Fragmentos de Uma Deusa
Fragmentos de Uma Deusa
Fragmentos de Uma Deusa
- DE USA -
A RepresentafCzO de Afrodite na Lirica de Safo
Giuliana Ragusa
PREFACIO
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PAULA DA CUNHA CORRtA
PREFACIO
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GIULIANA RAGUSA INTRODU<;:AO
5) aos estere6tipos e as lendas em torno da poeta e de suas carn;oes; 6) relac;oes interessantes nao apenas com outras imagens poeticas da divin-
as grossas e viciadas camadas de leitura que se sobrepoem aos poemas dade, mas tambem com elementos dos seus cultos e dos seus mitos, hem
tornados, assim, quase invisf veis; 7) as dificuldades de estabelecer um a como da percepc;ao que dela tinham os antigos; e a quarta, porque o
visao organica da literatura e da tradic;ao literaria gregas; 8) as obscuri- estudo do binomio Safo-Afrodite abre um panorama estimulante que
dades quanto a circulac;ao da Hrica que chamamos "literaria", masque nao pode ser ignorado e que pode ser sintetizado em outro binomio,
foi produzida em um mundo arcaico eminentemente oral; 9) a enorme Grecia arcaica-Oriente.
bibliografia crftica produzida no decorrer de seculos de estudos classicos. Ja esta sinalizado, portanto, o tipo de abordagem aqui adotada:
Eis uma sfntese da realidade enfrentada por aquele que se dedica a uma abordagem que se concentra nos fragmentos de Afrodite dispersos
Hrica grega arcaica. Para uns, decerto, o quadro e desolador. Afinal, na lfrica safica, mas que procura estar atenta a outras representac;oes
como e possfvel trabalhar com cacos de poemas? Para outros, dentre poeticas, miticas e cultuais da deusa, bem como a elementos extra-
OS quais me incluo, ele e, sim, desolador e potencialmente frustrante,
literarios pertinentes a analise interpretativa dos textos do corpus. Dessa
mas, ao mesmo tempo, e a promessa de uma empreitada desafiadora com maneira, o que se pretende e articular uma leitura tao vertical e ampla
da Afrodite de Safo quanta possf vel.
um sabor de aventura, pois mergulhar em tal quadro e percorrer um
Como se organiza este trabalho? Na intenc;ao de estruturi-lo se-
trajeto cheio de riscos, desvios, descaminhos, abismos e, eventualmente,
gundo a metodologia e as posic;oes que o norteiam, ele foi dividido da
pequenas conquistas e descobertas recompensadoras.
seguinte maneira: a parte I, intitulada "Presenc;a de Safo no cenario his-
Alem de todos os desafios que a lfrica grega arcaica oferece a quern
t6rico-cultural da Grecia arcaica", propoe-se a discutir os desafios an-
dela se aproxima, no contexto academico brasileiro ha mais um a ressal-
teriormente comentados, a fim de, ao expo-los, trac;ar um panorama crf-
tar: a escassa produc;ao crftica a seu respeito, ao contrario do que acon-
tico minimamente compreensfvel do cenario hist6rico-cultural que cerca
tece no exterior - sobretudo na Europa e nos Estados Unidos. No caso
e permeia a poesia de Safo. Feito isso, a passagem para a analise da pre-
espedfico de Safo, ha algumas traduc;oes, mas apenas uma obra de es-
senc;a de Afrodite nos fragmentos saficos sera sustentada, espero, por
tudo publicada, que seri oportunamente referida. Assim, outro desafio
um entendimento necessario do objeto deste estudo: a poeta de Lesbos,
se anuncia: passar pela sempre crescente fortuna critica de Safo em
sua Hrica ea personagem divina Afrodite nela representada. Essa etapa
llngua estrangeira - para nao falar das edic;oes e traduc;oes de seus frag-
contem tres capitulos.
mentos - e buscar travar com ela um dialogo equilibrado de modo a
A parte II, "Presenc;a de Afrodite na lfrica de Safo", concentra-se
construir uma leitura independente, mas nao autocentrada.
no estudo da representac;ao de Afrodite em Safo. Na intenc;ao de com-
Dito isso, ca be indagar: por que estudar a representac;ao de Afrodite
preender e realc;ar a especificidade de tal representac;ao, os cinco capf-
na lfrica de Safo? Ha pelo menos quatro razoes: a primeira, porque
tulos dessa eta pa perseguem, a partir de uma abordagem interdisciplinar
diante da condic;ao preciria dos textos, o estudo tematico parece ser o
que privilegia a analise interpretativa dos fragmentos, quatro aspectos
caminho mais certo para uma visao minimamente integralizadora tan to
da presenc;a da deusa nos textos: primeiro, sua geografia insular mitico-
da poesia safica e da deusa ali representada quanto da tradic;ao literiria
rcligiosa e poetica; segundo, o nome e os epitetos atribuidos a Afrodite;
a qua! a poeta pertence; a segunda, porque Afrodite predomina no que
tcrceiro, os cenarios nos quais ela se insere; e quarto, se a deusa recebe
restou da poesia de Safo e, muito embora nela nao seja a unica deidade
lll11 apclo OU See mencionada peJa VOZ dos poemas.
rcfcrida, parcce ter sido privilegiada; a terceira, porque as caracterfsticas
Finalizadas essas partes, cujos capitulos se pretendem conclusivos
da rcprcscntnc;no da dcusa conccbida pcla pocta suscitam uma serie de
cm si mcsmos, passo ao cnccrramcnto, chamado "lmagem em fragmen-
GIULIANA RAGUSA