Contribuições Do Materialismo Histórico-Dialético
Contribuições Do Materialismo Histórico-Dialético
Contribuições Do Materialismo Histórico-Dialético
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Priscila de Souza Chisté Leite
Resumo. O artigo tem como objetivo apresentar as contribuições do materialismo histórico-dialético para as
pesquisas em mestrados profissionais na área de ensino de humanidades. Para tanto, evidencia os
pressupostos do materialismo histórico-dialético estabelecendo diálogo entre esse método e os
pressupostos das pesquisas aplicadas, em especial, aquelas de cunho participativo. Discorre também sobre
as especificidades dos mestrados profissionais no Brasil exemplificando esta abordagem a partir de algumas
pesquisas desenvolvidas em um mestrado profissional na área de ensino de humanidades.
Palavras-chave: Materialismo histórico-dialético; Pesquisa Participante; Mestrado Profissional; Ensino de
Humanidades.
1 Introdução
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Na história da educação brasileira, a Educação Profissional foi pensada com a finalidade de treinar
uma parcela da população para o desempenho de atividades manuais consideradas de nível
intelectual inferior. Visava também atender às demandas da indústria e beneficiar os grupos sociais
desfavorecidos economicamente. No início, as políticas educacionais para educação profissional
buscavam contemplar os níveis mais básicos do ensino. Contudo, recentemente, ampliaram os seus
1 A área de ensino foi constituída por decisão do Conselho Superior da Capes pela Portaria nº 83, de 6 de junho de 2011. De
acordo com o Comunicado Conjunto nº 001/2013 das áreas de Ensino e de Educação: perspectivas de cooperação e
articulação, publicado em 28 de junho de 2013, existem delimitações entre essas duas áreas de pesquisa na pós-graduação
stricto sensu no Brasil. Conforme esse documento os Programas da Área de Educação da Capes se organizam em diferentes
propostas, constituindo linhas de pesquisa específicas e priorizando a produção de conhecimento educacional. Já os
programas da Área de Ensino focam as pesquisas em ensino de determinado conteúdo, buscando integração com as áreas
geradoras dos conteúdos a serem ensinados. Seus cursos de pós-graduação têm como objeto a mediação do conhecimento
científico, a integração entre conhecimento disciplinar e conhecimento pedagógico, construir pontes entre diferentes áreas
e processos educativos. Destinam-se principalmente a professores da educação básica e/ou profissionais de ensino formal
ou não formal vinculados a diferentes campos de conhecimento. No caso do Mestrado Profissional em Ensino de
Humanidades do Instituto Federal do Espírito Santo, Brasil, o público-alvo são professores das áreas de Ciências Humanas,
Letras e Artes.
...
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objetivos iniciais ao avançarem para o nível superior e atingirem o nível stricto sensu, sob a forma do
mestrado profissional. Segundo Melo (2002), a criação dos mestrados profissionais possui influência
internacional e aproxima-se da estrutura norte-americana de pós-graduação, que visa à aplicação e à
extensão de conhecimentos a finalidades profissionais ou vocacionais, tais como a Master of Business
Administration, Master of Arts in Education, Master of Engineering e Master of Arts in Teaching. Ao
mesmo tempo, acata regulamentações de agências internacionais de financiamento, como o Banco
Interamericano de Desenvolvimento (Bird). Em 1995, essa instituição apresentou documento
intitulado “O ensino superior: as lições derivadas da experiência” que expunha orientações para
políticas educacionais que reforçavam a necessidade dos governos redefinirem suas funções relativas
ao ensino superior; propunham a implementação de programas de cooperação interinstitucionais e
pós-graduações à distância, bem como a aproximação da Universidade e setor produtivo, com
prioridade na criação de cursos stricto sensu, atendendo à nova dinâmica de mercado; e sugeriam a
flexibilização do sistema de pós-graduação, tornando-o receptivo a novas formas de capacitação de
recursos humanos. Diante das demandas associadas à experiência americana e às políticas de
articulação internacional, os mestrados profissionais foram instituídos no Brasil em 1995, pela
Portaria nº 47, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes2), e pela
subsequente regulamentação feita pela Portaria nº 80/1998, do Ministério da Educação. O
argumento desses documentos respalda-se na necessidade de flexibilização do modelo de pós-
graduação stricto sensu diante das demandas sociais oriundas das mudanças tecnológicas, das
transformações econômico-sociais e do aumento da procura por profissionais com perfis de
especialização distintos dos tradicionais. Conforme Ribeiro (2005), a principal diferença entre o
mestrado acadêmico e o profissional é o resultado almejado. No mestrado acadêmico, pretende-se a
imersão na pesquisa, isto é, formar, a longo prazo, um pesquisador. Já no mestrado profissional, o
objetivo é formar alguém que, no campo profissional externo à academia, saiba localizar,
reconhecer, identificar e, sobretudo, utilizar a pesquisa de modo a agregar valor a suas atividades
pessoais ou sociais. Outra peculiaridade do mestrado profissional refere-se à preocupação com a
formação especializada para profissionais “em serviço”. Barros, Valentim e Melo (2005) ressaltam
que o mestrado profissional é destinado a um público externo à academia e se volta para a gestão,
produção e aplicação do conhecimento orientado para a pesquisa aplicada, a solução de problemas,
a proposição de novas tecnologias e o aperfeiçoamento tecnológico. As autoras destacam que os
mestrados profissionais possuem como alvo a capacitação de recursos humanos para a prática
profissional e transformadora, preservando a vinculação ensino versus pesquisa. Sobre a relação
teoria e prática nos mestrados profissionais e acadêmicos, Ostermann e Rezende (2009) apontam
que o mestrado acadêmico forma pesquisadores e docentes, enquanto o profissional qualifica para o
mercado de trabalho. É forte a dicotomia que sustenta todos os níveis de formação profissional no
Brasil: de um lado os que pensam e, do outro, os que executam. Esse fato fica evidenciado na própria
orientação trazida pela Capes, na Portaria Normativa nº 17/2009, que dispõe sobre os objetivos do
mestrado profissional voltados para questões da prática profissional. Em seu artigo 4°, regulamenta
que um dos objetivos do mestrado profissional é capacitar profissionais qualificados para o exercício
da prática profissional, visando ao atendimento das demandas sociais, organizacionais ou
profissionais e do mercado de trabalho. Compreendemos que os mestrados profissionais não
precisam estimular à utilização do conhecimento de modo pragmático. Ao contrário disso,
necessitam promover a relação indissociável entre teoria e prática. Sabemos que na antiguidade
grega a filosofia ignorou e repeliu o mundo prático, considerado como indigno aos homens livres e
próprio dos escravos. Essa ideia perdurou por vários séculos, mesmo que travestida em outras
2 Fundação vinculada ao Ministério da Educação (MEC) do Brasil que atua na expansão e na consolidação da pós-
graduação stricto sensu em todos os estados do país.
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aparências.
Contudo, a dicotomia teoria e prática toma nova forma a partir da concepção marxiana de práxis. A
práxis é para Marx uma prática sempre fundamentada teoricamente. Desse modo, para a prática se
desenvolver, necessita da teoria e precisa ser iluminada por ela. A práxis é uma atividade material
humana transformadora do mundo e do próprio homem. Uma atividade real, objetiva e ao mesmo
tempo, ideal, subjetiva e consciente (Vázquez, 1968). Ela é teórica e prática - prática, na medida em
que a teoria, como guia da ação, molda a atividade do homem - e teórica, na medida em que essa
relação é consciente. Portanto, podemos pensar que, apesar de serem inseparáveis, a prática tem
primado sobre a teoria, na medida em que é ela que se constitui como origem, e a teoria é dela
originada. Mesmo que as normativas apresentadas pela Capes regulamentem que o objetivo é a
modificação da prática do aluno do mestrado profissional, é inviável afirmar que isso ocorrerá sem
colocar em evidência a relação indissociável entre teoria e prática, pois, alijando um aspecto em
detrimento do outro, impossibilitamos a melhoria do trabalho profissional e o aprofundamento do
objeto em estudo, visto que passariam a se distanciar do princípio que rege as mediações humanas:
a práxis. Por isso, cabe aos Programas de Pós-Graduação voltados aos mestrados profissionais
colocar em foco essa discussão de modo a pressionar os órgãos legisladores a modificarem suas
normativas e a contemplarem em suas leis as relações intrínsecas entre teoria e prática. No caso
específico da metodologia de pesquisa, a teoria pode colaborar para que a ação do pesquisador seja
mais aprofundada. Assim, entendemos que as teorias relacionadas com o campo das metodologias
de pesquisa tendem a colaborar com a ação do pesquisador, de modo a orientar a sua atividade de
pesquisa e dando um novo sentido à prática, principalmente nas pesquisas aplicadas que demandam
participação coletiva.
A partir do exposto, consideramos que o materialismo histórico-dialético possa contribuir com o
entendimento epistemológico que abarca as investigações sobre práticas e espaços educativos, pois
suas dimensões ontológicas, axiológicas e gnosiológicas integram uma filosofia da transformação que
visa, por meio da análise histórica e dialética da realidade, alcançar sínteses que retomem, em outra
dimensão, o conhecimento inicial e que visem, em última estância, a transformação social e coletiva.
De acordo com Martins (2008) poucos são os escritos de Marx que dizem respeito diretamente aos
pressupostos do materialismo histórico-dialético. Esse sociólogo alemão não se dedicou muito a essa
delimitação, apesar de reconhecer a importância de fazê-lo, pelo fato de estar convencido que era
mais urgente empregar o seu método científico-filosófico na análise e compreensão da estrutura do
capitalismo, buscando “[...] elucidar sua gênese e desenvolvimento, para conhecer as suas
tendências imanentes e também para lhe imprimir outros desdobramentos [...]”, que pudessem lhe
determinar novas perspectivas econômicas, sociais, políticas e culturais (Martins, 2008, p. 18).
Segundo Vázquez (1968), o materialismo histórico-dialético é uma concepção, um modelo de
interpretação e de ação no mundo vinculado conscientemente a práxis revolucionária, ou seja, a uma
filosofia que pode guiar uma transformação humana radical ao desvendar contradições e evidenciar
mecanismos de dominação. Nesse sentido, compreende que o conhecimento é social, pressupõe o
outro, sendo sua apropriação necessária para a constituição do sujeito. Diferente das abordagens
pós-modernas que consideram a realidade como um texto com múltiplas possibilidades
interpretativas, o materialismo histórico-dialético reconhece que a realidade não pode ser explicada
de infinitas formas, pois compreende que a essência do objeto não muda, à medida em que a
matéria conserva sua propriedade independente do sujeito (Rodriguez, 2014). Por consequência, o
que faz o mundo ser como é, o que o produz em todas as dimensões, são as relações materiais que
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se estabelecem em sua dinâmica cotidiana. É por causa dessas relações que a sociedade, e o homem
individualmente em seu interior, desenvolve-se e, mediante a um processo histórico, pode ser
superada por um novo modelo que comporta um novo tipo de homem. Por meio desse humanismo-
materialista, o materialismo histórico-dialético considera que o homem é o maior artesão da
realidade que se constitui a partir das relações que a humanidade estabelece entre si e entre a
natureza. Por meio da crítica ao idealismo, o materialismo histórico-dialético afirma que o mundo
não é fruto exclusivo do pensamento, nem obra de um ser transcendental que por bondade intervém
na realidade ou inspira o homem a agir sobre ela. Tal método parte dos dados empíricos que se
apresentam na realidade de forma global e difusa, para logo realizar uma desagregação desses dados
e estabelecer diferentes relações que permitem fazer uma interconexão, possibilitando verificar as
múltiplas determinações que se estabelecem entre os dados singulares e os universais. O real
concreto, por conseguinte, só terá sentido quando a análise a ser realizada sobre ele identificar suas
múltiplas determinações. Desse modo, os fatos sociais não estão isolados, há uma relação dinâmica e
dialética entre o singular, o universal e o particular. Para Martins (2006), o fenômeno revela, em sua
expressão singular, o que é imediato; já em sua expressão universal, revela suas complexidades, suas
conexões internas e a sua totalidade histórico-social. Contudo, Martins (2006) infere que nenhum
fenômeno se expressa apenas de maneira singular ou universal. Ele se manifesta também em sua
configuração particular, assumindo especificidades de uma dada realidade. Desse modo, é impossível
construir qualquer conhecimento objetivo sobre indivíduos ou sobre a totalidade social sem a análise
dialética dessas três dimensões do fenômeno (objeto de conhecimento). Em diálogo com Martins
(2006), Oliveira (2005) destaca a importância de se caracterizar a relação singular-particular-universal
no âmbito da investigação científica, afirmando tal relação como requisito para a compreensão do
objeto em suas múltiplas relações e, acima de tudo, para a superação de falsas dicotomias (do tipo
indivíduo-sociedade), muito presentes nas ciências humanas. Martins (2008) propõe que devam ser
percorridos três passos para se alcançar o conhecimento do objeto estudado de modo a desvelar a
realidade: (1) a tomada de consciência das partes da totalidade a ser conhecida, abstraindo-as do
todo; (2) o conhecimento detalhado dessas partes pelo processo da análise; (3) a superação da visão
analítica, buscando conhecer as mediações que se estabelecem entre as partes, das partes com o
todo e deste para as partes, de modo a produzir uma síntese da realidade, que reproduz no
pensamento o concreto, o real, com todos os seus movimentos, suas determinações e significações,
tornando-se um concreto pensado. Martins (2008, p. 137) explica esses três passos ao apontar que o
conhecimento do real ocorre processualmente, “[...] passa pela abstração do que empiricamente se
apresenta de forma desorganizada, avançando para a análise das suas partes constituintes,
decompondo o todo caótico, até chegar à síntese [...]”, quando se volta o olhar sobre a totalidade da
realidade, mas tendo dela uma visão de suas articulações internas, de suas contradições, de suas
determinações mais complexas e das mediações que aí se estabelecem, produzindo no pensamento
uma representação daquilo que é a realidade. Portanto, para se conhecer o real é preciso dar conta
de todos os nexos que atravessam o fenômeno estudado, cercar o objeto de tal forma que se consiga
compreendê-lo em sua concretude, em seu movimento de gênese e de desenvolvimento em suas
relações reais. Além desses pressupostos, é importante ressaltar que o materialismo histórico-
dialético concebe o objeto do conhecimento não como algo dado, estático, somente limitado ao
tempo presente em sua análise, mas como um elemento dinâmico, caracterizado pela diacronia do
tempo histórico e que mantém múltiplas relações com o que está a sua volta. Inserido em uma
realidade dinâmica o conhecimento não pode ser traduzido como resultado de um processo
acabado, mas de um processo incorporado em uma realidade que é sempre mais rica do que a ideia
que construímos dela e que pressupõe não apenas interpretar o mundo de diferentes maneiras
conforme teorias pós-modernas defendem, mas transformá-lo. Assim, o materialismo histórico-
dialético constitui-se como uma abordagem teórica imprescindível no trato metodológico-
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investigativo, pois impulsiona o pesquisador a analisar de modo aprofundado seu objeto de pesquisa
e a buscar, de modo coletivo, transformar, mesmo que de forma sútil e processual, a realidade.
A partir do que colocamos, consideramos que cabe apresentarmos, na seção que segue,
pressupostos da metodologia de pesquisa participante, pois consideramos que dentre suas
diferentes abordagens existem aquelas que se embasam no materialismo histórico-dialético e, de
certo modo, sistematizaram modos coletivos de investigação que podem, em tese, contribuir para a
conscientização e a transformação social de coletivos subjugados pela sociedade desigual em que
vivemos.
Diante dos pressupostos apontados é possível inferir que metodologias de pesquisas que
possibilitam a participação coletiva podem favorecer o desvelamento do real e, de certo modo,
contribuir com o seu processo de transformação. Porém, é necessário ter em mente os limites que
toda investigação possui, pois sabemos que muitas são as interferências que incidem sobre ela. Feita
essa ressalva, compreendemos que o materialismo histórico-dialético influenciou a sistematização de
alguns métodos de investigação, dentre eles a pesquisa participante. Faz-se necessário ressaltar que
existem vários tipos de pesquisa participante e alguns deles se distanciam dos pressupostos do
materialismo histórico-dialético. De acordo com Brandão (2015) as teorias e ações de estudiosos
como Mahatma Gandhi, Franz Fanon, Paulo Freire, Camilo Torres, Gustavo Gutierrez, João Bosco
Guedes Pinto, Leonardo Boff e Orlando Fals Borda, difundiram algumas propostas de participação
popular como formas originais e contestatórias, diante das diferentes propostas de desenvolvimento
social agenciadas pela Europa e pelos Estados Unidos da América que, na maioria das vezes,
implementavam investigações ditas participantes, mas que, na verdade, funcionavam apenas como
versões de antigas práticas sociais de vocação neocolonizadora. Na América Latina, em fins da
década de 1960, a pesquisa participante manteve-se ligada a ideias e ações sociais de tendência
emancipatória, ao mesmo tempo que fundamentavam e instrumentalizavam a educação popular, a
teologia da libertação e os movimentos sociais populares. Brandão (2015) aponta que a pesquisa
participante surgiu à margem das universidades e de seu universo científico, embora parte de seus
principais teóricos e praticantes provenha delas e nelas trabalhem. Paulatinamente e com
resistências, algumas teorias e práticas da pesquisa participante ingressaram no mundo universitário
latino-americano pela via de estudantes, professores ativistas de causas sociais, os chamados
militantes da educação popular. Para Brandão (2015, p. 08), a pesquisa participante na América
Latina buscava, em sua origem, a transformação de ações sociais populares a partir de uma
elaboração sistemática de conhecimentos pela via de pesquisas sociais postas “[...] a serviço de
experiências coparticipadas de criação solidária de saberes, a partir do enlace entre profissionais
e/ou militantes agenciados e as pessoas, grupos e comunidades populares”. O autor ainda considera
que a pesquisa participante não se relaciona, desde sua origem, às totalizações complexas e
holísticas dos paradigmas emergentes pós-modernos, representados por autores que seguem essa
tendência. Quanto as origens da pesquisa participante, “[...] sua fonte é marxista e, em vários
documentos, ela aparece como uma abordagem dialética” (Brandão, 2015, p. 15). Contudo, sabemos
que atualmente essa abordagem metodológica vem sendo apropriada por vários pesquisadores,
independente da base epistemológica que sustenta suas propostas de pesquisas. As pesquisas
participantes desenvolvidas no Brasil na década de 1980 acompanharam o movimento de
redemocratização desse país. A volta de Paulo Freire ao Brasil após o exílio, contribuiu para a
sistematização de vários eventos relacionados à educação, como, por exemplo, a Conferência
Brasileira de Educação. Tais ações ampliaram as discussões sobre métodos de pesquisa participativos
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3 Os dados referentes as ações, os cursos, os textos e os integrantes do Gepech podem ser acessados em
https://gepech.wordpress.com/integrantes-2/.
4 O Parque Moscoso foi inaugurado em 1912 e é um parque urbano característico da cidade de Vitória.
5 A Companhia Vale do Rio Doce foi criada em 1942 como empresa estatal. Atualmente, é uma multinacional e uma das
maiores produtoras de minério de ferro do mundo. Em 2015 a empresa foi responsável por crime ambiental que destruiu
um importante rio responsável pelo abastecimento de água nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. No Espírito Santo
a Companhia está sediada na orla da Praia de Camburi em Vitória e é responsável pela emissão de excessivos poluentes no
ar da região chamada de Grande Vitória que abarca vários municípios do estado do Espírito Santo.
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Considerações Finais
Como apontamos, o objetivo deste artigo foi apresentar as contribuições do materialismo histórico-
dialético para as pesquisas em mestrados profissionais na área de ensino de humanidades. Além de
discorremos sobre os pressupostos deste método e da pesquisa participante, comentamos as
especificidades dos mestrados profissionais no Brasil e reafirmamos a importância de se contribuir
com a indissociabilidade entre teoria e prática nesse tipo de mestrado. Elencamos também ações do
Gepech como forma de exemplificarmos algumas atividades de pesquisa realizadas a partir do
materialismo histórico-dialético e da pesquisa participante.
Inferimos que a pesquisa participante, sob a luz do materialismo histórico-dialético, pode se
constituir como um método contra-hegemônico, um caminho investigativo que potencializa
pesquisadores e demais participantes a ampliarem suas consciências, visando a transformação social.
Entendemos que desvelar as condições de reprodução social impostas pelo capital incide na
ampliação do olhar dos participantes da pesquisa, estimulando a compreensão de sua classe social,
de seus direitos e de suas potencialidades. Vislumbramos que tais métodos teórico-investigativos
possam favorecer a sistematização de processos educativos que favoreçam a criação de projetos
emancipadores e reveladores dos mecanismos opressores adotados pela classe dominante com
vistas a instigar a participação coletiva no processo de construção de uma sociedade igualitária.
Referências
Barros, E. C., Valentim, M. C., & Melo, M. A. A. (2005). O debate sobre o mestrado profissional na
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Fals Borda, O. (1984). Aspectos teóricos da pesquisa participante: considerações sobre o significado e
o papel da ciência na participação popular. In C. R. Brandão (Ed), Pesquisa participante. São
Paulo: Brasiliense.
Fals Borda, O. (1986). Conocimiento y poder popular: lecciones con campesinos de Nicaragua, México
y Colombia. Bogotá: Siglo XXI.
Freire, P. (1984). Criando métodos de pesquisa alternativa: aprendendo a fazê-la melhor através da
ação. In C. R. Brandão (Ed.), Pesquisa participante. São Paulo: Brasiliense.
Martins, M. F. (2008). Marx, Gramsci e o conhecimento: ruptura ou continuidade? São Paulo: Autores
Associados.
Ribeiro, R. J. (2005). O mestrado profissional na política atual da Capes. Revista Brasileira de Pós-
Graduação, Brasília, 2, 08-15. Acedido junho 7, 2016, em http://ojs.rbpg.capes.
gov.br/index.php/rbpg/article/view/72/69.
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