Francisco de Menezes Dias Da Cruz
Francisco de Menezes Dias Da Cruz
Francisco de Menezes Dias Da Cruz
Possuidor de enorme clínica, o Dr. Dias da Cruz não fugia aos deveres da caridade,
dando, assim expansão aos seus sentimentos humanitários. Homem de grande e invulgar
cultura, deixou riquíssima biblioteca. Estudioso desde a infância, preocupou-se com a ciência
homeopática e, mais tarde, diante de provas irrefutáveis tornou-se espírita dos mais caridosos e
evangélicos. É interessante relatar, ainda que superficialmente, a maneira por que se verificou
sua conversão. Tendo chegado ao seu conhecimento que o espírito de seu genitor desenvolvia
largo programa de caridade, através de médiuns receitistas, decidiu ele, homem austero e cultor
da verdade, ir à Federação Espírita Brasileira para observar e apurar quanto de real pudesse
haver em torno da informação recebida.
Iniciada a reunião com a prece habitual, passou-se ao estudo doutrinário. Até então nada
ocorrera suscetível de lhe permitir aceitar a sessão das manifestações atribuídas ao espírito de
seu pai. Já estava propenso a acreditar em mistificação, quando, à mesa que dirigia os trabalhos,
um médium demonstrou haver caído em transe. Era, afinal, a tão desejada manifestação que
inesperadamente se realizava. Através do médium, o Espírito do primeiro Dr. Dias da Cruz
pediu que chamassem seu filho, que ali se encontrava no meio dos assistentes. Surpreso, este se
aproximou, incrédulo. A um dado momento, porém, seu genitor disse-lhe: Você se lembra
daquele fato que ocorreu conosco, na praça tal?
E, a seguir, revelou uma ocorrência só de ambos conhecida, Diante disso, o Doutor Dias
da Cruz (filho) sentiu chegada a hora de se render à inelutável evidência. Ninguém o conhecia
naquela assembléia e o fato referido pelo espírito era absolutamente desconhecido de toda a sua
família, pois somente os dois dele haviam tido o conhecimento.
Percebeu, então, que ao seu caráter íntegro e probo só havia um caminho: aceitar a
veracidade da manifestação espirítica de seu genitor. E fê-lo sem constrangimento, com a
simpleza natural das almas puras. Pôs-se a estudar o Espiritismo, enfronhou-se na interpretação
dos textos doutrinários e passou a ser, daí por diante, um novo e valoroso servidor do Cristo nas
fileiras dos seguidores de Kardec.
Foi quem primeiro tentou, em 1891, adquirir um prédio próprio par a FEB e montar
oficina tipográfica para a impressão do “Reformador” e de obras espíritas em geral.
Após a morte do Dr. Joaquim Murtinho, subiu à presidência do Instituto, por um ano, o
Dr. Teodoro Gomes. Substituiu-o o Dr. Licínio Cardoso, sob a vice-presidência do Dr. Dias da
Cruz. Esse foi o período áureo da Homeopatia no Brasil, e frisa um historiador que ao Dr. Dias
da Cruz cabe grande parcela das glórias que o Instituto conquistou durante a presidência do Dr.
Licínio Cardoso.
Ficou célebre a polêmica (1900-1901) entre o doutor Dias da Cruz e o Dr. Nuno de
Andrade, Diretor Geral de Saúde Pública, médico alopata e acirrado inimigo da Homeopatia, o
qual acabou por ser exonerado do cargo que ocupava.
Fundada em 1912, a Faculdade Hahnemaniana (posteriormente denominada Escola de
Medicina e Cirurgia, com sede atual à rua Frei Caneca), Dias da Cruz colaborou na organização
dos programas de ensino do novel estabelecimento, no qual lecionou a cadeira da Farmacologia
e, mais tarde, a 1ª cadeira de Matéria Médica, constituindo-se em verdadeiro mestre de toda uma
nova geração.
Dias da Cruz foi por muitos anos o orador oficial do Instituto. Sua eloquência e seu
saber impressionavam a todos. Quando da inauguração do Hospital Hahnemaniano, em 1916,
discursou brilhantemente em nome do Instituto, ante numerosa e ilustrada assistência, presentes
Licínio Cardoso, Carlos Maximiliano, Ministro da Justiça, o Barão de Brasílio Machado,
Presidente do Conselho Superior do Ensino, o Dr. Paulo de Frontin, Diretor da Escola
Politécnica, e representantes do Presidente da República e de Ministérios em geral.
Em 1926, o Dr. Licínio Cardoso pede demissão da presidência do Instituto, sendo eleito,
para substituí-lo, o Dr. Fransisco de Menezes Dias da Cruz. Este exerceu o cargo de Presidente
efetivo até 29 de Janeiro de 1930. Nesse dia, reunido o Instituto em sessão extraordinária, foi
aclamado presidente-perpétuo o Dr. Dias da Cruz, após este haver renunciado, por motivo de
saúde, ao cargo de Presidente para o qual acabava de ser reeleito. “Sua aclamação” - escreveu
um historiador - “foi um direito conquistado por seu valor mora, sua capacidade intelectual e,
sobretudo, por firmeza de suas convicções homeopáticas”.
Dizem os seus contemporâneos que o cumprimento do dever era quase que sagrado para
o Dr. Dias da Cruz. Como professor, jamais deixou de comparecer à hora certa em suas aulas.
Como clínico no Hospital Hahnemaniano, não se fazia esperar pelos doentes . Eis em síntese, a
brilhante personalidade daquele que dignificou o Espiritismo e a Homeopatia no Brasil.