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CENTRO ALPHA DE ENSINO

ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE HOMEOPATIA


KARINA JANOTI DOS SANTOS

MIASMA SICÓTICO: UM ESTUDO DE HAHNEMANN AOS


AUTORES CONTEMPORÂNEOS

SÃO PAULO
2018
KARINA JANOTI DOS SANTOS

MIASMA SICÓTICO: UM ESTUDO DE HAHNEMANN AOS


AUTORES CONTEMPORÂNEOS

Monografia apresentada à ALPHA/APH


como exigência para obtenção do título de
especialista em Homeopatia.
Orientador: Rubens Dolce Filho

SÃO PAULO
2018
Santos, Karina Janoti dos

Miasma sicótico: um estudo de Hahnemann aos autores contemporâneos /


Karina Janoti dos Santos, -- São Paulo, 2018.
41f.
Monografia – ALPHA / APH, Curso de Especialização em Homeopatia.
Orientador: Rubens Dolce Filho
1. Homeopatia 2. Miasma em Homeopatia 3. Sicose I. Título
Agradecimento:

Agradecemos aos Profs. Rubens Dolce Filho e


Mario Sergio Giorgi, à bibliotecária Renata
Rodrigues de Menezes e ao meu marido Igor dos
Santos Montagner pela sua orientação, dedicação
e paciência, sem os quais não seria possível a
realização deste trabalho.
RESUMO

A Teoria dos Miasmas, proposta pelo próprio Samuel Hahnemann, pai da

Homeopatia, até os dias de hoje é motivo de grandes controvérsias. Diversos

autores tentaram explicá-la à luz dos conhecimentos científicos e abordagens

filosóficas de sua época. J. Henry Allen, sucessor de Hahnemann no estudo dos

miasmas, já no final do século XIX identificava importante incremento nos casos de

sicose, o que se propõe até os dias de hoje. Neste trabalho, propomo-nos a abordar

o miasma na sicose desde Hahnemann até os autores contemporâneos, avaliando

os diferentes posicionamentos em relação a ela e sua importância ao longo da

história.

Palavra chaves: Homeopatia, Miasma em Homeopatia, Sicose


ABSTRACT

The Miasm Theory, created by Samuel Hahnemann, the father of Homeopathy, still

causes great controversy. Different authors try to explain it according to the scientific

knowledge and philosophical approaches regarding their respective life time. J.

Henry Allen, Hahnemann’s successor in the miasm studies, at the end of the

nineteenth century identified important growth in the number of sycotic patients,

which we still believe happens nowadays. In the present paper we aim to analyze

Sycosis since Hahnemann to the contemporary authors, evaluating different

approaches and its importance along History.

Keywords: Homeopathy, Miasm in Homeopathy, Sycosis


SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................ 7
2. PROPOSIÇÃO ................................................................................10
3. METODOLOGIA ............................................................................11
4. DIFERENTES ABORDAGENS DA SICOSE ....................................12
4.1 A SICOSE DE ACORDO COM HAHNEMANN ..................................... 12
4.2 CONTINUAÇÃO DO ESTUDO DA SICOSE POR J.H.ALLEN ............. 14
4.3 A VISÃO METAFÍSICA DE JAMES TYLER KENT .............................. 17
4.4 OS FRANCESES E OS MIASMAS .......................................................... 18
4.4.1 A Reticuloendoteliose de Henri Bernard ............................................ 20

4.4.2 Homeopatas Franceses do Final do Século XX .................................. 22

4.5 A SICOSE NA AMÉRICA LATINA......................................................... 24


4.5.1 O Miasma por Ortega ......................................................................... 27

4.6 PERCEPÇÃO DA SICOSE PELOS HOMEOPATAS INDIANOS .......... 28


4.6.1 A Homeopatia Previsível de Prafull ................................................... 29

4.6.2 Sankaran e A Sensação ....................................................................... 31

5. DISCUSSÃO ....................................................................................33

6. CONCLUSÃO .................................................................................37
REFERÊNCIAS.....................................................................................39
7

1. INTRODUÇÃO

Samuel Hahnemann (1755-1843), pai da Homeopatia, após anos de trabalho

e pesquisa na área, notou que, embora com tratamento adequado, não obtinha

resultados satisfatórios no tratamento das doenças crônicas. Embora houvesse uma

melhora inicial com tratamento homeopático, os sintomas tinham caráter

recidivante.1

Dado à investigação, buscou uma explicação para o problema apresentado,

publicando suas hipóteses acerca do assunto, após anos de estudo, em sua

segunda maior obra em importância, o “Tratado sobre as Doenças Crônicas”1,

primeira edição de 1828. Nessa obra, lança a Teoria dos Miasmas.

De acordo com os Descritores em Ciências da Saúde2, pode-se definir

miasma como “uma predisposição diatésica e/ou constitucional, portadora de

matizes individuais e característicos que determinam a maneira e a forma do

adoecer e do reagir, como expressão da susceptibilidade de cada um”.

O dicionário eletrônico Houaiss traz as seguintes definições de miasma,

sendo a primeira relacionada à História da Medicina: “emanação a que se atribuía,

antes das descobertas da microbiologia, a contaminação das doenças infecciosas e

epidêmicas”; “exalação pútrida que emana de animais ou vegetais em

decomposição”.3

Hahnemann admitia a existência de três miasmas crônicos, sendo eles a

psora, a sífilis e a sicose. Afirmava que as doenças causadas por eles se

manifestavam por meio de sintomas locais característicos dos quais se originavam a

maioria (senão a totalidade) das doenças crônicas.1


8

Considerava a psora como a mais antiga, universal e destrutiva das doenças

miasmáticas crônicas, responsável por 7 a cada 8 dos males da humanidade. O

oitavo restante decorreria da sífilis ou, ainda mais raramente, da sicose ou de uma

complicação de dois ou dos três miasmas ao mesmo tempo.1

Posteriormente a Hahnemann, diversos autores discutiram e ampliaram

dada teoria, dando a ela outros enfoques, tendo como base novas descobertas na

área da ciência e diferentes correntes filosóficas. Entre eles, podemos mencionar

eminentes homeopatas, como J.H. Allen, Henri Bernard e James Tyler Kent.

Existe grande controvérsia no que diz respeito à interpretação da Teoria dos

Miasmas, sendo que nem todos os homeopatas a utilizam na prática diária e, de

acordo com vários autores, é a parte menos entendida do estudo homeopático.4,5

Podemos encontrar desde interpretações materialistas, que envolvem

contágio, como a do próprio Hahnemann, até abordagens metafísicas, como em

Kent e Gathak, bem como psicossomática, no caso de Paschero e Ortega, que se

baseiam na psicossomática integral e explicam a sicose como estado ligado às

supressões, causando hipertrofia do ego.5,6,7,8

Ortega ainda sintetiza o mecanismo dos miasmas, afirmando, de maneira

geral, que a psora é a falta, o hipofuncionamento, a inibição da função; a sicose, o

exagero da resposta, a hiperfunção; a sífilis, a destruição, o espasmo, a disfunção.

Tais alterações se manifestam nos diversos tecidos.9

A susceptibilidade às doenças é um tema de extrema importância na área de

Saúde Pública, sendo que evitar o adoecimento tem grande impacto na saúde

individual e coletiva. Medidas de caráter populacional levam em conta a

suscetibilidade dos indivíduos a determinados agentes (biológicos ou não) para

prevenção e promoção em saúde.


9

Trabalho recente de Müller (2000) propõe que a sicose é a doença crônica

universal do século XXI, manifesta, por exemplo, na economia e na política.10 A

autora ainda coloca que, ironicamente, “o miasma sicótico é o estado crônico

imprescindível para que os políticos desenvolvam com êxito seus objetivos”.10

Essa constatação, entretanto, não é recente. J. Henry Allen (1854-1925), um

dos primeiros a tratar da Teoria dos Miasmas após Hahnemann, já mencionava em

seu livro a importância que havia tomado a sicose em seu tempo.11

Da mesma forma, Michaud, em seu livro publicado em 196712, constatou a

frequência da sicose, que considerava doença da civilização e, retomando Henri

Bernard (1895-1980), associou ao envelhecimento precoce.12,13

Fato constatado é que observamos um aumento importante de doenças

crônicas degenerativas na população em um período cada vez mais precoce da

vida, o que corrobora as constatações mencionadas.

Tendo em vista o impacto que essas constatações poderiam ter em

prevenção e promoção de saúde, propomo-nos, neste trabalho, a resgatar a Teoria

dos Miasmas em seus diversos matizes, desde Hahnemann até os autores

contemporâneos, como Sankaran, com enfoque no miasma da sicose. Por fim,

realizamos uma discussão com base nos principais tópicos levantados ao longo do

estudo.

Antes de iniciarmos o estudo, gostaríamos de esclarecer que os conceitos

de doença infecciosa, microrganismos, e a diferenciação das doenças sexualmente

transmissíveis são relativamente novos, não estando claros na época de

Hahnemann e vários de seus sucessores, o que causa certa confusão nas

definições e abordagens dos miasmas.14


10

2. PROPOSIÇÃO

Levando-se em consideração a possível importância da sicose do ponto de

vista de Saúde Pública, objetivamos neste trabalho fazer uma análise teórica das

abordagens desenvolvidas na área, resgatando a Teoria dos Miasmas em seus

diversos aspectos, desde Hahnemann até os autores contemporâneos, com enfoque

no miasma da sicose. Propomo-nos ainda a destacar alguns dos principais pontos

de discussão do referido miasma.


11

3. METODOLOGIA

Realizamos revisão de literatura, tomando como base publicações na forma

de livros e artigos.

Os livros foram selecionados de acordo com sua importância histórica e seu

impacto atual na prática homeopática.

Os artigos foram pesquisados nas bases de dados PubMed e Homeoindex,

utilizando as palavras “Sycosis AND Homeopathy”.

Foram selecionados os artigos que apresentavam relevância para o tema

discutido, nos idiomas português, inglês, espanhol e francês.


12

4. DIFERENTES ABORDAGENS DA SICOSE

Abaixo colocamos a sicose sob o ponto de vista de diversos homeopatas.

Procuramos desenvolver o estudo cronologicamente, o que nem sempre se aplicou

dado que, em alguns pontos, valorizamos a comparação entre autores em

detrimento da linha do tempo, para maior clareza.

4.1 A SICOSE DE ACORDO COM HAHNEMANN

Para Hahnemann1, a sicose, dentre os três miasmas crônicos, era o menos

comum, sendo que em seu “Tratado das Doenças Crônicas” dedica apenas poucas

páginas à abordagem da mesma.

De qualquer forma, assim como para os outros dois miasmas crônicos,

considerava que sua natureza seria contagiosa, sendo doença venérea no caso da

sicose e da sífilis.

A transmissão da doença ocorreria por contato sexual com indivíduo

contaminado, sendo que considerava que as excrecências locais tinham poder de

contágio.

Essas excrescências, de manifestação inicial nos genitais, viriam

acompanhadas de uma espécie de gonorreia capaz de penetrar o organismo todo,

em contraposição às gonorreias comuns que só afetariam os órgãos urinários

localmente.

Também chamava a sicose de “doença da verruga do figo” (sic(o)-, do

grego sûkon, ou figo15), sendo o condiloma sua “manifestação local aliviadora


13

substituta”16, e dizia que a mesma não abandonaria as partes externas do corpo a

menos que fosse inadvertidamente destruída por meio de remédios supressores

externos (internalizando-se) ou racionalmente tratada por meio da Homeopatia. No

segundo caso, ocorreria cura interna simultânea da totalidade da doença.

Lembramos ainda que, para o pai da Homeopatia, quando a doença se

manifestava através de sintomas externos, significava que o organismo todo já

estava tomado pelo miasma.

Quanto ao tratamento da sicose, Hahnemann recomendava que fosse feito

através de medicamentos internos específicos (homeopaticamente) e que se

mantivesse até a cura da manifestação local, o que sinalizaria a cura completa da

doença interna.

Afirmava ainda que poderia haver ligeira dificuldade no tratamento da sicose,

podendo ser necessárias doses alternadas de Thuya e Nitricum acidum, mas que

ela só se transformava realmente em doença insidiosa de cura difícil quando

complicada pela psora.

O tratamento deveria ser iniciado com Thuya na 30CH em glóbulos,

alternado com Nitricum acidum 6CH conforme a necessidade, a fim de remover a

secreção uretral e as excrescências. Se necessárias doses adicionais de Thuya,

Hahnemann recomendava utilizá-la em potências decrescentes (24, 28, 12 ou 6CH).

Caso houvesse complicação com os outros miasmas, tratar inicialmente a

psora, partindo em seguida para a sicose e, por último, a sífilis.

Importante ainda destacar que, além do tratamento medicamentoso,

Hahnemann sempre orientava mudanças no estilo de vida.


14

4.2 CONTINUAÇÃO DO ESTUDO DA SICOSE POR

J.H.ALLEN

Allen11 foi um dos primeiros autores a dar continuidade ao estudo dos

miasmas após Hahnemann, tendo inclusive escrito livros sobre o assunto. Dedicou

um livro todo ao estudo da sicose11, do qual apresentamos os principais aspectos

abaixo.

Para Allen, o conhecimento dos miasmas e suas manifestações é

fundamental ao médico. Afirmava que a totalidade sintomática não deveria ser o

único princípio para a prescrição homeopática adequada, mas que ela deveria ser

composta pelos sintomas apresentados pelo miasma ativo. Colocava que os

sintomas representam a essência da doença, e que os miasmas crônicos são essa

essência.

Admitia os miasmas como forças subversivas que se tornariam forças

criativas e se ligariam à força vital, sendo que essa ligação só poderia ser rompida

mediante assistência (o tratamento homeopático adequado).

Também aceitava a possibilidade de associação entre os miasmas,

admitindo ainda a existência de um “miasma anexo”, a pseudo-psora, que

corresponderia ao miasma tuberculínico trazido à tona pelos franceses.

Especificamente em relação à sicose, dividia a mesma em estágios primário,

secundário e terciário, desenvolvendo um estudo sobre os sintomas de cada

estágio. A doença evoluiria para seus estágios secundário e terciário na ausência de

tratamento ou se ele fosse inadequado (supressão).

A principal via de transmissão da sicose seria sexual, sendo também

frequente a transmissão hereditária, motivo de intensos sofrimentos à criança (que


15

deveria ser tratada o quanto antes, devido à boa resposta das crianças ao

tratamento homeopático).

Também colocava a vacinação como uma forma de introdução da sicose no

organismo, o que Burnett também afirmava quando, em 1892, descreveu um quadro

de perturbações mórbidas (semelhantes às da sicose) originadas da vacina da

varíola (o que chamou de vacinose) e seu tratamento pela Thuya.8,13,14,17,18

Há relatos de que Boenninghausen recomendava Thuya quando as pústulas

da vacina da varíola eram muito grandes, curando diversos distúrbios considerados

vacinais, como cefaleias crônicas, nevralgias, paresias e estados gripais

recidivantes.17

De forma similar a Hahnemann, Allen não se referia à sicose como sinônimo

de gonorreia, mas afirmava ser a sicose um tipo específico de gonorreia, com

sintomas característicos.

Na história típica de um caso de sicose haveria pouca dor, com uma leve

queimação no meato uretral, mas nunca muito severa. A secreção seria escassa,

mas mucopurulenta já no estágio inicial, de odor ofensivo. Teria período de

incubação de cinco a dez dias, sendo que o paciente apresentaria ansiedade já no

início do quadro, com desejo frequente de examinar o genital afetado. A ansiedade

seria tamanha que o paciente aceitaria quaisquer meios de interromper a secreção,

que para ele seria a doença como um todo.

Uma vez suprimida a secreção, a doença evoluiria para seu estágio

secundário, com estase e inflamação característica nos órgãos internos, mais

manifesta por inflamação pélvica na mulher, frequentemente tratada por meios

cirúrgicos. Caso fosse transmitida nesse estágio, aquele que foi contaminado pela

doença não apresentaria sintomas primários.


16

Se a doença não fosse efetivamente tratada nesse estágio, ou fosse

suprimida (por exemplo, por retirada do útero e ovários), passaria para seu estágio

terciário. Poderia se manifestar por lesões verrucosas, malignidades em diferentes

órgãos (como câncer, lúpus, diabetes), degeneração cística, crescimentos fibrosos,

reumatismo crônico ou condições gotosas (que poderiam inclusive afetar órgãos

internos).

Do ponto de vista psíquico, devido à supressão, poderiam surgir quadros de

mania e insanidade.

Sabemos que Hahnemann apresentava um viés religioso em suas obras. Em

Allen, ele é mais destacado. Associava claramente a sicose à luxúria e à não

obediência aos Dez Mandamentos, causa dos sofrimentos humanos.

Em relação ao tratamento, advogava pelo uso de altas potências, não

menores do que 30CH, sem limite superior, sendo que acreditava que maior

potência representava maior poder.

Recomendava que se iniciasse o tratamento pelo miasma ativo, descrevendo

uma infinidade de medicamentos para o tratamento da sicose. Colocava que se

deveria ter cuidado na repetição dos medicamentos de ação profunda, o que seria

potencialmente danoso ao paciente e prejudicaria a cura.

Em casos em que houvesse supressão prévia, a secreção genital deveria ser

reestabelecida (ou surgir outra forma de eliminação) para que o tratamento fosse

efetivo. A doença deveria desaparecer na ordem inversa de aparecimento, de

acordo com as Leis de Hering.

Allen colocava que o paciente deveria estar ciente da sua doença e que, para

que se tivesse sucesso, o tratamento poderia ser longo. Também destacava a

necessidade fazer as mudanças adequadas no estilo de vida.


17

Concluindo, acreditava que em seu tempo a sicose desempenhava papel tão

importante quanto a psora, razão do aumento dos casos de câncer e outras

malignidades.

4.3 A VISÃO METAFÍSICA DE JAMES TYLER KENT

Kent (1849-1916), importante homeopata americano, contribuiu de maneira

importante com o estudo da Homeopatia, especialmente no que diz respeito à

produção do seu repertório, utilizado até os dias de hoje e servindo como base para

novos repertórios.

Sua abordagem teórica da Homeopatia foi compilada na obra Lições de

Filosofia Homeopática6, que reúne várias de suas palestras e essencialmente com

base na qual fazemos os apontamentos que seguem.

No que concerne o miasma, notamos em Kent um viés metafísico, em boa

parte devido à influência de Swedenborg (1688-1772).19 Declarava que todos somos

psóricos, e que a suscetibilidade às outras doenças dependia da psora, a qual

relacionava ao Pecado Original.

Em relação à sicose, o autor partilhava em boa parte das ideias de Allen.

Acreditava que nem todos os casos de gonorreia se tratavam de sicose, mas sim as

que tinham tendência à cronicidade, determinando o miasma crônico.

Destacava ainda o aumento de prevalência da sicose na população, bem

como os prejuízos da supressão, aprofundando a doença e não impedindo sua

transmissão.

Relacionava à sicose inicial as descargas uretrais e, na evolução da doença,

acometimento uterino, pulmonar, renal, reumatismos, anemia profunda e até a


18

morte. Colocava ainda que os estados iniciais não eram apresentados pelos

pacientes que adquiriam a doença em estágios mais tardios de seus transmissores.

Kent sublinhava que a sicose afetava os tecidos moles, mas não os ossos, ao

contrário da psora, que atingiria toda a economia e causaria um declínio geral.

No caso das crianças acometidas, acreditava que tinham apenas a natureza

interior da doença, sendo mais suscetíveis à sicose gonorreica quando houvesse

exposição na fase adulta, suscetibilidade essa determinada pela hereditariedade.

Relatava que o tratamento adequado deveria ser realizado com um

medicamento homeopático antissicótico, com sucesso avaliado através do retorno

de sintomas antigos. Colocava Calcarea como um dos mais profundos

antissicóticos.

4.4 OS FRANCESES E OS MIASMAS

Diversos homeopatas franceses/francófonos contribuíram com a noção de

predisposição às doenças. Entre eles, podemos citar o suíço Antoine Nebel (1870-

1954), o francês Leon Vannier (1880-1963), que deu continuidade aos estudos

iniciados por Nebel, Fortier-Bernoville (1896-1939), M. Martiny, François Lamasson

(1907-1975), Roland Zissu (1919-2016), Denis Demarque (1915-1999), entre

outros.20,21

De modo geral, na concepção dos homeopatas franceses, recebe destaque o

conceito de terreno, o que é motivo de crítica da parte de outros homeopatas, entre

os quais o professor brasileiro José Laércio do Egito7.


19

Ele refuta o conceito de terreno com a justificativa de que, sendo a

biotipologia definida, em grande parte, pelo genótipo, não seria passível de ser

modificada pelo medicamento homeopático.

Além disso, os franceses consideram múltiplas etiologias para a sicose, entre

as quais as causas infecciosas (como o próprio gonococo, salmoneloses, micoses,

E. coli); causas tóxicas provenientes, por exemplo, da poluição atmosférica e das

águas; causas alimentares, que podem ser quantitativas (excesso de ingesta) e

qualitativas (provenientes mesmo do mau uso do solo); causas iatrogênicas (uso

abusivo de medicamentos, vacinações, soroterapia), entre outras. 12,13

Vannier estabeleceu uma lista de medicamentos empregados no tratamento

da sicose. Para ele, a doença se originava da gonorreia, das vacinas e soros.8,12,14

Além disso, trouxe a ideia do cancerinismo como uma conjunção dos três miasmas

básicos (sendo que muitos autores consideram o cancerinismo como um estado

mais avançado da sicose).18,22

Lamasson, em 1945, teve como objetivo apoiar a teoria amplamente difundida

da relação entre gonorreia e sicose. O fez através de exames laboratoriais,

estudando as alterações do leucograma e complemento causadas pela

gonococcia.14

Importante citar o homeopata alemão Eduard Von Grauvogl (1811-1877), um

dos primeiros a integrar a sicose em uma concepção constitucional (pelo que é

estudado juntamente com os homeopatas franceses).

Grauvogl estudou a constituição sob um ponto de vista bioquímico,

relacionando a sicose a um estado que classificou como hidrogenoide, em um

contexto de embebição do tecido reticuloendotelial, no qual haveria tendência


20

passiva à retenção hídrica, edemas, sensibilidade ao tempo úmido e à beira-mar,

lentidão, fadiga, apatia e indolência. 8,14,18

Clinicamente corresponderia aos asmáticos, reumáticos e obesos. O autor

indicava como medicamentos antissicóticos a Thuya, Natrum sulphuricum, Calcarea

carbonica, entre outros. 8,14

Dito isso, focaremos este trabalho nos estudos de Henri Bernard (1895-1980),

que escreveu extensamente a respeito da sicose, especificamente em relação à

teoria da reticuloendoteliose crônica.13 Em seguida, colocaremos diferentes análises

da sicose na França a partir dos anos 1980.

4.4.1 A Reticuloendoteliose de Henri Bernard

Os trabalhos modernos sobre a sicose (no século XX) têm como objetivo dar-

lhe uma explicação etiopatogenética com base na Patologia, Fisiologia e, mais

recentemente, Imunologia e Genética.14

Um dos pioneiros nessa concepção foi Fortier-Bernoville e sua escola (dentro

da qual destaca-se Martiny, mencionado previamente). Fortier-Bernoville relacionou

a sicose ao tecido reticuloendotelial, tese defendida e ampliada por Henri

Bernard.13,14

Em seu livro “La Réticulo-Endotheliose Chronique ou Sycose”13, especulativo

e bastante observacional23, Bernard caracterizou a sicose como fruto de uma

agressão de toxinas (por exemplo, microbianas e vacinais) ao sistema

reticuloendotelial de forma ampla e lenta, ou seja, crônica. 9,13,14

Analisando as funções do tecido, entre as quais nutrição, circulação e

proteção, Bernard acreditava em suas reações as causas profundas da sicose. Para


21

o autor, a hipertrofia do sistema reticuloendotelial desempenhava um papel

importante na sicose.9,13,14

Destacava ainda as características da doença condicionadas pela

constituição do indivíduo acometido, deixando claro que o aspecto do miasma (por

exemplo, apresentação psórica ou sicótica) seria variável de acordo com o

terreno.13,14

Ainda em seu livro13, colocava que psora e sicose não seriam duas reações

diferentes, e sim uma progressão irreversível, sendo que na psora o organismo

apresentaria um poder centrífugo que, se perdido, progrediria para sicose, em que

há acomodação ao processo de adaptação.14

Henri Bernard também insistia na ação nefasta do uso repetitivo de soros e

vacinas, e acreditava que mais de 50% dos indivíduos que consultavam um

homeopata à sua época poderiam ser considerados sicóticos.9,13

Em acordo com Hahnemann, colocava Thuya como o grande medicamento

da sicose, citando, entre outros, Natrium carbonicum, Natrium sulfuricum e Nitricum

acidum.13 Fazia uso, ainda, de bioterápicos em seus tratamentos.13

Importante mencionar que, além do tratamento medicamentoso, faz

orientações no final de sua obra sobre questões alimentares, atividade física e

condições de vida (obviamente, de acordo com o conhecimento da época em que

viveu).13

A respeito das condições de vida (clima, ambiente, profissão, etc), colocava

que poderiam ser agravantes à reticuloendoteliose crônica, mas que frequentemente

não seriam passíveis de modificação, o que já constatava Hahnemann no parágrafo

208 do seu Organon quando falou dos obstáculos à cura.13,16


22

Conclui seu livro colocando a sicose como um flagelo social, agente

prejudicial à capacidade produtiva humana e de envelhecimento precoce.13

4.4.2 Homeopatas Franceses do Final do Século XX

Cabe colocar que autores contemporâneos, como Othon André Julian e Marc

Haffen, em 1984, trouxeram à tona definições mais modernas dos miasmas, ainda

embasadas no conceito de terreno.5

Referiram-se à sicose como “dismetabolose”, dizendo que se baseia em

transtornos de duas áreas: defeitos enzimáticos das vias catabólicas e de transporte

através das membranas celulares. Ambas condições estariam relacionadas à cadeia

de DNA danificada e mutada.5

Scimeca (1996) define a sicose como um “modo reacional particular ligado às

agressões múltiplas, atingindo preferencialmente o espaço pericelular e

caracterizado pela retenção, embebição e, por fim, a esclerose”.18

Afirma que ela se resume em três grupos semiológicos: as descargas

mucopurulentas subagudas ou crônicas das mucosas genitais e da rinofaringe;

infiltração anormal do tecido reticuloendotelial com embebição e proliferação tumoral

benigna.18

Cita diversos fatores etiológicos do mundo moderno, como alimentação

desequilibrada, uso abusivo de suplementos alimentares, poluição atmosférica,

parasitoses, uso repetitivo e prolongado de medicação alopática, vacinas etc.18

Resume todos os fatores mencionados dizendo que “toda agressão que

rompe o funcionamento normal do organismo previsto pela natureza e

representando uma variação ecológica (do ponto de vista Darwiniano) é causador de

sicose”.18
23

A ruptura ecológica se traduziria pela presença de proteínas extrínsecas

anormais no interior do organismo provenientes das agressões externas ou

intrínsecas ao organismo em desequilíbrio (como no caso de infecções e distúrbios

psíquicos). Como consequência, haveria uma modificação do perfil proteico do

indivíduo, com prevalência de betaglobulinas e lipoproteínas (que, sendo elementos

fundamentais no funcionamento das membranas celulares e espaço pericelular,

explicariam a razão de a sicose afetar mais pronunciadamente o entorno da célula,

sobretudo o tecido reticuloendotelial).18

Michaud (1996), já citado previamente, em publicação mais recente ressalta

que é insuficiente se limitar ao uso dos medicamentos homeopáticos clássicos para

tratar a sicose no mundo moderno. Coloca que devemos aprender a utilizar

medicações tais como Penicillinum e Folliculinum (estrógeno dinamizado24).22

Na mesma publicação, define a sicose como “o conjunto de modificações

trazidas a longo prazo às faculdades reacionais normais do organismo através de

diversas agressões não específicas às quais ele foi submetido”.22

Guermonprez (1996), referindo-se à sicose, afirma que “as diáteses

constituem o elemento conceitual complementar da similitude e do uso de doses

infinitesimais para formar o tripé fundamental da Homeopatia”.22

Reforça, como já dito por Allen, que a sicose reage lenta e tardiamente ao

tratamento, sendo a mais tenaz das diáteses. Os casos crônicos podem persistir por

anos.22

Horvilleur (1996), referindo-se à prescrição homeopática, sugere que não

partamos da sicose para prescrever medicamentos correspondentes a ela, mas sim

que devemos utilizá-la como elemento de confirmação do(s) medicamento(s)

selecionado(s), evitando assim uma restrição excessiva.22


24

Voltamos a mencionar Guermonprez (1996) em relação à prescrição. O

mesmo afirma que os policrestos são polidiatésicos, mas que não podemos associar

todos os grandes remédios a todas as diáteses, visto que, de tal forma,

inutilizaríamos a própria noção de diátese (que assim não seria útil na escolha do

medicamento).22

Pitron (1996) tenta esquematizar os grandes “homeosicóticos”. Divide a

sicose em três estados de gravidade crescente de acordo com a eficácia de

eliminação do organismo.25

Na fase inicial da sicose, destaca o uso de Graphites, Sepia ou Natrum

sulfuricum. Para a sicose instalada, Thuya (principal medicamento), bem como

Hydrastis, Kali bichromicum ou Dulcamara. No estágio final, da “sicose seca”, em

que há maior degradação tissular, Causticum, Conium, Silicea e Nitricum acidum.

Coloca também o nosódio Medorrhinum como medicação complementar.25

Os franceses mantêm a noção de terreno como muito importante no

diagnóstico e prescrição homeopáticos.22

4.5 A SICOSE NA AMÉRICA LATINA

Nos tempos modernos, diversos autores brasileiros, mexicanos e argentinos

discutiram o tema dos miasmas. Entre eles, podemos citar o já mencionado

brasileiro José Laércio do Egito7, bem como os argentinos Tomás Pablo Paschero

(1904-1986), Francisco Xavier Eizayaga (1921-2001) e Alfonso Masi Elizalde (1932-

2003) e o mexicano Proceso Sanchez Ortega (1919-2005). 8,26


25

Visto que o professor Egito não traz uma teoria nova em sua obra, e sim

busca analisar e debater as já existentes, gostaríamos apenas de citar que ele vê os

miasmas como mecanismos de defesa do corpo.

Não os coloca separadamente, e sim em conexão contínua e crescente em

gravidade, sendo que a sicose entraria em ação no esgotamento dos mecanismos

da psora, o mesmo ocorrendo com a sífilis em relação à sicose.7

Critica a concepção de terreno dos franceses, visto que considera que se os

miasmas são a representação fenotípica do genótipo, não seriam passíveis de

mudança através do medicamento homeopático.7

Também não considera o miasma do tuberculinismo, dado que o mesmo não

teria mecanismo próprio, não sendo assim um novo miasma.7

Paschero define a psora como uma desordem mórbida do corpo todo,

impressa no genoma do indivíduo, que lhe dá um modo particular de reação ante os

patógenos. Ao contrário de outros autores, define a resposta defensiva psórica como

supranormal ou hiperérgica, ainda que limitada a quadros funcionais.5

Para Paschero, o mediador da resposta psórica é o sistema neurovegetativo,

e a assemelha às alergias, diferenciando psora e alergia apenas no que diz respeito

à expressão clínica.5

De acordo com Eizayaga, a sicose, na esfera mental, produziria “perversão

dos sentimentos”, particularmente aos relacionados ao amor, formando assim a

base para as perversões sexuais, agressividade, maldade, crueldade, egoísmo,

delinquência etc.26

Em relação aos tecidos, provocaria “perversão da reprodução celular”,

caracterizada por neoplasias benignas que se transformariam em malignas quando

da união com a sífilis, produzindo assim os diversos tipos de câncer.26


26

Interessante notar que a “perversão”, que Eizayaga relaciona à sicose, na

maioria dos autores é referida em relação à sífilis.

Eizayaga, assim como outros renomados homeopatas argentinos, entre os

quais E. Puiggrós e B. Vijnovsky, buscava curar, inicialmente, o primeiro nível da

doença (doença sintomática), só atacando o estado miasmático do paciente (que

seria o nível de fundo) caso o mesmo se manifestasse sintomaticamente no final do

tratamento.7

Masi Elizalde aborda a Teoria dos Miasmas sob um ponto de vista teológico,

sendo que a doença teria origem metafísica, decorrente da “inconformidade com os

desígnios do Criador”, relacionada ao Pecado Original.27

Considerava a existência de um único miasma, a psora, que se apresentaria

em três etapas evolutivas (nas quais não nos aprofundaremos, visto que isso fugiria

do escopo deste trabalho).7,27 Os outros miasmas seriam atitudes defensivas que se

desenvolveriam em razão do sofrimento essencial do ser humano.27

Acreditava na existência de apenas um Simillimum para toda a vida,

destacando que “o similar suprime sempre”.27

Da mesma forma, gostaríamos de citar a obra do argentino Jorge Alberto

Casale (1929-2009) referente aos miasmas crônicos, na qual os aborda como uma

perturbação do tônus bioenergético, sendo a sicose uma distonia (que segue a

hipertonia psórica, e é mais profunda que ela) decorrente da supressão de

exonerações ou utilização de paliativos.28

Define sicose como “um estado crônico de distonia vital que se instala sobre

uma psora predisposta e impotente para se recuperar e que provoca sintomas

funcionais ou orgânicos de natureza e ação desordenada e pervertida”.28


27

Também está de acordo com o fato de que as proteínas heterólogas das

vacinas são causa de sicotização. Refere ainda que cada miasma causa

determinado grupo de sintomas e enfermidades que não pode ser produzido por

outro.28

Assim como H. Bernard, coloca como agentes causadores da sicose os

tóxicos e infecciosos que exercem ação de tempo prolongado sobre o sistema

reticuloendotelial. Destaca a possibilidade de transmissão hereditária e por meio da

convivência sem que haja, no último caso, contágio. Alguns fatores endócrinos,

como as alterações decorrentes da puberdade, menopausa, gestação e

abortamento também poderiam predispor a alterações bioenergéticas.28

4.5.1 O Miasma por Ortega

Retomando o que já foi citado, Ortega se baseia na psicossomática e explica

a sicose como estando ligada às supressões, causando hipertrofia do ego.8

Sintetiza o mecanismo dos miasmas afirmando que a psora é a falta, o

hipofuncionamento, a inibição da função; a sicose, o exagero da resposta, a

hiperfunção; a sífilis, a destruição, o espasmo, a disfunção, sendo que suas

alterações se manifestam nos diversos tecidos.9

Fala de uma “predisposição congênita ou adquirida, mas essencial e

invariavelmente crônica, em virtude da qual podem-se produzir alterações”.9

No que diz respeito à sicose, coloca-a como doença crônica ou estado

constitucional que resulta de supressões de eliminações blenorrágicas e catarrais

caracterizadas pelo excesso por meio de aumento de excitabilidade, exteriorização,

produtividade, neoformações, hipertrofia, hipercinesia, volubilidade.29


28

Assim como Allen, acredita que devemos encontrar, na clínica, a síndrome

mínima de valor máximo que forma o miasma predominante.29 Ortega, na seleção

do medicamento, observa o sintoma à luz do miasma. Podemos citar, como

exemplo, a rubrica repertorial “medo”, na qual são relacionados diversos

medicamentos; ao fim da repertorização, vários medicamentos podem ser

selecionados, cada qual ligado a um miasma diferente. No entanto, conhecendo-se

o quadro miasmático, pode-se selecionar a medicação mais adequada ao caso.7

4.6 PERCEPÇÃO DA SICOSE PELOS HOMEOPATAS

INDIANOS

A Homeopatia é muito difundida na Índia, sendo que muitos homeopatas

contemporâneos de renome são indianos. Destacamos entre eles Gathak, Prafull e

Sankaran.

De Gathak, restringimo-nos a mencionar que tem uma abordagem

semelhante à de Kent no que diz respeito ao miasma, abordando-o do ponto de vista

metafísico, filosófico espiritual.5,7,28

Ele atribuiu a origem da psora ao “pensamento equivocado” do homem,

separado da vontade de Deus, do que decorre uma desordem mental e, por fim, as

repercussões físicas.5

Ampliaremos abaixo o estudo do miasma na visão de Prafull e Sankaran.


29

4.6.1 A Homeopatia Previsível de Prafull

Abaixo descrevemos as principais concepções de Vijayakar Prafull no que diz

respeito à sicose. Tomamos como base seu livro “Homeopatia Previsível Parte III –

O fim da Minhasmação dos Miasmas”.4

Para Prafull, miasma significa resposta de defesa da célula, e a sicose é

equivalente à nossa resposta de defesa construtiva, a proliferação de células e de

outros produtos.

Afirma que, como a célula tem somente três respostas defensivas, podemos

ter apenas três tipos de doenças crônicas e, como consequência, três miasmas.

Considera os demais miasmas como pseudomiasmas. Visto que compara a

inflamação à psora, e a inflamação é a primeira resposta de um organismo face à

lesão celular, a psora é a mãe de todas as doenças. Propõe ainda que, como todos

necessitamos da resposta fisiológica inflamatória e não sobrevivemos sem ela,

ninguém pode estar livre da psora.

Assim, as doenças começariam com uma inflamação aguda (psora),

progrediriam para uma inflamação crônica (sicose) e posterior endurecimento (ainda

na sicose) ou ulceração e destruição (sífilis).

As doenças sicóticas, tanto no nível físico quanto mental poderiam se

manifestar por meio de deficiência ou excesso. Por exemplo, dilatação, que seria

causada por deficiência de fibrina, classifica como sicose por falta; relaxamento dos

tecidos, por deficiência de elastina, também sicose por falta; endurecimento dos

tecidos por excesso da produção de fibrina, a sicose por excesso; contração dos

tecidos por excesso de produção de elastina, sicose por excesso, e assim por diante

nos diversos tecidos.


30

No campo comportamental, refere-se à sicose por excesso como no indivíduo

que apresenta exagero ou expressão excessiva, tenta enganar, astúcia e ostentação

ou fingimento, falsidade, tendência a colecionar, sempre de maneira expressiva.

Na sicose por deficiência há tentativa de esconder, quietude, segredo,

tendência a enganar, fraudar, iludir, soberba, deficiência intelectual ou falta de senso

moral, indivíduo furtivo, sempre agindo de maneira pouco expressiva.

Tece ainda algumas considerações sobre terreno, descrevendo os tipos

constitucionais dos diferentes miasmas e sua suscetibilidade patológica, chegando a

falar inclusive na existência de um “gene da proliferação” herdado por aqueles que

apresentam constituição sicótica.

Classifica ainda a segunda fase da vida, por volta dos 20 aos 50 anos, como

predominantemente sicótica, o que justifica com a tendência à reprodução e

acúmulo de bens materiais, além do surgimento de doenças tipicamente sicóticas

(como miomas, hipertensão, diabetes, obesidade).

Prafull também propõe que se acrescente o miasma às Leis de Cura ou Leis

de Hering, da seguinte forma: “do miasma mais destrutivo (...) para o menos

destrutivo, isto é, da sífilis para a sicose, da sífilis para a psora ou da sicose para a

psora”.

O miasma, sendo uma característica defensiva do corpo, deveria se

manifestar na mente, no corpo, nas doenças, nos sonhos, nas tendências, gostos,

aversões, ou seja, em todas as esferas da vida do indivíduo.


31

4.6.2 Sankaran e A Sensação

Sankaran explora o assunto dos miasmas em seu livro “A Sensação em

Homeopatia”.30 Considera a existência de dez miasmas, tendo sido responsável por

acrescentar à lista de miasmas o agudo, tifoide, malárico e tineídeo.

Para ele, a classificação miasmática é uma classificação de doenças. Como

interpreta o conceito de doença como uma ilusão (situação falsamente percebida),

considera os miasmas como uma classificação de ilusões, o tipo de percepção que o

indivíduo tem de uma situação.

O miasma é um dos componentes a definir o remédio do caso (juntamente

com a sensação, sendo que declara que miasma e sensação são inseparáveis,

podendo-se descrever “o estado da doença como o ponto de cruzamento da

sensação com o miasma”).

Relaciona ainda os temas identificados em cada miasma. Na sicose,

considera “o sentimento de uma fraqueza fixa e irremediável dentro de si mesmo”; “a

visão da situação é que o problema é irremediável e fixo, mas não fatal”.

Estabelece uma graduação da psora à sífilis, sendo que o mecanismo de

enfrentamento muda da luta para a aceitação até a desistência, com diminuição da

esperança e aumento do desespero e profundidade (com a qual a sensação é

vivida), estando a sicose em uma situação intermediária.

Para Sankaran, a percepção na sicose é a de ter que aceitar a situação e

viver com ela, visto que há uma fraqueza interna que é fixa e irreparável, não sendo,

entretanto, fatal. Admitindo sua fraqueza interna, o indivíduo sicótico tenta escondê-

la dos outros com segredo, egotismo, atitudes compulsivas, ideias fixas, fanatismo,

monomania e atos ritualísticos.


32

Assim como outros autores, admite que a psora é mãe da sicose, dado que

a aceitação da fraqueza surge após ter lutado por determinado tempo.

Na situação de fracasso, há culpa, remorso, repreensão de si mesmo e

sensação de estar exposto.

Assim como Prafull, admite que a sicose é tipicamente observada em

pessoas de meia idade em que, após terem lutado longo período contra seus

defeitos, começam a aceitá-los e aprendem a encobri-los. Nesse período as ideias

se tornam rígidas, há restrição de liberdade.

Lista como patologias típicas da sicose a asma, neuroses, verrugas e

crescimentos benignos. Como possíveis medicamentos coloca Thuya, Medorrhinum,

Natrum sulphuricum, Silicea, Pulsatilla e Lac caninum, embora seja prudente

destacar que a escolha do medicamento adequado, com base no miasma, é

complexa e envolve um entendimento profundo do miasma e da sensação.

Sankaran traz exemplos de tratamentos bem-sucedidos em seu livro, leitura

interessante para o aprofundamento da abordagem diagnóstica e de tratamento do

autor.

Gostaríamos de mencionar, sem entrar em detalhes, que alguns dos outros

miasmas considerados por Sankaran envolvem a sicose. O miasma malárico estaria

entre o agudo e a sicose; o tineídeo, entre a psora e a sicose; já o cancerínico,

assim como o tuberculínico, entre a sicose e a sífilis (o que não é consenso entre os

autores).
33

5. DISCUSSÃO

O conteúdo previamente apresentado não deixa dúvidas de que mais estudos

são necessários no que diz respeito aos miasmas. Muito se evoluiu desde o início do

século XIX, com hipóteses relacionadas a conceitos científicos extensamente

comprovados.17

Podemos citar, em caráter de exemplo, a relação entre o uso precoce de

antibióticos na criança e o surgimento de doenças no adulto. Novos estudos

sugerem que o uso de antibióticos na infância causa desbalanço na microbiota

intestinal ou “disbiose”. Isso se relacionaria com o aparecimento de doenças tais

como obesidade, asma e diabetes.31

Tais relações, embora em caráter observacional, são feitas pela Homeopatia

há muitos anos, sendo que as doenças mencionadas fazem parte do espectro da

sicose.

Hoje já se sabe que o terreno biológico é proveniente da interação da herança

genética com fatores ambientais (que incluem os microrganismos, alimentação,

vacinação etc), sendo assim, estritamente individual e complexa.32 Mais atual ainda,

a epigenética vem explicar que a interação em si atua sobre o terreno biológico.

No entanto, embora seja clara a predisposição individual às doenças, bem

como os mecanismos de defesa, os miasmas em si, em sua essência, ainda

carecem de comprovação científica.

Michaud (1967)12 sugere que sejam feitos estudos experimentais para

constatação das causas possíveis de sicotização. Acredita que poderiam ser

utilizados os meios de experimentação biológica habituais, provocando em um


34

animal uma agressão leve e repetida, o que poderia tornar possível a visibilidade

dos fenômenos de sicotização.

No entanto, o próprio autor evoca que tal experimentação deveria ser avaliada

com reservas, visto existirem diversos fatores confundidores, como a escolha do

animal, a via de introdução, o período de observação para avaliação de resultados

satisfatórios, e o próprio fato de que os homeopatas são muito reticentes no que diz

respeito à utilização de modelos animais (pois os sintomas mentais são dificilmente

apreendidos nesse tipo de experimentação).12

Estudos em humanos no que concerne o processo de sicotização, ainda que

se levasse em consideração o fato de que os métodos de estudo habituais são

dificilmente aplicáveis à Homeopatia, que se baseia em paradigmas outros que não

os da medicina hegemônica, são inviáveis.

Além das dificuldades apresentadas nos possíveis estudos realizados com

animais em experimentação, teríamos outros a acrescentar. A impossibilidade de

manutenção de um indivíduo em ambiente controlado, minimizando assim os fatores

confundidores, é um deles, implicando ainda na dificuldade de identificação dos

possíveis fatores sicotizantes.

Trabalhos envolvendo tratamento de um processo de sicose já em andamento

também apresentariam grande empecilhos. Conforme já mencionado, para o

sucesso do tratamento, pode ser necessário um período de meses a anos, o que

dificulta sobremaneira o seguimento de um número suficiente de pacientes.

Outro fator a se levar em conta é a terminologia utilizada na abordagem dos

miasmas.5 Dado que os termos remontam a doenças caracterizadas e amplamente

conhecidas (como a sífilis), a utilização dos vocábulos “psora”, “sicose” e “sífilis”

causam confusão mesmo no meio médico. Em alguns momentos, não se sabe se


35

refere-se à “sífilis-miasma” ou à “sífilis-doença”, o que traz descrédito à Homeopatia

dentro da comunidade médica. É imperativo modificar e uniformizar a terminologia

com base nos conhecimentos científicos mais atuais.

Barbancey (1996), em acordo com o que foi dito no parágrafo anterior e com

base na evolução do entendimento de sicose, define-a como “desregulação

imunológica dos autoheteroanticorpos por ataque ao sistema reticulohistiocitário”.23

Assunto de extrema importância na atualidade, considerando-se a sicose

como o miasma predominante nos dias atuais, é a vacinação. Saber se a suposição

de que as vacinas levam à sicotização condiz com a realidade é fundamental.

Considerando-se a importância que as vacinas têm em Saúde Pública, no

caso de realmente levarem à sicose, cabe-nos encontrar alternativas viáveis e

factíveis na prevenção de doenças infecciosas.

Tétau (1996) sugere que as vacinas indispensáveis devem ser aplicadas, mas

que se utilize, em conjunto, um tratamento “homeosicótico” (que define com base na

diátese do paciente).22

No caso de refutarmos a hipótese amplamente aceita entre os homeopatas de

que a vacinação leva à sicose, devemos terminar com essa insegurança na

prescrição de vacinas por parte dos homeopatas.

Por fim, dado que ainda não podemos explicar o mecanismo de ação dos

medicamentos homeopáticos e que, por conseguinte, a cura homeopática não nos

pode esclarecer sobre a natureza da enfermidade curada32, não podemos constatar

a real importância do miasma em nossa prática clínica.

Muitos outros autores poderiam ter sido mencionados neste texto, mas

optamos por suprimi-los, visto que não traziam informações novas em vista das que
36

foram colocadas. Corremos assim o risco de limitar a discussão, mas trabalhamos

de forma a deixá-la tão ampla quanto possível.


37

6. CONCLUSÃO

Conclui-se que Hahnemann deu o pontapé inicial no que diz respeito à Teoria

dos Miasmas, mas que, ainda na atualidade, estamos longe de chegar a um

consenso e assim, de uma possível explicação com embasamento científico

categórico.

Embora haja tendência entre os autores homeopatas contemporâneos a

utilizar conceitos de Patologia, Fisiologia, Genética, Imunologia, entre outros para

explicar os miasmas, baseamo-nos ainda, sobretudo, em hipóteses. Fato é que, na

comunidade médica em geral, existe aceitação de que há uma predisposição

individual às doenças, sem que isso a aproxime da ideia de miasma.

Não existe sequer conformidade entre os homeopatas na necessidade ou não

do diagnóstico miasmático para a prescrição do medicamento mais adequado e,

feito esse diagnóstico, qual miasma tratar primeiro (a psora? o miasma

predominante?), bem como os medicamentos ideais para o tratamento do miasma.

De modo geral, cada médico homeopata ainda se utiliza de sua experiência

clínica para definir a melhor maneira de tratar um paciente.

Pudemos observar que houve evolução importante no que diz respeito às

possibilidades de tratamento da sicose. Enquanto Hahnemann recomendava apenas

dois medicamentos (Thuya e Nitricum acidum), seus sucessores nos trazem

diversas novas opções de medicações com base na análise apurada do caso. O

próprio Allen, um dos primeiros a abordar a sicose após Hahnemann, conforme

mencionado, traz em seu livro extensa lista de medicamentos passíveis de serem

utilizados com base nos sintomas do miasma ativo.


38

Entre os homeopatas que levam em consideração o miasma, parece haver

concordância no fato de que, nos últimos séculos, diferente da época de vida de

Hahnemann, em que parecia predominar a psora, estamos em um mundo cada vez

mais sicótico.

Cabe mencionar ainda que se modificou a concepção primeira de miasma,

inicialmente interpretado como doença em si e, atualmente, reconhecido como um

modo reacional.

O miasma ainda é um campo aberto, instigante e amplo de estudos.

Carecemos de evidências concretas e consensos para que ele possa se tornar uma

ferramenta mais útil na prática clínica não apenas homeopática, mas na prática

médica de modo geral.


39

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