USF EAD U3 Serviço Social e Campos de Atuação

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SERVIÇO SOCIAL E CAMPOS

DE ATUAÇÃO

ROSIMEIRE APARECIDA MANTOVAN


O Serviço Social nas organizações não governamentais e movimentos sociais UNIDADE 3

O SERVIÇO SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES


NÃO GOVERNAMENTAIS E
3
MOVIMENTOS SOCIAIS

APRESENTAÇÃO
Seja bem-vindo(a) à nossa terceira unidade do componente Prática Profissional: Servi-
ço Social e Contextos de Trabalho.

Você já teve oportunidade de estudar a origem da profissão, suas dimensões técnicas


e ainda sobre atuação do assistente social na esfera pública.

Construindo ainda maior repertório sobre a atuação do assistente social, nesta unidade será
abordado o Serviço Social nas organizações não governamentais e movimentos sociais.

Você estudará os elementos que compõem a construção histórica do Terceiro Setor no


Brasil e sua constituição. Será destacado o Serviço Social e o trabalho profissional no
Terceiro Setor e junto aos movimentos sociais.

O conteúdo desta unidade permitirá a você conhecer os principais campos sócio-o-


cupacionais do assistente social dentro do Terceiro Setor e movimentos sociais, suas
competências para atuação nesse campo.

Aproveite o conteúdo desta unidade e não deixe de acessar o material indicado.

1. O TERCEIRO SETOR NO BRASIL


Para iniciarmos o diálogo sobre o Terceiro Setor é imprescindível, antes de mais nada,
identificarmos quais são o Primeiro e o Segundo Setor. Você os conhece?

O Primeiro Setor é composto pelo Estado e todas as suas instâncias representativas


e de prestação de serviços nas três esferas de gestão: municipal, estadual e federal.
A responsabilidade pública estatal é manter a ordem social e gerir as necessidades
advindas dos cidadãos.

O Segundo Setor é composto pelas empresas privadas, as quais têm por objetivo, na
sociedade capitalista a livre-iniciativa para obtenção do lucro. São importantes para a
economia de um país, pois, através do comércio ou prestação de serviços, movimen-
tam-se valores e recursos.
A definição proposta, tão sucinta, é portadora de uma ambiciosa mensagem:
surge no mundo um terceiro personagem. Além do Estado e do mercado,
há um “terceiro setor”. “Não governamental” e “não lucrativo”, é no entanto
organizado, independente, e mobiliza particularmente a dimensão voluntária
do comportamento das pessoas (FERNANDES, 1994, p. 19).

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Esse novo sujeito ou personagem, como afirma o autor supracitado, é o Terceiro Setor,
composto por Organizações Não Governamentais (ONGs), e é neste setor que iremos
nos aprofundar.
Figura 01. Primeiro, Segundo e Terceiro Setor. 3

SEGUNDO SETOR:

Universidade São Francisco


PRIMEIRO SETOR: TERCEIRO SETOR:
EMPRESAS
ESTADO ONGS
PRIVADAS

Fonte: elaborada pela autora.

Apesar de a nomenclatura ser recente, a história de organizações sociais no Brasil é


bem antiga. A primeira instituição filantrópica brasileira é datada de 1543, a Santa Casa
de Misericórdia de Todos os Santos, cuja importância deu origem ao município de San-
tos. Criada de forma estratégica, visto que o tráfego comercial iniciava na região já no
século XVI, propiciando a circulação de grande número de pessoas, e com a chegada
de navios estrangeiros, a região torna-se alvo de contaminações por doenças desco-
nhecidas em terras brasileiras. Muitas vezes, o longo período no mar em precárias
condições para os trabalhadores gerava diversas necessidades. Assim, a Santa Casa
de Santos adota o modelo português de filantropia, advindo da Igreja Católica, e, além
de atender às demandas sanitárias e de tratamento de saúde, também oferecia apoio e
assistência, realizando a dispensa de alimentos e insumos àqueles que necessitavam.

O destaque para essa experiência é porque, sem dúvida, o modelo de filantropia por-
tuguês e a Igreja influenciaram significativamente o surgimento das então chamadas
organizações não governamentais.

E o que são organizações não governamentais?

São organizações que nascem da iniciativa da sociedade em prol de uma causa, uma
situação ou segmento social. Essas organizações compõem o Terceiro Setor, porque não
são administradas diretamente pelo Estado, ou seja, não são serviços públicos nem tão
pouco têm em seu propósito o objetivo de lucro. Seu caráter é não lucrativo e não estatal.
O Primeiro Setor atua por meio de sua capacidade de estabelecer, executar
e fazer cumprir leis, acordos básicos para a convivência em sociedade. O
Segundo Setor está baseado na produção e no consumo de bens e servi-
ços, necessários à satisfação de necessidades humanas. O Terceiro Setor
organiza-se ao redor de causas. Assim, o Primeiro Setor utiliza-se da lei, da
polícia e da justiça para cumprir o seu papel. Já o Segundo Setor, lança mão
de outros meios, como a propriedade, o capital e a tecnologia. Uma empresa
tem pelo menos um dono (mesmo que seja anônimo), sendo uma prerroga-
tiva a propriedade. Uma organização governamental e uma associação da
sociedade civil não têm dono (embora essa última seja privada). O Terceiro
Setor tem como meios típicos de atuação as ideias, os ideais e o trabalho
voluntário (INSTITUTO, 2012, p. 3).

Analisando a citação acima, no contexto atual se faz necessário substituir-


mos o trabalho voluntário pelo trabalho social profissional. Muitas organiza-
ções têm longa história e ainda hoje mantêm suas atividades por meio do

Serviço social e campos de atuação 51


O Serviço Social nas organizações não governamentais e movimentos sociais

voluntariado. Todavia, há de se considerar que o trabalho voluntário é realizado por


pessoas que não possuem um compromisso formal com a organização e doam o seu
tempo. Logo, se algo cravejar suas vidas e elas ficarem impedidas por qualquer razão
3 de comparecer para a atividade, a prestação de serviço ficará descontinuada. Há ainda
desvios de funções, com a presença de voluntários realizando trabalhos para os quais
não têm competência técnica ou profissional, sendo grande o risco de a população
usuária ser prejudicada ou lesada. O trabalho voluntário não deixará de existir, até por-
que grande é o apelo para que os membros desta sociedade se envolvam em causas
sociais, entretanto, seu caráter deverá ser complementar e pontual, e não substitutivo
do trabalho profissional.
Figura 02. Trabalho voluntário.

Fonte: 123rf.

IMPORTANTE
Promulgada em 1998, a Lei n. 9.608 é conhecida como a Lei do Voluntariado e dispõe sobre
o serviço voluntário, ou seja, a atividade não remunerada prestada por pessoa física a enti-
dade pública de qualquer natureza ou a instituição privada de fins não lucrativos e que tenha
objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência à pessoa.

Além de regular a prestação de serviços, a lei normatiza a não vinculação empregatícia em razão
dessa atividade, não gerando à instituição obrigação de natureza trabalhista, previdenciária ou afim.

Sendo assim, destaca-se a importância de as organizações públicas ou do Terceiro Setor


firmarem termo de compromisso para o trabalho voluntário, esclarecendo atribuições e con-
dições entre voluntário e organização.

52
Assim sendo, a presença de voluntários deve ser acompanhada por profissional – sen-
do muitas vezes atribuição do assistente social –, ter um plano de trabalho claro es-
clarecendo quais atividades são possíveis realizar, frequência e compromissos éticos
sustentados pela organização ou normativas vigentes. Trata-se de um trabalho educa- 3
tivo constante, a fim de que o trabalho voluntário agregue valor a quem doa seu tempo
e a quem recebe, desconstruindo a visão de que quem doa é uma pessoa “especial e
superior”, dedicada a fazer o bem, e de que quem recebe é um simples “necessitado”.

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Considerando a herança filantrópica, o vínculo com as razões religiosas e o voluntariado,
características marcantes no Terceiro Setor, ainda há um longo caminho de desenvolvi-
mento e profissionalização da área, apesar dos expressivos avanços, principalmente nas
duas últimas décadas, em que o Estado convocou as organizações sociais para execu-
tarem serviços públicos, aprofundando as relações de parceria. Desta forma, apesar de
as ONGs não serem geridas diretamente pelo Estado, muitas vezes recebem verbas pú-
blicas e, mesmo não se configurando como um serviço público direto, deverão ter caráter
público preponderante, seguindo regras de transparência e conformidade à legislação.

Imprimir uma direção que reconheça e afirme o direito do cidadão e o dever do Estado
é um grande desafio no Brasil, dada a nossa herança histórica da cultura da caridade,
da benemerência e da esmola, que precisa ser superada. Pressupõe ações planejadas
e de interesse público, gestão qualificada, transparência de recursos e o caráter público
prevalecendo inclusive à missão institucional. As organizações carregam suas missões
institucionais, e esse não é o problema, todavia, na execução de um serviço público, ao
caráter público e de direito se deve supremacia.

EXEMPLO
Quando uma ONG executa um Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, serviço
continuado da política de assistência social, os princípios e diretrizes do SUAS prevalecem
em todas as dimensões, inclusive à missão institucional. Supõe-se que essa ONG nasceu
do movimento negro e tenha um trabalho diferenciado com mulheres e meninas negras, o
que é realmente válido. Não poderá, entretanto, atender apenas meninas negras no Serviço
de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, já que este é destinado a meninas e meninos,
independentemente de classe, etnia ou religião. Mas poderá, em seu projeto pedagógico,
apontar transversalmente a discussão étnica e de gênero.

Uma característica marcante do Terceiro Setor é a heterogeneidade, uma vez que tudo
que não é estatal ou empresa privada recebe tal classificação, e, assim, não é possí-
vel uma análise única, mas a consideração das múltiplas facetas e identidades, desde
associações de bairro até grandes fundações de cunho empresarial. Essa diferença
também se reverbera na ação a ser desempenhada, em que ainda, atualmente, existem
organizações mais apelativas ao caráter de solidariedade e outras que já se constituem
como advogacy, ou seja, reconhecem os direitos sociais e atuam na defesa destes.
O terceiro setor é um fenômeno que envolve um número significativo de
organizações e instituições, tais como organizações não governamentais,
organizações “sem fins lucrativos”, instituições filantrópicas, associações,
em-presas ditas “cidadãs”, entre outras, e ainda, sujeitos individuais, sejam
eles voluntários ou não (IPEA, 2011, [s.p.]).

Serviço social e campos de atuação 53


O Serviço Social nas organizações não governamentais e movimentos sociais

GLOSSÁRIO
Você encontrará no Terceiro Setor tais siglas que denominam tipos ou formatos de organizações:
3
ONG – organização não governamental.

OSC – organização da sociedade civil.

OSCIP – organização da sociedade civil de interesse público.

Do ponto de vista de formação jurídica, as organizações podem ser associações (onde


os associados realizam a sustentação da organização) ou fundações (onde se parte de
um patrimônio).

É fato que, diante desses desafios, muitas críticas já foram dispensadas ao Terceiro
Setor, como alvo de manter um poder privado, com pouca transparência, nutridor de
seus interesses.
Ser “não governamental” e “não lucrativo” não significa, é claro, estar em al-
gum outro mundo, além das esferas de influências do Estado e do mercado,
ou infenso aos condicionamentos sociais. O terceiro setor não é feito de ma-
téria angelical. A persuasão gera coerções morais e ideológicas cujo poderio
sobre os indivíduos não há de ser subestimado (FERNANDES, 1994, p. 24).

Figura 03. Compreendendo o Terceiro Setor.

Fonte: 123rf.

É no conjunto das disputas de interesses que se constitui o Terceiro Setor, e nesta


arena política, por natureza, há tensões entre o Estado e o mercado. A marca estabe-
lecida revela um setor que se sustenta na “boa vontade”, absolvido dos males já tão
conhecidos dos outros dois setores, Estado e mercado (FERNANDES, 1994). Todavia,
a insistência da “boa vontade” sem profissionalização para que o serviço prestado seja
qualificado e, ainda, as diferentes fontes de receita, ora obscuras e não declaradas,
abrem espaço para as problemáticas do interesse e do poder. Assim, o Terceiro Setor
não se diferencia dos outros dois setores dessa sociedade ao exigir uma análise crítica
e de totalidade que considere a história, a conjuntura sociopolítica e as estruturas eco-
nômicas de determinado contexto social.

54
CURIOSIDADE
Em 2005, após o grande boom das organizações não governamentais nos anos 1990, é lan-
3
çado o filme Quanto vale ou é por quilo?, que desenvolveu dura crítica sobre o Terceiro Setor
e chacoalhou o debate sobre o tema à época. Drama, dirigido por Sergio Bianchi, ganhou o
prêmio ParatyCine, nas categorias melhor filme, melhor diretor e melhor edição.

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Baseado no conto “Pai contra mãe”, de Machado de Assis, o filme traz uma analogia entre o
período escravocrata e o período atual, comparando o comércio de escravos e a exploração
da miséria pelo marketing social, que vende uma solidariedade de “fachada”.

Critica duramente as ONGs e suas formas de captação de recursos junto ao Estado e as


empresas privadas.

Você tem acesso ao filme completo no link: <https://www.youtube.com/watch?v=-ZH-


me5hHEY84>. Acesso em: 7 abr. 2020.

Se as mudanças socioeconômicas em curso afetam todo o conjunto da sociedade, não


seria diferente para o Terceiro Setor. O projeto neoliberal em curso trouxe expressões
significativas, uma vez que o Estado se retira como promotor do bem-estar social, reali-
zando apenas o mínimo para os que mais necessitam e em caráter emergencial. Dessa
forma, a busca pelo bem-estar é potencializada para que seja satisfeita pela via do
mercado e, quando não, através de ações em parceria com o Terceiro Setor.
Como solução parcial da crise capitalista, o neoliberalismo visa a recons-
tituição do mercado, reduzindo ou até eliminando a intervenção social do
Estado em diversas áreas e atividades. É o que já caracterizamos como a
passagem do fundamento da legitimação sistêmica das lógicas democráti-
cas – particularmente no âmbito estatal – para as lógicas da sociedade civil
e do mercado (MONTANÕ, 2002, [s.p.]).

As responsabilidades estatal e pública, bem como a lógica do direito, ficam ameaçadas,


ocultadas em uma relação que favorece a lógica do consumo e a substituição do status
de cidadão pelo de consumidor. Um Estado que não assume a responsabilidade da
proteção social dos cidadãos, que não é protetivo, será, certamente, violador de direi-
tos. As famílias serão responsabilizadas unilateralmente pela proteção social dos seus
membros, principalmente os mais vulneráveis.

O fato é que o Terceiro Setor é irreversível no Brasil e no mundo. Todavia, é importante


considerar que as experiências mais efetivas no mundo apontam um Terceiro Setor
onde o comando para a prestação de serviços, principalmente para os serviços públi-
cos, financiado com fundo público, é do Estado. Quando este Estado se omite dessa
responsabilidade, apresenta-se frágil e suscetível aos grupos de interesses. Nesse sen-
tido, é muito provável que o interesse privado prevaleça sobre o interesse público e será
o cidadão o maior prejudicado nesse contexto.

Compreendida a construção histórica e os principais elementos do Terceiro Setor, fala-


remos no próximo item sobre a interface do Serviço Social e o seu trabalho profissional
nesta área.

Serviço social e campos de atuação 55


O Serviço Social nas organizações não governamentais e movimentos sociais

2. O SERVIÇO SOCIAL E O TRABALHO PROFISSIONAL NO


TERCEIRO SETOR E NOS MOVIMENTOS SOCIAIS
3 Apesar de a expressão Terceiro Setor ser recente, o Serviço Social nasce como profis-
são no Brasil sob influência da Igreja Católica e tem, a partir dos anos 1940, o período
em que se inicia a construção de um intenso processo de profissionalização. Logo, além
das ofertas de trabalho no setor público em expansão, o Serviço Social se depara com
outras iniciativas que abrem campo de trabalho no então embrionário Terceiro Setor.

E assim, partindo de pequenas iniciativas advindas da Igreja Católica e da sociedade


civil, calcadas na caridade e desempenhadas por moças da sociedade que buscam
inspiração e referências nas experiências europeias e americanas da profissão, pouco
a pouco o Serviço Social vai ocupando espaço nos serviços sociais públicos que se
desenvolvem no período.
Historicamente passa-se da caridade tradicional levada a efeito por tímidas
e pulverizadas iniciativas das classes dominantes, nas suas diversas mani-
festações filantrópicas, para a centralização e racionalização da atividade
assistencial e de prestação de serviços sociais pelo Estado, à medida que
se amplia o contingente da classe trabalhadora e sua presença política na
sociedade (IAMAMOTO; CARVALHO, 2001, p. 78).

Nas décadas subsequentes, a principal frente de atuação profissional do Serviço Social


é sem dúvida nos serviços públicos que se expandem no país, como as políticas da Se-
guridade Social, os serviços da Previdência Social ao trabalhador e seus dependentes,
a política de assistência social através da Legião Brasileira de Assistência Social e os
serviços de saúde, principalmente no âmbito da atenção hospitalar.

Todavia, dentro desse contexto, os estudiosos da profissão apontam que o Serviço


Social não rompe sua atuação junto a organizações sociais e filantropia, ao contrário,
estas também se expandem e a profissão destaca participação para formação e conso-
lidação do chamado “sistema S”: Sesc, Sesi e Senai.

Dessa forma, observa-se desde sua origem, e ainda mais ampliada nos dias atuais, a
atuação do assistente social nos múltiplos espaços do heterogêneo Terceiro Setor, des-
de ações mais caritativas e espontâneas até a grande filantropia empresarial.
Uma outra fatia do mercado profissional de trabalho encontra-se, hoje, consti-
tuída pelas organizações não governamentais – ONG – um amplo e diversifi-
cado campo que necessita ser melhor qualificado (IAMAMOTO, 2003, p. 43).

Todavia, qual o trabalho do assistente social nesse campo?

As possibilidades de atuação também são diversas e vão desde o atendimento social


da população nos diferentes espaços até a gestão de serviços e projetos sociais. Suas
competências são múltiplas, e, além das específicas da atuação do assistente social
previstas em lei, ao ocupar um cargo de gestor, agregam-se outras competências.

56
RELEMBRE
Conforme visto na Unidade 1, a Lei n. 8.662 regula o exercício profissional, esta-belecendo
3
direitos e deveres do assistente social, suas atribuições e a organização das entidades re-
presentativas.

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Art. 4o Constituem competências do assistente social:

I – elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração


pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares;

II – elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito
de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil;

III – encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população;

IV – (Vetado);

V – orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar


recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos;

VI – planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais;

VII – planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade
social e para subsidiar ações profissionais;

VIII – prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta,


empresas privadas e outras entidades, com relação às matérias relacionadas no inciso II
deste artigo;

IX – prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas


sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade;

X – planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de Unidade de Ser-


viço Social;

XI – realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços


sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e ou-
tras entidades.

As competências profissionais estabelecidas na Lei De Regulamentação da profissão


não são exclusivas dos assistentes sociais, podendo também compor atribuições de
outros profissionais. Assim, é importante sempre consultar a Lei de Regulamentação
da profissão, inclusive para a apreensão das competências que são privativas para os
assistentes sociais também já destacadas na Unidade 1.

Serviço social e campos de atuação 57


O Serviço Social nas organizações não governamentais e movimentos sociais

RELEMBRE

3 Art. 5o Constituem atribuições privativas do assistente social:

I – coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, progra-


mas e projetos na área de Serviço Social;

II – planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social;

III – assessoria e consultoria a órgãos da Administração Pública direta e indireta, empresas


privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social;

IV – realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a


matéria de Serviço Social;

V – assumir, no magistério de Serviço Social tanto a nível de graduação como pós-gradu-


ação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de
formação regular;

VI – treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social;

VII – dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de graduação e


pós-graduação;

VIII – dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de pesquisa em Ser-


viço Social;

IX – elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões julgadoras de con-


cursos ou outras formas de seleção para Assistentes Sociais, ou onde sejam aferidos conhe-
cimentos inerentes ao Serviço Social;

X – coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre assuntos


de Serviço Social;

XI – fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e Regionais;

XII – dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou privadas;

XIII – ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira em órgãos e


entidades representativas da categoria profissional.

Figura 04. Profissional do Serviço Social.


Fonte: 123rf.

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Em termos gerais, a competência é o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitu-
des de um profissional, expressão conhecida no mercado de trabalho pela sigla CHA
– conhecimentos, habilidades e atitudes. Entretanto, é importante enfatizar que a com-
petência se dá por meio de um conjunto articulado, uma tríade, como alguns estudiosos 3
chamam. A lógica para o conceito é compreender que não adianta o profissional ter
grande conhecimento teórico, mas não ter a habilidade de manifestá-lo, aplicá-lo em
seu cotidiano profissional. A forma de manifestar o conhecimento e a iniciativa em fa-

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zê-lo também são fundamentais, ou seja, a atitude. Ter conhecimento, saber aplicá-lo,
mas ser omisso em seu ambiente de trabalho, jamais tomando a iniciativa, revelam um
profissional sem atitude.

SAIBA MAIS
O mundo do trabalho, juntamente com os estudos de gestão de pessoas, cada vez mais
aponta a gestão por competências, qual sinalize um caminho de desenvolvimento profis-
sional, onde expectativas entre trabalhador e instituição são alinhadas. Esta estratégia de
gestão já se iniciou no Terceiro Setor. Para aprofundamento do tema acessar o artigo:

ANDRADE, Silvana Rodrigues de. Gestão por competências em ONGs como uma alternativa
de gestão social. ANAIS, XXXI Encontro da ANPAD: Rio de Janeiro, 2007. Disponível em:
<http://www.anpad.org.br/diversos/down_zips/33/AP-S-C620.pdf>. Acesso em: 7 abr. 2020.

Ampliar o universo de informação é essencial a qualquer profissional, sem, contu-


do, desconsiderar o conhecimento específico de sua profissão. O assistente social
tem em seu campo de atuação profissional, independentemente da área específica, a
competência de análise da totalidade da realidade social, o que não é algo mecânico
e imediatista. É esta a condição que proporcionará melhor trato das demandas rece-
bidas no cotidiano:
O requisito é, ao inverso, uma competência crítica capaz de decifrar a gê-
nese dos processos sociais, suas desigualdades e as estratégias de ação
para enfrentá-las. Supõe competência teórica e fidelidade ao movimento da
realidade; competência técnica e ético-política que subordine o “como fazer”
ao “o que fazer” e, este, ao “deve ser”, sem perder de vista seu enraizamento
no processo social (IAMAMOTO, 2003, p. 80).

Considerando as competências do assistente social e ainda seu foco de atuação no


Terceiro Setor, é imprescindível destacar a dimensão pedagógica ou educativa do as-
sistente social. Nas organizações do Terceiro Setor há grande demanda de trabalho so-
cial junto a crianças e adolescentes, idosos, mulheres e famílias, denominado trabalho
socioeducativo.

Por ser o Serviço Social uma profissão com intrínseca relação com a população que
atende, com proximidade ao seu modo de viver, sua cultura e os territórios em que
vivem, considera-se que no percurso histórico de existência a profissão foi adotando
perfis pedagógicos. Obviamente que estes perfis estavam associados à perspectiva
teórica da profissão e, ainda, a seus valores éticos e projeto político profissional.

Serviço social e campos de atuação 59


O Serviço Social nas organizações não governamentais e movimentos sociais

Para Abreu (2002) o Serviço Social tem uma história marcada por perfis pedagógicos
que imprimem uma prática educativa do assistente social no desenvolvimento de sua
intervenção profissional. Claro que atualmente, quando se fala em trabalho ou ação
3 socioeducativa, compreende-se uma perspectiva interdisciplinar com várias áreas do
saber, como a Psicologia, a Pedagogia, o Serviço Social, as Ciências Sociais etc. Tais
áreas compõem um modo de compreender e intervir em determinada realidade social.

Mas, quando se olha especificamente para o Serviço Social e sua história de legitima-
ção como profissão, podemos compreender que as primeiras ações profissionais já
eram ligadas a uma pedagogia, entendida aqui para além da educação formal, como
uma forma de manifestação da cultura, do modo de pensar e de agir, que forma uma or-
dem intelectual e moral, uma hegemonia de determinada classe. A autora aponta perfis
pedagógicos que no processo histórico influenciaram o exercício do assistente social,
de modo que estão relacionados aos fundamentos históricos, teóricos e metodológicos
do Serviço Social.

As ações profissionais já contavam com um viés educativo desde sua gênese, com o
objetivo de adequar a população, evitando conflitos sociais. As primeiras manifestações
originárias no seio da Igreja tinham o compromisso da “ajuda”, explicitando viés assis-
tencialista caritativo. Além do atendimento individualizado – utilizado prioritariamente
para “diagnosticar” o problema –, existiam também os grupos de operários, grupos de
mães ou clube de mães, ambos com um forte vínculo com a Ação Católica.

A partir da década de 1960, surgem os grupos das propostas de desenvolvimento de


comunidade – DC, linha de trabalho altamente explorada no Serviço Social nesse pe-
ríodo. Em todos esses grupos, foi grande a contribuição e organização por parte dos
assistentes sociais, que buscavam melhoria nas condições de vida da população, além
de uma adequação moral da família e do trabalhador.
Figura 05. Grupos das propostas de desenvolvimento de comunidade surgem em 1960.
Fonte: 123rf.

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Nesse percurso histórico, muitas mudanças ocorreram, principalmente as que marca-
ram o movimento de reconceituação no âmago da profissão e que propõe a perspectiva
teórica do materialismo histórico dialético como base do Serviço Social, buscando rom-
per com o conservadorismo e suas vertentes (NETTO, 2002). 3
Tópico: Movimentos sociais.

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A reconceptualização é, sem qualquer dúvida, parte integrante do processo
internacional de erosão do Serviço Social “tradicional” e, portanto, nesta me-
dida partilha de suas causalidades e características. Como tal, ela não pode
ser pensada sem a referência ao quadro global (econômico-social, político,
cultural e estritamente profissional) em que aquele se desenvolve (NETTO,
2002, p. 146).

Dessa forma, é fundamental compreender que esse processo construído na estrutura


do Serviço Social reflete a efervescência dos movimentos sociais e a luta da classe tra-
balhadora por melhores condições de vida em período histórico na América Latina, ten-
sionado pela ditadura militar nos diferentes países. No Brasil, marca-se final dos anos
1960 e a década de 1970. Romper com o conservadorismo foi condição fundamental
para aproximação aos movimentos sociais.

E o que são os movimentos sociais?

De forma a organizar as demandas dos cidadãos, os movimentos sociais são expres-


sões da democracia moderna da sociedade civil. Gonh (2011, p. 336) afirma que os
movimentos sociais são o coração, o pulsar da sociedade, pois expressam “energias
de resistência ao velho que oprime ou de construção do novo que liberte”. O fato de
viver-se em uma sociedade onde as demandas coletivas não são consideradas e com
a existência de alto índice de desigualdade social, os movimentos sociais nascem para
buscar de forma coletiva e organizada dar voz às demandas que são reprimidas por
outras necessidades diversas ou as necessidades de um pequeno grupo de pessoas.

O papel dos movimentos sociais para além da organização das necessidades da classe
trabalhadora e a visibilidade destas demandas ovacionam a construção de estratégias de
intervenção na vida social através de políticas sociais. Um movimento social não apenas
denuncia, mas provoca transformação. Pautam atualmente toda a agenda de luta dos
direitos humanos, denunciam as desigualdades sociais, bem como as questões socioam-
-bientais, além de outras temáticas diversas, contando com o importante aliado que são
as redes sociais e o meio virtual para divulgação e propagação de informações e ideais.
Nós os encaramos como ações sociais coletivas de caráter socio-político e
cultural que viabilizam formas distintas de a população se organizar e ex-
pressar suas demandas (cf. Gohn, 2008). Na ação concreta, essas formas
adotam diferentes estratégias que variam da simples denúncia, passando
pela pressão direta (mobilizações, marchas, concentrações, passeatas, dis-
túrbios à ordem constituída, atos de desobediência civil, negociações etc.)
até as pressões indiretas. Na atualidade, os principais movimentos sociais
atuam por meio de redes sociais, locais, regionais, nacionais e internacionais
ou transnacionais, e utilizam-se muito dos novos meios de comunicação e
informação, como a internet. Por isso, exercitam o que Habermas denomi-
nou de o agir comunicativo. A criação e o desenvolvimento de novos sabe-
res, na atualidade, são também produtos dessa comunicabilidade (GONH,
2011, p. 335-336).

Serviço social e campos de atuação 61


O Serviço Social nas organizações não governamentais e movimentos sociais

Vale destacar que, após a Constituição de 1988, muitos movimentos sociais se consti-
tuem como organização não governamental. Dada a participação da sociedade civil no
fazer público direcionado pela Lei Magna, inicia-se, assim, uma eclosão do que alguns
3 estudiosos chamam da “institucionalização dos movimentos sociais”, caracterizando
uma nova fase de participação, defesa de direitos e execução de políticas sociais atra-
vés de parcerias com o Poder Público.

Assim, o Serviço Social, ao se aproximar dos movimentos sociais, passa a elaborar


metodologia própria de intervenção junto aos segmentos de trabalhadores.

A partir da busca de ruptura sob influências do novo referencial teórico-marxista, dá-se


espaço para uma nova ação educativa, a “educação popular”, descartando, assim, as
estratégias de ação positivistas que adotam o tripé “indivíduo, família e comunidade” e
estratégias com base nas matrizes norte-americanas pautadas no “diagnóstico”, que,
neste momento, são fortemente questionadas.

A educação popular como forma de estratégia educativa, tendo como público-alvo o


povo, ganha espaço na academia, influenciada prioritariamente por Paulo Freire como
uma estratégia de construir, juntamente com as classes subalternas, possibilidades de
autonomia e consciência política. Busca romper com a visão fragmentada e de cunho
moral das ações educativas ligadas aos grupos já existentes. Todavia, nesse momento
embrionário, as ações apontavam características messiânicas, vanguardistas, enten-
dendo a educação popular como um chamado (ABREU, 2002).

Durante toda a década de 1980, a educação popular aconteceu nas periferias da cida-
de, nas associações de bairro, nos sindicatos, igrejas, e se mesclava entre as propostas
interventivas institucionais e voluntarismo profissional.

Considerando a conjuntura, bem como a reconceituação das bases teórico-metodológi-


cas da profissão em curso, a mobilização social e a organização de movimentos sociais
se tornam também uma expressão das práticas educativas desenvolvidas em diferen-
tes espaços sócio-ocupacionais, como parte integrante do Terceiro Setor. Outra frente
de atuação desenvolvida pelo assistente social é a assessoria aos movimentos sociais.
Assim, definimos assessoria/consultoria como aquela ação que é desenvol-
vida por um profissional com conhecimentos na área, que toma a realidade
como objeto de estudo e detém uma intenção de alteração da realidade. O
assessor não é aquele que intervém, deve, sim, propor caminhos e estraté-
gias ao profissional ou à equipe que assessora e estes têm autonomia em
acatar ou não as suas proposições. Portanto, o assessor deve ser alguém
estudioso, permanentemente atualizado e com capacidade de apresentar
claramente as suas proposições (MATOS, 2006, [s.p.]).

As assessorias também podem ser dispensadas a organizações de todos os tipos den-


tre as múltiplas realidades. Essa intervenção do assistente social dependerá não ape-
nas de qualificação teórica e técnica, mas de experiência profissional junto às áreas e
segmentos que se pretende assessorar.

É, porém, na década de 1990 que o termo socioeducativo passa a ser usado e mais
amplamente debatido com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA.
Esse estatuto rompe com o caráter punitivo do antigo Código de Menores e propõe

62
medidas socioeducativas para adolescentes que estão em conflito com a lei. O conte-
údo das ações socioeducativas, entretanto, não está explicitado na lei, que apresenta
apenas grifos para que visem o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários
dos adolescentes. 3

IMPORTANTE

Universidade São Francisco


O ECA destaca-se como um movimento de resistência, luta e persistência na sociedade
brasileira, foi o movimento da infância e juventude. É o responsável por denunciar as viola-
ções de direitos humanos cometidas pelo Estado brasileiro no acolhimento institucional de
crianças e adolescentes.

Estudiosos afirmam que o ECA rompe com o paradigma do Código de Menores e propõe
uma outra direção para a proteção de crianças e adolescentes brasileiros, reconhecidos
como sujeitos de direitos, ou seja, cidadãos. É uma lei cuja importância se espraia interna-
cionalmente e, pela primeira vez na sociedade brasileira, dessacraliza a família, visto que é
necessário se interpor entre crianças e famílias, já que muitas vezes as violências estão no
âmbito intrafamiliar, não sendo a família um núcleo necessariamente harmônico, equilibrado
e feliz. É papel do Estado e da sociedade a proteção de crianças e adolescentes, inclusive
de suas próprias famílias.

Dessa forma, o termo socioeducativo é expressão de um trabalho transformador junto aos


adolescentes em conflito com a lei e suas famílias.

Nesse mesmo decênio, as políticas de garantia de renda mínima eclodem no país. O


pioneiro no âmbito federal é o Bolsa-Escola, que garante apenas o repasse do subsídio
financeiro às crianças selecionadas em idade escolar e com frequência assídua na
escola, como uma forma de cercear a evasão escolar. Em 1995, em âmbito municipal,
surge o Programa Municipal de Garantia de Renda Familiar Mínima – PMGRFM, de
Campinas, que traz como proposta, além do repasse financeiro, o acompanhamento
socioeducativo às famílias beneficiárias. Essa experiência foi divulgada e multiplicada
em todo o país, pois trazia em si um caráter inovador da junção do repasse financeiro
com o acompanhamento socioeducativo, através de grupos mensais coordenados por
uma dupla de técnicos: um assistente social e um psicólogo.

Atualmente, observam-se múltiplas possibilidades para o trabalho socioeducativo. Pri-


meiro, porque sai da exclusiva atuação do assistente social e se reúne a outros saberes
e profissões importantes, visto que a intervenção social nesse quesito é de fato com-
plexa. Segundo, porque são múltiplos também os segmentos populacionais que con-
tam com atividades de caráter socioeducativo: criança e adolescentes, idoso, mulheres,
pessoas com deficiência, entre outros.

É imprescindível, todavia, a especialização no método a ser aplicado em cada atuação,


considerando as especificidades expressas. Não havendo receita de bolo única, é ne-
cessário um estudo que priorize ações facilitadoras da construção da autonomia dos
usuários atendidos.

Serviço social e campos de atuação 63


O Serviço Social nas organizações não governamentais e movimentos sociais

Considera-se, por fim, que o trabalho do assistente social nos movimentos sociais e
no Terceiro Setor deverá carregar a marca da competência e possui prevalência no
desenvolvimento da dimensão pedagógica da profissão, na assessoria e na gestão de
3 serviços, programas e projetos sociais. Essa inserção implica o desenvolvimento de
competências que, como afirma Alencar (2009, p. 12):
[...] no campo do planejamento, formulação e avaliação de políticas sociais.
Sendo assim, há uma grande tendência de crescimento das funções so-
cioinstitucionais do serviço social para o plano da gerência de programas
sociais, o que requer do profissional o domínio de conhecimentos e saberes,
tais como de: legislações sociais correntes, numa atualização permanentes;
análises das relações de poder e da conjuntura; pesquisa, diagnóstico social
e de indicadores sociais, com o devido tratamento técnico dos dados e das
informações obtidas, no sentido de estabelecer as demandas e definir as
prioridades de ação; leitura dos orçamentos públicos e domínio de captação
de recursos; domínio do processos de planejamento e a competência no
gerenciamento e avaliação de programas e projetos sociais.

Faz-se necessário um processo de educação permanente do profissional de Serviço


Social, reconhecendo que apenas o título de bacharel não é suficiente, se deseja atuar
em cargos estratégicos e de gestão. Importante, ainda, reconhecer esse potencial e
contribuir concretamente para a formulação de políticas sociais, e, tão quanto, com
melhores acessos à população atendida nos seus direitos. A gestão de serviços é um
caminho para tal, e a profissão tem em sua história forte relação com a gestão de polí-
ticas sociais. Ser o executor de tais políticas é muito importante; agora, construí-las é a
oportunidade de manifestar os valores sustentados e preconizados no Código de Ética
do Assistente Social.

3. ESPAÇOS SÓCIO-OCUPACIONAIS NAS ORGANIZAÇÕES


NÃO GOVERNAMENTAIS E NOS MOVIMENTOS SOCIAIS
Há uma multiplicidade de espaços sócio-ocupacionais para o assistente social nas or-
ganizações não governamentais e nos movimentos sociais, dada a heterogeneidade do
campo. Considera-se, ainda, que o Terceiro Setor brasileiro recebe grande influência
internacional, principalmente dos Estados Unidos. Fernandes (1994) propõe uma clas-
sificação de organizações do Terceiro Setor, baseada em parâmetros internacionais,
considerando apenas as organizações legalmente e formalmente constituídas, dividi-
das em 12 grupos, assim a saber:

GRUPO SETOR ATIVIDADES


Cultura e artes;
1 Cultura e Recreação Recreação;
Clubes e serviços.
Educação Primária e Secundária; Educação
Superior;
2 Educação e Pesquisa
Outra Educação;
Pesquisa.
Hospitais e reabilitação; Asilos;
3 Saúde Saúde mental e intervenção crítica;
Outros serviços de saúde.

64
GRUPO SETOR ATIVIDADES
Assistência Social;
4 Serviços Sociais Apoios emergenciais;
Apoios econômicos. 3
Meio ambiente;
5 Meio Ambiente
Proteção de animais.

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Desenvolvimento econômico, social e comu-
nitário;
6 Desenvolvimento e Habitação
Habitação;
Emprego e formação.
Organizações de defesa de direitos civis;
Direitos Civis, Defesa de Direitos,
7 Lei e serviços legais;
Política
Partidos políticos.
Intermediários Filantrópicos e Filantropia empresarial;
8
Promoção de Voluntariado Atividades de promoção ao voluntariado.
Diferentes áreas de captação e destinação
9 Internacional
de recurso internacional.
Profissionalização;
Business, Associações Profissio-
10 Promoção do empreendedorismo;
nais, Sindicatos
Atividade sindical.

11 Religião Igrejas, templos e práticas religiosas.

Múltiplas associações que não se encaixam


12 Outros
nas anteriores.
Fonte: adaptada de Fernandes (1997).

Observando a tabela, fica clara a multiplicidade e heterogeneidade do Terceiro Setor, e


Fernandes considera questionável a presença de partidos políticos nessa classificação,
visto que, para ele: “os partidos são organizados de acordo com a lógica do Estado,
alternando-se inclusive no seu controle” (1994, p. 26). Sua pesquisa demonstra, ainda,
que em muitos países os partidos são classificados como organizações não governa-
mentais. Outro ponto destacado é das religiões, grupo das atividades de igrejas e tem-
plos religiosos, e para os olhos do autor este item é menos problemático que o anterior:
As relações das religiões com o setor são relevantes, porém complexas, pois
o culto introduz os fiéis em outras dimensões simbólicas, para além do Es-
tado, do mercado ou das funções sociais que os próprios religiosos possam
cumprir, enquanto grupo particular (FERNANDES, 1994, p. 26-27).

A América Latina, por sua construção histórica e marcas socioeconômicas, possui mais
um agravante, segundo o autor: a informalidade na área, ou seja, é grande o número de
ONGs funcionando de maneira informal, de acordo com a vontade e movimentação de
seus membros, o que não torna possível contabilizá-las.

Serviço social e campos de atuação 65


O Serviço Social nas organizações não governamentais e movimentos sociais

Figura 06. Movimentos sociais.

Fonte: 123rf.
Pode-se observar cenário semelhante para os movimentos sociais que, todavia, no
contexto brasileiro marcam segmentos em defesa dos direitos humanos e sociais: movi-
mento da infância e juventude, do idoso, dos indígenas, dos negros, das mulheres, das
pessoas com deficiência, dos sem-teto/terra, pessoa em situação de rua, de moradia,
do meio ambiente, de proteção aos animais.

Nem todas as organizações do Terceiro Setor contam com a presença do profissional


de Serviço Social. Geralmente são as organizações mais estruturadas e que executam
serviços públicos, como as da área da saúde, educação, assistência social e defesa de
direitos.

Analisando a realidade brasileira, cuja lei de formalização de uma organização social é


tão ampla e com tantos benefícios, torna-se interessante ingressar o lastro do Terceiro
Setor a criar uma iniciativa privada e lucrativa. O apelo da solidariedade tem ressonân-
cia em território brasileiro, mobilizando recursos humanos e financeiros a favor de uma
“causa”. A diversidade de “causas” defendidas vai ao encontro do tamanho da comple-
xidade da desigualdade social no país e das dificuldades enfrentadas pelos cidadãos
para reconhecimento e efetivação dos seus direitos.

A fim de regularizar as parcerias entre Estado e organizações sociais, estabelece-se


a Lei n. 13.019, de 31 de julho de 2014, atualizada pela Lei n. 13.204, de 2015, que
cria novas regras para a formalização de parcerias com a sociedade civil, regulando o
regime jurídico dessas parcerias e definindo diretrizes para a política de fomento, de co-
laboração e de cooperação entre o Poder Público e as organizações da sociedade civil.

66
REFLITA
Conhecendo um pouco mais sobre o trabalho profissional do Serviço Social no Terceiro Se-
3
tor, assim como a construção e realização deste campo, podemos considerar que a fragili-
dade de formalização prejudica a atuação do assistente social? Ou, ainda, que o assistente
social poderá qualificar o trabalho realizado por essas organizações?

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Na unidade seguinte você conhecerá a atuação profissional na iniciativa privada.

Não deixe de acessar os materiais indicados no texto para complementar seus estudos
e conhecer um pouco mais da atuação profissional. Assim, você vai conhecendo e de-
senvolvendo suas habilidades de acordo com o seu perfil e interesse.

Serviço social e campos de atuação 67


O Serviço Social nas organizações não governamentais e movimentos sociais

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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vos/zD3ifq80Dt7Az49Q4j7x.pdf>. Acesso em: 6 dez. 2019.

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3

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