Despedaçado
Despedaçado
Despedaçado
DIANA NIXON
Copyright © 2018 by Diana Nixon
Todos os direitos reservados.
Foi amor à primeira vista; uma história que deveria durar para sempre. Um
jovem coração que nunca conhecera o amor verdadeiro e uma alma solitária
procurando algo real. Eu era aquela alma e Elizabeth Brown era meu lindo
coração, inocente e cheio de paixão incondicional. Ela me fizera acreditar que o
amor podia mudar qualquer coisa. E ele me mudou… Me quebrou, despedaçou.
A traição que nunca eu esperara, foi como uma adaga direto no meu
coração. Num piscar de olhos, meu amor foi substituído por ódio e dor infinitos
que pensei que nunca conseguiria esquecer.
Mas quem imaginaria que até corações machucados poderiam amar? Quem
acreditaria que um novo fogo poderia começar a queimar em olhos desiludidos?
“Farei ela se apaixonar por mim de novo. E então, irei arruiná-la, como ela
me arruinou…”
Prólogo
Kameron
Eu estava muito fodido, em mais de uma maneira…
No momento em que vi Elizabeth Brown, o mais obscuro dos meus desejos
e o pior dos meus pesadelos, entrando pela porta da frente da casa do meu
melhor amigo, meu pau endureceu até o talo. Merda… Quase quatro anos
tinham passado desde a última vez em que a vi e a vadia ainda tinha muito poder
sobre mim, ou, pelo menos, sobre uma parte específica de mim que, de alguma
forma, se recusava a superá-la. Inacreditável…
“O que ela está fazendo aqui?” perguntei a Liam com o máximo de veneno
que conseguia colocar em uma única pergunta.
“Quem?” ele franziu o cenho, seus olhos seguiram os meus, obviamente
tentando encontrar o objeto da minha atenção. “Ah… Ela?” Ele apontou para a
garota de cabelos loiros platinados, soltos em cascata em grandes ondas sob um
ombro. “Ela veio com Declan.”
“Declan, Declan ‘O Imbecil’ Sanders?” Eu conhecia bem o nome. O babaca
e eu costumávamos ser colegas de sala no Ensino Médio. Nunca fomos mortos
de amores um pelo outro. Eu apenas não entendia ele e suas tentativas patéticas
de demonstrar o quanto descaradamente rica sua família era. Nunca me faltou
dinheiro, mas ele era um esnobe ao máximo, até comparado comigo. Não me
surpreenderia descobrir que ele come cheques no café da manhã.
“Eles estão namorando ou o quê?” Dei um longo gole na minha coca,
esperando parecer absolutamente desinteressado na resposta.
“Não sei. Mas ela não está mais com Kolby.”
Eu sorri, sem graça. “Disso, eu sei muito bem.” Kolby era meu meio-irmão;
ele fora o terceiro membro do triângulo amoroso do qual ele, Elizabeth e eu não
conseguíamos nos recuperar. Bem, eu não tinha certeza sobre eles, mas eu ainda
me sentia tão arruinado quanto antes. E era completamente culpa dela.
“Ainda incomoda você com quem ela dorme?” Liam perguntou, rindo em
sua cerveja.
“Nenhum pouco,” disparei de volta. Mas ele me conhecia muito bem para
se deixar convencer. A história do meu famigerado amor era fodida demais para
eu me recuperar facilmente.
“Hmm…”
“E isso significa o quê, exatamente?” Eu dei um olhar para deixá-lo saber o
que eu pensava… Dizia tudo – melhor você não mexer comigo esta noite, não
quando Elizabeth e eu estamos no mesmo espaço de novo. Eu a evitei por muito
tempo e tinha certeza de que fizera um ótimo trabalho em superá-la, mas
aparentemente não tanto quanto eu achava.
“Nada.” Meu amigo deu de ombros, sabendo que era melhor manter a
merda que ele tinha na cabeça para si mesmo.
Elizabeth e eu tínhamos uma longa história juntos. Nos conhecemos pela
primeira vez quase quatro anos atrás, quando ela e Kolby estavam para se formar
no Ensino Médio. Eu era seis anos mais velho que ela, estava terminando meus
estudos e me formando em Administração pela Universidade de Stanford. Era
meu último fim de semana antes da formatura; então, vim para Pittsburgh,
Pennsylvania, onde morava antes de ir pra universidade. Voltei para entregar os
convites da solenidade ao meu pai, à esposa dele, Shelby, mãe do Kolby, e ao
meu irmão. Depois que meus pais se divorciaram, minha mãe se mudou para
L.A. Já que morávamos próximos, ela foi a primeira a receber o convite. Não
que ela não quisesse me criar, mas meu pai tinha certeza que um garoto
precisava crescer ao lado do pai. Mamãe não discutiu com isso. Afinal, ela sabia
que era melhor. Passava todas minhas férias de inverno e verão com ela, e
quando chegou a hora de escolher uma faculdade, todas minhas opções
acabavam em Stanford. Decidi que finalmente conseguiria passar mais tempo
com ela. Ela não estava animada em encontrar meu pai e Shelby, mas ela me
amava muito para perder um dos eventos mais importantes da minha vida apenas
porque “o babaca” também iria. Mamãe não estava sozinha. Ela namorava um
cara ótimo, Derek. O maior sonho dele era se casar com ela, mas ela tinha
certeza de que um casamento era mais do que suficiente pelo resto da vida.
Quanto a Elizabeth… Ainda lembro do momento em que meus olhos a
encontraram pela primeira vez. Como poderia não lembrar? Era impossível
esquecer. Mesmo depois de tudo que ela fizera para quebrar e afogar meu
coração em uma poça do seu próprio sangue, ainda lembro de cada detalhe da
primeira vez que nos encontramos. Sim, lembro como se fosse ontem, e não
tanto tempo atrás. Fiquei tão fascinado por ela que não percebi imediatamente
que ela estava lá com meu irmão. Trocamos algumas palavras insignificantes,
mas mudaram tudo, me mudaram. Desde aquele dia, não conseguia pensar em
nada além de vê-la de novo, falar com ela de novo, apenas ficar perto dela de
novo, o que foi um grande erro desde o começo.
Meus olhos nunca pararam de segui-la. Ela andava pela sala de estar de
Liam, cumprimentando seus amigos, então parou no bar, próximo a uma garota
que estava lá, beijou ela nas duas bochechas e riu de algo que ela contava. O som
de sua risada era familiar demais, e como sempre, atingiu direto em mim, como
uma flecha atingindo seu alvo, fazendo cada maldito centímetro do meu corpo
vibrar em resposta, como se ela estivesse rindo direto no meu ouvido, em vez de
do outro lado da sala. Sua risada enviou ondas de excitação por mim. Ela sempre
tivera esse tipo de efeito. Tudo nela despertava o melhor e o pior em mim, e eu
ainda não tinha ideia de como consertar isso. A única coisa que eu tinha certeza
era que nunca conseguiria perdoá-la pelo que fizera comigo. Ela me traiu, a mim
e a cada pequena emoção que sentira por ela; ela traiu meu amor, tão puro e sem
limites; ainda não conseguia acreditar que uma vez deixei uma garota tão fundo
na minha pele. Sem dúvida, ela era um demônio enviado do inferno para sugar a
alma e a vida do meu corpo, e com isso, meu desejo de vê-la de novo.
Elizabeth tinha mudado. Eu conseguia ver isso mesmo à distância. Ela
parecia mais confiante, independente e tão fria quanto um cubo de gelo no
Ártico. Nem seu sorriso educado podia mudar isso. Ela nunca foi uma garota
tímida. Desde que a conheço, ela era uma lutadora. E surpreendentemente, eu
gostava disso. Ela lutava pelos seus sonhos e nunca desistia de nada,
independente do quanto seu pai quisesse mudá-la e aos seus planos para o futuro.
Esnobe como ele era, não conseguia imaginar sua filha sendo qualquer coisa
além de advogada ou médica. Não que ela sequer o ouvisse, é claro.
Ela era uma combinação que nunca pensei que fosse encontrar. Me
apaixonei por ela… muito, doía sequer pensar em deixá-la um dia. Mas a única
coisa que sentia por ela agora era ódio, tão forte que me despedaçava quando
permitia minha mente viajar até ela. Não queria nada além de machucá-la
também, vê-la sofrer tanto quanto eu sofri quando ela rasgou meu coração do
meu peito e o jogou fora como um pedaço de lixo. Queria arruiná-la como ela
me arruinou.
Engoli o resto da minha coca em um gole, bati o copo contra a mesa de café
e fui para o bar, direto para onde ela estava. Sendo a única pessoa sóbria na festa,
que, a propósito, eu já me arrependia de sequer ter ido, deixou tudo muito pior,
mas eu não podia me permitir ficar bêbado hoje. Amanhã tinha um voo cedo de
volta para LA onde eu devia começar a trabalhar em uma das franquias da
empresa do meu pai; era uma das maiores lojas de informática da costa oeste. E
não havia como no inferno eu faltar meu primeiro dia de trabalho por causa da
Elizabeth. Eu tinha trabalhado para caralho para ser quem era agora, e ela não
fazia mais parte disso.
Parei logo atrás dela, levando um tempo para apreciar o mini-vestido preto
que ela usava esta noite. Encaixava perfeitamente nela, delineando cada curva,
cobrindo e mostrando apenas o suficiente para me fazer querer tirá-lo dela. Seu
corpo era uma daquelas coisas que eu não conseguia resistir. E não importa o
quão doentio era o pensamento de fodê-la de novo, eu não me importaria se
acontecesse. Talvez não por prazer, mas, pelo menos, por vingança.
Como se sentindo minha presença, ela lentamente se virou, seus olhos
turquesa incríveis enterram nos meus. Nunca vi olhos da mesma cor dos dela. O
que era uma das muitas coisas que eu costumava amar. Eu mergulhei neles,
hipnotizado pela sua beleza e profundidade.
Meu corpo inteiro congelou pelo olhar que ela me deu. E se eu não
soubesse, diria que ela estava tão excitada em me ver quanto eu em vê-la. Então
já era minha regra de ódio-até-a-morte. Merda.
“Olá, Kameron,” ela disse, sorrindo tão docemente pra caralho quanto
sempre. “Que surpresa agradável… Não sabia que você estaria aqui hoje.” O
rosto dela continuou relaxado. Ela sempre fora boa demais em esconder as
emoções. Vadia blasé.
Eu sorri em resposta. “Oh, não sabia?” Meu olhos foram para seus lábios
cor de sangue, moldados tão malditamente perfeitos; nunca soube como me
impedir de beijá-los. “Sabe, eu sempre amava quando você usava batom
vermelho,” eu disse com um baixo ronronar. Uma parte retorcida de mim ainda
gostava de provocá-la, flertar com ela. Como se minha vida fodida por causa
dela não fosse razão suficiente para ficar o mais longe humanamente possível
pelo resto da minha existência.
“Sério? Não lembrava disso,” ela disse, tomando um gole de seu
champanhe. Deus sabe que precisei de toda minha força de vontade para não
puxar aqueles lábios demonicamente lascivos para os meus. Como sempre,
apenas não conseguia parar de pensar em beijá-la até que perdesse os sentidos.
Só que desta vez, não havia nada de românico no desejo de ficar perto dela.
Apenas queria machucá-la, fazê-la se sentir usada.
Meus olhos descaradamente viajaram pelo seu vestido de novo, a frente era
ainda mais incrível que as costas, encaixando nela como uma luva. Sorri
levemente pela visão dos seus sapatos de salto alto, sapatos do tipo foda-me-
com-força. Eu sabia que ela era louca por sapatos, tanto quanto ela sabia que eu
amaria vê-la usando uns como esses esta noite – como se eles fossem sua arma
secreta em um jogo que ela e eu sempre amávamos jogar.
“Estiletos bonitos. Você os colocou exatamente para me provocar?”
Nenhuma resposta seguiu. Ela ficou calada por quase um minuto; foi um
daqueles silêncios estranhos. Então, finalmente, ela sorriu, inclinando-se mais
perto do meu rosto e respirou contra meus lábios: “Vá se foder, Kameron
Grayson.”
Eu podia praticamente sentir o cheiro de champanhe saindo daqueles lábios
vermelhos vibrantes. Meus punhos apertaram nos bolsos do meu jeans. Eu
estava perto demais de arrastá-la para um dos quartos de hóspedes de Liam e
tomá-la bem ali. Só que desta vez, ela não merecia tanta generosidade de mim,
não importa o quanto seus mamilos duros imploravam para eu fazer justamente
isso. Ela sequer sabia que seu corpo traía cada pensamento secreto que tinha?
Balancei a cabeça, frustrado. Não podia deixá-la me atingir, não de novo.
Seus olhos permanecerem presos nos meus por não mais do que uma batida
de coração, mas foi mais do que suficiente para ver a verdade que ela
obviamente esperava conseguir esconder de mim. Ela sabia que eu voltara de
LA, tanto quanto sabia que eu estaria na casa do Liam esta noite. A única coisa
que ela não esperava era o quanto eu conseguiria ver através da sua atuaçãozinha
sexy como o inferno, que ela encenava para mim. Eu não cairia na mesma
armadilha pela segunda vez, não importava o quanto uma parte egoísta de mim
quisesse revindicá-la como minha de novo.
Ela sempre fora minha, mesmo esta noite. Eu a conhecia bem demais para
acreditar que ela não estava mais interessada em mim. Independente do quanto
ela era uma vadia traiçoeira, eu sabia que ela não pertenceria a ninguém além de
mim. E a parte mais engraçada era que ela sabia disso também. Independente do
quanto ambos estivéssemos fodidos, sempre houve algo nos empurrando,
testando nossos limites, nos puxando um para o outro, e então nos separando.
Destino talvez? Ou talvez apenas uma piada doentia que o universo gostava de
brincar, onde ela e eu combinávamos perfeitamente juntos, mas nunca daríamos
certo. Vai entender…
PARTE UM
QUATRO ANOS ATRÁS
“O único amor verdadeiro é o amor à primeira vista; a segunda vista o
dissipa.”
Israel Zangwill
CAPÍTULO UM
Kameron
Olhei para meu relógio e bocejei. Nem sequer me incomodei em esconder
meu incômodo pela situação acontecendo diante dos meus olhos. Shelby era
terrível em dar festas e era ainda pior em suas tentativas de ser uma amável mãe
e esposa. Nunca entendi o tipo de relacionamento que ela tinha com meu pai. Ela
fazia tudo que ele dizia, e nenhuma vez tentava retrucar, ou talvez ela não fosse
inteligente o suficiente para ser sua própria pessoa e assumir as rédias de sua
vida; de qualquer forma, ela parecia contente em deixar meu pai ditar cada
movimento. Minha mãe era o completo oposto, ela não tinha absolutamente
nenhum filtro quando a questão era xingar meu pai e, acredite em mim, ela o
chamava de cada nome no dicionário – na sua presença e pelas suas costas. Eles
se separaram quando eu tinha cinco anos, e pouco tempo depois descobri que
meu pai se casaria de novo. Não posso dizer que fiquei surpreso, meus pais
brigavam o tempo todo; mas isso não significa que não fui afetado, porque
sim… Fiquei com raiva quando percebi que teria que sentar lá e ver uma mulher
diferente da minha mãe ao lado do meu pai, fazendo todas as coisas que uma
esposa deveria fazer e fingir ser uma mãe também. Mesmo depois de muitos
anos, não conseguia me forçar a amar aquela mulher, também conhecida como
minha segunda mãe. Para mim, ela ainda parecia a outra mulher, a amante
secreta do meu pai, que entrava escondido no quarto de hotel dele quando estava
viajando a negócios ou algo assim.
“Por que você sequer me quer aqui esta noite?” Liam perguntou, entediado
como sempre. “Essa festa está uma droga e nós dois sabemos disso. Mas ainda
estamos aqui…”
“Papai me pediu para ficar em casa hoje. Sabe, eu alegremente pularia a
diversão para sair daqui e tomar uns shots com meu melhor amigo, que
coincidentemente é você; mas ele disse que precisamos falar sobre alguma coisa
muito importante, então não temos outra escolha se não ficar aqui.”
“Mas ainda assim o que eu estou fazendo aqui? Kimmy queria sair hoje à
noite, mas eu a dispensei para ver uns pais esnobes, fazendo piadas sujas
estúpidas e exibindo suas novas namoradas em uma tentativa de descobrir qual é
a mais gostosa… Sério, cara, não era assim que eu esperava que a noite
acabaria.”
“Mal consigo suportar morar sob o mesmo teto que Shelby, mas não tenho
muita escolha. Além disso, você sabe o quanto eu amo arruinar cada maldita
festa que minha ‘mamãe’ dá. Precisava da sua companhia para me ajudar a
sobreviver a essa em particular. É isso.”
“Disponha,” Liam murmurou amargamente em resposta, enviando uma
mensagem de texto. Eu tinha certeza que seria ser endereçada a sua nova paixão,
Kimmy.
Meus olhos viajaram pela sala, olhando para ninguém em particular, até que
eu a avistei… uma estranha, uma garota com um sorriso incrivelmente lindo. Ela
segurava um copo com ponche em uma mão quando andou até meu irmão e o
beijou nas bochechas, então foi até meu pai e Shelby e os beijou nas bochechas
também. Ela agia como se os conhecesse há anos, mas não podia ser o caso
porque eu nunca a vira antes.
“Ei, quem é aquela?” perguntei a Liam, socando-o levemente no braço.
Esperava distraí-lo de suas mensagens com Kimmy, que eu tinha certeza que era
a única explicação lógica para o sorriso malicioso no seu rosto.
“Quem?” Ele perguntou distraído, sem se preocupar em tirar os olhos do
telefone.
“Aquela garota, bem ali, falando com Kolby.”
Finalmente, ele levantou a cabeça, olhou na direção da garota e soltou uma
risada. “Oh, aquela… Ela é a namorada do seu irmão, Elizabeth. Elizabeth
Brown. Ela é filha do Christopher Brown. Já ouviu falar dele?”
“Ele não era um dos amigos do meu pai?”
“Ahá.”
“Há quanto tempo eles estão namorando?”
“Alguns meses, eu acho. Por quê?”
“Eles parecem que estão juntos há mais tempo, parecem um daqueles casais
cujo casamento já viu tempos melhores.” A única coisa que me fazia acreditar
que havia algo mais do que apenas amizade entre eles era a expressão
apaixonada do meu irmão, que, para ser honesto, era a expressão mais engraçada
e, ao mesmo tempo, a mais estúpida que já vi no rosto dele.
“A garota passou por algumas merdas pesadas recentemente. Os pais dela
estão no meio de um divórcio. E adivinha porquê? O pai tinha uma vida dupla.
Ele tem outra família em Houston, e pelo que sei, tem mais dois filhos que nem a
Elizabeth nem a mãe sabiam.”
“Isso não é legal.”
“Nenhum pouco. Especialmente, considerando o tamanho da fortuna do pai
dela… agora, ele tem que dividir entre três filhos e duas esposas.”
De repente, senti muita pena de Elizabeth. Ela não parecia gostar da festa
de merda de Shelby também e eu não a culpava por isso, então pensei em animá-
la um pouco.
Esperei ela pedir licença e ir para o pátio para segui-la. Não me importava
se Kolby gostaria disso ou não. Ele podia colocar seu melhor terno, usar uma
garrafa inteira daquele gel de cabelo, sem o qual ele não vivia, e ir direto para o
inferno. Não dava a mínima. Nunca me importei com o que ele achava ou sentia.
Ele era o filho da minha pior inimiga, e não importa o quanto nosso pai tentasse
fazer nossa amizade dar certo, éramos qualquer coisa menos amigos, e muito
menos irmãos que deveriam cuidar um do outro. Então não vi nada de errado em
tentar conhecer mais sua adorável namorada.
“Até um pátio vazio parece melhor do que lá dentro, certo?” Fechei a porta
atrás de mim, e olhei para a garota parada a apenas alguns passos de mim. Ela
estava usando um vestido tomara que caia até a altura do joelho, a parte de cima
era como um corset preto, e a saia branca e solta, flutuando suavemente com o
vento. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo alto, expondo as linhas
perfeitas dos seus ombros e pescoço cremosos. Ela se encolheu quando ouviu
minha voz, virou e franziu o cenho. Ela me estudou, me dando uma olhada
cuidadosa dos pés à cabeça. Ela obviamente não estava animada comigo
invadindo seu ‘momento de paz.’
“Não se preocupe, não sou um stalker. Apenas precisava de um pouco de ar
fresco também.” Dei alguns passos para frente, sorrindo levemente para ela. Ela
deu alguns passos para trás, e cruzou os braços nos peitos, como se precisasse se
proteger de mim.
“Sei exatamente quem você é, Kameron Grayson. Não precisa desperdiçar
seu preciso tempo com apresentações.”
Uau, essa foi uma mudança agradável em seu silêncio. A garota frágil e
inocente que achei que ela fosse apenas alguns minutos atrás desapareceu
instantaneamente; aquela garota foi substituída por uma rainha de gelo. E ela
estava olhando para mim como se eu fosse a escória da terra.
“Você sempre acredita em tudo que as pessoas dizem?” perguntei. Ela não
parecia o tipo de pessoa sem opinião própria (como Shelby), mas era óbvio que
ouvira merda o suficiente sobre mim para acreditar que eu não merecia respirar o
mesmo ar que ela.
Ela sorriu, fazendo aqueles lábios vermelhos, cheios e brilhantes parecerem
ainda mais tentadores do que antes. “Não, mas acho que você não pode me
surpreender. Quer dizer, qual é… quase todo mundo que estudou na Springs sabe
quem é Kameron Grayson. Obviamente, sua reputação era gloriosa demais para
sumir mesmo depois da sua formatura.”
Assim como meu irmão e Elizabeth, eu estudei na Springs – uma das
escolas particulares mais prestigiadas da cidade. Pelo menos, agora, a reação de
Elizabeth com relação a mim fazia sentido. Springs me conhecia como um
babaca de primeira classe, capitão do time de basebol da escola, e o imbecil que
não recusava um rabo de saia que se apresentasse para ele. Pelo menos, era isso
que todos achavam que eu era. Mas eu não me importava o suficiente para fazê-
los acreditar em outra coisa. Eu sempre soube o que queria da vida, e não
deixaria ninguém tirar isso de mim.
“Odeio rumores e ainda mais as pessoas que os espalham,” eu disse, dando
mais um passo para perto. Conseguia ver que minha presença incomodava
Elizabeth e dizer que eu gostava disso era o eufemismo do século. Eu amava.
“Elas arruínam tudo. Não concorda?”
Ela hesitou em sua resposta, ciente da distância muito curta nos separando.
Eu mentalmente me cumprimentei. Não esperava que ela fosse distraída tão
facilmente.
“Desculpe, não quis ofender,” ela disse, um pouco nervosa.
“Relaxa, princesa. Sei que não quis.”
“Do que você acabou de me chamar?”
“Princesa, por quê? Você não é a princesa do papai?”
Essa foi a pior coisa que eu poderia ter dito.
O rosto de Elizabeth empalideceu. Seus lábios formaram uma linha fina e
seus olhos se encheram de raiva.
“Uau, vai devagar aí, querida.” Levantei as mãos em um gesto
tranquilizador, mas ainda defensivo, apenas caso ela decidisse descontar em
mim.
“Sério, Kameron? Você sabe sobre o divórcio dos meus pais, não é? E me
seguiu até aqui, para o quê? Rir de mim? Que maduro da sua parte.” Ela
balançou a cabeça, e andou até a porta do pátio. Mas não podia deixá-la ir assim.
Pegando-a pela mão, eu a puxei de volta para onde estava. “Sinto muito,”
eu disse, olhando para ela. Mesmo usando saltos altos, ela era menor do que eu.
“Não quis ser depreciativo. Devia ter sido apenas uma piada, okay?”
Só agora tive a chance de realmente olhar para o rosto dela. Só agora eu vi
o quão verdadeiramente linda ela era. E aqueles olhos, Deus, aqueles eram os
olhos mais incríveis que eu já tinha visto – uma mistura de azuis e verdes, uma
sombra rara de….
“Turquesa?” perguntei, genuinamente surpreso. “São lentes de contato?”
Ela rolou os olhos, libertando-se do meu aperto. “Não, essa é a cor natural
dos meus olhos.” Aparentemente, eu não era a primeira pessoa a fazer essa
pergunta.
“Nunca vi isso antes,” eu disse, ainda olhando para aqueles olhos
encantadores.
“Isso é tudo sobre o que queria falar? Posso ir agora?”
Ela obviamente estava chateada com alguma coisa… alguma coisa além da
minha tentativa falha de humor. Talvez fosse pelo divórcio dos pais ou algo
assim; não sabia realmente, e nem sequer minhas tentativas de flertar com ela
poderia mudar isso.
“Espere,” eu disse, enquanto ela se movia em direção à porta de novo.
“Tem algo que eu possa fazer para ver aquele sorriso que vi nos seus lábios lá
dentro de novo?”
Ela sorriu pelas minhas palavras, não foi intencional; ela não estava apenas
tentando me agradar. “Na verdade, sim...” Ela disse, pausando e me dando um
olhar duro. “Pare de flertar comigo.” E então, ela foi embora. Ela abriu a porta e,
com o balançar de suas saias, a porta se fechou atrás dela, ela se foi… deixando-
me sozinho no pátio, com o maior sorriso que já tive.
Esquentada, mas doce, pensei para mim mesmo. Perfeita.
O resto da festa não pareceu mais chato, pode ter sido porque minha mente
estava ocupada com pensamentos sobre Elizabeth: a cor brilhante dos seus olhos,
sua pele perfeita ou até mesmo o modo que ela discutiu comigo; não podia
apontar o detalhe exato que fez a festa parecer melhor, mas estava de fato
melhor. Ocasionalmente, eu olhava para cima e pegava Elizabeth me olhando,
algumas vezes nossos olhos se encontravam do outro lado da sala, e cada vez
que eu a pegava me olhando, me perguntava o que ela estava pensando de mim.
Ela me disse para parar de flertar com ela, mas como na terra eu poderia fazer
isso quando sentia constantemente seu olhar em mim; ela me observou a noite
toda, até que chegou a hora dos convidados partirem. Mesmo durante o jantar,
sentados na mesa, com o namorado logo ao lado e as tentativas do meu pai de
me envolver nas conversas sobre seus negócios, não conseguíamos parar de
olhar um para o outro. Foi como se nem eu, nem ela, soubéssemos como parar o
que de repente se formava entre nós. Era muito intenso e precipitado.
Ela já dormiu com Kolby? Pensei comigo mesmo. Se eu fosse ele, teria a
revindicado no momento que coloquei os olhos nela. Liam disse que eles
namoram há alguns meses, o que na minha opinião, era tempo mais do que
suficiente para dividir a cama, pelo menos uma vez. Mas com Kolby, eu não
podia ter certeza. Às vezes duvidava se ele sequer sabia o que era sexo. Ele era
um cavalheiro até o osso, um que não beijaria uma garota sem pedir permissão
primeiro. Como uma garota como Elizabeth, que podia ter o cara que quisesse,
acabaria com alguém como meu irmão precioso e entediante? Apenas não
entendia isso.
“Obrigada pelo jantar maravilhoso, Shelby,” Elizabeth disse para minha
madrasta enquanto saía da sala de jantar. “Eu realmente precisava sair de casa
hoje.”
“Oh, querida, nem imagino o quanto está difícil para você agora,” Shelby
respondeu simpaticamente, envolvendo um braço ao redor dos ombros de
Elizabeth. “Como sua mãe está lidando com a situação?”
Elizabeth suspirou. “Não muito bem, na verdade. Não falamos muito sobre
isso, mas posso ver o quanto ela está estressada e devastada.”
“Nós deveríamos tê-la convidado a se juntar a nós esta noite,” meu pai
disse. “Jeaneth e eu nos conhecemos há anos.”
Os olhos de Elizabeth encontraram os meus de novo, e por um segundo,
achei que ela queria me dizer algo, mas então ela se virou para meu pai e sorriu,
dizendo: “Obrigada pela sua preocupação, Leonard, mas acho que alguns dias de
descanso são tudo que minha mãe precisa agora.”
“De qualquer forma, diga a ela que é sempre bem vinda nesta casa.” Meu
pai sorriu para Elizabeth e foi acompanhar o resto dos convidados para a saída.
“Alguns dos caras vão para o Storm amanhã. Vou com eles,” Liam disse,
vindo até mim. “Quer ir com a gente?”
“Sim, claro,” murmurando, ausente. Minha atenção ainda focada em
Elizabeth.
“Vejo você amanhã então.” Ele deu um tapa no meu ombro e se dirigiu para
a porta, enviando outra mensagem no caminho. Aparentemente, ele ainda
esperava alcançar Kimmy.
Shelby falou de novo. “O quarto de hóspedes está pronto, querida. Se
precisar de qualquer coisa, é só pedir para a nossa empregada, Bree, que ela
levará para você, okay?”
“Obrigada.”
O quê? Elizabeth ia passar a noite conosco? Agora, isso era algo que não
podia passar despercebido.
“Você também pode contar comigo,” eu disse, me aproximando e baixando
a voz para que somente ela pudesse ouvir. “O que quer que possa precisar esta
noite, ficarei mais do que feliz em ajudá-la.”
Ela sorriu em resposta. “Obrigada, Kameron. Mas tenho certezza que meu
namorado ficará mais do que feliz em me ajudar com o que eu possa precisar.”
É, com certeza…
“Apenas tentando ser hospitaleiro.” Dei de ombros. “Qual quarto de
hóspedes prepararam para você?” Eu não ia entrar escondido lá no meio da noite
ou algo assim, só queria ter certeza de que Elizabeth estava bem e não precisava
de nada, mas a ideia de mantê-la acordada, fazendo coisas impróprias era muito
mais sedutora do que deixá-la dormir em paz.
“O de costume, eu acho.”
Meus olhos cresceram em surpresa. “Então não é a primeira vez que fica
aqui, não é?”
“Seu pai e Shelby sempre foram muito gentis comigo. Quando Kolby e eu
precisamos estudar para as provas finais, me deixam passar a noite aqui.”
“E sua mãe? Por ela tudo bem você dormir… sabe, onde seu namorado
também mora?” Imitei a maneira como ela chamou meu irmão de namorado, o
que eu ainda acreditava era a coisa mais ridícula no mundo que poderia
acontecer com ela, ou com qualquer outra garota, na verdade.
“Ela confia em Kolby, ela sabe que ele nunca deixaria nada de ruim
acontecer comigo.”
“E por ruim, você quer dizer os fantasmas imaginários que podem assustá-
la no meio da noite? Porque tenho certeza que com um namorado como o seu,
essa é a única coisa ruim que pode acontecer com você nesta casa. Embora, se
você fosse minha… não me importaria em fazer algumas coisas ruins com
você...” Pisquei para ela.
Ela respirou fundo, suas bochechas rosadas com fúria. “Boa noite,
Kameron,” ela disse, e então se virou nos saltos e foi em direção às escadas.
Bem, inferno… Quem pensaria que seria tão fácil provocá-la. Sorri para
mim mesmo. Ela deveria saber não me provocar com sua frieza. Eu não
acreditava nisso. Não depois de todos os olhares curiosos que lançou na minha
direção a noite toda. Talvez eu devesse ter pegado mais leve com ela, mas
alguma coisa me dizia que quando se tratava dela, nada seria fácil.
Esperei meu pai entrar e o segui até seu escritório para conversar sobre algo
que ele achava importante o suficiente para me fazer sofrer a festa inteira para
discutir.
“O que foi, pai? Sobre o que queria falar comigo?” perguntei, pegando o
assento na frente dele. Ele se serviu de um copo de uísque e deu alguns goles
antes de responder.
“Sei que você nunca gostou da Shelby...” Ele disse, virando o copo em suas
mãos, distraidamente. “Mas eu realmente aprecio sua paciência com ela. Ela
pode ser um pouco… Insistente às vezes, mas não é uma pessoa ruim.”
“E estamos aqui para falar sobre Shelby? Não acha que é um pouco tarde
para começar essa conversa… depois do quê? Quase vinte anos agora… Vinte
anos que nós três moramos sob o mesmo teto?”
“Não é sobre ela que quero falar, Kameron. Mas percebi quanto você estava
tenso durante o jantar e queria agradecer por ficar. Mas a verdadeira razão de
você estar aqui hoje, é para falar sobre sua graduação. Falei com a Professora
Emmers, e ela disse que suas notas são muito impressionantes. Estou orgulhoso
de você, filho.”
Uau, essa foi provavelmente a primeira vez em anos que não me importei
em ser filho do meu pai. Na verdade, eu sempre quis ser como ele. Independente
do quanto eu não gostava dele ter traído minha mãe e eventualmente se
divorciado dela, ele sempre foi bom comigo, um verdadeiro pai que sempre me
criou dando o melhor exemplo de como um homem deveria ser.
“Você sabe que sempre quis que herdasse minha empresa,” meu pai disse.
“E você herdará, um dia. Também sei o quanto você quer trabalhar nela, e de
novo, você irá… um dia.”
Olhei para ele, com suspeita. “A onde quer chegar, pai?”
“Bem, tem uma coisa: acho que você deve trabalhar em outro lugar
primeiro,” disse, me observando cuidadosamente. Ele me conhecia muito bem
para acreditar que eu aceitaria suas palavras levemente.
“O quê? Eu não deveria começar a trabalhar para você logo depois de
receber meu diploma?”
“Sim, mas acho que você precisa de mais experiência para assumir a
posição que quero que assuma.”
Eu ainda não entendia. “Então, o que você quer que eu faça?”
“Quero que você aceite a oferta da Sra. Emmers de trabalhar para a empresa
do marido dela. Ele está procurando um gerente regional para controlar as lojas
na área de LA.”
“Eles são um dos seus parceiros, certo?”
“Sim.”
“Okay, mas por que você acha que trabalhar para eles é melhor do que ir
direto para os negócios da nossa própria família?”
“Porque sei que a empresa deles não está indo muito bem e quero comprá-
la um dia.”
Agora isso começou a fazer sentido. “E por um dia você quer dizer quando
eles declarem falência?”
Meu pai sorriu suavemente. “Sei que entende onde quero chegar. Além
disso, Sr. Emmers está ciente das minhas intenções e foi ideia dele oferecer a
você a posição de gerente, assim poderá ver como as coisas funcionam de
dentro.”
“Então, o que exatamente devo fazer? Me certificar que a empresa deles se
destrua?”
“Pelo contrário. Precisa se certificar de que investir neles será uma boa
decisão. Faça seu melhor para salvá-los e deixarei você liderar sua própria
franquia em L.A., como sempre quis.”
Não parecia um plano ruim, na verdade. Sei que meu pai nunca daria um
passo que ele fosse se arrepender depois, pelo menos, não quando o assunto era a
prosperidade da empresa. Então, decidi aceitar sua oferta.
“Okay. Quando quer que eu comece?”
“Em setembro. Tire uma folga. Aproveite o verão, viaje se quiser. Eu cubro
as despesas. Mas esteja pronto para trabalhar muito quando chegar o outono.”
“Parece bom para mim.” Levantei para ficar de pé e estava prestes a ir
quando outra pergunta me veio à mente. “Tudo bem se eu ficar aqui esse verão?”
Não que achasse que meu pai não fosse me querer por perto, mas ainda era
melhor perguntar. Afinal, não morava aqui há anos. As coisas podem ter
mudado, incluindo a atitude de Shelby com relação à minha presença em seu
território. Ela nunca demonstrou abertamente possessividade pela casa, mas eu
sabia que ela sempre se incomodava quando eu estava por perto. Sem dúvida, ela
ainda esperava que seu precioso filho herdasse o império do meu pai. Só que
Kolby não estava nem perto de estar pronto para isso, o que ambos meu pai e eu
sabíamos muito bem.
“Nunca me faça essa pergunta de novo, filho. Essa é sua casa, e sempre
será.”
Sorri, concordando. “Obrigado. Apenas queria me certificar de que ainda
sou bem vindo.”
“É claro que é. Agora, acho que está na hora de encerrar o dia e ir dormir
um pouco. Tenho toneladas de trabalho para fazer amanhã.”
E com isso, desejamos boa noite um ao outro e fomos para nossos quartos.
Era bom estar de volta em casa. Senti falta deste lugar, independente de
quão pouco senti falta de Shelby e seu filho. Papai e eu sempre nos demos bem.
Raramente sequer discordávamos, exceto, é claro, quando o assunto era sua nova
esposa e suas tentativas ridículas de ser minha mãe. Mas não era nada parecida
com minha mãe de verdade, então ela não tinha a mínima chance contra a
mulher que eu amava mais do que qualquer pessoa no mundo.
Tirei minhas roupas, deixando somente minhas boxers e estava prestes a
entrar no chuveiro quando ouvi a porta no corredor abrir e fechar. Meu quarto
ficava em uma parte isolada da casa, e a única outra porta no corredor levava a
um quarto de hóspedes que ninguém nunca usava.
Curioso, olhei para fora no corredor e vi Elizabeth andando para as escadas.
Sem pensar duas vezes, coloquei o primeiro jeans que encontrei e a segui. Ela
estava ficando no quarto na frente do meu? Eu não poderia ter tanta sorte,
poderia?
Desci as escalas e vi a luz vindo da cozinha. Aparentemente, ela estava lá.
Silenciosamente, me permiti entrar, fechei a porta atrás de mim, e me
inclinei nela, observando-a. Ela estava se servindo de um copo de água, de pé de
costas para mim. Ela usava uns shorts de pijama azul e uma parte de cima
combinando; ela parecia tão pequena, até frágil, eu diria, como uma garotinha
perdida na floresta no meio da noite. Os cabelos estavam soltos em cascata pelos
ombros e costas, e eu não queria nada além de correr meus dedos por eles e
sentir a madeixas macias e sedosas tocando sua pele. Então eu as envolveria ao
redor da minha mão e puxaria seu rosto para perto do meu…
“Com problemas para dormir?” perguntei, silenciosamente.
Ela pulou, assustada, derramando o conteúdo do copo sua blusa.
“Jesus, Kameron! O que está fazendo aqui?”
“Seu quarto é na frente do meu, ouvi sua porta abrindo e vi você descer até
aqui. Só queria ter certeza de que estava tudo bem.”
Ela olhou para mim, seu olhar descendo pelo meu peito nu e então subindo
para meu rosto de novo; por alguns longos momentos, nenhum de nós falou.
Ela estava lembrando da nossa conversa de quase uma hora atrás quando eu
descaradamente admiti que não me importaria em fazer algumas coisas ruins
com ela? Porque era exatamente nisso que eu pensava no momento...
CAPÍTULO DOIS
“Desculpa, não quis acordar você,” Elizabeth disse, olhando para sua blusa
encharcada.
“Você tem outra coisa para vestir?” perguntei, meus olhos seguiram os dela,
até seus seios redondos extraordinários. Era difícil não olhar já que podia vê-los
claramente através do tecido molhado da sua blusa. E não tinha dúvidas que eles
se encaixariam perfeitamente nas minhas mãos.
“Pare de olhar!” Ela latiu, virando-se para longe de mim. “Pode me dar uma
toalha ou algo assim,” ela disse, mais uma afirmação do que uma pergunta.
Merda, xinguei mentalmente. Não queria constrangê-la. Independente do
quão pouco constrangido eu fiquei pela reação imediata da minha masculinidade
à visão dos seus mamilos endurecidos aparecendo pela blusa, eu não queria
humilhá-la; era a última coisa que eu queria.
Fui até o armário nos fundos da cozinha e peguei uma toalha para ela.
“Aqui,” eu disse, enquanto andava de volta até ela. Ela ainda estava de costas
para mim e nem olhou na minha direção quando puxou a toalha da minha mão.
“Aposto que existem muitas garotas que morreriam felizes por uma chance
de mostrar os seios para você.” Ela envolveu a toalha ao redor do peito e virou
para me olhar.
Sorri. “Por que você diria isso? Mudou de ideia sobre me mostrar os seus?”
Ela respirou fundo, obviamente tentando se acalmar; levei um momento
para observá-la. Ela não estava maquiada, e sem isso, parecia ainda mais jovem;
tão jovem, de fato, que me perguntava se era sequer legal estar no mesmo
ambiente que ela enquanto pensava em todas as coisas sujas que poderia fazer se
tivesse a chance de passar uma noite com ela.
“Quantos anos você tem?” perguntei, esperando que ela não interpretasse
errado minhas palavras.
Mas ela interpretou. “Velha o suficiente para mostrar meus peitos, minha
bunda e o resto do meu corpo para quem eu quiser.”
Isso me fez rir. “Okay, vou me lembrar disso, princesa.” Não sei porquê,
mas eu amava o apelido que dei a ela. Ele a deixava com raiva, o que eu amava
ainda mais.
“Pare de me chamar assim,” ela disse, o que só confirmou.
“Sou velho o suficiente para te chamar do que eu quiser,” eu disse, piscando
para ela. “Duvido que você irá me punir pelo meu mal comportamento… ou será
que vai?”
“Você sempre tem que fazer tudo soar tão escandaloso?” Ela retrucou.
Fui para frente, quebrando a segurança do seu espaço pessoal e disse em um
sussurro: “Quando se trata de você, princesa, quero que tudo seja escandaloso.”
Ela não se encolheu ou recuou, o que foi um pouco surpreendente,
considerando o quanto ficava assustada quando me aproximava.
Inconscientemente, minha mão foi até seu rosto e meus dedos gentilmente
traçaram uma linha pelas suas bochechas e queixo, meus olhos observaram seus
lábios cheios entreabertos. Ugh, se ela soubesse o quanto eu queria beijá-la
agora… Permiti me inclinar mais para perto.
“O que você está fazendo?” ela disse, finalmente, recuando.
Baixei a mão. E quando olhei em seus olhos de novo, não havia traço do
ódio ou medo que eu esperava ver neles depois do meu toque inesperado. Mas
havia algo mais… algo parecido com curiosidade?
Ela lambeu os lábios, nervosamente, e olhou para suas mãos ainda
segurando a toalha.
Dei um meio sorriso. “Não se preocupe, seu corpo está completamente
coberto. Não entrega a excitação que posso ver nesses seus lindos olhos e que
claramente que você está sentindo.”
Suas bochechas coraram de novo – amava que conseguia fazê-la corar. É
possível que ela tenha sentido algo quando a toquei? Ela sequer percebeu que eu
estava a segundos de beijá-la?
“Boa noite, Kameron,” ela disse pela segunda vez naquela noite. Virando,
sem dizer outra palavra, ela saiu andando rapidamente para fora da cozinha.
Balancei a cabeça, incrédulo. O que inferno havia de errado comigo?
Queria correr atrás dela, queria envolver meus braços ao redor dela, e beijá-la até
que ela não conseguisse lembrar o próprio nome. Mas algo me impedia… Era
como se eu estivesse com medo que ela não quisesse me ver de novo depois.
Tudo que eu queria era passar o máximo de tempo possível com ela. Por isso
tinha perguntado ao meu pai se poderia ficar na casa dele durante o verão.
Apenas não conseguia parar de pensar nela. Por algum motivo estranho,
Elizabeth conseguiu se tornar cada desejo e pensamento meu, e fez isso em
menos de um dia.
Suspirei, me sentindo um pouco frustrado; eu já conseguia sentir o
problema a diante. Se eu soubesse na época o que sei agora, exatamente, o quão
irresistível esse problema seria…
Voltei para meu quarto e percebi que Elizabeth nunca respondeu minha
pergunta sobre se tinha roupa para se trocar. Sabia que ela tinha orgulho demais
para admitir que não tinha nada para vestir, então fui ao meu guarda-roupa e
peguei uma das minhas camisas, atravessei o corredor até o quarto dela e bati
levemente.
“Kolby, é você?” ela perguntou atrás da porta fechada.
Respirei fundo, me preparando para um tapa no rosto ou algo do tipo, e
então me permiti entrar.
“Não exatamente,” eu disse, meio deslumbrado, meio chocado pela visão
diante dos meus olhos.
Elizabeth estava se olhando no espelho, com nada além dos seus cabelos
longos cobrindo a parte superior do corpo, o que, honestamente, não cobria
muita coisa. A toalha e a blusa estavam jogadas no chão, perto do seu pé.
“Que inferno, Kameron?” Ela gritou, virando-se para longe do meu olhar, e
cobrindo seu seio com os braços o máximo que podia. “Ninguém te ensinou a
bater?”
“Hm… Se você já se esqueceu, eu bati.”
“O que você quer?” Ela disparou, virando a cabeça levemente para trás para
olhar pra mim.
Àquela altura, todos pensamentos racionais desapareceram da minha mente;
era como se eles tivessem sido soprados para longe por uma rajada de vento. Eu
estava muito atraído por ela, simples assim. Senti meu pulso acelerar, fazendo
meu sangue correr mais rápido pelas minhas veias, e eventualmente começou a
pulsar na minha parte de baixo; meu corpo inteiro parecia um vulcão se
preparando para entrar em erupção.
Sem dizer nada, andei até onde ela estava e disse: “Coloque as mãos para
cima.”
“O quê?”
“Apenas faça,” foi tudo que consegui coaxar em resposta. Eu estava a
meros segundos de arrastá-la para a cama e tirar vantagem da localização infeliz
do quarto dela. O quarto estava situado longe suficiente para ninguém no resto
da casa conseguisse nos ouvir se decidíssemos curtir juntos.
Ela não obedeceu meu comando e ficou em silêncio por alguns momentos;
aparentemente, tentando descobrir o que eu estava aprontando.
“Não vou fazer nada que você não queira,” eu assegurei, a confirmação era
para ela, mas eu dizia ainda mais para mim mesmo; eu precisava manter minhas
ações certinhas com Elizabeth. Ela era uma garota jovem, sozinha, comigo – um
homem crescido: três vezes maior e, pelo menos, dez vezes mais forte. Se ela
tivesse a idade de Kolby, isso me deixaria aproximadamente seis anos mais
velho que ela.
Eu conseguia ver uma veia pulsando em seu pescoço, e podia jurar que
minha presença a afetava e perturbava tanto quanto a mim tê-la nua de costas
assim. Lentamente, ela levantou os braços e esperou, esperou, esperou… Eu não
conseguia me obrigar a fazer nenhuma maldita coisa. Eu tivera a intenção de
deslizar a camisa pela sua cabeça, mas, ao invés disso, estava parado lá como um
idiota, enquanto um milhão de pensamentos sexuais corriam pela minha mente.
Tudo que eu podia fazer era fantasiar sobre envolver meus braços ao redor da
sua pequena cintura e deslizar minhas mãos pela sua barriga macia, e então
deslizá-las para cima até seus seios, os quais, a propósito, eu já sabia que eram
perfeitos; eram grandes o suficiente para me deixar louco se eu algum dia tivesse
a chance de tocá-los.
Assim que a fantasia chegou ao fim, percebi que ainda estava segurando a
camisa. Dei um passo para frente e deslizei a camisa pelos seus braços e cabeça,
puxando-a para baixo em seu corpo lenta e dolorosamente, agindo como se
estivesse apenas acidentalmente tocando os lados do seu corpo com a ponta dos
meus dedos. Ela permaneceu parada. Mas eu conseguia ouvir sua respiração
acelerando. Ela estava bem ciente de cada movimento meu, sem dúvida.
“Achei que você fosse precisar de outra roupa,” eu disse, mal conseguindo
formar minhas palavras em uma frase inteligível. Minhas mãos ainda estavam
nos seus lados, dedos tocando sua pele, logo embaixo da bainha da camisa. Não
conseguia me forçar a recuar.
“Obrigada,” ela disse, silenciosamente.
Precisava sair do quarto dela e precisava fazer isso agora. Não importa o
quão excitado eu estava, não podia me dar ao luxo de perder o controle, não com
ela, não hoje.
“Boa noite, Elizabeth,” eu disse, contra seu pescoço, me inclinando para
colocar um pequeno beijo em sua pele. Não consegui evitar. Então eu me forcei
a me afastar e me apressei para fora do quarto, lutando contra o desejo de voltar
até ela, e fazer toda e cada fantasia suja a respeito dela virar realidade.
Mas ela não estava pronta para nada disso, independente do quanto afetada
e possivelmente interessada parecesse. Eu não queria machucá-la. Se alguma
coisa, eu queria ir devagar com ela. Não me importava se minha afeição por ela
arruinasse seu relacionamento com meu irmão. Ela apenas não era para ele, sem
mencionar o fato de que a tensão crescente entre nós era impossível de ignorar.
Nós dois sabíamos que só havia uma forma de apaziguá-la…
Aquela noite foi provavelmente a noite mais longa na minha vida. Deus, eu
a queria… Tanto que me queimava por dentro, e nem três chuveiradas frias –
uma depois da outra – ajudou a extinguir o fogo que ela incitara no meu corpo…
“Porra,” grunhi, sentando na minha cama.
Esse tipo de coisa nunca me aconteceu antes. Eu era seletivo quando se
tratava de garotas. E nunca dormi com garotas que não conhecia. Claro, eu tinha
casos de uma noite – ocasionalmente, mas só quando tinha certeza de que não
teria que encarar as consequências, tipo se apaixonar, ou pior… Casar. Mas com
Elizabeth, sentia que estava perdendo a cabeça antes mesmo de poder realmente
entrar em uma cama com ela.
“Cara, você está tão ferrado...” Eu disse para mim mesmo.
Algo capturou minha atenção. Ouvi e percebi que estava ouvindo passos do
lado de fora da porta. Pulei para fora da cama, e abri a porta, esperando ver
Elizabeth parada lá fora. Mas o que vi de verdade era muito pior do que isso.
Kolby abriu a porta do quarto dela e entrou, fechando-a silenciosamente atrás
dele.
Olhei para a porta fechada, sentindo minha raiva começar a subir. Estava
me comendo vivo. O que caralho ele faz no quarto dela? E o que caralho ela vê
nele?
Bem, não é óbvio? Minha voz interna perguntou em resposta. Ele é o
namorado dela, ele tem direito de estar lá, diferente de você, idiota.
Não mais do que dois minutos depois, ouvi vozes saindo do quarto do outro
lado do corredor. Elizabeth estava com problemas? O babaca tentou machucá-la?
Meu primeiro pensamento foi ir até lá e lhe ensinar uma lição muito dolorosa.
Mas nem tive a chance de andar até a porta de Elizabeth antes que ela se abrisse
e um Kolby vermelho dos pés a cabeça saísse andando pesado para o corredor,
me lançando um olhar chateado antes de ir embora, murmurando raivosamente
no caminho.
“Você está bem?” perguntei a Elizabeth; ela parecia um pouco perturbada.
Ainda usava minha camisa, só que desta vez, não havia short por baixo. Bem,
pelo menos, consegui uma visão melhor de suas pernas longas, o que pensei que
elas seriam incríveis fortemente pressionadas ao meu redor.
“Sim, tudo bem.” Ela correu uma mão pelo seu cabelo; tentando arrumá-lo.
Eles estavam se beijando? Minha mandíbula apertou com o pensamento.
“O que aconteceu?” Me forcei a perguntar.
“Ele veio para… Bem, não importa… Ele me viu usando sua camisa, e
quando perguntou de quem era, disse que era sua. Não achei que ele ficaria tão
chateado.” Ela gesticulou na direção em que Kolby foi. “Quer dizer, não é como
se eu tivesse deixado minha blusa no seu quarto e então a substituído pela sua,
certo? Por que ele tem que ser tão dramático?”
Bem, para ser honesto, eu reagiria da mesma forma. Mas por outro lado, eu
não podia estar mais feliz agora. O idiota teve o que mereceu.
“De qualquer forma, desculpe por acordá-lo de novo,” Elizabeth disse. Com
o assunto do chilique de Kolby terminado, senti a tensão crescendo entre nós de
novo.
“Não dormi. Estou tendo um problema enorme para dormir hoje,” eu disse.
“Mas já que você e Kolby encerraram por hoje… Se importa em me ajudar a
dormir?”
“Você tá de brincadeira comigo, certo?”
“Não.” Nem um músculo se moveu no meu rosto. Eu não estava brincando.
“Ugh, vá para o inferno, Kameron.” Ela se virou e voltou para o quarto.
“Você podia, pelo menos, ter sido um pouco mais educada comigo,
princesa. Ainda está usando minha camisa, lembra?”
Ela parou, com as mãos nos quadris e olhou para mim. “Tudo bem, como
quiser.” Ela puxou minha camisa para cima e a tirou, então a jogou pelo corredor
e disse: “Vá para o inferno, Kameron, por favor.”
Olhei para ela, de boca aberta, incapaz de superar o choque de vê-la assim,
usando calcinhas que dificilmente cobriam alguma coisa, e nada mais. Mas
Deus, ela era deslumbrante. Corada, quase nua, e sexy como a porra do inferno.
Quando eu estava prestes a dizer alguma coisa pela sua grosseria aberta, ela
bateu a porta bem na minha cara e xingou alto, murmurando algo que não
consegui entender atrás da porta.
Soltei uma respiração que não tinha percebido que estava segurando,
recolhi a camisa largada na minha porta e voltei para cama. Nenhum sono veio
naquela noite, obviamente.
Na hora que desci para tomar café, todo mundo já estava na mesa, exceto
Kolby.
“Onde está meu amado irmão?” perguntei, assumindo o assento ao lado da
princesa.
Ela não disse uma palavra e achei que pude ver seu corpo enrijecer.
“Ele foi para a escola,” Shelby disse. “Esqueceu alguns livros lá.”
“Ainda não terminaram as provas finais?” perguntei a Elizabeth.
“Não, ainda temos economia.”
“Você é boa?” me servi de uma xícara de café e dei alguns goles, recebendo
o líquido quente me aquecer por dentro.
Ela fez uma careta. “Na verdade, não, números me odeiam, e o sentimento
é mútuo.”
“Quando é a prova final?”
“Sexta-feira.”
“Que é em quatro dias,” eu disse, pensativamente. “Não se preocupe, nós
conseguimos.”
“Nós?” ela perguntou, um pouco surpresa.
“Você está falando com um gênio em economia, garota. Posso estudar com
você. Se quiser.” Deveria ter soado como uma oferta indiferente, mas ambos
sabíamos que não era.
“Obrigada, mas Kolby prometeu me ajudar.”
Para a surpresa de todos, meu pai disse: “Você deveria estudar com
Kameron, Liz. Ele sabe mais do que os livros podem ensinar, e até Kolby não
conseguiria explicar tão bem quanto Kameron.”
“Mas Elizabeth sempre estuda com Kolby,” minha madrasta protestou. Ela
via em mim uma ameaça ao relacionamento do seu filho? Bem, esse
provavelmente foi o pensamento mais inteligente que já teve.
“Kolby tem mais uma prova para se preparar. Ele não pode ter tempo
suficiente para duas matérias esta semana,” papai disse. Eu mentalmente o
agradeci pelo comentário.
“Sou todo seu pelo resto da semana,” eu disse a Elizabeth com um sorriso
triunfante no rosto. No sábado, minha ‘família’ e eu precisávamos ir para LA
para minha cerimônia de formatura, mas até então, estava livre.
Ela limpou a garganta e disse friamente. “Obrigada, Kam. Que atencioso e
generoso da sua parte.”
Dei um meio sorriso pelo seu apelido para mim. “Não lembro de deixá-la
me chamar assim,” eu disse em um sussurro quando Shelby e meu pai
começaram a discutir seus planos para o dia.
“Não preciso da sua permissão, Sr. Sabichão Economista. Quando terá
tempo para estudar comigo?”
Ela não estava olhando para mim, mas eu conseguia ouvir a animação em
sua voz. Independente do quão indiferente a linda rainha de gelo tentasse
parecer.
“Como já disse, sou seu pelo tempo que precisar.”
“Deus, sei que vou me arrepender disso… Esteja na minha casa amanhã à
tarde. Digamos duas horas. Dá para você?”
“Perfeito. Mas prefiro brincar… Hmm… Quer dizer, estudar no meu
território.” Não precisava ficar em casa para ajudá-la, não precisava dos meus
livros ou qualquer material de estudo; sempre amei economia. Sempre fui muito
bom nisso. Mas ajudar Elizabeth prometia ser divertido, não podia perder minha
chance de ficar com ela e podíamos fazer justamente isso na minha casa.
Suas sobrancelhas levantaram em uma pergunta silenciosa.
“Sabe, todos meus livros estão no meu apartamento, não tenho nada aqui.
Então será mais conveniente se nos encontrarmos lá,” eu disse. Então sorri e
adicionei com um sussurro: “E se suas mãos assanhadas tocarem em mim de
novo – acidentalmente ou não – prometo pegar leve.”
CAPÍTULO TRÊS
Não havia como no inferno eu pegar leve. Se eu fosse fazer qualquer coisa
– além de ajudá-la a se preparar para o teste – era provocar Elizabeth de novo, e
mal conseguia esperar por isso. Deixá-la nervosa estava se tornando uma das
minhas coisas favoritas. Não estava mentindo sobre meus livros, eles estavam no
apartamento que meu pai comprou para mim caso, um dia, eu decidisse que não
queria morar com ele e Shelby. Não estive lá há muito tempo, mas a animação
em passar um tempo sozinho com a princesa ali não me deixava.
“Me dê seu número, vou te mandar uma mensagem com o endereço,” eu
disse, acompanhando Elizabeth até seu carro.
Ela hesitou, mas então tirou o telefone das minhas mãos e adicionou o
número do seu celular na lista de contatos.
“Aqui,” ela disse, me devolvendo o aparelho. “E não se atreva a me ligar ou
mandar mensagem sem um bom motivo.”
“Vontade de ouvir sua voz de novo é um motivo bom o suficiente?”
Ela sorriu, apenas um pouco. “Não força, Kameron.” Então entrou no seu
carro vermelho e deu ré da garagem.
Eu estava parado na varanda, observando o carro dela manobrar para fora
da garagem, quando Shelby saiu da casa e disse em uma voz fria: “Sei o que está
tramando, Kameron. Mas não deixarei você arruinar a união de Kolby com
Elizabeth. Está claro?”
Dei um meio sorriso, virando-me para encará-la. “União? É assim que vê o
relacionamento deles? Como uma união planejada? Que ‘maternal’ da sua parte,
mamãe.”
O rosto dela ficou vermelho. “Como ousa falar assim comigo?”
“Você não é minha mãe. Na verdade, pelo que sei, você ainda é a amante do
meu pai. Então melhor se acostumar a me ter por perto… Vou ficar durante o
verão.”
Não esperei sua resposta, apenas não podia esperar para me afastar dela o
mais rápido possível A vadia tinha coragem pensando que podia me dizer o que
fazer. Mas não sou mais uma criança, e ela pode ir para o inferno com seus
sermões. Não vou perder meu tempo os ouvindo.
Agora eu sabia porquê ela ficou tão irritada quando meu pai me ofereceu
para ajudar Elizabeth. Ela a via como um contrato muito bom, que seu filho
poderia assinar e garantir seu futuro. Sem dúvida, ela sabia que meu pai nunca
deixaria a empresa para o filho dela, muito menos herdar a maior parte da sua
fortuna, que a propósito sempre fora meu direito da nascença. É claro que ele
não deixaria sua segunda esposa e o bebê deles sem dois centavos que fosse, mas
tinha certeza de que não importa o quanto herdassem, nunca seria o suficiente
para satisfazê-la. Ela queria mais, e agora que os pais de Elizabeth estavam se
separando, ela estava para herdar boa parte do dinheiro do pai. Minha madrasta
achava que a fortuna de Elizabeth e da mãe era dela; tudo que ela tinha que fazer
era garantir que Kolby e Elizabeth ficassem juntos.
Kolby sequer amava Elizabeth? Ou estava com ela apenas porque a mãe
dele disse que seria uma ótima ideia? De qualquer forma, uma garota como
Elizabeth merecia muito mais do que um cara como Kolby. Aposto que ele nem
sabe beijá-la direito. E aqueles lábios dela incríveis e imorais tinham que ser
beijados direito. O que eu planejava fazer e aproveitar… Um dia.
Mais tarde naquele dia, Liam, Jeff, Stanley e eu nos encontramos no Storm.
Nosso lugar favorito na cidade inteira, mas depois que nos formamos no Ensino
Médio, fui para LA, Jeff para Nova York estudar na NYU, enquanto Liam e
Stanley seguiram os passos dos pais e estavam se formando na Universidade da
Pennsylvania. Eles seriam cirurgiões plásticos, o que era uma piada constante
entre nós. Diferente deles, o resto do nosso grupo tinha certeza de que suas
escolhas profissionais não era nada além de uma forma legal de ver e tocar nos
seios de mulheres que não olhariam duas vezes para eles, se não fossem seus
cirurgiões; mas, é claro, cirurgia plástica não era só sobre colocar ou não
silicones, também incluía casos de pessoas que realmente precisavam de
procedimentos e fariam parte do trabalho deles também.
“O que Kimmy acha do seu trabalho?” perguntei a Liam, lembrando do
nome dela de conversas anteriores. Ele mudava de garotas com frequência, era
muito difícil acompanhar com quem ele estava no momento. Ele não estava
autorizado a operar ainda, então estava estagiando com o pai até se formar.
“Ela acha impressionante.” Ele riu, bebendo sua cerveja. “Todas minhas
garotas acham impressionante. E têm certeza de que vou ser um ótimo cirurgião
plástico.”
Balanço a cabeça, pensando, é, elas provavelmente esperam ganhar uma
plástica de nariz de graça ou um par de seios. Dou um meio sorriso e gesticulo
para o barman repor meu uísque. “Um dia, elas vão no seu consultório cortar seu
instrumento favorito.”
“Naah, elas sabem que meu trabalho é território sagrado. Não vou
transformá-lo em meu ‘parque de diversões’ pessoal.”
“Sério?” Jeff riu. “Você e Kimmy não se conheceram no escritório do seu
pai, onde ela foi injetar mais gordura na bunda?”
“O quê? Elas realmente vão até você para deixar as bundas maiores?”
perguntei, quase me afogando com a bebida. Da última vez que soube mulheres
queriam bundas menores, não maiores.
“Elas querem que tudo fique maior,” Stanley respondeu. “E nós,” ele para
Jeff e si mesmo. “Vamos ajudá-las com isso.”
“Vocês não têm jeito,” eu disse.
“Olha quem está falando?” Liam deu um meio sorriso. “Vi você observando
a namorada do Kolby ontem à noite. Tem uma queda por ela, não é?”
“Que namorada?” Stanley perguntou. “Seu irmão começou a namorar?
Achei que ele fosse gay.”
Explodi em uma risada. “Graças a Deus, ele não pode ouvi-lo agora.”
“Então, e essa namorada dele?” Jeff perguntou. “Quem é ela? Nós
conhecemos?”
“Sim,” Liam disse. “Lembro dela da escola. Elizabeth Brown, reconhece?”
“Você só pode estar de brincadeira...” Stanley olhou para mim, com seus
olhos grande como moedas. “Liz e Kolby?”
Eu o olhei de volta, genuinamente surpreso. “Você a conhece?”
“Sim, conheço. Liz e minha irmã eram colegas de sala. Ela ia lá na nossa
casa o tempo todo na época. Ela é gostosa. Pelo menos, ela era quando ia lá.”
“Gostosa como inferno,” Liam adicionou, socando-me nas costelas.
“Não me diga que tem uma queda pela namorada do seu irmão.” Jeff sorriu,
observando-me de perto.
“Não tenho,” disparei. “Sou velho demais para ela.”
“Você não achava isso ontem à noite, quando a seguiu até o pátio, não é?”
Dei a Liam um olhar duro. “Só queria me certificar de que ela estava bem.
Ela parecia chateada.”
“Então, você conseguiu… Acender o humor dela?” Stanley perguntou,
sorrindo, com ar conhecedor. Ugh, às vezes, eu realmente odeio ser amigo deles.
Os babacas nunca me dão uma folga.
“Cala boca,” lati. “Como eu já disse, ela está fora dos limites.”
“Qual a idade dela?” Liam perguntou.
“Dezoito,” Stanley respondeu por mim. “O aniversário dela é logo depois
do da minha irmã. Elas costumavam comemorar juntas.”
“E quando é?” perguntei, antes de conseguir me impedir.
Meus amigos compartilhar um olhar significativo.
“Não importa.” Eu dispensei. “Não me importo mesmo.”
“Você gosta dela, não é?” Liam perguntou. De todos os meus amigos, ele
era o mais próximo de mim. Ele me conhecia bem o suficiente para ver a mentira
nas minhas palavras. E ele nunca perdia a chance de me pegar na mentira, não
importa de quão terrível ou ridícula ela seja.
“Sabe se o relacionamento deles é sério?” Stanley perguntou.
“Como eu vou saber? Acabei de conhecê-la ontem.”
“Quer que eu pergunte a Crystal mais sobre eles? Aposto que ela sabe todos
os detalhes.”
Balancei minha cabeça. “Não, deixe sua irmã de fora disso. Não quero que
ela conte à Elizabeth que andei perguntando sobre ela.”
“Como quiser, cara.”
“Agora, por que não paramos de besteira e nos divertimos de verdade?”
Liam perguntou, acenando para alguém que não consegui ver. “Kimmy e as
amigas dela estão aqui.”
“Estou dentro,” Jeff disse, animado.
“Eu também.” Stanley sorriu, observando o grupo de garotas enquanto se
aproximavam.
“Volto logo,” eu disse e me dirigi pra saída. De repente, não sentia mais
vontade de beber ou festejar. Apenas queria vê-la…
Tirei meu telefone do bolso, encontrei o nome dela na lista de contatos e
apertei o botão de ligar.
Elizabeth atendeu depois do segundo toque.
“Alô?” Ela disse, diminuindo o volume do rádio.
“Ei, princesa. Como vai?”
“Kameron? Não disse para não me ligar sem um bom motivo?”
“Não consigo parar de pensar em você, Liz...” Eu disse, ignorando sua
pergunta.
Ela não respondeu, mas conseguia ouvir sua respiração do outro lado da
linha.
“O que está fazendo hoje à noite?” perguntei.
“É quase meia noite, Kameron… Estava prestes a me deitar.”
Fechei os olhos por um momento e respirei fundo, imaginando seu corpo
maravilhoso envolto nos lençóis. Eu estava obviamente perdendo a cabeça por
essa garota, mas a pior parte era que eu gostava.
“É domingo à noite. Não deveria estar se encontrando com amigos e se
divertindo?”
“Não posso sair de casa,” ela disse.
“O quê? Por quê?”
“É que… Não importa. Apenas não posso.”
Comecei a me preocupar. “Está tudo bem aí?”
“Sim, é apenas… Minha mãe… Ela não está muito bem.”
“Como assim? Ela está doente ou algo assim?”
Elizabeth fez uma pausa. “Pior… Ela está bêbada. Tipo desmaiada de
bêbada.”
“Oh…” Pensei no quanto devia ser difícil para a mãe dela, viver com o fato
de que marido tinha uma vida dupla. Meus pais se divorciaram e foi difícil para
eles, mas não é a mesma coisa. Comecei a me perguntar se esse podia ser o
problema da mãe dela essa noite. “Ela está chateada porque seu pai foi embora?”
perguntei.
“Acho que sim. Embora ela não me conte nada. Quando voltei da sua casa
hoje mais cedo, ela já estava na metade da garrafa. Perguntei se ela queria comer
alguma coisa, mas ela disse que não estava com fome. Então pegou a garrafa de
uísque e se trancou no quarto. Ela não apareceu para jantar e fiquei preocupada.
Fui checar como ela estava e a encontrei inconsciente. Não sabia o que fazer, e
não tinha ninguém em casa além da gente, então liguei para uma ambulância.
Eles apareceram poucos minutos depois, examinaram-na, e disseram que ela
estava apenas bêbada, mas para ligar de volta se ela ficasse sem responder
porque poderia entrar em coma alcoólico.”
“Sinto muito em ouvir isso, Liz… Não sabia que ela estava tão chateada
assim pelo divórcio.”
Elizabeth suspirou no telefone. “Nem eu.”
“Quer que eu vá aí e… Não sei, ajude a lidar com ela?”
“Consigo lidar com ela, não se preocupe. Os médicos disseram que ela só
precisa curar a ressaca.”
Mas insisti. “Vou mesmo assim.” E antes que ela pudesse protestar,
desliguei o telefone e voltei para o bar, esperando que Stanley soubesse onde
Elizabeth morava.
“Para quê você precisa do endereço dela?” Ele perguntou entre beijos com
alguma garota loira que tinha no seu colo.
“Apenas me dê, okay?” Não era o melhor lugar e, com certeza, não era a
melhor hora para explicar as coisas.
“Anota aí,” ele disse, dizendo para sua ficante esperar um momento.
Anotei o endereço, dei boa noite aos meus amigos e parti.
Peguei um táxi e fui ver Elizabeth. Alguma coisa me dizia que ela precisava
de mim esta noite. Ou talvez não de mim, exatamente, mas de alguém para
conversar. Minhas intenções era puramente platônicas.
No momento que ela abriu a porta e olhou para mim, eu soube que estava
certo sobre como ela estava se sentindo. Ela parecia tão triste quanto de costume.
Não havia luz nos seus olhos; era como se alguém tivesse desligado, e não
sobrara nada além de preocupação infinita.
“Você não deveria ter vindo,” ela disse, cansada. Estava usando jeans e uma
camisa que me fez sorrir.
“Me venere e nos daremos bem,” eu li as palavras. “Você sabia que eu
estava vindo e definitivamente ficou animada.”
Ela olhou para a própria camisa e riu, silenciosamente. “Foi a primeira
coisa que encontrei para colocar quando vi seu táxi aparecer.”
“O que estava usando antes?”
“Outra camisa, mas tinha acabado de derramar chá nela; então precisei
trocar antes de termos outro incidente como da última noite com outra camisa
molhada.”
“Ahhh… Entendo. E a outra camisa tinha algo escrito também?” Perguntei,
mudando o assunto para longe das lembranças da noite passada.
Ela riu de novo. “Sim.”
“O que dizia?”
Ela hesitou, mordendo os lábios inferiores. Ugh, aqueles lábios… Por que
não podia parar de pensar em beijá-los?
“Dizia ‘Não significa NÃO… Bem, talvez, se eu estiver bêbada.”
Foi minha vez de rir. “Vou me lembrar disso.”
Ficamos apenas nos olhando em silêncio por alguns momentos e então ela
repetiu: “Você realmente não deveria ter vindo…”
Dei um passo para perto, gentilmente levantei minha mão e toquei sua
bochecha com minha palma. “Não há nenhum lugar onde eu preferiria estar
agora.”
Ela olhou para mim e engoliu em seco, então baixou o olhar e cobriu minha
mão com as dela. “Você não vai facilitar as coisas, não é?”
“Se facilitar significa preciso ficar longe de você, então, não… Não vou
facilitar.”
Ela deu um pequeno passo para trás, retirando minha mão do seu rosto, mas
ainda a segurando, “Hm… Você quer entrar?”
Concordei em resposta.
Ela fechou a porta atrás de mim e perguntou: “Devo te oferecer uma
bebida? Ficará tempo suficiente para uma?”
A pergunta me fez sorrir. “Planejo ficar pelo tempo que você precisar; mas
tem alguma oferta pela qual possa me interessar?”
Ela balançou a cabeça, devolvendo meu sorriso, então soltou minha mão, e
correu uma mão pelos cabelos. Ela estava os usando soltos, e não conseguia
parar de pensar em tocá-los.
“Uma bebida é a única coisa que posso oferecer, Kameron. É aceitar ou
largar.”
“Eu aceito, então,” eu disse.
“Não tenho certeza do que tenho no bar, mas vamos descobrir.”
Eu a segui para a sala de estar espaçosa. Estava destruída. Levei um
segundo para me perguntar se eles tinham sido roubados, ou se eram uma
daquelas famílias que jogam coisas uns nos outros quando estão com raiva; o
que teria explicado muito já que os pais dela estavam brigados. Enfim, estava
um puro caos.
Finalmente cedi e dei voz às minhas preocupações. “O que aconteceu
aqui?” perguntei, recolhendo um porta-retrato quebrado do chão, tentando evitar
o vidro despedaçado.
“Mamãe,” ela disse, simplesmente. Eu estava meio certo, de qualquer
forma.
Todas as fotos dos pais dela estavam ou quebradas, se estivessem
emolduradas, ou rasgadas, se não estivessem emoldurados, e algumas estavam
os dois. Um vaso de porcelana azul estava jogado no carpete no centro da sala,
estava rachado e tinha flores desbotadas ao redor no chão.
“Uísque, Gin e Tequila… O que você prefere?”
Pensei um momento. “Posso tomar uma xícara de café, no lugar?”
“Claro. Temos que ir até a cozinha para pegar; não temos nenhum pó de
café no bar.”
“Você precisa de ajuda para limpar aqui?” perguntei, olhando ao redor da
sala mais uma vez.
“Não, nossa empregada limpará amanhã. Ela está de folga hoje.”
“Sua mãe ainda está dormindo?”
Fomos para a cozinha, me sentei em um dos bancos altos. Observei meu
redor enquanto esperava pelo café.
“Eu chequei antes de você chegar e ela parecia estar dormindo. Realmente
espero que não ter que ligar pra ambulância de novo.”
“Ela já bebeu tanto assim antes?”
“Nunca. Esse é o problema – ela não sabe beber, ou melhor, lidar com a
bebida, e definitivamente não entende que se for beber muito precisa comer
alguma coisa. A única coisa alcoólica que ela bebia era champanhe… E mesmo
então, era só uma ou duas taças no máximo.”
“Seu pai sabe o que aconteceu hoje e que você teve que pedir ajuda
médica?”
“Sim, mas duvido que ele se importe.”
“Você ligou para ele, não é?”
Ela serviu duas xícaras de café, as colocou na mesa e sentou no banco ao
lado do meu.
“Liguei. Mas ele me disse para ligar depois porque estava ocupado lendo
histórias de ninar para suas… filhas.”
Pude ver o quanto era difícil para Elizabeth falar do pai. Estive por perto
durante o divórcio dos meus pais também; sabia exatamente como era. A única
diferença era que eu tinha cinco anos e as coisas não pareciam tão ruins. Com
certeza, fiquei triste que minha mãe não morava mais comigo e com meu pai,
mas não entendia completamente a gravidade da situação; Liz é muito mais
velha e pode compreender todos os detalhes que minha mente de cinco anos não
conseguia. É claro, descobri o que significava quando cresci – nossa família não
existia mais, aquela parte da minha vida tinha terminado. Agora, havia minha
mãe e o namorado dela e meu pai que tinha: uma nova esposa e um novo filho.
Eu estava em algum lugar no meio, sem ter certeza de onde pertencia mais. Mas
diferente do pai de Elizabeth, o meu nunca parou de se importar comigo.
“Você sabe a idade das filhas dele?”
“Quatro e cinco.”
“Uau… Isso é...”
“Horrível e uma confusão,” ela disse, tirando as palavras da minha boca.
“Ainda não acredito que ele estava aqui, casado com minha mãe, comigo…
Enquanto em Houston, tinha uma esposa diferente, com crianças diferentes… É
doentio,” sua voz tremulou.
Provavelmente era uma boa hora para mudar de assunto, ela tinha o
bastante acontecendo sem pensar no pai dela e sua nova família também. Decidi
perguntar sobre a prova final que estava chegando. “Você tem uma lista de
tópicos que precisa saber até sexta-feira?”
“Sim, acho que tenho.”
“Se você me enviar, verei se preciso encontrar alguma informação que
possa ser útil pra você.”
“Okay, vou enviar. Ah, e obrigada. Você não pode nem imaginar o quanto
sou uma droga em economia.”
“Não se preocupe, ficará pronta para responder qualquer pergunta que
jogarem em você antes da prova na sexta. Prometo isso.”
CAPÍTULO QUATRO
Elizabeth e eu estávamos no quinto tópico de cinquenta que ela precisava
saber.
“Nunca vou conseguir lembrar desse maldito diagrama,” ela disse, com
raiva, jogando o lápis que estava usando para o outro lado da sala. Tiveram dez
outros lápis antes desse e estavam todos jogados no chão, perto da porta da
minha cozinha, provando exatamente o quanto ela odiava economia, e assim
como ela disse no outro dia – o sentimento era mútuo.
“Vamos, Liz, você consegue. Apenas leia esse parágrafo de novo e então
olhe o diagrama. Não é tão difícil quanto parece.”
“Disse o cara que passou os últimos cinco anos da vida comendo livros de
economia no café da manhã.”
Eu ri. “Na verdade, prefiro café.”
“Falando nisso…” Ela olhou para mim e sorriu inocentemente. “Preciso de
outra xícara. Por favor?”
“Você não está jogando limpo. Sabe que não consigo resistir ao seu sorriso,
mas você continua o usando para me distrair. E usando café para se distrair do
estudo, quando tudo que você realmente precisa pensar agora é em passar sua
prova final para poder se formar.”
“Café não é uma distração, é um nutriente sem qual meu cérebro não
consegue funcionar.”
Desisto. “Okay. Tudo bem. Mas é a última xícara. Depois disso, vai revisar
tudo que conseguimos aprender hoje, e se você errar… Juro por Deus, vou beijar
você.”
Ela corou um pouco pelo pensamento. “Nós já discutimos isso, Kameron,
lembra?”
“Não. É melhor você voltar a ler enquanto faço seu café.”
Noite passada, depois de falarmos sobre a prova e eu me certifiquei de que
deixar Liz com a mãe era seguro e fui para casa. Enviei no mínimo uma dúzia de
mensagens no caminho.
“Já está na cama?” perguntou a primeira.
“Cai fora, Kameron. Você está passando dos limites,” sua resposta dizia.
“Por quê isso? Eu já vi muito de você para ficar envergonhada em dividir
uma cama comigo.”
“Vou desligar o telefone!”
“Espere! O que você está usando?”
“Nada da sua conta!”
“Nomeie apenas uma coisa, por favor…”
“Uma camisa.”
“O que ela diz?” Agora que eu sabia que ela gostava de camisas bobas,
tinha certeza de que até a noite ela usava uma.
“Esqueça o que achava. Garotas boas são apenas garotas más que não
foram pegas.”
“Provocadora…”
“Provocateur. . .”
“Achei que meu charme não funcionasse com você…”
“Não funciona.”
“Então por que seu telefone ainda está ligado?”
“Vou desligar agora mesmo!”
“Mentirosa…”
“Olha quem fala!”
“Meus lábios nunca mentem…”
“Não posso ter certeza disso.”
“Devo dizer ao meu motorista para dar a volta para eu poder provar?”
“Boa noite, Kameron.”
“Bons sonhos, princesa…”
Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, mas sentia que estava
ficando mais e mais viciado em Elizabeth a cada segundo, e eu nem tentava
evitar isso. Queria passar o máximo de tempo possível com ela; nem preciso
dizer que mal conseguia esperar para ajudá-la a estudar hoje. Mas independente
do quanto eu queria beijá-la, prometi a mesmo que faria o meu melhor para
ajudá-la a passar primeiro.
“Você leu o parágrafo de novo?” perguntei, entrando na sala de estar com
duas xícaras de café.
“Sim, professor.”
“E? Faz mais sentido agora?” perguntando, sentando ao lado dela.
“Na verdade, não…”
Suspirei. “Okay, por que não voltamos a isso depois e tentamos algo mais
fácil primeiro?”
“Parece um plano muito bom,” ela disse, bebendo seu café.
“Índice Dow Jones?”
“Okay. Esse é um assunto que sei um pouco.”
“Bom. Quando foi inventado?”
“Em 1986.”
“O que ele mostra?”
“Como as trinta maiores empresas dos Estados Unidos estão sendo cotadas
durante a cotação padrão no mercado de ações.”
“E qual a definição de mercado de ações?”
“É um conjunto de compradores e vendedores de ações.”
“Bom, muito bom. Parece que café realmente ajuda seu cérebro a trabalhar
mais rápido.”
Ela me deu um soco de brincadeira no ombro. “Cala boca. É apenas que sei
que não posso reprovar nessa prova final ou não conseguirei me formar; tendo
dito isso, estou disposta a fazer absolutamente qualquer coisa no meu poder,
mesmo que isso signifique passar os próximos quatro dias e noites trancada neste
apartamento com você…”
“Tem certeza das noites?”
Ela virou para me olhar, perguntando: “Você algum dia vai parar de pensar
em entrar nas calcinhas?”
Eu movi para frente de forma que nossos rostos estavam centímetros de
distância e disse: “Se não quer que eu pense nas suas calcinhas e no que está
escondido embaixo delas, então por que as mostrou para mim horas depois de
termos acabado de nos conhecer?” A imagem do strip-tease de Elizabeth piscou
atrás dos meus olhos. Deus, ela estava sentada tão perto que eu podia sentir o
cheiro de café em sua respiração, acariciando meus lábios como uma pena.
Fechei meus olhos, exalando.
“Precisamos parar de fazer isso, Liz…”
“Meu ponto exatamente…” Quando abri meus olhos de novo, seus lábios
ainda estavam lá, a centímetros dos meus.
Estendi a mão e segurei seus rosto nas minhas palmas, esfregando seu lábio
inferior com meu polegar. “Está ficando mais difícil de resistir, princesa…
Quase impossível. Mas toda vez que quero roubar um beijo seu me pergunto se
posso parar em apenas um beijo. E a resposta me assusta até o inferno, porque
percebo que quero muito mais do que isso, mais profundo do que isso, maior do
que isso… Quero tanto você, toda para mim. Em cima de mim, embaixo de mim,
pressionada na parede do meu chuveiro, e então nos lençóis na minha cama.
Quero você tanto, o mero pensamento de ter você explode minha cabeça. Mas
não posso… Não posso fazer o que quero, porque não tenho certeza se é isso o
que você quer de mim. Não sei se você está pronta para nada disso. A única
coisa que sei, com certeza, é que não vou conseguir parar uma vez que
revindicar seus lábios e beijá-la do jeito que sonho desde o primeiro momento
em que coloquei os olhos em você. Então, se você me deixar beijá-la, Liz, saiba
que não vou deixá-la sair dos meus braços até que eu tenha tudo.”
“Kameron…”
Ela não teve chance de terminar o que estava dizendo, porque seu celular
tocou; quebrou o feitiço ao nosso redor e arruinou tudo… O momento passou.
“Kolby?” ela disse, atendendo a ligação.
Eu xinguei mentalmente e me inclinei de volta no sofá, querendo nada além
de quebrar o maldito telefone em pedaços e nunca ouvi-la dizer o nome do meu
irmão de novo.
“Ela está bem,” ela disse no fone de ouvido. “Não se preocupe. Estou bem
também.” Kolby disse alguma coisa do outro lado da linha e ela respondeu: “É,
claro. Te vejo lá.”
Ela encerrou a ligação, mas não virou para me olhar, ainda olhando para o
telefone em suas mãos.
“Você não disse que estava comigo… Por quê?”
“Ele não perguntou…”
Ela não queria contar a Kolby a verdade e acho que nós sabemos porquê.
Ela estava aqui para estudar, mas o fato de que estávamos atraídos um pelo outro
era óbvio demais para negar. Ela não me conhecia, eu não a conhecia. Mas isso
não mudava o fato de que queria ficar com ela. Só que ela não era minha.
Grunhi, trincando os dentes. “Melhor voltarmos a estudar.” Peguei a lista de
tópicos e marquei alguns que precisávamos trabalhar hoje.
“Que horas você tem que ir?” Sabia que ela se encontraria com Kolby, mas
não podia me forçar a dizer o nome dele. Não depois das coisas que eu disse
para ela antes dele ligar.
“Em cerca de duas horas,” ela disse, sem olhar para mim.
“Okay. Deve ser tempo suficiente para cobrirmos mais algumas coisas antes
de você ir.”
“Kameron…”
“Não, Liz. Vamos apenas focar em economia, okay?”
Ela concordou, pegou a lista das minhas mãos e virou o livro para o
capítulo que precisava em seguida.
Não falamos sobre Kolby ou qualquer coisa que não consistisse em
economia. Tentei meu melhor para não deixar meus sentimentos, raiva sendo o
mais forte, me afetar. Prometi a mim mesmo que a ajudaria com a prova e
pretendia manter essa promessa, independente do quanto era difícil não mandar
‘pro inferno isso’ e apenas beijá-la de uma vez.
Ela partiu algumas horas depois, dizendo que voltaria na mesma hora
amanhã. Não tentei impedi-la ou pedir para ficar comigo, em vez de até Kolby.
Não tinha o direito de fazer nada disso. Era escolha dela, não minha.
Não liguei ou mandei mensagem pelo resto do dia, mas precisava saber que
ela não estava passando a noite com meu irmão, e já que não ia ligar para ele
também, fui até a casa do meu pai, esperando que meu querido irmão voltasse
para casa logo e eu não tivesse que passar a noite o esperando. Porque as
chances eram altas de que eu iria. Apenas não suportava a ideia dele e Elizabeth
juntos essa noite.
“Kameron, filho, posso ter uma palavra com você?” Meu pai perguntou,
quando me viu entrar.
“Claro, o que é?”
Ele olhou ao redor da sala, cuidadosamente, como se não quisesse que
ninguém ouvisse o que ia me contar. Não gostei disso.
“Pai, o que está acontecendo?”
“Como foi os estudos com a Liz?”
“Bem, por quê?”
“Ela disse alguma coisa sobre Kolby?”
Franzi o cenho, tentando descobrir aonde ele queria chegar. “O que você
quer dizer?”
“Ela disse algo sobre seus planos para o futuro?”
Minha testa franziu ainda mais. “Não sei se eles têm planos para o futuro,”
eu disse, tentando muito não mostrar o quanto irritado e ciumento estava.
“Não me entenda mal, filho, mas vi vocês se olhando na outra noite.”
Okay, isso não era o que eu esperava ouvir.
“E daí? Elizabeth é uma jovem mulher linda. Tenho certeza de que não sou
o único homem que se permitiu olhá-la. Isso é um problema?”
“Não para mim. Mas acho que pode ser um problema para Kolby.”
“Não me importo com os problemas dele, sabe? E não me diga que vai me
pedir para ficar longe da Elizabeth. Porque se era sobre isso que queria falar–”
Ele me cortou. “Na verdade, eu ia pedir para você cuidar dela.”
Minhas sobrancelhas subiram em surpresa. “Esse não deveria ser trabalho
do namorado dela?”
“Nós dois sabemos que ele mal consegue cuidar de si mesmo, quanto mais
de Elizabeth ou qualquer pessoa na verdade. Amo Kolby, ele é meu filho, mas
algo me diz que Elizabeth precisa de um homem muito mais forte e sábio que
ele. Especialmente com toda a merda que os pais delas estão passando.”
Fiquei um pouco confuso com as palavras do meu pai, então decidi
perguntar: “Você não quer que Elizabeth e Kolby fiquem juntos, não é?”
“Bem… Apenas digamos que não acho que eles combinem.”
“Okay, e o que espera que eu faça sobre isso?”
“Apenas… Esteja lá a apoiando, se ela precisar de ajuda, okay? Sei que a
mãe dela não está em seu melhor estado agora, e a pobre garota não tem
ninguém em quem se apoiar. Mas vocês parecem se dar bem. Então…”
“Entendi seu ponto, pai. Estarei lá para ela.”
Ele concordou, aparentemente, convencido, mas não disse mais nada.
Fui para meu quarto, pensando na conversa estranha com meu pai e me
perguntando o que fez ele começá-la. Ele sabia de algo que eu não sabia? Ele
achava que as intenções de Kolby com Elizabeth não eram puras? O que quer
que fosse, eu não ia decepcioná-la, independente do quanto fosse difícil ficar
com ela, sabendo que ela não pertencia a mim.
Cerca de uma hora depois, ouvi um carro entrando na frente da casa. Fui
para a janela e vi Kolby saindo de um táxi e julgando pelos seus movimentos
instáveis, ele estava acabado. Nunca vi meu irmão assim. Ele e Liz brigaram?
Meu primeiro pensamento foi ligar, mas então baixei o telefone e fui para a
cama. Ela tinha meu número agora, ligaria se precisasse.
O que foi exatamente o que ela fez…
Ainda meio dormindo, olhei para o relógio na minha mesa de cabeceira e
franzi o cenho. Eram três da manhã.
“Elizabeth? Está tudo bem?” perguntei, atendendo a ligação.
“Oh, Kameron…” Ela soluçou no telefone.
“O que foi? Por favor, não me assuste, princesa. É a sua mãe de novo?”
“Eu… Ela… Ouvi o barulho… Fui perguntar por que ela ainda estava
acordada… E lá estava ela… Deitada no chão… Sangue… Em todo lugar.”
“Oh, meu Deus! Você ligou pra ambulância?”
“Sim,” ela chorou no telefone.
“Já chego aí. Me dê vinte minutos, okay?”
“Tá.”
Pulei da cama, me vesti com pressa, peguei as chaves do carro e desci as
escadas correndo.
“Não pode estar falando sério…” Papai disse, seu olhar chocado alternando
entre meus amigos e eu.
“Queria poder dizer que não é verdade, mas…” Não, eu realmente não
queria dizer que não era… Kolby era um pedaço de merda e precisava aprender
uma lição.
“Bem, pelo menos, agora sei com o que ele gasta meu dinheiro. Percebi que
havia um monte de dinheiro faltando do meu cofre esta manhã. Presumi que
Shelby precisava de alguma coisa e pensei que não era nada… Mas Kolby sabe a
combinação, então faz sentido.”
“Dê um jeito nele, pai, ou eu vou.”
Eu não sabia o que meu pai faria com Kolby, mas julgando pela sua
expressão, meu irmão estava ferrado.
“Quer jantar com a gente?” Jeff perguntou quando estávamos saindo.
“Mamãe está fazendo massa. Sei que você ama a comida dela.”
“Amo, mas tenho planos.”
“Com Senhora Gostosa Brown?” Liam riu. “Você não disse que era velho
demais para ela?”
“Cala boca. Somos apenas amigos.”
“Desde quando?”
“Desde que não é da porra da sua conta.”
CAPÍTULO OITO
Não tinha certeza se Liz terminara a prova, mas liguei mesmo assim. Ela
recusou a chamada e enviou uma mensagem, dizendo: “Encontre-me em trinta
minutos no café da Springs.”
Primeiro, me perguntei se ela tinha reprovado e realmente esperava que
esse não fosse o caso. Sabia o quanto era importante para ela.
Quando entrei no café, a vi sentada em uma mesa, falando com o pai. Eu
conhecia o homem, o encontrara algumas vezes quando ele e meu pai ainda eram
parceiros, ele costumava ir no escritório do meu pai o tempo todo. Decidi
esperar eles terminarem a conversa antes de me juntar a ela, então comprei um
copo de café e me sentei na mesa do lado oposto a eles.
Elizabeth parecia confusa. De onde estava conseguia ver seu rosto, embora
não conseguisse ver o do Sr. Brown. Ele disse algo e ela fez um gesto impotente,
como se não soubesse o que dizer em resposta. Eles conversaram por mais
quinze minutos, então Sr. Brown se levantou e foi em direção à saída. Sua
expressão estava escura como uma nuvem de tempestade, e me perguntei se Liz
tinha dito algo que o irritou. Ela sorriu para mim e gesticulou para que eu me
juntasse a ela.
“Ei, o que aconteceu? Seu pai não parecia muito feliz,” eu disse, sentando
na frente dela.
“Ele disse que mudou de ideia e não ficaria nem mais um dia, mas
contratou uma enfermeira para ajudar a ficar de olho na mamãe. Ele as levou
para casa de manhã e agora está voltando para Houston. Sua amante está
grávida… De novo…”
“Oh, não, Liz… Eu sinto muito que não correu tudo bem com seu pai.”
Segurei a mão dela e a acariciei com meus dedos para confortá-la.
“Ele também continua insistindo para eu me inscrever para a faculdade de
Direito. Mas eu nunca farei isso. Mesmo se tiver que trabalhar para pagar minha
educação.”
“Por que ele não aceita sua escolha?”
“Porque ele não acredita que a carreira de design de moda dá dinheiro.”
“Ele nunca ouviu falar de nenhum designer famoso? Tenho certeza que o
terno dele custou caro.”
“Ele até conhece. Mas não acredita em mim. Acha que nunca farei sucesso,
a menos que seja no Direito.”
Que babaca, pensei para mim mesmo. “Tem alguma coisa que eu possa
fazer para te deixar feliz de novo?”
Ela sorriu, cobrindo minha mão com as dela. “Sim. Pode me levar para
algum lugar para comemorarmos o fato de que acabei de passar na prova final.”
“Passou?”
“É claro que passei! Tive o melhor professor do mundo, lembra?”
“Essa é a minha garota. Muito bem, princesa!” Eu beijei as costas da sua
mão, deixando meus lábios permanecerem na sua pele apenas um pouco além do
necessário. Podia sentir algo mudando entre nós. Agora que sabíamos que seu
relacionamento com Kolby estava prestes a acabar, estávamos ficando animados
sobre como seria quando finalmente estivéssemos livres para ficar juntos.
“Para onde você gostaria de ir?” perguntei.
“Não sei. Alguma sugestão?”
Pensei por um momento. “Acho que conheço um lugar que você vai amar.”
“Parece intrigante.”
“Vamos, então?”
Ela concordou, pegou a bolsa e fomos para meu carro.
“Ei, já que sua mãe conseguiu ir para casa hoje, isso significa que você terá
que voltar também?”
Elizabeth suspirou, parando na porta do carona. “Não sei o que fazer, na
verdade. Sei que ela precisa de mim e ficaria feliz em me ter por perto, mas…
Apenas não consigo me forçar a ficar naquela casa nem uma noite. Acho que
ficarei na sua casa, se a oferta ainda estiver de pé, e então ficarei com minha mãe
durante o dia.”
“A oferta ainda está disponível. Se quiser, podemos ir para sua casa depois
e pegar algumas coisas que possa precisar.”
“Obrigada, Kameron. Não sei o que teria feito sem você.
“Não precisa me agradecer, princesa. Sabe que tenho motivos egoístas para
ajudá-la.”
Ela riu, entrando no carro. “Você não é a única pessoa egoísta aqui.”
Sorri, levantando uma sobrancelha em uma pergunta silenciosa.
“Para de me olhar assim, você sabe o que quero dizer.”
“Na verdade, não.” Fechei a porta do carona e entrei atrás do volante. “Mas
mal posso esperar para descobrir o que você está pensando nessa sua linda mente
suja…”
“Olha quem fala…”
Levei Elizabeth ao parque de diversões. Ele passou por uma construção há
alguns anos, mas lembro de ir lá com meu pai quando era jovem. Amava o
tempo que passamos lá juntos. Às vezes, quando estávamos sozinhos, falávamos
sobre a mamãe. Eu costumava perguntar a ele sobre a primeira vez que se
conheceram e ele sempre sorria e me contava. E, geralmente, sempre me fazia eu
me perguntar se o amor verdadeiro realmente podia morrer…
Um dia, depois de ouvir a história deles, perguntei: “Vai parar de amar
também?”
“Não, Kameron. Nunca.”
“Então por que parou de amar a mamãe?”
“Filho… O amor que sinto por você e o amor que senti pela sua mãe são
duas coisas diferentes.”
“Está dizendo que existem diferentes tipos de amor?”
“Sim, mas o amor que sentimos pelos nossos filhos é mais forte. Não pode
ser arruinado, substituído ou esquecido. Nunca morre.”
“E se eu me apaixonar por uma garota e depois meu amor por ela
desaparecer. Ela vai chorar?”
Ele sorriu. “Tente não deixar isso acontecer.”
“Mas e se eu amar outra pessoa?”
“Se você se apaixonar pela garota certa, nunca amará ninguém além dela.”
Não sei porquê lembrei daquela conversa em particular. Fez com que eu me
perguntasse se a garota que estava sentada ao meu lado podia ser a escolhida.
“Não sabia que esse lugar tinha sido finalmente reaberto,” Elizabeth disse,
me olhando surpresa.
“Acabei de descobrir algumas horas atrás.” Estava indo para o maldito
clube quando vi pessoas paradas nos portões do parque, esperando que abrisse.
Não tinha intenção de contar a Elizabeth sobre Kolby. Não queria chateá-la,
especialmente, já que ela estava tão feliz por passar sua última prova do Ensino
Médio.
“Mamãe e papai costumavam me trazer aqui todo domingo,” ela disse.
“Sabe se a Roda Gigante está funcionando?”
“Tenho certeza que sim.” Olhei na direção da Roda Gigante bem na hora de
vê-la começar a girar. “Sim, está funcionando, vê?”
“Oh, vamos nos apressar, então, sempre foi minha favorita do parque
inteiro.”
“Okay.” Peguei sua mão na minha e andamos pela calçada, procurando a
bilheteria.
Nunca teria imaginado que aos vinte e quatro anos ainda teria tanto prazer
em fazer as mesmas coisas que amava quando criança. Quando Liz e eu fomos
comprar algodão-doce, ela escolheu o maior, feito em formato de sombreiro.
“Vamos tirar uma foto comendo,” eu disse, rindo.
“Tenho uma ideia melhor,” Liz disse, segurando o algodão-doce fofo acima
de sua cabeça. Parecia que ela estava realmente usando o chapéu doce e
grudento.
Puxei meu telefone do bolso, rindo como uma garota colegial, tirei algumas
fotos dela com o chapéu fofo, e então tirei algumas fotos de nós dois juntos.
“Pronto, agora tenho algumas fotos suas para ver enquanto estiver fora.”
Ela sorriu para mim. “Vou sentir sua falta, Kameron.”
“Sério?” Envolvi os braços ao redor dela, morrendo de vontade de beijá-la.
Senti que era o momento certo e, embora ainda fosse ter que esperar para fazer
mais com ela, eu ia beijá-la… Exceto que, quando inclinei para beijá-la, de
algum lugar atrás de mim, ouvi alguém dizer nossos nomes.
“Kameron Grayson e Elizabeth Brown?”
Me virei, sentindo-me agitado. A pessoa que arruinou completamente o
momento, era um dos colegas de sala de Kolby e Elizabeth. Ele, na verdade, era
amigo do Kolby… Meu irmão o levara em casa algumas vezes.
“Mark, como vai?” perguntei, dando um passo para trás, mas mantendo um
braço ao redor da cintura de Elizabeth.
“Puta merda, Kolby vai morrer quando ver vocês, aqui, juntos…” Ele disse,
rindo para si mesmo. E antes que tivéssemos a chance de protestar ou dizer
alguma coisa, ele tirou o telefone e pressionou um botão… A próxima coisa que
vi foi um flash e estava feito. O babaca tirou uma foto nossa.
“Você não vai enviar isso para ele,” Liz disse, em aviso.
“O quê? Quem é você para me dizer o que posso ou não fazer?”
O filho da puta obviamente estava procurando problema.
“Delete,” eu disse em uma voz áspera. “Agora.” Não me importava como
Kolby reagiria quando visse a namorada nos meus braços, mas não queria que
Liz tivesse ainda mais problemas com ele do que já tinha. E, especialmente, já
que eu sabia o psicopata que ele era.
“De jeito nenhum!” Mark disse, enfiando o telefone no bolso dos jeans.
“Kolby precisa saber que a namorada dele não é nada além de uma vadia
traidora!”
Foi nesse momento que não consegui mais controlar minha raiva. Meu
punho se conectou com sua mandíbula segundos depois, e ele caiu no chão, suas
mãos voando para o rosto.
“Você vai pagar por isso, seu babaca do caralho!” Ele gritou, limpando o
sangue do lábio partido.
Eu grunhi, me inclinando sobre ele. “Talvez da próxima vez, pense duas
vezes antes de desrespeitar Elizabeth. Melhor você nunca desrespeitá-la de
novo… Ouviu?” Então peguei seu telefone do bolso e deletei todas as suas fotos.
“Aqui, agora se lembrará que tirar fotos sem permissão não é legal.” Então, me
virei para Liz e disse: “Vamos. Mark precisa de alguns momentos para se
acalmar e se deixar apresentável de novo.”
“Vou denunciar você, Kameron Grayson!” Ele gritou para minhas costas.
“Boa sorte com isso, idiota!”
“Ele falou sério, Kameron… Não sei exatamente o que fará, mas eu o
conheço e ele é um babaca de primeira classe… Fará alguma coisa para se
certificar de que você ‘pague’,” Liz disse, preocupada.
“Oh, bom… Deixe-o tentar.”
“Kameron, isso é sério… Estou falando sério. O pai dele é um bom amigo
do chefe de polícia local. Ele não deixará isso para lá.”
“Não dou a mínima. Não deixarei nem ele, nem ninguém, xingar você,
nunca.”
“E ele vai contar para Kolby, sobre nós…”
“E me importo com isso menos ainda.” Parei e olhei para ela. “Você quer
que eu fale com Kolby? Porque se não se sentir a vontade para falar com ele
depois do que acabou de acontecer, eu mesmo falo.”
“Não, por favor, não. Eu falo com ele. Apenas terei que fazer mais cedo do
que planejara, porque Mark dará com a língua nos dentes… Provavelmente está
no telefone ligando para ele agora mesmo.”
Mas alguma coisa me dizia que Kolby não a deixaria ir simplesmente
porque ela não o queria mais, e, para piorar as coisas, era por minha causa…
“Não faça isso sem mim, Liz. Não quero que Kolby a machuque.”
“Oh, por favor… Kameron, Kolby nunca me machucaria.”
“Eu não teria tanta certeza disso.”
“Não entendo porquê você acha isso. Tem alguma coisa que eu deveria
saber?”
“Não. Apenas me deixa nervoso você ficar sozinha com ele, depois do que
me contou sobre o cara que ele ‘puniu’ por falar merda dele.”
Ela sorriu, tocando minha bochecha com a mão. “Vou ficar bem, prometo.”
“Ainda quero estar lá quando contar que está terminando com ele.”
“Mas eu ia falar com ele no fim de semana.”
“Você tem que falar hoje.”
Ela balançou a cabeça, franzindo o cenho. “Não estou pronta.”
“Por quê? Não quer colocar um fim no seu relacionamento com ele?”
“Sim, mas…”
“Ou talvez não queira terminar com ele?”
“Ugh, pelo amor de Deus, Kameron… Sabe que quero.”
“Então qual o problema, Liz?”
Ela pensou um momento antes de dizer: “Tudo bem, falo com ele hoje à
noite.”
“Estarei lá com você. Vai ficar tudo bem.”
Ela concordou. “Okay, vamos fazer isso.”
Na hora que voltamos para a casa do meu pai, o lugar parecia um campo de
batalha.
“O que…”
“Oh, Kameron, graças a Deus, chegou!” Bree nos encontrou, chorando.
“O que aconteceu aqui?” Havia vidro quebrado por todo lugar e quase
metade dos móveis estavam virados e derrubados.
“Sr. Grayson estava furioso. Teve uma discussão com Kolby e ele ficou
louco. Começou a quebrar tudo que conseguia pegar… Nunca o vi assim.”
“Onde eles estão agora?” Liz perguntou.
“Sra. Grayson levou Kolby para o quarto. Até onde sei, ele ainda está lá. E
seu pai está no escritório.”
“Espere aqui,” eu disse para Liz. “Bree, pode fazer uma xícara de chá para
Elizabeth, por favor?”
Ela concordou e elas foram para a cozinha.
Fui ao escritório do meu pai e bati na porta. “Pai, posso entrar?”
“Sim.”
Entrei na sala e o vi sentado na mesa, com um copo de uísque nas mãos.
“Você está bem?” perguntei, sentando na cadeira na frente dele.
“Na verdade, não.”
“Kolby ficou louco pelo que te contei sobre ele?”
“Sim. Vou interná-lo a uma instituição. Obviamente, ele precisa de ajuda
profissional.”
“O que Shelby disse sobre toda a situação?”
“O que espera que ela diga? É claro que ficou chocada e chateada. Mas
depois da explosão que ele teve na sala de estar, ela apoiou minha decisão.”
“Simples assim?” Isso foi meio que surpreendente. Nunca esperaria que
Shelby prenderia o precioso filho em uma instituição por livre e espontânea
vontade. Achava que isso mancharia sua reputação de ser uma mãe exemplar.
“Ela disse que seria o melhor. Não quer que as pessoas comecem a fofocar
sobre ele, sobre nós.”
“Oh, entendo.” Ah, agora fazia sentido… Ela não se importava com
ninguém além de si mesma. Vadia egoísta.
“Precisa de alguma coisa, filho? Tem algumas coisas que preciso resolver
antes de ir amanhã.”
“Então, você ainda vai à cerimônia?” Tinha certeza que meu pai ficaria com
Kolby.
“É claro que vou. Disse que não perderia. Embora, duvido que Shelby vá
conosco. Ela provavelmente quer ficar aqui com Kolby.”
“Por mim, tudo bem,” eu disse, então adicionei: “Desculpe, não quis que
saísse assim.”
“O ódio mútuo de vocês é a última coisa com a qual quero me preocupar
agora. Preciso me certificar de que os médicos farão o melhor para ajudar Kolby.
Eu o amo também, Kameron, me dói perceber que falhei com ele enquanto pai.
Não queria acreditar no que me disse sobre ele. Até antes de falar com ele, ainda
tinha esperança de que ele conseguisse se explicar; em vez disso, vi o outro lado
do meu filho, um lado que não sabia que existia.”
“Sinto muito, pai. De verdade. Apesar de não me importar muito com
Kolby ou com o futuro dele, nunca quis que você sofresse por causa dele.”
“Eu sei, Kameron. Eu sei.” Ele ficou de pé e correu uma mão pelos cabelos,
dizendo: “Graças a Deus, Elizabeth não está aqui agora. Não quero que ela veja
a confusão que Kolby fez. Ela já tem os próprios problemas para se preocupar.”
“Na verdade… Ela está aqui.”
“O quê? Ela não pode ver Kolby agora.”
“Não se preocupe, pedi para Bree ficar com ela.”
“Não podemos deixar ele saber que ela está aqui.. Com você…” Meu pai
pausou por um momento. “Ele não pode descobrir sobre vocês, não agora.”
“Uau… Espere um segundo. Como você sabia?”
Ele sorriu, balançando a cabeça. “Meu querido filho, não sou cego. Além
disso, sei exatamente como é estar apaixonado. Soube que tudo mudaria no
segundo em que conheceu Liz.”
“Mas você não fez nada para impedir… Na verdade, até me pediu para
estudar com ela. Por quê?”
“Nós já conversamos sobre isso alguns dias atrás, filho. Nunca vi Elizabeth
e Kolby ficando juntos para sempre. Sabia que um dia ela encontraria outra
pessoa, alguém que fosse realmente certo para ela. E, bem, fico feliz que essa
pessoa acabou sendo você. Sempre gostei de Liz. Ela é uma boa garota.”
Sorri. “Eu sei.”
“Apenas não apresse as coisas com ela. Não quero vê-la se machucar. Não
parta o coração dela, Kameron.”
“Não vou, juro.”
“Bom. Agora leve Liz para longe daqui. Ela e Kolby conversarão depois.
Quando ou se ele sentir vontade de vê-la de novo.”
“Okay.” Não fiquei feliz com a ideia de deixar as coisas mal resolvidas
entre eles, mas considerando as circunstâncias, era o melhor que podíamos fazer
no momento.
“O que vão fazer com ele?” Liz perguntou no momento que entrei na
cozinha. “Ele realmente está tão mal assim?”
Concordei. “Infelizmente, ele está pior do que podíamos ter imaginado.”
Bree chorou de novo. “Isso significa que vão mandá-lo para longe, para
receber o tratamento que precisa?”
“Sim.”
“Oh, meu Deus…” Liz sentou em uma cadeira, escondendo o rosto nas
mãos. “Eu deveria ter previsto. Sabia que ele estava deprimido e…”
“Não é sua culpa, princesa.” Coloquei minhas mãos nos seus ombros,
apertando-os levemente. “Mas provavelmente devemos ir embora. Meu pai disse
que ver você pode complicar as coisas para Kolby.”
Ela olhou para mim e eu soube exatamente o que ela diria.
“Não se preocupe, falamos com ele depois,” eu disse, colocando um beijo
na sua testa. “Agora, vamos dar o fora daqui.”
“Obrigada pelo chá, Bree.”
“Disponha. Kameron, você vai voltar hoje à noite? Tenho certeza de que
seu pai gostaria de tê-lo aqui quando os médicos chegarem.”
“Sim, levarei Liz para casa e volto aqui. Não se preocupe, Bree.”
Ela obviamente estava com medo depois da explosão de Kolby. Conseguia
ver suas mãos tremendo e seus olhos ainda estavam vermelhos de tanto chorar.
“Você vai ficar bem aqui enquanto estou fora?” Liz e eu fomos para meu
apartamento, mas ela ainda estava chocada demais para falar.
Ela concordou, envolvendo os braços ao redor de si mesma.
“Queria poder ficar com você…” eu disse.
“Não, seu pai precisa de você mais.”
Eu a puxei para um abraço sem o menor desejo de ir embora. Eu não estava
fazendo isso por Kolby ou pela mãe dele. Eu ia estar lá pelo meu pai. Hoje, mais
do que nunca, ele precisava saber de que eu estava do lado dele. Sabia que ele
não queria mandar Kolby embora, mas nós dois sabíamos que era a única
maneira de salvá-lo de si mesmo.
“Eu ligo assim que estiver tudo acabado,” eu disse a Liz. “Temo que não
terei tempo de vê-la até semana que vem.”
“Não quero que você vá embora, mas vou ficar bem,” ela disse, sem olhar
para mim. Seus braços estavam ao redor da minha cintura e, por um segundo,
pensei em mandar Kolby e seus problemas para o inferno, e ficar com Elizabeth.
Então pensei no meu pai e tudo que ele fizera por mim. Ele até ia para L.A.
comigo. Não podia deixá-lo sozinho agora, eu devia isso a ele.
“Vejo você semana que vem, princesa.” Sorri para Liz, tentando gravar seu
rosto na minha memória. Mesmo agora, depois de tudo que ela passara hoje, ela
estava tão linda que fazia meu coração doer ao deixá-la.
“Ficarei esperando você,” ela disse, retribuindo meu sorriso. “Tenha
cuidado, okay?”
“Sempre.”
CAPÍTULO NOVE
Menos de duas horas se passaram desde que falei com Elizabeth, mas sentia
como se não ouvisse sua voz há anos. Não esperava que ela ligasse às cinco da
manhã, mas, obviamente, nenhum de nós conseguira dormir depois do que
aconteceu com Kolby na noite anterior.
Quando voltei à casa do meu pai, ele e Shelby estavam falando com os
médicos; eles estavam se preparando para levar Kolby para a instituição. Não vi
Kolby, mas Bree disse que ele não queria ir a lugar algum e começou a agir
ainda mais psicótico quando descobriu que médicos estavam ali para levá-lo.
Tiveram que sedá-lo apenas para colocar na ambulância.
“Kameron, preciso que você fique aqui e ajude Bree a limpar a bagunça na
sala de estar,” meu pai disse quando me viu andando até a casa. “Shelby e eu
vamos com Kolby e ficaremos com ele até a hora de ir para o aeroporto. Então
vejo você quando eu chegar lá, okay?”
“Como ele está lidando com isso?” perguntei, silenciosamente. Tinha
certeza que Shelby me odiava mais do que nunca, já que era o filho dela que
tinha que ser internado por estar psicótico, não eu. Também tinha certeza de que
eu era a última pessoa que ela queria vendo enquanto seu filho era levado.
“Nada bem,” papai disse, cansado. “Na verdade, está ainda pior do que eu
esperava. Você devia ter visto o que ele fez quando os médicos chegaram.”
“Querido, precisamos ir,” Shelby disse, me ignorando. Ela nem olhou para
mim; agia como se eu nem existisse.
Mas a atenção do meu pai ainda estava voltada para mim. “Obrigado por
estar aqui, filho.” Ele forçou um sorriso, me deu um tapa nas costas e seguiu a
esposa para fora.
“Ela está devastada,” Bree disse, fechando a porta atrás deles.
Sorri. “Acho que ela está mais preocupada sobre o que a imprensa dirá
quando descobrir que seu precioso Kolby é psicótico do que qualquer outra
coisa…”
“Sr. Grayson disse que não os deixaria imprimir nenhuma informação
negativa sobre Kolby.”
“Bem, apesar de que eu nunca quis ter um irmão, sei que papai o ama
também. Então, é claro que dará seu melhor para manter a imprensa longe dessa
história. Agora, devemos colocar as cadeiras de volta no lugar.”
Bree e eu passamos as próximas horas limpando a bagunça que Kolby
deixara e juro que queria que ele estivesse em casa agora mais do que nunca não
porque sentia pena dele, e sim, porque o idiota nos deu muito trabalho para fazer.
“Gostaria de comer algo, Kameron?” Bree perguntou. Era quase meia noite
e estava com um pouco com fome. Eu a segui até a cozinha e enviei uma
mensagem para Elizabeth, desejando boa noite.
Cerca de cinco da manhã, recebi uma ligação dela.
“Ei, espero que não ter te acordado,” ela disse. Ela sabia que eu tinha um
voo cedo para L.A., e já estava acordado há algum tempo.
“Ei, princesa. Não se preocupe, não dormi. Por que está acordada?”
“Não consegui dormir. O apartamento parece tão solitário sem você.”
Sorri. “Pelo menos, agora sabe como me sinto quando não posso te ver.”
“Não tem graça, Kameron.” Ela suspirou. “Vou morrer aqui, esperando
você.”
“Não ouse. Você ainda me deve um beijo, lembra?”
Ela riu. “Te devo um beijo? Não lembro de prometer nada.”
“Mas vou conseguir, com ou sem sua permissão.”
“Ah, é?”
“Sim, estou esperando há tempo demais. Então a primeira coisa que farei
quando voltar será te dar o beijo que estive esperando.”
“Veremos.”
“Pare de me provocar, Liz. Sabe que posso ir aí e fazer isso agora mesmo.”
Ela riu de novo. “O único problema é que você realmente não pode. Seu
avião está marcado para decolar em menos de duas horas… O que significa que
deveria ir para o aeroporto agora para conseguir passar pela segurança a tempo
de pegar seu voo.”
“Que testar?”
“Não, por favor, não quero que perca sua cerimônia de formatura. Suponho
que Shelby não vá com você?”
“Graças a Deus, não. Não a queria lá de qualquer forma, mas já que não
podia trazer só um convite para o meu pai, tive que me acostumar com a ideia
dela ir para L.A. E de Kolby.”
Ela suspirou no receptor. “Me sinto tão mal por ele. Acho que é verdade
quando dizem que dinheiro arruína tudo. Se ele não fosse tão mimado, tudo
poderia ter acabado diferente para ele.”
“Acho que não. Você era filha única de um pai rico, bem, pelo menos, até
recentemente, mas isso não a destruiu como pessoa. Acho que é tudo questão de
quem somos por dentro, não quanto temos.”
“Talvez você esteja certo… De qualquer forma, acho que está na hora de
dizer adeus. Já fez as malas?”
“Sim, estava prestes a chamar um táxi para me levar ao aeroporto quando
você ligou.”
“Okay, então falo com você depois, Sr. Prestes-a-se-formar Grayson.”
“Sentirei sua falta, princesa.”
“O mesmo aqui…”
Nos despedimos e fui ao aeroporto, esperando que o humor do meu pai, por
causa de Kolby, não transformasse a cerimônia em outro desastre que minha
família teria que suportar. Toda vez que meus pais se viam era como uma bomba
relógio que você nunca sabia quando ia explodir.
Não mentira quando disse que sentiria falta de Elizabeth. Em uma semana,
ela se tornou tudo para mim, e nosso relacionamento que até o momento não
tinha nenhuma intimidade para contar, então isso não tinha nada a ver em como
me sentia com relação a ela. Não conseguia acreditar que eu estava realmente
com medo de beijar uma garota. Em todos meus vinte e quatro anos, nunca tive
vergonha de uma mulher, mas tudo era diferente com Liz.
Quando entramos no salão da universidade, onde aconteciam os eventos, o
primeiro rosto que vi foi o da minha mãe. Ela me viu de novo e correu para me
cumprimentar.
“Oh, meu querido garoto, estou tão nervosa. Sinto como se eu que fosse
receber um diploma hoje.”
“Você estava usando uma coisa muito mais apropriada na sua formatura,
Edith,” meu pai disse, lançou à mamãe um olhar da cabeça aos pés. Ela nunca
usava nada revelador demais, mas, com certeza, sabia mostrar suas curvas. Eu
tinha até que admitir que no fim dos seus quarenta anos, ela ainda parecia que
tinha vinte e cinco.
“Leonard, querido, já faz algum tempo… Como tem passado? Ainda
namorando sua amante?”
Papai deu um meio sorriso. “O tempo não a mudou nenhum pouco, não é,
Edith? Continua tão ousada como sempre.”
“Gente, por favor, se comportem,” eu disse, olhando de um para o outro. “É
meu dia, lembram?”
“Desculpe, amor,” mamãe disse, sorrindo para meu pai. “É apenas que, às
vezes, esqueço que não somos mais casados e agora ele tem outra mulher na
vida dele, que, tenho certeza, é completamente capaz de irritá-lo… Onde ela
está, a propósito? Escondendo-se o banheiro tentando fechar o vestido? O que,
falando nisso, tenho certeza de que é apertado demais.”
“Mãe, você sequer ouviu o que acabei de dizer?”
“Tudo bem, filho. Posso lidar com ela. Fomos casados tempo o suficiente
para que eu aprendesse que tentar inibi-la é perda de tempo. E estou voando
sozinho hoje, Edith.”
“Oh… Que novidade.”
“Okay, gente, preciso pegar meu lugar, melhor vocês fazerem o mesmo. E,
por favor, não se matem. Eu realmente quero que meus dois pais sobrevivam à
cerimônia. De acordo?”
“Ficaremos bem, Kameron,” mamãe disse. “Fingir que estava apaixonado
por mim sempre foi a melhor qualidade do seu pai.”
Rolei os olhos. “Deus, me ajude.”
“Kameron!” Uma voz familiar me chamou.
“Ei, Savie.” Sorri para minha colega de sala e a deixei me afastar dos meus
pais que ainda estavam jogando adagas invisíveis um para o outro.
“Sua mãe parece o demônio, e tenho certeza de que ela está planejando algo
sangrento para seu pai. Tem certeza que ele está a salvo com ela?”
Eu ri. “Ele ficará bem. Confie em mim.”
“Nossos assentos são na fila da frente,” ela disse.
Savanna sempre foi como uma irmã para mim. Sempre estudávamos juntos
e, às vezes, saíamos para nos divertir, mas nada além disso. Ela não era
exatamente meu tipo, embora tenha certeza de que muitos caras eram
secretamente apaixonados pelos seus grandes olhos azuis, cabelos negros
ondulados e pernas longas que ela nunca perdia uma chance de mostrar.
Surpreendentemente, o vestido que escolhera para hoje acabava nos joelhos, em
vez de em cima, como ela normalmente usava.
“Vai para o The 50s hoje?” ela perguntou, pegando o lugar ao meu lado.
“Reservaram mesas para o grupo inteiro lá.”
Não estava com muita vontade de sair, mas sabia que meus amigos nunca
me perdoariam por faltar nossa festa de formatura.
“Sim, vou,” eu disse. Desejei que Elizabeth pudesse estar comigo hoje.
Uma pena que não a conheci antes.
“Quais seus planos para o resto do verão?”
“Vou passar o verão na casa do meu pai, em Pittsburgh.”
“Está brincando?” Savie me olhou como se eu fosse a pessoa mais louca do
mundo. “Vai trair a ensolarada L.A. por Pittsburgh?”
Eu ri. “É. Tenho uma coisa muito importante para fazer lá.”
“Tipo quebrar o coração de outra garota?”
“Você me conhece, Savanna. Nunca quebro corações.”
Ela rolou os olhos. “É, eles se quebram sozinhos. Soube da oferta da
professora Emmers. Vai aceitá-la?”
“Sim. Volto em setembro e começarei a trabalhar para o marido dela.”
“Oh, ótimo. Isso significa que ainda vou poder te ver. Vou ficar aqui
também.”
“E o Chaise? Achei que vocês…”
“Não tenho nada a dizer sobre isso,” ela disparou.
“Ai. O que aconteceu?”
“Nada. Apenas vamos falar de outra coisa, okay?”
Mas não tivemos muito tempo para falar. O reitor da universidade assumiu
o microfone e a cerimônia começou.
Era um pouco surreal saber que depois das férias de verão não teríamos que
voltar à universidade.
Tinha feito muito amigos lá, éramos como uma grande família e, é claro,
tivemos dias bons e ruins, mas, no final, ainda éramos próximos.
Ainda lembrava do dia que me tornei oficialmente um estudante. Minha
mãe tinha dito que tudo seria diferente agora e ela estava certa. Eu não era mais
uma criança, precisava aprender a agir como adulto, e ser responsável pela
minha vida e meu futuro. E, embora muitas coisas sobre meu futuro estivessem
claras, ainda havia uma coisa com a qual eu precisava descobrir o que fazer.
Elizabeth…
Sabia que ela queria ser designer, e, por isso, precisava ir para Nova York,
que ficava do outro lado do país de onde eu moraria.
Tínhamos menos de três meses para descobrir como morar em lados
diferentes dos Estados Unidos e ainda ficarmos juntos, porque de jeito nenhum
eu deixaria a distância tirá-la de mim.
Depois de receber meu diploma, meus pais e eu fomos a um restaurante
comemorar o evento. Meu pai voltaria a Pittsburgh depois daquela noite, mas eu
tinha algumas coisas para fazer antes de ir embora de L.A., então ia ficar mais
alguns dias.
“Como Shelby está lidando com a situação do filho?” mamãe perguntou,
surpreendendo-me com a pergunta. Não parecia um tom de desdém. Bem ao
contrário, ela parecia sincera e até um pouco preocupada. Aparentemente, papai
contara sobre Kolby.
“Não muito bem,” ele disse. “Ela ainda está no hospital com ele, está com
medo de deixá-lo sozinho. Ela disse que ele acordou algumas vezes e,
imediatamente, começou a gritar com médicos para deixá-lo ir para casa.
Tiveram que continuar o sedando para fazê-lo dormir. Temo que, se as coisas
continuarem assim, sua condição só vá piorar.”
“Tem certeza de que era uma boa ideia mandá-lo para lá? Quer dizer, não
acha que seria melhor se ele ficasse em casa, em vez disso?”
“Foi a melhor decisão para ele no momento,” respondi pelo meu pai.
“Deixá-lo em casa não era uma opção. Não conseguíamos controlá-lo lá.”
“Kameron está certo. Não tivemos escolha.”
“Sinto muito em ouvir isso, Leonard. Crianças são crianças, não importa a
idade deles, ainda são crianças para nós.”
Papai sorriu para ela. “Obrigado, Edith. Bom saber que podemos concordar
em, pelo menos, uma coisa.”
“Não sou uma vadia tão grande quanto você pode achar.” Ela sorriu
também.
“Posso dizer que não sou tão babaca quanto você pensa também, mas
duvido que vá acreditar nisso.”
“Não vou.”
Enquanto os observava retrucar um ao outro, pensei em Elizabeth de novo.
Éramos tão diferentes, de muitas maneiras. Além disso, eu era mais velho que
ela. Era como se ela estivesse parada na entrada de uma porta que eu já passara.
Ainda conseguiríamos fazer isso dar certo?
“Está namorando com alguém agora?”
Ambos mamãe e eu olhamos para meu pai, como se não tivéssemos certeza
de que ouvimos direito. A pergunta foi direcionada a ela.
“Hm, sim…” Ela disse, um pouco nervosa. “Por que pergunta?’
“Você costumava ser minha esposa, Edith. Não é natural que eu ainda me
preocupe com sua vida e como você vai?”
“Bem, honestamente, você provavelmente devia ter se importado enquanto
ainda éramos casados, então eu diria é tarde demais para se importar com minha
vida a esta altura.” Ela levantou sua taça de vinho aos lábios e tomou um gole,
sem outra palavra. Podia ver que a situação estava começando a sair do controle,
nenhum deles sequer tentava controlar o ódio e a raiva um pelo outro.
“Espero que ele seja um bom homem,” meu pai disse, levantando-se para
ficar de pé. “Sinto muito apenas comer e ir embora, mas meu voo é em uma
hora. Não quero perdê-lo.”
“Precisa de carona para o aeroporto?” minha mãe perguntou. Sentei no meu
lugar, me sentindo atordoado. Acho que meus pais foram drogados ou algo
assim, porque em um segundo agem como se estivessem prestes a matar um ao
outro com as próprias mãos, e no outro, estão falando e agindo como se
realmente se importassem um com o outro.
Para minha surpresa, meu pai não negou a carona que ela oferecia.
“Gostaria, sim, Edith,” ele disse, gesticulando para a garçonete trazer a conta.
“Vejo você em breve, filho. Estou muito orgulhoso de você.” Ele me deu um
abraço, mamãe perguntou se eu gostaria de jantar com ela amanhã e, então,
partiram.
Mais tarde naquele dia, quando eu estava no The 50s, recebi uma ligação de
Liz.
“Ei, princesa. Como vai?”
“Bem. Estou cozinhando.”
“Cozinhando? Não sabia que você cozinhava?”
“Você não sabe muito sobre mim.”
“Não, sério? O que mais não sei sobre você?”
“Não vou dizer todos meus segredos de uma vez.”
“Pelo menos, vai me dizer o que está escrito na sua camisa?”
Ela riu. “Não.”
“Por quê? E não me diga que é algo impróprio.”
“Não, é apenas… Significativo.”
“E diz?”
“Cai fora, sou sexy demais para você.”
Eu explodi em uma risada. “Mal posso esperar para ver. Você usará ela para
mim?”
“Talvez.”
“Ei, Kam, estamos esperando você para fazer o brinde!” Savie me chamou.
“Quem é essa?” Elizabeth perguntou.
“Com ciúmes?”
“Tenho motivo para estar?”
“Não, é claro que não. Você é minha princesa, sabe disso, certo?”
“Certo… Okay, tenho que ir de qualquer forma, meus biscoitos estão
queimando.” Ela pareceu um pouco receosa, como se realmente estivesse com
ciúmes.
“Volto em dois dias. E quando chegar, quero ver essa camisa e experimentar
seus biscoitos.”
“Verei o que posso fazer sobre esses seus desejos. Tchau, Kameron.”
Sorri, olhando para o telefone em minhas mãos. Ela estava com ciúmes.
Voltei para a mesa onde meus amigos me esperavam e brindamos: “Por
todos os anos que passamos juntos! Espero que não tenha sido uma grande perda
de tempo.”
Os caras riram, levantando os copos, e dizendo em uníssono: “Saúde!”
Era quase três da manhã quando pensei que já tive o suficiente de
comemoração por hoje. Estava cansado e um pouco bêbado.
Nunca bebia tanto.
Houve só uma vez que eu mal consegui ficar de pé pela quantidade de
álcool correndo no meu sangue. Era o fim do meu ano de calouro. Estávamos
comemorando o final das provas do semestre e apostei com meus colegas o
número de doses que conseguia beber em uma noite.
Perdi a aposta…
Estava tão bêbado que não consegui lembrar de nada que aconteceu nos
próximos dois dias, embora tivesse certeza de que passei a maior parte deles no
banheiro, vomitando. Teve um momento que achei que fosse realmente morrer,
bem no chão do banheiro. Tive sorte de não ter tido coma alcoólico, bem, na
verdade, provavelmente tive, mas eu era claramente estúpido demais para ir ao
médico por isso… Depois dessa maravilhosa experiência, me recusava a beber
mais do que três copos ou doses de qualquer coisa que tinha álcool.
“Kam, você já vai?” Savie perguntou, correndo atrás de mim. “Por que tão
cedo? Não vai ficar acordado e receber o primeiro nascer do sol como um
‘adulto de verdade’ com a gente?”
“Desculpa, garota, mas estou cansado demais para pensar e não estou com
muita vontade de ir a lugar nenhum além de casa.”
“Ah… Pensei que estava se divertindo na festa.”
“Estava. Foi ótimo, de verdade. Você e as garotas fizeram um ótimo
trabalho. Obrigado.”
Ela deu um passo para perto. Diria que, provavelmente, até perto demais
para mim.
“Posso esperar um ‘obrigado’ mais caloroso do que apenas em palavras?”
Ela disse com uma voz doce. Ela não estava agindo normalmente. Pelo menos,
nunca a vi agir assim antes. Estava um pouco bêbada e sendo descuidada, era
como se achasse que não havia amanhã.
“Savie, não acho que seja uma boa ideia,” eu disse, dando um passo para
trás, me dando um pouco de espaço pessoal de novo.
Ela franziu a testa, me observando de perto. “É por causa da ‘princesa’ com
quem você falava mais cedo?”
“Você estava ouvindo?”
“Desculpa, não foi de propósito. Estava procurando você e então te ouvi
falando com alguém… Ela é especial?” Ela riu para si mesma. “Deve ser. Nunca
te vi tão distraído. Está apaixonado por ela?”
Sorri para ela. “Vá para casa, Savie. Você precisa dormir.”
“Não, Kameron. Me conta, você a ama?”
“Por que te incomoda tanto?”
“Porque amor é uma droga. Ele arruína tudo. Arruína você.”
CAPÍTULO DEZ
Dois dias depois, estava no meu voo de volta a Pittsburgh, animado como
sempre. Mal podia esperar para ver Elizabeth. Ela não sabia da minha chegada,
me esperava para o dia seguinte, mas eu esperava que amasse a surpresa. Mas se
descobriu depois que a surpresa me esperava.
Na hora que cheguei ao apartamento, meu relógio mostrava dez da noite.
Esperava que Elizabeth ainda não estivesse dormindo. Tirei as chaves do bolso,
coloquei na fechadura, virei e abri a porta. Liz claramente não estava dormindo,
porque assim que entrei no apartamento, ouvi música vindo da cozinha. Ela
estava cozinhando?
Entrei na cozinha e fiquei deslumbrando pelo que vi diante de mim. Soltei
um suspiro de alívio e gratidão quando a vi. Liz estava na minha cozinha,
ouvindo música e dançando junto com a batida. Ela estava de olhos fechados e
usando nada além de um par de saltos altos vermelhos e uma camisa muito
pequena que mostrava parte da sua bunda toda vez que levantava as mãos.
“Puta mer–”
Ela se virou tão rápido pelo choque de que alguém estar observando que
provavelmente tive sorte dela não estar armada ou estaria morto.
“Kameron! Jesus, você me deu um baita susto.” Ela deu umas respiradas
profundas para se acalmar e, então, começou a rir. “Não podia ter escolhido um
momento melhor para voltar? Fiquei com fome e decidi fazer um lanche.”
“Estou vendo,” murmurei, ainda a observando. “Sapatos legais, a
propósito…”
Ela olhou para os sapatos e sorriu. “Fui ver minha mãe hoje e lembrei que
tinha um novo par, e, já que sapatos sempre fazem eu me sentir melhor, decidi
pegá-los enquanto estava lá.”
Cruzei os braços, me inclinando contra a porta. “Se não soubesse, teria
pensado que estava me esperando.” Agora que finalmente me acalmei da ereção
originada ao vê-la assim, li sua camisa: “Uma lambida nunca é suficiente.”
Ela riu de novo. “Não sei porquê sempre escolho usar as camisas
‘significativas’ perto de você, mas posso assegurar que não é intencional.
Geralmente, foi apenas a primeira camisa que entrei enquanto me arrumava.”
“Eu gosto.”
“Sem dúvida.”
Ela estava parada a alguns passos de distância de mim, nenhum de nós
ousou se aproximar.
“Não vai me dar um abraço?” perguntei, sorrindo.
“Não.” Ela se inclinou contra a bancada na cozinha e cruzou os braços
também.
“Por quê? Fiz algo de errado?”
Ela mordeu o lábio inferior, hesitando. “Quem é Savie?” Ela perguntou,
tentando evitar olhar para mim.
Eu ri, silenciosamente. “Sabia que você estava com ciúmes.”
“Vocês namoraram ou algo assim?”
“Não. Ela e eu somos só amigos.”
“Okay.” Ela mordeu o lábio de novo e minha paciência voou pela janela.
“Droga, Liz, pare de fazer isso.” Me aproximei de onde ela estava e
gentilmente coloquei minhas mãos nas suas bochechas, dizendo: “Se você se
recusa a me receber com um abraço, farei do meu jeito então.”
Dei a ela alguns segundos para processar o que eu disse, mas ela não se
mexeu nem tentou me tocar.
Sorri para ela. “Acho que vou presumir que isso significa que faremos do
meu jeito.” E então, me inclinei e passei meus lábios contra os seus, recebendo o
que eu quis esse tempo todo… Meu beijo, finalmente consegui o beijo que
esperei desde o segundo em que a vi na estúpida festa da Shelby.
Meu coração pulou várias batidas. Chupei seus lábios e, então, a ponta de
sua língua. Ela gemeu silenciosamente na minha boca; foi inaudível, mas sabia
que ela fizera porque senti vibrar na minha garganta. Meus dedos viajaram pelo
seu queixo e linha do pescoço, então se foram para suas mãos, lados, até parar na
sua cintura.
“Envolva seus braços no meu pescoço,” eu disse, mal respirando. Ela fez o
que eu disse e pressionei meu corpo no dela. Eu estava pegando fogo. Se eu
pensava que controlar meus instintos com ela era difícil, estava um milhão de
vezes pior agora… Ela estava quase nua e sexy como o inferno. Sabia que ela
não estava usando sutiã por baixo daquela camisa, porque conseguia ver seus
mamilos endurecidos aparecendo através do tecido fino. Não queria nada além
de puxar sua camisa por cima da cabeça, chupar os pequenos picos firmes na
minha boca, e provocá-los com minha língua.
Minha boca foi até seu queixo, deixando uma trilha de pequenos beijos no
caminho. Beijei a pele macia logo abaixo do seu ouvido e senti o corpo dela
tremer com excitação contra mim. Minha língua provocou seu lóbulo e, então,
permiti que meus lábios chupassem suavemente. Outro gemido escapou sua
garganta. Olhei para ela, incapaz de acreditar que ela era real, que estava nos
meus braços e respondendo a cada todo e beijo.
“Eu quero você, Liz,” respirei contra seus lábios. Ela arfou silenciosamente
e fechou os olhos. Ela parecia incerta sobre se estava pronta ou não para ceder às
minhas necessidades sexuais.
“Quero que você seja minha, hoje, amanhã e sempre…”
Ela olhou para mim, fogo e medo passaram pelos seus olhos turquesas. Do
que ela tinha medo?
“Kolby alguma vez te machucou?” perguntei, sentindo raiva começar a
dominar meus pensamentos racionais. Eu o mataria se a tivesse ferido.
“Não…” ela disse, baixou o olhar. “Nunca fiz nada assim com ele.”
Balancei a cabeça, sem ter certeza de ter ouvido direito.
“Nunca?”
“Nunca… Na verdade, nunca fiz isso com ninguém…”
Alívio e alegria inesperados preencheram meu coração. Não esperava que
Liz fosse virgem, mas queria que ela fosse minha mais do que antes, agora que
sabia que seria sua primeira vez. Apenas tornava tudo especial.
“Prometo, farei você lembrar desta noite para sempre,” eu disse, sorrindo
para ela. Comecei a beijar seu queixo de novo, e então capturei seus lábios em
um beijo profundo e apaixonado. As mãos dela foram para os botões da minha
camisa e os desfez, um por um, então puxou a camisa para fora dos meus jeans,
e a empurrou para fora dos meus braços.
“Quero essa camisa fora também,” eu disse, gesticulando para a que ela
usava no momento.
Ela riu e me empurrou de volta. Então pegou minhas mãos nas dela e disse:
“Siga-me.”
“Com prazer.”
Descemos o corredor que levava ao meu quarto, ela abriu a porta, deixando
a luz apagada, permitindo que a luz do luar passando pela janela aberta fosse a
única iluminação no quarto.
“Dormiu aqui enquanto estava fora?” perguntei.
“Sim.”
“Me imaginou aqui com você?” Eu a puxei para meus braços, morrendo
para conseguir outro beijo dela.
“Sim.”
“Conte-me mais sobre suas fantasias secretas.”
Ela riu. “Tem certeza que quer passar o resto da noite conversando?”
“Ugh, está certa, falar não está na lista de coisas que estava planejando
fazer com você essa noite.”
Ela me beijou uma vez, então recuou, puxou a camisa para cima, a deslizou
sobre a cabeça, e jogou no chão.
Ela permaneceu lá, usando um par de calcinhas pretas e aqueles sapatos
sexys que deixaram a dureza nos meus jeans impossível de se ignorar. Seus
cabelos estavam soltos, caindo pelos ombros e costas, apenas cobrindo aqueles
pequenos mamilos duros. Não conseguia parar de olhá-la, bebendo cada linha do
seu corpo maravilhoso.
“Você vai ser a minha morte, princesa.”
Ela não respondeu, em vez disso deu outro passo para trás, então outro, até
que suas pernas tocaram a ponta da cama. Ainda parado lá, me sentia paralisado,
tentando descobrir qual seria seu próximo movimento. Ela me observava
também. Seus olhos tão lindos e escuros de paixão; não conseguia pensar em
nada além de fazer amor com ela.
Finalmente, ela sentou na cama e se inclinou para trás, empurrando-se para
cima nos travesseiros. Ela não tirou os saltos altos. Colocou os saltos na cama
onde eles se enterraram nos lençóis, com as pernas abertas apenas um pouco –
não o suficiente para ver os bens, mas longe o suficiente para capturar minha
atenção.
Aceitei como um convite e engoli em seco; devia que ser o convite mais
lindo de queimar os lençóis que eu já recebi. Para falar a verdade, tudo nela era
extraordinário.
“Venha aqui,” ela disse em um sussurro. “Tire seus jeans.”
Me aproximei, freneticamente, tentando desfazer minha calça que, no
momento, parecia a tarefa mais difícil que já tive, mas finalmente consegui e
empurrei a calça para baixo e o chutei pelos pés.
“Boxers também, por favor,” Liz comandou, observando cada movimento
meu.
“Desde quando manda no meu quarto?” perguntei, rindo. Minhas boxers se
juntaram à calça no chão. “Melhor agora?”
O olhar dela deslizou para baixo, então subiu pelo meu corpo e ela sorriu,
finalmente, olhando nos meus olhos de novo. “Muito melhor.”
Fiz meu caminho até o pé da cama. De novo, me peguei admirando sua
beleza, tão pura e intocável. Me abaixei para colocar um joelho na cama, e
depois o outro, me posicionando entre as pernas dela. Me inclinei, pairando
sobre ela. Meus lábios encostaram contra o lugar suave entre os seios, então fiz
um caminho até um dos seus mamilos e chupei. Ela arqueou as costas, enrolando
os dedos nos meus cabelos, segurando neles como se estivesse preocupada que
eu pudesse tentar me afastar – é, até parece… Eu não ia a lugar nenhum. Olhei
nos olhos dela, sorrindo e provoquei seu mamilo com a língua. Corri a mão pelo
seu estômago plano, então desci para o quadril e embaixo dos joelhos, puxando
as pernas para cima e ao redor da minha cintura; isso colocou seus saltos altos na
minha bunda. Deus, queria senti-los pressionando minha pele. Não me
importava que ela me marcasse, estava meio animado com a ideia. Assim como
queria que ela fosse minha, eu queria ser dela.
Envolvi meus dedos ao redor da calcinha e a puxei para o lado, finalmente
tocando seu lugar mais sensível. Deus, ela estava quente e molhada, e era para
mim, o que me excitou ainda mais.
“Parece que tem pensado muito em mim,” provoquei, sorrindo. Ela deixou
as pernas abrirem um pouco mais para me dar melhor acesso ao exato lugar que
queria tocar. Disse que tornaria essa noite inesquecível, e já que fiz essa
promessa, decidi que uma pequena preliminar era necessária, então me abaixei e
deslizei minha cabeça entre suas pernas; sabia que era exatamente onde ela mais
precisava de mim no momento. Corri minha língua para cima e para baixo nos
seus lábios lisos, fazendo seus quadris subirem e descerem. O cheiro de sua pele
era intoxicante; inalei profundamente, deixando sua doçura me preencher. Tudo
nela demais…
Coloquei um dedo na entrada e gentilmente empurrei para dentro do seu
caminho doce e molhado. “Está tudo bem?” perguntei, olhando para ela.
Ela concordou sem uma palavra em resposta. Empurrei mais fundo,
sentindo-a apertar.
“Se doer, eu paro,” eu disse, com medo de assustar ou machucá-la.
“Não,” ela disse, sorrindo. “Está muito bom.”
Movi para dentro e para fora, observando-a atentamente. Ela não quebrou o
olhar, o que indicou que isso era algo muito íntimo para ela e deixou tudo ainda
mais quente. Eu não queria perder uma única emoção passando pelo seu lindo
rosto. Ela mordeu o lábio e gemeu; aumentei o ritmo no qual movia meu dedo.
Empurrei apenas mais um pouco, e imediatamente senti a barreira da sua
virgindade. Seu corpo ficou tenso.
“Quer que eu continue?” perguntei.
“Não, não estoure a cereja,” ela disse, balançando a cabeça. “Ainda não.”
“Okay.” Puxei meus dedos para fora e fui para cima para beijá-la. Mas sua
resposta me surpreendeu.
Ela me beijou primeiro, com força, faminta, explorando minha boca com a
língua. Ela levantou os quadris, esfregando a cabeça do meu pau com os lábios
molhados. Então ela estendeu a mão entre nós, envolveu os dedos ao meu redor,
e deslizou-os pelo comprimento, puxando-me ainda mais para perto da sua
abertura acolhedora.
“Deus, isso é tão bom.” Grunhi em seus lábios entreabertos. Estavam
inchados do meu beijo; seu olhar era tão intenso, podia sentir meu próprio corpo
tremendo. “Quero ficar dentro de você… Agora.” Senti como se estivesse no
meio de um deserto, morrendo para conseguir, pelo menos, uma gota de água.
Embora tivesse certeza que uma gota de Elizabeth nunca seria o suficiente. Por
um momento, me senti um bastardo ganancioso por querer secá-la. Ela era como
aquele deserto de água para mim, desejável e inalcançável.
Sem dizer uma palavra, ela me guiou pra dentro, então retirou a mão e
levantou os quadris apenas um pouco para eu finalmente conseguir deslizar para
dentro.
“Ainda estou sem nada,” eu disse a ela.
“Tudo bem. Não me importo. Comecei a tomar pílula.”
“Quando?” perguntei, curioso.
“Alguns dias atrás… E antes que pergunte e comece a me zoar, não
comecei porque planejava perder a virgindade para você. Meu médico disse que
seria bom para pele.”
“Okay.” Tentei não sorrir, mas falhei. “Você está corando.”
“Apenas pare de falar. E pense em coisas mais importantes no lugar.”
Desse vez, não pedi permissão. Estava tão excitado que não ficaria surpreso
em perceber que podia ter um orgasmo pelo mero pensamento de estar com Liz.
Me empurrei para frente, lentamente no começo, então estoquei mais afundo,
observando-a por quaisquer sinais de dor.
“Não pare,” ela disse, como se lendo meus pensamentos.
Uma estocada mais profunda, e nós dois gememos pela sensação dos nossos
corpos finalmente se tornando um. Não havia volta agora. Precisava tanto dela
que doía. Minhas primeiras estocadas foram lentas, eu não queria apressar as
coisas. Deixei Liz ditar o ritmo que fosse confortável para ela, meu corpo se
ajustou ao ritmo dela e entramos em uma sincronia perfeita juntos. Eu até fiquei
surpreso pelo quanto combinávamos, era como se não fosse nossa primeira vez
juntos.
Mantivemos o olhar um do outro em uma conexão silenciosa que era ainda
mais excitante e fascinante do que a sensação dos nossos corpos se movendo.
Ela era minha agora, para sempre. E com cada estocada que dava, prometia amá-
la pelo resto da minha vida. Finalmente estava pronto para dar uma definição
para o que sentia por ela – era amor, puro e sem limites.
Ela envolveu as pernas ao meu redor, os saltos pressionavam na pele da
minha bunda.
“Jesus, garota, você vai me fazer terminar cedo.” Coloquei minhas mãos
nos quadris dela e empurrei mais fundo, mais forte. Seu aperto me excitava,
levando-me para mais perto do fim, e nós dois veríamos isso chegar – sem
trocadilhos. O familiar fogo queimou por baixo da minha pele. Gotas de suor
rolaram pela minha espinha. Por um segundo, senti como se estivesse prestes a
desmaiar pela onda sublime avassaladora passando pelo meu corpo.
“Como está se sentindo?” perguntei, de repente, sentindo necessidade de
aumentar o ritmo.
“Bem, muito bem.”
Estendi a mão para seu clitóris e o esfreguei com meu polegar. “Então goze
para mim, princesa,” sussurrei, beijando seus lábios. “Quero sentir você gozar.”
Ela me beijou, envolvendo os braços ao meu redor. “Me preencha,” ela
disse, olhando nos meus olhos.
Deus, ela queria que eu morresse… “Tem certeza disso?”
“Sim.”
Beijei o pescoço dela, deslizando para dentro e para fora. Ela começou a
respirar mais rápido e não tive força de vontade para me restringir mais. A
conexão que compartilhávamos no momento era muito mais do que qualquer
coisa que eu já tinha sentido. Era de alguma forma maior, mais profunda, além
das palavras. O resto do mundo não existia mais para mim. Era apenas ela.
“Eu amo você, Elizabeth,” eu disse, apenas um segundo antes de sentir a
satisfação, há muito esperada, rolando pelas minhas costas e explodindo dentro
dela.
“Amo você também, Kameron,” ela disse em uma voz quase inaudível.
Senti-a tremendo embaixo de mim, seu orgasmo se juntando ao meu. Senti como
se tivesse sido empurrado pela fronteira. Nunca me senti tão bem, sexo nunca foi
tão satisfatório. Me perguntei se era porque nunca fiquei com uma garota pela
qual estava tão obcecado.
O corpo dela começou a relaxar embaixo de mim, mas não queria me
retirar. De alguma forma, senti como se eu fosse perdê-la quando tinha
finalmente a encontrado.
“Posso continuar me mexendo, se você quiser…” eu disse, beijando seu
pescoço.
Ela riu, o som de sua risada vibrou nos meus lábios. “Você não terminou
comigo ainda, não é?”
Eu ri também. “Não estou nem perto.”
“Conseguirei andar amanhã?”
“Talvez. Mas não temos que ir a lugar algum. Podemos apenas ficar aqui,
em casa, o dia inteiro. O que você diz?”
“Mmm, amo essa ideia.”
“Isso também significa que já está pronta pro segundo round? Porque eu
estou.”
“Posso sentir isso.” Ela sorriu, correndo a mão para cima e para baixo pelas
minhas costas. “A primeira vez foi incrível, Kameron. Nunca esperei que fosse
tão bom.”
“Não poderia concordar mais, princesa.” Acariciei suas bochechas com
minha mão, trazendo seus lábios aos meus. A suavidade dos lábios e o cheiro do
nosso amor me deixou insano de desejo. Pensamentos selvagens começaram a
correr pela minha cabeça. “Quer ficar em cima dessa vez?”
Ela riu. “Não tenho certeza se sei fazer isso.”
“Tenho certeza que ficará bem.” Sai de cima dela e rolei para ficar de
costas, puxando-a para cima de mim. “Deus, a visão daqui de baixo é
simplesmente de explodir a cabeça.” Acariciei seus lados, então sua barriga e
seus seios perfeitamente formados. “Amo tanto você, Elizabeth Brown.”
“Amo você mais, Kameron Grayson.” Ela gentilmente arranhou minha
barriga, então levantou para ficar de joelhos, balançando os quadris para frente e
para trás, me testando e provocando.
Não levou muito tempo para satisfazermos as necessidades um do outro. Só
que, dessa vez, não estávamos com vergonha de mostrar o quanto queríamos
estar juntos. Não haviam palavras para descrever a sensação enquanto a
observava deslizar para cima e para baixo pela minha ereção. Ela tinha as palmas
no meu peito, fazia amor comigo tão apaixonadamente, parecia que eu estava me
perdendo nela… Nos seus olhos, nos seus beijos, no seu calor se misturando ao
meu. Era um prazer que eununca conhecera; um amor que nunca existira. Ela
acelerou exatamente quando senti que ia gozar de novo. Ela me terminou em
apenas alguns minutos, apenas observar seu corpo incrível dançando em cima do
meu foi o suficiente para me fazer explodir.
“Deite em mim,” eu disse, puxando-a para perto.
Com meus braços apertados ao redor dela, dei mais algumas estocadas
profundas, recebendo outra onda sublime passando por mim, por nós.
Capturei seus lábios em um beijo, cheio de amor e ternura que sentia por
ela naquele momento. Ela era meu paraíso, um lar para minha alma solitária que
nunca esperei encontrar nos olhos de uma garota.
Pela primeira vez, finalmente me senti completo. Não queria acordar desse
sonho que Elizabeth criara ao meu redor; apenas queria ficar ali com ela, pelo
tempo que o resto do mundo permitisse.
CAPÍTULO ONZE
Mas quando finalmente rastejamos para fora do nosso mundo dos sonhos e
voltamos ao mundo real, tudo fora muito pior do que imaginamos…
Dias passaram um atrás do outro. Liz e eu estávamos tão felizes, mas havia
momentos em que tinha medo de fechar os olhos, me preocupando que, se
tirasse os olhos dela por um segundo sequer, ela desapareceria como neblina no
mundo. Até fizemos planos para o futuro, queríamos passar cada momento do
resto das nossas vidas juntos. Me sentia um adolescente de novo; tive novas
esperanças e novos sonhos preenchendo minha mente e meu coração.
Liz e eu éramos uma combinação perfeita; não importava o que estávamos
fazendo – fosse fazendo amor ou simplesmente sentados no sofá, conversando a
noite toda – parecia tudo tão natural, tão fácil. Ela sabia o que eu estava
pensando o tempo todo, e eu sempre sabia o que ela estava pensando também,
éramos tão conectados assim. Toda vez que olhava nos olhos lindos dela, sabia
que era o homem mais sortudo do mundo; porque a garota mais incrível do
planeta pertencia a mim… Ela era toda minha e, honestamente, eu pertencia
somente a ela também.
Nós morávamos no meu apartamento, e, ocasionalmente, visitávamos a mãe
de Elizabeth e meu pai. Preferia não ver Shelby, então normalmente íamos ao
escritório do meu pai e almoçávamos com ele. Mas havia uma coisa que
arruinava a paz nas nossas vidas toda vez que era mencionada, Kolby…
Ele ainda estava sendo tratado em uma instituição. Os médicos nem
conseguiam nos dizer quando ele sairia, porque diziam que ele ainda estava
muito doente, e, como você sabe, era psicologicamente e ninguém podia forçar
uma cura em quem se recusa a se tratar – o que diziam que ele fazia diariamente.
Um dia, Liz disse que queria vê-lo. Ela ainda se sentia culpada por tudo que
acontecera entre eles antes que fosse levado. Ela acreditava que era parcialmente
culpada, independente de quantas vezes dizíamos que os problemas de Kolby
começaram muito antes dela, e que não havia possibilidade dela ter alguma coisa
a ver com isso. Mas Liz ainda insistia em vê-lo, e não tive escolha a não ser
levá-la. Queria estar lá quando o visse, mas ela disse que queria ir sozinha.
Parecia que meus nervos estavam pegando fogo enquanto esperava no
carro. Ela ficou no hospital por quase uma hora e eu não conseguia parar de
pensar em entrar e me certificar de que ela estava bem. Nunca me perdoaria se
Kolby decidisse machucá-la.
Justo quando achei que minha paciência tinha chegado ao limite, Liz saiu
do hospital. Ela não veio direto até o carro, ficou parada lá, inclinada contra as
portas de vidro.
“Vou matar aquele filho da puta,” murmurei, saindo do carro e correndo até
ela. “Princesa, está tudo bem?”
Ela concordou, engolindo em seco. “Estou bem.”
“O que aconteceu lá?” Andei com ela até o carro e abri a porta do carona
para ela. Ela sentou no lugar, mas manteve as pernas para fora do carro e os pés
no asfalto.
“Ele sabia, Kameron… Sabia de tudo desde o começo.”
Me ajoelhei na frente dela e quando fiz, percebi que lágrimas começavam a
preencher seus olhos. “Do que você está falando, Liz?”
“Ele nos viu conversando no pátio na festa. Sabia que eu estava com você
quando estávamos estudando e, por isso, ligou me pedindo para ir vê-lo. Sabia
sobre nosso dia no parque de diversões. Mark ligou para ele logo em seguida e
contou tudo. E ele sabe que estou com você agora…”
“E daí? Não foi isso que você veio contar pra ele de qualquer forma?”
“Ele me chamou de traidora. Disse que eu deveria estar com ele agora, o
apoiando, ajudando-o a lidar com seus problemas, e não… Me pegando com
você.”
Respirei fundo para me controlar e não gritar. Não conseguia acreditar que
o imbecil ousaria fazer Liz se sentir culpada pelo que ele fez.
“Me escute, Liz,” eu disse, pegando suas mãos nas minhas. “O que
aconteceu com ele não é culpa sua. E tudo que aconteceu depois não é sua culpa
também. Você não pode escolher por quem se apaixona. Nós amamos um ao
outro, desde sempre, desde a primeira vez que nos conhecemos no pátio – bem,
eu soube antes disso, mas esse não é o ponto. Além disso, não me disse que seu
relacionamento com Kolby foi um erro desde o começo?”
“Sim, mas…”
“Pare com isso, Liz. Pare de se culpar. Não conseguiria ajudá-lo mesmo se
quisesse.”
Ela olhou para mim, pensativamente. “O que sabe sobre ele, Kameron?
Sabe de algo que eu não sei; então o que é?”
Não queria contar sobre o clube da luta, mas acho que estava na hora dela
saber a verdade para deixar Kolby apod… Ela precisava deixá-lo em paz; como
era o ditado? Não se bate em cachorro morto… Isso era exatamente o que ela
precisava fazer com Kolby, e, por um segundo, pensei na próxima camisa que
compraria para ela se tivesse oportunidade. “Você pode não gostar…”
“Não importa, quero saber de tudo.”
“Okay… Aqui vai então…” Pausei, esperando que ela mudasse de ideia no
último segundo, mas ela não mudou, então continuei, hesitante: “Lembra como
você me contou sobre aquele cara que falou mal do cabelo dele, e Kolby decidiu
se vingar por causa disso?”
“Sim.”
“Bem, essa foi só a parte que você sabia, e o resto é muito pior… Kolby
não pediu para os amigos baterem nele. Ele fez o cara ir a um clube da luta para
lutar pelo seu perdão.”
“Não entendo o que você está tentando dizer…”
“Kolby tem sérios problemas mentais… Há anos, eu acho. Ele encontrou
um clube da luta escondido, onde homens vão para lutar com outros por
dinheiro. Ele fez um acordo com o dono do clube dizendo que levaria carne
fresca para os homens que há lutavam lá.”
“Por que ele faria isso?”
“Porque era seu jeito de punir as pessoas que riam dele; acho que devíamos
agradecer por não ter comprado um monte de armas e ido para a escola matar
um monte de gente, mas, no momento, isso não é melhor… De qualquer forma,
ele os fazia lutar, e se não ganhavam, os fazia sair da escola. Ele os ameaçava,
chantageava, ele até dizia que ia contar aos pais que foram ao clube… Por
escolha própria…”
“Oh, meu Deus. Não consigo acreditar. Isso é terrível…”
“Acredite ou não, é verdade, Liz. Você estava namorando uma pessoa
terrível. Ele nem se sentia culpado quando um dos garotos perdia a luta para um
cara mais velho e mais forte. Ele os fazia lutar contra homens maiores e mais
velhos. Ele não se sentia culpado quando saíam do clube mal respirando porque
um homem os espancou até ficarem ensanguentados. Ele gostava de vê-los lutar,
fazia vídeos e então usava como chantagem. Não foi culpa sua ele não conseguir
resistir o desejo doentio de provar a todos que era o poderoso.” Corri uma mão
pelos seus cabelos, gentilmente tirando algumas mechas do seu rosto. “Ele
precisa de ajuda, Liz. Mas nem você, nem eu podemos ajudá-lo.”
“Por que não me contou antes?”
“Não queria chateá-la. Sei que nunca parou de se importar com ele. Mas
você é gentil demais, Liz. Ele não merece sua gentileza. Ele é cruel e egoísta.
Sempre foi assim. Só que ninguém imaginava que ele faria algo assim, e por isso
ele está aqui… Não tem nada a ver com você.”
“Ele disse que você sempre conseguia o que queria. Que seu pai nunca o
amara tanto quanto ama você. E, por isso, sempre se sentiu sozinho e
desprotegido.”
Eu sorri de lado. “Não confie nele, Liz. Ele está brincando com sua cabeça,
tentando fazer você se sentir culpada, tentando fazer você acreditar que ele é a
vítima nessa situação. Quando na verdade, as vítimas são aqueles que ele
machucou, que tiveram que pagar por serem crianças e o provocarem. E aqueles
que são apenas isso… Crianças, tenho certeza de que nenhum deles jamais
imaginou o que Kolby faria com eles.”
Elizabeth corou. “Você sabe que tenho a mesma idade deles, certo?” ela
perguntou, ofendida.
Sorri, beijando-a nos lábios. “Você é muito mais sábia do que eles. É
inteligente o suficiente para não se colocar em uma situação de perigo assim.”
“Mas namorei com Kolby. E se as pessoas pensarem que eu sabia de tudo e
o ajudei a se vingar desses caras?”
“Não se preocupa. Não vou deixar ninguém falar mal de você.”
Ela suspirou. “Isso é tão fodido, Kameron.” Ela olhou para o hospital de
novo, então virou para mim e disse: “Me leve para longe daqui. Não quero ver
esse lugar, nunca mais.”
“Gostaria de ver sua mãe?”
“Sim, ótima ideia. Não a vejo há quase uma semana.”
Fechei a porta do carona e andei para o meu lado, sentindo alívio e
animação me inundando por finalmente ter ferrado Kolby, mas fiquei mais feliz
do que qualquer coisa porque ela ficaria o mais longe possível dele. Abri minha
porta e sentei atrás do volante. Liguei o carro, sorrindo para a linda garota ao
meu lado e partimos.
***
Estávamos no meio de agosto quando Liz e eu voltamos de Nova York,
onde ela estudaria na Escola de Design de Parsons. Suas aulas começavam em
duas semanas e ela ainda precisava encontrar um apartamento. Ainda não
conseguia acreditar que moraríamos a milhares de quilômetros de distância um
do outro, mas não tínhamos escolha, e não podia deixar meu egoísmo ganhar e
fazê-la abandonar seus sonhos para ir à L.A. comigo. Ela sonhava em ir pra
Parsons há anos e quem era eu para tirar isso dela?
“Você esteve inacreditavelmente quieto no caminho pra casa,” ela disse,
jogando-se no sofá ao meu lado. “Está tudo bem?”
“Como devo deixar você ir em duas semanas?”
Ela sorriu, colocando um beijo suave nos meus lábios. “Não é como se
fossemos terminar. Vou viajar para L.A. e você virá me visitar em Nova York. Já
discutimos isso, lembra?”
“Sim. Mas… Desculpe; apenas preciso de mais tempo para me acostumar a
não vê-la quando acordo.”
O verão passou tão rápido. Quando tinha acabado de chegar em Pittsburgh
alguns meses atrás, achei que nunca acabaria. Mas agora, que teria que voltar
para L.A. – sozinho – parecia que minha vida feliz com Liz acabara e não podia
fazer nenhuma maldita coisa para mudar isso.
“Passarei as férias de Natal com você,” Elizabeth disse, envolvendo um
braço ao meu redor, com a cabeça descansando no meu peito. “Teremos um mês
inteiro juntos. Ficará cansado de mim.” Ela riu.
“Sabe que nunca me canso de você, princesa. Vou sentir uma falta do
inferno de você.”
“Ei, ainda estamos aqui, então por que não pensamos em algo mais
prazeroso que isso? Não quero desperdiçar o tempo que temos sofrendo por algo
que ainda não está acontecendo…”
“O que tem em mente?” Sorri para ela.
“Comprei uma coisa para você. Bem, é pra mim, na verdade, mas tenho
certeza que vai amar.” Ela foi para o banheiro e voltou alguns minutos depois,
usando um par de saltos altos azuis e uma camisa que comprei. Dizia ‘eu dou as
ordens, você faz o resto.’
“Legal,” eu disse, sentindo a reação imediata do meu corpo à roupa dela.
Seu amor por sapatos e camisas sempre tinha esse efeito inexplicável em mim.
Ela parecia ambos sexy e inocente, me deixava louco.
“Pelo menos, você nunca terá problema em escolher presentes para mim,”
ela riu, sentando no meu colo.
“Então, você dá as ordens hoje?” Coloquei um beijo embaixo do seu
ouvido, correndo minhas mãos para cima e para baixo dos seus lados.
“E você faz o resto.”
“Parece um plano muito bom.”
Só que nossos planos aparentemente não aconteceriam naquele dia… O
som da maldita campainha arruinou tudo.
“Não abra a porta,” eu disse. “Quem quer que seja achará que não estamos
em casa, se deixarmos pra lá.”
A campainha tocou de novo.
“Duvido,” Liz disse, ficando de pé. Ela estava prestes a ir até a porta, mas
eu a impedi.
“Espere aqui, não quero que ninguém a veja assim.” Olhei para ela dos pés
à cabeça e sorri de novo. “Tão gostosa.”
“Tudo para você, meu príncipe.” Ela piscou para mim e sentou de volta no
sofá.
Abri a porta e olhei nos olhos do meu irmão.
“O que está fazendo aqui?” perguntei friamente. Sabia que Kolby
finalmente tinha saído da instituição. Meu pai disse que ele ficaria em casa e que
não queria ver ninguém. Mas aparentemente, fez uma exceção para mim, para
nós.
“Podemos conversar?” ele perguntou, tentando olhar atrás de mim. Levei
um minuto para que perceber o que ele estava olhando, mas, então, percebi que
Liz estava parada no corredor atrás de mim.
“Kolby?” ela perguntou, surpresa. Estava usando um roupão por cima da
camisa, mas os saltos ainda eram visíveis.
“Sinto muito, não quis interromper,” Kolby disse, olhando para os sapatos
brilhantes dela.
“O que você quer?” perguntei, cruzando os braços. Ele tinha nos
interrompido e queria que ele fosse embora.
“Kameron, deixe-o entrar,” Liz disse.
Sem uma palavra, dei um passo para o lado e gesticulei para meu irmão
entrar. Ele me deu um outro olhar estranho e seguiu Liz para a sala de estar.
“Gostaria de beber alguma coisa?” ela perguntou. Ugh, não conseguia
acreditar que ela estava tentando ser legal com ele… Depois de tudo que
descobrimos.
“Você mora aqui agora?” ele perguntou, ignorando sua pergunta.
“Não é da porra da sua conta,” lati para ele. “Diga o que veio dizer e caia
fora.”
“Kameron,” Liz me deu um olhar de advertência. “Por favor.”
“Na verdade, queria me desculpar,” Kolby disse, fazendo Liz e eu olharmos
para ele em choque.
“Pelo quê?” perguntei, franzindo a testa. Eu o conhecia muito bem para
acreditar que suas desculpas eram sinceras, independente do motivo delas.
“Por tudo,” ele respondeu, olhando para Elizabeth. Queria bater nele por
sequer olhar para ela. Apenas não conseguia suportar a ideia dele perto dela de
novo. Não só porque eu obviamente estava com ciúmes, mas também porque
sabia do que o imbecil era capaz.
“O que fizeram com você?” perguntei, sorrindo. “Oh, não me diga que é
bom e legal agora.”
“Kameron!” Liz disse de novo.
“O quê?”
“Falo sério, gente. Apenas queria me desculpar,” Kolby repetiu. “Não
queria fazer minha família ou amigos sofrerem pela minha própria estupidez.”
“Sem brincadeira?” Apenas não consegui me controlar. Não acreditava
nele. E ponto.
“Pode pensar o que quiser, Kameron. Mas eu mudei. E não vou perturbá-los
mais.” Ele andou até Liz. “Pode me perdoar, Elizabeth? Posso não ter sido o
namorado ideal, mas nunca menti sobre meus sentimentos.”
“Já chega. Cai fora,” eu disse em um tom áspero.
“Kameron, espere… Pode nos dar um minuto? Por favor…”
Olhei para Elizabeth, incrédulo. “Está falando sério? Quer que eu te deixe
sozinha com esse – esse monstro? Nem consigo acreditar que isso está
acontecendo.”
“Por favor.” Ela olhou para mim, quase implorando. Qual inferno é o
problema dela?
“Tanto faz,” disparei, evitando olhar para os dois. Agarrei minha jaqueta e
sai do meu apartamento, dando a eles toda a porra do tempo e espaço que
precisavam. Nem conseguia descrever o quão irritado estava por ele ter
aparecido na minha casa e por Elizabeth ter me pedido para ‘dar um minuto’
para eles, foda-se isso! Conseguia sentir meu sangue começar a queimar nas
minhas veias. Tentei respirar para me acalmar… Independente do quanto
estivesse zangado, não podia deixar Elizabeth sozinha com aquele psicótico,
então fiquei do lado de fora da porta, andando de um lado para o outro no
corredor como um touro, pronto para rasgar meu ‘amado’ irmão aos pedaços.
Cerca de dez minutos depois, Liz abriu a porta e – você só pode estar
brincando – abraçou Kolby, dizendo para ele se cuidar.
“Terminou?” perguntei, olhando para ela. Mas ela ignorou minha expressão
que claramente estava cheia de raiva… Disse adeus para Kolby, nós dois
voltamos para o apartamento, e então ela fechou a porta atrás de mim.
“Não precisava ser um babaca, Kameron.”
“Por amor de Deus, Liz! O único babaca aqui era o Kolby, não eu! Como
ousa vir aqui dizer que nunca mentiu para você, quando tudo que ele fez foi
mentir… Para você e para todo mundo perto dele!”
“Dê pouco mais de crédito pra ele, Kameron. Todos cometemos erros.”
“Não os erros que ele cometeu.”
Ela suspirou, envolvendo os braços ao meu redor. Permaneci olhando para a
janela, de costas para ela. Mas no momento que senti seu toque, minha raiva
começou a se dispersar.
“Ele sente muito e tenho certeza que não é fingimento,” Liz disse. “Você
não tem que acreditar, mas, pelo menos, tente ser um pouco mais paciente com
ele, okay?”
“Desculpe, princesa. Não posso prometer nada. E sobre o que inferno vocês
conversaram nos últimos dez minutos?” Me virei para ver seu rosto.
“Precisávamos conversar há muito tempo, sabe disso. Havia coisas pelas
quais eu queria me desculpar também.”
“Coisas como o quê? Se apaixonar por mim?”
“E isso também.”
“Pessoas não se desculpam por amar alguém.”
“Algumas, sim.”
“Okay, tudo bem, talvez eu tenha sido um babaca, mas quero que me
prometa uma coisa, Liz.”
“Qualquer coisa.”
“Não quero ver vocês dois juntos, nunca mais. E se ele vier aqui de novo,
não quero que fale com ele.”
“Você está sendo ridículo, Kameron.”
“Apenas prometa que ficará longe dele, okay?”
“Okay. Só isso?”
“Não, preciso de um beijo também.”
Ela sorriu. “Isso eu sempre estou disponível a te dar.” Ela se inclinou para
perto, passou meus lábios nos dela. “Que tal voltarmos para a conversa que
estávamos tendo antes de sermos interrompidos?”
“Sem mais conversas por hoje,” eu disse, puxando-a para o quarto. Não
conversamos muito pelo resto do dia ou da noite que se seguiu. Estávamos
ocupados fazendo novas memórias para levar conosco quando tivéssemos que
nos separar. Uma pena que essas não seriam as únicas memórias que eu levaria
para L.A. comigo…
Depois do café, Crystal, Stanley e eu fomos ver o lugar que minha amiga
encontrou para ser meu estúdio. Stanley ia ao hospital, então se voluntariou para
nos dar uma carona.
“Uau, parece que vocês vão ter muito pra fazer aqui,” ele disse, olhando ao
redor. Era imenso, com janelas grandes, abrindo para uma das ruas principais de
Pittsburgh.
“Mas as oportunidades são infinitas!” Crystal disse animadamente. Ela se
especializou em Relações Públicas e ia trabalhar comigo. Não sei o que faria
sem ela. Desde o dia em que minha vida se partiu, ela foi minha única salvação,
sempre me apoiando, sempre me fazendo rir, mesmo quando tinha certeza de que
nunca riria de novo. Graças a ela, eu era quem era agora. Ela fez eu me inscrever
em concursos de moda e venci todas as vezes, disse que sabia que eu venceria.
Além disso, ela era louca pelos meus designs e a primeira pessoa a prová-los e
usá-los.
“É ainda melhor do que imaginei,” eu disse.
“Eu disse que nunca se arrependeria de me ter como sua assistente pessoal.”
Crystal sorriu, me abraçando.
Stan olhou para relógio. “Okay, garotas, tenho que ir agora. Mas se
precisarem de ajuda, me liguem.” Ele me beijou na bochecha e foi pra porta.
Logo antes de abri-la, ele parou e olhou pra mim, dizendo: “Da próxima vez que
sentir vontade de correr de manhã na chuva, não esqueça do guarda-chuva. Ou,
melhor ainda, apenas fique em casa.”
Sorri, arrependida. “Não queria assustar vocês. Desculpa…”
“É passado agora, então vamos pensar no trabalho,” Crystal disse, lançando
ao irmão um olhar cheio de significado. Ela sabia que meus pensamentos ainda
estavam embolados no caos da manhã seguinte e ela se esforçou o máximo para
me distrair.
Depois que Stanley foi trabalhar, começamos a discutir sobre o design do
interior do meu futuro estúdio. Graças ao meu pai e minhas próprias conquistas,
tinha recursos suficientes para realizar meus sonhos de ser uma designer. Depois
da morte da minha mãe, quis dar minha parte da herança para a caridade, mas
Crystal me fez mudar de ideia. Meu pai não se importava mais comigo, embora
tentasse me convencer a não ir pra Nova York e pensar em ir atrás uma profissão
mais ‘adequada’, como Direito ou Medicina. Mas depois de ele nem ter
importado em aparecer no funeral, sabia que fizera a escolha certa e agora era
única que decidia o que fazer com meu futuro. E meu futuro estava prestes a
começar nas paredes do estúdio TRD – The Riot Design.
Fui pra cozinha, ainda estava cheia de caixas que não tive chance de abrir
depois da mudança. Na verdade, era só a segunda noite que eu passava em casa
desde que comprei o apartamento. Morei no estúdio nas últimas duas semanas e
nem sabia se tinha café em casa ou não.
Procurei no porta-copos, encontrei alguns sacos de chá e duas latinhas de
Red Bull.
Bem, pelo menos, é alguma coisa e, definitivamente, é melhor que nada,
pensei para mim mesma. Abri uma das latinhas e tomei alguns goles. Ainda
precisava de café. Sabia, com certeza, que tomaria um copo no estúdio. Crystal
nunca esquecia de verificar o estoque de café. Assim como eu, ela era uma
viciada irrecuperável em café.
Não sei como consegui chegar no estúdio sem ter um acidente, sentia que
estava prestes a desmaiar a qualquer segundo, e ainda tinha muitas coisas pra
fazer antes da festa de inauguração.
“Você não parece bem,” minha amiga disse, me observando entrar.
“Stanley trouxe o remédio?” Foi a única coisa que consegui pensar no
momento.
“Sim, aqui.” Ela me deu um pacote de remédios e disse que eu precisava
tomar dois.
“Pode me trazer um pouco de água, por favor?” Sentei no sofá e respirei
fundo, tentando impedir que o enjoo me dominasse.
“Ei, Liz, tem certeza que não quer que eu ligue pro Stanley de novo. Ele
tem algumas cirurgias de manhã, mas prometeu vir pra festa.”
“Vou ficar bem. Só preciso–” Não terminei a frase, minha doença qualquer
que fosse estava tentando me derrubar. Baixei o copo de água que Crystal me
trouxe e corri pro banheiro.
“Ah, querida…” Ela me seguiu, segurando minha mão para me manter
segura. “Vou ligar pro Stanley.”
“Não! Por favor, não ligue. Vou ficar bem. Provavelmente, é só o energético
que tomei no lugar do café da manhã.”
“Você está tão pálida, Liz. Como na terra vai aguentar até a festa?”
“Não tenho a mínima ideia. Mas não tenho escolha, tenho que estar lá.
Preciso estar lá hoje à noite. Espero esse dia há anos, não posso deixar isso
arruiná-lo.” Olhei meu reflexo no espelho e adicionei: “Melhor Cassidy se
esforçar para me deixar mais ou menos apresentável.”
“Ela é genial, sabe disso. Mas acho que a maquiagem não vai fazer você se
sentir melhor.”
“Sério, Crys. Estou bem. Apenas me dê alguns minutos, certo?”
Sentia que estava prestes a vomitar de novo e não queria que ela visse.
Ela concordou, me olhando com preocupação, mas saiu, me dando um
pouco de espaço.
Me inclinei na pia, esfregando o pescoço. Sentia como se o corpo inteiro
estivesse pegando fogo. Cada parte de mim estava queimando. Minhas palmas
estavam suando, e minha cabeça doía como o inferno, ao ponto de eu mal
conseguir funcionar, muito menos pensar direito. Resumindo – eu estava uma
coisa terrível.
Esperei a náusea diminuir e então voltei para a sala, onde Crystal e Cassidy,
nossa maquiadora, estavam me esperando.
“Seu vestido chegou,” Crys disse, apontando para uma sacola de plástico
pendurada em um corrimão. O vestido foi desenhado por mim, mas não tive
tempo de costurá-lo, então pedi para fazerem para mim.
“Está bom?” perguntei, indiferente. Nem um vestido novo conseguia fazer
eu me sentir melhor. Para piorar, ainda sentia falta de Kameron, hoje mais do
que nunca. Ele sabia o quanto eu queria ter meu próprio estúdio de design. Por
algum motivo, eu sempre imaginava que ele estaria comigo quando o momento
chegasse.
Mas ele não ia para a festa de abertura. Nunca enviei o convite. Sei que
disse que enviaria, mas então eu disse que seria melhor se nunca mais nos
víssemos e ele me ouviu. Não ligou, nem tentou me ver. Então não havia quem
culpar por estar sozinha hoje, além de mim mesma. Amigos e convidados não
contam. Kameron era a única pessoa que eu queria ver.
“O vestido é maravilhoso,” Crystal disse. “Como seu desenho.”
“Bom. Agora, me diga, o que mais precisamos fazer antes que a festa
comece?”
“Apenas algumas coisas.” Crystal pegou o iPad e repassou a lista de coisas
que ainda precisavam ser feitas. “As flores e as decorações estarão aqui em meia
hora. Os lanches e bebidas serão entregues às quatro da tarde. E os garçons já
estão aqui para arrumar as mesas, pratos e o resto das comidas e bebidas.”
“Okay.” Esfreguei as têmporas, rezando para que a dor de cabeça parasse.
Eu precisava muito me sentir bem hoje.
***
Na hora que os convidados começaram a chegar, eu estava tão cansada
quanto sempre. Mal conseguia ficar em pé sem perder o equilíbrio e só
conseguia pensar em dormir. Toda a animação sobre a noite desaparecera.
Apenas queria que a festa acabasse antes de sequer ter começado.
“Você fez um ótimo trabalho, Liz,” Stanley disse, vindo me cumprimentar.
“Como está se sentindo?”
“Melhor,” menti. Não queria que ele e a irmã me seguissem e perguntassem
a noite toda. Crystal já me fizera a mesma pergunta incontáveis vezes e estava
cansada de dizer que estava bem, mesmo não estando nem perto disso.
“Pelo menos, terá um pouco de descanso agora,” Stan disse, sorrindo.
“Você tem trabalhado demais, Liz. Não é surpresa ter acabado doente hoje. Ao
menos, consegue lembrar da última vez que teve um jantar decente? O que você
comeu ontem à noite?”
“Red Bull e quase um galão de café.”
“Uh, pelo amor de Deus, mulher! Você sequer se importa com sua saúde?”
“Não tenho tempo para pensar na minha saúde agora. Além disso, tenho
você e Cyrstal para se preocuparem com isso por mim. O que devo admitir é
muito irritante às vezes.”
Ele sorriu, me abraçando. “Disponha.”
A festa estava a todo vapor, quando vi Liam e Jeff passando pelas portas.
Enviei convites para eles, embora nunca acharia que eles viriam, considerando
que eu e Liam nunca fomos amigos, especialmente depois que eu e Kameron
terminamos. E Jeff estava ocupado demais trabalhando, não o via muito. Mas
eles eram amigos de Stanley e eu não podia esquecer disso.
“Boa tarde, cavalheiros,” eu disse, cumprimentando-os. “Estou feliz em vê-
los.”
“Parabéns, Liz,” Jeff disse, beijando minhas bochechas. “E boa sorte.”
“É, boa sorte, Elizabeth,” Liam adicionou. Ele parecia um pouco tenso e
nós dois sabíamos porquê. “Stanley está aqui?”
“Sim, deve estar bem ali, perto do bar.” Olhei para eles de novo e algo
estava errado no olhar que me lançavam. “Está tudo bem?”
Eles compartilharam um olhar, como se estivessem decidindo me contar ou
não o que estavam pensando.
“O que foi, meninos? É sobre Kameron?” Era a úncia explicação para o
silêncio deles.
Jeff limpou a garganta e disse: “O pai dele está fazendo uma cirurgia
agora.”
“Oh, meu Deus, ele mencionou que podiam ter que fazer uma cirurgia, mas
não sabia que tinham decidido com certeza.”
“Ninguém sabia,” Liam disse, suspirando. “Mas algumas horas atrás, a
médica ligou, dizendo que a condição de Leonard piorou que ele precisava ser
operado o mais rápido possível.”
“Oh, não… Vocês vão ao hospital agora?”
“Sim e achamos que Stanley iria querer ir conosco.”
“Eu vou encontrá-lo.”
Mas primeiro, fui até Crystal. “Preciso ir embora,” eu disse. “Pode
agradecer os convidados por mim?”
“O quê? Está ficando louca, Liz? Eles estão aqui por você!”
“Eu sei, mas tenho uma emergência.”
“Que tipo de emergência é importante o suficiente para fazer você deixar
sua grande inauguração?”
“É o Sr. Grayson… Ele está ainda pior do que antes.”
“Oh…”
“Vou ao hospital.”
Ela não fez mais perguntas, nem tentou me impedir. Ela sabia que era inútil.
Não importava o quanto eu odiasse a ideia de brigar com Kameron de novo,
apenas sabia que precisava ficar com ele agora.
Encontrei Stanley e todos saímos juntos.
Como esperado, Kolby e a mãe também estavam lá.
“Elizabeth!” ele disse, feliz em me ver. “Não esperava que você viesse.”
Liam deu um meio sorriso, balançando a cabeça e foi falar com Kameron,
que eu podia ver falando com um dos médicos. Assim como Kameron, ele
acreditava fortemente que eu seria capaz de trair seu melhor amigo.
“Como está seu pai?” perguntei a Kolby.
“Ainda não terminaram a cirurgia. Os médicos dizem que tudo que
podemos fazer agora é esperar.”
“Entendo.” Vi a médica andando de volta para a sala de operação e eu não
pude esperar para falar com Kameron. “Desculpe, tenho que ir,” eu disse para
Kolby. A mãe dele nem respondeu quando eu disse olá, era como se ela tivesse
me visto ou ouvido. Oh, bem… Eu não tinha tempo, nem vontade de pensar nela
agora.
“Kameron,” eu disse, tocando sua mão. Ele se virou e uma surpresa pura
preencheu seus olhos.
“Liz…”
Me aproximei e passei os braços ao redor dele, ambos tentando confortá-lo
e finalmente me sentir melhor. Deus, eu precisava tanto dele. Ele me abraçou de
volta, sem dizer uma palavra. Era muito bom estar em seus braços de novo.
Independente das circunstâncias que nos trouxera ao hospital esta noite,
estávamos felizes em nos vermos de novo. Esperava que nosso reencontro não
terminasse em outra briga, eu estava seriamente cansada de brigar com ele.
“Como foi a inauguração do estúdio?” ele perguntou após uma curta pausa.
Me afastei um pouco para poder ver seu rosto, mas seus braços ainda
ficaram ao meu redor e não retirei os meus também.
“Bem, muito bem.”
“Você está linda…”
Eu sorri. “Obrigada.”
Ele correu uma mão pelo meu cabelo, e me puxou para mais perto de seu
peito de novo, dizendo: “Não pode nem imaginar como estou feliz que você
veio. Realmente precisava te ver esta noite.”
Expirei, de repente, me sentindo um pouco culpada. “Desculpa por não ter
enviado um convite para a festa.”
“Eu não poderia ir de qualquer forma. Acabei chegar de L.A. uma hora
atrás.”
Finalmente, ele me soltou e sentou em um sofá pequeno, perto da sala de
operação.
“Sabe quanto tempo a cirurgia vai durar?”
“Começou cerca de duas horas atrás, mas não sei quanto tempo vai
demorar. O médico que eu falei não está operando hoje, estava aqui apenas para
nos atualizar das condições do meu pai. Havia alguma coisa errada com seu
coração que precisava de atenção médica imediata.”
“Onde está sua mãe? Ela sabe que ele está em cirurgia?”
“Sim. Ela ficou aqui o tempo todo. Me ligou hoje mais cedo para contar da
cirurgia e marquei o primeiro voo para Pittsburgh. Ela está em outra sala de
espera agora. Não estava se sentindo bem, então uma das enfermeiras a afastou.”
Olhei para Kolby e a mãe dele de novo. “Aposto que não ficaram felizes
por ela estar aqui.”
O aperto de Kameron na minha mão aumentou. Ele ficou a segurando
enquanto conversávamos. “Não dou a mínima,” ele grunhiu. Então virou de
volta para mim e sua expressão suavizou. Seus olhos viajaram pelo meu vestido
brilhante, preto, em formato de sereia e sorriu um pouco. “Voar de volta para cá
valeu pra te ver nesse vestido. Você que desenhou?”
“Sim. Gostou?” Não era estranho ter uma conversa normal com ele agora.
Acho que estávamos muito chocados com tudo que estava acontecendo para
pensar em brigar de novo.
“Eu amei,” ele disse, beijando as costas da minha mão. O gesto tão
dolorosamente familiar. Ele costumava fazer isso quando estávamos juntos.
“Quando você volta para L.A.?” perguntei, tentando focar minha atenção
em algo mais real do que as memórias do nosso passado.
“Não sei ainda. Depende do resultado da cirurgia. Por quê?”
Hesitei por um momento. “Pensei… Talvez… Pensei que você gostaria de
vir ver o estúdio. Agora que está pronto, está muito lindo…”
Outro sorriso tocou seus lábios. “Eu estive lá.”
“O quê? Quando?”
“Alguns dias atrás. Estava na cidade. Eu e Stan íamos almoçar quando
Crystal ligou dizendo que precisava de ajuda, então fomos ao estúdio ajudar. Ela
não disse que me viu lá, não foi?”
“Não, nem uma palavra.”
“Bem, acho que ela achou que você ficaria furiosa se descobrisse que fui lá.
Você me disse para ficar longe e eu… Bem, dei meu melhor para não pensar em
vê-la de novo.”
“Então, hm… Gostou do estúdio?”
“Muito. Você fez um ótimo trabalho. Parabéns.”
“Obrigada. Me esforcei pra caramba para conseguir deixar tudo pronto pra
hoje.”
“Está feliz, Liz?” ele perguntou, de repente.
Não sabia o que dizer. Eu estava feliz?
“Acho que sim,” eu disse.
Ele concordou, baixando os olhos para nossas mãos unidas. “Bom. Apenas
quero que você saiba que, bem no fundo, eu sempre quis que você fosse feliz.”
“Eu sei.”
“Liz, eu –”
“Sr. Grayson,” o médico chamou, saindo da sala de operação. “Seu pai está
fora de cirurgia. Correu tudo bem.”
Kameron levantou e apertou a mão do médico. “Muito obrigado, senhor,”
ele disse. “Isso significa que a vida do meu pai está fora de perigo agora?”
Kolby e a mãe correram até o médico, esperando uma resposta.
“Sim, ele se recuperará. Pode levar algum tempo, mas tenho certeza que
ficará bem.”
“Obrigado de novo, doutor,” Kameron disse. “Podemos vê-lo?”
“Mais tarde. Ele ficará na sala de recuperação por mais uma hora, e então
deixarei que o vejam. Apenas por alguns minutos. Ele ainda está fraco.”
“Tudo bem, eu entendo.” Kameron se virou para Stanley e pediu que ele
chamasse sua mãe. Ele mal podia esperar para contar as novidades. Então ele
sorriu para mim, me abraçando de novo. “Ele vai viver, Liz. Vai viver.”
“Sabia que ele ficaria bem. Sempre foi um homem forte.”
De repente, me senti enjoada de novo. Recuei, arfando.
“Liz, você está bem?”
Balancei a cabeça. “Me traga um pouco de água, por favor.”
Mas antes que Kameron pudesse dar mais um passo, meus joelhos
tremeram, meus arredores começaram a vacilar e perdi o equilíbrio. A última
coisa que lembro foi o rosto aterrorizado de Kameron, inclinando-se para mim.
***
Uma luz brilhante queimou meus olhos. Podia ouvir vozes por perto, mas
não conseguia me forçar a me mexer ou virar a cabeça para ver quem estava
comigo.
“Ela está acordando,” disse um homem com um casaco branco de
laboratório, inclinando-se para mim. “Como se sente, Srta. Brown?” ele
perguntou, verificando meu pulso. “Alguma coisa está doendo?”
“Não, acho que não.” Minha garganta estava tão seca. “Pode me dar um
pouco de água, por favor?”
“Claro, aqui,” Stanley disse, me dando um copo de água.
“O que aconteceu comigo?” perguntei, quando senti que conseguia falar de
novo.
“Você desmaiou,” Stan disse.
Virei minha cabeça para a direita, esperando ver Kameron. Mas ele não
estava lá.
“Ele está lá fora,” Stanley disse, como se lendo minha mente. “O médico
precisava te examinar, então pediu para ele esperar lá fora.”
“O que há de errado comigo?”
Os dois homens compartilharam um olhar. “Há quanto tempo vem se
sentindo assim, Srta? Quer dizer, enjoo, tontura?”
“Não sei, acho que alguns dias. Por quê? É algo sério?”
Ele olhou para Stanley, e então para mim de volta. “Precisamos esperar os
resultados dos exames primeiro, mas tenho razões muito boas para acreditar que
você está grávida.”
CAPÍTULO DEZOITO
“O que você disse?” Olhei para o médico, incapaz de acreditar em suas
palavras.
Stan riu, sentando na ponta da cama, pegando minha mão nas dele. “Você
vai ser mãe, Liz. Está feliz em ouvir isso?”
“Sim, acho que estou…” Honestamente, era a notícia mais chocante que já
ouvira na vida. Eu ia ser mãe… E Kameron… Oh, meu Deus… Kameron era o
pai da minha criança.
“Vou dar um minuto para vocês,” o médico disse, indo até a porta.
“Não! Espere,” eu disse. “Por favor, não conte a ninguém sobre minha
gravidez.”
Stanley me olhou, confuso.
“Por favor,” eu disse de novo, olhando entre ele e o médico.
“Como quiser, senhorita.”
O médico saiu, e, assim que o médico fechou a porta, Stan perguntou: “Por
que não quer que ninguém saiba sobre o bebê?”
“Não é que eu não queira, apenas não quero que saibam ainda… Preciso
pensar no que vou fazer.”
“Você não vai fazer um aberto, não é?”
“É claro que não!” Sentei na cama, instintivamente tocando minha barriga
onde uma vida nova estava crescendo. “Apenas… Não quero contar para ele
ainda?”
“Está falando do Kameron? Ele é o pai do seu bebê?”
Acenei afirmativamente.
“Eu achava que depois de tudo que vocês passaram, essa notícia seria uma
benção.”
“Não teria tanta certeza disso. Quer dizer, é uma benção para mim, mas não
tenho certeza quanto a Kameron. Ele provavelmente me pedirá para fazer um
teste de DNA primeiro, para ter certeza que é dele.”
“Não seja ridícula, Liz. Ele ama você. Sempre amou.”
“Eu não sei, Stan… Realmente não sei como contar que ele vai ser pai.”
“Quer que eu fale com ele?”
“Não, não, não… Tenho que fazer isso sozinha. Apenas, por favor, me dê
algum tempo, tá?”
“É claro. Não se preocupe, não vou contar nada.”
“Obrigada, Stan. Realmente agradeço por tudo que fez por mim… Nunca
perguntei, mas… Por que você nunca acreditou que eu e Kolby – bem, você
sabe.”
“Sou muito bom em ler pessoas, Liz. Nunca acreditei que você poderia trai-
lo assim. Sei que o amava. E então, depois que ele voltou para L.A., vi como
ficou destruída. Vi o quanto você sentia falta dele. Apenas não consegui
acreditar que você o trairia.”
“Obrigada, Stan.”
“Não precisa agradecer, Liz. Mas ainda acho que você precisa contar para
Kameron sobre o bebê, quanto mais cedo melhor. Talvez o bebê possa consertar
tudo que vocês não conseguiram.”
Ele se inclinou para me beijar na bochecha, então levantou e andou até a
porta, dizendo: “Vou chamá-lo. Tenho certeza que ele mal pode esperar para
saber se você vai ficar bem ou não.” Ele abriu a porta e disse: “Pode vê-la
agora.”
Kameron correu para dentro do quarto, respirando pesadamente. “Jesus,
Liz, você me matou de susto.” Ele sentou na cama, pegando minhas mãos e as
beijando, uma por uma. “Como está se sentindo? O médico disse que foi
exaustão.”
“É. Acho que é pelo quanto vim me esforçando no trabalho e tudo. Não tirei
um dia de folga, nem tive uma pausa. Não fui ao meu apartamento novo mais do
que duas vezes e, às vezes, nem dormia. Apenas continuava trabalhando. Mas
deve ficar tudo bem agora.
“Você não deveria ser tão descuidada com sua saúde, Liz. Trabalho não é
tudo na vida.”
“Vou me lembrar disso.”
“Prometa que descansará o suficiente. Não quero que desmaie no meio do
seu estúdio um dia.”
“Ficarei mais atenta à minha saúde, prometo. Você já viu seu pai?”
Eu estava morrendo de vontade de contar que teríamos um bebê. Agora que
ele estava tão perto de mim de novo, tão gentil, tão atencioso, eu realmente
acreditava que podíamos deixar nosso passado para trás e focar no futuro, em
vez disso.
“Sim, o médico me deixou entrar por um minuto. Ele ainda estava
inconsciente, mas vamos esperar pelo melhor.”
“Vai passar a noite aqui?”
“Sim, preciso ficar. Quer que eu peça para alguém te levar pra casa?”
“Não se preocupe, vou ligar pra Crystal.”
“Eu te levaria para casa, mas não quero deixar o hospital.”
“Tudo bem, você deve ficar aqui com sua família.”
Ele estendeu a mão e tocou minha bochecha com sua palma. “Você
realmente me assustou, Liz. Não mais faça isso, certo?”
Sorri. “Vou tentar.”
“Bom. Agora, acho que você deveria ir para casa descansar.”
“É… Pode me dar minha bolsa, por favor? Está bem ali na mesa.”
“Claro.”
Deus, como eu deveria contar para ele sobre o bebê? Ele nunca acreditaria
que é dele.
Ele voltou para a cama, entregando-me a bolsa. “Tem tudo que precisa no
seu apartamento?”
“Acho que sim. Embora ainda não tenha tido tempo de verificar. A maioria
dos meus pertences ainda estão empacotados.”
“Sério, Liz, você precisa parar de trabalhar tanto. Um dia, vai ser mãe, e
para isso, precisa ser forte e saudável.”
Senti minhas bochechas queimando com um fogo invisível. Ele não podia
ter escolhido um momento pior para falar sobre crianças. Ou era minha chance
de contar a verdade?
“Já pensou em ter filhos?” perguntei.
Sua postura ficou tensa, seu rosto endureceu. “Pensei,” ele disse,
concordando. “Só que não tenho uma mulher com quem tê-los.”
Não sei o que me fez perguntar, mas não consegui evitar. “Você já namorou
com outras mulheres desde que… nos separamos?”
Ele engoliu em seco, me observando intensamente. “Mal posso chamar de
namoro. Estive com outras mulheres, mas nada sério.”
Então ele teve outras mulheres… Senti como se tivesse sido esfaqueada nas
costas, com tanta força que meu corpo inteiro doeu.
“Entendo,” me forcei a dizer. Com mãos tremendo, peguei meu telefone da
bolsa e liguei para Crystal.
“Ei, como você está?” ela perguntou, no momento que atendeu o telefone.
“Stanley me ligou. Disse que você desmaiou no corredor do hospital.”
“Estou bem agora. Como foi a festa?”
“Boa, muito boa. Você perdeu alguns repórteres que queriam te entrevistar,
mas marquei com eles pra semana que vem, assim, você pode se preparar.”
“Muito obrigada, querida. Estaria perdida sem você.”
Kameron se levantou e se serviu de um copo de água, esvaziando-o.
Aparentemente, eu não era a única afetada pela conversa que tivemos.
“Você pode vir me levar para casa, por favor?” eu disse no telefone. Ainda
sentia que estava prestes a começar a chorar e não podia deixar Kameron ver.
“Claro, pego você em vinte minutos,” Crystal respondeu.
“Ela virá te buscar?” Kameron perguntou, quando terminei a ligação.
“Sim.”
“Bom. Pelo menos, sei que chegará em casa sã e salva. Eu… Preciso checar
meu pai. Você ficará bem aqui ou devo chamar o médico para te ver enquanto eu
estiver fora?”
“Ficarei bem.”
Ele olhou para mim uma última vez e saiu.
Enterrei meu rosto nas mãos e deixei as lágrimas rolarem. É claro, sabia
que ele ficara com outras mulheres. Apenas nunca esperara que ele fosse admitir
isso. Apesar de ter sido convidada, eu nunca me sentia capaz de ir em um
encontro. Depois de Kameron, nunca deixei um cara me beijar. Não sei porquê.
Apenas não conseguia.
Antes que Crystal chegasse para me levar pra casa, Stanley entrou no meu
quarto, mediu minha temperatura, pressão sanguínea, e disse que ele passaria lá
amanhã para checar de novo. Ele era um cara bom, um cirurgião plástico, mas,
ainda assim, um cara bom. Crystal disse que todas as pacientes estavam
apaixonadas por ele e constantemente enviavam presentes sugestivos, como
calcinhas ou sutiãs que uma delas queria usar depois de conseguir seios novos
com ele. Mas para a família e amigos, ele sempre foi uma pessoa com quem
podiam contar, não importa a situação.
“Acho que você não devia ficar sozinha hoje, Liz,” ele disse, vendo a irmã
entrar na ala hospitalar.
“Por que não levo você para nossa casa?” ela perguntou.
“Ótima ideia,” Stan respondeu por mim. “Então, verifico você de novo de
manhã, antes de ir ao hospital.”
“Não quero incomodar vocês…”
“Ah, qual é, Liz. Não é incomodo nenhum. Você virá pra nossa casa. Ponto
final.” Crystal me ajudou a levantar da cama, e ela e Stan me acompanharam até
o carro.
Ele não disse nada quando me viu chorando. Acho que sabia que era sobre
Kameron de novo. Mas apenas caso ele tivesse esquecido do meu pedido, eu
disse de novo: “Não conte nada a ele.”
“Não vou contar.”
Então entrei no carro e Crystal e eu partimos.
Ela pediu para a empregada preparar um quarto de hóspedes para mim, mas
pedi para ela ficar comigo. Não estava com vontade de ficar sozinha essa noite.
“Você não disse uma palavra no caminho para casa,” ela disse, penteando
meu cabelo molhado. Tinha tomado um banho assim que chegamos. “Kameron
não ficou feliz em te ver?”
“Ficou.”
“Então por que parece que você foi ao inferno e voltou?”
“Estou grávida, Crys…”
“O quê?” Ela olhou para meu reflexo no espelho.
“Você me ouviu, vou ter um bebê.”
“Oh, meu Deus…” Ela sentou na cama, chocada demais para falar. Depois
de uma curta pausa, perguntou: “Ele sabe?”
Balancei a cabeça. “Não, não sei como contar.”
“Quer que ele saiba?”
“Sim, mas…”
“Está com medo que ele não acredite que é dele, certo?”
Oh, ela me conhece tão bem.
“Mas, Liz, ele tem direito de saber, não acha?” Ela foi até onde eu estava
sentada e colocou as mãos nos meus ombros, me observando pelo espelho.
“Eu sei.”
“Não acredito que você vai ser mãe.” Ela sorriu para mim. “Estou tão feliz
por você!” Ela me abraçou com força. “Quer conte ou não para o Kameron sobre
o bebê, quero que saiba que eu e minha família sempre estaremos aqui por você
e seu pequeno. Me ouviu? Então nem pense em –”
Tive que pará-la, não havia motivo para ela terminar a frase que estava
prestes a dizer. “Relaxe, Crys. Nunca mataria meu bebê. Nem se o pai não
quisesse saber dele.”
“Ele? Acha que vai ter um menino?” Ela se joelhou ao meu lado e esfregou
minha barriga com a mão gentilmente. Sabia que Crystal sempre quis ter filhos,
três: dois meninos e uma menina. Ela era louca por tudo que tinha a ver com
crianças: roupas, sapatos e até fotos simples que ela sempre dizia que eram
adoráveis. Tinha certeza que ela seria uma ótima mãe… Quanto a mim… Eu
esperava ser boa também.
Coloquei minhas mãos em cima da dela. “Na verdade, acho que vai ser
menina. Não sei porquê, apenas tenho esse sentimento que me diz que será uma
garotinha. Você aceita ser a madrinha?”
“É claro! Madrinha, padrinho, quem você precisar que eu seja.”
Nós duas rimos.
“Aw, Liz, ela vai ser a garota mais linda do mundo.”
“Espere até ter sua própria filha. Então achará que a sua é a mais linda.”
“Talvez. Mas para isso, preciso encontrar alguém disposto a ter filhos
comigo primeiro.”
Durante muito tempo, Crystal namorou um cara que eu nunca gostei… O
nome dele era Trevor, um bad boy típico, com tatuagens, que dirigia uma
motocicleta e fumava como uma fornalha. Ele foi acusado de roubo. Seus pais
podiam pagar o que ele quisesse, mas parecia que ele devia uma grande quantia
em dinheiro para alguém e estava com medo de contar aos pais. Então achou que
a melhor forma de conseguir o que precisava era roubando os vizinhos. O idiota
nem pensou nas câmeras de segurança. Ele foi preso algumas horas depois de
cometer o crime e, desde então, Crystal jurou não namorar mais. Mas julgando
pelo quanto queria ser mãe, mais cedo ou mais tarde, ela quebraria essa regra.
“Já pensou no nome dela?” ela perguntou.
“Acabei de descobrir e só penso em se e como vou contar a Kameron.
Alguma sugestão?”
“Não sei. Mas tenho certeza que deveria ser algo muito deliciado, como
Lilian ou algo assim.”
“Hmm… Vou pensar nisso.”
“O pai poderia sugerir algo também…”
“Por favor. Crystal… Vamos falar sobre isso depois, okay?”
“Tipo amanhã?”
Minha amiga nunca desistia facilmente.
“Sim, amanhã,” eu disse. “Preciso dormir. E seu irmão disse que se quero
meu bebê saudável, preciso me certificar de dormir. Agora, preciso pensar em
nós dois.”
“Verdade. O que significa que terei mais trabalho a fazer. Porque não tem
como eu deixar você trabalhar tanto no estúdio. Você cuida de fazer novos
designs e eu faço o resto.”
“Oh, Deus, me ajude…” Sem dúvida, Crystal seria minha supervisora dia e
noite, controlando não só minha agenda, mas também menu e visitas ao médico
também.
O FIM
Sobre a autora
Diana Nixon é uma autora de bestsellers internacionais de romance contemporâneo e
fantasia. Mestre em Direito, ela nunca pensou que trairia o mundo das leis e mergulharia na ficção. Mas
desde que seu primeiro livro – Love Lines – foi publicado, percebeu que escrever era sua verdadeira
paixão. Desde então, escreveu mais de 19 livros. Não consegue imaginar sua vida sem seus personagens
fictícios e nunca para de pensar em novas histórias que assombram seus sonhos. Ela é casada e tem duas
filhas – suas maiores fontes de inspiração. Ama música, viajar, café e chocolate. Acredita que escrever é a
melhor cura para tudo que pode ser curado com palavras.