Resumo de Conservação de Alimentos - P1
Resumo de Conservação de Alimentos - P1
Resumo de Conservação de Alimentos - P1
Créditos totais a Valtinha e Edson. Não existiria esse resumo sem vcs <3
Escurecimento Enzimático
Escurecimento que ocorre em frutas e vegetais por compostos fenólicos após
cortá-los pela ocorrência do rompimento do vacúolo contendo esses compostos.
Uma vez rompido, elas entram em contato com as enzimas do citoplasma da célula,
ocorrendo o escurecimento.
Reações catalisadas pela polifenoloxidase (enzima capaz de catalisar
reações de compostos fenólicos) ocorrem em 2 etapas: lenta hidroxilação e então
oxidação do difenol a quinona, que reage com os aminoácidos e proteínas gerando
pigmentação marrom.
Reações catalisadas por peroxidases (enzimas capazes de catalisar reações
de oxidação de compostos fenólicos na presença de peróxido), geram a oxidação
de catecol em quinona, formando também o pigmento marrom.
Ambas tem como consequência a alteração de aroma e escurecimento, além
da diminuição do valor nutritivo por diminuir disponibilidade de lisina e metionina,
assim como diminui a vida útil do alimento.
Elas podem ser impedidas ao manter o alimento em refrigeração (redução de
10°C reduz pela metade a atividade enzimática), porém o congelamento não é bom
por romper a célula e favorecer o escurecimento. Em aquecimento de 80 a 90°C,
ocorre a inativação da polifenoloxidase por branqueamento, sendo essa enzima
referência para comprovação do procedimento por ser termicamente mais
resistente. A adição de sulfitos inibe quinonas. A adição de ácido ascórbico reduz a
quinona e impede a reação, pois a faz voltar para seu precursor. Os sais de cálcio
aumentam a proteção da parede celular impedindo o contato enzima-substrato.
Usar embalagens à vácuo também reduz o escurecimento pois diminui o oxigênio
disponível, assim como alterar a estrutura da enzima por irradiação de raios gama e
manipulação genética.
Oxidação enzimática
Alteração de lípidos leva a oxidação enzimática. Os ácidos graxos
insaturados são os mais prováveis de sofrer essa alteração. Pode ocorrer também
durante o processamento, armazenamento e manuseio. Pode gerar aroma e odor
rançoso. Se ocorrer degradação de vitaminas lipossolúveis, ocorre redução da
qualidade nutricional. É uma reação catalisada pela lipoxigenase. Forma peróxidos
e hidroperóxidos como compostos primários, enquanto os finais são aldeídos,
cetonas, ácidos e hidrocarbonetos.
O processo de auto-oxidação ocorre em 3 etapas:
1. Formação do radical livre (não precisa de oxigênio)
2. Forma radical peróxido e combina com ácido graxo formando hidroperóxido e
outro radical livre que se combina com outro oxigênio e a reação continua
(precisa de oxigênio)
3. São formados produtos estáveis como aldeídos, cetonas, ácidos e
hidrocarbonetos
A estabilidade de lipídios pode ser afetada por temperatura (quanto maior, maior a
velocidade da reação), oxigênio (importante para a oxidação), atividade de água
(maior que 0,6 aumenta mobilização de metais que catalisam a oxigenação, menor
que 0,2 favorece a passagem de oxigênio até os lipídios) e luz (facilita ruptura de
ligações, permitindo a saída de H para oxidação).
Os alimentos contendo óleos vegetais oxidam mais rápido do que os
contendo gordura animal, pois os óleos apresentam maior concentração de ácidos
graxos insaturados.
É possível impedir essa reação usando embalagens que impeça entrada de
luz e oxigênio, impedir a presença de metais que possam catalisar a reação,
armazenar em baixas temperaturas e o uso de antioxidantes primários
(carotenóides, inativam radicais livres nas etapas iniciais da reação ao doar H),
sinergistas (aumenta atividade dos primários, como BHT e BHA) e secundários
(removem oxigênio ou quelam metais).
A avaliação dos óleos e gorduras pode ser por testes:
- de Tempo Real- armazenar em condições reais de armazenamento,
coletando amostras em intervalos- é um processo lento
- Acelerado- armazenar em condições extremas, temperaturas elevadas e
maior oxigenação
- Acelerado em estufa- temperaturas mais elevadas do que o outro, entre
60-70°C, luz, circulação de ar e metal
- Termo oxidação- simula a fritura de forma contínua e descontínua (a
descontínua permite o resfriamento do óleo fazendo com que o oxigênio
entre em contato com ele).
Tratamento térmico
A escolha do tratamento depende do tipo de microrganismo, de quanto tempo
o alimento será armazenado, se vai ter aditivos, qual a resistência térmica do
microrganismo, qual a composição química e física do alimento (aquecer algo rico
em carbo pode levar a Maillard, assim como alto teor de proteínas e gorduras
favorecem o microrganismo), a atividade de água (baixa atividade dificulta o
processo de deterioração dos microrganismos) e pH do alimento (maior que 4,5
mais suscetíveis a contaminação, precisando de tratamento térmico drástico.
Enquanto menor que 4,5 são menos suscetíveis a contaminação, precisando de
tratamento térmico brando e são alvos de bactérias láticas, bolores e leveduras,
sendo comum em frutas, bebidas fermentadas e tomates).
A Pasteurização é um método que surgiu para conservar vinhos. É
tratamento térmico brando em temperaturas menores de 100°C seguido de rápida
refrigeração. Porém não consegue destruir todos os microrganismos. Controla a
microbiota do alimento e protege de degradação. Associado a refrigeração,
congelamento, uso de aditivos e embalagens adequadas. Para os alimentos > 4,5
de pH ocorre a destruição das bactérias patogênicas, sendo que o alimento deve
ser refrigerado, pois o tratamento térmico apenas não é capaz de eliminar todos os
microrganismos então o resfriamento desacelera a multiplicação dos sobreviventes.
Já nos < 4,5 de pH ocorre a destruição das bactérias patogênicas e de enzimas de
deterioração, não precisando ser refrigerado (ex: o pH da cerveja é baixo, tem álcool
e CO2 então não precisa ser armazenado sob refrigeração antes do consumo,
enquanto o leite precisa, por ter pH mais neutro). Os tipos de Pasteurização são:
- LTLT- lenta. Temperatura mais baixa em longo período de tempo
- HTST- rápida. Temperatura muito elevada em pouco tempo
O tempo de exposição à altas temperaturas depende da composição do alimento
pois longos períodos podem deteriorar ele.
Os pasteurizadores possuem um fluído trocador de calor onde a água quente
é separada da fria, sendo que o alimento passa primeiro pela parte quente e então
para a fria. Dentro do tubo em contato com o alimento gira uma pá, retirando
alimento das paredes do equipamento. Já o trocador de calor de placas são várias
placas com sulcos justapostas, onde o alimento passa por um lado da placa e do
outro o fluído, mas os sulcos podem fazer com que parte do alimento fique retido
dificultando a limpeza, porém ele pode ser desmontado. Já o pasteurizador de túnel
é usado para alimento envasados, como azeitonas, sucos e cerveja, alimentos que
não precisam de refrigeração.
O Branqueamento tem como objetivo a desativação enzimática, reduzindo a
carga microbiana superficial. Se coloca o alimento em contato com água
quente/vapor por tempo suficiente para inativar as enzimas, em seguida fazendo o
resfriamento para impedir que o alimento cozinhe muito. O Branqueamento por
imersão em água quente pode levar a redução de vitaminas hidrossolúveis. Pode
ocorrer alterações nas propriedades, como cor, sabor e textura por conversão da
clorofila em feofitina (fica verde escuro, facilmente evitável com adição de
bicarbonato de sódio), pode levar a amolecimento do alimento (adicionar CaCl2
forma pectato de cálcio que impede isso) e o escurecimento enzimático (ocorre pois
frutas e legumes devem ser cortados antes de sofrerem branqueamento, mas
resolvível com a adição de bissulfito).
A Tindalização é o aquecimento descontínuo. O alimento deve estar em
recipiente fechado. Ele então é submetido a temperaturas abaixo de 90°C por
alguns minutos e em seguida é deixado à temperatura ambiente por 24h para que
os esporos se tornem células vegetativas, então o aquecimento é repetido. Destrói
células vegetativas e não esporos. É um método muito demorado e descontinuado
pela indústria alimentícia.
A Esterilização ocorre quando o alimento é aquecido acima de 100°C por
período de tempo variado. Ocorre a destruição de todos os microrganismos
patogênicos e deteriorantes, porém não garante que TODOS os microrganismos
sejam destruídos, é apenas uma esterilidade comercial. A Apertização é um
processo em que o alimento é condicionado em embalagens herméticas (latas) e
submetidos a temperatura por tempo determinado, garantindo que não se
desenvolva microrganismos durante todo seu tempo de prateleira. Os equipamentos
para esterilização são:
- Spin Cooker- somente para envasados como sucos
- Autoclaves hidrostáticas- alimentos envasados percorrem todo o
equipamento fazendo trocas de calor e no final ocorre a refrigeração, sendo
um sistema contínuo onde não precisa parar o processo para resfriar
O UHT (Ultra high temperature) é um tratamento onde se atinge temperaturas
muito altas (130-150°C) em pouquíssimo tempo (2 a 4s). A troca de calor é feita
antes do envase, sendo que as embalagens devem ser estéreis. Logo após o
tratamento, é feito a embalagem sem contato com o operador ou ambiente,
aumentando o tempo de prateleira. Pode ser por aquecimento indireto (troca de
calor) ou direto (injetado vapor no interior do recipiente, ocorre mais gasto de
energia). Muito aplicado atualmente em leites.
Alguns fatores influenciam a esterilidade como pH, tempo, temperatura inicial
do produto, velocidade da penetração de calor da periferia até o centro da
embalagem (depende do tamanho da embalagem, estado físico do alimento e forma
que foi embalado). Ponto frio é a última região a alcançar a temperatura no
processo de esterilização. Em líquidos, a velocidade é maior pois o ponto frio está
na parte de baixo do recipiente, sendo a condução de calor por convecção.
O número de microrganismos diminui com o tempo de exposição ao
tratamento térmico, sendo que D é esse tempo (o tempo necessário para reduzir
90% dos microrganismos) e 12D é a exigência para esterilização comercial (1D=
uma casa decimal a menos de UFC). Já Z é o intervalo de temperatura necessário
para alterar o valor de D por um fator de 10 (se alterar a temperatura em 10°C, se
reduz o tempo em 10x). E F é o tempo necessário para atingir a esterilização em
121°C.
Biopreservação de alimentos:
Biopreservação utiliza microrganismos e seus metabólitos para conservação
de alimentos.
Os Bacteriófagos são vírus que infectam e se multiplicam especificamente
em bactérias e geralmente não causam mal aos seres vivos. Podem ser usados
para a detecção de contaminantes e também como conservante (por matar
bactérias). São fagos que são criados para ter características geneticamente
modificadas. Há também utilização dos Fagos Reporter: marca um hospedeiro com
um marcador fluorescente, possibilitando a detecção de contaminantes no alimento
(pois se está marcado, está presente).
O processo de fermentação ocorre quando um composto orgânico sofre
decomposição parcial gerando ácidos, álcool, vitaminas, gás carbônico, gerando
substâncias com propriedades antimicrobianas e energia. É um processo que
depende da atividade de MOS para a produção de metabólitos que podem inibir a
multiplicação e a sobrevivência da microbiota indesejável de alimentos e bebidas e
ainda conferir características sensoriais desejáveis.
Para a fermentação espontânea, o microrganismo escolhido deve ser o que
melhor se adapta ao alimento (ex: baixo pH como em sucos de uva se usa
leveduras). Costuma-se fazer Backslopping, ou seja, a inoculação da matéria prima
com um produto já fermentado. São usadas culturas starters (ou iniciadoras). A
fermentação tem como objetivo: melhorar propriedades sensoriais de ácidos,
iogurte, leites fermentados, salame, entre outros; melhorar características
nutricionais (folato e vitamina B12) e conferir segurança.
A fermentação utilizando microrganismos confere segurança aos alimentos
pela produção de ácidos (lático, acético e propiônico) que inibem microrganismos
indesejáveis como a C. botulinum que não multiplica e nem libera toxinas em pH
abaixo de 4,5. A redução de pH também facilita a ação de ácidos orgânicos. Há
também o favorecimento de bacteriocinas, peptídeos sintetizados por bactérias
como Nisina (do Lactococcus latis, conservador de queijos, como queijo em pó ou
que possuam alta umidade. Seu limite máximo é 12,5 mg/Kg) e Reuterina (formada
pela bioconservação de glicerol em reação dependente de coenzima B12 causa a
indução do estresse oxidativo por reagir com grupos tióis livres, tendo ação contra
gram negativas, esporos, gram positivas e fungos). Na fermentação também há
produção de:
- CO2 e álcool, sendo o álcool inibidor do crescimento de microrganismos
patogênicos e deteriorantes.
- Peróxido, que é precursor da produção de radicais livres, que tem ação
bactericida
- Diacetil, que é um componente de aroma capaz de inibir E. coli, M.
tuberculosis, Pseudomana spp, Salmonella spp (porém em alta quantidade
gera odor intenso).
Há diferentes tipos de fermentação:
- Alcoólica- realizada por leveduras, principalmente na indústria de cervejas e
vinhos. Tem como produto primário etanol e CO2 e como secundários
aldeídos, ésteres, ácidos e outros componentes. Ex: Saccharomyces
cerevisiae, Saccharomyces calbergensis. O Hidromel é uma cerveja obtida
pela fermentação alcoólica de uma solução de mel de abelha, sais minerais e
água potável.
- Lática- Gera ácido lático. Para fermentação de azeitonas se faz tratamento
alcalino com NaOH 1-2% para eliminar o gosto amargo, então se aplica
Salmoura 9% e faz a fermentação com bactérias como L. plantarum e L.
brevis até atingir o teor de ácido lático de 1,5%. Utilizada em diversos
alimentos: Kombucha (Acetobacter e Zygossacharomyces), salsicha e
salame (necessário adicionar glicose ou lactose para garantir fermentação,
sendo utilizado Lactobacillus spp), leite fermentado (Lactobacillus spp),
iogurte (Streptococcus thermophilus), queijo e kefir (Lactobacillus kefir).