Curandeiros Na República

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“Ecos da cidade”: os curandeiros como sujeitos

históricos no século XIX - o caso de Juca Breves


JEFFERSON NASCIMENTO ALBINO1

I – Introdução
Este trabalho busca apresentar e analisar dados iniciais da minha pesquisa de
mestrado que está sendo desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em
História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (PPGHCS/COC/FIO-
CRUZ), na qual buscamos examinar os discursos de periódicos sobre curandeiros
que atuavam no Estado do Rio de Janeiro durante os anos de 1890-1899, com o
objetivo de compreender as definições atribuídas ao exercício do curandeirismo
e as sociabilidades e os espaços de ocupação dos agentes que o praticavam. Para
tal, construímos um banco de dados com relatos sobre a atuação destes cura-
dores identificados nos periódicos entre os anos de 1890-1899, disponíveis na
Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.
Neste artigo analisaremos um episódio específico presente em nosso ma-
peamento que teve como personagem central o curandeiro José Francisco Pinto
Breves, terapeuta popular que atuou em Niterói durante os anos de 1887 a 1910.
A partir das informações encontradas nos periódicos2, identificamos que
Breves, também conhecido como Juca Breves, Juca Machinista, Fuão3 Breves e
Curandeiro Breves, residia na Rua Fonseca nº1, no bairro de mesmo nome, que
se localizava na freguesia da Ponte de Pedra em Niterói. Antes de residir em ali,
Breves morou em Itaboraí e Magé, nas quais era procurado por praticar feitiçaria
e curandeirismo. Sua trajetória, é marcada por contravenções corriqueiramente
noticiadas, que denunciavam suas práticas terapêuticas e ações políticas, que ex-
põem a teia de sociabilidade na qual Breves se inscrevia no intuito de continuar

1 Mestrando no Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de


Oswaldo Cruz (PPGHCS/COC/FIOCRUZ). A pesquisa é financiada pela Fundação Oswaldo Cruz e
é orientada pela Profa. Dr.ª Kaori Kodama Flexor (PPGHC/COC/FIOCRUZ). E-mail: jeffalbino_sps@
hotmail.com.
2 Gazeta de Notícias, Jornal do Commercio, O Paiz, A Notícia, Jornal do Brasil, O Tempo, Cida-
de do Rio, O Fluminense e Gazeta da Tarde.
3 “Fulano” in: PINTO, Luiz Maria da Silva. Dicionário da Língua Brasileira. MG, 1832: 540.

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exercendo o curandeirismo, e que lhe garantiu a ocupação de variados espaços
em meio ao contexto político republicano.
No caso narrado pelo periódico O Paiz no 16 de fevereiro de 1892, ocorrera
um cerco policial para prender Breves por exercer o curandeirismo. Na ocasião,
foram levados à depoimento setenta e nove indivíduos que estavam à espera de
uma consulta e também o médico Francisco Baptista da Rocha, contratado pelo
curandeiro para que pudesse utilizar seu nome a fim de desviar a atenção da
polícia, órgão responsável por prender e apreender os praticantes das terapias
populares não diplomados.
O contexto histórico que permeia este processo é fruto de um golpe militar.
A Primeira República teve como preocupação imediata a manutenção da ordem
pública e o enraizamento do regime, resultando disso ações exercidas através da
implementação de uma ditadura republicana-militar embasada em um instru-
mental legal de sustentação do poder. Essas medidas refletiam a imagem de gru-
pos políticos heterógenos que possuíam visões específicas sobre o novo gover-
no. Médicos, militares, literários, jornalistas, bacharéis, juristas e outros membros
da sociedade civil, que a partir da década de 1870 vieram se organizando entor-
no de interesses específicos, visavam uma reestruturação política, econômica e
social com o intuito de colocar o Brasil nos trilhos da modernidade e civilidade
inspiradas nos países europeus e nos Estados Unidos da América. (MELLO, 2007;
DONADELI, 2016)
Norteados pelas filosofias do social darwinismo, positivismo e liberalismo,
essa geração debatia sobre escravidão, cidadania, democracia e concepções de
liberdades. E reivindicavam para si um papel messiânico que prometia libertar a
nação do atraso colonial e seguir nos rumos do progresso modernizador. Nesta
conjuntura, é possível identificar discursos científicos e políticos que atribuíram
aos curandeiros um espaço de depreciação. Estes alegavam que as práticas de
cura ligadas aos negros escravizados, indígenas e religiosos eram exercidas sem
uma orientação científica, e em contraposição a essas terapias, se ergueu um
discurso sobre a substituição destas por uma arte de curar orientada pela ciência
e seus paladinos, os médicos diplomados, que enxergavam os curandeiros como
obstáculo a ser superado na consolidação de suas práticas médico-científicas já
presentes nos espaços políticos e sociais.
Tais debates, ligados a uma associação em construção entre praticantes da
medicina e o Estado, procuraram definir o curandeirismo e outras práticas as-
sociadas as artes de curar, sem a autorização das instituições médica, como in-
civilizadas e um empecilho ao progresso. Deste modo, quando o novo governo
republicano buscou a manutenção do status quo a partir da promulgação do
Código Penal em 1890, que definia práticas lícitas e ilícitas a fim de depurar todos
aqueles que se opunham ao governo (DONADELI, 2016), encontra-se na sessão
de “crimes contra saúde pública”, mais especificamente nos artigos 156, 157 e
158, a criminalização de práticas religiosas e de qualquer indivíduo que buscasse
exercer a arte de curar sem possuir diploma.

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Isto posto, o nosso recorte temporal de pesquisa se justifica a partir do inte-
resse em perceber os discursos dos periódicos do Rio de Janeiro em um contexto
de criminalização institucionalizada destas práticas. Nosso objetivo no presente
trabalho é analisar os elementos identificados na prisão do curandeiro Juca Bre-
ves em combinação com o contexto histórico republicano.
Por esta razão, o artigo foi subdividido em cinco tópicos para uma compre-
ensão mais lúcida e sistêmica, visando apresentar o episódio fio-condutor desta
análise, analisar o que se entendida por curandeirismo, explicar a contratação
de um médico por parte de um curandeiro em um contexto de perseguição na
sociedade carioca, compreender a estigmatizarão de terapias popular como um
processo histórico, e apontar conclusões prévias sobre a análise, indicando ou-
tros episódios a serem analisados que possuíam o curandeiro Breves como ele-
mento central.

II – Um curandeiro em apuros
Era dia 16 de fevereiro de 1892, cerca de 9 horas da manhã, quando o Sr.
Araújo chegou em uma casinha no centro de um terreno gramado na Ponte da
Pedra, em Niterói. Na porta, havia uma placa que dizia: “Dr. F. da Rocha, médico e
operador”. Ao entrar na casa, o homem se deparou com uma grande quantidade
de pessoas aguardando. Em meio a estas, encontravam-se cidadãos famosos,
matronas, crianças, cavalheiros respeitáveis, brancos, pretos, histéricos e paralí-
ticos. Após essa breve percepção, dirigiu-se ao balcão e pegou seu cartão – este
era o bilhete de ingresso para as consultas e tratamentos ali oferecidos – que
continha no verso: “Dr. F. da Rocha. Número 185.”
Vendo que havia 184 pessoas na sua frente – que chegaram às 4 ou 5 horas
da madrugada para garantir suas consultas – o Sr. Araújo começou a andar pelo
espaço no qual o tal médico fazia as consultas. Ali encontrou câmaras escuras
onde havia espectros, letras de fogo, vozes soturnas, galinhas pretas comendo
milho espalhados sobre cartas de jogos, um corvo de plumas negras como a ave
do desespero, duendes, alçapões e caveiras humanas.
Ao longo da expedição, ele avistou uma mulher que estava tendo um ataque
epilético e, na ocasião, o afamado curandeiro Juca Breves veio ao socorro dela e,
por meio de rezas e passes magnéticos, expulsou uma possível entidade de den-
tro da mulher. Após este episódio, o Sr. Araújo, impaciente com a espera, saiu da
sala de consulta, fez um sinal previamente combinado e bradou: “Salve-se quem
puder!”. Os apitos começaram a soar, e a polícia de Niterói, fardada e até então
secreta, invadiu a casa e deu voz de prisão a todos que ali se achavam, realizando
então 79 prisões.
Dois grandes bondes mal puderam conter os consulentes, que foram trans-
feridos para a delegacia de polícia militar onde o Dr. Militão, o Primeiro Delega-
do, procedeu com o inquérito interrogando devidamente cada uma das pessoas.

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No ato da prisão, o Dr. Francisco Batista da Rocha, nome completo do médico,
declarou que nunca receitava nem dava consultas naquele local e que apenas
acobertava o crime e a especulação do curandeiro Breves, indivíduo que lhe dava
duas vezes por semana a quantia de 10$500 réis apenas para utilizar seu nome.
Após o ocorrido, as pessoas que estavam presas foram liberadas e o Curan-
deiro Breves fora solto dois dias depois após pagar uma fiança de 800$ réis.4

III – As terapias populares – o curandeirismo


Inicialmente destacamos que encontrar um médico alugando seu nome para
que um curandeiro pudesse se esquivar da polícia não era uma prática recorrente
na cidade do Rio. Faço tal afirmação porque, além de não identificar até o presen-
te momento outra situação semelhante à aqui descrita, ao nos debruçarmos na
historiografia sobre o tema, identificamos as inúmeras tensões e perseguições da
classe médica em relação a estes praticantes de uma arte de curar não diplomada.
A historiadora Gabriela Sampaio (2011) nos aponta os repetidos conflitos
destas duas categorias entorno da legitimação de suas práticas, pois a medicina,
naquele momento buscava consolidar o seu discurso e sua profissão perante a
sociedade que resistia a este projeto, recorrendo às curas populares.
Como explicita Luiz Otávio Ferreira (2003) e Flavio Edler (2014), a classe mé-
dica ganha uma nova roupagem a partir da lei de 1832, quando ocorre a trans-
formação da escola médico-cirúrgica em faculdade de medicina.5 Em um modelo
inspirado nos centros europeus, estes médicos buscaram através da impressa
científica, de instituições acadêmicas e de uma associação com o Estado atra-
vés dos discursos de saúde pública, sua legitimação a partir do contato com a
população elegendo a saúde pública e higiene com temas de diálogos, pois ao
mesmo tempo em que se propagava um discurso científico sobre os hábitos higi-
ênicos nos espaços público e privados, ocorria o alinhamento do pensamento de
progresso e modernização em processo de construção através das políticas do
Estado. Sendo assim, no contexto da recém-nascida República, os curandeiros já
eram identificados como um dos símbolos do atraso social e científico.
Esta imagem de atraso pode ser percebida na pouca definição dessas terapias
populares, pois o termo “curandeirismo” englobava variadas artes herdadas des-
de os primórdios coloniais, em uma mistura de práticas dos indígenas, africanos

4 Adaptado de: O Paiz. Um curandeiro em apuros – setenta e nove prisões. 16 de fevereiro


de 1892, p.1.
5 A lei de 3 de outubro de 1832 transformou as academias médico-cirúrgicas do Rio de Janei-
ro e da Bahia em escolas ou faculdades de medicina. Baseada num projeto elaborado por uma
comissão de membros da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro e seguindo o modelo da
Faculdade de Medicina de Paris, a lei de 1832 constituiu-se como um dos principais demarcado-
res da institucionalização da medicina acadêmica e de seu campo profissional. A lei conferiu às
faculdades a prerrogativa de conceder os títulos de doutor em medicina, farmacêutico e parteira,
bem como validar os obtidos em escolas estrangeiras. In: EDLER, Flávio Coelho. Ensino e profissão
médica na corte de Pedro II. São Paulo: Universidade Federal do ABC- SP, 2014. p. 10.

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escravizados, afro-brasileiros e europeus, nas quais não havia uma diferenciação
entre o místico e o científico. Não obstante, o Sr. Araújo identifica elementos pri-
mordiais em seu tour pelo consultório de Breves, assim como vê o próprio dan-
do passes magnéticos, técnica frequentemente utilizada por pais de santo e por
médicos diplomados em uma espécie de medicina heterodoxa. (ACCIOLI, 2016)
Embora os periódicos aglutinassem práticas diversas sobre a alcunha de
“curandeirismo”6, segundo o Dicionário da Língua Brasileira do Século XIX7, curan-
deiro seria aquele “que se a mete a curar, mezinheiro” e a prática de curar se defi-
nia por “aplicar remédio para sarar a doença.” (PINTO, 1832: 309). Enquanto no Có-
digo de 1890, as definições entorno destas práticas se mostravam mais definidas:

Art. 156. Exercer a medicina em qualquer dos seus ramos, a arte dentaria ou a farmá-
cia; praticar a homeopatia, a dosimetria, o hipnotismo ou magnetismo animal, sem
estar habilitado segundo as leis e regulamentos: Penas – de prisão celular por um
a seis meses e multa de 100$ a 500$000. Parágrafo único. Pelos abusos cometidos
no exercício ilegal da medicina em geral, os seus autores sofrerão, além das penas
estabelecidas, as que forem impostas aos crimes a que derem causa.

Art. 157. Praticar o espiritismo, a magia e seus sortilégios, usar de talismãs e carto-
mancias para despertar sentimentos de ódio ou amor, inculcar cura de moléstias
curáveis ou incuráveis, enfim, para fascinar e subjugar a credulidade publica: Penas
– de prisão celular por um a seis meses e multa de 100$ a 500$000.

§ 1º Si por influência, ou em consequência de qualquer destes meios, resultar ao pa-


ciente privação, ou alteração temporária ou permanente, das faculdades psíquicas:
Penas – de prisão celular por um a seis anos e multa de 200$ a 500$000.

§ 2º Em igual pena, e mais na de privação do exercício da profissão por tempo igual


ao da condenação, incorrerá o médico que diretamente praticar qualquer dos atos
acima referidos, ou assumir a responsabilidade deles.

Art. 158. Ministrar, ou simplesmente prescrever, como meio curativo para uso inter-
no ou externo, e sob qualquer forma preparada, substância de qualquer dos reinos
da natureza, fazendo, ou exercendo assim, o oficio do denominado curandeiro: Pe-
nas – de prisão celular por um a seis meses e multa de 100$ a 500$000.

Parágrafo único. Se o emprego de qualquer substancia resultar a pessoa privação, ou


alteração temporária ou permanente de suas faculdades psíquicas ou funções psico-
lógicas, deformidade, ou inabilitação do exercício de órgãos ou aparelhos orgânicos,
ou, em suma, alguma enfermidade: Penas – de prisão celular por um a seis anos e
multa de 200$ a 500$000.

Se resultar a morte: Pena – de prisão celular por seis a vinte e quatro anos. (BRASIL,
1890: 29)

6 Segundo o levantamento do banco de dados, outros termos foram encontrados enquanto


associados ao curandeirismo, como bruxa (o); feiticeira(o); espírita, macumbeiro, cartomante; re-
zadeira(o) e outros.
7 PINTO, Luiz Maria da Silva. Dicionário da Língua Brasileira. MG, 1832.

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Podemos observar que havia três variações de crimes previstos entorno das
artes de curar. A primeira fazia referência aos médicos intitulados como “charla-
tães”, indivíduos que exerciam práticas médico-científicas sem autorização das
Faculdades de Medicina. Em segundo lugar, identificamos a criminalização da
atuação de líderes e práticas religiosas que justificavam as moléstias a partir de
ações de um plano espiritual. Segundo Caio Moraes (2017) isso ocorria devido a
significante presença de africanos e afro-brasileiros como líderes destas práticas,
em um contexto de discursos científicos que negativavam a figura do negro e
suas práticas culturais, postas como um problema para se alcançar a civilidade
da nação. O que gerou um termo genérico de “baixo espiritismo” para aglutinar
essas variadas práticas religiosas. (MORAES, 2017:70) Em terceiro, no artigo 158 –
pelo qual Breves foi condenado, neste episódio e em outros – encontra-se espe-
cificamente a categoria dos curandeiros, definidos como pessoas que buscavam
curar através de elementos do reino animal ou vegetal.
Isso nos mostra que por ser um termo que possui uma definição ampla e
por se referir a práticas que eram exercidas pelas outras categorias apontadas, o
curandeirismo foi utilizado como termo genérico para abarcar todo e qualquer
elemento visto como perigoso a ordem médica e progresso civilizacional.

IV- Conhecimento é lucro


Outro aspecto que nos interessa no Código Penal é a prescrição de pena para
médicos “que diretamente praticar qualquer dos atos acima referidos, ou assumir
a responsabilidade deles.” (BRASIL, 1890:29). Desta forma, a presença do Dr. Fran-
cisco Baptista da Rocha no consultório de Breves poderia ser interpretada como
crime contra a saúde pública, e nos revela relações entre esses indivíduos que iam
para além dos conflitos e tensões. Ademais, o médico mostrou ter conhecimen-
to sobre a lei, pois em sua defesa indica que apenas “alugava” seu nome para o
curandeiro, o que não era previsto como crime.
Além disso, a permanência do médico ao lado de um curandeiro nos permite
levantar a hipótese de que essa aliança se mostrava rentável não só à Breves, mas
também ao médico que duas vezes por semana recebia a quantia de 10$500 réis.
Se levarmos em consideração que semanalmente o médico ganhava 21$000 réis,
isso mensalmente lhe renderia 84$000 réis. Para melhor compreendermos estes
números, se faz necessário a contextualização do custo de vida e salários na ci-
dade do Rio de Janeiro.
A capital do Império e da República, a cidade do Rio de Janeiro, além de sede
do poder político, também era o centro econômico, financeiro e cultural do país,
como reflexo disso o contingente populacional das regiões centrais da cidade –
ocupadas por libertos, cativos que moravam “sobre si” e imigrantes – compunha
no cenário urbano um fluxo heterogêneo de pessoas.
Acompanhando seu crescimento exponencial, ocorreu o agravamento dos
problemas urbanos e sanitários constatados desde o início do século. O aumento

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populacional coordenou uma ocupação desordenada da cidade, mesmo das áre-
as identificadas como insalubres, mas também, possibilitou o desmembramento
e criação de novas freguesias e subúrbios (ABREU, 1987). Além disso, ocorreu a
construção de espaços que seriam considerados insalubres pelas autoridades,
como os cortiços e casa de cômodos, que, segundo Sidney Chalhoub (1996),
estariam intimamente ligados com os escravos que moravam “sobre si”, com os
alforriados e com o intenso fluxo de imigrantes que chegavam na cidade.8
Somava-se a este contexto a instabilidade política do período republicano
marcado pelo declínio do café no vale do Paraíba, entre os anos de 1890 a 1895,
e consequente inflação, resultante do Encilhamento que não obteve sucesso no
impulsionamento de um forte processo de industrialização e recuperação do cul-
tivo do café na região. Como resultado, ocorreu uma baixa no preço dos pro-
dutos essenciais e de exportação que perdurou até 1905. Tal baixa, a princípio,
possuía uma correlação com a queda do poder aquisitivo que se instalou com
a política deflacionária do governo de Campos Sales (1898-1902), situação que
afetou predominantemente a classe operária que se configurava (LOBO, 1971:
248-249). Situação que pode ser exemplificada abaixo:

TABELA 1 - CUSTO DE VIDA OPERÁRIO NO RIO DE JANEIRO 1890 – 1905


Salário Aluguel Passagem Sociedades Alimentação Total
Operário
Fábrica de 78$000 60$000 0$000 - 60$000 120$000
Tecido
Operário
96$000 30$000 8$000 5$000 60$000 103$000
de Arsenal
Fonte: LOBO, 1971; MATTOS, 2008.

Antes, é necessário apontarmos que o valor calculado na coluna da alimenta-


ção é correspondente a uma família de quatro pessoas; e não ocorreu o registro
do valor da passagem no caso do operário da fábrica de tecido, pois ele morava
na vila operária da fábrica – uma forma de se economizar frente aos grandes
deslocamentos entre o centro e o subúrbio e uma proteção frente as inúmeras in-
cursões policiais nos cortiços e casas de cômodo. Dito isto, como pode ser visto,
em ambos os casos o custo de vida ultrapassa o salário mensal de cada operário.
No primeiro, um total de 100% a mais do que se ganhava, enquanto no segundo
esse valor era de 7%. Isso exigia que os demais membros familiares trabalhassem
para complementar a renda.

8 “O alojamento do trabalhador no Rio de janeiro, numa estalagem composta de um quarto,


uma sala, de 3 metros quadrados cada peça, e uma cozinha bem menor, custava de aluguel de
14.060 a 22.496 por mês. O aluguel de um quarto de cortiço para casal variava de 9.842 a 12.654
réis por mês. No cortiço havia uma cozinha comum para todos os moradores. O aluguel de quarto
de cortiço de solteiro variava de 7.030 a 8.436 por mês. Um servente de pedreiro ou carpinteiro
recebia em média 49.400 e se tivesse família teria de despender uma média de 11.248 réis de
aluguel de quarto de cortiço, o que representava 22,8% da sua renda mensal.” (LOBO, 1971: 256)

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Tendo esta percepção, podemos inferir que o valor arrecadado pelo Dr. Fran-
cisco da Rocha ao alugar seu nome para o curandeiro Breves era maior que o
salário de um operário na fábrica de tecido, e quase o dobro de um servente
de pedreiro (nota 7), também pode ser visto que há uma pequena variação em
relação ao salário recebido por um operário do arsenal. Justamente por se mos-
trar rentável, essa relação já se estendia por pelo menos três anos – segundo os
relatos mapeados, ela se estendeu entre os anos de 1889 a 1892. Mas, o que nos
interessa aqui, é compreender que enquanto curandeiro, Breves conseguia cus-
tear um significativo valor para manter um médico, atividade profissional ligada a
elite liberal brasileira. Devemos levar em consideração a possibilidade do referido
médico, além das atividades ligadas a Breves, exercer consultas particulares em
um outro consultório, o que aumentaria ainda mais sua renda, frente ao contexto
econômico da época.9
Ainda, a partir das informações colhidas no banco de dados, é possível iden-
tificar valores cobrados por curandeiros e curandeiras em suas consultas:

TABELA 2 – VALORES DE CONSULTAS DE CURANDEIROS 1890-1899


Periódicos Valores cobrados
Anos 1890 1892 1895 1897 1899
A Noticia 100$ 70$ - - -
Gazeta da Tarde 2$000 8$ 100$00 5$ 200$
Gazeta de Noticias 100$000 5:00$ 20$ 500$
Jornal do Brazil 100$ 70$ 900$ - -
Jornal do Commercio 100$ 500$ 2$00 5$
O Paiz 30$ 50$ - - -
O Tempo 20$ - - - -
Fonte: Tabela elaborada pelo autor a partir de periódicos coletados na Hemeroteca Digital.

Podemos observar que os valores cobrados pelos curandeiros não seguiam


um padrão específico, sendo o menor de 5 réis e o maior de 5 contos de réis – vale
ressaltar que havia curandeiros que não cobravam por seus serviços e aqueles
que aceitavam qualquer quantia, sem especificar. Destes valores apresentados,
indico que Breves possuía uma variação de preço que ia entre 100$ e 500$ réis
por consultas – o que pode significar uma cobrança que levava em consideração
a posição social do consulente. Se pegarmos a quantidade de clientes que espe-
ravam no dia em que foi dado voz de prisão a ele, 185 consulentes, e partirmos
do menor valor apresentado pelos periódicos, o curandeiro estaria arrecadando
cerca de 18$500 réis. Ao multiplicarmos pelo valor máximo cobrado, temos um
total de 92$500 réis. Isto é, se no referido dia, todos os clientes presentes pagas-

9 Até o presente momento não conseguimos obter informações sobre os valores cobrados
por médicos em consultas e procedimentos, o que nos impossibilita de comparar os valores co-
brados entre estes e os curandeiros.

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sem o valor mínimo cobrado, Breves quitaria uma jornada do “aluguel” do nome
do médico e ainda sairia com um lucro de 3$000 réis. Se fizermos esse mesmo
cálculo a partir da consulta mais cara, teríamos um total de 92$500, ou seja, um
valor maior que o ganho mensal do dr. Francisco da Rocha, demostrando que
para Breves, manter negócios com o doutor, além de lhe trazer seguridade, man-
tinha uma volumosa faixa de lucros.
Além disso, um outro caso que nos permite pensar nessa relação de lucro, foi
narrado pelo periódico A Notícia, do dia 7 de abril de 1898 que consta o seguinte:

Tratava-se de um tipo acusado de exercício ilegal da medicina. De fato, ele tinha um


gabinete secreto, onde dava consultas, a título de curandeiro. Chegado ao tribunal,
o juiz interpelou-o:
– O senhor é acusado por exercício ilegal da medicina. Quais são os seus meios de
defesa?
O acusado exibe então um diploma:
– Eu sou doutor em medicina pela Faculdade de Paris. Aqui está o meu diploma.
– Este diploma é realmente seu?
– Perfeitamente. Meu advogado o provará facilmente, ao fazer minha defesa.
– Como, entretanto, se o senhor é realmente formado em medicina, exerce a sua pro-
fissão, segundo se vê do inquérito policial, em condições misteriosas, às escondidas?
– No quarteirão em que eu moro com minha mulher e meus filhos, e no qual exerço
oficialmente minha profissão, tendo à porta a respectiva placa, tenho uma clientela
insignificante. Onde, em uma casa de aparência suspeita, tenho um simples gabine-
te, no qual dou consultas às escondidas para fingir-me um autêntico doutor falsifi-
cado, tenho numerosos clientes. Assim, portanto, o que me prejudica é meu diploma
e minha qualidade oficial.
O tribunal verificou a exatidão dos fatos e o falso médico falsificado foi absolvido. É
força convir que dificilmente os inimigos dos diplomas acharão fato que mais sirva
as suas ideias. (A NOTICIA, 1898: 1)

Essa inusitada situação endossa a percepção de que as artes de curar exerci-


das pelos curandeiros poderiam se uma fonte de renda que assegurasse a sobre-
vivência de seus praticantes. O que atraíra médicos como Francisco da Rocha e
este, não identificado, a comungar com tais práticas que a muitos vinham sendo
estigmatizada pela própria classe médica.
Ademais, para os curandeiros, suas práticas permitiam a elevação de seu
status social e a possibilidade de usufruir de elementos que antes pertenciam a
elite carioca. É corriqueiro a doação de tecidos importados, tronos, ouro e outros
objetos de valor simbólico ou monetário por parte de membros da elite que se
consultavam com esses agentes. Junto a isto, tais relações permitiam a criação
de redes de sociabilidades que protegiam os curandeiros, pai-de-santo, espíritas
e feiticeiras das ações policiais, pois através da influência de seus consulentes da
aristocracia carioca, esses curadores poderiam buscar auxílio e proteção.

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Como apontado anteriormente, a relação de Francisco Breves e Francisco da
Rocha é antiga. Anterior ao episódio narrado pelo O Paiz, nos conta o Gazeta de
Notícias, que no dia 25 de outubro de 1889, o Dr. Francisco da Rocha enviou uma
carta ao referido impresso, apontando a indignação de ter tido seu consultório
cercado pela polícia após uma denúncia de que ali atuava um curandeiro chama-
do “Fuão Breves”.

Sr. Redator da <Gazeta de Notícias>


As violências que se deram ontem aqui em Niterói não foram com intenção, como
V.S. diz, de fazer cessar abusos do curandeiro Fuão Breves, no bairro do Fonseca,
mas de privar-me do exercício legal da medicina, dando consultas medicas no meu
consultório à Ponta da Pedra, Freguesia de S. Lourenço; porquanto todos os meus
consultantes que saíram desse meu consultório foram conduzidos presos por praças
do corpo de polícia a secretaria dessa repartição.
Já V.S. vê que tudo isso se fez sem que haja lei alguma que autorizasse tais violências.
DR. Francisco Baptista da Rocha. (GAZETA DE NOTICIAS, 1889: 1)

Como se observa, em seu argumento consta que a existência de um curan-


deiro no local seria um engano e que as denúncias e a atuação policial prejudica-
vam os seus negócios. O médico inclusive aponta que a ação seria ilegítima, pois
não havia uma legislação que previsse esse tipo de ação. Embora certeiro na sua
colocação, compreendemos que os artigos inseridos no Código Penal são resul-
tado de um processo histórico que se iniciou ao longo do século XIX.

V – Uma criminalização anterior ao código penal


Além dos problemas da capital até aqui apontados, a falta de saneamento
era outra situação alarmante na cidade desde o início do século XIX. A constante
falta d’água, a utilização dos escravos-tigres (responsáveis pelo despejo de de-
jetos das habitações em espaços públicos ou à beira-mar), os matadouros próxi-
mos ao centro, os pântanos e alagadiços que acumulavam o ar contaminado, os
cemitérios que compunham as Igrejas e a imundice oriundas das festas religiosas
foram alguns dos problemas de caráter sanitário que se sobressaiam nos debates
públicos e médicos. Esse quadro se agravava ainda mais com as periódicas epide-
mias que assolavam a cidade (CHALHOUB, 1996: 29-30). Tudo isso colocava em
evidência a dissonância entre a modernidade que se buscava atingir e a realidade
colonial que ainda pairava sobre o Rio de Janeiro.
Frente a esse quadro epidêmico, os médicos denunciavam a ineficiência da
administração pública em ordenar os espaços urbanos e a população da capital.
O tema sobre saúde pública a muito vinha sendo discutido. E agora, este deba-
te ganhava um novo capítulo, escrito pelas mãos dos médicos que pensaram a
higienização da sociedade como tentativa de amenizar os males concentrados.
A mentalidade que orientou os intelectuais da época através do cientificismo,
aproximava os médicos e o discurso republicano, e a consequência disso é cria-

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ção da Junta Central de Higiene em 1850, através do poder central, para zelar
pela saúde pública.10
Contudo, se de um lado os médicos higienistas conquistaram um espaço na
administração pública, do outro se evidenciou as tensões entre estes e a Câma-
ra Municipal que era responsável pelos assuntos de saúde pública desde 1828.
Além desta questão, dentro dos assuntos sobre a saúde pública, sob o controle
da Junta, estava o tema das “práticas ilegais de medicina”. Seu regulamento, no
capítulo IV, indicava que:

em seu artigo 25 que ninguém pode exercer a medicina ou qualquer dos seus ramos
sem título conferido pelas Escolas de Medicina do Brasil, nem pode servir de perito
perante autoridades judiciarias ou administrativas ou passar certificados de molés-
tias para qualquer fim que seja . Trata-se, portanto de um controle ainda mais restrito
de que o da lei de 1832. (MACHADO, 1978: 193-194)

Esse regulamento, contudo, não excluía a possibilidade da Câmara Municipal


conceder aval para atuação de não diplomados. A defesa desta proibição estava
atrelada a busca pela consolidação das práticas médicas-científicas como únicas
no exercício da cura, mas também se colocava em pauta os perigos que o não
cumprimento desta medida trazia para a saúde dos pacientes que se maravi-
lhavam com as promessas de saúde e prazer. Mas “o fato de o regulamento da
Higiene ter-se tornado mais rígido não significava o fim das ‘contravenções’, isto
é, das práticas médicas consideradas ilegais por um determinado grupo de escu-
lápios.” (SAMPAIO, 2005: 122)
Como dito, havia um desentendimento entre a Junta e a Câmara, pois quan-
do terapeutas e boticários recorriam contra as multas e autuações impostas pelos
Inspetores da Junta de Higiene, a Câmara acatava o status dos indivíduos perante
a população em que atuavam, porque embora estivesse ocorrendo um processo
de implementação da ideologia de higiene na sociedade, isso não significava que
houvesse uma aceitação unânime e homogênea deste pensamento. Em grande
medida isso ocorria, pois a ideologia higienista caminhou em contramão as prá-
ticas culturais e hábitos enraizadas na sociedade, além de haver as desconfianças
sobre as práticas médicas que eram apresentadas como controversas nos jornais.
Então, uma vez que o terapeuta popular obtivesse a aceitação da população para
atuar enquanto seu curador ou boticário, poderia se conquistar diante da Câmara
Municipal a autorização para exercer suas atividades.
Toda essa situação ocorria por conta das demandas de médicos entorno de
se estabelecerem enquanto referência nas artes de curar, situação que se dificul-
tava perante a busca frequente por curandeiros, pai-de-santo, espíritas, parteiras,

10 Conduzir o país ao “verdadeiro”, à “civilização”, implicam a despolitização da realidade his-


tórica, a legitimação apriorística das decisões quando às políticas públicas a serem aplicadas no
meio urbano. Em suma, tornava-se possível imaginar que haveria uma forma “científica” – isto é,
“neutra”, supostamente acima dos interesses particulares e dos conflitos sociais em geral – de
gestão dos problemas da cidade e das diferenças sociais nela existentes. (CHALHOUB, 1996: 35)

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barbeiros-sangradores e outros, por parte da sociedade. Como apontou Gabriela
Sampaio (2005), enquanto na Junta se estabeleceu que caberia exclusivamente
ao médico diplomado exercer qualquer atividade de curar, consultar ou prescre-
ver medicamentos, as Câmaras tendiam a reproduzir os mecanismos da Fisica-
tura-Mor11, conceder aval a indivíduos não diplomados que eram reconhecidos
pela população como uma atividade essencial frente a ausência de médicos ou
frente ao descrédito que a comunidade dava a este.
Diante disso, era necessário, por parte dos médicos, a articulação com outros
grupos também interessados nesses espaços ocupados. Situação que ganhou
maior força com o advento da República. Como resultado, aponto que embora o
Código Penal só tenha criminalizado tais práticas apenas em 1890, a condenação
através do discurso e de uma ideologia médico-científica se apresenta anterior
a isso, o que refletia nas ações tomadas pela polícia contra o consultório do Dr.
Francisco da Rocha em 1889.

IV – Considerações finais
Como apresentei anteriormente, o fim do episódio narrado se deu com a
soltura do curandeiro Breves apenas dois dias depois do cerco, mediante o paga-
mento de uma multa como previa o Código Penal. Outros fatos a serem analisa-
dos na pesquisa apontam que, após ser solto, Breves retomou suas atividades de
curandeiro, o que provocou manifestações por meio de notícias de alguns jornais
que se mostravam mais uma vez indignados com os “privilégios” que a justiça
concebia a ele. Dois meses depois desta prisão, identifiquei Breves ligado à um
levante na capital da República, cujo objetivo inicial, segundo o periódico Gazeta
de Notícia, havia sido homenagear o ex-presidente Marechal Deodoro da Fonse-
ca. Contudo, a homenagem adquiriu uma outra proporção e culminou em uma
manifestação que reclamava a saída do presidente Marechal Floriano Peixoto e na
instauração do Estado de Sítio na cidade. Posterior a este episódio, em 1896, José
Francisco Pinto Breves é condecorado com o cargo de terceiro suplente da polícia
militar da Freguesia da Ponte da Pedra, ocupando posteriormente o título de sub-
delegado, no qual ficou até 1907, sendo expulso por praticar curandeirismo. Neste
período em que Breves se torna um agente da ordem, o periódico O Fluminense
denuncia práticas de repressão exercidas por ele através de uma milícia, que pos-
suía como um de seus integrantes seu filho mais velho, Nonô Breves.

11 O trabalho da historiadora Tânia Salgado Pimenta (1997) nos apresenta uma análise sobre
os atores das terapias populares e detalha de forma contundente os meandros da burocratização
destas práticas. Pimenta elucida que qualquer indivíduo que possuísse interesse em praticar o
ofício de cura, necessitava de licenças e cartas emitidas pelo cirurgião-mor do Império. Tais cartas
começaram a ser exigidas a partir de 1808 e prevaleceram até 1828. Segundo ela, também no ano
de 1808 foi extinta a antiga Real Junta do Protomedicato, que possuía a função de melhor definir
as atividades destes profissionais de cura, sendo substituída pela Fisicatura-Mor, que estabeleceu
diferentes relações com os praticantes não diplomados, tendo por objetivo condenar e prender
qualquer pessoa que exercesse a arte de cura sem uma carta ou autorização.

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Isto posto, podemos concluir, que o curandeirismo é parte significante nos
debates sobre a implementação da modernidade e civilidade que se levantaram
a partir da década de 1870. As trajetórias de curandeiros e curandeiras nos possi-
bilitam observar e analisar as engrenagens de ações e interações em um contexto
de perseguição institucionalizada ou não. Sua presença frequente nos periódicos
descrevem as teias de sociabilidade em que estavam inseridos e os movimentos
de adaptação e sobrevivência frente as implicações de um período de significati-
vas mudanças políticas e sociais.

VI – Fontes e referências bibliográficas


Fontes:
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GAZETA DE NOTICIAS. 25 de outubro de 1889.
O FLUMINENSE, 1910.
O PAIZ. Um curandeiro em apuros – setenta e nove prisões. 16 de fevereiro de
1892.
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