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25 de Abril em Moçambique

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A REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974

EM MOÇAMBIQUE*
FERNANDO TAVARES PIMENTA**

Neste estudo vamos analisar o processo revolucionário de 25 de Abril de 1974 em


Moçambique. Para o efeito, vamos ter em consideração o período compreendido entre
a realização do golpe de Estado em Lisboa (25 de Abril de 1974) e a data da tomada de
posse do Governo de Transição de Moçambique (21 de Setembro de 1974). Durante
estes cinco meses, Moçambique participou das vicissitudes da revolução portuguesa,
ainda que o horizonte fosse já o da descolonização e de uma mais do que provável
independência. Contudo, até à tomada de posse do Governo de Transição, liderado
por Joaquim Chissano, Primeiro-Ministro indicado pela Frente de Libertação de
Moçambique (Frelimo), Moçambique continuou formalmente sob a administração
colonial portuguesa, estando a sua governação condicionada à evolução da situação
política na metrópole. Ao invés, com a entrada em funções do Governo de Transição e
à luz do que tinha sido estabelecido no Acordo de Lusaka, assinado em 7 de Setembro
de 1974, Moçambique adquiriu uma administração política autónoma relativamente
a Portugal, tendo então tido início a fase propriamente dita de pré-independência e
que culminou na emancipação completa em 25 de Junho de 1975.
Neste sentido, podemos dizer que a tomada de posse do Governo de Transição
constituiu um momento de charneira no desenrolar do processo de descolonização
de Moçambique, encerrando uma primeira fase caracterizada por uma grande efer‑
vescência política própria de um processo revolucionário. Uma fase curta, mas muito
movimentada do ponto de vista político e social, durante a qual a sociedade civil foi
obrigada a afrontar repentinamente um conjunto de questões e de problemas, até
então «silenciados» pelo regime deposto, nomeadamente o da descolonização. Para
além de uma alteração das estruturas de poder e de comando no seio do Estado
colonial, Moçambique viveu durante esses cinco meses uma verdadeira «explosão
de liberdade», consubstanciada no livre debate de ideias e de projectos políticos, na
afirmação de uma imprensa finalmente liberta das amarras da censura, na realização
de reuniões, de manifestações e de comícios, na formação de um número substan‑
cial de partidos e de organizações de diferentes tendências e ideologias. Aliás, pode‑

* O autor não segue o acordo ortográfico de 1990.


** Universidade Nova de Lisboa — Faculdade de Ciências Sociais e Humanas / Instituto de História Contemporânea
(IHC). O IHC é financiado por fundos nacionais através da FCT — Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no
âmbito dos projectos UIDB/04209/2020 e UIDP/04209/2020. Email: fernandopimenta_2000@yahoo.com. Fernando
Tavares Pimenta (Prémio 2009).

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NÃO NOS DEIXEMOS PETRIFICAR: REFLEXÕES NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE VICTOR DE SÁ

mos afirmar com propriedade que esses meses representaram o momento de maior
abertura e de liberdade vivida pela sociedade civil moçambicana até à instituição do
multipartidarismo na década de 1990.
Esta maior liberdade contrasta com a situação que se veio a criar em Moçambique
a partir de Setembro de 1974, ou seja, após a assinatura do acordo de independência
e a subsequente entrada em funções do Governo de Transição. Tal como definido no
Acordo de Lusaka, o período de transição serviu, entre outras coisas, para preparar
o terreno à criação de um regime de partido único em Moçambique. Assim, os par‑
tidos formados durante os meses iniciais do processo revolucionário desapareceram
ou passaram a actuar na clandestinidade; a imprensa passou a ser definitivamente
controlada pelos sectores afectos à Frelimo (concluindo um processo iniciado alguns
meses antes); e o refluxo da sociedade civil foi evidente. Os intentos democratizantes
da revolução foram substituídos por um projecto político que visava a modernização
da sociedade moçambicana e a elevação das condições de vida da população, mas
que recusava os princípios da democracia liberal e não tolerava a existência de uma
oposição ou de vozes dissidentes ao regime de inspiração marxista-leninista insti‑
tuído pela Frelimo. A Frelimo adquiriu o monopólio do poder político, colocando
um ponto final no processo revolucionário espoletado pelo 25 de Abril de 1974.
Mas para compreender melhor as características do processo revolucionário em
Moçambique, importa primeiro proceder à sua contextualização histórica, tendo em
conta a evolução do colonialismo português no território moçambicano antes de 1974.

O CONTEXTO HISTÓRICO DO COLONIALISMO PORTUGUÊS


EM MOÇAMBIQUE
Com uma superfície de 799 380 quilómetros quadrados, Moçambique ocupa uma
ampla faixa costeira nas margens do Oceano Índico, fazendo também a transição
da África Oriental para a África Austral. As suas fronteiras foram estabelecidas em
acordos internacionais realizados durante o período colonial, entre portugueses,
ingleses, alemães e bóeres, e que determinaram a formação de um território com
uma longa linha de costa, mas com um reduzido hinterland, especialmente no Sul.
Vários povos africanos, com pouca ligação entre si, foram agregados no âmbito das
fronteiras coloniais de Moçambique. São cinco os principais grupos etnolinguísticos
moçambicanos, todos do ramo banto: Macua-Lomwe, Maconde e Yao, a Norte do rio
Zambeze, e os Shona e Thonga a Sul1. No litoral há ainda que assinalar a existência
de uma significativa influência islâmica e, nalguns casos, indiana.
Por outro lado, os portugueses estiveram estabelecidos de forma permanente
nalgumas cidades e pontos da costa e do vale do rio Zambeze desde o século XVI,

1
RITA-FERREIRA, 1958; DIAS, 1964.

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nomeadamente na ilha de Moçambique, em Quelimane e em Tete. Contudo, a maior


parte do território só foi ocupada militarmente pelas forças portuguesas no final do
século XIX, senão mesmo nas primeiras duas décadas do século XX2. Data desta
época o desenvolvimento das duas principais urbes: Lourenço Marques (a capital,
actual Maputo) e a Beira, duas cidades portuárias e sedes de duas importantes linhas
férreas fundamentais para as comunicações com os territórios vizinhos, em particular
com o Transval, na África do Sul, e com a Rodésia do Sul (Zimbabwe)3. De referir
que, para além dessas cidades, o povoamento branco foi bastante relevante nalgu‑
mas zonas do vale do rio Limpopo (no Sul) e no planalto do Chimoio (Vila Pery,
no Centro). Na década de 1960, foram criados alguns colonatos brancos nas zonas
férteis dos distritos de Niassa e de Cabo Delgado (no Norte), ao mesmo tempo que
se procedeu ao desenvolvimento acelerado da cidade de Nampula. Assim, os colonos
brancos passaram de 17 842 em 1928, para 27 438 em 1940, 48 213 em 1950, 97 245
em 1960 e 162 967 em 1970. Neste ano constituíam cerca de 2% do total da popu‑
lação moçambicana, que rondava os 8 168 933 efectivos. De salientar ainda que nas
localidades de mais antiga colonização havia uma significativa população mestiça4.
Em termos políticos, Moçambique fazia parte de um Império colonial extre‑
mamente centralizado, em especial durante o período do Estado Novo5. Em última
análise, o poder residia no governo de Lisboa, que nomeava e demitia a seu bel-prazer
o Governador-Geral, figura máxima da hierarquia do Estado colonial. A intervenção
dos colonos e da restante população na governação era muito reduzida. O Conselho
Legislativo, criado em 1955, tinha uma função pouco mais do que consultiva e, mesmo
quando as suas funções foram alargadas no final da governação marcelista6, nunca
teve verdadeiro poder, nem autonomia em relação ao poder executivo. Além disso,
o regime ditatorial de Salazar impediu a formação e o desenvolvimento de partidos
políticos quer entre os colonos, quer entre a população africana. Os sindicatos e a
imprensa eram severamente controlados pela ditadura, nomeadamente pela censura
e pela polícia política portuguesa, a famigerada Polícia Internacional de Defesa do
Estado (PIDE)7.
No entanto, durante os períodos eleitorais para a Assembleia Nacional (de Lis‑
boa) e para a Presidência da República, a ditadura permitia o aparecimento de listas
oposicionistas. Foi neste contexto que surgiu o Movimento de Unidade Democrática

2
PELISSIER, 1987.
3
MENDES, 1985; NEWITT, 1995; PIMENTA, 2019: 133-153.
4
Em 1970, para além dos 162 967 brancos, residiam na colónia cerca de 50 189 mestiços, 22 531 indianos, 3814
chineses e 7 929 432 negros. Sobre o povoamento branco dos territórios africanos veja-se: PIMENTA, 2014: 93-110,
2018: 27-49; CASTELO, 2007.
5
PIMENTA, 2010.
6
PIMENTA, 2016: 12-30.
7
UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE. Centro de Estudos Africanos, 1993. Cf. ISAACMAN, ISAACMAN, 1983.

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(MUD), em 1945, mais tarde severamente reprimido pelo regime, ou a candidatura


oposicionista do General Humberto Delgado à Presidência da República, em 1958.
Em Moçambique, a oposição democrática exerceu uma consistente influência polí‑
tica, em especial em Lourenço Marques e na Beira. Estes oposicionistas eram na
sua maioria advogados e outros profissionais liberais, quase todos brancos, que não
dependiam directamente da administração pública e que dispunham de um estatuto
social bem firmado na sociedade colonial, sendo por isso tolerados pelo regime8.
Por outro lado, o Estado Novo rejeitou terminantemente a autonomização
política de Moçambique, recusando discutir o problema da descolonização mesmo
quando as outras potências europeias começaram a preparar as independências das
respectivas colónias nas décadas de 1950 e de 19609. E tão pouco aceitou a formação
de movimentos nacionalistas nas colónias africanas. Esta situação obrigou os moçam‑
bicanos com ideais nacionalistas a se organizarem politicamente na clandestinidade e,
perante as dificuldades de desenvolverem as suas actividades no interior da colónia,
a saírem para o exílio. Foi neste contexto que foi fundada a Frente de Libertação de
Moçambique (Frelimo), em Dar-es-Salaam, na Tanzânia, em 25 de Junho de 196210.
A Frelimo nasceu da fusão de três organizações nacionalistas preexistentes: a União
Democrática Nacional de Moçambique (UDENAMO), a Mozambique African Natio‑
nal Union (MANU) e a União Nacional Africana de Moçambique Independente
(UNAMI). Eduardo Mondlane, um intelectual negro doutorado em Sociologia e
professor na Universidade de Syracuse, nos Estados Unidos da América, foi o seu
primeiro Presidente11. Refira-se que os quadros da Frelimo eram maioritariamente
negros, mas havia também um número significativo de mestiços, de indianos e até
alguns brancos12.
A recusa portuguesa em negociar a independência da colónia levou a Frelimo a
lançar a luta armada pela independência em 25 de Setembro de 196413. A guerrilha
foi desencadeada na província setentrional de Cabo Delgado, junto à fronteira com
a Tanzânia. Portugal respondeu com o reforço do dispositivo militar, envolvendo-se
num terceiro conflito colonial, depois do de Angola (1961) e do da Guiné (1963).
Mais tarde, a Frelimo abriu uma outra frente de combate na região de Tete, junto à
fronteira com a Zâmbia, obrigando a uma dispersão das forças portuguesas. Con‑
tudo, a guerra permaneceu distante dos centros urbanos e das zonas de colonização

8
SANTOS, 2006; PIMENTA, 2018: 51-151.
9
ALEXANDRE, 2017.
10
MATEUS, MATEUS, 2010; CABAÇO, 2010; MORIER-GENOUD, ed., 2012.
11
MONDLANE, 1969.
12
PASSERINI, 1970.
13
HENRIKSEN, 1983; GARCIA, 2003.

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branca, o que transmitiu aos colonos a falsa ideia de que a situação estava sob o
controlo do exército14.
No entretanto, em 3 de Fevereiro de 1969, Eduardo Mondlane foi assassinado
pela explosão de uma carta-bomba alegadamente preparada pela PIDE. Depois de
um período de alguma indefinição, a chefia do movimento guerrilheiro foi assumida
por Samora Machel15, um ex-enfermeiro negro e líder militar da guerrilha, que foi
eleito Presidente da Frelimo em Maio de 1970. A partir desta data, a Frelimo sofreu
uma clara radicalização à esquerda, o que levou à saída de um número significativo
de quadros e de antigos dirigentes, mais conservadores, sobretudo negros, e que não
viam com bons olhos a participação de brancos e de indianos nas fileiras do movi‑
mento16. A este respeito, importa salientar que a direcção da Frelimo recusou sempre
qualquer tentativa de racialização do princípio da nacionalidade, mostrando-se aberta
à militância de moçambicanos de todas as raças17.
No plano militar, a guerrilha conheceu progressos notáveis no final do período
colonial, a despeito dos portugueses terem lançado uma poderosa operação militar
em 1970, denominada de Nó Górdio18, mas que não conseguiu eliminar as forças da
Frelimo. De facto, os guerrilheiros procederam a um recuo estratégico, deslocando
as suas forças para outras áreas e relançando depois a luta com maior intensidade.
Além disso, a construção pelos portugueses da barragem de Cabora Bassa, no rio
Zambeze, permitiu à guerrilha ter um alvo militar mediaticamente relevante, o que
obrigou a uma concentração de tropa colonial nessa zona para fazer face aos ataques
da Frelimo. Tornava-se, aliás, cada vez mais evidente o desgaste material e moral
das Forças Armadas Portuguesas19. E, em 1973, o massacre de um número elevado
de africanos por tropas coloniais na zona de Wiriyamu provocou uma forte reacção
internacional, contribuindo para um maior isolamento político de Portugal, o que
beneficiou consideravelmente a Frelimo20.
No final de 1973, a situação militar em Moçambique era cada vez mais difícil para
o lado português. A Frelimo tinha intensificado as suas operações e estava a actuar a
menos de cem quilómetros da cidade da Beira. A população branca começou a dar
sinais de forte apreensão política pelo «inesperado» avanço da Frelimo. De facto, uma
14
CANN, 1997; AFONSO, GOMES, 2010.
15
ISAACMAN, ISAACMAN, 2020.
16
OPELLO JR., 1975: 62-82.
17
Cf. BRAGANÇA, WALLERSTEIN, 1982. Para além da Frelimo, devemos referir a existência de um nacionalismo
moçambicano de matriz africana, negro, que não se reconheceu inteiramente na Frelimo. Foi o caso dos grupos de
nacionalistas negros, originários em grande parte do Centro-Norte de Moçambique, que deram vida ao Comité
Revolucionário de Moçambique (COREMO), fundado em Lusaka, em Junho de 1965. Ao nível militar, o COREMO
nunca representou uma alternativa válida à Frelimo e tão pouco constituiu uma verdadeira ameaça ao colonialismo
português. Cf. PIMENTA, 2012: 65-91.
18
GOMES, 2002.
19
BERNARDO, 2003.
20
HASTINGS, 1974.

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parte significativa da minoria branca temia pelo seu futuro no território e encarava
com cada vez mais desconfiança a actuação do exército português, que era conside‑
rado pouco eficaz no combate à guerrilha. Assim, em Janeiro de 1974, na sequência
da morte da esposa de um fazendeiro branco numa operação da Frelimo, na região
de Vila Pery, a população branca da Beira manifestou-se violentamente contra a tropa
portuguesa, acusando-a de nada fazer para eliminar a guerrilha. Este episódio abriu
uma fractura profunda entre a população branca e as Forças Armadas e contribuiu
para o aumento exponencial da tensão política no interior de Moçambique21.
Perante a agudização da situação militar, Jorge Jardim22, um importante empre‑
sário e carismático líder político branco residente na região da Beira, tentou chegar
a um entendimento com a Frelimo. Com o apoio do Presidente Banda, do Malawi,
e graças à intermediação do Presidente Kaunda, da Zâmbia, Jardim terá conseguido
chegar a uma espécie de «entendimento de princípios» com a Frelimo em Setem‑
bro de 1973. Denominado de «Programa de Lusaka», esse «entendimento» previa a
independência de Moçambique, no quadro de uma Comunidade Lusíada, e a par‑
ticipação da Frelimo na futura estruturação política e administrativa do país, mas
sem aceitar que a sua posição (eventualmente dominante) viesse a ser «exclusivista».
Era igualmente assegurada a protecção dos interesses económicos dos portugueses
na colónia e o respeito pelos direitos da minoria branca23.
Munido destas «garantias», Jorge Jardim tentou então convencer o governo
português a encetar conversações oficiais com a Frelimo. Mas a hipótese de uma
negociação com a guerrilha foi recusada por Marcelo Caetano24. Perante a recusa
do chefe do governo, Jardim começou a ponderar fazer a secessão da colónia com
o intuito de negociar sozinho — isto é, sem a participação do governo de Lisboa —
com a Frelimo. Mas a revolução de 25 de Abril de 1974 apanhou Jardim de surpresa
em Lisboa, o que o coibiu de coordenar as actividades políticas dos seus apoiantes
em Moçambique. Impedido de regressar à colónia pelo poder revolucionário, Jorge
Jardim foi mais tarde alvo de um mandato de captura emitido pelas autoridades
portuguesas. Contudo, Jardim conseguiu fugir para Espanha e, depois, para a África
Austral, onde permaneceu em constante movimento entre o Malawi, a Suazilândia e
a África do Sul. E, muito embora tivesse tentado «reanimar» os seus contactos com
a Frelimo, acabou por ser ultrapassado pelos acontecimentos, tendo sido renegado
quer por portugueses, quer pelos nacionalistas da Frelimo, que o encaravam com
algum receio e muita desconfiança25.
21
PRO, FCO 45/1539, Political Situation in Mozambique, 1974. Cf. SCHNEIDMAN, 2005: 183-184. CARVALHO, 1991.
22
ANTUNES, 1996.
23
JARDIM, 1976: 119-120; PRO, FCO 9/2052, Overseas territories of Portugal, 1974.
24
Sobre a política colonial de Marcelo Caetano relativamente a Moçambique veja-se: SOUTO, 2007.
25
PRO, FCO 9/2065, Relations between Portugal and Africa, 1974 (British High Commission, Blantyre, 31/07/1974).
Cf. JARDIM, 1976: 91-135.

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Paralelamente, ainda antes da queda da ditadura, surgiu em Moçambique uma


«força política intermédia» entre o poder colonial e a Frelimo. Tratou-se do Grupo
Unido de Moçambique (GUMO), que muito embora se tivesse apresentado como
sendo multirracial, tinha uma liderança essencialmente negra. O GUMO parece ter
sido suscitado — ou pelo menos apoiado — por elementos mais liberais do regime
colonial, nomeadamente pelo Ministro Baltazar Rebelo de Sousa, e terá tido a coni‑
vência do Governador-Geral de Moçambique, Engenheiro Pimentel dos Santos26.
O objectivo dos seus mentores seria o de roubar espaço político à Frelimo e, ao
mesmo tempo, o de formar uma elite política africana capaz de governar o território
depois da independência. Pensava-se, talvez, na instituição de um governo de maioria
negra, mas mantendo a economia solidamente nas mãos do empresariado branco e
em estreita relação com a ex-metrópole. No entanto, a revolução de 25 de Abril de
1974 surpreendeu o GUMO, que ainda não estava suficientemente organizado para
se constituir numa alternativa válida à Frelimo27.
Neste sentido, nas vésperas da revolução na metrópole, a situação política
na colónia era bastante tensa, sendo notória a degradação da situação militar e o
afastamento da população branca em relação às Forças Armadas Portuguesas. Era
igualmente perceptível a apreensão da população branca pelo seu futuro e, no plano
nacionalista, a ausência de uma alternativa sólida à Frelimo.

A MUDANÇA DE REGIME EM MOÇAMBIQUE


As primeiras notícias do golpe de Estado na metrópole chegaram a Lourenço Marques
na manhã de 25 de Abril de 197428. Perante o golpe, o Governador-Geral de Moçam‑
bique, Pimentel dos Santos, parece ter esboçado uma tentativa de resistência, tendo
inclusive ordenado o encerramento do aeroporto da capital. Contudo, a intervenção
de um destacamento de pára-quedistas favorável às forças revolucionárias desfez
rapidamente qualquer veleidade «contra-revolucionária» por parte do Governador.
Dois dias depois, o Governador-Geral foi exonerado das suas funções, tendo sido
substituído pelo Secretário-Geral, Coronel David Ferreira, na qualidade de Encar‑
regado do Governo29. De imediato foi decretado o fim da censura na imprensa e a
extinção da Acção Nacional Popular, mas foi assegurada a continuação da Direcção
Geral de Segurança (DGS, ex. PIDE), ainda que transformada em «polícia de infor‑
mações militares»30.

26
PRO, FCO 45/1308, Internal situation in Mozambique, 1973.
27
PRO, FCO 9/2049, Overseas territories of Portugal, 1974; PRO, FCO 45/1533, Policy of Portugal to her overseas
territories, 1974.
28
«Notícias», 26 Abr. 1974: 1.
29
«Notícias», 28 Abr. 1974: 1. PRO, FCO 45/1539, Political Situation in Mozambique, 1974.
30
«Notícias», 30 Abr. 1974: 1.

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NÃO NOS DEIXEMOS PETRIFICAR: REFLEXÕES NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE VICTOR DE SÁ

Claramente, o 25 de Abril suscitou um grande interesse na sociedade moçam‑


bicana, em especial entre a população branca, que acompanhou o desenrolar do pro‑
cesso com curiosidade e satisfação, mas também com algum receio pelo seu futuro
no território. Em Lourenço Marques, na Beira e em Vila Pery realizaram-se mani‑
festações de apoio à Junta da Salvação Nacional (JSN)31. Mas nenhuma delas afron‑
tou o problema da guerra e a questão da independência de Moçambique. A própria
imprensa teve inicialmente um certo receio em tratar de forma aberta a questão da
independência, optando por alinhar pela posição oficial expressa por Spínola32. De
facto, Spínola distinguia os princípios da autodeterminação e da independência, pelo
que reconhecia o direito dos povos coloniais ao primeiro, mas defendia a manuten‑
ção dos territórios africanos sob a bandeira portuguesa por via da formação de uma
federação entre Portugal e as suas colónias. Federação essa que seria referendada
pelas populações33.
No entretanto, a partir do exterior, a Frelimo reagiu com satisfação à queda do
Estado Novo, tendo saudado a vitória das forças democráticas portuguesas. Mas,
ao mesmo tempo, deixou bem claro que não havia «colonialismo democrático»,
pelo que a única forma de colocar um ponto final na guerra era o reconhecimento
português do direito do povo moçambicano à independência. Como tal, a Frelimo
rejeitou liminarmente a ideia de constituição de uma federação com Portugal34. E,
a 3 de Maio de 1974, a direcção da Frelimo decidiu aumentar a intensidade da luta
armada contra a tropa portuguesa, de forma a explorar o ambiente de confusão
gerado pelo golpe em Portugal35.

APARECIMENTO DE PARTIDOS POLÍTICOS


O fim da ditadura permitiu a livre constituição de movimentos políticos. A este
respeito, assistiu-se a uma proliferação de partidos políticos, muitos dos quais com
escassa representatividade entre a população moçambicana. Houve, porém, alguns
movimentos que tiveram uma participação relevante no processo político. Vejamos
os principais.

GUMO
O Grupo Unido de Moçambique (GUMO) foi o primeiro movimento a apresentar-se
à população, através da publicação de um manifesto, no dia 29 de Abril de 1974. Nesse
manifesto, o GUMO sublinhou os esforços no sentido de se constituir em «associação

31
«Notícias», 29 Abr. 1974: 5.
32
«Notícias», 27 Abr. 1974: 2.
33
«Notícias», 28 Abr. 1974: 1. Sobre o pensamento de Spínola veja-se: SPÍNOLA, 1974, 1976, 1978.
34
«Notícias», 29 Abr. 1974: 1.
35
MACQUEEN, 1998: 159-160.

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A REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974 EM MOÇAMBIQUE

cívica» legalmente reconhecida antes do 25 de Abril. O GUMO apresentou também


o seu programa, cujo objectivo principal era a «obtenção duma autonomia política
progressiva, dentro das instituições políticas vigentes no Espaço Português atendendo
às novas aberturas». Essa autonomia deveria ser obtida com a participação de todos
os moçambicanos e segundo os princípios do «multirracialismo, diálogo e respeito
dos parâmetros legais legitimamente estabelecidos». O GUMO propunha-se servir os
interesses duma Comunidade Luso-Moçambicana e, sobretudo, lutar pela participa‑
ção activa de «negros-mestiços» na estrutura económica de Moçambique. De facto,
embora pugnasse pelo multirracialismo, o GUMO apresentava-se essencialmente
como o defensor dos interesses da maioria negra. Esta situação fazia do GUMO uma
espécie de concorrente interno da Frelimo, pois ambos procuravam apoios dentro da
mesma base social: a maioria africana36. O GUMO era liderado por uma Comissão
Central composta por Máximo Dias (Presidente, indiano), Joana Simeão (Vice-Presi‑
dente, negra) e Jorge de Abreu (Responsável das Actividades Económicas, branco)37.
A afirmação pública do GUMO gerou alguma tensão logo nos primeiros dias
do mês de Maio de 1974. Essa tensão foi perceptível no primeiro comício realizado
por esse movimento no Campo de Futebol do Xipamanine, em Lourenço Marques,
em 3 de Maio. O comício reuniu cerca de 20 000 pessoas, sobretudo negros prove‑
nientes dos subúrbios, mas nem todos estavam ali para apoiar o GUMO. Durante o
discurso de Joana Simeão, uma parte significativa dos presentes manifestou-se contra
o GUMO, apoiando ao invés a Frelimo. Gerou-se então um certo caos e a situação
tornou-se tão tensa que Joana Simeão teve de recorrer à ajuda da polícia para sair
do comício38. O episódio demonstrou as dificuldades de mobilização política por
parte do GUMO, pesando neste caso a concorrência da Frelimo. Posteriormente,
algumas franjas da minoria branca envolveram-se em confrontos com partidários do
GUMO, por ocasião de outros comícios desse movimento. Esses confrontos foram
particularmente sérios na Beira, na sequência de um comício realizado em 12 de
Maio de 1974. O evento degenerou em graves incidentes com a população branca.
Seguiu-se uma manifestação da população branca, envolvendo milhares de pessoas,
em frente à residência do Governador de Distrito, perante o General Costa Gomes,
que estava de visita à cidade. Os manifestantes pediram às autoridades portuguesas
que pusessem fim aos desacatos e que fossem tomadas providências no sentido de
ser garantida a paz e a segurança da população. Em resposta, Costa Gomes pediu

36
«Notícias», 01 Mai. 1974: 2. PRO, FCO 45/1308, Internal Situation in Mozambique, 1973.
37
«Notícias», 29 Abr. 1974: 2.
38
«Notícias», 04 Mai. 1974: 1-2.

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calma aos manifestantes, mas face ao crescimento da tensão, as forças de segurança


tiveram de intervir, ocorrendo confrontos com os manifestantes39.
Os incidentes da Beira provocaram o afastamento quase total dos brancos em
relação ao GUMO, inclusivamente ao nível dos meios empresariais que o estariam a
patrocinar. Como tal, o partido entrou num processo de rápida dissolução política,
assistindo-se ao abandono de parte da cúpula dirigente. Jorge de Abreu foi o pri‑
meiro a tornar pública a sua demissão da Comissão Central40. Seguiu-se uma espécie
de «guerra interna» entre Máximo Dias e Joana Simeão. Esta última reivindicava
uma identificação política com a população negra, em especial com os Macua, que
constituíam o maior grupo etnolinguístico de Moçambique. Em meados de Junho,
Joana Simeão fez uma cisão no GUMO e constituiu um novo movimento denomi‑
nado Frente Comum de Moçambique (FRECOMO)41. Posteriormente, a FRECOMO
confluiu, com outras pequenas forças políticas, entre as quais a COREMO, no Par‑
tido de Coligação Nacional (PCN)42. No entretanto, Máximo Dias anunciou o fim
da actividade política do GUMO a partir do dia 10 de Julho de 1974, considerando
que «a criação de uma terceira força visa impor o neocolonialismo em Moçambi‑
que»43. A experiência política representada pelo GUMO tinha chegado ao seu termo,
saldando-se num fracasso.

Democratas de Moçambique
Outra organização política com bastante peso foi o movimento dos Democratas de
Moçambique, cujo núcleo duro era formado por antigos oposicionistas, sobretudo
advogados e profissionais liberais brancos, entre os quais Almeida Santos, Pereira
Leite, Adrião Rodrigues, Rui Baltazar, etc. Após a revolução de 25 de Abril, esses
oposicionistas passaram a actuar como um movimento de pressão política sobre o
regime colonial e de apoio à Frelimo44. O movimento, surgido primeiro na capital,
acabou por se ramificar a vários pontos da colónia, onde tinham surgido grupos
autónomos de democratas, em especial na Beira e Nampula. Todos esses grupos fun‑
diram-se numa única estrutura política numa reunião realizada no dia 27 de Maio
de 1974, sob a designação de Democratas de Moçambique.

39
«Notícias», 13 Mai. 1974: 1 e 5. Segundo o Consulado Britânico em Lourenço Marques, os incidentes terão sido
desencadeados por «provocadores da Frelimo». PRO, FCO 45/1540, Political situation in Mozambique, 1974.
40
«Notícias», 31 Mai. 1974: 1.
41
«Notícias», 03 Jul. 1974: 12.
42
Em 23 de Agosto de 1974, a COREMO, a FRECOMO e um conjunto de outros pequenos partidos negros (FUMO,
MONIPAMO e MONAUMO) anunciaram a constituição de uma coligação denominada de Partido de Coligação
Nacional (PCN). Foram escolhidos para Presidente Uria Simango e para Vice-Presidente Paulo José Gumane PRO,
FCO 45/1541, Political situation in Mozambique, 1974. Cf. «Notícias», 24 Ago. 1974: 2.
43
«Notícias», 05 Jul. 1974: 1; PRO, FCO 45/1540, Political situation in Mozambique, 1974.
44
«Notícias», 01 Mai. 1974: 2 e 13; «Notícias», 03 Mai. 1974: 1 e 2.

158
A REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974 EM MOÇAMBIQUE

Nessa reunião, todos os grupos de democratas aceitaram os seguintes princípios:


a) não constituem, nem têm por objectivo constituírem-se em partido político; b)
reafirmam o seu apoio ao MFA; c) consideram fundamental a realização de nego‑
ciações entre o governo português e a Frelimo com base no «reconhecimento do
direito do Povo de Moçambique à independência»; d) denunciam todas as tentativas
de criação de terceiras forças políticas. Para além disso, os Democratas definiram
como objectivos: 1) impulsionar o desmantelamento do sistema criado pelo «fascis‑
mo-colonialismo»; 2) esclarecer e consciencializar politicamente a população; 3) dar
a conhecer e explicar o programa da Frelimo à população; 4) impedir a quebra de
unidade política do Povo de Moçambique45.
De salientar que os Democratas conseguiram influenciar o governo português
na selecção do novo Governador-Geral, obtendo a nomeação de um dos seus mem‑
bros, o advogado Soares de Melo, que foi empossado em Junho de 197446. A este
respeito, os Democratas foram muito ajudados pela nomeação de Almeida Santos
— um dos fundadores do movimento — para o lugar de Ministro da Coordenação
Interterritorial, do 1.º Governo Provisório, em 15 de Maio de 197447. Este Ministério
sucedeu ao Ministério do Ultramar, herdando a sua estrutura e parte das suas fun‑
ções. Almeida Santos terá sido escolhido para o exercício dessas funções em virtude
das suas antigas ligações à oposição democrática na metrópole, mas também pelo
seu conhecimento da realidade africana48.
Neste sentido, com a conivência das autoridades portuguesas, os Democratas
de Moçambique passaram a fazer publicamente campanha a favor da Frelimo. A 26
de Maio, o Dr. Adrião Rodrigues declarou que os Democratas subscreviam inteira‑
mente o programa da Frelimo49. A 31 de Maio, numa sessão realizada em Inhambane,
os Democratas afirmaram que a Frelimo era o único movimento representativo de
Moçambique, facto que retirava toda a legitimidade política às outras forças políticas
moçambicanas50. No dia seguinte, Soares de Melo, aos microfones da Rádio Clube
de Moçambique, declarou que o socialismo era a melhor solução para Moçambique,

45
«Notícias», 27 Mai. 1974: 1.
46
Constituição do Governo Provisório de Moçambique: Governador-Geral, Dr. Henrique Vasco Soares de Melo;
Secretário Adjunto, Dr. Patrício Campos Rodrigues da Costa; Secretário da Administração Territorial, Dr. Jorge
Ribeiro; Secretário da Justiça, Dr. Sérgio Espadas Antunes; Secretário da Educação e Cultura, Professor José Martins;
Secretário da Saúde e Bem Estar Social, Dr. António Paulino; Secretário da Coordenação Económica, Dr. António
Mascarenhas Gaivão; Secretário do Trabalho e Segurança Social, Dr. Antero Augusto Sobral; Secretário dos Transportes
e Comunicações, Tenente-Coronel Eugénio Picolo; Secretário da Comunicação Social e do Turismo, Dr. Willem Gerard
Pott; Subsecretário do Planeamento e Finanças, Dr. António Cardoso; Subsecretário do Comércio, Dr. Domingos Simões;
Subsecretário da Agricultura, Engenheiro Mário Carvalho. Cf. «Notícias», 19 Jun. 1974: 1; «Notícias», 26 Jun. 1974: 1.
47
«Notícias», 16 Mai. 1974: 1.
48
Cf. SANTOS, 1975, 2006.
49
«Notícias», 26 Mai. 1974: 18.
50
«Notícias», 01 Jun. 1974: 4.

159
NÃO NOS DEIXEMOS PETRIFICAR: REFLEXÕES NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE VICTOR DE SÁ

numa clara alusão à orientação ideológica da Frelimo51. A 4 de Junho de 1974, Adrião


Rodrigues declarou que o regime de partido único podia não ser um facto negativo,
aceitando essa hipótese para Moçambique, desde que esse governo fosse formado
pela Frelimo. Ao invés, a existência de vários partidos poderia constituir um perigo,
na medida em que poderia «desunir o povo»52.
Os Democratas de Moçambique conseguiram captar o apoio dos sectores ideo‑
logicamente mais à esquerda da comunidade branca. No entanto, o seu discurso
radical, de crítica severa ao sistema capitalista e com laivos de marxismo, bem como
a sua recusa em reconhecer a legitimidade de outras forças políticas que não a Fre‑
limo, com a qual reclamavam uma total identificação político-ideológica, acabou por
assustar e, consequentemente, afastar a maioria da população branca. Neste sentido,
os Democratas de Moçambique, que pretendiam preparar a minoria branca para a
independência, canalizando o seu apoio para a Frelimo, acabaram por ter uma acção
contraproducente, uma vez que alienaram — mais do que mobilizaram — as even‑
tuais simpatias dos brancos.

FICO
No entretanto, no pólo oposto aos Democratas, surgiu um outro movimento político
denominado de FICO. Fundado em 5 de Maio de 1974, o FICO mobilizou os sectores
mais conservadores da população branca, tendo adoptado inicialmente a designa‑
ção de Frente Independente de Convergência Ocidental. Para o FICO, Moçambique
era — e deveria continuar a ser — «terra portuguesa». O FICO rejeitava também
o socialismo soviético, pelo que defendia a adesão ao campo ocidental no quadro
da luta entre os dois blocos da Guerra Fria. Enfim, o FICO considerava a Frelimo
uma força político-militar inimiga, pelo menos enquanto movesse guerra a Portugal.
Refira-se que vários milhares de brancos participaram na primeira manifestação do
FICO em Lourenço Marques53. Contudo, o FICO demorou algum tempo a esclare‑
cer a sua posição quanto ao processo revolucionário e à questão da independência.
Inicialmente deu a entender que recusava a ideia da independência. Mas, logo no dia
7 de Maio, o FICO fez saber que apoiava o programa da Junta de Salvação Nacional.
Dez dias depois, o FICO apareceu já com um slogan politicamente menos agressivo:
Ficar Convivendo, designação que veio a adoptar como nome definitivo em 21 de
Maio. O FICO também declarou que o seu principal objectivo era a «manutenção de
Moçambique no seio da Comunidade Luso-Brasileira»54, aceitando a realização de

51
«Notícias», 02 Jun. 1974: 1.
52
«Notícias», 05 Jun. 1974: 2.
53
«Notícias», 06 Mai. 1974: 1 e 4; PRO, FCO 45/1539, Political situation in Mozambique, 1974.
54
«Notícias», 19 Mai. 1974: 4.

160
A REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974 EM MOÇAMBIQUE

um referendo, na linha do que fora proposto por Spínola, para que fosse auscultada
a vontade dos «Povos de Moçambique»55.

Convergência Democrática da Beira


Paralelamente, na Beira surgiu uma organização de brancos liberais designada de
Convergência Democrática de Moçambique. Tendo como figura de proa João Soares
Cardoso, a Convergência Democrática colocava-se politicamente entre o FICO e os
Democratas de Moçambique, reclamando uma posição intermédia e uma identifica‑
ção com os valores da social-democracia. A Convergência Democrática defendia a
instituição de um regime democrático, onde todas as tendências ideológicas pudes‑
sem exprimir livremente a sua opinião e participar na governação do país após a
independência segundo a vontade do povo expressa em eleições livres56. Era portanto
a favor da eleição democrática dos representantes da população moçambicana, mani‑
festando-se contrária a qualquer tipo de ditadura57. Por outro lado, a Convergência
Democrática reconhecia o papel fulcral da Frelimo na luta contra o colonialismo, bem
como o seu direito a participar no processo de independência, mas não aceitava que
o movimento liderado por Samora Machel fosse considerado o único representante
do povo moçambicano. Com efeito, a Convergência Democrática considerava que
a Frelimo estava a recusar ao povo moçambicano o direito à autodeterminação, na
medida em que exigia a independência imediata só por si negociada. Uma situação
que poderia conduzir à instituição de um regime totalitário em Moçambique. Ora,
a posição da Convergência Democrática colidia frontalmente com a posição assumida
pelos Democratas de Moçambique, que não concebiam a existência de outra força
política representativa do povo moçambicano que não a Frelimo.
No entanto, foi em torno do controlo do jornal «Notícias da Beira» que se deu
o principal embate político entre os dois movimentos. Senão vejamos. Durante o mês
de Maio de 1974, os Democratas de Moçambique tinham conseguido obter o controlo
dos principais meios de informação de Lourenço Marques, nomeadamente do jornal
«Notícias» e da Rádio Clube de Moçambique. Na Beira a situação foi diferente. Os
Democratas mostraram-se incapazes de obter o controlo do jornal «Notícias da Beira»,
tendo sido necessária a intervenção directa das autoridades portuguesas para que a
direcção do jornal fosse retirada ao círculo político de Jorge Jardim, que estava no
exílio. A administração do «Notícias da Beira» ficou então a cargo do Governo-Ge‑
ral58. Mas, no início de Julho de 1974, a Convergência Democrática obteve da parte
do Governo-Geral a autorização para explorar o «Notícias da Beira». Esta situação

55
«Notícias», 04 Jun. 1974: 5.
56
«Notícias», 07 Jun. 1974: 4.
57
«Notícias», 22 Jun. 1974: 7.
58
«Notícias», 19 Jun. 1974: 1.

161
NÃO NOS DEIXEMOS PETRIFICAR: REFLEXÕES NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE VICTOR DE SÁ

desagradou profundamente aos Democratas, que criticaram a decisão do Governo e


acusaram a Convergência Democrática de ser a expressão política do grande capital
financeiro. Os dois movimentos iniciaram então uma espécie de «guerra de comuni‑
cados», com troca de acusações e de ataques verbais, que durou semanas. Contudo,
os Democratas conseguiram mobilizar a seu favor os militares portugueses, tendo
a Comissão Regional do MFA na Beira expresso um parecer contrário à entrega do
jornal à Convergência Democrática59. Assim, por pressão do MFA, as autoridades
portuguesas voltaram atrás na sua decisão, recusando entregar a exploração do jornal
à Convergência Democrática60.
Os Democratas de Moçambique conseguiram também influenciar os militares
portugueses no sentido de se proceder à neutralização política da Convergência
Democrática. De facto, a 28 de Julho de 1974, na sequência de uma reunião com a
Comissão Coordenadora do MFA, a Convergência Democrática anunciou a suspensão
das suas actividades. Num último comunicado dirigido à população, a Convergên‑
cia Democrática denunciou o extremismo de quem tinha «fugido à discussão dos
problemas», afirmando a existência de «controlo ideológico» da imprensa e da rádio
por parte de grupos políticos interessados em promover sistematicamente a imagem
da Frelimo e em negar e denegrir outros pontos de vista divergentes61.

CRESCIMENTO DA TENSÃO POLÍTICA E FRACASSO DO


GOVERNO PROVISÓRIO
A polémica em torno do «Notícias da Beira» e o silenciamento da Convergência
Democrática reflectiram o crescimento da tensão política e social em Moçambique.
Esta situação deu origem aliás ao aparecimento de organizações extremistas e até
de carácter paramilitar, nomeadamente o AMA. O AMA recorria à violência para
exprimir a sua oposição aos Democratas e à Frelimo, tendo realizado alguns aten‑
tados com granadas em Lourenço Marques62. Por sua vez, a realização de actos de
violência foi concomitante ao esvaziamento da autoridade do governo colonial em
Moçambique. Com efeito, o processo revolucionário provocou o enfraquecimento do
aparelho policial e militar no qual se apoiava a administração portuguesa. Na ausência
de directivas claras por parte de Lisboa e não dispondo de uma linha de rumo bem
definida relativamente ao processo de descolonização, as autoridades portuguesas
foram gradualmente perdendo o controlo sobre a situação política na colónia, o que
teve claras consequências no campo da ordem e da segurança. Em termos militares,
o exército português cessou toda a actividade ofensiva, respondendo apenas ao fogo

59
«Notícias», 22 Jul. 1974: 1.
60
«Notícias», 27 Jul. 1974: 1.
61
«Notícias», 29 Jul. 1974: 5.
62
«Notícias», 24 Jun. 1974: 1; «Notícias», 25 Jun. 1974: 2.

162
A REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974 EM MOÇAMBIQUE

inimigo, o que facilitou a penetração de guerrilheiros no território moçambicano,


bem como a formação de grupos armados desgarrados.
Paralelamente, o Governo Provisório de Soares de Melo não teve tempo para
actuar medidas concretas que atenuassem a tensão política e social, na medida em
que esteve em funções menos de dois meses. Na verdade, Soares de Melo tentou
assumir uma postura de compromisso entre as orientações de Spínola e as pressões
dos Democratas de Moçambique. Assim, Soares de Melo procurou ir ao encontro de
algumas das reivindicações dos Democratas, nomeadamente no que dizia respeito ao
desmantelamento do aparelho repressivo da ditadura. Por exemplo, o Governador
procurou eliminar a Organização Provincial de Voluntários de Defesa Civil (OPVDC)
e todas as milícias paramilitares existentes no território moçambicano63. E, a 8 de
Junho de 1974, foi lançada uma operação militar de captura dos agentes da extinta
PIDE/DGS, a chamada Operação Zebra. Durante a operação foram detidos cerca
de duzentos agentes da polícia política, o que reduziu significativamente a rede de
informação militar das Forças Armadas Portuguesas. Enfim, a 17 de Junho de 1974,
o Governo-Geral emanou um mandato de captura contra Jorge Jardim, acusado de
ser o mentor da «reacção» em Moçambique64.
No entanto, essas medidas não eram suficientes para satisfazer os Democratas
de Moçambique, que pretendiam um saneamento total da administração pública, ao
mesmo tempo que não aceitavam a existência de outras forças políticas que não a
Frelimo. Em meados de Julho de 1974, os Democratas denunciaram que as «forças
da reacção» estavam a crescer na cidade da Beira, que os elementos da ex-PIDE/DGS
estavam de novo quase todos em liberdade e que a OPVDC, os GEP e os Flechas
subsistiam «intocáveis»65. Para além disso, os Democratas não entendiam — e não
aceitavam — a posição de compromisso assumida pelo Governador-Geral. Como
tal, começaram a criticar Soares de Melo, pela sua condescendência para com outras
forças políticas66.
Contudo, foram factores externos à colónia que precipitaram a queda do Governo
Provisório de Moçambique. Perante o agravamento da escalada de violência em
Angola, Spínola nomeou uma Junta Governativa para Angola, com contornos mili‑
63
«Notícias», 17 Jun. 1974: 1.
64
PRO, FCO, 45/1541, Political situation in Mozambique, 1974. O Consulado Britânico em Lourenço Marques afirma
que teriam sido encarceradas cerca de quinhentas pessoas acusadas de pertencerem ou trabalharem para a PIDE/
DGS. Muitos dos elementos detidos foram conduzidos para a Prisão de Machava, a mesma que antes servia de cadeia
aos oposicionistas e nacionalistas presos. Cf. «Notícias», 09 Jun. 1974: 1.
65
«Notícias», 13 Jul. 1974: 5. Os GEP (Grupos Especiais de Pára-Quedistas) e os Flechas eram unidades militares do
exército colonial formadas sobretudo por africanos. Eram tropas de elite altamente treinadas na luta contra a guerrilha
da Frelimo. Segundo o Consulado Britânico em Lourenço Marques, em Maio de 1974 as Forças Armadas Portuguesas
em Moçambique seriam constituídas por 54 000 homens, dos quais 40 000 seriam recrutados localmente (36 000
negros e mestiços e 4000 brancos naturais da colónia). Os militares metropolitanos seriam apenas 14 000. PRO, FCO
45/1549, Military situation in Mozambique, 1974.
66
«Notícias», 05 Jul. 1974: 5.

163
NÃO NOS DEIXEMOS PETRIFICAR: REFLEXÕES NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE VICTOR DE SÁ

tares, presidida pelo oficial da armada Rosa Coutinho, em 24 de Julho de 197467. Por
arrastamento político, foi anunciada a decisão de criar uma Junta Governativa para
Moçambique68. Face a isto, Soares de Melo, sentindo-se politicamente desamparado
por Lisboa, pediu a sua demissão do cargo de Governador-Geral a 25 de Julho de
197469. Manteve-se contudo em funções, ainda que demissionário, durante mais algu‑
mas semanas, mas já sem qualquer intervenção significativa no processo político70.

PRIMEIRAS NEGOCIAÇÕES COM A FRELIMO


No entretanto, Portugal e a Frelimo tinham dados os primeiros passos no sentido de
chegar a um acordo de cessar-fogo. Logo em Maio de 1974, o General Costa Gomes
tinha enviado uma delegação de seis antigos presos políticos a Dar-es-Salaam com uma
proposta de cessar-fogo para a direcção da Frelimo71. Mas as primeiras conversações
oficiais só tiveram lugar a 5/6 de Junho, em Lusaka. Nestas primeiras conversações,
Mário Soares e Samora Machel discutiram as condições para o estabelecimento de um
cessar-fogo, sendo que a Frelimo colocou três condições essenciais: 1.º) o reconheci‑
mento do direito à independência imediata de Moçambique; 2.º) o reconhecimento
da Frelimo como única legítima representante do povo moçambicano; 3º) a trans‑
ferência do poder para as mãos da Frelimo. Ora, estas exigências eram contrárias às
ideias de Spínola, que pretendia a realização de um referendo para decidir o futuro
das colónias portuguesas. Por isso, não foi possível avançar mais nas conversações,
que entraram num impasse72.
No entanto, a degradação da situação militar na colónia e, sobretudo, a pressão
do MFA levou a uma alteração da posição portuguesa. De facto, certas unidades
militares portuguesas começaram a negociar acordos separados de cessar-fogo com
os guerrilheiros, nomeadamente em Cabo Delgado, em Junho, e no Tete, em Julho
de 1974. Posteriormente, a guarnição militar portuguesa de Omar, na fronteira com
a Tanzânia, rendeu-se à Frelimo, tendo os soldados portugueses sido feito prisionei‑
ros e levados para a Tanzânia. Foi um acontecimento com uma enorme repercussão
mediática e que baixou ainda mais o moral das tropas. Por outro lado, o MFA foi
adquirindo força no interior do aparelho do Estado colonial, constituindo-se numa

67
PRO, FCO 45/1503, Political situation in Angola, 1974.
68
«Notícias», 26 Jul. 1974: 1.
69
«Notícias», 26 Jul. 1974: 1.
70
Em 19 de Agosto de 1974, perante a demora na nomeação da Junta Governativa de Moçambique, Soares de Melo
transmitiu formalmente o poder ao Secretário de Estado da Administração Territorial, Jorge Ferro Ribeiro, que
assumiu as funções de Encarregado do Governo. Cf. «Notícias», 20 Ago. 1974: 3; PRO, FCO 45/1731, Mozambique:
annual review for 1974, 1975.
71
Segundo o Consulado Britânico em Lourenço Marques, essa delegação terá comunicado a vontade de Costa Gomes
de chegar a um acordo rápido com a Frelimo, de forma que a independência do território se concretizasse no espaço
de um ano. PRO, FCO 45/1539, Political situation in Mozambique, 1974.
72
PRO, FCO 45/1534, Policy of Portugal towards her overseas territories, 1974. Cf. MACQUEEN, 1998: 164-167.

164
A REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974 EM MOÇAMBIQUE

espécie de poder paralelo ao Governo Provisório. Assim, a 1 de Julho, o MFA exigiu


o reinício das conversações com a Frelimo e, dez dias depois, recomendou, num
memorando, o reconhecimento do direito à independência e da Frelimo como o
mais válido representante do povo de Moçambique. A 20 de Julho, num plenário em
Nampula, as delegações do MFA de Tete e de Cabo Delgado exigiram a realização de
um acordo com a Frelimo e, dois dias depois, o MFA voltou a reafirmar a necessidade
de se iniciarem novas conversações com o movimento guerrilheiro73.

A LEI CONSTITUCIONAL N.º 7/74, O MFA E OS DEMOCRATAS


DE MOÇAMBIQUE
Todos estes acontecimentos tiveram um peso significativo na evolução do processo
político português, fragilizando consideravelmente a posição de Spínola. Neste sen‑
tido, perante a rápida degradação da situação militar e face ao crescimento acentuado
das pressões do MFA, o Presidente da República foi obrigado a fazer modificações
na política colonial no sentido de se chegar a um rápido acordo com as guerrilhas
nacionalistas. Assim, a 26 de Julho de 1974, Spínola promulgou uma nova Lei Cons‑
titucional, a Lei n.º 7/74. A nova Lei Constitucional reconheceu «o direito à autode‑
terminação, com todas as suas consequências, incluindo a aceitação da independência
dos territórios ultramarinos». Tratou-se de uma clara vitória do MFA, que defendia
a negociação directa da independência com as guerrilhas nacionalistas, o estabeleci‑
mento de um cessar-fogo e uma rápida transferência de poderes para as mãos desses
mesmos movimentos em regime de exclusividade74.
A promulgação da Lei n.º 7/74 abriu a porta a uma rápida solução do problema
da descolonização, o que foi de imediato aproveitado pela Frelimo. Assim, a Frelimo
propôs a realização de negociações com os portugueses, em Dar-es-Salaam, entre 30
de Julho e 2 de Agosto de 1974. A delegação portuguesa foi liderada por um oficial
do MFA, Melo Antunes. O encontro permitiu estabelecer o quadro geral do futuro
processo de independência. Ficou assim decidido: 1) a realização da independência
sem referendo prévio; 2) o reconhecimento da Frelimo como único legítimo repre‑
sentante do povo de Moçambique; 3) a transferência do poder para a Frelimo depois
de um período de governo de transição. No fundo, este primeiro entendimento entre
as duas partes representou uma clara vitória da Frelimo, que viu as suas posições
aceites pelos portugueses. De 14 a 17 de Agosto de 1974, houve uma nova ronda de
negociações em Dar-es-Salaam, que confirmaram as posições anteriores. Estavam
assim criadas as condições para a celebração do acordo final75.

73
MACQUEEN, 1998: 161.
74
PIMENTA, 2010: 139-140.
75
PRO, FCO 45/1534, Policy of Portugal towards her overseas territories, 1974; PRO, FCO 45/1731, Mozambique:
annual review for 1974, 1975. Cf. MACQUEEN, 1998: 178-179.

165
NÃO NOS DEIXEMOS PETRIFICAR: REFLEXÕES NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE VICTOR DE SÁ

No entretanto, usufruindo de um novo contexto político-militar que lhes era


nitidamente favorável, os Democratas de Moçambique levaram a cabo a conclusão da
sua manobra de controlo de informação, alinhando os principais órgãos de comuni‑
cação social com as posições da Frelimo. Na imprensa passou-se a defender ostensi‑
vamente a tese de que a Frelimo era «a legítima representante do povo moçambicano
e que o poder deveria ser transferido em regime de monopólio para essa Frente»76.
Além disso, uma bem orquestrada campanha jornalística procedeu à demo‑
nização política de todos os que se opunham à transferência do poder directa e
exclusivamente para as mãos da Frelimo e, por esta via, à criação de um regime de
partido único. Assim, os Democratas e a imprensa pró-flelimista rotularam de «reac‑
cionários» e de «colonial-fascistas» todos os que exprimiam opiniões divergentes
das defendidas pelo movimento guerrilheiro. Essa campanha jornalística provocou
fortes críticas da parte de vários quadrantes da sociedade moçambicana77. E grupos
mais radicais, descontentes com a atitude da imprensa, chegaram mesmo a atacar
com explosivos as instalações dos jornais «Notícias» e «A Tribuna» na madrugada
de 15 de Agosto de 197478.
Tudo isto teve pesadas consequências ao nível da psicologia da população,
gerando insegurança, confusão e medo, sobretudo entre a minoria branca, que não
estava preparada para lidar com a nova situação política criada pelo processo de
descolonização e que temia pelo seu futuro no país após a independência.
Neste sentido, durante o mês de Agosto de 1974, assistiu-se à radicalização do
discurso político, ao extremar de antagonismos e ao aumento generalizado da tensão
política e social. Aliás, uma onda de greves, de manifestações e de protestos varreu
o território, o que teve graves repercussões na economia e até no abastecimento de
géneros de primeira necessidade às principais cidades. Para além disso, a violência
contra pessoas e bens cresceu de forma exponencial, gerando um ambiente de acen‑
tuada insegurança. Com o exército praticamente paralisado, grupos de bandoleiros
espalharam o pânico entre as populações rurais dos distritos do Centro e do Norte,
causando numerosas vítimas entre negros, brancos, mestiços e indianos, sendo as
cantinas destes últimos alvos preferenciais de assaltos, pilhagens e destruições. Em
Agosto de 1974, houve mesmo uma tentativa de «limpeza étnica» por parte de gru‑
pos de africanos armados contra as minorias branca e indiana na região compreen‑
dida entre Quelimane e António Enes e, duma forma geral, na zona de Nampula.
A Frelimo negou qualquer envolvimento nos acontecimentos e nunca se conseguiu
apurar com exactidão quem esteve por detrás dessa «onda de violência anti-bran‑

76
«Notícias», 27 Jul. 1974: 1.
77
«Notícias», 13 Ago. 1974 : 1.
78
«Notícias», 17 Ago. 1974: 1.

166
A REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974 EM MOÇAMBIQUE

ca»79. Mas o facto é que o medo se apossou de grande parte da população branca,
de tal forma que, todas as semanas, estavam a sair da colónia cerca de mil brancos.
Era o início do êxodo.

O ACORDO DE LUSAKA E A REBELIÃO DE LOURENÇO


MARQUES (7 DE SETEMBRO DE 1974)
Foi, pois, neste contexto de acentuada crispação política e forte tensão social que
foi assinado o acordo de independência de Moçambique, em Lusaka, no dia 7 de
Setembro de 1974. O Acordo de Lusaka estabeleceu o reconhecimento português da
independência de Moçambique e a transferência de poderes exclusivamente para as
mãos da Frelimo, marcando a data da independência para 25 de Junho de 197580.
Foi declarado um cessar-fogo imediato. Todos os prisioneiros de guerra deveriam ser
libertados e as forças militares portuguesas deveriam ser gradualmente concentradas
nas zonas urbanas a fim de facilitar o seu repatriamento. O Acordo definiu também
a constituição de um Governo de Transição, formado por seis ministros nomeados
pela Frelimo e três por Portugal. O Governo de Transição seria chefiado por um
Primeiro-Ministro indicado pela Frelimo (Joaquim Chissano), ao passo que Portugal
nomearia um Alto-Comissário, cujas funções seriam semelhantes às de um Chefe de
Estado. Não teria, porém, qualquer autoridade directa sobre o Governo de Transição.
Com a aprovação da Frelimo, Vitor Crespo foi mais tarde nomeado Alto-Comissário81.
Neste sentido, o Acordo de Lusaka não garantiu a instalação de uma democracia
multipartidária, criando, pelo contrário, as condições à instituição de um regime de
partido único em Moçambique82. Na verdade, o Acordo serviu acima de tudo para
sancionar internacionalmente a entrega de Moçambique à Frelimo. Os signatários
justificaram essa posição pelo facto de a Frelimo ter sido o único movimento moçam‑
bicano a adquirir uma «legitimidade popular pela via revolucionária indubitável»,
isto é, pela via militar. Por isso, foram excluídas do processo de independência e
tornadas ilegais todas as outras forças políticas moçambicanas83.
No entanto, o Acordo de Lusaka provocou uma reacção imediata das forças
políticas excluídas do processo de independência, nomeadamente do FICO e do
Partido de Coligação Nacional (PCN). Dirigentes políticos brancos — Gomes dos
Santos (FICO), Hugo Velez Grilo (FICO), Gonçalo Mesquitela (da extinta Asso‑

79
«Notícias», 10 Ago. 1974: 1; «Notícias», 13 Ago. 1974: 1-2; «Notícias», 15 Ag. 1974: 1. PRO, FCO 45/1541, Political
situation in Mozambique, 1974.
80
MOITA, 1984: 289.
81
PRO, FCO 45/1731, Mozambique: annual review for 1974, 1975. Cf. MACQUEEN, 1998: 181-182.
82
Apud MOITA, 1984: 289.
83
PRO, FCO 45/1542, Political situation in Mozambique, 1974; PRO, FCO 45/1731, Mozambique: annual review for
1974, 1975. Cf. O acordo de Lusaka inconstitucional e antidemocrático não defende os interesses de Portugal e dos povos
de Moçambique. «Jornal Português de Economia & Finanças», 16-31 Dez. 1974: 7-12.

167
NÃO NOS DEIXEMOS PETRIFICAR: REFLEXÕES NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE VICTOR DE SÁ

ciação Nacional Popular) — e negros — Joana Simião, Uria Simango, Kawandame,


Gumane — juntaram-se numa única plataforma política para impedir a aplicação do
Acordo, o Movimento Moçambique Livre (MML). O Movimento Moçambique Livre
desencadeou, no próprio dia da assinatura do Acordo, uma rebelião em Lourenço
Marques, ocupando a Rádio Clube de Moçambique e, momentaneamente, o aero‑
porto84. O MML conseguiu ainda libertar acerca de duzentos antigos agentes da polícia
política, que tinham sido presos em Junho de 1974, e mobilizar milhares de mani‑
festantes que desfilaram nas ruas da capital moçambicana a favor do movimento85.
O MML apresentou como objectivos fundamentais a realização de um referendo
imediato sobre a independência e a formação de um «governo livre, democrático e
multirracial», representativo da maioria negra e dos outros segmentos demográficos
moçambicanos, com a participação de todas as forças políticas86.
Por outro lado, conscientes da sua fragilidade militar, os rebeldes apelaram,
através da rádio, à intervenção sul-africana, cujas tropas estavam estacionadas na
fronteira, a escassos quilómetros de Lourenço Marques. Jorge Jardim, então exilado
no Malawi, mas de passagem por Johannesburg87, era considerado o líder dos rebel‑
des e foi por várias vezes designado de coordenador exterior do movimento. Um
número significativo de populares, sobretudo brancos, «protegia» as instalações da
emissora de qualquer acção adversa, enquanto as entradas da cidade eram guardadas
por elementos da ex.-OPVDC. No total, porém, os rebeldes teriam apenas duzentos e
cinquenta homens armados. Na Beira e em Vila Pery também houve manifestações de
apoio aos insurrectos, as quais foram dispersas pelas autoridades portuguesas. Mas na
capital moçambicana, a polícia e as forças militares permaneceram «indiferentes» aos
acontecimentos, abstendo-se de intervir a favor ou contra os rebeldes. O Presidente
da República também se mostrou relutante em agir contra os insurrectos. Ao invés,
Spínola enviou dois oficiais que lhe eram fiéis, o Tenente-Coronel Dias de Lima e o
Comandante Duarte Costa, para dialogarem com os líderes da sublevação88.

84
Os incidentes terão começado no dia 6 de Setembro de 1974, no momento em que militantes pró-Frelimo,
nomeadamente alguns Democratas, mobilizavam a população da cidade para um comício no Estádio da Machava.
Durante a mobilização, um automóvel do jornal «Notícias», engalanado com quatro bandeiras da Frelimo, terá arrastado
pelo chão uma bandeira portuguesa, facto que provocou a reacção de alguns brancos, registando-se então os primeiros
confrontos que depois evoluíram para a rebelião. PRO, FCO 45/1542, Political situation in Mozambique, 1974.
85
O Consulado Britânico em Lourenço Marques estimou em cerca de vinte mil o número de manifestantes a favor
do MML. PRO, FCO 45/1543, Political situation in Mozambique, 1974
86
PRO, FCO 45/1541, Political situation in Mozambique, 1974.
87
PRO, FCO 9/2503, Overseas territories of Portugal, 1974. Segundo o relato do próprio, Jorge Jardim estava de passagem
por Johannesburg no dia 7 de Setembro de 1974. JARDIM, 1976: 347-354.
88
Spínola justificou a sua relutância em tomar medidas contra os revoltosos pelo facto de não poder agir contra
«portugueses» que se haviam levantado «em defesa da honra e da dignidade da Pátria». Cf. SPÍNOLA, 1978: 307-308.
Em declarações à imprensa, Melo Antunes falou da existência duma «proclamação da independência unilateral de
Moçambique» pelos rebeldes de Lourenço Marques. Cf. «A Província de Angola», 12 Set. 1974: 2.

168
A REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974 EM MOÇAMBIQUE

No entanto, a situação política alterou-se rapidamente a desfavor dos rebeldes.


De facto, o MFA acusou o MML de «alta traição» e exigiu a neutralização imediata
da rebelião. A Frelimo também reagiu aos acontecimentos de Lourenço Marques,
classificando o MML de «grupo de forças racistas e reaccionárias que querem evitar
a independência»89. E, em 9 de Setembro de 1974, Spínola, pressionado pelo MFA,
ratificou o Acordo de Lusaka, o que retirou aos insurrectos qualquer esperança de
apoio da parte do Presidente da República. Os sul-africanos também optaram por não
intervir militarmente em Moçambique, oferecendo apenas asilo político aos revoltosos.
Sem o apoio de verdadeiras forças militares e dispondo apenas de um punhado de
homens armados, a rebelião estava condenada ao fracasso. No dia 10 de Setembro de
1974, os líderes rebeldes terão chegado a um acordo com as autoridades portuguesas
no sentido de abandonar as instalações da rádio. E, no dia seguinte, por ordem directa
do General Costa Gomes, tropas pára-quedistas portuguesas, provenientes do Norte
de Moçambique, colocaram um ponto final na rebelião de Lourenço Marques. Os
dirigentes brancos da revolta conseguiram fugir para a África do Sul, enquanto os
líderes negros passaram à clandestinidade no interior do país. Uria Simango e Joana
Simião foram posteriormente presos pela Frelimo90.
A rebelião provocou um número considerável de mortos e de feridos de todas
as raças. De facto, durante a revolta, grupos de extremistas brancos efectuaram raides
nos subúrbios pobres da capital, disparando de forma indiscriminada sobre a popu‑
lação africana, com o objectivo talvez de a amedrontar, causando feridos e mortos.
Mas estes ataques tiveram precisamente o efeito oposto, pois espoletou a violenta
reacção de milhares de populares negros que marcharam sobre a «cidade de cimento»,
armados de catanas, paus, pedras e ferros, e «deixando um manto de destruição à
sua passagem». A este respeito, Benedito Machava, com base em relatos de alguns
africanos que participaram nos acontecimentos, descreve um quadro particularmente
«chocante» da forma como foram chacinados os brancos pela multidão em fúria:
brancos assassinados no interior das respectivas casas ou queimados vivos, dentro
de automóveis, quando tentavam fugir; mulheres esquartejadas; cadáveres abando‑
nados nas ruas; etc. Dominada a custo por intervenção de um grupo de nacionalistas
moçambicanos (o «Grupo Galo», conotado com a Frelimo, mas não integrante da
sua estrutura política), esta onda de violência provocou o terror entre a população
branca de Lourenço Marques, conduzindo à saída apressada de milhares de brancos
para a África do Sul e a Rodésia. Embora de forma mais contida, a violência racial

89
PRO, FCO 45/1541, Political situation in Mozambique, 1974.
90
Para uma descrição «pessoal» da rebelião por alguns dos intervenientes veja-se: SAAVEDRA, 1975; MESQUITELA,
1976; OLIVEIRA, 1978; COUTO, 2011; CARDOSO, 2014.

169
NÃO NOS DEIXEMOS PETRIFICAR: REFLEXÕES NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE VICTOR DE SÁ

continuou nas semanas seguintes, por meio de agressões, roubos e destruição de


bens e propriedades de brancos91.

A TOMADA DE POSSE DO GOVERNO DE TRANSIÇÃO DE


MOÇAMBIQUE
O Alto-Comissário Vitor Crespo chegou a Lourenço Marques a 12 de Setembro de
1974, quatro dias antes de Joaquim Chissano, que foi empossado Primeiro-Ministro
do Governo de Transição no dia 21 de Setembro de 1974. O Governo de Transição
integrou vários Democratas de Moçambique, que voluntariamente confluíram na
Frelimo. Assim, o executivo era constituído por Armando Guebuza, Ministro do
Interior, da Frelimo; Rui Baltazar Santos Alves, Ministro da Justiça, dos Democratas
de Moçambique; Mário Fernandes Graça, Ministro da Economia, dos Democratas de
Moçambique; Óscar Monteiro, Ministro da Informação, da Frelimo; Gideon Ndobe,
Ministro da Educação e Cultura, da Frelimo; Tenente-Coronel Eugénio Figueira Picolo,
Ministro dos Transportes e Comunicações, indicado por Portugal; António Joaquim
Paulino, Ministro da Saúde e Assuntos Sociais, indicado por Portugal; Mariano de
Araújo Matsinhe, Ministro do Trabalho, da Frelimo; Luís Maria Alcântara Santos,
Ministro das Obras Públicas, indicado por Portugal92.
A tomada de posse do Governo de Transição inaugurou uma nova fase no pro‑
cesso de descolonização de Moçambique. Teve então início a retirada progressiva da
tropa portuguesa estacionada no território moçambicano, a substituição dos quadros
superiores da administração pública por novos elementos afectos à Frelimo, a criação
de um banco central moçambicano, enfim, a preparação do país para a plena inde‑
pendência. Porém, esse processo foi gravemente prejudicado pela saída de grande
parte dos recursos humanos mais qualificados, em especial os brancos, cujo êxodo
prosseguiu nos meses seguintes, e a consequente derrapagem da economia moçam‑
bicana. A este respeito, o medo e a violência, por vezes com cunho racial, terão sido
duas das principais causas do êxodo da população branca. Mas houve outros motivos
que também contribuíram para a saída dos brancos, nomeadamente o modo como
foi concretizado o processo de descolonização, por meio de um acordo fechado entre
Portugal e a Frelimo e a concomitante marginalização política dos outros partidos; a

91
MACHAVA, 2015: 72-75. Os relatórios elaborados pelo Consulado Britânico em Lourenço Marques são
particularmente relevantes para a compreensão da rebelião. Para além de descreverem de forma minuciosa os
acontecimentos, os diplomatas britânicos responsabilizaram os Democratas de Moçambique por terem criado um
ambiente propício à revolta devido ao radicalismo e ao extremismo das suas posições, mas atribuíram as maiores
responsabilidades ao Estado Português, por ter negociado um acordo sem ter tido em consideração as opiniões e os
interesses da população. PRO, FCO 45/1542, Political situation in Mozambique, 1974; PRO, FCO 45/1543, Political
situation in Mozambique, 1974 [em especial Despatches by Stanley Duncan, HM Consul General at Lourenço Marques,
entitled European insurrections in Mozambique, 7-10 September 1974].
92
PRO, FCO 45/1542, Political situation in Mozambique, 1974.

170
A REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974 EM MOÇAMBIQUE

transferência do poder em regime de monopólio para a Frelimo; a adopção de políticas


económicas de cariz marxista-leninista; a criação de um regime de partido único93.
Mas a análise da fase de pré-independência — ou seja, os nove meses com‑
preendidos entre 21 de Setembro de 1974 e 25 de Junho de 1975 — já não reentra
no âmbito deste trabalho, merecendo só por si um estudo detalhado e que está em
larga medida por fazer, pelo menos em termos historiográficos. Interessa-nos, porém,
assinalar o corte representado pela assinatura do Acordo de independência e a sub‑
sequente tomada de posse do governo de transição na história da descolonização
de Moçambique. De facto, o mês de Setembro de 1974 representou um momento
de charneira, após o qual se assistiu ao recuo da sociedade civil moçambicana, ao
desaparecimento dos muitos partidos e grupos políticos aparecidos durante a fase
revolucionária do pós-25 de Abril de 1974 e à imposição de uma unicidade partidária
não consentânea com a democracia. Embora breves, os cinco meses que mediaram
a queda do Estado Novo e a tomada de posse do Governo de Transição representa‑
ram um momento de intenso debate político, na imprensa e na sociedade civil, de
liberdade de expressão e de associação política, distinguindo-se claramente da fase
posterior marcada pela criação de um regime de partido único em Moçambique.

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«Notícias». 16125 (01 Mai. 1974) 2.
«Notícias». 16125 (01 Mai. 1974) 2 e 13.
«Notícias». 16126 (03 Mai. 1974) 1 e 2.
«Notícias». 16127 (04 Mai. 1974) 1-2.
«Notícias». 16129 (06 Mai. 1974) 1 e 4.
«Notícias». 16136 (13 Mai. 1974) 1 e 5.
«Notícias». 16139 (16 Mai. 1974) 1.
«Notícias». 16142 (19 Mai. 1974) 4.
«Notícias». 16149 (26 Mai. 1974) 18.
«Notícias». 16150 (27 Mai. 1974) 1.
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«Notícias». 16161 (07 Jun. 1974) 4.
«Notícias». 16163 (09 Jun. 1974) 1.
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«Notícias». 16171 (19 Jun. 1974) 1.
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172
A REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974 EM MOÇAMBIQUE

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