Acórdão 3561 de 2024 Segunda Câmara
Acórdão 3561 de 2024 Segunda Câmara
Acórdão 3561 de 2024 Segunda Câmara
059/2024-5
RELATÓRIO
6. Essa confrontação com o Siape fornece uma visão atual e verdadeira da situação, o que permite
descaracterizar irregularidades e inconsistências que, embora constantes do e-Pessoal, já foram corrigidas.
7. As verificações detectadas no ato encontram-se discriminadas na aba de pendências do ato no
sistema e-Pessoal, bem como no espelho do ato contemplado por esta instrução.
Exame das Constatações
8. Ato: 23253/2019 - Inicial - Interessado(a): ARLETE REJANE DE OLIVEIRA KEMPF -
CPF: 199.285.210-34
8.1. Parecer do Controle Interno: considerar o ato Legal.
8.2. Constatações e análises:
8.2.1. Houve o registro de pelo menos uma rubrica com 'Denominação para análise pelo TCU =
Vantagem de caráter pessoal (25 - V.P.N.I. (QUINTOS) (Vantagem de caráter pessoal - Incorporação de
quintos/décimos de função) - R$ 37,72).
a. Instância da constatação: Tribunal de Contas da União
b. Justificativa do Gestor de Pessoal: Não há.
c. Análise do Controle Interno: Não há.
d. Análise da Equipe Técnica (AudPessoal/TCU): Legal
A concessão da vantagem de quintos ou décimos está em consonância com a jurisprudência deste Tribunal e os
critérios das Leis 8.911/1994 e 9.624/1998 (os períodos anteriores a 8/4/1998 são suficientes para a
incorporação da vantagem de quintos).
8.2.2. Houve o registro de pelo menos uma rubrica com 'Denominação para análise pelo TCU =
Vantagem de caráter pessoal (25 - V.P.N.I. (QUINTOS) (Vantagem de caráter pessoal - Incorporação de
quintos/décimos de função) - R$ 596,89).
a. Instância da constatação: Tribunal de Contas da União
b. Justificativa do Gestor de Pessoal: Não há.
c. Análise do Controle Interno: Não há.
d. Análise da Equipe Técnica (AudPessoal/TCU): Ilegal
É ilegal, considerando que o instituto da incorporação de quintos foi extinto, conforme decidido
pelo STF no âmbito do RE 638.115, o cômputo de tempo função após 4/9/2001 para incorporação de
quintos/décimos.
8.3. O quadro resumo de ocorrências e, quando for o caso, o detalhamento da norma legal e da
jurisprudência para as inconsistências acima elencadas encontram-se no anexo II dessa instrução.
CONCLUSÃO
9. A abrangência e a profundidade das verificações levadas a efeito fundamentam convicção de que o
ato 23253/2019 pode ser apreciado pela ilegalidade, em razão das irregularidades apontadas no item Exame das
Constatações desta instrução, que representam afronta à legislação e à jurisprudência de referência
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
10. Ante o exposto, com fundamento no art. 71, inciso III, da Constituição Federal, no art. 1º, inciso V,
e art. 39, incisos I e II, da Lei 8.443/1992, no art. 260 do Regimento Interno do Tribunal de Contas da União,
propõe-se:
10.1. Considerar ILEGAL e recusar registro do ato de Aposentadoria 23253/2019 - Inicial - ARLETE
REJANE DE OLIVEIRA KEMPF do quadro de pessoal do órgão/entidade Tribunal Regional Eleitoral do Rio
Grande do Sul, com base nos arts. 71, inciso III, da Constituição Federal, 1º, inciso V, e 39, inciso II, da Lei
8.443/1992 e 260, § 1º, do Regimento Interno.
10.2. Com fulcro no art. 262, caput, do Regimento Interno deste Tribunal, determinar ao órgão/entidade
Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul que:
10.2.1. dispense a devolução dos valores indevidamente recebidos de boa-fé até a data da ciência do
órgão/entidade Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul, do acórdão que vier a ser proferido, com base
no Enunciado 106 da Súmula da Jurisprudência do TCU.
10.2.2. emita novo ato, livre da irregularidade ora apontada, em substituição ao ato de Aposentadoria de
ARLETE REJANE DE OLIVEIRA KEMPF, submetendo-o à nova apreciação por este Tribunal, na forma do
artigo 260, caput, também do Regimento.
10.2.3. promova a exclusão, no prazo 15 (quinze) dias, contados a partir da ciência desta deliberação,
sujeitando-se a autoridade administrativa omissa à responsabilidade solidária, da rubrica apontada em face de
manifesta ilegalidade, uma vez que o seu pagamento não encontra respaldo na jurisprudência deste Tribunal.
10.2.4. no prazo de trinta dias, contados da ciência da decisão, envie a este Tribunal documentos
comprobatórios de que o(a) interessado(a) cujo ato foi impugnado está ciente do julgamento deste Tribunal.
10.2.5. dê ciência, no prazo de quinze dias, contados da notificação, do inteiro teor desta deliberação (a)o
interessado(a), alertando-o(a) de que o efeito suspensivo proveniente da interposição de eventuais recursos junto
ao TCU não o(a) exime da devolução dos valores percebidos indevidamente, caso o recurso não seja provido.
Ficha financeira do instituidor no mês/ano de referência para o cálculo dos proventos: – Dados não
disponíveis.
Anexo II
Propostas de mérito
Regime Qtde
Núm.ato Nome instituidor Inconsistências encontradas
jurídico Controle Sefip/ incon.
interno TCU
23253/2 ARLETE REJANE Legal Ilegal - Houve o registro de pelo 2
019 DE OLIVEIRA menos uma rubrica com
KEMPF 'Denominação para análise
pelo TCU = Vantagem de
caráter pessoal (25 - V.P.N.I.
(QUINTOS) (Vantagem de
caráter pessoal - Incorporação
de quintos/décimos de função)
- R$ 37,72). – Legal
- Houve o registro de pelo
menos uma rubrica com
'Denominação para análise
pelo TCU = Vantagem de
caráter pessoal (25 - V.P.N.I.
(QUINTOS) (Vantagem de
caráter pessoal - Incorporação
de quintos/décimos de função)
- R$ 596,89). – Ilegal
A possibilidade de incorporação da vantagem denominada 'quintos' foi instituída com a Lei 6.732/1979.
Segundo o art. 2º dessa lei, o servidor no exercício de cargo em comissão ou função de confiança poderia
incorporar, a partir do sexto ano, 1/5 (um quinto) das vantagens correspondentes, a cada ano completo de
exercício, até o limite de 5/5 (cinco quintos); isto é, até completar o décimo ano.
Objetivava-se evitar o decesso remuneratório do servidor ocupante de cargo ou função de confiança que
viesse a ser dispensado em momento futuro e que não fosse passar imediatamente à inatividade.
Uma vez que, até dezembro de 1979, os servidores em atividade que tivessem preenchido os requisitos
temporais do artigo 180 da Lei 1.711/1952 só poderiam contar com tal benefício quando se aposentassem.
Assim, se deixavam um cargo de confiança, após longos anos de exercício, e permaneciam em atividade,
regressavam à situação de origem, com a remuneração do cargo efetivo e nada mais.
Com o advento da Lei 8.112/1990, por meio do seu artigo 62, § 2º, introduziu novo disciplinamento ao
assunto.
A incorporação passou a se dar na proporção de 1/5 (um quinto) a cada ano de exercício da função, até o
limite de cinco anos, sem a exigência do período de carência de cinco anos.
Os critérios para incorporação dessa vantagem foram definidos mais claramente com a publicação da Lei
8.911/1994, que assim dispôs:
Art. 3. Para efeito do disposto no § 2º do art. 62 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, o servidor
investido em função de direção, chefia e assessoramento, ou cargo em comissão, previsto nesta Lei,
incorporará à sua remuneração a importância equivalente à fração de um quinto da gratificação do cargo
ou função para o qual foi designado ou nomeado, a cada doze meses de efetivo exercício, até o limite de
cinco quintos.
§ 1º Entende-se como gratificação a ser incorporada à remuneração do servidor a parcela referente à
representação e a gratificação de atividade pelo desempenho de função, quando se tratar de cargo em
comissão ou função de direção, chefia e assessoramento dos Grupos: Direção e Assessoramento
Superiores - DAS e Cargo de Direção - CD.
§ 2º Quando se tratar de gratificação correspondente às funções de direção, chefia e assessoramento do
Grupo - FG e GR, a parcela a ser incorporada incidirá sobre o total desta remuneração.
§ 3º Quando mais de um cargo em comissão ou função de direção, chefia e assessoramento houver sido
exercidos no período de doze meses, a parcela a ser incorporada terá como base de cálculo a exercida
por maior tempo.
§ 4º Ocorrendo o exercício de cargo em comissão ou de função de direção, chefia ou assessoramento de
nível mais elevado, por período de doze meses, após a incorporação dos cinco quintos, poderá haver a
atualização progressiva das parcelas já incorporadas, observado o disposto no parágrafo anterior.
Entretanto, essa vantagem foi extinta e restabelecida por diversas vezes, como demonstra o breve histórico
abaixo apresentado.
A Medida Provisória - MP 831/1995 extinguiu a vantagem dos quintos, tendo sido reeditada exaustivamente
até a MP 1.160/1995, que a restabeleceu, porém sob a forma de décimos.
Em 10/11/1997, foi editada a MP 1.595-14, que ¿ convertida na Lei 9.527/1997 ¿ extinguiu novamente a
incorporação e a transformou em Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada (VPNI).
Em 8/4/1998, a MP 1.160/1995 foi convertida na Lei 9.624/1998. Essa lei não revogou a Lei 9.527/1997,
apenas limitou temporalmente a incorporação da referida vantagem entre 19/1/1995 até a data da sua
publicação, do tempo residual de exercício de funções comissionadas não empregado até 10/11/1997.
No entanto, essa vantagem sempre esteve cercada de controvérsia. Ainda, em 4/9/2001, foi editada a MP
2.225-45/2001, que acresceu à Lei 8.112/1990 o artigo 62-A, transformando os quintos/décimos em VPNI, com
a seguinte redação:
'Art. 62-A. Fica transformada em Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada - VPNI a incorporação
da retribuição pelo exercício de função de direção, chefia ou assessoramento, cargo de provimento em
comissão ou de Natureza Especial a que se referem os arts. 3º e 10 da Lei no 8.911, de 11 de julho de
1994, e o art. 3º da Lei no 9.624, de 2 de abril de 1998. Parágrafo único. A VPNI de que trata o caput
deste artigo somente estará sujeita às revisões gerais de remuneração dos servidores públicos federais'.
Com o advento desta Medida Provisória, surgiram entendimentos divergentes. Por um lado, achava-se que
seria devida a incorporação de parcelas da vantagem até 8/4/1998 (data de publicação da Lei 9.624/1998). Por
outro, entendia-se que a MP 2.225-45/2001 havia estendido o direito à incorporação da vantagem até a data de
sua publicação.
No âmbito deste Tribunal, foi editado o Acórdão 2.248/2005 - TCU - Plenário (Ministro-Relator Lincoln
Magalhães da Rocha) que fixou os seguintes critérios para incorporação de quintos e décimos:
'9.2. alterar a redação do subitem 9.2 do Acórdão 931/2003 - Plenário para: 'firmar entendimento de que
é devida a incorporação de parcelas de quintos, com fundamento no artigo 3º da MP 2.225-45/2001,
observando-se os critérios contidos na redação original dos artigos 3º e 10 da Lei 8.911/94, no período
compreendido entre 09/04/98 e 04/09/2001, data da edição da referida medida provisória, sendo a partir
de então todas as parcelas incorporadas, inclusive a prevista no artigo 3º da Lei 9.624/98, transformadas
em Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada - VPNI, admitindo-se, ainda, o cômputo do tempo
residual porventura existente em 10/11/1997, desde que não empregado em qualquer incorporação, para
concessão da primeira ou de mais uma parcela de quintos na data específica em que for completado o
interstício de doze meses, ficando, também, essa derradeira incorporação transformada em VPNI, nos
termos do subitem 8.1.2 da Decisão 925/1999 - Plenário'.
Contrariando jurisprudência deste Tribunal, em 18/3/2015, o Supremo Tribunal Federal (STF), ao apreciar o
Recurso Extraordinário (RE) 638.115/Ceará (Ministro-Relator Gilmar Mendes), que teve repercussão geral,
fixou a seguinte tese: 'Ofende o princípio da legalidade a decisão que concede a incorporação de quintos pelo
exercício de função comissionada no período de 8/4/1998 a 4/9/2001, ante a carência de fundamento legal'.
Todavia, ao tomar essa decisão, o STF modulou os seus efeitos para dispensar a devolução dos valores
recebidos indevidamente de boa-fé até a data do julgamento, cessada a ultra-atividade de incorporações em
qualquer hipótese.
Em razão dessa decisão do STF, o supramencionado Acórdão TCU 2.248/2005 - Plenário teve sua
inconstitucionalidade reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal nos autos do Mandado de Segurança
25.763/DF.
Assim, depois da decisão do Supremo Tribunal Federal no âmbito do RE 638.115/CE, este Tribunal
adequou sua jurisprudência e adotou a tese defendida na Decisão 925/1999-Plenário (Ministro-Relator Walton
Alencar) e Acórdãos 731/2003-Plenário e 732/2003-Plenário (ambos de Relatoria do Ministro Guilherme
Palmeira), de que a incorporação ou atualização da vantagem de quintos, transformada em Vantagem Pessoal
Nominalmente Identificada - VPNI pelo art. 62-A da Lei 8.112/1990, somente era devida até o dia 8/4/1998,
conforme previsto no art. 3º da Lei 9.624/1998.
5
É o Relatório.
VOTO
Ante o exposto, VOTO por que o Tribunal adote a minuta de Acórdão que ora submeto à
apreciação deste Colegiado.
AROLDO CEDRAZ
Relator
1. Processo nº TC 009.059/2024-5.
2. Grupo I – Classe de Assunto: V – Aposentadoria.
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessado: Arlete Rejane de Oliveira Kempf (199.285.210-34).
4. Órgão/Entidade: Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul.
5. Relator: Ministro Aroldo Cedraz.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Rodrigo Medeiros de Lima.
7. Unidade Técnica: Unidade de Auditoria Especializada em Pessoal (AudPessoal).
8. Representação legal: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de concessão de aposentadoria de Arlete
Rejane de Oliveira Kempf (199.285.210-34), vinculada ao Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande
do Sul, submetido, para fins de registro, à apreciação do Tribunal de Contas da União;
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da 2ª
Câmara, diante das razões expostas pelo Relator, com fundamento nos arts. 71, inciso III, da
Constituição Federal; 1º, inciso V, e 39, inciso II, da Lei 8.443/1992; 260, § 1º, do Regimento
Interno/TCU, c/c o art. 19, inciso II, da IN TCU 78/2018, em:
9.1. considerar ilegal o ato de concessão de aposentadoria referente a aposentadoria de
Arlete Rejane de Oliveira Kempf (199.285.210-34), negando-lhe o respectivo registro;
9.2. determinar ao Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul que:
9.2.1. faça cessar todo e qualquer pagamento relativo ao ato impugnado de Arlete Rejane
de Oliveira Kempf (199.285.210-34), no prazo máximo de 15 (quinze) dias, contados da ciência da
decisão deste Tribunal, sob pena de ressarcimento das quantias pagas após essa data pelo responsável.
9.2.2. dispense a devolução dos valores indevidamente recebidos de boa-fé até a data da
ciência do órgão e do presente acórdão, com base no Enunciado 106 da Súmula da Jurisprudência do
TCU.
9.2.3. promova, no prazo de 30 (trinta) dias, o destaque das parcelas de quintos
incorporadas com amparo em funções comissionadas exercidas entre 8/4/1998 e 4/9/2001, a fim de
que sobre elas incida a modulação determinada pelo STF no RE 638.115/CE no sentido da absorção
integral de tais parcelas por reajustes futuros, uma vez que sua incorporação não está amparada por
decisão judicial transitada em julgado;
9.2.4. emita novo ato de concessão de aposentadoria, no prazo de 30 (trinta) dias, e
submeta-o ao Tribunal, contemplando o destaque das parcelas incorporadas com amparo em funções
comissionadas exercidas entre 8/4/1998 e 4/9/2001 sob a forma de “Parcela Compensatória”;
9.2.5. dê ciência, no prazo de 15 (quinze) dias, do inteiro teor desta deliberação ao
interessada alertando-a de que o efeito suspensivo proveniente da interposição de eventual recurso
perante o TCU não a exime da devolução dos valores percebidos indevidamente após a respectiva
notificação, caso o recurso não seja provido;
9.2.6. envie a este Tribunal, no prazo de 30 (trinta) dias, documentos comprobatórios da
ciência do interessado do julgamento desta Corte de Contas.
Fui presente:
(Assinado Eletronicamente)
LUCAS ROCHA FURTADO
Subprocurador-Geral