25 de Abril em Moçambique
25 de Abril em Moçambique
25 de Abril em Moçambique
EM MOÇAMBIQUE*
FERNANDO TAVARES PIMENTA**
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NÃO NOS DEIXEMOS PETRIFICAR: REFLEXÕES NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE VICTOR DE SÁ
mos afirmar com propriedade que esses meses representaram o momento de maior
abertura e de liberdade vivida pela sociedade civil moçambicana até à instituição do
multipartidarismo na década de 1990.
Esta maior liberdade contrasta com a situação que se veio a criar em Moçambique
a partir de Setembro de 1974, ou seja, após a assinatura do acordo de independência
e a subsequente entrada em funções do Governo de Transição. Tal como definido no
Acordo de Lusaka, o período de transição serviu, entre outras coisas, para preparar
o terreno à criação de um regime de partido único em Moçambique. Assim, os par‑
tidos formados durante os meses iniciais do processo revolucionário desapareceram
ou passaram a actuar na clandestinidade; a imprensa passou a ser definitivamente
controlada pelos sectores afectos à Frelimo (concluindo um processo iniciado alguns
meses antes); e o refluxo da sociedade civil foi evidente. Os intentos democratizantes
da revolução foram substituídos por um projecto político que visava a modernização
da sociedade moçambicana e a elevação das condições de vida da população, mas
que recusava os princípios da democracia liberal e não tolerava a existência de uma
oposição ou de vozes dissidentes ao regime de inspiração marxista-leninista insti‑
tuído pela Frelimo. A Frelimo adquiriu o monopólio do poder político, colocando
um ponto final no processo revolucionário espoletado pelo 25 de Abril de 1974.
Mas para compreender melhor as características do processo revolucionário em
Moçambique, importa primeiro proceder à sua contextualização histórica, tendo em
conta a evolução do colonialismo português no território moçambicano antes de 1974.
1
RITA-FERREIRA, 1958; DIAS, 1964.
150
A REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974 EM MOÇAMBIQUE
2
PELISSIER, 1987.
3
MENDES, 1985; NEWITT, 1995; PIMENTA, 2019: 133-153.
4
Em 1970, para além dos 162 967 brancos, residiam na colónia cerca de 50 189 mestiços, 22 531 indianos, 3814
chineses e 7 929 432 negros. Sobre o povoamento branco dos territórios africanos veja-se: PIMENTA, 2014: 93-110,
2018: 27-49; CASTELO, 2007.
5
PIMENTA, 2010.
6
PIMENTA, 2016: 12-30.
7
UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE. Centro de Estudos Africanos, 1993. Cf. ISAACMAN, ISAACMAN, 1983.
151
NÃO NOS DEIXEMOS PETRIFICAR: REFLEXÕES NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE VICTOR DE SÁ
8
SANTOS, 2006; PIMENTA, 2018: 51-151.
9
ALEXANDRE, 2017.
10
MATEUS, MATEUS, 2010; CABAÇO, 2010; MORIER-GENOUD, ed., 2012.
11
MONDLANE, 1969.
12
PASSERINI, 1970.
13
HENRIKSEN, 1983; GARCIA, 2003.
152
A REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974 EM MOÇAMBIQUE
branca, o que transmitiu aos colonos a falsa ideia de que a situação estava sob o
controlo do exército14.
No entretanto, em 3 de Fevereiro de 1969, Eduardo Mondlane foi assassinado
pela explosão de uma carta-bomba alegadamente preparada pela PIDE. Depois de
um período de alguma indefinição, a chefia do movimento guerrilheiro foi assumida
por Samora Machel15, um ex-enfermeiro negro e líder militar da guerrilha, que foi
eleito Presidente da Frelimo em Maio de 1970. A partir desta data, a Frelimo sofreu
uma clara radicalização à esquerda, o que levou à saída de um número significativo
de quadros e de antigos dirigentes, mais conservadores, sobretudo negros, e que não
viam com bons olhos a participação de brancos e de indianos nas fileiras do movi‑
mento16. A este respeito, importa salientar que a direcção da Frelimo recusou sempre
qualquer tentativa de racialização do princípio da nacionalidade, mostrando-se aberta
à militância de moçambicanos de todas as raças17.
No plano militar, a guerrilha conheceu progressos notáveis no final do período
colonial, a despeito dos portugueses terem lançado uma poderosa operação militar
em 1970, denominada de Nó Górdio18, mas que não conseguiu eliminar as forças da
Frelimo. De facto, os guerrilheiros procederam a um recuo estratégico, deslocando
as suas forças para outras áreas e relançando depois a luta com maior intensidade.
Além disso, a construção pelos portugueses da barragem de Cabora Bassa, no rio
Zambeze, permitiu à guerrilha ter um alvo militar mediaticamente relevante, o que
obrigou a uma concentração de tropa colonial nessa zona para fazer face aos ataques
da Frelimo. Tornava-se, aliás, cada vez mais evidente o desgaste material e moral
das Forças Armadas Portuguesas19. E, em 1973, o massacre de um número elevado
de africanos por tropas coloniais na zona de Wiriyamu provocou uma forte reacção
internacional, contribuindo para um maior isolamento político de Portugal, o que
beneficiou consideravelmente a Frelimo20.
No final de 1973, a situação militar em Moçambique era cada vez mais difícil para
o lado português. A Frelimo tinha intensificado as suas operações e estava a actuar a
menos de cem quilómetros da cidade da Beira. A população branca começou a dar
sinais de forte apreensão política pelo «inesperado» avanço da Frelimo. De facto, uma
14
CANN, 1997; AFONSO, GOMES, 2010.
15
ISAACMAN, ISAACMAN, 2020.
16
OPELLO JR., 1975: 62-82.
17
Cf. BRAGANÇA, WALLERSTEIN, 1982. Para além da Frelimo, devemos referir a existência de um nacionalismo
moçambicano de matriz africana, negro, que não se reconheceu inteiramente na Frelimo. Foi o caso dos grupos de
nacionalistas negros, originários em grande parte do Centro-Norte de Moçambique, que deram vida ao Comité
Revolucionário de Moçambique (COREMO), fundado em Lusaka, em Junho de 1965. Ao nível militar, o COREMO
nunca representou uma alternativa válida à Frelimo e tão pouco constituiu uma verdadeira ameaça ao colonialismo
português. Cf. PIMENTA, 2012: 65-91.
18
GOMES, 2002.
19
BERNARDO, 2003.
20
HASTINGS, 1974.
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NÃO NOS DEIXEMOS PETRIFICAR: REFLEXÕES NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE VICTOR DE SÁ
parte significativa da minoria branca temia pelo seu futuro no território e encarava
com cada vez mais desconfiança a actuação do exército português, que era conside‑
rado pouco eficaz no combate à guerrilha. Assim, em Janeiro de 1974, na sequência
da morte da esposa de um fazendeiro branco numa operação da Frelimo, na região
de Vila Pery, a população branca da Beira manifestou-se violentamente contra a tropa
portuguesa, acusando-a de nada fazer para eliminar a guerrilha. Este episódio abriu
uma fractura profunda entre a população branca e as Forças Armadas e contribuiu
para o aumento exponencial da tensão política no interior de Moçambique21.
Perante a agudização da situação militar, Jorge Jardim22, um importante empre‑
sário e carismático líder político branco residente na região da Beira, tentou chegar
a um entendimento com a Frelimo. Com o apoio do Presidente Banda, do Malawi,
e graças à intermediação do Presidente Kaunda, da Zâmbia, Jardim terá conseguido
chegar a uma espécie de «entendimento de princípios» com a Frelimo em Setem‑
bro de 1973. Denominado de «Programa de Lusaka», esse «entendimento» previa a
independência de Moçambique, no quadro de uma Comunidade Lusíada, e a par‑
ticipação da Frelimo na futura estruturação política e administrativa do país, mas
sem aceitar que a sua posição (eventualmente dominante) viesse a ser «exclusivista».
Era igualmente assegurada a protecção dos interesses económicos dos portugueses
na colónia e o respeito pelos direitos da minoria branca23.
Munido destas «garantias», Jorge Jardim tentou então convencer o governo
português a encetar conversações oficiais com a Frelimo. Mas a hipótese de uma
negociação com a guerrilha foi recusada por Marcelo Caetano24. Perante a recusa
do chefe do governo, Jardim começou a ponderar fazer a secessão da colónia com
o intuito de negociar sozinho — isto é, sem a participação do governo de Lisboa —
com a Frelimo. Mas a revolução de 25 de Abril de 1974 apanhou Jardim de surpresa
em Lisboa, o que o coibiu de coordenar as actividades políticas dos seus apoiantes
em Moçambique. Impedido de regressar à colónia pelo poder revolucionário, Jorge
Jardim foi mais tarde alvo de um mandato de captura emitido pelas autoridades
portuguesas. Contudo, Jardim conseguiu fugir para Espanha e, depois, para a África
Austral, onde permaneceu em constante movimento entre o Malawi, a Suazilândia e
a África do Sul. E, muito embora tivesse tentado «reanimar» os seus contactos com
a Frelimo, acabou por ser ultrapassado pelos acontecimentos, tendo sido renegado
quer por portugueses, quer pelos nacionalistas da Frelimo, que o encaravam com
algum receio e muita desconfiança25.
21
PRO, FCO 45/1539, Political Situation in Mozambique, 1974. Cf. SCHNEIDMAN, 2005: 183-184. CARVALHO, 1991.
22
ANTUNES, 1996.
23
JARDIM, 1976: 119-120; PRO, FCO 9/2052, Overseas territories of Portugal, 1974.
24
Sobre a política colonial de Marcelo Caetano relativamente a Moçambique veja-se: SOUTO, 2007.
25
PRO, FCO 9/2065, Relations between Portugal and Africa, 1974 (British High Commission, Blantyre, 31/07/1974).
Cf. JARDIM, 1976: 91-135.
154
A REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974 EM MOÇAMBIQUE
26
PRO, FCO 45/1308, Internal situation in Mozambique, 1973.
27
PRO, FCO 9/2049, Overseas territories of Portugal, 1974; PRO, FCO 45/1533, Policy of Portugal to her overseas
territories, 1974.
28
«Notícias», 26 Abr. 1974: 1.
29
«Notícias», 28 Abr. 1974: 1. PRO, FCO 45/1539, Political Situation in Mozambique, 1974.
30
«Notícias», 30 Abr. 1974: 1.
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NÃO NOS DEIXEMOS PETRIFICAR: REFLEXÕES NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE VICTOR DE SÁ
GUMO
O Grupo Unido de Moçambique (GUMO) foi o primeiro movimento a apresentar-se
à população, através da publicação de um manifesto, no dia 29 de Abril de 1974. Nesse
manifesto, o GUMO sublinhou os esforços no sentido de se constituir em «associação
31
«Notícias», 29 Abr. 1974: 5.
32
«Notícias», 27 Abr. 1974: 2.
33
«Notícias», 28 Abr. 1974: 1. Sobre o pensamento de Spínola veja-se: SPÍNOLA, 1974, 1976, 1978.
34
«Notícias», 29 Abr. 1974: 1.
35
MACQUEEN, 1998: 159-160.
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A REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974 EM MOÇAMBIQUE
36
«Notícias», 01 Mai. 1974: 2. PRO, FCO 45/1308, Internal Situation in Mozambique, 1973.
37
«Notícias», 29 Abr. 1974: 2.
38
«Notícias», 04 Mai. 1974: 1-2.
157
NÃO NOS DEIXEMOS PETRIFICAR: REFLEXÕES NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE VICTOR DE SÁ
Democratas de Moçambique
Outra organização política com bastante peso foi o movimento dos Democratas de
Moçambique, cujo núcleo duro era formado por antigos oposicionistas, sobretudo
advogados e profissionais liberais brancos, entre os quais Almeida Santos, Pereira
Leite, Adrião Rodrigues, Rui Baltazar, etc. Após a revolução de 25 de Abril, esses
oposicionistas passaram a actuar como um movimento de pressão política sobre o
regime colonial e de apoio à Frelimo44. O movimento, surgido primeiro na capital,
acabou por se ramificar a vários pontos da colónia, onde tinham surgido grupos
autónomos de democratas, em especial na Beira e Nampula. Todos esses grupos fun‑
diram-se numa única estrutura política numa reunião realizada no dia 27 de Maio
de 1974, sob a designação de Democratas de Moçambique.
39
«Notícias», 13 Mai. 1974: 1 e 5. Segundo o Consulado Britânico em Lourenço Marques, os incidentes terão sido
desencadeados por «provocadores da Frelimo». PRO, FCO 45/1540, Political situation in Mozambique, 1974.
40
«Notícias», 31 Mai. 1974: 1.
41
«Notícias», 03 Jul. 1974: 12.
42
Em 23 de Agosto de 1974, a COREMO, a FRECOMO e um conjunto de outros pequenos partidos negros (FUMO,
MONIPAMO e MONAUMO) anunciaram a constituição de uma coligação denominada de Partido de Coligação
Nacional (PCN). Foram escolhidos para Presidente Uria Simango e para Vice-Presidente Paulo José Gumane PRO,
FCO 45/1541, Political situation in Mozambique, 1974. Cf. «Notícias», 24 Ago. 1974: 2.
43
«Notícias», 05 Jul. 1974: 1; PRO, FCO 45/1540, Political situation in Mozambique, 1974.
44
«Notícias», 01 Mai. 1974: 2 e 13; «Notícias», 03 Mai. 1974: 1 e 2.
158
A REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974 EM MOÇAMBIQUE
45
«Notícias», 27 Mai. 1974: 1.
46
Constituição do Governo Provisório de Moçambique: Governador-Geral, Dr. Henrique Vasco Soares de Melo;
Secretário Adjunto, Dr. Patrício Campos Rodrigues da Costa; Secretário da Administração Territorial, Dr. Jorge
Ribeiro; Secretário da Justiça, Dr. Sérgio Espadas Antunes; Secretário da Educação e Cultura, Professor José Martins;
Secretário da Saúde e Bem Estar Social, Dr. António Paulino; Secretário da Coordenação Económica, Dr. António
Mascarenhas Gaivão; Secretário do Trabalho e Segurança Social, Dr. Antero Augusto Sobral; Secretário dos Transportes
e Comunicações, Tenente-Coronel Eugénio Picolo; Secretário da Comunicação Social e do Turismo, Dr. Willem Gerard
Pott; Subsecretário do Planeamento e Finanças, Dr. António Cardoso; Subsecretário do Comércio, Dr. Domingos Simões;
Subsecretário da Agricultura, Engenheiro Mário Carvalho. Cf. «Notícias», 19 Jun. 1974: 1; «Notícias», 26 Jun. 1974: 1.
47
«Notícias», 16 Mai. 1974: 1.
48
Cf. SANTOS, 1975, 2006.
49
«Notícias», 26 Mai. 1974: 18.
50
«Notícias», 01 Jun. 1974: 4.
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NÃO NOS DEIXEMOS PETRIFICAR: REFLEXÕES NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE VICTOR DE SÁ
FICO
No entretanto, no pólo oposto aos Democratas, surgiu um outro movimento político
denominado de FICO. Fundado em 5 de Maio de 1974, o FICO mobilizou os sectores
mais conservadores da população branca, tendo adoptado inicialmente a designa‑
ção de Frente Independente de Convergência Ocidental. Para o FICO, Moçambique
era — e deveria continuar a ser — «terra portuguesa». O FICO rejeitava também
o socialismo soviético, pelo que defendia a adesão ao campo ocidental no quadro
da luta entre os dois blocos da Guerra Fria. Enfim, o FICO considerava a Frelimo
uma força político-militar inimiga, pelo menos enquanto movesse guerra a Portugal.
Refira-se que vários milhares de brancos participaram na primeira manifestação do
FICO em Lourenço Marques53. Contudo, o FICO demorou algum tempo a esclare‑
cer a sua posição quanto ao processo revolucionário e à questão da independência.
Inicialmente deu a entender que recusava a ideia da independência. Mas, logo no dia
7 de Maio, o FICO fez saber que apoiava o programa da Junta de Salvação Nacional.
Dez dias depois, o FICO apareceu já com um slogan politicamente menos agressivo:
Ficar Convivendo, designação que veio a adoptar como nome definitivo em 21 de
Maio. O FICO também declarou que o seu principal objectivo era a «manutenção de
Moçambique no seio da Comunidade Luso-Brasileira»54, aceitando a realização de
51
«Notícias», 02 Jun. 1974: 1.
52
«Notícias», 05 Jun. 1974: 2.
53
«Notícias», 06 Mai. 1974: 1 e 4; PRO, FCO 45/1539, Political situation in Mozambique, 1974.
54
«Notícias», 19 Mai. 1974: 4.
160
A REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974 EM MOÇAMBIQUE
um referendo, na linha do que fora proposto por Spínola, para que fosse auscultada
a vontade dos «Povos de Moçambique»55.
55
«Notícias», 04 Jun. 1974: 5.
56
«Notícias», 07 Jun. 1974: 4.
57
«Notícias», 22 Jun. 1974: 7.
58
«Notícias», 19 Jun. 1974: 1.
161
NÃO NOS DEIXEMOS PETRIFICAR: REFLEXÕES NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE VICTOR DE SÁ
59
«Notícias», 22 Jul. 1974: 1.
60
«Notícias», 27 Jul. 1974: 1.
61
«Notícias», 29 Jul. 1974: 5.
62
«Notícias», 24 Jun. 1974: 1; «Notícias», 25 Jun. 1974: 2.
162
A REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974 EM MOÇAMBIQUE
163
NÃO NOS DEIXEMOS PETRIFICAR: REFLEXÕES NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE VICTOR DE SÁ
tares, presidida pelo oficial da armada Rosa Coutinho, em 24 de Julho de 197467. Por
arrastamento político, foi anunciada a decisão de criar uma Junta Governativa para
Moçambique68. Face a isto, Soares de Melo, sentindo-se politicamente desamparado
por Lisboa, pediu a sua demissão do cargo de Governador-Geral a 25 de Julho de
197469. Manteve-se contudo em funções, ainda que demissionário, durante mais algu‑
mas semanas, mas já sem qualquer intervenção significativa no processo político70.
67
PRO, FCO 45/1503, Political situation in Angola, 1974.
68
«Notícias», 26 Jul. 1974: 1.
69
«Notícias», 26 Jul. 1974: 1.
70
Em 19 de Agosto de 1974, perante a demora na nomeação da Junta Governativa de Moçambique, Soares de Melo
transmitiu formalmente o poder ao Secretário de Estado da Administração Territorial, Jorge Ferro Ribeiro, que
assumiu as funções de Encarregado do Governo. Cf. «Notícias», 20 Ago. 1974: 3; PRO, FCO 45/1731, Mozambique:
annual review for 1974, 1975.
71
Segundo o Consulado Britânico em Lourenço Marques, essa delegação terá comunicado a vontade de Costa Gomes
de chegar a um acordo rápido com a Frelimo, de forma que a independência do território se concretizasse no espaço
de um ano. PRO, FCO 45/1539, Political situation in Mozambique, 1974.
72
PRO, FCO 45/1534, Policy of Portugal towards her overseas territories, 1974. Cf. MACQUEEN, 1998: 164-167.
164
A REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974 EM MOÇAMBIQUE
73
MACQUEEN, 1998: 161.
74
PIMENTA, 2010: 139-140.
75
PRO, FCO 45/1534, Policy of Portugal towards her overseas territories, 1974; PRO, FCO 45/1731, Mozambique:
annual review for 1974, 1975. Cf. MACQUEEN, 1998: 178-179.
165
NÃO NOS DEIXEMOS PETRIFICAR: REFLEXÕES NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE VICTOR DE SÁ
76
«Notícias», 27 Jul. 1974: 1.
77
«Notícias», 13 Ago. 1974 : 1.
78
«Notícias», 17 Ago. 1974: 1.
166
A REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974 EM MOÇAMBIQUE
ca»79. Mas o facto é que o medo se apossou de grande parte da população branca,
de tal forma que, todas as semanas, estavam a sair da colónia cerca de mil brancos.
Era o início do êxodo.
79
«Notícias», 10 Ago. 1974: 1; «Notícias», 13 Ago. 1974: 1-2; «Notícias», 15 Ag. 1974: 1. PRO, FCO 45/1541, Political
situation in Mozambique, 1974.
80
MOITA, 1984: 289.
81
PRO, FCO 45/1731, Mozambique: annual review for 1974, 1975. Cf. MACQUEEN, 1998: 181-182.
82
Apud MOITA, 1984: 289.
83
PRO, FCO 45/1542, Political situation in Mozambique, 1974; PRO, FCO 45/1731, Mozambique: annual review for
1974, 1975. Cf. O acordo de Lusaka inconstitucional e antidemocrático não defende os interesses de Portugal e dos povos
de Moçambique. «Jornal Português de Economia & Finanças», 16-31 Dez. 1974: 7-12.
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NÃO NOS DEIXEMOS PETRIFICAR: REFLEXÕES NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE VICTOR DE SÁ
84
Os incidentes terão começado no dia 6 de Setembro de 1974, no momento em que militantes pró-Frelimo,
nomeadamente alguns Democratas, mobilizavam a população da cidade para um comício no Estádio da Machava.
Durante a mobilização, um automóvel do jornal «Notícias», engalanado com quatro bandeiras da Frelimo, terá arrastado
pelo chão uma bandeira portuguesa, facto que provocou a reacção de alguns brancos, registando-se então os primeiros
confrontos que depois evoluíram para a rebelião. PRO, FCO 45/1542, Political situation in Mozambique, 1974.
85
O Consulado Britânico em Lourenço Marques estimou em cerca de vinte mil o número de manifestantes a favor
do MML. PRO, FCO 45/1543, Political situation in Mozambique, 1974
86
PRO, FCO 45/1541, Political situation in Mozambique, 1974.
87
PRO, FCO 9/2503, Overseas territories of Portugal, 1974. Segundo o relato do próprio, Jorge Jardim estava de passagem
por Johannesburg no dia 7 de Setembro de 1974. JARDIM, 1976: 347-354.
88
Spínola justificou a sua relutância em tomar medidas contra os revoltosos pelo facto de não poder agir contra
«portugueses» que se haviam levantado «em defesa da honra e da dignidade da Pátria». Cf. SPÍNOLA, 1978: 307-308.
Em declarações à imprensa, Melo Antunes falou da existência duma «proclamação da independência unilateral de
Moçambique» pelos rebeldes de Lourenço Marques. Cf. «A Província de Angola», 12 Set. 1974: 2.
168
A REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974 EM MOÇAMBIQUE
89
PRO, FCO 45/1541, Political situation in Mozambique, 1974.
90
Para uma descrição «pessoal» da rebelião por alguns dos intervenientes veja-se: SAAVEDRA, 1975; MESQUITELA,
1976; OLIVEIRA, 1978; COUTO, 2011; CARDOSO, 2014.
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NÃO NOS DEIXEMOS PETRIFICAR: REFLEXÕES NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE VICTOR DE SÁ
91
MACHAVA, 2015: 72-75. Os relatórios elaborados pelo Consulado Britânico em Lourenço Marques são
particularmente relevantes para a compreensão da rebelião. Para além de descreverem de forma minuciosa os
acontecimentos, os diplomatas britânicos responsabilizaram os Democratas de Moçambique por terem criado um
ambiente propício à revolta devido ao radicalismo e ao extremismo das suas posições, mas atribuíram as maiores
responsabilidades ao Estado Português, por ter negociado um acordo sem ter tido em consideração as opiniões e os
interesses da população. PRO, FCO 45/1542, Political situation in Mozambique, 1974; PRO, FCO 45/1543, Political
situation in Mozambique, 1974 [em especial Despatches by Stanley Duncan, HM Consul General at Lourenço Marques,
entitled European insurrections in Mozambique, 7-10 September 1974].
92
PRO, FCO 45/1542, Political situation in Mozambique, 1974.
170
A REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974 EM MOÇAMBIQUE
FONTES
Public Record Office (PRO)
PRO, FCO 45/1308, Internal situation in Mozambique, 1973.
PRO, FCO 9/2065, Relations between Portugal and Africa, 1974.
PRO, FCO 9/2049, Overseas territories of Portugal, 1974.
PRO, FCO 9/2052, Overseas territories of Portugal, 1974.
PRO, FCO 9/2503, Overseas territories of Portugal, 1974.
PRO, FCO 45/1533, Policy of Portugal to her overseas territories, 1974.
PRO, FCO 45/1534, Policy of Portugal towards her overseas territories, 1974.
PRO, FCO 45/1539, Political situation in Mozambique, 1974.
PRO, FCO 45/1540, Political situation in Mozambique, 1974.
PRO, FCO, 45/1541, Political situation in Mozambique, 1974.
PRO, FCO 45/1542, Political situation in Mozambique, 1974.
PRO, FCO 45/1543, Political situation in Mozambique, 1974.
PRO, FCO 45/1549, Military situation in Mozambique, 1974.
PRO, FCO 45/1503, Political situation in Angola, 1974
PRO, FCO 45/1731, Mozambique: annual review for 1974, 1975.
Fontes Impressas
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JARDIM, Jorge (1976). Moçambique terra queimada. Lisboa: Editorial Intervenção.
MESQUITELA, Clotilde (1976). Moçambique 7 de Setembro. Lisboa: A Rua.
93
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