Acórdão 2265 de 2020 Plenário
Acórdão 2265 de 2020 Plenário
Acórdão 2265 de 2020 Plenário
129/2020-2
RELATÓRIO
“INTRODUÇÃO
1. Cuidam os autos de representação, com pedido de medida cautelar, formulada pelo Sr.
André Santana Navarro (CPF 212.846.078-60), a respeito de possíveis irregularidades ocorridas no
Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), relacionadas à
concorrência 1/2020, para a contratação de empresa especializada para execução de obras de
reforma do edifício sede do Conselho na cidade de São Paulo/SP. O orçamento previsto para as obras
é de R$ 10.011.536,91 (peça 4, p. 22).
EXAME DE ADMISSIBILIDADE
2. Inicialmente, deve-se registrar que a representação preenche os requisitos de
admissibilidade constantes no art. 235 do Regimento Interno do TCU e no art. 103, § 1º da Resolução
– TCU 259/2014, haja vista a matéria ser de competência do Tribunal, referir-se a responsável sujeito
a sua jurisdição, estar redigida em linguagem clara e objetiva, conter nome legível, qualificação e
endereço do representante, encontrar-se acompanhada do indício concernente à irregularidade ou
ilegalidade e de existir interesse público para o trato das supostas irregularidades.
3. Além disso, o cidadão possui legitimidade para representar ao Tribunal, consoante
disposto no inciso VII do art. 237 do RI/TCU c/c o art. 113, § 1º, da Lei 8.666/1993.
4. Infere-se, ainda, a existência do interesse público para o trato da suposta irregularidade
pois, a possível restrição à competitividade decorrente de exigências de qualificação econômico-
financeiras desarrazoadas, bem como a adoção de orçamento desatualizado poderiam, em tese,
causar prejuízo a própria administração pública, na medida em que há o risco de contratação de
proposta economicamente desvantajosa.
5. Dessa forma, a representação poderá ser apurada, para fins de comprovar a sua
procedência, nos termos do art. 234, § 2º, segunda parte, do Regimento Interno do TCU, aplicável às
representações de acordo com o parágrafo único do art. 237 do mesmo RI/TCU.
EXAME TÉCNICO
6. O representante afirmou que o edital da concorrência 1/2020 traz exigências abusivas e
ilegais, impedindo que o maior número de empresas interessadas participe do certame, em prejuízo à
competitividade e consequente contratação mais benéfica para a Administração Pública.
7. A primeira irregularidade apontada é a existência de orçamento defasado,
comprometendo a economicidade da contratação e levando as empresas a oferecerem preços que não
condizem com a realidade. As referências adotadas para a montagem do orçamento base da licitação
são, segundo o representante: (i) Sinapi, desonerado, junho/2019, (ii) Siurb (prefeitura de São Paulo),
desonerado, janeiro/2019 e (iii) CPOS (estado de SP), desonerado, julho/2019.
8. A segunda irregularidade relatada se refere ao item 7.2.5 do edital que, nas palavras do
representante “prescreve que estão impedidas de participar no certame empresas que estejam sob o
regime de concordata e não prevê a possibilidade de participação de empresas que se encontram em
recuperação judicial”. Acrescenta que tal disposição fere jurisprudência do TCU, trazendo como
exemplo o Acórdão 1.201/2020 – TCU – Plenário.
9. Consoante o art. 276 do Regimento Interno/TCU, o Relator poderá, em caso de urgência,
de fundado receio de grave lesão ao Erário, ao interesse público, ou de risco de ineficácia da decisão
de mérito, de ofício ou mediante provocação, adotar medida cautelar, determinando a suspensão do
procedimento impugnado, até que o Tribunal julgue o mérito da questão. Tal providência deverá ser
adotada quando presentes os pressupostos do fumus boni iuris e do periculum in mora.
10. Analisando sumariamente os elementos apresentados pelo representante, verifica-se que,
antes da concessão da cautelar pleiteada, deve ser realizada a oitiva prévia do Conselho Regional de
Medicina Veterinária do Estado de São Paulo, para que apresente informações imprescindíveis à
confirmação da existência dos pressupostos acima mencionados, a saber: justificar (i) a utilização de
sistemas referenciais no orçamento, com datas-bases diferentes e distantes da própria publicação do
edital, sem atualização monetária e (ii) a proibição de participação de empresas em concordata.
11. Em relação à possível existência da “fumaça do bom direito”, é preciso se certificar de
que os itens impugnados realmente preenchem os requisitos necessários. O orçamento constante da
peça 4 realmente indica as datas informadas pelo representante. Um orçamento defasado afronta o
art. 17, § 4º, inciso I do Decreto 7.983/2013, a jurisprudência deste Tribunal e os princípios básicos
da Administração Pública. No entanto, não é incomum a ocorrência de erros de digitação, de modo
que deve oportunizar ao Conselho se justificar sobre as ocorrências. A análise sumária exigida desta
representação impede que se analise pormenorizadamente o orçamento.
12. O mesmo raciocínio se aplica à vedação de participação de empresas em algumas
situações. É legítima a cautela por parte do contratante em procurar empresas financeiramente
saudáveis. Todavia, as exigências não podem ser desproporcionais. O acórdão mencionado pelo
representante é didático:
...é possível a participação e empresa em recuperação judicial, desde que amparada em certidão
emitida pela instância judicial competente, que certifique que a interessada está apta econômica e
financeiramente a participar de procedimento licitatório nos termos da Lei 8.666/1993. (Acórdão
1.201/2020 – TCU – Plenário, destaques acrescidos)
13. Também é preciso levar em conta o caso concreto na avaliação de eventual restrição à
competitividade. É comum existirem licitações objeto de representação a esta Corte, com alegações de
restrição à competitividade, que contaram com grande número de licitantes habilitados e com
propostas de fato competitivas. Esclarecimentos do órgão licitante podem trazer mais elementos a
essa avaliação.
14. Em relação ao periculum in mora, convém lembrar que a abertura dos envelopes de
habilitação estava prevista para 13/8/2020. Pesquisa realizada no site do CRMV-SP não foi capaz de
indicar se a sessão de fato ocorreu. De todo modo, considerando os prazos recursais, entende-se que
há tempo disponível para a manifestação preliminar do conselho, antes da assinatura de contrato com
o eventual vencedor.
CONCLUSÃO
15. O documento constante da peça 1 deve ser conhecido como representação, por preencher
os requisitos previstos nos arts. 235 e 237, VI, do Regimento Interno/TCU, c/c o art. 103, § 1º da
Resolução – TCU 259/2014.
16. No que tange ao requerimento de medida cautelar, entende-se necessária a realização de
oitiva prévia do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo, para que se
confirme a existência dos requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
17. Ante todo o exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo:
a) conhecer da presente representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade
previstos nos arts. 235 e 237, inciso VI, do Regimento Interno deste Tribunal c/c o art. 103, § 1º, da
Resolução – TCU 259/2014;
b) determinar, nos termos do art. 276, § 2º, do Regimento Interno/TCU, a oitiva do
Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo para, no prazo de até 5 dias
úteis, manifestar-se sobre os fatos apontados na representação formulada por André Santana
Navarro, especialmente quanto (i) a utilização de sistemas referenciais no orçamento, com datas-
bases diferentes e distantes da própria publicação do edital, sem atualização monetária e (ii) a
proibição de participação de empresas em recuperação judicial;
c) facultar ao Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo, nos
termos do art. 14, caput, da Resolução 315/2020 se manifestar sobre a possibilidade de o Tribunal vir
a determinar a anulação ou correção dos atos pertinentes ao certame, notadamente quanto às
consequências práticas da implementação dessas medidas e quanto a eventuais alternativas que
possam ser adotadas para solução dos apontamentos;
d) com fundamento no art. 14, § 1º, da Resolução 315/2020, encaminhar cópia da peça 1 e
da presente instrução ao Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo, a fim
de subsidiar as manifestações a serem requeridas;
e) informar ao Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo que os
autos deste processo podem ser acessados eletronicamente pelas partes, mediante cadastro no site
https://portal.tcu.gov.br/e-tcu/vista-de-processos/.”
É o Relatório.
VOTO
o índice mais adequado para avaliar a evolução do custo da construção civil, notadamente para obras
de reformas de edificação. No caso, apurei que o Índice Nacional de Construção Civil (INCC)
apresenta variação bem inferior no período de janeiro/2019 a julho/2020, de apenas 7,19%, conforme
demonstrado na tabela a seguir:
11. Se for considerado que a maior parcela da planilha orçamentária foi elaborada com
serviços coletados nas datas-bases de julho/2019 ou junho/2019, a defasagem ainda seria inferior, em
torno de apenas 6,5%.
12. Entendo que tal percentual inflacionário não comprometa a atratividade do certame
licitatório, notadamente uma obra de porte médio, da ordem de R$ 10 milhões, considerando que
trabalhos de fiscalização anteriores desta Corte de Contas apuraram superestimativas dos custos
obtidos nos sistemas referenciais de preços da Administração Pública frente aos valores efetivamente
incorridos pelos construtores na aquisição de insumos. Cito nesse sentido a auditoria apreciada pelo
Acórdão 1.101/2015, de relatoria do Ministro José Múcio Monteiro, em que o principal achado
evidenciou que as pesquisas de preços realizadas pela equipe de fiscalização resultaram, em média, em
valores 13,78% mais baixos do que a mediana do Sinapi.
13. Assim, concluo que eventual defasagem nas referências utilizadas é compensada por
diversas outras folgas nos custos referenciais do Sinapi, visto que esta Corte de Contas tem constatado
que os valores dos insumos do referido sistema se apresentam, em geral, acima dos preços
efetivamente transacionados no mercado. Essa margem de segurança no uso do Sinapi pode ser
atribuída aos seguintes fatores, dentre outros:
a) Efeito Cotação: resultado do procedimento rotineiro de pesquisa de preços, por meio do qual
o comprador realiza cotações e escolhe o estabelecimento que apresentou o menor preço,
fazendo com que o preço efetivamente pago pelo construtor seja inferior à mediana das
consultas por ele realizadas.
b) Efeito Barganha: resultado da negociação de grande quantidade, o que provoca redução do
preço unitário do material a ser comprado em função de economias de escala, fator que não é
considerado nas pesquisas de preços realizadas pelo IBGE.
c) Efeito Administração Pública: decorre da identificação, por parte de quem presta a
informação, de que a cotação se destina à mera prestação de informações. No caso das
cotações, esse efeito tende a provocar uma majoração dos preços informados pelo fornecedor,
em virtude de que não há expectativa de compra imediata nem de concorrência entre
fornecedores, fazendo com que o vendedor forneça o preço “de balcão”, sem ofertar qualquer
tipo de abatimento comumente oferecido, pois encara a pesquisa como mera informação e não
como uma venda potencial.
14. Considero improcedente o temor do autor da representação de que as empresas licitantes
ofereçam preços inexequíveis e, posteriormente, solicitem a celebração de termos de aditamento
contratual para corrigir essa deficiência. Trata-se de hipótese de alteração contratual ilegal, conforme
ensinamento de Marçal Justen Filho, em sua obra “Comentários à lei de Licitações e Contratos
Administrativos”, 11ª edição, in verbis:
“14. ... entendo pertinente realizar algumas considerações adicionais, visto que o transcurso
de muito tempo entre a data de elaboração do orçamento estimativo da licitação e a data de
abertura das propostas é um problema recorrente nas licitações de obras públicas.
15. Primeiramente, é forçoso reconhecer que não existe um prazo ou período máximo que
esteja positivado na Lei de Licitações e Contratos limitando a defasagem temporal entre a data
de elaboração do orçamento estimativo da contratação e a data de divulgação da licitação ou
de abertura das propostas.
16. De acordo com o art. 43, inciso IV, da Lei 8.666/1993, os preços da proposta vencedora
deverão estar de acordo com aqueles praticados pelo mercado. Desse modo, antes da
realização de qualquer procedimento licitatório cabe ao gestor público realizar pesquisa de
mercado com a finalidade de elaborar orçamento, o qual será utilizado para se definir a
modalidade de licitação, bem como proceder à necessária adequação orçamentária da
despesa.
17. Além disso, o aludido orçamento estimativo servirá como parâmetro de controle da
3
direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, serão
reajustados ou corrigidos monetariamente de acordo com as disposições desta Lei, e,
no que com ela não conflitarem, da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993.
§ 1º A periodicidade anual nos contratos de que trata o caput deste artigo será contada
a partir da data limite para apresentação da proposta ou do orçamento a que essa se
referir”.
24. Como se vê, o gestor público pode adotar discricionariamente dois marcos iniciais
distintos para efeito de reajustamento dos contratos: (i) a data limite para apresentação da
proposta; e (ii) a data do orçamento. Ocorre que o segundo critério se mostra mais robusto,
pois reduz os problemas advindos de orçamentos desatualizados em virtude do transcurso de
vários meses entre a data-base da estimativa de custos e a data de abertura das propostas.
25. Por esse motivo, entendo pertinente recomendar ao MPOG que, em futuras licitações de
obras públicas, quando se demonstrar demasiadamente complexa a atualização da estimativa
orçamentária da contratação, adote como marco inicial para efeito de reajustamento
contratual a data-base de elaboração da planilha orçamentária.” (grifos acrescidos).
18. Portanto, entendo que esta Corte de Contas possa formular recomendação análoga ao
CRMV-SP, para que adote como marco inicial dos reajustes, em futuros certames licitatórios de obras
públicas, a data-base de elaboração da planilha orçamentária.
20. Assim, a IN 73/2020 admite prazos de até 1 ano entre as referências pesquisadas e a data
de divulgação do instrumento convocatório, prazo que julgo ser adequado também para a validade de
um orçamento estimativo visando a licitação de uma obra pública.
III
21. Passo abordar a exigência editalícia de certidão negativa de recuperação judicial, prevista
nos seguintes termos pelo edital:
“8.9.1. Certidão negativa de falência ou recuperação judicial, ou liquidação judicial, ou de
execução patrimonial, conforme o caso, expedida pelo distribuidor da sede da licitante, ou de
seu domicílio, dentro do prazo de validade previsto na própria certidão, ou, na omissão desta,
expedida a menos de 90 (noventa) dias contados da data da sua apresentação;”
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22. O representante argumenta que tal exigência estaria em dissonância com a jurisprudência
do TCU, citando o Acórdão 1.201/2020-Plenário, de relatoria do Ministro Vital do Rêgo, no qual esta
Corte de Contas admitiu a participação, em licitações, de empresas em recuperação judicial, desde que
amparadas em certidão emitida pela instância judicial competente afirmando que a interessada está
apta econômica e financeiramente a participar de procedimento licitatório.
23. Com as vênias de estilo, considero que não há absolutamente nada de irregular na
exigência editalícia em questão, que se assemelha ao requisito de habilitação econômico-financeira
existente na IN SEGES 5/2017, amplamente utilizada pelos órgãos e entidades do Poder Executivo
Federal, in verbis:
“11. Das condições de habilitação econômico-financeira:
11.1. Nas contratações de serviços continuados com dedicação exclusiva de mão de obra, a
Administração deverá exigir:
(...)
e) Certidão negativa de efeitos de falência, recuperação judicial ou recuperação extrajudicial,
expedida pelo distribuidor da sede do licitante.”
24. Insta salientar que a referida disposição normativa foi editada em atendimento à
recomendação do próprio TCU, exarada por meio do subitem 9.1.10.4 do Acórdão 1.214/2013-
Plenário.
25. Ocorre, porém, que a exigência de certidão negativa de recuperação judicial não obsta
automaticamente a participação da licitante que se enquadre nessa situação. No mencionado Acórdão
1.201/2020-Plenário, a unidade técnica, ao examinar a matéria, considerou ser possível, em certames
licitatórios, a participação de empresas em recuperação judicial, desde que demonstrada sua
viabilidade econômica e financeira. Para ela, “não se trata de vedar a exigência editalícia da certidão
negativa de falência ou recuperação judicial, e sim a relativização durante a fase de julgamento,
conforme o caso e as circunstâncias da fase do processo de recuperação judicial”, cabendo à empresa,
em tal situação, demonstrar sua viabilidade econômica.
26. Nesse sentido é o entendimento da 1ª Turma do STJ adotado no AREsp 309.867/ES, da
relatoria do Ministro Gurgel de Faria:
“ADMINISTRATIVO. LICITAÇÃO. EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
PARTICIPAÇÃO. POSSIBILIDADE. CERTIDÃO DE FALÊNCIA OU CONCORDATA.
INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA. DESCABIMENTO. APTIDÃO ECONÔMICO FINANCEIRA.
COMPROVAÇÃO. OUTROS MEIOS. NECESSIDADE.
(...)
2. Conquanto a Lei n. 11.101/2005 tenha substituído a figura da concordata pelos institutos da
recuperação judicial e extrajudicial, o art. 31 da Lei n. 8.666/1993 não teve o texto alterado
para se amoldar à nova sistemática, tampouco foi derrogado.
3. À luz do princípio da legalidade, 'é vedado à Administração levar a termo interpretação
extensiva ou restritiva de direitos, quando a lei assim não o dispuser de forma expressa' (AgRg
no RMS 44099/ES, Rel. Min. BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em
03/03/2016, DJe 10/03/2016).
4. Inexistindo autorização legislativa, incabível a automática inabilitação de empresas
submetidas à Lei n. 11.101/2005 unicamente pela não apresentação de certidão negativa de
recuperação judicial, principalmente considerando o disposto no art. 52, I, daquele normativo,
que prevê a possibilidade de contratação com o poder público, o que, em regra geral,
pressupõe a participação prévia em licitação.
5. O escopo primordial da Lei n. 11.101/2005, nos termos do art. 47, é viabilizar a superação
da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da
fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo,
assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.
6. A interpretação sistemática dos dispositivos das Leis n.8.666/1993 e n. 11.101/2005 leva à
conclusão de que é possível uma ponderação equilibrada dos princípios nelas contidos, pois a
preservação da empresa, de sua função social e do estímulo à atividade econômica atendem
também, em última análise, ao interesse da coletividade, uma vez que se busca a manutenção
da fonte produtora, dos postos de trabalho e dos interesses dos credores.
7. A exigência de apresentação de certidão negativa de recuperação judicial deve ser
relativizada a fim de possibilitar à empresa em recuperação judicial participar do certame,
desde que demonstre, na fase de habilitação, a sua viabilidade econômica.
8. Agravo conhecido para dar provimento ao recurso especial” (AREsp 309.867/ES, Rel.
Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 26/06/2018, DJe
08/08/2018) (grifos acrescidos).
28. Portanto, em linha com as conclusões do parecer supracitado, entendo que é cabível a
exigência de certidão negativa de recuperação judicial para que a administração tome conhecimento da
situação da empresa licitante e, por conseguinte, possa avaliar a situação de eventual processo de
recuperação judicial por meio das diligências cabíveis, não havendo de se falar em inabilitação
imediata da empresa que se encontrar em recuperação judicial.
29. Dessa forma, julgo improcedente a presente representação e determino o arquivamento do
feito, dando-se ciência desta deliberação ao representante e ao CRMV-SP.
30. Por fim, considerando a ausência de outras informações sobre o resultado do certame ora
em exame, cabe autorizar a SeinfraUrbana, de acordo com um juízo de risco, oportunidade e
materialidade em relação às demais ações de controle a seu cargo, a acompanhar o desenrolar da
Concorrência 1/2020, representando ao relator no caso de apurar irregularidades.
Ante o exposto, VOTO no sentido de que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto à
apreciação deste Plenário.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 26 de agosto de
2020.
BENJAMIN ZYMLER
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Relator
1. Processo nº TC 028.129/2020-2.
2. Grupo II – Classe de Assunto: VII - Representação
3. Interessados/Responsáveis: não há.
4. Órgão/Entidade: Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo.
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura Urbana (SeinfraUrb).
8. Representação legal: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos que versam sobre representação noticiando
possíveis irregularidades ocorridas no Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São
Paulo (CRMV-SP), relacionadas à Concorrência 1/2020, cujo objeto é a contratação de empresa
especializada para execução de reforma do edifício sede da entidade, na cidade de São Paulo/SP,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do
Plenário, ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer da presente representação, com fulcro nos arts. 235 e 237, inciso VII e
parágrafo único, do Regimento Interno do TCU c/c o art. 113, § 1º, da Lei 8.666/1993, para, no mérito,
considerá-la improcedente;
9.2. indeferir o pedido de medida cautelar formulado pelo representante;
9.3. dar ciência desta deliberação ao Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado
de São Paulo (CRMV-SP) e ao representante;
9.4. recomendar ao Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo
(CRMV-SP) que, em futuras licitações de obras públicas, quando se demonstrar demasiadamente
complexa e morosa a atualização da estimativa de custo da contratação, adote como marco inicial para
efeito de reajustamento contratual a data-base de elaboração da planilha orçamentária, nos termos do
art. 40, inciso XI, da Lei 8.666/1993 e do art. 3º, § 1º, da Lei 10.192/2001;
9.5. autorizar a SeinfraUrbana, de acordo com um juízo de risco, oportunidade e
materialidade em relação às demais ações de controle a seu cargo, a acompanhar o desenrolar da
Concorrência 1/2020, representando ao relator caso apure irregularidades;
9.6. arquivar os presentes autos.
Fui presente:
(Assinado Eletronicamente)
CRISTINA MACHADO DA COSTA E SILVA
Procuradora-Geral