A Jóia de Meggernie - Kate-Danon - LRTH

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 5468

A Jóia de

Meggernie

Kate Danon

Cy Santoro, Val
Nascimento, Lilah
Malveira e Sarah
Cortez
Sinopse
Depois do ataque ao
Meggernie, o lar de
Willow MacGregor,
o único caminho que
fica adiante da
jovem é o da
vingança. Se para
isso deve penetrar na
fortaleza de seu
inimigo e fazer-se
passar por quem
não é, não duvidará
em seguir os ditados
de seu coração.
Para o Ewan
Campbell, aceitar a
um adoentado moço
em seu castelo, um
que além disso
pretende unir-se a
sua tropa de
soldados, é uma
autêntica aberração.
Entretanto, o
orgulhoso laird do
clã Campbell
descobrirá que um
simples olhar basta
para que suas
convicções e suas
mais arraigadas
crenças se
cambaleiem.
Sumidos em um
desconcerto total de
emoções, ambos se
darão conta de que o
amor se encontra
onde menos o
esperam, e que seu
coração só se acende
ante o roce de uma
única pele...

Dedicatória
A minha família,
que não duvidou em
me acompanhar em
uma das viagens
mais inesquecíveis
que jamais
realizarei.
Percorremos a
Escócia em busca de
paisagens, de
experiências, de
sensações e de
inspiração.
Retornamos para
casa com um
carregamento inteiro
de lembranças
incríveis que nos
encherão a alma e o
coração quando os
evocarmos, porque
foi uma vivência
única. E a chama
que eu tinha dentro,
a desta história que
você vai ler a seguir,
avivou-se com o ar
das Highlands, com
o verde de suas
montanhas e o azul
de seus lagos, com a
magia de seus
castelos e a aventura
que se respirava em
cada etapa do
caminho. Só espero
ter sabido criar
nestas páginas parte
do que senti...
PRÓLOGO

Masmorras do Innis
Chonnel, maio de
1314

O moço havia
retornado, não
podia acreditar.
Ewan Campbell
tinha descido até
as masmorras
para vê-lo com
seus próprios
olhos. Tinha
dispensado o
guarda que
vigiava a porta e
tinha entrado na
cela, incapaz de
conter-se.
Precisava estar a
sós com ele.
Precisava
averiguar a
maneira de
desfazer-se
daquele feitiço
que estava
consumindo sua
mente e seu
coração...
Desde menino
lhe tinham
inculcado que um
chefe devia ser
forte, mostrar-se
autoritário e
saber governar a
sua gente com
mão de ferro.
Tinham-no
treinado com
esse propósito.
Tinha vivido
todo um inferno
nas mãos de um
pai que não
consentia a
debilidade em
nenhum de seus
homens... Menos
ainda em seu
próprio filho,
embora apenas
fosse um menino.
Ewan reconhecia,
passados já
aqueles horríveis
anos de sua
infância, que o
tinha suportado
graças a sua mãe
e a seu tio Alec.
As duas pessoas
que mais lhe
tinham querido,
as duas únicas
pessoas que
tinham sabido
consolá-lo
quando a rígida
tutela de seu pai,
Duncan
Campbell,
tornava-se
insuportável.
Mas nem sequer
eles tinham
podido evitar que
ficasse gravado a
fogo, sob a pele,
que um bom
líder devia ser um
autêntico
homem. Um
guerreiro de
conduta
admirável, mais
temido que
amado, de férrea
vontade e moral
irrepreensível.
Naqueles
momentos de
desconcerto,
Ewan Campbell
não tinha
nenhuma dúvida
a respeito do que
opinaria dele seu
pai se pudesse
vê-lo.
Diria-lhe que não
era um bom
laird.
Diria-lhe que não
era o guerreiro
que sempre tinha
desejado que
fora.
Diria-lhe que não
merecia ser
chamado filho
dele.
Porque, por
muito que
tentasse negá-lo
ante si mesmo,
Ewan sabia que
algo
desconhecido
tinha despertado
em seu interior
quando conheceu
esse maldito
moço com cara
de duende. Algo
que escapava a
sua compreensão
e a seu
autocontrole.
Algo que lhe
queimava nas
veias, que o fazia
ter saudades de
coisas que jamais
tinha tido, que
não lhe permitia
fechar os olhos
sem ver detrás
das pálpebras a
imagem que o
torturava.
Acaso estava
tornando-se
louco?
Desde que ele
apareceu, tudo se
tornou confuso.
Aquele menino
adoentado com
olhos azuis tinha
paralisado seu
mundo. Não
havia ninguém
mais. Não havia
nada mais.
Como combater
essa paixão
arrebatadora que
se instalou em
seu peito e se
tornou uma
autêntica
obsessão?
Tinha tentado
afastar-se de seu
feitiço... E quase
o tinha
conseguido.
Entretanto, não
contava com sua
volta. Depois de
abandoná-lo
longe do Innis
Chonnel, tinha
tido a ousadia de
retornar. Não
tinha tido mais
remédio que
voltar a encerrá-
lo na masmorra,
embora
tampouco isso
tinha bastado.
Agora o tinha
diante, convexo
em um rincão
daquela cela,
dormindo, alheio
ao caos de
sentimentos que
se originou em
seu interior.
Apesar de
encontrar-se
naquelas
lamentáveis
condições,
envolto na úmida
frieza daquele
buraco, o duende
desfrutava de um
sonho que lhe
resultava esquivo.
Sentou-se no
chão e apoiou as
costas contra a
parede de pedra,
sem poder
apartar o olhar
daquele corpo
magro. Com um
suspiro
derrotado, o laird
dos Campbell
passou as mãos
pelo rosto.
Já não reconhecia
a si mesmo, era
uma fraude para
todos os seus. Se
soubessem o que
acontecia em sua
cabeça o
repudiariam. Se
seus homens
averiguassem o
que era o que lhe
estava roubando
a prudência dia a
dia,
desprezariam-no
sem compaixão.
E não lhes
faltaria razão.
Porque Ewan
Campbell, leal
servidor do rei
Robert do Bruce,
orgulhoso chefe
de seu clã, já não
era o exemplo a
seguir por esses
guerreiros aos
que treinava para
a batalha que
vinha contra os
ingleses.
Ewan Campbell
já não era esse
homem de
conduta e moral
irrepreensíveis
que seu pai teria
querido que
fosse.
Ewan Campbell,
açoitado por
dezenas de
mulheres,
invejado pelos
mais ferozes
soldados, tinha
sucumbido ante
o feitiço de uma
criatura de seu
mesmo sexo...
E se aborrecia
por isso.
CAPITULO 1

Dois meses antes

Desde pequena,
todos lhe haviam
dito que era o
vivo retrato de
sua mãe. Para a
jovem Willow era
toda uma honra
que fizessem essa
comparação,
posto que Erinn
MacGregor tinha
morrido ao dar a
luz e ela não
tinha chegado a
conhecê-la. Saber
que, de alguma
forma, sua mãe
se refletia em
seus olhos azuis,
no gesto de sua
boca ao sorrir, na
cor escura de seu
comprido e
sedoso cabelo,
confortava-a. Era
um modo de tê-
la perto, mesmo
que nunca tivesse
estado a seu lado;
era sua particular
e privada maneira
de conhecê-la.
Aquele dia, a
semelhança entre
ambas era mais
notório que
nunca. Talvez
por sua forma de
sorrir, ou porque
ao fim se intuía,
sob aquelas
bochechas
rosadas, o rosto
da mulher em
que estava a
ponto de
converter-se.
Apesar de que
acabava de fazer
dezoito anos,
resultava
evidente que suas
feições
precisavam
amadurecer um
pouco mais para
alcançar sua
expressão
definitiva.
Sua velha dama
de companhia,
Enjoe, cruzou-se
com ela pelas
escadas e pôde
ver quão
contente estava
sua jovem
senhora.
— Aonde vai tão
eufórica? —
perguntou-lhe.
— Tio Gilmer
mandou me
chamar. Quer dar
meu presente de
aniversário.
A anciã lhe sorriu
com ternura.
Não eram bons
tempos, e
qualquer detalhe
que tingira de cor
aqueles dias
cinzas em que
viviam era bem
recebido. A moça
tinha poucos
motivos para
celebrar algo,
com seu pai e um
de seus irmãos
ausentes,
convocados à
guerra que
liberava o rei
Robert do Bruce
contra os
ingleses. A
maioria dos
soldados
MacGregor tinha
partido com eles
e a jovem tinha
ficado ao cargo
do Niall, o
menor dos
gêmeos, que
tinha o encargo
de custodiá-la e
tomar conta do
clã enquanto o
autêntico laird,
seu pai, batalhava
contra o inimigo.
Ao chegar no
grande salão
Willow
comprovou que
seu tio já estava
ali, sentado na
cabeceira da larga
mesa enquanto
sua ama de
chaves, Rhona,
servia-lhe uma
taça de vinho. A
mulher levantou
a vista e lhe
dedicou um
sorriso sincero.
Encaminhou-se
para ela e lhe
falou antes de
retirar-se.
— Hoje está de
muito bom
humor. Acredito
que o presente
excita mais a ele
que a você. —
Sussurrou isso
com
cumplicidade.
Willow lhe
devolveu o
sorriso,
encantada.
Rhona sempre
lhe tinha gostado,
era uma mulher
atenta e
carinhosa que
levava a cargo do
Landon Tower
desde que tinha
memória. As más
línguas diziam
que tanta entrega
e dedicação em
seu trabalho se
devia a que
estava
apaixonada em
segredo pelo
senhor daquele
castelo. Willow
não via nada de
mau nisso,
justamente o
contrário. Tio
Gilmer não se
casou nunca e, se
Rhona tinha
decidido amá-lo,
não fazia mal a
ninguém.
— Me alegro de
que esteja feliz.
— Respondeu
ela, apertando
uma das mãos da
ama de chaves
com carinho. —
Nós todos
faremos que
volte a ser o
homem que era.
Uma sombra de
tristeza cruzou
então pelo rosto
da mulher.
— Será
complicado,
minha senhora.
Ninguém volta a
ser a mesma
pessoa quando os
dentes desta
guerra cruel lhe
remoem o
coração.
Willow tragou
com dificuldade
o nó que lhe
tinha formado na
garganta ao
escutar seu tom.
Não era apenas
pela desgraça que
tinha sofrido tio
Gilmer. O único
filho de Rhona,
de apenas
dezesseis anos,
tinha morrido em
batalha
defendendo a
causa do rei
Bruce. Abraçou-a
em um gesto
espontâneo, sem
saber de que
outra maneira lhe
transmitir o
muito que
lamentava sua
perda. Willow
não podia
imaginar-se sua
angústia e sua
dor, e quis
reconfortá-la.
— Sinto-o
tanto... Tinha
muita admiração
ao Connor, era
um moço muito
valente. —
Murmurou
enquanto a
abraçava.
Rhona se
mostrou
sobressaltada
pela
demonstração de
carinho e
permaneceu
muito rígida até
que Willow se
afastou.
— Era valente e
o melhor dos
filhos. —
Corroborou,
com os olhos
lacrimejados.
Depois, os
limpou com um
par de tapas e
compôs de novo
seu amável
sorriso. — Mas
hoje não terá que
falar de penas,
mas sim de
alegrias. Seu tio já
deve estar
impaciente para
lhe dar o
presente que
preparou com
tanto entusiasmo.
Deixo-lhe com
ele.
Dito isso,
continuou seu
caminho e
Willow ficou a
sós com o senhor
do Landon
Tower.
— Vamos, te
aproxime, tantas
coisas tem que
falar com a
Rhona? —
Chamou-a.
— Já vou.
Enquanto se
aproximava, a
excitação por
descobrir qual
seria seu presente
apagou toda
preocupação de
sua mente por
uns instantes.
Não tinha sido
um bom ano;
muitas ausências
e muitas penas
para desfrutar de
seu aniversário.
Somente por
isso, não poderia
agradecer mais o
cuidado que
tinha tido tio
Gilmer com ela.
Sentou-se ao seu
lado, incapaz de
manter a
compostura. Os
dedos lhe
tremiam de
emoção e seus
olhos
contemplaram
com deleite o
tamanho e a
forma daquele
enorme pacote
envolto com um
tecido de linho
branco, adornado
com uma cinta
carmesim que o
rodeava com
uma perfeita
laçada. Gilmer o
empurrou para
ela com sua única
mão. Willow
tratou de não
dirigir o olhar ao
outro braço,
onde um coto
substituía a
extremidade que
tinha perdido no
campo de
batalha.
Aquela era a
causa de que
Niall e ela tinham
abandonado
Meggernie, seu
lar, e se
encontravam em
Landon Tower, a
fortaleza de seu
tio. Ambos o
queriam muito
para deixá-lo
sozinho em um
momento assim
e, tal e como lhe
tinha confessado
a Rhona
momentos antes,
Willow esperava
que sua presença
servisse para que
o guerreiro
voltasse a ser o
homem que
conheciam,
apesar de que
aquela desgraça
lhe marcaria para
sempre.
Na realidade,
Gilmer Graham
não era seu tio de
sangue. Era
amigo de seu pai
desde que tinha
uso de razão e,
tanto para ela
como para seus
irmãos, era mais
um da família.
Quando lhe
cortaram a mão
na batalha da
retomada da ilha
do Man, o rei
Bruce o liberou
da obrigação de
lutar contra os
ingleses. Para o
guerreiro, sua
mutilação e sua
posterior licença
do exército
escocês tinha
suposto um duro
golpe. Quando
Niall e Willow
receberam a má
notícia, acudiram
ao Landon
Tower dispostos
a lhe dar todo
seu apoio.
Niall o
compreendeu
muito melhor
que ela, posto
que o moço tinha
sido excluído da
batalha só
porque Malcom,
seu irmão gêmeo,
tinha aparecido a
cabeça ao mundo
dois minutos
antes que ele.
Willow sabia que
Niall desejava ir à
frente junto a seu
pai e servir ao rei
Bruce como
outros muitos
jovens, e estava
convencida de
que se ela não
existisse, seu
irmão teria
podido cumprir
com os ditados
de sua honra e
patriotismo.
— Não vais abrí-
lo?
A voz grave de
Gilmer tirou
Willow de suas
reflexões e o
olhou, com um
sorriso. Sentiu
uma quebra de
onda de quente
agradecimento
por aquele
homem, não
poderia querê-lo
mais se fosse seu
autêntico tio.
Fixou-se nas
olheiras que
escureciam seu
olhar cinza e
lamentou que a
sorte lhe tivesse
sido tão esquiva.
Não merecia o
que lhe tinha
ocorrido e as
conseqüências
daquele
infortúnio lhe
estavam
passando da
conta. Seu
cabelo, sempre
escuro e
brilhante,
comprido até os
ombros,
mostrava agora
múltiplos fios
prateados. No
rosto largo e bem
barbeado
apareciam agora
rugas que antes
não estavam.
Mesmo assim, o
conjunto, com o
nariz um pouco
plano e os lábios
finos e elegantes,
dotava a seu
rosto de certo
atrativo. Willow
se perguntava
por que nunca se
casou ou por
que, dado que
conhecia os
sentimentos que
lhe professava
Rhona, não tinha
feito pública a
relação que
mantinha com
sua ama de
chaves e que era
um segredo a
vozes dentro dos
muros daquela
fortaleza.
Inclusive se dizia
que Connor, o
moço que tinha
dado a luz Rhona
apesar de não ter
um marido, era
filho do laird
Graham. Tio
Gilmer jamais o
tinha
reconhecido e
jamais tinha
confessado que
mantivesse
relações com
alguma mulher.
Mas enfim,
pensou Willow,
aquele assunto
não era de sua
incumbência e
não tocava a ela
opinar a
respeito...
Com dedos
trementes, atirou
da laçada que
adornava o
pacote e o
desembrulhou
contendo o
fôlego. Quando
retirou o tecido
branco,
descobriu um
precioso vestido
de seda cor
celeste e se levou
uma mão à boca
para afogar uma
exclamação.
— Tio Gilmer...
É maravilhoso!
— Sussurrou,
com lágrimas nos
olhos.
Desdobrou o
objeto e ficou em
pé. Colocou-o
sobre seu corpo
acariciando a
suavidade do
tecido,
admirando os
bordados das
mangas e do
decote em cor
dourada. Era o
vestido mais
incrível que
jamais tinha tido.
Quando levantou
a vista, descobriu
que os olhos de
seu tio também
estavam nublados
pela emoção.
— Quero que lhe
ponha isso para a
festa que penso
dar em sua
honra. — Pediu.
Willow assentiu e
se aproximou
para depositar
um suave beijo
em sua bochecha.
Ele inspirou com
força quando se
inclinou sobre
seu rosto... Pobre
tio Gilmer,
certamente não
queria que lhe
escapassem as
lágrimas que ela
tinha intuído
ocultas atrás
daquele olhar
cheio de amor.
— Obrigada por
este presente
incrível. E
obrigada por
organizar essa
festa, embora
meu aniversário
já tenha passado.
Agora, vou
mostrar isso ao
Niall!
A moça saiu
correndo do
grande salão, tão
contente que não
podia conter sua
excitação. Só lhe
faltava uma coisa
para ser
completamente
feliz: que seu pai
e Malcom
pudessem estar
com ela quando
brindassem por
seus recém feitos
dezoito anos.
Sabia que não
podia ser e,
embora sua
ausência mitigava
a ilusão que
crescia em seu
interior ante a
perspectiva
daquela
celebração, não
podia negar que
desejava que
chegasse o dia da
festa. Nesses
tempos era todo
um luxo que seu
tio Gilmer
organizasse um
jantar com todo
estilo em sua
honra. Willow,
que já tinha
adquirido as
noções básicas
para a
administração
dos gastos de seu
próprio clã, não
ignorava que as
arcas de quase
todas as famílias
escocesas tinham
diminuído de
maneira
alarmante com a
guerra. Os
impostos do rei
para ajudar os
gastos de sua
campanha eram
elevados e os clãs
notavam a falta
de recursos. A
festa não ia
resultar excessiva
nem luxuosa,
mas nem por isso
deixava de ser
emocionante.
Subiu de novo a
escada de pedra
até alcançar o
piso superior,
onde se
localizavam os
aposentos de
Landon Tower.
O quarto de Niall
estava junto ao
seu, e tal era seu
entusiasmo por
lhe mostrar seu
presente, que
entrou sem
chamar e sem
pedir permissão.
— Niall, olhe o
que...! — A frase
morreu em seus
lábios antes de
terminá-la.
Willow ficou
parada na porta,
surpresa ao
encontrar seu
irmão sentado na
cama, inclinado
para frente, com
os cotovelos
apoiados nos
joelhos e as mãos
sujeitando a
cabeça. Sobre a
cama, ao seu
lado, havia uma
carta. Um
horrível
pressentimento a
invadiu ao
compreender que
aquela missiva
podia conter
notícias do
fronte, de seu pai
ou do Malcom.
Havia ocorrido
algo grave? Por
isso Niall parecia
tão abatido?
— Willow! —
Disse seu irmão,
levantando a
vista para ela,
sobressaltado por
ter sido
descoberto nessa
postura.
— O que
acontece? Trata-
se de papai? É
Malcom?
Niall se levantou
da cama e foi ao
seu lado de duas
pernadas para
abraçá-la. O
precioso vestido
escorregou de
suas mãos ao
supor que seu
irmão tentava
consolá-la
antecipadamente.
Seu coração se
encolheu de
incerteza e dor.
— Não, fica
tranqüila. Estão
bem. Os dois
estão bem...
A jovem soltou o
ar que não sabia
que estava
retendo quando
escutou aquelas
palavras. O alívio
foi tão intenso
que se enjoou,
embora por sorte
Niall ainda a
segurava entre
seus braços.
— Então, o que
se passa?
— Devemos
partir
imediatamente
para o
Meggernie.
Toda a ilusão lhe
gelou de repente
nas veias. Niall
não podia estar
dizendo o que ela
imaginava.
— Mas a festa...
É amanhã! Não
podemos partir!
O que ocorreu?
Niall se separou
dela, mas a
manteve segura
pelos ombros e a
olhou com gesto
grave.
— Sei que
desejava celebrar
seu aniversário
com tio Gilmer,
mas não vai
poder ser. Já dei
ordem de que
preparem nossas
coisas,
partiremos assim
que esteja
preparada.
Willow movia a
cabeça, negando-
se a aceitar suas
ordens.
— Por que? Por
que temos que
sair correndo?
Aconteceu algo
no Meggernie?
A jovem olhou
para a cama,
onde o papel que
tinha visto ao
entrar parecia
assumir de
repente uma
grande
importância. Sem
dúvida, algo do
que havia ali
escrito tinha
alterado a seu
irmão e lhe
obrigava a tomar
a drástica
determinação de
voltar para casa.
Niall a
contemplou com
o semblante mais
sério que jamais
lhe tinha visto.
Seu irmão nunca
tinha tido
dificuldade para
lhe falar e lhe
explicar as coisas,
mas estava claro
que nessa ocasião
lhe estava
custando
encontrar as
palavras
adequadas.
— Confia em
mim — foi tudo
o pôde lhe dizer.
— É de suma
importância que
retornemos.
— Mas...
— Willow, não
torne isso mais
difícil e obedece.
Por favor.
O rogo final não
atenuou o
impacto que
causou nela o
tom autoritário
de seu irmão.
Apenas o
reconhecia.
Jamais lhe tinha
falado assim,
jamais se havia
sentido tão
pequena diante
dele como nesse
momento. As
lágrimas foram a
seus olhos, tanto
pela impotência
que sentiu como
por não receber
de Niall a
cortesia de uma
mínima
explicação. Acaso
pensava que ela
era incapaz de
compreender as
coisas? Se tinha
acontecido algo
grave, estava
preparada para
confrontá-lo.
Doída, recolheu
seu vestido do
chão e deu a
volta para partir.
Só esperava que,
quando Niall
comunicasse a tio
Gilmer sua
decisão de
abandonar
Landon Tower, o
guerreiro fosse o
suficientemente
convincente para
lhe fazer mudar
de opinião.
CAPITULO 2

A viagem de
volta ao
Meggernie
resultou triste
para Willow.
Ninguém pôde
persuadir Niall
para que ficassem
no Landon
Tower até depois
da festa e
inclusive, depois
de que Enjoe
falou com ele, a
velha dama de
companhia
pareceu ficar de
seu lado. A moça
se despediu de
Gilmer com
lágrimas nos
olhos e o
guerreiro a
abraçou com
emoção contida.
Queria que os
MacGregor
ficassem mais
tempo e,
igualmente
desejava Willow,
tampouco
entendia a
repentina pressa
de Niall. O
veterano
guerreiro não se
encontrava em
seu melhor
momento e os
necessitava; tinha
posto muita
ilusão naquela
festa para sua
sobrinha, era um
dos poucos
estímulos que
ficavam. Que o
jovem
MacGregor
tivesse decidido
partir, assim sem
mais, tão de
repente, supunha
um duro reverso
em seu ânimo.
E Willow se
encontrava no
meio de ambos
os homens,
confusa,
incômoda e
doída. Aquela
situação a tinha
tão
desconcertada
que não tinha
dirigido a palavra
a seu irmão
desde que
abandonaram a
fortaleza. Ele
tampouco se
mostrava
desejoso de
conversar, pois se
tinha posto à
frente da
comitiva e os
fazia avançar a
um ritmo muito
mais rápido que
o normal.
Quando o sol se
pôs se deu conta
de que tinham
percorrido, ao
menos, a metade
do trajeto. Tinha
o traseiro
dolorido e as
costas lhe davam
espetadas, mas
não se queixou
nenhuma só vez.
Quando Niall
ordenou parar
para acampar e
passar a noite foi
totalmente um
alívio. Sua dama
de companhia,
que apesar de sua
idade seguia
montando a
cavalo, ficou a
sua altura para
comprovar que
estava bem.
— Que tal suas
costas?
— Não estaria
bem que me
queixasse, Enjoe,
tendo em conta
que me triplica a
idade e você não
tem aberto a
boca em todo o
trajeto.
— Em outras
circunstâncias o
teria feito, não
tenha dúvida.
Willow a olhou,
arqueando uma
sobrancelha.
— E em que
circunstâncias
nos encontramos,
exatamente?
A anciã, ao dar-se
conta de que os
soldados
começavam a
desmontar para
preparar o
acampamento,
fez o mesmo e
esquivou a
pergunta de sua
jovem senhora.
Lady, a égua de
Willow, moveu-se
nervosa, lhe
indicando a sua
ama que também
ela necessitava
descanso.
Afagou-lhe o
pescoço com
carinho antes de
apear-se e
encaminhar-se
para a zona onde
os homens
MacGregor já
estavam
montando as
tendas em que se
refugiariam para
dormir, ao redor
de uma grande
fogueira que
ajudaria a
combater o frio
da noite.
Ela mesma se
encarregou de
Lady, como fazia
desde que seu pai
lhe ensinou.
Cuidar de sua
égua e cozinhar
eram as únicas
tarefas que lhe
permitiam
realizar em seu
lar dado que,
para todo o resto,
sempre tinha a
alguém por trás,
fazendo-o por
ela. Quando sua
tenda esteve
preparada,
agarrou suas
mantas de
dormir e se
reuniu com
Enjoe. Dava igual
que já tivesse
completado os
dezoito anos;
para a anciã,
Willow sempre
seria sua menina
e nunca se perdia
o ritual de deitá-
la, embora não
estivessem em
seu lar.
— Antes não me
respondeste. —
Reprovou,
enquanto
estiravam as
mantas no
interior da tenda.
— Você sabe o
que acontece,
certo?
Enjoe a olhou e
seus olhos
marrons
refulgiram com a
escassa luz da
fogueira que
penetrava pelo
tecido. Apesar de
ser bem mais
velha, a mulher
transbordava
vitalidade e
energia. Seus
dedos nodosos
alisaram as rugas
das mantas e
logo deu um
tapinha na
superfície para
que se
acomodasse.
Willow obedeceu
e ficou de costas
a ela para que lhe
desfizer o
penteado, como
todas as noites.
Enjoe começou a
falar enquanto
suas mãos
trabalham
desenredando as
compridas e
escuras mechas
de seu cabelo.
— Seu irmão
está preocupado,
nada mais. Mas
tudo estará bem.
— De verdade
não me vais dizer
o que acontece?
— Ele não me
disse. —
Reconheceu a
mulher, com um
suspiro. —
Embora pressinta
que não
demoraremos
para averiguá-lo.
Vamos lhe dar
tempo, minha
menina, porque,
seja o que for, ele
parecia bastante
afetado.
— Então, se não
te contou o que
ocorre do que
falaram? —
Willow se virou
para olhá-la à
cara. Enjoe não
estava
acostumada a lhe
mentir, mas
queria assegurar-
se.
— Pediu-me
algo. Espero não
ter que fazê-lo
nunca, mas,
chegado o caso,
farei-o.
Naquela
penumbra, o belo
rosto de Willow
se mostrou
confuso e
aturdido.
— O que te
pediu?
— Algo que me
romperá o
coração. —
Respondeu
Enjoe,
obrigando-a a
girar de novo a
cabeça para lhe
trançar o cabelo.
Não lhe quis
dizer mais e a
jovem se deu por
vencida. Era
consciente de
que não havia
ninguém mais
teimosa que
Enjoe, e se não
queria falar, não
o faria. Era a
única mãe que
conhecia, posto
que quando a sua
morreu no parto,
Ian MacGregor
tinha confiado na
dama de
companhia para
criá-la. Depois de
seu pai e seus
irmãos, era a
pessoa a que
mais amava no
mundo. Suas
palavras não
fizeram nada a
não ser aumentar
o desassossego
que a
acompanhava
desde que tinham
saído do Landon
Tower.
— Vamos lá.
Vamos jantar um
pouco e depois
dormiremos.
Temos que
descansar o que
pudermos,
imagino que seu
irmão quererá
partir assim que
amanheça.
Enjoe saiu da
tenda e retornou
logo com um
pouco de comida
para as duas.
Willow logo que
provou um
bocado, tinha o
estômago
fechado. Deixou
o prato a um
lado para deitar-
se sobre as
mantas e fechou
os olhos,
tentando seguir a
recomendação de
sua dama de
companhia. Mas
foi impossível.
Deu umas
quantas voltas e
soube que não
conseguiria
dormir, sua
cabeça estava
cheia de dúvidas
e preocupações.
O único que
podia aplacar
essa angústia era
seu irmão, mas
depois de não lhe
dirigir a palavra
em todo o dia
não se sentia
corajosa para
abordá-lo.
Sabia que não
tinha feito bem.
Comportou-se
como uma
menina
caprichosa,
zangando-se
apesar de ser
plenamente
consciente de
que Niall jamais
faria nada para
prejudicá-la.
Revolveu-se
sobre as mantas e
olhou a Enjoe,
deitada a seu
lado. Ao
contrário dela, o
sono a tinha
apanhado com
rapidez depois da
larga jornada de
viagem. Girou
então a cabeça
para a fresta
aberta da entrada
da tenda e se
entreteve
observando o ir e
vir dos soldados
MacGregor no
acampamento.
Seus olhos
procuraram Niall
entre os rostos
dos guerreiros,
precavendo-se de
que não o tinha
visto sorrir desde
o dia anterior.
Em uma pessoa
como ele, a quem
sempre lhe
brilhavam os
olhos e que
estava
acostumado a
mostrar a todo
mundo sua face
mais amável,
resultava
inquietante.
Foi justo então
quando
compreendeu
que Niall
suportava uma
carga muito
grande e que ela,
em seu egoísmo,
não tinha feito
absolutamente
nada para ajudá-
lo. Zangou-se
com ele por não
querer
compartilhar sua
preocupação, e
só agora, ao
encontrá-lo por
fim sentado
frente ao fogo,
com o rosto
angustiado, dava-
se conta de que
talvez apenas
tinha que apoiá-
lo, lhe fazer ver
que ela estava ali
para respaldá-lo
por muito negras
que ficassem as
coisas.
Decidida,
levantou-se e se
cobriu no manto
com as cores dos
MacGregor antes
de aproximar-se
do lugar onde
descansava Niall.
— O que faz
ainda acordada?
— Perguntou ele
assim que a viu
chegar, tiritando
de frio.
— Você também
está acordado.
— Eu tenho
muitas coisas em
que pensar. —
Disse, com o
olhar perdido nas
chamas.
Willow se sentou
a seu lado e
apoiou a cabeça
em seu ombro.
Notou o calor
que envolvia o
corpo de seu
irmão e o
agradável aroma
que sempre
desprendia e que
recordava a sua
casa.
— Me perdoe,
Niall.
O sussurro aflito
da jovem atraiu
sua atenção. Os
olhos enormes e
azuis de Willow
estavam a beira
das lágrimas.
— Te perdoar?
Você não tem
feito nada,
Willow.
— Por isso
mesmo. Tinha
que te haver
apoiado e, ao
invés disso,
zanguei-me
como uma
menina pequena.
Deixei que meu
egoísmo e minha
frivolidade se
apropriassem de
meu ânimo, em
lugar de te
perguntar como
podia ajudar.
Niall lhe passou
um braço sobre
os ombros e a
apertou contra si.
— É normal que
desgostasse por
perder a festa. —
Niall a apertou
contra si. —
Acredite,
lamento te haver
tirado do Landon
Tower com tanta
urgência, merece
essa celebração e
muito mais.
Willow tragou
saliva ante essa
afirmação tão
apaixonada e
contemplou com
amor o rosto de
seu irmão.
Sempre lhe tinha
parecido muito
bonito, inclusive
mais bonito que
Malcom, e isso
que ambos
possuíam as
mesmas feições.
Tinha o cabelo
escuro igual a ela
e cada vez que
sorria lhe
marcava uma
covinha na
bochecha
esquerda. Seus
olhos eram azuis
também, embora
mais puxados e
menos redondos
que os seus.
Apesar de ser
muito alto e com
aparência de
guerreiro, seu
aspecto não era
intimidador. Niall
era muito
especial; era, dos
três, o mais
risonho e ao que
mais carinho lhe
tinham todos no
Meggernie. Não
era para menos.
Amável e com
um coração
generoso,
conhecia a
natureza das
pessoas e sabia
ganhar a
confiança dos
que lhe
rodeavam.
Willow sempre
podia contar com
ele, para que a
fizesse rir, para
que a escutasse,
para que a
abraçasse quando
perdera à mãe
que não tinha
conhecido, que
lhe doía o peito
ao respirar.
Malcom não era
como ele.
Queria-a, disso
não tinha
nenhuma dúvida,
mas não
combinava com
ela tão bem
como Niall.
Malcom era mais
sério, muito
menos
sentimental e
mais pragmático
para tudo. Não
era um sonhador,
não ria de algo e
não dançava
nunca nas festas.
Era um guerreiro
feroz, isso sim, e
era talvez o único
no que podia
considerar-se
algo superior ao
Niall. Ambos os
irmãos eram
excepcionais com
a espada, mas
Malcom era um
pouco mais forte,
o que lhe dava
certa vantagem
quando se
enfrentavam
entre eles. Sabia
que seu pai a
tinha deixado aos
cuidados de Niall
porque ele a
compreendia
muito melhor
que o bruto do
Malcom, mas às
vezes se
perguntava se seu
irmão tinha
estado de acordo
com essa decisão,
e se não
preferiria estar no
fronte em lugar
de fazer-se de
babá, suportando
as tolices de uma
jovem que
dramatizava por
não poder
desfrutar de uma
simples
celebração.
— Dá-me igual a
festa, Niall. —
Disse, quando
pôde desfazer do
nó que lhe
apertava na
garganta ao
pensar nessa
possibilidade. —
O que de
verdade sinto é te
causar tantas
moléstias. Sei…
Sei que se não
fosse por mim,
agora estaria com
papai e com o
Malcom no
campo de
batalha. Sei que
lamenta não
poder servir a
sua pátria como
desejaria e sinto
ser a culpada de
que tenha tido
que ficar.
— Acredita que é
a culpada de que
papai me tenha
deixado ao cargo
do Meggernie…
E de ti?
— Sei que você
gostaria de estar
com eles e não
pode, por minha
causa.
Niall moveu a
cabeça em um
gesto incrédulo.
— Willow… —
Acariciou o rosto
com carinho
antes de
continuar
falando. — É
obvio que eu
gostaria de ajudar
e servir ao nosso
rei, mas alguém
tinha que ficar à
frente do clã.
Não lamento
estar aqui
contigo, como
pode pensá-lo
sequer? Não sabe
que, para mim,
você é mais
importante?
— De verdade?
— É minha
pequena, a jóia
do Meggernie.
Papai sabia que
eu era o mais
idôneo para
cuidar de você…
Malcom te teria
vigiado como um
falcão, estou
seguro, e não
teria deixado que
nada mau te
ocorresse. Mas
acaso a teria
mimado que o
visitasse no meio
da noite para lhe
contar um de
seus pesadelos?
Se despertasse ao
Malcom para
semelhante
tolice, lançaria-te
um travesseiro à
cara e te jogaria
de seu quarto aos
gritos. Papai
sabia que eu, pelo
contrário,
abraçaria-te e iria
te buscar um
tigela de leite
morno para que
pudesse voltar a
conciliar o sono.
— Então, não
sofre por ter que
se fazer de babá?
— Não. — Niall
suspirou e
procurou sua
mão para lhe
expressar com
um apertão tudo
o que tinha
dentro e não
tinha tempo de
pôr em palavras.
— O único que
me pesa é que
minha valia seja
insuficiente para
te proteger.
— Não
compreendo o
que quer dizer.
Você é um
guerreiro
formidável! Não
poderia ter
melhor escolta.
Niall a olhou
então de uma
forma estranha.
A jovem nunca
tinha visto esse
brilho de
preocupação em
seu olhar e uma
inquietação
irritante tomou
conta de sua
mente.
— Protegerei-te
com minha
própria vida,
nunca o duvide.
— Disse, antes
de levar o dorso
de sua mão aos
lábios para beijá-
la.
— O que ocorre,
Niall? Do que
tem medo? —
Perguntou ela
com um fio de
voz. —
Aconteceu algo
mau no
Meggernie, é
isso?
Niall respirou
fundo e soltou o
ar devagar.
Manteve-se em
silêncio tanto
tempo que a
jovem pensou
que não lhe
responderia; mas
o fez.
— Não. Mas
poderia
acontecer… —
Se separou dela e
voltou a fixar a
vista nas chamas
da fogueira. —
Escuta, não é
momento de
falar disto.
Devemos
descansar,
amanhã temos
que partir com as
primeiras luzes e
chegar a casa
quanto antes.
Tenho que
preparar o
castelo, devo
reunir a todos os
homens que
possa.
— Teme algum
ataque?
— Sempre temo
que nos ataquem.
Mas agora, com a
maioria de
nossos soldados
no fronte,
parece-me que
estamos mais
expostos que
nunca.
Ela o olhou com
uma expressão
questionadora,
sem
compreender
nada. Seu irmão
lhe acariciou o
braço tratando de
tranqüilizá-la.
— Contarei-lhe
tudo, prometo-
lhe isso. Mas não
aqui, não agora.
Amanhã, quando
não me sentir tão
vulnerável,
quando
estivermos entre
os muros de
nosso lar, quando
você estiver a
salvo, falaremos.
Willow notou o
medo que tingia
o rosto de Niall.
Era lógico que
queria chegar
quanto antes ao
Meggernie, posto
que ali gozavam
das defesas da
fortaleza e do
amparo do resto
dos poucos
homens que
ficavam. Do que
se inteirou Niall?
O que dizia essa
carta que ela
tinha visto sobre
sua cama essa
mesma manhã?
Quem quereria
atacar seu lar,
abusando de sua
clara
desvantagem ao
ter suas forças
diminuídas? A
jovem não se deu
por vencida e
insistiu para que
seu irmão lhe
confiasse seus
temores.
— De quem se
trata, Niall?
Quem poderia
querer nos fazer
dano? Faz muito
que papai assinou
a paz com os
Stewart, e
tampouco
sabemos nada
dos Campbell há
anos.
Niall encerrou a
conversa
levantando-se
para acompanhá-
la de retorno a
sua tenda.
— Amanhã,
prometo-lhe isso.
Tem que
descansar e não
quero que o que
tenho que lhe
contar te tire o
sono.
— De toda
maneira não
poderei dormir.
— Queixou ela.
— Claro que sim.
Já o verá, eu
estarei aí, justo
em frente,
vigiando para que
nada de mau te
aconteça. —
Agarrou-lhe o
rosto entre as
mãos e a beijou
na testa. — Até
amanhã,
pequena.
Willow se deitou
em suas mantas e
lhe observou
retornar ao seu
lugar frente ao
fogo. Ficou
olhando-o,
lamentando que
não lhe tivesse
permitido
permanecer ao
seu lado. Não
queria ser uma
carga para ele,
queria ajudar,
mas sabia que
Niall ainda a via
como a uma
menina a que
tinha que cuidar
como quando
eram pirralhos.
Ele pensava que
lhe ocultando os
problemas a
protegia, mas não
era assim. Já fazia
muito que se deu
conta de que
nada se
solucionava
ignorando os
males do mundo.
E embora os
habitantes do
Meggernie,
começando pelo
Niall e Enjoe,
empenhassem-se
em mantê-la em
uma bolha,
Willow
compreendia que
não lhe faziam
nenhum favor.
A jóia do
Meggernie, esse
era seu apelido.
O próprio Niall o
tinha posto
sendo meninos e
seu pai adorou.
Dizia que Willow
brilhava com luz
própria, como
uma safira, e que
iluminava os
corações de
todos os
habitantes da
fortaleza com o
azul mágico de
seus olhos e seu
sorriso. Depois
da morte de sua
mãe, a que todos
adoravam, a
pequena Willow
era um raio de
esperança que
acendia a alegria
de quem a
conhecia. Era o
tesouro de sua
gente, algo
prezado e
precioso, embora
a ela esse título a
incomodava
algumas vezes.
Como nessa
ocasião.
Por que ninguém
lhe dizia o que
estava
acontecendo?
Por que Niall era
tão cabeçudo?
Podia ajudar,
podia dar sua
opinião, podia
contribuir com
soluções. Mas
não. Era melhor
mantê-la à
margem, na
ignorância, em
sua eterna
redoma de cristal.
Desejou, de todo
coração, que seu
irmão cumprisse
sua palavra e que,
assim que
estivessem no
Meggernie,
contasse-lhe o
que acontecia.
Com esse
pensamento na
cabeça, pouco a
pouco, foi
adormecendo.

CAPITULO 3

Para sua
consternação, as
coisas não
melhoraram
quando
chegaram ao seu
lar. Niall se
mostrou mais
esquivo que
nunca e suas
tarefas como o
maior
responsável pela
fortaleza o
absorveram de
tal modo que a
jovem esteve dois
dias sem cruzar-
se com ele.
Os soldados
MacGregor
estavam cada vez
mais nervosos, e
Errol, o segundo
no comando
agora que nem
seu pai nem
Malcom se
encontravam ali,
ajudava em todo
o possível ao
Niall para que a
situação não se
voltasse
insustentável.
Willow tentou
falar com ele,
dado que com
seu irmão era
impossível, mas
não teve mais
sorte que com
Enjoe quando o
tinha
interrogado. O
homem as
esquivou a ambas
alegando que
tinha muita tarefa
pela frente e que
era urgente
cumprir as
ordens que Niall
tinha dado a
todos os seus
guerreiros.
A jovem
começou a se
desesperar.
Estava se
cansando de que
todos corressem
de um lado ao
outro do castelo
com cara de
alarme sem lhe
explicar nada.
Decidiu que se
seu irmão não
falava com ela
essa mesma
noite, iria a seu
quarto e não o
deixaria dormir
até que lhe
confiasse o
problema.
Entretanto, Niall
não foi ao salão
na hora do jantar.
Willow teve que
conformar-se
com a
companhia de
Enjoe e algumas
das esposas dos
guerreiros que
tinham partido
para o fronte
junto com seu
pai. As damas
comentavam que
todos os
soldados do
Meggernie
pareciam
nervosos e se
respirava no
ambiente o
prelúdio de uma
tragédia. Seus
agoureiros
comentários
puseram arrepios
a Willow e lhe
azedaram a
comida, mas não
pôde as
repreender. Ela
sentia o mesmo e
estava muito
preocupada.
Nem sequer a
suave música do
alaúde que
pretendia
amenizar a
velada, conseguia
distrair às
mulheres daquele
desassossego.
Seus temores se
fizeram realidade
muito antes do
esperado, porque
pouco depois de
que lhes
servissem a
sobremesa, seu
irmão irrompeu
no salão seguido
por vários de
seus homens,
com o rosto
tenso.
— Meggernie
está sendo
atacado.
A frase caiu
sobre todas elas
como um
caldeirão de água
fervendo.
Saltaram de suas
cadeiras e se
aproximaram
dele, indagando-
o com perguntas
que
demonstravam
pânico. Niall
pediu calma com
as mãos, incapaz
de entender uma
só palavra do que
resmungavam
suas vozes
histéricas.
— Por favor,
silêncio! —
Pediu. —
Necessito que
peguem as
crianças e se
refugiem nos
porões até que
passe o perigo.
— Quem nos
ataca?
— O que está
acontecendo?
— Por que? O
que querem de
nós?
As mulheres
seguiram
perguntando
como se não o
tivessem
escutado.
— Façam o que
lhes digo, rogo-
lhes isso.
— Niall, o que...
O que está
ocorrendo? —
Willow se somou
ao nervosismo
geral, consciente
de que seu irmão
já tinha previsto
aquele ataque.
E não lhe tinha
contado nada a
respeito.
Os olhos azuis
do jovem
guerreiro
posaram sobre os
seus e lhe
percorreu um
calafrio pelas
costas ante o
funesto
pressentimento
que a embargou.
Viu que os lábios
de seu irmão se
separavam para
responder, mas
os gritos de
Errol, na porta
do salão,
chamaram sua
atenção.
— Niall!
Entraram, estão
dentro! Alguém
deve ter
facilitado o
acesso ao
interior!
As mulheres
exclamaram de
horror e saíram
correndo para
cumprir as
ordens de Niall,
cujo rosto se
desencaixou ante
a notícia. Voltou-
se para Willow e
a agarrou pelas
mãos.
— Vá com Enjoe
e faz o que ela te
peça. Logo que
tivermos tempo...
— Niall,
necessitamo-lhe,
depressa! —
apressou-o Errol.
— Niall... —
Sussurrou
Willow, com um
fio de voz,
abraçando-se ao
seu irmão com
desespero.
— Não há
tempo. —
Escutou-o dizer,
antes de beijá-la
na testa. — Me
prometa que fará
o que Enjoe te
diga, promete-o.
Embalou-lhe o
rosto entre suas
mãos e afundou
em seus olhos,
esperando sua
resposta.
— Prometo-lhe
isso.
— Boa garota.
— Niall a olhou
com intensidade,
voltou a beijá-la
na testa e antes
de separar-se
dela, articulou
com voz rouca.
— Te amo, não
o esqueça nunca.
Afastou-se
depois para unir-
se a Errol e
outros e
desapareceu de
sua vista tão
rápido que
Willow acreditou
que tinha
imaginado essa
despedida. Não
teve tempo
tampouco de
assimilá-la,
porque a mão
ossuda de Enjoe
apanhou a sua e a
emperrou para as
escadas que
davam acesso ao
piso superior.
— Mas Niall há
dito que nos
refugiemos no
porão! —
protestou.
— Não, você
não. O que te
pediu? Que faça
o que eu te diga.
Me siga.
Correram pelo
corredor que ia
parar à habitação
principal do
castelo, a que
ocupava o laird,
seu pai. Os
ruídos de batalha
chegavam até ali,
horripilantes e
aterradores.
O coração de
Willow pulsava
desmedido,
morto de medo
pelo que estava
ocorrendo.
— Deus Todo-
poderoso, Enjoe.
O que está
acontecendo? O
que sabe, o que
te contou Niall?
Quem nos ataca?
— O único que
me revelou seu
irmão é que
devia te pôr a
salvo. Vamos,
não te
entretenha, não
há tempo a
perder.
Entraram na
habitação do
senhor, Ian
MacGregor, e
Enjoe trancou a
porta para que
ninguém pudesse
abri-la. Willow
olhou ao seu
redor com olhos
assustados, sem
compreender o
que faziam ali.
— Rápido, tire a
roupa!
— O que?
Enjoe não lhe
respondeu.
Procurou no
interior da arca
que havia aos pés
da cama e tirou
um fardo e umas
roupas que
podiam ter
pertencido a
qualquer um dos
serventes do
Meggernie.
— Tem que
fugir, minha
menina. E
ninguém deve
saber quem é…
Venha, ponha
isto.
Os olhos de
Willow se
encheram de
lágrimas ante o
tom definitivo da
dama de
companhia.
— Não irei.
Quero ficar aqui,
contigo, com o
Niall. Tudo sairá
bem, temos bons
guerreiros,
podem ganhar.
Não… Não irei.
A anciã se virou
para ela e lhe
colocou as mãos
nos ombros,
olhando-a com
severidade.
— Sim irá! Niall
está aí embaixo,
dando sua vida
para te proteger.
Prometi-lhe te
pôr a salvo, e
antes que a ele,
jurei a seu pai
que cuidaria de ti
enquanto ele
lutava no fronte.
Assim, sim, irá,
fugirá e fará o
que eu te diga. —
A mulher
respirou fundo e
seus olhos se
suavizaram antes
de prosseguir. —
Te disse que me
ia partir o
coração… Pode
acreditar que me
dói mais que a ti.
Por favor, te tire
o vestido e
ponha essa
roupa.
Willow limpou as
lágrimas que
caíam sem
controle por suas
bochechas.
Assentiu com a
cabeça e voltou-
se para que
Enjoe a ajudasse
a desabotoar as
cintas de suas
costas. Não
discutiu mais,
porque o tinha
prometido ao
Niall e sabia que
não havia tempo
a perder. Além
disso, tratar de
dissuadir a sua
dama de
companhia era
inútil. Aquela leal
mulher se
deixaria matar
pelo mais
sanguinário dos
guerreiros antes
de descumprir
uma ordem de
seu laird ou, em
seu lugar, do
filho que este
tinha deixado ao
cargo do clã.
Enquanto Willow
se desfazia do
vestido, um forte
estrondo lhes
chegou do andar
inferior da
fortaleza. Um
muro tinha caído,
e os golpes dos
móveis contra o
chão e as paredes
anunciavam que
a luta estava já no
interior do
castelo.
— Tenho medo
pelo Niall. —
Confessou.
— Seu irmão
sabe cuidar de si
mesmo. Além
disso, tem ao
Errol, que lhe
protegerá as
costas. Vamos, te
apresse, podem
chegar aqui em
cima a qualquer
momento.
Enjoe terminou
de vesti-la com as
roupas
esfarrapadas de
servente e a
exortou a sentar-
se em um
pequeno
tamborete de
madeira,
colocando-se a
suas costas. De
relance, Willow
viu como a
mulher tirava
uma adaga muito
afiada do fardo
de roupa que
havia trazido
consigo e
suspeitou o que
ia fazer. O pânico
a percorreu dos
pés a cabeça.
Tentou levantar-
se para resistir,
mas Enjoe a
reteve sujeitando-
a por um ombro.
Não foi tanta a
força que aplicou
no gesto, mas
bastou para que a
jovem
compreendesse
que não havia
mais opção.
Com mãos
hábeis, Enjoe
recolheu toda sua
juba escura, que
quase lhe
chegava à cintura,
e a elevou no ar.
Sem nenhuma
hesitação, moveu
a lâmina da faca
com precisão e
lhe cortou o
cabelo com
incrível
habilidade,
retocando logo
algumas mechas
para lhe dar o
aspecto que
aparentaria um
moço qualquer.
Willow sorveu
suas lágrimas
antes de passar as
mãos pela
cabeça. Seu
cabelo, seu
precioso e suave
cabelo... Embora
aquela mudança
de imagem fosse
necessária, era
muito duro para
uma jovem
desfazer-se assim
de um de seus
atributos mais
atrativos.
— Realmente era
necessário? —
Queixou-se.
A anciã suspirou
com tristeza, mas
não perdeu
tempo em
consolá-la. Era
uma menina e
não compreendia
que o que
estavam fazendo
era quão único
podia salvá-la de
um destino
incerto.
Aproximou-se da
chaminé e
manchou suas
mãos com
fuligem.
— Seu irmão
tinha muito claro
que devia passar
despercebida. —
Explicou.
Sem lhe dar
tempo para
reagir, passou as
mãos sujas pelo
rosto de Willow,
ocultando seus
traços e
camuflando
ainda mais sua
condição
feminina. Não
contente, sujou-
lhe também o
pescoço de pele
cremosa e o
pouco que
apareciam seus
braços pela
enorme camisa
de homem que
pôs.
— Pronto.
Vamos, não
percamos mais
tempo.
Enjoe lhe
colocou nos
braços o fardo
que ela mesma
tinha preparado e
logo foi até a
enorme tapeçaria
que pendurava de
uma das paredes
da habitação.
Apartou o grosso
tecido e
descobriu uma
pequena
portinhola de
madeira com
uma fechadura.
Tirou uma chave
que tinha
pendurada do
pescoço e a
abriu.
— Tem que fugir
por aqui. —
Disse.
Willow apareceu
e enrugou o
nariz.
— Cheira a
umidade e a
mofo. E está
muito escuro. —
Protestou.
— Tolices. Você
é valente, isto
não supõe
nenhuma
provação para ti.
— A mulher
apanhou o rosto
de sua menina
entre suas
ossudas mãos. —
Escuta, no fardo
leva comida,
água, uma muda
de roupa e
algumas moedas.
Há, além disso,
uma carta que
seu irmão me
deu para ti. Eu
não sei ler, e ele
não me contou o
que diz, mas
seguro que será
muito reveladora.
O coração de
Willow pulsou
mais depressa ao
escutá-la. A carta!
Seria a mesma
que Niall lia no
Landon Tower
quando decidiu
que partissem
dali? Seus dedos
aferraram o fardo
com impaciência,
mas não havia
tempo de ficar
para ler.
— Enjoe… O
que farei? Aonde
irei? Não há dito
Niall nada mais?
Quando devo
retornar?
A mulher a
abraçou com
força antes de lhe
dar as últimas
instruções.
— Não deve
voltar, não deve
confiar em
ninguém. Niall
irá te buscar, ele
saberá como te
encontrar. E se…
— A voz de
Enjoe se
quebrou, sem
saber como
pronunciar as
seguintes
palavras. — Se
Niall não puder
ir, se algo lhe
ocorrer, deve
esperar a que seja
Malcom ou seu
pai quem lhe
busque. Apenas
eles, Willow, é
muito
importante. Não
revele a ninguém
sua identidade,
agora é um
moço,
entendido?
Ela assentiu,
limpando as
lágrimas de sua
cara, que já não
podia conter.
Não queria
partir, lhe rompia
o coração só de
pensar em
abandonar seu lar
e deixar ali a seus
entes queridos,
sem saber o que
ia ser deles.
— Enjoe... —
Tentou falar
Willow, mas uns
gritos nas escadas
puseram fim à
despedida. Era
urgente que a
jovem partisse
imediatamente,
ou o truque do
disfarce não
serviria de nada.
— Vamos,
vamos, parte. —
A empurrou sua
dama de
companhia. Pôs-
lhe sobre os
ombros uma
capa grossa e
desgastada que
complementava
seu disfarce, além
de protegê-la do
frio exterior. —
Segue este
corredor até o
final. Quando
sair à superfície
se encontrará a
uma distância
prudencial do
Meggernie e, o
que é mais
importante, das
tropas inimigas.
Tenha muito
cuidado, minha
menina. Corre,
corre!
Sem lhe dar
tempo a lhe dizer
adeus, Enjoe lhe
fechou a
portinhola no
nariz. Escutou
como girava a
chave e, justo
depois, um golpe
terrível que
parecia indicar
que tinham
derrubado a
porta do quarto.
Willow,
chorando, pôs a
mão aberta na
madeira que a
separava da luta
que foi travada
no interior da
habitação.
Escutou vozes
masculinas que
ladravam
impropérios e a
voz de sua doce
Enjoe lhes
respondendo
com toda a
dignidade que
cabia em seu
enxuto corpo.
Não podia
distinguir o que
falavam, mas
reconhecia o tom
orgulhoso de sua
velha serviçal.
Com uma pena
infinita no
coração, deu-se a
volta e avançou
quase a quatro
patas por aquele
corredor estreito,
afastando-se de
sua família e de
tudo o que
conhecia. Era
muito jovem,
mas sabia o que
podia ocorrer a
seguir: poderia
escutar o alarido
da anciã quando
se negasse a
confessar seu
paradeiro e
aqueles
guerreiros sem
misericórdia,
acabassem com
sua vida. E então
sim que não
poderia sair do
lugar, espantada
pela crueldade
desses homens, e
a encontrariam.
Avançou na
escuridão, cegada
por um negrume
absoluto e suas
próprias lágrimas.
Mas o corredor
era tão estreito
que não havia
oportunidade de
tropeçar ou
equivocar-se do
caminho. Era um
túnel escavado
com o propósito
que ela levava a
cabo: desaparecer
do castelo sem
ser vista,
atravessar seus
muros pela parte
inferior, a salvo
das patrulhas
inimigas e
aparecer do
outro lado, muito
longe, onde já
ninguém pudesse
encontrá-la.
Depois do que
lhe pareceram
horas
discorrendo pelo
comprido
corredor, sempre
ajoelhada, notou
um sopro de
brisa fresca
naquela
atmosfera
asfixiante. Não se
deteu em
nenhum
momento, por
mais que as
costas lhe
aguilhoasse de
dor pela postura
encurvada,
esfolou-se os
joelhos e teve as
mãos feridas de ir
medindo às
escuras o
caminho. Por fim
obtinha sua
recompensa: a
saída do túnel.
Quando já quase
podia respirar o
ar da noite,
topou com uma
parede de rocha
que lhe fechava o
passo. Apalpou-a
com a mão e
comprovou que
tinha frestas, por
isso imaginou
que apenas estava
superposta.
Empurrou com
todas suas forças,
ao menos, as que
ficavam, e logo
conseguiu movê-
la. Teve que fazer
várias tentativas,
até quase
desfalecer, para
conseguir apartar
a pedra que lhe
impedia o passo
à liberdade.
Uma vez fora,
seus olhos por
fim puderam
distinguir, sob a
luz da lua cheia,
as silhuetas da
paisagem que
adornava os
arredores do
castelo do
Meggernie.
Virou-se e
comprovou que,
a suas costas,
como bem lhe
indicasse Enjoe,
ficava o que até
esse dia tinha
sido seu lar,
iluminado pelo
fogo que
balançava raivoso
para cá e para lá,
incendiando
algumas zonas
estratégicas,
convertendo-se
assim em aliado
de seus inimigos.
Onde estaria
Niall? Talvez
tinha perecido já
sob a espada de
algum daqueles
guerreiros do
inferno?
Com uma dor
que lhe resultou
insuportável,
apartou a vista da
fortaleza e se
afastou
caminhando na
noite, ainda
chorando,
escutando de
longe os gritos
de morte dos
seus.
CAPITULO 4

Aquela primeira
noite a passou
caminhando, fiel
à promessa que
tinha feito de
fugir sem olhar
atrás. Envolta na
capa puída,
apertando os
dentes pelo frio
que se instalou
em seus ossos,
foi se afastando
cada vez mais de
seu lar. Notava
os pés
destroçados e
intumescidos.
Apesar de que a
lua cheia lhe
facilitou a fuga,
sua luz resultava
escassa e mais de
uma vez
tropeçou e se
enganchou com
os ramos das
árvores do
bosque que
atravessava. Com
as primeiras luzes
da alvorada,
decidiu arriscar-
se e saiu ao
caminho
principal,
desejosa de
encontrar alguma
casa ou botequim
onde pudesse
descansar um
pouco e se
esquentar. Andou
quase uma hora
mais até dar com
uma pequena
aldeia e, uma vez
ali, procurou a
estalagem. O
lugar não lhe era
desconhecido,
pois tinha
visitado alguma
vez junto a seu
pai quando
pequena. Ao laird
dos MacGregor
gostava de
interessar-se por
sua gente e
aquela aldeia
ainda se
encontrava
dentro dos
domínios do clã.
Quando entrou
no
estabelecimento,
observou que
havia um grupo
de camponeses
ao lado do balcão
fazendo barutlho
apesar de ser tão
cedo. A jovem se
aproximou com
precaução e
chamou a
atenção do
taberneiro. O
homem, que
parecia muito
interessado na
conversação que
mantinham
aqueles aldeãos,
mostrou-se
molesto pela
interrupção.
Willow estranhou
receber seu
primeiro olhar
irritado e não
compreendeu o
que tinha feito
para merecê-lo.
— O que quer,
menino? —
Perguntou-lhe, de
maus modos.
Ela abriu os
olhos, aturdida.
Céu Santo! Tinha
esquecido seu
disfarce! Não
soube como
sentir-se ante o
descobrimento
de que, apenas
por ser um moço
mau vestido, sua
presença
incomodasse.
— Poderia me
servir uma sopa
quente e um
pouco de vinho?
— Balbuciou,
apenas sem voz.
— Tem com o
que pagar?
O cenho daquele
taberneiro não
era muito
hospitalar.
— Sim, senhor.
— É melhor que
tenha.
Willow tirou de
seu fardo uma
pequena bolsa de
moedas e
depositou sobre
o mostrador o
que custava a
comida e um
pouco mais.
— Necessito
também um lugar
onde descansar
um pouco.
— Bem. Acima
tem habitações,
pode te hospedar
na primeira que
encontrará ao
final da escada.
— Obrigado.
O homem lhe
serviu o que
tinha pedido em
uma das mesas e
voltou junto ao
grupo de aldeãos,
que seguiam
falando entre eles
bastante
alterados.
Não pôde evitar
escutá-los
enquanto comia
e, quando
distinguiu o
nome de seu lar
na conversação,
emprestou-lhes
toda sua atenção
com o coração
acelerado.
Conteve a
vontade de
levantar-se e ir a
seu lado, embora
nesse momento
era o que mais
desejava no
mundo.
— Digo-lhes que
foi um massacre.
— Mas, o que
queriam? O que
podiam procurar
no Meggernie? O
laird não tem
riquezas! —
Perguntou um
ancião ao que
Willow
reconheceu. Seu
pai tinha falado
com ele em
alguma ocasião.
— Ninguém
sabe. —
Respondeu
outro, o mais
bocudo do
grupo. — Tal
como chegaram,
partiram,
deixando atrás de
si morte e horror.
É evidente que
deve tratar-se de
alguma vingança,
porque como
bem há dito
Brod, o laird não
possui nada tão
valioso para
provocar um
ataque desta
característica.
— Dizem que
Meggernie ficou
deserto. Os
sobreviventes
fugiram e se
dispersaram,
ocultando-se nas
granjas ou aldeias
vizinhas. Têm
medo de um
novo ataque... E
eu também o
tenho. O laird
MacGregor está
longe, junto com
o exército que
teria que nos
proteger. Sem
um líder, com o
chefe do clã no
fronte, como
vamos defender-
nos? —
Perguntou o
taberneiro nesta
ocasião.
O coração de
Willow parou ao
escutar aquele
interrogatório.
Um terror
primitivo
espremeu sua
garganta até
quase lhe impedir
de respirar.
Aguçou o
ouvido, mas o
zumbido do
pânico distorcia
as vozes dos
homens e teve
que fazer um
esforço supremo
para poder
concentrar-se.
Respirou fundo.
Havia dito... Sem
um líder? Onde
estava Niall, o
que tinha sido
dele?
Ninguém teve
tempo de
responder,
porque nesse
momento um par
de moços
entraram com
alvoroço no
estabelecimento,
sem fôlego, e se
aproximaram até
o ancião Brod
agitando uma
parte de tecido
rasgado em suas
mãos.
— Avô! Cayden
encontrou isto
no bosque,
enganchado em
um ramo ao lado
do caminho que
conduz ao
Meggernie.
Todos os
homens que ali
havia se
aproximaram
para estudar o
que traziam.
Willow também
se incorporou,
tentando ver por
cima das cabeças
que se inclinavam
sobre o retalho
de manto achado
pelos meninos.
— Parecem as
cores dos
Campbell —
sussurrou Brod.
— E por que
demônios
quereriam nos
atacar os
Campbell? —
Voltou a intervir
o taberneiro,
incômodo ante
tal possibilidade.
Não era para
menos. O clã
Campbell era um
dos mais temidos
em todo Argyll e
outros clãs lhes
tinham muito
respeito. Seu
laird, Duncan
Campbell, era
famoso pela
férrea disciplina a
que submetia a
todos os seus
soldados e por
seu caráter duro
e autoritário.
Entretanto,
Willow sabia que
seu pai e ele,
apesar de ter tido
suas diferenças
no passado,
tinham acertado
uma espécie de
trégua que
terminou com as
disputas entre
ambos os clãs
tempos atrás. Por
que, então, esse
ataque?
As perguntas se
amontoavam em
sua cabeça,
aturdindo-a,
intumescendo
seus sentidos.
Tinha ocorrido
algo mau ao
Niall? E, nesse
caso, o que ia
fazer ela?
Como uma luz
reveladora, um
pensamento
iluminou sua
mente. A carta!
Tinha-a
esquecido por
completo. A
carta que tinha
alertado a seu
irmão, a carta em
que poderia achar
muitas das
respostas que
procurava.
Terminou o
vinho e a sopa a
toda pressa e se
retirou à
habitação que o
taberneiro lhe
tinha indicado,
apertando o
fardo contra seu
peito. Uma vez a
sós, trancou a
porta com a
única cadeira que
encontrou no
quarto e se
sentou logo na
poltrona, junto à
janela, para poder
ler com a luz da
manhã.
Enquanto
rebuscava entre
suas coisas,
notou que as
mãos lhe
tremiam. Deu
com o
pergaminho
enrolado ao
fundo, metido
entre as dobras
da roupa que
Enjoe lhe tinha
posto. Quando o
abriu, viu que se
trata de uma nota
breve e direta,
uma advertência.
“A jovem Willow
MacGregor corre
grave perigo. Ele a
busca, vai por ela, e
agora que o laird
MacGregor não
está, pensa que é o
melhor momento
para golpeá-lo onde
mais lhe dói: sua
filha. Odeia-o,
odiou-o toda sua
vida e não parará
até que veja
cumprida sua
vingança. Não
confiem em ninguém.
Em ninguém. Só
posso lhes advertir,
não lhes posso dizer
meu nome posto que
se chegasse a
inteirar-se de que
lhes avisei, mataria-
me. Mas, me
acreditem, não se
deterá ante nada.”
Não estava
assinado, embora
a Willow deu a
sensação de que a
letra era de
mulher. Assim
por isso Niall se
alterou tanto ao
receber essa
mensagem:
foram por ela.
Fora quem fosse,
pretendia
machucar a ela
para castigar ao
seu pai. Quem
podia odiá-lo
tanto? O que
tinha feito seu
pai de mau para
ganhar assim a
animosidade
desse inimigo
cujo nome
desconheciam?
Willow detestou
com toda sua
alma ao
responsável por
aquele ataque,
por covarde, por
esperar a que seu
pai e o exército
MacGregor
estivessem longe
do Meggernie
para levar a cabo
ansiada vingança.
Isso era o que
tanto tinha
perturbado a
Niall, e por isso
temia não estar à
altura e não
poder protegê-la.
Claro! Todos os
seus esforços,
todas as
instruções que
tinha dado a
Enjoe estavam
destinadas a pô-la
a salvo daquele
demente
rancoroso. Por
isso o disfarce,
por isso sua
dama de
companhia tinha
insistido em que
não revelasse a
ninguém sua
identidade, a
menos que seu
pai ou seus
irmãos fossem
em sua busca. O
inimigo, que sem
dúvida alguma
era escocês,
posto que tinha
velhas rixas com
seu pai era
porque o
conhecia de
antes, podia ser
qualquer um. E
podia ter olhos
ou ouvidos atrás
de cada pedra do
caminho...
Willow
estremeceu de
terror ao pensar
nisso e voltou a
guardar aquele
pergaminho com
supremo
cuidado. Tinha
que conservá-lo
para mostrar ao
seu pai quando
retornasse. E o
que faria ela
enquanto isso?
Esperar. Esperar
e rezar para que
Niall tenha se
salvado e já
estivesse
procurando-a.
Tombou-se na
poltrona,
esgotada pelo
amontoado de
emoções e
tensões que
suportava. Os
olhos lhe
fechavam de
puro cansaço,
apesar de que o
medo
aconselhava estar
alerta, não
dormir, partir
daquele lugar
quanto antes e
esconder-se de
tudo e de todos.
Alguém a queria
morta, mas as
pálpebras
pesavam muito.
E, justo antes de
cair rendida ao
sono, um nome
penetrou em seus
pensamentos,
provocando
pesadelos. O
nome associado
às cores do
tecido que
tinham
encontrado no
caminho e que o
incriminava.
Campbell.
CAPITULO 5

Sobreviver longe
de seu lar não
resultou uma
tarefa fácil. Fazia
já vários dias que
Willow tinha
deixado para trás
sua vida
privilegiada como
filha de um
senhor das
Highlands e
ainda não tinha
encontrado um
lugar seguro para
ficar. Os ecos da
cruel incursão
perpetrada contra
Meggernie ainda
flutuavam no ar,
correndo de boca
em boca, de
aldeia em aldeia.
O rumor de que
tinham sido os
Campbell se
estendeu como
um rastro de
pólvora ardendo.
Não havia mais
prova dessa
hipótese que o
farrapo de tecido
encontrado por
dois moços, mas
era suficiente
para culpar a
todo um clã.
Também falavam
de Niall. Diziam
que tinha caído
na batalha, e isso
era incapaz de
aceitá-lo. Tinha
que tratar-se de
um engano. Não,
não acreditaria...
Ao menos, não
até que alguém
de confiança o
demonstrasse.
Algo que, nesses
dias incertos,
estava muito
longe de
conseguir.
Não confiava em
ninguém, não
encontrou
nenhuma cara
amiga ou sequer
conhecida nas
aldeias pelas que
passava. Manteve
seu disfarce, tal e
como prometeu,
e não retornou
ao Meggernie
embora esteve
tentada em mais
de uma ocasião.
O culpado
daquele ataque
bem poderia
estar esperando a
que ela
retornasse ao seu
lar... Não podia
arriscar-se.
Pensou em
retornar ao
Landon Tower,
junto ao seu tio
Gilmer. Ele a
protegeria, ele
saberia o que
fazer naquele
momento em que
se encontrava tão
perdida. Mas
logo se lembrou
do muito que
tinha sofrido no
fronte, de sua
mutilação, que o
tinha deixado
aleijado para
sempre, e de que
já não era o
guerreiro que
tinha sido.
Esconder-se em
sua casa só lhe
poria em perigo,
porque
certamente o
inimigo que
espreitava na
sombra o
descobriria, e não
queria que se
lançasse contra
Landon Tower
como tinha feito
com Meggernie.
Se queria
proteger a seus
entes queridos
devia manter-se
afastada deles.
Era melhor
esperar, como lhe
aconselhou
Enjoe, a que seu
irmão fosse em
sua ajuda. Rezou
para que, tanto
ele como sua
querida dama de
companhia
tivessem
sobrevivido e já
estivessem
procurando-a...
Perambulou por
todo Argyll sem
rumo fixo,
sobrevivendo
como o faria
qualquer garoto
de rua. As
moedas com as
que contava
terminaram
rápido, não tinha
sabido
administrar-las.
Fazia muito frio
para dormir na
rua e o
alojamento em
quão posadas
encontrava no
caminho
resultava caro.
Assim, uma vez
que seus recursos
desapareceram,
teve que arriscar-
se com práticas
desonestas. Mais
de uma vez se
encontrou em
dificuldades ao
ser descoberta
quando se
apropriava de
alguma maçã ou
de algum pedaço
de pão que não
lhe pertenciam.
Por sorte, sempre
tinha tido pernas
rápidas e, como a
magnitude de
seus delitos era
irrisória, no final
os incautos aos
que conseguia
enganar se
cansavam de
persegui-la e a
deixavam
tranqüila.
Devia imaginar
que em algum
momento lhe
acabaria a sorte.
E isso ocorreu
dez dias depois
de sua fuga do
Meggernie.
Colocou a mão
na alforja
equivocada e se
encontrou, antes
de dar-se conta,
apanhada entre
os braços de um
homem que não
estava disposto a
passar por cima
de sua maldade.
— Olhem o que
temos aqui! —
Vozeou a seus
acompanhantes.
Willow tinha
surpreendido aos
viajantes
enquanto estes
faziam uma
parada em seu
caminho.
Descansavam
tombados ao
redor de um mais
que agradável
fogo e a jovem
pensou que
dormiam para
repor forças;
mas, a julgar pela
rapidez que se
moveu o homem,
não era assim.
— Bruto! Solta
ao moço, está-lhe
fazendo mal! —
espetou-lhe uma
das mulheres que
estava com ele,
incorporando-se
de suas mantas.
— Tentou nos
roubar — se
defendeu ele,
sem soltá-la.
O terceiro e
último membro
do grupo, uma
jovem de largas
tranças loiras, foi
ao seu lado e
comprovou o
que Willow tinha
tirado de seu
alforje.
— Pai, é um
pedaço de pão.
— John Nicolás
St. Claire, solta
agora mesmo a
esse pobre
menino! Não vê
que está faminto?
— Mas Maud...
— Nem mas,
nem nada.
A mulher, de
estatura média e
compleição forte,
olhava-lhe com
os braços
cruzados e uma
feroz expressão
na cara. A seu
marido não ficou
outra opção que
obedecer.
Assim que se viu
livre, Willow
tentou pôr-se a
correr para
escapar, mas
Maud a deteve
agarrando-a pela
capa com
determinação.
— E você aonde
pensa que vai?
Parece-te bonito
ir roubando por
aí correndo pela
mata? Não são
maneiras, moço.
Sempre haverá
gente que
compartilhe um
pouco de comida
contigo.
A gargalhada do
homem
surpreendeu
Willow, que girou
para olhá-lo. Era
todo um urso,
com a cara
coberta por uma
espessa barba
ruiva e os olhos
castanhos
risonhos.
— Agora
preferiria um de
meus abraços
antes que seu
sermão?
— Nada de
sermão, apenas
lhe digo quão
feio é roubar.
Além de
perigoso. Como
te chama,
menino?
— Meu nome é
Will... — Fechou
a boca de
repente, ao
recordar que
devia manter seu
disfarce.
— Will é um
nome muito
bonito. —
Sussurrou a
jovem das
tranças, olhando-
a de uma forma
estranha.
Willow passou as
mãos pelo cabelo
curto, incômoda,
e deu um passo
atrás.
— Sinto ter
tentado lhes
roubar. —
Murmurou,
falseando sua voz
para que
descendesse
algum tom. —
Mas a verdade é
que não
encontrei a
ninguém tão
generoso para
me atrever a
pedir um pouco
de comida.
— Não tem
família? —
Perguntou-lhe
Maud com a
expressão em
branco.
Ela se encolheu
sobre si mesmo e
notou que o
coração emitia
um doloroso
batimento do
coração.
— Tinha família.
— Respondeu à
mulher, que a
olhava esperando
sua resposta. —
Mas a perdi.
Não fazia falta
acrescentar nada
mais, seu tom já
o disse tudo.
Maud tinha
escutado muitas
vezes esse
mesmo timbre
funesto na boca
de amigos e
conhecidos que,
como esse moço,
tinham perdido a
seus entes mais
queridos. Ela
mesma tinha
padecido o
infortúnio de
perder a um
filho, apenas um
bebê, muitos
anos atrás, e seu
coração ainda se
encolhia de pena
e dor quando o
recordava.
Tratava de ser
forte por sua
família e por
regra geral
mantinha aquele
passado bem
coberto entre
capas e capas de
pragmatismo e
realidade. Mas,
quando se topava
cara a cara com
um dos muitos
órfãos que
abundavam
nesses tempos
difíceis, não
podia evitar
evocar o rosto
daquele bebê
rosado, pensar
em como seria se
tivesse
sobrevivido e
lamentar-se por
ver que o moço
que tinha diante
de si ficou sem
família, enquanto
que eles eram
uma família que
ficou sem um
filho.
— Vêem, anda,
sente-se conosco
e te esquente
perto do fogo. —
Ofereceu,
agarrando-a por
um braço para
que não lhe
ocorresse voltar a
fugir. Estava na
natureza de
Maud abrir seu
coração a seres
que pareciam tão
necessitados e,
sem dar-se conta,
já estava
idealizando um
plano em sua
cabeça para
tentar ajudá-lo.
— Te
apresentarei a
minha família.
Esse grandalhão
aí, tão bruto, é
meu marido
John. E esta é
minha pequena
Liese...
A jovem se
ruborizou e
baixou os olhos
ao chão,
envergonhada.
— Mãe! Já tenho
dezesseis anos,
não sou uma
menina. —
Protestou.
Willow a
compreendia
perfeitamente.
Em sua casa
sempre a tinham
tratado como a
uma criatura
especial por ser a
pequena da
família e por ser
mulher. Em
algumas ocasiões,
tinha preferido
ser um menino
de verdade para
poder
comportar-se
como seus
irmãos e que não
fossem tão
protetores dela...
Agora tudo
aquilo carecia de
importância,
porque estava
sozinha.
Maud tirou do
embornal que
descansava no
chão várias peças
de fruta, um
pouco de queijo
e mais pão.
Ofereceu sua
comida a Willow
com um sorriso e
lhe roncaram as
tripas de fome
ante apenas a
visão daquelas
framboesas
silvestres. Não
teve mais
remédio que
sentar-se ao seu
lado e aceitar sua
hospitalidade.
— E para onde
te dirige? —
Perguntou-lhe
John,
acomodando-se
frente a ela.
A jovem se
encolheu de
ombros ao
tempo que
mordia uma
parte de queijo.
— De onde é?
— Inquiriu então
a mulher,
intrigada.
— Venho do
Glen Lyon.
O gesto de seus
improvisados
acompanhantes
mudou em um
segundo. Uma
mescla de alarme
e curiosidade
cruzou pelos
olhos que a
observavam sem
pestanejar.
— Esteve ali
quando atacaram
o castelo? —
Perguntou John.
A jovem negou
com a cabeça
com muito
ímpeto.
— Ouvem-se
coisas horrorosas
daquela incursão.
—Explicou
Maud. Até o
momento,
Willow só tinha
escutado
rumores. Talvez
eles soubessem
mais, pensou, e
por fim poderia
inteirar-se do
ocorrido naquele
dia. Entretanto,
não estava segura
de ser capaz de
suportar o que
íam contar-lhe.
— Dizem que
Meggernie foi
atacado pelo clã
Campbell e que
conseguiram
acabar com um
dos filhos do
laird Ian
MacGregor.
O coração de
Willow parou
durante uns
segundos. Com
muita dificuldade
pôde tragar a
parte de pão que
lhe tinha ficado
entupido na
garganta e teve
que piscar
repetidas vezes
para conter as
lágrimas. Então
era certo? O que
se negou a
acreditar, o que
se obcecou em
bloquear em seu
coração, era
verdade? Seu
Niall estava
morto?
Felizmente, o
casal estava
concentrado em
contar a história
e nenhum deles
notou sua
aflição... Ou isso
pensou ela.
— Os rumores
dizem que o
próprio laird
Campbell ia à
cabeça do grupo
que assaltou o
castelo. —
Comentou o
ruivo John.
Sua mulher girou
para ele como
um raio, com a
fúria pulsando
em seus olhos.
— Ora! Não
acreditará essas
barbaridades do
homem que nos
prometeu um
futuro?
Impossível, não
posso aceitá-lo.
— Pois há mais
de um que vai
dizendo por aí...
E de todos é
conhecida a fama
do laird dos
Campbell por sua
ferocidade na
batalha.
— Duncan?
Duncan
Campbell? —
perguntou
Willow, com um
fio de voz e os
olhos nublados.
Não o conhecia
em pessoa, mas
tinha ouvido falar
muitas vezes a
seu pai de sua
brutalidade.
— Não, Duncan
não. — Explicou
John. — O laird
Duncan caiu na
batalha da ilha do
Man contra os
ingleses, não
sabia? Seu filho
Ewan lhe
sucedeu no
cargo, agora ele é
o chefe dos
Campbell. Leva
pouco tempo
ocupando o
posto, mas, por
isso parece, quer
ficar em dia com
todas as rixas que
seu pai mantinha
com os outros
clãs...
— Que sentido
tem? — Insistiu
Maud. —
Estamos em
guerra contra os
ingleses, pelo
amor de Deus.
por que quereria,
precisamente
agora, atacar a
seus vizinhos?
— Mulher, há
alguns ódios que
não se esquecem
de qualquer jeito,
e menos nestas
terras, já sabe.
Quando o rio
soa... Se disserem
que lhe viram a
frente de suas
tropas, atacando
Meggernie, por
algo será.
— Os
fofoqueiros de
três ou quarto
não deve ouvir.
— Exclamou
Maud, indignada.
— Um jovem tão
arrumado, com
essa galhardia
inata e essa
generosidade que
demonstrou com
nossa família...
Não pode ter
cometido todas
essas maldades
que lhe imputam!
John olhou a sua
mulher
arqueando uma
de suas
sobrancelhas
ruivas.
— O que tem
que ver sua
aparência com o
fato de que seja
ou não seja um
selvagem nas
batalhas contra
seus inimigos?
— Pois sim, tem
que ver e muito.
Eu sei ver mais à
frente do aspecto
físico das
pessoas, e
quando falo de
que alguém é
arrumado refiro a
muito mais que
uma cara bonita.
Ewan Campbell
tem algo... Não
saberia te dizer o
que, mas confio
nele. E não pode
ter cometido a
barbaridade de
que o acusam.
— Confia nele
porque nos
ofereceu um teto
sob o que viver e
um trabalho para
que possamos
ganhar o
sustento. —
Recriminou seu
marido.
Willow sentia
uma opressão
dolorosa no
peito, mas
precisava
perguntar. O que
dizia a carta que
tinha chegado à
mão de Niall
estava de acordo
que o causador
de suas desditas
fora o jovem
Campbell, que
tinha decidido
retomar velhos
ódios. Ignorava
que o antigo
laird, Duncan
Campbell, tivesse
odiado tanto a
seu pai. Mas
entrava dentro
do possível. E,
por desgraça, nas
Highlands, o
ódio era um dos
legados que os
pais deixavam a
seus filhos ao
morrer.
— Do que
acusam ao laird
dos Campbell,
exatamente?
Sua voz foi
apenas um fio
quebradiço, mas
chamou a
atenção de seus
interlocutores. A
jovem Liese foi a
que respondeu,
com o tom
impresso do
horror que lhe
produziam os
rumores sobre o
ataque.
— Dizem que o
laird queimou
uma ala inteira
do castelo, e que
ordenou que
matassem a quão
prisioneiros
tinham capturado
diante de suas
famílias e do
próprio filho do
laird MacGregor.
Ao que parece,
ele era o
encarregado da
segurança de sua
gente e foi como
um castigo
acrescentado: ver
morrer a seus
homens um a
um, sem piedade,
nas mãos de seus
inimigos. Eu não
sei se é certo,
mas se o é, foi
uma autêntica
crueldade.
— E logo
terminaram
matando-o a ele
também? —
Willow não
reconhecia sua
própria voz,
impregnada da
agonia que lhe
alagava a alma.
— Isso dizem.
— Murmurou
Maud, sem
perder-se detalhe
das distintas
emoções que
passavam pelo
rosto do que ela
pensava era um
moço. — Mas eu
não acredito.
Ao final, uma
lágrima escapou
dos olhos de
Willow e todos
puderam vê-la
apesar de que a
limpou com
rapidez com a
manga de sua
camisa.
— Sinto-o. — Se
desculpou. —
Tinha amigos
entre os
MacGregor.
Maud estudou
aquele rosto sem
barba e sujo com
interesse. Aquele
jovem era muito
mais do que
aparentava,
estava segura. E,
de algum modo,
a aura especial
que o envolvia
ganhou de
maneira
definitiva seu
coração. Se tinha
escapado daquele
ataque, se tinha
visto morrer a
algum de seus
amigos, não era
de se surpreender
que se mostrasse
tão perturbado.
Sem dar-se conta,
o instinto
maternal que era
já desmesurado
nela aumentou.
Ela tinha perdido
a um filho e Will
tinha perdido
tudo. Aquele
moço certamente
tinha vivido um
inferno, embora
agora
dissimulasse, e só
por isso pensava
ajudá-lo. Cobriria
a esse pintinho
sob sua asa,
decidiu, e não
permitiria que
vagasse mais
solitário,
desprotegido e
sem família.
Olhou ao seu
marido John e
não se
surpreendeu ao
ver que ele a
estava
observando por
sua vez. O
enorme ruivo, ao
que amava com
todo seu coração,
parecia lhe ler a
mente. Ela o
interrogou com o
olhar e não
precisou de mais
nada. Levavam
muito tempo
juntos e eram
capazes de falar-
se com os olhos.
John assentiu
com um suspiro
e Maud esboçou
um sorriso de
satisfação antes
de voltar-se de
novo para o
moço.
— Escuta, Will,
nós vamos ao
Innis Chonnel, a
trabalhar no
castelo do laird
Campbell. A isso
referia antes ao
afirmar que esse
homem não pode
ser tão malvado.
Conhecemos faz
muito tempo,
quando era
apenas um moço
e o abrigamos
uma noite de
tormenta em
nossa humilde
cabana. Ele não o
esqueceu, e agora
que somos nós
os que
necessitamos sua
ajuda, nos
acolhará sem
nenhum
pagamento. Meu
marido lhe
escreveu uma
carta lhe rogando
por um trabalho
e ele nos aceitou,
nos convidando a
que mudássemos
a seu castelo para
viver sob seu
amparo. —
Pensou dois
segundos o que
ia dizer a seguir e
acrescentou. —
Talvez seria boa
idéia que viesse
conosco, ali
encontraria um
lar.
Willow a olhou
como se
acreditasse que
estava
completamente
louca. Pensava
acaso que lhe
pediria um
trabalho ao laird
dos Campbell?
Ao bastardo que
segundo todos os
rumores tinha
saqueado seu lar,
assassinado a
seus amigos e
torturado até a
morte a seu
irmão Niall?
Abriu a boca
para responder
com gesto irado,
mas a mulher a
deteve
levantando uma
mão.
— Espera, antes
de que diga algo,
pensa-o, se
quiser.
— Mãe, não
insista —
interveio Liese
—. Se for certo
que tinha amigos
entre os
MacGregor, quão
último quererá é
estar ao lado de
seu assassino.
Aquela frase
acendeu uma
chama muito
perigosa no
coração de
Willow.
Ao lado de seu
assassino.
Sim, era uma boa
forma de
aproximar-se
desse filho de
satanás e poder
vingar a sua
família. Nunca
antes havia
sentido essa
escuridão na
alma, mas ali,
parada na metade
de um caminho
que a levava a
nenhuma parte,
Willow
MacGregor
decidiu que sua
única saída era a
vingança. O que
ia fazer com sua
vida? Vagar pelo
mundo sem
rumo, sobreviver
a custa da boa
vontade das
pessoas ou de
suas próprias
maldades até que
alguém a
resgatasse?
Tampouco era
provável que isso
ocorresse logo,
disse-se,
principalmente
quando Niall já
não estava...
Tragou o nó que
tinha na
garganta.
Os St. Claire lhe
ofereciam um
futuro certo, algo
ao que agarrar-se
para dar sentido
a uma vida que
nesse momento
parecia que não
valia nada.
Poderia conhecer
seu inimigo,
poderia descobrir
seus pontos
débeis e iria
guardando essa
informação para
quando pudesse
reunir-se de novo
com seu pai e seu
irmão Malcom.
Então eles
poderiam acabar
com a vida do
executor de
Niall...
… se é que antes
não o fizesse ela.
Seus olhos azuis
se iluminaram
com um brilho
decidido e escuro
quando se
elevaram até o
rosto de Maud,
que aguardava
sua resposta.
— De acordo,
irei com vocês.

CAPITULO 6
O pequeno
grupo chegou ao
Innis Chonnel
quando o sol já
se ocultava pelo
horizonte. A
bruma que subia
das águas do lago
Awe adquiria um
branco fantasmal
com a escassa luz
do entardecer e a
silhueta do
castelo se elevava
fantástica ante
seus olhos,
orgulhosa em
meio daquela ilha
a que se dirigiam.
Willow não pôde
deixar de admirar
a beleza e o
encanto daquele
lugar mágico
nessa paragem
única. De certo
modo recordava
ao seu lar, perto
do lago Tay,
embora aquela
construção que
podia apreciar do
outro lado, ereta
em meio das
águas, lhe parecia
muito escura em
sua
magnificência.
Meggernie era
distinto, mais
luminoso, mais
cheio de vida.
Por desgraça, seu
antigo lar já não
existia; ao menos,
não como ela
recordava.
Innis Chonnel se
lolizava no meio
do lago, sobre
uma ilha de terra
escura,
convertendo-se
assim em uma
fortaleza muito
bem protegida
das incursões
inimigas.
Qualquer um que
tentasse chegar
até ela teria que
atravessar o Awe
e ficar exposto
aos olhos dos
vigias. Na borda
do lago onde se
encontravam eles
nesse momento,
uma pequena
aldeia se
levantava discreta
e humilde sob a
sombra protetora
do castelo.
— Vamos viver
aqui? —
Perguntou Liese,
nervosa ante os
olhares dos
aldeãos, que os
estudavam sem
dissimulação.
— Não acredito.
— Respondeu
seu pai. — Se
entrarmos para
formar parte do
serviço do laird,
o mais provável é
que nos
acomodem no
castelo.
— E como
chegaremos até
ali? — Voltou a
perguntar a
jovem,
preocupada.
Willow sentiu
que
compartilhava o
mesmo desgosto.
De algum modo,
a névoa que se
elevava do Awe
se penetrou em
seu ânimo,
aplacando a
pouca confiança
que já tinha na
decisão que tinha
tomado dias
atrás. Talvez,
depois de tudo,
meter-se como
uma cobra na
morada de seu
inimigo não era
tão boa idéia.
— Terá que
cruzar ao outro
lado, é obvio. —
Explicou John.
— Olhem, aí
temos um
pequeno píer.
O grupo se
dirigiu para a
zona onde um
homem vigiava o
ancoradouro do
lago. Não havia
nenhum barco à
vista, mas sem
dúvida aquele era
o ponto de união
entre o castelo e
a aldeia que
levava seu
mesmo nome.
John se adiantou
e se apresentou
ante o que, com
toda
probabilidade,
era um soldado
Campbell.
Mostrou-lhe a
carta que seu
laird lhe tinha
feito chegar
tempos atrás e
que era o passe
que necessitavam
para alcançar seu
destino. O
homem, de
estatura média e
olhar turvo,
examinou com
olhos críticos o
documento.
Willow tinha
jurado que o
guerreiro não
sabia ler e que
dissimulava de
má maneira para
que não o
tachassem de
ignorante.
— Sim, já me
avisaram de sua
chegada. —
Anunciou por
fim, devolvendo
a carta ao John.
Agarrou um
comprido pau de
madeira que
tinha um tecido
verde atado a
modo de
bandeira no
extremo, e o
agitou várias
vezes de frente
ao castelo.
Willow olhou na
mesma direção e
detectou um
movimento
similar na outra
borda, aos pés da
fortaleza.
— Em seguida
virão lhes buscar.
— Explicou,
antes de perder o
pouco interesse
que sua chegada
tinha despertado.
Maud se sentou
sobre uma das
rochas da borda a
esperar, e o resto
de seus
acompanhantes a
imitaram. Pelo
tom que tinha
usado o soldado,
em seguida era
um termo
duvidoso e não
sabiam quanto
tempo passaria
até que lhes
atendessem.
Willow olhou
uma vez mais
para o Innis
Chonnel, a
fortaleza cuja
figura se
obscurecia à
medida que o sol
se escondia no
horizonte. As
dúvidas voltaram
para martelar em
seu ânimo…
Ainda estava em
tempo, pensou.
Ainda podia fugir
bem longe
daquele lugar que
pressentia
perigoso e hostil.
Realmente ia
enfrentar ao
homem que,
segundo os
rumores, tinha
assassinado ao
seu irmão?
Poderia suportá-
lo? Não pôde
pensar muito
mais porque,
contra todo
prognóstico, a
barcaça que
enviaram do
castelo para
buscá-los
apareceu antes
do que
pensavam.
— Ah, chegou!
— Exclamou
Maud. Levantou-
se de um salto do
chão e, como se
suspeitasse o que
acontecia sua
mente,
aproximou-se de
Willow para lhe
dar as últimas
instruções. —
Recorda, é meu
filho. Apesar do
que sinta, tenha
em mente que
agora nossa vida
depende do laird
Campbell, assim
deixa aqui, neste
lado do rio, as
más lembranças e
as dores do
passado. Neste
lugar podemos
ter uma vida
tranqüila, tanto
John como eu
estamos felizes
de que agora
forme parte de
nossa família e te
prometo que
conseguiremos
que volte a sorrir.
Confia em mim?
Willow estudou o
olhar decidido da
mulher, se
debatendo entre
a gratidão que a
embargava ao
saber uma mais
entre os St. Claire
e a sede de
vingança que
pouco a pouco
envenenava sua
alma. Não sabia
por que Maud
tinha assumido o
papel de mãe
nem o que tinha
feito ela para ser
merecedora desse
carinho que lhe
prodigalizavam
com
generosidade,
mas o certo era
que nos poucos
dias que levava
com eles se havia
sentido
agasalhada com o
calor de uma
verdadeira
família. E
também tinha
recuperado parte
de sua
serenidade. Sabia
que devia isso às
três pessoas que
agora a olhavam
esperando sua
resposta e
decidiu que não
queria defraudá-
los. Ao menos,
não ainda. Não
antes de ter
estudado a fundo
ao que supunha
seu maior
inimigo.
— Claro que sim,
Maud. Confio em
todos vocês. —
Disse, tentando
sorrir.
Não o obteve.
Ela tinha razão,
os músculos de
sua cara já não a
obedeciam, era
incapaz de
conseguir que as
comissuras de
seus lábios se
elevassem em um
gesto tão singelo,
outrora tão
habitual e
espontâneo nela.
A mulher
assentiu satisfeita
e a abraçou antes
de recolher suas
coisas e voltar-se
para a grande
barcaça que já
atracava no píer.
— Vamos, moço.
— John lhe deu
uma palmada nas
costas para que
andasse e Willow
caminhou pelas
tábuas do
pequeno
ancoradouro,
atrás dos que
agora eram sua
família.
— São os St.
Claire? —
Perguntou o
barqueiro,
elevando os
remos com os
que avançava
pelas águas.
— Sim, somos
nós. —
Respondeu John,
ficando à cabeça
do grupo.
— Meu nome é
Bors. Subam, o
laird leva um par
de dias
esperando sua
chegada.
Todos
obedeceram ao
homem que luzia
o manto dos
Campbell,
embora Willow
ficou uns
segundos em
dúvida, perdida
nas cores verde e
azul daquele
tecido. O mesmo
tecido que
tinham
encontrado perto
do Meggernie. O
mesmo tecido
que os
incriminava.
— Venha, Will,
sobe. — Pediu
Maud, lhe
estendendo uma
mão para que a
seguisse.
Se o fazia, se
subia a essa
barcaça, estaria
assumindo muito
mais que uma
nova vida.
Segurou o ar,
olhou de novo ao
castelo e tomou
sua decisão.
Talvez não fora a
mais acertada,
mas assumiria as
conseqüências e
chegaria até o
final. Agarrou a
mão de sua nova
mãe e embarcou
com a imagem de
seu irmão Niall
mais viva que
nunca em sua
lembrança.
Uma vez que
todos estavam a
bordo, Bors
iniciou a volta ao
castelo. O bote
avançava a bom
ritmo porque
John tomou o
outro jogo de
remos e ajudava
com seus fortes
braços ao
barqueiro. Willow
não podia afastar
o olhar das altas
muralhas de
pedra cinza que
circundavam
aquela ilhota, em
cujo interior
morava o homem
que parecia ter
dado um tombo
a sua existência.
Por uns minutos,
sua mente se
dedicou a vagar
por aqueles
longínquos dias
de sua infância,
quando seus
irmãos mais
velhos, idênticos
um ao outro,
eram o centro de
seu pequeno
universo. Niall e
Malcom eram
seus heróis, o
espelho no que
ela queria refletir-
se, embora nunca
o consentissem.
Recordou a
covinha que
aparecia no rosto
de Niall quando
lhe dedicava seu
sorriso mais
pícaro, que estava
acostumado a ser
o prelúdio de
alguma de suas
travessuras; ou a
franja rebelde de
Malcom, que ela
se empenhava em
pentear com sua
mãozinha mas
que nunca
conseguia manter
em seu lugar.
Um profundo
suspiro escapou
de seu peito ao
dar-se conta de
que jamais
voltaria a ver os
gêmeos juntos.
Nem sequer
estava segura de
que algum dia
pudesse voltar a
encontrar-se com
Malcom... O que
teria sido dele e
de seu pai?
Teriam se
informado já da
sorte ocorrida
pelo Niall? Por
sorte, Willow
tinha podido dar
rédea solta a sua
pena nos dias
que tinham
demorado para
chegar ao Innis
Chonnel e tinha
chorado a seu
irmão até ficar
sem lágrimas.
Sempre durante
as noites, ao
casaco de sua
manta, tombada
sob as estrelas.
Quando supunha
que os St. Claire
já estavam
adormecidos e a
única testemunha
de sua aflição era
o ar noturno que
não podia lhe
reprovar o
pranto. Se não
fosse assim, o
mero feito de
pensar em Niall a
teria delatado
ante seus
inimigos porque
sua cara se teria
congestionado de
pena e dor.
— Encontra-te
bem, moço?
Willow demorou
uns segundos em
dar-se conta de
que o tal Bors se
dirigia a ela.
Ainda não estava
acostumada a
que a tratassem
como a um
menino. Olhou
ao homem de
cabelo comprido
e escuro que
remava sem
descanso e que a
observava a sua
vez com o cenho
franzido.
— Navegar
sempre me enjoa.
— Se desculpou,
falseando sua voz
como já se estava
acostumando a
fazer cada vez
que falava.
— A isto o
chama navegar?
— Bufou o
homem,
desdenhando seu
comentário. —
Só estamos
cruzando um rio,
acaso é tão
covarde, moço?
John apertou os
lábios, ofendido
pelas palavras do
barqueiro.
supunha-se que
Will era agora
seu filho e não
podia tolerar que
se burlasse dele.
— Não é
nenhum covarde,
asseguro-lhe isso.
— Defendeu.
— É fraco. —
Insistiu o
homem. — Olhe
sua cara, está
verde. Qualquer
um pensaria que
de um momento
a outro vai
vomitar pela
amurada.
Advirto-lhes que
o laird não
consente que
nenhum de seus
homens seja um
medroso
insignificante.
— Will não é um
dos homens do
laird Campbell.
— saltou Maud
em defesa do
moço. — É meu
filho, e estamos
aqui para
trabalhar a seu
serviço, não para
engrossar suas
filas de
guerreiros.
Bors soltou uma
áspera gargalhada
no mesmo
momento em que
a barcaça
arranhava o
fundo pedregoso
da borda a que se
dirigiam e se
detinha a
escassos metros
de seu destino.
— Uma vez que
transpassem estas
muralhas, todos
vós formarão
parte de nosso
clã. E todos os
homens, do mais
valente dos
soldados até o
último dos
garçons que
servem aos
Campbell, devem
dar a imagem que
nosso laird exige
aos seus: a de
fortaleza. Se o
moço não se
apressar, tenham
bem presente que
Ewan Campbell
se encarregará
pessoalmente de
adestrá-lo para
que fique à altura
de outros.
Willow tragou
saliva ante o
olhar
depreciativo que
o barqueiro
voltou a lhe
dedicar. Não o
considerava um
homem de
verdade, mas
claro, é que não o
era. A sério eram
tão brutos esses
Campbell que
não podiam
aceitar que
alguém fosse
diferente? Se
apenas ia
trabalhar de
servente naquela
casa, por que
tinha que
aparentar uma
masculinidade
que jamais ia
poder exibir?
Seus olhos se
elevaram de novo
às altas muralhas
e olhou aquela
fortaleza de uma
nova perspectiva.
Não seria um
lar... Seria uma
prisão. Uma
prisão de pedra
escura e fria em
que estaria
trancada até que
pudesse levar a
cabo sua
vingança.
CAPITULO 7

Fortaleza do clã
Campbell, Innis
Chonnel

Ewan Campbell
estava furioso.
Mastigava com
força a carne do
assado que
tinham servido
essa noite para o
jantar enquanto
se recriminava
uma e outra vez
por suas ações.
Era consciente
de que tinha que
haver-se tomado
as coisas com
mais calma.
Entretanto, o
olhar angustiado
de Agnes quando
foi a ele, lhe tinha
preso no coração
e não tinha
duvidado nem
um segundo em
banir ao que até
essa mesma tarde
tinha sido seu
melhor amigo,
seu tenente, sua
mão direita.
A criada tinha
acusado Melyon
de violação
diante de todo o
clã. Isso
significava que a
ele, como laird,
tocava-lhe
repartir justiça.
Em qualquer
outro clã,
certamente, a
violação de uma
simples criada
não teria se
excedido e com
uma breve
reprimenda ao
culpado se daria
por resolvido o
assunto.
Entretanto, no
Innis Chonnel
não.
Ao longo dos
anos, no clã se
forjou uma
cultura própria
de amparo e
salvaguarda de
todos os seus
membros,
fossem de sangue
nobre ou meros
criados, como era
o caso. Agnes
tinha ido ao seu
laird para que
repartisse o
castigo
correspondente
ao violador, mas
ele, superado pela
responsabilidade,
não tinha tido as
ações necessárias.
Santo Céu!
Melyon tinha
sido seu
companheiro de
jogos na mais
tenra infância!
Teria que havê-lo
capado, isso era o
que teria feito um
bom líder. Mas
pesaram mais
suas emoções
que a obrigação
que tinha para
com Agnes.
A moça, muito
jovem, tinha
chegado
correndo e se
prostrou aos seus
pés, com a cara
machucada e o
vestido feito
farrapos. Entre
lágrimas, havia
descrito a
barbaridade que
seu amigo de
infância tinha
cometido.
Ninguém tinha
posto em dúvida
suas palavras,
porque ninguém
poderia acreditar
jamais que aquele
pranto era
fingido. Havia
muita tristeza,
muita
humilhação em
suas bochechas e
dor em seus
formosos olhos
verdes.
Melyon tinha
comparecido
ante ele com a
cabeça erguida,
sem mostrar nem
um ápice de
arrependimento.
Algumas das
mulheres da sala
lhe tinham
repreendido com
crueldade:
nenhuma
violação podia
ficar impune,
essa era sua lei. E
Melyon teria que
ter sido o
suficientemente
homem para
conter seus
instintos mais
baixos. Afinal de
contas, apesar da
feia cicatriz que
cruzava seu rosto
do olho até o
queixo, ainda
havia no castelo
fêmeas mais que
dispostas a
satisfazer seus
desejos.
Por que? Por que
tinha escolhido
uma presa tão
frágil como
Agnes, que
sentido tinha?
Ewan bebeu um
longo gole de sua
jarra de cerveja e
rememorou uma
vez mais o olhar
suplicante da
jovem faxineira.
Queria que
acabasse com a
vida do homem
que a tinha
manchado.
Queria justiça
extrema... Algo
que ele não podia
lhe conceder por
ser Melyon quem
era. E se sentia
mal porque, se se
tratasse de
qualquer outro
homem, não teria
duvidado em
aplicar o maior
dos castigos.
— Tem algo que
dizer em sua
defesa? —
Tinha-lhe
perguntado,
sabendo que era
em vão, que ele
jamais
confessaria ter
feito algo assim.
O porte soberbo
de seu queixo e a
dureza de seu
olhar,
obscurecida pela
sombra daquela
cicatriz, assim o
indicavam.
— Você já me
julgou e
sentenciou. — Se
limitou a dizer
Melyon.
Aquelas palavras
lhe cravaram no
peito como
garras afiadas, lhe
fazendo duvidar.
Um pigarro
incômodo, saído
da garganta de
um de seus
anciões, mais
sábios
conselheiros,
alertou-lhe de
que aquele
comportamento
não era próprio
de um laird. E
menos, de um
laird que levava
tão pouco tempo
no cargo. Era
nesses primeiros
momentos
quando devia
mostrar toda sua
autoridade, sem
ceder nenhuma
polegada. Eram
as piores horas
desde que tinha
sucedido a seu
falecido pai,
devia ser
contundente,
aplicar a lei sem
importar quem
fosse o culpado.
Só assim
ganharia o
respeito de sua
gente e a
fidelidade de
todos os seus
homens. Se
mostrava
debilidade, se
intercedia por
Melyon apenas
porque até esse
momento tinha
sido um de seus
melhores amigos,
perderia muito
mais que a
confiança de uma
donzela ultrajada.
E, apesar de
tudo, não pôde
ordenar um
castigo de acordo
com seu crime.
— Abandonará
imediatamente
Innis Chonnel —
sentenciou. — A
partir de agora já
não é um
Campbell, não
será recebido
nem socorrido
por nenhuma das
famílias a meu
cargo, e qualquer
que ouse te
ajudar uma vez
que saia fora
destes muros será
castigado com o
rigor que merece.
Não poderá
voltar jamais. Se
algum de meus
guerreiros te vê
sequer rondar as
bordas do Awe,
terá minha
aprovação para
acabar com sua
vida sem vacilar.
As palavras
saíram de sua
boca, mas não
parecia sua voz.
Os olhos cinzas
de Melyon não se
apartaram dos
seus no que
durou a
argumentação,
sustentou-lhe o
olhar até o final.
E quando seu
laird terminou de
falar, o homem
fez uma pequena
reverência com a
cabeça e se deu a
volta para
abandonar o
salão, sem
reparar sequer
em sua vítima,
que seguia
ajoelhada perto
dos pés do chefe
do clã, soluçando
seu desconsolo.
Ewan suspirou
por essa
lembrança e
apartou seu prato
com desgosto.
— Não te
atormente, fez o
correto. — Disse
Lawler, um dos
anciões
conselheiros, ao
ver seu gesto.
— Exato! —
Corroborou
Adair, o homem
que lhe tinha
pigarreado
quando mostrou
um mínimo de
debilidade. —
Inclusive diria
que fez pouco,
mas enfim...
— O clã saberá
compreender. —
Insistiu Lawler.
— Depois de
tudo, Melyon era
seu tenente.
— Por isso
mesmo teria que
ter sido muito
mais duro! —
Exclamou Adair,
dando uma
palmada
enfurecida sobre
a mesa.
Ewan
contemplou ao
ancião. Sempre se
dirigia a ele com
altivez, com seus
olhos escuros
infestados de
algo muito
parecido ao
desdém. Seu
rosto, curtido em
mil batalhas,
estava enterrado
sob uma povoada
barba branca,
mas apesar disso
se podia perceber
em cada um de
seus gestos que
ainda não o
respeitava como
chefe. Ainda não
tinha ganho a
aprovação
daqueles dois
conselheiros que
tão fielmente
tinham servido
ao seu pai no
passado. Lawler
em concreto,
tinha sido a mão
direita de
Duncan, o
anterior laird, e
não estava
disposto a
abandonar esse
cargo. Ofereceu-
se a guiá-lo em
cada um dos
passos que desse
como chefe do
clã Campbell e
Ewan se havia
sentido
agradecido... Ao
princípio. Cada
dia que passava,
o jovem se dava
conta de que ele
não era como seu
pai e queria
tomar suas
próprias decisões,
mas tanto Lawler
como Adair o
punham, em
ocasiões, bastante
difícil.
Tinha que
começar a impor
sua vontade
desde esse
mesmo
momento, ou
pressentia que ia
ser um boneco
de pano nas
mãos daqueles
dois velhos até
que passassem
desta para a
melhor.
Entretanto, antes
de que pudesse
lhes responder
como clamava
toda sua fúria
interior, um dos
serventes se
aproximou até a
grande mesa
levando uma
mensagem.
— Senhor, os St.
Claire aguardam
para ser
recebidos.
Ewan bufou,
contrariado. Não
tinham podido
escolher pior dia
para aparecer,
não tinha
vontade de ser
cordial com
ninguém. Uma
de suas criadas
tinha sido violada
sob seu próprio
teto e ele, que
tinha a obrigação
de velar por sua
segurança, não só
não a tinha
podido proteger
de seu atacante,
mas sim, além
disso, não tinha
sabido repartir
justiça. A isso
teria que somar
que tinha perdido
a um de seus
melhores amigos.
Sentia-se
fracassado, traído
e afundado. Seu
humor não podia
ser mais sombrio.
— Faça entrar —
Sussurrou, antes
de dar outro
grande gole a sua
cerveja.
— Eu não gosto
dessa decisão que
tomaste, Ewan.
— Jogou na cara
Lawler. — Quem
é essa gente,
acaso os conhece
o suficiente para
aceitá-los no
castelo?
— Ao Melyon o
conhecia de toda
a vida e já vê o
que ocorreu. —
Espetou o laird
com
contundência. —
Essa gente, como
você os chama,
foram caridosos
comigo e me
acolheram em
seu humilde lar
sem pedir nada
em troca.
Compartilharam
comigo sua
comida e seu
fogo, sem me
perguntar quem
era nem de onde
vinha. Eu estava
perdido e eles me
ajudaram, é o
mínimo que
posso fazer para
lhes agradecer.
O velho apertou
os lábios,
consciente de
que nada do que
dissesse lhe faria
mudar de
opinião. O novo
laird não se
deixava
influenciar tão
facilmente como
seu antecessor, e
isso não lhe
agradava
absolutamente.
Lawler tinha
governado aquele
clã através do
anterior chefe e
não estava
acostumado a
que rechaçassem
seus conselhos
de maneira tão
cortante. Mas
logo encontraria
uma maneira de
levar ao jovem
laird a seu lugar...
Tudo voltaria a
ser como antes,
jurou-se,
enquanto olhava
para aquele
bando de
carentes entrava
no salão para
receber a
hospitalidade dos
Campbell.
Ewan também os
olhava. E sua
surpresa foi
maior ao
comprovar que a
família que
avançava pelo
chão, acarpetado
de tapetes da sala
era de quatro
membros em
lugar dos três que
tinha conhecido
anos atrás. Além
de sua filha, que
se mal não
recordava se
chamava Liese,
havia outro moço
com eles. Um
jovem de cabelo
escuro curto e
uns olhos
enormes e azuis
que olhavam
espantados tudo
ao seu redor.
Aquele menino
lhe provocou
uma estranha
sensação na boca
do estômago e se
mexeu incômodo
em sua cadeira.
Era como se um
dos duendes das
lendas escocesas
tivesse irrompido
em sua casa,
dotado de um
halo de magia e
inocência que
conseguia atrair
seu olhar muito
ao seu pesar.
Entretanto,
quando os recém
chegados se
detiveram frente
à grande mesa e
aqueles olhos
azuis posaram
sobre os seus,
encontrou-os
transbordantes
de veneno.
E isso também
lhe incomodou.
O que faltava
para acrescentar
seu mau humor
aquele dia!

Willow se deteve
junto ao resto de
sua família diante
da mesa onde
jantavam o laird e
as pessoas mais
importantes do
castelo.
Encolheu-se
quando sentiu
quantos olhares
recaíram sobre
eles, avaliando-
os, decidindo se
os recém
chegados eram
dignos de
pertencer ou não
ao seu clã. Sobre
tudo, arderam-lhe
os olhares dos
dois anciões que
a olharam de
cima abaixo sem
nenhum pudor.
Entretanto, não
lhes correspondia
decidir seu
destino. O
homem que se
sentava no lugar
preferencial da
grande mesa era
o único que
ostentava esse
poder. Willow o
observou com
curiosidade não
isenta de medo,
contendo com
muita dificuldade
as emoções que
ameaçavam
transbordar.
Ali, jantando
tranqüilamente
como se não
fosse um
assassino,
encontrava-se o
homem mais
imponente que
jamais tinha
visto.
Seu tamanho
mostrava quão
bem treinados
eram seus
músculos,
possivelmente
cortando as
cabeças de seus
inimigos no
campo de
batalha, pensou
Willow enojada.
Tinha um rosto
atrativo,
reconheceu, com
uma forte
mandíbula, um
nariz reto e
perfeito, símbolo
inequívoco de
que nunca o
tinham quebrado,
e uns olhos avelã
que paralisaria a
qualquer um sem
necessidade de
usar a força
bruta. O cabelo
castanho lhe caía
até os ombros,
um pouco
alvoroçado, e
usava uma camisa
branca aberta
pela parte
superior que
mostrava a pele
morena de seu
pescoço. Sim, era
um homem
muito viril e
arrumado, tal e
como Maud
havia descrito,
que certamente
atraía todas os
olhares
femininos da
sala.
Mas ela somente
via um monstro.
Unicamente era
capaz de apreciar
a aura de
escuridão que o
envolvia,
imaginando-se
sem esforço
como esgrimiria
a espada com seu
poderoso braço
para acabar com
a vida de
qualquer que se
interpusesse em
seu caminho.
— Por que está
me olhando
assim? — Apesar
de não ter
elevado a voz, as
palavras de Ewan
Campbell
sossegaram todos
os murmúrios do
salão. O silêncio
flutuou na sala
denso e
intimidador. —
Estou falando
com você. —
Acrescentou,
levantando a
vista para fixar
diretamente nos
olhos azuis de
Willow.
Maud e John se
colocaram ao seu
lado ante o tom
do laird.
— É nosso filho,
senhor. —
Assinalou a
mulher, lhe
passando um
braço sobre os
ombros. — É
jovem e bastante
impressionável.
Não foi sua
intenção lhe
incomodar.
— Não recordo
que tivessem
nenhum filho.
Lembro-me de
Liese, mas não
dele. — Disse o
laird, sem apartar
os olhos da
figura do moço.
— Bom... —
Interveio John.
— Na realidade
o adotamos.
Ficou sem família
e Maud não
consentiu deixá-
lo a sua sorte. Se
não for pedir
muito, nós
gostaríamos que
tomassem a ele
também sob o
amparo do clã.
Willow começava
a ficar muito
nervosa sob o
escrutínio tão
direto do líder
dos Campbell.
Pegou-se mais a
Maud,
procurando seu
apoio, desejando
que aquela
entrevista
terminasse
quanto antes. Seu
gesto não passou
desapercebido ao
laird.
— São todos
bem-vindos,
John St. Claire.
Eu gosto de lhes
ter aqui e saber
que posso
devolver o favor
que me fizeram
aquele dia faz já
alguns anos.
— Foi uma
honra para nós,
laird.
— Maud e Liese
ajudarão na
cozinha e em
todas as tarefas
domésticas que
minha ama de
chaves, Jane,
requeira-lhes. —
Explicou, indo
ao ponto. —
John, você
treinará com
meus guerreiros e
colaborará nas
tarefas de
reparação da ala
leste do castelo.
O moço,
enquanto siga
escondendo-se
debaixo das saias
de sua mãe,
limpará as
pocilgas e
atenderá aos
animais do
curral.
John abriu a boca
para protestar,
mas o laird
levantou uma
mão para
silenciá-lo.
— Eu decidirei
quando está
preparado para
assumir
responsabilidades
mais próprias de
homens que de
meninos. Terão
que se conformar
com isso no
momento.
Podem se retirar,
Jane lhes servirá
um pouco de
comida na
cozinha.
Willow não podia
ter tido pior
impressão
daquele homem.
Era um autêntico
mal educado. Ela,
em seu lar, jamais
teria tratado
dessa maneira a
uns recém
chegados depois
de uma longa
viagem, por mais
que estes fossem
formar parte do
serviço. Tinha
evitado qualquer
tipo de cortesia,
não lhes tinha
perguntado nada,
não lhes tinham
apresentado ao
resto dos
presentes. Seu
cenho
intimidatório e o
tom brusco de
sua voz
convidavam a
sair correndo
daquele salão no
lugar de lhes
fazer sentir bem-
vindos e queridos
entre aqueles
muros.
Willow desejou
com uma dor
avassaladora o
cuidado de sua
família e de toda
sua gente. Sentiu
falta de Enjoe,
sua querida
Enjoe, e se
imaginou como a
consolaria se
estivesse ainda ao
seu lado.
— Menino, está
surdo? — A voz
do laird, rouca e
desagradável,
tirou-a de seus
pensamentos. O
homem a olhava
como se apenas a
sua presença
fosse algo que
não pudesse
suportar. —
Ordenei que se
retirem, vá com
sua família.
Willow piscou e
olhou para os
lados, dando-se
conta de que
Maud, John e
Liese já estavam
quase na porta
do salão,
enquanto ela
ficou embevecida
ali no meio,
parada sob o
atento e
desumano olhar
do laird.
— Senhor. —
Sussurrou,
fazendo um
breve gesto com
a cabeça antes de
sair correndo
junto aos outros.
Ewan o viu
desaparecer e
demorou uns
minutos para
afastar seus olhos
da porta por
onde tinha saído.
Que demônios
lhe tinha
ocorrido? O que
tinha aquele
moço que o tinha
aceso daquela
maneira? Vê-lo
esconder-se atrás
das saias de
Maud lhe tinha
virado o
estômago.
— Eu me
ocuparei de fazer
de ti todo um
homem. —
Falou para si
mesmo, sem
querer investigar
mais a fundo os
sentimentos que
lhe tinham
assaltado depois
de contemplar
aqueles enormes
olhos azuis nessa
cara de duende.
Depois de um
jantar muito
simples na
cozinha, posto
que nas palavras
de Edith, a
cozinheira,
tinham chegado
tarde e não
pensava preparar
nada especial
para eles,
conduziram-nos
ao que a partir de
agora seria seu
lar. Saíram do
edifício principal
guiados por Jane,
a ama de chaves,
e tomaram o
caminho que
conduzia às
dependências dos
serventes. Willow
se fixou em que
era uma zona
próxima ao muro
exterior que
circundava a ilha
e protegia a
fortaleza, onde
tinham
construído uma
série de choças
de pedra com
tetos de madeira
e palha
destinadas a
todos os que
serviam no
castelo. Aos St.
Claire lhes tinha
atribuído uma
destas habitações,
mas ao entrar
Willow se
precaveu de que
só havia duas
camas de armar:
uma grande para
o casal e outra
menor para
Liese.
— Preparamo-la
para três pessoas
— se desculpou
Jane,
aproximando-se
do fogo para
avivá-lo. —
Assim por esta
noite terão que se
arrumar.
— Não passa
nada. — Disse
Willow. — Eu
dormirei no
chão. Já estou
acostumado.
— Mas amanhã
poderemos
dispor de outra
cama de armar,
certo? Nosso
moço não pode
dormir atirado
junto ao fogo...
— Protestou
Maud.
— É obvio,
amanhã darei
ordem de que
resolvam este
inconveniente. E,
agora,
descanssem,
certamente estão
esgotados da
viagem. — A
mulher se
encaminhou para
a porta, mas no
último segundo
se voltou. — Os
serventes tomam
o café da manhã
todos com as
primeiras
badaladas da
capela, à
alvorada, porque
logo temos que
atender aos
senhores do
castelo. Por
favor, sejam
pontuais.
— Não se
preocupe, Jane,
estaremos
preparados para
atender tudo
aquilo que nos
ordene. —
Prometeu John
em nome de toda
sua família.
A ama de chaves
fez um gesto de
assentimento
com a cabeça e
logo
desapareceu.
— Bom, pois já
estamos aqui. —
Exclamou Maud,
sentando-se
sobre sua cama
de armar com
um sonoro
suspiro de
satisfação.
— O laird não
me pareceu tão
bondoso como
diziam, pai. —
Opinou Liese,
enquanto abria
seu fardo e
começava a tirar
seus escassos
pertences dele.
— Ewan
Campbell tem
muitas coisas na
cabeça, além da
tarefa de receber
a uns serventes.
— defendeu
Maud —. Mas
era um bom
moço quando o
conhecemos e
não pôde mudar
tanto.
— Além disso, o
simples feito de
nos aceitar fala
por si só. — a
seguiu John.
O casal confiava
plenamente em
seu benfeitor,
estava claro. Mas
Willow não o via
assim, e jamais
poderia fazê-lo.
Embora o
próprio laird se
chegasse a
mostrar de
repente amável e
cordial com os
St. Claire, coisa
que duvidava,
para ela não era
mais que um
simples assassino.
Ao menos, até
que alguém lhe
demonstrasse o
contrário.
— O que
pareceu a ti, Will?
— Perguntou-lhe
Maud.
— A verdade,
não estou
acostumado a
formar opiniões
depois de um
encontro tão
breve com uma
pessoa. —
Mentiu — Mas
sim me ficou
claro o que opina
o laird de mim.
— Não o tenha
em conta, Will.
— John se
sentou ao lado de
sua mulher sem
deixar de olhar
ao moço. — São
guerreiros e estão
acostumados a
que todos seus
soldados
mostrem uma
dignidade
irrepreensível.
Você é muito
jovem, ainda tem
que crescer e que
te nasça cabelo
no peito... Já verá
como dentro de
pouco estará
treinando
comigo para te
converter na
admiração de
todos os
Campbell,
inclusive o laird.
Willow gemeu
internamente.
Cabelo no peito?
O que lhe
faltava... Mais lhe
valia recolher
toda a
informação que
pudesse no
menor tempo
possível e escapar
do Innis Chonnel
em seguida, antes
de que alguém se
precavesse de seu
engano e se desse
conta de que em
seu peito não
havia mais que
uma atadura que
esmagava seus
pobres seios
como parte de
seu disfarce.
CAPITULO 8

Acampamento das
tropas escocesas,
Stirling

Malcom
MacGregor
entrou na tenda
de seu pai com o
semblante
congestionado.
Um emissário do
Meggernie tinha
chegado até seu
acampamento, no
Stirling, com as
piores notícias
possíveis.
Um mês... um
mês inteiro sem
saber nada de sua
gente, de seus
irmãos Niall e
Willow, e quando
por fim aparecia
o esperado
mensageiro,
descobria com
horror que era
portador das
novas mais
dolorosas.
— O que ocorre?
— Perguntou
Ian, acudindo
disposto a seu
lado ao ver a cor
cinzenta de seu
rosto.
— Meggernie...
— Murmurou
Malcom, com a
voz rota —.
Meggernie foi
atacado.
O ar pareceu lhe
faltar dos
pulmões. O laird
MacGregor teve
que apoiar-se no
ombro de seu
filho para
assimilar tão
terrível revelação.
— O que...
Quem... Como...?
— Não acertava
a formular
nenhuma
pergunta, as
perguntas lhe
amontoavam no
coração.
— Faz mais de
uma semana.
Perdemos seu
governo.
O ancião elevou
os olhos
procurando os de
seu filho e não
foi necessário
que pusesse em
palavras o maior
de seus temores.
— Dizem...
Dizem que Niall
caiu na batalha,
pai. — Ao seu
irmão gêmeo lhe
quebrou a voz e
as lágrimas
apareceram, sem
chegar a
derramar-se.
Não teve tempo
de afundar em
sua própria dor,
porque Ian
MacGregor
cambaleou ante a
notícia e os
joelhos lhe
falharam.
Malcom teve que
sujeitá-lo e
acompanhá-lo até
uma das
poltronas de
couro para que se
sentasse.
— Não te
preocupe por
mim, meu filho,
conta-me tudo,
embora me veja
fraquejar. Preciso
saber o que
ocorreu.
— Contam que
viram as cores
dos Campbell.
— Os Campbell?
Mas... faz muito
que nossos clãs
pactuaram uma
trégua. Não...
Não o entendo.
Certeza?
— São rumores,
pai. Sabemos que
um exército
cercou nossas
muralhas ao
amparo da noite
e que alguém, de
dentro, abriu-lhes
as portas para
que o assalto
fosse mais
efetivo. Os
nossos lutaram
com valor,
comandados pelo
Niall, mas eram
inferiores em
número e tiveram
que ceder.
— Renderam-se?
— Perguntou o
guerreiro, com a
vista perdida no
infinito,
revivendo uma
batalha em que
ele não tinha
participado.
— Parece que
sim, ou isso
contam.
— Mas, então...
Niall...
— Nosso
inimigo não
respeitou a
bandeira branca.
Tomaram
prisioneiros e
logo...
— O que? Não
me oculte nada,
Malcom. Não
tente proteger
meu coração,
porque já o
tenho
destroçado.
— Julgaram a
nossos homens
diante do Niall.
Obrigaram-lhe a
presenciá-lo.
Depois,
mataram-nos.
Ian MacGregor
baixou a cabeça e
escondeu o rosto
entre suas mãos.
As palavras
punham imagens
detrás de seus
olhos e, embora
os fechasse, não
deixava de vê-las.
Ardiam, doíam
como adagas
cravadas no
peito. Quanto
tinha tido que
sofrer seu filho
ao ver-se
submetido!
Obrigado a ver
como torturavam
aos seus homens,
conhecendo de
antemão seu
próprio
desenlace. Sem
poder socorrer a
sua gente, sem
poder defender a
aqueles que
amava...
O laird levantou
a cabeça com
brutalidade.
— E Willow?
Malcom moveu a
cabeça em um
gesto negativo.
— Morta? — A
voz do pai era
apenas um som
sibilante e
derrotado.
— Ninguém
sabe. Ninguém
sabe nada dela
desde o ataque,
ninguém a viu.
Ian MacGregor
inspirou com
força ao
recuperar um
pouco de
esperança.
— Enjoe a pôs a
salvo, estou
convencido.
Nossa menina
está viva,
Malcom, mas se
ninguém sabe
onde está,
significa que está
perdida e,
possivelmente,
sozinha. Temos
que procurá-la.
A mesma faísca
de esperança que
iluminava os
olhos do laird
agarrou no
coração de seu
filho. Malcom
deslocou a um
lado a infinita
dor da perda do
Niall para
concentrar-se em
Willow. Onde
teria podido ir?
Onde se tinha
escondido sua
doce e indefesa
irmã?
Necessitariam
ajuda para
encontrá-la e
rezava para que
alguma família
piedosa a tivesse
acolhido em seu
seio até que eles
retornassem para
restabelecer a
ordem no
Meggernie.
— Partiremos
amanhã, irei
alertar aos nossos
homens para que
se preparem. —
Anunciou ao seu
pai, com o ânimo
um pouco mais
recuperado ante a
perspectiva da
ação.
— Não, filho,
espera. — Reteve
Ian. — Não
podemos
abandonar o
acampamento
sem o
consentimento
do rei. Estamos
aqui por ordem
dele e
desaparecer seria
considerado um
ato de traição.
— Mas
Meggernie foi
atacado! Sei que é
nosso dever
obedecer ao
Bruce, mas isto,
parte é culpa
dele.
O laird
compreendia a
fúria de Malcom.
A mesma chama
de indignação
pendia em sua
alma, porque o
dever para com
sua pátria lhe
tinha privado da
oportunidade de
lutar junto a seu
filho Niall e de
proteger a sua
gente.
Entretanto, não
era estúpido. E
não pensava
estragar a única
possibilidade de
recuperar tudo o
que era seu
fazendo um mau
ao rei da Escócia.
— Falarei com
ele. Pedirei-lhe
permissão, não
pode nos negar o
direito de auxiliar
ao nosso clã.
Malcom
contemplou ao
seu pai enquanto
saía da tenda
com o passo
lento e os
ombros caídos.
Sempre tinha
sido um
guerreiro forte e
inquebrável.
Agora, depois da
terrível noticia, se
fazia mais
patente o
avançado de sua
idade, porque seu
espírito já não
podia suportar a
dor da perda com
o estoicismo do
que sempre tinha
demonstrado.
Seguiu-o para lhe
oferecer todo seu
apoio frente ao
rei. Colocou-se a
suas costas e não
o abandonou em
nenhum
momento,
porque, embora
seu pai não
tivesse
pronunciado as
palavras, sabia
que nesses
angustiantes
instantes o
necessitava mais
que nunca.
— Não podem
partir. — Disse o
rei. — Agora
não.
Os dois
MacGregor
apertaram os
lábios e os
punhos ante o
tom indiferente
do monarca.
Robert do Bruce
jantava em sua
própria tenda
rodeado de seus
mais fiéis
conselheiros
quando recebeu a
visita dos
ultrajados
guerreiros.
— Os Campbell
tiveram a
desfaçatez de
atacar minha casa
em minha
ausência, senhor,
temos direito a
nos proteger! —
Estalou Ian
MacGregor,
dando um passo
à frente. O filho
o deteve lhe
pondo uma mão
no ombro.
— Não sabemos
com certeza que
tenham sido os
Campbell.
Nenhum dos
informes que
recebi o
esclarece.
— Sabiam do
ataque? —
Malcom não
acreditava.
— Sim, embora
faça apenas um
dia. Lamento
muito o ocorrido
e me irrita que
qualquer de meus
súditos aproveite
a ausência de
algum chefe de
um dos clãs para
atacá-lo. Mas é
algo ao que já,
infelizmente, não
podemos
consertar.
Necessito-lhes
aqui, devemos
intensificar o
assédio ao
castelo, seus
homens são
indispensáveis
em meu exército.
Não podem
partir. —
Repetiu.
Entristecido os
olhos de Ian
observaram
como a boca de
Bruce mastigava
um pedaço de
carne sem que o
mínimo tic
revelasse o pouco
que lhe
importava o
assunto. Sentiu-
se humilhado e
rebaixado como
nunca. Ao rei lhe
trazia sem
cuidado que o clã
MacGregor
tivesse sofrido a
ira de outro clã, e
suspeitava que
não ia receber
justiça por sua
parte. Sem
dúvida, outra
culpa que atribuir
aos Campbell.
— Senhor, Ewan
Campbell atuou
com desonra. Se
não forem capaz
de vê-lo, é que
não concedem a
mesma valia a
minha família
que à sua.
O rei levantou o
olhar com
brutalidade,
ofendido pelo
comentário.
Deixou sua faca
com um golpe
sobre a mesa e se
levantou para
apontar com um
dedo ao seu
interlocutor.
— Insinua que o
laird dos
Campbell recebe
um trato de
favor? — Seu
tom advertia do
perigo de
continuar por
esse caminho,
mas Ian lhe tinha
feito reagir ante
seu problema e
pensava chegar
até o final.
— Só digo,
majestade, que
enquanto meus
homens lutam e
perecem sob suas
ordens, algo do
que todos os
MacGregor nos
orgulhamos,
Ewan Campbell
se mantém a
salvo em sua
fortaleza e, não
contente com
isso, abusa de seu
privilégio para
nos atacar
quando mais
fracos nos
encontramos.
— O pai de
Ewan caiu no
campo de batalha
recentemente
menos de um
ano, Ian. Sabe tão
bem como eu. A
retomada da ilha
do Man nos
custou muitas
baixas... Muito
sangue Campbell
se derramou
emprestando
serviço a sua
pátria por isso, e
porque considero
que o jovem laird
deve ter tempo
para fazer-se com
as rédeas de seu
clã, permiti-lhe
ficar em sua
fortaleza, como
diz, em lugar de
convocá-lo junto
ao resto de meus
lairds. Tem além
outra missão
imposta por
mim: a de formar
novos guerreiros.
Quando
estiverem
preparados se
incorporarão a
nossas filas.
Todas as espadas
são poucas nos
tempos atuais. —
Bruce fez uma
pausa para
agarrar fôlego,
sua indignação o
deixava sem ar.
— E não está
demonstrado que
tenha sido Ewan
Campbell quem
lhes atacasse.
Depois de tantos
anos de lutas
entre clãs,
aprendi que as
intrigas e as
traições formam
parte de nosso
dia a dia, e antes
de sentenciar a
um de meus
lairds mais leais
devo ter provas
convincentes.
— Senhor... —
Tentou falar o
MacGregor.
O rei deteve seu
protesto
levantando uma
mão. Ainda não
tinha terminado.
— Seu
sofrimento não
me produz
indiferença,
embora possa
pensar o
contrário. Mas
não é o
momento de pôr
ordem em uma
disputa entre clãs,
há assuntos
muito mais
importantes
neste momento
para a Escócia.
Prometo-te que
quando os
ingleses rendam a
fortaleza, seu
caso será o
primeiro que
resolva.
Todos conheciam
o pacto que
Bruce fazia com
o senescal Philip
Mowbray, que
governava o
castelo do
Stirling. Tantas
semanas de
assédio tinham
diminuído as
provisões da
guarnição inglesa
e sua situação se
voltava crítica em
breve. Sendo
assim, Mowbray
tinha dado sua
palavra de que
renderia a
fortaleza se antes
do verão não
fossem
resgatados por
seus
compatriotas
ingleses.
Acabava-se o
prazo, e o rei
necessitava de
todas as suas
tropas para sair
vitorioso daquela
batalha. Se
rumoreava que
os ingleses
tinham intenção
de brigar até o
final e que a tão
esperada
rendição não se
produziria.
Ian compreendeu
que Bruce tinha
suas razões e não
pensava ceder
ante suas
súplicas. Mesmo
assim, ajoelhou-
se, com a cabeça
baixa e a voz
desesperada.
— Ao menos,
senhor, me
conceda uma
misericórdia. —
Tragou saliva
antes de
continuar. O
orgulhoso
highlander jamais
se ajoelhou ante
ninguém. —
Minha filha,
Willow, está
desaparecida.
Não quero que
ocorra a mesma
sorte que seu
irmão Niall,
assim, por
piedade, me
deixem enviar
um destacamento
do MacGregor
para que a
busquem.
Malcom poderia
partir amanhã
mesmo e eu
ficarei aqui, com
o grosso de meus
homens, para
lhes servir até o
final.
Bruce franziu o
cenho e meditou
na petição do
poderoso Ian
MacGregor.
Comoveu-o vê-lo
nessa postura
derrotada e
decidiu que,
depois de tudo,
seu exército
podia prescindir
de um punhado
de homens.
Recordou à
pequena Willow
MacGregor. Nas
poucas ocasiões
que a tinha visto
lhe tinha
parecido uma
criatura adorável,
muito parecida
com sua falecida
mãe, Erinn, por
quem o rei tinha
sentido
admiração no
passado.
Definitivamente,
se estava em sua
mão evitar que a
pequena sofresse
o mesmo destino
que seu irmão,
faria-o.
— Pode enviar a
seu filho, Ian. —
Concedeu ao fim.

Minutos depois
de seu encontro
com o rei, Ian e
Malcom se
reuniram com o
comandante do
exército
MacGregor em
sua própria
tenda. O homem
era uma massa,
mais alto
inclusive que
Malcom, de
braços poderosos
e olhar assassino.
Seu cabelo
comprido e a
barba escura e
fechada lhe
davam um
aspecto
selvagem.
Entretanto,
Angus era o mais
disciplinado de
seus soldados e
confiava nele
como se fosse
seu próprio filho.
— Laird. —
Disse o homem
assim que ele
apareceu. —
Ouvimos as
notícias, estamos
desolados.
Vamos retornar?
O eco de
vingança que se
percebia em seu
tom comoveu ao
chefe. Malcom e
ele não eram
quão únicos que
sofriam pelo
acontecido, todos
os seus homens
se esforçavam
pelo clã e
estavam
dispostos a dar a
vida pelos seus.
— Somente
Malcom e você,
Angus. —
Respondeu Ian.
— Levarão a
uma dezena de
homens,
escolham aos
melhores.
Comprovem os
danos no
Meggernie, mas
se está tomado e
sua vigilância é
forte, não entrem
em disputas. Se
estabeleçam no
Glenstrae; a
partir de agora e
até que
recuperemos o
castelo, será
nosso quartel
general. Ajudem
a gente do clã,
estarão perdidos
e desorientados
sem um líder. E,
sobre tudo,
procurem
Willow.
Possivelmente
tenha se
escondido com
alguma das
famílias.
— Senhor, se
nossos inimigos
se inteirarem de
que a pequena
Willow
desapareceu,
podem tentar
procurá-la
também para
usá-la contra nós.
Ian meditou
essas acertadas
palavras.
— Tem razão.
Malcom, terão
que ser muito
discretos na hora
de perguntar por
ela. Talvez... —
O velho
guerreiro pensou
em uma
possibilidade que
poderia
funcionar —.
Talvez seja
melhor usar o
apelido que lhe
pôs Niall, apenas
nossos mais
chegados o
conhecem.
— A jóia do
Meggernie. —
Sussurrou
Malcom,
entendendo.
— Assim
poderemos
confundir ao
nosso inimigo,
seja quem for.
Pensarão que
estamos
procurando um
tesouro roubado
no ataque.
Quando
perguntarem,
digam que a jóia
desapareceu e
queremos
recuperá-la a
todo custo.
Somente o que
seja um
verdadeiro amigo
compreenderá a
mensagem e nos
ajudará a
encontrá-la.
Ofereçam uma
recompensa se
for preciso,
alguém tem que
saber onde está
minha filha.
— Uma
recompensa? Se
estiver com
alguma das
famílias
MacGregor não
será necessária.
Jamais aceitarão
umas moedas por
ter cumprido
com seu dever:
proteger a um
dos seus.
— Já sei. Mas se
não estiver com
os nossos pode
ter ido parar no
lar de qualquer
outro clã vizinho.
Pode ser que
inclusive esteja
prisioneira, se
alguém a
reconheceu.
Estou disposto a
entregar a torre
do Glenstrae e
suas terras,
incluindo todas
as cabeças de
gado que se
beneficiam de
seus pastos.
Angus abriu os
olhos, surpreso.
— Brigamos
muito duro para
conservar os
domínios do
Glenstrae!
Era certo. Os
MacGregor
tinham tido
disputas
sangrentas
durante longos
anos para manter
a posse daquela
garganta
cobiçada por
seus clãs
vizinhos.
— Sei que tomo
a decisão em
nome do clã e
não deveria. Sei
que abuso de
meu poder ao
entregar algo que
pertence a toda
nossa gente...
Mas é minha
filha, Angus.
Estou disposto a
dar minha vida
por ela se for
necessário.
Angus fez um
brusco gesto de
assentimento
com a cabeça.
Estava
envergonhado
por sua reação,
ele também
entregaria sua
vida pela
pequena Willow!
— Será feito
como pede, laird.
Não lhe
decepcionaremos
.
Ian MacGregor
pôs uma mão
sobre o ombro
de Angus e outra
sobre o de seu
filho. Olhou-os
com intensidade
antes de falar.
— Confio em
vocês, sei que a
encontrarão. Por
favor, me
devolvam sã e
salva a minha
pequena.
CAPITULO 9

Quando à manhã
seguinte puseram
o café da manhã
diante, Willow
sentiu falta das
improvisadas
rações que Maud
lhes repartia cada
amanhecer. As
frutas silvestres,
sua parte de
queijo e o pouco
pão de que
dispunham que,
embora estivesse
um pouco duro,
tinha sabor de
glória. Removeu
com sua colher
de madeira as
tristes papa de
seu prato e teve
que conter uma
careta de asco;
jamais tinha
gostado.
— Por que não
lhes põe um
pouco de mel?
— Propôs-lhe
uma das
faxineiras que
estava sentada
em frente a ela.
— Agnes, sabe
que não
podemos
esbanjar dessa
maneira. —
Repreendeu Jane,
a ama de chaves.
— Uma
colherinha de
nada não se
notará. —
Suplicou a jovem,
olhando à mulher
com os olhos
muito abertos.
Willow não
gostou que a
garota
intercedesse por
ela. Não queria
colocar a
ninguém em
nenhuma
confusão e
menos por uma
miserável papa. E
essa moça já
parecia ter
muitos
problemas em
cima a julgar
pelos arranhões
de sua cara. Teria
brigado com
alguém?
— Não me faz
falta mel,
obrigado.
Comerei-as
assim.
— Vamos. — A
jovem estendeu
sua mão por
cima da mesa e a
colocou sobre a
sua. — Eu te
cedo minha
parte, é o menos
que podemos
fazer para que
lhes sintam bem-
vindos.
Liese fulminou
com o olhar a
aquela descarada.
Willow também
estava incômoda,
aquilo se excedia
de amabilidade.
— Chama-te
Agnes, certo? —
Disse-lhe Liese
com a voz
tirante. — Will
não quer seu mel,
entende-o?
— Isso deverá
decidi-lo ele, não
acha?
Era evidente que
entre as duas
jovens tinha
surjido uma
animosidade
imediata. Willow
se remexeu em
sua cadeira e
afastou a mão
com delicadeza.
Precaveu-se de
que Liese olhava
com olhos
sonhadores
desde que se
conheceram, e
parecia que
Agnes ia pelo
mesmo caminho.
Que encanto
masculino podia
ter ela, que era
tão pouca coisa e,
em palavras do
próprio laird
Campbell, um
covarde que se
escondia atrás
das saias de sua
mãe? Menos mal
que assim que a
vissem
enlameada com
os excrementos
dos porcos, a
essas duas lhes ia
passar a tolice no
momento.
— Não necessito
mel, obrigado. —
Resolveu ao final,
metendo uma
grande colherada
na boca que
quase a fez
vomitar.
John soltou uma
gargalhada ao
tempo que dava
por concluído
seu café da
manhã e se
levantava da
mesa.
— Venha, Will,
termina já esse
mingau e saiamos
fora. Deixemos
às mulheres com
suas disputas
femininas, temos
muita tarefa pela
frente.
Willow engoliu
três colheradas
mais e saiu
correndo atrás
do grandalhão,
aliviada por
escapar da
cozinha. Ali as
pessoas não eram
amáveis, à
exceção da
enjoativa Agnes;
como aconteceu
na tarde anterior,
quando
chegaram à
fortaleza,
ninguém se
apresentou e
poucos se
interessaram
pelos recém
chegados. A
hospitalidade
brilhava por sua
ausência e o
único gesto
amigável que
tinham tido com
ela tinha
propiciado uma
discussão com
Liese.
E o dia não tinha
feito mais que
começar.
Encaminhou-se
junto com John
para as pocilgas,
amassando-se no
amplo jaquetão
de lã que lhe
tinha emprestado
Maud. Ali nas
terras altas as
temperaturas não
estavam
acostumadas ser
amáveis com
seus habitantes e
aquele dia não
era uma exceção.
Seu fôlego se
convertia em
bafo quando
respirava e estava
a um passo de
que lhe
trincassem os
dentes. Rezou
para poder
sujeitar sua
mandíbula diante
dos homens do
laird, porque se já
encontravam
medroso ao Will
apenas por seu
aspecto, não
queria nem
pensar no que
diriam se o viam
tiritando de frio
como um triste
pássaro em
metade de uma
nevada.
— Bom dia,
senhores! —
Saudou o moço
que se ocupava
dos animais,
assim que
transpassaram o
portão de
madeira das
pocilgas.
Era um moço
um pouco maior
que Willow, ruivo
e com a cara
cheia de sardas.
Tinha as
bochechas sujas e
o cabelo curto
muito revolto,
coisa que lhe fez
muita graça,
embora se
absteve de
demonstrá-lo.
— Bom dia,
menino! Meu
nome é John St.
Claire e este é
meu filho Will. O
laird quer que
meu moço ajude
nas pocilgas e
com os animais
do curral, quererá
lhe ensinar o que
tem que fazer?
— É obvio.
Sempre se
agradece que
alguém te dê uma
mão. — Seu
sorriso deixou
ver um racho em
sua dentadura, o
que conseguia
que sua imagem
fosse ainda mais
cômica. — Meu
nome é Donald,
e te contarei
todos os
segredos deste
entretido ofício.
A Willow
agradou desde o
começo. Era a
pessoa mais
gentil com a que
se toparam desde
sua chegada. O
moço lhe
explicou como
era o trabalho
diário com os
animais.
Encarregavam-se
de lhes jogar de
comer aos
porcos, às quatro
vacas que tinham
e às aves do
curral; tinham
que encher os
bebedouros,
recolher os ovos
das galinhas e
ordenhar às
vacas. Deviam
manter a zona o
mais limpa
possível, e para
isso Donald lhe
ensinou como
retirar os
excrementos sem
manchar-se
muito, coisa que
Willow
agradeceu. Foi
uma manhã
exaustiva, cheia
de novas e
desagradáveis
experiências. Para
quando soaram
os sinos da
capela
anunciando o
meio-dia, tinha as
mãos rachadas, o
estômago um
pouco
embrulhado e lhe
doíam todos os
músculos do
corpo. Agora se
dava conta do
protegida e quão
mimada a tinham
tido sempre em
seu lar... Jamais
em sua vida tinha
trabalhado tanto!
— Vejo-te
fatigado, Will. —
Disse Donald em
um determinado
momento. —
Talvez deveria
descansar um
pouco.
— Não. —
Respondeu ela,
falseando sua
voz. — Estou
bem.
O moço estalou a
língua e negou
com a cabeça.
Willow se
encontrava suada
e tinha a cara
avermelhada pelo
esforço. Seus
olhos azuis
saltavam grandes
e brilhantes na
cara suja, dando a
impressão de que
suplicavam por
um descanso.
— De toda
maneira,
pararemos um
momento. Vêm
comigo.
Saíram do curral
e se dirigiram a
cozinha. Willow
caminhava atrás
de seu novo
amigo,
admirando suas
costas magra,
mas, a julgar pelo
que tinha visto
durante toda a
manhã, bastante
mais forte do que
aparentava.
Imaginou que o
laird tinha a esse
menino cuidando
de seus animais
pelo mesmo
motivo que a ela:
via-o débil, ainda
não o
considerava um
homem de
verdade para
treinar junto com
seus guerreiros.
E lamentou pelo
Donald, embora
ele não tinha
dado mostras de
que sua tarefa lhe
desgostasse.
— Espera aqui.
— Disse o ruivo,
junto à porta
traseira do
edifício principal,
que conectava
diretamente com
a cozinha.
Ela obedeceu.
Saboreou esse
minuto de paz e
levantou a cara
para o céu,
absorvendo a luz
do sol que esse
dia brilhava forte
e lhes dava um
descanso da
garoa que tinha
estado caindo,
intermitente, nos
dias anteriores.
— Corre, corre,
corre!
Os gritos de
Donald a
sobressaltaram
antes de que o
menino saísse
como uma
exalação da
cozinha, rumo às
muralhas. Seguiu-
o sem pensar; a
suas costas,
escutou as vozes
da mulher que se
ocupava dos
fogões,
amaldiçoando e
insultando ao
jovem com toda
sua vontade.
Detiveram-se
junto a um
portão de
madeira, sem
fôlego, e Donald
lhe mostrou o
que tinha
furtado: uma
parte de pão, um
pouco de queijo
e um par de
maçãs.
— Essa bruxa
detesta que
coloquemos a
mão na despensa,
mas às vezes está
distraída e
consigo algum
manjar de meia
manhã. Vamos,
comeremo-lo em
meu lugar
especial.
Willow esboçou
algo parecido a
um sorriso pelo
entusiasmo de
seu amigo. A
verdade era que
lhe tinha feito
água na boca ao
ver a comida e
não sentia
nenhum remorso
pela travessura.
Donald abriu o
portão de
madeira e deixou
uma pedra
colocada para
que não se
fechasse. Do lado
exterior do muro,
tampou o buraco
com um pouco
de mato seco e
ocultou a entrada
como lhe tinham
ensinado a fazer
desde pequeno.
De nada valia
viver em uma
fortaleza se
descobriam seus
acessos secretos
com tanta
facilidade.
Caminharam até
a borda do lago e
em uma curva,
escondidos por
duas enormes
rochas, sentaram-
se a devorar a
comida. Willow
estava feliz de
poder tomar um
descanso.
Brincando com o
Donald,
escutando suas
anedotas nas
pocilgas,
esqueceu-se por
um momento de
seus problemas e
notou uma
serenidade em
seu ânimo que
fazia muito
tempo que não
sentia.

Ewan Campbell
passou um bom
momento
olhando pela
janela as idas e
vindas daquele
adoentado moço
nas pocilgas e no
curral. Apertou
os dentes quando
percebeu que
essa criatura mal
podia carregar o
balde de água
para dar de beber
aos animais. Nem
sequer servia
para uma tarefa
tão simples? A
partir de sua
posição, no alto
da torre, não
podia distinguir o
azul dos olhos
dessa cara de
duende, mas,
para seu total
desconcerto,
recordava-o com
nitidez. Não
entendia por que
lhe chamava
tanto a atenção,
por que não
podia deixar de
espiar seus
movimentos e
lamentar que
fosse um menino
tão covarde.
Quando aceitou
ao John e a sua
família, jamais
imaginou que
tivesse que
carregar com um
mequetrefe que
dava lástima
olhar. Inclusive
Donald, que era
o menos
corpulento de
seus homens,
parecia um
gigante ao seu
lado. Bom, talvez
isso era exagerar,
mas certamente
Ewan não se
sentia feliz com
aquela aquisição.
Quando os viu
partir rumo à
cozinha, ficou
embevecido
contemplando
como o
jovenzinho
levantava seu
rosto procurando
o sol da manhã.
E depois, quando
saíram correndo
fugindo das
vassouradas da
cozinheira, o
laird ficou
convencido de
que aquele moço
tinha que ser um
pouco
efeminado.
Apertou os
punhos enquanto
observava como
se escapuliam
pela portinhola
secreta, mas não
porque lhe
incomodasse que
roubassem um
pedaço de pão ou
por procurar um
momento de
liberdade fora
das muralhas.
Não… não era
isso.
No Innis
Chonnel nunca
tinham dada
proteção a um
efeminado. E não
ia consentir que
nenhum homem
sob seu mando
mostrasse essas
inclinações tão
insanas e tão mal
vista entre sua
gente. Se seu pai
estivesse vivo, lhe
revolveriam as
tripas ante
apenas a
presença de uma
criatura assim.
Ewan fechou os
olhos ante a
lembrança de seu
progenitor.
Como cada vez
que pensava nele,
assaltavam-lhe
um misto de
sentimentos.
Admirava ao
chefe que tinha
sido, que tinha
sabido levar com
mão firme ao clã
e havia o tornado
perigoso aos
olhos de seus
inimigos. Os
Campbell se
forjaram uma
feroz reputação
graças ao seu pai
e não existia
nenhuma fissura
que vulnerasse
sua segurança.
Todos os
homens sob seu
mando deviam
cumprir com os
estritos requisitos
de seu laird, e o
pobre diabo que
não o
conseguisse era
expulso sem mais
da fortaleza.
Sim, não lhe
cabia nenhuma
dúvida. Duncan
Campbell jamais
teria aceito ao
filho de John St.
Claire em seu lar.
O teria jogado
dali a patadas
para nunca mais
vê-lo...
E essa era a parte
que mais tinha
odiado de seu
pai.
Dava o mesmo
que lhe pusessem
diante a um
menino ou a um
homem feito de
tudo; para ele,
todos eram
iguais. Ou,
melhor dizendo,
todos deviam ser
iguais. Não fazia
nenhum tipo de
distinção na hora
de adestrar
guerreiros, era
implacável. Ewan
deixou escapar o
ar de seus
pulmões ante as
imagens que o
invadiam quando
recordava aquela
parte de sua
infância. Seu pai
tinha sido
desumano
enquanto o
educava, já que
estava destinado
a lhe suceder
algum dia e
Duncan queria
certificar-se de
que deixava o clã
nas melhores
mãos.
As mãos mais
fortes.
Não importava
que sua mãe, a
formosa Cait,
suplicasse
chorando quando
o adestrava com
a mesma rudeza
que ao mais
valente de seus
soldados.
— Pelo amor do
céu, Duncan! —
Ouvia-lhe dizer,
quando seus
braços já não
podiam sujeitar a
espada, quando
suas pernas
apenas o
sustentavam. —
Não é mais que
um menino...
— E isso é
desculpa para
mostrar sua
fraqueza diante
de todos? No
Innis Chonnel
não há lugar para
os fracos... E te
asseguro que
meu filho não o
será.
Ewan abriu os
olhos para
emergir daquele
passado que
parecia já muito
longínquo no
tempo. Tinha
sido duro, sim,
mas graças a ele
tinha adquirido
uma destreza e
uma força
admiradas por
todos os homens
aos que
comandava.
Tinha sua
lealdade... E se
tinha ganho além
disso o respeito
de seus inimigos,
que
demonstravam
um reverente
temor cada vez
que pretendiam
lhe combater.
Esse era o legado
que Duncan
Campbell lhe
tinha deixado
depois de sua
morte. Para bem
ou para mau, era
quem era, graças
ao seu pai, e
pensava honrá-lo
como merecia.
Olhou uma vez
mais para o
exterior,
procurando a
penosa figura do
filho de John
com renovada
determinação. Se
tinha que
encarregar-se
pessoalmente de
que aquele moço
se convertesse
em todo um
homem, como
mandava a
tradição dos
Campbell, faria-o
sem
contemplações.

Mais tarde,
durante o jantar,
Ewan teve que
apelar a toda sua
força de vontade
para não desviar
o olhar para o
rincão da mesa
onde John e sua
família se
acomodaram. O
moço
responsável por
suas penas tinha
ajudado a servir
as enormes
bandejas com a
carne enquanto
sua irmã Liese
servia o vinho
nas taças dos
comensais.
Depois, ambos
tinham ocupado
seu lugar, junto
aos outros
serventes.
Entretanto, ao
laird não lhe
tinham passado
desapercebidos
os gestos daquele
menino. Era todo
delicadeza, quase
poderia rivalizar
com qualquer das
donzelas do
castelo pela
suavidade com a
que se movia de
um lado a outro
do salão, e isso
lhe tinha tirado
até a fome.
— Meu senhor,
está bem? —
Perguntou-lhe
Agnes, enquanto
retirava uma das
jarras vazias para
substitui-la por
outra cheia com
as melhores
peças para o
laird.
— Sim, moço,
hoje está muito
pouco
conversador —
Assinalou o
velho Lawler,
como sempre
sentado ao seu
lado.
Odiava que o
chamasse moço.
Era o chefe do
clã, por todos os
Santos. Mas
nesse momento o
que mais lhe
incomodava era
que se
precaveram do
mau humor que
o embargava.
— Não é nada.
— Desculpou.
— Acredito que
ainda estou
afetado pela
traição de
Melyon. Não
todos os dias
perde-se um bom
guerreiro... E um
bom amigo.
E o dizia a sério.
Era uma
desculpa para
camuflar a
estranha maré de
emoções que o
sacudia cada vez
que os olhos
azuis daquele
malandro se
cruzavam em seu
caminho, mas
nem por isso
suas palavras
deixavam de ser
certas.
Lamentava ter
perdido ao seu
tenente, doía-lhe
terrivelmente ter
tido que jogá-lo
assim de seu lar.
Entretanto,
quando Agnes
baixou a cabeça,
mortificada, ante
a menção de seu
antigo amigo,
soube que não
poderia ter feito
de outro modo.
— Sempre
encontrará
homens de valor
em nossas filas.
Melyon não era
insubstituível.
O pouco tato de
Lawler terminou
de enervar ao
jovem laird, que
se levantou com
grande estrondo
deixando a todos
com a boca
aberta ante sua
brutalidade.
— Continuem,
por favor. —
Impeliu de más
maneiras. — Eu
não tenho fome.
Dito o qual,
abandonou o
salão a grandes
pernadas.
Willow o seguiu
com a
extremidade do
olho.
Certamente, o
chefe era um
autêntico mal
educado. Partiu
sem terminar o
jantar, deixando
plantados a todos
os que tentavam
agradá-lo. Claro
que, o que se
podia esperar de
um monstro
como ele?
Tragou com
dificuldade o nó
que lhe formou
na garganta ao
pensar em Niall,
no inferno que
deve ter passado
nas mãos desse
cruel laird. Se seu
irmão tinha
perecido por sua
culpa, ela o faria
pagar, embora
ainda não sabia
como.
Primeiro, tinha
que averiguar o
que tinha
ocorrido de
verdade, não lhe
bastavam
rumores
pulverizados
pelas velhas
fofoqueiras das
aldeias. Levava
um dia inteiro
nesse lugar e não
tinha feito mais
que trabalhar e
trabalhar, por
isso não tinha
tido ocasião de
indagar. Talvez
Donald pudesse
confirmar suas
suspeitas e lhe
explicasse por
que o Campbell
tinha retomado
uma vingança
que, não podia
ser de outra
maneira, tinha
idealizado seu
pai. Embora o
duvidava. Pelo
pouco que tinha
chegado a
conhecer o
Donald nas horas
compartilhadas,
deduziu que era
um menino
despreocupado,
que vivia para os
animais e a quem
não lhe
interessava
meter-se em
problemas. Não
soltaria sua língua
com ela de
qualquer jeito.
Logo estava
Agnes. A moça
era a única do
serviço que tinha
mostrado um
pouco de
interesse por sua
pessoa. Embora
a verdade era que
dito interesse lhe
caia muito mau.
Olhava-a com
olhos de
cordeiro,
pestanejava
muito. E
suspirava. Muito.
Willow não podia
lhe sustentar o
olhar quando
suspirava
inchando o peito
de maneira tão
exagerada. Além
disso, cada vez
que o fazia, Liese
ficava muito
nervosa. O que
menos desejava
Willow era
provocar uma
guerra entre essas
duas jovens que
disputavam sua
atenção. Não,
melhor não
aproximar-se de
Agnes, resolveu.
Enquanto
meditava,
escutou as
gargalhadas dos
guerreiros que
jantavam do
outro lado do
salão. Voltou-se
para eles e
observou como
conversavam,
como brincavam
e se gabavam de
seus lucros no
campo de
batalha. Willow
entrecerrou os
olhos. Sim, eles
seguro que não
tinham nenhum
problema para
alardear das
incursões levadas
a cabo contra
seus inimigos. Ali
tinha a fonte da
que obteria sua
informação, mas,
claro, para isso
devia converter-
se em mais um
daquele grupo. A
um moço
adoentado
encarregado dos
porcos e as
galinhas não
iriam contar-lhe
absolutamente
nada. Devia
ganhar seu
respeito, por
muito que lhe
custasse.
O problema era
que não tinha
nem a mais
remota idéia de
como fazê-lo.
— Não te
preocupe. —
Tranqüilizou
John ao ver o que
olhava com tanto
desejo. —
Dentro de pouco
você e eu
compartilharemo
s a mesa com
todos eles.
Willow se voltou
para ele com os
olhos brilhantes
de impaciência.
— Pode me
treinar amanhã,
quando terminar
minhas tarefas
nas pocilgas?
John pareceu
surpreso por sua
petição.
— Mas... O laird
disse que até que
ele não o
considerasse
oportuno, não
poderia te reunir
com outros
homens para o
treinamento.
— Eu não disse
que queria me
reunir com o
resto. —
Esclareceu
Willow, baixando
a voz. — O
Campbell não
tem por que
inteirar-se,
treinaremos à
parte.
— Não me
parece prudente
desafiar assim
uma ordem do
laird. — Opinou
Maud, olhando
carrancuda ao
seu jovem filho
adotivo.
Quão último
desejava era que
o chefe do clã
tomasse raiva ao
Will. Já se tinha
levado muito má
opinião dele
quando o
conheceu, não
deviam tentar à
sorte.
John contemplou
ao jovem e
esfregou a barba
ruiva, pensativo.
— Compreendo
sua vontade de
entrar em ação,
moço. Talvez
possamos
começar a
desenvolver esses
músculos pouco
a pouco para que,
a próxima vez
que o laird repare
em ti, veja-te de
outra maneira.
Willow lhe
agradeceu o
comentário com
uma ameaça de
sorriso, já que
ainda não
conseguia esse
gesto de forma
natural. Maud,
entretanto,
estalou a língua
com desgosto.
— Eu não gosto,
John, ainda não
está preparado.
— Ora, mulher,
bobagens! Se
fosse por ti,
protegeria-o
entre suas saias
até que lhe saísse
cabelo na cara.
— Não é isso...
Por São Mungo,
espero que
tomem cuidado.
Temo a reação
do laird se lhes
descobrir.
— Você e seus
Santos. Não se
preocupe,
faremos em
nosso tempo
livre, ninguém
poderá nos
reprovar nada.
O grandalhão
piscou um olho a
Willow e ela
notou que seus
lábios se
curvavam em
outro intento de
sorriso que não
prosperou.
Quando voltaria
a rir? Bebeu de
sua taça de vinho
para tragar o nó
que se formou
em sua garganta,
como cada vez
que recordava o
motivo pelo que
tinha chegado até
a toca de seus
inimigos.
Vingança.
Por seu irmão,
por Enjoe, pelo
Errol... E por
todos os que se
ficaram ali, no
Meggernie.
Voltaria a rir
quando visse o
chefe dos
Campbell de
joelhos no chão,
pedindo
clemência por
sua vida, pensou.
Voltaria a rir
quando levasse a
seu pai a cabeça
daquele assassino
em uma bandeja.

CAPITULO 10

O jovem Donald
jamais tinha visto
ninguém
trabalhar com
tanta vontade.
Seu novo
companheiro de
tarefas era um
moço adoentado,
mas com uma
vontade de ferro.
Olhava-o ir de
um lado a outro,
recolhendo os
excrementos dos
animais como se
o fora a vida
nisso.
— O que te
ocorre? —
Perguntou-lhe,
mostrando seu
sorriso trincado.
— Nada, é que
hoje preciso
acabar logo.
— Tem um
encontro? —
Mofou-se — Já
tem cansado
alguma das
donzelas do
castelo em suas
redes? Que sorte
tem, patife! Esses
olhos azuis
seguro que as
voltam loucas...
Willow deteve
seus afazeres
para olhá-lo com
assombro.
— Não é nada
disso! —
Protestou,
escandalizada.
Não caiu na
conta de que era
um comentário
muito típico
entre homens.
— Ah, não? Pois
ouça, se alguma
te aproxima e
não tem
interesse, manda-
me isso, que eu a
consolarei... —
Donald soltou
uma gargalhada e
Willow
avermelhou,
muito consciente
da classe de
consolo de que
falava seu amigo.
— É somente
que... Tenho
coisas que fazer.
— Murmurou.
Muito tarde se
precaveu de que
teria sido melhor
seguir a corrente
e deixar que
acreditasse que
seu compromisso
era de índole
romântica.
Supunha-se que
o treinamento
com John era um
segredo.
O ruivo levantou
as mãos em sinal
de rendição.
— Bom, bom,
não fique assim.
Se não quer falar
disso, não serei
eu o que indague
para conhecer
seus segredos. Já
te dará conta, é
muito melhor
não interferir na
vida dos outros.
Vive-se mais
tranqüilo...
Nesse ponto,
Donald se
afastou com os
dois baldes de
água que
carregava para
encher os
bebedouros.
Willow o
observou com
um sentimento
de alívio no
peito: com ele
não teria
problemas. Ao
menos, assim o
desejava.
Trabalhou em
excesso o que
pôde para
terminar todas as
suas tarefas e
para a hora do
almoço
considerou que
seus deveres
estavam já
realizados.
Apesar de que
lhe pesava o
cansaço de
caminhar desde a
alvorada, correu
como uma lebre
até o pátio de
armas onde
treinavam os
homens do laird.
Uma vez ali,
escondeu-se em
uma esquina para
espiar seus
movimentos e
estar pendente de
John, ao que
interceptaria
assim que o
exercício tivesse
finalizado.
Repassou com o
olhar ao grupo
de guerreiros que
agora simulavam
combates de dois
em dois,
elevando as
enormes espadas
sobre suas
cabeças e
protegendo-se
com os escudos
de madeira que
levavam na outra
mão. Tinha que
reconhecer que
todos eles
resultavam
incríveis. As
largas costas e os
braços
musculosos
delatavam o duro
treinamento ao
que se
submetiam. Seus
olhos se
detiveram na
figura do laird,
que lutava como
um mais.
Não... como um
mais, não.
Willow constatou
que seus golpes
soavam mais
fortes que o resto
e sua cara tinha
uma expressão
feroz, como se
na verdade o
combate que
liberava fora a
morte. Punha a
alma em cada
investida e,
depois de uns
quantos
intercâmbios,
conseguiu
desequilibrar ao
seu adversário,
que terminou
atirado no chão
com o fio de sua
espada apoiado
contra o pescoço.
Ewan Campbell
olhou ao homem
de acima e
assentiu,
satisfeito com o
resultado. Logo,
estendeu-lhe a
mão e lhe ajudou
a levantar-se.
Aquele gesto
surpreendeu a
Willow.
Um desumano
assassino como
ele teria chutado
o corpo de seu
adversário em
lugar de lhe
oferecer sua mão.
Claro que, aquele
guerreiro não era
um autêntico
inimigo, tratava-
se tão somente
de um
treinamento.
Sem pretendê-lo,
a jovem se
encontrou
admirando o
porte altivo do
senhor dos
Campbell. Era
atrativo, embora
a fascinação que
uma mulher
podia sentir
frente a ele era
quão mesma
frente a um dos
belos anjos
caídos que
serviam a
Satanás. Seus
encantos varonis
eram escuros,
sedutores e
perigosos.
Willow
estremeceu
apenas
imaginando que
um homem
assim lhe pudesse
aproximar... Sorte
que a seus olhos
ela não era mais
que um covarde
jovenzinho.
Como fariam as
mulheres para
suportar as
carícias daquelas
enormes mãos?
Como poderiam
respirar presas
em um de seus
abraços? Sem
dúvida o laird era
muito capaz de
as esmagar
contra o amplo
peito moreno
cheio de
cicatrizes...
— O que faz aí
escondido, Will?
A voz de Maud a
devolveu à
realidade. Mas,
por desgraça,
também a pôs
em evidência,
porque a mulher
falou o
suficientemente
alto como para
que alguns dos
guerreiros a
escutassem; entre
eles, o temível
laird.
Willow quis que a
terra a tragasse.
Os olhos
castanhos do
líder dos
Campbell a
perfuraram,
deixando-a
petrificada no
lugar. Não podia
afastar o olhar do
furioso rosto
daquele anjo dos
infernos,
convencida de
que seria capaz
de alcançá-la com
grande rapidez e
agarrá-la pelo
pescoço para lhe
pedir explicações.
Ela não devia
estar ali, já o
tinha deixado
bem claro o dia
de sua chegada.
— Will, filho,
vamos. — John
se aproximou e
agarrou a seu
filho pelo braço
para afastá-lo
quanto antes do
pátio de
treinamento.
Maud foi
encarregada de
desculpar seu
comportamento,
uma vez mais.
— Não era sua
intenção
incomodar, meu
senhor, é apenas
um menino
curioso com
vontade de
converter-se em
homem quanto
antes.
Ewan não disse
nada, limitou-se a
grunhir antes de
dar a volta e
desaparecer pela
porta do edifício
principal. Maud
olhou ao céu e
rogou para que
aquele homem
tivesse paciência
com seu Will. No
pouco tempo que
levavam com ele
se deu conta de
que não era um
moço como os
outros. E, para o
seu bem,
esperava que a
tolice lhe
passasse logo e
amadurecesse de
uma vez por
todas, ou jamais
sairia das
pocilgas...

Não podia com a


espada. Willow
apertou os dentes
e tentou uma vez
mais, mas o aço
não se levantou
mais de um
metro do chão.
— Talvez minha
arma seja muito
grande para ti. —
Comentou John.
— Ainda tem
que desenvolver
a musculatura.
A jovem soprou
pela decepção,
jamais teria os
braços de um
guerreiro. Isso
significava que
não poderia
enfrentar-se com
nenhum para que
a aceitassem em
seu grupo? Não,
negava-se a
acreditá-lo. Tinha
que haver uma
maneira, devia
penetrar entre
eles para poder
conseguir a
informação que
perseguia. Queria
ter a certeza de
que o laird era o
assassino de seu
irmão, e posto
que naquela
fortaleza
ninguém
comentava nada
sobre o ataque ao
Meggernie, não
tinha mais
remédio que
indagar.
Apertou os
lábios em uma
careta decidida.
Agarrou ar e o
tentou de novo.
Esta vez, estrelou
a espada contra o
escudo que John
sustentava, mas o
grande homem
nem sequer se
moveu pelo
golpe.
— Bom, não te
desanime, algo é
algo. Tenta-o
outra vez.
Certamente, seu
pai adotivo tinha
muita paciência,
reconheceu
Willow.
Retiraram-se a
uma área atrás
das pocilgas,
onde era
improvável que
alguém os
descobrisse
treinando. Ali, o
forte aroma dos
animais do curral
afugentava aos
curiosos. O sol já
descendia pelo
horizonte e uma
brisa gelada
anunciava que a
noite estava para
cair. John insistiu
com seu jovem
tutelado a tentá-
lo uma e outra
vez, até que
depois de muitas
estocadas
falhadas, por fim
Willow golpeou
com acerto e
potência sobre o
escudo.
— Bem! Muito
bem, moço. — O
homem
contemplou a seu
discípulo e
compreendeu
que estava a um
passo de
desfalecer. — O
deixaremos por
hoje, é melhor
acabar com a
sensação de
triunfo. Amanhã
tentarei agarrar
uma espada
menor,
certamente que
te sairá melhor.
Willow queria
protestar. O que
para John era um
triunfo, para ela
era um passo
muito lento em
seu caminho.
Mas o certo era
que lhe ardiam os
braços e os
pulmões lhe
queimavam. O
suor lhe corria
pelas costas
empapando sua
camisa e tinha o
rosto acalorado.
Necessitava uma
pausa.
— De acordo.
Obrigado por seu
tempo, John,
agradeço-lhe isso.
O homem lhe
deu tapinhas as
costas com afeto
e se afastou
rumo ao
refeitório. Não
queria perder o
jantar que já
estava a ponto de
servir-se.
Willow se deixou
cair no chão,
exausta. Por um
momento,
deixou-se vencer
pelo desânimo:
não poderia.
Jamais
empunharia uma
dessas enormes
espadas como o
faziam os
guerreiros
Campbell; era
fisicamente
impossível.
Notou que as
lágrimas
ameaçavam
escapar de seus
olhos e os
esfregou com
raiva. Não ia
chorar.
Levantou-se,
intumescida e
suarenta,
sonhando com
uma tina cheia de
água quente, algo
do que no
passado havia
podido desfrutar
a seu desejo, mas
que em suas
atuais condições
estava muito
longe de
conseguir. Fazia
dias que não se
lavava e notava
como a
imundície lhe
pegava ao corpo
como uma
segunda pele.
Olhou para a alta
muralha,
visualizando o
lago ao outro
lado. E se...? Era
uma loucura, a
água estaria
congelada, mas
sentiu que o
necessitava com
urgência.
E não pensou
nas
conseqüências.
Os olhos do laird
passeavam de um
lado a outro do
salão, impaciente.
O moço não
estava.
Onde tinha se
metido esse
covarde do
demônio com
cara de duende?
Ali se encontrava
sua família: Liese
ajudando a servir
as mesas, John
sentado com os
homens na outra
ponta e Maud
organizando aos
meninos para que
a comida não
acabasse toda
pelo chão. Acaso
aquele
mequetrefe se
tomou a noite
livre, sem sua
permissão?
Estaria doente?
Ewan Campbell
passou uma mão
pela cara,
exasperado. Se
fosse qualquer
outro de seus
serventes, nem
teria se dado
conta. Mas tinha
esses olhos azuis
colocados entre
as sobrancelhas, e
não recordava
haver-se
obcecado assim
nunca com nada.
Talvez era sua
vontade de
averiguar mais
coisas a respeito
dele. Não era
trigo limpo, havia
algo estranho em
sua diminuta
pessoa. Seu
modo de olhá-lo
fixamente, com
temor mas
também com
uma faísca de
desafio e desdém,
como se o
acusasse de
alguma traição,
não era lógico em
alguém que
acabava de
conhecer.
Ao final de um
momento,
quando já era
patente que
esse… Will? Sim,
Will, não ia
aparecer,
levantou-se feito
uma fúria e foi
em busca de
John.
— Onde está seu
menino? —
Espetou-lhe de
más maneiras, ao
chegar a sua
altura.
O homem se
surpreendeu por
seu tom e, por
um segundo, não
soube o que
responder. Maud,
que tinha
observado a
cena, aproximou-
se para auxiliar
seu marido.
— Não se
encontrava bem,
laird. Foi…
Ficou na cama.
— Mentiu.
Ewan
entrecerrou os
olhos,
contemplou-a
uns instantes
com uma
intensidade que a
mulher suportou
com muita
dificuldade, e saiu
logo do salão
bufando como
um animal
enfurecido. No
mesmo instante,
Maud se virou
para John com o
olhar alarmado.
— Onde
demônios está
esse
inconsciente?
O ruivo só pôde
encolher seus
ombros e ambos
se preocuparam
com a reação do
laird quando
desse com seu
paradeiro.
CAPITULO 11

Percorreu todo o
pátio e, logo,
dirigiu-se para os
aposentos dos
serventes. Ainda
não era noite
fechada, por isso
não lhe fez falta
nenhuma luz que
lhe iluminasse o
caminho, a
penumbra do
entardecer era
suficiente para
ver por onde
andava. Abriu a
porta da pequena
choça com um
golpe que
ricocheteou
contra a parede
disposto a gritar
mil impropérios,
mas ali não havia
ninguém. Olhou
as camas de
armar vazias e os
rescaldos quase
extintos no lar,
sentindo-se
estúpido. Saiu de
novo, mais
furioso ainda que
antes. Daria com
esse mucoso
embora tivesse
que olhar sob
cada pedra do
Innis Chonnel.
Caminhou
paralelo a grande
muralha,
seguindo seu
curso,
inspecionando
cada rincão. E, de
repente, teve um
pressentimento.
Grunhiu como
um urso ao
suspeitar que sua
idéia não era tão
descabelada e
correu por volta
da portinhola
secreta que tinha
visto utilizar ao
Will e ao Donald
no dia anterior.
Efetivamente, a
portinhola estava
aberta, sujeita
com uma pedra
para que não se
fechasse.
Amaldiçoou mil
vezes a esse
moço
inconsciente e
saiu da fortaleza
em sua busca.
Não teve que
caminhar muito;
depois de uma
curva,
resguardado por
um grupo de
enormes pedras
recobertas de
musgo,
encontrou ao
jovem Will
terminando de
colocar as meias.
Tinha o cabelo
molhado e
alvoroçado, por
isso supôs que
esteve se lavando
nas frias águas do
lago. Estava mal
da cabeça?
— Will!!
O grito furioso
sobressaltou ao
menino, que
levantou a cabeça
e o olhou com os
olhos espantados.
Ali, sob a
estranha luz
brumosa, o
cabelo molhado,
a pele pálida da
cara limpa e os
olhos brilhantes,
parecia mais que
nunca uma
criatura fantástica
de lenda. Ewan
ficou
sobressaltado
pela imagem e
teve que sacudir
a cabeça para
desfazer do
feitiço e deixar
que todo seu
aborrecimento
saísse como uma
corrente
incontida.
Equilibrou-se
sobre ele e o
agarrou
brutalmente pelo
braço. O menino
gemeu de dor,
mas isso não o
comoveu.
— Tornaste-te
louco? Que
diabos está
fazendo aqui
fora?
Sacudiu-o com
energia e Willow
se encolheu ante
a expressão
assassina de seu
rosto. Seus olhos
refulgiam de
escuridão e
ardiam de ira.
— Eu apenas
queria…
— Te cale!
Jamais conheci a
ninguém com tão
pouco juízo!
— Precisava me
limpar... E não
estava tão fria. —
Protestou ela,
tentando liberar
seu braço sem
conseguir.
O laird
aproximou tanto
sua cara que
Willow temeu
que lhe desse
uma cabeçada.
Uma veia pulsava
enlouquecida em
seu pescoço e,
pela primeira vez
desde sua
chegada, a jovem
sentiu autêntico
pânico na
presença desse
Campbell.
Poderia matá-la
ali mesmo e
ninguém faria
nada para evitá-
lo.
— Acha que me
preocupa que
pegue um
resfriado? Não
me importa quão
doente caia!
Ela travou,
impotente, sem
compreender
absolutamente
nada.
Ewan
empreendeu a
volta ao interior
da fortaleza
arrastando-a
consigo, sem lhe
importar que sua
presa tivesse que
correr para poder
lhe seguir o
ritmo. Era isso
ou que lhe
arrancasse o
braço.
Uma vez dentro,
o laird voltou
fechar e
assegurar a
portinhola, e se
girou para
fulminá-la com o
olhar.
— Puseste em
perigo a minha
gente, ninguém
sai da fortaleza a
noite. E muito
menos usando a
potinhola secreta,
deixando-a
aberta para que
qualquer um que
nos espreite
tenha a
oportunidade de
penetrar dentro.
A jovem pensou
que o laird
exagerava, mas
não disse nada.
Bastante zangado
o via já.
— Quem te
revelou o
segredo?
O coração de
Willow pulsou
acelerado. Temeu
por seu
companheiro e
decidiu mentir,
apesar de ser
muito consciente
de que a mão que
a sujeitava cada
vez apertava mais
forte.
— Ninguém.
Descobri
sozinho.
Ewan não se
incomodou pela
mentira, ao
contrário. Pensou
que, ao menos, o
menino tinha um
pouco de honra
ao proteger ao
Donald com seu
silêncio.
— E agora
descobrirá o que
ocorre a aqueles
que põem em
perigo a
segurança de
minha casa. —
Sussurrou com
ira contida.
Voltou a arrastá-
la, esta vez em
direção ao
edifício principal.
Fez-se silêncio
no salão onde
todos jantavam
quando
apareceram e o
laird não se
deteve, mas sim
avançou para as
escadas de pedra
localizadas ao
fundo, que
davam acesso ao
piso inferior.
Willow notou um
frio atroz nos
ossos quando
compreendeu
que se dirigiam
para as
masmorras. Céu
Santo! Tão grave
tinha sido o
crime? Ela não o
considerava
assim e odiou
ainda mais a
crueldade desse
homem.
Uma vez
embaixo, Ewan
abriu uma das
celas e a
empurrou dentro
com violência,
fazendo-a cair ao
chão. Depois,
fechou de uma
portada e Willow
ficou
completamente
às escuras.
Teve medo.
Quando o som
dos passos do
laird se perdeu na
distância, o
silêncio se abateu
sobre ela
acrescentando
mais
desassossego a
seu ânimo. Era
como se a
tivessem atirado
a um poço negro
onde os sentidos
ficavam anulados
e só podia
escutar as batidas
do seu coração e
sua respiração
atormentada.
Apalpou às cegas
os arredores e
deu com a parede
gelada e úmida.
Sentou-se no
chão e enrolou-se
sobre si mesmo,
tremendo. Ali
dentro fazia frio
e ela tinha o
cabelo e as
roupas ainda
molhados pelo
banho. As pedras
daqueles muros
exalavam um
pestilento aroma
de urina e temeu
que o silêncio
que governava o
lugar se visse
interrompido
pela correria de
algum roedor.
Não pôde
conter-se mais.
As lágrimas
vieram aos seus
olhos, quentes e
salgadas,
enormes, e
rodaram por seu
rosto até que
dormiu
tremendo de frio
e de medo.
Não soube
quanto tempo
passou até que
despertou de
novo.
Surpreendeu-se
ao notar algo
quente sobre a
bochecha e abriu
os olhos. O tênue
resplendor de
uma tocha
penetrava pela
janela da porta,
arrojando uma
leve claridade ao
interior da cela
que dissipava a
esmagante
escuridão. Tocou
com curiosidade
o que tinha em
cima do corpo e
descobriu que era
uma grossa pele,
certamente de
urso. Agradeceu
a quem quer que
se preocupou por
ela e lhe haver
deixado aquele
maravilhoso
presente, se
enrolou de novo
cobrindo-se até o
nariz e voltou a
cair em um sono
intranqüilo.

No sonho,
Willow corria por
um prado de um
verde intenso. O
céu era azul
brilhante sem
nuvens e o ar
primaveril trazia
aromas de terra
úmida e a erva.
Depois dela, as
gargalhadas dos
gêmeos que
insistiam a
imprimir mais
velocidade as
suas pequenas
pernas: estavam a
ponto de alcançá-
la. Girou a
cabeça um
momento e esse
foi seu grande
engano.
Tropeçou, caiu
rolando pelo
chão e em
seguida teve em
cima a seu irmão
Niall, que a
apanhou entre
seus braços com
um sorriso de
triunfo na cara.
— Tenho-a,
tenho-a! A jóia
do Meggernie é
minha!
Willow não podia
parar de rir.
Somente Niall a
chamava desse
modo; era sua
menina mimada.
Malcom também
os alcançou,
avermelhado e
suarento. Nunca
tinha podido
correr tão rápido
como Niall ou a
própria Willow,
mas, em troca,
era o moço mais
forte de todo
Meggernie.
— O que
faremos com ela,
Niall? —
perguntou, com
um enorme
sorriso.
— Não sei...
Atiramo-la ao
lago?
— Não!! —
Protestou ela,
rindo.
— Já sei!
Obrigaremos que
nos faça uns
pastéizinhos para
a sobremesa —
Exclamou
Malcom.
— Ah! E como
pensa me
obrigar?
Seu irmão a
olhou elevando
ambas as
sobrancelhas
repetidas vezes e
lhe mostrou as
mãos, colocadas
como as garras
de um urso. Niall
lançou uma
gargalhada ao vê-
lo e o imitou.
Willow chiou
porque sabia o
que vinha a
seguir, mas por
mais que lutou
não pôde
escapar. Os
gêmeos se
lançaram sobre
ela e lhe fizeram
cócegas até que
lhe doeu as tripas
da risada.
— Basta, rendo-
me, rendo-me!
Farei-lhes os
pastéizinhos,
farei-os!
E enquanto ria,
uma feia nuvem
escura tampou o
sol daquele céu
antes limpo. Os
alegres gritos de
seus irmãos
cessaram e
Willow se
encontrou de
repente só
naquele prado,
desorientada.
Levantou-se do
chão e abraçou
seu corpo
tentando
proteger-se do
frio gélido que de
repente flutuava
no ambiente. A
erva verde ao seu
redor se secou e
perdeu sua
brilhante cor.
Tudo era silêncio
e o ar se voltou
cinza. Notou um
pesado amargo
no estômago e
um desamparo
brutal, só em
meio daquele
pântano. E então
ao longe divisou
uma figura
escura, que se
aproximava
montada sobre
um enorme
cavalo que
chutava o chão
com seus cascos
poderosos em
direção a ela.
Estremeceu de
terror. Era a
morte,
certamente, que
vinha procurá-la.
Mas não.
Quando se
aproximou o
suficiente,
Willow pôde ver
o rosto do
cavaleiro e teve
ainda mais medo
que ao próprio
ceifador.
Era Ewan
Campbell, que se
aproximava cada
vez mais, com o
rosto contraído
em uma careta
feroz e violenta,
com a espada
desembainhada e
os olhos
injetados de
sangue.
Quando esteve
quase sobre ela,
Willow, aterrada,
só pôde gritar.

Despertou
sobressaltada.
Incorporou-se e
notou que tinha
os dedos
crispados ao
redor da pele que
a cobria. Olhou
ao seu redor com
olhos espantados
até que recordou
que se
encontrava na
masmorra do
Innis Chonnel.
— Menino,
encontra-te bem?
A voz do guarda
lhe chegou detrás
da porta de
madeira.
Não, não se
encontrava bem,
mas não tinha
vontade de
explicar a um
desconhecido.
— Por que
gritaste? —
Insistiu o
homem.
— Há um rato.
— Inventou.
Escutou as
gargalhadas secas
do outro lado e
não se
surpreendeu que
ria dela. Supôs
que ele, em seu
lugar, teria pego
o rato com uma
mão e lhe teria
arrancado a
cabeça de uma só
dentada. Assim
eram os homens
Campbell.
— Menino, ou
endurece a pele,
ou o vais estar
muito cru para
ganhar o favor
do laird.
Justo o que ela
pensava.
— Já
amanheceu? —
Perguntou-lhe,
mudando de
assunto. Não ia
explicar-lhe que
ela jamais
chegaria a ser o
guerreiro que
todo mundo
pretendia.
— Faz um
momento, sim.
— E aqui não
dão café da
manhã aos
detentos?
Aproximou-se
até a janela da
porta para poder
ver o homem que
falava com ela,
mas assim que
apareceu o nariz,
o guarda deu um
golpe à madeira,
sobressaltando-a.
— Não tente à
sorte e te afaste
um pouco. Não
devo te dar
conversa.
As tripas de
Willow rugiram
como protesto a
semelhante trato.
Não tinha
jantado a noite
anterior e seu
estômago a
recordava
clamando com
insistência.
— Quanto
tempo me vão ter
aqui?
Silêncio.
— Posso ver ao
John ou a Maud?
Mais silencio.
— Sou o único
preso nas
masmorras?
— De acordo!
Fecha a boca. É
mais molesto que
um enxame de
abelhas... — O
guarda bufou do
outro lado da
porta e deixou
ver seu rosto
através da janela.
Willow
comprovou que
era um homem
moreno com
barba, de olhos
claros, ao que
parecia lhe fazer
tão pouca graça
como a ela estar
naquele lugar. —
Suponho que
agora lhe trarão
um pouco de
comida, o laird
não está
acostumado a
deixar morrer de
fome aos seus
prisioneiros. Não
pode ver
ninguém, é o
único preso e
sairá quando o
laird o ache
oportuno. E
agora te cale, te
afaste da porta e
não me crie
problemas.
Willow se
apartou, com o
coração
encolhido ante as
perspectivas que
se abriam em seu
futuro. Ewan
Campbell era
realmente um
homem cruel. A
imagem de seu
sonho retornou
com força
quando fechou
os olhos para
respirar fundo, e
voltou a abri-los,
espantada. Era
um monstro, não
encontrava outro
adjetivo.
Notou então que,
como cada
manhã ao
despertar, sua
bexiga precisava
ser esvaziada.
Olhou a seu
redor,
desesperada.
Tinha que fazer
ali mesmo?
Certamente, pelo
aroma daquele
lugar, não era a
primeira pessoa
que se via
obrigada a isso.
Agarrou ar e se
armou de
coragem para
passar por essa
humilhação o
antes possível.
Dirigiu-se a uma
esquina e
colocou a mão na
cintura das calças
para baixar-lhe.
Graças ao céu, a
escuridão lhe
outorgava a
intimidade
suficiente como
para que o
guarda, no caso
de que sentisse
curiosidade e
olhasse através
da janela, não
percebesse que
era uma mulher.
Entretanto, o
alívio lhe durou
um instante,
justo até que o
som que delatava
sua necessidade
encheu aquela
masmorra
sumida no mais
desesperador dos
silêncios. Sentiu-
se mortificada e
humilhada, sua
cara ardia pela
vergonha.
De novo as
lágrimas
apareceram em
seus olhos
enquanto
recompunha sua
roupa. Dirigiu-se
ao canto oposto
da cela e se
sentou no chão,
abraçando os
joelhos. Odiou
ao laird com
todas as suas
forças e jurou
que um dia
pagaria todas
juntas.

CAPITULO 12
Três dias depois,
Ewan amanhecia
uma vez mais
com a imagem
do moço na
cabeça.
Na realidade,
aquela visão de
Will vestindo-se à
beira do lago,
com o cabelo
moreno molhado
e os olhos azuis,
enormes,
mortificava-o a
cada instante. O
laird se
perguntava uma e
outra vez se o
castigo imposto
tinha sido justo,
dado que o
garoto não
conhecia seus
costumes e não
podia saber que o
fato de sair às
escondidas da
fortaleza em
plena noite,
deixando além
disso uma porta
aberta, constituía
um delito grave.
Mas não se
arrependia,
porque, por
muito severo que
pudesse parecer,
estava
convencido de
que aprenderia a
lição.
Em que pese a
tudo, não tinha
podido evitar
baixar à
masmorra, a
mesma noite de
seu fechamento,
para lhe deixar
uma de suas
peles mais
quentes.
Encontrou-o
dormindo,
enrolado sobre o
chão, e teve que
apelar a toda sua
força de vontade
para não tirá-lo
dali e devolvê-lo
ao calor de sua
choça, junto a
sua família.
Naquele
momento
vislumbrou a
debilidade que
Will despertava
nele e não
gostou. Por isso
o deixou ali; e
por isso, três dias
depois, ainda não
lhe tinha
concedido a
liberdade.
Isso não
significava que
não pensasse
nele.
Constantemente.
O que ia fazer
com esse moço?
John lhe tinha
confessado que
queria treinar
com os homens,
que ele mesmo
lhe estava
ensinando o
manejo da
espada. Ewan
não acreditava
que Will estivesse
capacitado ainda
para isso. Seu
corpo era débil,
seu aspecto frágil
o convertia em
um alvo fácil.
Esse ar de
inocência que lhe
rodeava, o
mesmo que lhe
tinha fascinado
desde o começo,
confundindo-o
com uma criatura
saída das fábulas,
incapacitava-o
para converter-se
em um temível
guerreiro.
Entretanto, como
deferência para
John e a sua
família, que uma
vez lhe ajudaram
desinteresadamen
te e que agora
tinham deixado
tudo para unir-se
ao seu clã, estava
decidido a
converter à
pelanca que
tinham adotado
em todo um
homem.
O porquê esse
menino de
repente era tão
importante para
ele e lhe
obcecava era
todo um
mistério. E não
queria se
aprofundar nos
estranhos
sentimentos que
o assolavam
quando sua
imagem
retornava a sua
cabeça com
insistência...
Jamais tinha tido
a ninguém assim
sob seu cargo,
era isso. A
novidade, a
compaixão por
essa criatura
frágil era o que
conseguia
perturbá-lo,
pensou.
Esse dia se
levantou decidido
a terminar com o
castigo. vestiu-se
rápido, mas,
antes de poder
dirigir-se à
masmorra, um de
seus conselheiros
o interceptou no
grande salão.
— Laird, chegou
uma mensagem
para ti.
O velho Adair
lhe estendeu o
pergaminho para
que o lesse. Por
seu gesto, Ewan
estava
convencido de
que ele já era
conhecedor de
seu conteúdo.
Com um suspiro
resignado,
desembrulhou-o
e estudou a direta
nota, onde lhe
anunciavam a
visita do laird do
clã vizinho,
James MacNab,
em uns dias.
— Sabemos o
motivo que o traz
para o Innis
Chonnel? —
Perguntou.
— Posso intui-lo,
mas não sei com
certeza.
— O ataque aos
MacGregor?
O velho Adair
assentiu sem
deixar de
observar a
expressão de seu
senhor. Por sorte,
Ewan tinha
aprendido a
dissimular muito
bem suas
emoções e não
deixou
trasparecer o que
realmente
pensava da visita.
— Dou ordem
de que vão
preparando tudo
para quando
chegarem?
— Sim. MacNab
será tratado com
a hospitalidade
que merece.
Afastou-se sem
dar mais
explicações e ao
conselheiro ficou
a dúvida da
índole dessa
hospitalidade.
Algumas vezes, o
caráter fechado
daquele moço
exasperava ao
velho Adair, mas
não ficava mais
remédio que
tolerá-lo. Sem
dúvida, não era
como seu
antecessor, mas
isso não
significava que
não pudesse
chegar a se
tornar como ele,
através de seus
conselhos, quem
governasse o clã
Campbell como
tinha estado
fazendo sempre.
Apenas ao descer
os degraus que
davam acesso às
masmorras,
Ewan notou que
a temperatura
descia vários
graus.
Aproximou-se da
porta da cela
onde tinha
metido ao Will
três dias atrás e
pediu ao guarda
que a abrisse.
— O prisioneiro
deu problemas?
— Não, laird. O
primeiro dia
protestou um
pouco, mas
depois esteve
calado todo o
tempo.
Suas palavras
incomodaram ao
Ewan. Entrou
naquele cubículo
que, pela
primeira vez,
notou que estava
vazio, e procurou
na penumbra até
dar com a figura
do moço. Estava
atirado no chão,
mas se levantou
assim que viu
que alguém o
observava da
porta.
— Aprendeste a
lição? —
Espetou-lhe o
laird, que não
podia ver bem
nessa escuridão
os traços de Will.
— Que lição? —
Ousou perguntar.
Sua voz soava
cansada e rouca
pela falta de uso.
— Menino, é
duro da cabeça,
ou o que?
Willow não
respondeu. Não
tinha que fazê-lo,
certo? O laird já
formou sua
opinião, nada do
que dissesse
poderia mudá-la.
— Me diga que
não vais voltar a
pôr em perigo a
minha gente. —
Pediu,
apontando-o
com um dedo.
— Nunca foi
minha intenção
fazer tal coisa. —
Sussurrou, sem
prometer nada
para o futuro.
— Bem. —
Ewan pareceu
dar-se por
satisfeito com
essa afirmação.
— Te acredito. É
tão inconsciente
que não podia
saber quão grave
é deixar a
portinhola aberta
na metade da
noite. — Disse
como se de
verdade pensasse
que Will era
parvo desde seu
nascimento. —
Mas eu o
arrumarei. A
partir de agora,
está sob meu
cargo. Eu te
ensinarei a te
comportar como
um autêntico
Campbell, e a
pensar como tal.
Tenho muita
admiração ao
John, mas não
acredito que seja
uma boa
influência para
ti... É muito
brando contigo.
Assim não
aprenderá nunca.
As palavras do
laird lhe
congelaram o
sangue nas veias.
Willow esteve
tentada de lhe
gritar que
preferia mil vezes
ficar trancada
nessa pestilenta
masmorra que
converter-se em
seu "tutelado".
— Não diz nada?
— O que poderia
dizer, laird?
Ewan bufou,
exasperado. Cada
vez estava mais
convencido de
que o moço não
tinha conserto,
mas não podia
fazer outra coisa.
Converteu-se em
uma autêntica
obsessão para
ele, devia
transformá-lo em
um homem. Um
que não se
distinguisse do
resto, que
passasse
desapercebido no
grupo de
guerreiros, para
ver se assim
podia deixar de
pensar nesses
olhos azuis que o
martirizavam
cada noite.

Quando Maud a
viu aparecer,
afogou uma
exclamação de
alívio. Acolheu-a
entre seus braços
e a espremeu tão
forte que Willow
pensou que lhe
quebraria alguma
costela.
— Levo três dias
sem dormir. O
que fez,
demônio? Por
que o laird te
castigou nas
masmorras?
A preocupação
em sua voz
provocou um nó
de emoção em
sua garganta. Só
seu pai, seus
irmãos e sua
querida Enjoe
tinham
demonstrado um
carinho tão
sincero para ela.
Willow lamentou
ter ocasionado a
preocupação da
mulher.
— Ignorava que
o laird se tomasse
a segurança do
castelo tão a
peito. Já não me
esquecerei mais.
Maud se afastou
com um estalo de
seus lábios e a
observou de cima
abaixo.
— Está mais
magro e abatido,
precisa descansar.
— Logo se
aproximou de
novo e enrugou
o nariz. — E um
banho, com
urgência.
— Um banho é o
que me meteu
nesta confusão.
— Protestou
Willow. — Além
disso, o senhor
me pediu que me
reúna com ele no
pátio de
treinamento em
seguida.
— Em seguida é
um conceito com
muitos matizes.
Primeiro te
asseará, logo
tomará um caldo
quente e então, e
só então, poderá
ir ver o que quer
o laird.
Willow abriu a
boca para
protestar, mas a
mulher atirou de
seu braço em
direção a sua
choça e não teve
opção de resistir.
Por sorte, a idade
do moço
obrigava a Maud
a lhe deixar
intimidade para
suas limpezas,
assim Willow
pôde lavar-se
com a água da
terrina e trocar
de roupa sem
preocupar-se de
que descobrissem
sua identidade.
Quando esteve
preparada,
reuniu-se com ela
na cozinha e
tomou o café da
manhã que seu
corpo pedia aos
gritos, sob o
atento olhar de
outros serventes.
Alguns moviam a
cabeça com
desaprovação, e
outros, como a
jovem Agnes,
olhavam-na
como se atrás de
sua breve estadia
nas masmorras
tivesse um ar
muito mais
interessante.
— Me diga, Will.
— Perguntou,
sentando-se a seu
lado com uma
piscada coquete.
— É verdade que
aí abaixo se
escutam os
lamentos dos
homens
torturados no
passado?
Willow notou um
desagradável
calafrio na nuca.
Que classe de
pessoa sentia essa
macabra
curiosidade?
Separou-se dela
antes de falar.
— Eu não
escutei nada.
Agnes se
aproximou de
novo dela.
— Nem sequer
pelas noites? —
Sussurrou.
— Aí abaixo está
tão escuro que
não podia
distinguir quando
era de dia ou de
noite, assim não,
sinto muito.
Sem mais,
levantou-se e saiu
da cozinha. Não
queria seguir
respondendo as
suas perguntas e
suportando esse
olhar predador
sobre ela. De
verdade essa
jovem estava
interessada?
Encontrava seu
disfarce de
homem atraente?
Willow sacudiu a
cabeça, confusa.
Teria que ter
muito cuidado
com Agnes se
não queria que
descobrisse o que
se escondia sob
suas roupas de
moço.
Pôs-se a correr
quando os sinos
da capela
começaram a
soar, temendo a
reprimenda do
laird por haver-se
entretido tanto.
Quando chegou
ao pátio de armas
descobriu que os
homens já
tinham
começado os
treinamentos.
Procurou com o
olhar até que deu
com a enorme
figura de Ewan
Campbell, que
combatia com a
espada contra um
de seus
guerreiros. Sem
dúvida, era um
homem temível.
Seus golpes eram
duros e secos,
contundentes.
Sua expressão
concentrada
recordou ao seu
irmão Malcom,
porque possuía a
mesma
intensidade e a
mesma entrega
na batalha. Mas,
ao contrário,
Malcom jamais
tinha
demonstrado ser
tão desumano
com seus
inimigos...
Não quis
recordar o dia do
ataque, nem os
rumores
pulverizados a
respeito da sorte
de seu querido
Niall, porque
tinha medo de
sua própria
reação. Ali havia
muitas armas…
E se, fingindo
estupidez, uma
dessas espadas
tão afiadas se
cravava nas
costas do laird
por engano?
— Vamos,
Willow, se
concentre. —
Repreendeu a si
mesma.
A idéia era uma
autêntica
estupidez nascida
da raiva que lhe
roía as tripas cada
vez que o olhava.
O mais provável
era que se ousava
fazer tal coisa,
um guerreiro tão
treinado como
Ewan Campbell
se esquivaria do
ataque com
facilidade e ela
acabaria morta
por sua
impulsividade.
— Will, moço,
me alegro de ver-
te.
A voz amável de
John a tirou de
suas perigosas
reflexões. O
ruivo a olhou
com seus olhos
bondosos e, igual
tinha feito Maud
um momento
antes, repassou
seu aspecto para
certificar-se de
que estava bem.
— Não se
preocupe, é
necessário mais
que uns dias nas
masmorras para
acabar comigo.
— Tentou sorrir,
mas seus lábios
não obedeceram.
Quão único
conseguiu foi
uma careta
trêmula.
— Tomara que
isso seja certo. —
Vaiou uma voz a
suas costas. —
Porque te
asseguro que
seus dias de
fechamento não
serão nada
comparados com
o que te espera.
Willow
estremeceu ao
escutar a fria
advertência do
laird. Virou-se
para lhe
encontrar
olhando-a
fixamente, com
as pernas
separadas e os
braços cruzados
sobre o peito nu.
Céu Santo, esse
homem era
enorme. Poderia
parti-la em dois
só com suas
mãos.
— Pega uma
espada. —
Ordenou.
Ela tragou saliva.
Olhou ao seu
redor, duvidando.
— Toma, moço.
— Disse Colin, o
segundo no
comando daquela
tropa que Ewan
treinava.
Ofereceu-lhe sua
enorme espada e
ela a pegou com
dedos trementes.
Mal podia
sustentá-la, mas
se situou frente
ao laird
levantando o
queixo, disposta a
fazê-lo o melhor
possível.
Não esperava o
ataque.
Ewan proferiu
um terrível grito
e se lançou
contra ela sem
aviso prévio.
Willow
retrocedeu um
passo e só teve
tempo de elevar a
arma justo para
deter o golpe do
guerreiro. A dor
se estendeu por
seus braços e
sacudiu todo seu
corpo. Suas mãos
deixaram cair o
aço e tropeçou
para trás, ao
tempo que os
homens que
contemplavam a
cena estalavam
em gargalhadas.
Entretanto,
quando levantou
a vista para o
rosto do laird,
este não ria.
Observava-a com
o cenho franzido
e os lábios
apertados em
uma linha de
decepção.
— É muito
brando, não é
digno de
sustentar uma
espada.
Willow não disse
nada, não podia
falar. Quanto
desejava ter a
força de seus
irmãos! Se tivesse
sido um varão,
agora não se
encontraria nessa
situação. Se ela
fosse Malcom,
teria podido
deter o ataque
daquele miserável
e lhe teria fundo
a espada no peito
sem vacilar. Seus
pensamentos
devem ter
transparecido em
seu rosto, porque
o laird mudou
sua expressão e
deu um passo
para ela.
— Se consigo
canalizar na
direção adequada
toda essa raiva
que leio em seus
olhos, talvez faça
de ti um homem.
— Tentarei não
lhe decepcioná-
lo, senhor. — As
palavras lhe
escaparam entre
os dentes com
um claro tom de
arrogância.
Ewan esboçou
um sorriso que
não alcançou aos
seus olhos.
— Mais vale que
não faça. —
Ameaçou.
CAPITULO 13

Odiava a esse
homem.
Não podia ser de
outra forma.
Ewan Campbell
ganhava sua
antipatia dia a
dia, com cada um
de seus gestos,
com cada palavra
que saía de sua
boca. Inclusive
embora não fosse
o assassino de
seu irmão,
detestaria-o com
toda sua alma.
— Sobe mais os
braços. —
Espetava, uma e
outra vez. —
Não, assim não...
É muito frouxo,
Will... Sujeita
bem a espada!
Vamos, tente de
novo...
Deus bendito!
Era incansável,
não a deixava
respirar. O
primeiro dia de
treinamento, pô-
la a conduzir
pedras na zona
onde outros
homens
reparavam a
muralha, na ala
leste do castelo.
Disse que assim
seus músculos se
desenvolveriam.
Antes da hora do
almoço, Willow
tinha desmaiado
pelo extremo
esforço.
O segundo dia,
colocou-a frente
a um boneco de
palha e lhe
entregou uma
espada que mal
podia levantar.
Ordenou-lhe
cortar a cabeça
do espantalho de
um só golpe, ante
o olhar atento e
divertido do
resto dos
homens.
As primeiras
tentativas
provocaram
gargalhadas e
comentários
jocosos a
respeito da
escassa força de
Will, que não
conseguia elevar
o aço além das
pernas do
boneco. Ewan
não a deixou
descansar e, no
final, o pobre
boneco acabou
destroçado... Mas
com a cabeça
ainda pega aos
seus ombros. O
laird bufou seu
descontentament
o até que a
Willow arderam
as orelhas de
humilhação.
O terceiro dia,
Ewan lhe deu um
escudo de
madeira e
ordenou aos
outros que a
atacassem com
suas armas. Sua
missão: proteger-
se e repelir os
ataques na
medida do
possível. De
noite, Willow
tinha hematomas
por todo o
corpo, embora a
pior parte o tinha
levado sem
dúvida em seu
traseiro. As
brutais tentativas
de seus
companheiros
conseguiram que
ela caísse em seu
traseiro uma e
outra vez, para
sua mortificação.
O quarto dia, e o
quinto, e o sexto,
foram igualmente
desastrosos e
extenuantes.
Uma semana
depois de ter
começado seu
treinamento,
Willow estava
convencida de
que Ewan
Campbell a
mataria igual
tinha feito com o
Niall. Só que lhe
tiraria a vida
pouco a pouco,
lentamente,
porque o
padecimento ao
que a submetia
durante os
treinamentos não
podia encontrar
outro final.
E tudo para que?
Pensava Willow,
deprimida.
Para nada, essa
era a verdade.
Porque os outros
guerreiros
Campbell ainda
não lhe tinham
outorgado sua
confiança. Cada
vez que tentava
aproximar-se
deles para
conversar, riam
em sua cara ou
lhe davam as
costas. Alguns,
inclusive,
cuspiam no chão
quando se dirigia
a eles, somente
para que ficasse
bem claro o
muito que a
desprezavam.
Aos seus olhos, o
moço Will era
uma autêntica
desonra para seu
exército.
— Eu acredito
que o está
fazendo bem. —
Disse John, no
sétimo dia,
enquanto Will
recolhia todas as
armas atiradas
pelo chão do
pátio como lhe
tinham ordenado.
— Então por
que me confiam
as tarefas dos
escudeiros? —
Queixou-se.
— Porque se
continuar assim
será o único para
o que servirá.
O bramido
furioso de Ewan
a suas costas
surpreendeu a
ambos. Willow
virou e a visão do
laird, vestido
apenas com o
manto dos
Campbell
enrolado à
cintura a modo
de saia,
perturbou-a.
Parecia um
autêntico
selvagem, com o
cabelo castanho
que caía até os
ombros
alvoroçado pelo
treinamento e a
expressão
assassina de seu
rosto. O amplo e
musculoso peito
nu famoso com
suas cicatrizes de
batalha, os
potentes braços
cruzados e as
pernas separadas
lhe davam um ar
ameaçador.
— Quer ser um
escudeiro toda
sua vida, ou
possivelmente
um insignificante
servente? — O
exortou.
Esse homem vil
desfrutava
insultando-a.
Talvez foi aquele
pensamento o
que lhe deu
coragem
suficiente para
franzir o cenho
ante seu olhar
ameaçador,
porque se
encontrou
respondendo ao
laird dos
Campbell sem
mostrar o
mínimo respeito.
— Não acredito
que os serventes
de sua casa sejam
insignificantes e é
uma ofensa que
seu próprio laird
opine algo assim.
— Will! —
Ofegou John, ao
seu lado,
surpreso pela
ousadia.
Mas era tarde.
Willow sentia que
a ira fervia em
seu interior e se
rebelava contra
esse tirano que
tinha convertido
sua vida em um
inferno. Soube
que, se tivesse
forças, se não se
encontrasse tão
exausta, teria se
atirado sobre ele
para lhe arranhar
a cara e tentar lhe
tirar os olhos.
Apesar das
conseqüências.
O rosto de Ewan
se tornou mais
sombrio ainda.
Esse verme se
atrevia a lhe
enfrentar na
frente de seus
guerreiros,
intolerável! Com
duas pernadas
chegou até ele e
lhe agarrou pelo
colarinho.
— Como ousa
me falar nesse
tom?
Seus olhos azuis
não mostraram
nenhum pingo de
arrependimento.
Agüentou
estoicamente a
investida,
aguardando o
golpe que
chegaria. Um
murro desse
animal poderia
matá-la, era
consciente, mas
nesse momento
lhe importava
bem pouco. Se
lhe cuspia na
cara... Toda sua
gente recordaria
a ofensa depois
de sua morte?
Seria uma boa
forma de deixar
esse mundo,
pensou,
acumulando
saliva detrás de
suas bochechas
enquanto a
sacudia.
Entretanto, ao
ver que o menino
não se arredava,
o olhar do laird
se suavizou, e
Willow captou a
sutil mudança. A
expressão de seu
rosto deixou de
ser séria para
revelar algo
parecido à
admiração, e o
calor que
encontrou em
seu gesto
dissipou a
vontade de lhe
cuspir. Um
pensamento
estúpido
penetrou em sua
mente: é um
homem muito
bonito. E ficou
embevecida uns
segundos,
inundada naquele
olhar profundo
que pretendia
tragar-lhe inteira.
Como se saísse
de um sonho,
Ewan piscou
várias vezes antes
de soltá-la,
empurrando-a
com força para
afastá-la de si.
John a sujeitou a
tempo para evitar
que caísse de
traseiro contra o
chão. O laird a
apontou com um
dedo enquanto
proferia o castigo
por haver se
atrevido a lhe
falar nesse modo.
— Já que tão
digno acha o
trabalho de um
servente, a partir
de hoje, se
limitará a essas
tarefas. Será meu
ajudante de
câmara, meu
criado. Lá onde
eu vá, virá
comigo. Estará
pendente de
minhas
necessidades e de
tudo que te
ordene. Fica
claro? Não há
mais treinamento
para ti, nunca
chegará a ser um
de meus
guerreiros. —
Dito isso, deu-lhe
as costas e
abandonou o
pátio como se o
levasse o próprio
diabo.
Willow ficou
desolada. O que
tinha feito? Tinha
perdido a
oportunidade de
chegar a ser mais
um no exército
dos Campbell.
Tinha estragado
sua única
oportunidade
para que aqueles
homens rudes e
insensíveis a
aceitassem como
a um igual, e
poder inteirar-se
assim de suas
façanhas, de seus
segredos
inconfessáveis,
dos pecados que
lhes impediriam
de alcançar o céu
prometido
quando
falecessem.
Porque, estava
convencida,
todos eles iriam
ao inferno.
Não podia ser de
outro modo. Não
tinham piedade,
não tinham
respeito por nada
que saísse de suas
normas, de sua
forma de pensar.
Eram cruéis,
viscerais e
irascíveis. Igual
ao laird que os
comandava.
Willow reviveu o
momento em que
seus olhos
tinham se
conectado, e
voltou a sentir o
mesmo
estremecimento
que a tinha
percorrido dos
pés a cabeça.
Mas, esta vez,
não tinha sido
um calafrio de
medo. Que o céu
a ajudasse,
porque isso
significava que
reconhecia que
Ewan Campbell
era mais humano
do que
aparentava e ela
se precaveu.
Não! Não devia
baixar a guarda,
não devia
permitir que um
só instante de
debilidade
mudasse a
percepção que
tinha a respeito
dele. Podia deixar
de comportar-se
por uns segundos
como o tirano
que realmente
era, mas isso não
o desculpava de
seus crimes. Se
Ewan Campbell
era, como
suspeitava, o
assassino de
Niall, não
merecia que ela
cedesse nem um
ápice em sua
postura.
Odiaria-o até o
final dos tempos,
não havia mais
que falar.

Não entendia o
que lhe estava
ocorrendo.
Aquele moço o
enervava como
nenhuma outra
pessoa no
mundo. Era
incapaz de
manter a calma e
a compostura em
sua presença...
Tinha vontade de
lhe arrancar a
pele! E, ao
mesmo tempo,
sentia a
necessidade de
controlar cada
um de seus
movimentos, de
vigiá-lo, de velar
por ele. Aquela
semana se
converteu em
uma autêntica
tortura. Via a
incapacidade do
menino, como
apertava os
dentes cada vez
que lhe requeria
um esforço
excessivo e o
tentava... Sem
consegui-lo.
Várias vezes o
dominou um
estranho instinto
protetor que lhe
ditava que devia
liberá-lo dos
complicados
exercícios aos
que submetia ao
resto dos
homens;
entretanto, a
teimosia de Will
o deixava sem
argumentos. Era
evidente que o
menino jamais
chegaria a ser um
bom soldado,
mas se
empenhava nisso
com toda sua
alma. Ewan
admirava esse
traço de seu
caráter. E
também a
ausência de
protestos. Jamais
se queixava,
jamais emitia
nenhum gemido
de dor ou de
frustração.
Apenas apertava
os dentes,
levantava seu
pequeno queixo
com firmeza, e
voltava a tentá-lo.
Pelas noites,
ainda o perseguia
a imagem de seu
rosto de duende
como uma
maldição. Will
era uma
debilidade que
não compreendia
e que não se
podia permitir. E
aquele dia,
quando se
atreveu a
admoestá-lo
diante de seus
homens, foi o
cúmulo. É obvio
que Ewan não
acreditava que os
serventes de sua
casa fossem
insignificantes!
Mas aquele
demônio tirava
quão pior levava
dentro. E quando
o tinha sacudido,
seus olhos...
Deus Todo-
poderoso! Por
um momento,
aquele irritante
moço o tinha
olhado como o
olharia uma
jovem obcecada
por sua atitude.
Conhecia esse
olhar, tinha tido a
sorte de receber
muitos desses
por parte de
distintas
mulheres e jamais
os tinha
desperdiçado.
Mas Will... Era
um menino, por
todos os
infernos!
Contudo, o pior
não tinha sido
descobrir esse
peculiar brilho de
atração nos olhos
azuis do menino.
Não, isso.
O pior tinha sido
o fato de
constatar que seu
estômago se
contraiu ante
esse olhar. Tinha
reagido a ele, seu
corpo tinha
correspondido!
Não o
compreendia.
Jamais tinha
gostado dos
efeminados,
herança que
certamente lhe
tinha deixado a
cruel tutela de
seu pai, que
considerava as
práticas sexuais
entre dois
homens
abomináveis. O
que lhe estava
ocorrendo?
Ewan, trancado
em sua habitação
pelo calor que
sentia, tampou-se
a cara com as
mãos. Teria que
ter jogado de
suas terras a esse
pirralho assim
que se
apresentou ante
ele...
Em lugar disso,
tinha-lhe
nomeado seu
criado pessoal.
Para que? Para o
ter controlado,
para poder vê-lo
todos os dias?
Sabia que sua
decisão carecia
de lógica e que
sua estabilidade
emocional corria
um grave perigo.
Mas tinha que
demonstrar a si
mesmo que era
capaz de superar
aquela estúpida
obsessão. Ele não
era essa classe de
homem, não se
deixaria enrolar
pelos olhos azuis
de um duende, e
enfrentaria a esse
demônio que
escurecia sua
masculinidade
custasse o que
custasse.
Não saiu de seu
quarto em toda a
tarde, perdido em
seus próprios
pensamentos. Já
de noite, uns
tímidos golpes na
porta chamaram
sua atenção.
— Entre.
O responsável
por suas insônias
entrou levando
uma bandeja com
comida e uma
jarra de cerveja.
Will, cumprindo
com suas novas
funções, era o
encarregado de
lhe levar o jantar,
já que o senhor
não tinha descido
ao grande salão
na hora
acostumada.
— Trago-lhe um
pouco de
comida, laird. —
Disse em um
sussurro
envergonhado.
— Também...
Também queria
me desculpar.
Ewan elevou
uma de suas
sobrancelhas ante
o tom contrito
do moço.
— John te
obrigou, não é
assim?
— Foi sim. —
Admitiu com
sinceridade.
— Se não sentir
realmente
arrependimento
por suas palavras
de antes, prefiro
que não me peça
perdão.
Willow o olhou
fixamente,
decidindo se
fazia caso ao
John ou a seu
orgulho. Esse
tempo de
hesitação indicou
ao Ewan que se
queria uma
verdadeira
desculpa, podia
esperar sentado.
— De acordo,
vejo que é mais
obstinado do que
já tinha
percebido. Deixa
aí a bandeja e
saia. — Espetou
com secura.
Willow
obedeceu, mas,
antes de partir,
colocou-se frente
ao laird, com as
mãos nas costas e
as pernas
separadas,
tentando
aparentar uma
masculinidade da
que carecia.
— Senhor... Eu...
Bom, eu gostaria
de saber no que
vão consistir
minhas novas
tarefas. Se não ir
treinar com os
outros homens...
O que farei?
Voltarei para as
pocilgas?
Apesar de que
tentava soar
submisso, o tom
de Will tinha
certo ar de
rebeldia. Ewan
não podia
acreditar que esse
descarado tivesse
a ousadia de falar
olhando-o nos
olhos, sem
intimidar-se. Não
parecia o mesmo
que tinha
chegado no
primeiro dia ante
sua presença,
quando se
escondia atrás
das saias de
Maud. Embora,
se mal recordava,
sempre olhou
para ele como se
pensasse que o
Senhor dos
Campbells, em
seu julgamento,
merecia todos os
males do mundo.
Levantou-se da
cama onde estava
sentado, apenas
para impor sua
estatura ao moço.
Imitou seu gesto
e pôs as mãos
atrás das costas,
separando as
pernas. Willow
sentia que aquele
homem enorme
absorvia todo o
ar e a luz da
habitação com
sua presença.
Teve a prudência
de tremer
ligeiramente ao
notar que a
expressão do
laird advertia do
perigo que corria.
— Se dedicará ao
que eu queira que
te dedique. Fará
o que eu queira
que faça em cada
momento, essas
serão suas
tarefas.
Apresentar-te-á
ante minha porta
ao amanhecer,
todos os dias, e já
iremos vendo
como pode me
ser útil.
Suas palavras
estavam
destinadas a
esmagar a faísca
de rebelião que
desprendiam
aqueles olhos
azuis, mas
obtiveram o
efeito contrário.
Will ergueu ainda
mais seus
ombros e elevou
a cabeça.
— Como
ordenar, meu
senhor —
Respondeu, com
uma deixa
beligerante em
seu tom.
Saiu do
dormitório em
seguida, para não
lhe dar tempo
para reagir. E
Ewan pensou
que esse moço
tinha que estar
mal da cabeça
para provocá-lo
desse modo. Sem
querer,
encontrou-se
admirando sua
enxuta figura e
seus andar de
menino... Pelas
barbas de
Lúcifer! Sem
dúvida, o menino
lhe tinha
contagiado
alguma classe de
enfermidade,
porque o que
ocorria com ele
não era normal.
Não podia ser,
pensou.
Um senhor das
Highlands não
podia estar
encantando-se
por um de seus
serventes... Para
o cúmulo, varão e
efeminado.
CAPITULO 14

Vários dias
depois receberam
a anunciada visita
dos MacNab.
Ewan, que tinha
disposto de quase
todo o tempo de
Will desde que
lhe nomeou seu
servente
particular, deixou
de monopolizá-lo
para que pudesse
ajudar aos outros
a preparar o
castelo para seus
convidados.
Para Willow foi
uma autêntica
liberação.
O laird dos
Campbell era
déspota e
autoritário.
Nunca lhe
satisfazia nada do
que ela fazia,
fosse lustrar suas
botas ou lhe
servir o vinho
quando o pedia.
Jamais
encontrava em
seus lábios uma
palavra de
agradecimento,
ou um elogio. E
era estranho
porque, embora
o detestava com
toda sua alma,
tinha descoberto
que desejava que
lhe reconhecesse
todo o esforço
que fazia cada
dia.
Às vezes, quando
lhe ordenava
permanecer de
pé, perto,
simplesmente se
por acaso o
necessitava para
algo, Willow se
encontrava com
os olhos fixos
naquele rosto
atrativo.
Embevecia-se lhe
olhando a boca
enquanto ele
conversava com
seus homens, ou
com os dois
velhos
conselheiros, sem
querer
reconhecer ante
si mesmo que
aqueles lábios lhe
pareciam muito
másculos.
Observava como
lhe caíam as
mechas de cabelo
castanho pelos
olhos, e o gesto
brusco que
sempre fazia para
retirá-los de sua
cara. Escutava
suas palavras de
líder, dando-se
conta de que
coincidia em
muitas das
decisões que
tomava no
referente aos
interesses do clã.
Via-o discutir
com seus
conselheiros,
fazendo-se valer
ante esses dois
anciões azedos
que pretendiam
desrespeitá-lo
aproveitando-se
de sua falta de
experiência. O
laird terminava
impondo seu
critério, o que
Willow
encontrava quase
sempre acertado,
e o admirava por
isso.
Por assombroso
que resultasse,
deu-se conta de
que Ewan
Campbell podia
chegar a ser
bastante
generoso e muito
justo com sua
gente. Nesses
momentos
Willow chegava a
esquecer que o
homem ao que
servia podia ser,
na realidade, o
assassino de seu
irmão, e estar
perto dele se
convertia em
uma autêntica
tortura. Resultava
perturbador estar
presente em seus
aposentos
quando se despia
sem nenhum
pudor, apesar de
que ela
costumada
desviar sempre a
vista a tempo.
Encontrava
hipnótica a
maneira em que
se barbeava
algumas manhãs,
vestido tão
somente com
suas calças. Era
desconcertante a
necessidade de
buscá-lo sempre
com o olhar, para
ver onde se
encontrava, para
vigiar cada um de
seus
movimentos.
Mas, sobre tudo,
resultava muito
inapropriado que
um estranho
calor se instalasse
cada dia na boca
de seu estômago
quando chamava
a sua porta e se
apresentava ante
ele para receber
as instruções de
tudo o que teria
que levar a cabo
durante a
jornada.
Assim, ver-se
livre do senhor
durante aquele
dia foi uma pausa
para ela, uma
oportunidade de
voltar a represar
seus sentimentos
para o caminho
da vingança, a
qual se esfumava
dia a dia em seu
horizonte ao não
encontrar
nenhuma prova
que confirmasse
as escuras
suspeitas que lhe
tinham levado até
o Innis Chonnel.
Sob a direção de
Jane, a ama de
chaves,
dispuseram no
grande salão
largas mesas para
receber aos
visitantes, e todos
os serventes
andavam
apressados para
que tudo
estivesse a gosto
de seu laird.
A cozinheira,
Edith, vociferava
ordens a torto e a
direito e dos
fogões saíam os
aromas mais
deliciosos que
Willow recordava
ter cheirado em
muito tempo.
Assado de veado,
galo selvagem e
boi; guisados de
cordeiro
acompanhado de
purê de verduras
e frutos secos;
pães pretos
recém assados e
distintas
compotas de
fruta para
acompanhá-los...
Willow não podia
evitar salivar ante
semelhante
festim.
Entretanto, sabia
que sua língua
não degustaria
nenhuma
daquelas
comidas,
reservadas para
os paladares dos
convidados. Essa
noite, os
serventes não
comeriam junto
ao senhor do
castelo, como o
resto das noites.
Enquanto
durasse a visita,
unicamente os
guerreiros e suas
mulheres, junto
com o laird e
seus
conselheiros,
ocupariam o
salão.
— Te mova,
moço, leva estas
bandejas ao salão.
— Ordenou a
mulher, lhe
assinalando com
uma colher de
madeira.
Não perdeu
tempo. Agarrou
dois dos enormes
pratos e seguiu a
Liese, que
também levava
jarras de cerveja
morna para as
ressecadas
gargantas dos
viajantes.
A chegada dos
MacNab
coincidia com a
volta ao Innis
Chonnel do
padre Cameron,
o pároco
encarregado de
velar pela fé
cristã na
fortaleza. É
obvio, estava
convidado a
compartilhar a
mesa do chefe.
Não só todo o
clã lhe tinha um
enorme respeito,
além disso, Ewan
lhe considerava
seu amigo. O
religioso era
conhecido entre
sua gente por sua
alma caridosa e
sua entrega
incondicional na
hora de ajudar
aos mais
desfavorecidos.
Passava longas
temporadas de
viagem, visitando
as granjas
Campbell, as
aldeias onde não
dispunham de
nenhuma
paróquia,
oferecendo sua fé
e seus serviços
religiosos a todo
aquele que o
necessitasse.
Eram tempos
difíceis e
convulsos, muitas
almas estavam
necessitadas do
consolo espiritual
que só homens
como ele podiam
brindar.
Para Ewan, era
uma sorte que
tivesse retornado
justo naquele
momento, ao
mesmo tempo
que os MacNab
apareciam. O
padre Cameron
era das poucas
pessoas nas que
podia confiar
com fé cega e
sabia que teria
um apoio muito
maior contra as
intrigas de seus
visitantes que se
apenas contasse
com seus dois
conselheiros
oficiais.
Por sua parte,
Willow se
alegrava de que
tão somente uns
quantos
privilegiados
tivessem a sorte
de desfrutar
daquele fabuloso
jantar, pois isso
acrescentava
ainda mais
respiro a suas
horas de
liberdade. Era
estressante
permanecer
muito tempo
ante da
intimidante
presença de
Ewan Campbell.
Sua tarefa
consistiria em
tratar com
atenção os
MacNab e
desaparecer,
coisa que estava
desejando.
No salão, os
comensais já
ocupavam seus
respectivos
assentos e se
lançavam como
lobos famintos
sobre a comida
que ia sendo
colocada nos
centros de mesa.
Willow nunca
tinha visto tanta
falta de modos
junta. Recordou
o que diziam
todos de sua
mãe, a doce e
sensata Erinn, lá
no Meggernie:
ela jamais teria
aceitado em seu
salão um
comportamento
semelhante. Seu
marido e seus
filhos podiam ser
uns selvagens no
campo de
batalha, mas não
assim na mesa.
Era evidente que
ali, no Innis
Chonnel, não
havia uma
mulher que se
ocupasse de tais
assuntos. Olhou
ao laird com
curiosidade. Por
que não estava
casado? Era um
homem jovem,
devia ter a
mesma idade que
seus irmãos.
Perguntou-se
onde estaria sua
mãe, a esposa do
anterior chefe do
clã. Os Campbell
necessitavam a
alguém que
pusesse um
pouco de ordem
naquele universo
selvagem deixado
da mão de Deus.
Fixou-se em que
Ewan tinha uma
expressão
taciturna em seu
rosto e pouco
provava um
bocado,
dedicando-se a
beber de sua taça
sem tentar
participar da
conversação.
Sim, Willow não
albergava
nenhuma dúvida
a respeito: era um
mau anfitrião.
Por mais que sua
mesa estivesse
bem provida e
sua adega aberta
a disposição dos
convidados, sua
companhia
distava muito de
resultar
agradável.
Depois de umas
quantas viagens
da cozinha ao
salão e vice-
versa, Willow
notou que um
dos homens
MacNab a seguia
com o olhar.
Estremeceu-se
ante esses olhos
claros como o
hidromel porque,
pela forma em
que a observava,
estava
convencida de
que aquele
guerreiro tinha
adivinhado sua
condição
feminina.
— Ei, menino, te
aproxime!
Willow se
sobressaltou ao
escutar seu
vozeirão,
chamando-a.
Não se tinha
equivocado,
estava pendente
dela e agora teria
que lhe fazer
frente e
dissimular
melhor que
nunca. O
MacNab era
bastante
corpulento, com
o cabelo
comprido e mau
penteado e uma
barba espaçada
de cor parda.
Obedeceu de
ponto e baixou a
cabeça antes de
falar, com a voz
impostada.
— Senhor, deseja
que lhe traga
alguma coisa
mais da cozinha?
— Não te tinha
visto alguma vez
por aqui, quem
é?
Se seu olhar já a
tinha alertado e
incomodado, seu
tom conseguiu
lhe arrepiar todo
o pêlo do corpo.
Entretanto,
Willow se livrou
de responder
porque o grito do
laird, nomeando-
a, trovejou no
salão
interrompendo
todas as
conversações.
— Will!
Foi à reclamação,
com as orelhas
ardendo de
vergonha, pois
todos os olhos da
sala estavam
fixos nela.
Quando chegou
junto à cadeira de
Campbell, a voz
lhe saiu débil.
— O que ocorre,
meu senhor?
A reação de
Ewan a agarrou
despreparada e a
aterrorizou. O
homem agarrou
seu colarinho
com violência e
quase pegou o
rosto ao dele.
Willow esteve a
ponto de afogar-
se com a cólera
que transparecia
nos olhos
castanhos.
— Vai agora
mesmo à cozinha
e não saia dali.
Não te quero
neste salão, não
te quero
rondando por
minha mesa,
entendeste-me?
Soltou-a tão de
repente que
Willow tropeçou
para trás. Morta
de vergonha,
humilhada e
morta de medo,
fez o que o laird
lhe ordenou sem
perder mais
tempo. Deus
bendito! Que
engano tão grave
tinha cometido
para ser
repreendida
desse modo,
diante de todos
os convidados?
Só esperava que,
fora o que fosse,
não implicasse
sua volta às
masmorras; já a
tinha ameaçado
em várias
ocasiões
alegando que sua
incompetência
merecia uns dias
de reclusão, mas
estava
convencida de
que não poderia
suportar
nenhuma hora
metida naquela
cela outra vez.
Notou as
lágrimas
apertando-se
contra suas
pálpebras e
acelerou o passo
para escapar do
salão antes de
que se
derramassem.
Não
compreendia a
esse homem. Era
incapaz de
entender o que
era o que tanto
lhe ofendia. Por
que aproveitava
cada ocasião para
lapidá-la com
seus insultos,
para lhe jogar na
cara quão incapaz
era em cada uma
das tarefas que
tomava. Sentiu
falta do seu pai, e
seus irmãos,
sempre tão retos,
tão sinceros, tão
amáveis com ela.
Tinha estado
lamentando
muitos anos que
a tratassem como
se fosse a jóia do
Meggernie,
porque aquilo
implicava
também viver em
uma jaula de
ouro. E agora
sentia falta de
toda essa
consideração, os
mímos e, acima
de tudo, o amor
incondicional de
sua gente.
Os Campbell não
eram sua gente.
E, certamente,
esse homem
violento e
autoritário não
era seu laird.
Mas, por seu
irmão Niall,
enfrentaria o que
tivesse que
chegar. Não ia
desistir tão cedo.
Averiguaria se
Ewan Campbell
era o responsável
por sua morte,
em cujo caso, só
pedia a Deus a
coragem e a
força necessárias
para lhe cravar
uma adaga no
coração.
CAPITULO 15

— Não foste
muito duro com
o moço? Que
falta cometeu
para merecer tal
reprimenda?
Ewan apartou os
olhos da porta
pela que tinha
saído Will e se
voltou para
James MacNab,
que esperava sua
resposta com um
sorriso inclinado.
Seu gesto
evidenciava o
pouco que lhe
importava a
questão, era
simples
curiosidade… e
outra coisa que o
laird Campbell
descobriu em
seguida.
— Sem ânimo de
ofender, James,
preferiria não
falar sobre a
torpeza de meus
serventes. Já é
bastante
embaraçoso para
mim que não
saibam se
comportar como
lhes manda.
— Nesta ocasião
estou de acordo
com o James. —
Interveio
também o padre
Cameron. —
Não vi que o
moço fizesse
nada mau, Ewan.
— Vós não o
conhecem. Direi-
lhes, por
experiência, que
é melhor que
fique na cozinha.
Sua estupidez
pode chegar a ser
muito molesta.
— Vamos,
vamos, não será
para tanto. —
Apontou James.
— Que interesse
pode ter o chefe
dos MacNab na
sorte que corra
um de meus
serventes?
Seu interlocutor
soltou uma risada
entre dentes.
Ewan sempre
tinha encontrado
a esse
homenzinho
detestável, com
sua baixa
estatura, seus
olhos escuros de
doninha e sua
avidez para tirar
partido de
qualquer
desgraça alheia.
— Bom, fixei-me
em que a meu
tenente, Reed, o
moço lhe tem
agradado. —
Baixou o tom
para acrescentar,
sem que lhe
ouvisse o
religioso. — Sei
que podemos
falar com
confiança, e sei
que sabe dos
gostos um
tanto... Especiais
de meu guerreiro.
É evidente para
todos que o
menino é um
pouco
efeminado, por
isso imagino que
compartilhará as
mesmas
apetências que
Reed assim que
A...
— Esquece-o,
MacNab. —
Ewan lhe cortou
antes de que
continuasse,
porque já se sabia
o discurso.
Sim, conhecia de
sobra os hábitos
sexuais desse
animal do Reed
MacNab. E, por
isso mesmo,
jamais
consentiria em
exercer de
alcoviteiro entre
o guerreiro e
qualquer das
pessoas que
estavam sob seu
amparo no Innis
Chonnel.
Essa máxima se
reafirmava de
maneira cortante
tratando-se de
Will.
Esse era o
motivo pelo que
o tinha tirado do
salão. Tinha que
afastá-lo dos
olhos luxuriosos
de Reed e de sua
mente suja e
infecta. Ewan
não aceitava de
bom grado as
práticas sexuais
dos efeminados,
por todos era
sabido, mas no
caso de Reed sua
reticência se
acrescentava de
maneira notável.
Porque aquele
homem não se
limitava a
compartilhar o
leito com outros
homens. Tinha
ouvido histórias
e, se fosse
verdade tão
somente a
metade do que se
dizia, esse
MacNab
desfrutava
vexando a seus
casais, as
submetendo pela
força, lhes
provocando dor.
Só assim
conseguia ele sua
própria
satisfação.
Enojava-lhe
somente
imaginando-lhe
se fosse um
varão ou uma
mulher o que
escolhesse esse
demente para
divertir-se.
— Noto-te um
pouco tenso,
Ewan. —
Prosseguiu James
— Seria abusar
de sua
hospitalidade te
pedir que dê seu
consentimento
para que meus
homens se
divirtam um
pouco? No Innis
Chonnel sempre
nos tratou bem e
a todos nos faz
falta relaxar um
pouco. Breve,
teremos que nos
reunir com o rei
Bruce no Stirling,
por isso não
teremos muitas
oportunidades
mais de desfrutar
destes momentos
tranquilos.
— Não me
parece mal que
queiram se
divertir. —
Expôs Ewan. —
Mas não desejo
que a festa
agrave. Não
consentirei certos
tipos de
comportamentos,
James, tenha em
mente.
O líder dos
MacNab estalou
a língua antes de
esboçar um
sorriso
pretensioso.
— Compreendo
suas
preocupações,
amigo Ewan. Os
falatórios
escaparam dos
muros de sua
fortaleza e
chegou até meus
ouvidos o
acontecido com
seu tenente,
Melyon.
O laird se esticou
ao escutar aquele
nome. Não tinha
nenhum interesse
em ouvir o que
aquele homem
tivesse para dizer
a respeito.
— Não quero
falar disso,
MacNab.
— É muito
penoso quando a
gente não é capaz
de proteger ao
seu clã dentro de
sua própria
fortaleza, certo?
Por isso
compreendo seu
receio. Não deve
preocupar-se,
direi a meus
homens que não
se conduzam
como loucos.
Não queria ter
que banir a
nenhum deles,
como você fez
com Melyon.
Ewan se voltou
para ele com o
impulso de lhe
devolver o golpe.
Era evidente que
seu convidado
queria cutucar na
ferida e não
podia tolerá-lo.
Uma mão firme
posou em seu
ombro e a voz
sensata do padre
Cameron lhe
falou no ouvido.
— Não te deixe
levar pela fúria,
laird.
— MacNab é
nosso convidado
e estou
convencido de
que sua intenção
estava longe de te
ofender. — Falou
também Adair,
concordando
com o pároco.
— É obvio! —
Saltou James,
embora seu gesto
satisfeito
evidenciava o
contrário. —
Além disso, é que
acaso ainda lhe
tem estima a esse
violador de
mulheres? Pelo
jeito te tem
chateado, bem o
parece.
— Não quero
falar desse
assunto e
acredito que já o
deixei claro. Se a
preocupação dos
MacNab é não
encontrar
diversão entre os
muros de minha
casa, seus
homens podem
estar tranqüilos.
Não faltará
comida nem
bebida, nem
entretenimentos,
desde que
dispomos; eu,
como laird dos
Campbell,
garanto-o. Só
espero que você
cumpra sua
palavra e seus
guerreiros façam
caso do
comportamento
exemplar que
lhes exige.
— Conduzirão-
se como devem,
e pobre do que
não o faça. —
Confirmou
James, varrendo
com o olhar a
mesa que
ocupavam seus
homens, para que
todos tivessem
bem presente a
advertência.
— E agora,
esclarecido este
ponto, seria
melhor abordar o
motivo que lhes
trouxe até o Innis
Chonnel. Devo
confessar que
estou intrigado
por esta visita
inesperada. —
Soltou Ewan sem
mais demora,
impaciente por
conhecer as
destrezas daquele
homem
detestável.
James MacNab
tomou um gole
de seu vinho
antes de falar,
com deliberado
cuidado.
— A curiosidade,
querido amigo,
que outra coisa
se não? Em todo
Argyll apenas se
fala do ataque
sofrido pelos
MacGregor.
Ewan notou que
o padre
Cameron,
sentado ao seu
lado, esticava-se.
Entretanto,
fazendo
ornamento da
prudência que o
caracterizava, não
se pronunciou.
— Comenta-se
que as notícias
chegaram até o
fronte e o velho
Ian se inteirou
enquanto
continua a luta
contra os
ingleses. É obvio,
foi às nuvens.
Suponho que sua
primeira reação
será tentar
recuperar
Meggernie pelo
preço que seja.
— Explicou
James.
— Eu faria o
mesmo, se
estivesse em seu
lugar. —
Comentou Ewan
de forma sucinta.
— Esses
MacGregor só
tiveram o que
merecem. —
Interveio o velho
Adair, por isso
ganhou um duro
olhar de seu laird
e do sacerdote.
MacNab se
inclinou para o
Ewan com seus
olhos de doninha
brilhando de
curiosidade.
Passou a língua
pelos lábios antes
de fazer a
pergunta que
estava desejando
expor.
— Matou-o com
suas próprias
mãos? Sofreu
muito esse
arrogante do
Niall
MacGregor?
O padre
Cameron abriu a
boca para dizer
algo, mas Ewan
se adiantou.
— Temo-me que
alimentar a
morbidez de
meus convidados
não é uma de
minhas melhores
qualidades,
James, assim tem
que me desculpar
se prefiro guardar
silêncio ante seu
interrogatório.
De todo modo,
pressinto que
saciar sua
curiosidade não é
o único que te
trouxe para
minha casa,
equivoco-me?
O homenzinho
se sentiu
decepcionado
porque sabia que
Ewan não lhe
desvelaria
nenhum detalhe
do ataque, por
mais que tratasse
de enganá-lo
com palavras
lisonjeras.
Suspirou e bebeu
outro gole mais
de seu vinho
antes de lhe
confiar o motivo
real de sua visita.
— Meu amigo,
seus instintos não
se limitam tão
somente ao
campo de
batalha. É muito
hábil para
detectar os
interesses das
pessoas que lhe
rodeiam e, uma
vez mais,
acertaste em
cheio. Vim até o
Innis Chonnel
para fazer uma
compra.
Tanto o laird dos
Campbell como
seus homens de
confiança se
mostraram
surpreendidos.
— Uma compra?
— Perguntou
Adair
— Nestes
tempos de guerra
e escassez, o que
temos que lhes
possa interessar
tanto como para
vir em pessoa a
adquiri-lo? —
Inquiriu também
Lawler.
MacNab se
recreou nas
expressões
incrédulas de
seus
interlocutores e
estendeu o
tempo da
resposta para lhe
dar a ênfase que
merecia.
— Uma jóia.

James ficou
olhando ao Ewan
com intensidade,
como se com seu
olhar o laird dos
Campbell tivesse
que compreender
a que se referia.
— Desculpa, há
dito uma jóia?
— A mesma que
arrebatou ao
MacGregor em
sua incursão.
— Não sei do
que me fala —
Murmurou
Ewan, na
verdade
estupefato.
O tom da
conversação
tinha diminuído,
por isso tão só
James e seu
tenente, Reed
MacNab, assim
como o laird
Campbell e seus
conselheiros
escutavam o que
ali se dizia.
— Tenho um
cofre cheio de
moedas que
devolverão a luz
a seu
entendimento.
Ewan apertou os
punhos e
aniquilou ao
homenzinho com
seus olhos
obscurecidos
pela ofensa.
— Vejo que
ainda não me
conhece, se acha
que seu ouro
pode me
comprar.
— Vamos,
querido amigo.
— O tom de
James estava
crispando ao
Ewan, que tinha
que se conter por
momentos para
não estampar seu
punho nessa cara
exultante de
suficiência. —
Não é nenhum
segredo que a
guerra contra a
Inglaterra deixou
as arcas do Innis
Chonnel cheias
de teias de
aranha. Meu
ouro, como bem
diz, viria-lhes
muito bem. O rei
pode solicitar em
qualquer
momento sua
ajuda, e então, o
que lhe dirão?
Que não podem
lhe mandar mais
que um punhado
de guerreiros por
falta de recursos?
Ewan apertou os
dentes. Ignorava
como esse
demônio se
inteirou de sua
precária situação
econômica e
lamentava
encontrar-se em
clara
desvantagem. O
anterior laird, seu
pai, não tinha
sabido
administrar
quando o rei
solicitou os
recursos de seu
clã. Mas,
meditou, se essa
doninha estava
disposta a
entregar tanto
por uma estúpida
jóia, o assunto
requeria de mais
atenção por sua
parte.
— Não tenho a
jóia que buscas,
mas, embora a
tivesse, não lhe
entregaria isso.
Imagino que
deve valer muito
mais que esse
cofre que me
oferece com
tanta alegria e
estou disposto a
averiguar o que
tem nas mãos. —
Disse.
Tanto Reed
como James
MacNab
entrecerraram os
olhos ante aquela
saída. Não se
podia considerar
mais que como
um insulto.
— Do que me
está acusando,
exatamente? —
Estalou o líder
dos MacNab,
ficando em pé
com grande
estrondo. Seu
tenente levou a
mão ao punho de
sua espada.
Os conselheiros
Campbell ficaram
também de pé,
alarmados pela
aparência que
tinha tomado a
conversação.
— Calma,
senhores, calma,
por favor. —
Pediu Lawler,
olhando de
esguelha a seu
laird com
recriminação. —
Nada mais longe
da intenção de
nosso chefe que
incomodar a seus
convidados em
sua própria casa.
Não é certo,
Ewan?
— Vim aqui com
uma oferta
sincera e muito
generosa, porque
admiro muito a
seu clã. Sempre
considerei aos
Campbell meus
aliados e não
esperava esta
reação. Estou
muito
interessado nessa
jóia por motivos
pessoais e
considero que a
soma que estou
disposto a pagar,
embora
excessiva, a meus
olhos a merece.
Possivelmente
para o laird Ewan
Campbell gastar
tanto em algo
assim seja pouco
mais que um
pecado, mas não
para mim. Não
penso revelar os
verdadeiros
motivos que me
impulsionam a
adquiri-la, meu
amigo, mas terá
que confiar em
que meu
oferecimento
está isento de
qualquer
interesse oculto
que pretenda me
atribuir.
— É obvio, é
obvio. —
Intercedeu Adair,
que tinha visto
como os
guerreiros
Campbell
ocupavam
posições no salão
ao ver ameaçada
a paz de sua casa.
— Quantas vezes
vimos que um
homem esbanja
uma fortuna em
uma jóia para
uma mulher?
Não sei se será o
caso de nosso
querido James, e
não pretendo
sabê-lo, não
queria ser eu
quem viole sua
intimidade. Mas
não se cometem
esta classe de
loucuras por
amor? Ou, quem
sabe, talvez a jóia
pertencesse a um
MacNab em
outros tempos e
acabou nas mãos
dos MacGregor.
Não seria de
surpreender que
nosso amigo
quisesse agora
recuperá-la a
qualquer custo.
O velho
conselheiro
comprovou que
James MacNab
lhe dedicava um
gesto de
agradecimento
por suas palavras
e deixava
entrever que
algum dos
motivos expostos
poderia ser o
verdadeiro.
Ewan olhou a
um e a outro.
Suas tripas
seguiam lhe
advertindo de
que aquele
homenzinho com
presunções de
grande líder
ocultava algo,
mas não ia
provocar uma
briga em sua
casa. Aquilo
equivaleria a
colocar todo o
conselho
Campbell contra
ele e, como novo
laird que ainda
não se
estabeleceu
totalmente, não
estava em
condições de
arriscar-se.
— Peço-te
desculpas,
querido amigo.
— O timbre de
sua voz ao
referir-se ao
MacNab beirava
a rabugice,
embora outros,
com bom
julgamento, o
passaram por
cima. — Não
pretendia te
incomodar com
minhas dúvidas,
mas
compreenderá
que não é normal
receber esta
classe de ofertas,
e menos por uma
mísera jóia.
— Para mim não
é mísera. —
Insistiu o outro.
— Ficou-me
claro.
Infelizmente,
como já te hei
dito antes, não
tenho essa jóia
em meu poder.
— Pode, talvez,
algum de seus
homens haver
ficado com ela
sem que você
soubesse?
A insistência do
MacNab e a
insinuação
resultavam
ofensivas. Acaso
acreditava que os
homens
Campbell
ocultariam algo
assim ao seu
laird? Ewan
engoliu o veneno
que lhe subia pela
garganta para
não estalar e
dissimulou. Se
queria chegar até
o final com esse
assunto, devia lhe
seguir a corrente.
— Farei o
possível por
averiguá-lo. Mas,
por esta noite,
nos esqueçamos
do assunto e nos
dediquemos a
desfrutar do
jantar e das
humildes
diversões que
lhes posso
oferecer.
James assentiu,
aceitando aquela
pequena trégua.
O laird dos
Campbell
levantou sua taça
e brindou no ar,
esperando que
seus convidados
fizessem o
mesmo. Ao final
de um bom
momento,
quando viu que o
ambiente se
relaxava e que as
conversações
derivavam para
outros roteiros,
levantou-se com
uma desculpa e
se retirou para
sua habitação.
Tinha muito no
que pensar.
CAPITULO 16

Reed MacNab
estava excitado.
A frágil figura do
moço de cabelo
negro e olhos
azuis tinha
avivado sua
libido até
conseguir que
não pudesse
pensar em nada
mais que em
encontrá-lo a sós.
Depois do jantar,
enquanto seus
companheiros
ficavam no
grande salão
desfrutando da
música, o vinho e
o baile, Reed saiu
rumo a cozinha
procurando a sua
presa.
Entretanto, ali só
encontrou uma
boa reprimenda
da cozinheira por
meter-se em seus
domínios sem ser
convidado e a
decepção de não
achar ao moço.
— Onde posso
encontrar ao
menino moreno,
esse magro com
olhos azuis? —
Perguntou, não
obstante.
A ama de chaves
do Innis
Chonnel, Jane,
que entrava nesse
momento,
escutou a
pergunta.
— Alguns
serventes se
retiraram já a
descansar,
amanhã os espera
um duro dia. —
Respondeu.
— Necessito que
alguém me suba
uns baldes de
água quente a
minha habitação
e o moço me tem
agradado. Pode
avisá-lo, por
gentileza?
Jane ficou muito
surpreendida pela
inesperada
petição. Não era
hora de tomar
um banho e,
além disso, na
quarto que
tinham posto a
disposição do
tenente de
MacNab não
havia nenhuma
tina para a água.
Antes de poder
lhe responder,
entretanto, o
velho conselheiro
Lawler entrou
também na
cozinha com o
pretexto de
conseguir um
pouco de leite
quente para
poder conciliar
melhor o sono. A
cozinheira estava
acostumada ao
hábito do ancião
e tinha já sua
terrina preparada.
— O que ocorre?
— Perguntou à
ama de chaves, se
surpreendendo
de encontrar ao
MacNab na
cozinha.
Jane explicou a
petição daquele
homem e a
dificuldade que
suportava, mas o
ancião
conselheiro lhe
diminuiu
importância aos
seus
impedimentos e
ele mesmo lhe
deu a solução.
— É nosso
convidado, Jane,
o segundo do clã
MacNab e
merece nossa
hospitalidade.
Procura o moço
que pediu e envia
a outro servente
mais para que
entre os dois
transportem a
tina de meu
próprio quarto
ao quarto de
Reed. Se é
necessário deste
magnífico
guerreiro tomar
um banho depois
de tão longa
viagem, não
podemos nem
devemos lhe
negar esse gosto.
Jane assentiu e
saiu disparada da
cozinha rumo às
choças dos
serventes. Foi
direto a dos St.
Claire e
encontrou à
família
preparando-se já
para ir dormir.
— Will e Liese,
venham comigo.
— Ocorre algo?
— Perguntou
Maud, alarmada
pelo avançado da
hora.
— Nada que
deva preocupar-
se. Um de nossos
convidados
requer de um
favor especial.
Os jovens
intercambiaram
um olhar
aborrecido, mas
se apressaram a
obedecer à ama
de chaves.
Seguiram-na até
o interior do
edifício principal
e subiram ao
primeiro piso,
onde se achavam
os distintos
aposentos.
Chegaram até o
que ocupava
Lawler e
entraram para
levar a tina. Jane
lhes guiou logo
até a de Reed
MacNab, que já
os esperava
impaciente
enquanto
passeava ansioso
de um lado a
outro.
Seus olhos cor de
mel devoraram
ao Will assim que
entrou pela
porta, embora se
absteve de fazer
algum
comentário
diante de Jane e
de Liese.
— Agora, vão
buscar a água
quente. Will,
ajudará a nosso
convidado no
que necessite,
entendido?
Willow notou um
desagradável
calafrio lhe
percorrendo as
costas. Acaso não
preferia esse
homem que lhe
ajudasse em seu
banho uma
faxineira? Na
hora, lamentou
esse pensamento.
Tampouco
desejava que
alguém como
Liese, por
exemplo, tivesse
que ver-se com
semelhante
guerreiro. Seu
olhar turvo e
velado indicava
que esse MacNab
não tinha nem
um ápice de
nobreza em seu
enorme corpo.
Desceu com
Liese de novo a
cozinha com um
nó lhe oprimindo
a garganta,
desejando e
rezando com
ardor para que,
uma vez cheia a
tina, aquele
homem a
liberasse de seus
serviços.
Entretanto, algo
lhe dizia que não
ia ser assim, por
isso, em um ato
de audácia
impulsionado
pelo medo,
escondeu uma
das facas do
faqueiro entre
suas roupas antes
de voltar para a
habitação com a
água.
Quando
entraram no
quarto do
convidado, Liese
e ela esvaziaram
os baldes na tina.
Sua irmã adotiva
fez uma
reverência ao
homem antes de
sair pela porta e
Willow esteve
tentada de lhe
gritar que não a
deixasse a sós
com semelhante
indivíduo. O
medo a paralisou,
e fez quão único
podia fazer
naquela situação.
Voltou-se com
um pigarro para
esclarecer a
garganta, que lhe
tinha ficado seca
pelo pânico, e
perguntou:
— Meu senhor,
deseja alguma
outra coisa?
— Mmm,
vejamos… — O
MacNab
caminhou ao
redor dela, como
uma ave de
rapina voaria
sobre sua presa
antes de cair
sobre ela. —
Antes, no salão,
não me há dito
seu nome.
— Certo. Mas
sem dúvida você
terá escutado isso
da boca de meu
laird, como o
resto dos
presentes.
O homem abriu
os olhos,
surpreso por seu
descaramento.
Willow não sabia
de onde lhe
nascia essa
valentia que a
obrigava a
arremeter contra
seu perseguidor.
— Will.
— Assim é,
senhor.
— Gostaria de
tomar um banho,
Will?
— Acreditava
que a água era
para você.
— E assim é.
Mas podemos
compartilhá-la, o
que me diz?
— É um
oferecimento
muito amável por
sua parte, senhor,
mas devo
rechaçá-lo.
— Que pena. —
Suspirou Reed.
— Então, me
ajude a me
despir.
Willow começou
a tremer. O
MacNab deteve
seu caminhar e
ficou esperando
com as mãos
elevadas a que o
servente
começasse a
tarefa. Ela se
aproximou, com
o coração
pulsando
acelerado pelo
medo que sentia.
Com
dissimulação,
apalpou a faca
escondida entre
as dobras de suas
calças e soltou
um pouco de ar,
aliviada.
Desabotoou com
os dedos
trêmulos o
cinturão de couro
e lhe tirou o
manto que
descansava sobre
um de seus
ombros. Tocou-
lhe o turno à
camisa e Willow
estremeceu
quando escutou
o grunhido
satisfeito do
homem ao notar
seus dedos
trementes sobre
o peito.
— Não lhe hão
dito alguma vez
que tem mãos de
mulher?
Seus olhos se
encontravam a
escassos
centímetros e
Willow percebeu
claramente a
maldade que
aninhava nos do
MacNab. Temeu
ver-se
descoberta, mas
o que disse a
seguir a deixou
paralisada de
puro estupor.
— Por sorte para
mim, não o é. Eu
gosto mais dos
moços pequenos
e magros como
você.
Willow se
esqueceu até de
respirar. Um
homem que
desejava a outro
homem? Em sua
curta vida tinha
ouvido coisas a
respeito, mas
jamais lhes
emprestou a
devida atenção.
Agora,
materializava-se
frente a ela uma
questão que
sempre tinha
acreditado alheia
ao seu mundo e,
ainda mais, que
ameaçava sua
própria
integridade física.
Isso, sem contar
com que ela não
era na realidade o
moço que o
MacNab
supunha. Como
reagiria se seguia
adiante com sua
perseguição e
descobria que na
verdade era uma
mulher? Não
queria averiguá-
lo, pressentia
naquele homem
uma violência
latente e um
orgulho que
ficaria exposto se
averiguava que o
tinham
enganado.
— Ainda não
estou nu, o que
faz aí parado? —
Apressou-o.
Com muita
dificuldade pôde
Willow
completar a
tarefa. E, quando
o teve nu diante
de seus olhos,
avermelhou até a
raiz do cabelo ao
observar sua
virilidade, ereta e
disposta, enorme
e ameaçadora.
Jamais seus olhos
vírgens tinham
visto um homem
tal e como Deus
o trouxe para o
mundo. Mas,
muito menos,
tinha visto
ninguém tocar
suas intimidades
diante de outra
pessoa. O
MacNab se
acariciava com
uma mão
enquanto sorria
de orelha a
orelha ao
contemplar a
reação de Willow.
— Parece
extasiado.
Alguma vez viu o
pênis de um
autêntico
guerreiro? Vem,
te aproxime,
deixarei-te tocá-
lo…
Willow se sentiu
enojada. Mediu
em busca da faca
e o apertou com
força debaixo da
roupa, a suas
costas. Se aquele
MacNab dava um
só passo para ela,
o cravaria onde
primeiro
alcançasse.

Jane entrou no
quarto de seu
laird para lhe
levar as velas que
lhe tinha pedido
antes de retirar-
se. Ewan
estudava uns
documentos em
sua mesa e
levantou os olhos
quando a escutou
chegar.
— Aqui têm,
senhor. Embora,
se forem para
seguir
trabalhando pelo
que vejo, tenho
que lhe
repreender
seriamente. Vê-se
que está esgotado
depois deste dia,
os convidados
consumiram toda
sua energia.
— Só estava
repassando as
contas do Innis
Chonnel, Jane.
— Justificou
com sua ama de
chaves, a que
estimava e cuja
opinião
respeitava muito
mais que as de
seus próprios
conselheiros. —
Me preocupa um
comentário feito
pelo MacNab a
respeito de
nossas arcas.
Necessitarei que
amanhã me faça
um inventário
dos mantimentos
que
armazenamos na
despensa e dos
barris que ficam
na adega. Quero
saber com o que
contamos para o
que fica de
inverno.
— Não se
preocupe, meu
senhor. Amanhã
sem falta lhe
darei conta do
que me pede.
— Obrigado,
Jane. — Ewan ia
despedí-la
quando recordou
algo. — Faz uns
minutos ouvi
muita agitação no
corredor.
Ocorreu algo?
— Não, laird. Ao
menos, nada
importante.
Estávamos
transladando a
tina do quarto do
senhor Lawler
para o de nosso
convidado, Reed
MacNab.
— Por que? —
Ewan franziu o
cenho, aquilo era
muito estranho.
— O mesmo
Lawler me pediu
isso, para atender
a demanda do
guerreiro. Mandei
ao Will buscar a
água, neste
momento o
moço está
atendendo-o em
seu banho…
O rugido furioso
do laird assustou
a pobre Jane, que
só pôde se
afastar do
caminho de seu
senhor quando se
precipitou para a
porta com o
rosto escurecido
pela cólera.
Ewan notava que
o sangue pulsava
frenético em suas
veias enquanto
avançava pelo
corredor a passos
largos. Sem
chamar, abriu de
repente a porta
da habitação
ocupada pelo
MacNab e a
imagem que
descobriu o
paralisou uns
segundos.
Reed estava
completamente
nu, à exceção de
suas botas, e
olhava com
lascívia a sua
presa enquanto
se sovava com
uma mão diante
de seu nariz. Will,
por sua parte,
não apartava os
olhos do
membro
endurecido do
guerreiro, com o
rosto vermelho.
Não soube o que
lhe incomodou
mais: se ver o
MacNab
esfregando-se
como um porco
no cio, ou supor
que Will se
achava
espectador e
ansioso por
descobrir onde
desembocava
aquele prelúdio.
— O que
significa isto? —
Gritou,
sobressaltando
aos dois
ocupantes do
dormitório.
— Pelos chifres
de Satã,
Campbell! Acaso
não é evidente?
O moço e eu
estávamos
começando a nos
conhecer...
— Te cubra,
Reed! —
Ordenou-lhe
Ewan. —
Acredito que
durante o jantar
deixei clara
minha postura a
respeito: não
deixarei que
ocorra, não em
minha casa.
— Não. Suas
palavras exatas
foram que se sua
gente consentia
em compartilhar
o divertimento,
não haveria
nenhum
problema. E não
ouvi que o
menino se
negasse.
Ewan fulminou
ao Will com o
olhar. Uma raiva
espessa o cegou.
Dirigiu-se a ele e
o agarrou pelo
braço,
arrastando-o
logo fora da
habitação.
— Hei, um
momento! —
Queixou-se
MacNab, dando
um passo para
eles.
O laird dos
Campbell se
deteve em seco e
lhe falou por
cima do ombro,
sem levantar a
voz, sem virar-se
sequer.
— Será melhor
que aceite a idéia:
terá que te
consolar você
sozinho.
Nenhum de
meus serventes
subirá a sua
habitação, assim
não solicite a
ninguém mais. E
se me inteiro de
que algum dos
meus passa a
noite contigo,
pela manhã me
encarregarei de te
arrancar
pessoalmente
isso que te estava
acariciando com
tanto prazer.
Reed soube que
era capaz de
cumprir essa
ameaça, por isso
ruminou sua
frustração
fechando a porta
com um golpe
tremendo.
Ewan puxava o
braço de Will
sem olhá-lo e o
conduziu até sua
própria
habitação. Uma
vez ali, encarou-o
com a fúria que
lhe roía as
vísceras. Para sua
surpresa, viu
como o moço
tirava uma faca
de entre suas
roupas e o
apontava com a
mão tremente.
— Não... Me...
Toque. —
Sussurrou, quase
sem voz.
Tinha os olhos
muito abertos e a
tez pálida.
— É que acaso
queria ficar com
ele? —
Resmungou
Ewan. Ainda
tinha uma vaga
esperança de
haver se
equivocado e de
que Will, na
realidade, não
desejasse deitar-
se com o animal
do Reed como
tinha suposto.
Deu um passo
para ele, disposto
a desarmá-lo,
mas o olhar
perturbado do
moço o deteve.
Brandiu a faca
com mais força e
varreu o ar que
os separava a
modo de
advertência.
— Não... Se...
Aproxime.
Ewan teve um
breve mas lúcido
momento de
inspiração. Ao
contemplar a
imagem
assustada do
Will, a cor pálida
de seus lábios
entreabertos,
suas pupilas
dilatadas de
medo,
compreendeu. O
menino estava
aterrorizado,
estava em
choque. Talvez
jamais tinha visto
o que acabava de
presenciar no
dormitório do
Reed. Talvez essa
besta lhe havia
dito palavras que
o tinham deixado
nesse estado
alienado. Uma
vez mais, Ewan o
comparou com
um frágil
duendezinho.
Teve o absurdo e
intenso desejo de
aproximar-se e
consolá-lo para
que entendesse
que não havia
nada que temer.
Queria que
parasse de tremer
e que seus olhos
voltassem a
enfocar.
Em seguida,
lamentou tal
impulso com
todo seu ser.
A qualquer outro
teria dado um
bom pescoção
para que se
recompunha. O
que tinha Will,
que o voltava tão
insuportavelment
e brando? O
aborrecimento,
dirigido contra si
mesmo,
terminou-o
pagando o moço.
Ewan deixou de
tolices e se
equilibrou sobre
ele para lhe
agarrar o punho
com o qual
sustentava a faca.
Apertou a carne
muito tenra para
seu gosto até que
obteve que a mão
se abrisse e
soltasse a arma.
Seus olhos, logo
que separados
umas polegadas,
fundiram-se em
um olhar intenso.
Os do Ewan,
penetrantes,
comiam os do
Will, aumentados
pelo medo.
— Eu não sou o
inimigo. —
Sussurrou com
brutalidade,
incomodado por
suas próprias
reações. — Não
te farei mal,
relaxe.
Foram palavras
determinantes,
mas não
obtiveram a
mudança que o
laird pretendia;
ao contrário. Will
por fim reagiu,
mas, em lugar de
mostrar-se
relaxado e
manso, se
enfureceu. Suas
pálpebras se
entrecerraram e o
gesto de sua boca
se endureceu.
— Para mim sim,
laird Campbell.
— Vaiou com
fúria, para
surpresa de
Ewan. — Para
mim é um
autêntico
monstro, que
ataca fortalezas
ao amparo da
noite, como uma
raposa, e mata
por prazer.
A acusação foi
como um murro
na boca do
estômago.
Aturdiram-lhe
suas palavras,
mas o tom com
que foram ditas...
Havia veneno e
muita dor em sua
voz. Apesar de
que em outras
circunstâncias ao
laird lhe tivessem
escorregado tais
impropérios,
nesta ocasião
provocaram que
algo naufragasse
em seu ânimo.
Por isso talvez
afrouxou sua
presa, e Will
aproveitou para
sair correndo do
quarto e fugir
apavorado.
Não sabia por
onde ia, as
lágrimas a
cegavam. Willow
atravessava o
corredor,
iluminado pelas
tochas que
pendiam das
paredes, com a
imagem de Ewan
Campbell em sua
cabeça. Em seu
delírio, tinha
substituído o
rosto do Reed
pelo do laird. Já
não era o
MacNab o que a
tinha
aterrorizado até
conseguir que
sua mente
desconectasse da
realidade. Ao que
parecia, todo seu
ser tinha decidido
se evadir para
não seguir
sofrendo o
pânico gelado
que lhe causava
ver aquele
homem tocando-
se do modo em
que o fazia, ou a
expressão de seus
olhos cor de mel,
que prometiam a
mais
desagradável das
experiências. Não
era MacNab, já
não, porque ao
recuperar o
sentido tinha
sido o rosto de
Ewan Campbell,
escuro e maligno,
que ela tinha
visto. Um rosto
de expressão
sombria, que a
atormentava
inclusive em
sonhos; a cara do
medo, a cara de
um assassino. E
Willow, em seu
pesadelo, só
compreendia
uma coisa: tinha
que defender-se
dele, escapar, a
falta da força
necessária para
lhe enfrentar...
Chegou a sua
choça e teve a
lucidez de deter-
se antes de
entrar. Limpou-
se a cara com as
mangas, respirou
fundo e tratou de
tranquilizar-se. Se
Maud a descobria
nesse estado,
morreria de
preocupação.
— O que faz aí
parado, Will?
Willow virou ao
escutar a voz
melosa de Agnes.
A garota lhe
olhava com
aqueles olhos
tenros que a
punham tão
nervosa. É que
essa noite todos
se tornaram
loucos?
— Ia deitar-me,
já terminei
minhas tarefas.
— Sim, já vi que
esse MacNab tão
rude solicitava
seus serviços...
— Agnes se
aproximou dela
rebolando. —
Gostou, Will?
— Não, eu... —
Willow guardou
silêncio ao ver a
mesquinha
expressão no
rosto da jovem
faxineira.
— Claro que sim!
— Exclamou,
aproximando-se
tanto dela que
pôde notar seus
peitos apertando-
se contra seu
corpo. — E
agora
compreendo por
que durante
todos estes dias
me ignoraste
apesar de minhas
insinuações.
Seus lábios se
aproximavam
perigosamente
aos de Willow e
esta jogou a
cabeça para trás
por instinto.
— Que
insinuações?
— Oh, vamos!
Não o notaste,
Will? Desde que
chegou estive
tentando que o
compreendesse...
Acredito que é o
moço mais
bonito que vi em
minha vida.
Equilibrou-se
sobre ela e a
porta evitou que
pudesse esquivá-
la. Agnes a
beijou. Juntou
suas bocas em
um beijo
apertado que
durou apenas até
que Willow pôde
reagir e afastá-la
com um
empurrão.
— Como te
atreve? Rechaça-
me? A sério
prefere a
companhia desse
pestilento
MacNab à
minha?
Seus olhos eram
duas frestas
transbordantes
de maldade e
Willow
estremeceu ao
notá-lo.
— Agnes, eu...
Sinto muito,
tenho que ir. —
Abriu a porta a
suas costas com a
intenção de
escapar quanto
antes.
— Se
arrependerá
disto, Will. —
Vaiou a faxineira
com veneno.
Sem dúvida, está
louca, pensou
Willow com um
calafrio.
Quem pensaria
que a doce Agnes
era na realidade
uma arpía
manipuladora
capaz de ir às
nuvens ao não
sair-se com a
sua? Entrou na
choça e fechou
antes que
ocorresse à
garota alguma
outra maldade.
Sua nova família
dormia ao calor
de um agradável
fogo e Willow se
encontrou a salvo
pela primeira vez
em toda a noite.
Lhe encheram os
olhos de lágrimas
e desejou que
Maud estivesse
acordada para
que a abraçasse e
a consolasse;
mas, é obvio,
despertá-la e
preocupá-la com
seus problemas
era quão último
faria. Meteu-se
na cama de
armar notando
um cansaço
extremo, físico e
mental.
Talvez por isso
lhe custou
conciliar o sono.
A sua mente
voltava uma e
outra vez a
grotesca imagem
daquele guerreiro
nu, lhe
explicando com
detalhes e com
voz arrastada
todas as coisas
que pensava lhe
fazer. Seu
estômago se
retorcia de
angustia ao
recordá-lo, tinha
a pele arrepiada e
os dedos
crispados em
torno da manta.
Finalmente, justo
antes de que o
sono a vencesse,
um pensamento
revelador
conseguiu que
seu ânimo se
sossegasse um
pouco: Ewan
Campbell na
realidade não a
tinha atacado. Foi
quem a tirou do
dormitório do
MacNab, que a
arrastou longe
das sujas mãos de
Reed e a salvou
da experiência
mais aterradora
de sua existência.
— Mas isso não
te redime, Ewan
Campbell. —
Sussurrou, meio
adormecida. —
Ainda é meu
inimigo.

CAPITULO 17
Ewan golpeou a
porta com o
punho repetidas
vezes, sem se
importar que
fosse uma hora
tão inoportuna.
O padre
Cameron devia
estar dormindo,
mas nesse
momento ele não
se importava.
Aquelas eram as
dependências
anexas à pequena
capela, onde
tinha instalado o
religioso a sua
chegada ao Innis
Chonnel, uns
anos antes, e
poucas vezes o
jovem tinha
necessitado
visitá-lo. Nem ele
nem seus
homens iam com
assiduidade à
reza, mas era
algo ao que o
padre Cameron
já estava
acostumado. Por
isso, estava
convencido de
que o pobre
homem ia levar
toda uma
surpresa ao vê-lo
ali, diante de sua
porta a altas
horas da
madrugada.
Não se
equivocou. A
porta se abriu
atrás de uns
quantos golpes
mais, mostrando
o rosto assustado
do clérigo ao
outro lado, que
vestia roupa de
dormir.
— Ewan!
— Preciso falar
com você, padre.
— Soltou sem
preâmbulos.
Nunca tinha sido
de trato delicado,
e não ia começar
essa noite.
O sacerdote se
pôs a um lado
para que entrasse,
sem abandonar a
expressão de
incredulidade por
ter ali, em sua
pequena sala, ao
laird dos
Campbell
reclamando seus
serviços.
— Quer se
confessar a estas
horas? —
Perguntou com
cautela.
— Não.
— Então, no que
posso te ajudar?
Ewan lhe olhou
com olhos
atormentados. O
padre Cameron
soube captar
imediatamente a
angústia que
esporeava seu
ânimo, mas
esperou com
paciência a que
fosse ele quem
expusesse suas
penas.
— Tenho um
problema e não
sei como
confrontá-lo. —
Confessou por
fim.
Seu interlocutor
suspirou e lhe
assinalou uma
das poltronas
para que tomasse
assento. Antes de
acomodar-se, ele
serviu dois copos
com um licor que
só provava em
ocasiões
especiais. Ewan
reconheceu a
garrafa, tinha
sido um presente
de sua falecida
mãe, Cait, para o
sacerdote.
Tratava-se de
uma beberagem
que preparavam
seus
antepassados ao
que chamavam
Água de Vida, e
que conseguiam
após destilar
cevada e centeio.
O líquido,
diziam, era capaz
de reviver a um
morto e de
espantar as mais
amargas penas.
Quando o padre
Cameron lhe
entregou um dos
copos, tomou um
gole para
esquentar as
tripas antes de
encarar aquela
conversação. O
sacerdote fez o
mesmo e logo se
sentou em frente
a ele, olhando-o
aos olhos.
— Assim tem
um problema. —
Começou a dizer,
movendo sua
cabeça. — Devo
admitir que me
tem intrigado.
Não foste a mim
desde que sua
mãe nos deixou,
apesar de que
tiveste que lutar
com situações
muito
complicadas para
um laird que
acaba de fazer-se
com o controle
de um clã. Não
veio para mim
quando seu pai
caiu durante a
batalha, nem
tampouco
quando seu
melhor amigo foi
acusado de
violação.
Tampouco me
pediste conselho
para sossegar
todos esses
rumores que
circulam sobre ti
além dos muros
do Innis
Chonnel...
— Que rumores?
— Interrompeu-
lhe Ewan,
embora sabia de
sobra a que se
referia.
— Os que dizem
que é um
assassino sem
coração e que irá
direito ao inferno
por possuir uma
alma tão ímpia
como o próprio
Satanás. É que
acaso são certos?
Aquele homem
não era somente
um sacerdote. O
padre Cameron
era da família,
alguém que
sempre se
preocupou por
seu bem-estar e
ao que não podia
mentir.
— Não. Não são
certos.
— E por que
permite que lhe
difamem dessa
maneira? Antes,
no jantar, o
MacNab te
interrogava a
respeito desse
ataque aos
MacGregor e
você não o tiraste
de seu engano.
Por que sua
gente, seus
soldados, não
desmentem esses
sujos rumores?
— Porque eu o
pedi assim.
Padre, sabem o
que me custou
assumir o
comando do
Innis Chonnel.
Apesar de que o
rei Bruce
pretende que
todos os clãs
lutem unidos, os
Campbell seguem
tendo inimigos
que não
duvidarão em
nos esmagar ao
menor sinal de
debilidade. Meu
pai brigou muito
duro para que
nosso nome
fosse temido
além destes
muros e eu devo
velar por manter
essa reputação
que nos precede.
O sacerdote
abriu os olhos,
sem ocultar seu
desgosto.
— Acha que
manter o legado
de Duncan é o
que deve fazer?
Seu pai era um
homem cruel,
Ewan, você não é
assim.
— Sim, sou-o.
Porque não
posso ser de
outra maneira,
ele se encarregou
de me preparar a
consciência para
tomar seu lugar.
— Sei. —
Sussurrou. —
Estive ali vendo-
o, sofrendo junto
a sua mãe por ti...
E por todos os
que estavam a
seu cargo.
Embora você o
tenha como
exemplo de um
bom líder, Ewan,
há outras opções.
Pode-se governar
um clã com
respeito, a
piedade, a
generosidade...
— Padre, sabem
que não sou um
homem temente
à Deus. Sou um
guerreiro.
Embora lhes
desgoste, meus
atos, por muito
cruéis que
possam lhes
parecer, sempre
estarão
destinados a
proteger a nossa
gente. Que os
outros clãs
acreditem que fui
eu quem ordenou
o ataque ao
Meggernie,
favorece-me.
Que estejam
convencidos de
que fui eu o que
assassinou ao
Niall MacGregor
sem vacilação,
converte-me em
alguém temível.
Um laird ao que
não quererão
contrariar, com o
que não quererão
enfrentar-se.
O sacerdote o
escutava sem dar
crédito ao que
ouvia.
— Mas, não tem
curiosidade por
saber quem
verteu essas
calúnias sobre os
Campbell?
Embora a ti
possa te parecer
que te tem feito
um favor, te
convertendo em
um líder temido
por todos, no
final terá que
prestar contas
por essa maldade.
Porque, não te
engane, é uma
autêntica traição.
Ian MacGregor
se encontra no
fronte, junto ao
nosso rei,
protegendo os
interesses da
Escócia. Que
alguém ataque
sua casa, que
massacre a sua
gente, a seu
próprio filho, é
um ato desleal e
carente por
completo da
nobreza que o rei
Bruce espera de
todos os seus
súditos.
Surpreende-me
que no dia de
hoje não
tenhamos
notícias deles.
Suponho que os
ingleses lhe têm
tão ocupado que
não pode
permitir o luxo
de pôr ordem em
sua própria terra;
mas não duvide.
— O assinalou
com um dedo
acusador. — O
rei quererá
esclarecer este
assunto e pedirá
explicações.
Ewan não o tinha
pensado. Jamais
acreditou que ser
acusado do
ataque aos
MacGregor fosse
além dos
rumores que
corriam de aldeia
em aldeia. Que
estúpido! Agora
via que, tal e
como esses dois
velhos corvos
conselheiros se
empenhavam em
lhe recordar, não
estava tão
preparado nas
intrigas do poder
como o tinha
estado seu pai.
As palavras do
padre Cameron
lhe tinham aberto
os olhos, pois era
evidente que
alguém tentava
prejudicá-lo
frente ao rei
Bruce. E não só
a ele. Os
MacGregor
também tinham
sido vítimas de
quem quer que
fosse o culpado
daquele ataque.
Claro que, eles,
de um modo
muito mais
selvagem e atroz.
Quem poderia
ter algo contra
ambos os clãs?
— Deveria ser
você meu
conselheiro,
padre Cameron,
e não os dois
abutres
carniceiros que
meu pai me
legou.
O sacerdote lhe
mostrou um
sorriso
compreensivo.
— Não o sou,
mas sempre me
terá para te
escutar e te dar
meu ponto de
vista em tudo o
que necessite.
— Sei, padre. E
tenho muito em
conta o sermão
que acaba de me
dar... Amanhã
mesmo
começarei a
investigar para
descobrir quem
atacou aos
MacGregor
fazendo-se passar
pelo Campbell.
— Parece-me o
mais acertado e
prudente, Ewan.
É necessário
encontrar ao
culpado antes de
que o rei Bruce
tome cartas no
assunto.
O jovem laird
assentiu com a
cabeça e sua
mente retornou
ao verdadeiro
problema que o
tinha
impulsionado a
tirar o religioso
de sua cama em
plena noite.
Bebeu o que
ficava de sua
Água de Vida e
logo deu voltas
ao copo entre
suas mãos, sem
saber como
abordar sua
maior
preocupação.
— Não era disto
do que queria me
falar, certo? —
Adivinhou o
sacerdote, ao ver
que Ewan voltava
a afundar naquele
silêncio
atormentado que
o torturava.
— Não.
— Fala, pois,
meu filho.
Escuto-te, e sabe
que nada do que
me conte sairá de
entre estas quatro
paredes.
Ewan o
agradeceu
mentalmente.
Mesmo assim,
custava-lhe um
mundo
pronunciar as
palavras.
— Padre... Meu
problema, meu
dilema... É de
caráter moral.
— Compreendo.
— Não, não o
entende. Eu
nunca... Quer
dizer, que sempre
acreditei que um
homem... —
Tampou-se a cara
com as mãos,
incapaz de
prosseguir. Não,
de maneira
nenhuma podia
confessar o que
lhe queimava na
alma. Tratou de
pensar outra
maneira de
enfocar suas
dúvidas. — Veja,
recentemente
chegou uma nova
família ao Innis
Chonnel.
— Sei. Maud é
muito crente,
vem
freqüentemente à
capela a rezar
junto a sua filha
Liese.
O laird assentiu.
— Trouxeram
com eles a um
moço, Will. Já o
viu durante o
jantar. Ele... Ele
não é como os
outros. Tira-me
do sério, me dá
vontade de
estrangulá-lo por
sua estupidez e
sua... Sua...
— Sua o que?
— Sua pouca
dignidade. —
Admitiu por fim.
— Tenho a
sensação de que
é efeminado, e já
sabem o que
opinava meu pai
a respeito.
O sacerdote se
reclinou em sua
poltrona e
entrelaçou os
dedos de suas
mãos, olhando-o
com intensidade.
— Sei. E você o
que opina?
— Eu? — Ewan
se surpreendeu
pela pergunta e
ficou na
defensiva. — O
mesmo que ele, é
obvio, que não
deveriam existir
pessoas assim.
— Está
convencido de
que é efeminado?
— Voltou a
perguntar o
padre Cameron,
elevando uma de
suas sobrancelhas
brancas.
— Esta noite o
encontrei em
uma situação
comprometedora
. — Explicou, e
em seguida lhe
relatou o
ocorrido com o
MacNab, sem
omitir nenhum
detalhe. Salvo,
isso sim, a fúria
que o tinha
invadido ao
supor que Will
desejava esse
encontro tanto
como Reed.
— Por isso
explica, esse
moço é ainda
muito jovem e
não sabe nada da
vida. Se disser
que estava
apavorado,
possivelmente
nunca se viu em
uma situação
semelhante. John
e Maud o
adotaram
recentemente, o
que sabemos
dele? Talvez
nunca tenha tido
uma família que
lhe tenha
explicado certas
coisas, talvez seja
tão inocente que
não entenda as
relações entre
homem e mulher
como as
entendemos você
e eu. E aposto o
que quizer que
tampouco tinha
suspeitado que
um guerreiro
pudesse insinuar-
se como tem
feito o MacNab.
Se me permite
dizê-lo, eu
acredito que o
jovem Will só
está confuso.
Ewan meditou
nessas palavras.
Se aquilo era
verdade não
estava tudo
perdido. Talvez
pudesse resgatar
ao Will, fazer
dele todo um
homem... E
assim ao melhor
ele poderia deixar
de sonhar com
seus olhos azuis
de uma vez por
todas.
— Obrigado,
padre. — Disse,
levantando-se
para partir —
Acredito que já
sei o que tenho
que fazer.
Encaminhou-se
para a porta, mas
o sacerdote o
seguiu.
— Espera, Ewan,
escuta. Nem
todos nascem
para ser soldados,
e pode ser que
esse moço não
esteja destinado a
formar parte do
exército
Campbell. Por
tudo o que mais
queira, recorda
que todos somos
criaturas de
Deus, com
nossas virtudes e
nossos defeitos.
Não repita os
enganos de seu
pai, não te
converta em um
tirano como ele.
Pensa em seu tio
Alec: um
guerreiro como
poucos e,
entretanto,
oposto a seu pai
em tudo. Recorda
o que ele te
ensinou, pode-se
ser forte e, ao
mesmo tempo,
justo e generoso.
Ewan notou um
nó na garganta
ante apenas a
menção de seu
tio, Alec
Campbell. Não
podia pensar nele
nesse momento,
não queria
deixar-se levar
pela emoção.
— Tranqüilo,
padre. Não
submeterei ao
Will a mais
treinamentos.
Aquilo intrigou
ao sacerdote.
— Então, no que
está pensando?
— Não posso lhe
dizer isso padre
Cameron. Mas se
quiser que Will se
converta em um
verdadeiro
homem, talvez
tenha que lhe
ajudar a
distinguir umas
boas saias das
calças masculinas
dos soldados.
Não disse mais,
mas deixou ao
sacerdote
preocupado com
aquela
insinuação. Tinha
razão, preferia
não saber o que
lhe tinha passado
pela cabeça para
guiar os passos
de Will na
direção que a
moral cristã
ditava. Só rezava
para que, o que
fosse que tivesse
pensado, não
resultasse uma
completa
indecência...
CAPITULO 18

Maud despertou
muito cedo,
quando logo se
raiava a alvorada.
— Will, vamos
Will, abre os
olhos. O laird
pergunta por ti.
Willow sentia que
uma tonelada de
pedras lhe
esmagava o peito.
Tinha tanto sono
que não podia
separar as
pálpebras. O que
menos gostava
era abandonar o
calor das mantas
para encontrar-se
com esse homem
no ar gélido da
manhã.
— Hoje não
quero trabalhar,
Maud. Estou
doente.
A mulher deixou
escapar uma
suave risada ao
tempo que lhe
acariciava a
cabeça.
— Vamos,
criatura. Um
servente não
pode permitir o
luxo de adoecer,
não sabia? Toma,
uma taça de
caldo te sentará
bem.
Willow soltou
um grunhido de
acordo com sua
fingida condição
masculina e se
incorporou para
obedecê-la.
Tomou o líquido
quente que
enfraqueceu seu
corpo, vestiu-se e
saiu agüentando
os empurrões de
Maud, que lhe
apressava para
que não fizesse
esperar ao laird.
Fora, o dia
amanhecia tão
frio como
imaginava. A
primavera era
caprichosa e tão
logo luzia um sol
radiante no céu,
como este se
encapotava e
sopravam brisas
geladas
procedentes das
montanhas.
Amassou-se em
sua velha capa e
correu para o
pátio central,
onde lhe haviam
dito que
aguardava o
senhor. Quando
chegou, viu que
Ewan Campbell
discutia
acaloradamente
com um de seus
conselheiros,
Lawler, e que a
seus pés tinha
um par
preparados de
fardos que, a
seguramente,
tocaria-lhe
carregar a ela.
— Não pode
partir assim. —
Dizia o homem
mais velho. —
Não com sua
casa cheia de
convidados.
— Pus ao Colin
no comando, ele
cuidará de sua
segurança em
minha ausência.
— Mas o que
pensarão os
MacNab?
— De verdade
acha que me
importa?
— É um insulto
que abandone
Innis Chonnel
enquanto eles
estão ainda
alojados aqui. —
Insistiu Lawler.
— Diga ao James
que fui a
investigar esse
assunto da jóia.
Isso o acalmará.
— Bem, pois, ao
menos, leve
alguns guerreiros.
— Não.
— Vais partir
com esse
servente como
único
acompanhante?
— Irei mais
rápido. — Ewan
olhou ao velho
com um meio
sorriso no rosto.
— Parece
preocupado pelo
que possa me
acontecer... Não
tema, não
deixarei que me
matem.
Lawler bufou
antes de
responder a sua
bravata.
— Certamente
não serei eu
quem chore por
ti se o fazem.
Afastou-se de seu
senhor e Willow
aproveitou para
aproximar-se.
Ouviu murmurar
ao laird às costas
do ancião.
— Não, imagino
que nesse caso
saltaria de alegria,
velho.
A moça se
surpreendeu por
ouvir aquela
afirmação. Ewan
Campbell
duvidava da
lealdade de seu
conselheiro?
Então... por que
o mantinha ao
seu lado? Se algo
tinha aprendido
Willow desde que
seu pai partiu à
guerra, era que as
traições estavam
presentes no dia
a dia de todos
eles. Surpreendia-
lhe que alguém
pudesse estar tão
tranqüilo
mantendo em sua
casa gente que
não era de
confiança.
— Ah,
finalmente
apareceu!
Willow olhou
com apreensão as
bolsas que o laird
tinha preparadas.
— Vamos a
alguma parte?
Ewan
comprovou que
seu tom destilava
todo o medo da
noite anterior.
Seus lábios
tremiam e seus
olhos
continuavam
espantados, não
lhe tinha passado
o susto.
Assim era verdade.
Não era apenas pelo
acontecido com o
MacNab.
Realmente,
considera-me um
sanguinário
assassino.
Aquilo reafirmou
sua decisão.
Necessitava essa
viagem a sós com
o Will, por
muitos motivos.
Em primeiro
lugar, para levar a
cabo o encargo
que se havia auto
imposto:
mostraria ao
moço os prazeres
que uma boa
prostituta podia
lhe proporcionar.
Talvez assim
deixaria para trás
esse ar
efeminado que o
acompanhava a
cada passo que
dava.
Por outro lado,
queria averiguar
por que o temia
tanto, embora
fazia uma idéia.
Tinha
interrogado ao
John, e tinha
averiguado como
encontraram ao
menino antes de
adotá-lo.
Nenhum sabia
com certeza de
onde provinha,
mas Ewan
presumia que
tinha algo a ver
com o Meggernie
e com o ataque
sofrido semanas
atrás. Se o moço
tinha escapado
do castelo
durante a
ofensiva, era
normal que o
considerasse um
assassino. E, por
algum estúpido
motivo, ao Ewan
incomodava que
o menino
pensasse essas
coisas dele.
Talvez se
passavam algum
tempo a sós, Will
compreenderia
seu verdadeiro
caráter. Teria
tempo de lhe
explicar que os
rumores eram
falsos... E que
ele, como laird
dos Campbell,
estava disposto a
descobrir quem
se achava atrás
dos ataques
perpetrados
contra os
MacGregor.
Sacudiu a cabeça
com desgosto ao
dar-se conta de
que estava
disposto a dar a
um simples
criado umas
explicações que
não merecia. Por
que perdia tempo
com ele?
Porque em jogo
muito mais que
recuperar a
virilidade de um
moço, disse-se. Neste
negócio está a tua
própria...
— Vamos, Bors
nos está
esperando no
barco. —
Ordenou, com
mais brutalidade
da que esperava.
Seus
pensamentos lhe
traíam e, como
sempre, quem
pagava era o
moço. —
Partimos
imediatamente.
Saíram da
fortaleza e se
dirigiram para
onde o barqueiro
aguardava. O
guerreiro
Campbell a
contemplou com
desprezo e, como
era já costume
entre eles, cuspiu
no chão quando
passou do seu
lado. Willow
tratou de passar
por cima, mas o
certo era que
cada vez lhe
incomodava mais
o rechaço
daquela gente.
Acaso se estava
afeiçoando com
os Campbell a
seu pesar?
Uma vez que
estavam em
marcha, a magia
da paisagem
apaziguou de
algum modo seu
desgosto. Seus
olhos se
recrearam na
beleza das
cristalinas águas
do Awe. Havia
algo tentador e
atraente no
brilho da
superfície, que
parecia ter
capturado seu
olhar. A neblina
que subia do lago
outorgava uma
qualidade mística
ao ar que os
rodeava e o
silêncio,
quebrado
unicamente pelo
som dos remos,
estremecia-a.
Quando
alcançaram a
borda oposta,
Willow
comprovou que
o homem
encarregado do
píer os estava
esperando com
um par de
cavalos providos
para uma viagem.
Desceram do
bote e Ewan deu
as últimas
instruções aos
seus homens
antes de dirigir-se
às montarias.
— Sabe montar?
Willow demorou
um momento em
dar-se conta de
que falava com
ela.
— Sim, meu
senhor.
— Pois te
apressa, não
posso te esperar
todo o dia.
A jovem se
dirigiu aos seus
arreios e, quando
agarrou as
rédeas, o animal
relinchou e se
moveu inquieto.
Lhe acariciou a
fronte para
tranqüilizá-lo,
como fazia com a
Lady, sua querida
égua, quando
ficava nervosa.
— Tranquilo,
pequeno, não
vou te fazer
nenhum dano.
Ewan, que
observava com o
canto do olho ao
moço, detectou
nesse gesto um
toque pessoal.
Seria Will o
encarregado dos
estábulos dos
MacGregor?
Duvidava-o. Ele
acreditava que
aquele
mequetrefe era
um desastre em
tudo o que se
propunha, por
isso era
impensável que
alguém lhe
tivesse dado tal
responsabilidade.
Entretanto,
parecia muito
cômodo com o
cavalo, como se
não fosse algo
novo para ele. A
cada instante que
passava, o jovem
servente lhe
intrigava mais e
mais.
— Tentarei
voltar o mais
breve possível.
— Disse Ewan a
seus guerreiros
antes de se
colocar em
marcha, sem
esperar a Willow.
— Espero que
seja verdade que
sabe montar. —
Zombou Bors,
indo de novo
para o barco para
retornar ao
castelo. — O
laird é um grande
cavaleiro e não
acredito que
diminua a marcha
por sua causa.
Esta noite terá
uma dor
espantosa no
traseiro, menino,
não lhe invejo
isso...
Willow o olhou
enquanto se
afastava rindo e
desejou poder lhe
gritar que ela era
uma excelente
amazona, que seu
pai e seus irmãos
sempre tinham
elogiado sua boa
mão com os
cavalos, e que o
laird podia
cavalgar todo o
dia se lhe
agradava, que
não desfaleceria.
Montou com um
movimento ágil e
saiu atrás do
senhor dos
Campbell,
notando que lhe
acendia dentro
uma faísca de
emoção. Fazia
tempo que não
desfrutava de um
passeio a cavalo!
Imediatamente
ficou apanhada
na beleza daquela
paisagem
espetacular. A luz
amarelada que se
filtrava entre as
árvores, junto
com o ar frio da
manhã,
acalmaram a
ansiedade de seu
ânimo. Não
podia deixar de
admirar os
distintos tons
verdes das folhas
das árvores e da
erva que aparecia
da terra escura.
As flores do urze
enchiam de vida
e cor a paisagem
até onde se
perdia a vista.
Era algo
fascinante, ao
menos para
Willow.
Contemplar as
mudanças de
estação, ser
consciente de
como mudava o
mundo ao seu
redor, de
qualquer forma
sempre belo,
contagiava-a de
uma energia vital
que serenava sua
alma.
Pela primeira vez
desde que soube
da morte de
Niall, a jovem
pôde respirar
enchendo seus
pulmões por
completo.
Deixou que o
calor do sol lhe
acariciasse a cara,
que a natureza
penetrasse por
todos os poros
de sua pele. Sim...
assim se sentia
mais perto de seu
irmão e, ao
mesmo tempo,
não lhe doía
tanto sua
ausência. Podia
sentir sua
presença na brisa
que agitava seu
cabelo, nos sons
do bosque, no
intenso aroma da
primavera que
chegava e que
enchia suas
fossas nasais...
— Will! por que
te atrasa?
O vozeirão de
Ewan a tirou de
seus
pensamentos.
Deteve-se para
esperá-la e
repreendê-la por
entreter-se; ao
que parecia, o
laird tinha pressa.
Willow se fixou
em seu cenho
franzido e
recordou a noite
anterior, quando
a resgatou da
habitação do
MacNab. por que
o teria feito? Foi
a primeira vez
que o expôs. Por
que o laird dos
Campbell
quereria ofender
assim a um de
seus convidados?
Sem pretendê-lo,
rememorou o
gesto daquele
homem grotesco
e as horríveis
frases que tinham
saído de sua boca
enquanto se
tocava. Um
desagradável
calafrio lhe
percorreu o
corpo inteiro e
sacudiu a cabeça
para desfazer-se
dessas visões.
— Pelo amor de
Deus, Will! —
Ewan tinha se
aproximado dela
ao vê-la deter-se
de novo. Tirou-
lhe as rédeas das
mãos e se dispôs
a guiar ele
mesmo seu
cavalo. — Nos
vai cair a noite
em cima antes de
que cheguemos
ao nosso destino.
Empreenderam
então um ligeiro
galope ao ritmo
que impôs o
homem. Willow
se agarrou à crina
de seu cavalo e
bufou
contrariada; lhe
tinha terminado
o agradável
passeio
contemplativo.
Cavalgaram
durante toda a
manhã, detendo-
se nas distintas
aldeias que
encontravam em
seu caminho,
todas
propriedade de
famílias
Campbell.
Willow se
surpreendeu ver
o respeito que
aquela gente
professava ao seu
senhor, embora
não mais que ver
o laird
preocupando-se
com o suceder de
cada um deles.
Perguntava-lhes
por sua saúde e
por seus filhos;
queria saber se
tinham o
suficiente para
viver, se
necessitavam
algo mais. Aos
que cuidavam do
gado,
perguntava-lhes
se tinham sido
objeto de
pilhagem e
roubos por parte
de outros clãs.
Definitivamente,
prestava-lhes
atenção.
Uma vez mais,
Willow notou
que as dúvidas
renasciam em seu
peito ao observá-
lo. Como podia
alguém tão leal a
sua gente, tão
nobre, tão
responsável,
cometer as
maldades que lhe
imputavam? A
moça se fixou em
como o olhavam
os outros. Pôde
vê-lo ela
também, através
dos olhos
daqueles que o
admiravam, e se
contagiou
daquele
sentimento.
Ewan Campbell
era um homem
único,
formidável, que
acontecia ajudar
a um granjeiro a
mudar a roda de
seu carro, a subir
nos ombros a um
dos meninos que
brincavam de
correr entre suas
pernas só para
divertir-se.
Mais de uma vez
teve que apartar a
vista,
sobressaltada,
quando ele a
olhava a sua vez
e a surpreendia
lhe cravando os
olhos. O calor
em seu estômago
se enroscava
então ao redor de
seu umbigo
como uma cobra
e as têmporas
latejavam de
vergonha.
Não é possível que o
encontre
interessante.
Esquece-o, não o
entende? E se foi
ele? E se na verdade
é o monstro que não
quer reconhecer?
Willow tinha
desejos de dar-se
cabaçadas contra
os troncos das
árvores. Porque
cada vez se
afastava mais do
caminho que
tinha marcado.
Cada vez que ele
falava, cada vez
que sua voz
áspera penetrava
através dos poros
de sua pele, sua
luta interna se
voltava mais
sangrenta.
Por sorte, apesar
de tudo, o tempo
passou voando
entre parada e
parada. Os
Campbell lhes
ofereciam
refrigérios e
punham a
disposição do
laird seus
escassos
pertences.
Inclusive a ela,
que não a
conheciam de
nada, trataram-na
com um carinho
que a comoveu.
Não era
ninguém, um
simples criado,
mas ia
acompanhando
do chefe dos
Campbell e isso
lhes bastava.
Willow lhes
devolveu cada
sorriso e cada
gesto de
amabilidade de
todo coração,
sem poder evitar
compará-los com
a gente de seu
próprio clã. Na
realidade, disse-
se, não eram tão
diferentes.
A noite chegou
mais rápido do
que esperavam e
acamparam à
beira de um dos
cristalinos lagos
da região. Se não
tivessem feito
tantas paradas no
caminho,
certamente
teriam alcançado
seu destino… Lá
onde quer que
Ewan a
conduzisse. Por
um momento,
desejou que já
tivessem
chegado. Tanto
para acalmar seu
desgosto para
poder descansar
em um lugar
coberto. A jovem
lamentou a
estupidez do
laird, que tinha
declinado mais
de um convite
para dormir em
uma daquelas
cabanas que
visitaram.
Enrolada junto
ao fogo,
agasalhada com
sua capa de lã,
sentia falta do
calor de um lar e
o sabor de uma
boa sopa. Por
que tinham que
dormir ao
relento, no frio
que fazia? Isso,
sem contar que o
céu estava muito
nublado e
ameaçava chover.
— Está quente?
— Perguntou-lhe
Ewan enquanto
tirava alguma
comida de seu
fardo.
— Ah, não...
— Toma. Ponha
isto.
O laird lhe
lançou um manto
que levava entre
as provisões.
Willow o agarrou
ao vôo e o
estendeu ante
seus olhos antes
de decidir
envolver-se nele.
As cores
Campbell.
Era consciente
de que, se o
punha, poderia
estar traindo
tudo que amava.
Levava tanto
tempo
obrigando-se a
detestar essas
cores, que
somente a sua
visão a fazia
sentir-se mau.
Mas tampouco
queria morrer
congelada...
Uma decisão
realmente difícil.
CAPITULO 19

Ia de mal a pior.
Ewan estava
completamente
subjugado com
aquele moço e se
odiava por isso.
Era incapaz de
colocá-lo em seu
lugar, de vê-lo
como ao simples
servente que era.
Tinha-o estado
observando
durante toda a
viagem, com
dissimulação, isso
sim, e cada vez se
sentia mais
apanhado no
feitiço que
exercia sobre seu
ânimo.
Will não se
queixou
nenhuma só vez
pelo intenso
ritmo de sua
caminhada.
Cavalgava com
elegância, com as
costas reta e uma
graça que roçava
o lado feminino
de maneira
alarmante. Com
sua gente tinha
sido amável e
simpático, tinha
cooperado em
tudo e inclusive
tinha curado o
joelho de uma
garotinha que
tinham
encontrado
chorando em
uma das granjas
visitadas. Ewan
não pôde deixar
de olhar suas
mãos enquanto o
fazia, invadido
por um escuro
sentimento que
envenenava sua
alma.
Desejava saber
como era o tato
daquelas mãos.
Deus bendito!
No que estava se
convertendo? Se
seu pai levantasse
a cabeça!
Agora, tremendo
em frente ao
fogo, Will parecia
mais frágil que de
costume. Olhava
com o cenho
franzido o manto
que lhe tinha
lançado, sem
fazer nenhuma
ameaça de usá-lo.
Aquilo lhe
recordou que o
moço lhe tinha
chamado
assassino na
noite anterior...
Teria algo a ver
com os
MacGregor, tal e
como suspeitava
depois de ter
falado com o
John? Porque
isso explicaria o
desgosto de sua
cara ante o tartán
dos Campbell.
Era hora de
averiguá-lo.
— Te cubra com
o manto, Will —
Ordenou,
secamente. —
Ou crê acaso que
trai ao seu clã se
vestir as cores de
seus inimigos?
Willow abriu os
olhos,
surpreendida e
assustada pela
pergunta.
Separou os lábios
para dizer algo,
mas não lhe
saíram as
palavras. Por fim
aquele homem se
deu conta de
quem era ela?
— Não me olhe
assim. —
Continuou
falando o laird.
— Me acusa de
assassino e me
olha como se
queria me
atravessar com
uma espada.
Acreditava que
não me daria
conta? É um
MacGregor,
verdade?
Certamente fugiu
do Meggernie
durante o assalto
e teve que
encontrar um
modo de
sobreviver. Que
sorte que
aparecessem
John e Maud
para te socorrer!
Willow notava
que lhe ardiam as
bochechas de
pura vergonha.
Embora, se o
pensava bem, era
mais raiva que
sentia do que
outra coisa.
— Sim, sou
MacGregor. —
Vaiou entre
dentes.
— Devo então
me preocupar?
— O laird se
levantou e foi ao
seu lado,
rodeando o fogo.
Levantou-a do
chão agarrando-a
pelos ombros e
afundou com
seus olhos nas
pupilas de
Willow. —
Porque pela
forma em que
me olha, acredito
firmemente que
estaria disposto a
me fatiar o
pescoço
enquanto durmo.
— O que eu
desejaria fazer e
o que posso fazer
são duas coisas
muito distintas.
— Ousou
defender-se. —
Jamais poderia
surpreender ao
senhor dos
Campbell, até
sendo sigiloso
como uma
serpente, e sei
que estaria morto
antes de levantar
sequer a adaga.
Ewan tratou de
assimilar suas
palavras. Esse
moço tinha
perdido o
julgamento, sem
dúvida. Como
podia expressar
suas intenções
com tanto
descaramento,
sem indício de
temor ante as
represálias?
— Isso quer
dizer que, se
pudesse, mataria-
me?
Não respondeu.
Mas o silêncio
que flutuou entre
eles parecia falar
mais claramente
que as palavras
não
pronunciadas.
Ewan aspirou
com força para
conter a fúria que
o invadia.
— Deus bendito,
moço. Faria-o se
pudesse,
verdade? — Quis
assegurar-se,
porque não podia
conceber que
Will o odiasse
tanto.
— Mas não
posso. — Falou
por fim. —
Assim não deve
temer um ataque
por minha parte.
Não sou um
louco que busca
a morte.
O laird estava tão
desconcertado
que até lhe
fizeram graça
suas últimas
palavras. Era um
MacGregor!
Tinha guelra, sem
dúvida! E isso era
algo que ele
admirava; tanto,
que acrescentava
mais fascinação
por sua pessoa.
Entretanto, não
podia permitir
que o mequetrefe
saísse ileso
daquele
enfrentamento.
Com um rápido
movimento,
capturou seu
pescoço com
uma mão e
aproximou sua
cara para que
pudesse ver bem
a ira em seus
olhos.
— Diz que não
procura a morte,
mas me provoca
com suas
palavras. O que
pretende? Sabe
quão fácil que
seria para mim
acabar contigo?
— Apertou o
delicado pescoço
o suficiente para
que no olhar de
Will se refletisse
o pânico.
— Sei. —
Sussurrou ela,
assustada. Talvez
tinha ido muito
longe, mas esse
homem já não
podia lhe fazer
mais dano de que
tinha sofrido. Por
isso falava sem
pensar, por isso o
desafiava com
todo o rancor
que levava
dentro, apesar do
medo.
Os segundos se
fizeram eternos.
Ewan não podia
apartar os olhos
daquele rosto
sem barba e sujo,
notando como
um caos de
emoções lhe
sacudia por
dentro. O que
tinha para que o
encontrasse tão
fascinante?
Irradiava uma luz
especial, um ar
quase mágico que
o atordoava.
— Quantos anos
tem? — Ocorreu
perguntar.
Willow mentiu,
sabendo que seu
disfarce seria
mais efetivo se
alegava ter
menos idade.
— Dezesseis.
— É muito
jovem. —
Suspirou o laird,
soltando seu
pescoço e
apartando-se
dela. — Por isso
é inconsciente,
apaixonado… E
temerário.
Prometi ao John
que cuidaria de ti
e não penso
faltar a minha
palavra.
— Neste
momento, a
palavra do laird
dos Campbell
não me resulta
confiável. —
Continuou
provocando-o.
Ewan
comprovou até
que ponto o
detestava aquele
moço, que se
arriscava de um
modo tão
inconsciente
soltando sua
língua sem
nenhuma
contenção. Não
podia consentir
que seguisse
pensando o pior
dele. Decidiu que
tinha que tirá-lo
de seu engano
nesse mesmo
instante.
— Escuta, jovem
Will. Não sei o
que ouviste a
respeito, mas
deve saber que os
Campbell não
atacaram
Meggernie. Eu
não tive nada a
ver com a morte
do filho de Ian
MacGregor.
Willow fechou os
olhos,
transpassada por
uma dor
insuportável.
Conteve as
lágrimas por
ouvir o nome de
seu pai nos lábios
daquele guerreiro
implacável.
Levava tantos
dias acreditando-
o culpado,
imbuindo do
sentimento de
vingança, que
suas palavras lhe
soaram falsas.
— Entretanto.
— Sussurrou,
com ira contida.
— encontraram
uma parte de um
manto com as
cores de seu clã.
Pretende me
dizer que chegou
ao Meggernie
por si só?
Então era isso,
pensou Ewan.
Alguém tinha
encontrado uma
prova que
incriminava aos
Campbell e os
rumores tinham
feito o resto. O
padre Cameron
tinha razão,
deveria ter
prestado mais
atenção a esses
boatos e havê-los
cortado pela raiz
assim que
surgiram. Para
que a gente
acreditasse nessa
vil mentira só era
necessário uma
coisa: a vontade
que tinham todos
de encontrar um
culpado a esse
crime
despresível.
— Não sei como
chegaram minhas
cores até o
Meggernie,
embora te
prometo que
penso averiguá-
lo. Assim, te
esqueça de
vinganças e de
me fatiar o
pescoço
enquanto durmo,
de acordo? Eu
encontrarei ao
verdadeiro
culpado e
limparei meu
nome, te
asseguro.
Willow
contemplou o
rosto daquele
homem e desejou
acreditá-lo, de
coração. Tinha
passado o
suficiente tempo
ao seu lado para
dar-se conta de
que não podia ser
o monstro que
tinha intuído
quando o
conheceu. E
sabê-lo inocente
lhe dava quietude
a alma, que se
debatia cada dia
entre a lealdade
para sua gente e a
atração que
notava crescer
mais e mais para
o laird dos
Campbell.
Sempre tinha
pensado, não
obstante, que não
tinha sentido que
alguém tão jovem
tivesse levado a
cabo a vingança
da que falavam
na carta que Niall
encontrou. Devia
tratar-se de
alguém maior,
algum dos aliados
ou amigos de seu
pai em outra
época. Ewan
logo que
conhecia seu pai,
não era lógico
dar por certo que
não tinha nada
que ver com o
acontecido?
Fechou os olhos,
desejando
acreditar. Sem
reparos, sem
remorsos, sem
sentir que traía
ao seu clã.
Entretanto, a
dúvida
permanecia aí,
muito dentro
dela. Débil, mas
o suficientemente
espinhosa para
sentir suas garras
lhe arranhando o
coração. Ficava a
possibilidade de
que o jovem
guerreiro tivesse
sido a mão
executora de
outra pessoa, do
verdadeiro
culpado, do
traidor.
— Como já lhe
hei dito, não
penso atentar
contra você. —
Disse isso por
fim, enrolando-se
de novo junto ao
fogo. — Mas não
me esquecerei de
que alguém
atacou aos
MacGregor de
maneira
selvagem. Isso
nunca.
Ewan ficou
olhando ao
menino que
falava com tanta
paixão daquele
ultraje para com
sua gente. Era
louvável a
lealdade e o amor
que sentia pelo
seu clã. Mas já
não era
MacGregor, e
quanto antes o
assimilasse, mais
sofrimento se
economizaria.
— Tenha
presente uma
coisa, jovem Will,
a vingança não
sanará sua dor.
Assim te esqueça
do que ocorreu
no Meggernie e
começa uma
nova vida. —
Observou-o
fixamente, como
querendo
remarcar as
palavras que ia
dizer a seguir. —
Te esqueça de
seu passado
como
MacGregor.
Willow conteve o
fôlego. Uma
sensação de
desamparo a
percorreu dos
pés a cabeça.
Deixar para trás a
lembrança de
Niall, de sua
família?
— Não posso
fazer isso, meu
senhor.
— Tanto deve
aos MacGregor?
Agora é um
Campbell.
Aceita-o de uma
vez e viverá mais
tranqüilo. Deixa
as vinganças e os
rancores para os
verdadeiros
guerreiros. No
final das contas,
o mesmo dá
servir a um clã
que a outro,
enquanto tenha
um teto sob o
que te cobrir e a
sorte de que seu
laird, seja quem
for, vele por sua
segurança.
— Ignoro o
conceito que têm
vocês da
lealdade, meu
senhor, mas lhes
advirto que eu
não vendo a
minha com tanta
facilidade. Os
MacGregor eram
minha família, e
se não for capaz
de compreender
isso, é que não é
tão bom laird
para sua gente
como eu
acreditava.
Nada mais disse,
tornou se deitar
sobre as mantas e
lhe deu as costas,
por isso Ewan
não pôde ver as
lágrimas que
alagavam seus
olhos depois do
discurso. O
Campbell
lamentou seu
desafortunado
comentário, pois
ele conhecia de
primeira mão
quão forte podia
ser o sentimento
de lealdade. Não
deveria haver
jogado isso na
cara do moço,
embora
reconhecia que
nesse momento,
mais que nunca,
desejava que o
jovem Will
transportasse ao
clã Campbell a
fidelidade que
parecia ter aos
MacGregor.
Depois de havê-
lo acolhido como
mais um dos
seus, era o
mínimo que
podia esperar
dele...

Despertou com o
ruído de um
corpo espirrando
na água. Willow
abriu os olhos e
colocou o nariz
pelo manto com
o que se havia
coberto durante a
noite. Na
realidade,
envolveu-se
naquela roupa
com as cores
Campbell sem
nenhum pudor;
no final, o frio
tinha desbancado
ao seu orgulho. E
posto que, depois
dessa noite,
tampouco tinha
muito claro que o
laird fora na
realidade o
temido inimigo
que ela tinha
suposto,
considerou que
não havia nada
de mau em
aceitar seu tartán.
Incorporou-se e
esfregou os
olhos, que notava
inchados pelos
pesadelos que
tinha sofrido
durante o sono,
como vinha
sendo já habitual.
Procurou a
origem daquele
som e divisou ao
Ewan metido no
lago, tomando
um banho
matutino.
Estremeceu-se de
frio ao
contemplá-lo. As
águas tinham que
estar congeladas!
Não havia sol,
além disso. As
nuvens seguiam
encobrindo o céu
e, por
experiência,
Willow sabia que
a chuva era
iminente. Por
sorte, não tinham
tido que sofrê-la
durante a noite.
Levantou-se e se
dispôs a preparar
o café da manhã
para os dois.
Remexeu em seu
fardo e tirou
algumas das
comidas que lhes
tinham
preparado no dia
anterior durante
as visitas às
granjas
Campbell. Uma
suculenta parte
de queijo, pão
ázimo, um pouco
de carne salgada
e um punhado de
frutas secas.
Willow queria
tomar algo
quente, como um
pouco de leite ou
de caldo, mas
não estavam
preparados para
isso. O laird
viajava com o
indispensável e
não levava
utensílios de
cozinha para
poder preparar
uma comida em
condições.
— Will, me traga
o manto!
O senhor a
chamava da
borda e ela
obedeceu sem
pensar, e sem
dar-se conta de
que Ewan estava
completamente
nu. Quando
virou para ele e o
viu, sua cara
ardeu como se
pequenas
labaredas
acendessem suas
bochechas. Ficou
paralisada no
lugar, sem poder
avançar e sem
poder apartar os
olhos daquele
magnífico corpo
que exibia. Tinha
visto o Reed
MacNab duas
noites antes, e
não sentiu nem
de longe o que
estava
experimentando
nesse momento.
Ewan Campbell
era formidável.
Só assim podia
descrever essa
anatomia
perfeita,
musculosa e
bronzeada. Sua
pele reluzia
úmida e dourada,
suas pernas
potentes, seus
braços de
guerreiro
mostravam a
força que se
escondia em seu
interior; o peito
amplo, de
músculos bem
delineados, estava
salpicado com as
cicatrizes de
batalha com as
que ela já se
familiarizou
durante seus
treinamentos.
Seu rosto sério,
de feições tão
varonis que a
deixavam sem
fôlego, mostrava
uma barba
incipiente que
não fazia mais
que acrescentar
atrativo ao
conjunto. Seu
cabelo castanho,
selvagem e
úmido, gotejava
água sobre seus
ombros e
pescoço, e
Willow se
perguntou o que
se sentiria ao
tocá-lo para secar
essa pele com
suas próprias
mãos…
— Will, te mova,
pegarei uma
pneumonia!
Mas ela não
podia aproximar-
se. Seus olhos lhe
percorreram
inteiro e soube
que seu disfarce
se veria muito
comprometido se
lhe ocorria
aproximar-se.
Demorou-se
mais da conta em
sua virilha,
curiosa,
meditando a
respeito de que o
membro de Reed
lhe resultasse
repulsivo
enquanto que o
do Campbell não
lhe enojasse
absolutamente.
— Maldito seja,
Will! Que
demônios te
passa?
Ewan saiu da
água e se
aproximou
mascando fúria
contra o moço.
Ao chegar a sua
altura, Willow
deu um passo
atrás,
impressionada, e
lhe arrebatou o
manto que
sustentava entre
suas mãos para
cobrir-se.
— Se fico doente
o pagará caro,
menino.
— O sinto. É
que eu nunca
tinha visto
ninguém... É uma
loucura banhar-
se… —
Gaguejava como
uma idiota. — A
água… Não
estava muito fria?
— Gelada. —
Bufou Ewan.
E menos mal,
pensou. Aquele
moço o estava
empurrando para
o precipício que
queria esquivar a
todo custo. Ficou
embevecido
olhando-o!
Definitivamente,
Will era
efeminado.
Nenhum homem
contemplava a
outro da maneira
em que o tinha
feito ele. Ewan
podia reconhecer
esse tipo de
olhar, tinha-lhe
ocorrido o
mesmo durante
seu último
treinamento com
o menino. Will
mostrava
interesse por seu
corpo! Não se
atrevia a chamá-
lo desejo, mas
estava claro que
se sentia
fascinado pelo
que viam seus
olhos. Dava a
impressão de
querer tocá-lo…
E pelas barbas de
Satã, ele tinha a
tentação de
permitir-lhe Se a
água não tivesse
estado tão fria
como o gelo,
estava
convencido de
que teria tido
uma ereção ante
aquele olhar azul
carregado de
desejo.
Sem dúvida,
estava perdendo
a razão.
— Se quer te
assear, mais vale
que te apresse.
Partiremos assim
que tenha
comido algo.
Usou um tom
mais
desagradável do
que o habitual
porque precisava
se desfazer do
feitiço daquela
cara de duende.
Cada vez tinha
mais claro que
devia convertê-lo
em um homem,
lhe mostrando a
diferença entre
seu corpo e o de
uma mulher.
Queria acreditar
que quando o
jovenzinho
estivesse diante
de uma boa
prostituta, tudo
voltaria a ser
como deveria. E
esperava, para
sua própria
prudência, que
não voltasse a
olhá-lo jamais
como acabava de
fazer enquanto
saía do lago.
Tratou de
concentrar-se na
missão que ainda
tinham pela
frente,
aproveitando que
o menino
desaparecia atrás
de uns matagais
para aliviar suas
necessidades.
Com um pouco
de sorte, ao meio
dia chegariam ao
seu destino. E,
depois de
resolver o
problema com o
Will, iriam ver
seu tio Alec.
Tinha que
averiguar a que se
referia James
MacNab quando
lhe falou da jóia
do Meggernie. O
que havia por
trás daquela
proposta de
compra? Por que
estava tão
interessado em
adquiri-la? Nunca
tinha ouvido falar
dessa jóia e lhe
intrigava.
MacNab trazia
algo nas mãos,
disso estava
convencido, e
tinha que achar
respostas. Por
isso, apesar de
que estava
proibido, visitaria
seu tio Alec no
lugar que tinha
escolhido para
seu exílio. Ele,
que tinha sido
amigo de Ian
MacGregor em
sua juventude,
era o único que
podia saber o que
era essa jóia, ou o
que significava.
E, ainda mais
importante, nas
mãos de quem
podia estar.
Will retornou e
Ewan perdeu o
fio de seus
pensamentos. O
moço tinha essa
estranha
qualidade, era
irritante. Tendo-o
tão perto lhe era
impossível estar
concentrado. O
único que lhe
ocorria para
sacudir-se de
cima aquela
debilidade, era
tratá-lo com
secura.
— Recolhe tudo
isto, vamos.
Willow, perdida
ainda na nuvem
de fascinação que
lhe tinha
provocado o
corpo nu de
Ewan,
sobressaltou-se
ante seu tom
áspero. Esse
homem estava
sempre zangado?
Ou era apenas
com ela?
Moveu-se como
se estivesse em
transe e levantou
acampamento
enquanto o laird
selava os cavalos.
Já não havia
dúvida, o laird
dos Campbell
exercia sobre ela
um estranho
poder de atração.
Jamais havia
sentido isso por
ninguém. Jamais
tinha notado que
seu corpo se
estremecesse ante
apenas a visão de
outro corpo, ou
ante o som de
uma voz, ou ante
um olhar
penetrante... Não
pôde evitar
observá-lo com o
canto do olho,
como se queria
elucidar se o que
tinha visto e
sentido ao vê-lo
sair do lago era
certo ou só um
sonho. Sua
constante
distração lhe
custou vários
gritos mais do
homem, cujo
cenho cada vez
era mais
pronunciado.
Quando se
colocaram por
fim em marcha,
respirou aliviada.
O laird se
adiantou um
bom trecho,
ignorando-a
como era
costume, e isso
lhe permitiu
relaxar-se para
tentar recuperar
o domínio de
suas emoções.
Não lhe durou
muito. Ao meio-
dia avistaram por
fim seu destino,
uma cabana
perdida na
metade da ladeira
de uma colina
coberta por um
tapete de erva e
flores amarelas.
Teve um mau
pressentimento.
Um calafrio
desagradável lhe
percorreu as
costas quando o
laird, que se tinha
detido para
esperar a que lhe
alcançasse,
voltou-se para ela
com um
enigmático
sorriso.
— Já chegamos.
O que rondava a
esse demônio
pela cabeça? Isso
era quão único
podia pensar
Willow enquanto
percorriam o
último lance do
caminho, com o
coração
bombeando com
ferocidade no
peito.

CAPITULO 20

— Leva os
cavalos para a
parte de trás e te
ocupe deles. —
Ordenou Ewan
assim que
alcançaram a
cabana. — Te
reúna comigo
dentro quando
tiver acabado.
Ela obedeceu,
reticente. Se lhe
dissesse que
preferia esperar
fora, com os
animais,
enfureceria-se?
Decidiu não
tentar à sorte,
assim fez o que
lhe tinha pedido.
Embora, isso
sim, demorou
todo o possível
para atrasar o
momento de
entrar.
Quando por fim
se reuniu com ele
no interior,
encontrou-o
conversando com
duas mulheres.
Uma delas era
mais velha, uma
anciã com a cara
tão enrugada que
Willow temeu ser
desconsiderada
por olhá-la tão
fixamente. A
outra, entretanto,
era uma
empregada
jovem, de cabelo
ruivo e traços
muito formosos,
embora um
pouco
exagerados para
seu gosto. Os
lábios eram
muito carnudos e
tinha as maçãs do
rosto muito
pronunciadas.
Possuía além
disso uns peitos
enormes que,
para o cúmulo,
estavam expostos
no descarado
decote de sua
blusa.
— Entre, Will,
não fique na
porta. —
Animou o laird,
que de repente
parecia estar com
um humor
estupendo. —
Estas boas
mulheres são
amigas minhas.
Ela é Iona e esta
sua filha, Thonia.
Almoçaremos
aqui... Tratarão-
nos bem. Muito
bem.
Havia uma deixa
estranha no tom
de Ewan. Não
fez mais que
corroborar seu
mau
pressentimento.
O que estavam
fazendo ali, em
uma cabana onde
só viviam duas
mulheres? Fixou-
se em que
Thonia tinha
seus olhos verdes
cravados nela e
estremeceu. Era
um olhar
parecido com os
que Agnes lhe
estava
acostumado a
dedicar, mas não
era igual.
Este era, de
longe, muito
mais horripilante.
Tentou evitar que
o ambiente se
tornou de
repente muito
denso, quase
irrespirável, e se
acomodou no
lugar que o laird
lhe indicou para
comer. Em
seguida, a velha
Iona lhes serviu
um de seus
melhores menus,
segundo palavras
do próprio
Ewan: carne de
pato ao molho
com alho-poró
salteado, e
Thonia colocou
diante deles dois
copos de vinho.
Depois,
deixaram-nos a
sós para que
dessem boa
conta da comida.
— Não bebe? —
Perguntou-lhe o
laird, em um
determinado
momento.
— Prefiro ter a
mente limpa,
meu senhor, se
por acaso me
necessitam
depois.
Os olhos
castanhos de
Ewan se
cravaram nos
seus,
consumindo o ar
ao seu redor.
— Bebe.
— Mas, laird...
— Bebe um bom
gole de vinho,
Will, o vais
necessitar.
— Por que?
— Faz muitas
perguntas,
alguma vez lhe
há dito isso
alguém?
— Sim.
Era certo. Seus
irmãos e seu pai,
inclusive sua
querida Enjoe, já
o tinham
reprovado em
alguma ocasião.
— Vire sua taça,
jovem Will. Hoje
vais converter-te
em um homem.
Willow, que já
tinha dado um
gole ao líquido
morno,
engasgou-se.
Tossiu e corou
antes de poder
perguntar de
novo.
— Como há dito,
meu senhor?
— Tranqüilo,
moço. Não deve
te pôr nervoso...
— Em seguida,
fazendo
ornamento de
sua falta de tato,
acrescentou, sem
dar volta. —
Olhe, Thonia é
muito boa na
cama; nem eu,
nem nenhum de
meus homens,
tivemos queixa
de seu trato. Sabe
o que faz, não
terá problemas
com ela.
Willow estava a
um passo da
histeria. Essa era
a idéia que lhe
rondava ao laird
pela cabeça?
Deitá-la com
uma mulher
experiente nos
mistérios do
amor? Para
convertê-la... em
um homem de
verdade?
— Não, meu
senhor.
Agradeço-lhe
isso, mas eu
nunca... Eu
jamais...
— Será sua
primeira vez? —
Ewan o
contemplou com
um sorriso
condescendente.
— Já imaginava!
Por que acha que
te trouxe aqui?
Não é o primeiro
ao que Thonia
desvirgina, já lhe
hei dito isso, é
muito hábil.
— Mas eu não
posso, eu nunca
vi...
Não sabia nem o
que dizer. Como
ia livrar-se
daquela ofensa?
Descobriria-a,
sem dúvida, e sua
cólera seria tal,
que lhe romperia
o pescoço sem
olhar.
Ewan bebeu
também de seu
vinho enquanto
estudava sua
expressão de
pânico.
— Menino, vais
dizer-me que
nunca viu a um
casal copulando?
Onde estiveste
metido? John e
Maud não o
fazem em sua
choça?
Willow negou
com a cabeça,
muito
mortificada para
falar.
Compreendia
que, entre as
classes mais
baixas, os
camponeses ou
os serventes
como seus pais
adotivos, era
normal fazer
amor na mesma
habitação que
compartilhavam
com seus filhos.
Mas ela, no
Meggernie, tinha
seu próprio
quarto e tinha
sido criada como
uma dama. Seus
ouvidos jamais
tinham escutado
os pormenores
daquele ato entre
casais... Além
disso, supunha-se
que deviam
respeitar sua
inocência e sua
pureza, por isso
ninguém a tinha
instruído em tais
questões. Como
ia suspeitar que
alguma vez
necessitaria de
que alguém a
tivesse mostrado
a esse respeito?
Assim, ao menos,
saberia que
demônios
esperava o laird
dela… Dele…
Em que confusão
se colocou!
Levantou-se,
presa de uma
náusea que
pouco podia
controlar. Saiu
correndo da
cabana e vomitou
a deliciosa
comida a uns
passos da porta.
Ewan, que tinha
saído atrás dela,
contemplou
aborrecido a sua
reação.
— De acordo...
Talvez quis ir
muito rápido,
Will. Pensei que
era mais vivido,
mas está visto
que não. —
Aproximou-se
até ela e lhe deu
umas palmadas
nas costas no que
pretendia ser um
gesto de
confiança entre
homens. —
Faremos uma
coisa: hoje só
olhará.
— Como? —
Perguntou em
um grasnido,
enquanto limpava
a boca com o
dorso da mão.
— Diz que não
sabe, que nunca
o viu. Vamos
consertá-lo... E
depois já não terá
desculpa. Além
disso, estou
convencido de
que, se tiver o
que tem que ter,
depois quererá
fazê-lo você
também. Seu
corpo reage por
si só quando vê
outro casal... Já o
comprovará.
A boca de
Willow secou.
Teve que
suportar que o
enorme braço do
laird lhe rodeasse
os ombros e a
conduzisse,
como se se
tratasse de um
amigo de toda a
vida, de volta à
cabana.
— Há algum
problema, meu
senhor? —
Perguntou
Thonia, quando
ambos entraram
no salão. Perto
dela estava a
anciã, que os
olhava
retorcendo as
mãos com
ansiedade.
— Minha filha
não é do agrado
do moço?
— Justamente o
contrário, Iona.
— Respondeu
Ewan. — Sua
beleza é excessiva
para o
acanhamento de
meu pequeno
amigo. Esta tarde
se limitará a
observar... E a
aprender.
A jovem ruiva
esboçou um
sorriso mais que
satisfeito ao
inteirar-se de que
o ato o daria o
laird dos
Campbell, e não
um triste menino
sem barba e sem
experiência.
Willow notou um
sabor amargo na
boca ao precaver-
se do olhar
incendiário que a
mulher lançou ao
Ewan. E teria
jurado que não
era pela bílis que
acabava de
expulsar. A sério
devia presenciar
o que estava a
ponto de ocorrer
entre esses dois?
Thonia se
aproximou deles,
rebolando os
quadris de
maneira
exagerada, e
tomou a mão do
laird para
conduzi-lo a seu
quarto. Willow
percebeu que,
embora a cabana
não era muito
grande, além do
salão havia duas
habitações mais.
Supôs que, se a
mulher se
dedicava a esse
ofício, a
intimidade era
mais que
necessária.
— Vem conosco,
Will.
A ordem do laird
soou rasgada,
talvez algo
ausente. Willow
se deu conta de
que ele olhava o
traseiro de
Thonia e parecia
ter já todos os
seus sentidos
postos no que ia
ocorrer no
interior daquele
quarto. Daria-se
conta se ignorava
a ordem, se
ficava com a
anciã do outro
lado da porta, ao
calor do fogo de
seu lar enquanto
ele saciava suas
apetências
carnais?
— Will.
Pois sim. Deu-se
conta de que seus
pés não queriam
caminhar.
Seguiu-lhes com
muita
dificuldade, com
o coração na
garganta e o
estômago
voltado do
avesso. Não
estava preparada
para ver o que
estava a ponto de
ocorrer ali
dentro.
Assim que
entrou, Thonia
fechou a porta e
se aproximou
dela... Muito.
Tanto, que seus
carnudos lábios
vermelhos
depositaram um
úmido beijo
sobre sua boca.
— Pode te sentar
aí, pequeno Will.
— Sussurrou,
com a voz
enjoativa como o
mel.
Conteve a
vontade de
limpar-se daquele
beijo e se moveu,
tensa como a
corda de um
arco, até colocar-
se onde a mulher
lhe indicava. Era
uma pequena
poltrona de pele
de ovelha, em um
canto da
habitação.
Quando seus
olhos
conseguiram
enfocar algo,
depois de sair do
estupor que a
embargava,
fixou-se em que
o laird já estava
tirando a camisa
por cima da
cabeça. Várias
mechas de cabelo
lhe caíram sobre
a cara e Willow
soube que, para
apartá-los, Ewan
utilizaria esse
gesto tão dele
que já conhecia
de cor.
Surpreendeu-se
ao dar-se conta
de que conhecia
perfeitamente os
gestos do laird,
seus cenhos
franzidos, seus
escassos sorrisos.
E ainda se
surpreendeu mais
quando ficou
consciente de
que gostava de
saber-lhe de cor,
como se desse
modo ela tivesse,
de alguma
estranha e
retorcida
maneira, um
vínculo mais
especial que o
que pudesse ter
com ele qualquer
mulher...
Tremeu de pavor
ao compreender
que o calor que
sentia na boca do
estômago era
puro desejo.
Talvez inclusive
ciúmes.
Invejou as mãos
de Thonia, que
podiam tocá-lo
com liberdade. E
sim, o fazia! A
descarada não
deixava um
palmo de pele
sem explorar
enquanto o
despia. Também
usava sua boca.
Passeava-a pelo
peito do laird,
saboreava-o com
a língua e
depositava
úmidos beijos
por onde
passava. Invejou
também seus
lábios, e cada
parte de seu
corpo que Ewan
acariciava. Uma
vez pensou que
ser tocada ou
abraçada por esse
homem tinha que
ser horrível; mas,
ao ser
testemunha de
como as mãos do
laird se moviam,
possessivas,
suaves e ásperas
ao mesmo
tempo, desejou
poder sentir
durante um
instante o mesmo
que devia estar
sentindo Thonia.
— Meu senhor...
— Gemeu de
repente a ruiva,
quando ele a
apertou contra
seu corpo lhe
sujeitando o
traseiro com
ambas as mãos.
— Tire a roupa.
— Ordenou
Ewan, com a voz
rouca.
A mulher se
virou para o
Willow com um
sorriso lascivo
em seu formoso
rosto, e se desfez
de tudo o que
levava em cima
com movimentos
lentos e
pausados, sem
deixar de olhá-la
nos olhos. Ao vê-
la completamente
nua, Willow
avermelhou até
que a cara lhe
ardeu como se
tivesse febre.
Tinha estado tão
concentrada nos
olhos verdes de
Thonia, que não
se precaveu de
que Ewan
também se
desprendeu das
calças e das
botas. Seu olhar
curioso recaiu na
virilha masculina
e descobriu,
fascinada, que o
membro do
homem era o
triplo de grande
que essa manhã
no lago e que se
levantava para
cima como se
tivesse vida
própria.
Quando Thonia
se voltou para
ele, e lhe agarrou
justo aí enquanto
procurava sua
boca para beijá-lo
com frenesi,
Willow sentiu um
sufoco. Olhava,
com os olhos
arregalados entre
o espanto e o
assombro, como
ela o acariciava.
Queria sair
correndo para
não vê-lo, mas
também ardia em
desejo por
aproximar-se
mais e não
perder nenhum
detalhe. Esse
homem
conseguiria
condená-la ao
fogo do inferno,
porque estava
convencida de
que aquilo estava
mau. Não teria
que estar
observando essa
cena, não era
mais que luxúria
e perversão… E
Ewan tinha
conseguido
despertar em seu
interior um
interesse
mórbido por
saber o que viria
a seguir.
Quanto mais o
acariciava
Thonia, daquela
maneira tão
íntima, mais sons
perturbadores
brotavam da
garganta do laird.
Estavam-na
matando aqueles
gemidos,
obtinham que
seu estômago se
contraíra e que
notasse um
batimento do
coração estranho
muito mais
abaixo, entre as
pernas. Sentiu a
necessidade de
tocar-se para
tentar aliviar a
tensão que se
acumulava cada
vez mais nessa
zona, mas tinha
medo até de
respirar…
E lhe custava.
Ofegava em
silêncio, com os
lábios
entreabertos, sem
apartar a vista
agora da mão do
laird, que
também
acariciava a
Thonia lhe
massageando os
enormes peitos,
para baixar logo
por seu
estômago até lhe
roçar os cachos
ruivos do púbis.
Teve que morder
o lábio inferior
para afogar uma
exclamação
quando viu como
dois dos dedos
masculinos
penetravam no
interior da
mulher. Thonia
sim gritou de
prazer e Willow
se mexeu
inquieta na
poltrona,
notando como
seus peitos se
voltavam mais
pesados e se
apertavam contra
a vendagem que
os oprimia. Deus
Todo-poderoso,
Ewan tinha
razão! Seu corpo
reagia sozinho,
como se quisesse
participar
também do
prazer do casal.
Continuando, o
braço que ficava
livre ao laird
rodeou a cintura
da mulher para
sujeitá-la e ela,
como se lesse sua
mente, arqueou-
se para trás
deixando seus
peitos ainda mais
expostos. Ewan
baixou a cabeça e
tomou um deles
com a boca, o
que conseguiu
que Willow se
esticasse e
apertasse as
pernas, coxa
contra coxa.
Umedeceu-se os
lábios e tragou
saliva com
dificuldade. O
coração lhe
palpitava como o
de um cavalo a
galope. Era
possível que
todos os seus
sentidos
clamassem de
necessidade?
Porque assim se
sentia, como se
necessitasse de
maneira dolorosa
o que Thonia
recebia, o que
Thonia
acariciava, o que
Thonia devia
estar sentindo, a
julgar por seus
gemidos.
Encontrou-se
fantasiando de
repente,
imaginando o
que suporia ser
ela… Poderia
sentir o forte
braço do laird
rodeando-a, a
língua em seus
mamilos, por
toda sua pele.
Poderia
experimentar a
sensação de ter
seus dedos
tocando-a aí
abaixo,
penetrando em
seu interior!,
onde a tensão era
já insuportável…
Um som
estranho e
desconhecido
brotou de sua
própria garganta
sem pretendê-lo.
Foi o bastante
audível para
chamar a atenção
de Ewan, que
levantou a cabeça
e a olhou com os
olhos nublados
pela paixão.
Imediatamente,
Willow ficou
apanhada naquele
olhar intenso e
poderoso, cheia
de fogo.
Envergonhou-se
de sentir o que
sentia, de que ele
a tivesse escutado
gemer, de ter que
lhe dar razão
quando lhe disse
que quereria
unir-se a eles…
— Te aproxime,
Will.
A voz do laird
soou áspera, mas
tão convincente
que não admitia
réplicas.
Pôs a Thonia
frente a ela e ele
se colocou nas
costas da mulher,
olhando-a por
cima de seus
leitosos ombros.
Willow se
levantou como
pôde da poltrona
e deu uns passos
para eles,
totalmente
tomada pelo
olhar escuro do
laird. Nesse
momento, não
compreendeu o
risco que corria.
O olhar de Ewan
a mantinha
completamente
subjugada e as
novas emoções
que governavam
seu corpo virgem
anulavam sua
vontade.
Quando esteve o
bastante perto,
ele capturou um
de seus pulsos e
guiou sua mão
até um dos peitos
de Thonia. Foi
do mais estranho.
Estava tocando a
essa mulher,
apalpando a
turgidez daquele
seio generoso e
pleno, mas o
único no que
podia concentrar-
se era no calor
que a mão do
laird transmitia
ao seu braço.
Thonia jogou a
cabeça para trás,
apoiando-a no
ombro de Ewan,
e gemeu como se
suas torpes
carícias a
agradassem.
— Muito bem,
Will. —
Sussurrou o
homem. — Você
gosta, certo?
Willow apartou
os olhos dos dele
um momento,
apenas para fixá-
los em sua boca
dura. E
desejou… Oh,
por todos os
infernos!
Desejou que
Thonia não
estivesse entre
eles para assim
poder pegar-se a
esse enorme
corpo nu e
quente que
puxavam suas
vísceras com
insistência. Como
era possível?
Como podia
desejar fundir-se
com a pele de um
homem ao que
tinha detestado
justo até a noite
anterior? Como
podia estar
morrendo por
receber os
mesmos
cuidados que
uma prostituta?
E então, como se
respondesse a
cada um de seus
mais proibidos e
vergonhosos
desejos, Ewan a
acariciou.
Não a Thonia.
A ela.
CAPITULO 21

Não recordava
nunca ter vivido
nada tão
excitante. O fogo
aceso no lar
arrojava uma luz
ambarina sobre o
corpo arqueado
de Thonia, como
sempre delicioso,
morno,
apetecível. E suas
mãos hábeis, seus
lábios generosos
e seus gemidos
eram tão
provocadores
como de
costume.
Entretanto, ser
consciente da
presença do Will
naquela
habitação o
estimulava mais
que qualquer
outra coisa.
Notava o olhar
do menino sobre
eles e, embora
não tinha querido
olhá-lo, sabia que
ele também
participava
daquela cena sem
perder nenhum
detalhe.
Quando escutou
o gemido que
escapou de sua
garganta soube
que o moço
estava excitado.
Então cometeu o
engano de olhá-
lo, e de lhe pedir
que se
aproximasse. A
cara de Will
estava
transtornada de
paixão. Seus
olhos delatavam
o assombro e a
fascinação que
devia estar
sentindo. Guiou-
o para animá-lo,
para que
soubesse o que
se sentia ao
acariciar
intimamente a
uma mulher. Seus
lábios
entreabertos
deixavam escapar
o ar entre
pequenos ofegos
e sua delicada
mão, acariciando
com hesitação o
peito de Thonia,
foi mais do que
pôde suportar.
Contudo, o que
lhe levou a um
passo de perder
seu autocontrole
foi descobrir que
Will continuava
olhando a ele.
Não se fixava na
Thonia, não lhe
emprestava a
mínima atenção.
Os olhos do
menino, abertos,
brilhantes,
azulsíssimos,
estavam cravados
no seu… Aquele
demônio com
cara de duende o
desejava, a ele, e
por todos os
infernos, Ewan
também
encontrava mais
suave e tentadora
a pele do braço
que sujeitava que
a da mulher que
se encontrava
entre ambos.
Por isso, talvez,
sem dar-se conta,
moveu seus
dedos em direção
ascendente,
desde seu pulso
até o cotovelo,
arrastando o
tecido da camisa
para trás para
desfrutar do
aveludado tato
daquele
antebraço.
Resultou-lhe
incrível; ao
contato com a
pele de Will, seu
corpo reagiu
como se lhe
tivessem dado
uma chicotada.
Notou uma
chama que lhe
percorreu das
pontas dos dedos
até o peito, e
baixou como um
raio até sua
virilha,
conseguindo que
sua ereção se
tornasse
dolorosa. Teve o
súbito impulso
de afastar a
Thonia para que
nada o separasse
do pequeno
duende que
acendia seus
sentidos e
obtinha que se
sentisse mais
vivo…
Então Will deu
um passo atrás,
com os olhos
exagerados, e a
realidade lhe caiu
em cima como
um jarro de água
fria.
A cólera contra si
mesmo arrasou
seu ânimo e lhe
azedou o
momento.
— Saia daqui! —
Vaiou entre os
dentes, afastando
sua mão como se
a pele de Will
queimasse.
Por sorte não
precisou que o
repetisse. O
menino saiu da
estadia como
alma que levava o
diabo e Thonia
se virou para ele,
lhe rodeando o
pescoço com os
braços, mal
entendendo a
situação.
— Não se aflija,
meu senhor. Não
é o único ao que
não gosta que o
olhem enquanto
se deita com uma
mulher. O moço
logo aprenderá,
todos o fazem,
cedo ou tarde…
Continuando,
apoderou-se de
sua boca e o
beijou com ardor,
dedicando-se ao
que melhor sabia
fazer.
Ewan agradeceu
que ela não se
precaveu do
verdadeiro
problema e
tentou
concentrar-se em
sua língua, cálida
e algo picante,
que sempre
conseguia aliená-
lo o suficiente
para esquecer do
resto do mundo.
Justo o que ele
necessitava nesse
momento.
Naquela ocasião,
para sua total
consternação, foi
impossível. Cada
vez que fechava
os olhos, via a
cara do Will. E
não podia deixar
de comparar o
que sentia
tocando a Thonia
com o que havia
sentido aquele
breve instante
acariciando a pele
do menino.
Grunhiu contra a
boca da ruiva e
seus próprios
fantasmas o
esporearam para
conduzir-se de
uma maneira
muito mais
selvagem do que
nele era habitual.
Agarrou à
mulher pelo
cabelo e jogou a
cabeça para trás
sem olhar para
lhe devorar os
lábios. Talvez se
se mostrava mais
apaixonado, mais
básico, muito
mais rude,
pudesse
reafirmar sua
masculinidade e
tirar-se de dentro
o veneno que
aquele pequeno
duende lhe tinha
inoculado…

A brisa fresca,
prelúdio da
chuva que
ameaçava no céu,
acalmou o ardor
de suas
bochechas
quando saiu da
cabana. Seu
corpo estava
tremente e débil,
o coração lhe
pulsava forte
contra as costelas
e o braço, ali
onde a mão do
laird a tinha
acariciado,
continuava
sensível. Willow
se deteve uns
passos da porta
para recuperar o
fôlego e tentar
serenar-se. O que
tinha ocorrido
naquela
habitação? Estava
muito confusa…
Não lhe tinha
suposto nenhum
trauma acariciar
o peito a essa
mulher; depois
de tudo, ela tinha
também dois
seios e conhecia
seu tato. Mas
teria preferido
acariciar o peito
sulcado de
cicatrizes do
Ewan e afastar a
Thonia, tirá-la
dessa estadia para
que o laird
dedicasse a ela
toda sua atenção.
Sentiu que algo
lhe cravava no
estômago e o
identificou como
um crescente
mal-estar por
imaginar o que o
casal podia estar
fazendo naquele
momento agora
que se
encontravam a
sós. Por São
Mungo, como
diria Maud! De
verdade estava
ciumenta?
— O que faz é
muito arriscado.
Willow se
sobressaltou ao
escutar a voz da
anciã. Não a
tinha ouvido
chegar, mas ali
estava, ao seu
lado,
contemplando a
paisagem que se
estendia em
frente à cabana.
— Como diz?
— Cedo ou tarde
te descobrirá. O
que acha que fará
então? — A
velha enrugada a
olhou agora e lhe
cravou seus
retorcidos olhos.
— Demorei um
pouco para me
dar conta, o que
quer dizer que
seu disfarce tem
muito mérito.
Essa cara suja e
essas roupas
folgadas
despistam o
bastante, mas vi a
muitos homens
em minha vida
para não me dar
conta de que
você não é um
deles.
Willow tragou
saliva, tratando
de controlar o
pânico.
— Não me
delate, por favor.
— O que não
entendo. —
Prosseguiu Iona.
— É como o
laird não se deu
já conta. Uma
vez que conhece
a verdade é tão
evidente…
Suponho que
está cego com
sua própria luta
interna.
— Que luta
interna?
— Querida
menina…
Aconteceu algo
aí dentro,
verdade?
— Expulsou-me.
— Mmm. O que
supunha. Por isso
não se dá conta.
Quando os
homens voltam
seus olhos para
dentro,
preocupados
unicamente pelo
que lhes
perturba,
perdem-se tudo o
que acontece fora
deles mesmos.
Willow a olhou
sem
compreender.
— A que te
refere?
A velha emitiu
um fundo
suspiro e apartou
os olhos para
voltar a perdê-los
no infinito da
paisagem.
— Acredito que
o laird não é o
único que não se
precavê do que
ocorre ao seu
redor. —
Sussurrou. — Te
sugiro que lhe
confesse a
verdade quanto
antes, menina, ou
o tempo será
pior.
Willow negou
com a cabeça,
teimosa.
— Não posso,
ainda não.
— Por que
quereria uma
jovem como você
fazer-se passar
por varão? Foge
de algo... De
alguém?
— Fujo de mim
mesma, Iona. —
Respondeu ela,
discretamente,
quebrada pelo
sofrimento. —
Há dias nos que
de verdade
preferiria ser Will
nada mais. Assim
não teria
pesadelos, nem
esta vontade de
vingança que
consomem toda
minha energia.
A mulher girou
para ela e a
contemplou
longamente.
— É o laird, por
ventura, o
causador de sua
pena e o
destinatário de
seu ódio?
— Não estou
segura. Até
ontem, assim
acreditava.
Iona abriu os
olhos e estalou a
língua com pesar.
Aproximou-se
mais dela e
agarrou sua mão
antes de lhe falar
de novo.
— Me deixe que
te dê um
conselho,
menina. Se por
acaso não te
deste conta, o
laird e você...
— Will, os
cavalos!
O vozeirão de
Campbell pôs
fim à conversa.
Tinha saído da
cabana como um
vendaval,
colocando as
roupas,
despenteado,
suarento e
agitado. Dirigiu-
lhe um olhar que
poderia havê-la
convertido em
sal, assim não
duvidou em
correr para a
parte traseira da
casa para
encarregar-se das
montarias. Tal
parecia que
queria lhe
arrancar a pele a
tiras só por
existir, assim que
o melhor era não
lhe dar motivo
para isso.
Preparou os
cavalos e montou
no seu antes de
voltar junto a ele,
pois pressupôs
que quereria
partir
imediatamente.
Aquele homem
não conhecia
nenhuma das
fórmulas da boa
educação, assim
tampouco
esperava que a
deixasse
despedir-se de
suas anfitriãs
como era devido.
Tal e como
suspeitava, assim
que esteve ao seu
alcance, o laird
lhe arrancou as
rédeas da mão
para saltar sobre
seus arreios e
partiu a galope,
sem esperá-la.
Willow só pôde
olhar à anciã, que
tinha ficado tão
pasma como ela,
e despedir-se
com um gesto de
cabeça.
— Obrigada por
tudo, Iona.
Dito isto, saiu
atrás daquele
homem
temperamental e
diabólico.
Custou-lhe
trabalho o
alcançar, embora
nunca o teve
muito longe.
Parecia que Ewan
tratava de manter
distância dela,
não permitia que
lhe alcançasse,
embora
tampouco a
perdia de vista.
Quando por fim
reduziu a marcha
o bastante como
para que se
situasse a sua
garupa,
começaram a cair
as primeiras
gotas de chuva.
Willow
amaldiçoou baixo
e supôs que ele
procuraria algum
refúgio...
Podia seguir
sonhando.
O laird
continuou seu
caminho como se
tal coisa não o
afetasse e, pouco
a pouco, a
tormenta
aumentou. Já que
ao Ewan não
pareceu lhe
importar, Willow
se pós o tartán
dos Campbell
disposta a
agüentar essa
cavalgada sob a
água.
Depois de uma
hora suportando
aquele inferno,
decidiu que não
podia detestar
mais a um
homem. Estava
molhada até os
ossos e lhe
tocavam
castanholas os
dentes de frio.
Tinha os dedos
intumescidos e
logo que podia
segurar as rédeas
de seu cavalo. O
insistente som da
chuva sobre os
campos era
ensurdecedor,
por isso gritar a
esse
descerebrado que
se empenhava em
que ambos
pegassem um
resfriado, não
tinha sentido. Só
esperava que
recuperasse logo
a prudência e
procurasse
proteção, porque
do contrário...
Ewan deteve seu
cavalo.
Willow observou
que suas costas
se esticava e
ficava muito
quieto, como se
pretendesse
escutar mais à
frente do som
das gotas de água
sobre a terra
molhada. Girou-
se para ela e seus
olhos castanhos a
atravessaram
com intensidade.
O que lhe
ocorria? O laird
voltou e se
aproximou até
sua posição, com
o gesto grave e
concentrado.
Abriu a boca
para falar, mas no
último segundo,
algo passou
assobiando perto
de suas cabeças e
Ewan atuou sem
pensar.
Saltou sobre ela e
a arrastou com
ele até o chão.
Cobriu-a com
seu corpo
enquanto as
flechas voavam
sobre eles,
resmungando
impropérios
contra seus
covardes
atacantes. Não a
deixou respirar
até que ouviram
a voz do inimigo,
que se escutou
mais perto do
que ambos
supunham.
— Que sorte a
minha! Ewan
Campbell, o
flamejante chefe
de seu clã, é
também um
estúpido exímio.
Sai de sua
fortaleza sozinho,
sem mais escolta
que este
jovenzinho
covarde.
— Reed? —
Ewan levantou a
cabeça e o
buscou com o
olhar. — Reed
MacNab?
— Veja só! —
Gargalhou. —
Vou realizar dois
de meus desejos
mais secretos.
Acabarei com o
arrogante
Campbell e
ficarei com seu
pequeno
mancebo para
mim apenas. O
que me diz,
pequeno Will?
Quer terminar o
que começamos
a outra noite?
CAPITULO 22

Willow
estremeceu de
medo ante as
desagradáveis
gargalhadas de
Reed. Levantou a
cabeça assim que
Ewan o permitiu
e observou com
pânico crescente
que o MacNab
não estava
sozinho. Quatro
homens mais
saíram da
espessura do
bosque,
rodeando-os,
cercando-os com
lentidão e com
expressões
assassinas. Cinco
contra eles, que o
céu lhes ajudasse.
Olhou de
esguelha ao
Ewan, que se
tinha posto em
pé e já tinha sua
enorme espada
na mão. Por
incrível que
parecesse, não
dava a impressão
de estar
amedrontado.
Willow constatou
com assombro
que seu gesto era
mais de fúria
contida,
concentrada,
como se um
estranho poder
queimasse em
seu interior e
estivesse fazendo
um verdadeiro
esforço para
controlá-lo.
Mesmo assim,
até notando o
halo de perigo
que flutuava ao
seu redor, Willow
não acreditava
capaz de superar
a cinco inimigos.
— Fique atrás de
mim, Will. —
Sussurrou.
— Posso ajudar,
me dê uma arma,
senhor.
Ewan só a olhou
um segundo, mas
bastou para lhe
arrepiar toda a
pele do corpo.
— Nem pense
nisso. São meus.
Isto último o
disse já com toda
a atenção posta
em seus
atacantes. Reed
seguia rindo
entre dentes e
balançava sua
espada com
diversão. Outros
tinham uma
expressão tão
malvada que
Willow
estremeceu de
terror. Quantas
vezes tinha
desejado que
Ewan Campbell,
o suposto
assassino de seu
irmão,
sucumbisse?
Mas não assim,
pensou, não é
justo. Nenhum
homem deveria
ser massacrado.
Surpreendeu-se
ante seus
próprios
pensamentos.
Disse-se que o
único motivo de
sua preocupação
era que, se o laird
caía, ela estaria
nas mãos de uns
selvagens.
Entretanto, sabia
que não estava
sendo sincera
consigo mesma.
Algo tinha
mudado. Ela
tinha mudado, e
o modo com que
o via também.
Pela primeira vez,
a idéia de
contemplar o
corpo do Ewan
atravessado por
uma espada lhe
resultou
insuportável.
Os homens cada
vez se
aproximavam
mais. O único
ponto seguro era
a suas costas, e
ela teve a
prudência de
ficar ali para não
distrair ao laird.
Um de seus
atacantes os
apontava com
seu arco,
certamente era o
que tinha
disparado antes
de que Ewan
apeasse do cavalo
com tanta
urgência. Matar a
um homem a
flechadas,
meditou Willow
cheia de cólera,
não tinha nada de
nobre. Os
MacNab não
podiam ser tão
infames... Ou ao
menos, isso
desejava.
Por sorte, a
arrogância de
Reed parecia
superar a do
próprio Ewan,
porque deu
ordens ao seu
soldado para que
não atacasse.
— Baixa o arco,
Gavin. O senhor
dos Campbell
merece uma
batalha justa.
Disse-o com
desdém e Willow
desejou ter
aprendido a lutar,
ter mais força...
Ser um autêntico
soldado! Então
lhe diria quatro
coisas a esse mal
criado. Cinco
contra um?
Surpreendeu-se,
não obstante,
quando Ewan lhe
respondeu com
aparente calma.
— Ofende-me,
MacNab. Se
queria uma
batalha justa,
tinha que ter
trazido mais
homens. Mas não
me importa, sabe
por que? Tive um
mau dia. Um
realmente mau…
E você me vêm
muito perto para
me desforrar.
O gesto de
diversão
abandonou então
o rosto de Reed.
Apertou com
força a
mandíbula e seu
cenho se
acentuou tanto
que Willow
pensou que
pretendia matar
ao laird só com
seu olhar.
— Ataquem. —
Ordenou.
Os outros quatro
homens se
moveram em
uníssono e o
coração de
Willow disparou.
Aquilo não podia
estar ocorrendo.
Deu alguns
passos para trás,
muito devagar,
até que suas
costas topou com
seus próprios
arreios. Virou-se
e procurou nos
alforjes até que
encontrou sua
adaga. Aferrou-a
sentindo certo
alívio e voltou a
atenção à luta,
surpreendida
quando
comprovou que
o primeiro dos
MacNab já
levantava sua
espada contra
Ewan.
Tudo ocorreu
muito depressa.
O laird deteve o
ataque, empurrou
com todas as
suas forças para
repelir ao
homem e girou
com rapidez para
estampar o
cotovelo na cara
do que se
equilibrava sobre
ele. As lágrimas e
o sangue cegaram
a seu atacante,
que caiu de
joelhos, mas
Ewan não pôde
rematá-lo porque
o terceiro
indivíduo lançou
uma estocada
que esteve a
ponto de alcançá-
lo. Willow se
surpreendeu pela
rapidez e a
agilidade de
Ewan. Tinha-o
visto durante os
treinamentos e
sabia que era
hábil. Mas nem
tanto. Esquivou a
espada que o
atacava, ao
mesmo tempo se
moveu para
frente e, em uma
piscada, cravou
seu próprio aço
no peito do
outro homem. O
tempo que
demorou para
recuperar sua
arma foi precioso
porque, apesar de
sua manobra de
evasão, um
MacNab
conseguiu lhe
fazer um corte
no braço.
Ewan não
proferiu nem um
só grito.
Bloqueou o
ataque seguinte
com sua própria
espada e utilizou
o outro punho
para
desestabilizar ao
homem. Dois
mais se
aproximavam
dele por ambos
os lados, mas o
laird se moveu
com presteza e
voltou para trás
no instante certo;
momento que
aproveitou para
agarrar as
cabeças de seus
atacantes e as
fazer chocar
entre si. Os
homens caíram a
seus pés,
inconscientes sob
a chuva que não
deixava de cair.
A luta prosseguiu
e Willow já não
via tanta
desigualdade. O
certo era que a
ferocidade de
Ewan a deixava
sem fôlego.
Revolvia-se como
um animal
selvagem, seu
olhar tinha
adquirido traços
assassinos e se
alegrou, por uma
vez, de estar em
seu bando. Não
sentiu lástima
dos MacNab. Ao
contrário,
quando detectou
que Reed se
movia
esquivando o
olhar de Ewan e
se posicionava
em um ângulo
invisível para o
laird, notou que a
ira se apoderava
de toda a
prudência que a
tinha mantido
afastada do
combate. Aquele
bastardo pensava
atacá-lo por trás!
Antes de pensar
o que fazia,
correu pelo
barro, apartando
as gotas de chuva
dos olhos, e
saltou sobre as
costas de Reed
como um gato,
gritando pela
fúria que ardia
em seu interior.
Muito tarde se
deu conta de que
sua manobra não
sairia bem. O
guerreiro
capturou seu
pulso com
brutalidade e
apertou para que
soltasse a adaga
que brandia.
Willow notou
como rangiam
seus ossos e, em
seu desespero, só
lhe ocorreu
morder o
pescoço que
tinha tão perto.
Reed gritou
como um animal,
tornou-se para
diante e
conseguiu
desfazer-se dela
fazendo-a voar
por cima de sua
cabeça. Willow
caiu de costas
com um golpe
seco que lhe
nublou a vista.
— Will!
Escutou o alarido
de Ewan e o
ruído das botas
chapinhando no
barro. Distinguiu
uma sombra que
se abatia sobre
ela,
possivelmente
Reed elevando
sua espada para
parti-la em dois.
Fechou os olhos
e pensou em sua
família; se tinha
que morrer,
preferia levar sua
lembrança com
ela. Mas, para sua
absoluta
consternação, a
única imagem
que veio a sua
mente foi a de
Ewan Campbell.
Em seu quarto,
calçando as
botas. Em seus
treinamentos,
pondo a alma em
cada investida.
No lago,
caminhando nu
pela borda. Na
habitação da
Thonia, lhe
cravando seus
olhos
obscurecidos de
desejo...
Houve mais
gritos, ruído de
espadas se
chocando no ar,
fôlegos e sons de
carne golpeando
mais carne. Abriu
os olhos de novo
ao compreender
que a morte não
chegava. A
sombra sobre ela
se esfumou, saiu
de seu campo de
visão empurrada
por um
torvelinho
furioso e o
último que
escutou foi o
gorgolear do
sangue de alguma
garganta cortada.
A do Reed
MacNab,
conforme pôde
comprovar
quando se
incorporou e
olhou ao redor.
Ewan Campbell
estava de pé em
frente ao seu
cadáver, com a
espada
ensangüentada na
mão. Se não era a
própria imagem
do anjo da
morte, Willow
não sabia que
outra coisa podia
ser. Ali parado
sob a chuva, com
a respiração
ofegante pelo
esforço e o
brilho assassino
nos olhos, a
jovem intuiu o
enorme poder
que fluía por seu
corpo e que
escapava além da
pele. A força que
irradiava o
envolvia como
um halo e se via
atraída por ele
como o faria
qualquer
estúpido inseto
ante uma chama
fascinante.
Assim se sentia.
Estúpida por
desejar correr a
refugiar-se em
seus braços e dar
graças ao céu por
tê-lo de seu lado.
Sabia que junto a
ele estaria a salvo;
depois do que
tinha
presenciado, não
podia pensar
outra coisa. Mas
era mais que
isso... Queria
tocá-lo. Queria
comprovar que
estava bem.
Queria que lhe
dissesse que ela
também estava
bem, que tudo
tinha passado,
que ninguém lhe
faria mal jamais.
E isso era uma
autêntica loucura
porque,
precisamente ele,
era a pessoa da
que mais tinha
receado no
tempo que levava
com os
Campbell.
Então a olhou.
Com os lábios
entreabertos,
com o peito
agitado pelo
esforço.
A forma com
que a
contemplava a
deixou paralisada
no lugar, de pé
tremendo sob a
chuva, sem poder
afastar os olhos
de seu rosto.
Esqueceu os
cadáveres
pulverizados ao
redor, esqueceu
todo o
sofrimento que
esse homem lhe
tinha causado. Só
existia no mundo
a forma em que a
olhava e o
absurdo e
improvável
desejo de
esconder-se entre
seus braços.
Um desejo, por
incrível que
parecesse, que se
fez realidade.
Ewan avançou
até ela com a
decisão de um
predador em
busca de sua
presa. Agarrou-a
pelo seu cabelo
curto e a atraiu
para seu peito
para lhe devorar
a boca com um
beijo abrasador.
Foi selvagem. Foi
puro fogo.
Willow pôde
saborear em sua
pele os últimos
vestígios da
batalha correndo
frenéticos por
suas veias. Ewan
estava alterado,
possuído sem
dúvida pela febre
do combate. A
língua do homem
procurou entre
seus lábios e
abriu caminho
até o interior de
sua boca,
tocando sua
própria língua,
contagiando com
o mesmo ardor
cada fibra de seu
corpo. Notou a
mesma tensão
que tinha sentido
na cabana, essa
sensação doce
carregada de
desejo que descia
por seu
estômago até um
ponto concreto
entre suas pernas.
Somente que
nesta ocasião
tudo era muito
mais intenso,
mais real, mais
esmagador…
Unicamente
quando gemeu,
incapaz de conter
o erótico som na
garganta, o laird
pareceu
recuperar a
compostura.
Apartou-se com
brutalidade e a
olhou
horrorizado.
Como se ela
fosse alguém
indesejável, como
se fedesse.
Afastou-se uns
passos e passou a
mão pela cara,
ainda com a
expressão
desesperada.
Olhou ao céu e
deixou que a
chuva banhasse
seu rosto, mas
não se
tranqüilizou.
Não. O que fez
foi cair de
joelhos sob a
chuva e gritar
como se uma das
espadas inimigas
lhe tivesse
atravessado o
coração.
O som sacudiu o
corpo de Willow,
que notou as
lágrimas ardentes
ir até seus olhos.
Não entendia
nada.
O que tinha
ocorrido? Por
que, depois desse
incrível beijo,
Ewan se apartava
como se ela
tivesse a peste?
Abraçou seu
próprio corpo
para encontrar
um pouco de
consolo e, ao
notar a tensão da
atadura que
cobria seus peitos
para ocultá-los
do mundo, se
deu conta.
Abriu os olhos,
igualmente
espantada como
o próprio Ewan.
O laird dos
Campbell
acreditava que
fosse um rapaz, e
em que apesar
disso a tinha
beijado.
O guerreiro mais
selvagem, o chefe
que se gabava de
converter em
homens de
verdade a todos
aqueles soldados
que entravam
para formar parte
de seu exército, o
intolerante que
não permitia a
debilidade dentro
dos muros de sua
casa, tinha
sucumbido ante
um dos pecados
mais humilhantes
que pudesse
imaginar para sua
virilidade.
O padre
Cameron rezaria
por sua alma
ímpia se chegasse
a saber. Seus
serventes o
olhariam com
receio se
chegasse aos seus
ouvidos. Seus
fiéis guerreiros o
repudiariam se se
inteirassem.
Willow não podia
acreditar, mas
tinha acontecido.
Ewan Campbell
tinha desejado a
outro homem.
CAPITULO 23

Por fim a chuva


lhes tinha dado
um pouco de
descanso. Willow
olhou para o céu
e agradeceu essa
trégua, rogando
para que o sol
aparecesse para
acalmar o arrepio
que não era
capaz de
controlar.
Tinham
continuado seu
caminho ambos
em um profundo
silencio, depois
de abandonar os
cadáveres dos
MacNab a mercê
dos animais do
bosque. Nenhum
sentiu lástima por
eles.
Ewan não lhe
tinha dirigido a
palavra desde que
tinha montado
em seu semental;
de fato, não
voltou a olhá-la
depois do beijo.
E ela não sabia o
que se poderia
dizer em um
momento como
aquele, assim
optou por
guardar silêncio.
Estava aturdida,
não era capaz de
processar o
acontecido e se
encontrava
exausta.
Concentrou-se
em sua
mandíbula,
esforçando-se ao
máximo para que
seus dentes
deixassem de
tocar castanholas.
Também tentou
evitar a dor cada
vez mais aguda
de seu pulso. Era
muito provável
que Reed
MacNab lhe
tivesse quebrado
algum osso, mas
não se queixaria.
Não pensava
emitir nem um só
gemido diante do
laird... Bastante
envergonhado se
sentia depois do
acontecido! Só
rezava para que
não tivessem que
cavalgar muito
mais antes de
alcançar seu
destino. Não era
uma dessas
mulheres que se
deprimiam a
menor
oportunidade,
mas pressentia
que lhe faltava
pouco para
perder o escasso
domínio de si
mesma que ficava
e, se isso ocorria,
deixaria-se cair
nos braços da
inconsciência
sem opor
resistência.
Para sua
surpresa, não se
detiveram em
nenhuma granja
mais. Ao que
parecia, Ewan
tinha decidido
que não queria
ver mais famílias
Campbell e
alcançar seu
próximo destino
se converteu de
repente em uma
prioridade.
Acelerou o ritmo
de sua cavalgada
sem olhar uma só
vez para trás para
comprovar se seu
servente o seguia.
Willow supôs
que a seu laird
não teria
importado que se
perdesse pelo
caminho...
Nada mais longe
da realidade.
Ewan morria por
voltar-se, por
olhar de novo a
cara desse
duende que o
tinha enfeitiçado
e comprovar se a
agitação que
notava no
estômago era
real. Mas a
vergonha o
afogava,
consumia-o em
uma agonia
insuportável.
Não só se deixou
levar por seus
mais baixos
instintos, não só
tinha beijado a
um moço... Além
disso tinha
gostado!
Sim, tinha
desfrutado
daquele beijo. A
boca de Will era
suave e cálida,
sua língua doce,
incitante... Por
todos os
demônios! Era
um dos melhores
beijos que tinha
compartilhado
com alguém em
toda sua vida!
Porque nesse
sentido não se
enganava: Will o
havia devolvido.
Não, não, não.
Já na cabana de
Iona, Ewan tinha
fracassado de
maneira
lamentável ao
tentar fazer dele
todo um homem.
E não só isso.
Will tinha
conseguido
endemoniar sua
mente para que
sua virilidade só
respondesse ante
ele, ante essa
imagem de
criatura fantástica
que o tinha
fascinado. A
pobre Thonia
tinha pago as
conseqüências.
Não se queixou
porque entrava
dentro das
insipidezes de
seu ofício, mas a
tinha utilizado de
forma vil,
quando ele
sempre tinha sido
generoso com as
mulheres na
cama. Esta vez
não foi. Tomou
com raiva, quase
com violência,
somente para
desafogar-se e
comprovar que
seu membro
seguia
funcionando
apesar dos
malvados
encantamentos
que Will vertia
sobre seu corpo.
E, uma vez que
esteve satisfeito,
abandonou-a
sem despedir-se,
sem preocupar-se
em saber se ela
tinha desfrutado
ou não... Lançou-
lhe umas moedas
sobre a cama e
saiu de seu
quarto a toda
pressa, morto de
vergonha, e mais
frustrado ainda
que quando
tinham chegado.
Porque sim, tinha
conseguido
gozar, mas a
experiência não
lhe tinha
reportado a
satisfação e os
prazeres
habituais. Tinha-
o deixado vazio,
gelado por
dentro, furioso
por fora.
Sua cabeça dava
voltas, revivendo
aqueles
momentos uma e
outra vez. Para o
cúmulo, agora
aquelas imagens
se mesclavam
com o
acontecido no
bosque
momentos antes.
Sua mente ardia,
rasgada pelas
absurdas
sensações que
tinham
despertado em
seu interior com
o ataque dos
MacNab.
Primeiro, um
terror como não
tinha conhecido
jamais, o tinha
invadido ao ver
Will a mercê do
inimigo. Não lhe
passou
desapercebido o
extraordinário
valor que tinha
demonstrado o
moço ao saltar
sobre o Reed
para detê-lo,
embora jamais o
reconheceria. O
muito insensato
tinha estado a
ponto de morrer
sob a espada
desse
sanguinário! O
alívio que
percorreu seu
corpo quando
tudo terminou,
com Will ileso,
tinha
transtornado sua
prudência, sem
dúvida.
Porque lançar-se
sobre ele como
uma ave de
rapina não podia
ter outra
explicação.
E agora não
podia olhá-lo,
não devia fazê-lo.
Já se sentia
bastante mal
consigo mesmo.
A única
escapatória que
seu transtornado
sentido comum
pôde lançar era
chegar quanto
antes ao lar de
seu tio Alec.
Pensou no velho
guerreiro, exilado
desde fazia anos
por ordem de seu
pai, o anterior
laird. Suas leis
proibiam manter
contato com um
banido, mas
Ewan tinha
quebrado em
muitas ocasiões
os mandatos de
seu pai para
reunir-se em
segredo com seu
tio, ao que
sempre tinha
respeitado e
querido. Nesta
ocasião
necessitava de
seus conselhos
mais que nunca e,
esquecendo o
motivo inicial
pelo que tinha
decidido ir a ele,
apertou o passo
de seus arreios
para atracar
quanto antes à
solitária cabana
que era agora seu
refúgio.
Já era noite
fechada quando
por fim divisou a
fumaça da
chaminé da
pequena casa de
pedra. Sua cabeça
não tinha parado
de dar voltas e
voltas em torno
do assunto que o
mortificava,
pensando na
melhor maneira
de abordá-lo
assim que
estivesse em
frente ao único
homem ao que
ainda considerava
sua família.
Entretanto,
quando divisou a
silhueta de Alec
Campbell
recortada sob a
luz da lua, sua
coragem
fraquejou.
O velho
guerreiro os
esperava com a
espada na mão,
precavido ante a
inesperada visita
de uns estranhos
na noite. Para
Ewan resultou
imponente em
sua dignidade e
sua própria
baixaria
envenenou seus
sentimentos. Não
seria capaz de
confessar o que
tinha feito; tinha
medo de que, ao
pronunciar em
voz alta o que
tinha ocorrido,
os olhos de seu
tio o acusassem
de ser indigno do
sobrenome que
ostentava com
tanto orgulho.
Por isso freou
seu cavalo e
esperou que Will
lhe alcançasse.
Sem olhá-lo,
vaiou-lhe em voz
muito baixa sua
ameaça.
— Se lhe
comentar uma só
palavra do
ocorrido,
arrancarei-te seu
pequeno pênis
com minhas
próprias mãos e
o darei de comer
aos porcos,
entendeste-me?
Willow o escutou
muito longe,
aturdida por uma
neblina de
cansaço e dor
que embotava
todos os seus
sentidos. Quão
único lamentou
dessa ameaça foi
que não
prometesse uma
morte rápida.
Necessitava-a. E
não duvidou em
pedir-lhe. —
Mate-me já,
Campbell. Por
favor... Envía-me
com meu irmão.
Não disse nada,
seu corpo deixou
de lhe pertencer
e o último que
sentiu foi que
escorregava para
um lado...
Quando golpeou
o chão com um
ruído surdo,
Ewan não teve
mais remédio que
olhar. Alarmado,
desceu de seu
cavalo e correu
para o moço,
temendo o pior.
Seu tio Alec
também se
aproximou
depressa e lhe
pôs a espada no
pescoço justo
quando se
inclinava para
certificar-se de
que Will seguia
com vida.
— Te identifique
ou é um homem
morto.
— Já não
reconhece ao seu
próprio
sobrinho?
— Ewan! Pelos
deuses antigos,
tornaste-te
louco? Pensei
que fossem um
par de ladrões
dispostos a me
roubar as poucas
ovelhas que
restam.
— Quem se
atreveria a roubar
a ti umas ovelhas,
ou o que seja?
Embora tenha
ficado velho,
todos seguem
temendo ao
formidável Alec
Campbell,
assassino de
gigantes.
O homem
apartou a espada
e esboçou um
sorriso.
— Ainda seguem
murmurando
essa mentira
sobre mim?
— Duvido que
algum dia deixem
de fazê-lo.
Ewan teria
gostado de
saudar seu tio
como merecia,
mas a
preocupação pelo
Will absorvia
toda sua atenção.
Tocou seu
pescoço em
busca do
batimento do
coração e exalou
um suspiro de
alívio ao
comprovar que
unicamente
estava
desacordado.
— Quem é este
afeminado? —
Perguntou Alec,
inclinando-se
para ver melhor
ao moço
inconsciente.
— É meu criado.
— O que lhe
aconteceu?
— Atacaram-
nos... Eu...
Ewan olhou ao
seu tio nos olhos,
incapaz de falar.
O velho
guerreiro possuía
um olhar muito
similar ao seu,
mas
imensamente
mais sábio.
— Feriram-no?
— Não, mas eu...
Não podia
confessá-lo. Seu
tio tinha ajudado
ao seu pai a
convertê-lo em
homem; Alec
Campbell tinha
estado sempre ali
quando o tinha
necessitado, e
tinha aprendido
mais com ele que
com o próprio
Duncan. Porque,
a diferença de
seu pai, Alec era
mais comedido,
mais justo, e
estava
convencido de
que também o
tinha querido
mais. Seu tio lhe
tinha ensinado
tudo o que se
precisava saber e
ter para
converter-se em
um verdadeiro
guerreiro de
honra, em um
líder mais justo.
E brincar com
um jovenzinho
não entrava
dentro de seus
ensinos, isso sem
dúvida.
— O que ocorre,
Ewan? Conheço-
te melhor do que
te conhecia seu
próprio pai. Está
atormentado, me
diga o que
passou.
O laird dos
Campbell se
ergueu e deu um
passo atrás para
se afastar do
moço
inconsciente.
— Necessito que
o cuide. Não o
quero no Innis
Chonnel e não
tem mais família.
— O que tem
feito para
merecer o exílio,
ao lado de um
velho resmungão
como eu?
— Por favor, tio.
Não posso
confiar em
ninguém mais...
Contarei-lhe isso
tudo, ao seu
devido tempo.
Mas antes tenho
que me livrar de
meus próprios
demônios. Posso
contar contigo?
Alec lhe colocou
uma mão no
ombro e o olhou
com todo o
orgulho e o amor
que sentia por
ele.
— Sempre
poderá contar
comigo.
Ewan Campbell
se emocionava
muito poucas
vezes. Mas nesse
momento,
recebendo o
apoio
incondicional de
seu único parente
vivo, notou o nó
apertado dos
sentimentos
agarrando sua
garganta.
Abraçou ao
velho guerreiro
uns segundos e
se separou
depois com
brutalidade. Foi
para seu cavalo
sem olhar atrás.
— Ewan, não vá
em plena noite.
— Disse Alec, ao
ver suas
intenções. —
Descansa e come
algo quente junto
ao fogo. Amanhã
poderá partir
cedo se esse for
seu desejo.
O jovem se
deteve com as
mãos colocadas
já sobre a cela.
Falou-lhe por
cima do ombro,
com a voz mais
derrotada que
jamais lhe tinha
escutado seu tio.
— Não posso
ficar. Eu... Não.
Não posso.
Montou em seu
cavalo e partiu a
galope sem mais
demora,
deixando um
olhar preocupado
instalado nos
olhos de Alec.
Quando o perdeu
na escuridão da
noite, o guerreiro
embainhou sua
espada e se
agachou junto ao
moço. Sua vista
já não era a
mesma que era
em sua juventude
e lhe custava
enfocar os traços
do moço naquela
escuridão.
Carregou-o e o
atirou das rédeas
de seu cavalo
para retornar à
cabana,
meditando a
respeito da
estranha atitude
de seu sobrinho.
Juraria que jamais
em toda sua vida
lhe tinha notado
tão alterado.
Nem sequer
quando morreu
seu pai, Ewan se
tinha mostrado
tão vulnerável.
Nos poucos
minutos
compartilhados,
tinha visto uma
enorme confusão
em seus olhos.
Que demônios
tinha ocorrido
para alterá-lo
desse modo?
Entrou em seu
lar, onde outro
homem esperava
com a arma na
mão, em atitude
de alerta.
— Relaxe,
Melyon, a visita
não tinha nada
que ver contigo.
— Tranqüilizou
Alec. — Me
ajude com o
moço.
O guerreiro
acudiu disposto e
tomou ao
menino nos
braços para
depositá-lo em
uma cama de
armar junto ao
fogo.
— Quem é?
Alec passou uma
mão pelo cabelo,
pensativo, antes
de responder.
— Alguém
importante para
seu laird.
— Ewan deixou
de ser meu laird
quando me
expulsou. —
Apontou o outro
com amargura.
— Ora,
bobagens!
Sempre lhe será
fiel, não pode
evitá-lo. E agora
tem uma
magnífica
oportunidade
para demonstrá-
lo: temos que
cuidar deste
mucoso, deixou-
o aos meus
cuidados.
— Por que?
— Não tenho
nem a mais
remota idéia. —
Respondeu Alec,
aproximando-se
da cama de
armar. À luz do
fogo, o rosto do
moço adquiria
matizes muito
distintos. — Vá,
vá, vá...
— O que ocorre?
Está ferido? É
grave?
Alec agarrou o
delicado queixo e
moveu sua
cabeça com
cuidado de um
lado a outro para
estudar melhor
aquele rosto de
traços delicados.
Ante o contato, o
menino abriu os
olhos uns
segundos, semi-
inconsciente.
— Isto sim que
eu não esperava.
— Murmurou
Alec, ao ver o
azul intenso que
brilhava pela
febre.
— Está me
deixando muito
nervoso, velho.
Que chifres lhe
ocorre ao moço?
O que aconteceu
com o Ewan?
Alec teve a
ousadia de
apalpar seu peito
com cuidado
para certificar-se,
apesar de que
aqueles olhos
inconfundíveis
não deixavam
lugar a dúvidas.
— Ocorre-lhe
que não é um
moço. —
Anunciou
convencido. —
Embora o que
aconteceu com o
Ewan ainda
temos que
averiguá-lo.

CAPITULO 24
O primeiro que
viu Willow ao
abrir os olhos foi
o agradável
resplendor de um
fogo no lar.
Exalou um
suspiro de alívio
ao comprovar
que se
encontrava em
uma cama de
armar, quente e
agasalhada,
protegida da
chuva
atormentadora e
do frio que lhe
tinha impregnado
até os ossos.
Olhou ao redor e
descobriu que
estava no salão
de uma pequena
cabana,
mobiliado apenas
com uma mesa
de madeira e uns
tamboretes, uma
velha arca
apoiada contra a
parede e uma
estante onde se
amontoavam
utencílios de
cozinha sem
ordem nem
lógica.
Antes de
terminar seu
escrutínio, a
porta principal se
abriu e dois
homens
desconhecidos
entraram na
cabana. Vinham
carregados com
algumas peças de
caça entre as que
Willow distinguiu
vários coelhos e
algumas galinhas.
Lhe deu água na
boca ao
contemplar as
presas e não
pôde recordar
quando tinha
sido a última vez
que tinha
satisfeito seu
apetite com uma
comida decente.
Ewan parecia
conformar-se
com carne
salgada quando
viajava, mas não
lhe bastava.
— Bom dia! —
Saudou o homem
mais velho. —
Descansaste?
Sua voz era grave
e transmitia
serenidade, mas
Willow estava
alerta. Quem
eram esses
guerreiros e onde
estava Ewan? A
última coisa que
recordava era
estar sobre seu
cavalo, mais
morta que viva,
desejando que a
tortura que
estava sofrendo
terminasse para
sempre.
— Onde estou?
— Em minha
casa, a salvo. —
Aproximou-se
até ela e a
contemplou com
um sorriso
amistoso. — Meu
nome é Alec
Campbell, sou o
tio de Ewan. E
ele é Melyon, um
bom amigo.
Willow os
observou com
cautela. Não
levavam as cores
dos Campbell; na
realidade, não
levavam
nenhuma das
cores dos clãs
que conhecia.
Vestiam calças
escuras e camisas
mais claras. O
homem mais
velho levava além
disso uma
sobrecapa sem
adornos que
delatassem sua
procedência,
coisa que seria
necessário se na
verdade era um
Campbell como
dizia.
Aquele que tinha
apresentado
como Melyon
tinha um rosto
taciturno,
marcado com
uma feia cicatriz
que lhe cruzava
do olho até o
queixo. Era um
guerreiro enorme
que parecia
ocupar quase
todo o espaço da
cabana.
Reconheceu seu
nome, tinha
ouvido a história
que circulava
pelo Innis
Chonnel sobre o
tenente de Ewan.
Sabendo,
entretanto, quem
era a outra
protagonista do
acontecido,
Willow jamais lhe
tinha dado muito
crédito. Agora,
tendo diante ao
suposto
estuprador de
Agnes, soube
com toda certeza
que a moça tinha
mentido. Não
entendeu o
porquê daquele
convencimento,
mas não lhe
restava dúvida de
que aquele
homem não tinha
cometido um ato
tão atroz. Seus
olhos cinzas a
olhavam com
curiosidade, nada
mais. Não
encontrou
maldade neles,
nem sombras que
supunha uma
ameaça. Mas
logo indagaria
sobre isso, se a
situação o
permitia. Ela
tinha outros
problemas dos
que ocupar-se...
O tio de Ewan a
observava por
sua vez. Seus
olhos tampouco
ocultavam a
enorme
curiosidade que
sentia e Willow
não acreditava
estar preparada
para responder às
perguntas que se
adivinhavam
atrás de sua
expressão.
— Onde... Onde
está meu senhor?
— Perguntou, ao
mesmo tempo
que se sentava no
cama de armar.
— Suponho que
se refere ao
Ewan. Não se
preocupe, ele a
deixou aos meus
cuidados.
A mente de
Willow baralhou
todas as
possibilidades em
um segundo, e
nenhuma
tranqüilizou seu
ânimo. Ewan a
tinha
abandonado
nessa cabana, a
mercê de dois
homens
desconhecidos?
Um brutal
sentimento de
abandono lhe
perfurou o peito.
Ewan tinha
partido sem ela...
Por quanto
tempo? Voltaria a
procurá-la?
Notou que o
coração lhe
pulsava mais
rápido à medida
que as perguntas
se amontoavam
em sua mente.
Por sorte, a voz
serena do
homem mais
velho
interrompeu seus
frenéticos
pensamentos e
conseguiu que o
pânico não a
transbordasse.
— Como está
seu pulso? —
Alec se sentou
em frente a ela
em um
tamborete e a
estudou com
atenção. Willow
pressentiu que
aquilo era o
início do longo
interrogatório
que tanto temia.
— Dói?
Olhou a área
ferida e
comprovou que
alguém a tinha
enfaixado.
Notava uma dor
amortecida do
que não tinha
sido consciente
até que o homem
o mencionou.
— Estou bem...
Apenas dói um
pouco.
— Tiveste sorte,
não está
quebrado,
embora terá que
levar a bandagem
durante um
tempo. E vejo
que a febre
baixou, por isso
confio em que o
esfriamento que
trazia ontem à
noite não
provoque mais
dificuldades. É
loucura cavalgar
sob a chuva,
Ewan sabe muito
bem. Não
entendo a que se
devia essa pressa
para chegar até
aqui.
Não tinha
formulado
nenhuma
pergunta, mas era
evidente que
esperava alguma
resposta de sua
parte.
— Atacaram-nos.
— Sim, disso já
me informou
meu sobrinho
antes de te deixar
aqui. Mas por
que acha que
queria se desfazer
de ti com tanta
urgência?
— Talvez...
Talvez o
importunei de
algum modo. —
Sussurrou,
sabendo que não
podia confessar a
esse guerreiro
que seu sobrinho
tinha beijado ao
que acreditava ser
seu servente e,
por esse motivo,
agora o
detestava.
— Ora! Vi como
trata Ewan aos
criados que
ousam
importuná-lo,
como você diz.
Asseguro-te que
se fosse por isso
não teria
percorrido uma
distância tão
longa para te
deixar aqui como
castigo. Teria te
encerrado nas
masmorras, teria
te feito trabalhar
até te esfolar as
mãos... Inclusive
pode ser que
teria ordenado te
dar algum açoite
com um bom
cinturão.
Os olhos azuis de
Willow se
entrecerraram
ressentidamente.
— Já fez todas
essas coisas
comigo.
— Ewan ousou
te açoitar? —
Alarmou-se Alec
Campbell.
— Não, bem,
isso não. Foi a
única coisa que
faltou. — Como
os dois homens a
olhavam ainda
com cara
assombrada,
Willow se
apressou a
esclarecer — O
laird não me tem
em grande
estima, senhor,
não me considera
digno de seu clã.
Pretende fazer de
mim todo um
guerreiro, algo
que, temo-me,
jamais será
possível.
— E por que
acha isso?
Willow temeu ter
falado além da
conta. Aquele
homem a olhava
com uma
intensidade que a
desarmava e
recordava a seu
próprio pai.
Sentia diminuir
frente a ele, e em
seu interior
nascia a
necessidade
imperante de lhe
falar com
honestidade.
Algo em seus
olhos lhe
inspirava a classe
de confiança que
poderia
encontrar entre
sua própria
gente, apesar de
não conhecê-lo
absolutamente.
— Não o levo no
sangue, senhor.
— Foi tudo o
que pôde dizer
sem lhe mentir.
O olhar de Alex
Campbell se
intensificou.
Parecia querer
procurar dentro
dela muito mais
do que havia na
superfície.
— Conheço
mulheres que são
mais valentes que
alguns homens.
— Ante essas
palavras, Willow
conteve a
respiração. —
Nada te impede
de ser uma
verdadeira
guerreira, jovem
MacGregor.
A garota
avermelhou,
mortificada por
ter sido
descoberta na
mentira.
— Como o
soubestes? —
Sussurrou, quase
sem voz. — E
como é que
conhece minhas
orígens?
— Tive a enorme
honra de ser
amigo de sua
mãe. —
Reconheceu
Alec, lhe falando
com um tom de
voz que não
usava desde fazia
muitos anos. —
Erinn era um
sonho para todos
os homens que a
conheceram. Eu
não fui distinto...
Caí em seu
feitiço tão rápido
que estive
tentado a raptá-la
quando nos
apresentaram.
Nunca esquecerei
seus belos olhos
azuis; acreditava
que jamais
voltaria a vê-los.
— O homem
sorriu com
saudade. — Me
equivoquei.
Seus olhos. Sim...
Willow sabia que
tinha os olhos de
sua mãe. Mas
como podia esse
homem recordá-
los com tanta
nitidez para
descobrir a sua
filha atrás deles?
Parecia que tinha
tido muito trato
com seu pai,
aquele acaso era
o homem que
tinha fomentado
os velhos ódios
dos Campbell
contra sua gente?
Willow ficou
tensa ao pensá-lo,
mas essa idéia, tal
como veio se foi
de sua cabeça.
Era impossível.
Nessa cabana
afastada de tudo
não havia nada
mais que dois
homens expulsos
de seu clã. Não
tinham exército
nem soldados
para lançar um
ataque contra
Meggernie. Não
tinham
tampouco
riquezas. —
Saltava à vista. —
Para contratar
mercenários que
fizessem o
trabalho sujo por
eles.
— E como
chegastes à
conclusão de que
sou sua filha? —
Perguntou com
cautela.
Um sorriso triste
curvou os lábios
do guerreiro.
— Porque eu,
querida menina,
estive presente o
dia de seu
nascimento.
Jamais poderei
esquecê-lo. Meu
melhor amigo,
Ian, perdeu a sua
esposa. Foi uma
noite espantosa,
todos seus
amigos fomos
lhe dar nosso
apoio, embora
nenhum
imaginou aquele
fatal desenlace.
Por sorte, teve a
ti. — Alec a
olhou com
carinho. — E
menos mal que
ao menos você
pôde sobreviver a
esse parto
infernal, porque
sem ti, ele
tampouco teria
saído adiante.
Willow fechou os
olhos, agradecida
por suas palavras.
Ao contrário de
muitos outros,
não a culpava da
morte de sua
mãe. Era
evidente que
sentia verdadeira
admiração por
sua família.
Por isso mesmo,
morreu de
vergonha por ter
sido descoberta
dessa forma. Se
Alec tinha
conhecido a
Erinn, estaria
pensando que a
criatura que tinha
na frente dele
não era digna de
considerar-se
filha dela.
— Senhor, eu...
Peço-lhe
desculpas por
meu disfarce.
— Não tem por
que. Nos tempos
atuais posso
compreender sua
necessidade de te
ocultar. Embora
tenha que dizer
que o disfarce
não é muito
eficaz para
aqueles que
conheceram sua
mãe. Não só tem
seus olhos: é seu
vivo retrato.
Um estranho
calor, coberto de
nostalgia,
percorreu todo
seu corpo. Como
cada vez que a
comparavam
com ela, sentia
que sua aparência
as unia de algum
jeito. Notava-a
mais perto de seu
coração.
— Me conte o
que te trouxe até
aqui. O que
aconteceu para
que tenha
acabado a serviço
de meu néscio
sobrinho, que
não sabe
diferenciar a uma
bonita mulher da
anca de uma
mula.
Willow não se
sentia bonita
absolutamente
nesse momento.
Desde que tinha
adotado a
personalidade de
um insosso
moço, já não se
considerava
atrativa.
Impossível com
sua maravilhosa
juba cortada, suas
elegantes roupas
abandonadas no
Meggernie e seu
corpo coberto de
tanta imundície
que tinha
esquecido a
sensação de
sentir-se
completamente
limpa.
— Ele nunca
suspeitou que
sou uma mulher
e é melhor assim.
Agora, sou
apenas Will.
— Will?
— Willow,
senhor. Meu
nome é Willow,
mas nenhum dos
Campbell me
conhece como
tal.
— Willow... Sim,
já o recordo. Faz
tanto tempo que
o tinha
esquecido. A
última vez que te
vi logo que
levantava um
palmo do chão.
— O homem
suspirou com
nolstalgia. — Eu,
faz muito tempo
que não sou um
Campbell, e
Melyon
tampouco pode
usar já esse
sobrenome,
assim, se não te
importar, nós lhe
chamaremos pelo
nome que te pôs
Ian. E você pode
me chamar Alec,
deixa de me
chamar senhor.
— D...De
acordo. —
Concedeu ela,
embora o
guerreiro lhe
assutava muito
para usar seu
nome de
batismo.
Alec a observou
com atenção.
Parecia um
passarinho
encolhido sobre
si mesmo, seus
olhos injetavam
medo e
precaução. Como
tinha chegado a
filha de Ian
MacGregor até
esse lugar tão
afastado de seu
lar? Em seu
exílio, perdia-se
muitas das
notícias que
circulavam pelos
caminhos, e não
sabia nada da
vida e milagres
da gente que em
outro tempo
tinha conhecido.
Morria por fazer
mil perguntas,
mas
compreendeu
que Willow não
estava preparada.
Antes, precisava
desfazer-se dessa
couraça de
desconfiança
com a que se
cobriu.
— Tranqüila, não
te intimidar mais
por hoje,
poderemos falar
quando o
considerar
oportuno. —
Sussurrou,
sentindo que
tinha que
sossegá-la. —
Aqui está entre
amigos, nós já
não pertencemos
a nenhum clã.
Somos homens
livres e, como
tais, atuamos
segundo nosso
próprio
julgamento. Você
também pode ser
livre aqui, Willow,
e te prometo que
ninguém te fará
mal.
O olhar da garota
se obscureceu
ante suas
palavras.
— Não, Alec. Eu
não sou livre.
Não o serei até
que possa vingar
a minha gente...
E a meu irmão
Niall.
Ante esse novo
dado, Alec
mudou de
opinião.
Precisava saber.
— Por que diz
isso? Ocorreu
algo ao Niall?
Os olhos de
Willow se
encheram de
lágrimas
repentinas. Fazia
já muitos dias
que não se
permitia chorar
por seu irmão,
mas diante
daqueles homens
que pareciam
dispostos a
acolhê-la, sentia
que podia
desabafar.
— Assassinaram-
no... Atacaram
Meggernie, por
isso tive que
fugir. Todos
dizem... Dizem
que foram os
Campbell, que o
próprio laird
comandava aos
seus homens na
batalha. Dizem
que Ewan
Campbell o
torturou até a
morte, diante de
toda nossa gente!
Não sabia quanto
precisava dizer
alto essas
palavras até que
as disse.
Contemplou a
cara de
estupefação de
ambos os
homens,
desejando que
falassem, que não
ficassem calados
olhando-a como
se tivesse perdido
a cabeça.
Quando por fim
alguém abriu a
boca, foi Melyon.
— Isso é uma
mentira. Uma
calúnia inventada
pelo verdadeiro
culpado desses
crímes para
culpar ao Ewan.
— Como pode
estar tão seguro?
— Perguntou
Willow em um
sussurro.
Tampouco se
tinha dado conta
antes de quanto
necessitava que
alguém
desmentisse
aquela vil
acusação contra
Ewan. Ele já o
tinha confessado,
mas até que o
tenente de
Campbell não o
ratificou, não se
tinha permitido
acreditar
totalmente.
— Até
recentemente, eu
era a mão direita
do laird. Quando
ocorreu o ataque
ainda era o
comandante dos
Campbell e
posso te
assegurar que
nenhum de
nossos soldados
participou
daquela
carnificina. — O
enorme guerreiro
se ajoelhou ao
seu lado para
olhá-la nos olhos
antes de afirmar
na sequência. —
Também posso
te dar minha
palavra de que
Ewan não é o
assassino de seu
irmão.
Willow cobriu a
cara com as mãos
e soluçou... De
dor e de
sofrimento, mas
também de alívio.
Ewan não é o
assassino de seu
irmão.
As palavras
ressonaram em
sua cabeça como
um eco curador,
que a liberou de
uma opressão
que tinha estado
constrangendo
sua alma todo
aquele tempo.
Não quis indagar
mais no que
aquilo significava.
Conformava-se
sabendo que já
não tinha por
que odiar ao laird
dos Campbell de
maneira cega e
irracional. Agora
era livre para
admirar ao
homem que tinha
ido conhecendo
dia a dia sem
sentir-se culpada.
Melyon não era
consciente, ou
talvez sim, de
que com sua
verdade lhe tinha
tirado um
enorme peso de
cima.
— Não posso
acreditar que o
pequeno Niall
esteja morto.
A voz de Alec
obteve que
Willow levantasse
de novo a cabeça.
— Quanto
tempo fazia que
não via meu
irmão? Niall
tinha de pequeno
o que eu tenho
de dama neste
momento. —
Comentou, sem
poder acreditar-
se que as palavras
do guerreiro a
tirassem da
tristeza que
ameaçava afogá-
la. A agradava
que Alec se
referisse assim a
qualquer dos
gêmeos. Os dois
eram como duas
torres humanas.
Ele a olhou com
um sorriso
esperançoso e se
permitiu a
ousadia de
agarrar sua mão
para apertar-lhe
com força.
— Tem a beleza
de sua mãe e o
humor de seu
pai. E, o que é
mais importante,
tem a fortaleza e
a valentia
necessárias para
confrontar esta
dura prova.
Alegra-me ver
que o sofrimento
não minou esse
coração
MacGregor que
leva dentro...
Porque o vais
necessitar. Juntos,
descobriremos
quem está atrás
de todas estas
maldades, e te
prometo que
pagará por isso.
Willow
correspondeu ao
afetuoso aperto
de mãos do
guerreiro
colocando a que
ficava livre sobre
seus enormes
dedos.
— Não sei como
lhe poderei
agradecer isso
Alec. Não te
conheço, mas
sinto que posso
confiar em ti
quase como se
fosse de minha
família.
— Ah, pequena
Willow! Houve
uma época em
que seu pai e eu
fomos muito
amigos. Tanto,
que posso te
assegurar que, de
algum modo,
fomos família.
Ian significou
mais para mim
que meu próprio
irmão, e por isso
me encontro hoje
aqui, exilado de
meu lar, longe de
minha gente... —
Seus olhos se
perderam por um
momento no
vazio e suspirou.
— Longe de meu
sobrinho, que
tanto me
necessita neste
momento.
Ewan.
Willow saboreou
seu nome na
mente e voltou a
escutar as
palavras de
Melyon em seu
interior.
Ewan não é o
assassino de seu
irmão.
CAPITULO 25

Ia arrebentar o
cavalo. Ewan
atirou com
suavidade das
rédeas e reduziu
o ritmo até que o
corcel se deteve,
resfolegando.
Tinha cavalgado
como um
possesso toda a
viagem de volta,
tentando deixar
atrás a lembrança
de Will e a
vergonha que o
cobria como um
manto. Desejou
que os homens
do MacNab lhe
atacassem de
novo para
desafogar-se com
eles, algo
bastante
impossível dado
que já os tinha
matado.
Apertou os
dentes e meneou
a cabeça,
aborrecido
consigo mesmo
como jamais o
tinha estado. O
que lhe ocorria?
Continuou
avançando a pé,
rumo ao Innis
Chonnel, para
dar ao animal o
descanso que
merecia.
Entretanto, a
cada passo que
dava, a imagem
do moço emergia
dentro de sua
cabeça tentando-
o para que desse
meia volta.
— Com o Alec
estará bem. —
Disse a si
mesmo, para
tranqüilizar-se.
E isso o
torturava ainda
mais. O que lhe
importava a sorte
que pudesse
ocorrer a esse
moleque? Tinha
que esquecê-lo.
Apagar de sua
mente a
lembrança de
seus lábios suaves
e sua língua doce.
Ao evocar aquele
momento, Ewan
sentiu que toda
sua
masculinidade
apodrecia dentro
dele. Se alguém
se inteirava do
acontecido seria
o bobo de sua
gente. Em que
classe de líder se
converteria
então?
O amanhecer o
tinha
surpreendido
ainda
mergulhado em
seus sinistros
pensamentos. A
luz alaranjada
que raiava no
horizonte
apanhou por uns
instantes seu
olhar e uma
estranha
melancolia
invadiu seu
ânimo.
Descobriu,
surpreso, que não
tinha vontade de
chegar ao seu lar.
Ali lhe esperavam
problemas, seus
agoureiros
conselheiros e o
chefe dos
MacNab, James,
que pediria
explicações por
seu grupo de
guerreiros
desaparecidos.
Embora Ewan
estava em seu
direito de
defender-se, e
assim o declararia
diante de todos,
ter acabado com
o inapresentável
do Reed lhe
conduziria muitas
dificuldades.
De repente,
sentiu-se muito
cansado. Decidiu
que pararia em
algum botequim
do caminho para
comer, refrescar-
se e dormir um
pouco. Tinha
cavalgado
durante toda a
noite e a tensão, a
angústia e a
ansiedade que
invadiam seu
ânimo lhe
estavam tomando
seu preço.
Normalmente
teria parado
junto a qualquer
arroio, sob a
sombra de uma
árvore, mas
necessitava além
disso um par de
boas jarras de
cerveja.
Ajudariam-no a
temperar o
ânimo e a
encontrar mais
facilmente o
sono que
pressentia
esquivo.
Depois de
transitar uma
hora mais pelo
caminho
principal, achou
por fim um
estabelecimento.
Já tinha estado
outras vezes ali,
conhecia bem ao
taberneiro e era
boa gente,
embora, mais
importante ainda,
tinha cerveja de
qualidade.
Deixou o cavalo
bem amarrado
fora e entrou,
ocupando a mesa
mais afastada e
discreta que havia
no lugar. Não
queria encontrar-
se com ninguém,
não queria
problemas. Só
queria beber e
esquecer... Ao
menos durante
um momento.
Logo teria tempo
de enfrentar-se à
realidade quando
retornasse ao
Innis Chonnel.
Por desgraça, seu
momento de
pausa não ia ser
tão tranqüilo
como esperava.
Antes de
terminar sua
primeira jarra de
cerveja, escutou
animação no
exterior e,
naquele
momento, um
grupo bastante
numeroso de
homens tomaram
o
estabelecimento.
Apesar de serem
soldados, não
chegaram
procurando
briga. Igual a
Ewan, parecia
que apenas
queriam dar um
pouco de
descanso aos
seus ossos e
encher suas
barrigas com boa
comida e bom
vinho.
Dispersaram-se
pelo botequim
ocupando mesas
aqui e ali, e três
deles, os que
deviam
comandar o
grupo, sentaram-
se na mesa que
ficava as costas
de Ewan sem lhe
emprestar a
mínima atenção.
Ele tampouco
deixou que a
curiosidade
dirigisse a seu
desejo, e se
manteve em sua
postura,
servindo-se mais
bebida, sem olhar
nenhuma só vez
para trás.
Entretanto, não
pôde evitar
escutar o que
entre eles
comentavam.
— É impossível,
jamais daremos
com ela. — Se
lamentava um.
— Ninguém sabe
onde está a jóia,
ou têm medo de
dizê-lo. —
Apontava outro.
— Medo? Pode
ser, embora o
mais provável é
que na realidade
não saibam nem
do que lhes
estamos falando.
— O que
interveio agora
soava menos
pessimista, mas
mais enfurecido.
— Se não
aparecer é
porque alguém a
tem, e juro por
todos os nossos
antepassados
MacGregor que
o culpado pagará
por isso. Quando
encontrar a quem
matou a meu
irmão e levou a
jóia do
Meggernie,
esfolarei-o com
minhas próprias
mãos.
Ewan ficou tenso
ao escutar o
sobrenome
MacGregor.
Eram aqueles os
seus homens?
Aquele era o
irmão do
assassinado Niall
MacGregor?
Tornou-se para
trás em sua
cadeira para que
as sombras
ocultassem na
medida do
possível suas
feições, porque
se aqueles
soldados
descobrissem
quem era ele,
sem dúvida se
acharia em sérios
problemas. Não
lhe dariam tempo
para justificar-se,
primeiro lhe
cravariam uma
espada nas
vísceras e só
depois
perguntariam.
Por desgraça,
havia descartado
Will. Se o moço
ainda o
acompanhasse,
poderia lhe servir
de desculpa.
Poderia lhes dizer
a aqueles homens
que unicamente
estava ajudando
ao menino a
voltar com os
seus, para que se
dessem conta de
que suas
intenções
estavam muito
longe de
machucar a
qualquer
MacGregor; em
seguida,
explicaria-lhes
que os Campbell
não tinham nada
a ver com o
ataque. Não...
Não acreditava
que essa triste
desculpa lhe
servisse contra
aqueles ferozes
guerreiros.
Estavam muito
zangados, tão
ofuscados como
o estaria ele
mesmo se fosse o
contrário. Mas ao
menos, disse-se,
se não o tivesse
deixado com o
Alec, Will
poderia ter
voltado para seu
verdadeiro lar.
Aquele
pensamento lhe
azedou no
momento, lhe
deixando um
gosto muito
amargo na boca.
Por que
demônios lhe
resultava
inconcebível que
Will retornasse
com os seus? Se
o moço provinha
do Meggernie,
era ali onde tinha
que estar. Pela
primeira vez,
pensou que se
não tivesse
escapado a
tempo, nunca o
teria conhecido.
Como teria
vivido ele a
batalha? Como
tinha conseguido
fugir, sobreviver
ao inferno que
reduziu a cinzas
toda uma ala do
castelo,
conforme
contavam?
Imaginou ao
pequeno duende
atravessado por
alguma espada,
morto e atirado
no chão,
ignorado pelos
selvagens que
destruíam pedra
a pedra a
fortaleza
MacGregor. Um
desagradável
calafrio lhe
percorreu o
corpo e deu
graças ao céu de
que a providência
tivesse querido
resgatá-lo
daquele inferno.
— E se a têm os
Campbell? — A
voz do primeiro
homem que tinha
falado chamou a
atenção de Ewan
outra vez.
— É mais que
provável. Mas
devemos nos
assegurar antes
de acudir frente a
suas portas a
reclamar-lhe.
MacNab e
Graham não
sabiam nada,
assim iremos ao
último de nossos
aliados antes de
nos apresentar
ante os
Campbell.
— Acredito que
se Bruce não nos
tivesse proibido
isso, esse sujo
Campbell já teria
respondido ante
minha espada.
Mas, se for a
vontade de nosso
laird que as
coisas se façam
segundo
mandato real,
não há mais que
falar. Acudiremos
ao Stewart como
diz. — Falou o
segundo deles,
que tinha a voz
mais grave. — A
recompensa que
oferece seu pai é
mais que
generosa. A torre
do Glenstrae é
uma reclamação
muito poderosa,
assim é provável
que, embora não
conheçam seu
paradeiro, nossos
aliados nos
ajudem a
encontrá-la agora
que se correu a
voz.
— Lean Stewart
foi sempre um
bom amigo,
Angus. —
Rebateu o filho
do laird
MacGregor. —
Se conhecer o
paradeiro da jóia,
não pedirá nada
em troca.
Assim Ian
MacGregor tinha
devotado a torre
do Glenstrae
para aquele que
lhe devolvesse a
misteriosa jóia.
Ewan
amaldiçoou baixo
ao dar-se conta
de que não se
equivocou com o
James MacNab.
A recompensa
valia muito mais
que um cofre de
moedas como o
que lhe tinha
devotado e o
muito ladino o
tinha calado. Mas
por que esse
empenho do
MacGregor em
encontrar sua
apreciada jóia?
Com todo o
ocorrido com o
Will, no final
Ewan tinha
esquecido de
comentar o
assunto com seu
tio Alec. Talvez
ele poderia
arrojar um pouco
de luz a esse
mistério que
mantinha em
alerta a todos os
clãs dos
arredores.
Entretanto, não
podia voltar até
ele. Ao menos,
não antes de pôr
em ordem seus
alterados
sentimentos.
Naquele
momento, oculto
nas sombras do
botequim,
escondendo-se
dos soldados
MacGregor,
sentiu falta do
seu bom amigo
Melyon. Tinha
saudades de sua
companhia e seus
conselhos. Seu
tenente teria
sabido escutá-lo;
talvez não
entendê-lo,
porque o que lhe
ocorria não o
compreendia
nem ele, mas
teria sentado ao
seu lado para
beber e tratar de
procurar uma
saída para sua
angústia, estava
convencido.
Melyon lhe teria
dado a
oportunidade de
desafogar-se,
teria se
comportado
como um
verdadeiro
amigo... Não
como ele.
Cada dia, desde
que o exilou do
Innis Chonnel,
lamentava não ter
falado em
privado com seu
tenente antes de
tomar a drástica
decisão.
Recordou o olhar
que lhe dirigiu
antes de sair do
grande salão,
com quanta
dignidade tinha
abandonado o
único lar que
conhecia
cumprindo a
ordem do novo
laird. Quanto
mais tempo
passava, mais
convencido
estava de que
havia uma
explicação do
acontecido além
da lacrimosa
história de
Agnes. Mas não
lhe tinha dado
oportunidade de
defender-se, e já
era tarde.
Agora, nesse
infeliz momento,
dava-se conta de
quão injusto
tinha sido com
Melyon.
Necessitava-o,
não só como
companheiro de
bebedeiras, mas
sim como o fiel e
leal amigo que
sempre tinha
sido. Tinha
muitas frentes
abertas, o cargo
de laird lhe
resultava em
ocasiões muito
mais chato do
que jamais
pensou. Não
porque lhe
custasse
comandar aos
seus homens,
não... Isso era o
mais fácil. Mas as
traições entre
clãs, a obediência
cega que deviam
ao Bruce, as
intrigas do
poder... Em
quem ia confiar
para resolver
todas as questões
que o
desvelavam? Nos
dois corvos que
tinha por
conselheiros?
Bebeu outro
longo gole de sua
jarra de cerveja e
esperou, sem
mover-se, a que
os MacGregor
terminassem seu
descanso e
prosseguissem
seu caminho. A
sorte esteve do
seu lado e
nenhum reparou
em sua presença,
talvez porque as
sombras do
canto que
ocupava o
ocultavam da
vista de outros,
ou talvez porque
aqueles
guerreiros
estavam tão
ofuscados em
seus próprios
problemas que
não viam além de
seus narizes.
Fora como fosse,
apenas uma hora
depois de invadir
o botequim, os
MacGregor
partiram tal e
como tinham
chegado, com as
tripas cheias de
comida e uma ou
outra jarra de
cerveja a mais.
Ewan pôde sair
então de seu
rincão e se dirigiu
ao taberneiro, ao
que entregou
várias moedas
para pagar sua
conta e o favor
que lhe tinha
feito.
— Obrigado por
não delatar
minha presença.
O homem olhou
aos olhos com
solenidade.
— Vocês são um
de meus
melhores clientes,
laird, jamais lhes
trairia desse
modo. Não devo
nada aos
MacGregor e sim
muito aos
Campbell.
Sempre me
ajudastes quando
o necessitei.
— E assim
seguirá sendo.
O taberneiro lhe
fez um gesto
agradecido e
Ewan saiu,
disposto a
prosseguir seu
caminho. Sua
pretensão de
dormir um
pouco tinha
ficado relegada
ao esquecimento,
pois sua cabeça
era um caldeirão
de idéias e
preocupações em
ebulição. Quando
montou sobre
seu cavalo, olhou
o atalho pelo que
tinha chegado,
avaliando se valia
a pena ceder à
tentação e
retornar à cabana
de seu tio, como
lhe pedia cada
parte de seu
corpo que
fizesse. Tinha a
oportunidade e a
desculpa perfeita:
sabia que havia
um grupo de
MacGregor que
sem dúvida
acolheriam ao
Will de boa
vontade e ele
tiraria esse
problema das
mãos.
Mas não podia
fazê-lo.
Preferia não
voltar a vê-lo tão
cedo, ainda
estavam muito
recentes as
sensações que
aquela boca doce
e suave lhe tinha
deixado na
língua. Embora
não era apenas
isso, reconheceu
para si mesmo.
Por muito egoísta
que soasse,
deixar ao Will
com seu tio Alec
e não devolvê-lo
a sua gente tinha
uma grande
vantagem para
ele. Estava
seguro de que
não queria o ter
diante da vista
nunca mais...
Mas, no caso de
querer, saberia
sempre onde
encontrá-lo.
CAPITULO 26

Pela primeira vez


em muito tempo,
Willow sentia um
pouco de calma
em seu interior.
Sentada sobre
uma rocha, junto
a um dos riachos
do caminho,
olhava como os
dois homens
treinavam com
suas espadas
como se o
exercício físico
fosse
indispensável em
sua existência.
De sua parte,
alegrava-se de
não ter que voltar
a empunhar uma
arma tão pesada
e insuportável.
Desde que Ewan
a deixou aos
cuidados de Alec,
e isso fazia vários
dias já, não tinha
continuado a
farsa de fazer-se
passar por
homem. Embora
seguia levando as
mesmas roupas
de moço, asseou-
se
adequadamente
para livrar-se de
toda a imundície
que a cobria e
tinha retirado a
atadura que
oprimia seus
peitos.
Resultava
libertador.
Outra mudança
gratificante foi
comprovar que
nem Melyon nem
Alec permitiam
que lhes servisse,
como tinha
estado fazendo
no Innis Chonnel
desde sua
chegada. Para os
homens era uma
a mais, e embora
às vezes eles se
empenhavam em
lhe outorgar os
privilégios de sua
antiga condição
de dama, Willow
tinha se negado a
deixar que a
tratassem como a
uma inválida. Só
tinha o pulso
machucado e
podia cozinhar
ou realizar
qualquer outra
tarefa sem
problemas.
Sua pequena
convalescença
tampouco se
alargou muito,
por sorte, e cinco
dias depois de
que Ewan a
abandonasse ali,
Alec decidiu que
quebraria as
normas de seu
antigo clã e
retornaria
sozinho para
acompanhá-la.
Era necessário
esclarecer o
mistério que
envolvia o ataque
aos MacGregor e
necessitavam ao
Ewan para que
protegesse a
Willow. Ela
estaria mais
segura entre os
muros do Innis
Chonnel que em
uma cabana de
pedra na metade
do nada,
custodiada por
um velho e um
guerreiro banido.
Assim,
empreenderam a
viagem de volta,
fazendo vários
planos para ver
de que maneira
podiam
apresentar-se no
Innis Chonnel
sem pôr em
perigo a jovem.
Melyon insistiu
no fato de que,
apesar de ter
voltado para sua
condição
feminina, Willow
não devia
abandonar a
instrução que
começou com o
Ewan e outros
soldados
Campbell. Alec
esteve de acordo,
alegando que nos
tempos que
viviam uma moça
em sua situação
devia saber
defender-se por
si mesmo.
Por isso, cada dia
depois do café da
manhã, seus dois
acompanhantes
se ocupavam de
seu treinamento.
Primeiro
praticavam eles
dois, já que
ambos estavam
acostumados a
seus exercícios
matutinos e
Willow não
queria que
rompessem sua
rotina por ela.
Quando
terminavam, os
guerreiros lhe
dedicavam seu
tempo para lhe
ensinar o manejo
da faca e o arco e
flecha, armas
muito mais
adequadas a sua
musculatura e
constituição.
Melyon,
particularmente,
punha especial
interesse em que
aprendesse a
defender-se com
uma simples
adaga. Mostrou-
lhe em que partes
do corpo de um
homem devia
afundá-la sem
demora se fosse
o caso, algo que,
para sua
surpresa, não a
horrorizou tanto
como tinha
suspeitado.
Willow tinha
deixado atrás as
chatices da dama
que tinha sido
em outros
tempos e aceitava
os conselhos do
guerreiro sem
escandalizar-se.
Também lhe
ensinou como
devia lançar a
arma, se por
acaso o atacante
se encontrava um
pouco mais
afastado dela.
— Vê? Deve
sujeitar o punho
com firmeza,
mas não tão forte
que não te
permita controlar
o lançamento. —
Dizia. — Assim,
move o braço e
deixa escapar a
adaga de seus
dedos
aproveitando o
mesmo impulso.
E, se quiser ainda
mais precisão e
força, deve
agarrá-la pelo fio.
Levanta a mão
riscando este
arco, aponta e
lança...
Willow o
contemplava com
os olhos muito
abertos e
aprendia. Fixava-
se em como o
fazia ele e o
imitava, lançando
uma e outra vez a
faca até que
notava arder os
músculos de seu
braço. Melyon
assentia,
agradado por sua
determinação e
seu interesse, e
ela sentia que por
fim estava
fazendo as coisas
bem. Depois das
frustrações
constantes que
tinha padecido
sob as ordens de
Ewan, a mudança
era do mais
satisfatório.
Esse dia,
enquanto os
olhava treinar
como cada
manhã, um
quente
sentimento
alagou a parte de
seu coração que
ainda notava
vivo. A outra
parte, a que tinha
morrido junto
com o Niall,
permaneceu
gelada como
sempre. Aqueles
dois homens
tinham
conseguido
despertar em seu
interior o bater
das asas da
amizade
verdadeira e,
embora ambos
eram Campbell,
sabia que jamais
poderia
considerá-los
inimigos. E
menos agora, que
estava
convencida de
que seu clã não
tinha tido nada a
ver com o ataque
ao Meggernie.
Ao terminar o
combate fingido,
os dois se
voltaram para ela,
sem fôlego.
Willow se
levantou da
pedra e lhes
aproximou os
odres com água
para que se
refrescassem.
— Invejo sua
força e
habilidade,
senhores.
— Bobagens. —
Resmungou Alec.
— Para nos
igualar teria que
possuir uns
braços
poderosos... E é
muito formosa,
seu corpo
resultaria
grotesco com
uns braços do
tamanho dos de
Melyon.
Willow pôs-se a
rir. Eles a
contemplaram
entusiasmados.
Era estranho
escutar sua
risada, resultava
mágica, um
pouco rouca e
terrivelmente
sedutora.
— Com o que
quer começar
hoje, arco ou
faca? —
Perguntou-lhe
Alec, quando se
desfez de seu
feitiço.
— Arco, por
favor.
Melyon foi
buscá-lo, solícito.
Willow o olhou
afastar-se e
pensou que
aquele era um
bom homem.
Desde que tinha
despertado na
cabana de Alec e
se apresentaram,
não tinha feito
outra coisa mais
que tratar de
agradá-la e servi-
la em tudo. A
pergunta escapou
de seus lábios
antes inclusive de
que pudesse
pensar que talvez
não seria bem
recebida.
— Por que o
exilou Ewan?
Tenho entendido
que era seu
melhor amigo.
Alec guardou
silêncio uns
segundos. Era a
primeira vez que
Willow
mencionava ao
seu sobrinho
depois de
inteirar-se de que
não era, como ela
acreditava, o
assassino de seu
irmão. Alec
constatou
também que
tinha usado seu
nome e não o
tinha chamado
laird Campbell.
— Melyon foi
acusado de
estupro.
— Sim, sei disso.
Escutei as
histórias que
circulavam pelo
castelo. Mas
agora conheço
um pouco
melhor ao
Melyon... E
também conheci
a Agnes, para
minha desgraça.
— O que quer
dizer com isso?
A jovem meditou
uns segundos o
que ia dizer.
Sabia que aquele
era um tema
espinhoso para
seus novos
amigos.
— Que é
impossível que
cometesse aquele
crime. —
Assegurou,
convicta. — E se
eu, que pouco
tratei com ele,
percebo
claramente, não
entra na minha
cabeça que Ewan
o exilasse assim.
— É muito difícil
tomar as rédeas
de um clã,
Willow. Só
recentemente
meu sobrinho
ostenta o cargo,
desde que seu pai
caiu em batalha
brigando pelo
Bruce, e é
fundamental
fazer-se respeitar
no princípio.
Suponho que
mostrar-se
autoritário e
firme pesou mais
que sua amizade
com o Melyon.
— Pesou mais
que a justiça?
A pergunta
incisiva pegou
despreparado ao
velho guerreiro.
E também ao
Melyon, que já
retornava com o
arco e as flechas.
Foi este último o
que saiu em
defesa do que
tinha sido seu
laird.
— Não é tão
simples, Willow.
Ewan tem ao seu
lado a dois
abutres
carniceiros
dispostos a
lançar-se sobre
seus despojos se
fracassa.
— Adair e
Lawler. —
Concluiu ela.
— Assim é.
Ambos têm
filhos varões que
ocupariam com
prazer o posto de
laird se Ewan
demonstrasse ser
indigno do cargo.
Se ele não me
tivesse castigado
quando Agnes
foi diante dele
clamando justiça,
teriam lhe
acusado de
debilidade, de
favoritismo ao
tratar-se de mim.
— Mas não
entendo como
ela se saiu com a
sua. — Insistiu
Willow, indignada
com o que tinha
ocorrido. —
Todos no Innis
Chonnel
acreditaram que a
tinha atacado? O
que lhes disse?
Como os
convenceu? E
por que o fez?
Melyon suspirou.
Ele também se
fez muitas vezes
aquelas mesmas
perguntas.
— Agnes é uma
criatura
caprichosa e
cruel. Descobri-o
muito tarde, para
minha desgraça.
Tive parte de
culpa no
ocorrido, sem
dúvida, porque
depois de me
perseguir sem
trégua, certa
noite sucumbi a
seus encantos e
permiti que se
metesse em
minha cama.
Depois daquilo,
suponho que
pensou que entre
nós dois existiam
certos...
Sentimentos.
— E não era
assim. —
Interveio Willow,
ao ver que o
guerreiro ficava
pensativo.
— De minha
parte não existia
mais que um
carinho amistoso.
Mas ela queria
mais de mim.
Algo que eu não
podia lhe dar.
Tivemos uma
forte discussão e
me prometeu que
o lamentaria... Eu
não a toquei,
Willow, jamais
me atreveria a
pôr uma mão em
cima de uma
mulher.
Entretanto,
quando chegou
ante o laird com
as roupas
rasgadas e
arranhões em sua
cara, todos
pensaram que
tinha sido eu.
Não me defendi
porque sabia o
que Ewan
enfrentava,
embora nem por
isso me doeu
menos. Teria
preferido que
meu amigo saísse
em minha defesa,
mas entendo que
seu cargo o
impediu. E eu
jamais faria nada
para prejudicá-lo,
ao contrário
desses dois
conselheiros que
procuram sua
ruína. Desde o
começo se
mostraram
resistentes a que
ele tomasse a
substituição de
seu pai e lhe tem
custado muito
impor-se e ser
respeitado.
— Mas por que?
— Willow não
entendia nada. —
O que podem lhe
reprovar? É duro,
enérgico e forte.
É um guerreiro
contumaz,
disposto a tudo
por sua gente.
— Faz anos teve
uma forte
discussão com
seu pai e
abandonou Innis
Chonnel. —
Respondeu Alec,
de repente com o
tom embaçado
pela tristeza. —
Esteve muito
tempo fora,
desatendendo
seus deveres
como filho do
laird. E o pior foi
que sua mãe
morreu em sua
ausência, afligida
de sofrimento e
de nostalgia
segundo alguns.
Era uma mulher
muito querida
entre os
Campbell e lhe
jogaram a culpa
de sua perda.
— Você estava
ali? — Quis
saber Willow,
bastante
impactada com a
história.
— Não, mas te
asseguro que Cait
Campbell não era
tão fraca para
morrer de
sofrimento.
Sentia falta dele?
Não o duvido.
Mas isso não foi
o que a levou
deste mundo.
Contraiu febre...
Isso foi tudo.
Uma virulenta
enfermidade
acabou com ela,
nenhuma outra
coisa pôde lhe
haver arrancado a
vida, porque
estou seguro de
que confiava em
sua volta.
Willow imaginou
à mãe de Ewan,
uma dama
elegante, de
cabelo castanho
como o mel e
olhos avelã iguais
aos de seu filho.
Visualizou-a
olhando por uma
janela do Innis
Chonnel,
procurando na
distância, mais à
frente do Awe,
mais à frente do
horizonte,
desejando ver
como a figura de
seu primogênito
retornava ao lar.
Sentiu pena por
ela, por essa
despedida que
nunca pôde ter.
Morrer
esperando a
alguém devia ser
algo muito triste.
Não era de
estranhar que sua
gente atribuísse
essa culpa ao
Ewan, pensou.
— Está
pensando que
Ewan merece a
repulsa de sua
gente?
Willow
avermelhou.
— Como sabe o
que penso?
— Ah, moça! É
muito
transparente. A
expressão de seu
rosto diz tudo,
vejo como julga a
meu sobrinho
por não ter
estado ao lado de
sua mãe quando
mais o
necessitava. Acha
que fez mal ao
partir de seu lar.
— E não estou
certa?
— Neste caso,
não. Ao menos,
desde meu ponto
de vista, claro.
Partiu por minha
culpa, Willow,
por defender a
mim diante de
seu pai. Meu
irmão era muito
teimoso e se
empenhava em
sair-se sempre
com a sua,
embora não
tivesse razão. Era
o grande laird
Duncan
Campbell, como
não ia fazer sua
vontade, inclusive
contra o que
ditava o sentido
comum?
— O que... O
que aconteceu?
— Vem, nos
sentemos um
momento e lhe
explicarei isso.
Acredito que é
mais importante
que conheça esta
história que seus
exercícios, hoje
não haverá
treinamento.
Willow não o
lamentou. Morria
de curiosidade
por saber tudo a
respeito de Ewan
Campbell.
Embora
descobriu que a
história que
queria lhe contar
o guerreiro, na
realidade,
começava com
sua própria
família...

À medida que
Alec falava,
sentado a frente
dela, Willow se
sentia mais e
mais confusa.
Aquele homem
tinha conhecido
a sua mãe, a seus
irmãos quando
eram dois
garotos, e seu pai
quando seu olhar
ainda brilhava de
amor. Visualizar
a sua família
através dos olhos
de Alec era
perturbador,
porque ele lhes
tinha conhecido
muito antes de
que ela nascesse
e contava coisas
que lhe eram
desconhecidas.
Ao mesmo
tempo, desejava
saber tudo. Eram
episódios
agradáveis,
divertidos,
íntimos. Até que
chegou o
momento em que
sua mãe faleceu e
o relato de Alec
se impregnou de
uma evidente
tristeza.
— Seu pai
mudou, Willow.
Distanciou-se
dos que até esse
momento tínham
sido seus aliados.
Você não me
conhece porque,
a partir daquele
dia, já não pude
visitar Meggernie
com tanta
freqüência. Ian se
encerrou em si
mesmo, não
gostava de
compartilhar seu
sofrimento com
os outros.
— Mas... —
Interrompeu-o.
— Meu pai não é
assim. É um
homem sério,
não o nego, mas
não chora cada
dia pela minha
mãe.
Alec a olhou e
lhe mostrou um
sorriso cheia do
carinho que só se
pode sentir por
alguém a quem
considera de seu
sangue.
— Em público
certamente que
não. E diante de
seus filhos, muito
menos. Mas te
asseguro que Ian
MacGregor
nunca pôde
esquecer a Erinn,
o amor de sua
vida.
Imaginar ao seu
pai padecendo
diariamente por
um amor da
magnitude que
Alec descrevia
puxou uma corda
no coração de
Willow, que
pulsou com mais
força. Sem
perceber, o rosto
de Ewan
Campbell lhe
apareceu atrás
dos olhos e teve
que sacudir a
cabeça para
desfazer-se da
inoportuna visão.
— Como te
dizia. —
Prosseguiu o
guerreiro. — Os
que fomos seus
amigos já não
pudemos visitar
Meggernie com
assiduidade. Não
fomos bem
recebidos, o laird
não tinha
vontade de ser
hospitaleiro com
ninguém.
Entretanto, eu
jamais deixei de
considerá-lo um
bom amigo. Por
isso, quando
começaram a
surgir os atritos
entre nossos clãs,
não duvidei em
defendê-lo ante
meu próprio
irmão, o
poderoso
Duncan
Campbell.
— O que
aconteceu? —
Willow estava
absorta.
Inclinava-se para
frente, atenta a
cada uma de suas
palavras.
Melyon, que se
tinha acomodado
também perto
deles, tampouco
perdia nenhum
detalhe do relato.
— Nada especial
ou fora do
comum nestas
terras, pequena.
Roubos de gado,
brigas isoladas
entre
camponeses,
histórias que são
uma fibra de
palha mas que ao
passar de boca
em boca se
convertem em
uma grande
rocha que
esmaga tudo que
se encontra no
caminho. Em
pouco tempo, os
MacGregor e os
Campbell se
inimizaram sem
que ninguém
soubesse muito
bem o motivo
real daquele
conflito. Uma
noite, produziu-
se uma discussão
um pouco mais
séria entre os
homens de
ambos os clãs.
Meu irmão, que
até esse
momento se
manteve à
margem das
disputas entre
granjeiros,
considerando que
com os ingleses
havia problemas
mais sérios aos
que atender,
recebeu amargas
queixas a
respeito. Sua
posição como
laird foi
comprometida e,
é obvio, viu-se
obrigado a
intervir. Reuniu
aos seus homens
disposto a
apresentar
batalha aos
MacGregor,
envenenado pelas
acusações e
recriminações de
seus próprios
conselheiros.
Queria matar ao
seu pai, pequena
Willow, tão
ofuscado se
encontrava.
A jovem se deu
conta de que
continha a
respiração. Alec
era um professor
contando
histórias.
Mantinha o tom
adequado,
realizava as
pausas certas
para criar tensão,
e sua voz era tão
grave e atraente
que era
impossível afastar
os olhos de seus
lábios quando
falava.
— Eu saí então
em defesa de
meu amigo.
Propus ao
Duncan que
mandasse uma
missiva ao Ian
MacGregor; era
necessário
manter uma
reunião com ele
para esclarecer o
acontecido.
Conhecia seu
pai... Estava
convencido de
que ele, igual a
meu irmão,
desconheciam a
gravidade dos
enfrentamentos
entre
camponeses. A
situação lhes
tinha saído das
mãos a ambos os
lairds, mas
confiava em que
pudesse
solucionar-se
mediante o
diálogo. — Alec
tomou ar e
fechou os olhos
ao recordar. —
Não consegui
que Duncan me
escutasse. Muito
ao contrário,
acusou-me de
traição por me
pôr do lado de
nossos inimigos e
me exilou.
— Foi então
quando Ewan
enfrentou ao seu
pai. —
Adivinhou
Willow.
— Assim é.
Naquela época
não era mais que
um menino.
Ameaçou ao seu
pai de partir se
me exilava ... Não
serviu de nada.
Meu irmão era
muito cabeçudo e
sua honra estava
muita acima dos
sentimentos
familiares. Por
minha culpa,
Ewan abandonou
aos seus.
Acompanhou-me
neste desterro
um tempo, mas o
animei a que
seguisse seu
próprio caminho.
No fundo,
desejava que se
desse conta de
que seu lar se
encontrava no
Innis Chonnel.
Estava destinado
a converter-se em
laird e sua gente
o necessitava.
Partiu de meu
lado por minha
insistência e não
me arrependo.
Sei que teve
diferentes
aventuras antes
de retornar
definitivamente
com os
Campbell,
contou-me isso
mais tarde.
Apesar de estar
proibido, meu
sobrinho seguiu
me visitando
ocasionalmente,
algo que jamais
poderei lhe
agradecer como
se merece. —
Alec suspirou
pesando antes de
terminar seu
relato. — Quão
único lamento é
que, por minha
culpa, Ewan não
estivesse presente
quando sua mãe
morreu.
Um sentimento
de tristeza pairou
no ar depois de
suas palavras.
Nenhum dos três
disse nada
durante um
tempo,
saboreando a
história cada um
a sua maneira.
Willow olhou
para Melyon. O
homem tinha os
olhos perdidos
no brilho das
águas do riacho e
o semblante
sério. Supôs que
ele tinha vivido
em pessoa certas
partes do relato e
pôde intuir sua
aflição pela
amizade que o
unia ao Ewan,
por seu
desafortunado
desenlace, por
não poder
continuar ao seu
lado como
tenente.
Ela mesma
notava agora um
amontoado de
sentimentos
encontrados em
seu interior.
Imaginava ao
jovem Ewan
enfrentando ao
seu pai por
alguém tão
generoso,
honrado e
valente como
Alec... E o
admirou. Esse
gesto dele, esse
sacrifício ao
abandonar a sua
família para
seguir seus
próprios
convencimentos,
não casava nada
com a imagem
que esteve
forjando dele
durante esse
tempo. Agora
tudo tinha muita
mais lógica. Se,
como dizia Alec,
pôs-se do seu
lado por querer
defender aos
MacGregor, não
tinha sentido ter
suspeitado que
ele era o
assassino de seu
irmão. Dia a dia,
ao lado daqueles
dois homens,
Willow descobria
a um Ewan que
não tinha nada a
ver com o que ela
tinha conhecido
mas que, no
fundo de seu
coração, sempre
tinha desejado
que fosse.
Porque, por
muito que o
tivesse detestado
todos os dias que
compartilhou
com ele, deu-se
conta de que se
converteu em
uma parte
indispensável de
sua vida. Sentia
falta dele, por
mais estranho e
perturbador que
isso resultasse.
Sentia falta dele a
cada dia, a cada
momento. Não
saía do
pensamento.
Tinha saudades
do som de sua
voz, sua maneira
de olhá-la, sua
imponente
presença. Sentia
falta do modo
em que ocupava
todo seu mundo
e sentia pavor ao
descobrir o
enorme vazio
que tinha deixado
dentro dela com
sua ausência.
Como era
possível que, em
tão pouco tempo,
aquele homem
lhe tivesse
impregnado tão
fundo? Lembrava
uma e outra vez
os momentos
compartilhados,
sua rotina diária,
cada vez que ele
a havia deixado
doida, de um
modo ou outro.
E no que mais
pensava, o que
revivia com mais
intensidade, era o
instante em que
se beijaram
depois do
enfrentamento
com os MacNab.
Sobre tudo
durante a noite,
quando tudo
ficava em calma e
o silêncio a
envolvia.
Se se
concentrava,
podia evocar a
sensação
daqueles lábios
devorando sua
boca enquanto a
chuva caía sobre
eles e o sangue
corria frenético
por suas veias
depois da
batalha. Se
respirava fundo,
conseguia notar
de novo o tato de
suas enormes
mãos segurando
seu rosto, a
sensação de se
sentir querida,
irracionalmente
desejada, apesar
de tudo, contra
tudo. Em sua
lembrança,
adulterado por
sua fantasiosa
mente, Willow se
vestia como as
grandes damas.
Ewan acariciava
seu longo cabelo
solto até a cintura
e, depois do
beijo, não se
afastava como se
ela fosse uma
praga. Em lugar
disso, agarrava-a
entre seus fortes
braços e a
afastava de todos
aqueles cadáveres
pulverizados pelo
chão...
— No que
pensa? —
Perguntou-lhe
Alec, tirando-a de
suas reflexões.
Os olhos do
homem, tão
sinceros, tão
preocupados
com seu bem-
estar,
impulsionaram-
na a responder
com a verdade
mais crua.
— Penso que a
imagem que me
descreveu de
Ewan não
corresponde com
a que eu tinha
dele... E isso me
complica a
existência, Alec.
— Você o via
como a um
monstro, Willow,
algo normal se
acredita que era o
responsável pela
ruína de sua
família.
— Mas não é
nenhum
monstro.
O velho
guerreiro sorriu.
— É obvio que
não. Pode que
seja muito duro
às vezes com
seus homens,
como intuo que
foi contigo se te
acreditava um
moço. Essa é a
herança que
Duncan lhe
deixou, temo-me,
e terá que saber
aceitá-lo tal e
como é. Olhe
para Melyon; ele
melhor que
ninguém sabe
que, atrás de sua
desumana
fachada, há um
coração nobre e
generoso.
A jovem olhou
para Melyon e
comprovou que a
observava com
atenção. Em seu
rosto podia ler-se
que concordava
com as palavras
de Alec.
— Você acredita
que, apesar do
que te fez, é um
bom homem,
certo? —
Perguntou-lhe,
talvez porque
precisa reafirmar
a nova opinião
que o laird
merecia.
Ninguém melhor
que seu tenente,
que tinha sofrido
em sua própria
carne a cruel
intransigência de
seu senhor, para
confirmar o que
seu instinto lhe
advertia.
O guerreiro lhe
respondeu sem
afastar os olhos
dos seus.
— Eu daria
minha vida por
ele.
CAPITULO 27

Fazia já uma
semana que
Ewan tinha
retornado a seu
lar, mas os dias
lhe tinham sido
tão longos que
pareciam meses...
O laird olhava
pela janela para o
pátio de
treinamentos,
onde deveria
estar junto aos
seus homens. Em
vez disso,
encontrava-se
encerrado em seu
quarto, taciturno,
sem mais
companhia que
uma taça de
vinho. Não tinha
vontade de ser
sociável com
ninguém e, sobre
tudo, não queria
encontrar-se com
nenhum membro
da família St.
Claire.
A tarde em que
retornou ao Innis
Chonnel, sem o
Will, deu-se
conta de que seu
egoísmo tinha
transbordado
com acréscimo a
responsabilidade
que tinha para
com a gente que
se encontrava
sob seu amparo.
Aquele dia,
quando
atravessou as
portas da
fortaleza, Maud
foi ao seu
encontro
rápidamente,
alertada
certamente pela
notícia de que o
laird tinha
retornado de sua
viagem. Era
evidente que a
mulher vinha da
cozinha, porque
ainda estava
limpando as
mãos cheias de
farinha no
avental.
— Onde está
Will? — Tinha-
lhe perguntado,
sem nenhum tipo
de cortesia, com
o rosto alarmado
ao não vê-lo do
seu lado.
— Está bem,
Maud, tranqüila.
— O que têm
feito com ele?
Ewan não se
surpreendeu ao
escutar a velada
acusação. Afinal
de contas, todos
tinham sido
testemunhas de
quão mau o tinha
tratado durante o
tempo que
passou no Innis
Chonnel. Era
lógico supor que
sua família o
culpasse de sua
ausência.
— Pensei que lhe
cairia bem passar
um tempo longe
do influxo de sua
protetora mãe.
— Tinha
respondido, com
secura. — Will
tem que se tornar
um homem, e
aqui não
consegui que
progrida.
A mulher lhe
olhou, estupefata.
— Mas, onde...?
— Maud, não
importune ao
senhor com suas
perguntas. —
John tinha
acudido também
ao escutar a voz
alterada de sua
esposa. — Se ele
te deu sua
palavra de que
Will está são e
salvo, não temos
nada que temer.
Ewan olhou para
o homem ruivo
elevando uma de
suas sobrancelhas
castanhas. John
era muito
preparado... Ele
não tinha dado
sua palavra, mas
o comentário,
absolutamente
fortuito,
obrigava-lhe a
lhes
proporcionar a
tranqüilidade que
lhe pediam.
— É obvio que
Will está bem.
Deixei-o aos
cuidados de meu
tio Alec; foi ele
quem me treinou
e estou seguro de
que fará um bom
trabalho com o
Will. Quando
retornar, não
reconhecerão ao
seu próprio filho.
O casal tinha
olhado com
apreensão como
o jovem laird se
afastava deles
com suas
habituais
pernadas. Apesar
de que tratou de
fugir a toda
pressa, Ewan não
pôde evitar ouvir
seus comentários
enquanto
caminhava para o
edifício principal.
— Não sabia que
tinha intenção de
desfazer-se do
Will. Não me
disse nada; de
outro modo, teria
tratado de lhe
fazer mudar de
opinião. — Havia
dito John.
Maud tinha
emitido então um
bufo.
— Mudou. Não
observo nele
nenhum traço
daquele menino
que recolhemos
em nossa cabana
faz já tanto
tempo. Agora é
um homem
autoritário e
intransigente.
Nem sequer nos
advertiu, não
pudemos nos
despedir dele...
— Agora tem
muitas
responsabilidades
, tem que cuidar
da gente de seu
clã, é diferente.
— É um
desalmado. —
Tinha estalado
Maud. — Pode
cumprir suas
obrigações e
mostrar um
pouco de
piedade... Não é
incompatível. Ele
sabia que Will é
como nosso
filho, e o levou
sem mais! Não
nos teve em
conta. Se isso é
cuidar de sua
gente, mais lhe
vale dedicar-se a
outros assuntos...
O casal não tinha
moderado seu
tom para falar
dele. Ewan estava
convencido de
que nesse
momento
queriam que lhes
escutasse, para
que lhe remoesse
a consciência.
Não os culpava...
Tinha-lhes
falhado. Jamais
tinha separado a
qualquer outro
filho de seus pais
sem avisá-los,
sem que
pudessem gozar
de uma
despedida
adequada. Mas
estava ofuscado
com o Will,
anulava seu
sentido do dever,
bloqueava-lhe e
não conseguia
agir com
responsabilidade.
Apesar do que
Maud e John
pudessem pensar
dele, ou inclusive
sentir, não se
arrependia de ter
deixado ao moço
com seu tio Alec.
Em seu caminho,
aquele primeiro
dia de sua
chegada, deteve-
se frente ao pátio
de armas onde
treinavam alguns
dos guerreiros.
Fixou-se nos
mais jovens,
moços que
rondariam os
quinze ou
dezesseis anos,
como Will, e que
se preparavam
para converter-se
em soldados que
engrossariam as
filas do Bruce no
campo de
batalha.
Repassou-os de
cima abaixo,
examinando suas
pernas, seus
braços, os
pescoços que
apareciam por
cima das
proteções, os
queixos tensos,
seus
movimentos...
Nesse momento,
tinha suspirado
com certo alívio.
Não encontrava
neles nada
fascinante,
nenhuma atração,
nenhum
interesse. Isso só
podia significar
que não tinha
perdido sua
dignidade; que,
depois de tudo,
sua
masculinidade
não corria perigo.
Entretanto, essa
mesma noite,
entre os braços
de Gillian, uma
faxineira que já
lhe tinha
esquentado a
cama em outras
ocasiões,
descobriu com
horror que talvez
se precipitou ao
acreditar-se a
salvo...
Agora, uma
semana depois,
Ewan recordava
aquela noite com
uma profunda
vergonha. Bebeu
até apurar sua
taça e chamou
para que lhe
retirassem a
bandeja de
comida que tinha
deixado intacta.
Liese foi
encarregada de
levar a cabo
aquela ordem e
Ewan não pôde
nem olhá-la à
cara.
— Traz mais
vinho. — Foi o
único que lhe
disse.

Quando Liese
entrou na
cozinha levando
a bandeja com o
jantar do laird,
tanto a ama de
chaves como
Maud se
aproximaram.
Observaram com
olho crítico que,
de tudo o que
tinham mandado
à habitação do
senhor, só faltava
a enorme jarra de
vinho.
— Não comeu
nada. —
Anunciou a
garota, como se
as outras duas
necessitassem
essa elucidação.
— Estará
doente? Leva
vários dias assim.
— Disse Jane.
— Espero que
sejam os
remorsos. —
Apontou Maud,
mordaz. Ainda
seguia ressentida
com o Campbell
por haver-se
levado ao seu
Will e não
escondia tais
sentimentos.
— Pediu mais
vinho.
— Ah! Acredita
que assim poderá
dormir melhor
esta noite, certo?
— Maud
levantou o
vestido e foi levar
outra jarra com
passos enérgicos
e decididos. —
Me permita, Jane,
esta vez eu
subirei.
A ama de chaves
já tinha
aprendido que
quando a Maud
brilhavam os
olhos daquela
maneira tão
perigosa, era
melhor não
interpor-se em
seu caminho.
Deixou que a
mulher se
encarregasse de
cumprir a ordem
de seu senhor, e
elevou uma prece
ao céu para que
não fosse muito
dura com ele.
Nos últimos dias,
cada vez que
Maud via a
oportunidade,
jogava-lhe na
cara que seu filho
Will já não
dormisse sob seu
teto. Jane
ignorava o que
afetava ao ânimo
do laird até o
extremo de lhe
tirar o apetite,
mas se Maud
estava certa e
eram remorsos,
não acreditava
que irritando-o
daquela maneira
iria melhorar.
A mulher
atravessou o
pátio com o
vinho na mão,
bufando seu
descontentament
o. Os que
cruzavam com
ela cediam o
passo e se
separavam de seu
caminho por
medo a
converter-se no
alvo de sua feroz
expressão. Seu
marido John a
viu de longe e
meneou a cabeça.
Um desses dias,
pensou,
encontrariam-se
de novo na rua
porque o laird se
fartaria de
escutar os
sarcasmos de
Maud.
Ao chegar em
frente à porta de
Ewan Campbell,
Maud chamou
com força.
— Entre. —
Quando o senhor
viu quem lhe
trazia a bebida,
soprou. — Não
estou com ânimo
de agüentar suas
reprimendas,
Maud. Advirto-
lhe isso.
Ela se desinflou
um pouco ao ver
o aspecto gasto
do homem.
Estava sentado
em frente à
janela, com os
cotovelos
apoiados nos
joelhos e as mãos
sujeitando sua
cabeça. O cabelo
castanho lhe caía
desordenado pela
cara e quando
seus olhares
conectaram,
Maud viu as
olheiras causadas
pela falta de
sono. Aquilo,
pensou, ia além
dos remorsos por
haver-se desfeito
de Will. Pela
primeira vez, a
mulher pensou
que
possivelmente o
laird tivesse
algum problema
sério, e se sentiu
mal.
— Não lhe
incomodarei,
senhor. —
Sussurrou,
estendendo o
braço para lhe
entregar a jarra.
Ele a agarrou,
preencheu a taça
e de um gole
bebeu quase a
metade.
— Obrigado,
pode ir.
Maud se girou
para partir, mas
no último
momento se
voltou para ele.
— Senhor, sei
que fui muito
dura com você
por haver tirado
ao meu Will. Mas
eu não gosto de
lhe ver assim... Se
houver algo, o
que seja, que
minha família
possa fazer para
ajudar, não
duvide em falar
conosco.
Ewan a olhou
com os olhos
frágeis e, depois
de uns tensos
segundos,
assentiu com a
cabeça como
toda resposta.
Quando a mulher
partiu, o laird
ergueu a taça e a
lançou depois
contra a parede,
obtendo que o
metal
ricocheteasse
com um
estrondo que não
o apaziguou.
Sentia-se mais
miserável que
nunca. Apesar de
havê-los afastado
de seu filho,
aquela família
ainda lhe oferecia
seu apoio. Eram,
sem dúvida,
muito melhores
que ele como
pessoas.
Entretanto, não
podiam ajudá-lo.
Ninguém podia.
Sua tortura, a
vergonha que
suportava hora
após hora desde
o dia de sua
volta, era que
tinha deixado de
ser um homem.
Ao menos, a
classe de homem
que lhe tinham
inculcado a ser
desde menino.
Revivia uma e
outra vez duas
cenas em sua
mente, ambas
igualmente
vergonhosas. A
primeira, a noite
de sua volta ao
Innis Chonnel,
quando a
faxineira Gillian
o acompanhou
no leito e ele,
como se em lugar
de ser um
verdadeiro
guerreiro fosse
um miserável
castrado, não
encontrou
nenhum prazer
entre seus braços.
Por mais que a
jovem o tentou e
acariciou, seu
corpo não lhe
respondeu como
devia. Foi
humilhante. No
final, expulsou-a
de seu quarto
convertendo a
pobre garota no
alvo de sua fúria
e frustração.
Algo que,
definitivamente,
não lhe fez sentir
melhor...
Justamente o
contrário.
A segunda cena
era ainda pior.
Seu beijo com o
Will.
O incrível,
apaixonado e
vibrante beijo
que o menino lhe
havia devolvido,
que ele tinha
desfrutado para
seu completo
desassossego.
Relembrava-o às
vezes com
irritação; outras,
quando o
cansaço e o
sofrimento o
venciam, durante
as horas de
insônia, evocava-
o com os olhos
fechados,
notando que
ainda seu corpo
estremecia com
as sensações que
a boca suave de
Will tinha
despertado nele.
E se detestava
mais por isso.
Por reconhecer,
nesses momentos
de total
abandono,
quando
conseguia
abstrair-se da
férrea moral que
governava seu
mundo, que daria
o que fosse para
voltar a repeti-lo.
Também era
certo que jamais
ia além. Sua
imaginação não
passava do
encontro entre
seus lábios, não
era capaz de
visualizar o
desenlace daquela
cena gravada a
fogo em sua
memória. Era a
única fresta que
ficava para não
perder por
completo a razão,
para não dar-se
por vencido no
que a sua
dignidade se
referia. Já tinha
constatado que
não gostava dos
jovens delicados
e sem barba. Só
pensava no Will.
Em seus olhos
azuis, em sua
boca de lábios
brandos, na
fragilidade de seu
magro corpo, em
seu modo de
olhá-lo quando o
desejo se fazia
patente em seu
rosto sempre
sujo.
Às vezes, muito
ocasionalmente,
uma idéia
reveladora o
assaltava na
metade da noite.
Talvez eles, como
indivíduos, não
devessem pôr
barreiras aos
apetites da carne.
Ou, mais ainda,
aos sentimentos
que uma
determinada
pessoa pudesse
despertar na
gente mesmo. O
que importava se
fosse homem ou
mulher? O
coração não
entendia dessas
coisas, a razão
lhes dizia uma
coisa, mas a pele
reagia de maneira
muito distinta ao
roce com outra
pele... O que lhe
ocorria com o
Will não lhe
acontecia com
ninguém mais.
Nenhuma outra
pessoa, fosse
homem ou
mulher, acendia
em seu interior as
emoções que
despertavam
estando perto
dessa criatura.
Aquela idéia, tal e
como lhe vinha,
diluía-se na ira
que o consumia
depois de
compreender que
seus
pensamentos não
tinham nenhum
sentido, que
Deus tinha
criado ao homem
e à mulher por
algo... Apesar de
não ser um
homem de fé,
conhecia o que a
igreja pregava a
respeito. Aquilo
não estava bem.
Não podia estar.
A única coisa
certa que ficava
quando as
primeiras luzes
do amanhecer
penetravam por
sua janela, era
que ele se
converteu em um
miserável,
condenado pela
lembrança de um
menino que lhe
tinha roubado a
prudência. Sentia
tanto a sua falta
que doía. Sentia
falta de o ter
rondando todo o
dia ao seu redor,
recolhendo sua
roupa, suas
coisas, lustrando
suas botas. Will e
seu pequeno
corpo, sempre no
meio, olhando-o
daquela estranha
maneira com
seus enormes
olhos azuis.
Acostumou-se a
sua presença e o
necessitava. Mas,
pelos chifres de
Satanás que não
iria buscá-lo.
Aquela loucura
lhe passaria, cedo
ou tarde, e ele
voltaria a ser o
laird que os
Campbell
mereciam.
Uma nova
chamada em sua
porta o devolveu
ao momento
presente. Deu
seu
consentimento
para entrar a
pessoa que o
chamava,
rogando para que
o assunto que o
requeresse fosse
tão importante
para monopolizar
toda sua atenção
e poder esquecer
um momento de
seus sofrimentos.
— Trouxeram
esta mensagem
para ti. É
importante —
Disse Colin, seu
segundo agora
que Melyon já
não estava.
Ewan tinha dado
ordem ao seu
guerreiro de que
interceptasse
qualquer carta,
qualquer missiva,
e a levasse
diretamente,
pensando que
talvez seu tio
Alec quereria
ficar em contato
com ele. Não
desejava dar aos
seus
conselheiros, os
entrometidos
Adair e Lawler, a
ocasião de
colocar os
narizes em seus
assuntos. Desde
que tinha
retornado,
aqueles dois
animais pareciam
estar esperando
qualquer falha,
qualquer passo
em falso de seu
laird para tornar-
se sobre sua
carniça na menor
oportunidade.
Seu desejo de
destitui-lo como
líder dos
Campbell era tão
evidente que
devia andar com
muito cuidado…
Agarrou o
pergaminho
lacrado com o
selo de Robert
do Bruce e todo
seu corpo ficou
tenso. Era uma
carta do rei, algo
ao que,
definitivamente,
tinha que
emprestar toda
sua atenção.
Leu-a com
avidez, notando
que aquela letra
de tabelião,
elegante e bicuda,
ia limpando a
espessa nuvem
que lhe embotava
a mente. Bruce o
necessitava.
Ameaçava-o a
terminar o
treinamento dos
homens que
estavam aos seus
cuidados e que,
em um prazo não
superior a um
mês, preparasse
seu exército para
reunir-se com o
exército no
Stirling, onde
mantinham cerco
ao castelo.
Finalmente.
Desejava unir-se
ao seu povo
contra os
ingleses. Tinha
chegado o
momento de
substituir ao seu
pai ao lado de
seu rei.
Aproximou-se da
janela e olhou
para o pátio de
treinamento,
onde seus
homens
praticavam sem
descanso.
Enquanto lhes
observava, o
rosto de Will
voltou a cruzar
por sua mente.
Não podia partir
para a guerra
deixando as
coisas assim.
Soube com total
certeza,
reconhecendo
que sua alma se
retorceria no
inferno se o
matavam em
alguma batalha.
Não entendia
muito bem o que
era o que tinha
que fazer para
confrontar seu
destino com a
paz de espírito
necessária, mas
sabia que, fora o
que fosse, tinha a
ver com o Will.
Talvez deveria
trazê-lo de volta
ao Innis Chonnel
para que o moço
se reunisse de
novo com sua
família adotiva.
Ou inclusive
mais. Talvez
devia procurar à
tropa MacGregor
com a que
cruzou dias atrás
e tratar por todos
os meios de que
Will voltasse para
seu verdadeiro
lar, com sua
gente. Esta
opção não o
convencia muito;
talvez Will não
estivesse seguro
com eles. Seus
problemas
pessoais lhe
tinham feito
esquecer o
assunto da jóia,
que parecia ter
sido o detonante
do ataque ao
Meggernie. A sua
volta, ao
contrário do que
se imaginava,
todos os
MacNab tinham
abandonado
Innis Chonnel,
perdendo assim
sua oportunidade
para interrogar
ao seu chefe,
James, a respeito
de seu retorcido
interesse nessa
jóia e na
recompensa que
ofereciam por
ela. Depois, seus
próprios
fantasmas
interiores lhe
tinham distraído
tanto que não
havia tornado a
pensar nisso...
Até esse dia. Will
poderia não estar
a salvo em meio
daquela luta que
os MacGregor
mantinham por
sua sobrevivência
como clã, não
podia devolvê-lo
a sua gente.
Ou talvez é que não
quer renunciar à
possibilidade de
voltar a vê-lo,
falou-lhe uma
voz em seu
interior.
— Se essa carta
for o que
imagino, temos
muito que fazer.
— A voz de
Colin o tirou de
seu devaneio. —
Deveria descer
para ver seus
homens, laird,
leva dias sem
aparecer e alguns
estão se pondo
nervosos.
— Sim. Adair e
Lawler estão
sobrevoando
minha cabeça
como os abutres
que são, certo?
— Passam muito
tempo no pátio
de treinamento,
sim. E sussurram
ao ouvido dos
soldados como
velhas agourentas
tratando de
plantar a semente
da desconfiança
em seus
guerreiros. Não o
permita, Ewan.
Eu sozinho não
posso combater
contra suas más
obras… Se
Melyon ainda
estivesse
conosco, entre os
dois meteríamos
na cintura a esses
dois velhos. Mas
não posso me
ocupar do
treinamento e de
apagar ao mesmo
tempo os fogos
que acendem
com suas línguas
viperinas.
Ewan foi para
seu amigo e lhe
pôs uma mão no
ombro.
— Sei, Colin.
Perdoa por
minha abstração,
não voltará a
acontecer. Vou
assear-me um
pouco e me
reunirei contigo e
com o resto dos
homens em uns
minutos.
O guerreiro o
olhou aos olhos e
assentiu
satisfeito. Antes
de partir,
entretanto, falou-
lhe com
confiança.
— Sei que eu não
sou Melyon e que
nunca poderei
substitui-lo, mas
quero que saiba
que, para mim, é
mais que meu
laird; considero-
te meu amigo. E,
seja o que for o
que tanto se
preocupa, pode
confiar em mim.
Não correrei
com a intriga a
esses dois
caquéticos e
tratarei de te
ajudar no que
possa.
Ewan notou que
seu coração se
aliviava um
pouco depois
daquelas palavras.
— Obrigado,
amigo.
CAPITULO 28

Os três viajantes
chegaram de
noite à aldeia que
se assentava à
beira do lago
Awe, porque
assim o tinham
planejado. Nem
Alec nem Melyon
eram bem-vindos
naquele lugar que
podia considerar
uma extensão do
Innis Chonnel.
Willow
contemplou a
silhueta em
sombras do
castelo, do outro
lado das águas, e
pensou no perto
que estava de
Ewan naquele
momento... E no
longe também.
Só tinha que
cruzar o lago
para poder
encontrá-lo, mas
lhe aterrorizava o
ter de novo em
frente a ela.
Tinha-a deixado
abandonada,
desfeito-se dela
como se fosse o
ser mais
indesejável sobre
a face da terra e
mesmo assim
não tinha podido
deixar de pensar
nele todos os
dias.
Em todas as
horas.
— Willow, não te
entretenha. —
Alec chamava sua
atenção, lhe
fazendo gestos
com a mão. —
Não queremos
que nos
descubram.
Ficou
embevecida
olhando o castelo
e os dois homens
logo se detiveram
junto a uma das
cabanas,
desmontando de
seus cavalos.
Reuniu-se com
eles, apartando o
olhar da bruma
azul que se
elevava do lago e
dava à paisagem
um aspecto um
pouco
assustador, mas
indubitavelmente
belo. Era curioso.
Innis Chonnel
sempre lhe tinha
parecido um
lugar escuro,
cheio de sombras
não só por seu
aspecto, mas sim
por tudo o que
representava para
ela. Mas, do
primeiro dia,
apesar de suas
impressões, o
lugar lhe tinha
resultado
assustador por
sua beleza quase
mística. Aquela
noite não foi
diferente e teve
que fazer um
esforço por
afastar os olhos
da paisagem que
a hipnotizava.
Desmontou e
seguiu os seus
acompanhantes
ao interior da
cabana, onde
alguém lhes tinha
aberto a porta
sem pôr
objeções. Alec
havia dito que
tinha amigos leais
entre os
Campbell e que
os acolheriam
apesar da
proibição de não
dar proteção a
um banido. Para
Willow, depois de
conhecer toda a
história, não
precisou. Tanto
Melyon como
Alec não
mereciam o
destino que
ocorreu e era
lógico que quem
os tinha
conhecido
também tivessem
a mesma opinião.
No interior,
Willow
encontrou uma
atmosfera
confortável que
seus ossos,
cansados e
rígidos de frio,
agradeceram. O
fogo crepitava
alegre no lar e
cheirava a
comida... Para
ela, mais que
suficiente.
— Will!
A garota olhou
para o seu
anfitrião, que
estava saudando
Melyon quando
reparou em sua
presença e se
surpreendeu
tanto ou mais
que ela pela
coincidência.
— Donald!
Seu companheiro
de trabalho nas
pocilgas, o
primeiro amigo
que fez no Innis
Chonnel, olhava-
a sem poder
acreditar que
estivesse ali,
junto aos dois
desterrados do
clã Campbell.
— Quando o
laird retornou
sem ti, todos
pensamos que
não voltaríamos a
ver-te. — O
ruivo se
aproximou e
esboçou um
sorriso que
deixou ver sua
dentadura
trincada. — Me
alegro de que não
seja assim.
Willow também
lhe sorriu, de
coração. Ao fazê-
lo, a confusão se
apropriou do
olhar de Donald.
— Há algo
diferente em ti.
O que... O que te
passou?
— É uma longa
história. —
Respondeu, sem
impostar a voz
como estava
acostumado a
fazer, coisa que
não fez mais que
acrescentar a
confusão do
moço. — Em
primeiro lugar, e
acima de tudo,
quero te pedir
desculpas por te
haver enganado.
Donald deu um
passo atrás,
aturdido pelo que
já estava
averiguando sem
ajuda de
ninguém. Will
estava
acostumado a
levar sempre a
cara muito suja,
sua voz fanha
confundia e
quase sempre
baixava a vista
quando falava
com alguém...
Descobrir o que
havia debaixo da
imundície e a
impostura lhe fez
pensar que era
mais parvo do
que já se
acreditava. Como
não se deu conta
antes?
— Não se sinta
mau, não é o
único ao que
enganou. — Alec
foi ao seu
resgate. — Vêm,
sente-se e lhe
contaremos isso
tudo. Vamos
necessitar sua
ajuda.
— Para... Para
que? — Donald
não podia deixar
de olhar à garota.
À garota. Era
uma mulher...
Pelos pregos de
Cristo!
— Willow deve
retornar ao Innis
Chonnel e falar
com o laird.
— Willow?
— Sim, Donald.
Meu nome é
Willow
MacGregor, e
necessito que me
ajude a entrar de
novo na
fortaleza. Não sei
se minha
presença será
bem-vinda ou o
laird terá
proibido minha
entrada igual fez
com Melyon e
Alec.
O ruivo passou
uma mão pelo
cabelo,
assombrado com
tanta informação.
— É uma
MacGregor... É
uma mulher...
Willow se
aproximou dele e
lhe agarrou as
mãos para que se
tranqüilizasse.
Olhou-o nos
olhos e lhe sorriu
com doçura, o
que conseguiu
que o coração do
moço se
acelerasse.
— Sou eu. Sou a
mesma pessoa a
que ensinou a
retirar os
excrementos dos
porcos de
maneira que não
me sujasse muito.
— Mas não serve
de nada, porque
sempre estava
sujo. E agora está
limpo... Limpa.
— E não me
prefere assim? Já
não cheiro mau.
— Não sei.
Assim me
atordoa.
— Me ajudará?
— Insistiu ela,
apertando suas
mãos.
Ele a olhou,
tentando
assimilar a
situação. Depois
de uns segundos,
levantou a vista
com os olhos
alarmados.
— Não pode
voltar lá! O laird
te matará.
— O que eu
temia, também te
proibiu. —
Sussurrou
Melyon, que já
tinha tomado a
liberdade de se
servir um bom
prato do que fora
que fervia na
panela pendurada
no fogo e estava
dando boa conta
disso.
— Não. —
Esclareceu
Donald. — O
laird não disse
nada de Will, mas
o conheço.
Quando
descobrir que o
enganou, que
enganou a todos,
ficará furioso. É
melhor que não
volte... Deveria
retornar com os
teus.
Willow se
enterneceu que
Donald se
preocupasse com
ela. Sabia que
Ewan ia ficar
furioso, mas se o
pensava bem,
quando não tinha
estado furioso
em sua presença?
Tinha que vê-lo,
custasse o que
custasse. Alec e
Melyon a tinham
convencido de
que só unindo
forças com o
laird dos
Campbell
poderiam sair do
atoleiro no que
estavam
colocados.
Willow
necessitava seu
amparo, porque
os verdadeiros
culpados do
ataque ao
Meggernie não
tinham aparecido
e, portanto, ela
ainda estava em
perigo.
Por outro lado,
Alec lhe tinha
feito ver que
Ewan também se
pôs em uma
situação muito
comprometedora
ao não desmentir
os rumores que o
assinalavam
como o assassino
de Niall
MacGregor.
Cedo ou tarde,
alguém teria que
pagar por isso e
o rei Bruce
repartiria justiça.
Se não
encontravam ao
verdadeiro
culpado, Ewan
seria acusado
formalmente.
Isso era algo que
não podia
permitir. Como
não podia
permitir que seus
dois novos
amigos
continuassem no
exílio por crimes
que não tinham
cometido. Pelo
menos, no caso
de Melyon. Alec
lhe tinha
recomendado
manter-se à
margem desse
outro assunto,
alegando que
logo resolveria
por si mesmo e
não havia
necessidade de
que ela criasse
mais inimigos
por interferir.
Mas Willow não
podia com as
injustiças... E
aquilo o era.
Assim, quisesse
Alec ou não,
Ewan teria que
escutá-la.
Se é que antes
não a afogava
com suas
próprias mãos ao
descobrir quem
era na realidade.
— Vou retornar,
Donald, queira-o
ou não. Mas sem
sua ajuda me
dará mais
trabalho. O que
me diz?
— Oh, de
acordo, de
acordo!
O sorriso que
iluminou o rosto
de Willow deixou
atordoado ao
moço. Ela se
inclinou e lhe deu
um pequeno
beijo na
bochecha,
conseguindo que
sua cara
alcançasse o tom
vermelho de seu
cabelo.
— E agora,
podemos comer
um pouco desse
guisado que
cheira tão
maravilhoso?
Morro de fome!
Donald assentiu,
embora na
realidade não se
inteirou do que
lhe tinha
perguntado.
Tinha-lhe dado
um beijo. E era
uma garota...
Uma garota!
— Poderemos se
é que Melyon nos
deixou um
pouco... —
Resmungou Alec,
que rebuscava na
panela enquanto
o aludido não
parecia
absolutamente
arrependido por
sua falta de
maneiras.
Willow se sentou
ao seu lado e lhe
deu uma
cotovelada por
não esperar que
todos estivessem
sentados à mesa.
— Au! E isso por
que? —
Protestou.
— Por mal me
acostumar. Todo
o caminho me
tem feito
acreditar que
tinha mais
consideração por
mim, e agora te
olhe, devorando
como um lobo
sem preocupar-se
se por acaso fica
comida para os
outros.
— Isso não é
verdade. Há mais
na panela... E, de
toda maneira,
este outro é para
ti. — Assinalou
outro prato que
tinha pego e que
ainda não havia
tocado. Olhou-a
e lhe piscou um
olho. —
Acreditava que ia
te deixar sem
jantar, magricela
como está?
— Isso, e a mim
que me parta um
raio. —
Protestou Alec,
que só tinha
podido encher
seu prato até a
metade com o
que tinha deixado
Melyon na
panela.
Outros se
puseram a rir,
inclusive Donald.
O moço foi junto
aos seus
convidados à
mesa e tirou uma
parte de queijo,
pão e uma jarra
de vinho.
— Menos mal
que Donald sabe
agradar a um
pobre velho
como eu... —
Murmurou Alec
enquanto enchia
sua taça até o
bordo.
— Velho? —
Perguntou
Willow, elevando
uma sobrancelha.
— Vamos,
ninguém ousaria
chamar velho a
Alec Campbell,
assassino de
gigantes.
— Como te
inteiraste de meu
apelido?
A jovem piscou
um olho para
Melyon antes de
responder.
— Isso não
importa. O que
queremos saber
Donald e eu é
por que lhe
puseram isso.
Quando foi? E o
que aconteceu?
Realmente matou
a um gigante?
Alec lhes deixou
ver um sorriso
resignado. Não
tinha contado
essa historia fazia
anos... Mas para
Willow não podia
negar nada. Além
disso, ela
escutava com
tanta atenção,
que era um
verdadeiro prazer
relatar suas
aventuras.
— Foi na batalha
do Stirling, em 11
de setembro de
1297, nunca me
esquecerei.
Aquele dia,
comandados por
William Wallace,
os escoceses
obtiveram a
vitória mais
importante até
aquele momento
sobre os ingleses.
— Wallace! —
Exclamou
Donald,
interrompendo
seu relato. —
Esteve sob suas
ordens? Era tão
alto como
diziam?
— Era-o. Levava
uma espada tão
larga que poucos
homens teriam
podido levantá-
la. Quando o vi
aparecer,
atravessando
nossas filas para
ficar à frente das
tropas, soube que
naquela ocasião
tínhamos uma
possibilidade. Seu
rosto era pura
determinação,
chegava disposto
a vencer ou a
morrer. E todos
os que ali nos
encontrávamos
pensávamos
segui-lo até o
final.
— Meu pai
também esteve
naquela batalha.
— Sussurrou
Willow,
imaginando a
emocionante
cena que Alec
descrevia.
— Sim. Ele e a
maioria de
nossos aliados.
Stewart,
MacNab,
Graham... Todos
estávamos ali.
Fomos
testemunhas de
como Wallace
rechaçava
qualquer intento
de negociação
com os ingleses
para provocar
uma batalha.
Superavam-nos
em número por
cinco a um,
sabíamos que era
uma causa
desesperada, mas
nenhum
retrocedeu.
Vimos como
nossos inimigos
cruzavam a ponte
do Stirling e
formavam na
esplanada, frente
a nós. Talvez
pensavam que
Wallace
respeitaria as
normas da
cavalaria... Pobres
iludidos!
— A que te
refere? —
Perguntou
Donald, que não
compreendeu o
que queria dizer.
— A ponte foi
um elemento
estratégico
fundamental. —
Explicou Alec.
— Era muito
estreito e os
ingleses, que se
encontravam ao
outro lado do rio
Forth, só podiam
passar de dois em
dois. Assim
quando os
primeiros dois
mil homens o
atravessaram, no
lugar de esperar a
que seguissem
cruzando o resto
de suas tropas,
Wallace ordenou
atacar.
Massacramo-los.
E seus
compatriotas, ao
outro lado do rio,
olhavam
impotentes como
parte de seu
exército
sucumbia sem
que pudessem
ajudá-los.
— O gigante ao
que matou era
um inglês? —
Esta vez foi
Willow a que
interrompeu o
relato, com os
olhos abertos e
assombrados.
— Sim. Surgiu de
entre as filas
inimigas com
uma enorme
espada, maior
que a do próprio
Wallace. Um
golpe dos seus
era capaz de
exterminar com
dois escoceses de
uma vez.
Nesse ponto,
Melyon sorriu,
porque sabia que
o experiente
guerreiro estava
exagerando
apenas para dar
mais emoção a
sua história.
— E pôde com
ele? —
Perguntou
Donald,
deslumbrado por
tal façanha.
— Acaso o
duvida? —
Respondeu Alec,
inchando o peito
com orgulho. —
Nessa época eu
era muito mais
jovem e forte,
moço. Custou-
me o fazer, não
vás pensar que
foi fácil. Mas
consegui dobrá-
lo e acabar com
ele para evitar
que continuasse
diminuindo
nossas forças.
— Meu pai me
contou que
naquela batalha
esteve a ponto de
morrer. Que um
inglês lhe atacou
pelas costas...
Alec olhou para
Willow e piscou,
voltando para um
passado que
tinha apagado de
sua memória.
Tinha esquecido
aquilo, mas era
certo.
— Sim, é
verdade. Eu
estava perto e fui
testemunha
daquilo.
Embora...
— Embora, o
que? Acaso meu
pai exagerou a
história? —
Perguntou
Willow, ao ver
que o guerreiro
duvidava. Não
lhe importava, é
obvio. Estava
convencida de
que todos os que
contavam suas
batalhas
adornavam o
relato para que
resultasse mais
heróico do que
na realidade tinha
sido. Alec e seu
pai não eram
diferentes, e ela
tampouco
desejava que
fossem. Preferia
suas épicas
histórias às
verdades que se
escondiam atrás
de suas vivencias
na guerra.
— Não...
Esquece-o.
Minha memória
já não é a que
era, talvez não o
recordo bem —
Disse, fazendo
um gesto com a
mão para lhe
subtrair
importância.
Alec não lhe
disse que ele
recordava aquela
cena de maneira
muito diferente.
Certo que um
inglês tinha
tentado atacar ao
Ian MacGregor
pelas costas, e
que tinha salvado
a vida graças à
intervenção de
um dos seus.
Mas, e talvez por
isso Alec tinha
decidido apagar
de sua cabeça,
teria jurado que
aquele aliado, ao
que não tinha
podido ver bem a
cara, na realidade
não estava
protegendo-o de
um soldado
inglês. Em meio
daquele caos,
Alec o viu
levantar sua
tocha contra o
laird dos
MacGregor e
lançá-la direto a
suas costas. E, no
último momento,
a arma impactou
no corpo daquele
soldado inglês
que cruzou em
seu caminho. Na
verdade lhe tinha
salvado a vida ao
Ian? Ou
pretendia acabar
com ele e, graças
a um capricho do
destino, um
inglês tinha
terminado morto
em seu lugar?
Alec não
entendeu naquele
momento o que
seus olhos
tinham visto e
seguia sem
compreendê-lo.
Por isso o tinha
esquecido. Não
queria que uma
dúvida tão negra
e tão feia lhe
estragasse a
lembrança
daquele glorioso
dia em que o
exército escocês
se elevou com a
vitória.
Agora, olhando
os olhos de
Willow, tudo
havia retornado
com uma
facilidade
assombrosa. E,
depois de
conhecer o
acontecido aos
MacGregor, Alec
não podia voltar
a esquecer aquele
sucesso. Porque
algo lhe dizia que
tudo estava
relacionado, e
que aquele
escocês sem
rosto de sua
lembrança era o
traidor culpado
do ataque a
Meggernie. Tinha
que esforçar-se e
tratar de enfocar
essa longínqua
imagem... Devia
averiguar a
identidade
daquele homem
para poder ajudar
a Willow e ao
Ewan.
— Não te
atormente. —
Disse Melyon
para Alec, ao ver
que o guerreiro
parecia desolado
por sua falta de
memória. —
Embora, depois
de ser
testemunhas de
suas lacunas
mentais, talvez
sim deveríamos
começar a te
chamar velho...
O comentário
jocoso de Melyon
relaxou a tensão
no rosto de Alec,
que não teve
mais remédio que
tornar a rir.
Melhor que
pensassem que
não era capaz de
recordar em lugar
de ter que revelar
suas suspeitas.
Antes, tinha que
estar seguro e
averiguar a
identidade
daquele traidor.
Pelo bem de
todos.
Com as primeiras
luzes do
amanhecer,
Donald e Willow
se dirigiram ao
píer. O aspecto
da garota voltava
a estar camuflado
sob uma camisa
muito grande
para ela, uma
capa puída e um
rosto empanado
de maneira
estratégica de
fuligem e de
barro. Tinham
decidido dizer ao
Ewan a verdade,
mas era preferível
que fosse ele
quem se
inteirasse
primeiro do
engano e ver
como reagia
antes de fazê-lo
público entre os
muros do Innis
Chonnel.
Ao chegar ao
bote que
transladava aos
aldeãos que,
como Donald,
trabalhavam na
fortaleza,
encontraram-se
com o assombro
de Bors, o
barqueiro, que
não dava crédito
ao que viam seus
olhos.
— O que faz
esse aqui? —
Perguntou ao
Donald, como se
Willow não
estivesse
presente.
— É meu
companheiro nas
pocilgas.
— Já sei quem é.
— Ao dizê-lo,
Bors cuspiu à
água como
amostra de
desprezo. — O
laird não o quer
em seu lar, do
contrário, não o
teria levado.
— E como sabe?
— Interrogou-
lhe Donald,
muito mais
tranqüilo que ela.
— Acaso te
proibiu que lhe
deixe passar?
O homem ficou
pensativo,
olhando a um e
outro
alternativamente.
— Não me
proibiu isso. Mas
todos sabemos
que este moleque
lhe dá dor de
cabeça. É uma
dor no traseiro
de nosso laird...
Não quererá vê-
lo.
— Isso terá que
decidi-lo ele, não
acha?
Bors voltou a
cuspir. Antes de
deixá-los subir
no barco,
apontou-lhes
com um dedo.
— Se ganhar
uma reprimenda
por isso,
perseguirei-lhes,
aos dois, e lhes
darei tal surra
que não poderão
se levantar da
cama por uma
semana. Ficou
claro?
Ambos
assentiram e
subiram no bote.
Willow se situou
o mais longe
possível daquele
guerreiro
Campbell que a
tinha detestado
desde que se
conheceram. Não
tinha sido tão
difícil, depois de
tudo. Embora,
sem a ajuda de
Donald, jamais
teria chegado tão
longe. Esse bruto
do Bors não teria
deixado que
voltasse a subir
no seu barco.
O coração
começou a lhe
pulsar com força
conforme se
aproximavam da
fortaleza. Não só
pela tarefa que
tinha pela
frente...
Confessar a
verdade ao Ewan
ia resultar
complicado.
Também ia poder
reencontrar-se
com sua família
adotiva e estava
desejando vê-los.
Tinha mentido
muitas vezes ao
John, a Maud e a
Liese. A eles
também teria que
explicar-lhes.
Como tomariam?
Odiariam-na por
havê-los
enganado? Eles
lhe tinham dado
todo seu apoio
desde o dia em
que John a pegou
colocando a mão
em seu bornal, e
ela lhes tinha
pago com
mentiras e mais
mentiras.
— Tranqüilo,
Will — Escutou
que lhe
sussurrava
Donald, muito
baixinho. —
Tudo sairá bem.
— O que
cochicham vocês
dois? Não confio
nem um cabelo
de suas
intenções. —
Espetou Bors. —
Assim que
cheguarmos,
esperarão-me
junto à borda. Eu
mesmo irei avisar
ao laird.
E assim o fez. O
bote se deteve
em frente ao
grande portão de
entrada e o
guerreiro saltou
para tomar a
dianteira. Com
um olhar,
repetiu-lhes que
não deviam
mover-se dali.
— Espero não
estar te
colocando em
uma confusão,
Donald.
— Ora, eu gosto
das confusões. A
vida seria muito
aborrecida e
rotineira se não
tivéssemos estes
sobressaltos.
— Sou um
sobressalto para
ti?
O moço esboçou
um sorriso de
dentes trincados.
— Vais ser um
sobressalto para
muitos dos
habitantes daqui,
Will. E eu não
penso perder
isso.
Bors encontrou
ao laird tomando
o café da manhã
no grande salão.
Caminhou com
passo decidido e
se plantou frente
a sua mesa
olhando-o com
seriedade.
— O que ocorre?
— É... É o
afeminado,
senhor.
Retornou.
— O que?
— O pirralho,
está outra vez
aqui, nas portas
do castelo. Veio
com o Donald.
Ewan sentiu que
o coração lhe
parava no peito.
Quando
recuperou seu
batimento do
coração, um
pânico irracional
invadiu todo seu
ser ante apenas a
possibilidade de
voltar a tê-lo
diante de seu
nariz. Acreditava
estar a salvo de
sua magia de
duende; se não o
via, podia
controlar-se,
podia voltar a ser
um homem
completo e sem
fissuras. Com ele
rondando ao seu
redor outra vez,
aquilo ia resultar
impossível.
Morria por sair
correndo para as
portas para vê-
lo... Mas não se
moveu do lugar.
— Vá até ele e
encerra-o nas
masmorras.
— Só ao menino,
ou ao Donald
também?
— Só a ele.
CAPITULO 29

Era incrível.
Voltava a estar ali
colocada, sem
nenhuma
explicação, sem
nenhum motivo
aparente. Que
crime tinha
cometido?
Segundo Donald,
o laird não tinha
vetado sua
entrada no
castelo, mas era
evidente que sua
presença lhe
incomodava
sobremaneira. O
que tinha
pensado fazer
com ela? Passeou
nervosa pela cela,
iluminada apenas
com a luz de uma
tocha que ardia
do outro lado da
porta de madeira
e que penetrava
pelas barras da
janela superior.
Aquilo era uma
loucura. Deteve-
se e tentou
raciocinar com o
homem que
tinham deixado
vigiando as
masmorras.
— Preciso falar
com o laird... É
importante.
— Já te disse que
não quer falar
contigo.
— Ao menos
exijo saber do
que me acusa.
Por que estou
aqui?
— Nem sei, nem
me importa. O
laird quer que
esteja, não há
mais o que dizer.
Era como falar
com uma pedra.
De boa vontade
lhe teria dito que,
o que ele
supunha um
pirralho sem
barba que lhe
causava
problemas, era na
realidade uma
mulher. Desse
modo, seguro
que correria
escada acima
para avisar ao seu
todo-poderoso
laird e ela
conseguiria sua
audiência.
Mas não.
Prometeu ao
Alec que diria
primeiro ao
Ewan e pensava
respeitar essa
decisão. De
qualquer modo,
era o mais
sensato. Quem
podia imaginar
do que eram
capazes esses
bárbaros
Campbell quando
se inteirassem de
que os tinha
estado
enganando
fingindo que
queria ser um
deles, um
guerreiro como
outros.
As horas
passaram e lhe
trouxeram a
comida. E, várias
horas depois, o
jantar. Ninguém
exceto seu guarda
entrou ou saiu
das masmorras.
Nem sequer John
ou Maud...
Teriam se
informado de
que estava de
volta? Duvidava-
o. Bors tinha ido
procurá-la depois
de lhe comunicar
ao laird sua
chegada, e a tinha
levado direito às
masmorras sem
lhe dar opção de
ver ninguém
mais. Quando já
teve claro que
esse dia não
receberia
nenhuma visita,
tornou-se sobre a
pele de urso que
continuava ali da
primeira vez que
a encerraram e se
dispôs a dormir,
algo impossível
naquele sombrio
e apavorante
lugar.
O silêncio se fez
pesado por muito
tempo.
Esmagava-lhe o
peito, zumbia-lhe
nos ouvidos e lhe
impedia de
respirar com
normalidade. Os
pensamentos a
assolavam, lhe
enchendo a
mente de
lembranças
dolorosas. Não
queria lembrar-se
de seu irmão
Niall, porque se
afogava. Não
queria pensar em
Enjoe e no que
teria sido dela.
Perguntou-se
muitas vezes se
sua velha dama
de companhia
teria sobrevivido
ao ataque...
Rezava para que
assim fosse,
porque,
simplesmente,
era muito
doloroso supor o
contrário.
Tampouco queria
pensar em seu
pai e no Malcom,
tão longe, porque
então começaria
a preocupar-se se
por acaso os
voltaria a ver, se
ainda se
encontrariam
com vida, se
ainda se
lembrariam dela
ou se estariam
loucos de
preocupação ao
desconhecer a
sorte que lhe
tinha ocorrido.
Assim,
inevitavelmente,
sua mente
retornou ao
ponto que
alcançava cada
noite: os
momentos
vividos com
Ewan.
Concentrou-se
em seu rosto, de
feições duras,
quase sempre
sério. Deixou-se
envolver pela
lembrança de
cada profundo
olhar que lhe
tinha dedicado.
Sabia que devia
sentir-se molesta
com ele por
mantê-la nesse
desconcertante
fechamento. Não
merecia que lhe
dedicasse
nenhum só de
seus
pensamentos.
Mas naquela
solidão tão
absoluta,
sepultada em um
silêncio tão
entristecedor,
não teve forças
para rechaçar as
imagens que
voltavam uma e
outra vez a sua
cabeça: Ewan nu
no lago, Ewan
dormido em seu
leito, Ewan
galopando sobre
seu incrível
semental, Ewan
com a espada
erguida
protegendo-a dos
MacNab, Ewan
olhando-a,
acariciando-a,
beijando-a...
— Onde está,
Ewan? Tenho
que te dizer que
já não te odeio...
— Murmurou,
antes de cair em
um inquieto
torpor.

Despertou horas
depois, com a
estranha
sensação de que a
observavam.
Quando abriu os
olhos, descobriu
que alguém tinha
colocado uma
tocha dentro da
própria cela e a
luz ambarina
criava claridade e
sombras naquele
buraco. Olhou o
teto, com medo
até de mover-se,
porque sentia
uma presença
real perto dela e
acreditou intuir
de quem se
tratava.
Incorporou-se
devagar e em
seguida localizou
a figura agachada,
sentada no chão
com as costas
apoiada na
parede. Tinha a
cara afundada
entre os braços e
não a olhava,
embora lhe falou
assim que ela se
incorporou.
— Perdoa, não
queria te assustar.
A voz rompeu
aquele silêncio e
o coração de
Willow quase lhe
saiu pela
garganta. Aquele
tom grave e
rasgado tocava
uma fibra muito
íntima em seu
ser, todo seu
corpo reagiu ante
aquele som.
— Meu senhor?
— Perguntou,
ainda aturdida.
— Por que
voltaste? Por que
não ficaste com
meu tio? Acaso
sentia falta da sua
família?
— Senti falta
deles, sim. —
Reconheceu —.
Eles...
encontram-se
bem?
— Sim. E
também sentiram
sua falta. Tive
que suportar as
reprimendas de
Maud quase
diariamente por
te deixar ali
abandonado,
assim seria mais
cortês de sua
parte me
perguntar se eu
estive bem.
Willow não sabia
se aquilo era uma
brincadeira. Por
sua entonação
parecia que sim,
mas sua voz
seguia soando
extranhamente
desolada. Foi
instintivo, não o
pensou duas
vezes antes de
perguntar.
— Você está
bem, meu
senhor?
Foi apenas um
sussurro, mas
bastou para que
Ewan por fim
levantasse a cara
para ela. Quando
seus olhos se
encontraram, o
impacto deixou a
ambos aturdidos.
Willow tinha
esquecido a força
de sua atração,
mas não foi isso
o que a deixou
sem fôlego. Foi
sua expressão.
Seu olhar
selvagem
atravessando-a
com algo muito
parecido ao
desespero, cheio
de desejo. O
desejo de saltar
da manta e correr
para seus braços
resultou
entristecedor e
teve que fazer
um verdadeiro
esforço por
conter-se. De
onde brotavam
aquelas emoções
tão
descontroladas?
Notava-se
tremer, jamais
havia sentido
nada parecido em
sua presença.
Desejava
aproximar-se,
desejava tocá-lo,
desejava lhe dizer
tantas coisas...
Ewan, por sua
parte, estava
enfeitiçado. O
rosto de Will lhe
seguia
fascinando,
apesar da fuligem
que o cobria,
seus enormes
olhos claros, seus
lábios suaves... Se
aquele menino
não era uma
criatura fantástica
saída dos
bosques, Ewan
não sabia que
outra coisa podia
ser. E ele era um
homem
condenado ao
inferno,
definitivamente,
porque a
tentação era tão
grande que não
poderia evitá-la.
Não queria evitá-
la.
Entregaria sua
alma a Satanás
encantado em
troca de voltar a
provar esses
lábios. Só uma vez
mais, disse-se,
obcecado por
essa cara que
tinha invadido
seus sonhos cada
noite.
Incorporou-se e
se aproximou até
a manta onde
jazia, notando
que o magro
corpo de Will
tremia dos pés a
cabeça. Disse a si
mesmo que não
o tinha planejado
assim, que a
magia do jovem
era tão poderosa
que poderia
enfeitiçar ao
guerreiro com
mais dignidade
de toda
Escócia....
E se enganava.
Porque desde que
soube que ele
tinha retornado,
aquela mesma
manhã, não tinha
tido outra idéia
na cabeça mais
que chegar até
esses lábios que
agora,
entreabertos,
tentavam-no de
maneira
dolorosa.
Apavorado pela
força de suas
próprias
emoções,
ajoelhou-se ao
seu lado e
levantou a mão
para acariciar a
bochecha de
Will. A suavidade
de seu rosto era
insultante para
um homem. As
suas longas
pestanas, a forma
da boca, a ponta
de seu nariz
arrebitado...
Tudo era uma
ofensa para sua
virilidade.
Porque,
destroçado,
Ewan admitiu
que adorava a
essa criatura
frágil que
estremecia ante
seu contato.
Dava no mesmo
se fosse um
homem. Dava no
mesmo se fosse
um duende, um
anjo do céu ou
um demônio do
inferno vindo ao
mundo para
corrompê-lo.
Desejava-o. E
soube que não
poderia partir à
guerra para a que
se preparava, em
busca de uma
morte que
receberia com
prazer, sem ter
saboreado uma
vez mais seus
tenros lábios e
sem haver
sentido as
pequenas mãos
de Will
acariciando-o.
— Sabe que não
estou bem. —
Sussurrou junto
ao ouvido,
aproximando-se.
— Mas não
posso evitá-lo.
As palavras
fizeram cócegas
na pele de
Willow, que
procurou seus
olhos para
certificar-se de
que o laird
realmente estava
a ponto de fazer
o que ela
acreditava.
E o fez.
Beijou-a.
Como em seus
sonhos... Melhor
que em seus
sonhos.
Esta vez, sua
boca a tocou
muito devagar,
quase como se
pedisse
permissão, e
pouco a pouco,
os lábios de
Ewan se
tornaram
exigentes. Os
dedos do homem
se enredaram em
seu curto cabelo
para apertá-la
mais contra ele e
o beijo se tornou
possessivo,
ansioso,
desesperado.
Willow se sentiu
transbordada,
não sabia como
responder. A
única certeza que
tinha era que não
queria que ele
parasse.
Abriu a boca
para receber sua
língua e Ewan
gemeu de prazer.
Aquele som
esporeou os
sentidos de
Willow, que
elevou as mãos
para acariciar o
pescoço e os
ombros do
guerreiro.
Desejava tocá-
lo... Sempre o
tinha desejado,
reconheceu para
si mesma. E
agora que ele se
prestava a isso,
não ia
desperdiçar a
oportunidade.
Ewan estava
completamente
perdido. Seu
corpo lhe pedia
muito mais que
um tórrido beijo
com aquele
moço. Como
podia aliviar a
dolorosa ereção
que lhe apertava
as calças? negava-
se a praticar com
Will o que tinha
ouvido falar com
outros homens.
Talvez, se pedia
ao moço que o
acariciasse com
suas mãos...
Apartou-se com
brutalidade.
— Não!
— Meu senhor...
— Ofegou
Willow,
mortificada se
por acaso tinha
feito algo mal.
Ao separar-se,
Ewan lhe tinha
deixado um vazio
gelado no peito
que a assustou.
— Isto não pode
ser... — Parecia
desesperado,
muito
atormentado. —
Por que me
devolveu o beijo,
maldito seja?
Não vê que isto
não pode ser?
Sou o laird dos
Campbell, meu
pai estará se
revolvendo em
sua tumba pelo
que acaba de
acontecer aqui.
Ewan levou as
mãos à cabeça e
lhe deu as costas.
Seu peito subia e
descia, todo seu
corpo estava
tenso.
Willow piscou
para poder
clarear e
compreendeu
que tinha
ocorrido o
mesmo que no
dia da batalha
com os MacNab.
Por muito que
Ewan Campbell
o desejasse, seu
ego, sua
dignidade, lhe
impediria de
converter a um
jovem como Will
em seu amante.
Mas ela não era
um menino.
Levantou-se,
disposta a lhe
proporcionar o
alívio que tanto
parecia
necessitar. Para
isso tinha
retornado, de
toda maneira.
Não o tinha
planejado assim,
é obvio, mas as
coisas tinham
chegado a um
extremo que
requeriam uma
elucidação
imediata. Agora
Willow entendia
porque Ewan a
tinha
abandonado na
cabana de Alec.
Agora entendia
porque não
queria vê-la essa
manhã, quando
Bors anunciou
sua chegada.
Ewan Campbell
se achava em
uma encruzilhada
de emoções que
não sabia como
dirigir, porque a
atração que
sentia pelo Will
era contrária a
sua natureza e
não sabia como
enfrentar.
— Meu senhor...
— Disse-lhe, lhe
tocando o ombro
com sua mão.
— Te afaste de
mim, Will. Por
favor, te afaste.
Não daria a volta.
Não a olharia de
novo para não
cair em tentação.
Willow soube,
assim respirou
fundo, tomando
uma decisão.
Não ficava mais
remédio...
— Ewan, me
olhe.
A voz foi
distinta. O laird o
notou
imediatamente;
talvez por seu
tom, sua
confiança ou o
modo em que
pronunciou seu
nome...
— Ewan, por
favor.
Outra vez.
Impossível
resistir a essa
súplica. Virou-se
devagar,
temeroso pela
primeira vez do
que podia
encontrar nos
olhos daquele
demônio. Porque
já o tinha
decidido, era um
fascinante diabo
criado apenas
para atormentá-
lo.
Quando o teve
de frente, Willow
suspirou com
força antes de
falar.
— Para isto
retornei. Tinha
que lhe dizer isso,
tinha que te pedir
perdão por te
mentir.
Voltou a respirar
profundamente e,
com um
movimento lento,
tirou a capa que a
abrigava e tirou a
regata de moço
pela cabeça.
Ewan arregalou
os olhos.
Não podia ser...
Mas era, porque
no frio, aqueles
mamilos rosados
responderam
endurecendo-se
como framboesas
amadurecidas.
Will tinha peitos
de mulher. Uns
peitos incríveis,
não muito
grandes, mas
perfeitos em sua
forma.
Sentiu-se
enjoado. Como
se a terra abrisse
aos seus pés e ele
caísse e caísse...
— É uma
mulher? —
Perguntou como
se ainda não
pudesse acreditar,
apesar da
evidência.
Willow corou.
Pensava que ele
se alegraria, mas
em lugar disso,
olhava-a como se
fosse uma
espécie de
monstro. Cobriu-
se com a camisa
e a desilusão fez
com que o
aborrecimento
brotasse de sua
boca.
— É obvio que o
sou. O que me
admiro é que
você não tenham
se dado conta em
todo este tempo,
meu senhor. Meu
nome não é Will,
a não ser Willow.
Ele se aproximou
devagar, quase
como se temesse
que aquela visão
se desvanecesse
no ar.
— É uma
mulher? —
Voltou a
perguntar, esta
vez com um tom
mais baixo, mais
íntimo.
Willow só pôde
assentir, coibida
com sua
proximidade,
com essa nova
forma de olhá-la.
Ewan estendeu
sua mão e
agarrou o tecido
com a que se
cobria para puxá-
lo a um lado.
Ficou de novo
exposta e o laird
a devorou com o
olhar sem
nenhuma
dissimulação.
Notava que a
pele lhe ardia lá
onde ele punha
seus olhos e seus
mamilos se
endureceram
mais, como se
respondessem a
outra vontade
que não era a
sua.
— Meu senhor...
— Ewan. Me
chame Ewan
outra vez. Diga
meu nome,
pequeno duende.
Willow tragou
saliva. Aquela
forma de lhe
falar era
completamente
nova e
desconhecida.
Quase sussurrava
e sua voz
penetrava por
cada poro de sua
pele, obtendo
que um desejo
desconhecido lhe
instalasse na boca
do estômago... E
mais abaixo.
— Ewan, tenho
que te dizer... eu
sou...
— Shh, não, não
quero saber. —
Pôs os dedos nos
lábios para que
não falasse. —
Agora
compreendo que
é na verdade uma
criatura
fantástica, saída
de algum bosque
ou de algum lago,
e que muda de
forma ao seu
capricho para me
enlouquecer.
Assim devo
aproveitar este
momento, antes
de que volte a
mudar para
moço. Não
percamos tempo
falando, me deixe
contemplar você
inteira...
A mão do
homem contra
sua boca
queimava. Logo a
deslizou devagar,
descendendo
pela garganta,
pelo ombro, até
chegar ao seu
peito. Acariciou-
o muito suave e
Willow gemeu,
mordendo o
lábio inferior.
— Você gosta,
certo? É tão
trasparente…
Seus olhos
sempre me
falaram,
gritavam-me seu
desejo inclusive
quando era um
menino, e isso
estava me
matando.
Ewan tomou o
outro peito na
cavidade da
palma de sua
mão e apertou,
acendendo no
corpo de Willow
cada canto que
pudesse estar
adormecido. Seus
dedos
continuaram
explorando
aquela pele nova,
moveram-se para
baixo, roçando
suas costelas,
passando pela
sua cintura. Ela
fechou os olhos
quando ele
manobrou com a
corda que
sujeitava suas
calças e estas
caíram ao chão,
deixando-a
completamente
nua diante dele.
Ewan deu um
passo atrás para
contemplá-la a
seu desejo.
— Meu
senhor…
Tremia e não se
atrevia a olhá-lo.
Sentia-se mais
vulnerável que
em toda sua vida
e, ao mesmo
tempo, queria
que ele voltasse a
aproximar-se.
Precisava sentir
seu calor sobre a
pele.
— É um sonho,
pequeno duende;
um sonho do
qual não quero
despertar. Abre
os olhos, me
deixe ver quanto
desejas isto.
Inspirou com
força e os abriu.
Ewan estava em
frente a ela, com
o olhar aceso de
paixão e loucura.
Por um
momento,
Willow duvidou
de que na
verdade o laird
fosse plenamente
consciente do
que estava
acontecendo, da
realidade que ela
tratava de lhe
mostrar e que ele
confundia com
magia dos
bosques.
— Isso. Não me
oculte nada… E
eu tampouco o
farei. — Ao dizê-
lo, Ewan também
tirou sua camisa,
deixando seu
peito enorme e
cheio de
cicatrizes
descoberto. —
Faz que minha
cabeça não
funcione como é
devido, perco o
domínio de mim
mesmo cada vez
que te tenho
diante de mim.
Talvez devesse
fazer caso a meu
instinto desde o
começo, já que
eu estava cego.
— Aproximou-se
e agarrou uma
das mãos de
Willow para
colocá-la sobre
seu peito. —
Devia ter feito
caso a minha
pele, equivoca-se
menos que eu.
Ela acariciou
uma das
cicatrizes,
contornando sua
trajetória com os
dedos, e deteve a
palma sobre a
zona do coração,
onde este pulsava
com tanta força e
tão depressa
como o seu
próprio. Elevou
os olhos e os
enlaçou com os
do guerreiro, que
eram puro desejo
e entrega.
— Sim, devia
fazer caso a meu
coração. —
Sussurrou ele,
inclinando-se
para sua boca. —
É muito mais
sábio que eu. —
Disse, antes de
voltar a beijá-la.
Willow se perdeu
naquela boca
dura que se
entregava e, ao
mesmo tempo,
exigia-lhe
fidelidade. O
laird invadiu sua
intimidade com a
língua e todo seu
ser respondeu,
pegando-se mais
a seu corpo.
Qualquer
pensamento
coerente
desapareceu
assim que suas
peles entraram
em contato e
uma estranha
febre pareceu
consumir a
ambos. Era como
se pretendessem
devorar um ao
outro e as mãos
não tivessem o
bastante,
procurando,
tocando,
conhecendo…
Dando-se prazer.
— Céu Santo,
pequeno duende,
é uma delícia. —
Murmurou Ewan
com voz espessa,
entre beijo e
beijo.
— Ewan…
— Sim, diga meu
nome.
Willow não
soube em que
momento o laird
conseguiu que ela
deitasse sobre a
pele de urso, nem
como o fez. Só
se precaveu de
que tinham
mudado de
posição quando
as enormes mãos
do guerreiro, que
pareciam estar
em toda parte,
ancoraram-se em
seu traseiro e
apertaram a
carne com muito
ímpeto. Se não
tivesse estado tão
perdida nas
novas sensações
que a despojavam
de sua vontade,
aquela carícia
excessiva teria
resultado
dolorosa. Mas
Willow estava
igualmente
enlouquecida
como o laird, e
não se dava conta
de que ela
arranhava,
apertava e
mordia com a
mesma
ferocidade que o
homem. Quão
único sabia era
que precisava
saboreá-lo, tocá-
lo, fazê-lo seu…
Desde o começo
havia se sentido
fascinada por
aquele guerreiro
e agora tinha a
oportunidade de
experimentar em
sua própria pele
o que deve ter
sentido Thonia
no dia que o laird
quis lhe mostrar
como se amava a
uma mulher. As
sensações que
tinham
borbulhado em
seu interior
naquela cabana
enquanto olhava
ao casal
retornaram com
força,
multiplicadas por
mil, avivadas pelo
delicioso peso do
corpo masculino
sobre o seu.
Não sabia o que
ia acontecer a
seguir, porque
não ficou para
ver o desenlace
quando o laird
deitou com a
Thonia. Mas não
tinha medo,
porque o que
aquele homem o
fazia era tão
bom, tão
prazeiroso, que
não podia lhe
fazer dano.
Ewan, por sua
parte, estava
consumido pelo
delírio. A
situação lhe
escapava das
mãos naquele
momento,
acelerada por seu
desejo
desmedido e
também, não se
enganava, pela
paixão daquela
criatura que o
tinha cativado.
Era uma
verdadeira fera,
parecia não ter
nenhum pudor e
tocava ao seu
desejo. Suas
pequenas mãos
não descansavam
em um lugar fixo
muito tempo.
Tinha-as nas
costas, no peito,
entre seus
cabelos, no
pescoço,
acariciando seus
braços… Tudo
ao mesmo
tempo.
Igualmente a sua
boca e sua língua
morna, que
parecia decidida a
aprender seu
sabor em uma só
noite. A esse
ritmo não ia
agüentar muito
mais. Em alguma
curva de sua
mente saltou um
pequeno alarme.
Um pensamento
insidioso que lhe
recordou que não
estava sendo
considerado com
a feminilidade
daquele delicioso
ser que se
retorcia sob seu
corpo…
Entretanto,
deslocou-o a um
lugar oculto em
sua mente e se
deixou levar
apenas por seus
mais baixos
instintos. Como
aconteceu com a
Thonia em seu
último encontro,
a única coisa que
lhe preocupava
era afundar-se
em sua calidez e
saciar-se dela até
aplacar o desejo
que o tinha
estado rasgando
desde que a
conheceu.
Colocou-se entre
as suaves coxas
de seu duende e
devorou sua boca
com avareza, sem
ter o suficiente,
desejando tudo
dela. Notava o
fogo nas vísceras,
exigente naquele
momento, tirano
e desumano.
Nem sequer se
deteve para tirar
o resto de sua
roupa.
Simplesmente,
baixou suas
calças o bastante
para liberar-se e,
sem pensar,
guiou seu
membro com a
mão para
penetrá-la de um
só movimento.
O grito de
Willow
reverberou
contra as paredes
de rocha da
masmorra.
Ewan ficou
completamente
quieto, paralisado
de estupor ante
aquele gemido de
dor. Olhou o
rosto da criatura
que agora o
contemplava com
os olhos
espantados e a
respiração
agitada. As
pequenas mãos
se aferravam
crispadas aos
seus ombros,
enquanto todo
seu ser tremia
sob seu corpo.
— Will, o que
aconteceu? —
Perguntou com a
voz
enrouquecida.
— Atravessaste-
me. Há-me… Me
tem feito mal.
Nunca acreditei
que fosse capaz
de me fazer dano.
Os olhos de
Ewan cintilaram
com o brilho da
culpa ao
compreender.
Deixou-se levar
por seus
impulsos mais
primários e tinha
passado por cima
de um detalhe
essencial. Ao que
parece, seu
duende, sua
criatura
fantástica, era
virgem como
uma donzela
qualquer. Tentou
não mover-se
para não
machucá-la mais,
embora somente
o céu sabia o que
lhe custava
conter-se. Estar
dentro dela,
apesar de tudo,
era embriagador.
— Me perdoe.
— Embalou seu
rosto entre as
mãos e a beijou
com ternura. —
Não sabia que te
faria mal, não
pensei… É que,
enloquece-me,
contigo me
perco, converto-
me em um
verdadeiro
selvagem.
Willow
continuava o
olhando com
olhos assustados,
com uma
recriminação real
em suas pupilas.
— Me dê sua
boca. — Voltou a
lhe sussurrar
Ewan. — Farei
que se sinta
melhor,
prometo-lhe isso.
Ela assentiu
devagar e
obedeceu. O
guerreiro tomou
seus lábios muito
devagar,
saboreando-os,
deleitando-se
com sua forma e
suavidade.
Aprofundou no
beijo pouco a
pouco,
esquentando-a,
incitando-a,
querendo levá-la
de novo ao
ponto de loucura
no que ele se
balançava
perigosamente.
Quando notou
que ela relaxava,
moveu-se
devagar,
retirando-se com
cuidado.
Willow vaiou de
dor e cravou as
unhas em seus
ombros.
— Tranqüila…
Me deixe tentar
algo. — Ofegou
ele contra sua
boca. — Se não
funcionar,
prometo que me
deterei e não terá
que acontecer.
Sua mão
procurou o
ponto onde seus
corpos estavam
unidos e a
acariciou com os
dedos.
Willow ignorava
que um homem
pudesse tocar de
uma maneira tão
íntima a uma
mulher. Aquele
contato era mais
que agradável.
Seu corpo se
rendeu muito
rápido às novas
sensações e o
prazer foi
tomando espaço,
deslocando a dor
que tinha sentido
com sua
repentina
invasão. Uma
necessidade
estranha cresceu
ao ritmo daquelas
carícias que,
unidas aos beijos
profundos de
Ewan,
erradicaram o
medo e o mal-
estar que a
invadiam
momentos antes.
Quando por fim
o homem
escutou o
gemido
escapando de sua
garganta,
atreveu-se a
mover-se de
novo. Tentou sair
dela devagar,
apertando os
dentes para não
perder o pouco
controle que
ficava. Deus,
como desejava
abandonar-se e
gozar entre suas
pernas!
— Não! —
Exclamou
Willow,
abraçando-o para
pegá-lo a seu
corpo. — Não
saia, fique dentro.
Ewan fechou os
olhos e respirou
soltando o ar
muito devagar.
— Está segura?
— Sim. Continua
com o que estava
fazendo, por
favor, me
toque…
O guerreiro não
pôde evitar
esboçar um
sorriso de
satisfação. Oh,
sem dúvida seu
duende era
apaixonado e
atrevido!
— Te tocarei até
que alcance o
céu. Depois, o
alcançaremos
juntos. — Roçou
sua garganta com
os dentes,
mordiscando,
enviando golpes
de prazer ao
ponto que ela
desejava que
voltasse a
acariciar. —
Prometo isso.
E assim foi. Os
dedos de Ewan
fizeram
maravilhas em
sua intimidade,
ao tempo que ele
se balançava
muito lento entre
suas pernas. O
roce era incrível,
a sensação de
sentir-se cheia
daquele homem a
superava. A
tensão que se
acumulava entre
seus corpos
cresceu e cresceu
até que Willow,
gritando de novo
às paredes,
retorceu-se de
prazer entre
deliciosos
espasmos.
Ewan não lhe
permitiu relaxar.
Assim que sentiu
que se desfazia
entre seus braços,
retirou-se para
investi-la com
força ao mesmo
tempo que
roubava de seus
lábios o último
fôlego do
orgasmo que
ainda a mantinha
em uma nuvem.
Ela, que tinha
fechado os olhos,
extasiada, voltou
a abri-los.
— Ewan… —
Sussurrou,
transbordada por
aquele fogo que
ele avivava uma
vez mais em seu
interior.
— Sei, pequeno
duende. Sei.
Continuou
movendo-se,
beijando-a,
adorando-a com
suas mãos, com o
corpo inteiro. Tal
e como ele havia
predito,
conseguiu elevá-
la às nuvens pela
segunda vez, mas
nessa ocasião, a
julgar pelo
grunhido
satisfeito que
escapou da
garganta
masculina, Ewan
também alcançou
o mesmo céu.

CAPITULO 30

Adormecida.
Ewan a
contemplou
naquela
penumbra
ambarina da cela
e não soube se o
que acabava de
acontecer tinha
sido um sonho.
Teve desejos de
despertá-la para
repetir, pois sua
pele a tinha
desejado tanto,
com tanta
intensidade, que
o fogo que o
consumia ainda
não se extinguiu.
Admirou aquele
corpo pequeno e
perfeito,
delicioso, que lhe
tinha
demonstrado
estar cheio da
mesma paixão
que transbordava
pelos olhos azuis
de Will. De
súbito, teve medo
de abandonar
essa cela e voltar
para a realidade.
E se o duende se
transformasse de
novo em um
moço? Acariciou
um de seus
peitos devagar,
agradado ao
notar que,
mesmo
dormindo, aquela
criatura reagia ao
seu contato. O
rosado mamilo
endureceu e seu
corpo se moveu
procurando seu
calor. Então
decidiu que não
lhe importaria.
Que o manteria
junto a ele
adotasse a forma
que adotasse,
embora rezava
para que, ao
menos, pelas
noites, pudesse
transformar-se na
formosa mulher
que tinha diante
dele. Morria para
voltar a fazê-la
sua, posto que
nunca, em sua
vida, havia se
sentido mais
completo que
estando dentro
dela.
Com um suspiro
resignado,
levantou-se e se
vestiu. Ela gemeu
e se enrolou
sobre si mesma,
sentindo falta de
seu calor. Ewan a
envolveu na
grossa pele de
urso e a tomou
em seus braços
para tirá-la
daquela pestilenta
cela, onde jurou
não voltar a
encerrá-la jamais.
Abandonou as
masmorras e se
dirigiu ao seu
próprio
aposento,
aproveitando que
a maioria dos
habitantes do
castelo dormiam
e não teria que
dar explicações a
ninguém.
Equivocou-se.
Porque uns olhos
curiosos, que
estavam onde
não deviam,
foram
testemunhas de
como o laird
carregava um de
seus serventes,
um moço além
disso, e o levava
ao seu quarto
para passar o
resto da noite.
A luz do
amanhecer
despertou
Willow.
Encontrava-se a
vontade, um
agradável calor a
envolvia e notava
sob seu corpo
um colchão
macio no lugar
do duro chão da
cela. Ao abrir os
olhos, a primeira
coisa que viu foi
o rosto de Ewan,
relaxado em seu
sono. Recordou
tudo o que tinha
acontecido na
noite anterior e o
rubor cobriu suas
bochechas. Não
sabia que deitar
com um homem
era tão
prazeiroso! Tinha
doído, isso era
certo, e ainda
sentia
desconforto em
suas partes
íntimas. Mas a
dor não tinha
durado muito e,
em compensação,
as sensações
tinham resultado
indescritíveis.
Inclusive agora,
nesse momento,
o desconforto
que sentia entre
as pernas não
fazia a não ser
evocar nela a
impressão de
estar cheia
daquele homem.
Levantou uma
mão para
acariciar sua face,
fascinada por seu
queixo quadrado,
áspero pela
incipiente barba.
Ewan abriu os
olhos assim que
seus dedos o
tocaram e
ficaram olhando,
muito perto um
do outro,
estudando as
almas.
— Bom dia! —
Disse ela por fim,
com um tímido
sorriso.
À luz do dia tudo
parecia distinto.
Os olhos avelã de
Ewan a
observaram
durante uns
segundos mais e,
de repente,
franziu o cenho.
Incorporou-se
com certa
brutalidade e
lançou a manta
que os cobria
para trás,
deixando
descoberto seus
corpos nus.
— É uma
mulher.
Willow não
soube decifrar
seu tom.
— Bom, acredito
que isso ficou
muito claro
ontem à noite, ou
não?
O guerreiro
levou as mãos
aos olhos e os
esfregou, como
se assim pudesse
esclarecer tudo.
— Ontem à
noite me
enfeitiçou, é a
única coisa que
sei. Confundiu
minha mente,
lançou-me algum
encantamento,
não sei, não sei
muito bem o que
ocorreu. Era um
moço e, de
repente, uma
formosa mulher.
Willow se
indignou. De que
fantasias falava?
— Me escute. —
Disse, afastando
suas mãos para
que pudesse
olhá-la nos olhos.
— Nunca fui um
moço. Ouve-o?
Nunca. Tive que
me disfarçar para
escapar, Enjoe
cortou meu
longo cabelo e
me esmagou os
peitos para que
ninguém pudesse
me reconhecer.
Sou uma mulher.
Não sou um
duende,
nenhuma criatura
fantástica e, é
obvio, não posso
mudar de forma
ao meu desejo.
Oxalá pudesse,
porque então te
garanto que não
teria me
transformado em
um moço
insignificante. Se
pudesse,
converteria-me
em um guerreiro
grande e forte,
como meus
irmãos, como
você, Ewan
Campbell, e
ninguém me
separaria jamais
de minha gente,
asseguro-lhe isso.
As palavras
foram
impregnando na
inchada mente
do laird até que
este, de repente,
aferrou-a pelos
pulsos.
— É uma
mulher?
Willow pôs os
olhos em branco,
incapaz de lutar
com aquela
mente tão
obtusa.
— Por São
Mungo! —
Exclamou,
imitando a sua
mãe adotiva. —
Que mais prova
necessita?
— O moço que
chegou com os
St. Claire, que eu
mandei às
pocilgas, que eu
treinei sem
piedade, ao que
quase obrigo a
deitar-se com
uma prostituta…
Sempre foi uma
mulher?
— Ainda me
custa acreditar
que não te desse
conta, meu
senhor. —
Willow voltou
para a fórmula de
cortesia com a
que sempre se
dirigiu a ele para
que
compreendesse
que sim, em
efeito, era a
mesma pessoa.
— Seu tio Alec
percebeu no
primeiro
momento.
Ewan a repassou
como se a
olhasse pela
primeira vez,
bastante
horrorizado.
Obrigou-a a
tombar-se sobre
a cama e lhe
separou as coxas.
Quando viu os
rastros de sangue
entre eles, fechou
os olhos,
assumindo por
fim o engano ao
que tinha sido
submetido.
Invadiu-o uma
fúria cega.
Sentiu-se um
completo
estúpido por não
haver percebido,
por acreditar que
as criaturas das
fábulas realmente
podiam existir.
— Fique aí
quieta. —
Ordenou.
Levantou-se da
cama e foi até o
lavatório de seu
quarto. Verteu
água fresca da
jarra que sua ama
de chaves, Jane,
sempre mantinha
cheia, e molhou
um pano limpo.
Retornou e se
sentou ao lado da
garota. Olhou
uma vez mais as
manchas
ressecadas de
sangue mesclado
com sua própria
essência nas
coxas femininas e
suspirou. Lavou-
a com cuidado,
com mimo, sem
olhar em seu
rosto.
— Fiz-te muito
dano?
— Sim, meu
senhor.
Ewan ocultou
um sorriso ante a
sinceridade
descarada da
jovem. Apesar de
tudo, notou que
ela não era imune
a seus cuidados e
que estremecia
ante seu contato.
— Perdoa por
minha estupidez.
Jamais teria te
desvirginado de
uma maneira tão
selvagem se
soubesse… —
Voltou a suspirar,
derrotado por
sua própria
imperícia. — Me
perdoe, Will.
— Te disse que
não sabia nada
destas coisas,
recorda? Na
cabana da Iona,
quando queria
que aprendesse.
— É certo.
Esqueci-o. A
verdade é que
ontem à noite
estava
enlouquecido…
Quando te vi
convertida em
mulher, não
podia acreditar.
Era como se um
sonho se fizesse
realidade.
Temia… temia
que em qualquer
momento
pudesse voltar a
te transformar
em homem.
— Quem lhe
contou tantos
contos de fadas,
meu senhor?
Ewan por fim a
olhou. Seus olhos
avelã procuraram
o azul dos seus
antes de
responder.
— Minha mãe.
Willow assentiu,
pormenorizada.
Sabia, pelo Alec,
quão importante
tinha sido sua
mãe e o culpado
que se sentia por
sua morte.
— Também me
contavam
histórias de
pequena. A
mulher que me
criou, Enjoe,
conhecia muitas
lendas. Mas
nunca pensei que
eu poderia me
converter na
protagonista de
uma delas.
O guerreiro
voltou a enrugar
a testa.
— Isso não teria
acontecido se
não me tivesse
enganado deste
modo. Faz idéia
do inferno que
me tem feito
passar? —
Acusou-a.
— Para mim
tampouco foi um
caminho de
rosas, meu
senhor.
Ewan se fixou na
altivez de seu
pequeno queixo
ao falar. Tinha
podido intui-lo
pelo modo em
que tinha
respondido a
suas carícias, mas
agora o
corroborava com
sua atitude. Will
era uma fera
perigosa. Não
tinha podido
dobrar sua
vontade nem seu
ânimo quando
fingia ser um
moço, e muito se
temia que, como
mulher, aquele
problema ia
agravar-se de
modo alarmante.
Havia muito
orgulho e altivez
naquele corpo
tão pequeno.
Inclinou-se sobre
ela para lhe
impor sua
estatura e tratar
de amedrontá-la.
— Quem é?
— Já lhe disse
isso. Meu nome é
Willow... Willow
MacGregor.
Os olhos de
Ewan sondaram
os seus como se
quisesse ler sua
mente.
— Não o
entendo. Posso
compreender que
escapasse do
ataque ao
Meggernie tal e
como confessou,
e que John e
Maud lhe
trouxessem até
aqui, mas por
que o disfarce?
Agora era
quando ela tinha
que lhe dizer o
motivo pelo que
tinha retornado.
Devia confessar
quem era, quem
tinha acreditado
que era ele e que,
uma vez
esclarecido que
não tinha
assassinado ao
seu irmão,
necessitava de
seu amparo.
Entretanto,
olhava-a com
tanta intensidade,
que teve medo.
— Pensei que
estaria mais
segura se todo
mundo pensava
que era um
moço.
— Por que? —
Insistiu ele. —
No meu
entender,
colocou-se em
uma situação
muito mais
perigosa ao fingir
algo que não era.
Cada vez que
penso em como
te tratei, em
como te fiz
treinar com o
resto de meus
homens… Céu
Santo, Will!
Ordenei-lhes que
lhe atacassem,
que lhe
golpeassem com
todas as suas
forças e te dei
somente um
escudo para te
proteger. E
aquela horrível
noite, quando te
encontrei com o
Reed MacNab…
Sabe o que te
teria ocorrido se
não tivesse
chegado a tempo
de te tirar de seu
quarto?
Ela se
incorporou e lhe
arrebatou o pano
úmido da mão
para que deixasse
de tocá-la.
Estava-a
voltando louca.
— Suponho que
me teria feito
coisas horríveis.
Principalmente
ao descobrir que
eu não era o
moço ao qual se
havia encantado.
— Abraçou os
joelhos e cobriu
os peitos,
envergonhada de
repente ao dar-se
conta de que
ambos estavam
nus. Era curioso
que levassem
conversando
vários minutos e
não se houvesse
sentido insultada
por esse motivo.
— Sim. Se não
fosse por ti, me
teria feito muito
dano.
Ewan se deu
conta de que
tremia.
— E depois de te
liberar de suas
garras, cai nas
minhas e te
machuco
igualmente.
Ela procurou seu
olhar e inclinou a
cabeça,
surpreendida.
— Compara-te
com o Reed
MacNab?
— Você mesma
o há dito antes:
fiz-te mal. Fui
um completo
animal.
— Sim. E
também me fez
tocar o céu. —
Sussurrou,
ruborizando-se.
Os olhos de
Ewan arderam
com aquela
confissão.
Esticou um
braço para
acariciar o rosto
de seu duende
com infinita
ternura.
— Se pudesse,
voltaria a te levar
às alturas.
Willow fechou os
olhos,
desfrutando da
carícia. Quando
ele a tocava,
todos os
pensamentos
coerentes
desapareciam de
sua mente.
— O que lhe
impede isso?
— Você. Não
está machucada
aí embaixo?
Temo voltar a te
machucar se me
deixo levar pela
luxúria que me
queima por
dentro. Pode ser
que não seja um
duende, mas me
enfeitiçaste, Will.
— Willow.
— Para mim
sempre será Will.
— Confessou.
E era certo.
Tinha-o desejado
do primeiro
momento,
embora se
negasse a si
mesmo esse
sentimento.
Tinha caído em
seu feitiço desde
o primeiro dia,
havia se sentido
cativado por sua
maneira de olhá-
lo, por sua
valentia, por seu
caráter indômito.
Tinha desejado à
pessoa, ao Will,
sem lhe importar
o que fosse. Que
ser uma mulher
lhe facilitava
muito as coisas, é
obvio, e o fazia
tão feliz que o
coração ia lhe
arrebentar de
sorte; mas se
fosse um menino,
se jamais pudesse
satisfazer seus
instintos mais
primários por ser
algo contrário a
sua natureza, ele
continuaria
inebriado com
seus olhos, com
seus lábios, com
essa rebeldia com
a que o fazia
frente apesar de
ter que perder
tudo. Will sempre
seria Will para
ele. A pessoa a
que se
acostumou a ver
cada dia, a que
seus olhos
procuravam
quando entrava
em qualquer sala
da fortaleza, cuja
presença se
tornou tão
indispensável
que, estando
longe dela,
custava-lhe até
respirar.
Will se tinha
convertido na
única pessoa no
mundo que não
suportaria ver
morrer, sem a
qual já não
concebia sua
existência.
— Estou…
Estou um pouco
dolorida. —
Murmurou ela,
respondendo a
sua pergunta
anterior. — Mas
ontem pude
comprovar quão
hábeis são seus
dedos fazendo
carícias. Estou
convencida de
que obterá que o
mal-estar me
passe logo.
Ante essas
atrevidas
palavras, Ewan
só pôde grunhir.
Equilibrou-se
sobre sua boca e
a agarrou pelo
seu cabelo curto
para que não
pudesse escapar
depois de sua
provocação.
Assim que suas
línguas entraram
em contato, a
chama do desejo
cresceu entre
seus corpos sem
remédio, lhes
obrigando a
reduzir o espaço
que os separava.
Ewan a pegou e a
colocou sentada
escarranchada
em seu colo, sem
deixar de beijá-la,
sem abandonar
sua doce boca.
— E me diga,
pequeno duende,
te conformará
com meus dedos,
ou necessita algo
mais de mim? —
Ao dizê-lo,
mordeu-lhe
brandamente o
lábio inferior e
puxou-o, fazendo
com que ela
estremecesse.
— Quero tudo
de ti. —
Respondeu,
perdida nesse
mundo de
sensações recém
descobertas.
Ele a estreitou
mais contra seu
corpo, lhe
acariciando as
costas, as coxas,
os quadris… Sua
mão se deteve no
ponto entre suas
pernas e Willow
ofegou. Separou-
se um pouco
para poder olhá-
lo, pois queria ver
sua cara
enquanto a
tocava. Adorava
olhar a esse
homem nos
olhos. Ardiam
com uma
intensidade que a
transpassava.
— Dói-te? —
Perguntou Ewan,
em um sussurro.
Ela negou com a
cabeça. — E se
fizer isto?
Antes de que
Willow se desse
conta, o
guerreiro
introduziu um
dedo em seu
interior. Ela abriu
os olhos um
segundo,
impressionada, e
logo os fechou,
arqueando-se
para trás. Ele
aproveitou para
capturar um de
seus peitos entre
os lábios e
saboreá-lo com
prazer.
— Meu
senhor… —
Murmurou a
jovem, apenas
sem voz. — Não
me fez isso
ontem à noite.
Ewan esboçou
um sorriso
contra sua pele.
— Ah, pequena!
Há muitas coisas
que ainda não te
tenho feito. —
Passou sua língua
ao outro peito e
lhe agradou
escutá-la gemer.
— Mas tranqüila,
pouco a pouco,
prometo-te que
lhe mostrarei isso
tudo.
Willow se aferrou
a seu cabelo e
esqueceu tudo...
Exceto sentir.
Aquele guerreiro
a tocava de uma
forma que jamais
poderia haver
imaginado,
conseguia que se
acreditasse
especial e
adorada.
Alagava-a com
sua essência, seu
tato, seu aroma,
seu calor... E ela
não podia pensar
em nada que não
fosse ele. Enchia
por completo seu
mundo, não
havia nada mais
na habitação.
Ewan e ela, e
mesmo assim
não era
suficiente.
— Meu senhor...
— Gemeu,
quando o calor a
sufocou.
— Sei. Vêm aqui.
Elevou-a pelos
quadris e se
colocou para
penetrá-la
devagar, contido,
saboreando cada
instante. Seus
olhos, presos nos
de Willow,
maravilhavam-se
pela emoção do
momento em que
seus corpos se
completavam.
— Ah, meu
amor, me diga
que isto é tão
bom para ti
como para mim!
Willow não podia
falar. Tê-lo
dentro dela era
indescritível.
Sentia-se cheia,
eufórica, feliz.
Naquele instante,
poderia ter
gritado ao vento
que era a mulher
mais feliz da face
da terra.
— Se aproxime.
— Pediu ele, em
um ofego. — Me
dê seus lábios.
Ela se entregou
com prazer.
Ewan começou a
mover-se, a
entrar e sair de
seu corpo com
uma cadência
lenta,
enloquecedora,
enquanto a
beijava com
ardor. As
enormes mãos
masculinas
deslizavam por
toda sua pele,
deixando um
rastro de fogo
por onde
passava,
despertando nela
sensações
embriagadoras.
A tensão ia
aumentando.
Willow notava
como se
aproximava do
abismo, como
seu coração
pulsava cada vez
mais às pressas e
lhe faltava o ar.
Ofegava entre
beijo e beijo, sem
poder conter
dentro de sua
garganta sons
que jamais tinha
emitido. Ewan
aumentou o
ritmo. Os dedos
masculinos se
ancoraram em
seus quadris e a
guiaram,
marcando um
compasso cada
vez mais rápido,
mais premente.
— Will… Oh,
Deus, diga meu
nome…
— Sim, Ewan,
sim…
Estava
enlouquecido,
não tinha
bastante dela.
Rodeou-a pela
cintura com força
e lambeu seus
peitos sem deixar
de mover-se,
rápido, faminto,
ansioso por
alcançar o prazer
sublime que sabia
que se escondia
no interior
daquela mulher.
Quando o sentiu,
quando as
sensações lhe
sacudiram inteiro
e lhe
atravessaram o
corpo por toda a
parte, derramou-
se dentro dela,
abraçado a esse
corpo pequeno e
delicioso que, já
o tinha decidido,
seria seu para
sempre.
Willow se deixou
arrastar pelo
prazer do
homem que
tomava e se
apropriou de seu
orgasmo, fez o
dele,
compartilhou-o
com ele. Jogou a
cabeça para trás e
gritou de puro
gozo, notando
que seu coração
explodia em
milhares de
pedacinhos que
dançaram em seu
peito antes de
voltar a
recompor-se.
Ficaram
abraçados, as
respirações
agitadas, os
corpos
trementes.
— Sou um
estupido. —
Murmurou
Ewan, contra a
pele de seu
ombro. — Como
é possível que
não visse todo
esse fogo que
tem dentro?
Como pude me
deixar enganar
por seu disfarce?
Lhe agarrou
pelos cabelos e
puxou para
obrigá-lo a que a
olhasse.
— Eu acredito
que sim o viu.
Por que, se não,
por que beijou-
me aquela vez,
depois de acabar
com o grupo do
MacNab?
Ewan se inundou
no azul brilhante
daquele olhar que
o tinha
subjugado. Abriu
a boca para
responder, mas
uns golpes na
porta contiveram
sua língua.
Aquela
interrupção era
um verdadeiro
incômodo.
Ficaram em
silêncio, à
expectativa, e os
golpes se
repetiram com
mais força. O
laird soube que
não podia ignorar
a chamada.
— Me espere
aqui.
Separou-se dela e
a deixou com
cuidado sobre a
cama. Depois se
cobriu com a
manta que
mostrava suas
cores enquanto
se dirigia para a
porta. Abriu o
suficiente para
perguntar por
que demônios o
incomodavam a
essa hora e com
tal urgência.
— O que
acontece?
Do outro lado, a
cara circunspeta
de seu tenente,
Colin, não
pressagiava nada
bom.
— São Adair e
Lawler, laird,
solicitam-lhe.
— Ao diabo com
eles! É que não
respeitam meu
descanso?
— Ewan, alguém
formulou uma
acusação contra
ti. Convocaram
um conselho
urgente, alegam
que não é digno
de ocupar o
cargo.
— Que desculpa
encontraram
nesta ocasião
para me atacar?
— Alguém te viu
ontem à noite
com o moço. A
testemunha
confessou que
passaram a noite
juntos… — O
tenente guardou
silêncio uns
segundos
enquanto
estudava sua
reação. — É
verdade? —
Perguntou ao
final.
Ewan esticou a
mandíbula e seus
olhos se
obscureceram.
— É verdade. —
Admitiu. — Me
dê uns minutos
para que possa
me vestir. Diga a
esses dois velhos
abutres que em
seguida
comparecerei.
— Ewan,
escuta…
Colin não teve
tempo de dizer
nada mais,
porque o laird lhe
fechou a porta
no nariz.
Quando virou,
encontrou o
olhar assustado
de Willow, que
estava sentada na
cama cobrindo-se
com uma manta.
— Meu senhor,
não deve temer
nada.
Confessarei, direi
a todos quem
sou, não perderá
a liderança do clã
por minha culpa.
Ewan bufou.
Caminhou
decidido até onde
tinha atirado suas
roupas na noite
anterior e as
resgatou para
vesti-las.
— Não fará nada
disso. —
Espetou, furioso.
— Ninguém vai
me dizer com
quem devo ou
não devo deitar.
Ninguém se
valerá de tão suja
artimanha para
roubar o que é
meu por direito.
Ponha sua roupa
de sempre, Will,
e cobre bem
esses formosos
seios para que
ninguém os note.
Não abrirá a
boca.
Willow olhou os
objetos de
servente com
apreensão, sem
decidir-se a
obedecer.
— Não o
entendo.
— Não há nada
que entender. —
Resmungou
Ewan enquanto
terminava de
vestir-se com sua
melhor calça e
sua camisa mais
elegante. —
Quando
descermos ao
salão, você será
Will, o moço que
foste desde que
chegou ao Innis
Chonnel, o filho
de John e Maud.
— Mas não o
sou.
Ewan se
aproximou e se
inclinou sobre
ela, apoiando as
mãos uma de
cada lado de seu
corpo. Seus olhos
se fundiram e
parte da fúria do
laird se
desvaneceu ante
o azul de seu
olhar.
— Para mim
sempre será Will.
Apaixonei-me
pelo Will e não
me envergonho.
Demorei para
compreendê-lo,
mas agora sei o
que meu coração
desejou desde
que te vi pela
primeira vez.
Ninguém vai usar
contra mim o
que sinto por ti.
Prometo-lhe isso.
Dito aquilo, selou
aquela promessa
com um terno
beijo.
CAPITULO 31

Quando
entraram no
salão, grande
parte dos
guerreiros do
laird já estavam
presentes. Fora
quem fosse o que
os tinha
convocado, deu-
se muita pressa,
pois quase todos
eles viviam na
aldeia, ao outro
lado do lago. Só
vinham ao Innis
Chonnel para os
treinamentos e as
celebrações. E
quando eram
requeridos com
urgência, como
era o caso.
Os conselheiros
Adair e Lawler
ocupavam a mesa
principal e sua
poltrona, a
cadeira do chefe
do clã, estava
virada de costas.
Isso significava
que sua própria
gente não lhe
considerava
digno de ocupar
aquele cargo.
Ewan varreu a
sala com o olhar,
tomando nota
mental de todos
os presentes, de
suas caras, da
postura de seus
corpos. Estava
claro que havia
dois bandos bem
diferenciados. Os
que se
encontravam
mais perto da
mesa principal e
que pareciam
custodiar aos
conselheiros o
olhavam em
atitude
desafiante. Eram
mais da metade
de seus homens e
parte do serviço,
e aquilo lhe doeu.
Por outro lado,
ao fundo da sala
se encontravam o
resto de sua
tropa, com o
Colin à cabeça, e
alguns dos
serventes, entre
os quais se
encontravam sua
ama de chaves,
Jane, e os leais
John e Maud
com sua filha
Liese. Quando os
St. Claire viram
Will, deram um
passo para ele e
lhe fizeram
gestos com as
mãos para que se
aproximasse. Em
seus rostos, a
preocupação por
aquela situação se
misturava com o
alívio de tê-lo de
volta com eles.
Ewan se colocou
no centro do
salão. Tinha
pendurada no
cinto sua enorme
espada e sobre a
camisa branca,
lhe cruzando o
peito, o manto
colocado sobre o
ombro com as
cores dos
Campbell.
Deixou que sua
mão descansasse
sobre o punho de
sua espada e
manteve sua
postura firme e
altiva, com as
pernas separadas
e a cabeça
erguida.
— Uma acusação
pesa sobre minha
pessoa. — Falou,
com voz alta e
firme. — Quero
saber do que se
trata, e quem a
proferiu.
— Uma faxineira
lhe viu ontem à
noite levando
nos braços ao
que, se não me
equivocar, é seu
servente pessoal.
Seguiu-lhes,
preocupada
talvez se por
acaso o moço
estava doente, e
descobriu que,
em lugar de levá-
lo com sua
família como
teria sido o
correto, levou-o
ao seu quarto. E
dali já não saiu
ninguém em toda
a noite. — O
ancião Adair fez
uma pausa e o
olhou com
desdém. —
Agnes, te
aproxime.
A jovem saiu do
grupo de
serventes que se
posicionou
contra o laird.
Ewan a perfurou
com o olhar, e
em sua mente o
alívio mais
esperado relaxou
o que devia ser
um cenho
assassino. Ela.
De novo aquela
garota, de cara
doce, de olhos
ardilosos e
sombrios, de
língua venenosa.
Tinha expulsado
seu melhor
amigo do Innis
Chonnel por sua
culpa, e agora o
via claro: Agnes
não tinha sido
estuprada. A
primeira coisa
que faria, assim
que pusesse
ordem naquela
farsa, seria ir em
busca de Melyon.
— Repete na
frente de todo
mundo o que viu
ontem à noite.
Agnes, como fez
no dia do
julgamento
contra seu
tenente,
interpretou
muito bem seu
papel. Se havia
alguém entre seus
caluniadores que
ainda não tivesse
muita certeza,
depois da afligida
confissão da
moça terminaria
de se convencer.
Willow, que
observava a cena
com o coração
apertado, odiou
com todo seu ser
à criada. Tinha-
lhe criado
problemas desde
sua chegada, mas
nunca tinha tido
tanta vontade de
lhe arrancar a
língua como
nesse momento.
— Nega estes
fatos? —
Perguntou Adair,
quando ela
terminou seu
alegação por
escrito.
— Não.
Um murmúrio
escandalizado
percorreu a sala,
acrescentando
mais tensão à
atmosfera que já
se respirava.
Willow apertou a
mão de Maud,
debatendo-se
entre cumprir os
desejos de Ewan
e permanecer
calada, ou sair em
sua defesa.
— Então…
Dormistes com
um moço?
— Isso, senhor,
não é da
incumbência de
ninguém.
— Pois digo que
sim. — O estalo
de Lawler
surpreendeu a
todos, porque,
além disso, tinha
golpeado a mesa
com uma mão
furiosa. — O é se
pretende ser
nosso líder!
O rosto de Ewan
escureceu. Por
fim, aí o tinha.
Tantos dias de
censura soterrada
tinham dado seu
fruto. Aquelas
duas aves de
rapina tinham
encontrado um
motivo, ou o que
eles acreditavam
que era um
motivo válido,
para lhe
desacreditar
diante de sua
gente.
— Deve ser mais
claro, senhor. —
Falou com o tom
miserável,
contido. — Deve
me expor porque
o fato de ter
passado a noite
no mesmo
quarto que meu
servente me
incapacita para a
liderança.
Lawler se
levantou de sua
cadeira,
tremendo de
pura irritação.
Talvez pensava
que Ewan ia se
mostrar mais
contrito, mais
envergonhado, e
que cederia sem
mais.
— Aos olhos de
Deus é um
pecado e lhe faz
débil. E não
podemos nos
permitir ter um
laird débil…
— Seu pai jamais
teria aceitado tal
comportamento,
Ewan, sabe disso.
— Falou de novo
Adair,
abandonando o
trato formal que
requeria aquele
conselho ao ver
que seu
companheiro de
intrigas perdia o
domínio de si
mesmo.
— Meu pai não
está. — Ewan foi
cortante. — Não
obstante, não
quero que minha
própria gente
duvide de minha
capacidade.
Pusestes em
interdição minha
valia como líder,
com o único
pretexto de
minha suposta
debilidade. A
quem propõem
para que me
suceda no cargo?
Talvez a seu
filho, Lawler? Ou
ao teu, Adair?
Desafio a
qualquer deles a
um combate pelo
mandato do clã.
Aos dois de uma
vez, se acharem
mais oportuno…
Os dois aludidos
se removeram
inquietos. Cada
um deles se
achava de pé,
atrás de seu
respectivo pai,
como se lhes
estivessem
guardando as
costas. Como se
estivessem
esperando que
Ewan, morto de
vergonha pela
acusação,
recusaria sua
espada naquele
momento para
que a recolhesse
qualquer deles.
— Não será
assim como
resolvo esta
questão. Está
sendo julgado,
portanto, terá
que acatar o que
este conselho
dita. — Por seu
tom, era evidente
que para Lawler
custava manter a
formalidade.
Ewan negou com
a cabeça muito
lentamente.
— Disseram que
meu pecado me
faz débil.
Demonstrarei-
lhes que não é
assim. Pensa que
vou deixar que
me arrebatem
meu lugar? Com
que autoridade
moral me
questiona em
assuntos da fé
cristã? Não
deveria ser o
padre Cameron o
que presidisse
este conselho, no
que me julga por
cometer pecado
carnal?
— É antinatural!!
— Gritou
Lawler,
golpeando de
novo a mesa com
raiva. — Não
necessitamos ao
pároco para que
nos ilumine a
respeito. Deus
criou ao homem
e à mulher para
algo, dizem as
sagradas
escrituras.
Ewan lhe
sustentou o olhar
sem alterar-se.
Esses dois velhos
intrometidos não
acharam nada
daquilo quando
acolheram sob
seu teto ao Reed
MacNab, apesar
de que era
conhecida por
todos a sua
preferência pelos
moços sem
barbas. Se Lawler
se preocupava
com as sagradas
escrituras, ele era
um asno com
arreios. Com o
canto do olho,
viu que Willow
dava um passo à
frente e levantou
uma mão para
detê-la. Não
estava disposto a
deixar que a
humilhassem,
porque estava
claro que a
atração que
sentia por Will
era uma mera
desculpa para
conseguir o que
esses dois tinham
desejado desde
que seu pai
morrera: tomar o
poder.
— Will, vêm
aqui. — Chamou
Maud em um
sussurro. — Não
intervenha, será
pior.
Ela se voltou
com os olhos
carregados de
angústia.
— Mas é que
eu…
— Shhh, vêm. —
Agarrou sua mão
e a puxou para
que retornasse ao
seu lugar. — Te
tranqüilize, os
que são fiéis ao
laird não vão
permitir este
ultraje. Não
sabemos por que
o senhor te tirou
das masmorras
para te levar ao
seu quarto, mas
alguma razão
terá. Confiamos
nele.
Willow se deu
conta de que a
última frase da
mulher não tinha
soado tão
convincente
como o resto.
Maud era uma
mulher muito
religiosa, incapaz
de acreditar nas
acusações
daquele conselho.
— Quando isto
acabar, logo
ajustarei eu as
contas com essa
malcriada da
Agnes. —
Escutou dizer em
um murmúrio a
Jane, a ama de
chaves.
— Calem,
mulheres. —
Vaiou John, ao
ver que os
conselheiros
tinham unido
suas cabeças para
cochichar algo
antes de voltar a
falar.
— Muito bem.
— Anunciou
Adair. — Nos
parece justa sua
petição.
Esperaremos a
que o padre
Cameron retorne
de sua viagem
para voltar a
convocar esta
assembléia e te
julgar frente a um
homem de Deus.
— Enquanto
isso. — Falou
Lawler, que
pretendia dizer
sempre a última
palavra. —
Esperará nas
masmorras.
Ao escutar
aquilo, Ewan
desembanhou
sua espada. Colin
e o resto dos
homens que lhe
eram leais
avançaram e se
posicionaram ao
seu lado, com
atitude
desafiante. Os
rostos dos
anciões se
crisparam ante
aquela ousadia.
— Pretende que
liberemos uma
batalha aqui, no
salão dos
Campbell? Não
está disposto a
aceitar a decisão
deste conselho?
Sempre se
respeitou nossa
opinião! Deve a
seu clã, e se sua
gente te
considera
indigno, deve
assumir suas
conseqüências!
— Não toda sua
gente pensa
como você,
Adair. —
Interveio então
Colin. — Ewan
Campbell é
nosso líder por
direito e não
aceitaremos que
ninguém o
encerre nas
masmorras.
— Se fosse um
chefe digno,
acataria a decisão
dos que
estivemos
velando pela
sobrevivência
deste clã desde
antes de que ele
nascesse. Onde
está sua honra?
— Rebateu
Lawler.
Ewan se adiantou
então, mais
enfurecido do
que jamais
acreditava ter
estado.
— Minha honra
está justo aqui.
— Disse, lhe
mostrando o fio
de sua espada. —
E dois velhos
que estiveram me
amargurando a
existência desde
que tomei posse
de meu cargo
não vão dar
lições de lealdade
para minha
gente. De fato.
— Acrescentou,
olhando-os
fixamente. —
Ficam
dispensados do
cargo de
conselheiros
neste mesmo
momento. A meu
pai talvez
puderam enganá-
lo… Acha que
não sei que
dirigiam o seu
desejo? Duncan
Campbell era um
bom guerreiro,
um professor
implacável que
treinou aos
melhores
homens que
conheço. Mas
não era bom
dirigindo os
assuntos do clã.
Por isso delegava
para vós… E
agora lhe pagam
assim, querendo
tirar a seu filho
do meio para
seguir fazendo o
que sempre têm
feito: governar ao
seu desejo.
Pela primeira vez
desde que tinha
entrado no
grande salão,
Ewan viu uma
sombra de
dúvida e medo
nos olhos dos
anciões. Mas não
ia ser tão fácil, é
obvio. E ele
tampouco queria
derramar o
sangue dos seus,
assim voltou a
lhes oferecer uma
saída digna.
— Reitero meu
oferecimento.
Um julgamento
por combate,
seus filhos contra
mim. Dois contra
um… Já que
consideram que
depois desta
noite junto ao
Will sou mais
débil, deveriam
aceitar minha
proposta. Se
perder, prometo
que lhes cederei
o mandato sem
opor resistência.
Depois de suas
palavras, fez-se
silêncio na sala.
Adair esfregou a
barba branca e
Lawler o
perfurou com os
olhos sem
piedade. Ewan
confiava em que
eles tampouco
queriam
derramar sangue
Campbell sem
necessidade.
Uma guerra
interna no clã,
com o Bruce
chamando a suas
portas para
reclamar
guerreiros que
lutassem contra
os ingleses, não
era boa idéia.
— De acordo. —
Concedeu no
final Lawler, o
mais reticente.
— Se preparem.
— Disse Adair
aos que seriam os
competidores do
laird. — Em uma
hora se decidirá a
liderança do clã
por combate, no
pátio de armas.
Ewan embainhou
sua espada e fez
um gesto com a
cabeça aos
anciões antes de
dar a volta e sair
do salão,
acompanhado
por seus homens.
Assim que a
assembléia se
dissolveu, os St.
Claire rodearam
Willow. A
primeira a
abraçá-la foi
Maud, que a
apertou contra
seu peito como
se fosse sua
verdadeira mãe.
— Criatura,
acreditávamos
que não
voltaríamos a lhe
ver.
— Will, que
alegria que tenha
retornado. —
Disse Liese,
apertando sua
mão de maneira
mais comedida.
— Sim, moço.
Estávamos
preocupados
contigo. — John
lhe deu uma
palmada nas
costas.
— Eu também
senti falta de
vocês… —
Confessou ela.
Olhou-os com
todo o amor que
sentia por essa
família e soube
que não podia
adiar mais o
momento de
dizer a verdade.
— Agora que
retornei, preciso
falar com vocês.
— É obvio. —
Sussurrou Maud.
— Mas não aqui.
Vamos a nossa
cabana, por
favor.
— Sim, mas
antes… Espera
um momento. —
Maud se fixou
em que Jane se
dirigia como uma
flecha para onde
se encontrava
Agnes e foi atrás
dela. Tinha a
mesma vontade
ou mais que a
ama de chaves de
repreender a essa
insensata.
Willow as
observou a
distância, porque
sabia que, se se
aproximava da
jovem loira, lhe
arrancaria os
olhos e a língua.
As duas mulheres
a avassalaram
sem trégua e
Agnes baixou a
cabeça, com as
orelhas ardendo
de humilhação.
Ou isso parecia.
Quando
terminaram de
admoestá-la e se
afastaram,
Willow se fixou
em que a garota
lhe dirigia um
olhar tão
carregado de
ódio que lhe pôs
a pele arrepiada.
Não o pôde
suportar.
Dirigiu-se para
ela cega de fúria
e quando esteve
ao seu lado,
cruzou a cara
com uma
bofetada. A moça
levou a mão à
bochecha,
horrorizada, e
Willow se sentiu
insatisfeita.
Aquele não era
castigo suficiente
e desejava com
toda sua alma
que Agnes se
revolvesse para
poder seguir
atacando-a.
Entretanto, John
se plantou ao seu
lado
rapidamente,
interpondo-se
entre as duas.
Willow não
entendia por que
o grandalhão
ruivo parecia tão
zangado com ela.
— Não volte a
fazer nada
semelhante! Não
me importa o
que tenha feito
esta arpía,
nenhum homem
em minha
presença
levantará a mão
contra uma
mulher,
entendeste-me?
Vamos, te afaste
dela!
— Will, vêm
aqui! — Maud a
agarrou pelo
braço e a tirou do
salão a toda
pressa.
A família se
dirigiu para sua
cabana e, quando
por fim estiveram
sozinhos, John
voltou a
repreendê-la.
— Envergonha-
me seu
comportamento,
Will. Não
imaginava que
pudesse fazer
algo semelhante.
Willow já não
tinha certeza se o
que lhe ofendia
era que tivesse
golpeado a
Agnes, ou talvez
a própria
acusação vertida
por seus lábios
envenenados.
Apesar de que a
tinham recebido
com carinho,
notava que em
seus olhos havia
uma sombra de
dúvida por tudo
o que se havia
dito naquele
salão.
— Me perdoe,
John. Talvez,
quando te contar
o que quero lhes
confessar,
entenda-me
melhor.
Maud a olhava
tão fixamente
que Willow ficou
nervosa. Por
sorte, a mulher
não era das que
davam voltas e
abordou o
assunto que lhes
preocupava sem
mais demora.
— Por que te
levou o laird ao
seu quarto ontem
à noite?
— Antes de
responder, devo
lhes dizer algo.
— Willow
retorceu as mãos,
sem saber como
confessar a
verdade. Não
poderia suportar
que aquela gente
lhe desse as
costas… Agora
eram sua família.
— Não sou
quem vocês
pensam que sou.
Silêncio.
Os três a
olhavam com os
olhos arregalados
esperando, até
que Liese
perguntou:
— E quem é?
— Meu nome
não é Will, a não
ser Willow
MacGregor.
Sou…
— Uma mulher?
— interrompeu-a
John, atônito ao
escutar seu tom
já livre do
disfarce.
Maud conteve
uma exclamação
tampando a boca
com uma mão.
Liese negava com
a cabeça, como
se não pudesse
acreditar.
— Sim, sou uma
mulher. Mas,
além disso, eu...
— Como é
possível que não
nos déssemos
conta? — Voltou
a interrompê-la
Maud.
Aproximou-se
dela e a apalpou,
lhe tocando os
braços, as
bochechas, lhe
passando as
mãos por seu
cabelo curto
escura.
— Como é
possível? —
Repetiu Liese,
aproximando-se
também, como
se ao contemplá-
la de uma
distância mais
curta a verdade
ficaria mais
evidente.
— É possível
porque são boa
gente, e confiam
nos outros sem
pôr em dúvida
sua palavra, sem
julgar, aceitando
as debilidades de
cada um e
aceitando-os tal e
como são. Will
tinha muitas
falhas, isso não
podem negá-lo.
Maud, estou
segura de que
você notava que
havia algo
diferente em
mim.
A mulher
assentiu com um
sorriso e lágrimas
aparecendo em
seus olhos.
— Notei que era
bastante
efeminado,
Will… Willow.
Mas muitos
moços jovens
parecem muito
brandos e logo
alargam,
convertem-se em
homens.
Suponho que eu
tinha a esperança
de que algo assim
ocorresse
contigo.
— Foram tão
bons comigo, tão
generosos, que
minha vergonha
é maior por lhes
haver oculto algo
assim. Lamento-
o e lhes peço que
me perdoem.
Maud a abraçou.
— O único que
me dói é que não
confiasse em nós.
Jamais lhe
teríamos
delatado, se esse
era seu medo. —
Separou-se dela e
sujeitou sua cara
entre as mãos
para olhá-la com
carinho, com os
olhos doces de
uma mãe. —
Somos sua
família, com
todas as
conseqüências.
Teríamos te
protegido daquilo
do que fugia...
— Disso
precisamente
queria lhes falar.
Não só sou uma
mulher, também
sou…
Um golpe na
porta a
interrompeu.
Jane, a ama de
chaves, entrou
atrás dessa
chamada com
muita pressa.
— Will, o senhor
te chama. Agora.
— Então vá…
Vá com ele,
criatura, logo
haverá tempo de
falar e de
esclarecer toda
esta confusão. —
Apressou Maud.
Willow assentiu e
saiu em direção
ao pátio de
armas, onde
certamente o
laird se preparava
para seu
combate.
CAPITULO 32

Tinha medo.
Sabia que Ewan
era um guerreiro
consumado, que
era o mais destro
com a espada.
Tinha-o visto em
ação e não
duvidava nem de
sua força nem de
sua habilidade. A
fé dela que sua
espada era uma
prolongação da
férrea vontade
que demonstrava
em tudo o que se
propunha. E
nesta ocasião
estava
empenhado em
demonstrar sua
valia a toda a
gente de seu clã.
Willow confiava
em que o laird se
sairia bem, como
era habitual
nele...
Mesmo assim,
temia por sua
vida.
Seus passos se
voltaram mais
prementes
conforme se
aproximava do
pátio, desejosa de
ver de novo o
rosto que
decorou e que
adorava com
todo seu ser. Não
podia confessar
ao Ewan sua
inquietação,
porque uma mera
insinuação de
suas dúvidas lhe
ofenderia. Já
tinha
demonstrado que
era capaz de
enfrentar a
muitos e sair
vitorioso, e não
havia razão para
subestimá-lo.
Mas isso não
evitava que seu
coração pulsasse
desmedido
pensando no que,
por infortúnio do
destino, poderia
lhe ocorrer se
perdia essa
batalha.
Ao chegar no
pátio encontrou
com o laird que
já tinha se
desfeito da
camisa e
mostrava seu
incrível torso nu,
que era puro
músculo sulcado
de cicatrizes.
Vestia somente
suas calças e suas
botas negras.
Balançava a
espada para
exercitar o braço,
sob o atento
olhar de seus
homens e dos
que se
posicionaram no
outro bando.
Para Willow não
passou
desapercebido os
rostos
circunspetos dos
competidores de
Ewan. Sem
dúvida, eram
homens fortes,
de braços
poderosos que,
para o cúmulo,
tinham sido
treinados pelo
próprio laird.
Mas tinham
medo nos
olhos… Apesar
de ser dois contra
um, temiam
aquele
enfrentamento.
— Will!
Ewan foi ao seu
encontro assim
que a viu.
Deteve-se um
par de passos,
devorando seu
rosto com o
olhar, sem
atrever-se a
aproximar-se
mais.
— Me fez
chamar, meu
senhor?
— Sim, só queria
ver-te antes de
começar.
— Não tem por
que combater. —
Sussurrou.
Morria para
apertar-se contra
seu peito e sentir
seus fortes
braços ao redor.
— Quando tudo
isto acabar, vou
beijar-te até que
lhe doam os
lábios.
Willow não o
duvidava. O
mesmo desejo
que brilhava nos
olhos avelã de
Ewan lhe estava
perfurando a
alma.
— Por favor,
pare esta loucura.
Se me revelar,
este julgamento
por combate não
terá razão de ser.
Não cometeste
nenhum pecado,
não podem te
acusar de nada.
— Se não lutar
hoje, amanhã
encontrarão
qualquer outra
desculpa para me
difamar.
— Mas ao menos
sua dignidade
não ficará em
dúvida.
— Jamais estive
tão seguro de
minha dignidade.
— Ewan se
aproximou um
passo, apertando
os punhos em
ambos os lados
de seu corpo
para evitar a
tentação de tocá-
la. — Não tenho
que dar
explicações a
ninguém, nem
sequer a mim
mesmo. Will me
roubou a
prudência desde
a primeira vez
que lhe pus os
olhos em cima, e
não me
arrependo. Não
sou menos
homem por isso.
Ela sorriu e
desejou abraçá-lo
mais que nunca.
— Mas Will não
existe.
— Claro que sim.
Está aí dentro,
atrás desses olhos
azuis que me
tiraram o sono.
O coração de
Willow pulsou
mais depressa
com aquela
afirmação.
Olhou-o com
adoração,
deixando
transparecer uma
vez mais o
imenso desejo
que sentia por
esse homem.
Ele a apontou
com um dedo.
— Deixa de me
olhar assim, sabe
que isso foi
sempre minha
perdição.
Sem dizer mais
nada, Ewan
caminhou vários
passos para trás,
correspondendo
seu olhar, lhe
confessando sem
falar que ele
sentia o mesmo.
Depois, deu a
volta e se dirigiu
para o grupo de
homens que o
esperavam para
começar o
combate.
Pouco a pouco,
todos os
habitantes do
Innis Chonnel se
congregaram no
pátio para serem
testemunhas da
luta pelo
mandato do clã.
Os St. Claire se
reuniram com
Willow e ela
notou seus
olhares
interrogantes, seu
desconcerto ante
o fato de que não
revelasse a
verdade para
impedir a
injustiça.
— O laird o
prefere assim. —
Foi o único que
lhes disse, antes
de voltar sua
atenção aos
combatentes que
já se preparavam
no centro do
círculo de
curiosos.
— Muito bem.
— Escutaram
todos que dizia
Ewan, em voz
alta e enérgica.
— Vejamos da
parte de quem
está a razão. Se
tiver cometido
pecado, tal e
como me acusa,
estes dois
homens me
vencerão sem
problemas. Mas
se for inocente,
não voltarão a
duvidar de minha
liderança, nem se
oporão a ela.
Lawler e Adair,
se sair vitorioso,
não serão nunca
mais parte do
conselho dos
Campbell.
Os murmúrios
dos presentes
eram diferentes
em opiniões. Os
filhos dos dois
anciões se
olharam e
assentiram antes
de ficar em
guarda e Willow
temeu que sua
força e seu
implacável
treinamento
fossem muito
para um homem
sozinho, apesar
de que esse
homem era
Ewan.
Os três
guerreiros
começaram a
mover-se,
medindo-se,
estudando-se,
muito
concentrados. O
laird foi o
primeiro em
atacar, lançando-
se contra o que
estava mais perto.
O golpe de seu
aço contra a
espada do
inimigo soou
brutal, e as
sucessivas
apostas foram
rápidas e
contundentes. O
outro adversário
levantou também
sua espada e
lançou uma
estocada longa
que esteve a
ponto de
alcançar o flanco
do Ewan. Willow
conteve o fôlego
e procurou a mão
de Liese, que
estava ao seu
lado, para apertar
o medo contra
sua palma. O
laird esquivou
aquele ataque e
se virou para
devolver o golpe,
com tanta
ferocidade que
fez perder o
equilíbrio ao
outro guerreiro.
Poderia tê-lo
acertado, mas o
segundo
adversário se
interpôs e deteve
o ataque,
empurrando
Ewan para trás.
Os olhos do laird
estavam em
chamas e
retornou ao
ataque com
vontade de ferro,
deixando a alma
em cada golpe.
Assim estiveram
longos minutos.
Willow tremia
tanto que Liese
passou um braço
pelos seus
ombros.
Ninguém falava,
todos estavam
absortos naquela
crua batalha que
já cobrou vários
cortes, muitos
golpes e a
resistência dos
poderosos
braços, que se
resentíam à
medida que o
tempo passava
sem um claro
vencedor. Ao
final, a
superioridade do
laird foi
impondo-se e,
apesar de que
seus adversários
tinham
conseguido feri-
lo em um par de
ocasiões, um
golpe na cara a
um o deixou fora
de combate e o
outro terminou,
depois de várias
estocadas
seguidas e
infernais, atirado
no chão com a
espada de Ewan
lhe apontando ao
pescoço.
Colin e alguns
homens se
adiantaram
quando isto
aconteceu, para
desarmar aos
perdedores e
flanquear o seu
líder, que se
voltou para os
anciões, quase
sem fôlego.
— Alguém mais
dúvida de meu
valor? —
Perguntou. O
silêncio flutuou
como uma brisa
gelada entre os
presentes. —
Muito bem. Pois
não quero voltar
a discutir este
assunto nunca
mais.
Adair e Lawler o
contemplaram
com soberba.
Pelo gesto de
seus rostos,
Ewan teve
certeza que tinha
ganho a batalha,
mas não a guerra.
Entretanto, por
bem ou por mau,
havia outra luta
muito mais
importante
surgindo e não
podia se permitir
o luxo de perder
seu tempo
defendendo sua
posição. Agora
tocava lutar pelo
Bruce, por seu
rei, e proteger os
interesses da
Escócia diante
dos ingleses. E
se, para quando
tudo acabasse, ele
saísse vivo de
todas as batalhas
que teriam a
frente, confiava
em que o
monarca
soubesse
recompensá-lo
com seu apoio
incondicional
para seguir à
frente do clã
Campbell.
— Não quero
mais disputas
internas. —
Acrescentou,
antes de dar por
concluído aquele
assunto. — É
necessário que
comecemos a
nos preparar para
partir. O rei
Bruce solicitou
que nossa
guarnição se
reúna com seu
exército no
Stirling, não
podemos
demorar mais.
Ante a menção
do monarca, os
anciões por fim
pareceram reagir.
Assentiram
levemente com a
cabeça e
começaram a dar
ordens a torto e a
direito. Ewan se
absteve de lhes
recordar que já
não eram parte
do conselho e
que seus
privilégios
tinham ficado
reduzidos,
porque o certo
era que sua ajuda
não lhe vinha
mau. Eles tinham
lutado já em
outras guerras e
valiam mais por
sua experiência
que por sua boa
vontade.
Deixou que
todos voltassem
pouco a pouco
para suas tarefas
e girou para
procurar Will
entre os
serventes. Era o
momento de
falar com ela,
tinha muitas
coisas que
esclarecer. E
esperava poder
fazê-lo. A noite
anterior, e essa
mesma manhã, a
fome que tinha
de sua boca, de
seu fôlego, de sua
pele, tinha lhe
impedido de
pensar com
clareza. Queria
saber muitas
coisas dela… Na
realidade, queria
saber tudo. E, de
passagem,
também queria
repreendê-la por
sua estupidez.
Agora que estava
mais sereno, via
com mais clareza
quão perigoso
tinha resultado
seu disfarce. Sua
insensatez podia
lhe haver tirado a
vida e queria
saber por que se
viu obrigada a
ocultar-se sob as
roupas de um
moço.
Caminhou para
ela com o cenho
mais
pronunciado do
que o normal,
embora Willow,
que o esperava
no mesmo lugar
de onde tinha
visto o combate,
não pareceu
assustada. Essa
era outra das
coisas que desde
o começo lhe
tinha
surpreendido em
Will: que sempre
o desafiasse com
o olhar, que
jamais se
intimidasse,
apesar de que
houve vezes nas
que realmente
devia estar
quebrada por
dentro.
— Senhor! —
Um de seus
homens o
interceptou antes
de que pudesse
chegar até ela. —
Bors acaba de
cruzar o lago e
traz dois
acompanhantes.
Pela cara de seu
soldado, Ewan
soube que o
assunto era grave.
— E quem são?
— Se trata… Se
trata de Melyon,
laird.
O nome de seu
amigo retumbou
em seus ouvidos
um momento.
Mas aí não
acabava a coisa.
— E vem com
seu tio Alec.
Ewan girou para
Willow com os
olhos abertos
pela surpresa.
— Sim —
Reconheceu ela.
— Foram eles
que me
acompanharam
de volta.
— Não podem
entrar aqui! —
Exclamou Adair,
que tinha
escutado tudo e
se aproximava
deles com passo
decidido.
Lawler, que
seguia atrás, lhe
apoiou.
— É obvio que
não. Alec
Campbell foi
condenado ao
exílio pelo antigo
laird, e Melyon é
um estuprador de
mulheres…
— Basta! No que
me diz respeito,
Agnes me
demonstrou não
ser de confiança
e penso retomar
o assunto dessa
suposta violação,
não tenha
dúvida.
Disseram-me
uma vez que não
tinha agido bem
naquele
julgamento e
agora reconheço
que tinham
razão. Mas não
porque fui muito
brando com meu
amigo, mas sim
por não ter
prestado mais
atenção às duas
partes. Só se
escutou uma
versão e muito
temo, para minha
vergonha e dor,
que não fui justo
com o melhor de
meus guerreiros.
— Ewan
silenciou a todos
com aquele
discurso. Mas
não tinha
terminado. — E
meu tio… Sim,
foi condenado
por tentar ajudar,
por tentar
solucionar um
conflito com os
MacGregor
mediante o
diálogo, em lugar
de usar a espada.
— Enfrentou-se
ao laird, rebelou-
se contra ele! —
Explorou Lawler,
congestionado
pela ira.
Ewan sorriu de
forma sinistra
atrás de seu
estalo. E logo
falou muito
devagar,
arrastando as
palavras.
— Sim, justo o
mesmo que têm
feito vocês dois
no dia de hoje. Se
forem coerentes
com seus
próprios
julgamentos de
valor, aceitariam
que neste mesmo
momento eu lhes
condenasse ao
exílio, como meu
pai fez com meu
tio, não é assim?
Os dois velhos
deram um passo
atrás ante a
ameaça. Willow,
que observava a
cena, jamais
havia se sentido
mais orgulhosa
do laird dos
Campbell.
— Tranqüilos.
Embora
mereceriam isso,
não penso lhes
expulsar do Innis
Chonnel. O clã
lhes necessita;
mais agora, que
eu tenho que
partir para o
fronte. Mas
valorizarão
minha
generosidade e
aceitarão de bom
grado a volta de
meu tio… Ficou
claro?
Ninguém
replicou,
acatando com
seu silêncio a
vontade do laird.
Pela porta
principal
apareceu então
Bors, seguido dos
dois guerreiros
que caminhavam
confiantes e sem
nenhum temor
para o líder dos
Campbell.
Willow percebeu
que muitos dos
homens
saudavam
Melyon com
alegria ao vê-lo
de volta. E quase
todos mostravam
um respeito
quase reverencial
pelo Alec. Apesar
de ter sido
expulso pelo
anterior laird, os
habitantes do
Innis Chonnel o
admiravam pelo
que tinha sido e
pelo que ainda
era. Vendo sua
envergadura e
seu porte altivo, e
conhecendo a
generosidade de
seu coração,
Willow pensou
que não era para
menos.
— Alegra-me
estar de novo em
casa. —
Anunciou, com
um sorriso.
Ewan o olhou
com toda a
admiração que
sentia por esse
homem, que
tinha significado
mais que seu
próprio pai em
algumas ocasiões.
— E eu estou
feliz de ver-te de
novo, velho. —
Replicou, dando
um passo à frente
para abraçá-lo
apertado.
— Chegamos em
mau momento?
— Perguntou
Alec, olhando-o
de cima abaixo.
— Está ferido.
— São somente
um par de
arranhões. Um
preço muito
baixo que paguei
com prazer por
conservar o que é
meu. —
Explicou Ewan.
Seu tio o
observou com
mais atenção e
assentiu,
orgulhoso dele.
Já averiguaria
mais tarde a que
estava se
referindo.
O laird se voltou
depois para
Melyon e se
aproximou dele.
Seus olhares se
encontraram pela
primeira vez
desde que o
expulsou, e
Willow, que
observava a cena
contendo o
fôlego, lhe
encolheu o
estômago.
— Me perdoe.
— Disse de
repente Ewan,
rompendo a
tensão que
parecia flutuar no
ar.
— Não há nada
que perdoar. —
Respondeu
Melyon. — É
meu laird,
sempre acatarei
suas decisões.
— Embora
sejam
equivocadas?
Melyon deixou
ver então um
sorriso
atravessado e lhe
ofereceu o
antebraço a seu
amigo.
— A próxima
vez que te
equivoque,
obedecerei-te.
Mas antes, não
tenha dúvida,
romperei-te com
uma cabaçada
esse elegante
nariz que mostra
em sua feia cara.
Ewan soltou uma
gargalhada ante a
ameaça.
Estreitou-lhe o
braço, feliz,
sabendo que
tinha recuperado
a seu tenente.
— Bem-vindo!
— Disse. — E
agora, ponha
mãos à obra e me
ajude com estes
homens… Não
quero que
quando nos
apresentarmos
ante o Bruce
pareçam um
punhado de
novilhos
destreinados.
— Antes. —
Interrompeu
Alec. — Temos
algo mais
importante que
resolver.
O guerreiro
procurou entre
os presentes até
que achou
Willow a pouca
distância de onde
se encontravam.
A garota lhe
dedicou um
sorriso e se
aproximou deles.
— Vejo que
sobreviveste ao
temperamento de
meu sobrinho.
Estava
preocupado com
você.
— Não é tão
terrível. —
Defendeu ela.
— Falas do
mesmo Ewan
que eu conheço?
— Perguntou
Melyon com
ironia.
Willow lhe sorriu
com a
cumplicidade que
se criou entre
eles durante esses
dias. Ao laird não
passou
desapercebido
aquele cruzar de
olhares e uma
ardência até
então
desconhecida lhe
perfurou o
estômago.
Desejou afastar
Will e pô-la em
suas costas,
ocultá-la do
mundo, de
Melyon, para que
ninguém mais
além dele
pudesse desfrutar
de seus formosos
olhos azuis.
— O que é esse
assunto tão
importante? —
Perguntou, com
um pigarro
molesto.
— Um bom
grupo de
MacGregor te
espera na aldeia.
— Anunciou
Alec sem rodeios.
— E vêm
acompanhados
de alguns de seus
aliados. Falei com
eles, querem uma
reunião contigo.
— MacGregor?
— Sussurrou
Willow.
Seu rosto se
iluminou ao
mesmo tempo
que todos os
alarmes interiores
de Ewan
saltavam.
— O que vieram
fazer aqui? O que
desejam? —
Perguntou, com a
mandíbula tensa.
Alec olhou para
Willow e notou
que seu coração
estava acelerado
com a notícia.
Também soube,
pelo desconcerto
de seu sobrinho,
que a garota não
lhe tinha
revelado sua
verdadeira
origem.
Desconhecia
também se no
final tinha sido
capaz de lhe
confessar que
não era um
moço, mas não
havia tempo de
desfazer aquele
engano nesse
momento, com a
tropa dos
MacGregor e
seus aliados
acampados do
outro lado do
lago.
— Recomendo-
te que não lhes
faça esperar e
saia a averiguá-lo.
Deram-me sua
palavra de que
não querem
enfrentamentos,
só querem
conversar. —
Explicou.
— Eu te
acompanharei.
— Anunciou
Melyon.
— E eu. —
Ofereceu
também Colin.
— Assim que
cruzemos,
reagruparei aos
nossos homens
na aldeia, no caso
de necessitar.
— Nós também
iremos. —
Proclamou Adair,
aproximando-se
junto com
Lawler. — Se
houver diálogo,
será melhor que
estejamos
presentes. O
conselho
Campbell não
pode ficar à
margem, porque
suponho que
devem pedir
explicações sobre
o ataque… O
assunto é grave.
— Não irão. —
Decidiu Ewan.
— Já lhes disse
isso, já não são
meus
conselheiros.
Agora esse cargo
o ocupa meu tio
Alec; será ele que
me acompanhará.
— Mas… Não
pode nos fazer
isto! Esses sujos
MacGregor já
nos criaram
dificuldades no
passado, quando
seu pai
governava o clã.
Nós estávamos
ali, sabemos
como dirigi-los.
— Sujos
MacGregor? —
Vaiou Willow,
aborrecendo com
toda sua alma a
esse velho
intrometido.
— Will, isto não
te diz respeito. —
Advertiu Ewan.
— O que não me
diz respeito?
Os olhos avelã
do laird a
olharam como se
quisessem cravá-
la no lugar para
que não se
movesse de onde
estava.
— Não. Agora é
um Campbell, já
lhe disse isso.
Não te entrometa
nisto.
Willow se
enfureceu. Sua
gente, seu clã,
seus homens,
estavam ao outro
lado do lago. Por
fim poderia
escapar da
incerteza que
escurecia sua
alma desde que
abandonou seu
lar, e aquele
guerreiro
teimoso
pretendia que
permanecesse à
margem?
— Quero ver os
MacGregor, meu
senhor.
Ewan se deu
conta de que
voltava a dirigir-
se a ele com a
mesma rebeldia
que quando
fingia ser
somente um
moço.
— Pois não os
verá. —
Sentenciou ele —
Ficará aqui até
que averigue o
que querem.
— Por que?
— Porque sou
seu laird, e me
obedecerá.
Não esperou a
que lhe
respondesse. Deu
a volta e foi
colocar a camisa
que tirou para o
combate.
Enquanto se
vestia para sair ao
encontro de seus
visitantes,
repartiu
instruções aos
seus homens. Ao
John, em
concreto,
ordenou-lhe
vigiar Will para
que não lhe
ocorresse
abandonar Innis
Chonnel. Só de
pensar que os
MacGregor
pudessem
reclamá-la, sentia
as tripas revoltas.
Sabia que era
uma estupidez e
um exagero, por
que iriam
reclamar a uma
faxineira? Sobre
tudo, a uma que
tinha escapado
do Meggernie e
que, com certeza,
eles ignoravam
até que existisse.
Entretanto, não
confiava no
caráter
possessivo dos
clãs das
Highlands. Se se
inteiravam de que
um dos seus se
escondeu entre
os muros de sua
fortaleza,
poderiam exigir
que retornasse a
seu próprio lar. E
ele jamais o
permitiria. Will…
Willow, era dele.
Se alguma vez
tinha sido uma
MacGregor, já
não o era. Isso
não admitia
discussão.
Quando esteve
preparado,
encaminhou-se
junto com o
resto da comitiva
para os botes
para cruzar o
lago. Antes de
sair pelo portão
principal,
entretanto, olhou
uma vez mais
para trás. Willow
o atravessava
com seus olhos
azuis carregados
de fúria. Não lhe
importava.
Preferia ter que
ver-se com ela
mais tarde, em
seu quarto, a
correr o risco de
perdê-la para
sempre.
CAPITULO 33

Alec olhou Ewan


com o canto dos
olhos. Não
entendia por que
não tinha querido
levar Willow com
eles e ele não
desejava
arrebatar
autoridade a seu
sobrinho diante
de sua gente, por
isso não tinha
interferido…
Nesse momento.
Entretanto, sabia
que a presença da
moça ia ser
fundamental em
seu encontro
com os
MacGregor,
assim, antes de
sair da fortaleza,
tinha dado
instruções muito
concretas ao
Donald a
respeito.
— Quando
chegaram? —
Perguntou Ewan,
antes de que o
barco alcançasse
a outra borda.
— Esta manhã, à
alvorada. Melyon
e eu escutamos a
gritaria de suas
tropas e saímos
ao seu encontro.
E menos mal,
porque seus
homens já
estavam se
preparando para
o enfrentamento,
mas obtemos que
todos
mantivessem a
calma.
— O que
querem? O que
procuram?
— Não me
disseram isso.
Malcom
MacGregor não
queria falar com
ninguém mais
além de você.
Suponho que se
trata do ataque a
sua fortaleza e do
assassinato de
seu irmão. —
Alec olhou a seu
sobrinho com
seriedade. —
Sinto lhe dizer
isso mas não
agiste com
inteligência neste
assunto. No que
estava pensando?
Ser temido não é
a melhor maneira
de ganhar o
respeito dos
outros. Não deve
carregar sobre
seus ombros os
crimes de outros
somente para
parecer mais
forte.
Ewan baixou a
cabeça, abatido.
Seu tio era uma
das poucas
pessoas nas que
depositava uma
fé cega, e suas
reprimendas o
afetavam, porque
sabia que estava
certo.
— Agora sei. O
padre Cameron
já me advertiu
isso e lhe prometi
que ia consertar.
Mas com todo o
assunto do
Will… minha
cabeça não estava
onde devia ter
estado.
Alec pôde intuir
seu desconcerto.
Ewan tinha
estado muito
perdido.
— Bom, pois
esta é sua
oportunidade de
esclarecer as
coisas. O assunto
deve ficar
resolvido sem
mais demora,
para que quando
se reúnas com o
rei ninguém
possa verter
nenhuma
acusação sobre
sua pessoa.
Ewan assentiu e
ficou pensativo,
com o olhar
perdido na água.
— Ela lhe disse
que era uma
mulher? —
Soltou de
repente.
— Não. Dei-me
conta antes que
despertasse. —
Alec deixou
escapar uma
risada entre os
dentes. — Não
sei como não
percebeu… Eu
gostaria de ter
visto sua cara
quando
finalmente o
confessou.
— Não tem
graça, velho. —
Protestou Ewan
ante seu
divertimento. —
Quase perco a
prudência por
sua culpa.
Alec seguiu rindo
e lhe deu um tapa
a nuca com
carinho.
— A pouca
prudência que
tem, quer dizer…
— Atenção,
chegamos. —
Anunciou
Melyon, atrás
deles.
Todos os
ocupantes do
bote olharam
para a margem,
onde os esperava
uma comitiva
MacGregor.
Além deles,
puderam ver uns
quantos MacNab,
entre os que se
encontrava seu
odioso laird,
James. Ewan
procurou entre
os guerreiros e
distinguiu com
rapidez ao que
devia ser Malcom
por sua postura e
o cenho de seu
olhar que, a
julgar por sua
ferocidade, bem
poderia partir um
tronco pela
metade com os
olhos. Era um
homem bastante
alto, com uma
envergadura
temível e um
aspecto
intimidante. Seu
cabelo moreno
brilhava
comprido até os
ombros e uma
espessa barba
escura lhe cobria
o rosto. Ao
aproximar-se,
ambos os
homens se
reconheceram
como os
respectivos
líderes de seus
clãs e não
deixaram de
estudar-se em
nenhum
momento.
— Bom dia,
senhores. —
Saudou Ewan
quando estiveram
a sua altura. — O
que traz o filho
do laird
MacGregor até
as terras dos
Campbell? —
Perguntou sem
rodeios, fazendo
ornamento de
sua falta de tato
habitual.
Alec pigarreou
ao seu lado, lhe
dando a entender
que era um
bruto.
— Acaso não
somos bem-
vindos? —
Inquiriu Malcom,
cuja mão
repousava
aleatoriamente
sobre o punho de
sua espada.
— É obvio que o
são. Meu
sobrinho carece
de maneiras, mas
é um homem
generoso e
hospitaleiro, lhes
posso assegurar.
— Atravessou
isso Alec para
limar asperezas.
— E bem? —
Insistiu Ewan,
evitando todos
os esforços de
seu tio por fazer
que aquele
encontro fosse
pacífico.
— Tivemos que
retornar do
fronte para
resolver questões
do clã. —
Explicou
Malcom. — Me
consta que são
conhecedores do
ataque que sofreu
Meggernie.
Nessa incursão
assassinaram a
meu irmão… E
nos roubaram
algo que era
nosso.
Ewan recordou
de repente a
misteriosa jóia
que todo mundo
andava
procurando.
Como tinha
podido esquecer
isso também?
Will tinha
transtornado sua
mente de tal
maneira, que
tinha passado por
cima todas as
questões que
podiam ter
resolvido aquele
enigma.
— Como já disse
ao James
MacNab quando
esteve aqui,
perguntando por
sua jóia, os
Campbell não a
têm. — Ewan
olhou
diretamente ao
homenzinho ao
falar.
— Isso me disse,
mas não
acreditei. —
Espetou isso o
aludido com
raiva. — Foi
bastante suspeito
que, depois de te
perguntar pela
jóia,
desaparecesse de
seu lar no dia
seguinte. Enviei a
meu homem de
confiança para te
buscar, mas
nunca retornou.
Encontramos seu
corpo, junto com
os do resto de
seu grupo,
assassinados no
meio do bosque.
Não saberá você
acaso o que lhes
ocorreu?
Muito bem. Não
só tinha que dar
explicações aos
MacGregor,
também devia
responder pelas
mortes dos
MacNab. Ewan
notou que seu
pulso se acelerava
e respirou fundo,
tratando de
acalmar-se.
— Eu os matei.
A afirmação
crispou o rosto
de James, que
levou uma mão
ao punho de sua
espada com um
grunhido furioso.
Malcom lhe
colocou uma
mão no peito
para que se
tranqüilizasse.
— Antes, quero
escutar o que tem
a dizer. — Disse,
perfurando ao
Ewan com o
olhar.
Ele fez um gesto
de assentimento,
agradecido pela
intervenção. Não
temia enfrentar
James, de fato,
estava-o
desejando, mas
não queria
encetar-se em
uma luta contra
aqueles homens.
Era necessário
que os
MacGregor
soubessem de
sua inocência.
— Eu os matei.
— Voltou a
dizer. — Porque
eles me atacaram
primeiro.
Assaltaram-me
no bosque, cinco
contra um…
Não, minto,
cinco contra dois,
porque me
acompanhava
meu servente. De
fato, acredito que
ele foi a causa
daquela
emboscada. Ao
que parece, Reed
se havia
encantado com o
moço e estava
disposto a tudo
para conseguir o
que queria. Foi
em defesa
própria, James,
não há delito
algum em
defender-se.
— Mas sim o há
em atacar uma
fortaleza durante
a noite quando o
grosso de seus
soldados está
lutando no fronte
junto ao nosso
rei. — Saltou
Malcom, com o
tom exaltado.
Avançou um
passo para
acrescentar. —.
Sim é delito
roubar o que não
te pertence…
Ewan levantou as
mãos para pedir
calma.
— Não foram os
Campbell os que
levaram a cabo
essa incursão. Eu
não roubei
nada… Eu não
matei ao seu
irmão.
— Apenas isso?
Devemos
acreditar em sua
palavra sem
mais? — Inquiriu
Malcom.
— Eu fui amigo
de seu pai —
Interveio então
Alec. — O tinha
em tanta estima
que me inimizei
com meu próprio
irmão, o antigo
laird, ao
interceder por ele
no passado e
tentar evitar o
enfrentamento
que mantiveram
nossas famílias
estes últimos
anos. Fui banido
por meu próprio
clã… E isso sim
deve te bastar
para acreditar em
minha palavra. E
te juro, por
minha honra, que
os Campbell não
atacaram
Meggernie. Ewan
não é culpado
dos crimes que
lhe imputam e
está disposto a
demonstrar isso
encontrando ao
verdadeiro
artífice deste
engano.
Malcom meditou
suas palavras.
Observou a um e
outro homem
decidindo se
devia confiar ou
não naquele
argumento.
— Tenho uma
vaga lembrança
de ti. — Admitiu
por fim — De
quando vinha ao
Meggernie sendo
meu irmão e eu
uns meninos.
Meu pai se
referiu a seu
valor e sua
lealdade em
muitas ocasiões, e
embora não
confie em sua
palavra, devo
confiar na de
meu pai. Estou
disposto a
acreditar… E a
aceitar a ajuda do
laird dos
Campbell.
Ewan soltou o ar
que retinha nos
pulmões.
— Alegra-me te
ouvir dizer isso.
— Disse Alec,
com um sorriso.
— Acharemos ao
culpado da morte
de seu irmão. —
Prometeu Ewan.
— Minha
prioridade neste
momento é
encontrar a
jóia… É o que
me tira o sono.
— Malcom
olhou para Alec
com intenção, lhe
falando com os
olhos de algo que
não se atrevia a
pronunciar em
voz alta por
medo de piorar a
situação.
E Alec
entendeu… A
luz se acendeu
em sua cabeça
porque, de todos
os presents, era o
único que podia
saber a que se
referia. Porque,
embora
desconhecia que
aquele era o
apelido pelo que
era conhecida
entre sua gente,
ele estava
presente quando
a jóia nasceu.
Entendeu o
desespero de
Malcom e
agradeceu por ter
sido precavido e
haver-se
adiantado aos
acontecimentos.
Tinha suposto
que aos
MacGregor
agradaria saber
que Willow
estava ali, sã e
salva, e se tinha
arriscado a
desobedecer a
ordem de Ewan
pedindo ao
Donald que a
conduzisse até
ali. Mas nunca
imaginou que a
estivessem
procurando com
tanto afinco… A
moça jamais
mencionou que
sua família
desconhecesse
seu paradeiro e
ele supôs que seu
disfarce e seu
esconderijo
tinham sido idéia
dos próprios
MacGregor para
mantê-la a salvo.
Aquilo sem
dúvida era um
golpe de sorte;
serviria para
demonstrar ao
Malcom sua boa
vontade: tinham
cuidado de sua
irmã todo aquele
tempo.
— Parece-me
que sua busca
terminou. —
Disse, com gesto
conciliador. —
Tem que me
perdoar, ignorava
a importância
dessa jóia e não
atei os cabos…
Ewan não é
culpado de te
mentir, porque
ele tampouco
sabe a que te
refere, mas sim,
ele a tem. Teve-a
todo este tempo.
Ewan lhe olhou
de ponta em
ponta.
— Do que está
falando, tio?
Jamais vi essa jóia
dos MacGregor.
Alec se
aproximou dele,
pô-lhe uma mão
no ombro e o
olhou nos olhos.
— Sim a viu.
A profundidade
daquela
afirmação
penetrou na
mente de Ewan,
ao que lhe
desencaixou o
rosto ao
compreender.
Não podia ser,
não podiam estar
falando de…
— Malcom!!
O grito
esmigalhado
chegou da
margem, onde
um dos botes do
Innis Chonnel
acabava de
atracar. Todos
olharam e viram
como aquela
criatura de cabelo
curto, vestida
com roupas
masculinas muito
grandes, saía
correndo em
direção aos
MacGregor
seguida pelo
Donald, que
tentava retê-la
sem êxito. Passou
como um vento
entre as caras
perplexas dos
Campbell, sem
fixar-se em nada
que não fosse seu
objetivo.
Malcom estava
petrificado, sem
poder tirar seus
olhos da criatura
que avançava
como uma flecha
para sua posição.
Quando a teve
em cima e se
lançou a seus
braços, ele os
abriu por
instinto, e porque
o coração lhe
dizia que
finalmente tinha
encontrado o que
procurava.
— Malcom!
Pensei que jamais
voltaria a ver-te!
Ao escutar aquela
voz, os joelhos
do guerreiro
tremeram e suas
mãos apertaram
com força o
corpo suave que
se escondia nos
farrapos.
— Willow…
Ela se separou
para poder olhar
aquele rosto
amado e seus
olhos se
encheram de
lágrimas.
Acariciou-lhe o
rosto com
reverência e seu
irmão soube que
estava pensando
também em
Niall, e em que,
apesar de que
seus rostos eram
idênticos, jamais
voltaria a vê-lo.
Malcom também
a contemplou,
feliz e ao mesmo
tempo
sobressaltado por
seu aspecto.
— O que te
aconteceu? —
Perguntou, lhe
passando os
dedos pelas
curtas mechas de
cabelo. —
Está… Está tão
mudada... O que
lhe têm feito?
Ela negou com a
cabeça, com a
cara manchada
de lágrimas e a
garganta
estrangulada de
emoção, incapaz
de pronunciar
uma palavra.
Voltou a
estreitar-se com
força contra seu
corpo,
procurando o
calor e o aroma
familiar de seu
irmão, com o
coração cheio de
felicidade e
melancolia.
Em frente a eles,
Ewan assistia ao
reencontro sem
sair de seu
estupor. Seu
duende, essa
criatura
maravilhosa que
tinha descoberto
na noite anterior
sob o disfarce de
moço, abraçava-
se com uma
confiança e um
amor
incondicional ao
Malcom
MacGregor. E
lhe ardiam as
vísceras de
ciúmes e de
vontade de
arrancar dos
braços de seu
oponente à
mulher que
considerava
dele… E de
ninguém mais.
Deu um passo
para eles, com o
rosto crispado e
os punhos
apertados em
ambos os lados
do corpo. Alec
lhe pôs uma mão
no peito e Ewan
grunhiu baixo.
— É minha…
— Não. Agora
não.
— Não o
entende? —
Ewan virou o
rosto para seu tio
e lhe falou em
voz tão baixa que
Alec apenas o
escutou —. Se
entregou para
mim, agora me
pertence. Não
consentirei que
nenhum outro
homem me
arrebate isso, e
me dá no mesmo
se estivessem
prometidos ou
que se quisessem
com loucura
antes de que ela
chegasse até
mim. Estou
seguro de que os
sentimentos de
Willow
mudaram, ela não
pode amá-lo…
Alec ficou tão
surpreso por suas
palavras que não
lhe saiu a voz
para lhe
responder. A
moça se entregou
a ele? Quando?
Pelos chifres de
Satã, aquilo
complicava as
coisas! E o
cúmulo era que
acreditasse estar
presenciando um
reencontro entre
dois amantes…
Devia esclarecer-
lhe antes de que
fizesse o maior
ridículo de sua
vida. Quando
Ewan deu outro
passo em direção
aos MacGregor,
reteve-o
sujeitando-o pelo
braço.
— Willow sim o
ama, muito mais
do que pensa.
— Impossível.
— Escuta,
Ewan…
— Não.
Escapou do
braço de seu tio e
avançou um
pouco mais.
— É seu irmão.
— disse por fim
Alec, lhe pondo
de novo a mão
no ombro.
A implicação
dessas palavras
impregnou na
consciência de
Ewan muito
devagar, como
um ramo
afundando-se em
um lodaçal.
Irmã de Malcom
MacGregor.
Portanto, filha de
Ian MacGregor,
um grande
senhor das
Highlands, o laird
de seu clã.
Não era a filha de
uns serventes,
não estava
sozinha.
Tinha todo um
clã que a
respaldaria se o
necessitasse,
tinha um pai e
um irmão
poderosos.
E ele a tinha
tratado de
maneira
desprezível desde
que a conheceu.
Tinha-lhe feito a
vida impossível, a
tinha levado a
cabana de uma
prostituta! E,
para o cúmulo,
não contente
com tudo isso,
tinha-a
desonrado e
desvirginado em
uma imunda e
fedorenta
masmorra…
CAPITULO 34

Estava com os
seus, estava com
o Malcom. Quis
que aqueles
instantes
durassem para
sempre. Sentir os
fortes braços de
seu irmão
apertando-a com
tanto amor lhe
devolvia a paz
interior que já
acreditava ter
perdido sem
remédio.
— Pensei que
não voltaria a
ver-te —
Confessou,
contra seu
ombro.
— E eu,
pequena. —
Respondeu o
guerreiro,
estreitando-a
contra seu peito.
Ambos eram
conscientes de
que, a partir
daquele
momento só
seriam os dois e
sempre lhes
faltaria algo. Mas
talvez, por isso
mesmo, aquele
reencontro lhes
tinha unido mais.
Willow se
separou devagar
e se limpou a
cara com as
mangas de sua
camisa. Olhou ao
resto dos
homens
MacGregor e seu
coração voltou a
acelerar-se ao
reconhecer
tantos rostos. Era
reconfortante
saber que aqueles
soldados não
cuspiriam
quando ela
passasse e não
lhe voltariam a
cara. Justamente
o contrário.
— Angus! —
Exclamou, ao ver
o muito gigante
guardando as
costas de seu
irmão, como
sempre.
Aproximou-se
dele e este fincou
o joelho em
terra, agarrou-lhe
a mão e a beijou
com carinho.
Willow sorriu,
feliz. — Levanta,
Angus, e me dê
um abraço como
é devido. Por São
Mungo! São
lágrimas isso que
brilha no fundo
de seus olhos?
— Pensávamos
que também lhe
tínhamos
perdido. —
Disse, com a voz
enrouquecida.
Levantou-se e a
abraçou, e o
resto dos
homens fizeram
um círculo de
pessoas em torno
deles para saudar
sua senhora,
emocionados.
Willow apertava
mãos e repartia
sorrisos que se
mesclavam com
lágrimas de
felicidade…
Estava em casa!
Por fim estava
com os seus.
— Willow,
vêm… —
Malcom
reclamou sua
atenção
agarrando-a pelo
braço. — Preciso
saber, por que
está vestida
assim? O que
aconteceu ao seu
cabelo? Por que
está aqui, com os
Campbell?
A jovem notou
como o tom de
seu irmão se
crispava à medida
que perguntava.
Olhou de
esguelha para
Ewan e ao resto
de seus
guerreiros, que
contemplavam a
cena
espectadores, um
pouco afastados.
Sabia que
Malcom não se
agradaria ao
inteirar-se de
suas desventuras
entre os
Campbell, por
isso tentou
justificar sua
presença ali
explicando o
estopin daquela
estranha situação.
— Foi Enjoe…
— Começou. —
Ela cumpria
ordens do Niall
naquela horrível
noite, e me disse
que tinha que
fugir, que tinha
que me disfarçar
e me pôr a salvo.
Os Campbell não
me raptaram, não
foram eles os que
atacaram
Meggernie. Fui
eu, escondi-me
aqui todo este
tempo e eles…
— Eu te direi o
que fazia na
fortaleza dos
Campbell — a
interrompeu
James MacNab,
com uma careta
maligna,
adiantando-se. —
Era o criado
pessoal do laird.
Servia-lhe a
comida, limpava-
lhe as botas e lhe
selava o cavalo.
O coração de
Willow saltou um
batimento do
coração ao
escutá-lo e seu
rosto se acendeu.
Até que não o
escutou da boca
daquele
miserável, não
sentiu em sua
pele a vergonha
de que seu irmão
e toda sua gente
conhecesse
aquela história. A
cara de Malcom
também estava
vermelha, mas de
ira contida.
— O que acaba
de dizer? —
vaiou.
— Malcom, não.
Não é o que
pensa…
Ninguém sabia
quem era eu,
cheguei ao Innis
Chonnel com
uma família que
me acolheu, e
que casualmente
foram trabalhar
como serventes
na fortaleza.
Pensei… pensei
que o melhor era
manter o
disfarce, juro-lhe
isso. Eles não
sabiam nada,
Ewan
desconhecia
minha verdadeira
identidade.
O aludido se
aproximou deles,
com o olhar de
aço e expressão
circunspeta.
Apoiava sua mão
no pomo de sua
espada, com ar
precavido.
— Diz a verdade.
Não sabia quem
era até este
momento. —
Procurou os
olhos da garota
antes de
acrescentar. —
Se o tivesse
sabido, jamais lhe
teria dado o trato
que lhe
dispensamos
todos os
habitantes do
Innis Chonnel.
Nem sequer me
inteirei de que
era uma mulher
até ontem.
Sempre pensei
que era um moço
fraco e
adoentado… Sua
irmã sabe
guardar muito
bem os segredos.
Isto último o
disse doído, e
Willow se deu
conta de quão
zangado estava
Ewan por seu
engano. Não
tinha tido tempo
de explicar-lhe.
— Isso não me
consola,
Campbell. —
Falou de novo
Malcom.
Agarrou a sua
irmã pelo braço e
a afastou de
Ewan,
empurrando-a
para trás, para
onde se
encontrava o
grosso das tropas
MacGregor. O
gesto falava por
si só. — Minha
irmã é uma dama
e me ofende
encontrá-la
nestas
circunstâncias.
— Entendo-te.
— Murmurou o
laird. — Eu
também estou
envergonhado. Se
Will…
— Willow. —
Corrigiu seu
irmão com
ferocidade.
— Willow. —
Aceitou Ewan,
com um gesto de
desculpa. — Se
Willow me
tivesse revelado
sua identidade,
juro-te por minha
honra que a teria
protegido. Rogo-
te que aceite
minhas mais
sinceras
desculpas.
— Sim, Malcom.
— Interveio
então Alec,
aproximando-se.
— Por favor,
aceita também
nossa
hospitalidade.
Devem estar
esgotados depois
de sua busca,
sede bem-vindos
ao Innis
Chonnel. Será
um prazer que
façam uma
parada em seu
caminho e
compartilhem a
mesa conosco.
Há muitas coisas
das que falar,
muito que
esclarecer.
— Eu não
aceitarei a
hospitalidade dos
Campbell. —
Saltou James
MacNab, que
acompanhava a
conversação sem
perder nenhum
detalhe. — Ewan
matou aos meus
homens, e
embora ele jura
que foi em defesa
própria, não
posso confiar em
sua palavra.
— Entretanto,
diz a verdade. —
O defendeu
Willow. — Eu
estava com ele no
momento em que
os MacNab
atacaram em
traição.
Malcom apoiou
as mãos nos
ombros de
Willow e a olhou
aos olhos.
— O que está
dizendo? Este
homem afirma
que ia
acompanhado
por seu servente,
e que o motivo
daquela
emboscada foi
que Reed estava
encantado com o
moço...
Willow sustentou
o olhar a seu
irmão sem
pestanejar.
— O moço era
eu. E se Ewan
não me tivesse
protegido,
possivelmente
agora estaria
morta... Ou algo
muito pior. —
Sussurrou.
Malcom se
voltou para o
MacNab,
encolerizado.
James levantou as
mãos, com o
cenho franzido
ante o giro dos
acontecimentos.
— Como
sabemos que ela
diz a verdade?
Conviveu com os
Campbell, é
evidente que
sente por eles
uma admiração
que...
— James! —
Rugiu Malcom.
— Jamais, nunca,
atreva-te a
insinuar que
minha irmã é
uma mentirosa.
E agradeça de
que Ewan a
defendesse
naquele
momento,
porque se tivesse
acontecido algo a
Willow, se algum
de seus homens
lhe tivesse feito
algum dano, todo
seu clã o teria
pago, não tenha
dúvida.
O rosto do
MacNab se
acendeu pela
indignação. Tinha
chegado até ali
como aliado dos
MacGregor,
disposto a
enfrentar aos
Campbell para
resolver os
crimes que
pesavam sobre
aquele clã: o
ataque ao
Meggernie, o
massacre de seus
homens no
bosque.
Entretanto, em
questão de
minutos, as
lealdades dos ali
presentes tinham
mudado por
culpa daquela
moça.
— Não estou
disposto a
permanecer mais
tempo aqui,
escutando
infâmias a
respeito de meu
tenente
assassinado. Já
vejo que minha
palavra não vale
nada contra a do
Campbell...
— Não é sua
palavra a que
estou escutando,
a não ser a de
minha irmã. —
Cortou Malcom.
James apertou os
lábios em uma
fina linha de
irritação.
— Não me
meterei em uma
disputa contra
seus clãs, porque
o rei necessita a
todos. Mas que
fique muito claro
que, por isso ao
que diz respeito a
mim, nossa
aliança acaba aqui
e agora.
Sem dizer mais
nada, o homem
girou e ordenou a
seus soldados
que estava
pronto para
abandonar o
lugar.
— Lamento tudo
isto. — Disse
Ewan, quando os
MacNab
montavam sobre
seus cavalos para
partir.
Entretanto, não
se arrependia do
ocorrido e não
tentou detê-los.
Era um alívio
que partissem.
— Senhores. —
Interveio Alec
para suavizar a
tensão do
ambiente. —
Vamos à
fortaleza. Ali os
MacGregor
poderão assear-se
e descansar de
tanto sobressalto.
— Sim, e
poderemos
pensar também
na maneira de
achar ao culpado
da morte de seu
irmão. — Propôs
Ewan ao
Malcom.
— De nosso
irmão, quererá
dizer. — Espetou
Willow, para
surpresa dos dois
guerreiros. — Se
esquece de que
Niall também era
meu irmão, não
me exclua disto.
Ewan
contemplou
aqueles olhos
azuis alagados de
tristeza e
entendeu muitas
coisas. O ódio
que lhe
professou desde
o começo agora
fazia sentido. Se
ela pensava que
ele era o
assassino de seu
irmão, era lógico
que desejasse
matá-lo com suas
próprias mãos.
Era incapaz de
imaginar tudo o
que tinha que ter
sofrido durante o
tempo que tinha
passado fingindo
ser Will.
Apesar de que
estava muito
zangado com ela,
teve vontade de
abraçá-la e de
consolar toda
essa dor que se
refletia em seu
doce rosto.
— Aceitarei sua
hospitalidade. —
Anunciou
Malcom. —
Depois de
escutar a minha
irmã, não posso
te culpar de tudo
o que lhe
ocorreu, nem do
trato que lhe
dispensou por
causa de seu
disfarce.
Conheço-a muito
bem, e se ela se
propôs passar
desapercebida,
não duvido de
que o obteve.
Quando mete
algo na cabeça, é
complicado lhe
fazer mudar de
opinião.
Ewan não lhe
confessou que,
precisamente,
para ele não tinha
passado
absolutamente
desapercebida.
Não acreditava
que Malcom
gostaria de se
inteirar do
obsessivo
interesse que
tinha sentido por
Will.
— Então. —
Voltou a falar
Alec. — Se a
meu sobrinho
parece bem,
adiantarei-me
para informar
que esta noite
celebraremos um
jantar especial…
Os MacGregor
recuperaram sua
jóia; como amigo
do laird Ian
MacGregor, não
posso me sentir
mais feliz.
— É obvio, tio.
Informa a Jane
para que prepare
tudo para esta
noite.
— Willow, vêm
comigo. — Pediu
Alec a jovem, lhe
oferecendo a
mão. — Sei que
não quer te
separar dos teus,
agora que por
fim os
encontraste, mas,
pela memória de
sua mãe, a que
adorava, vejo-me
na obrigação de
voltar a te
converter no que
é… Uma dama.
Não tema,
Malcom, quando
voltar a vê-la,
será de novo a
Willow que você
conhece.
A moça olhou
para seu irmão,
indecisa. Não
queria deixá-lo,
um medo
primitivo se
instalou em seu
coração ao dar-se
conta de que não
queria voltar a
ficar sozinha.
— Vá com o
Alec, eu me
reunirei contigo
em seguida. —
Prometeu
Malcom, lhe
acariciando a
bochecha. —
Não irei daqui
sem ti.
Para Ewan,
aquela afirmação
foi como uma
flechada
inesperada no
peito. E quando
viu que a jovem
assentia, feliz,
com lágrimas nos
olhos, seu
coração se partiu
em mil pedaços.
Ele nem sequer
era uma opção
para ela… Seu
irmão tinha
retornado e
agora para
Willow não
parecia existir
nada mais.
A jovem agarrou
a mão de Alec e
se deixou levar.
Quando passou
ao lado de Ewan,
deteve-se e lhe
tocou o braço
com suavidade.
— Me perdoe
por não te haver
dito quem era. —
Murmurou, com
voz fraca.
Ele sentiu como
aquela carícia
atravessava o
tecido de sua
camisa e lhe ardia
na pele. Sua voz,
rouca e tenra, fez
que desejasse
carregar-lhe no
ombro e levar-lhe
longe dali. Como
não tinha
escutado aquele
timbre tão
feminino antes?
Como era
possível que se
tivesse mantido
enganado tanto
tempo?
Não lhe
respondeu.
Tampouco a
olhou. Deixou
que Alec a
separasse de seu
lado, sabendo
que devia pôr
ordem no caos
de sentimentos
que bulia em seu
interior. Muito
para assimilar em
tão pouco tempo,
muitas
revelações,
muitos pontos
abertos. Ewan
estava esgotado e
ainda ficava todo
o dia pela frente.
Olhou aos
MacGregor e
tentou
concentrar-se na
tarefa que tinha
adiante, descobrir
quem estava por
trás de todas
aquelas intrigas
que tinham
prejudicado aos
seus respectivos
clãs.
Quando Jane viu
chegar ao Alec
MacGregor, seu
rosto se
iluminou. Anos
atrás, aquele
homem tinha
sido um dos
pilares do Innis
Chonnel e a ama
de chaves tinha
sentido sua falta
no dia a dia da
fortaleza.
Apreciava-o de
verdade.
— Jane!
— Meu senhor,
que alegria.
Retornastes para
ficar ?
— Esta vez sim,
minha querida
Jane. Meu
sobrinho me
necessita e nada
conseguirá que
abandone de
novo a minha
gente.
A mulher lhe
mostrou um
sorriso agradavel.
— Estou segura
de que a todos os
Campbell
agradará saber
que retornastes.
— Sim. Há
muito que
celebrar, Jane. E,
precisamente,
estava te
procurando para
te dar instruções:
vamos organizar
um grande jantar.
Temos
convidados, os
MacGregor,
assim que esta
noite tudo tem
que sair perfeito.
— É obvio. —
Jane se fixou no
moço que tinha
chegado
acompanhando
de Alec. — Will,
vais ter que nos
dar uma mão,
temos pouco
tempo para
preparar tudo o
que…
— Não. — A
interrompeu
Alec. — Will tem
outra tarefa pela
frente. E
ninguém melhor
que você para
ajudá-la.
— Ajudá-la? —
Perguntou a ama
de chaves,
confusa. — A
quem?
— A Willow
MacGregor, filha
do laird do clã
MacGregor. —
Ao dizê-lo, Alec
empurrou com
suavidade a
jovem que tinha
corado ante o
olhar estupefato
de Jane. — Seu
irmão é um de
nossos
convidados e
quero que
Willow esta noite
brilhe como a
dama que sempre
foi, apesar de que
se escondeu atrás
destas modestas
roupas de
servente todo
este tempo. Te
conhecendo,
suponho que
ainda tem os
vestidos de Cait
guardados, por
isso te rogaria
que resgatasse
algum de seu baú
para vestí-la.
A ama de chaves
era incapaz de
falar. Ficou muda
de assombro,
olhando o rosto
do que, até o
momento,
acreditava um
moço… Um
servente.
— Jane? —
Inquiriu Alec,
chamando sua
atenção.
A mulher piscou
e seus olhos se
afastaram por
fim do rosto de
Will para voltá-
los para o
guerreiro.
— Sim, guardei
os vestidos de
Cait. Seguro que
poderei lhe
arrumar algum a
tempo para o
jantar.
Willow se
aproximou dela
ao notar seu
desconcerto e
tomou a
liberdade de
agarrar suas
mãos com todo o
carinho que
sentia pela ama
de chaves do
Innis Chonnel.
— Jane, perdoa
por te mentir…
Por mentir a
todos. Tinha que
me esconder até
que os meus
viessem para me
buscar, e assim
foi. Agradecerei-
te que me ajude a
voltar a ser eu
mesma, porque o
certo é que levo
tanto tempo
debaixo desta
enorme camisa,
que já não sei
nem quem sou.
— Acompanhou
suas palavras
com um
carinhoso sorriso
que ganhou o
coração de Jane
imediatamente.
— Minha
senhora… Não
há nada que
perdoar. Terá
passado um
suplício depois
de que seu lar foi
atacado, se vendo
obrigada a servir
ao laird de outro
clã para
sobreviver. Não
são todas as
damas que se
rebaixariam a tais
afazeres para sair
adiante… Lhe
admiro.
— Obrigada,
Jane.
— Me
acompanhe,
vamos ao quarto
da que foi a
senhora desta
fortaleza. A
primeira coisa a
fazer é tirar toda
essa imundície
que lhe serviu de
disfarce e que já
não necessitará.
E quando lhe
tiver dado um
bom banho,
ambas
escolheremos o
vestido que
melhor lhe
assente…
Alec sorriu,
satisfeito pela
boa acolhida de
Jane às novas
circunstâncias de
Willow.
— Eu irei à
cozinha para
informar a Edith
da celebração
desta noite. — Se
ofereceu, para
que a ama de
chaves pudesse
dedicar-se a
jovem. — Estará
encantada de
ficar no comando
por um dia.
Jane olhou ao
céu e pôs os
olhos em branco.
Ela também
estava
convencida de
que a cozinheira
se alegraria em
saber que,
ocupada a ama
de chaves em
outros assuntos,
tinha a
oportunidade de
ficar à frente dos
serventes para
repartir todas as
tarefas. Só
esperava que a
liderança não lhe
subisse muito à
cabeça.
— Tranqüila,
Jane. —
Sussurrou
Willow, lhe lendo
a mente. Ela
também conhecia
o caráter da
enorme mulher
que se ocupava
dos fogões. —
Tem a Maud para
equilibrar um
pouco a balança.
Entre as duas
conseguirão
preparar um
jantar
memorável.
Era certo. Alec
partiu rumo à
cozinha e elas se
encaminharam à
antiga habitação
de Cait
Campbell.
O coração de
Willow se
acelerou ante a
idéia de voltar a
recuperar sua
vida, algo que
estava
desejando… E
temendo ao
mesmo tempo.
Porque quando
voltasse a ser
uma MacGregor,
tanto em espírito
como em corpo,
como reagiria
Ewan? Tinha
aprendido a
tratar com o
Campbell, com
sua
intransigência,
com sua dureza,
sendo Will. Mas
como lhe faria
frente sendo
Willow? Ele não
poderia tratá-la
igual, e muito
menos na frente
de seu irmão.
Isso, sem contar
com o
aborrecimento
que tinha visto
em seus olhos
quando se
inteirou de quem
era ela. Não lhe
tinha dirigido
nenhuma olhar
se quer ante sua
súplica de
perdão, não havia
dito nada.
E aquele silêncio
e aqueles olhos
que a evitaram
lhe tinham doído
no mais
profundo da
alma.
Quando
entraram na
quarto de Cait,
Jane foi direito a
lareira para
acender o fogo.
A habitação era
muito acolhedora
e estava limpa,
algo que era
mérito da ama de
chaves já que,
apesar do tempo
transcorrido, não
tinha podido
esquecer a sua
senhora e
mantinha seus
aposentos como
quando estava
viva. Assim que
prendeu a
chaminé,
arrastou a tina de
madeira para pô-
la perto do calor,
demonstrando
uma força que
surpreendeu
Willow. Depois,
deu ordem de
que subissem
água para o
banho.
Enquanto
esperavam, Jane
abriu o baú onde
guardava os
vestidos da mãe
de Ewan e os
tirou para esticá-
los sobre a cama.
Willow
comprovou que
Cait devia ser
uma mulher
elegante mas
simples, porque
não eram muito
carregados.
Pensou que, se
continuasse viva,
certamente teria
se dado bem com
a senhora dos
Campbell. Passou
as mãos pelos
diferentes
tecidos,
recreando-se em
sua suavidade.
Comparada com
a larga camisa
que vestia e que,
às vezes, lhe
avermelhava a
pele porque
picava, era toda
uma delícia.
— Qual prefere?
— Perguntou
Jane. Em seguida,
deu-se conta do
tratamento que
lhe tinha dado e
se desculpou. —
Me perdoe,
minha senhora.
Estou
acostumada a
falar com o Will
e não me dei
conta…
— Jane,
tranqüila.
Prefiro-o assim.
Também me
resulta estranho
que me trate de
senhora, porque
me afasta de
todos os que me
acolheram como
a uma mais e me
têm feito sentir
parte de seu lar.
Me chame de
Willow.
A ama de chaves
negou
rotundamente
com a cabeça.
— Não seria
apropriado,
não… Nem
pensar. É a filha
de um laird e não
me sentiria
cômoda.
A jovem
suspirou, com
um sorriso
resignado.
— Como quiser.
Enquanto
continuava
examinando os
vestidos, a porta
se abriu e Liese
entrou carregada
com um par de
baldes de água. A
moça ficou
paralisada na
porta, olhando
Willow com cara
de surpresa.
— Entre, Liese.
Enche a tina. —
Ordenou Jane.
— Sim, senhora.
Willow
contemplou o
rosto da que,
durante todo
aquele tempo,
tinha sido como
sua irmã. Liese
tinha as
bochechas
coradas e seus
olhos a evitavam.
Sentia-se mal
pelo sobressalto
que devia estar
sentindo… A
garota sempre
mostrou um
interesse por Will
que não tinha
nada a ver com o
fato de serem
irmãos, e
averiguar que não
era um homem
tinha sido um
duro golpe.
— Quererá
ajudar à senhora
em seu banho
enquanto eu lhe
ajusto um destes
vestidos?
— O que? —
Perguntou Liese,
escandalizada.
O olhar que
dedicou a Willow
era uma mescla
de horror e de
surpresa.
— Deve me
perdoar, Liese. E
John, e Maud,
porque não só
lhes menti ao não
lhes dizer que era
uma mulher.
Sou… sou a filha
do laird Ian
MacGregor.
— Assim, depois
de tudo, sim
tinha uma
família. — Jogou
na cara, com um
sussurro. —
Meus pais e eu
lhe acolhemos, e
todo este tempo
estiveste rindo de
nós.
— Liese! —
Repreendeu-a
Jane. — Não
devia falar assim
a uma dama.
— Não, deixa-a.
Tem motivos
para estar
zangada. Eu,
entretanto, só
sinto
agradecimento
para com ela e
seus pais —
Willow se
aproximou da
jovem loira e
procurou seus
olhos, tratando
de congraçar-se
com a que ainda
considerava sua
irmã. — Se não
tivesse sido por
vocês, talvez eu
não tivesse
sobrevivido.
Devo-lhes minha
vida e jamais
poderei esquecê-
lo. Não quero
que você, ou seus
pais, vejam-me
como alguém a
quem servir. São
minha família…
O carinho que
sinto por vocês
não pode
desaparecer
apenas por me
trocar de roupa.
— Will…
A voz de Liese
quebrou e ela
abaixou a cabeça,
envergonhada.
Não sabia como
enfrentar a ela,
como devia tratá-
la, como devia
olhar para
Willow em sua
nova e
distinguida
condição
feminina.
— Me faz um
favor? — Pediu-
lhe, agarrando
sua mão para
levá-la para a
cama. — Me
ajude a escolher
um vestido,
Liese. Faz muito
que levo roupa
de homem e não
me vejo capaz de
tomar eu sozinha
esta decisão.
Sorriu-lhe com
doçura
esperando que a
jovem
compreendesse
que a confiança
que se forjou
entre as duas
quando era Will
se mantinha
intacta. E
pareceu
funcionar. O
rosto de Liese
relaxou e lhe
devolveu o
sorriso, ao
mesmo tempo
que apertava sua
mão com
carinho. Seus
olhos posaram
sobre os vestidos
estirados na cama
e se iluminaram
de emoção ante a
tarefa que tinham
pela frente.
— Vamos te pôr
muito bonita,
Willow
MacGregor.
Minha irmã vai
se apresentar
diante de sua
gente e do laird
Campbell como
uma verdadeira
dama. Quero ver
como todos esses
que lhe gritaram,
que lhe têm feito
de menos por ser
um moço
magricelo, ficam
com a boca
aberta quando
lhe virem.
A gargalhada de
Jane surpreendeu
a ambas.
— Não tinha
pensado nisso.
— Confessou,
divertida,
esquecendo de
novo o
tratamento que
devia à senhora.
Era difícil
acostumar-se. —
Vai ser muito
interessante ver a
reação de todos
esses brutos que
lhe atiravam de
bunda nos
treinamentos
quando aparecer
no grande salão e
se sente ao lado
de seu irmão.
Venha, te
coloque na tina,
que vamos
esfregar-te até
que lhe deixemos
a pele
reluzente…

CAPITULO 35

Durante as horas
que Willow
esteve
desaparecida,
Ewan teve tempo
de conhecer um
pouco melhor ao
seu irmão. Em
seguida
compreendeu
que Malcom
MacGregor era
um homem com
o que poderia
iniciar amizade,
se chegasse o
caso. Era teimoso
como uma mula,
sincero e direto,
igual a ele.
Tinham outras
coisas em
comum, como,
por exemplo, sua
preocupação por
esclarecer o
ocorrido no
Meggernie e
quem era o
culpado do
ataque.
Entretanto,
ambos
concordaram em
que era melhor
que Willow
estivesse presente
quando
analisassem
todos os dados
que tinham
solicitado, já que
sem dúvida ela
poderia verter
um pouco de luz
em alguns pontos
da história.
Assim as coisas,
passaram todo o
dia com suas
respectivas
tropas. Ewan
perguntando a
Malcom tudo
relacionado com
a luta que
mantinha Bruce
no fronte, e
Malcom
examinando com
olho crítico os
avanços de Ewan
com os soldados
que preparava
para quando se
unisse com o rei
no Stirling. Não
conseguiu
encontrar neles
nenhuma falha.
Eram guerreiros
bem treinados e
muito
disciplinados;
seriam bem
recebidos pelo
resto do exército
escocês para a
batalha que poria
fim ao cerco do
castelo.
Em todo esse
tempo, Willow
não se reuniu
com eles. Alec
lhes advertiu que,
provavelmente, já
não a veriam até
a festa que
preparavam, pois
Jane estava
decidida a
transformar por
completo ao
moço que todos
conheciam como
Will, na dama
que na verdade
era. Malcom
assentiu satisfeito
ante aquela
informação,
porque desejava
voltar a
encontrar-se com
sua irmã, a que
ele conhecia e a
que tinha sentido
falta a cada dia.
Ewan, entretanto,
mostrou-se
inquieto e
impaciente.
Desejava voltar a
ver a jovem, não
tinha podido
falar com ela
desde aquela
manhã e
precisava
esclarecer muitas
coisas. Agora,
com seu irmão
sob o mesmo
teto, vigiando-a
como um cão
guardião,
pressentia que
encontrar um
momento a sós ia
resultar quase
impossível...
Quando chegou
a hora do jantar,
Ewan ocupou
seu lugar na mesa
do grande salão,
rodeado de seu
novo conselho.
Os convidados se
sentaram na ala
direita da mesa,
de modo que
podiam ver-se
bem os rostos
para conversar a
vontade. Era a
primeira vez que
o laird se sentia a
vontade
ocupando sua
poltrona, com
seu tio Alec,
Melyon e Colin
perto dele,
apoiando-o como
jamais o tinham
apoiado os dois
velhos que tinha
herdado de seu
pai. Uma única
preocupação
turvava seu
ânimo: Willow. O
que ia acontecer
agora com ela?
Não estava
preparado para
deixá-la nas mãos
de seu irmão, não
estava preparado
para vê-la partir
com sua gente.
Como ia suportar
não tê-la cada
dia, não beijá-la,
não perder-se de
novo em seu
calor?
Não tinha
terminado de
formular essa
pergunta em sua
mente, quando a
jovem apareceu
no salão. Ao vê-
la, seu coração
começou a pulsar
muito depressa.
Apenas a
reconhecia sob
seu novo aspecto
e, entretanto, seu
corpo reagiu a
sua proximidade
como por
encanto. Levava
um vestido em
tom azul claro
que destacava
ainda mais seus
enormes olhos. A
parte superior se
atava ao redor de
seu magro busto
e a saia caía,
ampla e elegante,
até o chão. As
mangas
ocultavam uns
braços que ele
sabia suaves e
delicados,
abrindo-se à
altura do
cotovelo em
forma de sino até
suas mãos.
Penteou-se com
cuidado,
colocando suas
curtas mechas de
maneira
ordenada e
atrativa,
adornando sua
cabeça com um
diadema de
pequenas flores
brancas que
ficava melhor
que uma coroa a
uma rainha.
Willow caminhou
pelo salão com
um andar régio e
decidido. Todos
os olhares se
voltaram para ela
e as conversações
ficaram
suspensas no ar.
Ewan
comprovou
como muitos de
seus homens a
contemplavam de
boca aberta; os
mais sensatos,
inclusive, tiveram
a decência de
parecer
envergonhados
ante a visão
daquela dama. A
grande maioria se
burlou dela sem
compaixão
quando era
Will… Tinham
cuspido em seus
pés! Agora, Ewan
estava
convencido de
que todos
pensavam na
melhor maneira
de abordá-la para
lhe pedir
desculpas por seu
comportamento.
Se algo bom
tinham aqueles
guerreiros, além
de sua valentia e
arrojo, era que
sabiam
reconhecer seus
enganos.
O primeiro em
fazê-lo, para sua
surpresa, foi
Bors, o
barqueiro.
Levantou-se de
sua cadeira e a
interceptou no
meio do
caminho,
colocando-se em
frente a ela.
— Minha
senhora. —
Disse, inclinando
a cabeça a modo
de saudação
cortês. — O laird
nos há dito quem
é você na
realidade.
Lamento…
Lamento lhe
haver tratado
como a um
verme covarde.
Willow arqueou
ambas as
sobrancelhas,
surpreendida pela
escolha daquelas
palavras. Apesar
de tudo, lhe
agradou que
aquele pedaço de
bruto
conservasse sua
essência, por
muito que seu
vestido o tivesse
impressionado.
Não teria se
sentido cômoda
com uma atitude
exagerada de
galanteria mau
dissimulada. Os
Campbell não
eram assim, e ela
tinha aprendido a
apreciá-los com
suas ariscas e
cruas maneiras.
— Aceito suas
desculpas, Bors.
Teria gostado de
as ouvir quando
ainda era Will, já
que opino que
ninguém mereça
que cuspam a
seus pés só por
não saber sujeitar
uma espada, mas
agradeço seu
arrependimento.
E agora, se me
permitir, meu
irmão está me
esperando.
Era certo.
Malcom tinha se
posto em pé e os
olhava fixamente
e com o cenho
franzido. A
última coisa que
Willow desejava
era que seu irmão
averiguasse de
repente tudo o
que tinha tido
que suportar
enquanto vivia
entre os
Campbell…
— Minha
senhora. —
Voltou a falar
Bors,
impressionado
por sua resposta.
— Me considere
seu leal servidor.
Não desejo que
tenha esse
conceito de mim.
Admiro sua
valentia, e a do
antigo Will, já
que falamos do
assunto. Agora
que revelastes sua
identidade, com
mais motivo.
Qualquer outro
moço não teria
agüentado nem
um dia nossos
insultos durante
os treinamentos,
rendendo-se de
primeira. Mas
você não o fez…
— Teremos esta
conversa em
outro momento,
Bors. — Cortou
ela, vendo que
seu irmão tinha
perdido a
paciência e se
aproximava deles
com passo firme.
— Willow, te
acompanharei ao
seu lugar. —
Malcom lhe pôs
uma mão nas
costas de maneira
possessiva para
guiá-la para a
mesa principal.
No caminho, o
olhar que o
guerreiro dedicou
aos soldados
Campbell foi
esmagador.
Deixava claro
que partiria em
dois com suas
próprias mãos a
aquele que
ousasse
incomodar ou
importunar a sua
irmã.
Ewan não perdeu
nenhum detalhe
daquela cena,
sentindo um
ciúme corrosivo
nas vísceras ao
ver como
MacGregor
cuidava de
Willow e estendia
seu amparo ao
redor de sua
pessoa. Como se
ela fosse um
autêntico
tesouro… A jóia
do Meggernie.
Olhou a seus
próprios homens,
incômodos com
a nova situação,
arrependidos,
igual a ele
mesmo, por
haver se
equivocado tanto
com Will. E
depois olhou aos
soldados
MacGregor, só
para ver como
essa criatura que
o tinha fascinado
se desfazia em
sorrisos com eles
e se deixava tratar
com atenção,
feliz de que por
fim alguém
soubesse tratá-la
como merecia.
Era fácil supor o
muito que a
jovem tinha que
ter sentido falta
da sua gente…
Quando
finalmente
tomou assento,
longe dele,
flanqueada pelo
Malcom e o
enorme corpo de
seu tenente,
Angus, os olhos
de Willow
procuraram os
seus. O impacto
de encontrá-los
deixou a ambos
aturdidos uns
segundos. Ewan
a encontrava
arrebatadora em
sua nova
condição
feminina, mas
teria dado tudo
para aproximar-
se dela, lhe
arrancar esse
elegante vestido e
introduzir os
dedos entre as
escuras mechas
de seu curto
cabelo para
alvoroçar seu
penteado e
encontrar,
debaixo aquele
impressionante
aspecto, a seu
Will.
— Lhe está
comendo com o
olhar. — dvertiu
Alec, perto de
seu ouvido. — E
não acredito que
seu irmão se
agrade.
— Como pôde
acontecer isto?
— Perguntou,
desesperado. —
Ontem era
minha… Ia ser
minha para
sempre. Agora é
como se esse
vestido tivesse
levantado uma
barreira entre nós
dois. É como se
Will virasse
fumaça.
Ewan agarrou
sua taça de vinho
e bebeu com
vontade para
tentar aplacar sua
angústia.
— Não virou
fumaça. Continua
aí, atrás desses
olhos azuis…
Não o vê? Não te
dá conta de
como lhe olha?
— Willow
MacGregor já
escolheu, tio. E
não duvidou,
além disso. Está
radiante junto a
sua gente, junto a
seu irmão. Assim
que ele apareceu,
eu deixei de ser
uma opção para
ela.
— Rende-te
muito facilmente.
— Sim. —
Secundou
Melyon,
metendo-se na
conversa. —
Desde quando te
tornaste um
chorão e um
covarde? Quanto
mal te fez minha
saída, amigo. —
Burlou.
Ewan voltou a
beber. Eles não o
entendiam… O
que tinha feito a
Willow não tinha
nome. Quando
seu irmão se
inteirasse, ia
arrancar lhe a
cabeça... Ou
talvez alguma
outra parte de
seu corpo mais
concreta, e não o
culpava. Para
piorar, Malcom
era um dos
poucos homens
que Ewan podia
considerar um
digno rival.
Eventualmente,
vencer a essa
topeira em um
combate singular
ia resultar quase
impossível. Claro,
que, isso não
devia ocorrer
jamais. Era o
amado irmão de
Will, não podia ir
contra ele de
nenhuma
maneira. Passou-
se uma mão pela
cara,
desesperado. Não
sabia como ia
solucionar essa
confusão…
As bandejas com
comida
começaram a
chegar e o
ambiente relaxou
um pouco. Os
MacGregor
demonstraram
ter bom apetite e
Edith, a
cozinheira, tinha
organizado um
banquete digno
de reis apesar dos
poucos recursos
dos que
dispunham
nesses dias.
Serviram grandes
bandejas de
cordeiro,
pombinhos e
salmão. Havia
também grossas
fatias de queijo,
pães escuros de
cascas crocantes,
tortas açucaradas
e bolos repletos
de suculentas
amoras em seu
interior. Era uma
ocasião especial e
queriam tratar
com atenção seus
convidados como
mereciam.
Willow esteve
muito bem
atendida, tanto
seu irmão como
Angus não
deixaram de lhe
encher o prato,
apesar de que
tinha o estômago
fechado.
Observava em
silencio a todos
os serventes ir e
vir, consciente de
que, até no dia
anterior, tinha
compartilhado
essas tarefas com
eles. Sentia-se
inconveniente,
fora de lugar.
Procurou Maud
com o olhar e a
viu perto dos
soldados
Campbell, lhes
levando jarras de
vinho e cerveja.
A mulher
pareceu notar
que a
observavam,
porque levantou
os olhos e a
contemplou a
distância. O
coração de
Willow parou uns
segundos,
pendente da
reação de sua
mãe adotiva.
Estava
convencida de
que Liese já a
tinha atualisado e
desejava
aproximar-se dela
para que a
abraçasse e lhe
dissesse que nada
tinha mudado,
que seguia
querendo-a como
quando era Will.
Maud por fim
esboçou um
sorriso carinhoso
e Willow pôde
respirar tranqüila.
Assim que
acabasse o jantar,
tinha que
procurá-la, tanto
a ela como ao
John, e esclarecer
algumas coisas
com ambos.
— Não está
comendo nada.
— A voz de
Malcom a
sobressaltou.
— Não tenho
muita fome.
Muitas emoções.
— Dei-me conta
de que o laird lhe
olha sem
dissimulações.
Willow, que
acabava de meter
um bocado de
carne na boca,
quase se
engasgou.
— Tenha em
conta que, até
ontem, eu era seu
servente pessoal.
Ignorava minha
verdadeira
identidade, deve
estar estupefato.
— Tentou
justificá-lo.
— Não parece
estupefato. —
Interveio Angus,
do outro lado. —
Olha como se
quisesse te
carregar em seu
ombro para te
tirar daqui. Deve
impressioná-lo
muito vestida de
mulher.
— Como reagiu
quando
descobriu que
não era um
moço? —
Inquiriu Malcom,
sem lhe dar
trégua.
— Incomodou-
se… Ele… Ele
se zangou
bastante.
— Não
precisava. Por
que não lhe
confessou quem
foi quando viu
que aqui estava a
salvo?
Willow olhou
para Ewan
parecendo
arrependida.
— Acreditava
que era o
assassino do
Niall. Estava
convencida de
que era o
culpado de todos
os meus maus e
queria me vingar
dele.
Malcom se virou
para ela,
boquiaberto.
— Deus Todo-
poderoso,
Willow! O que
pensava fazer?
Olha-o, se tivesse
tentado qualquer
ataque contra ele,
agora estaria
morta. Não
posso acreditar
que tenha sido
tão inconsciente.
— Mas continuo
aqui, apesar de
tudo. —
Respondeu ela,
começando a
zangar-se. Por
que se
empenhavam
todos em lhe
recordar uma e
outra vez que
não agira com
bom julgamento?
Aquelas palavras
afetaram ao seu
irmão, que a
abraçou de
improviso e
diante de todos
os presentes.
Sussurrou-lhe,
muito perto do
ouvido.
— Perdão. Não
pode fazer idéia
de quão feliz
estou de que siga
aqui, e de te
haver encontrado
finalmente. Não
posso perder a
ti… A ti não.
Não posso passar
por isso outra
vez.
Willow sentiu o
nó na garganta
ante sua
emocionada
confissão. Assim
estava
acostumado a ser
Niall, espontâneo
e sincero.
Malcom sempre
tinha sido mais
reservado e,
talvez por isso,
suas palavras a
surpreenderam e
a emocionaram
até as lágrimas.
Ela tampouco
queria voltar a
passar por isso.
Seu coração já
estava
incompleto e o
estaria até o dia
de sua morte,
mas seguia
pulsando, e
Malcom era
indispensável
para não voltar a
perder o ritmo de
seus batimentos
do coração.
Olhou-o, com os
olhos cheios de
lágrimas, e
acariciou sua
barba escura com
carinho.
— Não me
perderá.
Do outro lado da
mesa, Ewan
tampouco comia.
Ao ser
testemunha do
gesto de amor
dos irmãos, algo
se acendeu em
seu interior.
Tinha ciúmes de
Malcom porque a
abraçava; de
Angus, que se
sentava ao lado
de Willow e lhe
servia a comida.
Tinha ciúmes de
todos e cada um
dos soldados
MacGregor, que
falavam com sua
senhora e a
conheceram
sempre. Desejava
romper todos os
laços que a
uniam ao seu clã,
porque no fundo
de seu coração,
desejava que Will
fosse Campbell
para poder atá-la
para sempre a
ele.
Sem pensar
muito bem o que
fazia, levantou-se
de seu lugar e foi
até as cadeiras de
seus convidados.
Malcom lhe
olhou intrigado e
os que havia ao
redor guardaram
silêncio.
— Preciso falar
com Willow. A
sós.
— Por que? —
Perguntou
MacGregor,
agarrando a mão
de sua irmã por
cima da mesa,
como se com o
gesto a pudesse
manter a salvo do
laird dos
Campbell.
— Não nos deu
tempo para
esclarecer certos
assuntos que
temos pendentes.
Tudo foi muito
rápido, foi muito
precipitado.
Ontem era meu
servente, hoje é
uma preciosa
dama, filha de
um senhor das
Highlands.
— Que assuntos
podem ter
deixado
inacabados um
laird com seu
criado? —
Malcom se
levantou para
encará-lo. —
Acaso não te
limpou bem as
botas?
— Malcom! —
Willow se
levantou também
e sujeitou o
braço de seu
irmão. — Não
seja grosseiro.
Explicarei-lhe
isso tudo… Em
seu devido
momento. Mas
necessito que
agora confie em
mim, e que me
deixe ir com ele.
É verdade que
temos assuntos
dos que falar. Sei
que você não
gosta, mas deve
me permitir um
momento a sós
com ele. Apesar
das
circunstâncias, se
não fosse pelo
Ewan, talvez eu
não tivesse
sobrevivido.
Acolheu-me em
sua casa junto
com os St. Claire.
O deve.
MacGregor
inspirou com
força e cravou
um inquisitivo
olhar no rosto da
jovem. Estava
claro que a idéia
de uma entrevista
entre os dois lhe
desgostava
sobremaneira.
Não queria
perdê-la de vista
e não confiava no
Campbell.
— Por favor…
— Insistiu
Willow, lhe
acariciando o
antebraço.
— Está bem. —
Concedeu. —
Mas espero que
sua reunião não
se alargue muito,
não quero que te
afaste muito.
— Prometo-lhe
isso. — Disse,
elevando-se nas
pontas dos pés
para depositar
um suave beijo
em sua bochecha.
Depois se retirou
e acompanhou
Ewan, que se
dirigiu para as
escadas para
subir ao andar
dos dormitórios.
Durante o
trajeto, o laird
apenas a olhou, e
Willow ficou
nervosa.
Observou com o
canto do olho ao
seu perfil, sério e
distante, e seu
coração acelerou.
Imagens da noite
passada com ele
alagaram sua
mente e um
estremecimento
percorreu seu
corpo, fazendo-a
tremer. Onde
tinha ido parar a
cumplicidade que
tinham
compartilhado?
Tudo parecia
haver se detido
no momento de
reencontrar-se
com seu irmão,
sua relação tinha
ficado em
suspense e ela
começava a notar
as conseqüências.
Sentia falta dele.
Muito. Tinha
passado somente
um dia, mas
Willow já sentia
sua falta na
pele… E em sua
alma. Não
suportaria se
Ewan
continuasse
zangado com ela,
se essa barreira
que se levantou
entre os dois uma
vez descoberta
sua identidade
era muito alta
para ultrapassá-
la.
Entraram no
quarto do laird e
este fechou a
porta atrás de si.
Apoiou as costas
nela e cruzou de
braços, olhando-
a com a mesma
intensidade que a
primeira vez que
a teve ante seus
olhos. Willow
parou ante seu
imponente
aspecto e sua
aparência feroz, e
os tremores
retornaram. Só
tinha medo de
uma coisa: que
Ewan jamais
voltasse a
estreitá-la entre
seus braços.
Ou a beijá-la.

CAPITULO 36

— Diga algo, por


favor. — Pediu,
depois de vários
segundos de
silencioso
escrutínio.
Ewan agarrou ar
e o soltou
devagar,
relaxando um
pouco sua
expressão.
— Oxalá fosse
apenas Will.
A frase lhe
provocou uma
espetada no
peito; apesar de
tudo, manteve a
compostura.
— Me perdoe,
teria que ter
confiança em ti
para lhe contar
isso.
— Teria sido o
mais prudente,
sim. Mas entendo
que, se pensava
que eu era o
assassino de seu
irmão, preferisse
guardar silêncio.
Isso não significa
que não me
incomode. Sabe
em que situação
me puseste? É
consciente de
que te desonrei
de todas as
maneiras
possíveis?
Quando seu
irmão se inteire,
o mínimo que
fará será me
castrar.
Então isso era o
que realmente lhe
preocupava.
Willow sentiu um
golpe de
decepção que
acendeu a fúria
de seus olhos.
— Não tema,
por mim não
saberá nada.
Amanhã partirei
do Innis Chonnel
e não terá que
ver-me nunca
mais. Sua vida
voltará para a
normalidade…
Não tenho feito
mais que te
causar problemas
desde que
apareci, certo?
Ewan grunhiu
baixo depois
dessa afirmação.
Aproximou-se
dela com duas
passadas e a
segurou pela
cintura.
— Não
permitirei que te
afaste de mim,
Will. Depois de
todo este tempo,
ainda não me
conhece?
— Já não estou
sob seu amparo.
— Sussurrou ela,
com o coração
disparado ante
sua aproximação.
— Agora é
Malcom quem
tem minha tutela.
Ewan mudou seu
gesto ao escutar
o sofrimento
nessas palavras.
Seu olhar se
suavizou e
acariciou sua
bochecha com
ternura.
— E eu… O que
tenho eu, então?
Willow inclinou a
cabeça e fechou
os olhos para
desfrutar do
contato daquela
mão áspera. Uma
vez mais, seu
corpo respondia
com vida própria
ante esse
homem.
Estremecia-se
ante seu aroma,
seu calor, o som
de sua voz, sua
forma de olhá-la.
Não podia
ocultá-lo mais…
Nem ante ele,
nem ante si
mesmo.
— Você tem meu
coração. —
Confessou, em
um sussurro. —
Sempre o tiveste.
Inclusive quando
te odiava, quando
pensava que você
era o responsável
pela morte de
meu irmão,
ocupava-o por
inteiro. Só podia
pensar em ti,
enchia meu
mundo e, de
algum jeito, deu-
me forças para
seguir adiante.
Contigo tinha
uma meta, algo
no que gastar
minhas energias e
minha vontade
de viver. É certo
que, no princípio,
foi uma obsessão
doentia. Depois,
não sei como
ocorreu, pouco a
pouco a balança
se inclinou do
lado contrário. E
meu ódio se
evaporou,
deixando apenas
este outro
sentimento aqui
dentro…
Willow agarrou a
mão que
acariciava seu
rosto e a levou
até seu peito para
que ele notasse
os batimentos
desmedidos de
seu coração.
Ewan tragou
saliva,
estremecendo
com a revelação.
Aquela era uma
das coisas que
mais adorava em
Willow: sua
descarada
sinceridade.
Dizia-lhe o que
pensava, o que
sentia, sem
nenhum tipo de
duplicidade.
— Meu pequeno
duende, o que
vou fazer
contigo? Viraste
meu mundo de
cabeça para baixo
e já não posso
conceber minha
vida sem ti.
Como posso
evitar que parta?
Não quero te
perder...
A jovem notou
que seus olhos
lacrimejavam
ante a confissão.
Ficou nas pontas
dos pés para
alcançar sua boca
e lhe demonstrar
com aquele gesto
o que sua
garganta
estrangulada não
lhe permitia
articular.
Entretanto,
apenas tinham
roçado seus
lábios, quando
uns golpes na
porta os
separaram com
brutalidade.
— Willow! Está
aí?
A inconfundível
voz de Malcom
retumbou do
outro lado. Ewan
suspirou,
frustrado. Era
evidente que o
tempo que aquele
falcão com
apelido
MacGregor
considerava
apropriado para
preservar a
virtude de sua
irmã tinha
expirado.
Separou-se dela
com impaciência
e abriu a porta,
forçando um
gesto impassível
que não delatasse
tudo o que bulia
em seu interior.
— Malcom, não
necessitava que
viesse a me
buscar. Já
tínhamos
terminado. —
Explicou Willow,
caminhando para
ele.
— Escoltarei-te
de retorno ao
salão, então. —
Replicou,
mordaz, sem
deixar de olhar a
um e a outro
alternativamente,
procurando em
suas caras algo
que delatasse a
natureza da
conversa que
tinham mantido.
Ewan considerou
mais oportuno
guardar silêncio;
não queria que
Malcom ficasse
mais à defensiva
do que já estava.
Deixou que os
irmãos se
adiantassem e
ficou a sós no
quarto, enjoado
com seus
próprios
pensamentos,
recordando
palavra por
palavra o que
Willow acaba de
lhe confessar. Se
antes estava
decidido a não
deixá-la partir,
depois de escutar
de seus lábios
que ele era o
dono de seu
coração, sua
determinação
aumentou.
Will ficaria, já era
parte dele. Por
muito que
tentasse resistir,
por muito que
amasse e sentisse
falta de seu
irmão, ela já era
uma Campbell.
Embora ainda
não soubesse.
Depois de
debater e expor o
que cada um
sabia sobre o
ataque ao
Meggernie, tanto
os MacGregor
como os
Campbell
chegaram à
conclusão de que
ia resultar muito
complicado
averiguar quem
se achava atrás
desse horrível
crime. Willow
relatou sua
experiência e
tanto Ewan
como Malcom se
mostraram
consternados ao
conhecer os
pormenores de
sua fuga. A
jovem não
mencionou a
carta que ainda
tinha em seu
poder... Decidiu
que a mostraria
primeiro a seu
irmão, como
tinha prometido
a Enjoe. E teriam
que seguir a
partir daí, porque
estava claro que
Malcom
tampouco tinha
averiguado muito
quando visitou
Meggernie,
depois de
retornar do
fronte.
— Nossa gente
estava dispersada.
— Confessou
aos presentes,
embora olhava
diretamente a
Willow. — Não
ficavam soldados
MacGregor,
tinham cansado
no
enfrentamento...
Ou tinham
desaparecido.
— Pôde... Pôde
confirmar o que
dizem do Niall
com seus
próprios olhos?
— Perguntou
Willow, em um
sussurro.
Todos os ali
reunidos
guardaram
silêncio e
olharam ao
Malcom. O
guerreiro,
entretanto,
pareceu afogar-se
com a resposta.
Seus olhos se
empanaram e
tragou saliva
antes de baixar a
vista.
— Enterramos
ao Niall como
merecia. —
Respondeu
Angus por ele,
com a voz
enrouquecida
pela emoção. —
Igualmente ao
resto de nossos
homens.
A alma de
Willow encolheu
ao compreender
que Malcom
tinha encontrado
o corpo de seu
irmão... Ou seja
em que
condições. Lhe
encheram os
olhos de lágrimas
que derramou
em silêncio,
contendo-se para
não ir junto a ele
e abraçá-lo.
Estavam
presentes os
homens de
confiança de
ambos os lairds e
não queria
morrer de
vergonha.
— E Enjoe?
Errol e os
outros? —
Conseguiu
perguntar,
notando que as
palavras lhe
arranhavam na
garganta ao sair.
Malcom
finalmente
pareceu
encontrar forças
para responder.
Levantou o olhar
antes de falar.
— Não saberia te
dizer... —
Murmurou. —
Alguns... alguns
dos corpos, com
o fogo...
Lhe quebrou de
novo a voz. Em
seus olhos podia
ler o tremendo
sofrimento que
aquilo lhe tinha
causado. Era sua
gente, seu clã, e
não tinham
podido defendê-
los.
— Não tivemos
tempo de fazer
averiguações,
Willow. —
Voltou a intervir
Angus. —
Depois de
sepultar aos que
pudemos achar,
abandonamos
Meggernie para
te buscar. Por
desgraça, embora
por fim lhe
encontramos,
não poderemos
dedicar a este
assunto o tempo
e a energia que
merece. Bruce
nos reclama.
— Sim. —
Corroborou
Ewan. — Eu
também estou
desejoso de
esclarecer este
assunto, eu
gostaria de saber
quem incriminou
aos Campbell
nesta suja
artimanha. Mas
temos um prazo
limitado para nos
reunir com o rei,
assim que as
investigações
terão que esperar.
Todos estiveram
de acordo em
que se
dedicariam a isso
de corpo e alma
quando
retornassem do
fronte... Se
retornassem.
Alec guardou
silêncio uma vez
mais em lugar de
falar da suspeita
que turvava seu
ânimo. Ainda não
podia pôr rosto
ao traidor que
procuravam e lhe
dar um nome.
Sabia que se
contava o
ocorrido tantos
anos atrás na
batalha do
Stirling, tanto seu
sobrinho como
Malcom
quereriam
indagar aos fatos.
A última coisa
que desejava era
distraí-los da
missão que nesse
momento era
mais importante:
a guerra contra
os ingleses.
Angus, ao
precaver-se do
sofrimento que
banhava os
rostos de
Malcom e
Willow, derivou a
conversa aos
planos do rei
Bruce e ao que
lhes esperava
uma vez se
unissem ao
exército que
comandava.
E funcionou.
Malcom relaxou
sua expressão
circunspeta para
centrar-se no que
ali se dizia, e a
jovem Willow se
desculpou, farta
de ouvir falar de
batalhas, de
estratégias e dos
malditos ingleses,
e abandonou o
grande salão.
Pôs rumo às
cozinhas,
precisava ver
Maud. Não tinha
tido ocasião de
aproximar-se dela
no transcurso
daquela
celebração e não
queria adiar mais.
Encontrou à
mulher ajudando
a lavar os pratos
e as jarras que
tinham usado no
banquete.
Aproximou-se
dela ante o olhar
aturdido do resto
dos criados,
inclusive o de
Agnes, que a
contemplou
ressentidamente.
Willow,
simplesmente,
ignorou à moça
que tantos
problemas tinha
causado.
— Maud.
A interrogada
levantou a vista
para encontrar-se
cara a cara com
aquela dama que
era e não era seu
Will.
— Minha
senhora... —
Sussurrou, com
uma mescla de
orgulho,
admiração e
sofrimento.
— Não, Maud,
por favor. Sigo
sendo eu, não
suporto que me
olhe como se
fosse alguém
inalcançável.
Necessito que me
abrace, que me
perdoe por não
lhe haver dito
isso. Lamento de
coração me haver
aproveitado da
bondade de sua
família e por
nada no mundo
quereria que
pensasse que
estive rindo de
vocês.
— Não o penso.
— Respondeu.
— Infelizmente,
sim que é
inalcançável
agora. Lhe olhe.
— Disse. —
Esse vestido é
precioso e eu
tenho as mãos
empapadas de
água suja e sabão.
— Oh, Maud!
Acha que me
importa mais um
estúpido vestido
que minha
família? —
Perguntou-lhe,
com lágrimas nos
olhos, lançando-
se aos seus
braços.
A mulher a
acolheu com
alivio ao dar-se
conta de que não
tinha perdido
totalmente à
criatura que tinha
adotado como
dela. Manchou-
lhe o vestido
com suas mãos
molhadas e lhe
posou um beijo
no alto da
cabeça. Agora,
seu cabelo
cheirava a flores
e ela era uma
dama, mas Maud
reconheceu
naquele quente
gesto ao seu Will.
— Sei que aqui
estão muito a
vontade, e que a
lealdade que lhes
une ao laird
Campbell é
grande. Mas
quero que saiba
que em meu lar
sempre terão um
lugar. Esteja
onde estiver,
sempre serão
bem-vindos... São
parte de minha
família.
— Somos
simples criados.
— Protestou
Maud, que não
parava de achar
inadequada a
relação que
Willow pretendia
seguir mantendo.
— Para mim não.
São muito mais, e
se alguma vez me
deixar
demonstrar isso à
você, o
compreenderá.
A jovem tinha
chegado a
conhecer muito
bem aos St.
Claire. Sabia que
não aceitariam
viver em nenhum
lugar sem ganhar
o sustento. Eram
gente
trabalhadora e
orgulhosa, não
poderia
trasformar suas
vidas de qualquer
jeito, embora isso
fosse,
precisamente, o
que mais gostaria
de fazer. Não
queria que Maud
seguisse
esfregando
pratos, nem que
Liese conduzisse
os baldes de água
para o banho dos
senhores. Podia
falar com
Malcom para que
oferecesse ao
John um posto
no exército
MacGregor, e
Maud e Liese
poderiam viver
com ela,
ajudando-a a
governar
Meggernie
durante a
ausência de seu
pai, lhe fazendo
companhia até
que a guerra
terminasse. Mas,
para isso, deviam
abandonar Innis
Chonnel com os
MacGregor
quando partissem
dali, e não estava
segura de que
isso fosse o que
desejavam.
Apreciavam
muito ao laird
Campbell, e ela
não pretendia
misturar-se em
suas vidas. Mas
também queria
que soubessem
que, se a
necessitavam,
Willow
responderia por
eles.
— Muito
obrigada, minha
menina. — Disse
Maud, com a voz
estrangulada de
emoção. Depois,
soltou-se de seu
abraço, um
pouco enrijecida
pela situação, e
voltou para sua
tarefa com
energia renovada.
— E agora, parte
para descansar.
Foi um dia muito
longo e cheio de
surpresas para
todos. Embora
apesar que este já
não é seu lugar...
Vamos, esta noite
dormirá em um
colchão macio,
assim faz o favor
de sonhar coisas
bonitas por todos
nós.
— Recorda meu
oferecimento,
Maud. —
Murmurou
Willow, com um
sorriso
carinhoso.
A mulher a olhou
nos olhos e lhe
devolveu o gesto
de coração.
— Recordarei-o
sempre, minha
senhora.

Quando retornou
ao salão, Ewan já
não estava. Não
pôde evitar
buscá-lo por toda
a sala com os
olhos e sentir
uma espetada de
decepção ao
comprovar que
se retirou sem
despedir-se dela.
Malcom se
aproximou assim
que a viu
aparecer e lhe
ofereceu seu
braço para
escoltá-la até seus
aposentos.
— Ele não está.
— A quem te
refere?
— Ao homem
que buscas... Não
me engana,
Willow. O que
está acontecendo
aqui?
Ela esquivou seus
olhos e mordeu o
lábio inferior.
Não gostava de
mentir para seu
irmão, mas
também era
consciente do
dano que lhe
faria se lhe
contava todo o
ocorrido entre o
laird Campbell e
ela.
— Não sei do
que está falando.
— Respondeu,
com a voz
tremente pela
mentira.
Malcom se
deteve na metade
do corredor que
conduzia a suas
habitações. Uma
tocha que
prendia da
parede arrojava
uma luz
ambarina a suas
costas,
conseguindo que
seu rosto ficasse
nas sombras,
com o que
parecia mais sério
do que já era
habitual nele.
— Willow, não
temos tempo
para jogos. Trato
de averiguar o
ocorrido no
Meggernie e,
embora você
tenha pego
carinho a esta
gente, eu não
descarto sua
implicação no
ataque. Não sei o
que há entre o
laird Campbell e
você, mas é
evidente que algo
acontece. E não
confio nele. Você
mesma acreditava
que fosse o
assassino de
nosso irmão... O
que te tem feito
mudar de
opinião?
A jovem se
ruborizou.
Malcom, embora
não era tão
sensível como
Niall, era
igualmente
intuitivo. E
lamentava que a
tivesse
descoberto
tratando de lhe
ocultar coisas.
— Ele não é um
assassino. E não
tem nada que ver
com o ocorrido
em nosso lar.
— Como sabe?
Willow olhou a
um lado e a outro
do corredor,
verificando que
se encontravam a
sós.
— Vêm ao meu
quarto, quero te
mostrar algo.
Conduziu-o até
os antigos
aposentos de
Cait, onde agora
tinham
transladado seus
escassos
pertences.
Fechou a porta
uma vez dentro e
procurou em seu
fardo o
pergaminho que
Enjoe lhe tinha
entregue quando
escapou do
Meggernie.
— Niall
encontrou isto e
ficou muito
nervoso.
Estávamos com
tio Gilmer e
tivemos que
partir a toda
pressa do
Landon Tower.
Para Niall, era
prioritário chegar
ao Meggernie e
nos prover para
repelir um
ataque, mas
alguém nos traiu.
Abriram as
portas de dentro
e o inimigo, fora
quem fosse,
conseguiu entrar.
Malcom leu
aquelas letras e
seu semblante
mudou no
segundo em que
seus olhos
avançaram pelas
linhas de tinta.
— De onde tirou
Niall esta carta?
— Não sei de
onde a tirou. Mas
está claro que a
pessoa a que se
refere odeia ao
nosso pai. Ao
Ewan
virtualmente o
criou seu tio
Alec, e esse
guerreiro me
ajudou sabendo
quem era eu, só
pelo carinho que
tem a nossa
família. Estou
convencida de
que nenhum
deles é o homem
do qual fala o
anônimo. É
evidente que, seja
quem for, ia por
mim. Esse é o
motivo do ataque
ao Meggernie. E
o que me rompe
o coração é que o
canalha não me
encontrou e
matou ao Niall
em meu lugar.
Malcom cravou
nela seus olhos
azuis e
estremeceu.
— Não te ocorra
voltar a dizer
algo assim.
Ouviste-me?
Estou seguro de
que Niall teria
dado sua vida
por ti mil vezes
mais, como eu.
— Sua vida não
era menos valiosa
que a minha. —
Apontou ela com
dor.
— É obvio que
não. Mas ele
entregou a dele
em um ato de
amor
incondicional,
assim não
lamente seguir
com vida. Deve
honrar sua
memória
agradecendo que
segue aqui, nos
enchendo de
felicidade a todos
os que lhe
queremos.
Willow se
aproximou dele e
o abraçou,
enterrando a cara
em seu peito.
— Dói muito,
Malcom. Cada
vez que penso
em que não
voltarei a vê-lo
ou a falar com
ele, rompo-me
por dentro.
Como o suporta
você? Como
pode respirar
cada dia, sabendo
que jamais
voltará ao tê-lo
ao seu lado?
— Respiro
porque sim o
sinto ao meu
lado... — Disse-
lhe, separando-a
um pouco para
levar uma mão ao
coração. — O
levo aqui dentro,
sempre comigo.
Respiro porque
também tenho a
ti. Eu... eu não
sei dizer as coisas
bonitas que te
dizia Niall, nem
sei que palavras
usar para que se
sinta melhor. Sei
que ele e você
tinham uma
conexão especial
que não
compartilhavam
comigo... Não é
uma
recriminação.
Simplesmente,
vocês eram feitos
de outra massa e
quão único
lamento é não
saber te
reconfortar como
o faria ele. Mas
jamais duvide de
que te quero
mais que tudo e
que faria tudo
por ti.
Willow lhe olhou
com lágrimas nos
olhos. Seu
enorme irmão,
grande e feroz,
confessava que
ele não sabia
dizer coisas
bonitas e o fazia,
justamente, com
as palavras mais
sentidas e
formosas que
jamais lhe tinha
dedicado.
— Eu também te
amo, Malcom.
Voltou a abraçá-
lo com força até
que o terno
momento foi
muito para o
guerreiro. Com
um pigarro
enrijecido, pôs
fim ao abraço e
fixou sua atenção
de novo na carta
que sustentava na
mão.
— Quem mais a
tem lido? —
Perguntou,
enquanto Willow
limpava as
lágrimas com os
dedos e se
obrigava a
centrar-se.
— Que eu saiba,
só Niall, você e
eu. Não a
mostrei a
ninguém mais.
— Fez bem. E a
manteremos em
segredo até que
descubramos
quem pode ser o
inimigo de nosso
pai.
— Não acredito
que seja nenhum
Campbell,
Malcom. Ewan
está desejoso de
encontrar ao
culpado, porque
essa mesma
pessoa tentou
incriminar a seu
clã.
Malcom a
observou com
suspicacia.
Cruzou os braços
antes de insistir
em um assunto
que ela se
esquivava a todo
custo.
— Noto-te
muito
preocupada com
desculpar aos
Campbell deste
engano. Willow, o
que ocorre? O
que há entre o
laird e você?
— Nada.
— Nada... Isso
seria o lógico,
dado que até
ontem ele não
sabia que era
uma mulher. Mas
te conheço,
Willow. fica
nervosa em sua
presença, olha-o
muito. Sente algo
por ele?
Malcom era
brutalmente
direto. Não se
dava conta de
que aquele era
um traço
característico de
sua família, pois
ela tampouco era
dada a rodeios ou
a ambigüidades.
Gostavam de
chamar as coisas
por seu nome e
dizer o que lhes
passava em cada
momento pela
cabeça. O que
podia esperar
então do menos
sensível dos três
irmãos? Baixou a
cabeça,
envergonhada,
consciente de
que não tinha
escapatória.
— Sim, assim é.
Suponho que
preferirá que não
te descreva meus
sentimentos por
ele, por isso só te
confirmarei que
existem.
Malcom a olhava
com os olhos
muito abertos.
Aquilo lhe
exasperou... Uma
vez mais, sentiu
falta de não ser
como Niall.
Seguro que ele
poderia enfrentar
a essa situação
muito melhor do
que ia fazê-lo ele.
— Pois então. —
Disse, sem
abandonar sua
postura
autoritária. — É
uma sorte que o
laird tenha
demorado tanto
em descobrir que
é uma mulher.
Cheguei a tempo
de evitar uma
situação
comprometedora
para ambos.
Amanhã
partiremos rumo
ao Meggernie e
você terá tempo
de averiguar se
esses sentimentos
que diz ter são
fortes, ou tão
somente um
capricho
alimentado pela
admiração para
um guerreiro
notável como
Ewan Campbell.
Willow escutou
aquelas palavras
com um eco
longínquo. Seu
coração se fazia
pedacinhos por
dois motivos: por
ocultar a seu
irmão que a
situação da que
falava já tinha
tido lugar e,
sobre tudo, por
ter que
abandonar Innis
Chonnel no dia
seguinte.
Se separar do
laird dos
Campbell era a
última coisa que
desejava fazer.
Mas não
desobedeceria ao
seu irmão... Isso
jamais.
CAPITULO 37

— Tornaste-te
louco?
O padre
Cameron o
olhava como se
de verdade
tivesse perdido a
razão e
necessitasse que
dois de seus
melhores
homens o
atassem com
cordas.

Absolutamente.
Acredito que,
dadas as
circunstâncias, é
o mais sensato e
honrado da
minha parte.
Ewan viu como
os olhos do
religioso
aumentavam até
quase sair-se das
órbitas e se
apressou a lhe
servir um pouco
dessa água de
fogo que
guardava com
tanto zelo no
móvel de sua
sala. O homem
agradeceu o
gesto e tomou
tudo de um só
gole, para
assombro de seu
laird.
— Se chegasse a
saber isto, teria
prolongado mais
minha viagem.
— Confessou.
Olhou para o
teto, como se
procurasse um
ser divino nas
alturas. — Podia
me haver
mandado um
sinal, Senhor.
Dois dias mais,
só dois dias mais
afastado deste
lugar, e não me
veria nesta
situação.
Para Ewan, a
volta do religioso
ao Innis Chonnel
tinha sido
providencial.
Tinham-lhe
comunicado sua
chegada depois
de que Willow
desaparecesse
rumo às
cozinhas, e a
solução para o
seu problema se
manifestou tão
clara e tão lógica,
que não soube
por que não o
tinha pensado
antes. Foi a
cabana do padre
Cameron para
lhe comunicar
sua decisão sem
mais demora. Ele
corria contra o
tempo e devia
atuar quanto
antes se não
quisesse perder a
seu duende.
— Qual é o
problema? —
Perguntou-lhe,
sem entender sua
reticência. — Ela
reconheceu que
seu coração é
meu. Para mim,
isso é suficiente.
Willow já é
minha, padre, só
quero que o faça
oficial.
O religioso o
olhou com a
boca aberta.
— Escondido de
seu irmão! Como
pode me pedir
que lhes case em
segredo?
— Não o
ocultarei por
muito tempo.
Amanhã pela
manhã todos
saberão, e já não
poderão fazer
nada por evitá-lo.
O padre
Cameron levou
as mãos à cabeça.
— Sabe o
problema no que
te colocará? Fará
inimizade com a
família de sua
esposa! Acha que
essa é uma boa
forma de
começar um
matrimônio?
— Oh, padre!
Não é como se a
raptasse para me
casar com ela!
— Está seguro?
Como sabe que
ela quer o
mesmo que
você? O tem
proposto, te disse
que sim?
— Não necessita.
Já lhe disse isso,
ela me entregou
seu coração. Isso
significa que me
ama, não
necessitamos sua
conformidade
explícita.
O padre
Cameron deixou
o copo vazio
sobre a mesa
com um golpe
seco, mostrando
assim seu
aborrecimento
pela
intransigência do
jovem e
impulsivo laird.
— Eu sim a
necessito. Não te
casarei com ela a
não ser que me
diga, na cara e
sem nenhum tipo
de coação, que
isso é o que
realmente deseja.
E mesmo assim,
sigo pensando
que não é sensato
absolutamente.
Ewan se levantou
da poltrona que
ocupava e
assentiu com a
cabeça, de
acordo com
aquela proposta.
— Muito bem.
Quer ouvir de
seus lábios? A
trarei aqui para
que ela mesma o
diga.
O padre
Cameron o
observou partir
sentindo que o
coração lhe
ricocheteava nas
costelas de
indignação e
assombro.
Algumas vezes
aquele moço se
mostrava teimoso
como uma mula,
e muito temia
que naquela
ocasião sua
obsessão podia
lhe conduzir um
sério desgosto.
Voltou a agarrar
o copo e foi ao
móvel para
preenchê-lo com
mais água de
fogo. Bebeu-o de
um só gole, outra
vez, mas nem o
ardor daquele
licor desfêz o nó
que lhe tinha
formado no
estômago.

Willow não podia


dormir. Tinha
abandonado o
leito, cansada de
dar voltas, e tinha
se sentado em
uma poltrona em
frente ao fogo da
lareira. Olhava o
baile das chamas
com um matagal
de sentimentos
misturados em
seu interior. O
que ia acontecer
agora? Estava
feliz de haver
reencontrado
Malcom, isso era
irrefutável. Mas
não era menos
certo que
precisava estar
perto do laird
dos Campbell.
Acabava de
descobrir que
esse homem
estava ganhando
a primazia de
seus
sentimentos... E
todo aquele dia
tinha sido uma
autêntica tortura
para ela. Não
tinha tido tempo
de assimilar que,
essa mesma
manhã, seus
corpos tinham
estado juntos,
nus,
prodigalizando-se
carícias que
agora, ao
recordá-las,
aceleravam-lhe o
coração apesar de
as sentir tão
distantes. Tinha
acabado de
descobrir a
paixão e
precisava voltar a
experimentar
todas essas
emoções para
certificar-se de
que eram certas.
Tinha sentido
falta de Ewan a
cada minuto de
cada hora
daquele longo
dia. Tinha
sentido falta que
voltasse a
estreitá-la entre
seus braços e que
a beijasse com o
ardor que
recordava...
Seu irmão ia
matá-la. Se se
inteirava de que
se entregou por
vontade própria a
esse guerreiro,
repudiaria-a. Não
era para menos.
Tinha desonrado
a toda sua
família, aquele
não era o
comportamento
que se esperava
de uma dama.
Claro que ela
tinha deixado de
sê-lo o mesmo
dia em que fugiu
do Meggernie.
Ao menos, assim
o sentia. Como
tinha se metido
nessa confusão?
Seu coração se
debatia nesse
momento entre a
lealdade que
devia ao seu
irmão, a sua
gente, e o que
começava a sentir
pelo Ewan.
Assim era o
amor? Nunca
tinha se
apaixonado, mas
se esse
sentimento
implicava ter a
cabeça e os olhos
cheios de sua
imagem, de sua
força e seu
espírito a toda
hora, então
estava
apaixonada. Se
amar significava
desejar com toda
a alma, ter
impulsos
contínuos de
tocá-lo, de beijá-
lo, de sentir pele
contra pele,
então já o amava.
Entretanto, tudo
o que seu
coração albergava
a respeito desse
homem não
podia impor-se
ao fato de que
jamais
desobedeceria ao
seu irmão. Tinha-
o tão claro que
estremeceu de
medo e ausência
prematura só
pensando.
— Will? — A
voz grave e
sussurrada
chegou de um
lugar na parede,
perto da cama.
Willow se
sobressaltou e
ficou de pé no
mesmo instante,
esquadrinhando
entre as sombras
para distinguir
quem lhe
chamava.
Ewan apareceu
do nada, ao que
parecia,
atravessando uma
porta que
comunicava seu
quarto com a do
próprio laird.
— Perdoa se te
assustei. Seu
irmão colocou
um guarda na
entrada de sua
habitação, assim
tive que recorrer
a este pequeno
segredo que só
conheciam meus
pais. Cada um
ocupava seu
dormitório, mas
pelas noites se
visitavam através
desta porta
escondida na
parede.
Os olhos de
Willow se
encheram com
sua imagem. A
única coisa que
desejava era
lançar-se em seus
braços e deixar-
se envolver por
seu calor. Mas
recordou as
palavras de
Malcom e se
manteve firme
no lugar,
abraçando o
corpo pelo pudor
de que a visse em
roupa de dormir.
— Não deveria
estar aqui. —
Sussurrou, sem
convicção.
Ewan deu um
passo para ela,
com o cenho
franzido.
— Vim para ver
o Will. Preciso
falar com ela, não
com Willow
MacGregor.
— Pois terá que
te acostumar a
não encontrá-la
mais, porque eu
sou quem sou. E
não posso mudá-
lo.
Ele continuou
aproximando-se,
ignorando o
tremor que de
repente se
apropriou do
corpo feminino.
Era um prazer
para a vista, ali de
pé de costas para
o fogo, cuja luz
desenhava sua
figura através do
fino tecido de sua
camisola. Ewan
sentiu o puxão
nas vísceras pelo
desejo que essa
criatura sempre
despertava nele...
Como era
possível? Por que
não se cansava
alguma vez de
olhá-la? Deteve-
se umas
polegadas de seu
rosto e respirou
seu aroma,
fechando os
olhos para
desfrutá-lo.
Quando voltou a
abri-los, o olhar
azul de Willow
refletia a verdade
que se
empenhava em
ocultar a todo
custo.
— Aqui está,
pequeno duende.
Por uns
segundos,
acreditei que te
tinha perdido.
As fortes mãos
do guerreiro
subiram por seu
pescoço até lhe
acariciar as
bochechas.
Willow
estremeceu
satisfeita ante o
contato e se
agarrou mais ao
seu corpo. Ewan
se inclinou e
apanhou seus
lábios com
delicadeza, quase
como se a
reverenciasse. O
sangue em suas
veias já ardia por
essa mulher… E
esqueceu por um
momento o
motivo pelo que
tinha ido
procurá-la a essa
hora da noite.
Estreitou-a entre
seus braços,
aumentando a
intensidade do
beijo, exigindo
que seu Will
emergisse
daquele corpo
vestido com uma
distinta camisola
para entregar-se a
ele sem nenhum
tipo de inibição.
A jovem
respondeu à
paixão do laird,
como sempre
tinha feito, e suas
pequenas mãos
se enredaram em
seu cabelo para
atrai-lo ainda
mais. Parecia que
queria fundir-se
com seu enorme
corpo e Ewan
grunhiu de
satisfação,
desejando o
mesmo.
E esse era o
problema,
sempre quereria
mais dela. Por
isso estava ali,
por isso tinha
burlado ao
guarda que seu
irmão tinha
postado em sua
porta,
arriscando-se a
ser descoberto.
— Rouba-me a
prudência…
Quando começo
a te tocar, já não
posso parar.
— Eu não te
pedi que pares.
— Respondeu
ela, sem fôlego.
Ewan pôs fim ao
beijo e se
separou para
poder pensar
com clareza. Os
olhos de Willow,
velados de
desejo, pareciam
confusos com
seu afastamento.
— É uma
tentação,
pequeno duende.
Jamais me
rechaçaste,
mesmo que
devesse havê-lo
feito. Isto não
está bem.
— Sei. Mas só
resta esta noite...
E quero passá-la
junto a ti.
O laird negou
com a cabeça
apesar de que sua
sinceridade,
como sempre,
desarmava-lhe.
Tomou suas
mãos com
cerimônia, como
se o que fosse
dizer era muito
importante para
ele.
— E eu quero
passar contigo o
resto de minhas
noites. E todos
os meus dias. E
compartilhar
tudo contigo.
Willow
MacGregor, te
case comigo.
A jovem piscou,
sem saber se lhe
tinha entendido
bem.
— Mas...
Amanhã parto
com meu irmão.
Nos casar? É
muito
precipitado,
Malcom não o
entenderá.
Supõe-se que
você acreditava
que eu era um
moço até ontem,
como vai aceitar
que da noite para
o dia queira te
casar comigo?
— Ele não tem
que aceitar. —
Espetou Ewan,
molesto porque
ela não se
mostrava
encantada com
sua proposta de
casamento. —
Você tem que
aceitar. Te case
comigo, agora,
esta noite. O
padre Cameron
nos está
esperando.
Amanhã quando
Malcom se
inteire, já não
poderá fazer
nada.
Willow suspirou
e lhe deixou ver
um sorriso triste.
— Oh, sim.
Claro que poderá
fazer algo... Te
matará.
Ewan a soltou,
frustrado, e
andou pela
habitação como
se estivesse
enjaulado.
— Acha que eu
lhe deixaria?
Subestima-me,
mulher. Seu
irmão é sem
dúvida poderoso,
mas posso lhe
enfrentar.
Era a sua vez de
enfurecer-se.
— Oh, sim, é
obvio! O laird
dos Campbell é
um grande
guerreiro e não
lhe pode
questionar, certo?
Sinto muito, mas
sim o questiono.
Vi lutar a meu
irmão e pode te
fazer muito dano.
Entretanto, o que
mais me
preocupa é que
você queira
machucar a ele.
Sei que também
poderia fazer-lhe
e isso jamais o
consentirei. Já
perdi ao Niall,
não penso perder
ao Malcom. —
Willow baixou o
tom para
acrescentar. —
Sinto muito,
Ewan, mas não
posso me casar
contigo. Não
serei a culpada de
uma disputa
entre nossas
famílias.
Ewan lhe dirigiu
um olhar
carregado de
desejo e fúria
possessiva.
— É minha.
Volto-te a repetir
o que te disse
esta tarde, acha
que vou permitir
que abandone
Innis Chonnel?
— Claro que o
fará, insuportável
tirano. Que me
tenha entregue a
ti não significa
que seja tua,
ouve-me? Não
sou de ninguém.
O que vais fazer,
me seqüestrar?
— Estou
contemplando
essa
possibilidade,
sim.
— Tornaste-te
completamente
louco.
Ele se equilibrou
então sobre ela e
a encerrou entre
seus braços.
Willow notava o
poder daquele
corpo que se
impunha ao seu
sem esforço, mas
não sentiu temor.
Já não tinha
medo daquele
homem, porque
por muito
carrancuda que
fosse sua
expressão, sabia
que não lhe faria
nenhum dano.
— Você me
tornou louco. —
A corrigiu ele,
baixando o rosto
para beijá-la uma
vez mais.
Ela se rendeu aos
seus lábios sem
apresentar
batalha. Gostava
de saber que era
desejada, gostava
de seus beijos.
Mas era tão
teimosa quanto
ele e, por muitos
beijos que lhe
desse, não
obteria que
mudasse de
opinião.
— Vê? É minha.
Fostes desde que
me olhou pela
primeira vez com
esses olhos de
duende que me
têm enfeitiçado.
Seu coração é
meu, você
mesma o
confessou, assim
vamos nos casar.
Lhe acariciou o
queixo com esse
sorriso tímido
que não
pressagiava nada
bom.
— Se em lugar
do Malcom
tivesse sido Niall,
teríamos uma
oportunidade.
Niall me
conhecia melhor
que ninguém,
Niall tinha o
coração mais
sensível. Teria
nos entendido...
Ou isso quero
acreditar. Mas
Malcom não o
entenderá.
Malcom te
matará, e eu não
quero que isso
ocorra.
Tampouco quero
perdê-lo, amo ao
meu irmão e
agora só estamos
ele e eu. Não
posso lhe fazer
isto...
Quando
pronunciou a
última frase, seus
olhos se
encheram de
lágrimas. Com
cada palavra, a
dor no rosto de
Ewan se fazia
mais evidente.
Estava o
rechaçando e a
ela mesma lhe
partia o coração.
— Fica muito
claro de que lado
está sua lealdade.
— Disse, com o
tom gelado,
soltando-a.
— Oxalá tudo
fosse distinto,
como disse. —
Willow virou
para o fogo e
esfregou os
braços. De
repente, tinha
muito frio.
— Não. O que
eu disse foi que
oxalá só fosse
Will. — replicou
Ewan com
dureza. — Então
ninguém te
afastaria de mim.
Não soube como
chegou esse
pensamento a
sua cabeça, mas
Willow se
encontrou de
repente ante uma
idéia inquietante.
Olhou-o antes de
perguntar.
— Teria te
casado com o
Will?
— O que quer
dizer?
— Se eu não
fosse uma dama,
se eu não tivesse
uma família
poderosa, teria te
casado comigo?
Ou te teria
limitado a me
conservar como
amante?
Ewan demorou
demais para
responder, e esse
foi seu engano.
— Suponho que
sim. No final
teria me casado
contigo.
— No final? No
final do que?
— Ainda estou
me acostumando
a ver-te como
mulher. Não
posso te dizer o
que teria
acontecido se
fosse somente
Will, uma
faxineira.
Entretanto,
tenho certeza que
não teria te
deixado partir...
— É obvio que
não! — Estalou
ela. — Ao Will
podia submetê-la,
encerrá-la em sua
masmorra, fazer
com ela o que
tivesse vontade.
Porque é o laird
dos Campbell e
sempre tem que
fazer-se sua
vontade. Me
tiveste a seu
serviço pessoal
todo este tempo
e agora não
admite que eu
não obedeça suas
exigências.
Ewan se mostrou
abatido depois de
suas duras
palavras.
— Pensei que a
este tempo tinha
chegado a me
conhecer melhor.
Ela o olhou com
olhos doídos.
— Oh, sim.
Conheço-te.
Tem-me feito a
vida impossível
só porque
pensava que não
era o que se
supunha que
devia ser. Não
cumpria suas
regras
mesquinhas e
intransigentes e
fui devidamente
castigada por
isso.
— Essa é a
opinião que
mereço de ti?
Não. Willow
também pensava
que era o homem
mais incrível que
tinha conhecido.
Mas não o diria.
Confessar que se
apaixonou por
ele apenas
pioraria as coisas.
E ela tinha que
partir no dia
seguinte, com o
Malcom, e
afastar-se do
Innis Chonnel
sem nenhum tipo
de vacilação.
Seu silêncio feriu
Ewan no mais
profundo de seu
ser. Reconhecia
que não a tinha
tratado bem e
que as coisas
teriam sido muito
distintas se ele
soubesse sobre
sua verdadeira
identidade. Mas
ela estava
passando por
cima o calvário
que tinha sofrido
por esse mesmo
motivo e também
que, uma vez
descoberta a
verdade, não
tinha tido
oportunidade de
lhe demonstrar
nada.
Não tinham tido
tempo, essa era a
questão, e se ela
partia no dia
seguinte, nunca o
teriam.
— Muito bem.
— Disse,
dirigindo-se à
porta secreta
para voltar para
seu próprio
quarto. — Não
insistirei mais.
Pensei que Will
seria mais
valente, que seria
capaz de romper
as normas e lutar
pelo que
desejava. Eu
rompi essas
regras por ti,
desobedecendo
as regras de
minha moral, de
minha estrita
educação; aceitei
meus
sentimentos,
expus-me à
censura de todo
meu clã por ti.
Colocaste-te em
meu sangue, em
minha cabeça,
em meu coração.
Teria arriscado
tudo por ti,
embora
unicamente fosse
Will. Que seja
filha do laird
MacGregor só
acelera a tomada
de decisões
porque é a única
maneira de te ter.
Mas se você não
pensa
desobedecer a
seu irmão, se for
acatar o que ele
ordene sem
vacilar... Que
assim seja.
Desapareceu
antes de que
Willow
encontrasse as
palavras que
precisava lhe
dizer. Quando se
viu sozinha na
habitação,
deixou-se cair de
joelhos no chão,
abraçando o
corpo, e deixou
que toda a dor
que sentia no
coração se
transbordasse
por seus olhos
em forma de
pranto silencioso.

CAPITULO 38
Não tinha
dormido bem.
Como dormir,
com essa
angústia que lhe
oprimia o peito?
Willow se
levantou muito
cedo e se vestiu
sem ajuda de
nenhuma
donzela. Em sua
vida anterior
talvez tivesse
esperado que
alguém fosse
despertá-la,
vadiando na
cama, para
deixar-se logo
aconselhar sobre
o penteado que
devia usar ou a
roupa que podia
vestir esse dia.
Mas já não.
Levava muito
tempo valendo-
se por si mesma
para recorrer a
serventes que
fizessem o que
ela podia fazer
sozinha.
Quando estava
penteando seu
curto cabelo,
Liese entrou sem
chamar e se
dirigiu a ela quase
sem fôlego.
— Por todos os
céus, Liese! O
que ocorre?
A jovem loira
agarrou ar, com
uma mão no
peito, antes de
falar.
— O vai matar,
Will. Tem que vir
comigo,
depressa.
O coração de
Willow disparou
ante seu tom de
alarme.
— A quem vão
matar?
— Seu irmão... O
laird...
A Leise custava
explicar-se.
Willow não
esperou para
entender, agarrou
sua mão e saíram
juntas da
habitação a toda
pressa. O que
tinha acontecido?
Quem ia matar a
quem? De
qualquer modo, o
medo apertou a
garganta da
jovem até lhe
doer.
Leise a guiou até
o pátio de armas,
onde havia um
círculo de
pessoas que
formavam
redemoinhos em
torno da briga
que estava
acontecendo.
Willow abriu
passo a
cotoveladas e
quando por fim
pôde ver o que
estava ocorrendo,
o coração quase
lhe parou.
Malcom estava
moendo a
murros a um
Ewan que não se
defendia. O laird
dos Campbell
deixava que a
chuva de golpes
caísse sobre ele
sem fazer tão
sequer a ameaça
de devolvê-los. O
rosto de Malcom
estava crispado
pela fúria e a
raiva; o de Ewan,
ensangüentado e
aturdido.
— Por que
ninguém faz
nada? —
Perguntou,
desesperada, ao
notar que tanto
os guerreiros
Campbell como
os MacGregor
presenciavam
aquele abuso sem
tentar detê-los.
— Ewan o quis
assim. —
Respondeu
Melyon, indo a
seu lado. —
Acredito que
você é a única
que pode parar
esta loucura.
Willow,
horrorizada,
adiantou-se para
tentar transpassar
a nuvem de
cólera que
parecia cegar ao
seu irmão.
— Malcom, pare!
Ouve-me? Pára
de uma vez, vais
matá-lo!
Mas MacGregor
não pareceu
escutá-la. O
seguinte murro
conseguiu atirar
ao chão ao
poderoso Ewan
Campbell, e ela
aproveitou o
momento para
correr para seu
lado e interpor-se
entre ambos.
Enfrentou a seu
irmão com
valentia,
levantando uma
mão para que
detivesse um
novo ataque.
— Tornaste-te
louco? —
Perguntou. — A
que vem isto?
Malcom por fim
se precaveu de
sua presença.
Seus olhos
enfocaram e a
olhou, deixando
sair toda sua
decepção e seu
aborrecimento.
— De verdade
me pergunta
isso? —
Aproximou-se
dela e Willow deu
um passo atrás,
sobressaltada
pela fúria que
flamejava nos
olhos de seu
irmão. — Menos
mal que papai
não está aqui,
porque ele o teria
matado. Não me
foste contar isso.
Sei que não sou
Niall, mas não
posso acreditar
que não me
confiasse algo
assim.
— Do que está
falando? —
Perguntou ela,
em um sussurro.
Que diabos lhe
havia dito Ewan
para dar-lhe
semelhante
surra?
— Falo do que te
tem feito.
Desonrou-te,
abusou de ti... E
o confessou sem
nenhum pudor,
diante de todos.
Acaso o nega?
Willow corou,
envergonhada.
Entretanto,
manteve a vista
fixa nos olhos de
seu irmão.
— Não. Não o
nego.
Malcom respirou
fundo e fechou
os olhos, como
transpassado por
uma dor
lacerante.
Quando os abriu
de novo, sua
ordem foi
categórica.
— Queira-o ou
não, vai se casar
contigo. Hoje
mesmo. vou falar
com o padre
Cameron.
Deu a volta e
partiu com
passos irados.
Willow observou
que abria e
fechava suas
mãos, tentando
aliviar a dor que
devia ter em seus
ensangüentados
nódulos. Sem
dúvida, bateu
com prazer em
Ewan, não tinha
se contido na
hora de
descarregar toda
sua fúria sobre o
corpo de seu
oponente.
A jovem se
agachou junto ao
corpo cansado
do laird, que
tentava levantar-
se sem consegui-
lo. Sua cara
refletia o seu
estado. Sangrava-
lhe o nariz, suas
maçãs do rosto e
sobrancelhas
estavam abertos,
e tinha os lábios
inchados.
— O que fez? —
Perguntou-lhe,
notando que as
lágrimas iam aos
seus olhos ao vê-
lo nesse estado
lamentável. Ficou
quieto
suportando o
castigo que
Malcom lhe
infligia.
Conhecendo-o,
aquilo tinha que
ter sido uma
verdadeira
tortura, e não só
pela força dos
golpes. Conter-se
tinha que haver
custado um
mundo.
— Disse-te que
não ia permitir
que partisse.
— O que lhe
disse?
— Nada que não
soubessem já
todos os
Campbell: que
passou a outra
noite em meu
quarto, quando
ainda não sabia
que era uma
dama. Cedo ou
tarde teria se
informado, de
toda maneira.
— Poderia haver
te matado... —
Sussurrou ela, lhe
acariciando a
cabeça.
Ewan se
incorporou com
um gesto de dor
e pôs uma mão
sobre sua
bochecha.
— E nem sequer
lhe cheguei a
confessar que te
tirei a virgindade
em uma
masmorra
fedorenta... —
Sussurrou-lhe, de
modo que
ninguém mais os
escutasse. — Céu
santo, me
prometa que
jamais o dirá, não
quero voltar a
passar por isso
nunca mais. Do
que parecem suas
mãos, por todos
os infernos? De
ferro?
Willow sorriu
entre lágrimas.
Ajudou-lhe a
levantar-se e,
antes de dar-se
conta, Ewan a
estava abraçando,
enterrando a cara
em seu pescoço.
— Me perdoe
por te obrigar a
estas bodas.
Disse-me que só
obedeceria ao seu
irmão, não me
deixou opção. —
Posou as mãos
em suas
bochechas e
aprofundou em
seus olhos. —
Não podia deixar
que partisse,
pequeno duende.
Não posso viver
sem ti.
Beijou-a depois
de suas palavras.
Muito devagar,
contendo o
fôlego pela dor
que devia sentir
nos lábios.
Willow reprimiu
sua vontade de
esmagar a boca
contra a do
homem, assim se
limitou a deixar-
se acariciar, feliz
por como se
resolveu seu
problema e, ao
mesmo tempo,
triste pelo
desgosto que
tinha causado a
sua gente. Sobre
tudo ao Malcom.
Falaria com ele
depois das bodas.
Explicaria-lhe
que o ocorrido
tinha sido culpa
dos dois, algo
que não podiam
ter evitado
embora o
tivessem querido,
porque se
amavam...
Nenhum dos
dois o tinha
pronunciado em
voz alta, mas
Willow sabia que
era assim. E
Malcom tinha
que entendê-lo e
perdoá-la. Só
assim sua
felicidade seria
completa.
A cerimônia foi
realizada nessa
mesma tarde. O
padre Cameron
não pôs nenhum
inconveniente e
menos depois de
ver a furiosa
expressão de
MacGregor. Ele
mesmo
apadrinhou à
noiva em
ausência de seu
pai, e a expressão
assassina de seu
rosto não
desapareceu até
bem avançada a
celebração. O
mal-estar que se
manifestava claro
em cada um de
seus gestos se
estendia por igual
a todos e cada
um dos
MacGregor ali
presentes. Os
Campbell,
entretanto,
estavam
divididos. Alguns,
como Alec,
Melyon, Colin e a
maioria dos
serventes, entre
os que se
encontravam os
St. Claire,
mostravam-se
felizes e
satisfeitos com
essa união. Maud
não deixou de
chorar,
emocionada,
enquanto John
lhe passava a
mão pelas costas
para consolá-la.
O resto dos
Campbell
estavam
aturdidos. As
tropas do laird,
quão mesmos
tantas vezes
tinham
desprezado ao
moço chamado
Will, viam agora
como este se
convertia na
esposa de seu
chefe. Se não
menos, era uma
circunstância
estranha e
desconcertante.
O ambiente
relaxou bastante
durante o jantar
que teve lugar
depois. Não foi
uma celebração
fastuosa, não
tinham tido
tempo para isso
e, além disso, no
dia anterior
tinham
consumido o
melhor cordeiro
e suas reservas de
salmão. Mas não
faltaram o vinho
e a cerveja, e
algum brinde
especial para os
noivos e
familiares mais
próximos com o
licor favorito do
padre Cameron,
o que conseguiu
temperar os
nervos de ambos
os clãs. O
desgosto de
Malcom foi
passando com
cada jarra de
cerveja que
ingeria, e no
final, acabou
ficando em pé
para dedicar
umas palavras a
sua irmã e a seu
marido.
— Willow, quero
te desejar, aqui
diante de todos
nossos amigos,
toda a felicidade
do mundo. Não
era as bodas que
sua família
desejava para ti,
mas se você amar
a este homem,
não há mais o
que falar. Oxalá
nosso pai
estivesse aqui.
Diria-te que não
viu nunca uma
noiva tão bonita
como você.
Oxalá... —
Malcom agarrou
ar, tragando o nó
que tinha na
garganta. —
Oxalá Niall
pudesse ver-te
neste momento.
Lhe travou a voz
e Willow teve
que limpar as
lágrimas que
tinham ido aos
seus olhos ao
escutar o nome
de seu outro
irmão.
— Eu sei que me
está vendo,
Malcom. Sinto-o
aqui. —
Sussurrou,
tocando o peito à
altura do coração.
MacGregor
assentiu,
satisfeito por seu
comentário, antes
de prosseguir seu
pequeno
discurso.
— E a ti, Ewan
Campbell,
desejo-te que
saiba fazer feliz a
minha irmã. Fica
com a jóia do
Meggernie, fica
com parte de
nossos corações.
Se ela te
escolheu, não
duvido de que
fará o possível
por merecê-la. E
se não o faz —
O olhou com
tanta intensidade
que Ewan notou
o calor desse
olhar em cada
uma de suas
feridas. —
Terminarei o que
comecei hoje.
Matarei-te.
Houve um tenso
silêncio depois
dessa última
ameaça, até que
Angus, o tenente
de Malcom se
levantou com sua
jarra erguida e
exclamou em voz
alta.
— Para Willow e
Ewan, a sua
saúde!
O resto dos
presentes
brindaram
também por eles
e a celebração
continuou sem
mais incidentes.
Houve música e
danças, e a nova
esposa do laird
dançou com todo
aquele que o
pediu. Até Bors
lhe solicitou uma
dança e ela
aceitou sem
rancores,
desfrutando dos
cuidados que
recebia de sua
nova família.
Ewan a
contemplava de
seu assento,
incapaz de seguir
o ritmo da festa
devido aos
machucados de
seu corpo. Se não
tivesse sido
porque a noiva se
encontrava
radiante,
ganhando os
corações de
todos os
presentes, teria se
retirado aos seus
aposentos assim
que terminou o
jantar. Estava
destroçado, esse
MacGregor se
enfureceu com
ele e demoraria
vários dias em
recuperar-se e em
respirar sem que
lhe doessem as
costelas. Mas ver
o sorriso de
Willow, sua
esposa, enquanto
dançava sem
trégua com um e
outro, merecia o
esforço de
agüentar um
pouco mais.
Nesse momento
se deu conta do
pouco que a
tinha visto
sorrir... E rir,
nunca. A partir
daquele dia
esperava ver
essas amostras de
felicidade
diariamente. Seu
rosto se
transformava
com o sorriso.
Voltava-se mais
luminoso, mais
belo se fosse
possível... Não
via o momento
de que a festa
terminasse para
poder desfrutar
dela a sós, sem
ter que
compartilhá-la
com os outros.
Ao finalizar uma
das danças,
Willow se
aproximou dele e
se sentou sobre
seu colo com
descaramento,
juntando a testa
com a sua.
— Como te
encontra? —
Perguntou-lhe,
quase sem fôlego
pelo baile.
— Se pretende
que dance
contigo, já pode
ir por onde
vieste, esposa.
Willow ficou
séria depois desse
comentário.
Ewan tinha
usado um tom
brincalhão, de
acordo com o
ânimo que ela
exibia, e não
esperava que
reagisse assim.
— O que te
ocorre? — Quis
saber.
— É que...
Chamaste-me
esposa.
— Não quer que
te chame assim?
— Sim, claro.
Não me
incomoda,
justamente o
contrário. Mas
acabo de me dar
conta de que
estamos casados.
Casados de
verdade.
Ewan lhe
mostrou um
sorriso que
poderia ter sido
radiante, se seus
lábios não
tivessem estado
tão machucados.
Adorava a essa
mulher.
— Acaba de te
dar conta? Onde
estiveste durante
a cerimônia e
antes da
celebração?
— Acreditava
que aqui, ao seu
lado. É evidente
que a euforia me
despistou e não
estive consciente
até agora do que
isto significa.
— E o que
significa?
Lhe rodeou o
pescoço com
seus braços e se
apertou contra
seu corpo.
Inclinou-se sobre
seu ouvido para
lhe sussurrar a
resposta.
— Que vamos
passar juntos o
resto de nossas
vidas.
— Podemos
começar por esta
noite. Importa-te
se te privo do
resto das danças
e te levo pra
nosso quarto sem
mais demora?
Willow o olhou
nos olhos e ele
pôde ver, uma
vez mais, quanto
o desejava. Não
podia acreditar
na sorte que
tinha tido de
encontrá-la.
— Me leve aonde
queira, Ewan.
Você tinha razão,
sou toda tua.
E o laird dos
Campbell
premiou essa
confissão com
um terno beijo
diante de seus
convidados, que
se animaram
entusiasmados ao
descobrir que o
amor que
professavam os
noivos era real e
apaixonado.

— Hoje ganhaste
o coração de
todos os
Campbell. —
Disse Ewan
quando por fim
ficaram sozinhos
em seu quarto.
— E o de Bors,
em particular,
não era nada fácil
de conquistar.
— Mostrou-se
arrependido por
me haver
insultado tantas
vezes, mas não
acredito que
tenha sido
porque o tenha
conquistado.
Tenho a suspeita
de que meu
irmão teve muito
a ver com sua
mudança de
atitude. Bors viu
o que fez a ti e,
se Malcom
chegasse a
inteirar-se de
como me tratou
ele, quem sabe
como reagiria.
Ewan levou uma
mão ao quadril
com gesto de
dor.
— Quem sabe?
Eu sei. Seu irmão
é um verdadeiro
selvagem.
— Já lhe disse
isso, mas não me
fez conta. Teria
sido mais sensato
não dizer nada...
De momento.
Tivesse-me
partido com ele e
eu o teria
contado mais
adiante. Com
mais calma e
quando estivesse
longe de ti. Teria
estado a salvo.
Ewan agarrou o
braço de sua
esposa para atrai-
la para ele e
beijar seus lábios
muito devagar.
— Nunca estarei
a salvo se estiver
longe de ti. Não
o entende?
— Entendo-o.
Mas me parece
excessivo o preço
que teve que
pagar. —
Replicou ela,
beijando cada
hematoma de seu
maltratado rosto.
— Passaria por
essa tortura mil
vezes para não te
perder...
— Amo-te,
Ewan. —
Confessou ela,
abraçando-o com
força.
O homem vaiou
de dor e a
afastou com
cuidado.
— Me perdoe,
pequeno duende.
Acredito que não
vais poder
desfrutar de uma
noite de bodas
como Deus
manda. Não
posso mais...
Preciso me
deitar.
Willow lhe
ajudou a chegar
ao leito e Ewan
se sentou,
bufando por não
poder agradar a
sua mulher como
merecia.
— Logo
desfrutaremos de
nossa noite de
núpcias em outro
momento,
marido. Hoje me
conformo com
que durma a meu
lado, me
envolvendo com
seu calor. Vêm,
te ajudarei a se
despir.
Se o laird dos
Campbell
acreditava que
padecer os
golpes de
Malcom
MacGregor era a
pior tortura a que
podiam submetê-
lo, equivocava-se.
Sentir as
pequenas mãos
de sua adorável
mulher despindo-
o, roçando seus
braços, seu peito,
suas pernas... Era
mais do que
podia suportar.
Apesar de que
seu corpo não
estava em
condições, notou
que respondia
com vontade
própria aos
cuidados de sua
esposa. E
também esteve
consciente de
que ela escondia
um sorriso ao
dar-se conta de
como reagia ao
seu contato.
— Por que tenho
a sensação de que
está me
provocando de
propósito? É
consciente de
que vais matar-
me?
— Não. Meu
senhor, não vai
acontecer nada
esta noite entre
você e eu. Quero
que se recupere
de suas feridas
quanto antes.
— Está segura?

Completamente.
Não vai
acontecer nada...
Exceto que
vamos dormir
muito juntos,
abraçados... E
nus.
Ewan se esticou
ao escutar essas
palavras de sua
boca. As imagens
que evocavam
em sua mente
eram mais
sugestivas que a
própria realidade.
Uma sacudida de
desejo o
estremeceu dos
pés a cabeça e
enredou suas
mãos no curto
cabelo de Willow
para procurar sua
boca.
— Shhh, nada
disso. — O
repreendeu ela,
apartando-se
lentamente para
ficar longe de seu
alcance.
Situou-se em
frente a ele e
começou a tirar a
roupa sem
nenhum
complexo. Já o
tinha feito antes
e desfrutava com
o olhar aceso de
Ewan, com seus
lábios
entreabertos que
ofegavam de
paixão pelo mero
feito de
contemplá-la.
Desfez-se
lentamente do
singelo vestido
cor nata que
tinha usado para
as bodas,
imprimindo aos
seus movimentos
um ar tão sensual
que ao guerreiro
lhe secou a boca
e lhe disparou o
pulso.
— Quero sentir
sua pele. —
Sussurrou,
quando esteve
nua, voltando ao
seu lado.
Ajudou-lhe a
deitar-se e ela se
aconchegou
contra seu corpo,
exalando um
suspiro satisfeito.
Era evidente que
seu marido estava
muito tenso e
excitado, mas
também era
consciente dos
machucados que
cobriam seu
torso e a
dificuldade que
tinha ao respirar.
Acariciou-lhe
devagar o peito,
seguindo as
linhas de suas
cicatrizes, com a
intenção de
conseguir que
relaxasse. Depois
de uns minutos, a
mão de Ewan
apanhou a sua
para que se
mantivesse
quieta.
— Pare ou não
respondo por
mim. Sabe o que
me faz? Isto é
muito pior que a
surra de seu
irmão. É um
duende
malvado...
— Prefere que
ponha a
camisola? —
Murmurou ela,
dengosa,
apertando-se
contra ele.
— Não vais
voltar a usá-la
comigo, Will.
Dormirá sempre
assim, nua, a meu
lado.
— Menos
quando dormir
em meu próprio
quarto.
— Não terá seu
próprio quarto,
esposa. Ao
menos para
dormir. Que
meus pais
usassem essa
fórmula não
significa que eu
também tenha
que aplicá-la.
Quero-te
comigo, sempre
que for possível.
Willow sorriu
com a bochecha
apoiada em seu
peito. Não podia
sentir-se mais
feliz.
— Durma,
marido. Prometo
ser boa. Não te
tocarei mais por
esta noite, te
deixarei
descansar.
O grunhido do
laird reverberou
naquele amplo
peito que lhe
servia de
travesseiro.
— Isso é muito
fácil de dizer...
Esta manhã
pensei que seu
irmão ia me
matar. Quão
equivocado
estava, você, vais
me matar.

CAPITULO 39

Os homens
MacGregor
estavam
preparados para
partir. O dia
tinha
amanhecido
muito nublado,
fazia frio e um ar
incômodo
penetrava por
cada rincão do
Innis Chonnel.
Malcom se
aproximou de
sua irmã, que
tremia envolta
em sua capa
junto ao portão
de saída da
fortaleza.
— Volta para
dentro. Está
tremendo de frio.
— Disse,
apoiando as
fortes mãos em
seus ombros.
— Não é pelo
frio. — Falou ela.
— Tenho medo.
Quando voltarei
a ver-te? Fico
sozinha outra
vez...
— Já não está
sozinha. Agora é
a senhora deste
castelo e há
muita gente que
te agasalhará e te
fará companhia.
Agora tem um
marido.
— Sim, que
partirá também
dentro de pouco.
Com respeito a
isso Malcom não
podia consolá-la.
Abraçou-a,
tentando lhe
transmitir com
esse gesto tudo o
que era incapaz
de lhe expressar
com palavras. Ela
enterrou a cara
em seu peito e
lhe devolveu o
abraço, presa de
um tremor que
não podia
controlar.
— Diga à papai
que sinto falta
dele, e que o
tenho sempre
presente em meu
coração. Lhe diga
também que me
perdoe. Sei que
não era as bodas
que tinha
pensado para
mim, mas
também sei que
Ewan lhe
parecerá um
genro mais que
aceitável.
Malcom suspirou
e beijou sua
cabeça.
— Apesar de que
sigo detestando a
esse miserável
pelo que te fez,
reconheço que é
um laird forte.
Seus homens e
sua gente o
respeitam e o
admiram. E te
ama, ou do
contrário, não se
explica que não
me devolvesse
nenhum só dos
golpes que lhe
dava. Isso tem
que me bastar
para considerá-lo
digno de ti e
estou convencido
de que papai não
lhe porá
nenhuma falha.
Willow se satisfez
ao escutá-lo dizer
isso.
Separou-se e
olhou o rosto de
seu irmão com
avidez, tratando
memorizar cada
um de seus
traços, o brilho
de seus olhos
azuis, o bem que
lhe sentava essa
barba escura que
lhe dava um ar
perigoso.
— Quero que
volte são e salvo,
ouve-me? E, por
favor, traz nosso
pai também de
volta. Necessito
que me dê sua
bênção...
Malcom secou
com seu polegar
a lágrima que
escapou dos
olhos de sua
irmã. Sabia o
duro que tinha
sido para ela que
seu pai não
estivesse no dia
de suas bodas.
Essa maldita
guerra lhes estava
roubando muitas
coisas... Mas valia
ganhá-la de uma
vez para que
todos pudessem
voltar para suas
vidas.
— Tranqüila. —
Sussurrou. — A
nossa volta,
organizaremos
uma celebração
como Deus
manda. Usará um
vestido de noiva
de verdade. E
estarão todas as
pessoas que ama
e que não
puderam estar
nesta ocasião:
papai, o tio
Gilmer, sua
gente...
Willow assentiu,
sorvendo suas
lágrimas. Sim,
desejava com
todo seu coração
que esse dia
chegasse. Não
pelo
acontecimento
em si, mas sim
porque isso
significaria que
todos estavam
bem, que tinham
saído vitoriosos
das misérias do
tempo que
viveram. A
guerra teria
terminado e
poderiam viver
em paz, sem
sofrer mais
ausências, sem
padecer mais
mortes
desnecessárias
como a de Niall.
— Willow, não
queria partir sem
te falar disto. —
Malcom chamou
sua atenção com
seriedade e a
afastou dos
ouvidos curiosos
que rondavam
pela área. —
Peguei a carta
que enviaram ao
Niall, a levarei
para papai. Você
segue em perigo,
ao menos até que
encontremos o
traidor. Acredito
que aqui estará a
salvo, os
Campbell
demonstraram
ser de confiança
e cuidarão de ti.
Por favor, tome
precauções
extremas e avise
Ewan para deixar
uma guarnição na
fortaleza. Se eu
descobrir algo,
informo o
quanto antes.
Willow assentiu e
não pôde evitar
sentir certo alívio
ao ceder ao seu
irmão parte da
carga que tinha
levado desde o
dia do ataque.
Não estava
sozinha nessa
luta, Malcom se
encarregaria de
indagar até
encontrar o
assassino de
Niall, não lhe
restava nenhuma
dúvida. Abraçou-
o, apertando-o
tão forte quanto
pôde para poder
sentir seu
coração pulsando
em seu peito,
para que suas
roupas e suas
mãos se
impregnassem
com o particular
aroma de sua
família.
— Tenho que
partir já, meus
homens esperam.
— Disse ele com
o tom
enrouquecido
pela emoção.
— Não deixe que
lhe matem, por
favor.
— Eu cuidarei
dele, pequena,
não tema. —
Disse uma voz a
suas costas.
Willow soltou
Malcom e girou
para ver Angus,
preparado já para
partir. O enorme
guerreiro a
contemplava com
carinho e ela se
lançou também
em seus braços
para despedir-se.
— Promete? —
Sussurrou-lhe ao
ouvido.
— Não pude
estar ao lado de
Niall para
protegê-lo.
Ninguém fará
mal a seu outro
irmão se eu
puder evitá-lo. —
Assegurou o
grande homem,
lhe devolvendo o
abraço com
constrangimento.
Willow notou um
doloroso nó na
garganta quando
os viu partir.
Odiava essa
maldita guerra, e
rezou com toda
sua alma para
que todos
aqueles aos que
via partir
retornassem
logo, sãos e
salvos.

Ewan se
encontrava muito
melhor. Estava
convencido de
que a suavidade
da pele de seu
duende e seu
calor corporal
eram curativos,
porque não se
explicava que
com a surra que
tinha recebido já
pudesse levantar-
se sem
dificuldade da
cama. Levava
uma semana
casado com Will,
e não deixava de
surpreendê-lo.
Tudo tinha
acontecido tão
rápido que ainda
não acreditava...
Era como se
aquilo tivesse
acontecido a
outro e ele fosse
um mero
espectador de sua
própria vida. Às
vezes, quando
contemplava
aquela que agora
por direito era
sua mulher,
seguia vendo o
moço que tinha
fingido ser.
Pouco a pouco,
seu cabelo
voltaria a crescer
e sua aparência
mudaria para
erradicar a
imagem de
duende que o
tinha
conquistado.
Estava
convencido de
que ele seguiria
encontrando-a
formosa, porque
havia algo nela,
algo muito mais
profundo que um
cabelo recortado
e uns olhos como
céus da
primavera, que o
cativava. Mas
lamentava que
perdesse a
essência do que
tinha chamado
sua atenção.
Por outro lado, a
mulher que
descobria cada
noite, quando se
despia na frente
dele sem
disfarces,
enfeitiçava-o. Era
uma contínua
fonte de
motivação e
novas sensações.
Jamais lhe tinha
ocorrido algo
assim com
ninguém. Will era
tão verdadeira,
tão sincera, tão
natural, que ele
não compreendia
como não tinha
descoberto antes
seu disfarce. Não
parecia lhe ter
medo, não
demonstrava o
pudor que
poderia esperar-
se em uma recém
casada ante o
ímpeto
apaixonado de
seu marido. E
essa qualidade o
avivava ainda
mais. Cada noite,
ajudava-o a
despir-se para ir
dormir. Seus
finos dedos não
titubeavam e a
muito descarada
o acariciava com
prazer, deixando
claro que seu
enorme corpo de
guerreiro a
fascinava. E ele
desejava que não
lhe doessem
tanto as costelas
ao respirar, para
apanhá-la entre
seus braços e lhe
demonstrar o que
podia encontrar
se persistia
naquela atitude
provocadora.
Logo, quando
Ewan já estava
convexo no leito,
despia-se ela. Era
uma verdadeira
tortura. Will era
suave, pequena,
perfeita. Sua pele,
iluminada pelo
fogo que
mantinham aceso
no lar, adquiria
tons quentes e
dourados que o
hipnotizavam.
Seus movimentos
eram
deliberadamente
lentos e o
guerreiro se
perguntava se ela
era consciente do
que fazia, do
febril que
resultava seu
estranho ritual. A
deliciosa boca de
seu duende se
mantinha
entreaberta no
processo.
Algumas vezes,
sua pequena
língua aparecia
para umedecer
seus lábios e
Ewan tinha que
fechar os olhos,
convencido de
que
enlouqueceria de
desejo por essa
criatura.
No final, a jovem
se juntava a ele
na cama e
agasalhava a
ambos com uma
manta para
enrolar-se depois
contra seu corpo,
como ela queria,
pele com pele,
notando cada um
a respiração do
outro, seu calor,
os
estremecimentos
que os sacudiam
pelo mero fato
de estarem tão
juntos.
Para Ewan
custava conciliar
o sono nessas
condições.
Estava
convencido de
que sua esposa,
em sua escassa
experiência,
ignorava até que
ponto o
perturbava com
sua desinibida
atitude. E se
tivesse
confessado que
não podia
descansar nessas
condições, não
duvidava de que
ela teria partido à
habitação de sua
mãe para pôr
distância entre os
dois, para seu
bem.
Isso não deveria
acontecer jamais.
Ele agüentaria
aquela tortura
com os dentes
apertados. Ele
esperaria...
Saberia esperar.
E apenas desse
modo conseguia
finalmente cair
no sono
reparador:
imaginando sua
vingança.
Imaginando
como cobraria
cada uma das
carícias que seu
duende lhe tinha
prodigalizado
sem que ele
pudesse lhe
corresponder,
recriando em sua
mente como
seriam os beijos
que devorariam
aquela boca
provocadora,
fantasiando com
o momento em
que pudesse
afundar-se de
novo nela e lhe
arrancar os
gemidos de
prazer que o
voltavam louco...
Levantou-se da
cama sacudindo a
cabeça, tentando
acalmar seus
ardorosos
pensamentos.
Essa sua mulher,
definitivamente,
ia conseguir que
perdesse a razão.
Olhou ao seu
redor, um pouco
desorientado,
para descobrir
que já fazia
tempo que tinha
amanhecido e
que os
MacGregor
teriam saído a
essa hora do
Innis Chonnel.
Lamentava não
ter podido ir se
despedir, mas
Will também
tinha resultado
ser uma
mandona e lhe
tinha proibido
fazer qualquer
esforço
desnecessário.
— Quero que te
recupere quanto
antes. — Havia
dito, lhe dando
um beijo rápido
nos lábios que o
deixou com
vontades de mais.
Partiu deixando
um vazio
perturbador em
sua cama. Ewan
supôs que
retornaria logo,
assim que tivesse
se despedido de
sua gente. Mas
não foi assim.
Esperou-a em
vão e, no final,
decidiu que iria
procurá-la ele
mesmo.
Encontrou-se
enrugando a testa
quando se deu
conta de que
talvez a jovem
tinha decidido
partir com os
MacGregor,
depois de tudo.
— Não. Ela não
faria isso. —
Disse em voz
alta.
No caso de ter
feito, apressou-se
a vestir-se com o
primeiro que
encontrou.
Quando estava
calçando as
botas, não sem
dificuldade, a
porta se abriu e o
alívio o alagou,
dissolvendo o nó
de pânico que lhe
tinha formado na
boca do
estômago.
— O que faz
levantado? —
Perguntou-lhe
Willow.
Trazia em suas
mãos uma
bandeja com um
tigela de caldo,
um pouco de
carne, fruta e
bebida.
— Ia te buscar.
— Reconheceu
ele. — Demorava
muito.
— Fui até a
cozinha para te
trazer o café da
manhã. Perdão,
talvez me
entretive demais
da conta. Tanta
fome tem?
Ewan fechou os
olhos e suspirou.
Ela mal entendia
sua impaciência.
— Sim, tenho
fome. Mas não se
trata disso.
A jovem deixou a
bandeja sobre a
mesa que ele
usava como
escritório e o
olhou
estranhamente.
Seu gesto intenso
e a maneira de
contemplá-la
foram mais
reveladores que
as palavras.
— Acreditava
que eu tinha ido
com o Malcom?
— Bom. Já ficou
claro a quem
deve lealdade.
Era uma
possibilidade.
Willow foi ao seu
lado e se
ajoelhou aos pés
da cama, onde
ele estava
sentado. Pôs as
pequenas mãos
sobre seus
joelhos e
procurou seus
olhos.
— Depois do
que fez, depois
de te expor
diante de todos e
deixar que
Malcom te
destroçasse a
murros, acha que
te abandonaria?
— Só ficaste por
pena? —
Perguntou ele a
sua vez.
Ela abriu os
olhos,
surpreendida de
que lhe tivesse
passado essa
ideia pela cabeça.
— Ewan
Campbell, você
não pode inspirar
pena a ninguém.
Não te viu? Não
te dá conta de
como lhe olham
todos? É um
guerreiro
imponente, um
homem notável.
Os que não lhe
temem, que são
muitos, admiram-
lhe.
— E você?
— Eu o que?
— Teme-me... ou
me admira?
Willow se
incorporou e se
sentou
escarranchada
sobre seus
joelhos,
levantando as
saias para poder
acomodar-se
melhor. Rodeou-
lhe o pescoço
com os braços e
fundiu seus olhos
com seu olhar
atormentado.
Enterneceu-se ao
ver que sua
resposta era de
vital importância
para ele.
— Eu te amo,
Ewan Campbell.
Temo que você
não sinta o
mesmo por mim.
Temo o
momento em que
tenha que te
deixar partir.
Temo ter que
dormir nesta
cama sem que
você esteja nela.
E admiro tudo o
que tem feito por
mim, o homem
que é, sua
valentia, sua
confiança, seu
lado mais
selvagem, o
brilho de seus
olhos quando me
olha e só vê o
Will, sem mais
adornos que o
halo de mistério
e magia que te
empenhaste em
me outorgar.
— Não o duvide,
pequeno duende.
Esse brilho que
te fascina em
meus olhos é
amor.
Ela se apertou
contra o corpo
grande e quente
de seu marido.
— Então tenho
feito bem em
ficar, porque
assim me poderá
demonstrar isso.
Tem toda a
manhã para me
convencer...
— E a minha
convalescença?
— Sussurrou
Ewan contra seus
lábios
provocadores.
— Apelarei a sua
incrível fortaleza
física. Tiveste
uma semana para
te recuperar, a
sério me vais
fazer esperar
mais?
Antes de dar-se
conta do que
acontecia, Willow
se encontrou
envolta nos
poderosos braços
do homem,
arrastada até ficar
tombada de
barriga para cima
na cama, com ele
acomodado entre
suas pernas.
— Não terá que
esperar nem um
instante mais,
esposa. — Disse,
um segundo
antes de
apoderar-se de
sua boca.
Ela o aceitou
ansiosa, avivada
ao descobrir que
ele estava mais
que preparado
para cumprir
com seus deveres
maritais.
Necessitava sua
respiração, o
fôlego que
escapava de seus
lábios, o
selvagem
impulso de cada
uma de suas
carícias, o beijo
de sua pele em
todo seu corpo.
Despiram-se um
ao outro sem
atrasar-se nem
entreter-se nos
detalhes. A
paixão contida
durante esses
dias exigia ser
liberada toda de
repente, feroz,
descontrolada,
tirana. Logo
haveria um
momento para o
amor calmo mais
tarde, quando
ambos se
saciassem
mutuamente,
quando os dois
se encontrassem
repletos do
aroma, do sabor,
do calor do
outro.
— Te abra para
mim, pequeno
duende. Me deixe
entrar. —
Murmurou
Ewan, perdido na
suavidade de seu
pescoço, no tato
daqueles
voluptuosos
peitos sob suas
mãos.
Willow separou
ainda mais suas
pernas disposta
para recebê-lo,
tremendo de
desejo,
suspirando de
prazer
antecipado. O
guerreiro se
colocou entre
suas coxas e a
penetrou com
força, fazendo-a
gritar. Esta vez
não se deteve
para comprovar
se ela estava bem,
pois seu rosto,
arrebatado de
emoção,
ruborizado pela
intensidade do
gozo, impeliu-o a
entregar-se por
completo.
Enquanto se
movia sobre ela,
nela, beijou-a
uma vez mais,
afundando sua
língua na doce
boca, tragando-
lhe quantos
gemidos
brotavam de
entre seus lábios.
Desejou que
aquele momento
durasse toda a
manhã e se
lamentou quando
se deu conta de
que não podia
prolongar o
prazer a seu
desejo pois tinha
vida própria,
crescia e crescia
ao mesmo ritmo
de suas
investidas,
inflamava-se com
cada carícia, com
cada palavra de
amor que
derramavam um
sobre o outro.
— Volta-me
selvagem... Não
posso me conter.
— Ewan, me
leve contigo. Me
encha de ti.
Seus ofegos, suas
palavras
suspiradas
acenderam a
faísca que
desencadeou o
orgasmo mais
incrível que
Ewan tinha
experiente em
sua vida. Seguiu
balançando-se
sobre ela depois,
detento de um
tremor delicioso,
tratando de
espremer ao
máximo a
sensação.
— Amo-te, Will.
— Sussurrou
contra seu
ouvido. — E
espero poder te
fazer isto muitas,
muitas vezes
mais antes de que
vá.
Willow conteve
um soluço de
prazer absoluto e
o abraçou com
força, sabendo
que tudo o que
lhe desse seria
insuficiente para
aplacar a
desesperada
necessidade que
tinha desse
homem. Nunca
teria bastante
dele, nunca se
saciaria.
— Melhor que o
faça. —
Advertiu,
procurando de
novo sua boca.
Queria averiguar
se era capaz de
acender de novo
a paixão de seu
marido usando
suas mãos, sua
língua e seus
lábios como
armas. Ele tinha
lambido seus
peitos
provocando
espasmos
caprichosos em
seu corpo. Ela
poderia por sua
vez degustar as
zonas mais
atraentes da
anatomia daquele
guerreiro para lhe
proporcionar o
mesmo tipo de
prazer? Ainda era
bastante
inexperiente
naqueles
assuntos. Mas
recordava as
mãos de Thonia
acariciando o
membro de
Ewan, e o modo
em que ele tinha
reagido
apertando os
dentes, vaiando
de prazer. Se ela
se atrevia a fazê-
lo também, não
só com suas
mãos, mas
também com sua
língua, com seus
lábios, gostaria?
Desconhecia a
resposta, mas
pensava averiguá-
lo essa mesma
manhã...
CAPITULO 40

21 de junho de
1314, bosque de
Torwood

Ewan divisou ao
longe o bosque
de Torwood,
onde o rei Robert
do Bruce tinha
decidido reunir a
todos os seus
homens antes do
famoso dia para a
grande batalha
que estava por
vir. Em seu
interior se
acenderam
emoções
disparadas. Tinha
esperado muito
para ir ao
chamado de seu
rei. Amava a sua
pátria e desejava
formar parte
daquela luta, a
mesma pela que
seu próprio pai
tinha dado a vida.
Por fim tinha
chegado o
momento, por
fim poria sua
espada e tudo o
que era ao
serviço de uma
causa em que
acreditava com fé
cega. E estava
satisfeito por
isso.
Por outro lado,
sua mente não
deixava de evocar
o rosto de
Willow durante a
despedida que
tinham tido uns
dias antes.
Tampouco podia
esquecer suas
palavras sentidas,
carregadas de
angustia ante sua
iminente partida.
— Agora é
quando queria
ser de verdade o
moço que fingia
ser antes. —
Tinha
confessado. —
Assim poderia te
acompanhar lá
onde quer que o
rei te envie.
— Eu sinto justo
o oposto. Alegra-
me que seja uma
mulher, minha
mulher, e que
fique em nosso
lar, longe das
maldades da
guerra. Não
importa o que
ocorra comigo,
aqui estará a
salvo.
Ela tinha se
fundido contra
seu corpo, com
lágrimas nos
olhos.
— Não estarei a
salvo até que não
retorne de novo
para mim.
Ewan a tinha
beijado então,
devagar,
enchendo-se de
seu sabor para
gravá-lo a fogo
na memória.
Willow estava
doce por causa
de seu calor,
salgada por suas
lágrimas. Era,
sem dúvida, a
melhor
lembrança do
mundo para levar
para a guerra.
Isso, junto com
os dias e noites
que tinha
passado ao seu
lado, amando-a
por toda uma
vida. Nenhum
dos dois sabia se
voltariam a ver-se
e, embora não
saiu de suas
bocas, o medo
estava lá,
escondido atrás
de cada carícia,
de cada olhar que
se dedicavam
como se fosse o
último.
Suspirou ao
recordar os
instantes
compartilhados,
sentindo tanta
falta que lhe
ardeu na pele.
Sua esposa se
descobriu como
uma criatura
sensual e
atrevida,
insaciável. Sua
natural
curiosidade e sua
falta de pudor
quando estavam
juntos o
surpreenderam.
Tanto, que seu
pequeno duende
teria feito corar
até mesmo a
Thonia com suas
piadas. Só em
recordar alguns
desses
momentos, seu
corpo reagia, lhe
pedindo aos
gritos que
voltasse correndo
para retornar
junto a ela.
Mas não sentia
falta apenas
porque era a
melhor amante
que jamais teve.
Willow tinha
resultado ser
também uma
esposa incrível.
Habituara-se
rápido com as
rédeas da
fortaleza,
adaptando-se a
sua nova vida
sem esforço.
Como mulher do
laird, tinha lhe
dado todo seu
apoio e ajuda
enquanto
terminavam de
preparar às
tropas. Junto a
Jane, sua ama de
chaves, tinha
organizado os
recursos do Innis
Chonnel para
garantir que
ninguém
padecesse
carências
enquanto ele
estava longe.
Mostrou-se
carinhosa e
atenta com os
membros de seu
novo clã,
ganhando a
lealdade de todos
e cada um deles.
Sem dúvida, a via
feliz e satisfeita, e
ninguém podia
resistir a sua
encantadora
forma de ser.
Agora Willow
tinha deixado de
ser a jóia do
Meggernie para
converter-se na
do Innis
Chonnel. E um
tesouro assim
merecia ser
protegido. Ewan
tinha deixado na
fortaleza uma
pequena
guarnição de
homens liderada
por Bors que,
embora
incomodado por
não poder ir à
guerra junto com
seu laird, acatou a
ordem sem
protestar muito.
Rezou para que
seus escassos
recursos fossem
suficientes, dado
que o rei
necessitava o
grosso de suas
tropas para
defender o lugar
do Stirling...
— Ela estará
bem. Essa jovem
demonstrou que
pode valer-se por
si mesmo.
Ewan olhou ao
seu tio Alec, que
tinha se situado
ao seu lado lhe
alcançando com
o cavalo. Era
assombrosa a
maneira em que
parecia lhe ler a
mente quando se
mostrava
preocupado.
— Sei. Mas às
vezes isso não é
suficiente.
Tomara que tudo
isto acabe logo e
encontremos ao
responsável pela
morte de Niall
MacGregor.
Tenho o
pressentimento
de que Willow
não estará a salvo
até que o
achemos.
Alec esteve de
acordo e rezou
para poder
resgatar de suas
lembranças o
rosto do traidor
que procuravam.
— Iremos ver os
MacGregor
assim que
cheguemos ao
acampamento e
nos
apresentarmos
ante o Bruce. —
Disse a seu
sobrinho. —
Assim o rei verá
que não há
nenhuma disputa
entre nós e que,
quando a guerra
termine, terá que
dar com o
verdadeiro
culpado deste
horrível evento
para se fazer
justiça.
Ewan assentiu,
com o olhar fixo
nas primeiras
tendas de
campanha que já
se levantavam em
frente a ele entre
as árvores de
Torwood.
A faca voou pelo
ar e se estrelou
contra o corpo
de palha do
boneco sem
chegar a cravar-
se. Bors estalou a
língua chateado e
olhou a sua
senhora sem
dissimular sua
decepção.
— Não, não e
mil vezes não.
— Assim é como
Melyon me
ensinou a lançar.
— Se defendeu
Willow,
recolhendo a
arma para voltar
a tentá-lo.
— Custa-me
acreditá-lo. Será
que não prestou
atenção?
Bors era
implacável.
Tratava-a quase
como quando
acreditava ser um
moço débil,
inclusive tinha
começado a
tutear-la durante
suas sessões. No
tempo que
duravam suas
práticas, eram
somente Bors e
Will, embora
assim que
terminavam, o
homem voltava a
tratá-la como
merecia a
senhora do Innis
Chonnel. A
jovem não se
incomodava,
justamente o
contrário.
Quando tinha
pedido ao Bors
que continuasse
o treinamento
que tinha
começado com
Alec e Melyon,
sabia que o
guerreiro não a
trataria como a
uma mocinha. Se
queria melhorar,
se queria
aprender,
necessitava um
professor como
ele. Era duro,
desumano e não
se andava com
contemplações.
Algumas vezes
surpreendia em
seu agir algum
palavrão que não
chegava a
pronunciar, e
então tinha que
conter a risada
para não zangá-lo
mais. Mas o certo
era que junto a
ele, nos poucos
dias que levava
praticando, tinha
melhorado
bastante.
— Prestei
atenção, Bors.
Disse-me que o
agarrasse pela
lâmina e que
movesse o braço
deste modo...
— Ah! Escuta,
Will. Jamais,
jamais, mova o
braço desse
modo. Tem que
lançar com todo
o corpo, me
observe. Vê?
Olhe meus
quadris, como os
coloco frente ao
meu objetivo.
Veja como tomo
impulso... E
lanço com todo o
corpo, não só
com o braço,
entende-o?
Willow estudou
sua postura e a
memorizou.
Agora seria sua
vez e tinha que
lhe demonstrar
que tinha estado
atenta as suas
explicações. Bors
se zangava com
muita facilidade,
era um
resmungão
incrível. E, talvez
por isso, ela
estava
começando a
apreciá-lo de
verdade.
Agarrou de novo
a faca como o
guerreiro lhe
tinha indicado e
se colocou em
posição. Passou a
língua pelos
lábios,
concentrada.
Tinha que se sair
bem. Devia
aprender a
defender-se,
posto que o
perigo seguia aí
fora, à espreita.
Não tinha
chegado a dizer
ao Ewan nada a
respeito da carta
que a assinalava
como objetivo
principal do
traidor a seu pai,
porque não
queria carregar
sobre seus
ombros essa
preocupação
quando ele devia
partir para uma
guerra. Não
desejava que
nada o distraísse
da luta contra os
ingleses; sua
mente e seu
coração deviam
estar
concentrados
nessa batalha
para manter-se
com vida. E
tampouco queria
que deixasse mais
homens que os
estritamente
necessários na
fortaleza.
Necessitavam aos
guerreiros no
fronte, não ali,
no Innis
Chonnel,
protegendo a
uma só pessoa.
— Vai lançar
antes de que me
saiam cabelos
grisalhos? —
Perguntou Bors,
tirando-a de suas
reflexões.
Willow respirou
fundo, tomou
impulso e lançou
imitando os
movimentos do
homem.
A faca voou
rápido e com
força, e se cravou
na cabeça do
boneco, entre os
olhos.
— Bem! —
Exclamou a
jovem, feliz pelo
lucro.
Bors a
contemplou com
uma sobrancelha
arqueada e os
braços cruzados
sobre o peito.
— Bem? Não te
alegre tanto e
corre de novo
pela arma. Estará
bem quando for
capaz de cravá-lo
todas as vezes,
sem falhar. Isto
pode ter sido um
bom
lançamento... Ou
pura sorte.
Willow se
indignou.
— Pura sorte?
Dói-me o braço
das vezes que me
tem feito repetir!
— Pois seguirá
lançando até que
lhe queimem os
músculos! Acha
que frente a um
inimigo vai ter a
opção de repetir
o tiro se errar?
Como me chamo
Bors, a senhora
dos Campbell
aprenderá a não
falhar. Nenhum
Campbell falha
com uma arma.
Olhou-a com
intensidade,
desafiando-a a
dizer o contrário.
Ela ergueu a
cabeça e
endireitou os
ombros. Foi até o
boneco e
recuperou a faca
para voltar a
tentar. Colocou-
se, lançou... E
acertou de novo.
Olhou ao Bors
com orgulho,
mas o guerreiro
não mudou a
expressão séria
de seu rosto. A
única coisa que
fez foi assinalar
de novo o alvo
antes de dizer:
— Não te disse
que pode
descansar. Outra
vez.
Willow soltou
um suspiro
resignado. Se
queria algum tipo
de louvor desse
homem, podia
esperar sentada...

Tal e como tinha


falado com seu
tio, logo que
chegaram, Ewan
e seus homens de
confiança se
dirigiram à área
onde se reuniam
os MacGregor.
Alec, Melyon e
Colin não
quiseram deixar
sozinho a seu
laird, pois todos
eram conscientes
de que ia
enfrentar pela
primeira vez ao
seu sogro, um
guerreiro
respeitado de
temível reputação
no campo de
batalha. Se
Malcom tinha
contado a seu pai
como Campbell
tinha conseguido
casar-se com sua
filha, teria sorte
de não voltar a
receber uma
surra igual ou
pior a que o
proporcionou o
irmão de sua
mulher.
Antes de alcançar
a tenda dos
MacGregor, o
próprio Malcom
saiu ao seu
encontro.
Plantou-se diante
de Ewan e,
evitando todas as
fórmulas de
cortesia, foi
direto ao ponto.
— Meu pai não
sabe nada, e não
precisa sabê-lo. Já
sofreu bastante
com a morte de
Niall. No que diz
respeito a mim,
Willow se
apaixonou por ti
e, dadas as
circunstâncias e
sua iminente
marcha para
comparecer ante
o rei, consenti
esse matrimônio
pelo bem de
minha irmã.
Aconteça o que
acontecer na
batalha, ela fica
protegida por seu
nome e o de sua
família. Se
nenhum de seus
seres queridos
retornar, não se
encontrará
desamparada.
— Innis Chonnel
é seu lar e ali a
querem. Sua irmã
não poderia estar
em um lugar
melhor se,
chegado o caso,
nenhum
sobrevivesse.
Prometo-te que
não revelarei a
seu pai as
circunstâncias
verdadeiras de
nosso casamento.
Malcom assentiu
depois de receber
sua palavra e só
então se deu a
volta para guiá-
los até o interior
da tenda dos
MacGregor. Ali,
Ewan conheceu
seu sogro, um
highlander quase
tão alto como
seu filho, de
feroz aparência
apesar de sua
idade, cujo rosto,
povoado de uma
barba grisalha,
delatava o
sofrimento do
que Malcom
tinha falado. Os
olhos do
guerreiro eram
escuros e
cortantes, sem
dúvida tinham
perdido brilho, e
estavam
sombreados com
o sofrimento e a
tristeza de um
homem ao que
lhe tinham
arrancado parte
de sua alma.
— Pai, os
Campbell
acabam de
chegar. —
Anunciou
Malcom. — Este
é seu laird, o
homem do qual
te falei.
Ian se levantou
do assento que
ocupava e se
colocou frente a
eles. Ewan notou
como o
escrutínio
daqueles olhos o
perfurava lhe
atravessando a
pele.
— Assim que
você é o
guerreiro que
roubou o coração
da minha filha.
— Meu senhor.
— Ewan fez um
gesto de respeito
com a cabeça,
sustentando o
olhar de seu
sogro. — Quero
que saiba que foi
ao contrário. Ela
roubou meu
coração, minha
alma e minha
prudência. Foi
toda uma honra
que Willow me
aceitasse como
seu marido e
quão único
lamento é que a
crueldade desta
guerra não tenha
permitido que eu
pudesse pedir-lhe
ao seu pai em
matrimônio
como deveria ter
acontecido. A
providência quis
que, em seu
lugar, seu irmão
chegasse ao Innis
Chonnel a tempo
para que as
bodas pudessem
celebrar-se antes
de minha partida.
Asseguro-lhe que
não poderia amá-
la mais, senhor.
Malcom se
removeu inquieto
ao lado de seu
pai, mas não
disse nada. Ian
olhava ao Ewan
de maneira tão
penetrante que o
silêncio se
espessou até
resultar
incômodo. Por
sorte, não durou
muito. O laird
dos MacGregor
desviou a vista e
procurou ao seu
velho amigo Alec
Campbell para
dirigir-se a ele.
— É tão hábil
com a espada
como com as
palavras? —
Perguntou-lhe,
diretamente, sem
saudação prévia.
— Muito mais,
Ian. Ignoro de
onde lhe nasce
essa veia de
poeta, mas tenha
por seguro que
no campo de
batalha será
testemunha de
que sua
caramelada
confissão de
amor não subtrai
nem valentia nem
destreza a sua
espada. É um
dos melhores
guerreiros que
tive o privilégio
de treinar.
Ian olhou de
novo para Ewan,
com algo
parecido à
aprovação em
seu gesto.
— Malcom me
disse que é digno
de minha
pequena, e devo
confiar em sua
palavra. Se, além
disso, um
homem como
Alec, por quem
sinto o maior
respeito, avaliza-
te, não tenho
mais o que
acrescentar. Bem-
vindo a minha
família. — Disse,
lhe estendendo a
mão.
Ewan lhe
estreitou o
antebraço com
decisão e sentiu
alívio quando o
laird dos
MacGregor lhe
deu tapas ao
ombro com
confiança.
Depois, por fim,
chegaram as
saudações e o
abraço dos dois
amigos que
levavam tanto
tempo sem se
ver. Alec se
alegrou de voltar
a encontrar ao
que tinha sido
seu companheiro
em antigas
batalhas e se
regozijou de
poder voltar a
compartilhar
aqueles épicos
momentos com
ele.
Depois de falar e
de ficar em dia
brevemente,
decidiram que era
hora de
apresentar-se
ante o rei para
que este passasse
revista a quão
soldados Ewan
havia trazido
consigo. Robert
do Bruce se
mostrou feliz de
sua chegada e
sentiu prazer ao
ver com seus
próprios olhos o
bom trabalho
que o laird dos
Campbell fazia
adestrando aos
novos soldados,
tal e como ele
mesmo lhe
encomendou.
Agora que ambos
os clãs tinham
comparecido
ante ele, o rei
abordou o tema
do ataque ao
Meggernie e se
alegrou ao
descobrir que a
disputa entre os
MacGregor e
Campbell tinha
terminado em
nada, pois o
verdadeiro
culpado daquele
horrível ataque
ainda não tinha
sido descoberto.
Bruce não quis se
aprofundar nesse
assunto dadas as
circunstâncias, e
resolveu o
assunto pedindo
a seus lairds que
se concentrassem
na batalha que
estava por vir.
Prometeu que, se
Deus lhes
concedia a vitória
e saíam graciosos
de seu
enfrentamento
com os ingleses,
ele mesmo
retomaria as
investigações
daquele grave
delito para
encontrar ao
responsável e
aplicar justiça. A
lembrança de
Niall MacGregor
não cairia no
esquecimento.
Deu-lhes sua
palavra e tanto os
Campbell como
os MacGregor
lhe acreditaram,
pois o rei Bruce
jamais lhes tinha
decepcionado.

Uma vez
finalizado seu
treinamento com
Bors, Willow se
dirigiu à cozinha
do Innis
Chonnel, como
cada tarde. Tinha
pego por
costume não
descansar
durante o dia,
porque era o
único modo de
poder conciliar o
sono durante a
noite. Sentia
tanta falta de
Ewan que
quando ficava a
sós em seu
quarto, mal podia
respirar. A cama
era enorme e
sentia sua falta,
sua ausência lhe
cravava na alma e
os olhos lhe
ardiam de
agüentar o
pranto. Por isso
não podia retirar-
se para descansar,
como lhe pediam
cada um de seus
doloridos
músculos depois
de sua sessão
com Bors. Iria à
cozinha e
ajudaria a
preparar o jantar,
ou a realizar
qualquer outra
tarefa que lhe
atribuíssem.
Assim que Maud
a viu chegar,
repreendeu-a.
— Não deveria
estar aqui.
Willow a
ignorou, como
fazia cada vez
que a mulher lhe
assinalava que
agora era a
senhora do Innis
Chonnel e
portanto não lhe
correspondia
estar ali,
ajudando com os
trabalhos que
eram mais
apropriados dos
serventes.
— Terá que
amassar pão? —
Perguntou a
Edith, a
cozinheira,
enquanto lavava
as mãos.
— Sim, senhora.
A jovem assentiu,
arregaçou o
vestido e se
dirigiu à mesa
onde
normalmente
preparavam a
massa.
— Não posso
ficar todo o dia
de braços
cruzados, Maud
— Explicou. —
Além disso,
trabalhar ajuda a
não pensar em
que meu marido,
meu pai, meu
irmão e muitos
homens bons se
encontram no
fronte, expostos
à ira dos ingleses.
— Eu acredito
que é ao
contrário. —
Interveio Jane.
— Que se
cuidem muito os
ingleses de
nossos soldados,
porque brigam
por algo muito
mais nobre que a
avareza que move
a nossos
inimigos. O rei
Eduardo e seus
cães
mulherengos só
querem mais
terras e riquezas,
e não lhes
importa que para
as conseguir
tenham que jogar
a nós de nossos
lares. O rei Bruce
nos defenderá,
nossos homens
brigarão
deixando a alma
para conservar o
que é nosso.
Os que se
encontravam
nesse momento
na cozinha
olharam à ama de
chaves e
assentiram pelas
suas acertadas
palavras. Willow
também pensava
assim, mas sabia
por Ewan que o
exército inglês
lhes superava em
número e que as
forças não
estariam
equiparadas na
batalha.
Poderiam os
escoceses sairem
vitoriosos tendo-
o tudo contra?
Seu coração se
encolhia apenas
pensando nisso e
por isso lhe
custava tanto
conciliar o sono
pelas noites.
Odiava ficar
acordada, porque
então era quando
se afogava com
as lembranças e
tinha mais
saudades de seu
marido, seu
olhar, suas
carícias, seus
beijos... Assim
trabalhava,
ocupava sua
mente e esgotava
seu corpo para
poder dormir
embora fosse
apenas um pouco
ao terminar o dia.
Ewan tinha que
retornar. Devia
retornar para ela,
aos seus braços, a
sua vida.
Notou que estava
amassando o pão
com muito
ímpeto quando a
mão de Maud
pousou em seu
ombro e lhe
falou com voz
sussurrada.
— O laird não só
lutará pela
Escócia.
Também brigará
para voltar para
seu lar, porque
sabe que você o
está esperando.
Jamais vi a um
homem mais
apaixonado, e o
amor pode tudo.
Willow não se
deu conta de que
estava chorando.
Maud lhe limpou
as lágrimas com
carinho e deixou
que a jovem se
abraçasse a ela.
Era o único
consolo que
podia lhe
oferecer: a
esperança de que
tudo sairia bem.
— Reza a seu
Santos, Maud.
Lhes peça que
me tragam ele de
volta, não posso
viver sem ele...
Maud fechou os
olhos, elevando
uma prece ao céu
para que ali
acima escutassem
a súplica da
jovem senhora
do Innis
Chonnel.
CAPITULO 41

23 de junho,
batalha de
Bannockburn

Aquele primeiro
dia de
enfrentamentos,
o exército
escocês, inferior
em número a
seus inimigos,
saiu vencedor
pela Graça de
Deus, ajudados
pelo arrojo e a
valentia de seus
corações. Essa
mesma manhã,
pouco depois de
levantar o sol,
todos os
soldados tinham
ouvido missa e se
confessaram,
dispostos a
morrer ou a
libertar a seu país
da marca inglesa.
O rei Bruce lhes
tinha dito
agradáveis
palavras de
incentivo antes
de ir à luta e
todos escutaram
seu discurso com
a alma avivada,
cheia de
esperança:
— O dia de hoje
é nosso dia. Se
algum de vós
encontra que seu
coração não vai
se manter firme
para suportar
este duro
combate e ganhá-
lo ou morrer
com honra, deve
abandonar, e só
devem ficar
comigo aqueles
que estejam
dispostos a
resistir junto a
mim até o fim e a
aceitar o destino
que Deus nos
tenha reservado.
Seus homens lhe
responderam
com decisão que
nem o medo nem
a morte
conseguiriam que
eles evitassem a
luta e o rei se
sentiu orgulhoso.
Enviou a cada
guerreiro com
seus respectivos
guerreiros aos
lugares
combinados
segundo a
estratégia
planejada para
resistir ao ataque
dos ingleses,
determinados no
dia anterior junto
aos seus
melhores
homens e
conselheiros.
Ewan se
encontrou junto
ao rei, como os
MacGregor e
outros clãs
amigos que não
tinham dado as
costas ao Bruce,
como os
MacNab, os
Stewart e até os
homens do
ausente Gilmer
Graham. Ewan
sabia que Willow
lhe tinha grande
estima e até o
chamava tio
como se fosse da
família. Tinha-lhe
contado que o
guerreiro tinha
sido liberado
pelo próprio
Bruce de sua
obrigação de
combater por ter
perdido uma mão
em outra grande
batalha.
Entretanto, isso
não tinha
impedido que
enviasse suas
tropas para que
se unissem ao
Bruce na luta
contra os
ingleses.
— O que senti
falta é que ele
não tenha
decidido
apresentar-se
aqui junto com
seus homens,
apesar de tudo
— Tinha
confessado
Malcom, que o
conhecia tão bem
como sua esposa.
— Até lhe
faltando uma
mão, tio Gilmer
seria um
combatente
temível.
Ewan disse a si
mesmo que, se
saía dali com
vida, teria que
conhecer esse
homem que
tanto admiravam
os MacGregor.
Se era alguém
importante para
Willow, devia
estar presente em
suas vidas.
Quando o sol
esteva já alto no
céu, puderam
divisar que o
exército inglês se
aproximava.
Viram como
resplandeciam
seus escudos e
como brilhavam
seus elmos
brunidos; viram
muitas bandeiras
bordadas,
pendões e
estandartes;
viram muitas
lanças, e milhares
de homens a
cavalo, todos
vestidos com
flamejantes
túnicas... Era tal
o tamanho
daquelas
formações, que
ocupavam uma
extensão incrível
no horizonte.
Ewan se
assombrou de
que seus
compatriotas não
fraquejassem
ante a ameaça
inglesa e se sentiu
orgulhoso de
estar ali naquele
dia,
compartilhando
seu destino com
homens de tal
valor e coragem.
Comprovou que
a maioria dos
escoceses
careciam de
armadura e
amparos, ao
contrário de seus
inimigos. Ele
mesmo tinha
prescindido da
pesada carga de
todo o conjunto
e tão somente
colocou a cota de
malha e o
peitilho.
Pressentia que,
desse modo, teria
muito mais
liberdade de
movimentos para
o combate.
Chegado o
momento, Ewan,
igual ao resto dos
soldados que
acompanhavam
Bruce, rugiu
levantando sua
espada para o
alto. Em seguida,
lançou-se ao
ataque com tudo
o que era,
disposto a vencer
ou morrer
naquela batalha...

Desperta ao
escutar uns
golpes na porta,
Willow saiu da
cama e jogou o
manto dos
Campbell pelos
ombros antes de
abrir.
— O que ocorre?
— Perguntou ao
ver Bors do
outro lado, com
o rosto tenso.
— Acaba de
chegar um
mensageiro.
O coração da
jovem se deteve
uns segundos
pelo terror que
lhe produziram
aquelas palavras.
— A estas horas?
— Conseguiu
sussurrar. — E o
que... Que
mensagem traz?
— Não quis me
dizer isso. Diz
que se chama
Errol
MacGregor, que
lhes conhece e
que só falará com
você. Diz que
vem de Stirling...
Willow não podia
acreditar. Errol?
Ela pensava que
tinha falecido no
ataque contra
Meggernie! A
última vez que o
viu se afastava
junto a seu irmão
Niall para
defender as
muralhas de seu
lar.
Um momento...
Havia dito que
vinha de Stirling?
Abriu os olhos
ao compreender
o que isso podia
significar. A essas
horas da noite e
com tanta
urgência, só
podia trazer más
notícias. O
pânico lhe
apertou tanto a
garganta que
logo que pôde
articular as
seguintes
palavras.
— Onde está?
— Fora, na
borda do lago.
Deixei-o aos
cuidados de
Murdoc, está
vigiando-o.
— Bors! Não o
deixaste entrar?
— Perguntou,
indignada com
sua falta de
consideração.
— Ewan me
deixou no
comando, e
ninguém entra de
noite na fortaleza
por muito que
jure te conhecer.
— Irei contigo
para identificá-lo.
Conheço o Errol
desde que era
uma menina,
esteve às ordens
de meu pai toda
sua vida.
Saiu do quarto tal
e como estava, de
camisola e
coberta com o
manto. Talvez
deveria haver se
vestido, mas a
impaciência por
saber as notícias
que trazia era
mais forte que
seu sentido de
decoro. Bors ia
ao seu lado
iluminando o
caminho com
uma tocha,
resmungando
algo a respeito de
que se não fosse
quem dizia ser, ia
esfolar ao
inoportuno
mensageiro com
suas próprias
mãos.
Willow
atravessou o
pátio tiritando de
frio e de medo.
Quase corria
desejando
alcançar o portão
de entrada onde
aguardava aquele
homem que fazia
tanto que não
via. Quando
saíram,
distinguiram duas
figuras junto a
um dos barcos.
— Errol? —
Perguntou,
aproximando-se
com o coração
na garganta.
— Minha
senhora. —
Disse então ele,
dando um passo
à frente para que
pudesse lhe ver a
cara à luz da
tocha que
sujeitava o
Campbell.
— Oh, Meu
Deus! —
Exclamou ela. —
Não posso
acreditar que
você esteja...
Acreditava que
tinha morrido
junto com o
Niall!
O MacGregor se
ajoelhou e tomou
sua mão com
delicadeza.
— Foi horrível,
massacraram-nos.
— Sussurrou ele
—. Acredito...
Acredito que só
eu consegui
escapar e fugir do
Meggernie...
Ela estreitou sua
mão com uma
ameaça de
sorriso e seus
olhos
lacrimejaram.
Estava feliz de o
ter ali, mas tinha
pressa em saber
o conteúdo da
mensagem que
levava.
— Me alegro de
que pudesse
voltar com meu
pai. O que... Que
notícias me traz
de Stirling?
Aconteceu-lhes
algo a ele ou ao
meu irmão? Ao
Ewan?
Errol baixou a
cabeça e ocultou
seus olhos.
Willow imaginou
o pior ao ver
aquele gesto e
uma dor
insuportável lhe
atravessou o
peito.
— Errol, por
favor, me diga...
O homem
levantou então o
olhar e, de
repente, aquele já
não era o
guerreiro que ela
tinha conhecido.
No fundo de
seus olhos havia
uma escuridão
que jamais se
manifestou antes.
Tudo foi muito
rápido. Soltou a
mão de Willow e
com um
movimento
impossível,
lançou uma
adaga ao peito do
Murdoc, o
soldado
Campbell que
tinha justo atrás.
Incorporou-se
depois de um
salto ao mesmo
tempo que tirava
outra adaga mais
de entre suas
roupas.
Bors pensou que
ia apunhalar a ela.
Por isso, em
lugar de tirar sua
espada para
atacar ao intruso,
colocou-se no
meio dos dois
com os braços
abertos, tentando
proteger o corpo
de sua senhora.
A adaga lhe
cravou entre as
costelas, lhe
perfurando um
pulmão. E
depois, Errol
tirou sua espada
e a afundou sem
contemplações
em seu ventre.
— Não, Bors! —
Gritou Willow.
O que acabava de
acontecer?
Tudo tinha
ocorrido tão
depressa que não
era capaz de
assimilá-lo. E os
Campbell não
estavam
alertados, tinham
acreditado que
Errol era um
amigo,
confiaram-se...
Só dois homens
acompanhavam à
senhora do Innis
Chonnel naquele
momento, e os
dois tinham
morrido nas
mãos desse
traidor.
Willow sujeitou o
corpo de Bors
como pôde para
que não
desabasse de
repente. Uma vez
no chão, sujeitou-
lhe a cabeça e
olhou aos olhos.
De sua boca saía
sangue e em seu
rosto se previa já
a sombra da
morte.
— Falhei-lhe...
Quem é agora o
verme covarde?
— Não, não... —
Os lábios de
Willow tremiam.
Bors não, assim
não.
— Me perdoe,
minha senhora...
— Levantou uma
mão e procurou a
sua. — Por tudo.
— Não vai
morrer, Bors.
Fica comigo.
— Se não
morrer, Ewan me
estripará com
suas próprias
mãos como
inútil. É o que
mereço.
— Salvaste-me a
vida e Ewan
estará orgulhoso
de ti.
Willow
comprovou que a
expressão de
Bors relaxava
depois de seu
comentário e que
seus olhos se
apagavam. Notou
que a mão que
sustentava já não
apertava e soube
que a tinha
deixado. Estava
tão horrorizada
que não pôde
nem chorar.
— Despediste-te
já de seu amigo?
— Perguntou
então Errol, com
uma voz
desconhecida.
Era fria, era
antipática e
soberba.
— Foi você. —
Disse com
desprezo. —
Você abriu as
portas do
Meggernie para
que entrasse
aquele exército e
massacrasse aos
nossos. A quem
deixou entrar? A
quem te vendeu,
miserável traidor?
Por sua culpa,
mataram ao
Niall.
Errol negou com
a cabeça ao
mesmo tempo
que se
aproximava dela
devagar, espada
na mão.
— Não o
mataram por
minha culpa. —
Esclareceu. —
Eu o matei com
minhas próprias
mãos...
A jovem se
levantou com um
grito de raiva e se
atirou contra ele
tentando lhe tirar
os olhos.
Durante a
resistência, os
dois viram como
uma figura saía
da fortaleza
alertada pela
agitação.
— Agnes! —
Gritou Willow ao
reconhecer à
faxineira, que os
olhava com olhos
muito abertos. —
Dá a voz de
alarme! Corre,
avisa aos outros!
Notou que Errol
a empurrava em
direção ao barco
e brigou com
mais afinco para
libertar-se. Pelo
visto, suas
intenções não
eram matá-la ali
mesmo.
— Se não estiver
quieta, pequena
Willow, farei-te
muito dano. —
Sussurrou ao
ouvido com voz
arrastada.
— Agnes! —
Uivou de novo
pedindo auxílio.
Para sua total
consternação, viu
como a faxineira
se aproximava até
eles com um
sorriso matreiro
em seu belo
rosto. Quando
chegou a sua
altura, levantou a
mão e a
esbofeteou
aproveitando que
Errol a sujeitava
com força.
— Esta lhe devia.
— Sussurrou isso
com maldade.
Willow a olhou
com os olhos
arregalados.
— Não volte a
lhe golpear na
cara. —
Reprovou Errol a
Agnes, deixando
patente que se
conheciam. —
Tem que estar
perfeita quando a
entregar.
— Por que? —
Perguntou
Willow sem
afastar o olhar da
faxineira,
aturdida pela
traição dobrada.
— Poderia te dar
muitos motivos,
Will. Porque riu
de mim me
fazendo acreditar
que era outra
pessoa, porque
você goza de
privilégios que eu
não tenho,
porque
conseguiste
conquistar o
amor de um
guerreiro, algo
que me negou...
Em resumo,
porque te odeio.
— E porque te
pago muito bem
por sua ajuda,
vagabunda
interesseira. —
Acrescentou
Errol, jogando
Willow para o
barco.
Ela reagiu e
voltou a lutar
com toda sua
vontade. Só lhe
deu tempo de
gritar uma vez
mais antes de que
aquele traidor a
golpeasse na
cabeça.
Depois, tudo
ficou escuro e já
não viu nada
mais.

24 de junho,
batalha de
Bannockburn

No dia anterior
tinham resistido
aos ingleses, lhes
fazendo
retroceder de
novo para seu
acampamento,
sem permitir que
chegassem até o
castelo que
pretendiam
resgatar. E nesse
novo dia,
incentivados e
animados por seu
rei, dispuseram-
se a deixar a vida
na batalha que
teriam que liberar
contra um
exército muito
maior que não
parecia disposto
a ceder.
As tropas
escocesas saíram
a campo aberto,
com suas largas
lanças preparadas
para o ataque da
cavalaria inglesa.
De novo, como
ocorreu na
batalha de
Stirling em que
Wallace derrotou
aos ingleses anos
atrás, agruparam-
se formando
unidades móveis,
de maneira que a
seus inimigos
custasse chegar
até eles apesar da
carga da
cavalaria.
Contavam, além
disso, com a
vantagem de que
o terreno era
pantanoso e
estreito, e
dificultava o
avanço da
formação
invasora. Nem
sequer os
perigosos
arqueiros ingleses
puderam
diminuir suas
forças, pois não
podiam disparar
dos flancos e,
para seu
desconcerto, o
próprio irmão do
rei Bruce,
Edward, lançou
seu ataque sobre
eles com cavalos
ligeiros para
dispersá-los e
não lhes permitir
disparar contra
seus
compatriotas.
— É como se
tivesse
retrocedido atrás
no tempo. —
Exclamou Alec
Campbell em um
determinado
momento,
dirigindo-se ao
seu amigo Ian,
que o olhava por
sua vez com o
orgulho
brilhando em
seus olhos.
— Poderemos
dizer aos nossos
netos que nós
estivemos em
duas das batalhas
mais memoráveis
que a Escócia
recordará. —
Disse,
sustentando sua
espada com
firmeza. —
Venceremos,
meu amigo,
sinto-o nos
ossos.
— Que o céu te
ouça, pai. —
Sussurrou
Malcom ao seu
lado, preparando-
se também para o
choque iminente.
Ewan, junto a
eles, observou a
cena e quis
gravá-la em sua
cabeça. Ele
também
suspeitava que
aquele dia seria
memorável e não
queria esquecer
nada. Por um
momento, fechou
os olhos e
pensou em seu
pequeno duende,
lá no Innis
Chonnel, em seu
lar. Visualizou
seu doce rosto,
emoldurado em
sua curta juba
escura, seus
olhos brilhantes,
sua miúda figura.
Nunca imaginou
que podia amar
daquele modo e
deixou que todo
esse amor que
sentia lhe
enchesse o
coração nesse
instante. Se
morresse ali, se
caía sob alguma
espada ou lança
inimiga, queria
que seu último
fôlego fosse para
ela. Para Will,
para sua esposa.
Quando voltou a
abrir os olhos,
olhou ao redor.
Sentiu-se
respaldado pelas
tropas de seus
aliados, os
MacGregor, os
Stewart, os
MacNab e os
homens de
Gilmer Graham.
Cada clã levava
suas cores de
algum modo em
suas vestimentas,
luzindo com
orgulho a origem
de suas raízes.
Notou a energia
que lhe percorria
o corpo,
preparado para a
batalha, disposto
para a luta, e se
lançou ao ataque
junto com seus
companheiros,
sustentando o
escudo com
firmeza e a
espada no alto,
gritando tão forte
que o medo à
morte
desapareceu
totalmente e
ficou banido de
seu espírito...
Foi uma luta
sangrenta. A
grama se tingiu
de vermelho com
o sangue dos que
ali caíam.
Escutavam-se os
alaridos de dor, o
ranger das lanças
ao quebrar-se, o
entrechocar dos
aços de suas
espadas. Os
cavalheiros
ingleses eram
derrubados de
seus cavalos para
não voltar a
levantar-se...
Ewan suava,
grunhia e
trespassava a seus
inimigos
atravessando suas
cotas de malha.
Seu tio Alec o
observou um
momento com
fascinação ao vê-
lo brigar desse
modo; pensou
que, se morria
esse dia, faria-o
com prazer por
ter lutado mão a
mão com o
homem do qual
mais orgulhoso
sentia.
E então, como
lhe ocorreu anos
atrás, uma cena
impossível
aconteceu ante
seus olhos. A
mesma que já
tinha vivido, a
mesma que tinha
chegado a
esquecer...
Um dos seus, um
escocês alto, de
porte bravo e
aspecto feroz,
aproximou-se
por trás de seu
sobrinho, tocha
na mão. Alec
ficou paralisado
pela coincidência
e o horror que se
repetia, e não
acertou a
pronunciar uma
palavra para
advertir ao Ewan
da vil traição que
estava a ponto de
acontecer.
Por sorte, outros
guerreiros
Campbell não
brigavam longe
de seu laird e um
de seus fiéis
comandantes,
Colin, advertiu a
estranha
manobra que se
perpetrava contra
seu senhor.
Deteve o ataque
da tocha traidora
com um alarido
furioso que não
bastou,
entretanto, para
sair com vida
daquela aposta.
Depois de um
intercâmbio
breve de golpes,
Colin caiu sob o
fio daquela tocha,
a tempo de que
Ewan girasse e
fosse testemunha
do acontecido.
Com uma raiva
cega, se lançou
contra aquele
traidor que tinha
assassinado a um
de seus melhores
amigos, e tal foi
sua fúria, que um
forte empurrão e
um só golpe de
sua espada lhe
bastaram para
partir em dois o
corpo daquele
homem.
Alec reagiu
então, e se
aproximou de
seu sobrinho
quando arrancava
sua espada do
cadáver. Estava
alterado, porque
acabava de
resgatar de sua
memória a
imagem
esquecida: o
rosto do culpado.
O guerreiro
colocou uma
mão no ombro
de seu sobrinho
para chamar sua
atenção e
esperou a que Ian
MacGregor se
aproximasse o
suficiente para
lhe ouvir.
— Já sei quem
matou ao Niall,
quem atacou
Meggernie!
— Quem? —
Perguntou o laird
MacGregor, sem
fôlego.
— O homem ao
que considerava
como a um
irmão. Na
batalha de
Stirling não
tentava te salvar a
vida, Ian, agora
sei. Aquele dia,
tentou te
assassinar.

CAPITULO 42
A cabeça lhe doía
como se mãos
enormes lhe
estivessem
espremendo o
crânio. Willow
abriu os olhos e
olhou ao redor,
confusa.
Demorou um
momento para
poder enfocar a
vista.
— Deu-me
muito trabalho te
encontrar.
Escondeu-te
muito bem.
Um calafrio a
percorreu inteira
ao reconhecer
essa voz.
Incorporou-se
devagar da cama
onde se achava e
procurou a seu
interlocutor.
— Tio Gilmer —
Sussurrou. Disse
seu nome em voz
alta para
comprovar que
aquilo era
verdade, que não
era nenhum
pesadelo
provocado pelo
golpe que tinha
recebido na
cabeça.
— Lamento que
Errol exagerou
em suas funções.
Sei que só
cumpria minhas
ordens, mas não
tinha por que te
golpear desse
modo.
O homem se
levantou da
poltrona onde
tinha estado
esperando que
ela recuperasse o
conhecimento e
se aproximou da
cama. Willow se
afastou, ainda
chocada por
aquela
descoberta. Seu
tio Gilmer? Por
que? Era parte da
família, supunha-
se que era o
melhor amigo de
seu pai, que a ela
e a seus irmãos
os amava como
se fossem seus
próprios filhos...
Quão equivocada
estava. Ela e os
outros.
Todos aqueles
anos tinha estado
interpretando um
papel? Todo
aquele carinho
era fingido?
— Por que? —
Perguntou em
voz alta.
Notou que lhe
falhava a voz.
Gilmer lhe tinha
provocado uma
dor muito
profunda. Já era
horrível que
Errol os tivesse
traído daquele
modo; mais ainda
ele, precisamente
ele... Era muito.
— Porque amava
a sua mãe. —
Confessou sem
rodeios.
Contemplou-a de
uma maneira
estranha, nada
mais disse e foi
quando Willow
descobriu que os
olhares do
passado, os que
ela conhecia,
tinham sido
mentira.
Observou-o com
atenção, dando-
se conta de que
agora que tirou a
máscara parecia
lhe haver
mudado até a
cara. Não
reconhecia o
rictus de sua
boca, a expressão
de seus olhos
cinzas e inclusive
o timbre de sua
voz parecia
distinto. Não viu
nele rastro
daquilo que
outrora
considerava
atrativo e
interessante. Pela
primeira vez, viu-
o como alguém
perigoso,
matreiro e
retorcido.
Então, a escura
verdade que
encerrava aquele
descobrimento se
revelou ante ela
lhe espremendo
o coração de uma
maneira
selvagem.
— Você ordenou
que matassem ao
meu irmão.
Gilmer suspirou
com pesar.
— Não ficou
outro remédio.
No princípio não
estava dentro dos
planos. Apesar de
tudo, cheguei-lhe
a ter carinho com
os anos. Mas se
revirou, Willow.
Tinham-no
sujeito entre dois
de meus homens
e, mesmo assim,
foi capaz de
levantar e
desfazer-se deles
para me agarrar
pelo pescoço. —
Gilmer lhe
mostrou então
uma feia marca
em sua garganta
que acreditava ser
da raiva que tinha
sentido Niall
quando o
capturou. —
Errol teve que
matá-lo. Cravou-
lhe a espada no
peito e, apesar de
estar agonizando,
meus homens
tiveram que tirá-
lo de cima de
mim. Um
guerreiro
formidável seu
irmão, sem
dúvida. Lutou até
seu último fôlego
para te manter a
salvo.
Willow fechou os
olhos, deixando
que as lágrimas
que ardiam
contra suas
pálpebras
deslizassem por
suas bochechas.
Recriar aquela
cena em sua
mente a
destroçou como
se na verdade a
tivesse
presenciado. Que
Niall tinha
morrido assim,
sem nenhum ser
querido ao seu
lado que o
auxiliasse,
multiplicava sua
tristeza e sua dor.
Sua mente,
frenética por
encontrar algum
sentido à perda
tão injusta, quis
atar cabos.
— Matou ao
meu irmão...
Porque amava a
minha mãe? —
Perguntou em
um sussurro
afogado, sem
entender.
Gilmer procurou
sua mão para
reconfortá-la,
mas ela se
afastou como se
fedesse. Olhou-o
com todo o amor
que tinha sentido
por esse homem
transformado em
ódio visceral.
— Amei-a como
nenhum homem
quis jamais a uma
mulher. Sendo
jovem, confessei-
lhe meu amor,
entregue e
apaixonado,
pondo meu
mundo aos seus
pés. Mas ela
escolheu a outro.
— A meu pai.
— Sim. Meu
melhor amigo
ganhou seu
coração, apesar
de não merecê-lo.
Ele não a amava
como eu.
Willow
entreabriu os
olhos, irritada
com aquele
comentário.
— Como pode
sabê-lo? Talvez a
amava mais...
— Não! —
gritou Gilmer,
sobressaltando-a.
— Porque se a
tivesse amado de
verdade, se a
tivesse querido
tanto, não a teria
deixado de novo
grávida.
Willow
compreendeu e
assentiu devagar,
assimilando que
esse homem
continuava
odiando a sua
família fazia
muito tempo.
— Refere-te a
que ela morreu
por minha culpa.
Gilmer passou as
mãos pela cara.
Parecia que
também lhe
custasse recordar
aqueles dias,
aquela tortura
que tinha sofrido.
— A princípio
sim. Culpei-te
igual culpava ao
seu pai e aos seus
irmãos.
— O que têm a
ver meus irmãos?
— Vaiou ela,
contendo sua
fúria apertando
os dentes.
— Dar a luz aos
gêmeos foi o que
debilitou Erinn.
O médico disse
ao seu pai,
advertiu-lhe do
que podia
acontecer se
voltasse a
engravidar e,
mesmo assim, ele
ignorou seu
conselho. Quis
matá-lo aquele
dia, quando
todos os seus
amigos
escutávamos os
gritos de sua mãe
enquanto
esperávamos no
salão do
Meggernie a que
você nascesse.
Estávamos ali
para celebrar o
acontecimento,
para acompanhar
a seu pai... —
Gilmer deixou
escapar um
suspiro de entre
seus lábios que
pareceu mais um
lamento. — Foi a
pior noite de
minha vida.
Escutar como ela
sofria, como
pouco a pouco ia
a vida do corpo
sem poder ir ao
seu lado.
Rasguei-me por
dentro, morri
com ela aquele
dia. E quando
seu pai apareceu
arrastando os pés
e nos comunicou
a triste noticia,
quis matá-lo ali
mesmo.
— Mas não o
fez.
— Não. Mas
jurei que o faria...
E o tentei. Em
Stirling, durante a
batalha contra os
ingleses.
Entretanto, algo
saiu mau. Aquele
soldado inglês
saiu de um nada
interpondo-se
entre minha
tocha e as costas
de seu pai. Para
cúmulo, Ian
acreditou que eu
lhe tinha salvado
a vida e, a partir
de então,
contraiu uma
dívida de honra
comigo... Que
ironia!
Willow abraçou o
corpo. Queria e
não queria seguir
escutando.
Desejava saber
tudo, seus
motivos
doentios, suas
intrigas, seus
planos para
destruir a toda
sua família. E ao
mesmo tempo,
queria afastar-se
de seu lado e não
inteirar-se até que
ponto aquele
homem, ao que
tinha amado com
todo seu coração,
odiava-os tanto.
— Decidi então
que esperaria. —
Continuou
Gilmer. —
Aquele mal-
entendido me
dava a
oportunidade de
estar muito perto
de Ian e, ao
mesmo tempo,
de meu outro
objetivo
principal.
Willow o olhou e
limpou as
lágrimas que
corriam por sua
face sem
controle.
— Eu.
— Sim, você.
Gilmer levantou
a mão com a
intenção de lhe
acariciar o cabelo,
mas ela voltou a
afastar-se,
amontoando-se
na cabeceira.
— Você devia
morrer. —
Soltou friamente.
— Soube no
mesmo momento
em que seu pai
anunciou que
tínhamos perdido
Erinn, mas que,
por graça de
Deus, tinha-nos
deixado um anjo
para nosso
consolo. Por sua
culpa ela morreu.
O amor de
minha vida, o
único sol que me
iluminava. Você
devia morrer. —
Repetiu, sem
olhá-la, com os
olhos perdidos
no passado. — E
compreendi que
com sua morte a
vingança seria
completa, porque
Ian e os gêmeos
sofreriam mais
que se os
esfaqueasse um
por um.
A jovem notou
um calafrio de
horror ante suas
cruas palavras. O
olhou de
esguelha,
espantada por
haver sentido
alguma vez afeto
por aquele ser
desprezível.
Muito a seu
pesar, Gilmer
não tinha
terminado ainda
seu relato.
— Entretanto,
não foi uma
presa fácil. De
pequena,
protegiam-lhe
tanto, tinham-lhe
tão mimada que
jamais estava
sozinha. Não
havia maneira de
aproximar-se de
ti sem que um de
seus irmãos não
te estivesse
rondando, ou
algum dos
soldados
MacGregor. A
jóia do
Meggernie...
Com quanto zelo
te guardava seu
pai!
— E lhe culpa?
— Cuspiu ela
com desdém. —
Se todos seus
amigos eram
como você, não é
de admirar que
meu pai
exagerasse em
suas precauções.
Gilmer soltou
uma risada rouca
que lhe pôs os
cabelos em pé.
— Oh, não
acredito que Ian
desconfiasse de
seus aliados! Era,
simplesmente,
sua forma de ser.
Você foi o
consolo de todos
eles ante a perda
de sua mãe e
todos, de maneira
inconsciente,
protegiam-lhe até
a exasperação.
Mas não, não o
culpo. Além
disso, agradeço
que foi assim.
Willow o
contemplou sem
compreender de
que maneira
insana
funcionava sua
mente. Sem
dúvida tinha
perdido o
julgamento
completamente.
— Não. Não
estou louco. —
Disse, olhando-a
como se
soubesse o que
pensava. — Me
alegro de não te
haver matado. O
dia que
completou treze
anos, quando fui
lhes visitar,
apresentou-te
ante mim com
um vestido novo
de cor verde.
Jamais o
esquecerei. Seus
olhos azuis eram
idênticos aos de
sua mãe, seu
cabelo escuro
caía por suas
costas
emoldurando um
rosto de menina,
mas que sem
dúvida tinha os
traços de Erinn.
Impactou-me,
Willow, deixou-
me sem palavras.
Estava-te
convertendo em
mulher... Em
uma mulher
idêntica ao meu
único amor.
Entendi que a
vida me dava
outra
oportunidade;
que ali, diante de
mim, tinha o
sonho que
sempre tinha
açoitado. Só
tinha que
esperar... E,
chegado o
momento,
quando ela
estivesse já
totalmente
reencarnada em
ti, seria minha.
Você sim me
aceitaria, e
receberia todo o
amor que tinha
guardado em
meu coração e
que Erinn tinha
rechaçado. Não
importava que
seu pai ou seus
irmãos se
negassem. Assim,
já o tinha
assumido. Não
permitiriam que
sua apreciada jóia
se casasse com
um homem que
lhe triplicava a
idade, estava
convencido,
assim só tinha
uma opção: te
raptar. Soube
esperar, pequena
Willow.
Meggernie jamais
seria tão
vulnerável como
neste tempo,
assim não pude
demorá-lo mais.
Ataquei quando
sabia que não
podia perder,
porque quase
todos os
MacGregor
estavam na
guerra e já não
podiam te
proteger. Ataquei
quando pude
convencer ao
Errol de que
mudasse de lado.
— Errol... —
Murmurou,
emocionada. —
Como, por que?
— Resultou
muito fácil. É um
homem avarento,
bastou lhe
prometer que ele
seria minha mão
direita no
comando de
Landon Tower, e
meu sucessor
quando eu
morresse. Disse-
lhe que, ao não
ter filhos, não
havia ninguém
melhor que ele
para ocupar o
posto de laird
dos Graham.
À medida que
falava, Willow
tinha ido abrindo
mais e mais os
olhos,
horrorizada.
— Mentiu-lhe!
— Adivinhou,
consciente da
escuridão de sua
alma.
Gilmer esboçou
um sinistro
sorriso.
— É obvio. Não
cederei a
liderança de meu
clã a um sujo
MacGregor,
tenha certeza.
Ainda posso ter
descendência,
não sou tão
velho. Você me
dará um filho
varão para que
possa governar
quando eu falte.
Willow
estremeceu de
asco por ouvir
aquelas palavras.
tornou-se
completamente
louco.
— E por que
culpou aos
Campbell? O que
tinha contra eles?
Gilmer encolheu
os ombros com
indiferença.
— Oh,
absolutamente
nada! Foram eles,
como podia ter
sido qualquer
outro clã.
Qualquer me
valia para apartar
as suspeitas de
mim. Não foi
algo pessoal, só
prático. Os
Campbell são um
clã poderoso e, se
sua família
enfrentava a eles,
a luta sem dúvida
lhes ia debilitar o
bastante. Algo
que me vinha
muito bem para
levar a cabo
meus planos.
Para que você
fosse minha,
devia diminuir as
forças dos
MacGregor
como fosse.
Entretanto, não
contava com que
esse clã que se
supunha que era
o culpado de sua
queda, te
acolhesse e te
escondesse tão
bem de mim. Por
sorte, seu
ingênuo pai ainda
me tem a
suficiente estima
e confiança para
me escrever do
fronte. Pretendia
me tranqüilizar e
me anunciar com
grande regozijo
que a jóia do
Meggernie estava
sã e salva... E que
agora estava com
os Campbell.
Que ironia! O
homem que mais
desejava proteger
foi o que me
facilitou a
informação que
necessitava para
te encontrar. —
Olhou-a com os
olhos carregados
de um amor
doentio que
enojou Willow.
— E finalmente,
depois de tanta
espera... Aqui
está.
— Perdeste o
juízo. —
Sussurrou entre
tremores.
— Por que? Não
te assuste tanto,
querida. Nestas
terras é habitual
que um homem
apaixonado rapte
a sua futura
esposa. E não
tem do que se
preocupar, te
tratarei bem. E
meu carinho te
afligirá de tal
modo que fará
nascer em ti o
amor.
Aquilo era muito.
Willow já tinha
escutado o
suficiente. Esse
assassino, que os
tinha enganado
durante tantos
anos, que tinha
tentado acabar
com seu pai, que
lhe tinha
arrebatado um
pedaço de alma
levando seu
irmão por sua
infinita loucura,
olhava-a como se
todo o passado
não fosse mais
que bobagens
que ela
terminaria
esquecendo com
o tempo.
Levantou-se da
cama e o
enfrentou com o
queixo erguido.
Já não havia
lágrimas em seus
olhos, mas sim
uma fúria
ardente, sedenta
de vingança.
— Embora
pareça que tem
seus planos
muito bem
traçados, se
esquece de que
meu pai, quando
se inteirar, te
esfolará vivo.
Isso se Malcom
não te encontra
antes, que te
estripará com
suas próprias
mãos. — Logo,
levantou o dedo
onde brilhava sua
aliança de
casamento. —
Mas, sobre tudo,
reza para que
antes não caia
nas mãos de meu
marido, porque
então te asseguro
que, primeiro te
arrancará a única
mão que fica por
te haver atrevido
a me tocar. —
Olhou fixamente
seu cotoco, sem
rastro de
compaixão. — E
depois sofrerá a
pior das mortes...
E, ao contrário
do que Willow
esperava, no
lugar de
surpreender-se
por ver o anel em
seu dedo ou de
se desesperar por
ver truncados
seus planos,
Gilmer Graham
esboçou um
horripilante
sorriso que não
pressagiava nada
bom.
— Refere-te ao
laird Ewan
Campbell? —
Estalou a língua
antes de anunciar
com maldade —
O sinto, querida,
mas é mais que
provável que a
estas horas seu
flamejante
marido esteja
atirado no campo
de batalha, com
uma tocha
cravada nas
costas, e você
seja uma formosa
viúva necessitada
de consolo e, o
que é mais
importante, de
um novo marido
que vele por seu
bem-estar.
Willow não era
das que se
desvaneciam.
Willow jamais se
deprimiu, exceto
se estivesse muito
doente. Mas ali
de pé, escutando
dos lábios
daquele calhorda
que Ewan podia
estar morto,
notou que tudo
lhe dava voltas e
que o chão se
aproximava com
rapidez de seu
rosto. Depois,
simplesmente,
seu mundo
desapareceu.

CAPITULO 43

Ewan não soube


de onde tiraram
as forças para
seguir
combatendo
depois da
revelação de seu
tio Alec. Tanto
ele como Ian e
Malcom
MacGregor
temiam por
Willow. Quando
o exército
escocês resultou
vencedor naquela
épica batalha,
não puderam
regozijar-se
como o resto de
seus
compatriotas.
Aquele dia seria
recordado nos
anais da história
como o dia em
que o rei Robert
do Bruce
consolidava seu
poder e
recuperava a
independência da
Escócia.
Entretanto, para
Ewan Campbell,
aquele sempre
seria o dia que
mais medo tinha
tido em toda sua
vida.
Pouco depois de
que a luta
finalizasse, de
retorno ao
acampamento,
curando as
múltiplas feridas
de guerra,
chegou um
mensageiro do
Innis Chonnel.
Tratava-se do
jovem Donald,
que tão boa
amizade tinha
travado com a
nova senhora dos
Campbell. Tinha
cavalgado sem
descanso dia e
noite para chegar
até seu laird e
poder lhe
comunicar a má
nova. Ewan o
recebeu com
alarme e seus
instintos não o
enganaram, pois
aquele leal moço
levava a pior das
notícias.
— A levaram,
meu senhor.
Alguém chegou
até o Innis
Chonnel
fazendo-se passar
por amigo, mas
matou ao Bors e
ao Murdoc, e a
seqüestrou sem
que nos
precavêssemos.
Encontramos aos
vigias
inconscientes em
seus postos,
ninguém deu a
voz de alarme.
Quando nos
demos conta já
era tarde e lhe
tínhamos perdido
o rastro.
Acreditam...
acreditam que
Agnes teve algo a
ver, meu senhor.
Desapareceu do
Innis Chonnel.
As vísceras de
Ewan se
retorceram pela
angústia. Tinha
que ter jogado a
essa arpía no
mesmo momento
em que se
inteirou de que
era uma vil
embusteira e de
que, por sua
culpa, tinha
banido ao seu
melhor amigo. Se
resultava ser
certo que ela
tinha ajudado ao
traidor, mataria-a
assim que lhe
pusesse as mãos
em cima.
O homem que
tinha tentado
atacá-lo pelas
costas, o mesmo
que tinha
acabado com seu
amigo Colin,
levava as cores
do Gilmer
Graham. Sem
dúvida tinha sido
ele quem levou a
Willow. Lhe teria
feito mal? Estaria
viva a essa altura?
O medo
envenenou seu
espírito e lhe
tremeram os
joelhos ao pensar
nessa
possibilidade.
Aquele bastardo
não tinha tido
dúvidas em
acabar com a
vida de Niall
MacGregor,
como podia,
então, ter a
esperança de que
ela estivesse
bem?
A terrível noticia
logo se estendeu
por todo o
acampamento, e
até mesmo Bruce
se indignou ao
saber da traição
de um dos
homens aos que
ele tinha em tão
alta estima.
Tinha-lhe
honrado com
generosidade e
recompensado
por seu valor na
batalha quando
perdeu a mão
lutando por sua
pátria. Assim,
não pôs nenhum
inconveniente
quando, tanto os
Campbell como
os MacGregor,
pediram licença a
seu rei para ir ao
resgate da jovem
Willow. Deixou-
lhes partir
somente com
uma condição:
que aplicassem
justiça em seu
nome, dado que
ele ainda tinha
assuntos que o
retinham no
fronte e, embora
lhe teria
agradado estar
presente no
momento em que
aquele traidor
prestasse contas,
um rei não podia
abandonar suas
obrigações
naquelas horas
tão
transcendentais
para seu país.
— Pagará por
todo o mal que
tem feito,
majestade. —
Prometeu Ian
MacGregor.
E assim partiram,
rezando e
desejando em
seus corações
que quando
chegassem ao
Landon Tower
não fosse muito
tarde...

Levava três dias


naquela
habitação,
encerrada sob
chave. Negou-se
a comer e
rejeitava tudo que
viesse daquele
que até esse
momento tinha
chamado tio.
Detestava-o,
odiava-o tão
profundamente
que preferia
morrer antes de
deixar que a
tocasse.
Por sorte, nem
sequer o tinha
tentado.
Em sua loucura,
considerava o
amor que tinha
sentido por
Erinn um pouco
tão sagrado, que
não concebia
desonrar a sua
filha deitando
com ela sem ter
contraído
primeiro
matrimônio. E,
para isso, devia
certificar-se de
que a jovem, tal e
como suspeitava
porque assim o
tinha planejado e
ordenado, era
viúva.
A espera a estava
voltando louca.
Não saber se
Ewan estava vivo
ou morto a
enchia de
desespero e
tampouco podia
perguntar a
ninguém, porque
unicamente tinha
visto o Gilmer
desde que a
encerraram ali.
Lhe levava as
bandejas de
comida
pessoalmente, ele
levava o urinol
que utilizava e
logo o voltava a
trazer, vazio. Não
enviava a
ninguém do
serviço para
atendê-la e,
pouco a pouco,
estava
conseguindo o
que pretendia:
que Willow
falasse com ele,
que o
necessitasse, que
esperasse suas
visitas para poder
averiguar algo
mais a respeito
desse futuro
incerto que agora
lhe apresentava
ante seus olhos.
Aquele dia
chegou à mesma
hora de sempre
com o café da
manhã. Ficou um
momento na
porta, olhando-a
com adoração,
sem ocultar já a
paixão que tinha
mantido
reprimida
durante tantos
anos. Willow
sentiu uma
repulsão infinita
que não se
incomodou
tampouco em
dissimular.
— Hoje comerá,
Erinn.
Outra das coisas
que a tirava do
sério. Tinha
começado a
chamá-la como a
sua mãe. Já nem
sequer o
corrigia... Para
que? Tinha
ficado patente
que sua mente
estava seriamente
perturbada.
— Não comerei.
Pode levar sua
comida
repugnante. Não
a quero.
— Por acaso
quer adoecer? —
Gilmer franziu o
cenho.
Willow cruzou os
braços, decidida,
lhe indicando
com toda sua
postura que
podia esperar
sentado que ela
decidisse provar
a comida. Apesar
de que morria de
fome. Apesar de
que até o
minguau nesse
momento lhe
parecia um prato
suculento sobre o
que se lançaria se
não estivesse em
jogo muito mais
que sua própria
vida.
— Bem. Você
ganha. —
Concedeu no
final o homem.
A jovem não
soube a que se
referia até que ele
deixou a bandeja
sobre a mesa que
havia junto à
parede, saiu da
habitação, e
voltou a entrar
acompanhado
por outra pessoa.
Willow custou
para reconhecê-
la, porque estava
tão maltratada,
tão envelhecida,
que nem de
longe havia nela
rastro da mulher
que foi.
— Enjoe! —
Exclamou
ofegante, levando
uma mão à boca.
— Minha
menina...
E assim que
escutou sua voz,
seu calor tão
familiar, correu
para ela para
encerrar-se entre
seus braços e que
a embalasse
como o tinha
feito desde que
nasceu.
Suas nodosas
mãos a
acariciaram com
ternura e notou
seus lábios
beijando-a na
têmpora com um
amor que só
podia vir de uma
verdadeira mãe.
O que Enjoe
tinha sido para
ela, o que ainda
era, o que sempre
seria.
— Shhh, está
tudo bem, minha
menina. Já estou
aqui contigo,
nada de mau vai
acontecer.
As palavras de
consolo
conseguiram que
o pranto
prendesse forte
em seu peito e
Willow soluçou
com a cara
enterrada no
ombro da anciã,
que também
estava chorando.
Assim as deixou
Gilmer, lhes
advertindo muito
seriamente antes
de partir.
— Faça com que
coma, velha. Do
contrário, voltará
para a masmorra
onde estava, e de
onde não sairá
jamais.
Quando ficaram
sozinhas, Willow
ainda chorou um
longo momento,
desafogando
todos os seus
medos e o alívio
do reencontro
contra o peito de
sua dama de
companhia.
Pouco a pouco,
recuperou o
ritmo normal de
sua respiração e
por fim se
apartou para
estudar o aspecto
da mulher.
Sua cara
enrugada estava
ainda mais
enrugada, em
parte porque a
via muito mais
magra do que
recordava. Seus
olhos castanhos
tinham perdido o
brilho da
determinação e a
força que sempre
a tinham
caracterizado. O
cabelo cinza, que
sempre tinha
levado
impecavelmente
penteado sob
uma touca,
apareciam agora
solto, comprido e
sujo em suas
costas. Seu aroma
corporal, intenso
e desagradável,
dizia muito do
trato que tinha
recebido de seu
captor. Era
inaceitável que
Gilmer a tinha
mantido
encerrada
durante todo
aquele tempo,
sem lhe dar
opção ao asseio
pessoal, inclusive
torturando-a,
porque as linhas
de expressão de
seu rosto davam
mostras de um
sofrimento
extremo que
custaria apagar
de sua pele.
— O que te tem
feito? —
Perguntou-lhe
com carinho, lhe
passando uma
mão pelo cabelo
sem sentir
nenhuma
repulsão, apesar
de seu aspecto.
— Menos do que
fará a ti se
consegue sair-se
com a sua —
Disse. — Menos
do que fez a meu
menino, a meu
Niall...
Willow tragou
saliva porque a
dor de Enjoe
queimava sobre a
sua própria, que
já tinha em carne
viva. Apertou os
dentes para não
voltar a chorar.
— Matou-o o
bastardo do
Errol.
— Sei. Gilmer
me explicou isso
com detalhe para
me fazer sofrer.
— Não se sairá
com a sua. —
Prometeu
Willow,
apertando as
mãos de Enjoe
com força.
— Claro que não.
— Concordou,
convencida. —
Mas, para poder
lutar contra ele,
deve estar forte.
Assim, venha,
sente-se nessa
mesa e coma
tudo o que te
trouxe. Quer que
seu marido se
encontre com
uma mulher
esfomeada
quando vier te
buscar?
A pergunta
disparou o
coração de
Willow, como
sempre que
pensava em
Ewan. Foi sem
dúvida seu tom,
carente de
qualquer dúvida a
respeito. Enjoe
acreditava que ele
a resgataria e,
pela primeira vez,
a esperança
prendeu em seu
peito ante essa
possibilidade. Se
sua dama de
companhia, sábia
que era, deixava-
o tão claro, à
força teria que
ser certo.
— Quem te falou
sobre Ewan? —
Perguntou-lhe,
arqueando uma
sobrancelha.
— O anel de seu
dedo. — Espetou
Enjoe, olhando-a
com carinho. —
Se chama Ewan?
Willow acariciou
a aliança com
olhos
sonhadores.
— Sim. É o laird
dos Campbell.
— Um bom
casamento, sem
dúvida. Seu pai
estará muito
orgulhoso. E
como ocorreu?
Conte tudo à esta
velha... Gilmer
me roubou um
dos momentos
que mais ansiava
compartilhar
contigo, minha
menina, o dia de
suas bodas.
Assim me narre
com todo detalhe
como chegou a
conhecê-lo,
como se
apaixonou por ti,
como se declarou
a ti, como foi
essa cerimônia a
que não pude
assistir...
Willow esboçou
um sorriso
carregado de
tristeza, porque
ela também tinha
sentido sua falta
naquele dia.
Prometeu a si
mesma que, se
tudo saísse bem,
se conseguissem
sair dessa
confusão, voltaria
a casar-se com o
Ewan. Desta vez,
diante de toda
sua gente,
rodeada das
pessoas que mais
amava no
mundo.
— Na realidade.
— Confessou. —
Eu o rechacei
quando se
declarou. Mas
Malcom me
obrigou a me
casar com ele...
O rosto da anciã
revelou sua
surpresa.
— Acaso foi
umas bodas
imposta? Custa-
me acreditar que
seu irmão fizesse
algo assim. Não
o ama?
A jovem levou
uma mão ao
coração e se
ruborizou ao
recordar os
momentos
compartilhados
com o Ewan.
— Amo-o com
tudo o que sou.
— Justificou.
Continuando,
sentou-se à mesa
para devorar
aquele café da
manhã enquanto
contava a Enjoe,
entre colherada e
colherada, tudo o
que tinha
passado desde o
dia em que a
disfarçou de
menino para que
fugisse do
Meggernie.
Explicou-lhe
tudo, sem
guardar nada,
porque para ela
não tinha
segredos e sabia
que, depois do
que tinha sofrido
para mantê-la a
salvo, tampouco
os merecia.
E, do mesmo
modo que ela
relatou suas
aventuras do
fatídico dia do
ataque ao
Meggernie,
Enjoe lhe contou
o que tinha sido
dela todo esse
tempo. Foi
capturada
durante o assalto
e levada
diretamente às
masmorras do
Landon Tower.
Gilmer a visitou
diariamente, nos
dias sucessivos,
para golpeá-la e
torturá-la com a
finalidade de que
a anciã lhe
revelasse o
paradeiro de
Willow, do que
pelo que parecia
não tinha
nenhuma pista
confiável.
— Estava
desesperado. —
Contou Enjoe.
— Louco por te
encontrar. Graças
ao céu que nos
ocorreu te
disfarçar, e graças
ao céu também
por pôr em seu
caminho aos St.
Claire, que lhe
cobriram no seio
de sua humilde
família, te
apartando de
todos os lugares
pelos que Gilmer
te buscava.
Willow pensou
em John, em
Maud e Liese, e
sua simples
lembrança a
reconfortou
como poucas
coisas podiam
fazê-lo naquele
momento. Sentiu
falta deles e
lamentou o
desassossego que
seu
desaparecimento
lhes teria
causado. Teriam
arrancado de
Agnes o
acontecido? O
teriam imaginado
ao encontrar os
corpos de Bors e
de Murdoc
assassinados na
margem do rio?
Desejava que
tudo acabasse
logo para poder
voltar junto a
eles.
— É obvio. —
Tinha confessado
Enjoe. — Eu
jamais lhe disse
nada que pudesse
levá-lo até ti.
Antes teria
deixado que me
matasse.
Willow a tinha
abraçado então,
jurando a si
mesmo que
ninguém voltaria
a separá-la de seu
lado.
Quando Gilmer
retornou ao
quarto, a jovem
lhe exigiu que
proporcionasse a
sua dama de
companhia um
bom banho e
roupas limpas.
Jogou-lhe na cara
ter tratado desse
modo à anciã e
tentou que se
envergonhasse de
seu
comportamento,
coisa que,
lógicamente, não
conseguiu.
Embora, ao
menos, sim
obteve que
tomasse em
conta sua petição.
— As duas
poderão lhes
assear e lhes pôr
roupas limpas. —
Concedeu,
olhando-a de
cima abaixo. —
Minha futura
esposa tem que
estar
apresentável.
Logo voltará a
crescer o cabelo,
tal e como o
tinha antes,
Erinn, e todos
me invejarão por
ter uma mulher
tão bela e tão
cheia de virtudes.
Willow não pôde
guardar silêncio
ante aquela
presunçosa
afirmação.
— De verdade
acredita que me
comportarei
como uma
amante e esposa
contigo? Depois
de ter matado a
meu irmão, de
torturar a minha
dama de
companhia, de
me seqüestrar e
me roubar de
meu próprio lar?
— Este é agora
seu lar! —
Estalou Gilmer,
ficando vermelho
pela indignação.
— Equivoca-te.
— Willow deu
um passo à
frente. — Innis
Chonnel é agora
meu lar, o lar de
meu marido.
— Nunca será
uma Campbell.
— Já o sou —
Insistiu ela, com
a cabeça bem
alta. — Do
mesmo modo
que sou também
MacGregor. O
que nunca serei,
o que jamais
verão seus
retorcidos olhos
de louco, é ver-
me convertida
em uma Graham.
Com duas
pernadas, Gilmer
se equilibrou
sobre ela e com
sua única mão a
agarrou pelo
pescoço.
Enjoe ofegou
pelo medo, mas
Willow lhe
sustentou o
enfurecido olhar
sem alterar-se.
Ter sobrevivido
aos arremessos
de Ewan
Campbell quando
era apenas Will a
tinha preparado
para suportar
agora os ataques
daquele homem.
E, se não tivesse
temido pela vida
de sua querida
dama de
companhia,
defenderia-se
com unhas e
dentes como
todo seu ser
pedia a gritos que
fizesse.
— Será uma
Graham. Será
minha esposa. E
me amará.
— Meu coração
pertence a outro
homem. Igual ao
coração de minha
mãe foi, e será
para sempre em
sua lembrança,
do Ian
MacGregor. —
Vaiou, apenas
sem voz pelo
muito que
apertava sua
garganta.
Queria lhe fazer
dano e lhe bateu
onde sabia que
mais lhe doeria.
Gilmer a soltou,
com os olhos
arregalados pela
ira, mas só para
poder golpeá-la
com força na
bochecha. O
bofetão fez que
Willow caísse no
chão e Enjoe
acudiu disposta
em sua ajuda. O
homem a olhou
de cima, furioso,
lutando por
conter-se para
não voltar a tocá-
la. Apontou-a
com o dedo
antes de falar.
— Agora vejo
que não é como
sua mãe. Ela era
doce, amável, um
verdadeiro anjo.
— Já lhe disse
isso. —
Respondeu do
chão, limpando o
lábio que lhe
sangrava pelo
golpe. — Agora
sou meio
Campbell. Se
voltar a me pôr a
mão em cima,
juro-te que
quando me
beijar, arrancarei-
te a língua de
uma dentada.
Gilmer olhou a
Enjoe com uma
clara ameaça em
seu gesto.
— Se lhe
importa algo os
teus, não fará
nada semelhante.
Te comportará
como
corresponde... E
me entregará seu
coração.
Dito isso, partiu
do quarto dando
uma sonora
portada antes de
voltar a fechar
com chave.

CAPITULO 44

Era noite e
Willow dormia
abraçada a Enjoe,
na cama daquele
quarto que se
converteu em seu
lar durante os
últimos dias. A
porta se abriu de
repente, as
sobressaltando a
ambas.
Despertaram e
viram Gilmer
entrar, com olhos
de louco, e
equilibrar-se
sobre a anciã.
— Deixa-a em
paz, não a leve!
— Pediu-lhe
Willow,
desesperada.
O homem
colocou uma faca
na garganta de
Enjoe e a olhou
com intensidade.
— Virá comigo,
fará o que eu te
diga ou ela
morrerá.
Entendeste-o?
Willow assentiu
com a cabeça,
morta de medo.
Não suportaria
perder a Enjoe
também, assim
obedeceu ao
Gilmer e o seguiu
fora da habitação.
Em seguida
notou que algo
não estava bem.
Ao menos para
os Graham,
porque havia
serventes
correndo de um
lado a outro e, ao
chegar ao grande
salão, descobriu
que os habitantes
do Landon
Tower se
reuniram ali,
nervosos, muitos
deles em roupa
de cama, à espera
das instruções do
senhor do
castelo.
— Vamos, não te
detenha. —
Ordenou a
Willow, ao
mesmo tempo
que empurrava a
Enjoe para que
caminhasse
diante dele, rumo
à torre do vigia.
Subiram pela
escada de caracol
até o alto do
portão e, uma
vez ali, Willow
teve uma vista
completa do
campo que se
estendia ante o
Landon Tower.
Abaixo, ante as
portas do castelo,
um exército que
hasteava os
pendões com as
cores Campbell e
MacGregor
ameaçava a paz
daquela fortaleza.
Na escuridão da
noite, dezenas de
tochas
iluminavam os
rostos
enfurecidos de
todos os homens
que tinham ido
para resgatá-la.
O coração de
Willow pulsou
muito depressa,
enquanto
procurava no
grupo os rostos
conhecidos que
morria por ver.
Entretanto, a
distância e a
pouca luz
dificultavam que
ela pudesse
distingui-los.
— Campbell!! —
Gritou Gilmer.
— Se em algo
estimas a vida de
sua esposa,
entrará você
sozinho, e
desarmado!!
A ponte
elevadiça do
castelo baixou
então e no
portão, o traidor
Errol e outro
soldado Graham
agarraram a
Willow para
mostrá-la e para
que os homens
que aguardavam
abaixo pudessem
vê-la bem. Ela
sentiu a vertigem
daquela altura ao
ver-se com o
meio corpo fora
das muralhas e o
grito lhe saiu sem
querer,
conseguindo o
que Gilmer
pretendia. Ela
sabia que aquele
demente não a
deixaria cair no
vazio, mas Ewan
não.
O efeito foi
imediato.
Um dos
guerreiros se
adiantou ao resto,
a pé e com os
braços em cruz
para mostrar suas
mãos nuas.
Colocou-se na
metade da ponte
e olhou para
cima. Willow se
encontrou com
os olhos de seu
marido e todo
seu corpo se
convulsionou de
alivio ao vê-lo
vivo... Embora a
sensação lhe
durou pouco.
— Aqui me tem,
Graham!
— Entra! Você
sozinho! —
Repetiu.
Ewan não o
duvidou. Seguiu
caminhando,
decidido e sem
mostrar nenhum
temor. Uma vez
que tinha
cruzado, a ponte
voltou a levantar
para fechar o
caminho aos
outros.
— O que pensa
fazer com ele? —
Perguntou
Willow, com a
voz estrangulada
pelo medo.
Gilmer a olhou e
esboçou esse
sorriso que já
não lhe parecia
atrativo
absolutamente.
Era demoníaco...
E bastante
retorcido.
— Vamos ao
salão, querida, e
lhe mostrarei
isso. Não
façamos esperar
ao que, por
agora, ainda pode
chamar-se seu
marido...
Suas palavras
encheram de
pânico o coração
de Willow. É
obvio. Se o que
pretendia era
casar-se com ela,
Ewan
atrapalhava. Teria
que matá-lo, algo
que parecia já
tinha tentado,
sem êxito.
Escoltadas por
Gilmer e Errol,
Enjoe e ela
foram
conduzidas ao
salão principal,
onde alguns
soldados Graham
já tinham
apressado ao
Ewan e o
mantinham
sujeito, com as
mãos nas costas.
— Will! —
Exclamou, logo
que a teve ante
seus olhos. —
Está bem?
— Sim... — Ela
tentou correr
para seu lado,
mas Gilmer a
deteve.
— Está muito
bem, Campbell.
Acaso não a vê?
Eu não lhe faria
nenhum dano, e
esse foi seu
engano.
Ewan franziu o
cenho e o olhou
de um modo que
teria atemorizado
a qualquer outro.
Willow
reconheceu
aquele olhar.
Era o mesmo
que tinha no dia
em que Reed
MacNab lhes saiu
ao encontro com
intenção de
atacá-los, no
bosque. Era o
mesmo que tinha
quando
enfrentou aos
seus
conselheiros,
diante de todo
seu clã, para
defender-se das
injúrias vertidas
sobre sua pessoa.
Era uma mescla
de fúria,
impaciência... E
convencimento
de que sairia
vitorioso daquele
lance.
— Não lhe tem
feito mal, diz? —
Vaiou, com a ira
pulsando em
cada uma de suas
palavras. —
Como chamas
então a atacar seu
lar, a matar a sua
gente, a
assassinar a seu
irmão? Como
chamas ao feito
de raptá-la e
trazê-la aqui, à
força, afastando-
a de tudo o que
ama?
— Ela ainda não
sabe o que é o
verdadeiro amor,
Campbell. Eu o
mostrarei, eu
farei que se dê
conta do que é
capaz de fazer
um homem pelo
amor de sua vida.
Tudo o que
tenho feito foi
por ela, por nós,
por nossa
felicidade. —
Gilmer se voltou
para Willow e seu
sorriso maldoso
lhe pôs os
cabelos em pé.
— Diga-lhe,
querida.
A um gesto dele,
Errol capturou o
braço de Enjoe e
ameaçou sua vida
com uma enorme
adaga. Willow
contemplou com
pânico crescente
o rosto de sua
dama de
companhia, que
apesar de tudo
não parecia ter
medo. Muito
pelo contrário,
negava com a
cabeça para
evitar que Willow
aceitasse a
coação de
Gilmer.
Logo olhou para
Ewan.
Encheu-se de sua
imagem... O
cabelo castanho
caía a ambos os
lados do rosto
desordenado,
selvagem. Tinha-
lhe crescido a
barba, dando ao
seu semblante
um ar muito
perigoso. Apesar
disso, apesar de
que cada fibra de
seu ser gotejava
uma poderosa
força contida,
Willow pôde
observar que
estava pálido e
seu olhar
transmitia a
tortura de não
poder tirá-la dali
em seguida,
como estava
desejando.
Jamais o tinha
amado tanto
como nesse
momento.
Sempre lhe dizia
que era
transparente, que
seus desejos
apareciam através
de seus olhos.
Willow esperava
que naquela
ocasião também
fosse assim,
porque as
palavras que
devia pronunciar
eram as mais
difíceis que tinha
tido que dizer
jamais e eram
mentira.
— Sei que serei
feliz com o
Gilmer. —
Sussurrou. —
Não Tinha que
ter vindo por
mim.
Ewan não
demonstrou que
aquela declaração
o afetasse no
mínimo.
— Percorreria o
inferno por ti.
Levarei-te para
casa, custe o que
o custar.
Ela não pôde
evitar sorrir ante
a apaixonada
declaração.
Disseram-se com
o olhar tudo o
que precisavam
saber, porque
com os olhos
sempre se
comunicaram
muito melhor
que com as
palavras.
Gilmer foi
testemunha de
como o amor
entre os dois
jovens era muito
maior que o
medo à morte, ao
que pudesse
ocorrer a cada
um deles, e não o
suportou. De
novo sentiu o
rechaço, o saber
ser relegado
porque a mulher
de seus sonhos
escolhia a outro,
entregava a outro
tudo o que ele
merecia...
Seu rugido
frustrado e
furioso ressonou
contra as paredes
do salão. Gilmer
se equilibrou de
novo para a
cuidadora da
jovem e apartou
ao Errol de um
empurrão para
ocupar seu lugar.
Com brutalidade,
obrigou à anciã a
ficar de joelhos,
em frente a
Willow. Com sua
única mão,
apertou a adaga
contra a garganta
da mulher.
— Muito bem.
Isto acaba aqui e
agora. Farei que
todo esse amor
que não quer me
dar te apodreça
dentro como se
apodreceu o meu
por Erinn. Será
você a que acabe
com sua vida,
pequena Willow.
Errol, lhe
entregue sua faca!
— Gritou, com
raiva. — E agora,
querida, crave a
seu marido no
coração ou ela
morrerá.
— Não! —
Chiou Enjoe do
chão. — Eu sou
somente uma
velha, minha
menina. Não faça
tal coisa, não o
faça por mim.
Willow olhou a
faca que aquele
traidor tinha
posto em suas
mãos,
horrorizada.
Errol a olhou e
esboçou um
sorriso de
satisfação que a
decompôs. Logo
olhou a Enjoe,
cuja garganta já
sangrava pela
força com a que
Gilmer apertava
a adaga. E, por
último, olhou ao
Ewan. Seu
semblante era
uma máscara de
fúria contida.
Caminhou para
ele devagar,
apertando com
força o punho da
faca entre seus
dedos.
— Não, Willow,
não! — Gritou
de novo Enjoe.
Mas ela podia
olhar somente ao
Ewan, empapar-
se de sua pessoa,
do poder que
emanava de seu
corpo, apesar de
estar amarrado e
sujeito por dois
soldados. Chegou
até ele e ambos
inspiraram com
força,
reconhecendo o
aroma
inconfundível do
outro.
— Meu pequeno
duende... —
Murmurou
Ewan, com a voz
rouca.
— Malcom e
meu pai? —
Perguntou-lhe
ela, com o
coração tão
apertado de
medo que o peito
lhe doía.
— Estão vivos,
estão aqui.
Willow fechou os
olhos de puro
alívio. A guerra
não os tinha
arrebatado.
— Basta de falar!
— Impeliu-a
Gilmer,
desesperado. —
Vamos, acaba
com ele!
Willow se
aproximou e
colocou a ponta
da adaga sobre o
peito do Ewan, à
altura do coração.
Ele se ergueu,
sem deixar de
olhá-la aos olhos,
sem demonstrar
medo.
— Não posso
deixá-la morrer.
— Sussurrou
Willow, a modo
de desculpa.
Levantou-se nas
pontas dos pés e
depositou um
beijo breve nos
lábios de seu
marido como
despedida. Ele
fechou os olhos
para senti-la
melhor, para
deixar-se
envolver pela
doce magia de
seu duende uma
vez mais...
— Matarei-a,
Erinn! — Uivou
outra vez Gilmer
ao ver aquele
gesto de amor.
Havia tornado a
usar o nome de
sua mãe, estava
fora de si. —
Quer ver o
sangue de sua
querida Enjoe
derramando-se
pelo chão de meu
salão?
Willow apertou
com força a faca,
tal e como lhe
tinham ensinado
a fazer Melyon e
Bors... O pobre
Bors, assassinado
vilmente por um
traidor. O anti-
social, mal
educado e arisco
Bors.
Pensou no que
lhe diria nesse
momento se a
estivesse vendo.
Gritaria-lhe que
atuasse de uma
vez, que não se
comportasse
como um
afeminado, que
não era digna de
a considerar uma
dos seus...
— Vamos, me
demonstre que já
é uma Graham,
ou acabarei com
sua doce babá de
um só talho! —
Rugiu Gilmer
outra vez.
— Já lhe disse.
— Vaiou ela,
olhando-o por
cima do ombro.
— Jamais serei
uma Graham...
Agora sou uma
Campbell.
Moveu-se tão
rápido que aquele
demente não o
viu vir. Willow
girou e, com esse
mesmo impulso,
deu a volta à faca
e o sujeitou pelo
fio, lançando-o
depois como
Bors lhe tinha
ensinado, com a
raiva que sentia
ante a lembrança
de seu corpo
morrendo na
margem do lago
Tay.
Não falhou. A
adaga voou
atravessando o
salão com uma
força
assombrosa,
direta no ombro
de Gilmer. Soltou
a arma com a que
ameaçava a
Enjoe assim que
a dor e a surpresa
o atravessaram
em partes iguais.
Gilmer a
contemplou sem
acreditar no que
tinha acontecido.
Aquela não era
sua doce Erinn.
Em seus olhos
azuis só
encontrou
desprezo e um
ódio tão
profundo que,
pela primeira vez,
fez-lhe ver a
verdade mais
clara e dolorosa:
nunca, jamais,
teria seu amor.
— Matem!! —
Gritou,
enlouquecido.
Ewan não
esperou para que
os soldados
Graham
cumprissem a
ordem. De um
cabaçada se
livrou de um de
seus
sequestradores e
Willow saltou
sobre as costas
do outro para lhe
dar certa
vantagem. Seu
marido não
demorou para
deixá-lo fora de
combate com
uma forte
joelhada na
virilha. Enjoe,
que nenhum dos
dois soube como
pôde mover-se
tão depressa,
tinha recolhido a
adaga que Gilmer
tinha solto e
correu para eles,
disposta a cortar
as cordas que
atavam as mãos
de Ewan em suas
costas.
O restante dos
soldados que
havia na sala se
equilibraram
sobre eles,
enquanto os
habitantes do
castelo se
apertavam ao
fundo do salão,
temerosos pelo
que ali estava
ocorrendo.
— Fiquem atrás
de mim. —
Ordenou Ewan a
Willow e a Enjoe,
usando a adaga
que a anciã tinha
na mão como
única arma para
fazer frente a
todos aqueles
homens.
Willow desejou
uma vez mais ter
a força de seus
irmãos para
poder ajudar ao
seu marido, já
que sua
desvantagem era
muita naquela
ocasião contra
Errol e os
homens de
Gilmer. A
pequena
guarnição que
guardava o
castelo era
insuficiente para
proteger a
fortaleza de um
ataque, mas
bastante para
reduzir a um só
homem armado
com uma faca.
Por sorte, a ajuda
tão necessária
chegou justo no
momento em que
Enjoe começou a
rezar em voz
baixa por suas
vidas. As portas
do salão se
abriram com
grande estrondo
e as tropas
MacGregor,
junto com a dos
Campbell,
invadiram o
lugar.
A luta não durou
muito; sendo os
invasores
superiores em
número e em
ferocidade,
impuseram-se
aos poucos
soldados Graham
sem causar
baixas.
Gilmer
contemplou a
cena petrificado,
sem assimilar o
que acontecia.
Atônito, foi
testemunha de
como todo seu
mundo se
desmoronava
ante seus olhos
sem poder fazer
nada para evitá-
lo.
Uma mulher
avançou abrindo
passo entre os
homens que
tomaram o
controle do
Landon Tower,
com a cabeça
bem alta, sem
envergonhar-se
de lhes haver
ajudado a entrar
na fortaleza para
derrotar ao que
até esse
momento tinha
sido seu laird... E
o único homem
ao que tinha
amado. Gilmer,
sustentando o
ombro ferido
com o feio
cotoco, olhou a
sua ama de
chaves de cima a
baixo.
— Rhona...
— Sinto muito,
meu senhor. —
Exclamou a
mulher, embora
seu tom não
demonstrava
arrependimento.
— Sinto haver
lhe traído, mas
não podia
permitir que
continuassem
com esta loucura.
— Por que? Sou
seu laird, sempre
te tratei bem,
deve-me
lealdade ... A
mim!! — Gritou,
fora de si.
Rhona lhe olhou
fixamente e nesse
momento, ao lhe
ver derrotado,
acabado graças a
ela, as lágrimas
vieram aos seus
olhos.
— Fui leal
durante muitos
anos, meu
senhor. Quando
amava a outra,
quando a
chamava em
sonhos depois de
ter
compartilhado o
leito comigo...
Sempre pensei
que, no final, se
daria conta de
que eu era mais
real que essa
ilusão que
mantinha intacta
por uma mulher
que já não existia.
Mas não foi
assim. Esperei-
lhe em vão. Dei-
lhe um filho que
nem sequer quis
reconhecer... E o
enviou à guerra,
o deixou morrer
sem que tivesse
recebido de seu
pai nenhuma só
palavra de
orgulho ou
carinho.
Gilmer fechou
um momento os
olhos ao
compreender que
a traição de
Rhona a tinha
ocasionado ele
mesmo, por
ignorá-la, por
não ter visto
tudo o que lhe
oferecia e o que
lhe tinha dado
em troca de nada.
Um guerreiro se
adiantou então
com passo solene
e se colocou ao
lado da mulher.
Pôs-lhe uma mão
no ombro tanto
para tranqüilizá-
la para lhe
agradecer tudo o
que tinha feito
por eles. Ian
MacGregor
perfurou com os
olhos ao que até
fazia muito
pouco tinha
considerado um
de seus melhores
amigos.
— Rhona, não se
sinta culpada. —
Disse. — Este
homem é o
maior traidor de
todos os tempos
e não tem direito
a te jogar nada na
cara. — Logo,
dirigiu-se a ele.
— Te tratei
como a um
irmão, Gilmer. E
me traíste da pior
das maneiras.
Poderia passar
por cima que
amasse a minha
esposa em
segredo e que
tentasse me
matar no
passado.
Poderia... — Ian
exalou o ar de
seus pulmões
com um gesto de
desprezo. — Mas
atacaste meu lar,
assassinaste a
meu filho e, não
contente com
isso, também
raptaste a minha
filha. Não posso
perdoar isso.
Gilmer levantou
a cabeça, muito
digno. O ódio
que sentia pelo
MacGregor
permanecia
intacto, mais vivo
que nunca, e não
pensava dobrar-
se ante suas
ameaças. Fixou-
se em que, a seu
lado,
posicionava-se
seu outro filho,
Malcom, que o
contemplava com
tanta ira contida
que parecia um
anjo vingador.
— Eu tampouco
posso lhe
perdoar. —
Disse,
desembanhando
sua espada. — E
você, Errol,
como foste
capaz? Tantos
anos te
acreditando
nosso amigo, tem
sangue
MacGregor, é
nossa família...
Willow falou
então, olhando
com aversão ao
que tinha jogado
com ela e seus
irmãos quando
eram pequenos,
com o que tantas
coisas tinha
compartilhado ao
longo de sua
vida.
— Foi sua
espada a que
acabou com o
Niall. — Disse,
com voz gelada.
— Ele mesmo
me confessou
isso antes de me
raptar.
O grunhido de
indignação de
todos os
MacGregor ali
presentes se
elevou no ar e
Errol deu um
passo atrás.
Ian MacGregor o
perfurou com
seu olhar antes
de tomar sua
decisão.
— Não vou
alargar o
sofrimento com
o que carrego
por mais tempo.
Não haverá
julgamento para
ti, não voltará
para Meggernie
para receber seu
castigo. Malcom
jurou vingar a
seu irmão, e
estou seguro de
que Ewan não
passará por cima
que tenha posto
suas sujas mãos
em cima de sua
esposa para
raptá-la. —
Olhou por cima
do ombro aos
dois guerreiros
que estavam já
preparados com
a espada na mão.
— É seu.
Os dois homens
se adiantaram.
Os olhos de
Errol se
dilataram de
terror ao
entender que não
tinha nenhuma
oportunidade,
que não haveria
piedade para ele.
Era um guerreiro
excepcional, mas
não tinha nada
que fazer diante
dessas duas
torres humanas
que se
aproximavam
prometendo a
morte com seus
olhos.
Foi muito breve.
Apenas um
intercâmbio de
golpes de espada
desesperados e
frenéticos.
Willow não podia
afastar o olhar
deles, igual ao
resto dos
presentes,
porque, embora
sabia que a
imagem que
estava a ponto de
presenciar ia
resultar
desagradável, não
queria perder o
momento no que
aquele sujo
traidor pagasse
por haver matado
seu amado irmão.
Um grito animal
se elevou no ar
quando Ewan
cortou ao Errol o
braço com o que
sustentava a
arma, à altura do
cotovelo. O
homem caiu de
joelhos, com o
gesto distorcido
pela dor.
— Isto, por te
haver atrevido a
tocar a minha
esposa. — Disse,
com desprezo.
Malcom ficou
frente a ele então.
Olhou-o com
todo o fogo da
vingança ardendo
em seus olhos.
— E isto por nos
haver enganado.
Por fingir ser
nosso amigo. Por
me roubar a
minha outra
metade da
maneira mais vil.
Levantou sua
espada e de um
só golpe lhe
separou a cabeça
do corpo, que
rodou até parar a
poucos passos de
onde Willow se
encontrava. Uma
náusea lhe subiu
pela garganta ao
contemplar
aquele olhar
espantado em
seus olhos
mortos. Mas não
sentiu lástima...
Ewan girou
então para o
Gilmer, que
recuava ao ver o
final que tinha
tido Errol.
— Também te
mataria com
minhas próprias
mãos pelo que
tem feito a minha
esposa. —
Exclamou. —
Mas acredito que
os MacGregor
merecem poder
vingar a sua
gente, ao Niall...
E a sua adorada
Erinn.
Gilmer se
mostrou
indignado com a
última afirmação.
Apertou os
lábios até que
estes formaram
uma linha reta
que partiu seu
enfurecido rosto
em dois.
— Eu não fiz
nenhum mal a
Erinn! Foram
eles... Eles, os
que causaram sua
morte!
— Sim? —
insistiu Ewan,
querendo lhe
machucar. Não
pensava deixá-lo
morrer em paz.
Apenas por todo
o sofrimento que
tinha causado,
merecia-o. — O
que pensaria ela
de ti se se
inteirasse de que
matou a um de
seus filhos?
— De fato! —
Willow tomou a
palavra. — estou
segura de que
minha mãe, esteja
onde estiver, sabe
o que tem feito.
Se pensava te
encontrar com
ela no outro
mundo, Gilmer
Graham, tenha
bem presente que
inclusive ali te
desprezará pelo
mal que infligiste
a minha família.
Jamais será tua,
nem nesta nem
em outra vida.
Jamais terá seu
coração...
O rosto de
Gilmer se
transformou ante
tais palavras. O
que implicavam o
deixou seco e
vazio por dentro.
E sentiu pânico
quando Ian
MacGregor
avançou para ele,
espada na mão,
porque ia morrer
com o coração
quebrado. Sabia
que aquele
sofrimento o
acompanharia
mais à frente, e
não haveria nesse
outro mundo
nenhuma
esperança,
nenhum alivio
para ele. Passaria
uma eternidade
em contínuo
sofrimento, iria
ao inferno e se
abrasaria para
sempre nas
chamas do
desamor...
Nenhum dos que
presenciaram seu
castigo final
sentiu pena por
ele.

CAPITULO 45

Os soldados
Graham se
renderam depois
da queda de seu
laird. Ian
MacGregor lhes
anunciou que a
sorte de todos
eles a decidiria o
próprio rei
Bruce, o qual já
estava a par da
traição de
Gilmer.
Receberiam
clemência porque
estavam
cumprindo
ordens de seu
laird, mas sem
dúvida não
sairiam impunes
daquela situação.
Com essa
incerteza
pendendo sobre
suas cabeças, os
Graham
aceitaram ficar ao
serviço de Ian até
que o rei
retornasse do
fronte.
Tanto os
Campbell como
os MacGregor
tomaram o
castelo para
passar ali a noite
e descansar da
viagem que
tinham realizado
sem nenhuma
parada, sem
descanso,
preocupados em
chegar quanto
antes ao Landon
Tower para
libertar Willow.
No dia seguinte
partiriam de
retorno ao lar,
algo que todos os
homens estavam
desejando depois
de tanta guerra e
tanta morte.
Ewan ocupou
um dos
aposentos que
Rhona tinha
preparado como
boa ama de
chaves do lugar.
Esperou ali a sua
esposa, a que deu
tempo para
reencontrar-se
com seu pai.
Levavam meses
sem ver-se e
Ewan sabia que
Willow
necessitava
daqueles
momentos a sós,
tinham muito do
que falar...
Embora isso não
significava que
não estivesse
impaciente por
tê-la de novo
entre seus braços.
Nunca tinha
passado tanto
medo em sua
vida. Desde que
soube que
Graham a tinha
levado não tinha
feito outra coisa
mais que pensar
em recuperá-la,
abraçá-la, pô-la a
salvo e lhe
garantir que
ninguém, nunca,
voltaria a lhe
machucar.
Embora,
definitivamente,
seu pequeno
duende tinha
demonstrado que
sabia cuidar-se
sozinha.
Sorriu para si
mesmo ao
recordar como
tinha arrojado
essa faca, com
uma pontaria
assombrosa e
uma valentia
elogiável dado
que Gilmer ainda
sujeitava a Enjoe
com sua única
mão. Arriscou-se
muito, mas tinha
acreditado e não
tinha duvidado,
tal e como faria
qualquer
Campbell. Estava
muito orgulhoso
dela e não via o
momento de
demonstrar-lhe.
Quando Willow
se reuniu com
ele, por fim,
fechou a porta e
se apoiou contra
ela de costas,
muito cansada.
Olhou-o com
esses olhos
grandes,
avermelhados
pelo pranto e as
emoções que já
não cabiam em
seu pequeno
corpo. Ewan se
jurou que, a
partir daquele
momento,
cuidaria dela com
mimo para que
não voltasse a
sofrer nada
parecido.
Aproximou-se e
a abraçou,
juntando sua
testa com a dela.
Deixou escapar
um suspiro de
alívio ao tê-la ali,
só para ele.
— Amo-te. —
Sussurrou, lhe
acariciando as
bochechas com
os polegares. —
Fiquei louco
quando me
inteirei de seu
seqüestro. Se
tivesse te
acontecido algo
jamais teria me
perdoado.
— Você não tem
culpa de que
Gilmer estivesse
louco. —
Respondeu, lhe
jogando os
braços pelo
pescoço para
agarrar-se mais a
ele. — Nem de
que Errol fosse
um traidor
desprezível e
Agnes uma arpía
ávara. Então, o
que aconteceu
com ela?
— Ninguém
sabe. Donald
disse que tinha
abandonado
Innis Chonnel e
aqui tampouco
alguém a viu.
— É muito
inteligente. Terá
fugido com o que
Errol lhe pagou
por sua ajuda.
— É melhor,
porque se alguma
vez lhe ponho as
mãos em cima...
— Ewan não
terminou a frase,
mas para Willow
ficou muito claro
o que ocorreria
se chegasse a
acontecer. —
Tinha que ter
deixado mais
amparo no Innis
Chonnel. — Se
lamentou uma
vez mais.
— Não. Eles
teriam
encontrado a
maneira de
chegar até mim e
talvez tivesse
morrido mais
gente. O pobre
Bors...
— Não diga
pobre Bors. — a
repreendeu Ewan
com suavidade.
—O
conhecendo,
estará se
retorcendo em
sua tumba por
ouvir como tem
pena dele. Ele era
um soldado,
morreu para te
proteger e terá
que honrar sua
memória como
ele teria desejado.
E isso não inclui
a compaixão,
asseguro-lhe.
— Não. —
Reconheceu
Willow, com um
sorriso triste. —
Mas quando
retornarmos, terá
que ir a sua
tumba e, como
seu laird, lhe
dizer que não lhe
guarda rancor
por deixar que o
matassem dessa
maneira. Era o
que mais lhe
preocupava, te
haver falhado.
Ewan se perdeu
em seus olhos,
feliz de que
aquela mulher
fosse dele. Tinha
sabido captar o
verdadeiro
espírito de Bors,
igual ao do resto
dos Campbell.
— Será a
primeira coisa
que vou fazer
assim que
voltarmos.
Olharam-se com
avidez, cada um
percorrendo o
rosto do outro,
sentindo-se
afortunados de
haverem se
reencontrado.
Com um suspiro,
Willow procurou
sua boca e o
beijou devagar,
saboreando o
momento. Ewan
respondeu, sem
pressa,
deleitando-se no
delicioso sabor
daquela língua
doce que
acalmava todos
os seus medos.
— Quando
Gilmer me disse
que
possivelmente já
era viúva,
deprimi-me. —
Confessou ela
quando se
separaram. —
Não pude
suportar que
tivesse razão. Me
perdoe.
— Quer que te
perdoe por te
deprimir quando
pensou que seu
marido estava
morto? —
Perguntou Ewan,
emocionado. —
Isso demonstra o
muito que me
ama.
— Não. —
Willow negou ao
mesmo tempo
com a cabeça. —
Quero que me
perdoe por ter
pensado que
podia ser
verdade. Quero
que me perdoe
por não ser capaz
de sentir aqui
dentro. — Tocou
o peito. — Que
ainda estava vivo.
Quero que me
perdoe por não
confiar em ti, em
que faria todo o
possível para
voltar para o meu
lado.
Ewan a abraçou
com força,
comovido por
suas palavras.
— É tão valente,
pequena duende.
Sei que não
acreditou nisso.
No fundo, sabia
que viria para te
buscar... Igual eu
soube quanto me
amava quando
ele te obrigou a
dizer o contrário.
Willow olhou
nos olhos de seu
guerreiro, tão
apaixonada, tão
aliviada do tê-lo
ali, entre seus
braços, que de
novo as lágrimas
foram aos seus
olhos e caíram,
silenciosas, por
suas bochechas.
Ewan as limpou
com os polegares
e depositou um
beijo suave em
cada uma de suas
pálpebras.
— Não sou tão
valente como
meu marido.
Você entrou
sozinho,
desarmado… Se
pôs a sua mercê.
E se Gilmer
tivesse te matado
sem mais? —
Willow
estremeceu ao
pensar nessa
possibilidade.
Tinha estado
muito perto de
perdê-lo por sua
temeridade. —
Por que o fez? Se
Rhona estava
lhes ajudando
não tinha por
que te arriscar
desse modo.
— Que homem
não daria sua
vida em troca da
mulher que ama?
Desafiou-me,
ameaçou-te
diante de todos
os nossos
soldados, diante
de seu pai e de
seu irmão.
— Mesmo assim.
E mais, não devia
te expor desse
modo.
— Contávamos
com a ajuda de
Rhona. —
Explicou. —
Quando nos viu
chegar, conseguiu
ir ao nosso
encontro e nos
informar de que
nos ajudaria a
entrar.
Confessou-nos
que ela tinha sido
a autora da nota
que recebeu
Niall, onde lhe
advertia do
perigo que corria.
Uma nota da que,
com certeza, eu
não sabia nada...
Ewan franziu o
cenho ao
recordar esse
detalhe. Willow
não tinha
compartilhado
com ele esse
segredo; se
tivesse sabido,
talvez esse
demente do
Gilmer Graham
não conseguiria
se sair com a sua.
— Não lhe disse
isso porque já
tinha muitas
outras coisas nas
que pensar. —
Sussurrou
Willow, dando-se
conta de que ele
estava chateado.
— O que teria
feito? Não podia
ficar comigo, e
não ia permitir
que deixasse mais
homens do que
os necessários...
Minha vida não
vale mais que a
de todos os
homens que
tiveram que lutar
nesta guerra.
Ewan a apertou
contra si,
afundando o
rosto em seu
pescoço.
— Sua vida é
para mim o mais
valioso. Quero
que saiba que,
embora Rhona
não nos tivesse
ajudado, eu teria
entrado por ti de
todo modo. E
teria morrido por
ti, Will. Morreria
mil vezes por ti...
Willow afundou
as mãos em seu
cabelo e se jogou
nele para
procurar sua
boca depois
daquela
confissão. Ewan
devorou seus
lábios com
avidez, dando
graças ao céu
uma vez mais por
tê-la ali com ele,
sã e salva.
Entretanto, não
lhe bastavam os
beijos para lhe
demonstrar tudo
o que sentia por
ela, assim que a
tomou nos
braços e a levou
até a cama.
Ali, tombados
muito juntos, as
palavras se
voltaram
sussurros de
amor. Despiram-
se mutuamente,
reencontraram-
se, acariciaram-se
até aprender-se
de cor, até gravar
um na pele do
outro, até que só
saborearam o
sabor do outro,
até que só
respiraram
através do fôlego
do outro...

No dia seguinte,
os Campbell e os
MacGregor
abandonaram
Landon Tower
para dirigir-se ao
Meggernie.
Levantaram-se
cedo, desejosos
de seguir
caminho, e
saíram da
fortaleza com as
primeiras luzes
da alvorada. Ian
não desejava
demorar mais sua
volta e Ewan se
ofereceu para
acompanhá-lo,
para ajudar no
que pudesse e,
sobre tudo,
porque sabia que
para Willow era
importante estar
com seu pai no
momento do
reencontro do
laird com sua
gente.
Entretanto, a
volta para casa
supôs um
amontoado de
emoções
misturadas para a
jovem, que
jamais imaginou
o que sentiria ao
voltar a ver os
altos muros do
Meggernie.
Todo seu ser
estremeceu.
Parecia que
tinham passado
anos desde que
partiu e, embora
sempre seria seu
lar, o que a unia a
sua família, soube
que seu lugar já
não era aquele.
Em primeiro
lugar, Niall já não
estava, e
Meggernie jamais
seria o mesmo
sem ele. Willow
não podia
suportar o fato
de imaginar
sequer viver em
um espaço onde
cada canto
recordaria a ele, à
covinha que saía
na cara quando
sorria, aos
incontáveis
momentos nos
que tinha sido
feliz com seu
irmão. Sabia que
aquela sensação
terrível de perda
se suavizaria com
o tempo, mas
nesse momento
lhe rasgava a
alma.
E, em segundo
lugar, estava
Ewan. Seu lar era
agora Ewan
Campbell, e ali
onde ele estivesse
estaria ela
também, porque
não podia ser de
outro modo.
Jamais imaginou
que pudesse
chegar a sentir
algo assim por
outra pessoa;
precisava olhá-lo,
tocá-lo, respirar
cada noite
dormindo ao seu
lado. Enquanto
avançavam para o
interior da
fortaleza,
observou-o.
Conversava com
seu pai,
comentavam as
obras que teria
que fazer para
reconstruir o que
o fogo tinha
destruído
durante o ataque.
Sentiu-se feliz ao
ver que se davam
tão bem. Seu pai
o escutava com
atenção,
mostrando sua
total aprovação
às acertadas
idéias que Ewan
lhe propunha.
Ian tinha
aceitado seu
marido e estava
orgulhoso de ter
um genro como
ele. Até Malcom
parecia ter
esquecido as
circunstâncias
que o levaram a
dar-lhe aquela
tremenda surra e
o aceitava com
camaradagem.
Sim, sem dúvida,
tinha sido uma
volta para casa
muito íntima se a
tristeza pela
ausência de Niall
não o tivesse
afligido.
O reencontro
com sua gente
que aguardava
impaciente no
pátio foi também
muito emotivo.
Willow abraçou
seus amigos, às
pessoas que a
tinham visto
crescer, que
tinham
compartilhado
com ela cada
momento de
felicidade e que
tinham sofrido
por sua marcha
ao não saber o
que tinha sido
dela durante todo
aquele tempo.
Entre uns e
outros
explicaram a
sorte corrida pela
jovem senhora
desde que fugisse
do Meggernie, e
a surpresa ao
inteirar-se de que
agora era a
esposa do laird
Campbell foi
maior. Aquele
guerreiro tinha
um aspecto
severo e
imponente. Não
conciliavam a
doçura de Willow
com a ferocidade
do olhar de seu
marido.
Entretanto, ao
ver sua felicidade,
ao ver o modo
em que Ewan a
rondava, sempre
atento, sempre
preocupado de
que ela estivesse
bem, ninguém
pôde dizer nada
contra aquele
matrimônio.
Aquele primeiro
dia, assim
chegaram,
visitaram a
tumba de Niall.
O laird dos
MacGregor se
ajoelhou em
frente a sua
lápide com um
esmigalhado
gemido. A dor
lhe estrangulou a
garganta e cobriu
o rosto com as
mãos porque
nesse momento,
apenas nesse
momento, a
morte de seu
filho se tornava
real em seu
mundo. Ele
estava ali,
debaixo daquela
terra, e jamais
voltaria a vê-lo
com vida.
Willow também
o sentiu. A dor
etérea que a tinha
acompanhado
desde que soube
o acontecido
com Niall se
tornou tangível,
ardente, cortante.
Ewan teve que
segurá-la para
que não caísse no
chão junto a seu
pai. O guerreiro
teria dado
qualquer coisa
para aliviar o
sofrimento de
sua esposa, assim
não duvidou em
estreitá-la entre
seus braços para
lhe fazer
compreender que
não estava
sozinha. Que ele
a sustentaria cada
vez que
necessitasse. Que
não havia nada
no mundo que
não pudessem
confrontar se
estivessem
juntos.
— Não me solte,
Ewan. — Pediu,
com um soluço
afogado,
apoiando-se
contra seu peito.
— Jamais.

Depois de vários
dias no
Meggernie,
quando parecia
que tudo voltava
à normalidade,
Ewan anunciou
que era hora de
retornar para
casa. Disse a
Willow pela
manhã, antes de
se levantarem da
cama, e a jovem
notou que a voz
de seu marido
soava insegura.
— Tenho
planejado partir
hoje para Innis
Chonnel. —
Sussurrou,
enquanto a
apertava contra
seu corpo —
Melyon e alguns
de meus homens
ficarão para
ajudar seu pai
com a
reconstrução de
Meggernie, mas
eu não posso
adiar mais minha
volta. Dá-me
pavor que Adair
e Lawler façam
das suas em
minha ausência.
— De acordo.
— Se te parecer
muito
precipitado, pode
ficar aqui e
retornar quando
o fizer Melyon.
Willow se
incorporou sobre
um cotovelo para
poder olhar seu
marido nos
olhos. Comoveu-
lhe que lhe desse
essa opção,
porque estava
claro por seu tom
e seu gesto de
angústia que não
era o que queria.
— Não te
importa que
fique uns dias
mais com minha
família?
— Se for o que
você quer,
aceitarei-o.
Dedicou
então um sorriso
cheio de amor.
Inclinou-se para
lhe beijar nos
lábios,
deleitando-se
com o sabor
daquele homem
disposto a
agradá-la apesar
de suas
reticências.
— O que eu
quero é voltar
para casa contigo.
Quero ir onde
você vá, estar
onde você esteja.
Ewan fundiu
seus olhos no
azul de seu olhar.
Deixou
escorregar os
dedos pelas
curtas mechas de
cabelo que
emolduravam seu
belo rosto.
— Faz-me tão
feliz... O que
tenho feito eu
para te merecer?
Willow o
acariciou por sua
vez, percorrendo
com suas mãos o
amplo peito de
seu marido, onde
novas cicatrizes
de batalha
apareciam
recentes. Tinha
que conhecer
essas também...
— E o que tenho
feito eu para
merecer a ti?
Voltaram a
beijar-se,
entregues um ao
outro, deixando-
se arrasar pela
paixão que
crescia entre eles
e da que não
tinham nunca
suficiente.
Willow, atrevida,
escarranchou-se
em cima de seu
corpo e apertou
os quadris contra
os de Ewan,
buscando-o.
— É um duende
muito descarado.
— Sussurrou o
guerreiro,
encantado com a
iniciativa que
demonstrava.
Ela procurou sua
boca e lhe
lambeu os lábios,
dengosa.
— Não sou
nenhum duende,
marido. —
Murmurou, entre
beijos. — Sou
apenas uma
mulher pedindo
ao homem que
ama um pouco
de carinho.
— Um pouco de
carinho? —
Ewan a
surpreendeu ao
agarrá-la e voltá-
la sobre a cama,
colocando-se em
cima dela. —
Meu amor, ao
homem que amas
não lhe basta um
pouco. Assim
penso te dar
muito, mas muito
carinho, antes de
que você e eu
abandonemos
esta cama.
Willow sorriu
feliz contra sua
boca, porque
sabia que Ewan
cumpriria de
sobra essa
promessa.
Uma hora
depois, enquanto
tomavam o café
da manhã no
salão junto ao
seu pai, seu
irmão e os
homens de
confiança de
ambos os clãs,
Willow agarrou a
mão de seu
marido antes de
anunciar que
nesse mesmo dia
partiriam para
Innis Chonnel.
O rosto de Ian
MacGregor se
mostrou sério
depois de suas
palavras.
— Não o
permitirei... —
Começou a dizer.
O coração da
jovem se
paralisou uns
segundos ao
escutá-lo.
— Mas, pai...
Ian levantou uma
mão para
silenciar a sua
filha.
— Não o
permitirei a não
ser que me
prometa que virá
me visitar
freqüentemente
— Esclareceu,
relaxando sua
expressão com
um sorriso.
Willow suspirou,
aliviada. Ewan, a
seu lado, também
pareceu relaxar.
A jovem se
levantou de seu
lugar na mesa e
foi junto ao seu
pai para abraçá-
lo.
— Virei
freqüentemente,
prometo-o. Não
poderia passar
muito tempo sem
ver-te... E te digo
o mesmo,
Malcom.
— Claro, e o que
acontece
comigo? —
Resmungou
Angus.
— Sabe que não
poderia viver sem
ti, Angus. —
Respondeu
Willow,
aproximando-se
dele para lhe dar
um suave beijo
na bochecha
barbuda.
— É obvio. —
Interveio então
Ewan. — Todos
serão bem-
vindos no Innis
Chonnel quando
quiserem ver sua
jóia.
— Agora é tua.
— Disse Malcom
— E é melhor
que cuide muito
bem dela...
Ewan levantou
os braços em
sinal de rendição.
— Não tem que
me advertir mais.
Sei o que me
acontecerá se não
o faço e, me
acredite, não
desejo passar por
isso outra vez.
Suas palavras,
junto com o
gesto cômico de
sofrimento de
Ewan,
arrancaram uma
gargalhada de
todos os ali
presentes. Willow
riu como todos
os outros, feliz,
quase, quase
completamente.
Seu olhar se
desviou em torno
do lugar da mesa
que seu irmão
Niall sempre
tinha ocupado e
que agora, por
respeito a ele,
permanecia
vazio. Ninguém
ocuparia nunca
seu lugar e
ninguém
esqueceria o
buraco que tinha
deixado em seus
corações.
Sim, Willow era
feliz. Retornaria
para casa com
seu marido, mas
nunca, jamais,
poderia deixar
para trás a
lembrança de
quem tinha sido
ela entre aqueles
muros: uma filha,
uma irmã, uma
amiga querida
para todos... A
jóia do
Meggernie.
CAPITULO 46

Maud foi a
primeira a
abraçá-la quando
chegaram ao
Innis Chonnel.
Chorou sobre
seu ombro de
puro alívio ao vê-
la de volta, sã e
salva.
Amaldiçoou mil
e uma vezes ao
bastardo que a
tinha
seqüestrado,
deixando a todos
os habitantes da
fortaleza em uma
angustiosa
incerteza por não
saber o que tinha
sido dela.
— Estávamos
tão
preocupados... —
Confessou Liese,
abraçando-a
quando Maud a
liberou.
Willow se
comoveu ao
descobrir quão
afetados
pareciam.
— Gritei quando
vi Agnes
aparecer, mas
suponho que
ninguém me
escutou.
— Quando nos
demos conta do
ocorrido, já era
tarde para seguir
sua pista. —
Disse John.
— Não
soubemos o que
tinha ocorrido
até o dia
seguinte. —
Explicou Jane. —
Os vigias
estavam
inconscientes...
Todos
apareceram com
um tigela de
caldo vazio junto
ao seu corpo.
— Supomos que
alguém o tinha
levado e que
tinham jogado
dentro alguma
substância para
adormecê-los. —
Continuou John.
— Era evidente
que os homens
conheciam a
pessoa que lhes
deu o caldo,
porque não
desconfiaram.
Sem dúvida foi
Agnes, não
pudemos
encontrá-la
depois daquilo.
— Como diabos
conheceu Errol?
E como
conseguiu fazer
com que lhe
ajudasse? —
Perguntou
Willow, ainda
sem assimilar
tudo o que tinha
ocorrido.
— Não deve ter
lhe custado
muito esforço. —
Apontou Maud.
— Agnes
demonstrou uma
e outra vez ser
uma má pessoa, e
não sentia
nenhuma
simpatia por ti,
Will. É fácil
supor que, se
esse homem
rondava a área
procurando uma
oportunidade,
conhecesse
Agnes enquanto
levava alguns dos
recados que lhe
encomendava
Jane.
— O certo é que
nos últimos dias
visitava a aldeia
mais do que o
normal. —
Sussurrou a ama
de chaves,
sentindo-se
responsável. —
Me disse... Me
disse que tinha
conhecido a
alguém e me
pedia horas livres
para ir vê-lo.
Pensei que se
apaixonou,
pensei que por
fim estava
sentando a
cabeça.
— Não podia
saber o que
tramava, Jane. Eu
a esbofeteei
diante de todos
no dia do
julgamento
contra o laird e a
envergonhei...
Suponho que
isso bastou para
empurrá-la à
vingança. —
Murmurou
Willow.
— Agnes não
precisava de
desculpas para
ser malvada, Will.
Eu sou o culpado
de não prever
algo assim. —
Resmungou
Ewan, apertando
os dentes. — Eu
lhe dei mil e uma
oportunidades de
emendar-se, e
não o fez.
Perdoei-a quando
me inteirei de
que a acusação
contra Melyon
era falsa, perdoei-
a quando me
delatou diante do
conselho
Campbell por ter
passado a noite
contigo. Se a
tivesse expulso
do Innis Chonnel
quando devia,
isto não teria
ocorrido.
— Eu também
tenho culpa. —
Insistiu Jane. —
Como ama de
chaves, era
responsável pela
Agnes. Estava
sob meu amparo
e eu intercedi por
ela atrás de cada
maldade, porque
me dava pena
que uma moça
tão jovem fosse
repudiada por
sua própria
gente.
Equivoquei-me
ao defendê-la.
— Ninguém têm
culpa de que ela
seja uma pessoa
tão retorcida. —
Espetou Willow,
incomodada ao
ver que a gente
que amava
tomava sobre
suas costas os
pecados daquela
faxineira egoísta
e gananciosa.
— Bem, pois não
haverá mais
perdão para ela.
— Anunciou
Ewan. — Vamos
ao grande salão.
Jane, por favor,
reúna a todos os
serventes.
Averigüemos se
alguém sabe algo
dela.
Desta vez,
inclusive Adair e
Lawler se
mostraram de
acordo com a
determinação de
seu laird. O que
essa moça tinha
feito era muito
grave. Não só
tinha permitido
que
seqüestrassem à
senhora do
castelo sem
mostrar um
pingo de
remorso. Além
disso, tinha
deixado Innis
Chonnel
desprotegida no
meio da noite ao
deixar
inconscientes
todos os seus
vigias. Podia
considerar um
ato de traição em
toda regra, e
aquele que era
capaz de trair
desse modo a seu
clã, a sua gente,
não merecia
nenhum tipo de
compaixão.
Foram todos ao
salão e ocuparam
seus respectivos
lugares. Willow
se sentou ao lado
de seu marido e
esperou a
chegada dos
habitantes de
Innis Chonnel.
Quando
estiveram todos
reunidos, Ewan
lhes falou.
— Todos sabem
a esta altura o
crime que Agnes
cometeu. Se
alguém conhecer
seu paradeiro,
que o diga agora.
Não podemos,
nem devemos,
encobrir a uma
pessoa que traiu
a todos os
Campbell.
— Não sabemos
onde está, meu
senhor. — Disse
um dos aldeãos
que cuidava do
rebanho do laird
do outro lado do
Awe. —
Ninguém a viu
desde que
levaram a
senhora. Mas, se
quiserem,
podemos fazer
correr a notícia
de que a busca.
Encontraremo-la
e a traremos para
sua presença para
que pague por
suas maldades.
— Essa víbora
estará já muito
longe. —
Exclamou Maud,
sem poder conter
sua língua.
— É muito
provável. —
Disse Ewan. —
Mas por muito
que corra, não
pode desaparecer
sem mais.
— Daremos
ordem de que a
busquem pelas
aldeias e as
granjas
Campbell. E
também pelas
terras de nossos
aliados. —
Propôs Adair.
— Não.
Todos olharam à
senhora do Innis
Chonnel, que
tinha sido
contundente com
sua negativa.
— Não? —
Inquiriu seu
marido, com o
cenho franzido.
— Essa moça
merece um
castigo.
— Já é bastante
castigo que tenha
tido que
abandonar seu
lar, o único lugar
que conhecia,
onde nunca lhe
faltou um teto
sob o que cobrir-
se e comida na
mesa. Sei por
experiência
própria quão
desolador é te
encontrar sem
nada, vivendo
mal pelos
caminhos
solitários,
dependendo da
generosidade de
outras pessoas.
As moedas que
Errol lhe deu não
durarão para
sempre. Ela
sozinha decidiu
seu destino.
Ewan a olhou e
seus olhos se
suavizaram.
Agarrou sua mão
e a levou aos
lábios para beijá-
la.
— A senhora do
Innis Chonnel
tem razão. —
Voltou-se logo
para os presentes.
— Não obstante,
façam correr a
notícia de que, se
alguma vez
retorne, não será
bem-vinda. Não
haverá mais
perdão para ela,
nenhum outro
Campbell voltará
a sofrer por
causa de suas
maquinações.
Willow estava
surpreendida de
que o laird
tivesse tido em
conta sua opinião
diante de todo o
clã e seu coração
se encheu de uma
calorosa
felicidade.
Também se
alegrou de que os
dois antigos
conselheiros
respeitassem a
decisão sem
questioná-la,
porque isso
queria dizer que
estavam
começando a
aceitar ao Ewan e
já não teria que
seguir lutando
para manter a
liderança de sua
gente.
— Obrigado por
me escutar,
marido. —
Sussurrou,
inclinando-se
para ele para que
ninguém mais a
ouvisse.
Ewan a sujeitou
pelo queixo com
suavidade,
perdendo-se em
seu olhar.
— Estou
convencido de
que, se meu pai
tivesse escutado
mais a minha
mãe, teria sido
um laird muito
melhor. Eu não
sou como ele...
Tive dificuldade
para me dar
conta, mas assim
é. Sempre te
escutarei,
pequena duende,
embora isso
signifique brigar
contigo quando
não estivermos
de acordo em
algo. Parece-te
bem?
— Parece-me
bem. Além disso,
nem sempre terá
que me perguntar
o que penso,
dado que te gaba
de que pode ler
em meus olhos o
que quero sem
dificuldade.
Como agora...
— Quer que te
beije?
Ela piscou,
coquete, com um
indício de sorriso
nos lábios.
— Aqui, diante
de todos? —
Voltou a
perguntar ele.
— Não, melhor
nos retirarmos ao
nosso quarto.
Ewan não pôde
conter-se ante
essa proposta e
se apoderou de
seus lábios sem
se importar que
os presentes
naquele salão não
lhes tirassem a
vista de cima.
— E agora sim,
Will. — Disse
quase sem fôlego
quando pôs fim
ao beijo. —
Vamos ocultar-
nos do mundo
um bom tempo.
Levantaram-se
agarrados pela
mão e se
desculparam
diante de todos.
Os habitantes do
Innis Chonnel os
observaram
partir com um
sorriso em seus
rostos. Sabiam
que, a partir
daquele dia,
teriam que
acostumar-se a
presenciar mais
gestos de carinho
entre o casal,
porque estava
claro que eram
incapazes de
dissimular em
público o amor
que
professavam...
Tinha passado já
um mês quando
Willow recebeu a
primeira carta de
seu pai. Leu-a
emocionada,
sentindo falta de
que aquelas
palavras não as
houvesse dito em
pessoa. Ian
MacGregor lhe
comunicava que
as obras de
reconstrução do
Meggernie foram
por muito bom
caminho e que
logo teriam de
retorno ao
Melyon e ao
resto dos
homens
Campbell que
ficaram ali para
ajudá-los.
Mencionava
também, de um
modo um tanto
enigmático, que
faltava muito
pouco para que
voltassem a ver-
se, e que Malcom
sentia muita falta
dela. Seus olhos
lacrimejaram sem
que pudesse
evitar.
E assim a
encontrou Enjoe
quando entrou
no quarto,
levando nas mãos
um par de
vestidos que lhe
tinha arrumado.
— O que
acontece? —
Preocupou-se a
anciã.
Willow levantou
os olhos do papel
e olhou a sua
querida dama de
companhia. A
mulher se negou
a abandoná-la
depois de
haverem se
reencontrado e,
embora lhe
partiu o coração
abandonar seu
lar, onde tinha
criado a seus três
meninos
MacGregor,
seguiu a sua
jovem ama até
sua nova casa.
Podia ser que
Willow não a
necessitasse tanto
como
antigamente, mas
estava
convencida de
que quando
tivesse um bebê,
sua ajuda seria
fundamental.
Algo que, por
certo, estava
desejando que
ocorresse.
— Nada,
tranqüila. —
Respondeu,
limpando as
lágrimas. — São
notícias de
Meggernie, só
me emocionei.
— Ultimamente
está muito mais
sensível, verdade?
Willow a olhou
arqueando uma
de suas
sobrancelhas
escuras.
— O que quer
dizer?
— Que choras
pelas coisas mais
tolas.
— Bom, depois
de tudo o que
passei, acredito
que mudei.
A anciã se fixou
em seus peitos,
acreditando
detectar um
pouco mais de
volume nessa
área. Esboçou
um sorriso
satisfeito ante
suas suspeitas.
— E ainda terá
que mudar muito
mais.
A jovem moveu a
cabeça, sem
compreender
nada. Dobrou de
novo a carta de
seu pai e se
levantou para ir
em busca de seu
marido.
— Tenho que
encontrar Ewan.
Avisarei-lhe de
que Melyon e o
resto de seus
homens
retornarão logo
para casa, ficará
feliz quando
souber.
Enjoe a observou
partir e suspirou,
satisfeita. O laird
ia estar muito
mais encantado
quando se
inteirasse de que
Willow levava em
seu ventre ao seu
futuro filho,
disso estava
convencida...
Ewan se
encontrava na
casa do padre
Cameron, tão
envolvido na
conversação com
o religioso, que
não percebeu
sua chegada.
Tinham sobre a
mesa um montão
de papéis que
tentaram ocultar
quando ela fez
notar sua
presença.
— O que ocorre
aqui?
Os dois homens
ficaram de pé,
nervosos.
— Nada.
— Nada? Ewan,
sei quando tenta
me enganar. O
que está
tramando?
— Não é nada
mau, filha. — A
tranqüilizou o
padre Cameron.
— E por que não
posso saber?
— Não é que
não possa saber.
No seu devido
tempo saberá.
— Esse é o selo
do rei Bruce? —
Perguntou ela,
sem atender às
palavras de
Ewan.
Dirigiu-se à mesa
onde tinha visto
o documento em
questão e o
agarrou antes que
os dois homens
pudessem detê-
la. Leu em voz
alta:
— “Pela
presente, aceito o
convite com
supremo gosto.
É uma honra
para mim assistir
à união de um de
meus melhores
protetores com a
filha do laird
MacGregor.
Ambas as
famílias
demonstraram
ser merecedoras
de todo meu
agradecimento e
farei o que esteja
em minha mão
para lhes
corresponder”.
— Willow
levantou os
olhos, confusa.
— O que
significa isto?
Um casamento?
Ewan suspirou,
derrotado pela
insistência de sua
esposa.
Aproximou-se
dela e a tirou das
mãos.
— Ia ser uma
surpresa, Will.
Vamos celebrar
de novo nossa
união, mas, desta
vez, como a
ocasião merece.
Seu pai, Enjoe e
todos os teus
devem estar
presentes em um
dia assim. Desta
vez, eu quero
dançar com a
noiva até que me
doam os pés, e
não permanecer
sentado em uma
cadeira vendo
como outros
passam bem.
Desta vez,
pequena duende,
terá uma noite de
núpcias
inesquecível...
— Hmmm! —
Pigarreou o
padre Cameron,
ao escutar o
último
comentário de
Ewan. Não
acreditava que
fosse necessário
ouvir certas
coisas, por mais
que o jovem laird
não tivesse
reparado que as
pronunciou em
voz alta.
— Então, todos
esses papéis, são
convites? —
Perguntou
Willow, que já
notava que os
olhos lhe
umedeciam.
Enjoe tinha
razão, chorava
por qualquer
coisa.
— São as
respostas aos
convites que
enviei assim que
retornamos para
casa. O primeiro
em responder foi
o rei Bruce,
como tem lido,
encantado de
aceitar. Apesar de
todas as suas
obrigações agora
que deve manter
o que
conseguimos na
batalha de
Bannockburn,
fará uma pausa
para estar
conosco nesse
dia tão especial.
— Oh, por São
Mungo! —
Exclamou
Willow, imitando
Maud. — O
próprio Bruce
aqui, em Innis
Chonnel. Tenho
muitas coisas que
preparar então. O
banquete, a
festa... Meu
vestido!
Passou as mãos
pelo cabelo, com
gesto
preocupado. O
rei da Escócia ia
estar presente em
suas bodas e ela
não tinha o
aspecto, nem de
longe, da dama
que tinha sido
antes de
conhecer os
Campbell.
— Shh, tranqüila.
— Sussurrou
Ewan,
embalando seu
rosto com as
mãos. — Não
fique nervosa. Ia
ser uma surpresa,
recorda? Jane,
Maud e Enjoe
estão preparando
tudo, inclusive
seu fabuloso
vestido. Posso te
assegurar que
será a noiva mais
formosa que
jamais tenha
visto um rei. Não
necessita
nenhum adorno
para que sua
beleza brilhe com
luz própria. Me
cativou vestida
com farrapos e
com a cara suja,
porque nenhum
disfarce pode
ocultar aos meus
olhos quão
incrível é. É igual
quão longo seja
seu cabelo ou
como se vista.
Inclusive embora
estivesse nua no
altar, seria a
criatura mais
maravilhosa do
mundo e eu não
poderia te amar
mais do que já te
amo.
— Céu Santo! —
O padre
Cameron se
benzeu ao
escutar aquela
espécie de
blasfêmia. Nua
no altar... Que
brincadeira!
Depois de fazer
o sinal da cruz
no peito, saiu
correndo de sua
próprio casa para
dar intimidade ao
casal, porque
estava claro que
o laird dos
Campbell não se
importava que
um religioso
estivesse presente
no momento de
demonstrar a sua
esposa quanta
verdade havia em
suas palavras...

FIM

Você também pode gostar