Viciados em Si Mesmos Trecho

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SUMÁRIO

Prefácio de Kep Crabb.................................................................... 7


Agradecimentos.............................................................................. 9

Prólogo....................................................................................... 11

Introdução.................................................................................. 15
Uma parábola............................................................................. 21

Parte 1: ESPERA PROVEITOSA


1. Vício em si mesmo: um exemplo.......................................... 29
2. Paulo era viciado em si mesmo?............................................ 39
3. Um cristão que aguarda e dois que não aguardam................ 43
4. Por que Moisés?................................................................... 51
5. Moisés aguardou!................................................................. 61
6. Escolhas insensatas............................................................... 69

Parte 2: ESPERA DIFÍCIL


7. A luta por domínio próprio.................................................. 81
8. É possível obter domínio próprio? Depende!....................... 85
9. Paixões que fortalecem a capacidade de aguardar................. 89
10. O dia em que a Trindade me despertou................................ 95
11. O poder de uma visão muito necessária.............................. 103

Parte 3: ESPERA PODEROSA


12. O caminho revelado........................................................... 113
13. Algo mais: a capacidade de escolher................................... 119

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6 VICIADOS EM SI MESMOS

14. Encerrando: do meu coração para o seu............................. 129


15. Eu sou o centro? Não! O centro é Cristo em mim,
a esperança da glória........................................................... 139

Epílogo..................................................................................... 151

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PREFÁCIO
DE KEP CRABB
“E se eu for e lhes preparar lugar, voltarei e os
levarei para mim, para que vocês estejam
onde eu estiver.” (Jo 14.3, NVI)

H á muitos anos Larry Crabb vem fazendo perguntas difíceis.


Entre todas, porém, a que mais parece incomodar meu pai é:
“Como as pessoas mudam de verdade?”. Como psicólogo clínico, o
Dr. Crabb conheceu pessoas que estavam completamente no fundo
do poço. Gente que não enxergava nenhuma saída em meio às pro-
vações, lutas, armadilhas e vícios que muitos de nós experimenta-
mos e enfrentamos hoje.
O que faz uma pessoa mudar de verdade? Larry se recorda de
quando era um menino nos arredores de Filadélfia e ficava deitado
no gramado do quintal de sua casa em Germantown, observando
as nuvens e imaginando como seria o céu. Já naquela época havia
nele uma percepção de algo maior.
Em anos posteriores, essa percepção o levou a perguntar como
o céu será e por que, se de fato existe, não pensamos nele com mais
frequência. Pensamos no céu ou dedicamos mais tempo para refle-
tir sobre ele quando perdemos um amigo ou um familiar. Todavia,
essa reflexão ou sentimento desaparece com o tempo, e a vida con-
tinua. Como manter o céu sempre vivo em nossa mente enquanto
prosseguimos em nossos afazeres diários?

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8 VICIADOS EM SI MESMOS

De acordo com Crabb, se vivermos cientes da História Maior


que Deus está contando (a história que se concentra no período
entre a cruz de Cristo e seu retorno), as seduções, tentações e dis-
trações deste mundo não terão o mesmo poder sobre nossa história
menor (entre nosso nascimento e a morte). “Pois este mundo não
é nosso lar permanente; aguardamos um lar que ainda está por vir”
(Hb 13.14, NLT).
Minha participação com o Dr. Crabb na composição deste livro
me fez pensar cada vez mais a respeito do céu. Aos poucos o céu
começou a ocupar minha atenção à medida que realizava meus
afazeres diários. Comecei a experimentar algumas mudanças e a
interagir de um modo diferente com minha família, amigos e até
com desconhecidos. Senti uma alegria mais profunda à medida que
comecei, conscientemente, a atribuir uma importância menor ao
mundo e à minha própria história menor e a trazer à mente, de
um modo proposital, o céu e a História Maior de Deus. “Amigos,
este mundo não é a casa de vocês; por isso, não se sintam à vontade
nele. Não deem espaço para o ego à custa da sua alma” (1Pe 2.11,
A Mensagem).
Meu avô costumava dizer que algumas vezes Deus nos fornece
um “vislumbre do céu” para nos incentivar a permanecer no cami-
nho. É nossa esperança e oração que você experimente esse “vislum-
bre do céu” à medida que lê Viciados em si mesmos: como a esperança
do céu nos liberta do egoísmo. Portanto, mantenha os olhos fixos no
que está por vir: nossa eternidade com Jesus, quando adoraremos
todos juntos no céu e todas as coisas serão feitas novas.
“Nenhum olho jamais viu, nenhum ouvido jamais ouviu,
nenhum ser humano jamais imaginou o que Deus tem preparado
para aqueles que o amam” (1Co 2.9, ESV).

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AGRADECIMENTOS

A maioria dos escritores concorda que escrever é uma atividade


solitária. Por anos escrevi em cafeterias, sentado sozinho em
algum canto vazio, ouvindo o burburinho de conversas e música de
fundo que, de alguma forma, contribuíam para me trazer um senti-
mento estranhamente gostoso de isolamento. Não conversava com
ninguém nem prestava atenção se a música era agradável. Eu estava
sozinho com meus pensamentos, concentrado apenas na direção que
me levavam. Ao longo dos últimos vinte anos, escrevi no porão de
nossa casa em Denver e, hoje, escrevo no sótão de nossa casa atual
em Charlotte.
Contudo, se eu não tivesse a oportunidade de ter conversas inte-
ressantes com as pessoas e o apoio estimulante que recebo de outros,
não conseguiria escrever nada ou escreveria livros piores do que
aqueles que já publiquei (uma pausa, por favor, para apreciar minha
insincera humildade).
A equipe do Larger Story, ministério sonhado e agora sabiamente
liderado por meu filho mais velho, Kep, juntamente com seus colegas
de trabalho altamente capacitados, Kris e Karlene, tem caminhado
comigo e me apoiado desde o início. Viciados em si mesmos: como a
esperança do céu nos liberta do egoísmo é o primeiro, assim espero, entre
muitos livros que serão publicados pela Larger Story Press. Não fosse
o auxílio de vocês, teríamos um livro muito inferior, talvez inexistente.
Permita-me acrescentar um agradecimento especial a todos que con-
tribuíram financeiramente para custear a publicação deste livro. Sou
muito grato por sua ajuda.

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10 VICIADOS EM SI MESMOS

Conversas durante o café da manhã ou por telefone com meus


grandes amigos Trip Moore, Jim Kallam, Mimi Dixon e Steve
Shores têm mantido meu cérebro ancião quase jovialmente ativo,
permitindo-me refletir enquanto escrevo, geralmente sobre temas
cristãos profundos que esses amigos me apresentam e aguçam.
E aos meus queridos SSD. Vocês sabem muito bem quem são,
mas não fazem ideia do que representaram para minha vida espiri-
tual ao longo desses últimos vinte anos.
Pequenos grupos talvez não sejam tudo o que poderiam ser, mas,
quando são, desempenham um papel muito além de minha capaci-
dade de descrever. Tom e Jenny, Bob e Claudia, eu e minha esposa,
Rachael, temos nos encontrado por duas décadas. Compartilhar
abertamente em atitude de genuíno interesse uns pelos outros em
nossa jornada espiritual me fez perceber, com muita gratidão, que
o Espírito de Deus continua operando em mim, tanto quando me
relaciono como quando escrevo.
Impossível não expressar genuinamente minha gratidão a minha
família: Kep e Kimmie, Ken e Lesley, além de cinco netos muito
amorosos com seus avós, sem esquecer da minha sempre prestativa
e interessada cunhada Phoebe, viúva já há algumas décadas de meu
irmão, a qual me cerca de oportunidades valiosas de dar e receber.
Meus quase 54 anos de uma relação cada vez mais profunda com
Rachael me fazem ser grato a Deus, uma gratidão que tem susten-
tado meu desejo de amá-la bem e de servir bem a Deus.
Solitude e comunidade são o fundamento para viver bem.
P.S.: Se eu mencionasse o nome de todos os amigos que me
estimularam a continuar refletindo e escrevendo, a lista se transfor-
maria em um extenso capítulo deste livro. Agradeço a todos vocês!

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PRÓLOGO

C ristãos que se recusam a aguardar a promessa dos prazeres


celestiais permanecem viciados em seu próprio bem-estar,
em experimentar uma frenética satisfação pessoal imediata. Vivem
intensamente viciados em si mesmos e, portanto, são incapazes de
resistir a qualquer tentação que prometa o sentimento de bem-es-
tar que almejam.
O resultado são vícios em:

• drogas, lícitas ou ilícitas;


• comida, em suas várias formas de compulsão;
• sexo, legítimo ou não, incluindo suas formas de perversidade;
• dinheiro, em razão dos prazeres, da conveniência e do poder
que ele é capaz de comprar;
• influência, em razão do sentimento bom de fazer diferença
na vida dos outros;
• reconhecimento, em razão do sentimento de ser respeitado, que
por sua vez confere importância pessoal;
• e uma série de outros vícios associados a prazeres pelos quais
almas desesperadas tanto anseiam.

DUAS QUESTÕES
Existe uma maneira distintamente cristã de encontrar força de von-
tade e capacidade para neutralizar o poder da tentação? A primeira
parte deste livro trata dessa questão e oferece orientações.
Com o que se parece a vitória contra o pecado do egocentrismo, a
base de todos os nossos vícios? A segunda parte tratará dessa questão.

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12 VICIADOS EM SI MESMOS

Em outras palavras, que vitória substancial está disponível agora


até obtermos a vitória completa em nosso encontro futuro com
Jesus? A terceira parte esboça um caminho para obtermos vitória
hoje, enquanto aguardamos nossa liberdade completa no céu.
“Por seu poder divino, Deus nos concedeu tudo
de que precisamos para viver uma vida piedosa.”
2Pedro 1.3

A palavra “vício” nos faz pensar imediatamente em drogas, álcool e


sexo, todos vícios reais e extremamente comuns. Felizmente, nem
todos são afetados por essas tentações corriqueiras. A maioria de
nós (talvez uma maioria não muito grande) consome apenas drogas
receitadas por médicos, aprecia ocasionalmente uma taça de vinho
ou algumas cervejas assistindo a uma partida de futebol na televisão
e pratica atividade sexual exclusivamente dentro dos limites morais
estabelecidos. E isso é muito bom.
A má notícia, porém, é que existe um vício raramente reconhe-
cido que atua de modo sorrateiro, em maior ou menor grau, em
praticamente todos os seres humanos desde Adão e Eva, salvo uma
única exceção. Desde a saída do jardim do Éden, todo ser humano
já chega ao mundo com o vício obstinado de buscar seu próprio
bem-estar. Vivemos, então, viciados em satisfazer todos aqueles
anseios que somos incapazes de recusar ou de reprimir.
Para entender e reconhecer como esse vício se apresenta, preci-
samos nos lembrar de que somos seres relacionais, criados à ima-
gem de um Deus trino e relacional. É natural, portanto, e de modo
algum errado, buscarmos satisfazer, por meio de nossos relaciona-
mentos, o que não podemos satisfazer por conta própria. Entre-
tanto, há um problema: não mais buscamos em Deus a satisfação
que nossa alma relacional anseia e que nos libertaria para nos

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Prólogo 13

concentramos em buscar satisfação nos demais relacionamentos


que Deus providenciou para nós.
Em razão de não mais recorrermos a Deus para a satisfação
de nossos anseios mais profundos, hoje buscamos e até nos sen-
timos no direito de satisfazer nossa alma por meio do relaciona-
mento com os outros. Mas isso não funciona. Afinal, dois falidos
que recorrem um ao outro em busca de apoio financeiro acabarão
em situação pior.
Por conseguinte, a vida ensinou o ser humano a:

• proteger-se para não ser machucado pelos outros;


• buscar nos outros tudo que promove a imagem que o indiví-
duo criou para si;
• preservar essa imagem por meio de aparências e revelar aos
outros somente o que convém.

O resultado? Pecado relacional, nosso fracasso em amar os


outros conforme Jesus nos amou. Trata-se de um vício humano
universal, uma epidemia: relacionamo-nos em atitude egoísta de
autoproteção com o objetivo de não nos machucarmos; buscamos
exaltar nossa fragilíssima autoestima por meio de relacionamentos
de conveniência; usamos nossa autopreservação como escudo para
evitar danos à nossa autoimagem. O pecado relacional semeia rixas,
brigas e desconfianças, sobre as quais Tiago nos advertiu (veja Tg
4.1-3). Tudo isso resulta em pobreza relacional na família, na comu-
nidade, na igreja, na nação e no mundo.
A questão central é esta: meu propósito ao escrever este livro é
trazer um estímulo para nos distanciarmos do pecado relacional e
nos movermos para uma relação de santidade em que assumimos
o compromisso de agradar a Deus pela maneira de nos relacionar-
mos com ele e com os outros, em uma vida de adoração ao Senhor
e edificação ao próximo.

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14 VICIADOS EM SI MESMOS

Aguardar o céu para satisfazermos nossos anseios relacionais


mais profundos (quando finalmente amaremos Deus e os outros
de uma forma completa) nos dará forças para enfrentar nosso vício
em drogas, álcool e sexo. Se substituirmos a pobreza relacional por
riqueza relacional, em uma superação cada vez maior de nosso
vício universal em nós mesmos, nosso vício relacional incurável
será corrigido pela disposição de aguardar o céu para satisfazermos
tudo que não é possível satisfazer agora. Então, amaremos melhor,
de um modo mais parecido com Jesus, e nesse processo descobri-
remos a alegria.
Interessado? Prossiga a leitura!

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INTRODUÇÃO

E m 1988 publiquei um livro intitulado De dentro para fora, cujo


parágrafo de abertura trazia o seguinte:

O cristianismo moderno, em uma dramática reversão de seus mol-


des bíblicos, promete aliviar a dor de vivermos em um mundo caído.
A mensagem, quer de fundamentalistas que exigem vivermos por
meio de um conjunto de regras específico, quer de carismáticos que
insistem em uma submissão maior ao poder do Espírito, é geral-
mente a mesma: a promessa de felicidade AGORA! A satisfação
total pode ser alcançada deste lado do céu.1

Caso estivesse escrevendo esse parágrafo hoje, não mudaria uma


única palavra, mas talvez acrescentasse outras. Ao menos uma frase
me vem à mente: “Não há necessidade nenhuma de adiarmos a
satisfação de nossos desejos mais profundos; essa satisfação está
disponível nesta vida”. O propósito dessa frase é apenas reforçar
o equívoco flagrante que caracterizou o cristianismo ao final do
século 20.
Temo que o erro que apontei no passado ainda persista atual-
mente. Muito do que nossa cultura evangélica entende como cris-
tianismo permanece ligado a essa revisão bíblica, porém hoje imerso
em maior profundidade na areia movediça de ensinamentos atraen-
tes e equivocados a respeito do que significa seguir Jesus.

1
Lawrence J. Crabb, Inside out (Colorado: NavPress, 1988) [publicado em
português por Betânia sob o título De dentro para fora].

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16 VICIADOS EM SI MESMOS

Nesse sentido, quero começar este livro com um parágrafo atua-


lizado para salientar o que me parece ser um problema mais pre-
mente hoje. É um parágrafo um pouco mais longo que o anterior,
para enfatizar que hoje talvez estejamos ainda mais apartados do
caminho que no passado.

O cristianismo moderno, em seu enfoque equivocado de usar Deus


para nos proporcionar uma vida melhor, perdeu a paixão pela ávida
esperança do retorno de Jesus, quando todas as coisas serão reno-
vadas. Por que aguardar o porvir se por meio das bênçãos de Deus
podemos fazer a vida atual funcionar a nosso favor? Basta apresen-
tar esses acordos a Jesus em oração para que ele, à direita do Pai,
oriente o Espírito de Deus para fazer que as circunstâncias da vida
tragam felicidade para seus seguidores.

Consequentemente, hoje podemos contornar toda e qualquer


necessidade de lamentação. Em muitas igrejas, pregações moti-
vacionais e música animada vêm conduzindo seus membros a cultos
de empolgação. A partir disso, uma ideia perigosamente equivo-
cada, embora sutil, tem se infiltrado no cristianismo moderno: a
capacidade de amar bem e o poder de se alegrar dependem de
circunstâncias favoráveis, circunstâncias prometidas por Deus para
uma vida boa. Nesse sentido, o papel do Espírito de formar Cristo
em nosso íntimo é minimizado, se não eliminado. Teria o cristia-
nismo moderno se adaptado ao nosso vício em nós mesmos ao
mesmo tempo que nos induz a crer que somos pessoas maduras
e esclarecidas?

Era para ser somente um parágrafo, mas acabei escrevendo dois.


Creio que ambos são necessários para chamar nossa atenção para a
mensagem que vem sendo vociferada em muitos púlpitos e divul-
gada sedutoramente em muitos livros: de que não mais precisamos

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Introdução 17

aguardar o céu para conhecer a alegria e a liberdade que sempre


ansiamos experimentar. Se o que mais desejamos está totalmente
disponível agora, não há necessidade de trabalharmos arduamente
para permanecermos fiéis a Deus e prestativos ao próximo. Ambas
as coisas fluem de modo natural em nossa vida agradável e aben-
çoada por Deus.
Nossa cultura optou por um cristianismo descuidado, uma
religião que descartou, entre outras disciplinas essenciais, aquela
autoavaliação rigorosa que revela nossa podridão e o nosso impacto
sobre os outros. Essa disciplina, quando praticada, nos conduz à
alegria do arrependimento, que por sua vez nos afasta do egocen-
trismo em nossos relacionamentos e nos leva a uma humildade cen-
trada no outro. É comum vivermos concentrados em nosso próprio
bem-estar, incuravelmente viciados em nós mesmos. E por acreditar-
mos que Jesus também compartilha dessa nossa prioridade, cremos
que estamos vivendo a vida cristã. Esse cristianismo descuidado se
transformou em um cristianismo impostor, um evangelho diferente,
contra o qual Paulo nos advertiu severamente (veja Gl 1.6).
As consequências dessa forma de pensar são muitas, cada uma
ensejando prejuízos para a causa de Cristo. Uma dessas consequên-
cias, e em minha opinião a mais importante, é esta: a falta de disposi-
ção para aguardarmos a satisfação completa até nossa chegada ao céu nos
leva ao vício, à exigência de sentirmos uma alegria entorpecedora nesta
vida. Não há dúvida de que esses vícios trazem danos para nossa
vida, pois empoderam nosso egocentrismo natural, que, por sua
vez, em razão de o considerarmos necessário para nosso bem-es-
tar, é aceito como justificável em vez de terrivelmente pecaminoso.
Insistimos em experimentar qualquer prazer intenso que amenize
nossos medos e preocupações, ainda que momentaneamente. Por
conseguinte, buscamos um estilo de vida centrado em experiências
momentâneas que nos permitam alcançar nosso tão almejado nir-
vana, aquele sentimento de paz celestial que pregam os budistas.

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18 VICIADOS EM SI MESMOS

Com o tempo, as compulsões que brotam de nossa tendência uni-


versal e natural ao vício em nós mesmos assumem o controle de
nossa vida. Então, a energia e a motivação necessárias para servir à
causa de Cristo se esvaecem.
Essa é a má notícia. A boa notícia é que o cristianismo bíblico
provê uma saída desse lamaçal: aguardar! Só que aguardar a che-
gada do céu para satisfazer os anseios mais profundos do nosso
coração é uma atitude fora de moda. Contudo, aprender a aguar-
dar ansiosamente pelo retorno do Senhor é essencial para supe-
rar a raiz da exigência que alimenta todos os vícios. Apesar disso,
mesmo enquanto escrevo essas palavras, que creio serem verdadei-
ras, percebo em mim uma hesitação desconfortável. Afinal, falar
é bem mais fácil que fazer. Nosso anseio por mais nos impulsiona
a buscar satisfação com urgência. E existem muitas maneiras de
adquirirmos experiências, ainda que forjadas e temporárias, para
acalmar as ansiedades de nossa alma sedenta.
Aguardar se torna ainda mais difícil, ilógico até, diante do luto
por uma perda, do desânimo por um revés, do ressentimento por
uma injustiça ou simplesmente de aborrecimentos com a vida. É
em momentos como esses que nos defrontamos com a forte ten-
tação de buscar quaisquer prazeres momentâneos e entorpecedo-
res. É o pecado nos convidando calorosamente para desfrutarmos
suas delícias.
Escrevo este livro com o propósito de descobrir o que será
necessário para antecipar de modo cativante a satisfação plena-
mente disponível no céu que nenhuma dificuldade por nós enfren-
tada poderia nos induzir à tentação de correr atrás de alívios, por
mais irresistíveis que pareçam. Jamais encontrei em livros cristãos,
em psicologia cristã ou em escolas de pensamento cristão uma res-
posta para essa questão que funcionasse para mim. Apesar disso,
faço uma advertência: não creio que existe um caminho que eli-
mine nossa luta contra a tentação ou que nos impeça de fracassar

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Introdução 19

novamente. Nosso vício somente será curado no céu. Entretanto,


é possível seguir por um caminho que nos liberte cada vez mais de
nosso vício enquanto vivemos neste mundo.
Creio que existe um modo bíblico, orientado pelo Espírito,
dependente de Cristo e agradável para Deus, de superarmos nossos
vícios a ponto de sermos capazes de levar uma vida significativa e
transbordante de poder sobrenatural para os outros. A perspectiva
de descobrir esse modo de viver me traz ânimo e transforma minha
atividade de escrever em uma aventura espiritual. O versículo que
citei anteriormente contribui para esse entusiasmo: “Por seu poder
divino, Deus nos concedeu tudo de que precisamos para viver uma
vida piedosa” (2Pe 1.3).
A vida piedosa não será controlada pelos vícios.

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