Kevin (Fire Livro 4)
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Kevin (Fire Livro 4)
SÉRIE FIRE
LIVRO IV
JENNIFER SOUZA
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Jennifer Souza
1. Romance
2. Adulto
3. Suspense
KEVIN
Eu estava muito frustrado. Na verdade, eu estava cansado de tudo isso.
Cheguei em meu apartamento depois de um dia longo de trabalho e ele estava
todo revirado. Todos os meus livros estavam jogados no chão, algumas
páginas rasgadas, outras amassadas. Todos os meus amigos jogados no chão,
todo o meu refúgio invadido.
Eu realmente estava cansado de tudo aquilo. A pessoa que você mais ama
na vida é aquela pessoa que tem o poder de te deixar feliz em um segundo,
também de deixar triste no segundo seguinte. Eu a amava... como não poderia
amar? Ela era a minha mãe apesar dos pesares; mas vez ou outra eu a odiava
com todas as minhas forças, como neste momento. Eu sentia tanta raiva que
desejava que ela morresse, mas ao mesmo tempo, a possibilidade da morte
dela me apavorava.
Encarei tudo ao redor. Eu não tinha uma televisão nem mesmo eletrônicos
caros... eu já tive tudo o que as pessoas “normais” tem, mas minha mãe
voltava da reabilitação, dizia estar curada, ficava uns dois meses
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frequentando as reuniões do AA , e então um lindo dia eu voltava para a casa
e ela tinha sumido com a TV, com o aparelho de DVD, com o computador.
Ela vendia tudo para comprar bebidas, sumia por uma semana e depois
retornava implorando por mais dinheiro, por mais bebidas, por apenas mais
um copo e... eu já estava tão cansado de viver assim.
Ela agora mexeu em todos os meus livros. Eu deixava dinheiro escondido
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no meu exemplar de Hercule Poirot’s Christmas , era um dinheiro para
emergências, trezentos dólares. Isso a manteria ocupada por alguns dias, isso
me manteria estressado por alguns dias, isso me enlouqueceria e me tiraria o
sono por alguns dias.
Eu já estava acostumado. Costumes... Por que nos acostumávamos com
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essas coisas? Apanhei de novo? Ah, já estou acostumada, diz a mulher que
sofre violência doméstica. Fui negligenciado de novo? Ah, já estou
acostumado, diz o filho que é deixado de lado pelos pais. O governo me
rouba? Ah, já estamos acostumados, diz o povo que sofre com a pobreza. Ele
me assediou? Tentou me agarrar? Me passou uma cantada de mau gosto?
Bem, já estamos acostumadas, dizem as mulheres diariamente...
“Mas vivíamos como de costume. Todo mundo vive, a maior parte do
tempo. Qualquer coisa que esteja acontecendo é de costume. Mesmo isso é
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de costume, agora.”
Por nos submetíamos a isso?
Comecei a recolher os livros, pensando no sentindo da minha vida.
Suicídio seria uma saída fácil. o governo iria cuidar da minha mãe e toda a
dor e sofrimento, toda a angústia iria embora. Fui até o banheiro e encarei
minha gilete... ela nunca me pareceu tão tentadora. Meu celular tocou.
Salvo pelo gongo, como dizem. Era James. Eu sentiria falta dele se
morresse, ele era um bom amigo. Os pensamentos suicidas fugiram da minha
mente. Deixe de ser idiota, Kevin. Pensei. E então atendi o celular.
— Oi.
— Kevin, onde você está? Preciso falar contigo, cara... — Ele parecia
nervoso do outro lado da linha.
— Oi James, estou sozinho em meu apartamento. — Saí do banheiro e
servi um pouco de água. Seria bom conversar com James e esquecer os meus
problemas.
— Podemos nos encontrar aí? Onde você mora? — Perguntou. Eu entrei
em pânico ao encarar tudo ao meu redor.
— Não. — Falei rapidamente. — Tudo está uma desordem aqui. Vamos
nos encontrar na Starbucks no centro.
— Tudo bem. Aquela perto do restaurante árabe?
— Essa mesmo. — Respondi.
— Nos vemos lá.
Desliguei o celular e voltei ao banheiro. Encarei meu reflexo no espelho e
senti vontade de bater em mim mesmo. Suicídio? Desistir de viver? Eu tinha
livros demais para ler, ainda tinha um amigo que precisava de mim, e eu não
podia deixar James na mão.
Coloquei meus óculos de leitura de armação preta e peguei Joyland que
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estava jogado no chão, vesti meu moletom preto com capuz e sai para o ar
frio de Chicago.
*****
CAMILLE
A primeira coisa que você sente ao ficar sabendo da morte de um ente
querido é torpor. Você entra em um estado de torpor, é quase como se
tivessem lhe dado uma generosa dose de morfina. Você fica lá, parado,
olhando para o nada e se perguntando se você está acordado ou continua
dormindo em sua cama. Você espera acordar a qualquer momento, afinal as
lágrimas começam a escorrer por seu rosto e normalmente é nessa hora que
você desperta.
Você senta na cama e seu travesseiro está úmido pelas lágrimas. Seu peito
dói pelos sentimentos que teve ao vivenciar no pesadelo e então o alívio...
tudo não passou de um sonho ruim.
Mas não naquele dia. Depois que o torpor passou, eu finalmente escutei a
voz de Karen e Phoebe novamente. Nesse momento meu rosto já estava
encharcado de lágrimas, e eu continuava sentada no chão no meio do
corredor do hospital. Não enxergava ninguém, apenas vultos passando ao
meu redor.
— Camille...
— Acho que devemos sedá-la.
— Sim, ela está em choque.
— Foi um baque muito forte para ela.
Não sei quem conversava ao meu redor, só sei que em pouco tempo
mergulhei na escuridão de um sono sem sonhos.
*****
*****
Cada vez que eu cavava mais seu passado, mais ficava claro para mim que
ele era o incendiário. Ele matou meu pai. Kevin Hoover teve uma boa vida
quando era mais novo, morou em uma grande casa. Seu pai era um promotor
respeitado e muito ocupado, sua mãe uma alcoólatra, que passava mais tempo
com as amigas do que em casa.
Seu perfil se encaixava com o profiler que a polícia havia feito. Ele tinha a
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altura certa, também era muito quieto e ninguém sabia o que ele fazia quando
não estava no batalhão. Ele não tinha um álibi para nenhum dos dias de
incêndio... alguns dias ele estava trabalhando, mas era fácil sair rapidamente
do batalhão e fazer todo o serviço. E estar sozinho em casa lendo não era um
álibi válido.
Investiguei também que sua tia faleceu em um incêndio misterioso. Tudo
apontava para ele. Depois que a tristeza amenizou, a raiva e determinação
tomaram conta de mim, Estava decidida: eu iria me aproximar de Kevin e
revelar sua verdadeira face para todos.
— Boa tarde, rapazes. — Falei assim que entrei no batalhão. Apesar do
meu pai ter falecido, eu ainda havia feito amizades ali, então não deixaria de
frequentar o local, até mesmo com o objetivo que eu tinha em mente.
— Camille, quanto tempo. Como você está? — Perguntou-me Henry,
sorridente.
— Eu estou ótima, levando um dia de cada vez. — Sorri.
— Fico feliz em ver que você está sorrindo novamente. — Disse Tyler e
meu coração saltou no peito. Seus olhos verdes brilhavam e ele sorriu. Sua
barba estava rente ao rosto, suas sardas estavam ainda mais proeminentes. Ele
era lindo demais.
— Obrigada. — Falei com os olhos brilhando.
— Sinto o cheiro de algo doce. — Disse Michael, se aproximando. — Ah,
olá Camille, você está bem? — Perguntou ele, preocupado.
— Vou ficar melhor se vocês pararem de me perguntar se estou bem.
— Combinado. — Disse Michael. — Mas que cheiro doce é esse?
— Estava passando por aqui e resolvi dar uma passadinha com esses
croissants para vocês comerem. — Entreguei a Michael o cesto de vime e ele
começou a atacar junto com os outros rapazes.
— Obrigada, Camille, você é a melhor. — Disse Henry.
— Sim, amor, me ligue se a febre não ceder. — Virei e encarei Daniel
saindo da sala de meu pai... digo, a sala de Daniel, agora era a sala dele, ele
que comandava tudo por ali. Ele desligou o celular e me encarou. — Camille,
oi... como você....
— Estou bem. — Respondi e virei-me rapidamente. Eu estava procurando
por ele, onde ele estaria?
— Seria bom parar de perguntar como ela está. — Disse Michael.
— Ah sim. — Ele se juntou aos rapazes e sorriu para mim.
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— Como estão as coisas em casa, Dan? — James entrou agora na sala. —
Olá, Camille, tudo bem?
Assenti. Parecia que todos me perguntariam isso. Sempre que alguém me
perguntava isso eu sentia vontade de chorar.
— A febre vai ceder. Eu espero. — Disse ele.
— Vai sim, seu menino é saudável. — Disse James.
— Hey, cara, onde está Trevor? — Perguntou Henry.
— Está em casa. Ele volta logo, só precisava estar lá para monitorar o
encanador. — Respondeu Tyler. — Há um vazamento em seu apartamento
ou algo assim.
— Torneiras pingando? — Perguntou Henry.
— Algo assim. — Disse Tyler.
— Cara, isso é irritante... sem contar que gasta litros de água por dia. —
Disse Michael.
— Nem me diga. — Falou Tyler.
— Rapazes, não querendo cortar o assunto de vocês. — Falei. — Mas
onde estão os outros? Trouxe croissants para todos.
— Caleb, Andrew e Mason estão de folga. Trevor, como sabe, está com o
encanador. E Kevin na sala de descanso como sempre. — Respondeu
Michael. — E Min Ah? — Michael olhou para James.
— Está tirando um cochilo na minha sala. — Respondeu ele.
— Vou chamar Kevin para comer conosco. — Falei.
— Se você quiser, eu chamo. — Ofereceu James.
— Não precisa... coma croissants enquanto estão quentinhos.
Passei rapidamente por ele e segui até a sala de descanso e chegando lá
encontrei Kevin deitado num dos sofás. Seus cabelos pretos estavam
desalinhados, ele estava sério, concentrado na leitura, usava óculos de
armação preta e em suas mãos estava um livro com capa azul e em letras
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amarelas o título “The Great Gatsby” .
Senti a raiva e a adrenalina correrem soltas pelo meu corpo, e quis pegar
uma faca e matar ele ali mesmo. Mas tinha que manter a cabeça fria, não
podia me deixar guiar pela raiva... precisava me aproximar dele, pois só
assim ele seria punido.
— Kevin.
Ele finalmente notou minha presença e me encarou surpreso, pegou um
KEVIN
Recomeçar. Recomeçávamos todos os dias ao despertar, não é mesmo?
Todos os dias em que você desperta com ar em seus pulmões, tem uma
chance de recomeçar. Mais um dia para tentar fazer melhor. Viver um dia de
cada vez, foi o que James me disse. Ele me disse que todos nós estávamos
fazendo isso. Superando, tentando viver.
Despertei na quinta-feira e preparei meu café preto, fiz um sanduíche e
peguei meu livro em mãos. Apesar do verão estar se iniciando, não estava um
dia tão quente. Meu celular começou a tocar e atendi ao terceiro toque. Era
um número desconhecido, e imaginei que talvez fosse da prisão.
— Alô.
— Hey, Kevin, tudo bem? É a Camille.
Fiquei nervoso instantaneamente.
— Camille, como?
— Tyler me passou seu número... é que sabe estou com um tempo livre
agora de manhã, queria saber se você gostaria de ir na livraria agora. —
Perguntou ela.
Claro que foi o Tyler quem deu o número para ela, ela era caidinha por
ele... dava para notar a forma como ela o encarava. Se isso fosse uma história
em quadrinhos, corações saltariam de seus olhos toda a vez que ela olhava
para ele.
— Tudo bem, não estou fazendo nada no momento. — Concordei. Eu
queria comprar um livro e iria aproveitar essa oportunidade para isso. Sempre
era uma boa hora para ir à livraria.
— Certo... quer que eu busque você no seu apartamento?
— Não precisa se incomodar, posso te encontrar aí no batalhão.
— Não estou no batalhão, mas sim no centro. — Disse ela. — Realmente,
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não me importo de pegar você no seu apartamento. — Insistiu.
Encarei tudo ao redor, roupas espalhadas, poeira na estante, louça na pia, e
aquele ping-ping na torneira era irritante demais. Eu precisava chamar um
encanador o quanto antes ou tentar eu mesmo consertar.
— Acho que é mais fácil a gente se encontrar na Starbucks. O que acha?
Ela suspirou.
— Tudo bem, nos encontraremos lá então.
Ela desligou, então eu escovei os dentes e encarei meu reflexo no espelho
antes de sair. Tudo estava okay. Eu estava usando minha camiseta preta e
jeans escuro. Coloquei a mochila nas costas com o Grande Gatsby dentro e
sai.
*****
*****
“Depois de amanhã vou passar no batalhão na hora que você sai para
irmos ter nossa primeira aula de dança. Lembre-se de usar algo confortável.
Beijos”
CAMILLE
— Obrigada por ter vindo. Em pouco tempo vocês estarão arrasando na
festa de casamento. — O Casal Annie e Jack sorriu para mim e deixaram o
estúdio.
— Acho eles tão lindos. — Disse Phoebe. — Será que um dia conseguirei
convencer Michael a vir aprender a dançar comigo?
Aproximei-me de onde ela estava sentada. Phoebe era uma garota linda,
tinha cabelos castanhos claros, olhos verdes, pele alva e era mais alta que eu.
Ela estava saindo com Michael a algum tempo, mas ele não tinha cedido
quanto a dançar.
— Acho que Michael só gosta de dançar na horizontal. — Brinquei com
ela. Sentei ao seu lado e bebi água da minha garrafinha.
— Ah, isso ele sabe fazer muito bem. — Gabou-se ela para variar.
— Você sabe que os rapazes são um saco, nem todos aceitam fazer aula
de dança.
— Na verdade, ele gostaria que eu fizesse pole dance. — Disse ela.
— Safadinho. E como está o relacionamento entre vocês dois? —
Questionei.
— Ele é um cara incrível, sabe... mas não sei, às vezes sinto que há uma
distância entre nós. É como se eu não o conhecesse de verdade, ele é muito
misterioso.
— Você se interessou por ele por causa deste mistério, que eu me lembre.
— Apontei.
— Sim, mas agora perdeu o encanto sabe. Quero saber mais sobre ele.
— Então pergunta ué. — Simplifiquei.
— Não é assim tão fácil. Ele é meio vago quando responde algumas
perguntas.
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— Talvez ele seja o incendiário. — Brinquei com ela.
— Claro que não. — Protestou Phoebe.
— Hey, estou brincando... sabemos que só pode ser o Kevin.
Ela me encarou preocupada.
— Sabe, você se aproximar do Kevin e tudo mais... isso me preocupa. E
se ele fizer mal a você?
— Ele não seria capaz de fazer nada de mal para mim. Não quando todos
sabem que estamos nos aproximando.
— Eu não acho que seja ele.
— E eu não acho que seja Daniel. — Apontei.
— Hey, pense... quem iria ganhar mais com a morte de seu pai. — Ela me
encarou. — Desculpe, mas só me vem em mente: o Daniel.
— É o Kevin, foca no Kevin que você vai ver que é ele.
— Nenhuma das Luluzinhas Holmes concordam com o que você está
fazendo.
— A vida é minha, então ninguém precisa concordar com nada. — Falei,
mal-humorada.
— Nossa!
— Desculpe a patada, Phoebe, mas foi o meu pai que foi assassinado;
então vocês não sabem como eu me sinto de verdade. Claro vocês podem
imaginar o que eu sinto, todas tem empatia o suficiente para isso, mas
imaginar o que eu sinto não é o mesmo que sentir.
— Eu sei, por isso estamos investigando Kevin primeiro. Se for ele,
vamos descobrir rapidinho e colocar o incendiário atrás das grades. Agora se
não for. — Ela suspirou. — Bem, vamos investigar Daniel....
— Tudo bem, mas acho difícil ser Daniel... ele é pai.
— Grande coisa. Ainda o acho o maior suspeito.
— O maior suspeito é o Kevin. — Declarei. — Pena que isso vai fazer
com que minhas chances com Tyler sejam ainda menores.
— Tyler, outro grande mistério.
— Hey, Tyler é um amor. É a última pessoa da qual desconfio. — Phoebe
deu de ombros.
— Desconfio de todos, e até que alguém seja inocentado, todos são
suspeitos.
— O detetive disse que meu pai deve ter confrontado o incendiário
naquela noite e por isso houve uma luta entre eles, ou seja, a última pessoa
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que viu meu pai vivo foi o incendiário. Kevin não deveria nem estar
trabalhando naquele dia. Kevin foi o último que viu meu pai vivo e disse que
sua última palavra foi meu nome.
— Isso não prova nada.
— Phoebe, até que todos sejam inocentados, todos são suspeitos. —
Repeti sua frase. — E Kevin está no topo da lista nesse momento.
— Mas acho que você não precisaria se arriscar tanto e se aproximar dele.
— É algo que eu preciso fazer ou vou ficar maluca. Foi meu pai, o centro
do meu universo.
Phoebe me abraçou.
— Eu sei, entendo você.
Deixei que algumas lágrimas rolassem pelo meu rosto.
— Eu sinto tanto a falta dele. — Segurei firme em Phoebe. — Eu só
queria poder vê-lo uma vez mais... só uma vez mais.
— A dor ficará suportável com o tempo.
Suspirei.
Era o que eu esperava, que essa dor ficasse mais suportável. Às vezes era
difícil até mesmo respirar, aquela dor no tórax tomava conta de mim e eu
pensava que morreria.
*****
*****
KEVIN
Ela estava me encarando de uma forma diferente. Era como se tentasse me
decifrar, como se eu fosse um livro e ela quisesse ler todas as minhas
páginas. Eu nunca me imaginei tendo esse tipo de conversa com Camille, na
verdade jamais pensei que um dia fossemos ter alguma espécie de amizade,
na verdade nunca pensei nela de forma alguma. Mas agora ela me parecia um
livro muito interessante e eu queria ler e reler todas as suas páginas
minuciosamente.
— Bem, vamos começar a aula. — Ela finalmente abriu a porta do
estúdio, um grande salão no centro da cidade. No canto esquerdo estavam
algumas cadeiras e uma mesinha com uma máquina de café e água. No canto
direito tinha uma espécie de guarda volumes, em frente a primeira coisa que
víamos era um palco com instrumentos musicais e caixas de som.
— Uau, esse lugar é incrível.
Ela sorriu para mim, orgulhosa.
— É, não é mesmo? Eu consegui montar esse estúdio graças ao apoio do
meu pai e de minha amiga Ingrid. — Ela apontou para o palco. — Está vendo
todos aqueles instrumentos? São da Ingrid. Ela dá aula de música, então
sempre revezamos... quando ela está dando aulas estou fora e vice-versa.
— É muito bom o arranjo que vocês fizeram. — Falei, ainda encarando
tudo. — Nunca entrei em um estúdio de dança antes, só li em livros, mas
dentro da minha imaginação ele parecia um pouco menor e menos assustador.
— Falei nervoso. Eu estava ali, eu iria dançar com Camille... que reação essa
ação iria causar?
— Não se sinta assustado, garanto que não mordo. — Ela sorriu para mim
pegou sua bolsa, colocando-a em um dos guarda-volumes. Ela estava linda
com um vestido branco que ficava na altura dos joelhos, seus cabelos
estavam presos em um rabo de cavalo e ela usava um batom rosado que fazia
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com que seus lábios cheios ficassem ainda mais lindos. — Pode deixar sua
mochila aqui. — Assenti e coloquei minha mochila em um dos guarda
volumes.
De repente começou a tocar uma música que eu conhecia de cor... e quem
no mundo não conhecia aquela música? Fiquei nervoso.
Now I've had the time of my life.
Agora eu tive o melhor momento da minha vida.
No, I never felt like this before.
Não eu nunca me senti assim.
Yes, I swear it's the true and I owe it all to you.
Sim eu juro e eu devo tudo isso a você.
'Cause I've had the time of my life and I owe it all to you.
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Porque eu tive o melhor momento da minha vida e devo tudo a você.
— Bem, esse é um clássico... achei que podíamos começar por ele.
Engoli em seco e assenti.
— Tudo bem.
— Venha aqui para o centro vamos ver o que você sabe.
Eu a encarei, cada vez mais nervoso.
— Eu sei esmagar dedos. — Ela riu com minha piadinha. — Você ri, mas
estou falando sério... sou péssimo em dançar.
— Venha até aqui, Kevin. — Caminhei em sua direção o mais devagar
que pude. A música de Dirty Dancing preenchia o ambiente e logo iria
acabar. — Não tem muito mistério. — Disse ela quando me aproximei. —
Basta acompanhar a melodia. Vamos tentar? — Assenti e então ela me guiou.
— Essa mão vai aqui. — Ela colocou minha mão esquerda contra as suas
costas e segurou minha direita com a sua. — Agora vamos, vamos apenas nos
mover, não tentaremos nem um passo difícil.
Fiquei descoordenado no mesmo instante e quase esmaguei os dedos dos
pés dela. Tentamos de novo e de novo, mas nada funcionou.
— Não tem jeito, eu não tenho ritmo.
Ela me encarou.
— Bobagem, você só quer fugir já da primeira aula. — Ela sorriu e me
ofereceu uma garrafa de água mineral. — Aqui beba isso. Tive uma ideia. —
Peguei a garrafa e bebi goles generosos. Pelo jeito a música estava no repeat
CAMILLE
No momento em que nossos lábios se tocaram, eu me senti em casa. Foi
como se todos os problemas e dores tivessem desaparecido da face da terra e
apenas nossos lábios unidos importavam. Sua língua tocou a minha em uma
carícia lenta e sensual. Ele me deixou de pernas bambas e apertei com força
os músculos de seu bíceps. Kevin colocou pressão em minhas costas, fazendo
com que nossos corpos ficassem ainda mais unidos; e foi neste momento que
vi a bobagem que eu estava fazendo.
— Desculpa, mas... — Me afastando dele, peguei o pequeno controle
remoto no chão e desliguei a música. Eu estava nos braços do possível
assassino do meu pai, eu estava beijando-o. Pior que isso, eu estava gostando
do beijo... eu desejei que ele me beijasse.
— Eu é quem deveria pedir desculpas. — Disse Kevin, e ele parecia tão
confuso quanto eu. — Eu me deixei levar pelo clima. — Olhei para ele de
soslaio e ele estava vermelho.
— Não é certo. — Falei para mim mesma, eu queria bater na minha cara.
Como eu pude? Ele era realmente um homem envolvente, não é à toa que
era o incendiário, ele de fato tinha lábia, mesmo parecendo tão quieto. Mas
porque cada vez que eu o conhecia mais, mas ele parecia não ser quem eu
pensava que era?
— Desculpe, Camille. — Repetiu ele, e que parecia verdadeiramente
envergonhado.
— Eu... Kevin... — Abri a boca para falar. Eu iria contar e foda-se o
mundo! Eu sabia que ele era o incendiário, que ele matou todas aquelas
*****
INCENDIÁRIO
Vários meses haviam se passado e eles ainda falavam do Duke. Eu estava
ficando de saco cheio, aquilo estava me deixando louco. O velho tinha
morrido, não estava na hora de parar de falar dele? Naquele dia, porém, foi a
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gota d’água.
— Um grande homem perder a vida assim, isso é muito injusto. — Disse
Mason.
Aqueles malditos olhos do Duke me encarando, aquela decepção em seu
olhar. Por que aquilo ficava aparecendo em meus sonhos? Por que aquilo
estava tentando me enlouquecer?
Ao ir para a casa naquela noite de silêncio ensurdecedor, pensei que fosse
pirar. Senti falta até mesmo do ping-ping da torneira. Por que fui consertar
aquela merda? Até aquele barulho irritante era bem-vindo hoje.
E a filha dele era um lembrete constante de sua morte. Por que aquela
garota estava ali o tempo inteiro? E o que ela queria com Kevin? Dei um soco
na mesa, peguei minha mochila, meu boné preto, minha máscara cirúrgica e
meu moletom com capuz. Hoje eu precisava extravasar. Peguei três dos meus
laços perfeitos e impecáveis. Eles eram a verdadeira perfeição. Saí do meu
apartamento impecavelmente limpo e rapidamente cheguei a primeira casa.
Abri a porta com um pouco de dificuldade e logo estava no interior da casa,
prendi o laço no lustre e ateei fogo em tudo. Quando a fumaça estava alta, eu
já estava três ruas acima abrindo uma segunda fechadura. Essa foi um pouco
mais difícil, o alarme foi acionado. Fui descuidado, deveria ter desligado o
quadro de energia elétrica antes. Com pressa, prendi o laço no armário das
louças e um homem desceu as escadas, mas o atingi em cheio um soco e ele
caiu. Quando fui para a terceira casam as sirenes já estavam altas, mas desta
vez tive cuidado: desliguei o quadro de luz e prendi com precisão o laço no
alto da lareira, ele seria o único que não queimaria, foi molhado em produtos
antichamas.
Quando estava na rua meu celular tocou, encarei o visor e vi que Mason
estava me ligando. Eles precisariam de reforços isso era fato.
Sorri satisfeito, agora eles parariam de lembrar do Duke, eles tinham um
problema maior, três casas de uma vez só, os manteria com assunto por
semanas.
— Fala aí, Mason. — Atendi o celular sorrindo, orgulhoso de mim
mesmo.
KEVIN
Sentei exausto no sofá da sala de descanso do batalhão, Eu havia tomado
uma chuveirada rápida depois de trabalhar arduamente para conter as chamas.
Um casal faleceu, não teve como salvarmos. O pai até estava vivo ainda, mas
infelizmente veio a óbito a caminho do hospital. Até o momento não
houveram sobreviventes dos outros dois incêndios que outros batalhões
atenderam... não que nós tivéssemos ficado sabendo.
— Água? — Michael me ofereceu uma garrafinha de água mineral e
aceitei de bom grado.
Ele sentou do meu lado. Recém havia saído do chuveiro também pois seu
cabelo loiro pingava.
— Me pergunto quando isso vai acabar. — Ele suspirou, cansado.
— Pois é.
— Você também foi chamado às pressas? — Perguntei.
— Sim, só estavam de plantão essa noite Minah, James, Caleb, Mason e
Andrew. — Ele se recostou no sofá. — Sabe que os domingos são dias mais
tranquilos.
— Sim. A casa que atendemos... o que aconteceu com os filhos? —
Perguntei. — Onde eles estavam?
— Pelo que ouvi os vizinhos falarem para os policiais, eles estavam em
um internato.
— Aquela casa enorme, aquele pátio incrível e eles colocaram os filhos no
internato? — Balancei a cabeça.
— Nem todo mundo nasceu para ser pai ou mãe. — Disse Michael.
CAMILLE: Eu estou acordada. Você não me deixou sozinha, as meninas me encontraram e tudo
ficou bem. Ao menos na medida do possível. Você está bem? Não se feriu? Eu gostaria de ver você
agora... seria possível?
Meu coração acelerou com apenas algumas palavras. Eu estava sentindo
coisas assustadoras desde que Camille se aproximou de mim. Coisas que
jamais me permiti sentir. Com uma mãe alcoólatra, jamais me permiti se
envolver com alguém assim... fora a Ashley, com quem eu perdi a virgindade
na adolescência. Nenhuma outra mulher entrou na minha vida. Ashley
obviamente fugiu no momento em que minha mãe teve uma de suas crises, e
não podia culpá-la; mas a mágoa que isso me trouxe fez com que eu fugisse
de relacionamentos durante toda a minha vida. Com Camille, porém, eu
estava sentindo coisas e me permitindo ter esperanças.
KEVIN: Eu gostaria muito de ver você agora.
Sem ar, fiquei esperando ela responder.
KEVIN: Em dez minutos chego aí, sim eu sei dirigir e levo você em casa numa boa.
CAMILLE
A segunda-feira passou arrastando-se. Eu deixei meu celular desligado
pois precisava de paz por pelo menos vinte e quatro horas. Às vezes a
tecnologia poderia ser bem irritante. Aquele monte de notificações chegando
não nos davam sossego. Então me desliguei do mundo, passei o dia no sofá
assistindo aos meus DVD’S de Friends, chorando toda a vez que lembrava do
meu pai. Ele era um grande fã de Friends e foi quem me presenteou com os
DVD’S. Foi quem me apresentou a melhor série de todos os tempos, foi
quem maratonou comigo... quem iria maratonar Friends comigo agora?
Comi macarrão instantâneo e sorvete com calda de chocolate, e quando
me dei conta de olhar no calendário, já era terça-feira. Saí do sofá e fui para a
cama, estava cansada de chorar e rir ao mesmo tempo. Friends sempre me
fazia rir; agora, porém também me arrancava lágrimas. Joguei-me na cama e
minha bolsa estava lá, e bati com a cabeça em algo duro que estava dentro.
Irritada e com vontade de atirar coisas na parede, abri a bolsa com violência
para ver o que me machucou, porém não consegui jogar o objeto duro na
parede, pois nesse instante minha raiva desapareceu e apenas a culpa me
corroeu.
Era o livro de Harry Potter e a Pedra Filosofal, que comprei junto com
Kevin. Kevin, o cara que em minhas ilusões tinha certeza de que era o
incendiário, tinha certeza de que era o cara que tinha matado meu pai.
Sentindo culpa em meu coração, mas também uma curiosidade sem igual,
abri o livro e retomei a leitura.
Eu estava chorando novamente, eu precisava falar com Kevin... não
porque eu sentia sua falta nem nada disso, eu apenas queria falar sobre o
livro. Aquela cena diante do espelho de Ojesed partiu meu coração em mil
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pedaços. O espelho de Ojesed mostrava para quem o mirava o desejo mais
íntimo, mais desesperado que tinha dentro de seu coração e Harry viu seus
pais no espelho. Seu maior desejo era ter seus pais vivos. Chorei por aquele
menininho de onze anos que sofria tanto.
Liguei meu celular e havia uma mensagem de Kevin. Meu coração deu
um salto.
KEVIN: Bom dia, Camille. Espero que você esteja bem. Saiba que tudo bem chorar, saiba que tudo
bem não estar bem, e saiba que estou aqui, seu amigo, para lhe dar apoio se precisar. Você não está
sozinha.
Eu iria dizer que estava bem, mas apaguei e redigitei a mensagem. Eu não
precisava fingir que estava bem perto de Kevin... com ele eu podia mostrar
fraqueza sem temer.
KEVIN: Por sorte hoje é meu dia de folga. Onde podemos nos encontrar? Na Starbucks, como da
outra vez?
KEVIN: Tudo bem, eu compreendo. Chego aí em meia hora. Qual o número do seu apartamento?
CAMILLE: 302 A
CAMILLE: Até.
Foi então que me dei conta que não tomava banho desde domingo, que
haviam potes de macarrão instantâneo jogados na sala e pote de sorvete.
Corri para recolher tudo e colocar no lixo. Depois que a sala estava mais ou
menos organizada, eu corri para o chuveiro, pois estava parecendo uma
mendiga com os cabelos cheios de nós e a cara toda amassada... sem contar
que todo aquele miojo me deixou inchada. Eu iria matar a Min Ah por me
viciar em porcarias.
*****
KEVIN
Estava sentado naquela cadeira de metal. No início ela parecia
desconfortável, mas eu já estava ficando tão habituado a estar ali que ela
estava tornando-se familiar e confortável. Haviam policiais em cada canto,
outras pessoas estavam em outras mesas, esperando seus entes queridos para
visitar. O local em si não me incomodava mais... o que me incomodava era
vê-la. Ela pediria novamente para que eu a tirasse daqui? Ela tentaria me
enganar novamente ao dizer que estava curada e só queria ficar com seu filho
amado?
Aquele filme aconteceria de novo se eu me deixasse persuadir. Eu a
libertaria, iriamos para o meu apartamento, seriam algumas semanas incríveis
com minha mãe preparando meu jantar, cuidando da casa e de mim. Eu me
permitiria iludir novamente. Pensamentos como “Agora é diferente, ela
realmente mudou e eu finalmente terei paz” invadiriam minha mente até me
deixar relaxado. E então, num belo dia após passar na Starbucks a caminho
de casa, após comprar seu Café Mocha Branco, seu favorito, eu chegaria em
casa, tudo estaria uma bagunça. Algo de valor estaria faltando... ela não
estaria em casa, teria deixado o celular ou teria o vendido para alguém. Eu
não saberia do paradeiro dela por alguns dias e não conseguiria dormir
tamanha a preocupação... então finalmente algum policial me ligaria, diria
que encontrou o meu número junto aos documentos dela e eu a levaria para a
clínica de reabilitação novamente.
— Eu te amo, meu filho. Por favor, não me deixe... não deixe eles me
levarem. — Eu choraria em meio aos seus gritos histéricos ou talvez não, eu
já estava cansado de chorar. — Eu juro que vou mudar, eu só quero cuidar de
você.
E então, em silêncio e um pouco mais despedaçado do que antes, eu veria
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os enfermeiros a imobilizarem e ela adormecer em seus braços após ser
sedada.
— Bom dia. Você está tão pensativo. — Minha mãe sentou-se diante de
mim.
Nunca pensei que alguém pudesse dizer isso, mas a prisão realmente fez
bem a minha mãe. Ela havia ganhado peso, estava corada do sol e parecia
mais animada do que em minha última visita.
— Estava pensando no trabalho. — Menti. — Como você está?
Ela me abraçou e retribuí seu abraço. Realmente eu não sentia mais seus
ossos proeminentes, ela havia ganhado bastante peso.
— Estou bem, e você? — Ela sentou na cadeira no outro lado da mesa. As
conversas eram altas nesse momento, outras prisioneiras vieram de encontro
as suas famílias e todos conversavam animadamente.
— Estou bem também. — Respondi.
— Sabe, tenho um trabalho aqui agora. — Disse ela com um sorriso. Seus
olhos azuis brilharam.
— É mesmo? Isso é ótimo. Manter a mente ocupada é muito importante.
— Sorri.
— Sim... e adivinhe onde estou trabalhando? — Perguntou ela, cheia de
expectativa.
— Na cozinha? — Chutei. Apesar de sua doença, minha mãe amava
cozinhar.
— Nada disso. É na... — Ela fez um suspense e então disse. — Na
biblioteca.
— Uau.
— Sim, uau...sempre que entro lá, lembro de você. — Eu a encarei,
sorrindo. Estava esperando o momento em que ela iria pedir para sair da
prisão... para dar um jeito de acelerar as coisas para ela ter sua liberdade.
— Eu trabalhava na biblioteca da escola.
— Eu me lembro. Uma vez a diretora da escola me chamou, disse que
estava preocupada pois você passava o recreio todo na biblioteca.
— Lembro que você brigou com ela e perguntou: Desde quando ler
demais é um problema? Preocupe-se com os seus alunos que ficam matando
aula e deixe meu filho em paz. Você estava furiosa.
— Sim. Eu gritei mesmo com ela. Queriam mandar você fazer teatro, que
uma pessoa introvertida não era normal... Que você precisava ser extrovertido
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e ser amigo de todos.
— Claro, ser falso é algo muito certo. — Bufei. — Eu tinha meus amigos,
Claire e Tucker. Não ia fazer mais amigos só porque era mais normal assim.
— Isso é porque você é muito parecido comigo... nunca consegui fingir
gostar de alguém. Tive sempre poucos amigos, mas os amigos que eu tinha
eram preciosos. Não consigo ser extrovertida nem comunicativa... quem disse
que uma pessoa normal deve ser comunicativa?
— Lembro que ele dizia isso. — Me referi ao meu pai, que nos deixou
quando eu tinha menos de dez anos de idade.
— Ele é um covarde, sempre foi. — Bufou minha mãe. — Lembro que
ano passado o vi em um jornal... o grande promotor de Washington DC teve
sucesso em mais um caso.
— Isso ainda afeta você? — Perguntei. — O fato dele ter partido?
— Não mais. Eu também não me ressinto mais de ter o conhecido. Apesar
de ele ter nos deixado para se casar com aquela mulher, eu estou feliz por ter
conhecido ele... se não tivesse conhecido, não teria você. — Sorri.
Estava esperando algum pedido, minha mãe nunca era amorosa assim
comigo por nada, estava esperando ela pedir para eu pagar sua fiança.
— Mas não vamos falar do passado. — Ela segurou em minha mão. —
Me conte de sua vida, meu filho. Há alguma namorada?
Corei diante da pergunta inesperada e só me veio em mente Camille e a
tarde incrível que passei com ela na terça passada.
— Não tenho namorada. — Respondi rapidamente.
— Mas existe uma garota.
— Não, eu só tenho uma amiga. — Dei de ombros. — Nós somos só
amigos.
— Mas você gosta dela.
— Sim, ela é minha amiga.
— Ah. pare de ser tolo, Kevin... você sabe o tipo de ‘gostar’ no qual estou
me referindo.
Eu a encarei.
— Mesmo se... e eu estou dizendo se... Se eu gostasse dela, ela gosta de
outro e me vê apenas como um amigo.
Minha mãe riu e fez um gesto com a mão como se o que eu tivesse dito
fosse algo absurdo.
— Tem uma presa que é muito amiga minha, a Susan... ela foi presa por
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roubo, teve uma vida problemática com pais dependentes químicos. Ela é
quinze anos mais nova que eu e me chama de sogra desde que viu você na
última visita. — Eu encarei as presas ao nosso redor. — Não, ela não recebeu
visitas hoje, então não adianta procurá-la. — Voltei a encarar minha mãe. —
Meu filho, se essa menina vê você apenas como um amigo, ela é muito cega.
Você é lindo demais... e antes que você diga que eu estou dizendo isso pois
sou sua mãe, saiba que foi a Susan que disse e com a foto sua que tenho na
minha cela, todas as presas querem ser minhas noras.
— Mas não importa, ela é perdidamente apaixonada por outro cara que
nem liga para ela, e eu não teria chances.
— Você só vai saber se tentar.
— Você parece eu falando. — Suspirei. Eu era muito bom em dar
conselhos aos outros, mas era péssimo em segui-los na minha própria vida.
— Sabe, tem a Paige da biblioteca, e ela assim como você está sempre
com um livro enfiado na casa e fazendo citações para nós. Esses dias ela
disse uma que fez eu gravar no cérebro... era mais ou menos assim: Arrisque-
se! Toda vida é um risco. O homem que vai mais longe é geralmente aquele
que está disposto a fazer e a ousar. O barco... — Ela se concentrou para
lembrar.
16
— ...da ‘segurança’ nunca vai muito além da margem. — Completei sua
frase.
— Isso, você conhece. — Assenti. — Bem, então... se arrisque se você
gosta mesmo dessa menina.
— Laurel Hoover. — Estávamos tão absortos na conversa que nem nos
demos conta de que todas as pessoas já haviam ido embora. — Acabou a
visita. — Disse o guarda.
— Eu preciso ir. — Ela levantou-se.
— Tudo bem, Domingo que vem estarei de volta. — Ela assentiu e me
deu um abraço rápido.
— Desculpe por tudo, Kevin. — Disse ela e foi embora.
Eu a encarei confuso. Ela não havia me pedido para tira-la dali em
momento algum. Quando deixei as portas da penitenciária, não parei de
repassar nossa conversa em minha mente. Somente dentro do ônibus é que
desvendei a charada, ou ao menos eu tinha um palpite.
Seria sua amiga, Susan, filha de pais viciados, que fizera ela enxergar o
*****
Era segunda-feira. Sete dias que eu não via Camille, e eu estava morrendo
de saudades. Sabia que ela precisava de um tempo. Ela recém tinha se dado
conta de que realmente Duke não estava mais entre nós. Eu queria vê-la, mas
esperaria até terça para enviar uma mensagem de texto.
Nesse meio tempo o incendiário havia cometido mais dois delitos e a
polícia estava cada vez mais agitada. Nós estávamos sempre uma pilha,
esperando a qualquer momento ser chamados para conter as chamas
provocadas por aquele lunático.
— Hey caras, olhem isso. — Michael surgiu com seu tablet e mostrou
para James e eu. Ele estava recostado com os olhos fechados ao meu lado,
mas que despertou assim que Michael entrou. — Olhem essa manchete.
*****
CAMILLE
Fiquei seis dias sem entrar em contato com Kevin, nem mesmo por
mensagem de texto. Eu precisava daquele tempo sozinha para chorar quando
sentisse vontade, para clarear a mente e refletir sobre tudo. Nesse tempo
terminei de ler o segundo livro de Harry Potter, me apaixonei ainda mais por
aqueles livros e me perguntei o porquê de nunca os tinha lido antes. Por que
nunca tive o hábito de ler? E havia entendido a fascinação de Kevin pela
leitura. Era uma pequena fuga de nossa realidade... ela nos permitia sonhar,
entrar em mundos diferentes e viver aventuras em cada página. E o melhor de
tudo: eles nos davam lições de vida, nos faziam pensar e refletir sobre tudo.
Vendo como Harry foi injustamente acusado de ser o herdeiro de
Slytherin, de petrificar alunos e a madame Norra... tudo porque supostamente
as pistas apontavam para ele, senti vontade de ter uma cabeça tão dura quanto
a de Dobby e bater com minha cabeça constantemente na parede por ter
acusado Kevin por supostamente algumas pistas indicarem ele. Eu queria
bater em mim mesma e contar para Kevin o que fiz, mas ao mesmo tempo
queria que ele nunca descobrisse. Aquilo iria magoá-lo demais, e eu não
queria vê-lo triste. Ele já tinha tantos problemas.
O jeito era não me envolver com ele mais do que deveria... deveria manter
nossa amizade, apenas sobre os livros. Nada mais, eu iria esquecer aquele
beijo trocado na aula de dança e não o convidaria mais para ensina-lo a
dançar. Era isso. Uma distância entre nós e tudo daria certo. Eu não precisaria
contar a Kevin o motivo de ter me aproximado dele, pois não teríamos nada
*****
*****
Eu havia bebido só uma cerveja do pequeno fardo que havia trazido. Não
estava acostumada a beber e resolvi não abusar... mas Kevin não sabia disso.
— Seria muito abuso se eu pedisse que você me leve em casa? — Eu o
encarei em expectativa. — Acho que posso estar um pouco tonta.
— Abuso nenhum. — Ele respondeu rapidamente.
— Obrigada, Kevin.
Todos beberam nem que fosse uma lata de cerveja durante o jantar e a
garrafa de Martini de Tyler estava vazia na pia da cozinha de Mason. Mas
Kevin não bebeu nem sequer um gole, e perguntei-me se era por causa da
condição de sua mãe. Acredito que quem convive com um alcoólatra teme se
tornar igual.
Estava louca para falar mais com ele, escutar tudo o que ele tinha a dizer.
Kevin sempre falava coisas que valiam a pena ouvir.
— Hoje eu me senti verdadeiramente feliz. Meu pai teria adorado tudo
aquilo. — Comentei com ele.
— Ele teria mesmo... um grande homem o Duke.
— E um grande cão. — Brinquei. — Tinha me esquecido que meu pai
havia dado aquele labrador para Emma, e que ela o havia batizado como
Duke. — Sorri.
KEVIN
“A mágoa é o veneno que se toma, pretendendo matar o outro.”
A frase de Willian Shakespeare não saia da minha cabeça naquela manhã
chuvosa de terça-feira. Engraçado como citações de livros agora perpassavam
em minha mente, como se a fórmula da vida estivesse em páginas de papel
pólen. Eu me sentia deprimido, um pouco magoado. Doía em meu peito
saber as verdadeiras razões da aproximação de Camille, e queria estar com
ela agora para conversar sobre isso. Louco, não? Como me afeiçoei
rapidamente a ela a ponto dela se tornar a pessoa com quem eu queria dividir
problemas e alegrias.
Perdi as contas de quantas vezes peguei meu celular para ligar para ela,
para enviar uma mensagem, mas não estava pronto para isso ainda. E assim a
terça-feira chegou, ao fim trazendo a quarta-feira que levou a chuva embora
nos banhando com seu sol quente e ar quente. Eu não conseguia focar na
leitura, então meu livro estava inacabado na mochila. Pensei que deveria ler
algo diferente, algo mais ilustrado e decidi que passaria na loja de histórias
em quadrinhos e compraria um mangá.
— Okay, agora eu estou aqui e você vai me dizer o que há de errado. —
James sentou na minha frente na sala de descanso e o encarei, cansado.
— Por que haveria algo errado? — Perguntei para ele.
— Faz dois dias que você chega no batalhão tão triste que parece que uma
nuvem negra está sobre sua cabeça. Se você se olhar no espelho, vai ver suas
olheiras fundas e cara... o mais anormal ainda. — Ele apontou para mim. —
Você não está com um livro na mão.
Ri de seu comentário.
— É sério, Kevin, um livro é como uma extensão do seu corpo. Estamos
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tão acostumados a ver você sempre com um livro na mão que notamos que há
algo errado de longe.
— Não estou conseguindo me concentrar em nada para ler. — Falei.
— Então desabafe comigo. O que há de errado?
— Não quero jogar meus problemas para cima de você, James. Você tem
sua família agora e...
— E tenho você, meu melhor amigo, aquele cara que me ajudou quando
mais precisei, que desabafei meus problemas com a minha mulher e que me
deu os conselhos mais valiosos. — Ele me encarou sério e fiquei tocado com
sua frase. — Posso não ter conselhos tão bons quanto os seus, mas estou aqui
para você parceiro.
— Eu sou seu melhor amigo? — Perguntei, surpreso.
— Achei que era recíproco. — Disse ele. — Você é o irmão que nunca
tive, já que só tenho uma irmã maluquinha.
Ri e me senti tão feliz em saber que tinha um amigo como James.
— Obrigado, James. E sim, é recíproco. — Falei.
— Então confie em mim como confiei em você e me conte o que
aconteceu.
— Tudo bem... — Suspirei pesadamente.
Relatei a James tudo o que aconteceu e a forma como Camille se
aproximou de mim, finalizando na noite de segunda-feira quando ela me
revelou a verdadeira razão de ter se aproximado de mim. James escutou tudo
com atenção e prestando a atenção a cada detalhe do meu relato e por fim
sorriu.
— E é isso.
— Cara vocês estão muito apaixonados um pelo outro. — Disse ele com
um sorriso. — E sinto muito por essa situação.
— Obrigado por me escutar. Ainda me sinto chateado pela razão de ela ter
se aproximado de mim, por ter pensado que eu era o assassino de seu pai.
— Não foi certo o que ela fez, mas se tem uma coisa que você me ensinou
foi: coloque-se no lugar dela. Lembra que você me fez me colocar no lugar
de Min Ah quando eu guardava aquele segredo dela? Bem, isso funcionou
bem.
— Sim, eu sempre tive muita empatia.
— Então, imagine você perder o seu pai, o pai mais incrível do mundo,
que te mimou, amou e cuidou por toda a sua vida. Que era mais que um pai,
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mas um amigo e companheiro. E então ele é assassinado de forma tão cruel e
fria, e uma pessoa foi a única que o viu vivo... essa pessoa nem deveria estar
trabalhando no dia, mas resolveu fazer hora extra ainda assim. — James
suspirou. — A dor da perda te cegaria, e para você não desmoronar por
completo, você arruma uma missão, achar o culpado e assim sua mente foge
da dor e se concentra na vingança. Porque se concentrar na vingança é menos
doloroso do que focar na dor da perda.
— Você diz que não dá bons conselhos, mas acabou de me falar coisas
admiráveis.
— Dê os créditos a Min Ah. Ela está vendo Camille sofrer e meio que me
contou o que aconteceu e disse tudo isso.
— Então você já sabia antes de eu contar.
— Min Ah me contou essa noite, mas pensei que seria bom ouvir você
desabafar. Não se sente mais leve após ter me contado tudo?
— Sim, um pouco.
— Sei que tudo aconteceu muito rápido, vocês se envolveram muito
depressa e se apaixonaram depressa. Dê um tempo aos seus pensamentos, os
organize e então a procure. Se mesmo após isso você ainda querer ficar com
ela, escute seu coração e seja feliz.
— Você deveria virar psicólogo. — Falei e James sorriu.
— Não... não. Estou bem aqui com vocês.
— E como estão Joanne e Dean? — Perguntei para desanuviar um pouco
minha mente.
— Ah, eles estão ótimos, crescendo rápido demais, nem acredito que já
vão fazer cinco meses. — O orgulho e amor de James escorria por cada
palavra que saia de sua boca.
— Estou feliz por você, meu amigo. — Falei com sinceridade.
Eu me sentia tão bem em ver James feliz. Eu nunca, em toda a minha
vida, havia entendido aquele sentimento negro chamado inveja. Eu não
entendia como as pessoas poderiam ver as outras bem e felizes e ficarem com
raiva daquilo.
Eu desejava aquilo para a minha vida, claro. Desde que me apaixonei por
Camille eu desejava ter uma vida boa, filhos talvez. Eu leria histórias para
eles antes de pegarem no sono, depois iria até o quarto encontraria minha
Vênus e faríamos amor.
Eu desejava uma vida assim. Quem não desejava?
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Mas diferente de inveja, eu estava muito feliz em ver que meu amigo já
tinha tudo aquilo, eu desejava que o cara tivesse aquilo para sempre. Feliz
daquele que não sente inveja, pois se sente feliz pelas conquistas dos outros.
Pensei comigo mesmo.
— Que clima de velório é esse? — Henry chegou na sala e sentou-se ao
lado de James.
— Estávamos apenas batendo um papo. — Disse James.
— Sobre o que? Mulheres nuas, sexo ou mulheres nuas? — Perguntou
Henry interessado; e então notei que no seu pescoço estava um grande
chupão roxo.
— Parece que sua noite foi animada. — Comentei, James olhou para onde
eu apontei.
— Realmente, sua noite deve ter sido muito boa. — Pela primeira vez em
anos que trabalhávamos com Henry ele corou.
— Bem, sim. — Ele sorriu de um jeito tímido que ficou bizarro em seu
rosto.
— E você não vai se exibir e nem fazer gestos obscenos? — Perguntou
James.
— Eu devo parar de ser um idiota.
— Era idiota, mas engraçado. — Comentei.
— É não é mesmo? — Disse Henry animado. — Bem, então digamos que
eu me dei bem noite passada e vou me dar bem essa noite também sabem...
— Ele levantou e fez movimentos de vai e vem com seus quadris. — Vai ser
mais uma noite quente.
— Quem é a vítima? Conhecemos? — Perguntou James.
— Não interessa a vocês. — Respondeu ele.
— Ohhh... você sempre conta detalhes... parece que está apaixonado desta
vez. — Brincou James.
— Quem está apaixonado? — Perguntou Tyler juntando-se a nós.
— Henry. — Respondi.
Tyler ficou tão surpreso quanto nós que se afogou com a água que estava
bebendo. Ele tossiu tanto até que voltou a si.
— Henry apaixonado?
— Sim, uma surpresa não? — Disse James. — Cara, ainda bem que eu
não estava bebendo nada na hora que tive essa conclusão ou me afogaria
também.
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— Por que vocês tiraram essa conclusão? — Perguntou Tyler curioso.
— Ele parece animado com a noite de ontem e realmente empolgado com
a noite de hoje, e não quer nos contar os detalhes.
— Isso não é comum mesmo. — Disse Tyler.
— Parem de falar de mim como se eu não estivesse aqui. — Brigou
Henry. — E se eu tiver me apaixonado, é coisa minha não é mesmo? Não sei
porque ficam se metendo em coisas que não os interessa.
— Apaixonado? — Michael chegou agora com um sanduíche na mão e
ficou boquiaberto. — Você, Henry? Não posso acreditar, a terra é quadrada.
— Parem de fazer piadas. — Falou mal-humorado.
— Anos aguentando suas piadas e agora você reclama das nossas. —
Caleb que chegou junto com Michael falou.
— É... agora aguente, meu amigo. — James deu tapinhas nas costas dele.
— Todo mundo se reúne aqui agora? — Trevor chegou. — Qual o
assunto?
— Henry tem um chupão no pescoço e está apaixonado. — Disse James.
— Wow! Eu pensei que o homem pisaria em Marte antes que Henry se
apaixonar. — Disse Trevor e sentou-se ao meu lado. — Você também está
apaixonado, não é mesmo? — Falou ele me encarando. — Nota-se que você
e Camille tem corações nos olhos.
— Kevin e Camille? — Henry parecia surpreso.
— Eu bem que desconfiei disso. Ela estava sempre por aqui, deveria haver
um motivo. — Disse Michael.
O motivo... Era que ela achava que eu era o assassino. Mas mandei esses
pensamentos dolorosos para o espaço e voltei a focar neles.
— Boa sorte para vocês, cara. — Disse Trevor.
— Obrigado.
Logo o foco da conversa voltou a ser Henry, então me distrai e dei boas
risadas com os caras. O alarme de incêndio soou e logo corremos, houve um
grande acidente de trânsito próximo dali e precisaríamos nos apressar. Uma
mulher estava presa nas ferragens do carro.
Era mais um dia de trabalho para os heróis do 39º batalhão. E mesmo após
salvarmos a mulher e seu filhinho, minha mente só conseguia pensar em
Camille. Conversei até mesmo com Michael naquela tarde e ele disse mais
uma frase na qual eu estava pensando muito, mas como eu estava com dor
não conseguia pensar com clareza.
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— Se ela foi sincera com você, é porque realmente quer levar o que vocês
têm a sério... é porque está mesmo apaixonada. É porque está
verdadeiramente arrependida. — Disse Michael.
Eu tentaria desanuviar minha mente e iria procurar Camille quando eu
estivesse pronto.
CAMILLE
Era sexta-feira, e se não fosse pela insistência de Crystal, eu sequer
compareceria a essa reunião das Luluzinhas. Eu estava cansada do assunto
“incendiário”, estava cansada de sair de casa, cansada de falar com pessoas e
cansada de fingir que tudo estava bem. Gostaria de ser uma adolescente e
poder fazer birra, dizer que eu não estava bem, mas sim que eu estava
morrendo por dentro e fazer todo aquele drama que adolescentes podiam
fazer pois eram adolescentes.
Se um adulto ousa em fazer algum tipo de cena ou drama assim, é
chamado de fraco, de infantil. Claro que quando adolescentes faziam esse
tipo de cena também não eram bem recebidos; diziam que eles estavam
querendo chamar a atenção, que eles não sabiam o que era dor, que não
sabiam o que era o amor.
Eu tive tanta sorte de ter um pai bondoso, pois em minha adolescência,
quando tive meu primeiro amor e com ele minha primeira decepção amorosa,
meu pai me comprou sorvete, me apresentou a série Friends e me abraçou
forte. Ele compreendia que para os adolescentes, as dores de amor parecem
maiores do que realmente são, já que na adolescência é tudo um extremo.
Meu pai era um grande homem.
— Hey, vamos começar a reunião. — Kate falou. Todas estavam
ocupadas fazendo algo, conversando entre si ou checando o celular. — Estou
louca para ir para a casa amamentar meu filho.
— Sim, boa ideia. — Disse Crystal.
INCENDIÁRIO
— Pai, eu queria te perguntar uma coisa. — Falei timidamente,
segurando uma mão na outra.
Ele estava concentrado, lendo seu jornal, e bufou com minha
interferência.
— Fale logo, garoto. Não tenho muito tempo. — Disse ele, que me
encarou impaciente.
— Eu... bem... eu gostaria de pedir para o senhor e a mamãe passarem
essa véspera de Natal comigo.
Eu estava muito nervoso, mas também cheio de esperanças de que ele
dissesse que sim.
— Não tem como, você sabe disso. Temos que passar com o deputado e
sua esposa... teremos o apoio dele no projeto do hotel. — Ele voltou a ler o
jornal, me ignorando totalmente.
— Mas eu pensei...
— Você pensou que nós não tínhamos nada mais importante para fazer
do que passar o natal em casa com você? — Disse ele bruscamente. — Você
é tão egoísta e mimado. — Meu pai levantou da mesa, irritado. — Perdi o
apetite.
De repente eu estava subindo as escadas correndo. Minha mãe estava no
telefone com alguma amiga.
— É sério que ela vai com aquele vestido amarelo? Meu deus, ela é
gorda! Fica grotesca usando aquilo, parece um melão em camadas.
A diversão favorita de minha mãe era fofocar e falar mal de outras
KEVIN
Ela segurou em minhas mãos e me encarou preocupada.
— Posso ter sido uma péssima mãe, mas noto quando você está triste. —
Era domingo de manhã e eu estava na penitenciária. Por mais dores que
minha mãe havia me causado com sua doença, eu não conseguia deixar de ir
vê-la. — A sobriedade tem me feito pensar e notar muitas coisas. —
Continuou ela, e eu me perguntei se realmente ela estava disposta a admitir
que tinha uma doença. — E vejo que você está desolado. Foi a garota que
você gosta que fez isso?
Camille. Ela estava tão desolada quanto eu.
— Está tudo bem, mãe. Me conte como vai o seu trabalho na biblioteca?
— Sorri para ela, que me encarou impaciente.
— Me conte o que aconteceu. — Insistiu ela, ignorando minha pergunta.
— Estou tão cansado de contar essa história. — Falei, e realmente eu
estava exausto. Repeti por três vezes: uma para meu melhor amigo James,
outra para Michael que me deu conselhos muito bons e por último para o
Mason, que insistiu em saber.
— Faça um grande resumo.
Suspirei cansado e contei para minha mãe. Aquilo nos tomou vinte
minutos do tempo de visita.
— Então é isso.
— Entendo. — Ela ficou pensativa por um tempo e então me encarou. —
Sabe, de certa forma ter conhecido seu pai foi uma coisa boa... ele não apenas
me ajudou a ter você como também me salvou. Eu poderia ter problemas
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mais graves do que apenas o alcoolismo se não fosse por seu pai. — Eu a
encarei com atenção. — Bem, sabe que meus pais faleceram praticamente ao
mesmo tempo... sua avó faleceu de câncer, meu pai e eu a vimos definhar dia
após dia, sendo vencida por aquela doença terrível. — Ela limpou a garganta
e continuou. — Bem, eu tinha vinte anos de idade quando ela se foi, e o
centro do meu universo passou a ser meu pai... porém meu pai não estava
contente em continuar vivendo e cometeu suicídio três semanas após o
enterro da minha mãe.
— Mãe, eu sinto muito. — Falei chocado. — Como... Por que nunca me
contaram? — Ela deu de ombros.
— Certas coisas não valem a pena serem lembradas. — Ela suspirou. —
Bem, digamos que eu fiquei tão perdida quanto essa garota aí... claro não
havia um psicopata na jogada, mas haviam más influências... anos 80, sabe
como é... Sexo, drogas e rock and roll. Eu conheci seu pai no meu pior
período. Eu estava bêbada e me ofereceram cocaína... falaram que eu iria
esquecer a morte dos meus pais rapidinho. — Ela riu com amargura. — Eu
estava perdida, sem ninguém nesse mundo, bêbada ainda por cima. Mas seu
pai me impediu... aquele garoto lindo e nerd. — Ela sorriu.
— Eu não sabia de nada disso. — Falei ainda em choque.
— Os pais têm esse costume, sabe, de tentar poupar os filhos das merdas
do passado. Mas achei que seria útil para você agora. Entendo aquela garota,
e ela parece muito melhor do que eu, pois ao invés de se entregar em um
vício prejudicial, ela conheceu você e se apaixonou.
— Eu sei... sinto tanto a falta dela.
— Oras, então vá vê-la. — Disse minha mãe. — Você mesmo diz sempre
que não vale a pena guardar mágoas e ficar orgulhoso. De que adianta o
orgulho se você e ela estão sofrendo?
— Eu amo esse seu lado. — Falei. E eu amava mesmo... eu só temia que o
outro lado aparecesse.
Porém, agora eu compreendia como começou sua doença, eu entendia
melhor minha mãe.
— Eu sei que estou doente, e sei que é a primeira vez que admito isso. —
Falou ela. — Você pode achar que vou pedir para me tirar daqui, mas por
favor, não me tire daqui... tenho medo de sair e ter uma recaída. Estou
cansada de te decepcionar. — Lágrimas escorreram pelo rosto da minha mãe,
e não tive como evitar as lágrimas que se formavam em meu rosto de
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escorrer.
— Quando você sair daqui, vamos as reuniões juntos, eu vou acompanhar
a senhora em todas elas. — Ela sorriu para mim.
A guarda da prisão alertou que o horário de visitas havia terminado.
Abracei minha mãe e me permiti ter esperanças pela última vez, afinal era a
primeira vez que ela admitia ter um problema, e a raiva que eu sentia pelo
meu pai suavizou um pouco.
*****
CAMILLE
Minha perna estava por cima da dele, e uma das suas estava entre as
minhas. Nossas mãos estavam unidas e nossos olhares não se desviavam um
do outro. Foi um momento de cumplicidade, em que não precisávamos falar
sequer uma sílaba para entender o que sentíamos pelo outro. Era algo que eu
jamais pensei que pudesse sentir, era algo muito forte e intenso; era o meu
presente e futuro. Meu copo de água no deserto, minha fé, meu salvador. E só
de lembrar que o julguei antes de conhece-lo melhor fazia meu coração
apertar.
— No que você pensa tanto? — Perguntou ele.
— Na sorte que eu tenho de você ser quem é.
Ele acariciou meu rosto.
— Como assim?
Umedeci os lábios com a língua para continuar a falar.
— Qualquer outro homem não teria me perdoado depois do que eu fiz.
— Você não me fez mal algum. Você cometeu um erro e todo mundo
erra. Quem nunca julgou alguém antes de conhecer a pessoa, vendo apenas o
que parecia ser, que atire a primeira pedra.
— Mesmo assim... qualquer outro homem não...
— Ainda bem que não sou um homem qualquer. — Disse ele
interrompendo-me. — Quero que você pare de se culpar, odeio ver essa
expressão triste e culpada em seu rosto. — Ele segurou firme em minha mão
e puxando a palma para si beijou o centro dela. — Vamos começar de novo e
KEVIN
Todos os rapazes pareciam exaustos naquela manhã de segunda-feira. Foi
muito difícil conter o incêndio na grande mansão dos Fletcher. Estávamos
assistindo ao noticiário. Três casas de famílias influentes, oito mortes
somadas em uma única noite, quatro órfãos, um incendiário e nenhuma pista
que nos levasse até ele.
As pessoas estavam apavoradas, e com esse alerta geral, reforçaram a
segurança em suas casas. Um alerta era proferido pela âncora do jornal da
manhã, os jornais da cidade também estampavam o pânico. Ninguém mais
aguentava esse assunto... na verdade, todos ansiavam pelo dia em que esse
assassino seria capturado.
— Bom dia. — James chegou exausto na sala de descanso. — Cheguei
nessa madrugada e já fiquei sabendo o que aconteceu. Tudo bem com você?
— Dia, tudo sim, cara. E com você? Como está seu primo?
— Ah, o Luke? Ele vai ficar bem, foi só uma queda do cavalo e ele
quebrou o braço. Nós fomos lá mais como uma desculpa de visitar a família
do primo Logan.
— Que bom que tudo deu certo. — Comentei.
— Isso é tão frustrante. — Disse James. — Posso desligar a TV?
Assenti. Começou a passar uma matéria nos lembrando que em breve
começariam as eleições presidenciais.
— Eu me pergunto quando esse pesadelo vai acabar. Nunca trabalhei
tanto quanto agora e nunca vi tanta gente morrer em tão pouco tempo. Esse
cara é um terrorista.
— Ei, rapazes, do que estão falando? — Michael entrou na sala de
descanso e sentou-se diante de nós.
— Sobre o assunto do momento, o incendiário. — Respondeu James.
— Ah sim... vi na internet que ele está até mesmo nos jornais de outros
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países. — Comentou Michael. — Estava mostrando a Min Ah as notícias.
— Michael, aí está você. — Disse Daniel entrando na sala. — Vamos
levar você para comemorar no fim de semana.
— Comemorar? — Perguntou Michael curioso.
— Você é o funcionário do mês. — Disse ele. — Parabéns, Mason disse
que você sempre atende imediatamente quando há uma emergência e é
sempre o primeiro a chegar quando ele chama, está sempre disponível para
ajudar no batalhão.
— Parabéns, cara. — Falei.
— É... parabéns. — Disse James.
— Estou muito feliz em ganhar destaque. — Disse Michael, sorrindo. —
Parece que tudo está dando certo para mim. — Disse ele orgulhoso.
— Parabéns, cara. — Disse Andrew que surgiu do nada.
— Onde você estava Andrew? Nem vi você na sala.
— Eu sempre que posso tiro um cochilo na poltrona do canto. — Ele
apontou para um canto e uma velha poltrona que quase ninguém usava. —
Assim ninguém fica me enchendo.
27
— Nossa, que mal humor. — Disse Henry. — Parece até o Mr. Heckles .
— Quem é esse? — Perguntou Andrew.
— Ora um personagem de Friends, óbvio. — Explicou Henry.
— Vocês são muito viciados nisso. — Disse Andrew.
— Duke nos viciou. — Comentou Tyler, se juntando a conversa. —
Lembro que sempre que não estávamos fazendo nada ele colocava na tv do
refeitório.
— Eu nunca vi. — Andrew falou.
— Sim, você sempre se isolava e Kevin sempre estava lendo. — Tyler
apontou para mim.
— Eu comecei a ver. — Falei.
— E então, é boa, não é? — Perguntou Henry entusiasmado.
— Sim, prefiro os livros, mas essa série vale a pena ser assistida.
— Claro que sim. Sei que ela terminou há séculos, mas não existe série
melhor, os diálogos, as piadas, os dramas da vida, incrível. — Disse Caleb.
— Hey rapazes, não querendo cortar o barato de vocês..., mas vocês viram
que o incendiário está adotando um método a mais. — Min Ah entrou na sala
e James pediu que ela sentasse em seu colo.
*****
CAMILLE
Eu comprei um vestido tomara que caia preto com detalhes em laranja,
justo na cintura e soltinho nos quadris. Coloquei um salto alto preto e deixei
meus cabelos negros soltos nos ombros. Passei um hidratante no meu corpo
inteiro e me perfumei, além de ter feito uma depilação completa. Como diria
Phoebe: Você está pronta para dar. Ri com esse pensamento, e nervosa,
toquei a campainha do apartamento de Kevin.
Era a primeira vez que eu iria em seu apartamento e segundo ele, suas
únicas visitas foram Michael para arrumar o seu encanamento ou James,
quando passou rapidamente ali para tomar um café no mês anterior. Era um
prédio comum, próximo a Starbucks e não muito longe do batalhão. Eu havia
descoberto nos últimos dias que Kevin não conseguia viver sem uma boa
dose de cafeína e um livro nas mãos, então viver perto da Starbucks era algo
que facilitava sua vida.
— Boa noite. — Ele abriu a porta e me encarava com admiração. Me senti
feliz de ter comprado aquele vestido.
Kevin usava camisa branca com os botões dos braços abertos e as mangas
dobradas no alto de seu antebraço. Ele vestia também mais um daqueles
maravilhosos jeans escuros que marcavam seu bumbum delicioso, e para
completar minha fantasia, usava óculos de leitura sobre o nariz. Ele já era
lindo, mas ficava irresistível com aqueles óculos de leitura.
— Boa noite. — Ele me puxou pela cintura e beijou minha boca,
afogueado. Apertei seu bíceps com minha mão direita e ouvi o som da porta
fechando atrás de mim.
— Senti sua falta. — Disse ele, afastando-se um pouco de mim.
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— E eu a sua. — E era uma verdade absoluta. Eu havia sentido tanto a
falta dele apesar de tê-lo visto na terça-feira... bem, era quinta-feira e já fazia
tempo demais sem vê-lo, sem tocar nele.
— Bem-vinda ao meu humilde lar. — Disse ele e fez um gesto com a mão
para que eu entrasse. Ele me ajudou a retirar meu casaco e o pendurou em um
closet ao lado da porta, então me guiou até sua sala.
Eu me senti dentro de uma verdadeira livraria. Haviam duas estantes de
seis prateleiras recheadas de livros separados por cor, o que tornou a
decoração linda, mas me fez questionar se não dava agonia ao Kevin deixar
os autores separados de suas obras. Fora as duas estantes, que deveriam
abrigar uns 300 livros cada uma, também havia uma estante de TV, e nela
também estavam alguns livros em destaque, como Harry Potter, Stephen
King, um box de As Crônicas de Gelo e Fogo, uma coleção de Agatha
Christie, e por fim, a coleção de O Senhor dos Anéis.
— Mesmo sem uma TV, sua sala consegue ser ainda mais impressionante
que a minha. — Falei, encarando-o.
A decoração era toda masculina e simples, um sofá preto no canto e perto
da janela um divã confortável. As cores da parede eram neutras, desde branco
a um azul claro. Havia um quadro na parede que dizia: “Don’t think that is
able, know that it is.”
— Não pense que é capaz, saiba que é. — Li em voz alta.
— É uma frase de Matrix. — Explicou ele.
— Você é um fã.
— Eu gosto muito. — Disse ele. — Os livros são sensacionais... os que
inspiraram os filmes.
Kevin me guiou até a estante de livros e me mostrou três livros de um
autor chamado William Gibson. Um estava em uma prateleira, outro na outra
e o terceiro na segunda estante.
— Sua decoração está linda... mas não te dá agonia os ver separados
assim?
Ele suspirou aliviado.
— Achei que eu estava ficando louco, mas você também se sente assim.
— Disse ele, sorrindo.
— Como assim?
— Separei eles por cor hoje à tarde pois achei que ficaria mais bonito e
queria impressionar você, mas desde que separei as coleções fiquei nervoso.
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— Eu ri e o abracei.
— Sabe, está para nascer homem mais incrível que você. — Eu o abracei
com mais força ainda. — Você é incrível, não vou falar de você para outras
mulheres... vai que elas tentem roubar você de mim. — Ele riu.
— Assim você faz eu ficar convencido.
— Falo apenas a verdade, Kevin. — Sorri para ele.
Cara, eu era uma puta de uma sortuda em ter ele. Pensei.
Um alarme soou e ele sorriu.
— A lasanha está pronta.
— Você cozinhou? E uma lasanha? — Falei impressionada.
— Sabe, quando se vive sozinho sua vida inteira, a gente aprende certas
coisas. — Ele piscou para mim e seguiu em direção a cozinha, aquela
piscadela me fez derreter um pouco mais.
Eu o segui até a cozinha e o ajudei, colocando a salada sobre a mesa, os
pratos conforme ele me indicava onde ficavam. Logo estávamos sentados um
de frente para o outro, uma lasanha cheirosa no centro da mesa, algumas
velas acesas... Kevin até mesmo ligou o rádio e logo começou a tocar Linger,
do The Cranberries.
— Está uma delícia. — Disse degustando um bom pedaço daquela lasanha
aos 4 queijos.
— Obrigado. É minha especialidade. — Disse ele com um misto de
orgulho. — Vinho?
— Aceito uma taça. — Vi que ele se servia de suco de laranja e me serviu
de vinho.
— Eu gosto muito de suco de laranja. — Falei para ele. — Não precisava
ter comprado o vinho só para mim, mas obrigada de qualquer forma.
— Eu sei que você gosta de beber socialmente. Eu é que não gosto de
beber. — Disse ele simplesmente. — Mas não me incomodo que você beba.
— Acrescentou rapidamente.
— Mesmo assim, no próximo jantar vamos beber o mesmo, sim? Não
precisa comprar uma garrafa de vinho sendo que vou beber apenas uma taça.
— Sorri para ele.
Sabia que deveria ser muito difícil para o Kevin levar álcool para dentro
de casa... imaginava tudo que ele deveria ter passado por causa do álcool.
— Tudo bem. — Ele sorriu.
Terminamos de comer e juntos fomos lavar a louça. De repente na rádio
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começou a tocar Say you, say me de Lionel Richie e puxei Kevin pelo braço.
— Mas e as louças? — Perguntou ele com as mãos cheias de espuma.
— Ela espera, essa música não pode esperar. — Falei para ele.
— Seu vestido... — Disse ele apontando para as mãos cheias de espuma.
— Quem se importa? — Sorri e o puxei para mim.
Deus como eu amava músicas antigas, dançamos lentamente, nossos
corpos unidos como em um só, com as mãos de Kevin contra as minhas
costas e as minhas na sua nuca. E então já não estávamos mais dançando,
mas nos beijando, e o zíper do meu vestido foi aberto, meus sapatos chutados
para longe e meus dedos apressados foram até os botões da sua camisa e abri
rapidamente. Kevin colocou os óculos sobre a estante de livros e me
conduziu até seu quarto. Não tive tempo de prestar a atenção a decoração do
quarto, só visualizei uma cama grande no centro, era lá mesmo que eu queria
chegar.
Voltamos a nos beijar no quarto e agarrei o traseiro de Kevin com as
minhas duas mãos, sentindo seu sexo duro contra meu abdômen. Com pressa.
abri sua calça e logo fiquei de joelhos diante dele, colocando-o em minha
boca. Kevin era delicioso, e seus grunhidos de desejo me motivavam mais e
mais.
— Camille. — Meu nome sendo sussurrado por ele com aquele tom de
desejo me deixava extremamente satisfeita. — Nossa, Camille...
Satisfeita com meu trabalho de enlouquecer Kevin, levantei-me e beijei
sua boca. Ele me colocou sobre a cama e espalhou beijos entre as minhas
coxas até chegar onde eu mais o desejava. Kevin contornou meu clitóris com
a língua, lambeu e chupou como se eu fosse um sorvete muito cremoso e
apetitoso. Implorei entre gemidos e olhares suplicantes para que ele me
penetrasse logo.
— Por favor, Kevin... — Ele pegou um preservativo em algum lugar, pois
escutei o som do plástico sendo rasgado e logo ele estava dentro de mim.
Gritei e cravei minhas unhas em sua bunda puxando-o para mais fundo.
Em instantes gozei e Kevin veio a atingir o orgasmo em seguida. Eu o
abracei forte, satisfeita e feliz.
— Obrigada por ser meu. — Falei sonolenta.
Ele beijou minha testa, e ainda abraçado a mim, me vi adormecer.
*****
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Despertei na manhã seguinte na cama de Kevin, mas estava sozinha.
Havia um bilhete no travesseiro ao lado e o peguei após me espreguiçar.
“Bom dia, minha Vênus. Tive que sair cedo para o trabalho, não
quis acordar você. Deixei uma chave extra em cima da mesa... você
pode ficar com ela. (não sei se estou sendo apressado em te dar a chave,
mas senti vontade de dá-la a você) Quando sair, pode trancar a porta.
Nos veremos novamente no sábado, espero.
Obrigado pela noite maravilhosa. São esses pequenos momentos que
tornam tudo mais importante. Um beijo.
Com amor, seu Kevin.”
Começar o dia de sexta-feira assim era maravilhoso. Levantei-me e já me
senti em casa, fui tomar um banho no chuveiro de Kevin, pois precisava
chegar no estúdio às 10 da manhã para a primeira aula. Então fuxiquei um
pouco seu armarinho do banheiro, vi sua escova de dentes azul e fiquei boba
imaginando a minha escova roxa ao lado da dele. Ele tinha bastante espuma
de barbear, que passei um pouco em minha mão só para sentir o cheiro de
Kevin. Depois do banho, curiosa, mexi em seu guarda roupa. Sabia que era
indelicado, mas que namorada nunca fez isso? Suas roupas tinham seu cheiro,
e me senti no paraíso dos namoros.
Na mesa de cabeceira dele tinha uma gaveta e dentro dela estavam muitos
marcadores de página e camisinhas. Ele, sem dúvidas, era um homem
prevenido. Em cima da mesa de cabeceira ao lado do abajur estava o livro da
menina que roubava livros. Lembrei-me dele me dizendo que era o seu livro
favorito da vida.
Meu celular tocou e atendi em seguida.
— Bom dia, Camille. Não se esqueça da nossa reunião hoje às sete da
noite. — Lembrou-me Brooke.
— Ah sim, não esqueci não.
— Acho que hoje chegaremos a uma conclusão.
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— Eu tenho uma pista nova que precisamos analisar. — Falei, lembrando-
me da madrugada de domingo.
— Certo, mal posso esperar. — Respondeu ela.
— Até mais tarde. — Me despedi.
Encarei as horas no celular e vi que me atrasaria se não colocasse minha
roupa logo. Coloquei meu vestido e vi que Kevin havia deixado um
sanduíche pronto para mim em cima da mesa. Esse homem não existia
mesmo.
No caminho para o trabalho comi o sanduíche, encarando sem parar
aquela chave de metal que me foi presenteada. Lembrei-me de como fui tola
no começo em querer ir de qualquer jeito no apartamento de Kevin para
descobrir algo sobre o incendiário, e agora eu tinha a chave de sua casa, e
tinha entregue a ele meu coração.
Algumas vezes somos tão bobos, pois quando implicamos com uma
pessoa, ela se torna culpada em nossa mente. Nós julgamos essa pessoa sem
nem conhecer os fatos verdadeiros, ignorando pistas, ficamos cegas e
enxergamos apenas um culpado. Eu esperava nunca mais fazer isso, eu
esperava ter aprendido a lição.
A vida era assim mesmo... podemos viver cem anos e ainda assim teremos
coisas para aprender. Como dizem: vivendo e aprendendo.
*****
“— O que você está me olhando tanto, idiota? Quer me beijar, é? Sei que
sou irresistível. — Disse ele em tom de brincadeira.
Estávamos no chuveiro no vestuário masculino do batalhão. Eu não
conseguia tirar meus olhos dele. Tentei disfarçar ao máximo, disfarcei muito
bem até agora... não seria naquele dia que eu iria me entregar. Desliguei o
chuveiro e enrolei a toalha na cintura.
— Me deixe em paz. — Falei mal-humorado, dando as costas para ele.
— Não fique tão sensível, capitão saias curtas. Isso faz você parecer uma
mulherzinha. — Provocou ele. — Na verdade quando você usa aquelas saias
parece mesmo uma putinha.
Eu não pretendia perder o controle, mas quando dei por mim, estava
segurando-o pelo pescoço, pronto para dar um soco na cara dele.
— Eu disse para me deixar em paz. — Rugi.
— E se eu não deixar você em paz, o que você vai fazer? — Perguntou
ele.
E foi aí que perdi totalmente o controle, puxei o maldito pelo pescoço e
beijei sua boca com violência. Ele me empurrou irritado, sem fôlego, e me
encarou. Eu estava pronto para levar um soco, mas o idiota me puxou de
volta e me beijou também.
KEVIN
Nós nos reunimos todos no refeitório a pedido de Tyler, pois ele disse que
precisava nos contar algo importante. Eu só queria ir logo para a casa, pois
iria visitar o túmulo de Duke no dia seguinte com Camille e eu estava muito
nervoso. Por mais estranho que isso pudesse parecer aos olhos dos outros, eu
me sentia muito nervoso em pedir ao pai de Camille para namorá-la, mesmo
que ele não pudesse me responder... ao menos não da forma que eu pudesse
escutar.
— Alguém sabe o que de tão importante Tyler tem para nos contar? —
Questionou Mason. — Estou louco para ir para a casa.
— Não faço ideia, cara... mas talvez tenha a ver com aquela conversa
misteriosa sobre namoro. — Caleb deu de ombros. — Todos aqui estão se
amarrando, eu com Karen, você com Brooke, Min Ah e James, Michael e
Phoebe, Kevin e Camille, Dan já tem a Kate, então restam poucos solteiros.
Só Andrew, Henry e Tyler.
— Espero que seja importante, pois Emma e Diane só adormecem após eu
ler uma história para elas; e depois que elas dormem fico com minha rainha...
— Mason sorriu sonhador.
— Quem diria, o monstro amoleceu.
— Mexa com alguma das minhas meninas que você vai ver eu me
transformar em monstro rapidinho. — Ameaçou Mason.
— Calma, cara. — Caleb ergueu as mãos na defensiva.
— Você não ficaria maluco se tentassem machucar Karen ou algo assim?
Agora imagine eu, que tenho o amor da minha vida e duas filhas
maravilhosas.
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— Sim... imagino, cara. Que ninguém mexa com elas.
— E quando você e Karen vão começar a ter bebês? — Perguntou Henry,
que até o momento estava mal-humorado em um canto.
— Quando estivermos prontos. Vamos fazer aniversário de dois anos
daqui alguns meses. Estamos ainda pagando a cara prestação do apartamento.
No momento que nos sentirmos prontos, teremos um filho. — Caleb
suspirou. — E, por favor, não fale mais nisso, já não basta meus pais nos
pressionando para ter bebês. Como se fosse a obrigação de um casal que vive
junto procriar imediatamente.
— Você amadureceu muito, cara. — Disse Trevor, tirando os olhos do
celular em que ele digitava concentrado e encarando seu amigo. — Quem te
viu quem te vê. Karen fez um milagre no meu amigo.
— Uma hora a gente tem que crescer, não é mesmo? — Disse Caleb. —
Não é bem assim colocar um filho no mundo. No momento certo e na hora
certa teremos nosso filho, ainda não nos sentimos prontos.
— Estou orgulhoso de você. Lembre-me de dar um bom presente a Karen,
aquela mulher merece. — Trevor disse.
— Do que estão falando? — Min Ah perguntou ao chegar.
— Sobre filhos e a hora certa de tê-los. — Disse Mason. — E sobre como
eles são maravilhosos.
Os olhos de Min Ah se iluminaram.
— São mesmo. Uma vez que eles entram em nossas vidas, mudam tudo.
— Ela suspirou. — Antes dos filhos, pensamos que conhecemos o amor,
afinal amamos nossos pais, amamos muitas pessoas, amigos e familiares; e
claro, amamos o homem ou mulher que escolhemos para a nossa vida.
Pensamos que não pode existir amor maior que aquele; até que nos tornamos
pais e enxergamos que existe um amor que supera expectativas, um amor
maior que tudo o que existe, um amor maior do que tudo o que você já sentiu.
Mesmo se juntar todo o amor que você tem por outras pessoas, ele não chega
a ser um grão do amor que você sente por um filho. É incrível.
Fiquei observando-os conversar. Min Ah deu uma explicação tão
fantástica sobre ter filhos que nunca que eu encontraria nos livros. Eu me
perguntei como seria ter um filho com Camille... metade de cada um de nós
se transformando em um todo.
— Mas é incrível e assustador, sabe? — Continuou Min Ah. — Incrível,
porque é o sentimento mais maravilhoso e intenso que você já sentiu na vida,
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e cada sorriso ou olhar do seu filho enchem seu coração de amor; mas
assustador também, pois só de você imaginar algo acontecendo a ele, você
sabe que seu mundo terá acabado. Você sabe que se perder seu filho, sua vida
não fará mais sentido.
— Por isso estamos esperando. — Falou Caleb.
— Isso é muito adulto da parte de vocês. — Disse James. — Vocês são
bem racionais.
— Vejo que todos estão aqui. — Tyler falou e todos que tinham conversas
paralelas pararam de conversar, Trevor parou de mexer no celular, eu fechei
meu livro, Michael parou de mexer em seu tablet e todas as atenções estavam
em Tyler.
— O que você quer nos contar de tão importante assim? — Perguntou
James.
— Eu estou um pouco nervoso, sempre adiei esse dia... mas acho que
somos todos uma família, não é mesmo? Desde que cheguei da Escócia,
comecei a trabalhar aqui todos vocês me acolheram... Duke então, nem se
fale, foi um pai para mim. Camille... — Ele me encarou. — Sempre foi como
uma irmã mais nova. E vocês sempre foram como irmãos para mim. Acho
que chega de esconder isso de vocês.
Eu me perguntei qual era o segredo de Tyler. E como era possível que ele
visse Camille como uma irmãzinha mais nova todos aqueles anos, sendo que
ela gostou dele boa parte do tempo. Ele só podia ser cego por não ver aquela
mulher incrível dando sopa para ele, mas que sorte a minha, pois assim nós
dois ficamos juntos. Me perguntei como seria tudo se Camille e Tyler
tivessem ficados juntos. Minha resposta veio em seguida.
— Eu sou gay. — O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. — Eu fui
expulso da casa dos meus pais quando disse que não pretendia me casar com
uma mulher. Terminei com a namorada que eles insistiram que eu namorasse,
expliquei o motivo a ela e me desculpei. Ela, com raiva, contou aos meus
pais, e bem... eles me mandaram embora no mesmo instante. As palavras
exatas foram: “Ou você volta ao normal ou vai embora”. — Tyler suspirou.
— Bem, cá estou, não é mesmo. Sempre tive medo de assumir para vocês,
que isso influenciasse a forma que vocês me tratam, mas estou cansado de
esconder isso. Então... — Ele deu de ombros.
— Que barra, cara. — Caleb foi o primeiro a falar e levantou-se. —
Parabéns por assumir. — Ele abraçou Tyler apertado. — Você continua o
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mesmo para mim. Isso não vai mudar em nada nossa amizade.
— É, cara. — Trevor foi até ele abraçá-lo. — Você foi muito corajoso,
mas deveria ter nos contado antes... para mim nada muda também.
— O cara mais corajoso que conheço, aquele que se arrisca todos os dias e
que já salvou mais vidas que posso contar. — Mason deu um abraço de urso
em Tyler. — Um amigo para todas as horas... não sei o que essa revelação
mudaria, cara.
— Que lindo, Tyler. Se você fosse meu filho, nunca passaria por essa
dor... eu te aceitaria do jeito que é. — Min Ah abraçou-o também.
— Sim, cara, parabéns mesmo! E isso não irá mudar minha forma de
olhar ou tratar você. — Disse James abraçando-o.
— É, cara, parabéns. — disse Andrew e apertou a mão de Tyler. — Agora
preciso ir embora. — E virou as costas e se foi.
— Cara, todos esses anos escondendo isso. — Daniel encarou Tyler. —
Meu amigo, você deveria ter desabafado. — Ele abraçou forte Tyler. —
Saiba que tem todo meu apoio, viu? — Tyler assentiu.
— Tenho certeza de que você será muito mais feliz agora. — Falei,
apertando a mão de Tyler. — Deve se sentir livre e menos sufocado. Você foi
corajoso, parabéns! — Ele assentiu.
— Cara, seus pais foram terríveis. — Disse Michael. — Min Ah estava
nos falando sobre amor de mãe e pai, mas infelizmente nem todos conseguem
sentir isso por seus filhos. — Michael o abraçou. — Te desejo força, meu
irmão. Nada mudou para mim, você continua sendo um dos meus melhores
amigos... E como diria nosso piadista Henry, mais mulheres sobram para nós.
— Riu Michael.
— Por falar nisso, onde está Henry? — Perguntou Daniel.
— Ele estava aqui agorinha. — Respondi. — Deve ter ido ao banheiro.
Bem, rapazes, estou indo para a casa descansar. Bom plantão para quem fica.
Eu me despedi dos rapazes e fui até os armários pegar as minhas coisas e
vi Henry sair carregando sua mochila, indo em direção a saída. O cara estava
indo embora tão quieto e saiu de forma tão silenciosa que me perguntei o
porquê dele ir embora em segredo assim. Ele era o incendiário? Não sei a
razão de aquela ideia vir em minha mente, mas resolvi esquecê-la.
— E como está a torneira em sua casa? — Perguntou Michael, indo até
seu armário para pegar suas coisas.
— Está ótima. Você fez um ótimo trabalho consertando-a. — Falei.
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— Ah, sabe como é, sou bom em muitas coisas. Aprendi de tudo um
pouco... é importante saber se virar. — Assenti.
— Então vou lá, amanhã preciso acordar cedo para ir ao cemitério.
— Cemitério?
— Sim, vou com Camille visitar Duke. — Ele assentiu.
— Estou sem tempo de ir lá. Se eu te der uma grana, você leva umas rosas
para ele por mim? — Questionou ele.
— Claro.
Ele abriu a carteira e me deu trinta dólares.
— Obrigado, cara.
Despedi-me de Michael e segui para a casa. Conversei um pouco com
Camille sobre meu dia e ela sobre o dela e adormeci com o celular na mão.
*****
INCENDIÁRIO
— Regra de número um: não interromper seu pai quando ele está lendo o
jornal. Regra de número dois: não me interromper quando estou
conversando com as minhas amigas no telefone. Regra de número três: se
estiver doente, fale para a babá... ela é enfermeira e cuidará de você. Já
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disse a você que não adianta falar para mim que está com dor ou com gripe,
eu não sou médica nem nada do tipo. Fale com a babá, pois ela vai resolver
a situação. Regra de número quatro: pare de manhas bobas! Chega de
choramingar que quer passar o natal com a gente; já disse que essas festas
são importantes para o seu pai conseguir mais contatos de negócios. Regra
de número cinco: se você aparecer mais uma vez em um dos eventos que
damos aqui, vou manda-lo para um internato. — Ela revirou os olhos. —
Tenho mais regras para elaborar, mas o importante é: Regra seis: seja como
uma sombra, seja invisível. — Ela me encarou com ar frio. — Celine. — Ela
chamou minha babá.
— Sim, senhora.
— Cole essas regras no quadro de avisos no quarto do menino. Use
aqueles números grandes que usam para colocar nas casas, sabe.
— Sim, senhora.
Minha mãe entregou a ela a folha de papel e saiu do corredor.
— Michael, o que você acha de eu ler uma história para você? — Celine
me encarou sorridente, com aquele olhar de piedade, o que me deixou com
raiva.
— Não preciso da sua piedade. — Ela tentou acariciar meu cabelo. —
Nem do seu carinho.
— Mas menino Michael, eu gosto mesmo de você. — Disse ela, amorosa.
— Vamos, você vai gostar de ouvir a história.
— EU SÓ QUERO FICAR SOZINHO!
— Mas...
— COLE AS REGRAS QUE MINHA MÃE CRIOU. — Ela leu as regras
no papel e vi que seus olhos encheram d’água, fazendo minha raiva
aumentar. Eu não queria que ninguém sentisse pena de mim.
— Como podem tratar uma criança assim. — Ouvi ela murmurar ao
deixar o corredor.
CAMILLE
A sexta chegou depressa, e tudo o que eu havia descoberto de Henry é que
ele era um cara comum. Muito babaca com suas piadas, mas sua vida não
tinha nada de anormal. O cerco estava fechando, e eu tinha praticamente
certeza de que as outras Lulus não encontraram nada sobre Tyler; afinal, pelo
que Kevin me disse, o único segredo que envolvia Tyler e Henry seria um
possível relacionamento entre eles.
— Boa noite. — Eu já estava sentada à mesa da sala de reuniões das
Luluzinhas Holmes. Desta vez tinha sido a primeira a chegar e agora Crystal
iria começar a reunião. — Espero que todas estejam bem.
— Sim. — Assentimos.
— Quem quer começar a falar? — Perguntou Crystal.
— Vamos começar. — Disse Karen. — Henry Cohen Blake, vinte e nove
anos. Nasceu na Califórnia, mudou-se com seus pais aos cinco anos de idade
para Illinois, no estado de Chicago. Bombeiro há seis anos, solteiro e com
ensino superior incompleto em administração. — Resumiu Karen.
— Ele vive com seu pai em uma boa casa em Kenwood. Seu pai se chama
Christopher Randon Blake e é coronel aposentado do exército, um homem
rígido e exigente, mas ainda assim um bom pai. Sua mãe faleceu há três anos
em um acidente de trânsito. Ela estava em um transporte público que perdeu
o controle e foi uma das quatro vítimas que não sobreviveram. — Bebi um
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pouco de água para então voltar a falar.
— Deixa que eu continuo, Camille. — Sugeriu Min Ah e assenti. —
Vocês devem se lembrar do acidente, apareceu em vários jornais. Todos
pensavam que havia sido um ataque terrorista, mas apenas o ônibus estava
muito velho. — Todas assentiram. — Bem, Henry e toda a equipe estavam
envolvidos no resgate das pessoas, afinal muitas ficaram presas dentro do
veículo. Eu não estava na época, claro, mas conversamos com um repórter do
32
Tribune e ele disse que viu o momento em que Henry, que nem sabia que a
mãe estava envolvida no acidente, a segurou nos braços. Ele disse que sentiu
vontade de fotografar aquela cena, mas sentiu-se um lixo por querer se
aproveitar de uma cena tão triste. A mãe de Henry faleceu nos braços dele.
— Isso me fez chorar. — Disse Kate. — Desde então Henry usa as piadas
e o humor para se esconder. Para disfarçar sua dor. — Kate fungou. — E eu
sempre achando que ele era um idiota.
— Todas nós achávamos. — Replicou Karen.
— Isso só nos mostra que não devemos julgar ninguém sem antes
conhecer a pessoa. — Falei. — Aprendi isso da pior forma possível. —
Suspirei. — Mas é bom, sabe... aprendermos isso, não é porque uma pessoa
está sorrindo que ela está bem.
— Você tem toda a razão, Camille. — Disse Crystal. — Coitado do
Henry, eu não fazia ideia.
— Bem, resumindo, Henry é um cara comum, com seus problemas como
qualquer outro. Seu pai é bem rígido por ter ficado tantos anos no exército,
mas fora isso, Henry é bem tratado. Ou seja, ele não é o incendiário. —
Concluiu Kate.
— Até porque o único lugar que vimos ele ir essa semana foi no
apartamento de Tyler. — Disse Phoebe. — Fomos lá investigar Tyler e
Henry estava saindo de lá.
— Muito irritado, diga-se de passagem. — Completou Brooke.
— Bem, eliminamos então Henry. — Crystal colocou a foto dele entre os
inocentes. — Vamos ao Tyler. — Ela suspirou e começou. — Tyler Cameron
Maccallum, trinta e um anos, nasceu em Greenock na Escócia. Mudou-se
para Illinois há dez anos, é bombeiro há nove anos, capitão do batalhão há
quatro anos. — Resumiu Crystal. — E como soubemos recentemente, é
homossexual, e esse era seu grande segredo.
*****
Não contei as meninas que Kevin sabia de nosso segredo. Sabia que podia
confiar minha vida a ele, e que ele era um homem inteligente e perspicaz, que
não sairia falando para ninguém sobre o Luluzinha Holmes; até porque
colocaria em risco nossas vidas.
Era sábado de manhã e eu estava muito nervosa. Depois de irmos até o
cemitério, pedi a Kevin para me levar para conhecer sua mãe. Eu iria
conhecer minha sogra e estava uma pilha de nervos. E se ela não gostasse de
mim? E se ela me encarasse com aquele olhar com desagrado porque eu sou
negra?
A lembrança de ir até a casa do meu primeiro namorado, quando eu tinha
dezessete anos ainda me assombrava vez ou outra, quando sua mãe me
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encarou com aquele olhar de desprezo, ela me tratou com fria formalidade e
então escutei ela falar quando fui ao banheiro.
Eu era apenas uma menina com sonhos e estava tão feliz por estar
namorando Mark, fui embora com uma desculpa de dor de barriga. Terminei
com Mark e ele nunca soube a razão.
— Terra chamando Camille. — Kevin me encarava com um sorriso no
rosto. — Onde estava sua mente? — Perguntou ele.
— Por aí.
— Algo que você queira me dizer? — Perguntou ele.
— Não, apenas bobagens... nada que valha a pena ser mencionado. —
Enlacei seu pescoço e o puxei para um beijo, ficando na ponta dos pés. Kevin
segurou firme em minha cintura e me beijou. Ele me acariciava como se eu
fosse a coisa mais preciosa do mundo e me tocava como se eu fosse a coisa
mais necessária em sua vida.
— Oi. — Disse ele quando nos afastamos. — Adorei a recepção.
— Oi. — Sorri de volta.
— Vamos? Confesso, e você sabe que não consigo esconder essas
coisas... bem, confesso que estou muito nervoso e espero que você não saia
correndo depois de conhecer a minha mãe.
— Bobagem.
— Você é a primeira garota que levo para conhecer minha mãe. —
Declarou ele.
— Agora eu estou nervosa.
Ele segurou em minha mão.
— Não fique, ela vai adorar você.
— Não tenho tanta certeza disso.
— Eu tenho. — Disse ele determinado.
— E o que te dá tanta certeza? — Perguntei desconfiada, entrando no
carro.
— É impossível não amar você. — Ele me deu um selinho nos lábios ao
sentar ao meu lado e sua frase me fez ter palpitações.
Eu vou ser feliz, pai. Por você.
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Era o meu mantra diário. Todas as vezes que eu pensava em não levantar
da cama, todas as vezes que eu pensava em não comer nada e simplesmente
ficar deitada na cama olhando para o nada, eu prometia ao meu pai.
Pai, vou continuar lutando para ser feliz.
Essa frase me dava esperanças; Kevin me dava forças, motivação e
vontade de viver.
Dirigi até o presidio. Era um local afastado de tudo. Kevin se ofereceu
para dirigir um pouco, mas eu estava nervosa demais e queria manter minha
mente ocupada. Logo passamos pela revista e estávamos na sala de visitantes.
Várias famílias estavam esperando, e logo algumas detentas chegaram e
abraçaram suas famílias. Em seguida uma mulher muito alta e bonita entrou.
Ela olhou em direção a Kevin e seus olhos se iluminaram.
— Meu filho. — Kevin a abraçou e fiquei em silêncio ao lado dele,
esperando ser apresentada. — Que saudades! Como você está? — Ela o
encarou, então finalmente me viu e sorriu. — E você deve ser a garota
maravilhosa que conquistou meu filho. — Ela me puxou para um abraço
também. — Camille, certo? — Ela me inspecionou. — Minha nossa, mas
você é lindíssima! Parece até uma estrela de Hollywood.
— Obrigada. É um prazer conhecer a senhora, senhora Hoover.
— Oh, pelo amor de deus, senhora está no céu... me chame de Lauren. —
Pediu ela.
— Certo, Lauren.
— Podemos sentar? — Kevin fez um gesto com a cabeça mostrando que
estávamos chamando a atenção dos guardas.
— Claro. — Lauren sentou-se de frente para nós e segurou as minhas
mãos. — Estou tão feliz em conhecer você.
— Obrigada. — Falei timidamente.
— Notei a mudança de Kevin nas últimas visitas, em como ele estava
mais feliz... nunca vi meu filho sorrir tanto. Estava ansiosa para saber quem
foi que fez essa mudança nele.
— E ela estava nervosa para conhecer você, mãe.
— Kevin. — Ralhei com ele.
— Homens. — Ela revirou os olhos. — Mas é normal, afinal conhecer a
sogra não é algo fácil. Eu bem sei que quando conheci minha sogra quase
vomitei... a mulher era odiosa, para piorar tudo. — Eu ri. — Desde aquele dia
jurei que seria uma sogra amiga, e bem, eu sempre quis ter uma filha. Ganhei
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uma, não é mesmo?
— Assim a senhora... — Ela me encarou. — Assim você vai me fazer
chorar.
— Não fica assim não, meu bem. — Ela acariciou minha mão sobre a
mesa. — Não fui uma mãe exemplar para Kevin, então dê a ele todo o amor
do mundo. Estou tentando melhorar como mulher e como mãe agora, quero
ser uma pessoa diferente... sei que tenho uma doença e preciso lutar todos os
dias contra ela. Tomei essa decisão pois quero estar sempre presente nos
momentos importantes na vida de Kevin.
— Mãe. — Segurou nossas mãos unidas. — Tudo o que preciso é vocês
comigo.
— Sim, e saudáveis, não é mesmo? Então, quando eu cumprir minha
pena, irei ao AA com frequência. Estou frequentando já algumas reuniões
que acontecem aqui dentro.
— Tem um grupo de AA aqui dentro? — Perguntou Kevin.
— Sim. Eu já fui há quatro reuniões. Não é algo bonito de se ver, sabe,
mas nos conscientiza que temos um problema. — Disse Lauren. — Mas
vamos mudar de assunto. Me conte sobre você, Camille, o que você faz?
— Sou professora de dança de salão, tenho meu estúdio no centro.
— Uau, uma dançarina! Eu amo dançar.
— Pode ter aulas comigo quando ficar livre daqui. — Falei. — Será meu
presente a você.
— Já disse que adoro você, minha nora? — Sorri. — Mas saiba que as
minhas amigas detentas não vão gostar de você. — Alertou ela. — Todas me
chamavam de sogra desde que viram Kevin por aqui.
— Mãe, não precisava falar isso. — Kevin ficou mais vermelho que um
tomate e achei isso muito engraçado.
— Tímido com elogios desde criança. Você precisa ver as fotos dele de
quando ele era um bebê.
— Mãe! — Disse Kevin em desespero.
— Ele se lambuzava todo de chocolate.
— Que fofo! — Falei, ajudando sua mãe a provocá-lo.
— Ah, e o pavor que ele tem de insetos... é hilário.
— Mãe, pare! — Implorou ele.
— Ah sim, esses dias apareceu uma joaninha lá por casa e ele fugiu para o
banheiro de nervoso. — Falei. — Agora entendi a razão.
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— Vocês se juntaram para pegar no meu pé, é isso? — Assentimos. —
Bem, acho que não precisam mais de mim na visita.
— Não, pode ir. — Disse Lauren e eu concordei, mas gargalhamos antes
que ele se movesse.
— Só estamos brincando com você. — Falei.
— Estou feliz em ver que vocês se deram bem.
Continuamos a conversar sobre dança, livros e alguns micos de infância
de Kevin, como quando por engano ele vestiu a calçola da sua avó pensando
que fosse sua cueca. Logo o horário de visitas acabou e retornamos para o
centro. Eu adormeci no banco do carona. Toda aquela tensão havia ido
embora e meu corpo inteiro relaxou após conhecer a mãe de Kevin.
Chegamos em seu apartamento e pedimos uma pizza, sentamos ao chão e
começamos a comer e beber Coca-Cola. Contei a Kevin que iriamos
investigar Michael agora e ele disse que iria observar ele de perto. Mais uma
vez ressaltei que ele não poderia contar a ninguém sobre isso, e ele mais uma
vez disse que não contaria.
— Eu sei, é que tenho medo sabe. — Ele assentiu. — Kevin, tem uma
abelha no seu ombro. — Brinquei com ele, tentando mandar para longe
aquele assunto sério.
— Uma abelha? — Apavorado, ele levantou e começou a dar tapas em
seu ombro, então me viu gargalhando e me encarou furioso. — Ah, você vai
pagar por isso Camille.
— Como pode um homem que entra em prédios em chamas ter medo de
insetos? — Falei brincando e levantei pronta para fugir dele.
— Eles são pequenos e se enroscam no cabelo ou entram no ouvido.
— São minúsculos. — Provoquei-o. — Você não vai conseguir me pegar,
moço dos insetos.
— Ora, sua... — Ele correu, e como era maior e mais rápido, me pegou na
cozinha.
Gargalhamos, mas logo nossas gargalhadas cessaram. Kevin me puxou
para si com força e me colocou sobre a bancada da cozinha. Cravei minhas
unhas nas suas costas e começamos a nos beijar apaixonadamente, eu
mordiscava seu lábio inferior e ele chupava minha língua com afinco.
Arranquei sua camisa e minhas calças já estavam jogadas no chão da
cozinha. Ele me empurrou sobre a bancada fria de mármore da cozinha e sua
boca faminta foi até meu sexo. Kevin me devorou com vontade, sua língua
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provocou meu clitóris, dois dedos me penetraram e enlouquecida, me segurei
na bancada.
Ele me puxou de volta para si e beijou minha boca e meu pescoço
enquanto provocava meus mamilos com os polegares, friccionando-os, me
enlouquecendo. Comecei a abrir sua calça. Kevin me ajudou, e logo estava
nu. Ele me puxou para seu colo e enlacei minhas pernas ao redor da sua
cintura. Kevin me pressionou contra a parede da cozinha e me penetrou com
força, mantendo sua boca na minha, suas mãos contra meu traseiro e seu
pênis me penetrando até o fim.
Ele então me conduziu até o sofá e sua boca se concentrou novamente
entre as minhas pernas. Era como se ele estivesse chupando um sorvete muito
saboroso, pois sua língua percorria cada centímetro da minha boceta. Gozei
em seus lábios e assumi o controle. De joelhos, o coloquei em minha boca,
passando a língua por toda sua extensão, provocando com a língua sua ponta
rosada e chupando-o de novo.
Ele voltou a assumir o controle, e seus grunhidos misturavam-se aos meus
gemidos. Ele me colocou de frente para a parede e de costas para ele, então
empinei minha bunda e ele me penetrou por trás. Gritei seu nome e pedi por
mais. Kevin continuou a arremeter rápido e forte, e ele segurava firme meu
seio direito. Então gozei uma vez mais e senti Kevin vibrar dentro de mim.
Um jorro quente me preencheu, e ofegantes, ficamos parados um tempo até
ele sair de dentro de mim.
Ele me surpreendeu ao me erguer nos braços e me levar até o banheiro
para tomarmos um banho juntos.
— Eu te amo. — Foi só o que ele disse quando me colocou no boxe do
banheiro e ligou o chuveiro.
— Eu te amo.
— Obrigado por me deixar fazer parte do seu presente. — Agradeceu ele.
— Obrigado por me incluir em seu futuro. — Eu o abracei firme.
Sabia que dali para a frente seriam apenas momentos de alegrias. Claro
teríamos nossos momentos de brigas como qualquer casal, pedras no caminho
e tudo mais, mas nosso amor era forte o suficiente para superar qualquer
coisa.
KEVIN
Já era quarta-feira e eu não conseguia parar de sorrir Aquele sorriso bobo
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não saia do meu rosto. Se eu fosse reproduzir um feitiço do patrono,
certamente aquela seria a minha memória mais feliz: minha mãe e a mulher
que amo juntas e conversando, felizes.
— Kevin, você avisa o Daniel que estou me sentindo mal e vou para o
pronto socorro? — Andrew perguntou para mim com sua mochila nas costas
e sua mão sobre o estomago.
— Aviso sim, cara.
— Valeu. Estou com muita dor. — Ele fez uma careta e gemeu.
— Você quer que alguém te leve? — Perguntei.
— Não, eu não vou com meu carro, já pedi um taxi. — Sua camiseta
branca estava úmida de suor e o cara estava com uma expressão sofrida.
— Vá logo então. Melhoras. — Ele agradeceu e saiu dali caminhando
arrastado.
Levantei e espiei por uma das janelas ele entrando dentro de um taxi e
seguindo em direção norte onde ficava o hospital. Voltei para os armários e
peguei meu livro, de um autor brasileiro chamado Paulo Coelho, o livro era
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Eleven Minutes que contava a história de uma garota que vivia no Nordeste
do Brasil, cheia de sonhos de se livrar da pobreza para ajudar seus pais parte
para a Suíça com a promessa de que será modelo, mas ao chegar lá acaba por
se tornar prostituta. Eu estava achando a história muito interessante, a forma
como os sonhos dela foram desfeitos, mas que continuou forte apesar de tudo
era incrível. Camille precisava ler aquele livro.
Sentei na sala de descanso para ler meu livro, mas o alarme de incêndio
soou e logo me levantei correndo para me preparar.
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— Eu preciso de Min Ah, James, Kevin e Michael agora. — Disse Daniel.
— Estamos nos preparando para ir apagar o incêndio. — Disse Min Ah.
— Não, vocês quatro não vão para o local do incêndio, mas para a mansão
próxima ao parque.
— O que aconteceu lá? — Perguntei.
— Uma criança de cinco anos prendeu a cabeça nas grades da janela. A
empregada ligou e vocês precisam correr para lá... deixem o local do incêndio
para nós.
— Daniel, Andrew estava mal e teve que sair. — Ele assentiu.
— Tudo bem, ele me enviou um sms do taxi. Agora se apressem, essa
menininha está muito nervosa.
— Sim senhor. — Disse Michael.
Todos entramos na van prontos para resgatar a menina. Michael dirigia
em alta velocidade a caminho do local, Min Ah e James estavam nervosos,
talvez por serem pais e eu só esperava que a criança estivesse bem.
O local era uma grande mansão, passamos por seguranças na entrada e
avistamos uma grande piscina e quatro carros importados espalhados pelo
pátio, como um grande palácio. A funcionária da casa nos recebeu na porta
com pompa e elegância exageradas e fomos guiados até o quarto da menina,
onde havia a sacada em que ela estava presa, com a cabeça entre as grades.
— Moça, você precisa se acalmar, ou vai deixar a menina mais nervosa.
— Pediu Min Ah. Ela puxou a moça para dentro e Michael, James e eu
chegamos até a menininha. Ela tinha cabelos ruivos e chorava muito tentando
puxar a cabeça de volta.
— Hey, acalme-se... — Pediu James. — Você é uma princesa linda,
sabia? — Disse ele. — Como você se chama?
— Hannah. — Disse ela entre lágrimas.
— Hannah é um nome lindo. Combina com você.
Michael e eu analisamos a situação da criança e das grades e entramos no
quarto enquanto James acalmava a criança.
— Não acho que precise serrar. — Comentei. — Basta usar um afastador.
— Concordo, as grades não são tão fortes assim. — Disse ele.
— Ela queria se despedir da mãe que vai passar uma semana em Paris. —
Ouvimos a moça falar para Min Ah. — Ela queria dar um abraço na mãe
antes da sua partida, mas como ela está de castigo, a senhora da casa não
subiu para se despedir, então ela começou a gritar para o carro da mãe
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quando a mãe partiu e colocou a cabeça ali. — A garota fungou. — Foi uma
questão de eu me virar para pegar água para acalma-la... não deu um minuto e
ela prendeu a cabeça na grade.
— E vocês ligaram para a mãe dela?
— Ela desligou o celular. Tinha nos dado ordens para tomar conta de
tudo, pois não queria ser perturbada em seu passeio em Paris. — A garota
voltou a chorar. — Eu certamente serei demitida.
— E o pai dela? Algum responsável.
— Se ligarmos para o senhor da casa por causa de Hannah, seremos
demitidas. Ele disse que nos paga para cuidar dela e não para incomoda-lo.
A menina baixou a cabeça.
— Inacreditável. — Disse Min Ah impaciente.
— Michael, Michael... — Michael estava parado depois de entreouvir a
conversa das duas. Ele segurava com força o afastador em suas mãos e os nós
dos seus dedos estavam brancos por apertar aquele objeto. — Michael... —
Toda a raiva que ele emanava no olhar sumiu e ele sorriu para mim de um
modo medonho.
— Sim?
— O afastador, cara. James já acalmou a menina.
Ele sorriu ainda mais e seus olhos brilharam.
— Ah sim, vamos lá.
Posicionamos o afastador na grade e Min Ah juntou-se a nós para segurar
a menina. James continuava a falar para ela ficar parada e quietinha, já que
ele magicamente tinha conseguido acalmá-la.
Em minutos a menina estava solta da grade e nos braços de James. Ele a
examinou enquanto Michael e eu ajustamos a grade.
Passei para a garota que disse se chamar Emily e ser a babá da pequena
Hannah as medidas de segurança e falei para ela colocar uma rede de
proteção, mesmo com a grade ali pois se acontecesse de novo, algo de ruim
poderia de fato acontecer.
Michael encarou o quarto da menina. Haviam tantos brinquedos quanto
um shopping center.
— Ela tem muitos brinquedos. — Ele comentou.
— Ah sim, os senhores da casa estão sempre dando presentes para ela. —
Comentou a babá.
— Para compensar a falta de afeto. — Michael bufou. — Vou esperar
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vocês na van. — E deixou o quarto.
— Tudo está bem com ela, foi apenas um susto... ela não precisa ir para o
hospital. — Disse James. — Pequena Hannah, tome aqui um pirulito. —
James entregou a menina um pirulito em formato de coração.
— E nada de colocar a cabeça na grade de novo, viu? — Disse Min Ah.
— Você pode se machucar de verdade, princesa.
— Tudo bem. — Disse a menina sorrindo.
— Obrigada pela ajuda de vocês. — Disse Emily aliviada.
— Só estamos cumprindo nosso dever. — Disse James.
— Dê muito amor a essa menina, ela certamente só vai conhecer o amor
que você der. — Disse Min Ah.
— Eu já a amo. — Disse Emily.
Deixamos a casa um tanto tristes. Era para estarmos felizes, afinal
salvamos a vida de uma menininha, mas ainda assim nos sentíamos pra
baixo. Era como se a menina Hannah fosse uma prisioneira em uma torre,
sem o afeto de quem veio ao mundo para ama-la.
De volta no batalhão, Min Ah desceu da van correndo para ir ao banheiro
e James foi logo atrás. Fiquei um pouco mais de propósito, queria ver as
reações de Michael.
— É um alívio ter dado tudo certo com aquela menininha, não é mesmo?
— Comentei com ele.
— Nada deu certo para ela, você não percebeu?
— Mas nós a salvamos. — Comentei.
— Ela não foi salva, apenas a soltamos da grade. — Disse ele. — Ela não
foi salva... ainda.
Michael entrou no prédio de tijolos vermelhos no batalhão e fiquei
pensando no “ainda”. O que ele queria dizer com isso? Notei a forma como
ele mudou de humor rapidamente naquele resgate. Em um momento ele
estava com um olhar de ódio e segurando o afastador com força e no
momento seguinte ele sorriu para mim como se nada fosse nada.
*****
*****
CAMILLE
Quarenta minutos antes do incidente...
KEVIN
Levaram Camille para a sala de cirurgia. O médico responsável, um
senhor careca de uns 40 anos, disse que a facada havia perfurado uma artéria,
que o sangramento foi muito intenso e ela precisaria de transfusão. Eles iriam
pedir no banco de sangue, mas se demorasse muito mais talvez Camille não
resistisse.
— Como ela está? — Phoebe, muito pálida e com lágrimas nos olhos, se
aproximou de mim. — Eu disse tanto para ela não ir sozinha ao seu
apartamento.
— Nada bem. — Falei. — O tipo sanguíneo dela é raro e está em falta no
hospital. Ela precisa de um doador, ou...
— Eu vou lá. — Disse Phoebe. — Ela ficou em nosso hospital quando
soube do falecimento de Duke e vi que tínhamos o mesmo tipo sanguíneo.
— Obrigado, Phoebe... — Antes que eu pudesse falar mais, Phoebe correu
para a área de emergências.
Comecei a andar de um lado para o outro no corredor do hospital e logo
meus colegas chegaram.
— Como está Camille? — Perguntou Henry.
— Está em cirurgia. — Respondi apenas.
— Cara, o Michael.... eu não consigo acreditar nisso ainda. — Disse ele
desolado e sentou-se no sofá.
— Conseguiram pegá-lo? — Eu estava com raiva demais de Michael para
me sentir chocado ou decepcionado. Eu só queria vê-lo atrás das grades. Ele
matou Duke e tentou matar Camille e eu.
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— E Camille? — Ouvi Caleb chegando e perguntando a Henry.
— Em cirurgia. — Disse Henry. — O Michael cara.
— Parece um pesadelo. — Vi quando Caleb sentou-se ao lado de Henry e
ficou olhando para o nada.
— Cara, você está sangrando. — Disse Tyler chegando de repente.
— Não é nada demais. — Encarei minha perna que tinha um corte feio.
— Eu falei para você tratar disso. — Ralhou James que chegou junto com
ele. — Venha.
— Eu estou bem. Vou esperar para ter notícias de Camille. — Falei
irritado.
— Você não vai ajudar nada a Camille se esse corte infeccionar.
Tentei protestar, mas James me arrastou dali.
Entramos na enfermaria e ele já conhecia as enfermeiras, e perguntou se
podiam cuidar do meu corte.
— Não é nada demais. — Falei.
— Nossa, que corte feio. Vai precisar de pontos. — Disse a enfermeira.
— Paciente teimoso, é? Lido com muitos assim. Agora pare quieto e me
deixe fazer meu trabalho.
— Ângela é a enfermeira mais furiosa que já conheci, então não teime,
Kevin. — Alertou James quando viu que eu iria protestar.
— Sou mesmo, Jamie. — Disse ela carinhosamente. — E como estão as
crianças?
E assim os dois conversava enquanto ela limpava meu ferimento, dava
pontos e fazia um curativo.
— Cuide disso e tome os remédios no horário certo. Um homão desse
deixar a ferida infeccionar e correr o risco de perder a perna é um
desperdício. — Alertou ela e assenti.
— Ela é assustadora. — Comentei. — Agora vamos ver como está
Camille. — Falei sem fôlego.
Chegamos na sala de espera e ela estava lotada. Mason estava sentado ao
lado de Brooke com uma expressão de choque. Daniel estava com os cabelos
bagunçados e a expressão desolada. Caleb estava com os olhos vermelhos
como se tivesse chorado muito. Trevor estava em um canto, tão triste quanto
na morte de Duke. Tyler estava mais tranquilo, mas ainda assim parecia
desolado ao lado de Henry. Crystal estava tentando confortar Trevor
sussurrando algo em seu ouvido.
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Engraçado, em uma situação como essa de tristeza a pessoa que mais
sabia confortar a todos era o Michael. Se ele estivesse ali, se ele não fosse o
assassino, ele conseguiria acalmar a todos.
— Alguma notícia de Camille? — Perguntei a Tyler, que parecia o mais
calmo de todos.
— Nada ainda, mas o sangue que Phoebe doou já entrou lá. — Apontou
ele.
— E onde está Phoebe?
— Disse que precisava ir para a casa. Ela estava péssima, cara. E não a
culpo.
— Vou ligar para Min Ah. Ela pediu para que eu a mantivesse atualizada.
— Disse James pedindo licença a todos e saindo dali.
Uma hora a mais se passou. Era como se todos estivessem em luto ali,
chorando, alguns com uma expressão de choque. Achei que Mason iria
quebrar algumas coisas, mas o cara estava estranhamente calmo com o olhar
perdido.
As portas se abriram e aquele médico apareceu.
— Então, doutor? Como está Camille? — Perguntei com o coração na
mão. Por favor, Camille, esteja viva.
— A cirurgia foi um sucesso. Conseguimos suturar a artéria e conter o
sangramento; e a transfusão de sangue rápida também foi um grande sucesso.
Ela está na sala de recuperação. — Disse ele. — Dentro de uma hora o senhor
poderá vê-la.
— Obrigado, doutor. Obrigado. — Aliviado, finalmente consegui sentar; e
chorei muito ao mesmo tempo que ria.
— Kevin, graças a Deus. — Disse Brooke, me abraçando. — Agora vou
te pedir desculpas, mas já que tudo deu certo na cirurgia, Mason e eu vamos
para a casa com as meninas.
— Tudo bem. — Falei. — Obrigado por vir.
— Não por isso. — Ela sorriu tristemente.
— Como ele está? — Apontei para Mason, que ainda estava com aquela
expressão desolada.
— Não sei... anormal, eu diria. Era para ele estar quebrando coisas e
gritando, mas parece que está em choque. — Ela balançou a cabeça. — Mas
tome conta de Camille... ela vai gostar de ver você ao acordar. — Assenti. —
E me mantenha informada, por favor.
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— Pode deixar.
Logo todos se despediram de mim, ficando apenas eu e James na sala de
espera. Logo passos ecoaram no corredor e James e eu nos viramos para ver
quem estava chegando. Era Andrew, só que ele usava um uniforme azul
marinho da polícia de Chicago.
— Não acreditei quando os rapazes disseram, mas você é policial mesmo.
— Disse James.
— Sim. Oficial Ian Andrew Murphy Ward. — Andrew estendeu a mão
para James, que a apertou. — Como está Camille? — Perguntou, olhando
para mim.
— Está bem, a cirurgia foi um sucesso. Estou esperando para vê-la. — Eu
o encarei um pouco irritado. — Você sabia esse tempo todo que era o
Michael?
— Não. Cara, se eu soubesse, já tínhamos pegado o cretino. — Falou ele
rapidamente. — Inicialmente tínhamos mais de duzentos suspeitos, então
cada batalhão dentro de Chicago recebeu um oficial disfarçado, pois nossa
maior pista era que o incendiário era um bombeiro.
— Bem, isso não importa agora. — Falei cansado. — Vocês o pegaram
pelo menos?
— Não. — Disse Andrew, irritado. — Ainda. — Acrescentou.
— Como você descobriu que era ele? — Questionei.
— Bem, ele estava muito feliz e muito satisfeito consigo mesmo nos
últimos tempos... e como ele sabia bastante de engenharia, seu TOC grave...
bem, eu liguei os pontos. O que me atrasou foi não ter provas. — Ele passou
a mão nos cabelos pretos bagunçando-os. — Isso foi bem frustrante... e o
mais frustrante foi ele ter escapado por entre meus dedos.
— Tentei convencê-lo a se entregar, a cair em si. — Falei.
— Essa sua ingenuidade quase lhe tirou a vida. Ele não sente empatia. Ele
é frio e acredita que o que faz é certo. — Andrew me deu uma bronca. —
Nunca mais faça isso. Chame a polícia, mas não vá sozinho tentar amansar
um psicopata... eles não podem ser amansados.
— Sim. — Falei
— Bem, pelo menos vocês dois estão bem. — Disse Andrew, levantando-
se. — Amanhã passo aqui para pegar o depoimento de vocês dois.
— Vocês acharam o apartamento de Michael? — Perguntou James.
— Sim, a senhorita Phoebe nos passou o endereço, e nunca entrei em um
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lugar tão bizarro na vida em todos esses anos de policial. — Andrew coçou a
cabeça e com um aceno se despediu de nós.
— Kevin. — Disse James depois de um tempo.
— Eu sei, cara, vá para a casa. — Falei.
— Não, quer dizer... eu preciso ir para a casa e amanhã para o batalhão,
mas vou ficar aqui agora. Vá em casa pegar umas roupas que eu ficarei aqui.
— Eu quero ver ela acordar. — Falei.
— Ainda falta meia hora para ela sair da sala de recuperação da anestesia.
Vá em casa... — Ele baixou a cabeça. — Desculpe, vá no batalhão e pegue
alguma roupa no armário.
— Ah, verdade. — Ri sem humor. — Esqueci que ele fez churrasquinho
da minha casa.
— O que importa é que você está com vida e Camille também. — Assenti.
— Você está certo. Vou correr lá então.
James me jogou uma chave.
— O que é isso?
— Comprei uma moto. Sabe pilotar?
— Sei sim. Obrigado.
CAMILLE
Despertei zonza. Eu não tinha forças para me mexer, meu corpo inteiro
parecia pesar toneladas. Abri os olhos e encarei o teto branco. Havia alguém
segurando minha mão, mas eu não tinha forças para erguer meu braço. Tentei
falar, mas minha garganta estava seca; então juntei todas as minhas forças e
virei a cabeça para o lado lentamente.
Vi um amontoado de cabelos pretos bagunçados. Kevin. Aquilo fez meu
coração acelerar e tentei mexer meu braço para tocá-lo. Ele estava vivo! Eu
estava tão feliz por ele estar vivo. Senti lágrimas escorrerem pelo meu rosto e
apertei sua mão.
— K... Kevin... — Sussurrei. Foi difícil falar.
— Camille. — Ele me encarou. Vi que estava com a barba um pouco
grande, com olheiras e seu rosto estava mais fino que o normal. Perguntei-me
quantos dias tinham se passado desde aquele incidente. — Camille, você
acordou! — Alívio perpassou em seu semblante e então ele gritou pelo
médico e logo um senhor de óculos redondos, vestindo um jaleco branco e
com uma careca reluzente se aproximou da cama.
— Camille, como se sente? — Perguntou o médico. — Sente náusea? —
Balancei a cabeça em negativa.
— Com... sede e meu corpo... parece muito pesado. — Ele sorriu. — Me
sinto... cansada.
— Você logo vai beber água e comer alguma coisa. — Disse ele. — Vou
chamar a enfermeira para vir tirar a sonda de você. O motivo de você estar
com essa sensação de peso no corpo é porque perdeu muito sangue. Nada que
uns dias em repouso e com alimentação não resolvam. Seu sangue é raro, AB
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positivo... mas por sorte uma das suas amigas doou para você. Seus sinais
vitais estão bons — Ele encarou o monitor que bipava. — E não há sinal de
infecção no seu corte. Por sorte nenhum órgão foi perfurado, você está se
recuperando bem. — Disse ele satisfeito.
Vi quando Kevin sentou-se e suspirou alto. Eu o encarei e ele parecia
aliviado e feliz.
— Venho para vê-la mais tarde, senhorita Camille. — Assenti.
O doutor deixou o quarto e Kevin correu para o meu lado de volta.
— Camille, nesses últimos dias eu estava tão assustado. — Ele segurou
firme em minha mão e apertei de volta. — Eu tive tanto medo, e...
— Kevin... eu ...
— Sua bobinha... sua grande boba. Nunca mais faça isso, nunca mais me
dê um susto desses. — Disse furioso. — Por que você fez uma coisa tão
idiota dessas? — Sua voz estava entre riso, desespero, alívio e incredulidade.
Kevin parecia tão confuso.
— Porque eu amo você. — Falei.
— Eu também amo você e quase morri nesses últimos três dias. — Ele
deu um selinho em meus lábios.
— Três dias? — Perguntei espantada. — E Michael? Pegaram ele?
— Com licença. — Uma jovem enfermeira entrou na sala. — Vim
remover a sonda e ajudá-la a tomar um banho.
— Kevin... pode ir comer alguma coisa. — Falei.
— Não, vou ficar aqui.
— Por favor, estou preocupada com você... parece tão magro... eu me
sentiria mais à vontade. — Imaginei que eu deveria estar um completo
desastre. Três dias... haviam se passado três dias inteiros.
— Tudo bem, mas voltarei em vinte minutos. — Alertou ele.
— Trinta. — Falei.
— Vinte e cinco. — Disse ele antes de relutantemente deixar a sala.
— Seu namorado é muito atencioso. — Disse a enfermeira.
— É sim. — Sorri.
Ela removeu a sonda, os eletrodos que me ligavam aquele monitor, e me
ajudou a levantar. Senti uma dor forte no peito do lado direito onde eu havia
levado a facada. A enfermeira disse que a lâmina havia perfurado uma artéria,
mas que a velocidade com que fui atendida permitiu que eles me levassem a
cirurgia de emergência, e que o especialista deles, o Dr. Thomas, conseguiu
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rapidamente conter o sangramento e suturar minha artéria. Foi anestesia geral
e demorei três dias para despertar, pois estava em um sono profundo.
Já de banho tomado e com os cabelos presos em um rabo de cavalo, sentei
na cama e recebi uma bandeja com comida. Kevin chegou dois minutos
depois que eu dei a primeira colherada da canja de galinha.
— Oi. — Cumprimentei-o timidamente.
— Oi. — Disse ele e entrou no quarto. Vi que haviam vários buquês de
flores espalhados pelo quarto e perguntei a ele de quem eram. — Dos rapazes
do batalhão e das meninas do Luluzinha Holmes.
— Me diga, por favor o que aconteceu nesses últimos três dias. — Pedi.
— Coma sua sopa primeiro e então eu contarei.
— Não vou conseguir comer se você não me contar, estou me corroendo
de ansiedade. — Kevin pareceu ponderar o que fazer por alguns segundos.
— Tudo bem, eu te conto enquanto você come. — Ele apontou para o
prato e voltei a comer. Estava um pouco insossa, mas eu estava com fome e
comi com vontade.
— Pode começar a me dizer que prenderam o Michael. — Falei e ele
baixou a cabeça.
— Michael está desaparecido. Ninguém sabe como ele escapou, os jornais
exibem a foto dele e contam a história de que o assassino usava roupas de
herói para se camuflar.
— Acredito que logo irão encontrá-lo. — Falei esperançosa.
— Ele tem muito dinheiro e é inteligente demais para ser pego assim, mas
temos fé que logo a polícia irá captura-lo. Andrew estava a caminho de lá
com seus colegas quando você chegou.
— Andrew? Aquele Andrew mal-humorado.
— Sim. Descobrimos que ele era um policial infiltrado no batalhão para
pegar o incendiário.
Eu o encarei, surpresa.
— Ele sabia o tempo todo que era o Michael?
— Não, eles suspeitavam que o incendiário era um bombeiro, então em
todos os outros batalhões haviam policiais disfarçados. Andrew descobriu
que era Michael, pegou o tablet dele e eles passaram o dia tentando acessar os
arquivos; mas o cara além de rico também é muito inteligente e protegeu suas
pastas e seu tablet com tudo o que pode. Havia até um sistema de que se a
quinta senha fosse colocada de forma errada o tablet se formataria
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automaticamente, apagando todos os arquivos.
— Nossa.
— Bem, quando eles concluíram que só poderia ser o Michael, eles
automaticamente investigaram o passado dele com o FBI. Haviam trinta
suspeitos somando os batalhões. Pense, inicialmente tinham duzentos, mas
conseguiram reduzir a trinta. — Contou Kevin, agitado. — Mas enfim,
resumindo, eles descobriram que onde Michael morava antes também
ocorreram incêndios suspeitos, que ele não fazia com frequência e não
deixava o laço. No fim, descobriram que a quinta senha era a data em que
seus pais faleceram queimados em casa.
— Meu deus! Ele matou os pais? — Eu estava chocada demais para falar
qualquer coisa.
— Sim. Então, bem... eles chegaram os subpastas e viram as fotos, as
plantas das casas em que ocorreram os incêndios, o X em vermelho no local
em que ele colocava os laços, e uma lista de nomes de famílias que ainda
estão vivas.
— Mas como eles foram para o seu apartamento? Como sabiam que
Michael estava lá? Phoebe avisou?
— Não, eles apenas rastrearam o celular dele. — Kevin deu uma risada
sem humor. — Ele cuidou tanto do tablet, mas do celular não. Irônico, não?
— E por que não o pegaram então, rastreando o celular? — Tinha certeza
de que eles fariam isso se pudessem, mas queria ouvir dos lábios de Kevin
onde estava o assassino do meu pai.
— Amor, você acha que ele é burro? Ele foi até a rodoviária, subiu em um
ônibus para a Flórida, deixou o celular no banco em que sentaria e saltou do
veículo no meio do caminho. O motorista disse que ele pediu para descer pois
estava passando mal a uns 15 quilômetros da rodoviária. Desde então não
sabemos onde ele está.
— Meu Deus! quando esse pesadelo vai acabar? A Brooke tinha razão o
tempo todo. — Coloquei as mãos na cabeça, assustada. — Eu gostava tanto
dele, eu o conhecia há anos, meu pai o adorava. Ele jantou na casa de papai
tantas vezes e... — Comecei a chorar, lembrando do passado.
Papai adorava Michael, era um dos seus favoritos no batalhão. Papai dizia
que era um bom homem, aquele amigo para todas as horas e que todos
podiam contar com ele. Ele o amava como filho e Michael o apunhalou pelas
costas. Senti os braços de Kevin ao meu redor, senti dor no ombro por causa
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dos meus soluços, mas não me importei. A dor maior estava em meu coração,
a traição de Michael jamais seria esquecida por mim.
BROOKE
Nunca, em toda a minha vida, eu detestei tanto ter razão. Por mais que eu
desconfiasse do jeito de bom moço dele, eu ainda tinha fé de estar enganada.
Na verdade, orava para estar enganada. Mas não, eu estava certa, e aquele
homem amoroso e atencioso com as minhas filhas era um psicopata que nos
deixou um laço de presente na porta um ano antes.
— Mamãe. — Emma me chamou puxando minha saia.
— Sim, amor. Por que ainda não está na cama? — Encarei o relógio na
parede e já era quase dez da noite.
— Eu queria que a senhora lesse uma história para mim, mãe.
— Onde está o papai?
— Ele está lá fora sentado na varanda... está com Duke no colo e olhando
para o nada. Parece até que está dormindo de olhos abertos.
— Eu vou ler uma história para você então. — Guiei Emma até o quarto
dela e comecei a ler a história. Minha mente, porém, estava no homem lá
fora.
Mason havia ficado assustadoramente calmo desde que descobrimos a
identidade do incendiário. Ele ficava o tempo todo lá fora com nosso labrador
no colo e encarando o nada, e eu já estava preocupada com ele.
Li a história para Emma e ela adormeceu antes que eu chegasse ao
capítulo dois. Eu a cobri com uma manta e espiei Diane, que estava em sono
profundo. Com as minhas princesas dormindo como anjos, fui até o escritório
pegar uma garrafa de vinho, servi duas taças e fui para a varanda falar com
meu marido.
Nosso labrador estava impaciente para sair de perto de Mason e quando
KAREN
Ele se mostrava forte na frente dos rapazes, mas todas as noites meu
homem, meu amado Caleb, fazia despertar seu lado menino e sempre chorava
em meus braços. Michael era o seu segundo melhor amigo. Na verdade, eles
se apelidavam de os três mosqueteiros, Michael, Caleb e Trevor. Estavam
sempre juntos, bebendo cerveja e trocavam confidências.
Já haviam se passado cinco dias desde a descoberta da identidade do
incendiário, e faziam sete desde que eu descobri algo que precisava contar a
Caleb de uma vez. Então na sexta noite em que ele veio se aconchegar a mim
e contar sobre mais uma noite de bebedeira que teve com Michael, eu lhe
contei.
— Eu preciso te contar uma coisa. — Falei, sentando-me rígida na cama.
TYLER
Caminhei lentamente no corredor em direção a porta do seu apartamento.
Em minhas mãos estavam margaridas, afinal Duke disse uma vez que eram as
flores favoritas de Camille. Perguntei-me como ela estaria se sentindo ao
descobrir que Michael é quem havia tirado Duke de todos nós. Dez dias já
haviam se passado, não havia sinal de Michael; e mesmo passados tantos
dias, eu ainda me sentia desolado.
Parei diante de sua porta e bati.
— Oi, Tyler. — Kevin atendeu a porta e sorriu para mim.
— Oi, Kevin. Como está? — Sorri.
— Estou bem. — Deu de ombros. — Na medida do possível, né.
— Sim. — Todos estavam assim; estavam bem, mas não exatamente bem.
Perguntei-me quando aquela dor da traição passaria. Foram anos de amizade
e companheirismo, e no fim percebemos que não conhecemos as pessoas de
verdade.
— Entre. — Convidou ele. — Como você está? — Perguntou sem jeito.
Kevin e eu nunca tivemos uma amizade profunda, sempre foi mais
parceria de trabalho, mas nunca conversamos realmente como bons amigos.
Por isso havia um pequeno estranhamento em nós.
— O mesmo de você. — Falei.
— Tyler, que surpresa! — Camille levantou-se do sofá e sorriu para mim.
Abracei-a e entreguei as flores. — Margaridas, como você sabia? —
Perguntou ela.
— Duke me disse uma vez.
— Ele me disse quando eu era criança que eram as favoritas de mamãe,
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então automaticamente se tornaram as minhas favoritas.
— E como você está? — Perguntei.
— Me recuperando bem. Vou tirar os pontos amanhã e logo ficará apenas
uma pequena cicatriz de lembrança. — Ela baixou a cabeça. — A cicatriz na
alma é que será mais difícil de remover.
— Sim.
— Aceita um café, Tyler? — Ofereceu Kevin uma xícara para mim.
— Sim, sim. — Peguei a xícara e bebi o líquido quase todo de uma vez
só.
— Henry acabou de sair daqui. — Disse Camille, me encarando.
— Hum. — Meu coração acelerou só com a menção do nome dele. Eu
estava decido a esquecê-lo. Tinha até mesmo marcado um encontro às cegas
para meu próximo dia de folga.
— Ele parecia arrasado. — Continuou ela.
— Hum.
— Ah, qual é, Tyler! Sei que vocês têm algo. — Camille me encarou e
não consegui disfarçar minha expressão de alguém que tinha sido flagrado.
— Só não entendo a cabeça do Henry... que medo é todo esse.
— Camille, amor, você está sendo um pouco metida. — Disse Kevin. Ele
sentou-se ao lado dela e ela sorriu para ele.
— Eu sei. Mas... não podemos parar nossas vidas porque Michael fugiu.
— Disse ela. — Estou determinada a viver a vida de forma que valha a pena,
e espero que todos façam o mesmo. — Ela desviou o olhar de Kevin e me
encarou. — Então recomendo que você saia com um homem bem bonitão e
esqueça o Henry. Você é um cara maravilhoso, quem perde é ele.
— Eu, bem... vou num encontro semana que vem.
Ela bateu palmas devagar por causa do braço e sorriu.
— É isso aí. — Ela segurou na mão de Kevin e me encarou. — Antes de
conhecer esse cara maravilhoso aqui do meu lado, eu tinha uma quedinha por
você, por isso estou dizendo... sei que você é um cara incrível.
— Eu sei. — Falei e vi que ela ficou constrangida.
— Você sabia da minha quedinha?
Dei de ombros.
— Eu notei sabe, mas era apaixonado por Henry... se eu fosse hétero,
Kevin não teria chances. — Brinquei.
— Você seria um bom rival. — Comentou Kevin, também rindo. — Mas
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no fim eu quem ganharia.
— Parem os dois. — Disse Camille rindo.
— Eu disse que com o tempo você voltaria a rir. — Kevin disse,
encarando-a.
— Sim. — Ela sorriu cheia de amor para ele.
— Temos que seguir com a vida. Tenho certeza de que Michael em breve
será capturado. Ele se manter escondido assim tem um lado bom. — Eles me
encararam. — Bem, nos últimos dez dias não houve nenhum incêndio
criminoso.
— Verdade. Ele não pode se arriscar a matar, pois pode ser pego.
— Não pensem que ele parou. — Falou Kevin. — Tenho certeza de que
ele está só esperando a poeira baixar para voltar a sua missão maluca.
— Verdade. — Baixei a cabeça. — Bem, eu vou para o batalhão agora. —
Levantei-me. — Fico feliz que esteja melhor, Camille.
— Eu tenho o melhor enfermeiro. — Disse ela sorrindo para Kevin. —
Obrigada pela visita, Tyler. Apareça qualquer hora para jantar conosco... se
vier com namorado, melhor ainda, pois convidaremos Henry para vir
também. — Camille piscou para mim.
— Tudo bem. — Ri de seu comentário. — Tchau, Kevin.
— Até mais, Tyler.
Saí do prédio de Camille e senti o vento no rosto ao alcançar a calçada. Eu
amava Henry, mas precisava seguir em frente. Quem sabe um novo amor não
me fizesse esquecer o anterior? Com um fio de esperança, retornei ao
batalhão.
KEVIN
— Eu teria ganhado seu coração, mesmo se tivesse que competir com
todos do batalhão. — Falei para Camille. Sabia que era um pensamento bobo
e infantil, mas não me importei.
— Claro que teria. — Garantiu ela. — Você é o cara perfeito para mim.
Senta aqui de novo. — Pediu.
Acomodei-me ao seu lado no sofá. Ela usava short de lycra e uma blusa
Ela estava dormindo. Mamãe disse que eu tinha a babá, então, por que
precisava ficar incomodando-a e ao papai? Por isso eu iria me livrar dela
como havia feito com o cachorrinho e o gato que ganhei. Se eu me livrasse
dela, eles me dariam a atenção merecida.
Liguei o abajur ao lado da sua cama e peguei o laço vermelho que sobrou
dos meus presentes de natal, segurei no pulso dela e amarrei. Fiz um laço
perfeito. Ela se moveu, mas não acordou, pois tinha passado o dia inteiro
tentando apagar os pequenos incêndios no trenzinho de brinquedo e na
bicicleta que ganhei de natal.
Peguei o álcool e molhei a cama. Sentiria sua falta. Apesar dela ser
irritante e sempre me encarar com piedade, era bom poder descontar minhas
frustrações nela vez ou outra. Com o isqueiro em mãos, joguei o restante do
álcool em cima dela e isso a despertou, como eu sabia que aconteceria.
— Michael, o que você está fazendo? — Ela me encarou assustada.
— Vai ser divertido. — Falei sorrindo e joguei o isqueiro em cima dela.
— Não... ai... nãooooo... — Me afastei para observar o espetáculo. Não
sabia que o cheiro de carne humana queimando fosse tão bom, e nem que os
gritos dela ao queimar viva seriam tão bons de ouvir. Era muito melhor que
queimar um cachorro que só gania, ou um gato que só miava loucamente.
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Comecei a gargalhar, a cena diante de mim era tão engraçada, e observei
Celine se contorcendo toda. E então minha mãe apareceu na porta do
quarto, me encarou e viu Celine.
— Michael, o que você fez? — Ela me encarou com medo.
Eu não conseguia parar de gargalhar, os gritos de Celine cessaram e ela
caiu no chão ao tentar se arrastar da cama.
— Saia daqui! — Ouvi mamãe gritar para alguém. — Não quero nenhum
empregado aqui.
Mamãe pegou um cobertor e conteve as chamas. E então me encarou
furiosa, me puxou com força pelo braço me jogou contra a parede do quarto.
Não me importei, ela estava me dando atenção, ela fez eu sentir dor, ela
sentiu raiva de mim! Eu estava feliz por receber atenção de mamãe.
— Você nunca, está escutando? Nunca vai contar para ninguém o que
fez! — Ameaçou ela. — Seu pai foi promovido no trabalho, e se alguém
souber que ele tem um filho retardado, vão diminui-lo na empresa. — Disse
ela determinada. — Vamos dizer que Celine foi embora dessa casa... ela não
tinha família mesmo, então ninguém dará falta dela.
— A senhora agora terá que cuidar de mim. — Falei, passando a mão no
galo em minha cabeça.
— Você já é um pré-adolescente, pode se cuidar sozinho. Vou contratar
outra babá.
— Vou queimar todas até que a senhora cuide de mim. — Ameacei.
— Então você que se cuide sozinho. — Ameaçou ela. — Se você contar
para alguém o que aconteceu aqui, vou mandar você para um internato e
você nunca mais vai ver seu pai e eu.
Levantei e me aproximei dela, mas ela levantou-se e se afastou.
— Não chegue perto de mim, seu doente mental! — Gritou ela. — Não
ouse se aproximar de mim.
Dei mais uns passos na sua direção e ela me empurrou novamente. Bati
contra a quina da cômoda e minha cabeça começou a sangrar.
— Você está de castigo! — E com pavor no olhar, ela saiu do meu quarto
e passou a chave na porta, me trancando ali dentro.
Ela estava com medo de mim. Ela sentia medo de mim. Medo era melhor
que nada. Mamãe estava me dando atenção. E aquilo me fez gargalhar ainda
mais alto.
Jennifer Souza