R - D - Zulma Sarmiento Vasquez
R - D - Zulma Sarmiento Vasquez
R - D - Zulma Sarmiento Vasquez
CURITIBA
2017
Orientadora:
Profª. Drª. Luciana P. S. Vandenberghe,
Co-orientadores:
Profª. Drª. Cristine Rodrigues
Prof. Dr. Carlos Ricardo Soccol
CURITIBA
2017
Catalogação na Fonte: Sistema de Bibliotecas, UFPR
Biblioteca de Ciência e Tecnologia
CDD: 624.024
Dedico.
AGRADECIMENTOS
À Professora Luciana Vandenberghe, por sua orientação, exemplo, ensinos, confiança e estímulos para o
desenvolvimento deste estudo. E por ser um suporte importante durante esta etapa do meu desenvolvimento
profissional.
À Professora Cristine Rodrigues, pela co-orientação, pelos conselhos e colaboração em todos os momentos.
À Professora Valcineide Tanobe, pela colaboração nas diversas análises e contribuições neste trabalho.
A meus pais Ricardo e Marina, pelo amor, confiança e apoio. Serão para sempre, o melhor exemplo de vida e
uma das minhas maiores motivações. As minhas irmãs Lucia e Tatiana e ao meu sobrinho Sebastian, pelo
amor e compreensão que nunca faltou, mesmo na distância.
A Luiz Eduardo, Josiane e avó Lizeth pelo amor, compreensão e apoio incondicional, por serem como minha
família. À Judi e Romeu pelo carinho e apoio.
Aos meus amigos na distância: Nidia, Manuela e Andrés, pelo carinho e amizade incondicional. A Deborah,
Mitiyo, Suzan, Vanessa e Andressa pela amizade, suporte e fortaleza em todos os momentos.
Aos colegas do Programa pelas discussões valiosas, apoio no dia-dia e pelo intercâmbio de ideias. Em
especial à Priscilla, Patrick, Dão, Nelson, Juliana, Ana Maria, Marcela, Omar, Emerson, Luis, Estefania, Lina,
Kim, Grecia, Biaane e Oranys.
Aos professores Aristóteles Góes da UFES e ao Professor Hervé Rogez da UFPA, pela disponibilização da
matéria prima utilizada para o desenvolvimento deste projeto.
Às Professoras Silvana Nisgoski e Érika Amano, pelas discussões no tema de anatomia vegetal.
A todas as pessoas, que contribuíram para que este estudo se desenvolvesse adequadamente, o meu
agradecimento.
RESUMO
A casca de cacau (CC) é considerada um resíduo problemático nas fases iniciais da indústria
de processamento de cacau. As sementes são separadas do fruto e a casca é posteriormente
descartada, originando possíveis focos de doenças fitossanitárias graves, se a disposição final não
for feita adequadamente. Há algum tempo, as cascas têm sido utilizadas como ingrediente na
alimentação animal e como fertilizante. No entanto, nos últimos anos este material despertou o
interesse de pesquisadores de diferentes áreas devido ao seu importante conteúdo em pectina, sua
capacidade antioxidante, potencial energético e suas características para produzir materiais
adsorventes, ou carbono ativado. Assim, esta ampla gama de aplicações torna à CC um subproduto
importante da cadeia produtiva do cacau.
Neste trabalho foi avaliada a possibilidade da produção de biomoléculas a partir da glucose
obtida da hidrólise da CC. Em primeiro lugar, estabeleceram-se os pré-tratamentos alcalino (com
NaOH 2,3% (m/v)) e enzimático, utilizando Cellic® CTec 2 (2,4% (v/v)) para obter glucose a partir
da CC, atingindo concentrações máximas de 60,5 g·L-1 e obtendo-se um rendimento de 305 mg de
glucose/g de CC. Em seguida, utilizando técnicas diferentes, realizou-se a caracterização física e
química da CC in natura e pré-tratada com o propósito de avaliar a efetividade do tratamento. As
alterações estruturais e morfológicas da CC foram examinadas por Microscopia Eletrônica de
Varredura (MEV). Ao mesmo tempo, foram determinados os grupos funcionais das amostras,
mediante a técnica de Infravermelho (FTIR). A difração de raios-X (DRX) permitiu determinar o
índice de cristalinidade (CrI) antes e depois dos tratamentos. Finalmente, a estabilidade térmica e as
propriedades do material lignocelulósico e suas temperaturas de degradação, foram determinadas
por análise termogravimétrica (TG). O hidrolisado obtido da casca de cacau (HCC), foi
caracterizado através da quantificação dos componentes por HPLC. Subsequentemente, foi proposto
um meio de fermentação composto pelo HCC, como matéria-prima de baixo custo, adicionado
glicerol e extrato de levedura, para obtenção de ácido propiônico (AP), utilizando a cepa de
Propionibacterium jensenii DSM 20274 do banco de cepas do PPGEBB da UFPR. A concentração
de AP no meio atingiu um máximo de 10,28 g·L-1 e uma produtividade de 0,079 g·L-1·h-1 após 72 h
de processo. Assim, demostrou-se o potencial da CC para a obtenção de biomoléculas de interesse
agroindustrial utilizando ferramentas biotecnológicas.
ABSTRACT
Cocoa pod husks (CPH) have been considered a problematic waste in the initial stages of
cocoa processing industry. CPHs are removed from cocoa fruit and are discarded, originating a
possible outbreak of serious phytosanitary diseases if the disposal is not made properly. Initially,
CPH was used as an ingredient in animal feed and as a fertilizer. Nonetheless, in the last years this
material arouse the interest of researchers from different areas due to its important content in pectin,
its antioxidant capacity, energy potential and its characteristics to produce adsorbent materials or
activated carbon. Thus, this wide range of applications makes the CPH an important co-product of
cocoa industry.
In this work, the viability of biotechnological production of biomolecules, using glucose
deriving from cocoa pod husk hydrolysate (CPHH) was tested. Firstly, alkaline (with NaOH 2.3%)
and enzymatic pre-treatment using Cellic® CTec 2 (2.4%), were established to obtain glucose from
CPH reaching maximal concentrations of 60.5 g·L-1 and obtaining a yield of 305 mg glucose/g
CPH. After that, using different techniques, physical and chemical characterization of raw and pre-
treated CPH was completed to assess the effectiveness of treatment: structural and morphological
changes of CPH were examined by Scanning Electronic Microscopy (SEM) verifying that the
alkaline-enzymatic treatment promotes the removal of material such as lignin and hemicelluloses,
since it is possible to observe the micro-fibrils of the cellulosic portion totally exposed. At the same
time, the functional groups by Fourier Transform Infrared (FTIR) were determined. Wide-angle X-
ray scattering patterns of CPH were obtained in the reflection mode, enabling the determination of
the crystallinity index (CrI) before and after treatments. Finally, the thermal stability and properties
of the lignocellulosic material and its degradation temperatures were analyzed by thermo-
gravimetric analysis (TG). The hydrolysate was characterized through quantification of its
components by HPLC. Subsequently, a basal medium composed by CPHH, as low-cost feedstock,
added off glycerol and yeast extract, is proposed to obtain propionic acid using Propionibacterium
jensenii DSM 20274 from strains collection of PPGEBB-UFPR. AP concentration in the proposed
medium, reached a maximum of 10.28 g·L-1 and a yield of 0.079 g·L-1·h-1 after 72 h of process.
Thus, the potential of CPH to obtain biomolecules of agroindustrial interest, was demonstrated
through biotechnological tools.
Key-words: Cocoa pod husk, basic pretreatment, enzymatic pretreatment, propionic acid.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE TABELAS
SUMÁRIO
1.
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 15
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................ 19
2.1. Theobroma cacau L.: produtos e resíduos .................................................................... 19
2.1.1. Descrição da planta ...................................................................................................... 19
2.1.2. Produção e mercado mundial de cacau........................................................................ 19
2.1.3. Comércio internacional de produtos de cacau ............................................................. 21
2.1.4. Geração de resíduos ..................................................................................................... 22
2.1.5. Tipos de pré-tratamento para material lignocelulósico ............................................... 25
2.2. Glicerol ........................................................................................................................... 27
2.3. Ácidos orgânicos ............................................................................................................ 29
2.3.1. Ácido propiônico (AP) .................................................................................................. 30
2.3.1.1. Contexto histórico ......................................................................................................... 30
2.3.1.2. Produção e mercado ..................................................................................................... 31
2.3.1.3. Biossíntese do ácido propiônico ................................................................................... 32
2.3.1.4. Microrganismos usados para a produção de AP ......................................................... 33
2.3.1.4.1. Metabolismo de produção e requerimentos nutricionais .......................................... 33
2.3.1.5. Aplicações industriais ................................................................................................... 35
3. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................. 37
3.1. Levantamento de informação – Revisão bibliográfica .................................................... 37
3.2. Recebimento e acondicionamento da casca de cacau ..................................................... 38
3.3. Caracterização físico-química da casca de cacau .......................................................... 38
3.3.1. Determinação de umidade, pH, atividade de água (aw), cinzas, açúcares, íons e
proteínas ......................................................................................................................... 39
§ Sólidos totais e umidade ....................................................................................................... 39
§ Determinação de pH ............................................................................................................ 40
§ Determinação da atividade de água (aw) ............................................................................. 40
§ Determinação do teor de cinzas ........................................................................................... 40
§ Determinação do teor de açúcares redutores ...................................................................... 41
§ Determinação de Íons .......................................................................................................... 41
§ Determinação de proteínas .................................................................................................. 41
3.3.2. Determinação de extraíveis em água, etanol e éter de petróleo................................... 42
1. INTRODUÇÃO
A busca de sistemas alternativos de produção eficiente e sustentável de todo tipo de
produtos, obedece principalmente o surgimento de duas problemáticas de ordem mundial de grande
incidência: o crescimento populacional e a deterioração do meio ambiente (com a consequente
limitação da disponibilidade de recursos naturais). Com um crescimento populacional de 58% em
meio século, passando de 3.065 milhões de pessoas em 1960 a 7.347 milhões em 2015 (Banco
Mundial, 2017), é necessário a otimização de processos industriais com o propósito de conseguir
uma produção equitativa, limpa e eficiente de alimentos. Estes processos de produção, tanto dos
alimentos, quanto dos insumos empregados, devem utilizar apropriadamente os recursos naturais
sem afetar o meio ambiente, reduzindo a geração de resíduos e dispondo dos gerados
adequadamente. Neste tipo de desafio, o compromisso e investimento da empresa pública e privada,
a intervenção das comunidades, a geração de políticas eficazes, a geração de novos conhecimentos
mediante a pesquisa e a criação, adaptação e implementação de tecnologias eficientes, serão
importantes para disponibilizar alternativas de produção que permitam suprir as necessidades de
cada vez mais pessoas no planeta Terra mantendo o equilíbrio com a natureza.
Com uma maior demanda por alimentos de todo tipo, as indústrias que fornecem insumos
para seu processamento ou fabricação, experimentam em consequência, a mesma dinâmica de
crescimento. Como exemplo, levando em conta que uma das principais fontes de proteína (existe
proteína de origem animal e vegetal) na alimentação humana é a carne de origem bovina (22 g de
proteína para 100 g de carne, segundo Latham (2002), indústrias dedicadas à fabricação de
substâncias para a conservação de ensilagem e produtos concentrados (que por sua vez são fonte de
alimento para o gado) são cada vez mais solicitadas no mercado.
Dentre os compostos usados como conservantes, os ácidos orgânicos representam grande
porção da demanda atual. Os ácidos mais utilizados neste segmento são o fórmico, o butírico, o
acético, o sórbico, o benzóico e o propiônico (BASF, 2013). O ácido propiônico (AP), objeto desde
estudo, tem mostrado um crescimento das exportações de 71% em valor (dólares) e de 63% em
quantidade (toneladas), no período de 2001 – 2015 (ITC, 2017).
Alguns ácidos orgânicos são produzidos exclusivamente por síntese química usando como
matéria prima o petróleo, gerando certa preocupação pela incerteza sobre a disponibilidade futura
deste recurso não renovável. Sendo assim, a procura de novas rotas de produção baseando-se em
matérias primas alternativas e com implicações ambientais de menor relevância, têm sido
intensificada ao longo dos últimos anos. Embora os processos de síntese química sejam criticados
por ocasionar poluição ambiental, no caso da produção de AP e outros compostos para os quais
estão sendo desenvolvidas as técnicas de produção biotecnológica, por enquanto, a rota original,
continua sendo a melhor alternativa. No estudo de Tufvesson et al., (2013), efetuado por simulação
de computador, no qual foi realizada uma Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) sobre a produção de
AP a partir de matérias primas renováveis e através de processos de produção por via fermentativa
em grande escala, são apresentados resultados conclusivos. Assumindo concentrações de pelo
menos 50 g·L-1 ao final da fermentação, a produção biológica de AP por um lado, geraria custos de
produção estimados em 2,5 €·Kg-1 enquanto que o custo de produção mediante síntese química está
entre 1-2 €·Kg-1. Tal fato é um desincentivo aos investimentos necessários para dar início a este
método de produção. Por outro lado, e tendo hipóteses estabelecidas para dito estudo, a produção
biológica do AP, daria origem a emissões de gases efeito estufa (expressos em equivalentes de CO2)
50% a mais do que as produzidas na rota de síntese química a partir de combustíveis fósseis, isto
devido principalmente ao alto consumo de energia e água durante o processo de downstream.
Apesar do processo de fermentação para produção de AP ter sido descrito desde 1923 (Boyaval,
1995), ainda são necessários mais estudos que permitam implementar a produção de maneira
sustentável e economicamente viável.
Para ilustrar melhor a relevância deste tema, uma revisão bibliográfica foi conduzida na
base de dados de revistas científicas indexadas no Science Direct (https://www.sciencedirect.com/),
usando a seguinte combinação de palavras chave no campo “all fields”: “fermentation”, “propionic
acid”, “production” e “biotechnology”. A busca resultou em 2005 artigos; destes, 440 artigos foram
publicados antes de 1997, e os restantes 1.565 no período de 1998 até 2017 (primeiros três meses).
Como é apresentado na Figura 1, durante os últimos 10 anos os artigos publicados sobre o tópico,
ocorreu um crescimento de 85%, passando de 30 artigos em 2006 para 203 em 2016; e durante os
primeiros três meses de 2017, já foram publicados 112 artigos relacionados com este tema. Espera-
se que em um futuro próximo o conhecimento construído em torno do processo de produção, possa
ser implementado industrialmente para benefício das múltiplas áreas produtivas e econômicas que
estão relacionadas com este composto.
FIGURA 1. PESQUISA RELACIONADA COM A PRODUÇÃO BIOTECNOLÓGICA DE AP
FONTE: dados Science Direct. Ilustração: A autora (2017)
De acordo com publicações mais recentes, os principais desafios para pesquisas futuras
estão relacionados com i) aumento da produtividade e dos rendimentos, através da implementação
de sistemas de fermentação que favoreçam o processo; ii) uso de matérias-primas com importante
conteúdo de fontes de carbono, fontes de nitrogênio e micronutrientes para promover o
metabolismo dos microrganismos utilizados no processo e iii) melhoramento genético dos
microrganismos que venham a apresentar características desejáveis para a produção do AP.
Dentre as matérias primas alternativas para o desenvolvimento de processos de produção,
encontram-se aquelas de natureza lignocelulósica. Estes materiais são considerados resíduos sem
valor, provenientes de outros processos de produção agroindustrial, que na maioria dos casos gera
problemas fitossanitários e de salubridade dentro das plantações ou são inconvenientes devido ao
volume que podem chegar a ocupar e aos possíveis custos de descarte. O uso de material
lignocelulósico (cana-de-açúcar, palma, farelo de soja, etc.) em processos biotecnológicos têm sido
explorado há várias décadas e tem mostrado resultados relevantes para diferentes indústrias.
Utilizando o material lignocelulósico como matéria prima é possível, por um lado reduzir os custos
de produção, e por outro, dar continuidade à implementação do conceito de biorefinarias, que cada
vez está tomando mais força no âmbito industrial e agroindustrial.
Um material lignocelulósico pouco explorado e significativamente problemático dentro
das plantações, é a casca do fruto do cacau (Theobroma cacao L.). Neste fruto, a semente
corresponde só a 15-20% da biomassa total do fruto, deixando 75-80% (Prabhakaran, 2010) de
material considerado até pouco tempo, como resíduo. O principal produto do cultivo do cacau, o
chocolate, provém da fermentação das sementes. Em 2016, as exportações de chocolate atingiram
um valor $25.700 milhões de dólares equivalentes a mais de 5,4 milhões de toneladas do produto
(ITC, 2017). Em países como Suíça, o consumo per capita chegou a ser de 8,8 Kg em 2016,
enquanto que na América Latina, durante o mesmo período, Chile ocupou o primeiro lugar em
consumo per capita com um total de 2,1 Kg (Worldatlas, 2017).
Neste estudo “Valorização de cascas do fruto de cacau (Theobroma cacao L.): obtenção
de hidrolisado do pré-tratamento químico e enzimático para a produção de ácido propiônico” faz
parte do projeto Rede Integrada de Programas de Pós-graduação em Biotecnologia para o
Desenvolvimento Científico, Tecnológico, de Inovação e Formação de Recursos na Cadeia
Produtiva do Cacau – BIOCAU com apoio financeiro da CAPES-PROCAD 2013, e do subprojeto 2
intitulado “Aproveitamento da casca de cacau”.
Neste estudo, e de maneira inédita, pretende-se explorar o aproveitamento dos compostos
da casca do fruto do cacau para a produção de biomoléculas de interesse agroindustrial, por meio da
aplicação de técnicas biotecnológicas. A obtenção do AP foi desenvolvida usando o microrganismo
Propionibacterium jensenii (DSM 20274) para a fermentação com o uso de um meio de produção
cujo principal componente é o hidrolisado produzido mediante a hidrólise química e enzimática da
casca do cacau, o glicerol e o extrato de levedura.
O objetivo deste trabalho é valorizar as cascas de cacau por meio do pré-tratamento
químico e enzimático e produzir AP, considerado como uma biomolécula de médio a alto valor
agregado. Para alcançar este alvo, foram propostos os seguintes objetivos específicos: Caracterizar
físico-químicamente a casca do fruto de cacau procedente do estado do Pará; Determinar as
melhores condições de hidrólise química e enzimática das cascas de cacau; Analisar o material pré-
tratado e in natura (MEV, FTIR, DRX, TG e outras técnicas); Selecionar cepas produtoras de AP
disponíveis no banco de cepas do PPGEBB da UFPR; Estudar a produção de AP a partir de
hidrolisado químico e enzimático de cascas de cacau.
Finalmente, com este trabalho aspira-se contribuir com os conhecimentos relacionados às
alternativas de produção e avanços no uso de um dos resíduos agroindustriais de relevância no
Brasil, a casca do cacau, para a geração de biomoléculas de grande importância econômica e
industrial ao nível mundial.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O fruto de cacau tem relevância devido ao uso comercial que é atribuído às sementes,
principalmente na indústria de alimentos. Após diferentes etapas de processamento como é
apresentado na Figura 3, são obtidos a manteiga e pasta de cacau, o cacau em pó e o chocolate. O
cultivo do cacau também é importante para muitas das regiões produtoras em diferentes países,
devido a que a lavoura cacaueira encontra-se baseada em sistemas de agricultura familiar,
sustentabilidade e práticas agrícolas com baixas emissões de gases de efeito estufa (Sebrae, 2014).
FONTE: A autora (2017)
FONTE: dados ICCO. Ilustração: A autora (2017)
Nos anos 70 o Brasil era o segundo maior produtor mundial de cacau, com uma produção
de cerca de 350 mil toneladas/ano. Os produtores de cacau foram gravemente atingidos pelas perdas
ocasionadas com a doença causada pelo fungo conhecido popularmente como vassoura da bruxa
(Moniliophtora perniciosa), e a produção do país diminuiu consideravelmente, passando a ser
importador da amêndoa. Atualmente, e graças aos estudos e pesquisas desenvolvidos sobre o
controle fitossanitário do fungo, à assessoria técnica para o manejo adequado da lavoura, bem como
à expansão do cacau na Amazônia, o Brasil tem se recuperado (Sebrae, 2014).
Segundo os dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2016), em 2016 a produção nacional atingiu um total de 215 mil toneladas de amêndoas de cacau,
com rendimento de 304 Kg·ha-1. Entretanto, em 2015 a produção tinha sido calculada em 273 mil
toneladas com um rendimento de 403 Kg·ha-1, apresentando para a última safra uma diminuição de
33% em rendimento (Figura 5). Esta importante queda, está relacionada ao comportamento das
principais variáveis climáticas que afetam a lavoura cacaueira nas principais zonas de produção do
país (Bahia e Pará), nas quais os níveis de pluviosidade, temperaturas e umidade apresentaram uma
influência importante sobre os rendimentos do cultivo do cacau, segundo os diferentes relatórios
publicados em 2016 e 2017 pela Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira).
FONTE: dados IBGE. Ilustração: A autora (2017)
Estimativas do Centro de Comércio Internacional (ITC), para o ano de 2015 relatam que
$47,5 milhões de dólares foram contabilizados para as exportações mundiais dos produtos das
sementes do cacau, e classificados nas seguintes posições tarifárias: sementes, cascas, pasta de
Do fruto do cacau e segundo o reportado por Prabhakaran Nair, (2010), entre 70% e 75%
da massa seca do fruto corresponde à casca externa ou epicarpo. Conforme o mesmo autor relata, os
frutos de cacau têm forma ovalada, com tamanhos que variam segundo a variedade, e que podem
estar entre 15-30 cm de comprimento, entre 8–10 cm de largura e a espessura da casca do fruto
entre 0,1 e 0,15 cm. As cores também dependem da variedade, e se observam colorações verde
Ca 254,0 ± 11,31
Fe 5,8 ± 0,11
Vriesmann et al., 2011
K 2768,0±51,97
Mg 110,9 ± 0,01
Na 10,5 ± 0,60
Minerais (mg·Kg-1 d.m.)
Cu 6,18 ± 0,02
Mn 35,72 ± 0,03 Vriesmann et al., 2011
Se 0,01 ± 0,006
Zn 39,74 ± 0,06
d.m. = matéria seca (* g·100 g-1 d.m; ** g·100 g-1; ***massa%)
FONTE: A autora (2017).
A casca do fruto de cacau pode ser considerada como biomassa agrícola residual primária.
É biomassa de natureza lignocelulósica, constituída por três frações principalmente: celulose,
hemicelulose e lignina, além da presença de compostos como material inorgânico (cinzas),
proteínas entre outros, em menores quantidades. Esta composição, permite considerar o resíduo
como matéria prima de baixo custo para outros processos de obtenção de compostos que
comercialmente possam ser considerados de maior valor agregado. A lignina é um polímero
ramificado conformado principalmente por compostos aromáticos. A hemicelulose é um
copolímero de pentoses e hexoses. Finalmente, a celulose é um polímero de glucose que pode ser
transformada para o posterior uso dos monómeros em fermentações para a geração de diversos
compostos de valor agregado (Brar et al., 2014).
Com o intuito de aproveitar o conteúdo de compostos químicos da casca do cacau, a
separação das frações do material lignocelulósico é uma etapa transcendental para a transformação
deste resíduo, considerado neste estudo como matéria prima. Mediante a implementação de
diferentes técnicas de pré-tratamento (físico, químico, biológico e misturas entre estes) se faz
possível a obtenção dos componentes de interesse.
Os tipos de pré-tratamentos implementados em materiais lignocelulósicos são
apresentados na Figura 8. Estes tratamentos podem ser classificados como físicos, químicos, físico-
químicos e biológicos. Cada uma destas estratégias de pré-tratamento têm uma subclassificação que
varia nas técnicas, compostos e microrganismos utilizados para a obtenção das frações requeridas
provenientes do material lignocelulósico.
FIGURA 8. PRÉ-TRATAMENTOS PARA A SACARIFICAÇÃO DO MATERIAL
LIGNOCELULÓSICO
Esta revisão permitiu determinar que partindo de material lignocelulósico (como é a casca
de cacau) considerado como resíduo agroindustrial, os melhores rendimentos apresentavam-se
quando se aplicava sucessivamente um pré-tratamento mecânico e químico com reativos de
natureza alcalina, tais como o hidróxido de sódio, cálcio e potássio ou com amônio. No Quadro 1,
são apresentados os rendimento da sacarificação de material lignocelulósico de origem diversa,
efetuados com diferentes compostos químicos de natureza alcalina, em variadas concentrações e
tempos de processamento. Estes rendimentos podem estar na faixa de 30% - 92%.
FONTE: A autora (2017).
2.2. Glicerol
2017, segundo os indicadores de preços reportado pelo Centro de Referência da Cadeia de Produção
de Biocombustíveis para a Agricultura Familiar do Brasil.
A expansão do mercado de biodiesel conduziu a um incremento na quantidade de glicerol
gerado e disponível no mercado. Como exemplo disso, no Brasil durante o período de 2006 - 2015 a
produção de glicerol teve um incremento de 97,3%, coincidindo com o aumento da produção
nacional de biodiesel, que no mesmo período teve uma percentagem de variação de 98,2%. Como
subproduto, o glicerol precisa ser utilizado e aproveitado da melhor maneira possível, pois sua
utilização em outros processos é mais desejável ambiental e economicamente do que descartá-lo.
Este composto é muito versátil e amplamente utilizado em nível industrial, devido às suas
características físico-químicas, fácil manuseio e alta compatibilidade com muitas outras substâncias,
pois é miscível em água e álcool. Não é tóxico para a saúde humana nem para o meio ambiente, não
é irritante, é viscoso, incolor, inodoro, higroscópico e com um alto ponto de ebulição (290°C).
Quimicamente pode ser classificado como um álcool tri-hidratado e é obtido por saponificação,
hidrólise ou transesterificação de gorduras e óleos (SDA, 1990).
Segundo a National Biodiesel Board (2013), dentre as indústrias que utilizam o glicerol
encontram-se: as de bebidas e alimentos (como produto intermediário; para umedecer, adoçar ou
preservar os produtos); as de cosméticos e artigos de limpeza pessoal (usado como agente
umectante e emoliente); as de fabricação de papel e manufatura de tintas (para amaciar e reduzir o
encolhimento durante a fabricação do papel); a têxtil (usado para dimensionar e suavizar fios e
tecidos e para lubrificar muitos tipos de fibras em operações de fiação, tricô e tecelagem); as de
fabricação de dinamite; as de produção de tabaco (utilizado como umectante, amaciante e para
prevenir a quebra e desintegração durante o processamento); e as indústrias farmacêuticas (como
composto de cápsulas e recobrimentos, como emoliente e como veículo de antibióticos e
antissépticos).
Pesquisas científicas em desenvolvimento tentam ampliar as aplicações benéficas
alternativas do glicerol. O campo da biotecnologia por sua vez, tem achado aplicações para o uso
deste composto como fonte de carbono nos processos de fermentação para a produção de compostos
de relevância econômica como o etanol e o hidrogênio (Peiter et al., 2016).
Dentre os compostos produzidos utilizando o glicerol, encontra-se também o AP (Zhuge
et al., 2014). Uma das características mais importantes para considerar sua aplicação na produção
de biomoléculas através do uso de microrganismos e pelo qual foi considerado como substrato neste
estudo, é seu potencial de redução químico (k=4,7) que comparado com o grau de redução da
glucose ou da xilose (k=4) por exemplo, promove a produção de metabólitos mais reduzidos (Zhang
et al., 2015). Isto provoca uma fermentação com menor geração de subprodutos, tais como o ácido
Existem relatos sobre o AP desde 1844, quando Johann Gottlieb identificou pela primeira
vez sua produção por via bacteriana a partir da degradação de açúcares (Schaechter, 2009).
Posteriormente, outros químicos tentaram sua produção por síntese química, sem resultados
satisfatórios, pois não conseguiam obter a mesma substância. Três anos depois o químico Jean-
Baptiste Dumas identificou que todas as tentativas de produção daquele composto, tinham
produzido uma mesma substância que finalmente foi nomeada como AP.
FONTE: dados ITC. Ilustração: A autora (2017)
Empresas como BASF, Dow, Eastman Chemical Company, Perstorp, A.M. Food
Chemicals, Biomin Holdings Gmbh, Krishna Chemicals and Macco Organiques são reconhecidas
por serem as principais produtoras e comercializadoras do AP em nível mundial (Feedinfo, 2014).
Cabe citar que entre dos rendimentos obtidos nas pesquisas mais recentes, são reportados
valores entre 0,59 e 0,72 mol de AP por mol de glicerol, utilizando diferentes biorreatores com
células imobilizadas e células livres (Dishisha et al, 2012). Igualmente, variando as concentrações
de fontes de carbono (glicerol) são obtidos rendimentos que estão entre 0,4 e 0,79 gramas de AP por
grama de glicerol para sistema em batelada e de 0,40 e 0,56 gramas de AP por grama de glicerol
quando implementado o sistema de batelada alimentada (Zhu et al., 2010).
Como fontes de carbono têm sido avaliados diferentes compostos, uma vez que os
microrganismos utilizados aceitam uma ampla variedade destes componentes que são
transformados através da rota metabólica de ácidos dicarboxílicos (Figura 10).
FONTE: Parizzi et al., (2012)
3. MATERIAL E MÉTODOS
informações obtidas. Procedimentos similares foram efetuados para os outros temas relacionados
com esta pesquisa.
(Eq. 1)
(Eq. 2)
Determinação de pH
O parâmetro atividade de água (aw) é definido como a relação da pressão de vapor da água
contida no material à pressão de vapor da água à mesma temperatura:
(Eq. 3)
Onde PA = pressão de vapor da água no alimento; PAS = pressão de vapor da água pura na
mesma temperatura, que deve sempre ser especificada. A atividade de água tem índice que varia de
0 a 1, que quanto mais próximo de 1 for o valor obtido na análise, maior será o teor de água livre.
Definiu-se o valor de atividade de água por meio de método direto mediante o analisador AquaLab
CX-2, da Decagon Devices, Inc., utilizando 3 g de casca de cacau. Calibrou-se o equipamento antes
de submeter a teste as amostras, utilizando uma solução padrão de cloreto de lítio 8,5 M e cloreto de
sódio 6 M.
dessecador até alcançar temperatura ambiente. Finalmente foi determinado e registrado a massa dos
cadinhos com as amostras em balança analítica. A porcentagem de cinzas da amostra foi calculada
de acordo com a Equação 4.
(Eq. 4)
Determinação de Íons
(Eq. 7)
ODW: Massa seca em estufa (Oven dry weight)
(Eq. 8)
(Eq. 12)
Do corte de casca, usando lâminas de bisturi a mão livre, foram obtidos cortes finos (25
μm de espessura). Em seguida, os fragmentos resultantes foram submersos em álcool durante 10
minutos e lavados com água deionizada duas vezes. Posteriormente, submergiram-se os fragmentos
em hipoclorito de sódio comercial diluído durante 2 horas, e na sequência, efetuaram-se duas
lavagens sucessivas com água deionizada.
Na sequência, submergiram-se os fragmentos descoloridos durante 1 hora em uma solução
diluída de safranina e azul de Astra (misturados na razão de 1:1) . Após este tempo, distribuíram-se
os fragmentos sobre lâminas semipermanentes de vidro e cobriram-se com lamínulas para a
posterior observação em microscópio ótico (MO) binocular marca Leica, DM/LS. (Jensen, 1962).
As imagens obtidas foram obtidas através do software ToupView.
(Eq. 13)
Onde:
ICR = Índice de cristalinidade
A estabilidade térmica por termogravimetria (TG) das amostras de casca de cacau com e
sem pré-tratamentos, foi analisada no equipamento Setaram (Setsys Evolution TG / DTA / DSC) do
Laboratório de Biomassa (Biofix) da UFPR, sob atmosfera de N2 de 20°C até 800ºC e fluxo de gás
de 20 mL·min -1.
maria) com agitação de 100 rpm. Em seguida, filtrou-se o hidrolisado obtido a partir da casca de
cacau através de papel filtro qualitativo e assim, a fração liquida ou hidrolisado, foi utilizado
posteriormente como fonte de glucose para a preparação do meio de fermentação.
FONTE: A autora (2017)
sobrenadante foi passado por filtros de 0,2 μm e posteriormente analisado no HPLC Agilent 1260
Infinity.
FONTE: A autora (2017)
Statistica® 5.0 criou-se o desenho experimental para obter a informação desejada. Empregou-se
um Delineamento Composto Central Rotacional 23 (DCCR) com três variáveis e três pontos
centrais, resultando em dezenove experimentos, onde a variável resposta foi a concentração de AP
obtida após da fermentação. Levando em conta o conteúdo e concentrações das fontes de carbono e
nitrogênio do meio de cultivo sintético, determinaram-se as concentrações dos compostos a estudar
apresentadas na Tabela 5.
Realizou-se o processo de fermentação com a cepa selecionada C7 em tubos de ensaio de
21 mL com tampa, previamente esterilizados sob condições de incubação de 33ºC, durante 60 h e
inóculo inicial de 10% (v/v). Após este tempo, as amostras foram centrifugadas a 2300 RCF por 15
minutos em tubos tipo Falcon de 15 mL. O sobrenadante foi filtrado em membranas de 0,2 μm. As
amostras foram armazenadas sob refrigeração a 4ºC em vials de 2 mL, para serem posteriormente
analisadas em HPLC Agilent 1260 Infinity. Analisaram-se os resultados com o software Statistica®
5.0.
a.
b.
mL do meio fermentado foram transferidos para cada tubo (garantindo iguais massa dos tubos para
posterior centrifugação) e centrifugou-se o material a 6000 RCF durante 20 min. Em seguida,
retirou-se o sobrenadante cuidadosamente. Empregou-se este sobrenadante para análises posteriores
em HPLC e para a determinação do pH. Sobre o material remanescente no tubo Falcon,
adicionaram-se 10 mL de água deionizada e homogeneizou-se o conteúdo utilizando um vortex. Na
sequência, centrifugou-se de novo o material a 6000 RCF durante 20 min e descartou-se o
sobrenadante. Repetiu-se este último passo uma vez mais com o intuito de eliminar qualquer
interferente. Finalizado o processo de centrifugação, secaram-se os tubos Falcon contendo a
biomassa em estufa a 80°C durante pelo menos 12 h. Os tubos foram levados a um dessecador e
mantidos até atingirem temperatura ambiente. Registrou-se a massa em balança analítica. O cálculo
de biomassa por massa seca foi determinada conforme o indicado na Equação 14.
) (Eq. 14)
corresponde aproximadamente a 1,5 x 108 UFC·mL-1). Utilizou-se suspensão nos 15 min seguintes
como inóculo.
Sobre placas de Petri descartáveis (diâmetro de 9 cm) com 18 mL meio Müller-Hinton
(MH) solidificado (assegurando uma profundidade de 4 mm), espalhou-se uniformemente com
ajuda de uma alça de Drigalski o inóculo de cada microrganismo testado. Na sequência, e com
ajuda de ponteiras descartáveis de 1 mL esterilizadas (cuja ponta foi previamente cortada a 1,5 cm)
foram formados sobre o meio MH de cada placa de Petri, cinco poços para as diferentes
concentrações das substancias determinadas na Tabela 7. Em cada poço depositaram-se 200 μL da
substância a testar. Nos 15 minutos seguintes à preparação do inóculo (incluindo o espalhamento do
inóculo na placa contendo o meio MH e elaboração dos poços), incubaram-se as placas durante 18 h
a 37ºC. Transcorrido o tempo de incubação realizou-se a leitura dos resultados de cada placa,
verificando-se em primeiro lugar que o crescimento tivesse sido uniforme e que não se houvesse
contaminação.
A seguir, apresenta-se o fluxograma (Figura 15) de processo seguido neste estudo, com as
etapas básicas estabelecias para atingir os objetivos marcados inicialmente
FONTE: A autora (2017)
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com o diagrama de Pareto (Figura 17), com um nível de significância de 95%,
a concentração do NaOH pode ser considerada como relevante no tratamento da casca de cacau,
dentre as variáveis estudadas.
FONTE: A autora (2017)
Durante o experimento detectou-se que as perdas de material após da hidrólise com NaOH
correspondem em média a 60%. O que quer dizer que para cada grama de casca de cacau fresca que
é submetida ao pré-tratamento alcalino, 0,4 gramas podem ser posteriormente tratadas
enzimáticamente e o restante (0,6 g) é solubilizado no hidróxido de sódio e na águas de lavagem,
para posterior descarte.
Em outros casos os sais solúveis que estavam presentes no extrato aquoso original não
foram quantificados no hidrolisado. Isto poderia ser produto da solubilização daqueles elementos
durante o processo de lavagens sucessivas após do pré-tratamento alcalino.
Com a informação obtida sobre a composição de íons do hidrolisado, foi possível
determinar posteriormente se na composição do meio de fermentação seria necessária a adição de
sais fundamentais para o metabolismo e crescimento do microrganismo.
Dentre os açúcares identificados na casca de cacau, com e sem pré-tratamento, encontram-
se os quantificados na Tabela 10 e foram também identificados, frutose, arabinose e celobiose em
menores concentrações (dados não inclusos).
Para as amostras analisadas na Tabela 10, pode-se verificar a efetividade do pré-
tratamento básico-enzimático, que para o caso da glucose, passou a apresentar uma concentração de
93,6 mg/g casca (bs) (partindo do extrato aquoso) até atingir uma concentração de 275,03 mg/g casca
(bs) (análise feita a partir do hidrolisado e calculada levando em conta a quantidade de casca
necessária para completar os processos de hidrólise básica e enzimática). No caso dos resultados de
quantificação para a casca de cacau com pré-tratamento básico, os valores diminuíram em relação
aos obtidos para a casca sem tratamento, chegando a ser 54,43 mg de glucose por grama de casca de
cacau em base seca, o que obedece ao fato de uma grande quantidade dos açúcares solúveis terem
sido eliminados da amostra quando tratado com o hidróxido e submetido a inúmeras lavagens com
água até atingir a neutralidade da amostra e não chegam a ser tão altos quanto os determinados para
a casca com o pré-tratamento enzimático devido a ser esta a função da enzima: converter a celulose
presente na casca em glucose para posterior aproveitamento.
Finalmente, vale a pena considerar a presença da xilose nas amostras, que mesmo
mantendo uma concentração relativamente estável ao longo dos pré-tratamentos, já para a etapa
final da hidrólise enzimática não tem mudança o que ratifica que a Cellic® CTec 2 não age sobre as
hemiceluloses, devido a que é um complexo enzimático conformado por endoglucanases,
celobiohidrolases e ß-glucosidases, que trabalham sinergicamente para converter a celulose em
açúcares mais simples, permitindo portanto a liberação só de glucose.
Apresenta-se na Figura 18, um balanço de matéria para o processo, partindo de 5 g inicias
da casca de cacau in natura, até a obtenção do hidrolisado.
FONTE: A autora (2017)
Tanto o material pré-tratado quimicamente com NaOH (em concentração de 2,3% (m/v)
durante 30 min em autoclave a 120˚C) e, posteriormente, com a enzima Cellic® CTec 2, quanto a
casca sem tratamento, foram caracterizados utilizando as técnicas que são descritas a seguir, com o
propósito de determinar as mudanças estruturais e físico-químicas do material de interesse.
b.
a.
c. d.
e. f.
g. h.
possível observar o efeito que o hidróxido de sódio exerce sobre as paredes celulares expandindo
estas e alterando a distribuição nativa.
em estado cristalino, e em consequência a celulose em estado amorfo. Este índice é um dos fatores
importantes para se determinar as propriedades mecânicas dos materiais lignocelulósicos. Para o
presente estudo, esta análise permitiu relacionar o nível de efetividade do tratamento com NaOH
sobre o material e a disponibilidade da fração de celulose amorfa à qual as enzimas teriam acesso
para realizar a respectiva hidrólise.
ação do reagente alcalino, porém o efeito dele sobre estas estruturas é menos drástico. Maryana et
al., (2014) postula que os danos sofridos pela cadeia de celulose como resultado do pré-tratamento,
têm como consequência uma série de rearranjos que alteram a estrutura cristalina da mesma,
tornando-a amorfa e por este motivo o índice de cristalinidade diminui.
Desta forma, os resultados obtidos mediante a análise de difração por raio X para a
determinação do índice de cristalinidade da casca de cacau com tratamento básico e básico-
enzimático, permitiram verificar a efetividade dos mesmos. Em primeiro lugar, a casca pré-tratada
alcalinamente encontra-se corretamente condicionada para o posterior tratamento enzimático, pois a
fração amorfa da celulose aumentou consideravelmente, e de acordo com o argumentado por
inúmeros estudos atuais sobre o tema (e entre eles, o publicado por Park et al., 2012), este fato
permite que a digestibilidade enzimática aumente, possibilitando a recuperação de uma maior
quantidade de açúcares presentes na biomassa. Em segundo lugar, e já com a celulose exposta e
degradada, a enzima agiu sobre esta, clivando diversos tipos de ligações do polímero, para liberar a
glucose, aumentando ainda mais os domínios amorfos da amostra, e em consequência, diminuindo o
índice de cristalinidade.
Na Figura 22 (a), na região entre 3600 até 3000 cm-1 (atribuídas à vibração de estiramento
grupos OH), na amostra sem tratar (linha azul), a banda é larga e intensa. Nas amostras com pré-
tratamento, apresentaram-se alterações que atuaram diretamente nestes grupos fazendo que a
intensidade desta região diminuísse consideravelmente. Na região entre 2925–2885 cm-1 é possível
verificar a presença de duas bandas pouco intensas e estreitas atribuídas ao estiramento simétrico e
assimétrico das ligações C-H dos grupos CH3, CH2 e CH, conforme também observado por Tinwala
et al (2015).
a.
b.
FONTE: A autora (2017)
A região entre 1800 e 900 cm-1 é conhecida como a “impressão digital” e aqui é possível
identificar as diferenças mais importantes entre as amostras e com o proposito melhorar a análise
dos resultados, esta região foi ampliada (Figura 22 (b)). Primeiramente na região de 1735 cm-1 é
observada, para a amostra sem tratar (linha azul) uma banda estreita e de média intensidade, e na
mesma região para as outras amostras, esta banda é sutil. As alterações nesta região são atribuídas
ao grupo carbonila não conjugado das hemiceluloses (Xu et al., 2013). Na região compreendida
entre 1700 e 1500 cm-1 (atribuída aos grupos C=O e C=C) é possível verificar que a amostra sem
tratamento existe uma banda larga e intensa quando comparada com as amostras com tratamento;
ocorre ainda outro fenômeno: na amostra pré-tratada alcalinamente (linha verde) não há definição
de ligações específicas, embora existam sutis picos para o tratamento básico-enzimático (linha
vermelha) e na amostra sem tratar. A amostra com pré-tratamento básico apresenta um pico em
1504 cm-1 e a amostra com pré-tratamento básico enzimático em 1508 cm-1, que pode ser atribuído
as vibrações C=C de anéis aromáticos presentes na lignina. Na região de 1440-1184 cm-1 aparecem
alterações originadas com os pré-tratamentos, e atribuídas à deformação dos grupos C-H, O-H de
celuloses, hemiceluloses e ligninas. Para a amostra com pré-tratamento básico na região de 1215
cm-1 aparece uma banda característica do estiramento das ligações C-C e C-O da lignina. Na região
de 1184 a 960 cm-1 a banda é muito mais larga para a amostra sem tratar quando comparada com as
amostras com pré-tratamento, o que corresponderia ao estiramento assimétrico das ligações C-O-C
de celuloses e hemiceluloses. Para as amostras com pré-tratamentos, na região de 893 cm-1 aparece
uma banda definida e com intensidade média, que corresponde à alteração das ligações glicosídicas.
Finalmente na região de 675 cm-1 para as três amostras, é evidenciada a vibração de torção de =C-
H.
Em resumo, comparando os espectros obtidos é possível ratificar o efeito dos pré-
tratamentos sobre a casca de cacau, pois as bandas que inicialmente apareciam no material sem
tratar foram alteradas, o que significa que ocorreram novas ligações e rompimento de enlaces
originais. Segundo a literatura, o pré-tratamento alcalino age sobre as estruturas conformadas por
lignina e polissacarídeos presente no material lignocelulósico (Garima et al., 2014) o que para este
estudo é de grande importância pois a diminuição da recalcitrância do material, gerada em grandes
quantidades pelo conteúdo de lignina, facilita posteriormente a acessibilidade da enzima aos
compostos celulósicos.
reprodutível para a determinação das temperaturas e as taxas de reação derivadas das mudanças da
massa do material analisado. Nas curvas termogravimétricas (ou simplesmente curvas TG)
resultantes da análise, observa-se o perfil de decomposição térmica do material em diferentes etapas
e encontra-se diretamente relacionada com compostos específicos, que para o caso da biomassa
vegetal, estariam classificados como hemicelulose, celulose e lignina. Na Figura 23 são
apresentadas as curvas TG obtidas para as amostras de casca de cacau in natura (linha azul), para a
casca de cacau pré-tratada com NaOH (linha verde) e para a casca de cacau com pré-tratamento
básico enzimático (linha laranja) e suas respectivas derivadas (dTG).
Na Figura 23, para cada curva TG das amostras de casca de cacau é possível identificar
três eventos térmicos, característicos de material lignocelulósico. No caso do termograma da casca
in natura (linha azul), o primeiro evento térmico (Zona 1) de degradação da amostra, pode ser
observado entre 29ºC e 125ºC. Nesta faixa, ocorre perda de massa relacionada com a evaporação
dos compostos voláteis de baixa massa molar e da água adsorvida. Na região compreendida entre
125ºC e 500°C encontra-se o segundo e mais importante evento térmico (Zona 2), onde é gerada a
degradação ou despolimerização dos compostos de hemicelulose, celulose e lignina e que
corresponde com a maior perda de massa (Chen et al., 2015). Para esta amostra a porcentagem de
variação de massa corresponde aproximadamente a 64%. Perto de 500°C e até 800°C, o material é
transformado em cinzas. Durante este último evento térmico (Zona 3) é possível localizar a
degradação total do material, resultando em óxidos ou cinzas dos elementos inorgânicos que
constituem o material. O material residual para esta amostra corresponde a 28,1%.
Comparando esta amostra com o material pré-tratado e como esperado, a perda de massa é
maior, pois parte do material foi previamente retirado com os processos químicos e biológicos
respetivamente efetuados sobre o material analisado. Na Figura 21 também é possível identificar
através de cada um das derivadas geradas (linhas descontínuas) para as amostras com pré-
tratamento, alterações durante o processo de degradação. No caso do pré-tratamento alcalino com
NaOH (linha descontínua verde), observa-se a surgimento de um “ombro” entre as temperaturas
260°C - 270ºC o que se supõe, poderia corresponder a degradação de material residual depositado
na amostra de casca e relacionado com o hidróxido de sódio. No caso da amostra da casca com pré-
tratamento básico-enzimático entre 200°C e 250ºC este mesmo “ombro” é observado e
possivelmente poderia associar-se com a presença de resíduos dos compostos da formulação
enzimática utilizada para o pré-tratamento.
O resultado desta análise permite concluir que a estabilidade térmica das amostras de
casca de cacau é afetada pelos tratamentos tanto básico como básico-enzimático quando
comparados com a casca de cacau in natura.
FONTE: A autora (2017)
A quantificação deste material foi realizada utilizando os solventes éter, etanol e água.
Determinou-se importante empregar estes solventes, pois cada um deles consegue retirar compostos
de diferente natureza. O éter de petróleo permite retirar compostos não polares como os óleos
vegetais; o etanol solubiliza material como clorofila, ceras, taninos ou outros componentes menores
e a água permite remover material inorgânico, açúcares não estruturais, material nitrogenado entre
outros compostos. Da casca de cacau in natura foi extraído um total de 27,86% de compostos
extraíveis, enquanto que da casca submetida ao pré-tratamento básico foi extraído só 2,43%, o que,
como já foi explicado, era de se esperar, pois os compostos inicialmente contidos na casca sem
tratar, foram progressivamente retirados em cada uma das etapas do tratamento aplicado.
A efetividade do processo é demonstrada com uma variação de 19% entre o material
original e o material pré-tratado, passando de 26,2% para 21,2% respectivamente. A redução da
presença de lignina após do tratamento é atribuída à ação do hidróxido de sódio sob as condições
estabelecidas, que permitiram mediante o processo de saponificação, como é relatado na literatura, a
ruptura de ligações intermoleculares de tipo éster que se encontram articulando a lignina e parte da
hemicelulose (Chiaramonti et al., 2012). As referências bibliográficas reportadas na Tabela 1 têm
reportado faixas entre 14 e 26% no conteúdo de lignina para a casca de cacau, portanto o resultado
obtido concordaria com estudos prévios, mas não tendo referências previas sobre a efetividade do
pré-tratamento básico efetuado sobre este material, a redução de 19% do conteúdo de lignina, seria
um dado inicial à espera de ser verificado em estudos posteriores.
A análise de carboidratos estruturais das amostras permitiu identificar glucose, xilose e
celobiose (este último açúcar é um indicador de hidrólise incompleta) mediante a leitura no HPLC.
Para a casca sem tratar a porcentagem de carboidratos estruturais foi de 16,25% enquanto que foi
quantificado 45,5% para casca de cacau após o pré-tratamento, e segundo os açúcares identificados,
foi a glucose que contribuiu em maior medida a este importante incremento (Tabela 10). Este fato
ratifica a efetividade do tratamento básico, pois cumpriu-se o propósito de reduzir o conteúdo de
lignina e aumentar a porosidade do material para a posterior ação da lignina.
O resumo da análise composicional da casca de cacau tratada alcalinamente e in natura
apresentada na Tabela 12, incluiu outros itens, que correspondem à fração de compostos que não
foram quantificados neste estudo. Análises como a determinação da porcentagem de acetato, de
acetil, de ácido levulínico, de ácidos urónicos e hexaurônicos não foram efetuadas. Recomenda-se
para futuros estudos, incluir a quantificação de outros compostos que permitam conhecer essa
porcentagem de forma desagregada.
FONTE: A autora (2017)
Entre as nove cepas ensaiadas, só duas delas conseguiram adaptar-se e produzir AP. Desta
forma, nas etapas posteriores foram utilizadas as cepas pertencentes as espécies P. freudenreichii
spp. shermanii ATCC 9614 (C6) e P. jensenii DSM 20274 / ATCC 4964 (C7) as quais produziram
3,82 e 4,99 g·L-1 de AP respectivamente após de 48 h de incubação em meio sintético (Tabela 14).
Depois de desenvolver diferentes processos de fermentação com as duas cepas selecionadas
inicialmente, a cepa P. jensenii DSM 20274 / ATCC 4964 (C7) apresentou sempre as produções de
AP com maiores concentrações no meio e menor geração de subprodutos como ácido succínico
(AS), ácido acético (AA) e maior consumo de glicerol. Por este motivo, decidiu-se continuar o
estudo com a cepa de P. jensenii DSM 20274 / ATCC 4964 (C7) (Figura 24).
FONTE: A autora (2017)
(1)(NH4)2PO4 -4,8949
(4)CaCl2 3,890915
(2)KH2PO4 -3,24701
(3)MgSO4 ,4812358
(6)MnSO4 -,468879
(5)CoCl2 ,4094125
(7)FeSO4 ,2076506
p=,05
Standardized Effect Estimate (Absolute Value)
FONTE: A autora (2017)
As maiores concentrações de AP alcançadas (entre 1,86 g·L-1 e 2,30 g·L-1) foram obtidas
para os pontos centrais do planejamento experimental, que correspondem a uma concentração de 8
g·L-1 de glucose proveniente do hidrolisado da casca de cacau, 32 g·L-1 de glicerol e 10 g·L-1 de
extrato de levedura. Para os pontos centrais a relação C/N é de 4:1. Outros estudos já têm utilizado
esta relação C/N usando glicerol ou glucose, junto com extrato de levedura (Dishisha et al., 2012;
Zhang et al., 2015). Por outro lado, a menor concentração de AP (0,68 g·L-1 ) apresentou-se para
uma relação C/N 8:1. O estudo que até agora, reporta a maior relação C/N foi elaborado por Liu et
al., 2012 e correspondeu a 5:1.
b.
Uma vez conhecida que a relação C/N ótima para a produção de AP é de 1:4, procedeu-se
verificar se incrementando a quantidade de carbono presente no meio (mantendo a relação C/N de
4:1), a produção de AP conseguia ser incrementada na mesma proporção. Desta forma, para o total
das fontes de carbono adicionadas no meio analisaram-se as concentrações de 40 g·L-1, 80 g·L-1 e
110 g·L-1. Seguindo a metodologia proposta na seção 3.6.1.4, obtiveram-se os dados apresentados
na Tabela 16.
TABELA 16. RESULTADOS DA VARIAÇÃO NA CONCENTRAÇÃO DAS FONTES DE
CARBONO
encontra-se próximo do reportado como teóricos por Parizzi et al., (2012) com 55% de rendimento
quando produzido a partir de glucose exclusivamente, o que pode ser considerado como um
parâmetro guia para este trabalho. A concentração e rendimentos de AP para os experimentos 2 e 3
são a metade em relação com a obtida no experimento 1, nos quais a produção foi de 2,12 ± 0,04
g·L-1 (rendimento de 0,20 g AP/g de FC) e 1,34 ± 0,25 g·L-1 (rendimento de 0,08 g AP/g de FC)
respectivamente. Este fato pode ser atribuído às elevadas concentrações de compostos no meio
(identificada a partir de 80 g·L-1 da fonte de carbono e 20 g·L-1 de extrato de levedura) o que poderia
ter ocasionado uma certa repressão ou intolerância do microrganismo nesta condição.
Com relação à variação do pH no meio de fermentação, o Experimento 1 apresentou
menor pH final com um valor de 4,34 ± 0,01 e a biomassa final atingiu um total de 1,53 ± 0,2 g·L-1
que para o caso, não é a maior concentração de todos os experimentos, como sim o é para o
experimento 2 com um total de 1,61 ± 0,04 g·L-1 de biomassa.
Analisando o consumo da origem da FC, é no experimento 1 onde o consumo de glucose
proveniente do hidrolisado é a maior com 18,14 ± 0,01% e um consumo de glicerol igual a 23,60 ±
0,004% que comparado com os experimentos 2 e 3 resulta ser a maior.
No que se refere a geração de subprodutos, os experimentos 2 e 3 apresentam as maiores
concentrações tanto para o AS (0,83 ± 0,57 g·L-1 e 0,45 ± 0,02 g·L-1 respectivamente) quanto para o
AA (0,24 ± 0,04 g·L-1 e 0,27 ± 0,10 g·L-1 respectivamente) em comparação com o experimento 1
que gerou 0,35 ± 0,01 g·L-1 de AS e 0,18 ± 0,04 g·L-1 de AA. Verificando assim, que quando a
concentração das fontes de carbono aumenta, em consequência a concentração dos subprodutos,
também aumenta como é possível verificar nos experimentos 2 e 3 (Tabela 16).
Com os resultados aqui apresentados e tendo como principais critérios de seleção, a
quantidade de AP produzido e o rendimento obtido, além da porcentagem de glucose (proveniente
do hidrolisado de cacau) consumida, o Experimento 1 é o que forneceu os melhores resultados e
para tanto foram estas as condições com as quais foram planejados os experimentos posteriores.
Conhecendo que o consumo de glicerol no experimento apresentado na Tabela 16, foi no
máximo de 23,6% efetuou-se um experimento adicional com o propósito de determinar se
modificando a relação das fontes de carbono, que para o experimento anterior correspondeu a uma
relação 1:4 (1 g·L-1 de glucose para cada 4 g·L-1 de glicerol), conseguia-se simultaneamente
incrementar o consumo do microrganismo destes substratos, sem afetar a produção de AP. Assim,
foi avaliada a relação 1:3 para as fontes de carbono, mantendo a relação C/N de 1:4, previamente
estabelecida. Os resultados desta prova encontram-se na Tabela 17.
Neste caso, a produção de AP foi de 4,09 ± 0,13 g·L-1 com um rendimento de 0,43 g AP/
g de substrato. Comparativamente, o resultado do experimento anterior, a concentração foi igual a
4,20 ± 0,07 g·L-1 de AP com um rendimento de 0,47 g AP/ g de substrato, pelo que a geração do
produto se mantem relativamente constante. Enquanto ao consumo das fontes de carbono, a
utilização do glicerol por parte do microrganismo passou a ser 28,85%, quando previamente tinha
atingido um total de 23,6% pelo que é evidente que a redução da relação das fontes de carbono
contribui com o maior consumo de glicerol. Não obstante, é importante ver que o consumo da
glucose foi reduzido de forma importante passando de 18,14 ± 0,01% no experimento anterior, para
7,69 ± 0,08% quando usada uma relação menor das fontes de carbono. Devido a que o principal fim
é o aproveitamento da glucose proveniente do hidrolisado para a obter as melhores produções de
AP, para os próximos experimentos decidiu-se manter a relação 1:4 para as fontes de carbono
glucose e glicerol no meio de fermentação.
sintético, nas condições relatadas na seção 3.6.1.3. obtiveram-se os resultados de produção de AP,
biomassa e subprodutos apresentados na Tabela 18.
FONTE: A autora (2017)
Após de 156 h de processo, a concentração de AP no meio atingiu um máximo de 10,28
g·L-1 e a melhor produtividade foi de 0,079 g·L-1·h-1 após 72 horas. O melhor rendimento em
substrato foi de 0,59 g AP/g de substrato após de 108 h de processo. Nesse momento, atingiu-se a
maior concentração de AS com 0,68 g·L-1, enquanto que a maior concentração de AA (0,8 g·L-1) foi
registrada após de 156 h de processo. Coral, (2008) utilizando esta mesma cepa, conseguiu uma
produtividade máxima de 0,064 g·L-1·h-1 e uma concentração de AP igual a 8,98 g·L-1 utilizando
como fonte de carbono glicerol e melaço de cana. Liu et al., (2016) atingiram concentrações de
26,95 de AP depois de 228 h de processo, também com uma cepa de P. jensenii (ATCC 4868) com
fermentação em batelada alimentada, utilizando como única fonte de carbono glicerol. Zhuge et al.,
(2015), conseguiram uma concentração de 21,38 g·L-1 de AP, após 156 h de processo, utilizando a
cepa P. jensenii proporcionando glicerol como fonte de carbono. Mesmo que as diferenças sejam
significativas, convém ressaltar que as concentrações de AP obtidas nesta etapa de estudo ainda não
foram otimizadas, possibilitando melhorias neste respeito.
Durante esta fermentação, um dos parâmetros acompanhados foi o pH. Com um pH inicial
de 6,45 do meio e um pH final de 3,96 considera-se que a evolução deste parâmetro junto com os
que serão apresentados a seguir, está dentro do esperado. O seguinte parâmetro acompanhado foi a
produção de biomassa e é exibida na Figura 28. Nesta curva de crescimento do microrganismos P.
jensenii DSM 20274 é possível diferenciar com clareza as etapas de desenvolvimento do
microrganismo durante a fermentação, onde a etapa de adaptação é rápida, e seguida pela etapa de
crescimento exponencial, atingindo seu máximo após 72 h, para logo alcançar o estado estacionário.
FONTE: A autora (2017)
FONTE: A autora (2017)
O consumo de glucose no final do processo foi 80,8% e de 22,5% para o glicerol. Em total
a fonte de carbono restante no meio após das 156 h de fermentação correspondeu a 67,9%. Neste
caso o microrganismo não conseguiu utilizar totalmente a fonte de carbono, presumivelmente pela
falta de acesso a esta, pois durante o processo foi observada uma acumulação de material no fundo
do biorreator. Lembrando que, o tipo de agitação foi branda e correspondeu a 50 rpm o que poderia
ter influenciado neste fato, pelo que é sugerido para estudos posteriores, a otimização desta variável.
As máximas concentrações de AS e AA foram iguais a 0,25 g·L-1 e 1,09 g·L-1 respectivamente.
Para esta cinética de fermentação, o pH do meio iniciou 7,02 e finalizou com um pH de 4,25.
Os resultados atingidos neste estudo para a concentração e produtividades de AP
produzidos a partir do hidrolisado da casca de cacau e o glicerol, poderiam ser melhorados,
considerando a implementação de diferentes estratégias relacionadas com o tipo de fermentação e
controle da atmosfera de fermentação mediante a injeção de N2. Para este estudo, a implementação
do sistema de batelada alimentada não se considerou como viável, toda vez que as fontes de
carbono não foram totalmente consumidas durante o processo de fermentação, no entanto, se propõe
como técnica importante a ser considerada para estudos futuros. A seguir, se citam alguns exemplos
sobre estudos relevantes sobre a produção de AP.
Estudos previamente publicados têm obtido concentrações de até 136,23 ± 6,77 g·L-1 de
AP após de 240 h (a maior até agora reportada) com uma produtividade de 0,57 ± 0,03 g·L-1·h-1,
implementando o sistema de batelada alimentada e imobilização de células mediante a cepa P.
freudenreichii CCTCC M207015 e utilizando glucose como fonte de carbono (Chena et al., 2012).
Também mediante o sistema de batelada alimentada Liu et al., (2012) conseguiram atingir uma
concentração de 53,2 g·L-1 de AP, com a cepa P. acidipropionici ATCC 4875 e utilizando
hemiceluloses como fonte de carbono. Previamente, realizaram uma fermentação em batelada e
obtiveram concentrações de AP de 13,3 g·L-1. Em um estudo prévio, Suwannakham (2005) com
esta mesma cepa e usando também xilose, mas desta vez em sistema de batelada, atingiu uma
concentração de 18,5 g·L-1 . Com estas referências, vale a pena considerar para futuros estudos a
implementação do sistema de fermentação de batelada alimentada. Nos estudos aqui citados, as
técnicas de estabelecimento de anaerobiose usadas, foram a geração de vácuo ou o espargimento de
nitrogênio. No Quadro 3 apresentam-se diversos exemplos de outros estudos realizados sobre a
produção de AP a partir de diferentes fontes de carbono e implementando vários tipos de sistemas
de fermentação.
5. CONCLUSÕES
• Demostrou-se que as cascas de cacau, consideradas como um resíduo agrícola
primário, têm potencial agroindustrial para a produção biotecnológica de
compostos de médio a alto valor agregado.
• A comparação da caracterização físico-química mediante diferentes técnicas
qualitativas (coloração histológica-MO, MEV, FTIR, DRX e TG) e
quantitativas da casca de cacau in natura e pré-tratada, permitiu verificar as
diversas alterações (estrutura morfológica, conformação química, grau de
cristalinidade, estabilidade térmica e de resistência mecânica) ocasionadas pela
ação dos compostos químicos e enzimáticos utilizados durante o estudo, o que
ratificou para cada caso a eficácia dos processos.
• As condições de hidrólise química e enzimática estabelecidas para o pré-
tratamento da casca de cacau (NaOH 2,3% (m/v), durante 30 minutos em
autoclave a 120ºC e 1 atm.; seguida por hidrólise com a enzima Cellic® CTec 2
em concentração de 2,4% (v/v), substrato 10% (m/v), 50ºC e 100 rpm),
permitiram obter um hidrolisado com uma maior concentração de glucose,
quando comparada com as concentrações obtidas para o extrato aquoso, para a
posterior obtenção de uma biomolécula de valor agregado.
• Produziu-se AP a partir do hidrolisado das cascas de cacau obtido do pré-
tratamento químico e enzimático, com os seguintes valores:
o Frasco tipo Schott de 100 mL:
Concentração máxima: 10,28 g·L-1
Produtividade: 0,079 g·L-1·h-1
Rendimento: 0,59 g de AP/ g de substrato
o Biorreator agitado de 2 L:
Concentração máxima: 6,42 g·L-1
Produtividade: 0,068 g·L-1·h-1
Rendimento: 0,65 g de AP/ g de substrato
• Cumpriram-se todos os objetivos específicos estabelecidos para o
desenvolvimento deste projeto.
6. PERSPECTIVAS
• As diferentes frações residuais (líquidas e sólidas) obtidas ao longo do processo
de obtenção do hidrolisado, permitem propor o estabelecimento de uma
biorefinaria com o propósito de valorizar ainda mais este resíduo. Como
exemplo, se propõe aproveitar o efluente gerado após do tratamento químico da
casca de cacau (presumivelmente rico em ligninas e hemiceluloses) e o resíduo
sólido remanescente após do pré-tratamento enzimático.
• Sugere-se estudar a viabilidade da recuperação e reutilização de compostos
utilizados durante o tratamento da casca de cacau (NaOH utilizado para o pré-
tratamento alcalino e enzima residual)
• Otimizar a produção de AP em biorreator mediante a implementação de sistema
de fermentação de batelada alimentada, o controle da atmosfera de fermentação
mediante a injeção de N2 ou CO2.
• Avaliar o possível uso dos subprodutos AA e AS obtidos durante a produção de
AP.
• Concentrar e purificar os caldos de fermentação obtidos para verificar a ação
antimicrobiana do AP, iniciando com testes Mínima Concentração Inibitória
(MCI).
• Utilizar o hidrolisado para a produção de outras biomoléculas de interesse
industrial (exemplo etanol).
7. REFERÊNCIAS
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8. APÊNDICES