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AFRICANOS ESCRAVIZADOS, PORTUGUESES DEGREDADOS,
E A ESCRITA HISTÓRICA DE TARCÍSIO MEDEIROS

Clivya Nobre1

Resumo: O objetivo deste artigo é investigar de que maneira o historiador po-


tiguar Tarcísio Medeiros analisou historiograficamente os fenômenos da mi-
gração compulsória de africanos escravizados e de portugueses degredados
para o Rio Grande/Rio Grande do Norte e a contribuição desses grupos para
a formação populacional e cultural dessa capitania/estado. Para isso, foram
analisados os artigos “O negro na etnia do Rio Grande do Norte” (1980) e
“Como fomos colonizados (por degredados)?” (1984), ambos publicados na
Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN).
Além disso, foi operacionalizada a metodologia da análise qualitativa da es-
crita de Medeiros. Dessa forma, foi possível notar que as escolhas de abor-
dagem das fontes, as demandas das instituições às quais o autor fez parte e
as ideias que circulavam entre os pares que as integravam influenciaram na
interpretação histórica adotada por ele e no resultado de suas investigações.

Palavras-chave: Tarcísio Medeiros; Escravidão; Degredo; Historiografia do Rio


Grande do Norte; IHGRN.

ENSLAVED AFRICAN, DEGRADED PORTUGUESE,


AND THE HISTORICAL WRITING OF TARCÍSIO MEDEIROS

Abstract: The purpose of this article was to investigate how the potiguar
historian Tarcísio Medeiros analyzed historiographically the phenomena
of compulsory migration of enslaved Africans and exiled Portuguese to Rio
Grande/Rio Grande do Norte and the contribution of these groups to the
population and cultural formation of this captaincy /state. The articles “O negro
na etnia do Rio Grande do Norte” (1980) and “Como fomos colonizados (por
degredados)?” (1984), both published in the Revista do Instituto Histórico e
Geográfica do Rio Grande do Norte (IHGRN). The methodology of qualitative
analysis of Medeiros’ writing was operationalized. It was possible to note that
the choices of approaching the sources, the demands of the institutions to
which the author was a part and the ideas that circulated among the peers
that integrated them influenced the historical interpretation adopted by him
and the result of his investigations.

Keywords: Tarcísio Medeiros; Enslavement; Exile; Historiography of Rio Grande


do Norte; IHGRN.

1
Mestre em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Contato:
clivyanobre703@gmail.com.

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Introdução

O fenômeno da migração permeou a história da América desde os pri-


mórdios de sua colonização pelas metrópoles europeias. Dois dos principais
grupos que compuseram a população brasileira chegaram aqui por processos
migratórios: os portugueses e os africanos. Estes últimos foram, em grande
escala, vítimas da migração compulsória provocada pelo sistema escravista.
Porém, entre os portugueses, também houve uma parcela proveniente de
deslocamento forçado, os degredados, ou seja, os contraventores da lei
de Portugal, punidos com o degredo, o exílio para territórios coloniais ameri-
canos recém-descobertos. O historiador potiguar Tarcísio Medeiros se propôs
a abordar os impactos da migração desses dois grupos na formação popula-
cional do Rio Grande do Norte.
Este artigo tem por objetivo analisar a escrita de Tarcísio Medeiros
a partir de dois dos seus artigos publicados na Revista do Instituto Histórico
e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN): “O negro na etnia do
Rio Grande do Norte”, na edição de 1980; e “Como fomos colonizados
(por degredados)?”, de 1984. A pesquisa tem como foco investigar a perspec-
tiva historiográfica adotada pelo autor e a interpretação que ele fez da mi-
gração compulsória de escravizados africanos e de degredados portugueses
às terras potiguares. Foram identificadas aproximações entre as interpreta-
ções de Medeiros, as demandas do IHGRN e as tradições historiográficas de
cunho nacional.
Por meio desta discussão, foram analisados elementos da narrativa do
autor que caracterizaram a participação de povos migrantes na constituição
da sociedade norte-rio-grandense. A análise do perfil profissional de Tarcísio
Medeiros e da sua metodologia de abordagem das fontes contribuiu para
a compreensão de suas interpretações analíticas. Assim, esta pesquisa visa
contribuir com a área de estudos da História dos Intelectuais e da História
da Historiografia Norte-rio-grandense. A investigação da escrita atrelada ao
IHGRN é uma das principais subáreas de pesquisa da historiografia potiguar,
porém, a produção de um de seus mais ativos sócios, Tarcísio Medeiros,
ainda foi pouco estudada.

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O IHGRN, os pares e o projeto de identidade nacional

O IHGRN, ou Casa da Memória Potiguar, foi fundado em 29 de março de


1902 por sujeitos da elite política e letrada norte-rio-grandense integrantes da oli-
garquia Albuquerque Maranhão (IHGRN, 2023). A origem desse grupo político fa-
miliar está relacionada ao surgimento de uma camada social simultaneamente
aristocrática e burguesa,2 que monopolizou o poder político e cultural no Estado
durante a Primeira República em torno da figura de Pedro Velho3 e, após seu
falecimento, em torno dos descendentes dele (BUENO, 2015, p. 47). A influência
política do grupo garantiu a ocupação de diversos cargos públicos pelos seus
integrantes, como no magistério de nível secundário, principalmente no Atheneu
Norte Riograndense (MORAIS, 2019). Isso possibilitou difusão da perspectiva
histórica, política e social do grupo a amplas camadas da sociedade potiguar.
O IHGRN foi outra instituição central para essa elite, que foi concomi-
tantemente sua fundadora, produtora dos conhecimentos compartilhados
naquele espaço e seu principal público-alvo.4 Seus sócios, com o res-
paldo do método histórico, construíram uma narrativa de passado coletivo
norte-rio-grandense, na qual a oligarquia associada foi ligada aos seus ante-
passados colonizadores por uma herança simbólica. Dessa forma, atenderam
à demanda política de construir a identidade potiguar, ao legitimar a ma-
nutenção do poder da elite política e familiar local. Esse espaço institu-
cional foi central na produção e divulgação de saberes históricos no Rio
Grande do Norte.5

2
O grupo se formou, a partir do século XIX, em torno dos núcleos urbanos da região litorânea
da então província do Rio Grande do Norte, estando atrelado à aristocracia rural patriarcal
ligada ao cultivo em grande escala da cana-de-açúcar, à burguesia associada ao capital
comercial e industrial e ao profissionalismo liberal do bacharelado em Direito e Medicina.
3
Pedro Velho de Albuquerque Maranhão tinha formação em Medicina, mas atuou como jor-
nalista e professor de História no Atheneu Norte Riograndense. Além disso, exerceu diversos car-
gos políticos, como o equivalente a governador do estado e senador. Assim como os demais
entes dessa elite local, ele atuava simultaneamente na política e no meio intelectual. Foi o
fundador do Partido Republicano Norte-rio-grandense, ainda no período imperial, e esta orga-
nização política agrupava familiares, compadres, agregados e aliados da sua família (BUENO,
2015, p. 48), e tinha o periódico A República como o porta-voz da oligarquia na imprensa.
4
O próprio Pedro Velho esteve entre seus fundadores, assim como seu irmão Alberto Maranhão,
seu genro Augusto Tavares de Lyra, entre outros aliados, como Vicente de Lemos, avô de
Tarcísio Medeiros (IHGRN, 2023).
5
Apesar de não ter sido a primeira responsável pela escrita histórica norte-rio-grandense
(COSTA, 2017a, p. 549-550), a instituição inaugurou uma historiografia mais sistemática e con-
tínua sobre o estado (AZEVEDO, 2020, p. 8).

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O IHGRN e as produções presentes na sua revista são uns dos principais
objetos de pesquisa histórica no estado, devido à alta quantidade de publica-
ções nas suas mais de 50 edições, à sua disponibilidade em acervos digitais e à
sua relevância na produção de discursos sobre o Rio Grande do Norte ao longo
do século XX. Os artigos acadêmicos, as monografias, as dissertações, as teses e
os capítulos de livros publicados,6 em sua maioria, podem ser divididos em dois
grupos.7 O primeiro é composto por análises das narrativas construídas pelos
sócios na revista do IHGRN,8 sendo que alguns desses textos focaram em temas
específicos, como, por exemplo, povos originários,9 educação (CUNHA, 2020) e
sertão (SILVA, 2021). O segundo conjunto, por sua vez, abordou o aspecto patri-
monial e museológico da instituição10 e buscou listar e descrever o seu acervo.11
A maior parte dessas obras, especialmente as do primeiro grupo,
chegaram a conclusões similares: o IHGRN tinha metodologia cientificista
e sua escrita atendeu aos interesses da elite local, ao tecer uma origem e
uma identidade para o Rio Grande do Norte, posicioná-lo como relevante
para a história nacional e enfatizar as contribuições da instituição e de seus
sócios para a história do estado. As pesquisas privilegiam os aspectos mais
gerais e característicos da escrita na revista, mas as contribuições mais especí-
ficas de certos autores têm sido citadas tangencialmente,12 o que representa
uma lacuna historiográfica.

6
A escrita e os materiais do acervo do IHGRN foram utilizados em inúmeras pesquisas, porém,
meu levantamento se restringiu a aquelas em que o instituto em si foi o objeto da pesquisa.
Consultando as plataformas Scielo, Google Scholar, Lattes e o Repositório Institucional
da UFRN, identifiquei 30 títulos. Apesar de, provavelmente, alguns trabalhos não terem sido
encontrados, a amostragem analisada foi suficiente para suprir o objetivo de explicitar o esta-
do atual dos estudos sobre o IHGRN.
7
As exceções foram os artigos sobre a fundação do IHGRN (FERNANDES, 2012b; COSTA, 2020)
e sobre a participação do instituto nas festividades cívicas e monumentalização em Natal
(VIANA, 2019).
8
Nos artigos de Menezes (1996), Oliveira (2012), Fernandes (2016), Costa (2017b, 2018),
Silva (2020b), Santos (2020a) e Costa (2021a, 2021b), no capítulo de livros de Azevedo (2019),
nas monografias de Menezes (1997), Azevedo (2005), Mata (2005), Silva (2007) e
Dutra (2018), nas dissertações de Fernandes (2012c) Azevedo (2020), Cunha (2020) e
Silva (2021) e na tese de Costa (2017a).
9
Oliveira (2012) e Dutra (2018).
10
As monografias de Macedo (2005), Alcoforado (2014) e Silva (2020a), o capítulo de livro de
Santos (2020b) e o livro de Morais e Oliveira (2005).
11
Os livros de Mariz (1995) e Sobral (2017).
12
Uma exceção foi o artigo de Nobre (2021), sobre a escrita de Tarcísio Medeiros.

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Além disso, a historiografia do sodalício foi influenciada pela tradição
interpretativa ligada ao projeto de identidade nacional brasileiro, que surgiu
a partir do período Imperial, momento em que o Brasil foi posicionado
como herdeiro de Portugal, da colonização e da cultura considerada
“civilizada”, e quando a presença negra foi minimizada, assim como a indí-
gena. O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) foi um dos principais
espaços de produção e socialização dessa perspectiva (GUIMARÃES, 2011;
1997), e a irradiou para suas congêneres, como o IHGRN, ao longo do período
republicano.13 Esses elementos foram disseminados pela elite intelectual poti-
guar em instituições estratégicas, como no Atheneu Norte Riograndense.14
Desse modo, existiu uma busca da elite política e intelectual em instituir
uma tradição historiográfica norte-rio-grandense, da qual Tavares de Lyra e
Câmara Cascudo foram os principais ideólogos e com a qual Tarcísio Medeiros
dialogou em seus artigos. Duas das principais bases dessa linha interpretativa
são a obra História do Rio Grande do Norte, escrita por Lyra em 1921, e a pu-
blicação homônima de Cascudo, de 1955. Em seu estudo, Tavares de Lyra
organizou a história do Rio Grande do Norte a partir da colonização portu-
guesa, com destaque para a iniciativa de povos europeus, como os holan-
deses (LYRA, 1921). Os primeiros nativos das terras potiguares tiveram papel
secundário, enquanto os negros quase não surgiram na narrativa.15 O autor foi
o primeiro a escrever um compêndio de história norte-rio-grandense.

13
No período da Primeira República, os historiadores no IHGB colaboraram na constituição
da História como disciplina atrelada a uma função social, política e pedagógica de incutir
nos discentes sentimentos nacionalistas e cidadãos (GOMES, 2009). Mesmo que estas carac-
terísticas fossem mais evidentes durante a Primeira República, a força dessa tradição historio-
gráfica e a influência desses espaços de produção e divulgação de conhecimento histórico
perduraram nas décadas seguintes, e as semelhanças das características delas com as da
história produzida na congênere norte-rio-grandense, o IHGRN, evidenciaram isto.
14
O Colégio Atheneu Norte Riograndense ofertou o Curso Normal a partir de 1892 para for-
mação de professores, e como uma etapa de estudos prévios (bacharelado em Ciências e
Letras), obrigatória para cursar o Ensino Superior. Os estudos de História Geral, do Brasil e do
Rio Grande do Norte eram parte basilar do programa do Curso. As obras indicadas como
leitura básica para referenciar o ensino dessas áreas foram escritas por Tavares de Lyra e
Câmara Cascudo, e contribuíram para disseminar a perspectiva histórica assumida por eles
e pela elite intelectual no estado (MORAIS, 2019). Desse modo, a pesquisa e o ensino foram
processos aliados no projeto de identidade potiguar.
15
Como discutido na dissertação de Francisco Silva sobre as ações político-intelectuais de
Tavares de Lyra (SILVA, 2012) e na análise presente na monografia de Lucélia Dantas sobre o
conteúdo da História do Rio Grande do Norte do autor (DANTAS, 2005).

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Já Câmara Cascudo16 esteve em diálogo com a estrutura discursiva
apresentada por Lyra, sua História do Rio Grande do Norte também destacou
a ação colonizadora. No entanto, esse autor foi ainda mais explícito em mi-
nimizar a presença e o legado de indígenas e negros na história e sociedade
potiguares (CASCUDO, 1955). Cascudo, Lyra e o próprio Tarcísio Medeiros es-
tiveram entre os principais disseminadores de uma visão do êxito colonial e
da ausência de povos originários no espaço potiguar (LOPES, 1998, p. 27-28),
ausência que se estendeu aos descendentes da África.
Cascudo defendeu a existência de um elemento étnico que deno-
minou como “sertanejo”, apresentado como a representação da popu-
lação norte-rio-grandense e originado pela mestiçagem entre brancos,
indígenas e, de modo quase invisibilizado, negros. Esse arquétipo foi carac-
terizado pela pele em tons pardos e pela ligação cultural, identitária e de
costumes com o legado branco, europeu e “civilizado”, ou seja, como um
símbolo da vitória da colonização. Os traços de ascendência africana nos
seus aspectos culturais foram ocultados por Cascudo.17 Na obra de Tarcísio
Medeiros, são notáveis as ressonâncias dessa leitura da sociedade potiguar.

O autor: perfil profissional e escolhas metodológicas

Tarcísio da Natividade Medeiros nasceu em Natal, no Rio Grande do


Norte, em 1918, e faleceu em 2003. Formado como bacharel na Faculdade
de Direito de Recife, foi um dos professores fundadores do Curso de História
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, além de servidor público e
burocrata. Ele também participou da Comissão de Estatutos e Redação da
Revista do IHGRN, e do Instituto Histórico do Ceará, Academia Mossoroense
de Letras e Academia Norte-rio-grandense de Letras (BIOGRAFIA do prof.

16
A produção literária e de análise histórica e folclórica de Câmara Cascudo tem sido vas-
tamente analisada por pesquisadores de diversas áreas, resultado da relevância das inter-
pretações traçadas em seus escritos para o arcabouço histórico e cultural potiguar. Entre as
investigações, destacam-se as teses de Gico (1998) e Galvão (2010), as dissertações de Sales
Neto (2009), Costa (2011) e Fernandes (2012a), e a monografia de Barros (2018).
17
Isto foi perceptível na narrativa presente em História do Rio Grande do Norte, e identifi-
cado por Salatiel Gomes ao analisar a obra Vaqueiros e Cantadores, também de autoria
de Câmara Cascudo (GOMES, 2008), ou seja, era traço central na perspectiva histórica
defendida pelo autor.

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Tarcísio Medeiros, 2023). De acordo com levantamento feito nas revistas do
Instituto, Tarcísio Medeiros foi redator da Revista do IHGRN durante as décadas
de 1960, 1970 e 1980, e publicou 13 artigos nesse interregno, produção pro-
fícua em comparação com os demais sócios do período.
Além disso, era neto do intelectual e político potiguar Vicente de Lemos,
intimamente ligado a Pedro Velho e à oligarquia Albuquerque Maranhão
(FERREIRA, 2023). Medeiros mobilizou o prestígio promovido por esse grau de
parentesco em diferentes ocasiões, como na escrita de artigo sobre os elos
entre seu ancestral e Augusto Tavares de Lyra (NOBRE, 2021). Ou seja, ele es-
teve em posição estratégica na elite intelectual norte-rio-grandense. A par-
ticipação de Tarcísio Medeiros na produção do Ensino Superior de História
no Rio Grande do Norte também garantiu o destaque do autor no meio
intelectual local.18
O professor Tarcísio Medeiros atuou no Curso de História do início
das aulas, em 1957, até sua aposentadoria, em 1991 (NOBRE, 2022a, p. 97), e foi
caracterizado como um dos docentes precursores.19 Em meados das décadas
de 1980 e 1990, ocorreu uma série de transformações no Ensino Superior po-
tiguar,20 que resultaram na impressão estabelecida na memória institucional

18
O atual Curso de História da UFRN foi, inicialmente, uma das graduações da Faculdade de
Filosofia de Natal (FAFIN), instituição criada por iniciativa dos integrantes da Associação de
Professores do Rio Grande do Norte (APRN), liderados pelo seu presidente Joaquim Coutinho.
A partir de 1955, dois anos antes do início das aulas, ele já se mobilizava para se aliar a outros
intelectuais na constituição da nova faculdade. Tarcísio Medeiros estava entre alguns desses
primeiros convidados (NOBRE, 2023, p. 2), o que demonstrou seu bom posicionamento na
rede de sociabilidade dos letrados. A partir desse convite, Tarcísio Medeiros passou a integrar
os quadros do Curso de História da FAFIN, posteriormente incluído na UFRN.
19
A Geração dos Precursores foi um grupo composto pelos professores fundadores do cur-
so e lentes das cadeiras/disciplinas que compuseram suas primeiras grades curriculares.
Seus participantes eram caracterizados pela formação em Direito, pela participação na
imprensa local, pela experiência no Ensino Secundário, principalmente no Atheneu Norte-
Riograndense, e pela passagem por cargos burocráticos e políticos (NOBRE, 2023, p. 5-6).
Com exceção da atuação prévia no Ensino Básico, Tarcísio Medeiros teve sua trajetória de
acordo com esse perfil.
20
Essas mudanças foram consequência de medidas federais pela modernização das univer-
sidades públicas brasileiras, e, entre elas, esteve a exclusividade do concurso público para
o ingresso na docência superior e a vantagem de professores com título de Doutorado ao
ocupar os postos de trabalho. Diante desse cenário, formados em universidades externas ao
Rio Grande do Norte passaram a compor os quadros do curso da UFRN. Essa fase foi mar-
cada por tensões entre os novos docentes e aqueles que lecionavam no curso antes deles
(NOBRE, 2022a, p. 106-108). Estes eram ex-alunos dos precursores e, em sua maioria, tinham re-
lações de amizade e de conexão de legado com seus antigos mestres. Apesar disso, tiveram
a tendência de considerar os precursores como “professores tradicionais”, com perspectiva

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do Curso de História da UFRN de que o legado de professores precursores,
como Tarcísio Medeiros, não teve ligação significativa com as características
do curso após 1990 (NOBRE, 2022b, p. 147-148). Porém, como produtores desse
espaço de ensino e formadores de parte dos docentes que atuaram em sua
trajetória, os precursores influenciaram a construção de conhecimentos nesse
curso ao longo de suas primeiras décadas (NOBRE, 2023).
Investigar a perspectiva histórica adotada por um ente desse grupo,
Tarcísio Medeiros, foi um meio para a compreensão da consolidação de seu
ponto de vista na consciência histórica coletiva potiguar. Além disso, as rela-
ções familiares de Tarcísio Medeiros o colocavam numa posição privilegiada
enquanto historiador. Seu filho, Ivoncísio Meira de Medeiros, encontrou uma
gama de documentos administrativos da Coroa Portuguesa em suas pes-
quisas no Arquivo Nacional Torre do Tombo, em Lisboa, Portugal, e enviou có-
pias ao seu pai. Numa realidade sem as bases de dados digitais, o acesso a
essas fontes estava restrito a poucos estudiosos. Medeiros publicou a docu-
mentação oficial analisada no artigo por meio de longas citações, de modo
a facilitar o acesso a demais pesquisadores.
Ele analisou Cartas Régias, as correspondências trocadas entre os
Capitães-Mores da Capitania do Rio Grande e a Metrópole, nos séculos
XVII e XVIII, e os documentos direcionados aos capitães donatários, como
Requerimentos de Sesmarias, Cartas de Doação, Cartas Forais e Cartas de
Mercês de Minas, Ouro e Prata, em “Como fomos colonizados (por degre-
dados)?” e em “O negro na etnia do Rio Grande do Norte”. Além disso, dados
estatísticos também foram salutares na pesquisa histórica do autor. Foi notável
a valorização que Tarcísio Medeiros deu para as fontes administrativas.
O intelectual tinha a perspectiva de fonte oficial como um retrato do
passado, e a influência das circunstâncias, instituições e grupos em sua pro-
dução raramente era levada em conta em suas investigações. Esse posicio-
namento acabou por privilegiar o ponto de vista dos grupos sociais envolvidos

histórica elitista e pouco crítica, em certa medida pela influência das pressões dos colegas
vindos de fora. As relações entre as diferentes gerações docentes do Curso de História da
UFRN e os precursores foram abordadas de maneira mais aprofundada em (NOBRE, 2022a) e
(NOBRE, 2022b).

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na produção desses vestígios, ou seja, a elite político-intelectual, nos resul-
tados de suas pesquisas. A análise isolada da documentação oficial e ins-
titucional endossou o ponto de vista do conquistador, produtor das fontes,
sobre os acontecimentos (PUNTONI, 2002, p. 79), característica que influenciou
as conclusões obtidas pelo autor mediante a análise das fontes e as suas inter-
pretações históricas nos artigos em questão.

Os negros no Rio Grande do Norte, sob a ótica de Tarcísio Medeiros

Em “O negro na etnia do Rio Grande do Norte”, Tarcísio Medeiros


apontou como uma especificidade do modelo escravista na capitania do
Rio Grande a importação tardia e diminuta de escravizados africanos para o
trabalho agropecuário. Segundo Medeiros:
Na primeira quadra de fixação efetiva do português branco no Rio
Grande, a contribuição do escravo negro para a etnia, além daquela
energia motriz, foi quase nula. O cruzamento era feito mais com os
nativos, porque, para a entrada ao sertão, os primitivos colonizadores
contaram com o apoio dos índios potiguares, pertencentes à nação
dos Tupis [...] entrada do elemento negro é ainda pequena por não
haver diversificação de produtos de sustentação econômica em
que ele fosse empregado na mão-de-obra como escravo, sobretudo
(MEDEIROS, 1980, p. 89-92).

Nesse discurso, o autor optou por privilegiar fatores econômicos21 para


explicar a posição que ele defendeu, de que o fluxo migratório de escravi-
zados africanos para a capitania do Rio Grande foi inferior aos demais locais da
Colônia. De acordo com ele, essa mão de obra não era apta para o domínio
dos espaços áridos do interior como a dos indígenas Tupi. Além disso, a ins-
tabilidade financeira dos senhores de terras locais minimizou as condições
para a importação de escravizados negros. Desse modo, Medeiros destacou
as diferenças do processo colonial do Rio Grande (correspondente ao atual
Rio Grande do Norte) com a de outras capitanias.

21
“As migrações, no Brasil, tiveram um caráter acentuadamente compulsório e os migrantes
foram vistos como sujeitos expropriados e, por isso, forçados a uma peregrinação constante
na busca de trabalho” (BRUMES; SILVA, 2011, p. 124), o que também foi notável nos processos
de migração forçada, que levou à constante apresentação de fatores econômicos nas análi-
ses dos fluxos migratórios. Porém, especialmente depois da década de 1990, tornaram-se mais
frequentes as análises que pautaram fatores econômicos, sociais e pessoais e suas interrela-
ções (BRUMES; SILVA, 2011, p. 125).

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As causas econômicas também foram enfatizadas pelo autor ao ana-
lisar o aumento do deslocamento de escravizados ao Rio Grande do Norte
no século XIX. De acordo com ele, a economia local se modificou, o que
provocou o aumento de negros na população, mas esse processo foi mos-
trado como algo efêmero e sem consequências demográficas do século
seguinte em diante:
O surto econômico maior da cana-de-açúcar na região do agreste-
-litoral foi até 1870, quando cedeu lugar à agricultura do algodão no
sertão do Seridó, isto pela maior demanda dos mercados europeus
em plena cotton famins da segunda etapa da revolução industrial.
Portanto, marca o ano de 1870 o maior índice de população negra
no Rio Grande do Norte, porque daí para diante cai a importação
humana, a renovação dos estoques não é feita, a miscigenação
diminui e as manumissões espontâneas, pela descessidade do negro,
vão anteceder a lei áurea (MEDEIROS, 1980, p. 93).

Ou seja, na visão do autor, a expansão do cultivo de cana-de-açúcar


no agreste e no litoral durante o século XIX foi a única exceção às carac-
terísticas econômicas e demográficas descritas anteriormente. Porém,
Medeiros argumentou sobre um fluxo migratório para a parte meridional do
Brasil induzido pela crise econômica, que levou os senhores escravistas do Rio
Grande do Norte, em grande medida, a venderem os cativos aos senhores
do Sul. Ele optou por não discutir a miscigenação com os negros nem a pre-
sença deste grupo nas diferentes regiões potiguares além do litoral, e nem
em outras monoculturas. Medeiros minimizou a presença negra no estado
e indicou uma tendência ao desaparecimento desse grupo pela compa-
ração dos percentuais populacionais de negros nos dados estatísticos do Rio
Grande do Norte em diferentes censos:
Interpretando-se os índices de percentagens, compreende-se que,
de 1890 a 1940, a população tendo quase triplicado, a de raça
branca estava em maioria sobre as demais com 43,49%; os pardos
com 43,08%, um pouco abaixo dos brancos; e os pretos com 13,38%
de total, o menor e inexpressivo. Dez anos depois, isto é, em 1950,
quando a população total comparada a de 1890 tinha quase
quadruplicado, os brancos estavam com a maioria sobre os pardos
e pretos de 48,78%; os pardos tinham 41,58% da população, portan-
to diminuído em relação aos brancos; e os negros, o índice tão so-
mente de 9,46%. Desta maneira, de 1950 para cá, cada vez mais os
negros, enquadrados à matrizes antropológicas apontadas de início,
estão desaparecendo no Rio Grande do Norte, assimilados por uma

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revista crescente maioria de brancos e pardos. [...] A progressiva transfor-
mação para o fenotípico alvarinto será o resultado final (MEDEIROS,
1980, p. 96-97).

Ao interpretar os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística (IBGE), Medeiros desconsiderou uma consequência social do sis-
tema escravista que perdurou por três séculos: a associação da negritude
a aspectos negativos por racismo. Por causa disso, parcelas da população
evitam se identificar como negras e optam por classificações como pardas
e suas variantes (mulato, mestiço, moreno etc.). Na linguagem cotidiana e
no senso comum, certas terminologias difusas, como caboclo e negro (ou a
sua corruptela nego) designaram homens rudes e perigosos, consequência
de uma consciência histórica coletiva marcada pela alteridade colonial
(CAVIGNAC, 2003, p. 10).
Medeiros ignorou também a própria dificuldade que os consultados nas
pesquisas poderiam ter em relação à própria identidade, visto que, num país
com forte miscigenação como o Brasil, a divisória que separa o ser negro e o
ser pardo é tênue. Tarcísio Medeiros optou pela interpretação das fontes sem
a análise das circunstâncias de sua produção, pois o resultado coincidiu com
a perspectiva que ele pretendia defender. Porém, ele buscou estabelecer um
parâmetro objetivo para diferenciar negros e pardos, e, para isso, recorreu às
teorias dos antropólogos Félix Von Luschan e Alfred Court Haddon:
Evidentemente, quando as estatísticas usaram a classificação de
PARDOS, foi em consideração à escala do antropologista Von
Luschan, que incluiu como “faiodermos” os indivíduos de pele mais
ou menos escura, ou sejam aqueles comumente conhecidos como
mamelucos (brancos e índios), caboclos ou curibocas (negros e
índios), e mulatos (brancos e negros), peculiaridade da miscige-
nação brasileira. Os “melanodermos”, com variante de 30 a 36 da
escala de coloração da pele, escuros, são negros quando ainda
apresentam as características essenciais da raça, no que concerne
à maior espessura dos lábios, achatamento horizontal das narinas e
cabelos ulótricos. [...] Pela diversidade de opiniões existentes, é pre-
ferível, como mais racional e lógica, a classificação de HADDON,
que destacou nas características dos verdadeiros negros, isto é,
da raça negra ou nigricina: “A pele negra, cabelos encarapinhados,
nariz largo e chato, lábios volumosos, prognatismo, alta estatura
(lm73 em média), dolicocefalia moderada (índice cefálico 74 a 75)”
(MEDEIROS, 1980, p. 94).

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De acordo com os parâmetros estabelecidos pelo autor, em diálogo
com Luschan e Haddon, apenas poderiam ser considerados negros aqueles
que tivessem um conjunto de elementos fenotípicos específicos de pele,
cabelos, nariz, lábios e cabeça. A categoria dos que o autor chamou de
verdadeiros negros, nesses critérios, estaria limitada a um grupo tão restrito
que excluiria parte considerável dos indivíduos socialmente reconhecidos
como afros na realidade brasileira. Tarcísio Medeiros não incluiu em sua aná-
lise as circunstâncias em que essas teorias foram criadas. Luschan e Haddon
desenvolveram suas pesquisas dentro do cientificismo racial que predominou
no século XIX.22
Persistiram durante décadas as influências dessas teorias raciologistas
no senso comum e até mesmo na visão de grupos intelectuais sobre o ser
negro, representação imaginada marcada por estereótipos. Uma conse-
quência disso foi a dificuldade de parte da sociedade em admitir a legitimi-
dade da identidade dos que rompem com esses clichês, além da tendência
em apontá-los como “aculturados”, “mestiços” e sujeitos sem “pureza”
suficiente para se identificarem com a cultura negra (CAVIGNAC, 2003,
p. 10). Ao descrever as irmandades negras potiguares, o historiador optou
por interpretar as manifestações dos negros pelo prisma da desterritoriali-
zação (SANTOS, 2006, p. 222), ou seja, ele buscou representar os africanos
que vieram ao Rio Grande do Norte, e seus descendentes, como um grupo
que perdeu os hábitos e as práticas pertencentes aos territórios de que foram
provenientes para assumir costumes eurocêntricos:
Sabe-se das várias formas de reações contra-aculturativas dos negros.
Algumas violentas, ruidosas, como as rebeliões de negros muçulmanos
na Bahia, os quilombos, os crimes. E outras silenciosas, mais de fun-
do psicológico, como o banzo, os suicídios, as fugas ou refúgio nas
regiões. As irmandades ou Confrarias religiosas [do Rio Grande do
Norte] podem ser consideradas sob o segundo aspecto. [...] Recebeu
a Irmandade, em Portugal, o selo da Real Mesa da Consciência e

22
A Escala Cromática de Luschan foi criticada por sua subjetividade e por, frequentemente,
ter diferentes resultados para o mesmo indivíduo (COR/RAÇA?, 2016). Já Haddon esteve no
grupo dos cientistas que se posicionaram contra o projeto genocida nazista, mas que tam-
bém compartilhavam da visão eugenista de que existia certa hierarquia biológica na qual
os negros estavam em desvantagem (MUNARETO, 2017, p. 51-52). Estas questões não foram
mencionadas no artigo de Medeiros.

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revista da Ordem. [...] O costume não era propriamente brasileiro. Veio da
Europa, onde em 1552, já havia com iguais encargos na cidade de
Lisboa (MEDEIROS, 1980, p. 99-100).

As irmandades católicas compostas pelos escravizados e negros livres


foram legitimadas no discurso de Medeiros em detrimento de rebeliões e
quilombos, associados à violência e à perturbação da ordem estabelecida.
O autor também teve a cautela de informar que a manifestação cultural tinha
origem europeia e o aval da Realeza Portuguesa, ou seja, que era mais um
legado da colonização na sociedade norte-rio-grandense, fator legitimador
do movimento na narrativa do artigo. Tarcísio Medeiros também negou a exis-
tência de quilombos no Rio Grande do Norte:
O caso de Sibaúma, de população toda negra, mereceu da Revista
“Realidade” (nº 37, abril-1969) uma reportagem sensacionalista por
ter sido classificado o povoado como um quilombo, coisa que jamais
existiu na história do Rio Grande do Norte, considerado como reduto
de pretos fugidos, formadores de um núcleo de resistência à legal
instituição escravocrata da época, como o exemplo de Palmares,
em Pernambuco e Alagoas. Sibaúma foi e continua a ser uma comu-
nidade pacífica [...] o grupamento de pretos formadores de Sibaúma
só chegou ao lugar no começo do século (1.900), quando já não
existia escravidão (MEDEIROS, 1980, p. 98).

Ao afirmar que Simbaúma foi e continua sendo uma comunidade


pacífica, enquanto negava sua caracterização como quilombo, ele consi-
derou que a resistência dos negros nesse modelo de comunidade era algo
contrário à paz e à ordem social. Além disso, ele definiu quilombo como algo
reprovável e ameaçador à lei, e a escravidão, dentro da especificidade do
passado, como um modo de exploração de trabalho válido (“legal instituição
da época”). Com essa escolha de palavras, Medeiros conduziu o olhar do seu
público leitor a associar a resistência ao sistema escravista à ilegitimidade e a
exploração de mão de obra cativa ao oposto disso.
Qualquer grupo que tenha se colocado como obstáculo à ação
colonizadora de Portugal foi descrito por Tarcísio Medeiros de maneira
pejorativa. Em sua argumentação, a presença de afrodescendentes em mo-
vimentos derivados da povoação lusitana, como as irmandades, foi um indi-
cativo de adoção da cultura branca por eles, o que os identificariam como
mestiços, portanto, culturalmente não negros. Já os quilombos, uma oposição

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ao projeto colonial, teve sua existência no Rio Grande do Norte negada no
artigo, pois seria uma prova da relevância da população africana e de sua
identidade na formação do estado, e de sua autonomia em relação a Portugal.
A minimização e o apagamento da participação de grupos não brancos
na sociedade norte-rio-grandense foi um elemento característico da escrita de
Tarcísio Medeiros. Na visão do autor, o Rio Grande do Norte não tinha nem in-
dígenas e nem negros verdadeiros.23 Existia apenas o branco e o pardo, e este
último poderia não ter a pele clara como os brancos, mas compartilhava dos
mesmos costumes e da mesma cultura. Assim, ele argumentou em prol do
sucesso da colonização, de uma sociedade potiguar homogênea, sem diver-
sidade. Medeiros concluiu o artigo com as seguintes palavras:
Assim, pelo visto, na verdade, a contribuição da raça negra para for-
mação da etnia no Rio Grande do Norte, foi mínima: Pouco deixou
de seus caracteres antropológicos, não representou, como escravo,
elemento de importância na economia regional, e não legou mani-
festação cultural de valor.

Se, em face das circunstâncias especiais de tempo e espaço, o negro


foi escravo entre nós, o foi em pacífica convivência, tratamento hu-
mano e restritas limitações de vida. Liberto antes da lei, participa das
mesmas oportunidades dos demais em sociedade, em todos os as-
pectos da vida e pela vida, como irmão, sem preconceitos, sem se-
gregação (MEDEIROS, 1980, p. 103).

Ou seja, o artigo “O negro na etnia do Rio Grande do Norte” apresentou


uma narrativa que tendeu à minimização dos índices de migração forçada
de africanos para o Rio Grande do Norte e ao apagamento da contribuição
do grupo na sociedade potiguar. Naquele momento, no Brasil, diversas inicia-
tivas de organizações negras visavam contestar o lugar da influência africana
no Brasil proposto pelas narrativas das elites nacionais.24 Na nova perspectiva

23
A escrita de Tarcísio Medeiros na Revista do IHGRN sobre a presença indígena no Rio Grande
do Norte foi investigada por Nobre (2021).
24
Em 1978, dois anos antes da publicação do artigo de Medeiros, ocorreu, em São Paulo,
um evento que marcou o surgimento do Movimento Negro Contemporâneo no Brasil.
Foi um ato público que reuniu lideranças negras de todo país e fundou o Movimento Negro
Unificado (MNU). A organização teve como principal objetivo a transformação da socie-
dade em prol de uma democracia racial verdadeira, e, entre outras demandas, prezava
pela mudança do lugar do negro na história do Brasil e pela valorização de sua cultura.
Uma das principais conquistas do MNU, demanda que já existia desde, pelo menos, 1971,
foi a instituição do Dia da Consciência Negra na data de 20 de novembro, efeméride da
morte de Zumbi dos Palmares, líder da resistência à escravidão em um dos maiores quilom-

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apresentada por eles, o protagonismo da história afrodescendente saiu das
mãos dos colonizadores e brancos e passou aos escravizados em luta pela
própria liberdade (PEREIRA, 2010, p. 98-102). Nesse discurso, os quilombos dei-
xaram de representar a insubordinação violenta à ordem vigente e se tor-
naram um ato legítimo de resistência.
É provável que a crítica contundente de Tarcísio Medeiros ao ar-
tigo jornalístico que apontou a presença de quilombos no Rio Grande do
Norte, assim como a representação negativa desse modo de resistência
à escravidão, e a busca por dar protagonismo ao legado português,
inclusive ao descrever iniciativas coletivas negras, foram parte da reação
de Medeiros, e da elite a que pertencia, a essas mudanças na interpre-
tação da história negra no Brasil. As narrativas históricas estavam em disputa,
e Medeiros se colocou contra a alternativa proposta pela nova mobilização
negra e a favor da herança colonial e eurocêntrica. A longevidade dessa
visão distorcida da identidade negra no estado provavelmente foi resultado
da força e da influência dos discursos da elite intelectual, na qual pensadores
como Tarcísio Medeiros estiveram integrados.
A historiografia norte-rio-grandense tradicional foi construída por inte-
grantes das elites locais, em instituições como o IHGRN, e declarar extinção
dos povos originários e subestimar o impacto da escravidão de negros no
sertão era parte de um projeto de história aliada à glorificação da coloni-
zação. As análises feitas por esse grupo foram profundamente marcadas por
esse objetivo (CAVIGNAC, 2003, p. 2). Além disso, ao afirmar que os povos
originários desapareceram, que a escravidão foi mais suave e que o racismo
não existiu no Rio Grande do Norte, o autor invalidou qualquer movimento ou
ação social que buscasse diminuir a desigualdade e reparar os danos do ge-
nocídio dos indígenas e da escravidão dos negros no estado.25

bos da história brasileira. Desse modo, o centro das celebrações da negritude nacional
deixou de ser o 13 de maio, a data da Abolição da Escravatura, mudança que teve um
significado simbólico.
25
O historiador norte-rio-grandense Muirakytan Macêdo abordou a construção historiográfica
sobre a presença indígena e negra no processo de ocupação colonial do sertão do Rio
Grande do Norte e suas consequências em sua dissertação de mestrado (1999). Além disso,
ele aprofundou a abordagem da questão em artigos (2000, 2008, 2011) e em capítulos de
livros (2013, 2014).

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Os degredados no Rio Grande do Norte, na perspectiva de Tarcísio Medeiros

Já no artigo “Como fomos colonizados (por degredados)?”, o objetivo


central foi identificar a participação de degredados na colonização em terras
potiguares. Ao analisar os índices desse grupo na capitania, Medeiros afirmou:
Não se dirá, - salvo aos ocupantes de postos de comando reservados
aos homens de qualidade, - que a maioria dos participantes das
ações de conquistas, não foram degredados carentes de meios le-
gais para se reabilitarem de forma honrosa e haver recompensa.
Certamente que o foram, porém em número relativamente pequeno,
desde o momento em que a paz feita com os nativos deixou disponí-
vel a terra para ser distribuída entre aqueles que precisavam fixar-se
nela e, pelo seu trabalho, desenvolvê-la e povoá-la, protegidos pela
guarnição da Fortaleza (MEDEIROS, 1984, p. 33).

A resposta de Medeiros à pergunta-título do artigo foi de que a parti-


cipação de degredados no povoamento do Rio Grande foi pouco conside-
rável. Ele utilizou a Carta Foral dos donatários do Rio Grande, João de Barros
e Ayres da Cunha, como prova de que a Coroa Portuguesa orientou pela
exclusão dos exilados na distribuição de sesmarias, com o objetivo de “que a
ordem social preponderasse e que o espaço da antiga donataria de João de
Barros e Ayres da Cunha se povoasse sem a presença perniciosa dos ‘degra-
dados’” (MEDEIROS, 1984, p. 38).
Desse modo, o autor endossou a perspectiva identificada no do-
cumento histórico: de que os migrantes compulsórios seriam prejudiciais
aos valores que deveriam ser cultivados em terras coloniais. Já a partici-
pação de indivíduos da elite da metrópole no Rio Grande foi enfatizada e
maximizada. Tarcísio Medeiros caracterizou a participação do comandante
português Peres Mendes de Gouveia, ao expor a Ocupação Holandesa no
Nordeste, da seguinte forma:
Não precisamos relembrar aqui, o que foi a Província do “Fluvius
Grandis” holandês, desde a tomada do Forte (12.12.1633), com o sa-
crifício de tantas vidas e de Peres Mendes de Gouveia, o seu coman-
dante herói [...] domínio no qual a Capitania só conheceu violências,
extorsão, vilipêndio e rapinagem (MEDEIROS, 1984, p. 35).

Ele descreveu a presença holandesa no Rio Grande com termos que


enfatizaram uma imagem de crueldade: extorsão, vilipêndio, rapinagem.
Quanto aos líderes portugueses, representados, nessa citação, pelo co-

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mandante Peres Mendes de Gouveia, foram um grupo colocado como
protagonista da narrativa, heroico e martirizado em nome da supremacia por-
tuguesa. Em outro momento do mesmo artigo, Tarcísio Medeiros explicou a re-
construção do Rio Grande após o período da Ocupação Holandesa, através
do relato das ações e qualidades de Antônio Vaz Gondim:
Foi Antônio Vaz Gondim, o primeiro Capitão-Mor nomeado por D.
Affonso VI, em janeiro de 1656, para o Rio Grande. Na sua administração,
podemos dizer que a Capitania começou a povoar-se. Entretanto
continuava em grande penúria [...] Antônio Vaz, como primeiro ato de
sua administração, conseguiu que recolhessem à Capitania, ou nela
viessem morar, mais de 150 pessoas. Multiplicou-se no esforço contí-
nuo de atender a tudo, restaurando estradas, a Fortaleza, a Matriz,
nomeando autoridade, restaurando o Senado da Câmara, fazendo
milagre de energia, operosidade e animação (MEDEIROS, 1984, p. 35).

Na narrativa tecida por Medeiros, a “energia, operosidade e ani-


mação” do administrado foram as causas da vinda de mais famílias de
colonos para as terras potiguares, pela restauração das obras públicas e
das instituições políticas. Ou seja, nessa interpretação histórica, a ação do
líder político reconstituiu as condições básicas para o desenvolvimento da
civilização, num território onde, até então, só havia encontrado barbárie,
proporcionada pelos holandeses e pelos povos originários. Quanto maior
a penúria da capitania, maior ênfase no mérito de Vaz Gondim. Nesse
sentido, o desenvolvimento do Rio Grande, e, por consequência, do Rio
Grande do Norte, foi menos um trabalho coletivo e mais uma conquista de
figuras políticas.
Desse modo, mesmo no artigo em questão, em que a presença dos de-
gredados portugueses na capitania foi o tema central, o legado desse grupo
social marginalizado foi diminuído, e a maior parte do texto consistiu nas con-
tribuições da elite portuguesa para esse processo. Portanto, a representação
da colonização do Rio Grande como um feito de homens brancos valorosos
foi preservada na narrativa tecida no artigo. Essa visão, presente em ambos
os textos, foi uma opção relacionada com os objetivos da agremiação cul-
tural a qual a Revista que publicou as obras é atrelada, o IHGRN, dos de-
mais intelectuais ligados a esta instituição e dos outros espaços nos quais
estas ideias circularam.

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Considerações finais

Tarcísio Medeiros mobilizou documentos administrativos e estatísticos de


modo a comprovar o ponto de vista de que a migração de africanos es-
cravizados e de seus descendentes ao Rio Grande/Rio Grande do Norte não
foi relevante. Ao analisá-los como provas de veracidade de seu discurso e
desconsiderar as intenções e demandas daqueles que produziram essas
fontes, os colonizadores portugueses e a elite que foi sua herdeira, Medeiros
assumiu uma posição de apoio ao lado dessa elite.
Já o registro que contrapôs sua visão, a notícia de jornal que
apontou a existência de quilombos no estado, foi apresentado de maneira
crítica, e Medeiros buscou em outros documentos desmentir as alegações
do periódico. A conclusão do intelectual foi que a migração forçada de es-
cravizados foi diminuta no estado, que estava passando por um processo de
embranquecimento, tanto demográfico quanto cultural, e que as consequên-
cias disso foram o alto índice de mestiços identificados nos censos e a parti-
cipação desses grupos tidos como não brancos em movimentos classificados
como herança de Portugal, como as irmandades religiosas.
Quanto aos enviados à América Portuguesa em exílio, Tarcísio Medeiros
foi breve ao desconsiderar a relevância do grupo na capitania do Rio Grande,
mobilizando documentos da Coroa Portuguesa de maneira parecida com a
análise anterior, ou seja, como detentores da verdade dos fatos. Os degre-
dados foram descritos como uma parcela social sem as virtudes que Medeiros
pretendia enfatizar na História potiguar, e, por isso, foram minimizados. A maior
parte do texto foi dedicado à descrição daqueles que teriam sido, na perspec-
tiva do autor, os verdadeiros responsáveis pela colonização desse território:
líderes políticos como Mendes de Gouveia e Vaz Gondim, representados de
maneira positiva e idealizada. Desse modo, o autor reforçou o triunfo da colo-
nização europeia em terras potiguares.
Tarcísio Medeiros integrou as diversas instituições frequentadas pela
elite intelectual norte-rio-grandense, como o Atheneu Norte-Riograndense
e o IHGRN. De modo geral, ele e seus pares estiveram comprometidos com
o projeto de constituição de identidade regional ligada à herança colonial.

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Assim, a História escrita por esses sujeitos foi mobilizada como um meio para fins
didáticos de criação de um senso de pertencimento e de gratidão da socie-
dade potiguar com os colonizadores. Nessa construção de sentidos, não houve
espaço para diversidades, e a glorificação do processo supostamente civiliza-
tório foi o que ditou os rumos das narrativas.

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