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Morangos Mofados

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Morangos Mofados

Caio Fernando Abreu


Quem foi Caio F.
Quem foi Caio F.
• Nasceu em Santiago do Boqueirão (RS) em
1946

• Estudou Artes Cênicas e Letras na UFRGS, mas


não se formou em ambos os cursos

• Trabalhou como jornalista, dramaturgo e


escritor
Quem foi Caio F.
• Não lutou contra a Ditadura Militar, o que não
o impediu de ser preso em 1968
Quem foi Caio F.
• Viveu exilado no exterior durante o fim da
década de 1960 e metade da de 1970,
passando por Londres e Estocolmo

• Publicou contos e romances que foram


traduzidos para vários idiomas

• Era gay (e sim, isso é importantíssimo saber)


Quem foi Caio F.

• Foi patrono da Feira do Livro de Porto Alegre


em 1995

• Morreu em 1996, devido a complicações


advindas da AIDS, em Porto Alegre
Morangos Mofados

• É um livro de contos, divididos em duas


seções

• Publicado em 1982, é considerado a melhor


obra do autor
Morangos Mofados

• Temas que a obra trata:


– Solidão
– Amor
– Sexualidade e homossexualidade
– Geração de 1960 e seus descontentamentos
– O alegórico da vida
Morangos Mofados
• O Mofo
– Diálogo
– Os Sobreviventes
– O Dia em que Urano entrou em Escorpião
– Pela Passagem de uma Grande Dor
– Além do Ponto
– Os Companheiros
– Terça-feira Gorda
– Eu, Tu, Ele
– Luz e Sombra
Morangos Mofados
• Os Morangos
– Transformações
– Sargento Garcia
– Fotografias
– Pêra, Uva ou Maçã?
– Natureza Viva
– Caixinha de música
– O Dia em que Júpiter encontrou Saturno
– Aqueles Dois
– Morangos Mofados
Dedicatória
À memória de
John Lennon
Elis Regina
Henrique do Vaile
Rômulo Coutinho de Azevedo
e todos meus amigos mortos
Dedicatória

A Caetano Veloso
E para Maria Clara Jorge (Cacaia)
Sonia Maria Barbosa (Sonia de Oxum Apará)
E todos os amigos vivos
O mofo
Diálogo
A: Você é meu companheiro.
B: Hein?
A: Você é meu companheiro, eu disse.
B: O quê?
A: Eu disse que você é meu companheiro.
B: O que é que você quer dizer com isso?
A: Eu quero dizer que você é meu companheiro. Só isso.
B: Tem alguma coisa atrás, eu sinto.
A: Não. Não tem nada. Deixa de ser paranóico.
B: Não é disso que estou falando.
A: Você está falando do quê, então?
B: Eu estou falando disso que você falou agora.
Os sobreviventes

• Narrador(a) fala sobre a decepção e as


mudanças da sua geração

• Todos os clichês da geração (drogas, oriente,


marxismo revolucionário, liberdade etc. são
citados e vistos como clichês)
O dia em que Urano entrou em
Escorpião

• Um rapaz de blusa vermelha avisa que Urano


entrou em Escorpião

• Ele e dois amigos têm uma conversa sobre temas


holísticos/místicos

• Ele tem uma crise, tentando se matar – mas os


amigos evitam a tragédia
Pela passagem de uma grande dor

• Uma mulher liga para seu amigo, Lui

• Eles falam sobre clichês da geração e mostram


suas respectivas solidões e frustrações com a
vida
Pela passagem de uma grande dor
Ele abriu a boca, mas antes de repetir as mesmas
coisas ouviu o clique do fone sendo colocado no
gancho do outro lado da cidade. O disco chegara
novamente ao fim, mas antes que recomeçasse ele
curvou-se e desligou o som. Em pé, ao lado da mesa,
amarfanhou o papel amarelo e jogou-o no cinzeiro.
Depois soprou as cinzas do rosto do rapaz. Algumas
partículas caíram sobre a foto da mulher. Andou então
até o pequeno corredor, curvou-se sobre a planta e
com a brasa do cigarro fez um furo redondo na folha.
Respirou fundo sem sentir cheiro algum.
Pela passagem de uma grande dor
A sala continuava mergulhada naquela
penumbra bordô, baça, moribunda, a
almofada fosforescendo estranhamente
esverdeada à luz azul de mercúrio. Ele fez um
movimento em direção ao telefone. Chegou a
avançar um pouco, como se fosse voltar. Mas
não se moveu. Imóvel assim no meio da casa,
o som desligado e nenhum outro ruído, era
possível ouvir o vento soprando solto pelos
telhados.
Além do Ponto

• O narrador sai com um conhaque e cigarros,


num dia chuvoso, para ir a casa de uma
pessoa (mas quem?)

• O sentimento de solidão perpassa todo o


conto
Além do Ponto
E bati, e bati outra vez, e tornei a bater, e continuei batendo
sem me importar que as pessoas na rua parassem para olhar, eu quis
chamá-lo, mas tinha esquecido seu nome, se é que alguma vez o
soube, se é que ele o teve um dia, talvez eu tivesse febre, tudo ficara
muito confuso, idéias misturadas, tremores, água de chuva e lama e
conhaque no meu corpo sujo gasto exausto batendo feito louco
naquela porta que não abria, era tudo um engano, eu continuava
batendo e continuava chovendo sem parar, mas eu não ia mais indo
por dentro da chuva, pelo meio da cidade, eu só estava parado
naquela porta fazia muito tempo, depois do ponto, tão escuro agora
que eu não conseguiria nunca mais encontrar o caminho de volta, nem
tentar outra coisa, outra ação, outro gesto além de continuar batendo
batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo
batendo batendo batendo batendo nesta porta que não abre nunca.
Terça-Feira Gorda

• O beijo e o relacionamento entre dois homens


numa festa – provavelmente no carnaval

• Uso de drogas

• No fim, eles apanham de um grupo de


homens que também estavam na festa
Terça-Feira Gorda
Mas vieram vindo, então, e eram muitos. Foge,
gritei, estendendo o braço. Minha mão agarrou um
espaço vazio. O pontapé nas costas fez com que me
levantasse. Ele ficou no chão. Estavam todos em volta. Ai-
ai, gritavam, olha as loucas. Olhando para baixo, vi os
olhos dele muito abertos e sem nenhuma culpa entre as
outras caras dos homens. A boca molhada afundando no
meio duma massa escura, o brilho de um dente caído na
areia. Quis tomá-lo pela mão, protegê-lo com meu corpo,
mas sem querer estava sozinho e nu correndo pela areia
molhada, os outros todos em volta, muito próximos.
Luz e sombra

• Um homem preso num quarto (manicômio?)


observa a paisagem urbana

• Ele dialoga com alguém (real ou imaginário?)


com quem provavelmente compartilha
sentimentos
Os morangos
Sargento Garcia

• Hermes vai fazer os exames para o exército e


encontra o Sargento Garcia

• Vendo que Hermes é um menino diferente


(estuda), libera-o do serviço após o medo do
rapaz servir
Sargento Garcia

• Voltando a pé e sozinho por Porto Alegre, Garcia


intercepta Hermes e lhe dá carona

• Garcia leva Hermes para uma casa onde eles têm


uma relação sexual

• No fim, Hermes retorna para casa com um misto


de felicidade e desespero
Sargento Garcia
- Hermes. - O rebenque estalou contra a
madeira gasta da mesa. Ele repetiu mais alto,
quase gritando, quase com raiva: - Eu chamei
Hermes. Quem é essa lorpa?
Avancei do fundo da sala.
- Sou eu.
- Sou eu, meu sargento. Repita.
Sargento Garcia
Os outros olhavam, nus como eu. Só se ouvia o ruído das
pás do ventilador girando enferrujadas no teto, mas eu sabia
que riam baixinho, cutucando-se excitados. Atrás dele, a
parede de reboco descascado, a janela pintada de azul-
marinho aberta sobre um pátio cheio de cinamomos caiados
de branco até a metade do tronco. Nenhum vento nas copas
imóveis. E moscas amolecidas pelo calor, tão tontas que se
chocavam no ar, entre o cheiro da bosta quente de cavalo e
corpos sujos de machos. De repente, mais nu que os outros,
eu: no centro da sala. O suor escorria pelos sovacos.
- Ficou surdo, idiota?
- Não. Não, seu sargento.
- Meu sargento.
- Meu sargento.
Pêra, uva ou maçã

• Uma mulher vai ao psicólogo e fala como


tropeçou num caixão, na rua, enquanto vinha
para a consulta

• Loucura e solidão
O dia em que Júpiter encontrou
Saturno

• Um casal se encontra/conhece, se beija e ele


em seguida se mata

• Amor, solidão e perda


O dia em que Júpiter encontrou
Saturno
- Tudo isso é muito abstrato. Está tocando
Kiss, kiss, kiss. Por que você não me convida
para dormirmos juntos.
- Você quer dormir comigo?
- Não.
- Porque não é preciso?
- Porque não é preciso.
(silêncio)
Aqueles Dois

• Dois homens, Raul e Saul, se conhecem,


ambos abandonados por mulheres, e se
tornam amigos

• Eles trabalham na mesma empresa e


começam a se aproximar cada vez mais
Aqueles Dois

• A amizade aumenta, eles começam a sentir


saudade um do outro e começam a ter um
relacionamento

• Eles são demitidos do emprego por serem um


casal
Aqueles Dois
• Ai-ai! alguém gritou da janela. Mas eles não
ouviram, O táxi já tinha dobrado a esquina.
Pelas tardes poeirentas daquele resto de
janeiro, quando o sol parecia gema de um
enorme ovo frito no azul sem nuvens do céu,
ninguém mais conseguiu trabalhar em paz na
repartição. Quase todos ali dentro tinham a
nítida sensação de que seriam infelizes para
sempre. E foram.
Morangos Mofados
Let me take you down
‘cause I’m going to strawberry fields
Nothing is real,
And nothing to get hung about
Strawberry fields forever.

Lennon & McCartney: “Strawberry fields


forever”
Morangos Mofados
Morangos Mofados

• Divido em partes como uma música clássica

• Um homem, um publicitário, vai ao médico,


falando do gosto de morangos mofados e da
desilusão da sua geração

• Mas é apenas um sonho


Morangos Mofados

• Ele acorda, desiludido consigo mesmo e com a


vida, sentindo o gosto de morangos mofados
na boca

• Lembra de Alice e da sua geração, perdida em


si mesma
Considere o enunciado abaixo e as três propostas para completá-lo.

O livro de contos Morangos Mofados


1 – retrata a experiência da geração do autor Caio Fernando Abreu na
qual os ideais de liberdade da década de 1960 não se concretizaram.
2 – evidência um posicionamento otimista da vida pelo autor, dado os
finais felizes dos contos.
3 – trata da temática homoafetiva em contos como O sargento Garcia,
Terça-Feira gorda e Além do Ponto.

Quais estão corretas?

(a) Apenas 1.
(b) Apenas 2.
(c) Apenas 3.
(d) Apenas 1 e 3.
(e) 1, 2 e 3.

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