meio de uma lista e precisar digitar algum texto
abaixo do marcador no mesmo nível do texto acima, use a tecla
BACKSPACE. Isso removerá o marcador, mas manterá o recuo
de texto.
Para alinhar o novo texto abaixo do próprio marcador, e não
do texto acima, pressione BACKSPACE duas vezes. Por fi m,
para eliminar o recuo de lista, pressione BACKSPACE três vezes.
Didatismo e Conhecimento 20
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
No exemplo acima, o Preenchimento é amarelo e, no item padrões, o estilo selecionado é Horizontal clara, na cor verde.
Quando trabalhamos com tabelas, a utilização de bordas torna melhor e mais agradável a visualização.
Às vezes, você deseja obter um resultado de formatação e não consegue entender por que ele não aparece. Pode ser que existam
caracteres ocultos em seu documento.
Para visualizá-los, clique no botão Mostrar Tudo . Observe a figura abaixo.
Didatismo e Conhecimento 21
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
O que cada símbolo representa:
• ¶ – Foi pressionada a tecla ENTER.
• Æ – Foi utilizado marcador ou numeração.
• . (ponto) – Existência de espaço em branco.
• ........Quebra de página......... – Quebra de página criada pelo usuário ( CTRL + ENTER).
• .......................................... – Quebra de página automática.
Em seguida, clique em Recortar , no grupo Área de Transferência . Observe que a frase desaparece do texto.
Em seguida, mova o cursor para o fim do parágrafo, onde deseja que a frase apareça e, no grupo Área de Transferência, clique em Colar
.
Dica!
Um atalho de teclado para recortar é CTRL+X e para colar é CTRL+V.
Quando você começar a editar o documento com frequência, verá como esse atalho é rápido e conveniente.
Os itens recortados ou copiados permanecem na Área de Transferência, até que você saia de todos os programas do Office ou os exclua,
clicando no item desejado e, em seguida, em Excluir ou em Limpar tudo.
Didatismo e Conhecimento 22
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Os procedimentos para copiar partes de um documento são praticamente os mesmos de recortar. A diferença é que o conteúdo será
mantido na posição original.
Selecione o trecho “obtenha ajuda”:
Em seguida, clique em Copiar , no grupo Área de Transferência. Observe que o trecho permanece no local de origem.
Em seguida, mova o cursor para o fim do parágrafo, onde deseja que a frase apareça e, no grupo Área de Transferência, clique em Colar.
Didatismo e Conhecimento 23
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Abra o arquivo Parte_pratica e dê dois ENTER após 2007, para que a frase fique como se fosse um título. Selecione a frase como no
exemplo abaixo:
O botão Alterar Estilos permite selecionar estilos rápidos para todo o documento e não apenas para a área selecionada.
Imagine se, em um relatório ou trabalho de escola, você tivesse que procurar ou substituir uma palavra que aparece 50 vezes, em
diferentes pontos do texto. Isso levaria bastante tempo, não é mesmo?
Um recurso muito útil é o de localização e substituição rápida de uma palavra ou frase. Para isso, utilizamos os comandos do grupo
Edição, da guia Início .
Didatismo e Conhecimento 24
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Didatismo e Conhecimento 25
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Ao clicar nas opções Localizar ou Substituir , você terá • Proteger – Restringe a formatação e a edição do documento
acesso à guia Ir para, que, como o título sugere, permite a você ir por parte de outros usuários, o acesso a alterações no documento a
diretamente a um ponto do documento, que pode ser uma Página, pessoas específicas e a adição de comentários, mas sem alterações
Seção, Linha etc. significativas.
Didatismo e Conhecimento 26
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Didatismo e Conhecimento 27
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Didatismo e Conhecimento 28
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Você pode observar também que ao estar com alguma célula O segundo grupo é o Linhas e Colunas permite adicionar e
da tabela com o cursor o Word acrescenta mais uma ABA ao final, remover linhas e colunas de sua tabela.
chamada Layout, clique sobre essa ABA.
Didatismo e Conhecimento 29
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
O grupo Alinhamento permite definir o alinhamento do Ele é composto de três opções Cabeçalho, Rodapé e Número
conteúdo da tabela. O botão Direção do Texto permite mudar a de Página.
direção de seu texto. A opção Margens da Célula, permite alterar
as margens das células como vimos anteriormente.
Cabeçalho e Rodapé
Didatismo e Conhecimento 30
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Para aplicar números de páginas automaticamente em seu Imagens
cabeçalho basta clicar em Números de Página, apenas tome o
cuidado de escolher Inicio da Página se optar por Fim da Página O primeiro elemento gráfico que temos é o elemento Imagem.
ele aplicará o número da página no rodapé. Podemos também Para inserir uma imagem clique no botão com o mesmo nome no
aplicar cabeçalhos e rodapés diferentes a um documento, para isso grupo Ilustrações na ABA Inserir. Na janela que se abre, localize o
basta que ambos estejam em seções diferentes do documento. O arquivo de imagem em seu computador.
cuidado é ao aplicar o cabeçalho ou o rodapé, desmarcar a opção
Vincular ao anterior.
O funcionamento para o rodapé é o mesmo para o cabeçalho,
apenas deve-se clicar no botão Rodapé.
Didatismo e Conhecimento 31
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Entre as opções de recolorir podemos colocar nossa imagem
em tons de cinza, preto e branco, desbotar a imagem e remover
uma cor da imagem. Este recurso permite definir uma imagem
com fundo transparente. A opção Compactar Imagens permite
deixar sua imagem mais adequada ao editor de textos. Ao clicar
nesta opção o Word mostra a seguinte janela:
Didatismo e Conhecimento 32
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Clip Art
Didatismo e Conhecimento 33
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Formas
Podemos também adicionar formas ao nosso conteúdo do
texto
Didatismo e Conhecimento 34
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Ao clicar em Mais Gradações, será possível personalizar a Ao clicar em Pré-definidas, o Office possui algumas cores de
forma como será o preenchimento do gradiente. preenchimento prontas.
SmartArt
O SmartArt permite ao você adicionar Organogramas ao seu
documento. Se você estiver usando o Office 2003 ou seu documento
estiver salvo em DOC, ao clicar nesse botão, ele habilita a seguinte
janela:
Didatismo e Conhecimento 35
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
O primeiro botão é o de Adicionar uma forma. Basta clicar
em um botão do mesmo nível do que será criado e clicar neste
botão. Outra forma de se criar novas caixas dentro de um mesmo
nível é ao terminar de digitar o texto pressionar ENTER. Ainda
no grupo Criar Gráfico temos os botões de Elevar / Rebaixar que
permite mudar o nível hierárquico de nosso organograma. No
grupo Layout podemos mudar a disposição de nosso organograma.
O próximo grupo é o Estilos de SmartArt que permite mudar as
cores e o estilo do organograma.
WordArt
Didatismo e Conhecimento 36
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
O primeiro grupo é o Texto, nesse grupo podemos editar o
texto digitado e definir seu espaçamento e alinhamentos. No grupo
Estilos de WordArt pode-se mudar a forma do WordArt, depois
temos os grupos de Sombra, Efeitos 3D, Organizar e Tamanho.
EXCEL 2007
Didatismo e Conhecimento 37
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Célula ativa – Célula que receberá o conteúdo a ser digitado.
Didatismo e Conhecimento 38
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Didatismo e Conhecimento 39
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Novo – Essa opção abre uma janela como a ilustrada na figura
23. Nela, você pode escolher um modelo (layout) para o novo
documento. O modelo padrão é Pasta de trabalho em branco.
Curiosidade! Atenção!
Quando você abrir a janela de Ajuda, o Excel tentará conectar- Uma pasta de trabalho do Excel é um arquivo que contém uma
se automaticamente ao Office Online. Isso acontece, pois o ou mais planilhas, que podem ser usadas para organizar diversos
conteúdo online é mais completo e atualizado. tipos de informações relacionadas.
Contudo, se você quiser usar o Conteúdo Offline, instalado Inserindo dados
junto com o Office sem a necessidade de estar conectado à Por padrão, a pasta de trabalho é criada com três planilhas.
Internet, basta clicar no botão Conectado ao Office Online e na Cada uma delas tem um nome na guia de planilha: Plan1, Plan2 e
opção Mostrar conteúdo apenas deste computador. Plan3. Os dados são inseridos na planilha ativa.
Para navegar entre elas, basta clicar sobre seu nome.
Vamos inserir alguns dados na pasta criada, a ser utilizada
posteriormente para praticarmos os demais comandos.
Ao começar a digitar, você verá o conteúdo na célula e na
Barra de fórmulas. Digite os dados e pressione a tecla ENTER para
mover o cursor para a célula abaixo ou a tecla TAB para mover o
cursor para a célula à direita.
Se você pressionar a tecla ESC, o conteúdo digitado será cancelado.
Didatismo e Conhecimento 40
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Salvar – Para salvar (gravar) uma pasta de trabalho, clique
no Botão Office e, em seguida, em Salvar. Vale lembrar
que a pasta de trabalho é salva com as alterações realizadas até
o momento da ação de salvar, isto é, tudo o que você fizer depois
disso não estará salvo, enquanto não clicar novamente em Salvar.
O arquivo terá a extensão .xlsx, que é inserida automaticamente
pelo Excel. Vamos salvar a pasta de trabalho que acabamos de
criar com o nome de Parte_Pratica.
Não se esqueça de que todas as planilhas serão salvas e não
apenas a atual.
Dicas!
Para facilitar a busca por seus arquivos, há algumas dicas
sobre a nomeação deles:
- Use palavras-chave que facilitem a memorização.
- Escreva as palavras usando iniciais maiúsculas.
- Evite preposições entre as palavras. Abrir – Ao lado dos botões do menu, há uma área com o título
- Evite acentos e cedilhas. Documentos
- Insira datas, quando necessário. Recentes (figura 29). Nessa área, aparecerão os últimos
Exemplo: Se você for salvar um relatório semanal de custos, documentos acessados com o ícone no canto direito. Para
um bom nome seria RelSemCustos_09_Mar. fixar um documento na lista dos mais recentes, basta clicar neste
Nesse caso, o “09_Mar” é para identificar a que semana o ícone, que apresentará a seguinte forma: ·.
relatório se refere, sem precisar abri-lo.
É importantíssimo o hábito de manter o documento salvo.
Entretanto, caso você se esqueça disso e, por algum problema,
o computador se desligue inesperadamente ou trave, ainda há o
recurso da Recuperação automática de arquivos.
Como? Recuperação automática de arquivos?
Sim! Sem que você note, de tempos em tempos, o Excel 2007 Ao clicar no botão Abrir, aparecerá uma janela. Nela, você
salva a pasta automaticamente, para que você não corra o risco de deve procurar o arquivo que deseja abrir.
perder seu trabalho.
Assim, na vez seguinte em que você abri-lo, aparecerá uma
janela com a lista de todas as pastas recuperadas. Basta, então,
clicar naquela que você deseja abrir.
Usando modelos prontos para criar planilhas
A seguir, vamos ver alguns modelos de planilhas que podem
ser feitos com o auxílio do Excel. Para acessá-los, clique no Botão
Office e, em seguida, no botão Novo.
Didatismo e Conhecimento 41
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Ao localizar o arquivo desejado, clique em Abrir. • A opção Impressão Rápida imprime diretamente, sem
Salvar como – Para salvar uma pasta de trabalho no Excel, nenhuma configuração.
você deve clicar no Botão Office e, em seguida, em Salvar. • A opção Visualizar Impressão permite conferir como ficará
Se for preciso salvar a pasta de trabalho com outro nome seu documento.
ou em outro local, clique no botão Salvar como, digite o nome Para voltar à visualização normal, clique no botão Fechar
desejado e/ou selecione o local desejado (HD, CD, pendrive etc.) Visualização de Impressão.
e clique em Salvar.
Dica!
A forma mais rápida de encerrar o Excel é clicar no controle
Fechar, em sua janela.
Lembre-se de que o primeiro controle refere-se ao programa e
o segundo, à pasta de trabalho.
• A opção Imprimir abrirá uma janela (figura 33) com
configurações que permitirão selecionar a impressora, planilhas e
páginas a serem impressas, número de cópias etc.
Didatismo e Conhecimento 42
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
1.5.1. O que há na Faixa de Opções?
Há três componentes básicos na Faixa de Opções. Veja quais
são e como utilizá-los.
Didatismo e Conhecimento 43
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Se precisar selecionar células alternadamente, clique sobre a A quantidade de argumentos empregados em uma função
primeira célula a ser selecionada, pressione CTRL e vá clicando depende do tipo de função a ser utilizada. Os argumentos podem
nas que você quer selecionar. ser números, textos, valores lógicos, referências, etc...
Operadores
Operadores e Funções
A função é um método utilizado para tornar mais fácil e rápido
a montagem de fórmulas que envolvem cálculos mais complexos
e vários valores. Existem funções para os cálculos matemáticos,
financeiros e estatísticos. Por exemplo, na função: =SOMA
(A1:A10) seria o mesmo que (A1+A2+A3+A4+A5+A6+A7+A8
+A9+A10), só que com a função o processo passa a ser mais fácil.
Ainda conforme o exemplo pode-se observar que é necessário
sempre iniciar um cálculo com sinal de igual (=) e usa-se nos
cálculos a referência de células (A1) e não somente valores.
Didatismo e Conhecimento 44
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Didatismo e Conhecimento 45
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Observe conforme a imagem que o Excel acrescenta a soma e o intervalo de células pressione ENTER e você terá seu cálculo.
Formatação de células
A formatação de células é muito semelhante a que vimos para formatação de fonte no Word, basta apenas que a célula onde será aplicada
a formatação esteja selecionada, se precisar selecionar mais de uma célula, basta selecioná-las.
As opções de formatação de célula estão na ABA Inicio.
Temos o grupo Fonte que permite alterar a fonte a ser utilizada, o tamanho, aplicar negrito, itálico e sublinhado, linhas de grade, cor de
preenchimento e cor de fonte. Ao clicar na faixa do grupo será mostrada a janela de fonte.
Didatismo e Conhecimento 46
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
A guia mostrada nesta janela é a Fonte nela temos o tipo
da letra, estilo, tamanho, sublinhado e cor, observe que existem
menos recursos de formatação do que no Word.
A guia Número permite que se formatem os números de suas
células. Ele dividido em categorias e dentro de cada categoria ele
possui exemplos de utilização e algumas personalizações como,
por exemplo, na categoria Moeda em que é possível definir o
símbolo a ser usado e o número de casas decimais.
Didatismo e Conhecimento 47
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
O título Relação de Produtos ficará melhor visualmente se A segunda opção Formatar como Tabela permite também
estiver centralizado entra a largura da planilha, então selecione aplicar uma formatação a sua planilha, porém ele já começa a
desde a célula A1 até a célula D1 depois clique no botão Mesclar trabalhar com Dados.
e Centralizar centralize e aumente um pouco o tamanho da fonte.
Estilos
Esta opção é utilizada par aplicar, automaticamente um
formato pré-definido a uma planilha selecionada. No grupo Opções de Estilo de Tabela desmarque a opção
Linhas de Cabeçalho.
Para poder manipular também os dados de sua planilha é
necessário selecionar as células que pretende manipular como
planilha e no grupo Ferramentas clique no botão Converter em
Intervalo.
Didatismo e Conhecimento 48
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Congelar Painéis
Didatismo e Conhecimento 49
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Pelo grupo Mostrar / Ocultar podemos retirar as linhas
de grade, as linhas de cabeçalho de coluna e linha e a barra de
formulas.
Percebemos que ao copiar uma fórmula, automaticamente Porém se utilizarmos o conceito aprendido de copiar a célula
são alteradas as referências, isso ocorre, pois trabalhamos até o E4 para resolver os demais cálculos na célula E5 à fórmula ficará
momento com valores relativos. =D5/D10, porém se observarmos o correto seria ficar =D5/D9,
Porém, vamos adicionar em nossa planilha mais uma pois a célula D9 é a célula com o valor total, ou seja, esta é a célula
coluna onde pretendo calcular qual a porcentagem cada produto comum a todos os cálculos a serem feitos, com isso não posso
representa no valor total copiar a fórmula, pelo menos não como está. Uma solução seria
fazer uma a uma, mas a ideia de uma planilha é ganhar-se tempo.
A célula D9 então é um valor absoluto, ele não muda é também
chamado de valor constante.
A solução é então travar a célula dentro da formula, para isso
usamos o símbolo do cifrão ($), na célula que fizemos o cálculo
E4 de clique sobre ela, depois clique na barra de fórmulas sobre a
referência da célula D9.
Didatismo e Conhecimento 50
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Pressione ENTER e agora você poderá copiar a sua célula.
Máximo
Didatismo e Conhecimento 51
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Função SE
Esta é com certeza uma das funções mais importantes do
Excel e provavelmente uma das mais complexas para quem está
iniciando.
Esta função retorna um valor de teste_lógico que permite
Para calcular os valores mínimos para o peso e a altura o avaliar uma célula ou um cálculo e retornar um valor verdadeiro
processo é o mesmo. ou um valor falso.
Sua sintaxe é =SE(TESTELÓGICO;VALOR
Média VERDADEIRO;VALOR FALSO).
=SE - Atribuição de inicio da função;
Calcula a média aritmética de uma seleção de valores. TESTELÓGICO - Teste a ser feito par validar a célula;
Vamos utilizar essa função em nossa planilha para saber os VALOR VERDADEIRO - Valor a ser apresentado na célula
valores médios nas características de nossos atletas. quando o teste lógico for verdadeiro, pode ser outra célula, um
Em nossa planilha clique na célula abaixo da coluna de idade caçulo, um número ou um texto, apenas lembrando que se for um
na linha de valores máximos E17 e monte a seguinte função texto deverá estar entre aspas.
=MEDIA(E4:E13). Com essa função estamos buscando no VALOR FALSO - Valor a ser apresentado na célula quando o
intervalo das células E4 à E13 qual é valor máximo encontrado. teste lógico for falso, pode ser outra célula, um caçulo, um número
ou um texto, apenas lembrando que se for um texto deverá estar
entre aspas.
Didatismo e Conhecimento 52
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Para exemplificar o funcionamento da função vamos Então agora preciso verificar a idade de acordo com o valor na
acrescentar em nossa planilha de controle de atletas uma coluna coluna J e retornar com valores verdadeiros e falsos o conteúdo da
chamada categoria. coluna K. A função então ficará da seguinte forma:
=SE(E4<J4;K4;SE(E4<J5;K5;K6))
Temos então:
=SE(E4<J4: Aqui temos nosso primeiro teste lógico, onde
verificamos se a idade que consta na célula E4 é menor que o
valor que consta na célula J4.
K4: Célula definida a ser retornada como verdadeiro deste
Vamos atribuir inicialmente que atletas com idade menor teste lógico, no caso o texto “Juvenil”.
que 18 anos serão da categoria Juvenil e acima disso categoria SE(E4<J5: segundo teste lógico, onde verificamos se valor
Profissional. Então a lógica da função será que quando a Idade do da célula E4 é menor que 30, se for real retorna o segundo valor
atleta for menor que 18 ele será Juvenil e quando ela for igual ou verdadeiro, é importante ressaltar que este teste lógico somente
maior que 18 ele será Profissional. será utilizado se o primeiro teste der como falso.
Convertendo isso para a função e baseando-se que a idade do K5: Segundo valor verdadeiro, será retornado se o segundo
primeiro atleta está na célula E4 à função ficará: teste lógico estiver correto.
=SE(E4<18;”Juvenil”;”Profissional”.)
K6: Valor falso, será retornado se todos os testes lógicos
derem como falso.
Permite contar em um intervalo de valores quantas vezes
se repete determinado item. Vamos aplicar a função em nossa
planilha de controle de atletas
Adicione as seguintes linhas abaixo de sua planilha
Explicando a função.
=SE(E4<18: inicio da função e teste lógico, aqui é verificado
se o conteúdo da célula E4 é menor que 18.
“Juvenil”: Valor a ser apresentado como verdadeiro.
“Profissional”: Valor a ser apresentado como falso. )
Vamos incrementar um pouco mais nossa planilha, vamos
criar uma tabela em separado com a seguinte definição. Até 18 anos
será juvenil, de 18 anos até 30 anos será considerado profissional e
acima dos 30 anos será considerado Master.
Nossa planilha ficará da seguinte forma. Então vamos utilizar a função CONT.SE para buscar em nossa
planilha quantos atletas temos em cada categoria.
Didatismo e Conhecimento 53
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
A função ficou da seguinte forma =CONT.SE(H4:H13;K4)
onde se faz a contagem em um intervalo de H3:H13 que é o
resultado calculado pela função
SE e retorna a célula K4 onde está a categoria juvenil de
atletas. Para as demais categorias basta repetir o cálculo mudando-
se somente a categoria que está sendo buscada.
Didatismo e Conhecimento 54
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Clique na faixa do grupo número na ABA Inicio, na janela que Faremos uma planilha para conversão de valores, então na
se abre clique na categoria Hora e escolha o formato 37:30:55 esse planilha 1 vamos ter um campo para que se coloque o valore em
formato faz com que a contagem continue. real e automaticamente ele fará a conversão para outras moedas,
monte a seguinte planilha.
Vamos renomear a planilha para resultado.
Planilhas 3D
Didatismo e Conhecimento 55
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Com isso toda vez que eu alterar na planilha valores o valor do
dólar, ele atualiza na planilha resultado.
Faça o cálculo para o valor do dólar para venda, a função
ficará da seguinte forma: =B2/valores!C2.
Para poder copiar a fórmula para as demais células, bloqueie a
célula B2 que é referente ao valor em real.
O ideal nesta planilha é que a única célula onde o usuário
possa manipular seja a célula onde será digitado valor em real para
a conversão, então vamos bloquear a planilha deixando essa célula
desprotegia.
Clique na célula onde será digitado o valor em real depois na
ABA Inicio no grupo Fonte clique na faixa e na janela que se abre Ao tentar alterar uma célula protegida será mostrado o
clique na guia Proteção. seguinte aviso
Desmarque a opção Bloqueadas, isso é necessário, pois esta
célula é a única que poderá receber dados.
Gráficos
Didatismo e Conhecimento 56
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Para criar um gráfico é importante decidir quais dados serão Escolha no subgrupo coluna 2D a primeira opção e seu gráfico
avaliados para o gráfico. Vamos utilizar a planilha Atletas para será criado.
criarmos nosso gráfico, vamos criar um gráfico que mostre os
atletas x peso.
Selecione a coluna com o nome dos atletas, pressione CTRL e
selecione os valores do peso.
Ao clicar em um dos modelos de gráfico no grupo Gráficos Para mover o gráfico para qualquer parte de sua planilha
você poderá selecionar um tipo de gráfico disponível, no exemplo basta clicar em uma área em branco de o gráfico manter o mouse
cliquei no estilo de gráfico de colunas. pressionado e arrastar para outra parte.
Na parte superior do Excel é mostrada a ABA Design (Acima
dela Ferramentas de Gráfico).
Didatismo e Conhecimento 57
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Ainda em Layout do Gráfico podemos modificar a distribuição
dos elementos do Gráfico.
Dados
Didatismo e Conhecimento 58
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Você precisa definir quais serão os critérios de sua classificação,
onde diz
Classificar por clique e escolha nome, depois clique no botão
Adicionar Nível e coloque Modalidade.
Auto Filtro
Este é um recurso que permite listar somente os dados que
você precisa visualizar no momento em sua planilha. Com seus
dados selecionados clique no botão Filtro e observe que será
adicionado junto a cada célula do cabeçalho da planilha uma seta.
Didatismo e Conhecimento 59
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Imprimindo planilhas
Visualização de impressão
Antes de imprimir qualquer documento, é interessante ter uma
visão de como ele ficará impresso. Além de permitir isso, a opção
Visualização de impressão possibilita a execução de vários ajustes.
Subtotais Observe as opções da guia Visualização de Impressão
Podemos agrupar nossos dados através de seus valores,
vamos inicialmente classificar nossa planilha pelo sexo dos atletas
relacionado com a idade.
Didatismo e Conhecimento 60
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
TELA DO POWERPOINT
3 – Barra de Título
Exibe o nome do programa ( Microsoft PowerPoint) e, tam-
bém exibe o nome do documento ativo.
Didatismo e Conhecimento 61
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Então escolher um modelo para a apresentação (Em Branco,
Modelos Instalados, Meus modelos, Novo com base em documen-
to existente ou Modelos do Microsoft Office Online).
5 – Faixa de Opções
A Faixa de Opções é usada para localizar rapidamente os co-
mandos necessários para executar uma tarefa. Os comandos são
organizados em grupos lógicos, reunidos em guias. Cada guia está
relacionada a um tipo de atividade como gravação ou disposição
de uma página. Para diminuir a desorganização, algumas guias são
exibidas somente quando necessário. Por exemplo, a guia Ferra-
mentas de Imagem somente é exibida quando uma imagem é se-
lecionada.
SELECIONAR SLIDE
1) Guias
2) Os grupos em cada guia dividem a tarefa em subtarefas.
3) Os botões de comando em cada grupo executam um co-
mando ou exibem um menu de comandos.
6 – Painel de Anotações
Nele é possível digitar as anotações que se deseja incluir em
um slide.
7 – Barra de Status
Exibe várias informações úteis na confecção dos slides, entre
elas: o número de slides; tema e idioma.
8 – Nível de Zoom
Clicar para ajustar o nível de zoom.
LAYOUT
Didatismo e Conhecimento 62
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Didatismo e Conhecimento 63
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Com o texto selecionado, basta clicar nos botões para fazer as Além dos caracteres que aparecem no teclado, é possível inse-
alterações desejadas: rir no slide vários caracteres e símbolos especiais.
1. Posicionar o cursor no local que se deseja inserir o sím-
bolo.
1 – Fonte
Altera o tipo de fonte
2 – Tamanho da fonte
Altera o tamanho da fonte
3 – Negrito 2. Acionar a guia Inserir.
Aplica negrito ao texto selecionado. Também pode ser acio-
nado através do comando Ctrl+N.
4 – Itálico
Aplica Itálico ao texto selecionado. Também pode ser aciona-
do através do comando Ctrl+I. 3. Clicar no botão Símbolo.
5 – Sublinhado
Sublinha o texto selecionado. Também pode ser acionado
através do comando Ctrl+S.
6 – Tachado
Desenha uma linha no meio do texto selecionado.
7 – Sombra de Texto
Adiciona uma sombra atrás do texto selecionado para destacá- 4. Selecionar o símbolo.
-lo no slide.
8 – Espaçamento entre Caracteres
Ajusta o espaçamento entre caracteres.
9 – Maiúsculas e Minúsculas
Altera todo o texto selecionado para MAIÚSCULAS, minús-
culas, ou outros usos comuns de maiúsculas/minúsculas.
10 – Cor da Fonte
Altera a cor da fonte.
11 – Alinhar Texto à Esquerda
Alinha o texto à esquerda. Também pode ser acionado através
do comando Ctrl+Q.
12 – Centralizar
Centraliza o texto. Também pode ser acionado através do co-
mando Ctrl+E.
13 – Alinhar Texto à Direita
Alinha o texto à direita. Também pode ser acionado através
do comando Ctrl+G.
14 – Justificar
Alinha o texto às margens esquerda e direita, adicionando es- 5. Clicar em Inserir e em seguida Fechar.
paço extra entre as palavras conforme o necessário, promovendo
uma aparência organizada nas laterais esquerda e direita da página. MARCADORES E NUMERÇÃO
15 – Colunas Com a guia Início acionada, clicar no botão , para criar
Divide o texto em duas ou mais colunas. parágrafos com marcadores. Para escolher o tipo de marcador cli-
car na seta.
INSERIR SÍMBOLOS ESPECIAIS
Didatismo e Conhecimento 64
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
INSERIR NOVO SLIDE
EXCLUIR SLIDE
Para excluir um slide basta selecioná-lo e depois clicar no
botão , localizado na guia Início.
LIMPAR FORMATAÇÃO
Para limpar toda a formatação de um texto basta selecioná-lo
e clicar no botão , localizado na guia Início.
SALVAR ARQUIVO
Após criar uma apresentação, é necessário efetuar a gravação
do arquivo, essa operação é chamada de “Salvar”. Se o arquivo
não for salvo, corre-se o risco de perdê-lo por uma eventual falta
de energia, ou por outro motivo que cause a saída brusca do pro-
grama.
Para salvar o arquivo, acionar o Botão do Microsoft Office
e clicar em Salvar, ou clicar no botão .
SAIR DO POWERPOINT
Para sair do Microsoft Office PowerPoint, utilizar as seguintes opções:
• Acionar o Botão do Microsoft Office e clicar em Sair do
PowerPoint.
• Clicar no Botão Fechar .
• Pressionar as teclas ALT+F4.
Se o arquivo não foi salvo ainda, ou se as últimas alterações
não foram gravadas, o PowerPoint emitirá uma mensagem, aler-
tando- o do fato.
Didatismo e Conhecimento 65
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
ABRIR ARQUIVO
Para colocar um arquivo na tela do PowerPoint, deve-se acio-
nar o Botão do Microsoft Office , e clicar em Abrir.
Na caixa de diálogo do comando Abrir, existem vários botões
que auxiliam na localização do arquivo desejado. Depois de en-
contrar o arquivo clicar em Abrir.
INSERIR FIGURAS
Para inserir uma figura no slide clicar na guia Inserir, e clicar • Clicar com o botão esquerdo do mouse sobre o slide,
em um desses botões:
• WordArt : inseri um texto com efeitos especiais. • Mantê-lo pressionado e arrastá-lo até a posição desejada.
CABEÇALHO E RODAPÉ
Para editar o cabeçalho ou rodapé do slide, basta clicar no
INSERIR TABELA
Para inserir ou traçar uma tabela, basta clicar no botão ,
localizado na guia Inserir.
Didatismo e Conhecimento 66
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
ALTERAR PLANO DE FUNDO
Para alterar o plano de fundo de um slide, basta clicar com o
botão direito do mouse sobre ele, e em seguida clicar em Formatar
Plano de Fundo.
Didatismo e Conhecimento 67
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
As configurações de Ação do objeto estarão disponíveis so- Para selecionar diversos slides sequenciais, clicar no primeiro
mente se a sua apresentação contiver um objeto OLE (uma tecno- slide e, em seguida, manter pressionada a tecla SHIFT enquanto
logia de integração de programa que pode ser usada para comparti- clica no último slide que deseja selecionar. Para selecionar diver-
lhamento de informações entre programas. Todos os programas do sos slides não sequenciais, manter pressionada a tecla CTRL en-
Office oferecem suporte para OLE; por isso, você pode comparti- quanto clica em cada slide que queira selecionar.
lhar informações por meio de objetos vinculados e incorporados). 4. Para alterar a ordem em que os slides são exibidos, em Sli-
• Para tocar um som, marcar a caixa de seleção Tocar som e des na apresentação personalizada, clicar em um slide e, em segui-
selecionar o som desejado. da, clicar em uma das setas para mover o slide para cima ou para
baixo na lista.
CRIAR APRESENTAÇÃO PERSONALIZADA 5. Digitar um nome na caixa Nome da apresentação de slides
Existem dois tipos de apresentações personalizadas: básica e e clicar em OK. Para criar apresentações personalizadas adicionais
com hiperlinks. com quaisquer slides da sua apresentação, repetir as etapas de 1
Uma apresentação personalizada básica é uma apresentação a 5.
separada ou uma apresentação que inclui alguns slides originais. Para visualizar uma apresentação personalizada, clicar no
Uma apresentação personalizada com hiperlinks é uma forma nome da apresentação na caixa de diálogo Apresentações Persona-
rápida de navegar para uma ou mais apresentações separadas. lizadas e, em seguida, clicar em Mostrar.
1 – Apresentação Personalizada Básica 2 – Apresentação Personalizada com Hiperlink
Utilizar uma apresentação personalizada básica para fornecer Utilizar uma apresentação personalizada com hiperlinks para
apresentações separadas para diferentes grupos da sua organiza- organizar o conteúdo de uma apresentação. Por exemplo, se você
ção. Por exemplo, se sua apresentação contém um total de cinco cria uma apresentação personalizada principal sobre a nova orga-
slides, é possível criar uma apresentação personalizada chamada nização geral da sua empresa, é possível criar uma apresentação
“Site 1” que inclui apenas os slides 1, 3 e 5. É possível criar uma personalizada para cada departamento da sua organização e vincu-
segunda apresentação personalizada chamada “Site 2” que inclui lá-los a essas exibições da apresentação principal.
os slides 1, 2, 4 e 5. Quando você criar uma apresentação perso-
nalizada a partir de outra apresentação, é possível executá-la, na
íntegra, em sua sequência original.
Didatismo e Conhecimento 68
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
8. Em Vincular para, clicar em Colocar Neste Documento. 2. Na guia Início, clicar na miniatura de um slide.
9. Seguir um destes procedimentos: 3. Na guia Animações, no grupo Transição para Este Slide,
• Para se vincular a uma apresentação personalizada, na lista clicar no efeito de transição de slides que você deseja para esse
Selecionar um local neste documento, selecionar a apresentação slide.
personalizada para a qual deseja ir e marcar a caixa de seleção 4. Para consultar mais efeitos de transição, na lista Estilos Rá-
Mostrar e retornar. pidos, clicar no botão Mais .
• Para se vincular a um local na apresentação atual, na lista 5. Para definir a velocidade de transição de slides, no grupo
Selecione um local neste documento, selecionar o slide para o qual Transição para Este Slide, clicar na seta ao lado de Velocidade da
você deseja ir. Transição e, em seguida, selecionar a velocidade desejada.
Para visualizar uma apresentação personalizada, clicar no 6. Para adicionar uma transição de slides diferente a outro sli-
nome da apresentação na caixa de diálogo Apresentações Persona- de em sua apresentação, repetir as etapas 2 a 4.
lizadas e, em seguida, clicar em Mostrar.
• Adicionar som a transições de slides
TRANSIÇÃO DE SLIDES 1. No painel que contém as guias Tópicos e Slides, clicar na
As transições de slide são os efeitos semelhantes à animação guia Slides.
que ocorrem no modo de exibição Apresentação de Slides quando 2. Na guia Início, clicar na miniatura de um slide.
você move de um slide para o próximo. É possível controlar a ve- 3. Na guia Animações, no grupo Transição para Este Slide,
locidade de cada efeito de transição de slides e também adicionar clicar na seta ao lado de Som de Transição e, em seguida, seguir
som. um destes procedimentos:
O Microsoft Office PowerPoint 2007 inclui vários tipos dife- • Para adicionar um som a partir da lista, selecionar o som
rentes de transições de slides, incluindo (mas não se limitando) as desejado.
seguintes: • Para adicionar um som não encontrado na lista, selecionar
Outro Som, localizar o arquivo de som que você deseja adicionar
e, em seguida, clicar em OK.
4. Para adicionar som a uma transição de slides diferente, re-
petir as etapas 2 e 3.
Didatismo e Conhecimento 69
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
o Para iniciar uma apresentação de slides personalizada EXIBIR APRESENTAÇÃO
que seja derivada de outra apresentação do PowerPoint, clicar em Para exibir uma apresentação clicar na guia Apresentação de
Apresentação personalizada e, em seguida, clicar na apresenta- Slides, e seguir um destes procedimentos:
ção que você deseja exibir como uma apresentação personalizada
(uma apresentação dentro de uma apresentação na qual você agru-
pa slides em uma apresentação existente para poder mostrar essa • Clicar no botão , ou pressionar a tecla F5, para iniciar
seção da apresentação para um público em particular). a apresentação a partir do primeiro slide.
• Opções da apresentação
Usar as opções na seção Opções da apresentação para especi- • Clicar no botão , ou pressionar simultaneamente as te-
ficar como você deseja que arquivos de som, narrações ou anima- clas SHIFT e F5, para iniciar a apresentação a partir do slide atual.
ções sejam executados em sua apresentação.
o Para executar um arquivo de som ou animação continua- IMPRESSÃO
mente, marcar a caixa de opções Repetir até ‘Esc’ ser pressionada. No Microsoft Office PowerPoint 2007, é possível criar e im-
o Para mostrar uma apresentação sem executar uma nar- primir slides, folhetos e anotações. É possível imprimir sua apre-
ração incorporada, marcar a caixa de seleção Apresentação sem sentação no modo de exibição de Estrutura de Tópicos, de maneira
narração. colorida, em preto e branco ou em escala de cinza.
o Para mostrar uma apresentação sem executar uma ani- • Imprimir slides
mação incorporada, marcar a caixa de seleção Apresentação sem 1. Clicar no Botão Microsoft Office , clicar na seta ao lado
animação. de Imprimir e, em seguida, clicar em Visualizar impressão.
o Ao fazer sua apresentação diante de uma audiência ao 2. No grupo Configurar página, da lista Imprimir, selecionar
vivo, é possível escrever nos slides. Para especificar uma cor de Slides.
tinta, na lista Cor da caneta, selecionar uma cor de tinta. 3. Clicar em Opções, apontar para Cor/escala de cinza e, em
A lista Cor da caneta estará disponível apenas se Exibida por seguida, clicar em uma das opções:
um orador (tela inteira) (na seção Tipo de apresentação) estiver o Cor: Se estiver usando uma impressora colorida, essa op-
selecionada. ção realizará a impressão em cores.
o Cor (em impressora preto-e-branco): Se estiver usando
• Avançar slides uma impressora preto-e-branco, essa opção realizará a impressão
Usar as opções na seção Avançar slides para especificar como em escala de cinza.
mover de um slide para outro. o Escala de cinza: Essa opção imprime imagens em tons de
o Para avançar para cada slide manualmente durante a cinza que variam entre o preto e o branco. Os preenchimentos de
apresentação, clicar em Manualmente. plano de fundo são impressos como branco para que o texto fique
o Para usar intervalos de slide para avançar para cada slide mais legível. (Às vezes a escala de cinza é bastante semelhante à
automaticamente durante a apresentação, clicar em Usar interva- Preto-e-branco puro).
los, se houver. o Preto-e-branco puro: Essa opção imprime o folheto sem
• Vários Monitores preenchimentos em cinza.
É possível executar sua apresentação do Microsoft Office 4. Clicar em Imprimir.
PowerPoint 2007 de um monitor (por exemplo, em um pódio) Para alterar as opções de impressão, siga estas etapas:
enquanto o público a vê em um segundo monitor. 1. Na guia Estrutura, no grupo Configurar página, clicar em
Usando dois monitores, é possível executar outros programas Configurar página.
que não são vistos pelo público e acessar o modo de exibição Apre- 2. Na lista Slides dimensionados para, clicar no tamanho de
sentador. Este modo de exibição oferece as seguintes ferramentas papel desejado para impressão.
para facilitar a apresentação de informação: o Se clicar em Personalizado, digitar ou selecionar as di-
o É possível utilizar miniaturas para selecionar os slides mensões do papel nas caixas Largura e Altura.
de uma seqüência e criar uma apresentação personalizada para o o Para imprimir em transparências, clicar em Transparên-
seu público. cia.
o A visualização de texto mostra aquilo que o seu próximo 3. Para definir a orientação da página para os slides, em Orien-
clique adicionará à tela, como um slide novo ou o próximo marca- tação, na caixa Slides, clicar em Paisagem ou Retrato.
dor de uma lista.
o As anotações do orador são mostradas em letras grandes • Criar e imprimir folhetos
e claras, para que você possa utilizá-las como um script para a sua Você pode imprimir as apresentações na forma de folhetos,
apresentação. com até nove slides em uma página, que podem ser utilizados pelo
o É possível escurecer a tela durante sua apresentação e, público para acompanhar a apresentação ou para referência futura.
depois, prosseguir do ponto em que você parou. Por exemplo,
talvez você não queira exibir o conteúdo do slide durante um
intervalo ou uma seção de perguntas e respostas.
No modo de exibição do Apresentador, os ícones e botões são
grandes o suficiente para uma fácil navegação, mesmo quando
você está usando um teclado ou mouse desconhecido.
Didatismo e Conhecimento 70
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
• Criar e imprimir anotações
Você pode criar anotações (páginas impressas que exibem
anotações do autor abaixo do slide que contém as anotações.)
como notas para si mesmo, enquanto realiza a apresentação, ou
para o público.
Criar anotações:
Use o painel de anotações (o painel no modo de exibição nor-
mal no qual você digita as anotações que deseja incluir em um
slide. Você imprime essas anotações como páginas de anotações
ou as exibe ao salvar uma apresentação como página da Web.) na
exibição Normal para gravar anotações sobre os slides.
(1) O folheto com três slides por página possui espaços entre
as linhas para anotações.
Você pode selecionar um layout para os folhetos em visuali-
zação de impressão (um modo de exibição de um documento da
maneira como ele aparecerá ao ser impresso).
Organizar conteúdo em um folheto: Você pode digitar e formatar suas anotações enquanto trabalha
Na visualização de impressão é possível organizar o conteúdo na exibição Normal, mas para ver como as anotações serão impres-
no folheto e visualizá-lo para saber como ele será impresso. Você sas e o efeito geral da formatação de qualquer texto, como as cores
pode especificar a orientação da página como paisagem ou retrato da fonte, alterne para o Modo de anotações. Também é possível
e o número de slides que deseja exibir por página. verificar e alterar os cabeçalhos e rodapés de suas anotações no
Você pode adicionar visualizar e editar cabeçalhos e rodapés, Modo de anotações.
como os números das páginas. No layout com um slide por página, Cada anotação mostra uma imagem de slide, junto com as
você só poderá aplicar cabeçalhos e rodapés ao folheto e não aos anotações correspondentes a um slide. No Modo anotações, você
slides, se não desejar exibir texto, data ou numeração no cabeçalho pode ornamentar suasanotações com gráficos, imagens (um arqui-
ou no rodapé dos slides. vo (como um metarquivo) que pode ser desagrupado e manipulado
como dois ou mais objetos, ou um arquivo quepermanece como
Aplicar conteúdo e formatação em todos os folhetos: um único objeto (como bitmaps), tabelas ou outras ilustrações).
Se desejar alterar a aparência, a posição e o tamanho da nu-
meração, da data ou do texto do cabeçalho e do rodapé em todos
os folhetos, faça as alterações no folheto mestre. Para incluir um
nome ou logotipo em todas as páginas do folheto, basta adicioná-
-lo ao mestre. As alterações feitas no folheto mestre também são
exibidas na impressão da estrutura de tópicos.
Imprimir folhetos:
1. Abrir a apresentação em que deseja imprimir os folhetos.
2. Clicar no Botão Microsoft Office , clicar na seta ao lado de
Imprimir e, em seguida, clicar em Visualizar impressão.
3. No grupo Configurar página, clicar na seta em Imprimir e
selecionar a opção desejada de layout do folheto na lista.
O formato Folhetos (3 Slides por Página) possui linhas para Uma imagem ou um objeto (uma tabela, um gráfico, uma
anotações do público. equação ou outra forma de informação. Os objetos criados em um
4. Para especificar a orientação da página, clicar na seta em aplicativo, como planilhas, e vinculados ou incorporados em ou-
Orientação e, em seguida, clicar em Paisagem ou Retrato. tro aplicativo são objetos OLE) adicionado ao Modo de anotações
5. Clicar em Imprimir. será exibido nas anotações, mas não na tela da exibição Normal.
Se desejar imprimir folhetos em cores, selecionar uma im- Se salvar suas apresentações como uma página da Web, a ima-
pressora colorida. gem ou o objeto não será exibido quando abrir a apresentação no
Clicar no Botão Microsoft Office, clicar na seta ao lado de navegador Web, embora suas anotações sejam exibidas.
Imprimir e, em seguida, clicar em Visualizar impressão. Em Im- As alterações, adições e exclusões realizadas nas anotações
primir, clicar em Opções, apontar para Cor/Escala de Cinza e se- aplicam-se apenas às anotações e ao texto das mesmas no modo
lecionar Cor. de exibição Normal.
Didatismo e Conhecimento 71
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Se desejar aumentar, reposicionar ou formatar a área de ima- Se desejar imprimir suas anotações em cores, selecionar uma
gem do slide ou a área das anotações, vá para o Modo de anotações impressora colorida. Clicar no Botão Microsoft Office, clicar na
e faça as alterações. seta ao lado de Imprimir e, em seguida, clicar em Visualizar im-
Você não pode desenhar imagens no painel de anotações no pressão. Em Imprimir, clicar em Opções, apontar para Cor/Escala
modo de exibição Normal. Alterne para o Modo de anotações e de Cinza e selecionar Cor.
desenhe ou adicione a imagem.
• Criar e imprimir uma apresentação no Modo de Exibi-
Aplicar conteúdo e formatação a todas as anotações: ção de Estrutura de Tópicos
Para aplicar conteúdo ou formatação a todas as anotações em Existem várias maneiras de exibir uma apresentação no Mi-
uma apresentação, altere as Anotações mestras (um modo de exi- crosoft Office PowerPoint 2007 e cada exibição é criada com uma
bição ou página de slide em que você define a formatação de todos finalidade diferente. Por exemplo, no Modo de Exibição de Estru-
os slides ou páginas de sua apresentação. tura de Tópicos, o PowerPoint mostra a sua apresentação como
Cada apresentação tem um mestre para cada componente prin- uma estrutura de tópicos com os títulos e o texto principal de cada
cipal: slides, slides de títulos, anotações do orador e folhetos para slide. Os títulos são exibidos no lado esquerdo do painel, que con-
o público). Por exemplo, para inserir o logotipo de uma empresa tém a guia Estrutura de Tópicos, junto com o ícone e o número do
ou outra arte em todas as páginas de anotações, adicione a arte a slide. O texto principal está recuado abaixo do título do slide. Os
Anotação mestra. Ou, se desejar alterar o estilo da fonte usado para objetos gráficos são exibidos como pequenas notações no ícone do
todas as anotações, altere o estilo na Anotação mestra. Você pode slide no Modo de Exibição de Estrutura de Tópicos.
alterar a aparência e a posição da área do slide, das anotações, dos
cabeçalhos, dos rodapés, dos números de página e da data. Trabalhar no Modo de Exibição de Estrutura de Tópicos é
especialmente prático se você quiser fazer edições globais, obter
Exibir anotações em uma página da Web: uma visão geral da apresentação, alterar a seqüência dos marcado-
Se você salvar sua apresentação como uma página da Web, res ou slides ou realizar alterações na formatação.
suas anotações serão exibidas automaticamente, a menos que se- Quando você salva a apresentação como uma página da Web,
jam ocultadas. Os títulos transformam-se em um sumário da apre- o texto da guia Estrutura de Tópicos se transforma em um índice,
sentação e as anotações do slide aparecem abaixo de cada slide. para que você possa navegar pelos slides.
Suas anotações podem fazer o papel de orador, fornecendo ao pú- As guias Estrutura de Tópicos e Slides são alteradas para exi-
blico os elementos básicos e os detalhes que um orador forneceria bir um ícone quando o painel ficar estreito. Se a guia Estrutura de
durante uma apresentação ao vivo. Tópicos estiver oculta, basta ampliar o painel, arrastando a borda
Ocultar os tópicos em uma apresentação da Web direita.
Se você salvar sua apresentação como uma página da Web, os
tópicos associados à sua apresentação serão exibidos automatica-
mente pelo seu navegador da Web. Os títulos do slide se tornam
um sumário na apresentação. Caso não deseje que o tópico seja
exibido, oculte-o antes de salvar o arquivo como uma página da
Web.
1. Clicar no Botão Microsoft Office e, em seguida, clicar em
Salvar Como.
2. Na caixa Nome do arquivo, digitar um nome de arquivo ou
Aumentar o tamanho do painel que contém as guias Estrutura
não fazer nada paraaceitar o nome sugerido.
3. Na lista Salvar como tipo, selecionar Página da Web e, em de Tópicos e Slides.
seguida, clicar em Publicar.
4. Na caixa de diálogo Publicar como página da Web, clicar Criar uma apresentação no Modo de Exibição de Estrutu-
em Opções da Web. ra de Tópicos:
5. Na guia Geral, desmarcar a caixa de seleção Adicionar con- 1. Na guia Exibir, no grupo Modos de Exibição de Apresenta-
troles de navegação de slide e clicar em OK. ção, clicar em Normal.
6. Na caixa de diálogo Publicar como página da Web, clicar 2. No painel contendo as guias Estrutura de Tópicos e Slides,
em Publicar. clicar na guia Estrutura de Tópicos.
3. Na guia Estrutura de Tópicos, posicionar o ponteiro e colar
Imprimir as anotações: o conteúdo ou começar a digitar o texto.
1. Abrir a apresentação em que deseja imprimir as anotações.
2. Clicar no Botão Microsoft Office , clicar na seta ao lado de Exibir uma apresentação no Modo de Estrutura de Tópi-
Imprimir e, em seguida, clicar em Visualizar impressão. cos:
3. Na guia Configurar Página, clicar na seta da caixa Imprimir, 1. Na guia Exibir, no grupo Modos de Exibição de Apresenta-
e clicar em Anotações. ção, clicar em Normal.
4. Para especificar a orientação da página, clicar na seta em 2. No painel que contém as guias Estrutura de Tópicos e Sli-
Orientação e, em seguida, clicar em Retrato ou Paisagem. des, clicar na guia Estrutura de Tópicos.
5. Clicar em Imprimir.
6. Para configurar cabeçalhos e rodapés, clicar em Opções e
em Cabeçalho e Rodapé.
Didatismo e Conhecimento 72
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Imprimir uma apresentação no Modo de Exibição de Es- No tocante ao termo Arquivo, Schellenberg (2004, p. 41) de-
trutura de Tópicos: fine-o como “Os documentos de qualquer instituição pública ou
1. Abrir a apresentação que deseja imprimir. privada que hajam sido considerados de valor, merecendo preser-
2. Na guia Exibir, no grupo Modos de Exibição de Apresenta- vação permanente para fins de referência e de pesquisa e que ha-
ção, clicar em Normal. jam sido depositados ou selecionados para depósito, num arquivo
3. No painel que contém as guias Estrutura de Tópicos e Sli- de custódia permanente”.
des, clicar na guia Estrutura de Tópicos. Quando falamos de arquivos, devemos ter em mente que exis-
4. Clicar no Botão do Microsoft Office, apontar para a seta ao tem dois tipos: o de caráter privado e o público.
lado de Imprimir e, em seguida, clicar em Visualizar Impressão. Ao se tratar de Arquivos Públicos, podemos encontrar sua de-
5. No grupo Configurar página, clicar na seta em Imprimir e, finição no artigo 7º da Lei nº 8159 de 1991, que dispõe que “Os
em seguida, clicar em Modo de estrutura de tópicos. arquivos públicos são os conjuntos de documentos produzidos e
6. Para especificar a orientação da página, clicar na seta em recebidos, no exercício de suas atividades, por órgãos públicos
Orientação e, em seguida, clicar em Paisagem ou Retrato. de âmbito federal, estadual, do Distrito Federal e municipal, em
7. Clicar em Imprimir. decorrência de suas funções administrativas, legislativas e judi-
Atalho do teclado: Para exibir a caixa de diálogo Imprimir, ciárias”.
pressionar CTRL+P. Ao analisarmos o verdadeiro objeto de um arquivo concluí-
2. Clicar em Localizar Impressora. mos que é o conteúdo dos seus documentos ou o próprio documen-
3. Na lista Nome, selecionar a impressora que você deseja to, e sua importância está na forma com que foi empregado dentro
usar. de um processo de tomada de decisão.
A organização e gestão de acervos arquivísticos tornou-se
bastante problemática para as instituições nas últimas três décadas,
devido à rápida e ininterrupta evolução tecnológica que a humani-
5. CONCEITOS DE ORGANIZAÇÃO E DE dade sofreu. Evolução essa que afetou todos os meios de produção
GERENCIAMENTO DE ARQUIVOS, existentes.
Segundo SANTOS (2002), as tecnologias desenvolvidas para
PASTAS E PROGRAMAS. permitir essa evolução também afetaram diretamente a produção
informacional e documental.
Para se ter uma ideia do volume de informação disponível nos
dias de hoje, ao fazer uma pesquisa sobre um assunto de seu inte-
resse na Internet, o pesquisador irá encontrar tanta informação que
Sobre o que é Documento, encontramos na literatura diver- será praticamente impossível ler todos os documentos encontrados
sos entendimentos. Primeiramente temos Houaiss, Villar e Franco sobre o assunto. Também iremos encontrar documentos que, ape-
(2001) que, em seu Dicionário, definem o verbete “documento” sar de terem sido indexados para um determinado assunto, ele não
como “qualquer escrito usado para esclarecer determinada coisa contém nada sobre o termo indexado.
[...] qualquer objeto de valor documental (fotografia, peças, pa- Uma das tecnologias que mais se destacaram nesse desenvol-
péis, filmes, construções, etc.) que elucide, instrua, prove ou com- vimento, foi a da área da informática essa tecnologia, onde acabou
prove cientificamente algum fato, acontecimento, dito etc.” criando uma nova forma de documento: o Arquivo Digital.
No campo da Arquivologia, temos Schellenberg (2004, p. 41) Para o Arquivo Nacional, em sua obra Subsídios para um Di-
que define “documento (records)” da seguinte forma: cionário Brasileiro de Termos Arquivísticos, Arquivo Digital é um
Todos os livros, papéis, mapas, fotografias ou outras espécies conjunto de Bits que formam uma unidade lógica interpretável por
documentárias, independentemente de sua apresentação física ou computador e armazenada em suporte apropriado.
características, expedidos ou recebidos por qualquer entidade pú- A Wikipédia trata o termo Arquivo Digital como Arquivo de
blica ou privada no exercício de seus encargos legais ou em fun- Computador e o traduz da seguinte forma:
ções das suas atividades e preservados ou depositados para preser- No disco rígido de um computador, os dados são guardados
vação por aquela entidade ou por seus legítimos sucessores como na forma de arquivos (ou ficheiros, em Portugal). O arquivo é um
prova de suas funções, sua política, decisões, métodos, operações agrupamento de registros que seguem uma regra estrutural, e que
ou outras atividades, ou em virtude do valor informativo dos dados contém informações (dados) sobre uma área específica.
neles contidos. Estes arquivos podem conter informações de qualquer tipo de
Já Rondinelli (2004) cita a definição do Comitê de Documen- dados que se possa encontrar em um computador: textos, imagens,
tos Eletrônicos do Conselho Internacional de Arquivos (CIA) onde vídeos, programas, etc. Geralmente o tipo de informação encon-
a “informação registrada, independente da forma ou do suporte, trada dentro de um arquivo pode ser previsto observando-se os
produzida ou recebida no decorrer da atividade de uma instituição últimos caracteres do seu nome, após o último ponto (por exemplo,
ou pessoa e que possui conteúdo, contexto e estrutura suficientes txt para arquivos de texto sem formatação). Esse conjunto de ca-
para servir de evidência dessa atividade”. racteres é chamado de extensão do arquivo.
Por meio destas definições podemos observar uma unanimi- Como os arquivos em um computador são muitos (só o sis-
dade no que diz respeito à importância da informação contida no tema operacional costuma ter milhares deles), esses arquivos são
documento, independente do seu suporte, para as atividades huma- armazenados em diretórios (também conhecidos como pastas).
nas; isso devido à sua natureza comprobatória de fatos ocorridos
ao longo de uma atividade.
Didatismo e Conhecimento 73
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
No Brasil, o responsável pela regulamentação e práticas de Para o CONARQ (Resolução nº 25. art. 1), gestão arquivísti-
gestão arquivística no âmbito do poder público é o Conselho Na- ca de documentos é o conjunto de procedimentos e operações téc-
cional de Arquivos – CONARQ. Sua atribuição é definir a política nicas referentes à produção, tramitação, uso, avaliação e arquiva-
nacional de arquivos públicos e privados, como órgão central de mento de documentos em fases corrente e intermediária, visando à
um Sistema Nacional de Arquivos, bem como exercer orientação sua eliminação ou recolhimento para guarda permanente.
normativa visando a gestão documental e a proteção especial aos A característica que o documento digital apresenta pode com-
documentos de arquivo. prometer a sua autenticidade pois está sujeito à degradação física
Para o CONARQ, o termo Documento Digital é o mesmo que dos seus suportes, à rápida obsolescência tecnológica e às inter-
Documento em Meio Eletrônico, ou seja, aquele que só é legível venções que podem causar adulterações e destruição.
por computador. Na tentativa de se coibir estes tipos problemas, o CONARQ,
O parágrafo 2º, do artigo 1º, da Resolução do CONARQ nº através da sua Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos, editou
20, de 16 de julho de 2004, define Documento Arquivístico Digital a Resolução nº 25, de 27 de abril de 2007, onde recomenda aos
como: o documento arquivístico codificado em dígitos binários, órgãos e instituições que adotem o “Modelo de Requisitos para
produzido, tramitado e armazenado por sistema computacional. Sistemas Informatizados de Gestão Arquivística de Documentos
São exemplos de documentos arquivísticos digitais: planilhas ele-
e-ARQ Brasil”, para definir, documentar, instituir e manter políti-
trônicas, mensagens de correio eletrônico, sítios na internet, bases
cas, procedimentos e práticas para a gestão arquivística de docu-
de dados e também textos, imagens fixas, imagens em movimento
mentos, com base nas diretrizes estabelecidas por ele.
e gravações sonoras, dentre outras possibilidades, em formato di-
gital. Para o CONARQ, somente com procedimentos de gestão ar-
Atualmente existe uma variedade muito grande de documen- quivística é possível assegurar a autenticidade dos documentos
tos digitais e os tipos mais comuns que podemos encontrar são: arquivísticos digitais.
1) Textos: arquivos com a extensão “.txt”, “.doc”, “.pdf” Para se ter sucesso na implantação deste Sistema nos órgãos
etc.; públicos e empresas privadas é necessário que todos os funcioná-
2) Vídeos: arquivos com a extensão “.avi”, “.mov”, “.wmv” rios estejam envolvidos na política arquivística de documentos e as
etc.; responsabilidades devem ser distribuídas de acordo com a função
3) Áudio: arquivos com a extensão “.wma”, “.mp3”, “.midi” e hierarquia de cada um.
etc.; A Constituição Federal de 1988 e, particularmente, a Lei nº
4) Fotografia: arquivos com a extensão “.jpg”, “.bmp”, 8.159, de 8 de janeiro de 1991, que dispõe sobre a política nacional
“.tiff”, “.gif” etc.; de arquivos públicos e privados, delegaram ao Poder Público al-
5) Arquivos de planilhas: arquivos com a extensão “.pps” gumas responsabilidades, consubstanciadas pelo Decreto nº 4.073,
etc.; de 3 de janeiro de 2002, que consolidou os decretos anteriores -
6) Arquivos da Internet: arquivos com a extensão “.htm”, nsº 1.173, de 29 de junho de 1994; 1.461, de 25 de abril de 1995,
“.html” etc. 2.182, de 20 de março de 1997 e 2.942, de 18 de janeiro de 1999.
Porém, ao mesmo tempo em que este tipo de tecnologia vem O artigo 3º, da Lei nº 8.159 de 08 de janeiro de 1991, que
nos ajudar a executar nossas tarefas diárias, a sua veloz e constante dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados,
evolução também está nos criando um problema muito sério no diz que gestão de documentos é o conjunto de procedimentos e
tocante à sua preservação. operações técnicas à sua produção, tramitação, uso, avaliação e
À medida que a tecnologia avança, seus meios (hardware arquivamento em fases corrente e intermediária, visando à sua eli-
e software) sofrem mutações consideráveis em suas estruturas a minação ou recolhimento para guarda permanente., e o seu artigo
ponto de criarem sérios problemas de preservação, principalmente 17, do Capítulo IV, afirma que a administração da documentação
quando se pretende abrir arquivos de programas mais antigos ou pública ou de caráter público compete às instituições arquivísticas
de versões ultrapassadas. federais, estaduais do Distrito Federal e municipais.
No tocante à preservação de acervos digitais, podemos contar
Tal dispositivo torna claro a importância e a responsabilidade
atualmente com a existência de uma vasta e rica literatura sobre o
que devemos ter com o trato da documentação pública.
assunto.
Não podemos nos bastar somente na forma de manter o docu- Dentre estas responsabilidades, a mais discutida pelos autores
mento digital através da sua preservação, também temos que orga- de hoje é a da preservação dos documentos.
nizá-lo para ter acesso às informações que ele contém. Hoje, encontramos uma vasta bibliografia que trata especifi-
Schellenberg (2004, p. 68) dá uma ideia do que vem a ser um camente sobre o tema da preservação de documentos, tanto em
modo de gestão de documentos quando nos diz que documentos suporte de papel quanto em meios eletrônicos.
são eficientemente administrados quando, uma vez necessários, A guarda e a conservação dos documentos, visando à sua uti-
podem ser localizados com rapidez e sem transtorno ou confusão lização, são as funções básicas de um arquivo (PAES, 1991, p. 5).
Segundo o autor, a maneira com que os documentos são man- Para Arellano (2004):
tidos para uso corrente determina a exatidão com que podem ser fi- A natureza dos documentos digitais está permitindo ampla
xados os valores da documentação recolhida. Também nos diz que produção e disseminação de informação no mundo atual. É fato
o uso dos documentos para fins de pesquisa depende, igualmente, que na era da informação digital se está dando muita ênfase à gera-
da maneira pela qual foram originalmente ordenados (2004, p. 53). ção e/ou aquisição de material digital, em vez de manter a preser-
Paes (1991, p. 17) diz que devemos ter por base a análise das vação e o acesso a longo prazo aos acervos eletrônicos existentes.
atividades da instituição e de como os documentos são solicitados O suporte físico da informação, o papel e a superfície metálica
ao arquivo, para podermos definir o melhor método arquivístico a magnetizada se desintegram ou podem se tornar irrecuperáveis.
ser adotado pela instituição. Existem, ademais, os efeitos da temperatura, umidade, nível de
Didatismo e Conhecimento 74
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
poluição do ar e das ameaças biológicas; os danos provocados pelo Um registro de metadados consiste de alguns elementos pré-
uso indevido e o uso regular, as catástrofes naturais e a obsoles- definidos que representam determinados atributos de um recurso,
cência tecnológica. A aplicação de estratégias de preservação para sendo que cada elemento pode ter um ou mais valores. Segue abai-
documentos digitais é uma prioridade, pois sem elas não existiria xo um exemplo de um registro de metadados simples:
nenhuma garantia de acesso, confiabilidade e integridade dos do-
cumentos a longo prazo.
Nome do
Na Carta para a Preservação do Patrimônio Arquivístico Digi- Valor
Elemento
tal (2004), o CONARQ diz que:
As facilidades proporcionadas pelos meios e tecnologias di- Título Catálogo da Web
gitais de processamento, transmissão e armazenamento de infor- Criador Dagnija McAuliffe
mações reduziram custos e aumentaram a eficácia dos processos Editora University of Queensland Library
de criação, troca e difusão da informação arquivística. O início do http://www.library.uq.edu.au/iad/
século XXI apresenta um mundo fortemente dependente do docu- Identificador
mainmenu.html
mento arquivístico digital como um meio para registrar as funções Formato Texto / html
e atividades de indivíduos, organizações e governos.
Relação Website da Biblioteca
Porém, o CONARQ alerta sobre a importância de voltarmos
nossas atenções para os meios de preservar este tipo de acervo,
Os esquemas de metadados normalmente apresentarão as se-
pois essas tecnologias digitais sofrem uma obsolescência muito
guintes características:
rápida pois a tecnologia digital é comprovadamente um meio mais
• Um número limitado de elementos
frágil e mais instável de armazenamento, comparado com os meios
convencionais de registrar informações. • O nome de cada elemento
A Carta também nos alerta: • O significado de cada elemento
A preservação da informação em formato digital não se limita Normalmente, a semântica é descritiva do conteúdo, locali-
ao domínio tecnológico, envolve também questões administrati- zação, atributos físicos, tipo (texto ou imagem, mapa ou modelo,
vas, legais, políticas, econômico-financeiras e, sobretudo, de des- por exemplo) e forma (folha impressa ou arquivo eletrônico, por
crição dessa informação através de estruturas de metadados que exemplo). Os principais elementos de metadados que fornecem su-
viabilizem o gerenciamento da preservação digital e o acesso no porte para acesso a documentos publicados são o criador de uma
futuro. Desta forma, preservar exige compromissos de longo prazo obra, seu título, quando e onde ele foi publicado e as áreas que ela
entre os vários segmentos da sociedade: poderes públicos, indús- aborda. Quando a informação é publicada sob forma analógica,
tria de tecnologia da informação, instituições de ensino e pesquisa, como material impresso, são fornecidos metadados adicionais para
arquivos e bibliotecas nacionais e demais organizações públicas e auxiliar na localização das informações, como os números de iden-
privadas. tificação utilizados nas bibliotecas.
O CONARQ reconhece a instabilidade da informação arqui-
vística digital e sobre a necessidade de estabelecimento de polí- Extensões de Arquivos
ticas públicas, diretrizes, programas e projetos específicos, legis- As extensões de arquivos são sufixos que distinguem seu
lação, metodologias, normas, padrões e protocolos que possam formato e principalmente a função que cumprem no computador.
minimizar os efeitos da fragilidade e da obsolescência de hard- Cada extensão de arquivo possui funções e aspectos próprios, por
wares, softwares e formatos e que assegurem, ao longo do tempo, isso a maioria necessita de programas específicos para serem exe-
a autenticidade, a integridade, o acesso contínuo e o uso pleno da cutadas.
informação. Como tudo que há em um computador é formado por arqui-
vos, existem diversos formatos, como de textos, sons, imagens,
planilhas, vídeos, slides entre diversos outros.
A principal
Metadados Sem dúvida alguma, a principal extensão é o EXE. A exten-
A definição mais simples de metadados é que eles são dados
são significa basicamente que o arquivo é um executável, ou seja,
sobre dados – mais especificamente, informações (dados) sobre
pode ser executado e produzir efeitos em computadores com sis-
um determinado conteúdo (os dados).
Os metadados são utilizados para facilitar o entendimento, o tema operacional Windows. Isso dá a ele inúmeras possibilidades,
uso e o gerenciamento de dados. Os metadados necessários para desde realizar a instalação de um programa no seu computador
este fim variam conforme o tipo de dados e o contexto de uso. até mesmo executar um vírus dentro dele, pois ao se executar um
Assim, no contexto de uma biblioteca, onde os dados são o con- arquivo com a extensão EXE, o usuário está dando autorização
teúdo dos títulos em estoque, os metadados a respeito de um tí- ao sistema para executar todas as instruções contidas dentro dele.
tulo normalmente incluem uma descrição do conteúdo, o autor, a Quando tal ficheiro é de origem desconhecida ou não confiável,
data de publicação e sua localização física. No contexto de uma como por exemplo o que vem anexado a um e-mail de remetente
câmera, onde os dados são a imagem fotográfica, os metadados desconhecido, é possível que este ficheiro instrua o computador
normalmente incluem a data na qual a foto foi tirada e detalhes da a realizar tarefas indesejadas pelo usuário, tais como a instalação
configuração da câmera. No contexto de um sistema de informa- de vírus ou spywares. Deve-se estar bastante atento ao clicar em
ções, onde os dados são o conteúdo de arquivos de computador, os arquivos com esta extensão.
metadados a respeito de um item de dados individual normalmente
incluem o nome do arquivo, o tipo do arquivo e o nome do admi-
nistrador dos dados.
Didatismo e Conhecimento 75
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
DLL OGG – Um dos formatos menos conhecidos entre os usuários,
Também conhecida como biblioteca de vínculo dinâmico, é é orientado para o uso em streaming, que é a transmissão de dados
um arquivo que é usada geralmente junto como EXE como parte diretamente da Internet para o computador, com execução em tem-
complementar de um software. po real. Isso se deve ao fato do OGG não precisar ser previamente
carregado pelo computador para executar as faixas.
Documentos AC3 – Extensão que designa o formato Dolby Digital, ampla-
- Editores de texto mente utilizado em cinemas e filmes em DVD. A grande diferença
TXT – É um arquivo texto ou texto puro como é mais conhe- deste formato é que as trilhas criadas nele envolvem diversas saí-
cido. Arquivos dos Word também são textos, mas ele gera um texto das de áudio com freqüências bem divididas, criando a sensação de
com formatação. O TXT é um formato que indica um texto sem imersão que percebemos ao fazer uso de home theaters ou quando
formatação, podendo ser aberto ou criado no Bloco de Notas do vamos ao cinema.
Windows, por exemplo. WAV – Abreviação de WAVE, ou ainda WAVEForm audio
DOC – O formato de arquivos DOC é de propriedade da Mi- format, é o formato de armazenamento mais comum adotado pelo
crosoft e usado no Microsoft Word como padrão na gravação de Windows. Ele serve somente para esta função, não podendo ser
arquivos textos. As versões mais recentes do Word incorporaram tocado em players de áudio ou aparelhos de som, por exemplo.
a extensão DOCX como evolução do DOC, isto aconteceu a partir
da versão 2007 do Microsoft Word.
Vídeo
ODT (Open document text) – Extensão padrão do editor de
AVI – Abreviação de audio vídeo interleave, menciona o for-
texto Writer contido no pacote LibreOffice.
mato criado pela Microsoft que combina trilhas de áudio e vídeo,
- Planilhas Eletrônicas podendo ser reproduzido na maioria dos players de mídia e apa-
XLS – Este tipo de arquivo é usado pelo Excel para criar e relhos de DVD, desde que sejam compatíveis com o codec DivX.
editar planilhas. O XLS foi usado até a versão 2003, a partir da MPEG – Um dos padrões de compressão de áudio e vídeo de
versão 2007 passou a usar o formato XLSX hoje, criado pelo Moving Picture Experts Group, origem do nome
ODS (Open document spreadsheets) - Extensão padrão da da extensão. Atualmente, é possível encontrar diversas taxas de
planilha eletrônica Calc, contida no pacote LibreOffice. qualidade neste formato, que varia de filmes para HDTV a trans-
missões simples.
- Apresentações MOV – Formato de mídia especialmente desenhado para ser
PPT – Esta extensão é exclusiva para o Microsoft Powerpoint, reproduzido no player QuickTime. Por esse motivo, ficou conheci-
aplicativo que permite criar apresentações de slides para palestran- do através dos computadores da Apple, que utilizam o QuickTime
tes e situações semelhantes. da mesma forma que o Windows faz uso do seu Media Player.
ODP (Open document presentation) - Extensão padrão do RMVB - RealMedia Variable Bitrate, define o formato de ar-
criador/editor de apresentações Impress, contida no pacote Li- quivos de vídeo desenvolvido para o Real Player, que já foi um dos
breOffice. aplicativos mais famosos entre os players de mídia para computa-
dor. Embora não seja tão utilizado, ele apresenta boa qualidade se
PDF comparado ao tamanho de seus arquivos.
Formato criado pela Adobe, atualmente é um dos padrões uti- MKV – Esta sigla denomina o padrão de vídeo criado pela
lizados na informática para documentos importantes, impressões Matroska, empresa de software livre que busca ampliar o uso do
de qualidade e outros aspectos. Pode ser visualizado no Adobe formato. Ele apresenta ótima qualidade de áudio e vídeo e já está
Reader, aplicativo mais conhecido entre os usuários do formato. sendo adotado por diversos softwares, em especial os de licença
livre.
Áudio
MP3 – Esta é atualmente a extensão para arquivos de áudio Imagem
mais conhecida entre os usuários, devido à ampla utilização dela
BMP – O Bitmap é um dos formatos de imagem mais conheci-
para codificar músicas e álbuns de artistas. O grande sucesso do
dos pelo usuário. Pode-se dizer que este formato é o que apresenta
formato deve-se ao fato dele reduzir o tamanho natural de uma
a ilustração em sua forma mais crua, sem perdas e compressões.
música em até 90%, ao eliminar freqüências que o ouvido humano
não percebe em sua grande maioria. No entanto, o tamanho das imagens geralmente é maior que em
WMA – Esta extensão, muito semelhante ao MP3, foi criada outros formatos. Nele, cada pixel da imagem é detalhado especifi-
pela Microsoft e ganhou espaço dentro do mundo da informática camente, o que a torna ainda mais fiel.
por ser o formato especial para o Windows Media Player. Ao pas- GIF – Sigla que significa Graphics Interchange Format, é um
sar músicas de um CD de áudio para o seu computador usando formato de imagem semelhante ao BMP, mas amplamente utiliza-
o programa, todos os arquivos formados são criados em WMA. do pela Internet, em imagens de sites, programas de conversação e
Hoje, praticamente todos os players de música reproduzem o for- muitos outros. O maior diferencial do GIF é ele permitir a criação
mato sem complicações. de pequenas animações com imagens seguidas, o que é muito uti-
AAC – Sigla que significa codificação avançada de áudio, o lizado em emoticons, blogs, fóruns e outros locais semelhantes.
AAC foi criado pela Apple a fim de concorrer diretamente com o JPEG - Joint Photographic Experts Group é a origem da sigla,
MP3 e o WMA, visando superá-los em qualidade sem aumentar que é um formato de compressão de imagens, sacrificando dados
demasiadamente o tamanho dos arquivos. Menos conhecido, o for- para realizar a tarefa. Enganando o olho humano, a compactação
mato pode ser reproduzido em iPods e similares, além de players agrega blocos de 8X8 bits, tornando o arquivo final muito mais
de mídia para computador. leve que em um Bitmap.
Didatismo e Conhecimento 76
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
JPG - É basicamente o principal formato de arquivos de ima-
gens digitais atualmente. Além do computador, este tipo de arqui-
vo é usado também nas câmeras digitais ou telefones com recurso
de câmera. Ao tirar uma foto, o JPG geralmente é o formato que
eles usam para gravar o arquivo.
PNG – Este formato surgiu em sua época pelo fato dos algo-
ritmos utilizados pelo GIF serem patenteados, encarecendo a uti-
lização dele. O PNG suporta canais alga e apresenta maior gama
de cores.
Além destes formatos, há outros menos conhecidos referentes
à gráficos e ilustrações vetoriais, que são baseadas em formas geo-
métricas aplicadas de forma repetida na tela, evitando o desenho
pixelado feito no padrão Bitmap. Algumas delas são o CRD, do
Corel, e o AI, do Adobe Ilustrator.
Compactadores
ZIP – A extensão do compactador Winzip se tornou tão famo-
sa que já foi criado até o verbo “zipar” para mencionar a compac-
tação de arquivos. O programa é um dos pioneiros em sua área,
sendo amplamente usado para a tarefa desde sua criação.
RAR – Este é o segundo formato mais utilizado de compac-
tação, tido por muitos como superior ao ZIP. O Winrar, programa
que faz uso dele, é um dos aplicativos mais completos para o for-
mato, além de oferecer suporte ao ZIP e a muitos outros.
7z – Criado pelos desenvolvedores do 7-Zip, esta extensão faz
menção aos arquivos compactados criados por ele, que são de alta
qualidade e taxa de diminuição de tamanho se comparado às pastas
e arquivos originais inseridos no compactado.
Didatismo e Conhecimento 77
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Pendrive: São portáteis e conectados ao PC por meio de entra-
das USB. Têm como vantagem principal o tamanho reduzido e, em
alguns casos, a enorme capacidade de armazenamento.
Cartões de Memória: como o próprio nome diz, são pequenos
cartões em que você grava dados e são praticamente iguais aos
Pendrives. São muito usados em notebooks, câmeras digitais, celu-
lares, MP3 players e ebooks. Para acessar o seu conteúdo é preciso
ter um leitor instalado na máquina. Os principais são os cartões
SD, Memory Stick, CF ou XD.
HD Externo ou Portátil: são discos rígidos portáteis, que se
conectam ao PC por meio de entrada USB (geralmente) e têm uma
grande capacidade de armazenamento. 3. Pastas
Disquete: se você ainda tem um deles, parabéns! O disquete As pastas - que, há “séculos” eram conhecidas por diretórios -
faz parte da “pré-história” no que diz respeito a armazenamento de não contém informação propriamente dita e sim arquivos ou mais
dados. Eram São pouco potentes e de curta durabilidade. pastas. A função de uma pasta é organizar tudo o que está dentro
de cada unidade.
2. Unidades e Partições
Para acessar tudo o que armazenado nos dispositivos acima, o
Windows usa unidades que, no computador, são identificadas por
letras. Assim, o HD corresponde ao C:; o leitor de CD ou DVD
é D: e assim por diante. Tais letras podem variar de um computa-
dor para outro.
Você acessa cada uma destas unidades em “Meu Computa-
dor”, como na figura abaixo:
4. Arquivos
Os arquivos são o computador. Sem mais, nem menos. Qual-
quer dado é salvo em seu arquivo correspondente. Existem arqui-
vos que são fotos, vídeos, imagens, programas, músicas e etc.
Também há arquivos que não nos dizem muito como, por
exemplo, as bibliotecas DLL ou outros arquivos, mas que são mui-
to importantes porque fazem com que o Windows funcione. Neste
caso, são como as peças do motor de um carro: elas estão lá para
que o carango funcione bem.
Didatismo e Conhecimento 78
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
6. Bibliotecas do Windows 7 Com esta popularidade e o surgimento de softwares de nave-
O Windows 7 trouxe um novo elemento para a lista básica de gação de interface amigável, no fim da década de 90, pessoas que
arquivos e pastas: as bibliotecas. Elas servem apenas para colocar não tinham conhecimentos profundos de informática começaram a
no mesmo lugar arquivos de várias pastas. utilizar a rede internacional.
Por exemplo, se você tiver arquivos de músicas em “C:\Mi-
nha Música” e “D:\MP3”, poderá exibir todos eles na biblioteca Acesso à Internet
de música. O ISP, Internet Service Provider, ou Provedor de Serviço de
Internet, oferece principalmente serviço de acesso à Internet, adi-
cionando serviços como e-mail, hospedagem de sites ou blogs, ou
seja, são instituições que se conectam à Internet com o ob-
jetivo de fornecer serviços à ela relacionados, e em função do
serviço classificam-se em:
• Provedores de Backbone: São instituições que constroem e
administram backbones de longo alcance, ou seja, estrutura física
de conexão, com o objetivo de fornecer acesso à Internet para re-
des locais;
• Provedores de Acesso: São instituições que se conectam à
Internet via um ou mais acessos dedicados e disponibilizam acesso
à terceiros a partir de suas instalações;
6. CONCEITOS, SERVIÇOS E • Provedores de Informação: São instituições que disponibili-
TECNOLOGIAS RELACIONADAS zam informação através da Internet.
À INTRANET, INTERNET E A
Endereço Eletrônico ou URL
CORREIO ELETRÔNICO. Para se localizar um recurso na rede mundial, deve-se conhe-
cer o seu endereço.
Este endereço, que é único, também é considerado sua URL
(Uniform Resource Locator), ou Localizador de Recursos Univer-
INTERNET sal. Boa parte dos endereços apresenta-se assim: www.xxxx.com.
“Imagine que fosse descoberto um continente tão vasto br
que suas dimensões não tivessem fim. Imagine um mundo Onde:
novo, com tantos recursos que a ganância do futuro não seria ca- www = protocolo da World Wide Web
paz de esgotar; com tantas oportunidades que os empreendedores xxx = domínio
seriam poucos para aproveitá-las; e com um tipo peculiar de com = comercial
imóvel que se expandiria com o desenvolvimento.” br = brasil
John P. Barlow
Os Estados Unidos temiam que em um ataque nuclear ficas- WWW = World Wide Web ou Grande Teia Mundial
sem sem comunicação entre a Casa Branca e o Pentágono.
Este meio de comunicação “infalível”, até o fim da década de É um serviço disponível na Internet que possui um conjun-
60, ficou em poder exclusivo do governo conectando bases milita- to de documentos espalhados por toda rede e disponibilizados a
res, em quatro localidades. qualquer um.
Nos anos 70, seu uso foi liberado para instituições norte Estes documentos são escritos em hipertexto, que utiliza uma
-americanas de pesquisa que desejassem aprimorar a tecnologia, linguagem especial, chamada HTML.
logo vinte e três computadores foram conectados, porém o padrão
de conversação entre as máquinas se tornou impróprio pela quan- Domínio
tidade de equipamentos. Designa o dono do endereço eletrônico em questão, e
Era necessário criar um modelo padrão e universal para onde os hipertextos deste empreendimento estão localizados.
que as máquinas continuassem trocando dados, surgiu então o Quanto ao tipo do domínio, existem:
Protocolo Padrão TCP/IP, que permitiria portanto que mais outras .com = Instituição comercial ou provedor de serviço
máquinas fossem inseridas àquela rede. .edu = Instituição acadêmica
Com esses avanços, em 1972 é criado o correio eletrônico, o .gov = Instituição governamental
E-mail, permitindo a troca de mensagens entre as máquinas que .mil = Instituição militar norte-americana
compunham aquela rede de pesquisa, assim no ano seguinte a rede .net = Provedor de serviços em redes
se torna internacional. .org = Organização sem fins lucrativos
Na década de 80, a Fundação Nacional de Ciência do Brasil
conectou sua grande rede à ARPANET, gerando aquilo que co- HTTP, Hyper Texto Transfer Protocol ou Protocolo de Trasfe-
nhecemos hoje como internet, auxiliando portanto o processo de rência em Hipertexto
pesquisa em tecnologia e outras áreas a nível mundial, além de É um protocolo ou língua específica da internet, responsável
alimentar as forças armadas brasileiras de informação de todos os pela comunicação entre computadores.
tipos, até que em 1990 caísse no domínio público.
Didatismo e Conhecimento 79
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Um hipertexto é um texto em formato digital, e pode le- Na verdade, nenhum dado é transferido diretamente da cama-
var a outros, fazendo o uso de elementos especiais (palavras, da n em uma máquina para a camada n em outra máquina. Em vez
frases, ícones, gráficos) ou ainda um Mapa Sensitivo o qual leva disso, cada camada passa dados e informações de controle para
a outros conjuntos de informação na forma de blocos de textos, a camada imediatamente abaixo, até que o nível mais baixo seja
imagens ou sons. alcançado. Abaixo do nível 1 está o meio físico de comunicação,
Assim, um link ou hiperlink, quando acionado com o mouse, através do qual a comunicação ocorre. Na Figura abaixo, a comu-
remete o usuário à outra parte do documento ou outro documento. nicação virtual é mostrada através de linhas pontilhadas e a comu-
nicação física através de linhas sólidas.
Home Page
Sendo assim, home page designa a página inicial, principal do
site ou web page.
É muito comum os usuários confundirem um Blog ou Perfil
no Orkut com uma Home Page, porém são coisas distintas, aonde
um Blog é um diário e um Perfil no Orkut é um Profile, ou seja um
hipertexto que possui informações de um usuário dentro de uma
comunidade virtual.
Didatismo e Conhecimento 80
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Na internet, o princípio é o mesmo. Para que o seu computa- Classe D: 224.0.0.0 até 239.255.255.255 - multicast;
dor seja encontrado e possa fazer parte da rede mundial de com- Classe E: 240.0.0.0 até 255.255.255.255 - multicast reservado.
putadores, necessita ter um endereço único. O mesmo vale para As três primeiras classes são assim divididas para atender às
websites: este fica em um servidor, que por sua vez precisa ter um seguintes necessidades:
endereço para ser localizado na internet. Isto é feito pelo endereço
IP (IP Address), recurso que também é utilizado para redes locais,
como a existente na empresa que você trabalha, por exemplo. - Os endereços IP da classe A são usados em locais onde são
O endereço IP é uma sequência de números composta de 32 necessárias poucas redes, mas uma grande quantidade de máqui-
bits. Esse valor consiste em um conjunto de quatro sequências de nas nelas. Para isso, o primeiro byte é utilizado como identificador
8 bits. Cada uma destas é separada por um ponto e recebe o nome da rede e os demais servem como identificador dos dispositivos
de octeto ou simplesmente byte, já que um byte é formado por conectados (PCs, impressoras, etc);
8 bits. O número 172.31.110.10 é um exemplo. Repare que cada - Os endereços IP da classe B são usados nos casos onde a
octeto é formado por números que podem ir de 0 a 255, não mais quantidade de redes é equivalente ou semelhante à quantidade de
do que isso. dispositivos. Para isso, usam-se os dois primeiros bytes do ende-
reço IP para identificar a rede e os restantes para identificar os
dispositivos;
- Os endereços IP da classe C são usados em locais que reque-
rem grande quantidade de redes, mas com poucos dispositivos em
cada uma. Assim, os três primeiros bytes são usados para identifi-
car a rede e o último é utilizado para identificar as máquinas.
Quanto às classes D e E, elas existem por motivos especiais:
a primeira é usada para a propagação de pacotes especiais para a
A divisão de um IP em quatro partes facilita a organização da comunicação entre os computadores, enquanto que a segunda está
rede, da mesma forma que a divisão do seu endereço em cidade, reservada para aplicações futuras ou experimentais.
bairro, CEP, número, etc, torna possível a organização das casas Vale frisar que há vários blocos de endereços reservados para
da região onde você mora. Neste sentido, os dois primeiros octetos fins especiais. Por exemplo, quando o endereço começa com 127,
de um endereço IP podem ser utilizados para identificar a rede, por geralmente indica uma rede “falsa”, isto é, inexistente, utilizada
exemplo. Em uma escola que tem, por exemplo, uma rede para para testes. No caso do endereço 127.0.0.1, este sempre se refere à
alunos e outra para professores, pode-se ter 172.31.x.x para uma própria máquina, ou seja, ao próprio host, razão esta que o leva a
rede e 172.32.x.x para a outra, sendo que os dois últimos octetos ser chamado de localhost. Já o endereço 255.255.255.255 é utili-
são usados na identificação de computadores. zado para propagar mensagens para todos os hosts de uma rede de
maneira simultânea.
Classes de endereços IP
Neste ponto, você já sabe que os endereços IP podem ser utili- Endereços IP privados
zados tanto para identificar o seu computador dentro de uma rede, Há conjuntos de endereços das classes A, B e C que são pri-
quanto para identificá-lo na internet. vados. Isto significa que eles não podem ser utilizados na internet,
Se na rede da empresa onde você trabalha o seu computador sendo reservados para aplicações locais. São, essencialmente, es-
tem, como exemplo, IP 172.31.100.10, uma máquina em outra rede tes:
pode ter este mesmo número, afinal, ambas as redes são distintas -Classe A: 10.0.0.0 à 10.255.255.255;
e não se comunicam, sequer sabem da existência da outra. Mas, -Classe B: 172.16.0.0 à 172.31.255.255;
como a internet é uma rede global, cada dispositivo conectado nela -Classe C: 192.168.0.0 à 192.168.255.255.
precisa ter um endereço único. O mesmo vale para uma rede local: Suponha então que você tenha que gerenciar uma rede com
nesta, cada dispositivo conectado deve receber um endereço único. cerca de 50 computadores. Você pode alocar para estas máquinas
Se duas ou mais máquinas tiverem o mesmo IP, tem-se então um endereços de 192.168.0.1 até 192.168.0.50, por exemplo. Todas
problema chamado “conflito de IP”, que dificulta a comunicação elas precisam de acesso à internet. O que fazer? Adicionar mais um
destes dispositivos e pode inclusive atrapalhar toda a rede. IP para cada uma delas? Não. Na verdade, basta conectá-las a um
Para que seja possível termos tanto IPs para uso em redes servidor ou equipamento de rede - como um roteador - que receba
locais quanto para utilização na internet, contamos com um es- a conexão à internet e a compartilhe com todos os dispositivos
quema de distribuição estabelecido pelas entidades IANA (Inter- conectados a ele. Com isso, somente este equipamento precisará
net Assigned Numbers Authority) e ICANN (Internet Corporation de um endereço IP para acesso à rede mundial de computadores.
for Assigned Names and Numbers) que, basicamente, divide os
endereços em três classes principais e mais duas complementares. Máscara de sub-rede
São elas: As classes IP ajudam na organização deste tipo de endereça-
Classe A: 0.0.0.0 até 127.255.255.255 - permite até 128 redes, mento, mas podem também representar desperdício. Uma solução
cada uma com até 16.777.214 dispositivos conectados; bastante interessante para isso atende pelo nome de máscara de
Classe B: 128.0.0.0 até 191.255.255.255 - permite até 16.384 sub-rede, recurso onde parte dos números que um octeto destina-
redes, cada uma com até 65.536 dispositivos; do a identificar dispositivos conectados (hosts) é “trocado” para
Classe C: 192.0.0.0 até 223.255.255.255 - permite até aumentar a capacidade da rede. Para compreender melhor, vamos
2.097.152 redes, cada uma com até 254 dispositivos; enxergar as classes A, B e C da seguinte forma:
Didatismo e Conhecimento 81
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
- A: N.H.H.H; IP estático e IP dinâmico
- B: N.N.H.H; IP estático (ou fixo) é um endereço IP dado permanentemente
- C: N.N.N.H. a um dispositivo, ou seja, seu número não muda, exceto se tal ação
N significa Network (rede) e H indica Host. Com o uso de for executada manualmente. Como exemplo, há casos de assina-
máscaras, podemos fazer uma rede do N.N.H.H se “transformar” turas de acesso à internet via ADSL onde o provedor atribui um
em N.N.N.H. Em outras palavras, as máscaras de sub-rede per- IP estático aos seus assinantes. Assim, sempre que um cliente se
mitem determinar quantos octetos e bits são destinados para a conectar, usará o mesmo IP.
identificação da rede e quantos são utilizados para identificar os O IP dinâmico, por sua vez, é um endereço que é dado a um
dispositivos. computador quando este se conecta à rede, mas que muda toda
Para isso, utiliza-se, basicamente, o seguinte esquema: se um vez que há conexão. Por exemplo, suponha que você conectou seu
octeto é usado para identificação da rede, este receberá a máscara computador à internet hoje. Quando você conectá-lo amanhã, lhe
de sub-rede 255. Mas, se um octeto é aplicado para os dispositivos, será dado outro IP. Para entender melhor, imagine a seguinte situa-
seu valor na máscara de sub-rede será 0 (zero). A tabela a seguir ção: uma empresa tem 80 computadores ligados em rede. Usan-
mostra um exemplo desta relação: do IPs dinâmicos, a empresa disponibiliza 90 endereços IP para
tais máquinas. Como nenhum IP é fixo, um computador receberá,
quando se conectar, um endereço IP destes 90 que não estiver sen-
Identifica-
Identifica- Máscara de sub- do utilizado. É mais ou menos assim que os provedores de internet
Classe Endereço IP dor do com-
dor da rede -rede trabalham.
putador
O método mais utilizado na distribuição de IPs dinâmicos é o
A 10.2.68.12 10 2.68.12 255.0.0.0 protocolo DHCP (Dynamic Host Configuration Protocol).
B 172.31.101.25 172.31 101.25 255.255.0.0
IP nos sites
C 192.168.0.10 192.168.0 10 255.255.255.0 Você já sabe que os sites na Web também necessitam de um IP.
Mas, se você digitar em seu navegador www.infowester.com, por
Você percebe então que podemos ter redes com máscara exemplo, como é que o seu computador sabe qual o IP deste site ao
255.0.0.0, 255.255.0.0 e 255.255.255.0, cada uma indicando uma ponto de conseguir encontrá-lo?
classe. Mas, como já informado, ainda pode haver situações onde Quando você digitar um endereço qualquer de um site, um
há desperdício. Por exemplo, suponha que uma faculdade tenha servidor de DNS (Domain Name System) é consultado. Ele é
que criar uma rede para cada um de seus cinco cursos. Cada curso quem informa qual IP está associado a cada site. O sistema DNS
possui 20 computadores. A solução seria então criar cinco redes possui uma hierarquia interessante, semelhante a uma árvore (ter-
classe C? Pode ser melhor do que utilizar classes B, mas ainda mo conhecido por programadores). Se, por exemplo, o site www.
haverá desperdício. Uma forma de contornar este problema é criar infowester.com é requisitado, o sistema envia a solicitação a um
uma rede classe C dividida em cinco sub-redes. Para isso, as más- servidor responsável por terminações “.com”. Esse servidor loca-
caras novamente entram em ação. lizará qual o IP do endereço e responderá à solicitação. Se o site
Nós utilizamos números de 0 a 255 nos octetos, mas estes, na solicitado termina com “.br”, um servidor responsável por esta ter-
verdade, representam bytes (linguagem binária). 255 em binário
minação é consultado e assim por diante.
é 11111111. O número zero, por sua vez, é 00000000. Assim, a
máscara de um endereço classe C, 255.255.255.0, é:
IPv6
11111111.11111111.11111111.00000000
O mundo está cada vez mais conectado. Se, em um passado
Perceba então que, aqui, temos uma máscara formada por 24
não muito distante, você conectava apenas o PC da sua casa à in-
bits 1: 11111111 + 11111111 + 11111111. Para criarmos as nossas
ternet, hoje o faz com o celular, com o seu notebook em um serviço
sub-redes, temos que ter um esquema com 25, 26 ou mais bits,
conforme a necessidade e as possibilidades. Em outras palavras, de acesso Wi-Fi no aeroporto e assim por diante. Somando este
precisamos trocar alguns zeros do último octeto por 1. aspecto ao fato de cada vez mais pessoas acessarem a internet no
Suponha que trocamos os três primeiros bits do último octeto mundo inteiro, nos deparamos com um grande problema: o núme-
(sempre trocamos da esquerda para a direita), resultando em: ro de IPs disponíveis deixa de ser suficiente para toda as (futuras)
11111111.11111111.11111111.11100000 aplicações.
Se fizermos o número 2 elevado pela quantidade de bits “tro- A solução para este grande problema (grande mesmo, afinal,
cados”, teremos a quantidade possível de sub-redes. Em nosso a internet não pode parar de crescer!) atende pelo nome de IPv6,
caso, temos 2^3 = 8. Temos então a possibilidade de criar até oito uma nova especificação capaz de suportar até - respire fundo - 340.
sub-redes. Sobrou cinco bits para o endereçamento dos host. Fa- 282.366.920.938.463.463.374.607.431.768.211.456 de endereços,
zemos a mesma conta: 2^5 = 32. Assim, temos 32 dispositivos em um número absurdamente alto!
cada sub-rede (estamos fazendo estes cálculos sem considerar li-
mitações que possam impedir o uso de todos os hosts e sub-redes).
11100000 corresponde a 224, logo, a máscara resultante é
255.255.255.224.
Perceba que esse esquema de “trocar” bits pode ser empre-
gado também em endereços classes A e B, conforme a necessi-
dade. Vale ressaltar também que não é possível utilizar 0.0.0.0 ou
255.255.255.255 como máscara.
Didatismo e Conhecimento 82
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
No Brasil, a maioria dos provedores está conectada à Embra-
tel, que por sua vez, está conectada com outros computadores fora
do Brasil. Esta conexão chama-se link, que é a conexão física que
interliga o provedor de acesso com a Embratel. Neste caso, a Em-
bratel é conhecida como backbone, ou seja, é a “espinha dorsal”
da Internet no Brasil. Pode-se imaginar o backbone como se fosse
uma avenida de três pistas e os links como se fossem as ruas que
estão interligadas nesta avenida.
Tanto o link como o backbone possui uma velocidade de
transmissão, ou seja, com qual velocidade ele transmite os dados.
Esta velocidade é dada em bps (bits por segundo). Deve ser feito
um contrato com o provedor de acesso, que fornecerá um nome de
O IPv6 não consiste, necessariamente, apenas no aumento da usuário, uma senha de acesso e um endereço eletrônico na Internet.
quantidade de octetos. Um endereço do tipo pode ser, por exemplo:
FEDC:2D9D:DC28:7654:3210:FC57:D4C8:1FFF URL - Uniform Resource Locator
Tudo na Internet tem um endereço, ou seja, uma identificação
Finalizando de onde está localizado o computador e quais recursos este com-
Com o surgimento do IPv6, tem-se a impressão de que a es- putador oferece. Por exemplo, a URL:
pecificação tratada neste texto, o IPv4, vai sumir do mapa. Isso até http://www.novaconcursos.com.br
deve acontecer, mas vai demorar bastante. Durante essa fase, que Será mais bem explicado adiante.
podemos considerar de transição, o que veremos é a “convivência”
entre ambos os padrões. Não por menos, praticamente todos os Como descobrir um endereço na Internet?
sistemas operacionais atuais e a maioria dos dispositivos de rede
estão aptos a lidar tanto com um quanto com o outro. Por isso, se Para que possamos entender melhor, vamos exemplificar.
você é ou pretende ser um profissional que trabalha com redes ou Você estuda em uma universidade e precisa fazer algumas
simplesmente quer conhecer mais o assunto, procure se aprofundar pesquisas para um trabalho. Onde procurar as informações que
nas duas especificações. preciso?
A esta altura, você também deve estar querendo descobrir qual Para isso, existem na Internet os “famosos” sites de procura,
o seu IP. Cada sistema operacional tem uma forma de mostrar isso. que são sites que possuem um enorme banco de dados (que contém
Se você é usuário de Windows, por exemplo, pode fazê-lo digi- o cadastro de milhares de Home Pages), que permitem a procura
tando cmd em um campo do Menu Iniciar e, na janela que surgir, por um determinado assunto. Caso a palavra ou o assunto que foi
informar ipconfig /all e apertar Enter. Em ambientes Linux, o co- procurado exista em alguma dessas páginas, será listado toda esta
mando é ifconfig. relação de páginas encontradas.
A pesquisa pode ser realizada com uma palavra, referente ao
assunto desejado. Por exemplo, você quer pesquisar sobre amor-
tecedores, caso não encontre nada como amortecedores, procure
como autopeças, e assim sucessivamente.
Barra de endereços
Didatismo e Conhecimento 83
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
.com -> tipo de organização Como salvar documentos, arquivos e sites
......br -> identifica o país Clique no menu Arquivo e na opção Salvar como.
Tipos de Organizações:
.edu -> instituições educacionais. Exemplo: michigam.edu Como copiar e colar para um editor de textos
.com -> instituções comerciais. Exemplo: microsoft.com Selecionar o conteúdo ou figura da página. Clicar com o botão
.gov -> governamental. Exemplo: fazenda.gov direito do mouse e escolha a opção Copiar.
.mil -> instalação militar. Exemplo: af.mil
.net -> computadores com funções de administrar redes.
Exemplo: embratel.net
.org -> organizações não governamentais. Exemplo: care.org
Home Page
Pela definição técnica temos que uma Home Page é um arqui-
vo ASCII (no formato HTML) acessado de computadores rodando
um Navegador (Browser), que permite o acesso às informações em
um ambiente gráfico e multimídia. Todo em hipertexto, facilitando
a busca de informações dentro das Home Pages. Abra o editor de texto clique em colar
O endereço de Home Pages tem o seguinte formato:
http://www.endereço.com/página.html Navegadores
Por exemplo, a página principal da Pronag: O navegador de WWW é a ferramenta mais importante para
o usuário de Internet. É com ele que se podem visitar museus, ler
http://www.pronag.com.br/index.html
revistas eletrônicas, fazer compras e até participar de novelas inte-
rativas. As informações na Web são organizadas na forma de pági-
PLUG-INS
nas de hipertexto, cada um com seu endereço próprio, conhecido
Os plug-ins são programas que expandem a capacidade do
como URL. Para começar a navegar, é preciso digitar um desses
Browser em recursos específicos - permitindo, por exemplo, que
endereços no campo chamado Endereço no navegador. O software
você toque arquivos de som ou veja filmes em vídeo dentro de
estabelece a conexão e traz, para a tela, a página correspondente.
uma Home Page. As empresas de software vêm desenvolvendo O navegador não precisa de nenhuma configuração especial
plug-ins a uma velocidade impressionante. Maiores informações e para exibir uma página da Web, mas é necessário ajustar alguns pa-
endereços sobre plug-ins são encontradas na página: râmetros para que ele seja capaz de enviar e receber algumas men-
http://www.yahoo.com/Computers_and_Internet/Software/ sagens de correio eletrônico e acessar grupos de discussão (news).
Internet/World_Wide_Web/Browsers/Plug_Ins/Indices/ O World Wide Web foi inicialmente desenvolvido no Centro
Atualmente existem vários tipos de plug-ins. Abaixo temos de Pesquisas da CERN (Conseil Europeen pour la Recherche Nu-
uma relação de alguns deles: cleaire), Suíça. Originalmente, o WWW era um meio para físicos
- 3D e Animação (Arquivos VRML, MPEG, QuickTime, etc.). da CERN trocar experiências sobre suas pesquisas através da exi-
- Áudio/Vídeo (Arquivos WAV, MID, AVI, etc.). bição de páginas de texto. Ficou claro, desde o início, o imenso
- Visualizadores de Imagens (Arquivos JPG, GIF, BMP, PCX, potencial que o WWW possuía para diversos tipos de aplicações,
etc.). inclusive não científicas.
- Negócios e Utilitários O WWW não dispunha de gráficos em seus primórdios, ape-
- Apresentações nas de hipertexto. Entretanto, em 1993, o projeto WWW ganhou
força extra com a inserção de um visualizador (também conhecido
FTP - Transferência de Arquivos como browser) de páginas capaz não apenas de formatar texto, mas
Permite copiar arquivos de um computador da Internet para o também de exibir gráficos, som e vídeo. Este browser chamava-se
seu computador. Mosaic e foi desenvolvido dentro da NCSA, por um time chefiado
Os programas disponíveis na Internet podem ser: por Mark Andreesen. O sucesso do Mosaic foi espetacular.
• Freeware: Programa livre que pode ser distribuído e uti- Depois disto, várias outras companhias passaram a produzir
lizado livremente, não requer nenhuma taxa para sua utilização, e browsers que deveriam fazer concorrência ao Mosaic. Mark An-
não é considerado “pirataria” a cópia deste programa. dreesen partiu para a criação da Netscape Communications, cria-
• Shareware: Programa demonstração que pode ser uti- dora do browser Netscape.
lizado por um determinado prazo ou que contém alguns limites, Surgiram ainda o Cello, o AIR Mosaic, o SPRY Mosaic, o
para ser utilizado apenas como um teste do programa. Se o usuário Microsoft Internet Explorer, o Mozilla Firefox e muitos outros
gostar ele compra, caso contrário, não usa mais o programa. Na browsers.
maioria das vezes, esses programas exibem, de tempos em tem-
pos, uma mensagem avisando que ele deve ser registrado. Outros Busca e pesquisa na web
tipos de shareware têm tempo de uso limitado. Depois de expirado Os sites de busca servem para procurar por um determinado
este tempo de teste, é necessário que seja feito a compra deste assunto ou informação na internet.
programa. Alguns sites interessantes:
• www.google.com.br
Navegar nas páginas • http://br.altavista.com
Consiste percorrer as páginas na internet a partir de um docu- • http://cade.search.yahoo.com
mento normal e de links das próprias páginas. • http://br.bing.com/
Didatismo e Conhecimento 84
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Como fazer a pesquisa
Digite na barra de endereço o endereço do site de pesquisa. Por exemplo:
www.google.com.br
Os sites de pesquisa em geral não fazem distinção na pesquisa com letras maiúsculas e minúsculas e nem palavras com ou sem acento.
Opções de pesquisa
Didatismo e Conhecimento 85
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
O resultado da pesquisa
O resultado da pesquisa é visualizado da seguinte forma:
INTRANET
A Intranet ou Internet Corporativa é a implantação de uma Internet restrita apenas a utilização interna de uma empresa. As intranets ou
Webs corporativas, são redes de comunicação internas baseadas na tecnologia usada na Internet. Como um jornal editado internamente, e
que pode ser acessado apenas pelos funcionários da empresa.
Didatismo e Conhecimento 86
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
A intranet cumpre o papel de conectar entre si filiais e departa- • Apoio ao Funcionário - Perguntas e respostas, sistemas
mentos, mesclando (com segurança) as suas informações particu- de melhoria contínua (Sistema de Sugestões), manuais de quali-
lares dentro da estrutura de comunicações da empresa. dade;
O grande sucesso da Internet, é particularmente da World • Recursos Humanos - Treinamentos, cursos, apostilas,
Wide Web (WWW) que influenciou muita coisa na evolução da políticas da companhia, organograma, oportunidades de trabalho,
informática nos últimos anos. programas de desenvolvimento pessoal, benefícios.
Em primeiro lugar, o uso do hipertexto (documentos interliga- Para acessar as informações disponíveis na Web corporativa,
dos através de vínculos, ou links) e a enorme facilidade de se criar, o funcionário praticamente não precisa ser treinado. Afinal, o es-
interligar e disponibilizar documentos multimídia (texto, gráficos, forço de operação desses programas se resume quase somente em
animações, etc.), democratizaram o acesso à informação através de clicar nos links que remetem às novas páginas. No entanto, a sim-
redes de computadores. Em segundo lugar, criou-se uma gigantes- plicidade de uma intranet termina aí. Projetar e implantar uma rede
ca base de usuários, já familiarizados com conhecimentos básicos desse tipo é uma tarefa complexa e exige a presença de profissio-
de informática e de navegação na Internet. Finalmente, surgiram nais especializados. Essa dificuldade aumenta com o tamanho da
muitas ferramentas de software de custo zero ou pequeno, que intranet, sua diversidade de funções e a quantidade de informações
permitem a qualquer organização ou empresa, sem muito esfor- nela armazenadas.
ço, “entrar na rede” e começar a acessar e colocar informação. O A intranet é baseada em quatro conceitos:
resultado inevitável foi a impressionante explosão na informação • Conectividade - A base de conexão dos computadores li-
disponível na Internet, que segundo consta, está dobrando de ta- gados através de uma rede, e que podem transferir qualquer tipo de
manho a cada mês. informação digital entre si;
Assim, não demorou muito a surgir um novo conceito, que • Heterogeneidade - Diferentes tipos de computadores e
tem interessado um número cada vez maior de empresas, hospitais, sistemas operacionais podem ser conectados de forma transparente;
faculdades e outras organizações interessadas em integrar infor- • Navegação - É possível passar de um documento a outro
mações e usuários: a intranet. Seu advento e disseminação prome- através de referências ou vínculos de hipertexto, que facilitam o
te operar uma revolução tão profunda para a vida organizacional acesso não linear aos documentos;
quanto o aparecimento das primeiras redes locais de computado- • Execução Distribuída - Determinadas tarefas de acesso
res, no final da década de 80. ou manipulação na intranet só podem ocorrer graças à execução de
programas aplicativos, que podem estar no servidor, ou nos micro-
O que é Intranet? computadores que acessam a rede (também chamados de clientes,
O termo “intranet” começou a ser usado em meados de 1995 daí surgiu à expressão que caracteriza a arquitetura da intranet:
por fornecedores de produtos de rede para se referirem ao uso den- cliente-servidor). A vantagem da intranet é que esses programas
tro das empresas privadas de tecnologias projetadas para a comu- são ativados através da WWW, permitindo grande flexibilidade.
nicação por computador entre empresas. Em outras palavras, uma Determinadas linguagens, como Java, assumiram grande impor-
intranet consiste em uma rede privativa de computadores que se tância no desenvolvimento de softwares aplicativos que obedeçam
baseia nos padrões de comunicação de dados da Internet pública, aos três conceitos anteriores.
baseadas na tecnologia usada na Internet (páginas HTML, e-mail,
FTP, etc.) que vêm, atualmente fazendo muito sucesso. Entre as Como montar uma Intranet
razões para este sucesso, estão o custo de implantação relativa- Basicamente a montagem de uma intranet consiste em usar as
mente baixo e a facilidade de uso propiciada pelos programas de estruturas de redes locais existentes na maioria das empresas, e em
navegação na Web, os browsers. instalar um servidor Web.
Servidor Web - É a máquina que faz o papel de repositório das
Objetivo de construir uma Intranet informações contidas na intranet. É lá que os clientes vão buscar
Organizações constroem uma intranet porque ela é uma ferra- as páginas HTML, mensagens de e-mail ou qualquer outro tipo de
menta ágil e competitiva. Poderosa o suficiente para economizar arquivo.
tempo, diminuir as desvantagens da distância e alavancar sobre o
seu maior patrimônio de capital-funcionários com conhecimentos Protocolos - São os diferentes idiomas de comunicação uti-
das operações e produtos da empresa. lizados. O servidor deve abrigar quatro protocolos. O primeiro é
o HTTP, responsável pela comunicação do browser com o servi-
Aplicações da Intranet dor, em seguida vem o SMTP ligado ao envio de mensagens pelo
Já é ponto pacífico que apoiarmos a estrutura de comunicações e-mail, e o FTP usado na transferência de arquivos. Independen-
corporativas em uma intranet dá para simplificar o trabalho, pois temente das aplicações utilizadas na intranet, todas as máquinas
estamos virtualmente todos na mesma sala. De qualquer modo, é nela ligadas devem falar um idioma comum: o TCP/IP, protocolo
cedo para se afirmar onde a intranet vai ser mais efetiva para unir da Internet.
(no sentido operacional) os diversos profissionais de uma empresa.
Mas em algumas áreas já se vislumbram benefícios, por exemplo: Identificação do Servidor e das Estações - Depois de definidos
• Marketing e Vendas - Informações sobre produtos, listas os protocolos, o sistema já sabe onde achar as informações e como
de preços, promoções, planejamento de eventos; requisitá-las. Falta apenas saber o nome de quem pede e de quem
• Desenvolvimento de Produtos - OT (Orientação de Tra- solicita. Para isso existem dois programas: o DNS que identifica
balho), planejamentos, listas de responsabilidades de membros das o servidor e o DHCP (Dinamic Host Configuration Protocol) que
equipes, situações de projetos; atribui nome às estações clientes.
Didatismo e Conhecimento 87
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Estações da Rede - Nas estações da rede, os funcionários aces- Alguns dos empecilhos são:
sam as informações colocadas à sua disposição no servidor. Para • Aplicativos de Colaboração - Os aplicativos de colaboração,
isso usam o Web browser, software que permite folhear os docu- não são tão poderosos quanto os oferecidos pelos programas para
mentos. grupos de trabalho tradicionais. É necessário configurar e manter
aplicativos separados, como e-mail e servidores Web, em vez de
Comparando Intranet com Internet usar um sistema unificado, como faria com um pacote de software
Na verdade as diferenças entre uma intranet e a Internet, é para grupo de trabalho;
uma questão de semântica e de escala. Ambas utilizam as mesmas • Número Limitado de Ferramentas - Há um número limitado
técnicas e ferramentas, os mesmos protocolos de rede e os mesmos de ferramentas para conectar um servidor Web a bancos de da-
produtos servidores. O conteúdo na Internet, por definição, fica dos ou outros aplicativos back-end. As intranets exigem uma rede
disponível em escala mundial e inclui tudo, desde uma home-page TCP/IP, ao contrário de outras soluções de software para grupo de
de alguém com seis anos de idade até as previsões do tempo. A trabalho que funcionam com os protocolos de transmissão de redes
maior parte dos dados de uma empresa não se destina ao consumo local existentes;
externo, na verdade, alguns dados, tais como as cifras das ven- • Ausência de Replicação Embutida – As intranets não apre-
das, clientes e correspondências legais, devem ser protegidos com sentam nenhuma replicação embutida para usuários remotos. A
cuidado. E, do ponto de vista da escala, a Internet é global, uma HMTL não é poderosa o suficiente para desenvolver aplicativos
intranet está contida dentro de um pequeno grupo, departamento cliente/servidor.
ou organização corporativa. No extremo, há uma intranet global, Como a Intranet é ligada à Internet
mas ela ainda conserva a natureza privada de uma Internet menor.
A Internet e a Web ficaram famosas, com justa razão, por
serem uma mistura caótica de informações úteis e irrelevantes, o
meteórico aumento da popularidade de sites da Web dedicados a
índices e mecanismos de busca é uma medida da necessidade de
uma abordagem organizada. Uma intranet aproveita a utilidade da
Internet e da Web num ambiente controlado e seguro.
Didatismo e Conhecimento 88
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Dispositivos para realização de Cópias de Segurança Bem, o e-mail mesclou a facilidade de uso do correio conven-
Os dispositivos para a realização de cópias de segurança do(s) cional com a velocidade do telefone, se tornando um dos melhores
servidor(es) constituem uma das peças de especial importância. e mais utilizado meio de comunicação.
Por exemplo, unidades de disco amovíveis com grande capacidade
de armazenamento, tapes... Estrutura e Funcionalidade do e-mail
Queremos ainda referir que para o funcionamento de uma
rede existem outros conceitos como topologias/configurações Como no primeiro e-mail criado por Tomlinson, todos os en-
(rede linear, rede em estrela, rede em anel, rede em árvore, rede dereços eletrônicos seguem uma estrutura padrão, nome do usuá-
em malha …), métodos de acesso, tipos de cabos, protocolos de rio + @ + host, onde:
comunicação, velocidade de transmissão … » Nome do Usuário – é o nome de login escolhido pelo usuá-
rio na hora de fazer seu e-mail. Exemplo: sergiodecastro.
EXTRANET » @ - é o símbolo, definido por Tomlinson, que separa o nome
A Extranet de uma empresa é a porção de sua rede de compu- do usuário do seu provedor.
tadores que faz uso da Internet para partilhar com segurança parte
» Host – é o nome do provedor onde foi criado o endereço
do seu sistema de informação.
eletrônico. Exemplo: click21.com.br .
A Extranet de uma empresa é a porção de sua rede de compu-
» Provedor – é o host, um computador dedicado ao serviço 24
tadores que faz uso da Internet para partilhar com segurança parte
do seu sistema de informação. horas por dia.
Tomado o termo em seu sentido mais amplo, o conceito con-
funde-se com Intranet. Uma Extranet também pode ser vista como Vejamos um exemplo real: sergiodecastro@click21.com.br
uma parte da empresa que é estendida a usuários externos (“rede
extra-empresa”), tais como representantes e clientes. Outro uso co- A caixa postal é composta pelos seguintes itens:
mum do termo Extranet ocorre na designação da “parte privada” » Caixa de Entrada – Onde ficam armazenadas as mensagens
de um site, onde somente “usuários registrados” podem navegar, recebidas.
previamente autenticados por sua senha (login). » Caixa de Saída – Armazena as mensagens ainda não envia-
das.
Empresa estendida » E-mails Enviados – Como o nome diz, ficam os e-mails que
O acesso à intranet de uma empresa através de um Portal (in- foram enviados.
ternet) estabelecido na web de forma que pessoas e funcionários » Rascunho – Guarda as mensagens que você ainda não ter-
de uma empresa consigam ter acesso à intranet através de redes minou de redigir.
externas ao ambiente da empresa. » Lixeira – Armazena as mensagens excluídas.
Uma extranet é uma intranet que pode ser acessada via Web
por clientes ou outros usuários autorizados. Uma intranet é uma Ao redigir mensagem, os seguintes campos estão presentes:
rede restrita à empresa que utiliza as mesmas tecnologias presentes » Para – é o campo onde será inserido o endereço do destina-
na Internet, como e-mail, webpages, servidor FTP etc. tário.
A ideia de uma extranet é melhorar a comunicação entre os » Cc – este campo é utilizado para mandar cópias da mesma
funcionários e parceiros além de acumular uma base de conhe- mensagem, ao usar este campo os endereços aparecerão para todos
cimento que possa ajudar os funcionários a criar novas soluções. os destinatários.
Exemplificando uma rede de conexões privadas, baseada na » Cco – sua funcionalidade é igual ao campo anterior, no en-
Internet, utilizada entre departamentos de uma empresa ou parcei- tanto os endereços só aparecerão para os respectivos donos.
ros externos, na cadeia de abastecimento, trocando informações » Assunto – campo destinado ao assunto da mensagem.
sobre compras, vendas, fabricação, distribuição, contabilidade en-
» Anexos – são dados que são anexados à mensagem (ima-
tre outros.
gens, programas, música, arquivos de texto, etc.).
» Corpo da Mensagem – espaço onde será redigida a mensa-
CORREIO ELETRÔNICO
O correio eletrônico1 se parece muito com o correio tradicio- gem.
nal. Todo usuário tem um endereço próprio e uma caixa postal, o
carteiro é a Internet. Você escreve sua mensagem, diz pra quem Alguns nomes podem mudar de servidor para servidor, porém
quer mandar e a Internet cuida do resto. Mas por que o e-mail se representando as mesmas funções. Além dos destes campos tem
popularizou tão depressa? A primeira coisa é pelo custo. Você não ainda os botões para EVIAR, ENCAMINHAR e EXCLUIR as
paga nada por uma comunicação via e-mail, apenas os custos de mensagens, este botões bem como suas funcionalidades veremos
conexão com a Internet. Outro fator é a rapidez, enquanto o correio em detalhes, mais à frente.
tradicional levaria dias para entregar uma mensagem, o eletrônico Para receber seus e-mails você não precisa estar conectado
faz isso quase que instantaneamente e não utiliza papel. Por últi- à Internet, pois o e-mail funciona com provedores. Mesmo você
mo, a mensagem vai direto ao destinatário, não precisa passa de não estado com seu computador ligado, seus e-mail são recebidos
mão-em-mão (funcionário do correio, carteiro, etc.), fica na sua e armazenados na sua caixa postal, localizada no seu provedor.
caixa postal onde somente o dono tem acesso e, apesar de cada Quando você acessa sua caixa postal, pode ler seus e-mail on-line
pessoa ter seu endereço próprio, você pode acessar seu e-mail de (diretamente na Internet, pelo WebMail) ou baixar todos para seu
qualquer computador conectado à Internet. computador através de programas de correio eletrônico. Um pro-
1 Fonte: http://juliobattisti.com.br/tutoriais/sergiocastro/correioeletronicoewe- grama muito conhecido é o Outlook Express, o qual detalhar mais
bmail001.asp à frente.
Didatismo e Conhecimento 89
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
A sua caixa postal é identificada pelo seu endereço de e-mail 2. Clique no link “Não tem uma conta? Crie uma!”, será aber-
e qualquer pessoa que souber esse endereço, pode enviar mensa- to um formulário, preencha-o observando todos os campos. Os
gens para você. Também é possível enviar mensagens para várias campos do formulário têm suas particularidades de provedor para
pessoas ao mesmo tempo, para isto basta usar os campos “Cc” e provedor, no entanto todos trazem a mesma ideia, colher infor-
“Cco” descritos acima. mações do usuário. Este será a primeira parte do seu e-mail e é
Atualmente, devido à grande facilidade de uso, a maioria das igual a este em qualquer cadastro, no exemplo temos “@outlook.
pessoas acessa seu e-mail diretamente na Internet através do nave- com”. A junção do nome de usuário com o nome do provedor é
gador. Este tipo de correio é chamado de WebMail. O WebMail é que será seu endereço eletrônico. No exemplo ficaria o seguinte:
responsável pela grande popularização do e-mail, pois mesmo as seunome@outlook.com.
pessoas que não tem computador, podem acessar sua caixa postal 3. Após preencher todo o formulário clique no botão “Criar
de qualquer lugar (um cyber, casa de um amigo, etc.). Para ter um conta”, pronto seu cadastro estará efetivado.
endereço eletrônico basta querer e acessar a Internet, é claro. Exis- Pelo fato de ser gratuito e ter muitos usuários é comum que
te quase que uma guerra por usuários. Os provedores, também, muitos nomes já tenham sido cadastrados por outros usuários,
disputam quem oferece maior espaço em suas caixas postais. Há neste caso será exibida uma mensagem lhe informando do pro-
pouco tempo encontrar um e-mail com mais de 10 Mb, grátis, não blema. Isso acontece porque dentro de um mesmo provedor não
era fácil. Lembro que, quando a Embratel ofereceu o Click21 com pode ter dois nomes de usuários iguais. A solução é procurar outro
30 Mb, achei que era muito espaço, mas logo o iBest ofereceu 120 nome que ainda esteja livre, alguns provedores mostram sugestões
Mb e não parou por ai, a “guerra” continuo culminando com o como: seunome2005; seunome28, etc. Se ocorrer isso com você (o
anúncio de que o Google iria oferecer 1 Gb (1024 Mb). A última que é bem provável que acontecerá) escolha uma das sugestões ou
campanha do GMail, e-mail do Google, é de aumentar sua caixa informe outro nome (não desista, você vai conseguir), finalize seu
postal constantemente, a última vez que acessei estava em 2663 cadastro que seu e-mail vai está pronto para ser usado.
Mb.
» Entendendo a Interface do WebMail
WebMail A interface é a parte gráfica do aplicativo de e-mail que nos
liga do mundo externo aos comandos do programa. Estes conhe-
O WebMail, como descrito acima, é uma aplicação acessada cimentos vão lhe servir para qualquer WebMail que você tiver e
diretamente na Internet, sem a necessidade de usar programa de também para o Outlook, que é um programa de gerenciamento de
correio eletrônico. Praticamente todos os e-mails possuem aplica- e-mails, vamos ver este programa mais adiante.
ções para acesso direto na Internet. É grande o número de prove- 1. Chegou e-mail? – Este botão serve para atualizar sua caixa
dores que oferecem correio eletrônico gratuitamente, logo abaixo de entrar, verificando se há novas mensagens no servidor.
segue uma lista dos mais populares. 2. Escrever – Ao clicar neste botão a janela de edição de
» Outlook (antigo Hotmail) – http://www.outlook.com e-mail será aberta. A janela de edição é o espaço no qual você vai
» GMail – http://www.gmail.com redigir, responder e encaminhar mensagens. Semelhante à função
» Bol (Brasil on line) – http://www.bol.com.br novo e-mail do Outlook.
» iG Mail – http://www.ig.com.br 3. Contatos – Abre a seção de contatos. Aqui os seus endere-
» Yahoo – http://www.yahoo.com.br ços de e-mail são previamente guardados para utilização futura,
nesta seção também é possível criar grupos para facilitar o geren-
Para criar seu e-mail basta visitar o endereço acima e seguir ciamento dos seus contatos.
as instruções do site. Outro importante fator a ser observado é o 4. Configurações – Este botão abre (como o próprio nome já
tamanho máximo permitido por anexo, este foi outro fator que au- diz) a janela de configurações. Nesta janela podem ser feitas di-
mentou muito de tamanho, há pouco tempo a maioria dos prove- versas configurações, tais como: mudar senha, definir número de
dores permitiam em torno de 2 Mb, mas atualmente a maioria já e-mail por página, assinatura, resposta automática, etc.
oferecem em média 25 Mb. Além de caixa postal os provedores 5. Ajuda – Abre, em outra janela do navegador, uma seção
costumam oferecer serviços de agenda e contatos. com vários tópicos de ajuda.
Todos os WebMail acima são ótimos, então fica a critério de 6. Sair – Este botão é muito importante, pois é através dele que
cada um escolher o seu, ou até mesmo os seus, eu, por exemplo, você vai fechar sua caixa postal, muito recomendado quando o uso
procuro aqueles que oferecem uma interface com o menor propa- de seu e-mail ocorrer em computadores de terceiros.
ganda possível. 7. Espaço – Esta seção é apenas informativa, exibe seu ende-
reço de e-mail; quantidade total de sua caixa posta; parte utilizada
» Criando seu e-mail em porcentagem e um pequeno gráfico.
Fazer sua conta de e-mail é uma tarefa extremamente simples, 8. Seção atual – Mostra o nome da seção na qual você está, no
eu escolhi o Outlook.com, pois a interface deste WebMail não tem exemplo a Caixa de Entrada.
propagandas e isso ajudar muito os entendimentos, no entanto 9. Número de Mensagens – Exibe o intervalo de mensagens
você pode acessar qualquer dos endereços informados acima ou que estão na tela e também o total da seção selecionada.
ainda qualquer outro que você conheça. O processo de cadastro é 10. Caixa de Comandos – Neste menu suspenso estão todos
muito simples, basta preencher um formulário e depois você terá os comandos relacionados com as mensagens exibidas. Para usar
sua conta de e-mail pronta para ser usada. Vamos aos passos: estes comandos, selecione uma ou mais mensagens o comando de-
1. Acesse a página do provedor (www.ibestmail.com.br) ou sejado e clique no botão “OK”. O botão “Bloquear”, bloqueia o
qualquer outro de sua preferência. endereço de e-mail da mensagem, útil para bloquear e-mails inde-
Didatismo e Conhecimento 90
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
sejados. Já o botão “Contas externas” abre uma seção para configurar outras contas de e-mails que enviarão as mensagens a sua caixa postal.
Para o correto funcionamento desta opção é preciso que a conta a ser acessada tenha serviço POP3 e SMTP.
11. Lista de Páginas – Este menu suspenso exibe a lista de página, que aumenta conforme a quantidade de e-mails na seção. Para aces-
sar selecione a página desejada e clique no botão “OK”. Veja que todos os comandos estão disponíveis também na parte inferior, isto para
facilitar o uso de sua caixa postal.
12. Pastas do Sistema – Exibe as pastas padrões de um correio eletrônico. Caixa de Entrada; Mensagens Enviadas; Rascunho e Lixeira.
Um detalhe importante é o estilo do nome, quando está normal significa que todas as mensagens foram abertas, porém quando estão em
negrito, acusam que há uma ou mais mensagens que não foram lidas, o número entre parêntese indica a quantidade. Este detalhe funciona
para todas as pastas e mensagens do correio.
13. Painel de Visualização – Espaço destinado a exibir as mensagens. Por padrão, ao abrir sua caixa postal, é exibido o conteúdo da
Caixa de Entrada, mas este painel exibe também as mensagens das diversas pastas existentes na sua caixa postal. A observação feita no item
anterior, sobre negrito, também é válida para esta seção. Observe as caixas de seleção localizadas do lado esquerdo de cada mensagem, é
através delas que as mensagens são selecionadas. A seleção de todos os itens ao mesmo tempo, também pode ser feito pela caixa de seleção
do lado esquerdo do título da coluna “Remetente”. O título das colunas, além de nomeá-las, também serve para classificar as mensagens que
por padrão estão classificadas através da coluna “Data”, para usar outra coluna na classificação basta clicar sobre nome dela.
14. Gerenciador de Pastas – Nesta seção é possível adicionar, renomear e apagar as suas pastas. As pastas são um modo de organizar
seu conteúdo, armazenando suas mensagens por temas. Quando seu e-mail é criado não existem pastas nesta seção, isso deve ser feito pelo
usuário de acordo com suas necessidades.
15. Contas Externas – Este item é um link que abrirá a seção onde pode ser feita uma configuração que permitirá você acessar outras
caixas postais diretamente da sua. O próximo link, como o nome já diz, abre a janela de configuração dos e-mails bloqueados e mais abaixo
o link para baixar um plug-in que lhe permite fazer uma configuração automática do Outlook Express. Estes dois primeiros links são os
mesmos apresentados no item 10.
7. INTERNET EXPLORER 9 E
OUTLOOK EXPRESS 6.
INTERNET EXPLORER
O Windows Internet Explorer possui uma aparência simplificada e muitos recursos novos que aceleram a sua experiência de navegação
na Web.
Os novos recursos gráficos e o melhor desempenho do Internet Explorer possibilitam experiências ricas e intensas. Texto, vídeo e
elementos gráficos acelerados por hardware significam que seus sites têm um desempenho semelhante ao dos programas instalados no seu
computador. Os vídeos de alta definição são perfeitos, os elementos gráficos são nítidos e respondem positivamente, as cores são fieis e os
sites são interativos como jamais foram. Com os aperfeiçoamentos como Chakra, o novo mecanismo JavaScript, os sites e aplicativos são
carregados mais rapidamente e respondem melhor. Combine o Internet Explorer com os eficientes recursos gráficos que o Windows 7 tem a
oferecer, e você terá a melhor experiência da Web no Windows até o momento.
A instalação mais curta e simplificada do Internet Explorer é mais rápida do que nas versões anteriores. Ela requer menos decisões de
sua parte, leva menos tempo para carregar páginas e não exige que você instale atualizações separadamente. Uma vez concluída a instalação,
você já pode começar a navegar.
Interface
A primeira alteração que vemos no I.E 9 é a altura do seu cabeçalho (55px), pequeno e elegante, o internet Explorer 9 se comparado
com suas versões anteriores, melhorou muito e sem sombra de dúvida começa a tomar A primeira alteração que vemos no I.E 9 é a altura do
seu cabeçalho (55px), pequeno e elegante, o internet Explorer 9 se comparado com suas versões anteriores, melhorou muito e sem sombra
de dúvida começa a tomar uma forma competitiva.
Didatismo e Conhecimento 91
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
1-Ícones de Voltar/ Avançar página
Uma das mudanças vistas em mais de um navegador, é o destaque dado ao botão de “Voltar Página”, muito mais utilizado que o “Avan-
çar, o destaque dado, foi merecido, assim evita-se possíveis erros e distrações”. Depois de ter feito alguma transição de página, o botão voltar
assume uma cor azul marinho, ganhando ainda mais destaque.
3-Abas de conteúdo
O posicionamento das abas de conteúdo dentro do cabeçalho do I.E 9 foi mal escolhido, as abas tem que disputar espaço com o campo
de URL. Consegui manter aberto no máximo 4 abas sem que prejudique demais a leitura dos títulos das abas, depois disso a visualização e
a navegação entre as abas fica difícil e desanimador.
4 abas.
Múltiplas abas.
Didatismo e Conhecimento 92
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
6-Ícone de aplicação/plug-in instalado
As aplicações depois de instaladas são alinhadas de forma horizontal no espaço que em versões anteriores pertencia às abas.
A primeira coisa que você notará ao abrir o Internet Explorer 9 será seu design simplificado.
A maioria das funções da barra de comandos, como Imprimir ou Zoom, pode ser encontrada ao clicar no botão Ferramentas , e os
seus favoritos e os feeds são exibidos ao clicar no botão Centro de Favoritos .
As guias são exibidas automaticamente à direita da Barra de endereços, mas é possível movê-las para que sejam exibidas abaixo da
Barra de endereço, da mesma maneira que em versões anteriores do Internet Explorer. Você pode exibir as Barras de Favoritos, Comandos,
Status e Menus clicando com o botão direito do mouse no botão Ferramentas e selecionando-as em um menu.
• Barra de Favoritos
• Barra de Comandos
• Barra de Status
Didatismo e Conhecimento 93
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
• Clique na guia da página da Web e arraste-a até a barra
de tarefas.
Ao lado do endereço da página, há um pequeno ícone com o
símbolo do site. Ao arrastá-lo, ele automaticamente se transforma
em uma espécie de botão. Então só é preciso que você o envie
para a Barra de tarefas do Windows 7 para que ele vire um rápido
atalho.
Para remover um site fixo da barra de tarefas
• Clique com o botão direito do mouse no ícone do site,
na barra de tarefas, e clique em Desafixar esse programa da barra
de tarefas.
Você pode abrir uma guia clicando no botão Nova Guia à di-
reita da guia aberta mais recentemente.
Didatismo e Conhecimento 94
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
• Para ativar a Navegação InPrivate, clique em Navegação Ter várias guias abertas ao mesmo tempo pode ser um pro-
InPrivate. cesso complicado e demorado, principalmente quando você tenta
• Para abrir novamente as guias que acabou de fechar, cli- voltar e localizar os sites que abriu. Com o Internet Explorer 9,
que em Reabrir guias fechadas. as guias relacionadas são codificadas por cores, o que facilita sua
• Para reabrir as guias de sua última sessão de navegação, organização ao navegar por várias páginas da Web.
clique em Reabrir última sessão. Você consegue ver as guias relacionadas instantaneamente.
• Para abrir Sites Sugeridos em uma página da Web, clique Quando você abre uma nova guia a partir de outra, a nova guia
em Descobrir outros sites dos quais você pode gostar. é posicionada ao lado da primeira guia e é codificada com a cor
correspondente. E quando uma guia que faz parte de um grupo é
Guias avançadas fechada, outra guia desse grupo é exibida, para que você não fique
olhando para uma guia não relacionada.
Por padrão, as guias são mostradas à direita da Barra de ende- Se quiser fechar uma guia ou o grupo inteiro de guias, ou re-
reços. Para fazer com que as guias sejam mostradas em sua própria mover uma guia de um grupo, clique com o botão direito do mouse
linha abaixo da Barra de endereços, clique com o botão direito do na guia ou no grupo de guias e escolha o que deseja fazer. Nesse
mouse na área aberta à direita do botão Nova guia e clique em local também é possível atualizar uma ou todas as guias, criar uma
Mostrar guias abaixo da Barra de endereços. guia duplicada, abrir uma nova guia, reabrir a última guia fechada
ou ver uma lista de todas as guias fechadas recentemente e reabrir
Guias destacáveis qualquer uma ou todas elas.
Como usar os Sites Sugeridos no Internet Explorer 9
O recurso Sites Sugeridos é um serviço online usado pelo
Windows Internet Explorer 9 que recomenda sites que você talvez
goste com base nos sites que você visita com frequência.
Para ativar os Sites Sugeridos e exibi-los em uma página da
Web
1. Para abrir o Internet Explorer, clique no botão Iniciar
. Na caixa de pesquisa, digite Internet Explorer e, na lista de resul-
tados, clique em Internet Explorer.
2. Clique no botão Favoritos e, na parte inferior do Centro
de Favoritos, clique em Ativar Sites Sugeridos.
3. Na caixa de diálogo Sites Sugeridos, clique em Sim.
As guias destacáveis tornam a interação com vários sites rá-
Observação: Para desativar os Sites Sugeridos, clique no bo-
pida e intuitiva. É possível reorganizar as guias no Internet Ex-
tão Ferramentas , aponte para Arquivo e desmarque a opção Si-
plorer 9 — da mesma forma que você reorganiza ícones na barra
tes Sugeridos.
de tarefas no Windows 7 — ou abrir qualquer guia em uma nova
janela do navegador arrastando a guia para a área de trabalho. Se
Para adicionar o Web Slice de Sites Sugeridos
precisar exibir mais de uma página da Web ao mesmo tempo para Depois de ativar os Sites Sugeridos, você pode clicar no Web
realizar uma tarefa, use as guias destacáveis junto com o Ajuste. Slice de Sites Sugeridos na Barra de favoritos para verificar suges-
É uma ótima forma de mostrar várias páginas da Web lado a lado tões de sites com base na página da Web na guia atual.
na tela. 1. Para abrir o Internet Explorer, clique no botão Iniciar
. Na caixa de pesquisa, digite Internet Explorer e, na lista de resul-
Facilite o acesso aos seus sites favoritos. Arraste uma guia e tados, clique em Internet Explorer.
fixe-a diretamente na barra de tarefas ou no menu Iniciar. Ou ar- 2. Clique no botão Favoritos e, na parte inferior do Cen-
raste uma guia para a barra Favoritos. Independentemente do que tro de Favoritos, clique em Exibir Sites Sugeridos.
escolher, seus sites favoritos estarão ao seu alcance. Observação: Se não tiver ativado os Sites Sugeridos, você de-
verá clicar em Ativar Sites Sugeridos e em Sim.
Guias codificadas por cores 1. Na página da Web Sites Sugeridos, role até a parte infe-
rior e clique em Adicionar Sites Sugeridos à sua Barra de Favoritos.
2. Na caixa de diálogo do Internet Explorer, clique em Adi-
cionar à Barra de Favoritos.
Observação: Quando você habilita o recurso Sites Sugeridos,
o seu histórico de navegação na Web é enviado à Microsoft, onde
ele é salvo e comparado com uma lista de sites relacionados atua-
lizada com frequência. Você pode optar por interromper o envio
de seu histórico de navegação na Web pelo Internet Explorer para
a Microsoft a qualquer momento. Também é possível excluir en-
tradas individuais do seu histórico a qualquer momento. As entra-
das excluídas não serão usadas para fornecer sugestões de outros
sites, embora elas sejam mantidas pela Microsoft por um período
para ajudar a melhorar nossos produtos e serviços, incluindo este
recurso.
Didatismo e Conhecimento 95
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Recursos de segurança e privacidade no Internet Explo- Quando você navega usando a Navegação InPrivate, o Inter-
rer 9 net Explorer armazena algumas informações, como cookies e ar-
O Internet Explorer 9 inclui os seguintes recursos de seguran- quivos de Internet temporários, de forma que as páginas da Web
ça e privacidade: visitadas funcionem corretamente. Entretanto, no final de sua ses-
• Filtragem ActiveX, que bloqueia os controles ActiveX de são de Navegação InPrivate, essas informações são descartadas.
todos os sites e permite que você posteriormente os ative nova- O que a Navegação InPrivate não faz:
mente apenas para os sites nos quais confia. • Ela não impede que alguém em sua rede, como um admi-
• Realce de domínio, que mostra claramente a você o ver- nistrador de rede ou um hacker, veja as páginas que você visitou.
dadeiro endereço Web do site que está visitando. Isso ajuda você a • Ela não necessariamente proporciona anonimato na In-
evitar sites que usam endereços Web falsos para enganá-lo, como ternet. Os sites talvez sejam capazes de identificá-lo por meio de
sites de phishing. O verdadeiro domínio que você está visitando é seu endereço Web e qualquer coisa que você fizer ou inserir em um
realçado na barra de endereços. site poderá ser gravado por ele.
• Filtro SmartScreen, que pode ajudar a protegê-lo contra • Ela não remove nenhum favorito ou feed adicionado por
ataques de phishing online, fraudes e sites falsos ou mal-intencio- você quando a sessão de Navegação InPrivate é fechada. As alte-
nados. Ele também pode verificar downloads e alertá-lo sobre pos- rações nas configurações do Internet Explorer, como a adição de
sível malware (software mal-intencionado). uma nova home page, também são mantidas após o encerramento
• Filtro Cross site scripting (XSS), que pode ajudar a evitar da sessão de Navegação InPrivate.
ataques de sites fraudulentos que podem tentar roubar suas infor- Como usar a Proteção contra Rastreamento e a Filtragem
mações pessoais e financeiras. ActiveX no Internet Explorer 9
• Uma conexão SSL (Secure Sockets Layer) de 128 bits Você pode ativar a Proteção contra Rastreamento no Windows
para usar sites seguros. Isso ajuda o Internet Explorer a criar uma Internet Explorer 9 para ajudar a evitar que sites coletem infor-
conexão criptografada com sites de bancos, lojas online, sites mé- mações sobre sua navegação na Web. Você também pode ativar a
dicos ou outras organizações que lidam com as suas informações Filtragem ActiveX para ajudar a evitar que programas acessem o
pessoais. seu computador sem o seu consentimento.
• Notificações que o avisam se as configurações de segu- Depois de ativar qualquer um desses recursos, você pode de-
rança estiverem abaixo dos níveis recomendados. sativá-lo apenas para sites específicos.
• Proteção contra Rastreamento, que limita a comunicação
do navegador com determinados sites - definidos por uma Lista Usar a Proteção contra Rastreamento para bloquear conteú-
de Proteção contra Rastreamento - a fim de ajudar a manter suas do de sites desconhecidos
informações confidenciais. Quando você visita um site, alguns conteúdos podem ser for-
• Navegação InPrivate, que você pode usar para navegar necidos por um site diferente. Esse conteúdo pode ser usado para
na Web sem salvar dados relacionados, como cookies e arquivos coletar informações sobre as páginas que você visita na Internet.
de Internet temporários. A Proteção contra Rastreamento bloqueia esse conteúdo de
• Configurações de privacidade que especificam como o sites que estão em Listas de Proteção contra Rastreamento. Existe
computador lida com cookies. uma Lista de Proteção contra Rastreamento Personalizada incluída
no Internet Explorer que é gerada automaticamente com base nos
Navegação InPrivate sites visitados por você. Também é possível baixar Listas de Pro-
A Navegação InPrivate impede que o Windows Internet Ex- teção contra Rastreamento e, dessa maneira, o Internet Explorer
plorer 9 armazene dados de sua sessão de navegação, além de aju- verificará periodicamente se há atualizações para as listas.
dar a impedir que qualquer pessoa que utilize o seu computador
veja as páginas da Web que você visitou e o conteúdo que visua- Para ativar a Proteção contra Rastreamento
lizou. 1. Para abrir o Internet Explorer, clique no botão Iniciar
. Na caixa de pesquisa, digite Internet Explorer e, na lista de resul-
Para ativar a Navegação InPrivate: tados, clique em Internet Explorer.
1. Para abrir o Internet Explorer, clique no botão Iniciar 2. Clique no botão Ferramentas , aponte para Segurança
. Na caixa de pesquisa, digite Internet Explorer e, na lista de resul- e clique em Proteção contra Rastreamento.
tados, clique em Internet Explorer. 3. Na caixa de diálogo Gerenciar Complemento, clique em
2. Clique no botão Ferramentas , aponte para Segurança uma Lista de Proteção contra Rastreamento e clique em Habilitar.
e clique em Navegação InPrivate.
Usar a Filtragem ActiveX para bloquear controles ActiveX
O que faz a Navegação InPrivate: Controles ActiveX e complementos do navegador da Web são
Quando você inicia a Navegação InPrivate, o Internet Ex- pequenos programas que permitem que os sites forneçam con-
plorer abre uma nova janela do navegador. A proteção oferecida teúdos como vídeos. Eles também podem ser usados para cole-
pela Navegação InPrivate tem efeito apenas durante o tempo que tar informações, danificar informações e instalar software em seu
você usar essa janela. Você pode abrir quantas guias desejar nessa computador sem o seu consentimento ou permitir que outra pessoa
janela e todas elas estarão protegidas pela Navegação InPrivate. controle o computador remotamente.
Entretanto, se você abrir uma segunda janela do navegador, ela não A Filtragem ActiveX impede que sites instalem e utilizem es-
estará protegida pela Navegação InPrivate. Para finalizar a sessão ses programas.
de Navegação InPrivate, feche a janela do navegador.
Didatismo e Conhecimento 96
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Ativar a Filtragem ActiveX Menu Ferramentas
1. Para abrir o Internet Explorer, clique no botão Iniciar
. Na caixa de pesquisa, digite Internet Explorer e, na lista de resul- Opções da Internet
tados, clique em Internet Explorer.
2. Clique no botão Ferramentas , aponte para Segurança No menu Ferramentas, na opção opções da internet, na aba
e clique em Filtragem ActiveX. geral podemos excluir os arquivos temporários e o histórico. Além
disso, podemos definir a página inicial.
Definir exceções para sites confiáveis
Você pode desativar a Proteção contra Rastreamento ou a Fil-
tragem ActiveX para exibir o conteúdo de sites específicos em que
você confia.
Didatismo e Conhecimento 97
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Estas informações são fornecidas pelo seu provedor de servi- 9. Localizar: este botão é útil quando você quer encontrar uma
ços de Internet ou do administrador da rede local. mensagem que esteja em seu Outlook. Ao clicar em “Localizar”,
Para adicionar um grupo de notícias, você precisa do nome do uma nova janela se abre e você pode indicar os critérios de sua
servidor de notícias ao qual deseja se conectar e, se necessário, do busca, preenchendo os campos que estão em branco e clicando em
nome de sua conta e senha. “localizar agora”.
Abrir o Outlook
Para abrir o Outlook Express, clique no ícone que
está em sua Área de Trabalho, ou na Barra de Tarefas.
‘
O programa será aberto e você pode começar a ler, redigir e
responder seus e-mails.
Barra de Ferramentas
A Barra de ferramentas do Outlook Express (mostrados nas
imagens da versão 6.0) apresenta basicamente os itens numerados
na figura abaixo:
Didatismo e Conhecimento 98
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Veja o que eles significam:
Vamos à configuração:
No menu Ferramentas, clique em Contas.
Irá se abrir uma nova janela chamada Contas na Internet, clique em Adicionar.
Didatismo e Conhecimento 99
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Para acrescentar contatos em sua lista de endereços
Para acrescentar endereços eletrônicos de pessoas (contatos)
em sua lista de endereços faça o seguinte:
Clique no botão Endereços.
Em seguida, selecione “Novo” e “Novo Contato”.
Escreva o nome e o novo endereço eletrônico (tipo: nome@
provedor.com.br).
Clique em OK.
Criar um catálogo de endereços Obs.: Caso você tenha recebido um e-mail de alguém e quei-
Antes de mais nada, é preciso definir um Catálogo de Ende- ra adicionar esta pessoa a seu catálogo de endereços, basta clicar
reços contendo algumas pessoas e seus respectivos endereços de (com o botão direito do mouse) sobre o nome do remetende e es-
e-mail. colher a opção “Adicionar remetente ao catálogo de endereços”.
Para criar um catálogo de endereços no Outlook Express (ver- Pronto, esse contato já estará em seu catálogo de endereços.
são 5 e posteriores), faça o seguinte:
Clique, no menu principal do Outlook, em Ferramentas / Ca-
tálogo de Endereços.
Uma janela de nome: “Catálogo de Endereços - identidade
principal” se abrirá.
Clique em “Novo” e escolha a opção: “Novo Contato”
Mais uma janela se abre: “Propriedades de”. Aqui você vai
digitar todos os dados que deseja para cada um dos contatos.
Salvar um rascunho
Para salvar um rascunho da mensagem para usar mais tarde,
faça o seguinte:
Com sua mensagem aberta, clique em Arquivo.
Após digitar o “Endereço de correio eletrônico”, no campo A seguir, clique em Salvar.
correspondente, clique no botão “Adicionar” e em “OK”.
Da mesma forma, você vai acrescentando novos nomes ao seu
“Catálogo de endereços”.
Quando for mandar uma mensagem, ao clicar em “Para”, esse
catálogo se abre e fica bem mais fácil e rápido localizar o destina-
tário.
Salvar anexos
Para salvar um anexo de arquivo de seu e-mail, faça o seguin-
te:
Clique na mensagem que tem o arquivo que você quer salvar.
No menu Arquivo, clique em Salvar anexos.
Uma nova janela se abre. Clique no(s) anexo(s) que você quer
Você também pode clicar em Salvar como para salvar uma salvar.
mensagem de e-mail em outros arquivos de seu computador no Antes de clicar em Salvar, confira se o local indicado na caixa
formato de e-mail (.eml), texto (.txt) ou HTML (.htm ou html). abaixo é onde você quer salvar seus anexos. (Caso não seja, clique
em “Procurar” e escolha outra pasta ou arquivo.)
Abrir anexos Clique em Salvar.
Para ver um anexo de arquivo, faça o seguinte:
1. No painel de visualização, clique no ícone de clipe de pa-
pel no cabeçalho da mensagem e, em seguida, clique no nome do
arquivo.
ou então:
Na parte superior da janela da mensagem, clique duas vezes Se você preferir, pode salvar o anexo no painel de visualiza-
no ícone de anexo de arquivo no cabeçalho da mensagem. ção:
Clique no ícone de clipe de papel
Clique em Salvar anexos.
Pastas Padrões
As pastas padrões do Outlook não podem ser alteradas. Você
poderá criar outras pastas, mas não deve mexer nas seguintes pas-
tas:
Ou, se preferir, utilize o seguinte recurso:
No menu Mensagem, aponte para Definir prioridade e selecio-
ne uma opção de prioridade.
Verificar novas mensagens 1. Caixa de Entrada: local padrão para onde vão as mensagens
Para saber se chegaram novas mensagens, faça o seguinte: que chegam ao seu Outlook. (Você pode criar pastas e regras para
Com seu Outlook aberto, clique em Enviar/receber na barra mudar o lugar para o qual suas mensagens devam ser encaminha-
de ferramentas. das.).
2. Caixa de Saída: aqui ficam os e-mails que você já escreveu
e que vai mandar para o(s) destinatário(s).
3. Itens Enviados: nesta pasta ficam guardados os e-mails que
você já mandou.
4. Itens Excluídos: aqui ficam as mensagens que você já ex-
cluiu de outra(s) pasta(s), mas continuam em seu Outlook.
Lembre-se de que todas as mensagens da caixa de saída serão 5. Rascunhos: as mensagens que você está escrevendo podem
enviadas também. ficar guardadas aqui enquanto você não as acaba de compor defini-
Se preferir apenas receber ou apenas enviar mensagens, você tivamente. Veja como salvar uma mensagem na pasta Rascunhos.
pode usar o seguinte recurso:
Clique em Ferramentas / Enviar e receber, escolha a opção Criar novas pastas
que deseja e clique nela. Para organizar seu Outlook, você pode criar ou adicionar
quantas pastas quiser.
No menu Arquivo, clique em Pasta.
Clique em Nova.
Abas e pesquisa
Arquivamento de mensagens
Se você acha que irá precisar de um e-mail no futuro mas quer
ele fora da sua caixa de entrada sem excluí-lo, arquive-o! Arquivar
te ajuda a gerenciar sua caixa de entrada e pôr seus e-mails em um
sistema de pasta de arquivos.
Gerenciador de complementos
Encontre e instale complementos diretamente do Thunder-
bird. Você já não precisa visitar o site de complementos - em vez
disso, simplesmente vá até o Gerenciador de complementos. Não Atualização automática
tem certeza qual complemento é certo para você? Avaliações, re- O sistema de atualização do Thunderbird confirma se está a
comendações, descrições e fotos dos complementos em ação po- executar a versão mais recente e notifica-o quando uma atualiza-
dem ajudá-lo a fazer sua seleção. ção de segurança está disponível. Estas atualizações de segurança
A ocorrência de um WordId num documento é chamado Hit. Utilizando um exemplo bem simplificado, é possível armazenar apenas os
hits e a posição da palavra no texto (Figura 3).
Figura 3: Hits
Este processo é repetido para todas as palavras encontradas. Se no documento seguinte uma palavra nova é localizada, ela recebe um
novo WordId, é adicionada ao banco de dados, e os hits correspondentes passam a ser registrados.
3.6 Busca
Representa a maneira pela qual usuários realizam suas pesquisas nas ferramentas. Em seu atual formato de armazenamento (tabela
invertida e hits) é possível saber, para cada palavra pesquisada, em quantos documentos ela ocorre e em qual posição do texto elas se en-
contram.
É dessa forma que o Google, por exemplo, informa “Resultados 1 - 10 de aproximadamente 61.000.000 para [brasil]”.
Em casos que são necessárias pesquisas com duas ou mais palavras, são realizadas duas ou mais pesquisas no índice invertido. Os do-
cumentos comuns a todas as pesquisas conterão todas as palavras (mas não necessariamente na ordem pesquisada).
É possível melhorar as buscas através do aprimoramento do índice invertido. Para aumentar as potencialidades do índice invertido,
normalmente, os mecanismos de busca armazenam muito mais informações nos hits.
Pode-se criar, por exemplo, um campo para indicar que determinada palavra foi escrita em negrito ou itálico e, portanto, teria mais
destaque do que o restante do texto (Figura 4):
DESKTOPS
PORTÁTEIS
A classificação de um computador pode ser feita de diversas É a abreviação do inglês Personal Digital Assistant e também
maneiras. Podem ser avaliados: são conhecidos como palmtops. São computadores pequenos e,
• Capacidade de processamento; geralmente, não possuem teclado. Para a entrada de dados, sua tela
• Velocidade de processamento; é sensível ao toque. É um assistente pessoal com boa quantidade
• Capacidade de armazenamento das informações; de memória e diversos programas para uso específico.
• Sofisticação do software disponível e compatibilidade;
Software
DRIVERS
PORTAS DE ENTRADA/SAÍDA
Memórias
Memória ROM
Disco Rígido (HD) O Compact Disc (CD) foi criado no começo da década de 80
e é hoje um dos meios mais populares de armazenar dados digi-
talmente.
Sua composição é geralmente formada por quatro camadas:
• Uma camada de policarbonato (espécie de plástico),
onde ficam armazenados os dados
• Uma camada refletiva metálica, com a finalidade de re-
fletir o laser
• Uma camada de acrílico, para proteger os dados
• Uma camada superficial, onde são impressos os rótulos
1. CD comercial
(que já vem gravado com música ou dados)
2. CD-R
O disco rígido é popularmente conhecido como HD (Hard (que vem vazio e pode ser gravado uma única vez)
Disk Drive - HDD) e é comum ser chamado, também, de memó-
ria, mas ao contrário da memória RAM, quando o computador é 3. CD-RW
desligado, não perde as informações. (que pode ter seus dados apagados e regravados)
O disco rígido é, na verdade, o único dispositivo para armaze- Atualmente, a capacidade dos CDs é armazenar cerca de 700
namento de informações indispensável ao funcionamento do com- MB ou 80 minutos de música.
putador. É nele que ficam guardados todos os dados e arquivos,
incluindo o sistema operacional. Geralmente é ligado à placa-mãe DVD, DVD-R e DVD-RW
por meio de um cabo, que pode ser padrão IDE, SATA ou SATA2.
O Digital Vídeo Disc ou Digital Versatille Disc (DVD) é hoje
HD Externo o formato mais comum para armazenamento de vídeo digital. Foi
inventado no final dos anos 90, mas só se popularizou depois do
ano 2000. Assim como o CD, é composto por quatro camadas,
com a diferença de que o feixe de laser que lê e grava as informa-
ções é menor, possibilitando uma espiral maior no disco, o que
proporciona maior capacidade de armazenamento.
Também possui as versões DVD-R e DVD-RW, sendo R de
gravação única e RW que possibilita a regravação de dados. A
capacidade dos DVDs é de 120 minutos de vídeo ou 4,7 GB de
dados, existindo ainda um tipo de DVD chamado Dual Layer, que
contém duas camadas de gravação, cuja capacidade de armazena-
mento chega a 8,5 GB.
Blu-Ray
Mouse
Touchpad
OS PERIFÉRICOS
Câmera Digital
Scanner
Entrada/Saída
As impressoras a laser apresentam elevada qualidade de im- São dispositivos que possuem tanto a função de inserir dados,
pressão, aliada a uma velocidade muito superior. Utilizam folhas quanto servir de saída de dados. Exemplos: pen drive, modem,
avulsas e são bastante silenciosas. CD-RW, DVD-RW, tela sensível ao toque, impressora multifun-
Possuem fontes internas e também aceitam fontes via software cional, etc.
(dependendo da quantidade de memória). Algumas possuem um IMPORTANTE: A impressora multifuncional pode ser clas-
recurso que ajusta automaticamente as configurações de cor, elimi- sificada como periférico de Entrada/Saída, pois sua principal ca-
nando a falta de precisão na impressão colorida, podendo atingir racterística é a de realizar os papeis de impressora (Saída) e scan-
uma resolução de 1.200 dpi (dots per inch - pontos por polegada). ner (Entrada) no mesmo dispositivo.
Categoria de impressora criada para ter cor no impresso com Os barramentos, conhecidos como BUS em inglês, são con-
qualidade de laser, porém o custo elevado de manutenção aliado ao juntos de fios que normalmente estão presentes em todas as placas
surgimento da laser colorida fizeram essa tecnologia ser esquecida. do computador.
A ideia aqui é usar uma sublimação de cera (aquela do lápis de Na verdade existe barramento em todas as placas de produtos
cera) para fazer impressão. eletrônicos, porém em outros aparelhos os técnicos referem-se aos
barramentos simplesmente como o “impresso da placa”.
Plotters Barramento é um conjunto de 50 a 100 fios que fazem a comu-
nicação entre todos os dispositivos do computador: UCP, memó-
ria, dispositivos de entrada e saída e outros. Os sinais típicos en-
contrados no barramento são: dados, clock, endereços e controle.
Os dados trafegam por motivos claros de necessidade de se-
rem levados às mais diversas porções do computador.
Os endereços estão presentes para indicar a localização para
onde os dados vão ou vêm.
O clock trafega nos barramentos conhecidos como síncronos,
pois os dispositivos são obrigados a seguir uma sincronia de tempo
para se comunicarem.
O controle existe para informar aos dispositivos envolvidos
na transmissão do barramento se a operação em curso é de escrita,
leitura, reset ou outra qualquer. Alguns sinais de controle são bas-
tante comuns:
Outro dispositivo utilizado para impressão é a plotter, que é • Memory Write - Causa a escrita de dados do barramento de
uma impressora destinada a imprimir desenhos em grandes dimen- dados no endereço especificado no barramento de endereços.
sões, com elevada qualidade e rigor, como plantas arquitetônicas, • Memory Read - Causa dados de um dado endereço especi-
mapas cartográficos, projetos de engenharia e grafismo, ou seja, a ficado pelo barramento de endereço a ser posto no barramento de
impressora plotter é destinada às artes gráficas, editoração eletrô- dados.
nica e áreas de CAD/CAM. • I/O Write - Causa dados no barramento de dados serem en-
Vários modelos de impressora plotter têm resolução de 300 viados para uma porta de saída (dispositivo de I/O).
dpi, mas alguns podem chegar a 1.200 pontos por polegada, per- • I/O Read - Causa a leitura de dados de um dispositivo de I/O,
mitindo imprimir, aproximadamente, 20 páginas por minuto (no os quais serão colocados no barramento de dados.
padrão de papel utilizado em impressoras a laser). • Bus request - Indica que um módulo pede controle do barra-
Existe a plotter que imprime materiais coloridos com largura mento do sistema.
de até três metros (são usadas em empresas que imprimem grandes • Reset - Inicializa todos os módulos
volumes e utilizam vários formatos de papel).
INTERFACE DE VIDEO
Component Video
Placa de vídeo com conectores S-Video, DVI e VGA Monitor CRT da marca LG.
Porta Paralela
A porta paralela obedece à norma Centronics. Nas portas pa-
ralelas o sinal eléctrico é enviado em simultâneo e, como tal, tem
um desempenho superior em relação às portas série. No caso desta
norma, são enviados 8 bits de cada vez, o que faz com que a sua ca-
As portas são, por definição, locais onde se entra e sai. Em pacidade de transmisssão atinja os 100 Kbps. Esta porta é utilizada
termos de tecnologia informática não é excepção. As portas são para ligar impressoras e scanners e possui 25 pinos em duas filas.
tomadas existentes na face posterior da caixa do computador, às
quais se ligam dispositivos de entrada e de saída, e que são direc- Porta USB (Universal Serial Bus)
tamente ligados à motherboard . Desenvolvida por 7 empresas (Compaq, DEC, IBM, Intel,
Estas portas ou canais de comunicação podem ser: Microsoft, NEC e Northern Telecom), vai permitir conectar pe-
* Porta Dim riféricos por fora da caixa do computador, sem a necessidade de
* Porta PS/2 instalar placas e reconfigurar o sistema. Computadores equipados
* Porta série com USB vão permitir que os periféricos sejam automaticamente
* Porta Paralela configurados assim que estejam conectados fisicamente, sem a ne-
* Porta USB cessidade de reboot ou programas de setup. O número de acessó-
* Porta FireWire rios ligados à porta USB pode chegar a 127, usando para isso um
periférico de expansão.
Porta DIM A conexão é Plug & Play e pode ser feita com o computador
É uma porta em desuso, com 5 pinos, e a ela eram ligados os ligado. O barramento USB promete acabar com os problemas de
teclados dos computadores da geração da Intel 80486, por exem- IRQs e DMAs.
plo. Como se tratava apenas de ligação para teclados, existia só O padrão suportará acessórios como controles de monitor,
uma porta destas nas motherboards. Nos equipamentos mais re- acessórios de áudio, telefones, modems, teclados, mouses, drives
centes, os teclados são ligados às portas PS/2. de CD ROM, joysticks, drives de fitas e disquetes, acessórios de
imagem como scanners e impressoras. A taxa de dados de 12 me-
gabits/s da USB vai acomodar uma série de periféricos avançados,
incluindo produtos baseados em Vídeo MPEG-2, digitalizadores e
interfaces de baixo custo para ISDN (Integrated Services Digital
Network) e PBXs digital.
Porta PS/2
Surgiram com os IBM PS/2 e nos respectivos teclados. Tam-
bém são designadas por mini-DIM de 6 pinos. Os teclados e ratos
dos computadores actuais são, na maior parte dos casos, ligados
através destes conectores. Nas motherboards actuais existem duas
portas deste tipo.
Integridade: Medida em que um serviço/informação é genui- A forma mais conhecida de ataque que consiste na perturba-
no, isto é, esta protegido contra a personificação por intrusos. ção de um serviço, devido a danos físicos ou lógicos causados no
sistema que o suportam. Para provocar um DoS, os atacantes dis-
Honeypot: É o nome dado a um software, cuja função é de- seminam vírus, geram grandes volumes de tráfego de forma artifi-
tectar ou de impedir a ação de um cracker, de um spammer, ou cial, ou muitos pedidos aos servidores que causam subcarga e estes
de qualquer agente externo estranho ao sistema, enganando-o, fa- últimos ficam impedidos de processar os pedidos normais.
zendo-o pensar que esteja de fato explorando uma vulnerabilidade O objetivo deste ataque é parar algum serviço. Exemplo:
daquele sistema. • “Inundar” uma rede com pacotes SYN (Syn-Flood);
• “Inundar” uma rede com pacotes ICPM forçados.
AMEAÇAS À SEGURANÇA O alvo deste tipo de ataque pode ser um Web Server contendo
o site da empresa, ou até mesmo “inundar” o DHCP Server Local
Ameaça é algo que oferece um risco e tem como foco algum com solicitações de IP, fazendo com que nenhuma estação com IP
ativo. Uma ameaça também pode aproveitar-se de alguma vulne- dinâmico obtenha endereço IP.
rabilidade do ambiente.
Identificar Ameaças de Segurança – Identificar os Tipos de Elevação de Privilégios
Ataques é a base para chegar aos Riscos. Lembre-se que existem
as prioridades; essas prioridades são os pontos que podem com- Acontece quando o usuário mal-intencionado quer executar
prometer o “Negócio da Empresa”, ou seja, o que é crucial para a uma ação da qual não possui privilégios administrativos suficien-
sobrevivência da Empresa é crucial no seu projeto de Segurança. tes:
Abaixo temos um conjunto de ameaças, chamado de FVRD- • Explorar saturações do buffer para obter privilégios do sis-
NE: tema;
• Obter privilégios de administrador de forma ilegítima.
Falsificação Este usuário pode aproveitar-se que o Administrador da Rede
efetuou logon numa máquina e a deixou desbloqueada, e com isso
Falsificação de Identidade é quando se usa nome de usuário adicionar a sua própria conta aos grupos Domain Admins, e Re-
e senha de outra pessoa para acessar recursos ou executar tarefas. mote Desktop Users. Com isso ele faz o que quiser com a rede da
Seguem dois exemplos: empresa, mesmo que esteja em casa.
Quem ataca a rede/sistema são agentes maliciosos, muitas Depois de identificado o potencial de ataque, as organizações
vezes conhecidos como crackers, (hackers não são agentes mali- têm que decidir o nível de segurança a estabelecer para um rede
ciosos, tentam ajudar a encontrar possíveis falhas). Estas pessoas ou sistema os recursos físicos e lógicos a necessitar de proteção.
são motivadas para fazer esta ilegalidade por vários motivos. Os No nível de segurança devem ser quantificados os custos associa-
principais motivos são: notoriedade, autoestima, vingança e o di- dos aos ataques e os associados à implementação de mecanismos
nheiro. É sabido que mais de 70% dos ataques partem de usuários de proteção para minimizar a probabilidade de ocorrência de um
legítimos de sistemas de informação (Insiders) -- o que motiva ataque .
corporações a investir largamente em controles de segurança para POLÍTICAS DE SEGURANÇA
seus ambientes corporativos (intranet).
É necessário identificar quem pode atacar a minha rede, e qual De acordo com o RFC 2196 (The Site Security Handbook),
a capacidade e/ou objetivo desta pessoa. uma política de segurança consiste num conjunto formal de regras
• Principiante – não tem nenhuma experiência em programa- que devem ser seguidas pelos usuários dos recursos de uma orga-
ção e usa ferramentas de terceiros. Geralmente não tem noção do nização.
que está fazendo ou das consequências daquele ato. As políticas de segurança devem ter implementação realista,
• Intermediário – tem algum conhecimento de programação e e definir claramente as áreas de responsabilidade dos usuários, do
utiliza ferramentas usadas por terceiros. Esta pessoa pode querer pessoal de gestão de sistemas e redes e da direção. Deve também
algo além de testar um “Programinha Hacker”. adaptar-se a alterações na organização. As políticas de segurança
• Avançado – Programadores experientes, possuem conheci- fornecem um enquadramento para a implementação de mecanis-
mento de Infraestrutura e Protocolos. Podem realizar ataques es- mos de segurança, definem procedimentos de segurança adequa-
truturados. Certamente não estão só testando os seus programas. dos, processos de auditoria à segurança e estabelecem uma base
Estas duas primeiras pessoas podem ser funcionários da em- para procedimentos legais na sequência de ataques.
presa, e provavelmente estão se aproveitando de alguma vulnera- O documento que define a política de segurança deve deixar
bilidade do seu ambiente. de fora todos os aspetos técnicos de implementação dos mecanis-
mos de segurança, pois essa implementação pode variar ao longo
VULNERABILIDADES do tempo. Deve ser também um documento de fácil leitura e com-
preensão, além de resumido.
Os ataques com mais chances de dar certo são aqueles que ex- Algumas normas definem aspectos que devem ser levados em
ploram vulnerabilidades, seja ela uma vulnerabilidade do sistema consideração ao elaborar políticas de segurança. Entre essas nor-
operacional, aplicativos ou políticas internas. mas estão a BS 7799 (elaborada pela British Standards Institution)
Veja algumas vulnerabilidades: e a NBR ISO/IEC 17799 (a versão brasileira desta primeira).
• Roubo de senhas – Uso de senhas em branco, senhas pre- Existem duas filosofias por trás de qualquer política de se-
visíveis ou que não usam requisitos mínimos de complexidade. gurança: a proibitiva (tudo que não é expressamente permitido é
Deixar um Postit com a sua senha grudada no monitor é uma vul- proibido) e a permissiva (tudo que não é proibido é permitido).
nerabilidade. Enfim, implantar Segurança em um ambiente não depende
• Software sem Patches – Um gerenciamento de Service Packs só da Tecnologia usada, mas também dos Processos utilizados
e HotFixes mal feito é uma vulnerabilidade comum. Veja casos na sua implementação e da responsabilidade que as Pessoas têm
como os ataques do Slammer e do Blaster, sendo que suas res- neste conjunto. Estar atento ao surgimento de novas tecnologias
pectivas correções já estavam disponíveis bem antes dos ataques não basta, é necessário entender as necessidades do ambiente, e
serem realizados. implantar políticas que conscientizem as pessoas a trabalhar de
• Configuração Incorreta – Aplicativos executados com contas modo seguro.
de Sistema Local, e usuários que possuem permissões acima do Seu ambiente nunca estará seguro, não imagine que instalando
necessário. um bom Antivírus você elimina as suas vulnerabilidades ou dimi-
• Engenharia Social – O Administrador pode alterar uma se- nui a quantidade de ameaças. É extremamente necessário conhecer
nha sem verificar a identidade da chamada. o ambiente e fazer um estudo, para depois poder implementar fer-
• Segurança fraca no Perímetro – Serviços desnecessários, ramentas e soluções de segurança.
portas não seguras. Firewall e Roteadores usados incorretamente.
• Transporte de Dados sem Criptografia – Pacotes de autenti-
cação usando protocolos de texto simples, dados importantes en-
viados em texto simples pela Internet.
Identifique, entenda como explorá-las e mesmo que não seja
possível eliminá-las, monitore e gerencie o risco de suas vulnera-
bilidades.
Nem todos os problemas de segurança possuem uma solução
definitiva, a partir disso inicia-se o Gerenciamento de Risco, anali-
sando e balanceando todas as informações sobre Ativos, Ameaças,
Vulnerabilidades, probabilidade e impacto.
Resposta: C
Open Document Text (.odt)
( ) Certo
( ) Errado
A intranet é semelhante a Internet, pois utiliza os mesmos Motores de busca Mozilla
protocolos, serviços e programas. A grande diferença está no
tratamento dado às informações, pois são cercadas de regras de Pela figura acima vemos o motor de busca Mysearchdial
acesso, política de senhas, configuração de firewall e outros pro- configurado como padrão no navegador Mozilla Firefox. Na
cedimentos de segurança para que sejam mantidas no ambiente lista que abaixo deste buscador, temos uma lista com diversas
coorporativo e não se tornem públicas, como as informações da opções para substituí-lo.
Internet.
RESPOSTA: “CERTO”.
RESPOSTA: “CERTO”.
05. (STF - TÉCNICO JUDICIÁRIO - ÁREA ADMI-
03. (MDIC - AGENTE ADMINISTRATIVO – CES- NISTRATIVA – CESPE/2013) - Considerando que uma
PE/2014) - Julgue os itens a seguir, referentes a programas de organização possua uma intranet com servidor web e servi-
navegação, programas de correio eletrônico e sítios de busca dor de correio eletrônico, julgue os itens a seguir.
e pesquisa na Internet.
Se o usuário da organização desejar configurar o clien-
A pesquisa pelo termo intitle «cloud” feita no Google re-
te de correio eletrônico Microsoft Outlook para acessar o
torna todas as páginas que contenham a palavra cloud em
sua URL. servidor de emails da organização, ele deverá escolher uma
senha de até doze caracteres, devido às restrições de políti-
( ) Certo cas de segurança de senhas do Microsoft Outlook.
( ) Errado ( ) Certo
( ) Errado
O comando intitle busca conteúdo na web pesquisando atra-
vés dos títulos. A palavra deixada entre “” (aspas) é o título pro- A política de senhas de servidores Microsoft, quando ha-
curado. bilitada para o nível mais alto, exige letras, números e símbo-
los, não pode ter partes do nome do usuário e tamanho mínimo
RESPOSTA: “ERRADO”. (configurável) de 10 caracteres.
RESPOSTA: “ERRADO”.
04. (MDIC - AGENTE ADMINISTRATIVO – CES-
PE/2014) - Julgue os itens a seguir, referentes a programas de
06. (STF - TÉCNICO JUDICIÁRIO - ÁREA ADMI-
navegação, programas de correio eletrônico e sítios de busca
NISTRATIVA – CESPE/2013) - Considerando que uma
e pesquisa na Internet.
Apesar de o Mozilla Firefox apresentar alguns motores organização possua uma intranet com servidor web e servi-
de busca disponíveis para o usuário, é possível incluir novos dor de correio eletrônico, julgue os itens a seguir.
motores de busca disponibilizados por sítios na Web. Tanto no caso do servidor web como no do servidor de
correio eletrônico, é necessário haver um serviço DNS para
( ) Certo converter nomes em endereços IPs.
( ) Errado ( ) Certo
( ) Errado
11. (PC/RJ - PERITO CRIMINAL - ENGENHARIA SMTP (Simple Mail TransferProtocol – protocolo de transfe-
DA COMPUTAÇÃO – IBFC/2013) - Correio eletrônico é rência de correio simples) transfere as mensagens de um servidor
um dos componentes do Linux responsável por enviar e rece- a outro, ou seja, do servidor de correio do remetente ao servidor de
ber mensagens (e-mail). Marque a opção que é um programa correio do destinatário, em uma conexão ponto a ponto. O SMTP
de recuperação de mensagens de correio eletrônico, que não é conversa com outros servidores SMTP para enviar uma mensa-
inicializado com o Linux: gem. Ele separa o nome do usuário e o nome do servidor, e envia
a) Mail
a mensagem para o servidor SMTP do destinatário. Caso exista al-
b) Fetchmail.
c) Mrd gum motivo que evite que o servidor SMTP do remetente entregue
d) Uname. a mensagem para o servidor SMTP do destinatário, a mensagem
e) Sort. vai aguardar em uma lista, e haverá várias tentativas de reenvio.
O Fetchmail é um utilitario para Linux e Unix usado para O tempo limite (timeout) do servidor SMTP pode ser configurado
funcionar como uma espécie de cliente de email, ele recebe os para que a espera para o envio de suas mensagens seja maior.
emails de uma conexão remota baseada no lixo do POP3 e no
poderoso IMAP e tb em ETRN e ODMR servers. O Fetchmail é RESPOSTA: “CERTO”.
uma das unicas soluções para resolver problemas de maquinas
UNIX desde muito e conexões a servidores de email com IPsdi-
namicos com conexões SLIP ou PPPDialup.
Ele tem a mesma função de um cliente de email, ele baixa
os emails se conectando ao servidor e mantém no mailbox do
usuario seja ele em .MailDir OU /var/mail (/var/spool/mail) do
usuario e mantem a mensagem no servidor. Ele depende do uso
do sendmail ou postfix em funcionando.
(Fonte: http://www.aprigiosimoes.com.br/2010/05/22/
fetchmail-em-linux-e-freebsd/, acessado em 18/04/2014)
RESPOSTA: “B”.
Didatismo e Conhecimento 1
HISTÓRIA DO BRASIL
o espólio do sistema para o uso da política de clientela e do corpo- quais predominam as tradições e a continuidade cultural. Perspectiva
rativismo; práticas que seriam realizadas, aí sim, pela classe política diferente, na dimensão institucional, apresenta Raymundo Faoro na
situada no parlamento. Como o parlamento passa a desempenhar um obra Os donos do poder (1989), em que caracterizava o Estado no
papel historicamente secundário na esfera das grandes decisões es- Brasil como uma ex- tensão do patrimonialismo ibérico, um poder
tatais no Brasil, decorrente dessa dinâmica, a hipertrofia do poder imposto a uma sociedade dominada pela política de manutenção do
Executivo passa a ser uma característica prevalecente no Brasil. poder vigente.
Uma das consequências desse tipo de pensamento culturalista, Nesse sentido, pode-se dizer que a experiência política brasilei-
por exemplo, foi a sugestão de Oliveira Viana e de seus seguidores ra tem se caracterizado pela predominância de formas autoritárias de
de que somente um sistema autoritário e centralizador poderia cons- governo, gerando, como consequência, uma restrição às possibilida-
truir o verdadeiro Estado nacional. des de uma participação política mais efetiva. O impacto do autorita-
Nesse sentido, o Estado, dominado pela tecnocracia e por pro- rismo, ao longo das últimas décadas, não permitiu que se desenvol-
cedimentos clientelísticos, personalistas e corporativistas, propicia a vesse um cenário no qual a ingerência da sociedade civil no Estado
institucionalização do chamado Estado Patrimonialista. Quanto ao fosse significativa. Após 1974, com o processo de abertura política,
patrimonialismo, encontra-se na obra de Raymundo Faoro (1989) o país atravessaria fases com amplas manifestações de massa, den-
um dos principais trabalhos acerca desse tema. Para o autor, o atraso tre elas a marcha pelas diretas, em 1984; as manifestações pelo im-
político brasileiro, do ponto de vista da incorporação da sociedade peachment do presidente Collor; a CPI dos anões, e as várias CPIs
civil, tem a ver com a forma de estruturação da burocracia no país. que têm se instalado ao longo do tempo. Esses acontecimentos, en-
Fruto do avanço sistemático do poder político no controle da econo- tretanto, que em outras circunstâncias poderiam constituir matrizes
mia e da diferenciação social, o patrimonialismo ou o mercantilismo capazes de catalisar modalidades de participação mais duradouras e
estatal destruiu a institucionalização dos direitos individuais. Os bu- objetivas, acabam sendo relegados a um segundo planos em relação
rocratas da corte passaram a ter status maior do que os da fidalguia, às crises econômica e social que vêm abalando o país, apesar da
que perdem seu poder econômico durante o processo de expansão existência de indicadores estatísticos que mostram uma expansão in-
comercial. dustrial e uma recuperação da economia. Outrossim, historicamente,
Esse conjunto de fatores da sociabilidade brasileira propiciou o os instrumentos necessários para uma construção democrática carac-
estabelecimento de quatro elementos que caracterizaram a organiza- terizada pela participação política estavam ausentes ou funcionavam
ção social brasileira: ausência da tendência de autogoverno, a qual de maneira precária ou com predisposições ideológicas de- termina-
significava a ausência de solidariedade comunitária e de maneiras das. Um dos instrumentos de grande impacto, nesse sentido, são os
espontâneas de auto-organização política; virtudes inativas, ou seja, meios de comunicação.
o ser social não reflete ativamente para transformar a realidade, mas Ao lado disso, o(s) sistema(s) partidário(s) frágil (eis) e com
procura uma razão externa a sua existência; e razão reflexiva, a qual pouca credibilidade não tem constituído um instrumento de canali-
provoca um pensamento que impede rompi- mentos, sustenta uma zação, de mobilização e de participação política. Nesse contexto, os
consciência conservadora e um do- mínio dos interesses pelas pai- pleitos eleitorais têm se caracterizado, ao longo do tempo, por apelos
xões. subjetivos, emocionais, personalistas e clientelistas.
De acordo com essa concepção, a sociabilidade brasileira nas- Diante desse cenário, caberia indagar que tipo de construção
ceu influenciada pela pirâmide familiar, tendo como fundamento a democrática está em andamento no Brasil?
organização patriarcal, a fragmentação social, às lutas entre as fa-
mílias, as virtudes inativas e a Ética da aventura. Originalmente o DEMOCRACIA E CULTURA POLÍTICA
caudilhismo e, posteriormente, o coronelismo, que implicava a exis-
tência de lideranças carismáticas, substituíam a racionalidade dos Um conceito que surgiu nos últimos anos, para avaliar a saúde
interesses individuais e estabeleciam a matriz sobre a qual a organi- democrática do país, é a desconsolidação democrática. Típico desse
zação social e as fundações da política e do Estado foram delineadas. processo seria o uso privado das instituições públicas, que a versão
Com efeito, na medida em que as relações afetivas ou familia- da democracia contemporânea tem possibilitado em que os poderes
res precederam a constituição do espaço público, o poder público e os interesses econômicos utilizam os poderes políticos e as insti-
incorporou uma dimensão personalista em que o carisma-onipoten- tuições democráticas para continuar a exercer, com legitimidade e
te e a dependência do homem comum geraram uma atitude instru- eficácia, sua dominação e seu regime de enriquecimento.
mental em relação à política. Nos anos 80, a abordagem culturalista Para grande parcela da comunidade acadêmica, parece que
solidifica-se em sua análise dos fenômenos sociais e da linguagem, a versão duracionista da democracia é mais importante do que os
examinando as causas da desigualdade e das formas de hierarquia resultados sociais que ela gera. Pensa-se que uma democracia se
existentes no Brasil. Já no exame das representações sociais e das consolida meramente pela sua capacidade de sobreviver a atentados
concepções de cidadania, verifica-se o confronto da autoridade so- contra sua institucionalidade.
cial, baseada, de um lado, no personalismo e na identidade vertical, O que constatamos no Brasil contemporâneo é que a democra-
e, de outro, na lei positiva. Nesse contexto, enquanto o conhecido cia está se sustentando, mas suas instituições, longe de se consoli-
medalhão determina as iniciativas da ação coletiva, o personalismo, darem, estão cada vez mais submetidas aos interesses privados dos
como modelo típico desse tipo de relações sociais, institucionaliza- setores econômicos. Em uma avaliação das democracias latino-ame-
se. ricanas, porém aplicável ao caso brasileiro, sugere que, apesar das
A conclusão do autor é a de que a sociedade brasileira pode ser instituições funcionarem anti- democraticamente com governos que
caracterizada como sendo híbrida, pois combina uma identidade ho- não governam, parlamentos com mais representatividade privada do
rizontal, tipicamente ocidental e baseada no direito natural, com uma que política, eleições que elegem candidatos mas não os legitimam,
identidade vertical, característica das sociedades não-ocidentais, nas instituições políticas que servem para o linchamento político e vin-
Didatismo e Conhecimento 2
HISTÓRIA DO BRASIL
ganças privadas, dão lugar a uma desordem democrática capaz de O neoliberalismo consegue, portanto, algo inédito, qual seja,
desordenar qualquer ordem e ordenamento social, mas que, parado- sem destruir as instituições democráticas, submetê-las aos seus in-
xalmente, são naturalizadas por toda a sociedade. teresses e utilizá-las como instrumentos de dominação e enriqueci-
Consequência dessa desordem é a idéia de que uma alternati- mento ilícito.
va aos déficits de representação política seria a maior participação Nesse sentido, a democracia, na sua versão brasileira, tanto ope-
política e, ignora-se, no entanto, que a participação requer uma me- ra na gestão e administração de conflitos políticos, como permite a
lhoria da própria representação, o que em realidade não ocorre. Em maior concentração de renda já observada na história do país. O pa-
consequência disso, tem-se tornado corriqueiro examinar as conse- radoxo da democracia brasileira parece ser o de que, quanto mais ela
quências dos déficits de representação política, deixando-se de exa- dura, mais é pervertida, graças ao processo de globalização que tem
minar suas causas reais; de maneira geral, o Congresso e os partidos possibilitado aos órgãos internacionais repetirem reiteradamente que
políticos apare- cem como os principais responsáveis pelas falhas na sem legitimidade democrática não há apoio para o desenvolvimento,
representação política. Sem eximir sua parte nesse processo, seria colocando o país numa situação de dependência neocolonialista.
pertinente resgatar a influência dos condicionantes histórico-sociais Talvez a institucionalização dos procedimentos, como sendo
no processo de representação política e de sua crise. Esse problema suficientes na construção democrática do país, tenha levado a negli-
se agrava na atualidade em virtude do aprofundamento da heteroge- genciar o fato de a democracia brasileira estar em processo de dete-
neidade estrutural, que torna quase inviável a representação efetiva rioração e degradação. A durabilidade do modelo democrático pare-
dos diferentes interesses sociais. ce se sobrepuser aos custos sociais de sua precariedade, visto serem
O papel dos partidos políticos se vê hoje comprometi- do na eles internalizados e pagos com o aumento da pobreza e da exclusão
sua função de agregação de interesses, pela insuficiência da conso- social, ao passo que os lucros são externalizados, beneficiando os
lidação democrática. Por um lado, o modelo político vigente tem defensores da globalização. Por efeito dessas características, que
permitido maior concentração de renda, legitimada pelo dogma neo- operam contra as instituições democráticas, a democracia funciona
liberal; por outro, constata-se, simultaneamente, um crescimento da cada vez mais antidemocraticamente e antiinstitucionalmente.
exclusão social e o aumento da pobreza, transformando a sociedade Não é novidade, portanto, encontrar nas pesquisas de opinião
brasileira não numa sociedade de interesses, mas numa nação de ne- pública o pouco apego e confiabilidade que os cidadãos brasileiros
cessidades. Entretanto, diferentemente dos interesses que podem ser depositam nas suas instituições políticas. Em média, nos últimos 15
objetivamente representa- dos, as necessidades passam pelo crivo anos, os partidos são avaliados negativamente por mais de 60% da
imaginário dos representantes eleitos e, portanto, de um modo geral, população brasileira.
não são representadas politicamente. O resultado é o distanciamento e a crise permanente das insti-
Nos últimos anos, assistimos a uma reconversão da representa- tuições políticas, levando ao fortalecimento do personalismo como
ção política que tem se orientado na defesa dos interesses privados. instrumento de governabilidade. Na verdade, vivemos numa demo-
Dessa forma, ao mesmo tempo em que se legitima democratica- cracia permanentemente instável.
mente uma dominação mais eficaz sobre a sociedade e uma maior Assim, repensar o processo histórico que deu origem à forma-
concentração de riquezas, as instituições políticas democráticas são ção de valores, normas e atitudes que norteiam o comportamento
deslegitimadas. político na sociedade brasileira é, sem dúvida, uma tarefa bastante
A consequência da grave crise de representação política que o complexa, porque se de um lado nos deparamos com uma ampla
país vive tem redundado numa situação paradoxal em que, por um bibliografia enfocando aspectos socioculturais, políticos e econômi-
lado, busca-se o fortalecimento das instituições via reformas polí- cos, de outro encontramos poucos estudos que nos permitam enten-
ticas, enquanto, por outro, buscam-se ou resgatam-se lideranças der como se forjou a consciência política desta sociedade e de que
políticas cujo carisma é sempre proporcional à sua capacidade de modo ela tem se expressado em sua cultura política.
se impor às instituições, o que acaba deslegitimando-as ainda mais. Se cultura política é vista ao mesmo tempo como causa e con-
O resultado é a vigência de um ciclo vicioso, pois quanto maior a sequência do funcionamento do sistema político, pode-se afirmar
deslegitimação institucional, maior também a exigência de líderes que a cultura política de uma sociedade é resultado de um padrão de
carismáticos, os quais contribuem para neutralizar e desacreditar es- orientações cognitivas, emocionais e valorativas que, além de está-
sas mesmas instituições. veis, tornam-se vivas e atuantes ao longo do tempo, pois “a menos
A chamada durabilidade da democracia nesse contexto se dá à que grandes rupturas históricas for- cem os grupos sociais a redefinir
custa da perversão da legitimidade e da eficácia democráticas. Se a esses padrões, a cultura política continuará a reproduzir-se de acordo
deslegitimação é grande, a ineficácia é maior, tendo em vista que os com as matrizes originais”.
problemas do país cada vez mais são resolvidos por meios não de- Nesse sentido, o que importa destacar é que a cultura política
mocráticos (medidas provisórias; loteamento de cargos; negociações ocupa um lugar central no cotidiano dos indivíduos, podendo servir
espúrias). Atualmente, por exemplo, fala-se muito na existência de tanto para regular a transmissão de valores políticos, quanto para
um clientelismo de coalisão no governo federal. legitimar o funcionamento das instituições políticas. A forma como
O enriquecimento de uma pequena parcela da população brasi- se constrói e se difunde essa cultura está diretamente relacionada à
leira, enquanto a maioria enfrenta as incertezas de uma economia de como se reproduzem os comportamentos, as normas e os valores
mercado e o não atendimento de suas necessidades básicas, tem se políticos de determinada comunidade. Desse ponto de vista, a aná-
tornado possível num contexto democrático, precisamente porque lise da cultura política de uma sociedade pressupõe a necessidade
as instituições democráticas, em vez de desempenharem seus papéis de caracterizar os diferentes contextos histórico-culturais que irão
específicos, de funcionarem democraticamente, têm, ao contrário, contribuir para a sua configuração. Assim sendo, a compreensão da
servidas de apoio a setores que, com maior eficácia e legitimidade, sociedade brasileira deve ser vista como resultado de um processo
reproduzem sua dominação e seu enrique- cimento. interativo e cumulativo de experiências vividas, cujas matrizes po-
Didatismo e Conhecimento 3
HISTÓRIA DO BRASIL
líticas podem ser identificadas pela determinação de seu processo capazes de solucionar os problemas sociais básicos (transporte, edu-
de formação histórica. Dessa perspectiva, interessa destacar neste cação, emprego e saúde). O que as pesquisas de opinião pública,
trabalho o impacto do modelo político vigente no país nas relações feitas nos últimos anos no país, mostram é que há um declínio sig-
sociais e políticas. nificativo de apoio dos cidadãos ao atual sistema político. Uma das
Até que ponto, por exemplo, o neoliberalismo não tem conse- consequências mais marcantes do neoliberalismo também tem sido
guido eliminar traços tradicionais da política brasileira. Em primeiro o de possibilitar o surgimento de organizações paraestatais, organi-
lugar, é importante constatar que a bibliografia sobre democracia, de zações que funcionam à margem da lei e que contam com o apoio
modo geral, aponta para a necessidade de instituições mediadoras significativo das populações mais carentes. Destaca-se aqui, espe-
eficazes, democráticas e com legitimidade, como fator fundamental cificamente, o narcotráfico. Essas organizações estão propiciando o
para o desenvolvimento democrático. Numa retrospectiva histórica aumento da criminalidade e da marginalização, levando os grupos
daqueles países considera- dos avançados, verifica-se que consegui- tradicionalmente excluídos dos benefícios sociais a legitimar ações
ram estabelecer uma democracia duradoura, atravessando etapas deletérias em nome de uma nova cidadania. Pesquisas realizadas na
históricas que se iniciaram com relações primárias a família era o área antropológica mostram adolescentes que matam por um par de
núcleo em torno do qual os cidadãos transitavam. A identidade social tênis por que consideram ser esse um ato de manifestação de cida-
era grupal ou familiar. dania.
Com o advento da urbanização e da modernização, que im- Esses dados indicam que o país vive, no presente, uma situação
pactaram a noção de família, surgem às chamadas relações sociais em que prevalece o princípio de exclusão social. Paradoxalmente, os
secundárias em que as instituições políticas, especificamente os governantes tendem a considerar essa situação como inevitável e a
partidos políticos, catalisam identidades coletivas. É a fase da con- desigualdade social, um fato natural.
solidação da democracia representativa, na qual os partidos são os Dessa maneira, constata-se uma crise dominante da legitimida-
mediadores das demandas da sociedade civil. É a solidificação das de do Estado no país. As pessoas parecem não mais acreditar na au-
relações secundárias que fortalecem o sistema democrático. No en- toridade constituída. Roberto Da Mata (1993) ilustra bem esse ponto
tanto, observa-se no Brasil o surgimento e prevalência das relações ao observar que as pessoas, quando se sentem ameaçadas, aumentam
sociais terciárias, em virtude da precariedade dos partidos políticos. a altura das grades das suas residências, em vez de pressionar o Es-
Por relações sociais terciárias entende- se o estabelecimento de uma tado na busca de soluções para o problema da violência. Na área da
relação direta entre Estado e indivíduo, em detrimento dos partidos educação pública, que conta com recursos mate- riais, quando insa-
políticos. tisfeitos com a qualidade do ensino, não lutam por melhores escolas,
Relações sociais dessa natureza têm-se fortalecido nos últimos mas transferem seus filhos para escolas particulares.
governos neoliberais, cuja estratégia, no campo político, orienta-se Todos esses elementos sugerem que, longe de se estar cons-
para fragilizar o sistema de representação política. Um dos exem- truindo uma cultura política participativa e democrática, materiali-
plos disso seria o enfraqueci- mento da estrutura sindical. A própria za-se uma cultura política fragmentada e individualista, com pouco
instalação de uma economia de mercado, ao catalisar o desemprego capital social. Trata-se, portanto, de considerar importante que hoje
estrutural e o surgimento de uma economia informal, vulnerabiliza o desenvolvimento de redes baseadas na confiança interpessoal po-
os setores mais frágeis da sociedade. Os partidos, por sua vez, his- deria constituir o mecanismo de resgate da sociedade civil, para um
toricamente frágeis, tornam-se mais deficientes como instituições de comportamento mais crítico e fiscalizador da coisa pública. O que se
identidades coletivas em economias de mercado. observa, entretanto, é um sentimento generalizado de desconfiança
Não é surpreendente, portanto, o surgimento do chamado neo- entre as pessoas e em relação ao Estado e suas instituições.
populismo, definido como surgimento de líderes personalistas que Como decorrência dessa cultura, constata-se o surgi- mento de
contam com o apoio da população em virtude de suas características um eleitor individualista e pragmático, cujo comportamento político
pessoais e defendem o receituário neoliberal, o qual age contra essa se guia por princípios de eficácia administrativa e capacidade geren-
mesma população para instalar a austeridade econômica e os ajustes cial e não por princípios ideológicos. Texto adaptado BAQUERO, M
estruturais que agravam a situação social do povo. O Brasil, junto
com outros países da América Latina, como Peru e Argentina, é o
exemplo mais emblemático desse neopopulismo contemporâneo.
Ao mesmo tempo, um componente que tem se tornado eviden- A REPÚBLICA VELHA E AS ESTRUTURAS
te no Brasil é a aceitação, por parte significativa da sociedade, de
um discurso que contrapõe a continuidade ao caos, para viabilizar OLIGÁRQUICAS;
a manutenção no poder e a reeleição de líderes que defendem esse
modelo. A vulnerabilidade objetiva da população, nesse contexto,
possibilita que as pessoas internalizem a crença de que, a menos que
se dê continuidade aos governos para terminar as reformas, o caos se Antes da análise do período proposto é importante entendermos
instalará comprometendo a estabilidade democrática. o desenvolvimento econômico brasileiro dentro da história econômi-
Aqui surge outro ponto da cultura política brasileira a ser consi- ca mundial nos períodos anteriores à Primeira República.
derado. Estabeleceu-se uma relação causal entre estabilidade econô- Quando escrevemos a ‘história mundial’ dos períodos prece-
mica e estabilidade social e democrática, desmentida pela realidade. dentes, estamos, na realidade, fazendo uma soma das histórias das
A maior parte dos países do mundo em desenvolvimento, onde se diversas partes do globo, que, de fato, haviam tomado conhecimento
alcançou a estabilidade econômica, está longe de ser modelo de es- umas das outras, porém superficial e marginalmente, exceto quan-
tabilidade social, se por estabilidade social se entende a crença dos do os habitantes de uma região conquistaram ou colonizaram outra,
cidadãos na democracia e nas instituições em virtude de elas serem como os europeus ocidentais fizeram com as Américas.
Didatismo e Conhecimento 4
HISTÓRIA DO BRASIL
A História do Brasil iniciou dentro da lógica de acumulação pri- partes responsáveis pelo acúmulo primitivo de capital que desenca-
mitiva de capital, onde a economia brasileira era apenas uma exten- deara o processo de industrialização, mas creio que seja mais cor-
são portuguesa na América. A ocupação portuguesa se deu através reto neste momento caracterizá-los como uma aristocracia cafeeira,
da exploração de matéria prima tropical, num primeiro momento pois o café representou a última das três grandes aristocracias do
com a exploração e retirada do pau-brasil, depois se desenvolven- país senhores de engenho, grandes mineradores e barões do café.
do a economia açucareira. Até o século XVIII a forma de capital Sem dúvida os cafeicultores foram de extrema importância para a
que dominava a economia mundial era o capital comercial, somen- industrialização e para a formação de uma burguesia nacional, pois
te na virada para o século XIX o capital industrial se desenvolverá mesmo que tenham aderido aos ideais burgueses, neste estágio, ain-
hegemonicamente. Havendo uma revolta contra os monopólios e a da não formavam uma classe consciente de seu papel. Mas foi esta
quebra definitiva do Pacto Colonial, levando os Impérios Ibéricos ao classe e com estes ideais que levaram a pressão pela abolição e a re-
declínio. As metrópoles tornam-se parasitas das colônias. Pois: crutar-se mão-de-obra na imigração europeia. Estas transformações
O antigo sistema colonial, fundado naquilo que se convencionou elevaram o Estado de São Paulo a dianteira econômica nacional. O
chamar Pacto Colonial, e que representa o exclusivismo do comércio país entrou em franca prosperidade e ativação econômica. Esta nova
das colônias para as respectivas metrópoles, entra em declínio. aristocracia ao contrário das anteriores passou a reinvestir capitais,
O domínio do mercado Atlântico passou definitivamente para as principalmente na nascente indústria brasileira, pois o café era:
mãos dos ingleses e o Brasil tornou-se colônia britânica na América. O produto que permitiria ao país reintegrar-se nas correntes em
Os ingleses estavam num estágio econômico bem mais avançado do expansão do comércio mundial; concluída sua etapa de gestação, a
que os portugueses. O mercantilismo, forma de acumulação pré-ca- economia cafeeira encontrava-se em condições de auto financiar sua
pitalista, havia sido superado pelo capitalismo. extraordinária expansão subsequente, estavam formados os quadros
A Inglaterra vivia o período de transição entre o capital comer- da nova classe dirigente que lideraria a grande expansão cafeeira.
cial e o capital industrial. Os resultados destas mudanças não deixa- No contexto europeu, o desenvolvimento industrial representou
ram de contribuir para o desenvolvimento econômico brasileiro, sen- a passagem do capital comercial para o capital industrial, às antigas
do “um primeiro passo nesta grande transformação que se ia operar estruturas monopolistas começam a ruir e a ideologia liberal tomou
no país”.Os efeitos desta liberdade comercial gerada pelo estímulo conta do pensamento econômico europeu. Como não poderia ser
diferente, o Brasil, periferia da Europa, adotou o liberalismo como
econômico coincidem com a transferência da coroa portuguesa para
base ideológica econômica. Serão as idéias liberais que desenca-
o Brasil, transferência ocasionada pela ameaça napoleônica ao Esta-
dearão no processo que levará a queda do Império e propagará as
do Português. A Abertura dos Portos leva a economia brasileira a um
idéias republicanas no país. A indústria capitalista tomou logo tama-
avanço nunca antes alcançado. A coroa portuguesa, porém, eleva os
nho vulto que ofuscou o capitalismo comercial e assumiu cada vez
gastos da colônia.
mais o domínio da economia européia. Pondo fim aos monopólios
A chegada dos nobres ao Brasil gera uma grande mudança nos
comerciais.
hábitos coloniais, causando uma sofisticação das elites locais. Estas
A partir de 1850 o Brasil passou a experimentar um grande surto
transformações geram a elevação dos custos de importações de pro-
industrial, onde o país se urbanizou. Foram instaladas centenas de
dutos de luxo. Nisso o Brasil viverá em constante déficit orçamentá-
fábricas, bancos e diversas companhias de navegação. O financia-
rio que levará à crise do regime servil e o fim do tráfico de escravos. mento em geral veio do capital cafeeiro e do capital financeiro inter-
Na verdade com o advento do capital industrial é necessária uma nacional. O Brasil passou a dar grandes saltos desenvolvimentistas
mudança nas estruturas econômicas coloniais, é preciso estimular para aderir ao capitalismo. Porém, a economia ainda mantinha-se
o comércio interno que só poderá existir com o surgimento de uma refém do mercado externo, com a implementação de políticas que
classe de trabalhadores livres, ou seja, não há lugar para a mão-de-o- garantissem as exportações de gêneros primários. A indústria brasi-
bra escrava ou servil. Torna-se cada vez mais onerosa a imobilização leira, neste momento, produzia basicamente bens de consumo para
de capitais representada pela aquisição de escravos, o surgimento de trabalhadores, o restante era importado, principalmente da Inglater-
uma classe de trabalhadores livres é essencial para o desenvolvimen- ra.
to do capitalismo. Na virado do século, a indústria nacional passou para o processo
A criação de um campesinato livre e de uma classe proletária, de substituição das importações. “A fase da importação de determi-
garantirá a base para o surgimento no Brasil de uma burguesia nacio- nado produto começa quando a economia se diversifica a ponto de
nal capaz de romper com a hegemonia oligárquica agro-exportadora. exigi-lo, e termina quando o mercado cresce tanto que lhe assegura
Da segunda metade do século XIX até o final do Império se a produção nacional”.
caracterizou pela aurora burguesa, surgirão e se consolidarão durante Segundo o brazilianista Warren Dean, a origem da indústria bra-
este século os ideais burgueses no Brasil. A grande transformação se sileira se deu dentro do mercado importador e exportador, tanto os
deu na revolução da distribuição das atividades produtivas. fazendeiros quando os importadores tornam-se os primeiros indus-
O renascimento agrícola que fora impulsionado pela Abertura triários brasileiros, porém sem deixarem sua atividade original. No
dos Portos e, posteriormente, pela emancipação política, desenca- caso dos fazendeiros, em geral, seus investimentos industriais se da-
deou o processo de consolidação dos ideais liberais no Brasil. A crise vam dentro do beneficiamento das matérias-primas que produziam
do açúcar levou a decadência da força política das oligarquias do nas fazendas, o que lhes garantia a valorização dos mesmos.
norte e nordeste. O sudeste foi favorecido com a cultura do café, Na Europa, a virada do século representará a aurora do imperia-
artigo que encontrava grande mercado na Europa, os cafeicultores lismo, o novo estágio do capitalismo. Rosa Luxemburgo conceitua-
iniciaram um período de acumulação de capitais ainda não visto no va o imperialismo como o estágio em que o capitalismo se apropria-
país. va e regiões ainda não pertencentes ao sistema.
Aqui cabe um parêntese, pois é no mínimo questionável utili- Apesar de a Europa estar com as suas atenções voltadas para a
zarmos a expressão “burguesia cafeeira” como alguns historiadores África e Ásia, a América mantinha-se como fornecedora dos bens
o fazem, pois se tratava de grupos aristocráticos rurais, em grandes primários capazes de fortalecer o desenvolvimento da indústria euro-
Didatismo e Conhecimento 5
HISTÓRIA DO BRASIL
péia. No caso brasileiro, havia a busca por aderir ao sistema mundial, Este problema, como vimos, foi parcialmente resolvido com a
mesmo que para isso hipotecasse seus ganhos futuros. Na Europa o abolição da escravatura e, posteriormente, com as imigrações eu-
ideário liberal entra em declínio e o capital financeiro dá inicio a uma ropéias. Em sua maioria a população de ex-escravos não se viu na
nova fase monopolista. O período que se estende do final do século necessidade de transformar-se em força de trabalho, a solução foi
XIX ao princípio do século XX testemunhou a partilha imperialista buscada na imigração européia.
da maior parte das regiões economicamente subdesenvolvidas do Em segundo lugar, existe a necessidade de mercados consu-
mundo. As populações dessas regiões foram submetidas a mais dura midores. Problema que foi resolvido, em parte, com a quebra dos
e cruel exploração, em proveito dos lucros das grandes corporações monopólios comerciais e com a restrição das importações, que foi
sediadas nos países capitalistas avançados. possível com a implantação de uma indústria nacional de bens de
O colonialismo havia sido o fenômeno essencial para com- consumo.
preender a história da humanidade nos séculos anteriores, o século Estas alterações atingiram diretamente as antigas aristocracias,
XX será o século do imperialismo. O imperialismo forneceu os ele- principalmente do norte e nordeste, que viram seu poder econômico
mentos necessários para o desenvolvimento econômico do Brasil, reduzido, por isso tornaram-se, em grande parte, os opositores do
novo sistema. Porém, apesar das transformações ocorridas, a eco-
mas por outro lado, foi acumulando um passivo considerável e tor-
nomia nacional manteve- se refém do mercado externo, tanto na ne-
nou cada vez mais perturbadora e onerosa sua ação.
cessidade de exportação, principalmente de bens primários como o
O capitalismo não se desenvolveu naturalmente no Brasil, an- café, como das importações de produtos sofisticados e da indústria
tes foi imposto pela associação das classes dirigentes nacionais e o pesada.
capitalismo internacional. Sendo que as classes dirigentes brasileiras O salto desenvolvimentista brasileiro, causado pela industriali-
sequer formavam uma burguesia nacional coesa, eram, na verdade, zação do país gerou em um grande êxodo rural, os centros urbanos
representantes de grandes oligarquias rurais que defendiam tão so- cresceram enormemente, surgindo uma grande massa de trabalhado-
mente seus próprios interessem. A associação destes grupos nacio- res assalariados. Nasceu, nos centros urbanos, um grande exército de
nais se realizou com o capitalismo em sua fase imperialista, ou seja, mão-de-obra de reserva. É claro que estas mudanças geraram as con-
tratava-se da associação da oligarquia brasileira com o capital in- sequências que logo foram sentidas, pois surgiram novas demandas
dustrial e o capital financeiro europeu. O país ficou imerso às regras populares, que desencadearam nas reformas trabalhistas de Getúlio
deste novo modelo. Vargas nos anos 1930 e, posteriormente, no populismo.
O modelo de desenvolvimento imposto ao Brasil previa que o A Constituição de 1891: o liberalismo excludente
país passasse pelos mesmos estágios que os países de capitalismo Ao analisar as constituições brasileiras, pode-se ver que a con-
adiantado já haviam passado. Na impossibilidade de se desenvol- vocação da Assembléia Nacional Constituinte representa o aconteci-
ver autonomamente, coube ao Brasil queimar etapas, dando saltos mento máximo na vida política de um país, à medida que constitui
desenvolvimentistas para acompanhar seus parceiros mais desen- uma transição da ordem política. Esse momento especial na vida de
volvidos. O país iniciou um oneroso processo de modernização e um povo se caracteriza pela possibilidade do debate público, haja
industrialização. vista que a constituinte cria uma atmosfera de “abertura e participa-
Não podendo repetir o seu itinerário anterior: ele ‘salta’, por ção políticas, permitindo o aparecimento de um espaço de politiza-
assim dizer, as etapas intermediárias do seu crescimento ‘normal’ ção difícil de se bloquear ou controlar completamente em função da
e ‘orgânico’, como o pequeno ofício e a manufatura, e se manifesta intensidade e publicidade dos debates que suscita e alimenta.
imediatamente em sua figura mais moderna e avançada: a grande Entretanto, alerta a autora, a participação política que pode
indústria. variar de um conteúdo elitista a um conteúdo de apelo fortemente
Na condição de periferia do sistema mundial, coube ao Brasil popular –, depende do nível de mobilização e organização dos diver-
somente uma forma de mudança das estruturas econômicas, estas sos setores sociais que formam o corpo político, ou seja, da maneira
modificações estruturais envolveram a necessidade de dar saltos de- como cada um desses grupos atua na fase de eleição e trabalho da
senvolvimentistas para modernizar a economia nacional, o que se Assembléia Constituinte.
fez possível somente com o advento da República. Foram instala- Percorrendo a história da chamada “República Velha” e mais
das indústrias, construíram-se estradas de ferro, modernizaram-se especificamente a primeira Constituição republicana percebe-se, a
os portos e fundaram-se bancos, porém, à custa de grande dívida partir das idéias expostas, que essa possibilitou, de um lado, a conso-
contraída aos financistas europeus. lidação do regime político instaurado pouco antes e, de outro, a he-
A economia brasileira, ao instalar-se a República, encontra-se gemonia das oligarquias estaduais na condução dos rumos políticos
plenamente integrada ao capitalismo internacional através da Di- do país pelo menos até 1930, excluindo do cenário político a maior
visão Internacional do Trabalho. O modelo agrário-exportador, ba- parte da população brasileira.
seado na monocultura do café, fazia do Brasil um país periférico e As disputas ideológicas que marcaram os primeiros meses do
dependente do mercado internacional. regime republicano, travadas principalmente entre militares e civis,
A reestruturação tratou de apressar o processo de transforma- cujos projetos políticos divergiam se consumaram favoravelmente a
ção, realizando a reforma estrutural necessária à economia brasilei- estes com a promulgação da carta constitucional em 1891.
ra, transformação inserida na nova realidade internacional, o país Espelhados na Constituição dos Estados Unidos, os constituin-
tornou-se definitivamente capitalista. O capitalismo representou, no tes brasileiros, reunidos desde 1890, simplesmente transplantam o
Brasil, uma ruptura nas antigas estruturas colônias, pois o capital modelo constitucional americano para o Brasil, sem considerações
industrial não possui a mesma lógica do capital comercial. Foram maiores sobre as diferenças políticas, econômicas ou mesmo cultu-
necessárias várias alterações na estrutura econômica nacional. Em rais entre os dois países.
primeiro lugar a reestruturação teve que partir da alteração da mão- Procurando adequar os princípios federativos contidos na carta
de-obra, como a viabilização e criação de um proletariado, o que constitucional norte-americana, pouco se discutiu sobre as particu-
inviabilizava a existência do trabalho servil. laridades da realidade brasileira. Problemas como a concentração de
Didatismo e Conhecimento 6
HISTÓRIA DO BRASIL
renda e a má distribuição das terras ficaram praticamente ausentes liberalismo ortodoxo, já superado em outros países. A Constituição
dos debates que antecederam o texto final da Constituição. Ao des- republicana proibia ao governo federal interferir na regulamentação
prezarem essas questões, os constituintes acabaram por endossar os do trabalho. Tal interferência era considerada violação da liberdade
interesses dos grupos economicamente favorecidos, não só reforçan- do exercício profissional.
do certa estrutura social verticalizada, vigente desde o período co- Na prática, o elitismo do sistema eleitoral do império persistiu,
lonial, mas também legitimando as desigualdades resultantes dessa ainda que modificado, tendo em vista que a relação entre proprieda-
estrutura. de e liberdade continuou praticamente intacta durante toda a Repú-
blica Velha.
A recém-inaugurada república caminhava para o aperfeiçoa-
Apesar de estar bem “modernizada” em relação à Constituição
mento de mecanismos que garantissem a simultaneidade entre a am- monárquica, passados os primeiros anos de euforia constitucional e
pliação formal da participação política em face ao novo contingente republicana, seus defeitos se foram evidenciando e, por não se adap-
eleitoral, uma vez eliminada a escravidão e a exclusão real dos se- tarem à realidade nacional, só era cumprida quando atendia aos inte-
tores subalternos, aos quais não interessava incorporar à cidadania. resses imediatos do Governo.
A descentralização política adotada pelos constituintes foi cru- Se a Constituição de 1891 “consagrou” a cidadania, estendida
cial para a ascensão da classe agroexportadora ao comando do país e, à população, inclusive aos ex-escravos, não é menos verdade que as
não por acaso, grande parte daqueles que se dedicam ao estudo desse elites – exceto um diminuto número de membros pertencentes à ala
período consideram a carta constitucional de 1891 o ponto de partida “jacobina” do Partido Republicano procuraram conter a participação
para explicar a dominação exercida pelas elites agrárias estaduais popular.
durante a maior parte da república velha. A liberdade de culto e de expressão, assim como o direito de
Com a consagração do sistema federalista, a República brasilei- associação e de propriedade, previstos em seus artigos, não foi o
ra viria a conhecer um longo período de comando pela ação e pelos bastante para atender às necessidades da maioria. O próprio direito
de voto, o mais importante direito político dentro de uma república,
interesses da política dos estados. Descartada a ameaça do floria-
ficou prejudicado diante exclusão dos analfabetos, uma vez que a
nismo e sua versão popular, na qual o regime tenderia a adotar uma
maior parte da população não sabia ler e escrever.
direção unitária e fortemente centralizada na figura presidencial, foi Assim, o alargamento dos direitos políticos por meio do voto
possível o governo descentralizado dos múltiplos apetites oligárqui- não se converteu numa participação efetiva da população já que as
cos. Aliás, essa perspectiva favorável aos grupos locais encontrava- vias de acesso ao debate foram bloqueadas pelos grupos dominantes,
se presente nos termos da Constituição de 1891. que se aproveitaram da miséria material e intelectual da massa para,
O federalismo deu aos estados e aos municípios ampla autono- por meios de adequações políticas, transformar a constituição repu-
mia, consagrando o individualismo político e econômico. Em decor- blicana num instrumento legal de exclusão.
rência disso, os estados passam a ter liberdade para legislar, contrair A decomposição da ordem senhorial- escravocrata que se insti-
em- préstimos no exterior, organizar sua própria força militar, criar tuiu ao longo do processo de abolição gradual tem implicações pro-
impostos interestaduais e impostos de exportação, além de organi- fundas na visão das elites sobre a população livre, entendida como
zar eleições estaduais e municipais. Trata-se de uma transformação aquela parte da população que consegue preencher os requisitos mí-
substancial se consideramos a estrutura política anterior. Pode-se nimos para se classificar como eleitores. Para as elites, essa “massa
mesmo falar num rompimento “com o sistema de relação direta en- de votantes” não passa de uma turbamulta ignorante e dependente.
Dessa perspectiva, o espectro dos ex-libertos votando torna-se para
tre os detentores do poder local e o centro de poder nacional prevale-
elas um presságio de caos social.
cente no Brasil Império”, haja vista que no regime anterior todas as Essa forma de liberalismo, típico do período compreendido en-
decisões políticas passam pelo poder central, personificado na figura tre 1889 e 1930, expressa os paradoxos da recém-proclama- da Re-
do imperador, enquanto que, depois de 1889 mais especificamente pública e expõe, de maneira decisiva, a contradição entre a noção de
de 1891, as elites locais passam a usufruir um poder decisório jamais cidadania, da qual a participação política é uma implicação lógica,
experimentado na história do país. e o sistema político excludente que caracterizou a República Velha.
A defesa das liberdades individuais, incutida em seus artigos, Nossa República, passado o momento inicial de esperança de
impediu que te- mas de interesse geral e que a própria cidadania expansão democrática, consolidou-se sobre um mínimo de participa-
tivessem centralidade na agenda política republicana. As discussões ção eleitoral, sobre a exclusão do envolvimento popular no governo.
em torno dos problemas sociais e da participação política são pra- Consolidou-se sobre a vitória da ideologia liberal pré-democrática,
ticamente abandonadas em detrimento dos interesses de pequenos darwinista, reforçadora do poder oligárquico.
grupos políticos. Com efeito, concordamos com Maria Efigênia Resende quando
Em outras palavras, o povo viu-se alijado da participação nos afirma que da combinação entre federalismo e individualismo emer-
ge uma república preocupada com a manutenção da ordem, mesmo
processos decisórios, caracterizando o que alguns autores denomi-
que a força tivesse que ser usada para tal fim, descrente em relação
nam de “liberalismo oligárquico”. à soberania popular e convencida da missão reservada às elites: a de
Mesmo substituindo a “democracia censitária” do regime ante- condutoras do destino da nação.
rior, caracterizada pela participação política restrita, haja vista que
somente eleitores com renda suficiente podiam votar a Constituição AS OLIGARQUIAS ESTADUAIS: A DOMINAÇÃO DAS
republicana de 1891 não representou grandes avanços quando com- ELITES AGRÁRIAS
parada ao sistema eleitoral substituído.
Houve mesmo um retrocesso na legislação: a Constituição repu- A Constituição de 1891 contemplou a negação da cidadania na
blicana de 1891 retirou do Estado à obrigação de oferecer educação medida em que as idéias liberais nela contidas permitiram aos civis,
primária, constante da Constituição de 1824. Predominava então um instalados no poder desde 1894 com Prudentes de Morais, manobrar
Didatismo e Conhecimento 7
HISTÓRIA DO BRASIL
a seu favor a massa de eleitores por meio de complexas articulações que dele participavam, possibilitando, por meio de ações fraudu-
políticas, fundadas na realidade dos municípios e asseguradas pelas lentas, a reprodução de resultados eleitorais favoráveis, abortando
oligarquias estaduais. Não por acaso, o período compreendido entre traumatismos entre grupos rivais, tão comuns nos anos iniciais do
1889 e 1930 ficou conhecido como “república dos coronéis”. regime republicano.
Embora, não seja correto afirmar, como comumente se tem fei- Nesse paraíso das oligarquias, as práticas eleitorais fraudulentas
to que os interesses das oligarquias agroexportadoras representas- não podiam desaparecer. Elas foram aperfeiçoadas. Nenhum coronel
sem integralmente os interesses da nação no decorrer da Primeira aceitava perder as eleições. Os eleitores continuavam a ser coagidos,
República, o que supõe um Estado sem qualquer autonomia não se comprados, enganados, ou simplesmente excluídos. Os historiado-
pode negar que parte da influência política exercida por esses gru- res do período concordam em afirmar que não havia eleições limpas.
pos resultou dos termos em que a referida Constituição foi elabo- O voto podia ser fraudado na hora de ser lançado na urna, na hora de
rada, já que o centralismo inerente ao regime monárquico, vigente ser apurado, ou na hora do reconhecimento do eleito.
até a manhã do dia 15 de novembro de 1889, fora substituído por Tendo em vista que durante toda a república velha a maior parte
um modelo federalista que deu aos Estados um grau de independên- da população brasileira estava localizada no campo, seguindo, como
cia infinitamente maior do que previa a Constituição de 1824. Essa argumentavam alguns homens ilustres da época quase todos ligados
descentralização permitiu às oligarquias ligadas à agro exportação, à tradição agrária, as inclinações rurais do país, as práticas coronelis-
principalmente a cafeeira, realizar uma série de articulações visando tas puderam se desenvolver sem maiores contestações, em razão da
estabilizar o cenário político, marcado por divergências infindas nos baixa instrução da população rural e da violência desencadeada pe-
primeiros anos republicanos. los coronéis contra as vozes dissidentes que porventura pudessem se
Do ponto de vista político, o período da chamada República Ve- insurgir. Mesmo considerando o número significativo de imigrantes
lha caracterizou- se pelo predomínio inconteste dos grupos agrários, chegados ao Brasil no início do século XX, em tese mais politizados
sob a hegemonia dos cafeicultores paulistas. Artífices do regime re- que os brasileiros, eram poucos aqueles que tinham consciência polí-
publicano em sua crítica à centralização monárquica acabariam por tica desenvolvida, já que a maior parte desses imigrantes era oriunda
implementar, na prática, um regime político coerente com seus de- do campo em seus países de origem.
sígnios, consubstanciado na federação e baseado na maximização do A própria estrutura social facilitou o controle do trabalhador ru-
poder das oligarquias estaduais, viabilizada a partir do coronelismo. ral. A grande propriedade e a presença efetiva do coronel na fazenda
Ancorado nos dispositivos da Constituição republicana, Cam- inibiam posições mais ousadas por parte dos trabalhadores. Na me-
pos Sales, que assume a Presidência em 1898, substituindo a Pruden- dida em que a propriedade é espaço privado, ou seja, de pertenci-
te de Morais, procura desde o primeiro instante harmonizar o Poder mento do coronel, a autoridade deste se apresenta como indiscutível.
Executivo e o Poder Legislativo e estabelecer compromissos recí- Claro que não estamos negando resistências por parte dos trabalha-
procos entre o executivo federal e os executivos estaduais, dando fim dores aos desmandos cometidos.
às disputas políticas entre os estados ou entre lideranças estaduais e Alguns casos de abuso ganharam notoriedade, como o que en-
regionais. Conhecedor da realidade brasileira, o experiente político volveu uma família de imigrantes italianos e Diogo Eugênio Sales,
paulista sabia que os municípios teriam papel fundamental para a irmão de Campos Sales, embate que ficou conhecido como o Caso
estabilidade política dos estados e do próprio governo federal. Em Longaretti.
seu discurso de posse já mencionava essa importância, antevendo A consciência política entre o proletariado rural resultou de um
os passos que seriam dados pouco depois no sentido de consolidar
processo lento e gradual que só ocorreram graças às transformações
a aliança entre lideranças municipais e estaduais. A “política dos es-
tados”, como Campos Sales designava o pacto entre as oligarquias no âmbito produtivo.
estaduais, ou “política dos governadores”, como ficou comumente Conforme previsão constitucional, somente eleitores brasileiros
conhecida, consolidou a doutrina do municipalismo no cenário na- e alfabetizados podiam votar, sendo esse o artifício que permitiu o
cional e tornou o clientelismo a forma mais expressiva de atividade controle do eleitorado no campo. A simples assinatura ou mesmo o
política pelo menos até 1930. desenho do próprio nome eram suficientes para validar o voto desse
Apoiados pelas oligarquias esta duais, os chefes políticos mu- eleitor, que muitas vezes tinha ao seu lado a companhia de um ca-
nicipais, conhecidos como “coronéis” garantiam, por meio da in- panga do coronel lhe indicando de maneira pouco delicada em quem
fluência pessoal ou pelo uso de violência, a vitória de candidatos votar.
favorável aos interesses do governo, recebendo em troca apoio fi- O fato do voto não ser secreto aumentava o número de casos de
nanceiro, político ou até mesmo militar quando tinham a supremacia violência contra o eleitorado. Conhecido como “voto de cabresto”,
local ameaçada por grupos políticos rivais. Esse escambo político só em virtude da truculência a qual os eleitores eram submetidos na
foi possível graças às condições marginais a que estavam rele- gados escolha do candidato. Essa prática foi bastante usual em algumas
os tradicionais chefes locais. regiões do país, especialmente nas regiões mais afastadas, o que se
A decadência financeira de algumas regiões distantes dos gran- configurou como fator responsável por garantir nos municípios a
des centros decisórios, como São Paulo e Rio de Janeiro, facilitou a hegemonia dos representantes das oligarquias estaduais. Contando
aproximação entre os líderes estaduais e os mandatários regionais, com o apoio das elites estaduais, o coronel atua com bastante energia
interligando esse poder local a uma rede nacional de dominação. em seu reduto eleitoral, também chamado de “curral”, embora seu
Considerando os limites de acesso às massas rurais dispersas pelo poder não seja inconteste, haja vista que as disputas com outros co-
interior decorrente do desenvolvimento incipiente da radiodifusão, ronéis rivais não eram incomuns conquistadasà confiança dos grupos
resta ao poder estadual se aliar aos chefes regionais, dando-lhes um estaduais, era quase impossível derrotá-lo.
voto de confiança na intermediação entre eleitores e governo. A vitória do coronel no município era a vitória da oligarquia
Do ponto de vista político, o coronelismo foi essencial às pre- estadual que ele representava. A consolidação do “sistema oligár-
tensões do governo e consequentemente das elites agroexportadoras quico”, levado a cabo por Campos Sales, deu ao regime republicano
Didatismo e Conhecimento 8
HISTÓRIA DO BRASIL
uma relativa tranquilidade. A solidarização entre as esferas federal grupo cafeicultor que se beneficiava do poder, todo o país ansiava
e estadual possibilitou ao grupo governista controlar as sucessões por mudanças, e a movimentação vivida pela sociedade apontava
eleitorais, correndo poucos riscos por parte de grupos insatisfeitos. para uma expansão do horizonte econômico e da participação políti-
Já que o presidente estava constitucionalmente impedido de se ca de grupos emergentes até então tolhidos pelas limitações impostas
suceder a si mesmo, era fatal que houvesse grande agitação política, pela República Velha.
de quatro em quatro anos (a duração do período presidencial), à me- A estabilidade proporcionada pelo acordo político entre os
dida que a liderança situacionista procurava acordo entre os líderes dois estados, conhecido como política do “café-com-leite”, nunca
das principais máquinas políticas estaduais para a indicação de um foi completa. Foi durante os períodos de sucessão presidencial que
sucessor. Uma vez acertada a indicação, contudo, isso já equivalia à as fragilidades inerentes a esse acordo ficavam mais visíveis. Nem
eleição, de vez que os governos estaduais tinham poder para dirigir sempre o nome do candidato indicado para representar as oligar-
as eleições e não hesitavam em manipular os resultados para enqua- quias desses estados era obtido consensualmente.
drá-los nos seus arranjos pré-eleitorais. O fato de a economia brasileira se concentrar na região sudeste
e depender da exportação de produtos agrícolas, principalmente da
Desse complexo e intenso joguete político, o estado de São Pau-
exportação do café, dominada pelos paulistas, acirrava ainda mais a
lo foi o primeiro grande beneficiário, tendo como cúmplice o estado
rivalidade de algumas frações da burguesia nacional que se encon-
de Minas Gerais. A “política do café-com-leite”, como foi denomi-
travam fora desse círculo de dominação. Especial- mente os esta-
nado o tácito acordo entre os dois estados, garantiu a hegemonia
dos de menor expressão política, denominados estados de “segunda
dessas oligarquias no cenário nacional, sendo poucas às vezes na grandeza”, criavam sérias dificuldades às indicações de mineiros e
história da República Velha que paulistas e mineiros se viram amea- paulistas durante os processos de sucessão presidencial, opondo-se
çados frente aos estados de menor expressão. por vezes com veemência.
Foi em São Paulo e Minas que o coronelismo, como sistema Nesse sentido, o ano 1922 é emblemático. Tratou-se de um ano
político, atingiu a perfeição e contribuiu para o domínio que os dois eleitoral, marcado por intensos embates em torno da sucessão do
estados exerceram sobre a federação. Os coronéis articulava-se com então presidente Epitácio Pessoa. O nome do mineiro Artur Bernar-
os governadores, que ser articulavam com o presidente da Repúbli- des, integrante do Partido Republicano Mineiro, ganhou projeção e
ca, quase sempre oriundo de um dos dois estados. acabou se tornando o nome oficial do governo. Entretanto, essa esco-
A habilidade política de Campos Sales e as brechas presentes na lha não era consensual, mesmo entre alguns grupos que apoiavam o
primeira Constituição republicana foram os fatores que possibilita- governo. Entretanto, foram principalmente os estados do Rio Gran-
ram a arquitetura e consolidação do sistema oligárquico. de do Sul, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro que se opuseram
A república brasileira, gerada entre o ventre oligárquico, man- mais incisivamente a essa escolha. Ao decidir lançar um candidato
chada pela escravidão, conhece, em seu primeiro período, a tentativa próprio, a reação republicana, conduzida pelos estados contrários à
do imobilismo, a desesperada tentativa de freio à roda da História, a candidatura de Artur Bernardes, expôs com nitidez as contradições e
tentativa mesquinha e egoísta dos donos do poder, de manter o país fragilidades do sistema oligárquico.
agrário, rural, conivente a seus interesses. Embora Nilo Peçanha, nome indicado pelos estados dissintes,
Dessa feita, o coronelismo não se tornou, “apenas um obstáculo não representasse de fato uma ruptura com o sistema oligárquico, na
ao livre exercício dos direitos políticos. Ou melhor, ele impedia a medida em que era produto desse mesmo sistema, sua candidatura
participação política, porque negava os direitos civis”. As grandes demonstrava o desejo de reorganização desse sistema por parte das
transformações do ponto de vista desses direitos só foram processa- oligarquias menores.
das a partir de 1937, durante o Estado Novo, e se concluirão depois A reação republicana foi o primeiro de uma série de eventos
que afetaram diretamente o governo de Artur Bernardes e o siste-
de 1945, embora o golpe militar de 1964 tenha sido um retrocesso
ma excludente que ele representava. Todavia foram o movimento
aos avanços conquistados.
tenentista iniciado também em 1922 os responsáveis pelos maiores
aborrecimentos enfrentados pelo presidente mineiro. Caracterizado
A POLÍTICA DOS GOVERNADORES E A CRISE DOS por seu conteúdo contestatório, o movimento tenentista nasce e mor-
ANOS 20 re tendo como objetivo a deposição de Bernardes e a moralização da
política nacional.
Parte significativa da literatura especializada aponta a década de A tomada da cidade de São Paulo em 1924 e a marcha da coluna
1920 como um período de intensas transformações. Uma das quais, Prestes/Costa em 1925 demonstram a projeção que os tenentes al-
talvez a mais importante, teria sido o processo político que, tendo em cançaram no país e, embora não tenham obtido êxito em seu intento,
seu bojo o questionamento à primazia dos cafeicultores na condução deixaram avarias bastante graves na imagem do sistema oligárquico.
do país acarretou o fim da República Velha em 1930. Se não bastassem os fatos menciona- dos, não podemos perder de
Embora a política dos governadores tenha possibilitado às oli- vista a crise financeira que assolou o setor agroexportador brasileiro,
garquias de São Paulo e Minas Gerais se revezarem no poder, esse especialmente a produção de café.
sistema de dominação começa apresentar sinais de desgaste nos idos A supersafra e a queda do preço da saca do produto no merca-
de 1920. do internacionalforam problemas que os cafeicultores não puderam
Os anos de 1920 poderiam ser considera- dos os “anos dou- contornar com tanta facilidade. Mesmo assim, as políticas de crédito
rados” da República Velha, um período marcado por tentativas de ou a intervenção do estado na compra e estocagem do café excedente
modernização econômica, pela urbanização, pela efervescência so- não puderam afugentar a crise que estava por se aproximar nos anos
cial, política e cultural, pela gestação de definições ideológicas. Uma de 1928/29. Quando Artur Bernardes deixa o governo em 1926, as-
década que, além de encerrar a velha República, punha um ponto sumindo o paulista Washington Luís, a situação dos cafeicultores era
final tardio no século 19 brasileiro. Nesse período, com exceção do bastante delicada.
Didatismo e Conhecimento 9
HISTÓRIA DO BRASIL
O país passava por transformações substanciais adequando-se Inconformados com a derrota, os dissidentes procuram atrair a
aos ditames do capitalismo mundial. A economia brasileira dava si- atenção dos tenentes para uma causa mais do que justa: a reformu-
nais de que havia um processo renovador em curso colocando em lação do jogo político nacional. Se alguns líderes estaduais ainda
xeque aquela estrutura anacrônica representada pela grande proprie- se mostravam cautelosos em relação a uma ofensiva, com o passar
dade rural e pela exportação. dos meses teriam todos os motivos para se lançar num movimento
armado contra o governo.
A AGONIA DA REPÚBLICA VELHA: O GOVERNO DE
WASHINGTON LUÍS O estopim da conspiração ocorreu em 26 de julho de 1930,
quando João Pessoa, candidato nas eleições pela Aliança Liberal, foi
Embora o governo de Washington Luís tenha ocorrido num cli- assassinado em Recife. As razões do crime cometido pelo advogado
ma de relativa estabilidade, quando comparado ao de seu predeces- João Dantas teriam sido passionais, fato que foi explorado pela im-
sor, o período compreendido entre 1926 e 1930 foi também marcado prensa aliancista, que procurou fazer de João Pessoa um mártir do
por intensas dificuldades. Sua ascensão renovou as esperanças do movimento conspiratório.
país e o clima de entusiasmo logo tomou conta da população. Mais Os meses que se seguiram foram de extrema tensão e a solução
carismático do que Artur Bernardes, o presidente paulista emanava armada inevitável, tendo em vista que a via de entendimento pacífico
confiança e transmitia, pelo menos nos primeiros meses de governo,
entre situação e oposição parecia ter se esgotado. E de fato o con-
alguma tranquilidade ao setor agroexportador por ele representado.
Essa tranquilidade, no entanto, foi perdendo força no decorrer fronto ocorreu. No dia 3 de outubro os estados de Minas Gerais e Rio
de seu governo e até mesmo algumas frações do PRP não pouparam Grande do Sul, seguidos por alguns estados nordestinos, deflagram
Washington Luís das críticas, acusando-o de abandonar a classe dos o processo de luta armada contra o governo, marchando nos dias
cafeicultores. seguintes contra a capital Rio de Janeiro. Acreditando ser possível
Parte dessas críticas tinha sua origem na crise que afetava o pre- resistir à ofensiva, o presidente em exercício descarta a idéia de re-
ço do café no mercado internacional. O aumento da produção e a núncia. Mas os riscos de uma guerra civil acabaram por esvaziar o
concorrência imposta por outros países levavam a que o preço do apoio de alguns militares ligados ao governo. Diante de insistentes
café brasileiro despencasse situação que se agravou ainda mais em apelos, o presidente Washington Luís deixa a presidência no dia 24
1928, quando o país obteve uma safra recorde. O caos completar- daquele mês: era o fim da República Velha.
se-ia em 1929 com a quebra da bolsa de Nova Iorque, cujo impacto
fez-se sentir em todo mundo. A HISTORIOGRAFIA E A “REVOLUÇÃO DE 1930”
Em 1930, ano de sucessão presidencial, Washington Luís sur-
preendeu ao indicar o nome do também paulista Júlio Prestes como
A chamada “Revolução de 1930” até hoje é um dos temas mais
seu substituto, rompendo o acordo político com o estado de Minas
estudados na história republicana. De fato, os episódios ocorridos
Gerais. A indicação de Júlio Prestes interrompia o revezamento entre
em outubro de 1930 colocaram fim à República Velha, iniciando
paulistas e mineiros e colocava fim à chamada “política do café-com
-leite”. uma nova etapa da história brasileira. No entanto, até que ponto es-
Essa cisão, que se processaria dentro do próprio grupo domi- sas transformações significaram o fim da dominação política é uma
nante, abriu espaço para vozes que haviam sido sufocadas num pas- questão difícil de responder, tendo em vista as divergentes interpre-
sado não muito distante. Sentindo-se traídos, os mineiros se unem tações a respeito do processo que culminou com a queda de Washin-
ao Rio Grande de Sul e à Paraíba, lançando Getúlio Vargas e João gton Luís.
Pessoa, respectivamente, à presidência e vice-presidência. Essa coli- Para entendermos onde reside essa dificuldade, temos de per-
gação política, chamada “Aliança Liberal”, ainda recebeu o apoio do correr, necessariamente, as teses referenciais sobre o tema. À medida
Partido Democrático de São Paulo, criado em 1926 a partir de uma que a Revolução de 30 representou o deslocamento da tradicional
dissidência com o PRP. oligarquia paulista do epicentro do poder, algumas teses procuram
Defendendo a reforma eleitoral e a moralização dos costumes dar conta dos impactos produzidos por esse momento. Podemos
políticos, a Aliança Liberal procurou cooptar as frações descontentes elencar três grandes correntes explicativas. A primeira diz respeito
da elite e especialmente os setores médios urbanos. Todavia, até o ao caráter burguês do movimento revolucionário promovido pela
maior otimista entre os aliancistas admitia a impossibilidade de uma Aliança Liberal. Segundo esta interpretação, a Revolução de 30 sig-
derrota do governo nas eleições. O fato de poder contar com a má- nificou a ascensão da burguesia industrial em substituição à anacrô-
quina política, fazia do governo um oponente imbatível. Realmente, nica e conservadora elite agroexportadora.
as expectativas se confirmaram nas eleições realizadas em março de Os maiores representantes dessa linha de interpretação são Nel-
1930, com a vitória de Júlio Prestes. son Werneck Sodré e Virgilio Santa Rosa. Apesar de algumas dife-
Ao longo da curta história republicana, era comum o grupo renças, os autores entendem outubro de 1930 como o momento de
derrotado acusar a situação de fraudar o resultado das eleições, fato consolidação da burguesia brasileira.
que nunca ultrapassou os limites das palavras, porém dessa vez seria Contrapondo-se a essa tese, Boris Fausto e Francisco Weffort
diferente. dão ao referi- do fato outro significado. Ambos criticam a idéia de
Alguns nomes, como os de Lindolfo Collor e Oswaldo Aranha, que a Revolução de 30 foi uma revolução burguesa, resultado da luta
ligados à chamada “geração de 1907”, da qual também fazia par- entre dois grupos antagônicos, um ligado às práticas industriais e
te Getúlio Vargas, insurge-se contra o governo. Assim, passadas as outro às atividades agrícolas, e afirmam que esta não passou de uma
eleições, começaram as articulações políticas junto às oligarquias reorganização intraoligárquica, cujo objetivo era expandir a econô-
estaduais que compunham a Aliança Liberal. mica, visando ao mercado interno e não ao externo.
Didatismo e Conhecimento 10
HISTÓRIA DO BRASIL
De qualquer modo, a revolução teria gerado um “vazio de po- tinham plena convicção de que a consumação do processo revolu-
der”, já que nenhuma das frações dissidentes mostrou força suficien- cionário passaria pela re- forma das instituições republicanas; caso
te para conduzir sozinha o país. Todavia, surge um “estado de com- contrário, correriam risco de ver em pouco tempo um retorno das
promisso” entre essas diferentes frações, que teve como resultado o lideranças políticas que haviam sido derrubadas.
fortalecimento do poder do chefe do Executivo, dando início a um Apesar dessas transformações, podemos afirmar que a derroca-
processo de modernização conservadora, que alcançaria seu ponto da da República oligárquica em 1930 significou o fim da exclusão
alto com o Estado Novo. política que caracterizou esse período?
Rompendo com os modelos explicativos tradicionais, Ítalo
Fica claro que o fim do regime oligárquico abriu a possibilidade
Tronca e Edgar de Decca questionam a idéia de revolução burguesa
em 1930. Para os autores, ha- veria, sim, um processo revolucionário de novos rumos ao país. Depois de 1930 o cenário brasileiro, espe-
em marcha que teria se dado nos idos de 1920, cujo condutor teria cialmente no que concerne ao plano político e jurídico, modificou-se
sido o Partido Comunista do Brasil. O momento decisivo desse pro- bastante. As reformas eleitorais, que seriam processadas durante o
cesso ocorreu no ano de 1928, quando o Bloco Operário Camponês Governo Provisório, incluindo o estabelecimento do voto secreto,
braço político do PCB viu-se preso às regras do jogo democrático feriam mortalmente os fundamentos básicos do Estado oligárquico
-burguês, sendo sufocado pelas classes dominantes. da República Velha, atendendo à reivindicação das camadas médias
A fundação do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo urbanas que haviam se expandido nas últimas décadas. O exercício
(Ciesp) nesse ano representaria o contragolpe das elites em relação do voto secreto refletia um processo de moralização da política na-
ao cresci- mento do movimento operário. Portanto, a verdadeira re- cional e rompia de vez com as antiga práticas políticas do regime
volução, que acabou abortada, não ocorreu em 1930, como afirmam anterior. Entretanto, essas e outras transformações não foram tran-
as interpretações anteriores, mas em 1928, quando o movimento quilas, nem imediatas. Se havia grupos interessados em mudar as
operário organizado em torno do PCB se viu impotente diante da estruturas políticas e jurídicas no pós-30, o inverso também era ver-
repressão burguesa. Como pudemos verificar, tratam-se de interpre-
dadeiro. Não por acaso os primeiros anos de Vargas à frente do go-
tações distintas e, por vezes, antagônicas sobre os acontecimentos
verno foram marcados por grandes embates políticos e ideológicos
processados nos anos 1930. As teses defendidas por Fausto e Weffort
entre facções que procuravam entoar seu ritmo aos rumos do país.
opõem-se diametralmente às teses dualistas de Sodré e Santa Rosa,
Pelo menos três correntes procuravam influir direta- mente no
enquanto os trabalhos de Decca e Tronca analisam os processos po-
destino na nação: os tenentes, que defendiam um estado forte e cen-
líticos nos anos 1920 a partir da organização operária em torno do
tralizado; as classes médias urbanas, que representavam os ideais
PCB.
liberais; as velhas elites agrárias, cujas pressões se davam no sentido
Nenhuma das versões apresentadas encerra uma verdade abso-
da manutenção das velhas prá- ticas políticas que marcaram a Pri-
luta. Tratam- se, como afirmamos, de versões sobre um mesmo fato
meira República.
e que, por isso, podem acarretar, de um lado, minimizações, apre-
Se, num primeiro momento, os tenentes tiveram melhor desem-
sentando uma visão parcial ou reduzida sobre os eventos ocorridos
penho, parecem inegável que as idéias constitucionais preconizadas
e, de outro, exageros, tendendo a valorizar determinados aspectos
pelas classes médias foram as que vigoraram na Constituição de
em detrimento de outros. Embora esses modelos explicativos apre-
1934. Mas ainda que o liberalismo constitucional tivesse prevalecido
sentem fragilidades e possam ser criticados ao tratarem parcialmente
sob o ponto de vista da participação política a “Revolução de 1930”,
daquele momento histórico, ainda hoje são invocados por aqueles
não significou uma ruptura com o modelo da velha República. Tanto
que desejam compreender o que se convencionou chamar de Revo-
a derrota dos cafeicultores paulistas em outubro de 1930 quanto as
lução de 1930.
transformações processadas após a ascensão de Vargas ao poder, não
resultaram na ampliação da cidadania.
DO FEDERALISMO AO CENTRALISMO: A EXCLUSÃO Por tudo isso, a “crise da República Velha” teve uma solução
POPULAR parcial e contraditória: reformas e remanejamentos políticos limi-
tados, soluções contraditórias e sempre de cúpula, cuja expressão
Parece ponto comum entre os estudiosos da Primeira República Fo a Revolução de 30. As transformações posteriores ao movimento
que o sistema de dominação política erigido a partir do governo de foram lentas, parciais e incompletas, porque sempre encaminhadas
Campos Sales foi responsável por excluir grande parte dos cidadãos pelos grupos dominantes.
brasileiros das decisões políticas. Se os princípios do liberalismo ser- De fato, depois do fim do velho sistema de dominação oligár-
viram de base para a Constituição de 1891, na prática essa liberdade quico, o povo continuou alijado dos processos políticos, embora
não se consumou. A visão elitista sustentada pelos grupos rurais que também não se possa negar que a natureza dessa dominação elitis-
governavam o país reduziu a cidadania a um jogo de cartas marcadas ta tenha passado por transformações cada vez mais centralizadoras
do qual os únicos beneficiários eram as elites. cujo ápice foi o nacional-estatismo, representado pelo golpe de 1937.
A vida relativamente longa desse sistema de dominação se ex- Os eventos ulteriores ao fim do sistema oligárquico demonstram um
plica, de um lado, pelas manipulações eleitorais tanto nos municí- processo de fortalecimento do poder executivo e um retorno ao cen-
pios quanto na esfera estadual e, de outro, pela violência empregada tralismo político que pouco modificou a vida das pessoas. Em que
contra a população, que pouco ou nada podia fazer. O atraso de al- pese às modificações promovidas pela Constituição de 1934, como
gumas regiões do país e a precária formação dos cidadãos republica- o voto secreto e o voto feminino, seus resultados foram diminutos,
nos corroborava para a disseminação e a impunidade dessas práticas. se consideramos o pouco tempo em que a nova carta ficou vigente.
De certo modo, os acontecimentos de 1930 colocaram fim a Se as formas de controle sobre a sociedade civil se modificaram em
essa estrutura, já que os grupos, que desencadearam o movimento virtude da crescente urbanização, em essência, a política excludente
armado, responsável por derrubar o presidente Washington Luís, não desapareceu, apenas mudou de formato.
Didatismo e Conhecimento 11
HISTÓRIA DO BRASIL
Mesmo com a promulgação da Constituição de 1934, a mas- lista, seria razoável supor que a principal fonte de financiamento de
sa populacional, tanto na cidade quanto no campo, pouco percebeu capital residisse nos lucros gerados pela própria produção. Contudo,
o alargamento de seus direitos políticos, principalmente depois de tal não se dava na lavoura cafeeira até pelo menos a crise de super-
1937, com o advento do Estado Novo, quando o Estado, personi- produção do final do século XIX e início do século XX, em razão
ficado na figura de Getúlio Vargas, corta as vias de diálogo com a da exigência de recursos para a formação e operação da lavoura. Os
sociedade civil. recursos financeiros na lavoura de café eram importantes por duas
A “Revolução” em 1930 abriu uma gama de possibilidades razões. Primeiro, por se tratar de uma cultura permanente que exige
representadas pelos diversos projetos políticos apresentados pelos um período relativamente longo para sua formação. A lavoura era
grupos que derrubaram a República Velha. Diante dessas divergen- considerada formada e em plena produção apenas no seu quinto ou
tes propostas, contudo, as tendências autoritárias logo se mostraram sexto ano de vida. Em consequência, os gastos com a formação exi-
vigorosas. O federalismo político, que já vinha sendo questiona- do giam uma inversão de recursos cujos primeiros retornos tardariam
desde o regime anterior, foi colocado à prova nos últimos anos da dé- longo tempo para aparecer.
cada de 1920, sendo considerado ineficaz para solucionar os proble- A segunda razão refere-se às elevadas exigências do trato do ca-
mas sociais e econômicos do Brasil, especialmente no que concerne fezal. São necessárias diversas carpas durante o ano para conservar a
à sua modernização. lavoura limpa a fim de preservar a produtividade da planta. O regime
O papel do Estado passa a ser revisto e as idéias centralizadoras de trabalho envolvia remuneração monetária da força de trabalho,
passam a povoar com uma frequência arrebatadora a mente de al- então a lavoura exigia muito capital de giro para sua operação. Tais
guns dos arquitetos da Revolução de 30. Principalmente os tenentes observações merecem atenção quando se busca explicar a depen-
e os grupos que abasteciam o mercado interno partilham da idéia de dência do fazendeiro de café diante do comerciante da época. Havia,
ainda, outra explicação para tal dependência.
um Estado forte e condutor. O que se observa a partir da década de
A função de comercialização do café era extremamente espe-
1930 é a gradual e incessante centralização das decisões políticas,
cializada, pois envolvia o preparo de ligas de diversos tipos de café,
que teve como auge o golpe de 1937.
uma atenção especial com a bebida, e outras características que re-
A década de 1930, portanto, demarca um continuísmo em rela-
fletiam as exigências das demandas externas. O comércio concen-
ção a alguns dos problemas que caracterizaram a República cafeeira, trava-se, inclusive por essas razões, nos portos de Santos e do Rio
ainda que parte desses problemas tenha transmutado e ganhado ou- de Janeiro. Assim sendo, ao fazendeiro não restava senão a entrega
tro formato. de todas essas responsabilidades ao comerciante de sua confiança,
Assim, muitas das questões e dos problemas estruturais apare- criando-se laços comerciais que atingiam o campo do financiamento
cem ainda como os mesmos e por vezes as mesmas soluções são da produção.
apontadas, o que de certa forma também propiciaria uma visão de Ao comerciante cabia a função de prover ao fazendeiro os re-
continuidade: a questão da República, do fim do Liberalismo, que cursos necessários para a formação da lavoura e para o trato do ca-
aos poucos se transmuta na questão da democracia-não-democracia, fezal e a colheita do café. Em outras palavras, cabia ao comerciante
da ditadura militar e do desprestígio da política, a questão nacio- fornecer os recursos para a formação do capital fixo e de giro da
nal, a questão da federação, do regionalismo, a industrialização, a produção. Era o comerciante, pois, o “banqueiro” da lavoura. Na
reforma agrária, a busca de um caráter (depois identidade nacional). ausência de um sistema bancário, público ou privado, ligado dire-
Todas essas questões e problemas, nos anos 30, parecem se agrupar tamente à produção, o comerciante de café chamava para si o papel
em torno da idéia de uma ruptura revolucionária. Texto adaptado de fundamental de suprir o crédito necessário. Em contrapartida, exigia
VARES, S. F. D reciprocidade do fazendeiro, pois a produção era entregue aos seus
cuidados, que consistiam no preparo e na venda do café, ganhando
uma comissão que na época era fixada em 3% do valor da venda. O
comerciante fornecia o crédito ao fazendeiro; em troca, adquiria um
cliente cativo. O relacionamento comercial entre a casa comissária
ECONOMIA E SOCIEDADE: O CAFÉ E e a fazenda principiava pelo fornecimento de crédito ao fazendeiro,
ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL; tanto para a formação da lavoura quanto para o custeio da fazen-
; da. Ao que tudo indica ao fazer o repasse do crédito bancário ao
fazendeiro, o comissário não auferia lucro. Isto é, a taxa cobrada
ao fazendeiro era a mesma cobrada pelo banco à casa comissária.
O comerciante de café e o crédito agrícola Durante o longo pe- Durante todo o século XIX, ainda sob o regime da escravidão nas
ríodo do século XIX, no qual a economia cafeeira se assentava sobre fazendas de café, esse papel de comerciante-banqueiro era o exigido
o regime de trabalho escravo, e mesmo nas duas décadas seguin- do comissário.
tes, ao final da escravidão, nas lavouras de café, o mecanismo de O sistema geral de venda de café em São Paulo, desde os mais
financiamento da produção vinculava-se profundamente à comercia- remotos tempos a que nos chega à tradição, era, depois de trans-
lização do produto. Os comerciantes de café de Santos e do Rio de portado o produto ao porto do mar, consigná-lo a um comerciante
Janeiro dependiam em grande medida dos fazendeiros de café para que, por sua vez, o colocava no mercado consumidor. O comissário
realizar seus lucros com a venda do produto e para obter os recursos continuou a exercer suas funções até pelo menos os primeiros anos
financeiros necessários à produção. do século XX. Mesmo depois, até a crise de 1929, conservou ainda
Portanto, o que diferenciava um comerciante de café de um co- parte da sua importância na ausência de um sistema bancário liga-
merciante comum, era o fato de exercer a atividade de financiador da do à produção. O acesso dos comissários ao financiamento bancário
lavoura. Como em qualquer atividade produtiva no sistema capita- bem como a inexistência de um vínculo efetivo entre os bancos e os
Didatismo e Conhecimento 12
HISTÓRIA DO BRASIL
fazendeiros no começo do século atual, residia na própria natureza até a década de 30 a reserva de mão-de-obra composta de brasileiros
da empresa do café. De um lado, os capitais da época, fossem eles nativos era utilizada relativamente pouco e as condições de contra-
nacionais ou estrangeiros, estavam aplicados basicamente no gran- tação consideravelmente piorem. Tudo isso permite afirmar que a li-
de negócio que era o comércio do café. Sendo o produto uma das bertação dos escravos não os transformou em operários assalariados,
mercadorias de maior valor no comércio internacional, era na esfera mas apenas criou possibilidades para isso.
da comercialização que se realizavam os grandes negócios, acumu- A concentração das terras mais férteis e melhor situadas em lati-
lavam-se fortunas e prosperavam as empresas. Evidentemente, a fúndios foi um importante obstáculo à transformação da maior parte
produção de café proporcionava lucros ao fazendeiro, mas, menores das pessoas livres em proprietários de terra. Apesar disso, muitos se
que aqueles que se auferiam na sua comercialização, não apenas no estabeleceram em terras alheias como arrendatários. Embora a maio-
âmbito doméstico, mas também, e, sobretudo, nas exportações. ria das pessoas livres não possuíse os meios de produção, não estava
Esgotamento do Sistema de Financiamento da Economia Ca- destituída totalmente dos meios de existência, o que deu condições
feeira As vantagens que um sistema de crédito proporcionava tanto para transformar uma parte da população rural indigente em cam-
ao comissário quanto ao fazendeiro eram evidentes. O fazendeiro poneses, resultando na formação de dois sistemas econômicos: um
tinha acesso ao crédito de que necessitava a juros razoáveis e ain- de economias “semifeudais” e de pequenas economias camponesas.
da contava com flexibilidade em períodos de aperto financeiro. Ao
comissário, cabia a vantagem de assegurar para si a colheita do fa- A CLASSE INDUSTRIAL
zendeiro, cuja comercialização lhe proporcionava os lucros da sua
atividade. O ponto fraco do sistema residia precisamente no caráter Em 1872, o Barão de Piracicaba construiu, na cidade de São
pessoal do crédito: na medida da expansão da lavoura e do conse- Paulo, a primeira fábrica têxtil de tipo moderno, que utilizava teares
quente aumento do volume de negócios, as somas emprestadas cres- adquiridos de firma inglesa. Em 1877, o filho do Barão, educado
ceram e passaram a exigir garantias mais sólidas. Em entrevista a na Inglaterra, construiu outra fábrica têxtil, ainda maior, munida de
um jornal do Rio de Janeiro em 1927, um antigo comerciante de café mais máquinas da mesma firma inglesa. No estado de São Paulo,
assim descrevia o sistema: havia até 15 anos passados três classes em particular na zona algodoeira, foram abertas menores empresas
distintas no comércio de café do Rio: o comissário, o ensacador e de fiação de algodão. No Brasil, tal como em muitos outros países,
o exportador. O comissário recebia o café do interior; o ensacador o setor têxtil foi durante muito tempo o principal ramo industrial.
comprava por conta própria o café aos comissários. Inclusive, foi em uma empresa têxtil bastante grande aberta nesta
Era este intermediário quem manipulava e classificava os tipos época, em Pernambuco, onde mais tarde eclodiria uma das primeiras
de café; o exportador se limitava a comprá-lo já manipulado do ensa- greves de operários industriais no Brasil. No período de 1875 a 1885,
cador para a exportação. O autor da entrevista referia-se ao comércio começaram a surgir empresas de diversos ramos em outras regiões,
do café de antes da República, e na praça do Rio de Janeiro, por volta como no Nordeste, onde foram construídas refinarias de açúcar, que
de 1912. Muitas são as informações importantes no depoimento aci- substituíram em parte os engenhos de tipo colonial.
ma reproduzido. A primeira delas é o interesse altista do comissário Empresas estas construídas, sobretudo com a ajuda de créditos
e o interesse do exportador na baixa do café. ingleses, por companhia francesa ou por proprietários de novas plan-
A outra diz respeito ao controle do comércio exportador, tendo tações de café altamente produtivas, criadas depois da construção
como consequência, considerada parcela da renda gerada na eco- das estradas de ferro. Os enormes lucros de alguns dos fazendeiros,
nomia cafeeira ser drenada para o exterior. O comércio funcionava cujas terras férteis permitiam obter colheitas sem precedentes, foram
de tal modo que à queda dos preços internacionais não se seguia investidos em parte, na criação de outras empresas capitalistas. Ga-
uma correspondente baixa dosa preços no varejo. Decorre desse fato nhavam fama especial, representantes da elite do café de São Paulo,
um confronto desigual, verificados, sobretudo em períodos de su- que se tomariam empresários capitalistas. Muitos deles participa-
perprodução. A necessidade de um sistema financeiro alternativo já vam, ao mesmo tempo, na vida política do país, o que lhes permitia
era sentida desde os tempos do Império, principalmente por grandes obter diversos privilégios dos governos federal e estadual. A partir
fazendeiros, interessados em realizar investimentos volumosos. A da década de 1880, e especialmente durante a de 1890, começaram a
introdução do trabalho livre nas fazendas paulistas desencadeou um investir recursos na construção de empresas industriais, que existem
mecanismo expansionista sem precedentes na lavoura e, como con- até hoje.
sequência, revelou-se mais claramente a insuficiência do sistema de Na verdade, o grupo social de onde saiu grande parte dos em-
financiamento baseado no comissário. A Questão da Mão-de-Obra A presários locais eram os comerciantes importadores e exportadores
utilização em massa do trabalho assalariado representou a primeira de origem estrangeira e empresário-imigrantes pertencentes à nova
fase de desenvolvimento do capitalismo no Brasil. corrente migratória, que chegaram ao país em fins do século passado
A formação do mercado de trabalho assalariado adquiriu um rit- na esperança de enriquecer rapidamente. Estes últimos eram espe-
mo mais intenso depois da falência definitiva do sistema escravista. cialmente agressivos. Em geral, começavam a sua carreira de negó-
A abolição da escravatura em 1888, assim como uma série de cata- cios no Brasil na esfera do comércio de importação. Depois, tendo
clismas sociais e econômicos, resultaram no aumento do número de aumentado ou criado o capital inicial, davam início à organização
pessoas que não tinham fontes de rendimentos permanentes para sua das suas próprias empresas ou estabeleciam controle sobre empresas
subsistência e, muitas vezes, nem sequer domicílio. Foi nessa época instituídas anteriormente por pessoas oriundas da elite latifundiária.
que surgiram as favelas. O longo domínio do sistema escravista e Frequentemente, os novos empresários-imigrantes atuavam durante
de outros sistemas arcaicos, que os escravos e os pobres sofreram certo tempo como representantes diretos das companhias e bancos
durante várias gerações, acentuou o primitivismo dos seus hábitos de da Europa Ocidental e dos EUA interessados em reforçar suas posi-
trabalho, que se combinava frequentemente com a deficiência física, ções no mercado brasileiro. Muitos dos empresários-imigrantes per-
criavam obstáculos à exploração dessa mão-de-obra. De modo geral correram o mesmo caminho no fim do século XIX e princípios do
Didatismo e Conhecimento 13
HISTÓRIA DO BRASIL
século XX, para passar da categoria de comerciantesimportadores Brasil, a economia capitalista e as outras economias que se desen-
para a de industriais. Porém, quem fez a carreira mais brilhante foi o volviam paralelamente absorviam apenas uma parte da mão-de-obra
imigrante italiano Francisco Matarazzo. lançada para o mercado devido ao superpovoamento agrícola e à
Francisco Matarazzo chegou ao Brasil em 1881. Tinha instru- deterioração das formas econômicas anteriores.
ção superior, alguma experiência comercial e o desejo de enriquecer. No final do século XIX, no entanto, observou-se não só o sur-
Estabeleceu-se inicialmente no comércio de porcos e de toucinho. gimento de um mercado de mão-de-obra assalariada, mas também
Cerca de nove anos depois já havia conseguido acumular um capital
e mudou-se para a capital do estado, onde fundou uma firma comer- a intensificação da concentração de riquezas e o desenvolvimento
cial especializada na importação de farinha de trigo e de toucinho. de relações monetário-mercantis. De modo geral, as envergaduras
Nos dez anos seguintes, aumentou ainda mais as suas propriedades do mercado interno e da economia financeira eram ainda bastante
e estabeleceu relações de amizade que o ajudaram, em particular, a limitadas, pois asseguravam condições mínimas para o início da pro-
obter crédito à custa do que construiu o primeiro moinho a vapor dução capitalista, mas insuficiente para abrir caminho ao seu desen-
em São Paulo. Em 1904, Matarazzo fundou uma fábrica têxtil, com volvimento livre.
o objetivo de satisfazer suas próprias necessidades de tecidos para A formação dos primeiros focos de produção capitalista come-
sacos. Mais tarde construiu uma fábrica de tecidos finos. çou no Brasil só no último quartel do século XIX, especialmente no
A fim de adquirir matérias-primas sem intermediários, Mata- segundo quinquênio da década de 1880. Contribuiu para isso, em
razzo criou nas regiões algodoeiras uma rede de empresas de be- primeiro lugar, o surgimento do mercado de mão-de-obra assalaria-
neficiamento de algodão, o que lhe permitiu, posteriormente, cons- da originado pela imigração em massa, abolição da escravatura e
truir um lagar de azeite. Os produtos deste último foram utilizados intensificação da deterioração das outras estruturas pré-capitalistas.
em mais uma empresa por ele fundada para o fabrico de sabão e
Certas mudanças tiveram lugar também na ideologia da classe domi-
de glicerina. A seguir, fundou fábricas de fósforos, de massas, de
nante. Essas tendências deviam-se em grande parte ao crescimento
círios, de conservas, serrarias e assim por diante, sendo que nos fins
das dificuldades na esfera da economia tradicional.
da década de 1930, seu nome já era no Brasil símbolo da riqueza e
A crise econômica mundial de 1875 e a crise de superprodução
do êxito empresarial. Os fundamentos de outro império industrial,
o grupo Votorantim, foi lançado pelo imigrante português Antônio de café de 1880-1886,tornaram evidente a vulnerabilidade da econo-
Pereira Ignácio. Depois, tendo assegurado o apoio de dois grandes mia cafeeira. Em 1844, o governo brasileiro aproveitara a expiração
comerciantes-importadores do Rio de Janeiro, fundou uma pequena do tratado comercial desigual com a Inglaterra, que limitava os im-
empresa de beneficiamento de algodão em São Paulo. Ignácio foi postos alfandegários ao nível máximo de 15%, estabelecendo uma
estudar o beneficiamento de algodão nos EUA e, ao voltar, ampliou nova tarifa alfandegária, bem mais alta.
ainda mais sua rede de empresas. Os lucros obtidos permitiram-lhe Embora essa medida tenha sido tomada, sobretudo, para alcan-
adquirir a fábrica de cimento, uma companhia telefônica e uma pe- çar certos objetivos fiscais, teve também certo efeito protecionista.
quena central elétrica. Durante a Primeira Guerra Mundial, quando a Além disso, em 1846, o governo baixou vários decretos concedendo
indústria paulista de algodão deparou com uma falta aguda de maté- subsídios à produção local de artigos têxteis. Medidas assim como
rias-primas. Ignácio aproveitou para agravá-Ia artificialmente, sendo efeito demonstrativo da indústria capitalista da Inglaterra, estimula-
auxiliado por dois outros corretores de algodão - um dos quais era ram alguns brasileiros ricos a criar empresas industriais. A campa-
o imigrante italiano Nicolau Scarpa - e depois adquiriu quatro algo- nha em prol da política protecionista intensificou-se após a criação,
doarias que se encontravam em apuros financeiros. em 1880, da Associação Industrial, cuja direção foi assumida por A.
Duas destas empresas pertenciam a herdeiros de barões, dentre Felício dos Santos. A atividade da Associação Industrial contribuiu
eles o de Piracicaba. Em 1917, Pereira Ignácio e Scarpa aprovei- para o crescimento de tendências pró-industrializantes, mas a sua
tou-se da falência do Banco União para adquirir no leilão a empresa influência direta sobre a política do governo era insignificante.
têxtil Votorantim, segunda maior empresa do ramo em São Paulo, O protecionismo alfandegário tinha como objetivo atender ba-
pagando apenas a oitava parte de seu valor real. Ainda em 1917, sicamente os interesses da classe dominante tradicional. A partir de
Pereira Ignácio adquiriu de Scarpa a sua quota-parte na Companhia meados da primeira década do século XX, o crescimento rápido da
Votorantim. Como resultado de todos esses negócios, obteve o con- indústria foi propiciado em grande parte por uma nova crise de su-
trole sobre 17% das algodoarias do Estado de São Paulo. Em 1925, perprodução do café, ainda mais profunda do que em 1880-1886,
o genro de Pereira Ignácio, tomou-se diretor-gerente da Companhia que diminuiu a rentabilidade dos investimentos na produção do café
Votorantim e, depois, o seu único proprietário. Mais tarde, consoli- e criou novos estímulos para investimentos na indústria.
dou o mais poderoso grupo empresarial nacional do Brasil e talvez Após a Primeira Guerra Mundial, intensificou-se o afluxo de
de toda a América Latina. investimentos estrangeiros ao Brasil. No limiar dos séculos XIX e
É interessante assinalar que, até 1917, os novos ricos imigran- XX, os descendentes alemães fundaram no extremo, sul do país suas
primeiras empresas e muitas outras companhias comerciais, indus-
tes conseguiram estabelecer controle sobre 8 das 15 algodoarias
triais de crédito e de finanças em São Paulo, Rio de Janeiro e no
construídas no estado de São Paulo por pessoas oriundas da elite la-
Nordeste do país. Foi aproximadamente nessa altura que se começou
tifundiária tradicional. Origens da indústria O processo de transição a ampliar os investimentos estrangeiros diretos na indústria brasilei-
para o modo de produção capitalista nos países atrasados mostra-se ra. Até a década de 30, o sistema de relações econômicas externas
especialmente prolongado e doloroso. Nos países em vias de de- conservava o aspecto colonial.
senvolvimento, certos traços do tradicionalismo são característicos O afluxo de empréstimos e investimentos no início do século
também do setor capitalista que surge, na maioria das vezes, com a XX contribuía,sobretudo, para a consolidação da economia tradi-
participação direta do capital estrangeiro ou com resultado do efeito cional, isto é, pré-capitalista ou capitalista primitiva. A formação da
demonstrativo da indústria e da agricultura dos centros capitalistas e indústria realizava-se,neste período, sobretudo, através da criação de
incorpora inicialmente apenas uma parte limitada da população. No empresas de transformação primárias de matérias primas destina-
Didatismo e Conhecimento 14
HISTÓRIA DO BRASIL
das à exportação. A ausência do Estado e a oligarquia latifundiária, O SISTEMA DE CASTAS
que visava seu próprio interesse, contribuíram negativamente sobre
o desenvolvimento da indústria. A primeira etapa de formação do A sociedade indiana foi estratificada dessa maneira há milhares
sistema capitalista no Brasil foi concluída, basicamente, já no fim da de anos, Ainda hoje, grande parte de sua população está distribuída
primeira guerra mundial. em um sistema rígido e fechada de estratificação social, essa estratifi-
Pode-se dizer que a burguesia industrial brasileira passou a cação é feito por castas. As castas são grupos sociais fechados, cujos
conscientizar-se como classe só nos fins da década de 20 e princípios integrantes devem se comportar de acordo com normas preestabe-
da década de 30. Os aprofundamentos das crises da economia tradi- lecidas de origem religiosa. Um indivíduo nascido em determinada
cional e das estruturas herdadas do passado aceleraram o advento da casta deve permanecer nela por toda a vida. Sua posição social é
nova etapa de desenvolvimento capitalista no Brasil inaugurado pela definida ao nascer. Além de direitos e deveres específicos, as pessoas
revolução de 1930. No meio do século anterior à Grande Depressão, de castas consideradas inferiores não podem ascender socialmente
o Oeste paulista tornara-se um lugar diferente. A sociedade agrária e mediante qualidades pessoais, mérito ou realizações profissionais.
as estruturas institucionais que acompanhavam se haviam expandido
com o auxílio de recursos virgens no planalto ocidental, durante as A SOCIEDADE ESTAMENTAL
décadas seguintes, alimentadas pela demanda de café na Europa e
na América do Norte e pelo excesso de trabalhadores nas Europa e, Um exemplo típico de sociedade estratificada em estamentos
mais tarde no Japão, até o colapso geral da década de 1930. pode ser encontrado na Europa ocidental da Idade Média, sob a vi-
O comércio, construção, processamento cresceram em função gência do modo de produção feudal. O estamento ou “estado”, é
da expansão cafeeira, assim como cresceram os centros urbanos, a uma camada social semifechada, com características semelhantes
demanda interna e os mercados locais. Com a rápida expansão para em alguns aspectos à casta. Assim como na sociedade de castas, a
o Oeste e a crescente complexidade da estrutura agrária, foi possível
posição social da pessoa em uma sociedade estamental lhe é atribuí-
para a velha elite afrouxaro controle, a decisão unilateral do governo
do estado, em 1927, de eliminar os subsídios do transporte e, sobre- da desde o nascimento. Entretanto, o estamento é mais aberto do que
tudo, a crescente influência do setor urbano-industriais da economia as castas. Na sociedade estamental, a mobilidade social é difícil, mas
regional, assinalaram um relativo enfraquecimento do tradicional não impossível, ao contrário do que ocorre na sociedade estratificada
poder dos fazendeiros paulistas, pouco antes da crise internacional. em castas.
Ocorreu um radical rompimento com o passado, quando os paulistas
desenvolveram o singular sistema de colonato, seguindo uma receita A SOCIEDADE DE CLASSES
virtualmente original, e criaram um programa de imigração. Entre
os fazendeiros no cume e os camponeses nativos e ex-escravos, no Segundo Karl Marx, a sociedade capitalista concebida no século
fundo da estrutura social rural, emergiu uma nova classe social os XVIII é uma sociedade dividida em classes. Para Marx na sociedade
trabalhadores imigrantes,que forneceram a base social para a ascen- capitalista existe uma luta de classes entre a burguesia e o proletaria-
são de São Paulo à proeminência entre as regiões do Brasil.
do. Marx considera a classe social como uma categoria histórica. Por
outro lado, as classes sociais mudam ao longo do tempo, conforme
ESTRATIFICAÇÃO E MOBILIDADE SOCIAL CAMADAS
as circunstâncias econômicas, políticas e sociais. As contradições
SOCIAIS
que mantêm entre si forjam e estruturam a própria sociedade.
Quando os conflitos chegam a um ponto insuportável, ocorre
A expressão estratificação deriva do estrato, que quer dizer ca-
uma revolução que transforma a sociedade, modificando o modo de
mada. Por estratificação social entendemos a distribuição de pessoas
e grupos em camadas hierarquicamente superpostas dentro de uma produção.
sociedade. Essa distribuição se dá pela posição dos indivíduos, das
atividades que eles exercem e dos papéis que desempenham na es- MOBILIDADE SOCIAL
trutura social. Na sociedade capital sita contemporânea, as posições
sociais são determinadas basicamente pela situação dos indivíduos Mobilidade social é a mudança de posição social, ou seja, de
no desempenho de suas atividades produtivas. Dessa forma os gran- status, de uma pessoa (ou grupo de pessoas) num determinado siste-
des empresários, donos das terras, banqueiros e grandes comercian- ma de estratificação social. Quando as mudanças de posição social
tes estão no topo da sociedade, por disporem de uma grande quanti- ocorrem no sentido ascendente ou descendente na hierarquia social,
dade de capital ou de meios de produção. dizemos que a mobilidade social é vertical. Quando a mudança de
Tipos de estratificação uma posição social a outra se opera dentro da mesma camada social,
Estratificação econômica: Definida pela posse de bens mate- diz-se que houve mobilidade social horizontal. Ascendente- quan-
riais, cuja a distribuição pouco equitativa faz com que haja pessoas do a pessoa melhora sua posição no sistema de estratificação social.
ricas, pobres e em situação intermediária. Descendente quando a pessoa piora de posição no sistema de estra-
Estratificação política: Estabelecida pela posição de mando na
sociedade (grupos têm poder e grupos não têm). Geralmente, as pes- tificação social.
soas mais ricas detêm também mais poder. A MOBILIDADE SOCIAL NAS DEMOCRACIAS
Estratificação profissional: Baseada nos diferentes graus de im-
portância atribuídos a cada profissional pela sociedade. Por exemplo, A mobilidade social ascendente é mais frequente numa socie-
em nossa sociedade a profissão de médico é muito mais valorizada dade democrática aberta, que estimula e enaltece a escalada rumo
do que a de pedreiro. ao topo de indivíduos de origem humilde como nos Estados Unidos.
Dependendo do tipo de sociedade, esses estratos ou camadas Entretanto, vale esclarecer que, mesmo na sociedade capitalista mais
podem ser organizados em: Castas (como ocorre na Índia) Estamen- aberta, a mobilidade social vertical não ocorre de maneira igual para
tos ou estados (Europa durante o feudalismo) Classes sociais ( socie- todos os indivíduos. A ascensão social depende muito da origem ét-
dades capitalistas). nica. NO Brasil, as pessoas brancas pertencentes às camadas sociais
Didatismo e Conhecimento 15
HISTÓRIA DO BRASIL
mais elevadas têm mais oportunidades e condições de se manter nes- da estratificação em países em desenvolvimento vis-a-vis países de-
se nível, ascender ainda mais se sair melhor do que as originárias das senvolvidos se deve a maior desigualdade destes países, com maior
classes inferiores, sobretudo se são negras. separação em classes.
Esta pode ser uma explicação para a maior complexidade na
A IMPORTÂNCIA E AS FORMAS DE ESTRATIFICAÇÃO divisão das classes, com análises multidimensionais mais amplas.
SOCIAL
ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL E ECONÔMICA NO BRASIL
A divisão de populações em classes tem interesses diretos para
diversas áreas do conhecimento, como a demografia, a sociologia, Não existe consenso em técnicas de estratificação. No Brasil,
as ciências políticas e, como não poderia deixar de ser, a economia. existem diversos critérios disponíveis para classificar a sociedade,
No geral, são utilizadas cinco classificações para separar as socie- como o Critério Brasil da ABEP – Associação Brasileira de Empre-
dades humanas: classe alta, classe média alta, classe média, classe sas de Pesquisa, o critério da SAE-Secretaria de Assuntos Estratégi-
baixa e classe mais baixa geralmente baseadas nos níveis de ren- cos, do governo federal, o critério do Centro de Políticas Sociais, da
dimento observados da população. A classificação da sociedade, ou FGV, e o critério do IBGE.
estratificação, pode ser realizada de duas maneiras: subjetivamente e A seguir, será detalhado como cada critério, apresentando suas
objetivamente. A maneira subjetiva considera a opinião dos próprios principais características e suas principais limitações.
indivíduos, sendo estes a determinar em que posição do estrato eles
consideram pertencer dentro da sociedade. A abordagem objetiva CRITÉRIO BRASIL
advém de resultado de pesquisas quantitativas por amostragem. A
mais utilizada e objeto deste estudo são aquelas de cunho objetivas. Neste critério existem oito grupos, classificados de acordo com
Os critérios objetivos podem ser unidimensionais ou multidi- o acesso a uma série de bens e serviços, com algumas variáveis so-
mensionais. Os critérios unidimensionais levam em consideração ciais sendo consideradas. Os pesos atribuídos às variáveis são esti-
apenas uma variável, como, por exemplo, a renda ou o tipo de ocu- mados através de uma equação clássica Minceriana de renda, usando
pação. Os critérios multidimensionais levam em consideração um características mais permanentes da renda corrente.
conjunto de variáveis para classificar a sociedade, como renda, edu- Em 2008, as variáveis incluíam a posse e quantidade de itens to-
cação, ocupação, bens disponíveis no domicílio, dentre outras. In- mados como variáveis artificiais binárias (dummies) e a renda toma-
formalmente, classes podem ser criadas de acordo com o prestígio da como o logaritmo da renda corrente familiar declarada. Os itens
social, o acesso a bens públicos, influência política, oportunidades utilizados englobavam o número de automóveis, de aparelhos de TV
educacionais e trajetória de carreiras. A distribuição de poder exis- em cores, de rádios, de banheiros, de máquina de lavar roupa, de ge-
tente ao longo da sociedade, seja ele a partir da posse de recursos ladeira e freezer, de videocassete/DVD, de empregados domésticos,
físico-geográficos até aqueles oriundos de relacionamentos e habili- além do nível de instrução do chefe de família. A principal função
dades, é outro fator relevante na divisão social das classes. do Critério Brasil é classificar a população segundo seu poder de
O nível socioeconômico ainda é utilizado para explicar a ma- compra, sem ter pretensão de classificação em classes sociais. Tendo
neira como os indivíduos aproveitam as oportunidades e enfrentam em mente este fato, dois objetivos centrais podem ser destacados:
os desafios da vida contemporânea (consumo, saúde, educação, ali- a) criação de um sistema padronizado que seja um estimador
mentação, habitação, emprego, etc.). O nível socioeconômico mais eficiente da capacidade de consumo da população; e
elevado do indivíduo, sendo este medido, por exemplo, através do b) discriminar grandes grupos de acordo com a capacidade de
nível de rendimento e do nível educacional, irá fazer com que ele te- consumo de bens e serviços.
nha comportamentos e preferências distintos daqueles com um nível Apesar da ampla utilização do Critério Brasil, ele sofre algumas
mais baixo. As oportunidades de emprego serão diferentes, assim críticas. As limitações deste critério, destacando a constante mudan-
como as relações de consumo, com atribuição de importâncias dife- ça das variáveis discriminantes, além da ausência de muitas outras
renciadas para temas como saúde e educação. que seriam relevantes.
A massificação dos produtos faz com que o poder de discrimi-
nação da posse de bens diminua com o tempo. Essa é uma das razões
ESTRATIFICAÇÕES SOCIAIS E ECONÔMICAS NO MUN-
pela qual o critério tenha de passar por atualizações periodicamente,
DO com novas variáveis passando a fazer parte do critério, enquanto ou-
tras passam a ser descartadas.
De maneira geral, em todos os países, pode-se considerar que Outra crítica relevante diz respeito à quantidade possuída
as variáveis chaves são ocupação e nível educacional do chefe da dos bens. Por se tratar de duráveis, de alto valor unitário e de uso
família. Para os países europeus, a ocupação parece ser a principal compartilhado nos domicílios, a quantidade predominante nas resi-
variável relevante para segmentar à sociedade. dências tende a ser de uma unidade. Além disso, para alguns itens,
Como a renda destes países é mais elevada, o poder de consumo maiores quantidades de bens duráveis presentes nas residências es-
mensurado pela posse de bens duráveis perde sentido como variável tão correlacionadas com o número de moradores. Domicílios com
discriminante da população, uma vez que, dado o nível de rendi- estruturas unipessoais dificilmente possuirão mais de uma unidade
mento de suas populações, o acesso a estes bens não é tão restritivo dos bens duráveis, entretanto isso não faz com que o poder aquisitivo
quanto em países de menor rendimento. do domicílio seja diminuído.
Para a América Latina, o nível de renda, a posse de bens du- A diferenciação via qualidade também fica ausente neste cri-
ráveis, a renda familiar corrente e o tipo de residência parecem ser tério. Muitas vezes, as diferenças de qualidade são muito mais re-
muito mais relevantes. Alguns autores apontam que a importância levantes que as diferenças de quantidades. Uma família rica e uma
Didatismo e Conhecimento 16
HISTÓRIA DO BRASIL
família pobre podem possuir, por exemplo, o bem durável geladeira. A oposição da jovem oficialidade do Exército os “tenentes” ao
Porém, é provável que esta última possua um modelo maior e com sistema político manifestou-se também na década de 1920. Nas re-
mais tecnologia embutida e, portanto, de maior valor agregado, que voltas dos 18 do Forte, de 1922, de São Paulo e Rio Grande do Sul,
a primeira. de 1924, e na Coluna Prestes, de 1925 a 1927, os “tenentes” expres-
No Critério Brasil, ambas as famílias receberão o mesmo peso, savam, embora de forma vaga, idéias de regeneração do sistema jurí-
porém o poder aquisitivo da segunda família é muito maior que o dico-político, atacavam as oligarquias, defendiam o equilíbrio entre
poder aquisitivo da primeira família. Texto adaptado de ROSA, T. os três poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, e pleiteavam
M; GONÇALVES, F. D. O; FERNANDES, A. S um vago nacionalismo econômico, bem como a modernização da
sociedade. O tenentismo pode ser entendido como uma tentativa de
quebra da rígida estratificação hierárquica e de luta pela participação
no sistema de poder.
A REVOLUÇÃO DE 1930; Mas dentro da própria oligarquia iriam surgir contestações ao
sistema político excludente, que privilegiava as oligarquias paulistas
; e mineiras. Os grupos oligárquicos dos demais estados não tinham
acesso aos centros de decisão e aceitavam participar como sócios
menores da divisão de poder. Na década de 1920, o questionamento
Movimento armado iniciado no dia 3 de outubro de 1930, sob da forma de dominação se expressava no surgimento de novos par-
a liderança civil de Getúlio Vargas e sob a chefia militar do tenente- tidos políticos com propostas de ampliação da participação política.
coronel Pedro Aurélio de Góis Monteiro, com o objetivo imediato de Embora os “tenentes” e as oligarquias dissidentes contestassem o
derrubar o governo de Washington Luís e impedir a posse de Júlio sistema político vigente, havia divergências entre suas posições: para
Prestes, eleito presidente da República em 1º de março. O movimen- os “tenentes”, a revolução deveria ser feita a partir dos quartéis, en-
to tornou-se vitorioso em 24 de outubro e Vargas assumiu o cargo de quanto para as oligarquias dissidentes a tomada do poder deveria ser
presidente provisório a 3 de novembro do mesmo ano. As mudanças tentada através de eleições.
políticas, sociais e econômicas que tiveram lugar na sociedade bra-
sileira no pós-1930 fizeram com que esse movimento revolucionário
A ALIANÇA LIBERAL
fosse considerado o marco inicial da Segunda República no Brasil.
As origens imediatas do movimento de 1930 se encontram no
AS ORIGENS
encaminhamento da escolha dos candidatos à presidência da Repú-
As motivações, idéias e objetivos que levaram ao movimento blica para o quadriênio 1930-1934, quando ocorreu uma cisão entre
armado de 1930 devem ser buscados na década de 1920, quando os estados de Minas Gerais e São Paulo. Quebrando uma das regras
apareceram mais claramente os efeitos políticos do processo de ur- da política então em vigor, segundo a qual Minas e São Paulo se
banização e de industrialização e quando novas forças sociais, prin- revezavam no governo da República, a partir de 1928 o presiden-
cipalmente as camadas médias e as massas urbanas, começaram a te Washington Luís, ligado ao Partido Republicano Paulista (PRP),
exigir uma participação política que até então lhes fora vedada. passou a apoiar ostensivamente a candidatura de outro perrepista, o
As reivindicações e pressões dessas novas forças levaram à con- então presidente de São Paulo, Júlio Prestes, à sua sucessão. Com
testação do Estado oligárquico, na medida em que este era incapaz essa indicação o presidente pretendia assegurar a continuidade de
de absorver suas demandas. Essa contestação ao Estado oligárquico sua política econômica financeira de austeridade e de contenção de
não contou, porém com a participação dos setores industriais emer- recursos para a cafeicultura, mas desprezava os interesses de Minas
gentes e tampouco foi o resultado de uma contradição, no nível da Gerais. Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, presidente desse estado,
produção, entre o setor agrário e o setor industrial. Politicamente, aproximou-se então do Rio Grande do Sul, a fim de se opor aos pla-
essa fase da vida brasileira se caracterizava pelo domínio das oligar- nos de Washington Luís.
quias agrárias, sob a hegemonia dos cafeicultores. Dessa aproximação resultou um acordo, conhecido como Pacto
Em nível local, o poder era exercido por chefes de famílias os do Hotel Glória, firmado em junho de 1929, segundo o qual Minas e
coronéis, que controlavam os votos de seus parentes, amigos e su- Rio Grande vetavam a candidatura de Júlio Prestes e abria-se a pos-
bordinados e normalmente ocupavam e monopolizavam todos os sibilidade de o Rio Grande indicar um candidato. Pouco depois, em
cargos estaduais. Eram eles a via para a escolha não só dos represen- julho, o Partido Republicano Mineiro (PRM) lançou as candidaturas
tantes no Congresso como dos candidatos a presidente e vice-presi- de Getúlio Vargas, presidente do Rio Grande do Sul, e João Pessoa,
dente da República. presidente da Paraíba, respectivamente à presidência e à vice-presi-
Esses chefes políticos pertenciam quase sempre aos partidos dência da República. Os dois partidos gaúchos o Partido Republi-
republicanos, que tinham caráter estadual. Como observa Bóris cano RioGrandense (PRR) e o Partido Libertador (PL), unidos na
Fausto, “a democracia política tinha um conteúdo apenas formal: a Frente Única Gaúcha (FUG), declararam, a seguir, seu apoio à chapa
soberania popular significava a ratificação das decisões palacianas de oposição.
e a possibilidade de representação de correntes democratizantes era No início de agosto de 1929, para tornar sua ação mais concre-
anulada pelo voto a descoberto, a falsificação eleitoral, o voto por ta, a oposição formou a Aliança Liberal. Em 12 de setembro, uma
distrito e o chamado terceiro escrutínio, pelo qual os deputados ou convenção de delegados dos partidos dominantes de 17 estados, li-
senadores cujos mandatos fossem contestados submetiam-se ao re- derados por São Paulo, homologou as candidaturas de Júlio Prestes
conhecimento de poderes por parte da respectiva casa do Congresso. e Vital Soares à presidência e vice-presidência da República. Pouco
Progressivamente, São Paulo e Minas apropriam-se do poder central depois, em 20 de setembro, em convenção realizada no Rio de Janei-
utilizando-se deste mecanismo e comandam, assim, a vida política ro, a Aliança Liberal aprovou a chapa Vargas-João Pessoa e sua pla-
do país”. taforma eleitoral, redigida pelo republicano gaúcho Lindolfo Collor.
Didatismo e Conhecimento 17
HISTÓRIA DO BRASIL
Iniciou-se então oficialmente a campanha aliancista, marcada lugar, na verdade, em setembro de 1929 e em janeiro de 1930. Com
por posições desde as mais conciliadoras até as mais radicais. Ainda isso, parece claro que os jovens políticos que iriam articular mais
em 1929, a corrente mais radical da Aliança Liberal, formada por tarde o movimento armado já discutiam essa possibilidade desde a
políticos jovens como João Neves da Fontoura, Osvaldo Aranha e formação da Aliança Liberal.
Virgílio de Melo Franco, passou a admitir a hipótese de desencadear Em carta de 22 de novembro de 1929 a Silo Meireles e a Os-
um movimento armado em caso de derrota nas urnas. Como primei- valdo Cordeiro de Farias, Prestes exprimia sua posição contrária ao
ro passo, buscou-se a colaboração dos “tenentes”, tendo em vista apoio à candidatura de Vargas, afirmando, porém, que não tomaria
seu passado revolucionário, sua experiência militar e seu prestígio nenhuma posição pública sem primeiro entregar o posto de coman-
no interior do Exército. Essa aproximação já estava em curso desde dante militar da revolução brasileira em Buenos Aires. Referia-se à
o início do debate sucessório, mas os contatos desenvolviam-se com disputa presidencial nos seguintes termos: “Dia a dia aumenta em
grande dificuldade devido a desconfianças recíprocas. mim a convicção de que tais liberais desejam tudo, menos a revolu-
Na Aliança Liberal estavam alguns dos principais adversá- ção.” E acrescentava: “Resta-nos um único caminho: o caminho pelo
rios dos “tenentes”, como Artur Bernardes, Epitácio Pessoa e João qual venho há muito me batendo e que consiste em levantarmos com
toda a coragem uma bandeira de reivindicações populares, de caráter
Pessoa — este último, como ministro do Superior Tribunal Mili-
prático e positivo, capazes de estimular a vontade das amplas massas
tar(STM), julgara vários militares rebeldes. Por outro lado, para os
de nossa paupérrima população das cidades e do sertão.”
velhos dirigentes oligárquicos da Aliança, os “tenentes” personifi- Ao final da carta, pedia uma reunião em Buenos Aires com os
cavam a ameaça de derrubada do regime e, consequentemente, de principais elementos revolucionários de todo o Brasil, para tomarem
suas próprias bases de sustentação política. Os “tenentes” tampouco uma atitude sobre a situação nacional. Essa reunião, entretanto, não
tinham uma posição homogênea. Enquanto vários oficiais revolucio- se realizou. Enquanto a campanha eleitoral prosseguia, em dezem-
nários, como Juarez Távora, João Alberto Lins de Barros e Antônio bro de 1929 Vargas, pouco seguro em relação ao futuro, estabeleceu
de Siqueira Campos aderiram à idéia de colaborar com a Aliança um acordo com Washington Luís através de seu correligionário po-
Liberal, Luís Carlos Prestes, o mais prestigioso chefe do tenentismo, lítico Firmino Paim Filho, à revelia de Minas Gerais e da Paraíba.
mostrava reservas quanto ao movimento. Nesse acordo ficou acertado que, caso fosse derrotado nas eleições,
Exilado em Buenos Aires, nesse momento Prestes dedicava-se Vargas se conformaria com o resultado e passaria a apoiar o governo
ao estudo do Marxismo, o que determinou uma revisão profunda em constituído.
sua concepção de vida, e segundo ele próprio, levou-o a compreen- Em compensação, Washington Luís e Júlio Prestes se compro-
der que os problemas brasileiros não podiam ser resolvidos com uma metiam a não apoiar elementos divergentes da situação no Rio Gran-
simples mudança de homens na presidência da República. Contudo, de do Sul e a não ordenar demissões ou transferências de funcioná-
ao verificar que a maioria dos seus companheiros se aproximava da rios federais filiados ao PRR. Comprometiam-se igualmente a re-
Aliança Liberal, Prestes aceitou encontrar-se com Vargas em Porto conhecer os candidatos gaúchos eleitos para o Congresso Nacional.
Alegre. Segundo seu depoimento, o encontro ocorreu em setembro Do acordo constava, por fim, que Vargas restringiria sua parti-
de 1929 (de acordo com Hélio Silva e John Foster Dulles, em no- cipação pessoal na campanha ao Rio Grande do Sul e que, após as
vembro) no palácio Piratini. Clandestino no Brasil, Prestes teria sido eleições, as relações entre o Rio Grande e o governo federal seriam
recebido à meia-noite e teria dito que não estava ali para dar seu restabelecidas nos termos anteriores às divergências sobre a suces-
apoio à candidatura de Getúlio, e sim para discutir o que considerava são. Vargas munia-se assim de um instrumento que lhe permitiria
fundamental para uma revolução anti-imperialista e agrária. uma saída, qualquer que fosse o resultado eleitoral. A radicalização
Comparecera ao encontro porque seus companheiros lhe ha- da campanha eleitoral se fez sentir entretanto na Câmara dos De-
viam dito que Vargas queria, em verdade, fazer uma revolução, ao putados, onde a maioria governista decidiu não dar quórum às ses-
que, ainda de acordo com seu depoimento, Getúlio teria respondido: sões parlamentares, impedindo assim a manifestação dos deputados
“Fique tranquilo, você não vai se decepcionar comigo.” Já em carta aliancistas.
a João Neves datada de 13 de setembro de 1929, Vargas referia-se à Diante dessa situação, os aliancistas resolveram promover co-
posição de Prestes nos seguintes termos: “O Carlos Prestes declarou mícios públicos nas escadarias do palácio Tiradentes, sede da Câ-
que, sendo para regenerar os costumes políticos do Brasil, está pron- mara. No dia 26 de dezembro, após um desses comícios, Ildefonso
to a nos acompanhar... para a revolução. Quer apenas que lhe forne- Simões Lopes, vice presidente da comissão executiva da Aliança Li-
çam os meios materiais. Não acredita, porém, em eleição, em vitória beral, ao entrar na Câmara, foi violentamente interpelado pelo depu-
das urnas, nem isso lhe interessa. Essa é a sua mentalidade; essas as tado situacionista pernambucano Manuel Francisco de Sousa Filho.
suas disposições.” Continuando em sua análise sobre a posição de Luís Simões Lopes, filho de Ildefonso, tomou a defesa do pai,
Prestes, Vargas declarava: atracando-se com Sousa Filho, que portava um punhal. Na luta, Il-
defonso disparou dois tiros contra o deputado pernambucano, que
“Penso que não é lícito lançarmos o país numa revolução, sacri-
morreu no local. Pouco depois desse episódio, ainda no final de de-
ficarmos milhares de vidas, arruinar e empobrecer o Estado, só para zembro, Vargas rompeu em parte o acordo com Washington Luís,
combater um homem, que atualmente nos desafia e que é o presiden- viajando para o Rio de Janeiro. No dia seguinte à sua chegada, po-
te da República. Se formos vencidos, ele ainda será glorificado, com rém, avistou-se com o presidente, reiterando sua disposição de res-
o título de restaurador da ordem e reconsolidador do regime. Não é peitar o modus vivendi estabelecido por Paim Filho.
possível ensanguentar o Brasil, por causa desse homem.” Em 2 de janeiro de 1930, ao lado de João Pessoa, Vargas leu sua
Essa carta pode ajudar no esclarecimento de um ponto impor- plataforma, não em recinto fechado como fizera Júlio Prestes, mas
tante das articulações da revolução, pois a bibliografia sobre o perío- em praça pública, para uma grande multidão que se concentrou na
do refere-se a dois encontros entre Vargas e Prestes: o primeiro em esplanada do Castelo. Estendeu sua viagem a São Paulo e Santos,
novembro de 1929 e o segundo em fevereiro de 1930. Em depoi- onde foi recebido com demonstrações populares de apoio, e regres-
mento publicado em 1982, Prestes afirma que os encontros tiveram sou em seguida ao Rio Grande do Sul. Ao voltar a Porto Alegre, de
Didatismo e Conhecimento 18
HISTÓRIA DO BRASIL
acordo com depoimento de Luís Carlos Prestes, Vargas avistou-se sição. A entrevista provocou forte reação de Osvaldo Aranha, João
ainda em janeiro com o comandante da Coluna. A despeito das di- Neves e Flores da Cunha, contra o que consideraram uma completa
vergências sobre essa data, o que parece certo é que desse encontro capitulação. Borges viu-se forçado a retificar suas declarações para
não resultou nenhum acordo entre os dois, pois Prestes insistia em evitar a cisão no PRR.
iniciar os preparativos revolucionários e precisava de dinheiro para Assim, em fins de março, admitiu o prosseguimento da luta pela
a compra de armamento. Vargas, de toda forma, teria então prome- ação parlamentar e a pregação doutrinária. Enquanto isso, a partir de
tido enviar-lhe os recursos para esse fim. Também no início de 1930 20 de março, exatamente um dia após as declarações de Borges de
foram organizadas caravanas que percorreram Minas e as principais Medeiros, um outro gaúcho, Joaquim Francisco de Assis Brasil, do
cidades do Norte e do Nordeste sob a chefia de João Pessoa. PL, declarava que iria com seus aliados até as últimas consequên-
Durante a campanha ocorreram choques violentos entre situa- cias, ou seja, até a revolução.
cionistas e oposicionistas em Garanhuns (PE), Vitória e Montes Cla- Ao mesmo tempo, um outro libertador, Batista Luzardo, afir-
ros (MG). Nesta última cidade, um comício da Concentração Con- mava que o Rio Grande do Sul iria até a revolução, desde que Mi-
servadora (alinhada a Júlio Prestes), nos primeiros dias de fevereiro, nas e Paraíba se decidissem a acompanhá-lo. Getúlio Vargas nesse
foi interrompido por um tiroteio que deixou vários mortos e feridos, momento se mostrava muito cauteloso quanto a um possível movi-
incluindo-se entre os últimos o vice presidente Melo Viana, pisotea- mento revolucionário. Se, por um lado, demonstrava estar disposto a
do no tumulto que se estabeleceu. Em 28 de fevereiro, véspera das acatar os resultados eleitorais, por outro, mantinha Osvaldo Aranha
eleições, teve início um conflito na cidade de Princesa, atual Prince- na Secretaria do Interior e Exterior, acompanhando as atividades
sa Isabel, na Paraíba. A Revolta de Princesa, como ficou conhecida, revolucionárias de seu colaborador. Por seu lado, Virgílio de Melo
era liderada por José Pereira, chefe político do município, e tinha Franco decidiu iniciar as conversações para conquistar adeptos para
suas raízes na política tributária posta em prática por João Pessoa ao a revolução. No dia 22 de março, junto com Batista Luzardo, foi
assumir o governo do estado. O comércio do interior da Paraíba era procurar o ex-presidente da República Epitácio Pessoa, em Petró-
feito com Recife normalmente por terra. João Pessoa proibiu esse polis (RJ), para expor a marcha dos acontecimentos e saber de sua
intercâmbio, obrigando as mercadorias a entrarem pelo porto de Ca- disposição em aceitar a via revolucionária.
bedelo, o que prejudicou os “coronéis” do interior e beneficiou os Epitácio preferiu aguardar uma declaração de Antônio Carlos
elementos da capital. de Andrada para então se pronunciar. Ao ser procurado, Antônio
A revolta tinha por objetivo declarar a separação de Princesa da Carlos declarou que aceitaria a via revolucionária desde que o Rio
Paraíba. O governo federal auxiliou os rebeldes e colocou obstáculos Grande a adotasse. Epitácio concordou com essa posição, mas afir-
para o envio de armamento aos legalistas, mas João Pessoa recebeu mou que caberia a João Pessoa a decisão sobre o rumo que tomaria
auxílio do Rio Grande do Sul por intermédio de Osvaldo Aranha. a Paraíba.
O resultado do pleito de 1º de março de 1930 deu a vitória a Júlio Voltando a Porto Alegre, Batista Luzardo comunicou o resulta-
Prestes e Vital Soares, eleitos com 57,7% dos votos. A fraude, domi- do de suas conversações a Osvaldo Aranha e outros companheiros.
nante na época, verificou-se dos dois lados, pois de outra forma não Procurou também Getúlio Vargas, que se mostrou de acordo com
poderia ser explicado o resultado obtido por Vargas em seu estado: a decisão de Osvaldo de enviar seu irmão Luís Aranha com plenos
298 mil votos contra 982 dados a Júlio Prestes. O Partido Comunista poderes para negociar a participação de Minas, Paraíba e Rio Gran-
Brasileiro, então denominado Partido Comunista do Brasil (PCB), de do Sul na revolução. Luís Aranha partiu, então, com a seguinte
lançou como candidato o operário Minervino de Oliveira, pelo Blo- proposta: a revolução deveria contar com o apoio dos três estados.
co Operário e Camponês, obtendo uma votação ínfima. Osvaldo Aranha já providenciara a compra de armamento na Tche-
coslováquia no valor de 16 mil contos. Para o pagamento desse ma-
A CONSPIRAÇÃO terial, o Rio Grande do Sul daria oito mil contos e solicitava a Minas
seis mil e à Paraíba dois mil.
Logo após a derrota nas eleições foram retomadas as articu- O movimento deveria eclodir ao mesmo tempo em todo o Bra-
lações para um movimento revolucionário, na realidade iniciadas sil. No Sul, seria dirigido por Osvaldo Aranha, com a participação
no período pré-eleitoral. Foram principalmente os jovens filhos da de vários chefes militares, inclusive Luís Carlos Prestes; no Norte,
oligarquia que iniciaram os contatos para o movimento e obteve o seria chefiado por João Pessoa e contaria com a direção militar de
apoio dos velhos chefes políticos, como Antônio Augusto Borges Juarez Távora; em Minas, a liderança caberia a Antônio Carlos, com
de Medeiros, do PRR, Artur Bernardes, Venceslau Brás, Afrânio de a direção militar de Leopoldo Néri da Fonseca. O movimento teria
Melo Franco e Antônio Carlos de Andrada, todos do PRM, que aca- também repercussão em São Paulo, sob a direção de Siqueira Cam-
baram por aceitar a via revolucionária e a aliança com os setores
pos, e no Distrito Federal, com o apoio de Pedro Ernesto Batista. A
militares tenentistas. Muitos dos “tenentes” haviam retornado do
exílio a partir de 1929 e atuavam clandestinamente, enquanto outros exposição desse plano foi inicialmente feita a Epitácio Pessoa, de-
já haviam cumprido suas penas de prisão e voltavam à liberdade. pois a Artur Bernardes e em seguida a Antônio Carlos.
A jovem oligarquia, representada por Osvaldo Aranha, João Ba- Os três receberam com incredulidade essas informações e de-
tista Luzardo, João Neves da Fontoura, Virgílio de Melo Franco, Ar- clararam que não confiavam em Borges de Medeiros. Foi então de-
tur Bernardes Filho, Caio e Carlos de Lima Cavalcanti e outros, lu- cidido que Francisco Campos, secretário do Interior do governo de
tava por um regime democrático, pela modernização econômica do Minas, iria ao Rio Grande em abril, entender-se pessoalmente com
Brasil e basicamente por uma inserção na estrutura de poderque se Borges de Medeiros. Ao retornar do Rio Grande, Francisco Cam-
encontrava enfeixada nas mãos dos velhos oligarcas através de uma pos declarou que constatara uma posição moderada em Borges de
rígida hierarquia. Em 19 de março de 1930, Borges de Medeiros, em Medeiros e uma posição enigmática em Vargas. De posse dessas im-
entrevista publicada pelo jornal A Noite, reconheceu enfaticamente pressões, Antônio Carlos tomou uma atitude de prudência. No final
a vitória de Júlio Prestes, dando por encerrada a campanha da opo- de abril, Vargas aprovou um documento elaborado por João Neves
Didatismo e Conhecimento 19
HISTÓRIA DO BRASIL
sobre a orientação da bancada do PRR na legislatura que se iniciaria à grande maioria de nossa população, sem apoio da qual qualquer
em maio. Tratava-se de um memorando de sete itens, sancionado por revolução que se faça terá o caráter de uma simples luta entre as
Borges de Medeiros em sua estância de Irapuazinho. oligarquias dominantes”.
Conhecido como o Heptálogo de Irapuazinho, o documento es- Ao tomar conhecimento desse manifesto, Emídio Miranda en-
tabelecia como pontos principais a oposição não sistemática do PRR tregou o documento a Siqueira Campos, que seguiu imediatamente
ao governo federal, a defesa da plataforma aliancista e a apresenta- para Buenos Aires acompanhado de João Alberto. Em Buenos Aires,
ção de um projeto de lei de reforma eleitoral, a defesa dos candida- Siqueira, João Alberto e Manuel Costa discutiram durante um dia
tos aliancistas de Minas e da Paraíba não reconhecidos pelas juntas inteiro com Prestes sua posição em relação à revolução. Ao final, Si-
de apuração eleitoral, a assistência aos governos desses dois estados queira conseguiu convencer Prestes a retardar para depois da eclosão
contra a intervenção federal, o fornecimento de armas a João Pessoa do movimento o lançamento público de suas posições. De acordo
para a luta contra a Revolução de Princesa e a recondução de João com o depoimento de Prestes, ficou acertado que ele aguardaria 15
Neves à liderança da bancada republicana gaúcha na Câmara. Paim dias, tempo necessário para Siqueira Campos explicar aos antigos
Filho, preocupado com a manutenção do modus vivendi com o go- companheiros da Coluna as idéias de Prestes sobre a revolução.
verno federal, não concordou com o Heptálogo. Terminada a reunião em Buenos Aires, Siqueira e João Alberto
Em carta a Borges, denunciou as intenções revolucionárias de tomaram um avião na madrugada do dia 10 de maio de 1930. Por
João Neves, mas omitiu o acordo firmado em dezembro de 1929 volta das 3:30h, o avião caiu nas águas do rio da Prata, morrendo
com Washington Luís. Para contornar a dificuldade, Vargas e Borges Siqueira Campos e sobrevivendo João Alberto. O corpo de Siqueira
autorizaram Paim Filho, eleito senador em março, a defender sua foi trasladado para o cemitério central de Montevidéu com grande
posição pessoal no Congresso. acompanhamento, tendo Prestes à frente. Este, após a morte do com-
Em 3 de maio de 1930, o Congresso iniciou seus trabalhos e a panheiro, enviou seu manifesto a Juarez Távora, que se encontrava
maioria governista se serviu arbitrariamente do processo de reco- clandestino na Paraíba e que não concordou com as idéias expostas,
nhecimento dos candidatos para punir as representações aliancistas o mesmo ocorrendo com Isidoro Dias Lopes.
de Minas e da Paraíba. A “degola”, como era denominada o processo O Manifesto, datado de 29 de maio, foi afinal tornado público
de não reconhecimento, atingiu todos os candidatos apoiados por através do jornal paulista Diário Nacional em 30 de maio. No mês
João Pessoa, beneficiando os partidários de José Pereira. A represen- de junho de 1930, em nome do PCB, Otávio Brandão condenou o
tação do PRM sofreu um corte de 14 deputados numa bancada de documento de Prestes, afirmando que ele pretendia algo impossível,
37, sendo diplomados em seus lugares candidatos da Concentração ou seja, a substituição do proletariado pela pequena burguesia no
Conservadora (entre os deputados degolados estava Afrânio de Melo comando da revolução. Por outro lado, a morte de Siqueira Cam-
Franco, pai de Virgílio). pos significou uma grande perda para a conspiração e enfraqueceu
A oposição de Minas perdeu também a presidência de todas as a participação de São Paulo no movimento. Outro fato importante
comissões que detinha na Câmara. O Rio Grande do Sul teve sua re- desse período foi o manifesto de Vargas, datado de 1º de junho e
presentação toda reconhecida devido ao pacto firmado entre Vargas divulgado através dos jornais, condenando as fraudes e as violências
e Washington Luís por intermédio de Paim Filho. Em fins de maio, o que vinham sendo praticada pelo governo federal e pelos governos
novo Congresso aprovou os resultados das eleições, declarando Júlio estaduais contra os aliancistas, inclusive a “degola” dos deputados
Prestes presidente eleito. mineiros e paraibanos. Após as declarações de Vargas, João Neves,
O arbítrio do reconhecimento dos poderes constituiu mais um Flores da Cunha e Virgílio de Melo Franco foram ouvir Antônio Car-
fator de indignação contra Washington Luís, sobretudo em Minas los.
Gerais. Em 27 de maio, durante a reunião da comissão executiva Este demonstrou desconfiança quanto ao êxito do movimento
do PRM, Antônio Carlos declarou que daria apoio a seus aliados revolucionário, baseado em informações de que a preparação militar
na revolução, mas desde que houvesse unanimidade por parte dos era muito precária. Afirmou que o melhor seria transformar a aliança
gaúchos ou que pelo menos pudesse contar com o apoio de Borges militar em aliança política entre os três estados. Em 17 de junho,
e Vargas. enviou a Osvaldo Aranha um radiograma principal meio de contato
Ao mesmo tempo, Vargas declarava a seus amigos que estava entre os conspiradores considerando o movimento inteiramente sem
sentindo uma tendência à acomodação entre os mineiros, e aprovei- articulação e sem probabilidade de êxito.
tou para garantir que o espírito revolucionário estava completamente Ao tomar conhecimento da posição de Antônio Carlos, Osvaldo
morto. Os preparativos revolucionários entraram então num ritmo Aranha declarou que não aceitava a ação exclusivamente política,
mais lento. Entretanto, alguns fatos ocorridos em maio e início de pois julgava que os três estados tinham pouca representação no Con-
junho contribuíram para alterar essa fase de indecisão. Entre es- gresso, e que só via como saída para o Brasil o movimento armado.
ses fatos incluíram-se a defecção de Prestes e a morte de Siqueira Antes a resposta violenta de Aranha, e preocupado com a repercus-
Campos. Prestes havia sido convidado a assumir a chefia militar do são de sua atitude, Antônio Carlos procurou transferir a responsabi-
movimento ao lado de Vargas, chefe civil. Mas os recursos financei- lidade da participação ou não de Minas na revolução a seu sucessor
ros prometidos tardaram e, quando Osvaldo Aranha enviou a Pres- no governo do estado, Olegário Maciel, que fora eleito em março e
tes cerca de oitocentos contos de réis para a compra de armamento, cuja posse estava prevista para setembro.
Prestes já decidira não mais participar da revolução. Ao final do mês de junho, Osvaldo Aranha demitiu-se da Secre-
Essa decisão foi expressa num manifesto redigido em abril de taria do Interior e Exterior do Rio Grande do Sul e confidenciou a
1930 segundo o qual “uma simples mudança de homens no poder, amigos que deixava o governo porque se convencera de que Getúlio,
voto secreto, promessas de liberdade eleitoral, de honestidade ad- sem Minas, não iria à luta, e ele, Osvaldo, se sentia constrangido na
ministrativa, de respeito à Constituição e moeda estável e outras pa- secretaria do governo. Em radiograma a Virgílio de Melo Franco
naceias nada resolvem, nem podem de maneira alguma interessar justificou sua saída declarando:
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HISTÓRIA DO BRASIL
“Minha convicção você e eu vítimas de uma mistificação ver- da Coluna Prestes, enquanto Virgílio de Melo Franco atuaria como
gonhosa. Estou farto dessa comédia. Impossível continuar sob dire- seu secretário, e o comandante Herculino Cascardo, da Marinha,
ção de chefe tão fraco que desanima os próprios soldados.” Através igualmente revolucionário de 1924, como oficial de informações.
da correspondência trocada entre os conspiradores durante o período O comandante militar do Norte-Nordeste, Juarez Távora, vivendo
de junho/ julho, nota-se o total desânimo, tanto por parte dos gaú- clandestinamente, ultimava os preparativos com Juraci Magalhães,
chos, como dos mineiros e cariocas. Entretanto, enquanto os chefes Agildo Barata e Jurandir Mamede. A primeira data para a eclosão do
políticos recuavam, os “tenentes” continuavam os preparativos e já movimento, 25 de agosto, foi desmarcada por falta de preparo, e uma
se encontravam em fase adiantada de organização, aguardando a de- nova data, 7 de setembro, foi por sua vez adiada para 20 do mesmo
cisão dos políticos para iniciar a luta. mês. A partir do mês de setembro, Távora, através de telegramas a
Osvaldo Aranha, mostrava-se apreensivo com o retardamento do iní-
A ACELERAÇÃO DOS PREPARATIVOS cio do movimento revolucionário e pedia que fosse apressada a to-
mada de decisão final, a fim de evitar um levante isolado e sem pos-
No início de julho, alguns conspiradores recomeçaram por con- sibilidade de êxito deflagrado por elementos exaltados da Paraíba.
ta própria os preparativos. Em Minas, Artur Bernardes apoiou sem Os recuos constantes, se por um lado levavam os conspiradores
hesitação as articulações de Virgílio de Melo Franco. A pedido de ao quase desespero, por outro facilitavam suas ações, já que o gover-
Virgílio, Bernardes escreveu a Olegário Maciel dando-lhe certeza no federal, informado desses recuos, não acreditava na possibilidade
de seu apoio ao movimento armado. Embora lhe parecesse incon- de sucesso do movimento, relaxando a vigilância e as providências
veniente à revolução, Olegário cedeu diante dos argumentos de para impedir os preparativos dos revolucionários. A 11 de setembro,
Bernardes. No final de julho, declarou a Lindolfo Collor e Maurício Osvaldo Aranha, juntamente com Góis Monteiro e João Alberto, deu
Cardoso que estava de acordo com o movimento, desde que ele fosse por encerrados os preparativos, enquanto entregava a Vargas a res-
deflagrado antes de sua posse no governo de Minas. Um fato novo ponsabilidade de fixar a data em que a revolução rebentaria em todo
veio modificar a morna situação: em 26 de julho João Pessoa foi as- o Brasil. Vargas pediu então que um emissário fosse enviado ao Rio
sassinado em Recife por João Dantas, que apoiava o governo federal de Janeiro para se entender com os generais Augusto Tasso Fragoso,
e era ligado a José Pereira, chefe do levante separatista de Princesa. Alfredo Malan D’Angrogne e Francisco Ramos de Andrade Neves,
crime teve como móvel imediato um conflito de caráter pri-
simpáticos à Aliança Liberal, e deles obter a promessa de que, caso
vado e ligava-se também a lutas regionais, mas naquele momento
o movimento fosse vitorioso e o governo de Washington Luís aban-
toda a responsabilidade foi atribuída ao governo federal. O enterro
donasse o poder antes da chegada de Vargas à capital da República,
de João Pessoa foi no Rio de Janeiro, acompanhado por uma grande
eles impediriam que o governo caísse nas mãos de outros que não os
multidão em ambiente de enorme comoção. O assassinato reacendeu
revolucionários.
o ânimo revolucionário entre os políticos. Os conspiradores passa-
Caso os generais não aceitassem essa proposta, Vargas confiava
ram a acelerar os preparativos militares e a pressionar os principais
que, sendo eles homens de honra, nada revelariam sobre esse acor-
chefes. do. Lindolfo Collor foi enviado ao Rio de Janeiro para se entender
A posição de Vargas, de aparente alheamento ao movimento e com os generais, que concordaram com a proposta de Vargas. Ainda
muitas vezes contrário à sua deflagração, pode ser interpretada como durante o mês de setembro, Vargas procurou dissimular seu envol-
uma tentativa de não despertar a desconfiança do governo federal. vimento na conspiração, buscando sobretudo despistar o senador
Foi isso exatamente o que ocorreu. O Rio Grande teve condições de Paim Filho e o general Gil de Almeida, ambos fortemente leais a
preparar o movimento com a quase ignorância do governo federal. Washington Luís. Paim Filho foi induzido a transmitir informações
Entretanto, dois problemas precisavam urgentemente de solução: um tranquilizadoras ao presidente, negando a participação de Vargas na
deles era o apoio de Borges de Medeiros e outro, o consentimento de trama revolucionária. Enquanto isso, Vargas entendia-se com o ge-
Olegário Maciel. Borges de Medeiros preparava uma entrevista onde neral, confidenciando-lhe certos detalhes inconsequentes da revolu-
fazia críticas à solução revolucionária. Osvaldo Aranha foi encarre- ção. Mas Gil de Almeida percebeu a artimanha: em 15 de setembro
gado de demovê-lo da idéia, tarefa que cumpriu com sucesso. Além alertou o ministro da Guerra, general Nestor Sezefredo dos Passos,
do mais, obteve o apoio de Borges para o movimento revolucionário, sobre as reais intenções de Vargas. Apesar de todas as advertências,
o que permitiu que os preparativos daí em diante se acelerassem. Washington Luís não ordenou nenhuma medida preventiva para de-
Quanto a Olegário, os conspiradores obtiveram afinal sua concor- ter a revolução, sendo surpreendido pelos acontecimentos.
dância em fazer a revolução mesmo após sua posse em setembro. Em 25 de setembro, Vargas e Aranha decidiram desencadear
Os chefes militares começaram então a pressionar os chefes po- a revolução no dia 3 de outubro. Segundo o plano adotado, o mo-
líticos para que estes se definissem em relação ao movimento. Com vimento deveria irromper simultaneamente no Rio Grande do Sul,
a renúncia de Prestes ao posto de chefe militar da revolução, Pedro Minas e estados do Nordeste. A ação deveria ter início, por escolha
Aurélio de Góis Monteiro foi convidado a assumir seu lugar. Góis de Osvaldo Aranha, às 17:30h, no fim do expediente nos quartéis,
comandava então o 3º Regimento de Cavalaria Independente, em o que facilitaria a ação militar e a prisão dos oficiais em suas casas.
São Luís Gonzaga (RS), e, ao aceitar a chefia do estado-maior das
forças revolucionárias, pediu licença ao general Gil de Almeida, co- A REVOLUÇÃO EM MARCHA
mandante da 3ª Região Militar (3ª RM), para assistir, em Porto Ale-
gre, a uma intervenção cirúrgica a que sua mulher seria submetida. A revolução eclodiu às 17:30h do dia 3 de outubro no Rio Gran-
Obtida a licença, viajou imediatamente, instalando seu quartel- de do Sul, com três ataques a posições militares de Porto Alegre.
general na casa de uma irmã de Osvaldo Aranha. Seus dois subchefes Osvaldo Aranha, Flores da Cunha e o capitão Agenor Barcelos Feio
seriam João Alberto e Newton Estillac Leal, antigos componentes atacaram o quartel-general da 3ª RM. No morro do Menino Deus,
Didatismo e Conhecimento 21
HISTÓRIA DO BRASIL
onde havia grandes depósitos de armamentos e munições, o ataque comando do movimento bloqueou as estradas de ferro, isolando o
comandado por João Alberto foi detido inicialmente por um regi- 12º RI e impedindo a circulação de tropas, equipamentos e informa-
mento de cavalaria. A morte de seu comandante, no entanto, quebrou ções. Em seguida, deslocou seu quartel-general para Barbacena, ao
o ânimo da oficialidade, que acabou se rendendo. No quartel-gene- mesmo tempo em que determinava o ataque ao 10º BC, sediado em
ral do 7º Batalhão de Caçadores (7º BC), comandado pelo coronel Ouro Preto.
Benedito Marques da Silva Acauan, a determinação de resistir sur- Ao primeiro combate, essa unidade se dispersou, e parte de seu
preendeu todas as expectativas. Cercado por todos os lados, impla- contingente se deslocou para São João del Rei, onde se juntou às
cavelmente castigado pela artilharia de Alcides Etchegoyen e quase tropas do 11º RI, sediado naquela cidade. O 4º Regimento de Cavala-
devorado pelo fogo dos lança-chamas acionados por ordem de Góis ria Divisionária, de Três Corações, também ofereceu resistência. Na
Monteiro, o 7º BC só se entregou depois que seu comandante se luta travada em torno dessa cidade, morreu Djalma Dutra, veterano
certificou de que todas as demais unidades federais de Porto Alegre da Coluna Prestes, vitimado por uma bala de suas próprias forças. As
haviam sido subjugadas. tropas governistas reunidas em São João del Rei capitularam no dia
Na madrugada de 4 de outubro, todas as unidades militares de 15 de outubro, enquanto em Juiz de Fora resistiram até o dia 23. Al-
Porto Alegre já se encontravam sob o controle dos revolucionários. guns dias antes, quando a vitória da revolução já estava praticamente
No interior do estado quase não houve luta. Vargas divulgou, no pró- assegurada em Minas, uma coluna de forças revolucionárias partiu
prio dia 4, um manifesto conclamando o povo gaúcho às armas: “Es- em direção ao Espírito Santo, ocupando Vitória no dia 19 de outu-
tamos diante de uma contrarrevolução para readquirir a liberdade, bro. O Norte e o Nordeste do país tiveram a Paraíba como sede do
para restaurar a pureza do regime republicano.” Concluía dizendo: movimento revolucionário, Juarez Távora como comandante militar
“Rio Grande, de pé, pelo Brasil! Não poderás falhar ao teu desti- e José Américo de Almeida como chefe civil da revolução. Mas o
no heróico.” Os gaúchos atenderam ao apelo com entusiasmo e em movimento não eclodiu na Paraíba no dia 3 de outubro, porque hou-
poucos dias cerca de 50 mil voluntários alistaram-se para lutar na ve um erro de entendimento entre Juarez e Osvaldo Aranha. Todas as
insurreição. As reações esboçadas em Rio Grande, São Borja, Bajé, quinzenas, Juarez mandava para o quartel-general de Porto Alegre,
São Gabriel, Alegrete, Itaqui e Passo Fundo foram prontamente con- em código, as datas mais convenientes para o início da revolução.
troladas. Góis Monteiro decidiu que os prisioneiros fossem enca- Os dias coincidiam exatamente com aqueles em que estava de
prontidão a companhia comandada por Juraci Magalhães, a única
minhados para dois navios ancorados no litoral, próximo de Porto
unidade dentro do 22º BC onde havia uma organização verdadeira-
Alegre, onde permaneceriam até que a revolução decidisse sobre seu
mente revolucionária comandada pelo próprio Juraci, por Jurandir
destino. Encontravam-se, entre os oficiais superiores aprisionados, o
Mamede, Agildo Barata e Paulo Cordeiro. Juarez recebera do Sul
general Gil de Almeida e o coronel Euclides de Oliveira Figueiredo,
um telegrama comunicando que a revolução eclodiria no dia 3 de ou-
comandante da 2ª Divisão de Cavalaria aquartelada em Livramento.
tubro. O comunicado dizia que nesse momento todos os companhei-
No dia 5 de outubro, todo o estado havia aderido à revolução.
ros deveriam cumprir sua tarefa. Juarez respondeu a esse telegrama,
Formaram-se então diversas colunas que partiram para o norte: a
sem querer usar as palavras movimento ou revolução, dizendo ape-
primeira, comandada por Alcides Etchegoyen e João Alberto, rumou
nas que estava de acordo e pedindo licença para iniciar “a marcha
para Santa Catarina e Paraná; a segunda, sob o comando do general
para o Sul” na madrugada de 3 para 4 de outubro. Juarez pretendia
Valdomiro Lima, tinha o mesmo destino, mas logo foi convocada
iniciar o movimento às duas horas da madrugada do dia 4.
a retornar ao Rio Grande do Sul; a terceira, conhecida como Di-
Quando os conspiradores no Sul receberam o telegrama, enten-
visão do Litoral, avançou ao longo da costa com o objetivo de to-
deram que Juarez também deflagraria a revolução às 17:30h do dia
mar Florianópolis, sob o comando de Ptolomeu de Assis Brasil, e a
3 e iniciaria a marcha em direção a Recife na madrugada do dia
quarta, chefiada por Miguel Costa, partiu na direção de São Paulo,
seguinte. Esse engano foi quase fatal. Embora a companhia de Juraci
estacionando na cidade paranaense de Sengés. Em Belo Horizonte, a
estivesse de serviço no dia 3, Agildo Barata era o oficial de dia e
revolução eclodiu no mesmo dia e na mesma hora em que as forças
interceptou os telegramas que anunciavam o início da revolução no
gaúchas tomaram o quartel-general de Porto Alegre.
Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Desse modo, ante a mobilização
Os mineiros revolucionários iniciaram o movimento prenden-
das tropas governistas, o levante na Paraíba foi antecipado.
do em sua residência o tenente-coronel José Joaquim de Andrade,
Aos 30 minutos da madrugada do dia 4 de outubro, iniciou-se
comandante do 12º Regimento de Infantaria (12º RI) e comandante
a revolução no estado com o ataque ao 22º BC, onde se encontrava
interino da 8ª Brigada de Infantaria. O chefe militar da revolução em
o general Alberto Lavenère Wanderley, comandante do 7º RM. O
Minas era o tenente-coronel Aristarco Pessoa (irmão de João Pes-
general morreu durante as primeiras ações, juntamente com o tenen-
soa), em cujo estado-maior se incluíam Leopoldo Néri da Fonseca
te Paulo Lobo e seus dois ajudantes de ordens. Logo em seguida,
e Osvaldo Cordeiro de Farias. O governo mineiro, já presidido por
sublevaram-se a companhia do 25º BC de Teresina, comandada pelo
Olegário Maciel, estava comprometido com o movimento, e o órgão
capitão Joaquim de Lemos Cunha; uma outra do 24º BC, de São
oficial do estado, O Minas Gerais, publicou, no próprio dia 3 de ou-
Luís, comandada por Anacleto Tavares; uma companhia do 29º BC,
tubro, um manifesto em que conclamava o povo a apoiar os revolu-
de Natal, comandada por Aluísio Moura, que estava em Campina
cionários. Com exceção do 12º RI, que resistiu durante cinco dias e
Grande; a Escola de Aprendizes-Marinheiros e a Capitania dos Por-
acabou capitulando devido à falta de água e alimentos, as unidades
tos. Em Sousa, no interior do estado da Paraíba, o 23º BC, deslocado
militares da capital mineira não chegaram a ameaçar o sucesso dos de Fortaleza, rebelou-se sob o comando do tenente Carlos Cordeiro.
revoltosos. Nos combates, foi morto o comandante do batalhão, coronel
Belo Horizonte foi ocupada e boa parte de sua população ade- Pedro Ângelo Correia. O destacamento de Princesa só aderiu à re-
riu aos batalhões de voluntários que logo se formaram. Prevendo volução um pouco mais tarde. Em Recife, nas duas primeiras horas
resistência no setor da Mantiqueira e na região de Juiz de Fora, o da madrugada do dia 4 de outubro, quando teve início o levante re-
Didatismo e Conhecimento 22
HISTÓRIA DO BRASIL
volucionário, o comando das tropas do governo já estava alertado, o de oficiais generais, liderados por Augusto Tasso Fragoso, exigiu a
que permitiu forte resistência. Quando Juarez Távora chegou a Re- renúncia do presidente através de um documento encaminhado por
cife vindo da Paraíba, percebeu que seria inútil insistir na tomada do intermédio de dom Sebastião Leme, cardeal arcebispo do Rio de Ja-
quartel do 21º BC. Foi então ao encontro dos jovens do 33º Tiro de neiro. Ante a negativa de Washington Luís, no dia 24 de outubro os
Guerra, dirigido pelos sargentos Eli Coutinho e Nélson, que serviam militares determinaram o cerco do palácio Guanabara e sua prisão.
no 21º BC, e pediu-lhes ajuda. Junto com Afonso de Albuquerque Washington Luís foi substituído por uma junta governativa provisó-
Lima, procurou em seguida o capitão de polícia Muniz Faria e or- ria, composta pelo general Tasso Fragoso, seu chefe, o general João
denou-lhe que seguisse para o quartel da Soledade para reforçar o de Deus Mena Barreto e o almirante Isaías de Noronha. Ainda no dia
grupo de jovens revolucionários que naquele momento estava ata- 24, a junta organizou um novo ministério, do qual faziam parte, entre
cando o 21º BC. Ordenou-lhe também que lá resistisse até a chegada outros, o general José Fernandes Leite de Castro (Guerra), Isaías de
de reforços da Paraíba. Retornou depois a João Pessoa e deu ordens Noronha (Marinha) e Afrânio de Melo Franco (Relações Exteriores).
para que fosse iniciada a descida para Recife. O batalhão de Agildo Com a situação na capital sob controle, a junta enviou o primeiro de
Barata partiu imediatamente, seguido de Juraci Magalhães e Paulo uma série de telegramas a Vargas, propondo a suspensão total das
Cordeiro. hostilidades em todo o país, mas nada adiantando sobre a transferên-
O movimento em Pernambuco contou com ampla participação cia do poder aos chefes da revolução.
popular. Após o levante do Tiro de Guerra e o assalto ao 21º BC, As verdadeiras intenções da junta não eram claras. A nomea-
os revolucionários comandados pelo capitão Muniz Faria atacaram ção do ministério e a adoção de medidas legislativas indicavam sua
o paiol do quartel da Soledade, distribuindo armas e munições aos disposição de permanecer no poder como um fato consumado. A
populares que aderiram à revolução. No dia 5 de outubro pela ma- situação tornou-se ainda mais dúbia com a designação do general
nhã, ao chegarem os reforços da Paraíba, a capital pernambucana Hastínfilo de Moura, comandante legalista da 2ª RM, para o cargo
já se encontrava sob completo controle das forças revolucionárias. de interventor em São Paulo, e com as declarações do novo chefe
A resistência em Recife durou, de toda forma, até o dia 6 de outu- de polícia do Rio, coronel Bertoldo Klinger, prometendo reprimir as
bro, quando Estácio Coimbra, presidente do estado, abandonou o manifestações públicas na capital em favor dos revolucionários. De
governo. As tropas revolucionárias marcharam então em direção a Ponta Grossa, Vargas comunicou imediatamente à junta que pros-
Alagoas, de onde, após a derrubada do governo, dirigiram-se para a seguiria a luta se não fosse reconhecido como chefe de um governo
Bahia passando por Aracaju. Não houve resistência em Sergipe, pois provisório.
o 28º BC aderiu à revolução. As tropas legais estabeleceram na Bah- Ao mesmo tempo, ordenou às forças revolucionárias que pros-
ia o quartel-general das Forças em Operação no Norte da República seguissem seu avanço em direção à capital do país. Em 28 de outu-
(FONR), sob o comando do general Antenor de Santa Cruz Pereira bro, o impasse foi finalmente superado, após entendimento firmado
de Abreu. por Aranha e Collor, emissários de Vargas, e o general Tasso Frago-
Após mobilizar a polícia do estado, o general Santa Cruz se so. Em proclamação ao país, a junta comunicou a decisão de trans-
deslocou rumo à divisa com Sergipe, a fim de impedir o avanço da mitir o poder a Vargas. A caminho do Rio, em trem militar, Vargas
coluna revolucionária em direção à capital federal. A marcha das co- entrou em São Paulo.
lunas revolucionárias gaúchas continuava em direção a São Paulo. O A cada parada que o trem fazia em território paulista, juntavam-
destacamento principal deslocava-se por via férrea, sob as ordens de se à caravana revolucionária próceres do Partido Democrático (PD)
Miguel Costa, que, sem maiores obstáculos, chegou a Ponta Grossa. de São Paulo, que desejavam substituir o PRP na chefia do governo
Enviado a Curitiba para coordenar a ação das tropas que estavam do estado. Esta, porém, era igualmente a meta de um grupo de “te-
sendo transportadas do Rio Grande do Sul, João Alberto não encon- nentes” influenciado por Miguel Costa. Os líderes das tropas revo-
trou dificuldades para avançar até Capela da Ribeira, a leste de Itara- lucionárias, os “tenentes” e seus aliados civis consideravam que os
democráticos paulistas haviam tido uma fraca atuação, tanto durante
ré, além da divisa do Paraná com São Paulo.
as eleições quanto na fase preparatória da revolução, e por isso se
Em Santa Catarina, a Divisão do Litoral enfrentou forte bom-
opunham a entrega do poder estadual a Francisco Morato, líder do
bardeio nas proximidades de Florianópolis, onde o Exército se man-
PD, ou a qualquer outro político paulista. Chegando à capital paulis-
teve fiel a Washington Luís, e resistiu enquanto aguardava reforços. ta em 29 de outubro, Vargas optou pela formação de um secretariado
A 10 de outubro, acompanhados de todo o estado-maior civil e mili- democrático, que deveria atuar em colaboração com João Alberto,
tar da revolução, Getúlio Vargas e Góis Monteiro seguiram de trem designado delegado militar da revolução em São Paulo, com o com-
com destino ao norte do Paraná, prevendo choques violentos com promisso de ser mantido no posto apenas enquanto durassem as ta-
as tropas legalistas comandadas pelo general José Pais de Andrade. refas de supervisão do escoamento das tropas.
O comboio revolucionário, no qual viajavam também Flores Em 31 de outubro, precedido por três mil soldados gaúchos, Var-
da Cunha, João Neves da Fontoura, Maurício Cardoso, Virgílio de gas desembarcou no Rio, de uniforme militar e com grande chapéu
Melo Franco e numerosos oficiais, estacionou em Ponta Grossa. Var- gaúcho, e foi recebido com uma manifestação de apoio apoteótica.
gas e sua comitiva permaneceram em um dos vagões da composição Finalmente, em 3 de novembro de 1930, Vargas tomou posse como
ferroviária, enquanto Góis montou seu quartel-general numa das de- chefe do governo provisório. O primeiro ministério do governo pro-
pendências do grupo escolar da cidade. Ali, planejou o ataque geral visório mostrava a heterogeneidade do grupo que apoiou a revolução
que, tomando como base a frente de Itararé, seria desfechado sobre e refletia os compromissos dos revolucionários. Foram mantidos os
São Paulo no dia 25 de outubro. três ministros nomeados pela junta militar em 24 de outubro, a saber:
Ainda em Ponta Grossa, porém, Góis foi informado pelo seu Leite de Castro (Guerra), Isaías de Noronha (Marinha) e Afrânio de
ajudante de ordens das ocorrências no Rio de Janeiro que culmina- Melo Franco (Relações Exteriores). Osvaldo Aranha, o principal ar-
riam com a deposição do presidente Washington Luís. Um grupo ticulador da revolução, ficou com o Ministério da Justiça; Juarez Tá-
Didatismo e Conhecimento 23
HISTÓRIA DO BRASIL
vora foi escolhido, como representante dos “tenentes”, para a pasta Os durante o ano de 1935, no Brasil surgiu um movimento Ar-
da Viação e Obras Públicas; José Maria Whitaker, banqueiro paulista mado que foi liderado por Luís Carlos Prestes, chamado de Intento-
do café, ligado ao PD, ficou com o Ministério da Fazenda; Assis Bra- na Comunista, que objetivava a derrubada de Vargas e a implementa-
sil, líder do PL gaúcho, assumiu o Ministério da Agricultura. ção de um governo popular liderado por Prestes, contudo o objetivo
Para os dois novos ministérios criados logo após a vitória da não fora atingido.
revolução, o da Educação e Saúde Pública e o do Trabalho, Indústria Depois da rebelião, uma forte repressão se abateu não só contra
e Comércio, foram nomeados respectivamente o mineiro Francis- os comunistas, mas contra todos considerados opositores do regime.
co Campos e o gaúcho Lindolfo Collor. O governo provisório foi Milhares de pessoas foram presas em todo o país, inclusive deputa-
reconhecido logo na primeira semana pelas principais potências es- dos, senadores até mesmo o prefeito do Distrito Federal, Pedro Er-
trangeiras, e a vitória da revolução completou-se com o exílio de nesto, um dos principais articuladores da Revolução de 1930.
Washington Luís, de Júlio Prestes e de outras personalidades ligadas O que se torna claro após o fracasso do movimento Armado é
à situação deposta. Texto adaptado de ABREU, A. A. D o fortalecimento do executivo como podemos notar: A despeito do
fracasso, a chamada revolta comunista serviu de forte pretexto para
o fechamento do regime. A partir de novembro de 1935, o Congresso
passou a aprovar uma série de medidas que cerceavam seu próprio
poder, enquanto o executivo ganhava poderes de repressão pratica-
A ERA VARGAS: POLÍTICA, mente ilimitados.
ECONOMIA E SOCIEDADE; Estes poderes que o executivo conseguia permitiram com ele
conseguisse manter os seus opositores afastados e garantir formas
; de montar uma base de apoio a sua manutenção, tudo isso justificado
em combate ao comunismo.
Mesmo com o discurso do Governo se referindo ao perigo co-
Quando pensamos em Getúlio Vargas o que nos vem à mente munista como uma questão de segurança nacional, as eleições mar-
é imagem de líder populista, autoritário e que governava o Brasil cadas para 1938 ainda eram mantidas, embora houvesse a tentativa
de forma a criar uma base de apoio para o seu projeto político, que do chefe do executivo, Getúlio Vargas em prorrogar o próprio man-
primava pela busca de um ideal nacionalista para levar ao Brasil a dato sem sucesso.
atingir o progresso. Assim, em 1937, o Brasil viveu o que daria início ao novo rumo
Através deste projeto político e baseando-se em idéias nacio- das políticas varguistas, se baseando regimes nazi-fascistas que con-
nalista que surgiam no mundo do pós Primeira Guerra, destacando duziam a Europa em direção ao nacionalismo extremado. Nesta li-
a influência do Nazismo Alemão e Fascismo Italiano. Vargas chega nha ideológica Vargas cria o Estado Novo, no qual ele próprio se
ao poder em 1930 através de um Movimento Armado que iria mudar colocava como chefe da nação para conter a ameaça comunista as-
os rumos políticos do país, assim Vargas começa a fazer sua política. sim, nas palavras de Maria Celina D’Araujo, o chefe maior da nação
Nos anos 30, passou a atuar como único chefe da nação e, em comunicou ao povo o fechamento do congresso nacional.
nome de um projeto que julgava ser o melhor para o país, fechou o Em 10 de novembro de 1937 Getúlio comparece a uma estação
congresso, reprimiu as liberdades públicas, isolou os descontentes, de rádio e anunciava que o país ganhara uma nova constituição, que
perseguiu inimigo, cooptou possíveis opositores, impôs-se como o congresso estava sendo fechado e que a partir desse momento ele
chefe de Estado e projetou-se como líder popular, como populista se transformava em chefe absoluto da nação.
e como estadista. Está influência que os estados nacionalistas europeus possuíam
O regime implantado por Vargas desfrutava de uma base de sobre o Brasil foram fortes e de destacada importância, tanto que
apoio solida, contudo sem conseguir neutralizar a oposição. Desta- a polícia estado-novista dirigida por Filinto Muller, possuía claras
camos o caso dos militares que apoiavam Vargas para que este se influências com da Gestapo. Esta aproximação aos regimes nazi-fas-
estabelecesse junto ao poder. Já o Estado de São Paulo que era con- cistas começa a ser fragilizada com a entrada dos Estados Unidos
siderada a “locomotiva da nação”, por se tratar do Estado mais rico na Guerra.
do país e que exigia do governo central a convocação de eleições Uma das grandes forças do Estado Novo era a propaganda, por
para formar uma assembléia constituinte, que iria reformular a cons- isso o Governo quando declara apoio aos Aliados, ele propagandeia
tituição do País. que, tal decisão dava-se por conta de uma negociação, no tocante a
Está reivindicação da oposição paulista culminou, em 9 de recursos para a execução de obras de infraestrutura do país e este
julho de 1932, em uma guerra civil que os paulistas promoveram também alegava que a entrada do Brasil na Segunda Guerra foi de
contra o governo federal, que ficou conhecida por “Revolução Cons- importância estratégica para o programa governamental que visava
titucionalista de 1932”, que foi rapidamente reprimida pelo governo o aprimoramento da indústria e do Exército Brasileiro.
com a ajuda do Exército Brasileiro que até então poderia ser deno- O grande interesse dos Estados Unidos era o uso do Nordeste
minado como principal base do governo provisório. Brasileiro como posição estratégica a fim de evitar os avanços na-
A “Revolução Constitucionalista de 1932” pode ser caracteri- zifascistas sobre a América Latina, e da proximidade do Nordeste
zada o incidente mais grave ocorrido durante o Governo Provisório, brasileiro com o Norte Africano, além de instalar bases de apoio ao
que mostra que a oposição estava atenta aos movimentos varguistas conflito que se estendia via Europa.
e a sua preocupação com a questão política do País. As cartas da barganha política estavam na mesa. Elas consis-
Desta forma, em 1933 houve eleições para a formação da as- tiam, por parte dos Estados Unidos, no interesse pelo Nordeste brasi-
sembléia constituinte, que elegeu Getúlio Vargas Presidente da Re- leiro [sic.] como local para instalação de bases militares estratégicas,
pública de forma indireta e assim foram iniciados os trabalhos da e por parte do Brasil na obtenção de recursos materiais visando à
Assembléia que iria formular a constituição que em 1934 seria pro- instalação do projeto siderúrgico de Volta Redonda e o reequipamen-
mulgada. to do Exército.
Didatismo e Conhecimento 24
HISTÓRIA DO BRASIL
Além do mais, a entrada do Brasil na no conflito pode ser vista tado Novo era com a questão social, contudo o ministério não era
como uma contradição do regime, pois a Guerra era travada contra exclusivamente direcionado aos trabalhadores, pois seu nome era
as nações autoritárias e o Brasil estava vivendo uma ditadura decla- Ministério do Trabalho e Indústria e Comércio.
rada desde 1937, que de fato levou os grupos opositores ao regime Com a entrada do Brasil na Guerra, e possíveis mudanças quan-
viverem sobre uma nova aura, pois o regime começou a mostrar do a Guerra acabasse assume o Ministério do Trabalho Marcondes
sinais de enfraquecimento, contudo sem perder o controle político. Filho, com a responsabilidade de levar o aos trabalhadores os bene-
“Alem do mais, não se deve assimilar o fato de ser pró-alidado com fícios que a legislação trouxera desde de1930, mas principalmente
uma postura antiautoritária”. após 1937.
Desta forma, notamos que mesmo com a entrada na Guerra e A figura de Marcondes Filho começou a ser amplamente difun-
um novo “ar” para a oposição e uma contradição interna do Regime, dida, assim como as propostas trabalhistas e sociais do Estado Novo
não afetará muito a governabilidade. Assim o Governo começa a e do próprio Vargas, com um plano estratégico adotado pelo Minis-
efetivar sua política social, destacando o foco dado aos trabalhado- tro para atingir a população brasileira para comunicar os avanços na
res. legislação trabalhista bem como estreitar os laços do Ministério com
Para compreender melhor a relação do Estado Novo com os tra- os trabalhadores. Assim o ministro passou há ocupar um tempo na
balhadores é preciso retomar alguns momentos pré-estadonovista. Hora do Brasil todas as quintas-feiras para falar aos trabalhadores.
Durante os anos de 1935 a 1937 o Brasil atravessava um momento Em janeiro de 1942 o novo ministro do trabalho passou a ocu-
de grande efervescência política, destacando a presença de grupos par, todas as quintasfeiras, durante dez minutos, os microfones do
comunistas, e o governo alegando uma ameaça comunista, declara a programa “Hora do Brasil”, produzido pelo Departamento de Im-
lei de segurança nacional que definia crime atividades ditas subver- prensa e Propaganda e irradiado pela Rádio Nacional.
sivas ou que ferissem a ordem política e social. Outro detalhe importante realizado pelo Estado Novo e que
É preciso assinalar que neste período o país viveu sob estado Marcondes Filho com o programa de rádio, em editoriais em jornais
de sítio/guerra, tendo sido criado um Tribunal de Segurança Nacio- ampliou era a idéia de levar política a todas as classes com intuito de
nal. Fato este que permitiu que o governo conseguisse neutralizar a
findar de vez com a República Velha, uma vez que nela apenas a elite
oposição organizada seja por meio de prisões ou simplesmente pela
possuía participação ativa nos meandros políticos e desta forma que
repressão realizada pela polícia especial de Filinto Müller que per-
o foco do regime era mostrar-se a população.
mitiu ao presidente organizar-se e decretar o Estado Novo, em 11 de Logo, está participação das classes antes excluídas não se dá
novembro de 1937. no campo da elegibilidade, pois lembrando o Brasil estava sob uma
Com o Estado Novo já consolidado, o governo começou a im- ditadura, assim a participação destas classes dava-se no âmbito da
plantar medidas que visavam atingir o operariado, a fim de formar consciência daquilo que o Regime adotava enquanto política, prin-
uma base de apoio ao regime, assim em 1942, é instituída a Con- cipalmente, como citado acima, a política social, que prezava pela
solidação das Leis Trabalhistas (CLT), que era na verdade a união inclusão social através do trabalho e a proximidade do governo com
das várias leis que já haviam sido promulgadas ao longo do gover- os trabalhadores. ”Era a primeira vez no Brasil que uma autoridade
no desde 1930. Assim, com a criação da CLT, significou um grande do porte de um ministro de Estado se dirigia a tão grande público,
passo desta política social, pois está significava a realização de anos usando sistematicamente, como instrumento divulgador da mensa-
de reivindicação por parte dos trabalhadores, além do mais o Estado gem, o rádio”.
Novo aproximava mais dos trabalhadores. Vale destacar o nome escolhido para o programa ministerial e
Neste ano o conjunto de leis referentes ao mundo do trabalho como o próprio nome enfatiza a preocupação com uma classe: os tra-
(salário mínimo, férias, limitação de horas de trabalho, segurança, balhadores, o programa era chamado de “Falando aos Trabalhadores
carteira de trabalho, justiça do trabalho, tutela dos sindicatos pelo Brasileiros” mostra a que era um programa direcionado. Contudo,
Ministério do Trabalho), promulgadas ao longo dos anos foi siste- não podemos achar que as palestras realizadas pelo Ministro na rá-
matizado pela Consolidação das Leis do Trabalho. Está medida re- dio ficassem restritas aos trabalhadores, temos que lembrar que o
presentou, de um lado, o atendimento das reivindicações operárias ministério não era apenas do trabalho e ele era também da Indústria
que foram objetivo de imensa luta da categoria por várias décadas e, e Comércio.
de outro, o controle através do Estado, das atividades independentes Mas as palestras não tratavam exclusivamente da temática vin-
da classe trabalhadora, que acabou perdendo sua autonomia através culada ao trabalho. Já que o ministério – como lembrava frequen-
do controle estatal. temente Marcondes era também da Indústria e do Comércio, cum-
Vale destacar também que para obter os direitos assegurados pria destinar certas falas a notícias sobre esta esfera administrativas.
pela CLT, como salário mínimo, férias, limitação na carga horária, Elas sempre foram em número bem menor, não só porque o público
entre outros, o operário deveria possuir o registro na carteira de tra- do programa era por excelência de trabalhadores, como porque a
balho a fim de garantir estes benefícios e estar vinculado a um sin- própria política do ministério vinha contemplando o tratamento da
dicato e assim a carteira de trabalho torna-se o documento que lhe questão social.
garantia a cidadania. Marcondes Filho também estava presente em outro ponto im-
A relação do Estado Novo com os trabalhadores foi muito forte, portante para a condução do país, ele acumulava também o comando
e para compreendê-la temos que mostrar a relação que o Ministério do Ministério da Justiça e Comércio Interior, diga-se de passagem,
do Trabalho exercia sobre os meios operários e como ele difundia que sempre forma interina.
a política de ordem social, que era uma das principais bandeiras do Neste caso, é bom recordar que na maior parte deste período
Ministério e do próprio Governo. Marcondes era o ministro da justiça, ou seja, um dos principais res-
O Ministério do Trabalho foi fundado em 26 de novembro de ponsável pela condução da política nacional.
1930, sendo uma das principais medidas tomadas pelo governo re- Findando de vez com sua participação no Ministério da Justiça
cém estabelecido, que já se mostrava diferente a Antiga Republica com a posse de Agamenon Sérgio Godóy de Magalhães, que ficou
Oligárquica que fora suplantado, pois uma das características do Es- responsável por conduzir o processo de redemocratização.
Didatismo e Conhecimento 25
HISTÓRIA DO BRASIL
A partir de 1942, com a entrada na Guerra a preocupação interna Quando pensamos em propaganda política, o Estado Novo foi
volta-se para a causa operária, tendo e vista que o Estado Novo di- pioneiro no Brasil, e o Ministério do Trabalho utilizou-se destes
fundia muito sua política social, pois através desta política o Estado meios para atingir os trabalhadores e criar uma imagem de um Esta-
poderia fornecer ao trabalhador uma condição de vida mais humana, do que se preocupa com o bem estar dos cidadãos, e está propaganda
e com melhores condições de vida. contribuiu para a criação do mito Getúlio Vargas.
Se a legislação social era um meio de acabar com a pobreza, era Com a crise política do Estado Novo o Brasil começou a viver
um expediente necessário que, associado a outras medidas, pode- uma nova aura política, que tornou possível a volta dos partidos po-
ria dar ao trabalhador uma situação mais humana e cristã, conforme líticos à cena nacional, além de manifestações anti estadonovista.
aconselhava a doutrina social da Igreja desde a Rerum Novarum. Assim, em final de 1944, o Estado Novo estava próximo de seu
Com o programa que era veiculado durante A Hora do Brasil, fim, como o próprio Vargas declara em 31 de dezembro de 1944,
o ministro passa a difundir a idéia de sindicalismo, como parte des- no tradicional banquete de passagem de ano, oferecido pelas Forças
ta política social, pois com a filiação a um sindicato os benefícios
Armadas, “Getúlio anunciava oficialmente a nação a breve execu-
seriam maiores, e esta bandeira da filiação começou a ganhar mais
força, e o objetivo desta política de filiação divulgada maciçamente ção da reforma constitucional, necessária para a igualmente breve
pelo governo era “defender a ampliação dos efetivos sindicais, es- realização de eleições que reconduziriam o país a normalidade de-
clarecer que o trabalhador devia procurar o sindicato, pois só assim mocrática”.
receberia assistência jurídica e médica”. Logo, Vargas necessitaria de um político de influência para gerir
Além da preocupação deste assistencialismo, promovido pelo está transição, assim Vargas nomeou para o Ministério da Justiça o
sindicato havia também a busca por novas lideranças, treinar líderes interventor de Pernambuco, Agamenon Magalhães, além do mais o
que, como bons administradores, também compreendessem o espí- Ministério da Justiça estava sendo ocupado de forma interina por
rito da legislação sindical, tudo isso constituía a parte pragmática de Marcondes Filho. A influência de Agamenon Magalhães era de fato
uma política mais global de afirmação do corporativismo. reconhecida, seja pela fidelidade quando ele ocupou cargos minis-
Está política de valorização da filiação do corporativismo, ini- teriais ou sua administração da interventoria do Estado Pernambu-
ciada por Marcondes Filho tinha por objetivo declarado de difundir cano. Contudo em 1945, Agamenon assume o Ministério em 1945
as informações das quais os trabalhadores em geral não possuíam como nos diz Gomes.
acesso, logo se evidenciava a baixa adesão de trabalhadores sindi- Somente em março deste ano, quando o quadro de pressões es-
calizados, mas também funcionava para difundir o mito Vargas e a tava configurado, os partidos praticamente instalados e as candida-
presença do Estado Novo. Na visão do Ministério do Trabalho isto turas presidenciais articuladas, Vargas solicitou a Agamenon Maga-
existia, pois os trabalhadores não sabiam o quais benefícios pode- lhães que abandonasse o cargo de interventor em Pernambuco para
riam usufruir e por isso a baixa adesão (poder associativo) dos sindi- assumir o ministério da Justiça.
catos, e a visão do Governo Era. Assim, Agamenon era responsável em conduzir a política de
Os próprios funcionários da administração do Ministério do redemocratização e buscar evitar ao máximo uma ruptura que pode-
Trabalho, que reconheceram a inexistência de sindicatos representa- ria levar perda os benefícios que o Estado Novo havia implantado.
tivos e que atestaram o fato de que os trabalhadores, desconhecendo Durante o processo de redemocratização surgem a novamente
os benefícios materiais que poderiam angariar através da filiação sin- os partidos políticos, contudo podemos destacar três deles como os
dical, mantinham-se desinteressados em filiar-se. maiores e mais influentes, são o PTB, PSD e UDN.
No período que vai de 1945 a 1964 três grandes partidos mar-
A questão do sindicalismo e corporativismo começa a ser mais
cam a cena da política brasileira: o Partido Social Democrático
interessante para o regime, haja vista, que seu enfraquecimento era
(PSD); a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Traba-
visível após a entrada na Guerra e uma forma de manter as bases lhista Brasileiro (PTB). Convivendo com outras organizações parti-
sociais implementadas pelo Estado e evitar a volta de um liberalismo dárias de menor porte e de importância eleitoral mais regionalizada,
como o que existia antes da “Revolução de 1930”. E esta conscien- não há dúvida de que PSD, UDN e PTB foram as organizações que
tização das massas trabalhadoras, deveria ocorrer pelos sindicatos. dominaram o sistema partidário do país, um sistema que se tornara
Logo, as preocupações com a arregimentação de sindicalizados nacional justamente em 1945, quando esses partidos se formaram.
começaram a tornar-se de grande importância para o Estado, pois a Podemos caracterizar o surgimento do PTB como o partido de
quantidade de filiados aos sindicatos era extremamente baixa, “a sin- criação Ministério do Trabalho, pois através de sua influência for-
dicalização não era obrigatória, embora fosse a forma de aquisição neceria a principal fonte de filiados para o partido, ou seja, os tra-
de direitos e obrigações perante o Estado. balhadores.
Para aumentar o número de sindicalizados Marcondes Filho e o O PSD também foi criado sob olhares do Estado, pois a sua
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), lançam campanhas base política estava calcada na presença dos Interventores estaduais,
que visavam difundir as políticas sociais, e os benefícios que os sin- principalmente dos interventores de Rio de Janeiro (DF), São Paulo,
dicatos trariam a seus associados. Para colocar estas campanhas ao Minas Gerais e Paraná.
alcance dos trabalhadores o recurso mais utilizado foi o rádio que Já a UDN surgiu em torno de negativas à ditadura implantada
possuía um alcance em boa parte do território nacional. por Vargas, logo a grande bandeira da UDN no seu inicio foi o anti-
Assim, é possível notar que o interesse do Estado não era ape- getúlismo. A sua fundação ocorreu no dia sete de abril de 1945.
Havia uma definida bandeira política: a reconquista das liberda-
nas o de propagandear seus feitos, mas havia também a preocupação des democráticas. Havia uma promessa de eleições: a Lei Constitu-
com a difusão das idéias do corporativismo brasileiro. “Desta forma, cional nº 9, de 28 de fevereiro de 1945. Havia, sobretudo, um herói
objetivo da propaganda do corporativismo brasileiro no pós-42 não candidato, o Major-Brigadeiro Eduardo Gomes.
era mais simplesmente criar uma massa que seguisse a proposta do Com esta bandeira de busca da liberdade foi que UDN, ao longo
estado por ausência de alternativas. Era, em certo sentido especifico, do processo de redemocratização, passou a agir para retirar Vargas
mobilizar, preparando lideranças e criando seguidores. do poder, e a busca de um herói sem mácula política, era a melhor
Didatismo e Conhecimento 26
HISTÓRIA DO BRASIL
forma de vencer aquelas que seriam as eleições que colocaria fim ao Não podemos nos esquecer de que o movimento queremista no
mando Varguista e colocaria um fim ao Estado Novo. Assim surge inicio não possuía bases políticas claras, ou um projeto político a
a figura do Major-Brigadeiro Eduardo Gomes, (um remanescentes) não ser o “queremos Getúlio”. O movimento no início possuía cor-
ele era um dos “18 do Forte de Copacabana” o que exaltava o ideal po, mas não cabeça, isto é, uma cúpula que organizasse as bases do
do herói que poderia livrar o país das garras do Estado Novo. movimento.
Assim, a UDN aglutinou em sua base de fundação, correntes de Uma das condições que permitiu a disseminação do queremis-
várias linhas ideológicas, e políticos de extrema polêmica, seja pelo mo foi participação do empresariado, como o exemplo de Hugo
fato de estarem ao lado da UDN e contra Getúlio Vargas. Podemos Borghi, que enriqueceu durante o governo varguista. Assim, a sua
destacar algumas figuras. Arthur Bernardes, ex-presidente da repú- participação deu-se da seguinte forma:
blica, o mesmo que acabou com o levante conhecido como “18 do
Borghi, getulista convicto, comprou três estações de rádio e,
Forte de Copacabana” no qual estava presente Eduardo Gomes, e
mais tarde alugou outras. Como os próprios homens do governo não
agora aliados em busca de um objetivo político que era o mesmo, o
fim do Regime Ditatorial. Destaca-se de Adhemar de Barros, ex-in- rebatiam as criticas dos oposicionistas, começou a escrever textos
terventor paulista durante o Estado Novo, Oswaldo Aranha ex-mi- em defesa de Vargas que eram lidos por locutores e, alguns dias
nistro das relações exteriores, que havia deixado o governo em 1944. maios tarde, ele mesmo tomou a voz aos microfones.
Com estes exemplos podemos perceber como a fundação da Assim, o queremismo tomava forma e fortalecia na defesa e per-
UDN estava vinculada apenas a um objetivo. “Adversários de tem- manência de Vargas frente ao movimento oposicionista, movimento
pos imperiais, velhos inimigos, desafetos, reúnem-se com a finali- este que prezava pela critica de como o movimento era dirigido, e
dade única de apresentar a queda de Vargas e suprimir seu regime”. como era possível notar a presença do dinheiro do empresariado,
Desta forma, com pressões, o Estado Novo rui em 29 de outubro seja na compra ou aluguel de emissoras de rádio quer na compra de
de 1945, através de um golpe Militar, Getúlio foi deposto, em seu espaços na grande imprensa para divulgar o movimento. De fato os
lugar assumiu José de Linhares458, fato este que não permitiu que braços destas alianças em torno do queremismo eram claras.
Vargas passasse a faixa presidencial ao próximo presidente, demo- Mas o queremismo não foi simples criação do Ministério do
craticamente eleito. Porém, antes destes acontecimentos que depu- trabalho com suporte privado, como pregava a oposição. Sem a von-
seram Vargas, o Brasil viveu um momento de grande mobilização tade política dos trabalhadores e a presença popular nas ruas, o apoio
popular o chamado Movimento Queremista. oficial e empresarial seria inócuo e condenado ao fracasso.
Um Pouco tempo depois, a Lei constitucional n°9 seria promul- Porém mesmo com esta intensa mobilização Vargas não se lan-
gada, levando de fato o país aos eixos democráticos e, desta forma, çou candidato à presidência, e nem terminou de levar o país à rede-
a oposição foi se fortalecendo em direção a campanha do brigadeiro mocratização, pois em 29 de outubro é deflagrado o golpe de estado
Eduardo Gomes, porém, o que a oposição não contava era com a que deporia Vargas. Texto adaptado de AMORIM, J. A. D
participação das massas populares durante os meses seguintes.
Entre fins de fevereiro de 1945, quando José Américo de Al-
meida rompeu o cerco da censura, e 29 de outubro, com a deposição
de Vargas, a sociedade brasileira, em pleno processo de democrati-
zação política, mobilizada em dois campos antagônicos, assistiu e
O PERÍODO DEMOCRÁTICO (1945 A 1964).
participou de um movimento de massa, de proporções grandiosas, ;
conhecido como queremismo.
Com o processo de redemocratização em marcha, poderia se
pensar que a força política do “ditador” enfraqueceria e que estaria Em dezembro de 1945, o eleitorado brasileiro foi às urnas e,
fadada ao fracasso, toda via não é isto que podemos observar, nas pelo voto secreto e sob a fiscalização do Poder Judiciário, elegeu o
palavras de Ferreira, “cai à ditadura do Estado Novo, mas cresce o presidente da República, deputados federais e senadores. A eleição é
prestigio do ditador, vislumbra-se o regime democrático e, no entan- considerada a primeira efetivamente democrática ocorrida no Brasil.
to, os trabalhadores exigem permanência de Vargas”. Os parlamentares formaram uma Assembléia Nacional Constituinte,
O movimento queremista foi uma demonstração de como a clas- livremente eleita e politicamente soberana, inaugurando, no Brasil,
se trabalhadora já estava interessando-se pela política, embora fosse o regime de democracia representativa. Na Assembléia Constituinte
um movimento popular, não podemos esquecer que havia por de trás estavam representados diversos setores da sociedade brasileira, de
dele uma participação estatal, destacando a presença do Ministério liberais a comunistas. Embora sob forte influência da democracia-li-
do Trabalho Indústria e Comércio, e do DIP, que estava enfraquecido beral vitoriosa ao final da Segunda Guerra Mundial e com o repúdio
no âmbito da censura, mas não da propaganda, propaganda esta que ao autoritarismo do Estado Novo, os constituintes mantiveram al-
foi toda direcionada ao movimento queremista. Além da participa- guns dispositivos inaugurados nos anos 1930.
ção estatal havia o interesse do empresariado que se beneficiou ao Evitaram o retorno à excessiva descentralização política da
longo dos quinze anos da administração getulista. Primeira República, permitiram que o Executivo tivesse suas prer-
Em abril que surgem pela primeira vez na grande imprensa as rogativas ampliadas e conservaram a legislação corporativista. O
expressões “queremos”, “nós queremos” ou ainda “nós queremos pluralismo partidário, portanto, passou a coexistir com a unicidade
Getúlio”. No mês seguinte, o movimento, de base popular, ainda sindical. Os constituintes estavam afinados com os ventos liberais-
sem direção e organização centralizada, e cujo único ideário político democráticos que vinham da Europa e dos Estados Unidos, mas não
era a continuidade de Vargas no poder, espalhou-se por todo o país e, desconheceram as experiências vividas no próprio país nos anos
como que reagindo ao objetivo comum que unia as oposições “Fora 1930. O resultado foi uma Constituição que sustentou a democracia
Getúlio” pregavam tão-somente “Queremos Getúlio”. representativa, implantada, pela primeira vez, no Brasil.
Didatismo e Conhecimento 27
HISTÓRIA DO BRASIL
As dificuldades para viabilizar o regime democrático no Brasil No entanto, nas palavras de José Murilo de Carvalho, são grandes as
devem ter sido imensas. Afinal, os antecedentes conhecidos eram o dificuldades em admitir que, naquela época, o Brasil conheceu sua
autoritarismo dos anos 1930 e o liberalismo excludente da Primeira “primeira experiência democrática”.
República. Até então, a sociedade brasileira não conhecera experiên- Muitos historiadores negam o caráter democrático do regime
cias de participação política ampliada. Era preciso, portanto, apren- instaurado em 1946. Em geral dois argumentos são muito utilizados.
der a lidar com as regras do jogo democrático e a participar delas. O primeiro é que no governo de Eurico Dutra o Partido Comunista
Na década de 1930 a sociedade brasileira havia tido um importante (PCB) foi posto na ilegalidade, enquanto seus militantes sofreram
aprendizado: o exercício dos direitos sociais com a promulgação das perseguições e o movimento operário foi cerceado pelo aparato
leis trabalhistas. É possível afirmar que o aprendizado de cidadania policial repressivo. De fato, um ano após a promulgação da nova
social já estava consolidado em fins de 1945. Mas com a Constitui- Constituição, em 1947, as relações internacionais foram alteradas
ção de 1946, os brasileiros tiveram acesso aos direitos políticos. O profundamente com o clima beligerante da Guerra Fria.
momento que se abria era de grande importância: aprender a lidar O Brasil não ficou imune aos conflitos entre Estados Unidos e
com os direitos políticos e a exercer os direitos civis. União Soviética e, em vários setores da sociedade, despontou o sen-
Pela primeira vez na história do país, surgiram e se fortaleceram timento anticomunista. O PCB teve seu registro cassado pelo Supe-
partidos políticos nacionais com programas ideológicos definidos e rior Tribunal Eleitoral e forte repressão se abateu sobre o movimento
identificados com o eleitorado. Não mais se tratava dos partidos da sindical. Mas devemos perguntar se, na mesma época, foi diferente
época do Império ou das organizações estaduais da Primeira Repú- na maior democracia ocidental, os Estados Unidos, com os comitês
blica, em ambos os casos instrumentos das elites. As eleições torna- de atividades antiamericanas, o macarthismo, as listras negras de ar-
ram-se sistemáticas e periódicas para os cargos do Executivo e do tistas e intelectuais, a lei Taft-Hartley e a intromissão do FBI na vida
Legislativo nos planos federal, estadual e municipal, e contribuíram privada dos cidadãos. Com a promulgação do Communist Control
para consolidar um sistema partidário nacional que expressava as Act, atividades consideradas “comunistas” foram criminalizadas.
diversas correntes de opinião do eleitorado. Os estudos demonstram O Partido Comunista Americano não chegou a ser cassado,
que, naquele período, se fortaleceram os vínculos programáticos e como no caso brasileiro, mas o cerceamento foi tamanho que, na prá-
ideológicos entre os partidos e o eleitorado. tica, ele foi banido da vida política do país. O conjunto de medidas
acuou as esquerdas e o movimento sindical, alimentando a histeria
Na avaliação de Antônio Lavareda, tratou-se de um sistema par-
anticomunista. Na Alemanha (antiga Ocidental), o Partido Comunis-
tidário-eleitoral que, no início dos anos 1960, estava consolidado.
ta foi declarado ilegal em 1956. Mas nem por isso tais países foram
Mesmo com as dificuldades existentes, foi, para o autor, “uma expe-
considerados como “não democráticos”. Em outro aspecto, não se
riência privilegiada”, combinando a ampliação dos direitos políticos
considera que existiram alterações e ritmos variados nas relações en-
dos cidadãos, a nacionalização dos partidos políticos e um rápido
tre Estado e o movimento comunista no Brasil. Se durante o governo
processo de urbanização que emancipou politicamente amplos con-
Dutra a repressão policial aos militantes revolucionários foi violenta,
tingentes da população. Com base no sufrágio universal e com alto em 1951 João Goulart, na presidência do PTB, avalizou aliança en-
grau de competitividade, as eleições eram fiscalizadas pela Justiça tre os trabalhistas e os comunistas no plano sindical. Em sua gestão
Eleitoral, permitindo que a sociedade brasileira, conhecesse “o que no Ministério do Trabalho, dois anos depois, os pecebistas assumi-
se chama ‘aprendizado da política’ eleitoral em novos e mais amplo ram a direção de sindicatos sem perseguições ou empecilhos legais.
marcos”. Durante os governos de Juscelino Kubitschek e João Goulart, eles
Os trabalhadores surgiram no cenário político durante a transi- agiram livremente, em situação de semilegalidade. Outro argumento
ção democrática, ao longo do ano de 1945, participando ativamente para desqualificar o caráter democrático do regime é a interdição do
do movimento queremista. Até março de 1964, manifestaram-se por direito de votar dos analfabetos.
meio de seus sindicatos e de partidos políticos, em particular o PTB Como no caso dos comunistas, sem dúvida que se tratou de uma
e o PCB, com greves, manifestações públicas e nas campanhas elei- limitação das prerrogativas democráticas. Contudo, é preciso consi-
torais. derar a ampliação do direito ao voto no Brasil nessa época. Segundo
Dificilmente outro período na história política brasileira tenha Gláucio Ary Dillon Soares, o regime da Carta de 1946 teve como
tido a quantidade de títulos de jornais publicados como no período principal êxito a ampliação dos direitos de cidadania política. Na pri-
1946-1964, caracterizando uma imprensa que expressava diversas meira eleição, de dezembro de 1945, votaram cerca de 7,5 milhões
vertentes da opinião pública e atuando de maneira livre da censura de pessoas, contra 1,5 milhão no pleito de 1933. Ao longo dos anos,
estatal. Os governos, na época, eram fiscalizados e cobrados pelos o alistamento eleitoral não parou de crescer, chegando a 18,5 mi-
órgãos de comunicação. Da reforma do Jornal do Brasil ao surgi- lhões de cidadãos votando em 1962 duas vezes e meia comparando
mento impactante de Última Hora, a imprensa brasileira se trans- a 1945 e 12 vezes a mais que 1933.
formou. Deixou a fase do “jornalismo literário” para ingressar no No caso das eleições presidenciais, o número de participantes
“jornalismo empresarial”. dobrou: de 6 milhões de votantes na primeira eleição para presidente,
Nos jornais e nas revistas, os cidadãos buscavam informações alcançou 12 milhões em 1960. O crescimento do número de votantes
e formavam sua própria opinião. A intelectualidade brasileira parti- cresceu devido à expansão do sistema educacional: os analfabetos
cipou ativamente dos debates sobre os rumos do país, especialmente eram 54% em 1945 e passaram para 36% em 1962. Além disso, o
no tocante aos projetos de desenvolvimento e à questão democráti- número de novos eleitores foi maior que o aumento da população.
ca. A começar no governo de Vargas, mas, sobretudo com Juscelino “O aumento de 11 milhões de eleitores mostra que a cidada-
Kubitschek e João Goulart, a sociedade produziu diversos movimen- nia se ampliou gradualmente, democratizando o eleitorado”, afirma
tos artísticos e culturais. No teatro, na música, no cinema, nas artes Gláucio Ary Dillon Soares. Além disso, continua o mesmo autor,
plásticas ou na poesia, artistas e intelectuais valorizavam o nacional “outro impacto positivo para a democracia foi inculcar na cultura
e o popular. Tudo queria ser novo, do Cinema Novo à Bossa Nova. brasileira o valor do voto, divulgando a idéia de que votar era bom
Didatismo e Conhecimento 28
HISTÓRIA DO BRASIL
e um direito ao qual amplos setores da população também deveriam sas produzidas por historiadores voltadas para o estudo da ditadura
ter acesso”.10 Contudo, muitos estudos na área de História apresen- militar. O regime político inaugurado com a Constituição de 1946
tam dificuldades de reconhecer a importância dos direitos civis e de pode ser considerado o período menos pesquisado entre os historia-
valorizar os direitos políticos nos regimes de democracia represen- dores brasileiros.
tativa, preferindo centrar o foco nos mecanismos de manipulação A pouca dedicação dos historiadores e as imagens fortemente
ideológica, dominação política e controle social. Essa, a meu ver, é introjetadas no imaginário acadêmico que desqualificam o período
a questão central quando se desqualifica a experiência de 1946-1964 reforçaram a caracterização do regime político como populista. Du-
como um período democrático.
rante muitos anos, a experiência democrática que se abriu em 1945
Os que resistem em admitir que o país conheceu uma experiên-
cia liberal-democrática, pensando no governo Dutra, na cassação do com o fim do Estado Novo e se encerrou com o golpe civil-militar de
registro do PCB e na interdição dos analfabetos ao direito de votar, 1964 ficou conhecida por categorias pejorativas como período popu-
baseiam-se, muitas vezes, em uma receita prévia de democracia, não lista, república populista ou democracia populista. O sindicalismo,
considerando que esta não surge pronta, como um receituário, mas igualmente populista, ainda recebeu a qualificação de “velho”. As
é conquistada, ampliada e “inventada”, no dizer de Claude Lefort. expressões podem ser encontradas tanto em livros didáticos quanto
A democracia resulta de demandas da própria sociedade, de seus em textos produzidos nas universidades. Nada há de ingênuo nessas
conflitos e contradições, inventando e reinventando suas práticas e maneiras de nomear aquele período da história do país. O objetivo é
instituições. desqualificar o regime de 1946-1964 como uma experiência de de-
A desqualificação da experiência democrática inaugurada em mocracia representativa. Uma das imagens que mais desmereceram
1946 tem uma história. Começou mesmo ainda durante sua própria a sociedade brasileira daquela época foi, sem dúvida, a do populis-
existência. Grupos políticos inconformados com as derrotas eleito- mo.
rais, em particular os setores mais conservadores da UDN e das For- Diversos pesquisadores, atualmente, criticam a expressão por
ças Armadas, passaram a desqualificar o regime, alegando a “mani- sua excessiva generalização. Por sua elasticidade, o termo populis-
pulação” e “demagogia” de trabalhistas e pessedistas, além da “cor- mo se esforça por dar conta de diferentes projetos e tradições políti-
rupção” vigente no movimento sindical, cuja origem era o imposto cas sob as mesmas características. Além disso, populismo é imagem
sindical. Para os grupos civis e militares golpistas, a democracia no
que desqualifica a sociedade brasileira para o exercício da democra-
Brasil estaria condenada em seu nascedouro pela “demagogia getu-
cia. A expressão sugere a existência de lideranças cínicas e super-
lista”, sendo necessário “saneá-la” para usar uma expressão recor-
rente no vocabulário desse grupo político. Mas os ataques ao regime conscientes capazes de “enganar” o eleitorado e os trabalhadores em
da Carta de 1946 tomaram força com o golpe civil-militar que, em particular.
1964, encerrou aquela experiência democrática. O “povo”, nesse sentido, não saberia votar – é o que fica su-
O conjunto de forças políticas que apoiou o golpe de Estado e bentendido. Mesmo que superadas por pesquisas mais recentes, as
sustentou a ditadura formulou uma série de imagens desqualifica- teses tradicionais ainda são bastante aceitas. É o caso dos textos que
doras sobre o período, a exemplo da “corrupção”, da “incompetên- afirmam o caráter artificial do sistema partidário, de pouco enraiza-
cia” e da “demagogia”. Para as direitas que tomaram o poder com o mento na sociedade, sem consistência ideológica e ainda dominada
golpe de 1964, haveria no país um povo “ingênuo” e destituído de por lideranças carismáticas; ou do corporativismo e da Consolidação
“cultura” política e, por isso, facilmente manipulado por lí- deres das Leis do Trabalho (CLT) que teriam desviado a classe operária de
políticos inescrupulosos. Mas setores das esquerdas que se declara- seus “verdadeiros” interesses, instituindo a “tutela” do Estado sobre
vam revolucionárias também elaboraram representações igualmente os trabalhadores. Outras teses falam do “agrarismo”, do “clientelis-
demeritórias, sobretudo no tocante à “manipulação” dos operários mo”, do “patrimonialismo”, da “sociedade de massas”, dos “líderes
por lideranças exteriores à classe, a exemplo de políticos reformistas carismáticos” e do “populismo”. Os estudos marcados pelo deter-
e sindicalistas “pelegos”. Para as direitas, inexistiria o cidadão côns- minismo econômico complementam o quadro de desqualificação da
cio de seus direitos, enquanto para as esquerdas os operários ainda experiência liberal-democrática no Brasil, sugerindo a incompatibi-
não estariam conscientes de seus “verdadeiros” interesses de classe. lidade da sociedade brasileira com aquelas instituições.
Ao lado das direitas e das esquerdas, muitos intelectuais e a impren-
As imagens desmerecedoras do passado encobrem a atuação
sa também colaboraram para as versões negativas que se formavam
política dos atores sociais, marginalizando vivências e experiências
sobre o período 1946-1964.
Criou-se, assim, um conjunto de imagens e representações que de trabalhadores em seus sindicatos, camponeses em suas ligas, es-
se firmou no imaginário acadêmico brasileiro durante muitos anos: tudantes em suas entidades de representação, empresários em suas
as dificuldades da sociedade brasileira em conviver com instituições associações e diversos outros grupos sociais que, em suas organi-
democráticas, resultando no fracasso da experiência liberal-demo- zações, atuaram politicamente. Não ingenuamente, grandes mobi-
crática no Brasil. Também contribuiu para a desqualificação do pe- lizações e conflitos sociais são silenciados e desvalorizados porque
ríodo a pouca dedicação dos historiadores brasileiros por temporali- resultados da “política populista”. Portanto, acredito não apenas na
dades mais recentes. Enquanto a época colonial e o século XIX, em necessidade de desenvolver pesquisas sobre o período, mas em esta-
particular o tema da escravidão, apresentam pesquisas de longa data, belecer uma revisão historiográfica e conceitual sobre a experiência
os estudos sobre a República brasileira são recentes. As primeiras liberal-democrática brasileira inaugurada em 1946.
pesquisas publicadas sobre o governo de Vargas, por exemplo, da- O dossiê, desse modo, é uma contribuição para a renovação
tam de meados dos anos 1980. dos estudos sobre aquela temporalidade. O dossiê, portanto, reúne
Sobre o período 1946-1964 encontramos o pouco interesse dos pesquisas inéditas, com temas variados e em diversas abordagens
historiadores. Os grandes temas sobre o período foram pesquisados historiográficas. O objetivo é contribuir para a melhor compreensão
nas áreas da Ciência Política e da Sociologia, com trabalhos que se da primeira experiência de democracia representativa vivida pela so-
tornaram referências. Recentemente, encontramos inúmeras pesqui- ciedade brasileira. Texto adaptado de FERREIRA, J
Didatismo e Conhecimento 29
HISTÓRIA DO BRASIL
dagem do liberal Ronald Dworkin: o mais importante é assegurar
A REDEMOCRATIZAÇÃO DO ESTADO E direitos do ponto de vista substancial, pouco importando que tenha
havido um procedimento decisório que contemplasse a vontade da
A CONSTITUIÇÃO DE 1946. maioria. No entanto, as semelhanças são apenas aparentes: a lei, para
; Vargas, deveria estar a serviço do coletivo e não do indivíduo, po-
dendo, inclusive, suprimir direitos individuais; já Dworkin entende
que a lei deve estar a serviço do indivíduo e não do coletivo, poden-
O movimento constitucionalista que culminou na Constituição do, inclusive, haver revisão judicial invalidando leis que, a despeito
de 1946 teve por objetivo primordial o restabelecimento da ordem de serem aprovadas por ampla maioria parlamentar, violem direitos
democrática no Brasil, pondo termo ao governo autoritário de Getú- fundamentais individuais.
lio Vargas, que governou o Brasil de 1930 a 1945. No ocaso de seu Esta orientação política de Vargas e de seus asseclas, de des-
governo ditatorial, havia um comportamento absolutamente ambí- prezo pelo regime democrático procedimental, o levou a dar o golpe
guo por parte de Vargas: na política externa perfilhou seu exército de Estado para se manter no Poder, uma vez que, como vimos, seu
ao lado dos países que lutavam pela liberdade e pela democracia mandato terminaria em maio de 1938. Entendendo que nenhum dos
nas batalhas da 2ª Guerra Mundial, combatendo regimes nazistas e candidatos à Presidência era da sua inteira confiança, Vargas forjou
fascistas; internamente, aniquilou com a nossa democracia, colocan- um clima golpista no país para, ele mesmo, determinar o fechamento
do de joelhos os Poderes Legislativo e Judiciário, bem como en- do Congresso Nacional e suspender as eleições presidenciais que já
fraquecendo a autonomia dos entes federativos. Assim que assumiu estavam em curso. A partir deste movimento golpista, foi outorgada
o poder, Getúlio Vargas editou o Decreto nº. 19.398, de 11 de no- a Constituição de 1937.
vembro de 1930, avocando para si não só o exercício das funções e
atribuições do Poder Executivo, como também do Poder Legislativo, ASCENSÃO E QUEDA DO ESTADO NOVO
até que fosse eleita a Assembléia Constituinte (art. 1º). Em seu arti-
go 2º, determinou a “dissolução do Congresso Nacional, das atuais O Golpe de Estado de 10 de novembro de 1937 representou
Assembléias Legislativas dos Estados (quaisquer que sejam as suas um duro revés para o regime constitucional brasileiro, representando
denominações), Câmaras ou assembléias municipais e quaisquer ou- anos sob um regime ditatorial que paralisou a vida constitucional no
país. Os anos de autoritarismo fascista de Vargas, contudo, levaram
tros órgãos legislativos ou deliberativos existentes nos Estados, nos
a uma corrosão de sua legitimidade perante a sociedade, acarretan-
municípios, no Distrito Federal ou Território do Acre, e dissolvidos
do uma perda de sustentação que obrigou o governo a editar uma
os que ainda o não tenham sido de fato.” Nomeou interventores nos
série de atos normativos, como a Lei Constitucional nº. 9, de 28 de
Estados, com exceção de Minas Gerais. Havia uma desconfiança da
fevereiro de 1945, sinalizando uma abertura política lenta e gradual.
oposição, concentrada, sobretudo, em São Paulo, se de fato seriam
Segundo Paulo Bonavides e Paes de Andrade, “Em rigor, naquela
convocadas eleições, culminando na revolução de julho de 1932
ocasião, o propósito da ditadura não ia além de salvar a Carta de 37
contra o governo federal em uma luta pela constitucionalização do
e, se possível, manter no poder o então Presidente da República.”
país. Em três meses os insurgentes foram derrotados. A despeito das sinalizações por uma reconciliação com a von-
“O movimento trouxe consequências importantes. Embora vi- tade nacional, de concreto é que o Governo Vargas sofria uma mar-
torioso, o governo percebeu mais claramente a impossibilidade de cação cerrada da oposição, que clamava por eleições presidenciais e
ignorar a elite paulista. Os derrotados, por sua vez, compreenderam parlamentares a fi m de promulgar uma nova constituição, reconsti-
que teriam de estabelecer algum tipo de compromisso com o poder tucionalizando o país em bases democráticas. Este processo político
central.” Neste ambiente de pressão de setores da sociedade, o go- culminou na queda de Vargas, e o fi m do Estado Novo, no dia 29 de
verno provisório decidiu convocar eleições para a Assembléia Na- outubro de 1945, dia em que os militares foram às ruas com tanques,
cional Constituinte em maio de 1933, tendo havido a promulgação acabando por entregar o poder ao Presidente do Supremo Tribunal
da Constituição em julho de 1934. Federal, Ministro José Linhares. A partir de então, cumpriria ao Mi-
Com inspiração na Constituição alemã de Weimar, representou nistro José Linhares a missão de conduzir o país rumo a uma de-
um significativo avanço para os direitos sociais, bem como previu mocracia constitucional, em uma transição que se encerraria com a
uma maior nacionalização da economia. Um dia após a promulga- promulgação da Constituição de 1946 pela Assembléia Constituinte,
ção da ConstituiçãoGetúlio Vargas foi eleito presidente da Repú- eleita no dia 2 de dezembro de 1945.
blica pelo voto indireto da Assembléia Nacional Constituinte, com A despeito da queda de Vargas, aparentemente a Constituição
mandato até 3 de maio de 1938. Havia previsão, também, que em outorgada de 1937 continuava em vigor, sofrendo, é certo, reformas
seguida a este mandato haveria eleições diretas para a presidência constitucionais promovidas pelo novo presidente. Dentre as leis
da República. constitucionais editadas, merece destaque as de nº. 13 e 15, que dis-
Apesar da promulgação da Constituição, não houve estabiliza- ciplinavam os poderes constituintes do Parlamento a ser eleito a 2 de
ção democrática, sobretudo sob o aspecto procedimental do regime dezembro de 1945. A Lei Constitucional nº. 13, de 12 de novembro
democrático, persistindo uma tensão entre o governo e grupos que de 1945, determinava que os representantes eleitos a 2 de dezembro
iam da esquerda comunista aos liberais, passando por setores do de 1945 para a Câmara dos Deputados e o Senado Federal recebe-
exército. Ganharam força setores que pregavam a chamada moderni- riam “poderes ilimitados” a fi m de, sessenta dias após as eleições,
zação conservadora, em que a mão pesada do Estado seria necessária votar a “Constituição do Brasil”; assim como a Lei Constitucional
para por fim aos conflitos sociais, às lutas partidárias, aos excessos nº. 15, de 26 de novembro de 1945, que reiterou, no seu artigo 1º,
da liberdade de expressão que só serviam para enfraquecer o país.”4 que o Congresso Nacional teria poderes ilimitados para elaborar e
Note-se que nesta perspectiva autoritária, Getúlio Vargas fazia uma promulgar a Constituição do País “ressalvada a legitimidade da elei-
leitura do regime democrático paradoxalmente próxima da abor- ção do Presidente da República.”
Didatismo e Conhecimento 30
HISTÓRIA DO BRASIL
A CONSTITUINTE DE 1946 sua verdadeira autoridade, assegurando-lhe sua soberania, posição
defendida pelo deputado Carlos Mariguella, representante do partido
Eleita no dia 2 de dezembro de 1945, a Assembléia Constituin- comunista, em discurso proferido durante a sessão de 6 de feverei-
te compunha-se de 238 membros e sua sessão solene inaugural foi ro de 1946.9 Defendendo a legitimidade e legalidade do Regimento
no dia 5 de fevereiro de 1946, sob a presidência do Senador Melo contido no Decretolei nº. 8.078, discursou o líder do PSD, Nereu
Viana, de Minas Gerais, eleito com ampla maioria, 200 votos, pe- Ramos, para quem, com a eleição do presidente da Casa sob a égide
los seus colegas. Sobre a orientação política do presidente da As- do indigitado Regimento, os parlamentares houveram por ratificá-lo.
sembléia Constituinte, Senador Melo Viana, Bonavides e Paes de Declarou, em seguida, que os líderes dos maiores partidos da Casa,
Andrade ponderam, a partir do discurso do Senador proferido na a saber, Partido Social Democrático, a União Democrática Nacional
sessão solene inaugural, que “depois de exorcizar “o totalitarismo e o Partido Trabalhista, haviam acordado pela validade do atual Re-
abominável de múltiplos disfarces”, o Presidente da Constituinte de gimento, pugnando, no entanto, pela designação de uma Comissão
1946, membro das correntes políticas que vinham do apoio ao Esta- para elaborar o novo Regimento.
do Novo e à obra de Governo de Getúlio Vargas durante a ditadura, Assim, por um acordo de líderes dos maiores partidos da Assem-
mal dissimulava o cunho reacionário de suas idéias e conceitos, ao bléia, encerrou-se a discussão acerca do Regimento: este vigoraria
até a promulgação de outro, pela própria Assembléia. Mas o maior
mitigá-los com fugazes e esparsas alusões “à definitiva construção
problema residia em outro aspecto: a vigência de uma Constituição
de uma sociedade de paz, de liberdade e de justiça social”.
outorgada, cujo governo havia sido deposto, disciplinando a atua-
Não obstante a queda de Getúlio Vargas, de concreto é que os
ção de uma Assembléia Constituinte, consistia em uma limitação à
partidos que lhe apoiaram e compuseram seu governo tinham maio- atuação do poder constituinte originária absolutamente indevida, di-
ria na Assembléia Constituinte, a exemplo do PSD e do PTB (Parti- vorciada dos anseios da sociedade que lhe outorgara mandato para
do Trabalhista). Digna de nota é a presença da bancada comunista, fundar uma nova ordem jurídica assentada em bases democráticas:
composta por 5 deputados federais e 1 senador, retomando o direito “Era a segunda punhalada na Constituinte, antes mesmo que ela
de participarem do debate político após muitos anos na ilegalidade. se reunisse: a primeira, a outorga ditatorial do Regimento; a segunda,
Declarar a ilegalidade da atuação de determinado partido político o laço de sujeição do Regimento outorgado à Constituição de 1937;
com fundamento em divergência político-ideológica aniquila com o um escárnio aos poderes legítimos do colégio constituinte.” Assim, a
processo democrático. Neste sentido, para preservar a “competição discussão se deu em torno dos limites à atuação do poder constituinte
política”, evitando-se “falhas no mercado político”, os chamados originário. Por um lado, partidos de oposição ao governo Vargas,
procedimentalistas defendem o controle jurisdicional corretivo sobre como a UDN e o Partido Republicano, propunham a edição de um
atos normativos que atentem contra a saudável competição política ato institucional que disciplinasse os poderes do Presidente da Re-
para exercer um papel “antitruste”. pública até a promulgação da Constituição. Pelo lado dos egressos
Para utilizar uma terminologia da doutrina norte-americana, do regime derrubado, argumentava-se que estavam ali para “votar
busca-se evitar as denominadas “minorias separadas e insulares”, uma nova Constituição e não para votar retalhos de Constituição,
“sistematicamente excluídas dos processos decisórios e desprovidas nem para elaborar atos institucionais”. Seguia o líder do PSD, Nereu
de qualquer voz”. Importantíssima, portanto, a participação da ban- Ramos, defendendo a vigência da Carta de 1937, afirmando: Temos
cada comunista na Assembléia Constituinte. atribuições definidas numa lei constitucional.A Assembléia Consti-
tuinte tem poderes contidos no ato de sua convocação.
DOS PODERES DA ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE Para os governistas, egressos da base de sustentação do gover-
no Vargas, a Constituinte tinha poderes limitados, definidos, incum-
No que diz respeito aos poderes da Assembléia Constituinte, bindo-lhe tão somente a promulgação da nova Constituição. Assim,
dois aspectos quanto aos limites à sua atuação levaram a intensos de- na perspectiva dos oposicionistas, a Assembleia Constituinte gozava
bates: o primeiro ponto dizia respeito às normas regimentais veicu- de poderes ilimitados, podendo tanto promulgar a nova Constitui-
ladas pelo Decreto-lei nº. 8.708, de 17 de janeiro de 1946, expedin- ção, quanto promulgar atos constitucionais provisórios. Sustentando
a tese de que a Carta de 1937 não estava vigendo, invocou-se o seu
do as normas consideradas necessárias à instalação da Assembléia
artigo 187, que dispunha: “Esta Constituição entrará em vigor na
Constituinte, e que regeriam seus atos até que a própria Assembléia
sua data e será submetida ao plebiscito nacional na forma regulada
aprovasse seu regimento. Em seu artigo 1º, o Decreto-lei determina-
em decreto do Presidente da República.” Ocorre que o plebiscito,
va que os artigos subsequentes regeriam os atos da Assembléia até que procuraria conferir legitimidade democrática à Carta que fora
que sobreviesse novo regimento por ela aprovado e em seu artigo outorgada, nunca foi realizado.
2ª preceituava que “Enquanto a Assembléia não votar o seu Regi- Contudo, esta não era uma opção válida à luz da Constituição de
mento, serão regulados os seus trabalhos, em tudo quanto não con- 1937. Aquele que outorga a Constituição passa, ato contínuo, a ser
trariar a Carta Constitucional e a legislação eleitoral vigentes”. O submetido a ela, sob pena de já não falarmos de uma Constituição
fundamento para tais atos repousava no artigo 180 da Carta de 1937, e sim de ato normativo de outro nível hierárquico. “O característico
que dispunha que “Enquanto não se reunir o Parlamento Nacional, o da norma jurídica é a sua inviolabilidade que vincula à sua obediên-
Presidente da República terá o poder de expedir decretos-leis sobre cia o próprio poder que a estatui. Daí constituir norma jurídica uma
todas as matérias da competência legislativa da União.” Infere-se Carta outorgada, porque o próprio outorgante a ela se vincula e lhe
de tal regra constitucional nítido viés autoritário, que foi a marca da obedece, não podendo modificá-la ou nela dispensar a seu capricho.”
Constituição de 1937. No entanto, a despeito da análise estritamente jurídica apontar
Esta situação de sujeição a um ordenamento oriundo de uma pela não vigência da Carta de 1937 no momento dos trabalhos dos
ditadura deposta levou alguns parlamentares a proporem a imedia- Constituintes de 1946, de concreto é que o governo de transição pre-
ta elaboração de sua lei interna por uma comissão em que tivesse sidido pelo Ministro Linhares atuou submetido à Carta Outorgada,
assento representantes de todos os partidos, de forma a lhe garantir e a grande maioria da Assembléia Constituinte era composta por
Didatismo e Conhecimento 31
HISTÓRIA DO BRASIL
parlamentares que deram sustentação ao regime Vargas. Procurando Assegurando o império da lei, a Constituição consagrou a ina-
restabelecer a democracia ainda nas eleições presidenciais de 1945, fastabilidade da jurisdição, declarando que “A lei não poderá excluir
o candidato oposicionista Brigadeiro Eduardo Gomes propôs que da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão de direito indi-
se restabelecesse a vigência da Constituição de 1934 e que houves- vidual. Assinalava, outrossim, que as liberdades não poderiam ser
se a eleição de um novo presidente do Supremo Tribunal Federal cerceadas a não ser pelo Congresso Nacional, composto novamente
para assumir provisoriamente a Presidência do Brasil. A proposta pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, a quem compe-
não foi aceita, tampouco o candidato saiu vitorioso no pleito. Não tiria com exclusividade decretar o estado de sítio.
obstante a derrubada de Getúlio Vargas, 15 anos de governo, 7 deles Assim, as chamadas pré-condições à democracia foram assegu-
de autoritarismo, não ficaram impunes para o restabelecimento da radas nesta “Declaração de Direitos”.
democracia. Assim, no que diz respeito aos poderes da Assembléia
Constituinte de 1946, houve a prevalência da tese de que esta atuaria DA ORDEM ECONÔMICA E SOCIAL
nos limites estabelecidos pela Carta de 1937 e por seus atos institu-
cionais subseqüentes, para conduzir seus trabalhos. No título seguinte, o de número “V”, dedicado à Ordem Econô-
No dia 12 de março, finalmente, foi aprovado o novo Regimen- mica e Social, uma demonstração de compromisso com os valores
to da Assembléia, substituindo aquele editado ainda sob o Governo sociais, condicionando a utilização da propriedade ao bem-estar so-
Linhares. cial, bem como consagrando uma série de conquistas no campo do
trabalho e da previdência, contemplando, por exemplo, a “participa-
A ORGANIZAÇÃO DAS COMISSÕES DA ASSEMBLEIA ção obrigatória e direta do trabalhador nos lucros da empresa, nos
CONSTITUINTE E A PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO termos e pela forma que a lei determinar”.
Neste particular, no que tange a eficácia limitada desta norma,
A principal comissão para a elaboração da Constituição era a convém ponderar o seguinte: se por um lado é verdade que um texto
Comissão de Constituição, composta por 37 membros e subdividida constitucional não é o lugar próprio para detalhes como a forma em
em outras 10 subcomissões. Foi criada, também, por sugestão do que se dará a participação dos trabalhadores nos lucros das empre-
líder da UDN, deputado Otávio Mangabeira, a comissão de Inves- sas, por outro não é menos verdadeiro que esta técnica de remeter a
tigação Econômica e Social, bem como a Comissão de Estudos e uma legislação ordinária futura serve como “válvula de escape” para
Indicações. Todas as comissões eram dominadas pelo PSD, partido setores conservadores que querem prestar contas à sociedade duran-
egresso da base de Vargas e que, nas palavras de Bonavides e Paes de te a Constituinte, mas depois relegam ao esquecimento a edição do
Andrade, formava uma maioria “desfalcada do pressuposto material ato normativo apto a efetivar tal direito. É um mecanismo típico do
de” legitimidade, em razão de o eleitorado não ter podido, em tempo, que Luís Roberto Barroso denomina de “insinceridade normativa
se desprender dos funestos efeitos do domínio da máquina política constitucional.Aspecto importante diz respeito à proteção ao direito
montada por Vargas no transcurso praticamente de 15 anos de exer- de propriedade, assegurando indenização justa, prévia e em dinheiro
cício de poder pessoal e absoluto. quando houvesse desapropriação.
No dia 27 de maio de 1946 a Comissão de Constituição enca- No que tange à intervenção do Estado no domínio econômico,
minhou à Mesa Diretora da Casa o Projeto de Constituição que, uma dispõe o artigo 146 que “A União poderá, mediante lei especial, in-
vez publicado, recebeu, até o dia 7 de agosto, mais de quatro mil tervir no domínio econômico e monopolizar determinada indústria
emendas, número bastante elevado e sem paralelo nas outras consti- ou atividade. A intervenção terá por base o interesse público e por
tuintes. Votadas as emendas, no dia 18 de setembro de 1946 foi apro- limite os direitos fundamentais assegurados nesta Constituição.” As-
vada e promulgada a Constituição dos Estados Unidos do Brasil. sim, estabeleceu-se um limite à intervenção do Estado, conciliando
desenvolvimento social sem partir para a opressão do domínio pri-
A CONSTITUIÇÃO DE 1946 vado, assegurando o direito de livre iniciativa. Na perspectiva de
Miguel Reale, contudo, a Constituição limitou excessivamente a
A Constituição de 1946 continha um programa nitidamente pro- intervenção do Estado no domínio econômico, o que era “incompa-
gressista, reformador, buscando o difícil equilíbrio entre os avanços tível com a sociedade industrial emergente”.
sociais e a defesa de liberdades clássicas, em uma tensão entre o
império do coletivo contra a liberdade do indivíduo. “A obra dos RETOMADA DO BICAMERALISMO FEDERAL E FORTA-
constituintes de 1946 representou evidente compromisso entre for- LECIMENTO DA FEDERAÇÃO
ças conservadoras e forças progressistas atuantes, compromisso que
repartiu doutrina e técnica, ficando a doutrina principalmente com o A Constituição de 1946 procurou restabelecer a autonomia dos
futuro e as técnicas preponderantemente com o passado.” A seguir entes federativos, outrora sacrificada sob o império das Constitui-
apontaremos alguns destes compromissos dos constituintes com o ções de 1934 e 1937. O Senado Federal havia perdido suas principais
futuro, a começar pela declaração de direitos. funções legislativas sob a égide do governo Vargas, tendo sido, in-
clusive, deslocado do capítulo que versava sobre o “Poder Legislati-
DA DECLARAÇÃO DE DIREITOS vo”, para o capítulo intitulado “Da Coordenação dos Poderes, ambos
dentro do Título Ida Constituição de 1934”. Já na Constituição de
Em seu Título “IV”, denominado “Da declaração de direitos”, 1946, no mesmo Capítulo II, “Do Poder Legislativo”, do Título I,
a Constituição contemplou um capítulo sobre nacionalidade e cida- “Da organização Federal”, contemplou-se o Senado Federal como
dania e outro sobre direitos e garantias individuais, reafirmando os uma das Casas do Congresso Nacional.
valores que levaram à queda de Vargas, em defesa das liberdades in- Na qualidade de Casa dos representantes dos Estados e do
dividuais, assegurando-se a total liberdade de pensamento, de cons- Distrito Federal, a restauração do Senado Federal representou a re-
ciência, de crença e de culto. tomada do Federalismo, conferindo a devida autonomia aos entes
Didatismo e Conhecimento 32
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federativos, autonomia esta que havia se perdido com as crescentes As Diretas-Já, que haviam dominado o debate político à época,
intervenções de Vargas, transformando os Estados em interventorias não aconteceram em 1985, tendo havido eleições através do voto
federais. Se a centralização e o espírito unitarista foram à tônica do indireto do Colégio Eleitoral, em que foi eleito presidente da Repú-
Governo Vargas, a partir de 1946 buscou-se um reencontro com os blica o mineiro Tancredo Neves. Por motivo de doença, Tancredo
valores federalistas de 1891. Neves não tomou posse no cargo de presidente da República, vindo,
Processo de reforma constitucional inclusive, a falecer logo em seguida. Sob um clima de insegurança
A respeito do processo de reforma constitucional, a matéria foi institucional, uma vez que se tratava de um momento de transição
disciplinada no artigo 217 da Constituição de 1946, disciplinando para a democracia, José Sarney, eleito vice-presidente da República,
a iniciativa, que competia apenas aos parlamentares da Câmara ou tomou posse. Ato contínuo, Sarney enviou ao Congresso Nacional,
do Senado, através de pedido subscrito por pelo menos ¼ dos seus no dia 28 de junho de 1985, mensagem com a proposta de convo-
membros, ou por iniciativa de mais da metade das Assembléias Le- cação de uma Assembléia Nacional Constituinte, que culminou na
gislativas, com o voto da maioria relativa de cada casa. O quórum de Emenda Constitucional nº. 26, de 27 de novembro de 1985. A EC nº.
aprovação deveria ser de maioria absoluta dos membros da Câmara 26/85 previa a reunião da Assembléia Nacional Constituinte a partir
dos Deputados e do Senado Federal. Erigiu-se à condição de cláu- do dia 1º de fevereiro de 1987 na sede do Congresso Nacional, e que
sulas pétreas a Federação e a República. Nota-se que o processo de a Constituição seria “promulgada depois da aprovação de seu texto,
emenda à Constituição não era tão rígido quando comparado ao rito em dois turnos de discussão e votação, pela maioria absoluta dos
previsto na Constituição de 1988. Este é um aspecto que privilegia Membros da Assembléia Nacional Constituinte.”
a atividade do constituinte derivado, aferindo o aspecto democrá-
tico da emenda à Constituição em cada momento histórico. Se, ao
A CONSTITUINTE DE 1988
contrário, houver a previsão de um rito bastante rígido de emenda
à Constituição, há que se questionar se o fato de uma geração de
constituintes subtrair das gerações futuras o direito a deliberar a su- No dia 15 de novembro de 1986 foram eleitos 487 deputados
pressão de alguns direitos previstos na Constituição não seria um federais e 49 senadores constituintes. A estes se somaram outros 23
enfraquecimento do princípio democrático. senadores que haviam sido eleitos em 1982, cujos mandatos, de 8
anos, se encerrariam em 1991.
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Assim, estes 23 senadores que não foram eleitos para compor
uma Assembléia Nacional Constituinte participariam das discussões,
Nenhuma novidade no campo do controle de constitucionalida- votações e promulgação da Constituição da República. Neste parti-
de foi estabelecida na Constituição de 1946. Manteve-se o regime cular, é importante dizer que a Constituinte de 1987 não foi exclusi-
de controle difuso, competindo a qualquer juiz declarar, incidental- va para elaborar e promulgar a Constituição de 1988, o que acarreta-
mente, a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo. Ao Supremo ria a sua dissolução em seguida. A opção foi por um Congresso com
Tribunal Federal competia o controle de constitucionalidade, sobre- poderes constituintes, que além de contar com parlamentares que
tudo, em sede de recurso extraordinário. Assim, a atividade legislati- não haviam sido eleitos para inaugurar o ordenamento votando uma
va do Congresso Nacional tinha um maior grau definitividade, uma nova Constituição, continuou atuando após a promulgação da Cons-
vez que não havia um controle de constitucionalidade tão acentuado tituição de 1988 tanto na condição de legislador ordinário como de
como na futura Constituição de 1988. Na perspectiva de regime de- poder constituinte derivado. Os 49 senadores eleitos em 1986 conta-
mocrático enquanto vontade da maioria, ganha força a atividade par- ram com mandato até meados de 1995.
lamentar ao passo que enfraquece o controle de constitucionalidade, O fato de senadores que não foram eleitos para a Assembléia
sobretudo quanto ao conteúdo do ato normativo. Nacional Constituinte integrarem a Constituinte levou deputados
como Plínio de Arruda Sampaio a pedirem a impugnação da partici-
CONSTITUINTE E A CONSTITUIÇÃO DE 1988 pação destes senadores. Estes pedidos, entretanto, foram rejeitados
no Plenário. Ponto relevante refere-se ao fato de que com a eleição
A queda da ditadura e a restauração da democracia A Consti- de senadores, que representam entes federativos, para a Assembléia
tuinte de 1987 representou uma ruptura com o regime ditatorial que
Constituinte, já haveria um pré-compromisso com a forma de Es-
havia se instalado no Brasil a partir do Golpe Militar de 1964. É
tado federal. E por outro lado, como são três senadores por estado-
bem verdade que houve uma transição “negociada do regime auto-
membro e para o Distrito Federal, independentemente da popula-
ritário para o democrático, com a promulgação da Lei de Anistia já
em 1979, e com a convocação da Assembléia Constituinte através ção, houve uma sub-representação de Estados mais populosos, se
da Emenda Constitucional nº.”. 26, de 1985. Este processo de nego- analisarmos o critério de representação proporcional à população.
ciação, mais pela pressão da sociedade civil organizada, através, por De qualquer forma, a Assembléia foi instalada, e no dia seguinte foi
exemplo, da Ordem dos Advogados do Brasil, do que pela sensibi- eleito presidente da Assembléia Nacional Constituinte o deputado
lidade dos agentes do Regime Ditatorial, que chegaram, inclusive, a Ulysses Guimarães, do PMDB, contando com 425 votos contra 59
fechar o Congresso Nacional, durou cerca de dez anos. Havia duas votos do pedetista Lisâneas Maciel.
grandes demandas da sociedade: eleições diretas para a Presidência
da República e a convocação da Constituinte. DA ORGANIZAÇÃO DAS COMISSÕES DA ASSEMBLÉIA
“Duas campanhas estiveram, portanto, nas ruas, sendo que uma CONSTITUINTE
mais forte e imediata, de certo modo ofuscou e suspendeu à primei-
ra, a saber, a da Constituinte, e de certo modo, retardou em cerca Antes mesmo da instalação da Assembléia Constituinte, o de-
de cinco anos o coroamento do ato convocatório do primeiro dos putado Ulysses Guimarães propunha uma alteração no Regimento
poderes soberanos.” Interno prevendo a criação de uma comissão de 80 parlamentares
Didatismo e Conhecimento 33
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que seria responsável pelo esboço inicial da Carta Constitucional. A Rogou, por fi m, que os constituintes revissem suas posições
proposta, contudo, não foi levada adiante em razão da constatação por ocasião da votação em segundo turno. A preocupação do Presi-
do óbvio: com uma Comissão com tantos parlamentares, haveria, dente era com o caráter social da Constituição, com a sua ampla rede
inevitavelmente, uma fratura na Assembléia que levaria à divisão de seguridade social, com os mecanismos de repartição de receitas
dos parlamentares em duas categorias: os de 1ª classe, membros da tributárias da União com os Estados e Municípios, de forma que,
Comissão, e os demais, que não teriam nenhuma atividade relevante segundo Sarney, haveria o risco da ingovernabilidade. Este pronun-
até que findassem os trabalhos da grande Comissão. A solução foi a ciamento desagradou os constituintes, merecendo uma resposta rá-
criação de 8 comissões integrada cada uma por 63 membros titula- pida de Ulysses Guimarães que, em um belo discurso, afirmou que
res e o mesmo número de suplentes. a “governabilidade está no social. A fome, a miséria, a ignorância,
A par destas comissões, foi criada a chamada “Comissão de a doença inassistida são ingovernáveis. A injustiça social é a nega-
Sistematização”, composta por 49 parlamentares titulares e igual ção do governo e a condenação do governo.” Declarou, por fim, que
número de suplentes24. À Comissão de Sistematização competiria “Esta Constituição terá cheiro de amanhã, não de mofo.”
receber as propostas de base das 24 subcomissões criadas a partir das A fala de Ulysses Guimarães apontou o caráter social da Cons-
8 comissões temáticas. O anteprojeto apresentado pela Comissão de tituição de 1988, que recebera a alcunha de “Constituição Cidadã”
Sistematização, no dia 26 de junho de 1987 contava com mais de pelo próprio presidente da Assembleia Constituinte, repleta de nor-
500 artigos a serem analisados, abrindo para a fase de emendas. O mas que constitucionalizaram um extenso rol de direitos sociais,
mirando na redução das desigualdades sociais, em uma atuação dos
projeto de Constituição foi apresentado no dia 9 de julho de 1987.
Constituintes com a coragem de não ouvir o establishment e o sta-
Após a apresentação de uma série de emendas, mais de 10 mil,
tus quo. Na mesma noite em que proferiu tal discurso, dia 27 de
“numa demonstração de empenho, trabalho, capacidade e disposição
julho de 1988, a Assembléia aprovou em primeiro turno o Projeto
de fazer a melhor das constituições possíveis, e do trabalho da Co-
de Constituição com 408 votos a favor, 18contra e 55 abstenções. É
missão de Sistematização, a partir de janeiro de 1988 iniciou-se uma
importante lembrar que o quórum mínimo era de maioria absoluta,
nova fase, principiando as votações de primeiro turno”.
ou seja, 280 (duzentos e oitenta) votos dos 559 possíveis, tendo ha-
vido, portanto, maioria confortável. Da aprovação em primeiro turno
AS VOTAÇÕES DO PRIMEIRO TURNO: CONfiRMAÇÃO até a votação no segundo turno não levou muito tempo. De fato, em
DO PRESIDENCIALISMO um esforço concentrado, a Assembléia Constituinte reuniu-se no dia
22 de setembro de 1988 para votar em segundo turno o Projeto da
As primeiras matérias a serem votadas no primeiro turno fo- Constituição.
ram o Preâmbulo, aprovado com 487 votos a favor, 15 contra e duas O texto definitivo, que contava com 245 artigos no seu corpo
abstenções, e o Título I, que é intitulado “Dos Princípios Fundamen- permanente e 70 no Ato das Disposições Constitucionais Transi-
tais”, aprovado, também com larga maioria. Mas a maior batalha se tórias, foram aprovados com 474 (quatrocentos e setenta e quatro)
deu em torno da forma de governo, se presidencialista ou parlamen- votos a favor, 15contra e seis abstenções. Os votos contrários foram
tarista, que fez o Plenário contar, pela primeira vez, com a presença da bancada do Partido dos Trabalhadores, “que considerou o texto
de todos os Constituintes, fazendo-se presentes os 559 deputados e “elitista e conservador” no conjunto”. Entretanto, apesar do Partido
senadores constituintes no dia 22 de março de 1988. ter votado contra, todos os seus parlamentares assinaram a Consti-
Em uma votação bastante acirrada, optaram pela continuidade tuição.
do presidencialismo 343 parlamentares, ao passo que pelo parlamen-
tarismo votaram 213 (duzentos e treze), tendo havido três absten- CONSTITUIÇÃO DE 1988
ções. Apesar da confirmação em segundo turno de votação, houve
a previsão no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (art. Dos Direitos Fundamentais A Constituição de 1988 dedica os
2º) de um plebiscito a ser realizado no dia 7 de setembro de 1993 seus dois primeiros títulos aos Princípios do Estado e aos Direitos
para que o povo optasse entre a forma de governo, se presidencia- Fundamentais, para, só a partir do seu terceiro título, tratar da orga-
lista ou parlamentarista, e o sistema de governo, se republicano ou nização do Estado. Esta singela inversão em relação às Constituições
monárquico. anteriores, trazendo para o início do texto constitucional princípios
Esta fórmula procurou conferir aos cidadãos um prazo de quase como a cidadania, a dignidade da pessoa humana, a igualdade, deno-
cinco anos para reflexão antes de uma decisão com caráter definiti- ta o espírito da Constituição: uma Constituição cidadã, que eleva o
vo. Como se sabe, prevaleceram nas urnas a forma de governo pre- homem ao centro de sua preocupação, procurando pagar uma dívida
sidencialista e o sistema de governo republicano. histórica com os miseráveis, com os excluídos, com os sem voz nem
vez. Assim, pode-se dizer que a Constituição de 1988 avançou bas-
AS VOTAÇÕES DO SEGUNDO TURNO: ATAQUES AO tante tanto no rol de direitos fundamentais quanto nas garantias à sua
VIÉS SOCIAL DA CONSTITUIÇÃO efetivação. Todo o Título II da Constituição, que vai do artigo 5º ao
17, dedica-se aos direitos fundamentais.
A esta altura, momento de encaminhamento das aprovações A par dos direitos individuais, que tiveram assento no artigo 5º,
em primeiro turno, o presidente José Sarney fez um duro pronun- é digno de nota o extenso rol de direitos dos trabalhadores que foi
ciamento à nação em cadeia de rádio e televisão, externando grande consagrado a partir do artigo 7º. Procurando conferir plena eficácia
preocupação com a governabilidade sob a égide da futura Consti- às normas de direitos fundamentais, o parágrafo primeiro do artigo
tuição, apresentando cálculos dando conta de uma “sobrecarga de 5º dispôs que “as normas definidoras de direitos e garantias funda-
2 trilhões e 200 bilhões de cruzados, o equivalente a 12 bilhões e mentais têm aplicação imediata”.
600 milhões de dólares, trazendo para a Nação um cortejo de males Por fim, os direitos fundamentais individuais foram elevados à
que se estendiam desde o desemprego e a hiperinflação ao ócio e à categoria de cláusulas pétreas, ou seja, não podem ser emendados a
improdutividade. ponto de atingir seu núcleo essencial.
Didatismo e Conhecimento 34
HISTÓRIA DO BRASIL
DA ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA A inovação se justifica em razão do temor, não sem razão, de
que a nova Constituição não saísse do papel, que fosse assaltada pela
No que tange à ordem econômica, houve um posicionamento síndrome da “insinceridade normativa constitucional”. O mandado
francamente nacionalista, com restrições às empresas estrangeiras, de injunção pode ser ajuizado no caso concreto em que o exercício
adotando-se um regime preferencial de crédito, de contratos públi- de um direito subjetivo, que atenda as qualificações constitucionais,
cos e de reserva de mercado para empresas com capital nacional. As esteja sendo obstado por ausência de norma regulamentadora.
críticas foram no sentido de que a Constituição andou na contramão Assim, abre-se mais uma possibilidade para o judiciário concre-
da história, adotando um modelo intervencionista que estava supe- tizar o exercício de direitos subjetivos com assento na Constituição.
rado, sobretudo em razão do crescente déficit público que levava Contudo, é importante ponderar o seguinte: até aquele momento,
vários países a se valerem da iniciativa privada tanto para prestarem de promulgação da Constituição, o debate em torno do controle de
serviços públicos, quanto para realizarem obras públicas, bem como constitucionalidade residia, basicamente, no campo das possibilida-
para dinamizarem mercados fechados à concorrência e que torna-
des do controle por parte do Poder Judiciário.
vam as empresas obsoletas, portanto.
Hoje, ante a inevitável constatação de que a atuação do Judi-
A par de maiores discussões acerca do papel do Estado no domí-
nio econômico, de concreto é que justamente este Título da Consti- ciário vem subtraindo do Congresso à palavra final em uma série de
tuição sofreu profundas mudanças através de uma série de Emendas direitos que são de extrema relevância para a sociedade, a questão
Constitucionais que visaram desmobilizar o Estado em sua atuação deve ser conjugada não só pelo prisma das possibilidades, mas tam-
na iniciativa no mercado ou até mesmo na prestação de serviços pú- bém sob a ótica dos limites do controle da constitucionalidade das
blicos e de obras públicas. normas pelo Judiciário. Sob a ótica do limite do controle, cuidar-se-á
em preservá-lo como instituto que resguarda a correta aplicação da
PROCESSO DE REFORMA DA CONSTITUIÇÃO Constituição e não como trincheira a ser levantada contra mudanças
mais profundas e que contam com uma adesão sincera, genuína e
O Constituinte originário estabeleceu rígidos critérios para que profunda de toda a sociedade. Texto adaptado de SILVA, S. R. C
a Constituição fosse emendada. Em seu artigo 60, a Constituição
estabelece limitações ao constituinte derivado para emendar a Cons-
tituição, sendo estas tanto de ordem formal quanto circunstancial e
material. No que diz respeito às limitações materiais ao poder cons-
tituinte derivado, estabelece que em seu poder de emendar a Cons- IDEOLOGIA E POLÍTICA PARTIDÁRIA
tituição não poderá tender a abolir a forma federativa de Estado; o
voto direto, secreto, universal e periódico; a separação dos Poderes
e; os direitos e garantias individuais.
Em uma primeira leitura, o fato de uma geração de constituintes
legar às futuras gerações o dogma da imutabilidade de determinados A possibilidade de compreender e avaliar a história recente dos
princípios pode levar a questionar se isto não seria um enfraque- partidos políticos no Brasil supõe, naturalmente, a possibilidade de
cimento do princípio democrático. Se partirmos para a concepção diagnosticar com correção certos aspectos mais fundamentais do
de que democracia é a vontade da maioria, podemos concluir que processo político vivido pelo país. Contrariamente aos modismos
sim, há uma tensão com o regime democrático. Por outro lado, em correntes em determinados quadrantes das ciências sociais con-
uma perspectiva de que democracia não é simplesmente vontade da temporâneas, receosos de “evolucionismos” ou interpretações “li-
maioria e que implica certa pré-condições, como, por exemplo, os neares”, sou da opinião de que se impõe na busca de diagnósticos
respeito a direitos individuais, como a liberdade de manifestação como esse, enfrentar o desafio de se elaborar uma teoria adequada
do pensamento, ais terão uma melhor compreensão de qual foi o da mudança política na época moderna, para que se possa, assim,
desígnio do constituinte originário. Assim, volta-se à dicotomia es- eventualmente capturar a lógica em jogo em qualquer processo par-
tabelecida no inicio deste artigo entre democracia procedimental e ticular. Seria obviamente impróprio pretender discutir aqui os muitos
democracia substancial. problemas envolvidos na formulação de tal teoria, especialmente as
dificuldades de ordem epistemológica que surgem na articulação en-
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE tre a dimensão histórica dos fenômenos sociais e os desígnios “estru-
turais” e formalizantes contidos em qualquer esforço teórico dificul-
No que diz respeito ao controle de constitucionalidade, a des- dades estas que se colocam de forma particularmente clara quando
peito da coexistência do controle difuso no caso concreto e do se trata de uma teoria da mudança.
concentrado em face da lei ou ato normativo em tese, houve uma Creio ser indispensável, porém, tratar de explicitar o que enten-
acentuação da feição objetiva do controle de constitucionalidade em do corresponder à natureza do regime autoritário brasileiro de 1964,
que a parte mais visível deste movimento foi à ampliação do rol de
e parece útil, com esse propósito, apresentar sucintamente as grandes
legitimados a ajuizarem a ação direta de inconstitucionalidade.
Preocupou-se não só com os mecanismos de declaração da in- linhas de certa reflexão teórica que procurei desenvolver em traba-
validade da norma inconstitucional, mas também com a declaração lhos anteriores com respeito ao tema geral da mudança política a par-
de inconstitucionalidade por omissão, não só abstrata, enquanto re- tir da crítica à literatura sobre “desenvolvimento político”. A discus-
verso da ação direta por ação, como também no caso concreto, com são aí empreendida, partindo da análise abstrata dos dilemas envol-
a introdução inovadora do instituto do mandado de injunção, com vidos na ação coletiva e em qualquer forma de organização política,
assento no inciso LXXI, que dispõe que “conceder-se-á mandado de baseia-se nas relações entre “sistemas de interesses” e “sistemas de
injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviá- solidariedade” tal como estabelecidas por Alessandro Pizzorno em
vel o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerro- artigo de anos atrás para chegar à noção de “mercado político” como
gativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania” aquela que permite sintetizar tais relações. Propõem-se, ao cabo, três
Didatismo e Conhecimento 35
HISTÓRIA DO BRASIL
fases ou estádios analiticamente distinguíveis no processo de desen- tários do mercado. Na perspectiva propiciada por esse esquema, o
volvimento político, denominadas “política pré-ideológica”, “políti- ponto de partida para a discussão dos regimes autoritários em geral
ca ideológica” e “política pós-ideológica”. consiste em concebê-los como vicissitudes da política ideológica.
O critério para a distinção entre tais estádios é o grau de ex- As condições mais favoráveis à ocorrência de regimes auto-
pansão do “mercado político”, o qual está condicionado pelo caráter ritários do tipo que tem caracterizado, em tempos recentes, alguns
mais ou menos envolvente ou restritivo das formas de solidariedade países da América Latina e da Europa meridional encontram-se nas
prevalecentes, que por sua vez condicionam as feições assumidas fases intermediárias da política ideológica mais precisamente, nas
pela confrontação de interesses no processo político. A análise dos circunstâncias que se ajustam à noção de “pretorianismo de massas”,
obstáculos à expansão concomitante da solidariedade territorial e do de Samuel Huntington5. Aí, a emergência dos interesses e dos focos
“mercado político” permite incorporar coerentemente os fatores de de solidariedade correspondentes à classe trabalhadora e aos “setores
ordem estrutural, institucional e sócio-psicológica geralmente con- populares” em geral vem pôr em xeque os arranjos institucionais an-
siderada de maneira fragmentária na literatura dedicada ao tema tes precários que resultam da incorporação prévia das classes médias
do desenvolvimento político. Assim, a expansão da solidariedade ao processo político.
territorial e do mercado político numa coletividade expansão cujo A marca decisiva da política ideológica como tal sendo o sur-
grau máximo corresponderia à condição hipotética descrita como gimento das classes sociais (e de outros grupos multifuncionais, tais
política pós-ideológica, caracterizada pelo livre jogo de interesses como os grupos ou identidades étnicas) como o foco principal do
individuais é vista como embaraçada sucessivamente, nas duas ou- processo político, o pretorianismo de massas e o autoritarismo do
tras fases, por obstáculos de natureza estrutural e sócio-psicológica tipo em questão como resposta a ele corresponde a um momento
ou configuração de traços particular, que diz respeito à mobilização
típicos de cada fase.
das classes populares. Diversos fatores, entre os quais avulta em im-
A política pré-ideológica ou tradicional se distingue pela proe-
portância o grau em que a assimilação prévia das classes médias se
minência assumida por problemas relativos à emergência e conso-
tenha consolidado sob a forma de um controle efetivo do processo
lidação da aparelhagem estatal enquanto núcleo de poder efetivo e político por parte delas ou resultado, ao invés disso, em sua inserção
coextensivo, que se refere à capacidade de fazer valer as decisões insegura numa estrutura sociopolítica em que se preserve o caráter
que dele emanem, à coletividade como um todo, em suas dimen- basicamente tradicional e oligárquico, respondem pelas chances de
sões social e territorial. Os obstáculos que se opõem ao processo que o processo geral se encaminhe seja no rumo do “tipo ideal” de
correspondente, os quais chamam “institucionalização do poder”, política ideológica (sob a forma, por exemplo, da política de partidos
referem-se ao substrato material (condicionado por problemas de ideológicos, tal como se encontra na França da IV República ou na
ordem ecológica e por fatores como a estrutura de comunicações e Itália da mesma época), seja no do padrão de regimes bonapartistas
a intensidade e o caráter das transações econômicas) necessário ao ou de outros regimes “fortes” controlados pelos militares.
desenvolvimento e à penetração dos instrumentos organizacionais e Ademais, a alternativa assim expressa pode não ser uma ver-
dos símbolos de toda ordem nos quais se funda a pretensão de deter- dadeira alternativa, correspondendo antes a duas etapas distintas,
minada aparelhagem governamental de vir a constituir-se em centro nas quais a política de partidos ideológicos culminaria desenvolvi-
de decisões efetivas em todo o âmbito de determinado território. mentos que passariam através do bonapartismo ou do autoritarismo,
Um segundo tipo de obstáculos à plena vigência do mercado entre outros “arranjos” possíveis. Como quer que seja distintas for-
político refere-se à existência de focos particulares de solidariedade mas ou variações do próprio autoritarismo irá depender da medida
capazes de competir, por sua natureza, com a própria coletividade em que o processo de mobilização e ativação política das classes
pela lealdade de seus membros. No contexto representado pela pas- populares tenha podido desdobrar-se anteriormente aos eventos que
sagem da política tradicional à ideológica, este tipo de obstáculos levem ao efetivo estabelecimento do regime autoritário. Traços de
assume especial relevância, situando o problema da “instituciona- um regime autoritário tais como o fato de depender amplamente da
lização da autoridade” em conexão com a irrupção de demandas de coerção direta ou de poder contar, ao contrário, com a manipulação
igualdade e com o questionamento concomitante da ordem política ideológica e simbólica, bem como muito do que tem a ver com os
erigida no estádio anterior. O substrato para a emergência de tais prospectos de estabilidade e permanência do regime, podem ser re-
problemas está dado pelo processo de mobilização social e pelo apa- feridos ao amadurecimento e à capacidade de afirmação política dos
recimento de grupos tais como as classes sociais, enquanto focos de setores populares.
solidariedade universalística, em substituição aos vínculos de natu- Isso pode ser visto como forma diferente de dizer que muito
dos prospectos de institucionalização que eventualmente se abrem
reza pessoal e clientelística típicos da política pré-ideológica.
para os regimes autoritários ou seja, de que estes venham a mostrar-
Tais grupos se caracterizam por serem grupos “multifuncionais”
se capazes de se organizarem de maneira a assegurar estabilidade
de objetivos difusos, que correspondem a subculturas envolventes,
sociopolítica sobre a base de uma “fórmula política” que permaneça
distinguindo-se, ademais, pela natureza não voluntária (ou baseada autoritária e restritiva no que diz respeito à participação dos setores
em “adscrição”, para recorrer à expressão com frequência utiliza- populares depende da realização mais ou menos cabal daquilo que
da na tradução do termo inglês ascription) da participação de seus a perspectiva marxista tende a ver como o processo de formação de
membros. Um aspecto crucial da dinâmica da expansão do mercado classe relativamente à classe trabalhadora e, portanto, do conjunto de
político situado pela emergência do problema da igualdade conco- traços ideológicos, intelectuais e sociopsicológicos (envolvimento e
mitantemente com a relevância assumida por tais grupos tem a ver consciência política, informação sobre assuntos de interesse políti-
precisamente com as pressões no sentido de levar às últimas conse- co, capacidade de vincular e estruturar informação sobre questões
quências o processo deflagrado pela mobilização social, em que as de natureza heterogênea e de perceber ou estabelecer sua relevância
relações reguladas por princípios adscritícios são parcialmente subs- política) que tenderiam a associar-se com o cumprimento daquele
tituídas por outras reguladas pelos princípios potencialmente iguali- processo.
Didatismo e Conhecimento 36
HISTÓRIA DO BRASIL
O quadro composto pelas principais proposições envolvidas caráter “radical” ou “conservador”), eles correspondem de perto a
nessa concepção das relações entre mobilização social e formação duas maneiras de ver o problema da participação política que são
de classe, de um lado, e a viabilidade, as chances de estabilização e moeda corrente fora do campo das ciências sociais e que se interes-
outras características dos regimes autoritários, de outro, tem, como sam, sobretudo precisamente pela direção da participação.
parece claro, uma feição geral bastante ortodoxa e mesmo clássica. Elas poderiam designar-se como o modelo da “participação
Apesar de numerosas polêmicas mais ou menos carregadas de equí- divergente” e o da “participação convergente”. O primeiro cor-
vocos que se podem encontrar nesse terreno6 – como, de resto, em responderia a uma concepção difundida da política ideológica, na
tudo o mais nas ciências sociais, tais proposições se acham pelo me- qual partidos e movimentos políticos se distribuiriam claramente ao
nos implícitas, por exemplo, na famosa passagem de Marx sobre os longo de um eixo esquerda-direita e apelariam a frações ideologica-
camponeses franceses encontrada em O Dezoito Brumário de Luís mente orientadas do eleitorado (ou da população em geral) que se
Bonaparte, a qual pode ser lida como um enunciado da relação entre ajustariam à estrutura das classes sociais. Já o segundo envolve uma
a mobilização social e a formação de classes sociais efetivas, além concepção idealizada e conservadora do processo político na qual, à
de inscrever-se num contexto em que se trata precisamente de ex- medida que os indivíduos sejam cabalmente mobilizados e venham
plorar a relação entre tais processos e a ocorrência de experimentos a se tornar sofisticados e “racionais” na avaliação daquele processo,
autoritários de certo tipo. caberia esperar que eles viessem a se tornar também cada vez mais
Parece possível, contudo, avançar além desse ponto se se tra- integrados ao sistema sociopolítico, prontos a apoiarem os “verda-
duzem aquelas proposições nos termos de alguns instrumentos con- deiros interesses da nação”.
ceituais contemporâneos e se examina, a partir daí, sua articulação Pois bem. Diferentemente do mero contraste entre os mode-
em forma analiticamente mais precisa. Um modelo conceitual cla- los da centralidade e da consciência de classe, os padrões e formas
ramente relevante é o modelo da “centralidade” desenvolvido por de participação políticos deparados no desenrolar do processo de
cientistas políticos americanos para dar conta dos dados sobre a mobilização parecem exigir, para sua adequada explicação, uma
participação política nos Estados Unidos. Tal como empregada nos articulação relativamente complexa daqueles dois modelos que: 1)
estudos americanos, à noção de centralidade da posição social glo- corrobora a relevância explicativa do conceito de mobilização so-
bal de um indivíduo é algo complexa, envolvendo uma dimensão ciopolítica, destacando uma forma específica de associação entre as
“objetiva” e outra “subjetiva”. A dimensão objetiva corresponde, dimensões estrutural-ecológica e intelectual psicológica (ideológica)
de um lado, à posição socioeconômica (a subdimensão “vertical” daquele conceito tal como se traduzem em termos das dimensões de
da centralidade objetiva), bem como, de outro, a coisas tais como “centralidade”; 2) permite ter em conta não apenas a intensidade da
experiência urbana e amplitude da rede de interação social (a subdi- participação política, mas também sua direção conformista ou incon-
mensão “horizontal”), enquanto a dimensão subjetiva diz respeito a formista. Concretamente, a proposição básica é a de que os fatores
aspectos sociopsicológicos e intelectuais tais como o grau de infor- correspondentes às diferentes dimensões da noção de centralidade
mação sobre questões políticas e o sentimento de definição algo im- exercem um papel causal não apenas diretamente com respeito à
precisa de desenvoltura e segurança subjetiva nos contatos sociais8. participação política (ou especificamente eleitoral), mas também ao
Para nossos propósitos, é importante salientar a maneira pela qual a condicionarem, em ampla medida, as probabilidades de que o mo-
noção de centralidade se mostra paralela à de mobilização sociopolí- delo de consciência de classe possa ele próprio atuar sobre aquela
tica, que também envolve tanto uma dimensão estrutural-ecológica, participação. Vejamos como se pode desdobrar analiticamente essa
basicamente referida ao processo de urbanização (com a correspon- proposição. Se tomamos as duas subdimensões “objetivas” da noção
dente intensificação da comunicação social), quanto dimensões de de centralidade (a vertical, que diz respeito à posição socioeconômi-
natureza sociopsicológica, intelectual e ideológica, tendo a ver com ca, e a horizontal, que diz respeito, sobretudo a experiência urbana),
fenômenos como maior capacidade de “empatia”, maior envolvi- podemos ver que os limites extremos de posições altamente “peri-
mento sociopolítico geral, maior propensão a atitudes politicamente féricas” ou altamente “centrais” correspondem respectivamente aos
inconformistas etc. estratos baixos rurais e aos estratos altos urbanos.
Na verdade, uma das críticas que têm sido dirigidas ao uso feito Pareceria adequado supor que os representantes dessas posições
da noção de mobilização social refere-se à tendência a mesclar, com extremas deveriam situar-se também em pólos opostos no que se
o emprego de um termo único, dimensões diversas de um processo refere a opiniões e inclinações políticas, com os últimos exibindo
de grande complexidade, tendência esta que normalmente redunda alto grau de conservadorismo e apego ao status quo e os primeiros,
em se supor que uma direção ou forma específica de ativação polí- alto grau de insatisfação frente a um sistema que os marginaliza de
tica (inconformista, “contestadora”, “radical”) seja a consequência diversas maneiras. Sabidamente, porém, tal suposição seria equivo-
predeterminada das mudanças de tipo estrutural-ecológico que con- cada no que diz respeito aos estratos baixos rurais. Pois, neste caso,
formam o substrato daquele processo. De outro lado, como é bem a condição objetivamente marginal ou periférica se encontra com
sabido tendo sido elaborado no notável artigo de Pizzorno acima ci- frequência associada a uma atitude geral de deferência e a formas
tado, o modelo da participação política referido à centralidade pode de lealdade de tipo clientelístico ou inter-classes, traços estes que
ser contrastado ao modelo da participação baseado na idéia de cons- favoreceriam antes propensões conformistas. Nas áreas rurais ou se-
ciência de classe. mi-rurais, assim, seria de esperar que maiores frequências de inclina-
Enquanto o primeiro sustenta que a participação é maior quanto ções inconformistas viessem a encontrar-se em níveis intermediários
maior o grau de centralidade da posição dos indivíduos, o último da estrutura social, suficientemente favorecidos do ponto de vista so-
propõe que “a participação política é maior quanto maior (mais in- cioeconômico para escapar às limitações intelectuais e psicológicas
tensa, mais clara, mais precisa) é a consciência de classe”. próprias da condição consistentemente marginal ou periférica, mas
É de interesse assinalar que, apesar de ambos os modelos des- não a ponto de que os vested interests em relação ao sistema exis-
tacarem a relação quer da centralidade da posição social ou da cons- tente prevaleçam de vez na determinação de suas opiniões ou seja,
ciência de classe com a intensidade da participação política, sem não tanto que estas sejam determinadas por completo em direção
nada afirmarem com respeito à direção desta última (ou seja, seu conservadora, segundo o modelo da consciência de classe.
Didatismo e Conhecimento 37
HISTÓRIA DO BRASIL
Tal modelo teria melhores condições de operar nas demais ca- política do país. 1945 marca o fim da ditadura de Getúlio Vargas, que
tegorias que se podem distinguir os estratos altos rurais e os diversos exercera o poder supremo desde 1930. Mas é da iniciativa do próprio
níveis da estrutura social urbana. Nestes, teríamos fatores diversos Vargas que brotam, na transição para a fase democrática da vida bra-
de centralidade objetiva seja a posição socioeconômica favorável ou sileira que então se inaugura dois dos mais importantes partidos do
os estímulos e a intensidade de comunicação próprios do meio urba- período: o Partido Social Democrático (PSD) e o Partido Trabalhista
no, ou ambos produzindo resultados em termos de abertura psicoló- Brasileiro (PTB).
gica e acesso a informação que contrastam em graus variados com a No PSD se organizam os interesses que gravitavam em torno da
contrapartida subjetiva da condição de marginalidade consistente e máquina político-administrativa da ditadura varguista. Em especial,
permitem, na mesma medida, a determinação das opiniões e do com- ele congrega homens que haviam atuado como interventores de Ge-
portamento político pela consideração do interesse próprio, isto é, túlio Vargas junto ao governo dos estados, bem como com variações
segundo o modelo da consciência de classe. Contudo, a qualificação regionais as lideranças de bases rurais que haviam tradicionalmente
contida na expressão “em graus variados” é importante, pois mesmo ajudado a compor a estrutura clientelística da política brasileira. De
o ambiente dos maiores centros urbanos (particularmente num con- orientação conservadora, mas afeito ao jogo do poder, o “pessedis-
texto de intensa migração rural) não está isento da presença de mar- mo”, que tem seu principal núcleo em Minas Gerais, rapidamente
ginalidade objetiva e subjetiva e de seu séquito de desinformação, adquire a imagem que viria marcar o político mineiro e, de certa
deferência e conformismo. forma, impregnar de maneira negativa a própria idéia de política no
Na verdade, um quadro adequado dos processos em jogo reve- Brasil: a do político hábil, pragmático e pouco escrupuloso.
laria, no ambiente urbano como no rural, um limiar de participação O PTB, por seu turno, organiza-se com o objetivo de atrair as
social geral e envolvimento intelectual-psicológico aquém do qual massas trabalhadoras urbanas em expansão, manejando como trun-
teríamos conservadorismo por falta de atuação dos mecanismos as- fo a imagem de “pai dos pobres” adquirida por Vargas em conexão
sociados à consciência de classe e além do qual teríamos ou incon- com suas iniciativas na área trabalhista, especialmente a legislação
formismo ou conservadorismo pela atuação desses mecanismos com do trabalho introduzida como parte da estrutura corporativa montada
a importante reserva adicional quanto à forma incipiente ou rudi- durante o Estado Novo (1937-45). Essa estrutura se mantém intacta
mentar que tal atuação pode assumir. posteriormente, atrelando os sindicatos de trabalhadores ao Ministé-
Assim, o esquema de interpretação proposto se afasta do mo-
rio do Trabalho e compondo com os quadros petebistas as alavancas
delo da “participação convergente” (com a afinidade deste ao mo-
de controle político do movimento trabalhista por Getúlio Vargas e
delo da centralidade) por pretender ler nos dados pertinentes que,
figuras a ele ligadas especialmente João Goulart, político gaúcho que
à medida que se neutralizem os fatores de marginalidade subjetiva,
se afirma no cenário político nacional como ministro do Trabalho de
teremos não a tendência à expressão de valores consensuais, mas
Vargas no mandato presidencial que este obtém nas urnas em 1950.
antes a expressão de interesses correspondentes às várias posições
Em termos gerais, o período que vai de 1945 a 1964 pode ser descri-
na estrutura social, ou às várias classes sociais. Mas ele se afasta
também do modelo da “participação divergente” e do mero recurso to como correspondendo ao controle do processo político brasileiro
ao modelo da consciência de classe, na medida em que reconhece pela coalizão formada por PSD e PTB.
a existência e a vigor dos fatores de marginalidade subjetiva e de O principal partido a opor-se a tal coalizão é a União Demo-
mecanismos que bloqueiam a tomada de consciência do caráter não crática Nacional (UDN), que se estabelece em torno dos líderes da
igualitário da estrutura social, mecanismos estes que atuam segundo oposição liberal ao regime varguista ao final do período ditatorial.
os padrões previstos pelo modelo da centralidade. Atraindo empresários, profissionais liberais e classes médias urba-
Voltemo-nos agora para o tema dos partidos políticos no Bra- nas, a UDN exerce no período um papel marcado por grande ambi-
sil. O período que vai de 1945 a 1964 propicia um contraste com guidade: sendo originária e retoricamente liberal e representando o
a situação atual ao qual se faz necessário recorrer como ponto de porta-voz de estridente oposição moralista ao condomínio PSD-P-
partida, mesmo porque alguns dos tópicos repetidamente presentes TB, não deixou, porém, de favorecer e estimular a intervenção dos
no discurso político brasileiro de nossos dias a respeito dos partidos militares no processo político sempre que tal intervenção pareceu
políticos referem-se inicialmente aos partidos que então existiram. servir aos interesses do partido, e próceres udenistas vieram a ser
Um desses tópicos, talvez o favorito e certamente o de maior al- alguns dos nomes civis mais expressivos a integrarem o governo
cance do ponto de vista de uma avaliação como a que aqui se procura surgido do movimento político-militar de 1964.
fazer, diz respeito ao suposto “amorfismo” que caracterizaria a es- Dentre vários outros partidos ou movimentos de expressão
trutura partidária brasileira daquele período. Com efeito, amiúde se meramente regional, merece destaque o Partido Social Progressista
sustenta que os partidos então existentes não seriam senão criações (PSP), controlado por Adhemar de Barros e de significativa presença
artificiais, sem bases sociais autênticas e sem diferenciação ideológi- em São Paulo, o principal estado da Federação. Singulariza-se o PSP
ca nítida. Tais características seriam a contrapartida ou o reflexo de por combinar um apelo marcadamente populista com a montagem
traços que marcariam o próprio eleitorado, o qual é visto, em geral, de eficiente máquina eleitoral baseada na manipulação de prebendas
como politicamente amorfo e inconsistente, pouco envolvido ou in- facultada pelo acesso ao poder estadual. O populismo paulista tem,
teressado em questões políticas e destituído de verdadeira “consciên- porém, no período, outra vertente de muito maiores consequências
cia política”. Em última análise, segundo essa visão, os partidos se para o jogo político nacional, a saber, o movimento constituído ao
distinguiriam apenas pelo grau em que, através de expedientes mais redor de Jânio Quadros.
ou menos espúrios, se mostravam capazes de atrair diferentes parce- Ascendendo meteoricamente, em larga medida à margem da
las daquele eleitorado politicamente alheio e manipulável. estrutura partidária, desde sua eleição para a Câmara Municipal de
Como avaliar tal diagnóstico, e que relevância tem para os pro- São Paulo, Quadros viria a alcançar a Presidência da República e a
blemas de pós-64? O sistema partidário existente entre 1945 e 1964 ter participação importante nos eventos que culminaram no levante
chegou a incluir 13 partidos, de importância muito variada na cena militar de 1964. Seu apelo político baseava-se numa imagem de au-
Didatismo e Conhecimento 38
HISTÓRIA DO BRASIL
tenticidade popular de cunho apolítico ou mesmo antipolítico, bem vos partidos, os políticos oposicionistas que haviam sobrevivido aos
como numa veemente mensagem de moralização políticoadminis- expurgos e cassações a se agruparem num único partido de oposição,
trativa. Precisamente o êxito das lideranças e movimentos populis- o Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
tas, bem como o da própria coalizão PSD-PTB (a expressar, de certa Cabe indagar das razões dessa opção pelo bipartidarismo. Elas
forma, o acoplamento entre massas supostamente manipuláveis e certamente incluem a visão idealizada do bipartidarismo existente
elites que lhes são heterogêneas por sua origem social, acoplamento em alguns dos países ocidentais mais avançados economicamente,
este que caracterizaria o populismo latino-americano em geral), ser- visão esta que pode ser considerada como integrando o ideário li-
ve como ponto focal das denúncias de amorfismo e inconsistência beral-democrático a que os mentores do regime de pós-64 jamais
acima mencionada com respeito ao eleitorado e aos partidos. chegaram a renunciar abertamente – e que aparentemente impediu
a opção por um sistema unipartidário, cuja imposição teria então
Seja qual for à parcela de verdade contida em tais denúncias,
sido possível. Por outro lado, tal como realizada, a imposição de um
que poderemos apreciar melhor adiante, cumpre assinalar a existên-
bipartidarismo formal, se salvava as aparências quanto ao ideário
cia, já no período examinado, de indícios que se contrapunham com liberal verbalmente professado pelo regime, parecia ter condições de
nitidez a elas. Assim, há, por um lado, evidências que mostram, du- redundar num unipartidarismo de fato. Expurgadas as hostes oposi-
rante o curto período em que o Partido Comunista Brasileiro pôde cionistas das lideranças mais aguerridas e eleitoralmente vigorosas
atuar legalmente e participar abertamente do processo eleitoral (até do populismo anterior; obtida a coesão do dispositivo político par-
1947), a nascente “ideologização” das camadas populares do elei- tidário governamental através da atuação conjugada do estabeleci-
torado brasileiro em seus setores “de ponta”. Dados analisados por mento de linhas nítidas de separação entre os “prós” e os “contra”, da
Azis Simão relativamente ao comportamento eleitoral dos trabalha- manipulação da máquina do governo e do recurso a instrumentos de
dores da cidade de São Paulo nas eleições de 1947 para a Assembleia pressão ou coerção aberta; empreendido, através de campanhas e ini-
Legislativa Paulista revelam que, enquanto o PCB e o PTB obtinham ciativas de diversos tipos (incluindo a introdução do ensino de “edu-
conjuntamente uma ampla proporção do voto trabalhador, o PCB cação moral e cívica” em todos os níveis do sistema educacional), o
tinha claramente a preferência dos trabalhadores industriais: ele re- esclarecimento público contra a corrupção e os artifícios demonía-
cebia proporção muito maior dos votos apurados nos distritos eleito- cos de movimentos e figuras de inspiração alheia à “índole do povo
rais que incluíam maiores porcentagens de trabalhadores industriais brasileiro”; as condições pareciam criadas para que o regime viesse a
e que se localizavam nas regiões da cidade que haviam sofrido maior contar, em curto prazo e de maneira estável, com os frutos eleitorais
penetração industrial, exibindo, em muitos casos, uma tradição in- de políticas desenvolvidas com seriedade e eficiência nos diversos
dustrial proveniente de finais do século passado. campos de atuação governamental. E os votos dados ao partido do
governo num quadro de disputa bipartidária seriam fator importante
Mas também com respeito ao PTB, apesar de sua inspiração
de legitimação, mesmo e talvez sobretudo no cenário internacional.
varguista e dos desígnios de manipulação normalmente imputados
Como quer que seja, a implantação do bipartidarismo revelou-
a suas lideranças, podemos encontrar indícios que vão em direção se, a posteriori, uma decisão de importantes consequências para a
diferente. Assim, o partido cresce consistentemente em sua penetra- dinâmica do regime, embora certamente não as consequências pre-
ção durante o período considerado, evidenciando que sua mensagem vistas por ele. Ela redundou, com efeito, numa simplificação drástica
ou pelo menos sua imagem encontra certo tipo de ressonância no do universo defrontado pelo eleitor e de suas opções ao tomar a de-
eleitorado que não se poderia descartar sem mais. Além disso, como cisão eleitoral. Do ponto de vista da consciência política dos estratos
mostraram análises como as de Gláucio Soares e Antônio Octávio populares, tal simplificação se superpôs “convenientemente” ao sim-
Cintra, os correlatos dessa penetração em termos tanto dos estratos plismo das percepções e opiniões políticas com a consequência de
sociais em que ela ocorre diferencialmente quanto das percepções e que, passado o momento inicial de perturbação e surgindo as oportu-
opiniões políticas estão longe de ajustar-se ao que se presumiria com nidades para que o partido de oposição pudesse dirigir ao eleitorado
base na tese do “amorfismo”, ainda que comportem ambiguidades. uma mensagem aguerrida, projetando certa imagem de tonalidades
Na verdade, a apreciação global que cabe extrair dos dados pertinen- populares, viesse ele a capitalizar eleitoralmente as mesmas tendên-
tes é congruente com a tese de Celso Furtado a respeito da “dialética cias que haviam anteriormente produzido o populismo. Facilitada
do populismo”, segundo a qual os mecanismos acionados com in- pelo quadro político-partidário bipolar, que passou a fornecer claro
tuitos manipuladores pelas lideranças populistas terminam por con- molde institucional para contraposições simples corno as que se dão
figurar-se, em medida significativa, em fatores de real mobilização na consciência popular entre categorias tais como “ricos” e “pobres”,
política dos setores populares. “povo” e “governo”15, tal retomada das tendências anteriores se deu
em 1974, quando o MDB catalisou pela primeira vez as preferências
E não é outra a razão de que, realizado o movimento políti-
populares e obteve inequívoca vitória nas eleições para o Senado.
co-militar de 1964 como reação às ameaças percebidas num quadro
Abre-se, a partir daí, nova fase nas manobras institucionais do re-
em que avulta precisamente aquela mobilização, o regime autoritá- gime, que buscam agora neutralizar o potencial de mobilização do
rio tenha pouco depois julgado conveniente extinguir pela força os voto popular com que o MDB passa a contar, sobretudo nos centros
partidos então existentes, buscando substituí-los por uma estrutura urbanos, culminando na liquidação forçosa do bipartidarismo e na
partidária mais apta a servir aos seus propósitos. restauração de uma estrutura multipartidária por meio de poderosos
Essa extinção se dá em 1965, com o Ato Institucional nº. 2. Sua incentivos legais e políticos.
razão imediata foi à vitória obtida, naquele ano, por candidatos do Do ponto de vista analítico, a imposição do bipartidarismo re-
PSD para o governo dos importantes estados de Minas Gerais e da presentou, como os resultados sucintamente descritos sugerem, um
Guanabara. Por meio dos dispositivos legais então implantados, o experimento de grande interesse, no qual a própria simplificação
governo impôs ao país o bipartidarismo, congregando na Aliança artificial das opções permite a cristalização mais clara de certas ten-
Renovadora Nacional as forças de apoio político-parlamentar ao re- dências básicas. Essa cristalização, por outro lado, se dá de maneira
gime e forçando, pelo rigor das exigências para a constituição de no- a desmentir a tese do “amorfismo” do eleitorado, apesar dos matizes
Didatismo e Conhecimento 39
HISTÓRIA DO BRASIL
cuja consideração os dados disponíveis a respeito impõem. Exami-
naremos resumidamente, a seguir, algumas conclusões das análises A POLÍTICA DE INDUSTRIALIZAÇÃO
de tais dados, destacando a “morfologia” do apoio partidário tal
como pode ser traçada em termos das dimensões básicas envolvidas
DO GOVERNO JK.
na noção de centralidade anteriormente discutida e alguns aspectos
político-ideológicos subjacentes à identificação partidária e a sua di-
ferenciação nas diversas camadas socioeconômicas. As proposições
a serem apresentadas referem-se a dados coletados através desur- Durante o governo de JK, o Brasil experimentou uma de suas
veys executados em quatro cidades por ocasião das eleições de 1976. maiores fases de crescimento econômico. O Plano de Metas (cin-
A proibição legal do voto dos analfabetos, até há pouco exis- quenta anos em cinco), que visava à industrialização pela substitui-
tente no Brasil, colocava-os obviamente nessa condição. Assinale- ção de importações, e a construção de Brasília, Foi o auge do “de-
se, porém, que a exclusão se manifesta em formas que vão além da senvolvimentismo”. O aumento acelerado da inflação aparecia como
detalhe insignificante, dado o robusto crescimento do PIB.
privação da possibilidade de votar: os dados mostram que mesmo a
No início do seu mandato, JK começou a construir um verdadei-
identificação subjetiva com qualquer dos partidos (a simples prefe-
ro Estado paralelo, e tecnocrático, ao já existente, patrimonialista e,
rência por qualquer deles) declina de maneira desproporcional entre portanto, formado para atender aos interesses oligárquicos. O gover-
os analfabetos. Mas é de interesse igualmente ressaltar que os anal- no JK criou o Conselho de Desenvolvimento, que seria responsável
fabetos não são os únicos nessa categoria. O complexo de fatores pela implementação do Plano de Metas, e o Grupo Executivo da In-
que compõem a condição marginal contém outros mecanismos pelos dústria Automobilista – GEIA, que tinha como função desenvolver
quais novos contingentes das camadas socioeconômicas inferiores os estudos necessários para viabilização e implementação do parque
da população são excluídos do sufrágio, tais como as dificuldades de automotivo. É interessante notar que o Conselho de Desenvolvimen-
qualquer ordem para manter regularizada a documentação exigida to mantinha tanto um lado profissional como um lado oligárquico, já
do votante, que tendem a incidir diferencialmente nos diversos estra- que suas secretarias estaduais foram entregues a políticos que apoia-
tos socioeconômicos, mais marcadamente nos estratos mais baixos. vam o governo, enquanto os auxiliares diretos do Presidente eram
Por outro lado, congruentemente com a visão de que temos maior técnicos de alto nível. De qualquer forma JK criou uma estrutura
marginalidade no pólo rural da dicotomia rural-urbano, os dados estatal que estabelecia a mais profunda intervenção econômica que o
país já havia presenciado, O poder público passara a atuar no sistema
mostram que, dentre as quatro cidades estudadas, o efeito conjun-
econômico do país lançando mão de todos os recursos disponíveis.
to de analfabetismo e exigências burocráticas quanto a excluir da Essa atuação destinou-se a acelerar o desenvolvimento econômico,
participação eleitoral é maior em Presidente Prudente, que melhor particularmente a industrialização, e a impulsionar o setor privado
corresponde ao pólo rural e onde a proporção dos que não votam por nacional e estrangeiro.
qualquer razão alcança 31 por cento da amostra. A fim de pôr em prática estes ambiciosos planos de desenvolvi-
Se vamos além e buscamos avaliar as consequências da condi- mento através da industrialização eram necessários vultosos recur-
ção periférica ou marginal do ponto de vista do conteúdo da partici- sos, não só técnicos como também financeiros e, levando-se em conta
pação, ou de como afeta o apoio a cada um dos partidos, a primeira que o orçamento da União era extremamente mal formulado, e, por
indagação se refere aos efeitos, nesse sentido, da própria exclusão fim, demonstrando que o Estado seria uma arma decisiva em favor
do crescimento, JK criou vários Fundos Especiais de Investimentos
formal do direito de voto. Alguns dados de Juiz de Fora são espe- voltados a objetivos específicos além de ter renovado fundos pree-
cialmente elucidativos a respeito. Tomando a renda familiar em ca- xistentes. A criação ou reorganização dos Fundos foi decisiva para a
tegorias que se dispersam desde aqueles que contam com um salário implementação do programa de metas, uma vez que os Fundos ope-
mínimo ou menos por mês até os que contam com mais de 20 salá- ravam para reduzir ou remover as fontes de incerteza interna quanto
rios mínimos, vê-se que as frequências dos que deixam de votar por ao financiamento das metas específicas. De fato, esses fundos não
qualquer razão diminuem quase linearmente desde nada menos de estavam sujeitos às vicissitudes técnicas ou políticas do processo.
34 por cento entre os primeiros a 11 por cento entre os últimos. Isso Entre os Fundos reformados e/ou criados pelo governo JK es-
contrasta agudamente com a variação dos votos dados à ARENA, tavam: Fundo Rodoviário Nacional, Fundo Nacional de Pavimenta-
ção, o Fundo de Renovação e Melhoramento das Ferrovias, o Fundo
que crescem de 29 a 54 por cento entre as mesmas categorias, en- Aeronáutico e o Portuário os quais tinham como objetivo investir na
quanto os votos dados ao MDB permanecem praticamente constan- conservação, melhoria e ampliação da infraestrutura do transporte
tes ao redor da proporção média de 28 por cento. Tal padrão indica brasileiro.
de maneira muito clara que a perda do sufrágio se daria, sobretudo Seus recursos eram provenientes das próprias taxas de utiliza-
em detrimento do MDB, excluindo da participação contingentes sig- ção desta infraestrutura, de impostos sobre combustíveis e lubrifi-
nificativos de eleitores potenciais daquele partido. cantes e de sobretaxas sobre alguns produtos importados. Entre to-
Mas as coisas são mais complexas. Pois, além da exclusão for- dos os fundos criados e/ou reformados pelo governo JK, destaca-se o
mal do direito de voto, os traços intelectuais e psicológicos que se BNDE, que teve participação decisiva tanto na captação de recursos
como também na administração destes. Vale salientar que o presi-
associam à posição periférica de setores dos estratos baixos tendem
dente Juscelino comprometeu-se pessoalmente com a boa adminis-
com frequência, na verdade, a resultar em maior incidência de pre- tração do BNDE. No seu governo tentou-se melhorar a eficiência da
ferência pela ARENA. Começando pelo lado rural ou semi-rural das administração pública, admitindo que o Plano de Metas dependia
cidades estudadas, isso se verifica em Presidente Prudente, como disso. Tendo, porém, que enfrentar os interesses estabelecidos em
destaca Bolivar Lamounier, entre as camadas muito baixas do eleito- torno de um Estado ineficiente, ele não teve alternativa, a não ser
rado, quer se trate de analfabetos, daqueles que se situam em posição aprofundar estruturas contraditórias e, até excludentes, dentro do Es-
especialmente desvantajosa do ponto de vista ocupacional ou dos tado brasileiro, criando, desta forma, uma verdadeira “administração
que declaram não contar. Texto adaptado de REIS, F. W paralela”.
Didatismo e Conhecimento 40
HISTÓRIA DO BRASIL
O PLANO DE METAS
Com o slogan cinquenta anos em cinco, Juscelino Kubitschek elegeu-se Presidente da República nas eleições de 3 de outubro de 1955,
tomando posse em 31 de janeiro do ano seguinte. O seu governo tinha como objetivo transformar e aprofundar a industrialização brasileira,
através da implementação da indústria pesada. Para tanto, foi articulado o chamado Plano de Metas, o qual continha trinta metas agrupadas em
cinco áreas e uma meta que considerava especial. Algumas metas foram modificadas durante a execução do plano e outras, nem chegaram perto
do que se propôs, mas, em termos gerais, o programa conseguiu atingir seus objetivos, provocando um forte crescimento do PIB e um razoável
aumento da renda per capita, tornando o Brasil da época o país em desenvolvimento mais industrializado do mundo. Para pôr em prática o Plano
de Metas, o nacional-desenvolvimentismo foi substituído pelo desenvolvimentismo internacionalista.
Note que o ideário não deixa de ser desenvolvimentista, mas deixa de ser nacionalista e preocupado em cristalizar os centros internos de de-
cisão. Também, a transformação abrupta da matriz industrial brasileira, a forte presença do capital estrangeiro nos setores dinâmicos do processo
de industrialização e a ruptura com a estratégia nacional de desenvolvimento encabeçada pelo governo Vargas, tanto trariam efeitos imediatos
quanto exerceriam impactos na dinâmica de longo prazo da economia. A política econômica nacional teria que lidar agora com um novo arranjo
de forças, já que os setores dinâmicos do processo de industrialização, internalizados, estavam de posse do capital internacional. No curto prazo
essa estratégia internacionalista permitiu altas taxas de crescimento econômico e um forte crescimento da indústria de bens duráveis, no longo
prazo, no entanto, a economia, e a política interna brasileira, ficariam cada vez mais atrelada a decisões emanadas dos centros do sistema capi-
talista, limitando a margem de manobra dos governos posteriores, o que terminaria por contribuir com o longo período de estagnação iniciado
na década de 1980.
As cinco áreas do plano eram: Energia (metas 1 a 5); Transportes (metas 6 a 12); Alimentação (metas 13 a 18); Indústrias de base (metas 19
a 29); Educação (meta 30) e a Construção de Brasília como meta especial. Do ponto de vista econômico, o sucesso do plano pode ser atestado
pelo crescimento do investimento e pelas altas taxas de crescimento do PIB no período, como mostra o quadro abaixo:
Como mostra o quadro 1, a taxa média de crescimento do PIB no período foi de expressivos 8,1% a.a. e, se excluirmos o primeiro ano
de mandato, quando as incertezas causadas pela troca de governo costumam deprimir o crescimento, as taxas médias do período sobem para
9,4% a.a. Logo, o PIB teve uma considerável alta de 47,5% durante o Governo JK. Comparando estes números relativos à macroeconomia do
Governo JK com os dos dois governos anteriores, este leva clara vantagem. Entre 1946 e 1955, o PIB avançou as taxas de 6,5% a.a., enquanto a
Formação Bruta de Capital Fixo – FBCF foi, em média, de 12,9% a.a., contra 16% a.a. entre 1956 e 1960. Este desempenho também é superior
ao quinquênio 1935/40, o melhor daquela década, com a FBCP por volta de 14% e o PIB aumentando à razão de 4% a.a. Números semelhantes
terão para o quinquênio 1940/1945. Na verdade, só durante o chamado “milagre brasileiro” o país conseguiria ultrapassar estas marcas.
Considerando outros aspectos, no entanto, o governo Kubitschek ficou atrás dos antecessores. Ao deixar o Governo, a inflação ameaçava
tornar-se um mal crônico e era bem superior a que tinha sido delegada pelos seus antecessores, como mostra o quadro abaixo.
Didatismo e Conhecimento 41
HISTÓRIA DO BRASIL
Tabela 2- Inflação anual – IGP-DI, 1946-60
Pelo quadro 2, fica claro que o governo do Presidente Eurico Gaspar Dutra foi o mais competente no combate à alta de preços, enquanto que
na administração de Getúlio, a inflação sofre constante aumento, chegando a níveis recordes ao fim do governo JK. Na verdade, esta diferença
na demanda inflacionária entre estes governos estava intimamente ligada à visão que cada um deles tinha sobre o processo de desenvolvimento
econômico brasileiro, sendo a visão de Vargas convergente, até certo ponto, com a de Juscelino, o que justifica uma relativa “semelhança infla-
cionária” entre os dois governos e uma distância do período Dutra. Entre 1946 e 1950, o aumento dos preços tinha de ser controlado a qualquer
custo, mesmo que tal controle significasse menos crescimento e industrialização; já entre 1951 e 1960, a inflação foi um instrumento de finan-
ciamento da expansão industrial e econômica brasileira.
Em toda década de 1950 a inflação esteve em persistente alta, parte dessa alta deve-se ao modelo de industrialização e financiamento ado-
tados no período, sem, no entanto, desconsiderar os gastos desnecessários feitos pelo governo, uma vez que as estruturas arcaicas do Estado
não foram reformadas, persistindo, desta forma, problemas como excesso de pessoal e direcionamento de verbas para áreas controladas pelas
oligarquias que faziam parte da base de sustentação do governo. Empresas estatais ineficientes e deficitárias também recorreram ao erário para
fechar suas contas e, em geral, foram atendidas. Estes gastos, assim como os ligados ao desenvolvimento industrial, eram financiados, em parte,
pela expansão da base monetária e consequente aumento dos preços. Outro motor da inflação foi a mudança na estrutura do comércio exterior,
quando o país começa e termina a década citada como exportador de bens primários, sendo o café responsável pela maior parte das exportações;
contudo, as importações passaram de bens de consumo para bens de capital, maquinário e insumos produtivos. Significava que o valor agrega-
do dos bens importados tendia a aumentar e, se é verdade que bens primários podem, em determinadas épocas, terem aumento de preço e/ou
expressivo aumento do quantum exportado, não foi nem uma coisa nem outra que ocorreu com o principal produto de exportação brasileiro da
época: o café.
As vendas externas do produto, em termos de quantum, mantiveram-se inalteradas durante aquela década, enquanto o preço internacional
do produto teve forte queda e a produção nacional simplesmente dobrou. Com tudo isso, era de se esperar queda na renda deste setor, porém
não foi isso o que aconteceu. Através de políticas públicas, o Governo manteve o nível de renda, em moeda nacional, do setor enquanto ele
perdia renda em Dólar, o que diminuía sua capacidade de promover importações, logo, uma proporção cada vez maior dos lucros do café tinha
de ser gasta dentro do país, sobretudo em bens de consumo e, como a produção nacional ainda não era capaz de atender a todo este aumento de
demanda, criava-se uma forte pressão inflacionária praticamente impossível de ser reprimida, a não ser que o governo adotasse uma política eco-
nômica recessiva, o que era algo impensável tanto para Vargas, como para JK. Durante este período da Economia Brasileira, o recrudescimento
da inflação não diminuiu o crescimento econômico que, pelo contrário, aumentava a cada ano, indo contra a teoria econômica estabelecida. Isso
ocorria porque estava sendo feita uma transferência de renda do consumidor para a indústria, o que aumentava a capacidade de investimento
desta última.
O problema desta política econômica é que, com ela se corria o risco de perder o controle da inflação, o que significava não exagerar a
sua dosagem, e foi exatamente isso o que Juscelino fez. Em seu plano de governo havia uma meta especial, além das trinta: a construção de
Brasília. Plantada no meio do nada, esta nova Capital Federal exigiu, para ser erguida, que o Governo fosse buscar dinheiro de todas as formas
possíveis e o imposto inflacionário tornou-se a solução para todos os males, ou todos os financiamentos. Desta forma, o consumidor tinha de
Didatismo e Conhecimento 42
HISTÓRIA DO BRASIL
arcar, pela perda do poder de compra, com o desenvolvimento do nível, em um determinado ano, provocaria uma corrida para ativos
projeto. Neste ponto, a questão é saber se esse processo inflacionário financeiros de alta liquidez ou ativos físicos com boa capacidade de
realmente contribuiu para aumentar a taxa de crescimento econô- defesa contra a inflação, como imóveis, levando a economia à estag-
mico e se manteve o mais eficiente possível à alocação de recursos. nação ou recessão.
Para a primeira questão, as explicações acima demonstram que a
alta dos preços contribuiu positivamente para a expansão do PIB, RESULTADOS SETORIAIS DO PLANO DE METAS
em relação ao segundo tópico, Teme-se geralmente que a inflação
provoque distorções no investimento econômico, em virtude de suas Qualquer análise sobre o Plano de Metas tem de comparar suas
repercussões sobre a distribuição dos haveres dos detentores de pou- expectativas de crescimento setorial estabelecidas em cada uma de
suas metas e o crescimento realmente obtido. Desta forma, podere-
panças e sobre as decisões dos investidores a respeito da estrutura
mos saber se o plano foi um sucesso ou um fracasso. É claro que,
de seus investimentos. Os primeiros darão preferência aos haveres para economistas liberais, o plano jamais deveria ter saído do papel
físicos sobre os financeiros. pelo simples fato de aumentar profundamente a participação do Es-
Como vimos os poupadores basicamente não pouparão e o país tado na economia, mas o que nos interessa aqui é determinar se, atra-
carecerá de capital financeiro para investimentos em infraestrutura, o vés da política de desenvolvimento traçada pelo governo JK, o país
que claramente caracterizará uma má alocação de recursos. As taxas passou ou não por um ciclo virtuoso de investimento e crescimento,
de juros, segundo o mesmo autor, constituem-se em outro problema: capaz de ter ampliado e alterado a estrutura produtiva nacional. As
O surgimento de taxas negativas de juros é outra maneira pela qual expectativas e os resultados das principais metas foram os seguintes:
é fortalecida a má alocação dos investimentos. Habitualmente, deve- Meta 1 – energia elétrica: visava a aumentar a produção elétrica
se isso aos limites legais fixados para a taxa nominal de juros (12% de 3.550.000kW, em 1955, para 5.000.000kW, em 1960. Esta meta
no Brasil), geralmente inferior à taxa efetiva de inflação, favorecen- foi quase totalmente cumprida e, em 1960, a capacidade instalada
do o crédito em curto prazo e podendo distorcer os investimentos alcançava 4.800.000kW.
em benefício dos projetos de curta maturação ou em favor de grupos Meta 4 – Petróleo: na década de 1950, o “ouro negro” tinha
bem relacionados nos círculos creditícios, e que podem não ser os uma grande conotação política, porém, sendo o produto líquido co-
mais eficientes. mercializável mais barato do mundo, mais barato que água mineral,
A despeito de todos esses fatores, parece que, no Brasil, e por a importância econômica da sua produção num país que não preten-
razões particulares à política e à economia nacional, a alocação de dia, e nem podia, ser exportador desse bem energético, era bastante
relativa. Mesmo assim, a meta para o petróleo era razoavelmente
recursos foi bem mais eficiente do que se poderia esperar, dado o ní-
ambiciosa e previa aumentar sua produção de 10.000 barris dia, em
vel de inflação, ao longo da década de 1950. E os motivos apontados
1955, para 90.000, em 1960, quando a produção chegou a 75.000
para que isso ocorresse estão no fato de que, no Brasil, altas taxas de barris dia. No ano seguinte, a produção alcançaria a marca de 95.000
inflação precedem, em muito, os anos cinquenta do século XX: logo barris por dia e representaria um terço do consumo nacional.
toda estrutura econômica nacional já estava adaptada ao processo e, Meta 5 – Refino de petróleo: a meta foi plenamente atingida
portanto, já sabia como se defender dele. Além disso, a previsibilida- um ano depois do previsto, ou seja, a capacidade de refino brasileira
de econômica não era afetada pelo mesmo motivo. Todos os agentes passou de 108.000 barris por dia para 308.000.
econômicos sabiam que o aumento dos preços seria razoavelmente Meta 6 – Ferrovias (melhorias): visava a modernizar a malha
elevado. já instalada para torná-la mais eficiente. Foi estipulada a compra de
Em economias de elevadas taxas de inflação espera-se aumen- 9 locomotivas elétricas e 408 a diesel, 1086 vagões de passageiros
to dos estoques e investimentos declinantes em projetos de longa e 10.493 de carga e 791.600 toneladas de trilhos. No período, o go-
maturação, como a indústria pesada e infraestrutura básica, em prol verno adquiriu efetivamente 9 locomotivas elétricas e 380 a diesel,
da alocação de recursos em áreas de curta maturação, como residên- comprou 554 vagões de passageiros e 6.498 de carga e adquiriu
cias. No entanto, não foi isso que ocorreu entre os agentes públicos 613.000 toneladas de trilhos. Está claro que a meta não foi atingida
ou privados da economia nacional. É interessante notar que, se por mas, por ser muito ambiciosa, os resultados podem ser considerados
um lado, o Estado está menos preocupado com o curto prazo e, por satisfatórios.
isso, pode simplesmente desprezar o processo inflacionário em suas Meta 7 – Ferrovias (ampliação): esta meta foi muito pouco am-
expectativas de investimentos, e do retorno dos mesmos, por outro biciosa pois pretendia construir não mais que 1.600 quilômetros de
ferrovias, e mesmo assim, só algo ao redor de 800 quilômetros foram
lado, o setor privado claramente tende a um alto grau de cautela em
implementados.
semelhante situação; assim, como não houve diminuição do inves-
Meta 8 – Rodovias (pavimentação): foi ampliada seguidamente,
timento de longa maturação era de se esperar que o Estado fosse
passando de iniciais 3.000 quilômetros para 5.800 e pavimentados,
o responsável por eles, enquanto os agentes privados aumentavam
efetivamente, 5.600 até 1960; em 1961, chegou-se a 6.200 quilô-
seus estoques e postergavam a ampliação da capacidade produtiva
metros pavimentados. Logo, esta foi uma das metas mais bem-su-
de suas empresas. Porém, não foi desta forma que a economia ca-
cedidas.
minhou.
Meta 9 – Rodovias (construção): outra meta plenamente cum-
O Estado realmente aumentou sua participação na formação de
prida. Inicialmente, eram previstas a construção de 10.000 quilôme-
capital fixo, mas este fato está muito mais ligado à própria ideologia
dos governos da época, que pregavam maior participação econômica tros de rodovias, mas, logo, esta meta foi ampliada para 13.000 e
estatal, do que no processo inflacionário. E, de qualquer modo, a ao chegar o ano de 1961, o governo tinha construído 13.500 quilô-
indústria privada continuou a investir pesadamente, demonstrando metros. Pode-se contestar o fato de que o Plano de Metas priorizou
acreditar que o crescimento da economia seria prolongado e que a as rodovias em detrimento das ferrovias, mas é inegável o fato de
inflação não sairia de controle. É claro que, em qualquer país em que que as metas estipuladas, e até ampliadas, para as primeiras, foram
historicamente os preços são estáveis, um aumento de 20% em seu cumpridas.
Didatismo e Conhecimento 43
HISTÓRIA DO BRASIL
Meta 11 – Marinha Mercante: todos os navios novos que pas- o forte crescimento industrial verificado no período não foi capaz
saram a integrar a Marinha Mercante brasileira durante o Plano de de libertar o país da necessidade de recorrer, de tempos em tem-
Metas foram importados, mas, em parte, graças ao Plano, o Brasil pos, a empréstimos no exterior, pois a poupança interna, em nenhum
se tornaria, num futuro próximo, produtor naval. De qualquer forma momento, seguiu a trajetória de crescimento verificada no restante
a meta estipulada para o setor, e que visava a diminuir a saída de da economia nacional, e as diferenças de renda per capita entre as
divisas por contratar empresas estrangeiras de navegação para trans- regiões do país, que já eram altas, aumentaram, tornando áreas pe-
portar nossas importações e exportações, foi quase totalmente aten- riféricas, como o Nordeste, cada vez mais atrasadas em relação ao
dida. Pretendia-se um aumento de 560.000 toneladas de porte bruto, Centro econômico do país.
enquanto o aumento efetivo foi de 542.000t. Estes desequilíbrios foram particularmente fortes na ativida-
Meta 17 – Mecanização da agricultura: pretendia aumentar em de agrícola, e os investimentos visando aumentar a produtividade
cerca de 22.000 o número de tratores usados no campo. À época deste setor foram ínfimos, criando fortes pressões inflacionárias. O
o Brasil não produzia este tipo de veículos, mas, como foram im- rápido aumento da população urbana concorreu para os constantes
portados 27.500 tratores entre 1957 e 60, a meta foi devidamente aumentos de preços dos produtos agrícolas, além disso, o sistema de
cumprida. transporte de carga deficiente e a falta de uma estrutura condizen-
Meta 18 – Fertilizantes: o objetivo era aumentar a produção e a te de armazenagem provocavam enormes perdas de alimentos que,
utilização pela lavoura, independente do nível de aumento da produ- na época, foram calculadas em cerca de 20% da produção. Outro
ção interna. Em vista disso, a utilização de fertilizantes nitrogenados problema foi a arcaica estrutura agrária, sobretudo a nordestina, que
praticamente triplicou entre 1956 e 60 enquanto, no mesmo período, ficou estática no período, baseada na dicotomia latifúndio/minifún-
as importações dobraram e a produção interna aumentou em trinta dio, onde a agricultura não contribuía nem para aumentar a renda
vezes. de parcela considerável da população, nem para manter estável os
Meta 19 – Siderurgia: visava a aumentar a produção de lingo- preços dos produtos agrícolas, além de favorecer uma intensa mi-
tes de aço de 1.200.000t e a de laminados de 1.000.000t, em 1955, gração do campo para as cidades, o que provocava um processo de
para 2.300.000t e 1.700.000t, respectivamente, em 1960. A meta foi favelização dos centros urbanos e depreciação salarial pelo aumento
atendida e a produção de aço em 1960 foi a determinada. Meta 22 – da concorrência.
Não há dúvida de que os padrões de estrutura agrária do Nor-
Cimento: aumentou a capacidade instalada de 3.600.000t, em 1955,
deste não contribuem para modificar o tipo de agricultura existente
para 4.870.000t, em 1960, ante uma meta de 5.000.000t. na região nem sua produtividade. Em muitas zonas do Nordeste es-
Meta 23 – Álcalis: em 1955, a barrilha não era produzida no tão presentes as dificuldades típicas da agricultura caracterizada pelo
Brasil, porém em decorrência do Plano de Metas, foi instalada regime latifundiário e absentista. Problema inverso existe no extre-
uma fábrica que começou a operar em 1960 e, em 1962, já produ- mo sul do país: predominam as pequenas propriedades de fazendei-
zia 71.000t, mil a menos que a meta prevista, enquanto a produ- ros de origem europeias, sofrendo as glebas subdivisões sucessivas
ção de soda cáustica prevista para passar de 32.000t, em 1955, para em consequência das leis de herança. Trata-se de minifúndios fre-
140.000t, em 1960, chegou, em 1961, em 78.000t. Um largo aumen- quentemente antieconômicos. Os desequilíbrios regionais também
to, mas a baixa do estabelecido. continuaram pronunciados.
Meta 27 – Indústria automobilística: sem dúvida, a maior marca A industrialização ficou concentrada no Sudeste, e em menor
do governo JK tinha como objetivo produzir 140.000 veículos mo- escala, na região Sul do país, enquanto o Nordeste recebia muito
torizados em 1960, com índice de nacionalização variando de 90% pouco estímulo deste processo, ficando cada vez mais para trás em
a 95%, em relação ao peso. Em 1960, a meta de nacionalização foi desenvolvimento industrial, com relação ao resto da nação. É ver-
alcançada, enquanto foram produzidos 7.000 veículos a menos que dade que o Nordeste, há muito tempo, dispunha de uma renda to-
o previsto, mas, no ano seguinte, a produção já batia na casa das tal e per capita bem inferior às das regiões economicamente mais
145.000 unidades, demonstrando o sucesso desta meta vital para o dinâmicas, tornando bem mais difícil para ela acompanhar o ritmo
governo. de desenvolvimento do resto do país. Assim milhões de nordesti-
Meta 29 – Mecânica pesada e material elétrico: com o desenvol- nos migraram para outras regiões, buscando oportunidades de vida
vimento geral da indústria, aumentou bastante a demanda por inú- e, entre estas pessoas, não raro, havia jovens com boa qualificação,
meros tipos de bens de capital, logo, o governo criou várias formas prejudicando ainda mais a capacidade de crescimento do Nordeste.
de incentivo para o desenvolvimento deste setor, que até então era Em dose menor, isso também ocorreu com a região Norte.
praticamente artesanal e, ao fim do governo JK, já estava interligado Mas, logo o governo brasileiro percebeu, nesta região, imensos
em verdadeiras cadeias industriais. recursos naturais, que terminaram por atrair investimentos públicos
e privados tornando a situação menos crítica que a do Nordeste.
DESEQUILÍBRIOS SETORIAIS, REGIONAIS E EXTER- Outro ponto de desequilíbrio era o comércio externo. Durante todo
NOS o período de industrialização pós-depressão de 1930, o Brasil não
conseguiu alterar a estrutura das suas exportações, nem mesmo no
O rápido processo de industrialização pelo qual o Brasil passou período JK, fortemente baseadas em produtos primários, como café,
nos anos de 1950, sobretudo no governo JK, ampliou desequilíbrios algodão, cacau e açúcar. Ter este tipo de perfil exportador acarreta
de ordem econômica e gerou outros, aprofundando desigualdades problemas relativos às contas externas, porque os bens primários
regionais e setoriais. A expansão da população urbana, as taxas mui- possuem baixo valor agregado e historicamente eles tendem a ter
to superiores à da população rural, criou novos desafios relativos à uma trajetória de queda de preços, prejudicando os termos de troca
logística e ao transporte urbano, enquanto o rápido aumento da pro- do país. Foi exatamente isso que ocorreu a partir de 1954. Nos seis
dução modificou a estrutura do comércio externo com consequên- anos seguintes, o café e o cacau viram seus valores caírem pela me-
cias nem sempre benéficas para o Balanço de Pagamentos. Logo, tade enquanto o algodão e o açúcar já estavam caindo desde 1952 e,
Didatismo e Conhecimento 44
HISTÓRIA DO BRASIL
em 1960, suas cotações equivaliam a 40% do pico no início dos anos co com estabilidade de preços. Além disso, o domínio que capital
cinquenta. Diante disso, o Brasil não conseguia aumentar o quantum externo passou a exercer nos ramos mais dinâmicos da economia
exportado destas mercadorias, houve queda real das exportações em nacional tornou o desenvolvimento do país bem mais dependente de
dólar, mas, também, houve queda das importações. Como isto foi decisões a quais o Estado nacional não tem controle. Texto adaptado
possível se o país estava numa fase de forte crescimento econômico? de ALBUQUERQUE, A. B. D
O intenso processo de industrialização, pela substituição de importa-
ções, explica este fenômeno.
Neste período observou-se uma grande queda na compra de
bens de consumo importados pelo simples motivo de que eles passa-
ram a ser produzidos internamente, mas, também, diminuíram as im- A CRISE DO REGIME DEMOCRÁTICO.
portações de aço e equipamentos elétricos como era de se esperar em
uma economia que começava a se tornar verdadeiramente industrial;
as compras de maquinário fabril, entretanto, aumentaram fortemente
e quase tudo vinha do exterior. A ótica apreciativa do cientista do direito para com a conjuntura
Exportando bens primários e importando bens industriais, so- jurídica e sócio-política brasileira trazem à tona, diante dos últimos
bretudo bens de consumo antes de 1954 e bens de capital depois quadros da política nacional, uma crise um tanto quanto inobservada
deste ano, a balança comercial brasileira vivia em constante crise, em seu modelo de democracia representativa.
forçando o governo a fazer malabarismos para que o país mantivesse A opinião pública não visualiza os danos à aplicação do Direito
capacidade para importar os bens necessários ao desenvolvimento como resultado do desrespeito às competências e habilidades estri-
industrial. tamente exigíveis a um hermeneuta, retrato de um sistema eleitoral
Não há dúvidas de que a política de desenvolvimento pró-indus- ainda um tanto quanto deficiente e de uma sociedade negligente.
trialização do Plano de Metas fracassou em relação às exportações, A sociedade brasileira manifesta, por meio de sua opinião pú-
em parte por pressão do setor cafeeiro, que tentava monopolizar blica cega, uma ilusão de que somos um exemplo de estado demo-
todos os recursos financeiros e técnicos disponíveis destinados às crático quando de fato não é bem assim. Por muito tempo se exaltará
exportações, em parte porque não foi criada uma política de incen-
o impeachment de Collor como se fora uma consequência da ação
tivos às exportações tendo como foco a indústria de transformação
dos famosos caras-pintadas. Na verdade, segundo assevera Agassiz
que, desta forma, contentava-se em produzir apenas para o mercado
Almeida filho, a saída de Collor da Presidência se deu por fatores
interno e, como este mercado estava crescendo a passos largos, ele
internos ao sistema político da época e nada teve a ver com aquela
terminava por desincentivar a busca por mercados no exterior, com-
juventude pintada, que servira apenas de símbolo. No dizer do pro-
plicada, e cara, cujo retorno nem sempre é garantido.
fessor, a democracia brasileira ainda é “chocha”, significando que
Apenas a partir da década de 30 do século XX é que a indústria
em matéria democrática somos bastante inexperientes. A socieda-
começará a se tornar o motor do crescimento econômico. Mesmo
de sequer sabe da existência de outras modalidades de democracia
assim o país ainda teria que esperar os anos de 1950 para ver, no
poder, um projeto verdadeiramente industrializante. (a serem discutidas em tópico posterior) que não seja a democracia
Figura indissociável do surgimento do Estado industrial brasi- política.
leiro, Getúlio Vargas mantém a mítica até os dias atuais. Tanto que A democracia representativa no Brasil encontra-se em crise em
no ciclo liberal dos anos de 1990, o então presidente Fernando Hen- sua razão de ser porque não está atendendo, como deveria à efeti-
rique Cardoso disse que subira ao poder para “enterrar a herança vação dos direitos, fim a que se destina um Estado de Direito. Pou-
Vargas”, entendida como intervencionista, estatizante e causadora de cos percebem que as deficiências desse sistema político como, por
ineficiências econômicas que deveriam ser extirpadas. exemplo, o excessivo número de parlamentares, o rigor do principio
Com o Plano de Metas JK transformou a base produtiva do país, da separação dos poderes e o fato de qualquer “marionete” agradável
mas não foi capaz de modificar a realidade social. Mesmo com o à opinião publica conseguir eleger-se, aliadas a negligência da socie-
PIB crescendo a taxas elevadas durante o período de execução do dade, marginalizam a finalidade social do Direito.
plano, milhões de pessoas continuaram na pobreza e na miséria. Por O eleitor detém a possibilidade de ação livre ao votar bem como
outro lado, não há dúvidas de que milhões de outras pessoas foram a faculdade de ser negligente ou não. Existem fatores coercitivos de-
incorporadas as áreas dinâmicas da produção e, com isso, puderam turpadores da pretensão do eleitor brasileiro, que tornam sua atitude
melhorar notavelmente o padrão de vida. Para Copérnico, séculos ilegítima. Falhas de autenticidade na declaração de muitos eleitores
de geocentrismo terminaram por criar um monstro astronômico, no danificam todo o procedimento eleitoral, “estuprando” sua natureza
Brasil, décadas de industrialização criou um monstro econômico-so- democrática.
cial. Um dos maiores mercados consumidores do mundo convive O ideal é que cada pessoa apresente, no momento decisivo, co-
com uma das maiores disparidade de renda do Planeta. nhecimentos basilares da coordenação do Estado e das confiabili-
É neste contexto em que se insere o governo de Juscelino Ku- dades que conferem aos eleitos. Como é óbvio, o simples fato de
bitschek. Durante seu mandato, uma onda de euforia tomou conta alguém atender aos requisitos legais para exercer o direito de sufrá-
do país, mas as críticas também não ficaram para trás, pois em sua gio não indica a existência, de fato, de preparo adequado. Portanto,
administração ficou evidente que a forma como se estava processan- o eleitor deve lembrar de que sua atitude é dotada de culpabilidade.
do o crescimento industrial tinha consequências, como a inflação e o Um simples voto descuidado pode dar origem a verdadeiras aberra-
aumento desenfreado dos gastos públicos. A inflação seria um pro- ções como a figura do ativismo judicial, a ser estudado no próximo
blema que acompanharia o Brasil durante muitos anos. Claramente, tópico. Passemos então, a uma análise, ainda que limitada, dos prin-
este fato demonstra que não é fácil conciliar crescimento econômi- cipais problemas do sistema político brasileiro.
Didatismo e Conhecimento 45
HISTÓRIA DO BRASIL
PRINCIPIO DE SEPARAÇÃO DOS PODERES E O ATI- dãos, inabilitando-os ao exercício imediato do poder e justificando
VISMO JUDICIAL a adoção das formas representativas. Falta-lhes, portanto, instrução
para compreender os projetos de leis e lazer para estudá-los.
É notória e preocupante a presença de um novo e inesperado Apesar da evidente necessidade de cargos legislativos, o que se
fenômeno no cenário jurídico-politico do Brasil e de outros Estados percebe é que essa “identidade” é impossível. E mais, os mais crí-
a figura do ativismo judicial. É um evento em que o Poder Judiciá- ticos entendem como sendo uma estratégia de dominação por parte
rio sai de uma posição passiva, trabalhando ativamente no enten- das elites. Uma avaliação crítica e cuidadosa do panorama político
dimento das regras e princípios constitucionais de modo que lhes brasileiro faz cair por terra o mito de sua identidade representativa
são emprestados máximas efetividade e concretização de direitos, como se verificará no próximo.
notadamente de direitos fundamentais.
O Judiciário supera as delimitações clássicas de atuação “inva- FABILIDADE DO SISTEMA REPRESENTATIVO BRASI-
dindo” outras esferas de poder. É uma resposta dada as instâncias po- LEIRO E A APLICAÇÃO DOS DIREITOS
líticas do Brasil que já não respondem suficientemente às aspirações
sociais na efetivação dos valores e das intenções da Constituição. As deficiências deste sistema político, principalmente no setor
O Legislativo peca por não atender, através da criação de leis legislativo, constituem um entrave à efetivação do Estado de Direito
e outros atos normativos, aos anseios da sociedade criando um vá- por razões óbvias. As instituições são necessárias para que se legiti-
cuo normativo de onde surge a necessidade de se buscar em outra mem os direitos, isto é, para que se reconheça e existência de direitos
instituição a solução destes conflitos: o Judiciário. E é através do que logo mais se tornarão garantias manifestadas em uma consti-
ativismo que este poder efetiva o preenchimento do ordenamento,
tuição. O Direito não é perfeito, nem o será, mas com certeza um
passando a exibir papel formalmente ativo na criação do Direito. O
equilíbrio é claramente possível quando se entende que a efetividade
Executivo, igualmente, não concretiza de maneira satisfatória os di-
dos direitos deve ser construída por todos e por cada um ao mesmo
reitos fundamentais, nem governa com eficiência a máquina estatal
de maneira a levar aos donos legítimos do poder os benefícios de um tempo, tese defendida por Ihering e Lucas Verdú:
Estado Democrático de Direito. O processo criador do direito implica a luta; implica confronta-
O ativismo judicial mostra que o princípio da separação dos po- ção tanto nos níveis pré-legislativos campanhas da imprensa, rádio,
deres não anda bem das pernas. televisão, que atuam no Estado/comunidade como no âmbito do Es-
“O princípio perdeu, pois autoridade decaiu de vigor e prestí- tado/estrutura nas câmaras parlamentares, quando são debatidos os
gio”. Fenômeno presente na doutrina e nas Constituições, mas am- projetos legislativos.
parado com raro proselitismo, constituindo um desses pontos mortos Nosso direito eleitoral encontra-se um tanto quanto despreza-
do pensamento político, incompatíveis com as formas mais adian- do. É isso que se nota, pela falta de doutrinadores trabalhando neste
tadas do progresso democrático contemporâneo, quando, erronea- campo, pelo pouco esforço dos acadêmicos nesta seara e pela irres-
mente interpretado, conduz a uma separação extrema, rigorosa e ponsabilidade do povo em visar, na hora do voto, mais os candidatos
absurda. ao poder executivo.
Esse é um modelo perigoso, apaixonante a quem o emprega, já É imprescindível à formação do legislador não apenas conhe-
que põe o Judiciário como ator principal da cena republicana. cimento técnico especifica como também uma variedade de con-
dições pessoais que devem nortear sua personalidade e cultura. É
O MITO DA IDENTIDADE REPRESENTATIVA necessário que a probidade honestidade de propósitos, a serenidade,
a diligência não acomodação diante das dificuldades, bem como o
Em tese, a democracia, entendida como busca/resultado da li- equilíbrio garantia de firmeza e coerência, sejam norteadores da per-
berdade, está apoiada na responsabilidade dos cidadãos sobre os atos sonalidade do interprete.
políticos, de onde surge a representatividade. As pessoas precisam Este tem sua responsabilidade direcionada à eficácia no pro-
identificar seus interesses nas ações do governo ou este será artificial gresso das instituições jurídicas e na realização dos princípios da
e alheio à sociedade. Esse é o princípio democrático da identidade democracia social, um dos fins do nosso direito, sob a filosofia dos
e que não passa de uma ilusão do sistema representativo, porque se fins sociais e do bem comum. O legislador tem a responsabilidade
defende sua relevância para provar o verdadeiro caráter democrático
de analisar os fatos sociais e equacioná-los por meio de modelos de
das instituições representativas enquanto que na prática o fruto dessa
comportamento social, deve externar as regras através de uma estru-
defesa se encontra ainda em fase de amadurecimento.
tura clara, objetiva e coerente. Ele parte da compreensão do manda-
Tais idéias encontram apoio teórico nas bases da representação
idealizada conforme a regra da “identidade”, que afasta do represen- mento constitucional, pelo que o sentido deste pode ser esclarecido
tante todo o domínio próprio de intervenção política acalorada pelas pela norma hierarquicamente inferior.
excitações de sua ambição livre e o prende sem solução ao querer O hermeneuta deve identificar a finalidade social da lei, pois é
dos governados, escravizando-o plenamente a um escrúpulo de “fi- o fim que permite adentrar a composição de suas significações par-
delidade” ao mandante. ticulares para se chegar a uma correlação coerente entre o “todo da
Essa crença exige muita ingenuidade. A inaptidão do povo para lei” e as “partes” representadas por seus artigos e preceitos, à luz
discutir a coisa pública ou administrar os interesses da coletividade, dos objetivos visados. Dessa maneira, abre-se caminho para a con-
operando como poder executivo, foi observado de maneira robusta cretização dos direitos. Notável é o caráter criador da hermenêutica
por Montesquieu em diversos ambientes em Do Espírito das Leis: jurídica diante do difícil e paciente trabalho interpretativo dos enun-
É para a utilidade comum que os cidadãos nomeiam represen- ciados lógicos e axiológicos para alcançar a legítima significação da
tantes, bem mais aptos que eles próprios a reconhecerem o interesse lei. Essa tarefa se faz possível pelas contínuas aferições no plano dos
geral e a interpretar sua própria vontade”. Tempo e instrução, são as fatos em função dos quais as valorações se enunciam tão necessárias
deficiências que o abalizado tribuno do terceiro estado vê nos cida- à aplicação eficiente do Direito.
Didatismo e Conhecimento 46
HISTÓRIA DO BRASIL
É dessa dupla visão, retrospectiva e prospectiva da norma, que no seio das empresas e sugere o compartilhamento da autoridade
deve resultar o seu significado concreto, reconhecendo-se ao intér- emanada da propriedade dos meios de produção com a autoridade
prete um papel positivo e criador no processo hermenêutico, o que emanada do trabalho que proporciona produtividade a esses meios.
se torna ainda mais relevante no caso de se constatar a existência Poderiam ser debatidas aqui várias formas de rompimento para
de lacunas no sistema legal, o que traz o problema da integração com as deficiências do sistema político brasileiro, mas é justo que
normativa. nos debrucemos sobre a temeridade que uma sociedade educada,
Essa falibilidade do sistema político, agravada pela escassez civilizada e politizada impõem, inconscientemente, as elites deste
de legisladores hermeneutas, constitui uma ameaça à aplicação do país. É fácil reconhecer a ausência de uma metodologia especifica
Direito porque denota um desvirtuamento da idéia primeva de Po- para a educação cívica e cidadã dos brasileiros. Seria interessante o
lítica, esta como parceira na efetivação dos direitos. Assim sendo, acréscimo de noções elementares de organização do Estado na grade
é de importância capital um olhar crítico e inquisidor sobre o des- curricular do ensino médio.
caso com a eleição para cargos do Legislativo e as competências e É lamentável saber que os componentes curriculares do segundo
habilidades estritamente necessárias diante da responsabilidade de grau estão voltados unicamente para o vestibular, o que exibe uma
editar e interpretar o corpo normativo para que se alcance um direito natureza individualista e utilitarista do sistema, do próprio individuo
eleitoral mais dinâmico e efetivo na realidade. A Hermenêutica jurí- e da sociedade, consequentemente contrária aos ideais jurídicos por
dica, método que oferta subsídios á interpretação das leis, perambula marginalizar uma formação do aluno fundamentada em preceitos de
desconhecida pelos políticos, pela sociedade e sua cega opinião pu- cidadania e civilismo.
blica. Afinal, porque aceitar (legitimar) o Legislativo em seu estado Principalmente desde as manifestações ocorridas em 2013
atual sabendo que parte dos legisladores não possui uma formação alguns setores da mídia e da academia vêm levantando a idéia de
e um comprometimento eficiente com a idéia de direito, respeito e uma crise de representatividade em solo brasileiro. Apesar de ser
democracia? uma democracia jovem, tendo sido estabelecida no final dos anos
80, o Brasil já parece sofrer com um grande desgaste das institui-
ções representativas e dos representantes perante a sociedade civil.
ALTERNATIVAS
Provavelmente, se as eleições não fossem obrigatórias, uma parcela
considerável do eleitorado não compareceria às urnas. Como esse
As instituições políticas são regidas por leis que derivam das fenômeno (déficit de representação) ocorre no Brasil? O cenário é
relações políticas. As leis que regem as instituições políticas, para tão pessimista assim? Uma tentativa de apontar esses problemas e
Montesquieu, são relações entre as diferentes classes em que se di- fazer reflexões acerca dessas questões será apresentada no restante
vide a população, as formas de organização econômica, as formas do trabalho. Por exemplo, se a confiança nas instituições for levada
de distribuição do poder etc. O que deve ser investigado não é, por- em consideração, pode-se constatar que instituições políticas sempre
tanto, a existência de instituições propriamente políticas, mas sim a são mal avaliadas, ocupando as últimas posições na avaliação dos
maneira como elas funcionam. No que diz respeito a república, por cidadãos.
exemplo, Montesquieu adverte que, por tratar-se de um governo em O Índice de Confiança Social medido pelo Instituto Brasilei-
que a força é do povo, é essencial distinguir a fonte do exercício ro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) avalia 18 instituições
do poder, e fundar criteriosamente a separação da sociedade em ca- desde 2009, entrevistando uma amostra considerável da população
madas com afinidade à origem e o exercício do poder. O povo, diz brasileira em todo o território nacional. Pode-se observar a acentua-
ele, “consegue escolher muito bem, mas é ignorante para governar da queda das instituições em 2013, período em que ocorreram as
porque é levado pela paixão e não pode decidir”. grandes manifestações de rua.
Portanto, na natureza dos governos republicanos está com- Pelos números é possível inferir que os órgãos representativos
preendida a relação entre as classes e o poder. O poder do estado/do têm estima baixa junto aos cidadãos, principalmente o Congresso
povo, sendo manifestado pelas instituições, depende de uma estrutu- Nacional e os partidos políticos. Também se faz pertinente constatar
ra que possibilite a realização de atividades voltadas para o bem das que houve uma queda relevante da aprovação da Presidência da Re-
coletividades. É preciso que se promova urgentemente a reforma das pública e do Governo federal. Todavia, o que faz essas instituições
instituições políticas para aliviar, em certo grau, essas deficiências estarem com tão pouco apreço da sociedade civil? A representação
do sistema de representação. se dá em duas formas: pelo mandato e pela accountability. No ge-
É necessário que se incentive atos de democracia direta com ral, a primeira relação, a de representação por mandato, concebe a
referendos e plebiscitos acerca dos mais diferentes assuntos com eleição como a emulação de uma assembléia na qual os eleitores es-
objetivos diversos. Sendo que um destes objetivos seja esclarecer colhem os partidos ou candidatos cujas propostas mais os agradam.
que a Democracia é formada por microdemocracias, apesar de não Já na perspectiva da accountability, as eleições funcionam como
observadas, consideram a participação de indivíduos e de grupos mecanismos para responsabilizar os governantes a respeito de suas
respeitando as diferenças inerentes aos mesmos. ações. No entanto, essas duas perspectivas podem ser problemáticas,
Entre as principais microdemocracias destaca-se a democracia pois os políticos podem possuir objetivos e informações diferentes
econômica compreendida como a participação nas decisões do Esta- dos demais cidadãos. Dessa forma, os governantes ao serem eleitos
do que afetam a globalidade ou amplos setores da economia nacio- podem tomar decisões voltadas para interesses próprios.
nal. Essa participação não ocorre unicamente através do parlamento, Desde o final do século XX os partidos políticos são ineficazes
manifestando-se também por meio de organismos específicos, como em seu papel intermediário entre representantes e representados, esta
os conselhos econômicos ou as comissões de caráter permanente, função articuladora mais a atribuição de organizar o jogo político e
que incluem os representantes do Estado e dos interesses afetados.
as preferências e programas eram o que tornava esses grupos po-
Outra modalidade é a democracia empresarial, que tem seu espaço
Didatismo e Conhecimento 47
HISTÓRIA DO BRASIL
líticos tão importantes para o governo representativo. Mas parece da mesma criam um ciclo vicioso nos períodos eleitorais, no qual os
perceptível que os partidos perderam uma parcela considerável da mesmos maus candidatos se reelegem e continuam atuando de forma
representatividade, fazendo com que a população escolhesse Orga- que não são responsivos (não atendem as demandas) à população.
nizações Não-Governamentais (ONGs) e grupos de interesse para As manifestações de 2013 que se estenderam a uma amostra
representá-la. Então, essas organizações buscaram se modificar, dan- considerável de cidades brasileiras foram importantes para avultar
do mais ênfase aos líderes e perdendo bastante da ideologia e rigidez diversas reivindicações, inclusive pós-materialistas, e pela grande
mobilização de pessoas. Mas, na realidade, o grande número de soli-
programática.
citações, fez com que os protestos parecessem difusos e desorganiza-
No Brasil pós-ditadura, os recém-criados partidos precisaram
dosnão que isso tire a relevância do acontecido, vestem a dificuldade
se adaptar ao grande montante de eleitores presentes no centro do em reunir tantas pessoas apenas por redes sociais para as manifes-
espectro ideológico, por isso, um alto número de legendas se tornou tações. Outro ponto que merece ser tocado é o fato da maioria dos
ou assumiu o papel de partidos catch-all, que visam apenas às vitó- manifestantes serem jovens, universitários ou recém-formados, de
rias nas eleições atraindo a maior quantidade de eleitores possíveis, classe média.
além de perderem muito do conteúdo programático, modificando os Entretanto, será que a parcela da população em maior vulnerabi-
programas e diretrizes partidárias a cada pleito. A capacidade dos lidade socioeconômica teve suas propostas externadas? O que esses
partidos em governar depende da competência em acatar as deman- protestos igualmente demonstraram foi o cansaço da população com
das da população. os representantes e instituições políticas do país. A proposta de uma
A necessidade de ser responsivo é imanente às democracias reforma política ficou mais perto de sair do papel e os governantes
representativas e se os partidos não conseguem ser bem-sucedidos pareceram se assustar com a grande mobilização. Todavia, alguns
nessa atribuição, por conseguinte perdem a legitimidade representa- meses após as manifestações, o cenário havia se normalizado e nas
tiva. Essa perda de legitimidade também pode estar intimamente li- eleições do ano seguinte houve pouca renovação nas assembléias
estaduais e no Congresso Nacional. A fagulha acesa por essas mobi-
gada aos recorrentes casos de corrupção no cenário brasileiro. Já que
lizações não foi aproveitada, tanto por desinteresse dos representan-
a mídia é tão importante nas democracias de audiência, os partidos e
tes, satisfeitos com o status quo, quanto por igual desentusiasmo da
representantes se tornam mais responsáveis junto à sociedade, pelo população, que não conseguiu se organizar e fazer pressão efetiva.
menos neste sentido específico. Os governantes devem ser responsa- Texto adaptado de PEREIRA, E. D. S.
bilizados por suas ações, contribuindo para o controle por parte dos
cidadãos. Um representante accountable tem bem mais chances de
fazer um bom governo.
O que não pode ocorrer é um distanciamento da capacidade em
atender as preferências dos eleitores e a accountability (responsabili- A RUPTURA POLÍTICA DE 1964.
dade). Mas o que é accountability afinal? .
O significado do conceito engloba: “responsabilidade (objeti-
va e subjetiva), controle, transparência, obrigação de prestação de
contas, justificativas para as ações que foram ou deixaram de ser em- A característica fundamental da crise política brasileira atual é
preendida, premiação e/ou castigo”. Contudo, ainda é um termo em a ruptura da burguesia com o Estado, ou melhor, com a tecnoburo-
cracia estatal que o dirige. Este é o fato novo que provavelmente
construção no Brasil. Vinte anos ainda não foram suficientes para a
tornará esta crise historicamente significativa. Não são a oposição e
institucionalização do termo. Para este trabalho, accountability será a crítica dos estudantes, dos trabalhadores, dos intelectuais ao Go-
entendida como a responsabilização dos governantes e agentes pú- verno autoritário instalado no Brasil desde 1964 que tornam esta
blicos pelos seus atos na administração. O’Donnell (1998) propõe crise decisiva, já que esses setores jamais apoiaram o Governo. E a
que diferenciemos a accountability em duas vertentes: vertical e ho- crescente oposição da burguesia, da classe empresarial, em todos os
rizontal. A primeira concerne ao poder que os eleitores têm através seus níveis, desde a pequena e média até frações cada vez maiores da
do voto em premiar ou punir os políticos nos pleitos, de forma retros- alta burguesia, que coloca hoje em jogo o modelo político instalado
pectiva ou prospectiva. O âmbito horizontal é tipificado pela existên- em 1964 e consolidado em 1968, quando os ideais liberais do movi-
cia de instituições de controle que supervisionam, emitem pareceres mento inicial foram definitivamente postos de lado. A crise política
ou até mesmo punem outras agências. brasileira aprofundou-se nos últimos meses de forma decisiva. As
A responsabilização dos representantes pelo eleitorado é fator causas dessa crise são múltiplas, mas a sua caracterização é uma
primordial de um regime democrático, pelo fato de um controle dos só: o modelo político implantado no Brasil em 1964, para substituir
governantes por parte da população restringir o comportamento e o pacto populista, entrou em colapso. Esse modelo político estava
também punir ou recompensá-los de acordo com suas ações. Refle- baseado na aliança da tecnoburocracia civil e militar, que controla
tindo sobre a avaliação retrospectiva de representantes em solo bra- diretamente os aparelhos do Estado, com a burguesia e as empresas
sileiro, não é possível dizer que ela aconteça com muita freqüência. multinacionais. Era o modelo do tripé, em que os trabalhadores, os
Primeiramente, a maioria dos eleitores, após um curto período de estudantes, os intelectuais e, de um modo geral, as esquerdas eram
tempo, esquece em quem votaram nas eleições anteriores. totalmente excluídos do sistema de poder.
Em segundo lugar, os representantes utilizam de práticas clien- A crise do modelo define-se pelo rompimento cada vez mais
telistas, legais e ilegais (compra de votos), para manter o apelo elei- nítido daquela aliança. Este rompimento ocorre a partir do momento
toral. Desse modo, a população reclama constantemente dos políti- em que a burguesia local vai-se tornando crescentemente insatisfei-
cos e de suas ações, mas o próprio desinteresse ou desconhecimento ta com os seus aliados tecnoburocratas estatais, e emconsequência
Didatismo e Conhecimento 48
HISTÓRIA DO BRASIL
vai retirando seu apoio ao sistema. Nesse momento, o modelo do de 1974. O rompimento tem início com a grande campanha contra
tripé entra em colapso. E mais do que isto, todo o sistema político a estatização; prossegue através da crítica às mordomias, ou seja, a
está fadado a sofrer transformações profundas. O Brasil viveu estes crítica aos altos ordenados diretos e indiretos dos tecnoburocratas;
últimos 13 anos sob a égide de um regime militar. O Estado foi fir- aprofunda-se com o desencanto em relação à política econômica,
memente controlado por uma força pública coesa e ideologicamente àmedida que esta vaise tornando cada vez mais insegura, contradi-
bem armada. tória e ineficaz; agrava-se com a denúncia da corrupção estatal, que
Esta tecnoburocracia militar chamou para auxiliá-la uma tec- em grande parte se confunde com a concessão de favores do Estado
noburocracia civil técnica e organizacionalmente bem equipada. a grupos econômicos pouco idôneos. Hoje a ruptura é clara. Desde a
Os dois grupos em conjunto adotaram a ideologia tecnoburocrática pequena até a média e a alta burguesia, a insatisfação com o sistema
baseada na racional idade técnica e organizacional, que se expres- é geral.
sa na eficiência ou no crescimento da produção por habitante, e, Pode ser observada nas mais diversas circunstâncias: nas reu-
especialmente entre 1967 e 1973, obtiveram êxito em sua política niões sociais, nos encontros de empresários com os representantes
desenvolvimentista, ainda que à custa de um acentuado processo de do governo, nos editoriais de imprensa controlada pela burguesia,
concentração de renda, com graves prejuízos para os trabalhadores. na quase unanimidade das manifestações estudantis e no apoio ge-
Em todo esse período os militares contaram com o apoio irrestri- neralizado que elas vêm recebendo. Provavelmente, neste momento,
to da burguesia. Esta se sentira profundamente insegura em 1963 e só a burguesia subsidiada, que recebe diretamente os favores do Go-
início de 1964. A revolução que então ocorre é realizada com todo verno, e uma parte dos representantes oficiais da classe empresarial
seu apoio. E em seguida a burguesia entrega-se inteiramente nos bra- ainda apóiam o atual sistema autoritário. Os primeiros por interesses
ços da tecnoburocracia estatal. Em consequência, os militares dão a óbvios e os segundos em virtude da dependência em que se encon-
muitos a impressão de se terem transformado em senhores todo-po- tram as entidades que dirigem em relação ao Estado. As causas desta
derosos. crise de legitimidade sem precedentes podem ser encontradas ori-
O poder parece ser exclusivamente militar, autonomamente mi- ginalmente na redução relativa do excedente econômico, que tem
litar. O poder das forças armadas parece derivar exclusivamente de lugar no país a partir de 1974.
seu controle de armas e soldados e de sua capacidade de organização. Desta data em diante termina o “milagre”, o índice de cresci-
Ora, semelhante hipótese só pode ser atribuída a uma leitura apres- mento da produtividade ou de renda por habitante cai, ao mesmo
sada das teorias sobre a emergência da tecnoburocracia no Brasil ou tempo em que os salários param de cair e chegam mesmo a crescer
nos países periféricos em geral. Pessoalmente, tenho procurado estu- em 1975, como uma resposta do Governo à derrota eleitoral de no-
dar o mais possível este fenômeno fundamental do nosso tempo que vembro de 1974. Nesse momento, quando se reduz o índice de cres-
é o da burocratização e estatização da sociedade. Mas isto não nos cimento do excedente, quando o fim do milagre leva a tecnoburocra-
pode levar a esquecer de que o Brasil é ainda uma formação social cia estatal e a burguesia a encarar novamente as duras realidades da
dominante capitalista. O capital, ou seja, a propriedade privada dos escassez nesse momento tornasse patente a arbitrariedade do Estado
instrumentos de produção pela burguesia é ainda a relação de produ- autoritário no seu processo de dividir o excedente econômico. Pe-
ção que controla maior volume de riqueza no Brasil. A propriedade dem-se sacrifícios, mas esses sacrifícios obviamente não são iguais
estatal de meios de produção, embora crescente, é ainda secundária. para todos. Seja em função de puro favoritismo, seja para obedecer
E certo que a acumulação de “capital”, usada essa expressão em sen- à escala de prioridades estabelecida pelo planejamento estatal, o fato
tido amplo, já é hoje realizada de forma predominante pelo Estado. é que, em um momento de redução relativa dos lucros gerados pelo
Mas o estoque de capital ainda é predominantemente privado. sistema, uns poucos continuam altamente beneficiados.
O lucro privado é ainda a forma dominante de apropriação do A burguesia vai, assim, sentindo-se ameaçada. A revolução fora
excedente, embora o volume de ordenados dos tecnoburocratas ten- feita em seu nome, mas os tecnoburocratas estatais agora parecem
da a crescer exponencial mente. A coordenação da economia ain- pretender alcançar uma autonomia que não estava prevista inicial-
da é feita principalmente pelo mercado, embora o planejamento e mente. E utilizam esta autonomia em seu próprio benefício, como os
a política econômica estatal tenham uma influência crescente na casos dos altos ordenados e da corrupção deixam entrever, ou então
coordenação do sistema e na distribuição do excedente econômico. em benefício de um pequeno número de favoritos. Por outro lado e
A ideologia burguesa ainda é hegemônica, embora a ideologia tec- concomitante, os membros do Governo vão sendo atingidos por uma
noburocrática faça avanços em todas as frentes. Em outras palavras, profunda crise de credibilidade. As declarações otimistas do Presi-
o Brasil é ainda uma formação social essencialmente capitalista, em- dente e dos ministros são desmentidas no dia seguinte, pelos fatos ou
bora crescentemente tecnoburocrática ou estatal. Em conseqüência, por eles próprios. Nesse momento, a crise política ganha autonomia,
a classe dominante no Brasil é a burguesia e não a tecnoburocracia desloca-se de suas bases econômicas para explicar-se pela própria
militar. Estes possuem certo grau de poder autônomo, na medida em dinâmica dos fatos políticos. O Governo, desorientado, sentindo-se
que controlam diretamente o aparelho repressivo do Estado, mas sua sem apoio, em total contradição com a sociedade civil, toma medi-
autonomia é necessariamente limitada. das impensadas que culminam com o fechamento do Congresso e
Ela só parece plena nos momentos em que os militares contam o “pacote” constitucional em abril.· Nesse momento, o Presidente
com o apoio da burguesia. Quando esse apoio é retirado, o poder compromete todo o sistema militar que representa com uma mano-
econômico e a hegemonia ideológica da burguesia levam a tecnobu- bra eleitoral em benefício de seu partido a Arena.
rocracia a fazer aflorar suas próprias contradições e a perder coesão O casuísmo das medidas, sua arbitrariedade e contingencialida-
e o poder. E por isso que a crescente retirada de apoio da burguesia de são gritantes. Para evitar a provável vitória do partido da oposi-
à tecnoburocracia estatal representa um golpe decisivo não apenas ção, o MDB, é tomado medidas que violentam o senso jurídico da
no modelo político do tripé, mas na própria continuidade do atual sociedade civil. Ora, o MDB já deu ampla demonstração de que é
regime. Os sintomas dessa ruptura tornam-se visíveis a partir do final um partido de centro, com algumas tendências para a socialdemocra-
Didatismo e Conhecimento 49
HISTÓRIA DO BRASIL
cia. Uma vitória sua não põe, portanto, em risco a burguesia. E a bur- OS ANTECEDENTES DO GOLPE: O GOVERNO DE JOÃO
guesia brasileira hoje está consciente desse fato. E óbvio que nesse GOULART
momento a crise política torna-se generalizada. A constatação desta
ruptura entre a burguesia e o sistema e da consequente precariedade Pode-se dizer que durante todo o governo de João Goulart, entre
em que este hoje se encontra não é, entretanto, óbvia. Depois de treze 1961 e 1964, esteve presente a oposição a esse regime liberal-demo-
anos de domínio militar, somos facilmente tentados a acreditar na crático. A conspiração contra Jango, que iria desembocar no golpe de
inexpugnabilidade desse domínio. Estado, não nasceu em 1964: ela já existia desde a própria posse des-
E usamos para isto os mais variados raciocínios. Argumenta- se presidente, que teve de ocorrer sob a “solução de compromisso”
mos, por exemplo, que os princípios democráticos da burguesia não do Parlamentarismo. Isso, porque o posicionamento político de João
são muito profundos o que é correto. Nesses termos seria fácil à tec- Goulart - vindo do trabalhismo era visto com reservas pelos políticos
noburocracia estatal recuperar o apoio da burguesia, comprando-a e militares comprometidos com as ideologias de caráter liberal-con-
novamente através de medidas favoráveis à elevação da taxa 6 de servador e de direita. Assim, desde sua subida ao poder, Jango já
lucros. Ora, os dirigentes governamentais da área econômica não enfrentaria resistências, tendo seu governo limitado pelas decisões
vêm tentando fazer outra coisa há dois anos, e, no entanto sem êxito. do Parlamento até 1963.
Quando a redução relativa do excedente econômico torna-se embu- A agenda das Reformas de Base que o então presidente lançaria
tida no modelo econômico, recuperar o apoio da burguesia torna-se em 1962 pode ser vista como um dos catalisadores para o desfe-
muito difícil. O problema se agrava através da perda de credibilidade cho do golpe, pois seria encarada por essas elites como um primeiro
do Governo. passo para a instauração do comunismo no Brasil. Embora Goulart
E a crise ganha então força própria, cuja gravidade só uma cren- tivesse reiterado a idéia de que a reforma agrária, urbana, fiscal, ban-
ça sem limites na autonomia da tecnoburocracia militar pode negar. cária, universitária e administrativa que ele planejava realizar seria
Vivemos, portanto, um momento de grave crise de legitimidade. um modo de estimular o capitalismo no país, essas medidas foram
Esta crise teve início, no plano político, com o “não” que os trabalha- lidas como uma ameaça revolucionária, comunizante, e utilizadas
dores e as camadas médias deram à política autoritária e concentra- como pretexto para o golpe. Assim, o golpe de 1964 pode ser visto
dora de renda do Estado, nas eleições de 1974. Ganhou profundida- como uma medida que visava impedir a reforma da Constituição e
de quando a burguesia rompeu politicamente com a tecnoburocracia
a implantação de projetos como a ampliação do corpo eleitoral do
estatal, levando ao colapso o modelo de tripé e deixando perplexos
país, a nacionalização dos bancos estrangeiros, a realização da refor-
seus associados multinacionais, que nesse momento não sabem por
ma agrária nas terras mais valorizadas do território nacional.
que lado optar. As consequências dessa crise de legitimidade não são
previsíveis. Não há dúvida, entretanto, de que hoje toda a sociedade
O PAPEL DAS ORGANIZAÇÕES ANTICOMUNISTAS NO
civil aspira por liberdades democráticas. Este não é apenas um slo-
CONTEXTO DO GOLPE
gan das manifestações estudantis, mas uma aspiração profunda da
grande maioria dos que participam do processo político brasileiro,
No período que antecede o golpe militar, surgiriam várias en-
ou seja, da sociedade civil. E quando a sociedade civil, da qual a
burguesia é o elemento dominante, une-se em torno da idéia de re- tidades anticomunistas que contribuíram fortemente para o cresci-
democratização, torna-se difícil imaginar que essa redemocratização mento da mobilização conservadora contra o reformismo de João
não venha. Goulart. As organizações mais influentes foram o Instituto Brasileiro
Esta redemocratização só não virá se estivermos enganados em de Ação Democrática (IBAD) e o Instituto de Pesquisas e Estudos
relação à posição que a burguesia vem assumindo nestes últimos Sociais (IPES), pois eram sustentadas por empresários e propagan-
dois ou três anos, e principalmente nestes últimos meses, ou se a deavam amplamente as vantagens dos ideais liberais e da livre-ini-
burguesia não for mais a classe dominante. Ora, não creio que esteja ciativa do mercado em detrimento do comunismo e da intervenção
muito enganado em relação à ruptura; e não tenho dúvida alguma do Estado na economia. Para tanto, essas organizações financiavam
sobre qual seja a classe dominante neste país. Há boas razões, por- diversas publicações, filmes, palestras, etc., lançando mão da grande
tanto, para se acreditar em um processo de redemocratização à vista, imprensa para criar uma espécie de “guerra psicológica” contra o
à medida que se aprofunda a crise política do atual sistema. “perigo do comunismo” e sua “ameaça” à democracia, à propriedade
Admito que se trate de uma perspectiva otimista, mas o otimis- privada e à liberdade individual.
mo nem sempre é infundado. A redemocratização prevista será ob- A DERROCADA DE JANGO: O COMÍCIO DO DIA 13 E A
viamente um patamar para novas e necessárias lutas políticas. São REVOLTA DOS MARINHEIROS
essas lutas que ainda atemorizam a burguesia impedindo-a de tomar
atitudes mais radicais. Mas entre o presente inseguro e atemorizador, O Comício das Reformas, realizado por João Goulart no dia 13
no ventre de um regime tecnoburocrático autoritário, e um futuro de março de 1964, tinha como objetivo anunciar a realização das
também inseguro, mas no seio de um regime democrático, em que a Reformas de Base, mas acabou se transformando em um dos eventos
burguesia pode esperar ser ainda a força política dominante, a opção determinantes para que os golpistas passassem a conspirar aberta-
parece óbvia. mente contra o governo. Após 3 horas de discursos inflamados, Jan-
Por um momento, os interesses da burguesia e dos trabalhadores go proclamou que iria realizar a nacionalização das refinarias par-
se confundem em torno da idéia de redemocratização. Em seguida, ticulares de petróleo, dentre outras medidas reformistas que foram
surgirão novamente as contradições, mas então com uma possibili- vistas pela direita como o prenúncio da subversão da ordem. Além
dade de solução institucional em termos mais abertos e democráti- disso, pouco antes da fala do presidente, Leonel Brizola também iria
cos. Da crise passamos para o otimismo, ainda que um otimismo suscitar a revolta da elite conservadora ao defender a realização de
burguês. um governo nacionalista e popular.
Didatismo e Conhecimento 50
HISTÓRIA DO BRASIL
Outro fator que contribuiria para desencadear a reação aberta em da Manhã publicaria em seu editorial a seguinte frase: “O Brasil já
relação a Jango seria a rebelião protagonizada pelos marinheiros em tolerou demais o atual governo. Basta!” E na madrugada daquele
26 de março de 1964. Diante desse protesto por melhores condições mesmo dia o golpe teve início, ocorrendo a partir do deslocamento
de vida e contra a truculência dos oficiais, o ministro Sílvio Mota en- de tropas do estado de Minas Gerais em direção ao Rio de Janeiro,
viou um grupo de fuzileiros para prender os marinheiros. Entretanto, onde Jango se encontrava no momento. Esta iniciativa, liderada pelo
eles não cumpriram essa ordem e ainda aderiram aos revoltosos. Ao general Olímpio Mourão Filho, tinha sido aprovada pelo governador
anistiar os protestantes e, assim, desconsiderar o princípio da defesa de São Paulo.
da disciplina e hierarquia que era defendido pela alta oficialidade da Os golpistas provenientes de Minas Gerais aguardavam, no en-
Marinha, João Goulart desagradou setores do Exército, da Marinha tanto, a decisão do comandante do II Exército, o general Amaury
e da Aeronáutica. Kruel, que até aquele momento hesitava em aderir a uma ação con-
junta contra o I Exército, sediado no Rio de Janeiro. Apesar de ter
CAMPANHAS CIVIS CONTRA JOÃO GOULART sido um homem da confiança de Jango, Kruel decide romper com
este e ordena que as tropas de São Paulo se movam para o Rio a fim
Assim, desde o começo do mês de março de 1964 o governo de de se juntar às comandadas pelo general Mourão. O Exército era
Jango já vinha enfrentando resistências por parte da própria socieda- dividido em facções, de modo que existiam as alas golpistas, mas
de civil. Segmentos das classes médias e da burguesia que se procla- também havia setores legalistas, fiéis ao governo. Contudo, o presi-
mavam na defesa da propriedade, da fé religiosa e da moral saíram dente decidiu não convocar os legalistas para impor uma resistência
às ruas em diversas capitais para levantar sua principal bandeira: a ao golpe.
do anticomunismo. Dentre essas manifestações civis, merece des- A ausência de reação por parte de João Goulart selou o destino
taque a chamada “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, de seu governo, que caiu sem a ocorrência de uma guerra civil. No
realizada em São Paulo. Esse movimento reuniu cerca de 500 mil dia 4 de abril, o presidente deposto rumaria para o exílio no Uruguai.
pessoas e contou com o apoio de movimentos femininos, setores da
Igreja Católica, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo A INSTAURAÇÃO DA DITADURA: INTERRUPÇÃO DE
(FIESP). UM PERÍODO DEMOCRÁTICO
Nesse sentido é que alguns historiadores têm optado por falar
em um “golpe civil-militar”, uma vez que se reconhece a participa- Na madrugada do dia 2 de abril, o próprio Congresso Nacional
ção de setores da sociedade civil na articulação do golpe, sobretudo legitimaria o golpe de Estado, declarando vago o cargo da Presidên-
no que se refere à atuação de empresários brasileiros na conspiração. cia da República. Nota-se, então, que também havia forças políticas
Assim, tais demonstrações públicas de repúdio ao governo Jango conservadoras na esfera do próprio Congresso, o qual imediatamen-
contaram com a presença de parte da classe média brasileira, o que te empossaria o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Ma-
contribuiu para criar uma atmosfera sócio-política favorável à inter- zzilli, como presidente da República. Mas este último representaria
venção militar. somente uma transição, pois em seguida o general Castelo Branco é
que se tornaria o novo presidente brasileiro.
O ENVOLVIMENTO DOS ESTADOS UNIDOS NO GOLPE Com o governo Castelo Branco, se inicia um processo de apro-
fundamento do autoritarismo que iria extinguir a democracia bra-
Também é necessário recordar que naquela época o contexto sileira e interromper o processo político de crescente mobilização
mundial estava marcado pela Guerra Fria, isto é, pelo embate entre popular que vinha sendo gestado até 1964. Assim, como alguns
zonas de influência capitalistas e comunistas, lideradas respectiva- historiadores propõem a derrubada de Jango foi uma ação preven-
mente pelos Estados Unidos e pela União Soviética. Esse quadro tiva, que tinha como objetivo evitar um processo de radicalização
geopolítico também interferiu significativamente na situação política esquerdista que poderia acabar beneficiando os comunistas, segundo
brasileira, pois os norte-americanos não hesitaram em apoiar golpes a visão da época.
militares na América Latina para que seus aliados tomassem o poder Com a Ditadura Militar, seria implantado um projeto políti-
e garantissem o alinhamento desses países ao bloco capitalista. co-econômico que romperia com a aliança entre desenvolvimento
Assim, foi intensa a atuação da embaixada dos Estados Unidos econômico e concessão de direitos aos trabalhadores. Ou seja, a di-
no combate político do governo João Goulart. Entidades políticas tadura militar privilegiaria um processo de “modernização-conser-
e sindicais que realizavam uma oposição sistemática ao mandato vadora”, a partir do qual a busca do desenvolvimento econômico
de Jango eram contempladas com amplos recursos financeiros do do país ocorreria juntamente com uma forte e violenta repressão aos
governo norte-americano. Além disso, os EUA disponibilizaram a movimentos sociais. O golpe militar de 1964 abriria caminho para a
própria Marinha do país para dar suporte ao golpe de 64 através da ditadura mais truculenta já instalada na história do Brasil.
chamada Operação Brother Sam. Caso ocorresse uma guerra civil no Grosso modo, o trabalhismo pode ser definido como um con-
Brasil por conta da tomada do poder pelos militares, os norte-ameri- junto de idéias e práticas políticas que se centrou sobre os direitos
canos já haviam planejado um enorme aparato bélico para oferecer do trabalhador e que foi representado pelo PTB (Partido Trabalhista
apoio logístico, material e militar aos golpistas. Brasileiro). Texto adaptado de PEREIRA, L. C. B
A DEFLAGRAÇÃO DO GOLPE
Didatismo e Conhecimento 51
HISTÓRIA DO BRASIL
rém ao começar seu governo, assume uma posição autoritária.
Estabeleceu eleições indiretas para presidente, além de dissolver os
A CRISE DO REGIME MILITAR E
partidos políticos. Vários parlamentares federais e estaduais tiveram
REDEMOCRATIZAÇÃO. seus mandatos cassados, cidadãos tiveram seus direitos políticos e
constitucionais cancelados e os sindicatos receberam intervenção do
governo militar.
Em seu governo, foi instituído o bipartidarismo. Só estavam au-
O Regime militar foi o período da política brasileira em que torizados o funcionamento de dois partidos: Movimento Democrá-
militares conduziram o país. Essa época ficou marcada na história do tico Brasileiro ( MDB ) e a Aliança Renovadora Nacional ( ARENA
Brasil através da prática de vários Atos Institucionais que colocavam ). Enquanto o primeiro era de oposição, de certa forma controlada, o
em prática a censura, a perseguição política, a supressão de direitos segundo representava os militares.
constitucionais, a falta total de democracia e a repressão àqueles que O governo militar impõe, em janeiro de 1967, uma nova Cons-
eram contrários ao regime militar. tituição para o país. Aprovada neste mesmo ano, a Constituição de
A Ditadura militar no Brasil teve seu início com o golpe militar 1967 confirma e institucionaliza o regime militar e suas formas de
de 31 de março de 1964, resultando no afastamento do Presidente atuação.
da República, João Goulart, e tomando o poder o Marechal Castelo
Branco. Este golpe de estado, caracterizado por personagens afina- O PROCESSO DE DEMOCRATIZAÇÃO INSTITUCIONAL
dos como uma revolução instituiu no país uma ditadura militar, que DA POLÍTICA BRASILEIRA
durou até a eleição de Tancredo Neves em 1985. Os militares na
época justificaram o golpe, sob a alegação de que havia uma ameaça Em geral, a análise dos processos de democratização das socie-
comunista no país. dades latino americanas tende a destacar a regularidade dos regimes
políticos e a alternância do poder como dois fatores elementares ao
GOLPE MILITAR DE 1964 apresso dessas sociedades à vida democrática. De forma muito re-
sumida, mas representativa do caráter específico da construção da
O Golpe Militar de 1964 marca uma série de eventos ocorridos cultura política pública no Brasil, pode-se fazer uma descrição de
em 31 de março de 1964 no Brasil, e que culminaram em um golpe alguns dos principais momentos dos processos políticos de insti-
de estado no dia 1 de abril de 1964. Esse golpe pôs fim ao governo tucionalização da democracia, no sentido específico da criação de
do presidente João Goulart, também conhecido como Jango, que ha- marcos regulatória e de seu aprofundamento institucional depois da
via sido de forma democrática, eleito vice-presidente pelo Partido Ditadura Militar (1964- 1985), o que denominei acima de compo-
Trabalhista Brasileiro (PTB). nente weberiano da dominação legítima da prática política.
Imediatamente após a tomada de poder pelos militares, foi esta- Em primeiro lugar, destaca-se o Movimento pela anistia ampla,
belecido o AI-1. Com 11 artigos, o mesmo dava ao governo militar o
geral e irrestrita (incluindo greve de fome realizada) em 1979, no
poder de modificar a constituição, anular mandatos legislativos, in-
momento em que se inicia a Abertura Política (e a suspensão do Ato
terromper direitos políticos por 10 anos e demitir, colocar em dispo-
Institucional n.5, do governo de Ernesto Geisel) e o Presidente João
nibilidade ou aposentar compulsoriamente qualquer pessoa que fos-
Batista Figueiredo decreta a Lei da Anistia esse movimento apresen-
se contra a segurança do país, o regime democrático e a probidade
ta um forte caráter reivindicatório específico, entre 1978-1985; tam-
da administração pública, além de determinar eleições indiretas para
bém com teor específico reivindicatório, o Movimento pelas Diretas
a presidência da República.
Já, com vários comícios, por exemplo, em São Paulo, em 23 de abril
Durante o regime militar, ocorreu um fortalecimento do poder
central, sobretudo do poder Executivo, caracterizando um regime de de 1984, culminando, entretanto com as eleições diretas somente
exceção, pois o Executivo se atribuiu a função de legislar, em detri- em 1989. Com caráter de aprofundamento do processo de democra-
mento dos outros poderes estabelecidos pela Constituição de 1946. tização institucional, destacam-se as articulações partidárias e dos
O Alto Comando das Forças Armadas passou a controlar a sucessão movimentos sociais pela criação de uma nova constituição para o
presidencial, indicando um candidato militar que era referendado país: um movimento que se inicia com o fim da Ditadura militar e
pelo Congresso Nacional. vai até a convocação da Assembléia Nacional Constituinte de 1987,
A liberdade de expressão e de organização era quase inexis- sendo a nova carta promulgada em 1988. Em fins de 1992 ocorre o
tente. Partidos políticos, sindicatos, agremiações estudantis e outras Movimento pelo Impeachment de Collor, dois anos e meio após este
organizações representativas da sociedade foram suprimidas ou presidente ter sido eleito.
sofreram interferência do governo. Os meios de comunicação e as Em todas as manifestações referidas aqui, o papel da sociedade
manifestações artísticas foram reprimidos pela censura. A década civil está focado na interlocução direta com o Estado, através de li-
de 1960 iniciou também, um período de grandes transformações na deranças políticas carismáticas e tradicionais (em geral de partidos
economia do Brasil, de modernização da indústria e dos serviços, políticos e movimentos sociais e religiosos) na forma do agir estra-
de concentração de renda, de abertura ao capital estrangeiro e do tégico.
endividamento externo. Apesar de expressarem o não reconhecimento da legitimidade
do governo militar, estas manifestações tiveram que focar em estra-
GOVERNO CASTELLO BRANCO (1964-1967) tégias de articulações partidárias e esforços objetivos para construir
um cenário propício ao entendimento sobre quem pudesse dispor
Castello Branco, general militar, foi eleito pelo Congres- do poder democrático. Movimentos relacionados à defesa de causas
so Nacional presidente da República em 15 de abril de 1964. específicas, incluindo Movimento Tortura Nunca Mais, Movimen-
Em seu pronunciamento, declarou defender a democracia, po- to dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), Movimento Negro,
Didatismo e Conhecimento 52
HISTÓRIA DO BRASIL
Indígena, Movimento Ambientalista Brasileiro entre outros apresen- tidade das famílias da agricultura familiar (produtiva e beneficiária
tam um caráter autônomo e combativo, mas, desde a Abertura Políti- das políticas de valorização da produção de alimentos), com vários
ca, suas ações foram construídas dentro de um processo limitado de projetos de apoio da parte do governo federal de Lula e Dilma Rou-
diferenciação, como pretendo demonstrar nos processos de demo- sseff;
cratização cultural, considerando-os como movimentos da socieda- 2) O movimento indígena que se articula em torno da criação,
de civil que resguardam seu poder originário, conforme, pois houve demarcação e valorização das reservas indígenas, mas também da
uma grande penetração dos instrumentos de controle do Estado e identidade singular dos povos indígenas5 , a qual tem o propósito ex-
do mercado na lógica interna de atuação destes movimentos sociais. plícito de quebrar com a tese assimilacionista criada pelos militares
O aspecto da dinâmica deste aperfeiçoamento institucional da para integrar os indígenas à cultura nacional;
democracia brasileira está ligado com a idéia da modelação da po- 3) O movimento ambientalista brasileiro, o qual se difunde de
lítica através da linguagem. Para este cientista político canadense, maneira multissetorial em torno da noção de sustentabilidade, com
a linguagem é o médium da cultura. Desta perspectiva, isto signi- várias bandeiras ideológicas incorporadas por diferentes movimen-
fica (em parte ao menos) que a cultura é construída por discursos e tos e partidos políticos, mas que promove uma cultura da identida-
definições. Os discursos funcionam em competição na tentativa de de ambientalista sem retorno na cultura política brasileira desde a
controlar a política e de modelar a ação. Por sua vez, as definições Eco92, com ministério próprio no país e com poder para legislar;
são elementos-chave dos discursos. 4) O movimento negro que vem promovendo a identificação
A perspectiva analítica aqui está inscrita também na estratégia com os valores da descendência africana, da integração lusofônica
política da democracia enquanto democracia. Esta expressão desig- entre os países do continente africano (existe inclusive uma univer-
na democracia como “demonstração pública”. Demo é uma abrevia- sidade federal com este fim, a Unilab), dos territórios de ex-escravos
tura de demonstração. As elites políticas e econômicas se utilizam (quilombos), das políticas de ação afirmativa e de uma cultura políti-
sistematicamente e em larga escala de ferramentas de demonstração ca de tematização e judicialização de preconceitos arraigados.
pública para parecerem eficientes e legítimas. A cultura política pública brasileira institucionalizada apresenta
As demonstrações públicas são cuidadosamente preparadas e ainda movimentos mais recentes de grande importância para o aper-
mesmo os governantes podem aparecer como especialistas em de- feiçoamento da democracia, a exemplo dos trabalhos memorialistas,
monstrar vantagens competitivas como porta-vozes de empresas. A de transparência no trato da coisa pública e de esclarecimento de
demonstração pública como sendo o produto primordial do capita- processos políticos de violação aos direitos humanos. No âmbito ins-
lismo científico, assim como os bens primários na teria marxista do titucional, o movimento que institui o Conselho Nacional de Justiça
(de acompanhamento e fiscalização do judiciário) em 2004 e o mo-
capital. A demonstração pública é inerente ao capitalismo contempo-
vimento que instituiu a Comissão Nacional da Verdade (responsável
râneo. Vale destacar, todavia que a demonstração pública também é
por apurar graves violações aos direitos humanos cometidos entre
uma forma de interação social capaz de promover e estruturar diver-
18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988) em 2011, ambos
sas formas de novas relações sociais.
com empenho decisivo e determinado dos representantes do poder
Ela é um processo e, como tal, permite uma ponte de diálogo
executivo, podem ser classificados como ações que fortalecem a de-
entre a ciência, a técnica e os espaços sociais. Não a reduz a uma
mocracia no sentido de legitimar a esfera pública estatal preocupa-
política de convencimento científico-mercantil, de espetáculo teatral da com critérios públicos de verdade, legitimidade da ação pública,
que visa à obtenção de vantagens lucrativas para as empresas, pois, transparência institucional e legalidade na condução dos assuntos de
dependendo do espaço social em que ela aparece, dela pode florescer interesse da sociedade.
a criatividade, a contestação e o fortalecimento da democracia. A Comissão Nacional da Verdade merece destaque, pois ela
A idéia de se pensar o aperfeiçoamento institucional da demo- empenha-se em desenterrar temas obscuros do passado político bra-
cracia brasileira de acordo com a estratégia da modelação e da de- sileiro, com treze grupos de trabalho: ditadura e gênero; Araguaia;
monstração pública discursiva pode ser comprovada se atentarmos contextualização, fundamentos e razões do Golpe Militar de 1964;
para o caso das seguintes questões que deixaram de ser lema e/ou ditadura e sistema de justiça; ditadura e repressão aos trabalhadores
bandeira dos movimentos sociais e passaram a ser referência na área e ao movimento sindical; estrutura de repressão; mortos e desapare-
de políticas públicas no Brasil desde o primeiro governo de Lula. cidos políticos; graves violações de Direitos Humanos no campo e
Pela primeira vez na história brasileira, vê-se o governo obriga- contra indígenas; Operação Condor; o Estado-ditatorial militar; pa-
do a traçar uma clara diferenciação entre política de governo e polí- pel das igrejas durante a ditadura; perseguição a militares; violações
tica de Estado, principalmente porque o Partido dos Trabalhadores de direitos humanos de brasileiros no exterior e de estrangeiros no
empenhou-se em seguir esta meta quando da adoção do Conselho Brasil.
Consultivo da República já no primeiro mandato do Presidente Lula. Em resumo, classifico todas as estratégias institucionais apre-
A forma de diferenciação entre uma política de governo e uma sentadas acima como reivindicações específicas e objetivas por li-
política de Estado foi uma estratégia de convencimento do gover- berdade de participação política. Elas podem ser agrupadas em cinco
no para legitimar o discurso dos movimentos de base da sociedade. momentos distintos do processo de democratização institucional, a
Destaco quatro movimentos a título de ilustração pela importância saber:
simbólica que eles detêm em termos de estabelecimento de novo 1- Mobilizações políticas visando à criação de marcos norma-
marcos linguístico e de demonstração pública para a política como tiva (eleições diretas, direitos políticos e sociais) e conduzida por
um todo: setores representativos da classe média educada, professores univer-
1) O movimento dos trabalhadores rurais-sem terra (MST), res- sitários, trabalhadores de serviços públicos e de estatais;
ponsável pela luta contra a opressão dos trabalhadores do campo e, 2- Associações com movimentos de trabalhadores explorados
nessa esteira, por difundir, intensiva e fortemente, como política lin- com apoio de religiosos (ligados à teologia da libertação, por exem-
guística e de demonstração pública, a idéia da valorização da iden- plo);
Didatismo e Conhecimento 53
HISTÓRIA DO BRASIL
3- Criação de agremiações partidárias e filiação a partidos polí- ção da perspectiva de políticas de inclusão social através da melhoria
ticos visando competir em pleitos municipais, estaduais e nacionais. da renda (principalmente para mulheres e crianças) e de políticas
4- Experimentação de gestão pública descentralizada e partici- diferenciadas de reconhecimento de minorias (principalmente para
pativa; 5- Institucionalização de esferas públicas estatais, com parti- afrodescendentes e indígenas).
cipação direta de movimentos sociais, agentes públicos, de especia- Estas políticas passaram a refletir mudanças no nível dos valo-
listas e estudiosos, a exemplo da Comissão da Verdade, mas também res morais, de tal modo que é possível assinalar que a principal razão
do Conselho Nacional de Justiça e de diversas comissões ministe- de ser dos processos de democratização cultural está relacionada ao
riais responsáveis por pensar e aprimorar as políticas públicas re- fato da disposição dos atores sociais empoderados destes processos
lacionadas às questões dos direitos indígenas, de afrodescendentes, virem a rever valores culturais fundantes da sociedade brasileira.
Estas demonstrações democráticas não são forjadas necessariamente Não se trata aqui de uma mudança do tipo do agir estratégico de
segundo uma lógica rígida de pré-condições hierárquicas e lineares organização política para ação e protesto, e sim de uma mudança re-
sem as quais não se poderia construir uma modalidade de participa- flexiva associada ao agir comunicativo de dramatização do conteúdo
ção política depois da outra. moral da modernidade (como explico mais adiante neste artigo). Por
A principal característica é que elas seguem a forma do agir valores culturais fundantes da sociedade brasileira entenda-se aqui
estratégico, ou seja, a noção de liberdade que as orienta está baseada o modo como são pensadas as formas de integração social como a
num entendimento de pouca diferenciação entre a sociedade civil e família, a cidade, a educação, os papeis sociais, etc., em especial em
as instâncias de controle do Estado e do mercado, mas o processo de termos teórico-conceituais pela sociologia brasileira.
institucionalização da democracia é assinalado aqui como gradual, Os indicadores de qualidade de vida, da Síntese dos indicadores
com uma lógica de aprimoramento perceptível. sociais de 2005 do IBGE, de 1995 a 2005, apontam, por exemplo,
que a família tradicional, composta por pai, mãe e filhos deixou de
O PROCESSO DE DEMOCRATIZAÇÃO CULTURAL DA ser predominante, saindo de 57,6% para 50%, o que é um dado mui-
POLÍTICA BRASILEIRA to importante em termos de mudança cultural na composição estru-
tural das famílias. Tanto é que nos anos de avaliação seguintes, pas-
Em geral, a expressão democratização cultural designa o de- sam a ter importância maior para o IBGE os dados relacionados às
senvolvimento das artes, da literatura e das formas de expressão de transformações da estrutura familiar brasileira, percebidos segundo
sete eixos da análise estatística, a saber:
uma sociedade como dança, linguagem, costumes, etc., todavia de-
1) Arranjos unifamiliares (pessoas que vivem sós);
mocratização cultural refere-se também à incorporação de idéias de
2) Mudança na relação de gênero;
liberdade que tem o poder de modificar a cultura e o jeito de pensar
3) Opção da mulher em não ser mãe;
das pessoas, transformando assim os modos de ação.
4) Empoderamento da mulher como a pessoa de referência fa-
Sustento a idéia de democratização cultural como um processo
miliar (maior renda e responsabilidade única), substituindo o refe-
global de expansão da legitimação da prática política democrática
rencial machista de pessoa de autoridade, como “chefe familiar” ;
que vai além da dimensão institucional, dos processos regulares de 5) Redução do número de filhos por casal;
tomada de decisão e das políticas governamentais, compreenden- 6) Envelhecimento da população; e
do a organização livre e informal de cidadãos em torno dos valo- 7) Separações, divórcios e recasamentos.
res da tradição do protoliberalismo de esquerda, do anarquismo, do A partir da Síntese dos Indicadores sociais do IBGE de 2012,
gandhismo e do desenvolvimento moral da pessoa. Trata-se de um dados de 2011, chama a atenção: Nas duas últimas décadas, a auto-
processo expansivo de valorização da prática política contestatória, nomia das mulheres e a igualdade de gênero são reconhecidas como
notadamente impulsionada pela alavanca dos ativistas de minorias “meios eficazes de combater a pobreza, a fome e as doenças”. As
oprimidas que apresentam demandas de democratização da socie- estatísticas sobre mulheres mostram que, cada vez mais, elas estão
dade, mas as instituições públicas e os mercados também podem ser presentes no mercado de trabalho e com níveis de escolaridade mais
considerados atores deste processo. Este esquema absorve a idéia de avançados do que os homens. Sem dúvida, estas mudanças influen-
mudança cultural das teorias de modernização que enfatizam fatores ciam o comportamento social das mulheres, tanto no âmbito público
consagrados como educação, urbanização, industrialização, alfabeti- como no privado.
zação, migração, prosperidade material e acesso aos meios de comu- Tanto quanto se trata de casal sem filhos ou casal com filhos,
nicação de massa e tecnologias de informação como a Internet mas houve uma variação significativa para cima da proporção de mu-
o ponto a se destacar referisse à importância maior da mudança de lheres responsáveis pelos núcleos familiares de 2001 a 2011. Nos
valores decorrentes das transformações de certos aspectos da estru- núcleos formados por casais sem filhos, a proporção de mulheres
tura social brasileira quando da adoção de políticas de distribuição passou de 4,5% para 18,3% e, nos núcleos formados por casais com
de renda e de reconhecimento cultural a partir principalmente dos filhos, de 3,4% passou para 18,4% nesse período.
dois governos do Presidente Lula (2003-2010). Passou a ser cada vez mais frequente também o número de ca-
O traço distintivo do processo de democratização cultural com- sais sem filhos. São fatores que contribuem para esta nova situação
preende fundamentalmente a capacidade de um povo de reconhecer, familiar moderna brasileira:
de discutir e de agir visando alcançar entendimento sobre a existên- 1) O ingresso das mulheres no mercado de trabalho;
cia de conflitos entre atores sociais com visões de mundo diferentes. 2) A postergação da idade ao casar; e
Não necessariamente a participação política da sociedade civil nas 3) O contínuo aumento da escolaridade. Outros estudos são ain-
várias instâncias de decisão governamental garante a existência da da mais reveladores no sentido de apontar que a mudança cultural
democratização cultural, uma vez que este processo pressupõe mu- em curso na democracia brasileira diz respeito ao aumento da renda
dança cultural no nível dos valores morais. Este é o ponto. No caso e, por conseguinte, da melhoria das condições de vida da população.
brasileiro, esta mudança no nível dos valores morais decorre da ado- Muitas mudanças decorrem daí.
Didatismo e Conhecimento 54
HISTÓRIA DO BRASIL
O livro Programa Bolsa-Família uma década de inclusão e cida-
dania destaca, por exemplo, a redução de 15% a 20% da desigualda- O BRASIL POLÍTICO: NAÇÃO E
de de renda no Brasil, desde a adoção do programa em 2003.
TERRITÓRIO.
Houve inclusive, durante o período, a queda na desigualdade
entre estados e regiões do país. A taxa extrema de pobreza passou de .
8% para 4,7% da população brasileira. Segundo um dos organizado-
res do livro, o pesquisador Marcelo Neri, o Programa Bolsa Família
está mudando a estrutura do país no que diz respeito à redução da Nação, em seu sentido político moderno, é uma comunidade de
desigualdade de renda e de condições de consumo. Ao todo, este indivíduos vinculados social e economicamente, que compartilham
certo território, que reconhecem a existência de um passado comum,
programa beneficia mais de 13 milhões de famílias.
ainda que divirjam sobre aspectos desse passado; que têm uma visão
O combate à desigualdade horizontalizou melhorias de renda.
de futuro em comum; e que acreditam que esse futuro será melhor se
Nestes dez anos, pessoas que vivem em famílias chefiadas por anal-
mantiverem unidos do que se separarem, ainda que alguns aspirem
fabetos tiveram 88,6% de aumento de renda, contra 11% de decrés- modificar a organização social da nação e seu sistema político, o
cimo para aqueles cujo chefe familiar possui 12 anos de instrução Estado.
regular ou mais. No Nordeste, a renda cresceu 72,8%, enquanto no Nesse sentido, é possível falar de uma nação brasileira, de uma
Sudeste, 45%. Para os negros, o aumento da renda foi de 66,3%, nação mexicana, de uma nação indiana, de uma nação americana,
enquanto a autodeclarada parda obteve melhoria de 88,5% do ga- e assim por diante, ainda que grupos sociais dentro dessas nações
nho pelo trabalho. Para os brancos, o crescimento de renda foi de possam ter interpretações diferentes de seu passado e aspirações dis-
47,6%. Estes números também são reflexos do ajuste nominal do tintas para seu futuro em comum, sem, todavia, que nenhum grupo
salário mínimo. significativo chegue a desejar e a lutar pela secessão.
A autonomia das mulheres é um dos indicadores do potencial Nacionalismo é o sentimento de considerar a nação a que se per-
intrínseco de mudança na sociedade. Ela destaca que: O pagamento tence, por uma razão ou por outra, melhor do que as demais nações e,
do benefício por meio de cartão magnético pessoal e a priorização portanto, com mais direitos, sendo manifestações extremadas desse
dada à mulher como titular deste cartão – hoje, 93% dos titulares são sentimento a xenofobia, o racismo e a arrogância imperial. Naciona-
mulheres proporcionaram o empoderamento feminino em espaços lismo é, também, o desejo de afirmação e de independência política
públicos e privados. diante de um Estado estrangeiro opressor ou, quando o Estado já
A experiência destes dez anos tem demonstrado que os índices se tornou independente, o desejo de assegurar em seu território um
de fecundidade entre as faixas de renda mais pobres caíram rapida- tratamento pelo Estado melhor, ou pelo menos igual, ao tratamen-
to concedido ao estrangeiro, seja ele pessoa física seja jurídica. Os
mente, apesar da crença disseminada de que as famílias atendidas
movimentos nacionalistas significativos do ponto de vista político,
seriam incentivadas a ter mais filhos. Da mesma forma, desfez-se o
cujas manifestações históricas mais simples decorrem de identidade
mito do “incentivo à preguiça” que o Bolsa-Família estaria provo- étnica, linguística ou de pertencimento, no passado, a uma organiza-
cando, pois existem indicadores, mostrados no livro, de aumento da ção política, têm como seu principal objetivo o estabelecimento de
ocupação, informalidade e procura por emprego muitos semelhantes um Estado ou a modificação das políticas do Estado para defender
entre beneficiários e não beneficiários. ou privilegiar interesses dos que integram certo movimento.
O perfil das famílias inscritas no programa representa 72% das
pessoas da extrema pobreza, 64% dos responsáveis pelas famílias NACIONALISMO
não chegaram a completar o ensino fundamental e a maioria dos
habitantes é do Nordeste do país, em cerca de 50%, mas, apesar des- O preconceito de considerar a sua nação melhor do que as de-
tes números serem ainda muito ruins, o livro mostra que as crian- mais tem sua origem na idéia de que as divindades teriam escolhido
ças beneficiárias do programa têm progressão escolar seis pontos um povo, uma certa nação, como eleita, isto é, a nação como um
percentuais maior na comparação com aquelas não beneficiárias de conjunto de indivíduos que adoravam uma certa divindade. O caso
mesmo perfil socioeconômico. Há impactos muitos positivos tam- do povo judeu, o chamado povo eleito, é clássico, e essa convicção
bém na atenção básica à saúde, com mães beneficiadas e redução da tem consequências políticas até hoje, sendo talvez o Oriente Próxi-
subnutrição infantil. mo o principal e mais complexo foco de tensão no mundo. O Japão
O programa destina muito pouco em termos monetários a es- é outro caso interessante na medida em que o imperador era consi-
sas famílias, muitas vezes bem menos do que o salário mínimo, e derado Filho do Sol e como tal simbolizava o vínculo concreto entre
o povo japonês e a divindade suprema. A China, tradicionalmente,
o interessante nisso é que, apesar deste pouco, ele tem sido capaz
se considerava tão superior aos povos vizinhos e mesmo a povos
de mudar o perfil socioeconômico do país. Texto adaptado de ALE-
distantes que nem sequer admitia manter relações políticas em nível
XANDRE, A. F. de Estados soberanos com outros Estados. Esses podiam, no má-
ximo, oferecer tributos ao Império do Meio, centro da civilização,
cujos imperadores se acreditavam estarem diretamente vinculados
às divindades celestiais.
O caso dos Estados Unidos, civilização mais recente do que a
chinesa, a judaica e a japonesa (e mesmo a francesa, a alemã e a
russa), é distinto, mas as raízes do nacionalismo americano podem
ser encontradas na religião protestante. Essa considera que o sucesso
Didatismo e Conhecimento 55
HISTÓRIA DO BRASIL
material é um sinal de aprovação divina, da própria salvação, de uma nas diversas colônias, com a variação natural de tempo e espaço,
predestinação. De um ponto de vista coletivo, o sucesso material da foram movimentos de afirmação da nacionalidade, de recuperação
sociedade americana significaria um sinal de aprovação divina, de de tradições, de idioma, de autonomia política e de independência,
que a sociedade americana seria eleita pelo Senhor e que, por essa em relação inicialmente às metrópoles coloniais européias, e, mais
razão, não só poderia como deveria assumir o papel de líder e de mo- tarde, se transformaram em movimentos de afirmação política e de
delo para todas as sociedades e Estados. Essa missão salvadora dos desenvolvimento econômico independente dos Estados que se origi-
Estados Unidos se encontra claramente expressa nos documentos naram nas ex-colônias.
de política externa dos Estados Unidos. A declaração do presidente
George W. Bush de que teria, literalmente, falado com Deus, a pre- NAÇÃO
sença crescente e a enorme influência do fundamentalismo religioso,
extremamente conservador, belicoso e nacionalista são aspectos, fa- Ao final do Império Romano, as invasões das tribos bárbaras
tos reveladores dessa convicção de povo, de nação eleita e, portanto, que viriam a ocupar as províncias romanas e a estabelecer os feudos,
de superioridade em relação às demais nações. territórios em que os diversos líderes tribais tinham reconhecida sua
Um dos principais movimentos nacionalistas viria a se desen- soberania política e militar, ainda que mais ou menos limitada, esta-
volver na Alemanha com base na superioridade de uma suposta raça belecem pela primeira vez, pela diferenciação de idiomas e de raças
ariana, germânica e pura que viria a redundar na tomada do Estado em fusão com os habitantes, as línguas locais e o latim popular, as
pelo Partido Nacional Socialista, com terríveis consequências para sementes das nações e dos Estados modernos. A Igreja nesse proces-
o mundo e, em especial, para aqueles que consideravam como inte- so teve especial relevância na medida em que esses senhores feudais
grantes das raças inferiores, em especial os judeus, vítimas de uma iriam se convertendo ao cristianismo e reconheciam a autoridade de
política de eliminação física, o Holocausto. Roma.
O nacionalismo nos países desenvolvidos, em especial nas Esses sistemas feudais, frouxamente submetidos a um poder
Grandes Potências, e sua pretensão de superioridade nacional re- central, em geral o senhor de um feudo territorial e populacional-
dundou facilmente em políticas expansionistas e agressivas, tanto mente maior, correspondiam a um conjunto de feudos, territórios
no continente europeu como também na formação dos impérios pequenos que, por força dos diversos sistemas de herança política
coloniais, com a noção explícita de inferioridade dos povos e das (que, aliás, era também patrimonial), do regime de morgadio e de
culturas locais e até, eventualmente, a idéia de que seriam seres hu- casamentos, viriam a se agregar progressivamente. As divergências
manos distintos e mesmo inferiores. Em um exemplo chocante dessa sobre direitos hereditários, as guerras de conquista e a relação pes-
pretensão, o general Westmoreland, então comandante-em-chefe das soais patrimonial dos senhores feudais com os seus territórios fariam
forças americanas no Vietnã, se referiu publicamente aos vietnami- que periódica e eventualmente populações de distintas origens pas-
tas como seres diferentes “de nós”, para justificar certas ações das sassem a estar submetidas à soberania de distintos senhores.
tropas americanas. Assim se formaram os Estados Nacionais europeus, os quais,
Assim, a característica central do sistema internacional nos úl- na realidade, não correspondiam a nações homogêneas, mas agrupa-
timos quinhentos anos desde a descoberta das Américas tem sido vam populações de distintas origens étnicas, com diferentes graus de
o imperialismo e o colonialismo, cujo fundamento de dominação, miscigenação, com distintas tradições e, às vezes, religiões. Nesses
além da força, foi a ideologia de superioridade racial e civilizacio- Estados vigiam regimes absolutistas cujo fundamento era a doutrina
nal em relação às colônias e a seus povos e a agressão aos sistemas do direito divino dos reis sobre todos os seus súditos (incluindo os
políticos, sociais e culturais de nações dominadas, pela força, pelas nobres descendentes dos senhores feudais), monarcas que se apoia-
metrópoles européias (o que também ocorreu no processo de criação vam mutuamente nessa pretensão. Esses monarcas absolutos tinham
dos “impérios continentais” como na expansão territorial dos Esta- o suporte ideológico de Roma, até que o protestantismo veio a opor
dos Unidos rumo ao Oeste, e da Rússia rumo ao Leste e ao Sul). A ferozmente, em guerras sangrentas, alguns desses Estados, que con-
escravidão foi a expressão máxima dessa dominação e os escravos tinuavam, todavia, a acreditar e a defender a doutrina do direito di-
eram considerados seres inferiores, sem alma, e portanto natural- vino dos reis.
mente sujeitos ao jugo e ao arbítrio de seus senhores. Lord Acton, em A idéia de que o Estado nasce com a nação não corresponde
artigo publicado em 1862, afirmava que os Estados mais perfeitos à realidade na maior parte dos casos, pois a nação seria de fato
são aqueles que, como o Império Britânico e o Império Austríaco, uma construção ideológica posterior, tendo muitas vezes a nação
incluíam várias nacionalidades distintas sem as oprimir porque “as sida “construída” pelo Estado. A emergência natural das nações teria
raças inferiores se elevam ao viver em união política com raças inte- sido em realidade impossível em razão da ignorância das massas, da
lectualmente superiores”. diversidade de etnias e de religiões, da ausência de tradições reais,
Nos países da periferia, ex-colônias, ou ex-semicolônias, o na- efetivas, da tardia fixação das línguas, das difusas tradições orais e,
cionalismo tem natureza radicalmente distinta dos movimentos na- portanto, a emergência de uma nação teria sido somente possível
cionalistas que se desenvolveram na Europa, os quais tiveram sua após o surgimento do Estado moderno, que organiza uma adminis-
reputação definitivamente manchada pelo nazi-fascismo, que tinha, tração central do Estado, e como consequência dos programas de
aliás, seguidores e simpatizantes ardorosos em vários outros países educação pública, do serviço militar e da vontade dos dirigentes de
europeus, além de Alemanha e Itália. Diga-se de passagem que os unificar as populações. Todavia, se isso ocorre, ou seja, se as nações
atuais “cosmopolitas” utilizam muitas vezes uma identificação er- foram construídas pelos Estados, torna-se necessário procurar escla-
rônea entre o nacionalismo europeu e o nacionalismo da periferia recer como surgiram os Estados.
para desqualificar os movimentos anticolonialistas, antiimperialistas Assim, nação e nacionalismo, apesar de serem conceitos di-
e hoje antiglobalização acusando-os de “nacionalistas” (ao que em fusos, correspondem a realidades que tiveram e têm forte impacto
geral acrescentam o termo populista). Os movimentos nacionalistas sobre a realidade política e se encontram estreitamente vinculadas
Didatismo e Conhecimento 56
HISTÓRIA DO BRASIL
a outro conceito que, além de conceito, é o fato mais concreto da À medida que as comunidades cresciam em população e que
realidade cotidiana de todos os indivíduos, que é o Estado. Todas as se diversificavam as atividades produtivas, os indivíduos deixavam
questões teóricas e práticas relativas a nação e a nacionalismo, como de poder participar diretamente dos processos de elaboração e de
em que medida a cada nação deveria corresponder um Estado; se as execução de normas e de solução de conflitos. Tornava-se necessá-
nações para serem consideradas como tal deveriam ser étnica, idio- rio escolher representantes, para governar as sociedades por meio
mática ou religiosamente homogêneas; se o nacionalismo seria sem- de sistemas cujas diferenças decorriam, como Aristóteles definiu
pre uma manifestação política perversa e perigosa; se o nacionalis- na Política, de um julgamento apriorístico sobre a natureza humana.
mo tende ao nazismo, e assim por diante, passam a ter um interesse A questão básica, segundo Aristóteles, seria a de saber se todos os
especial quando examinadas à luz da noção e da realidade do Estado. indivíduos seriam essencialmente iguais ou desiguais; e, caso de-
siguais, se uma família poderia ser considerada melhor do que as
A FORMAÇÃO PRIMITIVA DOS ESTADOS demais; ou se alguns indivíduos seriam considerados essencialmente
melhores do que os demais. Dependendo da natureza dessa convic-
Apesar das diferenças importantes no processo de formação e ção apriorística, os regimes políticos possíveis seriam a democracia,
de evolução dos atuais Estados, uma descrição geral um tanto ou a monarquia e a oligarquia, com suas variações. É óbvio, todavia,
quanto esquemática de sua formação pode ser feita, a qual teria de que nunca houve um debate teórico sobre a natureza humana prévia
se ajustar e de ser qualificada, com as mudanças necessárias, a cada à definição dos regimes políticos das comunidades humanas, primi-
circunstância histórica e geográfica de Estados específicos, mas cuja tivas ou não, os quais se definiram isso sim, a partir do intenso con-
dinâmica geral poderia ser considerada razoavelmente válida para flito de interesses dentro de cada comunidade e da luta dos diversos
todos. grupos pela hegemonia.
A diversificação das atividades produtivas e das funções sociais De toda forma, mesmo na monarquia absoluta e nos regimes
acarretava, mesmo nas sociedades mais primitivas, conflitos de inte- autoritários, o rei ou o ditador não governa sozinho, não elabora as
resses que tornavam necessária a existência de normas que discipli- normas de conduta sozinhas nem sozinho garante a obediência a
nassem as relações entre indivíduos e grupos, e que, sendo aceitas, elas. Tem ele de se fazer valer de auxiliares, nobres, ministros, appa-
ou impostas, como válidas por todos, permitiam sua convivência ratchiks ou que nomes tenham aos quais delega o exercício de parte
de suas funções e prerrogativas e de cujo apoio político e militar ne-
social pacífica sem que fosse necessário recorrer permanentemente à
cessita para se manter no poder. É possível imaginar que, no início,
força e à violência para garantir sua obediência.
a escolha desses indivíduos se fazia especialmente no seio daquelas
A luta pela hegemonia (isto é, pelo direito de extrair riquezas
famílias dos grupos hegemônicos que organizaram inicialmente a
naturais em um certo território e de nele organizar o trabalho huma-
comunidade e seus sistemas de produção e de defesa contra outras
no) levava à sujeição de umas comunidades por outras e à definição
comunidades.
de territórios e de suas fronteiras, dentro das quais essa hegemonia
Os distintos regimes políticos, formas de governo, são apenas
se exercia na prática pela definição de normas e pela capacidade de
distintos sistemas de seleção dos representantes de uma comunidade
fazê-las aceitar se necessário pela força.
para exercer as funções públicas e da forma de financiar o exercício
Naturalmente, os grupos hegemônicos em cada sociedade pro- dessas funções, que são legislar, executar e julgar. O conjunto de
curavam justificar e explicar sua hegemonia por meio de seus supos- instituições que exercem essas funções de legislar, executar e julgar
tos vínculos com as divindades protetoras daquelas comunidades as em nome do conjunto dos cidadãos de uma sociedade se chama Es-
quais lhes conferiam o direito de governá-las e, portanto, de elaborar tado. Uma função essencial e preliminar do Estado é a organização
as normas de conduta e de zelar pelo seu cumprimento. de sua defesa em relação às pretensões territoriais de outros Estados
As fronteiras separavam territórios geográficos dominados por e assim garantir a sua soberania sobre o seu território e a população
distintos grupos hegemônicos cujos líderes procuravam acentuar as que nele habita.
diferenças que existiam em relação a cultura, idioma, tradições e O Estado, ainda que em suas formas primitivas e de alcance
práticas religiosas entre as comunidades separadas por fronteiras e pouco abrangente, é, portanto, essencial para a convivência pacífi-
assim incentivavam a rivalidade e as noções de superioridade, que ca dos diversos grupos de indivíduos que habitam um determinado
caracterizam os nacionalismos. território e para a defesa de seus interesses em confronto com outras
As fronteiras definem os limites físicos do exercício de hegemo- comunidades organizadas sob a forma de Estado. Naturalmente que
nia (de soberania) dos grupos e se estabeleceram no passado como os sistemas religiosos, com suas normas de conduta social e com o
resultado de processos de luta que vieram a se fixar em obstáculos poderoso instrumento de sua sanção divina, faziam parte integrante
naturais ao exercício eficaz da força, tais como mares, lagos, rios dos Estados.
e cadeias de montanhas, obstáculos que contribuíram no passado, O Estado moderno detém o monopólio do uso da força que é sua
quando as distâncias eram muito significativas, para o desenvolvi- prerrogativa essencial e indispensável para a manutenção eficiente
mento de tradições e idiomas distintos. de um sistema de normas e de governo.
À medida que as sociedades se tornavam mais populosas, surgia A evolução histórica das comunidades primitivas por meio de
a necessidade de organizar instituições permanentes, encarregadas guerras, da consequente incorporação de territórios e de sujeição da
de elaborar as normas de conduta, de assegurar a obediência a elas e população neles existentes levou eventualmente à constituição dos
de financiar o seu funcionamento, mediante coleta de tributos. Nas Estados modernos. Naquelas circunstâncias em que essa incorpora-
comunidades primitivas e menores, todos os indivíduos podiam par- ção de território e de população não foi aceita se verificam hoje as
ticipar da elaboração de normas sociais e todos podiam, em prin- reivindicações mais ou menos violentas por autonomia ou indepen-
cípio, participar dos organismos sociais encarregados de zelar pela dência, tais como ocorrem na Espanha, na China, na Iugoslávia, na
obediência a essas normas. ex-URSS, no Canadá, na Bélgica e em tantos outros países.
Didatismo e Conhecimento 57
HISTÓRIA DO BRASIL
Essa evolução histórica das comunidades e nações levou à desafio ainda não se colocava, pois o regime era censitário, os indiví-
constituição e à definição dos territórios dentro dos quais se exerce duos somente eram cidadãos na medida em que tinham certa renda,
a soberania de cada um dos 192 Estados atuais membros da Organi- ou propriedade, ou pagavam impostos.
zação das Nações Unidas (ONU), cuja convivência pacífica somente A primeira meta, portanto, no processo de transformar poder
se pode dar com obediência aos princípios dos Artigos 1 e 2 da Car- econômico em poder político deve ser afastar a massa de cidadãos
ta: solução pacífica de controvérsias; direitos iguais e autodetermi- das atividades do Estado e da política, que é a atividade pela qual se
nação; respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais; controla o Estado, ou reduzir ao mínimo e controlar a participação
igualdade soberana; abstenção de ameaças ou de uso da força contra dessa massa na política e no Estado. Assim, é necessário difundir
a integridade territorial e a independência política de qualquer Es- uma imagem negativa do Estado e da política no seio da massa da
tado. sociedade, mas certamente não entre os que compõem as suas elites.
A Revolução Francesa em 1789, a Revolução Russa em 1917 e A imagem do Estado que se difunde na sociedade atual, em que
a Revolução Chinesa em 1949 foram três grandes tentativas de mo- predominam os valores individualistas, exaltados pela mídia, pelo
dificação do sistema social e da organização do Estado, com enor- sistema educacional e até pelas religiões, é que o Estado é o moder-
mes reflexos na história da humanidade: a primeira desencadeou o no Leviathan, a fonte de todo o Mal.
processo de eliminação dos direitos feudais e de transformação das De acordo com essa visão, a cobrança de impostos extorsivos
monarquias absolutas na Europa (e de seus impérios coloniais, em (por menores que sejam em realidade) para alimentar uma burocra-
especial na América Latina) ao afirmar que “cada povo é indepen- cia parasitária, que se compraz em elaborar milhares de regulamen-
dente e soberano”; a segunda iniciou a primeira experiência de um tos inúteis e confusos, que estimulam a corrupção e tolhem a liberda-
modelo social e político alternativo ao capitalismo e ao liberalismo de e a criatividade do indivíduo, puro e feliz originalmente, decorre
e reforçou, em competição com os Estados Unidos, que a advogava da existência de um Estado que todos os dias infringe a liberdade
somente para os europeus, a idéia de autodeterminação dos povos; individual e entorpece o desenvolvimento da sociedade. Essa visão,
e a terceira iniciou o processo de transformação do Estado e da eco- que persiste ao longo dos séculos, se origina na crítica às práticas
nomia chinesa com as consequências que hoje fazem que a China, arbitrárias das monarquias absolutas do renascentismo e do iluminis-
ao crescer em média 10% ao ano nos últimos vinte anos, se tenha mo contra as quais a burguesia nascente e seus representantes políti-
transformado na segunda maior potência econômica do mundo. cos lutaram para poder implantar o capitalismo e o liberalismo como
formas de organização econômica e política, em uma época anterior
A VISÃO DO ESTADO NO INÍCIO DO SÉCULO XXI à revolução industrial e à revolução tecnológica.
Nesse Estado Leviathan do século XXI, reinaria maleficamente
A sociedade atual se caracteriza pela concentração de riqueza e o político, o homem do Estado, o homem do Mal. Incompetente, é
de poder, pela transformação tecnológica acelerada, pela instabilida- incapaz de enfrentar os males que afligem a sociedade; mentiroso,
de social, pela ansiedade e frustração individual, pelo fundamentalis- iludem os cidadãos a quem periodicamente atraiçoa; xenófobo, es-
mo religioso e pelo consumo de produtos que alteram a consciência, timula os conflitos; e corrupto, defende os interesses estrangeiros,
tais como o álcool, a cocaína, o ecstasy e outros narcóticos. ou os interesses dos poderosos ou os interesses dos incompetentes
Nessa sociedade moderna, quer seja ela altamente desenvolvida sociais que fracassaram na luta individualista pelo sucesso, enquanto
quer seja subdesenvolvida, o controle do Estado, isto é, o contro- se aproveitam das “vantagens” dos cargos que ocupam.
le do sistema de normas e de instituições que definem e garantem O desprezo e até o horror pela política (e pelos políticos) é sis-
as características fundamentais do sistema de produção e que, não temática e cotidianamente estimulado pelos meios de comunicação
importa a razão, consagram certos privilégios, é essencial para as de massa, que procuram fazer crer aos integrantes das classes médias
classes dominantes. e trabalhadoras que a atividade política não é digna de um “homem
No sistema democrático moderno, todavia, que é o resultado de bem”, que esse deve dedicar-se exclusivamente à sua atividade
de uma história de lutas e de conquistas dos setores oprimidos da profissional seja ele um operário, um empregado, um técnico, seja
sociedade, a cada cidadão, conceito esse que vem sendo definido de um profissional liberal, sob o risco de se corromper.
formas diferentes ao longo do tempo e do espaço, cabe um voto no Na estratégia de estimular esse horror e desprezo (com o obje-
processo de escolha dos dirigentes do Estado. Por sua vez, no capita- tivo de afastar as “classes inferiores” da tentação de governar a so-
lismo, a cada unidade monetária corresponde um “voto” no mercado ciedade), é necessário desmobilizar essas “classes”, desviar e distrair
e, portanto, as decisões sociais sobre o que produzir, como produzir, sua atenção, o que é tanto mais importante quanto mais desigual e
como consumir, e os benefícios que decorrem dessas decisões se en- excludente for a sociedade, e, portanto, quanto maior for a ostenta-
contram altamente concentradas nas mãos das mega empresas, isto ção de riqueza e mais gritante a miséria.
é, de seus acionistas-proprietários e de seus delegados, ou mais bem A distração da atenção das grandes massas trabalhadoras e das
empregados, os chamados executivos. classes médias se faz pela criação de novos cultos e da promoção dos
O grande e permanente desafio que têm de enfrentar os detento- heróis desses novos cultos. A promoção desses novos cultos e a pro-
res do poder econômico na sociedade moderna de regime democrá- moção desses novos heróis são feitas pelos meios de comunicação
tico, em que a cada cidadão corresponde um voto, consiste em como de massa, em especial a televisão, e pela oferta maciça de entrete-
transformar poder econômico em poder político. Essa transformação nimento banal audiovisual, dos espetáculos musicais, dos folhetins,
é essencial para garantir a sobrevivência das normas fundamentais dos espetáculos esportivos, dos anúncios publicitários. A sociedade é
do sistema econômico e social e, eventualmente, para promover, à a do espetáculo, em que tudo se transforma em espetáculo, incluindo
medida que isso se torna necessário, sua modificação controlada, a política.
reformista e não revolucionária, isto é, sem alterar as relações fun- O principal desses novos cultos é o culto do corpo, que se reali-
damentais de propriedade. Nos primórdios da democracia liberal, tal za por meio do “body building”, da engenharia plástica e das dietas
Didatismo e Conhecimento 58
HISTÓRIA DO BRASIL
corretas de alimentação (a dieta da sopa, das frutas, das proteínas, A formação dos Estados foi certamente distinta na Europa, na
do tipo sanguíneo, das vitaminas...) e seus heróis são os atletas, os América Latina, na África e na Ásia. Os Estados atuais, em especial
artistas e as modelos de moda, enquanto se depreciam o espírito e a na América Latina, onde as instituições das populações locais exis-
cultura, mais pela omissão do que pelo ataque direto. tentes à época da conquista ou foram totalmente eliminadas, como
O segundo culto é o do dinheiro, em que o empresário se apre- no caso do México e do Peru, ou eram frágeis, como no caso do
senta como o grande herói, dinâmico, astuto, trabalhador incansá- Brasil, são o resultado muitas vezes da evolução do transplante de
vel em busca do sucesso pessoal, e se procura convencer a todos instituições européias feito pelas metrópoles para suas colônias. Na
que todos podem vir a se tornar empresários bem-sucedidos e ricos, África, século e meio mais tarde, as colônias tiveram fronteiras ar-
bastando seguir as estratégias descritas nos títulos da literatura de bitrariamente traçadas que, mais tarde, sobreviveram ao processo de
auto-ajuda empresarial: E se Harry Potter dirigisse a General Ele- descolonização, separando etnias, idiomas e tradições, e dando uma
tric?, Casais inteligentes ficam ricos, o Tao de Warren Buffet, Sun razão para os conflitos que, todavia, muitas vezes, têm sua verda-
Tzu – a Arte da guerra para os executivos etc. O empresário é, assim, deira origem em disputas pela exploração de recursos naturais. Na
o herói que enfrenta o político vilão, é vítima e adversário do Estado, Ásia, a colonização européia se fez de forma mais indireta e encon-
dá emprego às massas, é a favor da paz. Os heróis desses dois novos trou sistemas políticos e administrativos muito mais sofisticados aos
cultos são os modelos para os jovens e o escárnio dos idosos que já quais se superpôs. Hoje aquelas formas anteriores de organização,
não podem ser atletas nem empresários, fracassados por não serem ou pelo menos seu espírito, sobreviveram nas organizações políticas
ricos e cuja experiência não tem valor na sociedade do novo e da do Estado asiático.
obsolescência programada. Por sua vez, o atual processo de integração européia não é um
O mundo ideal, para os indivíduos da nova sociedade do século processo de eliminação do Estado e de suas características funda-
XXI, de onde são enxotadas as utopias, ridicularizadas sempre que mentais, mas sim um processo de unificação gradual de Estados in-
propõem enfrentar as desigualdades sociais e modificar as estruturas dependentes que cedem parte da sua soberania aos órgãos suprana-
de poder que as originam e mantêm, seria um mundo sem governos, cionais da União Européia. Esse é um fenômeno semelhante ao que
sem violência, sem drogas, sem políticos, sem normas, sem impos- ocorreu no passado na Alemanha e na Itália, e nada tem a ver com
tos, onde todos seriam física e financeiramente bem-sucedidos, atle- alguma suposta tendência histórica ao fim das fronteiras, mas sim
tas e empresários, um mundo em que, acima de tudo, o Estado não
corresponde a um redesenhar de fronteiras e de cidadania. Trata-se
existiria.
em realidade da formação gradual de um novo (e enorme) Estado em
um processo semelhante, mas de nenhuma forma igual (pois os Es-
O MUNDO REAL DO SÉCULO XXI
tados, na União Européia, ainda conservam um número muito maior
de prerrogativas soberanas) ao que sucedeu na formação dos Estados
No mundo real do século XXI, existem 192 Estados e um núme-
Unidos, da Alemanha e da Itália.
ro ainda maior de nações, e, portanto, trata-se de um mundo em que
proliferam os conflitos e as divergências dentro e entre os Estados,
e em que a elaboração permanente de normas e a atividade política FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO
incessante são realidades inescapáveis.
Não só existem hoje 192 Estados, mas o número de Estados É claro que o Brasil não brotou do chão como uma planta. O
vem crescendo desde que, em 1946, a Carta das Nações Unidas Solo que o Brasil hoje ocupa já existia, o que não existia era o seu
foi subscrita por seus Estados fundadores. Os Estados membros da território, a porção do espaço sob domínio, poder, soberania de um
ONU de 51, em 1946, passaram a 152, em 1980, e a 192, em 2008, Estado organizado. O Brasil nasceu modesto, possuindo apenas
e à medida que os nacionalismos se aguçam estimulados ou natu- 2.800,000 km2, cerca de 35% do território atual. Era a área que ca-
rais, outros Estados podem vir a surgir, como foi o caso recente do bia a Portugal pela divisão imposta pelo Tratado de Tordesilhas. Em
Kosovo, Estado de grande inviabilidade, mas que abre importante 1580, por falta de um sucessor ao trono de Portugal, Felipe II, neto
precedente, que afeta os interesses mais estratégicos dos Estados do rei da Espanha, único na linha sucessória, assumiu o trono. Essa
Unidos e da Europa. O estímulo aos nacionalismos locais na Euro- nova relação, permitiu aos portugueses que viviam na colônia atra-
pa enfraquece o novo nacionalismo europeu que se concretizaria na vessar os limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas sem muitos
“cidadania européia”, ao tornar mais difícil a ação política da União problemas.
Européia, enquanto o estímulo aos nacionalismos na periferia tem o Em 1640, Portugal recupera o trono. As terras a oeste do tratado
efeito de enfraquecer os grandes Estados como a China, à Índia e a já estavam ocupados pelos portugueses. Em 1750, o Tratado de Tor-
Rússia. Politicamente, se fortalecem os nacionalismos, o que enfra- desilhas deixa de existir. O Brasil colônia possuía uma característica
quece esses grandes competidores; economicamente, isso prejudica de arquipélago, por ser formado por áreas isoladas ou com contatos
o processo de globalização ao multiplicar o número de Estados. muito tênues, onde a troca de mercadorias ou pessoas pouco existia.
Os conflitos armados durante o século XX foram os mais san- No início da colonização, a população de origem européia e afri-
grentos e destrutivos de toda a história da humanidade, e o fim dos cana ficou restrita ao litoral, desenvolvendo atividades econômicas
regimes comunistas, a cuja existência e ação se atribuíam os con- com características extrativistas. No final do século XVI, os coloni-
flitos entre Estados, não reduziu nem o número nem a intensidade zadores começaram o cultivo de cana-de-açúcar e a montagem de
desses conflitos. engenhos, principalmente no litoral do nordeste. Esta produção era
O aumento do número de Estados decorreu certamente da vita- dirigida toda para exportação, por isso a escolha por sítios litorâneos.
lidade e do sucesso dos movimentos nacionalistas em sua luta contra
a dominação dos impérios coloniais e contra os Estados sob cuja
dominação se encontravam grupos nacionais irredentos, tais como
ocorria na Checoslováquia, na Iugoslávia e na União Soviética.
Didatismo e Conhecimento 59
HISTÓRIA DO BRASIL
A ocupação do interior nordestino se deu através da introdução da pecuária bovina em áreas não propícias ao desenvolvimento da cana-de
-açúcar. Nos séculos XVI e XVII, a lavoura canavieira e a criação de gado foram as atividades que contribuíram para a efetivação da ocupação do
espaço brasileiro e sua expansão territorial. No século XVII, a descoberta de minerais provocou o deslocamento do povoamento de forma mais
intensa para o interior. Os responsáveis por descobrir os recursos minerais foram os bandeirantes, com suas expedições saindo de São Paulo,
sendo estes os responsáveis pela expansão do território brasileiro.
A corrida ao ouro atraiu milhares de pessoas provenientes do litoral e de Portugal; além disso, a necessidade de gado para alimentação e
transporte do ouro proporcionou o surgimento de novas cidades e vilas no caminho dos tropeiros.
Com a exploração do ouro e das pedras preciosas, a partir do século XVIII, novas regiões foram incorporadas à fronteira econômica: os
atuais estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. As necessidades de escoamento do ouro e a fiscalização da produção
mineral fizeram do Rio de Janeiro a segunda capital da colônia, em 1763. Em 1808, com a chegada da família real portuguesa, a cidade teve suas
condições de desenvolvimento ampliadas.
Esta porção do território ficou sob o controle militar para garantia do território. Essa ocupação inicial não mudou quase nada as condições
naturais, exceto em algumas regiões, como na área ao redor de Belém. No extremo sul do Brasil, no séc. XVIII, a colonização, ou dominação do
território, deu-se inicialmente com população de origem portuguesa os colonos açorianos assentados no Rio Grande do Sul. Esta região já fora
Didatismo e Conhecimento 60
HISTÓRIA DO BRASIL
objetivo de incursões de criadores paulistas, os Bandeirantes, que se Podemos definir Constituição como a organização sistemática
estabeleceram nas áreas de campo, desenvolvendo a pecuária, que aí dos elementos constitutivos do Estado, através da qual se definem a
encontrou condições ambientais favoráveis. Por volta do séc. XIX, forma e estrutura deste, o sistema de governo, a divisão e o funcio-
a ação colonizadora no Sul do Brasil instalou colônias baseadas no namento dos poderes, o modelo econômico e os direitos, deveres e
sistema de apropriação de terras, através de colonização oficial ou garantias fundamentais, sendo que qualquer outra matéria que for
particular. Este tipo de colonização foi implantado em outras por- agregada a ela será considerada formalmente constitucional.
ções do território, mas, foi no sul do país que esse modo de ocupar
as terras foi mais difundido. No final do século XIX, o Brasil ainda A CONSTITUIÇÃO IMPERIAL DE 1824
não tinha a “forma” que tem hoje, territorialmente falando faltava à
efetiva ocupação do Centro-Oeste e do Norte do Brasil, porções que A primeira Constituição do Brasil nasceu no período do impé-
foram ocupadas de forma mais intensa a partir da década de 60 e 70 rio, mais precisamente no dia 25 de março de 1824, outorgada por
do século XX. Dom Pedro I, com fortes influências européias.
Como vimos, as fronteiras e limites do Brasil apresentaram De fato, nesse período a elite brasileira era bastante influencia-
grandes alterações ao longo de sua história. Por exemplo: o estado da pela cultura européia. As famílias mais abastadas patrocinavam
do Acre só passou a fazer parte do nosso território em 1910, quando os estudos dos seus filhos na Europa, sobretudo na França, de onde
foi comprado da Bolívia. E quanto às fronteiras internas? De 1940 vieram ideais liberais (trazidas com a revolução) que influenciariam
até os dias atuais o país sofreu 17 alterações na configuração de suas decisivamente o futuro do Brasil.
unidades político-administrativas, com a criação e extinção de uni- Igualmente, esta foi a época imediatamente posterior à Revo-
dades. As últimas modificações ocorreram com a Constituição de lução Francesa e ao período napoleônico, período em que os pres-
1988, que deu origem ao estado de Tocantins, elevou os territórios supostos de liberdade, igualdade e fraternidade ressoaram por todos
federais do Amapá e Roraima à categoria de estados e anexou o ter- os cantos, ocasionando o desembarque no Brasil dos ideais liberais
ritório federal de Fernando de Noronha a Pernambuco. recém-chegados ao poder na Europa.
A consolidação das fronteiras e limites do Brasil é o resultado Por seu turno, a experiência da independência norte-americana
de um processo histórico de produção e reprodução do espaço atra- também repercutiu em solo brasileiro, demonstrando que era possí-
vés do trabalho humano. Como vimos os limites entre as unidades vel organizar um Estado de direito e soberano no Novo Mundo, le-
da federação são objeto de propostas de alteração. Mas os conflitos vando à independência da maioria das colônias nas Américas, inclu-
entre as unidades da federação não terminaram, nem se resumem ao sive a do Brasil, que teve sua independência proclamada em 1822.
conflito por áreas. Na atualidade, as localidades e estados disputam a Assim, nascida nesse período da história marcado pela transição do
atração de empreendimentos econômicos, empresas (indústrias, co- Estado absolutista para o Estado liberal e pela constitucionalização
mércio ou serviços) que (acreditam governos locais) gerarão empre- de direitos, e, principalmente, elaborada em período imediatamente
gos e maior arrecadação de impostos. Isto criou a chamada “guerra subsequente à independência do Brasil, a Constituição do Império
fiscal”. revelou um enorme progresso em termos de direitos fundamentais
As propostas de desmembramentos não afetam somente os es- e demais garantias, mas também foi marcada por profundos anta-
tados. A constituição promulgada, em 1988, facilitou aos estados gonismos, como se verá a seguir, podendo-se afirmar que a nossa
legislarem sobre a criação de novos municípios. Texto adaptado de primeira Carta Magna era ao mesmo tempo antiga e moderna.
LESSA, C Paulo Bonavides e Paes de Andrade apontam as características
contraditórias da Constituição imperial, destacando suas origens his-
tóricas, ao afirmar que:
Teve a Constituição, contudo, um alcance incomparável, pela
força de equilíbrio e compromisso que significou entre o elemento
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO liberal, disposto a acelerar a caminhada para o futuro, e o elemento
BRASILEIRO. conservador, propenso a referendar o status quo e, se possível, tolher
AS CONSTITUIÇÕES. indefinidamente a mudança e o reformismo nas instituições. O pri-
meiro era descendente da Revolução Francesa, o segundo da Santa
Aliança e do absolutismo.
Pelo conteúdo também, porque a Constituição mostrava com
exemplar nitidez duas faces incontrastáveis: a do liberalismo, que
Inicialmente, deve ser observado o termo constituição e seu sig- fora completa no Projeto de Antônio Carlos, mas que mal sobrevivia
nificado que se apresentam no sentido de (ser base, parte essência, de com o texto outorgado, não fora a declaração de direitos e as funções
formar ou compor), logo a palavra constituição traz consigo a idéia atribuídas ao Legislativo, e a do absolutismo, claramente estampada
de estrutura, de como se organiza. Nesse sentido, sendo a Constitui- na competência deferida ao Imperador, titular constitucional de po-
ção o nomenjuris que surge do complexo de regras que dispõe para a deres concentrados em solene violação dos princípios mais festeja-
organização do Estado, sua origem, exercício do Poder, discrimina- dos pelos adeptos do liberalismo.
ção das competências estatais e a proclamação das liberdades públi- De fato, a primeira Constituição brasileira era antiga porque
cas. A multiplicidade de sentidos da palavra constituição, dispõe ser constitucionalizou ochamado Poder Moderador, que se situava aci-
um sistema de normas jurídicas, escritas ou costumeiras, que regula ma dos demais Poderes e conferia ao Imperador capacidade de agir
a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisição e quase que ilimitadamente, seguindo o modelo absolutista do qual a
o exercício do poder, o estabelecimento de seus órgãos e os limites Europa tentava se libertar. Foi, também, moderna porque possuiu
de sua ação. caráter liberal (para sua época) e constitucionalizou alguns direitos
Didatismo e Conhecimento 61
HISTÓRIA DO BRASIL
fundamentais como, por exemplo, a inviolabilidade dos direitos ci- tudo era possível ao Imperador, uma vez que o Poder Moderador
vis e políticos, o conceito de cidadania, a liberdade de expressão e estava acima dos demais, constituindo um verdadeiro absolutismo
de religião, entre outras garantias, o que se revelou um avanço para (tardio) no Brasil. Ademais, conforme tratado no capítulo anterior,
a época, em se tratando de uma Constituição elaborada na América o direito francês, de onde veio grande parte do pensamento político
do Sul e, portanto, fora (geograficamente), tanto dos conflitos ideo- e jurídico desta época, negava pela teoria da tripartição dos poderes
lógicos como do nascimento dos ideais liberais, ocorridos na Europa que um poder atuasse e interferisse diretamente em outro, a ponto de
e nos Estados Unidos. anular as suas criações, tal como ocorre no controle jurisdicional de
De fato, a primeira Constituição do Brasil tem uma grande im- constitucionalidade das leis.
portância, pois, como toda obra pioneira, tratou de romper, ao seu O pensamento da época demonstrando a influência francesa
modo e ainda que de maneira sutil, com uma tradição de controle para o controle político de constitucionalidade das leis no Brasil, ao
absoluto do poder e inseriu o império recém-criado em um regime dissertar que: O controle pelo próprio Legislativo ordinário consti-
constitucional. tui, ainda no campo das soluções de natureza política, outro siste-
No que concerne especificamente ao controle de constituciona- ma adotado em certos países para a guarda e defesa da Constituição
lidade, a Constituição imperial seguiu fielmente o modelo francês, contra as arremetidas da lei ordinária e dos atos governamentais. Foi
que, conforme tratado anteriormente, ao contrário do modelo ame- à solução dominante na Europa, no início do século XIX, quando
ricano, previu amplos poderes ao Poder Legislativo para fiscalizar a erroneamente se acreditava que o controle pelos tribunais ordinários
constitucionalidade das leis que dele mesmo emanavam. ou especiais constituiria uma violação do princípio da separação dos
Como é possível observar, o texto Constitucional de 1824 dei- poderes, uma interferência indevida e injustificável do Poder Judi-
xava claro que cabia ao Poder Legislativa a guarda da Constituição, ciário nas atribuições do Legislativo. Exemplo de aplicação desse
incluindo a sua interpretação, função que hoje é atribuição do Supre- sistema vai encontrar especialmente na França, em gérmen, já nas
mo Tribunal Federal. Isso porque embora existisse nesta época uma Constituições posteriores à Revolução, e de modo definitivo desde
organização judiciária no Brasil,composta pela primeira instância, 1875 até 1940.
Tribunais da Relação e Supremo Tribunal de Justiça, o mesmo não Ao contrário do pensamento predominante na época, entende-
exercia o controle da constitucionalidade. O controle, portanto, não mos que o controle das leis, ao ser exercido por outro Poder que não
era jurisdicional, mas exercido pela Assembléia Geral e, por que não
o Legislativo, fortalece a tripartição dos poderes.
afirmar, pelo Imperador, o qual por meio do Poder Moderador era fi-
De fato, não se pode olvidar que a “separação” dos Poderes pre-
gura central na organização dos Poderes do Império. Tratando acerca
conizada por Montesquieu tem por objetivo a harmonia entre eles,
do Poder Moderador, o artigo 98 da Constituição de 1824 afirmava
evitando os abusos constantemente ocorridos na época em que todo
que o Poder Moderador é a chave de toda a organização Política, e
o poder se encontrava nas mãos de uma só pessoa ou órgão.
é delegado privativamente ao Imperador, como Chefe Supremo da
Assim, ao assegurar que outro Poder fiscalize a constitucionali-
Nação, e seu Primeiro Representante, para que incessantemente vele
dade das normas exaradas do Poder Legislativo, o que se pretende é
sobre a manutenção da independência, equilíbrio, e harmonia dos
evitar que deste poder emanem normas inconstitucionais, abusando
mais Poderes Políticos.
De fato, significava o Poder Moderador um resquício do abso- da sua função típica.
lutismo reinante na Europa até o fim do século XVIII, conferindo à Nesse sentido, deixar ao encargo de quem elabora a norma a
Constituição imperial duas características absolutamente distintas: sua fiscalização revela-se tarefa perigosa, com a possibilidade real
de um lado, o elemento liberal, com a constitucionalização de um de abusos. Essa realidade o controle político de constitucionalida-
rol, ainda que pequeno, de direitos fundamentais, e, de outro, o Poder demudaria profundamente, refletindo todas as mudanças ocorridas
Moderador, acima dos demais e que conferia ao Imperador o poder no Brasil ao longo do século XIX, que levaram à proclamação da
de mandar e desmandar no império brasileiro. Como chave de toda República e à Constituição de 1891.
a organização política, cabia ao Imperador, outrossim, a rejeição de
projetos de lei, não havendo no texto constitucional a necessidade de A CONSTITUIÇÃO DE 1891:
justificação para tal ato, o que se explica pela própria conceituação A PRIMEIRA DA REPÚBLICA
do Poder Moderador, situado acima dos demais Poderes. Contudo,
é de se indagar até que ponto seria possível que a rejeição de proje- CONTEXTO HISTÓRICO: FIM DA MONARQUIA E
tos de lei pelo Imperador fosse baseada na inconstitucionalidade dos INÍCIO DA REPÚBLICA
mesmos. Elival da Silva Ramos acredita ter sido possível o controle
político da constitucionalidade no Brasil imperial, ao afirmar que: Finda a monarquia e, consequentemente, terminado o império,
Isso não significa, contudo, que não existia nenhuma forma de a República recém-instaurada sofreu forte influência norte-america-
controle da constitucionalidade das leis sob o domínio da Constitui- na. Não é por acaso que se deu ao novo Estado que se instaurou no
ção de 1824. Havia sim o controle político preventivo que ao Impe- Brasil o nome de “Estados Unidos do Brasil”.
rador, no exercício indelegável do Poder Moderador, cabia manejar Tal influência se deu devido ao notório êxito que os Estados
no bojo do processo legislativo podendo recusar sanção aos projetos Unidos da América apresentavam, através de um regime republicano
aprovados pelas duas Casas da Assembléia Geral, em formula gené- desde a sua independência, como um país garantidor de uma demo-
rica que abarcava, por certo, razões de inconstitucionalidade. cracia que dificilmente se observava nos Estados desta época.
Com a devida vênia, não concordamos com tal posicionamento, Ademais, a opção do Imperador por adotar um Estado unitário
pois devido ao estágio embrionário do direito constitucional brasi- em 1824 não havia logrado êxito, como era de se esperar em um
leiro nesta época, dificilmente o Imperador vetaria um projeto de país de dimensões continentais e em uma época em que os meios de
lei por motivo de inconstitucionalidade e, também, pelo fato de que comunicação eram extremamente precários.
Didatismo e Conhecimento 62
HISTÓRIA DO BRASIL
Na maioria das vezes as informações e decisões tomadas na deres políticos; 4º) o gozo, e exercício legais dos direitos políticos
sede do Império não chegavam aos locais mais distantes, contri- ou individuais; 5º) a segurança interna dos País; 6º) a probidade da
buindo inclusive para a formação de pequenos centros de poder, que administração; 7º) a guarda e emprego constitucional dos dinheiros
futuramente ganhariam importância na forma de municípios. Da públicos; 8º) as leis orçamentárias votadas pelo congresso. § 1º - Es-
mesma forma, o Poder Moderador, que garantia plenos poderes ao ses delitos serão definidos em lei especial. § 2º - Outra lei regulará a
Imperador para mandar e desmandar causou grande insatisfação e as acusação, o processo e o julgamento. § 3º - Ambas essas leis serão
revoltas não tardaram a começar, das quais são exemplos a Revolu- feitas na primeira sessão do Primeiro Congresso.
ção Pernambucana de 1824 e a proclamação da República de Piratini Bem diferente, portanto, da Constituição de 1824, que tratava
em 1835 no Rio Grande do Sul. do Imperador como entidade sagrada, ao dispor, em seu artigo 99,
Tornou-se cada vez mais necessário que o titular do poder pos- que “A Pessoa do Imperador é inviolável, e Sagrada: Elle não está
suísse responsabilidade, a tal ponto de responder pelos seus atos, sujeito a responsabilidade alguma”. (sic)
podendo até mesmo ser destituído (impeachment), o que certamente
não ocorreria no regime monárquico e hereditário em que o Brasil se O CONTROLE NA CARTA DE 1891: A CONSAGRAÇÃO
encontrava antes da proclamação da república. DO CONTROLE JUDICIAL DE CONSTITUCIONALIDADE
Isso associado aos movimentos políticos surgidos mais tarde,
como a fundação do clube republicano patrocinado pelo jornal “A No que tange ao controle de constitucionalidade, também a in-
República” em 1870 e a Convenção de Itu em 1873 que originou o fluência de Rui Barbosa e, consequentemente, do direito norte-ame-
Congresso Republicano Provincial, que contribuíram para o fortale- ricano, foi decisiva, uma vez que se adotou o controle judicial de
cimento e a consolidação do ideal republicano. constitucionalidade.
Igualmente, o exército, antes neutro com relação às questões po- Assim, antes mesmo da primeira Constituição da República, o
líticas, passou a exercer força decisiva, aproveitando-se do prestígio Decreto nº 848, de 11 de outubro de 1890, estabelecia, em seu artigo
ganho com o êxito obtido na Guerra do Paraguai anos antes, asso- 3º, que “na guarda e aplicação da Constituição e das leis nacionais,
ciado à influência exercida pela doutrina do positivismo. Por derra- a magistratura federal só intervirá em espécie e por provocação”.
deiro, incomodava o fato de, após a consolidação dos movimentos Verifica-se logo a modificação do órgão incumbido da análise da
de independência na América do Sul, o Brasil ser a única monarquia constitucionalidade, que antes era o Poder Legislativo e agora passa
continental, apresentando claros sinais de atraso político em relação a ser o Poder Judiciário. Ademais, o controle de constitucionalidade
a outros países, principalmente, como já dito, aos Estados Unidos passou a estar à disposição de qualquer indivíduo, já que qualquer
da América. pessoa poderia questionar judicialmente a constitucionalidade de
Foi nesse contexto histórico que em 15 de novembro de 1889 determinado dispositivo legal, consagrando assim o controle difuso
o Brasil se tornou uma república federativa por meio do Decreto nº de constitucionalidade, também chamado de controle por via de ex-
01 e não tardaria a elaborar uma nova Constituição consagrando os ceção. Tal modificação no âmbito infraconstitucional refletiu-se na
ideais republicanos, federativos e anti escravagistas. Constituição de 1891 que conferiu ao Supremo Tribunal Federal o
Com a Constituição Federal de 1891, o Brasil implanta, de for- papel de instância final nos casos em que se questionasse a validade
ma definitiva, tanto a Federação quanto a República. Por esta última, de um tratado ou de uma lei em face da Constituição Federal. Nas
obviam-se as desigualdades oriundas da hereditariedade, as distin- próprias palavras do texto constitucional:
ções jurídicas quanto ao status das pessoas, as autoridades tornam-se
representativas do povo e investidas de mandato por prazo certo. Art. 59 – Ao Supremo Tribunal Federal Compete:
Desta maneira, a Constituição de 1891 instituiu uma verdadeira § 1º - Das sentenças das Justiças dos Estados, em última instân-
tripartição dos poderes, nos moldes preconizados por Montesquieu, cia, haverá recurso para o Supremo Tribunal Federal: a) quando se
atribuindo a cada Poder a sua respectiva função, com independência questionar sobre a validade, ou a aplicação de tratados e leis federais,
e harmonia, sendo o legislativo constituído por duas casas (Senado e e a decisão do Tribunal do Estado forem contra ela; b) quando se
Câmara dos Deputados). Abandona-se o voto censitário dos tempos contestar a validade de leis ou de atos dos Governos dos Estados em
anteriores e se adota o voto direto de todos os cidadãos (aberto e re- face da Constituição, ou das leis federais, e a decisão do Tribunal do
servado somente aos homens) para escolher o primeiro Presidente da Estado considerar válidos esses atos, ou essas leis impugnadas.
República. Adotando o regime republicano, a Constituição de 1891
possuía um capítulo específico que tratava do crime de responsabili- Art. 60 - Compete aos Juízes ou Tribunais Federais, processar e
dade do Presidente da República, de grande importância se compara- julgar: a) as causas em que alguma das partes fundarem a ação, ou a
do ao Poder Moderador vigente até então, que afirmava: defesa, em disposição da Constituição federal.
Por este dispositivo, verifica-se que o constituinte instituiu o
Art. 53 – O Presidente dos Estados Unidos do Brasil será sub- controle judicial sobre os atos normativos de âmbito federal e esta-
metido a processo e a julgamento, depois que a Câmara declarar dual, bem como determinou que o controle teria lugar tanto no âm-
procedente a acusação, perante o Supremo Tribunal Federal, nos cri- bito federal (art. 59, b), como também no âmbito estadual, ao prever
mes comuns, e nos de responsabilidade perante o Senado. Parágra- que os tribunais dos Estados poderiam decidir contra a validade ou
fo único - Decretada a procedência da acusação, ficará o Presidente aplicação de tratados e leis federais em face da Constituição Federal.
suspenso de suas funções. O Supremo Tribunal Federal começava a possuir a competência
que se transformaria na sua razão de ser com o desenvolvimento
Art. 54 - São crimes de responsabilidade os atos do Presidente do controle concentrado de constitucionalidade no Brasil – a guarda
que atentarem contra: 1º) a existência política da União; 2º) a Cons- da Constituição. Consolidando a instauração do controle judicial no
tituição e a forma do Governo federal; 3º) o livre exercício dos Po- Brasil, a Lei nº 221, de 20 de novembro de 1894, deixou claro que o
Didatismo e Conhecimento 63
HISTÓRIA DO BRASIL
controle seria exercido pelo Poder Judiciário, onde, de acordo com ça na concepção do Estado, que passa de liberal a social, revelando
o art. 13, §10, “os juízes e tribunais apreciarão a validade das leis profunda preocupação com os direitos sociais, sobretudo os direitos
e regulamentos e deixarão de aplicar aos casos ocorrentes as leis trabalhistas.
manifestamente incompatíveis com as leis ou com a Constituição”. Acerca de tais documentos, pondera Fabio Konder Comparato:
Luís Roberto Barroso resume as modificações em sede de con- A Carta Política mexicana de 1917 foi a primeira a atribuir aos
trole deconstitucionalidade neste período, ao afirmar que: direitos trabalhistas à qualidade de direitos fundamentais, juntamen-
Ausente do regime da Constituição Imperial de 1824, o controle te com as liberdades individuais e os direitos políticos (arts. 5º e
de constitucionalidade foi introduzido no Brasil com a República, 123). A importância desse precedente histórico deve ser salientada,
tendo recebido previsão expressa na Constituição de 1891 (arts. 59 e pois na Europa a consciência de que os direitos humanos têm tam-
60). Da dicção dos dispositivos relevantes extraía-se a competência bém uma dimensão social só veio a se firmar após a grande guerra de
das justiças da União e dos Estados para pronunciarem-se acerca 1914-1918, que encerrou de fato o “longo século XIX”. A Constitui-
da invalidade das leis em face da Constituição. O modelo adotado ção de Weimar, em 1919, trilhou a mesma via da Carta mexicana, e
foi o americano, sendo a fiscalização exercida de modo incidental todas as convenções aprovadas pela então recém-criada Organização
e difuso. Internacional do Trabalho, na Conferência de Washington do mesmo
Não havia mais dúvida quanto ao poder outorgado aos órgãos ano de 1919, regularam matérias que já constavam da Constituição
jurisdicionais para exercer o controle de constitucionalidade. Con- mexicana: a limitação da jornada de trabalho, o desemprego, a pro-
solidava-se, assim, amplo sistema de controle difuso de constitucio- teção da maternidade, a idade mínima de admissão nos trabalhos
nalidade no direito brasileiro. industriais e o trabalho noturno dos menores na indústria.
Assim, embora o controle difuso tenha muita importância e per- De outra forma, o cenário internacional com a crise econômica
maneça até os dias atuais de competência do Poder Judiciário, verifi- que abateu o mundo em 1929 viria a demonstrar a necessidade de
car-se-ão modificações profundas, principalmente com a instituição melhores condições de vida para a classe trabalhadora, que até então
e o desenvolvimento do controle concentrado de constitucionalidade não possuía direitos.
no direito pátrio. Estavam criadas as condições para a Revolução de 1930 e o
aparecimento de um líder carismático, que, inclinado para as ques-
A CONSTITUIÇÃO DE 1934
tões sociais, tomaria o poder e acabaria com o coronelismo e, conse-
quentemente, com a política dos governadores.
CONTEXTO HISTÓRICO: GOLPE DE 1930, GETÚLIO
De fato, Getúlio Vargas assumiu e logo promoveu o desarma-
VARGAS E A DEMOCRACIA SOCIAL
mento dos coronéis, alargando as competências da União e intervin-
do nos Estados com o intuito certo de desconstituir a política dos
Antes de adentrar no tema específico da Constituição de 1934, é
governadores.
necessário analisar o contexto histórico em que ela se inseriu.
Alcunhado de “pai dos pobres”, era imprescindível que sua
Como já dito, a centralização do poder no período do Império
atenção se voltasse para o aspecto social, não somente pela conjun-
levou à formação dos poderes locais que praticamente eram um mis-
to de poder político e militar. De fato, o “coronel”, autoridade local, tura internacional cada vez mais voltada para a democracia social,
protegia, socorria e sustentava a sua população, exigindo dela em mas também com o objetivo de aniquilar de uma vez por todas com
contrapartida obediência e fidelidade. A esta relação, que sustentou o coronelismo que se fundava no apoio popular.
a política brasileira durante décadas, deu-se o nome de coronelismo. Nesse contexto, Getúlio marca para o dia 03 de maio de 1932
E, como o voto era aberto, o coronel saberia se determinado eleições que elegeriama Assembléia Constituinte - eleições que,
indivíduo foi ou não fiel a ele ou ao seu candidato quando do plei- mesmo com a eclosão da Revolução Constitucionalista de 1932 em
to. Era o chamado “voto de cabresto”, dando origem ao fenômeno São Paulo (vencida pelo governo), ocorreram e deram início à elabo-
denominado de “política dos governadores” que dominou o Brasil ração da Constituição de 1934.
no período da Primeira República, compreendido entre os anos de Assim surgiu a primeira Constituição verdadeiramente social do
1891 e 1930. Brasil, de caráter democrático e interventiva. Elaborado o texto da
Em outras palavras, a democracia implantada na Constituição Carta Política de 1934, a Constituição modificou, principalmente, os
de 1891 tinha caráter meramente decorativo, haja vista que, através seguintes aspectos do sistema até então vigente:
do voto de cabresto, o que se instituiu no Brasil foi uma verdadeira 1. Tornou o voto secreto e conferiu direito de voto às mulheres
oligarquia, dominada pelos Estados de Minas Gerais e São Paulo. (art. 52, §1º);
E, nesse círculo onde, de um lado os coronéis elegiam os Gover- 2. Instituiu a Justiça Militar e Eleitoral como órgãos do Poder
nadores, os Deputados e os Senadores, e de outro os Governadores Judiciário (art. 63);
decidiam quem seria o Presidente da República, insatisfações surgi- 3. Criou normas reguladoras da ordem econômica e social (Tí-
riam de uma população que almejava maior participação política e tulo IV), da família, educação e cultura (Título V) e da segurança
seriedade nas votações. nacional (Título VI);
Era necessário, portanto, instituir o voto secreto, que, além de 4. Reforçou a tripartição dos poderes (art. 3º);
direto, deveria abranger também as mulheres, até então mantidas 5. Instituiu a responsabilidade pessoal e solidária dos ministros
fora do cenário político. de Estado juntamente com o Presidente da República (art. 61).
Ademais, no cenário internacional as transformações ocorridas Além de tratar acerca dos assuntos referidos, nesta época foram
na democracia liberal eram visíveis, sobretudo após a Revolução inseridas no ordenamento jurídico alterações significativas no que
Comunista de 1917, o advento da Constituição Mexicana de 1917 se refere, principalmente, à legislação eleitoral e previdenciária, ao
e da Constituição de Weimar de 1919, que levaram a uma mudan- mandado de segurança e à ação popular.
Didatismo e Conhecimento 64
HISTÓRIA DO BRASIL
O CONTROLE NA CARTA DE 1934: O INÍCIO DO CON- Contrapunha-se tal sistema ao método difuso utilizado desde a
TROLE CONCENTRADO Carta Política de 1891 onde a análise da constitucionalidade de certo
dispositiva não constituía questão principal no processo e dependia
Com relação ao controle de constitucionalidade, a Carta Magna de todo um procedimento, muitas vezes moroso, para que, pela via
de 1934 trouxe importantes inovações, mantendo as mudanças ocor- recursal, o processo chegasse ao Supremo.
ridas quando do advento da república. E, designando a Constituição Federal um tribunal específico
Em seu art. 179, cria-se a regra, presente até hoje em nossos tri- para cuidar de questão unicamente constitucional, verifica-se o iní-
bunais, de que a declaração de inconstitucionalidade seria realizada cio do controle de constitucionalidade concentrado em um só órgão,
pela maioria da totalidade dos membros do Tribunal, dificultando pertencente ao Poder Judiciário.
um pouco mais a declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato Além disso, a Constituição de 1934 atribuiu ao Senado uma
do Poder Público. importante competência, em se tratando de controle, ao prever que:
Tal modificação foi positiva uma vez que, ao exigir o voto da
maioria absoluta, o constituinte pretendeu dar certa continuidade
Art. 91 – Compete ao Senado Federal:
aos entendimentos dos Tribunais, visto que, se a maioria absoluta
IV – Suspender a execução, no todo ou em parte, de qualquer
dos membros votou em determinado sentido, tal interpretação difi-
lei ou ato, deliberação ou regulamento, quando hajam sido declara-
cilmente seria modificada em curto espaço de tempo. Não se pode
deixar de mencionar a influência de Hans Kelsen e do controle con- dos inconstitucionais pelo Poder Judiciário.
centrado de constitucionalidade também no direito brasileiro. Con-
forme tratado no capítulo anterior, sua teoria pressupunha que o con- Art. 96 – Quando a Corte Suprema declarar inconstitucional
trole deveria ser de competência de um tribunal específico (tribunal qualquer dispositivo de lei ou ato governamental, o Procurador Ge-
constitucional), de onde emanariam decisões de efeitos vinculantes. ral da República comunicará a decisão ao Senado Federal para os
E como se sabe, no Brasil caberia ao Supremo Tribunal Fede- fins do art. 91, nº IV, e bem assim à autoridade legislativa ou execu-
ral a competência para o controle concentrado de constitucionali- tiva, de que tenha emanado a lei ou o ato.
dade. Contudo, causa curiosidade o fato de que um país marcado Primeiramente, o referido dispositivo tem importância por de-
pela influência definitiva do sistema norte-americano de controle de clarar expressamente no texto constitucional que o controle de cons-
constitucionalidade tenha desenvolvido, paralelamente, um sistema titucionalidade no Brasil deveria ser realizado pelo Poder Judiciário
de controle concentrado. e, também, por dar ao Senado a opção de suspender o dispositivo
Mesmo assim, coube à Constituição de 1934 a maior inovação declarado inconstitucional.
em sede de controle de constitucionalidade até então: a introdução Caminha-se, portanto, para duas espécies de controle: uma di-
da intervenção federal mediante a análise pelo Supremo Tribunal fusa, no processo comum e na forma de questão preliminar levantada
Federal da constitucionalidade da lei que decreta a intervenção, no pelas partes no processo, cabendo a qualquer juiz decidir acerca da
caso de a mesma fundar-se em descumprimento a certos princípios constitucionalidade e outra, cujo objeto da ação é a própria manifes-
constitucionais, denominados pela doutrina como princípios consti- tação, pelo Supremo Tribunal Federal, acerca da constitucionalidade
tucionais sensíveis. ou não de determinado dispositivo legal.
Veja-se o que afirmava a Constituição Federal de 1934 sobre o
tema: A CONSTITUIÇÃO DE 1937
Art. 12 - A União não intervirá em negócios peculiares aos Es- CONTEXTO HISTÓRICO: O ESTADO NOVO
tados, salvo:
V - para assegurar a observância dos princípios constitucionais Embora a Constituição de 1934 tenha tido grande importância
especificados nas letras a a h , do art. 7º, nº I, e a execução das leis
por situar o Estado brasileiro no contexto social pós-primeira Guerra
federais;
Mundial, teve ela uma vida demasiadamente curta, de apenas três
§ 2º - Ocorrendo o primeiro caso do nº V, a intervenção só se
anos.
efetuará depois que a Corte Suprema, mediante provocação do Pro-
Na segunda metade da década de 30, também os fatores exter-
curador-Geral da República, tomar conhecimento da lei que a tenha
decretado e lhe declarar a constitucionalidade. nos influenciaram o contexto nacional. Com a militarização da Ale-
De acordo com a redação do art. 12 da Carta de 34, a interven- manha durante o período após a primeira Guerra Mundial, o silêncio
ção somente seria realizada caso o STF analisasse a lei que decretava dos países que assistiram a tal armamento e à ascensão de Adolf
a intervenção e decidisse pela sua constitucionalidade. Hitler ao poder, aliado ao regime fascista dominante na Itália e ao re-
Assim, pela primeira vez na história do Brasil, o Supremo Tri- gime comunista da então União Soviética, o mundo dividia-se entre
bunal Federal tinha competência para verificar a constitucionalidade duas ideologias distintas: de um lado a direita radical representada
da lei em tese, não necessitando que a questão fosse arguida como pelo nazismo e fascismo e de outro o comunismo representado pela
preliminar em ação comum, inaugurando o controle concentrado de então União Soviética.
constitucionalidade no país. Tal dicotomia ideológica se refletiu no Brasil com a fundação do
Em outras palavras, o Supremo poderia analisar a lei servindo- Partido da AçãoIntegralista Brasileiro, de cunho fascista, encabeça-
se de um processo cujo objetivo era justamente a análise da constitu- da por Plínio Salgado e a fundação do Partido Comunista do Brasil,
cionalidade da lei que decretava a intervenção federal. Não deixava sob a chefia de Luís Carlos Prestes.
de ser, portanto, um controle concentrado e abstrato, pois a compe- Assim, formava-se no Brasil um ambiente de crise político-i-
tência pertencia a um único órgão e o objeto da análise era uma lei deológica, cujoradicalismo não condizia com o liberalismo social
em tese. preconizado pela Constituição de 1934.
Didatismo e Conhecimento 65
HISTÓRIA DO BRASIL
Era o momento certo para que Getúlio Vargas, aproveitando-se conhecer de juízes ou tribunais” e ainda retirou da apreciação do
da situação,realizasse um golpe de Estado e outorgasse a Constitui- Poder Judiciário importantes assuntos, como, por exemplo, as ques-
ção de 1937, de cunho claramente fascista, conferindo amplíssimos tões exclusivamente políticas (art. 94), bem como a apreciação dos
poderes ao Presidente da República, conforme seu artigo 73, in ver- atos do Presidente da República, ministros de Estado, Governadores
bis: e Interventores.
Em suma, a Constituição de 1937 representou um grande retro-
Art. 73 – O Presidente da República, autoridade suprema do cesso, tanto para o Estado democrático de direito presente no Brasil
Estado, coordena a atividade dos órgãos representativos de grau su- até então, como em sede de controle de constitucionalidade.
perior, dirige a política interna e externa, promove ou orienta a polí- Esta situação de arbitrariedade e retrocesso teve curta duração,
tica legislativa de interesse nacional e superintende a administração pois, como se afirmou, com o fim da segunda grande guerra, os ares
do país. de democracia refletiriam de maneira significativa no Brasil.
Embora estivesse consagrada na Carta de 1937, a separação dos
poderes tinhacaráter somente nominal. O Senado havia sido extinto A CONSTITUIÇÃO DE 1946
e o Poder Legislativo podia a qualquer momento ser colocado em
CONTEXTO HISTÓRICO: O PERÍODO PÓS-GUERRA E O
recesso pelo Presidente da República.
RETORNO À DEMOCRACIA
A arbitrariedade era tamanha que se pode afirmar que a Consti-
tuição de 1937 nãoteve aplicabilidade, a começar porque ela mesma
Com o fim da segunda Guerra Mundial, Getúlio convocou elei-
previa a realização de um plebiscito para sua aceitação, o que jamais ções para dezembro de1945 demonstrando clara intenção de perma-
ocorreu, findando com qualquer legitimidade que porventura pudes- necer no poder, o que levou os militares a depô-lo em 29 de outubro
se vir a ter. de 1945.
Também, por prever a responsabilidade do Presidente da Repú- Vencida a eleição por Eurico Gaspar Dutra, ele convoca a Cons-
blica, atribuindo aoParlamento à faculdade de processá-lo e destituí tituinte que promulga a Constituição de 1946, tida por muitos doutri-
-lo do mandato, o que jamais foi aplicado. nadores como a melhor Constituição do Brasil até hoje.
Assim, embora consolidada em um texto até liberal para um pe- A Constituição de 1946 se insere entre as melhores, senão a me-
ríodo de ditadura(porque, entre outros aspectos, previa a existência lhor, de todas que tivemos. Tecnicamente é muito correta e do ponto
de um Estado de direito), a verdade é que a Carta Política de 1937, de vista ideológico traçava nitidamente uma linha de pensamento
alcunhada de “a polaca” por ter se baseado e possuir grandes seme- libertária no campo político sem descurar da abertura para o campo
lhanças com a Constituição polonesa de 23 de abril de 1935, não social que foi recuperado da Constituição de 1934.
teve grande importância, haja vista que o Presidente da República, De fato, a Carta Política de 1946 consagrou os princípios do
agindo como ditador, governou praticamente sozinho. Tal situação Estado liberal característicos da Primeira República e os princípios
terá significativa mudança com o fim da segunda grande guerra e do Estado social consagrada na Constituição de 1930.
o ambiente propício à redemocratização, decorrente da derrota dos Buscou esta Constituição uma proteção maior dos direitos indi-
regimes totalitários na Europa. viduais, consagrando em seu texto o amplo acesso ao Poder Judiciá-
rio (art. 141, §4º), o direito de greve (art. 158), o mandado de segu-
O CONTROLE NA CARTA DE 1937: RETROCESSOS rança como garantia (art. 141, §24), a vedação da pena de morte, de
banimento, de confisco e a de caráter perpétuo (art. 141, §31), entre
Durante o período do Estado Novo o Poder Judiciário sofreu outras inovações.
duro golpe, uma vez que as decisões em sede de controle de constitu- O federalismo, tão enfraquecido durante o Estado Novo, ganha
cionalidade proferidas pelo Supremo Tribunal Federal poderiam ser vida com garantias à autonomia dos Estados e a valorização do Mu-
rejeitadas pelo Presidente da República e pelo Legislativo. nicípio.
Afirmava o artigo 96, parágrafo único, da Carta Política de O Poder Executivo, verdadeiro detentor do poder na Constitui-
ção anterior, é limitado aos moldes em que se verifica atualmente,
1937:No caso de ser declarada a inconstitucionalidade de uma lei
com a previsão de eleições diretas para Presidente e Vice-Presiden-
que, a juízo do Presidente da República, seja necessária ao bem-estar
te, com mandato de cinco anos, eleito pelo voto universal, direto e
do povo, à promoção ou defesa de interesse nacional de alta monta,
secreto, prevendo-se a responsabilidade do Presidente da República
poderá o Presidente da República submetê-la novamente ao exame
pelos seus atos.
do Parlamento: se este a confirmar por dois terços de votos em cada O Poder Legislativo volta a ser bicameral, com o retorno do
uma das Câmaras, ficará sem efeito a decisão do Tribunal. Senado às suas funções normais, sendo uma delas a importante fun-
Tal dispositivo revelava verdadeiro absurdo, atacando frontal- ção de julgar o Presidente da República e outras autoridades pelos
mente a tripartição dos Poderes e acarretando um grande retrocesso crimes de responsabilidade (art. 62, I), um grande avanço haja vista
para o controle de constitucionalidade. Ademais, dirige-se na con- que o país saía de um regime ditatorial.
tramão do desenvolvimento do controle de constitucionalidade no Por sua vez, o Poder Judiciário é fortalecido tanto pela utiliza-
Brasil, que passou, a partir da Constituição de 1891 a ser realizado ção do Mandado de Segurança como pela alteração no controle de
pelo Poder Judiciário, podendo ser agora submetido à apreciação dos constitucionalidade das leis. Embora a Constituição de 1946 tenha
Poderes Executivo e Legislativo. apresentado inegáveis avanços, este período foi marcado por uma
Outra limitação ao Poder Judiciário encontrava-se presente no intensa crise política, principalmente após o suicídio de Getúlio Var-
artigo 170 desta Carta, que afirmava que “durante o estado de emer- gas, que sucumbiu às pressões tanto dos militares quanto da esquer-
gência ou de guerra, os atos praticados em virtude deles não poderão da.
Didatismo e Conhecimento 66
HISTÓRIA DO BRASIL
Sua sucessão foi bastante conturbada, levando ao poder Jusce- Dando claros sinais de que o controle concentrado era uma ne-
lino Kubitschek que se mantém mesmo com algumas rebeliões gol- cessidade, no sentido de se analisar de maneira mais eficaz e célere a
pistas. A mesma sorte não teve Jânio Quadros, que renunciou com constitucionalidade dos dispositivos infraconstitucionais, a Emenda
apenas sete meses de governo, assumindo João Goulart que, com nº 16, de 26 de novembro de 1965, veio instituir definitivamente no
sua política de agradar tanto à direita como à esquerda, permitiu as Brasil o controle abstrato de normas estaduais e federais.
condições necessárias para que os militares realizassem o golpe em A inovação da Emenda Constitucional nº 16 foi a criação de
1º de abril de 1964, que traria ao Brasil o regime de maior desrespei- dois novos modelos de controle de constitucionalidade, sendo eles
to aos direitos individuais e de uma arbitrariedade jamais vista em a representação de inconstitucionalidade de lei federal em tese, de
sua história. iniciativa exclusiva do Procurador-Geral da República, e a prejudi-
cial de inconstitucionalidade em processos já em curso perante outro
O CONTROLE NA CARTA DE 1946: O INÍCIO EFETIVO juízo, sendo esta de titularidade tanto do Procurador-Geral da Repú-
DO CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE blica como do próprio Supremo Tribunal Federal.
NO BRASIL Em outras palavras, agora é permitido ao Procurador-Geral da
República ajuizar ação perante o Supremo Tribunal Federal, questio-
Restaurada a democracia no país, verifica-se que a Constituição nando sobre a inconstitucionalidade de lei em tese, sem que fosse o
de 18 de setembro de 1946 retomou o desenvolvimento do controle caso de intervenção federal.
judicial de constitucionalidade, interrompido abruptamente pelo re- Com essa medida, as leis federais tornavam-se vulneráveis à
gime ditatorial durante o Estado Novo. declaração de inconstitucionalidade e estava instituído o controle
Assim, é possível notar o retorno da exigência da maioria ab- abstrato de constitucionalidade no Brasil.
soluta dos votos nas decisões declaratórias de inconstitucionalidade, É importante ressaltar ainda que o controle concentrado não
bem como a atribuição ao Senado Federal para suspender a execu- ficou restrito ao âmbito federal, já que o art. 124, XIII da Emenda
ção de lei declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal. Constitucional nº 16 outorgou ao legislador a faculdade para “esta-
Igualmente, é possível presenciar novidades no texto de 46, belecer processo de competência originária do Tribunal de Justiça,
como, por exemplo, as situações passíveis de recurso extraordiná- para declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato do Município
em conflito com a Constituição do Estado”.
rio, que se aproximam muito das hipóteses previstas atualmente na
Embora o controle difuso estivesse presente desde a Constitui-
Constituição, quais sejam: “a) quando a decisão for contrária a dis-
ção de 1891,permitindo a qualquer indivíduo arguir a inconstitucio-
positivo desta Constituição ou à letra de tratado ou lei federal; b)
nalidade de qualquer dispositivo legal perante o magistrado compe-
quando se questionar sobre a validade de lei federal em face desta
tente para julgar a causa, verifica-se um amplo desenvolvimento do
Constituição, e a decisão recorrida negar aplicação à lei impugnada,
controle concentrado, albergando cada vez mais hipóteses ao longo
e c) quando se contestar a validade de lei ou ato de governo local em
do desenvolvimento do direito constitucional no Brasil e conferin-
face desta Constituição ou de lei federal, e a decisão recorrida julgar
do ao Supremo Tribunal Federal cada vez mais importância como o
válida a lei ou o ato.
guardião da Constituição, tanto por ser instância final nos processos
Outra modificação importante com relação à Constituição de
comuns de controle difuso, como por ser o órgão competente para
1934 foi o retorno da representação de inconstitucionalidade inter- decidir em sede de controle concentrado.
ventiva, cuja titularidade continuava a ser do Procurador-Geral da De fato, a importância da Emenda Constitucional nº 16/65 foi
República. a de instituir no Brasil o controle abstrato de constitucionalidade,
É certo que a parte do texto constitucional que tratou desta ação sendo este um controle sobre a lei em tese, cuja competência para
não era idêntica à do texto de 34, acrescentando-se alguns requisitos, julgar é somente do Supremo Tribunal Federal, demonstrando com
dentre eles a violação de certos princípios, como, por exemplo, a for- isso a prevalência de sua principal competência – o controle de cons-
ma republicana representativa, a independência e harmonia entre os titucionalidade.
poderes, a autonomia municipal e as garantias do Poder Judiciário,
por exemplo. A CONSTITUIÇÃO DE 1967
Assim, após o Estado Novo, verifica-se a manutenção do con-
trole concentrado no Brasil, pois coube novamente a um só órgão – o CONTEXTO HISTÓRICO: GOLPE DE 1964 E DITADURA
Supremo Tribunal Federal, apreciar a questão constitucional e dizer
sobre a constitucionalidade ou não do ato normativo impugnado. Com o golpe de 1964 e a ascensão ao poder dos militares, fi-
Contudo, até este momento a via concentrada atuava somente cava cada vez mais claro que a Constituição de 1946 não atendia às
com relação à intervenção federal, para que se preservassem os pre- necessidades daquela classe. Isso se confirma ao se observar que,
ceitos constitucionais, também denominados de princípios constitu- se em quinze anos (de 1946 a 1961) a Constituição sofreu apenas
cionais sensíveis. Ferindo-se tais princípios, autorizava-se, pois, a três emendas, entre 1961 e 1966 o número de emendas já chegava
intervenção da União em um Estado. a vinte e uma.
As importâncias das questões constitucionais, bem como a De fato, os Atos Institucionais já havia praticamente determina-
preocupação com a forma de proteger essas questões, tiveram tal do a anulação da Constituição de 1946, levando os militares a outor-
desenvolvimento que em um determinado momento a análise da garem em 24 de janeiro de 1967 uma nova Constituição.
constitucionalidade concernente apenas à intervenção federal tor- A Constituição de 1967, sob o argumento inconsistente de pre-
nou-se apenas uma das formas e mesmo assim em caso de exceção servar a segurança nacional, conferiu amplos poderes ao Poder Exe-
(intervenção) de se proteger a Lei Maior do Estado. cutivo federal, na figura do Presidente da República. Consequência
Didatismo e Conhecimento 67
HISTÓRIA DO BRASIL
desse fortalecimento do Poder Executivo foi a valorização da União Contudo, em que pesem as manifestações populares sob a al-
na estrutura federativa do Estado brasileiro, trazendo para si certas cunha de “diretas já”,as eleições ocorridas em 1984 foram indiretas,
competências que antes pertenciam aos Estados e aos Municípios. mas levaram à Presidência da República um civil, o então governa-
Ademais, os Atos Institucionais e os Decretos-Leis tornaram dor de Minas Gerais, pelo PMDB, Tancredo Neves, cujo vice era
o Poder Executivo o titular efetivo do poder legiferante, sob o ar- José Sarney, do PFL (Partido da Frente Liberal).
gumento da urgência e do interesse público que, obviamente, nem Grande esperança tomou conta da população, que havia vinte
sempre eram presentes. anos não via um civilno poder. Esperava-se a redemocratização e a
A falta de popularidade dos Presidentes militares, aliada aos fre- abertura política, a convocação de nova constituinte que elaborasse
quentes abusos do poder, trouxeram insatisfações e manifestações, uma Constituição condizente com os anseios de todos.
sobretudo estudantis, que tomaram conta das ruas do país. Todavia, a esperança pareceu ruir quando Tancredo Neves, elei-
Na tentativa de calar os manifestantes, o governo editou, em 13 to Presidente, mas ainda sem tomar posse, adoece e falece em 21 de
de dezembro de1968, o Ato Institucional nº 05, de um autoritarismo abril de 1984, causando grande comoção popular. Um país inteiro
jamais visto, conferindo plenos poderes ao Presidente da República, chorava a morte daquele que trouxe a esperança de retorno da de-
permitindo ao mesmo decretar o fechamento das casas do Poder Le- mocracia.
gislativo em todos os níveis da federação, cassar mandatos e suspen- Após alguma discussão acerca de se seriam ou não convocadas
der, por dez anos, os direitos políticos dos parlamentares contrários novas eleições presidenciais, assume o vice de Tancredo, José Sar-
ao regime, bem como suspender as garantias dos membros do Poder ney, sob os duvidosos olhares de todos, já que se tratava de membro
Judiciário e suspender a garantia do habeas corpus nos casos de cri- da aristocracia maranhense, que dominava o poder político da região
mes políticos contra a segurança nacional, a ordem econômica e a desde sempre, com um histórico a favor das forças autoritárias.
economia popular. Contudo, em que pese não ter sido a melhor pessoa para o
A situação tornou-se insustentável, nunca antes se viu tamanha momento, Sarneycumpriu as promessas de campanha de Tancredo
arbitrariedade no exercício do poder. O Estado de polícia tomava Neves e, logo que assumiu, convocou o Congresso Nacional, que
conta definitivamente do país e a Constituição não era levada em se converteu em Assembleia Nacional Constituinte, para elaborar o
consideração, embora se tentasse, através dela, dar uma aparência de
texto de uma nova Constituição que refletisse os ares da democracia
legitimidade aos atos do Poder Executivo.
e da liberdade, texto esse promulgado em 05 de outubro de 1988.
Assim é que, em 17 de outubro de 1969, foi publicada a Emen-
da Constitucional nºb01, que modificava o texto da Constituição de
O CONTROLE NA CONSTITUIÇÃO DE 1967: A AMPLIA-
1967 em diversos aspectos, tornando-a ainda mais autoritária.
ÇÃO DO CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALI-
De fato, a modificação no texto da Carta Política foi tão gran-
DADE
de que boa parte da doutrina classifica tal emenda como uma nova
Constituição. Não concordamos com tal posição.
De início, importa informar que a Constituição de 1967 mante-
Vê-se que se tratava de um período curioso da história do Bra-
ve todas as inovações trazidas pela Emenda nº 16 supracitada.
sil. Ao mesmo tempo em que se desprezava o direito constitucional
porque tudo no fundo brotava de atos cujo fundamento último era A nova Carta Política ampliou os efeitos da declaração de in-
o exercício sem limites do poder pelos militares não se descurava, constitucionalidade baseada na intervenção federal, objetivando as-
contudo, de procurar uma aparência de legitimidade pela invocação segurar não somente a observância dos princípios sensíveis, mas a
de dispositivos legais que estariam a embasar estas emanações de execução de lei federal.
força. Para uns, como visto, esta emenda é uma nova Constituição, Como se tratou de um período em que o Executivo teve seus
para outros não passa de uma mera emenda. Preferimos ficar com poderes fortemente ampliados, a Carta de 1967 transferiu do Senado
estes últimos, embora não se desconheça que a relevância da questão Federal para o Presidente da República o poder de suspender o ato
é muito pequena. De qualquer sorte, como foi um período onde pre- ou a lei declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal,
valeceram os rótulos e as formas, com total descaso pela substância, quando essa suspensão fosse suficiente para restabelecer a “norma-
é preferível mesmo manter o ato com a natureza com que ele veio lidade” no Estado.
a lume. De fato, a maior contribuição deste período para o controle da
Foi somente no Governo do General Ernesto Geisel (de 15 de constitucionalidade não ocorreu por conta de qualquer inovação in-
março de 1974 a 15 de março de 1979) que se observa pela primeira troduzida, mas principalmente pelas discussões em torno da titula-
vez alguma abertura política, mas ainda tímida diante da redemocra- ridade exclusiva do Procurador-Geral da República para o ajuiza-
tização que todos esperavam. mento da ação direta de inconstitucionalidade, principalmente após
Em 1979, o então Presidente da República, General João Bap- o Decreto-Lei do Governo Federal que instituiu a censura prévia de
tista Figueiredo, promove anistia aos condenados por crimes políti- livros, revistas e jornais no país.
cos, fazendo com que retornassem ao país muitos artistas e intelec- A grande discussão se situou em torno da obrigatoriedade ou
tuais exilados nos piores anos da ditadura. não de o Procurador-Geral da República ajuizar a ação direta. In-
Por sua vez, as eleições diretas para Governador ocorridas em dagava-se se, em caso de flagrante inconstitucionalidade, o Procu-
1982 mostraram quão impopular era o governo, a partir da vitória rador-Geral poderia se esquivar de ajuizar referida ação ou se ele
expressiva do PMDB (Partido da Mobilização Democrática do Bra- estava obrigado a ajuizá-la.
sil), principal oposição ao governo ditatorial, criando as condições A situação contrária também era passível de dúvida, a saber, se
para que o povo pedisse eleições diretas também para Presidente da no caso de a lei ser manifestamente constitucional, o Procurador-
República, que ocorreriam dois anos mais tarde. Geral da República estaria obrigado a instaurar o controle abstrato.
Didatismo e Conhecimento 68
HISTÓRIA DO BRASIL
Em outras palavras, uma vez que o Procurador-Geral era o úni- listas, sendo o Procurador-Geral nomeado pelo Presidente da Repú-
co legitimado para ao juizamento da ação direta, a grande dúvida blica e podendo ser, a qualquer momento, livremente exonerado por
consistia em saber se ele estava ou não obrigado por lei ao ajuiza- este, jamais atuaria ele contra as conveniências do chefe do Governo.
mento. Em nossa opinião, ganhava ainda mais importância, portanto, o
De fato, referido decreto de censura de livros originou tamanha Poder Executivo, com a legitimidade exclusiva do Procurador-Geral
indignação que o partido político da oposição da época, o MDB, da República, que poderia facilmente deixar passar leis flagrante-
solicitou ao então Procurador-Geral da República que instaurasse o mente inconstitucionais elaboradas pelo Executivo, que, como visto,
controle de constitucionalidade em face do referido decreto de cen- assumiu por diversas vezes a função do Legislativo durante o perío-
sura. do militar.
Contudo, após a resposta do chefe do Ministério Público fede- Na realidade, o problema deste período não se resumia somen-
ral, que disse não estar obrigado por lei à instauração do controle te na obrigatoriedade ou discricionariedade do Procurador-Geral da
abstrato, surgiu grande celeuma acerca do assunto, com opiniões de República para ajuizar a ação direta, mas no fato de ser ele o único
importantes juristas defendendo os dois lados da questão. legitimado para tanto.
Toda esta polêmica foi provocada porque a citada Emenda Caso existisse a possibilidade de outras pessoas ajuizarem tal
Constitucional nº 16, de26 de novembro de 1965, não deixou cla- ação, esta questão seria irrelevante, o que levou a discussão a evoluir
ro em seu texto se o Procurador-Geral da República estava ou não a ponto de se questionar o porquê de o Procurador-Geral da Repúbli-
obrigado a instaurar o controle de constitucionalidade, ao afirmar ca ter o monopólio da iniciativa do controle abstrato e concentrado
tão-somente que a representação de inconstitucionalidade de lei ou de constitucionalidade.
ato de natureza normativa, federal ou estadual, seria “encaminhada” O Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal datado de
pelo Procurador-Geral da República. 1970 até tentou apaziguar a situação, ao prever que o Procurador-
Após muita discussão, alterou-se, ainda que discretamente, a Geral da República, “quando provocado por terceiros ou por autori-
Constituição de 1967, modificando-se o artigo 114, I, l, afirmando dade, entendendo improcedente a fundamentação da súplica, poderá
que o Procurador-Geral da República instauraria representação, por encaminhá-la com parecer contrário”. Tentou-se, assim, eliminar o
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual. juízo prévio do chefe do Ministério Público Federal.
Por este dispositivo constitucional, o Procurador-Geral somente
Entretanto, a insatisfação com esta situação acabou por ser um
instauraria a ação direta caso a lei fosse inconstitucional. Mas, como
dos principais motivos que levaram o constituinte de 1988 a estender
quem decidia acerca da constitucionalidade ou não da lei era o Su-
a iniciativa do controle abstrato a diversas pessoas e órgãos, am-
premo Tribunal Federal, o juízo prévio acerca da constitucionalidade
pliando a possibilidade de controle concentrado de constituciona-
da lei era do próprio Procurador-Geral.
lidade no Brasil. Com efeito, tal discussão acerca do monopólio da
Em outras palavras, conferiram por atribuição constitucional ao
iniciativa do controle abstrato pelo Procurador-Geral da República
chefe do Ministério Público federal o juízo discricionário de julgar
permaneceu durante todo o período ditatorial, e a insatisfação com
previamente se tal dispositivo era ou não inconstitucional, para, após
esta situação consistiu no principal fundamento da grande alteração
tal julgamento prévio, ele optasse por ajuizar ou não a ação direta.
A regra, que já não era clara, ficou pior ainda, pois, com a modi- ocorrida com a promulgação da Constituição Federal de 1988.
ficação no texto constitucional, se o Procurador-Geral da República Assim, embora o controle difuso possua grande importância, as
chegasse à conclusão pela inconstitucionalidade de determinada lei, modificações introduzidas em sede de controle de constitucionalida-
ele estaria obrigado a instaurar a representação, sendo que o con- de levam à conclusão de que o controle concentrado vem ganhando
trário não era verdadeiro (se julgasse a lei constitucional, não seria cada vez mais importância, e, junto com ele, o Supremo Tribunal
obrigado a ajuizar a ação). Federal, único órgão competente para julgar as demandas desta es-
Em outras palavras, a modificação conferia ao Procurador- pécie.
Geral o poder discricionário de determinar previamente se, na sua
concepção, determinada lei era ou não constitucional, para só então A CONSTITUIÇÃO DE 1988: A CONSTITUIÇÃO-CIDA-
instaurar a representação. DÃ E A AMPLIAÇÃO DO CONTROLE CONCENTRADO DE
Em suma, a polêmica permaneceu, pois a obrigatoriedade do CONSTITUCIONALIDADE NO BRASIL
Procurador-Geral da República de ajuizar a ação direta continuava
sendo questionada. Após um processo longo de elaboração e votação de seu texto,
Agravava a situação o fato de o Procurador-Geral da Repúbli- a Constituição Federal foi promulgada com grande festa, em 05 de
ca ser indicado pelo Presidente da República, o que, em época de outubro de 1988, cercada de grandes expectativas.
regime militar, muito significava. O que todos se perguntavam era De fato, a Constituição de 1988 expressa bem os anseios da
se o chefe do Ministério Público federal, uma vez indicado pelo Pre- sociedade no período em que foi promulgada. Após vinte anos de di-
sidente (militar), seria capaz de ajuizar uma ação que fosse contrária tadura e violação aos direitos humanos, a Carta Política de 1988 con-
aos interesses do governo. sagrou em especial os direitos individuais, dando atenção especial
A intenção do legislador constituinte era fácil de aperceber. Pre- ao princípio da dignidade da pessoa humana e aos direitos conexos
tendia este instituir um controle, concentrado no Supremo Tribunal a este princípio, como a proibição da tortura e a prática de racismo
Federal, visando a norma em tese (como diz a doutrina, um controle como crime inafiançável, entre outros.
principal e não incidental), quando a declaração de nulidade desta Também consagra a Carta Magna os direitos sociais em capítulo
conviesse ao Executivo federal. Claro que este último aspecto não específico, com atenção especial ao direito dos trabalhadores, bem
era explícito qualquer um poderia, como pôde, reclamar do Procu- como assegura a igualdade material em diversos momentos, além de
rador-Geral da República tal “representação”. Mas, em termos rea- destinar título específico para a ordem social.
Didatismo e Conhecimento 69
HISTÓRIA DO BRASIL
No que diz respeito ao controle de constitucionalidade, a po- centrado de constitucionalidade, como no caso da Emenda Constitu-
lêmica surgida com a Emenda Constitucional nº 16, de 26 de no- cional nº 03/93 que criou a ação declaratória de constitucionalidade e
vembro de 1965, acerca do monopólio exclusivo da ação direta de a Emenda Constitucional nº 45/04 que trouxe modificações no rol de
inconstitucionalidade pelo Procurador-Geral da República e os pro- legitimados para as ações de controle concentrado que não a ADIN,
blemas que tal monopólio originou revelaram a necessidade de se bem como modificou os efeitos das decisões em sede de controle
alterar o rol dos legitimados para o ajuizamento desta ação, preve- concentrado.
nindo-se que, no futuro, não somente a legitimidade para o controle Em suma, tanto as modificações ocorridas com a Constituição
abstrato continuasse restrita, mas, principalmente, que tal restrição de 1988 como aquelas levadas a efeito por meio das posteriores
não tivesse o condão de sustentar arbitrariedades, como tinha ocor- Emendas Constitucionais ampliaram ainda mais o controle concen-
rido em um passado não muito distante. Além disso, o histórico de trado de constitucionalidade no Brasil, levando consequentemente a
arbitrariedades cometidas pela ditadura e a abertura política, aliada um aumento no número de ações típicas desta espécie de controle.
à redemocratização do país, acarretaram na necessidade de tornar o Todavia, o Supremo Tribunal Federal, no afã de reduzir o nú-
controle abstrato e concentrado de constitucionalidade mais acessí- mero de processos que lá desembocam todos os dias (em muito de-
vel a outros setores, de modo que a discussão atingisse a um número correntes de suas competências não relacionadas especificamente ao
maior de pessoas. controle de constitucionalidade), vem interpretando restritivamente
Chegou-se até a discutir a respeito de uma ação popular de in- o rol de legitimados contidos na Carta Política de 1988, criando um
constitucionalidade, aberta a qualquer cidadão. Nesse sentido, afir- filtro denominado de pertinência temática para alguns legitimados,
mam Ives Gandra da Silva Martins e Gilmar Ferreira Mendes: atuando na contramão do desenvolvimento do controle concentrado
Com isso satisfez o constituinte apenas parcialmente a exigên- de constitucionalidade no Brasil. Texto adaptado de VAINER, B. Z
cia daqueles que solicitavam fosse assegurado o direito de proposi-
tura da ação a um grupo de, v.g., dez mil cidadãos ou que defendiam
até mesmo a introdução de uma ação popular de inconstitucionali-
dade. Tal fato fortalece a impressão de que, com a introdução desse
sistema de controle abstrato de normas, com ampla legitimação e,
particularmente, a outorga do direito de propositura a diferentes ór-
gãos da sociedade, pretendeu o constituinte reforçar o controle abs-
trato de normas no ordenamento jurídico brasileiro como peculiar
instrumento de correção do sistema geral incidente.
Por estes motivos, a Constituição de 1988 inovou, reforçando
amplamente o controle concentrado de constitucionalidade no país,
alargando significativamente a legitimidade para a propositura da
ação direta de inconstitucionalidade, permitindo o ajuizamento desta
pelo Presidente da República, Mesas do Senado Federal, Câmara
dos Deputados e Assembléias Legislativas dos Estados, Governador
de Estado, Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil,
partido político com representação no Congresso Nacional e confe-
deração sindical ou entidade de classe de âmbito nacional, conforme
preceitua o artigo 103 da atual Constituição Federal. No dizer de
Luiz Alberto David Araújo:
Preocupada com a titularidade isolada do Procurador-Geral da
República para o ajuizamento da ação direta de inconstitucionalida-
de, como era na EC n. 1, de 1969, a Constituição Federal de 1988
cuidou de arrolar, em seu art. 103, os legitimados para o ajuizamento
da ação direta de inconstitucionalidade. Houve aumento dos legiti-
mados, ampliação que só mereceu elogios, pelo caráter democrático
do acesso mais alargado para o controle concentrado.
Também inovou o diploma de 88 ao introduzir no ordenamento
jurídico pátrio a ação direta de inconstitucionalidade por omissão e a
arguição de descumprimento de preceito fundamental, aumentando
e muito o leque de atos (normativos ou não) passíveis de controle
concentrado de constitucionalidade.
Assim, não se pode negar que a Carta de 1988 facilitou bastante
o acesso ao controle concentrado, mantendo um sistema misto, mas
consagrando o controle abstrato e concentrado de constitucionali-
dade ao tornar o seu acesso possível aos representantes de diversos
setores da sociedade.
Contudo, mais do que o fato de a Constituição ter modificado
o sistema de controle concentrado, as Emendas Constitucionais que
vieram no futuro trouxeram grandes alterações para o controle con-
Didatismo e Conhecimento 70
GEOGRAFIA DO BRASIL
GEOGRAFIA DO BRASIL
em Bretton Woods. Este último fato tratou-se de uma conferên-
A INTEGRAÇÃO AO PROCESSO DE cia Monetária e Financeira estabelecida no âmbito da ONU, onde
INTERNACIONALIZAÇÃO DA houve a criação do FMI e do BIRD (que deu origem ao Banco
Mundial) e foi definindo o Sistema Bretton Woods de gerencia-
ECONOMIA. mento econômico internacional, que organizou em julho de 1944
as regras para as relações comerciais e financeiras entre os países
mais industrializados do mundo. Estes fatos caracterizaram o iní-
cio de uma era seguinte à dos 30 anos dourados do capitalismo
A realidade atual do Estado Contemporâneo, concebido em (1948-1977), de um capitalismo financeirizado, um dos marcos
contraposição ao tradicional Estado Nacional Moderno deve ser principais do processo de internacionalização e imbricação das
compreendida a partir de algumas leituras, dentre elas, a que trata economias.
dos vários processos e transformações ocorridos durante o século Feita a devida ressalva de que não se pretendeu, por moti-
XX, como o processo de fragmentação social, transformações po- vos metodológicos, e pelo formato do presente trabalho, abordar
líticas, e do processo de internacionalização econômica, ou como o fenômeno da globalização e suas consequências como um todo,
é mais conhecido, globalização econômica. O atual quadro institu- modo pelo qual se entende que deve ser observado e estudado, en-
cional das organizações internacionais também não pode fugir de volvendo os mais amplos aspectos além do econômico-financeiro,
tais reflexões. como o social, o cultural, etc...
Dentro deste processo, tendo em vista reconhecida divergên- Uma alta inflação combinada a um alto desemprego, termo
cia quanto à sua amplitude e sua demarcação histórica mesmo econômico desenvolvido para caracterizar o período composto pe-
entre seus principais teóricos, elegeu-se um período específico, los anos de 1970 e seguintes.
onde, a partir da década de 1970, as transformações no sentido “O primeiro choque do petróleo ocorreu em 1973 com os pro-
de uma globalização econômica se acentuaram e houve profundas dutores diminuindo a produção e elevando o preço do barril de
mudanças no modo de produção capitalista, levando alguns a tra- US$ 2,90 para US$ 11,65 em apenas três meses”. As vendas para
tar o período como um novo ciclo capitalista. Assim, no presente os EUA e a Europa também foram embargadas nessa época devido
trabalho, elegeu-se um setor específico da economia internacional, ao apoio dado Israel na Guerra do Yom Kippur.
o setor bancário e de produtos financeiros e os negócios jurídicos A limitação de espaço imposta pelo formato deste trabalho
existentes em seu âmbito, para propor a seguinte questão: é possí- leva a adoção de uma leitura talvez simplista, mas é possível tra-
vel estabelecer uma relação entre as transformações trazidas pelo çar uma linha resumida deste fenômeno, colocando em seguida
processo de internacionalização econômica e a atual estrutura do neste traço temporal, desde a década de 80 no século XX, para os
Estado Contemporâneo e das organizações internacionais voltadas países então denominados do primeiro mundo, e a partir dos 90
para a América Latina, o avanço do processo relatado marcado
para o setor?
pela derrubada de barreiras comerciais e liberalização do comércio
Adotando-se, uma revisão bibliográfica e de investigação es-
exterior, mas não apenas no campo estreitamente mercantil, ocor-
pecífica sobre algumas instituições e sua composição, proceder-
rendo de forma semelhante no movimento de recursos financeiros,
se-á então à análise pretendida e à busca de estabelecer a relação
transferência de tecnologias, investimentos e outros setores, e ao
proposta, sempre de forma contextualizada, ressaltando suas ca-
ganhar um número maior de nações, passou a ser denominada de
racterísticas mais importantes e também, ainda que brevemente,
globalização, de modo a significar que “os critérios de eficiência
aferir algumas reflexões sobre o tema. na produção, comercialização, nos investimentos, em toda a eco-
nomia, enfim, são fixados em nível mundial e não mais nacional
O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECO- ou local.”
NOMIA NAS ÚLTIMAS DÉCADAS DO SÉCULO XX Assim, neste novo ciclo capitalista, setores tradicionais do
modo de produção anterior, centrado na indústria de produção de
A primeira análise é ser feita aqui se centra em uma leitura de bens de capital, setor automobilístico, indústria química e tradi-
como alguns processos de transformação da economia mundial, o cionais de produção, agora deixaram lugar à prevalência de outras
que também ficou conhecido como globalização econômica, a par- áreas. Esses setores então vetoriais, segundo Floriano Peixoto de
tir dos anos 70, século XX, impulsionaram uma nova visão sobre Azevedo Marques Neto, são ofuscados pela a crescente opulência
as relações econômicas em nível internacional, que deixaram de se do setor financeiro e bancário internacional, envolvendo também
dar em nível local e regional, geograficamente limitada aos terri- fundos mútuos e fundos de pensão, que passam a exercer um papel
tórios nacionais, e adquiriram uma amplitude global, caracterizada fundamental para a economia:
pela hipermobilidade e disseminação de capitais e ativos financei- Do ponto de vista financeiro assistimos a uma circulação de
ros de alta complexidade, possibilitados pela crescente evolução capitais sem precedentes circulação, esta, que se revela não só no
tecnológica e nos meios de comunicação, no que denomina-se de advento de intrincados mecanismos de financiamento, como tam-
um novo ciclo do modo de produção capitalista. bém na emergência de um certo virtualismo financeiro, represen-
O marco histórico inaugural desse período, precedido por cri- tado pelas negociações especulativas não lastreadas em disponibi-
ses cíclicas de superprodução nos países capitalistas centrais e o lidade financeiras efetivas, mas que são possíveis dada a plena in-
período que se denominou de estagflação, onde processo de globa- tegração do sistemas financeiros em todo o mundo via telemática.
lização econômica é frequentemente localizado, aproxima-se em Assim, o capital financeiro, que sempre fora apátrida, torna-se ab-
alguns fatos: a) nos choques do petróleo acontecidos nos anos de solutamente desenraizado territorialmente e, destarte, praticamen-
1971 e 1974, b) na redução de juros pelo governo Estados Unidos, te incontrolável pelos mecanismos tradicionais disponíveis pelos
c) o abandono dos padrões de estabilidade monetária estabelecidos diversos países integrantes do sistema financeiro internacional.
Didatismo e Conhecimento 1
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A transição do “padrão de acumulação fordista” para o “pa- adotado na concepção de centro de poder decisório institucional-
drão de acumulação flexível” é passível de ser explicado ao se mente organizado e também sobre seus modelos tradicionais do
adotar um modelo comparativo em que se considera inicialmente ponto de vista econômico, marcados pelo Estado Liberal Clássico
o modo de produção capitalista organizado do período fordista- substituído pelo Estado Social e Intervencionista, de inspirações
keynesiano, caracterizado pela: existência de um capital industrial, keynesianas, enquanto paralelamente ainda se via fora das econo-
bancário e comercial concentrado e centralizado dentro de merca- mias do bloco capitalista, um modelo de Estado Socialista, impon-
dos nacionais regulados, com hierarquias gerenciais complexas, do-se um enfoque no presente momento, pois como ressalta Bres-
uma burocracia de classe média, surgindo negociações e organiza- ser-Pereira, “a intervenção do Estado segue um padrão cíclico” e:
ções de classe que negociavam em âmbito nacional; uma corres- O processo histórico é o produto da contínua interação en-
pondência entre os interesses do Estado e do grande capital mono- tre os dois principais mecanismos institucionais que coordenam
polista; o desenvolvimento do Estado de Bem-Estar Social com a os modernos Estados nação o Estado e o Mercado, de tal forma
participação dos interesses de classe diverso na agenda nacional; que todas as economias avançadas são essencialmente economias
a concentração das relações capitalistas em um número pequenos mistas: elas não são puras economias de mercado, e muito menos
regimes estatais.
de indústrias, sendo que as manufatureiras e extrativistas eram as
Estas afirmações se confirmam ao se verificar a concepção
principais geradoras de empregos.
clássica de Lourival Vilanova, para quem a conotação do termo
Já no modelo do capitalismo de acumulação flexível ou de-
Estado sofre variações, pois quando dirigido a sua origem e sua
sorganizado, sevê um quadro de rápido aumento do poder das cor- formação encontra-se a história do Estado e também a sociologia
porações, se desconcentrando dos mercados nacionais, a interna- do Estado e enquanto fenômeno jurídico chega o Estado até onde
cionalização do capital e a separação entre bancário e industrial; chega o direito, ressaltando com clareza ainda, com base nessas
a expansão de setores gerenciais se organizando em discordância premissas, que a quantidade de Estado em uma sociedade se tra-
com as políticas de classe; declínio da classe operária; redução de ta uma variável histórica e pode ser empregada como um critério
eficácia das negociações coletivas nacionais; grandes monopólios para construir e conceituar “modelos” de Estado.
ultrapassam a regulação estatal e a burocracia e o poder centrali- Nota-se então um esgotamento da operacionalidade e da efi-
zador do estado é desafiado; dispersam-se as relações capitalistas cácia dos mecanismos jurídicos convencionais dos Estados, que
por múltiplos setores e regiões e as indústrias manufatureiras e se manifesta especialmente nos instrumentos legais de regulação e
extrativas sofrem declínio e prosperam as indústrias de organiza- controle da área econômica e financeira, que não acompanharam a
ção e serviços. forma veloz com que o mundo se globalizou e, ante a crescente di-
Este processo teve seguimento nas últimas duas décadas do ferenciação dos sistemas funcionalmente especializados que com-
século XX,onde se vislumbraram mudanças revolucionárias na põem os mercados bancário e financeiro, atuando de modo cada
estrutura dos mercados financeiros mundiais e instituições, assim vez mais desterritorializado. As Constituições, enquanto “leis da
como no entendimento de como usá-los para prover oportunidades totalidade social” tendem a perder tanto a força normativa quanto à
de investimento e trabalhar com o risco. Essas inovações se deram capacidade de absorver mudanças e inovações econômicas, como
em razão de novos desenhos de securitização, dos avanços na tec- as que estiveram por trás da crise de 2008.
nologia de informática e telecomunicações e avanços importantes Passa a ser necessário então enfrentar o tema proposto e a tra-
na teoria das finanças. zido na aporia de Luigi Ferrajoli, que explica o que se passou a
Após esta breve introdução ao desenvolvimento processo denominar de “Crise do Estado” como sendo essencialmente uma
de internacionalização da economia, se faz necessário relacioná crise da soberania estatal, que se manifesta na transferência de
-lo, para centralizar a discussão e ao final estabelecer as relações cotas crescentes de poderes e funções públicas, tradicionalmente
pretendidas, com dois de seus desdobramentos significativos: as reservadas aos Estados, para fora de seus limites territoriais.
transformações impostas ao Estado e às instituições internacionais Em determinado momento na segunda metade do séc.XX, ob-
servou-seque a internacionalização da economia e os capitais polí-
voltadas ao âmbito econômico.
ticos por ela transportados transformaram o Estado em uma unida-
de de análise relativamente obsoleta18, restringindo a intervenção
A INFLUÊNCIA DA INTERNACIONALIZAÇÃO ECONÔ-
no domínio econômico e retirando-lhe a possibilidade de execução
MICA SOBRE O ESTADO E AS ORGANIZAÇÕES INTERNA- de alguns de seus instrumentos tradicionais como a regulação e a
CIONAIS execução das políticas cambial, monetária e tributária. Diante da
natureza multicêntrica dos mercados financeiros globalizados,em
As circunstâncias econômicas relatadas anteriormente, obvia- cujo espaço os capitais passam a ser marcados pela hipermobi-
mente, trouxeram inúmeras consequências (e sob uma perspectiva lidade e as instituições disseminam ativos de alta complexidade,
dialética, também foram influenciadas), para os entes políticos e associados à transferência de risco entre sujeitos situados nas mais
institucionais que voltam sua atuação para área econômica, em variadas regiões e continentes, os Estados Nacionais agem com
nível nacional, representado pelo Estado, e em nível internacio- enorme lentidão nos campos jurídico e judicial constatando-se gra-
nal, pelas Organizações Internacionais, que ainda traziam um forte ves falhas operacionais no exercício de sua função reguladora da
marco do projeto internacional do pós-guerra e da criação da ONU, atividade econômica:
e, além disso, fizeram-se ver novos atores internacionais, como as Por causa desse enfraquecimento,
empresas transnacionais, que passaram a integrar o cenário econô- (a) os Estados Nacionais tem comprometida sua capacidade
mico internacional, em alguns casos, com maior relevância que os de coordenação macroeconômica,
próprios atores tradicionais. Uma primeira reflexão necessária se (b) perdem as condições materiais de estabelecer critérios po-
localiza nas consequências estruturais que o processo de interna- líticos e dispositivos jurídicos aptos a permitir a superação da rigi-
cionalização da economia infringiu sobre o Estado Nacional, aqui dez da lógica econômica na busca do bem estar coletivo,
Didatismo e Conhecimento 2
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(c) revelam-se incapazes de impedir a transferência de parte últimas rodadas (Tóquio e Uruguai) do GATT (General Agreement
de seu poder decisório para as áreas de influência do capital priva- on Tariffs and Trade) mas resultava também da existência, após a
do e dos grandes conglomerados empresariais; Segunda Guerra Mundial, de um mecanismo de cooperação mo-
(d) enfrentam dificuldades para assegurar a eficácia de seus netária.
instrumentos de política industrial baseados na imposição de res- É também possível uma relação das transformações econômi-
trições aos fluxos de capitais e mercadorias e, por fim, cas do período com os processos de integração regional que pas-
(e) dispõe de poucas condições políticas e financeiras para saram a ser desenhados, principalmente no continente Europeu:
administrar o custo social da transformação das relações entre o De outro lado, assistimos a um forte processo de integração
capital e o trabalho provocados pela substituição do antigo para- econômica entre países e mesmo entre blocos econômicos. Tal
digma “fordista”, pelo novo paradigma da “especialização flexível integração atua como causa e consequência do processo de inter-
da produção”. nacionalização, pois se a globalização deriva do quadro de trans-
Como uma das mais significativas consequências do proces- formações econômicas e financeiras, acima delineado, ela também
so, vê-se a multiplicação de fontes normativas além do tradicional irá retroalimentar este processo, na medida em que incrementa a
Estado-Nação com o surgimento de redes paralelas ou que vêm a transnacionalização do capital e do processo de produção e co-
interagir tanto em nível nacional com regional ou internacional, ao mércio, fazendo- os independer, ainda mais, dos estritos limites
passar por diversos processos de transformação interna e externa nacionais. E, interessantemente, embora estes blocos econômicos
decorrentes de valores globais, mas que na concorrência dos fato- e os organismos internacionais que lhes são suporte baseiem-se em
res, tem a internacionalização econômica como principal: tratados firmados entre os países-membros, assiste-se a um proces-
O Estado-fonte de normas sofre o processo de descentrali- so de autonominação destes organismos.
zação de fontes; o Estado-esfera pública sofre a privatização e, Estas mudanças vieram integrar outras instituições como o
sobretudo, no que nos interessa, o Estado-nação é ameaçado pela GATT/OMC, 24 a Organização Internacional do Trabalho (OIT),
internacionalização do direito. Não apenas o Estado não é mais e órgãos específicos da ONU, como a UNCTAD, para compor
o único comandante do processo, mas os próprios conceitos de um quadro voltado para as relações econômicas, a partir daquele
ordem, de espaço e de tempo normativo começaram a escapar-lhe, momento, em franco caráter multicêntrico, internacionalizado, e
e os atores envolvidos não se perguntam se existe um responsável interdependente.
para guia a evolução dos sistemas e, havendo, qual sua natureza Contudo, os fatores do contexto da política econômicos acima
jurídica. indicados sofreram transformações importantes. Assim, o relativo
E é neste momento que se pode destacar que a ordem eco- desprestígio do “dirigismo” como vetor da política econômica e
nômica internacional, de forma geral, também sofreu mudanças o declínio da estabilidade cambial a partir dos anos 1970, junta-
significativas em razão das transformações do período. De início, mente com o a intensificação da interdependência das economias
vê-se o surgimento de novos atores internacionais paralelamente nacionais, tornaram limitado o alcance do Primeiro Direito Eco-
aos tradicionais Estados e Organizações Internacionais, como as nômico. A verdade é que, a partir das décadas de 1970 e 1980,
organizações não governamentais e principalmente as empresas houve uma proliferação de regras que passaram a instrumentalizar
transnacionais ou supranacionais, que operam em escala mundial a política econômica a serviço do pragmatismo econômico e polí-
integradas, tanto em termos produtivos como em termos de seu tico em favor da expansão de mercados por meio de uma agenda
processo de produção e também dos mercados que desejam atingir, liberalização comercial e financeira, cuja implementação passou a
não se estabelecendo em nenhum território nacional, em oposição ser impulsionada por meio dos chamados “ajustes estruturais” do
à antiga empresa multinacional, que operava em diversos Estados FMI e do Banco Mundial, bem como pelos acordos comerciais e
Nacionais, mas tinha sua matriz centralizada e bastante enraizada negociações absorvidas na política comercial conduzida no âmbito
em um deles. das rodadas Tóquio (1973-1979) e Uruguai (1986-1994) do GATT
Crescem também no período o poder e a influência cada vez e subseqüentemente sob a autoridade da Organização Mundial do
maior de instituições de fomento e de coordenação financeira, pas- Comércio (OMC) e suas reuniões ministeriais. Essa reorientação
sando a exercer enorme peso na definição de políticas econômica da política econômica no mundo capitalista foi grandemente im-
e monetárias, como desenvolvimento e fortalecimento do FMI21 pulsionada pela quebra do chamado “Diálogo Norte-Sul”.
e do Banco mundial. Neste ponto, desenhado de forma breve o cenário em que se
Assim, no século XX, surgiu a oportunidade para que se ten- pretende fazer a discussão principal, volta-se a adotar o corte me-
tasse elaborar um ramo do direito voltado para a tarefa de procurar todológico inicialmente proposto para se inferir algumas reflexões
sistematizar as regras correspondentes a práticas administrativas sobre a possível influência das transformações ocorridas no perío-
que estavam na base da política econômica de então. Contudo, o do estudado no Estado e no quadro institucional internacional de
desenvolvimento deste “Primeiro Direito Econômico”, nitidamen- um setor específico da economia: o bancário e de alguns produtos
te uma especialização do Direito Administrativo, sofreu a influên- financeiros. Texto adaptado de PAULA,L. F.
cia de dois fatores decisivos. Um foi a valorização do “dirigismo”
econômico e de estratégias do “planejamento econômico”. Outro
fator foi a ausência, desde 1945 até a década de 1970, de acentuada
vulnerabilidade dos sistemas econômicos nacionais à economia in-
ternacional. Isto decorria não apenas das práticas do protecionismo
comercial das economias nacionais – sendo de se destacar a per-
manência, após a Segunda Guerra, das barreiras não-tarifárias, que
passam a ser incluídas na pauta de negociação somente nas duas
Didatismo e Conhecimento 3
GEOGRAFIA DO BRASIL
Fase pós-industrial: embora não haja consenso sobre esse ter-
mo, a fase pós-industrial seria aquela em que as indústrias, embora
O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO E ainda muito importantes, deixam de desempenhar um papel central
no cerne das sociedades em uma etapa recente. A principal carac-
SUAS REPERCUSSÕES NA terística, nesse caso, é o deslocamento do emprego para o setor ter-
ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO. ciário (comércio e serviços), em um fenômeno que os economistas
chamam de terciarização da economia.
É válido ressaltar que as etapas acima mencionadas não se su-
cederam de forma linear em todas as sociedades e nem de modo
INDUSTRIALIZAÇÃO E SEUS EFEITOS igualitário. Alguns países ou regiões do mundo somente conhece-
ram o processo de industrialização em sua fase mais avançada ou
O processo de industrialização é um dos principais fatores de moderna; outras regiões, em alguns países subdesenvolvidos, se-
transformação do espaço. Por isso, a compreensão de seus aspec- quer podem ser consideradas como sociedades industriais.
tos, tipos e características são de grande relevância.
TIPOS DE INDÚSTRIAS
Um dos principais agentes de produção e transformação do
espaço geográfico na sociedade atual, sem dúvidas, é a atividade
Podemos dizer que existem três principais tipos de indústrias,
industrial, pois ela provoca efeitos sobre os movimentos popula-
classificadas com base na tipologia de suas mercadorias, havendo,
cionais e o crescimento das cidades; interfere nos tipos de produ- porém, inúmeras outras formas de divisão da atividade industrial.
ção no meio urbano e também no meio rural, entre outros. Com base nesse critério, os tipos de indústrias são: de base, de bens
Entende-se por industrialização o processo de transformação de consumo duráveis e de bens de consumo não duráveis.
de matérias-primas em mercadorias ou bens de produção (esses Indústrias de base: são aqueles tipos de indústrias que fabricam
últimos podendo ser novamente transformados) por meio do tra- os chamados bens de produção, isto é, aqueles produtos que não são
balho, do emprego de equipamentos e do investimento de capital. consumidos pelas pessoas, mas empregados por outras indústrias
Obviamente, o crescimento da atividade industrial aumentou a de- para a fabricação de mercadorias. Podem ser máquinas industriais
manda por matérias-primas e mais recursos naturais, por isso o ser ou matérias-primas transformadas, tais como o alumínio, o ferro,
humano passou a explorar ainda mais a natureza e, sobre ela e o entre outras. Inclui-se aí, portanto, as chamados “indústrias extra-
espaço em geral, realizar cada vez mais intervenções e impactos. tivas”, ou seja, aquelas que atuam no processo de refinamento ou
Na visão de muitos autores no campo das Ciências Humanas, transformação de matérias-primas recém-extraídas, tais como o pe-
o processo de industrialização é sinônimo da era da modernidade, tróleo e todos os minerais.
ou seja, a industrialização das sociedades marca, assim, a inserção Indústrias de bens duráveis: são as indústrias que atuam na fa-
delas no mundo moderno. bricação de produtos não perecíveis, isto é, que possuem uma gran-
de vida útil, como os automóveis, os eletroeletrônicos, entre outros.
EVOLUÇÃO DA ATIVIDADE INDUSTRIAL – BREVE Indústrias de bens não duráveis: são as que produzem mer-
HISTÓRICO cadorias perecíveis, ou seja, que são rapidamente consumidas, a
exemplo dos alimentos, do vestuário e outros.
Ao longo do tempo, as sociedades pré-industriais e industriais
passaram por sucessivos estágios de transformação, o que gerou FATORES LOCACIONAIS
diretas consequências sobre os tipos de produção de mercadorias e
a forma de inserção destas no mercado. Os fatores locacionais referem-se aos elementos socioeconô-
Fase pré-industrial (artesanal): a fase da atividade artesanal micos que orientam a distribuição de uma determinada indústria
isto é, quando essa prática era o modo de produção predominante sobre o espaço geográfico. Dentre os inúmeros fatores, podemos
destacar:
estendeu-se desde a Antiguidade até o século XVII. A produção
- Presença imediata de matérias-primas e recursos naturais;
era individual e centrada na figura do artesão, que atuava desde o
- Disponibilidade de mão de obra abundante e barata;
início do processo produtivo até, por vezes, a comercialização de - Incentivos fiscais oferecidos pelo governo local (isenção de
seus produtos. impostos, etc.);
Fase manufatureira: as primeiras indústrias pautavam-se na - Rede de transporte prática e eficiente que permite o fácil es-
manufatura, ou seja, no trabalho manual. Essa fase estendeu-se coamento da produção;
durante o século XVII até meados do século XVIII, quando se - Mercado consumidor amplo e acessível;
iniciou, na Inglaterra, o processo de Revolução Industrial. Utiliza- - Fontes de energia que garantam a produção;
va-se o trabalho manual e máquinas simples com a inauguração do - Presença de indústrias complementares ou de apoio;
processo de divisão de tarefas e a formação das classes trabalhado- - Em alguns tipos de indústria, é importante a proximidade
ras (os assalariados) e as patronais (os patrões). com centros de pesquisas, tais como as universidades.
Fase maquinofatureira ou industrial: podemos dizer que a fase Todos esses elementos (ou pelo menos a maioria deles) são
industrial propriamente dita ocorreu após o início da I Revolução avaliados por uma indústria quando ela escolhe o local para a sua
Industrial com a invenção de maquinários capazes de intensificar a instalação. Muitos governos municipais, estaduais e até federais
produção e empregar um maior número de trabalhadores, além de atuam no sentido de garantir essas condições (sobretudo os incen-
produzirem novos e variados tipos de mercadorias. Com o tempo, tivos fiscais) para que as fábricas instalem-se em seus territórios
essa atividade aperfeiçoou-se com a Segunda e Terceira Revolu- e, assim, gerem mais empregos diretos e indiretos, dinamizando
ções Industriais. mais a economia.
Didatismo e Conhecimento 4
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Em alguns locais, formam-se os complexos industriais com Durante os governos do império (1822-1889), e de igual for-
grande infraestrutura. ma após a proclamação da republica, o significativo numero de
Nesse contexto, é válido ressaltar a importância crescente das brilhantes engenheiros elaborou planos detalhados e ambiciosos de
empresas multinacionais ou globais, que muitas vezes se deslocam transportes para o Brasil. Tendo como principal propósito a interli-
de uma área para outra a fim de obter tais benefícios. Muitas delas gação das distantes e isoladas províncias com vistas à constituição
migram para países subdesenvolvidos, onde a mão de obra é mais de uma nação-estado verdadeiramente unificada, esses pioneiros
barata, ou seja, com menos salários aos trabalhadores. Além disso, da promoção dos transportes no país explicitavam firmemente a
muitas delas fragmentam a produção em muitas regiões, a exem- sua crença de que o crescimento econômico era enormemente ini-
plo das indústrias automobilísticas, em que as várias partes de um bido pela ausência de um sistema nacional de comunicações, e de
carro são produzidas em diferentes lugares do mundo para a obten- que o desenvolvimento dos transportes constituía um fator crucial
ção de maiores vantagens e a máxima geração de lucro. para o alargamento da base econômica dos país.
Um exemplo dessas preocupações remotas com os transportes
OS EFEITOS DA INDUSTRIALIZAÇÃO SOBRE O ESPA- como um fator de desenvolvimento foi o Plano Rebelo, submetido
ÇO GEOGRÁFICO ao governo imperial no ano de 1838 pelo engenheiro Jose Silves-
tre Rebelo. Concebido antes do Brasil ter começado a construir as
Como já mencionamos, a indústria é um dos principais agen- suas primeiras ferrovias, esse plano rodoviário propunha a cons-
tes de transformação do espaço. Quando uma área antes não in- trução de três estradas reais que, partindo da capital do império,
dustrializada recebe um relativo número de fábricas, a tendência atingissem o sudeste, o noroeste e o norte do pais.
é receber mais migrantes para a sua área, acelerando a sua urba- Ao longo da segunda metade do século XIX, época da intro-
nização. dução das ferrovias no Brasil, uma sucessão de planos de viação
Com mais pessoas residindo em um mesmo local, gera-se foi apresentada aos governos, todos eles descartando as rodovias
mais procura pela atividade comercial e também no setor de ser- como principal instrumento de integração, e colocando ênfase nas
viços, que se expandem e produzem mais empregos. Entre outros vias férreas e na navegação fluvial e marítima como as soluções
aspectos positivos, menciona-se a maior arrecadação por meio de para os problemas do isolamento a que ainda se viam submetidas
impostos (embora, quase sempre, as grandes empresas não contri- às regiões brasileiras.
buam tanto com esse aspecto). Dentre as varias propostas da época, vale ressaltar o estudo do
engenheiro militar Eduardo Jose de Moraes, apresentado ao gover-
AS INDÚSTRIAS CONTRIBUEM PARA A GERAÇÃO DE
no imperial em 1869, que continha ambicioso projeto de aprovei-
EMPREGOS
tamento de vários rios brasileiros.
O advento da era ferroviária, tanto no Brasil quanto em outros
Dentre os efeitos negativos da industrialização, podemos citar
países do mundo, e, principalmente, o reconhecimento dos enor-
os impactos gerados sobre o meio ambiente, haja vista que, a de-
mes impactos desenvolvimentistas das ferrovias no país de colo-
pender do tipo de fábrica e das infraestruturas para ela oferecidas,
nização recente, como os Estado Unidos da América, fizeram com
são gerados mais poluentes na atmosfera e também nos solos e
que esta modalidade de transporte passasse a receber prioridade
cursos d’água. Além disso, os incentivos fiscais oferecidos pelo
poder público são criticados por fazer com que a população arque dos engenheiros de transporte, de sorte que todos os planos apre-
mais com os impostos do que as grandes empresas. sentados entre o período de 1870 ate 1930 foram essencialmente
O poder de intervenção da indústria nas sociedades é tão ele- ferroviários. Caberia às ferrovias o papel fundamental de interligar
vado que até as suas modalidades de produção, ou seja, a forma o país e de promover o aproveitamento das potencialidades das
predominante com que suas linhas de produção atuam, interferem vastas áreas interioranas da nação.
na organização do espaço, gerando mais ou menos produtos e em- Nas ultimas décadas do século XIX, ao mesmo tempo em que
pregos, entre outros elementos. Na era do fordismo, a produção era tomava força a idéia de que um sistema nacional de comunicação
em massa, com mais empregos situados no setor secundário; o que era precondição para o crescimento do país, em face da deplorá-
se transformou radicalmente na era do toyotismo. Texto adaptado vel situação em que sem encontravam as diversas modalidades de
de BONDARECO, D. F transporte. Duvidas começaram a emergir, nas mentes daqueles
mesmos pioneiros, sobre se a simples construção de estradas e de
outras medidas de política econômica de mais amplo alcance seria
A REDE BRASILEIRA DE TRANSPORTES suficiente para garantir a deflagração automática do crescimento,
E SUA EVOLUÇÃO. satisfazendo, assim, as aspirações por mudanças profundas na so-
ciedade brasileira, e livrando a economia nacional de quase quatro
séculos de atraso.
A pobreza do mercado interno e o estado geral de subdesen-
Nos quase 500 anos em que se completou o processo de plena volvimento do país, de um lado, e, de outro, a enorme dificuldade
ocupação e integração do espaço nacional, a construção de uma de o tesouro nacional gerar receitas fiscais em uma economia po-
rede unificada de transporte foi apresentada sempre como a única liticamente dominada por uma elite agrária que resiste fortemente
forma de assegura a integridade do território. ao pagamento de tributos, começavam a ser vistos como os fatores
Todavia, foi somente após a independência que começou a se limitativos principais, tanto em termos da capacidade de investi-
manifestar explicitamente no Brasil a preocupação com o isola- mentos do governo quanto em termos da própria saúde financeira
mento das regiões do país como um obstáculo ao desenvolvimento dos diversos e precários sistemas de transportes já em operação.
econômico.
Didatismo e Conhecimento 5
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O fracasso das ferrovias em propiciarem a implantação de uma Ademais, tanto as ferrovias quanto a cabotagem pareciam ter
rede nacional de transportes no Brasil trouxe, no final da década de ingressado em uma fase de declínio ainda mais acentuado ao longo
1920, as primeiras preocupações com as rodovias. Vale registrar das décadas de 30 e 40. A despeito de essas duas modalidades de
que, embora as deficiências estruturais que afligiam o setor ferro- transporte nunca terem sido notabilizadas pela eficiência, as suas
viário já fossem amplamente reconhecidas, tornando praticamente condições operacionais atingiram estado de calamidade à medida
inevitável a busca por modos alternativos de transportes de longa que a industrialização e a modernização da economia avançavam.
distância, o Brasil não entrou, ainda nos anos 30, no que se poderia A natureza da industrialização brasileira também influenciou
chamar de era rodoviária. Com efeito, quando, em 1934, um plano decisivamente a opção pelo transporte rodoviário no país. Aqui,
geral de viação nacional foi finalmente aprovado pelo governo, vale à pena, mais uma vez, registrar o notável contraste entre paí-
contemplando todas as modalidades de transporte, precedência ses como os Estados Unidos e o Brasil. Os Estados Unidos, por
ainda era conferida à cabotagem e à navegação fluvial sobre as ro- uma série de circunstâncias favoráveis, presenciaram desde cedo
dovias, e prioridade total era dada às ferrovias, estas últimas vistas uma revolução nos seus sistemas de transportes internos tornando-
pela comissão encarregada da elaboração do plano como a única se quase todos percorridos, já no início da segunda metade do sé-
modalidade de transporte que “poderia satisfazer como solução culo passado, por uma densa malha ferroviária e por uma extensa
definitiva no estabelecimento dos grandes troncos da viação na- rede, tanto natural quanto artificial, de aquavias, sejam lacustres,
cional”. Tanto assim, que o Primeiro Plano Rodoviário Nacional, fluviais ou costeiras. A industrialização nesse país, ocorrendo de
elaborado pelo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem forma geograficamente desconcentrada, contribuiu largamente
(DNER), em 1937, não conseguiu receber aprovação oficial pelo para consolidar e revigorar os seus sistemas interiores de transpor-
governo federal. Ademais, quando, em 1944, foi finalmente apro- te de longa distância, em época moderna, e um processo de conver-
vado um plano rodoviário, este estabelecia como principal critério gência de rendas regionais per capita constitui um dos traços mais
que as estradas de rodagem a serem construídas deveriam evitar marcantes da economia americana.
a “concorrência e a superposição das rodovias com os principais O Brasil, ao contrário da economia americana, evoluiu como
troncos ferroviários existentes ou a concluir”. um arquipélago de ilhas, ou regiões, mantendo entre si escassos
O reconhecimento oficial das rodovias como modalidade prio- elos econômicos, até data relativamente recente. Como já no final
ritária de transporte no Brasil teve de esperar ainda até o início da primeira metade deste século a produção industrial se encon-
dos anos 50, quando da aprovação de um novo plano nacional de
trava pesadamente concentrada em pequena área do território na-
viação, em 1951.
cional, e como as décadas seguintes testemunharam uma intensifi-
A evolução do transporte rodoviário, a partir dos anos 50,
cação ainda maior da concentração industrial de tal sorte que, em
ocorreu em ritmo extraordinariamente rápido no Brasil. Entre
1970, o chamado triângulo São Paulo/Rio/Belo Horizonte respon-
1945 e 1952, o número de caminhões e ônibus em circulação no
dia por cerca de 75% de toda a produção manufatureira nacional,
país saltou de 103 mil para 265 mil, um crescimento de mais de
tamanha concentração da produção industrial criou e consolidou
157% em apenas sete. Na década de 60, a movimentação de cargas
foi largamente transferida das ferrovias e da cabotagem para as ro- vastas áreas dependentes de comércio, sem um feedback significa-
dovias: enquanto, em 1946, o volume de cargas transportadas por tivo de tráfego por parte das chamadas regiões periféricas, consti-
todas as modalidades não rodoviárias de transporte representava tuindo-se, assim, em mais um fator que veio a dificultar a possibili-
92,4%, no ano de 1970 as estradas de rodagem já eram respon- dade da implantação de sistemas de transportes alternativos e mais
sáveis por cerca de 73% de todo o movimento de cargas do país. racionais do ponto de vista social.
O virtual abandono da ideia de se desenvolverem as outras O desenvolvimento de um país qualquer requer a existência
modalidades de transporte esteve sempre baseado na crença de de meios adequados e eficientes de transporte. Mas os transportes
que um moderno sistema de rodovias constituiria a forma mais funcionam apenas como um fator de facilitação, e não necessaria-
rápida de se alcançar o grande objetivo nacional da integração mente como causa do crescimento econômico. Texto adaptado de
social, econômica e política do país. A preferência pela rodovia PEREIRA, S. C.
teria sido, portanto, uma resposta à incapacidade revelada pelas
outras modalidades de transporte para atenderem às aspirações na-
cionais, tendo em vista que os sistemas de transportes existentes A ESTRUTURA URBANA BRASILEIRA E
eram considerados como inadequados, antiquados, ineficientes e AS GRANDES METRÓPOLES.
absolutamente incapazes de responderem aos anseios nacionais da
unificação territorial do país.
Na verdade, o Brasil encontrava-se, ainda ao final dos anos
40, mantendo intactas muitas das características do passado, da
época imperial ou até mesmo da era colonial. O país continuava A URBANIZAÇÃO
sendo ainda um imenso arquipélago de ilhas humanas, com redu-
zido grau de articulação econômica entre suas distantes regiões. A urbanização em sua acepção tradicional, e enquanto um
Embora a rodovia e o transporte por caminhão tenham se tor- fenômeno de escala local e localizado é bastante antiga. As pri-
nado a única solução viável para este impasse, superando já no meiras cidades sugiram no Oriente Médio aproximadamente entre
final dos 50 todas as outras modalidades de transporte, o sistema 3500 e 3000 a.C., porem até o final do século XVIII esse fenômeno
de estradas de rodagem existente no Brasil era descrito, no início permaneceu limitado a uma baixa porcentagem da população e a
dos 50, como estando ainda na sua infância. O tráfego por vias algumas regiões. Foi a partir da revolução industrial, da revolução
terrestres era realizado, predominantemente, ainda dentro dos pró- agrícola e dos transportes que a sucederam que a urbanização ul-
prios estados ou no máximo entre as unidades federadas vizinhas. trapassa a escala local e deixa de ser localizada, passa a realizar-se
Didatismo e Conhecimento 6
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em um ritmo acelerado, tendendo a generalização. Já no final do O crescimento da economia industrial e estilo de vida urbano
século XIX a Inglaterra, país pioneiro dessa nova fase, contava cobiçado pela grande maioria da população criou uma densa rede
com oitenta por cento da sua população vivendo no meio urbano, urbana, definidas legalmente existem no Brasil nove regiões me-
tendência que se observa na maioria dos países industrializados. tropolitanas:
Na escala mundial, sobretudo após a década de 1950, um dos Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de
aspectos mais marcantes do processo de urbanização foi a rapidez Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, criadas por lei para
com que ocorreu nos países periféricos, independente do processo atender a critérios certamente válidos de um ponto de vista oficial,
de industrialização. à época de sua fundação. Hoje na verdade a eles se podem acres-
Nos países desenvolvidos a mudança ocorre na media em que centar outras „regiões urbanas‟ que mereceriam idêntica nomen-
determinadas inovações tecnológicas „amadurecem‟, nos países clatura.
não desenvolvidos ramos inteiros da produção são implantados, de Entretanto, segundo o mesmo autor o fenômeno da metropoli-
uma só vez, submetendo a estrutura econômica a choques muito zação vai muito além da definição legal, o que pode ser observado
mais profundos. quando o autor considera as regiões de Brasília, Campinas, Santos
A expulsão da população do campo pelas difíceis condições e também Manaus e Goiânia. Dessa forma pode-se observar que
de vida e sua concentração em grandes cidades ocorre de forma
o fenômeno de metropolização é mais dinâmico que a legislação.
muito mais intensa nos países periféricos do que na Europa Oci-
Isso pode ser dito também sobre as práticas de planejamento ur-
dental, na América do Norte e no Japão. Nos dias atuais as maiores
bano. De uma forma geral essas regiões metropolitanas se desen-
aglomerações urbanas tendem a se localizarem nos países perifé-
ricos, e justamente nesses países o mercado de trabalho urbano volvem com maior velocidade do que o ato de planejar o espaço,
não absorve toda a mão de obra existente, e como o acesso aos o que gera um crescimento desordenado, implicando em impactos
bens de consumo básicos é dificultado pelos baixos salários e pelo sociais e ambientais.
alcance limitado das medidas de planejamento do poder público, O desenvolvimento metropolitano veio, portanto, acompanha-
multiplicam-se pelas grandes cidades desses países as periferias, do de problemas sociais e ambientais, tais como a falta de mo-
caracterizadas pela precariedade das formas de moradia, dos meios radias e favelização, a carência de infraestrutura urbana, o cres-
de transporte e da rede de saneamento básico. cimento da economia informal, a poluição, a intensificação do
Na maioria das cidades latino-americanas a oferta de empre- trânsito, a periferização da população pobre, a ocupação de áreas
gos urbanos não se faz ao mesmo ritmo que a chegada de migran- de mananciais da planície de inundação dos rios, e de vertentes de
tes, gerando os bairros de extrema miséria. Conhecidos por barria- declive acentuado.
das, favelas, mocambos, cortiços e palafitas. Em São Paulo, por exemplo, o crescimento provocou intensa
No Brasil o intenso êxodo rural e a carência de empregos nos conturbação (integração física entre áreas urbanas), criando uma
setores, secundário e terciário, trouxeram consequências como a gigantesca área urbana que abriga 37 municípios, conhecida como
expansão das favelas, o crescimento da economia informal e, em “A Grande São Paulo”. Entre eles destacam-se Guarulhos, Osas-
muitos casos, o aumento do contingente de população pobre. co e o chamado ABCD composto pelas cidades de Santo André,
São Bernardo, São Caetano do Sul e Diadema. Esses municípios
A URBANIZAÇÃO BRASILEIRA formam a principal região industrial do país, sediando as mais di-
nâmicas empresas nacionais e multinacionais.
O desenvolvimento da vida urbana no Brasil é relativamente A cidade de São Paulo cresceu praticamente à revelia de um
recente visto que no período colonial, salvo alguns núcleos pon- planejamento urbano e seus equipamentos de infraestrutura, mora-
tualmente localizados ao longo do litoral ou em suas proximida- dia e transportes não atendem às demandas sociais. Isso não reduz
des; a vida econômica girava em torno das atividades agrárias e a importância econômica, política e social de São Paulo que, em-
a população vivia em sua grande maioria no campo. No século bora viva hoje um processo de fuga de indústrias, continua assu-
XVIII apenas a área mineradora de Minas Gerais conheceu um mindo uma vocação de polo financeiro, comercial e de serviços
incipiente processo de urbanização, com o surgimento das vilas
em geral. Sendo assim, São Paulo é a metrópole global brasileira,
que devido à concentração de pessoas vinculadas a atividades mi-
onde está sediado o comando das principais atividades econômicas
neradoras deram origem as cidades, conhecidas atualmente como
as cidades históricas por terem em sua arquitetura traços da época do país.
de sua construção. Dessa forma, atualmente, São Paulo e Rio de Janeiro podem
A alteração efetiva das relações entre a população rural e a po- ser considerados metrópoles globais. As áreas metropolitanas de
pulação urbana, que caracteriza o processo de urbanização somen- capitais importantes como Porto Alegre, Brasília, Salvador ou
te teve início nas décadas finais do século XIX, e principalmente a Curitiba formam as metrópoles nacionais; e, dentro dessa nova
partir do começo do século X, quando a indústria vai se tornando hierarquia urbana, existem ainda metrópoles regionais, como
presente nas cidades da região sudeste. Mas é após a segunda guer- Goiânia e Campinas; centros regionais, como Manaus e Natal,
ra mundial que este processo se acelera, a população urbana que além de cidades caracterizadas como centros sub-regionais (San-
se mantinha sempre abaixo dos 10% da população total do país tarém, no Pará, e Piracicaba, em São Paulo, por exemplo).
eleva-se para cerca de 16% em 1920, atinge pouco mais de 30 % A década de 1990, entretanto, consolidou uma nova tendência
em 1940 e a partir daí aumenta rapidamente para 45% em 1960, de urbanização no Brasil, que pode ser caracterizada como uma
67% em 1980, 75% em 1990 e 81,2% em 2000, (IBGE, 2001) . Fa- desmetropolização, ou seja, uma reversão no crescimento das
z-se necessário ressaltar que no Brasil, bem como na maioria dos grandes metrópoles em favor de cidades médias, onde os custos
países periféricos a urbanização se deu de forma acelerada mesmo de produção são menores e as condições de vida tendem a ser me-
em regiões onde a industrialização não ocorreu de modo intenso, lhores.
como é o caso da região Nordeste.
Didatismo e Conhecimento 7
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Os mesmos números que revelam um processo de metropoli- Para melhor compreensão conceitual, torna-se necessário à
zação prestam-se a outra interpretação desde que demos uma prio- definição de Planejamento Urbano, Plano Urbanístico Diretor, e
ridade ao processo de macro urbanização. Levando-se em conta Mapa do Zoneamento. “O Planejamento Urbanístico em geral, é
uma desagregação maior da população urbana segundo o tamanho um processo técnico, instrumentado para transformar a realidade
dos aglomerados, pode levar-nos a conclusão de que, paralelamen- existente no sentido de objetivos previamente estabelecidos”, “o
te ao crescimento cumulativo das maiores cidades do país estaria Plano Diretor é um plano urbanístico geral, entre os instrumentos
havendo um fenômeno de desmetropolização, definida como a fundamentais do processo de planejamento local”. Nesse sentido o
repartição com outros grandes núcleos de novos contingentes da Mapa do Zoneamento é a representação cartográfica do Plano Di-
população urbana. Não se trata aqui da reprodução do fenômeno retor, ou seja, o processo de planejamento é o exercício de pensar
da desurbanização, encontrado em países de primeiro mundo. a realidade urbana tendo em vista uma determinada intenção, já o
Esse fenômeno se difere da desurbanização pelo fato de não Plano Urbanístico Diretor é o produto desse exercício, e o mapa do
se buscar um estilo de vida diferente, mas sim a eliminação de zoneamento a representação cartográfica desse produto.
problemas gerados pelo crescimento desordenado e desplanejado Não se pode entender o Plano Diretor como sendo o resultado
da metrópole. final do processo de planejamento, ele é apenas um produto de um
Indústrias e empresas ligadas ao setor de serviços realizam
processo ininterrupto, que deve estar sempre se renovando.
cada vez mais a escolha de localizações geográficas alternativas às
No passado realizou-se o planejamento urbano considerando
saturadas metrópoles do Centro-Sul. Cidades como Campinas, São
principalmente os aspectos sociais, culturais e econômicos, e ad-
Carlos, Ribeirão Preto, Goiânia, Florianópolis, além de diversas
capitais nordestinas estão entrando definitivamente no mapa das mitindo que o ambiente físico devesse adequar-se as atividades
empresas nacionais e estrangeiras. do homem. Considerava-se que os recursos naturais podiam ser
Essa desmetropolização surge devido à falta de planejamen- utilizados e alterados de forma ilimitada, desde que fossem aten-
to urbano, onde a cidade se desenvolve motivada pelos interesses didas as necessidades básicas dos moradores das cidades como
imobiliários, ou interesses de outras naturezas, entretanto, rara- habitação, trabalho, circulação e lazer. Os problemas ambientais
mente a cidade se desenvolve seguindo um plano urbanístico, rara- que resultaram desse tipo de planejamento causam degradação dos
mente a gestão urbana é planejada e contribui com o planejamento. recursos naturais com reflexos negativos sobre a qualidade de vida
Essa urbanização sem planejamento criou uma situação caó- do homem, servindo para mostrar que as leis da natureza devem
tica nas principais capitais do país e suas regiões metropolitanas, ser respeitadas na ocupação de uma área.
com aumento da pobreza e da violência. O processo de moder- Qualidade de vida é definida como o grau de satisfação no
nização da economia brasileira até os dias de hoje, não levou à âmbito das áreas física, psicológica, social, de atuação, material
superação da pobreza e das desigualdades sociais, a modernização e estrutural, esta pode ser considerada como individual e coletiva.
aprofundou as desigualdades já existentes geradas num passado Utilizaremos apenas a qualidade de vida coletiva, que em última
distante, pois esteve apoiada numa maior concentração de renda. análise é uma projeção da qualidade de vida individual, entretanto
Apesar da expansão das camadas médias, que apresentam um bom sua avaliação só pode ser feita de forma objetiva, isto é, através
poder aquisitivo e contribuíram para a expansão do mercado con- de indicadores sociais concretos. A qualidade de vida coletiva é
sumidor, a diferença de rendimentos entre ricos e pobres é hoje definida segundo o mesmo autor “como a resultante de condições
muito maior do que no início da modernização. ambientais e estruturais que se desenvolvem na sociedade.”. Al-
Dessa forma se desenvolvem a trama, ou talvez o drama da guns indicadores utilizados para avaliar a qualidade de vida.
urbanização nos países periféricos, um processo muito acelerado Ambientais: qualidade da água, do ar e do solo, contaminação
que ocorre sem que as condições mínimas necessárias para o seu doméstica e acidental; Habitacionais: densidade, disponibilidade
desenvolvimento seja respeitado, como infraestrutura e planeja- espacial e condições de habitabilidade;
mento, o que implica em consequências graves Urbanos: concentração populacional, comunicação e trans-
porte, educação, segurança e comportamento, poluição sonora e
O PLANEJAMENTO DA PAISAGEM
visual, local e paisagística;
Sanitários: morbidade e mortalidade, assistência médica e
Analisando três alternativas técnicas para o desenvolvimento
do processo de planejamento, entretanto chega à conclusão de que hospitalar, estado nutricional;
o urbano só pode ser apreendido como “lócus” do processo políti- Sociais: condições socioeconômicas e de classes, consumo,
co e reflexo das relações sociais que asseguram as condições gerais necessidades e desigualdades, família e sexualidade, condições de
de produção. Dessa forma o controle técnico dos problemas urba- trabalho, profissão, recreação, lazer e turismo, sistema político-ad-
nos não é o bastante para a realização de um planejamento eficaz, ministrativo.
e deve contar com a criação de canais de participação social que Com a melhoria dos indicadores citados acima se tem, con-
permitam a explicação das contradições e interesses no processo sequentemente, uma melhor qualidade de vida. O planejamento
decisório. Essa necessidade surge porque o processo de planeja- urbano e a conservação dos recursos naturais podem contribuir
mento urbano está inserido num processo político, e enquanto tal, com essa melhoria. No processo de planejamento urbano, a con-
interferindo no jogo das contradições que se estabelece em torno servação dos recursos naturais deve ser considerada, visto a sua
dos interesses das classes dominantes. capacidade de melhoria da qualidade de vida. Nesse sentido, o
Percebe-se então a necessidade da inserção da população no planejamento da paisagem vem contribuir para o estudo do plane-
processo de planejamento, que atualmente conta com alguns ins- jamento urbano.
trumentos institucionais, como o orçamento participativo. O pla-
nejamento deve ser realizado contemplando aspectos sócio econô-
micos, técnicos e também aspectos ambientais.
Didatismo e Conhecimento 8
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Dentro da metodologia do planejamento da paisagem a prin- Não é necessário saber neste momento se a enchente é mais
cipal ferramenta é a espacialização dos atributos ambientais para prejudicial do que a ausência de áreas verdes, mas que qualquer
posterior análise sistêmica. A preocupação é, portanto, aglutinar o um dos dois atributos diminui a qualidade ambiental das áreas
máximo de dados cartografáveis da área de estudo para posterior onde ocorrem.
cruzamento e elaboração de uma carta de qualidade ambiental com Após a elaboração da carta de qualidade ambiental chega-se
propostas de ordenamento do meio. ao diagnóstico ambiental da área estudada, esse diagnóstico apre-
O método proposto para análise da qualidade ambiental tra- senta ao pesquisador de forma espacializada as áreas com maiores
balha com inferências baseadas nas informações detalhadas sobre problemas ambientais, problemas que surgem devido a não consi-
o uso do solo urbano, já que vários autores relacionam sempre deração da capacidade natural de suporte. E por outro lado apre-
a qualidade das variáveis ambientais com o tipo de utilização do senta também as áreas mais adequadas para se realizar ocupação
solo. Esse método tem como base geral os estudos realizados em ou adensamento urbano, sendo dessa forma um instrumento dire-
ecologia e planejamento da paisagem, e pode ser entendido como cionador da expansão urbana.
uma contribuição ecológica e de ordenamento para o planejamento De posse dessas informações e seguindo o conceito de pla-
do espaço, onde se procura regulamentar os usos do solo e dos nejamento da paisagem o planejador urbano deverá aproveitar o
recursos ambientais, salvaguardando a capacidade dos ecossiste- máximo dos benefícios trazidos pela vegetação, nesse sentido se
mas e o potencial recreativo da paisagem, retirando o máximo de insere o reordenamento da paisagem. O reordenamento da paisa-
proveito do que a vegetação pode oferecer para a melhoria da qua- gem é uma ferramenta de atuação e está associado à capacidade
lidade ambiental. Nessa linha pretende-se aproveitar ao máximo as natural de suporte, como a retirada do máximo que a “natureza
contribuições do autor supracitado, a fim de pensar o planejamento pode oferecer no tocante a autoregulação, para então estudar quais
urbano. devem ser as tecnologias mais compatíveis a serem utilizadas”.
Os procedimentos metodológicos desenvolvidos para esse tra- O desenvolvimento dessa proposta metodológica garante ao
balho se iniciam com uma análise do Plano Urbanístico Diretor e planejador urbano o conhecimento das características ambientais
no Mapa do Zoneamento, verificando se o processo de planeja- da área de estudos, bem como as ferramentas capazes de melhorar
mento urbano ocorre de forma adequada à realidade da área de a qualidade ambiental. Dessa forma o planejador tem em mãos
estudos, com a finalidade de sobrepor o mapa do zoneamento com todas as informações necessárias para realizar um planejamento
a carta de qualidade ambiental. urbano adequado, entretanto, se mesmo dessa forma os erros ge-
Essa sobreposição, que será o último procedimento, tem como
ralmente cometidos no planejamento persistirem, ter-se-á a certeza
objetivo a comparação do uso ideal com o uso real do solo, sendo
de que esses erros são frutos de opções políticas, e não de incapa-
o uso ideal, aquele representado na carta de qualidade ambiental
cidade técnica.
associado a um planejamento adequado, e o uso real as condições
Admitindo-se que a urbanização nos países periféricos, dando
atuais observadas nos trabalhos de campo. A carta de qualidade
ênfase ao caso do Brasil, ocorre em uma velocidade demasiada-
ambiental será confeccionada de acordo com os instrumentos do
mente rápida, temos no decorrer da história um acúmulo de imper-
planejamento da paisagem.
O planejamento da paisagem tem como principal ferramenta a feições no que tange o planejamento urbano, como a implantação
espacialização dos atributos ambientais para posterior analise sis- da infraestrutura necessária, a capacidade do mercado de trabalho,
têmica. Portanto, a metodologia consiste em aglutinar o máximo dentre outros, que por não terem sido planejados aconteceram em
de dados cartografáveis para posterior cruzamento e elaboração de tempos diferentes. Há como resultado desta falta de planejamento,
um diagnóstico ambiental espacializado, que pode ser chamado de uma desregularização entre crescimento e qualidade de vida, qua-
carta de qualidade ambiental. Sendo assim, através desta proposta lidade ambiental, social, política e econômica. Este cenário pode
metodológica, são confeccionadas várias cartas de atributos, como ser confirmado na media em que se analisa a realidade das metró-
a carta de declividade, carta das áreas de enchentes, carta das áreas poles brasileiras, bem como o processo de desmetropolização que
de deslizamentos, carta de poluição, carta da vegetação urbana, vem ocorrendo no Brasil.
carta de uso e ocupação do solo, carta da densidade populacional Essa realidade urbana brasileira gera impactos e problemas
dentre outras, para posterior cruzamento, e do cruzamento de todas que dão origem a saída de setores produtivos das metrópoles em
as cartas de atributos chegar-se-á a carta de qualidade ambiental. busca de cidades geralmente médias, com condições mais adequa-
Os dados ou atributos ambientais representados variam de lo- das, entretanto esse processo não resolve os problemas que fize-
cal para local, pois características ambientais e geomorfológicas ram com que estes setores se retirassem da metrópole, pelo con-
distintas implicam em reações e problemas distintos e que, por- trário, essas novas localidades geralmente recorrem aos mesmos
tanto devem ser identificados em trabalhos de campo prévios nas erros cometidos nas metrópoles, o que dará origem futuramente
áreas de estudo. aos mesmos problemas observados hoje e uma nova mudança será
“Não há intenção de se aplicar valores quantitativos aos necessária.
atributos, portanto, a carta de qualidade ambiental apresenta uma Com a finalidade de se evitar esse círculo vicioso o presente
valoração qualitativa, que deve ser analisada de forma relativa.” trabalho propõe uma alternativa metodológica, que se acredita, ser
Portanto a área que apresentar maior número de problemas terá capaz de contribuir com o planejamento urbano, na minimização
pior qualidade ambiental em relação à área que apresentar menor dos impactos e problemas gerados pelo crescimento urbano desor-
número. Além disso, todos os atributos são considerados como denado, além de dar especial atenção aos atributos ambientais, his-
tendo o mesmo peso na capacidade de diminuir a qualidade am- toricamente negligenciados nos processos de planejamento. Texto
biental, pois segundo o mesmo autor, a organização dos atributos adaptado de JUNIOR. J. C. U.
em ordem de importância para a diminuição da qualidade ambien-
tal certamente seria diferente para cada pessoa.
Didatismo e Conhecimento 9
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Vale destacar então que, ao analisar os movimentos mais re-
centes, observamos uma nítida hegemonia da ocupação capitalista
A DINÂMICA DAS FRONTEIRAS da fronteira sobre as tradicionais frentes de expansão camponesa.
AGRÍCOLAS E SUA EXPANSÃO PARA O Assim é que já nos anos 60, a fronteira adentrou pelo Estado do
Paraná com base em culturas eminentemente comerciais, como al-
CENTRO-OESTE E A AMAZÔNIA.
godão, café, grãos etc., rumando, posteriormente, para o Norte e o
Centro-Oeste. Em função de objetivos geopolíticos de o Governo
Militar, no início dos anos 70, abriu- se frentes de colonização no
Norte do País, tendo como principal marco a implantação de nú-
Compreender a natureza dos processos que vêm ocorrendo nas cleos colonizadores ao longo da Rodovia Transamazônica. Para-
fronteiras agrícolas, as características da transferência de capital e lelamente, a Amazônia foi também sendo “ocupada” com grandes
de tecnologia e, principalmente, os impactos sócio econômicos e projetos agropecuários, nos quais grandes empresas beneficiavam
perspectivas para tais áreas, são os objetivos do presente trabalho. se dos incentivos fiscais da SUDAM e apropriavam-se de vastas
Parte-se da constatação de que as fronteiras agrícolas tiveram extensões territorial com grandes perspectivas de valorização a
dinâmicas de formação e evolução diferenciadas o que lhes dá médio e em longo prazo. Por razões óbvias, essa ocupação ter-
característica de lógicas de evolução díspares. Com isso, o pró- mina sendo predominante, ofuscando, assim, as experiências de
prio conceito de fronteira assume feições dinâmicas. Assim, tem- colonização.
se, como ideia inicial, que: “fronteiras agrícolas designam áreas Algumas dificuldades postas pelo difícil acesso e pela ne-
despovoadas ou esparsamente povoadas por populações que se cessidade de maior tempo de adaptação às condições naturais e
dedicam à exploração dos recursos naturais e que vêm sendo sub- de desenvolvimento de tecnologias apropriadas, junto com novas
metidas a processos de ocupação em decorrência da alta potencia- variedades, ter- minaram por arrefecer a vigor do impulso dado
lidade agropecuária que apresentam. Estas áreas vêm passando por à fronteira na Amazônia naquele período. O esforço seguinte vai
processos de imigração, em decorrência da atração induzida por concentrar-se no Centro-Oeste, mas envolve também o oeste da
programas públicos de incentivos fiscais e financeiros àprodução
Bahia e o sul do Maranhão, lastreado nas novas tecnologias de pro-
agropecuária e de construção de estradas, e por projetos de inves-
dução de grãos, de soja em especial, que permitiam o aproveita-
timentos privados”.
mento econômico dos cerrados para a agricultura e para a pecuária.
As áreas de fronteira agrícola no Brasil têm representado his-
Aqui, os resultados vão ser muito expressivos em termos de
toricamente o desbravamento e a incorporação de novas terras ao
expansão da área cultivada, da oferta de bens agrícolas e, vale
setor agrícola de variadas maneiras e desenvolvendo atividades
realçar, da produtividade. Observa-se, assim, um movimento in-
também distintas. Cabe ressaltar que muitas das áreas ainda cha-
tenso de migrantes para o Centro-Oeste, bem como para o oeste
madas de fronteiras já foram incorporadas aos processos agrícolas
de produção capitalista, não mais apresentando características tí- da Bahia e sul do Maranhão, provenientes de estados do Sul e do
picas dessas regiões. Nordeste, ao lado da utilização em larga escala de capitais com
Numa visão histórica, diferentes formas de ocupação têm ca- o consequente adensamento do uso de máquinas e implementos,
racterizado as fronteiras agrícolas no Brasil. Vale lembrar que, já enfim, de modernas técnicas agrícolas. Em virtude desse vigoroso
no período colonial, registravam-se exemplos inúmeros de frentes impulso e em função da maior facilidade de acesso aos grandes
de penetração, seja pela busca de minérios, seja pela expansão as- mercados consumidores, observou-se também uma transferência
sociada, via atividades agrícolas e/ou de pecuária, a estas ou às expressiva de capitais a se estabelecerem em plantas agroindus-
atividades primárias estabelecidas ao longo do litoral. A ocupação triais no complexo grãos-carne. Essa maior densidade de capitais,
dos “sertões” do semiárido nordestino e de Minas Gerais está entre como já foi ressaltado contrasta com o padrão extensivo anterior,
esses casos. O primeiro, complementar à produção de açúcar, e o característico da fronteira.
segundo à atividade mineradora de ouro e diamantes. Posterior- Mais recentemente, com a própria expansão da ocupação dos
mente,o café comandou um outro ciclo de expansão da fronteira ao cerrados no rumo Norte, vai-se também expandindo a área de fron-
longo do eixo Rio de Janeiro-São Paulo, avançando para o Paraná teira para a Amazônia, mais localizada mente no Pará (sul), Mato
algumas décadas depois. A Região Norte também experimentou Grosso (norte), Rondônia e Acre. Finalmente, o sudeste do Pará,
em fins do século XIX e início do século XX um intenso movimen- o sul do Amazonas e o nordeste de Roraima despontam como as
to de penetração associado à extração da borracha, que abriu espa- mais novas áreas de fronteira agrícola, ampliando a ocupação da
ço para atração de um fluxo intenso de transferência de excedentes Região Norte com base na produção de grãos em resposta a obras
populacionais do Nordeste, principalmente para o Acre. de infraestrutura, mesmo que ainda incipientes, que lá vêm sen-
Ao longo do século XX, novas e extensas áreas foram sendo do feitas para facilitar o trânsito de produtos e insumos. Aqui, re-
gradativamente anexadas ao núcleo básico de atividades produti- produz-se o padrão de maior grau de capitalização predominante
vas. De uma maneira geral, a fronteira que então ia se redefinindo na ocupação dos cerrados, havendo ainda o tom aventureiro e da
atendia as funções historicamente bem delineadas, quais sejam as baixa aversão ao risco que também compõem o ambiente de fron-
de fornecer recursos naturais e de absorver excedentes populacio- teira. A análise desses movimentos permite vislumbrar uma lógica
nais provenientes de áreas com superpopulação relativa, num pro- diferenciada para a ocupação da fronteira em que a dinâmica não é
cesso comandado pela lógica camponesa. A estas funções vai se ditada apenas pelo excedente de mão-de-obra e existência de terras
agregando, mais recentemente, a de abrir espaço para a acumula- ociosas, mas na qual a visão empresarial toma peso e se torna o
ção e a expansão do modo de produção capitalista no País, ou seja, motor do ritmo da ocupação.
a fronteira, ao contrário da ocupação camponesa mais tradicional,
passa a ser um espaço privilegiado da acumulação capitalista.
Didatismo e Conhecimento 10
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Nesse sentido, diversos fatores contribuem, desde a concessão duzir custos de produção e a valorizar as terras. Com isso, abriu-se
de incentivos fiscais até mudanças na estrutura fundiária e trans- o que se poderia denominar de “frentes capitalistas” na fronteira.
ferência, em larga escala, de tecnologia. A política de incentivo às Assim, amplia- se a lucratividade dos capitais aí investidos, favo-
exportações, o aproveitamento de mão-de-obra qualificada prove- recendo a acumulação e a penetração das relações capitalistas de
niente de mercados saturados, como o do Sul e Sudeste do país, produção. Por outro lado, a ocupação da fronteira e a expansão da
fazem com que a ocupação da fronteira tenha nas commodities, oferta de bens primários contribuem para a intensificação da acu-
especialmente a soja, seu principal produto de expansão. mulação no País como um todo, ao favorecer o rebaixamento dos
A explicitação dessa lógica e das características recentes das custos de matérias-primas e de alimentos, afetando, assim, mais
fronteiras é o objeto das seções a seguir. diretamente o custo de produção da força de trabalho urbana.
A dinamização da fronteira exercita também um papel impor-
CONTEXTUALIZANDO A QUESTÃO tante no estímulo à mobilidade de pessoas e de capitais. A dispo-
nibilidade de terras, ou de recursos minerais e florestais, em áreas
O conceito de fronteira envolve aspectos múltiplos, e, con- potencialmente lucrativas levou a que camponeses trabalhadores
forme já comentado, cabe-nos aqui discuti-lo tendo em conta que rurais, e até urbanos, junto com capitalistas se deslocassem de
o seu entendimento tem evoluído diante de transformações maio- áreas mais “congestionadas” para as áreas de fronteira, à busca de
res da economia. Nesse sentido, pode-se encontrar na literatura o sobrevivência, ascensão social ou valorização de capitais.
entendimento de fronteira agrícola como aquelas regiões relativa- Vale destacar ainda as chamadas frentes de expansão cam-
mente desocupadas e economicamente pouco exploradas que ofe- ponesas, que avançam sobre as áreas de fronteira em função da
recem amplas possibilidades de ocupação produtiva. Seriam assim disponibilidade de terras, atraindo pessoas movidas pelas dificul-
espaços ou “vazios” econômicos bem dotados de recursos naturais dades de acesso às mesmas em suas localidades de origem. Aqui,
(em termos de solos, de recursos minerais ou de recursos flores- destaca-se uma função importante da fronteira: absorção de mão-
tais) não devidamente integrados à base econômica tradicional por de-obra excedente das regiões cuja base econômica não é larga
fatores ligados à localização, condições naturais, deficiências de o suficiente para aproveitá-la de forma plena, ou próxima disso.
infraestrutura etc., e que apresentam uma ocupação incipiente ou Nesse avanço das frentes camponesas têm sido observados impor-
abaixo de suas potencialidades. tantes desdobramentos com a incorporação de faixas significativas
Segundo essa linha de entendimento, a fronteira envolveria de terras por parte de camponeses
basicamente a existência de terras devolutas passíveis de apropria- Com o avanço simultâneo ou posterior de grupos mais capita-
ção por camponeses ou pioneiros. Mais recentemente, esse cará- lizados, têm sido registrados com frequência conflitos pela posse
ter aberto e extensivo da fronteira tem sido substituído por novas da terra, mais recentemente intensificados em virtude do maior
características, postas principalmente pela dimensão dos capitais interesse em apossar-se de terras por parte dos grupos capitaliza-
envolvidos, entre as quais estão a heterogeneidade de atividades, dos, pela maior organização de trabalhadores e camponeses etc. A
o ritmo elevado de urbanização que lhe vem sendo associado e a expansão da fronteira, mesmo com a maior presença de conflitos,
intensa participação do Estado no planejamento e em investimen- serve, nesse caso, como mecanismo de redução de pressões de-
tos de infraestrutura. mográficas e sociais em áreas rurais deprimidas, aliviando, assim,
Tendo essas novas feições em mente, pode-se visualizar a o fluxo migratório rural-urbano e contribuindo para uma menor
fronteira como um “espaço não plenamente estruturado e poten- pressão sobre o mercado de trabalho nos centros de médio e gran-
cialmente gerador de realidades novas”, um espaço que se articula de porte.
com o capital e com o Estado de forma bem mais intensa, portanto. Essa função demográfico-social da fronteira pode ter impli-
Em virtude da diversidade de funções ou papéis desempe- cações mais amplas sobre o processo de acumulação de capital.
nhados pelas regiões de fronteira no desenvolvimento nacional, Ao servir como válvula de escape para pressões demográficas e
cumpre aprofundar o seu entendimento, recorrendo, inicialmente sociais, a fronteira ajuda a manter concentrada a estrutura fundiá-
ao conhecimento já sistematizado na literatura específica. De uma ria dos centros emissores de população, inclusive por expandir a
maneira geral, a fronteira agrícola, historicamente, tem se con- oferta de alimentos. Por outro lado, o deslocamento populacional
centrado na mesma linha de atuação do setor agrícola das áreas pode reduzir o excedente de mão-de-obra nas áreas tradicionais,
integradas, embora não seja esta a sua única função, ou seja, con- tanto rural quanto urbana, rebaixando de alguma forma o poder
tribuindo para a expansão da oferta de alimentos e de matérias-pri- de barganha de capitalistas e proprietários de terras na fixação de
mas para as indústrias, tendo ainda um peso significativo na am- salários. Assim, a abertura da fronteira na perspectiva capitalista
pliação das exportações. Com isso, agrega-se à geração de divisas, deve ser suficiente para permitir a inversão de capitais, a realização
que, por sua vez, contribui para o financiamento das importações. de lucros e para reduzir as tensões, mas não tão intensa a ponto de
Ao mesmo tempo, a exploração da fronteira vincula-se à expansão ameaçar o poder de barganha do capital sobre o trabalho nas áreas
do mercado, ampliando o espaço de atuação do capital e da acumu- já integradas.
lação capitalista. Isso, tanto pelo lado da dinamização do mercado “Em outras palavras, a fronteira, onde existe, pode ser utili-
consumidor, quanto pela abertura de novas frentes de investimento zada como mecanismo regulador do processo de acumulação de
que tendem a repercutir, através do efeito multiplicador, sobre o capital, não somente no sentido de oferecer novas possibilidades
conjunto do setor industrial e sobre as áreas mais desenvolvidas. para a aplicação do capital (privado e público)já acumulado e, por-
De uma maneira geral, essas funções foram, mais recentemen- tanto, para a realização de maiores lucros, mas também no sentido
te, magnificadas pela ação do Estado. Esta pode ser verificada pelo de permitir maior controle sobre a oferta de trabalho (setorial e
lado dos incentivos fiscais, pela venda ou cessão de terras públicas regionalmente) de acordo com as necessidades de expansão capi-
devolutas, pelos investimentos em infraestrutura que ajudam a re- talista”.
Didatismo e Conhecimento 11
GEOGRAFIA DO BRASIL
Mais recentemente, em função das transformações tecnológi- como um espaço que oferece condições à expansão de atividades
cas e nos processos de trabalho, o excedente de mão-de-obra tem relacionadas à agropecuária”, chamam a atenção para que as fron-
sido expandido com a eliminação de postos de trabalho nos setores teiras de fato se constituam de frentes, com avanços e retrocessos,
industrial e agrícola, principalmente naquele. Com isso, são redu- respondendo a mudanças nos seus elementos determinantes, num
zidas, as ameaças acima aludidas, mas ampliadas as tensões so- processo dinâmico e multifacetado. Dentre essas frentes de ativi-
ciais. E, assim, o avanço da fronteira e a reforma agrária nas áreas dades, destacam-se:
tradicionais surgem como alternativas possíveis para a atenuação “a) frentes de agricultura comercial, impulsionadas por mer-
dessas tensões. cados de núcleo dinâmico da economia e afetadas por políticas de
Vale destacar que a expansão da fronteira tem contado, às ve- incentivo e pela expansão da infraestrutura na fronteira;
zes com muita ênfase, com a participação do Estado, principal- b) frentes de agricultura de subsistência ou camponesas, mol-
mente a partir dos anos 70. Se no caso das frentes camponesas o dadas pela dinâmica geográfica ou por fatores econômicos e so-
processo de ocupação de novas áreas termina sendo mais espon- ciais decorrentes do estilo de desenvolvimento prevalecente;
tâneo e menos dependente de inversões e políticas públicas, já no c) frentes especulativas, com atividades objetivando ganhos
caso da fronteira capitalista a ação do Estado tem tido um papel especulativos, tornados possíveis em grande parte, por políticas de
de realce. A possibilidade de valorização do capital na fronteira ocupação de áreas novas;
via produção efetiva ou via especulação, está diretamente ligada d) frentes “de pecuária extensiva e rudimentar.”
à expansão da infraestrutura de transportes e comunicações, bem Além dessas, pode-se acrescentar os movimentos ligados à
como à concessão de incentivos fiscais, creditícios etc. exploração florestal e/ou mineral que têm características específi-
Historicamente, o Estado no Brasil, seja por interesses geopo- cas, constituindo-se em modalidade distinta de frente.
líticos, seja por influência de grupos capitalistas interessados em Partindo-se dessa ótica bem mais ampla, nota-se que as di-
ampliar a acumulação, tem contribuído para a expansão da fron- ferentes fronteiras assumem dinâmicas diferenciadas conforme a
teira capitalista pela via dos investimentos em estradas, telecomu- prevalência de uma ou outra frente em sua trajetória. Isso se re-
nicações, serviços de apoio e pelos incentivos fiscais e creditícios. flete, por exemplo, no aumento da produtividade e da população.
Por essa via ampliaram-se as ocupações do Norte e do Centro Nesse sentido, entre 1980 e 1985, enquanto encontramos áreas de
Oeste, por exemplo, seja através dos grandes projetos agropecuá- fronteiras cujo crescimento se baseia em pecuária extensiva e em
rios implantados por grandes empresas, seja pelos projetos de mé- que o crescimento anual populacional chega a ser negativo, notam-
dio porte comandados por agricultores migrantes do Sul do País se, em outras, onde se solidificam frentes de agricultura comercial,
no que se poderia chamar de atividade familiar capitalista que taxas de crescimento anuais superiores a 20%.
foram assim ocupando a fronteira e concentrando benefícios, con- Importante observar que, seja qual for o caminho adotado, são
tribuindo para restringir o espaço para o avanço das frentes campo- processos de mudanças que trazem rupturas nas formas conven-
nesas. Esse é um processo, aliás, já denunciado, por exemplo, que cionais de evolução. De certa maneira, poderiam ser associadas à
destacava o “fechamento por fora” da fronteira agrícola para os visão schumpeteriana de destruição criadora. Nela, as mudanças
camponeses, o que se associa à acentuação dos conflitos nas pró- e a concorrência podem ser explicitadas por novas mercadorias,
prias áreas de fronteira, mas também às tensões mais intensamente novas tecnologias, novas fontes de oferta, novos tipos de organi-
vividas hoje na sociedade brasileira. Refere-se ele à reprodução na zação.
fronteira do modelo concentrado de estrutura fundiária, o que não Neste sentido, a inovação e as transformações são associadas
contribui para a maior absorção ali dos excedentes populacionais à exploração de novas idéias, seja penetrando em novos mercados,
que hoje pressionam pela reforma agrária, ou que se marginalizam seja na introdução de novas formas de organização, seja através
e exacerbam a violência nos centros urbanos. do domínio de uma área inexplorada por frentes pioneiras. Esta
Esse “fechamento por fora”, já perceptível no início dos concepção permite tanto caracterizar a ocupação das áreas de fron-
anos80, tende a se acentuar, vale acrescentar, com a utilização teiras como um processo inovativo, quanto compreender as suas
cada vez maior de máquinas e implementos agrícolas modernos, tendências. Facilita, também, a compreensão dessas áreas dentro
que disponibilizam mão-de-obra e reduzem a absorção de traba- de eixos de integração e desenvolvimento, dando instrumentos ao
lho assalariado no campo, inclusive na fronteira, estreitando o que Governo para atuar nesses contextos.
poderia ser uma opção de ocupação para as frentes camponesas. Evidentemente, estas mudanças na fronteira agrícola baseiam-
Vale lembrar que a idéia de “fechamento por fora” associa- se, em última instância, no domínio de novas técnicas. Se o avanço
se ao conceito “campesinista” de fronteira que a entende como a nos cerrados é base para a expansão da fronteira, só pode ser en-
ocupação de um espaço antes acessível à pequena produção cam- tendido associado à introdução de novas variedades de soja tropi-
ponesa, que passa a ser capturado pela lógica capitalista com base cal e da correção dos seus solos. Também, o aumento da produti-
na propriedade da terra e que, assim, não mais se constituiria em vidade, em todas as áreas de fronteira, está fortemente associado
fronteira. A fronteira existiria enquanto espaço do modo campo- os planos de rotação de culturas e a novas técnicas adequadas às
nês, baseado na posse da terra e no trabalho. especificidades das áreas.
Vale esclarecer, entretanto que, tendo em conta os desdobra- Esses aspectos permitem que possamos entender com maior
mentos mais recentes, a fronteira deve ser entendida de forma mais clareza o que vem ocorrendo nas fronteiras brasileiras. Suas prin-
ampla, inclusive como espaço capitalista, onde a propriedade, e cipais características são comentadas a seguir.
não só a posse da terra pontifica, principalmente em áreas mais
recentemente ocupadas, destacando-se ainda a adoção de tecno-
logias modernas não abrangidas poraquela concepção. Esses múl-
tiplos conceitos, que entende a fronteira “como área potencial,
Didatismo e Conhecimento 12
GEOGRAFIA DO BRASIL
A FRONTEIRAREGIÃO CENTRO-OESTE
“Foram substanciais os efeitos de políticas públicas específicas sobre a evolução recente da agropecuária no Centro-Oeste. Políticas
de estímulo à ocupação dos cerrados contribuíram para a expansão de frentes de agricultura comercial, principalmente no sul de Goiás e
em Mato Grosso do Sul, mas também nas áreas de transição do Mato Grosso. Nestas últimas, tiveram importância, também, políticas de
terras públicas e de incentivos fiscais a investimentos na Amazônia Legal. Da mesma forma, políticas de terras públicas e de colonização
afetaram consideravelmente o movi- mento de frentes de subsistência, que atingiram especialmente Rondônia, mas também partes do norte
do Centro-Oeste. Finalmente, a política de incentivos fiscais para a Amazônia teve forte impacto sobre a expansão de frentes especulativas
no norte do Centro-Oeste.”
Da metade dos anos 80 para cá, todos esses movimentos aprofundaram-se com a implantação de grandes conglomerados industriais
para beneficiamento de grãos e de atividades integradas de criação e abate. A atração de capitais do Sudeste permite a formação de um com-
plexo produtivo moderno no Centro-Oeste.
A vigorosa expansão agrícola do Centro-Oeste sustentou-se nos expressivos ganhos de produtividade (rendimento médio) verificados
em quase todos os produtos, com exceção do arroz de sequeiro. Essa produtividade está associada ao potencial ainda não esgotado de mo-
dernização agrícola das áreas de cerrados centrais e do oeste do país - nas Regiões Sul e Sudeste, este padrão começa a apresentar menores
resultados. Dada a comprovada presença da agroindústria de processamento na região, não necessariamente ocorrem rendimentos decres-
centes derivados do alto custo do transporte. Os ganhos de produtividade obtidos na atividade agrícola podem, pelo menos por enquanto, ser
associados a rendimentos crescentes,” (Tabela 5)
Duas cadeias produtivas surgem como fundamentais para os fluxos comerciais que vêm se consolidando na região: a dos grãos e a das
carnes. E “as sinergias derivadas da integração das duas cadeias produtivas (grãos e carnes) mostraram-se particularmente atraentes em face
da possibilidade de obtenção de ração a baixo custo.”
Críticas existem a esse modelo chamando-o de artificial e fortemente baseado na ação estatal. Neste sentido o processo de modernização
e expansão do Centro-Oeste baseia-se em políticas artificiais de preços mínimos com os seguintes argumentos:
Didatismo e Conhecimento 13
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1) as análises não levam em consideração nem a dinâmica po- Outro ponto a destacar é a crescente capitalização nas áreas de
pulacional na região Centro-Oeste (o deslocamento populacional fronteira capitalista. Esse aspecto tende mesmo a ser intensificado
é anterior à política agrícola), nem o progresso tecnológico obtido com a necessidade crescente de elevar a produtividade para com-
na pesquisa de produtos como a soja, o milho e o algodão, que petir nos mercados globalizados. Se no passado isso, em parte pelo
tornou viável a agricultura na região e acarretou a elevação da par- menos, era suprida pelo Estado através de subsídios e incentivos e
ticipação do Centro Oeste na oferta agrícola; pela expansão da infraestrutura, no momento atual essa via tende a
2) boa parte dos textos não levam suficientemente em conta os se estreitar com a crise fiscal. Assim, os empreendedores de agora,
baixos preços da terra e a possibilidade de praticar agricultura de terão de demonstrar mais apetite pelo risco, já que maior volume de
grande escala na região do cerrado; capital próprio deverá ser aportado para adquirir máquinas e imple-
3) estas análises terminam por reafirmar o argumento, de rígi- mentos agrícolas e insumos modernos construírem armazéns, pagar
da inspiração ricardiana, de que o diferencial (de preços) explica- fretes elevados etc. Por outro lado, as crescentes exigências quanto
se basicamente pelos custos de transporte, deixando de considerar à conservação do meio ambiente deverão impor restrições à expan-
a possibilidade de os custos de produção serem mais baixos; são indiscriminada da ocupação agrícola, com a observância de zo-
neamentos que levem em conta a preservação da biodiversidade da
4) omite-se, também, o fato de que o arroz tem sido um produ-
região amazônica junto com a competitividade. Isso, por sua vez,
to típico de abertura de áreas, o que não ocorre apenas no Centro
também exige mais investimentos em pesquisa e maior capacidade
-Oeste, ajudando a ‘amansar’ o cerrado, permitindo um retorno do de articulação entre empreendedores e o Estado para atender tais
investimento em formação de área agriculturável. A participação exigências. Esses aspectos tenderão a tornar a fronteira capitalista
deste produto no conjunto das aquisições já foi bastante elevada, mais seletiva.
perdendo importância no Centro-Oeste no período mais recente; Outro aspecto ainda a destacar na caminhada mais recente da
5) a política de preços mínimos teve o inequívoco propósi- fronteira é a maior complexidade de relações econômicas associadas
to de substituir a grande oferta de crédito rural à agricultura, que através da rápida e até imprescindível articulação com o chamado
constituiu um dos principais traços da política agrícola na década complexo agroindustrial. Referimo-nos aqui às agroindústrias que
de 70, funcionando como uma compensação. A partir “de 1987/88, mais rapidamente têm chegado à fronteira bem como à expansão
estes recursos foram extremamente reduzidos”. da rede de armazenagem e de fornecedores de insumos modernos,
Essas características fazem com que o complexo agroindus- às vezes com produção nas próprias áreas de fronteira ou próximas
trial traga modificações profundas ao processo de modernização a elas.
do Centro Oeste. Nos últimos anos, a infraestrutura de armaze- Na região dos cerrados, essa presença da agroindústria é hoje
nagem, de escoamento e de comercialização tem se modificado bastante significativa e, com isso, o escoamento da produção ocorre
profundamente. A integração com a agroindústria, seja com em- crescentemente sob a forma de produtos beneficiados (óleo, farelo,
presas regionais, nacionais ou internacionais modifica o perfil e carnes preparadas etc.), o que significa maior agregação de valor na
potencialidades da região, aparecendo como lócus propício para a própria região e menores custos de transporte para os produtores
expansão da modernização e integração aos grandes eixos nacio- agrícolas. Com isso, a ocupação de novas áreas não se faz necessa-
nais e internacionais de comercialização. riamente com custos crescentes, conforme dita o figurino ricardiano.
Diante do exposto sobre a dinâmica econômica da fronteira, Sobre esse aspecto, vale acrescentar que os investimentos em
cabe aqui reafirmar alguns comentários e constatações anterior- plantas de óleos vegetais e de abate e preparação de carne apre-
mente apresentados. Com a expansão já ocorrida na ocupação de sentam significativos efeitos de encadeamento com os segmentos
novas áreas, nos anos 70 e 80, principalmente, a taxa de incremen- fornecedores de insumos modernos e de máquinas agrícolas, arma-
to na ocupação de novas terras tende a se reduzir, seja pela menor zenagem, comercialização e transportes. De uma maneira geral, a
disponibilidade de terras acessíveis, seja pela menor capacidade estratégia das empresas do ramo (óleos vegetais) começa com inves-
timentos em armazenagem e na organização dos mercados, vindo
do Estado em apoiar com incentivos e investir diretamente na in-
depois o investimento em plantas de esmagamento. Nesse caso, em
fraestrutura e no apoio tecnológico indispensável para viabilizar
geral, a localização é atraída para a proximidade das áreas produ-
a exploração capitalista da fronteira. Assim, as possíveis novas
toras e os investimentos justificam-se na medida em que a oferta é
frentes camponesas que venham a surgir na Região Norte, deverão grande o suficiente para tal, pelas perspectivas de expansão da de-
enfrentar dificuldades crescentes de acessibilidade e de disponibi- manda, pelos incentivos fiscais etc. Assim, a fronteira, à medida que
lidade de terras devolutas. se avoluma a oferta de grãos, tende a atrair, com uma defasagem re-
A fronteira mais capitalizada, que é mais dependente da pre- duzida de tempo, os investimentos complementares nas áreas de ar-
sença do Estado tenderá a se concentrar em algumas regiões aonde mazenagem, agroindústrias, comercialização etc., que lhe conferem
a infraestrutura venha a crescer ou já está em expansão, como é o hoje maior dinamismo e um caráter bem mais adensado de relações
caso de alguns eixos representados por hidrovias em construção (a capitalistas, ao contrário do que ocorria no passado, quando a pre-
do Rio Madeira, por exemplo) ou mesmo rodovias como a Manaus sença de relações familiares e a subordinação ao capital comercial
-Boa Vista, que pode dar acesso à Venezuela e ao mercado inter- pontificavam.
nacional para a incipiente produção de grãos em Roraima. Para o De forma não muito diferente desse padrão avançam a explora-
alargamento da fronteira capitalista, aliás, ainda existem algumas ção mineral - onde a Amazônia apresenta posição privilegiada com
outras dificuldades como a oferta de energia elétrica, ainda muito reservas minerais imensas e valiosas e a exploração florestal para
restrita nos espaços menos ocupados da Região Norte, bem como extração de madeira, o que significa, muitas vezes, o plantio de flo-
a limitação imposta pela demarcação de terras indígenas onde se restas para a produção de celulose. São atividades com menores vin-
encontram recursos minerais e florestais que, não fora a pressão culações para frente e para trás (linkages), mas também caracterizadas
pela demarcação, poderiam despertar o interesse do capital. por uso intensivo de capitais. Os principais atores desse processo de
intensificação de uso do capital são bem conhecidos. Empresas de di-
Didatismo e Conhecimento 14
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mensão nacional e internacional atuam no agribusiness e na extração Observa-se aqui a presença de estratégias de sobrevivência de
de minérios e na metalurgia, bem como na extração de madeira, sen- pequenos produtores, índios e seringalistas associadas com o apoio de
do que, principalmente nesses últimos segmentos, também participam ONGs e com experiências de utilização mais ampla da biodiversidade
grupos econômicos regionais. amazônica. Sua reprodução e sustentabilidade, entretanto, dependem
As perspectivas de expansão da fronteira são diferenciadas. Em de investimentos em pesquisa, da continuidade dos financiamentos e
meio a esse adensamento de relações e de novas exigências de in- ajudas externas, da conquista de algum apoio governamental através
versão de capital, deve-se lembrar de que, para quem preencher os da afirmação de suas “virtudes socioeconômicas”, da permanência
requisitos cada vez mais seletivos impostos para a participação na dos interesses de mais longo prazo de frações do capital internacional
“aventura” capitalista na fronteira, esta continuará a oferecer vanta- etc. Ou seja, embora envolvam, às vezes, produção familiar capitalis-
gens relativamente atraentes. No caso da produção de grãos, hoje um ta e a produção de mercadorias com maior valor de mercado, essas
dos mais significativos setores da exploração na fronteira, as pers- experiências, para manterem-se à tona, terão que superar dificuldades
pectivas parecem animadoras. Há previsões relativamente otimistas não desprezíveis, não muito diferentes daquelas vislumbradas para as
quanto à expansão da demanda, doméstica e internacional, há áreas frentes camponesas já apontadas acima. Em síntese, é fundamental
de cerrado no sul do Amazonas, no nordeste de Roraima e no sudeste observar que, sob o manto das fronteiras agrícolas brasileiras, áreas
do Pará, estimadas em 10 a 12 milhões de hectares agricultáveis e po- bastante distintas são tratadas.
tencialmente viáveis ao plantio de grãos, sem conflitar com a floresta Frequentemente, regiões em que o processo de acumulação capi-
amazônica, e ainda há a hidrovia do Rio Madeira que contribui para talista já se consolidou são vistas em conjunto com frentes especulati-
reduzir o custo do escoamento de soja nas áreas a ela mais próximas, vas. Conforme visto, torna-se fundamental desmistificar essas visões
como o sul do Amazonas, bem como um preço ainda muito barato do das fronteiras. A idéia de que são espaços camponeses confronta-se
hectare de terra. Tudo isso, junto com o apetite pelo desbravamento, com processos altamente tecnificados em que a dinâmica capitalista é
pode compensar, mesmo que para um número mais reduzido de “jo- referencial para sua lógica de expansão. Assim, o capital financeiro e a
gadores”, as dificuldades, hoje existentes, de acesso (com o conse- inovação tecnológica são fundamentais para a viabilização econômica
quente encarecimento) a insumos, bens de consumo em geral e bens das áreas. Por outro lado,não se deve ignorar, ainda, que devido às
de capital, como também de transporte, energia, crédito, assistência dinâmicas diferenciadas, algumas áreas demonstram maiores fragili-
técnica etc. dades estruturais, necessitando de forte apoio para a sua manutenção
Cada vez mais difícil, por outro lado, tenderá a ser a história da e viabilização. Nesses casos, o papel de agentes privados e estatais
fronteira camponesa, que inclui agricultores, extrativistas e garimpei- é fundamental em uma ação intervencionista que garanta condições
ros, espremidos entre a demarcação de terras indígenas e o “fecha- mínimas de competitividade, para os produtores locais, em médio
mento por fora” associado à expansão da fronteira capitalista. Com prazo. Planejar a incorporação das áreas de fronteira no processo de
isso, a tensão social, já elevada nas áreas rurais e urbanas de fora da desenvolvimento passa necessariamente, portanto, pela compreensão
fronteira, tenderá a ser intensificado, o que também repercutirá mais das diferentes lógicas preexistentes. Texto adaptado de SICSÚ, A. B;
intensamente sobre as terras improdutivas e os latifúndios com a pres- LIMA, J. P. R.
são crescente pela reforma agrária.
Também não se pode deixar de entender que a expansão das fron-
teiras em geral, e não apenas a camponesa, será doravante dificultada A EVOLUÇÃO DA ESTRUTURA
pelas exigências maiores de capital, de recursos humanos qualificados FUNDIÁRIA E PROBLEMAS
e imposições de preservação ambiental, além de requerimentos de in-
fraestrutura cada vez maiores. Na situação econômico-financeira atual DEMOGRÁFICOS.
do País, esse conjunto de pré-requisitos problematiza a expansão da
fronteira nas taxas de crescimento observadas nos anos 80.
Antes de encerrar, cabe chamar a atenção para um movimento
que se associa a estas mudanças no padrão dos modos de produzir na Os avanços científicos e tecnológicos verificados no momento
fronteira: a passagem da economia de fronteira, no entendimento aqui atual, denominado como pós-modernidade, como sociedade do co-
e em geral adotado de espaço não estruturado com potencialidades de nhecimento e como técnico científico informacional, marcam a exis-
gerar novas riquezas, para uma ocupação mais estruturada e em bases tência de um processo contínuo de avanço e aperfeiçoamento de mé-
capitalistas com pretensões de permanência e cada vez mais aberta todos que visam a busca da excelência em termos de conhecimento e
a influências externas. Em resumo, passa-se historicamente de um tratamento de dados espaciais.
padrão extensivo para outro dominado pelo chamado vetor tecno-in- O rápido desenvolvimento tecnológico das últimas décadas do
dustrial. Embora não predominante,deve-se reconhecer nesse mundo século XX e início do século XXI têm permitido alterações no modo
mais complexo que é hoje a fronteira a presença de outro vetor: o de pensar da sociedade, nos modos de produção e de consumo, nas
tecno-ecológico, que se manifesta principalmente na Amazônia. diferentes formas de comunicação e organização espacial. Neste pro-
“O vetor ecológico envolve projetos preservacionistas e projetos cesso, a utilização de novas ferramentas e métodos possibilita a iden-
conservacionistas. O primeiro é fruto de interesses distintos: a legíti- tificação e a localização – acurada, precisa, fidedigna – de fenômenos
ma consciência ecológica que visa preservar a natureza como esto- e características do território, influenciando e revolucionando a forma
que da vida, e ageopolítica ecológica que visa preservá-la como de levantamento de informações espaciais e, desse modo, contribuin-
reserva de valor. Seus principais atores são os governos do Grupo do para a elaboração de planos que, consequentemente, resultam em
dos, o Banco Mundial, Igrejas, e as ONGs. Suas metas, contudo, uma gestão do território mais eficiente.
coincidem com as metas de projetos conservadoristas, alternativas Num país de dimensão continental como o Brasil (8.547.403
comunitárias de ‘baixo para cima’ que, para sua sobrevivência, se km2), com profundas marcas históricas de desigualdades socioe-
aliam a redes transnacionais” (Ministério do Meio Ambiente, dos conômicas e espaciais, e uma grande carência de informações pre-
Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, 1996). cisas para o planejamento e gestão do território, conhecer como
Didatismo e Conhecimento 15
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se dá sua ocupação e o uso da terra tornam-se a premissa para do espaço. O ordenamento do território consiste no planejamento das
qualquer tomada de decisão. Ter o conhecimento fidedigno da dis- ocupações, na potencialização do aproveitamento das infraestruturas
tribuição das propriedades da terra pelo espaço físico – a estrutura existentes e na preservação de recursos limitados. É a projeção das po-
fundiária – é fator determinante para se traçar o perfil de políticas líticas sociais, culturais, ambientais e econômicas de uma sociedade
para o território. sobre o espaço por ela apropriado, o espaço vivido.
A ausência da delimitação precisa e acurada dos imóveis ru- O ordenamento territorial corresponde a uma intenção de integrar
rais e de seus espaços lindeiros impossibilita a inserção de mi- a realidade socioeconômica com a estrutura física do território, de se
lhares de proprietários em políticas públicas de desenvolvimento conseguir moldar a estrutura espacial de forma adequada para um de-
agrário, trazendo sérias consequências para a sua sobrevivência senvolvimento eficaz e equitativo. Ordenar o território significa olhar
econômica, sua reprodução sociocultural, e muitas vezes resultan- para o território e ver o todo, mesmo podendo separá-lo em partes, em
do em irreversíveis danos ambientais. A regularização da estrutura áreas de estudo, a partir de um plano. Significa entender que mesmo
fundiária passa a ser uma condição para a inclusão social, para o as partes separadas se integram no todo, e cada parte exerce e sofre
ordenamento do território e para o desenvolvimento sustentável. influência desse todo. Ordenar o território significa, primordialmente,
O problema que se coloca, é que as informações sobre a loca- não separar o meio físico das relações e atividades humanas, pois todas
lização espacial e as áreas dos imóveis rurais até a sanção da Lei estas relações adquirem forma e se materializam no território. Orde-
brasileira n° 10.267 de 28 de agosto de 2001, e sua regulamenta- nar o território é, então, moldar as atividades realizadas pelo homem
ção, não tinham precisão. Valia o que era dito no ato da coleta das considerando os limites impostos pelo meio físico, buscando formas
informações cadastrais, não havia nenhuma norma que estabele- racionais de utilização dos recursos, em prol de um desenvolvimento
cesse rigor posicional (métrico ou geodésico) a ser seguido para duradouro e sustentável.
realizar o registro do imóvel. Em vista disso, é comum, hoje, no Ordenar o território consiste também em determinar usos espe-
meio rural brasileiro a existência de propriedades com registros cíficos e diferenciados no território objeto da ordenação. São usos
imobiliários diferentes da sua real situação. São imóveis rurais “impostos pelas atividades sociais: uso residencial, uso agrícola, uso
apresentando mais área do que o registrado, são áreas com sobre- florestal, uso industrial, uso terciário, solo para infraestruturas, para
posição de matrículas, ou ainda, “proprietários” que na realidade equipamentos, para parques urbanos ou ainda serão usos herdados do
não são proprietários e que apenas detém a posse da área, sem a meio natural”.
De um ponto de vista técnico, o ordenamento do território possui
necessária matrícula e regularização junto ao Instituto Nacional de
três objetivos, que se referem basicamente à organização coerente das
Colonização e Reforma Agrária – INCRA.
atividades humanas no espaço, ao equilíbrio dos indicadores de quali-
Dessa forma, este artigo, diante das normas trazidas pela
dade de vida no território e à integração hierárquica e de complementa-
Lei 10.267/2001 e considerando a necessidade do conhecimento
riedade dos distintos âmbitos territoriais. Dessa forma,ordenamento do
preciso e sistemático do espaço vivido, tem o objetivo de desta- território é uma função pública que responde à necessidade de controlar
car a importância do georreferenciamento dos imóveis rurais na o crescimento espontâneo de atividades humanas, principalmente em
regulamentação da estrutura fundiária e na constituição de uma sentido de evitar os problemas e desequilíbrios que ela provoca: entre
base que sirva de ferramenta para o planejamento e gestão do ter- as áreas e setores, optando por um tipo de justiça sócio-espacial e um
ritório. Trata-se de um estudo com caráter descritivo, baseado em conceito de qualidade de vida que transcende o mero crescimento econômico.
informações e dados secundários, que visa a demonstração e a ex- O ordenamento do território pode ser analisado sob três enfoques
plicação da importância de um método de coleta de informações setoriais. O primeiro, o enfoque dos urbanistas, que tem como ponto
referenciadas geodesicamente frente aos graves problemas fundiários de partida a cidade e em seus planos e realizações visam o planeja-
brasileiros. mento urbanístico e a ocupação do solo não urbanizado, criando leis
Desta maneira, este estudo traz na primeira seção uma discus- e implantando metodologias de integração e de coordenação da ocu-
são sobre ordenamento territorial, onde são abordadas concepções pação territorial. A segunda, o enfoque dos ruralistas, que tem como
sobre o conceito de território e seu ordenamento. Na seção subse- premissa, questões referentes a transformações socioeconômicas
quente é realizado um relato dos principais fatos que marcaram a do meio rural, e visam através da criação de projetos e orientações,
história do Brasil, quanto ao processo de ocupação e demarcação melhorar as condições infraestruturais e de acesso à equipamen-
das terras e principalmente no que diz respeito à estrutura fundiá- tos, melhorando assim, as condições de produtividade de produtos
ria. Por fim, busca-se evidenciar a necessidade do referenciamento agropecuários. E a terceira, o enfoque dos “conservacionistas”,
geodésico da estrutura fundiária como base para o planejamento e que vinculam o ordenamento a um planejamento e a gestão do
gestão territorial. território, garantindo o uso racional dos recursos naturais.
Ordenamento do Território e Estrutura Fundiária O ordenamento territorial supera estes enfoques setoriais, deven-
do-se adotar um enfoque global que integra em um único modelo o
A organização e as transformações do espaço geográfico são re- conjunto de aspectos econômicos, sociais, culturais e físico-naturais.
sultados de adaptações permanentes do homem ao longo da história. Este enfoque global é mais difícil de se conceber, pois sua gestão tor-
Como já dizia Milton Santos, na aurora dos tempos históricos, o ho- na-se bastante ampla, o que acarreta dificuldades para se atingir o todo;
mem dependia diretamente do espaço circundante para a reprodução porém, “é mais racional e ajustado para abordagens setoriais”
de sua vida. Com a evolução das forças produtivas, dos meios de pro- Entendemos, então, que embora o ordenamento territorial deva
dução, sempre subordinados por interesses, o espaço se transforma pela ser pensado de uma forma global, é necessário que ele esteja vincu-
“acumulação desigual de tempos”, onde a implementação de normas lado, primordialmente, à base física do território. E nesse sentido, o
jurídicas, financeiras e técnicas se tornam as fontes propulsoras para a conhecimento da configuração da estrutura fundiária se torna a pre-
crescente necessidade de se pensar em organizar e ordenar este espaço. missa para o entendimento das relações homem/ambiente. Tal conhe-
Nesse contexto, o ordenamento do território emerge como uma cimento possibilita a verificação e a evidenciação da importância da
categoria de análise que possibilita sistematizar, em diferentes níveis organização das atividades produtivas e da distribuição das proprieda-
geográficos, importantes informações para o planejamento e gestão des da terra pelo território, tornando possível a elaboração de diretrizes
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GEOGRAFIA DO BRASIL
oficiais de planejamento que visam o ordenamento do espaço territo- porém não especificava os procedimentos técnicos necessários para
rial, imbricado com processos de regulamentação fundiária e planos a caracterização espacial dos imóveis. Fato também evidenciado na
de desenvolvimento sustentável. Ao se estudar a estrutura fundiária, Lei 5.868 de 1972, que cria o Sistema Nacional de Cadastro Rural –
se verifica que a distribuição e o acesso à terra sempre ocorreram de SNCR. O sistema, na prática, é constituído por informações cadastrais
forma desigual. Dessa forma se torna essencial a identificação e vi- obtidas através de declarações dos detentores dos imóveis rurais.
sualização dos movimentos que reconfiguram a estrutura fundiária de Do ponto de vista técnico, as informações sobre a localização
determinado território, a fim de que seja possível a compreensão das espacial e as áreas dos imóveis rurais não tinham precisão, valia o
desigualdades que influenciam e determinam as modificações nestes que era dito no ato da coleta das informações cadastrais. Não havia
territórios. Nesse sentido é realizado, a seguir, um resgate histórico dos nenhuma norma que estabelecesse critérios posicionais (métrico ou
processos de ocupação e demarcação da terra no Brasil, no intuito de geodésico) a ser seguido. Assim, as informações sobre a estrutura
descrever alguns momentos históricos importantes que precedem a Lei fundiária disponibilizadas pelas entidades públicas apresentavam-se,
10.267/2001, considerada um marco na organização territorial e uma e na maioria dos casos ainda se apresentam, incompletas e imprecisas,
mudança paradigmática na forma de registro e controle de matrículas e uma vez que não se possuía nenhuma normatização técnica criteriosa
áreas das propriedades rurais no território brasileiro. que possibilitasse a aferição precisa das características dos imóveis
rurais.
O PROCESSO DE OCUPAÇÃO E DEMARCAÇÃO DAS Como resultado dessa falta de critérios específicos para o levan-
TERRAS NO BRASIL tamento das informações sobre os imóveis rurais encontra-se a dupli-
O domínio da terra no Brasil, antes da chegada dos europeus no cidade de documentos sobre a mesma área territorial, imóveis rurais
século XVI, era unicamente marcado pela posse de determinados terri- com áreas maiores ou menores do que a indicada no registro de imó-
tórios pelos povos indígenas. Este cenário foi modificando-se paulati- veis e até mesmo a existência de imóveis rurais sem registro, o que di-
namente até a propriedade se tornar, como nos dias atuais, de controle ficulta o planejamento e impossibilita a inserção desses proprietários
e domínio majoritariamente privado. em políticas públicas de desenvolvimento agrário.
Quando se aborda a análise do processo de ocupação e demarca- Esta situação começa a se modificar com a sanção e a regulamen-
ção das terras no Brasil pode-se seguir dois vieses, mesmo que ambos tação da Lei 10.267/2001, que reconhece a necessidade do Georrefe-
se apresentem imbricados:
renciamento dos Imóveis Rurais, da criação do Cadastro Nacional de
(i) o primeiro caracteriza-se pela análise do conteúdo das leis e
Imóveis Rurais (CNIR) e do intercâmbio de informações entre Cadas-
suas respectivas consequências para a sociedade, como também as
tro Imobiliário Rural e o Registro de Imóveis.
questões levantadas pela população e movimentos sociais: é o viés político;
(ii) o segundo se refere às normas e procedimentos trazidos pelas
leis no intuito de ordenar o território: é o viés técnico. GEORREFERENCIAMENTO E CERTIFICAÇÃO DE IMÓ-
Do ponto de vista político, destaca-se, primeiramente, a implan- VEIS RURAIS
tação do regime das capitanias hereditárias a partir de 1530, que divi-
diu o território brasileiro em enormes faixas de terras, e possibilitou a Constata-se que a partir da Lei 10.267/2001, através de suas exi-
concessão das sesmarias, a base da economia colonial. Com o fim da gências, fica determinada a obrigatoriedade do georreferenciamento e
concessão das sesmarias em 1822, através da resolução ministerial de da certificação junto ao INCRA de todos os imóveis rurais brasileiros,
José Bonifácio, se intensificaram os movimentos de posse/ocupação e em especial os que apresentarem situações de transferência de titula-
de junção desordenada das terras por particulares, paralelamente aos ridade, desmembramento, parcelamento ou remembramento de imó-
objetivos de povoamento e de defesa do território brasileiro, previstos veis rurais. Tais exigências representam uma mudança paradigmática
pelo Império, o que culminou, entre outros fatores, na criação da Lei nº nas formas de levantamento e cadastro imobiliário até então vigentes no Brasil.
601 de 18 de setembro de 1850, a Lei de Terras. Com o georreferenciamento e certificação, a referida Lei busca
A Lei de Terras é considerada um marco histórico no que se refere a regularização definitiva dos registros imobiliários, referenciando
à forma de aquisição da terra no Brasil. A Lei substituiu a concessão das -os ao Sistema Geodésico Brasileiro através da identificação de suas
terras pela sua venda, ou seja, a partir da sanção da Lei nº 601 de 1850 a coordenadas (geográficas ou cartesianas), evitando dessa forma, a
aquisição das terras públicas devolutas passou a ser realizada somente duplicidade de documentos sobre a mesma área e possibilitando
pela compra da terra em hasta pública. A Lei de Terras também dispôs uma melhor espacialização e conhecimento da configuração da es-
sobre as posses em conflito, determinando medições e demarcações. trutura fundiária brasileira.
Outro ponto importante no que tange o caráter político do proces- O termo georreferenciamento significa localizar um determinado
so de ocupação e demarcação das terras no Brasil foi a criação do Es- ponto em um sistema referencial de coordenadas conhecido. O geor-
tatuto da Terra em 1964. Desde o período posterior a criação a Lei de referenciamento é um processo de identificação de um determinado
Terras de 1850 e de seu respectivo regulamento em 1854, a aquisição dado ou informação através de sua localização geográfica (latitude e
da propriedade privada da terra transmitiu-se de geração a geração, longitude) que possibilita, quando apoiado em ferramentas de geopro-
de forma a manter ou a aprofundar a desigual configuração fundiária cessamento, a representação gráfica ou digital da espacialização de
herdada dos tempos coloniais. Somente após a Segunda Guerra Mun- determinado fenômeno ou característica no território, mantendo sua
dial e início da década de 1950, o assunto referente à reforma agrária localização precisa e acurada.
toma conta do cenário nacional, através do surgimento de vários mo- O georrefereciamento fundamenta-se na utilização de técnicas
vimentos de luta de camponeses pela terra, como as chamadas Ligas matemáticas e computacionais para o tratamento de dados e informa-
Camponesas. ções geográficas, juntamente com dados textuais, descritivos. Consis-
O surgimento das Ligas Camponesas fez a luta pela terra ampliar te, em um primeiro momento, na coleta de informações e dados pri-
sua dimensão política, levando o Governo brasileiro a editar a Lei nº mários (coordenadas), no tratamento desses dados através de softwa-
4.504, de 1964. O Estatuto da Terra, como a Lei ficou conhecida, de- res de geoprocessamento, com a finalidade de tornar as coordenadas,
finia que o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária – IBRA (atualmen- coletadas em campo, conhecidas em um sistema de referência, o qual
te INCRA) promoveria a elaboração do cadastro dos imóveis rurais, possibilita a localização exata dos dados ou fenômenos em análise e
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potencializa a sua representação através de cartografias. O INCRA, visando orientar e normatizar o processo de demarcação, medição e georrefe-
renciamento de imóveis rurais, desenvolveu a Norma Técnica para Georreferenciamento de Imóveis Rurais em 2003 e atualizou-a em 2010. Tal
norma apresenta as etapas e critérios a serem seguidos para o georreferenciamento e certificação dos imóveis rurais.
Como resultado do processo de georreferenciamento são elaborados o memorial descritivo e a planta do imóvel rural. A apresentação destes
documentos permite que se obtenha, a partir de sua leitura, a forma, a dimensão e a localização exata do imóvel rural.
O memorial é o documento em que se apresenta o imóvel rural sob a forma de descrição, relatando o perímetro, os confrontantes, os vértices e
a área do imóvel. Já a planta (Figura 1) tem o objetivo de proporcionar uma visão detalhada do imóvel rural, demonstrando de forma visual os seus
limites, suas confrontações e sua área. Na planta são também apresentados os azimutes e distâncias entre todos os vértices do imóvel, juntamente
com os seus respectivos códigos identificadores indicados na representação dos vértices ou, senão, em um quadro contendo os vértices com suas
respectivas coordenadas UTM.
Para que o processo de certificação do imóvel rural seja concretizado, o memorial descritivo e a planta do imóvel rural são encaminhados ao
INCRA, onde é feita a conferência dos dados, no intuito de verificar possíveis erros na poligonal do objeto do memorial descritivo e verificando
também se existe ou não alguma sobreposição de matrículas ou de áreas. Posteriormente é feito o encaminhamento dos documentos certificados do
trabalho ao Registro de Imóveis, para aí sim, obter a certidão com a matrícula georreferenciada do imóvel rural.
O processo de georreferenciamento e certificação de imóveis rurais, mesmo sendo uma técnica recente no Brasil, é tema de grande relevância
para o país. Atualmente, ainda que se considere o Brasil um país com uma das maiores malhas fundiárias do mundo, com 4.842.936imóveis rurais
declarados em uma área de 568.097.172,20 hectares (66,5% do território nacional), e que nos últimos anos tenham sido criadas normas e mecanis-
mos para melhor precisar a demarcação das terras, não se pode afirmar que as informações disponibilizadas pelos órgãos governamentais reflitam
fidedignamente a realidade brasileira. Haja visto que a maioria das informações, hoje processadas pelo INCRA, ainda têm origem em declarações
para o SNCR, portanto de imóveis rurais não georreferenciados, o que aponta para certo desconhecimento da real estrutura fundiária brasileira,
da real dimensão e localização dos imóveis rurais no Brasil. O processo de georreferenciamento e certificação dos imóveis rurais, iniciado no
Brasil a partir da sanção da Lei 10.267 de 28 de agosto de 2001 e da sua regulamentação pelo Decreto-Lei 4.449 de 30 de outubro de 2002,
apresenta-se, mesmo após 10 anos, em uma fase tímida, com resultados pouco expressivos.
O desempenho da Lei de Georreferenciamento pode ser avaliado pelo número de imóveis rurais georreferenciados e certificados pelo
INCRA. A Lista de Imóveis Certificados, apresentada no Quadro 1, que corresponde à atualização do dia 15 de maio de 2009, informa que
27.873 imóveis tiveram sua identificação georreferenciada e certificada em todo o Brasil, ou seja, apenas 0,58% da totalidade dos imóveis
rurais declarados. Isso indica que há muito ainda a ser feito para que todos os imóveis sejam georreferenciados e certificados.
Didatismo e Conhecimento 18
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GEOGRAFIA DO BRASIL
Observa-se, que a região Centro-Oeste do Brasil apresenta o GEOTECNOLOGIAS COMO FERRAMENTAS PARA O
maior índice de imóveis georreferenciados e certificados do Bra- PLANEJAMENTO E GESTÃO DO TERRITÓRIO
sil, 43,54%. No entanto, apenas 3,07% da totalidade dos imóveis
rurais declarados nesta região estão georreferenciados, o destaque Entre as concepções tidas para contribuir ao planejamento e a
mais positivo fica a cargo do estado do Mato Grosso do Sul que gestão do território destacam-se os pressupostos que visam enten-
apresenta 7,65% de seus imóveis georreferenciados. der melhor a organização dos processos de apropriação do territó-
No comparativo das regiões brasileiras, a região Norte apre- rio, evidenciando características da sociedade e relacionando-as
senta o segundo maior índice de imóveis georreferenciados em com as mudanças históricas nele impregnadas. O planejamento é
relação à totalidade dos imóveis rurais declarados, 0,65%, seguida uma síntese técnica e também política. Técnica, por ser ordenada
pela região Sudeste com 0,63%, pela região Nordeste com 0,24% e sistemática, por utilizar instrumentos de organização, sistema-
e pela região Sul com apenas 0,11% de seus imóveis georreferen- tização e hierarquização da realidade e das variáveis do processo
ciados. de produção e de organização de informações sobre o território.
Em relação aos prazos para o início da exigência do georrefe- Dessa forma, o entendimento dos processos que se desencadeiam
renciamento e certificação dos imóveis rurais, o Decreto-Lei 4.449 historicamente sobre o território possibilita maiores potenciais de
de 2002, em seu Art.10, estabelece: avaliação e definição de cursos alternativos, definidos num viés
(i) 29 de janeiro de 2003, para os imóveis com área de cinco político, que envolve negociações entre atores sociais, em prol de
mil hectares, ou superior; um desenvolvimento territorial sustentável.
(ii) 31 de outubro de 2003, para os imóveis com área de mil a Para o planejamento se faz necessário uma infraestrutura cien-
menos de cinco mil hectares. O Decreto-Lei 5.570 de 2005 retifica tífica com dados específicos do território, pois a carência de co-
alguns prazos estabelecidos pelo Decreto-Lei 4.449 de 2002, em nhecimentos pertinentes impede a avaliação dos impactos e ações
especial aos imóveis rurais de menor área. Ficando estabelecida a públicas. Nesse contexto, de conhecimento global do território, ga-
data de: nha destaque a importância do tratamento eficiente da informação,
(iii) 21 de novembro de 2008, para os imóveis com área de cujos resultados tendem a facilitar a interpretação e a compreensão
quinhentos a menos de mil hectares, e dos fenômenos que ocorrem no território. E para alargar o horizon-
(iv) 21 de novembro de 2011, para os imóveis com área infe- te do planejamento e gestão do território, é necessária a adoção de
rior a quinhentos hectares. novos tipos de análise, novos sistemas de informações, de procedi-
Com vistas ao estabelecido pelos decretos, atualmente, são mentos organizacionais de dados.
georreferenciados os imóveis rurais que possuem área igual ou su- O uso de geotecnologias, por serem ferramentas de extrema
perior a quinhentos hectares. Considerando que para os imóveis relevância para a análise espacial em suas diferentes e variadas
rurais com menos de quinhentos hectares, localizados predomi- discussões, possibilitam uma série de ganhos em relação a termos
nantemente na região sul do Brasil, ainda não é exigido o geor- de maior confiabilidade e precisão das informações diagnostica-
referenciamento e a certificação no INCRA, o índice de imóveis das. As geotecnologias (Figura 2) oferecem um conjunto de poten-
rurais georreferenciados deve aumentar consideravelmente nesta cialidades no que se refere à aquisição, manipulação e integração
região nos próximos anos. Fato que não deve ser tão facilmente de informações geográficas, tornando possível a geração de cartas,
verificado nas outras regiões, pois estas já possuem a maioria de mapas ou mesmo o monitoramento em tempo real de fenômenos
seus imóveis enquadrados nas exigências que definem a realização espaciais, pois “qualquer dado que possua um componente espa-
do georreferenciamento. cial, uma localização determinável, pode ser manuseado e analisa-
E como o Decreto-Lei 4.449 de 2002 estabelece a exigência do do por um SIG”.
georreferenciamento apenas nos casos de transferência de imóvel
rural, desmembramento, parcelamento, remembramento de imó-
veis ou ainda em situações em que o imóvel rural esteja sendo alvo
de procedimentos judiciais, a malha fundiária brasileira vai sendo
georreferenciada de forma gradativa, porém muito lentamente.
Para que os bons resultados da aplicação técnica do processo
de georreferenciamento sejam colhidos, é necessário que todos os
imóveis sejam incluídos nas exigências da Lei, que todos os imó-
veis sejam georreferenciados. Tem-se claro que o principal obje-
tivo da Lei 10.267/2001 é garantir e legitimar aos proprietários o
domínio exato sobre os seus imóveis rurais, mas os principais re-
sultados, ou as principais aplicações destas informações, surgirão
somente quando toda a estrutura fundiária estiver referenciada à
uma base geodésica, onde as possibilidades cartográficas, estatísti-
cas e políticas seriam potencializadas, facilitando o planejamento
e gestão integrada do território.
Didatismo e Conhecimento 20
GEOGRAFIA DO BRASIL
De forma geral, existem pelo menos três grandes maneiras de se utilizar as geotecnologias:
(iii) como um banco de dados geográficos com funções de armazenamento e recuperação da função espacial.
Contudo, estas utilizações só são efetivadas mediante a existência de componentes essenciais estruturados, como é demonstrado na
Figura 3.
Didatismo e Conhecimento 21
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A interface homem-máquina define como o sistema é operado e controlado. A entrada e integração de dados envolvem a codificação ou
conversão das informações para o meio digital, por meio das formas de estruturas matriciais e vetoriais, e a criação de base de dados, que
corresponde a um conjunto de arquivos, que armazenam informações e conforme a finalidade serão manipulados através de programas de
gerenciamento, que permitirão executar rotinas, onde o operador do sistema o controlará através de entrada e saídas de dados novos. Estas
informações espaciais podem ser originárias de fontes primárias, quando derivadas de levantamentos diretos no campo ou obtidas de senso-
riamento remoto, ou de fontes secundárias, derivadas de mapas e estatísticas, os quais são derivados de fontes primárias.
O sistema de gerenciamento da base de dados oferece armazenamento e recuperação dos dados espaciais e seus atributos, propiciando
uma rápida e eficiente consulta e análise das informações, possibilitando também, através de mecanismos de processamento, de visualização
e de plotagem dos resultados.
No que se refere ao planejamento e gestão do território, a utilização de geotecnologias, para a obtenção, processamento e visualização
de fenômenos espaciais permite a obtenção de resultados mais fidedignos sobre a realidade espacial, como também a verificação da evolu-
ção temporal deste fenômeno e investigação de suas inter-relações, o que consequentemente auxilia nos processos de tomada de decisão,
inclusive criando cenários para o futuro.
Contudo, as geotecnologias não possuem em si respostas prontas, são ferramentas auxiliares para o usuário/pesquisador/especialista
descrever, representar e inferir sobre determinado fenômeno localizável no território. No caso brasileiro, a grande extensão geográfica de seu
território, “associada à complexidade dos ecossistemas que o compõe, requer o uso de tecnologias de ponta no levantamento/monitoramento
dos recursos naturais existentes”.
A utilização de geotecnologias, integradas com informações georreferenciadas, tem um potencial enorme. Sua correta utilização permi-
te a melhor compreensão dos fenômenos naturais e suas inter-relações com a cultura humana. De um modo geral, os processos de tomada
de decisão permitem, quando aliados às geotecnologias, satisfazer um ou múltiplos objetivos, através da avaliação de um ou vários critérios,
pois facilitam o cruzamento de informações.
As geotecnologias beneficiam o estudo do território em larga escala, ampliando cada vez mais as possibilidades dos pesquisadores. As
técnicas informatizadas de análise espacial passaram a obter elevado destaque, sendo apontadas por muitos estudiosos como de fundamental
relevância para se compreender o dinamismo do uso e da ocupação das terras. Além disso, nas condições atuais da sociedade, de pressão
antrópica sobre o meio ambiente, “faz-se necessário decidir de forma correta e no menor tempo possível, aliando eficiência e eficácia”, pois,
cada vez mais, os efeitos da ocupação desordenada, da gradação ambiental, dificultam o planejamento e gestão e encarecem o ordenamento
do território.
A ESTRUTURA FUNDIÁRIA GEORREFERENCIADA COMO BASE PARA A CONSTRUÇÃO DE MAPAS TEMÁTICOS E MO-
NITORAMENTO REMOTO DO USO DA TERRA NO TERRITÓRIO BRASILEIRO
Evidentemente, um, senão o melhor método, de interpretação das informações territoriais é a sua representação visual. Nesse sentido,
as ferramentas geotecnológicas se mostram muito proveitosas e eficazes no emprego de métodos de avaliação espacial do território. O uso
de informações georreferenciadas, caracterizadas por estarem precisamente localizadas, propicia uma maior possibilidade de identificação e
reflexão sobre os eventos, tornando-se um ótimo instrumento para facilitar a identificação e resolução de problemas.
A construção do banco de dados para a elaboração de uma base georreferenciada da estrutura fundiária tem início na organização e
estruturação de informações dos imóveis rurais e seus ocupantes. Na operação cadastral, utilizam-se as informações levantadas no processo
de georreferenciamento e certificação dos imóveis rurais ao INCRA, como o memorial descritivo e a planta do imóvel (Figura 01), de modo
a tornar possível a elaboração do mapa base da estrutura fundiária referenciado geodésicamente.
O mapa base, neste caso, é formado pela representação gráfica das fronteiras entre as propriedades e pela distribuição dos imóveis rurais
no território (Figura 4). O mapa da estrutura fundiária se consolida mediante a justaposição das propriedades individuais, o que permite uma
visão panorâmica e simultânea de todos os imóveis rurais e de outros atributos existentes no banco de dados, tais como a área total de cada
imóvel rural, o perímetro, o proprietário, bem como a identificação dos imóveis limítrofes.
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No banco de dados, outras informações podem ser incorporadas, de modo a possibilitar a comparação e inter-relação de fenômenos em
análises espaciais. A sistematização das informações geográficas, por meio de geotecnologias, tendo como base as informações da estrutura
fundiária, permite fornecer a conexão de objetos gráficos a uma tabela de um Sistema Gerenciador de Banco de Dados (SGBD) e demons-
trar, por exemplo, a classificação dos imóveis rurais quanto ao grau de utilização e eficiência na exploração, a função social da propriedade,
a concentração fundiária de determinada região, os processos de reconfiguração fundiária, entre outras características. Entretanto, quando
associada a outro banco de dados ou documento cartográfico, a sistematização das informações geográficas permite que a estrutura fundiária
georreferenciada seja um componente espacial importante no entendimento e na explicação de eventos, que pode, inclusive, revelar novas
informações quando realizado cruzamento de dados e mapeamento temático (Figura 5).
Didatismo e Conhecimento 23
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Os mapas, como também todo banco de informações, são componentes essenciais para o real conhecimento do espaço e à medida que
o espaço vai sendo modificado pela constante ação do homem, a elaboração de mapas digitais e o monitoramento das alterações espaciais
passam a desempenhar funções cada vez mais importantes, tornando possível o acompanhamento dos processos de uso, ocupação, explora-
ção e preservação de regiões.
A construção do banco de dados digitais e elaboração de uma base georreferenciada da estrutura fundiária facilitariam o monitoramento
do território brasileiro e viabilizaria um maior poder de intervenção do Estado em eventos que ocorrem no território. Intervenção esta, ge-
rada através de planos respaldados em características espaciais georreferenciadas e identificadas por meio do conjunto de tecnologias para
coleta, processamento e análise de informações geográficas.
Além da possibilidade da consulta direta no banco de dados, do cruzamento de informações e geração de mapas temáticos, a base geor-
referenciada da estrutura fundiária torna possível o monitoramento remoto do território, mediante utilização de sensores orbitais e geração
de imagens digitais.
O georreferenciamento da estrutura fundiária, aliado ao uso de outras ferramentas geotecnológicas, permitiria, por exemplo, em um
caso de desmatamento ou foco de fumaça (identificado por sensoriamento remoto), identificar no banco de dados exatamente o número da
matrícula do imóvel rural, reconhecendo seu proprietário, e imediatamente atribuindo-lhe as penas previstas na legislação (Figura 6).
Didatismo e Conhecimento 24
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Nesse contexto, também é possível identificar as áreas propícias a sofrerem com ações antrópicas, realizando, a partir daí, ações preven-
tivas para que tais degradações não ocorram. O uso integrado das informações coletadas no campo e em laboratório possibilita análises multi
temporais, em diversos níveis de agregação, a partir da relação entre fenômenos em unidades territoriais, se constituindo numa importante
ferramenta para espacializar variáveis socioeconômicas e biofísicas.
A elaboração da base georreferenciada da estrutura fundiária, além de promover a obtenção da certeza da existência do imóvel rural
e das informações a ele relacionadas, pode ser empregado no combate à grilagem de terras, na localização e medição de áreas públicas da
União, pode auxiliar no processo de identificação, registro e demarcação de áreas indígenas e quilombolas, como também servir de base
para análises e consultas espaciais com finalidades de geração de diagnósticos fundiários. A base georreferenciada da estrutura fundiária
traz, na verdade, muitas e novas alternativas de análise espacial, facilitando o planejamento, as tomadas de decisões e a gestão do território.
Em suma: a partir do georreferenciamento de toda a estrutura fundiária, e da construção de um banco de dados que funcione interligado
entre os órgãos públicos, será muito mais fácil inibir atos ilícitos, que infringem a legislação vigente, facilitando o planejamento da ocu-
pação, do uso e a gestão do território. O georreferenciamento da estrutura fundiária é um importante instrumento para o conhecimento do
território, para a materialização das características do território, pois conhecer a estrutura fundiária, a real forma de distribuição dos imóveis
rurais, é a pré-condição para se entender as disparidades agrárias do território e, portanto, para se desenvolver políticas públicas voltadas à
adequação das atividades socioeconômicas em conformidade com a aptidão fisiográfica do território.
A grande questão levantada neste texto é a necessidade de se identificar informações que possam influir na elaboração de planos e,
consequentemente, na gestão do território. No entanto, para que estas informações possibilitem o fornecimento de subsídios para a tomada
de decisões é preciso que elas sejam localizáveis no território, ou seja, sejam georreferenciadas.
O georreferenciamento dos imóveis rurais, através de seu elevado padrão normativo e alto grau de precisão na coleta das informações,
representa, quando associado à outras ferramentas geotecnológicas, uma maior possibilidade de identificação, caracterização e entendimento
dos fenômenos que ocorrem e se manifestam no território. A constituição de uma base cartográfica, a estrutura fundiária georreferenciada,
contribuiria para uma maior visibilidade da configuração do território, possibilitando, quando da sua utilização integrada pelos diferentes ór-
gãos governamentais, a identificação das fragilidades e carências do território, a elaboração de planos e consequentemente o direcionamento
apropriado dos investimentos públicos, como também, o monitoramento dos impactos da implantação de políticas públicas.
A ausência da delimitação precisa e acurada da estrutura fundiária, caso de praticamente todo o território rural brasileiro, impossibilita,
senão em áreas predeterminadas, como apontou o Ministério Público[46], no Programa de Georreferenciamento da Malha Fundiária Brasi-
leira, a geração de uma base cartográfica georreferenciada para aplicações setoriais e globais em atividades de planejamento e ordenamento
do território. Assim, para que os bons resultados da aplicação técnica do processo de georreferenciamento sejam colhidos, é necessário que
todos os imóveis sejam incluídos nas exigências da Lei 10.261/2001 e que todos os imóveis sejam georreferenciados.
Didatismo e Conhecimento 25
GEOGRAFIA DO BRASIL
A este respeito e considerando que o planejamento, o ordena- Entre as causas do êxodo rural, destaca-se, de um lado, o bai-
mento e a gestão do território devem ter como base de sustentação xo nível de vida do homem do campo, ocasionado pelos baixos
uma definição através das características regionais, afirma-se, con- salários recebidos pelo trabalhador rural, pela falta de escolas, de
cluindo, que o conhecimento sistemático da estrutura fundiária é assistência médica; de outro, a atração exercida pela cidade, onde
fundamental para o conhecimento do território, de sua ocupação parece haver oportunidade de alcançar melhor padrão de vida. Na
e do seu uso, e que o georreferenciamento dos imóveis rurais é a prática, não aconteceu por dois motivos:
ferramenta propícia para a coleta de tais informações, por tornar a) o mercado de trabalho não cresce no mesmo ritmo da oferta
possível a constituição de uma base cartográfica, precisa e acurada, de mão-de-obra;
que pode ser utilizada nas mais diversas análises espaciais, vol- b) o baixo grau de qualificação dessa mão-de-obra, sem ne-
tadas às necessidades de instituições públicas ou privadas. Texto nhum preparo para atender às necessidades dos setores secundário
adaptado de TALASKA, A; ETGES, V. E. e terciário.
As pessoas vindas do campo acabam por engrossar as fileiras
do subemprego ou mesmo do desemprego, sofrendo sérios pro-
OS MOVIMENTOS blemas socioeconômicos. Um dos reflexos desse fato é a amplia-
ção desordenada e incontrolável das favelas, que cobrem grandes
MIGRATÓRIOS INTERNOS. áreas, principalmente nas regiões menos valorizadas das cidades.
Na zona rural, a maior conseqüência da migração para as cidades
é o despovoamento, que, sem ser compensado pela mecanização e
alado a outros problemas, ocasiona queda da produção e elevação
Entre outras explicações que se podem aventar para o fraco do custo de vida.
interesse que os homens públicos de nosso país têm demonstrado O Estatuto do Trabalhador Rural, em 1964, foi criado com
para o problema da migração nos últimos anos, destaca-se a im- a intenção de beneficiar o homem do campo, obrigando os pro-
portância assumida pelas correntes de migração interna. Correntes prietários de terras a encargos trabalhistas, como salário mínimo,
orientadas de uma região para outra no interior do país ou entre Es- décimo terceiro salário, férias, etc. No entanto, não podendo ou
tados de uma mesma região, ou dos campos para as cidades (êxodo não querendo assumir tais encargos, muitos proprietários prefe-
rural), têm permitido, pela sua intensidade, substituir a presença riram dispensar boa parte de seus empregados, o que acabou por
do elemento estrangeiro. Os principais movimentos migratórios intensificar o êxodo rural. Nas cidades do interior, os trabalhadores
ocorridos no Brasil foram: dispensados transformam-se em boias-frias, os diaristas, que tra-
a) Migração de nordestinos da Zona da Mata para o sertão, balham apenas em curtos períodos, sem nenhuma garantia.
séculos XVI e XVII (gado); Em síntese, as principais causas e consequências do êxodo
b) Migrações de nordestinos e paulistas para Minas Gerais, rural são:
século XVIII (ouro); Causas repulsivas:
c) Migração de mineiros para São Paulo, século XIX (café); a) excedentes populacionais que acarretam um desequilíbrio
d) Migração de nordestinos para a Amazônia, século XIX entre mão-de-obra disponível e a
(borracha); oferta de emprego;
e) Migração de nordestinos para Goiás, década de 50 (cons- b) mecanização de agricultura;
trução de Brasília); e c) secas, inundações, geadas;
f) Migrações de sulistas para Rondônia e Mato Grosso (déca- d) erosão e esgotamento do solo;
da de 70). e) falta de assistência médica e de escolas;
f) baixa remuneração no trabalho;
As áreas de repulsão populacional são aquelas que perdem g) concentração das terras, em mãos de poucos;
população por diversos fatores, como por exemplo, a falta de mer- h) Estatuto do Trabalhador Rural.
cado de trabalho, ou a dificuldade das atividades econômicas em
absorver ou manter as populações locais. Causas atrativas:
As áreas de atração populacional são aquelas que exercem Melhores condições e oportunidades de vida que as cidades
atração sobre as populações de outras áreas, pois oferecem melho- oferecem:
res condições de vida. a) empregos;
b) escolas;
MIGRAÇÃO DE CAMPO-CIDADE OU ÊXODO RURAL c) moradia;
d) profissionalização;
Consiste no deslocamento de grande parcela da população e) assistência médica.
da zona rural para a zona urbana, transferindo-se das atividades Consequência do êxodo rural:
econômicas primárias para as secundárias ou terciárias. Esse é na Nas zonais rurais: perda da população ativa e queda geral da
atualidade o mais importante movimento de população e ocorre produção ou estagnação econômica das áreas rurais, quando a saí-
praticamente no mundo todo. Nos países subdesenvolvidos, ou em da de trabalhadores não é compensada pela mecanização.
vias de desenvolvimento, a migração do campo para a cidade é tão Nas zonas urbanas: rápido aumento da população; maior
grande que constitui um verdadeiro êxodo rural. Ela intensificou- oferta de mão-de-obra nas cidades, com salários baixos, falta de
se a partir do surto industrial do Sudeste, iniciado na década de 40. infraestrutura das cidades; desemprego; formação de favelas; de-
linquência; mendicância.
Didatismo e Conhecimento 26
GEOGRAFIA DO BRASIL
HOJE: A ATRAÇÃO DOS CENTROS REGIONAIS As áreas de repulsão populacional são aquelas que perdem
população por diversos fatores, como por exemplo, a falta de mer-
Na década de 90, devido à crise econômica, têm ocorrido duas cado de trabalho, ou a dificuldade das atividades econômicas em
situações: absorver ou manter as populações locais.
1) A migração de retorno, em que milhares de nordestinos, As áreas de atração populacional são aquelas que exercem
expulsos do mercado de trabalho em contração, retornam às suas atração sobre as populações de outras áreas, pois oferecem melho-
cidades de origem. res condições de vida.
2) O crescimento nas áreas industriais e agroindustriais das
capitais regionais, cidades com forte atração dos migrantes bra- MIGRAÇÃO DE CAMPO-CIDADE OU ÊXODO RURAL
sileiros.
A década de 90 registra o fim das grandes correntes migrató- Consiste no deslocamento de grande parcela da população
rias, como a dos nordestinos ou a dos paranaenses. Hoje os mo- da zona rural para a zona urbana, transferindo-se das atividades
vimentos migratórios são pequenos e bem localizados, em geral, econômicas primárias para as secundárias ou terciárias. Esse é na
em direção a capitais regionais. Agora, em vez de mudar para São atualidade o mais importante movimento de população e ocorre
Paulo, os nordestinos preferem buscar empregos e oportunidades praticamente no mundo todo. Nos países subdesenvolvidos, ou em
nas próprias capitais nordestinas ou em cidades médias da região, vias de desenvolvimento, a migração do campo para a cidade é tão
transferindo para o NE problemas que antes eram típicos das gran- grande que constitui um verdadeiro êxodo rural. Ela intensificou-
des metrópoles do Centro-Sul. se a partir do surto industrial do Sudeste, iniciado na década de 40.
Entre as causas do êxodo rural, destaca-se, de um lado, o bai-
MIGRAÇÕES INTERNAS RECENTES xo nível de vida do homem do campo, ocasionado pelos baixos
salários recebidos pelo trabalhador rural, pela falta de escolas, de
Áreas de forte atração populacional: assistência médica; de outro, a atração exercida pela cidade, onde
- Brasília e periferia; parece haver oportunidade de alcançar melhor padrão de vida. Na
- áreas metropolitanas de caráter nacional e regional; prática, não aconteceu por dois motivos:
- áreas de ocupação recente do oeste paranaense e catarinense; a) o mercado de trabalho não cresce no mesmo ritmo da oferta
- RO, AP e PA; de mão-de-obra;
- áreas pioneiras ao longo da rodovia Belém-Brasília, como b) o baixo grau de qualificação dessa mão-de-obra, sem ne-
nhum preparo para atender às necessidades dos setores secundário
Capitão Poço e Paragominas, no Pará;
e terciário.
- áreas madeireiras e mineradoras da Amazônia;
As pessoas vindas do campo acabam por engrossar as fileiras
- áreas de colonização baseada em médias e pequenas proprie-
do subemprego ou mesmo do desemprego, sofrendo sérios pro-
dades no Pará; e
blemas socioeconômicos. Um dos reflexos desse fato é a amplia-
- áreas de expansão da pecuária de corte em manchas de cer-
ção desordenada e incontrolável das favelas, que cobrem grandes
rados no Centro-Oeste.
áreas, principalmente nas regiões menos valorizadas das cidades.
Áreas de Evasão Populacional: Na zona rural, a maior conseqüência da migração para as cidades
- áreas onde a cultura do café vem sendo substituída pela pe- é o despovoamento, que, sem ser compensado pela mecanização e
cuária de corte: Colatina e Alto São Mateus, no ES; Mantena e alado a outros problemas, ocasiona queda da produção e elevação
Manhuaçu, em MG. do custo de vida. O Estatuto do Trabalhador Rural, em 1964, foi
- áreas onde a cafeicultura vem sendo substituída por outras criado com a intenção de beneficiar o homem do campo, obrigan-
culturas comerciais ou pela pecuária, como a região da Borbore- do os proprietários de terras a encargos trabalhistas, como salário
ma, na Paraíba; mínimo, décimo terceiro salário, férias, etc. No entanto, não po-
- áreas de economia estagnada pela pecuária extensiva: Baixo dendo ou não querendo assumir tais encargos, muitos proprietários
Balsas no MA e Alto Parnaíba no PI. preferiram dispensar boa parte de seus empregados, o que acabou
Antes de migração interna. Correntes orientadas de uma re- por intensificar o êxodo rural. Nas cidades do interior, os trabalha-
gião para outra no interior do país ou entre Estados de uma mesma dores dispensados transformam-se em bóias-frias, os diaristas, que
região, ou dos campos para as cidades (êxodo rural), têm permiti- trabalham apenas em curtos períodos, sem nenhuma garantiam.
do, pela sua intensidade, substituir a presença do elemento estran-
geiro. Os principais movimentos migratórios ocorridos no Brasil Em síntese, as principais causas e conseqüências do êxodo
foram: rural são:
a) Migração de nordestinos da Zona da Mata para o sertão, Causas repulsivas:
séculos XVI e XVII (gado); a) excedentes populacionais que acarretam um desequilíbrio
b) Migrações de nordestinos e paulistas para Minas Gerais, entre mão-de-obra disponível e a
século XVIII (ouro); oferta de emprego;
c) Migração de mineiros para São Paulo, século XIX (café); b) mecanização de agricultura;
d) Migração de nordestinos para a Amazônia, século XIX c) secas, inundações, geadas;
(borracha); d) erosão e esgotamento do solo;
e) Migração de nordestinos para Goiás, década de 50 (cons- e) falta de assistência médica e de escolas;
trução de Brasília); e f) baixa remuneração no trabalho;
f) Migrações de sulistas para Rondônia e Mato Grosso (déca- g) concentração das terras, em mãos de poucos;
da de 70). h) Estatuto do Trabalhador Rural.
Didatismo e Conhecimento 27
GEOGRAFIA DO BRASIL
Causas atrativas:
Melhores condições e oportunidades de vida que as cidades
oferecem: A POPULAÇÃO BRASILEIRA:
a) empregos; DISTRIBUIÇÃO DOS EFETIVOS
b) escolas; DEMOGRÁFICOS NO TERRITÓRIO
c) moradia; NACIONAL; EVOLUÇÃO DO
d) profissionalização; CRESCIMENTO AO LONGO DO SÉCULO
e) assistência médica.
Consequência do êxodo rural: XX ;ESTRUTURA ETÁRIA.
Nas zonais rurais: perda da população ativa e queda geral da
produção ou estagnação econômica das áreas rurais, quando a saí-
da de trabalhadores não é compensada pela mecanização.
Nas zonas urbanas: rápido aumento da população; maior No último século a população brasileira multiplicou por dez:
oferta de mão-de-obra nas cidades, com salários baixos, falta de em 1900 residiam no Brasil cerca de 17 milhões de pessoas, no ano
infra-estrutura das cidades; desemprego; formação de favelas; de- 2000 quase 170 milhões. Desde o primeiro recenseamento (1872)
linqüência; mendicância. ocorreram várias mudanças no padrão da evolução demográfica
brasileira. Até o início da década de 1930 o crescimento da popula-
HOJE: A ATRAÇÃO DOS CENTROS REGIONAIS ção do Brasil contou com forte contribuição da imigração. A partir
de 1934, com a adoção da “Lei de Cotas” que estabelecia limites à
Na década de 90, devido à crise econômica, têm ocorrido duas entrada de imigrantes, o aumento da população dependeu, princi-
situações: palmente, do crescimento vegetativo (cv), isto é, a diferença entre
1) A migração de retorno, em que milhares de nordestinos, as taxas de natalidade e a de mortalidade expressa em % (por cem)
expulsos do mercado de trabalho em contração, retornam às suas ou %0 ( por mil) habitantes.
cidades de origem. No entanto, foi depois da Segunda Guerra Mundial (1939-45)
2) O crescimento nas áreas industriais e agroindustriais das que o crescimento tornou-se acelerado, devido à diminuição das
capitais regionais, cidades com forte atração dos migrantes bra- taxas de mortalidade. Isso é explicado por fatores como a expansão
sileiros. da rede de esgoto, acesso à água encanada, campanhas de vacina-
A década de 90 registra o fim das grandes correntes migrató- ção em massa, acesso a medicamentos básicos, etc. Entre 1940
rias, como a dos nordestinos ou a dos paranaenses. Hoje os mo- a 1960 foi registrada a maior evolução das taxas de crescimento
vimentos migratórios são pequenos e bem localizados, em geral, populacional, atingindo em 1960 a taxa de 2,9% a.a. (ao ano - ou
em direção a capitais regionais. Agora, em vez de mudar para São 29%0 a.a.). Este período marcou a primeira fase de transição de-
Paulo, os nordestinos preferem buscar empregos e oportunidades mográfica brasileira.
nas próprias capitais nordestinas ou em cidades médias da região,
transferindo para o NE problemas que antes eram típicos das gran-
des metrópoles do Centro-Sul.
Migrações Internas Recentes
Áreas de forte atração populacional:
- Brasília e periferia;
- áreas metropolitanas de caráter nacional e regional;
- áreas de ocupação recente do oeste paranaense e catarinense;
- RO, AP e PA;
- áreas pioneiras ao longo da rodovia Belém-Brasília, como
Capitão Poço e Paragominas, no Pará;
- áreas madeireiras e mineradoras da Amazônia;
- áreas de colonização baseada em médias e pequenas proprie-
dades no Pará; e
- áreas de expansão da pecuária de corte em manchas de cer-
rados no Centro-Oeste.
Áreas de Evasão Populacional:
- áreas onde a cultura do café vem sendo substituída pela pe-
cuária de corte: Colatina e Alto São Mateus, no ES; Mantena e
Manhuaçu, em MG.
- áreas onde a cafeicultura vem sendo substituída por outras A partir da década de 1960, começou a ocorrer uma desacele-
culturas comerciais ou pela pecuária, como a região da Borbore- ração demográfica contínua: a diminuição das taxas de natalidade
ma, na Paraíba; passou a ser maior que a das taxas de mortalidade, registrando em
- áreas de economia estagnada pela pecuária extensiva: Baixo 2000 um crescimento demográfico de 1,6% a.a., com tendência
Balsas no MA e Alto Parnaíba no PI. Texto adaptado de ALEX, M. à queda. Essa mudança no padrão do crescimento populacional
brasileiro mostra uma situação típica da segunda fase de transição
demográfica.
Didatismo e Conhecimento 28
GEOGRAFIA DO BRASIL
Nos países desenvolvidos, a estrutura etária é caracterizada
pela presença marcante da população adulta e de uma porcentagem
expressiva de idosos, consequência do baixo crescimento vegeta-
tivo e da elevada expectativa de vida. Essa situação tem levado a
reformas sociais, particularmente, no sistema previdenciário em
diversos países do mundo, já que o envelhecimento da população
obriga o Estado a destinar boa parte de seus recursos econômicos
para a aposentadoria.
Nos países subdesenvolvidos os jovens superam os adultos e
os idosos, consequência do alto crescimento vegetativo e da baixa
expectativa de vida. Essa situação coloca os países subdesenvolvi-
Mudanças das taxas de fecundidade dos numa situação de desvantagem, particularmente os pobres que
A razão fundamental da queda das taxas de crescimento popu- possuem famílias mais numerosas: sustentar um número maior de
lacional no Brasil foi a diminuição da taxa de fecundidade (média filhos limita as possibilidades do Estado e da família em oferecer
de número de filhos por mulher em idade de procriar, entre 15 a 49 uma formação de boa qualidade, coloca a criança no mercado de
anos), que caiu de 6,3 filhos, em 1960, para 2,0 filhos, em 2006, o trabalho e reproduz o círculo vicioso da pobreza e da miséria ao
que significa que as famílias brasileiras estão diminuindo. dificultar a possibilidade de ascensão social futura.
Apesar do crescimento cada vez mais lento, a população bra- No caso do Brasil, e de outros países classificados como
sileira deverá chegar a 183 milhões de habitantes no final de 2009. “emergentes”, a proporção de jovens tem diminuído a cada ano,
O número de brasileiros mais que dobrou em 35 anos, uma vez que ao passo que o índice da população idosa vem aumentando. Essa é
em 1970 havia 90 milhões de pessoas no país. Apenas nos últimos uma das razões das mudanças recentes no sistema de previdência
cinco anos - 2000 e 2005 - cerca 15 milhões de habitantes foram social, com estabelecimento de idade mínima para a aposentadoria
acrescentados ao país. e teto máximo para pagamento ao aposentado.
Didatismo e Conhecimento 29
GEOGRAFIA DO BRASIL
A forma da pirâmide está associada ao nível de desenvolvi-
mento do país. As pirâmides com forma irregular, topo largo e base
estreita, correspondem aos países com predomínio de população INTEGRAÇÃO ENTRE INDÚSTRIA,
adulta e população envelhecida, caso dos países desenvolvidos ESTRUTURA URBANA, REDE DE
que atingiram ou estão próximos de atingir a fase de estabiliza- TRANSPORTES E SETOR AGRÍCOLA NO
ção demográfica. As pirâmides de base larga e forma triangular
representam países com população predominante jovem e baixa BRASIL.
expectativa de vida, caso dos países subdesenvolvidos, em fase
de crescimento acelerado, ainda na primeira fase da transição de-
mográfica.
No Brasil, a pirâmide etária tem se modificado a cada década. ESTÁGIOS DA EVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Sua forma revela uma situação intermediária entre as duas primei-
ras pirâmides apresentadas, de acordo com as alterações recentes É possível caracterizar a atividade industrial como aquela
ocorridas do padrão demográfico brasileiro. Observe estas mudan- na qual a sociedade transforma a matéria-prima em produtos. De
ças através da sobreposição das pirâmides de 1980 a 2000. acordo com a divisão clássica dos setores da economia, a indústria
faz parte do setor secundário, pois utiliza aquilo que é extraído do
setor primário para o desenvolvimento de suas atividades. Alguns
estágios podem ser destacados na evolução da atividade industrial:
⇒ Indústria artesanal: Ocorre desde o século XVII até os dias
atuais. É caracterizada pela produção individual, feita pelo artesão,
que desenvolve todas as fases da produção desde a extração, pas-
sando pelo processamento até a comercialização do produto. É im-
portante que este estágio precede o sistema capitalista de produção
⇒ Indústria manufatureira: Surgiu durante os séculos XVII
e XVIII e representa o início do sistema capitalista. Como ca-
racterísticas deste estágio, é possível citar a divisão de tarefas, a
utilização de máquinas movidas por tração animal ou manuais e
instituiu a hierarquia nas relações de trabalho (patrão e trabalhador
assalariado).
⇒ Indústria maquinofatureira: A Revolução Industrial se ini-
ciou através deste estágio de evolução desta atividade e também
compreende o atual estágio do desenvolvimento industrial. A revo-
lução técnica desencadeada pelo processo de industrialização foi
iniciada com a descoberta de novas fontes energéticas (inicialmen-
te carvão, depois eletricidade e petróleo) o que possibilitou o surgi-
mento e o uso intensivo de máquinas e a produção em larga escala.
O berço de todos estes acontecimentos foi a Inglaterra e isto
aconteceu por diversos fatores. Este país possuía reservas de car-
Observação: Não existe um critério único para a distribui- vão mineral no subsolo; a Lei de Cercamento das Terras gerou
ção da população por faixa etária; o mais adotado (inclusive pelo um excedente populacional nas cidades e a então burguesia local
IBGE, atualmente) divide a população em jovens (0-14 anos), possuía excedentes financeiros, o que possibilitava o investimento
adultos (15-65 anos) e idosos (acima de 65 anos). Essa distribui- nas indústrias.
ção tem como critério a população ligada ao mercado de trabalho Rapidamente esta novidade foi se difundido entre outros paí-
(pessoas de 15 a 65 anos, aproximadamente), empregada ou não, ses europeus e, posteriormente, pelo resto do mundo. A reorgani-
e as pessoas consideradas fora desse mercado (com menos de 15 zação do espaço mundial ocorreu como nunca antes foi imaginada.
anos ou mais de 65 anos, aproximadamente). As relações entre as nações foram alteradas, bem como o ressurgi-
Deve-se observar que, a divisão da população, em três gran- mento das cidades promoveu o início de fenômeno até então ine-
des grupos etários: de 0 a 14 anos, 15 a 64 e 65 anos e mais, não é xistente: a urbanização. Esta pode ser considerada como filha da
restritivo. A utilização da divisão dos tradicionais grupos etários é industrialização.
base para o cálculo da razão de dependência em relação à popula- As cidades surgiram bem antes da indústria, porém o modo
ção potencialmente ativa. A razão de dependência é a relação entre de vida urbano só se tornou possível com o advento da industria-
a população dependente (menores de 15 anos + acima de 65 anos) lização. Este modo de vida é caracterizado: pela intensidade nas
e a população em idade ativa (de 15 a 64 anos), multiplicado por relações societárias; pela densidade de acontecimentos, pois os
cem. Com relação a faixa etária dos idosos, o critério de 65 anos e eventos foram iniciados em locais com elevada concentração po-
mais é utilizado para a conceituação do índice de envelhecimento pulacional; e, por fim, pela heterogeneidade populacional, onde é
que é indicado pelo “número de pessoas de 65 anos e mais de idade possivel observar diversas perspectivas sociais, éticas e religiosas.
para cada 100 pessoas menores de 15 anos de idade, na população
residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado.”
Texto adaptado de MENDOÇA, C.
Didatismo e Conhecimento 30
GEOGRAFIA DO BRASIL
DIFERENÇA ENTRE INDÚSTRIA E FÁBRICA Desta forma, o espaço industrial mundial está passando por
alterações quando relacionado a períodos anteriores. As estratégias
Para compreensão da dimensão industrial é necessário distin- geográficas para a determinação da localização industrial que es-
guir a indústria e fábrica. Indústria é considerada um setor produ- tão ocorrendo atualmente são:
tivo com intensas relações de extração e transformação da matéria Desconcentração: é caracterizada pela remoção de unidades
-prima em produtos, para sua posterior comercialização. produtivas de áreas industriais consolidadas e o estabelecimento
Já a fábrica é apenas o local físico das instalações de uma de novas unidades produtivas em outras áreas que eram pouco in-
indústria. Com a descoberta de novas fontes energéticas e o desen- dustrializadas até então. Este processo altera e intensifica a divisão
volvimento das técnicas de utilização destas fontes a fábrica não do trabalho.
precisa estar necessariamente próxima ao local de extração. Esta estratégia possibilitou a internacionalização do processo
produtivo industrial. Este processo alterou a distribuição dos re-
TIPOS DE INDÚSTRIAS jeitos e proveitos provenientes da atividade industrial, tornando-a
geograficamente desigual.
É possível classificar as indústrias de acordo com seu foco O local onde se produziam os bens não será o mesmo onde
de atuação. Há duas grandes ramificações das indústrias: uma que estes bens serão consumidos. Os países do Norte (Europeus, EUA
trabalha a matéria-prima bruta, transformando-a em matéria-prima e Japão) possuem um custo mais elevado na produção, principal-
processada que são as indústrias extrativas e outra que trabalha mente com mão-de-obra. As indústrias, sobretudo as mais poluido-
com a matéria-prima já processada com intenção de comercializar ras foram deslocadas para as áreas designadas em desenvolvimen-
para o consumidor final. O quadro a seguir diferencia os tipos de to, explorando cada vez mais os recursos naturais nestas áreas. Os
indústrias de acordo com sua atuação: novos países industrializados que receberam indústrias neste pro-
⇒ Indústria extrativa: Quando extraem matéria-prima da na- cesso são: Brasil, México, Argentina, Índia e os Tigres Asiáticos.
tureza, sem a ocorrência de alteração de propriedades elementares As empresas transnacionais (corporações) são as responsáveis
do que foi extraído. Ex: extração de petróleo, indústria madereira, por esta alteração na distribuição da atividade industrial. Estas são
extração mineral. caracterizadas por possuírem uma sede comando em um país onde
⇒ Indústria de bens de produção: Responsáveis pela trans- controlam o mercado de consumo no mundo e possuem também
formação de bens naturais ou semifaturados para a estruturação de filiais em vários países.
outras indústrias como as de bens intermediários e bens de consu-
Na índia, por exemplo, desde a década de 1980, há um intenso
mo. Ex: Siderúrgicas e petroquímicas
recebimento de investimentos de transnacionais, principalmente
⇒ Indústria de bens intermediários: São as que produzem má-
na área de informática.
quinas e equipamentos que serão utilizados nos diversos segmen-
Esta configuração só se torna possível com o desenvolvimento
tos industriais. Ex: indústria mecânica (máquinas industriais, trato-
das redes de transporte e de comunicações. Desta forma, gasta-se
res, motores automotivos) e indústria de autopeças (rodas, pneus)
menos tempo para as pessoas, mercadorias e informações circula-
⇒ Indústria de bens de consumo: Possui produção diretamen-
te ligada para atender às necessidades do mercado consumidor. rem pelo espaço, caracterizando o que o geógrafo Milton Santos
Este tipo de indústria pode ser dividida em: indústria de bens du- designou com período-técnico científico-informacional.
ráveis que são as que fabricam bens não perecíveis como automó- Descentralização: Consiste em uma política estatal de desen-
veis, materiais elétricos e eletroeletrônicos; e indústria de bens não volvimento industrial no qual um país estimula a implantação de
duráveis que são as que produzem os bens de primeiras necessida- indústrias em áreas periféricas por meio de investimentos, favore-
des com a indústria têxtil e alimentícia. cendo incentivos fiscais e financeiros para atrair as empresas para
estas áreas. Não é o mesmo processo que a desconcentração.
ESPACIALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES INDUSTRIAIS Localização Flexível: é uma estratégia na qual a produção é
NO MUNDO dispersada por várias unidades produtivas e, por isso, a mobilidade
da localização das indústrias é elevada. Este processo supõe que,
As atividades industriais são desenvolvidas de acordo com quando o negócio for mais lucrativo, a área industrial original é
várias estratégias locacionais para a instalação de seus estabele- abandonada, sendo direcionada a outros locais.
cimentos. Estes locais que recebem estas indústrias normalmente são
No século XIX, as fábricas eram localizadas em áreas próxi- mais adaptados às exigências do mercado tais como: mão-de-obra
mas às fontes de energia que alimentariam a produção. Era próxi- mais barata e produtiva, potencial de crescimento do mercado.
ma também dos rios com a finalidade de liberar os rejeitos criados O mapa a seguir representa a espacialização mundial da in-
pelo desenvolvimento de suas atividades. dústria bem como as características destas áreas.
Outros fatores que eram considerados para a localização in-
dustrial eram: a distância dos locais de extração do recurso (maté-
ria-prima) que abasteceria as fábricas, devido à questão dos trans-
portes e da infra-estrutura incipiente; a disponibilidade de mão-de
-obra para ser empregada na atividade e do mercado consumidor.
No período atual, podem-se considerar todos os fatores elen-
cados no parágrafo anterior como importantes, mas não determi-
nantes para a localização industrial, porém é possível acrescentar
a estes fatores outros como os incentivos fiscais e as redes de co-
municações.
Didatismo e Conhecimento 31
GEOGRAFIA DO BRASIL
INDUSTRIALIZAÇÃO DO BRASIL
O processo de industrialização do espaço brasileiro teve seus primórdios na criação dos engenhos para o processamento do que era
explorado no cultivo da cana-de-açúcar desde o período colonial.
Este processo, porém, ocorreu de maneira contínua a partir do século XIX associado à produção cafeeira e à acumulação de capital
propiciada por esta atividade. O café era cultivado nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo.
Após o evento global da crise de 1929, a produção cafeeira entrou em decadência no Brasil e, com isto, estes produtores buscaram alter-
nativas. Então, surgiram no país de forma mais intensa as indústrias de bens de consumo não duráveis no setor alimentício e no setor têxtil.
O contexto de industrialização no território nacional iniciou sua transformação no período do Estado Novo no qual o então presidente
Getúlio Vargas fez um acordo diplomático com o governo estadunidense, comprometendo-se a construir uma mineradora siderúrgica no país
com auxílio dos Estados Unidos.
Este acordo se materializou em 1942, no governo Vargas, com a inauguração da Companhia Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, que
possuía como atividade principal a extração de minério de ferro, sendo assim uma indústria extrativa.
Em 1946, durante o governo de Eurico Gaspar Dutra, foi inaugurada a CSN – Companhia Siderúrgica Nacional no município de Volta
Redonda no estado do Rio de Janeiro. O período histórico compreendido a partir deste evento até o ano 1964 ficou conhecido como nacio-
nal-desenvolvimentismo. Desta forma, com a construção da primeira indústria de bens de produção, o estímulo para o desenvolvimento
desta atividade desenvolveu-se em todo território nacional, porém de maneira concentrada nos estados do Sul e Sudeste. A continuação do
avanço industrial no Brasil ocorreu com a criação de um indústria extrativa: Petrobras. Inaugurada em 1953 no governo de Getúlio Vargas
esta estatal foi responsável por manter o avanço industrial brasileiro.
A partir do governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), iniciou-se a implantação das indústrias de bens de consumo duráveis, com
destaque para a indústria automobilística e de eletrodomésticos. Isto se tornou possível com a atração do estado brasileiro de capital estran-
geiro e estimulando com incentivos fiscais e financeiros o capital nacional para a instalação destas indústrias. Neste período, se investiu
intensivamente na construção de infra-estruturas nas áreas de transportes e energia.
A partir deste momento, diversos polos industriais foram instalados com a intenção de dinamizar cada vez mais este setor. O quadro a
seguir elenca os polos industriais existentes no Brasil, sua localização e qual o ramo de desenvolvimento de suas atividades.
Didatismo e Conhecimento 32
GEOGRAFIA DO BRASIL
POLOS INDUSTRIAIS NO BRASIL
MATRIZES ENERGÉTICAS
O processo de industrialização ocorreu simultaneamente com o avanço técnico na produção de energia. A descoberta de novas fontes
energéticas possibilitou o desenvolvimento da atividade industrial que, inicialmente, ocorria nas áreas próximas de extração das fontes de
energia .
Inicialmente, a energia era obtida da força animal (agricultura), da lenha (pequenos fabricos) e dos moinhos de água ou de vento
(moagem do trigo confecção de tecido e forjas. A energia eólica, através da propulsão dos ventos, possibilitou as viagens oceânicas com a
utilização das técnicas nos navios.
No século XIX, iniciou-se a utilização de combustíveis fósseis para a obtenção de energia. A primeira matéria-prima utilizada foi o
carvão mineral que servia como energia para os navios a vapor, a iluminação pública a gás, nas locomotivas e na indústria têxtil. Já no final
deste mesmo século, com a elevação das atividades industriais, surgiram novas fontes energéticas como a elétrica.
Retornando às matrizes fossilistas, a perfuração do primeiro poço de petróleo no mundo foi responsável por uma nova era no uso ener-
gético obtido de fontes fósseis. Este processo foi responsável por mudanças profundas na estrutura econômica mundial, sobretudo para o
desenvolvimento da indústria automobilística.
TRANSPORTES
O desenvolvimento dos transportes ocorreu de forma mais intensa também a partir da Revolução Industrial. Os avanços técnicos pos-
sibilitaram o crescimento no volume da carga transportada o aumento da velocidade e a redução dos custos.
O desenvolvimento dos transportes ocorre simultaneamente com a construção de infra-estruturas que possibilitassem o escoamento
de pessoas mercadorias. Desta forma, foram construídas ferrovias, portos, estradas o que estimulou a criação de uma rede de transportes.
Antes da revolução industrial o transporte marítimo era difundido e propiciou a circulação comercial e a acumulação primitiva do
capital que, posteriormente, fomentou a atividade industrial. Durante o início da revolução industrail, as locomotivas e os barcos a vapor
se tornaram mais importantes O quadro a seguir demonstra a articulação existente entre as inovações, as fontes energéticas e os meios de
circulação existentes desde o século XVIII :
Didatismo e Conhecimento 33
GEOGRAFIA DO BRASIL
Existem diferentes formas de prover a circulação das coisas e pessoas no mundo. Os modais de transportes são diversificados no mundo
dentre os quais se destaca o rodoviário, ferroviário, hidroviário, marítimo, aquaviário (junção dos modais marítimo e hidroviário), aéreo e
dutoviário. Quanto menos dependente de um tipo de transporte melhor a possibilidade de escoamento. A figura a seguir mostra os principais
modais de transporte nos países com território extenso no mundo.
REDES DE TRANSPORTE
Quando há um conjunto de transportes intermodal conectando e possibilitando a circulação de pessoas, informações e mercadorias se
configura uma rede de transportes. A conexão dos diferentes meios de transportes facilita e ampliaa circulação, sendo necessária para esta
ocorrência a conexão das infra-estruturas.
Didatismo e Conhecimento 34
GEOGRAFIA DO BRASIL
A distribuição espacial da logística de transportes no territó- interior do Nordeste; a região do Pantanal, excetuando-se a área de
rio brasileiro revela uma predominância do modal rodoviário, bem influência da hidrovia do Paraguai; e o interior da floresta amazô-
como sua concentração na região Centro-sul com destaque para o nica, à exceção do entorno das hidrovias Solimões-Amazonas e a
estado de São Paulo. do Madeira.
Mesmo com distribuição desigual pelo território nacional, a
malha rodoviária tem vascularização e densidade muito superiores RODOVIAS PREDOMINAM NO TRANSPORTE DE CAR-
às dos outros modais de transporte e só não predomina na região GAS
amazônica, onde o transporte por vias fluviais tem grande impor-
tância, devido à densa rede hidrográfica natural. A distribuição espacial da logística de transportes no territó-
Por outro lado, a distribuição das ferrovias e hidrovias é bem rio brasileiro apresenta predominância de rodovias, concentradas
reduzida e tem potencial muito pouco explorado, especialmente principalmente no Centro-Sul do país, em especial no estado de
em um País das dimensões do Brasil. São Paulo.
Esse é o cenário ilustrado pelo mapa mural “Logística dos Em 2009, segundo a Confederação Nacional de Transportes
Transportes no Brasil”, do Instituto Brasileiro de Geografia e Es- (CNT), 61,1% de toda a carga transportada no Brasil usou o siste-
tatística (IBGE), apresentado nesta terça-feira (25), na escala de ma modal rodoviário; 21,0% passaram por ferrovias, 14% pelas hi-
1:5.000.000 (1 cm = 50 km), que exibe as principais estruturas de drovias e terminais portuários fluviais e marítimos e apenas 0,4%
transporte do País (rodovias, ferrovias, hidrovias etc.), bem como por via aérea.
outros equipamentos associados à logística do transporte de cargas
e pessoas no Brasil, como armazéns, estações aduaneiras de inte- INFRAESTRUTURA PAULISTA DE TRANSPORTES
rior (chamadas de “portos secos”), pontos de fronteira, aeródro- CONJUGA FERROVIAS, RODOVIAS E HIDROVIA
mos públicos e terminais hidroviários.
Além desta base da infraestrutura de transportes, são repre- São Paulo é o único estado com uma infraestrutura de trans-
sentados no mapa a densidade da rede de transportes no Brasil, os portes na qual as cidades do interior estão conectadas à capital
principais eixos rodoviários estruturantes do território e os fluxos por uma vasta rede, incluindo rodovias duplicadas, ferrovias e a
aéreos de carga no Brasil. hidrovia do Tietê.
O texto sobre a Logística dos Transportes no Brasil está no Além disso, o estado ainda comporta o maior aeroporto (Gua-
“Material de Apoio” deste release. O mapa está disponível no link rulhos) e o porto com maior movimentação de carga (Santos) do
GEOftp. País.
O mapa mural “Logística dos Transportes no Brasil” tem Também chama atenção a extensão de rodovias pavimentadas
como principais fontes de dados o Banco de Informações e Mapas não duplicadas no noroeste do Paraná, Rio de Janeiro, sul de Mi-
de Transportes do Plano Nacional de Logística dos Transportes nas Gerais e Distrito Federal e seu entorno, bem como no litoral da
(BIT-PNLT) – Ministério dos Transportes, a Agência Nacional de Região Nordeste, entre o Rio Grande do Norte e Salvador (BA).
Transportes Aquaviários (ANTAQ), a Agência Nacional de Avia- Esta distribuição evidencia a importância econômica dessas
ção Civil (ANAC), o Departamento Nacional de Infraestrutura de regiões, que demandam por maior acessibilidade e melhor infraes-
Transportes (DNIT), a INFRAERO e a Receita Federal do Brasil. trutura de transporte.
Foram utilizadas bases cartográficas do IBGE e do BIT–PNLT.
O trabalho pretende contribuir para a análise e construção de MALHA FERROVIÁRIA SERVE PRINCIPALMENTE AO
uma nova geografia do País, a partir do entendimento da logística TRANSPORTE DE COMMODITIES
dos transportes de cargas e de pessoas enquanto dimensões estru- Historicamente, a malha ferroviária acompanhou a expansão
turantes da rede urbana brasileira e das conexões intrarregionais da produção cafeeira até o oeste paulista do século XIX até o início
que articulam o território nacional. do século XX. Porém, os principais eixos ferroviários da atualida-
Nos últimos anos, com o crescimento econômico e o aumen- de são usados para o transporte das commodities, principalmente
to do mercado interno, o Brasil tem uma demanda crescente por minério de ferro e grãos provenientes da agroindústria.
melhorias nos sistemas de transportes no sentido de diminuir os Algumas das ferrovias mais importantes são: a Ferrovia Nor-
custos logísticos e tornar a produção nacional mais competitiva no te-Sul, que liga a região de Anápolis (GO) ao Porto de Itaqui, em
exterior, bem como mais acessíveis ao mercado interno. São Luís (MA), transportando predominantemente soja e farelo de
Nesse contexto, a atualização das informações da distribuição soja; a Estrada de Ferro Carajás, que liga a Serra dos Carajás ao
espacial da logística de transporte, em escala nacional, constitui Terminal Ponta da Madeira, em São Luís (MA), levando principal-
uma informação estratégica ao planejamento do presente e do fu- mente minério de ferro e manganês e a Estrada de Ferro Vitória-
turo do território e da sociedade brasileira no mundo globalizado Minas, que carrega predominantemente minério de ferro para o
contemporâneo. Porto de Tubarão.
Algumas regiões se destacam pela alta densidade da rede de
transportes, como, por exemplo, a Grande São Paulo e as Regiões REGIÃO NORTE É A QUE MAIS DEPENDE DE HIDRO-
Metropolitanas do Rio de Janeiro, de Belo Horizonte e de Porto VIAS
Alegre. As hidrovias, assim como as ferrovias, são predominantemen-
Também se destacam pela elevada acessibilidade as áreas en- te utilizadas para transporte de commodities, como grãos e miné-
tre Recife e João Pessoa, entre Brasília e Goiânia, o entorno de rios, insumos agrícolas, bem como petróleo e derivados, produtos
Salvador e de São Luís. Também é possível observar alguns “va- de baixo valor agregado e cuja produção e transporte em escala
zios logísticos” onde a rede de transporte é mais escassa, como o trazem competitividade.
Didatismo e Conhecimento 35
GEOGRAFIA DO BRASIL
A exceção é a região Norte, onde o transporte por pequenas No Brasil, esse modal é utilizado em poucos trajetos, com
embarcações de passageiros e cargas é de histórica importância. mais da metade do tráfego concentrado em apenas dez pares de li-
Além das hidrovias do Solimões/Amazonas e do Madeira, essa gações entre cidades, sendo que a ligação São Paulo-Manaus abar-
região depende muito de outros rios navegáveis para a circulação cava mais de 20% do total de carga transportada em 2010.
intrarregional. São Paulo também concentra a maior parte do transporte aé-
Outras hidrovias de extrema importância para o país são as reo de passageiros, com 26,9 milhões de passageiros em voos do-
hidrovias do Tietê-Paraná e do Paraguai, que possuem importante mésticos e 10,4 milhões em internacionais em 2010. O segundo
papel na circulação de produtos agrícolas no estado de São Paulo lugar ficou com o Rio de Janeiro, com 14,5 milhões e 3,1 milhões,
e da Região Centro-Oeste. respectivamente.
ARMAZÉNS ACOMPANHAM CONCENTRAÇÃO DA SÃO PAULO CONCENTRA QUASE METADE DOS POR-
PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA TOS SECOS DO PAÍS
A concentração de armazéns de grãos nas regiões Sul e Cen- As estações aduaneiras de interior, também chamadas “portos
tro-Oeste e no estado de São Paulo reflete a produção agropecuária secos”, são instaladas próximas às áreas de expressiva produção e
nessas áreas. consumo e contribuem para agilizar as operações de exportação e
Nota-se que, na Região Sul (exceto pelo noroeste paranaen-
importação de mercadorias.
se) e nos estados de São Paulo e Minas Gerais, de produção mais
O estado de São Paulo concentra a maioria destas estruturas,
consolidada, os armazéns se caracterizam por menor capacidade,
28 das 62 de todo o Brasil, em cidades da Região Metropolitana
enquanto que na Região Centro-Oeste, área de expansão da fron-
teira agrícola moderna, onde o principal produto é a soja, eles são e entorno. Em contraste, as regiões Nordeste e Norte têm duas es-
maiores. tações cada, localizadas em Recife e Salvador, Belém e Manaus.
A região Sul apresenta 11 cidades com portos secos e o Cen-
tro-Oeste, três. Apesar da extensa linha de fronteira do Brasil com
PORTOS PROMOVEM EXPORTAÇÃO DE SOJA, PETRÓ- o Peru, a Bolívia e a Colômbia, é na fronteira com a Argentina,
LEO E DERIVADOS E MINÉRIO DE FERRO o Paraguai e o Uruguai – países que, junto ao Brasil, compõem
o Mercosul desde sua criação – que as interações entre os países
Os portos servem primariamente como vias de saída de com- vizinhos são mais dinâmicas, havendo, portanto, maior ocorrência
modities, principalmente de soja, minério de ferro, petróleo e seus de postos da Receita Federal e de cidades-gêmeas.
derivados, que estão entre os principais produtos da exportação Estas últimas constituem adensamentos populacionais trans-
brasileira. Em relação à soja, destacam-se os portos de Itacoatiara fronteiriços, onde os fluxos de mercadorias e pessoas podem ser
(AM), Paranaguá (PR), Rio Grande (RS), Salvador (BA), Santa- maiores ou menores dependendo, entre outros fatores, dos inves-
rém (PA), São Francisco do Sul (SC) e o Porto de Itaqui (MA). timentos implementados pelos Estados limítrofes. Texto adaptado
Os combustíveis e derivados de petróleo se destacam em di- de GONÇALVES, M. D
versos terminais do Nordeste, especialmente Aratu – Candeias )
BA), Itaqui (MA), Fortaleza (CE), Suape – Ipojuca (PE), Maceió
(AL) e São Gonçalo do Amarante-Pecém (CE). RECURSOS NATURAIS:
Os portos que mais movimentam minério de ferro são os ter- APROVEITAMENTO, DESPERDÍCIO E
minais privados de Ponta da Madeira, da Vale S.A., em São Luís
(MA) e de Tubarão, em Vitória (ES). O primeiro recebe princi- POLÍTICA DE CONSERVAÇÃO DE
palmente a produção da Serra de Carajás, no Pará; o segundo está RECURSOS NATURAIS.
associado à produção do estado de Minas Gerais.
A maior quantidade de carga movimentada nos portos orga-
nizados do País está localizada no Porto de Santos (SP), devido à
sua posição estratégica. Ele está em terceiro lugar no ranking que
Desde a ECO-92, reunião sobre meio ambiente realizada no
considera Portos Organizados e Terminais de Uso Privativo (lide-
Rio de Janeiro e na Rio + 10, realizada em Johannesburgo dez anos
rado pelos Terminais Privados de Ponta da Madeira e Tubarão) e
depois, o desenvolvimento sustentável foi a coqueluche, sendo seu
movimenta, em grande escala, carga geral armazenada e transpor-
tada em contêiner. debate o centro das discussões mundiais e presente em pratica-
Ele é o ponto de escoamento da produção com maior valor mente todos os tratados e contratos internacionais. Como em toda
agregado que segue para outras regiões do País, bem como para questão ideológica, hão os radicais que chegam a defender o esta-
exportação, além de ser local de desembarque mais próximo ao cionamento do crescimento para brecar a degradação ambiental e o
maior centro consumidor do país, onde se destaca a Grande São que acreditam que a tecnologia descobrirá uma forma de conciliar
Paulo. os dois valores em discussão, progresso e meio ambiente. Nos-
sa posição é que a espera pelo avanço da tecnologia é temerosa,
SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO CONCENTRAM porque não é concretamente correta, havendo grandes chances de
TRANSPORTE AÉREO DE PASSAGEIROS descobrir tardiamente como equilibrar o meio ambiente ou então
A movimentação de cargas por via aérea, devido ao elevado simplesmente não descobrirmos como, levando ao perecimento da
custo, é mais usada para produtos com alto valor agregado ou com raça humana.
maior perecibilidade e que exigem maior rapidez e segurança no
traslado.
Didatismo e Conhecimento 36
GEOGRAFIA DO BRASIL
A preocupação com o meio ambiente é tão acentuada atual- das necessidades básicas da população; solidariedade para com as
mente que atitudes como a do presidente americano Bush ao negar gerações futuras , através da preservação do meio ambiente; par-
a assinatura no protocolo de Kyoto, que previa a diminuição dos ticipação da população envolvida e conscientizada do seu papel
gases que afetam a camada de ozônio e causam o efeito estufa, re- enquanto ator social; preservar os recursos naturais; elaboração de
percutiu no mundo. A simples negativa dele implica em continuar um sistema social garantindo emprego, segurança social e respeito
a agressão à camada de ozônio, que por via reflexa afeta todos nós, a outras culturas e a efetivação dos programas educativos.
porque moramos no mesmo planeta e sofreremos conseqüências
climáticas pelo seu ato. DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO X DESENVOLVI-
Uma questão em grande relevo é a necessidade de preservação MENTO SUSTENTÁVEL
em países em desenvolvimento, uma vez que as grandes potências
já esgotaram seus recursos, degradaram o meio ambiente e poluí- Ao final da segunda guerra o conceito de desenvolvimento
ram o mundo. Para os países em desenvolvimento não explorar econômico começou a ganhar força, significando a implementação
seus recursos significa estagnação econômica, o que seria injusto. de instituições capazes de harmonizar interesses e práticas econô-
Agora que as superpotências já esgotaram seus recursos querem micas, era a fase de expansão. Neste sentido, uma das caracterís-
preservar a todo custo os recursos naturais dos outros? Uma dessas ticas centrais implícitas era a total inconsciência com as repercus-
tentativas é a questão da internacionalização da Amazônia, franca- sões ambientais e de degradação ecológica derivada das atividades
mente defendida pelos Estados Unidos. econômicas. Não existia, até então, nenhuma preocupação com o
Acreditamos que esta questão é de soberania nacional pri- meio ambiente.
meiramente, temos todo o direito de explorar a Amazônia, mas Ocorreu então a maximização dos recursos naturais, princi-
devemos fazê-lo de modo gradativo, organizado e com estudos palmente pelas grandes potências, que estavam a todo vapor de
aprofundados de sustentabilidade do meio ambiente. Se a Amazô- crescimento. Essa impulsão de utilização de recursos foi alavanca-
nia é patrimônio do mundo, também podemos dizer que o Grand da pela crise de 30, que impunha o aumento de produção a custos
Canyon americano também é nosso patrimônio, e o deserto do cada vez mais baratos, gerando desemprego, condições de trabalho
Saara, e os montes Apalaches, e as cordilheiras dos Andes, Montes subumanas, enfim todo tipo de comiseração. Essa situação mante-
Urais, o Museu do Louvre em Paris (meio ambiente cultural), e ve-se até o final da 2a Guerra Mundial, no início dos anos 70. Os
tantos outros. Se almejam proteger e fiscalizar nosso meio ambien- elementos naturais utilizados e os efluentes gerados ficavam intei-
te, é justo que tenhamos o mesmo direito sobre o meio ambiente ramente à margem da economia. Como o preço é determinado por
dos países desenvolvidos, em todos os aspectos e na ampla defini- uma conjunção de custos, escassez relativa e demanda, a abundán-
ção do conceito, já explanada. cia era tida como não-valor, não-riqueza. O progressivo aumento
O progresso não deve ser impedido, o ser humano estuda e de custos gerados pelo sistema econômico era então visto como
evolui para isso. No entanto, devemos encontrar formas de progre- aumento de riqueza. A compreensão do erro lógico inscrito nessa
dir sem agredir. Muitos efeitos do progresso são excelentes. Entre- conceituação é essencial para se perceber como a Questão Natural
tanto, o progresso tem um preço e a relação custo-benefício pode (ecologia e meio ambiente) ficou à margem da Teoria Econômica,
não ser proveitosa o suficiente para justificar o progresso sem con- significando a marginalização do meio ambiente e total ignoráncia
trole. O preço a ser pago é destruição do planeta terra e o benefício dos efeitos dessa degradação.
é dinheiro e conforto. Será que vale a pena? A curto prazo a res- Os cientistas então começaram a criticar esse modelo, cul-
posta até pode ser positiva, porém a longo prazo isto é inaceitável. minando por um manifesto, chamado Blueprints for survival, em
As pessoas que elaboraram e discutiram a Agenda 21 (con- 1969 que fomentou o debate da questão ambiental, chamando
junto de resoluções sobre a questão ambiental) escreveram a se- atenção para a sobrevivência da humana estar em jogo. Mesmo
guinte frase: “A humanidade de hoje tem a habilidade de desen- com grande reação contrário, o manifesto teve resultado positivo,
volver-se de uma forma sustentável, entretanto é preciso garantir porque fez a discussão ganhar relevo. Como o sistema adotado foi
as necessidades do presente sem comprometer as habilidades das naturalmente corroído por suas próprias bases, calcadas nos gastos
futuras gerações em encontrar suas próprias necessidades”. Essa máximos, a matéria prima, foi ficando mais cara, o que pratica-
frase significa que temos a tarefa de desenvolver em harmonia com mente anulou os ganhos. Com o impacto econômico foi necessário
as limitações ecológicas do planeta, para que as gerações futuras brecar a maximização dos gastos naturais, porque a matéria prima
tenham a chance de existir e viver bem, de acordo com as suas tornou-se cara demais. O desperdício tomou lugar pelo máximo
necessidades (melhoria da qualidade de vida e das condições de aproveitamento possível, reduzindo drasticamente a degradação.
sobrevivência). A exploração irracional, cedeu lugar ao aproveitamento racional
Uma das finalidades do desenvolvimento sustentável é o de recursos, não pela consciência ecológica, mas pela pressão eco-
equilíbrio social, almejando melhor alocar as pessoas no mundo, nômica.
sobre todos os aspectos, inclusive econômicos. A proteção am- O desenvolvimento sustentável buscava nessa época, ainda
biental deve ser entendida então como parte do nosso processo que sob nomenclatura diversa, combinar os mecanismos de cor-
de desenvolvimento e condição para que ele ocorra. Crescer sig- reção econômica, com medidas de controle administrativos e sis-
nifica apenas aumentar divisas, não necessariamente produzindo temas de decisão pactuada entre os diversos atores da sociedade
igualdade e justiça social, ao passo que desenvolver implica em civil: Estado, empresas e organizações não-governamentais. Além
tudo isso e crescer, distribuindo riquezas, gerando qualidade de disso, surgiu a consciência de que os padrões de consumo dos paí-
vida para a população. Por esta razão é desenvolvimento e não ses desenvolvidos não poderiam ser transplantados para os demais
crescimento sustentável. Para tanto há o estabelecimento de metas países, sob pena de falência do mundo natural. A partir daí, o con-
para alcançar o desenvolvimento sustentável, são elas: a satisfação ceito de desenvolvimento econômico passou a sofrer um intenso
Didatismo e Conhecimento 37
GEOGRAFIA DO BRASIL
processo de revisão, mais ou menos crítico, mais ou menos cau- ta seletiva são instrumentos hábeis a desmistificar o problema da
teloso conforme o ambiente intelectual e profissional. A dimensão coleta seletiva de lixo e ainda prover o sustento de famílias com
do conceito alargou-se, e a percepção de que havia nele insertos baixa renda, alcançando a finalidade social do desenvolvimento sus-
balizas éticas e políticas fortes. Abandonou-se então o conceito tentável.
estreito de “desenvolvimento econômico” para iniciar a explora- O exercício da cidadania é um dos passos para viabilizar o de-
ção e aplicabilidade do conceito mais amplo de “desenvolvimento senvolvimento sustentável, essencialmente a cidadania ambiental,
sustentável”. buscando transformar essas pessoas em indivíduos que participem
das decisões sobre seus futuros, exercendo desse modo seus direitos,
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E EDUCAÇÃO conhecendo e informando-se sobre as questões ambientais de seu país
AMBIENTAL e de sua comunidade. Uma das formas de levar educação ambiental
à comunidade é pela ação direta do professor na sala de aula e em
A partir das últimas décadas a questão ambiental tornou-se atividades extracurriculares, inclusive constitucionalmente previstas.
uma preocupação mundial. Todas as nações do mundo reconhe- As discussões em sala de aula são altamente efetivas, porque os mais
cem a importância da preservação da natureza, principalmente de- jovens levarão aos adultos de suas casas a semente da proteção do
pois de termos sofrido os revesses climáticos decorrentes do des- meio ambiente.
O que está em debate é também a necessidade de uma visão de
respeito ao meio ambiente, uma vez que mesmo que uma nação
mundo, de um paradigma filosófico e científico, que priorize a inte-
não degrade acabará por sofrer as conseqüências das degradações
gração dos sistemas e a complexidade. A visão reducionista e deter-
alheias, somos todos sócios dos efeitos da destruição. minista de mundo encontra-se superada, mormente quando nos refe-
Entretanto, a complexidade dos problemas ambientais exige rimos a questão ambiental, o que nos força a creditar a Morrin toda a
mais do que medidas pontuais que busquem resolver problemas razão. Essa visão deixa de lado vários aspectos relevantíssimos para a
a partir de seus efeitos, ignorando ou desconhecendo suas causas. análise do meio ambiente, deixando por vezes a ótica torcida da reali-
Não é possível resolver problemas ambientais de forma isolada, dade, o que gera distorções indesejáveis. È necessária ir mais adian-
de forma que a qualidade ambiental está ligada e condicionada ao te, explicitando quais as causas da pobreza, da degradação ambiental
processo de desenvolvimento adotado por todas as nações. Desse como padrão ou modelo da nossa sociedade. A educação ambiental
modo, a questão ambiental deve ser tratada de forma global, con- crítica e profunda é cada vez mais uma fonte da expressão ou um
siderando que a degradação ambiental é resultante de um proces- sinônimo de cidadania, emancipadora, subjetiva, libertadora. E mais
so social, determinado pelo modo como a sociedade apropria-se do isso, não há democracia ou cidadania consistentes para os que não
e utiliza os recursos naturais. Diante dessa constatação, somente exerçam esta análise.
mudando a sociedade mudaremos os rumos de aproveitamento do
meio ambiente. MEIO ANBIENTE E PROGRESSO: DESAFIO PARA NOSSA
O crescimento econômico desvinculado do desenvolvimen- SOCIEDADE E PARA AS FUTURAS GERAÇÕES
to sustentável é evidentemente comprometido, uma vez que ele
mesmo corrobora para sua destruição, já que com a escassez do A preservação do nosso planeta é considerada a única solução
capital natural não haverá como crescer. Assim, a degradação ou para a salvação da raça humana, uma vez que não temos para onde
destruição de um ecossistema compromete a qualidade de vida da ir caso não hajam recursos naturais essenciais a nossa sobrevivência.
sociedade, uma vez que reduz o bem estar que a natureza pode Diante disso o respeito ao meio ambiente deixa de ser uma atitude po-
oferecer à humanidade. Portanto, o desenvolvimento centrado no liticamente correta para um dever de sobrevivência, cabendo aos go-
crescimento econômico que deixe em segundo plano as questões vernantes e a todas as pessoas (conforme prioriza nossa Constituição
sociais e ignore os aspectos ambientais não pode ser denomina- de 1988) fiscalizar as indústrias poluidoras, reciclar o lixo, cuidar para
do de desenvolvimento, pois de fato trata-se de mero crescimento que o esgoto não prejudique a saúde e o meio ambiente tratando-o da
econômico, conforme já explicado conceitualmente. maneira adequada, e principalmente cuidando da limpeza das águas,
em processo de extinção.
Fato inconteste é que a implementação do desenvolvimento
Nosso comportamento de donos e senhores de tudo pode nos le-
sustentável passa necessariamente por um processo de discussão
var a aniquilação, nossa soberba de seres civilizados poderá destruir-
e comprometimento de toda a sociedade uma vez que implica em
nos, e estas não são afirmações apocalípiticas, são advertências reais e
mudanças no modo de agir dos agentes sociais, a exemplo da co- mais próximas do que imaginamos. Já perdemos espécies de animais,
leta seletiva de lixo, onde só com a adesão comunitária os efeitos de plantas e possivelmente a cura para muitos de nossos males pelo
esperados acontecerão. Não adianta coletar o lixo seletivamente se nosso avanço progressista desgovernado. Agora é hora de pararmos
o vizinho continua a jogar o dele no córrego e a entupir as vias em para racionalizar os recursos naturais, primando pela sua manutenção.
período de chuvas, como ocorre em São Paulo. Então, a educação Os silvícolas considerados por muitos criaturas sem civilização
ambiental e consciência ecológica são as palavras chave para o conseguem viver em harmonia com o meio ambiente e entendem, ain-
desenvolvimento sustentável. da que sem educação formal, que necessitam da natureza para viver,
A implementação de programas que visem instaurar o desen- dando exemplo a nós brancos civilizados, poluidores, degradadores
volvimento sustentável depende da opinião pública e da participa- do nosso meio ambiente. O processo de industrialização não deve,
ção popular, porque é um processo eminentemente social, ainda nem pode ser parado, porque isto geraria conseqüências sociais sé-
que se considere que há interesse do povo pelas questões ambien- rias, como desemprego. Porém, precisamos despertar para a neces-
tais é forçoso reconhecer que somos um país com analfabetos, com sidade premente de conscientização, buscando equilibrar um pouco
péssimo nível educacional e com desigualdades sociais gritantes, o progresso com o meio ambiente, buscando formas de viabilizar
de forma que falta ao povo informação e conhecimento real sobre a recuperação do meio ambiente e utilizando-o apenas dentro dos
os problemas ambientais. Iniciativas como cooperativas de cole- limites em que é possível recuperar-se.
Didatismo e Conhecimento 38
GEOGRAFIA DO BRASIL
Não podemos viver como se não houvesse amanhã. O pro- vimento do turismo em particular dependem da preservação da
gresso entendido como ciclo de consumo/produção exige a ex- viabilidade de seus recursos de base, não há ecoturismo sem meio
tração de matéria prima da natureza, porém não podemos extrair ambiente equilibrado. Encontrar o equilíbrio entre os interesses
tanto que a natureza não seja mais capaz de produzir esses bens de econômicos que o turismo é tarefa difícil, porém estimula o desen-
que precisamos. Essa comportamento é auto-destrutivo, incompa- volvimento da atividade que preserve o meio ambiente, principal-
tível com a civilização humana. Como se esta ação predatória não mente porque seu controle depende de muitos fatores, dentre eles a
bastasse, a fumaça e os resíduos resultantes do processo industrial política governamental adotada na prática, ainda não descobriu-se
causam prejuízos naturais imensos, causando a nós mesmos doen- o melhor meio de fazê-lo.
ças. Devemos utilizar e buscar gerir os detritos de forma que nossa O turismo sustentável tem que atender a muitos fatores, con-
saúde e o meio ambiente não sofram tantos danos. siderado essenciais a excelente gestão dos ambientes envolvidos,
O Brasil possui em abundáncia as “Sete Matrizes Ambien- dos recursos naturais e das comunidades receptoras, que devem
tais”, os insumos vitais para a sobrevivência da agricultura e da estar preparadas para proteger e educar os visitantes, atendendo de
indústria: a água, o minério, a energia, a biodiversidade, a madei- forma efetiva todas as necessidades existentes e viabilizando a in-
ra, a reciclagem e o controle de emissão de poluentes; portanto, é tegridade total do povo envolvido e do meio ambiente, garantindo
essencial que as questões ambientais sejam incorporadas de forma a diversidade da população e do meio ambiente a temporalmente.
abrangente em todas as atividades da sociedade. E destacamos a Ao se debater turismo sustentável, encontramos um aspecto
Amazônia, patrimônio cobiçado pelo riqueza mineral e natural, bastante polêmico, que diz respeito ao conceito de ecoturismo, que
além do enorme contingente aqüífero. O mundo inteiro envia pode ser apenas visto como uma viagem de aventura, onde apenas
cientistas para estudar a biodiversidade e a biopirataria dos nos- almeja-se conhecer ecossistemas e a população nativa em seu esta-
sos materiais genéticos da Amazônia é enorme, várias de nossas do intocado, natural. No entanto, ecoturismo não deve ser apenas
plantas são roubadas e registradas em laboratórios farmacêuticos isto, deve ser entendido como o desejo de ver a natureza preserva-
estrangeiros, de modo que temos que impedir e fiscalizar para que da e constatar que a população local se beneficia da preservação,
os brasileiros aproveitem esses recursos, porque a Amazônia é pa- de modo que é viável viver preservando o ambiente, em harmonia
trimônio brasileiro. com ele.
É importante salientar que ecoturismo e turismo sustentável
ECOTURISMO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL são diferentes. O primeiro é feito e pequena escala, sem agredir de
nenhuma forma a natureza. O turismo sustentável é o realizado em
Uma das formas de preservar o meio ambiente e conscientizar níveis aceitáveis, agredindo a natureza num patamar em que ela
a importáncia de preservá-lo é o ecoturismo. A Amazônia já possui
possa se recuperar, sem causar degradação irrecuperável. O eco-
hotéis onde é possível conhecer uma parte da imensa Amazônia
turismo é realizado por pessoas altamente conscientes e educadas
sem destruí-la.
ambientalmente, despreocupadas com o lucro, ou então não priori-
Se bem implementado o ecoturismo pode ser fonte rentá-
tariamente preocupadas com os ganhos financeiros.
vel, principalmente do ponto de vista de distribuição de riqueza,
A boa gerência do turismo é fator essencial para que seja apro-
privilegiando as populações ribeirinhas, silvícolas e não grandes
veitado como fonte econômica. Devem então ser instituídos pre-
corporações que induzem ao ecoturismo elitista, que pode desgrin-
golar para o turismo em massa, prejudicial à natureza e ao meio ceitos mínimos que garantam o aproveitamento do ambiente sem
ambiente. degradação turística, sendo elencados nove princípios:
O turismo em massa é extremamente prejudicial, principal- • Não deve degradar os recursos e deve ser desenvolvido de
mente se não houver controle. Temos tristes exemplos de paraísos maneira completamente ambiental;
naturais hoje transformados em resorts com praias particulares, • Deve possibilitar experiências participativas e esclarecedo-
acessível apenas ao ricos que podem agredir e poluir à vontade, ras em primeira mão;
sob o argumento de que é patrimônio particular. (praia é patrimô- • Deve envolver educação entre todas as partes - comunidades
nio público, vale lembrar). locais, governo, organizações não governamentais, indústria e tu-
O relatório de Brundtland traz a seguinte definição: “o desen- ristas (antes, durante e depois da viagem);
volvimento sustentado é aquele que responde às necessidades do • Deve incentivar um reconhecimento dos valores intrínsecos
presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de dos recursos naturais e culturais, por parte de todos os envolvidos;
responder às suas necessidades”. Essa definição é galgada na sus- • Deve implicar aceitação dos recursos tais como são e reco-
tentabilidade do desenvolvimento econômico, o que é muito criti- nhecer os seus limites, o que pressupõe uma administração voltada
cado, porque despreza a necessidade de preservar para as gerações para o abastecimento;
futuras, preocupando apenas com a sociedade presente. • Deve promover a compreensão e as parcerias entre muitos
Para prevenir e impedir os impactos ambientais do turismo, a envolvidos, e isso pode incluir o governo, organizações não go-
degradação dos recursos e a restrição do seu ciclo de vida, é preci- vernamentais, a indústria, os cientistas e a população local (tanto
so concentrar os esforços em um desenvolvimento sustentável não antes como durante as operações);
apenas do patrimônio natural, mas também dos produtos que se • Deve promover responsabilidades e um comportamento mo-
estruturam sobre os atrativos e equipamentos turísticos, garantindo ral e ético em relação ao meio ambiente natural e cultural, por
dessa forma sua sobrevivência. parte de todos os envolvidos;
Os conceitos de turismo sustentável e desenvolvimento sus- • Deve trazer benefícios em longo prazo - para os recursos
tentável estão intimamente ligados a sustentabilidade do meio am- naturais e culturais, para a comunidade e para as indústrias locais
biente, principalmente nos países menos desenvolvidos, a exemplo (esses benefícios podem ser de preservação científica, social, cul-
do nosso. Porque o. Isto porque o desenvolvimento e o desenvol- tural ou econômica);
Didatismo e Conhecimento 39
GEOGRAFIA DO BRASIL
• Deve assegurar que nas operações de ecoturismo a ética ine- AS NOVAS TECNOLOGIAS E A ARTE
rente a práticas ambientais responsáveis se aplique não apenas aos
recursos externos (naturais e culturais) que atraem turistas, mas tam- A chegada das novas tecnologias industriais foi notada tam-
bém as suas operações internas. bém pelos artistas brasileiros. Eles sentiram o início de uma nova
Desta forma, percebemos então que ecoturismo e turismo sus- era na história da humanidade, cheia de inovações tecnológicas.
tentável não são necessariamente a mesma coisa. Procuramos esbo- Ao mesmo tempo, levantaram uma questão central: onde estaria
çar as principais diferenças entre os dois conceitos. Texto adaptado a identidade nacional nesse redemoinho de novas possibilidades,
de ALMEIDA, D. C. D nas mudanças radicais que afetavam o mundo? Essas inquietações
estimularam o surgimento da Semana de Arte Moderna de 1922.
Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e to-
O BRASIL E A QUESTÃO CULTURAL. dos os artistas envolvidos na Semana de 22 tinham, em geral, uma
formação intelectual e técnica muito mais européia do que ameri-
cana. Mas foram obrigados a dialogar com a realidade tecnológica
exportada pelos Estados Unidos. “A afirmação de que a Semana
de Arte de 22 foi o evento mais significativo na história cultural
No Brasil, como em praticamente todos os países ocidentais, o brasileira acaba por acobertar alguns outros significados que po-
uso da tecnologia na vida cotidiana reflete um determinado modo de dem ser associados ao Modernismo. Para além de ser um capítulo
vida, um ideal de felicidade inspirado na sociedade consumista sur- na história da nossa literatura, das artes plásticas, da música, o
gida nos Estados Unidos nos anos 20. Foi justamente a partir desse Modernismo foi significativo para a composição, para a fundação
modo de vida típico do capitalismo que se desenvolveu amensagem de uma nova identidade nacional. Os artistas, os participantes da
ideológica ocidental durante a Guerra Fria.O programa mostra de Semana de 22 procuraram incorporar todos os procedimentos téc-
que forma o Brasil se colocava diante da forte influência cultural nicos poéticos das vanguardas européias. Nesse sentido, buscaram
norte-americana, e como se deflagraram os movimentos artísticos
atualizar as questões da literatura, da arte, da música e, ao mesmo
brasileiros no período da Guerra Fria. Depoimentos de Nélson Scha-
tempo, resgatar elementos da tradição popular brasileira. Isso deu
pochnik, professor de história da arte, e do cardeal-arcebispo D.
origem a uma cultura ambígua que expressava cosmopolitismo por
Paulo Evaristo Arns. Em 1944, em plena Segunda Guerra Mundial,
um lado, fruto de uma modernização crescente, fruto da industria-
era lançado o primeiro liquidificador no
lização, fruto da presença de imigrantes na sociedade brasileira;
Brasil. Mas, um momento! O que um liquidificador tem a ver
com o nosso assunto, a Guerra Fria? Tem tudo a ver. Liquidificador, por outro lado, expressava também o resgate das tradições popula-
televisão, máquina de lavar, torradeira, aspirador de pó... Enfim, o res especialmente das classes que durante muito tempo não figura-
uso da tecnologia na vida cotidiana refletia, e ainda reflete, um deter- vam naquilo que se poderia chamar de cultura brasileira. Trata-se
minado modo de vida, um ideal de felicidade inspirado na sociedade então de um país que incorpora a cultura européia mas que tem
consumista surgida nos Estados Unidos nos anos 20. Foi justamente uma cultura, traços culturais diferentes, variados, múltiplos e que
a partir desse modo de vida típico do capitalismo que se desenvol- produz algo novo. Talvez a expressão mais bem acabada disso te-
veu a mensagem ideológica ocidental durante a Guerra Fria. Uma nha sido a Antropofagia.”
mensagem que se propagou por todo o mundo capitalista.
Ideologia do consumo Em todo o mundo fora da esfera socia- DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E PRODUÇÃO
lista, comprar eletrodomésticos e automóveis tornou-se parte de um CULTURAL
projeto de vida. O Brasil recebeu em cheio o impacto da ideolo-
gia consumista e da revolução tecnológica norte-americana. Nossa Nas décadas seguintes, sobretudo a partir dos anos 40, o país
classe média, principalmente, adotou o sonho do carro na garagem viu crescerem as atividades de pesquisa e a formação de mão-de-o-
e consumiu em larga escala a fantasia exportada por Hollywood. bra qualificada nas universidades. Ao mesmo tempo, a classe mé-
Essa realidade teve origem nos primeiros vinte anos do nosso sécu- dia brasileira embarcava com tudo na ideologia do consumo. Foi
lo. Se o Rio de Janeiro era a capital política e administrativa do país, durante o governo de Juscelino Kubitschek, entre 1956 e 1961, que
São Paulo foi a metrópole que mais rapidamente sentiu o impacto se firmou no Brasil a convicção de que o progresso dependia do
dos novos tempos. Recebeu a primeira linha de montagem da Ford desenvolvimento industrial. O Plano Nacional de Desenvolvimen-
no país, em 1919. No início dos anos 20, alguns bairros da capital to de Juscelino tinha o slogan “Cinqüenta Anos em Cinco”, pro-
já contavam com um sistema de transporte coletivo. Na gestão de pondo a realização, em cinco anos, de um trabalho de meio século.
Washington Luís como presidente do estado de São Paulo começa- No governo JK, as indústrias básicas, que produziam alimentos,
ram a rodar os primeiros carros a gasolina. máquinas e peças, expandiram seus negócios.
Os rapazes de famílias ricas passeavam com seus automóveis A produção industrial teve um crescimento de 80 por cento.
causando medo e apreensão entre os pedestres. Em 1922 foram ins- Para viabilizar a produção de energia, fundamentais para o desen-
taladas em São Paulo novas linhas postais, telegráficas e telefônicas. volvimento foram construídas grandes obras, como as hidrelé-
Em janeiro de 1924, a cidade viu nascer a Rádio Educadora, criada tricas de Furnas e Três Marias, em Minas Gerais. Além disso, o
para dotar o estado de uma emissora com fins culturais. Àquela al- mercado brasileiro se abriu para as montadoras de automóveis,
tura o Brasil já contava com a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, como a Ford, a General Motors e a Volkswagen. JK procurava um
fundada em abril de 1923. A capital paulista contava, então, com símbolo para marcar e consolidar a nova fase industrial do Brasil,
14 salas de cinema e seis de teatro. Na época, era a segunda cidade a obra máxima de seu governo. Começava o projeto da construção
mais habitada do Brasil, mas abrigava sozinha um terço da mão- de Brasília, inaugurada em abril de 1960. Curiosamente, a idéia
de-obra industrial do País, empregando em suas fábricas cerca de da nova capital, uma cidade moderna e planejada em pleno sertão,
140 mil operários. agradou à esquerda e à direita brasileiras.
Didatismo e Conhecimento 40
GEOGRAFIA DO BRASIL
João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Moraes. A Bossa Nova liberais e oposicionistas em geral do governo organizaram um co-
As mudanças nos grandes centros urbanos tiveram reflexos nas mício contra as reformas de base de Jango. Em São Paulo foi or-
artes, na ciência e na tecnologia. Enfim, na produção cultural do ganizado um movimento semelhante, a “Marcha da Família Com
país. O aumento da população economicamente ativa criou condi- Deus Pela Liberdade”. Era o sinal que os militares aguardavam
ções para o desenvolvimento comercial do teatro, do cinema e da para o golpe de Estado.
música. Foi assim que, no final dos anos 50, surgiu a bossa nova, Ditadura militar: resistência A ditadura, instalada a partir do
com João Gilberto, Tom Jobim e Vinícius de Moraes, entre outros. golpe de 31 de março de 1964, suprimiu liberdades básicas. O go-
Eles beberam na fonte de músicos como Pixinguinha, Noel Rosa, verno do marechal Castello Branco fechou sindicatos e entidades
Ari Barroso, Lamartine Babo e Villa-Lobos. Reunidos em sessões civis, entre elas a UNE, União Nacional dos Estudantes. Proibiu as
musicais na casa da cantora Nara Leão, no Rio de Janeiro, os cria- greves e cassou mandatos de políticos da oposição. Perseguiram
dores da bossa nova identificavam-se com os grandes sambistas intelectuais e profissionais liberais que se mostravam contrários ao
cariocas. Ao mesmo tempo, dialogavam com as formas do jazz novo regime. Os militares criaram o Serviço Nacional de Informa-
produzido nas grandes cidades dos Estados Unidos, como Chicago ções, SNI, uma rede de espionagem política. Seus agentes usavam
e Nova York. métodos que incluíam escuta telefônica, violação de correspon-
Teatro e cinema: efervescência No teatro, Nélson Rodrigues dência, prisões arbitrárias e a prática de tortura. Em novembro de
escandalizava ao retratar a hipocrisia e os conflitos da classe mé- 1965, Castello Branco instituiu o bipartidarismo. De um lado, a
dia urbana típica, angustiada por problemas materiais e incertezas Aliança Renovadora Nacional, Arena, aglutinava os partidários do
existenciais. O estilo direto e ferino do dramaturgo chocava-se governo. De outro lado, o MDB, Movimento Democrático Brasi-
com os valores tradicionais da sociedade. No cinema, a produtora leiro, agrupava a “oposição consentida”. Os setores oposicionistas
Atlântida adotou a fórmula da chanchada, inspirada na receita de mais ativos intensificaram as atividades clandestinas. Muitos estu-
sucesso de Hollywood. Outra produtora, a Vera Cruz, lançou-se a dantes, intelectuais e trabalhadores urbanos e do campo acabaram
uma vertente mais séria, produzindo filmes com um conteúdo mais presos. Tornaram-se freqüentes os relatos de tortura e de desapare-
elaborado e dentro dos padrões industriais do cinema americano. cimento de militantes políticos.
O Cinema Novo retomou em parte a discussão levantada pela Militares decretam o AI-5 Apesar de todo o clima de terror, o
Semana de Arte Moderna de 1922. Ele se preocupava com o Bra- movimento estudantil, articulado com organizações de trabalha-
sil, com as origens e com o futuro da cultura e da arte do país, dores, conseguiu resistir promovendo passeatas que reuniam mi-
num mundo cada vez mais industrializado e dividido em torno de lhares de pessoas em São Paulo, no Rio e em outras capitais. A
temas globais, como o capitalismo e o comunismo. “Uma idéia na repressão investiu com toda a força sobre o meio estudantil. Em
cabeça, uma câmera na mão”: a célebre frase de Gláuber resumia março de 68, o estudante Édson Luís de Lima Souto morreu num
a preocupação estética do Cinema Novo. Ao mesmo tempo em conflito com a Polícia Militar no restaurante Calabouço, no Rio de
que questionavam esquemas hollywoodianos de superprodução, Janeiro. Em outubro, a ditadura prendeu mais de 1.200 estudantes
os cineastas procuravam retratar o Brasil através de uma estética no trigésimo congresso da UNE, realizado clandestinamente em
despojada, mas com sofisticação de linguagem. Ibiúna, em São Paulo. Logo em seguida, em dezembro de 68, viria
Num mundo em transformação, medo do comunismo No o golpe fatal da ditadura: a decretação do AI-5. Assinado em de-
início dos anos 60, o país estava em processo de transformação, zembro de 68 pelo presidente da República, gal. Arthur da Costa
em todos os sentidos. Brasília prometia a modernidade, as gran- e Silva, o Ato Institucional n°. 5 vinha consolidar e aprofundar
des cidades estavam mudadas e a arte buscava novos caminhos. o regime de exceção. O instrumento conferia ao poder executi-
No dia-a-dia, a presença cultural norte-americana se multiplicava vo a faculdade de cassar mandatos políticos, censurar a imprensa,
por todos os lados: na grande indústria, nos arranha-céus, na pu- aposentar compulsoriamente servidores públicos, determinar o
blicidade, nas roupas, no cinema. Com a grande concentração de fechamento do Congresso, impor estado de sítio e suspender as
operários nas cidades, surgiu o receio de movimentos trabalhistas mínimas garantias individuais, como o direito de ir e vir. Violência
e sindicais. A Casa Branca passou a se preocupar com possíveis do Estado e abertura política
levantes comunistas na América Latina, a exemplo do que ocorreu Em janeiro de 76, a morte do operário Manoel Fiel Filho em
em Cuba em 1959. A mesma preocupação da burguesia e da clas- circunstâncias semelhantes às de Herzog acelerou o processo de
se média brasileiras. O clima de insegurança no Brasil aumentou democratização do país. Nos Estados Unidos, a política externa do
com a renúncia do presidente Jânio Quadros, em agosto de 1961, presidente Jimmy Carter enfatizava os valores da democracia e o
em circunstâncias nunca inteiramente esclarecidas. O trabalhista respeito aos direitos humanos. “Recordando a morte do jornalista
João Goulart, o Jango, vice de Jânio, assumiu a presidência em Wladimir Herzog, eu me menciono sobre três pontos que parecem
setembro de 61, em meio a ameaças de golpes e contragolpes de fundamentais. O primeiro foi a busca. Saber se ele estava preso e,
Estado. Os militares não queriam um governo identificado com a se estava, onde se encontrava. Foram telefonemas a todas as auto-
estrutura sindical herdada de Getúlio Vargas. Se Jango nada tinha ridades, desde o governador até o general Golbery (do Couto e Sil-
a ver com o comunismo, o receio dos militares era de que o traba- va, chefe do gabinete civil no governo Geisel) e nada conseguimos
lhismo aproveitasse a oportunidade para uma ofensiva. Foi o que fazer Ele estava morto. O segundo momento foi a preparação para
aconteceu. As greves se multiplicaram. Em 62, a Confederação o ato ecumênico. Foi um ato judaico dirigido pelos cristãos, todos
Nacional dos Trabalhadores e o Pacto de Unidade e Ação convo- unidos para dizer: “a revolução estava matando”. Depois chegou o
caram uma greve geral, reivindicando um ministério progressista terceiro momento, quando um operário da zona leste de São Paulo
e comprometido com os interesses nacionais. A influência das es- foi preso e desapareceu. De repente nos chegou a notícia de que ele
querdas sobre o movimento causava ainda mais inquietação nas havia morrido. Era Manoel Fiel Filho. Ele se tornou o símbolo da
Forças Armadas. No Rio de Janeiro, grupos de mães, profissionais resistência operária contra a violência. Em todos os lugares de São
Didatismo e Conhecimento 41
GEOGRAFIA DO BRASIL
Paulo houve manifestações religiosas e manifestações patrióticas. país e para o exterior a imagem ufanista de uma nação plena de paz
Daí para a frente a Igreja e os operários lutavam por uma só causa, e prosperidade. Ao longo das últimas décadas, a principal emissora
assim como o povo, que começou a lutar pela liberdade do Brasil.” do país, a TV Globo, tem mantido sua posição de líder absoluta de
Dentro desse contexto, o governo do general Ernesto Geisel deu audiência em todas as regiões brasileiras. A partir das telenovelas,
início ao que chamava de “abertura lenta, gradual e segura”. Em do jornalismo e de uma grade de programação acompanhada dia-
79, já durante o governo do general João Figueiredo, foi aprovada riamente por milhões de pessoas, a emissora veicula sua própria
no Congresso a lei de anistia aos presos políticos e aos exilados, e ótica do Brasil e do mundo. Com a força de comunicação que de-
também aos torturadores do regime militar. tém, a TV Globo ocupa um espaço cultural de inegável influência
sobre a realidade social, econômica e política do país.
ARTE E PARTICIPAÇÃO Cultura e conscientização A produção cultural que se obser-
vou a partir dos anos 60, no Brasil e no mundo, mostra que ne-
O período de vigência do AI-5 é sempre lembrado como um nhum sistema político possui o monopólio do bem e do mal, como
tempo sem perspectivas. Mas antes dele, ainda nos primeiros anos as fórmulas da Guerra Fria tentaram passar ao mundo. Por sua
após o golpe de 64, a vida cultural era intensa no Brasil, apesar da própria natureza, a arte e a cultura estão sempre buscando formas
censura e da repressão. Os artistas reagiram de formas diferentes de denunciar os conceitos maniqueístas criados em nome das ideo-
ao golpe de 64. Entre os músicos da ‘geração Bossa Nova’, por logias políticas.
exemplo, houve uma divisão. Diversos artistas preferiram não par- Hoje podemos constatar mais claramente que nem o socialis-
ticipar diretamente da discussão política. Por outro lado, muitos mo nem o capitalismo oferecem a chave da felicidade. A partir da
Chico Buarque, fizeram oposição explícita ao governo militar. A queda do Muro de Berlim, o que se tem visto é a livre comunica-
proposta formal de arte engajada foi adotada pela União Nacional ção entre países que estiveram distantes uns dos outros por mais
dos Estudantes, que criou os CPCs, Centros Populares de Cultu- de 40 anos. Esse intercâmbio de culturas e conhecimento científi-
ra. O movimento foi além da música e engajou escritores como co, facilitado pelos avanços da tecnologia, pode vir a consolidar,
Ferreira Gullar, dramaturgos como Augusto Boal e Gianfrances- no futuro, um mundo mais democrático em todos os sentidos: no
co Guarnieri, e os realizadores do Cinema Novo. Em 1965 a TV exercício da cidadania, na vida cultural e, sobretudo, no campo das
Record passou a transmitir o programa “O Fino da Bossa”, sob idéias. Texto adaptado de BIVAR, A.
o comando de Elis Regina e Jair Rodrigues. A emissora aprovei-
tava o nome de um espetáculo de sucesso apresentado no Teatro
Paramount por estudantes da Faculdade de Direito do Largo São
Francisco. A proposta inicial da emissora, de abrir espaço para a
chamada “música brasileira autêntica”, foi se modificando sob a
influência dos estudantes. As letras das músicas eram cada vez
mais contundentes e alusivas ao momento político.
Anos 60: Jovem Guarda, Tropicalismo... A mesma TV Re-
cord criou, para ocupar as tardes de domingo, o programa “Jo-
vem Guarda”, com Roberto Carlos, numa linha bem diferente. As
gírias, as roupas e os cabelos longos davam o tom do programa.
Expressavam uma concepção de vida em que o ideal era ter um
carrão vermelho e andar à toda velocidade pelas curvas da estrada
de Santos. No fim dos anos 60 surgiu a Tropicália, uma corren-
te que refletia bem os conflitos políticos e estéticos da época. Os
baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil pretendiam renovar a MPB,
para eles estagnada desde João Gilberto. Os tropicalistas procura-
vam uma estética que lhes parecesse nova na arte. O movimento
agrupou artistas como o dramaturgo José Celso Martinez Correa,
o maestro Rogério Duprat, o artista plástico Hélio Oiticica e os
poetas concretistas Augusto e Haroldo de Campos. Com a decreta-
ção do AI-5, em dezembro de 68, passou a haver um controle mais
rígido das atividades culturais. Muitos artistas desagradáveis ao
regime acabaram exilados. A força da televisão
E houve um fator muito importante a exercer influência sobre
esse momento cultural: a força da televisão. Nesse período, a pio-
neira TV Tupi, surgida em 1950, e a Rede Globo, inaugurada em
1965, disputavam a liderança de audiência. A TV brasileira come-
çava a chegar às cidades e vilas mais distantes com boa qualidade
de som e imagem, apoiada em um projeto de telecomunicações
implementado pelos governos militares. Um exemplo da força e
do controle da televisão sobre o imaginário coletivo foi a cobertura
da Copa do Mundo de 1970. Num período de recrudescimento da
repressão e da tortura a presos políticos, a TV levava para todo o
Didatismo e Conhecimento 42
EXERCÍCIO COMPLEMENTAR
LÍNGUA PORTUGUESA (B) Um levantamento mostrou que, (X) os adolescentes
americanos consomem, em média (X) 357 calorias diárias des-
1-) (FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO sa fonte.
ABC/SP – ADMINISTRADOR - VUNESP/2013) Assinale a (C) Um levantamento mostrou que os adolescentes ameri-
alternativa correta quanto à concordância, de acordo com canos consomem, em média, 357 calorias diárias dessa fonte.
a norma-padrão da língua portuguesa. (D) Um levantamento, (X) mostrou que os adolescentes
(A) A má distribuição de riquezas e a desigualdade so-
americanos, (X) consomem (X) em média (X) 357 calorias
cial está no centro dos debates atuais.
diárias dessa fonte.
(B) Políticos, economistas e teóricos diverge em relação
(E) Um levantamento mostrou que os adolescentes ameri-
aos efeitos da desigualdade social.
(C) A diferença entre a renda dos mais ricos e a dos canos, (X) consomem (X) em média (X) 357 calorias diárias,
mais pobres é um fenômeno crescente. (X) dessa fonte.
(D) A má distribuição de riquezas tem sido muito criti-
cado por alguns teóricos. RESPOSTA: “C”.
(E) Os debates relacionado à distribuição de riquezas
não são de exclusividade dos economistas. 3-) (TRT/RO E AC – ANALISTA JUDICIÁRIO –
FCC/2011) Estão plenamente observadas as normas de
Realizei a correção nos itens: concordância verbal na frase:
(A) A má distribuição de riquezas e a desigualdade social a) Destinam-se aos homens-placa um lugar visível nas
está = estão ruas e nas praças, ao passo que lhes é suprimida a visibili-
(B) Políticos, economistas e teóricos diverge = divergem dade social.
(C) A diferença entre a renda dos mais ricos e a dos mais b) As duas tábuas em que se comprimem o famigera-
pobres é um fenômeno crescente.
do homem-placa carregam ditos que soam irônicos, como
(D) A má distribuição de riquezas tem sido muito criticado
“compro ouro”.
= criticada
(E) Os debates relacionado = relacionados c) Não se compara aos vexames dos homens-placa a
exposição pública a que se submetem os guardadores de
RESPOSTA: “C”. carros.
d) Ao se revogarem o emprego de carros-placa na pro-
2-) (COREN/SP – ADVOGADO – VUNESP/2013) Se- paganda imobiliária, poupou-se a todos uma demonstração
guindo a norma-padrão da língua portuguesa, a frase – Um de mau gosto.
levantamento mostrou que os adolescentes americanos con- e) Não sensibilizavam aos possíveis interessados em
somem em média 357 calorias diárias dessa fonte. – recebe o apartamentos de luxo a visão grotesca daqueles velhos car-
acréscimo correto das vírgulas em: ros-placa.
(A) Um levantamento mostrou, que os adolescentes
americanos consomem em média 357 calorias, diárias dessa Fiz as correções entre parênteses:
fonte. a) Destinam-se (destina-se) aos homens-placa um lugar
(B) Um levantamento mostrou que, os adolescentes visível nas ruas e nas praças, ao passo que lhes é suprimida a
americanos consomem, em média 357 calorias diárias dessa
visibilidade social.
fonte.
b) As duas tábuas em que se comprimem (comprime) o
(C) Um levantamento mostrou que os adolescentes
americanos consomem, em média, 357 calorias diárias des- famigerado homem-placa carregam ditos que soam irônicos,
sa fonte. como “compro ouro”.
(D) Um levantamento, mostrou que os adolescentes c) Não se compara aos vexames dos homens-placa a ex-
americanos, consomem em média 357 calorias diárias dessa posição pública a que se submetem os guardadores de carros.
fonte. d) Ao se revogarem (revogar) o emprego de carros-placa
(E) Um levantamento mostrou que os adolescentes na propaganda imobiliária, poupou-se a todos uma demonstra-
americanos, consomem em média 357 calorias diárias, des- ção de mau gosto.
sa fonte. e) Não sensibilizavam (sensibilizava) aos possíveis inte-
ressados em apartamentos de luxo a visão grotesca daqueles
Assinalei com um “X” onde há pontuação inadequada ou velhos carros-placa.
faltante:
(A) Um levantamento mostrou, (X) que os adolescentes RESPOSTA: “C”.
americanos consomem (X) em média (X) 357 calorias, (X)
diárias dessa fonte.
Didatismo e Conhecimento 43
EXERCÍCIO COMPLEMENTAR
4-) (TRE/PA- ANALISTA JUDICIÁRIO – 6-) (TRE/PA- ANALISTA JUDICIÁRIO – FGV/2011)
FGV/2011) Assinale a palavra que tenha sido acentuada Segundo o Manual de Redação da Presidência da Repúbli-
seguindo a mesma regra que distribuídos. ca, NÃO se deve usar Vossa Excelência para
(A) sócio (A) embaixadores.
(B) sofrê-lo (B) conselheiros dos Tribunais de Contas estaduais.
(C) lúcidos (C) prefeitos municipais.
(D) constituí (D) presidentes das Câmaras de Vereadores.
(E) órfãos (E) vereadores.
Didatismo e Conhecimento 44
EXERCÍCIO COMPLEMENTAR
Fiz os acertos entre parênteses: (A) entrar − vira
(A) A sociedade deve reconhecer os princípios e valores (B) entrava − tinha visto
que determinam as escolhas dos governantes, para conferir le- (C) entrasse − veria
gitimidade a suas decisões. (D) entraria − veria
(B) A confiança dos cidadãos em seus dirigentes devem (E) entrava − teria visto
(deve) ser embasados (embasada) na percepção dos valores e
princípios que regem a prática política. Se a gente entrasse (verbo no singular) na serraria, veria =
(C) Eleições livres e diretas é (são) garantia de um verda- entrasse / veria.
deiro regime democrático, em que se respeita (respeitam) tanto
as liberdades individuais quanto as coletivas. RESPOSTA: “C”.
(D) As instituições fundamentais de um regime demo-
crático não pode (podem) estar subordinado (subordinadas) às 11-) (TRE/AL – ANALISTA JUDICIÁRIO –
ordens indiscriminadas de um único poder central. FCC/2010) A pontuação está inteiramente adequada na
(E) O interesse de todos os cidadãos estão (está) voltados frase:
a) Será preciso, talvez, redefinir a infância já que as
(voltado) para o momento eleitoral, que expõem (expõe) as di-
crianças de hoje, ao que tudo indica nada mais têm a ver
ferentes opiniões existentes na sociedade.
com as de ontem.
b) Será preciso, talvez redefinir a infância: já que as
RESPOSTA: “A”.
crianças, de hoje, ao que tudo indica nada têm a ver, com
as de ontem.
9-) (TRE/AL – ANALISTA JUDICIÁRIO – c) Será preciso, talvez: redefinir a infância, já que as
FCC/2010) A frase que admite transposição para a voz pas- crianças de hoje ao que tudo indica, nada têm a ver com as
siva é: de ontem.
(A) O cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagrado. d) Será preciso, talvez redefinir a infância? - já que as
(B) O conceito de espetáculo unifica e explica uma crianças de hoje ao que tudo indica, nada têm a ver com as
grande diversidade de fenômenos. de ontem.
(C) O espetáculo é ao mesmo tempo parte da sociedade, e) Será preciso, talvez, redefinir a infância, já que as
a própria sociedade e seu instrumento de unificação. crianças de hoje, ao que tudo indica, nada têm a ver com
(D) As imagens fluem desligadas de cada aspecto da as de ontem.
vida (...).
(E) Por ser algo separado, ele é o foco do olhar iludido Devido à igualdade textual entre os itens, a apresentação da
e da falsa consciência. alternativa correta indica quais são as inadequações nas demais.
Didatismo e Conhecimento 45
EXERCÍCIO COMPLEMENTAR
13-) (TRE/AP - TÉCNICO JUDICIÁRIO – 15-) (CETESB/SP - ANALISTA ADMINISTRATIVO -
FCC/2011) Entre as frases que seguem, a única correta é: RECURSOS HUMANOS - VUNESP/2013 - ADAPTADA)
a) Ele se esqueceu de que? Considere as orações: … sabíamos respeitar os mais velhos!
b) Era tão ruím aquele texto, que não deu para distri- / E quando eles falavam nós calávamos a boca!
bui-lo entre os presentes. Alterando apenas o tempo dos verbos destacados para
c) Embora devessemos, não fomos excessivos nas crí- o tempo presente, sem qualquer outro ajuste, tem-se, de
ticas. acordo com a norma-padrão da língua portuguesa:
d) O juíz nunca negou-se a atender às reivindicações
(A) … soubemos respeitar os mais velhos! / E quando
dos funcionários.
eles falaram nós calamos a boca!
e) Não sei por que ele mereceria minha consideração.
(B) … saberíamos respeitar os mais velhos! / E quando
(A) Ele se esqueceu de que? = quê? eles falassem nós calaríamos a boca!
(B) Era tão ruím (ruim) aquele texto, que não deu para (C) … soubéssemos respeitar os mais velhos! / E quan-
distribui-lo (distribuí-lo) entre os presentes. do eles falassem nós calaríamos a boca!
(C) Embora devêssemos (devêssemos) , não fomos exces- (D) … saberemos respeitar os mais velhos! / E quando
sivos nas críticas. eles falarem nós calaremos a boca!
(D) O juíz (juiz) nunca (se) negou a atender às reivindica- (E) … sabemos respeitar os mais velhos! / E quando eles
ções dos funcionários. falam nós calamos a boca!
(E) Não sei por que ele mereceria minha consideração.
No presente: nós sabemos / eles falam.
RESPOSTA: “E”.
RESPOSTA: “E”.
14-) (FUNDAÇÃO CASA/SP - AGENTE ADMINIS-
TRATIVO - VUNESP/2011 - ADAPTADA) Observe as
16-) (UNESP/SP - ASSISTENTE TÉCNICO ADMI-
frases do texto:
I, Cerca de 75 por cento dos países obtêm nota negati- NISTRATIVO - VUNESP/2012) A correlação entre as for-
va... mas verbais está correta em:
II,... à Venezuela, de Chávez, que obtém a pior classifi- (A) Se o consumo desnecessário vier a crescer, o planeta
cação do continente americano (2,0)... não resistiu.
Assim como ocorre com o verbo “obter” nas frases I e (B) Se todas as partes do mundo estiverem com alto po-
II, a concordância segue as mesmas regras, na ordem dos der de consumo, o planeta em breve sofrerá um colapso.
exemplos, em: (C) Caso todo prazer, como o da comida, o da bebida, o
(A) Todas as pessoas têm boas perspectivas para o pró- do jogo, o do sexo e o do consumo não conhecesse distorções
ximo ano. Será que alguém tem opinião diferente da maio- patológicas, não haverá vícios.
ria? (D) Se os meios tecnológicos não tivessem se tornado
(B) Vem muita gente prestigiar as nossas festas juninas. tão eficientes, talvez as coisas não ficaram tão baratas.
Vêm pessoas de muito longe para brincar de quadrilha. (E) Se as pessoas não se propuserem a consumir cons-
(C) Pouca gente quis voltar mais cedo para casa. Quase cientemente, a oferta de produtos supérfluos crescia.
todos quiseram ficar até o nascer do sol na praia.
(D) Existem pessoas bem intencionadas por aqui, mas
Fiz as correções necessárias:
também existem umas que não merecem nossa atenção.
(E) Aqueles que não atrapalham muito ajudam. (A) Se o consumo desnecessário vier a crescer, o planeta
não resistiu = resistirá
Em I, obtêm está no plural; em II, no singular. Vamos aos (B) Se todas as partes do mundo estiverem com alto poder
itens: de consumo, o planeta em breve sofrerá um colapso.
(A) Todas as pessoas têm (plural) ... Será que alguém tem (C) Caso todo prazer, como o da comida, o da bebida, o
(singular) do jogo, o do sexo e o do consumo não conhecesse distorções
(B) Vem (singular) muita gente... Vêm pessoas (plural) patológicas, não haverá = haveria
(C) Pouca gente quis (singular)... Quase todos quiseram (D) Se os meios tecnológicos não tivessem se tornado tão
(plural) eficientes, talvez as coisas não ficaram = ficariam (ou teriam
(D) Existem (plural) pessoas ... mas também existem umas ficado)
(plural) (E) Se as pessoas não se propuserem a consumir conscien-
(E) Aqueles que não atrapalham muito ajudam (ambas as temente, a oferta de produtos supérfluos crescia = crescerá
formas estão no plural)
RESPOSTA: “B”.
RESPOSTA: “A”.
Didatismo e Conhecimento 46
HISTÓRIA DO MARANHÃO
HISTÓRIA DO MARANHÃO
No entanto, o território era desconhecido e Aires da Cunha e
sua tripulação chegaram a Pernambuco em 1535. J. F. de Almeida
A CAPITANIA DO MARANHÃO: Prado nos apresenta a falta de informação e de conhecimento desta
OS LOTES DE JOÃO DE BARROS E costa marítima nos primeiros anos.
FERNÃO ÁLVARES DE ANDRADE. Aires da Cunha chegou a Pernambuco e, de lá continuou à
procura do Maranhão. Enfrentou forte tormenta e a sua nau capi-
EXPEDIÇÃO DE AIRES DA CUNHA.
tânia afundou morrendo todos. As outras embarcações foram parar
na ilha então chamada de Trindade, que depois passou a ser cha-
mada de ilha das Vacas e por último, foi batizada pelos franceses,
em 1612, de São Luís, em homenagem ao rei da França, nome
A Capitania do Maranhão foi uma das subdivisões do territó- que permanece até hoje, no entanto, na sua fundação, a povoação
rio brasileiro no período colonial. Seu primeiro donatário foi Fer- daquele lugar se intitulou de Nazaré.
nando Álvares de Andrade, que recebeu a capitania em 11 de mar- O objetivo daqueles colonos, “bem recebidos” pelos índios,
ço de 1535. Ela tinha 75 léguas de costa, estendendo-se do cabo de após o naufrágio, era achar ouro o que não conseguiram na explo-
Todos os Santos até a foz do Rio da Cruz, cobrindo o nordeste do ração pelo rio adentro e por isso, voltaram para Portugal - alguns
atual estado do Maranhão, pequena parte do Pará (onde hoje está tripulantes ficaram navegando cerca de „duzentas e cinqüenta le-
Belém) e um extremo da Ilha de Marajó. goas‟ rio a cima. No retorno, desgarraram-se mais três embarca-
ções que em 1539 foram parar nas Antilhas.
HISTÓRIA Apesar dos prejuízos da “primeira” expedição, quinze anos
depois, João de Barros insistiu em outra expedição, comandada
Os donatários das três últimas capitanias, João de Barros, Ai- por seus filhos, e que também não foi bem sucedida, desta vez,
res da Cunha e Fernando Álvares de Andrade, organizaram juntos muito mais pelo ataque dos indígenas. Esses homens do mar, como
uma expedição colonizadora composta de dez navios, com no- o próprio rei, sabiam das dificuldades que iriam encontrar nestas
vecentos povoadores, sob o comando de Aires da Cunha, a qual viagens, mesmo porque era a costa marítima menos explorada e
chegou ao Brasil em 1535. Foram pouco felizes: obrigados a aban- menos conhecida pelos “aventureiros” do mar. Por essas dificulda-
donar o navio ao ver as terras do Maranhão, fundaram a povoa-
des, como também pelos grandes investimentos apresentados, eles
ção da Nazaré. Sempre foram ameaçados pelos indígenas, com os
ganhariam do rei algumas concessões a mais do que as de sempre
quais entravam constantemente em luta. Em 1538, abandonaram
como: isenção em alguns impostos, fornecimento de ferramentas
a empresa. Nova tentativa de aproveitamento dos dois lotes foi
agrícolas, mudas de sementes, e armamentos e munições. Sabiam,
feita em 1554, sob a chefia de Luís Melo. Já os franceses, por sua
porém, que a maior concessão estava relacionada ao descobrimen-
vez, visitavam freqüentemente a região, o que obrigou a Coroa, em
to das minas de ouro e prata que passaria a lhes pertencer por todo
princípios do século XVII, a empreender sua conquista. Em 1621
foi elevada à dignidade de Estado do Maranhão, com administra- o sempre e seriam hereditárias. Após o fracasso da expedição de
ção independente do resto do Brasil, sob ordens de Filipe III de Aires da Cunha, houve outras tentativas frustradas em busca das
Espanha, a fim de promover o desenvolvimento da região. Uniu-se riquezas do Maranhão.
a antiga capitania ao Grão-Pará, mantendo São Luís como a capital Navegadores se lançavam as perigosas expedições pela cobiça
desse extenso território. na busca do metal precioso o ouro. Essas idas e vindas, essas ten-
Antes da formação do Estado do Grão-Pará e Maranhão, ti- tativas frustradas se deram basicamente por três fatores: primeiro
vemos a concessão do território que ia da baía da Traição até o pelas notícias incessantes de haver ouro naquelas terras, segundo
Maranhão, isso no início do sistema de capitanias (1535), sendo a por serem instigados pelo conhecimento e terceiro pelo próprio
parte do território da região norte da Terra de Santa Cruz, que foi desejo de aventura. Depois desses insucessos e das trágicas perdas
doada a quatro donatários, a saber: João de Barros, celebre “histo- que todos os donatários acima descritos passaram, o território da
riador”, filósofo, gramático e humanista, Antônio Cardoso de Bar- costa leste-oeste permaneceu isolado, restando alguns poucos co-
ros , Fernão (ou Fernando) Álvares de Andrade e Aires da Cunha, lonos resistentes, espalhados pela costa e de cujo fim não se tem
este último experente na exploração das Índias. informações exatas.
A divisão exata que cabia a cada um desses homens de negó- A única certeza que restou foi de que a navegação pela costa
cio não é muito clara, sabe-se apenas que o total era de duzentos leste-oeste não facilitava a viagem na direção da Bahia ou Pernam-
e vinte e cinco léguas de terras. Os outros três donatários uniram- buco para a foz do grande rio e que, da capitania de Pernambuco
se e formaram uma poderosa expedição para iniciar, em 1535, a para o Maranhão a viagem marítima terminaria em naufrágio. Se-
ocupação e colonização das suas capitanias que receberam o nome gundo Meireles, os portugueses “derrotados” em suas tentativas
abrangente de Maranhão. Não vieram, nesta expedição, João de por mar passaram a fazê-lo por terra. E conta-nos que foi ainda no
Barros e Fernão Álvares de Andrade, que foram representados por ano de 1591 que Gabriel Soares de Sousa tentou a viagem, mas
Aires da Cunha. A expedição comandada por Aires da Cunha era que não passou do Rio São Francisco. E a segunda tentativa data
composta de cinco naus grandes e cinco caravelas menores que de 1603, com Pero Coelho de Sousa que apesar de ter chegado
transportavam mais de novecentos homens de armas entre os quais ao atual estado do Ceará, há controversas sobre o sucesso de sua
cento e treze eram cavaleiros que traziam seus ginetes. expedição, e, segundo Meireles, pelos escritos de Martim Soares
Dos missionários que partiram dessa primeira grande em- o interprete da época conclui-se ser impraticável o caminho por
preitada rumo ao Maranhão, apenas quatro vieram: padre Yves terra.
d‟Evreux, superior; padre Cláudio d‟Abbeville; padre Arsênio, de
Paris; padre Ambrosio, de Amiens.
Didatismo e Conhecimento 1
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Com todas as dificuldades, a conquista e colonização do gran- A anexação do reino português ao espanhol perdurou sessenta
de estado do Maranhão havia se iniciado, diferentemente dos es- anos (1580 a 1640). Nesse período, várias capitanias foram cons-
tados do Brasil. Se apresentou sempre como uma questão geopo- tituídas, entre elas, constituiu-se a capitania do Ceará (1603), do
lítica diante tantas ameaças pela conquista de seu território. Ainda Maranhão (1612), do Pará (1616), e um único Estado do Grão-Pa-
no século XVII, mediante os ataques de corsários e piratas, outra rá e Maranhão (1621). As dificuldades de comunicação marítima
estratégia militar estabelecida por Portugal se fez necessária: o sis- entre os estados do Maranhão e os estados do Brasil, como Per-
tema de escolta, na qual utilizava navios mercantes com intuito de nambuco e Bahia, e a maior facilidade de comunicação entre os
proteção dos outros navios - naus. A natureza marítima dos ocea- estados do norte com a Europa, sugeriu a idéia de separação dos
nos era conhecida e o enfrentamento dela sempre foi uma questão dois estados com governos independentes e recebendo ordens di-
de orgulho para os navegadores portugueses. Mas neste trecho cos- retas de Portugal.
teiro da Terra de Santa Cruz a “natureza era agressiva” e certamen- União Ibérica não significou a alteração da estrutura burocrá-
te, contrariava a noção de Éden que predominava no pensamento tica portuguesa voltada para a administração colonial nem no Es-
europeu da época. Com tanta “força agressiva”, o mar tornava-se tado do Maranhão, nem no Estado do Brasil, o que vale dizer que
inacessível a parte da natureza terrestre que seria a base para a for- não houve a troca de administradores portugueses por espanhóis.
mação do território a ser colonizado pelos portugueses. Será que Assim, o processo de ocupação e colonização da colônia portu-
a natureza móvel e indomável daquelas águas tinha o “poder” de
guesa passou por esse período de União Ibérica sem quebra de
proteger a natureza Continental, costa adentro que o homem queria
continuidade administrativa.
transformar? O padre Antônio Vieira em uma viagem, atravessan-
A formação do Estado do Grão-Pará e Maranhão está liga-
do a Serra de Ibiapaba do Maranhão ao Ceará, por mar, passou por
tantas dificuldades entre os ventos e as “correntes contrárias”, que da ao empenho da coroa na expulsão dos franceses, holandeses
depois de muitas tentativas de navegação, resolveu partir por terra. e ingleses que insistiam em ocupar o enorme território desde a
O mesmo padre em carta Ao P. Geral, Gosvínio Nickel relata sobre segunda metade do século XVI e na necessidade de superar as di-
as dificuldades de comunicação - tanto por mar, quanto por terra, ficuldades de comunicação entre os governos do Maranhão e Pará
entre o Estado do Maranhão e o Estado do Brasil. com o governo geral na Bahia, devido ao movimento “contrário”
Conta-nos Capistrano de Abreu que a navegação pelo lito- das correntes marítimas na costa norte e a falta de um caminho ter-
ral do Maranhão era um pouco melhor que a do Pará devido às restre alternativo. Podemos dizer que esse período proporcionou
inúmeras baias, trinta e duas segundo as contas da época. Para o realmente o avanço, isto é, o alargamento da região Amazônica,
autor, a navegação por fora era impossível e a navegação interna região esta que pelo Tratado de Tordesilhas de 1494, pertencia à
por canoas era sempre mais ou menos possível. É aqui que nos jurisdição da Espanha.
defrontamos com as duas formas de apresentação da natureza: uma Gaspar de Sousa que substituiu Diogo de Menezes no governo
marítima agressiva e hostil ao homem que navegava sobre ela; a do Brasil, no ano de 1612 trouxe de Portugal, a recomendação do
outra terrestre altiva com uma flora exuberante, exposta a ação do rei para fazer a conquista e descobrimento das terras e rio Mara-
homem que sofrerá todos os tipos de “agressão”, até que o homem nhão, sob promessa da concessão de honras e mercês a todos que
se fixe sobre ela como seu dominador e senhor. se empregassem na dita conquista. Gaspar de Souza instalou-se em
Imaginação da época sobre o “mar oceano” permitia a evoca- Olinda,14 de onde comandou a conquista.
ção da natureza agressiva como deidade natural, poderosa e insu- Devemos observar ainda que antes de 1580, a definição dos
perável. Entretanto, não foi somente pela imaginação da natureza limites territoriais entre as Américas: portuguesa e a espanhola se
agressiva e protetora que o interior da costa leste-oeste do norte da baseavam no Tratado de Tordesilhas. Porém, com a União Ibérica
colônia ficou isolado naqueles primeiros anos; há mais a ser ques- os limites se tornam incertos ou mais incertos que antes, pois du-
tionado a respeito desse isolamento, pois nem todos os homens de rante a União, não houve uma preocupação com esses avanços. O
iniciativa tinham cabedal suficiente para se associarem em parce- avanço dos limites não representava perigo e nem ameaça a corte
ria ao rei e para enfrentar tantas adversidades e riscos. de Madri que era o governo da época. É a partir de 1640 que se
Percebe-se assim, que o risco não se limitava somente ao fra- travam as lutas por causa dos limites. Porém, foi no século XVIII,
casso econômico da expedição, com a perda total do patrimônio
que ocorre a “primeira solução” para a questão com o Tratado de
formado, mas até a perda da própria vida do donatário e de outros
Madri, que se dá no governo de Francisco Xavier de M. Furtado
colonos embarcados que, quando não decorria de naufrágio, pode-
em 1750.
ria decorrer do enfrentamento às hostilidades dos índios.
Na concepção pragmática do império português, a função de
O PRIMEIRO PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO novos núcleos coloniais, de vilas, missões, aldeamentos, cidades,
DO ESTADO DO MARANHÃO E GRÃO PARÁ sempre articulados a lugares militares como fortes, fortalezas e fei-
torias, funcionavam não somente como defesa contra os ataques
Parte desse início da colonização, ocupação e formação do Es- piratas, ou indígenas, mas como marco estratégico ao mesmo tem-
tado do Maranhão e Grão-Pará, bem como sua história na questão po que povoava e colonizava as novas terras. A fundação do Forte
da defesa e conquista do território, está inserido em um período da do Presépio (1616), por exemplo, marca o início da ocupação oeste
história de Portugal que cabe lembrarmos aqui, que foi o período da região Amazônica a partir da Vila de Santa Maria de Belém do
conhecido como a União das Monarquias Ibéricas . Neste perío- Grão-Pará, erigida em torno do forte. A criação do Estado do Ma-
do, intensificou-se a chegada dos estrangeiros ingleses, franceses ranhão foi decretada em 13 de junho de 1621, porém, a instalação
e holandeses em diversos pontos da costa litorânea da colônia, de efetiva só aconteceu em 1626, com a posse do primeiro governa-
norte a sul. Na região norte, predominou os franceses e os esforços dor e Capitão-General Francisco Coelho de Carvalho, que esteve
para a expulsão dos mesmos proporcionaram muitos confrontos neste governo por dez anos (de 03.09.1626 a 15.09.1636).
armados.
Didatismo e Conhecimento 2
HISTÓRIA DO MARANHÃO
A vila de São Luis, que já era sede da capitania do Maranhão, “terra das palmeiras”. Entre as espécies de palmeiras nativas exis-
foi escolhida como sede da capital do Estado. O Estado do Mara- tentes no Estado, as mais significativas do ponto de vista econô-
nhão e Grão Pará perdurou até 1772, quando foi anexado ao Esta- mico, são o babaçu e a carnaúba. Mas também são importantes
do do Brasil, conforme Decreto Régio de 20 de agosto. localmente o buriti, a juçara e a bacaba.
Durante esse período de formação de um “Estado indepen- Na composição da economia do Estado também se destacam
dente” até a anexação ao estado do Brasil, o território passou por as atividades agropecuárias e as indústrias de transformação de
várias divisões estratégicas com intuito de melhorar a exploração alumínio e alumina, alimentícia e madeireira. Entre os principais
e colonização daquele espaço. Em 1751, se instaurou mais uma produtos agrícolas cultivados encontram-se a mandioca, o arroz,
tentativa de reordenação dos estados do Norte. A capital do Estado o milho, a soja e o feijão. A pecuária desenvolvida no Estado do
passou a ser a cidade de Belém do Grão-Pará e há inversão a or- Maranhão incluía, em 1992, quatro milhões de cabeças de gado
dem dos nomes, passando a ser Estado do Grão-Pará e Maranhão bovino; três milhões de suínos; 500 mil caprinos; 287 mil eqüinos;
e não mais Estado do Maranhão e Grão-Pará. Essa resolução ficou e 18 milhões de aves. Existem ainda reservas de calcário, que cor-
até 20 de agosto de 1772 pelo decreto Régio que separa novamente responderam a uma produção de 330,7 mil toneladas no Estado,
o estado único em duas capitanias. em 1992.
Diante da enormidade do espaço geográfico do Estado do Babaçu - Palmeira oleaginosa (Orbignya martiana) de grande
Grão-Pará e Maranhão e das tentativas frustradas de ocupação, valor comercial e industrial, o babaçu é encontrado em extensas
mais uma vez a coroa temia pela segurança, ocupação e expansão formações naturais nos Estados do Maranhão e Piauí, responsáveis
daquele espaço. A nova administração que se iniciava exigia no- por mais de 90% da produção do País. Uma das mais valiosas pal-
vas soluções de governo e por isso, novas capitanias foram sendo meiras do Brasil, o babaçu chega a alcançar 20 metros de altura e
formadas e concedidas a particulares. Essas novas capitanias pos- possui um conjunto de folhas longas, com mais de seis metros de
suíam regimento próprio para sua administração, isto quer dizer comprimento. Os frutos têm a forma de amêndoas e podem chegar
que as capitanias eram independentes umas das outras. a 15 cm de diâmetro em sua parte mais larga. Do babaçu se extrai
Os rios que banham o Estado do Maranhão pertencem, em sua a matéria-prima utilizada na fabricação de margarinas, banha de
maioria, à bacia do Norte e Nordeste, que ocupa área de 981.661,6 côco, sabões e cosméticos. O resíduo da extração, chamado “torta
km2 . Dela faz parte o rio Parnaíba, o maior entre os que banham de babaçu”, é útil como forragem para o gado. O broto fornece
o Estado do Maranhão, localizado na fronteira com o Estado do palmito de boa qualidade e o fruto, enquanto verde, serve aos se-
Piauí, e os rios Gurupi e Grajaú. O rio Tocantins corre ao sul, de- ringueiros para defumar a borracha.
limitando grande parte da fronteira do Maranhão com o Estado do Ao amadurecerem, suas partes externas são utilizadas como
Tocantins. Destacam-se ainda os rios Mearim, Itapecuru, Pindaré alimentos. O caule se emprega em construções rurais e das folhas
e Turiaçu, como os mais importantes do Estado. A população do se fazem coberturas para casas ou cestos fabricados no âmbito da
Estado do Maranhão é de 5.300.000 habitantes, distribuídos entre indústria doméstica. Podem também ser utilizadas na fabricação
136 municípios. Entre as cidades mais populosas encontram-se de celulose e papel. Como acontece com outros tipos de palmei-
São Luiz, a capital do Estado, com 1.390.398 habitantes, Impera- ras, do pedúnculo cortado pode ser extraído um líquido que, fer-
triz, com população de 276.440 habitantes, e Caxias, com 232.062 mentado, produz bebida alcóolica muito apreciada por indígenas
habitantes. A densidade populacional do Estado é de 15,2 habitan- da região. Formação Histórica - Foram os espanhóis os primeiros
tes por km2 . A população na faixa etária de 0 a 14 anos representa europeus a chegarem, em 1500, à região onde hoje se encontra o
44,1 % do total; entre 15 e 59 anos, responde por 49,9 %; e com Estado do Maranhão. Em 1535, no entanto, verificou-se por parte
60 anos ou mais corresponde a 6 % do total. Nas áreas urbanas vi- dos portugueses, uma primeira tentativa fracassada de ocupação
vem 40 % da população, enquanto 60 % encontra-se na zona rural. do território. Foram os franceses que realizaram a ocupação efeti-
A proporção entre o número de homens e mulheres no Estado é va iniciada em 1612, quando 500 deles chegaram em três navios e
equilibrada. fundaram a França Equinocial. Seguiram-se lutas e tréguas entre
O censo demográfico realizado no País em 1990, indicou que portugueses e franceses até 1615, quando os primeiros retomaram
as mulheres representam 50,6 % da população do Estado do Mara- definitivamente a colonia. Em 1621, foi instituído o Estado do
nhão, enquanto os homens somam 49,6 %.O índice de mortalidade Maranhão e Grão-Pará, com o objetivo de melhorar as defesas da
no Estado era de 7,5 por mil e a taxa de mortalidade infantil era costa e os contatos com a metrópole, uma vez que as relações com
de 97 por mil em 1991. O chefe do Poder Executivo do Estado do a capital da colonia, Salvador, localizada na costa leste do ocea-
Maranhão é o Governador, eleito por voto direto, para um mandato no Atlântico eram dificultadas, devido às correntes marítimas. Em
de quatro anos. A atual governadora, Senhora Roseana Sarney, foi 1641, os holandeses invadiram a região e ocuparam a ilha de São
eleita em 15 de novembro de 1994, pelo Partido da Frente Liberal Luiz, nomeando o povoado em homenagem ao rei Luiz XIII. Três
(PFL). O Estado encontra-se representado no Congresso Nacional anos depois, foram expulsos pelos portugueses.
em Brasília, capital do País, por três Senadores e 18 Deputados A separação do Maranhão e Pará veio a ocorrer em 1774, após
Federais. a consolidação do domínio português na região. A forte influên-
A Assembléia Legislativa do Estado compõe-se de 55 Depu- cia portuguesa no Maranhão fez com que o Estado só aceitasse
tados Estaduais, eleitos por um total de 2.615.445 eleitores. Exis- em 1823, após intervenção armada, a independência do Brasil de
tem 12.010 escolas de ensino básico no Estado do Maranhão; 300 Portugal, ocorrida em 7 de setembro de 1822. No século XVII, a
escolas de ensino médio; e quatro escolas de nível superior. Em base da economia do Estado encontrava-se na produção do açúcar,
1991, os analfabetos representavam 41,4% do total da população. cravo, canela e pimenta; no século XVIII, surgiram o arroz e o al-
O extrativismo constitui-se uma das atividades econômicas mais godão, que vieram a se somar ao açúcar, constituindo-se estes três
importantes do Estado do Maranhão, também conhecido como produtos a base da economia escravocrata do século XIX. Com a
Didatismo e Conhecimento 3
HISTÓRIA DO MARANHÃO
abolição da escravatura, a 13 de maio de 1888, o Estado enfrentou em Primeira Cruz, possui infra-estrutura para visitantes, com pou-
um período decadência econômica, do qual viria a se recuperar sada, restaurantes e bares. Alcântara - Situada no continente, a 22
no final da primeira década do século XX, quando teve início o km da cidade de São Luiz, no lado oposto da baía de São Marcos,
processo de industrialização, a partir da produção têxtil. O Estado a pequena cidade de Alcântara foi tombada como patrimônio his-
do Maranhão recebeu duas importantes correntes migratórias ao tórico nacional pela riqueza de sua arquitetura, reflexo dos anos de
longo do século XX. prosperidade que ali prevaleceram até meados do século XIX. A
Nos primeiros anos chegaram sírio-libaneses, que se dedica- partir dessa época teve início a fase de decadência, agravada pela
ram inicialmente ao comércio modesto, passando em seguida a abolição da escravatura. Antiga aldeia de índios tupinambás, já foi
empreendimentos maiores e a dar origem a profissionais liberais também presídio militar (1617), passando a chamar-se Santo Anto-
e políticos. Entre as décadas de 40 e 60 chegou grande número de nio de Alcântara, quando foi elevada à categoria de vila, em 1648.
migrantes originários do Estado do Ceará, em busca de melhores Por sua posição geográfica estratégica, foi escolhida para abrigar a
condições de vida na agricultura. Dedicaram-se principalmente à mais moderna base de lançamentos de satélite da América Latina.
lavoura de arroz, o que fez crescer consideravelmente a produção Indígenas - A população indígena do Estado do Maranhão soma
do Estado. São Luiz - A capital do Estado do Maranhão foi fun- 12.238 habitantes, distribuídos entre 16 grupos que vivem numa
dada em 1812, na ilha de São Luiz, às margens da baía de São área total de 1.908.89 hectares. Desse total, aproximadamente 86
Marcos, do oceano Atlântico e do estreito dos Mosquitos. Povoada % (1.644.089 hectares), que representam 14 áreas, já se encontram
originariamente pelos franceses no século XVII, atualmente sua demarcadas pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI), órgão do
população compõe-se de aproximadamente 53% de mulheres e 47 Governo Federal. Cerca de 14 %, que correspondem a 264.000
% de homens. hectares e incluem apenas duas áreas (Awá e Krikati) ainda estão
A economia local baseia-se primordialmente na indústria de em processo de demarcação, embora sejam ocupadas pelos índios.
transformação de minérios e no comércio. As principais atrações O grupo mais numeroso é o dos Araribóia, com população de 3.292
turísticas da cidade encontram-se na chamada Praia Grande, onde habitantes, que ocupa área de 413.288 hectares, já demarcada pela
antigos casarios cobertos de azulejos evidenciam a influência por- FUNAI, no município de Amarante do Maranhão. O Cana Bra-
tuguesa na arquitetura local. O bairro, restaurado quase por inteiro va Guajajara é o segundo grupo em tamanho da população, com
pelo Projeto Reviver, é ponto cultural de destaque na cidade. Dis- 3.143 índios que ocupam 137.329 hectares nos municípios de Bar-
põe de teatro, cinema, bares, lanchonetes, restaurantes e serviços ra do Corda e Grajaú. Bumba-meu-boi - O Estado do Maranhão
para turistas. O Reviver recuperou cerca de 107 mil m2 , mais de é conhecido pela riqueza de suas festas populares e tradicionais.
200 prédios, substituiu toda a rede elétrica e proibiu o tráfego de Entre as mais conhecidas destacam-se o bumba-meu-boi, as
folias-do-Divino, os reisados e as lapinhas. O bumba-meu-boi é
veículos. A obra, estimada em US$ 100 milhões, devolveu a Praia
o mais importante evento folclórico do Estado. Trata-se de uma
Grande o antigo cenário de centro comercial e cultural da cidade
combinação de música, dança e teatro, que mistura elementos da
do século XIX, quando São Luís era chamada de Atenas Brasileira.
cultura indígena, africana e lusobrasileira. Existem cerca de 60
Entre os principais locais procurados por turistas encontram-se o
grupos de bumba-meu-boi na cidade de São Luiz, com músicos
Largo do Palácio; o Cais da Sagração, onde costumavam ancorar
que tocam vários instrumentos como as zabumbase matracas. No
os navios antigos, que levavam carregamento de açúcar; o Palácio
dia 22 de junho, dois dias antes da comemoração do dia de São
dos Leões, local onde até 1615 funcionou o forte que protegia a João, “nasce” a figura principal do evento, o Boi, que é batizado
capital da França Equinocial e até 1993 era a sede do Governo no dia seguinte, de acordo com o ritual do grupo. Assim tem início
estadual; a Catedral da Sé, construída pelos Jesuítas em 1726; a um festival que se prolonga até o dia 30 de julho, ou mesmo até
igreja do Carmo, construída em 1627, uma das mais antigas da o final de setembro, em certos casos, quando o Boi, uma estrutura
cidade; o Museu de Artes Visuais, com trabalhos de artistas mara- de madeira e palhas de palmas de buriti, coberta com uma capa
nhenses e azulejos europeus dos séculos XIX e XX; o Museu de de veludo bordado com miçangas e artigos brilhosos, finalmente
Arte Popular, que funciona também como centro de cultura po- “morre”.
pular; o Teatro Arthur Azevedo, construído entre 1815 e 1817, o O bumba-meu-boi foi originalmente criado pelos grupos mais
primeiro a ser construído em uma capital de Estado brasileiro; e a oprimidos da população, como uma paródia dirigida contra a so-
Fonte do Ribeirão (1796), que possui três portões de ferro dando ciedade de proprietários de escravos, tendo sido, por esta razão,
acesso a passagens subterrâneas que servem para escoamento de reprimido ocasionalmente, pelas autoridades oficiais. Literatura -
águas pluviais; a Feira da Praia Grande, que funciona em um pré- O Estado do Maranhão foi berço de grandes nomes da intelectua-
dio do século XIX, exibindo em um de seus portões as armas do lidade brasileira. Entre eles destacam-se os poetas Gonçalves Dias
Império em relevo. (1823-1864), um dos primeiros românticos, e Raimundo Correia
Trata-se do único exemplar em São Luís, que escapou da de- (1860-1911), um dos expoentes da escola parnasiana; o escritor
predação depois de instituído o regime republicano. Hoje, são co- Aloisio Azevedo (1857-1913), romancista típico do naturalismo
mercializados víveres, frutas regionais, artesanato, mariscos e pei- brasileiro; Coelho Neto (1864-1934), jornalista e lutador da causa
xes no local. Existem várias praias cobertas de dunas de areia nas abolicionista e republicana; Humberto de Campos (1886-1934),
redondezas de São Luiz. Algumas delas apresentam certo perigo eleito em concurso público o “Príncipe dos Prosadores Brasilei-
a banhistas, devido às ondas que quebram a 7 km de altura. Entre ros”; e Graça Aranha (1868-1931), membro fundador da Aca-
as mais populares encontram-se a praia do Calhau; a de Ponte da demia Brasileira de Letras e uma das lideranças do Movimento
Areia, onde se encontram as ruínas do Forte Santo Antonio (1691); Modernista de 1922; e o dramaturgo e homem de teatro Arthur
de São Marcos, com as ruínas do Forte de São Marcos, do século Azevedo (1855-1908), irmão de Aloisio Azevedo, que se tornou
XVIII; e a praia de Aracaji, uma das mais bonitas dessa faixa li- popular entre o público por sua inspiração espontânea e capacida-
torânea. O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, localizado de de improvisação. Texto adaptado de OLIVEIRA, L. D. F
Didatismo e Conhecimento 4
HISTÓRIA DO MARANHÃO
A economia maranhense baseia-se no setor de serviços, res-
PRIMITIVOS HABITANTES ponsável pela geração da maior parte do PIB do Estado (61,0%).
A indústria vem a seguir, com 26,9%, e o setor agropecuário tem
DA CAPITANIA. uma participação de 14,9% na composição do PIB do Estado. Na
indústria destacam-se a transformação de alumínio e alumina, a in-
dústria alimentícia e a indústria madeireira; no extrativismo, o ba-
baçu; na agricultura, arroz, mandioca, soja, milho, laranja, banana,
Os tupinambás habitavam a Ilha do Maranhão, quando os algodão e cana-de-açúcar. A partir dos anos 80 o plantio da soja fez
primeiros franceses chegaram. Vieram fugidos de Pernambuco, surgir no Estado o agronegócio como possível base para o cresci-
quando aquelas paragens foram ocupadas pelos Portugueses Perós mento econômico. Uma das vantagens é a facilidade de exportação
tendo chegados à Ilha pelos menos 70/80 anos antes, expulsando pelo complexo portuário de São Luís, quinto porto em movimenta-
os Jês para o interior. A etnia Jê se estabeleceu no Brasil há pelo ção de carga do Brasil. O Maranhão integrou-se em agosto de 2000
menos 7.500 anos. ao PEE − Programa Especial de Exportação do governo federal,
Os Tupinambás que deram à Ilha o nome de Upaon-açúIlha no qual dez setores são contemplados no Estado, sendo seis deles
Grande e ao tempo da chegada dos Franceses seu chefe principal de agronegócios: grãos, artefatos de madeira, frutos e derivados,
era JUPIAÇÚ. Não sabiam ler nem escrever eram primitivos e pra- couros e peles/calçados, pescados, açúcar e álcool, embutidos.
ticavam a antropofagia. Andavam nus, usando penas de aves nos O exame dos dados sobre à evolução das ocupações e do em-
dias de festas usavam o urucu e o jenipapo. Viviam em pequenas prego, segundo informações da Pesquisa Nacional por Amostra de
aldeias, com as casas feitas de palha –pindova e viviam da caça Domicílio (PNAD), do período compreendido entre 1992 e 1999,
de pequenos animais; da coleta de frutos; da pesca; e cultivavam compõe um indicador importante para que as instituições de edu-
a mandioca, o milho e o algodão. Tinham como armas o arco e a cação profissional definam suas prioridades. O aumento da popu-
flecha, e a lança, feitos de madeira; machado e martelo, de pedra. lação ocupada ocorreu, principalmente, nas atividades de serviços.
Usavam a cerâmica para seus jarros e panelas; teciam para fazer As maiores taxas de crescimento foram registradas nos ramos de
redes; tinham como instrumentos musicais, o tambor, o maracá e a comércio de mercadorias (6% a.a ), de transporte ou comunicação
flauta. Não tinham religião, mas acreditavam em um ser superior. (3,1% a.a.), e serviços sociais (3,0%a.a.). Os ramos que empregam
O Maranhão é o Estado brasileiro com o menor grau de urba- maiores contingentes são o comércio de mercadorias, prestação de
nização, o décimo colocado entre os Estados em relação à popula- serviços e serviços sociais.
ção total e o quarto em relação à população rural, abrigando 7,39% A indústria de transformação maranhense vem mantendo, ao
da população rural do país. Embora tenha aumentado muito o grau longo dos últimos anos, uma participação pouco significativa em
de urbanização no Estado nos últimos vinte anos, os resultados relação ao total nacional. Conforme atestam dados recentes do
preliminares do Censo 2000 mostram que continua muito inferior IBGE, representa apenas 0,4% do total brasileiro formando um
ao nacional. Em 1980 era de 31% passando para 40% em 1991, dos menores parques industriais do país.
52% em 1996 e atingindo 59% em 2000. Pelas das informações levantadas pela Paer em unidades
A rede urbana do Maranhão é relativamente equilibrada. Em locais com mais de 20 funcionários (num total de 149 unidades
1996, oito municípios possuíam mais de 100 mil habitantes, reu- industriais, empregando 13.163 trabalhadores), pôde-se constatar
nindo 34% da população estadual. Esses municípios encontram- uma concentração da atividade industrial em poucos segmentos, na
se bem distribuídos no território estadual. Na mesorregião Norte sua maior parte produtoras de bens intermediários (cerca de 60%
Maranhense está a capital, São Luís, com mais de 500 mil habi- do total das unidades, com 66% do total de pessoas ocupadas). Os
tantes, que concentrava sozinha 15% da população estadual. Na segmentos do setor bens de consumo não-duráveis aparecem em
mesorregião Centro Maranhense, Bacabal e no Oeste Maranhense, segundo lugar, enquanto os de bens de capital e de consumo durá-
Imperatriz, Santa Luzia e Açailândia. Na mesorregião Leste Ma- veis estão modestamente representados.
ranhense estão Caxias, Codó e Timon. Este último localiza-se na As principais divisões da indústria do Estado são a de mine-
fronteira com o Estado do Piauí, e pertence à aglomeração urbana rais nãometálicos, as demais indústrias produtoras de bens inter-
de Teresina, representando uma expansão da capital piauiense. mediários e de alimentação e bebidas, cujas participações totali-
Na faixa de população entre 50 mil e 100 mil existiam, em zam aproximadamente 59% do total de unidades locais e 71% do
1996, doze municípios que abrigavam 16% da população total do total de empregados.
Estado, enquanto aqueles com população entre 20 mil e 50 mil, em No conjunto das demais indústrias produtoras de bens inter-
número de 58, reuniam 35%. Os municípios com menos de 20 mil mediários está incluída a produção metalúrgica, indústria que vem
habitantes, reuniam 15% da população total. crescendo no Estado, em virtude da produção de ferro-gusa em ci-
De 1980 a 1996 a população do Maranhão cresceu a taxas dades ao longo da EF Carajás, como Açailândia (principal pólo de
iguais ou inferiores às nacionais: 1,93% a.a. entre 1980 e 1991 ferro-gusa do Estado) e Pindaré Mirim, agregando valor à extração
e 1,18% a.a. entre 1991 e 1996, contra 1,93% a.a. e 1,36% a.a. de minério de ferro exportado pelo porto de Itaqui; além das indús-
do Brasil, nos dois períodos, respectivamente. Os municípios que trias produtoras de madeira, outra atividade que, apesar dos pre-
apresentaram as maiores taxas de crescimento foram os localiza- juízos causados ao meio-ambiente, também cresce no Maranhão.
dos nas regiões que haviam sofrido transformações econômicas Embora as estruturas produtivas da aglomeração urbana de
recentes no Estado como a frente de expansão da soja na fronteira São Luís e das Demais Regiões do Estado sejam semelhantes –
oeste nordestina, os cerrados e a região de São Luís. com predomínio das produtoras de bens intermediários, vindo a
seguir o setor de não-duráveis e uma pequena participação dos
bens de capital e de consumo duráveis –, o parque industrial mara-
Didatismo e Conhecimento 5
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nhense está predominantemente instalado nas Demais Regiões do cações existentes no Estado. Quanto à automação industrial, cerca
Estado, ( 66% das unidades e aproximadamente 60% do total de de 40% das plantas informaram ter utilizado, em 99, algum equi-
empregados). Essa região concentra a maior parte do setor de bens pamento de automação industrial. A maior parte dessa automação
intermediários (a totalidade das indústrias de madeira e a maioria está relacionada, contudo, à adoção de Máquina-Ferramenta com
dos outros segmentos), aproximadamente metade das unidades de Controle Numérico Convencional (MFCNC) na manufatura, indi-
bens não-duráveis (dentre elas, a maior parcela das indústrias de cando um modesto nível de sofisticação/modernização tecnológica
móveis) e metade das unidades de bens de capital (com cerca de no processo produtivo da planta.
70% do pessoal ocupado no setor, graças à atividade de reparos de No que diz respeito aos recursos humanos, observa-se que,
embarcações, em Carolina). para o pessoal semiqualificado ligado à produção, os requisitos de
Uma das principais características da indústria local é o pe- escolaridade são baixos: 46% das unidades (que empregam 38%
queno porte das unidades, especialmente nos setores de bens de do pessoal semiqualificado) não exigem escolaridade alguma para
consumo não-duráveis e de bens intermediários. Para o total da in- a contratação e um terço (que empregam 42%) exige a 4a série do
dústria, a proporção de unidades abaixo de 100 funcionários atinge ensino fundamental. Somando-se as duas respostas, tem-se mais
de 80% das unidades exigem a 4a série do ensino fundamental ou
81%, quantia similar a ambos os setores citados. Também é impor-
menos, apenas 11% exigem o ensino fundamental completo e 6%
tante a participação das unidades de médio porte no total do em-
exigem o ensino médio completo.
prego industrial, em particular das indústrias de bens não-duráveis Os requisitos de escolaridade aumentam de acordo com a
(exceto móveis, segmento totalmente composto por unidades de qualificação da categoria ocupacional. Para o pessoal qualificado
pequeno porte) e de bens de capital (cujos resultados devem ser re- ligado à produção, a exigência varia bastante, tendo as grandes uni-
lativizados em face do escasso número de unidades). Cabe salien- dades maiores exigências de níveis de escolaridade.
tar que as demais indústrias de intermediários têm mais de 80% do Para o pessoal administrativo básico, os requisitos de escolari-
total de funcionários nas unidades de médio e grande portes. dade são superiores aos do pessoal ligado à produção. O principal
Embora com participação reduzida em número de unidades, nível exigido para contratação é o ensino médio completo, reque-
as empresas com sede fora do Estado possuem um percentual sig- rido por 72% das unidades industriais que empregam 72% desses
nificativo de pessoal ocupado, especialmente dentro das indústrias profissionais.
de bens intermediários, nas quais atinge 22% do total. A exigência de cursos profissionalizantes para a contratação
Analisando-se a origem do capital controlador das empresas, também varia conforme o posto de trabalho. Para os profissionais
verifica-se uma participação pouco expressiva do capital estran- semiqualificados, a exigência de cursos é uma prática menos di-
geiro na indústria do Estado. Entretanto, mesmo que aproxima- fundida e os de nível básico são os mais exigidos. Para a categoria
damente 1% do total das unidades conte com capital estrangeiro de qualificados, a exigência de cursos é um pouco maior, perma-
e sua atuação seja limitada na produção de bens intermediários, necendo o de nível básico como o mais importante, seguido pelos
ainda emprega um número significativo de trabalhadores (cerca de de curta duração e de nível médio. Os cursos profissionalizantes,
15% do total). O controle de empresas pelo capital nacional priva- principalmente de nível técnico são mais exigidos para os técnicos
do é predominante, mais de 98% do total das unidades e perto de de nível médio. Para os profissionais de nível superior, o perfil se
85% do pessoal ocupado, enquanto a participação de empresas de altera, e os cursos de curta duração são mais solicitados.
capital público é irrisória. A falta de conhecimentos específicos da ocupação, a dificul-
Com exceção de poucos segmentos, a produção industrial ma- dade de aprender novas habilidades, a dificuldade de trabalhar em
ranhense tem características “domésticas”, visto que a maior parte equipe e a dificuldade de expressão e comunicação verbais preju-
da sua receita bruta provém de vendas realizadas dentro do próprio dicam mais o desempenho dos empregados ligados à produção nas
Estado e, por vezes, dentro da própria região onde estão localiza- categorias semiqualificados e qualificados, e menos nas de técnicos
de nível médio e superior. Essas habilidades estão relacionadas tan-
das as unidades. Parcelas maiores de receitas de vendas a outras
to à falha na formação básica quanto à formação específica.
unidades da federação se concentram nos segmentos de madeira e
Dentre as ocupações com dificuldade de contratação, desta-
química e combustíveis. As vendas a outros países (incluindo Mer-
cam-se algumas de nível técnico, mostrando que as unidades de-
cosul) são responsáveis pela obtenção de aproximadamente 6% do mandam mais empregados do que as escolas estão formando.
total da receita bruta industrial e decorrem, fundamentalmente, da A Paer pesquisou, nas unidades industriais do Estado do Mara-
participação mais acentuada nesses mercados das demais indús- nhão, os tipos de relacionamento mantidos com as escolas técnicas,
trias produtoras de bens intermediários. As vendas a outras uni- e com quais escolas. Os tipos de relacionamento mais comuns são
dades da federação e ao mercado externo são relativamente mais os tradicionais, como o recrutamento de profissionais nas escolas
importantes para as indústrias localizadas nas Demais Regiões do técnicas (39% das unidades que empregam 54% do pessoal ocu-
Estado. Os indicadores de difusão tecnológica contribuem para pado) e os estágios de alunos nas unidades industriais (25% das
ratificar o nível intermediário de desenvolvimento e de diversi- unidades que empregam 44% do pessoal ocupado).
ficação da estrutura industrial do Estado do Maranhão. As taxas É mais comum o relacionamento com as escolas do Sistema S,
de difusão de tecnologias de informação (computadores, Internet do Sebrae e com as escolas técnicas federais. Em seguida, está a pe-
e redes), por exemplo, apresentam um desempenho ligeiramente quena proporção de unidades, que mantêm relacionamento com as
inferior a outros Estados mais industrializados já investigados pela escolas estaduais e outras escolas, não se verificando quase nenhum
Paer, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro e tipo de relação com as escolas municipais. A elevada proporção
Minas Gerais. É importante ressaltar que os níveis de difusão de relativa das unidades que não mantêm relacionamento com as esco-
tecnologias de informação são significativamente mais elevados las técnicas é uma tendência observada em outras regiões do país,
na capital (São Luís) e em seu entorno, sugerindo que esta região indicando o potencial de expansão que existe para redirecionar os
concentra a maior parte do parque de informática e telecomuni- cursos e atender aos interesses e às demandas das unidades.
Didatismo e Conhecimento 6
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Pelos motivos descritos acima os alunos das escolas do Sis- enquanto para os técnicos de nível médio é a habilitação técnica
tema S e do Sebrae, bem como das escolas técnicas federais, são de nível médio, para o pessoal de nível superior, os cursos de curta
privilegiados na contratação. duração e para o pessoal administrativo, os cursos profissionali-
Os dados mostram que as categorias de pessoal ocupado e de zantes.
assalariados na indústria do Estado do Piauí são compostas em sua O trabalho em equipe e o contato com clientes são fundamen-
quase totalidade de homens (90%), com pequena participação da tais para o exercício das atividades do setor de serviços em todas
força de trabalho feminina (10%), participação inferior à encon- as categorias ocupacionais. Também foram muito apontadas pelas
trada em outras regiões do país. A mão-de-obra masculina é ainda unidades locais do setor a expressão e comunicação verbais, as
mais predominante para os assalariados ligados à produção, com técnicas de qualidade e o conhecimento técnico atualizado. Para o
94% dos postos de trabalho. Por outro lado, a participação femini- pessoal administrativo, as rotinas incorporam o uso de microcom-
na aumenta entre os trabalhadores administrativos (39%). putadores, a redação básica e o uso de matemática básica.
No setor serviços, a pesquisa coletou informações sobre as O uso de língua estrangeira ainda é pequeno na rotina dos
unidades locais com mais de 20 empregados, que atuavam no Es- profissionais do setor serviços de forma geral, por isso foi o fator
tado do Maranhão em 1999, resultando na consolidação de infor- menos apontado como prejudicial ao desempenho profissional dos
mações para 260 unidades responsáveis pelo emprego de 22.582 empregados no setor. Já a dificuldade de trabalho em equipe foi o
pessoas nos segmentos de comunicação, de alojamento e alimen- mais apontado como prejudicial ao desempenho profissional.
tação, de transporte, de saúde, de produção e distribuição de ele- A distribuição espacial das atividades de serviços no Estado
tricidade, gás, água e telecomunicações e dos serviços técnicos do Maranhão, está concentrada na aglomeração urbana de São
prestados às empresas e de informática e conexas. Luíz, principalmente as unidades locais dos segmentos de aloja-
Das 22.582 pessoas empregadas no setor, 97,6% são assala- mento e alimentação e de serviços técnicos às empresas, informá-
riadas e 68,4% realizam funções ligadas à atividade principal da tica e conexas.
empresa. Dessas, 51,6% pertencem à categoria de pessoal qualifi- Deve-se considerar, no entanto, que os investimentos na
cado, 19,6% à de técnicos de nível médio e 16,5% à de semiqua- translitorânea (BR402), com o objetivo de ligar São Luís ao Delta
lificados. O número de pessoas de nível superior é maior que o de do Parnaíba, irão impulsionar o turismo pelas demais regiões do
pessoal braçal ou de menor qualificação em todo o setor serviços. Estado, e tendem a difundir espacialmente a atividade de aloja-
Analisando os segmentos separadamente, nota-se que em mento e alimentação, aumentando a demanda por mão-de-obra
todos há participação relevante do pessoal qualificado, principal- treinada nessas novas áreas.
mente no segmento de transporte, o maior empregador do setor, Os investimentos e conseqüente desenvolvimento do Centro
enquanto o segmento de comunicação, que menos emprega, tem de Lançamento de Alcântara – CLA, por sua vez, atrairão cada
maior participação relativa de empregados de nível superior. vez mais atividades relacionadas à prestação de serviços técnicos
A atividade de alojamento e alimentação, apresentou maior às empresas, de informática e conexas, além da atividade de aloja-
participação de pessoal semiqualificado. Já os segmentos de saúde mento e alimentação.
e de serviços técnicos prestados às empresas são compostos por No setor primário, apesar de existirem algumas atividades di-
grande parte do pessoal classificado como qualificado, e técnicos nâmicas, o Estado do Maranhão ainda convive com uma agricultu-
de nível médio. Essas duas categorias e mais a do pessoal semi- ra familiar de subsistência com seu sistema tradicional de cultivo
qualificado são muito contratadas pelo segmento de distribuição em colapso, o que tem agravado o êxodo rural e o inchamento dos
de eletricidade, gás e água e telecomunicações. centros urbanos. Vale lembrar que o Maranhão ainda é o Estado
Apesar de 91,7% das unidades locais utilizarem computa- com maior participação relativa da população rural no total, como
dor, nota-se que o número de empregados por equipamento ainda também da PEA agrícola no total da PEA ocupada (mais de 50%
é bastante alto no setor serviços, uma média de oito pessoas por dos ocupados ainda estavam na agropecuária em 1999, segundo
computador. No entanto, considerando que a aquisição de equipa- dados da PNAD).
mentos de informática e telecomunicações, depois dos programas As áreas de agropecuária modernizada do Estado convivem
de treinamento de mão-de-obra, é o investimento mais importante com uma agropecuária de baixo padrão, extrativista e de subsis-
para os próximos três anos, isso certamente serefletirá na demanda tência. Fortes disparidades sociais e de renda, além de problemas
por mão-de-obra capacitada para lidar com esses recursos tecno- diversos, como a desestruturação do sistema de fiscalização sanitá-
lógicos. ria animal e vegetal, têm retardado o aproveitamento do potencial
Para contratação do pessoal semiqualificado ligado à ati- de crescimento das atividades mais dinâmicas.
vidade principal, o requisito de escolaridade mais exigido pelas Tornam-se fundamentais as ações do poder público, dando
unidades do setor é o ensino fundamental completo, e do pessoal prioridade aos programas agropecuários, não apenas nas regiões
qualificado ligado à atividade e do pessoal administrativo básico, de agricultura moderna voltada para a exportação, mas também
o requisito maior é o de ensino médio completo. Essas exigências nas regiões de agricultura familiar. Nesse sentido, pelo quadro
somente se alteram para contratação do pessoal qualificado dos atual, existem ainda muitos benefícios que podem ser conseguidos
segmentos de transporte e de distribuição de eletricidade, gás e se a maioria dos produtores agropecuários em quase todas as ativi-
água e telecomunicações, nos quais o ensino fundamental comple- dades adquirirem conhecimentos técnicos.
to é mais relevante. Portanto, além da produção de conhecimento científicos e tec-
Os cursos profissionalizantes são pouco exigidos para a con- nológico relevantes, adaptados às condições ambientais específi-
tratação dos empregados semiqualificados, mas bastante requisita- cas das diversas regiões do Maranhão, há uma grande demanda
dos para a do pessoal administrativo. Nas outras categorias, o cur- de capacitação técnica de agricultores para utilização produtiva e
so de nível básico é o mais solicitado para o pessoal qualificado, sustentável desses conhecimentos.
Didatismo e Conhecimento 7
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A educação profissional pode desempenhar um pape primor- Aquela nova expedição que veio ao Brasil era composta de
dial no processo de desenvolvimento da agropecuária do Estado três navios armados de guerra, trazendo mais de mil homens para
do Maranhão, desde que exista planejamento para o atendimento iniciar a colônia. Na ilha do Maranhão, encontraram os primitivos
eficaz das demandas prioritárias de capacitação, estruturadas em imigrantes, ainda muito animados. Nesse tempo, eles haviam feito
pólos regionais articuladores. as melhores relações com os índios, cujo apoio e concurso muito
A análise das dinâmicas agropecuárias do Estado do Maranhão lhes valeram. Os franceses cuidaram, então, de fundar na ilha um
permite levantar alguns aspectos e conteúdos que deveriam fazer forte a que deram o nome de São Luís, em honra ao rei infante,
parte desse planejamento, incluindo os próprios projetos de rees- dando origem à cidade que é hoje a capital do Maranhão. Logo que
truturação do ensino nas duas escolas agrotécnicas federais (São se viram ali bem instalados, foram tratando de ampliar as explora-
Luís e Codó), que estão em fase de elaboração no âmbito do Proep: ções, principalmente para o lado do rio Amazonas. Desde muito se
a) capacitação para o manejo dos recursos hídricos, incluindo impressionavam os portugueses com o esquecimento em que se ia
conhecimentos de hidrologia, de técnicas de recuperação de matas deixando aquela parte do litoral, assim exposta à façanha dos aven-
ciliares, técnicas de irrigação, etc.;
tureiros, alarmando-se agora com as notícias vindas do Maranhão.
b) capacitação para o entendimento dos ecossistemas regionais
Diogo de Menezes, que em 1606 havia sucedido a Diogo Bo-
e dos sistemas de produção tradicionais de agricultores familiares e
telho no governo geral, parecia cada vez mais embaraçar-se com
as possibilidades de introdução de melhorias;
c) capacitação em sistemas agroflorestais adaptados às condi- os padres, numa luta de que só resultavam males para a colônia.
ções dos agricultores familiares; Assim, este Governador apenas pôde fundar um forte no Ceará,
d) capacitação para a gestão de negócios e conhecimento do que foi o princípio da atual cidade de Fortaleza. Em 1608, de novo,
funcionamento dos mercados; o Brasil foi dividido em dois governos com sede, o primeiro na
e) capacitação para a produção orgânica; Bahia, e o segundo no Rio de Janeiro. Até 1612, Diogo de Me-
f) capacitação para a produção de mudas e sementes de quali- nezes continuou como Governador da circunscrição do norte; e,
dade e certificadas para as novas atividades; para o sul, foi enviado D. Francisco de Sousa, ex-Governador e
g) capacitação para a organização, cooperação e gestão de superintendente das minas, o qual, em 1610, foi sucedido por seu
cadeias produtivas, principalmente nas atividades de produção de filho, D. Luís de Sousa. Este último governou até 1616.
grãos no cerrado, de aqüicultura, turismo e fruticultura, prioritárias Durante a administração de Diogo de Menezes, em 1609, ins-
para financiamento do BNB, principal órgão de fomento no Estado. talou-se na Bahia a primeira Relação [Tribunal de Justiça], com-
Texto adaptado de FAUSTO, C posta de nove desembargadores, vindos da metrópole. Em 1612,
Diogo de Menezes foi substituído no governo do norte por Gaspar
de Sousa, que veio com incumbência especial de expulsar os fran-
OS FRANCESES JACQUES RIFFAULT E ceses do Maranhão.
CHARLES DES VAUX. No século XVI, logo após o descobrimento, os franceses ten-
tam fundar colônias no Brasil. A França nega a validade do Tratado
de Tordesilhas e defende o princípio do direito à posse da terra por
quem a ocupasse.O governo francês apóia a atuação de corsários
e piratas ao longo da costa brasileira e promove duas tentativas de
Desde 1594, alguns traficantes franceses começaram a fixar-se fixação territorial. França Antártica.
no Maranhão. Um deles, Jacques Rifault, vendo a riqueza da terra, A primeira invasão ocorre em 1555, quando uma expedição
e animado com o acolhimento que lhe faziam os índios, concebeu comandada por Nicolau Durand de Villegaignon estabelece uma
a idéia de fundar naquelas paragens um estabelecimento definitivo. colônia na ilha de Serigipe (atual Villegaignon), na Baía de Guana-
Nesse propósito, associou-se a alguns companheiros e deliberou re-
bara.Chamada de França Antártica é destinada a abrigar protestan-
tornar à França para trazer novos recursos, deixando em seu lugar,
tes calvinistas fugidos das guerras religiosas na Europa, que procu-
no Maranhão, um tal de Charles Desvaux.
Como, porém, Rifault nunca mais voltava, entenderam os só- ram explorar a troca de mercadorias baratas por pau-brasil com os
cios impacientes que deviam, por sua conta, enviar um mensageiro indígenas da região. Os franceses organizam um arraial, constroem
à corte para entendersse com o rei. Henrique 4º deixou-se infla- um forte e resistem mais de dez anos às investidas portuguesas.
mar pelas narrativas do aventureiro, acedendo de pronto em fazer É desalojados apenas em 1565, quando as forças do governa-
estudar as condições em que se poderia estabelecer uma colônia dor-geral Mem de Sá e de seu sobrinho, Estácio de Sá, conseguem
naquelas paragens, quase que inteiramente abandonadas pelos por- quebrar a aliança entre os estrangeiros e os índios com o auxílio
tugueses. dos jesuítas Manuel da Nóbrega e José de Anchieta. Em seguida
Então, incumbiu-se Daniel de la Tousche de visitar o Mara- tomam posição na baía e fundam a cidade do Rio de Janeiro. Os
nhão e tomar as proporções do problema. La Tousche partiu para franceses são expulsos em 1567. França Equinocial.
a América em 1610 e, dentro de pouco tempo, estava de volta à A segunda invasão acontece no Maranhão, a partir de 1594.
França, dando as melhores informações acerca das terras cuja con- Depois de naufragar na costa maranhense, os aventureiros Jacques
quista se projetava. Henrique 4º, no entanto, acabava de ser vítima Riffault e Charles des Vaux estabelecem-se na região. Diante do
do punhal de Ravaillac [Nesse ano, o rei francês associou-se aos lucro obtido com o escambo, conseguem o apoio do governo fran-
protestantes alemães, pretendendo iniciar uma guerra impopular cês para a criação de uma colônia, a França Equinocial. Em 1612,
contra a Alemanha e a Espanha, irritando, com isso, seus inimigos, uma expedição chefiada por Daniel de la Touche desembarca no
que lhe tramaram a morte. Maria de Medicis, regente em nome de Brasil centenas de colonos, constrói casas e igrejas e levanta o
Luís 13, todavia, amparou o empreendimento organizado por La forte de São Luís, origem da cidade de São Luís do Maranhão.
Tousche, associado agora a Razilly.
Didatismo e Conhecimento 8
HISTÓRIA DO MARANHÃO
No ano seguinte, os franceses são atacados por forças portu- ficaram cada vez mais hostis aos portugueses dominadores. Os
guesas saídas de Pernambuco, sob o comando de Jerônimo de Al- invasores fizeram viagens de reconhecimento, estudos da língua
buquerque. Derrotados, os invasores deixam o Maranhão em 1615. indígena, levantamentos geográficos, e deram início às primeiras
Mesmo não conseguindo instalar-se no território brasi- plantações, para o abastecimento da tropa.
leiro, os franceses não abandonam a costa do país. Até o sécu- A conduta dos colonos foi regulada. Instituiu-se a pena de
lo XVIII, piratas e corsários, com menor ou maior ajuda ofi- morte e deu-se grande proteção aos índios contra os abusos dos
cial, assediam e pilham constantemente povoados e engenhos. colonos. Os padres começaram a penetrar na terra, em ação de
O alvo mais freqüente é o litoral nordestino, mas atacam também catequese.
cidades importantes, como o Rio de Janeiro, invadida em 1710 e
1711 pelos corsários Du Clerc e Dugay-Trouen. A REAÇÃO DA ESPANHA/PORTUGAL À INVASÃO
A INVASÃO FRANCESA NO MARANHÃO 1612 –1615 A notícia da invasão e fixação dos franceses no Maranhão
chegou ao rei Felipe III da Espanha e Portugal, que ordenou ex-
Desfeito o sonho da França Antártica, não desistiram os fran- pulsá-los.
ceses da idéia de estabelecer no Brasil uma colônia. O objetivo Para comandar a reação, foi escolhido Jerônimo de Albuquer-
agora era o Maranhão, que permanecia despovoado e inexplorado que, o bravo mameluco brasileiro, conhecedor da terra onde nasce-
por Portugal. Lá tentariam fundar a França Equinocial, por locali- ra e dos índios de quem descendia como mameluco.
zar-se próximo da linha do Equador. Os portugueses organizaram-se, recrutaram homens e prepa-
A primeira idéia de ocupação do Maranhão foi do aventurei- ram navios e acumularam armamento e munições. Na falta de ho-
ro Jacques Riffault, que, em 1594, animado pelas boas relações mens, esvaziaram as prisões. Tentaram conseguir o concurso dos
que mantinha com o chefe selvagem Uirapive, se associou a ou- índios para causa.
tros aventureiros, e, com meios suficientes, recrutou e veio para Jerônimo de Albuquerque visitou as aldeias e conversou com
o Brasil em 3 navios, aportando no Maranhão, longe do local do os caciques. Os índios, agora, não queriam guerrear, cuidavam das
objetivo inicial , mas decidiu fixar-se ali como base de partida para plantações, da caça e da pesca. À custa de muita habilidade e as-
outras incursões ao longo do litoral brasileiro . túcia, Jerônimo conseguiu-lhes a adesão. Partiu do Rio Grande do
No Maranhão, as ambições dos invasores. Eles sentiram as Norte com destino ao Maranhão. Do Piauí, enviou um grupo de
extraordinárias proporções do projeto, caso a França patrocinasse. reconhecimento sobre posições francesas na costa norte. Enquanto
esperava, fundou povoação no Camocim, para reforçar o domínio
Jacques Riffault foi à Europa, deixando em seu lugar Charles des
português na região.
Vaux. Depois de 2 anos, sem notícias, novo emissário procurou o
Martim Soares Moreno, comandando o grupo de reconheci-
rei da França. Este, interessado na partilha do Novo Continente,
mento, encontrou os franceses instalados no Maranhão. Conseguiu
deu a missão a Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière, de
muitas informações de grande valor para a expedição. De regresso,
vir à América verificar as informações de Charles des Vaux..
violenta tempestade o levou para as Antilhas, de onde seguiu para
Da mesma forma que os demais, depois de 6 meses no Mara-
a Espanha.
nhão, Ravardière, encantado com a região, retornou à pátria, não Jerônimo de Albuquerque considerou-o perdido. Resolveu
encontrando vivo o rei Henrique IV. Mas recebeu da rainha-regen- retornar a Pernambuco, enfrentar os franceses em precárias con-
te, Maria de Médicis, e dos seus ministros, patrocínio ainda efetivo dições logísticas. Antes de regressar, fundou o forte de N. S. do
e a oficialização do projeto. Rosário, aí deixando 40 homens. Sabedor das novidades, o Go-
vernador - Geral, Gaspar de Souza, mandou vir de Portugal, para
A INVASÃO DO MARANHÃO ajudar Jerônimo, Diogo de Campos Moreno, o grande conhecedor
do Brasil.
Em 1612, partiu a expedição. La Ravardière conseguiu 3 na- Formaram-se nova expedição, com cerca 300 homens. Eles
vios e cerca de 500 invasores, entre soldados, colonos, além de 4 se uniram aos 200 índios de Jerônimo de Albuquerque, seguindo
frades capuchinhos e, para o projeto, dois nobres financiadores de para o Maranhão. Organizaram-se os expedicionários na praia de
grande parte. Guaxinduba. Ali levantou uma fortificação, a que deram o nome
Deixaram a França em 19 de março. Os ventos levaram a es- de Santa Maria.
quadra até a Inglaterra. Dali atingiram a ilha de Fernando de No- Começaram a aparecer índios a mando dos franceses, e acon-
ronha, onde encontraram 1 português e 17 índios desterrados de teceram os primeiros incidentes, em conseqüência dos quais índios
Pernambuco. Eles foram incorporados à expedição e conduzidos da expedição foram mortos. Os portugueses apressaram os traba-
para o Maranhão, por ordem de La Ravardière. lhos de fortificação, enquanto aguardavam reforços prometidos de
A 26 de julho, a esquadra fundeou frente à ilha mais tarde Pernambuco, que não chegaram a tempo. A inferioridade numérica
denominada Santana. No dia 6 de agosto de 1612, desembarcaram, portuguesa era flagrante.
recebidos com muitas festas e demonstrações de alegria por parte Na madrugada de 19 de novembro de 1614, os franceses ata-
dos índios e franceses. caram na praia de Guaxinduba: Força naval acompanhada por 50
A posse do Maranhão--Os invasores franceses fundaram um canoas tupinambás com 200 franceses e mais de 2.000 índios.
forte a que denominaram São Luís, em homenagem a Luís XIII, rei O invasor desembarcou e aproximou-se. Foi quando Jerônimo
da França. No local, ergue-se o Palácio do Governo do Maranhão. passou da defensiva a impetuoso ataque. Reuniu tropa de reserva,
O forte deu origem à cidade de São Luís, capital do Estado. Ao seu quase todas de índios, e deu-lhes a missão de guardar o forte de
redor, foram construídas casas, armazéns e a igreja. Assim, obje- Santa Maria. Decidiu cercar os franceses por terra, enquanto Dio-
tivavam o seu estabelecimento definitivo no Maranhão. Os índios go de Campos atacaria na praia os que estavam desembarcando.
Didatismo e Conhecimento 9
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Nesse momento, chegou um emissário dos franceses com Maranhão em reconhecimento aos relevantes serviços. Enquan-
mensagem de La Ravardière, intimando os portugueses à rendição. to isso, Francisco Caldeira Castelo Branco seguiu para o Norte,
Temendo um ardil, Diogo de Campos atacou, seguido por Jerôni- com ordens de fundar, 900 quilômetros além, a capitania do Pará.
mo. Os portugueses destruíram uma posição inimiga; os franceses Era dado o primeiro passo para a conquista da Amazônia. A costa
desanimaram. A maré baixa não permitiu receberem reforços da norte, até então abandonada à própria sorte, ficou conhecida e na
esquadra fundeada ao largo. Os que se encontravam em terra já posse definitiva dos portugueses. Participou da luta pela expulsão
não podiam retornar, porque as suas embarcações estavam sendo dos franceses do Maranhão o mais tarde Capitão Pedro Teixeira, o
queimadas pelos portugueses. Em que pese à inferioridade numé- conquistador da Amazônia e que participara da Expedição funda-
rica, graças à coragem dos portugueses e à habilidade de Jerônimo dora de Belém em 12 de janeiro de 1616, de onde foi enviado, por
Albuquerque, os franceses foram derrotados, com número muito terra, de Belém a São Luiz, a fim de explorar um caminho terrestre
maior de perdas, entre mortos e prisioneiros, no dia que passaria à para garantir apoio militar terrestre mútuo entre as duas bases mi-
História com o título de “A Jornada Milagrosa”. “Audentes fortuna litare de Belém e São Luiz (Caminho por onde hoje corre a rodovia
iuvat”. A sorte favorece os audaciosos. Também se encontra “Au- Belém -São Luiz com o seu nome) .
daces fortuna iuvat” (adaptação). De 1616 a 1631, por 15 anos, comandou operações militares
Mais uma vez fizeram honra ao seu pensamento militar de- tipo guerrilha para, arrasar as feitorias e fortificações inglesas, ir-
corrente de seu ideal político de dilatar A Fé Católica e o Império: landesas e holandesas estabelecidas no Estuário e Baixo- Amazo-
“Julgada a causa justa, pedir proteção divina e atuar ofensivamen- nas. A seguir, de 1637 – 39, realizou a sua grande e imortal epopéia
te, mesmo em inferioridade de meios. - a conquista da Amazônia Brasileira para Portugal, em nome do
Os portugueses esperaram novo ataque. Os invasores não de- rei comum de Espanha e Portugal. Conforme tratamos em “A Con-
sistiram! Mas não queriam correr riscos. Resolveram negociar a quista da Amazônia” - Rio de Janeiro: DNER,1974.
paz, com um armistício honroso. Durante dois anos, agora com auxílio dos índios, Jerônimo de
Os dois líderes rivais chegaram a um acordo, suspendendo as Albuquerque Maranhão governou a capitania do Maranhão. Foi o
hostilidades por um ano, enquanto se mandavam para cada uma justo prêmio de sua bravura, esforço, habilidade guerreira e capa-
das Cortes dois emissários, um português e um francês, em busca cidade de liderar.
de novas instruções. Os franceses concentraram seus esforços na margem norte do
O governo luso - espanhol não aprovou o armistício, confor- rio Amazonas. Os portugueses puderam, em razão dessa luta, ocu-
me notícia trazida por Francisco Caldeira Castelo Branco. par em definitivo a costa norte do Brasil e fundar Belém, a base de
Jerônimo de Albuquerque não desfez o acordo. Aguardou nota partida para o domínio do Estuário e Baixo- Amazonas e conquista
oficial. Esta chegou com o General Alexandre de Moura, nomeado da atual Amazônia Brasileira. Texto adaptado de SANTIAGO, E
Governador. Geral da Armada e Conquista do Maranhão. Seu pro-
pósito: obter dos franceses a rendição incondicional.
Ao chegar, o General Alexandre de Moura convocou Jerô- FRANÇA EQUINOCIAL: EXPEDIÇÃO DE
nimo de Albuquerque, a quem fez ler a carta de sua patente de
general. Este ficou indignado com a falta de reconhecimento pe- DANIEL DE LA TOUCHE.
los serviços prestados. Era mais forte, porém, no seu coração de
bravo, o sentimento de amor à terra natal e o do cumprimento do
dever. Curvando-se diante de seu superior hierárquico, entregou-
lhe o comando e continuou a servir, com abnegação, à causa pela O estabelecimento da chamada França Equinocial iniciou-
qual tanto já se sacrificara. se em Março de 1612, quando uma expedição francesa partiu do
A expulsão dos invasores do Maranhão-- Em 31 de outubro de porto de Cancale, na Bretanha, sob o comando de Daniel de La
1615, o General Alexandre de Moura ordenou o ataque aos france- Touche, Senhor de la Ravardière. Este nobre, que em 1604 havia
ses. Jerônimo de Albuquerque iniciou por cercar, por terra, o forte explorado as costas daGuiana com o navegador Jean Mocquet, ha-
São Luiz. Em 1º de Novembro, a esquadra de Alexandre de Moura via tido os seus planos de colonização do Novo Mundo adiados
fechou o cerco por mar. Desembarcou a sua tropa na ponta de São devido à morte de Henrique IV de França em 1610.
Francisco, próximo do forte São Luís, e ali construiu fortificação Agora, com cerca de quinhentos colonos a bordo de três na-
de pau-a-pique, a que deu o nome de São Francisco ou Forte do vios - “Régente”, “Charlote” e “Saint-Anne” -, dirigia-se à costa
Sardinha. norte do atual estado brasileiro do Maranhão. Para facilitar a de-
Intimado à rendição, La Ravardière submeteu-se com condi- fesa, os colonos estabeleceram-se numa ilha, onde fundaram um
ções. Prometia partir em 3 meses. De Portugal chegaram reforços povoado denominado de “Saint Louis” (atual São Luís), em home-
e ordens específicas – não pagar indenizações, apenas permitindo nagem ao soberano, Luís XIII de França (1610-1643).
que os invasores franceses levassem seus pertences. La Ravardière No dia 8 de Setembro de 1612, frades capuchinhos rezaram
entregou o forte de São Luís e, enquanto seus homens embarca- a primeira missa, tendo os colonos iniciado a construção do “Fort
vam para a França, pediu para ficar, por amor à terra a que muito Saint Louis”. Cientes da presença francesa na região, os portu-
se afeiçoara. Alexandre de Moura, entretanto, levou-o para Per- gueses reuniram tropas a partir da capitania de Pernambuco, sob
nambuco e dali para Lisboa, onde foi encerrado por três anos, na o comando de Alexandre de Moura. As operações militares cul-
Torre de Belém. minaram com a capitulação francesa em 4 de novembro de 1615.
Jerônimo de Albuquerque, que então passara a assinar-se Je- Poucos anos mais tarde, a partir de 1620, iniciou-se o afluxo de
rônimo de Albuquerque Maranhão, como afirmação definitiva da colonos portugueses, tendo a povoação de São Luís começado a
conquista da nova terra, foi nomeado capitão-mor da capitania do crescer, com uma economia baseada principalmente na agro-ma-
Didatismo e Conhecimento 10
HISTÓRIA DO MARANHÃO
nufatura açucareira. Por sua vez, os franceses fizeram novas ten- Europeus e Tupinambás tinham formas bastante diferentes de
tativas de colonização mais ao norte, na foz do rio Amazonas (de se posicionarem frente ao mundo natural; os índios do Maranhão,
onde também foram expulsos) e na região da atual Guiana Fran- apesar de não possuírem valores específicos voltados para a preser-
cesa, em 1626 onde lograram sucesso. Caiena viria a ser fundada vação da natureza, tinham uma relação circunstancialmente equili-
em 1635 por iniciativa da “Compagnie de la France Équinoxiale” brada com o meio em que viviam. Já os europeus eram partícipes
(criada nesse ano e recriada em 1645, tendo sido encerrada por de um sistema cultural que estabelecia uma cisão entre homem e
duas vezes por dificuldades de gestão). natureza, praticamente opostos e mutuamente estranhos. Tinham
O estabelecimento francês na Guiana só viria a firmar-se, en- também visões contraditórias destes povos indígenas, vivendo, se-
tretanto, após 1674, quando passou para a administração direta da gundo eles, em “estado de natureza”, o que poderia indicar ou a
Coroa Francesa, administrada por um Governador nomeado pelo sua barbárie incorrigível ou sua condição edênica, uma condição
soberano. Atualmente, a Guiana Francesa é um departamento da para a sua possível catequese e salvação. Além disso, estavam im-
França continental. buídos de uma noção econômica que preconizava a acumulação de
Invasão Francesa Daniel de La Touche, conhecido como Se- riquezas, especialmente minerais considerados preciosos, median-
nhor de La Ravardière, acompanhado de cerca de 500 homens te a transformação da natureza em mercadoria. Natureza que no
vindos das cidades francesas de Cancale e Saint-Malo, chegou à Maranhão reluzia com riquezas potenciais, dedicadamente descri-
região em 1612 para fundar a França Equinocial e realizar o sonho tas e ressaltadas no relato do capuchinho. Esta “zona de contato”
francês de se instalar na região dos trópicos. Uma missa rezada por representada pela França Equinocial significa a possibilidade da
capuchinhos e a construção de um forte nomeado de Saint-Lou- colonização do Maranhão pelos franceses, exaltando a opulência
is (“São Luís”), em homenagem prestada a Luís IX patrono da de seus recursos naturais e a “capacidade de aceitação da doutrina
França, e ao rei francês da época Luís XIII,m marcaram a data de cristã manifestada pelos selvagens”. Ou aquilo que Daher chama
fundação da nova cidade: 8 de Setembro. Logo se aliaram aos ín- de “imperativo teológico da colonização francesa do Maranhão”,
dios, que foram fiéis companheiros na batalha contra portugueses a “dimensão providencial” deste território disputado aos portugue-
vindos de Pernambuco decididos a reconquistar o território, o que ses cuja natureza edênica e paradisíaca, aliada à inocência do sel-
acabou por acontecer alguns anos depois. vagem, confirma a sua vocação para a salvação por meio da obra
Comandada por Alexandre de Moura, a tropa lusitana expul- missionária dos capuchinhos franceses.
sou os franceses em 1615 e Jerônimo de Albuquerque foi destaca- Mais ainda, eram pessoas imersas num sistema religioso
do para comandar a cidade. Açorianos chegaram à cidade em 1620 exclusivista, incapaz de tolerar a presença de outras expressões
e a plantação da cana para produção de açúcar e aguardente tor- espirituais, uma mentalidade tão arraigada que dificultava a com-
nou-se então a principal atividade econômica na região. Os índios preensão de tudo o que fosse diferente, condenando à destruição
foram usados como mão-de-obra na lavoura. A produção foi pe- ou à marginalidade tudo que carregasse traços considerados idó-
quena durante todo o século XVII e, como praticamente não circu- latras ou pagãos. Por conta de tudo isso, o que resulta do processo
não é uma simples substituição de um modo de vida por outro,
lava dinheiro na região, os excedentes eram trocados por produtos
mas, por vezes, a sobreposição da cultura européia sobre a nativa,
vindos do Pará, Amazônia e Portugal. Rolos de pano eram um dos
resultando num amálgama onde as práticas locais são ressignifica-
objetos valorizados na época, constando inclusive nos testamentos
das e reorientadas para atender aos desígnios europeus. O viajante,
dos senhores mais abastados.
para Doiron, é paradoxalmente um ser sedentário que despreza os
A chamada França Equinocial, empreendimento de coloniza-
nômades, os povos sem cidades, em nosso caso os ameríndios do
ção que ocorreu no Maranhão a partir de 1612, marcou o momento
Maranhão. “O deslocamento regrado dos viajantes modernos se
em que os europeus definitivamente estabeleceram-se na região, definirá por oposição à vagabundagem dos selvagens que eles ve-
instalando uma sede administrativa, estruturas militares e religio- rão, com dois mil anos de intervalo, da mesma forma que Heródo-
sas e os primeiros núcleos habitacionais à moda do Velho Mun- to via os Citas. Ou seja, pelo espelho da diferença,da oposição, da
do. Até então, os contatos se restringiam a iniciativas comerciais barbárie; não apenas os povos “selvagens”, vivendo em estado de
adventícias e fragmentadas, de caráter informal, num modelo de natureza, ou as culturas “decaídas” do oriente ou da África do nor-
relação que permitia certa continuidade da cultura nativa que, ape- te, imersas em suas ruínas, mas também as civilizações “mestiças”
sar de sensivelmente modificada pelos costumes exógenos, ainda da América, incapazes de recriarem no Novo Mundo uma cópia
mantinha sua estrutura básica de funcionamento. Essa situação se fiel de sua matriz européia. No entanto, este espelho desvelado
modificou bastante com a chegada do empreendimento colonial pela literatura dos sábios viajantes oferece “menos um material
francês. O fato de haver entre os recém-chegados um grupo de bruto que as representações e os julgamentos que ela compartilha”.
quatro religiosos já aponta a natureza das novas relações pretendi- Este desconhecido, espelho da identidade do viajante, é pro-
das a partir daí. A cultura Tupinambá, até então tolerada – e mesmo jetado em imagens que oscilam entre o inferno e o paraíso, ora
emulada –, passaria a ser combatida e censurada, para que no lugar exemplo de organização utópica e perfeita, ora espaço da barbárie,
se implantasse o sistema de valores dos europeus. A narrativa de que deve ser conquistada e civilizada. O longínquo se constitui
Claude d’Abbeville é a história do contato entre essas duas cultu- nesta literatura um espaço oximoro no qual a paisagem edênica
ras, das tensões e negociações entre elas, do estranhamento mútuo, dissimula às vezes um contrário insuportável. Esta imagem espe-
da incompreensão. Mas também revela a adoção de uma atitu- cular que o viajante descobre fora de sua pá- tria, por mais cosmo-
de cautelosa por parte dos franceses, de certo respeito inspirado polita que seja a atividade da viagem, é comparada por Doiron a
pelo temor e pela constatação da fragilidade de sua posição. Após um luto, não exatamente um sentimento de exílio, mas um senti-
Guaxenduba, com a retomada portuguesa da área, esse cenário se mento “da incrível desordem que reina no mundo. Afastando-se do
modificaria de maneira brutal e repentina, e o que era respeito te- centro, ele descobre a ruptura”.6 A esta imagem da desordem do
meroso se tornaria guerra aberta de extermínio. mundo, o viajante opõe a sua ordem, a sua classificação:
Didatismo e Conhecimento 11
HISTÓRIA DO MARANHÃO
“À dispersão, ele responde pelo agrupamento, pela reunião Utopia que, no caso da França Equinocial, refletia também
dos signos que tornam inteligível o seu trajeto”. Para este autor, a um desejo colonial de conquista e uma esperança de salvação das
alteridade na literatura de viagem não é mais do que “uma mons- almas selvagens pelo cristianismo. No entanto, seus textos devol-
truosa retórica do mesmo: comparação, analogia, metáfora, an- vem muitas vezes não mais do que uma imagem idealizada de sua
títese, hipérbole”. Esta operação de inteligibilidade do espaço é própria cultura, depurada pela pena moralizante e utópica do via-
o que Gomez-Géraud chama de “ordenação do mundo, a partir jante e sua memória livresca. Um olhar, que apesar de consciente
do itinerário que faz desfilar os lugares”, como sendo a principal da alteridade, faz da diferença do outro uma tópica do discurso
preocupação do relato de viagem.9 Ainda aqui observamos o ca- moralista ou polêmico do escritor, “não guardando de sua iden-
ráter contraditório da literatura de viagem: seus autores buscam a tidade mais do que elementos largamente estereotipados”. Cabe
crítica de sua própria civilização na comparação com outras so- ressaltar o que é observado por Pioffet, com relação ao romance do
ciedades, tentando encontrar em sua “infância”uma naturalidade e Grand Siècle, e sua relação com a literatura de viagem: o exotis-
uma inocência que faltam à Europa polida, repleta de convenções mo – neste caso, o chinês – é ditado muito mais por “imperativos
e hierarquias, refletindo as ideias que Rousseau havia buscado em históricos que geográficos”. A China apresentada pelos romances,
outros viajantes para desenvolver sua teoria do bom selvagem. Es- “lugar espantosamente vazio, parece provir de uma convenção re-
tes espaços, incluído o Brasil, constituem uma “renovação utópi- tórica sem referente extratextual. Mas, muitas vezes, as projeções
ca” do pensamento europeu, da regeneração de sua cultura; “este da América portuguesa lembram o espaço vazio, a página em bran-
sonho pacífico de uma América que seria o futuro da velha Europa co chinesa da literatura do Grand Siècle francês.
corrompida e sangrenta”. O vazio da carta se apresenta ao viajante como uma página
Além de renovação utópica para o pensamento europeu, para em branco a ser escrita, a página em branco não é, aqui, apenas
Certeau o encontro com o Novo Mundo provocou a invenção do metáfora ou posiçãoepistemológica, é também a página do livro de
selvagem na obra de Jean de Léry por meio de uma operação de es- viagem na qual se escreve o relato da alteridade; onde se projeta a
critura que ordena os fragmentos da oralidade indígena. Ou a cons- imagem da identidade do viajante, onde se cristalizam os estereó-
tituição desta palavra instituída como lugar do outro e destinada a tipos com a liberdade que a criação literária permite, aliada às suas
ser entendida outramente, de um modo diferente daquele que fala. obrigações retóricas e à necessidade do convencimento do leitor de
Um espaço da diferença “que coloca em questão o funcionamento que se trata de um relato fiel e verdadeiro.
da palavra em nossas sociedades da escritura, e as relações entre E também a alma inconstante do selvagem, esta que não por
história e etnologia”. acaso será identificada à página vazia do livro no qual se poderia
Certeau trata da formação desta voz que fala pelo indígena, escrever o texto de sua salvação. A fantasia e o gosto pelo ma-
deste discurso sobre o outro, perguntando-se qual é o ex- -voto ravilhoso eram parte da mentalidade dos navegantes, descobrido-
que “a escrita dirige à palavra ausente”.O relato de Léry permite res, conquistadores e colonizadores dos séculos XVI e XVII. O
o retorno de si mesmo a si mesmo pela mediação do outro. Algo contato com as realidades do Novo Mundo excedia a capacidade
escapa do texto: a palavra tupi, ela é do outro, não é recuperável, interpretativa e desafiava os conhecimentos tradicionais dos euro-
é um ato perecível que a escritura não pode relatar. A escrita per- peus, confrontando-os com experiências tão intensas que muitas
corre um caminho, vai do outro ao mesmo e do mesmo ao outro, vezes vertiam em expressão sobrenatural. A visão de uma terra
construindo uma imagem identitária por meio desta busca de com- abundante em alimentos e água, segura e previsível, aparecendo a
preensão do outro. Entretanto, no “porta-jóias do relato”, diz ele, homens famintos, sedentos, amedrontados pela sombra da morte,
“a palavra selvagem faz o papel de joia ausente”. da doença, do naufrágio, sem dúvida sugeria algo de extraterreno.
Nesta hermenêutica do outro,14 na feliz expressão do autor, a Ainda mais quando se considera a incipiência dos conheci-
oralidade do selvagem transformada em escritura e a natureza dão mentos técnicos e científicos e que se percebe que estas experiên-
sentido ao processo de decifração do outro. A alteridade é o ponto cias vinham de encontro com uma arraigada tradição construída
de partida, é um aqui (nós) relativizado por um lá (eles) e uma na Antiguidade, incorporada pelo Cristianismo, retrabalhada pela
linguagem sem substância. Converte-se em um lugar de verdade literatura medieval, tão corriqueira que se fazia presente nas men-
porque nele se produz o discurso que compreende um mundo. Para tes desde os mais simples iletrados aos mais respeitados sábios.
isso serve o selvagem: da afirmação de uma convicção se passa a Fazem parte dessa tradição as idéias que permitem supor a exis-
uma convicção de saber. “Mas se, de início, a linguagem a restau- tência de um Paraíso terreal, ainda que objeto de polêmicas quanto
rar era ‘teológica’, a que se estabelece de retorno é (em princípio) às suas conformações espaciais, tangibilidade e mesmo, em alguns
científica ou filosófica”. A natureza é índice da diferença entre os círculos, de sua ocorrência fora da esfera metafórica ou alegórica.
mundos, ela dá ordem à diferença estabelecendo, por meio das De fato, o que seriam indícios dessa terra bem-aventurada apare-
analogias e das comparações, uma imagem veraz do par dela em cem com grande freqüência nos relatos dos primeiros europeus
relação a um pareça, constituindo-se como um “mundo de alteri- sobre a América. Holanda considera este esquema, de origem bí-
dade máxima”.16 Um mundo que, como recorda Lestringant, será blica, o modelo pelo qual os conquistadores decifraram o Novo
marcado pela “obstinação de um olhar constantemente aplicado Mundo, a forma pela qual eles decodificaram o universo sensível
à diversidade das coisas”, às suas singularidades, como sugere o que encontraram na América. O continente alimentou uma espe-
título do relato de André Thevet, suspeitando, diz o autor, de um rança de “uma salvação neste mundo”, não o mundo terreno já
“universal humano”, ainda longe, portanto, de uma “pretensão de conhecido, mas em “alguma de suas partes ainda ignota e quem
universalismo” de uma antropologia “fundamentalmente etnocên- sabe? poupada à maldição divina.
trica”, representada pelo programa da Sociedade dos Observado-
res do Homem de 1796.
Didatismo e Conhecimento 12
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Se observada de outro ângulo que não o dos descobridores, Assim, a bandeira francesa foi hasteada pela primeira vez no
navegantes e colonizadores, essa insistência em buscar realizar no Maranhão, em meio aos Tupinambás. La Ravardière regressou à
Novo Mundo idéias e cenários previamente construídos no uni- França seis meses depois, pondo fim à primeira fase da França
verso mental europeu pode ser definida como uma atitude etno- Equinocial.
cêntrica, que acabou decretando a “negação do outro”. Por conta No dia 19 de março de 1612 zarpara de Cancale, na Bretanha,
dessa mentalidade autocentrada, os europeus eram incapazes de uma frota composta por três navios: La Régente, comandado por
reconhecer a existência de estruturas humanas diferentes das que La Ravardière, auxiliado por Rasilly; Charlotte, com o Barão de
se acomodavam em seu campo de conhecimentos e isso os levava Sancy e a nau Sante-Anne, com o irmão de Rasilly. Dois meses
a não admitir como válidas as manifestações culturais dos nativos depois era construído o forte São Luís, núcleo inicial da futura
da América. Cristóvão Colombo, expoente máximo desse tipo de cidade.
atitude, chegou a negar inclusive que os nativos tivessem um sis- Os primeiros momentos da colônia foram de
tema linguístico, afirmando em carta aos reis espanhóis, ainda em tranquilidade. Logo, porém, Portugal e Espanha procuraram reagir
1492, que “se Deus assim o quiser, no momento da partida levarei ante a ameaça de perderam parte de sua colônia. Uma expedição
seis deles a Vossas Altezas para que aprendam a falar”. comandada por Jerônimo de Albuquerque, com centenas de
Essas considerações iniciais buscam apontar as contingências portugueses, brasileiros e indígenas foi enviada para retomar a
que aparecem quando se lida com os escritos dos colonizadores, área.
navegantes e conquistadores europeus. São relatos marcados por As lutas, porém, não resultaram em vitória clara para qualquer
uma atitude mental singular que incidia sobre as descrições que fi- dos lados. No dia 3 de novembro de 1615, La Ravardière, vendo
zeram do Novo Mundo, levando-os a adotar certos posicionamen- que não havia possibilidade de encontrar uma maneira diplomática
tos em relação ao homem e à natureza americanos que levantam para resolver o assunto, e sabendo de sua inferioridade em homens
suspeitas sobre sua fidelidade e grau de acuidade. Pensando des- e material bélico, rende-se ao chefe português. Era o fim do
crever o Novo Mundo, tais pessoas acabaram isso sim, elaborando segundo projeto de colonização francesa no Brasil. Texto adaptado
aprofundados painéis de sua própria cultura e mentalidade. Isso se de FILHO, A. T; CAIRES, D. R
agrava ainda mais porque os nativos americanos eram iletrados e
sua versão da história desapareceu junto com suas culturas.
Por fim, há ainda a constatação de que, em muitos casos, os
povos americanos descritos nos relatos desses europeus já tinham FUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS.
experimentado contatos prévios com a cultura do Velho Mundo
e que muitos comportamentos, crenças e idéias que são descritos
como próprios de sua cultura são, na verdade, amálgamas cultu-
rais. O que se rotula como cultura nativa, em muitos casos, é na Fundada pelos franceses no início do século XVII para se
verdade uma cultura mameluca, fruto do contatodo indígena com tornar o núcleo da França Equinocial e mais tarde ocupada pelos
o europeu. holandeses, São Luís tem hoje um dos mais modernos portos do
O projeto da França Equinocial começa em 1611, numa Brasil. São Luís é capital e principal cidade do estado do Mara-
associação entre comerciantes e nobres, que vislumbraram uma nhão. Situa-se na ilha de São Luís, entre as embocaduras dos rios
colônia no nordeste do Brasil, em um vasto território ainda não Anil e Bacanga. O clima é tropical chuvoso, com temperatura mé-
ocupado pelos portugueses. Com a aprovação do rei Luís XIII, foi dia anual de 26o C. Os totais pluviométricos chegam a 2.083mm.
organizada uma expedição, comandada por Daniel de La Touche, Liga-se ao continente por duas pontes. História. Os primeiros habi-
Senhor de La Ravardière, que já andara pelo litoral da atual tantes da área onde hoje está São Luís foram os índios tupinambás.
Guiana, em viagem de exploração em 1604. A cidade foi fundada em 1612 pelos franceses que ali aportaram,
As “vantagens” de colonização do Maranhão eram sob o comando de Daniel de La Touche, o senhor de La Ravardiè-
propagadas desde 1594, quando alguns náufragos franceses, re, com três navios e pouco mais de 500 homens. Em 1615 a ilha
liderados por Jacques Riffault, se estabeleceram na região. Outro foi conquistada pelos portugueses e, a partir de 1641, esteve sob
francês, Charles des Vaux, aprisionado no Ceará, regressou à domínio holandês durante três anos. Nascida com a função de de-
França e difundiu a ideia de que se criasse uma colônia francesa fesa e ponto de partida para a ocupação do interior, São Luís teve
no litoral. crescimento lento. O mais importante surto de desenvolvimento
A trajetória da França Equinocial pode ser dividida em duas começou com a fundação daCompanhia Geral do Comércio do
fases distintas. Na primeira, organizou-se o reconhecimento da Grão-Pará e do Maranhão, em 1755, que introduziu a cultura do al-
área, sob supervisão de La Ravardière, com o apoio de Francisco godão, visando a indústria têxtil da Inglaterra. A capital maranhen-
de Rasilly, Senhor des Aumels, Nicolau de Harlay de Sancy, Barão se, lembrada hoje pelo enorme casario de arquitetura portuguesa,
de la Molle e de Gros-Bois. Essa inspeção ajudaria na construção no início abrigava apenas ocas de madeira e palha e uma paisagem
de um forte e na manutenção de um convívio pacífico com os quase intocada. Aqui, ficava a aldeia de Upaon-Açu, onde os ín-
índígenas, para que a segunda fase, a ocupação com colonos, fosse dios tupinambás - entre 200 e 600, segundo cronistas franceses
implementada. A expedição era composta por três navios, cuja - viviam da agricultura de subsistência (pequenas plantações de
tripulação era basicamente de voluntários, muitos deles fidalgos mandioca e batata doce) e das ofertas da natureza, caçando, pes-
e aventureiros, além de quatro padres capuchinhos, além de um cando, coletando frutas. Nos arredores da atual cidade de São Luís,
português e alguns índios, que estavam em degredo na ilha de habitava a etnia indígena dos potiguaras.
Fernando de Noronha.
Didatismo e Conhecimento 13
HISTÓRIA DO MARANHÃO
A cidade de São Luís, capital do Maranhão, formou-se na pe- Companhia de Confiança Maranhense com o objetivo de construir
nísula que avança sobre o estuário dos rios Anil e Bacanga, estan- um edifício de comércio, que ficará conhecido como “Casa das
do a 2º 31` 47`` de latitude, 44º 18`10`` longitude, e a uma altitude Tulhas”, depósito destinado a regular o comércio de trigo e outros
de 24,391 m. Limita-se com o Oceano Atlântico, ao Norte; com importados. Após a inauguração da “Casa das Tulhas” em 1860
o Estreito dos Mosquitos, ao Sul; com a Baía de São Marcos, a desenvolve-se rapidamente essa região passando a ser uma área
Oeste. de ricos comerciantes que instalaram várias lojas entre os anos de
Fundada em 8 de setembro de 1612, pelos franceses Daniel de 1850 a 1880.
La Touche e Fraçois de Rasilly, cujo objetivo comum, dentro do Na outra extremidade da cidade, nesse período ainda “arre-
contexto da economia mercantilista, era estabelecer a França Equi- balde”, tinha uma área conhecida como Ponta do Romeu, onde já
nocial, a capital maranhense encontra na homenagem ao então Rei existia uma antiga Igreja abandonada e bastante arruinada, além da
da França, Luís XIII, as raízes da sua nomenclatura: São Luís. Cadeia Pública instalada desde 1856. Em 1860 ocorre a reforma
Conquistada e incorporada do domínio português, apenas três dessa Igreja, Nossa Senhora dos Remédios. Os Remédios é uma
anos depois de sua fundação pelos franceses (1615), a cidade de região elevada com vista para o Rio Anil, no seu largo passará a
São Luís sucumbiria, ainda no decorrer do século XVII, ao domí- ocorrer a tradicional festa realizada em homenagem a padroeira
nio holandês. Todavia, assim como acontecera com os fraceses, dos comerciantes, e mesmo com a presença da Cadeia Pública o
também os holandeses, batidos em guerra pelos portugueses, se- bairro vai se consolidando como zona residencial. Nesse período
riam expulsos decorridos três anos da invasão, em 1645. E quando observa-se as preocupações com o embelezamento, o saneamento,
se inicia, de fato em definitivo, a colonização portuguesa da antiga e a circulação, nas realizações como: a inauguração do novo ser-
Upaon Açu ou Ilha Grande, segundo a denominação tupinambá viço de iluminação a base de gás hidrogênio encanado, em 1864;
para a Ilha de São Luís. a organização de uma comissão para verificar o estado da Santa
Nascida no mar, caracterizada como porto fluvial e marítimo, Casa de Misericórdia, em 1864; e a autorização da Câmara Muni-
à semelhança de outras cidades brasileiras da época colonial, a cipal para realização de um caminho de rodagem entre a Capital e
capital do Maranhão desempenhou importante papel na produção o Anil, até o rio Cutim, em 1865, facilitando a ligação entre a área
econômica do Brasil – colônia durante os séculos XVII e XIX, urbana e rural da cidade. De volta a região do porto, foi construí-
tendo sido considerada o quarto centro exportador de algodão e da em 1864 uma segunda rampa ao final da Rua do Trapiche, a
arroz, depois de Salvador, Recife e Rio de Janeiro. “Rampa Campos Melo”, com o objetivo de favorecer o transporte
Data desta época o conjunto urbanístico de caráter civil que de passageiros, tornou-se um dos espaços sociais de grande mo-
compõe o Centro Histórico da capital maranhense e se constitui vimento na cidade. O Cais da Sagração, complementando a re-
num dos mais representativos e ricos exemplares do traçado urba- gião portuária, iniciou a partir de 1841 constantes obras de reparo.
no e da tipologia arquitetônica produzidos pela colonização por- Nessas obras foram gastos grandes soma dos cofres públicos, mas
tuguesa. nunca resolvendo definitivamente os problemas do cais, o que pro-
Na realidade, a tipologia arquitetônica que corresponde aos vocou críticas por parte do engenheiro André Rebouças quando
séculos XVIII e XIX difere, em muito, das casas em taipa e ma- visitou o local em 1865: “depois de 24 anos de trabalho, tendo
deira que caratecterizam os edifícios de caráter civil do sécu- consumido para mais de 200:000$, apenas existia uma muralha e
lo XVII: constituem-se em sólidas construções em alvenaria de uma rampa fendida em diversos pontos, cercando um pântano no
pedra e argamassa com óleo de peixe, serralheria e cantarias de qual a maré penetrava todos os dias”.
lioz de origem européia, e madeira de lei. De qualquer maneira, Processo similar ao que aconteceu para a construção da “Casa
os mais representativos exemplares da arquitetura de São Luís da- das Tulhas” ocorreu para a construção do prédio do Tesouro Pú-
tam, sobretudo, da Segunda metade do século XIX. Trata-se dos blico cujo, a fachada principal se erguia para a Rua do Trapiche,
sobrados de fachadas revestidas em azulejos portugueses que se local em que se encontra a segunda rampa de embarque e de-
consubstanciam num dos aspectos mais peculiares da expressão sembarque de passageiros. O Governo Provincial contratou uma
civil maranhense. empresa, aqui representada por Francisco Gonçalves dos Reis,
para construir em 1871 um prédio destinado ao Tesouro Público
OS CICLOS DE REFORMA: AS PRINCIPAIS REALIZA- do Estado. Pelos termos do contrato depois de 25 anos o prédio
ÇÕES (1850-1870) passa a pertencer a Província. Entre as décadas de 1860 a 1870
observa-se a grande parte dos investimentos públicos ocorrendo
Durante seu segundo ciclo econômico4 a cidade de São Luís, na região da Praia Grande, justificada pela dinâmica dos negócios
resultante das ações conjuntas entre o poder público e forças so- portuários. Este bairro vai ser o primeiro núcleo elitizado da ci-
ciais daquele período, teve a possibilidade de erguer novas edifica- dade. Melhoramentos para a circulação e o saneamento da cidade
ções, algumas vezes substituindo as antigas construções do século também ocorrem em 1871, a partir da instalação da Companhia
XVII e parte do século XVIII, assim como ocupar áreas despo- Ferro Carril fazendo os serviços de transporte urbano com bondes
voadas. Essas ações conjuntas determinaram a ocupação territo- de tração animal, assim como o início dos serviços de água cana-
rial e a conformação espacial da cidade aquela época. A economia lizada. Continuando os melhoramentos dos transportes a Empresa
estava diretamente ligada às atividades portuárias, e a introdução Ferro Carril é autorizada em 1872 a alongar sua linha até a zona
da navegação a vapor no Maranhão, a partir de 1850, favoreceu rural, demonstrando a preocupação do Governo da Província em
a travessia no Canal do Boqueirão na Baía de São Marcos me- melhorar a ligação entre essas duas áreas.
lhorando e intensificando o movimento das embarcações que se
dirigiam ao porto. Os primeiros investimentos ocorreram na região
portuária da Praia Grande, quando o Município contrata em 1854 a
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HISTÓRIA DO MARANHÃO
A cidade busca também seu embelezamento. A colocação No Brasil a expressão “melhoramentos urbanos” se torna cor-
da estátua do poeta Gonçalves Dias no Largo dos Remédios em rente no Rio de Janeiro desde o final do século XVIII, e o termo se
1873, demonstra essa preocupação. Outras realizações significa- multiplicou em várias cidades brasileiras do século XIX. Em 1891
tivas acontecem na década de setenta do século XIX: em 1874 a “Empresa Industrial de Melhoramentos do Brasil”, instituiu no
organiza-se a Companhia de Águas do rio Anil abastecendo a ci- Maranhão a “Companhia Geral de Melhoramentos do Maranhão”
dade com seis chafarizes; as reformas na Santa Casa de Miseri- com o objetivo de realizar trabalhos no Cais da Sagração, conser-
córdia, onde foram realizadas grandes obras sob a coordenação vação e desobstrução de rios, ficando os trabalhos a cargo do enge-
do mesmo arquiteto que reconstruiu o prédio da Escola Onze de nheiro Fábio Hostilio de Moraes Rego, o qual já havia trabalhado
Agosto, Augostinho Autrand. Em 1883, novos ciclos de reformas na mesma área em 1885. Continuam as preocupações com o em-
são iniciados no Cais da Sagração. O Cais da Sagração sempre belezamento, uma melhor circulação, e a salubridade dessa área.
considerado como um dos lugares mais importantes da cidade, é Entre as idas e vindas da Biblioteca Pública, que já foi acomodada
constantemente palco dos investimentos por parte da Província, em vários prédios da cidade, no ano de 1891 o Estado da Província
não é sem razão, pois corresponde à área de chegada e de saída investiu em um prédio, localizado na Rua da Paz canto do Beco do
da cidade pelo mar, onde é grande fluxo de embarcações. Além de Teatro, com o objetivo de melhorar as instalações desta instituição.
ser uma obra que contribui para o embelezamento, é antes de tudo A Biblioteca passa a ser dirigida neste ano por Antônio Lobo,
o melhoramento da circulação dos navios que movimentavam a que cataloga o acervo e organiza o espaço atraindo o público. Esta
economia do comércio do Maranhão. Embora alguns autores da Instituição passa a exercer um papel importante na vida intelectual
literatura regional considerem a decadência da sociedade escravis- do Maranhão, além de bastante freqüentada, de lá saíram organi-
ta, como o fim do apogeu e o início de um período de prolongada zadas a Oficina dos Novos, a Universidade Popular, e a Academia
letargia para a cidade de São Luís, essa mudança representou de Maranhense de Letras. As lutas políticas por igualdade, inclusão e
fato, o início de novas possibilidades. Com a República a geração justiça social passam a permear com mais freqüências as questões
de riquezas provenientes das exportações na Província do Mara- da cidade. Mais uma fábrica é implantada na cidade em 1891, a
nhão, foi conservada e ampliada com a produção industrial têxtil. Companhia de Fiação e Tecidos Cânhamo, localizada no final da
A cidade continuará seus ciclos de reformas e melhoramentos. Rua da Madre Deus as margens do rio Bacanga. Sua implanta-
Em 1890 é retirado o Pelourinho, do Largo do Carmo, símbolo do ção provocou a ocupação de terrenos vazios próximos a ela, nas
antigo sistema escravista; construído um prédio na Rua de Nazaré proximidades do Cemitério do Gavião, fazendo surgir os bairros
para abrigar a Companhia Telefônica do Maranhão que se instala- operários. Em 1892 a empresa Ferro Carril contrata o engenheiro
Nicolau Vergueiro Lecoq para traçar e assentar os trilhos da loco-
va na cidade; e realizada a inauguração da primeira fábrica de teci-
motiva que chegava até o Cutim.
dos de São Luís, montada na Camboa pela Companhia de Fiação e
Esse trabalho é continuado por outros engenheiros que con-
Tecidos Maranhenses, onde o responsável pelas obras foi o enge-
clui os trabalhos em 1893, ficando assim a linha prolongada até
nheiro Palmério de Carvalho Cantanhede. A partir desse período o
o Anil. A Companhia de Fiação do Rio Anil abre suas portas no
Maranhão tem uma maior preocupação com as questões de inclu-
mesmo ano em que foram inaugurados os trilhos do caminho de
são e justiça social, observadas nos novos investimentos realizados ferro suburbano de São Luís ao interior da ilha. Esta fábrica cons-
na educação e na habitação a partir de iniciativas como: o aluguel truiu além dos edifícios fabris, muitas casas para seus funcionários
do prédio na Rua Formosa em 1890, com o objetivo de instalar e operários, além de uma ponte sobre o riacho que passava ao lado
melhor o antigo Lyceu, e a criação, por Decreto, da Escola Normal dela. Essas açõesda iniciativa privada demonstram sua participa-
que a princípio funcionou no mesmo prédio do Lyceu; além do ção na ocupação territorial e na conformação espacial da cidade
incentivo da construção de vilas operárias, criados nas proximi- de São Luís nessa época. Outras importantes fábricas surgem no
dades de algumas fábricas, a exemplo da Companhia Fabril Mara- cenário da cidade, ambas pertencentes Cândido Ribeiro Ltda: a
nhense-Fábrica Santa Isabel, instalada em 1891 em terreno situado Santa Amélia (1893) e a São Luís (1894). A primeira instalouse
no início do Caminho Grande. São Luís por intermédio dos seus em uma rua estreita da cidade, fundo com a Fonte das Pedras nas
engenheiros, das figuras públicas, estava buscando reformar a vida proximidades da Rua da Inveja, e a segunda as margens do rio
da cidade, isto é corrigir suas disfunções preparando-a para melhor Bacanga. Devido à disponibilidade de terrenos ociosos nas proxi-
desenvolver suas potencialidades, agora sem o braço escravo e midades dessas duas fábricas e da já citada Cânhamo, foram sur-
com o foco na indústria têxtil. Após a abolição, além dos aspectos gindo, no bairro da Madre Deus, casas simples visando à moradia
funcionais e formais que dominam os debates sobre a cidade, com desses operários.
maior atenção para a forma, passara a se ter também uma maior Em São Luís não eram poucas as reformas, e nem os inves-
percepção em relação os debates quanto à inclusão social. timentos urbanos realizados, pelos setores, público, privado, e às
vezes com parcerias entre os dois. Assim como, também era forte
OS MELHORAMENTOS URBANOS (1891- 1899) a participação dos técnicos, arquitetos e em maior destaque os en-
genheiros nas obras realizadas na cidade, a exemplo, o engenheiro
A partir do final do século XVIII o estudo sobre a cidade cons- ludovicense, Pálmério de Carvalho Cantanhede, nome presente em
tituiu um novo campo disciplinar que a cultura moderna chama várias obras da capital e também do interior. O Cais da Sagração é
urbanismo. Esta disciplina de caráter crítico e reflexivo passa tam- sem dúvida uma das obras mais importantes para a Província, e ao
bém a ação. Os primeiros estudiosos sobre a história do urbanis- longo dos anos passou por várias intervenções, seja objetivando:
mo, Choay, Benévolo, Roncayolo, dividem os discursos sobre esse a salubridade pública, já que trata- se de uma área pantanosa entre
campo disciplinar em três grandes temas: a circulação, a higiene o Forte São Luís e a área dos Remédios; a facilitação da comuni-
e o embelezamento. A autora sublinha um quarto tema, a justiça cação, pois permitia a ligação da Praia Grande com várias outras
social, pautada numa segunda geração de trabalhos, na qual se des- ruas que vão de encontro ao mar; o embelezamento, por tratar de
tacam os aportes de Gaudin, Magri, Popalov. uma área com potencial para se torna- se um belo passeio público.
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HISTÓRIA DO MARANHÃO
Em 1899, o Cais estava em obras, e novamente sob o coman- a expedição portuguesa chega à foz do Rio Munim, onde é cons-
do do engenheiro Cantanhede encarregado da execução de calça- truída uma fortificação hexagonal a que é dado o nome de Forte de
das e de áreas centrais para a passagem de carros e veículos. Nesse Santa Maria. Início do confronto Na manhã de 19 de novembro
período já se encontrava aterrada uma grande área, onde situava- de 1614, os soldados portugueses notaram que, ao lado do forte
se uma avenida delineada e locada com cerca de trinta metros de de Santa Maria, o mar estava repleto de embarcações a vela e a
largura. Após o impacto da abolição da escravatura, o Maranhão remo, se aproximando silenciosamente da costa. Para atacá-los no
tenta transformar-se de uma rica província agrária para um Estado desembarque, Jerônimo de Albuquerque dirigiu-se à praia com 80
industrial. Precisamente em 1895, já estavam instaladas 27 fábri- soldados portugueses, mas, percebendo que o número de inimigos
cas no Estado das quais 15 só em São Luís. (Ribeiro Júnior, 2001) era muito maior, retrocedeu. Logo, havia centenas de combatentes
Mais da metade destas empresas estavam ligadas à produção do na praia e assim foi iniciada uma longa troca de tiros de mosquetes
algodão, e a maior parte delas não sobreviveu ao primeiro quartel e arcabuzes. Nesse primeiro encontro, foram mortos um soldado
do século XX. Algumas fábricas de São Luís foram instaladas nos português e dois franceses.
arredores do centro comercial da cidade, estimulando o surgimen-
to dos bairros operários, a exemplo: da Fábrica Cânhamo, Fábrica TRINCHEIRAS.
Santa Amélia, e Fábrica São Luís, responsáveis pelo crescimento
do bairro da Madre Deus, nas proximidades do rio Bacanga, na- Imediatamente à frente do forte de Santa Maria, estava um
quele período limite da área urbana. pequeno morro. Sob o comando de Monsieur de la Fos Benart, cer-
Outras foram instaladas mais distantes, em áreas suburbanas, ca de 400 tupinambás que lutavam pelo lado francês receberam a
como: a Fábrica da Camboa, localizada na Camboa do Mato; a ordem de fortificar o máximo que pudessem seu topo: construíram,
Fábrica Santa Isabel, no Caminho Grande; a Fábrica São Jorge, no ao todo, 7 trincheiras, fortificando todo o espaço entre a maré e o
Caminho da Boiada; e a Fábrica do Anil, a mais distante da área topo do outeiro. Por um caminho secreto, Jerônimo de Albuquer-
urbana localizada na povoação do mesmo nome. Estas estimula- que subiu o morro com 75 soldados e 80 arqueiros portugueses.
ram o surgimento de vilas operárias nas proximidades das fábricas, Em terra, saltou de uma canoa um trombeta (mensageiro), que
uma forma de garantir a constante presença da força de trabalho. levava o brasão de armas reais da França e uma carta em francês
O parque fabril teve pouco impacto sobre o crescimento de- escrita por Daniel de la Touche, a qual dizia que os portugueses
mográfico da cidade, mas não do ponto de vista da expansão da deviam se render em 4 horas ou seriam massacrados. Astuto, Dio-
malha urbana. Contribuíram assim para desconcentração dos ser- go de Campos percebeu que a carta não passava de uma tentativa
viços e da malha viária que se estenderia para as áreas periféricas dos franceses de ganhar tempo e obter informações sobre o esta-
da cidade, como principalmente a povoação do Anil. Em 1898, o do das tropas portuguesas. A esta altura, o grupo de soldados e
presidente da Província era João Gualberto Torreão da Costa, e arqueiros que acompanhava Jerônimo de Albuquerque já estava
Intendente era Alexandre Collares Moreira, ambos compartilham próximo às trincheiras francesas. Os índios que as defendiam eram
de algumas preocupações como: a salubridade da cidade, seja na uma grande multidão, e neles, os portugueses não perdiam um tiro.
questão da insuficiência da água, falta de canalização de esgoto, Daniel de la Touche, Senhor de la Ravardière, percebia do mar que
ou na própria falta de sensibilidade da população, que não coope- o exército francês sofria pesadas baixas: em menos de uma hora,
rava com a limpeza pública; e o ensino também era meta das duas a área ao redor do forte de Santa Maria estava repleta de mortos
instâncias do poder, para isso fizeram reformas tanto curriculares franceses e indígenas. Ravardière mandou para próximo da praia
quanto em prédios escolares. Texto adaptado de ANDRES, L. P. os navios mais velozes para prevenir maiores danos à sua tropa,
D. C. C mas, sob bombardeio de artilharia de navios portugueses, foi for-
çado a desistir.
Desistência francesa Com todas as canoas ardendo em chamas
na praia, os franceses restantes em terra não tiveram como fugir e
BATALHA DE GUAXENDUBA. tudo o que puderam fazer foi se recolher na fortificação no topo do
outeiro. Entre eles estavam Monsieur de la Fos Benart e Monsieur
de Canonville. Ao final da batalha, próximo ao outeiro, muitos dos
soldados portugueses se punham à frente dos mosquetes dos ini-
A Batalha de Guaxenduba foi um confronto militar ocorrido migos, que ainda resistiam. Turcou, o intérprete dos franceses na
entre forças portuguesas e francesas onde hoje se localiza a cidade comunicação com os índios, foi baleado pelos portugueses, e com
de Icatu, no estado do Maranhão. A batalha foi um importante pas- ele, Monsieur de la Fos Benart, líder dos indígenas que lutavam
so dado pelos portugueses para a expulsão definitiva dos franceses com os franceses.
do Maranhão, dada em 4 de novembro de 1615, que permitiu que Sem orientação, os índios restantes, mais de 600, começaram
a Amazônia fosse portuguesa, e, portanto, brasileira. Antecedentes a fugir, descendo o outeiro e a eles se misturaram os soldados fran-
Em 1555, os franceses tentaram estabelecer uma colônia no Rio ceses, que não possuíam mais pólvora para atirar.
de Janeiro, a França Antártica, que foi extinta em 1560. Em 1612, Para a pesquisadora Maria de Lourdes Lacroix, que também
com a confiança dos indígenas, os franceses novamente tentam es- está participando dos debates realizados no simpósio, a Batalha
tabelecer uma colônia no território pertencente a Portugal: em 8 de Guaxenduba só vem demonstrar a importância do ato heróico
de setembro, foi fundada a povoação de Saint Louis e iniciada a de nossos antepassados para o bem do nosso próprio país.”Se a
construção do Forte de São Luís do Maranhão. Ciente da presença batalha não tivesse a vitória portuguesa talvez nós não fôssemos
dos franceses ao norte da capitania do Maranhão, Alexandre de brasileiros. O Brasil seria menos do Ceará ao Amazonas. Não seria
Moura envia tropas de Pernambuco. Por volta de agosto de 1614, esse país continental que nós nos orgulhamos”, disse.
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HISTÓRIA DO MARANHÃO
GUAXENDUBA Estátua representa a Batalha de Guaxenduba, quando um
A Batalha de Guaxenduba foi um confronto militar ocorrido em exército chefiado por Jerônimode Albuquerque venceu e expulsou
19 de novembro de 1614 onde hoje se localiza a cidade de Icatu, no os franceses em 19 de novembro de 1614
estado do Maranhão, no Brasil, entre forças portuguesas e tabajaras,
de um lado, e francesas e tupinambás, de outro. A Batalha de Guaxenduba foi um confronto militar ocorrido
A batalha foi um importante passo dado pelos portugueses para a em 19 de novembro de 1614 onde hoje se localiza a cidade de
expulsão definitiva dos franceses do Maranhão, a qual viria a ocorrer Icatu, no estado do Maranhão, no Brasil, entre forças portuguesas
em 4 de novembro de 1615. A expulsão dos franceses possibilitou e tabajaras, de um lado, e francesas e tupinambás, de outro.
que grande parte da Amazônia passasse para domínio português e, A batalha foi um importante passo dado pelos portugueses
posteriormente, brasileiro. para a expulsão definitiva dos franceses do Maranhão, a
Em 1555, os franceses tentaram estabelecer uma colônia no Rio qual viria a ocorrer em 4 de novembro de1615. A expulsão
de Janeiro, a França Antártica, que foi extinta em 1560. dos franceses possibilitou que grande parte da Amazônia
Em 1612, com o apoio dos indígenas locais, os franceses
passasse para domínio português e, posteriormente, brasileiro.
novamente tentam estabelecer uma colônia no território pertencente a
Em 1555, os franceses tentaram estabelecer uma colônia no Rio de
Portugal: em 8 de setembro, foi fundada a povoação de Saint Louis e
Janeiro, a França Antártica, que foi extinta em 1560.
iniciada a construção do Forte de São Luís do Maranhão.
Ciente da presença dos franceses ao norte da capitania do Em 1612, com o apoio dos indígenas locais, os franceses
Maranhão, Gaspar de Souza envia tropas de Pernambuco. novamente tentam estabelecer uma colônia no território
Em 23 de agosto de 1614, Diogo de Campos parte do Recife pertencente a Portugal: em 8 desetembro, foi fundada a povoação
com 300 homens e, no Rio Grande do Norte, se junta a Jerônimo de de Saint Louis e iniciada a construção do Forte de São Luís do
Albuquerque, que leva consigo um grande contingente de indígenas. Maranhão.
A expedição portuguesa com 500 homens liderados pelo capitão- Ciente da presença dos franceses ao norte da capitania do
mor Jerônimo de Albuquerque acampa na barra do rio Perejá (Periá) Maranhão, Gaspar de Souza envia tropas de Pernambuco. Em
com a intenção de buscar um local para edificar uma fortificação, 23 de agosto de 1614, Diogo de Campos parte do Recife com
enfrentando falta de alimentos e de água de qualidade. 300 homens e, no Rio Grande do Norte, se junta a Jerônimo
Um grupo de 14 exploradores portugueses descobre um local de Albuquerque, que leva consigo um grande contingente de
adequado para a construção de um forte, e a expedição novamente indígenas. A expedição portuguesa com 500 homens liderados
zarpa em 2 de outubro de 1614. Em 26 de outubro, chegam a uma pelo capitão-mor Jerônimo de Albuquerque acampa na barra do rio
área chamada de Guaxindubá pelos indígenas, na margem direita Perejá (Periá) com a intenção de buscar um local para edificar uma
da Baía de São José, entre muitas ilhas e canais estreitos. Ali, sob a fortificação, enfrentando falta de alimentos e de água de qualidade.
orientação do engenheiro Francisco Frias de Mesquita é construída Um grupo de 14 exploradores portugueses descobre um local
uma fortificação de forma hexagonal à qual é dado o nome de Forte de adequado para a construção de um forte, e a expedição novamente
Santa Maria,10 a cerca de 20 km da atual sede do município de Icatu. zarpa em 2 de outubro de1614.
Em 26 de outubro, chegam a uma área chamada de Guaxindubá
ESTÁTUA pelos indígenas, na margem direita da Baía de São José, entre
Uma estátua representa a Batalha de Guaxenduba, quando um muitas ilhas e canais estreitos. Ali, sob a orientação do engenheiro
exército chefiado por Jerônimo de Albuquerque venceu e expulsou os Francisco Frias de Mesquita é construída uma fortificação de
franceses em 19 de novembro de 1614. forma hexagonal à qual é dado o nome de Forte de Santa Maria,
Segunda a tradição no fragor da luta entre os soldados luso- a cerca de 20 km da atual sede do município de Icatu, diante das
brasileiros e os invasores franceses, uma Senhora diáfana e radiosa posições francesas no Forte de São José de Itapari.
apareceu como por encanto entre as fileiras de nossos ancestrais. À
Uma vez estabelecidos, os portugueses passam a trabalhar na
medida que as percorria ia incentivando os combatentes à luta. Quando
construção e vigilância do forte e no reconhecimento da região.
faltava munição, apanhava areia da praia e a oferecia aos soldados, já
Num primeiro contato com os portugueses, alguns indígenas da
transformada em pólvora, para que recarregassem suas armas.
Ilha diziam que a mesma estava cheia de franceses, outros, que
eles haviam ido embora. Em 30 de outubro, um grupo de indígenas
da ilha mata quatro índias e um índio queacompanhavam os
portugueses, fazendo-os desconfiar dos nativos e acreditar que
haviam sido enviados pelos franceses para reconhecer seus navios.
Nos dias do final de outubro, os portugueses no forte de Santa Maria
e na ilha de Santana observam o movimento de navios franceses na
Baía de São José e o desembarque de peças de artilharia
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HISTÓRIA DO MARANHÃO
e François Rasilly, se aproximam dos navios silenciosamente. Como os índios que auxiliavam os franceses fugiram e
Quando percebem o ataque, os marinheiros tocam as trombetas estes ficaram em menor número, seguiu-se uma série de cartas
e alertam os soldados do forte, que disparam a artilharia sem entre os dois comandantes até que se estabeleceu uma trégua:
cessar, entretanto, não gerando nenhum efeito nos franceses. Os Primeiramente a paz se acordou entre os ditos senhores do dia
marinheiros abandonam e deixam livres as embarcações, das quais de hoje até o fim de novembro (sic) do ano de mil seiscentos e
três são capturadas pelos franceses: uma caravela, um paradoxo de quinze, durante o qual tempo cessaram entre eles todos os atos de
guerra e um barco que estavam mais afastados da terra. inimizade, que hão durado de 28 (sic) de outubro até hoje, por falta
de saber as tenções de uns e outros, donde se seguia grande perda
INÍCIO DO CONFRONTO do sangue cristão de ambas as partes, e grandes desgostos entre os
ditos senhores.
Na manhã de 19 de novembro de 1614, os soldados portugueses Com esse acordo de trégua, estabeleceu-se que os reis
notaram que, ao lado do forte de Santa Maria, o mar estava repleto de ambos deveriam decidir a permanência ou a saída de um ou
de embarcações a vela e a remo se aproximando da costa. Para outro, e enquanto isso se manteria uma relação amistosa até que
atacá-los no desembarque, Diogo de Campos dirigiu-se à praia se recebesse resposta. Porém, alguns dos franceses resolveram
com 80 soldados portugueses, mas, percebendo que o número de voltar à França e rumaram para mais ao norte (à Guiana). Assim,
inimigos era muito maior, retrocedeu. Logo, havia centenas. a armada de Jerônimo de Albuquerque tomou posse da ilha de
No primeiro ano em que Gaspar de Sousa tornou-se São Luís e de tudo deixado pelos franceses. Texto adaptado de
governador-geral do Brasil (1612-1617), incumbiu ao capitão- PROCÓPIO, E; COAN, M
mor Jerônimo de Albuquerque Maranhão (1548-1618) expulsar
do Nordeste os franceses que aqui se fixavam. Inicialmente,
este reuniu seus homens e se estabeleceram em Jericoacoara,
litoral cearense; e dali, enviou Martins Soares Moreno ao litoral CAPITÃES-MORES DO MARANHÃO.
maranhense para que investigasse a ocupação francesa.
CONTEXTO HISTÓRICO
Trégua e expulsão dos franceses Após a Batalha de Guaxen-
Quando Soares Moreno regressava do Maranhão ao Ceará, duba, as tropas francesas restantes no Maranhão estavam recolhi-
sua embarcação padeceu de fortes temporais, que lhe conduziram das no Forte de Saint Louis. Para ganhar tempo, Ravardière propôs
às Antilhas, posteriormente à Sevilha, onde informa do sucedido uma trégua aos portugueses e sua proposta foi aceita, ficando es-
e solicita auxílio à Corte espanhola para seu retorno. Com este tipulado que um oficial português e um francês fossem à França e
primeiro fracasso, Jerônimo voltou com sua armada ao Recife. um oficial português e um francês fossem a Portugal, para procurar
Somente em 1614, foi que o capitão-mor retornou ao Maranhão nas cortes desses países uma solução para o conflito. Com o cessar
com dois pelotões, um por mar e outro por terra. Desta vez, contava fogo anunciado, portugueses, franceses e nativos permaneceram
com o apoio do capitão português Diogo de Campos Moreno, tio em paz. Em outubro de 1615, chega a Guaxenduba o capitão-mor
de Martins. de Pernambuco, Alexandre de Moura, trazendo um reforço de tro-
Após passarem pelas capitanias do Rio Grande do Norte, pas e mantimentos. Por ser de patente superior, assumiu o coman-
Paraíba e Ceará, chegam a Jericoacoara, onde os franceses haviam do geral das tropas portuguesas. Sob seu comando, os portugueses
estado e aprisionado alguns portugueses. Desta localidade, rumam violaram o tratado que haviam feito com os franceses e intimaram
ao Maranhão com dois patachos, uma caravela, cinco caravelinhas Daniel de la Touche a abandonar o Maranhão em 5 meses. Três
e pouco mais de cem homens. Aproximando-se da Ilha, Jerônimo meses depois, chegaram da Europa Diogo de Campos e Martim
enviou alguns soldados para que inspecionassem as instalações Soares, trazendo mais tropas portuguesas e ordens terminantes da
francesas. Em 28 de outubro de 1614, ancoram e estabelecem um corte para os franceses abandonarem definitivamente o Brasil. Em
fortim, que futuramente será o forte de Santa Maria ou Guaxenduda, 1º de novembro de 1615, Alexandre de Moura ordenou que o Forte
projetado e construído pelo arquiteto-mor Francisco Frias. Relata- de São Luís fosse cercado e desembarcou suas tropas na ponta de
se que, após oito dias, os franceses atacaram acompanhados São Francisco, onde foi construído o Forte de São Francisco do
de três mil índios flecheiros e quarente e seis canoas. Os dados Maranhão. Vendo-se incapaz de permanecer em luta, Ravardière
historiográficos e os documentos editados confirmam que a acabou entregando aos portugueses o Forte de São Luís e renden-
armada iberobrasileira não tinha condições de vencer os franceses, do-se. Foi preso por Alexandre de Moura e permaneceu encarcera-
pois contavam com menos homens e munição. No entanto, devido do por três anos na Torre de Belém.
a uma série de estratégias militares e “vendo no meio deles (os A exposição das folhas de serviços e dos percursos dos seis
soldados) nossos freis, frei Manuel e frei Cosme, cada um com capitães-mores do Pará foi organizada segundo a ordem de suces-
uma cruz na mão, animando-os, e exortando-os a vitória, que são no governo da capitania, independentemente da antiguidade
Nosso Senhor foi servido conceder-lhes, conseguiram abater a das ações relatadas nos papéis que subsidiaram a sua escolha para
armada francesa. Para que se evitasse tragédia maior, Daniel de La o cargo. Pedro Mendes Tomás, natural de Belém, dedicou-se às
Touche, capitão-mor francês, envia um mensageiro com uma carta armas e ocupou diversos cargos importantes na administração do
a Jerônimo de Albuquerque, solicitando negociação. Posto que o Estado do Maranhão. Em sua carta patente consta ter sido, entre
general detém o dito mensageiro, reiniciasse uma escaramuça. 1673 e 1705, soldado, alferes e capitão de artilharia, provedor da
Fazenda da capitania e provedor-mor da Fazenda do Estado do
Maranhão. Morava havia mais de 35 anos em terras próximas do
Didatismo e Conhecimento 18
HISTÓRIA DO MARANHÃO
rio Moju, doadas pelos sogros, onde mantinha roças, lavouras e A SELEÇÃO DOS CAPITÃES-MORES DO PARÁ (1707-
“arvoredo de cacau”.3 Como nas demais trajetórias e consoante a 1737)
retórica da concessão de mercês régias, o valor de seus préstimos
foi realçado de modo a justificar a promoção a capitão-mor (era Algumas conclusões sobre os perfis e experiências dos capi-
sargento-mor de infantaria no Pará). Reputado como “muito de- tães-mores como servidores régios foram tiradas a partir da carac-
sembaraçado e limpo de mãos”, teria merecido a aprovação de di- terização das suas trajetórias. A ausência de símbolos de distinção
ferentes governadores e capitães-generais do Estado do Maranhão, social, como os hábitos das ordens militares, dificultou o acesso a
aos quais sempre obedecera “sem reparar na perda que recebia em dados biográficos. Por volta de 1712, José Velho de Azevedo che-
a sua fazenda por não faltar o que convinha ao meu Serviço”. gou a fazer requerimento de um hábito da Ordem de Cristo, fun-
Diferentemente de Pedro Mendes Tomás, que construiu toda damentado em seu rol de serviços, mas no curso das pesquisas não
a sua trajetória no Estado do Maranhão, os percursos e as experiên- foi encontrado processo de habilitação ou registro na chancelaria
cias dos outros capitães-mores foram mais diversificados. João de da Ordem atestando que o pretendente recebeu a mercê e cumpriu
Barros da Guerra esteve cerca de três anos e meio em Angola, para os rituais de admissão.
onde foi em companhia do governador Gonçalo da Costa de Alcá- Manuel de Madureira Lobo, ao que tudo indica, foi o úni-
co a ter sua nobreza publicamente reconhecida por meio do foro
çova Carneiro de Meneses (1691- 1694), atuando como soldado
de escudeiro fidalgo, acrescentado do foro de cavaleiro fidalgo da
infante e de cavalaria e cabo de esquadra da tropa de couraças da
Casa Real, no tempo em que era militar em Portugal.16 Não há, até
guarnição local. Entre 1703 e 1709, serviu em Lisboa, onde nas- o momento, elementos suficientes para delinear um perfil social
ceu, como alferes, ajudante supra e do número, capitão de infanta- acabado dos capitães-mores do Pará. Por outro lado, alguns traços
ria do terço comandado pelo mestre de campo D. Miguel Carlos de conferiram certa uniformidade às trajetórias dos que governaram
Távora, 2o conde de São Vicente, e lutou com distinção na Guerra entre 1707 e 1737.
da Sucessão Espanhola (1703-1714). Participou da restauração da A formação e os feitos militares destacaram-se como os prin-
vila de Monsanto, do cerco a Albuquerque, socorreu Arronches, no cipais atributos, sendo importante sublinhar a ocupação de postos
Alentejo, e assistiu à rendição de Badajoz. no Estado do Maranhão, especialmente no Pará, como o de sar-
Nascido em Almeida, na Beira, José Velho de Azevedo tinha gento-mor; em particular os conhecimentos técnicos e práticos de
uma longa folha de serviços em Portugal e na América. Foi solda- José Velho de Azevedo sobre a arte da fortificação; a atuação de
do em sua província natal e ajudante engenheiro das fortificações quase todos na Guerra da Sucessão Espanhola, à semelhança do
de Trás-os-Montes. Em 1693 foi nomeado sargento-mor do Pará que Rafael Ale Rocha verificou nas trajetórias de titulares do go-
com exercício de engenheiro, trabalhando na região do Gurupá, verno e de ocupantes de postos militares no Estado do Maranhão,
além de empreender “jornadas fora da terra à sua custa sem ajuda no século XVII, que lutaram contra os holandeses no Estado do
de custo alguma de minha Fazenda, mas antes deu para o serviço Brasil, nas Guerras da Restauração de Portugal e em outras cam-
uma canoa”. Seis anos depois, recebeu a patente de sargento-mor panhas européias.
engenheiro (ad honorem) do Rio de Janeiro, sendo incumbido de O exercício interino da governança, o desempenho de cargos
concluir reparos nas suas fortificações. na administração do Estado do Maranhão e a participação ativa
José Velho de Azevedo provinha de uma família de engenhei- na resolução de problemas locais também foram ressaltados na
ros militares. Seu pai, Jerônimo Velho de Azevedo, foi engenheiro indicação de alguns componentes da amostragem. A leitura das
ajudante das fortificações, capitão de infantaria, sargento-mor (ad patentes permitiu, ainda, mapear seus deslocamentos associados
honorem) e trabalhou no desenho das fortificações da Beira e de ao ofício das armas por diferentes territórios ultramarinos, como
Trás os Montes. Em 1702, foi promovido a tenente-general de ar- Angola e o Estado do Brasil. Essa circulação possibilitou a forma-
tilharia, sendo encarregado de reparar as fortificações do Cabo do ção de um cabedal de experiências úteis à governança José Velho
Norte. Projetou o fosso e um baluarte na fortaleza do Gurupá e de Azevedo e Antônio Marreiros, por exemplo, participaram da
mesma concorrência ao cargo de governador e capitão-general do
treinou os seus artilheiros. Substituiu Hilário de Sousa de Azeve-
Estado do Maranhão, o primeiro antes e o segundo depois de ser
do no cargo de capitão-mor do Pará (1696-1698), ocasião em que
capitão-mor do Pará. As consultas do Conselho Ultramarino re-
voltou a acudir as fortificações do Cabo do Norte, assoladas pelos
forçaram certos juízos acerca da seleção dos capitães-mores, com
franceses de Caiena, e as do Gurupá. base na extensão e no valor das ações individuais, mesmo quando
Por volta de 1707, chegando ao conhecimento do governador a decisão do rei não correspondeu ao escrutínio dos conselheiros.
do Estado do Maranhão a notícia de que a França havia preparado Pedro Mendes Tomás, por exemplo, recebeu a nomeação ré-
uma armada de guerra com destino à América, José Velho con- gia malgrado a terceira colocação na votação dos conselheiros, de-
tribuiu para a defesa de São Luís com “paus para a estacada da pois de José Pinheiro da Câmara preferido por possuir “o foro de
marinha daquela praça, emprestando alguns negros todas as vezes fidalgo e haver sido ferido de uma bala”, embora tivesse o menor
que se lhe pediram para o meu Real Serviço. No Pará, antes de ser tempo de serviço, e de Domingos de Matos Leitão. João de Barros
capitão-mor, além de oferecer seus préstimos e cabedais à Coroa, da Guerra, por sua vez, teve a primazia em uma concorrência, da
cultivou interesses particulares. qual José Velho de Azevedo também participou, tendo os conse-
Como atesta a concessão, em 1704, de uma carta de sesmaria lheiros emitidos as seguintes considerações:
relativa a três léguas e meia de terras onde possuía um engenho É muito conveniente que nas praças das conquistas se achem
real de açúcar e mais légua e meia que pediu, pois as que ocupava providos os postos em pessoas de todo o valor, e com toda a luz da
já estavam desgastadas pelo prolongado uso. disciplina e regra militar, temendo-se justamente que possam ser
invadidas pelos inimigos desta Coroa, o que se não pode encontrar
nos que estão servindo nelas por não haverem tido a experiência
dos perigos dos que viram a guerra das nações da Europa.
Didatismo e Conhecimento 19
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Diante da conjuntura da Guerra da Sucessão Espanhola, que No Estado do Maranhão fez-se presente no discurso de ca-
viria a ter desdobramentos na América, o Conselho Ultramarino pitães-mores, consoante o seu entendimento ou conveniência, em
julgou conveniente escolher um capitão-mor experimentado em disputas jurisdicionais entre oficiais régios, ou ainda em função de
combates na Europa, como de resto se verificou em quase todos eventuais animosidades entre o capitão-mor do Pará e o governa-
os sucessores de João de Barros da Guerra. José Velho de Aze- dor e capitão-general do estado. Alguns exemplos ilustram essas
vedo, Manuel de Madureira Lobo e Antônio Marreiros também possibilidades. Em carta ao rei, de 25 de julho de 1714, João de
tiveram a primazia em suas respectivas concorrências, tendo os Barros da Guerra questionou o fato de o ouvidor e provedor da Fa-
conselheiros levado em conta a extensão, o valor dos serviços e zenda não acatar suas ordens para tirar devassas e mandar apurar
as despesas feitas por José Velho para socorrer o governo do Esta- descaminhos, quando o governador e capitão-general estivessem
do do Maranhão e o tirocínio adquirido por Manuel de Madureira em São Luís.
Lobo e Antônio Marreiros na Guerra da Sucessão Espanhola. À Considerou essa postura contrária ao estilo observado nesta
essa altura, a questão da fronteira entre os domínios franceses e capitania por se não poder recorrer com prontidão ao governador,
portugueses já era motivo de preocupação para quem governava o pela distância e dilação de três meses ao menos; assim para a expe-
Pará.23 Não bastasse o silêncio sobre os feitos de Antônio Duarte dição das ordens, como porque os capitães maiores desta capitania
de Barros, verificou-se que ele não participou da concorrência da são governadores dela, por patente de Vossa Majestade, de que dão
preito e homenagem.
qual saiu nomeado por despacho régio. Surpreende, ainda, o fato
A contrariedade de João de Barros da Guerra sinalizava para
de o cargo ter sido disputado por oito candidatos (três aparente-
a discrepância entre as disposições do Regimento dos Capitães-
mente não apresentaram seus papéis, sendo apenas citados como mores do Pará e a realidade da administração, pois o capítulo 7
pretendentes), o maior número de concorrentes desde a nomeação estabelecia: “em nenhuma forma vos intrometais na administração
de Pedro Mendes Tomás. Pelo menos um postulante havia lutado da Fazenda Real dessa capitania; pois toca somente ao provedor
na Guerra da Sucessão Espanhola e outro, Diogo Rodrigues Perei- dela: mais tereis particular cuidado que se aumente, e havendo al-
ra, tinha quase 30 anos de serviços no Estado do Maranhão e nas gum descaminho, dareis conta ao governador do Estado, e a mim
capitanias da Bahia e de Pernambuco. também”. A mesma liberdade era estendida aos oficiais da Justiça.
Não há dados que permitam inferir sobre a preferência por Em 1723, Manuel de Madureira Lobo foi repreendido pelo rei
Antônio Duarte de Barros ou por Pedro Mendes Tomás, diferen- depois de o governador e capitão-general João da Maia da Gama
temente dos casos em que houve concordância da Coroa com as enviar queixa a Lisboa, alegando que o capitão- -mor teria se vali-
consultas do Conselho Ultramarino, por ser a amostragem dema- do do equívoco cometido por um oficial ao atestar no verso de sua
siadamente reduzida para sustentar conclusões mais gerais. Situa- carta patente que ele havia prestado homenagem como “governa-
ção análoga foi percebida por Mafalda Soares da Cunha, posto que dor” do Pará. Diante disso, Manuel de Madureira Lobo teria arro-
em uma investigação de maior alcance e centrada em outra tempo- gado a si prerrogativas incompatíveis com o cargo de capitão-mor
ralidade sobre a seleção de administradores coloniais. A partir da que efetivamente exercia, como o direito de ser tratado por “senho-
década de 1720, após a Guerra da Sucessão Espanhola, segundo ria” e de ocupar lugar diferente de seus antecessores, por exemplo,
Nuno Monteiro, houve um aumento das nomeações de governan- na festividade de Santo Inácio, quando mandou “pôr um tambore-
tes pelo monarca em desacordo com as decisões do Conselho Ul- te com um coxim no arco defronte do governador” do estado. O
tramarino. capítulo 26 estabelecia que na assistência do capitão-general em
Belém, o capitão-mor, seu subordinado, prestar-lhe-ia “as honras
O GOVERNO DO PARÁ NA PRIMEIRA METADE DO SÉ- devidas, como a vosso governador e nos atos públicos em que se
CULO XVIII: ASPECTOS GERAIS achar, tereis vosso assento devido abaixo dele à sua mão direita”.
Além das questões de precedência e das querelas em torno de
Para solucionar dúvidas e pôr fim aos problemas decorrentes atribuições de oficiais régios, é preciso atentar para as linhas gerais
da falta de um instrumento “por onde se governassem os capitães- da ação governativa dos capitães-mores, especialmente quanto à
defesa, ao trato com os índios, ao fomento da produção e à bus-
mores”, o príncipe regente D. Pedro ordenou a elaboração de um
ca de minas. Os capítulos iniciais do regimento explicitaram as
regimento. O primeiro dos capítulos versava sobre os ritos de pos-
atribuições militares do capitão-mor do Pará. Cabia-lhe, depois de
se. Caso o capitão-mor fosse diretamente para Belém, devia avisar
empossado, avaliar o estado das fortificações, identificar os reparos
“ao governador de como sois chegado e lhe enviareis a minha carta necessários, inspecionar os armazéns de artilharia, a fim de levan-
e a de crença que levais ao capitão-mor a quem ides suceder pela tar a quantidade de armas e de munições disponíveis, informando
qual vos há de fazer entrega daquela capitania, havendo-lhe por tudo ao governador e capitão-general e ao rei. Em seguida, com-
levantado o preito e homenagem que me fez”. petia-lhe levantar o quantitativo da gente disponível para a guerra,
O preito e homenagem era fundamental nos protocolos de convocando-a duas vezes por ano e discriminando os contingentes
investidura. Segundo Francisco Cosentino, na cerimônia do preito e seus armamentos em listas enviadas ao governador do estado e
e menagem, de origem medieval, aqueles designados para exercer ao rei. É possível concluir que o capitão-mor mantinha funções
algum poder delegado pelo rei (regalia), no reino ou nos domínios primordiais de defesa, tal como no início da ocupação do norte
ultramarinos, prestavam o juramento de fidelidade ao monarca. Os amazônico e na época da fundação do Estado do Maranhão (1621),
administradores coloniais (vice-reis, governadores-gerais ou go- quando a conquista do território (dirigida pelo capitão-mor) era
vernadores de capitania) faziam-no antes de partir, como previam mais premente que a colonização.34 António de Saldanha afirmou,
suas patentes. O ritual “concedia consistência e legitimidade às a propósito da doação da capitania de Machico (1440), que “as
práticas delegativas de poder, como era a nomeação de alguns go- funções governativas dos capitães” eram, em resumo: “administrar
vernantes das conquistas ultramarinas”. os povos em tempos de paz e de guerra, ministrando a justiça tor-
nada indispensável à regência das sociedades humanas”.
Didatismo e Conhecimento 20
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Os governos de Pedro Mendes Tomás, de João de Barros da O envolvimento de José Velho de Azevedo, na condição de
Guerra e de José Velho de Azevedo corresponderam ao desenrolar senhor de engenho, no trato com os índios, foi identificado em
da Guerra da Sucessão Espanhola, em que Portugal e França esta- meio aos requerimentos de particulares para a realização de desci-
vam em lados opostos. Durante o conflito na Europa, precauções mentos, a exemplo do que fez Jerônimo Vaz Vieira, em sociedade
foram tomadas para afastar ou combater os franceses. Em 8 de ju- com o antigo capitão-mor e outros dois interessados, em 1725. Por
lho de 1708, Pedro Mendes Tomás deu conta a Lisboa da ameaça, causa da morte de mais de 50 índios em uma epidemia e da falta
que não se concretizou, de um ataque de 20 embarcações francesas de escravos negros no Estado do Maranhão, pretendia descer 50
oriundas de Caiena a canoas de Sua Majestade. Em razão disso, casais e empregar sua parte em um engenho real de açúcar e noutro
reforçou as defesas da capitania com o apoio de índios da aldeia de aguardente.
de Mortigura. O Regimento dos Capitães-mores do Pará ordenava o apoio
Outra notícia de que uma frota de guerra partira da França em e o favorecimento dos missionários em seu trabalho de expansão
direção a América circulou dois anos depois e levou João de Bar- da fé, enquanto os capítulos 14 e 15 versavam sobre o modo de se
ros da Guerra a erguer um “baluarte junto ao Convento de Santo fazer os resgates e as entradas de particulares no sertão. Na práti-
Antônio” e a mobilizar a tropa paga e as ordenanças (incluindo a ca, contudo, tais disposições não dão conta do exame de todas as
Companhia da Nobreza, por se tratar de uma situação de guerra) situações em que a Lei, como o posterior Regimento das Missões
para guarnecer a cidade de Belém. (1686) ou as decisões régias complementares, não foi respeitada
O Tratado de Utrecht (1713) reconheceu os direitos de Por- em função de interesses dos moradores46 ou de atos indevidos de
tugal sobre as terras entre os rios Amazonas e Oiapoque. Mas não gente da governança. Como o praticado por Manuel de Madurei-
pôs fim aos problemas na fronteira do Pará com a Guiana Fran- ra Lobo, que teria fornecido índias farinheiras e amas de leite a
cesa, os quais demandavam permanentemente a atenção das au- quem não precisava delas, contrariando o Regimento das Missões
toridades coloniais e do Conselho Ultramarino, como o comércio e motivando a queixa do superior da Companhia de Jesus, padre
ilícito entre índios dos domínios portugueses e os franceses e as José Vidigal.
fugas de escravos. Diante desse quadro, em 1716, o capitão-mor Esse exemplo aponta para o favorecimento de moradores e
José Velho de Azevedo informou ao secretário de Estado Mendo pode ser associado à participação do capitão-mor em um “motim”
de Fóios Pereira sobre a escassez de munições e de soldados nas no Pará, provocado por dissenções com os jesuítas e o governador
fortificações. João da Maia da Gama em torno da escravidão indígena. Foi tam-
Mas a premência de reorganizar o sistema defensivo esbar- bém levantada a hipótese, com base em um requerimento enviado
rava em dissenções com o provedor da Fazenda, o que já aconte-
a Lisboa, de que Manuel de Madureira Lobo, recém-nomeado, co-
cia antes de José Velho assumir. Pela carta régia de 5 de abril de
gitava tirar proveito do cargo.
1715, o rei determinara que as despesas com as “coisas de guerra”
A propósito de bem servir ao rei, solicitou permissão para
deviam ser feitas por resolução do capitão-mor, por serem de sua
instalar no Pará uma fábrica de descascar arroz, com garantia de
alçada os assuntos militares, e enviadas ao provedor da Fazenda.
exclusividade no emprego da técnica e de liberdade para indicar
Francisco Galvão da Fonseca, provedor no Pará, era acusado de
quem desejasse utilizá-la no beneficiamento de outras produções
duvidar dessa prerrogativa e de comprometer, com isso, o muni-
ciamento da tropa, os treinamentos de artilharia e mesmo as salvas locais. Propôs também a construção de um tipo de engenho para
nas festas e nas ocasiões em que o governador e capitão- -general fabricar açúcar que não utilizasse água ou bestas para moer a cana.
chegava e partia de Belém.40 Nos anos que se seguiram, a corres- Obteve autorização para a instalação desse invento e para receber
pondência oficial deu conta da persistência da escassez de efetivos 200 contos de réis de uma vez ou cinco arrobas de açúcar daqueles
militares e das ameaças francesas. Como em uma representação de que o utilizassem. Sobre o pedido feito na mesma ocasião para se
1728, em que o governador e capitão-general Alexandre de Sousa lançar ao descobrimento de minas de ouro, prata e outros metais
Freire, que estava no Pará (quando Antônio Marreiros era o capi- em terras de Sua Majestade ou de donatários, sem impedimento de
tão-mor), denunciou a grande redução da tropa dos cerca de 250 terceiros, a Coroa se mostrou reticente.
que formavam as cinco companhias de infantaria restariam apenas. O Conselho Ultramarino emitiu parecer favorável ao estabe-
Por isso, temia ainda mais conflitos na fronteira com Caiena. lecimento de uma fábrica de descascar arroz, por uma vida, mas
Relatou também que do efetivo de 70 soldados que o acompanha- não para a atividade mineradora. Foram autorizadas, contudo, di-
ram na jornada a Belém, tinha “já fugido a maior parte dele por ligências para averiguar se as minas estavam em terras lusas ou
irem pela ocasião e cobiça das minas de ouro”.41 Como se vê, a em domínios franceses, castelhanos ou holandeses. O capítulo 24
indisponibilidade de contingentes militares aparecia algumas ve- do Regimento dos Capitães-mores do Pará incentivava o descobri-
zes atrelada a outras questões da administração local, cujo apro- mento de minas de ouro e de prata, sobre as quais havia indícios.
fundamento excederia os limites deste artigo, como a busca de mi- As ordens para localizá-las eram claras, não devendo o capitão-
nas, além dos descimentos e dos resgates de índios no sertão, que mor descuidar da “cultura do cravo, e anil, e cacau, e as mais dro-
demandavam a participação de soldados. Pedro Mendes Tomás gas que nesse sertão houver”.
esteve envolvido nesses resgates e João de Barros da Guerra teria A conjuntura da primeira metade do século XVIII afigurou-se
desfalcado as fortificações do Pará ao se oferecer para comandar desaconselhável ao investimento na mineração na região Norte.
uma expedição contra os índios do Rio Madeira, “pelos grandes Em 1711, Cristóvão da Costa Freire suspendeu os descobrimentos
danos que nos tinham feito impedindo com as suas hostilidades no rio Tocantins, “pela notícia de irem os franceses ao Rio de Ja-
a que os missionários fizessem o serviço de Deus”. Acabou mor- neiro e também de haver minas no dito rio, o que podia convidar
rendo quando “lhe caíra um pau sobre a canoa” em que viajava de aos inimigos para esse estado”. A Coroa aprovou a medida, mas
volta ao rio Madeira, depois de se restabelecer em Belém de uma ordenou que o governador e capitão-general fornecessem, debaixo
moléstia contraída no sertão. de absoluto sigilo, coordenadas mais precisas da localização das
Didatismo e Conhecimento 21
HISTÓRIA DO MARANHÃO
minas, recorrendo a “pessoa que com toda a cautela as vá examinar para alguns ocorrida em 1737 e para outros em 1751. Essas
e da riqueza delas buscando-se outro pretexto para esta averigua- interpretações remontam, pelo menos, ao início do século XIX.
ção de tal maneira que se não perceba o fim a que se encaminha”. Em 1808, o inglês Robert Southey afirmou que o governador e
Ainda em 1711, em decorrência da invasão francesa ao Rio de capitão-general Pedro César de Meneses (1671-1678) transferiu a
Janeiro, o capitão-general foi autorizado a aplicar as sobras de di- sede do governo de São Luís para Belém, “sendo mais favoravel-
nheiro da Fazenda Real em obras de reconstrução e na recompo- mente situada esta cidade tanto para reunir os produtos naturais do
sição da artilharia do Fortim de Nossa Senhora das Mercês e de país quanto para prosseguir na descoberta do sertão”.
outras fortificações de Belém. Nos anos de 1830, o sargento-mor Antônio Ladislau Mon-
Apesar dos escrúpulos, a descoberta de minas não foi aban- teiro Baena esclareceu diversos pontos acerca da estrutura e da
donada. Assim, em 1722, o governador João da Maia da Gama foi dinâmica administrativa do Estado do Maranhão: A cidade de São
instruído a investigar a existência delas nos domínios portugueses Luís era a residência habitual dos encarregados do Governo Geral
por haver notícia de que haviam sido encontradas na província de do Maranhão e Pará: eles depois de receber o bastão vinham à
Quito, devendo averiguar a distância das eventuais reservas em cidade de Belém, onde igualmente eram investidos da autorida-
relação aos domínios castelhanos, franceses e holandeses. Uma de superior, e se demoravam enquanto as circunstâncias do tempo
década mais tarde, no governo de Alexandre de Sousa Freire, o inculcassem e precisão de não partir senão quando por falta de
Conselho Ultramarino continuava recomendando cautela quanto
negócios desordinários [sic] fossem levados a praticar a tornada
ao negócio, ponderando sobre a fragilidade das defesas do Estado
para a cidade do Maranhão.
do Maranhão,
Em seguida, Baena assinalou que “na ausência do governador
Entre todos os domínios que a Real Coroa de Vossa Majesta-
de possui na América o menos bem defendido pela falta de habita- e capitão-general substituía-o na administração pública o capitão-
dores, e o mais exposto pelos confinantes; os espanhóis confinam, mor da cidade [de Belém], em que o mesmo não assistia”. Por
e tem comunicação com o Pará que é do mesmo governo; os holan- fim, o militar português fez um sumário das mudanças da sede do
deses de Suriname penetram o interior daquele país até o rio Napo governo do Estado do Maranhão, desde o ano de 1673, quando
que por aquela parte divide os domínios de Vossa Majestade dos “transferiu o governador e capitão general Pedro César de Mene-
de Espanha; e os franceses, senhores da vila de Caiena, buscam ses a sua residência do Maranhão para a cidade de Belém, onde a
repetidamente pretextos para passarem aos nossos sertões a fazer continuaram os seus sucessores, menos Gomes Freire de Andra-
comércio. de”.
Indícios da descoberta de ouro poderiam atiçar principalmen- Inácio Coelho da Silva (1678-1682) recebeu ordens para se
te os espanhóis e os franceses, aumentando de tal modo o con- instalar em Belém. A carta régia de 1o de dezembro de 1677 deter-
trabando, que o governo do Estado do Maranhão não teria forças minou aos oficiais da Câmara do Maranhão que tão logo dessem
para contê-lo. Os franceses, em especial, já manifestavam seus in- posse ao governador e capitão-general ele deveria se dirigir à ca-
teresses confundindo os termos do Tratado de Utrecht. A existên- pitania subalterna e, posteriormente, informar à Coroa “das con-
cia e a exploração de minas poderiam justificar investidas desses veniências que há de se passar o governo desse Estado ao Pará”.
contendores, levando-os a “afetar alguma pretensão [territorial] A medida foi alvo de questionamentos do governador recém-no-
ou introduzir o seu comércio”. Por isso, o Conselho Ultramarino meado. Em uma representação, Inácio Coelho da Silva expôs os
desencorajava a atividade mineradora na região, uma vez que “a principais motivos para sua assistência na capitania do Pará: con-
economia do Estado e a conservação dele com atento e político tinuar as obras de fortificação iniciadas por seu antecessor, Pedro
exame das suas forças, não permite que se arrisque o muito que já César de Meneses; instalar os casais de ilhéus que chegavam e
temos pelo mais que desejamos ter”. os que viriam, a fim de povoar “aquelas terras, por serem firmes
Além do mais, o investimento na prospecção de minas desor- e muito dilatadas, capazes de toda a agricultura”, especialmente
ganizaria a produção agrícola e tornaria mais difícil o cumprimen- as culturas do cacau e da baunilha. Mas atentou para possíveis
to das leis sobre a utilização do trabalho indígena. Nesse sentido, a descontentamentos dos moradores e dos camaristas de São Luís e,
questão da exploração mineral no Estado do Maranhão pode estar por isso, sugeriu assistirno primeiro ano de governo seis meses em
na origem da provisão de 31 de maio de 1737, “determinando que
São Luís e outros seis em Belém, a fim de conhecer a realidade de
a população do Estado do Maranhão se dedicasse apenas à agricul-
sua jurisdição.
tura, sem interferir na exploração das minas”, uma vez que novas
sobre achados auríferos se espalharam e teriam estimulado grande A decisão de “alterar por ora a assistência do governador do
afluxo de pessoas para o Estado do Maranhão. Foi o que relatou Maranhão na cidade de São Luís e passar ao Pará e fazer ali cabeça
com possível exagero o jesuíta João Batista Carbone, em carta en- do governo”, além de provisória, não alteraria a resolução régia
viada de Lisboa a um correspondente em Roma: “chegou a nossa de 13 de agosto de 1650, pela qual “os governadores façam sua
frota do Maranhão e traz ouro das novas minas que se descobriram assistência no Maranhão e não passem ao Pará”. O conselheiro Fe-
naquele estado, para onde concorreram logo mais de três mil bran- liciano Dourado propôs que Inácio Coelho da Silva se guiasse pelo
cos para minerarem com negros e com gente da terra”. capítulo 19 do Regimento de André Vidal de Negreiros (1655) e
partisse munido de uma carta “em que Vossa Alteza lhe ordene
O GOVERNADOR E CAPITÃO-GENERAL EM BELÉM que vá assistir no Pará, enquanto se põem com efeito a cultura
do cacau e baunilhas para que tudo se execute com bom sucesso,
A necessidade de rediscutir certos aspectos da estrutura e da e acabada a forma daquela cultura, se tornará para o Maranhão”.
dinâmica administrativa do Estado do Maranhão e Grão-Pará, Isso era necessário, pois, segundo o parecer do conselheiro, “sem
mormente, a partir da segunda metade do século XVII, foi des- a assistência ordinária dos governadores no Maranhão se arrisca
pertada por uma divergência historiográfica quanto à mudança da aquele estado a uma grande ruína”.
sua capital,
Didatismo e Conhecimento 22
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Na primeira metade do século XVIII, a freqüência dos go- Arno e Maria José Wehling enfatizaram o crescimento econô-
vernadores e capitães-generais em Belém consolidou-se como um mico da urbe, amparado na escravidão indígena e no comércio das
traço da dinâmica administrativa do Estado do Maranhão. Na carta drogas do sertão, e afirmaram: “em 1737, dada a importância de
patente de João da Maia da Gama (1722-1728), por exemplo, cons- Belém, para ela foi transferida a sede do Estado do Maranhão. De
ta que receberia o soldo de seis mil cruzados como governador e fato, por volta de 1737/1738, a agenda dos governadores e capitães
capitão-general e mais mil cruzados “em cada um dos que com generais continha entendimentos sobre limites entre Quito e o Pará
efeito passar ao Pará e tornar para o Maranhão”.63 No decorrer do ou negativas de avanços militares em direção a missões jesuíticas
período, dada a permanência dos governadores e capitães-generais em terras espanholas.
no cargo por mais de um triênio e a sua prolongada estadia em Essas questões perduraram nas décadas seguintes, sobretudo a
Belém, a figura do capitão-mor do Pará teve suas funções gover- partir de 1750, com a assinatura do Tratado de Madri. Importa sa-
nativas cada vez mais reduzidas, restringindo-se ao plano militar. lientar, em primeiro lugar, que essa conjuntura ligada às tratativas
Quando o governador do Estado do Maranhão se ausentava de sobre limites, ao comércio com possessões estrangeiras, aos pro-
São Luís, seu lugar era ocupado interinamente pelo capitão-mor gressos materiais e à posição geográfica mais favorável da capital
do Maranhão. Diferenças de precedência não passavam desperce- do Pará, de acordo com alguns autores, consagrou a interpretação
bidas, tanto na cabeça do Estado quanto na capitania subalterna.
de que a capital do Estado do Maranhão foi transferida para Belém
Um exemplo foi a solicitação do capitão-mor do Pará, Antônio
em 1737. Essa versão aponta para um processo ainda não contem-
Marreiros, para que seu soldo fosse elevado de 200 para 400 mil
plado em toda a sua dimensão pela historiografia de construção da
réis anuais, alegando que o capitão-mor do Maranhão, que exercia
função essencialmente militar e esporadicamente de governo, já capitalidade da urbe. Sem desconsiderá-lo, outros autores indica-
havia recebido o aumento. Em caso de vacância ou de morte do ram que a mudança da capital ocorreu, de fato, em 1751, quando
governador e capitão-general era o capitão-mor quem assumia seu foi oficializada pela Coroa nas Instruções a Francisco Xavier de
lugar interinamente. Em razão do falecimento de José da Serra, Mendonça Furtado.
em Belém, Antônio Duarte de Barros o substituiu por cerca de um Em segundo lugar, o processo de transferência da capital do
ano. Sua má fama levouo secretário de governo a deliberar com a Estado do Maranhão também se refletiu na nomeação de capitães-
Câmara que ele “governasse o militar somente, independente do mores para a capitania do Pará. Em pelos menos duas obras con-
político e econômico, por ser notória a incapacidade que em ele sultadas, a lista se encerra em 1737 com Antônio Duarte de Barros.
existia para expedição de negócios e dependências de qualquer Isso pode ser explicado pela presença amiúde dos governadores e
operação do governo político”, ficando todos esses assuntos sob capitães-generais em Belém, responsável, na prática, pela extin-
a alçada da Câmara.65 Antônio Duarte de Barros despontou como ção das funções governativas do capitão-mor. Embora não haja
um governante atrabiliário, conforme a documentação consultada. menção em Baena ou em Varnhagen de nomeações posteriores a
Não faltaram reclamações dos oficiais da Fazenda e da Jus- 1737, elas continuaram sendo feitas, admitindo-se, entretanto, que
tiça de falta de apoio militar para suas diligências, de revogação os capitães-mores tenham se restringido à atribuição militar ine-
de patentes e nomeações feitas pelo governador falecido, e de rente ao posto. Para a sucessão de Antônio Duarte de Barros foram
má conduta, como navegar com um filho pelo rio Guamá pedin- lançados editais, mas os quatro candidatos que apresentaram seus
do esmolas a título de missas e auferindo cacau e outros gêneros papéis ao Conselho Ultramarino foram recusados pelo rei. Damião
dos moradores. Em relação ao provedor da Fazenda as acusações de Bastos e João de Almeida da Mata possuíam largos serviços no
eram recíprocas. Enquanto o capitão-mor afirmava cumprir suas Estado do Maranhão o primeiro tinha sido capitão-mor do Mara-
funções, inspecionando as fortalezas dos Pauxis e dos rios Negro nhão e foi recomendado, enquanto o escolhido pelos conselheiros,
e Tapajós, acusava Matias da Costa e Sousa de pôr obstáculos ao Domingos de Morais Navarro, foi militar em Pernambuco e capi-
fornecimento de índios para tais obras e de cuidar “mais nos seus tão-mor do Rio Grande do Norte (1728-1731). Por ordem régia,
particulares interesses” no tocante à arrematação dos dízimos. Por novos editais foram lançados ainda em 1737 e a seleção confir-
ter sido nomeado no mesmo ano em que José da Serra que passou mada por d. João V recaiu em Antônio da Costa de Oliveira, que
boa parte do seu mandato em Belém foi alçado ao governo do Es-
oferecera seus préstimos mais relevantes na Guerra da Sucessão
tado do Maranhão (1732), Antônio Duarte de Barros não aparece
Espanhola.
nas fontes como responsável direto pelo governo do Pará. E seu
tempo à frente da capitania praticamente coincidiu com os quatro A ausência deste governante nas listas de administradores co-
anos de José da Serra na administração do Estado. loniais do Pará dificultou a precisão de seu mandato, mas é certo
Esse dado chama atenção não apenas para os efeitos da assis- que em 1744 outros quatro indivíduos se candidataram ao cargo.
tência do governador e capitão-general em Belém sobre a autori- Novamente, o rei determinou: “ponham-se novos editais e se orde-
dade do capitão-mor do Pará, mas também para a continuidade ne ao governador que informe dos sujeitos propostos, e dos mais
do exercício dessa função a partir de 1737, uma vez que João de que julgar capazes deste posto”. Apresentaram-se Estevão de Faria
Abreu Castelo Branco (1737-1747) e Francisco Pedro de Mendon- Delgado (indicado), José Miguel Aires, João de Figueiredo Soto-
ça Gorjão (1747- 1751) já foram empossados naquela cidade.67 maior e Tomás Ferreira da Câmara. Àquela altura, segundo Nuno
A posição da capital do Pará como a sede administrativa do Es- Monteiro, declinava o sistema de consulta aos conselhos para a to-
tado do Maranhão foi construída paulatinamente desde o século mada de decisões políticas e d. João V “foi-se sempre consultando
XVII. Arthur Cezar Ferreira Reis resumiu as qualidades de Belém com quem quis, recorrendo para o efeito a juntas e a diversos per-
na primeira metade do século XVIII. Para o historiador, a cidade sonagens”, como Alexandre de Gusmão. Na escolha do capitão-
oferecia melhores condições para o enfrentamento dos problemas mor do Pará, conforme despacho à referida consulta, o rei ordenou
de fronteira com a Guiana Francesa e o vice-reino do Peru e tinha que o governador e capitão-general do Estado do Maranhão desse
uma população bem provida de meios e prestigiada desde as cam- o seu parecer. João de Abreu Castelo Branco respondeu que não ti-
panhas contra os holandeses. nha informações sobre Estevão de Faria Delgado e João de Figuei-
Didatismo e Conhecimento 23
HISTÓRIA DO MARANHÃO
redo Sotomaior, mas sabia da boa conduta de José Miguel Aires Após a expulsão dos franceses, os portugueses iniciaram uma
e de Tomás Ferreira da Câmara, que serviam no Pará. Preferiu en- rápida colonização do território. Além do pessoal vencedor das
dossar a pretensão do sargento-mor João de Almeida da Mata, “em batalhas, chegaram cerca de mil colonos dos Açores, em 1619. A
razão da antiguidade do seu serviço ao que acresce o bom procedi- Câmara de São Luís foi instalada no final do mesmo ano.
mento com que se houve na minha ausência em todos os anos que Em 21 de fevereiro de 1620, foi criado, por carta régia, o Esta-
fui visitar as capitanias do Maranhão, em que ficou substituindo as do do Maranhão, com capital em São Luís, separado do Estado do
vezes de capitão-mor do Pará. No ano seguinte, João de Almeida da Brasil. Outra carta régia, de 13 de junho de 1621, mudou o nome
Mata foi o escolhido pelos conselheiros do Conselho Ultramarino e para Estado do Maranhão e Grão-Pará. Entretanto, o governo do
teve sua indicação confirmada pelo rei. Estado somente foi instalado em 1623, por demora na chegada
Ratificando que a autoridade do governador do Estado do do governador nomeado. Uma das razões para a separação era a
Maranhão assistente em Belém se sobrepunha à do capitão-mor difícil navegação até a Bahia. Além disso, existia a vastidão das
do Pará, as atuações de Antônio da Costa de Oliveira e de João capitanias do norte.
de Almeida da Mata não são notadas, ao menos na documentação
Em 1641, São Luís foi invadida pelos holandeses, mas recu-
portuguesa, ao contrário de seus antecessores que governaram até
perada três anos depois.
1737. Texto adaptado de SANTOS, F. V. D
O padre Antonio Vieira teve importante papel no Maranhão
como missionário entre os índios.
Em 30 de agosto de 1677, foi criada a Diocese de São Luís do
CARTA RÉGIA DE 1621. Maranhão, como sufragânea do Patriarcado de Lisboa. Em 5 de
junho de 1827, após a Independência do Brasil, tornou-se sufragâ-
nea da Arquidiocese de São Salvador da Bahia. Em 1º de maio de
1906, subordinou-se à Arquidiocese de Belém do Pará. Tornou-se
No auge da União Ibérica, o reino formado por Espanha e Por- a Arquidiocese de São Luís do Maranhão, em dois de dezembro
tugal tenta controlar a enorme extensão territorial da colônia sul-a- de 1921.
mericana. As preocupações concentram-se em uma porção de terra Em 1751, a capital do Estado foi transferida para Belém e o
ao norte, conhecida como território do Maranhão. Praticamente iso- nome do Estado passou a ser Estado do Grão-Pará e Maranhão,
lada, mas às margens do oceano, era a região que oferecia melhor invertendo a ordem dos nomes e envolvendo as duas capitanias do
comunicação com a Coroa - e, ao mesmo tempo, suscitava a cobiça Grão-Pará e do Maranhão.
de outros países. Os habitantes dali, por sua vez, pareciam mais à Em 1772, foi criado o Estado do Maranhão e Piauí, separado
vontade em se comunicar com estrangeiros do que com o Gover- do Grão-Pará. Entretanto, a separação só se efetivou com a provi-
no Geral da Bahia. Em maio de 1617, a Coroa decide aproveitar são de 9 de julho de 1774.
essa facilidade de comunicação. A colônia então é dividida em dois Em 1755, o Marquês de Pombal criou a Companhia Geral do
novos Estados: do Brasil, com sede em Salvador, e Colonial do Comércio do Grão-Pará e Maranhão, promovendo o desenvolvi-
Maranhão, com sede em São Luís. O novo Estado receberia or- mento da região e intensificando o comércio de escravos africanos.
dens diretamente da Europa, não sendo mais subordinado ao poder Essa empresa funcionou até 1778.
colonial local. A oficialização vem em Carta Régia de 12 de junho Em 10 de outubro 1811, a carta régia de D. João separou a
de 1621, que delimita o novo Estado do Maranhão, formado pelas Capitania do Piauí da administração do Maranhão.
atuais áreas do Piauí, Pará, Maranhão, Amazonas, Roraima e Ama- Em Sete de Setembro de 1822, o Príncipe D. Pedro rompeu
pá. A divisão durou até 1652, quando em seu lugar foram instituídas com Portugal. O governo de algumas províncias aderiram ao Prín-
duas capitanias gerais: Maranhão e Grão-Pará. cipe, outros permaneceram leais a Portugal. A Bahia já estava em
Não existem evidências de que os espanhóis tenham chegado à
guerra desde junho, Pernambuco lutava pela independência desde
costa norte do Brasil, antes dos portugueses, como demonstrado no
1817. O Maranhão foi dominado pelas forças brasileiras em 1823.
artigo Falsos Descobrimentos do Brasil.
Após 1889, com a República, o Maranhão tornou-se um es-
As primeiras tentativas dos portugueses de colonizar o atual
território do Maranhão ocorreram com a criação das Capitanias He- tado do Brasil.
reditárias. Os primeiros colonos da Capitania do Maranhão chega- A Carta Régia foi um tipo de documento histórico, que era
ram em 1535. Eram cerca de 900 pessoas e fundaram o povoado de assinado por monarcas. Este documento oficial era empregado e
Nazaré, mas os ataques dos índios resultou na morte da maioria dos assinado por autoridades portuguesas, a fim de instituir alguma de-
colonos. Em 1538, os cerca de 200 sobreviventes retornaram a Por- terminação permanente e obrigatória.
tugal. Outras tentativas ocorreram no século 16, mas sem sucesso. No Brasil, a carta régia foi utilizada em 1701, em 1785 e em
No final do século 16, os franceses já exploravam o litoral nor- 1808. Nesta última ocasião, a carta apresentava o Decreto de Aber-
te brasileiro. Em 1612, eles ocuparam parte da costa do Maranhão tura dos Portos às Nações Amigas.
(Isle de Maragnan), fundaram a França Equinocial e a cidadela É possível dizer que a carta régia era um instrumento legal da
de São Luís. Os missionários capuchinhos franceses conseguiram o coroa de Portugal. Também chamado de ordem régia, o documento
apoio dos tupinambás. Os portugueses e espanhóis tentaram tomar teve grande importância no Brasil Colônia.
o território durante os anos seguintes. A carta régia de abertura dos portos, por exemplo, foi uma das
Em 1614, forças portuguesas, comandadas pelo mameluco primeiras iniciativas de Dom João após a mudança da corte portu-
Jerônimo de Albuquerque derrotaram os franceses na Batalha de guesa para o Rio de Janeiro, em novembro de 1807. O documento
Guaxenduba. Em novembro de 1615, o comandante francês Da- foi assinado exatamente em 28 de janeiro de 1808.
niel de la Touche de La Ravardière foi preso, enviado para Lisboa
e encarcerado na Torre de Belém.
Didatismo e Conhecimento 24
HISTÓRIA DO MARANHÃO
A medida acabava com o bloqueio do comércio marítimo e - O primeiro período, entre 1630 e 1637, caracterizou-se pelo
abria o Brasil para o recebimento de produtos estrangeiros e para enfrentamento militar entre holandeses e portugueses. A partir de
a exportação de seus próprios produtos para as nações amigas de 1632, entretanto, os holandeses conseguiram se deslocar de Olinda
Portugal. O único produto brasileiro que não poderia ser exportado e conquistaram também a Paraíba, o Rio Grande do Norte e ltama-
era o Pau-Brasil. racá, sedimentando sua ocupação na região Nordeste.
Em resumo, é possível definir a carta régia como um docu- - O Segundo período, entre 1637 e 1645, foi marcado pelo go-
mento que era promulgado por autoridades sem passar pela chan- verno de João Maurício de Nassau, mandado pelo governo holan-
celaria. Na história de Portugal existiram várias ordens régias, dês para organizar a nova colônia. Apesar dos conflitos constantes,
como a carta de Dom João I que determinava a mudança do calen- esse período é considerado por alguns estudiosos como a “idade de
dário utilizado no país, assinada em 22 de agosto de 1422. ouro” do domínio holandês em 2 Pernambuco.
A carta régia se parecia com um diploma. Como já citado, na - O terceiro período da ocupação holandesa, entre 1645 e
história do Brasil a carta decretou o fim do pacto colonial. O decre- 1654, correspondeu guerras de restauração e à derrota definitiva
to de abertura dos portos beneficiou principalmente a Inglaterra, das forças holandesas.
nação que ajudou a coroa portuguesa a fugir para o Brasil durante A ocupação flamenga no território nordestino foi um dos re-
o domínio de Napoleão, na Guerra Peninsular. Texto adaptado de flexos de dois fatos que ocorreram na Europa: A União Ibérica e
COSTA. P. D a Independência dos Países Baixos em relação à Espanha. À me-
dida que o quadro conflituoso acentuava-se no Velho Mundo, a
América Ibérica começava a sentir os reflexos das tensões de suas
A INVASÃO HOLANDESA. metrópoles. A costa brasileira era rondada constantemente por
aventureiros dos países inimigos do Reino de Castela, e os ataques
aqui ocorridos aumentavam gradativamente. Em 1598, por exem-
plo, o navegador holandês Oliver Van Noord tornou-se o primeiro
Os holandeses invadiram e ocuparam o território do Brasil em flamengo a penetrar na região nordestina. Já em 1599, os navega-
duas ocasiões: em 1624, na Bahia; e em1630, em Pernambuco. A dores flamengos Hartmann e Broer aportaram na Bahia e tentaram
Holanda, na época, era dominada pela Espanha e lutava por sua saquear a cidade; centro político da América Portuguesa de então.
independência. As invasões construíram um modo de atingir as Essas “visitas” iniciais, no século XVI seriam um prenúncio da
bases coloniais espanholas uma vez que, de 1580 a 1640, período prática corsária que ocorreria no século seguinte, isto é, um maior
conhecido como União Ibérica, o Brasil pertencia às duas Coroas: número de aventureiros atacando à costa brasileira.
Portugal e Espanha. A população local não ignorava esse fato, e temiam pelo pior
A situação econômica da Holanda, além disso, era difícil, de- achando-se desamparados pela Coroa Ibérica. Ao mesmo tempo,
vido ao embargo imposto pela Espanha: os holandeses estavam as visitas à costa eram associadas ao interesse expansionista ho-
proibidos de comerciar com qualquer região dominada pela Espa- landês e a necessidade de manter seu controle sobre o comércio
nha, perdendo assim o direito de refinar e distribuir o açúcar pro- de açúcar. Evidentemente, em virtude de o mar ser a única rede
duzido no Brasil, como vinham fazendo havia vários anos: Com a de comunicação, as notícias demoravam meses para serem difun-
invasão, os holandeses pretendiam estabelecer uma colônia volta- didas. Porém, o número de holandeses presos na Bahia1 e a dupla
da para a exploração econômica do Brasil, controlando os centros relação que se dava entre judeus e cristão-novos estabelecidos no
de produção açucareira. Desejavam, ainda, romper o monopólio eixo Holanda - Pernambuco propiciou um ambiente de boato (tan-
comercial ibérico e recuperar seu papel no comércio do açúcar. to na Europa como no Novo Mundo) sobre uma iminente invasão
à América Portuguesa. Tais boatos se concretizaram, e em 1624
AS PRIMEIRAS INCURSÕES HOLANDESAS: 1624-1625 deu-se a primeira invasão holandesa ao nordeste brasileiro. Essa
primeira invasão ficou restrita a Bahia e a notícia da tomada do
A primeira tentativa de invasão do território colonial brasi- centro político da América Portuguesa espalhou-se pela Europa e
leiro pelos holandeses ocorreu em 1624, na cidade de Salvador, explodiu como um paiol na Península Ibérica; levando a criação de
Bahia, sede do governo-geral do Estado do Brasil. A reação contra
uma poderosa esquadra formada por lusos e espanhóis. Em 1625
a presença holandesa foi intensa. Os luso-brasileiros encurralaram
a ação de tal esquadra reconquistou o território outrora perdido.
os invasores e impediram seu avanço para o interior, expulsan-
do-os definitivamente em 1625. As investidas holandesas contra A derrota serviu como um duplo aprendizado para holandeses
Salvador, porém, não cessaram; a cidade foi ameaçada por duas e portugueses. A cidade de Salvador passou a ser melhor fortifi-
vezes em 1627, quando os holandeses saquearam diversos navios cada e guardada, os fortes foram melhor providos e a preocupa-
aportados. ção com uma possível segunda invasão fez com que houvesse um
crescimento no número de habitantes que portassem armas. Para
OS HOLANDESES EM PERNAMBUCO: 1630-1654 os holandeses, esse duro golpe serviu como lição para uma maior
organização e sistematização das futuras invasões. E de fato foi
Em 1630, os holandeses invadiram a capitania de Pernambu- isso o que ocorreu. A segunda invasão deu-se de maneira melhor
co, onde estavam os principais engenhos da colônia, e passaram a pensada e com uma composição maior no corpo de guerra.
chamá-la de Nova Holanda. Matias de Albuquerque, que substituí- A esquadra holandesa que desembarcou no Pernambuco em
ra Diogo Furtado de Mendonça no governo-geral, não conseguiu 1630 era composta por setenta navios e uma legião de combaten-
reunir tropas suficientes para rechaçar a invasão. Os historiadores tes mercenários que durante o período de ocupação passaram por
têm dividido a invasão holandesa do território colonial em três pe- situações de facilidades e dificuldades. A facilidade encontrada
ríodos: deu-se em Olinda. A cidade que até então era o centro político e
Didatismo e Conhecimento 25
HISTÓRIA DO MARANHÃO
econômico da Capitania do Pernambuco foi facilmente conquista- que imbuídos de um espírito naturalista traziam em seu bojo os
da, e sua população ou ficava a mercê da misericórdia do invasor compassos de metamorfose que a cidade do Recife teria em seu
ou fugia para as matas para salvar o único bem que lhes restava: futuro próximo. Aliás, a escolha da cidade como capital é um caso
a vida. Entretanto, a facilidade inicial, que causou alvoroço nos a parte.
Países Baixos e no interior da Companhia das Índias Ocidentais, Assim que a WIC constatou a fragilidade de defesa de Olinda
contrastou-se com a dificuldade que foi a batalha de ocupação no e sua distância de acesso ao mar, revolveu escolher outro lugar
Recife. para ser a sede do governo flamengo. Depois de pensar em adotar
Essa segunda cidade entregou caro a sua derrota. Os defen- a Ilha de Itamaracá como capital do Brasil Holandês, optou-se por
sores do Recife usavam técnicas de guerrilha para resistirem aos eleger Recife a sede permanente da Nova Holanda. Em geral, a
ataques dos flamengos, e o principal centro de resistência (uma cidade atraía funcionários da WIC, pessoas pobres e prostitutas.
espécie de quartel-general) foi o Arraial do Bom Jesus. Tal lugar Tais atores terão um lugar social em comum e partilharão de uma
ficava nas mediações do Recife e cruzava o caminho que ligava intersecção que marcará a vida urbana no Recife Holandês, tra-
esta cidade até Olinda, logo, transitar por essa região implicava zendo como consequência à proliferação do número de doenças
passar pelo fogo cruzado de holandeses e portugueses. ocasionadas em virtude das relações sexuais desregradas e a mis-
O Arraial do Bom Jesus era responsável por metade da pro- cigenação do posterior homem pernambucano Era também essa
dução açucareira da Capitania. Conquistar esse território não im- cidade que atraia as pessoas que exerciam ofícios manuais, e nesse
plicava apenas em derrotar os resistentes, mas também apossar-se quesito os holandeses se destacavam. Operários e marceneiros co-
de uma estratégica zona agrária e comercial. Além disso, o longo meçavam a despontar em uma região outrora rural e que carecia
período de cinco anos de batalhas estagnou a produção açucareira de soluções que uma nascente urbe tinha necessidade. Para os se-
e, como a Companhia das Índias Ocidentais dependia dos lucros nhores, a cidade acabava exercendo uma atração menor, e por isso
que o açúcar poderia lhe proporcionar, era de interesse da empresa optaram em permanecerem fixos ao interior.
holandesa destruir o foco resistente e restabelecer a economia da A verdade é que essa cidade trazia sobre as suas vidas a amar-
região. O temor de perder todo o território para os flamengos foi o gura da presença do invasor, em compensação, o Recife era a opor-
que animou a dura resistência local. Nesses longos anos de intensa tunidade dos senhores lusitanos divertirem-se nas muitas tavernas
disputa, intensificaram-se combates marcados pelo grande número abertas e com a diversidade de procedência das prostitutas. Outra
de mortes de ambos os lados. introdução do período holandês foi o surgimento da Câmara dos
Além da brava resistência lusitana, os combatentes holande- Escabinos, em substituição a Câmara dos Vereadores. Essa insti-
ses tinham que enfrentar outras adversidades. Desconhecendo o tuição era formada pelas pessoas eleitas por suas posses ou pela
espaço ocupado, não conseguiam adaptar-se ao interior brasileiro e influência que exerciam. As regiões conquistadas pelos flamengos
dessa forma, dificultavam a sobrevivência flamenga na região. Po- dispunham de dois escabinos, um holandês e um português. Entre-
rém, ao longo dos sangrentos anos de batalha a vitória holandesa tanto, o escolteto (espécie de chefe da Câmara) era de procedência
parecia estar iminente. O desgaste dos defensores locais contras- holandesa, e isso era um empecilho aos interesses dos portugueses.
tou-se com o aumento do efetivo holandês em solos pernambuca- Ao mesmo tempo, a fixação do senhor lusitano ao interior o impos-
nos. Em 1635, a tropa holandesa no Pernambuco girava em torno sibilitava de ir às reuniões que a Câmara dos Escabinos realizava.
de 5500 homens, enquanto que do lado português, poucas almas Preocupados mais com as suas plantações,deixavam as obrigações
restavam para os combates. Um segundo fato importante que mu- administrativas nas mãos dos escabinos holandeses que tomavam
dou o curso da guerra e contribuiu para a vitória holandesa foi a as decisões conforme o querer da WIC. Entretanto, a permanên-
passagem do índio tupi Domingos Fernandes Calabar para o lado cia do senhor lusitano no meio rural era uma oportunidade para
flamengo. Sua deserção foi uma perda significativa para os locais. que ele continuasse exercendo sua autoridade e influência, pois
Era Calabar que direcionava os rumos das operações militares enquanto no Recife a intolerância calvinista proibia as missas a
holandeses na difícil geografia pernambucana. Gradativamente, o portas abertas e as procissões; no interior os senhores exerciam a
desânimo exasperava entre os combatentes resistentes. Não demo- liberdade religiosa nas capelas que os engenhos dispunham.
rou muito para que em 1635 se desse a rendição lusitana, e seus A relativa autonomia do senhor lusitano no campo ocorria
resistentes (dentre eles negros e índios) jogavam suas armas ao pela pouca penetração holandesa no interior. Em geral, os holan-
chão e entregavam-se de vez ao jugo holandês. Ao mesmo tempo, deses emigrados que para cá vieram eram pessoas aventureiras de
a política flamenga no nordeste alterava-se. diversas partes da Europa, e que tinham os Países Baixos como um
A princípio, as lideranças dentro da WIC4 eram divididas lugar em comum, isto é, um ponto de partida para a reconstrução
entre os chefes das forças militares e os representantes adminis- de suas vidas. Assim, esses indivíduos urbanos não praticavam o
trativos. Essa divisão de poder causava divergências entre os lí- trabalho agrícola A possibilidade de lucros que o Brasil Holandês
deres e indisciplina aos combatentes e funcionários da WIC que poderia proporcionar nutriu nas consciências desses aventureiros
não sabiam a qual autoridade submeter-se. Dessa forma, a empre- o anseio de partirem para a região nordestina. Entretanto, a busca
sa holandesa pensou na idéia de nomear um bom administrador pelo “Éden” no Novo Mundo trazia alguns percalços, tais como
que centralizasse em si as funções políticas e militares da Nova travessias oceânicas mal sucedidas; inadaptações ao clima, ao
– Holanda, e ocorreu assim que o Conde João Mauricio de Nassau solo, as doenças, aos alimentos, etc. Essas situações criaram uma
(conhecido pela linhagem nobre, pelo conhecimentohumanístico e barreira gradual entre o interior e estes aventureiros, que sem al-
pela coragem nas campanhas militares da Guerra dos Trinta Anos) ternativa fixavam-se no Recife; aumentando o contingente popula-
fosse escolhido como administrador geral do Brasil - Holandês. cional, inflacionando os alimentos e contribuindo para o aumento
Sua chegada ao país é datada de 1637, e com ele vem um séquito das práticas tidas como imorais.
de profissionais, como médicos, cientistas, pintores e arquitetos
Didatismo e Conhecimento 26
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Um terceiro elemento que apareceu nessa teia social foi o A importância do grupo tupi para os portugueses também é vista
judeu. Como os senhores atuavam no interior cuidando da plan- na comenda da Ordem de Cristo concebida para o índio Filipe Ca-
tação e os holandeses cuidavam dos ofícios urbanos, coube ao ju- marão em decorrência dos longos anos em que este líder silvícola
deu (que chega ao nordeste com os holandeses) desempenhar um esteve à frente da resistência pernambucana. Já os tapuias consti-
papel intermediário que lhe trouxesse proveito na Nova Holanda. tuíam um grupo indígena mais hostil. A aliança com os holandeses
No Recife, eles negociavam, emprestavam e vendiam escravos, ocorreu em virtude do inimigo em comum que tinham, isto é, o
alimentavam a cidade em tempos de fome e agitavam os choques português. Para os flamengos, a ligação com os tapuias era uma
entre flamengos e lusitanos; usando de informações e deserções. chance de dilatar o seu poder nos territórios não ocupados pelos
No mesmo período, a adesão ao judaísmo floresce e torna-se mais europeus setentrionais.
aberto, de modo que antigos cristãos novos acabam assumindo-se Porém, dentro de cada grupo, havia as suas exceções que fu-
judeus. giam a regra, e exemplos para isso não faltam. Um primeiro exem-
A força da presença judaica é expressa na construção de uma plo é o fato da existência de senhores lusitanos que defendiam a
sinagoga e a vinda de Isaac Aboab da Fonseca, o primeiro rabino presença holandesa no Nordeste. Por outro lado, houve um relativo
para a América do Sul Para os holandeses, os judeus também apa- número de flamengos que por amor ao solo pernambucano perma-
reciam como uma ameaça que muito incomodava. Ao exercerem o neceram no nordeste mesmo após a rendição holandesa. Também
papel de negociantes ou mercadores, acabavam auferindo vultosas não se deve ignorar o grande número de judeus que mesmo depois
rendas. Eram eles que passaram a transportar e a revender o escra- do período de expulsão das lideranças calvinistas permaneceram
vo negro, conseguindo lucros de até 300%. Como o interesse da fixos ao Recife. Por fim, também é interessante lembrar que as
Companhia das Índias Ocidentais era obter lucros do nordeste, os relações entre os holandeses e os índios tapuias foram cortadas em
judeus começaram a ser vistos pelas lideranças da empresa holan- um momento crucial da luta pela manutenção flamenga na capital
desa como rivais comercias. Porém, mesmo com essas práticas, pernambucana.
esse grupo era tido pelos flamengos como pessoas de confiança e É dentro do desenrolar de cada uma dessas particularidades,
lealdade, diferentemente dos portugueses. que buscamos enriquecer essa pesquisa histórica, enquadrando os
Esses três elementos principais da presença flamenga no nor- diversos atores estudados com os fatos ocorridos. Entendemos as-
deste, ou seja, o português, o holandês calvinista e o judeu; não sim, que a inserção das peculiaridades nessa perspectiva analítica
constituíam os únicos atores da presença flamenga no nordeste. poderia dar um melhor auxilio ao estudo do período holandês no
Não podemos nos esquecer dos outros dois grupos que desempe- nordeste brasileiro.
nham um papel importante no Brasil Holandês: o negro e o índio.
Desde o período que antecedeu a invasão holandesa, o negro já CONSEQUÊNCIAS DA DISPUTA COM OS HOLANDE-
tinha um elevado grau de importância na colônia. Era ele que fa- SES
zia a terra frutificar, trabalhando de domingo a domingo para dar
continuidade e prosperidade a produção açucareira. Por mais que As lutas contra a Holanda tinham como causa a União Ibérica
o senhor lusitano fosse o melhor gerente do campo, a produção (1580-1640), período em que Portugal ficou sob domínio espanhol.
açucareira era dependente do negro, e sem ele não se obtinham lu- Com a criação da Companhia Holandesa das índias Ocidentais em
cros. Com a presença holandesa, a situação do negro não se alterou 1621, os holandeses procuraram estabelecer as principais bases
muito, isto é, ele continuava sendo cativo. Mesmo que no período para seu enriquecimento: a exploração de escravos e de engenhos
inicial da ocupação holandesa as lideranças calvinistas se mostra- de açúcar. Encerrada a ocupação holandesa no Brasil, restava à
vam hostis à escravidão, a constatação da necessidade de seu uso colônia a herança dos compromissos estabelecidos pela metrópole
fez o posicionamento flamengo mudar, pois acreditavam que era portuguesa com a Coroa inglesa, outra forma de dominação co-
impossível obter os lucros sem a força do escravo negro no campo. lonial. Isso porque, tanto na luta contra os holandeses quanto nas
Entretanto, é preciso lembrar que durante tal período, os negros disputas contra os espanhóis pelo trono, os portugueses contaram
puderam alcançar uma relativa melhora do seu estado de servidão. com o apoio dos ingleses. Em consequência, Portugal e Brasil tor-
A conquista de Olinda e o longo período de batalha possibilitaram naram-se dependentes do capital inglês.
que os negros que trabalhavam nos engenhos fugissem para as ma- Outra grave consequência da expulsão dos holandeses foi à
tas ou para outras regiões, formando quilombos. concorrência promovida por eles na produção de açúcar. Utilizan-
No decorrer dos anos, os negros que tomassem partido no do os conhecimentos acumulados no Brasil, passaram a produzir
front de batalha, seja ao lado de portugueses ou de holandeses, açúcar em suas possessões nas Antilhas com custos mais baixos
tinham a chance de se tornarem livres e até alcançarem honras, e melhor qualidade, provocando a decadência da produção açu-
como foi o caso do negro Henrique Dias que chegou a receber careira no Nordeste do Brasil. Alguns historiadores afirmam que
da Coroa Portuguesa a comenda da Ordem de Cristo. Já com os a expulsão holandesa também contribuiu para o surgimento do
índios, a situação foi bem diferente, visto que se formou uma po- nativismo pernambucano, já que a província seria o palco de boa
lítica de alianças entre determinados grupos indígenas tanto com parte das revoltas posteriores contra a metrópole portuguesa. Texto
portugueses quanto com holandeses. Do lado lusitano, a aliança adaptado de SANTOS, T. C. D
constituída deu-se com os Tupis, já do lado flamengo, a aliança
deu-se com os Tapuias. O primeiro grupo era definido pelos cro-
nistas da época como “civilizado. Com maior contato com os por-
tugueses, grande parte de seus membros assumiam-se católicos, e
algumas de suas mulheres tinham relações com lusitanos; levando
ao surgimento de um relativo número de crianças miscigenadas.
Didatismo e Conhecimento 27
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Matias de Albuquerque, governador português de
Pernambuco à época, levantou acampamento em Arraial de Bom
A EXPULSÃO DOS HOLANDESES. Jesus com a intenção de organizar a defesa. Tal centro de defesa
foi importantíssimo quando em 1631 chega uma frota hispano-
portuguesa de 23 navios para o contra-ataque. Em parte a tal
contra-ofensiva foi triunfante, visto que os navios desembarcaram
O domínio holandês no Brasil foi curto. Aconteceu no século em Alagoas e seus efetivos conseguiram forçar os holandeses a
XVII, quando os holandeses ocuparam uma parte do Nordeste do abandonar e incendiar Olinda para defenderem somente Recife.
Brasil. Lá, fundaram uma colônia chamada Nova Holanda, que Porém, a política expansionista holandesa não seria freada ai,
incluía Pernambuco e outras capitanias. Seu principal interesse era visto que no mesmo ano estes partiriam para tentar, sem sucesso,
controlar os centros de produção de açúcar. a conquista da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Tal conquista,
A invasão holandesa ao Nordeste Brasileiro se deu entre os anos porém, já estaria concretizada em 1635, quando o domínio holandês
de 1630 e 1654, com dois grandes períodos de guerras: 1630-1635 no Brasil, ou o “Brasil Holandês” já chega até o Rio Grande do
e 1645-1654 quando os portugueses finalmente reconquistaram o Norte. Até junho do mesmo ano, excetuavam-se somente o Arraial
centro econômico de sua principal colônia. O senso comum e os de Bom Jeses e o Forte de Nazaré nesta conquista, porém neste
discursos dos guias turísticos mostram, mesmo que indiretamente, mês caem estes dois últimos focos de resistência.
a idéia de que o Brasil poderia ser bem diferente se a colonização
holandesa tivesse funcionado. Não existiria um Brasil coeso, mas OS HOLANDESES NO COMÉRCIO DE AÇÚCAR
com certeza este Brasil holandês teria algumas bases sociais e Desde a implantação da produção açucareira no Brasil, os
econômicas bem diferentes do nosso Brasil português. holandeses foram parceiros dos portugueses. Financiavam a
A visão deste “Brasil melhor” que é tanto difundida, é construção de engenhos, refinavam o açúcar brasileiro e distribuíam
influenciada pelo fato do governador da colônia holandesa ter o produto na Europa. Com isso, obtinham lucros elevados.
sido o Conde Maurício de Nassau, cuja popularidade era ampla A situação se modificou em 1580, quando Portugal e a Espanha
entre todas as culturas. A tomada do Nordeste Brasileiro pela se uniram num mesmo reino, governado pelo rei espanhol Filipe
WIC (Companhia Holandesa das Índias Ocidentais) se deu após II. A junção dos dois países tornou-se conhecida como União
diversos anos de estudos, onde grande parte da comunidade judaica Ibérica e durou até 1640.
Com a união dos reinos, as decisões sobre a administração das
local colaborou com os invasores, devido às perseguições sofridas
colônias portuguesas, como o Brasil, passaram a ser tomadas pelos
junto aos católicos. Também foram utilizados alguns espiões nos
espanhóis. Uma das medidas tomadas pela Espanha foi excluir a
barcos que para cá vieram, que registraram a geografia do local e
Holanda dos negócios açucareiros no Brasil.
levaram índios à Europa. Havia dois interesses fortemente ligados
Para retomar o controle do açúcar, os holandeses fundaram
na decisão holandesa de dominar as colônias sul-americanas dos
em 1621 a Companhia das Índias Ocidentais. Era uma empresa
portugueses.
comercial autorizada a operar o comércio e a navegação na
O primeiro deles era o fato da Holanda ter se tornado inimiga
América e na África. Seu projeto, na verdade, era ocupar as regiões
de Portugal após este ser vassalo da Espanha, o outro o financeiro produtoras de açúcar.
propriamente falando, visto que a produção e o comércio de açúcar Em 1624, navios holandeses financiados pela Companhia das
eram extremamente lucrativos e os holandeses já dominavam as Índias Ocidentais chegaram ao Brasil trazendo homens fortemente
transações comerciais deste produto. Após a morte do infante D. armados.
Henrique em 1580, houve uma grave crise na linha de sucessão ao
trono português, visto que o jovem Rei ainda não havia deixado O BRASIL HOLANDÊS
herdeiros. Não me atarei muito às discussões da corrida de sucessão Os holandeses bombardearam e ocuparam Salvador, capital
de Portugal, visto que este não é o tema deste trabalho. Após muita da colônia e grande centro da produção açucareira.
discussão internacional e uma tentativa de golpe, finalmente o Para deter os holandeses, os combatentes da colônia
Rei de Espanha, Felipe II (Felipe I de Portugal) assume o trono organizaram guerrilhas. Essa estratégia consiste na formação de
fazendo com que Portugal se torne inimigo consequentemente grupos que atacam o inimigo de surpresa e se movem com muita
da Holanda, por esta ser inimiga da Espanha. A Holanda tinha agilidade. Depois de um ano de enfrentamentos, os holandeses se
diversos investimentos no Brasil com empréstimos a senhores de renderam e abandonaram Salvador.
engenho e intensas ligações comerciais com a venda de açúcar e Em 1630, os holandeses voltaram ao Brasil. O alvo dessa vez
de paubrasil. foi à capitania de Pernambuco, o maior centro produtor de açúcar
Em 1621 foi criada a Companhia das Índias Ocidentais, de da colônia.
capital aberto na Bolsa de Valores de Amsterdã, e nos mesmos A primeira invasão se deu pela cidade de Olinda, que
moldes da já importante Companhia das Índias Orientais. Quem conquistaram e em seguida incendiaram. Os holandeses acabaram
presidia a WIC (sigla em flamengo) era o Conselho dos XIX. sendo combatidos e novamente expulsos.
Primeiramente tentou-se conquistar a cidade de Salvador, capital Determinados a ocupar uma parte do Brasil, eles voltaram
administrativa da colônia portuguesa, porém com a derrota optou- à capitania com uma esquadra de setenta navios. Dessa vez
se por Olinda e Recife, centros econômicos. Em 1630 uma frota conseguiram vencer as tropas do governo e instalar-se em uma
composta de 56 navios, com 3780 tripulantes e 3500 soldados vasta região, de Pernambuco ao Rio Grande do Norte. Contaram
chega a Olinda. Rapidamente dominaram esta vila e pouco tempo para isso com a ajuda de um colono português que conhecia bem
depois a de Recife. a região: Domingos Fernandes Calabar. Pela ajuda que deu aos
holandeses, Calabar foi enforcado em 1635, acusado de traição.
Didatismo e Conhecimento 28
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Os holandeses consolidaram seu domínio no Nordeste e Depois de perder muitos confrontos como os dois
fundaram ali uma colônia, a Nova Holanda. A presença holandesa enfrentamentos chamados Batalha de Guararapes, os holandeses
no Brasil se estendeu de 1630 a 1654. finalmente se retiraram do Brasil, em 1654. As negociações de
paz foram assinadas em 1661. Os holandeses se comprometeram
O GOVERNO DE MAURÍCIO DE NASSAU a desistir de ocupar o Brasil. Em troca, receberam de Portugal uma
indenização e duas colônias: o Ceilão (atual Sri Lanka) e as ilhas
A Companhia das Índias Ocidentais contratou o conde Molucas (parte da atual Indonésia).
Maurício de Nassau para governar o Brasil holandês.
Nassau assumiu o cargo em 1637 e ampliou os domínios CONSEQUÊNCIA DA EXPULSÃO DOS HOLANDESES
holandeses no Brasil, estendendo o território da Nova Holanda
desde o Ceará até a foz do rio São Francisco e depois incluindo Paz de Haia (1661): Portugal e Holanda fazem negociação de
parte de Sergipe. Seu governo caracterizou-se pelas relações terras invadidas, conquistadas e do dinheiro que a Holanda gastou
pacíficas com o poder colonial. no Brasil, sob a ameaça da guerra retornar;
Para que não faltassem escravos na lavoura açucareira, Portugal tinha o tráfico negreiro e o açúcar. Portugal prefere
investir no açúcar, faz desse sua principal atividade econômica.
os holandeses conquistaram também as fontes portuguesas de
Portugal retoma o Nordeste açucareiro do Brasil e retoma a Angola
suprimentos de escravos na África.
que estavam sob o domínio holandês.Portugal paga indenização à
Nassau investiu na recuperação dos engenhos, destruídos nos
Holanda, pelo dinheiro gasto por ela aqui.
vários anos de guerra entre os colonos de origem portuguesa e Holanda recebe indenização do Brasil. Recebe ainda, a Costa
os holandeses. Para isso, a Companhia fez vultosos empréstimos do Marfim no lugar de Angola e recebe a ilha de Sal de Setúbal. A
aos proprietários de engenhos, com juros reduzidos e corte de Holanda com a invasão do Brasil passou a ter o conhecimento da
impostos. produção do açúcar e tinha escravos ( Costa do Marfim) e começa
Outra medida de Nassau foi obrigar os proprietários rurais a a investir na produção de açúcar nas Antilhas. O açúcar antilhano
plantar mandioca, a fim de garantir alimento para a população. tinha maior qualidade e era mais barato. Tinha maior qualidade,
O governo de Maurício de Nassau fez também grandes pois era a Holanda que refinava o açúcar. Era mais barato pois
investimentos urbanísticos nos domínios holandeses do Brasil. o escravo luso era taxado para o senhor de engenho e o escravo
Recife foi elevada a capital de Pernambuco, no lugar de holandês não era taxado. E a cana era utilizada pela Holanda com
Olinda, e recebeu muitos melhoramentos, como pontes, canais, maior produtividade.
jardins, palácios e um observatório astronômico. O nome de Agindo como mediadora, a Inglaterra obteve grandes
Recife passou a ser Cidade Maurícia. vantagens em relação a Portugal, a quem passava a dominar.
Além disso, Nassau trouxe pintores, cientistas, médicos, a aliança entre os Stuart e os Bagança, celebrada no Tratado de
arquitetos e historiadores para estudar e retratar o território Paz e caamento, determinava que Portugal entregaria Tânger
administrado por ele. Entre os pintores, destacaram-se Albert e Bombaim à Inglaterra, além de permitir que 4 mercadores
Eckhout e Frans Post, que produziram muitas obras com paisagens britânicos residissem em praças portuguesas da Índia. A princesa
e cenas do período. Catarina, casando com o rei Carlos II, levava um dote de 2 milhões
A tolerância religiosa foi outra importante característica de cruzados e a Inglaterra se comprometia a agir de acordo com
do governo de Nassau. Os judeus, que sofriam perseguições na as conveniências de Portugal e seus domínios. Texto adaptado de
Europa e eram obrigados a converter-se ao cristianismo, puderam ALENCAR. F et al
praticar seus cultos e construir a primeira sinagoga da América no
Recife.
O ESTADO DO MARANHÃO E GRÃO-
FIM DO DOMÍNIO HOLANDÊS PARÁ: A REVOLTA DE BEQUIMÃO.
CAUSAS.
Em 1644, a produção de açúcar no Brasil atravessou uma
séria crise. Epidemias provocaram a morte de muitos escravos e
uma seca devastou as plantações de cana. A Companhia das Índias
Ocidentais decidiu cobrar dos fazendeiros o pagamento imediato A Revolta de Beckman, também Revolta dos Irmãos Beckman
dos empréstimos recebidos. Quem não pagasse teria seus bens ou Revolta de Bequimão, ocorreu no então Estado do Maranhão,
confiscados. em 1684. É tradicionalmente considerada como um movimento
Maurício de Nassau se opôs à cobrança, porque a maioria nativista pela historiografia em História do Brasil.
dos fazendeiros enfrentava dificuldades econômicas. Os O sobrenome Beckman, de origem germânica, também é
desentendimentos do governador com a Companhia das Índias grafado em sua forma aportuguesada, Bequimão.
levaram-no a demitir-se em 1644 e a voltar para a Holanda.
Com sua partida, a Companhia aumentou as pressões pelo ANTECEDENTES
pagamento das dívidas. Os senhores de engenho reagiram
liderando uma revolta para expulsar os holandeses. O movimento, O Estado do Maranhão foi criado à época da Dinastia Filipina,
denominado Insurreição Pernambucana, eclodiu em 1645 e em 1621, compreendendo os atuais territórios do Maranhão,
prolongou-se por nove anos, contando com o apoio de indígenas Ceará, Piauí, Pará e Amazonas. Essa região subordinava-se, desse
e de escravos africanos alforriados. Os revoltosos receberam modo, diretamente à Coroa Portuguesa. Entre as suas atividades
também a ajuda de tropas enviadas pelo governo da Bahia. econômicas destacavam-se a lavoura de cana e a produção de
Didatismo e Conhecimento 29
HISTÓRIA DO MARANHÃO
açúcar, o cultivo de tabaco, a pecuária (para exportação de couros) A Companhia passou a ser objeto de acusações de não fornecer
e a coleta de cacau. A maior parte da população vivia em condições anualmente o número de escravos estipulado pelo Regimento,
de extrema pobreza, sobrevivendo da coleta, da pesca e praticando de usar pesos e medidas falsificados, de comercializar gêneros
uma agricultura de subsistência. Desde meados do século XVII, o alimentícios deteriorados e de praticar preços exorbitantes. Esses
Estado do Maranhão enfrentava séria crise econômica, pois desde fatos, somados às isenções concedida aos religiosos conduziria a
a expulsão dos Holandeses da Região Nordeste do Brasil a empresa uma revolta.
açucareira regional não tinha condições de arcar com os altos
custos de importação de escravos africanos. Neste contexto, teve ECLOSÃO DA REVOLTA
importância à ação do padre Antônio Vieira (1608-1697) que, na
década de 1650, como Superior das Missões Jesuíticas no Estado Após alguns meses de preparação, Aproveitando a ausência
do Maranhão, implantou as bases da ação missionária na região: do Governador Francisco de Sá de Meneses, em visita a Belém do
pregação, batismo e educação, nos moldes da cultura portuguesa e Pará, a revolta eclodiu na noite de 24 de fevereiro de 1684, durante
das regras estabelecidas pelo Concílio de Trento. as festividades de Nosso Senhor dos Passos. Sob a liderança
Posteriormente, pela lei de 1º de abril de 1680, a Coroa dos irmãos Manuel e Tomás Beckman, senhores de engenho na
determinava a abolição da escravidão indígena, sem qualquer região, e de Jorge de Sampaio de Carvalho, com a adesão de outros
exceção, delimitando, mais adiante, as respectivas áreas de atuação proprietários, os comerciantes eram insatisfeitos com a guarda do
das diversas ordens religiosas. governo, um grupo de sessenta a oitenta homens mobilizou-se para
Para contornar a questão de mão-de-obra, os senhores de a ação, assaltando os armazéns da Companhia.
engenho locais organizaram tropas para invadir os aldeamentos Já nas primeiras horas do dia seguinte os sediciosos tomaram
organizados pelos Jesuítas e capturar indígenas como escravos. o Corpo da Guarda em São Luís, integrado por um oficial e cinco
Estes indígenas, evangelizados, constituíam a mão-de-obra soldados. Partiram dali, com outros moradores arregimentados
utilizada pelos religiosos na atividade de coleta das chamadas no trajeto, para a residência do Capitão-mor Baltasar Fernandes,
drogas do sertão. Diante das agressões, a Companhia de Jesus que clamava por socorro, sem sucesso. Registra o historiador
recorreu à Coroa, que interveio e proibiu a escravização do maranhense João Francisco Lisboa que “Beckmanintimou-lhe a
indígena, uma vez que esta não trazia lucros para a Metrópole. voz de prisão e suspensão do cargo, acrescentando, como que por
Para solucionar esta questão, a Coroa instituiu a Companhia
mofa, que para tornar-lhe aquele mais suave o deixava em casa
doComércio do Maranhão (1682), em moldes semelhantes
entregue à guarda da sua própria mulher, com obrigações de fiel
ao da Companhia Geral do Comércio do Brasil (1649). Pelo
carcereira. Baltasar Fernandes gritou que preferia a morte a tal
Regimento, a nova Companhia deteria o estanco (monopólio)
afronta intolerável para um soldado; mas a multidão, sem fazer
de todo o comércio do Maranhão por um período de vinte anos,
cabedal dos seus vãos clamores, tomou dali para o Colégio dos
com a obrigação de introduzir dez mil escravos africanos (à
Padres, a quem deixaram presos e incomunicáveis com guardas
razão de quinhentos indivíduos por ano), comercializando-os a
à vista.”
prazo, a preços tabelados. Além do fornecimento destes escravos,
Posteriormente à ocupação do Colégio dos Mascates em
deveria fornecer tecidos manufaturados e outros gêneros europeus
necessários à população local, como por exemplo o bacalhau, 1685, foram expulsos do Maranhão os vinte e sete religiosos ali
os vinhos e a farinha de trigo. Em contrapartida, deveria enviar encontrados.
anualmente a Lisboa pelo menos um navio do Maranhão e outro do Ocorreram devido a grande insatisfação dos comerciantes,
Grão-Pará, com produtos locais. O cacau, a baunilha, o pau-cravo proprietários rurais em geral com a companhia de comércio do
e o tabaco, produzidos na região, seriam vendidos exclusivamente Maranhão, instituída pela coroa portuguesa em 1682.
à Companhia, por preços tabelados. Para obtenção da farinha de Os comerciantes reclamavam do monopólio da companhia.
mandioca necessária à alimentação dos africanos escravizados, Os proprietários rurais contestavam os preços pelos quais a
era permitido à Companhia recorrer à mão-de-obra indígena, companhia pagava por seus produtos.
remunerando a de acordo com a legislação em vigor. Graças à Já a grande parte da população maranhense estava insatisfeita
intercessão do Governador Francisco de Sá de Meneses, apenas os com a baixa qualidade e altos preços cobrados pelos produtos
jesuítas e franciscanos ficaram livres do monopólio exercido pela como trigo, bacalhau e vinho chegavam à região em quantidades
Companhia. insuficientes, e em péssimas condições para o consumo.
Sem conseguir cumprir adequadamente os compromissos, a Havia também o problema de falta de mão-de-obra escrava na
operação da Companhia agravou a crise econômica e fez crescer o região. Os escravos fornecidos pela companhia eram insuficientes
descontentamento na região: para as necessidades dos proprietários rurais. Uma solução seria a
Os comerciantes locais sentiam-se prejudicados pelo escravizão de indígenas, porém os jesuítas eram contra.
monopólio da Companhia;
Os grandes proprietários rurais entendiam que os preços A JUNTA REVOLUCIONÁRIA
oferecidos pelos seus produtos eram insuficientes;
Os apresadores de indígenas, contrariados em seus interesses, A 25 de fevereiro a revolta de Beckman estava consolidada,
reclamavam da aplicação das leis que proibiam a escravidão dos organizando-se na Câmara Municipal, uma Junta Geral de
nativos; Governo, composta por seis membros, sendo dois representantes
A população protestava contra a irregularidade do de cada segmento social - latifundiário, clero e comerciantes. Para
abastecimento dos gêneros e os elevados preços dos produtos. legitimá-la, foi celebrado um Te Deum. As principais deliberações
desta Junta foram:
Didatismo e Conhecimento 30
HISTÓRIA DO MARANHÃO
- a deposição do Capitão-mor; Aproveitando-se oportunamente de situações externas
- a deposição do Governador; favoráveis – a Revolução Industrial que ocorria na Inglaterra e a
- a abolição do estanco; Guerra da independência das treze Colônias inglesas na América -
- a extinção da Companhia de Comércio; a Companhia, em meados do século XVIII, estimulou o plantio do
- a expulsão dos Jesuítas. algodão no Maranhão, financiando esta atividade. A exportação do
A Junta enviou emissários ao Belém do Pará, onde se produto cresceu significativamente naquele contexto. Entretanto,
encontrava o Governador deposto do Maranhão, objetivando a quando a Inglaterra reatou relações com a sua antiga Colônia, a
adesão dos colonos dali. O Governador recebeu-os, prometendo- produção maranhense entrou em declínio.
lhes abolir a Companhia do Comércio, anistiar a todos os Estas situações, entre outras dificuldades, levaram à extinção
envolvidos, e ainda honras, cargos e verbas (4 mil cruzados) caso do Estado do Maranhão em 9 de julho de 1774. As suas antigas
os revoltosos depusessem as armas. A proposta foi recusada. capitanias ficaram subordinadas ao Vice-rei do Brasil, com sede
Do mesmo modo, a Junta enviou Tomás Beckman como no Rio de Janeiro.
emissário à Corte em Lisboa, visando convencer as autoridades Ao mesmo tempo, a expulsão dos Jesuítas, promovida por
metropolitanas que o movimento era procedente e justo. Sem Pombal, fez desorganizar a atividade da coleta das drogas do
sucesso, recebeu voz de prisão no Reino e foi trazido preso de sertão na Amazônia.
volta ao Maranhão, para ser julgado com os demais revoltosos.
HISTORIOGRAFIA X VISÃO ECONOMICISTA
A REPRESSÃO AO MOVIMENTO
A classificação da Revolta de Beckman como nativista
A Metrópole Portuguesa reagiu, enviando um novo obedece antes a critérios de sistematização que propriamente a
Governador para o Estado do Maranhão, Gomes Freire de uma motivação verdadeiramente nativa, na opinião de alguns
Andrade. Ao desembarcar em São Luís, em 15 de maio de 1685, à historiadores, influenciados pelo economicismo. Seria, antes, um
frente de efetivos militares portugueses, este oficial não encontrou movimento “isolado e não contestou a dominação metropolitana,
resistência. mas apenas um de seus aspectos: o monopólio”.
Neste ano de revolta, o movimento tivera várias defecções Os fatos, porém, dão outra dimensão, menos simplista: o
entre seus entusiastas: eram os descontentes, arrependidos, os
pedido de apoio a Pará, e a própria declaração de Beckman,
moderados e os que temiam as mudanças. À chegada de Gomes
por exemplo, colocam efetivamente este movimento dentre os
Freire não se opusera Manuel: tencionava libertar o irmão Tomás.
primeiros onde já se esboçava um verdadeiro sentimento nativista,
Os emissários do novo governante logo tomaram conhecimento
claramente desencadeado por razões econômicas. A partir de 1650,
do estado das coisas. Os mais comprometidos com a revolta
o Maranhão enfrentou uma grande crise econômica e faltou mão
deliberaram pela fuga, enquanto Beckman permaneceu. Gomes
de obra indígena para a lavoura, isto é o mesmo que neve e fogo.
Freire, então, restabeleceu as autoridades depostas, ordenando
a detenção e o julgamento dos envolvidos no movimento, assim
como o confisco de suas propriedades. Expediu ordem de prisão MAS, AFINAL DE CONTAS, QUEM ERAM ESSES
contra Manuel Beckman, que fugira, oferecendo por sua captura “FURIOSOS”?
o cargo de Capitão dos Ordenanças. Lázaro de Melo, afilhado e
protegido de Manuel, trai o padrinho e entrega-o preso, obtendo a Não há dúvida de que o grosso dos revoltosos era constituído
cobiçada recompensa. por portugueses e seus descendentes, originários dos diversos
Entretanto, empossado, os seus comandados repudiaram-lhe grupos sociais que compunham aquela sociedade colonial. Pouco
o gesto vil, recusando-se a obedecer-lhe as ordens. Queixando- antes da revolta de 1661 eclodir em São Luís, 177 moradores da
se disto ao governador, afirma-se que Gomes Freire teria lhe cidade, homens e adultos, assinaram um manifesto queixando-
respondido que prometera o cargo, não o respeito dos comandados. se dos jesuítas e das dificuldades que estes religiosos punham ao
Apontados como líderes, Manuel Beckman e Jorge de uso da mão-de-obra indígena. Se considerarmos que a população
Sampaio receberam como sentença a morte pela forca. Os demais adulta e masculina de São Luís nos anos 1660 variava em torno de
envolvidos foram condenados à prisão perpétua. Manuel Beckman 300 a 600 moradores (não há certeza quanto a estes dados), não
e Jorge Sampaio foram enforcados a 2 de novembro de 1685 (10 de há dúvida que a representação parecia ser bastante significativa.
novembro, segundo outras fontes). A última declaração de Manuel Durante a rebelião de 1684, os insurgentes elegeram representantes
foi: “Morro feliz pelo povo do Maranhão!”. Tendo os seus bens ido dos três “estados” que compunham a sociedade.
a hasta pública, Gomes Freire arrematou-os todos e devolveu-os à A partir desta eleição, constituiu-se também uma junta que
viúva e filhas do revoltoso. governaria com a Câmara da cidade. Apesar de alguns relatos de
contemporâneos como o do padre jesuíta João Felipe Bettendorf e
CONSEQUÊNCIAS o de Francisco Teixeira de Morais insistirem na impopularidade da
revolta de Beckman, não há dúvida quanto à adesão de boa parte
A situação de pobreza da população do Estado do Maranhão da população ao levante (tal qual acontecera em 1661), além do
perdurou no decorrer das primeiras décadas do século XVIII. decisivo apoio das Câmaras. Texto adaptado de COUTINHO, M
Na segunda metade desse século a administração do Marquês
de Pombal (1750-1777) tentou encaminhar soluções para as graves
questões da região. A administração pombalina, dentro da política
reformista adotada, criou, entre outras medidas, a Companhia
Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão.
Didatismo e Conhecimento 31
HISTÓRIA DO MARANHÃO
COMPANHIA DE COMÉRCIO DO
MARANHÃO E GRÃO-PARÁ.
A Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão foi uma empresa privilegiada, de caráter monopolista, criada pelo Marquês
de Pombal, na segunda metade do século XVIII, em Portugal. Fundada em 1755, destinava-se a controlar e fomentar a atividade comercial
com o Estado do Grão-Pará e Maranhão, fortalecendo a praticado mercantilismo no reino.
Diante da proibição da escravidão indígena no Estado do Grão-Pará Maranhão a Companhia teve a sua origem numa petição,
encaminhada em1752 pela Câmara Municipal de São Luís do Maranhão ao Governador e Capitão-general, Francisco Xavier de Mendonça
Furtado, para que fosse criada uma sociedade autorizada a explorar o comércio de importação de escravos africanos. Este a acolheu de bom
grado e, após ter conseguido o apoio dos cidadãos mais influentes de Belém do Pará, encaminhou-a com sua aprovação ao seu meio-irmão,
o Marquês de Pombal.
No Reino, no âmbito da vasta reestruturação administrativa que promovia à época, Pombal atraiu para as idéias grandes comerciantes
das praças de Lisboa e do Porto. Desse modo, fundava-se a Companhia, a 7 de Agosto de 1755, com um capital social de 1.200.000 cruzados.
Os objetivos da Companhia eram os de vender escravos africanos em grande escala nas capitanias do Grão-Pará e Maranhão, com isso
desenvolvendo a agricultura e fomentando o comércio.
Para esse fim, recebeu diversos privilégios, como o do monopólio por vinte anos do tráfico de escravos e do transporte naval de outras
mercadorias para aquelas capitanias, o de dispor de navios da Armada Real para a escolta de seus navios de transporte, o reconhecimento de
que os seus funcionários estavam oficialmente a serviço de El-Rei, prioridade para as suas mercadorias nas Alfândegas, foro especial para
as suas causas, entre outros. Esses privilégios foram posteriormente ampliados pelo chamado “Alvará Secreto” de 1757, ano anterior ao em
que zarparia a primeira de suas frotas para o Brasil (1758).
Esse grande número de facilidades e prerrogativas concedido à Companhia por parte do Estado foi criticado pela Companhia de Jesus,
prejudicada em suas explorações comerciais na região. Como exemplo, o padre Manuel Ballestre, de seu púlpito em Lisboa, afirmou: “quem
entrar nesta Companhia não entrará na de Cristo, nosso Redentor.” Essa fala custou-lhe o desterro sumário da Corte.
Didatismo e Conhecimento 32
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Ao mesmo tempo, de São Luís, o bacharel em Direito João regiões do norte e nordeste do país, respetivamente, tendo em vista
Tomaz de Negreiros, instigado pelo vice-provincial dos jesuítas o enfraquecimento da mineração nas hoje Minas Gerais. Como
e procurador das Missões no Maranhão, padre Bento da Fonseca, efeito secundário, senão subentendido, estas Companhias deveriam
peticionou à Coroa Portuguesa expondo o descontentamento dos fixar as fronteiras norte e nordeste do Brasil, principalmente frente
comerciantes locais, que se sentiam lesados pela concorrência aos espanhóis, que dominavam, então, grande parte do continente,
desleal. Pombal considerou a petição ofensiva e o seu desagrado especialmente nas Américas do Sul e Central.
traduziu-se na detenção do bacharel, do religioso, e de alguns A Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão
dos comerciantes signatários da petição. Ao mesmo tempo, A Companhia do Grão-Pará e Maranhão foi solicitada em 1752,
o Governador e Capitão-General recebeu ordens de não mais por carta escrita pela Câmara Municipal de São Luís do Maranhão
admitir qualquer ataque contra a Companhia, nomeadamente se - carta enviada ao Governador e Capitão-general Francisco
originado em interesses particulares eventualmente prejudicados. Xavier de Mendonça Furtado, a fim de que, por seu intermédio,
Todos os envolvidos deveriam ser punidos, tornando-se objeto de se resolvesse o problema havido com o comércio de importação
devassa. A mesma prática deveria ser aplicada aos padres que se no Brasil de escravizados africanos, à vista da abolição formal
aproveitassem do púlpito para instigar o descontentamento entre da escravatura indígena. Assim, com o apoio dos cidadãos mais
a população. influentes de Belém do Pará, este Governador endossou tal pedido
Apesar das críticas, a ação da Companhia trouxe grandes a seu meio-irmão, o Marquês de Pombal, então primeiro ministro
benefícios a São Luís: o comércio com a metrópole, antes de Portugal, até porque a idéia de uma Companhia coincidia com
incipiente, floresceu. Se até então o movimento resumia-se a um a política pombalina delineada. Prosseguindo e congregando
navio por ano para a Metrópole, entre 1760 e 1771 setenta e um grandes comerciantes de Lisboa, do Porto e do norte do Brasil,
navios dali partiram para o reino, transportando em seus porões foi ela fundada em 7 de agosto de 1755 (alvará de 7 de junho,
cargas de algodão, arroz, cacau, gengibre, madeira e outras. que aprovou seus estatutos), com sede na capital portuguesa: teve,
Com relação ao movimento de escravos, calcula-se que, até na origem, o objetivo de adquirir em grande quantidade, para as
1755, data de sua criação, ingressaram apenas três mil africanos capitanias do Grão-Pará e Maranhão, escravizados oriundos de
no Estado do Grão- Pará e Maranhão. Entre 1755 e 1777, esse África, para desenvolver a agricultura.
número saltou para doze mil. A aquisição dessa mão-de-obra em Ressalte-se que esta Companhia representa, em grau elevado
Cacheu, Bissau e Angola, era financiada pela Companhia. Maria de maturação, as idéias emanadas do fisiocratismo que, nos inícios
I de Portugal extinguiu-lhe o monopólio, no início da década do séc. XVII, informaram as políticas do ministro de D. Pedro II,
de 1780, no contexto da chamada “Viradeira”, extinguindo a D. Luís de Meneses, e desaguaram nas companhias que o Marquês
própria Companhia em 25 de Fevereiro de 1778. A sua liquidação, de Pombal ergueu, mesmo ferindo interesses instalados que,
entretanto, arrastou-se ao longo das décadas, sendo concluída contra elas, se ergueram, já no período de meados do séc. XVIII, e
apenas em 1914. que tiveram grandes consequências no arquipélago de Cabo Verde,
como se verá em tópico próprio. Em 1751 foi criado, no norte do
BANDEIRA atual Brasil, o Estado do Grão-Pará e Maranhão, subordinado
diretamente a Lisboa, não à capital do então Estado do Brasil,
A sua bandeira era retangular, de fundo branco, tendo Rio de Janeiro; para governá-lo, Pombal enviou seu meio-irmão,
descentrada, à esquerda, uma estrela grande, amarela, de sete Francisco Xavier de Mendonça Furtado, com o fim de aplicar, na
pontas tendo ao centro a figura de Santo Antônio voltado para colónia, a política de transformação, nos moldes da Metrópole.
a esquerda, com o menino Jesus em seus braços. Sob a estrela,
o lema da Companhia: “UT LUCEAT OMNIBUS” (“Que a luz
brilhe para todos”).
O BRASIL
Didatismo e Conhecimento 33
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Este, na aplicação desta política, promoveu o reconhecimento Para tanto, sua administração compunha-se de um provedor,
físico do território e, neste processo, fundou a vila de S. José de um secretário e oito deputados, de entre os quais seriam eleitos
Macapá, hoje capital do Amapá, além de visitar diversas aldeias um vice-provedor e um substituto, o que dava capacidade à
indígenas nas margens do Amazonas, Tapajós e Xingu. Junta de Lisboa para eleger os oficiais necessários para seu bom
Em 1752, passou a ser o principal comissário, plenipotenciá- governo, e para serem criadas direções e administrações no
rio, para o norte da América Portuguesa, ficando responsável pela Porto, Maranhão, Pará, Cabo Verde, Cacheu, Bissau e Angola;
execução de diversos acordos internacionais; dentre os quais, a de- os estatutos referiam “administradores, feitores e caixeiros que
marcação das fronteiras norte do país. servirem a dita Companhia em qualquer dos portos ultramarinos”.
Para facilitar sua atuação, foi-lhe garantido usufruir de grande
série de privilégios, dentre os quais:
- exclusividade para o comércio de escravizados africanos no
Grão-Pará e Maranhão;
- dispor da frota naval da Armada Real, para lhe fazer escolta
contra eventuais ataques piratas;
- reconhecimento que seus funcionários estavam, oficialmente,
ao serviço de ElRei de Portugal;
- prioridade nas alfândegas;
- foro especial para suas causas.
Além disto, detinha ela não só o privilégio da exclusividade
da navegação, como também do comércio e do fornecimento da
escravatura em toda a região em que atuava; isto tudo concedido
por um período de vinte anos, contados a partir da expedição da
primeira frota.
Note-se que estes privilégios foram posteriormente ampliados
pelo chamado “Alvará Secreto” de 1757, ano anterior àquele em
que zarparia a primeira das suas frotas para o Brasil, para onde
a Companhia, além de escravizados africanos, comerciava, com
exclusividade, ressalte-se, produtos manufaturados, vários gêneros
alimentícios, ferramentas e utensílios diversos, retornando com
açúcar, café, cacau, madeira, tabaco, 10 as chamadas “drogas do
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, fundador de Macapá sertão”, etc.; isto, transitando entre os portos de Bissau, Cacheu,
Fonte: < http://casteloroger.blogspot.com.br/2013/02/ Cabo Verde, norte do atual Brasil, Costa da Mina, Madeira e
macapa-e-seus-255-anos.html> Açores.
Com todos estes incentivos e o respeitável capital de que
Com o intuito de colonizar efetivamente a região, e em acordo dispunha, a Companhia deteve o monopólio do comércio da
com a política de seu meio-irmão, já então primeiro-ministro em região por vinte anos, conforme lhe garantia o estatuto, já em
Portugal, incentivou não só a vinda de portugueses, como também sua constituição; neste período, estimulou as culturas locais com
o casamento destes com as índias: em 4 de abril de 1755, o a venda de maquinarias e a facilitação de créditos, transporte e
Marquês aprovou alvará, com força de lei, concedendo privilégios fretes. Também fez concessões de sesmarias para incentivar a
a estes reinóis. agricultura, beneficiando os agraciados com a isenção de impostos
No mesmo ano dá-se início à Companhia de Comércio do
e a distribuição de instrumentos agrícolas, entre outras vantagens;
Grão-Pará e Maranhão, cuja fundação ocorre com grande aporte
como mão-de-obra, assegurou o fornecimento de escravizados
de capital provindo de comerciantes de Lisboa, e que é o objeto
deste estudo. A Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão africanos para a região. Por outro lado, é preciso assinalar que,
Para adentrar no estudo da ação da Companhia, é imprescindível apesar das numerosas críticas de que foi alvo, é fora de dúvida que
registar que, já antes de sua criação, ou seja, em 4 de abril de a ação da Companhia trouxe benefícios para São Luís, fazendo
1741, o Brasil conhecera a abolição formal da escravatura dos florescer o comércio com Portugal, antes incipiente: se, até então,
índios locais, e que era principalmente do trabalho forçado o movimento se resumia a um navio por ano para a Metrópole,
indígena que sobrevivia a economia da região. É de se destacar, durante os onze anos que permeiam de 1760 a 1771, setenta e um
também e fechando o quadro, que esta economia se assentava, navios correram para o reino, transportando produtos diversos, tais
principalmente, sob domínio jesuíta, e que a criação da Companhia como arroz, algodão, cacau nativo, madeira, “drogas do sertão”.
foi justificada, entre outros argumentos, como estratégia para o
cumprimento efetivo daquela abolição, cabendo-lhe, entre outros
encargos, o de suprir a região de mão-de-obra africana escrava
em substituição daquela cuja extinção estava instituída. Como
decorrência, a Companhia, criada por Alvará em 7.jun.1755 e com
sede em Lisboa, conforme já visto, deveria, entre seus objetivos
principais, obter e vender, em grande escala, escravizados negros
nas capitanias sob sua influência, bem como promover o comércio
triangular entre África, Brasil e Europa.
Didatismo e Conhecimento 34
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Por outro lado, o processo extrativista, como é de sua
natureza, não se preocupava com a reposição e manutenção dos
produtos coletados que, em consequência, ou começaram a rarear,
ou se tornaram de difícil obtenção; quanto aos comerciantes
locais, pouco lucro podiam obter, já que a Companhia detinha
o monopólio do comércio de 12 bens essenciais, com o que
os preços praticados eram abusivos no momento da venda; e
irrisórios, no momento da compra. Como consequência, a atuação
da Companhia passou a sofrer forte contestação, de tal forma que,
em Lisboa, o padre Manuel Ballestre, do púlpito, decretou que
“quem entrar nesta Companhia, não entrará na de Cristo, nosso
Redentor”. Foi desterrado. Também no Maranhão, o padre Bento
da Fonseca, vice-provincial dos jesuítas e seu procurador nas
Missões locais, convenceu o advogado João Tomaz de Negreiros
a, juntos, peticionarem à Coroa, acusando a Companhia de
concorrência desleal, o que causava forte descontentamento nos
comerciantes locais.
O facto provocou forte reação no Marquês: os principais
peticionários, assim como alguns comerciantes que os
acompanharam, foram presos, e o Marquês determinou que o
Quanto à escravatura, estima-se que, até antes da criação da governador, a partir de então, punisse severamente todos aqueles
Companhia, havia três mil escravizados africanos no local; mas, que se levantassem contra a Companhia. Entretanto, com a
após o início da atuação dela, este número subiu para algo em torno economia local em forte declínio e um ano após a morte de D.
de doze mil por volta de 1777, embarcados sobretudo em Cacheu,
José I, protetor de Pombal, o próprio empreendimento entra em
Bissau e Angola, estendendo-se a Cabo Verde, onde a Companhia
decadência: então, a rainha D. Maria I extingue o monopólio e a
se fixou também com todo o seu peso e a cobertura de Pombal.
própria Companhia, por decisão de 25 de fevereiro de 1778.
Neste ponto, para prosseguir, é preciso abordar outro ângulo: os
constantes conflitos entre a Corte e os jesuítas pela tutela dos índios
brasileiros; isto porque, desde o início da colonização, foram eles
acintosos e corriqueiros pela exploração da mão-de-obra indígena,
o que, em 1661, motivou, inclusive, a expulsão do Padre Vieira.
Portanto, era evidente que a criação de uma companhia
comercial na Amazônia, motivada por interesses comerciais,
naturalmente a oporia à Companhia de Jesus, em especial à
pretensão de ganhar crentes que, afetados por sua prática religiosa,
condenariam e se oporiam ao escravismo indígena tal como vinha
sendo exercido. Como os conflitos perdurassem e, em 1758, o rei
português sobrevivesse a um atentado contra a sua vida, Pombal
aproveitou-se da circunstância e conseguiu implicar os jesuítas
nesta tentativa. Então, utilizando-se desta justificativa, expulsou-
os, no ano seguinte, de todos os territórios sob domínio português;
a seguir estabeleceu, por lei, o que veio a ser conhecido como
Diretório dos Índios, ato pelo qual Pombal, entre outras medidas:
- decretou a primazia da autoridade civil sobre as missões até
então jesuítas;
- determinou a abolição dos costumes culturais indígenas,
com o que buscava assimilá-los;
- determinou, ainda, a interdição do idioma indígena, Porém, a série de conflitos e revoluções ocorridas na Europa,
oficializando o idioma português; que se iniciam com a Revolução Francesa, de 1789, precedida que
- obrigou à utilização de sobrenomes lusitanos, interditando foi pela independência dos Estados Unidos perante a Inglaterra,
todos os demais; e que continuam com, por exemplo, a Comuna de Paris de 1792
- introduziu a obrigatoriedade do uso de vestimentas e usos de e a expansão francesa comandada por Napoleão, fazem que
matriz ibérica; o consumo dos produtos locais caia vertiginosamente: afinal,
- proibiu a utilização do termo “negros” e “negros da terra” durante os conflitos, bens não essenciais não são, praticamente,
para a identificação dos índios. A decadência, no Brasil Porém, consumidos. Como consequência, não havendo consenso entre os
talvez como decorrência da política de exportação baseada no acionistas sobre o prolongamento da atividade, a Companhia entra
extrativismo, a economia local entrou em decadência: os índios em liquidação efetiva em princípios de 1784, transitando todo o
mansos e os negros, com pouca atividade, ou permaneciam sob seu espólio (bem como o da Companhia Geral de Pernambuco
regime escravo legal ou ilegal ou, espalhados pelas improdutivas e Paraíba) para a Direção Geral dos Próprios Nacionais e, mais
fazendas, engordavam as classes mais baixas da população. tarde, para o Arquivo Histórico do Ministério das Finanças
Didatismo e Conhecimento 35
HISTÓRIA DO MARANHÃO
do Brasil. Além disto, as novas filosofias difundidas a partir da Cabo Verde, assim como de escravizados para a Metrópole, os
revolução francesa e da independência norte-americana, bem domínios do Ultramar e a América espanhola”. Quinze anos mais
como o processo de independência do Haiti e, posteriormente, a tarde, viria ela a ser refundada, com a designação de “Companhia
mudança da corte de Portugal para o Brasil, fugindo das tropas de Cacheu e Cabo Verde”.
francesas, trazem insegurança ao comércio, e acendem o espírito A companhia tinha, como primeira ocupação, a escravatura.
de revolta e de modernização, mesmo que sob ação bélica, também “Por não ter conseguido um largo apoio dos moradores de Cabo
para o Brasil. Verde e da Guiné, não tardou a Companhia em dar prejuízo”,
Como consequência, a rebeldia se instala e, já a partir da refere Veríssimo Serrão, na obra citada, opinando que este facto
Independência, muitas rebeliões acontecem, fazendo com que foi “o que levou a Coroa em 1703 a não renovar o contrato”. A
qualquer tentativa de reavivar a Companhia caia por terra; por fim falta de comércio levou ao abandono de Bissau em 1707, sendo o
eclode, no Grão-Pará, a revolta denominada Cabanagem, que dura forte arrasado. O caudal de escravizados exportados para Portugal
de 1835 a 1840, dando fim a qualquer esperança neste sentido. e para o continente americano foi o seu motor, até que se extinguiu
Mesmo assim, a Companhia só é oficialmente extinta, assim em 1872.
como sua irmã, a Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba, em Uma terça parte da tonelagem dos seus navios estava
7.dez. 1914, quando a documentação pertinente é transferida para dependente dos moradores de Cabo Verde, estando-lhe vedado o
a Direção-Geral dos Próprios Nacionais e, posteriormente, para a comércio com outros países. A companhia assumia uma série de
Torre do Tombo, onde se encontra atualmente. encargos, entre eles o da reedificação e defesa da praça de Cacheu
Quanto a Pombal, com sua queda em desgraça diante da (entretanto construída), incluindo soldos, provisões e armas para
chamada “Viradeira, retira-se para sua propriedade rural, vindo a a guarnição militar e o pagamento da folha eclesiástica e secular.
falecer em 8 de maio de 1782, cinco dias antes de completar 83 Da ação desta companhia resultaram três Regimentos: Regimento
anos. que se deu ao Governador das ilhas de Cabo Verde João Cardoso
Pissarro, de 10 de maio de 1676; Regimento do Capitam Mór de
OUTRAS COMPANHIAS MONOPOLISTAS Cacheu, que levou quando se fez a Companhia; e Regimento para
o Feitor de Cacheu depois da Instituição da Companhia, ambos
É de destacar, todavia, que mesmo antes do aparecimento em de 20 de maio de 1676, que pautaram uma verdadeira reforma
cena da Companhia do Grão-Pará e Maranhão, outras companhias administrativa. Nesta companhia sobressaiu-se a família Bezerra:
monopolistas tinham-se imposto no espaço de Cabo Verde e Rios da João Barros Bezerra foi capitão-mor de Cacheu. Um dos seus
Guiné, fomentadas pelas idéias fisiocratas de D. Luís de Meneses, netos, António de Barros Bezerra de Oliveira, foi protagonista
ministro de D. Pedro II de Portugal. Foi o caso da Companhia de dos graves incidentes de 1764 em Ribeira Grande e Lisboa, e
Cacheu, Rios e Comércio da Guiné, vocacionada também para personalidade grada em Santiago.
o tráfico de escravizados, juntamente com os panos de algodão Em 1690, por alvará régio de 3 de janeiro, sucedeu-lhe a
e o marfim o negócio escravocrata imperava nestes territórios e Companhia do Cacheu e Cabo Verde, com o mesmo horizonte da
alimentava o Brasil e toda a América Latina. 18 Criada em 1675 anterior Companhia, e dedicada à mesma atividade; esta, existiu
(quatro anos antes, por proposta de Manuel da Costa Pessoa), teve por um curto período, até a sua estagnação, o que veio a acontecer
os seus privilégios confirmados por D. Pedro II, a 19 de maio de por volta de 1707, quando da destruição do forte de Bissau, após
1676. o abandono da sua capitania: os concorrentes franceses e ingleses
Cacheu, na Guiné-Bissau, era “a fonte principal do comércio de ganhavam alento na região, secando, deste modo e em proveito
Cabo Verde”, onde, segundo opina Veríssimo Serrão em “História próprio, a sua fonte geradora, a mão-de-obra escrava.
de Portugal”, os navios portugueses vinham obter escravizados e Com a criação da Companhia Geral do Comércio do Grão-
drogas da região. Destaque-se, ainda, que os franceses, instalados Pará e Maranhão em 1757, houve recuperação das atividades,
no Senegal, pretendiam assenhorear-se na costa da Guiné, pelo sendo transferidas, entre 1777 e 1786 (nove anos) pela Companhia,
que houve de salvaguardar o intenso tráfico negreiro por parte para o Monopólio do Comércio nas Ilhas de Cabo Verde, Bissau
dos portugueses. Situada nos chamados “Rios da Guiné”, recebeu e Cacheu, o que, por seu turno, deu lugar, até 1886, à Companhia
ela muitos lançados, descritos em grande parte como “cristãos- do Comércio da Costa d’África. Texto adaptado de SANTOS, A,
novos”, que mercandavam em especial para o entreposto negreiro, B, D; REBOCHO, N
que eram as ilhas do Cabo Verde, base relativamente segura a
partir do qual o negócio escravocrata se desenvolvia.
A partir de Cacheu, que era quase um adiantado para este
comércio, a plataforma dos comerciantes ao serviço da coroa OS OBJETIVOS DA REVOLTA.
portuguesa foi-se alargando: já em 1692, o régulo Bocampolco
permitira a fundação de uma capitania em Bissau, depois de se
ter verificado, em 1686, um levantamento popular em Cacheu
contra o capitão-mor José Gonçalves de Oliveira, testemunhando A chamada revolta de Beckman fora uma rebelião contra o go-
a oposição dos locais às negociatas que então se faziam; em 1698, verno colonial, em São Luís, em 25 de fevereiro de 1684. Não foi
com a autorização do novo régulo Incinhate, foi comprado o uma revolta popular, como alguns afirmam, pelo contrário, ficaram
terreno para o forte da Amura, em Bissau. bem estabelecidos os interesses dessa revolta.
Em 1675 foi fundada a Companhia de Cacheu, “que a 19 de Manuel Beckman era um senhor de engenho conhecido por
maio de 1676 viu os seus privilégios confirmados por seis anos. ser orgulhoso e carrancudo. Chegou a ser exilado em Gurupá, no
Tinha o direito de tráfico na costa da Guiné e no arquipélago de Maranhão. O motivo era interessante, lia livros proibidos e protes-
Didatismo e Conhecimento 36
HISTÓRIA DO MARANHÃO
tou contra a nomeação de um governador, ou seja, um homem de que trariam os escravos, também forneceria produtos importados
posicionamento firme para sua época. Beckman e seu irmão To- e comprariam a produção maranhense. Aparentemente um acordo
más lideraram a revolta de Beckman. Na data da revolta, grandes perfeito. Não obstante, o bacalhau, o trigo e vinho quase não che-
senhores de engenho prenderam os jesuítas dentro do seu próprio gavam e quando chegava estavam estragados, além dos escravos
colégio e também Baltasar Fernandes, capitão-mor, além de inva- negros serem oferecidos em alto preço e com quantidade menor.
direm a Companhia do Maranhão e instalarem um governo com Houve reclamações por parte dos proprietários de que a Compa-
seus ideais. nhia de Comércio roubava até nos pesos e medidas. Para piorar a
Esse governo tinha representantes do povo, do clero e da situação, a Companhia não aceitava como pagamento em açúcar,
nobreza e criaram procuradores populares para ouvirem as recla- cacau, couro ou tabaco, abaixando os preços desses itens no mer-
mações da população. Contudo não era uma democracia que se cado.
formava. Beckman tinha interesses em escravizar os índios. Os Diante desse histórico, a revolta de Beckman se faz reivindi-
caboclos já haviam sido disseminados na região. Os representantes cando na realidade mão-de-obra escrava e escoamento da produ-
do povo eram pessoas com alguma posse.O motivo da revolta era ção com preços condizentes.
a falta de mão-de-obra, que prejudicava os lucros dos senhores de Assumindo o poder, Beckman, o governador vencido na re-
engenho, latifundiários. volta, Sá de Meneses, tentou subornar o novo governo em vão.
O acordo foi buscado em Lisboa, onde Tomás Beckman, tentou
conseguir suas reivindicações.
O governo português venceu a revolta retirando a Companhia
de Comércio do Maranhão, dando condições dos preços de escra-
vos e dos alimentos baixarem. Gomes Freire de Andrade foi no-
meado novo governador do Maranhão.
Tais medidas esfriaram a revolta e os senhores de terras
abandonaram a causa. O governador decidiu punir os revoltosos
e Beckman é entregue as autoridades pelo próprio filho adotivo,
Lázaro de Melo.
Manuel Beckman foi enforcado em 2 de novembro de 1686.
Seu filho traidor recebeu a patente de capitão de uma das com-
panhias da nobreza, mas nenhuma das companhias aceitou o co-
mando traidor e ele é morto trucidado em uma moenda em seu
engenho.
OBJETIVOS
Didatismo e Conhecimento 37
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Depois de dominar toda a cidade, Manuel Beckman assumiu cidadão Manuel José de Medeiros, cidadão deportado em abril de
o governo daquele local e mandou seu irmão ir até Portugal 1823, quando ocupava o cargo de procurador da Câmara, sob a
denunciar os atos da Companhia de Comércio e declarar sua acusação de ser “brasileiro”. No documento, Medeiros pedia ao
lealdade à Coroa. Entretanto, a corte não reconheceu os Beckman presidente interino Manuel Telles da Silva Lobo que fosse excluído
como governantes. De imediato, Tomás foi preso e mandado de da devassa aberta em janeiro de 1825desta vez, era acusado de ser
volta ao Brasil, onde foi nomeado outro governador, que sem “republicano”, por compreender que estava protegido pela anistia
muito esforço, acabou com toda aquela revolta. oferecida por Cochrane àqueles que aceitaram uma “sincera
Tomás e Manuel Beckman foram presos e condenados à morte deposição de armas”, medida que excetuava os “republicanos”
por enforcamento. Um ano após a revolta comandada pelos dois, já enviados para julgamento no Rio de Janeiro e aqueles que
a Coroa portuguesa declarou como proibida a escravização dos cometeram crimes de roubo e morte. Interessa-me aqui a
índios e ainda mandou os Jesuítas de volta para aquela área. Texto narrativa de Medeiros sobre o juramento à Independência um
adaptado de HOLANDA, B. D dos argumentos que apresentara a seu favor que fizera a bordo do
brigue escuna Dido, de sua propriedade, em 1º de janeiro de 1824,
quando regressava de Portugal para o Maranhão.
PERÍODO DO IMPÉRIO: A solenidade contou com o hasteamento da bandeira
brasileira, salva de 21 tiros e um discurso de D. Romualdo
ADESÃO DO MARANHÃO. Antonio de Seixas arcediago da Sé de Belém e presidente da
Junta Governativa daquela província antes da Independência em
louvor à “independência política”, “religião católica”, “cortes
constituintes” e ao “imperador constitucional”.
Em 28 de julho de 1823, uma Câmara Geral reunida em São É curioso observar que, dentre as 15 assinaturas no Livro de
Luís oficializou a “adesão” da província ao Império brasileiro. Juramento, constavam não apenas “brasileiros”que regressavam
Após as formalidades que a ocasião ensejava2 seguiu-se um após a deportação de abril de 1823, a exemplo de Medeiros e
espinhoso processo de legitimação do novo centro de autoridade Bernardo Pereira de Berredo, como também “portugueses”,
na dinâmica política provincial. A “adesão” resultado do avanço casos de Manoel Paixão dos Santos Zacheo, eleito deputado pelo
das tropas oriundas do Ceará e Piauí e do desembarque, em São Maranhão no início de 1823 para a segunda legislatura das Cortes
Luís, liderado pelo almirante Cochrane ante a resistência dos portuguesas; e do já citado D. Romualdo Antonio de Seixas,
“portugueses” da província deixou marcas profundas. Da Corte, sobrinho de Romualdo de Souza Coelho, bispo do Pará e deputado
não tardaram a chegar outras medidas de força, como o reenvio de às Cortes portuguesas cuja atuação como constituinte foi marcada
tropas em 18243, a demissão do presidente da província no final pela defesa da permanência de sua província junto à jurisdição
do mesmo ano, e a prisão / julgamento, nos tribunais do Rio de lusa. Zacheo e Seixas, que haviam deixado São Luís e Belém
Janeiro, de dezenas de envolvidos nos tumultos que agitaram a como “portugueses”, voltavam, agora, “brasileiros”... Uníssonos,
cena provincial. “brasileiros” e “portugueses” afiançaram que não juraram
Desde a “adesão”, planos recolonizadores e intentos anteriormente por estarem “retidos em Portugal”, e que aquele ato
republicanos reais ou imaginários potencializaram as discórdias era “filho só do amor à pátria e do santo entusiasmo de que todos se
e transpareceram a importância de outros projetos, que não o acham animados”. Ainda em janeiro de 1824, Medeiros procurou
monárquico-constitucional delineado a partir do centro-sul. a Câmara para comprovar que jurara a Independência no início
Contudo, em meio a tais alternativas, uma nova ordem se instituía daquele mês.
e contava para tanto com instrumentos de legitimação do novo A partir de maio de 1824, coube à Câmara de São Luís a
Estado, dentre eles, o juramento à Constituição de 1824 e as responsabilidade sobre outro juramento, o da Constituição, que,
comemorações em louvor ao Imperador e a seus familiares, objetos de certo modo, suprimiu o da Independência, já que o texto
principais deste artigo. Os juramentos à Constituição de 1824 constitucional evidenciava, em seu artigo 6º, a distinção entre
Com a Independência, “adesões”, “juramentos” e “aclamações” “brasileiros” e “portugueses”.
objetivaram oferecer os contornos de uma unidade gradativamente Os juramentos à Constituição tiveram início na catedral de
construída em torno do imperador e de seus familiares “brasileiros”. São Luís, em 13 de maio de 1824, e se estenderam até os primeiros
O novo Estado, materializado a partir de marcos como a meses de 1825.
Constituição de 1824 e o Reconhecimento da Independência, não Em 15 de janeiro, a Câmara de São Luís enviou documento
prescindiu de uma dimensão simbólica, questão que não escapou à a Silva Lobo pedindo orientação sobre como proceder em relação
observação de uma renovada historiografia sobre o período. aos cidadãos que ainda a procuravam para efetivar o juramento.
No Maranhão, à “adesão” se seguiu um longo e turbulento No mesmo texto, os vereadores se queixaram da desorganização
período de juramentos à Independência, marcado pela expulsão do Livro de Juramento, cujo último registro datava de outubro
não apenas daqueles que se recusaram a fazê-lo, a exemplo do de 1824, e da falta de critérios claros quanto aos prazos e termos
frei Nazaré, como também dos que tiveram sua fidelidade ao novo a serem utilizados em tais registros. Por fim, a Câmara sugeria
país posta em xeque pelas recorrentes acusações de “português” e ao presidente que novos juramentos fossem aceitos mesmo que
“inimigo do Brasil”. “cerrando os olhos a algumas incoerências”, por se tratar de um
Tais juramentos avançaram pelos primeiros meses de 1824 “ato de obediência e adesão ao Império”. A medida evitaria ainda
e podem ser acompanhados, a posteriori, a partir de informações “desassossegar os cérebros daqueles indivíduos prontos a pegar a
presentes no Argos da Lei, periódico que circulou a partir de janeiro tudo para coonestarem as suas desordens na sociedade.
de 1825. Na edição nº 31, o Argos publicou um requerimento do
Didatismo e Conhecimento 38
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Como resposta, Silva Lobo observou que o tempo determinado A frente da Galeria pela parte do Norte tinha em os dois corpos
vencera em 14 de julho de 1824, mas que se deveriam aceitar todos vinte e oito janelas, formadas em arco, de nove palmos de abertura
os novos juramentos, sem prazo definido, desde que observada a cada uma, e sobre elas umas lunetas fechadas com transparentes,
Constituição. Dentre as justificativas para essa decisão, salientou em que se viam diferentes emblemas e legendas.
os estorvos provocados pelas “distâncias” para se chegar à capital
e pelo “choque de partidos”. A ADESÃO
Tais motivos talvez possam explicar também o fato de, no
mesmo período, diversas câmaras do interior da província não A palavra adesão, em sentido estrito, não é a melhor expressão
terem ainda jurado a Constituição, como se pode observar pelo linguística para dizer o que se passou naquele período da história.
ofício enviado por Silva Lobo à Câmara de São Luís e publicado Ademais, o que se caracterizou claramente, desde o início, foi,
pelo Argos da Lei. antes de tudo, resistência e oposição.
Dificuldades à parte é possível inferir que o juramento à Mesmo porque aderir é uma ação propositiva, concordancial,
Constituição fosse menos relevante em áreas mais distantes da um ato de assentimento a determinada realidade. E o Maranhão
capital, onde “brasileiros” e “portugueses” talvez não expressassem efetivamente não aderiu (e possivelmente demoraria bem mais a
as disputas que ali se travavam e tampouco a vida dependesse, em aderir) à independência do Brasil em relação à Coroa Portuguesa.
algum grau, da política formalmente praticada. Por outro lado, uma Naquelas circunstâncias, portanto, o Maranhão
maior procura pelos juramentos a partir de 1825 como registrado foi incorporado ao movimento de independência. E mais:
pela Câmara de São Luís pode estar relacionada à portaria essa incorporação não deu-se efetivamente, mas apenas
imperial, recebida no final de 1824, exigindo informações sobre as simbolicamente, visto que o sentimento de não pertencer àquele
pessoas que “aderiram” à causa do Brasil e juraram a Constituição, novo quadro situacional permaneceu ainda arraigado na opinião
ou ainda à intenção de participar das eleições que se aproximavam, pública maranhense por um tempo considerável.
na condição de eleitores de paróquia, eleitores ou postulantes aos A título de aprofundamento, aos curiosos, e a fim de buscar
cargos em disputa. entender as razões pelas quais teimava nosso estado em não
A capital também vivenciou, no dia 3 de maio de 1825, a desvencilhar-se do Estado Português, seria fundamental consultar
saudação à data em que todos os anos deveriam ocorrer a Sessão as fontes documentais existentes no Arquivo Público do Estado do
Imperial de abertura da Assembléia Geral, conforme previsto no
Maranhão, que conserva vários documentos que retratam a situação
artigo 18 da Constituição.
política da época, bem como no período pós-independência.
Como convergências entre os dois juramentos – da
Recorrendo-se aos documentos (originais e secundários),
Independência e da Constituição, estava o reconhecimento de uma
sobretudo cartas trocadas entre o governo local e as autoridades
autoridade constituída no Rio de Janeiro e a tentativa de construir
de dentro e fora do estado colonial portuguesas, pode-se perceber
vínculos entre o “povo” da província e o Estado nascente,
de que forma se desenrolaram as lutas e quais interesses estavam
corporificados nas figuras da Constituição e do imperador.
subjacentes à posição maranhense.
A FIDELIDADE MARANHENSE No Maranhão do início do século XIX as elites agrícolas e
pecuaristas eram fortemente ligadas à Metrópole. Naquele período
Desde a notícia sobre o Reconhecimento da Independência, o estado era uma das regiões mais ricas do país, vivendo uma fase
chegada ao Maranhão em outubro de 18, teve início a preparação de relativa pujança econômica, com a presença de intenso tráfego
dos festejos para o ano seguinte. Dentre as principais providências comercial com os portugueses, além de existirem fortes laços
a serem tomadas, estava a construção de uma enorme galeria, políticos com a Coroa.
defronte ao Palácio do Governo. A grandiosidade da obra, que Por ocupar uma posição geográfica privilegiada, mais próxima
levou onze meses para ser concluída, pode ser mensurada pela da Europa, o acesso marítimo a Lisboa tornava-se mais facilitado
descrição que segue: Esta galeria construída de boas madeiras do que com o sul do país, razão pela qual, por exemplo, os filhos
é um retângulo de que os lados maiores tem de comprimento dos comerciantes mais prósperos eram, quase sempre, mandados
trezentos e oitenta palmos e os menores, que formam os topos, 50 à Europa, muitos deles fazendo todos os seus estudos escolares e
palmos cada um. universitários em instituições de ensino de Portugal.
Os grandes lados com o fundo indicado de cinqüenta palmos Outro traço que ajuda a contextualizar o que era o Maranhão
cada um eram distribuídos, formando dois grandes corpos, daquele tempo e que nos permite entender melhor a razão de sua
divididos por uma grande escadaria central, que dava entrada a um resistência à idéia de desvincular-se do domínio português é o
vestíbulo descoberto, e que tinha de comprimento quarenta e oito de que nossa região era por demais conservadora e, geralmente,
palmos Elevava-se o pavimento da Galeria sobre um supedâneo avessa às ordens que partiam do Rio de Janeiro, então principal e
que servia de pedestal às pilastras da ordem Dórica de vinte e cinco mais importante cidade do Brasil e centro do poder do Império do
palmos de alto, todas claustreadas, com molduras picadas, cópia Brasil convertido à independência.
dos Termes de Diocleciano. Em cima deles corria o entabelamento O governo provincial pregava a permanência do Maranhão
da mesma ordem, de gosto da Ordem Francesa chamada de sob o jugo português, posição essa que se reforçava ainda mais
Napoleão com a diferença, que no friso da cimalha, no prumo de ante a quase inexistência, no seio da sociedade maranhense, de
cada pilastra em lugar de Tríglifo, estava uma coroa de louro, e oposição à tese. Fato este também firmado no teor das publicações
no centro as iniciais do Augusto Nome de S.M.I. cobertas com a da imprensa da época, principalmente a da cidade de São Luís,
coroa Imperial; e nos intervalos das pilastras, no lugar dos outros que não só sustentava essa visão anti-separatista, como, de parte
Triglifos, eram uns círculos, que formavam os arabescos, e neles da opinião pública, diziam seus cidadãos serem “verdadeiros
as seguintes legendas Independência Fidelidade. portugueses”.
Didatismo e Conhecimento 39
HISTÓRIA DO MARANHÃO
O que estava mesmo em jogo era a indicação para cargos Apesar da proclamação da independência do Brasil em relação
públicos e a obtenção de privilégios. Na época, São Luís tinha cerca a Portugal, todo o legado colonial foi mantido sem que houvesse,
de 30 mil habitantes. A população masculina, adulta e branca, não de fato (mas apenas ao nível simbólico), uma ruptura histórica
chegava a quatro mil pessoas. Entre elas estavam os “homens de real para com o status quo ante. Pelo contrário. A escravidão, a
bem”: importantes fazendeiros e comerciantes que tinham relação monocultura e a monarquia permaneceram, bem como os demais
próxima com o governo provincial, e por vezes chegavam a ocupar privilégios que gozava a elite ligada ao poder.
cargos públicos. Em sua maioria, eram membros do Corpo de Os anos que se seguiram (chegando aos nossos dias) foram
Comércio e Agricultura da cidade. ainda bastantes cruéis com o Maranhão, haja vista sua longa história
Naquele tempo, uma Junta Governativa fiel às ordens vindas de governos (e desgovernos) oligárquicos, que contribuíram
de Lisboa controlava a região do vale do rio Itapecuru, onde estava negativamente para o atual momento do estado (e com reflexos
situada a vila de Caxias, uma das principais cidades do estado decisivos em seu futuro), levando-o a um empobrecimento secular.
atualmente. Foi lá, em Caxias, que o major Fidié (João José da Legado nefasto que lhe rende, ainda hoje, péssimos indicadores
Cunha Fidié) e seus comandados resistiram ao avanço das tropas sócio-econômicos dentro do nosso país. Texto adaptado de
do Império, após a derrota na Batalha do Jenipapo, travada no GALVES, M. C
vizinho estado do Piauí.
Fidié, após resistir por alguns dias com seus soldados aos
ataques das tropas imperiais, situados no morro do Alecrim (parte
mais alta da cidade de Caxias), teve que capitular, sendo preso e A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL.
depois mandado de volta a Portugal, onde foi recebido como herói.
São Luís, como tradicional reduto português que era, foi
bloqueada por mar e ameaçada de bombardeio pela esquadra
do almirante escocês Thomas Alexander Cochrane (o Lord Para se entender um fato histórico deve-se compreender
Cochrane), sendo forçada a aderir à Independência em 28 de julho o contexto de sua época e os acontecimentos que o antecederam.
de 1823. Uma revolução, guerra ou revolta não acontecem sem motivos,
No Brasil, mais especificamente, Cochrane foi crucial nos por capricho. Fatos vão se acumulando até convergirem para um
trabalhos prestados ao imperador D. Pedro I, a quem foi indicado momento histórico. Momentos esses, muitas vezes representados
por José Bonifácio de Andrada e Silva, então ministro das relações por um nome ou liderança que é apenas um símbolo dos
exteriores. Seus valorosos serviços lhe renderam, dentre outras anseios de gerações inteiras de homens e mulheres anônimos
reverências, o título de Marquês do Maranhão. Título que se vê que, aos poucos, vão fazendo a história. A independência do
inscrito na lápide do túmulo onde encontra-se enterrado, na Abadia Brasil, comemorada em 7 de setembro de 1822, é um exemplo
de Westminster, em Londres. dessa dinâmica.
Lord Cochrane foi, por sinal, um personagem importantíssimo Meses antes de D. Pedro proclamar a independência, idéias
nas lutas de independência na América do Sul, tendo participado de emancipação não eram a prioridade entre a maioria dos
das campanhas de libertação do Chile e Peru, a pedido destes políticos, juristas, militares, jornalistas e dos cidadãos comuns
governos, com feitos memoráveis, tendo sido contratado para no Brasil. Pode-se mesmo afirmar que a população brasileira foi
ajudar a combater as forças que resistiam aos processos de surpreendida pela proclamação de sua independência. A separação
independência em curso nesses países. de Portugal aconteceu mais pelo esforço dos parlamentares
Um detalhe interessante é que somente em 7 de Agosto lusitanos em tentar manter o Brasil num nível político mais baixo,
de 1823 foi assinado o termo oficial de Adesão do Maranhão à pretendendo também impor restrições econômicas desfavoráveis
independência brasileira, na Igreja da Matriz, no centro da cidade aos brasileiros.
Caxias. Ou seja, a adesão maranhense como um todo, se levarmos
em conta a referência histórica acerca da data de assinatura do OS MOTIVOS DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
citado documento em Caxias, foi, a bem da verdade,ainda mais
tardia que a data hoje simbolizada pelo feriado estadual. Se a decisão de proclamar a independência pode parecer,
Como bem descreve Galves, ilustrando o clima de tensão que num primeiro momento, como algo impulsivo, é na verdade
viveu nosso estado, afirma que consequência de uma série de fatores políticos e econômicos,
Em julho de 1823, uma Câmara Geral reunida em São Luís externos e internos, que agravavam gradativamente as tensões
oficializou a “adesão” da província ao Império brasileiro. Após no Brasil desde o final do século XVIII. Movimentos externos ao
as formalidades que a ocasião ensejava seguiu-se um espinhoso Brasil como a Revolução Francesa (1789-1799), a independência
processo de legitimação do novo centro de autoridade na dinâmica dos Estados Unidos da América (4 de julho de 1776) e do Haiti
política provincial. A “adesão” resultado do avanço das tropas (1º de janeiro de 1804) serviram como inspiração para revoltas
oriundas do Ceará e Piauí e do desembarque, em São Luís, liderado internas como a Conjuração Mineira em 1789, a Conjuração Baiana
pelo almirante Cochrane ante a resistência dos “portugueses” da (Revolta dos Alfaiates) em 1798 e a Revolução Pernambucana de
província deixou marcas profundas. Da Corte, não tardaram a 1817.
chegar outras medidas de força, como o reenvio de tropas em 1824, A rejeição ao absolutismo monárquico e ao colonialismo
a demissão do presidente da província no final do mesmo ano, e a aumentava internacionalmente e dentro do Brasil. O crescimento
prisão/julgamento, nos tribunais do Rio de Janeiro, de dezenas de do livre comércio induzia a um clima contrário às vantagens
envolvidos nos tumultos que agitaram a cena provincial. econômicas dos portugueses e ao excesso de impostos. A
transferência da Corte Portuguesa para o Brasil, em 1808,
Didatismo e Conhecimento 40
HISTÓRIA DO MARANHÃO
ocasionou a elevação do território à condição de Reino Unido governos locais permaneciam leais à Portugal. O processo de
de Portugal, Brasil e Algarves, proporcionando maiores relações emancipação do Brasil não foi violento como o dos vizinhos da
comerciais e diplomáticas com nações estrangeiras, permitindo América espanhola ou a independência dos Estados Unidos da
aos brasileiros uma autonomia política e econômica que até então América, mas não quer dizer que tenha sido pacífico.
não possuíam e da qual não permitiriam diminuição. A chamada Guerra da Independência estendeu-se no Brasil de
1882 a 1824. Pode ser considerada uma guerra civil luso-brasileira,
A DINÂMICA DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL já que portugueses e brasileiros combateram em ambos os lados,
defendendo seus interesses e convicções.
Em 9 de dezembro de 1821, emissários chegaram de Portugal Militares e civis portugueses pegaram em armas para evitar
com ordens para que D. Pedro voltasse imediatamente à Corte, a independência do Brasil, em lealdade à Coroa Portuguesa e ao
determinando ainda o fechamento de tribunais e departamentos rei D. João VI, enquanto outros portugueses perceberam como
administrativos, o que resultaria na demissão de aproximadamente mais vantajoso unirem-se aos que defendiam a libertação, até
2000 pessoas que viviam da burocracia no Reino do Brasil. Os mesmo porque o soberano do Império do Brasil pertencia à casa
magistrados ameaçados em seus empregos se tornaram exaltados portuguesa dos Bragança. Havia ainda um reduzido número de
patriotas favoráveis à independência, influenciando através de seu brasileiros, geralmente ligados aos magistrados portugueses da
prestígio pessoas na imprensa e em cargos políticos que dependiam alta cúpula da administração, que defendendo seus privilégios
de seus favores. financeiros ou políticos eram solidários à Coroa Portuguesa.
A partir de então, jornais se pronunciaram, cartas e abaixo- Esta guerra caracterizou-se por ameaças, combates com
assinados chegaram de diversos pontos do Rio de Janeiro, São Paulo reduzido número de mortes e cercos às cidades onde os portugueses
e Minas Gerais pedindo a permanência de D. Pedro no Brasil. O resistiram até se renderem devido à fome ou doenças. Além de um
príncipe regente chegou a rascunhar um discurso de despedida rápido confronto naval próximo a Salvador, apenas as batalhas de
aos brasileiros, mas em 9 de janeiro de 1822, depois de receber Pirajá (Bahia) e Jenipapo (Piauí) movimentaram grandes exércitos.
um manifesto com 8000 assinaturas para que desobedecesse Logo após a independência, o governo brasileiro tinha à
as ordens de Portugal, protagonizou o “Dia do Fico”. Mesmo disposição um reduzido efetivo no exército e não possuía marinha,
depois deste episódio, boa parte dos brasileiros desejava continuar uma vez que considerável parte das tropas terrestres e os melhores
mantendo a ligação com Portugal, contanto que fosse em condição navios de guerra que se encontravam no Brasil eram compostos por
de igualdade. Em 28 de agosto de 1822 chegaram de Lisboa portugueses. Através do ministro José Bonifácio, o Brasil adotou
mais ordens para que D. Pedro demitisse todos seus ministros e providências para eliminar a resistência portuguesa, comprando
colocasse no lugar homens escolhidos pelas Cortes Portuguesas. armas e navios, recrutando tropas nacionais e contratando
Estas ordens, entregues no Rio de Janeiro, foram enviadas por mercenários estrangeiros. A estratégia de Dom Pedro era isolar
mensageiro para o príncipe, que se encontrava numa viagem de as guarnições portuguesas e forçá-las, uma a uma, a retornar para
Santos para São Paulo e, recebendo-as em 7 de setembro de 1822 Portugal.
às margens do rio Ipiranga, causaram a decisão da proclamação da A estratégia portuguesa para retomar o controle do Brasil era
independência. deslocar suas tropas que se encontravam em Montevidéu e usá-las
Antes de confirmar um rompimento político definitivo com para reforçar as guarnições na Bahia, local com maior concentração
Portugal, D. Pedro escreve a seu pai (o rei português D. João de tropas portuguesas fiéis à Coroa naquele momento. Essas tropas
VI) sondando a situação política na Europa. Aconselhado pelo reconquistariam a Bahia, enquanto a marinha portuguesa bloqueava
ministro José Bonifácio, realiza viagem por Minas Gerais e São o Rio de Janeiro. A Bahia serviria como base para reforços vindos
Paulo para perceber pessoalmente a posição das lideranças locais da Europa e, depois de assumir o controle das províncias do norte,
com relação à independência. iniciariam campanha para a reconquista da região sudeste e sul.
Convencido de que teria apoio interno, Dom Pedro convoca Favoreceu a independência do Brasil o fato de Portugal
a primeira Assembléia Constituinte Brasileira. Os portugueses, no passar na época por uma divisão política, onde parte da população
entanto, não aceitam a convocação da Assembléia Constituinte defendia o modelo vigente de monarquia constitucional, onde o
Brasileira e exigem a volta imediata do príncipe, ameaçando o rei tinha seus poderes limitados por uma Constituição redigida
envio de tropas. Depois de declarar que as tropas portuguesas por representantes escolhidos pelo povo; outra parte defendia o
que desembarcassem no Brasil seriam consideradas inimigas, o retorno da monarquia absolutista, com os reis possuindo poderes
governo brasileiro emite um Manifesto às Nações Amigas, escrito ilimitados; e uma terceira corrente defendia a instauração de uma
por José Bonifácio. Com a assinatura deste manifesto, D. Pedro república em Portugal. Essa divisão gerava tensões internas que
confirma o rompimento com as Cortes Constituintes de Lisboa e impediram o envio de tropas e navios para o Brasil.
assegura “a independência do Brasil, mas como reino irmão de
Portugal”. Em 12 de outubro de 1822 (dia de seu aniversário) ele A CAMPANHA DA BAHIA
é aclamado “Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil” e coroado
em 01 de dezembro de 1822. A luta pela autonomia da Bahia em relação a Portugal
começou antes da proclamação da independência por D. Pedro I.
A GUERRA DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL A Província da Bahia, área tradicionalmente produtora de açúcar e
tabaco, dominada pelos grandes latifundiários, recebeu reforço de
A independência não foi reconhecida imediatamente por todas aproximadamente 2500 homens vindos de Portugal e elementos
as regiões do Brasil. Nas províncias do Grão-Pará, Maranhão, da Divisão Auxiliadora, que se retirava do Rio de Janeiro, no
Piauí e principalmente na Bahia e Cisplatina (atual Uruguai), os contexto dos acontecimentos que culminaram no Dia do Fico, em
Didatismo e Conhecimento 41
HISTÓRIA DO MARANHÃO
9 de janeiro de 1822. Esse reforço envolveu-se em diversos atos esquadra retornasse para o porto de Salvador. Ao amanhecer do
violentos e arbitrários em Salvador, aumentando a insatisfação dia seguinte, a força naval portuguesa, comandada pelo almirante
dos baianos com a presença portuguesa e iniciando um processo Pereira de Campos, sai de Salvador em busca da esquadra
de êxodo da população da capital para o interior da província, brasileira, mas não a encontra, continuando em patrulha próxima
principalmente para o Recôncavo Baiano. a Salvador até o dia 21 de maio, quando se recolhe novamente ao
Em 25 de junho de 1822, na vila de Cachoeira, distante 120 porto.
Km de Salvador, reuniram-se autoridades locais e população A Nau Pedro I, acompanhada apenas da corveta Maria
na Câmara Municipal, declarando Dom Pedro “Regente da Glória, passa a perseguir os navios mercantes portugueses
Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil” e iniciando próximos a Salvador, realizando o bloqueio de seu porto. Manter
movimento contra a presença da Coroa Portuguesa na Bahia. O o bloqueio ao porto de Salvador foi uma tarefa difícil porque
desfile de comemoração realizado na vila foi atacado por tiros inúmeras embarcações portuguesas tentavam furar o bloqueio e
vindos de moradores portugueses e de uma escuna militar que consequentemente eram aprisionadas. Os barcos portugueses que
estava ancorada no porto, chegada havia pouco tempo de Salvador. conseguiam chegar ao porto de Salvador traziam quantidade de
A população da vila reagiu e houve tiroteio durante toda a noite e suprimentos insuficiente para abastecer convenientemente as
tropas e população da cidade.
no dia seguinte. Em 28 de julho de 1882 houve o combate pela
As vitórias brasileiras nas batalhas de Pirajá (8 de novembro
tomada da embarcação, que cercada por terra e água resistiu até a
de 1822), da ilha de Itaparica (7 de janeiro de 1823) e de Cabrito
captura dos últimos sobreviventes. (11 de fevereiro de 1823) tornaram cada vez mais difícil o sustento
As vilas do Recôncavo Baiano foram aos poucos aderindo da posição por parte do Exército Português.
à de Cachoeira na luta pela independência, e em Salvador os A vitória na batalha de Pirajá foi considerada fundamental para
portugueses, chefiados pelo general Inácio Luís Madeira de Melo, o resultado da campanha. Os portugueses tinham superioridade
aumentavam a repressão à população da cidade, intensificando numérica e bélica (3200 portugueses contra 1300 brasileiros) e já
o crescente êxodo dos moradores da cidade para regiões do haviam praticamente vencido a batalha, quando o corneteiro da
Recôncavo Baiano. tropa brasileira, ao invés de tocar “retirada”, por iniciativa própria
As vilas rebeldes se organizaram para a luta, treinando tropas tocou “cavalaria avançar” e logo depois “cavalaria degolar”
e cavando trincheiras, enquanto do sertão chegavam notícias da (o que era um blefe uma vez que não existia tal cavalaria).
adesão de novas vilas e voluntários para o ataque a Salvador. Os portugueses, acreditando ter caído em uma armadilha,
Posições estratégicas foram tomadas nas ilhas do Recôncavo, em recuaram desorganizadamente, perdendo o terreno conquistado
Pirajá e Cabrito. e sendo perseguidos pelos brasileiros. Morreram neste confronto
As hostilidades iniciaram-se e notícias destas espalharam- aproximadamente 286 brasileiros e 350 portugueses. Pirajá era
se pela província, pelo Brasil e chegaram a Portugal. A ilha de o local de onde se controlava a estrada que ligava Salvador ao
Itaparica aderiu ao movimento de independência e foi atacada por norte da Bahia, única região onde os portugueses ainda poderiam
uma expedição de Madeira de Melo, que ocupou o local em 01 conseguir comida e reforços.
de julho de 1822, engrossando a quantidade dos que fugiam para Na tentativa de aliviar o bloqueio a Salvador, os portugueses
o Recôncavo. Posteriormente os portugueses abandonaram a ilha atacaram a ilha de Itaparica, agora ocupada pelas tropas brasileiras
por considerá-la sem valor estratégico (o que se mostraria uma vindas de Alagoas, que construíram um forte e trincheiras no local.
avaliação errada num futuro próximo). Todos estes movimentos Os portugueses abandonaram a ilha no final do mesmo dia.
foram comunicados ao Príncipe-Regente. Portugal enviou 750 A batalha de Cabrito foi mais uma tentativa dos portugueses
soldados como reforço para a manutenção da ordem na Bahia, de romper o cerco e abrir um caminho para o norte da Bahia. A
chegando estes em agosto. luta durou quase todo o dia, com os portugueses atacando, com o
Após a proclamação da independência do Brasil, por D. Pedro, auxílio de canhoneiras, o local onde os brasileiros possuíam uma
oficina de guerra, mas estes resistiram entrincheirados e receberam
foi organizado em 22 de setembro de 1822 um governo baiano em
reforços. Os portugueses e retiraram no final do dia.
Cachoeira para comandar a resistência. O Rio de Janeiro enviou
Em 02 de julho de 1823, já ficando sem suprimentos devido
em outubro de 1822 para a Bahia uma pequena frota, comandada
aos bloqueios por terra e mar, o general português Madeira
por Rodrigo de Lamare, para auxiliar na luta pela independência, de Melo abandona Salvador com destino a Portugal em uma
levando uma pequena tropa quase toda constituída de portugueses, força de 78 navios levando cidadãos, bens portugueses e
comandada pelo general mercenário francês Pedro Labatut. aproximadamente 4500 militares escoltados pelos 13 navios de
Impedida de desembarcar em solo baiano, esta tropa desembarcou guerra do almirante Pereira Campos. Essa esquadra foi perseguida
em Maceió (Alagoas) e seguiu por terra para Salvador, ganhando pela Esquadra Imperial Brasileira até a latitude 4º Norte, e mais
adesão de voluntários brasileiros durante seu trajeto. Chegando em tarde companhada apenas pela fragata Niterói, sob o comando do
Salvador, esta tropa armou um cerco à cidade, impedindo o envio capitão-de-fragata inglês John Taylor, que seguiu os portugueses
por terra de suprimentos, notícias ou reforços para os portugueses. até as proximidades de Lisboa, retornando em 09 de novembro de
Em 01 de abril de 1823 parte do Rio de Janeiro, com destino 1823. Por ocasião desta perseguição inicial, Cochrane aprisionou
a Salvador, uma esquadra brasileira comandada pelo almirante algumas embarcações portuguesas mais lentas (Prontidão, Leal
mercenário inglês Thomas Alexander Cochrane. Em 04 de maio de Portuguesa, Pizarro, Carolina e Conde de Peniche).
1823 há uma batalha naval entre a esquadra portuguesa de Salvador No mesmo 02 de julho de 1823 entrou em Salvador o
(composta por 13 navios) e a esquadra brasileira (com 8 navios). vitorioso exército brasileiro, com aproximadamente 8700 homens,
As táticas de combate do almirante Cochrane compensaram a acompanhados por mais de mil mulheres que os auxiliavam com
desvantagem numérica e, apesar de nenhum navio ser afundado, serviços de enfermagem e cozinha, oficializando a libertação da
os danos causados aos navios portugueses fizeram com que sua Bahia e sua adesão ao Império Brasileiro.
Didatismo e Conhecimento 42
HISTÓRIA DO MARANHÃO
A CAMPANHA DO PIAUÍ Foi da Junta Governativa da Capital, em São Luís, que partiu a
iniciativa da repressão ao movimento da independência no Piauí. A
Na Província do Piauí, tradicional produtora de gado, a junta controlava ainda a região produtora do vale do rio Itapecuru,
burguesia comercial e os proprietários de terras estavam ligados onde o principal centro era a vila de Caxias. Esta foi à localidade
à Portugal. Após a proclamação da independência, Oeiras escolhida pelo major Fidié para fortificar suas tropas após a retirada
(capital do Piauí de 1759 a 1851) e a maior parte do interior da portuguesa do Piauí. Após cerco realizado nesta vila por forças
província permaneceram sob o controle de tropas do Exército brasileiras vindas do Piauí e do Ceará, os portugueses se renderam
Português, comandadas pelo Governador das Armas do Piauí, em 31 de julho de 1823. Fidié foi preso e depois mandado para
major João José da Cunha Fidié. Portugal, onde foi recebido como herói.
Em 19 de outubro de 1822, a vila piauiense de Parnaíba adere
à independência. O levante é sufocado em 18 de dezembro de A CAMPANHA DO GRÃO-PARÁ
1822 por força comandada pelo major Fidié, oriunda de Oieras
e reforçada por tropas vindas do Maranhão. Em 24 de janeiro de Na então Província do Grão-Pará, a burguesia comercial e
1823, Oeiras adere à independência. Em 28 de fevereiro de 1823, os proprietários de terra também se encontravam profundamente
uma força portuguesa de aproximadamente 1600 homens, com 11 ligados a Portugal, mas o quadro era confuso na região devido às
peças de artilharia e cavalaria armada de lanças, comandada pelo constantes divergências entre as lideranças políticas e a rebeldia
major Fidié, inicia seu deslocamento de Parnaíba para Oeiras. dos oficiais brasileiros de baixa patente nas tropas da capital. Uma
No caminho, em 13 de março de 1823, ocorre a Batalha do tentativa de adesão à independência em Belém foi sufocada pelos
Jenipapo no atual município de Campo Maior, quando a tropa portugueses, implicando na prisão dos chefes e grande número de
portuguesa encontra e vence as forças brasileiras piauienses envolvidos.
(reforçadas por tropas vindas de Crato, no Ceará) de Após conseguir a adesão da Província do Maranhão, o almirante
aproximadamente 3000 combatentes, comandados pelo capitão Cochrane enviou à Província do Grão-Pará o mercenário capitão-
cearense Luís Rodrigues Chaves, armados precariamente com tenente João Pascoe Grenfell, com o navio de guerra português
duas velhas peças de artilharia, poucas espingardas e pistolas, “Dom Miguel” capturado em São Luís e renomeado “Maranhão”.
punhais, arcos de flecha, lanças e outras armas artesanais. Na Este chegou ao porto de Belém no dia 10 de agosto de 1823,
batalha morreram aproximadamente 19 portugueses e 60 ficaram também usando falsamente uma bandeira portuguesa. Blefando
feridos, enquanto 200 brasileiros foram mortos ou feridos, que além da linha do horizonte, esperando ordens para atacar,
sendo 542 feitos prisioneiros. estava toda a frota imperial brasileira sob o comando do almirante
Apesar da vitória militar portuguesa, foi possível aos Cochrane, e ameaçando começar imediatamente o bombardeio da
brasileiros, devido à superioridade numérica, tomar dos vencedores cidade com seu navio, conseguiu da junta governista do Grão-Pará
as reservas de água, comida, roupas, munição e algumas armas. Os o reconhecimento da independência e adesão ao Império em 15 de
portugueses, debilitados pelas perdas materiais, desistem de agosto de 1823, sem combates.
reconquistar Oeiras e se retiram em 15 de março de 1823 para Em 16 de outubro de 1823 ocorre um violento movimento
Caxias, no Maranhão. popular, liderado por oficiais paraenses de baixa patente, com
Outras localidades no Piauí manifestam gradativamente seu saques e destruição de casas e estabelecimentos portugueses.
apoio à independência, mas a adesão da província só foi garantida As autoridades locais, com o apoio de tropas desembarcadas
em 31 de julho de 1823, quando as tropas portuguesas que estavam por Grenfell, realizam prisões e controlam a situação. Durante
em Caxias foram derrotadas. a repressão, um marinheiro português esfaqueia Grenfell nas
costelas, mas este sobrevive. Grenfell prende mais de 100 militares
A CAMPANHA DO MARANHÃO e 300 civis suspeitos de envolvimento e fuzila no dia seguinte, sem
julgamento, cinco dos militares paraenses, líderes da rebelião.
Também na Província do Maranhão, as elites agrícolas e Na noite de 19 de outubro muitos dos presos tentam arrombar
pecuaristas eram muito ligadas a Portugal. A proximidade com a a cadeia e é necessário posicionar tropa com artilharia na frente da
Europa tornava mais fácil e vantajoso o comércio com a Metrópole prisão para controlar a situação. A pedido da junta governista, 256
do que com o sul do Brasil. O Maranhão era na época uma das presos são transferidos para os porões do brigue (o menor tipo de
mais ricas províncias do Brasil, sendo a região conservadora e navio de guerra na época) “Palhaço”. Ao serem acomodados nos
contrária aos comandos vindos do Rio de Janeiro. Na capital São porões do navio, com as escotilhas fechadas e apenas uma pequena
Luís, tradicional reduto português, os filhos dos comerciantes ricos fresta para entrada de ar, os presos imediatamente iniciaram um
estudavam em Portugal. tumulto. Para controlar a situação, a guarda abriu fogo contra os
Em 26 de julho de 1823 o almirante Cochrane, a serviço do prisioneiros – matando aproximadamente 12 destes – jogou cal
Império Brasileiro, usando uma bandeira portuguesa aproximou- virgem sobre os presos e trancou os porões, ficando com os fuzis
se do porto de São Luís com a Nau Pedro I, que com seus 74 apontados em prontidão durante toda a noite. Na manhã seguinte,
canhões era o maior navio da recém-criada Marinha Brasileira. A quando abertos os porões, foi constatado que 252 dos 256 presos
falsa identificação permitiu que capturasse sem luta dois navios de estavam mortos. Dois inquéritos foram realizados, mas não se
guerra e seis navios de transporte dos portugueses. Blefando que chegou a uma resposta conclusiva dos motivos e responsáveis
atrás de si, pronto a apoiá-lo, se aproximavam poderosas forças pelas mortes.
por mar e terra, conseguiu com que em 28 de julho de 1823 o Grenfell não foi responsabilizado, por não ter ordenado as
Maranhão aceitasse a independência e aderisse ao Império. mortes e não estar presente no navio naquela noite. Acredita-se
que a soma do pouco espaço e oxigênio, a falta de água potável
Didatismo e Conhecimento 43
HISTÓRIA DO MARANHÃO
e os efeitos das queimaduras provocadas pelo cal nos corpos molhados pelo suor tenham matado a maioria dos prisioneiros. Há também a
possibilidade de mortes causadas pela luta entre os prisioneiros na tentativa de alcançar um lugar que possibilitasse melhor respiração ou
envenenados por beber água forte (substância altamente corrosiva utilizada em procedimentos gráficos) que havia em uma tina no porão.
A CAMPANHA DA CISPLATINA
Em 1815, com a restauração dos Bourbons na Espanha, surgiu em D. João VI o receio da formação de um bloco político espanhol
poderoso na região do rio do Prata. Em 1816 enviou ao sul a Divisão de Voluntários Reais, vinda de Portugal e comandada pelo general Carlos
Frederico Lecor. Esta divisão, formada por 2 brigadas, cada uma com um regimento de infantaria, um batalhão de caçadores, cavalaria e
artilharia, invadiu em meados de outubro de 1816 o território espanhol do atual Uruguai, conhecido na época como “Banda Oriental”.
Encontrando fraca resistência os portugueses tomaram a cidade de Maldonado e ocuparam a capital Montevidéu em 20 de janeiro de 1817.
O político e militar uruguaio José Gervasio Artigas prosseguiu resistindo com guerrilhas e somente a vitória portuguesa na batalha de
Tucuarembó, em 22 de janeiro de 1820, estabeleceria o domínio definitivo luso-brasileiro na região. A 31 de julho de 1821, em assembléia
formada por deputados representantes de todas as localidades orientais, foi aprovada por unanimidade a incorporação da Banda Oriental à
Coroa Portuguesa, fazendo parte do domínio do Brasil com o nome de Província Cisplatina.
Quando da proclamação da independência do Brasil, o brigadeiro português Álvaro da Costa de Sousa de Macedo, Comandante de
Armas da Divisão de Voluntários Reais, sediada em Montevidéu, permaneceu fiel a D. João VI, entrando em conflito com o general
português Carlos Frederico Lecor, que aderiu ao Império juntamente com as forças brasileiras da região.
Fazendo alianças com lideranças locais, o general Lecor organizou sua base em Maldonado e realizou um cerco a Montevidéu, onde o
brigadeiro Álvaro da Costa permaneceu por 17 meses com 4000 portugueses, também isolados pelo mar pela Divisão Naval, fiel a D. Pedro
I.
Em 18 de novembro de 1823, representantes brasileiros e portugueses firmaram um acordo pela qual Álvaro da Costa se comprometia a
se retirar com suas tropas para Portugal. Após este acordo cessaram as hostilidades de ambas as partes e os portugueses permaneceram sob
cerco fazendo os preparativos para a viagem e aguardando possíveis reforços vindos da Europa.
Em 02 de março de 1824 retornaram para Portugal. Lecor ocupou a cidade no mesmo dia, tendo os últimos portugueses abandonado a
região do Prata somente seis dias depois, por falta de transportes adequados.
Era o fim do último reduto de resistência lusitana na América. Estava consolidada a independência do Brasil, faltando o seu completo
reconhecimento internacional.
Em 1825, os uruguaios liderados por Juan Antonio Lavalleja e Fructuoso Rivera iniciaram a luta pela sua independência, apoiados
pelas Províncias Unidas do Rio do Prata (atual Argentina), levando à Guerra da Cisplatina, que terminou em 27 de agosto de 1828 com o
reconhecimento da República Oriental do Uruguai por parte do Império do Brasil, através da mediação da Inglaterra e da França.
Didatismo e Conhecimento 44
HISTÓRIA DO MARANHÃO
O PREÇO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL em função de notícias recebidas de Portugal, não fazendo qualquer
referência à uma proclamação de independência. Em carta dirigida
As nações geralmente pagam com sangue sua libertação, ao seu pai em 22 de setembro do mesmo ano, D. Pedro não cita o
através de revoluções ou guerras civis. O Brasil pagou sua evento.
independência com dinheiro mesmo. Os jornais brasileiros da época que defendiam a ideia da
Depois de vencer as resistências internas e manter a coesão do independência não trazem qualquer menção ao 7 de setembro.
território, era necessário o reconhecimento das nações estrangeiras O Correio Brasiliense publicou notícia declarando 1º de agosto
para futuros acordos econômicos, políticos e militares. de 1822 como marco da emancipação, pois nesta data o príncipe
Os Estados Unidos foram o primeiro país a reconhecer a enviou o Manifesto às Províncias do Brasil, no qual se desobrigava
independência do Brasil, em 26 de maio de 1824. Depois o México de obedecer as ordens das Cortes de Lisboa. O redator do jornal
e a Argentina, em 1825. Regulador Brasileiro apontaria 12 de outubro de 1822, data da
Portugal não aceitava a independência brasileira, e as nações aclamação de D. Pedro I como “Imperador e Defensor Perpétuo
européias também não, devido a acordos diplomáticos com do Brasil”, como o marco de criação da jovem nação. Outras
Portugal. Através de negociações mediadas pelos britânicos, os datas, como o 9 de janeiro de 1822 (“Dia do Fico”, em que D.
portugueses reconheceriam a independência se o Brasil pagasse Pedro recusou-se a embarcar para Portugal, desobedecendo ordens
a dívida de 2 milhões de libras que Portugal tinha com a Inglaterra. dadas pelas Cortes de Lisboa) e 1º de dezembro de 1822 (data da
Para pagar a indenização para Portugal, o Brasil pediu um coroação de D. Pedro I) foram mencionadas como o momento da
empréstimo à Inglaterra. D. João VI reconheceu a contragosto a independência brasileira, ignorando o 7 de setembro.
independência do Brasil em 29 de agosto de 1825, obtendo como Logo após a independência, era muito importante para as elites
parte do acordo o título de “Imperador Titular do Brasil”, que não evitar que a proclamação se tornasse uma revolução popular, como
lhe dava, porém, qualquer direito sobre o antigo reino.Depois ocorrera na América Espanhola, com consequências desfavoráveis
do reconhecimento da independência pelos portugueses, veio o como guerras civis e massacres. Assim, nos primeiros anos
reconhecimento oficial da Inglaterra em 1826 e das demais nações após a independência, foram postas em evidência as datas que
européias em seguida, firmando o Império do Brasil no cenário reafirmavam a monarquia Bragança, como a aclamação e a
internacional. coroação de D. Pedro I.
O reconhecimento da independência brasileira por parte de O “Grito do Ipiranga” começa a ganhar força em 1826, com
Portugal foi uma manobra política onde os portugueses, sem a publicação do testemunho do padre Belchior Pinheiro Ferreira
exército ou marinha fortes o suficiente para uma ocupação do incluindo a data de 7 de setembro no calendário de festividades da
território brasileiro, se livravam da enorme dívida que possuíam independência. O relato atendia aos interesses dos paulistas em ser
com a Inglaterra (país que dava suporte político e militar para palco dos principais acontecimentos que levaram à ruptura com
Portugal na Europa desde a invasão de Napoleão), preservando a Portugal. Esta versão ganhou força na mesma proporção que São
possibilidade de futuramente, através dos laços sanguíneos Paulo crescia no cenário econômico do império brasileiro através
pela casa de Bragança, no momento de uma sucessão do trono da produção do café.
brasileiro, reivindicar apoio diplomático e militar das demais O relato do padre Belchior era conveniente às elites na medida
nações européias para uma possível reincorporação do Brasil em que enfatizava a atuação de D. Pedro I como o herói capaz de
como território português. tomar o destino do Brasil em suas mãos.
O Brasil só romperia os vínculos com Portugal, consolidando A primeira representação oficial da independência do
um governo independente, com a proclamação da república, em 15 Brasil ocorreu em 1844, através do quadro “Proclamação da
de novembro de 1889. Independência”, do francês François-René Moreaux, mostrando
D. Pedro ao entrar na cidade de São Paulo, cercado pelo povo
MENTIRAS E VERDADES SOBRE A INDEPENDÊNCIA em comemoração, levantando seu chapéu em sinal de saudação
DO BRASIL enquanto a outra mão segura a carta vinda de Lisboa, que motivou
a independência. Este quadro permaneceu na sala do Senado, no
A famosa frase proferida por D. Pedro no “Dia do Fico” em Rio de Janeiro, por muitos anos.
9 de janeiro de 1822 (“Se é para o bem de todos e felicidade geral O quadro “Grito do Ipiranga”, também conhecido como
da nação, estou pronto! Digam ao povo que fico.”) foi divulgada “Independência ou Morte”, de 1888, foi terminado pelo pintor
na imprensa no dia seguinte. A original era mais imprecisa: paraibano Pedro Américo um ano antes da Proclamação da
“Convencido de que a presença de minha pessoa no Brasil interessa República e depois da Guerra do Paraguai, episódio responsável
ao bem de toda a nação portuguesa, e convencido de que a vontade pela decadência do Império. O quadro, encomendado por D. Pedro
de algumas províncias assim o requer, demorarei a minha saída até II, mostra seu desejo de manter-se no poder, querendo reforçar para
que as Cortes de meu augusto pai deliberem a este respeito, com a elite da época a importância da casa de Bragança na construção
perfeito conhecimento das circunstâncias que têm ocorrido.” de uma identidade nacional.
Após a proclamação da independência, ainda foram O quadro foi feito 66 anos depois da independência por um
necessárias décadas para que o episódio às margens do rio Ipiranga pintor que nem era nascido em 7 de setembro de 1822. Morando
adquirisse a importância que possui atualmente. na França quando recebeu a encomenda do quadro, Pedro Américo
A data de 7 de setembro inicialmente não era considerada veio ao Brasil estudar o cenário que deveria retratar e, deparando-
relevante pela imprensa brasileira, nem pelo próprio D. Pedro se com a construção nas margens do rio Ipiranga, decidiu incluí-
I. Em carta dirigida aos paulistas em 8 de setembro de 1822, o la na tela. A construção conhecida como Casa do Grito era, na
príncipe fala da necessidade urgente de retornar ao Rio de Janeiro verdade, uma venda que atendia a tropeiros, cujo primeiro registro
Didatismo e Conhecimento 45
HISTÓRIA DO MARANHÃO
é de 1884, não existindo portando na ocasião da independência. A
tropa, em uniforme de gala, não corresponde aos poucos militares CAUSAS DA NÃO ADESÃO:
em uniforme comum que faziam a segurança da comitiva de D.
Pedro no 7 de setembro, bem como os cavalos mostrados, que A BATALHA DO JENIPAPO.
eram mulas, mais fortes e adaptadas para a viagem de subida da
serra de Santos para São Paulo.
Didatismo e Conhecimento 46
HISTÓRIA DO MARANHÃO
tumbas dos heróis anônimos do Jenipapo contêm uma lição. É um Em 18 de dezembro de 1822, Fidié chega a Parnaíba encon-
erro acreditar que as regiões Norte e Nordeste apenas “aderiram” trando a cidade quase deserta e sem resistência. Os líderes do
ao império do Brasil depois que a independência já estava assegu- movimento na companhia dos demais revoltosos, com a notícia
rada no sul do país. da numerosidade do exército português refugiaram-se no vizinho
Por essa interpretação equivocada, a decisão teria se tornado estado do Ceará.
inevitável diante da consolidação do poder de D. Pedro no Rio Aproveitando-se da ausência de Fidié, o Brigadeiro Manoel
de Janeiro e do enfraquecimento da metrópole portuguesa às vol- de Sousa Martins, conhecido como Visconde da Parnaíba, decla-
tas com dificuldades políticas e financeiras. “Na verdade, a inde- rou em 24 de janeiro de 1823, Oeiras independente e proclamou a
pendência nessas regiões foi conquistada palmo a palmo ao custo adesão do Piauí à independência do Brasil. Informado do ocorrido
de muito sangue e sofrimento”. Para melhor situar o leitor, faz-se em Oeiras, Fidié tachou os piauienses de traidores e inimigos de
necessária uma introdução do contexto econômico e histórico do Portugal, e partiu de Parnaíba em direção a Oeiras, a fim de reto-
Piauí daqueles tempos. O Piauí era importante para os portugue- mar esta cidade. Conforme o coronel Cláudio Moreira Bento10,
ses, segundo Francisco Castro, em seu livro sobre a Batalha do Je- em sua valiosa obra, na qual faz uma análise militar do combate
nipapo: “Ao contrário da situação dos dias atuais, o quadro finan- do Jenipapo: “Em 1º de março de 1823, o Major Fidié com sua
ceiro do Piauí, em 1821, era considerado bom. A atividade agro- tropa bem armada, informada e reforçada decidiu marchar para
pecuária crescia vertiginosamente. Quinze mil bois eram abatidos Oeiras para lá restabelecer o poder de Portugal. Recebera reforços
em Parnaíba para abastecer de carnes os mercados do Maranhão, de soldados do brigue D. Miguel e da Guarnição do Maranhão em
Ceará e Bahia; o comércio de algodão era considerado o melhor Carnaubeiras. Forte de 1.100 homens milicianos de Infantaria, Ca-
do Brasil, além do fumo, cana-de-açúcar e outros produtos. Cerca valaria e Artilharia, e com 11 canhões e reforçado, deixou Parnaí-
de 50% darenda bruta das numerosas fazendas de gado do Piauí ia ba”. No dia 12 de março de 1823, Fidié chega às margens do Rio
parar nos cofres das cortes portuguesas. O “dinheiro que ficava no Jenipapo. A cidade de Campo Maior não era diferente de Parnaíba
Piauí pagava os gastos com atividades militares e preservava a car- e de Oeiras quanto aos ideais de liberdade e repulsa aos portugue-
rancuda máquina administrativa”. Dessa época remonta o famoso ses. Segundo Laurentino Gomes: “Ao saber da aproximação do
cancioneiro popular, em razão desse apogeu do Piauí: “O meu boi exército português, o capitão Luiz Rodrigues Chaves, comandante
morreu, que será de mim? Manda buscar outro oh maninha. da guarnição local, decidiu barrar-lhe o caminho. Como dispunha
Lá no Piauí”. Devido à pujança local, os portugueses não de menos de quinhentos soldados, fez uma proclamação aos mora-
queriam perder o Piauí. Na verdade, a independência do Brasil, dores pedindo voluntários.
proclamada em 07 de setembro de 1822, não alcançou o Norte e Ao amanhecer do dia 13 de março, cerca de 2.000 pessoas es-
Nordeste. Portugal pretendia manter essas regiões como suas colô- tavam reunidas em frente à igreja de Santo Antônio. Era um grupo
nias. Ademais, os portugueses ouviam rumores libertários vindos sem qualquer treinamento militar, armado com foices, machados,
dos rincões piauienses. Dessa forma, mandaram para o Piauí, o facões, espingardas de caça e dois canhões velhos e enferrujados,
competente oficial João José da Cunha Fidié . Ele chega a Oeiras ainda da época do Brasil colônia, que horas mais tarde se desman-
em 08 de agosto de 1822. Na época, Oeiras era a capital da provín- telariam ao disparar os primeiros tiros. ‘“Só a loucura patriótica
cia do Piauí. Em sua rica obra, o professor Fonseca Neto , um dos explica a cegueira desses homens que iam partir ao encontro de Fi-
maiores estudiosos sobre a Batalha do Jenipapo, explica o objetivo dié quase desarmados’, ponderou o historiador Abdias Neves”. Os
do Oficial português no Piauí: “Fidié chega à Oeiras, via São Luís piauienses, sem nenhuma experiência militar, sucumbiram diante
do Maranhão, na primeira semana de agosto de 1822, menos de 30 do exército e dos canhões portugueses. Mas a bravura desses guer-
dias para o 7 de setembro. reiros foi reconhecida e imortalizada em trecho do Hino da Policia
Sua missão, tal dito, não tem aparentemente nexos diretos Militar do Estado do Piauí: “Avante, ó Polícia Militar, exemplo de
com o que sucede na corte-regente brasileira. Mas um mundo de um povo varonil, que fez em Jenipapo ecoar, o Piauí na Indepen-
significados logo terá sua presença em terras do Piauí, logo se dência do Brasil”.
verá: garantir os interesses diretos do rei de Portugal, afastada ou- A propósito, a Polícia Militar do Piauí foi criada em 25 de ju-
tra qualquer variável que não seja exprimir fidelidade ao soberano nho de 1835, pelo Brigadeiro Manoel de Sousa Martins, o Viscon-
pai, João VI. Em 19 de outubro de 1822, a Vila de Parnaíba, por de da Parnaíba. Por meio do Hino do Estado do Piauí13, os márti-
meio de sua Câmara, proclamou a independência do Piauí da Corte res do Jenipapo também tiverem o devido reconhecimento: “Sob
Portuguesa e reconheceu a independência do Brasil. O ato repre- o céu de imortal claridade/Nosso sangue vertemos por ti/Vendo a
sentou um ideal de liberdade e um verdadeiro repúdio aos portu- pátria pedir liberdade/O primeiro que luta é o Piauí”. Francisco
gueses no Piauí. Um dos líderes desse ato foi o alferes Leonardo de Castro destaca a coragem dos piauienses na Batalha do Jenipapo:
Carvalho Castelo Branco, assim como os maçons Simplício Dias “A ordem era atacar Fidié ao mesmo tempo e em todas as direções
da Silva e Cândido de Deus e Silva. Laurentino Gomes, em en- ao longo das margens do riacho”.
trevista concedida ao programa da TV Brasil “De lá pra cá”8 em Não há em toda a história das lutas pela Independência do
belíssimo episódio dedicado à Batalha do Jenipapo, relata que a Brasil uma página mais épica e mais trágica do que a que escre-
Maçonaria foi um dos atores responsáveis pela divulgação desses veram com sangue e bravura aqueles anônimos heróis brasileiros.
ideais de liberdade nas terras piauienses. Era o ideal da maçona- O primeiro combate foi fatídico para os piauienses. Dezenas de
ria: ter um Piauí mais justo e perfeito. Comunicado da declaração corpos caíram varados pelas balas do exército de Fidié. Os poucos
ocorrida em Parnaíba que rompia as amarras do Piauí com Portu- queconseguiram atravessar a linha de fogo deram o último suspiro
gal, Fidié partiu em 13 de novembro de 1822 de Oeiras à Parnaíba à boca dos canhões, com tamanho desamor pela vida e com imen-
com um exército de 1.500 homens, deixando Oeiras praticamente surável amor pela pátria que assustavam até o mais frio soldado
desprotegida. português. “Eles nunca tinham visto tanta intrepidez em nenhum
Didatismo e Conhecimento 47
HISTÓRIA DO MARANHÃO
lugar do mundo”. Os piauienses tombaram no combate do Jenipa- “No cemitério de Batalhão os mortos do Jenipapo; Não sofrem
po, mas não perderam a guerra pela independência do Brasil. O chuva nem solo telheiro os protege; Asa imóvel na ruína campei-
destemor dos piauienses fez o major Fidié mudar de planos: ele de- ra”. O reconhecimento dado pelo Exército Brasileiro aos heróis do
sistiu de rumar para Oeiras e optou por seguir para o vizinho estado Jenipapo, conforme relata o coronel Cláudio Moreira Bento é de
do Maranhão. Conforme relata Laurentino Gomes: “Para Fidié foi imensurável importância: “O Exército Brasileiro, como homena-
uma vitória com sabor de derrota. gem aos heróis piauienses das Guerras da Independência, decidiu
No calor da batalha, sua bagagem pessoal, armas e munição ti- recomendá-los ao culto no Exército os reverenciando como deno-
nham sido roubadas pelos sertanejos. Castigada pelo sol inclemen- minações históricas de suas unidades articuladas no Piauí: De “Al-
te, ao final dos combates sua tropa apresenta estado tão deplorável feres Leonardo de Carvalho Castelo Branco” ao 25º Batalhão de
que o major achou mais prudente não perseguir os brasileiros que Caçadores. De “Heróis do Jenipapo” ao 2º Batalhão de Engenharia
fugiam em debandada. Preferiu recolher-se a uma fazenda perto de de Construção, por Portaria Ministerial nº 13 de 27/01/1993.
Campo Maior, onde permaneceu três dias. Ali também chegou à De “Visconde da Parnaíba” ao 3º Batalhão de Engenharia de
óbvia conclusão de que seria inútil resistir à onda revolucionária. Construção, por Portaria do Comandante do Exército de 13 de ou-
A tragédia do Jenipapo demonstrava a determinação dos brasileiros tubro de 2000”. Em 1973, após 150 anos da Batalha, foi erguido
em lutar pela independência, mesmo que de forma desorganizada e um majestoso Memorial em homenagem aos heróis do Jenipapo,
à custa da própria vida. “Por isso, em vez de prosseguir até Oeiras, na cidade de Campo Maior, nas proximidades do riacho do Jenipa-
Fidié decidiu cruzar o rio Parnaíba e se refugiar na cidade mara- po. No dia 13 de maio de 2015, por iniciativa do coronel Marcelo
nhense de Caxias, ainda controlada pelos portugueses”. Em 31 de Pereira Lima de Carvalho, em solenidade por alusão aos 57 anos
julho de 1823, Fidié é cercado e capturado pelas tropas piauienses do 2º Batalhão de Engenharia de Construção, foi entoado pela pri-
na cidade de Caxias, no Maranhão. É levado para Oeiras, em segui- meira vez, o Hino à Batalha do Jenipapo, com letra do 1º tenente
da Salvador, sendo de lá transferido ao Rio de Janeiro, posterior- Leonardo Silva Nunes Santos e música do cabo Fábio de Lima
mente é deportado para Portugal. Mesquita. Os piauienses do Jenipapo são essa brava gente brasilei-
O coronel Cláudio Moreira Bento16 explica porque a Batalha ra que fizeram raiar a liberdade no horizonte do Brasil.
do Jenipapo não pode ser vista como uma derrota: “No dia seguin-
te, 1º de agosto de 1823, decorridos cerca de 3 meses e 17 dias do A BATALHA DE JENIPAPO
combate de Jenipapo e cerca de 10 meses e 23 dias da proclamação
Às margens do rio Jenipapo, no atual município de Campo
de nossa independência em 7 de setembro de 1822, pelo Príncipe
Maior, foram palco de uma sangrenta batalha envolvendo os par-
Regente D. Pedro, às margens do arroio Ipiranga, os patriotas entra-
tidários da independência brasileira e a resistência portuguesa que
vam em Caxias consolidando assim a Independência do Maranhão,
procurava evitá-la. Era 13 de março de 1823. Este confronto pode
Piauí e Ceará. E para isto contribuiu decisivamente o combate do
ser visto como um dos momentos cruciais da adesão da província
Jenipapo, uma derrota tática numa Ação Retardadora de um exér- piauiense ao processo emancipatório brasileiro.
cito improvisado, mal armado e sem conhecimento da Arte Militar, Apesar da independência tem sido oficialmente proclamada a
mas sem dúvida, uma grande vitória estratégica que minou o poder 7 de setembro de 1822, pelo príncipe regente São Paulo, as outras
militar do Major Fidié e o impediu em sua ação de retardamento regiões da América portuguesa não havia aderido. Aquele gesto
que ele desistisse de rumar para Oeiras e reconquistá-la. simbolizava apenas a adesão da região Centro-Sul. O processo de
O combate de Jenipapo lembra a derrota militar do Governo na independência nas outras áreas implicou em se cruentas batalhas,
Lapa, onde os federalistas a atacaram, mas a praça resistiu por cerca especialmente no norte, incluindo o nordeste atual. Essa área era
de 40 dias ao avanço federalista, dando tempo ao Marechal Floriano alvo de pretensão portuguesa de perpetuar domínios na América.
para organizar a defesa na fronteira Paraná-São Paulo e a chegada Neste sentido, a província piauiense assumia uma importância
da Esquadra Legal no Rio de Janeiro. “E assim deve ser entendida a fundamental para o governo português em virtude da sua posição
vitória patriota em Jenipapo”. O professor Fonseca Neto17 esclare- territorial, encravada entre as províncias ocidentais e orientais do
ce porque Jenipapo significa vitória para os brasileiros: Tanto que, norte da América portuguesa. Por conta disto e, sobretudo, de-
ainda que vitorioso no campo do enfretamento direto do Jenipapo, vido à expansão dos ideais emancipacionistas, desde 1821 eram
reconheceu a derrota no campo político-estratégico, e redirecionou enviadas, pelo governo português, quantidades significativas de
a marcha de seu exército para a vila de Caxias, repleta de patrícios, armamentos e munições bem como havia a nomeação de militares
e já às vésperas de gritar vivas à liberdade. experientes para cuidar desta região. Para essa província fora no-
Jenipapo contribuiu para garantir um Brasil unido de norte a meado João José da Cunha Fidié como governador das armas. Ele
sul. Nesse sentido, esclarecem Gervásio Santos e Kenard Kruel: era experiente militar, veterano nas guerras napoleônicas.
“A batalha do Jenipapo, sem dúvida alguma, decidiu o destino da No Piauí, a primeira vila a se manifestar favoravelmente ao
independência brasileira na região nortista, pois se Fidié tivesse su- governo de D. Pedro I, instalado no Rio de Janeiro, foi São José
plantado a revolta no Piauí, marcharia contra cearenses e pernam- da Parnaíba, através da Câmara local. Era 19 de outubro de 1822.
bucanos. Contando, já, com a fidelidade do Maranhão e do Pará, Essa iniciativa fez com que as tropas favoráveis a Portugal se des-
anexaria essas províncias aos povos aliados do império português locassem de Oeiras para Parnaíba, lideradas pelo próprio governa-
no Norte do Brasil. Teríamos, então, ou um Brasil dividido ou uma dor das Armas, o Major Fidié.
nova guerra a ser travada”. Portanto, a Batalha do Jenipapo não Antes de chegarem à vila do extremo norte, as tropas lusófilas
pode ser vista como uma derrota, mas como uma vitória para a estacionaram em Campo Maior, na qual procuraram apurar denún-
união nacional. Segundo Francisco Castro, o grande poeta Carlos cias acerca dos preparatórios de adesão às tendências emancipa-
Drummond de Andrade reconheceu a grandiosidade da Batalha do cionistas. Neste ínterim, as lideranças parnaibanas se deslocaram
Jenipapo e insculpiu seus combatentes para a eternidade no poema para o Ceará. Assim quando as tropas de Fidié chegaram a Parnaí-
“Cemitérios”: ba não encontraram resistências.
Didatismo e Conhecimento 48
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Enquanto as tropas portuguesas estavam em Parnaíba, outros lealmente os governos que o Brasil sancionou com a sua adesão e o
povoados e vilas aderiram ao processo emancipatório, dentre eles seu voto, sufocou a revolta do Maranhão, a de S. Paulo e Minas, e
Piracuruca, Matões e Oeiras, em janeiro de 1823. Nesta última finalmente a do Rio Grande do Sul, que pôs mais do que nenhuma
ocorrera a deposição da Junta Governativa pró-Portugal. Além dis- outra em sério perigo a integridade do império brasileiro. Sempre
so, alguns contingentes cearenses chegaram ao Piauí. Neste con- vitorioso, foi ele quem dirigiu a campanha contra Rosas, e quem
texto, deu-se a proclamação da independência em Campo Maior, infligiu a derrota suprema a esse terrível ditador.
em fevereiro de 1823. Ministro por várias vezes, foi o organizador do exército brasi-
No início de março de 1823 as tropas de Fidié saíram de Par- leiro que empreendeu a campanha do Paraguai. Depois, pondo-se
naíba para tentar submeter as demais vilas que estavam aderindo à frente desse mesmo exército, franqueou os terríveis passos de
ao processo de independência. Seguiram-se alguns breves inciden- Gurupaity e de Humaytá, ganhou umas poucas de batalhas, e, en-
tes no trajeto, porém, o maior combate se deu às margens do rio trando triunfante na capital do Paraguay, fez tremular nas rendidas
Jenipapo. muralhas de Assunção a bandeira auriverde.
A expectativa do avanço das tropas portuguesas rumo à Cam- Ao conde d’Eu coube a gloria de debelar os últimos esforços
po Maior implicou numa mobilização sem precedentes da popu- do ditador da republica, ao duque de Caxias coube a gloria indis-
lação local para formação de tropas para o combate, agregando- putável de ter vibrado a esse terrível e enérgico inimigo da Brasil o
se grupos de vaqueiros e roceiros armados com os instrumentos golpe mais fundo, e que tornou, apesar da indomável perseverança
disponíveis, como: facões, machados, foices, espetos, espingardas, de Lopez, quase desesperada a sua causa. O governo e o povo do
paus e pedras. Enquanto as tropas inimigas eram bem armadas, Brasil reconheceram sempre os altos serviços desse glorioso guer-
municiadas, disciplinadas e organizadas sob o comando de expe- reiro, dando-lhe com o bastão de marechal o titulo mais elevado da
rientes militares. nobiliarquia brasileira, o povo fazendo em 1880 da morte do ve-
O grande confronto se deu no dia 3 de março de 1823, nas pro- lho duque um verdadeiro luto nacional. É que todos reconheciam,
ximidades do rio Jenipapo. Cerca de 2500 piauienses e cearenses, como o autor deste livro já disse algures, que a espada do duque de
sem adestramento militar, e debaixo de um sol abrasador num ano Caxias, como a espada de Grant ou de Sherman, dera a um tempo
de estiagem arrasadora, enfrentaram as tropas portuguesas. Após à sua pátria uma potente unidade, e à civilização da América um
5 horas de intenso combate, as tropas locais contavam entre suas glorioso triunfo.
perdas 700 homens, entre mortos, feridos e prisioneiros de guerra.
Do lado português, as perdas não chegaram a uma centena, porém
haviam perdido boa parte da bagagem de guerra; o separatistas
desviaram importantes equipamentos de guerra das tropas portuguesas.
Entretanto, a vitória lusitana era incontestável, ganharam uma
batalha, mas a guerra estava longe de terminar, pois a ausência
de recursos bélicos e a possibilidade de enfrentamento de outras
batalhas, com a chegada de reforços de outras vilas e províncias,
fez com que Fidié e suas tropas se deslocassem, em abril de 1823,
para o Maranhão, província leal a Portugal. Porém, após o cerco
de Caxias, pelas tropas separatistas, formadas por piauienses, cea-
renses e maranhenses, as tropas de Fidié se renderam, no final de
julho de 1824.
Portanto, foi neste contexto que se deu o real processo eman-
cipacionista e a adesão do Piauí ao governo do império do Brasil,
caracterizado por diversas lutas sanguinárias, com a participação
popular, porém, a maioria da população não se beneficiou de seus
resultados, pois uma oligarquia assumiu o projeto de consolida-
ção do estado brasileiro em detrimento das transformações mais
profundas dessa sociedade. Texto adaptado de MACHADO, Z. V
A ADESÃO DE CAXIAS À
INDEPENDÊNCIA DO BRASIL.
Duque de Caxias
Fonte: http://www.sacralidade.com/sacral2008/0113.caxias.
html
O mais hábil general brasileiro do séc. XIX, Luís Alves de
Lima, nasceu em 1803, pertencendo a uma família oriunda do Luís Alves de Lima e Silva, nasceu em 25 de agosto de 1803,
Algarve em Portugal. Aderindo com entusiasmo à causa da inde- na fazenda de São Paulo, no Taquaru, Vila de Porto da Estrela, na
pendência brasileira, mas desejando vivamente a manutenção da Capitania do Rio de Janeiro, quando o Brasil era Vice Reino de
ordem no novo império, pôs a sua espada à disposição de D. Pedro Portugal. Hoje, é o local do Parque Histórico Duque de Caxias, no
I, para sufocar a revolta, que o obrigou a abdicar. Servindo depois município de Duque de Caxias, no estado do Rio de Janeiro.
Didatismo e Conhecimento 49
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Filho do Marechal-de-Campo Francisco de Lima e Silva e de Em 2 de dezembro de 1839 é promovido a Coronel e, por
D. Mariana Cândida de Oliveira Belo. Ao seu pai, Veador da Im- Carta Imperial, nomeado Presidente da Província do Maranhão e
peratriz Leopoldina, coube a honra de apresentar em seus braços à Comandante Geral das forças em operações, para que as provi-
Corte, no dia 2 de dezembro de 1825, no Paço de São Cristóvão, o dências civis e militares emanassem de uma única autoridade. Em
recém-nascido que, mais tarde, viria a ser o Imperador D. Pedro II. agosto de 1840, mercê de seus magníficos feitos em pleno campo
de batalha, Caxias foi nomeado Veador de Suas Altezas Imperiais.
PRIMEIROS ANOS Em 18 de julho de 1841, em atenção aos serviços prestados na pa-
cificação do Maranhão, foi-lhe conferido o título nobiliárquico de
Em 22 de maio de 1808, época em que a Família Real Portu- Barão de Caxias. Por quê Caxias? “Caxias simbolizava a revolução
guesa transfere-se para o Brasil, Luís Alves é titulado Cadete de 1ª subjugada.
Classe, aos 5 anos de idade. Pouco se sabe da infância de Caxias. Essa princesa do Itapicuru havia sido mais que outra algema
Pelos almanaques do Rio de Janeiro da época e publicados pela afligida dos horrores de uma guerra de bandidos; tomada e reto-
Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, os quais mada pelas forças imperiais, e dos rebeldes várias vezes, foi quase
davam o nome das ruas em que moravam as autoridades gover- ali que a insurreição começou, ali que se encarniçou tremenda; ali
que o Coronel Luís Alves de Lima e Silva entrou, expedindo a úl-
namentais, sabe-se que seu pai, desde capitão, em 1811, residia na
tima intimação aos sediciosos para que depusessem as armas; ali
rua das Violas, atual rua Teófilo Otoni.
que libertou a Província da horda de assassinos. O título de Caxias
Esta rua das Violas, onde existiam fabricantes de violas e vio- significava portanto: - disciplina, administração, vitória, justiça,
lões e onde se reuniam trovadores e compositores, foi o cenário igualdade e glória”, explica o seu biógrafo Padre Joaquim Pinto
principal da infância de Caxias. Sabe-se que estudou no convento de Campos.
São Joaquim, onde hoje se localiza o Colégio D.Pedro II, e próxi- Em 1841, Caxias é promovido a Brigadeiro e, em seguida,
mo do Quartel do Campo de Santana que ele viu ser construído e eleito unanimemente, deputado à Assembléia Legislativa pela Pro-
que hoje é o Palácio Duque de Caxias, onde está instalado o Co- víncia do Maranhão e, já em março de 1842, é investido no cargo
mando Militar do Leste. de Comandante das Armas da Corte.
Em 1818, aos quinze anos de idade, matriculou-se na Aca- Em maio de 1842 iniciava-se um levante na Província de São
demia Real Militar, de onde egresso, promovido a Tenente, em Paulo, suscitado pelo Partido Liberal. D. Pedro II, com receio que
1821, para servir no 1º Batalhão de Fuzileiros, unidade de elite do esse movimento, alastrando-se, viesse fundir-se com a revolta far-
Exército do Rei. O retorno da família real e as consequências que roupilha que se desenvolvia no sul do Império, resolve chamar
daí advieram, concorreram para almejada emancipação do país. Caxias para pacificar a região. Assim, o Brigadeiro Lima e Silva é
D. Pedro proclama a independência do Brasil e organiza, ele nomeado Comandante-chefe das forças em operações da Província
próprio, em outubro de 1822, no Campo de Sant’Ana, a Imperial de São Paulo e, ainda, Vice-Presidente dessa Província. Cumprida
Guarda de Honra e o Batalhão do Imperador, integrado por 800 a missão em pouco mais de um mês, o Governo, temeroso que a
militares selecionados, tipos atléticos e oficiais de valor excepcio- revolta se envolvesse a Província das Minas Gerais, nomeia Caxias
nal, escolhidos da tropa estendida à sua frente. Coube ao Tenente Comandante do Exército pacificador naquela região, ainda no ano
Luís Alves de Lima e Silva receber, na Capela Imperial, a 10 de de 1842. Já no início do mês de setembro a revolta estava abafada
novembro de 1822, das mãos do Imperador D. Pedro I, a bandeira e a Província pacificada. No dia 30 de julho de 1842, “pelos rele-
do Império recém criada. vantes serviços prestados nas Províncias de São Paulo e Minas”, é
No dia 3 de junho de 1823, o jovem militar tem seu batismo promovido ao posto de Marechal-de-Campo graduado, quando não
contava sequer quarenta anos de idade. Ainda grassava no sul a re-
de fogo, quando o Batalhão do Imperador foi destacado para a
volta dos farrapos. Mais de dez Presidentes de Província e Generais
Bahia, onde pacificaria movimento contra a independência coman-
se haviam sucedido desde o início da luta, sempre sem êxito.
dado pelo General Madeira de Melo. No retorno dessa campanha,
Mister de sua capacidade administrativa, técnico-militar e pa-
recebeu o título que mais prezou durante a sua vida - o de Veterano cificadora, o Governo Imperial nomeou-o, em 1842, Comandante-
da Independência. chefe do Exército em operações e Presidente da Província do Rio
Grande do Sul.
NA CISPLATINA E NA PACIFICAÇÃO DO MARANHÃO
REVOLUÇÃO FARROUPILHA
Em 1825 iniciou-se a campanha da Cisplatina e o então Ca-
pitão Luís Alves desloca-se para os pampas, junto com o Bata- Logo ao chegar a Porto Alegre fez apelo aos sentimentos pa-
lhão do Imperador. Sua bravura e competência como comandante trióticos dos insurretos através de um manifesto cívico. A certo pas-
e líder o fazem merecedor de várias condecorações e comandos so dizia: “Lembrai-vos que a poucos passos de vós está o inimigo
sucessivos, retornando da campanha no posto de Major. A 6 de de todos nós - o inimigo de nossa raça e de tradição. Não pode tardar
janeiro de 1833, no Rio de Janeiro, o Major Luís Alves casava-se que nos meçamos com os soldados de Oribes e Rosas; guardemos
com a senhorita Ana Luiza de Loreto Carneiro Viana que contava, para então as nossas espadas e o nosso sangue. Abracemo-nos para
na época, com dezesseis anos de idade. Em 1837, já promovido a marcharmos, não peito a peito, mas ombro a ombro, em defesa da
Tenente Coronel, Caxias é escolhido “por seus descortino adminis- Pátria, que é a nossa mãe comum”. Mesmo com carta branca para
trativo e elevado espírito disciplinador” para pacificar a Província agir contra os revoltosos, marcou sua presença pela simplicidade,
do Maranhão, onde havia iniciado o movimento da Balaiada. humanidade e altruísmo com que conduzia suas ações.
Didatismo e Conhecimento 50
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Assim ocorreu quando da captura de dez chefes rebeldes apri- Da mesma forma, sua liderança atinge a plenitude no seu es-
sionados no combate de Santa Luzia onde, sem arrogância, com forço para concitar seus homens à luta na travessia da ponte sobre
urbanidade e nobreza, dirigiu-se a eles dizendo: “Meus senhores, o arroio Itororó “Sigamme os que forem brasileiros”. Caxias só
isso são consequências do movimento, mas podem contar comigo deu por finda sua gloriosa jornada ao ser tomada a cidade de As-
para quanto estiver em meu alcance, exceto para soltá-los”. Se no sunção, capital do Paraguai, a 1º de janeiro de 1869.
honroso campo da luta, a firmeza de seus lances militares lhe gran-
jeava o rosário de triunfos que viria despertar nos rebeldes a idéia
de pacificação, paralelamente, seu descortino administrativo, seus
atos de bravura, de magnanimidade e de respeito à vida humana,
conquistaram a estima e o reconhecimento dos adversários. Por
essas razões é que os chefes revolucionários passaram a entender-
se com o Marechal Barão e Caxias, em busca da ambicionada paz.
E em 1º de março de 1845 é assinada a paz de Ponche Verde,
dando fim à revolta farroupilha. Em 1845 Caxias é efetivado no
posto de Marechal-de-Campo e é elevado a Conde. Em seguida,
mesmo sem ter se apresentado como candidato, teve a satisfação
de ter seu nome indicado pela Província que pacificara há pouco,
para Senador do Império. Em 1847 assume efetivamente a cadeira
de Senador pela Província do Rio Grande do Sul.
Didatismo e Conhecimento 51
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Exército, proferiu alocução assim concluída: “Carregaram o seu Caxias deve ser olhado hoje, quando facções de todos os tipos
féretro seis soldados rasos; mas, senhores, esses soldados que cir- buscam armar-se e tornam impenetráveis seus territórios, como
cundam a gloriosa cova e a voz que se levanta para falar em nome o exemplo de como se constrói um Estado. Texto adaptado de
deles, são o corpo e o espírito de todo o Exército Brasileiro. Re- DUAILIBI, R
presentam o preito derradeiro de um reconhecimento inextinguível
que nós militares, de norte a sul deste vasto Império, vimos render
ao nosso velho Marechal, que nos guiou como General, como pro-
LORDE COCHRANE E A ADESÃO DE SÃO
tetor, quase como pai durante 40 anos; soldados e orador, humilde
todos em sua esfera, muito pequenos pela valia própria, mas gran- LUÍS À INDEPENDÊNCIA DO BRASIL.
des pela elevada homenagem e pela sinceridade da dor”.
HOMENAGENS
No Maranhão, as elites agrícolas e pecuaristas eram muito li-
Em 25 de agosto de 1923, a data de seu aniversário natalício gadas à Metrópole e a exemplo de outras províncias se recusaram
passou a ser considerada como o Dia do Soldado do Exército Bra- a aderir à Independência do Brasil. À época, o Maranhão era uma
sileiro, instituição que o forjou e de cujo seio emergiu como um das mais ricas regiões do Brasil. O intenso tráfego marítimo com a
dos maiores brasileiros de todos os tempos. Ele prestou ao Brasil Metrópole, justificado pela maior proximidade com a Europa, tor-
mais de 60 anos de excepcionais e relevantes serviços como polí- nava mais fácil o acesso e as trocas comerciais com Lisboa do que
tico e administrador público de contingência e, inigualados, como com o sul do país. Os filhos doscomerciantes ricos estudavam em
soldado de vocação e de tradição familiar, a serviço da unidade, da Portugal. A região era conservadora e avessa aos comandos vindos
paz social, da integridade e da soberania do Brasil Império. do Rio de Janeiro. Foi da Junta Governativa da Capital, São Luís,
Em mais uma justa homenagem ao maior dos soldados do que partiu a iniciativa da repressão ao movimento da Independên-
Brasil, desde 1931 os Cadetes do Exército da Academia Militar cia no Piauí. A Junta controlava ainda a região produtora do vale
das Agulhas Negras, portam, como arma privativa, o Espadim de do rio Itapecuru, onde o principal centro era a vila de Caxias.
Caxias, cópia fiel, em escala, do glorioso e invicto sabre de campa- Esta foi a localidade escolhida pelo Major Fidié para se fortifi-
nha de Caxias que desde 1925 é guardado como relíquia pelo Ins- car após a derrota definitiva na Batalha do Jenipapo, no Piauí, im-
tituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a que o Duque de Caxias posta pelas tropas brasileiras, compostas por contingentes oriun-
integrou como sócio Honorário a partir de 11 de maio 1847.
dos do Piauí e do Ceará. Fidié teve que capitular, sendo preso em
O Decreto do Governo Federal de 13 de março de 1962 imor-
Caxias e depois mandado para Portugal, onde foi recebido como
talizou nome do Duque de Caxias como o Patrono do Exército
herói. São Luís, a bela capital e tradicional reduto português, foi
Brasileiro. Atualmente, os restos mortais do Duque de Caxias, de
finalmente bloqueada por mar e ameaçada de bombardeio pela
sua esposa e de seu filho, repousam no Pantheon à Caxias, cons-
esquadra do Lord Cochrane, sendo obrigada a aderir à Indepen-
truído em frente ao Palácio Duque de Caxias, na cidade do Rio de
dência em 28 de julho de 1823. Os anos imperiais que seguiram
Janeiro.
foram vingativos com o Maranhão; o abandono e descaso com a
Muito se tem falado da generosidade de Caxias no trato com
os rebeldes vencidos nas diversas campanhas que chefiou, sobre- rica região levaram a um empobrecimento secular, ainda hoje não
tudo a partir da Revolução Farroupilha. Não se tratava, apenas, de rompido.
traço moral. Era a sábia atitude de um estadista. Ele entendia que Lord Thomas Alexander Cochrane, 10.° conde de Dundonald,
uma vitória só se consolida com aanistia aos vencidos. Caxias ja- foi um almirante escocês da Real Marinha Britânica. Nascido em
mais tratou os derrotados com desdém e, até mesmo no rigor com Annsfield (1775), ingressou na Armada Britânica com apenas 17
que exigia a rendição, manifestava respeito para com o adversário. anos de idade, chegando, posteriormente, a combater contra o pró-
Tais são as coisas deste mundo, ele dirá a Feijó, repetindo prio Napoleão Bonaparte, que o apelidou de Loup de Mer (Lobo
as palavras de seu adversário, na correspondência que trocaram, do Mar), tamanha era sua ousadia e vivacidade no campo de ba-
sobre os altos e baixos da política que os colocavam em campos talha. Virou membro do Parlamento Inglês e, acusado de envolvi-
opostos na Revolução de 1842. Fora um duelo em torno de razões mento com atividades fraudulentas, em 1814 foi preso e obrigado
adjetivas: Feijó, já alquebrado e enfermo, levantara-se em armas, a deixar a carreira naval.
em Sorocaba, contra a facção áulica que tutelava o Imperador e Após este período nebuloso, acabou se refugiando na América
morreria meses depois. Caxias considerava que o respeito ao Latina, onde seus serviços foram novamente requisitados em prol
Imperador adolescente era indispensável à segurança do Estado, das lutas independentistas deste continente contra Espanha e Por-
enquanto Feijó, Rafael Tobias de Aguiar e Teófilo Ottoni, ao re- tugal. O que pouca gente sabe, entretanto, é que este famoso mili-
clamarem a ordem política, opunham-se a uma ditadura de corte- tar teve intensa participação na Adesão Maranhense à Indepênden-
sãos. No fundo, o objetivo patriótico era o mesmo, embora visto cia do Brasil, senão decisiva.
de ângulos diferentes. É sabido que a forte influência e dominação lusitana que sem-
Ao Duque de Caxias o Brasil deve a consolidação da indepen- pre aqui existiu, aliada à nossa antiga aristocracia extremamente
dência. Com inteligência de estadista e bravura de militar, Caxias, escravocrata e conservadora, de estreitas ligações com a Metrópo-
que dedicou toda a sua vida à Nação, assegurou nossa independên- le e alheia aos comandos vindos do Rio de Janeiro, fez com que o
cia não em uma só batalha mas em muitas, desde os vinte anos, Maranhão aderisse à Independência do Brasil somente em 1823,
quando teve seu batismo de fogo na Bahia contra as tropas portu- sob forte resistência dos lusos.
guesas, até à vitória contra o Paraguai, com a ocupação de Assun-
ção em 1869, e como político até a morte em 1880.
Didatismo e Conhecimento 52
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Foi da Junta Governativa de São Luís, sob a liderança do Ma- No morro de São Paulo estacionou sua frota para o apres-
jor Fidié, a intenção de reprimir os atos independentistas no Piauí. tamento dos brulotes, mantendo ataques isolados apenas com o
Após derrota na Batalha do Jenipapo neste Estado, Fidié foge das navio Pedro Primeiro. Este era dotado excelentes qualidades velei-
tropas brasileiras e se refugia em Caxias. Depois de preso, foi en- ras, mas pela escassez de marinheiros experientes estava com sua
viado a Portugal, onde foi recebido como herói. tripulação reduzida. Sendo assim, preferiu, o Lorde, transferir os
Os portugueses começam, então, a perder força pela falta de marinheiros estrangeiros (únicos com experiência de mar) das ou-
apoio em diversas cidades e povoados do interior; os atos indepen- tras embarcações para esta, completando sua tripulação e obtendo
dentistas eram um caminho sem volta. Restava o recôncavo luso assim maior vantagem com um único navio. De fato, este único na-
mais bem consolidado e resistente: a Capital. vio foi capaz, de sob o comando de Cochrane, levar ameaça verda-
Neste momento surge a figura de Lord Cochrane que, sob or- deira ao Almirante português na Bahia, pois os rápidos encontros
dens do Rio de Janeiro, foi enviado para cá, afim de sufocar a resis- com o Pedro Primeiro sempre levavam a perdas e apresamento de
tência com uma poderosa força militar. Sua esquadra foi recebida navios com tropa. Decido a pressionar às tropas portuguesas que
na costa ludovicense sob o pretexto de que seria um reforço portu- já deliberavam em abandonar a província, Lorde Cochrane fez o
guês. Foi um golpe de mestre; conseguiu de forma “tranquila” de-
que os portugueses achavam impossível; na noite escura do dia 12
sembarcar seus homens e aprisionar alguns líderes militares lusos.
de junho, entrou na baía de salvador, onde se encontrava ancorada
Tomou o controle da cidade obrigando-a a aderir, a 28 de Julho de
a frota portuguesa, passou por entre os navios inimigos sem ser
1823, à Independência do Brasil. No final de Agosto, o Maranhão
já se encontrava devidamente incorporado ao Império, pagando molestado e aproximando-se perigosamente dos mesmos, efetuou
caro, a partir daí, com alguns embargos imperiais por conta de sua seu reconhecimento para o uso dos brulotes, que já se encontravam
teimosia. quase prontos, saindo sem qualquer problema. A entrada na baía
Terminada a Guerra do Pacífico, entre a colônia e a metrópole era, em dia claro, uma tarefa perigosa, para a qual os portugueses
espanhola, e estabelecida a Independência do Chile, encontrava-se dependiam da utilização de práticos; efetuar tal faça numa noite
o escocês Lorde Thomas John Cochrane com grande prestígio no escura, quando os navios da esquadra estavam imobilizados para
posto de primeiro Almirante da esquadra daquele país. Tendo sido não se perderem encalhandos nos bancos de areia ou chocando-se
realizada a Paz, o Ministro José Bonifácio visualizou a possibilida- contra rochedos em águas rasas era algo impensável e certamente
de de catalisar este contingente especializado nos ofícios do mar, indicava o perigo iminente de ter o Almirante português sua esqua-
com liderança de Cochrane, para a formação de uma esquadra, que dra totalmente destruída no interior da baía, sem a menor possibi-
garantisse o litoral do recém formado Império Brasileira. Assim, lidade de defesa.
com a aquiescência do Imperador, e por intermédio do Cônsul do Esta incursão noturna, somado a notícia de que os brulotes es-
Império do Brasil em Buenos Aires, Antônio Manuel Correa da tavam prontos levou tal terror aos portugueses que estes decidiram
Câmara, José Bonifácio na qualidade de Ministro do Interior e das abandonar a Bahia o mais breve possível. A partir de primeiro de
Relações Exteriores do Império, convidou o Almirante Cochrane julho iniciou-se a evacuação das forças inimigas, acompanhadas
a deixar seu posto no Chile e vir para o Brasil a fim de formar e de sessenta a setenta navios mercantes que transportavam as tro-
liderar uma Marinha de Guerra para “atacar a força parlamentar pas, bem como os demais portugueses que desejavam partir em
portuguesa”. segurança. Como a evacuação da capitania era mais importante
Tentado pela proposta de manter seus vencimentos e posto para o cumprimento de sua missão, Lorde Cochrane permitiu que
iguais ao que ocupava no Chile e ainda ser merecedor de todas as os navios passassem sem serem molestados. Após a passagem do
presas de guerra que pudessem ser capturada (uma incalculável último navio do comboio, iniciou-se a caçada.
quantidade de navios portugueses, bem como suas cargas e todo o A perseguição à frota portuguesa que seguia em direção a Por-
produto de alfândega ou qualquer outra propriedade portuguesa) o tugal rendeu o apresamento de muitas dezenas de navios e cerca de
Lorde escocês assumiu seu posto de Primeiro Almirante do Brasil dois terços das tropas inimigas que fugiam da Bahia. A abordagem
a 21 de março de 1823 e partiu do Rio de Janeiro a três de abril
era feita sempre nos navios mais distantes dos vasos de guerra;
fazendo-se de vela para a Bahia, onde se encontravam o maior
após a abordagem, o mastro principal era inutilizado para impedi
efetivos de tropas portuguesas com o objetivo de manter a colônia
sob dominação. Inicialmente contou com apenas quatro navios de -los de atravessar o Atlântico e forçarem a volta para a Bahia, onde
guerra; o Pedro Primeiro, o Piranga, o Maria da Gloria e o Libe- eram presos. Daí conduzidos para o Rio de Janeiro.
ral; outros dois, o Guarani e o Real, sem condições de combate, Abandonando a perseguição aos navios Portugueses, Lorde
seguiram destinados para brulotes. Posteriormente o Nitherói e o Cochrane partiu com o Pedro Primeiro para o Maranhão a fim de
Paraguaçu, se juntaram a esquadra. dar cabo da resistência portuguesa naquela província. Ao entrar no
Cumprindo o que estabelecia a Proclamação Imperial de 29 de rio Maranhão no dia 26 de julho, ciente pelos papéis apreendidos
março (de 1823), a partir de primeiro de maio, impôs o bloqueio nos navios apresados, que os portugueses esperavam reforços, des-
da Bahia, impedindo que chegasse qualquer suprimento para as fraldou o pavilhão luso para fazer crer que era a capitânia de uma
tropas portuguesas. A quatro de maio a Esquadra brasileira avistou esquadra portuguesa. As autoridades, enganadas por este ardil, en-
e avançou diretamente sobre a Força portuguesa (treze navios), viaram o brigue de guerra Dom Miguel com ofícios de congratula-
formada em duas colunas. Cochrane, percebendo um claro entre os ções nas mãos do capitão Garção. Ao ser desenganado da situação
navios da esquadra, resolveu cortar sozinho com a não capitânia a e encontrando dentro de uma embarcação brasileira, o capitão foi
linha por este claro e passou fazendo fogo às fragatas da esquadra feito prisioneiro e foi-lhe informado que se tratava da capitania de
lusitana. Antes que a vanguarda pudesse manobrar para socorrer os uma grande frota brasileira que se aproximava para subjugar o Ma-
quatro navios da retaguarda, deu volta e saiu da área de combate. ranhão, assim como fora feito com a Bahia. Como os acontecimen-
Por manobras habilidosas como esta, compensava-se a inferiorida- tos da Bahia já corriam, não foi difícil fazer crer que a estória era
de numérica do Primeiro Almirante do Brasil. verdadeira. Assim, como parte do plano de Cochrane, foi oferecida
Didatismo e Conhecimento 53
HISTÓRIA DO MARANHÃO
a liberdade ao tal capitão, desde que conduzisse suas cartas para A 18 de agosto chegou a Pernambuco, onde o presidente re-
o Governador e para a Junta, as quais eram carregadas da mes- volucionário, Manuel de Carvalho Paes de Andrade comandava uma
ma estória e com a exigência de reconhecer o Império Brasileiro. Confederação apoiada em larga escala pelas províncias da Paraíba,
Como resposta Cochrane recebeu no dia seguinte a capitulação do Piauí, Rio Grande do Norte e Ceará.
Governo, que por ser condicional não fora aceita. Paes de Andrade havia estacionado na ilha de Taparica um navio
No dia 27 entrou com a capitânia até a frente do forte e anco- para, em caso de necessidade, poder fugir, contudo ao ter conheci-
rou. Nesta situação, a Junta de Governo, acompanhada pelo Bispo mento do fato Cochrane apreendeu a embarcação. Vendo a impos-
entrou a bordo e deram toda a sua adesão ao Império. No dia se- sibilidade de seguir com a revolução, tendo o General Lima em seu
guinte proclamou-se na província a Independência do Brasil. encalço e o porto bloqueado pela esquadra de Cochrane, preferiu
Pacificada a capital da província, as tropas portuguesas foram partir para negociação com este, oferecendo-lhe 400 contos de réis
embarcadas a primeiro de agosto; nesta mesma data os habitantes para que deixasse o serviço do Império do Brasil e aderisse a Con-
de Alcântara fizeram a declaração de adersão ao Império. Uma se- federação do Equador. Certamente a oferta foi negada e ameaçou o
mana depois foi eleito um Governo Provisório. Lorde bombardear a cidade.
O mencionar da “bela fragata nova” não era sem motivo, Co- A 11 de setembro, o General Lima entrou na cidade e Paes de
chrane dera ordens específicas a o Capitão-tenente Grenfell para Andrade se refugiou nos subúrbios. Neste período chegou a fragata
capturar a fragata, como valiosa presa de guerra, a qual deveria Piranga trazendo um reforço de oitocentos homens. O presidente re-
batizar de Imperatriz e conduzi-la ao Rio de Janeiro. publicano então abandonou a luta e fugiu para o interior.
O Capitão-tenente executou no Pará o plano de Lorde Co- Resolvida à questão de Pernambuco e vendo as províncias do
chrane que expediu o brigue Maranhão com carta dirigida à Junta norte em estado de ebulição, Cochrane decidiu partir com o Pedro
governativa, assinada por ele, porém devendo ser datada no dia da Primeiro e a Piranga para o Rio Grande do Norte, dando vela a 10
chegada ao Pará. Desta maneira a Junta seria informada da pre- de outubro.
sença da esquadra brasileira que aguardava fora da barra à decisão A presença dos navios no Rio Grande do Norte foi o suficiente
de aderir a Independência, sob a ameaça de um bombardeio caso para volta a calma, partindo então para o Ceará onde o presidente
fosse negado. Reproduzia-se, assim, o mesmo ardil aplicado no revolucionário Araripe ameaçava separar-se do Império. Com a che-
Maranhão. gada dos navios no Ceará a 18 de outubro, o presidente revolucioná-
Sem que houvesse tempo de averiguar a existência em águas rio preferiu fugir para o interior, sendo assassinado por esta ocasião.
paraenses da referida esquadra e já se preparando para fundear no Restando o Norte, partiu para o Maranhão a quatro de novembro,
porto o brigue de guerra de Grenfell, no dia 11 de agosto às dez aonde chegou a nove.
horas da noite, foi realizada uma reunião contando com o Gover- No Maranhão encontrou uma completa confusão, o governo
nador das Armas, o Senado da Câmara, autoridades civis, eclesiás- despótico do presidente Miguel Bruce fora deposto e havia um Go-
ticas e militares para se decidir os procedimentos a serem tomados. verno Provisório. Dois partidos, brasileiro e português, se digladia-
A notícia da chegada da Esquadra Brasileira causou um grande ram, ambos jurando defender o Império Brasileiro e ambos acusando
alvoroço popular. A euforia popular dos simpatizantes do novo re- o oposto de ser republicano.
gime forçou a Junta uma decisão pela adesão ao Imperador do Bra- A fim de resolver a situação político-militar, o próprio Almirante
sil, sendo voto vencido o Governador das Armas e alguns poucos Cochrane assumiu o comando das Armas e da polícia. Como todo
partidários deste. Desta maneira, no dia 15 de agosto de 1823 no problema da província parecia girar em torno do despotismo de Bru-
Palácio do Governo, foi proclamada a Independência do Brasil no ce, o Almirante decidiu suspender o presidente e enviá-lo para o Rio
Pará. Sendo realizado o juramento e lavrado uma ata. de Janeiro, deixando Manuel Teles da Silva Lobo como presidente
Voltando ao Maranhão, onde permaneceu Lorde Cochrane, a interino, pois este era totalmente desligado das facções familiares do
20 de agosto as tropas portuguesas que se encontravam na provín- Maranhão.
cia foram embarcadas para Lisboa. Formou-se aí um Governo Pro- Voltando o Pará a apresentar distúrbio e estando a vida do pre-
visório aderente ao Império do Brasil. Um mês depois partiu para sidente da província em perigo, Cochrane expediu a fragata Atalanta
o Rio de Janeiro, aonde chegou a 9 de novembro e foi recebido a sob os comandos dos tenentes Clarence e Reed.
bordo pelo próprio Imperador. Apaziguado os problemas no norte do Império, o Almirante
Neste curto espaço de tempo, muita coisa havia mudado no transferiu sua bandeira para a fragata Piranga, expediu o a não Pedro
Ministério de D. Pedro. José Bonifácio havia sido demitido e em Primeiro para o Rio de Janeiro e fez-se de vela no dia 18 de maio
seu lugar encontravam-se ministros reacionários, pouco satisfeitos de 1825. A intenção era navegar até a latitude dos Açores e depois
com os prejuízos infringidos aos portugueses. Por isso o Tribunal retornar ao Rio de Janeiro (intenção estranha para quem devia voltar
de Presas passou a negar a Cochrane e à esquadra os seus direitos ao Rio de Janeiro, talvez lhe faltasse ares europeus).
de presa (cerca de 140 navios, bem como as rendas das alfândegas Ao passar por S. Miguel descobriu que o mastro grande estava
e demais bens sequestrados aos portugueses). partido e o navio sem condições de velejar pelo Atlântico, de volta
Mesmo insatisfeito com o rumo das negociações, vendo seus ao Rio. Procurou abrigo no porto Inglês, ancorando em Spithead a
direitos que foram ofertados pelo próprio Imperador serem ne- 25 de junho.
gados por um ministério lusófilo, ainda aceitou nova missão em Na Inglaterra procurou o Enviado Brasileiro em Londres, Ma-
nome do Império Brasileiro. A questão agora era a revolução repu- nuel Rodrigues Gameiro Pessoa, para que providenciasse reparos e
blicana em Pernambuco, a Confederação do Equador. víveres para a viagem de regresso. Contudo seus contatos com o En-
Em dois de agosto de 1824, partiu novamente comandando a viado Brasileiro não foram dos mais amistosos, além disso, Cochrane
esquadra brasileira em direção a Pernambuco. Seu primeiro ponto demorou-se muito mais que o necessários na Inglaterra, levantando
de parada foi em Jurugua, Alagoas, onde no dia 16 desembarcou suspeitas que ele já havia aceito o convite de ser o Primeiro Almiran-
uma tropa de 1200 homens, comandadas pelo General Lima, que te da Esquadra Grega. Segui-se uma intensa troca de correspon-
seguiria por terra para debelar a rebelião. dências entre o Enviado, os Ministros brasileiros e o Almirante.
Didatismo e Conhecimento 54
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Em três de novembro anunciou-se a paz entre Portugal e o das camadas humildes, foi um movimento da camada social média
Brasil, reconhecendo a Independência do Império. Isto represen- urbana de Salvador; a guerra dos Farrapos de 1835 a 1845 foi uma
tava apenas uma coisa para Cochrane: jamais veria suas indeniza- rebelião da classe dominante formada por fazendeiros gaúchos que
ções por presas de guerra. usaram as camadas pobres da população como massa de apoio no
Ao iniciar o ano de 1826 e estando ainda Cochrane na Ingla- processo da luta.
terra, recebeu a sua carta de demissão, datada de 30 de dezembro A influência capitalista européia que já se manifestava na eco-
de 1825. nomia brasileira determinou dissabores àqueles que pleiteavam
Os serviços prestados por Lorde Cochrane ao Império Bra- uma boa política tendo a sua economia abalada pela atuação inex-
sileiro são de valor inestimável para a consolidação do território pressiva do governo diante dos fatos acontecidos. Supõe-se que
como ele é ainda hoje. Nos trinta anos seguintes, Cochrane tentou esses fatos influenciaram decididamente para as atrocidades come-
judicialmente obter suas indenizações por presas de guerra (mais tidas em nosso Estado, contribuindo para que os balaios, com os
de 140 navios, rendas de alfândegas e propriedades de portugueses partidos e seus chefes influentes tomassem assim as decisões pre-
de pelo menos três províncias), as quais foram sempre negadas cipitadas para um desfecho desastroso, colocando o povo em pé de
sob a alegação de que a maior parte fora tomada de forma ilegal guerra, a exemplo do que aconteceu no cerco de Caxias, na época.
e contra as leis de presa, além de ele nunca ter prestado contas Na Província do Maranhão, no século XIX, com a abolição da
oficialmente de grandes parcelas de dinheiro destinadas à guerra escravatura e as alterações do mercado internacional, houve mu-
de Independência. Ao que parece, de fato, o Primeiro Almirante do danças das formas de produção até então praticadas e o sistema
Brasil realmente capturava tudo que podia se mexer sob a superfí- agro-exportador se tornou decadente. Parecia ser a vez da pequena
cie do extenso litoral brasileiro e tinha uma ambição descomedida produção, dada a situação de terras desocupadas na Província.
por transformar tudo em dinheiro, mas suas pagas foram muito A propriedade da terra não era definida por limites, nem regis-
aquém dos serviços prestados ao Império. Texto adaptado de BAP- trada em cartório, na condição de título de propriedade definitiva.
TISTA, M. T. F A terra era abundante e a sua exploração era feita de acordo com
a sua aptidão para o tipo de produto agrícola que interessava ao
mercado europeu, principalmente à Inglaterra e Portugal.
A BALAIADA: CARACTERIZAÇÃO E O objetivo era produzir para o mercado externo o que signifi-
cava produção em alta escala e implicaria na necessidade de gran-
CAUSAS DO MOVIMENTO. des propriedades e de um grande dispêndio de mão-de-obra, o que
levou os senhores das terras a optarem pela mão-de-obra escrava,
explorando no primeiro momento o índio e posteriormente os ne-
gros africanos, que eram adquiridos por compra para o trabalho
No Maranhão, no período da escravidão, também existiram na lavoura.
grandes quilombos como o de Palmares. Os maiores foram o Qui- Os produtos agrícolas de acordo com as necessidades do mer-
lombo Lagoa Amarela, no município de Chapadinha, e o Quilom- cado exterior tiveram início com a produção do arroz, continuando
bo de Limoeiro, no município de Turiaçu. Os quilombolas parti- com o açúcar, algodão e a pecuária que era desenvolvida, prin-
ciparam de movimentos de dimensões que ultrapassam a defesa cipalmente, na região leste e sul do Maranhão, conhecida como
do quilombo. O principal desses movimentos foi a Guerra da Ba- região dos sertões maranhenses.
laiada, ocorrida no Maranhão entre 1838 e 1841. A apresentação A propriedade da terra não interessava muito, e sim, os produ-
que se faz aqui dos fatos está baseada na consulta a historiadores tos agrícolas nela produzidos. Com a queda do preço dos produtos
contemporâneos e cronistas da época. É evidente que a interpre- agrícolas no mercado exterior (açúcar e algodão) iniciaram-se a
tação desses fatos pode ser diferente, de acordo com o ponto de desagregação das grandes fazendas (propriedades), com o des-
vista de quem interprete. Inclusive levando em consideração que locamento dos proprietários rurais e suas famílias para as cida-
os registros documentais que nos chegam aos dias de hoje foram des, objetivando atividades comerciais e a educação dos filhos. A
feitos pêlos vencedores, os quais evidentemente procuram detratar maioria transferiu o direito de propriedade para seus escravos e
os seus inimigos. A Guerra da Balaiada, como ficou conhecida, feitores que assim, passavam a explorar a terra na condição de uso
se iniciou por questões políticas entre partidos, mas acabou por comum (lavoura de subsistência) o que atualmente caracteriza o
ser assumida por vaqueiros e homens sem posses em geral que que denominamos de comunidades negras rurais tradicionais (qui-
lutavam contra o recrutamento forçado para as forças militares lombolas).
e contra os desmandos de chefes políticos locais e, finalmente, A rígida sociedade escravista maranhense durante a primeira
por quilombolas, que sustentaram o combate até o fim, conforme metade do século XIX começou a se sentir ameaçada por novos
apontam diversos historiadores. Portanto, há 160 anos, no dia 13 valores, percebeu o esforço de ascensão nos grupos marginaliza-
de dezembro de 1838, começou a Guerra da Balaiada. Foi uma das dos e uma fermentação revolucionária em amplos contingentes so-
maiores e mais significativas rebeliões populares já registradas em ciais. João Francisco Lisboa, liberal de marcante atuação, disse: a
terras do Maranhão e com forte repercussão em todo o país. oposição nada tem a ver com os perturbadores e assassinos como
A população brasileira viveu, no período compreendido entre dizem que são Raimundo Gomes e seu irmão.Já outros políticos
1835 a 1845, vários movimentos com o mesmo intuito, a saber: identificavam os Balaios como bandidos e afirmavam e expressa-
a Cabanagem durante 1835 a 1840, no Pará,o mais importante vam o preconceito em relação aos pobres e aos negros.
movimento popular do País, o único em que representantes das A visão oficial referente aos rebeldes era carregada de pre-
camadas mais humildes assumiram o poder; a Sabinada durante conceito e envolvida pela ideologia dominante, caracterizada pelas
1835 a 1837, diferente da Cabanagem não envolveu representantes forças balaias e pela rejeição a seu significado social e popular.
Didatismo e Conhecimento 55
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Os escravos viviam nas fazendas dos senhores de engenho, Enquanto no Rio de Janeiro procedia-se à discussão do Ato
executando trabalhos em condições sub-humanas e submetidos a Adicional pela centralização do poder, os cabanos anteciparam-se
rigorosos castigos pelos seus senhores, quando praticavam qual- e aprovaram duas leis pela Assembléia Legislativa do Maranhão,
quer ato de desobediência. A prática de violência a que eram sub- reforçando seu poder. O presidente da Província passou a nomear
metidos fez com que os mesmos procurassem uma alternativa para os prefeitos que poderiam organizar e comandar a Guarda Nacio-
se libertar de tão grande sofrimento. A fuga para as matas foi posta nal; assim, ficaram com o controle das prefeituras e, consequente-
em prática e na proporção que iam fugindo, constituíam o que de- mente, o das forças armadas na província.
nominamos de mocambos; estes foram se multiplicando o que in- Em represália às reclamações dos bem-te-vis os cabanos
comodou as classes dominantes, que pagavam os capitães do mato efetuaram o recrutamento indiscriminado de boiadeiros, feitores,
para fazer a captura. O capturado era submetido a castigos mais agregados ligados àqueles. Luís Koshiba e Denise Pereira conside-
rígidos ainda, eram açoitados pelos próprios capturadores, chegan- ram esse fato determinante para que a luta entre a classe senhorial
do às vezes à morte. Cientes disso, os escravos se embrenhavam dominante se estendesse às camadas populares que aderiram à re-
nas matas, buscando distanciar-se o máximo possível como medi- volta iniciada pelo vaqueiro Raimundo Gomes, na Vila da Manga.
da de segurança para evitar serem encontrados pelo perseguidor. Em 13 de dezembro de 1838 Raimundo Gomes organizou a
Os mocambos eram denominados de fugidos, ou seja, locais onde invasão da cadeia de Vila da Manga para libertar seu irmão José
os escravos fugidos abrigavam-se, constituindo os quilombos de Gonçalves, preso por crime de homicídio contra quem o havia re-
forma comunitária. crutado à força para ingressar na Guarda Nacional. Esse fato foi
No MSB os escravos aquilombados sob orientação do negro suficiente para a conflagração da revolta que com muita rapidez
Cosme tiveram grande importância na luta pelo direito de suas li- obteve a adesão das camadas descontentes. Em outra versão, a pri-
berdades e à cidadania. No Maranhão, tivemos muitos quilombos, são se dera por conta do José Gonçalves haver se rebelado contra
destacando-se pela sua importância na época, o de Lagoa Amarela o recrutamento forçado de pessoas das classes subalternas, negros,
localizado no município de Chapadinha liderado por negro Cosmo pobres livres denominados “vadios”. Considerando injusta a prisão
e o de Limoeiro no município de Turiaçú. do irmão, o vaqueiro, Raimundo Gomes libertou não apenas este,
mas todos os demais presos. A adesão a Raimundo Gomes dos
ORIGEM E EVOLUÇÃO DA BALAIADA segmentos expropriados foi expressiva e isso, supomos, deve ter
entusiasmado os bem-te-vis que alimentaram a luta contra o gru-
A priori, foi uma revolta que aconteceu no Maranhão, a par- po rival, os cabanos. Enquanto assim acontecia, Raimundo Gomes
tir do descontentamento de Raimundo Gomes (transportador de conduziu o seu grupo de revoltosos para o interior do Maranhão.
bovinos de Arari para Vargem Grande) pela prisão do seu irmão O conflito estendeu-se pelo alto Sertão na Vila de Pastos Bons; do
José Gonçalves, na vila da Manga, na época, distrito de Vargem Parnaíba ao Tocantins, todo o território entre o rio Mearim e o Rio
Grande, atual Nina Rodrigues. Parnaíba, todas as vilas da orla marítima foram conflagradas. No
Raimundo Gomes era considerado pelas autoridades e pelos total de 15 vilas importantes, foram travadas algumas batalhas vi-
grandes proprietários rurais como elemento de má fama, muito pe- toriosas para os balaios: Mocambo, Laranjeiras, Caiçara, Munim,
rigoso, truculento, malfeitor. Icatu, Areias, Angico.
Para realizar a soltura do irmão prisioneiro, contou com a ade- “A guerra começou na Manga. Um velho, um senhor que ti-
são de um grupo de “foras da lei” que continuaram com ele na nha um preto empregado... o rapaz tinha que lavar o animal e dar
expansão da revolta. A origem ou as origens desse movimento é água. Era para ele ir puxando o animal, mas ele ia montado depois
apresentada hoje de formas bem diversificadas, por historiadores de sair das casas, saía esquipando (sem sela) e o dono descobriu,
que vêm se dedicando ao estudo das revoltas no Brasil. deu uma pisa muito grande no rapaz e ia mandar ele pra marinha.
Para uns, foi movimento de bandidos, baderneiros, sediciosos, O velho pai do rapaz, o Balaio, tinha muita gente. E aí travaram
enfim celerados, sem formulação de qualquer reivindicação de co- essa briga. Minha avó contou que durou seis anos. Quando ataca-
notação política e, em razão disso não consideram a Balaiada um vam, eles escapuliam para outro lugar, nesse tempo era tudo deser-
movimento social. Outros estudiosos do assunto situam a origem to. Queriam acabar com a família dele. Pegaram uns e pergunta-
da balaiada a partir da conquista do poder no Maranhão, pelos ca- vam se ele estava do lado dele e se dizia que não, matavam ele. Foi
banos, favorecidos pela ascensão de Araújo Lima como Regente terminado no lugar BALAIADA hoje MARACAJÁ.
no período 1837 – 1840. Fortalecidos por contarem com a maioria Raimundo Gomes, capataz de um grupo de tangerinos os
na assembléia Provincial, o presidente da Província Vicente Pires quais conduziam o gado a pé, do Padre Inácio Mendes de Morais
Camargo exercia controle do poder executivo e fez afastar do go- e Silva, pessoa influente e temida no sertão do Brejo, tido como
verno os bem-te-vis, entretanto, a política da fraude e da violência membro da oposição ao governo, chefiou o assalto à prisão, e de-
teve continuidade, como forma de se manter no poder. pois de libertar os detidos, conseguiu a adesão de descontentes do
Os bem-te-vis travavam embates políticos na imprensa contra destacamento local da Guarda Nacional, assenhoreou-se do luga-
os cabanos e pregavam abertamente a revolução. O descontenta- rejo, dando início a um movimento que polarizaria, durante dois
mento de liberais moderados e liberais radicais se acentuava contra anos e meio, os acontecimentos históricos do norte do país.
o grupo português que representava interesses dos comerciantes O movimento se localizou mais expressivamente na cidade de
que se sentiam prejudicados com a independência e com a concor- Caxias, na época denominado de cerco e/ou ocupação de Caxias;
rência dos comerciantes ingleses. Queriam os portugueses que o no quadragésimo dia do cerco de Caxias já era completa a falta de
Brasil voltasse a depender de Portugal. víveres, tendo sido abatidos até os seis bois do carro que puxavam
de um para outro reduto, as peças de artilharia, conforme as neces-
sidades da defesa. Já nada havia na cidade que fosse suscetível de
Didatismo e Conhecimento 56
HISTÓRIA DO MARANHÃO
servir de alimento á população extenuada, e de tal sorte, tornava- de soldos; índios queriam a liberdade de viver segundo seus costu-
se inevitável a capitulação. No fim do cerco, era comandante das mes e cultura; negros alforriados queriam empregos, etc., com isso
forças de Caxias, o coronel Severino Dias Carneiro, e ele próprio, percebe-se a diversidade de desejos entre os revoltosos. A balaiada
na noite da antevéspera da entrada dos rebeldes na cidade, mandou foi resultado das crises políticas do período regencial. A questão
chamar o capitão Sabino, que percorria as linhas de guarnição, e nativista, defendida sob a ótica dos interesses das elites locais, que
informou-o que seu irmão, o prefeito, já havia enviado um emis- queriam a expulsão dos portugueses e a restrição dos direitos dos
sário a negociar, mas as condições dos balaios eram inaceitáveis: adotivos, foi a brecha criada para a irrupção das manifestações po-
exigiam a entrega de oito chefes, entre os quais os interlocutores, pulares.
o coronel Severino e o capitão Sabino, para serem fuzilados no dia Ângela Birardi percebe a balaiada como um movimento fra-
da entrada na cidade. cionado. A Balaiada foi a síntese de vários movimentos de cunho
Os sertanejos de Caxias, tendo notícias das negociações para sócio-político, ocasionados pelos seguintes fatores: 1) Divergên-
entrega da cidade, estavam todos se bandeando para os rebeldes. cias político-partidárias entre liberais e conservadores; 2) estratifi-
Muitos chefes, o próprio prefeito, João Paulo Dias Carneiro, se- cação de hierarquização sócio-econômica que gerou o preconceito
gundo já se falava, haviam passado para o lado dos sitiantes, e ele de “casta” na sociedade maranhense. Daí o caráter popular do mo-
mesmo, o coronel Severino para fugir a uma morte de outro modo vimento, pois o mesmo englobava grupos populares diversos. Em
tal organização social, deve ser afastada qualquer hipótese de uma
inevitável, já estava negociando sua passagem. Desnorteado com
homogênea oposição dos “de baixo” contra os “de cima”.
estas revelações do coronel, Sabino e a esposa recolheram-se á
A heterogeneidade de componentes, bem como interesses de-
casa de dona Carlota de Aquino, que lhes havia oferecido asilo, e fendidos, faz com que haja, na verdade, duas versões históricas
onde já encontraram recolhidas cerca de 20 famílias, entre as quais sobre a rebelião Balaia: uma dos sertanejos e outra das lutas entre
a de Fernando Mendes de Almeida. O movimento continuava em cabanos e bem-te-vis. Apesar de distintas entre si, tais versões en-
Caxias e diante de tantas atrocidades cometidas, vários persona- contram-se interligadas. Tal distinção tem como principal funda-
gens tiveram presença marcante no contexto da historia como Mi- mento tanto os motivos que levaram os indivíduos a se engajarem
guel Beleza, Carlota de Aquino, a esposa de Fernando Mendes, na luta, quanto as suas origens sociais.
dona Esméria Mendes de Almeida, uma 12 escrava dos Mendes De um lado, apresentam-se os “balaios”, homens do sertão e
de Almeida, por apelido Tuca. Por fim, Rodrigo Otávio conta que marginalizados, que personificavam uma classe social que vivia,
um lindo cavalo que pertencia ao negociante José Pedro dos San- como bem definiu Caio Prado Júnior, às margens da sociedade
tos já estava nas mãos do 18º dono, tendo sido sucessivamente (classe inorgânica), e que buscavam melhores condições de sobre-
mortos outros, pela simples ambição de possuir um cavalo bonito. vivência. Compunham-se de vaqueiros (Raimundo Gomes), arte-
Ao analisar a história dos movimentos e lutas sociais no Brasil, sãos (Ferreira dos Anjos, o “Balaio”) e aquilombados (D. Cosme)
entre 1800-1850, relata que estes se constituíram em eventos im- que se reuniram no interior e, desta reunião nasceram os movimen-
portantes para a construção da cidadania sócio-política do país. tos de massa que rapidamente, pela inexistência de um programa
Se considerarmos as condições de desenvolvimento econômico político se desmantelaram. Além das organizações populares, ha-
do Brasil na época e as dificuldades de comunicação em todas as via também um desacerto político-partidário no quadro da elite
áreas e setores, observaremos que aquelas lutas se constituíram dirigente provincial, em que a oposição ao governo do Maranhão
em atos revolucionários. Ainda que condicionados e moldados por organizava-se em torno do grupo radical, denominado Bem-te-vi.
ideologias liberais, os revolucionários foram pessoas que conse- Seus membros originavam-se da classe média, na qual incluíam-
guiram romper o provincialismo que suas condições concretas de se militares, políticos e membros do partido. Para este grupo, as
existência geravam. agitações populares só tinham aprovação enquanto servissem de
As principais características das lutas do período regencial anteparo às “odiosas interferências centralizadoras”. Logo, con-
são: motins caóticos, faltava-lhes projetos bem delineados, as fundiam as demais camadas sociais (balaios), procurando afas-
reivindicações básicas giravam em torno da construção de espa- tá-los dos reais motivos de suas dissidências, com argumentos
ideologicamente frágeis e de fundo nacionalista. Atendidas as suas
ços nacionais, no mercado de trabalho, nas legislações, no poder
reivindicações e temendo a radicalização do movimento (ameaça
político etc. A escravidão não era uma questão a ser tratada ou
haitiana), os liberais retiram o “apoio” ao movimento.
eliminada em grande parte dos movimentos, isto porque não se
questionava a estrutura de produção, mas o modo como ela estava ORGANIZAÇÃO DO MOVIMENTO SOCIAL DA BA-
organizada, privilegiando apenas as elites ligadas aos interesses da LAIADA
Coroa. Os membros do clero tiveram participação expressiva em
inúmeros movimentos e lutas no período, assim como cidadãos No inicio do século XIX, o Maranhão tinha cerca de 200 mil
das camadas médias pertencentes às elites intelectuais e à estrutu- habitantes, dos quais a metade era de escravos e trabalhava nas
ra militar. Eles atuavam como líderes ou ideólogos, assessorando lavouras de algodão em condições muito difíceis. Quase todos os
líderes das camadas populares. demais habitantes, como era o caso dos vaqueiros e artesãos serta-
Outro ponto importante apresentado pela autora refere-se às nejos, viviam miseravelmente. Toda essa população era explorada
dificuldades que os movimentos possuíam em se estabelecer ou pelos grandes proprietários rurais e pelos comerciantes, grupos
permanecer no poder, sendo em maior ou menor tempo massacra- que controlavam o governo local. Em 1838, diante dessa situação,
dos, nas várias regiões do país, pelas forças da legalidade colonial três setores da sociedade, revoltaram-se: trabalhadores artesanais
ou imperial. As alianças de classes existentes eram tênues e con- chefiados por Manuel “Balaio” (fabricante de balaio), cujo nome
traditórias. Homens brancos livres (pequenos produtores ou co- deu origem à denominação balaiada; vaqueiros comandados por
merciantes) almejavam diminuição dos impostos e liberdade para Raimundo Gomes, conhecidos como “cara preta” e cerca de 3000
a comercialização; soldados e outros militares queriam aumentos escravos fugitivos, liderados pelo negro Cosme.
Didatismo e Conhecimento 57
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Os revoltosos exigiam a demissão de todos os portugueses Depois de haver incrementado a agitação revolucionária, o
que estavam no governo e no exercito. Essa massa, cansada de Partido Liberal assustado com o desenrolar da luta e ameaçado de
ser usada pelas classes dominantes, envolveu-se numa luta con- perder suas propriedades e a situação que gozava, retirou todo o
tra a escravidão, a fome e os abusos das autoridades e militares. apoio ao movimento. Não obstante, os objetivos da cúpula políti-
Esses grupos sociais, que formavam a grande maioria da popu- ca do Partido Liberal foram em parte conseguidos no governo de
lação pobre da província, encontravam naquele momento, sérias Manuel Felizardo. Pressionado pelo fragor da luta, prometeu-lhe a
dificuldades de sobrevivência devido a grave crise econômica e revogação da lei dos prefeitos e das Guardas Nacionais. Era o pri-
aos latifúndios improdutivos. meiro sucesso dos liberais da província depois da queda de Feijó.
A crise econômica havia sido causada pela queda da produção Essa vitória lhes bastava, pois, era a que pretendiam. Era o
do algodão, base da economia da província que sofria a concorrên- momento de se desvencilharem dos balaios. No Rio de Janeiro foi
cia norte-americana. O setor pecuarista, também, beneficiava-se decidido que para pôr fim à luta do Maranhão, dever-se-ia nomear
com a expansão do algodão, Acumulando e descentralizando seu um outro presidente que enfeixasse em suas mãos tanto o poder ci-
mercado de consumo, em decorrência dessa atividade novas for- vil quanto o militar. A Carta Imperial de 1839 nomeava o Coronel
tunas se consolidaram nas diversas atividades ligadas à pecuária, Luís Alves de Lima para o posto de presidente e comandante das
embora menos significativas do que na agricultura. Todas essas Armas do Maranhão. A província estava econômica e financeira-
camadas sociais, recentemente, enriquecidas, tiveram importante mente arruinada. Comerciantes e fazendeiros uniam-se em listas
papel nas agitações políticas, pois, desentendiam-se na luta pela de cidadãos que hipotecavam solidariedade ao governo.
conquista do poder hegemônico. A penetração do comércio in- A população branca temia que a Balaiada originasse uma “re-
glês no Maranhão facilitada pelo tratado firmado por D. João VI, volução haitiana”, em virtude do elevado número de negros em
traria consideráveis consequências para exportação e cultura al- armas. A situação das tropas oficiais era calamitosa: encontravam-
godoeiras. Respaldados em concessões que lhes garantiam taxas se sem víveres, roupas e armamentos, bem como 16 não recebiam
inferiores à de Portugal, os ingleses organizaram o primeiro car- o soldo que o governo lhes devia. Por essas razões, atacavam a
tel que o comércio maranhense conheceu. Monopolizaram tanto população. Luís Alves de Lima começou por tomar medidas a esse
a exportação como a importação de tecidos, louças e ferragens. respeito. Autorizou o pagamento dos soldos atrasados, coibiu os
Controlavam os preços da venda do algodão, sempre em benefício excessos contra a propriedade e a população civil e exigiu rigorosa
da balança comercial britânica. Já o arroz representou o monopólio prestação de contas das despesas com víveres.
dos grandes comerciantes portugueses. Essas e outras medidas vieram organizar as forças oficiais
Os proprietários maranhenses, sufocados pelos portugueses e quando os revolucionários já se encontravam nos limites finais de
pelos ingleses, pediram ajuda à Coroa, mas, sem sucesso. Inclusi- sua resistência. Abandonados pelos bem-te-vis, enfraquecidos por
ve, a expressão da Coroa foi de descaso, pois o imposto cobrado deserções, os chefes começaram a se desentender. Batidos alguns
entre 1812 a 1821 (por escravo vindo da África) era gasto com a grupos de Lívio Castelo Branco, este abandonou a luta.
iluminação e na polícia do Rio de Janeiro. 15 O Maranhão vivia O governo da província não atribuiu importância ao movi-
dificuldades econômicas, o Governo Central não enviava recursos mento, considerando, até mesmo, extinta a rebelião. Porém, um
para atender suas necessidades, acentuando o descontentamento mês depois, no dia 22 de janeiro de 1839 o vaqueiro surge na Vila
dos segmentos pobres da sociedade. Crescia cada vez mais o nú- de Tutóia à frente de uma centena de homens, rumo ao rio Parnaí-
mero de contingentes balaios, formados por grupos heterogêneos, ba, acontecendo então o primeiro confronto armado da Balaiada,
no qual há uma distinção primordial entre balaios e bem-te-vis. na Barra do Longá, entre rebeldes e a tropa do Prefeito de Parnaí-
Essa distinção entre balaios e bem-te-vis tem como principal fun- ba, no Piauí. Os rebeldes, com 03 mortos, 02 feridos e 18 prisionei-
damento tanto os motivos que levaram os indivíduos a se engajar ros, foram vencidos pelas tropas legalistas que tiveram, segundo
na luta quanto sua origem social. Os balaios, homens do sertão e consta, apenas uma baixa: um soldado morto involuntariamente
marginalizados, alinhavam-se em torno de Raimundo Gomes, D. pelo seu próprio camarada.
Cosme, entre outros. Este embate vitorioso foi suficiente para o Presidente do Ma-
Os balaios eram vistos como pertencentes às “classes inferio- ranhão, Sr. Vicente Pires Camargo, declarar a revolta terminada e
res”, sem princípios, ladrões e viciados. Não obstante, eram de- a paz restaurada, o que não ocorreu. Durante mais de dois meses o
signados como “homens de cor”, negros, índios e mestiços. Tal mestiço Raimundo Gomes circulou livremente pela Província, já
designação demonstra o preconceito socioeconômicos e racial que dominando Mucambo, Queimada da Soledade, Espigão, Miritiba,
havia na sociedade maranhense, ou seja, preconceitos de “casta”, Belas Águas, Chapadinha, Miriquitas e Caiçara. Diante deste triste
com os quais a aristocracia se protegia do contato com os pobres. panorama a presidência provincial foi entregue a Manoel Felisardo
Já os bem-te-vis oriundos, em sua maior parte, da população das de Souza Melo, “capitão graduado do imperial corpo de engenha-
vilas e povoados, incluíam oficiais e soldados desertores da Guar- ria”. Novos chefes se apresentam com seus seguidores, firmando
da Nacional, políticos do Ceará e Piauí, membros do partido libe- como característica do movimento a existência de caudilhos re-
ral, juízes de paz e estavam sob a liderança de Lívio Lopes Castelo beldes, dividindo a Revolta, e que por isso só constituíam uma
Branco e Silva. Quanto às barbaridades cometidas durante a revo- legião: Relâmpago, Trovão, Corisco, Canino, Sete Estrelas, Tetéu,
lução, é importante notar que foram atribuídas exclusivamente aos Andorinha, Tigre, João Cardoso, Gitirana, os irmãos Ruivos, Coc-
balaios, e nunca aos bem-te-vis, ou seja, aos liberais. Dessa forma, que, Mulunguêta, Matruá, Francisco Ranelinho e José Gomes, en-
há duas histórias da Balaiada: uma dos sertanejos, outra das lutas tre outros. Nesta altura dos acontecimentos aderem também duas
entre cabanos e bem-te-vis. importantes lideranças: Manoel Francisco Ferreira dos Anjos, de-
nominado Balaio, e D. Cosme, líder dos aquilombados.
Didatismo e Conhecimento 58
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Manoel Francisco Ferreira dos Anjos era, assim como o va- No dia 7 de maio de 1839 os Balaios se puseram em marcha
queiro Raimundo Gomes, representante da classe mais pobre do com destino a Caxias, a segunda cidade da província, localizada
Maranhão; no entanto, Ferreira dos Anjos não vivia agregado e a 276 Km da capital, na fronteira com o Piauí, aonde chegaram
tão pouco era empregado de algum poderoso. Sustentava esposa no dia 24 do dito mês. No mesmo dia cercaram a cidade, que se
e duas filhas 17 graças à confecção de balaio, originando sua al- encontrava totalmente desguarnecida de trincheiras. Participaram
cunha, e à pequena oficina de costura mantida pelas mulheres da do cerco os chefes Balaio, Gitirana, o Ruivo, S. J. Teixeira, Mu-
casa. Conta-se que Balaio aderiu à Revolta após as tropas legalis- lunguêta e Silveira. Mesmo sem apoio do Governo, os soldados
tas terem passado pelo vilarejo onde residia, nas proximidades de de Caxias resistiram, chegando a vencer Gitirana e o desalojan-
Coroatá. Aproveitando-se da estadia na vila, um oficial de nome do de seu ponto; mas a posição foi reconquistada pelos rebeldes
Guimarães violentou as duas filhas de Ferreira dos Anjos. Ferido no dia seguinte. Chegaram no dia 27 os reforços rebeldes lidera-
em sua honra, o artífice publicou o incidente e incitou a fúria de dos por Violete e Cocque, Lívio Castelo Branco, do Piauí, com
amigos e conhecidos a combater os legais, “vendidos aos portu- 600 homens e Milhome (ou Milone) com 300 ou 400 rebeldes de
gueses”. Pastos-Bons. Finalmente Caxias cai rendida no dia 1º de julho do
Com esses argumentos, Balaio arregimentou um grupo de se- mesmo ano, assistindo à entrada triunfal dos rebeldes, que se esta-
guidores e partiu para a luta com grande ferocidade e dando o seu
beleceram no poder.
nome à Revolta, mesmo aderindo depois do seu início e morrendo
A Balaiada foi a síntese de vários movimentos de cunho só-
antes do término da mesma. Também engrossando as fileiras re-
cio-político ocasionado pelos seguintes fatores: divergência po-
beldes surge Cosme, na liderança de 3.000 negros aquilombados.
Este líder não se enquadra necessariamente entre os Balaios, e po- lítico-partidária entre liberais e conservadores, estratificação de
deríamos inclusive considerá-lo chefe de uma Revolta Negra Ma- hierarquização sócio-econômica que gerou o preconceito de casta
ranhense, apesar de ter se articulado fracamente com a Balaiada. na sociedade maranhense. Este é o caráter do movimento popular,
A participação negra é contestada quanto ao engajamento sincero, envolvendo grupos populares diversos. Texto adaptado de SAN-
tanto no início como no final da Revolta quando D. Cosme prende TOS, F. N
Raimundo Gomes e o teria matado se este não tivesse fugido. Dom
Cosme Bento das Chagas, tutor e Imperador das liberdades bem-
te-vis, como se auto-denominava, após fugir da prisão de São Luís, A REPRESSÃO:
na qual estava sob a acusação de exercer a feitiçaria, apresentou-se
frente à grande população negra fugida, unindo-os sob a sua ban-
CAXIAS E A BALAIADA.
deira e estabelecendo um quartel-general na Fazenda Lagoa Ama-
rela, na Comarca do Brejo, onde instituiu uma hierarquia interna
com a intenção de fundar uma escola de primeiras letras.
A violência dos Bem-te-vis não é cega e nem indiferenciada. No ano de 1838 o estado do Maranhão era dominado pelos
Pelo contrário, se dirige contra aqueles prefeitos e escravocratas ricos aristocratas rurais que dominavam toda a região. Contrário a
que têm reconhecidamente praticado crueldades: contra os escra- todo este poder surgiu a Balaiada, movimento que viria a disputar
vos (os senhores ruins) ou contra a população livre pobre. Nesse o controle do poder local e tinha como integrantes diversos pobres
sentido não é uma violência primeira, é a reação contra outras vio- da região, fugitivos, prisioneiros e escravos.
lências anteriores. A Balaiada representa um autêntico momento A província do Maranhão vinha enfrentando uma forte crise
de revolução onde o perseguido de ontem vira perseguidor e vice- econômica no século XIX, e um dos motivos de tal fato era a grande
versa: quem sangrava seus escravos é sangrado, quem espichava o concorrência de algodão que vinha acontecendo no mercado
couro é espichado também. Os Bem-te-vis não faziam nada mais internacional, já que os Estados Unidos vinham se intensificado
do que satisfazer as aspirações de justiça das classes mais oprimi- cada vez mais na exportação do produto. Além dessa crise também
das da sociedade, pena de Talião, sem dúvida (pena igual a culpa). havia acabado de ser estabelecida a Lei dos Prefeitos que dava
Vários confrontos são registrados no mês de abril de 1839 entre
ao Governador o privilegio de decidir quem seriam os prefeitos
rebeldes e legalistas com decisivas vitórias balaias, iniciando o pe-
municipais e nomeá-los para que assumissem seus cargos, o que
ríodo de apogeu da revolta.
causou uma grande insatisfação popular e levou a fortes atritos
No dia 15 do dito mês o pardo Manoel Rodrigues Cocque, ex-
cabo do extinto corpo de polícia da 18 Província, combateu com entre o povo e as instituições do governo.
os seus homens os soldados do major Feliciano Antônio Falcão, Como a tensão já começava a se mostrar existente entre o
em um lugar denominado Mutuns. As perdas foram enormes para governo e a população, diversos focos de tensão começaram a
ambas as partes. Mas sem sombra de dúvida o golpe mais violento surgir por vários locais do estado, e o surgimento de três líderes
infligido ao exército governista até então ocorreu em Angicos, pró- viriam a tornar a balaiada como uma das maiores revoltas da
ximo a Brejo, em 18 de abril. Chefiados por Antônio José do Couto história do Brasil.
Pinheiro, o Mulunguêta, os revoltosos massacraram os homens do
Capitão Pedro Alexandrino, que, após render-se, foi assassinado LÍDERES DA BALAIADA
a tiros junto com o tenente-coronel João José Alves. O sangrento
episódio repercutiu em toda a província resultando no entrinchei- O primeiro deles, Raimundo Gomes, foi o responsável por
ramento da capital São Luís e o aumento do prestígio balaio entre mobilizar um grupo de artesãos, vaqueiros e escravos, logo depois
as massas anônimas. Caíram então nas mãos dos rebeldes a cidade de ter seguido ordens de um opositor político de um determinado
de Brejo, sem resistência alguma em vista da debandada do pre- fazendeiro e libertado um grupo de vaqueiros aprisionados em Vila
feito e os 200 soldados que lá se encontravam, seguida de Tutóia, da Manga. O segundo líder, responsável por dar nome a revolta,
Miritiba e Coroatá, sob o comando de Cocque. um artesão chamado Manoel dos Anjos Ferreira, vulgarmente
Didatismo e Conhecimento 59
HISTÓRIA DO MARANHÃO
conhecido como Balaio, iniciou suas lutas contra as autoridades Raimundo Gomes, líder dos revoltosos, sem lei e sem rei, sem
provincianas depois de acusar um dos oficiais, o senhor Antônio outros objetivos agora que não o saque e as vantagens pessoais,
Raymundo Guimarães, de ter abusado sexualmente de suas filhas. tornou-se, com seu bando, uma ameaça à segurança, à ordem e à
Esse foi um dos fortes motivos que fez com que Balaio buscasse tranqüilidade públicas no interior maranhense .
conseguir vários membros que aderissem a sua causa e junto a Reunidos, decidiram investir a cidade de Caxias. Foram pre-
esses revoltosos conseguissem obter o controle da cidade de cedidos pela má fama de que, em ações isoladas, vinham destruin-
Caxias, que na época era um dos maiores centros comerciais. Esse do e saqueando fazendas e vilas que encontravam no caminho.
movimento foi visto como uma forte ameaça àqueles que possuíam Em Caxias, sob a liderança civil de João Paulo Dias, líder na-
certos privilégios econômicos nesse tempo. Para completar o trio quela comarca e a militar do Capitão Ricardo Leão Sabino que
de revoltosos, no mesmo ano o negro Cosme Bento de Chagas participara da Guerra na Península Ibérica para libertar Portugal
reuniu 3 mil escravos fugidos e obteve o apoio de todos eles, o do jugo napoleônico, foi organizada uma força denominada Corpo
que trouxe a revolta traços raciais que poderiam ser facilmente de Exército; força essa que atingiu um efetivo de cerca de 1000 ho-
relacionados a questão de desigualdade existente no local. mens, mobilizado na população caxiense. Foi constituído de oito
Buscando resolver a situação que começava a se mostrar companhias, dispondo cada uma delas de um capitão, dezesseis
preocupante, o coronel Luiz Alves de Lima e Silva foi nomeado tenentes e trinta e dois alferes, nomeados por João Paulo, líder
para controlar a atual e tensa situação da província, uma resposta
civil da resistência.
direta aos levantes, na tentativa de acabar de vez com a revolta.
O Capitão Sabino organizou, sob seu comando direto, uma
Contando com um forte armamento e um grupo de 8 mil
bateria de Artilharia e um esquadrão de Cavalaria.
homens, no ano de 1841 Luís Alves conseguiu obter sucesso na
contenção desses revoltosos, o que lhe rendeu o título de Conde Com esta organização popular, protegida por trincheiras então
de Caxias, mais tarde ele recebeu outros títulos, inclusive o de construídas, e contando com o concurso de mulheres, preparando
Duque de Caxias, pelo qual é mais conhecido. Porém sua vitória munições de boca e de guerra, os caxienses resistiram 46 dias ao
se deu também devido a desunião ocorrente em volta dos objetivos sítio do bando de Raimundo Gomes.
comuns da revolta, já que começava a surgir traços de desunião Quando a defesa de Caxias tornou-se crítica, o experimentado
entre os membros, facilitando de grande forma a ação opressiva Capitão Sabino usou um ardil. Este consistiu em simular haver
das forças do governo. aderido à revolta, pedindo que os rebeldes se aproximassem: com
ele, Capitão Sabino, tocando numa flauta o Hino Nacional. Após
CONSEQUÊNCIAS E DESFECHO DA REVOLTA haver provocado a aproximação balaia, fez disparar um canhão,
cujo estrondo enorme provocou pânico e desordem entre os re-
Durante o movimento de retaliação que ocorreu contra a beldes, que, correndo, deixaram o local na certeza de que outros
revolta o líder Manoel Francisco Gomes foi morto, e todos os disparos seriam feitos.
negros fugidos que receberam acusação de ter participado do Essa confusão foi a oportunidade para a evacuação de Caxias.
movimento tiveram como castigo sua reescravização, voltando a A vitória animou o partido Bem-te-vi. Os balaios chegaram a en-
fazer trabalho forçado novamente. O Vaqueiro Raimundo teve a viar a São Luiz emissários propondo rendição sem resistência ao
expulsão do Maranhão decretada, e faleceu em uma embarcação a presidente do Maranhão.
caminho de São Paulo, para onde estava sendo deportado. Cosme Os líderes balaios não possuíam unidade de comando, esta
Bento, líder dos escravos, foi preso e teve sua condenação a forca impossível, face às vaidades e ambições de cada líder. O próprio
decretada, no ano de 1842. Balaio, numa incursão em fazenda, foi atingido por projétil dispa-
A revolta só veio a ter um final pacífico quando o imperador rado por um integrante de seu bando e veio a falecer de gangrena.
anistiou os revoltosos sobreviventes, e mesmo assim os Depois que esgotaram e saquearam os recursos de sua susten-
maranhenses ainda tiveram que conviver com a miséria em tação em Caxias, os balaios a evacuaram e partiram à procura de
decorrência da crise do algodão. outras vilas e cidades mais rentáveis para pilharem. Espalharam-
Em dezembro 1838, em Vila Manga, distante 10 léguas de se os bandos pelo Maranhão, levando o medo, a insegurança e a
São Luiz, ocorreram desordens sem grandes repercussões. Mas,
desordem por onde passavam, chegando mais uma vez a ameaçar
exploradas politicamente pelos bem-te-vis em seu jornal, serviriam
São Luiz.
de estopim à eclosão da Balaiada, iniciada por sertanejos ligados
à causa bem-te-vi. E foi nesta altura que a Regência decidiu enviar ao Maranhão,
Raimundo Gomes, empregado de fazendeiro bem-te-vi, ao como seu Presidente e Comandante das Armas, o Coronel Luiz
passar por Vila Manga, teve companheiros seus presos injustamen- Alves de Lima e Silva - o futuro Duque de Caxias, para pacificar
te, entre eles um irmão seu acusado de homicídio, pelo Subprefeito a Província.
José do Egito, do partido “cabano” local. Tentou em vão Raimun- Seu talento, aliado à boa estrela militar que havia revelado na
do Gomes libertar seus amigos e irmão. E retirou-se! Guerra da Independência da Bahia, na Guerra da Cisplatina, em
Em 13 dezembro de 1838, retornou à Vila Manga com nove 1825 – 1828, no subcomando do Batalhão Sagrado, na organiza-
outros cabras. Arrombou a prisão e conseguiu aliciar para seu gru- ção e no comando por cerca de 9 anos do que se constitui hoje a
po, reforçado com os prisioneiros soltos, além dos 22 soldados Policia Militar do Rio de Janeiro, com a qual superou ameaças ao
encarregados da segurança policial da Vila. Como este feito reper- Poder Central e a população carioca, por certo influíram na sua
cutisse nos meios maranhenses, revoltados com as arbitrariedades escolha pela Regência.
dos donos do poder, Raimundo foi recebendo adesões crescentes, Ao futuro Caxias foi dada a missão de pacificar o Maranhão,
inclusive de outros líderes inescrupulosos como Lívio Pedro Mou- ficando a ele subordinadas todas as tropas em operações do Mara-
ra, Mulungueta e Manuel Francisco - o Balaio, que daria o nome nhão e mais as do Piauí e do Ceará .
de Balaiada a essa revolta.
Didatismo e Conhecimento 60
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Em 7 de fevereiro de 1840, Caxias assumiu suas funções e diri- Caxias, com apoio do futuro Almirante Tamandaré, chefe das
giu sua primeira proclamação aos maranhenses, dizendo-lhes a que Forças Navais, reprimiram em Itapicuru-Mirim um levante da guar-
vinha: Maranhenses, venho partilhar de vossas fadigas e concorrer nição local por atraso de soldos. Foi um confronto sangrento, mas
quanto em mim couber para a inteira e completa pacificação desta terminou por restaurar a disciplina e punir e afastar os responsáveis.
bela parte do Império. Um punhado de facciosos, ávidos de pilhagem, Em 23 de agosto de 1840, ao ser conhecida no Maranhão a
conseguiu encher de consternação, de luto e de sangue, vossas cida- maioridade de D. Pedro II, Caxias achou o momento ideal para es-
des e vilas! O terror que necessariamente deviam infundir-vos esses palhar na Província a seguinte proclamação antológica, de que aqui
bandidos, concorreu para que eles tivessem engrossadas suas hordas. se reproduzo seu cerne:
Contudo, graças à Providência, as vitórias até hoje por eles alcan- “Maranhenses! Uma nova época abriu-se aos destinos da gran-
çadas, começam a diminuir diante de vossas armas. de família brasileira. Sua majestade o Imperador empunhou o cetro
Mais um esforço e a desejada paz virá curar os males da guerra da governança e assumiu os direitos que pela Constituição do Esta-
civil. Maranhenses, mais militar do que político, quero até ignorar os do do Brasil lhe competem.
nomes dos partidos que por desgraça entre vós existam. Deveis co- Declarado maior, ei-lo enfim como símbolo da paz, de união e
nhecer a necessidade e as vantagens da riqueza e da prosperidade dos de justiça colocado à frente da nação que o reclamava.
povos. No interior da Província no meio dos bravos que defendem
E confiando na Divina Providência que por tantas vezes nos tem vossos bens e vidas, encontrou-me tão lisonjeira novidade. E se dei-
salvado, espero encontrar em vós maranhenses, tudo o que for neces- xei aqueles bravos, pois por eles daqui me havia ausentado, é para
sário para o triunfo de nossa causa. confirmar o que sabeis, para participar do geral regozijo geral e au-
Esta proclamação, espalhada e meditada em todos os recantos do mentá-lo, se for possível, com a notícia da quase extinção da guerra
Maranhão, terminou resultando na aceitação de Caxias pelos partidos civil. Restando apenas da terrível tempestade uma nuvem negra, que
e pelo povo maranhense. apesar de carrancuda breve será dissipada.
Como era de seu feitio, Caxias passou a organizar suas forças Maranhenses! Um sublime pensamento deve agora inflamar o
sem descurar da estrutura de apoio logístico. Colocou o pagamento da coração brasileiro. Aspérrima foi à longa experiência. Aproveitai-a.
tropa em dia e a instruiu. Amor ao Imperador, respeito às leis e esquecimento das vergonho-
E assim, Caxias encontrou as tropas postas a sua disposição, se- sas intrigas que só tem servido para enfraquecer. Um só partido
gundo Vilhena de Moraes: enfim, o do Imperador. E no vosso entusiasmo repitam mil vezes.
“As companhias inteiras vinham só com calças rotas ou de cami- Viva sua Majestade o Senhor D. Pedro II, Imperador constitucional
sas e com o correame de couro cru sobre a pele. Uns só com espadas e defensor perpétuo do Brasil. Viva a nossa Santa Religião. Viva a
e outros com armas de caça. E a disciplina que apresentavam condizia Constituição do Governo. Texto adaptado de ALBUQUERQUE, A
com o grotesco de seus uniformes.”
Criou então a Divisão Pacificadora, dividida em três colunas ope-
racionais: A 1ª coluna ocupou as comarcas de Caxias e Pastos Bons, PERÍODO REPUBLICANO: ADESÃO DO
ao comando do Tenente-Coronel Sérgio de Oliveira. A 2ª coluna, sob
comando do Tenente-Coronel João Thomaz Henrique, atuaria nas re- MARANHÃO À REPÚBLICA.
giões de Vargem Grande e Brejo e, a 3ª coluna, a comando do Coronel
Souza Pinto Magalhães, atuou ocupando a Vila Icatu e as margens do
rio Mearim.
Os revoltosos maranhenses ligados aos bem-te-vis eram estima- No Maranhão, as elites agrícolas e pecuaristas eram muito li-
dos em 2000, na comarca de Brejo, e cerca de igual efetivo, na co- gadas à Metrópole e a exemplo de outras províncias se recusaram a
marca de Pastos Bons, além de grupos esparsos em torno da cidade aderir à Independência do Brasil. À época, o Maranhão era uma das
de Caxias. mais ricas regiões do Brasil.
Os revoltosos não possuíam bases fixas. Sua estratégia era de O intenso tráfego marítimo com a Metrópole, justificado pela
guerrilha rural. Atacavam só os pontos fracos das defesas do governo. maior proximidade com a Europa, tornava mais fácil o acesso e as
A resposta a esta estratégia foi manter suficientemente guarnecidas as trocas comerciais com Lisboa do que com o sul do país. Os filhos
vilas e cidades mais importantes para os revoltosos. Foi a partir des- dos comerciantes ricos estudavam em Portugal.
ses pontos fortes criados, que Caxias passou a combater a Balaiada, A região era conservadora e avessa aos comandos vindos do
usando com frequência o cerco de contigentes rebeldes localizados. Rio de Janeiro. Foi da Junta Governativa da Capital, São Luís, que
Colocando o governo do Maranhão para funcionar a contento, partiu a iniciativa da repressão ao movimento da Independência no
com frequência Caxias deixou São Luís para dirigir pessoalmente as Piauí.
operações. A Junta controlava ainda a região produtora do vale do rio Ita-
Usou como Posto de Comando o edifício da Câmara e Cadeia e pecuru, onde o principal centro era a vila de Caxias. Esta foi a lo-
a Casa da Pólvora. Prédios até hoje existentes e tombados pelo Patri- calidade escolhida pelo Major Fidié para se fortificar após a derrota
mônio Histórico. definitiva na Batalha do Jenipapo, no Piauí, imposta pelas tropas
Com esta estratégia de sempre ser mais forte em todas as partes brasileiras, compostas por contingentes oriundos do Piauí e do Cea-
estratégicas para os balaios, aos poucos ele foi minando as forças dos rá.
revoltosos. Fidié teve que capitular sendo preso em Caxias e depois man-
Engrossaram as hordas balaias escravos que, às centenas, fugi- dado para Portugal, onde foi recebido como herói. São Luís, a bela
ram de fazendas do vale do Itapicurú. Estes inicialmente se aqui- capital e tradicional reduto português, foi finalmente bloqueada por
lombaram e depois passaram a atuar sob a liderança do negro Cos- mar e ameaçada de bombardeio pela esquadra do Lord Cochrane,
me Bento das Chagas, em número estimado de 3000 escravos. sendo obrigada a aderir à Independência em 28 de julho de 1823.
Didatismo e Conhecimento 61
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Os anos imperiais que seguiram foram vingativos com o Ma- tores e maior proteção à ilha onde fica a capital maranhense. Costa
ranhão; o abandono e descaso com a rica região levaram a um Soares era um dos redatores do Conciliador, e nos momentos de
empobrecimento secular, ainda hoje não rompido. folga do trabalho cumpria seu papel na Legião Cívica, colaboran-
A independência do Brasil foi feita aos poucos. Bem depois do do na vigilância da cidade.
famoso Grito do Ipiranga, um bom pedaço do país mantinha-se fiel Nem as sucessivas vitórias das tropas do Ceará e do Piauí
ao Império português. O Maranhão foi uma das últimas províncias contra o exército português em regiões do interior do Maranhão –
a aderir ao “chamado” de D. Pedro I. E não sem resistência. como Caxias, Pastos Bons, Brejo e Itapecuru nem a incorporação
Para se entender o que acontecia naqueles anos conturbados, de destacamentos portugueses à “causa brasileira” fizeram o jornal
um mapa pode ajudar. Localizado no extremo Norte, o Maranhão admitir a possibilidade da independência. Segundo o Conciliador,
vivia isolado da longínqua capital, o Rio de Janeiro. Lisboa, ao essa perspectiva em nada entusiasmava a opinião pública de São
contrário, era logo ali. Pelo mar, ficava bem mais perto que o Su- Luís, constituída dos “verdadeiros portugueses”. Em junho de
deste. E não só do ponto de vista geográfico, mas também por la- 1823, a capital se viu cercada, e ainda assim não se registraram nas
ços econômicos e políticos, os maranhenses tinham motivos para ruas sinais de apoio à emancipação da província.
resistir à incorporação de sua província às demais, já convertidas O cerco não esmoreceu a resistência dos “cidadãos de bem”,
à independência. que no dia 12 de julho receberam uma notícia surpreendente: D.
Nos primeiros meses de 1823, tropas organizadas a partir do João VI havia restabelecido seus poderes absolutos em Portugal,
Ceará e do Piauí –emancipados, respectivamente, em outubro de rasgando a Constituição, suprimindo as Cortes e abrindo a pos-
1822 e março do ano seguinte – invadiram o Maranhão com o sibilidade de uma reaproximação com seu filho D. Pedro I. Foi a
objetivo de “libertá-lo” do domínio português. Encontraram uma deixa para a Junta do Governo e da Câmara nomear uma comissão
população nada disposta a ser libertada. para negociar um armistício para os líderes da província, seu futu-
Fiel à Corte lusa, o governo provincial defendia que o Ma- ro deveria ser decidido, pacificamente, entre D. João VI e D. Pedro
ranhão deveria permanecer unido a Portugal. E praticamente não I. Mas a iniciativa foi em vão: no dia seguinte, os tenentes de 1ª
havia oposição a esta tese. Toda a imprensa agia em uníssono: o linha Francisco Antonio da Costa Barradas, José Cursino Raposo
jornal e os folhetos impressos na única tipografia da cidade (con- e o alferes Joaquim José dos Reis lideraram setores das tropas que
trolada pelo governo) juntavam-se às publicações que chegavam se puseram à frente do largo do Palácio e tentaram proclamar a in-
de Lisboa e Londres nas denúncias contra o “separatismo das pro- dependência. A reação do comando do Exército foi imediata. Um
víncias do Centro-Sul”. Ainda em junho de 1822, o Conciliador, miliciano e um soldado da polícia, ambos fiéis a Portugal, ficaram
único jornal da capital, repudiou os projetos de criação de um feridos. Vários integrantes das tropas foram presos, e os líderes
Conselho de Procuradores e de uma Assembléia Constituinte, a fugiram para evitar a prisão.
serem instaurados no Rio de Janeiro. D. Pedro era alvo de pesa- O clima de tensão se agravou como nunca. Na Bahia, a inde-
das acusações. Segundo o jornal, o príncipe regente chefiava uma pendência havia chegado em 2 de julho. Em conseqüência, navios
“facção criminosa” e cercava-se de “aduladores e cortesãos” que portugueses fugidos daquela província rumaram para a capital do
queriam “levar o Brasil ao despotismo monárquico e, quem sabe, Maranhão. Chegaram no dia 14, renovando as esperanças de resis-
à república”. tência, quando a Câmara Geral se preparava para discutir a adesão
Em setembro, confirmada a independência no Sul, o Conci- de São Luís à independência, uma vez que o restante do Maranhão
liador classificou-a como uma quebra do juramento de fidelidade já havia sido incorporado. Não se podia negar o avanço dos “bra-
ao rei português. Criticava o fato de D. Pedro I governar o Brasil sileiros”. Era o que admitia Antonio Marques da Costa Soares no
sem lei, enquanto Portugal era regido por uma Constituição. Dois Conciliador, atribuindo o fato a três causas: o medo da população
meses depois, o jornal reforçava a idéia de resistir à emancipação diante da iminência de um confronto, a demora no envio de tropas
do Brasil: “Se o Sul podia se separar de Portugal, o Norte pode- de Portugal em socorro do Maranhão e a falta de carne. A escassez
ria fazer o mesmo com o Sul”, argumentava, pregando a união de do produto era provocada pelo cerco à cidade, que se intensificava.
Pará, Piauí e Maranhão contra o despotismo, “que mata a liberdade Para Joaquim José da Silva Maya (1811-1893), um dos mem-
das nações”. bros da esquadra portuguesa recém-chegada da Bahia, a tensão
Mas o centro da disputa local ia além dessas motivações po- que tomava conta de São Luís também se devia a outro fator. Em
líticas e ideológicas. O que estava mesmo em jogo era a indica- seu diário, ele descreve o apoio crescente à independência, espe-
ção para cargos públicos e a obtenção de privilégios. Na época, cialmente por parte dos homens “de cor”. O percentual de “pretos
São Luís tinha cerca de 30 mil habitantes. A população masculina, livres”, “pretos cativos”, “mulatos livres” e “mulatos cativos” era
adulta e branca não chegava a quatro mil pessoas. Entre elas esta- superior a 77% da população maranhense. Para os escravos, aliar-
va os “homens de bem”: importantes fazendeiros e comerciantes se aos “brasileiros” era uma promessa de liberdade. No interior,
que tinham relação próxima com o governo provincial, e por vezes muito fugiram e aderiram às tropas pela independência. Na capital,
chegavam a ocupar cargos públicos. Em sua maioria, eram mem- participaram dos conflitos de rua.
bros do Corpo de Comércio e Agricultura da cidade. A situação pendeu de vez para o lado da independência em 26
Com o início dos conflitos na divisa entre o Piauí e o Mara- de julho, quando aportou em São Luís o navio Pedro I – cujo nome
nhão, os “homens de bem” se organizaram para reunir fundos e indica de que lado estava. Sob o comando do almirante britânico
arcar com as despesas da guerra. Assumiram também o comando lorde Cochrane (1775-1860), o navio vinha da Bahia, onde apoiara
de regimentos e criaram corpos de voluntários. O principal deles a independência daquela província. Agora chegava para consolidar
foi a Legião Cívica de São Luís, proposta em maio de 1823 pelo a conquista do Maranhão. No dia 27, 200 homens desembarcaram
português Antonio Marques da Costa Soares. A iniciativa defendia na cidade e garantiram para o dia seguinte a proclamação da In-
a substituição de alguns comandantes, castigo imediato aos deser- dependência.
Didatismo e Conhecimento 62
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Festa e comoção popular? Nem sinal. Foi uma cerimônia dis- A ação foi decisiva para a vitória da revolução em Pernambu-
creta. Seis tripulantes do navio se juntaram a 91 cidadãos, entre eles co, pois possibilitou aos rebeldes a distribuição de armamentos aos
os membros da Junta de Governo e da Câmara e outras autoridades, voluntários civis e militares identificados com sua causa. Vitorioso
que, discretamente, saudaram a “Adesão ao Império Brasílico, e Go- o movimento, Vitorino foi comissionado no posto de primeiro-te-
verno do Imperador, o Senhor Dom Pedro Primeiro”. Do lado de nente e seguiu para o Rio de Janeiro, onde integrou o gabinete do
fora do Palácio havia poucas pessoas. A independência foi registrada ministro da Viação e Obras Públicas, José Américo de Almeida.
com um simples repicar dos sinos, uma salva de tiros e o reconheci- Em 1932 passou a servir na Diretoria de Meteorologia do Minis-
mento da “Bandeira Brasílica”. Muito pouco, se comparado às multi- tério da Agricultura, cujo titular era Juarez Távora. Ao eclodir em
dões que celebraram a incorporação da cidade à Revolução do Porto São Paulo a Revolução Constitucionalista em julho daquele ano,
(1821) e o nascimento dos membros da família real. lutou ao lado das forças legalistas sob o comando do general Val-
Mesmo sem grandes manifestações públicas, os homens “de domiro Lima até a rendição dos revoltosos em 2 de outubro.
cor” acreditavam que a independência poderia lhes trazer benefí- Em 1934, quando Gustavo Capanema assumiu a pasta da Edu-
cios. O escritor João Dunshee de Abranches Moura, no romance A cação e Saúde, foi nomeado segundo-oficial do Departamento Na-
Setembrada (1931), faz alusão a um curioso episódio ocorrido às
cional de Saúde Pública. Exercia esse cargo quando, em 18 de ju-
vésperas da proclamação. Alguns negros teriam tomado canoas e se
lho, foi nomeado secretário do interventor federal no Maranhão, o
dirigido ao navio Pedro I para pedir asilo ao almirante Cochrane, na
capitão Antônio Martins de Almeida, que havia conhecido durante
esperança de que lhes fosse assegurada a liberdade. Em vão. Após
a independência, os negros participaram dos saques às lojas e das a Revolução Constitucionalista. Durante a gestão desse interventor
surras aplicadas aos cidadãos acusados de conspirar contra a eman- (29/3/1933 a 22/7/1935) ocorreram várias violências policiais em
cipação. Libertos compuseram as tropas responsáveis pela segurança São Luís contra seus adversários políticos.
da cidade. Em meio à instabilidade vivida nos dezoito meses após a A Associação Comercial da cidade chegou a decretar uma gre-
independência da província, os negros chegaram a ser convocados ve do comércio em represália à prisão de seus diretores no quartel
para participar da política. da Força Pública. Segundo seus adversários, Vitorino passou nesse
Os brancos, por sua vez, agora divididos em “brasileiros” e momento a comandar um bando denominado “Papai Noel”, espe-
“portugueses”, tiveram destinos diversos. Os principais membros do cializado em surrar os opositores do governo. Vinculando-se ao
Corpo de Comércio de São Luís foram expulsos, sob a acusação de Partido Social Democrático (PSD), do Maranhão, na época uma
financiarem a resistência. A medida favoreceu os maiores produtores agremiação de âmbito estadual, Vitorino foi incumbido de orga-
de algodão e arroz do Maranhão, que se livraram de suas dívidas, nizá-lo para as eleições estaduais de 1934. Em julho de 1935, a
pois seus credores haviam sido banidos da província. E eles ainda Assembléia Constituinte maranhense elegeu para o governo do es-
assumiram postos importantes no novo governo. A grande maioria tado Aquiles de Faria Lisboa, candidato das Oposições Coligadas
dos funcionários da administração foi demitida e substituída por pa- formadas pelo Partido Republicano (PR) e a União Republicana
rentes e amigos dos membros da Junta que assumiu provisoriamente Maranhense (URM), que derrotou o candidato pessedista Tasso
o governo. de Miranda. Vitorino seguiu então para o Rio, reintegrando-se ao
As disputas em torno da administração pública estavam apenas Ministério da Educação e Cultura. Regressaria, porém ao Mara-
começando. Alguns “heróis da independência” apressaram-se a en- nhão no ano seguinte para apoiar o movimento desencadeado pela
viar relatos de seu desempenho no conflito, pedindo cargos que re- URM, a qual, rompendo a aliança com o PR, aliou-se ao PSD e à
compensassem os “sacrifícios feitos em nome da pátria”. José Felix Liga Eleitoral Católica e conseguiu que a Assembléia estadual pro-
Pereira de Burgos (1780-1854) foi um deles. Tenente-coronel de 2ª movesse a deposição de Aquiles Lisboa e solicitasse a intervenção
linha que “aderiu à causa” em junho de 1823 tornou-se governador federal no estado.
de Armas e encaminhou ofício a José Bonifácio relatando as “suces- Em 14 de junho de 1936, o major Roberto Carneiro de Men-
sivas fadigas” dele e de sua família para realizar o “projeto patriótico donça foi nomeado interventor no Maranhão. Por indicação de
da independência”. Em meio às lembranças do tempo em que fora
Getúlio Vargas, no dia 18 de julho a Assembléia elegeu Paulo Ra-
aluno do mestre em Coimbra, pediu que seus irmãos os militares Car-
mos, que, com a implantação do Estado Novo (10/11/1937), seria
los, Antonio e Honório gozassem de proteção real e fossem “contem-
plados conforme o justo”. Texto adaptado de GALVES, M. C nomeado interventor federal. Durante sua permanência à frente do
governo do Maranhão, Paulo Ramos obteve de Getúlio a garantia
de que Vitorino não interferiria na política do estado, o que de fato
aconteceu. Em dezembro de 1936, Vitorino passou a exercer, no
A REVOLUÇÃO DE 1930 NO MARANHÃO. Rio, o cargo de oficial de gabinete do presidente da Câmara dos
Deputados, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada. Em abril de 1937,
casou-se com a maranhense Maria Helena de Oliveira, com quem
teve um filho, Luís Fernando Freire. A partir de 1939, integrou o
A REVOLUÇÃO E O PÓS-1930 gabinete do ministro da Viação e Obras Públicas, João de Men-
donça Lima.
Aderindo ao movimento que resultou na Revolução de 1930,
Vitorino Freire não pôde concluir o curso superior. Embora sem atuar O PSD E O VITORINISMO
junto aos irmãos Carlos e Caio de Lima Cavalcanti, chefes civis do
movimento em Pernambuco, integrou o grupo de 17 homens que, No início de 1945, com o enfraquecimento do Estado Novo,
tendo à frente o capitão Antônio Muniz de Faria, ocupou em 4 de os partidos políticos se reorganizaram em termos nacionais com
outubro de 1930 o quartel da Soledade, depósito de armas e muni- vistas às próximas eleições para a presidência da República e para
ções da 7ª Região Militar. a Assembléia Nacional Constituinte. Seguindo para o Maranhão,
Didatismo e Conhecimento 63
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Vitorino foi um dos organizadores do novo PSD naquele estado. Nas eleições de outubro de 1954, reelegeu-se senador na legen-
Passou em seguida a promover a candidatura oficial de Eurico da de seu partido, iniciando novo mandato em 19 de fevereiro de
Dutra à presidência da República e a liderar a oposição a Paulo 1955. Ainda em 1954, participou da Conferência da Organização
Ramos, contrário a esse candidato. Diante da violenta oposição Internacional do Trabalho, exercendo a mesma missão em 1957.
desencadeada contra seu governo, Paulo Ramos exonerou-se do Também nesse ano participou da Assembléia Geral da Organi-
cargo de interventor, sendo substituído no mês de março por Clo- zação das Nações Unidas (ONU), à qual voltaria a comparecer em
domir Cardoso. Candidato à Constituinte na legenda do PSD, Vi- 1960. A renúncia do presidente Jânio Quadros, em 25 de agosto de
torino foi eleito em dezembro de 1945, no mesmo pleito em que 1961, provocou no país uma crise político-militar em face do veto
Dutra foi escolhido presidente da República. Por indicação de dos ministros militares à posse de seu substituto legal, o vice-pre-
Vitorino, em seguida à sua posse Dutra nomeou Saturnino Belo sidente João Goulart. Auro de Moura Andrade, então presidente
interventor no Maranhão. do Senado, e outros senadores, entre os quais Vitorino Freire, con-
Antes de assumir seu mandato, Vitorino foi oficial administra- denaram inúmeras vezes a atitude dos ministros militares. A crise
tivo do gabinete do ministro da Educação e Saúde Clemente Ma- foi contornada com a adoção do parlamentarismo, aprovado pelo
riani. Durante os trabalhos da Assembléia Constituinte, Vitorino Congresso em 2 de setembro do mesmo ano, e a posse de Goulart
empenhou-se na aprovação de uma emenda de autoria do deputado cinco dias depois. Nas eleições de outubro de 1962, Vitorino ree-
udenista Manuel Novais propondo que fosse prevista na Consti- legeu-se senador pelo Maranhão na legenda do PSD, passando a
tuição a defesa e o desenvolvimento do vale do rio São Francisco. exercer a liderança desse partido no Senado.
Aprovada a emenda, foi constituída a Comissão do Vale do São Em 1963 e 1964 foi vice-líder da maioria e em 1965 exerceria
Francisco, que tempos depois seria responsável pela construção da de novo a liderança do PSD. Em 1964 apoiou o movimento políti-
usina hidrelétrica de Paulo Afonso. co-militar que depôs João Goulart em 31 de março, estreitando re-
Com a promulgação da Carta de 18 de setembro de 1946 e lações com os chefes militares, entre os quais o general Humberto
a transformação da Constituinte em Congresso ordinário, Vitori- Castelo Branco e o general Ernesto Geisel. Durante as negociações
no Freire continuou a exercer seu mandato de deputado federal. para a escolha do presidente da República, com o apoio de uma
Durante a campanha para as eleições suplementares de 1947, re- facção do PSD, indicou o marechal Dutra, o qual foi preterido pe-
nunciou ao mandato para concorrer ao Senado. Essa campanha foi las demais lideranças civis e militares em favor de Castelo Branco,
marcada por grave divergência entre os pessedistas maranhenses, que assumiu a presidência em 15 de abril. No Maranhão, além
surgida quando o diretório do partido indicou Genésio Rego como de iniciar a modernização da infraestrutura econômica e social, o
candidato a governador do estado. Vitorino, Saturnino Belo e Se- governo militar realizou uma revisão eleitoral em 1965, visando
bastião Archer não aceitaram essa indicação e afastaram-se do a extinguir a corrupção nas eleições e a renovar a elite dirigente.
PSD, propondo a candidatura de Sebastião Archer. Nas eleições para o governo do estado em outubro daquele
Vitorino organizou então a seção maranhense do Partido Pro- ano, José Sarney, candidato de oposição ao vitorinismo, indica-
letário do Brasil (PPB), que acolheu um grupo considerável de do e apoiado por Castelo Branco, venceu por larga margem de
dissidentes do PSD e, em 19 de janeiro de 1947, elegeu Sebastião votos. Essa eleição registrou a primeira derrota política de Vito-
Archer governador e Vitorino Freire senador. Passadas as eleições, rino no estado: seu candidato Renato Archer foi o menos votado.
o PPB se reorganizou, dando origem ao Partido Social Trabalhista Com a extinção dos partidos políticos pelo Ato Institucional nº 2
(PST). Desinteressando-se da nova agremiação, Vitorino reapro- (27/10/1965) e a posterior instauração do bipartidarismo, Vitorino
ximou-se do diretório regional do PSD. Segundo José Ribamar filiou-se à Aliança Renovadora Nacional (Arena), o partido do go-
Caldeiras, esses fatos mostram que nesse momento Vitorino Freire verno. Exerceu seu mandato de senador até o final da legislatura,
conquistou o poder político no Maranhão, “iniciando então uma em janeiro de 1971.
política de características mandonistas que denominou vitorinis- Embora não tenha obtido da Arena uma legenda para disputar
mo, que cobriu todo o período 1947-1964, grosso modo”. Signi- as eleições de novembro de 1974, conseguiu eleger seu filho Luís
ficativamente, todos os governadores eleitos nesse período seriam Fernando Freire suplente do senador Henrique de La Roque. Além
correligionários de Vitorino indicados por ele. Iniciando seu man- disso, por sua influência e indicação, no mesmo ano Osvaldo da
dato no Senado em abril de 1947, Vitorino participou da Comissão Costa Nunes Freire e José Duailibi Murad foram eleitos indireta-
Especial das Leis Complementares da Constituição, da Comissão mente governador e vice-governador do Maranhão, o que caracte-
de Finanças e da Comissão Especial de Inquérito para a Indústria rizaria seu retorno à cena política do estado.
Têxtil. Durante a campanha para as eleições de outubro de 1950, A partir de 1975, Vitorino passou a integrar o diretório nacio-
o PSD lançou as candidaturas de Cristiano Machado à presidência nal da Arena. Em 1980, com a nomeação de Henrique de La Roque
da República e do paulista Altino Arantes à vice presidência. para o Tribunal de Contas da União, Luís Fernando Freire assumiu
Contrário a esta última indicação, Vitorino decidiu, em se- sua cadeira no Senado. Além dos cargos públicos que ocupou, Vi-
tembro, apresentar sua própria candidatura a vice-presidente, mas torino Freire foi também diretor do Diário de São Luís e A Tarde,
esbarrou em outro obstáculo: o diretório do PSD maranhense tinha jornais editados na capital maranhense. Faleceu no Rio de Janeiro
na liderança seu inimigo político Genésio Rego. Diante disso, Vi- no dia 27 de agosto de 1977. Deixou suas memórias registradas
torino lançou-se como candidato avulso pelo PST. No pleito foram no livro A laje da raposa (1978). Texto adaptado de PANTOJA, S
eleitos Getúlio Vargas para presidente e Café Filho, com 2.520.790
votos, para vice-presidente. Vitorino foi o último colocado, obten-
do 524.079 votos. Em 1953, Vitorino voltou a pertencer ao PSD, de
cujo diretório nacional mais tarde chegaria a fazer parte, alijando
definitivamente Genésio Rego da liderança do diretório estadual.
Didatismo e Conhecimento 64
HISTÓRIA DO MARANHÃO
unidade geográfica e política, o Maranhão surgiu em 1534, quan-
do a coroa portuguesa dividiu o território brasileiro (nesse tempo
OS PRINCIPAIS FATOS POLÍTICOS, limitado a oeste pela linha imaginária do Tratado de Tordesilhas
ECONÔMICOS E SOCIAIS OCORRIDOS de 1494) em 15 lotes que receberam a denominação de capitanias
NO MARANHÃO, NA SEGUNDA METADE hereditárias – um resquício da cultura feudal.
Em 1621, a coroa portuguesa criou o Estado do Maranhão
DO SÉCULO XX. (47% do território do Brasil) que durou até 1652. Em seguida ocor-
reram mais seis divisões. Somente em 1920 o Maranhão alcançou
a atual conformação territorial (Ferreira, 2008). Estudos mostram
que essas modificações territoriais foram todas determinadas por
A ECONOMIA DO MARANHÃO fatores econômicos. A ocupação do território maranhense este-
ve atrelada à exploração econômica referente à produção de ca-
A economia do Maranhão surgiu integrada ao processão de na-de-açúcar, do algodão e do babaçu, desde o período colonial
expansão ultramarina dos países europeus, que se deu entre os sé- até os primeiros anos da República. Essa, contudo, sofreu várias
culos XV e XVIII. Coincide com a etapa de acumulação de capital transformações derivadas das necessidades da França (fundou a
por parte da burguesia mercantil, que iria redundar no modo de capital), de Portugal (retomou dos invasores duas vezes e efetivou
produção capitalista. Nesse sentido, este artigo começa a analisar a estratégias de ocupação), Holanda (invadiu e dominou uma vez
economia maranhense, a partir do último quartel do século XVIII, por vinte e sete meses) e Inglaterra (interferiu em acordos econô-
justamente no período em que a máquina a vapor, inventada por micos), que viabilizaram o domínio e posse (assentamentos, entra-
James Watt, deu à Inglaterra a dianteira na produção industrial das, engenhos), áreas de produção, escravização indígena e negra
em larga escala, principalmente de têxteis. Esse fato histórico au- africana, exploração de recursos, e ações de políticas territoriais
mentou exponencialmente a demanda mundial por algodão. E o (fortes, missões, vias de acesso), culminando na ampliação do po-
algodão foi a “tarefa” destinada ao Maranhão pela nova divisão voamento.
internacional do trabalho. É consenso hoje que a Revolução Co- A Companhia de Comércio do Maranhão, criada em 1681 com
mercial representou um golpe de morte na economia feudal, que o monopólio da importação e exportação em terras maranhenses,
era estática, fragmentada e religiosamente contrária ao lucro. A marcou uma nova etapa da intervenção estatal, que alterou pro-
exploração de riquezas em terras americanas e africanas, além das fundamente a incipiente economia erigida em torno da produção e
já conhecidas terras asiáticas, representou etapa decisiva da acu- exportação de açúcar do Maranhão. A política de preços elevados,
mulação capitalista na Europa, com a formação de um vigoroso o não cumprimento de compromissos por parte da Companhia para
sistema bancário que dava suporte a um comércio em escala mun- com o comércio local, dentre outros fatores, provocaram o movi-
dial, bancado, entre outros fatores, por forte suprimento de metais mento que ficou conhecido como “a revolta de Beckman”, liderada
preciosos, especialmente prata e ouro vindos das Américas. pelo próspero comerciante maranhense Manoel Beckman. Os re-
O Brasil surge no cenário mundial no mesmo contexto de voltosos queriam o fim da Companhia que fora dada pela Coroa a
“descoberta” das Américas (Colombo, 1492; Cabral, 1500). Ruy comerciantes portugueses. Clamavam também pela expulsão dos
Mauro Marini assim define a gênese histórica desta parte do mun- jesuítas que eram contrários à escravização dos indígenas, num
do que, pela língua dos seus “descobridores”, passou a se chamar momento em que a escassez de mão-de-obra se confundia com a
América Latina. Forjada ao calor da expansão comercial promovi- própria escassez da população e ainda não havia um tráfico regular
da, no século XVI, pelo capitalismo nascente, a América Latina se de escravos africanos.
desenvolve em estreita consonância com a dinâmica do capital in- A revolta foi sufocada por tropas portuguesas e seu líder
ternacional. Colônia produtora de metais preciosos e gêneros exó- enforcado em 1684. Mas a Companhia logo foi desativada pela
ticos, num primeiro momento contribui para o aumento do fluxo Coroa. O açúcar maranhense começou a enfrentar a concorrência
de mercadorias e para a expansão dos meios de pagamento que, ao do açúcar das Antilhas, principalmente de Cuba. Os holandeses
mesmo tempo em que permitiam o desenvolvimento do capital co- quando foram expulsos do Brasil, foram para lá e montaram uma
mercial e bancário na Europa, sustentaram o sistema manufaturei- estrutura produtiva muito mais moderna e eficiente. A situação só
ro europeu e abriram o caminho para a criação da grande indústria. voltou a melhorar a partir de 1755 com a criação da Companhia
Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, pelo primeiro mi-
DA FRANÇA EQUINOCIAL À EXPORTAÇÃO DE AÇÚ- nistro português, o Marquês de Pombal.
CAR DE CANA A primeira capitania do Maranhão, criada em 1534 e dividida
em duas partes, não chega a ser efetivamente ocupada. Até mesmo
No século XVI o açúcar começou a ser produzido em esca- seus limites não são precisos até o século XVII. Sob o comando
la comercial para abastecer a Europa. Portugal plantava cana-de de La Ravardière e Mazilly, os franceses instalam uma colônia na
-açúcar nas ilhas de Cabo Verde, Açores e Madeira. A partir da região, em 1612, chamada França Equinocial, e fundam São Luís,
“descoberta” das novas terras por Cabral, a coroa portuguesa pro- que recebe este nome em homenagem ao rei francês Luís XIII. Em
curou vincular a colonização do Brasil ao Mercantilismo e assim, 1615, os portugueses, comandados por Jerônimo de Albuquerque,
além da exploração do pau Brasil, colonos foram enviados com a derrotam os franceses e iniciam a colonização. São Luís é invadida
missão específica de produzir açúcar. Em 1550 já existiam vários pelos holandeses em 1641, mas é recuperada por Portugal três
engenhos no litoral brasileiro, principalmente nas capitanias de anos depois. A partir daí, torna-se base de apoio à exploração da
Pernambuco e São Vicente. Cem anos depois, por volta de 1650 Amazônia e ao povoamento da Região Norte.
o Brasil já era o maior produtor mundial de açúcar de cana. Como
Didatismo e Conhecimento 65
HISTÓRIA DO MARANHÃO
Para estimular o desenvolvimento regional, apoiado na Por outro lado, “a crise do sistema agroexportador não
monocultura do açúcar e do algodão de base escravista, é criada representou o engessamento da vida material no Maranhão”. O
a Companhia do Comércio do Maranhão, em 1682. A iniciativa naturalista e escritor francês Alcides d’Orbigny passou por São
provoca protestos dos lavradores locais, pois o governo português Luís na década de 1850 e notou a “elegância”, as boas “maneiras” e
chega a confiscar as lavouras de quem não planta cravo e algodão, a “fineza” da sociedade local, onde se buscava “imitar os costumes
produtos que interessam comercialmente à metrópole. Em europeus popularizados por uma infinidade de casas francesas e
1864, sob a liderança dos irmãos Manuel e Tomás Beckman, os inglesas.
maranhenses se rebelam, mas são duramente reprimidos. Cerca Novas oportunidades de investimento surgiam aos capitais
de 70 anos depois, em 1755, é instalada a Companhia Geral do não mais interessados no negócio da agroexportação ou escravos.
Comércio do Grão-Pará e Maranhão. Na segunda metade do Bancos, companhias de água, iluminação e transporte fluvial foram
século XVIII, com o começo da Revolução Industrial inglesa, as criadas entre o final da década de 1840 e 1860, atraindo muito
exportações de algodão têm forte crescimento, o que contribui recurso público, diante da incapacidade financeira dos investidores,
para a prosperidade econômica e o aumento da população. mas também privado. Os empreendimentos dessa época
Esse progresso econômico, porém, não se mantém. Após as fracassaram, mas ficou a tentativa de modernizar e dinamizar a
lutas da independência, o Maranhão entra no século XIX com a província. Entre crises e investimentos um debate ganhava espaço,
economia em declínio. o da substituição do escravo pelo estrangeiro. Essa discussão não
A estagnação perdura durante o império, provocando revoltas, estava deslocada do que se assistia nosgrandes centros brasileiros,
como a Balaiada de 1838, ou, mais tarde, a migração para os o trabalhador estrangeiro, segundo seus defensores, contribuiria
seringais da Amazônia. No início da república, a manufatura significativamente para a transformação da província, tinha um
algodoeira e o beneficiamento de arroz, açúcar e óleo de papel determinante não só como trabalhador e civilizador, mas
babaçu sustentam a economia do estado, mas não impedem o também como exemplo de moralidade a ser seguido.
empobrecimento de grande parte da população. O trabalhador nacional, por sua vez, foi deixado de lado,
desqualificado e abandonado pelo sistema produtivo, associado
IMIGRAÇÃO E COLONIZAÇÃO NO MARANHÃO NA á preguiçosa e á indolência, taxado como perigoso. Não era
SEGUNDA METADE qualquer estrangeiro que deveria desembarcar no Maranhão,
havia uma clara preferência pelos europeus e um dos autores que
A história da imigração, da colonização e da presença escrevia com autoridade na década de 1850 sobre o tema, Fabio
portuguesa no Maranhão no século XIX não foi ainda abordada Alexandrino Reis, “recomendava a contratação de portugueses,
com a devida atenção. Temas clássicos como, quantitativos, perfil, afirmando que eram muito fáceis de convivência por terem língua
ocupações, envolvimento nos acontecimentos locais, sociabilidades e religião semelhantes ás praticadas no Brasil.
e colonização foram pouco ou nunca tocados. Aqui se pretende, Na fala do presidente de província á Assembléia provincial
ainda que de forma inicial, narrar alguns fatos relacionados á em 1851, José Olímpio Machado demonstrava sua preferência
imigração e colonização realizadas com trabalhadores portugueses pelos açorianos que “segundo informações se aclimata(va)m com
na década de 1850 no Maranhão. As fontes privilegiadas nesse texto muita facilidade nesta província.
são os Relatórios de Presidentes de Província, bastante conhecidos Já o Regulamento da Diretoria de Colonização de 19 de abril
pelos estudiosos que se aventuraram no tema e a correspondência de 1855 colocava entre suas próprias obrigações a indicação dos
do consulado português no Maranhão com o Ministério dos países onde deveriam ser contratados os colonos, observando nossa
Negócios Estrangeiros de Portugal, inéditos até então. religião, forma de governo e língua. Entre os atributos associados
O texto privilegiará as colônias portuguesas voltadas á estes colonos estavam o de promover o desenvolvimento de
para a agricultura, pois estas implicavam a doação de lotes de métodos e máquinas ou serem “inteligentes”, “moralistas” e
terras, sendo assim deixadas de lado as colônias operárias de “industriosos”. A escolha pelos portugueses para constituir as
Maracassumé, constituídas por trabalhadores “chins” e a de colônias formadas na década de 1850 não excluiu outros grupos,
Arapapahy, que engajou portugueses. A presença de portugueses chineses foram engajados na colônia de Marassumé e tinha-
no Maranhão em meados do século XIX, quando se constituíram se a intenção de introduzir alemães e suíços na província ainda
as experiências de colonização na província é conhecida. Em naqueles anos.
1852 o cônsul português Raimundo Capela a pedido da Sociedade A década da imigração e da colonização no Maranhão foi
Geográfica de Lisboa elaborou um mapa da população portuguesa 18508, além das seis colônias formadas e os 887 contratados e
no Maranhão, admitindo as imperfeições1 chegou ao número de engajados fixadas nelas, pretendia-se levar á província até o
2.120 indivíduos o que representava aproximadamente 0,58% final de 1855 mais de 1.000 colonos, a Diretoria de Colonização,
da população da província . Na capital, outro censo foi realizado criada no mesmo ano tinha planos de introduzir mais de cinco mil
em 1855 por João Nunes de Campos (1855) e dava conta de 808 colonos nos anos seguintes, quando deixaria de estar vinculada ao
portugueses vivendo na cidade, contra 76 outros estrangeiros. Tesouro Provincial e se constituiria em repartição própria. Além
O número era elevado, representava quase 10% da população disso, havia a intenção de fundar pelo menos mais uma colônia e
recenseada, sendo que entre os 654 declarantes de ocupação, 80% povoar outra já existente. Em 16 de março de 1855 o presidente
concentrava-se no comércio . O Maranhão nesse período já não da província do Maranhão, Eduardo Olímpio Machado, autorizava
sustentava mais o alto índice de exportação que permitiu configurar Manoel Joaquim dos Santos a contratar e trazer 100 pescadores
na quarta maior economia de outrora. Os discursos de presidente e as famílias daqueles que as tinham de Portugal. Os pescadores
de província na década de 1850 e a correspondência dos cônsules seriam empregados exclusivamente nessa atividade e teriam a
no Maranhão com o Ministério dos Negócios Estrangeiros de função de abastecer o mercado da capital com peixes, além de
Portugal queriam provar a fragilidade da economia, quase sempre servirem de “escola prática aos nossos pescadores, e de núcleo da
classificada como decadente e em crise. povoação marítima” do Araçagi.
Didatismo e Conhecimento 66
HISTÓRIA DO MARANHÃO
A colônia forneceria casas gratuitamente e o contrato O Maranhão é o estado que apresenta o maior índice de
destinava recursos á compra de equipamentos e embarcações. O população rural: 48,08% dos habitantes moram no campo,
estabelecimento não chegou a se constituir. Já a colônia militar do conforme dados da Pesquisa Nacional de Amostragem por
Gurupi, fundada em finais de 1853, tinha como função primordial Domicílio (Pnad). A estrutura fundiária permanece fortemente
evitar que se formassem “quilombos de pretos fugidos daquellas concentrada. A agricultura familiar e de baixo padrão tecnológico,
partes, assim como que os desertores e criminosos se asylem na praticada em pequenas propriedades, é predominante.
fronteira. Em 2000 aumenta a produção de grãos nos cerrados
Gurupi, que já funcionava com 51 pessoas livres de ambos
maranhenses. Produtores do Centro-Sul do país começam a se
os sexos, esperava 100 casais de europeus que seriam engajados
instalar na região de Chapadinha, município que fica no centro
pelo governo imperial. Esses nunca chegaram, mas a colônia
seguiu funcionando. Para por em prática o plano da colonização de uma área com mais de 500 mil ha de terras agricultáveis para
estrangeira no Maranhão uma considerável legislação foi elaborada, arroz, milho, algodão e, principalmente, soja. Enquanto isso, a
recursos foram disponibilizados e sociedades criadas. Viveiros pecuária sofre os efeitos das barreiras impostas pelo Pará, principal
(1992) menciona uma sociedade fundada em São Luís ainda em consumidor de bezerros do Maranhão, em virtude da febre aftosa.
1827 com esse objetivo. Em 1841, o então presidente de província
João Antonio de Miranda chamava a atenção para a necessidade
de se legislar sobre o tema, criando um artigo sobre o orçamento e O LITORAL DE 640 KM
distribuição de terrenos.
Nestemesmo ano, segundo Eduardo Olímpio, a Lei Provincial A segunda maior costa litorânea brasileira, depois da Bahia,
n. 106, de 27 de Agosto destinava até 6 contos para a introdução mantém a pesca como atividade importante na economia. O
de colonos. Herculano Pereira Penna, presidente do Maranhão em Maranhão responde pela maior produção de pescado artesanal do
1848 recordava que a Lei Geral 514 de 28 de outubro daquele ano país, com destaque para camarão, caranguejo, caranguejo uçá e
liberava á cada província 6 léguas quadradas de terras devolutas
sururu - todos de grande presença na culinária regional.
para a colonização.
Em 1851 foi elaborada a Lei Provincial n. 312, de 24 de O complexo portuário integrado pelos terminais de Itaqui,
novembro, que incluía recursos ao transporte de colonos para Ponta da Madeira e Alumar, interligado a ferrovias e hidrovias,
a implantação de uma colônia agrícola; a Lei n. 339, de 23 de é responsável por mais de 50% da movimentação de cargas
dezembro de 1853, criava a Caixa de Colonização e o Regulamento portuárias do Norte e do Nordeste. A ferrovia Carajás transporta
de 19 de abril de 1855, fundava a Diretoria de Colonização da minérios de ferro e de manganês do Distrito Mineral dos Carajás,
Província do Maranhão. no Pará, ao Porto Ponta da Madeira, em São Luís. Dos 52,6 mil km
de rodovias, só 10% estão pavimentados.
DESAFIOS DA MODERNIZAÇÃO
Didatismo e Conhecimento 67
HISTÓRIA DO MARANHÃO
O MARANHÃO DE HOJE
ANOTAÇÕES
A única mulher governadora do país, Roseana Sarney (PFL),
é reeleita em 1998 e novamente eleita, agora pelo PMDB, em
2010. O crescimento é reflexo do ajuste das contas do governo
e do aumento no repasse de recursos federais. O cenário político
maranhense fica bastante conturbado entre o final do século anterior
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e o início do atual. A comissão parlamentar de inquérito (CPI) do
Narcotráfico, da Câmara Federal, aponta o envolvimento de alguns —————————————————————————
políticos maranhenses com o crime organizado. O depoimento de
um integrante da quadrilha leva à conexão do Maranhão com o —————————————————————————
narcotráfico e com roubos de carga e a uma ligação direta com o —————————————————————————
deputado federal cassado Hildebrando Pascoal (AC), entre outros
políticos. —————————————————————————
São Luís concentra grande parte do produto interno bruto do
estado; a capital passa por um processo marcante de crescimento —————————————————————————
econômico, sediando mais de três universidades (duas públicas e
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uma privada), além de uma dezena de centros de ensino e faculdades
particulares. A expansão imobiliária é visível, mas o custo de vida —————————————————————————
ainda é bastante elevado e a exclusão social acentuada. Há grande
dependência de empregos públicos. —————————————————————————
O Maranhão tem o privilégio de possuir, devido a exuberante
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mistura de aspectos da geografia, a maior diversidade de
ecossistemas de todo o País. São 640 quilômetros de extensão de —————————————————————————
praias tropicais, floresta amazônica, cerrados, mangues, delta em
mar aberto e o único deserto do mundo com milhares de lagoas —————————————————————————
de águas cristalinas. Essa diversidade está organizada em cinco
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polos turísticos, cada um com seus atrativos naturais, culturais e
arquitetônicos. São eles: o polo turístico de São Luís, o Parque —————————————————————————
Nacional dos Lençóis Maranhenses, o Parque Nacional da Chapada
das Mesas, o Delta do Parnaíba e o polo da Floresta dos Guarás. —————————————————————————
De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística em 2009, o Maranhão possui o maior —————————————————————————
número de crianças entre oito e nove anos de idade analfabetas —————————————————————————
no país. Quase quarenta por cento das crianças do estado nessa
faixa etária não sabem ler e escrever, enquanto que a média —————————————————————————
nacional é de 11,5 por cento. O estado conta com um eficiente
sistema de abastecimento de energia, através da Subestação —————————————————————————
da Eletronorte instalada no Distrito Industrial do Município de —————————————————————————
Imperatriz, além de estar bastante próxima das hidroelétricas de
Estreito (1 328 megawatts) e de Serra Quebrada. Texto adaptado —————————————————————————
de MAGALHÃES, M. V
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Didatismo e Conhecimento 68
EXERCÍCIO COMPLEMENTAR
MATEMÁTICA -cada um dos empregados assinou pelo menos um dos
jornais;
01. (STF - Técnico Judiciário - UnB/Cespe/2013) O -2 empregados assinaram os 3 jornais;
número de empregados que aderiram a apenas duas mo- -3 empregados assinaram apenas os jornais CT e JT;
dalidades de convênios foi inferior a 1.650. -8 empregados assinaram apenas o jornal JT;
( ) CERTA ( ) ERRADA -4 empregados assinaram os jornais CT e FT;
-13 empregados assinaram o jornal JT;
O numero de empregados que aderiram a apenas duas -16 empregados assinaram o jornal CT.
modalidades de convênios foi inferior a 1.650. Julgue os itens a seguir: (questões 103 a 107)
Didatismo e Conhecimento 69
EXERCÍCIO COMPLEMENTAR
Didatismo e Conhecimento 70
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
LOCALIZAÇÃO DO ESTADO DO
MARANHÃO: SUPERFÍCIE; LIMITES;
LINHAS DE FRONTEIRA;
PONTOS EXTREMOS;
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Didatismo e Conhecimento 1
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Maranhão Juçara, buriti, bacaba, carnaúba, babaçu. O Mara-
nhão é conhecido como “terra das palmeiras”, cognome que lhe foi ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
dado por Fróis de Abreu, num livro de 1931, mas já em 1614 Clau-
de d’Abbeville gabava: “É um verdadeiro jardim de palmeiras.” E (APA).
Gonçalves Dias suspirava, na “Canção do exílio”: “Minha terra tem
palmeiras...”
O estado do Maranhão situa-se na região Nordeste, onde ocupa
uma área de 333.366km. Localizado na área de transição entre o Nor- A APA é uma Unidade de Conservação de Uso Direto dos re-
deste e a Amazônia, limita-se ao norte com o oceano Atlântico, a oeste cursos naturais, segundo categorização da IUCN ou ainda Unidade
com o Pará, a sudoeste com o Tocantins, e a sudeste e a leste com o de Conservação de Uso Sustentável, conforme expresso no SNUC.
Piauí. O Maranhão apresenta as mais diversas características morfo- Segundo a Resolução CONAMA no 10/88, artigo 1o, as APAs
lógicas, desde a mata amazônica e a caatinga nordestina até a área são unidades de conservação, destinadas a proteger e conservar a
considerada o único deserto brasileiro, o Parque Nacional de Lençóis qualidade ambiental e os sistemas naturais ali existentes, visando a
Maranhenses mais de 200km de dunas de areia branca e lagoas de melhoria da qualidade de vida da população local e também obje-
água doce, que se evaporam no período da seca. tivando a proteção dos ecossistemas regionais.
Já o substitutivo ao PL 2.892/92 que institui o SNUC (art. 15)
GEOGRAFIA FÍSICA GEOLOGIA E RELEVO.
define APA como sendo uma área em geral, extensa, com um certo
grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos,
De relevo plano, o Maranhão tem 75% do território abaixo de
200m de altura e apenas dez por cento acima de 300m. O quadro estéticos ou culturais especialmen- te importantes para a qualida-
geomorfológico é composto por duas unidades: a baixada litorânea de de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como
e o planalto. Domina na baixada um relevo de colinas e tabuleiros, objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o
talhados em arenitos da série Barreiras. Em certas partes do litoral, processo de ocupação, asse- gurar a sustentabilidade do uso dos
inclusive na ilha de São Luís, situada no centro do chamado golfão recursos naturais.
maranhense, esse relevo chega até a linha da costa. Em outras, fica Um dos fatores que diferencia a APA das demais unidades de
separado do mar por uma faixa de terrenos baixos e planos, sujeita conservação é ofato de, contornando um dos grandes problemas
a inundações no período das chuvas. É a planície litorânea propria- que é a desapropriação das terras, permitir que as mesmas perma-
mente dita, que no fundo do golfão toma o nome de Perises. A leste neçam sob o domínio dos proprietários, mesmo que submetidas a
do golfão maranhense, esses terrenos assumem o caráter de amplos restrições de uso do solo e dos recursos naturais, de acordo com
areais com formações de dunas, que integram a costa dos Lençóis, até os planos de manejo elaborados para atender aos objetivos de pro-
a baía de Tutóia. teção. Esta peculiaridade introduz um caráter de complexidade à
O planalto ocupa todo o interior do estado com um relevo tabu- questão trazendo em cena a busca de práticas de sustentabilidade
lar. Apresenta feição de um conjunto de chapadões talhados em ter- que promovem a convivência harmônica do ser humano e seus
renos sedimentares (arenitos xistosos e folhelhos). Nas proximidades sistemas produtivos com o meio em que vive. Decorrentes desta
do golfão maranhense as elevações alcançam apenas 150 a 200m de característica, certamente, poderão surgir muitos conflitos entre o
altura; mais para o sul, 300 a 400m; e nas proximidades do divisor uso dos recursos naturais e a sua proteção, por não existir harmo-
de águas, entre as bacias do Parnaíba e Tocantins, atingem 600m. Os nia ou equilíbrio nas relações econômicas, políticas e também am-
vales do planalto separam os chapadões uns dos outros por meio de bientais. Portanto, quando se pensa em gestão de uma APA, espe-
entalhes profundos, e por essa razão os chapadões apresentam escar- ra-se que a mediação de conflitos seja fator essencial. Decorrentes
pas abruptas em contraste com o topo regular. do conceito geral de APA, várias constatações podem ser feitas:
-buscam conciliar o desenvolvimento de atividades humanas
CLIMA com a conservação dos recursos naturais (objetivo geral);
-buscam proteger o solo, subsolo, a cobertura vegetal e a fau-
Ocorrem no Maranhão três tipos de clima: o tropical superúmido
na local, promover a melhoria da qualidade dos recursos hídricos,
de monção, o tropical com chuvas de outono e o tropical com chu-
recuperar áreas degradadas (objetivos específicos);
vas de verão. Os três apresentam regimes térmicos semelhantes, com
médias anuais elevadas, que variam em torno de 26o C, mas diferem -são áreas submetidas ao planejamento e à gestão ambiental;
quanto ao comportamento pluviométrico. O primeiro tipo, dominante -são áreas de uso múltiplo, controladas através do zoneamen-
na parte ocidental do estado, apresenta os totais mais elevados (cer- to, fiscalização e educação ambiental;
ca de 2.000mm anuais); os outros dois apresentam pluviosidade mais -podem conter outras unidades de conservação mais restriti-
reduzida (de 1.250 a 1.500mm anuais) e estação seca bem marcada, vas; podem ter uso urbano; propiciam a experimentação de novas
e diferem entre si, como seu próprio nome indica, pela época de o técnicas e atitudes que permitam conciliar o uso da terra e o desen-
Vegetação. Uma vegetação de floresta, campos e cerrados reveste o volvimento regional com a manutenção dos processos ecológicos
território maranhense. As florestas ocupam toda a porção noroeste do essenciais;
estado, ou seja, a maior parte da área situada a oeste do rio Itapecuru. -permitem que a população residente e do entorno seja inte-
Nessas matas ocorre com grande abundância a palmeira do babaçu, grada nas medidas práticas conservacionistas, através de ações de
pro- duto básico da economia extrativa local. Os campos dominam Educação Ambiental ou participação no processo de planejamento
em torno do golfão maranhense e no litoral ocidental. Os cerrados e gestão;
recobrem as regiões oriental e meridional. Na faixa litorânea, a vege- -permitem o estabelecimento de um processo de cogestão en-
tação assume feições varia- das: campos inundáveis, manguezais, tre órgãos governamentais, nãogovernamentais e setores organiza-
formações arbustivas. dos da sociedade. O entendimento do conceito de APA tem evoluí-
Didatismo e Conhecimento 2
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
do no decorrer dos anos. Inicial- mente, os fundamentos que acom- -Em cada Área de Proteção Ambiental, dentro dos princípios
panharam as propostas de criação das primeiras APAs eram bas- constitucionais que regem o exercício do direito de propriedade,
tante rígidos, como também o eram os seus zoneamentos. Assim o Poder Executivo estabelecerá normas, limitando ou proibindo:
sendo, assemelhavam-se mais a um Parque ou a outras categorias -a implantação e o funcionamento de indústrias potencialmen-
mais restritivas. Por exemplo, na APA da Bacia do Rio Descoberto te poluidoras, capazes de afetar mananciais de água; a realização
(DF), uma das primeiras que foram criadas, a IN 10 que estabelece de obras de terraplanagem e a abertura de canais, quando essas
normas de sua implantação, proíbe novas ocupações urbanas, ou iniciativas im- portarem em sensível alteração das condições eco-
loteamentos com características urba- nas, em toda a APA, exceto lógicas locais; o exercício de atividades capazes de provocar uma
na zona delimitada pelo perímetro urbano da cidade de Brazlândia acelerada erosão das terras e/ou um acentuado assoreamento das
nela contida, que, contudo não poderá ser expandido. Esta cidade coleções hídricas; o exercício de atividades que ameacem extin-
não poderá, também, receber projeto que implique adensamento guir na área protegida as espécies raras da biota regional.
populacional. Isto quer dizer que, ao transformar a área em APA Ao fazer uma breve análise desta legislação, menciona quevá-
congelou-se a cidade. Este fato se torna mais relevante quando se rias dúvidas podem surgir da leitura deste dispositivo legal pois, se
analisa o contexto de ocupação do Distrito Federal diante de uma
o artigo 9º da Lei6.902/81 já definiu o campo de abrangência das
contínua proliferação de loteamentos clandestinos. Fatos como
restrições a serem feitas, ou seja, sobre quais atividades incidirão
este, totalmente irreal, aconteceram em muitas APAs. Percebe-se
as limitações e proibições, é de se indagar se poderão ser restringi-
que as atividades e equipamentos de caráter urbano, ou ainda a
própria dinâmica urbana eram ignorados ou, às vezes, excluídos das outras atividades em função da declaração de uma APA, como
do território da APA a instalação de outras ativida- des poluidoras (que não atividades
Com o passar do tempo, estes conceitos têm amadurecido e ao industriais) e que poluam o ar e o solo (e não apenas os recursos
decretar novas APAs estes conflitos têm sido minimizados. Existe hídricos); o parcelamento do solo, a remoção da cobertura vegetal,
hoje, uma maior flexibilidade do que o foram no início. Entende-se a exploração de jazidas, etc. Acresce que o elenco feito no citado
que a simples adoção de normas de uso e ocupação do solo, aliada artigo não é preciso pois deixa margem à discussão ao referir-se à
a um processo participativo de gestão podem garantir a proteção sensível alteração, acelerada erosão ou acentuado assoreamento.
dos atributos ambientais da APA. Uma resposta a este questionamento pode ser encontrada no
Todos os aspectos, mencionados anteriormente, permitem que documento APA do Rio São Bartolomeu: Projeto de Extensão
a APA seja realmente um importante instrumento da Política de Ambiental (MINISTÉRIO DA HABITAÇÃO, URBANISMO E
Meio Ambiente quando se consegue conciliar todas as suas poten- MEIO AMBIENTE, 1987, p.10) que, ao historiar o surgimento da
cialidades com a sua vulnerabilidade de estar sujeita aos interesses categoria APA, por iniciativa da ex-SEMA, afirma que o Projeto
particulares das comunidades locais e do entorno. Daí a importân- de Lei n. 6.902/81 foi aprovado porunanimidade no Congresso e
cia da implantação de um eficiente processo de gestão que leve em que devido ao pioneirismo da matéria, para que este projeto de lei
conta todos estes aspectos. pudesse caminhar facilmente, os dispositivos referentes às APAs
foram reduzidos ao mínimo.
INSTITUIÇÃO LEGAL DA APA Esta, talvez, tenha sido a razão da referida lei ter mencionado
apenas quatro ativi- dades (se bem que as mesmas são muito ge-
A Constituição Federal Brasileira, promulgada em outubro neralizadas e podem ser desmembradas em outras) a serem limi-
de 1988, ao instituirum capítulo exclusivo sobre meio ambiente tadas ou proibidas. É importante considerar ainda, que quando se
enfatiza a necessidade de protegê-lo e manejá-lo de forma ambien- proíbe a realização de obras de terraplanagem, pode-se entender
talmente sustentável. Em seu artigo 225, declara que todos têm o que se está proibindo a expansão urbana, uma vez que esta sempre
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso exigirá a movimentação de terra para a abertura de ruas, canais e
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se sistemas de drenagem. Portanto, é uma restrição que não deveria
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá
constar da legislação que cria a APA, uma vez que nesta categoria
-lo para as presentes e futuras gerações?. Desta forma, a política de
de unidade de conservação não se proíbe a expansão urbana salvo
criação de APAs é uma das respostas que o Poder Público tem pro-
curado dar para cumprir com este dever perante a sociedade. Pro- em situações especiais previstas no zoneamento. Por outro lado,
vavelmente, o termo área de proteção ambiental tenha sido usado dada a especificidade de cada área, em muitos casos, restringir
pela primeira vez, em legislação brasileira, na Lei de Zoneamento apenas aquelas quatro atividades mencionadas na lei, pode não ser
Industrial (Lei no6.803/80). suficiente para atingir os objetivos de criação da APA. Observa-se
A APA, enquanto instrumento legal no Brasil, foi instituída que os decretos federais que criaram as APAs não se limitaram às
pela Lei n. 6.902, de 27 de abril de 1981 que dispõe em seu artigo proibições elencadas na Lei n. 6.902/81. Por exemplo, amplia-se
8º: o grau derestrições nela previsto quando, no decreto de criação
O Poder Executivo, quando houver relevante interesse públi- das APAs Bacias dos Rios São Bartolomeu e Descoberto-DF, proí-
co, poderá declarar determina- das áreas do Território Nacional be-se o uso de biocidas capazes de causar mortandade de animais
como de interesse para a proteção ambiental, a fim de asse- gurar vertebrados, exceto ratos e morcegos hematófagos; ou quando no
o bem-estar das populações humanas e conservar ou melhorar as decreto de criação da APA Cananéia-Iguape-Peruíbe, proíbe-se a
condições ecológicas locais.? construção de edificações em terrenos que, por suas característi-
As APAs podem, então, ser criadas pelos Governos Federal, cas, não comportam a existência simultânea de poços para despejo
Estadual e Municipal, segundo a própria necessidade e interesse de fossas sép- ticas e de poços de abastecimento de água
em proteger um ou mais atributos ambientais de relevância tal, A Lei no 6.902/81 foi regulamentada pelo Decreto no 88.351
que diferencia a área das demais. Esta mesma lei estabelece em de 01 de junho de 1983, pela Resolução CONAMA no 10, de 14
seu artigo 9º que: de dezembro de 1988 e, posteriormente, pelo Decreto no 99.274,
Didatismo e Conhecimento 3
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
de 06 de junho de 1990. O Decreto no 88.351/83, além de conter Embora o cadastramento seja, oficialmente, o mais atualizado
dispositivos específicos sobre APAs, tipificou os comportamentos no setor, ao longo deste estudo e principalmente a partir da pes-
infratores e estabeleceu as respectivas penalidades. No seu artigo quisa empírica realizada foram identificadas algumas de suas de-
32 diz que: O decreto que declarar a Área de Proteção Ambiental ficiências dentre as quais pode-se citar: no Distrito Federal, faltou
mencionará a sua denominação, limites geográficos, principais ob- ser cadastrada 1 (uma) APA estadual, a APA do Paranoá; no estado
jetivos e as proibições e restrições de uso dos recursos ambientais da Bahia, foi cadastrada apenas 1 (uma) APA estadual, quando, na
nela contidos.? Ao dar espaço para que o decreto de criação da verdade existem 20 (vinte) APAs estaduais; foram cadastradas 9
APA use a especificidade de cada área para proibir ou restringir (nove) APAs municipais da cidade de Florianópolis mas, por con-
usos considerados inadequados, o De- creto 88.351/83 cobre aque- tato telefônico, fomos informados de que não se tratam de APAs,
la lacuna ou dúvida existente na Lei 6.902/81 e comentada ante- mas de Áreas Tombadas; foi cadastrada uma APA no Mato Grosso
riormente. do Sul com 8.980.300ha (Pantanal Mato-grossense) porém, por
A Resolução CONAMA no 10/88 estabelece a necessidade contato telefônico a Secretaria do Meio Ambiente daquele estado
de um zoneamento ecológico-econômico para as APAs, alguns informou não saber da existência desta APA; a única APA estadual
critérios para a sua elaboração e para o uso agropecuário (prin- de Minas Gerais cadastrada está sendo estudada para sofrer uma
cipalmente de agrotóxicos) e, ainda, declara algumas atividades reclassificação quanto a categoria de manejo. No entanto, outras
como sendo passíveis de licença especial emitida pela entidade 3 (três) APAs existentes não foram cadastradas: APA Cachoeira
administradora da APA (atividade in- dustrial e projetos de urbani- das Andorinhas, APA Serra São José e APA Sul da Região Metro-
zação). O Decreto 99.274/90 revoga o decreto 88.351/83 mencio- politana de Belo Horizonte; a ARIE (Área de Relevante Interesse
nado anteriormente, sem mudar o seu conteúdo, agindo apenas no Ecológico), atualmente é considerada uma unidade de conserva-
sentido de atualizá-lo diante das mudanças institucionais. Assim, ção de uso direto. A área protegida pela categoria APA corresponde
este Decreto apresenta a estrutura do SISNAMA, do CONAMA, a 27% de toda a área protegidado Brasil (se excluídas as Reservas
de órgãos como a SEMAM e IBAMA, e, ao tratar das penalidades, Indígenas), comparável à área protegida pelas categorias Florestas
substitui multas de 10 a 1.000 Obrigações Reajustáveis do Tesouro (26,4%) e Parques (24,08%) (Ver Tabela 1). Portanto, a categoria
Nacional - ORTN por multas diárias de 61,70 a 6.170 Bônus do APA é significativa em relação às unidades de conservação no que
Tesouro Nacional -BTN?. Acrescente-se, ainda, a Lei Federal n. se refere à quantidade de área protegida. Isto, no entanto, não quer
6.93813, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Na- dizer que seja significativa em relação à necessidade de proteção
cional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação no todo do país, nem que esta área, legalmente protegida pela ca-
e aplicação, e estabelece, no seu artigo 9º, como instrumento da tegoria APA, o seja de fato.
Política Nacional de Meio
Ambiente, dentre outros, o zoneamento ambiental e a criação
de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Pú-
blico Federal, Estadual e Municipal, tais como áreas de proteção
ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas.
A partir destes instrumentos legais, passa a existir a APA enquanto
instrumento da política de meio ambiente no Brasil
As APAs no Brasil
Didatismo e Conhecimento 4
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Observa-se que a maior área protegida pela categoria APA se encontra na Região Centro-Oeste (Tabela 2). Isto se deve ao cadastramento
de uma extensa APA (de quase 9.000.000ha) no estado de Mato Grosso (existência esta questionada anteriormente). Se desconsiderarmos
esta APA, a maior incidência de APAs passa a ser na Região Sudeste, tanto em relação à quantidade de unidades quanto em extensão de área
protegida. Este fato é coerente com a conceituação de APA, pois a Região Sudeste é a mais urbanizada e industri- alizada do país e conse-
qüentemente é a região onde os recursos naturais estão mais ameaça- dos, a exemplo da Mata Atlântica (várias APAs foram criadas com o
objetivo de protegê-la). Portanto, verifica-se que a política de criação de APAs está diretamente relacionada com a ação antrópica sobre o
meio ambiente e a sua fragilidade diante desta ação. Por outro lado, no que se refere às datas de criação das APAs (Tabela 3) observa- se que
a maioria delas (58,7%) foi criada no período de 1986 a 1990, o qual coincide com a criação do IBAMA.
Logo após a instituição legal desta categoria de unidade de conservação(período de 1981 a 1985) várias APAs foram criadas (38,04%).
Já no período de 1990 a 1995, apenas 3 (três) APAs foram criadas. A ênfase deste período foi a de se trabalhar no planejamento e gestão das
unidades de conservação já existentes antes de se pensar em criar outras. E realmente, várias iniciativas foram tomadas neste sentido, como
elaboração dezoneamentos e planos de gestão para algumas APAs
Didatismo e Conhecimento 5
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Diante do exposto neste capítulo, pode-se concluir que: O conjunto dos objetivos preservacionistas e conservacionistas pode ser mais
fa- cilmente alcançado através de um sistema de áreas protegidas composto por unidades de diferentes categorias de manejo com objetivos
que vão desde a proteção integral dos recursos naturais até a sua utilização racional e implementação do desenvolvimento sustentado. No
contexto deste Sistema de Unidades de Conservação no Brasil, a categoria APA tem importância significativa tanto no que se refere à área
total protegida no país como aos seus objetivos de proteção que levam em consideração o desenvolvimento da área aliado à conservação
dos seus valores e recursos ambientais. O entendimento do conceito de APA tem evoluído ao longo dos anos. Concebida como Unidade de
Conservação, a tendência inicial foi de se estabelecerem áreas sujeitas a restri- ções de uso bastante rígidas. Com o passar do tempo, este
entendimento foi tornando-se mais flexível. Admite-se hoje, que a adoção de normas de uso e ocupação do solo aliada a um processo parti-
cipativo de gestão seja necessária para garantir a proteção da área.
NAS APAs Tendo avaliado, no capítulo anterior, a importância da APA no contexto das Unidades de Conservação no Brasil, passa-se a
seguir a descrever os vários tipos de ocupação e uso do solo nas APAs, bem como a relação deste uso com a degradação ambiental. Poste-
riormente, tendo como ponto de partida as principais atividades de interesse econômico das APAs e o seu grau de conflito com os objetivos
de proteção, discute-se como se tem buscado o equilíbrio entre os objetivos econômicos e ecológicos nas APAs. As APAs no Brasil têm os
mais variados tipos de ocupação e uso do solo, distinguindo-se, em linhas gerais, o uso urbano (geralmente em áreas de expansão urbana) e o
uso rural, bastante diversificado de acordo com a região em que se localiza. Mais raro são áreas de extrativismo mineral ou de uso industrial.
Didatismo e Conhecimento 6
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
USO URBANO -denominam-se loteamentos rurais (às vezes, também clan-
destinos) quando não estão em áreas de expansão urbana (APA de
O uso urbano em APAs é muito comum: acredita-se que a qua- Cafuringa-DF), mas observa-se que o uso destas proprie- dades
se totalidade das APAs apresentam núcleos urbanos, maiores ou não condizem com esta denominação, tratando-se realmente de lo-
menores, em seus perímetros. Em muitos casos, os limites da APA tes urbanos, uma vez que não se destinam ao extrativismo vegetal,
coincidem com os limites municipais (várias APAs estaduais do à agricultura e pecuária ou atividade agro- industrial (conforme
estado de São Paulo) e desta forma, toda a cidade fica inserida na prevê a Lei no meio ambiente debate, 15 6.766/79, para a caracte-
APA (algumas cidades satélites do Distrito Federal também estão rização de loteamentos rurais)
nesta condição). Esta questão, ou seja, a inserção de uma cidade no
perímetro da APA vem sendo amplamente discutida pelo IBAMA USO RURAL
e outras institui- ções responsáveis por APAs e é motivo de diver-
gência tanto no âmbito político como técnico As APAs são também fortemente ocupadas com o uso rural,
É comum ouvir falar que se trata de um desprestígio ter a pró- basicamente a agri- cultura e a pecuária. Em muitos casos, são
pria cidade inserida em uma APA, como se este fato a tolhesse do pequenos proprietários (às vezes, posseiros) que praticam agricul-
crescimento e desenvolvimento desejado. Se isto realmente ocor- tura de subsistência (APA de Igarapé Gelado-PA, APA de Gua-
re, alguma coisa está errada: ou o entendimento da conceituação raqueçaba- PR). Acontece também a agricultura e pecuária em
de APA (espelhado no decreto de criação e demais instrumentos escala comercial (APA da Bacia do Rio Descoberto-DF: produtor
de gestão) ou a aplicação destes instrumentos normativos. Pois, se de hortifrutigranjeiros). Existem ainda, APAs formadas por gran-
um dos objetivos da APA é assegurar o bem-estar das populações des propriedades rurais dedicadas à agricultura e pecuária (APA
humanas e conservar ou melhorar as condições ecológicas locais? Litoral Norte-BA). As atividades de reflorestamento também têm
Promovendoa melhoria da qualidade de vida da população, lugar em algumas APAs (APA da Bacia do Rio São Bartolomeu-
a colocação deveria ser oposta, ou seja, é um privilégio a cidade DF, APA Corumbataí-SP). Neste sentido, também toma destaque
estar inserida em uma APA e gozar de benefícios que talvez, as a utilização florestal, basica- mente o carvoejamento, nas APAs
outras cidades não têm. próximas à Região Metropolitana de Belo Horizonte, ativi- dade
Seguindo este mesmo raciocínio, uma área do estado do Ma- esta exigida pela grande incidência de indústrias siderúrgicas na-
ranhão que está sendo estudada para ser transformada em APA fe- quela região.
deral, mesmo havendo justificativa técnica contrária, por influên-
cia política, teve que ser redefinida no sentido de excluir de seu OUTROS USOS
períme- tro os núcleos urbanos e uma área de grande produção
Em muitas APAs, uma das atividades significativas é o extrati-
agrícola. Isolar ou excluir as cidades dos limites da APA não sig-
vismo de mangue (APA Mangue Seco-BA, APA Litoral Norte-BA,
nifica eliminar os efeitos queas atividades urbanas exercem sobre
APA de Guaraqueçaba-PR), além do extrativismo de coco-da-baía
os seus recursos naturais. Significa sim, deixar de exer- cer sobre
e do palmito. É grande também a incidência de APAs onde a pesca
a cidade um controle que tenha como objetivo também o aspecto
artesanal é importante, principalmente nas APAs litorâneas. A ex-
ambiental que é uma das garantias de uma melhor qualidade de
tração mineral é menos comum, mas acontece principalmente sob
vida. Acreditamos que gerenciar uma APA que exclui os núcleos a forma decascalheiras e dragas de areia. Dentre as APAs pesquisa-
urbanos de seu perímetro é muito mais difícil (no que se refere das apenas na APA Sul da Região Metropolitana de Belo Horizon-
aos objetivos conservacionistas) do que gerenciá-la em conjunto te-MG o extrativismo mineral, especificamente o minério de ferro,
com a administração da cidade, quando os interesses, se não são é a principal atividade econômica. Por outro lado, dotadas, quase
os mesmos, pelo menos tendem a se aproximar. Como pondera sempre, de significativa beleza cênica, as APAs têm se tornado
DIAS: pontos de atração turística e esta atividade tem conquistado espaço
-se desconsiderarmos as relações de alimentação do homem diante da tendência atual de valorização do ecoturismo. Portanto,
na cidade, descobriremos que o sistema urbano ao qual pertence, em uma APA, acontecem e podem acontecer todas as atividades
não se limita a fronteiras geográficas definidas. Os alimentos con- que aação humana demandar. O que deveria determinar o nível
sumidos na cidade representam a produtividade de solos e de ou- das restrições de uso é a capacidade de suporte da área. Então,
tros recursos naturais de outras áreas; a água utilizada não é aquela teoricamente, acredita-se que, o que se deveria limitar não é tanto
que cai sobre a cidade, mas a que é trazida de longe; o lixo pro- o que fazer, mas o como e/ou o quanto fazer.
duzido não circula de volta para o solo que produziu o alimento.
Na maioria dos casos, as APAs acontecem margeando as cida- USO DO SOLO E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL
des caracterizando, às vezes, áreas de expansão urbana. Em muitas
delas, o uso residencial tem características específicas, a saber: O termo degradação ambiental é usado para qualificar os pro-
-são ocupados por chácaras de recreio ou casas de campo cessos resul- tantes dos danos ao meio ambiente, pelos quais se
(APA de Petrópolis, APA de Cananéia-SP); caracterizam lotea- perdem ou se reduzem algumas de suas propriedades, tais como
mentos clandestinos, uma vez que não são aprovados pelo Poder a qualidade ou a capacidade produtiva dos recursos ambientais.
Público competente, ocupados por população de classe média que, Sempre que se fala em áreas degradadas, faz-se uma ligação
não encontrando solução acessí- vel para moradia, acabam por com atividades que não deveriam ter acontecido naquela área.
comprar lotes clandestinos por um preço mais baixo (APA da Ba- Existe, portanto, uma estreita ligação entre áreas degradadas e o
cia do Rio São Bartolomeu-DF, APA Cafuringa-DF); uso do solo, uma vez que a degradação acontece quando as áreas
de uso, pela sua fragilidade, não respondem positivamente aos im-
pactos gerados pelas atividadeshumanas.
Didatismo e Conhecimento 7
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
O conceito de área degradada está sempre imbuído de muita subjetividade, pois o que denota degradação para alguns, pode não o ser
para outros. Desta forma, uma pequena erosão pode ser considerada área degradada para alguns e uma área de mangue aterrada não o ser
para outros. Diante deste fato, mesmo conhecendo a fragilidade do dado, a pesqui- sa empírica procurou saber se nas APAs existem áreas
consideradas degradadas. Constatou- se que 61% das APAs pesquisadas possuem áreas degradadas (Gráfico 1), o que confirma que o instru-
mento APA é muito usado em caráter corretivo e de contenção de degradação
Em 88% destas, a degradação aconteceu antes e continuou a acontecer depois da criação da APA, em 6%, a degradação aconteceu antes
e, em outros 6%, aconte- ceu depois da criação da APA (Gráfico 2).
Espera-se que, ao transformar a área em APA o conjunto das ações exercidas sobre ela contribua para controlar a degradação ambien-
tal. Mas, de acordo com a pesquisa empírica, em 44% das APAs isto não foi possível após a sua criação, em 50% delas a degra- dação foi
controlada em parte e em apenas 6% das APAs o processo de degradação foi controlado completamente (Gráfico 3). Isto denota que o fato
de transformar uma área em APA não é suficiente para controlar um processo de degradação iniciado.
Ainda de acordo com a pesquisa empírica, não ficou comprovado que aquelas APAs que possuem zoneamento necessariamente têm
mais facilidade de controlar o processo de degradação ambiental, pois a maioria das que contam com este instrumento conseguiu controlá-lo
apenas em parte. E quando procurou-se investigar o porquê de não ter sido pos- sível este controle, apenas uma APA respondeu que a causa
era a falta do zoneamento. Várias outras razões foram apontadas, tais como:
Didatismo e Conhecimento 8
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
-falta de recursos financeiros; poluentes será maior. O produtor-poluidor tenderá a providenciar
-falta de recursos humanos e conseqüentemente de fiscaliza- formas de reduzir seus custos de produção que poderá ser, por
ção eficiente; falta de controle ambiental; exemplo, a mudança de tecnologia. E assim, a qualidade do meio
-forte pressão exercida pela crescente expansão urbana, aliada ambiente poderá ser preservada.
aos interesses imobiliários; A fragilidade institucional dos órgãos governamentais res-
-resistência e ignorância por parte dos proprietários; falta de ponsáveis pela gestãoambiental e a escassez dos recursos públi-
comprometimento da comunidade com os objetivos da APA; cos parecem sugerir que os instrumentos econômi- cos, também
-omissão do Poder Público no cumprimento da lei; conhecidos por mecanismos de mercados, poderiam minimizar
-falta de Plano de Gestão; e falta de gerência local para acom- parte destes problemas, pois tenderiam a trabalhar no sentido de
panhamento e providências de rotina. Provavelmente, o processo incentivar a adoção de tecnologias não poluidoras, além de esta-
de controle de degradação passe pela consideração destes aspectos belecer critérios de eqüidade no uso dos bens considerados não
nas ações de planejamento e gestão das APAs. econômicos.
Assim sendo, passa-se a analisar, como estas variáveis (eco-
INTERESSE ECONÔMICO E INTERESSE ECOLÓGICO nômica e ecológica) têm se comportado nas APAs, tomando como
NAS APAS ponto de partida as principais atividades de interesse econômico
para depois discutir a relação destas como meio de subsistência
da po- pulação. Por fim, considerando as atividades econômicas
Muito se tem falado a respeito da contradição ou mesmo da
que estão em conflito com os obje- tivos da APA discute-se como
oposição entre a economia e a ecologia, a primeira considera a se tem buscado o equilíbrio entre os objetivos econômicos e eco-
natureza apenas como meio de produção e geração de riquezas e a lógicos nas APAs.
segunda, ao defender a natureza, esquece-se que o homem precisa
da produção para sobreviver. ATIVIDADES DE INTERESSE ECONÔMICO COMO
Para a economia, uma árvore só tem valor quando derrubada MEIO DE SUBSISTÊNCIA DA POPULAÇÃO E ATIVIDADES
enquanto que para a ecologia, o valor está na árvore em pé. No en- EM CONFLITO COM OS OBJETIVOS DAS APAS.
tanto, reconhece- se a necessidade de conciliar estas duas ciências
e neste sentido tem ganhado espaço os estudos ligados à Economia Potencialmente, todas as atividades têm interesses econômi-
Ecológica. cos, ou ligados a grupos específicos ou de interesse da população
A Economia Ecológica busca, basicamente, promover o cres- como um todo. As APAs, principalmente por permanecerem sob o
cimento econômico ecologicamente sustentável. Defende a idéia domínio particular, estarão sempre sujeitas aos interesses econô-
de que é preciso valorizar os recursos naturais enquanto meio de micos. Isto não contradiz o conceito de APA, pois não se pretende
produção. A utilização dos recursos naturais como insumos pelo criar uma APA para tornar a área improdutiva, como se esta fosse a
setor produtivo corresponde a serviços que o meio ambiente pres- melhor maneira de protegê-la. Portanto, as atividades de interesse
to. No caso de não ocorrer pagamento respectivo, transformam-se econômico sempre estarão presentes e o papel da unidade gestora
em subsídios que deveriam ter seu valor imputado (acres- cido) da APA é buscar a forma destas atividades acontecerem sem ultra-
aos custos de produção. passar a já mencionada capacidade de suporte da área.
Desta forma, o uso do meio ambiente e a conseqüente depre- É óbvio que a relação entre as principais atividades econô-
ciação do capital natural? não são considerados quando se calcula micas de uma APA e o meio de subsistência da população que ali
o PIB (Produto Interno Bruto). Colaborar para que o valor do PIB vive é estreita. Qualquer proprietário de uma área usará de todos
seja corrigido ecologicamente é uma das metas dos estudiosos da os meios para que aquele bem lhe produza a maior renda ou be-
Economia Ecológica. Trata-se, assim, de internalizar os custos mestar possível, aproveitando de suas potencialidades. E aquela
das externalidades causadas pelo sistemaprodutivo como forma atividade desenvolvida passará a ser meio de produção tanto para
de compensar o meio ambiente pelas perdas ocorridas, imputan- o proprietário da área como também para os que, eventualmente,
se beneficiarão com empregos gerados por esta atividade. Na APA,
do responsabilidades aos causadores do dano. A grande questão
certamente não será diferente. A diferença ocorrerá quando, por
é como conseguir isto. A resposta a essa questão se situa em dois
razões técnicas, o Poder Público determinar que esta atividade, da
planos: os instrumentos normativos e jurídicos e os instrumentos
forma como é atualmente exercida, não poderá continuar a acon-
econômicos. No primeiro caso, todo um arcabouço legal e o esta- tecer porque vai de encontro aos objetivos da APA. Em todas as
belecimento de normas técnicas e limites de tolerância vem sendo APAs pesquisadas, as principais atividades de interesse econômi-
desenvolvido. No segundo, uma série de mecanismos vai se consa- cosão também importantes enquanto fonte de renda para a popula-
grando, como é o caso do Princípio Poluidor-Pagador (PPP) ção da APA, e acontecem em diversos níveis:
Segundo este princípio, o poluidor deveria se responsabilizar a) Atividade Imobiliária: No que se refere ao uso residencial,
pelas despesas rela- tivas às medidas tomadas por terceiros para o interesse eco- nômico surge, principalmente, sob a forma de
que o meio ambiente retorne a um estado acei- tável. Isto signi- especulação imobiliária, caracterizada por aque- les grupos que,
fica dizer que os custos para despoluir deveriam ser incorporados aproveitando-se de uma demanda constatada avançam sobre o pe-
ao custo dos bens e serviços que originaram a poluição. Aspecto rímetro, não só, mas também, das APAs na tentativa de conseguir,
importante deste princípio é que, ao contrário dos instrumentos muitas vezes ilegalmente, preços de lotes mais acessíveis à po-
normativos e de controle, o seu objetivo não é punir os poluidores, pulação. Este menor preço é conseguido à custa de ausência de
mas modificar o comportamento dos consumidores e dos produ- infraestrutura de saneamento básico ou ausência de áreas públicas
tores. Isto porque, se os cus- tos de despoluir serão incorporados tanto para lazer como para prestação de serviços essenciais (edu-
aos custos do produto, estes ficarão mais caros que os não poluen- cação e saúde). Isto equivale a dizer que toda a área é transformada
tes. Desta forma, a tendência é que a demanda por produtos não em lotes vendáveis.
Didatismo e Conhecimento 9
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
As conseqüências desta atitude podem ser: ocupação sem pla- b) Atividade Agropecuária: O interesse econômico nestas
nejamento ,loteamentos em áreas consideradas inadequadas (ala- áreas com utilizaçãorural é bastante claro: a produção agropecuá-
gáveis ou com declive superior ao per- mitido por lei), ausência de ria em regiões consideradas apropriadas para o desenvolvimento
infraestrutura de saneamento básico, e serviços públicos, etc. Esta destas atividades e acontece, conforme já vimos anteriormente,
forma de ocupação do solo pode levar à conclusão de que prejudi- tanto em pequenas propriedades com produção destinada basica-
cou-se a qualidade de vida nestes loteamentos. Provavelmente, a mente à subsistência da população, como em grandes propriedades
qualidade de vida ali seja pior do que o seria se o loteamento tives- cuja produção tem destinação comercial. No primeiro caso, são
se sido planejado de acordo com a legislação, porém, deve-se levar pequenos proprietários ou mesmo posseiros que têm emsuas terras
em consideração a anterior qualidade de vida dos moradores que a única fonte de renda, e assim a atividade é considerada essencial
optaram por comprar um terreno irregular. Talvez, a sua qualidade à sobrevivência da população. Esta atividade acontece em grande
de vida tenha melhorado muito ao adquirir o seu lote. Isto porque, parte das unidades pesquisadas. É questionável até que ponto esta
o interesse econômico por parte de quem a compra é que, apesar atividade causa degradação ao meio ambiente. Há quem afirme
da sua ilegalidade, tornou-se possível adquiri-lo e construir sua que é mais degradadora do que a produção em escala comercial,
moradia, o que de outra forma, talvez, não seria possível. no sentido que utiliza os métodos mais rudimentares de produção
Por outro lado, quando o Poder Público tenta estabelecer me-
(aração e queimadas ou animais soltos) e não são passíveis de con-
didas para a regularização destes loteamentos, encontra muito mais
trole pelo Poder Público
dificuldades para regularizar aqueles que estão dentro dos limites
No segundo caso, ou seja, na atividade agropecuária de gran-
de APAs. Isto porque, na maioria das vezes, não existe zoneamento
definido para a APA ou se existe, precisaria ser revisto pois não de porte, mesmo que esta atividade não seja essencial para o pro-
atende à situação atual de sua ocupação. E com este processo de prietário das terras, uma vez que este teria meios de mudar de ati-
indefinição, passam-se os anos e novos loteamentos irre- gulares vidade, se fosse o caso, passa a ser indispensável enquanto gera-
vão surgindo. dora de empregos para a população do entorno. Isto acontece, por
Este fato está presente em muitas APAs, e se torna bem visível exemplo, na APA de Roseira Velha-SP ou do Litoral Norte-BA. A
nas localizadas no Distrito Federal, onde a pressão por áreas urba- degradação causada por esta atividade está ligada ao uso indiscri-
nizáveis tem sido muito grande, o mesmo acontecendo na APA Sul minado de agrotóxicos, ao desmatamento para ampliação das áreas
da Região Metropolitana de Belo Horizonte-MG. Tem sido forte agricultáveis ou de pastagens e ao uso intensivo do solo. Também
também a incidência deste fato em áreas com potencial turístico aqui esta atividade só é considerada conflitante com os objetivos
como a de Petrópolis-RJ e de Jericoacoara-CE. da APAno que se refere ao como é praticada, enfatizando, mais
Em várias APAs, os loteamentos praticados desta forma têm uma vez, a necessidade de alterar a qualidade do desenvolvimento
sido considerados uma atividade que vai de encontro aos objetivos pretendido, como alternativa para que este desenvolvimento seja
de criação da APA. As razões pelas quais são consideradas con- sustentável ao longo do tempo.
flitantes, segundo a pesquisa empírica estão ligadas à ilegalidade c) Atividade Turística: Quando possui potencial para o turis-
da ocupa- ção e às conseqüências deste fato, como a falta de pla- mo, o interesse econômico atinge todas as camadas sociais, surgin-
nejamento, ou a busca do atendimento de interesses imediatos de do de várias maneiras: loteamentos (áreas para casas de campo ou
grupos específicos (os especuladores), ou a localização em áreas de veraneio), aparecimento de redes de hotéis, pousadas e restau-
não apropriadas, ou ainda o desencadeamento de processos erosi- rantes, prestação de serviços aos turistas, comércio de produtos
vos. No caso do DF, especificamente na APA da Bacia do Rio São locais, etc. Sendo uma ativi- dade bastante lucrativa para as comu-
Bartolomeu, não se pode deixar de considerar a crescente demanda nidades locais e considerando que grande parte das APAs foram
por áreas urbanizáveis existente desde a época de criação da APA criadas para proteger recursos naturais de grande beleza cênica,
e ignorada quando da sua criação e elaboração de zoneamento. deve-se traba- lhar no sentido de fazer de tudo para que o turismo
Neste caso, trabalhar com a hipó- tese da não expansão urbana, foi aconteça ou continue a acontecer sem comprometer a qualidade do
uma solução irreal que, sem dúvida, levou a ocupações ilegais ou meio ambiente.
clandestinas.
Iniciativas neste sentido têm sido tomadas pelo governo da
Portanto, mais uma vez se constata que o que está causando a
Bahia, criando umarede de APAs em áreas com potencial turístico
degradação domeio ambiente não é a expansão urbana através de
loteamentos, mas a forma como ela vem sendo praticada. É preci- e que atualmente experimentam uma fase de estagnação econômi-
so então buscar os instrumentos adequados e viáveis para ordenar ca. Ao mesmo tempo em que promove o desenvolvimento do turis-
esta ocupação de acordo com a realidade de cada cidade. Está claro mo en- quanto alternativa de desenvolvimento econômico, adota
que não adianta proibir a expansão de loteamentos numa área com medidas para que o espaço físico possa responder positivamente
potencial para este tipo de ocupação e com demanda comprovada, aos impactos decorrentes do incremento desta atividade. A ativida-
como tem acontecido nas APAs do DF e muito menos levar anos de turística entra em conflito com os objetivos da APA se acontece
e anos na definição de um rezoneamento como na APA da Bacia deforma não planejada ou desordenada, mas diante da tendência
do Rio São Bartolomeu-DF. Neste caso, a solução mais rápida e atual ao ecoturismo, acaba por se tornar uma possibilidade alterna-
de certa forma, previsível é a ilegalidade dos loteamentos. Quando tiva de desenvolvimento econômico para muitas de- las.
isso ocorre, acreditamos que a área, por ser uma APA, (e este fato d) Extrativismo mineral: A extração minerária, tanto de miné-
contribuir para o retardamento das soluções ideais no que se refere rios de ferro como de cascalheiras ou dragas de areia, tem que ser
à definição de um zoneamento proibindo ou permitindo a ocupa- considerada com cuidado ao se avaliar a sua compatibilidade com
ção) tem levado a soluções opostas às esperadas. Mais uma vez, a os objetivos da APA, pois, ao mesmo tempo em que são atividades
morosidade no processo de gestão eficiente deste tipo de unidade de grande interesse econômico, são importantes fontes de renda
de conservação leva a conseqüências (talvez) piores do que se a para a população. Neste sentido é admirável a iniciativa do gover-
área não tivesse sido transformada em APA. no de Minas Gerais que cria uma APA numa região responsável
Didatismo e Conhecimento 10
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
pela produção de 20% do minério do chamado Quadrilátero Ferrí- Portanto, mesmo diante das dificuldades de promover o
fero e se pro- põe a ordenar a exploração do minério, sem contudo equilíbrio entre as variáveis econômicas e ecológicas, a busca do
proibi-la, considerando que a área é também importante no abas- equilíbrio entre os seus objetivos deve estar sempre presente nas
tecimento de água da região metropolitana de Belo Horizonte. No tentativas de melhor gerenciar o meio ambiente. E é neste senti-
entanto, o extrativismo mineral é, muitas vezes, considerado como do que se justifica a criação de uma APA. Porém, nesta busca de
um forte degradador do meio ambiente e considera-se uma das ati- entendimento encontram-se acertos e erros. Conforme já foi dito
vidades mais difíceis de serem compatibilizadas com os objetivos anteriormente, nas primeiras APAs criadas, quando ainda tenta-
de uma APA. va-se incorporar o conceito desta nova categoria de unidade de
e) Extrativismo animal e vegetal: Como a maioria das APAs conservação, os zoneamentos propostos eram muito restritivos e,
envolve áreas com formações florestais significativas ou recursos conseqüentemente, o equilíbrio entre as variáveis econômicas e
hídricos fluviais e marítimos, o extrativismo animal (pesca em to- ecológicas deixava a desejar. Isto aconteceu, por exemplo, na APA
dos os níveis, incluindo o extrativismo de mangue) e vegetal (flo- da Bacia do Rio Descoberto-DF onde ficava proibida a implanta-
res, palmito, cocodabaía) se tornam importantes fontes de renda ção e/ou ampliação dos sistemas de canais e lagoas para irrigação,
e de alimentos para a população. Em alguns casos, esta atividade já existentes numa área criada pelo próprio Poder
está diretamente relacionada à sobrevivência de comu- nidades Público (Projeto Integrado de Colonização Alexandre de Gus-
locais. É o caso da APA de Guaraqueçaba-PR e de Cananéia-I- mão) para que fosse responsá- vel por grande parte da produção
guape-Peruíbe-SP com o extrativismo do palmito e de mangue. No de hortifrutigranjeiros do DF (atualmente, a atividade agrí- cola
caso do palmito, o que torna ilegal a prática da atividade é a forma praticada ali representa mais de 50% da produção do DF, princi-
como é realizada: sem autorização do órgão competente (o que ca- palmente de hortaliças). Este fato, além de demonstrar a desvin-
rac- teriza o chamado roubo do palmito) e a sua industrialização na culação de políticas públicas, não promove o equilíbrio entre os
própria mata, sem as condi- ções mínimas de higiene necessárias. objetivos econômicos e ecológicos. Este mesmo zoneamento tam-
A degradação do meio ambiente, portanto, está diretamente bém proíbe a expansão da área urbana de Brazlândia bem como
relacionada com acapacidade de suporte da área. Neste caso, um projetos de adensamento populacional na área atual, conforme já
dos parâmetros que pode ser usado na deter- minação da capa- citado anterior- mente. Tal zoneamento, mesmo após 8 (oito) anos
cidade de suporte é a gradativa diminuição da produção. Porém, de elaboração, ainda não foi alterado. Desta forma, torna-se difícil
muitos outros fatores, além da exploração do recurso, podem afe-
cumprir e fazer cumprir a legislação, a qual tem sido descumprida
tar a produtividade e este dado isoladamente não é suficiente para
até pelo próprio governo que fez implantar na APA, dois dos seus
determinar se o produto está ou não sendo explorado acima do seu
assentamentos para população de baixa renda.
limite de sustentabilidade.
O mesmo acontece com a APA da Bacia do Rio São Bartolo-
meu-DF, onde foram proibidas novas ocupações urbanas, inclusi-
A BUSCA DO EQUILÍBRIO ENTRE OS OBJETIVOS
ECONÔMICOS E ECOLÓGICOS NAS APAS ve loteamentos e hoje vemos a APA, 8(oito) anos depois, com uma
população, segundo o censo de 1991, de aproximadamente 32.000
Este é, sem dúvida, um dos argumentos mais discutidos, na- pessoas (2% da população do DF), incluída aí a cidade satélite de
cional e internacionalmente, no âmbito das instituições ambien- São Sebastião e o Vale do Amanhecer, implantados após a criação
talistas e tem se caracterizado como o grande desafio dos últimos da APA.
tempos. Basta analisar as várias estratégias para o desenvolvimen- A Lei Municipal no 1.216/89 do município de Macaé-RJ, que
to sustentá- vel, para concluirmos que a implementação da maioria cria a APA Arquipélago de Santana, no seu artigo 11º determina
delas passa pela compreensão da necessidade de buscar o equilí- que fica proibido o fundeamento de embarcações e equipamen-
brio entre os objetivos econômicos e ecológicos. Vejamos algumas tos de grande porte, tais como plataformas e outros, ligados dire-
considerações sobre como esta preocupação tem acontecido ou tamente às atividades de prospecção e extração de petróleo, isto,
não nas APAs. numa região de grande produção de petróleo. Até o momento, ne-
Na verdade, inicialmente, torna-se necessário superar o con- nhum estudo foi feito para investigar a presença de petróleo na
ceito de que só é possível conservar uma área se ela estiver à mar- APA, mas se fosse confirmada a sua existência acredita-se que esta
gem do desenvolvimento. No Plano de Gestão Ambiental para a determinação da lei dificilmente seria cumprida. Porém, zonea-
APA de Guaraqueçaba-PR lê-se: Durante décadas a região norte mentos considerados muito restritivos continuam a ser normatiza-
do litoral paranaense permaneceu à margem do desenvolvimento dos ainda hoje. É o caso da Instrução Normativa IBAMA n. 04 de
estadual. Entende-se que essa foi uma das causas principais de seu 15 de maio de 1992 que redefine normas para o gerenciamento da
atual estado de preservação. No entanto, com isso a popu- lação APA de Jericoacoara-CE. A região, de grande beleza cênica, com-
local permaneceu à margem dos benefícios do crescimento econô- posta por dunas de areia, praias, lagoas e montanha, possui grande
mico. Essa situação tem sido manipulada e correlacionada direta- potencial turístico e esta atividade tem crescido muito nos últimos
mente com as restrições legais oriundas da proteção dos recursos anos, tanto que um dos objetivos da revisão do zoneamento, três
naturais. anos depois da sua elaboração, foi a necessidade de amplia- ção da
Porém, mesmo afirmando que a conservação atual foi conse- área urbana da vila. Acredita-se que a atividade turística seja uma
qüência do não desenvolvimento da área e que esta conservação é das poucas alterna- tivas econômicas para a região, dotada, porém
desejável, o mesmo documento passa a propor um Plano Estratégi- de características peculiares como a não exis- tência de rede de
co para a Gestão da APA onde são sugeridas as principais ativida- energia elétrica. Embora esta Instrução Normativa mencione que
des ou ações para que sejam atingidos os objetivos de conservação o objetivo do gerenciamento da APA é compatibilizar a preserva-
ambiental e de melhoria da qualidade de vida da população local. ção da área com o desenvolvimento (Item 1), não será possível o
Isto é APA: a busca da conservação dos recursos naturais aliada ao desenvolvimento da atividade turística com o nível das restrições
desenvolvimento econômico estabelecidas, das quais destacamos:
Didatismo e Conhecimento 11
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Fica proibido o uso de motos, bugres, e qualquer outro tipo b) Neste sentido, um fator importante a ser considerado é a
de veículo automotoresem todos os Sistemas de Terra, exceto nas forma e a intensidade como estas atividades acontecem numa área
transversais ao longo das atuais estradas e vias de acesso ao Sis- com valores e fragilidades ambientais comprovadas. Neste senti-
tema de Terra VIII (a vila). O tráfego de veículos no Sistema de do, o que se deveria limitar ou restringir não é tanto o que fazer,
Terra VIII (a vila), somente será permitido para o transporte de mas o como e/ou o quanto fazer. Estas considerações remetem para
doentes, mercadorias ou de veículos cujos proprietários, compro- a necessidade de alterar a qualidade do desenvolvimento pretendi-
vadamente. do para a área, mas não de privá-la deste desenvol- vimento, como
Fica limitado o número de pousadas, hotéis e assemelhados ao uma alternativa para que o mesmo seja sustentável ao longo do
atualmente existente. Neste caso, fica claro que em nome da neces- tempo.
sidade de possibilitar às comunidades nativas o exercício de suas c) Quando estes princípios não são observados, as atividades
atividades, dentro dos padrões culturais historicamente estabeleci- antrópicas podem ser consideradas conflitantes com os objetivos
dos, vale dizer, padrões de pobreza, se sacrifica a possibilidade de da APA, pois, a forma e a intensidade como são praticadas podem
melhorar a renda daquela população; ou se descumpre a lei. provocar degradação ambiental, ou seja, a área de uso, pela sua
E é o que tem acontecido. Isto demonstra, cada vez mais, a fragilida- de, não responde positivamente aos impactos gerados
necessidade de adequar a legislação à realidade atual fazendo-se por estas atividades.
incorporar como princípio a busca do equilíbrio entre os objetivos d) O instrumento APA tem sido muito usado em caráter de
econômicos e ecológicos, como maneira de assumir a necessidade correção e contenção de degradação ambiental. Mas, o fato de
de retomar o crescimento econômico e, ao mesmo tempo, alterar transformar uma área em APA não é suficiente para controlar um
a qualidade de desenvolvimento Porém, existem também algumas processo de degradação iniciado, tornando-se necessário exercer
iniciativas que denotam claramente a intençãode conciliar a con- sobre ela um conjunto de ações de planejamento e gestão ambien-
servação com o desenvolvimento. tal. Uma destas ações deve ser no senti- do de buscar adequar a
É o caso da, já citada, APA Sul da Região Metropolitana de legislação ambiental, considerada bastante restritiva, à realidade
Belo Horizonte-MG que não proíbe a exploração do minério de de desenvolvimento da área incorporando como princípio a busca
ferro, prin- cipal fonte de renda da região, mas toma providências da otimização do equilíbrio entre os objetivos econômicos e eco-
no sentido de preservar áreas de importância para o abastecimento lógicos.
de água da Grande Belo Horizonte. É também o caso das inicia- e) Conclui-se que estas ações de planejamento e gestão das
tivas no sentido de criar APAs em regiões com potencialidades APAs são as raízes da questão da problemática levantada e como
turísticas e usar este instrumento exatamente para promover o de- tal. Texto adaptado de CÔRTE, D. A. A.
senvolvimento desta atividade (APAs Estaduais da Bahia). Ou o
caso da APA de Piaçabuçu-AL, prevista como Estação Ecológica,
mas que diante da constatação da existência de petróleo na região PARQUES NACIONAIS.
foi transformada em APA, o que permitiria o desenvolvimento
desta atividade, muito embora se conheça os seus efeitos degra-
dantes quando do derramamento de óleo. Ou ainda, do Plano de
Gestão Ambiental da APA de Guaraqueçaba-PR (em fase de im- O presente artigo tem como objetivo discutir a política de re-
plantação) que propõe ações como: divulgar o turismo potencial gularização fundiária dos parques nacionais (PNs) no Brasil, desde
adequado, estimular a implantação de estruturas de conservação e a criação do primeiro deles, em 1937, até a atualidade. Analisa as
comercialização de pescado, estimular práticas de manejo agríco- pendências dessa política e algumas soluções alternativas para a
la integradas/conservacionistas para o sistema de produção local, regularização fundiária dos PNs.
viabilizar linhas de crédito para o pequeno produtor, conhecer o A premissa de que as terras destinadas aos PNs deveriam per-
potencial mineral da região, etc. Todaestas ações propostas visam tencer integralmente ao patrimônio público sempre prevaleceu na
promover o desenvolvimento econômico da região aliado à prote- política brasileira sobre o assunto. Está subjacente a essa opção
ção ambiental. Em momento algum, este documento se refere, por a idéia de que somente como bens públicos os PNs poderiam ser
exemplo, a proibir a extração do palmito, ou inibir a atividade de plenamente manejados para conservar a natureza e as suas belezas
criação de búfalos, por vezes consideradas atividades em conflito cênicas e para oferecer oportunidades de recreação, educação am-
com os objetivos da APA, mas incentiva a sua ordenação e acom- biental e pesquisa científica para a sociedade em geral. O Brasil
panhamento. adotou essa premissa (que não é adotada universalmente, diga-se
São aspectos positivos que demonstram os potenciais e a ten- de passagem) desde a criação do seu primeiro PN, o Parque Nacio-
dência de buscar cada vez mais o equilíbrio entre os objetivos do nal do Itatiaia, em 1937. Desde então, con- vive com o desafio de
desenvolvimento e da conservação, como resposta ao imperativo cumprir o preceito básico de transformar em patrimônio público,
do mundo moderno em busca do desenvolvimento sustentável. com pos- se e domínio do Estado, as áreas decretadas como PNs.
Diante do que foi discutido neste capítulo, pode-se concluir que: Esse desafio estende-se a outras categorias de unidades de con-
a) A APA, pelas suas características, está sujeita a todo o tipo servação (UCs), como estações ecológicas e reservas biológicas,
de uso que as atividades humanas o exigirem. O que deveria limi- que, no entanto, não serão discutidas aqui. O país criou, de 1937
tar o nível de restrições de uso é a capacidade de suporte da área. a 2008, 65 PNs (Tabela 1). Grande parte deles nasceu com graves
Contudo, na tentativa de garantir a proteção ambiental, este fator pendências fundiárias, que se acumularam e mesmo se agravaram
nem sempre tem sido observado, levando a níveis de restrições, ao longo dos anos. Como conseqüência, grandes prejuízos vêm
muitas vezes, acima do que a propriedade privada consegue absor- sendo causados à política conservacionista e ao erário e ao patri-
ver, gerando ocupações irregulares ou clandestinas. mônio públicos.
Didatismo e Conhecimento 12
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Para entender a questão fundiária dos PNs brasileiros, buscou-se neste texto analisar as seguintes dimensões passadas e atuais da polí-
tica de sua criação:
1) a sua situação fundiária atual;
2) as raízes históricas da questão fundiária no Brasil; e
3) a missão das diversas instituições responsáveis pelos PNs entre 1937 e 2008. A finalidade é apontar os motivos que expliquem os
graves problemas fundiários vividos pelos PNs, bem como sugerir alternativas para a solução da maioria das pendências observadas. Des-
taque-se que as propostas aqui apresentadas para o equacionamento da questão foram selecionadas de modo a ter uma importante virtude
comum: elas não exigem mudanças legais, pois estão embasadas na legislação vigente. Isso não ocorre nos casos de muitas outras propostas
que circulam entre gestores, cientistas e ambientalistas brasileiros.
As principais fontes de informações usadas foram materiais bibliográficos que tratam da legislação de terras e do histórico dos órgãos
gestores e das políticas para o setor. Além disso, foi feita a análise das principais leis de terras que vigoraram no país, desde o período
colonial. A legislação atual foi obtida no sítio eletrônico da Presidência da República. Para o diagnóstico da situação atual, foram feitas
entrevistas com três informantes qualificados.
Especificamente para a análise da situação fundiária dos parques, foram utilizados como fonte principal os dados da Divisão de Criação
e Implantação de UCs (DICRI), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), referentes aos PNs
criados até 2000.
Além disso, foram feitas consultas ao Cadastro Nacional de UCs, do Ministério do Meio Ambiente, e diretamente ao Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Com relação ao Cadastro Nacional de UCs, houve dois acessos. No primeiro, em 22
de dezembro de 2005, foram obtidas informações específicas, mas pouco precisas, sobre o grau de regularização fundiária de todas as UCs
(não-regularizadas, parcialmente regularizadas, regularizadas). Em consulta mais recente, em 14 de agosto de 2008, o referido cadastro esta-
va em revisão e dispunha de dados esparsos sobre apenas três PNs (Serra dos Órgãos, Ubajara e São Joaquim), dados esses desconsiderados.
Usamos os dados obtidos com o acesso de 2005, pois eles não foram oficialmente revisados nem invalidados. A consulta direta ao ICMBio
ocorreu em 22 de agosto de 2008, especificamente à Coordenação Geral de Regularização Fundiária3. Esses dados são, infelizmente, desa-
tualizados e incompletos, mas foram incluídos por serem a informação mais recente sobre o tema.
Didatismo e Conhecimento 13
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Lançou-se mão, ainda, de informações sobre os PNs do estado do Rio de Janeiro, mais especificamente o Relatório do Grupo de Traba-
lho (GT) criado pelo Escritório Regional do Ibama, por meio da Portaria Ibama n. 1 288/98-P, de 22 de outubro de 1998. Esse GT levantou
as questões fundiárias específicas das UCs do estado do Rio de Janeiro4.
Esses dois planos de 1979 e 1982 são os principais precursores do atual Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza,
criado por lei de 2000. Adotaram, entre outros, os princípios da ampliação das áreas protegidas na Amazônia, do aumento da representativi-
dade ecossistêmica do sistema de UCs, da preferência por áreas de grande extensão e da priorização de escolha de áreas sem ocupantes. Em
1986, depois de cerca de sete anos de aplicação dos dois planos, o Brasil tinha quase triplicado a área protegida por PNs existente em 1979.
Ressalte-se que não houve uma distribuição regional ou ecossistêmica equilibrada dos PNs brasileiros ao longo da sua história. Drum-
mond (1997) salienta que, por muito tempo, os critérios para escolha de áreas para PNs privilegiaram a beleza cênica excepcional, a faci-
lidade de acesso e a possibilidade de visitação de massa. Mesmo na segunda fase (1959-1961), influenciada pela construção de Brasília,
que levou à instalação de qua- tro parques na região Centro-Oeste, a justificativa enfatizada foi a de ofertar áreas de lazer e turismo para a
população a ser instalada no Distrito Fede- ral, e não a de proteger o Bioma Cerrado. Somente a partir de 1979, com os dois citados planos
do IBDF, houve um esforço deliberado de fazer com que a política de criação de UCs se antecipasse ao processo de ocupação de áreas mais
remotas e incluísse amostras grandes e em bom estado dos vários biomas e ecossistemas do país (DRUMMOND, 1997).
Didatismo e Conhecimento 14
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Essa mudança de critérios refletiu-se claramente na criação Embora o Brasil tenha adotado muitas recomendações da
de PNs na Amazônia. Até o início da década de 1970, a região não UICN para criação e gestão de UCs e, em especial, de PNs, as
contava com um único PN (Tabela 1). A partir de 1974, vinte PNs recomendações quanto à admissão de presença humana nos par-
foram instituídos na região Norte, correspondendo a cerca de 31% ques não foram absorvidas, embora existam ou- tros tipos de UCs
dos PNs criados até 2008 (Tabela 1). que admitem essa presença. É interessante observar que o Código
As mudanças nos critérios de escolha das áreas para a criação Florestal de 1934 (Decreto n. 23 793, de 23 de janeiro de 1934),
dos PNs brasileiros refletem emparte a evolução do próprio con- base legal dos primeiros PNs, previa a possibilidade de perma-
ceito de PNs, no Brasil e no mundo. Esse conceito vem-se alte- nência de propriedades particulares em florestas remanescentes
rando desde a criação do primeiro parque no mundo Yellowstone, (entre as quais se incluíam os PNs), desde que os pro- prietários,
em 1872, nos Estados Unidos da América. Inicialmente, os PNs herdeiros e sucessores concordassem com as restrições impostas
visavam socializar o usufruto das belezas cênicas excepcionais e, e se obrigassem a mantê-las sob o regime legal correspondente.
ao mesmo tempo, resguardar tais belezas dos efeitos destrutivos O Código Florestal de 1965 (Lei n. 4 771, de 15 de setembro de
da sua explora- ção direta. Aos poucos, outros objetivos foram in- 1965) e o Regulamento de Parques Nacionais de 1979 (Decreto n.
corporados, entre eles a proteção de certos animais ou plantas, a 84 017, de 21 de setembro de 1979), entretanto, eliminaram essa
pesquisa científica e a educação ambiental. Os objetivos de conser- possibilidade.
vação também foram ampliados, procurando-se garantir a repre- Mais tarde, durante a discussão, no Congresso Nacional, do
sentatividade dos ecossistemas e das paisagens nos PNs e demais Projeto de Lei que deu origem à Lei n. 9 985, de 18 de julho de
UCs nos contextos nacionais. 2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
A União Internacional para a Conservação da Natureza da Natureza (Snuc), houve um intenso debate entre os ambienta-
(UICN) tentou consolidar um conceito de PN a ser seguido por listas brasileiros. Duas correntes en- frentaram-se: a dos preserva-
todas as nações. A cada dez anos, desde 1962, ela realiza conferên- cionistas, que defendia, entre outros pontos, o conceito tradicional
cias mundiais sobre PNs, nos quais os conceitos de PN e de UCs de PN, e a dos socioambientalistas, para quem a administração das
em geral são amplamente debati- dos. áreas protegidas teria melhor êxito se elas suportassem atividades
As recomendações da UICN influenciaram a política de UCs humanas e tivessem as populações primitivas ou tradicionais como
de muitos países, entre eles o Brasil. Dentre as questões discutidas as suas aliadas (idem).
nesses e em outros fóruns internacionais sobre PNs, destaca-se a Para os socioambientalistas, os preservacionistas baseiam-se
da ocupação humana das áreas formalmente protegidas. Um dos em dois mitos: o primeiro é de que o homem é, necessariamente,
aspectos mais polêmicos a respeito de uma área de PN (no Brasil destruidor da natureza; o segundo é de que a natureza selvagem
e em alguns outros paises, embora não em todos) é a presença de é intocada pelas mãos humanas, ou seja, é oriunda apenas de sua
população humana, o que tem relação direta com o tema principal evolução natural. Assim, para os preservacionistas, a interferência
deste artigo. Tradicionalmente, os PNs eram concebidos, sobretu- huma- na na natureza, quando ocorre, é sempre destruidora. Con-
do, para proveito limitado do homem urba- no e para a conserva- tra-argumentando em bases culturais, os socioambientalistas afir-
ção dos recursos para as futuras gerações, não se admitindo no seu mam que a sociedade urbano-industrial é, de fato, destruidora, mas
interior a presença humana permanente, nem a posse particular das existem culturas que desenvolveram uma relação mais harmônica
terras, nem a exploração dos re- cursos naturais. Essa concepção com a natureza, cujos representantes, muitas vezes, residem jus-
baseava-se no preceito segundo o qual os humanos seriam modi- tamente nas áreas onde se quer implantar UCs. Para os socioam-
ficadores ou destruidores contumazes de seu ambiente natural e, bientalistas, a natureza “selvagem” que os preservacionistas hoje
portanto, a conservação da natureza requereria a criação de áreas consideram digna de proteção foi, em parte, moldada pelo gênero
livres de sua presença. de vida das populações tradicionais.
No entanto, esse conceito não é incontroverso, nem foi ado- Argumentam que a diversidade cultural também precisa ser
tado universalmente. Em países da Europa, no Japão e no Canadá, conservada, tanto por moti- vos éticos, quanto como instrumento
admitia-se e ainda se admite tanto a presença humana como a pro- de proteção do conhecimento tradicional. As populações tradicio-
priedade particular nos parques. nais, para eles, devem ser vistas como aliadas da conservação, e
não como suas inimi- gas.
No III Congresso Mundial de Parques O texto final da Lei do Snuc refletiu, em parte, essa cisão no
ambientalismo brasileiro. Não houve consenso sobre a permanên-
Nacionais, da UICN, em 1982, houve ênfase na inserção dos cia de populações tradicionais no interior dos PNs, mas a cria-
PNs no desenvolvimento regional e na sua vinculação à melhoria ção de UCs passou a ser obrigatoriamente precedida de estudos
do padrão de vida das comunidades locais, sobretudo das mais ca- técnicos e consultas públicas (exceto para as categorias “estação
rentes. Recomendou-se o manejo dessas áreas em conjunto com os ecológica” e “reserva biológica”). Estabeleceu-se ainda que “as
seus habitantes originais. Nessa concepção, os parques, além de populações tradicionais residentes em unidades de conserva- ção
cumprirem a sua função de protetores da biodiversidade, poderiam nas quais sua permanência não seja permitida serão indenizadas
e deveriam contribuir para viabilizar diversas atividades indutoras ou compensadas pelas benfeitorias existentes e devidamente rea-
do desenvolvimento local. locadas pelo Poder Público, em local e condições acordadas entre
O modelo de zoneamento de PN proposto pela UICN propu- as partes” (art. 42). Enquanto o reassentamento não for realizado,
nha, entre outras, uma “Zona de Ambiente Natural com Culturas serão estabelecidas normas destinadas a compatibilizar a presença
Humanas Autóctones”, destinada a abrigar populações primitivas das populações tradicionais residentes com os objetivos da unida-
ou tra- dicionais. de, “sem prejuízo dos modos de vida, das fontes de subsistência
e dos locais de moradia dessas populações, assegurando-se sua
Didatismo e Conhecimento 15
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
participação na elaboração das referi- das normas e ações” (art. 42, § 2º). Mais ainda, a lei do Snuc prevê nada menos do que sete tipos de
UCs que admitem a presença de comuni- dades humanas e a exploração direta dos recursos naturais. Garantiu-se, portanto, aos que detêm
apenas a posse de terras designadas para integrarem UCs, o direito de serem devidamente indenizados e realocados. Quanto à propriedade
particular, a lei manteve a norma de que o “par- que nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em
seus limites serão desapropriadas” (art. 11, § 1º; sem grifos no original).
Assim, o Brasil mantém em sua legislação, há 70 anos, o princípio do controle público integral das terras de PNs. As mudanças nos
critérios de localização dos PNs, o gigantismo geográfico, a diversidade social do Brasil e, principalmente, a persistente falta de ordenação
territorial e fundiária em amplas seções do país têm conspi- rado contra esse controle. Ainda assim, seria de se esperar que a situação fun-
diária dos PNs e das UCs em geral estivesse ao menos equacionada. A realidade, entretanto, é muito diversa, conforme será mostrado na
próxima seção.
É patente e bem sabido que a política de regu- larização fundiária dos PNs não tem alcançado o seu objetivo maior, qual seja, o de fazer
com que as suas terras sejam, em sua totalidade, de posse e domínio públicos. A análise a seguir evidencia que a questão nunca recebeu a
devida prioridade dos órgãos competentes. Iniciemos pela análise dos dados da Tabela 3, que apresenta a situação dos PNs criados até 2000,
para os quais se obte- ve os dados mais completos e organizados do Ibama-Dicri. Os dados mostram as áreas “regu- larizada” e “a regula-
rizar” e o percentual regulari- zado de cada unidade. Embora cerca de 86% da área total dos PNs criados até aquele ano cons- tassem como
regularizados, 28 (66%) desses 44 PNs tinham problemas fundiários registrados. Ou seja, bem mais da metade ainda tinha terras em mãos
de particulares e/ou fora do domínio público efetivo, o que certamente prejudicava o seu gerenciamento adequado. Há o agravante de que
15 unidades (34% desses mesmos 44 parques) tinham menos de 50% de sua superfície sob domínio público
Didatismo e Conhecimento 16
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Não existe uma relação positiva entre as datas de criação dos PNs e as suas respectivas situações de regularização fundiária (Tabela 3).
Ou seja, as unidades mais antigas não estavam em situa- ção notavelmente melhor que as de idade intermediária ou as mais recentes. Essa
observação re- força o argumento de que as pendências fundiárias são crônicas na política brasileira de PNs5 e de que não houve, ou não
funcionou, uma diretriz de criação de PNs preferencialmente em áreas públicas e livres de problemas fundiários.
Examinemos agora a situação pela ótica das possíveis diferenças regionais entre as situações fundiárias dos PNs (tabelas 4 e 5). Em
2000, a região Norte destacava-se por apresentar o melhor índice de terras de PNs regularizadas. A situação fundiária dos PNs da região
contribui mais do que proporcionalmente para elevar as estatísticas nacionais de regularização fundiária, uma vez que a região detinha mais
de 73% da superfície dos PNs brasileiros.
Didatismo e Conhecimento 17
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A região Nordeste também apresentava índi- ces elevados de regularização fundiária dos seus PNs, tanto em relação à superfície (cerca
de 82%), quanto ao número de unidades (73% com mais de 85% da superfície regularizados). Em posição intermediária estavam o Centro
-Oeste e o Sul, razoavelmente colocados quanto à superfície regularizada (cerca de 73% e 62%, respec- tivamente), mas apenas mediana-
mente colocados quanto ao número de unidades (50% no Sul e um pouco mais no Centro-Oeste). Chama a atenção a fragilidade dos PNs da
região Sudeste, onde apenas 20% tinham mais de 50% de suas terras regularizadas. Em termos de superfície, a situação é igualmente ruim,
pois a região não tinha nem sequer 50% de sua superfície de PNs regularizados. Trata-se de uma situação perver- sa para a conservação da
Mata Atlântica (objeto da proteção da maioria dos PNs dessa região), uma vez que a alta concentração demográfica regional promove, ao
mesmo tempo, a valorização das terras e o aumento da pressão humana sobre as áreas protegidas. Consequentemente, o problema tende a
piorar.
A título de ilustração, é interessante analisar mais detalhadamente a situação dos PNs do estado do Rio de Janeiro6. Ela mostra elo-
qüentemente tanto a gravidade da situação fundiária dos PNs do Sudeste quanto o caráter crônico das pendências fundiárias dos PNs antigos
(Tabela 6). Apesar de ter sediado a capital federal até a década de 1960; apesar de o seu território relativamente pequeno ser afetado por
cinco PNs e outras 14 UCs federais; apesar de esses PNs serem relativamente pequenos; e apesar de três desses PNs terem mais do que 40
anos de existência, apenas cerca de 15% da área total das cinco unidades estavam regularizados em 2000. Jurubatiba tinha um índice de
regularização de 0% e Serra da Bocaina de apenas 8%. O enorme percentual (85%) de áreas dos PNs fluminenses carentes de regularização
fundiária expressa bem a fragilidade dos PNs do Sudeste e o caráter crônico dos problemas fundiários dos PNs brasileiros.
Em relação à totalidade do sistema de PNs, a conclusão geral é que a interiorização tardia dos PNs brasileiros, expressa principalmente
pela cri- ação de UCs na região Norte, contribuiu, proporcionalmente, para a melhoria do desempenho em relação à sua superfície regulari-
zada, embora não em relação ao número de PNs afetados por pro- blemas fundiários. Os problemas fundiários dos PNs são generalizados em
todo o território brasileiro, situação que seria perceptível apenas a partir dos dados da Tabela 3, a partir dos quais se verifica que, em 2000,
ainda era grande o número de unidades com área não-regularizada em seu interior (29, correspondentes a 66% dos PNs existentes). Porém,
a situação era nitidamente mais grave na região Sudeste.
Didatismo e Conhecimento 18
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Na verdade, os PNs brasileiros constituem, no seu conjunto, mosaicos patrimoniais caracterizados por inúmeras situações: terras de
domínio do estado ocupadas ou não por posseiros ou intrusos; terras de particulares, muitas vezes de domí- nio indefinido ou contestável,
exploradas ou não; terras de particulares ocupadas pelos PNs ou por posseiros; terras devolutas ou “terras de ninguém” ocupadas pelos PNs
ou por posseiros.
Passemos, agora, à análise dos dados mais recentes, obtidos junto à Coordenação Geral de Regularização Fundiária do ICMBio. Eles
abrangem apenas 52 dos 65 PNs existentes em meados de 2008. A Coordenação não dispunha de dados relativos a 13 PNs criados entre 2001
e 2008. Da mesma forma, não constam informações pormenorizadas acerca da área regularizada e a regularizar de cada PN. Embora o Ibama
tenha se preocupado mais sistematicamente, após a aprovação da Lei do Snuc, com a existência de comunidades e atividades produtivas
nas áreas selecionadas para criação de novas unidades, isso não redundou na elaboração de estudos prévios completos acerca da situação
fundiária das áreas onde se pretende criar PNs, de modo a evitar conflitos. É prudente esperar que os resultados finais dos levantamentos
demonstrem a existência de problemas fundiários nos PNs mais novos, semelhantes aos das unidades antigas.
De qualquer forma, os dados do ICMBio destacam a desanimadora informação de que nenhum PN é considerado regularizado pelo
órgão (Tabela 7). Dos 52 parques para os quais valem os da- dos, 58% não estão regularizados e 42% estão apenas parcialmente regulari-
zados. Esses dados são incongruentes com as informações da Tabela 3, pois eles apontam que 14 unidades estão 100% regularizadas. Na
verdade, essa incongruência ressalta na própria Tabela 3, pois, entre as 14 uni- dades 100% regularizadas, seis não dispunham de levanta-
mento fundiário. Portanto, se esses PNs não foram nem sequer objeto de estudos fundiários, não faz sentido a informação sobre a ausência
de pendências fundiárias em seus limites.
Essas incoerências talvez se expliquem pela adoção de critérios diferentes de regularização fundiária, ao longo do tempo, pelos diferen-
tes setores do Ibama e, mais recentemente, do ICMBio. No entanto, elas reforçam a nossa observação sobre a falta de dados confiáveis que
permitam um diagnósticopreciso acerca da situação fundiária dos PNs.
Finalmente, para contextualizar a situação fundiária dos PNs brasileiros (inclusive a precariedade dos dados disponíveis), apresentamos
os dados do Ministério do Meio Ambiente (2005) acerca do grau de regularização fundiária das sete categorias de UC cujo domínio deve
ser exclusi- vamente público (Tabela 8)
Didatismo e Conhecimento 19
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Apesar das inconsistências com os dados das tabelas anterio- e o próprio acúmulo de pendências fundiárias fizeram com que o
res e da grande quantidade de informações não-disponíveis, fica órgão continuasse a agir apenas pontualmente no enfrentamento
claro que os PNs não estão sozinhos na sua precária situação fun- dessas pendências das UCs.
diária. Seguindo uma tendência nacional ainda recen- te de descen-
tralização das políticas ambientais e de algumas outras políticas
A MISSÃO DAS INSTITUIÇÕES RESPON- SÁVEIS PELA governamentais, iniciada a partir da vigência da Constituição de
GESTÃO DE PARQUES NACIONAIS NO BRASIL 1988, os PNs estavam vinculados às Superintendências Estaduais
do Ibama. Isso contribuiu para entravar o bom funcionamento das
Em 1925, foi criado no Brasil o primeiro órgão governamen- UCs, em virtude do grande volume de atividades de licenciamento
tal federal destinado a administrar áreas cobertas por flora nativa e fiscalização desenvolvidas rotineiramente pelas superintendên-
o Serviço Florestal Federal (SFF), subordinado ao Ministério da cias. Elas acabavam drenando quase toda a atenção de seus diri-
Agricultura. Desde então, a política brasi- leira de PNs em parti- gentes, bem como os parcos recursos disponíveis, enfraquecendo
cular, e de UCs em geral, ficou por mais de 60 anos vinculada ao a capacidade de resolução das complexas e duradouras questões
Ministério da Agricultura. Primeiramente, nas décadas de 1930, fundiárias.
1940, 1950 e parte da década de 1960, encarregaram-se dessa po- Em 2007, a criação e a gestão das UCs federais foram disso-
lítica diversas seções e departamentos ministeriais de segundo e ciadas das funções do Ibama. Elas foram repassadas ao Instituto
terceiro escalões, alguns incumbidos também do fomento à pro- Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), por
dução florestal. Em seguida, o Instituto Brasileiro do Desenvol- meio da Lei n. 11 516, de 28 de agosto de 2007. A estrutura do
vimento Florestal (IBDF), criado em 1967, representou um passo ICMBio abrange quatro diretorias, entre elas a de Planejamento,
importante na institucionalização da gestão pública da flora e dos Administração e Logística, que abrange uma Coordenação Geral
seus produtos, mas a sua ênfase recaiu sobre os aspectos produti- de Regularização Fundiária. Aparentemente é a primeira vez que
vos. Igualmente subordinado ao Ministério da Agricultura, o IBDF a política federal de UCs conta com uma instância específica para
herdou os quadros e as missões do Instituto Nacional do Pinho e tratar do assunto. Tal como o Ibama, o ICMBio deverá contar com
do Instituto Nacional do Mate, dois órgãos de fomento de produtos órgãos descentralizados para a gestão das UCs.
madeireiros e não-madeireiros, sem missões conservacionistas ou No entanto, um ano após a sua criação, o ICMBio ainda não
preservacionistas. realizou concurso público para a formação de seus quadros, valen-
O IBDF geriu as UCs brasileiras por mais de 20 anos (1967- do-se da transferência de servidores do Ibama. As unidades des-
1989). Ao longo desse período, manteve o seu perfil produtivista, centralizadas ainda não foram estruturadas e, segundo notícias vei-
com ênfase secundária na conservação. Mesmo assim, foi den- culadas em O Eco (2008), 80 UCs federais continuam sem gestor.
tro dele que surgiram e foram aplicados os referidos Planos do Outro problema institucional herdado pelo ICMBio diz res-
Sistema de Unidades de Conservação, que ampliaram em muito peito à carência de informações sobre as UCs. Não havia como
as áreas sob prote- ção e propuseram diversas novas categorias ainda não há uma base de dados unificada e confiável, calcada
de áreas protegidas. Na década de 1970 e no princípio dos anos em levantamentos e estudos fundiários dos PNs, que permita uma
1980, a mesma equipe do IBDF que redigiu esses planos intro- ação coordenada, generalizada e rápida de resolução de pendên-
duziu uma prática inovadora que permitiu que o órgão adquirisse cias fundiárias.
cerca de dois milhões de hectares de terras incorporadas a PNs e A regularização fundiária de PNs é assunto de alta comple-
reservas biológicas. Esses recursos vieram de um Fundo de Re- xidade. Envolve muitos interesses, vultosos recursos financeiros,
posição Florestal, formado com as taxas pagas por usuários de terras usadas para a produção agropecuária, comunidades rurais
matéri-as-primas de florestas nativas. Até então, esses recursos de diversos tipos, fluxos de visitação, empreendimentos turísticos
tinham sido usados apenas para fomentar a formação de florestas etc. Talvez o mais grave problema seja o contexto historicamen-
plantadas para fins comerciais. Desse modo, o lado mais forte do te consolidado de especulação e de apossamento ilegal de terras
IBDF, desenvolvimentista, ajudou a financiar o seu lado mais fra- pú- blicas. Isso configura um quadro de “indústria das desapro-
co, conservacionista. priações”, que envolve procedimentos duvidosos e indenizações
Em 1989, foi criado o Ibama, vinculado inicialmente ao Mi- milionárias. Por outro lado, a questão fundiária tem peculiaridades
nistério do Interior e hoje ao Minis- tério do Meio Ambiente. As que estimulam a inércia do poder público no seu trato, agravando
características desse órgão e o contexto de sua criação colocaram os problemas. As pendências na regularização fundiária dos PNs,
pela primeira vez a política ambiental brasileira em geral, e a de apesar dos prejuízos causados, normalmente não inviabilizam a
UCs em particular, fora do domínio da esfera produtivista. Entre as exis- tência das unidades e o cumprimento parcial de suas fun-
suas incumbências estava a gestão das UCs federais. No entanto, ções. Curiosamente, um PN pode conviver com elas por períodos
o Ibama nasceu com um grande número de outras incumbências, relativamente longos sem que haja conflitos agudos, mas também
bem variadas, herdadas dos quao organismos federais que o forma- sem que se alcancem soluções definitivas. Assim, os problemas
ram – IBDF, Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), Su- fundiários não alcançam necessariamente uma grande repercussão
perintendência de Desenvolvimento da Pesca (Sudepe) e Superin- pública, nem geram forte mobilização social que pressione o órgão
tendência da Borracha (Sudhevea). Essas incumbências variavam gestor a resolvê-los. Isto suscita a convivência prolongada com
da regulamentação ao fomento da pesca e da borracha, ao licen- situações irregulares e uma pos- tura complacente ou postergadora
ciamento ambiental, à criação de normas de qualidade ambiental, dos órgãos administradores.
à proteção da biodiversidade etc. No entanto, a forte centralização Outro fator que contribui para a inércia no trato da questão
administrativa embutida no desenho do Ibama, o reduzido número fundiária dos PNs é a baixa proba- bilidade de que a sua eventual
de servidores envolvidos no processo de regularização fundiária resolução gere dividendos políticos para os gestores dos órgãos
Didatismo e Conhecimento 20
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
incumbidos de tratar das UCs. Os prazos para a obtenção de re- O sistema de distribuição de terras via sesmarias foi formal-
sultados significativos são relativamente longos, contrapostos aos mente suspenso em 1822, pouco antes da independência do Brasil.
períodos relativamente curtos dos cargos de direção. Criar novas Com a independência, o Brasil passou por um período de quase
UCs rende maior visibilidade e dividendos do que resolver os três décadas, conhecido como extralegal ou das posses, caracte-
complexos problemas das UCs existentes. Novas UCs enrique- rizado pela inexistência de uma legislação específica sobre terras.
cem o currículo do administrador. Além do mais, a resolução dos Em 1850, promulgou-se a Lei de Terras, confusa e controversa,
pro- blemas fundiários, via de regra, gera atritos e desgaste com fortemente influenciada pelo pensamento inglês, que zelou acima
pessoas influentes, que se mobilizam jurídica e politicamente para de tudo pelos interesses da elite rural criada e estabilizada pelo
resistir às ações que os prejudicam. Ocorre ainda a possibilidade antigo sistema de sesmarias.
de atritos não-desejados com as comunidades vizinhas das UCs. A Lei de Terras instituiu o “registro paroquial”, cadastro por
Essas situações levam à anulação recíproca das forças sociais en- meio do qual o governo quis distinguir as terras que eram de sua
volvidas na questão e ajudam a explicar porque o problema nunca propriedade das que eram propriedade de particulares. Os registros
foi objeto de medidas sistemáticas, firmes e eficazes. paroquiais eram ligados à organização da Igreja Católica. Acaba-
ram sendo utilizados para acomodar os interesses estabelecidos
PERSISTÊNCIA DOS PROBLEMAS FUNDIÁRIOS DOS dos grandes senhores de terra. As decisões de registrar ou não,
PARQUES NACIONAIS BRASILEIROS de informar os limites e o tamanho da propriedade com precisão,
eram tomadas conforme a sua conveniência, tendo em vista que
A persistência dos problemas fundiários dos PNs brasileiros os clérigos não eram qualificados para verificar a veracidade das
indica que eles têm sido tratados com baixo grau de prioridade. informações. Além do mais, como proprietária e/ ou ocupante de
Além de ocasionarem prejuízos diretos à gestão dos PNs, eles se muitas extensões de terras, a Igreja Católica era uma parte interes-
agravam progressivamente, em várias dimensões: valorizam co- sada cuja atuação na regularização não era desejável, sob o ponto
mercialmente as terras em litígio, em alguns casos por causa da de vista das finalidades expressas de alcançar a regularização fun-
própria criação da UC; ampliam a presença humana e, consequen-
diária. Dessa forma, uma lei que se pretendia modernizante não
temente, a construção de benfeitorias que interferem no ecossis-
teve os efeitos desejados, pois foi incapaz de reorganizar a estrutu-
tema, mas incorporam mais valor à terra; contribuem para o des-
ra fundiária e de discriminar as terras públicas das terras privadas.
membramento e venda de terrenos do entorno para pessoas “de
Ainda assim, ela criou efeitos duradouros e é usada, até os dias de
fora”, interessadas em construir casas de veraneio ou de segunda
hoje, como base para tomadas de decisão acerca da propriedade e
residência (isso, por sua vez, suscita a aparição de novos atores,
do direito à terra, inclusive no que diz respeito à regularização de
com novos interesses, complicando as soluções); criam a “pers-
UCs.
pectiva de direito” ou o “direito” propriamente dito para os ocu-
pantes; e propiciam a prescrição de prazos legais. Assim, o registro paroquial, baseado nas simples declarações
No entanto, se a situação é examinada à luz da história da ocu- dos interessados, gerou intensa polêmica e duradoura confusão.
pação das terras no Brasil, vê-se que ela não se deve apenas à falta Para alguns, o registro passou a ser considerado como título de do-
de eficiência dos órgãos gestores das UCs ou à falta de vontade mínio, enquanto outros o consideram um simples cadastro que não
política de seus dirigentes. Os PNs e as demais UCs são vitimados poderia ser usado para determinação da propriedade do imóvel,
pela desordem fundiária secular que assola o país. O processo de nem para conferir direitos ao declarante. Outros ainda consideram
colonização do Brasil pelos portugueses teve por base o sistema que, embora não fosse título de propriedade, o registro paroquial é
sesmarial de distribuição de terras a particulares. Esse sistema teve fonte importante para análise da cadeia sucessória de proprietários
início em 1532, com a divisão do enorme, recém-descoberto e em casos de terras em litígio.
ainda muito mal conhecido território em capitanias heredi- tárias, A Lei de 1850 possibilitou a consolidação e a legitimação de
entregues a donatários. Eles detinham grande poder, entre eles o uma pequena elite agrária de grandes proprietários. Ela se fortale-
de outorgar sesmarias concessões de terras a pessoas de sua con- ceu desmesuradamente e adquiriu enormes poderes na sociedade
fiança. As sesmarias constituíam, via de regra, grande extensões e nas instituições públicas e privadas, conseguindo, pelos mais
de terras “virgens” que os sesmeiros comprometiam-se a cultivar diversos meios, que os seus interesses fossem sempre resguarda-
dentro do prazo, or- ganizando atividades produtivas, pagando tri- dos. A Lei de Terras promoveu conflito, e não soluções, porque
bu- tos à Coroa e defendendo-as contra os inimigos de Portugal. estabelece os termos atra- vés dos quais a grilagem é legalizada
Assim, a maneira básica de ocupação das ter- ras do Brasil, de maneira consistente. Nesse contexto repleto de paradoxos, a
consideradas propriedade do rei de Portugal, era a sua doação a lei é o instrumento de manipulação, complicação, estratagema e
pessoas selecionadas, em retribuição à lealdade e a serviços pres- violência, através do qual todas as partes envolvidas dominadoras
tados à Coroa. A concessão de sesmarias era regulamentada pelas ou su- balternas, o público e o privado fazem valer seus interesses.
Ordenações Filipinas, vigentes em Portugal. As ordenações im- Apesar de tudo, essa lei se tornou um marco na legislação de
punham ainda a obrigatoriedade de aproveitamento do solo, que, terras do país. Até hoje muitos procedimentos judiciais e as defe-
se não cumprida, levaria à perda da concessão. Entretanto, isso sas das posições mais antagônicas buscam fundamentação nela.
raramente aconteceu, embora a Coroa por vezes tentasse recupe- Isso dificulta, atrasa e, em muitos casos, impede decisões adminis-
rar o controle sobre sesmarias abandonadas ou de outra forma ne- trativas e judiciais seguras e ágeis sobre as pendências fundiárias
gligenciadas. Os concessionários de terras quase todos homens, em geral, e as das UCs e dos PNs em particular.
portugueses, católicos e fiéis ao Rei de Portugal formaram uma Outro fator relevante para a apreciação da desordem fundiária
oligarquia pequena, unida, poderosa e fechada, a expressão social do Brasil é o do registro de imó- veis. Esse registro foi instituído
acabada da falta de uma política democrática de ocupação das no- apenas em 1864, pela Lei n. 1 237, tornando-se um serviço pú-
vas terras coloniais. blico apenas em 1917, com base no Código Civil. En- tretanto,
Didatismo e Conhecimento 21
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
os registros feitos nos Cartórios de Registro de Imóveis, órgãos auxiliares do poder Judiciário, os quais deveriam garantir legitimidade ao
reconhecimento da propriedade imobiliária, tornaram-se outro fator complicador, pois eles muitas vezes foram focos de distorções e fraudes.
Em 1913, foi aprovado o Novo Regulamento de Terras Devolutas da União (Decreto n. 10 105), ampliando o prazo dado a concessionários,
posseiros e sucessores para declararem as suas terras. Isso possibilitou uma nova rodada de apossamentos irregulares de terras públicas,
prin- cipalmente por grandes proprietários.
Durante a Primeira República (1889-1930), os grandes proprietários de terras, principalmente os dos Estados economicamente mais for-
tes, interferiram ativamente na escolha de praticamente todos os detentores de mandatos eleitorais, inclusive governadores e presidentes. A
política nacional ficava em grande parte à mercê de conchavos entre políticos de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, principalmente,
mas havia também grande influência das oligarquias do Nordeste. É significativo, portanto, que a Constituição Federal de 1891 transferisse
todo o patrimônio de terras públicas para os Estados e desse a eles a prerrogativa de legislar sobre o assunto, abrindo ainda mais espaço para
a influência dos proprietários rurais. A concentração da propriedade de terras, as dificuldades de acesso democrático a elas e a sua falta de
regularização documental não apenas tiveram continuidade, mas agravaram-se.
A Revolução de 1930 afastou do poder uma parte desses setores até então dominantes. A nova elite de poder, no entanto, evitou um
confronto mais explícito com os setores mais conservadores da elite rural, mesmo porque ela compartilhava dos benefícios do sistema fun-
diário vigente. De qualquer forma, no Estado Novo, a União assumiu em parte o patrimônio de terras públicas, principalmente para fins de
doações e concessões de grande porte, pondo fim ao período em que as oligarquias locais tiveram pleno domínio sobre os mecanismos de
legitimação das imensas posses adquiridas ao longo da República Velha (idem).
Em 1934, foram aprovados o Código de Águas e o Código Florestal, que instituíam limites ao di- reito de propriedade da terra. Os dois
códigos não estancaram a exploração intensiva desses recursos nem era esse o seu objetivo, mas foi o Código Florestal que forneceu a base
legal para a criação dos primeiros PNs. Em 1964, já sob a
Ditadura militar foi promulgado o Estatuto da Terra (Lei n. 4 504, de 30 de novembro de 1964). Concebido para servir como base legal
para um vasto programa de reforma agrária chegando a incluir exigências de uso racional dos recursos naturais como um requisito para a
legitimidade da propriedade privada da terra, ele não conseguiu alterar a situação fundiária e agrária do país.
O legado dessa longa cadeia de políticas fundiárias privatistas, baseadas no favoritismo e no patrimonialismo, foi uma sociedade na qual
“apenas 1% dos proprietários rurais detém 44% das terras, enquanto 67% deles detêm apenas 6% das terras”. Dados do Censo Agropecuário
de 1995 mostram que, no fim do século XX, ainda era grande a concentração fundiária no Brasil (Tabela 9).
Seria difícil, portanto, esperar que as UCs em geral, e os PNs em particular, ao pressuporem um grau significativo de controle público
sobre extensões de terras por vezes grandes, estivessem livres dos problemas fundiários que expressam esse legado.
Tendo em vista a tendência de os problemas fundiários dos PNs tornarem-se crônicos, refletir sobre soluções alternativas é mais do
que relevante. Este é o objetivo principal desta seção. O processo de regularização das terras dos PNs res- sente-se muito da falta de uma
política do poder público que proponha e acompanhe as ações necessárias, normalmente complexas e de longa duração. Quando se fala em
regularização fundiária, quase sempre se faz ligação direta com desapro- priações via aquisição de terras e pagamento por benfeitorias pelo
poder público e a conseqüente inscrição dessas terras como patrimônio público. No entanto, a regularização fundiária é complexa e deve
contemplar outros procedimentos, alguns alternativos à desapropriação, os quais dependem de trabalho administrativo árduo e de atenção
continuada estratégica. Seguem-se vários exemplos de tais procedimentos. Destaque-se que todos as alternativas aqui discutidas são factí-
veis sem que haja necessidade de criação de novas leis.
Didatismo e Conhecimento 22
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Desde o período do Império, o governo brasileiro toma posse Outro problema torna mais complexo o procedimento da de-
ou adquire regularmente terras para fins diversos (colonização re- sapropriação, qual seja, a da grilagem de terras públicas, por meio
forma agrária, proteção de mananciais, construção de portos, fer- da obtenção de documentos fraudulentos. Em certas situações, que
rovias e rodovias, obras pública de vários tipos etc.). Por falta de infelizmente não são raras, principalmente em áreas de avanço
controle e de administração criteriosa, a documentação pertinente acelerado da fronteira agropecuária, podem existir diversos títu-
perde-se e muitas vezes as terras adquiridas acabam utilizadas por los de propriedade referentes às mesmas parcelas de terra, dificul-
terceiros para outros fins. Para evitar ou reverter essa perda do pa- tando sobremodo os procedimentos administrativos e judiciais de
trimônio público, os títulos das propriedades da União precisam identificação dos “ver- dadeiros” donos, inclusive se o dono for
ser meticulosamente pesquisados nos arquivos públicos. Isso sig- o governo. A própria Constituição de 1988, em seu art. 225, § 5.
nifica que a pesquisa cartorial de títulos de terras públicas é um pri- dispõe que “são indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas
meiro procedimento que pode favorecer a regularização fundiária pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção
de UCs. Trata-se de um procedimento lento e difícil, mas, dentro dos ecossistemas naturais”. “A Lei do Snuc, tendo em vista este
de uma política conseqüente de UCs, não é admissível que terras problema, determinou, em seu art. 43, que o Poder Público fará o
públicas abrangidas pelos PNs estejam sob posse de terceiros, nem levantamento nacional das terras devolutas, com o objetivo de de-
que a titularidade pública perca-se por falta de acesso ou por insu- finir áreas destinadas à conservação da natureza, no prazo de cinco
ficiência de documentação comprobatória. anos” determinação esta que não foi executada.
Um segundo procedimento a adotar, igualmente dependente Daí a importância de que se proceda também à pesquisa car-
de pesquisa sistemática em cartórios, são a identificação e incor- torial sobre títulos de terras particulares. Considerando a proba-
poração de terras devolutas. Terras devolutas são “espaços físicos bilidade (por vezes forte) de existirem documentos de proprieda-
que não se encontram registrados, ou se afastam do patrimônio das de particular juridicamente inconsistentes, é imprescindível que
pessoas jurídicas públicas, administrativamente encaradas, todavia sejam verificados todos os títulos deterras sobrepostas e vizinhas
sem se incorporarem, a qualquer título, ao patrimônio de particu- aos PNs, por meio dos levantamentos das cadeias sucessórias e da
lares. A pertinência desse procedimento é inquestionável, já que, averiguação do cumprimento dos princípios que regem a transmis-
de acordo com a Constituição Federal, art. 20, II, as terras devolu- são das propriedades, até a sua origem. Títulos dúbios ou suspeitos
tas “indispensáveis à preservação ambiental” constituem bens da devem ser conferidos administrativamente e contestados judicial-
União. Podem e devem, portanto, ser identificadas e incorporadas mente pelo órgão gestor de UCs, o que significa abrir toda uma
aos PNs e outras UCs como terras públicas. outra linha de trabalho, complementar à pesquisa de terras públicas
Essas terras geralmente são de difícil identificação, principal- ou devolutas. Estes procedimentos tendem a ser demorados, mas
mente quando são pesquisadas num universo muito grande. Le- podem contribuir significativamente para resolver pendências.
vantamentos fundiários localizados, em torno das UCs, quando Um terceiro procedimento capaz de ajudar na consolidação
bem feitos, no entanto, são capazes de identificá- las. fundiária das UCs é que o órgão gestor desenvolva uma ação sis-
Esse procedimento afeta as desapropriações de terras parti- temática e decidida na localização e incorporação de terras aban-
culares para fins de sua incorporação a PNs, que podem ser di- donadas. Trata-se de terras sobre as quais o proprietário deixa de
retas ou indiretas. As primeiras assemelham-se a uma alienação satisfazer os ônus fiscais, ces- sados os atos de posse (Lei n. 10
compulsória. Compreendem uma fase declaratória, em que o po- 406, de 10 de janeiro de 2002, que institui o Novo Código Civil,
der público declara, por meio de lei ou decreto, que determinado art. 1 276). O imóvel é arrecadado como bem vago e, no prazo de
imóvel é de utilidade pública, e outra fase executória, em que o três anos, passa à propriedade do Município ou do Distrito Federal,
expropriante e o expropriado entram em acordo sobre o preço da em caso de imóvel urbano, ou à propriedade da União, em caso de
indenização. A indenização deve ser feita em dinheiro e deve ser imóvel rural. Haverá casos em que tais terras sejam de interesse
prévia e justa. Não havendo acordo, segue-se para a fase judicial. para as políticas de conservação e sejam eventualmente incorpora-
Uma ação de desapropriação indireta, ao contrário, é aquela mo- das a UCs, em geral, e a PNs, em particular.
vida pelo particular que teve o seu imóvel apossado pelo poder Os chamados “terrenos de marinha” e as “terras situadas em
público, em decorrência da criação da UC. Esse instrumento tem cursos baixos de rios” também devem ser considerados para in-
sido largamente usado por particulares cujas terras são incluídas corporação ao patrimônio público. O Decreto-Lei n. 9 760, de 5
em UCs. Uma atenção sistemática às terras devolutas nas regiões de setembro de 1946, inclui entre os bens da União os terrenos
de abrangência dos PNs pode, assim, ajudar a sanar pendências de marinha e os seus acrescidos. De acordo com este decreto, os
fundiárias das UCs, pois gera argumentos para impugnar proces- terrenos de marinha são aqueles situados no fundo dos litorais ma-
sos de desapropriação indireta. rítimos, até uma distância de 33 metros, medidos horizontalmente
Essa medida é fundamental, tendo em vista que, em muitos a partir da posição da linha de preamar média de 1831. Neles estão
casos, as desapropriações de terras para todos os fins, e não ape- incluídos também os terrenos situados no continente, nas costas
nas para regularização de UCs são objeto de grandes transações fi- marítimas e nas margens dos rios e lagoas e os que contornam as
nanceiras, envolvendo dispêndios de dinheiro público. Avaliações ilhas, até onde se faça sentir a influência das marés. Os terrenos
muitas vezes irreais são acatadas, dando margem ao que se chama acrescidos de marinha são aqueles que se tiverem formado, natural
de “indústria das desapropriações indiretas”. A supervalorização ou artificialmente, para o lado do mar ou dos rios e lagoas, em se-
das indenizações decorre de laudos periciais que inflacionam o va- guimento aos terrenos de marinha. Em tempos coloniais, a reserva
lor das terras e/ ou impõem “condenações acessórias”, relativas a dos terrenos de Marinha tinha como objetivo garantir a defesa mili-
juros compensatórios, honorários de advogados, atualização mo- tar do litoral e zonas adjacentes. Essa diretriz continua a valer, mas
netária etc. com o objetivo de manter o livre acesso ao mar e proteger o meio
ambiente litorâneo. O citado Decreto-Lei e os regulamentos cone-
Didatismo e Conhecimento 23
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
xos ao patrimônio da União constituem “formidável arma de que legal é “a área localizada no interior de uma propriedade ou posse
dispõe o Conservacionismo no Brasil, se souber usá-la”. Assim, rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso
a limitação legal à propriedade particular de terrenos de marinha susten- tável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação
favorece a consolidação fundiária das UCs que as contêm. dos processos ecológicos, à conserva- ção da biodiversidade e ao
Somente depois de esgotadas essas alternativas é que cabe dar abrigo e proteção de fauna e flora nativas” (art. 1°, § 2°). O pro-
início aos procedimentos para a desapropriação de terras em UCs. prietário que não tem reserva legal é obrigado a recuperá- la, por
Uma consi- deração fundamental a respeito disso é que a alegação meio de recomposição, condução da regeneração natural ou com-
de que inexistam recursos não pode mais ser citada como obstácu- pensação em outra área. Entretanto, ele pode ser desonerado dessa
lo à regularização fundiária de UCs. A própria Lei do Snuc, art. 36, obrigação, se doar área localizada no interior de UC de domínio
cria o instrumento da compensação ambiental e determina que os público pendente de regularização fundiária, desde que a UC si-
seus recursos sejam usados para a regularização fundiária das UCs tue-se em área equivalente em importância ecológica e extensão,
(entre outras finalidades). De acordo com esse artigo, nos casos pertença ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma mi-
de licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo crobacia (art. 44, § 6º). Portanto, cumpre aos órgãos gestores de
impacto ambiental, o empreendedor é obrigado, a título de com- UCs promover o levantamento das propriedades rurais externas à
pensação, a apoiar a implantação e a manutenção de UCs do grupo UC, mas situadas nas microbacias por ela abrangidas, cadastrar os
de proteção integral. O valor da compensação será definido pelo imóveis desguarnecidos de reserva legal e propor aos proprietários
órgão ambiental licenciador, caso a caso, de acordo com a sua ava- a regularização de suas pendências ambientais por meio da compra
liação sobre o grau de impacto do empreendimento. Esses recursos e doação de terras no interior das UCs.
podem ser usados para diversos fins, entre os quais a consolidação A questão fundiária dos PNs brasileiros é grave. Ela preci-
de UCs, por meio da aquisi- ção de terras desapropriadas10. Adi- sa ser enfrentada de forma sistemática, por mais irresolúvel que
cionalmente, o art. 33, I, do Decreto n. 4 340, de 22 de agosto de a questão apresente-se em muitas partes do território brasileiro.
2002, que regulamenta a Lei do Snuc, determi- nou que os recur- Os problemas que envolvem a matéria tendem a se avolumar e a
sos da compensação ambiental sejam aplicados prioritariamente gerar grandes prejuízos para as UCs. A manutenção de proprieda-
na regularização fundiária e na demarcação de terras de UCs. des privadas no interior dos PNs sem dúvida compromete os seus
A Lei do Snuc prevê ainda outras fontes de recursos, como objetivos de manejo. Além disso, a situação prejudica a atividade
os provenientes de pagamentos pela exploração comercial da ex- produtiva das populações residentes em PNs ou nas suas vizinhan-
ças, em função da instabilidade gerada.
ploração da imagem de UC (art. 33), bem como os oriundos de
Criar um PN implica, por definição, restringir seriamente o
contribuição financeira prestada por órgão ou empresa, público ou
rol de atividades produtivas possíveis de serem desenvolvidas em
privado, responsável pelo abastecimento de água, pela geração e
uma área. Um PN exclui toda e qualquer atividade produtiva no
distribuição de energia elétrica ou que faça uso de recursos hídri-
seu interior e limita atividades produtivas no seu entorno. A pos-
cos da UC e que seja beneficiário da proteção por ela proporcio-
sível exceção é o ecoturismo ou o turismo de natureza, quando
nada (arts. 47 e 48). Cabe aos órgãos ambientais, portanto, lançar
praticado em regime de concessão e em conformidade com o plano
mão des- ses instrumentos e aplicar os recursos por eles gerados de manejo da unidade. Portanto, a falta de regularização fundiária
na regularização fundiária dos PNs e de- mais UCs de domínio e fragiliza também os produtores, proprietários e residentes locais.
posse públicos. Nos muitos casos em que eles não foram indenizados, ficaram pra-
A Lei do Snuc (art. 34) possibilita ainda aos órgãos respon- ticamente impossibilitados de explorar economicamente a terra e
sáveis pela administração das UCs o recebimento de “recursos ou os demais recursos. Por outro lado, a não-resolução do problema
doações de qualquer natureza, nacionais ou internacionais, com ou fundiário muitas vezes termina por trazer sérios problemas para a
sem encargos, provenientes de organizações privadas ou públicas conservação da área, pois proprietários não- indenizados tendem a
ou de pessoas físicas que desejarem colaborar com a sua conser- descontar o valor dos recursos naturais que motivaram a criação do
vação”. Esse dispositivo abre um leque de alternativas, como as PN e passam a explorá-los de forma desregrada.
negociações para que terras de interesse para UCs sejam compra- O poder público precisa, portanto, implementar, com serieda-
das por entidades civis comprometidas com a questão ambiental e de e prioridade, uma espécie de abrangente “Programa de Regu-
depois doadas ao ICMBio. Tendo em vista a crescente sensibilida- lariza- ção Fundiária de UCs”, de longo prazo, com metodologia
de ambiental da população em geral, o que inclui a atenção dada à definida, etapas plurianuais, metas quantitativas claras e esquemas
proteção da biodiversidade e aos impactos do aquecimento global, de consolidação, monitoramento e ajuste. Os procedimentos aqui
aumenta o interesse de empresas e organizações de vincular a sua indicados e outros a serem definidos e avaliados devem ser adota-
imagem à conservação da natureza. Assim, ONGs ambientalistas dos seletivamente, de acordo com cada caso a resolver. A eficácia
podem e devem se aproximar delas em busca dos recursos destina- de cada um deve ser objeto de atenção cuidadosa, a fim de evitar
dos a viabilizar a aquisição de terras disputadas em UCs e no seu desperdício e duplicação de esforços e recursos.
entorno. É imprescindível, no entanto, que as terras em questão Sabemos que as soluções propostas não geram efeitos de curto
tenham sido cuidadosamente selecionadas a partir dos estudos de prazo, devido à complexidade dos procedimentos envolvidos, da
titularidade e de cadeia de dominialidade, feitos sob responsabili- exigência de pessoal especializado, do volume de informações exi-
dade do órgão gestor, a fim de que esses recursos não sejam gas- gidas e da quantidade de variáveis presentes na discussão e na to-
tos em propriedades que mais tarde gerarão novas pendências ou mada de decisão. Elas só serão viabilizadas e alcançadas a partir de
processos. trabalho contínuo e persistente, que não foi realizado nos longos
Finalmente, há casos que podem ser resolvidos diretamente anos de existência da política de UCs. É fundamental, portanto,
com os proprietários rurais, por meio da compensação da reserva que o poder público assuma posição ativa na questão, conferindo-
legal, prevista na Lei n. 4 771/1965, do Código Florestal. A reserva lhe alto grau de prioridade.
Didatismo e Conhecimento 24
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
De toda forma, a conservação da biodiversidade vai muito Para o número de dias secos consecutivos ao ano, índice cha-
além da criação de UCs de qualquer modalidade. Diferentes seto- mado de CDD, o estudo indica que as populações que vivem na
res do poder público e da sociedade civil devem investir também parte centro-oeste do estado poderão lidar com o aumento dos pe-
em ações de fiscalização, formação de corredores ecológicos entre ríodos de estiagem. Em Altamira do Maranhão e Alto Alegre do
UCs de proteção integral e de uso sustentável, educação ambiental Pindaré, por exemplo, as elevações nos dias seguidos sem chuva
e implantação de instrumentos econômicos de gestão ambiental, podem chegar a 92,6% e 90,4%, respectivamente, em comparação
que induzam proprietários particulares de terras a adotar práticas com o período atual.
compatíveis com a conservação da natureza. Texto adaptado de Na capital maranhense, a temperatura poderá aumentar 3,1°C
ROCHA,L. G. M. D.; DRUMMOND, J. A.; GANEM, R. S. nos próximos 25 anos. Em relação ao volume de chuvas, São Luís
poderá ter uma redução de 30,3% e o número de dias seguidos sem
chuva pode ter uma elevação de 65,4%.
CLIMAS DO MARANHÃO:
O MARANHÃO E SEUS BIOMAS
PLUVIOSIDADE E TEMPERATURA.
O Maranhão pode ser caracterizado pela diversidade de bio-
mas: o Cerrado prevalece em 64,1%, a Amazônia em 34,8% e a
Caatinga em 1,1% do território do estado. As projeções feitas na
Os 217 municípios do Maranhão poderão ficar, progressiva- pesquisa indicam que além das populações, algumas atividades
mente, mais quentes e mais secos até 2070. A parte oeste do es- como a pesca, pecuária, agricultura, extração de madeira e babaçu
tado, por exemplo, poderá ter um aumento de mais de 5°C e uma podem ser afetadas, caso não sejam adotadas estratégias de adap-
diminuição de até 32% no volume de chuvas no período indicado. tação à mudança do clima.
As informações fazem parte de uma pesquisa inédita que avaliou A análise feita aponta que, no bioma Amazônia, o aumento
a vulnerabilidade das cidades maranhenses à mudança do clima. da temperatura pode variar entre 2,8°C e 5,4°C, compreendendo a
Coordenado pela Fiocruz em parceria com o Ministério do Meio porção oeste do estado e uma parte do litoral. O volume de chuvas
Ambiente, o estudo faz parte das atividades do projeto Vulnerabi- poderá diminuir até 32,2%.
lidade à Mudança do Clima. Os municípios situados no Cerrado poderão ficar mais quen-
Os resultados da pesquisa serão divulgados durante o Seminá- tes, já que a temperatura poderá chegar a 5,1°C e a redução da
rio Indicadores de Vulnerabilidade à Mudança do Clima, que ocor- precipitação pode variar entre 19,2% e 31,2% em comparação com
rerá nesta terça-feira (8/11), às 9h, no Hotel Luzeiros São Luís, em o período atual. As mudanças na Caatinga (que está limitada a pe-
São Luís (MA). Para a coordenadora do projeto, Martha Barata, quenos fragmentos no extremo leste, na divisa com o Piauí) podem
ainda há incertezas sobre os impactos das mudanças climáticas e ocorrer por causa do incremento de temperatura de até 4,2°C e da
seus efeitos, no entanto, é preciso definir estratégias para entender redução de pluviosidade que pode chegar a 23,3%.
como o clima pode afetar as populações, os ecossistemas e as ati-
vidades econômicas dos estados e municípios. “A proposta do pro- O PROJETO E A METODOLOGIA
jeto é criar indicadores que permitam a análise da vulnerabilidade
humana à mudança do clima. A partir da coleta e combinação de O Maranhão foi um dos seis estados escolhidos para partici-
informações, é possível ter uma melhor interpretação sobre os mu- par do projeto Vulnerabilidade à Mudança do Clima, que também
nicípios que são mais e menos vulneráveis às alterações climáticas avalia a vulnerabilidade humana à alteração do clima nos municí-
e, desta forma, elaborar ações de adaptação que possam contribuir pios do Amazonas, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraná e
para o desenvolvimento local”, destaca a pesquisadora. Pernambuco.
Para o desenvolvimento do estudo são consideradas informa-
MUDANÇAS À VISTA ções de cada município sobre preservação ambiental, dados sobre
a população, como saúde e condições socioeconômicas. Também
A pesquisa feita sobre os municípios maranhenses indica que foram inseridas doenças como dengue, esquistossomose, leptospi-
a porção centro-oeste e o extremo norte do estado poderão ser as rose e leishmaniose tegumentar americana e visceral. A partir da
áreas mais impactadas pela diminuição no volume de chuvas. O combinação e análise desses dados, é possível calcular o Índice
município de Bom Jesus das Selvas, por exemplo, poderá ter uma Municipal de Vulnerabilidade (IMV).
redução de 32,2% na precipitação. Em cidades como Carutapera e O cálculo da vulnerabilidade considera três elementos: ex-
Amapá do Maranhão é esperada uma queda de até 30% na pluvio- posição, sensibilidade e capacidade de adaptação da população,
sidade nos próximos 25 anos. tomando como referência dois cenários de clima futuro: um com
De acordo com as projeções feitas pelo Instituto Nacional de redução nas emissões de gases do efeito estufa e menor aqueci-
Pesquisas Espaciais (Inpe) para o período de 2041 a 2070, dados mento global e outro com o aumento contínuo dessas emissões
considerados para a realização do estudo, a temperatura na porção com maior impacto no clima.
oeste do estado poderá aumentar até 5,4°C, com destaque para o No Maranhão, a pesquisa aponta que a parte central do esta-
município de São Pedro da Água Branca. Em cidades localizadas do, com destaque para o município de Trizidela do Vale, pode ser
na porção central do Maranhão, como Barra da Corda e Jenipapo considerada o mais exposto à mudança do clima, em virtude dos
dos Vieiras, o aumento pode chegar a 4,8°C. O litoral seria a parte desmatamentos e desastres meteorológicos, como enchentes e es-
menos afetada, com acréscimos entre 2,8°C (em Cururupu e Porto tiagem. Para a sensibilidade, índice que destaca a intensidade com
Rico do Maranhão) e 3,3°C (em Cândido Mendes e Turiaçu). a qual os municípios são suscetíveis à mudança do clima, Senador
Didatismo e Conhecimento 25
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Alexandre Costa apresentou o maior valor. Algumas cidades da com o Estado do Tocantins, e as menores, junto à linha da costa.
porção centro-oeste do Maranhão, como Buriticupu e Santa Luzia Tais feições morfológicas foram descritas por Carvalho (1924),
também seriam mais sensíveis às alterações climáticas. Galvão (1955), Ab´Saber (1960), Lopes (1970), Barbosa e Pinto
O estudo mostrou que Porto Rico do Maranhão e São Luís (1973), Feitosa (1983), IBGE (1984) e Ribeiro (2002), os quais
seriam os municípios mais adaptados para lidar com a mudança do apresentaram interpretações diversas mas convergentes em rela-
clima, em virtude da estrutura socioeconômica, do número de lei- ções às unidades básicas do relevo estadual.
tos hospitalares e da atuação da Defesa Civil. A cidade de Marajá
do Sena seria a menos adaptada. Texto adaptado do IBGE UNIDADES GEOMORFOLÓGICAS
Didatismo e Conhecimento 26
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
um grande conjunto de baías conectadas por canais divagantes se destacam os rios Santa Rosa e Torto e os igarapés Timbó e Ma-
e furos que delimitam exuberantes manguezais intercalados por ria Engrácia. No aspecto econômico, o delta é a região mais den-
ilhas, cordões litorâneos, lagoas, vasas e praias cuja largura, mui- samente explorada. Conhecidocomo “Delta das Américas” pela
tas vezes, supera 1 km. Como principais recortes do Litoral Oci- mídia, cerca de 60 % de sua área pertence ao Estado do Maranhão,
dental, destacam-se as baías de Turiaçu, abrangendo os municípios de Água Doce do Maranhão, Araioses
Lençóis, Capim, Cabelo de Velha, Cumã, Mutuoca, Maraca- e Tutóia. Entretanto, as principais empresas de turismo que explo-
çumé, Carará, Piracaua, Tromaí e Iririaçu, Iririmirim e Gurupi, to- ram a área são sediadas na cidade de Parnaíba, situada na margem
das circundadas por ilhas de extensão e forma variadas, resultantes oriental do delta. Nas duas últimas décadas, a região de Barreiri-
da dinâmica sedimentar. Entre as baías de Turiaçu e de Lençóis, nhas vem despertando interesseeconômico por seu potencial tu-
encontra-se o arquipélago de Maiaú, onde se destacam as ilhas rístico representado pelas belezas da paisagem da área do Parque
Mirinzal, Lençóis, Maiaú, Aracajá e Malhada e, entre as baías do Nacional dos Lençóis Maranhenses. Para fomentar a exploração
Capim e Cabelo de Velha, se encontra o arquipélago de Cabelo do turismo foram canalizados investimentos em infra-estrutura.
de Velha, formado pelas ilhas Mangunça, Caçacueira, São João Na planície costeira, a proximidade do mar influi, indireta-
Mirim, São Lucas, Perus e Bicuava. mente, sobre grande parte dos processos de modelagem do am-
As condições geográficas neste segmento do litoral denun- biente, dando origem aos campos de dunas móveis, dunas fixas,
ciam alto grau de vulnerabilidade da paisagem em função da inten- paleodunas, restingas e falésias. A planície costeira corresponde à
sa dinâmica sedimentar. As atividades humanas não representam zona emersa adjacente à planície litorânea, com influência indireta
fator de desequilíbrio, exceto nas áreas de influência direta dos dos agentes oceanográficos que se manifesta nas áreas contíguas
povoados por causa do predomínio do emprego de técnicas ainda à linha da costa, através da umidade e da salinidade transportada
rudimentares na pesca e na extração de recursos como o sururu e pelo vento diminuindo com o afastamento desta. Integrando esta
madeira de mangue. Golfão Maranhense abrange a reentrância de- unidade geomorfológica podem ser discriminados três subsiste-
limitada, a oeste, pela ponta do Guajuru, município de Cedral, e a mas ambientais: costa de dunas e restingas, tabuleiros e baixada
leste, pela ilha de Santaninha, no município de Humberto de Cam- maranhense. A costa de dunas e restingas é constituída de forma-
pos, tendo, ao centro, a ilha Upaon-Açu, mais conhecida como ilha ções superficiais exclusivamentearenosas com ausência de cober-
do Maranhão ou ilha de São Luís, além das ilhas do Medo, Peque- tura vegetal ou com cobertura vegetal parcial conformando dunas
na, Livramento, Carangueijos, Duas Irmãs, Tauá-Redonda, Tauá- móveis e fixas intercalas por lagoas de origem pluvial, contendo
Mirim e Ponta Grossa e compreendendo as baías de Cumã, São água doce. A zona sem cobertura vegetal corresponde à área do
Marcos, São José e Tubarão. A denominação de Upaon-Açú para a Parque Nacional dos Lençóis
ilha onde se situa a cidade de São Luís constitui uma homenagem Maranhenses, delimitado a oeste pelo Golfo do Maranhão
a um povo que não tem mais qualquer representação na toponímia e a leste pelo rio Preguiças. É dominado por dunas móveis que
maranhense, sendo mais apropriada a de ilha do Maranhão, por avançam continuamente sobre a vegetação do Cerrado, em direção
sua importância histórica e econômica atual. Na área litorânea do ao continente, tendo alcançado grande distância do litoral. Nessa
Golfão Maranhense encontram-se características comuns ao área, formam- se dunas de vários tipos e tamanhos, sendo mais co-
Litoral de Ocidental e ao Litoral Oriental. As baías de São muns as do tipo Barcana, que podem medir até 30 metros de altura
Marcos e de São José são consideradas as mais importantes da da crista à base, justificando a denominação de grandes lençóis.
zona costeira do Maranhão tanto pelos aspectos fisiográficos, por O avanço das dunas é provocado pela ação do vento, sen-
serem desaguadouros dos maiores rios do estado e apresentarem do mais intenso durante o período seco, quando há deficiência
intensa dinâmica da paisagem, quanto pela densidade das ativida- hídrica local e as lagoas perdem parte de sua massa líquida pela
des humanas e a circulação de riquezas. evaporação e percolação, e o ar se mantém mais seco. Durante
A dinâmica da paisagem na área do Golfão Maranhense é faci- o período chuvoso, o excedente hídrico mantém a umidade das
litada pela fragilidade das estruturas geológicas, por sua exposição areias, dificulta o deslocamento dos grãos pelo vento e as lagoas
aos agentes modeladores do relevo como os de origem climática, aumentam o volume de água. Contudo, quando ocorrem estiagens
hidrológica e oceanográfica, e pela intensa atividade eólica, ma- com períodos superiores a 5 dias, a evaporação da umidade dos
rinha e fluviomarinha, gerando ondas e correntes que modelam o grãos de areia possibilita a remoção destes pelo vento. Ente o rio
maior conjunto de falésias do litoral do Maranhão, e pelo aporte Preguiças e o delta do Parnaíba, as areias são cobertas por vege-
de sedimentos continentais carreados pelos rios. A leste da baía de tação e protegidas da radiação solar e da ação do vento, tendo sua
São José, predominam processos de deposição que deram origem dinâmica restrita a pequenos espaços onde a cobertura é rarefeita,
a um conjunto de ilhas que formam o arquipélago das Marianas, motivando a denominação de pequenos lençóis. Tais condições di-
circundando a baía de Tubarão, dentre as quais se destacam as minuem a evaporação e favorecem o aumento do volume de águas
ilhas de Santana, Carrapatal, Mucunandiba, Rosário, Santaninha e das lagoas, que se tornam perenes e mantêm formações vegetais
Areinhas, além de vasas e manguezais. A proximidade do Equador do tipo restingas. Os tabuleiros são formas de relevo que ocorrem
e a configuração do relevo favorecem a amplitude dasmarés, que na área emersa contígua à faixalitorânea, com níveis topográficos
alcançam até 7,2 m com média em torno de 6,6 m e penetram os superiores aos da baixada, em geral não ultrapassando 100 metros
leitos dos rios causando influências até cerca de 150 km do litoral. de altitude.
O delta do Parnaíba é o principal recorte do Litoral Oriental, Os tabuleiros ocorrem contíguos ao litoral ocidental e no
composto por um conjunto de aproximadamente 70 ilhas que for- golfão maranhense, modelados em rochas sedimentares das for-
mam o arquipélago das Canárias. Dentre as maiores salientam-se mações Itapecuru e Barreiras. Na região nordeste do Maranhão,
as de: Santa Isabel, Paulino, Igoronhon, Canárias, Poldros e Bagre essa morfologia domina em áreas mais distantes do litoral. Os ta-
Assado, delimitadas por um sistema de canais divagantes em que buleiros do nordeste maranhense são descritos como superfícies
Didatismo e Conhecimento 27
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
estruturais pediplanadas, modeladas em rochas sedimentares, maranhense apresenta alto de grau de vulnerabilidade, merecendo
apresentando vales aplainados e vales pedimentados com retoma- a atenção dos órgãos responsáveis pelas políticas ambientais no
da recente dos processos de erosão. Nesta unidade geoambiental, âmbito do Estado.
as superfícies tabulares próximas ao litoral encontram-se cobertas A planície fluvial corresponde às morfoesculturas modeladas
por dunas fixas até uma distância significativa da linha da costa. pelos rios, nos seus baixos cursos. Apresenta largura variável de
Os tabuleiros da área do Golfão Maranhense ocorrem na ilha do oeste para leste e maior penetração para o interior acompanhan-
Maranhão e em Alcântara. do os vales dos rios, notadamente os que desembocam no Golfão
Na ilha do Maranhão, compõem o tabuleiro central com for- Maranhense.
mas de relevo tabular e subtabular em bordas dissecadas em co-
linas com baixa, média e alta declividade, resultantes de proces- PLANÍCIE FLUVIAL
sos erosivos, que deram origem a vales pouco profundos. Alguns
compartimentos desta unidade geoambiental encontram-se junto Os terrenos aluviais ocupam grandes extensões do território
ao litoral com bordas abruptas que formam as barreiras terciárias maranhense, distribuindo-se ao longo da planície litorânea, forma-
conhecidas como falésias. Processos erosivos subatuais modela- da por aluviões marinhos e fluviomarinhos, avançando em direção
ram formas erosivas que restam como páleofalésias em zonas re- ao interior do Estado, na planície costeira, onde predominam alu-
cuadas em relação à linha de costa atual. Os tabuleiros do noroeste viões fluviais com influência eólica, na costa de dunas e restingas,
maranhense são delimitados pelos rios Gurupi e Turiaçu e corres- e com influência lacustre na Baixada Maranhense. Como planícies
pondem a estruturas sedimentares dissecadas em relevos tabulares fluviais mais expressivas do Estado do Maranhão destacam-se al-
e subtabulares com bordas decaindo em forma de colinas de bai- gumas áreas da margem direita dos rios Tocantins e Manuel Alves
xa a média declividade e amplos valesuco aprofundados. Numa Grande, margem esquerda do rio Parnaíba, e nos baixos cursos dos
pequena área próxima ao rio Gurupi constata-se a influência do vales dos rios Itapecuru, Mearim, Grajaú e Pindaré.
controle estrutural. O Planalto O planalto abrange as áreas mais elevadas do cen-
A Baixada Maranhense corresponde à região do entorno do tro-sul do Estado, com altitudes entre 200 e 800 metros. Subdivi-
Golfão, caracterizada por relevo plano a suavemente ondulado de-se nas seguintes unidades geomorfológicas: Pediplano Central,
contendo extensas áreas rebaixadas que são alagadas durante o Planalto Oriental, Planalto Ocidental, Depressão do Balsas e Pla-
período chuvoso, dando origem a extensos lagos interligados por nalto Meridional. O Pediplano Central corresponde à área norte do
um sistema de drenagem com canais divagantes, associados aos planalto maranhense. Caracteriza-se pelo domínio de formas dis-
baixos cursos dos rios Mearim, Grajaú, Pindaré e Pericumã. A secadas pela superimposição da drenagem formando topos tabula-
res com bordas abruptas que decaem para colinas de declividade
Baixada Maranhense constitui um ambiente rebaixado, de forma-
média a alta. Nesta unidade destacam-se as serras: Cinta, Negra,
ção sedimentar recente, ponteado de relevos residuais, formando
Branca, Alpercatas e Itapecuru. A altitude máxima é de 686 m na
outeiros e superfícies tabulares cujas bordas decaem em colinas
serra Negra. O planalto oriental constitui o conjunto de morfoes-
de declividades variadas. A convergência dos cursos dos rios Mea-
culturas do leste maranhense, que se prolonga para nordeste. Apre-
rim, Pindaré e Grajaú, associada a movimentos transgressivos e
senta forma tabulares, com cotas máximas de 460 m, que decaem
regressivos do mar, modelou o ambiente deposicional que é preen-
para vales mais amplos em colinas de declividade média a alta,
chido pelo excedente de águas fluviais no período chuvoso, dando onde se destaca a Serra do Valentim.
origem a extensas superfícies lacustres que condicionam a vida O planalto ocidental conforma um conjunto de morfoescultu-
das comunidades residentes na região. No interior dos ambientes ras do oeste maranhense com altitudes máximas em torno de 350
rebaixados formam-se os tesos, acumulações desedimentos cujos m e lineamento nordeste-sudoeste, onde predominam as serras do
topos ficam descobertos das inundações e onde se desenvolvem Gurupi, Tiracambu e Desordem. A depressão do Balsas compreen-
arbustos com características de vegetação de terra firme. de o conjunto de morfoesculturas rebaixadas, modeladas pela dre-
A formação dos tesos ocorre em zonas de baixa energia onde nagem do rio Balsas e seus afluentes com alongamento no sentido
se precipitam as partículas de sedimentos. A fisionomia da Baixada leste- oeste. É dominada por formas amplas e baixas, com maiores
Maranhense é marcada pela grande dimensão fisiográficae econô- altitudes a oeste, nas cabeceiras dos rios, com cotas máximas al-
mica das bacias lacustres, com destaque para os lagos: Açu, Cajari, cançando os 350 m.
Bacuri, Formoso e Viana. Os lagos transbordam durante o período Os estudos publicados até o presente, abordando a classifica-
chuvoso, interligando-se por um sistema de canais divagantes que ção das formas derelevo do Estado do Maranhão, contêm algumas
servem como vias de comunicação entre as cidades e os povoados, interpretações de caráter geral exceto apoiadas na discriminação
substituindo parcialmente as estradas. Durante o período seco, o de grandes unidades morfológicas de escala macrorregional. Com
cenário hídrico transforma-se em grandes extensões de campos referência específica ao território maranhense, poucos estudos
ressequidos. contemplamdetalhamento semelhante ao que ora se apresenta. Tal
As atividades econômicas apoiam-se principalmente nos semelhança é proporcionada pela configuração do relevo estadual
recursos pesqueiros abundantes nos lagos e rios da região e na em duas grandes unidades morfológicas a Planície e o Planalto.
pecuária ainda praticada com emprego de métodos e técnicas ru- A planície corresponde aos terrenos que dominam o norte do
dimentares. A pecuária concentra a atenção de grande parte dos Estado, com largura variável de oeste para leste, apresentando um
proprietários de terras alagadas. Neste segmento da economia conjunto significativo de compartimentos que se diferenciam mais
local, a maior concentração de capital é empregada na bubalino- por características locais do que por grandes amplitudes topográ-
cultura, considerando-se que os búfalos são os animais mais bem ficas enquanto o planalto se caracteriza por índices morfométricos
adaptados às condições da região. Em face das condições naturais diferenciados no sentido norte-sul, embora com correlações positi-
e da natureza das atividades econômicas, apaisagem da baixada vas no sentido leste-oeste.
Didatismo e Conhecimento 28
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
O conde de Assumar exigiu peixe para a refeição e os pes-
cadores lançaram suas redes. Porém, retiraram uma imagem que-
CARACTERÍSTICAS DOS RIOS brada de Nossa Senhora, que seria restaurada e transformada em
MARANHENSES: BACIAS DOS RIOS padroeira do Brasil, como Nossa Senhora Aparecida.
LIMÍTROFES: BACIA DO PARAÍBA, DO A Bacia do Paraíba do Sul drena cerca de 57 mil km², distri-
buídos pelos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro,
GURUPI E DO TOCANTINS-ARAGUAIA. em 180 municípios, com uma população total superior a 5,5 mi-
lhões de habitantes, da qual 88,79% vive nas áreas urbanas.
O Paraíba, como é conhecido, também é responsável pelo
abastecimento de água para mais de 12 milhões de pessoas no es-
tado do Rio de Janeiro, incluindo 85% dos habitantes da Região
Metropolitana, através da captação de 44 m3/s no Rio Guandu.
O bioma predominante da região é a Mata Atlântica, sendo que
a antes diversa e extensa floresta original está restrita a áreas de
reserva ou de difícil acesso.
A situação atual do Rio é preocupante, tendo sido impactado
pelas várias formas de exploração no seu curso, por desmatamen-
tos nas margens, gerando assoreamento, uso indevido de agrotóxi-
cos, lançamento de efluentes domésticos e resíduos sólidos, além
do desvio de 40% da sua vazão para o Rio Guandu.
As principais atividades econômicas locais estão nos vários
setores industriais (químico, metalúrgico, têxtil, sucro-alcooleiro,
etc), com destaque para o trecho carioca do Médio Paraíba, onde
está Volta Grande (RJ), e de agropecuária, com quase 80% da área.
Didatismo e Conhecimento 29
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
BACIA HIDROGRÁFICA DO PARNAÍBA
Didatismo e Conhecimento 30
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
A população indígena do Maranhão está entre as mais signi-
ficativas do país do ponto de vista numérico, sendo estimada em
pouco mais de 12,2 mil habitantes. Está dividida em dezesseis gru-
pos, sendo que quatorze destes já vivem em áreas demarcadas para
si pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio).
Como nos demais Estados nordestinos, a população mara-
nhense tam-bém enfrenta problemas infra-estruturais, como a rede
hospitalar insatisfa- tória, em que grande parte dos estabelecimen-
tos são mantidos por entida- des privadas. Outro grave problema
social trata-se dos conflitos rurais resultados da baixa condição
econômica dos trabalhadores rurais, destituí- dos de terras próprias
para o cultivo e a subsistência.
Hidrografia. Quase toda a drenagem do estado se faz de sul
para norte através de numerosos rios independentes que se dirigem
para o Atlântico: Gurupi, Turiaçu, Pindaré, Mearim, Itapecuru e
Parnaíba. A sudoeste do estado uma pequena parte do escoamento
se faz em direção a oeste. Integram-na pequenos afluentes da mar-
gem direita do Tocantins.
Pontos Extremos Norte: Farol da Pedra Grande na Ilha de
São João, no município de Carutapera Sul: Nascente do rio Àguas
Quentes na Serra sa Tabatinga, Município de Alto Parnaíba Leste:
rio Parnaíba, defluência com o rio Iguaçu, município de Araioses
Oeste: confluência dos rios Tocantins e Araguaia, municipio de
Imperatriz. O oeste maranhense está dentro da área de atuação do
clima equatorial com médias pluviométricas e térmicas altas. Já na
maior parte do estado, se manifesta o clima tropical com chuvas
distribuídas nos primeiros meses do ano, mas o estado não sofre
com períodos de seca.
Do ponto de vista ecológico, o Maranhão apresenta uma gran-
de diversidade de espécies de plantas e animais. Na região oeste do
estado estão demarcados de 300 000 hectares de terra referentes à
Reserva Biológica do Gurupi, que é o que restou da floresta ama-
zônica no Maranhão.
Os Lençóis Maranhenses
O rio Gurupi, rio de domínio federal, é o divisor natural entre - Amazônica: Predominante no oeste do estado e encontra-se
os estados do Maranhão e do Pará. Este rio nasce em terras mara- muito devastada em consequência das siderúrgicas de ferro gusa
nhenses, na serra do Gurupi, entre os municípios de Açailândia e - Mata de Cocais: Mata característica do Maranhão onde pre-
São Francisco do Brejão, percorre terreno de baixada em direção domina o babaçu e carnaúba. Cobre a parte central do Estado.
Norte, com uma extensão 720 km, até chegar ao Oceano Atlântico. - Campos: próximos ao Golfão Maranhense têm, comocarac-
Destacam-se como afluentes maranhenses do rio Gurupi, os rios terística, vegetação herbácea alagável pelos rios e lagos da Baixa-
Surubim, Tucumandiua, Cajuapara, Panemã, Apará e Jararaca. O da Maranhense.
principal divisor de águas da bacia hidrográfica do Gurupi com as - Mangues: predominam no litoral maranhense desde a foz do
bacias hidrográficas do Mearim e Turiaçu é a Serra do Tiracambu Rio Gurupi até a foz do Rio Periá.
(Figura 19). Texto adaptado SANTOS, L. C. A. D Rio Cachoeira São Romão, na Chapada das Mesas
- Cerrado: vegetação predominante no Maranhão. Formada
porárvores de porte médio e vegetação rasteira. O Maranhão pos-
BACIAS DOS RIOS GENUINAMENTE sui o segundo maior litoral do Brasil, com 640 km deextensão,
MARANHENSES. indo desde o Delta do Rio Parnaíba até a foz do Rio Gurupi. Ao
longo de sua extensão, podem ser encontradas diversas praias,
além de regiões de mangues
O Rio Tocantins (Bico de Papagaio em Tupi) é um rio brasilei-
Relevo O relevo maranhense é basicamente dividido em duas ro que nasce no estado de Goiás, passando logo após pelos estados
grandes áreas:a região de planície no litoral e a região de planal- do Tocantins, Maranhão e Pará, até a sua foz no Golfão Amazônico
to nas demais áreas do Estado. A planície caracteriza-se pela pre- próximo a Belém, onde se localiza a ilha de Marajó.
sença de tabuleiros (pequenos platôs) e baixadas alagadiças. Esta Após a união dos rios rio das almas Maranhão e Paranã en-
região de planície chega a avançar, a partir de sua região central, tre os municípios de Paranã e São Salvador do Tocantins (ambos
em direção ao interior do território. Quanto ao planalto, com for- localizados no estado do Tocantins), o rio passa a ser chamado
ma tabular e de formação basáltica a partir do mesozóico, há a definitivamente de Rio Tocantins. Durante a época das cheias, seu
presença de áreas de chapadas, com escarpas que constituem, por trecho navegável é de aproximadamente 2000 km, entre as cidades
exemplo,as serras da Desordem, da Canela e das Alpercatas. de Belém - PA e Lajeado - TO.
Didatismo e Conhecimento 31
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
O Rio Tocantins é o segundo maior rio totalmente brasileiro (perdeapenas para o Rio São Francisco), e também pode ser chamado de
Tocantins-Araguaia, após juntar-se ao Rio Araguaia na região do “Bico do Papagaio”, que fica localizada entre o Tocantins, o Maranhão e o
Pará. É no vale do médio e baixo Rio Tocantins que se encontrava a maior concentração de castanheiras da Amazônia.
Rio Gurupi, é um rio brasileiro que banha o estado do Maranhão na divisa deste com o estado do Pará. Possui aproximadamente 720
km de extensão, tem sua nascente no estado do Maranhão e sua foz no Oceano Atlântico.
É o divisor natural entre os estados do Pará e Maranhão. Seus principais afluentes localizam-se na margem esquerda em território
Paraense e sua bacia hidrográfica situa-se da seguinte maneira: 70% em território Maranhense e 30% em território Paraense. Devido a sua
constituição geográfica, corre sobre rochas cristalinas e apresenta-se encachoeirado em longo trecho.
O Rio Parnaíba, conhecido como “Velho Monge”, é um rio brasileiro que banha os estados do Piauí e do Maranhão. O seu nome é
oriundo da língua tupi e significa “mar ruim”, através da junção dos termos paranã (“mar”) e aíb (“ruim”)
O rio Manuel Alves Grande é um rio brasileiro que fica na divisa entre os estados de Tocantins e Maranhão.
Rios genuinamente maranhenses
Rio Itapecuru
Rio Munin
Rio Balsas
Rio Mearim (fenômeno da Pororoca)
Rio Farinhas
Rio Pindaré
Rio Grajaú
Rio Uma
Rio Corda
Rio Bacanga (na ilha de São Luís do Maranhão)
Rio Pericumã (casa de lavrador).Texto adaptado de CACHOEIRA, S. N.
Antes de pensarmos em aprender qualquer bioma é fundamental que prestemos atenção nos mapas, por que eles nos ajudam a decifrar
melhor a vegetação que podemos esperar em uma determinada região. Sendo assim, segue o nosso mapa!
Didatismo e Conhecimento 32
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
FLORESTA AMAZÔNICA OU EQUATORIAL: Ocupa uma área de 216,48 Km2 (área que também inclui
praias) - municípios de Guimarães, Cedral, Porto Rico, Cururupu,
Localizada no noroeste do estado, possui alta pluviosidade, ou e Apicum-Açu, principalmente na região das ilhas, ao longo do
seja, chove muito. Tem uma fauna rica e com espécies endêmicas litoral, associadas, muitas vezes, aos manguezais e às dunas.
(que só acontecem naquela região). A vegetação nessa paisagem tem porte arbustivo-arbóreo com
No nosso estado podemos destacar a Reserva Biológica do altura em torno de 5m e as espécies que mais caracterizam o am-
Gurupi por ter uma área: 341.650ha Situada no município de Ca- biente são Tucum, Guajiru, Murici e Cajueiro; no estrato herbáceo
rutapera, oeste do Estado do Maranhão. A reserva foi criada como dominam Vassoura de botão, Vassoura amarela e Vassoura branca.
Reserva Florestal, em 1961, e abriga milhares de espécies vege- Dentro da restinga destacamos o O Parque Nacional dos Len-
tais, sendo uma das áreas com alta biodiversidade. Além disso, çóis é um Paraíso ecológico com 155 mil hectares de dunas, rios,
protege a Serra da Desordem e a Serra do Tiracambu.e encontra-se lagoas e manguezais.
entalhada pelos vales e rios que seguem a direção noroeste (Guru- Devido a um raro fenômeno geológico, foi formado ao longo
pi) e nordeste (Capim e Guamá). de milhares de anos através da ação da natureza. Suas paisagens
Na Gurupi há ocorrência de 21 espécies de aves considera- são deslumbrantes: imensidões de areias que fazem o lugar asse-
das vulneráveis e 4 spp de mamíferos ameaçados de extinção. Ex: melhar-se a um deserto.
Ararajuba (Aratinga guarouba) e Cairara caapor (Cebus kaaporii). Na verdade chove na região, que é banhada por rios. E são as
Entretanto a ausência de demarcação e a falta fiscalização faz com chuvas, aliás, que garantem aos Lençóis algumas das suas paisa-
que haja constante invasão por caçadores e madeireiros. Além da gens mais belas, pois as águas pluviais formam lagoas
presença de posseiros que promovem queimadas e desmatamento. Algumas delas, como a Lagoa Azul e Lagoa Bonita já são fa-
Além da Reserva do Gurupi, podemos destacar a Floresta dos mosas pela beleza e condições de banho.
Guarás que também fica na parte amazônica do Maranhão, no li- Baixada Maranhense: Possui uma área de 20 mil quilômetros
toral ocidental do Estado. Nos municípios de Mirinzal, Cururupu, quadrados, nos baixos cursos dos rios Mearim e Pindaré, e médios
Guimarães e Porto Rico do Maranhão, entre outros. Tem grande e baixos cursos dos rios Pericumã e Aurá, reunindo um dos mais
importância biológia pois além da vegetação equatorial possui alta belos conjuntos de lagos e lagoas naturais do Brasil. A Baixada
densidade de manguezal, sendo considerada berçário de várias es- ainda abriga o maior conjunto de bacias lacustres do Nordeste,
pécies e local de refúgio para tantas outras. onde se destacam os lagos Açú, Verde, Formoso, Carnaúba e Ja-
tobá.
MANGUEZAL: É uma área de Proteção Ambiental pelo governo do Estado,
em 1991, pela sua importância ecologica e econômica. Possui ex-
Hoje o Maranhão possui a maior mancha do Brasil, ou seja, tensos manguezais, campos inundados e matas de galeria, uma rica
possui a maior quantidade de manguezal. fauna e flora, com destaque para aves aquáticas (migratórias) e
É considerado berçário, pois diversas espécies depositam seus animais ameaçados de extinção como o peixe-boi marinho.
ovos nesta região, uma vez que a mesma é rica em nutrientes e Região ecológica de distinta importância no Estado e no Nor-
abrigo para os pequenos animais. deste pelo potencial hídrico. No verão, somente no Lago Açú, são
É encontrado principalmente na parte Noroeste do estado, pescados até 15 t de peixes por dia e no Lago de Viana a produção
onde há uma grande quantidade de rios desembocando no mar. anual chega a 1000t.
Essa mistura de água salgada e doce cria um ambiente chamando Entretanto, desmatamentos e queimadas vem pondo em risco
de estuário. esse bioma.
O manguezal é pouco resistente, ou seja, sofre bastante com a Também é conhecida como Pantanal Maranhense.
poluição, desmatamento etc, mas com grande resiliência, ou seja,
tem alta capacidade de voltar a ser como era se a fonte causadora CERRADO:
do problema for acabada.
A vegetação com um único estrato, de porte arbóreo, abrigan- O Cerrado representa mais da metade de todos os biomas exis-
do grande variedade de espécies da fauna brasileira, como tapicu- tentes no Estado (Sematur, 1991) -33 municípios, 23 possuem a
ru, guará, crustáceos, sapos, insetos, garça, entre outros. quase totalidade de suas áreas cobertas por este tipo de vegetação-
O mangue garante alimento e proteção para a reprodução e cobre 25% do território nacional e 60% do estado do MA.
de inúmeras espécies marinhas e terrestres, devido ao acumulo Estimativas apontam mais de 6000 espécies de árvores e 800
de material orgânico e alcança seu máximo desenvolvimento em espécies de aves, além de grande variedade de peixes e outras for-
áreas onde o relevo é suave e ocorrem grandes amplitudes de maré. mas de vida. Calcula-se que mais de 40% das espécies de plantas
lenhosas e 50% das espécies de abelhas sejam endêmicas, isto é,
RESTINGA: só ocorrem nas savanas brasileiras. Devido excepcional riqueza
biológica, o Cerrado, ao lado da Mata Atlântica, é considerado
Vegetação rasteira encontrada predominantemente na parte um dos “hotspots” mundiais, uma determinada área de relevância
ocidental, nordeste, do estado. ecológica por possuir vegetação diferenciada da restante e, conse-
Por ficar na praia é resistente ao excesso de sal e a ventos quentemente, abrigar espécies endémicas.
constantes Por ser o Maranhão um Estado de transição geográfica, pode-
As restingas, formações vegetais que cobrem as areias consti- se considerar que muitas áreas estão servindo de corredores ecoló-
tuem uma paisagem restrita, comparada aos manguezais. gicos no processo de distribuição das espécies.
Didatismo e Conhecimento 33
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Cerrado do meio-norte (Piauí e Maranhão) é semelhante ao do
Brasil central no que tange as características fisionômicas e estru-
turais, contudo estas regiões apresentam uma divergência quanto à GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO:
composição florística. POPULAÇÃO ABSOLUTA; DENSIDADE
Estudos indicam que esta individualidade florística de cada re-
gião alcança 50% de espécies comuns nas duas áreas. Entretanto,
DEMOGRÁFICA; POVOAMENTO;
espécies como Caryocar cubeatun, Copaifera rigida, Mimosa lepi- MOVIMENTOS POPULACIONAIS.
dophora e Cassia excelsa são exclusivas deste cerrado marginal,
sendo, na maioria das vezes, oriundas de outras formações vegetais.
No cerrado maranhense tem destaque o Parque Nacional da
Chapada das Mesas, que possui vegetação semelhante, com relevo No centro-norte do estado em toda a região situada em torno
diferenciado e quedas de água. do gol-fão maranhense e ao sul deste (vales dos rios Pindaré, Mea-
Possui uma área de 160 mil hectares, abrange os municípios de rim, Grajaú e Itapecuru) -- registram-se as mais elevadas densida-
Carolina, Estreito e Riachão, no centro-sul do Maranhão. Foi criado des demográficas. No restante do estado o povoamento é escasso.
em dezembro de 2005, está inserido nas metas dos órgãos ambien- É forte a proporção de negros e mulatos, além de remanescentes
tais em aumentar áreas protegidas do bioma Cerrado. indígenas dos grupos tupis e jês.
Delta das Américas: Também conhecido domo Delta do Par- Com exceção do extremo ocidental do estado, que pertence à
naíba, é o terceiro maior delta oceânico do mundo. área de influência de Belém, todo o território maranhense é parte
Sua configuração se assemelha a uma mão aberta, onde os de- integrante da região polarizada por Recife. A ação econômica da
dos representariam os principais afluentes do Parnaíba, que se rami- metrópole pernambu- cana se exerce no Maranhão por intermédio
ficam formando um grandioso santuário ecológico. Fauna e Flora de São Luís, para a maior parte do território estadual, e de Teresi-
endêmicas. na, capital do Piauí, para alguns municípios situados junto à divisa
com esse estado.
MATA DOS COCAIS:
O índice de urbanização do Maranhão é baixo, com cerca de
um terço da população nas áreas urbanas. À capital do estado, São
Corresponde a uma área de transição envolvendo vários esta-
Luís, seguem-se em importância Imperatriz, Caxias, Codó e Baca-
dos e vegetações distintas.
bal. Os demais centros urbanos são modestos: Santa Luzia, Barra
Na região onde se encontra o meio-norte é possível identificar
do Corda, Timon, Pedreiras, Monção, Açailândia, Santa Inês, Co-
climas totalmente diferentes, como equatorial superúmido e semiá-
roatá, Penalva são os de maior popula- ção.
rido.
A mata dos cocais é composta por babaçu, carnaúba, oiticica e O Maranhão possui 217 municípios distribuídos em uma área
buriti; se estabelece entre a Amazônia, Cerrado e a Caatinga, essa de 331.983,293 km², sendo o oitavo maior estado do Brasil, um
região abrange os estados do Maranhão, Piauí e norte do Tocantins. pouco menor que a Alemanha. Sua população estimada em 2007 é
Nas áreas mais úmidas do meio-norte ocorre o desenvolvimen- de 6.118.995 habitantes, sendo o décimo estado mais populoso do
to de uma espécie de coqueiro ou palmeira chamada de babaçu. país, com população superior à da Jordânia.
Essa planta possui uma altura que oscila entre 15 e 20 metros. O
babaçu produz amêndoas que são retiradas de cachos de coquilhos CERCA DE SETENTA POR CENTO DOS MARANHEN-
do qual é extraído um óleo com uso difundido na indústria de cos- SES VIVEM EM ÁREAS URBANAS.
méticos e alimentos.
A mata dos cocais encontra-se em grande risco de extinção, O Maranhão possui 18,43 habitantes por km², sendo o décimo
pois tais regiões estão dando lugar a pastagens e lavouras, especial- sexto na lista de estados brasileiros por densidade demográfica.
mente no Maranhão e boreal de Tocantins. Indicadores sociais O Maranhão é um dos estados mais pobres
Por estar em uma região onde há grande atividade agricola e do Brasil, com um Índice de Desenvolvimento Humano igual a
pecuarista foi criada a Lei nº154/2008 - que protege o Babaçu do 0,683, comparável ao do Brasil em 1980 e superior apenas ao de
desmatamento. Alagoas na lista dos estados brasileiros por IDH. O estado possui a
Parcel Manoel Luís: Parque Estadual Marinho do Parcel do segunda pior expectativa de vida do Brasil, também superior ape-
Manuel Luís localiza-se no Parcel de Manuel Luís, no Oceano nas à de Alagoas.
Atlântico, a 45 milhas náuticas da costa do Maranhão. Segundo o livro Honoráveis Bandidos, a família Sarney, atra-
Foi criado pelo Decreto 11.902, de 11 de Junho de 1991, com vés do seu envolvimento na política, fez com que o estado empo-
uma área de 45.937,9 hectares. brecesse e as pessoas migrassem da região.
Constitui-se no maior banco de corais da América do Sul. é um Deficit habitacional De acordo com um estudo realizado pela
conjunto de formações rochosas submersas, com inúmeros labirin- Fundação Getúlio Vargas em 2007, o Maranhão é o estado com
tos submersos espalhado. o maior deficit habitacional relativo do país. O Maranhão apre-
Pode ser encontradas algumas espécies de peixes exóticas, senta um índice de 38,1 por cento (que equivale ao número de
como o Peixe-Papagaio, o Sargentino e o Peixe-Borboleta. imóveis existentes, dividido pelo de moradias necessárias para
Um dos maiores cemitérios de embarcações do mundo, per- suprir a demanda da população). Em termos absolutos, o deficit
dendo apenas para o triângulo das bermudas, com cerca de 200 no estado chega a 570 606 unidades, o quinto maior do país. O
navios naufragados. deficit maranhense representa 7,14 por cento do déficit absoluto
Por constituir um bioma marinho pode ser o mais ricos de total brasileiro, estimado em 7 984 057. A média maranhense é
todos os biomasmaranhenses. Texto adaptado PAULINO. D quase três vezes maior do que a nacional, de 14,6 por cento. Para
Didatismo e Conhecimento 34
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
a Fundação Getulio Vargas, as causas do déficit no estado estariam e Angola. Muitas das tradições maranhenses tem a forte marca das
relacionadas à má distribuição de renda, à inadimplência do estado culturas africanas: culinária (Arroz de Cuxá), religião (Tambor de
e Municípios e à política aplicada no setor. O então secretário- ad- Mina e Terecô), festas (Bumba-Meu- Boi e Tambor de Crioula) e
junto da Secretaria de Estado das Cidades, Desenvolvimento Re- músicas (Reggae). Atualmente, o Maranhão conta muitas comu-
gional Sustentável e Infraestrutura, Heraldo Marinelli, contestou nidades quilombolas em toda região da Baixada, rio Itapecuru e
parte dessas causas. Para ele, o deficit “não tem correlação com Mearim.
a falta de políticas ao setor e com a inadimplência de estado e A população branca, 24,9 por cento, é quase exclusivamente
municípios” e também influenciaria o “processo histórico de con- composta de descendentes de portugueses, dada a pequena migra-
centração de renda” no estado. ção de outros europeus para a região. Ainda no início do século
Educação De acordo com dados divulgados pelo Instituto XX a maior parte dos imigrantes portugueses era oriunda dos Aço-
Brasileiro de Geografia e Estatística em 2009, o Maranhão possui res e da região de Trás-os- Montes. Também no século XX, vie-
o maior número de crianças entre oito e nove anos de idade anal- ram contingentes significativos de sírios e libaneses, refugiados do
fabetas no país. Quase quarenta por cento das crianças do estado desmonte do Império Otomano e que hoje têm grande e tradicional
nessa faixa etária não sabem ler e escrever, enquanto que a média presença no estado. A proximidade com a cultura portuguesa e o
nacional é de 11,5 por cento. Os dados do instituto, porém, não isolamento do estado até a metade do século XX gerou aqui um
oferecem um diagnóstico completo da situação, pois se baseiam sotaque próprio e ainda bastante similar ao português falado em
somente na informação de pais sobre se seus filhos sabem ler e Portugal, praticando os maranhenses uma conjugação verbal e pro-
escrever um bilhete simples. Em 2006, os alunos do Maranhão ob- nominal vizinha àquela lusitana.
tiveram aquarta pior nota na prova do Exame Nacional do Ensino Povoamento O povoamento do Maranhão iniciou-se através
Médio de língua portuguesa. Em 2007, obtiveram a sétima pior, do litoral onde os portugueses se concentraram e desenvolveram a
que foi mantida na avaliação de 2008. Na redação, os alunos se agricultura de cana de açúcar.
saíram um pouco melhor, apresentando a sexta pior nota em 2006 Com o desenvolvimento do plantio de cana, muitos engenhos
e subindo seis posições em 2007. foram cons- truídos e inúmeras povoações surgiram em torno de-
Mortalidade infantil O Maranhão apresenta o segundo maior les. Essas povoações deram origem às cidades de Santo Antônio de
índice de mortalidade infantil do Brasil, inferior apenas ao de Ala-
Alcântara, Itapecuru, Rosá- rio, Icatu e outras.
goas. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia
A ocupação definitiva do interior só iniciou-se depois de vá-
e Estatística, de cada mil nascidos no Maranhão por ano, 39 não
rios anos de ocupação do litoral, através de três correntes princi-
sobreviverão ao primeiro ano de vida. Vários fatores contribuem
pais de povoamento:
para o alto índice de mortalidade infantil no estado: dentre eles,
- Corrente dos Jesuítas
o fato de que apenas metade da população tem acesso à rede de
- Corrente Pastoral (sul do Estado, através dos piauienses,
esgoto e o de que quase quarenta por cento da população não tem
cearen-ses, sertanistas e vaqueiros)
acesso a água tratada.
Etnias O Maranhão é um dos estados mais miscigenados do - Corrente Agrícola (séc. XVIII, com o cultivo do algodão,
país, o que pode ser demonstrado pelo número de 68,8% de pardos que era inclusive exportado para a Inglaterra. A Invasão Francesa
autodeclarados ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Expulsos da França Antártica, os franceses fazem uma Segunda
resultado da grande concentração de escravos indígenas e africanos tentativa, desta vez em terras do Maranhão, conhecida pelos índios
nas lavouras de cana-de- açúcar, arroz e algodão; os grupos indí- Tupinambás como Upaon Açu (Ilha Grande). Em 1612, Daniel
genas remanescentes e predominantes são dos grupos linguísticos de La Touche, Senhor de La Ravardière, chega ao Maranhão com
macro-jê e macro-tupi. No tronco macro-Jê, destaca-se a família uma expedição, com a finalidade de fundar uma colônia france-
jê, com povos falantes da língua Timbira (Mehim), Kanela (Apan- sa, chamada França Equinocial, por se encon- trar além da linha
yekra e Ramkokamekra), Krikati, Gavião (Pukobyê), Kokuirega- equinocial.
tejê, Timbira do Pindaré e Krejê. No Tronco macro- tupi, a família Principais fatos da presença francesa em São Luís:
tupi-guarani, com os povos falantes das línguas tenetehára: Guaja- - Primeira Missa - 12 de agosto de 1612
jara, Tembé e Urubu-Kaapor, além dos Awá-Guajá e de um peque- - Fundação de São Luís - 8 de setembro de 1612
no grupo guarani, concentrados principalmente na pré-Amazônia, - Principal confronto - Batalha de Guaxenduba
no Alto Mearim e na região de Barra do Corda e Grajaú. - Expulsão dos franceses - 1615 A Invasão Holandesa
Em novembro de 1641, uma expedição holandesa sob o co-
mando de Pierre Boas chegou ao Maranhão e tomou a cidade de
Raça Porcentagem
São Luís, saquean- do casas e igrejas. Em setembro de 1642, os
maranhenses organizaram uma reação no vale do Itapecuru. A gló-
Branca 24,9% ria da expulsão dos invasores coube ao Capitão Antônio Teixeira
de Melo que, retornando à cidade em 28 de fevereiro de 1644,
Negra 5,5%
encontrou-a praticamente em ruínas. Texto adaptado de DANTAS,
Parda 68,8% E. M; MORAES, I. R. D; FERNANDES, M, J, D, C
indígena 0,7%
Didatismo e Conhecimento 35
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
constatada ao notarmos que, em 1995, cerca de 93,7% dos estabe-
lecimentos com menos de 100 hectares controlavam apenas 22,2%
A AGRICULTURA MARANHENSE: da área total. E, no outro extremo, o dos estabelecimentos com
CARACTERIZAÇÃO E PRINCIPAIS mais de 1.000 hectares, em 1995 apenas 0,4% do total de unidades
PRODUTOS AGRÍCOLAS; controlavam 36,4% da área total.
CARACTERIZAÇÃO DA PECUÁRIA.
Didatismo e Conhecimento 36
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
A tabela abaixo apresenta informações sobre o uso da terra
referentes ao Censo Agropecuário de 1995-1996. Os dados reve-
lam baixo número de estabelecimentos, 368,2 mil unidades, como
também baixo área total dos estabelecimentos, 12,6 milhões de
hectares. Em parte, essa situação deve-se a um declínio na ativida-
de agropecuária, especialmente nos anos de 1995 e 1996.
A área total dos estabelecimentos, em 1996, representou
46,6% da área territorial do Maranhão (33,37 milhões de ha); por-
tanto, extensas áreas do Estado ainda não haviam sido apropriadas
pela agropecuária. Quanto à proporção da área aberta dos estabe-
lecimentos ou seja, a soma das áreas em lavouras, em pastagens
plantadas, em matas plantadas, terras em descanso e produtivas,
mas não utilizadas, esta foi de 54,2%. Ou seja, 45,8% da área em
estabelecimentos é tida, ainda, como não alterada.
Didatismo e Conhecimento 37
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
tura de subsistência, mas a partir das conquistas científicas sobre
os tipos de sistemas agroflorestais mais produtivos nos ambien-
tes maranhenses. Experiências realizadas pelos assentamentos do
MST têm sugerido a importância da adubação verde com mucuna
preta, no melhoramento da “roça de capoeira nativa”, e da asso-
ciação entre a cajucultura e a mandioca. Várias ONG’s do Estado
têm se preocupado no desenvolvimento de sistemas agroflorestais
compatíveis com os princípios da agroecologia, como uma alter-
nativa à crise do sistema de “roça no toco”.
A ocupação dos cerrados com a cultura da soja nos anos re-
centes encontrou pouca resistência de atividades anteriores, já que
se tratava de solos muito ácidos, nos quais a agricultura tradicional
era muito difícil. Assim, tendo como base a correção da acidez
do solo, a quimificação e a mecanização, foi possível a expansão
da soja no sul do Estado, que se deu de forma rápida e massiva,
Em agosto de 1996, das 3.902.609 cabeças que compunham voltada para a exportação do grão transportado por via rodoviária
o rebanho bovino do Estado, 1.409,6 mil eram vacas em condi- até Imperatriz e, de lá, por via ferroviária até o porto de São Luiz.
ções de procriar. No período de 1995/1996 nasceram 804,8 mil Mais recentemente, grandes projetos de irrigação com base
bezerros, dos quais 67,2 mil foram dados como vitimados antes de em incentivos governamentais, tais como os de Tabuleiro São Ber-
terem completado um ano de vida. A taxa de natalidade é reduzida, nardo, da Baixada Ocidental Maranhense e de Tabuleiro Salangô,
indicando uma pecuária bovina extensiva. Por outro lado a mor- estão em fase de implementação, totalizando 14.172 ha irrigáveis
talidade de bezerros parece reduzida para os padrões do Estado. voltados para a fruticultura de exportação, em cultivos como man-
A principal finalidade da pecuária bovina no Maranhão é a ga, cítrus, mamão e coco.
produção de carnes, envolvendo cerca de 71 mil do total de 95,7 Evolução das Ocupações Agrícolas e Não-Agrícolas no Ma-
mil estabelecimentos do Estado com bovinos, e mobilizando 3.220 ranhão Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
mil animais em 1996. A especialização na produção de leite envol- (PNAD)
veu 15,7 mil estabelecimentos e apenas 497,3 mil animais. No período 1992-99, a PEA total ocupada no Estado do Mara-
A produção de leite de 1995/1996 num total de 139,5 milhões nhão saltou de 2.111 mil pessoas para 2.388, com um crescimento
de litros originou-se de 293,4 mil vacas. Desse montante, apenas significativo de 1,7% ao ano. A PEA rural, especificamente, que
71,1 milhões de litros (24,2% da produção total) foram vendidos, responde por mais de 50% da PEA total do Estado, teve um cres-
significando, portanto, um expressivo consumo nos próprios es- cimento de 1,4% ao ano, passando de 1.320 mil pessoas ocupadas
tabelecimentos. Em 1995/1996 as atividades de pecuária bovina para 1.429 mil. O desempenho da PEA rural não-agrícola (taxa
do Estado do Maranhão se desenvolveram em estabelecimentos de crescimento de 4,2% ao ano) foi o principal responsável pelo
de todos os tamanhos, mas com alguma concentração nos mé- cenário observado. No entanto, deve ser ressaltado que a PEA ru-
dios e grandes. Assim, dos 3.902,6 mil bovinos em julho de 1996, ral agrícola apresentou um comportamento bem razoável, com au-
2.679,7 mil encontravam-se em estabelecimentos de mais de 100 mento de 0,4% ao ano no número de pessoas ocupadas. Também a
ha, e apenas o grupo de 100 a menos de 1.000 ha detinha 1.694,5 PEA agrícola com residência urbana apresentou bom desempenho,
mil bovinos. com crescimento de 1,1% no número de ocupados.
A ocupação do Estado do Maranhão foi fortemente condicio- Com isso, no total do Estado, a PEA agrícola, isto é, a PEA
nada pela migração dos nordestinos nos anos 60 que se estabele- ocupada nas atividades agrícolas, saltou de 1.224 mil pessoas,
ceram no interior do Estado em busca de terra e água, praticando em 1992, para 1.236 mil, em 1999. É importante salientar que no
uma agricultura intinerante de subsistência. A expansão de grandes Maranhão a PEA rural é predominantemente agrícola, pois cerca
projetos empresariais, principalmente da pecuária e dos refloresta- de 80% dos residentes rurais estavam ocupados na agricultura em
mentos nos anos 70 e 80, aliados ao declínio do ciclo do extrati- 1999. Outro detalhe muito relevante é que a PEA agrícola total
vismo vegetal, fecharam a “fronteira agrícola interna” no Estado (rural e urbana) supera a PEA não-agrícola maranhense, sendo este
e forçaram a fixação da área explorada pelo agricultor familiar, um comportamento diferenciado em relação a várias unidades da
provocando um verdadeiro colapso do sistema intinerante de “roça federação. Ou seja, no Maranhão, segundo os dados da PNAD,
no toco”. mais de 50% das pessoas ocupadas trabalham na agricultura (que
Várias tentativas de colonização e assentamentos, que intro- inclui, além das atividades agrícolas, a pecuária, a silvicultura e o
duziram práticas modernas como mecanização e quimificação, extrativismo vegetal).
enfrentaram problemas relacionados ao ambiente, com solos sus-
cetíveis ao adensamento e à excessiva lixiviação, devido às varia-
ções bruscas no nível do lençol freático. Problemas relacionados
ao sistema de colheita tradicional, em cachos para a cultura do ar-
roz, altamente exigente em mão-de-obra em curtos períodos, tam-
bém tem dificultado a introdução de técnicas modernas e lavouras
anuais entre os agricultores familiares do Maranhão. Para estes a
alternativa mais importante parece ser a associação entre culturas
perenes, a criação de pequenos animais, o extrativismo e a agricul-
Didatismo e Conhecimento 38
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Os principais ramos de atividade na ocupação da PEA rural não-agrícola, em 1999, foram, destacadamente, a prestação de serviços, com
115 mil pessoas (ou cerca de um quarto do total), os serviços sociais, com 87 mil pessoas, e o comércio de mercadorias (72 mil pessoas ocu-
padas), que responderam por mais de 60% do total de ocupados. A seguir aparecem a construção civil, a indústria de transformação e a ad-
ministração pública. Apesar do comportamento oscilante no período analisado, quase todos os ramos de atividade fecharam os anos 90 com
maior número de pessoas ocupadas em relação ao ano de 1992, com exceção das outras atividades industriais e da administração pública.
Coerentemente com o que foi exposto, nota-se que os setores de estabelecimentos de ensino público, emprego doméstico, construção
civil, comércio de alimentos, restaurantes e comércio ambulante foram os maiores empregadores dos residentes rurais ocupados fora da
agricultura. Em 1999, eles ocuparam 221 mil pessoas, aproximadamente 50% do total, indicando o enorme peso dos serviços, públicos e
privados, e do comércio na ocupação das pessoas, pois é muito baixa a inserção nos ramos industriais, principalmente na indústria de trans-
formação
Didatismo e Conhecimento 39
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Com exceção do ensino público, os demais setores que mais absorveram mão-de-obra no meio rural no período analisado demandam
baixos níveis de qualificação profissional e de escolaridade (emprego doméstico, construção civil e comércio ambulante, principalmente).
No entanto, apesar de empregarem um contingente bem menos expressivo, é preciso realçar alguns setores mais especializados, com de-
manda de mão-de-obra qualificada, como é o caso das administrações estadual e municipal, dos serviços de saúde (públicos e privados) e
da indústria de alimentos.
Didatismo e Conhecimento 40
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
No litoral do Estado e na região de São Luís, principalmente, o turismo tem constituído importante alternativa de emprego e renda para
os residentes rurais, pois abriu novas possibilidades de trabalho, especialmente ligadas à construção civil (pedreiros, ajudante de pedreiros)
e à prestação de serviços e ao comércio (caseiro, faxineira, doméstica, além das ocupações em bares, restaurantes e pousadas, como é o caso
dos balconistas, atendentes, copeiros e cozinheiros não-domésticos).
O rendimento obtido com essas atividades não-agrícolas é, de maneira geral, superior ao adquirido na agricultura e tem permitido uma
melhora nas condições de vida e a permanência da população no campo. Como especificidade do Maranhão, podem ser citadas as profissões
de professores e autônomos (conta-própria e ambulantes), que empregam elevados contingentes de trabalhadores com residência na área
rural.
Demanda de Mão-de-Obra na Agropecuária Maranhense – Sensor Rural
As estimativas da Fundação Seade, que captam a demanda de força de trabalho agrícola para as atividades presentes no Levantamento
Sistemático da Produção Agrícola (LSPA – IBGE), mostram que no Maranhão há um claro predomínio das culturas alimentares no emprego
agrícola, a maioria delas cultivada com baixo padrão tecnológico19 e destinadas para a subsistência, principalmente.
Em 2000, as culturas de arroz, mandioca e milho responderam por 88,3% da demanda total de mão-de-obra e por 75,6% da área culti-
vada. Isoladamente, o arroz foi responsável por 40,7% da demanda e por 38,8% da área total com as principais culturas. Vale destacar que,
apesar do predomínio do cultivo de subsistência, há algumas áreas de produção modernizada de arroz, especialmente no centro-sul do Esta-
do, incluindo a região do cerrado. Também há uma pequena área de cultivo de arroz irrigado na Baixada Ocidental Maranhense (municípios
de Vitória do Mearim e Arari), onde os agricultores fazem uso dos campos inundados.
Um detalhe interessante é que o Maranhão, apesar de ser um dos principais produtores nacionais de arroz, não possui agroindústrias
processadoras desse produto. Por isso, o arroz maranhense é comprado por empresas de outros Estados (Goiás, por exemplo), que empaco-
tam o produto e o revendem no comércio varejista e atacadista do Maranhão. Ou seja, antes de ser consumido
Didatismo e Conhecimento 41
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
19 É muito comum a prática de se fazer a “roça de toco”, entendida como a agricultura de subsistência conduzida com baixíssimo nível
tecnológico. Normalmente, a área para as culturas é desmatada, com queimada ou não, mas não destocada. Como conseqüência, o plantio
é feito entre os tocos que restaram das árvores, o que não permite a mecanização das atividades de cultivo no Estado, o arroz maranhense
“passeia” por outros Estados para ser processado e embalado.
A mandioca, que respondeu por 24,9% da demanda e por 10,9% da área, é uma cultura fortemente presente na história da agricultura
maranhense. Sua utilização para a fabricação de farinha, que é parte fundamental da alimentação da população rural e urbana, faz com que
seu cultivo esteja presente em muitas regiões do Estado. Outro subproduto importante é a tiquira, bebida alcoólica derivada da fermenta-
ção da mandioca. Várias entidades (Sebrae, Faema, Fetaema, EAF de São Luís) têm realizado cursos de capacitação para os produtores de
farinha, visando à melhora da qualidade do produto, principalmente da farinha d’água, que é a mais consumida, e à obtenção de um preço
mais elevado para o mesmo
A cultura do milho, responsável por 22,7% da demanda de mão-de-obra e por 25,9% da área cultivada, destina-se principalmente para
a subsistência das famílias rurais (consumo próprio e alimentação animal). Há uma parte que é consumida nos centros urbanos na forma de
“milho verde” e outra que destina- se às criações comerciais de suínos e aves que estão localizadas nas proximidades de São Luís.
Das demais culturas, vale destacar o feijão, a cana-de-açúcar e a soja. O feijão é a quarta cultura de subsistência mais importante do
Estado, vindo atrás do arroz, da mandioca e do milho. A variedade predominante é o feijão de corda. Em 2000, essa cultura foi responsável
por 3,9% da demanda de mão- de-obra e por 5,7% da área total cultivada. A cana-de-açúcar, que representou 1,4% da demanda total e 1,9%
da área cultivada em 2000, tem maior destaque na região do município de Coelho Neto, onde existem algumas destilarias.
A soja é a principal cultura conduzida em moldes empresariais. A produção está concentrada na região de cerrado localizada no sul do
Estado, tendo a cidade de Balsas como o grande pólo regional. O processo produtivo, trazido por migrantes do Centro-Sul, principalmente
gaúchos, é totalmente mecanizado desde o preparo do solo até a colheita e, por isso, pouco empregador de mão- de-obra. Em 2000, apesar
de responder por 14,5% da área cultivada, a soja demandou apenas 3,6% do total de equivalentes-homens-ano (EHA). O escoamento da
produção é feito por caminhões até a ferrovia Itaqui-Carajás em Imperatriz. De lá, a produção segue para o porto de São Luís, de onde é
exportada para a Europa.
Com relação ao restante das culturas, há uma tentativa de reintrodução do algodão no Estado, principalmente na região de Codó. Por
enquanto, a área cultivada ainda é muito pequena. Também há esforços no sentido de desenvolver a fruticultura, especialmente nas regiões
com potencial de uso da irrigação. Apesar de as áreas serem pequenas, já aparecem as culturas de abacaxi, banana, caju, coco e laranja
como fontes potenciais de geração de emprego na área rural. Finalmente, as tradicionais culturas de malva e pimenta-do-reino praticamente
desapareceram da agricultura maranhense nos anos 90.
Na atividade pecuária, o principal destaque é a bovinocultura. O Estado do Maranhão possui o segundo maior rebanho bovino da região
Nordeste, vindo atrás da Bahia. As atividades de corte e de leite, juntamente com a reforma de pastagens a elas associada, demandam mais de
90% da mão-de-obra ocupada na pecuária. Vale ressaltar que, no geral, trata-se de criações muito extensivas. A principal região de pecuária
mais modernizada, sobretudo a de corte, é a chamada Região Tocantina, que tem Imperatriz como o mais importante pólo produtor. Nessa
Didatismo e Conhecimento 42
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
região e em algumas outras do centro do Estado, já é perceptível a melhora de pastagens, a seleção de animais de melhor qualidade genética
e a utilização de técnicas de manejo mais intensivas, como a inseminação artificial. O fato de o Maranhão não ser área livre de febre aftosa
e ter um sistema extremamente debilitado de defesa e sanidade animal tem sido um fator limitante para a exportação de carne para outros
Estados e para o exterior. O setor mais modernizado da pecuária não tem conseguido receber um preço mais elevado pelo seu produto de
melhor qualidade, sendo este um grande desafio para a continuidade da modernização do setor
A suinocultura, que demandou 8,1% da mão-de-obra na pecuária em 2000, é conduzida em sistema totalmente extensivo. Os municí-
pios próximos de São Luís são os principais produtores. Já a avicultura é muito incipiente no Estado. O fato de as principais agroindústrias
estarem localizadas na capital do Estado como é o caso da Agrolusa e da Frango Americano limita a integração dos produtores ao entorno
de São Luís.
Outras atividades pecuárias presentes no Estado e não captadas nas estimativas do Sensor Rural são: a bubalinocultura, desenvolvida
nos campos alagados da Baixada Oriental Maranhense; a ovino/caprinocultura, a piscicultura e a criação de outros pequenos animais que
estão sendo fomentadas, principalmente pelo Consórcio Intermunicipal de Agricultura e Abastecimento, uma associação de 15 municípios
que busca desenvolver a agropecuária local.
As características das dinâmicas agropecuárias atuais do Estado do Maranhão permitem definir uma regionalização conformada por
quatro regiões: Região Sul Maranhense; Região Baixada Maranhense; Região Centro-Oeste Maranhense e Região Leste Maranhense, esta
última subdividida em duas sub- regiões: Região dos Cocais Maranhenses e Região do Sertão Maranhense.
A Região Sul Maranhense corresponde à mesorregião censitária de mesmo nome no Censo Agropecuário de 1995-1996. Polarizada
pelo município de Balsas, é caracterizada por ambiente de cerrados com algumas áreas de transição cerrado-caatinga, onde se encontra uma
agricultura moderna e tecnificada principalmente voltada à produção de soja, mas também inicia-se a produção de algodão, arroz e milho
em bases modernas, visando à rotação com a soja.
Atraídos pelos baixos custos da terra, da mão-de-obra e do transporte, agricultores de outros estados, principalmente gaúchos, goianos e
mineiros, estabeleceram-se na região, que viveu um grande surto de crescimento urbano na ultima década. Esse surto foi acompanhado pelo
crescimento setor de serviços ligados à atividade agrícola moderna e tecnificada, como máquinas agrícolas, fertilizantes e comercialização,
tendo empresas como a Cargill, por exemplo, se instalado na região. Além da Cargill, há uma grande cooperativa na região, a Agroserra,
também voltada para a produção modernizada de arroz e milho.
Os municípios que fazem parte do consórcio são os seguintes: Anapurus, Axixá, Cantanhede, Coroatá, Humberto de Campos, Matões
do Norte, Morros, Pirapemas, Presidente Juscelino, Rosário, Santa Inês, São João Batista, São Luís, Viana e Vitória do Mearim.
Há um forte contraste entre a área modernizada de produção de soja e a agricultura de subsistência praticada pelos agricultores familia-
res, que se dedicam ao cultivo de arroz, milho, mandioca e feijão. Muitos desses agricultores familiares tornam-se empregados sazonais dos
grandes produtores de soja, em algumas etapas do cultivo.
Além do cultivo de grãos no cerrado e da agricultura de subsistência, nos municípios de Carolina e Riachão há grande potencial para o
aproveitamento das belezas naturais para o turismo rural/ecológico
Didatismo e Conhecimento 43
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Didatismo e Conhecimento 44
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Região Centro-Oeste Maranhense Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu, que defende a im-
plantação de reservas extrativistas e tem conseguido implantar, em
A Região Centro-Oeste Maranhense corresponde à mesorre- algumas cooperativas, unidades de beneficiamento para extração
gião censitária Centro Maranhense, acrescida das microrregiões de do óleo de babaçu. Propostas como a utilização do coco inteiro
Imperatriz e de Pindaré, e é caracterizada pelo ambiente Pré-Ama- para produção de carvão também estão sendo sugeridas como so-
zônico e por uma pecuária moderna e tecnificada, grandes reflo- lução para a crise do babaçu, mas são vistas com desconfiança
restamentos empresariais e algumas áreas de agricultura irrigada, pelo movimento das quebradeiras de coco por alterar a economia
voltada à produção de grãos e fruticultura. Essa é também a região familiar do babaçu. Um dos grandes problemas tem sido a prática
que concentra áreas de reserva ambiental e aldeias indígenas. das queimadas, que tem destruído espécies de importância extrati-
Polarizada pelos municípios de Imperatriz (no oeste) e Baca- va menos resistentes que o babaçu, como a bacaba, por exemplo.
bal (no centro), essa região desenvolve uma pecuária de alta quali- Nessa região também existem áreas com peculiaridades im-
dade, utilizando técnicas modernas, havendo um conjunto de gran- portantes quanto às suas dinâmicas agropecuárias; no município
des frigoríficos se instalando em Imperatriz, e o desenvolvimento de Barra do Corda há uma fazenda de 30 mil ha de exploração
de um pólo de industrialização do couro. Um dos grandes desafios extrativista em moldes empresariais desenvolvida pela Merck para
dessa pecuária é o combate à febre aftosa, já que o Estado do Ma- a produção de jaborandi, para extração da pilocarpina, e 2 mil ha
ranhão ainda não foi declarado área livre de aftosa e tem os preços de fava danta. No município de Coelho Neto estão concentradas as
de sua carne deprimidos e a comercialização impedida de cruzar usinas de açúcar e a produção canavieira do Estado.
as fronteiras do Estado. Esforços estão sendo feitos no sentido de Destaca-se ainda nessa região a área do vale do rio Munim,
reconstruir uma estrutura de fiscalização sanitária animal, que no uma mancha de cerrado que tem sido ocupada por novas levas de
entanto foi extinta pelo próprio governo estadual num processo de agricultores gaúchos, constituindo uma área de expansão da soja,
reforma administrativa. O problema se tornou crítico para o desen- associada à retomada da cotonicultura. Essa nova área, onde des-
volvimento do Estado, pois áreas contaminadas com febre aftosa taca-se o município de Chapadinha, desfruta de vantagens compa-
também podem ter restringida a exportação de soja, em virtude da rativas, principalmente solos menos ácidos que a região de Balsas
possibilidade do contágio por meio de ração. e o acesso rodoviário ao porto de São Luiz, que fica a menos de
Grandes projetos empresariais de reflorestamento com euca- 250 km.
lipto foram implantados em áreas de pastagens degradadas pelo A retomada da cotonicultura herbácea em bases modernas
manejo inadequado. Projetos como o da Celmar, por exemplo, também está se dando em áreas onde historicamente foi importan-
para extração de madeira para papel e celulose, desenvolveram-se te a produção de algodão arbóreo, como os municípios de Codó,
a partir dos anos 80 na região. A expansão dos reflorestamentos Caxias e Presidente Dutra. No município de Caxias destaca-se ain-
causou uma interrupção no ciclo da agricultura tradicional de sub- da a caprinocultura.
sistência, que praticava a “roça no toco” e formava as pastagens,
tendo sido também um dos fatores que ampliaram os conflitos fun- Sub-região Sertão Maranhense
diários e o êxodo rural na região.
Destaca-se ainda nessa região também a agricultura irriga- A Sub-região Sertão Maranhense corresponde à microrregião
da, principalmente no vale do rio Mearin, onde se desenvolve o censitária Chapadas do Alto Itapecuru e é caracterizada por am-
cultivo do arroz irrigado, do abacaxi e da melancia. Nessa região biente seco e vegetação de caatinga, característica do semi-árido.
também ocorre uma agricultura familiar mais consolidada, com Tendo como município pólo São João dos Patos, é caracterizada
destaque para a produção de arroz, mandioca e banana. por uma pecuária extensiva e uma produção de subsistência tra-
dicional, destacando-se a cultura da mandioca e a caprinocultura.
Região Leste Maranhense Para essa região o governo vem desenvolvendo esforços para
melhora da cajucultura, a partir da utilização de variedades me-
A Região Leste Maranhense corresponde às microrregiões lhoradas, como o cajueiro anão precoce, além de desenvolver um
censitárias de Presidente Dutra, Caxias, Chapadinha, Codó, Coe- programa de disseminação de técnicas de multiplicação rápida de
lho Neto e Chapadas do Alto Itapecuru. É caracterizada pelos am- toletes para melhora da eficiência no plantio de mandioca.
bientes de matas de palmeiras e do semi- árido, podendo ser divi-
dida em duas sub-regiões correspondentes a esses dois ambientes. Escolas Agrotécnicas Federais (EAF’s)
Sub-região Cocais Maranhenses O Estado do Maranhão possui duas escolas agrotécnicas fe-
derais, localizadas nos municípios de São Luís e de Codó. Escola
A Sub-região Cocais Maranhenses corresponde às microrre- Agrotécnica Federal de São Luís
giões censitárias de Presidente Dutra, Caxias, Chapadinha, Codó A EAF de São Luís localiza-se na região que foi denominada
e Coelho Neto. É caracterizada por uma agricultura familiar de de Baixada Maranhense. Mais especificamente, está na ilha de São
subsistência, que sobrevive do extrativismo vegetal, principal- Luís, que é formada pelos municípios de São Luís, São José de
mente do babaçu, e por uma pecuária extensiva. São explorados, Ribamar, Paço de Lumiar e Raposa e separa as partes oriental e
além do babaçu, a juçara ou açaí, a andiroba, o bacuri, o murici, ocidental da Baixada Maranhense.
A exploração do babaçu é feita exclusivamente por mulheres, que A escola foi criada pelo decreto número 22.470, de 20/12/47,
são chamadas de “quebradeiras de coco babaçu”. Os baixos preços e foi efetivamente instalada em 10/03/53. Atualmente, possui um
pagos pela amêndoa do babaçu e os conflitos com os fazendeiros total de 102 funcionários, sendo 34 docentes e 68 técnicos admi-
pelo acesso aos babaçuais levaram à organização do Movimento nistrativos. Esses funcionários distribuem-se em dois departamen-
Didatismo e Conhecimento 45
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
tos: o de Desenvolvimento Educacional, que engloba três coorde- sores efetivos, 14 professores substitutos e horistas e 36 servidores
nações (Geral de Ensino, Geral de Produção e Pesquisa e Geral de técnico-administrativos. Esses funcionários distribuem- se pelos
Assistência ao Educando); e o de Administração e Planejamento, departamentos de Desenvolvimento Educacional e de Administra-
que tem duas coordenações (Geral de Administração e Finanças ção e Planejamento.
e Geral de Recursos Humanos). A área total da escola é de 217 Os cursos oferecidos pela escola são os seguintes: técnico
hectares. agrícola com habilitação em agricultura, agroindústria e zootecnia,
Os cursos oferecidos pela escola são os de técnico agrícola, com 352 alunos em regime de concomitância; pós-médio em in-
com habilitação em agricultura (113 alunos em 2000), em agroin- formática, com 40 alunos; licenciatura plena em ciências agrárias,
dústria (53 alunos) e em zootecnia (112 alunos), e de técnico em com 40 alunos; ensino médio, com 30 alunos; além de diversos
economia doméstica (50 alunos), todos em regime de concomi- cursos básicos e cursos rápidos, com média de 25 alunos por curso
tância com o ensino médio. Além desses, há o curso de nível pós- (exemplos: recursos pesqueiros, enfermagem, turismo).
médio em agricultura, com 147 alunos matriculados em 2000. As principais atividades da região são o extrativismo de baba-
Segundo a direção da escola, a grande maioria dos alunos é de çu, as culturas de subsistência (mandioca, arroz e milho), o gado
origem rural e de famílias com renda média de dois a três salários de corte e de leite, a caprinocultura e a piscicultura. Recentemente,
mínimos, que procura a EAF pela boa qualidade do seu ensino
o governo do Estado passou a envidar esforços para reintroduzir a
médio e profissionalizante.
cultura do algodão da região.
Por ocasião da pesquisa de campo, realizada na segunda quin-
Dado o perfil de baixo padrão tecnológico da agropecuária do
zena de janeiro de 2001, a EAF de São Luís ainda não havia con-
cluído o seu projeto para ser encaminhado ao MEC no âmbito do Estado e o desmonte dos órgãos públicos voltados para a pesquisa
Proep. No entanto, mostrou-se muito integrada com as possibilida- e a extensão agropecuária, boa parte dos técnicos agrícolas for-
des de desenvolvimento de novas atividades na região e no Estado mados pela escola não é absorvida no mercado de trabalho. Esses
como um todo. A EAF vai reduzir o ensino médio concomitante alunos acabam se ocupando em outras atividades e uma parte pros-
de forma gradual; já reduziram o número de alunos internos; estão segue no ensino superior, ingressando em universidades centradas
com projetos na área de produção de sementes, avicultura e análi- nas ciências agrárias. De forma semelhante à EAF de São Luís, há
se de solos, todos voltados para a obtenção de recursos próprios. a preocupação em formar alunos com um perfil empreendedor, de
Também há um certo consenso da necessidade de formar os alunos modo que eles possam trabalhar em atividades próprias ou de seus
com um perfil empreendedor, de modo que eles possam trabalhar pais. Para isso, sendo desenvolvidas disciplinas que contemplem a
em atividades próprias ou de seus pais. Para isso, a escola está de- gestão empresarial e a compreensão das cadeias produtivas, rom-
senvolvendo disciplinas que contemplem a gestão empresarial e a pendo-se a formação “da porteira para dentro”.
compreensão das cadeias produtivas, rompendo-se a formação do Ainda em fase de elaboração, há o projeto para ingresso no
técnico agrícola para atuação “da porteira para dentro”. Proep, considerado um programa importante para atender a comu-
A escola possui muitas parcerias com a sociedade que está no nidade com um ensino de qualidade e voltado para as necessidades
seu entorno, destacando-se as seguintes entidades: Embrapa Meio da região. Os recursos do Proep servirão para ampliar os serviços
Norte, prefeituras de Mirizal, Alto Alegre e Bequimão, Secretarias que a escola presta para a comunidade do seu entorno, reciclar os
de Educação e de Saúde do Estado, Complexo Penitenciário de profissionais e ampliar a gama de cursos profissionalizante ofere-
Pedrinhas, universidades estadual (Uema) e federal (UFMA) do cidos.
Maranhão, Gerência de Desenvolvimento Social do Estado, asso- Segundo a direção da escola, a participação da sociedade re-
ciações de produtores e de criadores e a Cefet de São Luís. A EAF gional nas atividades educacionais é bastante ativa, por meio de
também mantém uma relação com várias empresas, órgãos públi- convênios e parcerias para o desenvolvimento de cursos, prestação
cos e ONG’s para a efetivação dos estágios de vivência prática de serviços e estágios, além da participação nos eventos sociocul-
dos alunos. Entre os principais estão: Agrolusa, Agromá, Brahma, turais e esportivos. Texto adaptado de FREITAS, A. C. R. D. O
Paineiras, Merck, Frango Americano, fazendas e cooperativas, se-
cretarias Estadual e Municipais de Agricultura e Abastecimento,
além das ONG’s Tijupá, Ataema e Fatiema.
Dado o perfil de baixo padrão tecnológico da agropecuária EXTRATIVISMO: VEGETAL, ANIMAL E
do Estado e o desmonte dos órgãos públicos voltados para a pes- MINERAL.
quisa e a extensão agropecuária, boa parte dos técnicos agrícolas
formados pela escola não é absorvida no mercado de trabalho. Es-
ses alunos acabam se ocupando em outras atividades, e uma parte
prossegue no ensino superior, ingressando em universidades cen-
tradas nas ciências agrárias. Agricultura
Escola Agrotécnica Federal de Codó Economia do Maranhão, que é um país bem pobre, A agri-
culturamaranhense é a principal atividade econômica do Estado,
A EAF de Codó está localizada na região Leste Maranhen- considerando o seu nível de desenvolvimento que ainda é bastante
se, mais especificamente na sub-região dos Cocais Maranhenses, reduzido, podemos caracterizar a agricultura maranhense como:
tendo como municípios mais próximos os de Coroatá, Timbiras, Arcaica: A maioria dos agricultores maranhenses, ainda uti-
Afonso Cunha, Chapadinha, Governador Archer, Aldeias Altas, lizam sistema de roça de herança indígena, utilizando técnicas,
Dom Pedro, Caxias, Santo Antônio dos Lopes e Lima Campos. É recursos e instrumentos rudimentares tais como: rotação de terra,
uma escola relativamente nova, implantada pela lei número 9.670, energia humana e animal, enxada, foice, facão, machado, sacho,
de 30/06/93. Atualmente, possui 69 funcionários, sendo 19 profes- etc.
Didatismo e Conhecimento 46
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Policultura de subsistência: Os produtos na roça são cultiva- Caprino e Ovino: Rebanhos sem grande expressão na pecuária
dos sob a forma de consórcios e destinados principalmente a ma- maranhense, sendo voltado mais para o consumo familiar, pois os
nutenção da família. seus produtos são mais raros para o consumidor maranhense. A
Baixa produtividade O modo de uso do solo e as técnicas uti- principal área de criação é o centro-leste do Estado.
lizadas proporcionam baixo rendimento dos produtos por áreas Bubalino: Rebanho criado nos campos alagados da baixada
cultivadas. Dependência da natureza: A atividade agrícola do ma- maranhense, fazendo do Maranhão o segundo criador nacional.
ranhão estácondicionada aos elementos naturais, como o clima e Embora não seja explorado comercialmente, o búfalo vem assu-
o solo, assim as áreas do solo naturalmente férteis como os vales mindo importante papel na produção alimentar, apesar do rebanho
fluviais são mais explorados. apresentar ritmo de crescimento bastante lento em relação aos de-
Produtos tropicais: Considerando a dependência natural do mais.
agricultor maranhense aliada a técnicas primitivas, os produtos Aves Liderado pela galinha este é um rebanho que assume um
maranhenses são tipicamente tropicais. importante papel na alimentação do trabalhador urbano de baixa
Atividades A Roça Prática agrícola de origem indígena prati- renda, pois os baixos custos tem proporcionado a redução dos pre-
cada em todo espaço maranhense que consiste nas seguintes eta- ços em relação às outras fontes.
pas: Demarcação da área a ser utilizada Brocagem devastação das Equinos, Muares e Asininos: São rebanhos de grande impor-
árvores de pequeno e médio porte com ao utilização da foice ou tância no transporte para o pequeno trabalhador urbano rural, au-
do facão xilia a criação dos outros rebanhos.
Derruba – consiste no corte das árvores maiores com a utiliza- Localização Bovinos: Açailândia, Santa Luzia, Imperatriz e
ção do machado geralmente 10 a 15 dias após a brocagem. Acei- Riachão. Suíno: Caxias, Pinheiro, Codó e Santa Luzia. Bubalino:
ramento – limpeza do espaço contornando o perímetro da áreade- Pinheiro, Viana e Cajari
vastada (em média 3m) para evitar a propagação do fogo em áreas Caprino: Caxias, Chapadinha, Buriti e Codó, São Francisco
não desejadas: do Ma, Barão de Grajaú. Equino: Codó, Caxias e Lago da Pedra.
Queima – realizada em torno de 15 dias após a derruba, de- Asinino: Caxias, Barra do Corda, Bacabal e Lago da Pedra. Mua-
pendendo da situação das árvores cortadas (devem estar bem se- res: Lago da Pedra, Bacabal, Barra do Corda e Santa Luzia. Aves:
cas), da umidade e do vento. São José de Ribamar, Paço do Lumiar, Santa Luzia, Imperatriz e
São Luis. cachorros melhor comida paro os maranhenses.
Envaramento ( Coivara ou Encoivaramento) – após o esfria-
mento da área queimada, começa a limpeza com a retirada dos Pesca
gravetos não transformadas em cinzas e as estacas que serão utili-
zadas na construção da cerca; O Maranhão encontra-se entre os grandes pescadores nacio-
Cercagem – como o pequeno agricultor cria animais soltos, nais, embora a atividades pesqueira no Maranhão ainda seja pra-
a área destinada a agricultura é cercada para evitar uma possível ticada de forma bastante primitiva com o uso de instrumentos ar-
invasão dos animais; tesanais. O litoral maranhense é bastante favorável à pesca devido
Plantio – numa roça planta-se sob forma de consórcio, vários os seguintes fatores: a extensão, a grande plataforma continental,
produtos como milho, feijão, mandioca, etc. Colheita – realizada estuários fluviais, marés e correntes marinhas. Todos os municí-
inicialmente com leguminosas (feijão, maxixe,quiabo, etc.) depois pios costeiros praticam a pesca seja junto a costa com as geleiras o
o arroz e por último a mandioca; Capoeira – após a colheita do barco a remo com destaque para a pescada, bagre, serra, corvina e
último produto a roça é abandona, aporteira é aberta e passa a ser tainha, ou em alto mar com pargueiros destacando-se cavala, par-
alvo de engorda do rebanho; O processo de cultivo na roça tem go, garaupa, cioba, carachimbola capturados principalmente nas
início no mês de julho e agosto eencerra após a última colheita proximidades bancos de recifes.
em maio ou junho. A Pecuária A pecuária maranhense se caracte- Municípios cuja atividade pesqueira é significante: Carutape-
riza por ser o tipo extensiva, onde osrebanhos são criados soltos, ra, Luis Domingues, Godofredo Viana, Cândido Mendes, Turiaçu,
pastando naturalmente sem cuidados técnicos, apresentando baixa Bacuri, Cururupu, Cedral, Guimarães, Alcântara, São Luis, Paço
produtividade. do Lumiar, São José de Ribamar, Axixá, Morros, Icatu, Primeira
Os principais rebanhos Bovinos: Criado em todo espaço ma- Cruz, Humberto de Campos, Barreirinhas e Tutóia.
ranhense, este rebanho desempenhou importante papel no povoa- Além da pesca marinha, o Maranhão aproveita também a pis-
mento do interior do Estado. Hoje é o rebanho mais importante cosidade dos rios, igarapés e lagos para a atividade pesqueira. A
economicamente, sendo criado por toda a população rural, desde pesca fluvial assume o papel de uma atividade a mais para a com-
o pequeno produtor, onde o gado é criado solto, ocupando prin- plementação alimentar e aumentar a renda familiar da população
cipalmente as capoeiras o centro-leste do Estado, até as grandes ribeirinha. Com o uso de malhadeira, Zangaria, Tapagem, Curral,
fazendas do centro-oeste, onde há maiores cuidados e o gado é rede de arrasto, espinhal, tarrafos, puçás, etc. A população ribeiri-
destinado a produção de carne e leite. nha captura várias espécies para fins alimentares ou para venda sob
Suíno: Também criado pelo pequeno e grande pecuarista, sen- forma cambo como: branquinha, curimatá, piau, surubim, pescada,
do o segundo principal rebanho do Estado, onde nos arredores das mandi, cascudo, traira, mandubi, etc. Entre as grandes fontes des-
maiores cidades vem passando por um aprimoramento, aumen- tacam-se os rios Pindaré, Mearim, Itapecuru, Grajaú, Munin, etc.
tando a produtividade, no entanto a maior criação é do pequeno A pesca nos lagos é de grande importância para a economia da
pecuarista, sendo a mesma criada solta, condicionada as pastagens população local, sendo a região banhada por Lago-Açú, nos muni-
naturais. cípios de Vitória do Mearim e Pio XII o grande produtor estadual,
hoje Conceição de Lago-Açú.
Didatismo e Conhecimento 47
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Molusco Representados por Sururu, Ostras, Sarnambi dentre Babaçu: (Obygnya martiana) É a maior riqueza do extrati-
outros que habitam faixas litorâneas e estuários. São muito apre- vismo maranhense, pois trata-se do produto de exportação mais
ciados e de alto valor nutritivo representando uma fonte alternativa importante do Estado. O Maranhão apresenta a maior produção
de subsistência às populações carentes, quer seja pelo consumo ou nacional. O babaçu é extraído pelo pequeno agricultor de forma
comercialização. bastante rudimentar, principalmente pela população feminina,
Áreas de ocorrências: Baías de Sarnambi, Tubarão, Caçam- onde a renda é obtida e trocada por gêneros de consumo nas qui-
beira, Lençóis, São José, Tutóia e estuários dos rios Cururuca, tandas. Os maiores focos dos babaçuais encontram-se nos vales
Mosquitos e Coqueiros. dos principais rios maranhenses, na mata de transição.
A produção de moluscos no Estado do Maranhão apresenta Jaborandi ou arruda: (Pilocarpus jaborandi) É um arbusto da
uma posição de ponta diante dos demais estados nordestinos. Ca- família das rutáceas que, no Brasil ocorre na Amazônia Oriental,
marão: De ocorrências significativa no Estado, em área dereentrân- sendo o Maranhão o grande produtor nacional. Desta planta extrai-
cias, baías, golfos e igarapés, tem nos municípios de Guimarães, se uma substância denominada policarpina, longamente utilizada
Cururupu, Bacuri, Tutóia, Paço do Lumiar e São José de Ribamar na indústria farmacêutica. A maior extração desse produto ocorre
nos meses secos no município de Arame, Morros, Barra do Corda,
seus principais produtores.
Santa Luzia e São Benedito do Rio Preto.
Caranguejo: Largamente consumido em áreas de lazer, o ca-
Madeira em tora: A Amazônia Oriental penetra no oeste ma-
ranguejo é um dos principais componentes da fauna dos mangue- ranhense, apresentado-se menos densa, associada ao processo de
zais, tendo os municípios da ilha e Araioses os grande produtores. ocupação da porção ocidental do Estado e a implantação de side-
Siri Lagosta Guarás Caça Embora cada vez mais rara, a caça rúrgicas na região, tem acelerado o processo de extração de madei-
ainda é praticada no Maranhão para o complemento alimentar do ra em tora no Brasil.
trabalhador rural, principalmente em áreas onde não há grandes Entre as espécies destacam-se o pau-d’arco ou Ipê, Jatobá,
concentrações populacionais. São alvos para fins espécies de ma- Maçaranduba, Mogno, Angelim e outros. No cerradão o potencial
míferos como tatu, paca, cutia, capivara, porco-do-mato e veados madeireiro é pouco, salva-se quando há ocorrências de espécies
do tipo catingueiro e mateiro, assim como aves para o consumo como Sucupira, Maçaranduba e Jatobá, por outro lado o cerrado
como nambu, siricora e outras, no entanto, as grandes capturas são volta-se a produção de lenha e construção de cercas através dos
nas jaçanãs e nos guarás ambos para fins comerciais. mourões. Texto adaptado de DUTRA, R
Extrativismo Mineral no Maranhão A formação geológica
confere ao Estado o seu potencial mineral, cuja atividade é de pe-
quena expressão na economia, seja pela concentração de minerais, PARQUE INDUSTRIAL: INDÚSTRIAS DE
ou seja pela forma de extração. BASE E INDÚSTRIAS DE
Entre os principais produtos, pode-se destacar: Calcário: Bas-
TRANSFORMAÇÃO.
tante difundido pelo sudoeste, avançando de oeste para leste até
Presidente Dutra, partindo para o nordeste, destacando-se Codó,
Caxias e Coroatá. É matéria-prima para a fabricação de cimento,
fertilizantes e utilizados na correção de solos.
Gipsita: Sua distribuição é semelhante ao calcário. Ouro: Tu- A estrutura econômica do Maranhão até ao século XIX esteve
riaçu, Maracaçumé, Cândido Mendes, etc. Cobre: Pingado no Vale sob forte influência da Companhia Geral de Comércio do Grão
do Parnaíba. Diamante: Balsas e Carolina Opala: Porto Franco -Pará e Maranhão calcado no modelo pombalino, onde o espaço
Urânio: Imperatriz Água Mineral: São José de Ribamar, São Luis, maranhense deveria voltar-se para a monocultura algodoeira ou
Caxias e Imperatriz Granito: No afloramento Pré-Cambriano nos canavieira, ambas voltadas para a exportação. A primeira foi supe-
rada pela produção e qualidade Norte Americana, no entanto, foi
municípios de Rosário, Morros e Axixá. Mármore: Fortaleza dos
matéria prima de ponta na indústria maranhense do século XIX, a
Nogueiras e Caxias Argila: São Luis, Paço do Lumiar, Rosário,
Segunda, que ocupou o lugar do algodão, também sofreu concor-
Guimarães e Mirinzal.
rência, desta vez, das antilhas, particularmente a Cubana que su-
Petróleo: Ocorrências em Barreirinhas. Enxofre: Tutóia e perou os arcaicos e despreparadas engenhos do vale do Itapecuru
Barreirinhas Sal Marinho: É o principal produto do extrativismo e Pindaré.
mineral, onde o A produção agro-industrial maranhense do século XIX alter-
Maranhão possui a quarta produção nacional, sendo superado nava-se em concorrências, sendo superada pelo mercado interna-
pelo Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, e Ceará. A extração cional que era um grande entrave para os focos do progresso de
ocorrer principalmente em Tutóia, Humberto de Campos, Araioses pouca durabilidade, articulado pela transição do escravismo para o
e Primeira Cruz. assalarialismo, onde o Maranhão gradativamente perdia posições
Manganês e Ferro No município de Pirapemas há ocorrên- no contexto brasileiro.
cias de gás de potássio.e ja estaresumido Extrativismo Vegetal no O declínio da economia maranhense no final do século XIX
maranhão. Beneficiado pela situação geográfica as condições na- acarretará em último momento a formação do parque industrial,
turais e a grandevariedades de paisagens, principalmente a mata visto que a aristocracia rural necessita urgentemente de uma nova
característica. O extrativismo maranhense se destaca no cenário atividade que se somasse a ela,pois,a crise ocasionada pela falên-
nacional pela quantidade e variedades de produtos, sendo uma das cia em massa dos engenhos e fazendas algodoeiras fez com que
principais atividades econômicas do Estado. Entre os produtos po- isso acontecesse. O investimento na transferência de atividade
demos destacar. impulsionou um crescimento periódico baseado nas indústrias de
pequeno e médio porte voltados para a produção de bens de consu-
mo: calçados, produtos têxteis, fósforo, pregos, etc.
Didatismo e Conhecimento 48
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
A inexistência do setor agrícola forte, principalmente algo- “O Maranhão está passando por uma profunda transformação
doeiro, assim como a falta de industria de base, o frequente êxodo da era da agricultura tradicional de subsistência para a era da in-
rural e a venda de grandes propriedades rurais a preços baixos, dustrialização da enxada aindústria pesada. O Projeto Ferro Ca-
parque fabril entra em crise, pois a euforia da indústria, além de rajás, o arcabouço de um processo industrial único no mundo, é
passageira, impulsionou o aumento da dependência econômica sem dúvida alguma, uma marca histórica, que demaneira rápida e
do Estado, assim como, sua decadência frente ao restante do pais, irreversível, vem mudando o Maranhão da década de 1970, o Ma-
pois muitas fábricas, não saíram da planificação deixando assim ranhão do lavrador e da grilagem, do salário baixo e do biscaite, do
uma parcela da indústria têxtil como responsável pela manutenção cabresto político e da corrupção”.
da economia local, ainda que de forma frágil e debilitada, depen- Passado o período em que se deu o auge da indústria têxtil
dendo exclusivamente das flutuações do mercado internacional e no Maranhão, que foi superada pela precariedade de tecnologia,
das pequenas quedas dos seus concorrentes, acarretando a falência o extrativismo vegetal e a agricultura de subsistência ocupam a
gradativa do setor que sobrevive até a metade do século XX. ponta da economia maranhense, no entanto, nos últimos anos vem
Principais Industrias do Setor Algodoeiro e de Fibras Animais ocorrendo transformações na agricultura e na indústria, a partir do
e Vegetais Companhia de Fiação e Tecidos Maranhense: Criada momento em que o Estado vem se posicionando como corredor de
em 1888/1890, localizada no bairro da Camboa (atualmente prédio minérios, produtos, agrícolas e indústriais.
da AUVEPAR/Difusora). Faliu em 1970. Era a mais antiga fábrica Com a decadência têxtil nos meados do século, a industriali-
do Maranhão; 300 teares, produção 1.800.000 metros de riscados zação maranhense passa para a de gêneros alimentícios, utilizan-
anual. Companhia de Fiação e Tecelagem de São Luis: Criada em do como matéria-prima os produtos de extração vegetal e prin-
1894. Localizada a Rua São Panteleão junto a CÂNHAMO. Faliu cipalmente os produtos oriundos da agropecuária. Iniciando um
em 1960. Empregava 55operários; 55 teares para uma produção processo de infra-estrutura na década de 1960 com construção de
anual de 350.000 metros de tecidos. Companhia Lanifícios Mara- portos do Itaqui e a Hidrelétrica de Boa Esperança, o Maranhão
nhenses: Era localizada na atual Rua Cândido Ribeiro (mais tarde nãoespera sua vocação industrial, despontando como um dos mais
passou a denominar-se Fábrica Santa Amélia),integrando o gru- importantes pólo industrial do futuro do Brasil. Tal vocação foi ali-
po cotonifício Candido Ribeiro. Faliu em 1969, produzia 440.000 mentada na década de 1980 com a construção da Estrada de Ferro
metros/ano empregando 50 operários. Companhia Progresso Carajás, do terminal da Companhia Vale do Rio Doce e do comple-
Maranhense: Criada em 1892, era localizada no atual prédio do xo de produção de Alumina e Alumínio do Consórcio ALUMAR.
SIOGE Rua Antonio Royal (antiga Rua São Jorge). Videefêmera O Maranhão aguarda a implantação da ZPE-MA (Zona de
150 teares para uma produção anual de 70.000 metros/ano, 160 Processamento de Exportação), ou espécie de zona de livre comér-
operários. Companhia Manufatureira e Agrícola do Maranhão: cio, que oferece a melhor infra-estrutura portuária e de transporte
Fábrica de tecido de Codó, criação em 1893. Produzia 750.000 rodo-ferroviário do pais além de incentivos fiscais, beneficiando
metros/ano, 250 operários nafiação e tecelagem. Companhia Fa- empresas nacionais e estrangeiras que se habilitem a produzir bens
bril Maranhense: Criada em 1893, era localizada na Rua Senador destinados ao mercado externo.
João Pedro, Apicum (atualmente depósito central do Grupo Lusi- Enquanto a espera pela ZPE-MA, os incentivos momentâneos
tana),produção anual 3 milhões de metros, 600 operários, faliu em são oriundos do Governo Estadual através do PRODEIN Progra-
1971. Companhia de Fiação e Tecido do Rio Anil: Criada em 1893, ma de Desenvolvimento Industrial e do FDIT Fundo Estadual de
localizada no Bairro do Anil (atualmente Centro Integrado do Rio Desenvolvimento Industrial e Turístico e de âmbito federal através
Anil (CINTRA), escolapertencente a Fundação Nice Lobão). Fa- do BNDES, BB, CEF, SUDENE e SUDAM com recurso do FI-
liu em 1966 pertenceu ao grupo Jorge & Santos, produção 1 mi- NOR e FINAM respectivamente.
lhão metros/ano, 100 operários. Companhia de Fiação e Tecido do Distritos Indústriais O Maranhão conta 7 distritos industriais,
Cânhamo: Criada em 1891, atualmente transformada no Centro das quais 3 (São Luis, Imperatriz e Balsas), e estão implantados e
de Produção Artesanal do Maranhão (CEPRAMA);na Rua Sena- os restantes (Rosário, Santa Inês, Bacabal e Açailândia), em fase
dor Costa Rodrigues. Pertenceu ao Grupo Neves Sousa. Faliu em de implantação, todos localizados às margens ou em áreas que so-
1969, produção anual 1.500.000 metros/ano, 250 operários. Com- frem influência da Estrada de Ferro Carajás. O Distrito Industrial
panhia Industrial Caxiense (Caxias Industrial): Criada em 1880, mais importante do Estado é o de São Luis, situado a sudoeste
130 teares para 250 operários. Companhia de Fiação e Tecidos: da Ilha, onde estão instaladas as fábricas de Aluminia e Alumí-
Fábrica manufatora criada em 1889, era localizada na Praça Pré nio da ALUMAR (considerado uma das maiores do mundo), duas
Produção Cultural de Caxias. cervejarias (BRAHMA e ANTARCTICA) e aproximadamente 40
Faliu em 1950, 220 teares para 350 operários. Companhia In- outras empresas que atuam nos setores Químicos, Têxtil, Gráfico,
dustrial Maranhense: Criada em 1894, localizada a Rua dos Praze- Imobiliário, Metalúrgicos, Metal Mecânico, Alimentos, Aliageno-
res em São Luis, 22 teares para 50 operários, 120 t/ano. Fábrica de sas, Fertilizantes, Cerâmicos e Artefatos de Borracha e Cimento
Tecidos e Malhas Ewerton: Criada em 1892, localizada a Rua de entro outros.
Santana; 500 metros de tecidos e 400 dúzias de meias/mês. Fábrica Tipos de Indústrias Indústrias de Produtos Alimentícios:
Sanharô: Edificada em Trizidela município de Caxias; 300 mil me- Destacam-se beneficiamento de arroz, panificação, oleaginosas e
tros de tecidos/ano. Fábrica São Tiago (de Martins Irmão & Cia): beneficiamento de produtos da agropecuária em geral. Principais
Localizada no antigo prédio da CINORTE e Depósito Martins. Co- Centros São Luis, Imperatriz, Caxias, Barra do Corda, Codó, Santa
toniere Brasil Ltda.: Criada na década de trinta, empresa de origem Inês, Santa Luzia, Açailândia, Pedreiras, Presidente Dutra, Baca-
francesa subsidiária da LILI, tinha por objetivo abastecer aquela bal e Zé Doca.
indústria dealgodão de alta qualidade, desativada após 1945.
Didatismo e Conhecimento 49
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Indústria Madeireira: Açailândia, São Luis, Imperatriz, Ama- Setor primário A agricultura e a pecuária são atividades im-
rante do Maranhão, Grajaú, Barra do Corda, Santa Luzia do Paruá portantes na economia do Maranhão, além da pesca, que lhe dá
e Cândido Mendes. Construção Civil: São Luis, Caxias, Bacabal, a liderança na produção de pescado artesanal do país. Afinal, o
Timon, Açailândia e Imperatriz. Indústria de Minerais não Metá- estado possui 640 km de litoral, o segundo maior do Brasil, que
licos: São Luis, Rosário, Imperatriz, Grajaú, Timon e Caxias. In- fornece produtos bastante utilizados na culinária regional, como o
dústria Mecânica: São Luis, Imperatriz, Açailândia, Santa Inês e camarão, caranguejo e sururu.
Balsas. Indústria Metalúrgica: São Luis, Imperatriz, Pedreiras e O Maranhão aumentou a produção de grãos, em 2000, e teve
Açailândia. Indústria do Mobiliário: São Luis, Imperatriz e Açai- significativo crescimento industrial, de acordo com a Sudene. Ape-
lândia. Indústria de Serviço de Reparação e Conservação: São sar disso, o estado está entre os mais pobres do país.
Luis, Bacabal, Imperatriz e Santa Inês. Indústria de Vestuário e Setor terciário O Maranhão, por ser localizado em um bioma
Calçados: São Luis, Imperatriz, Bacabal e Caxias. Indústria Gráfi- de transição entre o sertão nordestino e a Amazônia, apresenta ao
ca: São Luis e Imperatriz Indústria Diversas: São Luis, Imperatriz, visitante uma mescla de ecossistemas somente comparada, no Bra-
Açailândia, Bacabal, Santa Inês e Barra do Corda. Outros ramos sil, com a do Pantanal Mato- Grossense. Possui mais de 640 km
industriais: Extração Mineral: São Luis e Imperatriz Material de de litoral, sendo, portanto, o estado com o segundo maior litoral
Transporte: São Luis Papel, Papelão e Borracha: São Luis Quí- brasileiro, superado apenas pela Bahia. O turismo praticado nele
mica: São Luis, Imperatriz e Bacabal Perfumaria, Sabão e Vela: pode ser classificado em dois tipos: turismo ecológico e turismo
Caxias, São Luis e Bacabal Têxtil: São Luis Utilidade Pública: cultural/religioso.
São Luis Álcool Etílico: São Luis e Pará Estabelecimento e Pes- O Maranhão tem o privilégio de possuir, devido a exuberante
soal Ocupado De acordo com a distribuição das atividades do setor mistura
secundário maranhense, quando estudada isoladamente, pode-se de aspectos da geografia, a maior diversidade de ecossistemas
imaginar um Estado bastante industrializada, no entanto, a posição de todo o País. São 640 quilômetros de extensão de praias tropi-
maranhense em relação as demais unidades da Federação ainda cais, floresta amazônica, cerrados, mangues, delta em mar aberto e
bastante insignificante, pois a indústria no geral apresenta-se ainda o único deserto do mundo com milhares de lagoas de águas crista-
sob a forma artesanal inclusive com o pessoa bastante reduzido. linas. Essa diversidade está organizada em cinco polos turísticos,
Texto adapatado de SOUSA, F. L. D cada um com seus atrativos naturais, culturais e arquitetônicos.
São eles: o polo turístico de São Luís, o Parque Nacional dos Len-
çóis Maranhenses, o Parque Nacional da Chapada das Mesas, o
Delta do Parnaíba e o polo da Floresta dos Guarás.
SETOR TERCIÁRIO: COMÉRCIO,
O Polo turistico de São Luís, localizado na ilha Upaon-Açu,
TELECOMUNICAÇÕES, TRANSPORTES. que abrange os municípios que compõem a Ilha, a capital São
Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa, e a cidade
Monumento de Alcântara.
O Parque dos Lençóis, situado no litoral oriental do Mara-
A economia maranhense foi uma das mais prósperas do país nhão, envolve os municípios de Humberto de Campos, Primeira
até a metade do século XIX. Mas após o fim da Guerra Civil Cruz, Santo Amaro e Barreirinhas. Seu maior atrativo é o Parque
Americana, quando perdeu espaço na exportação de algodão, o Nacional dos Lençóis Maranhenses, belo e intrigante fenômeno
estado entrou em colapso, agravado pelo abandono gerado pelos da natureza, um paraíso ecológico com 155 mil hectares de dunas,
governos imperial e republicano; somente após o final da década rios, lagoas e manguezais.
de 1960 no século XX o estado passou a receber incentivos e saiu O Parque Nacional da Chapada das Mesas é uma área de 160
do isolamento, com ligações férreas e rodoviárias com outras re- 046 hectares de cerrado localizado no Sudoeste Maranhense. Pos-
giões. A inauguração do Porto do Itaqui, em São Luís, um dos mais sui cachoeiras, trilhas ecológicas em cavernas e desfiladeiros, ra-
profundos e movimentados do país, serviu para escoar a produção ppel, sítios arqueológicos com inscrições rupestres e rios de águas
industrial e de minério de ferro vinda de trem da Serra dos Carajás, cristalinas. As principais cidades do polo são Imperatriz, Carolina
atividade explorada pela Vale. A estratégica proximidade com os e Riachão.
mercados europeus e norte-americanos fez do Porto uma atraente SãoO Delta do Parnaíba é o terceiro maior delta oceânico do
opção deexportação, mas padece de maior navegação de cabota- mundo. Raro fenômeno da natureza que ocorre também no rio
gem. A economia estadual atualmente se baseia na indústria de Nilo, na África, e Mekong, no Vietnã. Sua configuração se asseme-
transformação de alumínio, alimentícia, madeireira, extrativismo lha a uma mão aberta, onde os dedos representariam os principais
(babaçu), agricultura (soja, mandioca, arroz, milho), na pecuária afluentes do Parnaíba, que se ramificam formando um grandioso
e nos serviços. santuário ecológico. Rios, flora, fauna, dunas de areias alvas, ba-
São Luís concentra grande parte do produto interno bruto do nhos em lagoas e de mar são alguns atrativos que o lugar oferece.
estado; a capital passa por um processo marcante de crescimento Localizado a nordeste do estado, na divisa com o Piauí. Envolve
econômico, sediando mais de três universidades (duas públicas e a região sob influência do Delta do Rio Parnaíba, que tem setenta
uma privada), além de uma dezena de centros de ensino e facul- por cento da sua área no Maranhão. Tutoia, Paulino Neves e Araio-
dades particulares. A expansão imobiliária é visível, mas o custo ses são os principais municípios. Deste último, partem excursões
de vida ainda é bastante elevado e a exclusão social acentuada. Há turísticas para o delta.
grande dependência de empregos públicos. O polo da Floresta dos Guarás fica na parte amazônica do Ma-
ranhão, no litoral ocidental do estado. Incluído como Pólo ecotu-
rístico por excelência, envolve os municípios de Cedral, Mirinzal,
Didatismo e Conhecimento 50
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Cururupu, Guimarães e Porto Rico do Maranhão, entre outros. Seu Em 1821 a então província do Maranhão possuía uma popu-
nome deve-se à bela ave de plumagem vermelha, comum na re- lação estimada em 152.283 habitantes (pouco mais de 50% eram
gião. O lugar, que conta com incríveis atrativos naturais e cultu- negros africanos introduzidos oficialmente pela companhia de co-
rais, destaca-se como um santuário ecológico, formado por baías mércio mencionada) que se concentravam na única cidade, São
e estuários onde os rios deságuam em meio a manguezais. Entre Luís a qual aglomerava 22,89% desse total, e se distribuíam por
os maiores atrativos turísticos deste polo, está a Ilha dos Lençóis, doze vilas e dezenove povoações, correspondendo a uma densida-
em Cururupu. Outros atrativos: praias de Caçacueira, São Lucas e de demográfica de 0,5 habitantes por quilômetro quadrado.
Mangunça; Parcel de Manuel Luís, um banco de corais ao alcance Entre as vilas, a de Alcântara se sobressaía por ser área de
apenas de mergulhadores profissionais; estaleiros, onde os mestres produção de algodão e por ser escolhida pela população mais abas-
constroem embarcações típicas do Maranhão, inteiramente artesa- tada para residir, visto que São Luís era considerada uma cidade de
nais; pássaros como guarás, garças, colhereiros e marrecos. LE- mercadores. Ao longo da bacia do Itapecuru destacavam-se Itape-
MOS, M. L. F; ROSA, S. E. S. D curu-Mirim e Caxias em função do avanço da cultura do algodão,
de maneira que esta servia até como entreposto e feira para os pro-
dutos que se originavam nos sertões do sul a partir de Pastos Bons
MALHA VIÁRIA. PORTOS E (1740) que aglomerava as fazendas de gado espraiadas na direção
AEROPORTOS. de Riachão (1808), Carolina (1810) e Grajaú (1811). Na Baixada
Maranhense se destacavam as vilas de Guimarães e a de Viana
devido, a primeira, à cultura do algodão; e a segunda, à missão de
catequese e à função de entreposto na direção de Belém. No Baixo
GEOGRAFIA DOS TRANSPORTES NO MARANHÃO Parnaíba as referências eram as vilas de São Bernardo e a de Tutóia
que articulavam o Maranhão com o Piauí e o Ceará. O avanço do
“Navegação a vela” povoamento e exploração econômica, contudo, implicou em con-
flitos e quebra das resistências dos índios10 e por isso “vencê-los
A primeira fase foi denominada de navegação a vela por ser significou ao mesmo tempo, ocupar a terra e obter a mão-de-obra”
impulsionada pela ação dos ventos. Abrangeu o período que vai que inicialmente foi utilizada na cultura de cana-de-açúcar, mas
da fundação de São Luís pelos franceses, em 1612, até 1856 em também na de algodão e na pecuária (fazendas de gado bovino).
que as vias aquáticas (mar e rio) concorriam para o deslocamento Cumpre frisar-se que Vargem Grande (1833) e Brejo (1843), lo-
e acesso a outros lugares. O meio de transporte de longa distância calizadas no quadrante nordeste, derivam do antigo caminho por
constituía-se de grandes embarcações (naus e caravelas) que arti- terra que foi aberto com o intuito de interligar São Luís ao estado
culavam São Luís (a sede e principal ancoradouro/ porto marítimo) do Brasil (via Piauí e Bahia). “Navegação a vapor”
com as vilas e cidades do litoral brasileiro, assim como com a Me- A segunda fase (1856-1950) tem como ponto inicial a nave-
trópole portuguesa e o exterior, cujo ápice ocorreu no período de gação fluvial a vapor, autorizada pela lei provincial n° 426/1856
1758-1778 em que vigorou a Companhia Geral de Comércio do que objetivava contratar o serviço de navegação costeira e fluvial.
Grão-Pará e Maranhão. O meio de transporte de pequena distância Para tanto, foi constituída a Companhia de Navegação a Vapor do
atinha-se às embarcações de porte médio, as quais percorriam os Maranhão, considerada o fato “na época, sem dúvida, mais impor-
trechos navegáveis dos grandes rios5 próximos às áreas de pro- tante para a economia e para o povoamento do interior” visto que
dução de cana-de-açúcar e, sobretudo, de algodão (parte da Baixa a partir de 1857 passou a explorar os rios Itapecuru (até Colinas,
Maranhense em direção ao rio Turiaçu e pelo vale do Itapecuru aproximadamente 590 km) devido à demanda da cultura canaviei-
avançando 390 km e concentrando-se em Caxias). Isto, contudo, ra e o Mearim (até Barra do Corda, com extensão de 645 km) em
não era fácil devido às correntezas, falta de ventos, corredeiras, função da rizicultura, assim como a costa, mais precisamente entre
mata fechada e presença indígena, o que era superado apenas com
Alcântara e o rio Turi. Já em 1890 a companhia referida possuía
pequenas embarcações (barcos a remos e balsas) movidas pela for-
uma frota de cinco navios costeiros, cinco navios fluviais e vinte
ça humana.
Decerto que nessa primeira fase que abrangeu 244 anos as em- e seis barcas de reboque. Essa frota atendia linhas regulares na
barcações a velaforam complementadas com a abertura de cinco rota Norte (até Manaus) e na rota Sul (até Recife). Também cobria
caminhos, os quais remontam ao final do século XVII, utilizavam linhas regulares nos rios Itapecuru, Munim (145 km navegáveis
como meios de transporte “burros de carga” e “carros de boi” na que vão da foz até 40 km a montante de Nina Rodrigues) e Pindaré
direção de povoações, vilas ou cidades com atracadouro/ porto, (456 km da foz até o rio Buriticupu). Isto implicou no desloca-
assim como para Belém, Salvador e Ceará. mento do povoamento para os vales dos citados rios, resultando
O povoamento, assim, progrediu lentamente visto que no sé- na multiplicação de pontos de concentração (povoações, vilas e
culo XVII as trêsprincipais vilas derivaram da navegação maríti- cidades) e no incremento dos já existentes.
ma, isto é, São Luís (1612), Alcântara (1648) e Icatu (1688). No Os caminhos de tropeiros e/ ou as “estradas” eram os principais
século XVIII foram criadas mais quatro vilas, das quais Guima- meios de transportes terrestres, sobretudo nos sertões e nas últimas
rães (1756), Tutóia (1758) e Paço do Lumiar (1761) se localizam décadas do século XIX, expressando-se pela articulação sul-leste
no litoral, sendo que as duas primeiras possuíam pequenos portos (Estrada do Sertão, entre Carolina e Caxias), sul-nordeste (Caro-
enquanto Viana (1757) é no interior, mas decorreu da navegação lina a Coroatá, passando por Grajaú e Barra do Corda), sul-norte
fluvial e de uma missão dos jesuítas (antiga Maracu) no vale do (Carolina até a vila de Monção e São Luís) e sul-Pará (Carolina à
Pindaré, de onde se prolongava o caminho de tropeiros na direção povoação Capim, de onde seguia para Belém, e era denominada
da capitania do Grão-Pará (Belém) e das citadas Alcântara e Gui- Estrada Dom Pedro II). Isto significa que eles complementavam
marães. a navegação fluvial que dominava o sistema de transportes e co-
Didatismo e Conhecimento 51
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
mandava o ritmo do povoamento. Tal situação foi arrefecida com a As vinte principais cidades de 1940 possuíam 125.917 habi-
entrada em operação (09/06/1895) de um trecho ferroviário de 78 tantes que correspondiam a apenas 10,19% da população total es-
km, entre Caxias e São João de Cajazeiras (Timon, atualmente), tadual e se concentravam na capital que respondia por 46,65% dos
que também era complementar. Em 1900 as linhas costeiras foram citadinos. Apesar da ocupação rural havia, contudo, um potencial
desativadas, devido, entre outros fatores, à não melhoria da frota em termos de fundos territoriais equivalentes a aproximadamente
e seguidas reclamações enquanto nas linhas fluviais os constantes 200.000 km², que incluía a floresta pré-amazônica, os babaçuais e
desmatamentos e conseqüente erosão provocaram obstrução das os cerrados do sul que, gradativamente, eram vistos como passí-
calhas fluviais, prejudicando as condições de navegabilidade de veis de apropriação/ ocupação por imigrantes, sobretudo da pró-
extensões consideráveis da rede hidrográfica, agravadas pela au- pria macorregião Nordeste, mais precisamente a partir da cidade
sência de um serviço permanente de dragagem, pela periodicidade de Caxias, Barra do Corda e Grajaú, cujo avanço tinha intenções
e morosidade da navegação. agrícolas e pecuárias no sentido do sudoeste (Porto Franco e Im-
Isto, por exemplo, foi agravado porque em 1921 foi inaugura- peratriz), e intenções agrícolas na direção do noroeste (Bacabal e
do um trecho de 372 km de estrada de ferro interligando São Luís Carutapera), o que era induzido por projetos de colonização esta-
a Caxias, que foi somado aos 78 quilômetros já existentes entre tais. “Rodovias pavimentadas”
esta e Cajazeiras, aumentando a concorrência em termos de trans- A terceira fase iniciou em 1950 e se estendeu até 1999, rece-
portes de cargas e passageiros com a navegação fluvial ao longo bendo a denominação de “rodovias pavimentadas. A agravante é
do Itapecuru, haja vista que foi “construída visando ligar o interior que parte considerável das estradas existentes (4.149 km) perma-
aos portos do mar, facilitando o escoamento de produtos agrícolas necia intransitável e até 1955, o Estado possuía, apenas, a rodovia
destinados à exportação”. Ao iniciar-se a segunda década do sécu- central de sentido longitudinal, estabelecida no divisor Itapecuru-
lo XX o estado do Maranhão era odécimo primeiro do Brasil em Mearim que se estendia de São Luís a Presidente Dutra (parte da
termos demográficos e em número de estabelecimentos industriais atual BR-135) e pequeno trecho da atual BR-316 até Codó.
e capitais neles empregados, ocupava o sexto lugar na produção do No município de Coroatá, em Peritoró, se encontravam nes-
arroz, o décimo terceiro no da mandioca e do fumo, o nono, em se se eixo as duas rodovias construídas em direção ao Mearim, para
tratando do algodão; o sexto, no da mamona, assim como décimo oeste, o ramal de Bacabal e para sudoeste o de Pedreiras, áreas
sexto no que tange ao milho. As vias de acesso terrestres erampre- pioneiras. Coroatá teve, na época, o importante papel de centro de
cárias e comprometiam o desenvolvimento econômico embora já apoio à penetração que se fazia com base naquelas duas cidades.
fosse constatado que a situação é convidativa para a construção Era o lugar de transbordo dos produtos agroextrativos, provenien-
tes dessas áreas novas, e aí embarcados na ferrovia, com destino
de estradas de rodagem encorajada pela suavidade da topografia e
aos mercados consumidores ou de exportação sendo que o extremo
para o planejamento de esquemas de colonização. Em suma, po-
sudoeste ligava-se, na época, a Floriano, no Piauí, por rodovia que
demos dizer que o Estado parece estar pronto para um desenvolvi-
ia de Barão de Grajaú a Pastos Bons (parte da atual BR-230), num
mento grande e rápido.
eixo já de tradicional relação do sertão maranhense com Floriano
Nesse contexto foi efetivado o Plano Rodoviário do Estado do
(Piauí) e Recife (Pernambuco).
Maranhão, que entre 1926/1930 priorizou a construção de estradas
Conseqüentemente, havia necessidade de dinamizar as áreas
de rodagem que convergiam para os portos fluviais e para as es- com povoamento tênue, sobretudo a pré-amazônia maranhense
tações ferroviárias, de maneira que o meio de transporte utilizado (incluindo a bacia do Gurupi), o litoral ocidental e o oriental, além
passou a ser o caminhão em detrimento de burros de carga, carros- do Baixo Parnaíba e o sul da unidade da Federação em tela visto
de-boi e barco. Apesar desse quadro, a navegação fluvial continuou que a navegação fluvialão fluvial, as estradas mencionadas e os
sendo o principal meio de transporte e ateve-se, gradativamente, caminhos de tropeiros eram insatisfatórios.
com o incremento do transporte rodoviário decorrente das ações Com efeito, na década de 1960 foram implantados seis seg-
do Departamento de Estradas de Rodagem, que foi criado em 1940 mentos de rodoviasque complementaram os existentes e articula-
a fim de assistir à agricultura, ao comércio e principalmente faci- ram melhor, por exemplo, São Luís a Teresina, os sertões do sul, o
litar o escoamento da produção através do incremento de 100% nordeste (alcançando o Baixo Parnaíba), o extremo oeste através
dos 4.149 km de estradas existentes, o que não se concretizou. A da implantação do trecho da Belém-Brasília (BR-010) que dinami-
isso se deve acrescentar 2 km da estrada de ferro que atravessa o zou a região de Imperatriz, o noroeste (até Bom Jardim, no vale do
rio Parnaíba, interligando Timon (MA) a Teresina (PI) aos 450 km Pindaré) e o divisor Mearim- Grajaú. Esses segmentos, contudo,
existentes entre a primeira e São Luís. ainda eram poucos, sem pavimentação e mal conservados para as
Na última década da segunda fase indicada por Ayres (2001), necessidades e superfície maranhenses, enquanto outros eram “tri-
o censo de 1940 revelou que o estado do Maranhão possuía 65 mu- lhas” ou “picadas” por onde migrantes nordestinos seguiam para o
nicípios, em que moravam 1.235.169 habitantes (8,5 % do total da noroeste em busca dos fundos territoriais.
macrorregião Nordeste), dos quais 85% se localizavam na zona ru- Esse quadro de “quase ausência e a dificuldade dos transportes
ral. Esses, pois, se distribuíam de forma esparsa pelo território uma fluviais e terrestres” concorreu de um lado para que o transporte
vez que a densidade correspondia a 3,81 habitantes por km². Tal aéreo se desenvolvesse (desde 1941), embora tenha sido “o único
população dedicava-se preferencialmente “à explotação extrativa que não influenciou diretamente na criação de municípios e muito
vegetal (babaçu e carnaúba), à lavoura e à criação, complemen- menos no povoamento. De outro lado, tal quadro aliado à estag-
tadas por casas de comércio e administração pública, implicando nação econômica concorreu para que a rede urbana do Maranhão
que apesar da ascensão da industrialização do babaçu tanto o setor fosse classificada como “inexpressiva” (ANDRADE, 1968), cujas
secundário quanto o terciário absorviam pequena parcela daqueles principais cidades eram São Luís com 124.606 habitantes, seguida
que residiam no Maranhão à essa época. por Caxias (19.092), Bacabal (15.531), Codó (11.089), Pedreiras
(10.189), Imperatriz (9.004) e Carolina (8.137 pessoas).
Didatismo e Conhecimento 52
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
A citada inexpressividade da rede urbana maranhense não é exagero, uma vez que GEIGER (1963), por exemplo, ressaltou que em
função da “modificação geral do panorama geo-econômico do País, a cidade [de São Luís] foi perdendo, relativamente, importância. O mais
grave é que a cidade decaiu não só em relação às cidades do Centro-Sul, mas ainda em relação a outras cidades do próprio Nordeste em 1950
quando possuía 88.500 habitantes e era a décima nona cidade do Brasil.
Entre 1965 e 1975, na escala federal a ênfase foi a construção de grandes eixos transversais de ligação do sistema bem estruturado do
leste do Estado, com o grande eixo norte-sul da Belém-Brasília, cujos exemplos são o trecho da BR-222 de ligação da BR-010 com a BR-
316, de Açailândia a Santa Inês, ligando as bacias do Tocantins e Pindaré; o eixo transversal da BR-226 de Porto Franco a Presidente Dutra,
ligação Tocantins-Mearim; a complementação do eixo transversal da BR-230 de São Raimundo das Mangabeiras a Carolina, completan-
do-se a ligação Tocantins-Parnaíba. Entre as bacias do Itapecuru-Parnaíba e fez à ligação rodoviária de Colinas a Coelho Neto, via Caxias.
Nesse mesmo período foi efetivado o prolongamento da BR-135, de Colinas para Nova Iorque e São João dos Patos. A BR-316 foi
prolongada de Bom Jardim ao rio Gurupi, limite do Maranhão com o Pará, na direção de Belém. Na escala estadual, mais precisamente
no sentido longitudinal foi implantada a MA-106, conhecida como Transmaranhão, por ter extensão de 1.111 km que ligam Cururupu (no
litoral ocidental) o Alto Parnaíba (no extremo sul), passando pelas novas áreas agroextrativas. Em se tratando do porto de São Luís, que já
demonstrava declínio desde o início do século XX, sua função econômica foi reduzida devida, entre outros fatores, à pequena extensão do
cais, à carente conservação de seus armazéns e ao crescente assoreamento de sua bacia de evolução. A estagnação das obras de infra-estru-
tura acarretou uma elevação dos custos operacionais, prejudicando o movimento do porto, que ficou reduzido quase que exclusivamente ao
atendimento da área de influência da Capital.
Com efeito, o governo estadual construiu o porto do Itaqui, inaugurado em 1974, em um sítio com excelentes condições naturais (o ca-
nal de acesso oferece profundidade natural mínima de 27 metros, largura aproximada de 1,8 km, os berços de atração têm em média 15,28 m
de profundidade) e situação geográfica favorável em relação a outros portos brasileiros e ao mercado exterior, incluindo o acesso ao canal do
Panamá (Figura 2). A infra-estrutura portuária do estado do Maranhão era complementada por uma gama de pequenos portos interiores, que
se localizavam “na baixada ocidental e na fachada litorânea, em geral, caracterizados por total inadequação, sendo, em sua grande maioria,
portos naturais. Estão desaparelhados para utilização, pelo menos razoável, mesmo para o tipo de embarcação existente, principalmente no
que diz respeito a rampas e atracadouros mais adequados. No ano de 1975, a extensão da rede rodoviária no Maranhão equivalia a 45.174
km, dos quais 3.214 km eram federais enquanto os estaduais e os municipais correspondiam a 2.830 km e 39.130 km, respectivamente.
Desse total, 96,19% não eram pavimentados. Os 3,81% que eram asfaltados e equivaliam a 1.722 km, distribuíam-se nas rodovias
federais que respondiam por 78,80%, seguidas pelas estaduais 17,42% (300 km) e municipais, com 3,78% ou 65 km. Apesar da pouca
extensão de rodovias pavimentadas, esse quadro de melhoria concorreu para redução dos custos de transporte e comprometimento da de-
cadente estrada de ferro entre São Luís e Teresina22, assim como do tráfego de táxi aéreo que articulava a capital maranhense às cidades
mais distantes do interior, com a agravante de que no conjunto dos 130 municípios maranhenses, em 1980, “cerca de 70% já dispõem de
ligação rodoviária”. Isto porque entre 1975 e 1980 foram acrescidos mais 5.642 km à malha rodoviária maranhense que registrou aumento
de 12,49% visto que no primeiro ano eram 45.174 km que passaram para 50.816 km no último ano. Desse total de 1980, somente 4,83%
eram pavimentados, o que de um lado significava pouco avanço em termos da qualidade das vias rodoviárias e de outro também concorria
para o declínio da navegação fluvial, que se encontrava reduzida a uma desorganizada rede de pequenos barcos a vela e a motor, operando
em precárias condições e prestando serviços de baixa rentabilidade. Apesar da precariedade, este tipo de transporte, para alguns municípios,
constitui a única via de escoamento de bens e passageiro principalmente, entre São Luís, a Baixada e o litoral o que refletia o que aconteceu
em toda uma década (1970) de “ritmo lento de modernização econômica.
Didatismo e Conhecimento 53
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
Cumpre ressaltar-se que apesar de o Brasil ter adentrado “a Cumpre destacar que as municipalidades de Açailândia, Im-
década perdida” (1980) em crise econômica que comprometeu, peratriz, PortoFranco e Estreito têm sido beneficiadas com obras
entre outras políticas públicas, o planejamento, no estado do Ma- que incluem três terminais, a Usina Hidrelétrica de Estreito e a hi-
ranhão houve “grandes mudanças” através da política territorial drovia Araguaia Tocantins (que havia sido proposta em 1933 pelo
do Programa de Desenvolvimento da Amazônia Oriental expresso Departamento Nacional de Portos e Navegação); além disso, já
pelosempreendimentos da Companhia Vale do Rio Doce – CVRD existe um projeto de ampliação da ferrovia Norte-Sul, num trecho
(minério de ferro) e do Consórcio de Alumínio do Maranhão - de 240 km entre Estreito e Balsas, cuja previsão é de consumir R$
ALUMAR (bauxita), resultando na construção da Ferrovia Cara- 480 milhões e reduzir em 100 km o transporte de grãos e outros
jás- São Luís (685 km, inaugurados em 1985, e percorrendo atual- produtos do sul maranhense e do estado do Piauí, que atualmente
mente 21 municípios no setor noroeste), na implantação de dois é realizado em rodovias em situação insatisfatória.
portos especializados de responsabilidade dos mesmos e próximos
a um tradicional (Itaqui), na ampliação da rede de energia elétrica
e na construção dos primeiros 100 km da Ferrovia Norte-Sul (entre
Açailândia e Imperatriz), que foram entregues em 1989.
Este ano, na nossa avaliação, não é a continuação da fase das
rodovias pavimentadas como indicado por Ayres (2001), mas é o
início da conformação de um sistema multimodal de transportes
no estado do Maranhão, o qual constitui uma nova fase porque
se tornou uma via prioritária em termos de interesses nacionais e
empresariais que articula rodovias e ferrovias especializadas a
um complexo portuário, ampliando as possibilidades tanto de me-
lhoria da posição desses empreendimentos no mercado internacio-
nal de minério de ferro e alumínio/ alumina quanto de incremento
da área de produção de soja derivada do Programa de Cooperação
Nipo-Brasileira de Desenvolvimento dos Cerrados (PRODECER,
em sua fase III), implantado na região de Balsas em 1995.
Didatismo e Conhecimento 54
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
ção”, pois devido a entraves que incluem a ocupação do canteiro Tal seletividade em termos de uso do território é induzida/
de obras por parte de ribeirinhos nos meses de março e abril de consentida pelo Estado que se sustenta no fato de que o Maranhão
2008, o Consórcio Estreito Energia “está desenvolvendo uma série passou de uma economia produtora de bens de consumo não-du-
de programas de fomento socioeconômico”, a exemplo dos con- ráveis (têxtil e alimentos, dentre outros) para uma outra, produ-
cernentes à “relocação adequada, manutenção da rentabilidade e tora e exportadora de ‘commodities’ e bens intermediários (pólo
melhor aproveitamento das capacidades produtivas dos pequenos minero- metalúrgico). Embora esse processo tenha produzido um
negócios, à reorganização das atividades minerárias, ao fomento às impacto significativo, não gerou os efeitos de irradiação espera-
atividades turísticas em sua área de influência e do plano de opor- dos, que seriam a multiplicação e o adensamento de novas cadeias
tunidades de investimentos”, de maneira que “em sinergia com a produtivas, bem como a agregação de valor (muito limitada) a es-
população, governos estaduais e municipais, a Usina de Estreito sas matérias-primas.
espera contribuir significativamente para o desenvolvimento da Enquanto uma parte do território maranhense é usada de for-
região de sua área de abrangência”. ma seletiva pelocapital, a grande maioria da superfície estadual
A hidrovia Araguaia – Tocantins, por seu turno, tem sido ob- (Baixada Maranhense e Baixo Parnaíba, por exemplo) possui po-
jeto de várias ações postergatórias, as quais remontam a 1997 e tencialidades diversas em termos de aproveitamento econômico e
que direta ou indiretamente articulam interesses de índios, comu- ressente-se de modalidades de transportes otimizadas haja vista
nidades ribeirinhas,instituições da sociedade civil e Organizações que ainda existem várias localidades, cuja população e a pequena
Não-Governamentais. Em maio de 1999, por exemplo, foi entre- produção local são transportadas por lombos de animais, canoas,
gue ao IBAMA o respectivo EIA/ RIMA a fim de que fosse obtido estradas vicinais (quando existem) mal conservadas e pela força do
o licenciamento ambiental, mas a primeira das cinco audiências próprio homem, assim como permanecem pequenos atracadouros
públicas que se realizaria em 21 de setembro desse ano em Estreito no litoral ocidental e oriental, além daqueles interiores situados em
– MA foi suspensa pelo Ministério Público a partir de uma solici- trechos (ainda) navegáveis dos rios. Isto porque o sistema multi-
tação do Instituto Socioambiental (ISA). As melhorias e ampliação modal de transportes é uma realidade no Maranhão, porém ele foi
do complexo portuário de São Luís, a recuperação de rodovias, o concebido para transportar mercadorias com aceitação no mercado
porto de Alcântara, os projetos de irrigação, além de outras obras internacional de commodities e não para satisfazer as necessidades
vinculadas ao sistema multimodal também servem de exemplos de deslocamentos das pessoas e o escoamento da produção desti-
que têm impacto ambiental, mas este assunto será retomado em nada ao mercado local.
outra oportunidade. Em termos de futuro, duas questões se impõem ao estado do
Atualmente o sistema viário do estado do Maranhão é repre- Maranhão: aprimeira é conciliar a legislação ambiental e as de-
sentado por 55.319km de rodovias, sendo 12,03% pavimenta- mandas estruturantes/ desenvolvimentistas, o que requer a defini-
dos34. As rodovias municipais correspondem a 80,22% que não ção de prioridades e está vinculado a umdemocrático debate na
são pavimentados, enquanto as estaduais equivalem a 13,58% e escala nacional e na local; a segunda decorre da anterior e tem
as federais a 6,2%. Os 1.367 km de ferrovias são divididos entre
sido resumida na necessidade de melhorar a “competitividade sis-
a Estrada de Ferro Carajás- São Luís (685 km), a Estrada de Ferro
têmica”, a qual conduzirá essa unidade da Federação a um cenário
Norte- Sul tem 226 km entre Estreito e Pequiá (Açailândia), onde
otimista (em 2020), isto é, “o vôo do guará-líder” que implicará
se interliga à primeira; os restantes 456 km vinculam-se à Compa-
em dinamismo econômico e melhoria da qualidade de vida da po-
nhia Ferroviária do Nordeste, os quais articulam São Luís à capital
pulação, com aumento e diversificação da indústria, apoiado no
piauiense e desta à malha do Nordeste brasileiro. Complementam
“vetor estratégico” da ampliação e qualificação da infra-estrutura
o sistema citado o complexoportuário de São Luís, além do Aero-
porto Internacional Marechal Cunha Machado (na capital) que é econômica e da logística. O cenário vislumbrado é bonito, mas
secundado pelos de porte inferior localizados em Imperatriz, Bal- deve envolver os interesses de toda a sociedade e as potencialida-
sas, Presidente Dutra e Barreirinhas. Se for comparada a terceira des do território maranhense porque, do contrário, seu conteúdo
fase indicada por Ayres (2001) com esta ora proposta percebe-se poderá ser mais uma retórica e por isso o tema continua em pauta.
um avanço da malha rodoviária em termos quantitativo e qualita- Como se tentou demonstrar houve uma evolução na Geografia
tivo, mas isso ainda é pouco ante a prioridade de reduzir as dispa- dos Transportesno estado do Maranhão uma vez que a melhoria
ridades de desenvolvimento em todos os quadrantes do Maranhão no sistema impôs a expansão do povoamento derivada de maior
e ao mesmo tempo imprimir mais velocidade e segurança a esses velocidade no deslocamento de pessoas e no transporte de bens e
sistemas de transporte, assim como aumentar os fluxos de bens mercadorias, concorrendo para que vilas e cidades perdessem e/
e ampliar a competitividade tanto do estado referido quanto das ou ganhassem importância. Isto porque na fase das embarcações
empresas instaladas e/ ou com projetos de ampliação e instalação. à vela (1612-1856) o objetivo era conhecer o território e explorar
O grande problema, na nossa avaliação, do discurso estrutu- economicamente, o que prescindia de algum povoamento que foi
rante/desenvolvimentista é que o decantado atual sistema multi- lento devido à falta de ventos, corredeiras, mata fechada e presen-
modal de transportes viabiliza os interesses dos grandes empreen- ça indígena, mas teve seu auge nos vinte anos (1758-1778) que
dimentos com escala de atuação nacional e/ ou internacional, os vigorou a exploração do algodão pela Companhia Geral de Comér-
quais utilizam o território maranhense para produção (soja, prin- cio do Grão-Pará e Maranhão.
cipalmente) e como passagem (transporte/ embarque de minério Com a navegação a vapor (1856-1950) o povoamento foi am-
de ferro, alumínio, alumina) e por isso as cidades melhor situadas pliado nas bacias do Itapecuru, Mearim, Pindaré e Munim, susten-
ao longo do sistema e/ ou as mais próximas têm registrado dina- tado pela exploração da cana-de-açúcar e auxiliado por linhas cos-
mismo maior, cujos exemplos são Açailândia, Santa Inês, Balsas, teiras, caminhos de tropeiros e incipientes estradas que avançaram
Imperatriz e São Luís que continua comandando a rede urbana pelos sertões do sul, mas havia um potencial em termos de fundos
maranhense. territoriais que abrangia a floresta pré-amazônica, os babaçuais e
Didatismo e Conhecimento 55
GEOGRAFIA DO MARANHÃO
os cerrados. Entre 1950 e 1999 registrou-se a fase das rodovias pa-
vimentadas, que em função da indução de políticas de transportes ANOTAÇÕES
e de colonização/ povoamento articulou melhor a unidade da Fe-
deração em tela, embora as condições de tráfego permanecessem
reduzidas em decorrência da pouca pavimentação. Com efeito, o
número de assentamentos cresceu e ficou vinculado às rodovias, as
quais receberam impulso com a implantação dos empreendimen-
tos da CVRD e ALUMAR que concorreram para a introdução de —————————————————————————
novos elementos e conteúdos, incluindo os impactos ambientais
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das obras estruturantes. Isto implica que antes mesmo de 1999 a
fase já não era a de “estradaspavimentadas”, mas a do sistema mul- —————————————————————————
timodal que articulou ferrovia, rodovia, complexo portuário e pos-
teriormente hidrovia, o que é auxiliado por aeroporto. O problema —————————————————————————
é que tal sistema restringe-se a uma área do território maranhense
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(cujas principais cidades localizam-se no trecho Balsas/Estreito/
Imperatriz/São Luís), a qual foi viabilizada porque é de interesse —————————————————————————
não só do Estado brasileiro, mas, sobretudo, das empresas que têm
escala de atuação nacional e internacional que fazem uso otimiza- —————————————————————————
do do espaço baseado na exploração econômica e pontos de passa-
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gem visando ao incremento dos fluxos rumo ao mercado externo,
o que implica que ele não integra e nem reflete os interesses de —————————————————————————
toda a sociedade.
Por isso, na escala local ainda predominam localidades e áreas —————————————————————————
de produção que se ressentem (e muito) de pelo menos uma moda-
lidade de transporte, que esteja em boas condições e possa facilitar —————————————————————————
o deslocamento das pessoas e dos produtos (agrícolas, extrativos, —————————————————————————
etc) destinados às pequenas cidades em que reside a maioria dos
habitantes. Quanto ao futuro, por ser nosso, também continua em —————————————————————————
pauta e deve serplanejado agora. Texto Adptado de FERREIRA,
A. J. A. —————————————————————————
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Didatismo e Conhecimento 56
EXERCÍCIO COMPLEMENTAR
GEOGRAFIA GERAL C) os limites estaduais não coincidem com a lógica de dis-
tribuição dos fatos ecológicos, por isso não devem servir como
01. (PC/MG – POLICIA CIVIL – FUMARC/2011) –As base territorial do código florestal.
fronteiras tendem a ajustar-se à complexidade do mundo D) os domínios de natureza do país são fatos de natureza
que as sociedades desejam compreender e transformar. ecológica que não podem servir como base territorial para
Considerando as particularidades de seus limites, assinale legislações restritivas.
a afirmativa INCORRETA: E) diante da extensão territorial do brasil, o uso de pa-
A) o limite é um sistema utilizado pelas coletividades trimônio ambiental não pode ser regulado a partir da esfera
para estabelecer a demarcação de domínios e o desenvolvi- federal.
mento de territórios.
Uma das críticas levantadas contra a nova redação do Código
B) o limite é definido pelos aspectos físicos de uma re-
Florestal brasileiro diz respeito à “esta dualização” de algumas
gião, como conjuntos geomorfológicos, que condicionam o
prerrogativas que antes per tendência à esfera federal, como, por
estabelecimento das fronteiras políticas e culturais. exemplo, delimitar as áreas das reservas florestais. Pelo novo có-
C) o limite insinua as diferenças e similaridades de fa- digo, tal prerrogativa passaria a pertencer aos estados. Os críticos
tores e elementos diversos e sugere a necessidade de sepa- afirmam que os estados estão mais sujeitos à pressão de interesses
ração/demarcação. locais e não teriam condições de impor restrições às atividades
D) o limite é manifestação do controle, do governo, do prejudiciais ao MEIO AMBIENTE.
domínio, da propriedade e influi no poder estabelecido no
espaço. RESPOSTA: “C”.
03. (UFSCAR – VESTIVULAR – UFSCAR/2010)–A
O termo limite é muitas vezes utilizado como sinônimo de grande extensão territorial do Brasil proporciona ao país,
fronteira. Contudo a ideia de fronteira é mais apropriada para fronteira com quase todas as nações sul-americanas. Os dois
designar uma faixa do território de um país que se estende ao países que não se limitam com o Brasil são:
longo da linha limite. Os limites são estabelecidos, na maioria
das vezes, por acordos e tratados entre dois ou mais países. Por A) Uruguai E Peru
meio desses acordos, são criadas as linhas imaginárias que B) Chile E Equador
podem ser definidas por características naturais ou artificiais. A C) Bolívia E Venezuela
maioria deles é transmitida por limites físicos de uma região. D) Argentina E Chile
E) Peru E Colômbia
RESPOSTA: “B”.
a) Falso – A Rússia e a China apresentam maiores exten-
02. (FGV – VESTIBULAR – FGV/2012) – “Por muitas
sões territoriais que o Brasil, no entanto, a Índia (3.287.590
razões, se houvesse um movimento para aprimorar o atual
Código Florestal, teria que envolver o sentido mais amplo de Km2) e a Austrália (7.713.364 Km2) são menores quando com-
um Código de Biodiversidades, levando em conta o comple- paradas a este.
xo mosaico vegetacional de nosso território [...]. O primeiro b) Falso – Os Estados Unidos e Canadá são maiores que
grande erro dos que nomomento lideram a revisão do Código o Brasil, porém, a África do Sul (1.221.037 Km2) e a Indoné-
Florestal brasileiro – a favor de classes sociais privilegiadas sia (1.904.569 Km2) apresentam áreas inferiores àquelas do
– diz respeito à chamada estadualização dos fatos ecológicos Brasil.
de seu território especifico [...]. Para pessoas inteligentes, ca - c) Verdadeiro – Os quatro países à frente do Brasil no que
pazes de prever impactos a diferentes tempos do futuro, fica
se refere à extensão territorial são, respectivamente: Rússia
claro que, ao invés da “estadualização”, é absolutamente ne-
cessário focar para o zoneamento físico e ecológico de todos os (17.075.400 Km2), Canadá (9.976.139 Km2), China (9.596.961
domínios de natureza do país.” Km2) e Estados Unidos (9.363.520 Km2).
Aziz Ab’Saber, Do Código Florestal ao Código da Biodi- d) Falso – O Canadá e China são maiores, México
versidade. (1.958.201 Km2) e Índia (3.287.590 Km2) possuem áreas me-
Disponível em http://www.sbpcnet.org.br/site/home/ nores, se comparadas ao Brasil.
home.php?id=1305 e) Falso – Esse item está errado, pois a Austrália possui
Considerando seus conhecimentos acerca das propostas território inferior ao do Brasil.
de mudança do Código Florestal brasileiro, assinale a alter-
nativa que é coerente com os argumentos do texto:
RESPOSTA: “C”.
A) o código florestal brasileiro, em vigor desde 1965, deve
ser reformulado de forma a ampliar o poder decisório dos go-
vernos estaduais. 04. (UFSCAR – VESTIVULAR – UFSCAR/2010) - A
B) o zoneamento físico e ecológico é a base do atual código grande extensão territorial do Brasil proporciona ao país,
florestal brasileiro, que, por isso, não tem como ser aprimo- fronteira com quase todas as nações sul-americanas. Os
rado. dois países que não se limitam com o Brasil são:
Didatismo e Conhecimento 57
EXERCÍCIO COMPLEMENTAR
A) Uruguai E Peru V) Verdadeiro – Os 8% restantes do território nacional
B) Chile E Equador estão localizados entre o Trópico de Capricórnio e o Círculo
C) Bolívia E Venezuela Polar Antártico, sendo essa região, denominada de Zona Tem-
D) Argentina E Chile perada do Sul.
E) Peru E Colômbia
RESPOSTA: “D”.
a) Falso – O Brasil limita-se com o Uruguai ao sul; e com
o Peru a oeste. 06. (UFSCAR – VESTIVULAR – UFSCAR/2010) - O
b) Verdadeiro – Os únicos países que não fazem fronteira processo de industrialização no Brasil foi iniciado de ma-
com o território brasileiro são o Chile e o Equador. neira mais consolidada:
c) Falso – O Brasil faz fronteiras com Bolívia (a oeste) e A) pelos portugueses, que viam em sua colônia a poten-
Venezuela (ao norte). cialidade de produzir mercadorias maquinofaturadas para
d) Falso – O Chile realmente não se limita com o Brasil, a metrópole.
entretanto, o território brasileiro a sudoeste, possui fronteira B) pelo governo Vargas, graças aos efeitos sentidos pelo
com a Argentina. país frente à crise de 1929.
e) Falso – O território brasileiro limita-se com o Peru a C) pela ditadura militar, que se preocupou em mobili-
oeste; e com a Colômbia a noroeste. zar a mão de obra excedente das grandes cidades em função
da ocorrência do êxodo rural.
RESPOSTA: “B”. D) pelo governo FHC, que sentiu a necessidade de
transformar o parque industrial brasileiro para atender ao
05. (TREVISAN – VESTIVULAR – TREVISAN/2011) mercado externo.
- Em síntese, o Brasil é um país inteiramente ocidental, pre- Apesar de ter se consolidado apenas após a década de
dominantemente do Hemisfério Sul e da Zona Intertropi- 1950, o processo de industrialização do Brasil iniciou-se na dé-
cal. cada de 1930 pelo governo de Getúlio Vargas, visando diminuir
Considere as afirmações: a dependência econômica da exportação de matérias-primas.
I) O Brasil situa-se a oeste do Meridiano de Greenwich.
II) O Brasil é cortado ao norte pela Linha do Equador. RESPOSTA: “B”.
III) Ao sul, é cortado pelo Trópico de Câncer.
IV) Ao sul, é cortado pelo Trópico de Capricórnio, 07. (UFSCAR – VESTIVULAR – UFSCAR/2010) - Ob-
apresentando 92% do seu território na Zona Intertropical, serve o mapa abaixo:
entre os Trópicos de Câncer e de Capricórnio.
V) Os 8% restantes estão na Zona Temperada do Sul.
A) apenas i, ii e iv são verdadeiras.
B) apenas i e ii são verdadeiras.
C) apenas iv e v são verdadeiras.
D) apenas i, ii, iv e v são verdadeiras.
E) apenas i, ii, ii e v são verdadeiras.
Didatismo e Conhecimento 58
EXERCÍCIO COMPLEMENTAR
A) a dinâmica homogênea da industrialização brasi- 09. (UESPI – VESTIVULAR – UESPI/2011)–O desen-
leira. volvimento industrial brasileiro ocorreu de forma desi-
B) o peso que a zona franca de Manaus possui graças gual nas diferentes regiões do Brasil, pois houve uma con-
ao fato de ela, sozinha, ser equivalente a toda produção centração da atividade industrial, particularmente, nos
industrial do centro-sul do país. Municípios de São Paulo e Rio de Janeiro. Dentre outras
C) a herança histórica da concentração industrial razões, explicam esse fato:
ocorrida na região sudeste do país. A) a formação de um mercado externo na região su-
D) o elevado processo de devastação de áreas naturais deste e a criação de casas de importação por emigrantes
para a construção de zonas industriais. estrangeiros.
E) que o rio grande do sul é a unidade federativa B) o domínio da cafeicultura no sudeste, a consequen-
mais industrializada do país. te acumulação de capital e a imigração estrangeira que se
a) Incorreta – a dinâmica industrial do país não é homogê- dirigiu para essa região.
nea, o que pode ser visto no mapa através das grandes lacunas C) o domínio da mineração em São Paulo e a fundação
existentes ao longo do território. de casas de exportação que tinham como objetivo abastecer o
b) Incorreta – não há nenhum tipo de registro no mapa de mercado brasileiro de produtos nacionais.
que a Zona Franca de Manaus possui um grau de industriali- D) o desenvolvimento de empresas de extração mineral
zação correspondente a outras regiões do país. em são paulo, que permitiu a acumulação de capital, e o
c) Correta – observando o mapa, percebemos a elevada consequente fluxo de emigrantes que para lá se dirigiu.
concentração industrial do país na região Sudeste, o que é E) a abolição da escravidão e a concentração da popu-
uma herança do processo de formação das indústrias brasilei- lação na região sudeste, fato que estimulou a criação de ca-
ras, que ocorreu nessa região. sas de importação.
d) Incorreta – apesar de a fronteira natural do país estar
diminuindo, o mapa não carrega informações a respeito dos A principal causa para a histórica concentração industrial
recursos naturais brasileiros. brasileira na região Sudeste deve-se ao fato de a hegemonia
e) Incorreta – de acordo com o mapa, o estado mais indus- econômica já ser pertencente a essa região. Assim, antes des-
trializado do país é São Paulo. tacada pela produção da principal atividade econômica do país
– a cafeicultura –, a região foi a primeira a receber os incentivos
RESPOSTA: “C”. estruturais para a formação industrial do Brasil.
RESPOSTA: “A”.
Didatismo e Conhecimento 59
EXERCÍCIO COMPLEMENTAR
11. (UNESP – VESTIVULAR – UNESP/2010) - Leia o B – controlar queimadas, utilizando técnicas desenvol-
texto abaixo e responda a questão a seguir. vidas pelos povos indígenas.
“Mais de 12% da área original dessa vegetação já fo- C – monitorar a região, a partir de um sofisticado sis-
ram destruídos devido a políticas governamentais inade- tema que integra satélites e aviões.
quadas, modelos inapropriados de ocupação do solo e à D – integrar a região à economia de mercado, contan-
pressão econômica, que levou à ocupação desorganizada e do com financiamento do banco mundial.
ao uso não sustentável dos recursos naturais. (...) As quei- E – delimitar unidades de conservação, impedindo que
madas e o desmatamento tornaram-se constantes. Até o ano as mudanças do código florestal permitissem a ampliação
de 2000 mais de 415 mil Km2 tinham sido desmatados. O do desmatamento.
total da área queimada foi 2,5 vezes maior. Em algumas lo-
calidades, como Porto Velho (RO), os aeroportos chegaram a – Falso – O Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam)
a ser fechados algumas vezes por causa da fumaça das quei- é um projeto de monitoramento do espaço aéreo da Amazô-
madas.” nia. A Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia
Com base nas informações apresentadas, pode-se dizer (Sudam) é um projeto de desenvolvimento econômico da
que a devastação que ocorre no domínio vegetal, cujas ca- Amazônia. Portanto, os dois projetos não apresentam nenhum
racterísticas de ocupação são destacadas no texto, deve-se tipo de relação em comum.
sobretudo a (o): b – Falso – O Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam)
A – intensa exploração madeireira que se implantou não utiliza técnicas indígenas.
em seus domínios, atraída por incentivos fiscais que foram c – Verdadeiro – O Sistema de Vigilância da Amazônia
ofertados às empresas que se instalassem no meio norte. (Sivam) é um projeto desenvolvido pelas forças armadas
B – ocorrência de queimadas naturais durante o longo do Brasil para realizar o monitoramento do espaço aéreo da
período de seca que ocorre nesse domínio do centro-oeste. Amazônia.
C – modelo inapropriado de ocupação econômica que d – Falso – O Sivam não é um projeto com finalidade de
foi implantado, nas últimas décadas, na Amazônia. promover o desenvolvimento econômico da região.
D – excessiva ocupação de espécies xerófilas em seus e – Falso – O Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam)
domínios, que são utilizadas, em larga escala, como matéria não realiza delimitações de Unidades de Conservação.
prima na indústria farmacêutica.
E – ausência nessa paisagem vegetal de espécies hidró- RESPOSTA: “C”.
filas, o que favorece a ocorrência de queimadas em seus do-
mínios. 13. (UFSCAR – VESTIVULAR – UFSCAR/2010)- O
Brasil é o maior país em extensão territorial da Améri-
A - Falso – Não ocorreu incentivos fiscais para a instalação ca do Sul, possuindo fronteiras com várias nações desse
de empresas de exploração de madeira. subcontinente. Marque a alternativa que corresponde aos
b – Falso – No Centro-Oeste, a formação vegetal predo- dois países sul-americanos que não se limitam com o ter-
minante é o Cerrado, e a cidade de Porto Velho não pertence a ritório brasileiro.
essa região. A) Peru E Equador
c –Verdadeiro – A paisagem vegetal cujas características B) Suriname E Colômbia
foram destacadas no texto é a Floresta Amazônica. Esse domí- C) Chile E Equador
nio vegetal sofreu nas últimas décadas um intenso processo de D) Argentina E Uruguai
devastação em consequência, como destaca o texto, do modelo E) Peru E Chile
inapropriado de ocupação que foi implantado nas últimas dé-
a) Falso – O Peru faz fronteira com o Brasil, estando loca-
cadas.
lizado a oeste do território brasileiro.
d – Falso – As espécies xerófilas são comuns em locais
b) Falso – Tanto Suriname quanto a Colômbia possuem
áridos como na caatinga, não sendo comuns na Amazônia. fronteira com o Brasil.
e – Falso – A vegetação da Floresta Amazônica é carac- c) Verdadeiro – As únicas nações que não fazem fronteira
terizada por espécies hidrófilas, sendo abundantes na floresta. com o território brasileiro são o Chile e o Equador.
d) Falso – Argentina e Uruguai são nações vizinhas do
RESPOSTA: “C”. Brasil.
e) Falso – O Peru possui fronteira com o território brasi-
12. (UNIESP – VESTIVULAR – UNIESP/2011)- O Si- leiro.
vam foi introduzido na Amazônia para:
A – substituir a SUDAM, que foi extinta por denúncias RESPOSTA: “C”.
de corrupção.
Didatismo e Conhecimento 60
EXERCÍCIO COMPLEMENTAR
14. (UFPR – VESTIVULAR – UFPR/2012) – Um indi- D) na figura 2, os maiores volumes pluviométricos ocor-
víduo situado em Porto Alegre (RS) observou, através de rem no verão.
uma bússola, queno inverno a direção do nascer do sol não E) o climograma da figura 1 representa um clima sub-
coincidia com a direção leste da mesma, mas sim com a tropical controlado por massas de ar tropicais.
direção nordeste. A respeito do assunto, identifique as afir-
mativas a seguircomo verdadeiras (V) ou falsas (F): a) O climograma1 corresponde ao Hemisfério Boreal
( ) No inverno, a direção do sol nascente não coincide (Norte);
com o leste geográfico. b) O Solstício de inverno no Hemisfério Boreal ocorre em
( ) Bússolas são sensíveis a campos magnéticos locais, dezembro;
que desviam as direções, sendo este o fator que justifica a c) A média térmica no climograma2 é aproximadamente
divergência entre a direção apontada por elas e a do nascer 25ºC, não representando temperatura amena e, sim, elevada;
do sol. d) correta;
( ) Por se tratar de equipamento de baixa precisão, as e) O climograma da figura 1 representa o clima subtropical
bússolas não devem ser utilizadas para determinar dire- (grande amplitude térmica entre verão e inverno), controlado
ções. essencialmente por massas polares.
( ) Em geral, o leste geográfico diverge do leste magné-
tico apontado pela bússola. RESPOSTA: “D”.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência cor-
reta, de cima para baixo. 16. (UFPR – VESTIVULAR – UFPR/2012) - Em 2007,
A) F – V – V – F. o decreto 6.040 instituiu a Política Nacional de Desenvol-
B) V – F – V – F. vimentoSustentável de Povos e Comunidades Tradicionais
C) F – F – V – V. no Brasil, com o objetivo de “promover o desenvolvimen-
D) V – V – F – F. to sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, com
E) V – F – F – V. ênfase no reconhecimento, fortalecimento e garantia dos seus
Item1 - Verdadeiro - No inverno do Hemisfério Sul o sol direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos e cul-
está no trópico de Câncer; turais, com respeito e valorização à sua identidade, suas
formas de organização e suas instituições” (BRASIL, De-
Item2 - Falso - O desvio está relacionado ao campo magné-
creto 6.040, de 7 de fevereiro de 2007). Sobre esse decreto,
tico terrestre (Global) e não acampos magnéticos locais;
considere as seguintes afirmativas:
Item3 – Falso – A bússola é um instrumento que não possui
1. Os Povos e Comunidades Tradicionais são realocados
baixa precisão e nesse sentidopode ser utilizada para determi- pelo Estado em reservas, onde possam continuar com suas
nar direções; tradições.
Item 4 – verdadeiro - O pólo magnético não coincide com 2. A identidade desses grupos está relacionada à dimen-
o pólo geográfico terrestre. são do território que ocupam cujas reservas ficam sob a tu-
tela do Estado.
RESPOSTA: “E”. 3. A invisibilidade social que sofreram historicamente
trouxe a essas populações sériosprejuízos à constituição de
15. (UFPR – VESTIVULAR – UFPR/2012) - Considere uma identidade comunitária.
as figuras a seguir: 4. São Povos e Comunidades Tradicionais no Brasil
grupos como caiçaras, quilombolas,ciganos, faxinalenses
ou comunidades de terreiro.
5. Para ser considerado Povo ou Comunidade Tradicio-
nal, é fundamental que o própriogrupo se reconheça como
tal.
Assinale a alternativa correta.
A) somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras.
B) somente as afirmativas 4 e 5 são verdadeiras.
C) somente as afirmativas 1, 3 e 5 são verdadeiras.
D) somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.
Com base nas figuras, assinale a alternativa correta. E) as afirmativas 1, 2, 3, 4 e 5 são verdadeiras.
A) a figura 1 representa o climograma de uma cidade
do hemisfério austral. 1- Falso - As comunidade tradicionais normalmente não
B) na figura 1, o solstício de inverno ocorre em junho. são realocadas;
C) a área representada na figura 2 possui verões com 2 - A identidade é cultural e não relacionada à dimensão
temperatura amena. do território;
Didatismo e Conhecimento 61
EXERCÍCIO COMPLEMENTAR
3 - Apesar da invisibilidade social mantiveram sua identi- Portugal garantia o controle da maior parte da Bacia Amazô-
dade; nica, enquanto a Espanha controlava a maior parte da Bacia
4 - Verdadeira; do Prata. Neste Tratado, o princípio do usucapião (uti posside-
5 - Verdadeira; tis), que quer dizer que a terra pertence a quem a ocupa, foi
levado em consideração pela primeira vez.
RESPOSTA: “B”. (http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/povoamento/index.
html)
17. (UFPR – VESTIVULAR – UFPR/2012) - Os estados Trata-se do Tratado de
amazônicos perseguem estratégias diversas para consolidar A) Santo Ildefonso.
opovoamento e alcançar o desenvolvimento sustentável. To- B) Badajós.
dos têm o ecoturismo como C) Madri.
atividade básica, mas suas outras estratégias variam con- D) Utrecht.
sideravelmente em função de seus contextos históricos, cul- E) Lisboa.
turais e políticos, da sua localização geográfica e dos níveis
em que foram afetados pelo recente processo de ocupação. Tratado de Tordesilhas – oficialmente demarcador das
(BECKER, B. K. Por que não perderemos a soberania fronteiras entre Espanha e Portugal – nunca conseguiu ser total-
sobre a Amazônia? In: ALBUQUERQUE, E. S. (org.). Que- menterespeitado, sendo portanto substituído pelo Tratado de Ma-
país é esse? Pensando o Brasil contemporâneo. São Paulo: drid, assinado na capital espanhola a 13 de janeiro de 1750, entre
Globo, 2005, p. 275.) os reis de Portugal e da Espanha.
Com base no texto e nos conhecimentos de geografia, Este tratado tornou-se responsável por determinar os limites
assinale a alternativa correta. entre as duas colônias sul-americanas, acabando definitivamen-
A) a fronteira agropecuária avança pelo cerrado do te com as contendas.
centro-oeste e atinge a porção daAmazônia legal, no norte O Tratado de Madrid foi preparado cuidadosamente a partir
do Mato Grosso e oeste do Maranhão, tornando a pecuária do Mapa das Cortes, favorecendo as colônias portuguesas em pre-
extensiva juízo aos direitos dos espanhóis. Os diplomatas portugueses eram
Um vetor de desenvolvimento na porção oriental do Pará. muito espertos e basearam-se no princípio do Uti Possidetis – di-
B) as políticas de colonização executadas ao longo da rodo- reito de posse – para definir como se daria a divisão territorial, tra-
via transamazônica produziram, noestado do amazonas, um balhando também para a vitória portuguesa. Pelo Uti Possidetis a
padrão de desenvolvimento apoiado na agricultura intensiva. terra deveria ser ocupada por aqueles já se encontravam estabele-
C) os avanços recentes da biotecnologia permitiram im- cidos nela, com residência fixa e trabalho nas redondezas. Desta
plantar em Rondônia um modeloeconômico baseado na conti- forma os portugueses se firmaram no grande território que hoje
guidade das florestas tropicais. forma o Brasil.
D) o insucesso da zona franca de Manaus demonstrou a O Tratado de Madrid estabeleceu que o limite da fronteira en-
vocação extrativista da baciaamazônica, redirecionando as tre os domínios espanhóis e portugueses se daria a partir do pon-
políticas de incentivos para este último setor. to mediano entre a embocadura do Rio Madeira e a foz do Rio
E) a fronteira da pecuária extensiva vem se expandindo Mamoré, sempre seguindo em linha reta até visualizar a margem
no estado do mato grosso porque oseu território não está in- do Rio Javari. Surgia uma linha imaginária que futuramente gera-
cluído na legislação que delimita a Amazônia legal. ria muitas discórdias.
Por este tratado Portugal foi obrigado a ceder a Colônia do
a) Correta; Sacramento ao estuário da Prata, mas em compensação recebeu
b) O predomínio é da agricultura extensiva, nas margens da os atuais estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o atual
rodovia; Mato Grosso do Sul, a gigantesca área que ficava no alto Paraguai
c) A queda no desmatamento registrado na Amazônia nos últi- e mais algumas extensões de terras abandonadas, também adquiri-
mos anos, não se relaciona aos avanços da biotecnologia; das através de negociações.
d) A zona Franca de Manaus não representa um insucesso e O tratado estabeleceu que a paz sempre reinaria entre as co-
sim um polo industrial importante da região, com a continuidade lônias, até quando as capitais das províncias se encontrassem em
dos incentivos fiscais atualmente; guerra; a Capital brasileira foi transferida de Salvador para o Rio
e) O estado do Mato Grosso está incluído na área da Amazô- de Janeiro; a posse da Amazônia foi cedida para Portugal e o Rio
nia Legal Uruguai foi escolhido como fronteira entre o Brasil e a Argentina.
O Tratado de Madrid foi importante para o Brasil porque defi-
RESPOSTA: “A”. niu aproximadamente o contorno geográfico do Brasil hoje.
Didatismo e Conhecimento 62
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
(HISTÓRIA / GEOGRAFIA)
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
(HISTÓRIA / GEOGRAFIA)
Questões Com relação aos fluxos migratórios e às razões de expulsão e
01. O crescimento do agronegócio significa modernização da de atração de alguns desses fluxos, analise as afirmativas a seguir.?
agricultura, interdependência entre setores da economia, mudan- I. Mapa 1: o crescimento industrial e a ampla oferta de em-
ças nas estruturas espaciais e amplas oportunidades de investimen- pregos na Região Sudeste atraíram principalmente migrantes nor-
to de capital. destinos.
Com relação ao agronegócio no Brasil, analise as afirmativas II. Mapa 2: a criação de políticas públicas de incentivo à ocu-
a seguir. I. O funcionamento do agronegócio é regulado pela eco- pação da Amazônia, durante os governos militares, atraiu fluxos
nomia de mercado, pelas demandas urbanas e industriais e pelas de nordestinos.
frequentes fusões entre empresas industriais, comerciais e de ser- III. Mapa 3: as diversas atividades, como o extrativismo mine-
viços. ral, desenvolvidas por empresas públicas e privadas, atraíram mão
II. O agronegócio provocou um maior desenvolvimento das de obra migrante para a Amazônia.
indústrias que fornecem insumos e bens de capital para a agricul- Assinale:
tura e das que processam produtos agropecuários em mercadorias (A) se somente a afirmativa I estiver correta.
padronizadas para o consumo de massa. (B) se somente a afirmativa II estiver correta.
III. Nas adjacências das áreas agrícolas modernizadas, as ci- (C) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
dades passaram a ser o lugar que atende à crescente demanda por (D) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
produtos e serviços, tais como implementos agrícolas, centros de (E) se todas as afirmativas estiverem corretas.
pesquisa em biotecnologia e serviços especializados em genética
agrícola. 03. A estrutura das maiores metrópoles brasileiras apresenta
Assinale: situações e problemas que revelam a complexidade dos grandes
(A) se somente a afirmativa I estiver correta. espaços urbanos.
(B) se somente a afirmativa III estiver correta. As alternativas a seguir apresentam corretamente situações ou
(C) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas. problemas relativos à organização interna das metrópoles brasilei-
(D) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas. ras, à?exceção?de?uma. Assinale-a. (A) A segregação residencial
(E) se todas as afirmativas estiverem corretas. exclui grupos de renda mais baixa dos espaços reservados para os
grupos economicamente dominantes.
02. Observe os mapas sobre os principais fluxos migratórios (B) O uso do solo urbano mostra grande diversidade – resi-
no território brasileiro. dencial, industrial, comercial, de serviços ou misto.
(C) A estrutura viária atende com eficiência os fluxos realiza-
dos pelos trabalhadores entre suas áreas de moradias e seus locais
de trabalho.
(D) A área central corresponde, quase sempre, ao centro histó-
rico e, em alguns casos, ao moderno centro de negócios.
(E) A proliferação de subcentros de comércio e de serviços re-
sulta da expansão da metrópole em termos físicos e populacionais.
Didatismo e Conhecimento 1
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
(HISTÓRIA / GEOGRAFIA)
Com relação ao Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, analise as afirmativas a seguir:
I. O parque abrange áreas dos municípios maranhenses de Barreirinhas, Primeira Cruz e Açailândia.
II. Entre as dunas ativas situadas na área do parque ocorrem lagoas temporárias ou permanentes.
III. A pluviometria local é marcada pelo elevado índice de chuvas e pela regularidade da distribuição ao longo do ano.
Assinale:
(A) se somente a afirmativa I estiver correta.
(B) se somente a afirmativa II estiver correta.
(C) se somente a afirmativa III estiver correta.
(D) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
(E) se todas as afirmativas estiverem corretas.
06. Atualmente, as bacias hidrográficas vêm sendo adotadas como unidades de planejamento ambiental. As bacias limítrofes, compostas
por rios que atravessam limites político- administrativos, representam um desafio para a gestão integrada dos recursos hídricos.
Sobre as bacias limítrofes maranhenses, assinale a afirmativa correta.
(A) Entre as bacias limítrofes, a do rio Parnaíba é a que possui a maior área no estado do Maranhão.
(B) A bacia do rio Tocantins abrange, entre outros, os estados de Tocantins, Pará, Maranhão e Piauí.
(C) A bacia do Rio Mearim abrange as áreas limítrofes do Maranhão com o estado do Piauí.
(D) A área ocupada pelas bacias limítrofes no território do Maranhão é maior que a área ocupada pelas bacias dos rios genuinamente
maranhenses.
(E) O Rio Gurupi constitui um trecho da linha limítrofe entre os estados do Maranhão e do Piauí.
07. Na década de 1970, o cultivo da soja passou a ocupar áreas do Centro-Oeste brasileiro. A partir da década de 1990 uma nova fron-
teira agrícola surgiu com a expansão da sojicultura nos estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Pará.
Com relação ao cultivo da soja no Maranhão, analise as afirmativas a seguir.
I. As empresas exportadoras de soja se utilizam, além de outros modais, da logística da Estrada de Ferro Carajás para o escoamento da
produção.
II. A área plantada e a produção de soja, no período de 1990 a 2005, apresentaram um grande crescimento.
III. Os principais municípios produtores de soja no Maranhão estão situados no sul do estado e na divisa com o estado do Piauí.
Assinale:
(A) se somente a afirmativa I estiver correta.
(B) se somente a afirmativa II estiver correta.
(C) se somente a afirmativa III estiver correta.
(D) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
(E) se todas as afirmativas estiverem corretas.
08. O censo de 2010, realizado pelo IBGE, evidenciou que a população total do Maranhão, aproximadamente 6.574.789 habitantes,
representava cerca de 3,5% da população brasileira.
Em relação à população do Maranhão, analise as afirmativas a seguir.
I. O Maranhão apresenta o menor índice de urbanização dentre os estados brasileiros.
II. A cidade de São Luís ultrapassou a marca de um milhão de habitantes.
III. A população do Maranhão representa mais de 30% da população da Região Nordeste.
Assinale:
(A) se somente a afirmativa I estiver correta.
(B) se somente a afirmativa II estiver correta.
(C) se somente a afirmativa III estiver correta.
(D) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
(E) se todas as afirmativas estiverem corretas
Didatismo e Conhecimento 2
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
(HISTÓRIA / GEOGRAFIA)
09. Analise a pirâmide etária a seguir.
A estrutura etária da população brasileira está relacionada com as transformações sociais, econômicas e espaciais ocorridas no país, a
partir da Segunda Guerra Mundial. Com relação a essas mudanças, assinale a afirmativa incorreta.
(A) O declínio dos níveis de mortalidade, seguido pela diminuição dos níveis de fecundidade, a partir da década de 1960, determinou o
padrão de envelhecimento da população brasileira.
(B) O estreitamento da base da pirâmide etária mostra que a participação dos grupos quinquenais de 10 a 14 anos e de 15 a 19 anos de
idade suplantou a dos grupos de 0 a 4 anos e de 5 a 9 anos.
(C) As mudanças ocorridas na estrutura etária brasileira resultaram da legislação de controle da natalidade adotada pelo Estado, a partir
da Segunda Guerra Mundial.
(D) A queda da mortalidade, a partir da década de 1950, está relacionada com o processo de industrialização que deu forte ímpeto aos
movimentos migratórios das áreas rurais para as áreas urbanas.
(E) A queda da fertilidade reflete a maior inserção da mulher no mercado de trabalho e a utilização de métodos anticoncepcionais de
maior eficiência.
10. O extrativismo vegetal é uma atividade tradicional do Estado do Maranhão. Dentre os produtos do extrativismo o que mais se
destaca é o babaçu. As amêndoas dessa palmeira são transformadas em óleo ou azeite, utilizados no preparo de alimentos, na produção de
sabão ou cosméticos e como combustível.
Sobre o extrativismo do babaçu no Maranhão, assinale a afirmativa correta.
(A) A palmeira babaçu só é encontrada no Estado do Maranhão. (B) A extração do babaçu envolve, atualmente, um alto grau de meca-
nização.
(C) A legislação não garante o acesso aos babaçuais e a proteção das palmeiras de babaçu.
(D) A Reserva Extrativista Quilombo do Frexal está situada em uma área de grande concentração de palmeiras de babaçu.
(E) A atividade extrativa de babaçu é realizada por homens que se autodenominam “quebradores de coco”.
11.“OMaranhãopassouaseroprimeiroestadobrasileiroem númerodeconflitosagrários.EssaéaconstataçãodaComissão PastoraldaTerra(-
CPT),que(...)divulgouoficialmentenoestado oseu27º relatórioanualsobreotema.DeacordocomaCPT,no ano passado, no Maranhão, foram
registrados 251 casos de conflitosporterra,envolvendo64.394pessoas.” (g1.globo.com)
Com relação às raízes históricas da violência no campo no Estado do Maranhão, analise as afirmativas a seguir.
I. No início da década de 1970, com o intuito de estimular a ocupação da região, o governo do Maranhão criou a Companhia Mara-
nhense de Colonização (COMARCO), concedendo incentivos fiscais a grandes grupos empresariais, para a aquisição de vastas extensões
territoriais a preços simbólicos, o que intensificou os conflitos de terra e a violência no campo.
II. Para viabilizar a implantação do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), o governo maranhense assinou, a favor da União, o
decreto de desapropriação de terras ocupadas por comunidades quilombolas, gerando conflitos fundiários que continuam, ainda hoje, em
disputa judicial.
III. Com o avanço do agronegócio na primeira década do século XXI, criou-se uma nova fronteira agrícola na região de MAPITOBA
(parte do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia), o que valorizou a terra e aumentou os conflitos com os posseiros tradicionais.
Didatismo e Conhecimento 3
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
(HISTÓRIA / GEOGRAFIA)
Assinale:
(A) se somente a afirmativa I estiver correta.
(B) se somente a afirmativa II estiver correta.
(C) se somente a afirmativa III estiver correta.
(D) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
(E) se todas as afirmativas estiverem corretas.
12. Quase um ano após o Grito do Ipiranga (1822), a Província do Maranhão ainda se mantinha leal a Portugal e se recusava a aderir ao
movimento de independência de D. Pedro I.
A respeito do processo de adesão do Maranhão à independência do Brasil, assinale a afirmativa correta.
(A) A adesão foi atrasada pelas tropas do Ceará e do Piauí, que chegaram ao Maranhão nos primeiros meses de 1823, e apoiaram a
formação de uma confederação independente reunindo as províncias do Nordeste.
(B) A Batalha do Jenipapo (março de 1823) foi vencida pelos comerciantes portugueses e pela elite sertaneja ligada ao comércio de gado
para o Nordeste, que se recusavam a aderir à independência.
(C) Os comerciantes portugueses de São Luís e os grandes algodoeiros exportadores, mais próximos de Lisboa do que do Rio de Janei-
ro, não aderiram à independência, preferindo manter-se ligados à Coroa portuguesa.
(D) A vila de Caxias, localizada na região produtora de algodão (vale do rio Itapecuru), foi um dos focos de apoio à independência, em
razão do descontentamento com o monopólio comercial imposto pela Coroa portuguesa.
(E) O almirante britânico Lorde Thomas Cochrane aportou em São Luís em julho de 1823, após ter apoiado a independência da provín-
cia da Bahia, com o intuito de aumentar a presença inglesa no Atlântico Sul
Vai passar Nessa avenida um samba popular Cada paralelepípedo da velha cidade Essa noite vai se arrepiar (…) Num tempo página
infeliz da nossa história Passagem desbotada na memória Das nossas novas gerações Dormia a nossa pátria mãe tão distraída Sem perceber
que era subtraída Em tenebrosas transações
Seus filhos erravam cegos pelo continente Levavam pedras feito penitentes Erguendo estranhas catedrais E um dia, afinal Tinham di-
reito a uma alegria fugaz Uma ofegante epidemia Que se chamava carnaval O carnaval, o carnaval (Vai passar) (…) Meu Deus, vem olhar
Vem ver de perto uma cidade a cantar A evolução da liberdade Até o dia clarear
Chico Buarque e Francis Hime, assim como outros músicos e compositores brasileiros, usaram a sua arte para relatar fatos censurados
e denunciar o regime militar (1964-1984), burlando, poeticamente, a censura. O trecho do samba-enredo Vai?passar?refere-se (A) ao fim
da ditadura militar, com a vitória das forças políticas de esquerda representadas na eleição da chapa Tancredo Neves e Paulo Maluf, pelo
PMDB, em 1985.
(B) ao processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Melo, primeiro presidente eleito por voto direto em 1989.
(C) à campanha das Diretas? Já, iniciada no final de 1983, que pressionava os políticos e o governo a aceitarem a emenda Dante de
Oliveira, propondo eleições diretas para presidente.
(D) à aprovação do Ato Institucional Número Dois (AI-2), que reativava a democracia e as eleições diretas para presidente no Brasil.
(E) à atuação dos juristas que conseguiram estabelecer as primeiras eleições diretas, por meio do sufrágio universal, em 1984.
14. Durante o período regencial (1831-1840) ocorreram revoltas nas províncias do norte – Maranhão e Pará – e nas do sul – Santa
Catarina e Rio Grande do Sul.
As alternativas a seguir relacionam as causas da Balaiada, revolta que eclodiu no Maranhão em 1838, à?exceção?de?uma. Assinale-a.
(A) A disputa política entre grupos da elite provincial, opondo bem-te-vis (liberais) e cabanos (conservadores).
(B) A luta por melhores condições de vida dos sertanejos, liderada pelo artesão Manoel Balaio.
(C) A insurreição dos escravos, conduzida pelo temido quilombola Negro Cosme.
(D) O apoio dos liberais à radicalização popular da revolta, defendendo a abolição da escravidão.
(E) O descontentamento dos exportadores de algodão com as limitações impostas pela Corte à venda direta do algodão para a Europa
Didatismo e Conhecimento 4
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
(HISTÓRIA / GEOGRAFIA)
15. Observe a imagem a seguir.
Nas primeiras décadas do Brasil republicano, um dos problemas mais graves do sistema eleitoral eram as fraudes, às quais se refere a
charge para a revista Careta?(1927). A respeito da charge, é correto afirmar que (A) ilustra o controle político que os grandes fazendeiros
exerciam sobre os eleitores, conduzindo-os a votar nos candidatos que apoiavam.
(B) denuncia a falsificação das atas eleitorais, com a alteração do número de votantes, resultando nas “eleições a bico de pena”.
(C) representa o mecanismo fraudulento de incluir novos nomes na lista dos votantes, de modo a aumentar o número de eleitores.
(D) critica o recurso conhecido como “degola”, usado para eliminar o candidato eleito considerado não idôneo, anulando sua eleição.
(E) mostra a ação dos “fósforos”, isto é, das pessoas que assumiam a identidade de eleitores mortos ou ausentes para fraudar as eleições.
O lema da faixa “Trabalhador? sindicalizado? é? trabalhador? disciplinado” expressa com precisão o projeto do Governo Vargas (1930-
1945) de o Estado arbitrar os conflitos entre capital e trabalho. Dentre as medidas listadas a seguir, assinale a que indica esse aspecto do traba-
lhismo de Vargas.
(A) A instituição do salário mínimo e a regulamentação do direito de greve.
(B) A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a regularização do trabalho infantil.
(C) A garantia da estabilidade do emprego e a autonomia sindical.
(D) A intensificação do controle sindical e as grandes solenidades cívicas no dia 1o de maio.
(E) O regime de livre negociação salarial e a liberdade de associação dos trabalhadores
Didatismo e Conhecimento 5
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
(HISTÓRIA / GEOGRAFIA)
17. Observe a imagem a seguir
(http://www.rodrigotrespach.com. O-Imigrante-1908.pdf )
A imagem acima reproduz a capa do primeiro número (1908) da revista O Imigrante, um periódico informativo e propaganda de distribuído
para os imigrantes que desembarcavam no porto de Santos, em São Paulo. A respeito da imagem, assinale a afirmativa correta.
(A) Ela retrata a imigração europeia para o Sudeste, incentivada pela expansão da lavoura do café e pela industrialização nascente.
(B) Ela marca o fim da importação de trabalhadores africanos, em função da abolição do tráfico e do processo de industrialização do
Brasil, que requisitava uma mão-de-obra qualificada.
(C) Ela mostra o custeio, por parte do governo brasileiro, da vinda de imigrantes europeus, para branquearem a nação.
(D) Ela representa o reconhecimento do Brasil como um mercado de investimento de capitais e, por isso, o fluxo intenso de investidores
estrangeiros.
(E) Ela especifica que o estado de São Paulo utilizava trabalho assalariado em que predominava a mão de obra de afrodescendentes.
18. “Não resta outra coisa senão cada um defender se por si mesmo;duascoisassãonecessárias:revogaçãodosmonopólioseaexpulsãodos-
jesuítas,afimdeserecuperaramãolivrenoque dizrespeitoaocomércioeaosíndios”.
Esta frase é atribuída a Manuel Beckman, um dos protagonistas da chamada Revolta de Bequimão de 1684.
Assinale a alternativa que apresenta a principal motivação dessa revolta.
(A) A oposição dos jesuítas à escravização dos africanos e dos índios aldeados.
(B) O monopólio comercial da Companhia de Comércio do Estado do Maranhão (1682).
(C) O projeto de criar um governo autônomo para o Maranhão, chefiado por Manuel Beckman.
(D) A expulsão dos holandeses do Estado do Maranhão para controlar a produção açucareira.
(E) A eliminação do pacto colonial, estabelecendo um livre comércio interno e externo.
19. A ampliação do voto para as mulheres e a instituição do voto secreto são medidas asseguradas na
(A) Constituição de 1891.
(B) Constituição de 1934.
(C) Constituição de 1946.
(D) Constituição de 1967.
(E) Constituição de 1988.
Didatismo e Conhecimento 6
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
(HISTÓRIA / GEOGRAFIA)
Ao ser eleito, Juscelino Kubitschek anunciou o seu Plano de Metas para desenvolver a economia brasileira e gerar, nos 5 anos de seu
mandato (1956-1961), um crescimento equivalente a 50 anos.
Com base nos dados da tabela, assinale a afirmativa correta.
(A) A industrialização brasileira, nesse período, caracterizou-se pelo desenvolvimento de bens de consumo correntes voltados para os
trabalhadores urbanos de baixa renda.
(B) O setor no qual o Estado brasileiro mais investiu, nesse período, foi o de infra-estrutura para a indústria, sobretudo no campo da
energia elétrica e do transporte rodoviário.
(C) O setor de bens duráveis – automóveis e eletro-eletrônicos – foi o novo setor no qual o Estado brasileiro passou a investir direta-
mente, financiando a indústria nacional.
(D) O modelo econômico agro-exportador continuou predominando, com investimentos no café, na soja e na borracha para comple-
mentar a indústria automobilística.
(E) A modernização do setor terciário foi iniciada nesse período, associada aos novos centros urbanos como Brasília, símbolo da inte-
gração regional e do desenvolvimento.
21 Primeira página de um jornal do Rio de Janeiro, de 27 de interessados na exploração e na escravização do povo novembro de 1910.
Didatismo e Conhecimento 7
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
(HISTÓRIA / GEOGRAFIA)
Durante a Primeira República (1889-1930), vários setores da sociedade brasileira se mobilizaram contra as arbitra- riedades cometidas
pelas
classes dominantes e pelo
poder público. Nesse contexto, a Revolta mencionada no Jornal foi um movimento de marinheiros contra
(A)) os castigos corporais praticados na Armada, o ex- cesso de trabalho e a má alimentação
(B) a forma como as Forças Armadas convocavam os soldados para a Primeira Guerra Mundial.
(C) a oligarquia cafeeira que governava o país sem a legitimação da população brasileira.
(D) a lei que proibia a sindicalização de trabalhadores de setores considerados estratégicos.
(E) a obrigatoriedade do uso do uniforme quando se encontravam fora do expediente de trabalho
A foto mostra um dos momentos de mobilização política da chamada Era Vargas. Considerando o cenário político em que a foto foi
tirada, é correto afirmar que os manifestantes
(A) davam apoio ao movimento constitucionalista que exigia de Getúlio Vargas a elaboração de uma Constituição para o país.
(B) denunciavam a campanha do “petróleo é nosso” por- que discordavam da estatização das reservas de petróleo proposta por Getúlio
Vargas.
(C)) faziam um protesto contra o regime ditatorial de Ge- túlio Vargas que contribuiu para o fim do Estado Novo.
(D) protestavam contra o atentado a um dos líderes de direita, fato que desencadeou a crise política e o suicídio de Getúlio Vargas.
(E) eram nacionalistas do Partido Trabalhista Brasileiro que fez oposição sistemática aos governos de Getúlio Vargas.
Considerando as ideologias e a política partidária que tive- ram destaque na década de 1950, é correto afirmar que o texto fazia parte
do programa
A) da Ação Integralista Brasileira.
(B) do Partido Comunista do Brasil.
(C) do Partido Trabalhista Nacional.
(D) da União Democrática Nacional.
(E) do Partido Republicano Progressista
24. O governo de João Goulart define, desde os primeiros meses, seu perfil político e social através da campanha pelas reformas de
base que mobiliza todo o país em mo- vimentos de massa, exigindo do Congresso as medidas constitucionais e legais necessárias para a
renovação de nossas instituições.
(Darcy Ribeiro (1963) Aos trancos e barrancos. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1985.)
Didatismo e Conhecimento 8
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
(HISTÓRIA / GEOGRAFIA)
As reformas mencionadas no texto contrariaram interes- ses de determinados grupos que se aliaram para derrubar o governo constitu-
cional de Goulart. Identifique, dentre as alternativas apresentadas, a que está em desacordo com as reformas de base.
(A) Uma reforma agrária visando garantir a democra- tização do acesso a terra aos lavradores.
(B) Uma reforma tributária visando corrigir a desigual- dade da distribuição de encargos entre capital e trabalho.
(C) Uma reforma administrativa que acabasse com a burocracia e a corrupção no serviço público.
(D) Uma reforma eleitoral que proporcionasse o direito de voto a todos os brasileiros adultos inclusive os analfabetos.
(E)) Uma reforma bancária visando facilitar as remessas de lucros das multinacionais para o exterior
25. A partir do final da década de 1970, o regime militar começava a apresentar sinais de desgaste em razão das pressões da sociedade
brasileira. Contribuíram para esse desgaste
(A) a queda progressiva dos índices de inflação e as vitórias sucessivas da ARENA nas eleições parla- mentares.
(B) a aprovação da Lei da Anistia Ampla, Geral e Ir- restrita e a queda dos preços dos gêneros de pri- meira necessidade.
(C) a crise do petróleo e os elevados índices de popu- laridade dos partidos políticos que davam susten- tação ao governo.
(D) as vitórias sucessivas do Movimento Democrático Brasileiro nas eleições e o crescimento do movi- mento sindical no ABC paulista.
(E) as privatizações realizadas pelo governo e as ma- nifestações populares contra os efeitos do Plano Cruzado.
26. No início do século XVII, os franceses tentaram organizar uma colônia no Brasil. Para isso, fundaram a chamada de França Equi-
nocial, no Maranhão. Identifique os fatos históricos associados a essa colonização.
I. Contrariando as determinações do rei francês,
Daniel de La Touche autorizou a difusão da religião dos protestantes entre os indígenas no Maranhão
II. Com o objetivo de fixar a colonização no Brasil, os franceses construíram o forte que denominaram de São Luís, em homenagem ao
rei francês.
III. Um dos ordenamentos instituídos na França Equi- nocial era a conversão da população ao cristia- nismo, segundo determinação do
rei da França.
IV. Os franceses fundaram a França Equinocial para garantir a posse das terras do Maranhão, conforme determinava as normas do
Tratado de Tordesilhas
27. Em 1684, eclodiu uma revolta de proprietários de terra no Maranhão, conhecida por Revolta de Bequimão. Os revol- tosos posi-
cionaram-se
(A)) contra o monopólio da companhia de comércio e contra os jesuítas.
(B) contra a escravidão dos africanos e dos indígenas maranhenses.
(C) a favor da catequização dos indígenas realizada pe- los jesuítas.
(D) a favor do monopólio real sobre a exploração dos produtos da região.
(E) contra a expulsão dos jesuítas determinada pela coroa portuguesa
29. A Balaiada foi uma revolta que ocorreu na província do Maranhão, no período regencial (1831-1840). Ela estava inserida no con-
texto histórico de grande efervescência política nas províncias do Brasil. Identifique as afirmações que estejam associadas corretamente ao
contexto socioeconômico e político na qual emergiu essa revolta
I Como outras revoltas do período, a Balaiada limitou-se a uma disputa política entre membros das elites locais, de um lado os conser-
vadores e do outro os liberais.
II.As divergências políticas entre líderes e à falta de unidade entre os rebeldes acarretaram o declínio do movimento, facilitando sua
derrota pelas tropas do governo.
Didatismo e Conhecimento 9
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
(HISTÓRIA / GEOGRAFIA)
III.Os líderes populares da revolta eram liberais e tinham como objetivos principais a proclamação de uma República democrática e a
distribuição igualitária da terra.
IV. A revolta aglutinou imensa massa de excluídos, que acabou atemorizando os grandes proprietários e mobilizando as autoridades
regenciais contra os insurrectos.
Está correto o que se afirma APENAS em
(A) I e II.
(B) I e III.
(C) II e III.
(D) II e IV.
(E) III e IV
30. Os chamados “republicanos de 16 de novembro” acabaram roubando a cena política dos republicanos históricos na maior parte dos
estados brasileiros. O “festival” adesionista foi tamanho que deixou incomodado um conjunto de republicanos idealistas. O editorial de 18
de novembro de 1891 do jornal “Pacotilha”, ao fazer a avaliação dos dois primeiros anos de República afirma que tão logo fora nomeada a
Junta Governativa, em 18 de novembro de 1889, tornou-se difícil encontrar monarquistas no Maranhão.
(Luis Alberto Ferreira. In: www.outrostempos.uema.br
A análise do texto permite afirmar que
(A) não havia políticos monarquistas na província do Maranhão antes do novo regime.
(B) os “republicanos de 16 de novembro” proclamaram a República no Maranhão.
(C) os maranhenses republicanos demitiram os monar- quistas dos cargos políticos.
(D) os republicanos maranhenses condenaram os mo- narquistas ao exílio político.
(E) os monarquistas maranhenses não tiveram receio em aderir ao novo regime
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Didatismo e Conhecimento 10
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
(HISTÓRIA / GEOGRAFIA)
(C) o crescimento urbano e a modernização da Pecuária.
(D) o êxodo rural e a concentração de terras.
(E) a violência no campo e o inchaço urbano.
33 Segundo o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 1960, apenas duas cidades brasileiras apresentavam população
superior a 1 milhão de habitantes enquanto que em 2000 eram 12 cidades. Sobre essas cidades milionárias é correto afirmar que
(A) o rápido crescimento provocou uma série de problemas sociais e ambientais, até a presente data, difíceis de solucionar.
(B) estão concentradas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste e formam regiões metropolitanas.
(C) seu crescimento, nessas duas últimas décadas, foi promovido por políticas públicas de planejamento urbano.
(D) tiveram pequena influência na transformação do espaço nacional, pois têm poucas relações entre si.
(E) estão distribuídas eqüitativamente por todas as regiões brasileiras, sendo que o Sudeste abriga 3 dessas cidades.
34Desde seu início efetivo, na década de 1950, o processo de industrialização brasileiro tem passado por várias transformações. Uma
das mais recentes é
(A) a elevada robotização nas linhas de montagem, considerada como uma das maiores do mundo ocidental.
(B) a forte participação do Estado na construção e manu- tenção dos principais parques industriais do País.
(C) a desativação das indústrias de bens de produção, pois grande parte delas era considerada obsoleta.
(D) o crescente aumento de sua participação no PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, atualmente por volta de 70%.
(E)) a relativa desconcentração, pois várias indústrias têm saído do eixo São Paulo/Rio para se instalar em outras regiões brasileiras.
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EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
(HISTÓRIA / GEOGRAFIA)
36São Luís, capital do Maranhão, foi elevada pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística à condição de metrópole emer-
gente. Uma das condições necessárias para essa classificação é
(A) ter uma densidade demográfica igual ou superior a60 hab./km2.
(B) possuir mais de 50% da população ativa empregada na indústria.
(C) polarizar uma região com extensão superior a 500 mil km2.
(D) apresentar uma conurbação com pelo menos 10 municípios.
(E) contar com mais de 200 anos de fundação
37A posição da cidade de São Luís a aproximadamente 2° de latitude Sul e na faixa litorânea, garante a presença de um clima caracte-
rístico. A alternativa que identifica adistribuição anual de temperaturas e chuvas da capital maranhense, é:
Didatismo e Conhecimento 12
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
(HISTÓRIA / GEOGRAFIA)
38 A extensa faixa litorânea maranhense garante uma série de vantagens ao estado. Considere as atividades a seguir:
I. Importante produção salineira, a maior do Nordeste.
II. Grande produção de frutos do mar (camarão, ca- ranguejo e sururu).
III. Intensa movimentação dos portos destinados à ex- portação de alumínio e ferro, dentre outros produtos.
IV. Grande exploração de tanino e madeiras aromá- ticas das áreas de mangues.
Didatismo e Conhecimento 13
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
(HISTÓRIA / GEOGRAFIA)
40. Considere o mapa com a vegetação natural do estado do GABARITO
Maranhão.
1 E 21 A
2 E 22 C
3 C 23 B
4 B 24 E
5 B 25 A
6 A 26 C
7 E 27 A
8 D 28 B
9 C 29 D
10 D 30 E
11 E 31 C
12 C 32 D
13 C 33 A
14 D 34 E
15 A 35 B
16 D 36 A
17 A 37 D
18 B 38 C
19 B 39 B
20 B 40 E
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