A Categoria Dialética Conteúdo e Forma No Interior
A Categoria Dialética Conteúdo e Forma No Interior
A Categoria Dialética Conteúdo e Forma No Interior
DA PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA
Eixo – Didática
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O presente texto tem por objetivo discutir a relação conteúdo e forma de acordo com os
pressupostos da Pedagogia Histórico-Crítica, a fim de desenvolver uma reflexão acerca das
propostas didáticas na educação escolar. O arcabouço teórico que sustenta essa pesquisa
precede de perspectivas que entendem que o desenvolvimento humano acontece por meio das
trocas estabelecidas entre os sujeitos, ou seja, por meio das relações socais, sejam elas, políticas,
culturais, ideológicas, religiosas e outras. Neste estudo, pretendeu-se, primeiramente, expor os
conceitos de conteúdo e forma de diferentes autores, elucidar como essa categoria possibilita,
por meio da mediação, compreender o mundo e as relações sociais, eixos norteadores para a
compreensão e o estabelecimento do pensamento concreto, bem como refletir sobre os aspectos
da Pedagogia Histórico-Crítica que têm por base a relação conteúdo e forma e podem favorecer,
portanto, a superação da sociedade pautada no modo de produção vigente. Como resultados
esperados, podemos, por meio da análise da literatura, evidenciar que a relação conteúdo e
forma no âmbito escolar está ligada diretamente ao modo de produção, uma vez que o contexto
educacional está para responder às necessidades do mercado e à lógica de produção. Por essa
razão, a proposta desse artigo debruçou-se em pensar uma forma que visa possibilitar aos
estudantes relacionarem os conteúdos escolares à realidade social, apresentando novos
enfoques aos seus olhares pela via do conhecimento e tornando-os capazes de transformarem a
sociedade. Pode-se destacar, pois, a literatura como meio de acesso ao conhecimento científico,
por sua relevância como patrimônio social, intuída de contexto histórico, político e social em
sua máxima complexidade.
1
Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Londrina e aluna do programa de Pós-graduação:
Mestrado em Educação da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: leticia_vidigal_@hotmail.com
2
Graduanda em Pedagogia pela Universidade Estadual de Londrina, Bolsista de Iniciação Científica CNPq. E-
mail: vania_terra@hotmail.com
3
Doutora em Letras na UEL (2008). Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (2003).
Graduada em Letras e em Pedagogia pela UEM. Professora Adjunta do Departamento de Educação da
Universidade Estadual de Londrina - UEL, na área de Didática e professora do Programa de Pós-Graduação -
Mestrado em Educação – UEL. E-mail: sandrafranco26@hotmail.com
ISSN 2176-1396
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Introdução
Com base nos estudos teóricos focalizados no projeto descrito, o presente texto tem por
objetivo discutir a relação conteúdo e forma de acordo com os pressupostos da Pedagogia
Histórico-Crítica, vertente pedagógica do Materialismo Histórico-Dialético, a fim de
desenvolver uma reflexão acerca das propostas didáticas na educação escolar.
Metodologia
O arcabouço teórico que sustenta essa pesquisa precede de perspectivas que entendem
o desenvolvimento humano como aquele que acontece por meio das trocas estabelecidas entre
os sujeitos, ou seja, por meio das relações socais, sejam elas, políticas, culturais, ideológicas,
religiosas e outras. Assim, ao pensar no desenvolvimento do projeto “A leitura e a sua relação
conteúdo, forma e destinatário na Educação Básica”, partiu-se do princípio de que era preciso
romper com a dicotomia teoria e prática. Martins, Dias e Franco (2016, p. 369) abordam essa
questão quando refletem sobre a importância do desenvolvimento na ação transformadora:
Faz-se necessário uma prática que se distancie daquelas que se voltam apenas para a
fragmentada reprodução de saberes instituídos. Assim, atribui-se ao docente e, em
específico, à prática pedagógica, a necessidade da contradição. Neste processo, o
professor caminha em um sentido no qual vai relacionando a dialética com a própria
ação, ou seja, atua de forma a pensar sobre suas ações, buscando o entendimento e a
transformação sobre suas ações, sobre o que faz, como faz e porque faz, levando em
consideração a consciência sobre suas práticas.
Desta forma, o projeto possui a duração de três anos e visa articular encontros quinzenais
sobre a perspectiva teórica em foco e intervenções pedagógicas sistematizadas a partir dos
estudos empreendidos, a fim de vislumbrar, em momento posterior, uma prática pedagógica
consciente com uma didática prescrita sob a relação conteúdo e forma, de modo que viabilize
o aprendizado integral dos educandos.
Para tal, este primeiro trabalho busca elucidar os pressupostos teóricos que sustentarão
o projeto, dando enfoque à categoria dialética conteúdo e forma, por meio de pesquisas
bibliográficas concernentes ao estudo, para em seguida apresentar o trabalho educativo com os
clássicos como via para a socialização do saber sistematizado.
caracterizam. Tais propriedades mais gerais que constituem todas as coisas refletem-se em
categorias filosóficas.
É por isso que a dialética pretende revelar as leis do movimento dos objetos e dos
processos tanto da natureza como do pensamento e a lógica do avanço da relação entre
o mundo objetivo e o pensamento, segundo as leis objetivas, assegurando assim que
o pensamento coincida em conteúdo com a realidade objetiva que está fora dele. Nesse
sentido, a dialética materialista apresenta-se como método e lógica do movimento do
pensamento no sentido da verdade objetiva.
É possível compreender, pois, que todos os elementos constituintes da realidade não são
estáticos, mas, guiados por propriedades essenciais e noções gerais, movimentam-se por meio
de um processo contínuo de transformação. Dentre diversas categorias filosóficas que buscam
explicar este movimento, como a causa e o efeito, a necessidade e a contingência, a essência e
a aparência, entre outras, destacamos neste trabalho a categoria dialética conteúdo e forma.
Isto porque, de acordo com Martins (1996, p. 77-78),
São recorrentes, nos momentos de estudos junto aos professores da educação básica em
formação continuada, diversos questionamentos e dúvidas com relação ao seu papel em sala de
aula, à relação entre os conhecimentos que estão sendo apreendidos na universidade e a prática
escolar que se defrontam diariamente. Por vezes, a descrença nos estudos realizados impera e
a compreensão acerca da dissociação entre teoria e prática faz-se constante. São, pois, comuns
discursos como: “No início de minha participação todas falas e discussões me pareciam
utópicas. Ou seja, discurso de professor universitário, que conhece com profundidade uma
infinidade de teorias, mas desconhece o chão da escola.” (Professora participante do projeto).
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Ocorre que, conforme Saviani (2011, p. 75), “[...] o problema das formas, dos processos,
dos métodos; só fazem sentido quando viabilizam o domínio de determinados conteúdos”.
Nesse sentido, é extremamente recorrente o destaque à categoria dialética conteúdo e forma, a
qual é essencial nas práticas docentes. Segundo Cheptulin (1982), estão intrinsicamente ligadas
ao movimento de apropriação de pensamento do indivíduo posto que conteúdos determinam
formas, que por sua vez atribuem mudanças em conteúdos já estruturados no pensamento,
assim, gerando nova forma ao conhecimento e um novo pensamento. Cabe destacar ainda, que
o autor traz críticas a concepções reducionistas, revela que alguns autores consideram o
conteúdo apenas como um conjunto de elementos constituintes de um objeto, outros ainda o
analisam como não dialético, o que torna-se incoerente, uma vez que os aspectos estão em
movimento e necessitam integralmente um do outro.
Martins (1996) elucida esta categoria na discussão de seu texto ao buscar compreender
conteúdo e forma em diferentes perspectivas pedagógicas. Assim, revela uma categoria que
compreende o homem como um sujeito em desenvolvimento a partir das relações sociais
estabelecidas. Portanto, faz-se necessária a reflexão para além das relações micro estabelecidas,
voltadas para a sociedade macro e de tal forma que todas as respostas partam da indagação:
“porquê é assim?”, a fim de que haja a compreensão em sua totalidade. Nesse sentido, Lukács
(1978, p. 182) busca em Hegel e no Materialismo Histórico e Dialético a discussão da categoria
forma e conteúdo:
Se bem que, desde Hegel, seja claro que forma e conteúdo se convertem
incessantemente um no outro; se bem que o materialismo dialético e histórico – Indo
além de Hegel – estabeleça firmemente a prioridade do conteúdo, mesmo
reconhecendo a recíproca relação de conversão do conteúdo na forma e vise e versa.
Neste aspecto, é possível relacionar com o que aborda Saviani (1982) ao apresentar a
necessidade de uma nova proposta pedagógica que esteja para além da curvatura da vara.
Assim, a discussão acerca de conteúdo e forma torna-se essencial para uma nova prática
pedagógica que não se paute apenas nas formas, bem como, apenas nos conteúdos, tal como
evidenciava-se na escola nova e tradicional, mas, diferentemente, que forma e conteúdo estejam
em consonância para uma práxis transformadora, afinal, as relações sociais não são neutras,
mas expressões materiais no interior do capitalismo.
A relação forma e conteúdo deve ser o ponto de partida, que o ultrapasse os muros da
escola e proporcione correlações advindas das análises macro e micro. Para tanto, Saviani
(1982) apresenta a Pedagogia Histórico-Crítica, que almejou propiciar aos educandos o
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conhecimento em sua forma mais complexa, revelando a importância dos conteúdos clássicos,
pois revelam conteúdo e proporcionam a intersecção do concreto pensado à sociedade.
Considerações Finais
Este trabalho teve por objetivo discutir a relação conteúdo e forma de acordo com os
pressupostos da Pedagogia Histórico-Crítica, a fim de desenvolver uma reflexão acerca das
propostas didáticas na educação escolar.
As ideias apresentadas evidenciam que a relação conteúdo e forma, no âmbito escolar,
está ligada diretamente ao modo de produção, pois o contexto educacional está para responder
às necessidades do mercado e à lógica de produção.
Conceituam a categoria conteúdo e forma como:
1) Aquela por meio da qual se torna possível compreender o homem a partir das relações
sociais estabelecidas, como um sujeito em constante desenvolvimento.
2) Enquanto categoria voltada à compreensão da totalidade, proporcionando correlações
advindas das análises macro e micro no interior da sociedade.
3) Como correlatas, de tal modo que o desenvolvimento do próprio conteúdo dá origem
à forma que, por sua vez, faz-se presente no conteúdo e, da mesma maneira que a forma cresce
necessariamente do próprio conteúdo.
Por essa razão, a proposta desse artigo debruçou-se em pensar uma didática que visa:
1) Possibilitar aos estudantes relacionarem os conteúdos escolares a partir de uma
perspectiva que possa dar novos enfoques aos seus olhares pela via do conhecimento, tornando-
os capazes de transformarem a sociedade.
2) Pensar o educando enquanto sujeito sócio-histórico que precisa se apropriar das
formas mais elevadas de conhecimento para intervir de maneira crítica na realidade posta.
3) Favorecer a equidade na transmissão e apropriação da riqueza imaterial construída
pelos próprios homens no decorrer da história da humanidade, a fim de proporcionar o
desenvolvimento do sujeito como ser genérico.
Neste sentido, o texto propôs-se a destacar a literatura como meio de acesso ao
conhecimento científico, por sua relevância como patrimônio social, intuída de contexto
histórico, político e social em sua máxima complexidade. Por meio das diferentes
manifestações literárias que podem ser vislumbradas, pode-se pensar em uma didática
permeada de conteúdo científico em diferentes formas de apresentação, além disso, pensar na
apropriação da riqueza científica produzida pela humanidade como direito de todos, sendo
assim, capaz de possibilitar aos educandos, como afirma Saviani (2011), a superação do senso
comum à consciência filosófica.
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REFERÊNCIAS
MARTINS, Nathalia; DIAS, Vânia Alboneti Terra; FRANCO, Sandra aparecida Pires. Prática
pedagógica à luz do materialismo histórico e dialético, da teoria histórico-cultural e da
pedagogia histórico-crítica. In: SEMINÁRIO DERMEVAL SAVIANI E A EDUCAÇÃO
BRASILEIRA: CONSTRUÇÃO COLETIVA DA PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA, 1.,
2016, Vitória. Anais...Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo, p. 364-374.
MARX, Karl; ENGELS, Friederich. Manifesto do Partido Comunista. In: ______ Obras
Escolhidas. [s.l.]. [s.n.]. 1848. Disponível em:
<https://www.marxists.org/portugues/marx/1848/ManifestoDoPartidoComunista/cap1.htm#(3
*) > Acesso em: 05 jun. 2017.
VIGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente. Tradução de José Cipolla Neto,
Luíz Silveira Menna Barreto e Solange Castro Afeche. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1998.