AES Tiete
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A AES Tietê Energia, detentora de um portfólio de 3.343 MW composto pelas fontes hídrica, eólica e
solar, majoriatriamente comercializadas no Mercado Livre de energia, vem constantemente investindo
nesse mercado por sua credibilidade, segurança jurídica, regulatória e previsibilidade. Nesse espírito,
portanto, vimos expor e solicitar o que segue no tema autoprodução de energia.
O consumidor alcançado pela Lei nº 11.488/2007, em seu art. 26, é equiparado a autoprodutor e,
portanto, faz jus ao não pagamento dos encargos setoriais (CDE, CCC e Proinfa) na parcela do seu
consumo próprio, objeto do referido comando legal.
Num primeiro momento, cabe esclarecer que existem vários encargos que visam o desenvolvimento do
setor elétrico, estabelecidos por políticas públicas governamentais. Esses encargos são impostos por leis
e alguns deles não alcançam os agentes de Autoprodução na parcela do seu consumo próprio.
Já em seu art. 16, ao tratar dos encargos aos quais o Produtor Independente de Energia Elétrica (PIEs) e
o Autoprodutor (APEs) se sujeitam, o Decreto nº 2003/1996 apontou a Compensação Financeira pelo
Uso de Recursos Hídricos (CFURH) e a Conta de Consumo de Combustíveis (CCC). Ao tratar da CCC do
sistema isolado (CCC isolado), o decreto apenas impôs o pagamento ao produtor independente de energia
elétrica, na parcela comercializada com consumidores finais, isentando implicitamente esse encargo
sobre a parcela de consumo próprio.
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“Art. 74. Os autoprodutores e produtores independentes não estão sujeitos ao pagamento das quotas da
Conta de Desenvolvimento Energetico - CDE, tanto na produção quanto no consumo, exclusivamente com
relação a parcela de energia eletrica destinada a consumo próprio.” (grifo nosso)
Por sua vez, o §1º, do art. 13, da Lei nº 10.438/2002, com redação dada pela Lei nº 12.783/2013, dispôs
que os recursos da CDE serão provenientes das quotas anuais pagas por todos os agentes que
comercializem energia com o consumidor final, mediante encargo tarifário, incluído nas tarifas de uso
dos sistemas de transmissão ou de distribuição, além de outras fontes.
Logo, a redação vigente, acima reproduzida, permanece alinhada com o estabelecido no Decreto
5.163/2004, ao isentar o produtor independente e o autoprodutor do pagamento da cota de CDE na
parcela de energia destinada ao consumo próprio, uma vez que essa parcela não será comercializada
com o consumidor final.
Com alteração dada pela Lei nº 12.212, de 20 de janeiro de 2010, o art. 3º, da Lei 10.438/2002,
estabeleceu que o valor pago pela energia no âmbito do Proinfa, bem como os custos administrativos e
financeiros e os encargos serão rateados entre todas as classes de consumidores finais atendidos pelo
Sistema Elétrico Interligado Nacional (SIN). Logo, o autoprodutor, por não se caracterizar como
consumidor final atendido pelo SIN e sim pela sua própria produção de energia, por determinação legal
não deve participar do rateio para custeio do Proinfa, sendo esse também um encargo do qual o
Autoprodutor fica afastado.
Diferentemente dos encargos CCC, CDE e PROINFA, o fato gerador do EER e do ESS não é a
comercialização de energia, mas sim o consumo líquido.
Os ESS contemplam o ressarcimento aos Agentes de geração dos Custos das Restrições de Operação,
prestação de Serviços Ancilares e Encargos de Serviços do Sistema por Razão de Segurança Energética.
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Cabe ainda frisar que do parágrafo único do Art. 59 do Decreto n° 5.163/2004, o autoprodutor equipara-
se ao consumidor na parcela de seu consumo líquido no SIN.
E ainda, conforme a referida norma, as regras de comercialização deverão conter mecanismo que
considere, no cálculo do EER dos agentes de autoprodução, dos consumidores livres e dos consumidores
especiais, apenas a parcela do consumo verificado que exceda o atendimento feito por geração própria.
Corrobora com esta redação a Nota Técnica n° 209/2008-SEM/ANEEL, constante da Audiência Pública
055/2008 para elaboração de ato regulamentar, estabelecendo as disposições relativas à contratação
de energia de reserva e o modelo do Contrato de Uso de Energia de Reserva, CONUER. Da mesma forma
que para o ESS, a parcela da energia do autoprodutor “decorrente da interligação ao SIN” está associada
ao seu consumo líquido:
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Com relação à Nota Técnica nº 2/2020-SRM-SRG/ANEEL, de 17/01/2020, que embasou o encerramento
da AP nº 33/20191, foi proposto alterar o que segue, no entanto, não se procedeu a atualização das
regras naquele momento:
Assim, para o item (i), diferente do apresentado nas definições citadas anterioremente, quando a ANEEL
considera apenas a geração de uso exclusivo do agente, priorizando sua geração efetivamente
produzida para outros compromissos, está desconsiderando uma parcela da geração que efetivamente
concorre para promover a segurança do sistema, além do incremento da oferta de energia, já que
quando da implantação de um empreendimento de geração para atendimento da sua carga, o
autoprodutor libera esta energia que seria requerida do SIN para atendimento dos demais
consumidores do mercado.
Ademais, se o autoprodutor investe, por sua conta e risco, num empreendimento que concorre para a
segurança do abastecimento, assim como os encargos ESS e EER o fazem, não há propósito em onerá-
lo com um encargo adicional que não trará benefício e/ou contrapartida a ele, ou seja, o autoprodutor
1A AP 33/2019 tratou do aprimoramento da proposta das Regras de Comercialização de Energia Elétrica, versão 2020.
2 “91. Diante do exposto na Nota Técnica nº 2/2020-SRM-SRG/ANEEL e tendo em vista que: (i) as Regras de Comercialização, desde 2006,
apesar de não haver previsão legal, tratam consumidores com participação em outras empresas geradoras como autoprodutores; (...):”
(Voto Condutor da REN 869/2020 – Aprovação das Regras de Comercialização de Energia Elétrica aplicáveis ao Sistema de Contabilização
e Liquidação – SCL).
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justamente opta pela produção de energia própria dentre outras razões para minimizar os riscos de não
atendimento do sistema e ao fazê-lo ainda assim teria que pagar encargos para o sistema suprir a
segurança de outros consumidores, que apesar de igualmente importantes, não pagam pela
implantação do empreendimento de geração, gestão de risco, geração a maior de energia, dentre
muitos outros aspectos de responsabilidade dos autoprodutores para garantia de seu suprimento de
energia.
Desta forma, tanto o EER quanto o ESS devem incidir apenas sobre eventual parcela atendida pela
energia requerida do SIN (consumo líquido), mantendo-se, portanto, a adequada alocação de custos e
riscos setoriais, não imputando ao autoprodutor um custo que não é seu.
Importa referir ainda que ao falar de consumo líquido resta claro que trata-se de energia consumida e
produzida, não de contratos de compra e venda, como propõe essa Agência indicando que a energia
gerada pelo autoprodutor seria inicialmente para atendimento de seus contratos de venda de energia,
o que não guarda qualquer relação com a realidade, principalmente, porque o autoprodutor tem como
finalidade produzir energia para seu autoconsumo e ainda assim este agente tem o direito à
comercialização de energia.
Com relação ao arranjo societário, item (ii), cabe considerar que a destinação da energia será a mesma
se o autoprodutor for agente titular da concessão/ autorização ou mesmo participante em uma SPE,
qual seja, atender sua carga. Desta forma, sendo equivocado e desproporcional onerar o empreendedor
que investe por sua conta e risco em empreendimento cuja produção de energia será por ele
autoconsumida.
Deve-se caracterizar também que apesar de existir um registro de contrato entre a SPE autoprodutora
(parte produtora) e o APE/PIE (parte consumidora) junto à CCEE, trata-se apenas da operacionalização
do repasse de energia a ser autoconsumida dado o diferente registro do agente no sistema da Câmara,
não havendo, então, caracterização de uma relação contratual típica de comercialização de energia a
terceiros, mas sim como geração própria.
Ainda, há que se observar com atenção que dado ao alto valor envolvido para implantação de uma
central geradora, entre outros desafios, com vistas a viabilizar os empreendimentos de geração, muitas
empresas diversificam a seus arranjos societários. A constituição de uma SPE para receber uma
autorização de geração, por exemplo, visa atender exigência das instituições financeiras para que o
projeto a ser financiado seja isolado de eventuais compromissos, riscos e resultados das empresas por
ele responsáveis e que participam da sociedade.
Assim, é nítido que o que distingue o autoconsumo do APE nas suas deferentes figuras societárias é tão
somente a sua operacionalização. Na figura de consórcio, o consorciado autoprodutor é personalizado
por seu CNPJ, o que é suficiente para a CCEE, responsável pelo controle e supervisão da comercialização
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de energia elétrica, tratá-lo como tal, fazendo jus às isenções dedicadas ao autoprodutor na parcela de
seu consumo/participação no empreendimento. Já no caso de uma SPE, o consumidor/investidor, com
participação societária na SPE que explora o empreendimento, não figura com seu CNPJ no ato de
outorga do empreendimento de geração, impossibilitando à CCEE visualizar essa correlação com o CNPJ
registrado no segmento consumo. O agente autoprodutor perde a sua caracterização como tal,
assumindo personalidade jurídica como participante do controle da SPE constituída.
Atento a essa situação, o Regulador empenhou-se e publicou a Lei nº 11.488, de 15 de junho de 2007,
que em seu art.26 equiparou a autoprodutor aquele consumidor participante de SPE constituída para
explorar, mediante autorização ou concessão, a produção de energia elétrica.
“Art. 26. Para fins de pagamento dos encargos relativos à Conta de Desenvolvimento Energético - CDE, ao
Programa de Incentivos de Fontes Alternativas - PROINFA e à Conta de Consumo de Combustíveis Fósseis dos
Sistemas Isolado - CCC-ISOL, equipara-se a autoprodutor o consumidor que atenda cumulativamente aos seguintes
requisitos:
I - que venha a participar de sociedade de propósito específico constituída para explorar, mediante autorização ou
concessão, a produção de energia elétrica;
II - que a sociedade referida no inciso I deste artigo inicie a operação comercial a partir da data de publicação
desta Lei; e
III - que a energia elétrica produzida no empreendimento deva ser destinada, no todo ou em parte, para seu uso
exclusivo.
§ 1o A equiparação de que trata este artigo limitar-se-á à parcela da energia destinada ao consumo próprio do
consumidor ou a sua participação no empreendimento, o que for menor.”
Ora, se o Decreto nº 2.003/1996, no seu art. 2°, inciso II, considerou autoprodutor a pessoa física (PF)
ou jurídica (PJ) ou empresas reunidas em consórcio que recebam concessão ou autorização para
produzir energia elétrica destinada ao seu uso exclusivo e se o Regulador equiparou a autoprodutor
aquele consumidor participante de SPE, na parcela da energia elétrica destinada ao consumo próprio,
não há que se falar em incidência de novos encargos sobre esta parcela de energia, e sim, somente,
sobre eventual parcela atendida pela energia requerida do SIN.
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Em síntese, a destinação da energia elétrica produzida pelo autoprodutor para uso exclusivo é a
característica principal da figura aqui em questão, já que o objetivo é que o investidor na geração se
aproprie da produção mediante a alocação da energia produzida para próprio consumo. Nesse caso, a
operação é independente das unidades de geração e de consumo estarem ou não no mesmo local, bem
como da estrutura societária adotada pelo titular da outorga.
Diante do exposto, solicitamos que sejam mantidas as regras vigentes, tanto para o cálculo do consumo
líquido para autoprodutores, como a consideração da Geração Total do Agente, quanto a aplicação do
ESS e do EER apenas sobre eventual parcela atendida pela energia requerida do SIN (consumo líquido),
independente do arranjo societário. Afastando-se, portanto, a avaliação deste aspecto específico na CP
42/2020 até que seja apresentada a correspondente AIR tendo em vista a ampla necessidade de
discussão aqui evidenciada.
Não menos importante, cumpre destacar que os investimentos em empreendimentos de energia são
de grande monta e um período de transição deve ser rigorosamente estudado, tão quanto qualquer
mudança que se pretenda realizar. No caso apresentado, a transição apenas se configuraria para
outorgas que tenham sido emitidas no ano de 2020, sendo que estas permaneceriam sob a apuração
das regras atualmente em vigor. Contudo, a medida é danosa e punitiva ao desconsiderar que há uma
série de investimentos já iniciados com base no modelo atual de negócios do setor elétrico que estão
em processo de autorização e não necessariamente teriam suas outorgas publicas em 2020, levando à
possíveis falências de negócios já maduros e comprometidos.
Por fim, importa recordar que a proposta veiculada nessa CP caminha de forma contrária ao
aprimoramento do setor elétrico, altamente discutido nos últimos anos pelos instrumentos de Consulta
Pública MME nº 33/017 e, atualmente, pelos Projetos de Lei nº 1.917/2015 (Câmara) e nº 232/2016
(Senado), que melhoram o reconhecimento da figura autoprodutor ao chancelar o conceito do consumo
líquido que se dá pela diferença entre o consumo total do autoprodutor e a energia elétrica
autoproduzida.
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