Dez Chaves Interpretar o Ap
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Dez Chaves Interpretar o Ap
9 minutos de leitura
Saiba como compreender de maneira correta a mensagem do livro que encerra o cânon bíblico
Gênero
O Apocalipse reivindica ser uma profecia. No prólogo do livro, é proferida uma bênção
sobre aqueles que leem, ouvem e guardam as palavras “da profecia” (1:3). Novamente,
no epílogo, encontramos uma declaração semelhante, pronunciada pelo próprio Jesus
(22:7). E o anjo diz a João: “Não seles as palavras da profecia deste livro” (v. 10). O mesmo
anjo, ao que parece, considerava João um dos profetas, porque ele se referiu a “teus
irmãos, os profetas” (v. 9). Em 22:18 e 19, o Apocalipse é denominado profecia outras
duas vezes.
No entanto, dizer que o Apocalipse é uma profecia é contar apenas parte da história. O
Apocalipse é um tipo muito especial de profecia. Não é apenas o único livro do Novo
Testamento que lida quase que exclusivamente com o futuro, mas é também o melhor
exemplo de profecia apocalíptica bíblica. Mais do que isso, é o livro do qual o gênero
apocalíptico deriva seu nome. Embora não tenha sido a primeira obra apocalíptica, ele é
o mais característico e mais bem conhecido de todos os apocalipses.
O Apocalipse também tem elementos de epístola. Após o preâmbulo (1:1-3), há uma
típica introdução epistolar (v. 4, 5), que segue um estilo semelhante ao das epístolas
paulinas. Primeiro, é apresentado o nome do autor, seguido por uma identificação dos
destinatários. Finalmente, há uma saudação, que deseja graça e paz da parte da
Divindade triúna. Na visão subsequente (1:9-3:22), sete cartas são ditadas a João pelo
Cristo glorificado e enviadas às sete igrejas mencionadas em 1:11. Cada uma dessas
cartas, por sua vez, segue uma forma epistolar levemente modificada, na qual os
destinatários são referidos antes que o autor se identifique. O livro em si também é
concluído com um estilo epistolar formado por apelos, promessas e bênção final (Ap
22:21).
Propósito
Além desse propósito explícito de revelar o futuro como expectação iminente, parece
haver um propósito implícito que coincide com o primeiro. Ele é encontrado nos
repetidos chamados à perseverança e fidelidade da parte dos leitores e ouvintes. A
profecia apocalíptica é dada para atender às necessidades daqueles que estão
enfrentando adversidade. Jesus apela aos crentes que se mantenham firmes até que Ele
venha, se necessário passando pela morte, de modo que recebam a coroa da vida (2:10,
25; 3:11). São feitas muitas promessas àqueles que vencerem por meio do sangue do
Cordeiro, apesar dos obstáculos.
Estrutura
A revelação do Apocalipse não foi preservada na Bíblia como um simples livro de história,
mas como mensagem de Cristo a seu povo, com o objetivo de prepará-lo para o que está
por vir. Créditos: Fotolia
Unidade
No início do século 20, houve algumas propostas a respeito da origem do Apocalipse que
contestaram sua unidade. Atualmente, essa não mais é a realidade. A maioria dos
acadêmicos concorda sobre a unidade do livro. A complexidade da estrutura,
interconectada como é, representa um dos argumentos convincentes em favor de sua
unidade.
Em The New Testament in its Literary Environment, David Aune declara: “O Apocalipse de
João é estruturalmente mais complexo que qualquer outro apocalipse judaico ou cristão,
e ainda está por ser analisado de modo satisfatório. Como outros apocalipses, ele é
construído por uma sequência de episódios assinalados por vários marcadores literários,
como a repetição de frases estereotipadas (‘Vi’, ‘Ouvi’, etc.) e por artifícios literários como
quiasmas, intercalações (embora jamais interrompam a sequência narrativa), técnica de
interconexão (uso de textos transicionais que concluem uma seção e introduzem outra) e
várias técnicas estruturais (uso de septetos e digressões).”
Dualismo ético
Santuário
Simbolismo e numerologia
Richard Davidson apresenta uma sugestão para solucionar esse problema. O conceito
tem que ver com a subestrutura escatológica da tipologia do Novo Testamento. Num
capítulo sobre a tipologia do santuário publicado no livro Symposium on Revelation,
Davidson nota que, “na era da igreja, os antítipos terrestres encontram, no reino
espiritual da graça, um cumprimento espiritual (não literal), parcial (não final) e universal
(não geográfico/étnico), visto que estão relacionados espiritualmente (mas não
literalmente) a Cristo nos lugares celestiais. Assim, devemos esperar que, no Apocalipse,
quando uma imagem relacionada ao santuário/templo é aplicada a um cenário terrestre
na era da igreja, haja uma interpretação espiritual, e não literal, visto que o templo, na
Terra, é espiritual”.
Por outro lado, ele observa que, “durante a era da igreja, o reino espiritual terrestre é
superado pelo domínio literal de Cristo nos lugares celestiais. De maneira consistente
com essa perspectiva neotestamentária, a tipologia do santuário do Apocalipse, quando
focalizada no santuário celestial, compartilha da mesma modalidade que a presença de
Cristo, ou seja, um cumprimento antitípico literal”.
Se esse princípio hermenêutico for seguido, muitos problemas podem ser evitados.
Apesar disso, os números ainda podem ter valor simbólico, até nas cenas celestiais.
Determinar o que os diversos números significam exige meticulosa pesquisa bíblica. A
base primária para se interpretar tanto o simbolismo como a numerologia no Apocalipse
deve vir de dentro das Escrituras.
Mensagem de Cristo
Outros leitores creem que João estivesse escrevendo apenas sobre escatologia, os
eventos finais da história e o estabelecimento do reino de Deus na Terra. Não
compreendem que João incluiu muita atividade histórica relacionada ao período anterior
ao fim: seis selos e seis trombetas, durante os quais os eventos continuam a ocorrer na
Terra. Somente nos dias em que a sétima trombeta soar, o mistério de Deus será
concluído (10:7). Esses intérpretes, denominados futuristas, veem o fim da história da
salvação cristã, mas não seu início e suas lutas durante as longas eras que antecedem o
fim. Tampouco veem a mensagem de Cristo a seu povo de todas as épocas.
Somente uma abordagem equilibrada, que mantenha em mente o verdadeiro objeto da
revelação, trará resultados satisfatórios. A revelação não foi dada apenas a João ou às
sete igrejas da província romana da Ásia, mas aos servos de Deus (1:1) que viveriam
antes do juízo final, a fim de prepará-los para os eventos vindouros. A menos que leiamos
o livro com a intenção de discernir essa mensagem dada por Cristo, deixaremos de
compreender o conteúdo mais importante do livro.
A parte mais significativa do livro para nossa experiência pessoal são as cartas de Cristo
às sete igrejas. Nessa seção Cristo fala pessoalmente a cada indivíduo de cada época. As
sete igrejas representam a realidade da igreja em todas as épocas, bem como as variadas
experiências que cada cristão pode ter em qualquer tempo. Esse fato é comprovado pela
declaração repetida várias vezes: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”
(2:7, 11, 17, 29; 3:6, 12, 22). O apelo é individual e a mensagem a cada igreja é aplicada a
todas as igrejas. Se seguirmos uma abordagem semelhante no estudo de cada visão do
Apocalipse, buscando a mensagem pessoal de Cristo ao leitor, receberemos a bênção de
1:3 e 22:7. Esse deve ser o objetivo do estudo do livro do Apocalipse.