Efeito Terapeutico
Efeito Terapeutico
Efeito Terapeutico
MARCELO SCHMITT
CERRO LARGO
2021
MARCELO SCHMITT
CERRO LARGO
2021
MARCELO SCHMITT
BANCA EXAMINADORA
Dedico a José Ervin Schmitt (in memoriam),
meu pai, meu guerreiro, meu herói!
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a minha família, meu pai, José (in memoriam) e minha mãe,
Edít, que apesar dos empecilhos e dificuldades enfrentadas ao longo de suas vidas, nunca
mediram esforços para fornecer todo o apoio e incentivo necessário, tornando essa experiência
possível, vocês são meu exemplo de vida!
À minha namorada Gênifer, que sempre esteve ao meu lado me apoiando, do primeiro
dia de graduação até as últimas palavras deste trabalho, e, as vezes, me acalentando e dando
força nos momentos de dificuldade.
Aos meus sogros Lurdes e Celso, que se tornaram meus segundos pais, e me acolheram
como um filho em sua família.
Aos meus amigos Pedro e Fábio, que tornaram esses cinco anos muito mais do que
apenas um tempo de aprendizado acadêmico, mas sim uma época memorável e saudosa.
Aos demais colegas, que de alguma forma ou outra ajudaram durante os projetos de
pesquisa e extensão ao longo da graduação.
Ao professor Evandro Pedro Schneider, pelas oportunidades cedidas a mim na área de
pesquisa e extensão, orientações acadêmicas e pessoais, que, juntamente com a professora
Débora Leitzke Betemps, me apresentou à fruticultura, área que tanto encanta quem com ela
trabalha.
À todos os responsáveis da área experimental do campus, especialmente ao eng. agr.
Odair Schmitt, que sempre me auxiliou em todas as demandas dos projetos, não medindo
esforços para a realização e implantação das atividades.
Aos demais professores que tive durante minha graduação, assim como todos os
funcionários da UFSS que sempre possibilitaram o bom funcionamento da instituição durante
o tempo que ali permaneci como acadêmico.
O aumento da produtividade de uma cultura está diretamente atrelado a nutrição a ela ofertada,
sendo comumente suprida via solo com a oferta de materiais de origem mineral. Pelo adubo
mineral ser um recurso finito, buscam-se atualmente produtos alternativos, ou que venham a
complementar a adubação, encontrando-se nesta categoria as adubações com material orgânico,
oriunda muitas vezes de descartes. Esses materiais orgânicos podem ainda ser potencializados,
utilizando transformações por meio de fermentações, gerando os biofertilizantes, produtos com
maior eficiência nutritiva para as plantas. O objetivo do presente trabalho foi avaliar três tipos
de biofertilizantes, a base esterco bovino, esterco suíno e húmus em diferentes concentrações,
e enriquecidos com microrganismos eficientes, sobre a cultura da alface. O experimento foi
conduzido em propriedade particular no município de Santo Cristo, estado do Rio Grande do
Sul. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com cinco
repetições em esquema fatorial 3 x 5, em que os tratamentos representaram a combinação dos
três tipos de biofertilizante (Esterco Bovino, Esterco suíno e Húmus,) as cinco concentrações
(T1: 0%, T2: 2,5% T3: 5 T4: 10%, T5:15%), em aplicação foliar a cada 7 dias, a partir do quarto
dia da realização do transplantio das mudas, totalizando 6 aplicações em todo experimento. Nos
fatores altura de planta, clorofila, comprimento de folha, largura de folha, massa seca de folhas,
massa verde de folhas e sanidade foliar, os dados não foram significativos. No fator diâmetro
de planta o esterco suíno obteve maiores médias, não diferindo estatisticamente do húmus. Para
valores de massa verde de caule, observou-se interação entre concentração e tipo de
biofertilizante, sendo o húmus a 10% a concentração com maiores ganhos. Para massa verde de
raiz, o biofertilizante de húmus obteve os maiores valores, não diferindo estatisticamente do
esterco suíno. Apesar de não ser significativos em alguns parâmetros, os dados dos tratamentos
a base de húmus se sobressaíram, além de apontarem para uma dose ótima de biofertilizante
com esta fonte de material orgânico (10%), o que pode vir a servir de ponto de partida para
escolha de doses ou tratamentos para futuros estudos com seu uso.
Palavras-chave: Nutrição Vegetal. Material Orgânico. Húmus. Esterco Suíno. Esterco Bovino.
ABSTRACT
The increase in the productivity of a crop is directly linked to the nutrition offered to it, and it
is commonly supplied via soil with the supply of materials of mineral origin. Because mineral
fertilizer is a finite resource, alternative products are currently being sought, or that will
complement fertilization, with fertilizers with organic material in this category, often resulting
from discarding. These organic materials can also be enhanced, using transformations through
fermentations, generating biofertilizers, products with greater nutritional efficiency for plants.
The objective of the present work was to evaluate three types of biofertilizers, based on bovine
manure, swine manure and humus in different concentrations, and enriched with efficient
microorganisms, on lettuce culture. The experiment was conducted on a private property in the
municipality of Santo Cristo, state of Rio Grande do Sul. The experimental design used was
completely randomized, with five replications in a 3 x 5 factorial scheme, in which the
treatments represented the combination of the three types of biofertilizer (Bovine Dung, Pig
Dung and Humus,) the five concentrations (T1: 0%, T2: 2.5% T3: 5 T4: 10%, T5: 15%), in
foliar application every 7 days, from the fourth day of transplanting the seedlings, totaling 6
applications in the whole experiment. In the factors plant height, chlorophyll, leaf length, leaf
width, dry leaf weight, green leaf weight and leaf health, the data were not significant. In the
plant diameter factor, swine manure obtained higher averages, not differing statistically from
humus. For green mass values of stem, an interaction between concentration and type of
biofertilizer was observed, with 10% humus being the concentration with the greatest gains.
For green root mass, the humus biofertilizer obtained the highest values, not differing
statistically from swine manure. Despite not being significant in some parameters, the data from
humus-based treatments stood out, in addition to pointing to an optimal dose of biofertilizer
with this source of organic material (10%), which may serve as a starting point for choosing
doses or treatments for future studies with its use.
Keywords: Vegetable Nutrition. Organic material. Humus. Swine manure. Cattle manure.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Tabela 1 – Valores médios de altura (cm) e diâmetro de planta (cm) de alface dos tratamentos
com biofertilizantes elaborados com diferentes fontes de material orgânico. .......................... 32
Tabela 2 - Valores médios de número de folhas dos tratamentos com biofertilizantes elaborados
com diferentes fontes de material orgânico. ............................................................................. 33
Tabela 3 - Valores médios de comprimento de folha (cm) e largura de folha (cm) dos
tratamentos com biofertilizantes elaborados com diferentes fontes de material orgânico. ...... 34
Tabela 4 - Valores médios de massa verde de folha (g) e massa verde de raiz (g) dos tratamentos
com biofertilizantes elaborados com diferentes fontes de material orgânico. .......................... 34
Tabela 5 - Valores médios de massa verde de caule (g) dos tratamentos com biofertilizantes
elaborados com diferentes fontes de material orgânico............................................................ 35
Tabela 6 - Valores médios da escala de sanidade foliar dos tratamentos com biofertilizantes
elaborados com diferentes fontes de material orgânico............................................................ 37
Tabela 7 – Valores médios de clorofila de acordo com o Índice de Clorofila Falker (ICF) dos
tratamentos com biofertilizantes elaborados com diferentes fontes de material orgânico. ...... 38
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 12
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................... 14
2.1 BIOFERTILIZANTES .................................................................................................... 15
2.1.1 Microrganismos Eficientes (EM) ................................................................................. 17
2.1.2 Esterco Bovino ............................................................................................................... 18
2.1.3 Esterco Suíno ................................................................................................................. 19
2.1.4 Húmus ............................................................................................................................. 20
2.2 A CULTURA DO ALFACE ........................................................................................... 20
3 MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................................... 23
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA .................................................................................. 23
3.2 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL .......................................................................... 23
3.3 PRODUÇÃO DE MUDAS E MANEJO DO EXPERIMENTO ..................................... 24
3.4 COLETA DOS MICRORGANISMOS EFICIENTES (E.M)......................................... 25
3.5 ELABORAÇÃO DOS BIOFERTILIZANTES ............................................................... 26
3.6 APLICAÇÃO DOS BIOFERTILIZANTES ................................................................... 27
3.7 AVALIAÇÕES BIOAGRONÔMICAS .......................................................................... 28
3.7.1 Altura e diâmetro de planta.......................................................................................... 28
3.7.2 Número de folhas ........................................................................................................... 28
3.7.3 Comprimento e largura de folhas ................................................................................ 29
3.7.4 Massa verde das folhas, caule e raiz ............................................................................ 29
3.7.5 Massa seca das folhas .................................................................................................... 30
3.7.6 Sanidade das folhas externas das plantas .................................................................... 31
3.7.7 Índice de clorofila nas folhas ........................................................................................ 31
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................. 32
4.1 ALTURA E DIÂMETRO DE PLANTA ........................................................................ 32
4.2 NÚMERO DE FOLHAS ................................................................................................. 33
4.3 COMPRIMENTO E LARGURA DE FOLHAS ............................................................. 33
4.4 MASSA VERDE DAS FOLHAS, RAIZ E CAULE ...................................................... 34
4.5 MASSA SECA DAS FOLHAS....................................................................................... 36
4.6 SANIDADE DAS FOLHAS EXTERNAS DAS PLANTAS ......................................... 36
4.7 ÍNDICE DE CLOROFILA NAS FOLHAS .................................................................... 37
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 39
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 40
12
1 INTRODUÇÃO
orgânicos que possam ser fontes de nutrientes e proporcionar um resultado ainda melhor na
composição dos biofertilizantes enriquecidos. Pensando nisso, foram escolhidos três materiais
de grande disponibilidade (esterco bovino, esterco suíno e húmus) para servirem como substrato
adicional aos microrganismos, comparando principalmente o húmus com as outras fontes de
material orgânico que já são indicados para a produção de biofertilizantes, e também suas
respectivas dosagens que venham a trazer resultados significativamente positivos na cultura em
que foram testados.
Objetivou-se de modo geral com este trabalho avaliar o efeito da aplicação de diferentes
biofertilizantes, enriquecidos com microrganismos eficientes, via adubação foliar, a base de
esterco bovino, esterco suíno e húmus na cultura da alface.
Especificadamente, objetivou-se: comparar o efeito do húmus com as duas fontes de
material orgânico indicados; identificar características físicas da planta que possam apontar
diferentes resultados entre os tratamentos; correlacionar as doses testadas com os teores de
clorofila nas folhas.
14
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
escorrimento, gerando assim um maior contato do produto com a planta em decorrência do alto
volume aplicado. A adubação foliar se faz importante principalmente no processo de
suplementação da adubação no solo, sendo que corrige mais rapidamente as deficiências que
possam vir a ocorrer na cultura (MALAVOLTA; ROMERO,1975, apud MEDEIROS et al.,
2007).
2.1 BIOFERTILIZANTES
Os biofertilizantes vem sendo empregados atualmente nas mais variadas culturas, sendo
tanto disponibilizado como única fonte nutritiva para a cultura ou como uma complementação
da adubação convencional, destacando o uso em hortaliças. Segundo Santos (1992) apud
Marrocos (2011), de modo geral os biofertilizantes em hortaliças devem ser utilizados em
pulverizações semanais, permitindo um bom desenvolvimento das culturas, por terem por
característica seu ciclo curto, exigindo assim uma complementação mais rápida e eficaz dos
nutrientes, como por exemplo a alface, planta usado no presente estudo.
Apesar dos biofertilizantes possuírem um grande potencial de uso como adubos foliares,
ainda existem poucos estudos relacionados a seu correto uso e utilização. O processo de
reciclagem de resíduos orgânicos que visa o seu aproveitamento como fonte alternativa na
produção e uso do biofertilizante, se torna estratégico de um ponto de vista ambiental e
conveniente quando viável economicamente. (FERNANDES; TESTEZLAF, 2002),
Já Pegorer et al. (1995), apud Guia (2018), define que os EM são formados por um
conjunto de microrganismos que se encontram em solos que ainda não sofreram com a
degradação e que possam auxiliar a produção agrícola. Ainda retrata que os EM não são
fertilizantes químicos, nem hormônios, mas acabam agindo no solo fazendo com que a
capacidade natural de produção se manifeste.
Os microrganismos em seu grande grupo dividem-se entre: regenerativos e
degenerativos. Os regenerativos, nos quais se enquadram os EM, produzem substâncias de
origem orgânica (as quais são úteis as plantas) além de hormônios e vitaminas via metabolismo
secundário. Já os degenerativos produzem via metabolismo primário substâncias com ação
prejudicial a planta, como amônia e sulfeto de hidrogênio, endurecendo o solo,
consequentemente impedindo o crescimento e favorecendo a infestação de pragas e doenças
(ANDRADE, 2011).
Andrade (2011) em sua obra destaca os quatro grandes grupos que formam os EM. As
leveduras – utilizam substâncias liberadas pelas raízes das plantas e sintetizam vitaminas,
ativando outros microrganismos do solo. Os actinomicetos – acabam controlando os fungos e
bactérias patogênicas, e aumentando também a resistência das plantas. Bactérias produtoras de
ácido lático - controla alguns microrganismos nocivos e pela fermentação da matéria orgânica
não curtida liberam nutrientes para as plantas. Bactérias fotossintéticas – utilizam a energia
solar e substâncias excretadas pela planta para então sintetizar vitaminas e nutrientes que
favorecem o crescimento das plantas.
O uso do esterco bovino na adubação orgânica já vem sendo utilizada a milênios, tendo
uma queda em seu uso com a incrementação da adubação mineral, e recentemente teve
novamente sua importância retomada, com a crescente preocupação ambiental, alimentar e
como forma de dar um destino correto nos dejetos oriundos da produção bovina (SAMPAIO;
OLIVEIRA; NASCIMENTO, 2007).
Em estudos realizados por Menezes e Silva (2008), com aplicação anual de esterco
bovino ao longo de seis anos, o mesmo produziu um aumento significativo de fosforo total do
solo, proporcionando também elevação de pH na camada de 0-20cm quando comparadas a áreas
que não possuíram adubação com o esterco.
Alcântara (2016), destaca que quando se busca um fertilizante orgânico um dos mais
lembrados e utilizados acaba sendo o esterco bovino, por ser uma boa fonte nutricional para as
19
culturas, sendo que traz dados adaptados de Kiehl (1985), onde este autor encontra teores de
1,92% de N, 1,01 % de P e 1,62% de K em seus estudos.
Segundo os dados de teores médios de nutrientes de alguns adubos orgânicos do Manual
de adubação e calagem para os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (2016), o esterco
sólido de bovino contém em massa por matéria seca 1,5 % de N, 1,4 % de P e 1,5% de K, 0,8
% de Ca e 0,5 % de Mg.
2.1.4 Húmus
A alface (Lactuca sativa L.), é uma hortaliça que tem por centro de origem a região
mediterrânea, sendo conhecido o seu uso em meados dos anos 4500 a.C. no antigo Egito, onde
foi domesticada. Existem evidências de que a domesticação da alface ocorreu a partir da espécie
selvagem L. serriola, e introduzida na Europa Ocidental no início do Século XV. Veio
posteriormente para o Brasil junto com os portugueses no século XVI, para ser usada na
alimentação (JAGGUER et al., 1941, TRANI et a.l, 2014).
É uma planta herbácea, caracterizada com folhas delicadas presas por um pequeno
caule. O crescimento foliar se dá na forma de roseta ao redor do caule. As folhas podem ser
21
lisas ou crespas e podem ou não formar “cabeças”. Seus tons de cores podem variar desde a
diversos verdes ou roxo, dependendo da cultivar (FILGUEIRA, 2000, apud TESSEROLI
NETO, 2006).
Até os anos 80 o consumidor brasileiro tinha por preferência o consumo das cultivares
de alface do tipo lisa, oriundas de cultivares centenárias que vinham sendo produzidas. O grande
problema enfrentado pelos agricultores era que nas condições de cultivo de alta temperatura e
grande umidade, o ataque por fungos e bactérias aliados ao pendoamento precoce (causada
pelas altas temperaturas) geravam perdas aos agricultores que chegavam a 60% de sua produção
(SALA; COSTA, 2012).
Indo de encontro ao problema enfrentado pelos produtores de alface, pesquisadores da
USP-ESALQ, desenvolveram e introduziram no mercado a cultivar “Regina”, tendo por
características ser uma planta aberta, sem formação de cabeça e seu cultivo no verão era
permitido, condições estas que limitavam anteriormente a produção das demais cultivares.
Atualmente a alface é a hortaliça folhosa mais importante no Brasil e no mundo, tendo seu
consumo principalmente in natura e em saladas (SALA; COSTA, 2012). Segundo dados do
IBGE em censo agropecuário de 2006, a produção brasileira de alface foi 576,338 toneladas.
De acordo com as características das folhas e da formação ou não de “cabeças”, as
cultivares de alface pode ser classificada em cinco grandes grupos: a) americana – formação de
cabeça com folhas grossas; b) crespa – não formação de cabeça com folhas crespas; c) lisa ou
manteiga – formação de cabeça com folhas lisas; d) mimosa – não formação de cabeça com
folhas de borda repicada; e) romana – formação de cabeça alongada com folhas lisas, alongadas,
duras e grossas. Ainda podem ser classificadas em subgrupos, de acordo com a coloração das
folhas, sendo verde ou roxa (INSTITUTO BIOLÓGICO DO ESTADO DE SÃO PAULO,
2017).
As condições de temperatura ideais para seu cultivo se encontram entre 15 e 20 ºC.
Deve-se ter um grande cuidado em relação a produção em altas temperaturas, pois dependendo
da cultura e sua resistência, a mesma pode pendoar. O pendoamento da alface é a passagem da
cultura para a fase reprodutiva, sendo este acelerado quando plantas com baixa tolerância ao
calor são expostas a condições de alta temperatura. (AGUIAR et al., 2014; SUINAGA, 2018).
Segundo Suinaga (2018), este processo de pendoamento eleva a produção de látex pela
planta, conferindo sabor amargo as folhas, característica não desejável pelos consumidores.
Além disso o pendoamento altera o formato da planta, sendo que a mesma começa a alongar o
caule, tornando-as plantas altas e também menos atrativas visualmente ao consumidor final.
Para evitar este processo indesejado na produção comercial a melhor alternativa é o uso de
22
cultivares resistentes ao pendoamento, que nada mais é que cultivares que toleram este estresse
climático.
A época de cultivo irá variar de acordo com as características climáticas da Região.
Locais com temperaturas não muito elevadas seu cultivo pode prorrogar-se durante todo o ano.
Regiões mais quentes, que nos meses de dezembro a fevereiro possuem temperaturas elevadas
e altos índices pluviométricos, evita-se o cultivo nesta época do ano. Para diminuir a incidência
de problemas ocasionados por altas temperaturas e chuvas excessivas pode-se fazer o uso de
telas de sombreamento e/ou cultivo protegido em estufas agrícolas, respectivamente (AGUIAR
et al., 2014).
O sistema radicular da alface é bastante ramificado e também superficial, sendo que as
raízes exploram os primeiros 25 cm de profundidade no solo. Já a raiz pivotante pode atingir
até 60 cm de profundidade. Sua preferência é de solos com textura média, mas pode ser
cultivado em solos com textura arenosa e argilosa, além de necessitar solos com boa capacidade
de retenção de água (Filgueira 2008, apud YURI et al., 2016; AGUIAR et al., 2014).
O seu desenvolvimento inicial é lento, mas após os 30 dias o ganho de massa seca se
acentua, sendo que permanece até a colheita. Sua absorção de nutrientes quando comparada
com outras culturas é pequena, mas por se tratar de uma cultura de ciclo rápido acaba se
tornando mais exigente em nutrientes. Se há deficiência dos nutrientes ofertados à cultura,
consequentemente haverá uma diminuição direta na sua produtividade (ZAMBOM, 1982 apud
YURI et al., 2016).
Segundo o Manual de adubação e calagem para os estados do Rio Grande do Sul e Santa
Catarina (2016), encontra-se os dados relativo à faixa de valores de nutrientes considerados
adequados em folhas de alface, sendo estes de 3 – 5% de N, 0,4 – 0,7% de P, 5 – 8% de K, 1,5
– 2,5% de Ca, 0,4 – 0,6% de Mg e 0,15 – 0,25% de S.
Pelo fato da alface se tratar de uma cultura indicadora nutricionalmente, e altamente
responsiva a diferentes adubações e diferentes níveis de adubação, optou-se pelo uso desta
cultura para a realização do experimento, podendo esta oferecer características que venham a
expressar possíveis características nutricionais positivas dos diferentes biofertilizantes.
23
3 MATERIAL E MÉTODOS
juntos, já o Ca será ofertado em uma diluição separada, para evitar possível precipitação dos
nutrientes.
A aplicação dos biofertilizantes foi realizada via foliar, de acordo com a recomendação
do MAPA através das “fichas agroecológicas para produção orgânica”. Previamente à
utilização, o biofertilizante será filtrado para a retirada de partes sólidas.
Foram realizadas aplicações a cada sete dias, com o auxílio de um borrifador (Figura 5),
quantificando e padronizando o biofertilizante aplicado com um número de borrifadas
necessárias para o molhamento completo da planta a ponto de escorrimento, sendo este número
de borrifadas determinado na planta um do tratamento um, e utilizado então nas demais plantas.
As aplicações iniciaram após o quarto dia do transplante das mudas.
As dosagens de biofertilizantes recomendadas para hortaliças em geral variam de 3 a
5%, mas para o presente experimento foram utilizadas variações de dosagens de 0%
(testemunha) até 15%, para possibilitar as análises de regressão, e também proporcionar a
determinação do ponto de máxima eficiência técnica dos biofertilizantes.
Para o experimento em questão, foram utilizadas as seguintes dosagens e respectivas
diluições: 0% (aplicação apenas de água), 2,5% (250 ml de biofertilizante diluído em 9,75 litros
de água), 5% (500 ml de biofertilizante diluído em 9,5 litros de água), 10% (1 litro de
biofertilizante diluído em 9 litros de água) e 15% (1,5 litros de biofertilizante diluído em 8,5
litros de água).
Para avaliação destas características utilizou-se uma régua graduada (figura 6),
mensurando a altura do ponto mais alto da planta ao nível do substrato, e o diâmetro entre os
pontos extremos. Quando as plantas estavam ao ponto de colheita (46 dias após o transplante)
foram então submetidas às avaliações.
O número de folhas por planta foi determinado partindo-se da contagem das folhas
basais até a última folha aberta. Nesta etapa as folhas foram separadas do caule, e este das
raízes, para dar continuidade para as próximas avaliações.
29
Estes parâmetros foram analisados com o auxílio de uma régua graduada (figura 7),
onde foi medido os dois pontos mais extremos em relação ao comprimento da folha e em relação
a largura da folha, sendo que foram analisadas a forma e área de folha.
Para análise da massa verde de folha, caule e raiz, as partes das plantas foram separadas
individualmente entre si, sendo estas as folhas, caule e raiz. Após separadas, foram pesadas em
uma balança de precisão (figura 8) para obter a massa de cada material. Os resultados serão
apresentados em proporção da composição da planta em função dos tratamentos.
30
A sanidade das folhas externas das plantas foi analisada após a colheita, baseada em
uma escala visual de notas utilizada por Resende (2005), variando entre valores de 1 a 5 (nota
1 - plantas com as folhas externas altamente atacadas por doenças foliares; nota 2 - presença
abundante de lesões nas folhas externas; nota 3 - presença moderada de lesões nas folhas
externas; nota 4 - lesões escassas nas folhas externas e nota 5 - plantas com as folhas externas
sadias).
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 1 – Valores médios de altura (cm) e diâmetro de planta (cm) de alface dos tratamentos
com biofertilizantes elaborados com diferentes fontes de material orgânico.
Tabela 2 - Valores médios de número de folhas dos tratamentos com biofertilizantes elaborados
com diferentes fontes de material orgânico.
área foliar (fator determinado por comprimento e largura de folhas), obtendo na dosagem de
22% uma área de foliar de 4606,73 cm², comparado a testemunha com área de 3269 cm². No
presente estudo, estes ganhos não foram observados, podendo os resultados estarem atrelados
em parte, ao material genético utilizado.
Tabela 3 - Valores médios de comprimento de folha (cm) e largura de folha (cm) dos
tratamentos com biofertilizantes elaborados com diferentes fontes de material orgânico.
Para os parâmetros de massa verde de folha e massa verde de raiz, não foi observado
interação significativa entre os fatores “tipos de biofertilizantes” e “concentração de
biofertilizante”. Quanto analisados isoladamente os fatores não foram significativos para massa
verde de folha. Para massa verde de raiz houve significância estatística, sendo o húmus o
biofertilizante que obteve maior massa, mas os resultados obtidos apresentaram um alto
coeficiente de variação, chegando a 51,21% para o fator massa verde de raiz (tabela 4).
Tabela 4 - Valores médios de massa verde de folha (g) e massa verde de raiz (g) dos tratamentos
com biofertilizantes elaborados com diferentes fontes de material orgânico.
Para o parâmetro massa verde de caule, houve interação significativa entre os fatores
“tipos de biofertilizantes” e “concentração de biofertilizante”, sendo o húmus o biofertilizante
com maiores médias (tabela 5), não diferindo estatisticamente do esterco suíno.
Tabela 5 - Valores médios de massa verde de caule (g) dos tratamentos com biofertilizantes
elaborados com diferentes fontes de material orgânico.
Gráfico 1 – Curva de médias observadas para massa verde de caule (g) nas diferentes dosagens
de concentração de biofertilizantes a base de húmus.
7
6,172
6 5,672
4,919 4,976
5
Massa de caule (g)
4 3,428
3
y = -0,0214x2 + 0,4649x + 3,5344
2 R² = 0,9358
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Máxima eficiência Concentração de biofertilizante
36
Tesseroli Neto (2006) em seu estudo com alface americana, constatou que com o uso de
biofertilizantes a base de esterco bovino, apresentaram os melhores resultados de ganho massa
fresca e massa seca de planta em concentrações de 2% e queda de ganho em concentrações
superiores. Para o autor, utilizar enriquecimento do biofertilizante com micronutrientes, obteve
necessidades mais baixas de biofertilizante, mas a tendência de obter uma concentração ótima
e quando utilizado valores superiores terem efeitos adversos na cultura, repetiu-se no presente
trabalho.
Relativo à variável “massa seca das folhas”, esta não teve interação significativa entre
os fatores “tipos de biofertilizantes” e “concentração de biofertilizante. Quando analisados de
forma separada, estes fatores também não apresentaram significância estatística, apresentando
apenas o húmus com média de massa seca de 3,49 g, seguido do esterco suíno (3,45 g), esterco
bovino (3,30 g) e a testemunha (3,13 g).
Os resultados de massa seca das folhas podem ser comparados aos estudos de Moraes
et al (2006) que utilizando solos com alta concentração nutricional e diferentes concentrações
de biofertilizante não obteve resultados significativos na cultura do tomate. Tesseroli Neto
(2006) também não obteve resultados significativos no ganho de massa seca das folhas, apenas
diferindo a variedade testada, no caso de seus estudos a alface crespa.
A alta fertilidade do solo encontrada nos estudos de Tesseroli Neto (2006) pode ter sido
um fator determinante para os dados de massa seca das folhas não apresentarem resultados
significativos também no presente trabalho, onde ofertou-se via solo a nutrição necessária pra
cultura, repetindo-se as condições de alta fertilidade ofertada as plantas. Luz (2010) indica que
a fertilização foliar atua de forma a complementar e corrigir possíveis falhas que vem a ocorrer
na fertilização do solo, estimulando também fisiologicamente algumas fases da cultura.
Para o fator de sanidade das folhas externas, não houve significância estatística na
interação dos fatores “tipos de biofertilizantes” e “concentração de biofertilizantes”. Quando
analisados de forma separada também não apresentaram significância estatística.
Muller (1999), em seus estudos encontra efeito positivo do uso de biofertilizante
enriquecido no controle de pinta preta e septoriose na cultura do tomateiro, onde o uso do
37
Tabela 6 - Valores médios da escala de sanidade foliar dos tratamentos com biofertilizantes
elaborados com diferentes fontes de material orgânico.
Para os dados de clorofila das folhas analisados, tanto Clorofila A, B e total não houve
significância estatística, apesar dos tratamentos terem valores médios que partiram de 17,51
ICF (testemunha) até valores médios de 18,70 ICF (em concentrações 15%) (Tabela 07).
Silva (2018) apresenta em seus estudos com diferentes concentrações de biofertilizante
na alface, que apenas o tratamento testemunha (com valores de 13,12 ICF) tem rendimentos
inferiores comparados as concentrações de biofertilizantes que utiliza. No presente trabalho os
resultados se assemelham, não havendo ganhos significativos em diferentes concentrações e
materiais de composição dos biofertilizantes.
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Tabela 7 – Valores médios de clorofila de acordo com o Índice de Clorofila Falker (ICF) dos
tratamentos com biofertilizantes elaborados com diferentes fontes de material orgânico.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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