Box Série - Familia Escobar

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Copyright © 2016, Editora Angel.

Copyright © 2016, Deby Incour.

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998.


Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser reproduzida ou transmitida
por qualquer forma, meio eletrônico ou mecânico sem a permissão por escrito do Autor e/ou Editor.
Produção Editorial: Editora Angel
Editor: Cláudia Pereira
Capa e projeto Gráfico: Incour Design
Diagramação: Incour Design
Revisão: Milena Assis
SUMÁRIO:
SUMÁRIO:
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
PLAYLIST
Nota da autora:
Caros leitores, este livro... melhor dizendo, este conto foi feito com muito amor e carinho. Torço para
que gostem. Fazer uma história que envolva um lado criminal, mesmo sendo muito curta, não foi fácil,
foram feitas algumas pesquisas e perguntas a uma pessoa que entedia um pouco mais do assunto.
Tudo aqui é totalmente ficcional. Pulei alguns atos da lei para não falar demais e acabar falando
coisas sem sentido. Espero que gostem.
Com amor, Deby.
CAPÍTULO 1

Depois de anos sem tirar férias, estou próximo a isso. Hoje é meu último dia e logo depois
irei para Miami, ficar dois meses por lá.
Ser advogado criminalista e muito conhecido faz com que eu não tenha tempo nem para
respirar. Venho de uma família importante. Minha irmã é promotora, meu irmão delegado, meu tio
juiz, meu falecido pai, juiz e minha mãe, advogada civil. Minha família é uma família da “lei”, ou
quase.
Aos 37 anos de idade, sinto o peso do cansaço. Quero paz e tranquilidade por um tempo.
Minha mãe, a dona Paula, odeia a profissão que eu e meus irmãos escolhemos. Ela diz que não
temos amor à vida e a ela.
Muitos me julgam por minha escolha de profissão, mas o que posso fazer? Simples, ligo o
botão do foda-se e está tudo certo. Tenho problemas demais para ficar dando ouvidos às pessoas
que não tem o que fazer.

A porta da sala se abre e é minha irmã caçula, Daiane.


Estou no meu escritório, no centro da cidade.
— Já ouviu falar em bater à porta antes de entrar? — provoco-a.
— Não me torre a paciência. Hoje estou a ponto de matar alguém.
— Que pena, não poderei ser seu advogado, iria adorar.
— Henrique, não me amole com suas brincadeiras, o assunto é sério.
— Diga, meu anjo — falo com ironia e ela me olha feio, me fazendo sorrir.
— Você tem um caso e é bem delicado.
— Todos são. E não, eu não tenho um caso. Meu único caso será com as lindas americanas
que pretendo me divertir em Miami.
— Uma jovem de 27 anos, advogada criminalista. Está sendo acusada de assassinar seu
noivo, que foi encontrado morto dentro da casa deles, todas as pistas apontam para ela. Ela está
colocando a delegacia abaixo, e o David está pirando. Ela precisa de você e agora. A louca
queria ser a própria advogada, mas é impossível. Resolve isso, por mim, eu estou com muitos
processos em mãos e nenhum outro advogado que conhecemos quer esse caso.
— Mas que porra! Quando a esmola é muita, o santo desconfia. Essa peste tinha que surgir
agora? Avisa o David que estou indo para lá.
— Obrigada. Desculpa por estragar suas férias.
— Você está adorando.
— Estou mesmo.
Ela saiu rindo da sala.
***
Entro na sala do meu irmão na delegacia. Uma jovem ruiva e histérica está batendo boca
com ele.
— Eu não o matei! Por que eu o mataria e colocaria minha carreira no lixo antes de
começar? Isso é estupidez — ela diz, chorando e nervosa.
— Prazer, sou Henrique Escobar, irei cuidar do seu caso.
Ela me olha e seus olhos se arregalam.
— O famoso Detonador. Sério isso? — ela diz nervosa. — Eu não sou criminosa. Não
preciso de um advogado criminalista, que por acaso é seu irmão, para julgar meu caso, como se eu
fosse um dos os loucos que ele defende.
— Senhorita Ferdinand, eu peço mais uma vez que tenha calma. Você é a única suspeita,
porque estava na cena do crime e tocou na vítima e na arma. Ninguém mais viu nada. O sangue
dele está em você, isto dificulta tudo. Por favor, preciso colher seu depoimento e, assim, ver o que
acontece — David diz calmamente.
— Olhe para mim. — Ela o faz. — Preciso que me conte como tudo aconteceu e que seja
sincera.
— Não tenho o que contar. Eu cheguei em casa e o encontrei morto, com a arma na mão.
Ele estava caído. O tiro foi no peito. Parecia um suicídio. Eu me desesperei e me joguei em cima
dele. Eu não o matei, eu juro!
— Você, como advogada criminalista, deveria saber que se colocar na cena do crime é
uma burrice, ainda mais sem uma testemunha que prove que você não foi a culpada! — digo.
— A senhorita ficará presa até segunda ordem — David diz seriamente.
— O quê?! Isso não pode estar acontecendo.
— Eu estou tentando ajudar. Coisa que nunca faço. Coopere conosco. Meus homens irão
recolher seus pertences.
— Quer me prender? Então me prenda. Mas faça o seu serviço direitinho e encontre o
verdadeiro assassino, porque eu não sou. Ah, e pede para o escrivão ali colocar que desacatei
você, porque tudo o que tenho para te dizer é: vai à merda!
Ela joga todos os pertences em cima da mesa e é algemada. Ela está muito nervosa. Está
tremendo. Eu conheço um assassino e ela não é, porém, pelo visto, este caso realmente é
complicado.
— David, ela não é a culpada.
— Eu sei, mas ela me desacatou e tudo aponta para ela. A perícia está no local. Eu estou
fazendo meu serviço. Faça o seu e tente tirá-la daqui ou ela irá derrubar minha delegacia.
— Preciso de um tempo com ela, a sós.
— Certo. 20 minutos. Depois irei pedir outro depoimento dela.
— Pelo visto, terei que cancelar minha viagem. Isto é praga da dona Paula, tenho certeza.
Praga de mãe pega, não é?
— E como pega. Já broxei uma vez porque não fui almoçar com ela para sair com uma
mulher, e ela disse eu ia broxar, foi o maior mico da minha vida.
— Você é uma vergonha para a família. — Ele sorri. — Vou falar com ela. Quando eu
encontrar o verdadeiro assassino, eu irei matá-lo, porque isso foi pessoal, porra, minha viagem!
CAPÍTULO 2

Entro na sala privada e a Senhorita Ferdinand não faz questão alguma de me olhar.
Sento-me de frente para ela e apoio meus braços na mesa.
— Vamos iniciar isso de uma maneira amigável. Primeiro, qual seu nome completo?
— Ana Louise Ferdinand.
— Como ele se chamava?
— Rodolfo Batista.
— Olhe para mim quando eu falar.
Ela ergue o olhar me desafiando.
— Preciso que me conte como era sua relação com ele.
— Boa. Não era perfeita, mas era boa. Todavia, estávamos brigando muito desde que
ficamos noivos. Ele começou a ficar estranho, não tínhamos mais conversas, nossa relação estava
esfriando...
— Ele tinha inimigos?
— Todo mundo sempre tem, mas a ponto de matá-lo? Duvido.
— Eu lido com muitos assassinos e vejo em seus olhos que você não o matou. Você pode me
dizer o que aconteceu quando chegou e o encontrou morto?
— Eu tinha ido dar umas voltas, estava de cabeça cheia, queria um pouco de paz. À tarde,
retornei, tudo estava trancado do lado de fora, o carro dele estava na garagem. Quando entrei e
fui abrir a porta da sala, percebi que não estava trancada, e foi aí que dei de cara com ele, na
sala, todo sujo de sangue, com a arma em suas mãos. Me desesperei e me joguei em cima dele, fui
ver se ele estava vivo. Peguei a arma na hora do desespero, tudo ali indicava um suicídio.... — Ela
começa a chorar.
— Um suicida? Não, eu acho que não, mas somente a perícia será capaz de dizer. Você
que acionou a polícia?
— Não. Eu comecei a gritar desesperada. Os vizinhos chamaram e, quando a polícia
chegou, eles começaram a dizer que brigávamos muito e que não viram ninguém entrar. A polícia
descobriu que a arma continha silenciador. Eu estava desesperada, em estado de choque. E, pelo
sangue, constataram que a morte havia ocorrido há pouco tempo, e aí já me prenderam.
Chegaram mais policiais, ambulância e tudo o que tinha que chegar. E então, fui trazida para cá.
— Não viu nada suspeito?
— Não.
— Quem o matou queria que parecesse um suicídio ou sabia que você chegaria e levaria a
culpa. Vou pedir uma liminar em habeas corpus para te tirar daqui e, assim, resolver toda essa
bagunça antes do julgamento, porque enfrentaremos um e não será fácil. Tudo vai depender da
perícia, e eu irei fazer de tudo para não permitir sua prisão.
— Não me importo em ficar aqui, só me importo em encontrar o verdadeiro assassino. Ele
me amava, não seria capaz de tirar a própria vida.
— Já vi muitos casos em que aquele que se mata não pensa em mais ninguém a não ser em
si mesmo.
— Mas ele não.
— Certo.
Ela é retirada da sala, pois tem que dar um depoimento corretamente e agora está mais
calma.
Vou até meu tio Marcos, que é o juiz responsável pelo caso, porém o processo ainda não
chegou ao seu conhecimento, o que me leva a aguardar.

Quando cheguei e o encontrei morto, não sabia o que fazer e me prejudiquei por isso. Eu já
não sabia se o amava, mas sabia que sentia carinho por ele. Sou recém-formada. Ainda nem
comecei a atuar como advogada criminalista. Fiz tudo certinho desde o início. Passei com notas
excelentes na faculdade e na prova da OAB. Não jogaria todo meu esforço no lixo, não mesmo.
Quem quer que tenha feito isso destruiu a minha vida e a vida do Rodolfo, professor em uma
renomada universidade. Ele era professor de psicologia, amava a carreira, fazia aquilo com amor.
Nosso relacionamento estava uma merda, mas não ao ponto de eu assassiná-lo. Minha família sabe
que estou na delegacia, pois o delegado avisou, porém ninguém veio até aqui. Estou, pelo visto,
sozinha nessa.
Eu não queria nenhum advogado, mas o delegado foi bom e chamou o irmão dele, o
advogado criminalista conhecido por “detonador”, nunca perde uma causa e, quando perde, é de
propósito, para ferrar com o réu, pelo menos é o que dizem. Ele e a família são muito conhecidos.
Vivem com a arma apontada diretamente para cada um deles, porém eles nunca recuam.
Sempre imaginei conhecê-lo, mas não dessa forma humilhante. Comecei bem minha carreira.
Meu currículo será maravilhoso.
Dou o meu depoimento agora que estou mais calma, e o delegado me envia para uma cela,
sozinha novamente.
Estou sentada no chão e completamente desesperada. Eu posso jamais sair daqui e pior, ser
enviada à penitenciária de segurança máxima para mulheres. Como advogada criminalista, sei que
meu caso é muito grave.
Henrique ainda não voltou e deve ser porque nada chegou às mãos do juiz ainda.
Nunca o vi pessoalmente, ele é muito lindo, como toda a família, mas pessoalmente é uma
beleza descomunal. Seus olhos tem uma intensidade difícil de explicar. Ele é difícil de explicar.
Me assusto com um barulho na grade. Olho e vejo minha mãe. Me levanto rapidamente.
— Mãe...
— Sua assassina. Eu vim aqui para dizer que nem pense em contar com a família. Você é
uma vergonha. Desde que escolheu ser advogada criminalista, eu sabia que traria riscos a nós, mas
assassinar alguém? Isso eu não esperava de você. Para você, nossa família morreu.
Não tenho o que dizer, ela se retira. As lágrimas escorrem pelo meu rosto. Como ela pôde
me dizer isso? Ela nem sequer perguntou como estou ou como tudo aconteceu!
Henrique encosta na grade. Suas mãos estão em seus bolsos e seu semblante é indecifrável.
— Quanto ouviu?
— O suficiente. Sinto muito.
— Conseguiu algo?
— Ainda não. Vim pegar umas coisas aqui para tentar adiantar. Confie em mim, não vai
passar a noite aqui.
— Melhor aqui do que na rua, porque não posso voltar para minha casa e da minha
família, bom, pelo visto, estou morta para eles. — Tento controlar as lágrimas que não param de
cair.
— Não se preocupe. Esse caso se tornou pessoal, pois eu estava saindo de férias.
— Desculpa. Eu não queria advogado algum.
— E morreria em uma cela?
— Não sei, sempre dou um jeito.
— Você tem sorte do meu irmão querer destruir minhas férias — diz rindo.
— Pensei que advogados, principalmente no nosso ramo, fossem mais sérios, vivessem
armados, coisas do tipo.
— Você não viu nada. Nem sempre o volume em minhas calças é uma ereção. Só fique
calada e não diga nada que não queira ou sem me avisar, tudo pode te prejudicar.
Concordo, e ele se retira.
CAPÍTULO 3

Estou agoniada, é tarde da noite, tenho certeza, e nada do Henrique. Não sei nem como
irei pagá-lo, se bem que não o contratei e nunca o autorizei.
Quero muito esquecer a cena de encontrar o Rodolfo morto na nossa sala, mas não consigo,
estou vivendo um inferno. Ele não merecia isso. Sinto-me culpada, pois, se eu não tivesse saído,
poderia ter evitado aquilo tudo, mas eu saí, maldita hora que saí. Nosso relacionamento estava
uma merda, nem sequer sabia se ainda o amava, pensei muito em separar, mas jamais pedi a
morte dele, de ninguém. Ele tinha muito para viver. A carreira dele era maravilhosa. Ele era
maravilhoso. Cinco anos ao lado dele, ele nunca me fez nada para que eu pudesse ansiar pela
morte dele e que merda de ser humano eu seria se ansiasse?
— Hora de alguém ir embora!
Me assusto com o Henrique.
— Conseguiu?
— O que eu não consigo? O delegado fez o trabalho dele, porém o juiz viu que não tem
provas o suficiente para te deixar aqui, porque você estar na cena do crime não quer dizer que
você é culpada. Porém não poderá sair da cidade até as investigações terminarem.
— Nunca pensei em sair da cidade; primeiro, porque não tenho dinheiro; segundo, porque
aí é que vão me acusar.
— Esperta a Senhorita.
— Apenas Ana ou Louise.
— Certo, Ana.
***
Vou embora junto com o Henrique. Estou no carro dele, já que me ofereceu uma carona, só
não sei para onde.
— Para que lugar está me levando?
— Não acho seguro você ficar em um hotel, com o assassino a solta. Você não pode voltar
à sua casa. Sua família, pelo visto, não vai ajudar. E você não tem dinheiro. Restou minha casa.
— Sua o quê?! Não! Isso é um absurdo e, o principal, antiético.
— Bem esperta, mas é isso ou dormir na rua e, pelo o que vejo, vai chover.
— Vai piorar minha situação. Vão dizer que você era meu amante e, por isso, matei o
Rodolfo e você está como meu advogado!
— Jamais dirão que eu era seu amante. Todos sabem que não sou a segunda opção, sou a
primeira, e não aceito ninguém pela metade.
Fico boquiaberta, olhando para ele.
— Que seja! Não preciso de mais problemas. Só preciso de um banho e descansar, porque
meu dia foi cheio.
— Minha casa tem muitos banheiros e, com isso, muitos chuveiros. Aceite. Estou aqui para te
ajudar. Se eu fosse um merda de advogado, te deixaria apodrecer na cadeia e estaria em Miami,
aproveitando minhas férias, ou te deixaria agora na rua. Você tem sorte, porque eu não fui um
cara educado com nenhum dos meus clientes. Se estou te ajudando é porque sinto que você
merece, saiba que não conquistei inimigos à toa.
Fico em silêncio, não tenho o que dizer depois dessas palavras.

Ao chegar em casa, ela fica deslumbrada, como qualquer outro visitante. Não posso negar
que minha casa é um espetáculo, bem masculina, porém bem elegante, e tudo isso por minha
escolha, sempre tive bom gosto e sempre fui perfeccionista, puxei isso do meu pai. Se tenho
dinheiro para viver bem e com total conforto, por que não viveria?
— Estou sem empregados, como ia sair em férias, liberei todos. Segundo andar à direita,
pode escolher qualquer quarto, todos têm banheiro. Vou pedir roupas para você e irei fazer algo
para comermos. À noite, sempre tem circulação dos meus seguranças pela casa, não se assuste. E
antes que eu esqueça, não saia pelada pela casa, tem câmeras, meus seguranças iriam amar.
— Por que eu sairia pelada?
— Vou saber? Apenas avisei.
— Obrigada. Estou sendo muito rude quando você só quer me ajudar. É que não está
sendo fácil.
— Acredite, você está sendo um anjo perto dos meus outros clientes. — Ela sorri. — Vou
ligar para minha irmã arrumar umas roupas, afinal, ela que me colocou nesse caso, então ela vai
ter que ajudar.
— Você não parece nada com o tal do destruidor que mídia e todos comentam.
— Detonador.
— Mesma coisa.
— Não acredite em tudo sem ter todas as provas. Não é porque todos me temem e tenho
um sobrenome famoso que quer dizer que sou um homem rude, exibido, que pisa nos demais. Sou
humano, tenho uma vida e não a destruo porque sou o Advogado Criminalista Henrique Escobar, o
Detonador que não perde uma causa.
— Já perdeu alguma causa, digo, perder mesmo e não propositalmente? Seja sincero.
— Claro, nem tudo sempre se ganha. — Ela me olha com desconfiança.
— Quando perde é proposital pelo que disseram.
— Mas já perdi de verdade e isto a mídia não divulga.
— Será que a minha você ganha, perde de verdade, ou perderá de propósito? —
pergunta preocupada.
— Só depende de você.
— O que quer dizer?
— Faça o que mando e tudo acabará bem.
— E se eu não fizer?
— Simples. Você estará mirando a arma para você mesma e o gatilho será puxado por
você também. Afinal, quem o matou pode querer matar você. Se fossem outros clientes, eu estaria
com a arma apontada para mim, deixando-os presos, mas veja só, os que tentaram me matar
acabaram mortos. Já você, pode ir ali na esquina e nunca mais voltar, dependendo das suas ações,
porque tem um assassino a solta que provavelmente não gostará de ter o caminho cercado. É como
um jogo tudo isso e ele se brinca assim: minhas decisões. Suas escolhas. Quem vai ganhar? Suas
escolhas dirão. Porém aqui é a vida real e esse jogo não temos como reiniciar e nem mais de uma
vida.
Dou uma piscadela para ela e vou para o escritório, ligar para minha irmã.
Eu poderia ter a enviado a um hotel e colocado diversos seguranças na cola dela, mas eu a
trouxe para minha casa, porque, desde que a vi na delegacia, desesperada, em seus olhos eu
encontrei um pedido de socorro que seu orgulho não permitiu que se manifestasse, não pude evitar,
isso mexeu comigo de uma forma diferente. De repente, livrá-la da culpa e ficar em cima das
investigações para encontrar o verdadeiro culpado se tornou preferência para mim. Se tornou
pessoal.

Ligo para minha irmã e ela envia as roupas através de um dos seus seguranças. Vejo que
Ana escolheu o primeiro quarto à direita. Deixo as coisas em cima da cama enquanto ela está
trancada no banheiro e vou para cozinha.
Sempre gostei de cozinhar, isso é relaxante para mim e estressante para dona Jurema, a
cozinheira, pois detono a cozinha dela; e a dona Marcela, pior ainda, pois ela pira ajudando a
dona Jurema na limpeza.
Sou um homem que adora sexo, como outros. Que quer estar na companhia de mulheres.
Mas estou cansado. Tenho quase 40 anos e não posso mais viver de sexo, com uma aqui e outra
ali. Mas, antes de colocar alguém em minha vida, tenho que pensar muito bem, pois ser uma
Escobar é estar na mira de um revólver sempre e não sei se quero trazer outra pessoa para o
perigo. Dizem que advogado criminalista não pode ter família e estão certos, pois não se tem paz.
Porém, quando se ama algo, não temos escolhas, mesmo que isso interfira em sua vida pessoal.
Quando eu escolhi essa carreira, sabia onde estava me colocando e, assim, eu sabia que dormiria
com um olho aberto e outro fechado, que morreria pela minha família se fosse preciso. Mas antes
eu não pensava em me casar, ter filhos e, quando esse desejo cresceu, foi a primeira vez em que
senti muito medo, já que ter filhos e uma esposa estaria os trazendo para o perigo, dobrando o
número de pessoas com que tenho que me preocupar.
CAPÍTULO 4

Acordo com gritos vindos do corredor. Levanto-me desesperadamente e pego minha arma
na primeira gaveta do criado-mudo. Estou apenas de cueca, mas que se foda. Saio do quarto e
vou em direção ao meu segurança, que já ameaça abrir a porta do quarto em que Ana está.
— Não — digo ao Luciano.
— Mas, senhor...
— Eu cuido disso. Leve minha arma.
— OK.
Ele pega a arma e se afasta.
Entro no quarto e fecho a porta. Ela está suando. Seu corpo se debate enquanto ela grita
por socorro. Pobre menina, está tendo pesadelos e, provavelmente, com a cena do noivo morto.
Olho no relógio e vejo que são 5:30 da manhã. Estou com a porra de uma ereção, apenas de
cueca e sem ter ideia do que fazer.
Sem pensar muito, me aproximo. Sento ao seu lado e coloco a mão em seu braço.
— Ei, Ana... — Ela acorda sobressaltada. Está apavorada. — Calma, estou aqui, foi só uma
merda de um pesadelo.
Ela está ofegante e com os olhos arregalados. De repente, pula em cima de mim, me
obrigando a segurá-la rapidamente para não cair. Sentada em meu colo e ainda apavorada, sei
que ainda não está totalmente bem. Para ajudar, minha ereção não diminuiu, e ela está na porra
de uma camisola curta, na cor preta, que a minha irmã trouxe e, tenho certeza, de propósito,
praga!
— Está tudo bem.
— Eu que o matei... no sonho, eu o matei.
— Foi um sonho apenas, só isso. Muita coisa aconteceu ontem, está difícil para você
assimilar tudo. Se acalma.
Ela se mexe, acordando ainda mais o indivíduo, cacete!
De repente, ela salta do meu colo e me olha assustada.
— Ai, meu Deus! Olha só onde fui parar. E você está de cueca e ainda por cima...
— Em minha defesa, é cedo e ele é um “cara” que acorda cedo.
Juro que nunca fiquei tão constrangido como estou, que porra!
— E-eu, vou... — Ela não termina e entra no banheiro.
Vou para meu quarto e pego meu celular. Ligo para Daiane. Depois de uma eternidade, ela
atende.
— Eu juro que, se não estiver em perigo e me ligando apenas para me encher, eu te mato,
Henrique!
— Eu que vou te matar, sua demônia! Que porra de camisola foi aquela que enviou? Tem
merda na cabeça?
— Era a única nova que eu tinha. Eu não acredito que me ligou para isso!
— Não acredito, você tem uma porra de um closet maior que minha casa!
— Não exagere. Olha, eu quero dormir. Vá dormir também e pare de encher meu saco.
Tchau. — Desliga na minha cara.
Eu a conheço, fez para me irritar, nunca vi pessoa para querer me irritar tanto como ela. O
volume entre minhas pernas some.
— Agora que você some? Cacete!
Visto uma calça de moletom cinza, faço minha higiene e saio do quarto. Vou até o quarto
da Ana, chamo por ela, mas um dos seguranças que passa pelo corredor disse que ela está na
cozinha.
Vou até a cozinha e ela está trocada. Merda, será que nada que ela vista a deixará
menos gostosa?!
Se concentre Henrique, ela é sua cliente e acaba de ficar viúva do noivo.
Ela coloca o copo na pia. Ainda não percebeu minha presença. Está de costas para mim, me dando
uma bela visão do seu corpo coberto por um vestido vermelho que ressalta suas curvas e sua
bunda, que me deixa duro só de ver.
Se concentre, Henrique.
Pigarreio para chamar sua atenção, e ela se assusta.
— Está melhor? — pergunto.
Me encosto no batente da porta e cruzo os braços.
— Sim. Obrigada.
— Desculpe pelo que aconteceu.
— Tudo bem, eu que não pensei direito, estava assustada e me joguei no seu colo.
— Isso tudo vai passar logo, assim que o verdadeiro culpado for condenado.
— Meu medo é quanto de tempo vai levar.
— Não tenha medo. Eu te prometo que será rápido.
— Tomara, eu quero voltar a tentar viver, ter paz e tentar reconstruir minha vida.
— Vai ser complicado, mas tudo isso vai acontecer, confie em mim.
— Preciso ver o que farei, porque não terá como trabalhar, ninguém vai me querer depois
dessa confusão toda, até que provem o contrário. Não posso ficar aqui. E preciso ver como irei
pagá-lo, porque, ganhando ou perdendo, você tem me ajudado, mesmo, às vezes, eu sendo dura
demais.
— Não precisa se preocupar com nada disso agora. Fique aqui até resolvermos tudo, é por
questão de segurança.
— Não posso ficar atrapalhando sua vida.
— E não está. Eu quero te ajudar e vou.
— Eu não sei se isso é correto.
— OK. Como seu advogado, eu digo que é para ficar nesta casa até segunda ordem e,
assim, ficará em total segurança, até as investigações terem um resultado e vermos o que o juiz vai
determinar. — digo em um tom autoritário, o mesmo que uso com os outros clientes.
— Está bem. Já estou na merda, se tiver que piorar, que piore.
— Não pense assim. Já que acordou cedo, já sei o que pode te deixar um pouco melhor.
— O quê?
— Vem comigo.
Estico a mão e ela a segura, a levo até meu espaço de treino, em uma sala reservada.
Meus seguranças ficam olhando e Luciano dá uma risadinha, idiota. Eles sabem que nunca levei
ninguém nesta sala, além dos meus irmãos e os seguranças.
Ela olha todo o lugar, impressionada.
— Que lugar incrível. E perigoso. — Sorrio.
— Aqui é onde desconto toda tensão do dia a dia. Ou onde chamo meus irmãos para
treinar e, assim, socá-los, dizendo ser apenas um treino. — Ela sorri.
Pego um par de luvas de boxe no armário. Me aproximo dela, que me olha com
curiosidade. Visto as luvas nela, que não diz nada, apenas observa.
— Quero que você vá até ali, naquele saco de pancadas, e soque sem parar.
— E por quê?
— Você vai descobrir.
Seguro o saco de pancadas e ela apenas me observa.
— Eu não vou socar isto com você segurando, vou te machucar e tudo o que menos preciso
é de mais problemas.
— Não reclame, Anjo, apenas soque isto com toda sua força e deixe as emoções irem com
ela, soque sem parar.
— Isso não vai dar certo.
— Apenas faça.
— Está bem.
Ela dá um soco.
— Mais forte!
Ela dá outro soco.
— Não tenha medo. Imagine que isso são seus problemas e os soque.
Ela começa a socar sem parar, intercalando as mãos. Cada vez mais, ela soca com mais
força. O suor começa a escorrer por seu rosto e seu corpo. As lágrimas começam a escorrer e ela
não para.
— Isso, jogue tudo para fora, até sentir que não aguenta mais.
Ela continua. As emoções em seu semblante são diversificadas. Ela vai socando, até que vai
perdendo as forças e cai de joelhos, baixando a cabeça e chorando.
Me agacho a sua frente e retiro as luvas. Levanto e a puxo para mim, trazendo-a para
meus braços.
— Por que isso tinha que acontecer comigo? Eu não estava sendo uma boa noiva, mas não
merecia isso. Ele não merecia isso. E agora estou sem ninguém, porque minha família me deixou.
Minha carreira mal começou e a sujei. Não tenho onde morar. Não tenho emprego. Eu estou
ferrada.
— Você não está sozinha, você tem a mim.
As palavras saem de mim sem eu pensar. Ela ergue o rosto e me olha.
— Por que está sendo tão bom comigo? Nos conhecemos há menos de 24 horas.
— Porque eu acredito na sua inocência, merece uma pessoa que acredite em você e que te
proteja.
— Obrigada, não sei como agradecer. Isso aqui foi maravilhoso, tirou boa parte do peso
que estou sentindo desde ontem.
— Não agradeça, não é necessário.
Nos afastamos e saímos dali. Ela vai tomar banho e eu vou para meu escritório.
Ligo para meu escritório no centro e aviso que não irei hoje. David me envia uma
mensagem, dizendo que amanhã terá uma resposta da perícia. Peço para ele me enviar por
scanner o depoimento recolhido e a ficha completa do Rodolfo. Preciso começar a analisar tudo,
juntar as provas necessárias e me manter em cima das investigações, pois odeio ficar no escuro,
gosto de acompanhar tudo de perto.
Minha mãe me liga, pedindo para almoçar com ela e os outros, porém não posso mais
perder tempo, tenho que me concentrar no trabalho.

Coloco meus óculos e fico analisando tudo o que meu irmão me enviou. Detalhe por detalhe.
Rodolfo não tinha antecedentes criminais e tampouco arranjava confusões ou problemas na
universidade que lecionava. O cara era bom no que fazia, pois era muito elogiado como
profissional.
Acesso o site da universidade e vou à galeria de fotos. Era uma universidade com muitos
eventos. Ele foi a todos, porém nunca com a Ana. Sempre sozinho e, quando não, surge em fotos
com professores e alunos, alguns bem mais que outros.
Por que ela não o acompanhava nesses eventos? Se ela fosse minha, a levaria comigo até
na padaria da esquina e, se um filho da puta olhasse, meteria uma bala no meio da testa dele.
Fico horas analisando tudo e só paro quando sou interrompido pela Ana, que bate à porta
e pergunta se pode entrar. Com os cabelos molhados e penteados, um short jeans e uma camiseta
cinza, ela entra na sala.
— Desculpa atrapalhar, mas é que já está há muito tempo aqui e não comeu nada. Tomei a
liberdade de preparar algo para nós comermos — diz com timidez.
— Estava tão concentrado que nem senti fome, mas agora que falou, posso senti-la. —
Sorrio.
— Você usa óculos — diz com admiração.
— E continuo lindo. — Pela primeira vez escuto sua risada alta e é uma maravilha.
— Fica com a aparência de um homem mais sério.
— Eu sou um homem sério.
— Claro que é — fala com um pouco de ironia, me fazendo sorrir.
— Vamos, agora os dez leões dentro de mim acordaram. Só vou colocar uma camiseta.

Ela fez um macarrão à bolonhesa, divino, tenho que admitir. Peguei um vinho branco, para
acompanhar a comida, para ela e para mim, suco, pois não bebo álcool, tenho em casa apenas
para visitas.
— Usa óculos, não bebe álcool, é engraçado, bom advogado, sabe cozinhar. Estou me
surpreendendo cada vez mais em menos de 24 horas.
— Sou assim, não é à toa que me conhecem por Detonador. Detono tudo, inclusive o juízo
das pessoas. — Ela sorri.
Terminamos de comer em silêncio e a ajudo com a louça.
— Estava delicioso, é uma ótima cozinheira.
— Não sou, não, sou péssima na cozinha, fiz macarrão, porque ele e omelete são as únicas
coisas que saem boas. — Sorrio.
— Que bom que fez ele, então. — Sorrimos.
Terminamos tudo e a levo até o escritório. Ela nota no que estou trabalhando e seu
semblante triste retorna. Coloco uma cadeira ao meu lado e ela se senta. Sento-me e pego meu
óculos.
— Estive olhando algumas coisas e algo me deixou curioso. Por que não tem fotos de vocês
dois juntos nos eventos da faculdade, mas tem de outros membros de lá com amigos e familiares?
— Eu sempre queria ir, acompanhá-lo, estar ali com ele, mas ele sempre dizia que eram
chatos, que eu não iria gostar, que não deveria faltar as minhas aulas para acompanhá-lo e que
acabariam tarde. Então, eu nunca ia, mas eram muitos.
— E você nunca tentou descobrir se estes eram mesmo os motivos?
— No início, não. Porém, quando ficamos noivos, tudo mudou e comecei a estranhar isso e
questioná-lo, mas terminava em discussões, e ele dizia que eu não tinha por que desconfiar ou
estranhar, que ele nunca me deu motivos para nada e aí eu desistia e ficava em casa.
— E ele realmente nunca deu um motivo sequer?
— Não. Ele realmente ia aos eventos e eram as únicas vezes que chegava tarde. Do
contrário, era sempre trabalhando em casa ou na universidade.
— Vi que ele perdeu os pais há muito tempo e era filho único, não tem ninguém. Isso é
correto afirmar?
— Sim. Quando o conheci, já havia perdidos os pais.
— Entendi. — Me viro completamente para ela. Retiro os óculos e fecho a tela do
notebook. — Você realmente o amava? Vi em seu depoimento certa dúvida. E preciso saber de
tudo, porque qualquer vírgula pode se transformar em um problema enorme.
— Desde que as brigas sem limites iniciaram, ele me procurando apenas para sexo e não
para outras coisas, como saberia se eu estava bem ou precisava de atenção? Não me deixava ir
aos eventos com ele e nem me levava para sair pelo menos um pouco e, quando ele suspeitou que
eu estava grávida, tudo mudou. O amar se transformou em carinho, consideração, não existia mais
amor da minha parte, só desgaste. Quando saí ontem, era para pensar em tudo e ver o que faria
da minha vida, eu realmente pensava em terminar tudo, mas aí ele morreu...
— Por que mudou tudo quando ele suspeitou que você estava grávida?
— Ele ficou estranho, parecia não querer aquilo, não tenho uma explicação, mas ele mudou
ainda mais e infelizmente morreu acreditando que eu estava, mas não estou, era apenas uma
intoxicação alimentar e minha menstruação que sempre foi desregulada, fiz os exames. Ele só
queria saber do trabalho, não tinha como conversar com ele e explicar que ele estava enganado e
que eu estava muito feliz por isso, porque não queria ter um filho, não vivendo daquela maneira.
Coloco os óculos na mesa e seguro uma de suas mãos.
— Eu sinto muito.
Meu celular vibra na mesa e vejo uma mensagem do David.
Amanhã, sem falta, venha aqui, pois descobri algo que ainda não passei a ninguém, porém acho
importante, tudo se tornou importante agora para livrá-la dessa furada, porque sei que ela não foi a
assassina, eu vi a verdade em seus olhos e o desespero dela. Não diga nada a ela ainda, para não dar
falsas esperanças. Aproveita e me traz um presentinho, tipo chocolates, porque flores, não curto muito.
— Bom, eu vou me deitar, minha cabeça está doendo muito.
— Certo. Quer um remédio?
— Não, quando eu ficar quieta e deitada, passará, é a preocupação que faz isso.
Ela se retira e fico ali, olhando para o nada.
Mesmo tendo 27 anos, ela tem a doçura de uma menininha. Sua identidade a declara
adulta e a vida declarou que ela tem que ser muito madura, porém ela só precisa de carinho,
atenção e um alguém que a ame incondicionalmente, porque, em um único dia, a vida lhe deu uma
rasteira que a colocou completamente no chão e a deixou impossibilitada de se levantar e aqueles
que eram para ajudar, apoiar, viraram as costas. Ela necessita de amor, compreensão e alguém
que mostre que realmente acredita nela, disposto a ajudá-la sem medo, e eu não me importo de
ser esta pessoa. Ela está vivendo este momento no modo automático e, quando a ficha realmente
cair, pode ser um choque muito grande. Ao ganharmos esta causa, será uma mistura de choque
com alívio. Vamos ganhar esta causa, pois não deixarei o filho da puta do culpado sair impune e
Ana Louise ser condenada.
CAPÍTULO 5

Estou na delegacia do meu irmão, a deixei em casa com os seguranças. Ela estranhou,
ontem, quando pediram o sapato que ela usou no dia que encontrou o noivo morto, mas não
discutiu e entregou. Parece que a perícia encontrou pegadas.
— Henrique, o resultado da perícia ainda não chegou, vai atrasar mais, que inferno. Tentei
adiantar, mas não consegui, eles disseram que está complicado!
— Porra! Isso não está caminhando bem.
— Assim que sair e as investigações acabarem, terá o primeiro julgamento dela e se não
tivermos outras provas que não a incriminem...
— Ela vai ser presa no lugar do verdadeiro assassino — ele concorda.
— Sozinho, resolvi ir atrás de algumas coisas e descobri isso. — Ele me mostra papéis da
universidade que o Rodolfo lecionava. — Ele estava faltando muito ao trabalho e sem justificativas.
O diretor da universidade chegou a questioná-lo, mas ele dizia ser problemas em casa. Porém, no
depoimento da Ana Louise, ela alega que ele só pensava no trabalho e não citou uma única vez
que ele tenha faltado. Pelo que ela disse, ele nunca faltou. Aqui estão todas os dias, horas e meses
que ele faltou.
— Você acha que isso tem relação com a morte dele?
— Olhe isso aqui. — Ele vai até a última folha e indica a última falta. — No dia em que
ele foi morto, não compareceu ao trabalho. Ela não percebeu, porque, olhe aqui, era um dos dias
da semana que ele chegava cedo.
— Vendo algumas fotos dos eventos, eu notei que ela nunca estava, ele nunca a levava,
sempre com desculpas.
— Ela não me disse isso. O que aumenta minha suspeita neste instante. Preciso de um novo
depoimento e que ela me conte tudo até em relação a estes eventos.
— Por quê? Do que suspeita.
— O assassino pode estar infiltrado na faculdade.
— Por isso nunca a levava aos eventos.
— E tem mais, quem entrou na casa, usou a entrada principal, era conhecido.
— Alguém que ele já esperava. E a pessoa sabia que ela não estaria em casa e, assim,
quando chegasse, ela seria a culpada. A pessoa limpou a cena do crime.
— A perícia viu apenas pegadas dele e da Ana Louise na entrada, todas dos sapatos
deles e é isso que está piorando a situação também.
— Talvez a pessoa tenha usado um sapato dele ou sacos nos pés, algo do tipo.
— Pensei nisso também, o que tornaria a pessoa ainda mais conhecida, para usar algo
dele, e seria um homem.
— E se estivermos olhando de forma errada? E se a perícia estiver olhando da maneira
errada?
— Como assim?
— E se a pessoa não entrou normalmente? E se a pessoa encontrou outra maneira de
entrar?
— Impossível, alguém teria visto.
— A rua não tem câmeras?
— Não estavam funcionando naquele dia.
— E a pessoa sabia disso.
— Com toda certeza.
— Está história é um quebra-cabeça e estou enlouquecendo.
— Na faculdade, ele era muito querido, talvez tenha despertado inveja em alguém.
— Ela disse que ele mudou ainda mais quando desconfiou que ela estava grávida. E se
tiver algo a ver com isso? O assassino talvez seja algum lunático que a ama.
— Muito improvável.
— A Daiane disse que desconfia de uma coisa, mas precisa ter total certeza antes de nos
contar.
— Ótimo, a louca vai fazer a calada.
— Foi o que disse a ela. — Ele sorri.
— Ela não pode ser presa, temos que encontrar o verdadeiro culpado antes do julgamento.
— Ou tirá-la do caminho da culpa até lá e conseguir mais provas.
— Não indo a júri popular, estaremos bem. Ela está sendo odiada até pela família.
— Sim, todos vierem depor ontem e sabe o que a mãe e o pai dela disseram?
— Não, mas imagino.
— Que ficaram contra a filha assassina. O que não ajudou em nada.
— Este caso está se complicando. Se o assassino aparecesse e se entregasse, resolveria
nossas vidas.
— E como!
— Pera aí, por que primeiro julgamento? — pergunto preocupado.
— Porque o tio disse que talvez as provas desse caso não sejam suficientes para ter uma
decisão, ele está acompanhando cada passo e, claro, interferindo, ou seja, saindo da lei como
sempre!
— Porra, se ele declarar um segundo julgamento...
— Ele pode querer que ela fique presa. Não sei como ele permitiu o habeas corpus.
— Ele sempre consegue tudo o que quer.
— Isso é mal dos Escobar — diz sorrindo.
— Eu preciso ir.
— Vai para o escritório?
— Para casa.
— Eu fiquei sabendo que ela está lá e achei uma ótima atitude ajudá-la. Henrique, eu juro
que quero ver você feliz e se for com ela, tudo bem, mas não acho que seja uma boa você se
envolver com a acusada e você ainda ser o advogado dela. Isso pode acabar mal. Não faça
nada com o coração, somente com a razão, porque nossa carreira é assim, somente razão, jamais
coração, porque nem sempre tudo é o que parece.
— No caso dela é diferente.
— Porque ela não é a culpada, nós sabemos, mas os lobos que querem o mal de todos,
não. Conhecemos as leis do nosso país.
— Nós somos as leis.
— E, veja só, as estamos quebrando.
— Eu sei o que estou fazendo, David.
— E isso me preocupa, porque você não vai foder apenas nossas vidas.
— Eu não vou deixar nada acontecer a ela. Eu vou livrá-la!
— E o assassino que está a solta, se levarmos tempo para encontrá-lo, será que ele vai
livrar ela ou se livrar dela? Pense bem. Talvez ela ficar em uma cela privada, não seja tão ruim,
seria seguro.
— Ela não vai ficar em uma cela, não seja idiota!
— Você é o advogado dela, deve saber o que está fazendo.
— E eu sei.
— Espero que sim. Você tem que ir, tenho dois idiotas ali fora, à espera de eu prendê-los...
pela quinta vez. — Rio.
— Boa sorte. Vou trabalhar.
Estou abrindo a porta para sair quando ele diz:
— O trabalho vai ser bom ao lado da ruiva, eu devia ter escolhido ser advogado
criminalista.
— Não deveria, já basta um louco na família. — Ele ri, e eu saio.
Encontro no corredor os dois que meu irmão espera e começo a rir.
— João Ricardo e Maximiliano, sério isso? O que fizeram agora?
— Doutor, livra a gente, vai. Não fizemos nada, seu irmão implica com a gente.
— Vocês nunca fazem nada. — Rio ainda mais e o Cleber, o policial com eles, ri também.
— Certo, mano, roubamos uma senhora, só isso, e o senhor aqui chegou na hora.
— Para que chamá-lo de senhor? Vocês já são íntimos. Relaxa, logo vão tirar vocês.
Aproveitem para comer bem e tirar férias, trabalham muito — digo com ironia.
— Não prestam nem para roubar, doutor. Vão seus merdas! — Ele leva os dois pra sala do
David.
Escuto meu irmão dizer: Estou começando a acreditar que vocês querem um caso comigo,
porque não saem do meu caminho.
Saio rindo da delegacia. Mas minha alegria morre quando vou entrar no meu carro.
— Não me conformo que o doutor esteja defendendo aquela menina.
— A sua filha, a senhora quis dizer.
— Eu sempre a odiei, desde que nasceu. Ela mereceu tudo isso. Merecia coisa pior.
— Estou começando a achar que a senhora tem algo a ver com isso que aconteceu.
Ela fica pálida e se afasta rapidamente, atravessando a rua.
Tem algo errado, talvez estejamos olhando de forma errada. Essa mulher tem muito ódio da
filha, iria adorar ver a Ana presa.
Entro no carro e sigo para casa.
CAPÍTULO 6

Estou definitivamente cansada de ficar trancada dentro da casa do Henrique. Tudo o que
mais quero é que esse pesadelo acabe rápido. Henrique não comenta nada comigo. Faz 3 dias
desde que tudo aconteceu. E eu não sei o que é ver o movimento fora desta casa. Todos aqui
dentro são muito sérios. Henrique está muito focado no trabalho e não o culpo. Ninguém da família
dele vem aqui. Já ouvi conversas dele ao telefone, falando com a família e indo se encontrar com
eles a trabalho. Estou com medo, não tenho um pingo de esperança de me livrar dessa bagunça.
Estou na enorme sala, sentada no chão, próxima as enormes janelas que dão acesso ao
jardim da casa. O dia está lindo, até parece que tudo o que aconteceu foi um pesadelo, aí acordei
e estava tudo normal, mas as lembranças retornam e vejo que tudo foi real.
— Admirando meu jardim?
Sorrio animada ao ouvir a voz do Henrique. Pelo menos, com ele aqui, tenho com quem
conversar e esquecer por instantes tudo o que aconteceu.
— Um belo jardim.
— Eu sei, fui eu que escolhi. — Sorri.
— Bom gosto, doutor.
Ele retira a gravata e o paletó, jogando no sofá junto com a pasta.
— Pergunte.
— Perguntar o quê?
— Eu sei que está passando muita coisa nessa cabecinha e que está com medo. Pergunte o
que quiser, não tenha medo.
— Eu só queria poder sair um pouco, me distrair. Não aguento mais ficar trancada aqui.
Esse habeas corpus é como não ter, pois estou aqui e me sinto em uma cela.
— Opa, minha casa é muito melhor que uma cela. — Ele se senta na mesa de madeira
rústica de centro. — A comida é melhor ainda e o cozinheiro, não tem igual.
— É sério. Eu agradeço tudo que está fazendo por mim, porém não aguento mais. Eu vou
pirar.
— Eu já estou pirando, você não tem noção.
Ele me olha diferente. Talvez eu esteja louca de vez, mas vejo amor em seus olhos. E meu
peito se enche de esperança de repente, só não sei pelo o quê em si.
— Por que está me olhando assim?
— Porque você é linda e merece ser olhada com amor e carinho.
Sinto minha pele esquentar. Devo estar muito vermelha. Abaixo a cabeça e meus cabelos
caem em camadas, cobrindo meu rosto.
Escuto seus passos e logo sinto suas mãos colocando meus cabelos para trás. Olho para ele,
agachado ao meu lado. Seu cheiro é tão bom. A cor de seus olhos brilham devido ao Sol.
— O que quer fazer?
— Sair um pouco.
— Eu tenho medo de você sair e algo acontecer.
— Não vai acontecer. Pelo menos, eu acho que não.
— Eu, infelizmente, não poderei ir, mas enviarei uma equipe de segurança com você. Pode
ser?
Olho animada para ele e sorrio.
— Pode. Aceito até a polícia atrás de mim, desde que eu possa sair um pouco.
— Ótimo. Vá se arrumar, vou prepará-los.
— Obrigada!
Levanto animada e corro para o quarto.

Não tenho como negar nada a ela. Sei que está sofrendo e tenho que diminuir este
sofrimento.
Chamo Luciano, que vem rapidamente até mim.
— Ana Louise vai sair. Quero homens na cola dela o tempo inteiro. Sem qualquer descuido.
Sem falhas. Vá junto.
— Não se preocupe, ficaremos bem de olho nela.
— Não precisa ficar tão de olho assim.
— Mas, senhor, como vamos cuidar sem ficar de olho?
— Se virem. Se eu sonhar que olharam para a bunda dela ou esbarram nela, eu mato
vocês. Não se esqueça nunca: nem sempre o volume em minhas calças é uma ereção.
— Senhor, seremos profissionais.
— Acho bom.
Ana aparece na sala com um short jeans, sapatilhas e uma camisa branca. Eu vou matar
minha irmã. Isso é roupa para arrumar para ela?
— Podemos ir? — ela pergunta.
— Sim.
Vou pegar a carteira e ela me interrompe.
— Não, não quero dinheiro. Eu só quero ir passear mesmo. Será rápido.
— Ana...
— Por favor, já fez muito por mim.
— Está bem.
Ela passa por mim e me dá um beijo no rosto.
— Vá de carro com eles.
— Certo.
Ela sai animada e fico feliz por isso. Luciano me olha e sorri.
— O que foi, palhaço? Virei dentista agora, para ficar me mostrando esse sorrisinho?
— Não, senhor.
— Vá logo — digo sorrindo, e ele se retira.

Vamos ao shopping. Eles deram a opção de um lugar mais movimentado.


Caminho olhando as lojas. As pessoas me olham e fico em dúvida se é pelo caso em que
estou envolvida, por ter um monte de homens de preto atrás de mim, ou pelos dois.
Fazia tempo que não ia ao shopping, na verdade, nunca gostei muito, mas hoje ele parece
um paraíso para mim, pelo simples fato de poder passear um pouco.
Ando por horas talvez, e então fico com dó dos seguranças, por caminharem tanto comigo.
O celular de um deles não para de tocar e tenho certeza que é o Henrique, ligando toda hora.
— Vou ficar um pouco sentada aqui perto do chafariz. Descansem também.
— Ficaremos de olho na senhorita.
— Está bem.
Dou de ombros, e eles ficam espalhados, me olhando.
Sinto um olhar nas minhas costas. Viro-me para ver, mas há apenas lojas e pessoas
andando. Devo estar louca.
Começo a me sentir agoniada e me levanto. Os seguranças se aproximam de mim. Voltamos
a andar, porém continuo sentindo a agonia e um olhar nas minhas costas. É aquela impressão
horrível de que está sendo seguida.
— Vamos embora.
Digo a eles e, provavelmente, minha voz tenha saído bem trêmula, porque ficam atentos.
— Aconteceu algo, senhorita? — Luciano pergunta.
— Não, só cansaço.
Seguimos para o estacionamento. E a sensação continua. Olho para trás e tenho a
impressão de ter visto um vulto, alguém.
— Luciano!
— Senhorita?
— Eu acho que tem alguém seguindo a gente.
— Fique aqui, senhorita.
Ele me deixa ao lado do carro e pede para dois homens ficarem comigo enquanto outros
vão averiguar o lugar.
Viro-me para olhar para trás e vejo uma sombra. Não tenho tempo de gritar, pois um tiro é
disparado. Os seguranças ao meu lado me jogam para frente, fazendo uma barreira. Os outros
começam a correr atrás de quem atirou, mas a pessoa parece um fantasma, simplesmente some.
Estou tremendo. O vidro do carro tem a marca do tiro.
Luciano fala ao celular. Os outros seguranças ficam me protegendo. Seguranças do
shopping aparecem. Estou desesperada e em estado de choque. Talvez seja o assassino do
Rodolfo. Estava me seguindo o tempo todo.
Em minutos, escuto sirenes. Carros da polícia entram, cercando o estacionamento e tirando
os curiosos. Vejo David chegando e falando com todo mundo. Ele dá instruções aos homens dele.
Assim que me vê, corre até mim.
— Você está bem?
— Acho que sim. Estou assustada.
— Foi por sorte. O filho da puta fugiu.
— Eu não sei, mas não acho que seja homem.
— Por que, viu a pessoa?
— Só os vultos. Mas algo me diz que não era homem.
— Vamos descobrir. Não se preocupe.
Olho para a porta e vejo o Henrique entrar correndo.
— Chegou o herói — David brinca para tentar descontrair.
Não espero parada. Pulo em seus braços. Ele me abraça forte.
— Está tudo bem... — ele diz, apertando-me forte.
Me afasto, e ele segura meu rosto. Sem delongas, seus lábios atacam os meus. Sua língua
invade minha boca. Minhas mãos vão para ao redor do seu pescoço. Nosso beijo é urgente.
Precisamos um do outro, não tenho como negar. Sinto o calor de seu corpo transpassar para o meu.
Suas mãos descem para minha cintura, onde apertam firmes. Sinto uma vibração intensa. Posso
sentir sua ereção e isso me enlouquece.
Nada ali importa. Sei que todos devem estar olhando, mas nada importa. Merda, isso não
vai ser bom, eu tenho certeza. Não vejo como uma traição ao Rodolfo, pois eu já sabia que não o
amava mais, eu tentei terminar diversas vezes com ele, mas ele nunca tinha tempo para conversar.
Eu não era mais feliz e sei que ele também não.
Escutamos um pigarreio e encerramos o beijo. Henrique me puxa, mantendo-me ao seu lado,
com o braço ao redor da minha cintura. Todos estão olhando, boquiabertos.
David está nos olhando e sorrindo maliciosamente.
— Sério, gente? No meio da cena de um crime, vocês se comendo?
— David, menos! — Henrique diz a ele. Estou vermelha.
— Porra, preciso virar advogado criminalista, esta história de ser delegado está me
deixando na pior.
Sorrimos.
Fomos embora dali. Policiais ficaram investigando o ocorrido. David me interrogou para que
eu explicasse tudo o que aconteceu. Dei o depoimento a ele. Eles acreditam ser o assassino do
Rodolfo, mas não podem afirmar nada ainda. Eles foram embora, deixando-nos a sós.
— Henrique, eu só queria dizer que o que aconteceu...
— Por favor, não diga que foi um erro.
— É só que...
— Eu estou louco por você, Ana. Eu me apaixonei por você... desde o primeiro dia que te
vi.
Fico boquiaberta e me sento no sofá.
— Eu não sei o que dizer...
— Diga que sente o mesmo, isso vai ajudar muito.
Não posso mentir para mim mesma. Ele mexeu comigo desde o início. Nunca acreditei em
amor à primeira vista, mas, desde que o vi, tudo mudou. Nem em cinco anos com o Rodolfo, eu
consegui sentir o que sinto por Henrique em apenas três dias. Se é pecado, desrespeito ao Rodolfo,
necessidade de carinho, eu simplesmente não sei, a única coisa que posso garantir é que eu
realmente me apaixonei pelo meu advogado e em apenas três dias. Realmente o tal do amor à
primeira vista existe e não só em livros, novelas, ou filmes, ele é real!
— Se você não falar nada, eu juro que vou me enforcar em dois segundos. Um...
— Eu estou sentindo o mesmo por você, mas tenho medo.
Ele sorri e me puxa para seus braços.
— O medo faz parte e você vai ver que, com a carreira que escolheu, o medo vai fazer
parte do seu dia a dia.
— Eu não gosto de sentir medo.
— Ninguém gosta. Mas faz parte.
Ele acaricia meu rosto e me abraça.
— Eu vou estar ao seu lado sempre que sentir medo e irei lhe ajudar.
— E se isso tudo acabar de uma forma muito pior.
— Não vai, eu prometo e eu cumpro as minhas promessas.
Ele me beija com carinho, e percebo as famosas borboletas em meu estômago. Sinto-me
uma adolescente novamente.
CAPÍTULO 7

O restante do meu dia de ontem não poderia ter terminado melhor. Não tenho como negar,
estou completamente apaixonado pela minha cliente, a ruiva que domina meus pensamentos e me
faz querer matar o desgraçado que a está prejudicando.
Ontem, depois do nosso beijo, nada mais aconteceu, cada um dormiu em seu quarto. Eu não
queria e isso é obvio, mas ela quis assim, disse que prefere que as coisas sejam mais devagar até
toda essa história terminar, e a compreendi.
Hoje, estou no meu escritório no centro, esperando o pessoal vir. Minha irmã alega ter uma
pista muito forte e, quando se trata dela, não tenho como duvidar.
A porta, em instantes, se abre. Daiane, Marcos e David entram na sala.
— Olha só, meu aniversário e eu não lembrava. Cadê meu presente? — brinco.
— Sério mesmo que você é meu sobrinho? — Marcos pergunta.
— Eu acho que caiu quando nasceu — David provoca. — Aí, ficou assim...
— Os bebês podem parar para tratarmos do que realmente viemos fazer aqui? — a
morena alta e bem séria pergunta.
— OK. O que tem para nós, maninha? — pergunto.
— Eu encontrei uma pista, eu já tinha avisado o David, mas queria ter certeza antes.
— E como nos garante ser uma pista? — Marcos pergunta.
— Sério mesmo que está me questionando em uma pista, tio? — ela rebate.
— Desembucha — ele diz.
— Fui olhar todos os eventos da universidade que o Rodolfo trabalhava, porque, desde o
início, cismei que o assassino tem algum envolvimento com a faculdade. É um sexto sentido. E,
olhando as fotos dos eventos, encontrei uma coisa e, depois que o David me disse que ela alega
que ele não a levava aos eventos, tudo fez mais sentido.
— Pare de enrolar, seja direta! — digo.
Minha irmã sempre teve essa mania de explicar nos mínimos detalhes.
— Ele sempre tem fotos com vários alunos, mas tem uma aluna, especificamente, com quem
ele tem muito mais fotos.
— Sim, eu vi, uma loira, mas não vi nada demais — David diz.
— Também vi — digo.
— Vocês são idiotas ou o quê? — ela pergunta.
— Poderia te prender por desacato — David provoca.
— Tente! — ela diz, olhando seriamente para ele. — Eu sou mulher e conheço o olhar de
uma mulher que olha para um homem com segundas intenções. O olhar que ela direcionava a ele
em todas as fotos era muito suspeito. E por que muitas fotos justo com ela?
— Talvez ele seja o professor preferido dela — digo.
— Eu tive professores preferidos e nunca olhei daquele modo para eles. Aquele olhar tinha
segundas intenções. E o olhar que ele dirigia a ela era um olhar diferente de uma relação entre
professor e aluna.
— Faz sentindo, afinal, ele não queria a noiva presente nos eventos da faculdade e
começou a ficar estranho com ela. Talvez houvesse uma traição da parte dele — Marcos diz.
— Vão por mim, ele e aquela loira escondem algo, e ela é a chave para desvendar tudo
isso.
— Vamos à universidade, lembrando que estamos indo por conta própria, hoje é meu dia
de folga e não estou avisando a delegacia e nem aos meus homens. Delegado também tem regras
e leis.
— E desde quando os Escobar não interferem em algumas leis? — minha irmã diz, sorrindo.
— A pirralha está certa — Marcos diz.
— OK. O tempo máximo que aguento ao lado de vocês terminou. Fui, antes que me
contagiem com a doença da idiotice.
Ela sai, deixando-nos a sós.
— Vamos agora — digo.
— Coloque um terno, David — Marcos fala, e David o olha com cara de interrogação.
— O que tem de mais em uma calça jeans e camiseta branca? — pergunta.
— Na nossa profissão, tudo vai de como conseguimos intimidar quem está em nossa mira
com uma placa onde se lê: culpado — Marcos diz, sorrindo.
— OK. Pego um do Henrique, a casa dele é mais perto.
— Vou querer lavado e passado.
— Eu queria ser filho único e olhe só.
— Vim primeiro, você veio de enxerido.
— Meu Deus! Parecem duas crianças!
— Qual é, tio, você é apenas 3 anos mais velho que eu. Se somos crianças, você não foge
disso.
— Não é isso que as mulheres que levo para a cama dizem.
— Só na cama? — David provoca.
— Não dou detalhes de como ajo com as mulheres, mas, se quiserem uma aula, posso dar.
— Dispenso. Vamos logo — digo, sorrindo.

***
Chegamos à universidade e, por onde passamos, todos nos olham. O que não é nenhuma
novidade.
Fomos até a coordenação do local. Uma mulher alta, muito bonita, está distraída no
computador.
Encostamos perto dela, e ela se levanta assustada. É realmente muito bonita, um corpo belo,
cabelos longos na cor castanho claro. Porém minha ruiva continua sendo minha predileta e, pelo
visto, sempre será. Olho para meu tio, que a olha com um olhar que eu conheço muito bem, parece
um predador em noite de caça com este olhar.
— Bom dia — dizemos juntos.
— Bom dia, senhores, em que posso ajudar?
— Qual é o seu nome? — pergunto.
— Beatriz Ferreira.
— Somos...
— Sei quem são — ela interrompe meu irmão.
— Queremos que nos mostre onde todos os professores assinam o ponto ou algo do tipo —
digo, para não ser direto. Ela está nervosa.
— Sou eu quem cuido. Temos uma regra rígida aqui, eles têm que assinar e eu que coloco
no sistema as faltas ou presenças.
— Ótimo. Poderia nos informar se o professor Rodolfo Batista faltava frequentemente?
Já sabemos a resposta, mas David sabe o que faz.
— Olha, eu não tenho autorização para comentar sobre este professor. São ordens da
direção. Melhor falarem com eles.
— Já falamos com eles, porém suspeitamos que falta algo e gostaríamos de ir mais a
fundo. Poderia nos ajudar?
— Não posso, recebo ordens e as sigo. É meu emprego em risco.
— Está bem — David diz. — Obrigado.
Nos afastamos e ele cochicha em meu ouvido que não pode prejudicar o emprego dela.
Olhamos para trás e vimos que meu tio ficou. Voltamos, porque esse olhar dele não é nada bom.
— Senhorita Beatriz, acredito que tenha amigos e que se eles fossem acusados de algo
que não cometeram, faria de tudo para ajudá-los. Nós somos parte da autoridade deste país e
estamos aqui para ajudar uma pessoa que está sendo acusada injustamente. Você gostaria que à
noite, quando se deitasse em sua cama, a culpa lhe caísse por não ter ajudado alguém quando
podia? — ele diz.
— Está bem. Farei melhor, mas ficarão esperando aqui. Porque, como autoridades, sabem
que as ordens existem e muitos têm que as seguir. Com licença. — Ela passa por ele, esbarrando
com força.
— Nossa, se minhas funcionárias trabalhassem vestidas com roupas tão justas, eu estava
fodido — digo.
— Eu estaria preso — David diz, sorrindo.
— O que foi tio? Ela te deixou sem fala? — provoco.
— Essa boca atrevida vai me pagar. Nenhuma mulher jamais me tratou assim. Ela mexeu
com o homem errado.
— Não faça nenhuma merda, ela parece ser perigosa, já viu o tamanho do salto agulha
dela? Aquilo é um perigo e muito sexy — David diz, rindo, e eu o acompanho no riso.
— Vamos sair daqui — ele diz.
— Ela pediu para esperarmos. Não vamos abusar da ajuda da bela moça — digo,
provocando.
— Foda-se ela. Vamos! — ele diz.
— É para já, titio — David provoca.
— Você não está com seu colete a prova de balas, e eu estou armado! — Marcos diz. Está
nervoso.
— Resta saber de que forma está armado — digo, passando por ele, e escuto quando me
xinga.
Encontramos ela se aproximando de uma porta. Paramos atrás dela.
— Vocês realmente são o que dizem, não seguem regras, ordens, leis. — ela diz e dou um
sorriso.
Ela entra na sala e ficamos observando de lado, para não chamar atenção dos alunos
dentro dela.
— Liziara Araújo, preciso dela, professor.
— EU NÃO FIZ NADA! — escutamos uma moça gritar.
— Senhorita Liziara, acompanhe a nossa coordenadora.
Escutamos um barulho de carteira sendo empurrada. Olho disfarçadamente para que
ninguém me veja e vejo uma bela jovem se levantando. Eu não acredito que ela caiu. — Sorrio.
— ESTOU BEM, PROFESSOR!
— Tenha mais cuidado. Esse ano ainda morro! — o professor diz.
A jovem de cabelos negros e longos, com as pontas cacheadas, vestida em um short curto,
uma camisa branca e all star nos pés, aparece junto a Beatriz, que fecha a porta.
— Eu morri e não estava sabendo. Amiga, o que é isso aqui? Ai, meu pai. Eu estou
enfartando. É muita beleza. Eu morri!
— Não apronte nada. É meu emprego em jogo — Beatriz diz a ela. — Esta era uma das
alunas do professor Rodolfo e acho que podem conseguir algo com ela, já que os outros alunos
dele não querem falar nada sobre o assunto e estão proibidos.
— Eu não sigo regras, sabe.
— Somos dois — meu irmão diz, sorrindo maliciosamente. Não acredito que ele está
flertando com ela.

Beatriz nos deixa em uma sala privada e saí sob o olhar raivoso do meu tio.
— Lizilda...
— É Liziara, de onde tirou Lizilda, criatura? — ela diz a meu irmão e seguro um riso.
Meu tio está encostado na janela com as mãos no bolso, ele revira os olhos e sorri.
— Ai, me desculpa! Não me prenda. Me defende, senhor? — ela diz e sorrio.
— Eu que peço desculpas. Liziara, precisamos de algumas informações e acho que você
pode nos ajudar, pelo menos é o que sua amiga disse.
— Podem soltar a bomba... Quero dizer... Podem perguntar. Estou nervosa, vocês todos de
ternos pretos, sérios, estão me deixando intimidada.
Olho para meu tio, lembrando do que ele disse, e ele dá de ombros, sorrindo.
— Não precisa ficar nervosa. Só queremos saber sobre uma aluna — digo.
— E qual seria? — ela pergunta.
— O professor Rodolfo tinha alguma aluna preferida... — David diz.
— Na verdade, quer dizer alguma que ele tinha um caso? — concordamos. — Nunca vi
eles se beijando ou qualquer coisa do tipo, porém eu sempre estranhei ele com a Luana Silva.
— Uma loira? — meu tio pergunta.
— Isso mesmo.
— E por que estranhava? — pergunto.
— Ela é estranha por natureza. É a mais velha da turma, tem 28 anos. Eles sempre ficavam
na sala depois que todos saiam. Ele nunca a tratava como uma aluna, sempre com mais intimidade.
Nas festas ou eventos, como preferirem, eles simplesmente ficavam colados. Nenhum outro
professor ou funcionário dizia algo, mas os alunos, sim. Sempre estranhamos. Chegou um tempo em
que ele começou a faltar muito e, quando ele não vinha, ela não vinha. Estudo psicologia, sou nova,
tanto na idade quanto em tempo de faculdade, para julgar alguém da forma que irei julgar, mas
acredito que a loirinha seja bem psicopata, como sempre digo: a praga é porra louca. — Ela
arregala os olhos. — Perdão. Eu sou um desastre, nervosa falo o que não devo.
— Não, tudo bem — David diz, sorrindo. — Você tem certeza do que diz?
— Muita. Tenho medo dela, para falar a verdade. Ela é estranha. Algo nela é estranho. E
tenho certeza que eles tinham algo. E como sabemos ele era noivo, tenho muita pena da noiva, pois
sei que está levando a culpa pelo o que não cometeu.
— Como assim? Você sabe de algo? — pergunto alarmado.
— Não tenho como provar nada. Mas fazendo umas pesquisas para um trabalho, eu vi uns
casos de sociopatas, pessoas que são antissociais agem sem consciência, moral ou responsabilidade.
E tudo se encaixa com o jeito dela. Uma mulher apaixonada ou que acredite estar sendo engana,
sendo ela uma sociopata, é capaz de tudo. Ela era uma histriônica nas aulas dele, queria ser
sempre o centro das atenções, mas, em outras aulas, o comportamento mudava. Ela era paranoide
também, sempre desconfiava de que estávamos falando de algo sobre ela ou distorcia histórias.
Uma vez, teve um surto e quase me matou, se não fosse pelos seguranças, eu nem estaria aqui.
Olho para meu irmão.
— Temos tudo o que precisamos. Mais uma coisa, ela veio hoje?
— Saiu mais cedo.
— OK. Muito obrigado. Gostaria que isso ficasse em sigilo — David diz.
— Está bem. Agora tenho que ir, uma prova me espera.
— Pode ir — digo. — Obrigado.
— Eu posso dar um beijo em vocês? Sou muito fã — diz animada.
— Pode... — David diz desconfiado.
Ela dá um beijo em seu rosto e no meu, mas, quando vai cumprimentar meu tio, ele estende
a mão, e rimos.
— Ah, amanhã tem uma festa aqui e ela virá, pegou convite, acho que poderiam observar
ela de perto, isso iria ajudar mais. Realmente quero muito que a moça acusada consiga se livrar.
— E como fazemos para entrar sem chamar atenção de todos e, consequentemente, dela?
— Fique com o número do meu celular. — Ela passa o número — Quando estiverem perto,
me avisem e arrumarei um jeito de entrarem. Com licença.
Ela tropeça antes de sair e pede desculpas, envergonhada.
— Sério que vão escutar essa doida? Ela me assusta e não me assusto com mulheres —
meu tio diz e sorrio.
— As doidinhas são as melhores — David diz.
— Eu não acredito que, ao invés de vocês focarem no caso, ficam babando por aluna e
coordenadora.
— Disse o homem que está pegando a cliente ruiva e muito gostosa, em apenas quatro dias
— David provoca
— Presta atenção em como fala da Ana ou eu não terei medo de ser preso por te matar.
— Não está mais aqui quem falou!
— Vamos logo! — Marcos diz, passando por nós.
— Não vamos agradecer a Beatriz? — pergunto, provocando.
— Espero que ela não cruze meu caminho de novo ou vai se arrepender por ter feito o
que fez. Vamos embora daqui.
Ele diz, irritado, e vamos embora rindo dele.

Agora tudo faz sentido. Se esta tal de Luana for a culpada, estaremos salvos, pois virarei o
mundo de ponta cabeça, mas ela vai se entregar ou não me chamo Henrique Escobar.
CAPÍTULO 8

Tortura, é isso o que eu sinto. Estou sendo torturada pela vida. Cada dia que se passa, a
agonia aumenta e o medo vem com ela. O Henrique é o único que tem o poder de me distrair, seu
carinho e seu amor estão sendo minha base de apoio. É como se no meio da tempestade ele fosse
meu salva-vidas. Porém sinto que ele me esconde algo e não sei o que é e não sei se isso é bom ou
ruim.

Estou no quarto, sentada na cama, com a cabeça apoiada na cabeceira. Minha mãe, ou
melhor, minha família pouco está se importando e isso me deixa pior ainda. Eu já sabia do
desprezo deles por mim, mas não imaginava que iria além.

A porta do quarto abre. Henrique está apenas de calça social e camisa branca. A gravata
está em sua mão.

— Posso? — pergunta e sorri.

— Claro.

Ele se aproxima, sentando ao meu lado.

— Não quis tomar café?

— Estou sem fome.

— Ana, você precisa comer. Chegou o laudo da perícia, fui informado agora e estou indo
para a delegacia.

— Posso ir junto?

— Deve. Porém vai precisar comer e me dar um beijo ou não irá. — Sorrio.

Ele me dá um beijo com carinho. Seu perfume me invade. Suas mãos seguram forte meu
rosto, sinto a gravata na minha bochecha. Ele morde meu lábio inferior. Estamos ofegantes. Ele
encosta a testa na minha e sorri.

— Eu, definitivamente, estou perdendo o controle. Se arrume, te espero lá embaixo. — Me


dá um selinho de despedida e se afasta.
Ele sai do quarto e eu fico olhando para a porta.

— Isso não deveria estar acontecendo, droga! Seria realmente possível estarmos
apaixonados um pelo o outro em poucos dias?

Passo as mãos pelo cabelo e solto o ar com força. Me levanto e vou pegar as roupas.

Encontro ele na sala. Está conversando com o Luciano. Assim que me aproximo, ele se vira
para mim e sorri. Me aproximo dele, e ele passa o braço ao redor da minha cintura. Saímos assim,
até o estacionamento. Fomos escoltados pela equipe de segurança.

***

David está distraído, olhando várias coisas em cima da mesa e, com isso, não nota nossa
presença.

— Delegado — Henrique diz, o assustando.

— Oi, gente. — Ele esfrega o rosto e solta o ar com força.

— Muito trabalho? — Henrique pergunta.

— E como, mas não é por isso que estou assim.

Nos aproximamos. Sentamo-nos à frente da mesa bagunçada.

— Isso é o laudo? — pergunto.

— Infelizmente, sim.

— Por que infelizmente? — Henrique questiona.

— Muita coisa não foi possível encontrar, porque, ou foi bem limpo, ou simplesmente não foi
tocado. As únicas coisas que obtiveram resultados confirmados foram as pegadas no chão, digitais
na arma, no corpo e no portão.

— E, deixa eu adivinhar, todas são minhas e dele?

— Infelizmente — David diz desanimado.

Olho para o Henrique, que me olha com carinho.

— Vai dar tudo certo, confie em mim.


— Eu confio.

— Hoje vão juntar tudo. O advogado que cuida do caso da vítima vai verificar tudo e,
após as últimas análises, enviará tudo para o departamento de homicídios e, de lá, o caso será
passado ao juiz e, em breve, teremos o julgamento, porque, infelizmente, pela perícia, você já é
culpada, eles afirmam isso. E o advogado que entrou no caso, defendendo a vítima, também.

Concordo, já sabendo que isso aconteceria.

— Quem é este advogado? — Henrique pergunta.

— Luiz Estevão Gomes.

— Não acredito. Justo esse merdinha que não saí do meu pé!

— Sim. Pegou o caso o hoje. Foi contratado. Pela família... da Ana.

Olho indignada para Henrique e depois para o David.

— Eu já deveria estar esperando!

— Hoje, coletarei tudo e estudarei todas as formas de libertá-la. Quero adiantar tudo para
no dia do julgamento não ser pego de surpresa.

— Que destino. Meu ex-professor de direito penal contra mim. Maravilha! — digo com
ironia.

— Não acredito que esse bosta que te deu aula. Pelo menos o infeliz é bom no que faz.

— Henrique, ele me odiava. Se ele não fosse bom, iria aprender a ser para acabar
comigo. Eu o questionava muito e isso o tirava do sério. Eu batia de frente com ele enquanto todos
o temiam. Ele vai me destruir, mais do que estou destruída.

— Meu amor, presta atenção: eu não sou conhecido por Detonador à toa. Nós dois não nos
suportamos. Ele virá com 10 armas contra você, e eu irei com 1000 coletes a prova de balas e, se
ele mirar na sua cabeça, já vai ter uma arma na dele, com o gatilho puxado. Luiz não vai ganhar.
— Ele me dá um beijo casto nos lábios.

— Acho que ainda estou aqui, gente! — David diz e sorrimos.

— Não sinta inveja — Henrique brinca.

— Deveria ter virado advogado criminalista! — David rebate.


O celular dele faz barulho e ele sorri.

— Hoje temos algo para resolver, irmãozinho, e tio Marcos vai ter que ir junto.

— É aquela reunião? — pergunta.

— A assistente acabou de me informar e me chamar de delícia.

— Você deveria prendê-la por desacato à autoridade?

— Hoje não! — eles sorriem.

Fico olhando para eles sem entender, Henrique nota e sorri.

— Uma reunião um pouco boa para o David e fodida para mim e para meu tio. Afinal,
alguns Escobar vão a trabalho, já outros, pelo visto, não. — Sorrio.

Eles estão aprontando e não tenho ideia do quê.

— Vamos aproveitar e colher mais um depoimento seu, Ana. Fazer novas perguntas.

— Certo.

— Você sabe que ela só fala na presença do advogado dela, não é, irmãozinho?

— Henrique, eu vou interrogá-la, e não a assediar. Não precisa vir com ameaças.

— Nem sempre o volume em minhas pernas é uma ereção. Ande na linha sem tropeçar.

— Henrique! — chamo-o.

— Viu como eu sofro sendo irmão dele, Ana?

— Sou tão legal! — Henrique diz, segurando minha mão. Possessivo.


Chegamos ao evento da faculdade. Liziara arrumou uma forma de entrarmos pelo fundo.
Estamos sem ternos, vestidos "normalmente".

Nós três estamos encostados no bar. O lugar é escuro, apenas as luzes coloridas e, às
vezes, brancas que piscam iluminam. É bem no estilo de uma boate.

— Não podemos chamar atenção! — David diz.

— Em minutos, estaremos sendo assunto — Marcos fala.

— O otimismo fica aonde? — pergunto com ironia.

Liziara se aproxima. Está vestida em uma roupa que deveria ser proibida, de tão curta e
justa. Se Ana usar isso um dia, eu a enforco, se eu não enfartar antes.

— Ela está isolada no canto direito, próximo a mesa do DJ — Liziara diz. — E não fiquem
tão grudados ou chamaram mais atenção, porque já estão notando — ela diz e vai para trás do
bar.

Vou para o canto do bar, David continua no mesmo lugar e Marcos fica do outro lado.

Vejo a Liziara preparar bebidas. Deve ser a barwoman. David está de costas para o bar,
observando o movimento.

Viemos sem seguranças, porém estamos armados. Algumas pessoas já estão notando nossa
presença e cochicham, apontando. Não podemos chamar atenção ou nosso alvo vai desconfiar.
Marcos me olha e dá um sinal disfarçadamente, indicando que vai se aproximar do alvo. David me
olha e faz um sinal com o dedo que vai para onde o Marcos estava e para que eu vá para onde
ele está. Trocamos de lugar. Marcos está próximo ao alvo, que está sozinho, bebendo. Quando ela
olha para o Marcos, ele se vira rapidamente, disfarçando. Ele retorna até mim.

— É ela mesmo. Está sem ninguém pelo visto. Parece tranquila e muito observadora.

— Deveria ter cursado psicologia. É bom nisso.

— Vai à merda, Henrique!


Beatriz, que nos ajudou no dia da universidade, se aproxima e sorri para mim em
cumprimento. Ela se aproxima do bar e cumprimenta a Liziara, que a chama de gostosa.

Marcos se vira como um louco e começa a olhá-la. Isso vai dar merda, não podemos
desviar do foco!

O bochicho começa, alguns se aproximam para ver se somos nós mesmos e se afastam. Isso
não é bom. Ligo para Daiane, ela sempre sabe o que fazer.

— Onde você está? — ela pergunta.

— Estamos em um evento de uma universidade a trabalho. E, quando digo no plural, é que


está delegado, advogado e juiz. Acho que começamos a chamar atenção e precisamos disfarçar, o
que fazemos? Não podemos ir embora agora — digo o mais alto que posso, para não
escandalizar.

— Vai à merda! Os três patetas saem juntos e não querem chamar atenção? Me poupe.
Estou ocupada. Se virem sozinhos. Amo vocês. Beijos! — Ela desliga. Vou matá-la.

Olho para meu tio, que não desvia o olhar da Beatriz.

— Essa porra da língua afiada vai fingir que não estou aqui?! E esse puto do barman,
babando nela. Uma porra de um pirralho! — ele diz.

— Tio, o foco não é ela. Esquece ela...

Tarde demais. Ele encosta ao lado dela. Olho para o David, que arregala os olhos. Meu
modo alerta é ativado. Encosto o mais próximo dele, sem ficar tão grudado.

— Você não é o Marcos Escobar, juiz? — o barman pergunta a ele.

— E quem disse que poderia se dirigir a mim? — Marcos ataca.

Merda!

O barman fica sem jeito. Ele entrega a bebida a Beatriz, e eu torço que saía logo daqui de
perto.

— Vai fingir que não está me vendo mesmo? — ele pergunta a ela.

Ela o olha, desafiando. Isso não é bom.

— Com licença! — diz, se desencostando do balcão.

— Fugindo, língua afiada? Achei que fosse mais corajosa, depois do que fez, Bia — ele diz
a ela.

— Não estou fugindo. Estou ocupada. E, para o senhor, é Beatriz Ferreira. Com licença.

— Sua praga! — ele vai atrás dela, mas o impeço.

— Vamos focar na porra que viemos fazer aqui. Precisamos prestar somente atenção nas
atitudes do nosso alvo! — digo irritado.

— Você está certo... Porra, o reitor está vindo para cá, disfarça!

Ficamos na lateral do bar, fingindo conversar.

Olho para Liziara que, assim que vê o reitor, se assusta e derruba um copo, chamando
atenção, ele olha para ela, mas ela rapidamente disfarça, se empoleirando no balcão e puxando
o David pela camisa, o ataca, beijando. Olho para meu tio, que me olha franzindo o cenho. O
reitor olha para ela e sorri, como se já conhece as loucuras dela, e então ele se afasta. David a
puxa, pegando-a no colo e a coloca para fora do bar. Ele a agarra com força.

— Qual o problema dos homens desta família? Que porra! — digo.

Vamos até eles e eles param de quase transarem em público.

— Em minha defesa, ou era atacar ele, ou o reitor iria vê-lo.

— E não podia ser um abraço? — Marcos pergunta.

— Profissionalismo em primeiro lugar! — David responde e sorrio.

— Se o delegado falou, quem sou eu para discordar, não é mesmo, senhor juiz?

— Claro — Marcos responde.

— Melhor vocês fazerem logo o que vieram fazer, antes que dê merda. — Liziara diz, se
afastando.

Olhamos para o David, que limpa a boca suja de batom.

— Ela me atacou. Agi em legítima defesa.

— Pensei que só uma delegada ou policial mulher poderia tocá-la. — digo.

— A lei mudou, acredita?! — ele fala com ironia.

— Não, ela não mudou — Marcos rebate.


— Que porra, não tenho um defensor. Vamos voltar ao que viemos fazer. Temos que
conhecer nossa suspeita.

Ficamos a observando e é como a Liziara disse. Ela é estranha, antissocial. Não saiu do
lugar, não falou com ninguém. Apenas fica observando.

— Porra, ela nos viu! — digo.

Ela, assim que nos vê, sai do lugar parecendo assustada e se mistura na multidão, sumindo
da nossa vista.

— Isso foi muito suspeito — David diz.

— Temos que ter uma conversinha com ela — digo.

— Irei adorar! — Marcos diz, sorrindo. Esse adora um papo com o inimigo.

Saímos do evento e cada um foi para sua casa. Amanhã mesmo iremos visitar uma pessoa.
CAPÍTULO 9

Estou na delegacia. Hoje, eu e David, iremos falar com a tal da Luana Silva. Nosso tio não
poderá ir, tem compromisso.
— E se ela não confessar nada? Isso seria ótimo demais.
— Henrique, não seja pessimista! Vamos conseguir algo, porra.

A porta da sala do meu irmão se abre com um baque. Olhamos assustados.


— Luana Silva, delegado! Ela nos procurou e diz ser a assassina de Rodolfo Batista. Faz
algum tempo que está aqui, mas o senhor estava ocupado, porém está muito agitada — a policial
diz.
Olho para o David, que me olha e sorri.
— A senhorita tem o direito de permanecer calada. Tudo o que disser pode ser usado
contra a senhorita — David diz.
A policial a deixa na cadeira. Ela fica em silêncio.
A porta se abre novamente, revelando Luiz Estevão Gomes.
— Virou a casa da mãe Joana aqui? — provoco.
Meu irmão me olha seriamente e reviro os olhos.
— Soube do ocorrido através de um conhecido e ofereço a ela os meus serviços.
— Não defendia o presunto a mando da família da minha cliente? — pergunto irritado.
— Sim, mas tenho o direito de escolha. E, defendendo esta jovem, colocarei o culpado atrás
das grades, pois sei que não é ela. — Ele olha para ela — Não diga nada, senhorita Luana.
Ela olha para ele e sorri falsamente.
— Por que eu mentiria? Se fui eu mesma. Quer saber? Cansei de me esconder. Matei
aquele filho da puta e mataria de novo. Foi tão bom, vocês deveriam ter visto. O idiota me
esperando, e eu indo lá com tudo pronto. — Ela ri.
Olho incrédulo para meu irmão e o advogado também.
Me sento na cadeira e solto o ar com força.
— Sabe, delegado, eu não ia me entregar, mas eu quero muito essa fama. Ele disse que
ficaria comigo. Eu o amava, mas ele preferiu ficar com a Ana Louise, aquela sonsa. — Sorri — Aí,
fui até lá... Eu tinha a chave do portão, porque eu sempre ia lá quando a idiota não estava. Era na
cama deles que fazíamos amor, loucamente! — Gargalha. — Entrei de meia... Vocês precisam
saber como foi foda minha entrada! Entrei de meia, as câmeras da rua desligadas, meu pai
trabalha na empresa que lida com elas, e então eu soube que não estaria funcionando, o que foi
perfeito para mim. Entrei e o idiota estava lá e, naquele dia, disse que queria terminar comigo.
Não esperava por mim... pobrezinho... entrei e o matei! Consegui a arma há muito tempo, sempre
guardei, e usei silenciador. Sempre soube que iria usar a arma, mas não imaginava que seria com
meu amor... — Ela arregala os olhos, e se abraça. — Mas, agora... agora ele não é de mais
ninguém. — Ri — Isso, de ninguém.
— Delegado, entenda que ela está assustada, pode ter sido obrigada a dizer tudo isso! —
Luiz fala.
— Não... Não... Ninguém me obrigou, é a verdade. Porque eu matei e faria tudo de novo!
Ele achava que aquela imbecil estava grávida. Tentei matá-la no estacionamento do shopping,
seria perfeito ela morrer também, mas deu errado... que pena... a segui assim que saiu do
apartamento do bonitão aqui, eu descobri que ela estava ficando lá e esperava a oportunidade.
— Ela me olha. — Está adorando. Livrei ela agora! De nada.
— Você é louca! Como pode dizer tudo isso com tanta frieza? — pergunto.
— Dizendo! — Gargalha.
— Você está presa! — meu irmão declara e ela ri ainda mais.
***
Volto para casa, exausto e completamente perplexo com tudo que ouvi. Tanta frieza nas palavras
daquela mulher... Nunca vou me acostumar com isso.
CAPÍTULO 10

Estou completamente chocada com tudo que ouvi da boca do Henrique. A ficha não caiu
ainda. Como ele pôde me trair e, ainda por cima, com uma aluna louca?! Eu sofrendo pela morte
dele, sendo acusada, quando a amante fez tudo isso. Fui humilhada e, mesmo depois de tudo ser
esclarecido, continuo sendo.
Fiquei esse tempo todo sendo uma burra!
Estou tremendo de ódio, alívio... muitas emoções ao mesmo tempo. A TV está ligada e passa
uma matéria sobre o caso. A porta da delegacia está lotada de repórteres.
— Eu não acredito que foi uma amante dele que fez isso? Como ele pôde me trair? Eu fui
acusada por um crime quando, na verdade, ele foi o causador da própria morte, se metendo com
uma louca! Minha família me virou as costas, quase fiquei na rua... Aquele... Eu...
Caio sentada no sofá, chorando desesperada.
— Ana, eu sinto muito, mas toda desgraça vem para uma vitória. Você está livre!
— Eu sei que não deveria sentir ódio, mas eu sinto muito ódio dele neste momento. Eu
queria que ele estivesse vivo, pois eu socaria muito a cara dele. Em cinco anos, tentei ser a mulher
perfeita para aquele idiota, e ele estava me traindo o tempo todo e levando aquela vadia para
transar na nossa cama, onde eu dormia com ele! — grito alterada.
A porta se abre e entram duas mulheres morenas e lindas.
— Filho, viemos para cá assim que soubemos.
— Mãe.
Eles se abraçam.
— Eu sinto tanto por tudo — a mãe dele me diz.
— Agora está tudo esclarecido. Eu sabia que você era inocente. — a morena diz.
— Essas são minha mãe, Paula e Daiane, minha irmã.
— Prazer. Já as conhecia por jornais, revistas... essas coisas.
Sorriem.
— Assim que soubemos, viemos para cá. David está indo à loucura na delegacia — Daiane
diz.
— Imagino. Quando aquela mulher entrou naquela sala e disse tudo aquilo, eu juro que eu
me controlei para não voar nela. O jeito que ela falava, gargalhava... Aquela porra é doente!
— Eu preciso... — Me levanto. — Preciso ir até um lugar.
— Aonde? Está louca? Sair com esse inferno lá fora? — Henrique diz nervoso — Você não
vai!
— Preciso ir até um lugar e agora! Prometo voltar. Com licença.
***
Saio e vou até a casa da minha família, que fica bem próxima.
Empurro o portão baixo, que sempre está aberto esse horário. Bato à porta com força.
A porta se abre, revelando Francisco, meu pai.
— Louise?!
— Surpreso, pai?! — pergunto com ironia.
Entro na casa e minha mãe, que estava no sofá, se levanta rapidamente.
— O que faz aqui sua assassina?!
Olho para TV e está passando um filme.
— Pelo visto, Marcela ainda não viu! — Pego o controle e coloco no canal da TV local.
Eles olham para TV e ficam assustados.
— Então... — minha mãe começa a dizer, mas para.
— Eu sempre fui inocente. Mas vocês simplesmente me viraram as costas. Até um advogado
contrataram para me prejudicar. Você, mãe, me humilhou. E você, pai, pouco se importou. Eu sofri a
cada dia desse inferno e minha família fez pouco caso. Fui amparada pelo meu advogado, a
quem devo muito! Mas a justiça felizmente foi feita. A filha assassina estava sendo traída pelo noivo
e, por culpa da amante dele, foi acusada, mas vocês nem se importam, não é mesmo? A partir de
hoje, não me procurem nunca mais e pensem muito bem antes de dizerem qualquer coisa sobre
mim!
Deixo eles boquiabertos. E me viro para ir embora, sentindo um completo alívio.
Saio da casa e me assusto ao ver Luciano no portão.
— Senhorita, me perdoe, mas o patrão me mandou te seguir...
— Tudo bem, Luciano, não se preocupe.
Voltamos para a casa do Henrique, onde agora encontro Marcos também. Ele me olha e
sorri.
— Parece que não será desta vez que terei uma bela ruiva no tribunal. — diz e sorrio.
— Parece que não!
— Você sabe que está totalmente livre agora e pode sair daqui e ir curtir sua liberdade,
não é? — Henrique diz, parecendo preocupado.
— Sei. Mas, doutor, acredito que eu tenha que te pagar por seus serviços.
Ele se aproxima, sorrindo.
Pulo em seus braços e ele me segura. Me rodopia.
— Estou livre.... LIVRE!
— Sim.
Ele me coloca no chão e me beija com carinho, e retribuo na mesma intensidade.
— Porra, porque escolhi ser juiz? — Marcos diz enquanto se senta no sofá.
— Porque todos nessa família não tem amor à vida e nem a mim! — Paula fala e todos
riem.
— Mamãe, menos drama... Deixe eu ir, o dever me chama — Daiane diz.
— Nos chama. Vamos, pirralha! — Marcos fala para ela.
— Deveríamos comemorar — Daiane diz animada.
— Como nos velhos tempos? — Henrique pergunta.
— Isso mesmo — Marcos responde.
— Eu ainda vou enfartar com essa família. Até você, Marcos, entrando nas farras dos meus
filhos? Onde eu errei?!
Henrique abraça a mãe por trás.
— Você errou em ter o David, mas ele não precisa saber disso.
— Sai daqui, seu palhaço! — Ela bate nele, que começa a rir. — Linda, adorei conhecer
você. Saiba que pode contar sempre conosco. Erga a cabeça e siga em frente, pois o mundo te
espera, mesmo já sabendo que escolheu uma profissão para loucos, Daiane me falou que é
advogada criminalista!
— Obrigado, pela parte que me toca! — Henrique diz.
— Muito obrigada! — digo a ela.

À noite, todos nós fomos a uma boate, como fazíamos no início de nossas carreiras quando
alguém ganhava um caso. Uma vitória sempre merece ser comemorada, mesmo que antes dela
muitas desgraças tenham vindo.
Luciano fica próximo com a equipe. Estamos na área VIP.
— Eu ainda acho que eu não deveria estar aqui — Ana diz.
— Você merece comemorar sua vitória.
Começa a tocar Fifth Harmony - Worth It ft. Kid Ink.
— Vamos dançar? Amo essa música! — Daiane grita.
— Eu topo — David diz.
Marcos se levanta junto com eles.
— Vocês vêm, não é? — Daiane pergunta a nós.
— Eu vou ficar aqui, por enquanto, mas vão lá! — Ana diz.
— Uma porra. Não aguentei tudo aquilo, hoje e esses dias, por você para, quando
inocentada, ficar amuada. Levanta essa bunda daí! — David fala.
— Vou me arrepender de dizer isso, mas estou com meu irmão nessa! — falo.
— Está bem, vamos!
— Ótimo, pensei que teria que arrastar você — Marcos diz.
— Ninguém me arrasta, nem mesmo um juiz! — ela fala.
— Foi um desafio, senhorita Ferdinand?
— Não, foi um aviso. — Dá uma piscadela e se vira. — Sempre quis dizer isso. — Rio.
Descemos para a pista de dança. Algumas pessoas nos olham e isso é normal toda vez que
saímos juntos.

Formamos uma rodinha onde dançamos. Daiane dança com David e Marcos, levando o
olhar de todos a eles. Danço com Ana, porque jamais deixaria que ela dançasse com eles desse
modo, conheço bem meu tio e meu irmão.
Agarro ela por trás e dançamos juntos no ritmo da música. A ruiva provocadora se vira
para mim, colocando uma das mãos em meu ombro enquanto dança se esfregando em mim.
Me aproximo de seu ouvido e digo:
— Não provoque, não aqui.
— Estou apenas dançando. Achei que eu tinha que comemorar.
Puxo-a para mim com força, prendendo-a completamente a mim.
Beijo-a com intensidade enquanto minha mão livre alisa seu corpo, e nos mexemos,
dançando.
Outra música se inicia, e continuamos dançando ao som dela: Major Lazer & DJ Snake –
Lean On.
Chupo sua língua e ela aperta forte meu braço.
David a puxa para ele, rindo, e Daiane começa a dançar na minha frente.
— Que porra ele pensa que está fazendo?!
— Dançando. E evitando dos dois darem um show aqui. — Ela ri.
Puxo a Ana para mim, e ela ri.
— Vamos terminar a noite em outro lugar!
— Que lugar seria?
— Descobrirá em breve.
CAPÍTULO 11

Entramos em seu Flat, só descobri ao chegar aqui.


— Hoje, você será completamente minha. — Sua voz é rouca, repleta de promessas.
Sinto um arrepio percorrer meu corpo.
Ele retira a camisa e a joga no sofá. Caminha lentamente até mim.
Seus dedos acariciam meu rosto, indo até meus lábios, onde ele para.
Levo um susto quando ele me pega no colo. Enrolo minha perna ao seu redor. Sou prensada
na parede. Sua boca ataca a minha com brutalidade e isso me excita demais. Enrolo meus braços
ao redor do seu pescoço. Suas mãos apertam minhas coxas.
Sou levada até a cama. Ele me olha e sorri com malícia. Recebo seu corpo em cima mim.
Meu pescoço é preenchido por beijos deliciosos que me fazem gemer involuntariamente. Recebo
uma leve mordida em meu ombro.
— Está linda neste vestido, mas, fora dele, tenho certeza que estará mais linda ainda.
Retiro o vestido com sua ajuda.
— Sem sutiã? — pergunta, sorrindo.
— Não poderia usar com esse vestido.
— Preciso agradecer a minha irmã por esse vestido.
— Ela tem bom...
Não consigo terminar de dizer, pois meu seio é atacado por sua boca. Sua barba bem-
feita, se esfregando nele, deixa tudo mais gostoso. O outro seio recebe a mesma atenção,
deixando-os duros, e meu corpo arrepiado.
Ele desce por meu corpo, beijando, um caminho que parece ser longo, com suas torturas, até
minha região. Ele para quando chega nela. Desce lentamente minha calcinha e atira no chão sem
qualquer cerimônia.
Suas mãos deslizam por minhas pernas, parando na região que tanto requer atenção. Ele
aperta próximo a ela, enquanto sua outra mão a abre bem. Ele se inclina, passando a língua
lentamente e sem tirar os olhos de mim. Gemo em resposta.
Um dedo é colocado dentro de mim. Sua língua brinca com meu clitóris enquanto seu dedo
me preenche. Agarro o lençol da cama. Outro dedo é inserido em mim. Solto um grito de prazer.
Ele faz movimento de vai e vem com os dedos enquanto me olha.
— Está mais do que pronta para me receber.
Ele retira os dedos e os chupa. Mordo o lábio inferior, sentindo um aborrecimento por estar
vazia.
Ele retira a calça junto com a cueca. Seu tamanho é perfeito. Ele pega a carteira no bolso
da calça e retira dela um preservativo. Rasga o pacote com a boca e larga o mesmo e a carteira
no chão. Coloca o preservativo sem deixar de me olhar. Ver sua mão deslizar por seu membro
rígido me deixa mais louca.
Se posiciona entre minhas pernas. Encaixa seu membro na minha entrada molhada. Sinto a
pontinha e quero mais, muito mais.
— Não sei se vou conseguir ser calmo.
— Não estou pedindo isso!
Sorrimos.
Ele me penetra e sinto uma leve dor por seu tamanho, mas rapidamente a dor passa.
Ele começa a se movimentar. Enrosco minhas pernas ao redor da sua cintura. Ele penetra
com força. Nossos gemidos são espalhados pelo local. Sua boca invade a minha. Aperto seu
membro.
— Porra! — ele diz com rouquidão.
— Mais forte!
Ele assim faz. Me penetra com mais força. Seu membro está muito fundo.
Sinto a proximidade da minha libertação e ele também sente, pois seus movimentos se
intensificam.
Grito quando o prazer me consome por inteira, me fazendo gozar loucamente junto a ele.
Ele deixa o corpo por cima do meu por alguns instantes. Quando se levanta, retira a
camisinha.
Fecho os olhos, estou exausta.
Minutos depois, sinto um peso ao meu lado, me puxando para si e me cobrindo com o lençol.
Abro os olhos e ele está sorrindo para mim.
— Prometo que irei te fazer feliz, desde que me permita fazer isso.
— Está na hora de seguir em frente. O tempo e a vida não param.
— Não. Sua vida continua e você tem que seguir em frente. E foda-se o que dirão.
— Eu quero que ela continue ao seu lado. Me encontrei em você. Sabe... Nunca acreditei
nessa história de amor à primeira vista, mas desde que te conheci, comecei acreditar até em Papai
Noel. — Ele ri.
— Sempre soube que eu era um ótimo presente.
— É muito convencido, doutor.
— Não imagina como, advogata. — Rio.
— Como é bom ouvir isso.
— Você é o culpado do meu riso e do meu coração estar batendo que nem um louco.
— Henrique Escobar é irresistível.
— Espero que seja apenas meu irresistível.
— E serei, pois parece que, de uma forma conturbada, o destino cuidou de nos aproximar.
— Tomara que ele queira um futuro para nós.
— Se ele não quiser, irei procurá-lo para ter uma conversa bem séria.
— Irei junto!
— Bom... acho que eu tenho que dizer: foi um prazer trabalhar para a senhorita.
— E eu acho que tenho que responder: muito obrigada por seus serviços, doutor. E perdoe-
me por ter estragado sua viagem.
— Porra, vou ter que agradecer mais ainda a minha irmã e, agora, por ter estragado
minha viagem.
Rimos.
Ele me beija com amor.
Não queria a morte do Rodolfo e que, para conhecer o Henrique, eu tivesse que passar por
tudo isso, mas cada um tem uma missão e história a ser vivida aqui neste mundo louco e, se na
minha história eu só teria felicidade caminhando terrivelmente pela tristeza, eu agradeço, pois a
felicidade está vindo na mesma intensidade que minha tristeza.
EPÍLOGO

Tempos depois...

Porra, estou vivendo a melhor temporada da minha vida. Quem diria que eu um dia estaria
casado com uma mulher que já foi minha cliente e que foi amor à primeira vista? Com toda
certeza, eu não diria.
— Posso roubar a noiva para uma dança? — Marcos pergunta.
— Não — respondo.
— Henrique!
— Ele perguntou e eu, muito educado, respondi.
— Pode roubar, sim — ela diz.
— Quem diria, uma mulher tendo autoridade, e não você! — Marcos provoca.
— Você pode até ser meu tio, mas isso não vai evitar que eu soque sua cara.
— Tente!
— Ninguém vai socar nada! Ela dança comigo! — David a puxa.
— Perdeu a vez, juiz — Ana provoca.
— Nunca perco. Ele só vai dançar agora com você porque gosto de fazer caridade.
Rio.
— Sei bem a caridade que faz.
— Vai para a porra, Henrique!
— É muito cara a passagem para ir a porra?
— Não sei por que perco meu tempo com você!
Ele se afasta.
David a leva para dançar.
— A que ponto chegamos, eu tendo que pedir ao meu filho uma dança!
— Mas não pediu!
— Foi uma ironia, Henrique!
— Ah, tá. Então, vai pedir?!
— Henrique!
— OK. É tímida!
— Eu acho que seu exame de pesinho acusou algo e não reparei, menino!
— Adorei o menino, me senti novo.
— Vai levar sua mãe para dançar?
— Não estou com muita vontade!
— Eu juro que vou te dar uns petelecos!
Rio.
— Vamos, minha rainha!
Pego ela no colo e ela grita assustada. Todos nos olham, rindo.
— Sua praga, me coloca no chão. Henrique, eu vou cair! Você vai me derrubar. Socorro. —
Ela bate no meu ombro e rio.
Coloco ela de pé na pista de dança.
— Eu juro que não sei onde errei! — diz, arrumando o vestido.
— Já disse que foi em ter o David.
A música Rude, do Magic, começa a tocar e ser cantada suavemente pela banda que anima
o ambiente.
— Quer dançar a moda do século XIX, que foi seu tempo ou...
— Menino, me respeite ou te bato aqui mesmo! — diz, rindo.
— Que advogada civil mais agressiva.
— Ter dois filhos terríveis e um cunhado pior que eles me fez ficar assim.
Rio.
Ficamos dançando.
Olho para a Ana e sorrio. Ela está linda. A minha Senhora Escobar.
— Você está tão feliz — Minha mãe diz e a olho.
— Estou, mãe. Muito feliz! Ela foi a melhor coisa que me aconteceu.
— Fico tão feliz em saber que você encontrou sua outra metade. Seu pai e eu tínhamos
esse mesmo olhar que vocês dois... Um olhar apaixonado e tivemos até seu último dia. Sei que,
onde ele estiver, está transbordando alegria por você.
Sorrio e dou um beijo em sua testa.
A dança termina e busco minha esposa.
— Já disse que te amo?
— Hoje? Acho que não — responde, rindo.
— Acho que é uma péssima mentirosa.
— Também acho.
Dou um beijo nela.
— Te amo, meu Anjo ruivo.
— Te amo, meu advogato. Mas, não me enrola. Diz logo para onde iremos viajar!
— Está bem, curiosa! Nós iremos para Miami.
Ela ri.
— Não acredito. Então, vai finamente conseguir suas férias para Miami.
— Virou um desafio viajar para lá!
— Então, vamos para Miami.
— Nas minhas férias, eu teria muitas americanas.
Ela me dá um tapa no braço.
— Eu te jogo do avião.
— E quem iria te defender?
— Não pensei ainda nisso.
— Anjo, suas ideias nunca são tão boas.
— Percebeu isso desde que me conheceu ou fez um cursinho?
— Me formei ontem no cursinho quando você tentou aprender a atirar.
— Em minha defesa... Pera aí, como sabe? Marcos e David te proibiram de ficar perto de
mim para a despedida de solteiro.
— Um Escobar nunca revela seus segredos.
— Bom saber, pois não revelarei meu segredo por baixo desse vestido.
— Isso é jogo sujo.
— Quem disse que um Escobar joga limpo?!
— Boa. Por falar nisso, que tal fugirmos daqui e partirmos para nossa viagem?
— Bom plano.
— Então venha!
Pego ela no colo e a jogo por cima do ombro. Ela começa a rir.
— Estou raptando essa linda ruiva e, se alguém olhar para a bunda dela, não me
responsabilizo por meus atos, pois nem sempre o volume entre minhas pernas é uma ereção.
Agradecemos a todos por compartilhar esse maravilhoso dia, mas temos necessidades.
— HENRIQUE! — ela grita e todos riem.

Entramos no carro e ela começa a rir.


— Não acredito que disse aquilo!
— Repetiria tudo por você, mas precisamos pegar nossas malas e ir para o aeroporto.
— Então, vamos!
Olho para frente e me assusto quando vejo a mãe dela.
— O que ela faz aqui?!
— Amor...
— Vamos embora daqui!
— Ana...
— Eu segui em frente e espero que ela também. Esse olhar dela é como todos os outros
que ela me deu. Ela não muda!
Ligo o carro e desvio da mãe dela.
Seguimos pela avenida.
— Está tudo bem?
— Melhor impossível! — Ela sorri.
— Se quiser voltar...
— Não. Eu não quero. Jamais devemos olhar para trás quando nossa felicidade está à
frente, mas jamais devemos nos esquecer de onde viemos.
Paro no farol fechado.
Me inclino e dou um beijo nela.
— Te amo, meu amor.
— Também te amo.
— Miami?
— Miami!
Bate palmas, animada.

FIM
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus leitores do Wattpad que piraram muito com a história e me alegram
com seu carinho.
Obrigada a Editora Angel por mais essa oportunidade, pois, mesmo sabendo que era um
conto, de tão pequeno, quis fazer em formato físico e deixou tudo lindo.
Obrigada a revisora, que deixou tudo mais caprichado.
Obrigada ao senhor Google, que me ajudou em muitas coisas para poder escrever.
E, por fim, obrigada a Dona Clarice, minha amada mãe, que me salvou em diversas dúvidas
para escrever essa história.
Não me esqueci de você que está lendo, não. Muito obrigada a você que pegou essa
pequena história para folhear e ver se agradava e obrigada a você que comprou e terminou de
ler neste momento.
PLAYLIST
Fifth Harmony - Worth It ft. Kid Ink

Major Lazer & DJ Snake - Lean On.

Magic - Rude
PERIGOSAS

Copyright © 2017 Deby Incour


Copyright © 2017 Editora Angel

Produção Editorial: Editora Angel


Capa e projeto gráfico: Débora Santos

Diagramação Digital: Beka Assis


Revisão: Beka Assis

Todos os direitos reservados.

A violação dos direitos autorais é crime


estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo
artigo 184 do Código Penal.
É proibida a cópia do material contido nesse
exemplar sem o consentimento do autor. Esse livro
é fruto da imaginação do autor e nenhum dos
personagens e acontecimentos citados nele tem
qualquer equivalente na vida real.

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Nota da autora
Capíulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Epílogo
Agradecimentos

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Nota da autora
Caros leitores, este livro... melhor dizendo,
este conto foi feito com muito amor e carinho.
Torço para que gostem. Fazer uma história que
envolva um lado criminal, mesmo sendo muito
curta, não foi fácil, e foram feitas algumas
pesquisas. Tudo aqui é totalmente ficcional.
Pulei alguns atos da lei para não falar demais e
acabar falando coisas sem sentido. Espero que
gostem.
Com amor, Deby.

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Para Liziara Aráujo, uma


grande amiga e inspiração.

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Capíulo 1

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David Escobar

Meu celular toca. — Merda!


Paro o que estou fazendo. Olho na tela e é
minha mãe. Dona Paula sabe como ligar ou
aparecer quando estou ocupado.
— Oi, mãe!
— David, eu sei que você é delegado, e com
isso trabalha muito. Mas eu sou advogada, seu
irmão também, sua irmã promotora, e seu tio é
Juiz, mas todos, sem exceção sabem dar um
tempo para família! Hoje é aniversário da sua
sobrinha Yasmim, e até agora você não chegou. É
o primeiro aninho dela. Seu irmão e sua cunhada
estão loucos com você! — ela dispara em falar.
— Mãe, em 20 minutos estarei aí. Estou
finalizando um serviço ao qual me dedico muito
há anos. Prometo que chegarei logo. Fale para o
Henrique e para a Ana Louise que eu vou para o
aniversário da Yasmim.
— 20 minutos, ou eu juro que vou nesta
delegacia e faço com que você passe a maior

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vergonha da sua vida toda!


— Está bem. Vou finalizar esse serviço que é
muito importante e já vou. Te amo!
— 20 minutos! — ela diz e desliga.
Porra, minha família sabe como apressar um
serviço.
Jogo o celular na cama.
Olho para a bela loira de quatro na minha
frente. Sorrio.
— Temos 10 minutos!
Dou um tapa em sua bunda e ela sorri.
Penetro-a com força e a safada grita ao
mesmo tempo que geme.
Enrolo seu cabelo em minha mão e o puxo.
— Rebola bem gostoso... — Ela faz — Isso!
Em minutos estamos gozando como loucos.
Principalmente ela, que grita alucinadamente.

Entro no meu carro e ligo para Liziara, uma


grande amiga. Nós nos conhecemos a quase dois
anos, quando fui na universidade em que ela
estudava para interroga-la. Ela simplesmente foi

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de grande ajuda para resolver o caso da minha


cunhada, Ana Louise, que naquela época foi
acusada de ter assassinado o noivo. Desde então
criamos uma grande amizade, com alguns
benefícios.
— Oi, delegato! — Sorrio.
— Maluquinha, está pronta?
— Estou sim. Vai vir me pegar? Meu carro
está na revisão.
— Vou sim. A Beatriz vai?
— Vai, consegui convencê-la a ir.
— Está bem, em dez minutos estarei aí.
— OK.
Ela desliga.

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Liziara Araújo
Quando se tem 22 anos, e não se tem juízo, é
um caso muito sério. E este é meu caso. Eu
confesso que não tenho juízo. Sou muito
impulsiva, faço as coisas, e depois que vou
pensar na loucura que fiz. Há meses larguei o
curso de psicologia em uma renomada
universidade. Meus pais ficaram loucos, não
porque querem um futuro bom para mim, mas
porque se preocupam demais com o que a
sociedade vai dizer, já que são empresários, e
tem amigos que adoram uma fofoca. Desde que
larguei o curso, eles tornaram um inferno minha
vida, e por isso sai de casa. Não aguentava mais
ter que ficar dependendo deles para tudo e
aguentando os surtos que eles davam. Então
arrumei um emprego como barwoman e vim
morar em um apartamento junto a minha
melhor amiga, Beatriz, que é coordenadora da
universidade que eu estudava. E confesso que
estou mais feliz agora do que antes. Quem sabe
daqui um tempo eu decida se é psicologia que eu

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realmente quero fazer?


Ter o David como amigo é muito importante
para mim, pois ele me compreende quando
ninguém é capaz disso. Porém, ter a amizade
dele me deixa as vezes em cima do muro em
relação a minha melhor amiga, pois ela se dá
bem com todos da família Escobar, menos com o
tio do David, o Juiz Marcos Escobar; e onde um
está, o outro não vai. Foi um inferno convencê-la
a ir ao primeiro aninho da Yasmim, filha do
irmão mais velho do David, porque ela sabe que
ele vai estar lá. E por isso, muitas vezes tenho
que ficar com ela, porque não posso deixa-la
sozinha e pôr o David sempre em primeiro lugar.
Porém, o pior de tudo é que eu desenvolvi
uma paixão por ele, e isto tem me deixado bem
confusa, ainda mais por ele não querer
relacionamentos sérios. Quer saber apenas de
trabalho e nada mais. Sempre está saindo com
alguma mulher por aí, e isso me deixa puta da
vida, mas me controlo. Temos uma amizade
colorida, ou amizade com benefícios, como ele
gosta de dizer... e foco nisso, porque o amor é
uma roubada das grandes.
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— Ele chegou, Lizi. Vamos?


— Vamos sim. Me promete que não vai voar
no Marcos?
— Se ele não vier me provocar, já ajuda
bastante.
— Ele não vai, assim eu espero.
— Também espero. Vamos logo. Está
perfeita, pare de ficar se olhando no espelho.
— Está bem, vamos.
Pego a caixa de presente da Yasmim e quase
caio.
— Cuidado, Lizi! Nunca vi pessoa mais
desastrada que você.
— Quanta calunia!
Rimos
Beatriz pega o presente que ela vai dar e
saímos do apartamento.
No lado de fora damos de cara com a Range
Rover Evoque na cor branca, do David. Ele abre a
porta e sorri para mim.
Entro no carro e a Bia também. Dou o
presente para ela deixar no banco traseiro.
Fechamos a porta e coloco o cinto.
Ele me cumprimenta com um beijo na
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bochecha.
— Oi Bia, dormiu comigo essa noite? — ele
provoca.
— Dormi, e foi uma maravilha! — ela rebate
e eu rio.
— Pare de atormentá-la.
— Sou um anjo.
— Sabemos! — ela e eu dizemos em
uníssono.
Ele da partida no carro.
O celular dele começa a tocar.
— Pega aqui, amor. Deve ser minha mãe
pirando comigo.
Pego o celular no bolso que ele indica
enquanto continua dirigindo. Olho na tela e é a
própria.
— O que eu devo dizer?
— Que está trânsito, e por isso estou
demorando.
— Resumindo: você mentiu dizendo que
estava na delegacia, e na verdade estava perdido
no meio das pernas de uma mulher, acertei?
— Basicamente.
— Bia, fica com essa função... não sou boa
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com mentiras, nunca dá certo.


— Dispenso a Dona Paula nervosa.
— Muito amiga você hein!
— Você já foi mais nossa amiga, Bia. — David
diz.
Atendo o celular.
— David, eu vou te matar! Onde você está,
menino!
— Oi Paulinha, estamos no trânsito. Está
tudo parado.
— Oi, meu amor. Já pensei que ele estava me
enrolando. Beatriz vem? Estou com saudades
dela.
— Vai sim, está aqui conosco. Logo
chegaremos.
— Está bem. Beijos, minha querida!
— Beijos, gostosa!
Ela ri e desligamos.
— Prontinho.
— E depois diz que não sabe mentir. — Ele
ri.
— Tenho meus momentos.
— Sei.
— Liziara, é impressão minha, ou o cara do
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carro ao lado está te tarando? — Beatriz diz. —


Odeio homens que agem assim. Vê se pode uma
coisa dessas!
Olho e rio. Não é que o palhaço está mesmo?
— Que ridículo! Odeio homens assim.
— Vamos ver se ele vai gostar disso.
David joga o carro na frente dele, o cortando,
e ele buzina.
— Você é louco? — pergunto.
— Sei o que faço. Não virei delegado à toa.
— Ok, mas não tenho sete vidas não! —
Beatriz diz.
— Nem eu. Não precisava disso.
— Se continuar, faço pior.
— Não está mais aqui quem falou.
— Que bom que nos entendemos. — ele diz e
dá uma piscadela para mim.
Chegamos a casa da Dona Paula, onde ocorre
a festa da Yasmim.
David pega o meu presente, pois me conhece
e sabe que pode ser que não chegue inteiro.
Henrique e Ana Louise, pais da Yasmim,
quiseram algo mais familiar, pois assim evitaria
o holofote dos paparazzi, já que os Escobar são
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bem conhecidos.
— Até que enfim chegaram! — Daiane, a
irmã mais nova, diz.
— O trânsito estava péssimo. — digo e David
sorri.
— Sei qual é este trânsito. A mim ele não
engana. Sigam para o Jardim dos fundos, mamãe
e Ana estão lá.
Deixamos o presente no sofá e fomos para o
jardim dos fundos enquanto Daiane ficou na
sala.
Dona Paula vem rapidamente nos
cumprimentar, seguida da Ana.
— Achei que não viriam. — Ana diz.
— E perder festinha de criança com muitas
besteiras para comer? Nunca! — brinco.
Sorrimos.
— Beatriz, isso é uma miragem? Não
acredito que veio! — ela diz, e a Bia sorri
timidamente.
— Adoro a Yasmim, faço sacrifícios por ela.
Rimos, pois sabemos ao que ela se refere.
Beatriz e Marcos não se dão bem desde a vez
em que ele foi meio estupido com ela na
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Universidade, e na festa da mesma.


— Cadê o Henrique e o Marcos?
— Nem me pergunte. Quero matar o
Henrique! — Ana diz.
— O que o pateta número um aprontou?
— Esqueceu de encomendar o bolo. Foi com
o Marcos a procura. — Paula diz sorrindo. —
Esse é o meu filho mais velho, uma
responsabilidade absurda. — rimos.
Daiane aparece com a Yasmim no colo. Está
linda, com maiô rosa de bolinhas pretas. Está
muito calor hoje, e a piscina dela está montada.
— Ai que coisa mais gostosa! — Pego ela no
colo. — Parabéns, minha princesinha, mais
linda... e pesada! — Todos riem.
— Liziara, só tenta não cair. — David
provoca.
— Idiota!
— Quer segurar? — pergunto para Bia.
— Claro! Vontade de morder. Está cada vez
mais linda.
— Só não deixe o Henrique escutar isso,
porque vai ficar dizendo que puxou a ele. — Ana
diz.
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— Nem pensaria nisso. — Beatriz ri.


— Por falar nele... — Paula fala.
Olhamos para trás, e ele está entrando com o
Marcos.
— Porra, hoje o mundo acaba! Beatriz. —
Henrique diz dramatizado.
Rio.
Ele nos cumprimenta.
— Quero beijo também! — David pede.
— Cuidado, nem sempre o volume em
minhas calças é uma ereção.
Rimos.
— Marcos, quem diria, sem terno! —
provoco.
— Uma hora tenho que tirar a armadura! —
Me cumprimenta.
Olha para Beatriz, que finge nem o notar, e
assim continua brincando com a Yasmim em seu
colo.
Ele se aproxima dela, e dá um beijo em seu
rosto sem dizer nada, e ela muito menos.
Quando ele se afasta, vejo que ela ficou
vermelha.
— Então David, muito serviço hoje? —
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Marcos pergunta.
— Claro, tio!
— Essa porra não presta nem para mentir.
Passei na delegacia e você estava de folga hoje.
— ele diz, rindo.
— Definitivamente não é meu irmão! Não
sabe nem mentir. — Henrique provoca ainda
mais.
— Seu filho de uma boa mãe! Eu não
acredito que me enganou. E você ajudou, Liziara!
— Paula diz e dá um tapa em seu braço.
— Em minha defesa, fui obrigada! Não foi,
Bia?
— Total! — ela responde com ironia.
— Muito obrigado, pela ajuda! — ele diz
para a gente.
— Lizi, pegue as bebidas lá dentro, por favor.
Preciso ligar para minha mãe, e ver o que ela
quer dessa vez. Nunca vou ter paz, pelo visto. —
Ana diz.
— Claro, mas vou precisar de ajuda se for
muita coisa.
— Vamos, porra louca, eu te ajudo. —
Marcos fala.
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A mãe da Ana é um pouco complicada.


Sempre liga para infernizar a vida dela e pedir
dinheiro.
Entro na cozinha com o Marcos e pegamos as
bebidas na geladeira.
— Por favor, ela nunca vem quando você
está, então não a provoque!
— Nem pensei nisso.
— Obrigada.
Voltamos para fora e colocamos as bebidas
em cima da mesa.
Passamos uma tarde muito gostosa,
brincando muito com a Yasmim e rindo das
loucuras de todos juntos. Cantamos parabéns, e
ela ficou bem cansadinha; o que já era de se
esperar por ter brincado bastante.
Henrique foi trocá-la para irem embora,
porque ela começou a ficar enjoadinha. Bia e eu
ajudamos a limpar um pouco da bagunça, pois
hoje foi a folga da faxineira, e apesar dela vir
amanhã, não queremos deixar tanta sujeira para
ela.
— Vamos? — David pergunta.
— Vamos sim. — respondo enquanto ajudo
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Daiane a carregar os presentes da Yasmim para


o carro do Henrique.
— Se quiser levamos a Beatriz, e você e o
David podem ficar sozinhos. Sei que querem
isso. — Ana diz ao aparecer para ajudar.
— Tudo bem, vou ver com ela.
— Já falei com ela.
— Que rápida!
— Aprendeu comigo. — Daiane diz.
— Depois me diz o que achou do meu
presente e da Bia, e se a gatinha gostou.
— Claro! — ela sorri.
Henrique e Ana se despedem da gente, e Bia
também. Logo foram embora.
Marcos foi em seguida. Agradeci muito por
ele e a Bia não terem se matado depois de tanto
tempo sem se verem, mas pude ver os olhares
que um dava para o outro.
Eu me despeço da Paula e da Daiane, e vou
embora com o David.
Fomos para seu apartamento.
Assim que chegamos, me jogo no sofá e
retiro o sapato.
— Estou exausta.
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— Eu também.
Temos uma regra: Quando um vai para cama
com outra pessoa, nada de sexo entre nós.
— Vai dormir aqui?
— Não sei. Amanhã entro cedo no trabalho.
— Eu te levo.
— OK. Devo ter roupa ainda aqui.
— Tem sim. Vou tomar um banho.
— Pega o controle da TV para mim.
— Folgada!
— Quanta calunia!
Ele ri e me joga o controle.
Depois que ele toma banho, eu faço o
mesmo, e coloco uma camiseta dele, pois as
minhas roupas que estão lá não são nada
confortáveis.
Deitamos na cama. Ele me agarra e deito a
cabeça em seu peito. A TV está ligada, e está
passando um filme.
O celular dele toca e ele atende.
— Oi... Amanhã?... OK... Te aguardo... Beijos...
Ele desliga.
Interrompem o filme para uma alerta.
— Acabamos de recebe a notícia, que Jorge, o
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traficante que comanda uma pequena cidade no


interior do Estado, fugiu da cadeia. A polícia já
está à procura. Jorge foi preso há cinco anos, e
teria que cumprir pena de 20 anos. Foi preso
quando a polícia invadiu a cidade que ele
comanda, e a polícia acabou matando sua irmã.
Se você vir este homem... — Uma foto dele é
mostrada — Ligue imediatamente para a polícia.
O nível de alerta para sua procura é máximo.
Jorge tem um histórico aterrorizante...
David desliga a TV.
— O que foi? Ficou estranho. Parece
assustado.
— Esse filho da puta! Foi por minha causa
que ele foi preso, e eu matei a irmã dele... uma
grande traficante como ele. Quem deu a ele a
pena de 20 anos de prisão foi meu tio. Esse
desgraçado tem um ódio mortal por mim, e se
ele fugiu é porque chegou o tempo de ele fazer o
que disse dentro do tribunal.
— O que ele disse?
— Que mataria a mim, mas começaria por
aqueles que mais amo. Porra!
Ele esfrega o rosto.
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— Ei... calma. Vão encontrar ele. Esse cara


não vai fazer nada.
— Assim espero. Você tem que me prometer
que enquanto ele não for pego, você vai tomar
muito cuidado.
— Eu prometo...
Ele me agarra e me beija com intensidade.
Sua língua explora minha boca em uma invasão
profunda e gostosa. Ele se inclina um pouco
sobre mim e segura minha cintura, morde meu
lábio inferior e encerra o beijo com um selinho.
— Preciso encontrar esse filho da puta antes
que ele encontre aqueles que amo.
— Nada vai acontecer.
— Assim espero, minha maluquinha. Assim
espero!

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Capítulo 2

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Liziara Araújo
David me deixou na boate em que trabalho.
Não consegui dormir nada bem. Ele ficou quase
que a noite toda acordado, levantando e
deitando. Está preocupado; e eu no lugar dele
também ficaria. Ser um Escobar exige muita
segurança, e para piorar, ele é um delegado, o
que complica ainda mais a situação.
Quando começamos a ter uma amizade, ele
sempre me disse que todos que entram para
família, seja da forma que for, passam a correr
riscos; e por isso começou a me treinar, me
ensinar a atirar e lutar. Sou um desastre com
tudo, eu confesso, mas faço porque sei que isso o
deixa tranquilo.
Daniel, o dono da boate, me chama.
— Sim?
— Você está com a cara péssima. Dê um jeito
ou vai espantar nossos clientes. Sair com o
delegado está acabando com você! Passe um
blush e um corretivo!
Sim, ele é gay, e um amor quando quer.

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— Não estou assim pelo que você está


pensando.
— Brigou com ele?
— Não. São alguns problemas pessoais dele,
que acabam interferindo na minha vida e no
meu sono de beleza também. Vou passar um
reboco melhor no rosto.
Ele ri.
Vou para o banheiro dos funcionários. Eu me
olho no espelho e contenho um grito. Estou pior
do que os zumbis de The Walking Dead, e só sei
disso porque o David assiste e me faz assistir
algumas vezes, por livre e espontânea pressão.
Prefiro Arrow, e não é só pelos personagens
gostosões... é que não tem zumbi, e eu odeio
zumbis. Meu foco mesmo é livros. Sempre que
tenho um tempinho, corro para ler algum.
Pego meu kit de maquiagem na bolsa. Passo
um corretivo, um pó compacto e blush. É o que
tenho para o momento.
Não sou feia, também não sou uma Gisele
Bündchen. Tenho um corpo magro e bonito. Sou
alta, meus cabelos são escuros e cacheados nas
pontas, e longos. Uso aparelho fixo —
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recentemente — e odeio. Às vezes uso óculos


porque não está fácil para ninguém. Tenho meus
dias de lutas e glórias com a minha aparência, e
hoje é um dia de muita luta, tipo... uma guerra.
A boate abre mais cedo hoje, porém de dia
fica vazia. Somente quando tem DJ novo na casa,
ou evento, aí sim lota. Funcionamos 24 horas, e
por isso há um revezamento por parte dos
funcionários.
Meu celular toca. Olho e a foto da Lúcia
aparece na tela. — Mamãe.
— Oi, mãe.
— Sua desnaturada, onde está?
— Trabalhando. É, eu vou bem; e a senhora?
— Você nunca diz por onde anda. Sabia que
querendo ou não, tem um pai e uma mãe?
— Sim, e vocês sabiam que tem uma filha? E
não diga que sabem só porque a mídia e seus
amigos lembram que eu existo.
— Como ousa? Nós nos importamos com
você!
— Mamãe, diz logo o que eu tenho que fazer?
— Tem um almoço hoje em casa. Um casal de
amigos de seu pai vem. Você poderia vir com o
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delegado e prometer se comportar. Eles adoram


se gabar, dizendo que a filha é isso e aquilo...
— Nossa, me lembram alguém... só que não
se gabam pelo dinheiro que tem.
— Liziara!
— Meu nome.
— Você vem ou não?
— Vou, mãe.
— Não esqueça de trazer o delegado.
— Vou ver se ele estará disponível. E você
sabe que ele não é nada mais que amigo, não é?
— Sim eu sei. E também sei que todos os dias
almoçam juntos. Não será problema então. Te
espero. Venha vestida como gente, e não como
uma doida que não sabe a diferença entre uma
Prada e uma Louis Vuitton.
— E eu não sei mesmo. Tudo é caro. Prefiro
as bolsas de brechó, que não tenho medo de ser
roubada; e se estragar não irei chorar até o resto
da vida; ao contrário da Prada, e a Louis alguma
coisa, que eu teria que vender um rim para
comprar uma... Na verdade não venderia,
porque não compraria. Pense no tanto de
comida e livros que eu poderia comprar com o
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valor de uma bolsa dessas marcas?


— Você foi trocada no berçário, só pode! —
diz com raiva.
Sorrio.
— Beijos, mamãe. Amo você.
— Beijos. Te espero.
Desligo e guardo o celular no bolso da calça.
Deixo minha bolsa no armário e vou para o
balcão.
Ajeito as bebidas por ordem alfabética. Acho
que assim facilita.
— Oi, gata!
— E aí, Joaquim.
Vou me levantar e bato a cabeça.
— Ai, merda!
— Cuidado. Ainda se mata um dia.
— Eu também acho.
Esfrego onde bati.
— Seu delegado estava passando na TV.
Sinto meu corpo gelar na hora.
— Por que? Aconteceu algo?
— Não. Parece que um cara fugiu, e já teve
uma informação que ele estava aqui na cidade, e
aí o caso foi para as mãos dele.
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— Merda!
— O que foi?
— Um rolo bem grande. E tenho medo de
como isso vai acabar.
— Esse cara é furada. Se meter com um
Escobar é furada. Você mesmo sabe disso desde
que o tal do Henrique se casou com a cliente que
foi acusada de assassinar o noivo.
— Mas foi provado que ela não fez nada. E
tem mais, ambos se amam. Foi amor à primeira
vista. E saiba que eu queria muito um dia ter um
amor como o deles.
— Que seja. Se cuida, os caras vivem no
perigo. Não é brincadeira se envolver com um
delegado. Te conheço desde que entrou na
faculdade, e sei que seu estilo é diferente do
dele... Você não está pronta para enfrentar o que
ele enfrenta. Você foi interrogada por ele e pela
família para resolver o caso da esposa do irmão
dele que eu sei, e colocou eles dentro da festa da
faculdade quando trabalhamos nela...
— Eu não fiz...
— Não minta. Eu sei, te conheço bem.
Sempre quer ajudar, e acho legal isso. Mas desde
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que firmou uma amizade com o delegado, você


vive mais distraída que antes. As vezes chega
machucada pelos treinos que faz, largou a
faculdade, saiu de casa. Você vive para ele, e é
capaz de se colocar na frente dele por um tiro.
Você precisa saber se quando mais precisar, ele
vai ser capaz de fazer algo grande por você. Um
dia você pode precisar muito dele, e ele estar
ocupado... e aí, será que ele vai largar o que está
fazendo para te ajudar, mesmo que seja uma
coisa boba? Pense bem. Você se sacrifica demais.
E falo isso porque gosto de você.
Ele se afasta, me deixando sozinha.
Eu não me sacrifico tanto. Claro que as vezes
queria que tudo fosse diferente e ele fosse uma
pessoa “normal”, mas eu gosto dele e da vida
dele. Eu aceitei a amizade dele assim, mesmo
depois que descobri estar apaixonada, e não foi
apenas por ele, foi pelo pacote completo.
Joaquim é um cara legal, mas as vezes
consegue ser um irritante, que acha que sabe
tudo. E pelo visto, hoje ele está insuportável.
Terei que aguentar, já que é nossa vez de
trabalhar de dia.
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A boate abre.
Joaquim não tocou mais no assunto, e
agradeci por isso.

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David Escobar
Estou parecendo louco desde que soube que
o filho da puta do Jorge fugiu. Não dormi de
noite. Estou uma pilha de nervos. E para ajudar,
fui informado que receberam uma ligação que
ele foi visto aqui na cidade. Dobrei a segurança
da minha mãe e minha irmã. Já falei com o
Henrique e meu tio Marcos para dobrarem a
segurança deles. Mandei seguranças disfarçados
para ficarem de olho na boate que a Liziara
trabalha, e na faculdade da Beatriz. Ela não
convive muito conosco, mas é muito amiga da
Liziara, e quanto mais segurança, melhor.
Cleber, grande policial e amigo, entra na
minha sala.
— Está péssimo.
— E como! Alguma novidade sobre o Jorge?
— Nada. O cara parece fantasma, some e
aparece.
— Precisamos encontrá-lo antes que ele
tente algo.
— Faremos o necessário.

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— Nenhuma notícia da Poliana?


— Parece que já chegou e está vindo para cá.
— Certo.
— Vou com os homens rodar na cidade, e ver
se encontramos algo sobre o paradeiro do Jorge.
— Certo. Vou continuar investigando daqui e
cuidando dos outros casos.
— Vê se relaxa. Chama a doidinha, ela te
anima. — provoca.
— Nem poderei ver ela hoje, e nem sei
quando vou ter tempo. Com o Jorge à solta, a
Poliana chegando para trabalhar aqui, e eu
tendo que ajudar ela nos treinos, vai me deixar
sem tempo.
— Poliana era uma amiga de faculdade sua,
não é? Lembro que você disse algo sobre.
— Sim. Amiga antiga.
— Isso não vai ser bom.
— O que quer dizer? — Eu me ajeito na
cadeira.
— Essa história de amiga antiga não dá
certo. Sou casado e sei o que digo, vai por mim.
— Eu e a Liziara somo apenas amigos, nada
demais. Não tem porque isso ser um problema.
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— Vocês têm uma amizade e um


relacionamento aberto. Mas você é muito idiota
se ainda não notou que ela sente muito mais que
amizade por você. Com a Poliana na área, vai dar
B.O.
— Eu não posso ter relacionamento sério
com ninguém e a Liziara sabe disso. Minha
carreira e meu tempo me privam disso, e estou
bem desta forma. E você está enganado... ela
apenas tem um carinho por mim, assim como eu
tenho por ela. A Poliana é uma amiga antiga e
nada mais. E repito, minha carreira me priva
disso. É perigoso demais. Você soube o que
aconteceu com meu pai, e eu não suportaria
perder mais ninguém.
— Se o delegado diz, quem sou eu para
discordar? Só não diga depois que eu não avisei.
— Que foi? Além de policial é conselheiro
amoroso? Porra, deveria ter dito antes, que eu te
colocaria para arrumar uma mulher para meu
tio. Aquele cara é muito amargo.
Rimos.
— Estou fora do caminho do juiz.
— Bunda mole.
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— Você me ama, fala sério!


— Muito, delicia.
— Vai se foder.
— Posso te prender por desacato.
— Só se você se prender comigo. — Ele dá
uma piscadela.
— Vá à merda!
Ele ri.
— Meu negócio é outra fruta. Então pode
esquecer.
Sai rindo da sala.

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Liziara Araújo
Já está quase na hora do almoço. Minha mãe
vai me matar, mas vou chegar atrasada.
Ligo para o David, que depois de uma
eternidade, atende.
— Hoje o almoço será nível família Araújo.
— digo e escuto sua risada.
— Bem que eu queria aguentar as loucuras
dos seus pais e provocá-los, mas não poderei
almoçar com você hoje.
— Mentira. Não me deixe sozinha! Um casal
de amigos dos meus pais vão estar lá, e minha
mãe me ligou enchendo o saco. Sabe que nunca
dá certo almoçar com eles porque sempre
brigamos. Você tem que ir junto, é um caso de
vida ou morte.
— Eu sinto muito, mas não poderei. Hoje
chega uma nova policial e ela vai precisar de
mim. E tenho muita coisa para fazer.
— OK. Sem problemas. Nos vemos a noite?
— Não sei, mas é provável que não. O dia
será cheio hoje. Na verdade, parece que a

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semana vai ser cheia. Desculpe.


— Tudo bem. Até qualquer dia, então.
— Não fica brava, está bem? É que está
complicado hoje.
— Não estou. Bom, tenho que me apressar.
Tchau.
— Beijos. E boa sorte.
— Valeu.
Desligo.
Fiquei chateada, mas ele tem
responsabilidades. Porém a merda que o
Joaquim disse me veio a memória. Que inferno!
Ele nem sequer disse que o tal do Jorge está na
cidade, e se o Joaquim não dissesse, eu ficaria
até agora sem saber; o que é estranho já que
ontem o David pareceu muito preocupado, falou
o que aconteceu, mas hoje nem comentou nada,
e ele sempre me conta tudo, ainda mais quando
envolve minha segurança. Temos um pacto forte
em nossa amizade: Jamais esconder nada um do
outro, mesmo que pense que esconder protegeria
de algo.
Mas não farei tempestade em um copo
d’água.
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Pego minha bolsa e peço um taxi. Vou para


meu apartamento, e de lá para a casa dos meus
pais. Meu chefe liberou a mim e o Joaquim para
ficar em casa depois do almoço. O movimento
está fraco demais, e hoje a noite é minha folga
Chego em casa e tomo um banho rápido. Eu
me arrumo rapidamente e peço outro taxi para a
casa dos meus pais, pois só pegarei meu carro
amanhã.

Encontro todos na sala. Minha mãe me olha


com alivio, mas a procura de alguém, e este
alguém é David.
— Perdoem meu atraso.
— Sem problemas. — minha mãe falsamente
diz.
Cumprimento os convidados, e em seguida
fomos almoçar.
Como já era de imaginar, minha mãe está
tentando ser sempre melhor em tudo e fingindo
ser boa mãe. O casal, Pamela e Junior, e meus

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pais juntos... não sei distinguir quem é o pior.


Um mais esnobe que o outro. Chego a me sentir
mal perto deles.
— Sua mãe me disse que está saindo com o
delegado David Escobar. — Pamela fala.
— Somos apenas amigos.
— Por mim seriam mais que isso. — minha
mãe rebate.
— Eles só não estão juntos porque ainda
estou analisando se isso seria a melhor coisa. —
meu pai fala. Mentiroso.
— Minha filha está noiva de um empresário
no ramo da tecnologia. O rapaz é um gênio e
muito bem de vida. Marcarei um dia para que o
conheça, Leandro. — Junior diz ao meu pai.
Afasto minha comida. Está me dando nojo
toda essa palhaçada. Eu deveria imaginar que
seria assim, sempre é.
— Soube que largou a faculdade... isso é
loucura. Minha filha está prestes a se formar. —
Pamela me diz.
— Que bom. — digo e meu pai me olha de
lado.
— Nossa filha apenas trancou a faculdade,
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pois vai para uma melhor. — minha mãe


provoca.
— Sei. — Junior diz e toma um gole do
champanhe.
— Achei que teria a oportunidade de
conhecer o David. Sua mãe me falou tanto sobre
ele, mas...
— Ele é um homem ocupado, e eu também.
Eu sinto muito, mas preciso ir.
Todos me olham.
— Liziara... — meu pai diz.
Levanto e saio.
Pego minha bolsa na sala.
Minha mãe segura meu braço me
assustando.
— O que pensa que está fazendo?
— Indo embora. Me solte, por favor. — Ela o
faz.
— Você nos envergonhou!
— Eu? Poupe-me! Vocês pediram para eu vir,
apenas para ficarem se gabando e criando uma
Liziara que não existe para seus amigos, como
sempre fazem. Vocês têm vergonha da própria
filha, e não cansam de deixar isso claro quando
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ficam mentindo para os outros, e me fazendo


uma moça perfeita. Eu não sei porque perco meu
tempo.
— Você é uma vergonha para nós! Não
presta para fazer nada do que pedimos! Cadê o
David?
— Trabalhando, coisa que você não tem
ideia do que seja, já que nunca precisou
trabalhar na vida.
Ela me acerta um tapa na cara, que minha
cabeça chega a virar.
Meu sangue ferve. Estou tremendo de raiva.
Seguro as lagrimas.
— Um dia você vai se arrepender por este
tapa, e tomara que não seja tarde.
Passo por ela e saio.

Chego no meu apartamento, e só então me


permito chorar.
Desde de pequena ela sempre inventou uma
Liziara perfeita para os outros, e nunca disse

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quem eu era de verdade. Meu pai e minha mãe


nunca aceitaram que eu fosse desastrada, doida,
brincalhona, e que não me importasse com
dinheiro, fama ou poder. Eles não aceitam que
eu sou o oposto deles. Já me humilharam tantas
vezes. Quando pequena estudei em um colégio
interno porque eles não queriam me ver. Tinha
finais de semana que nem iam me buscar, só
faziam quando tinham eventos, ou festas em
casa e queriam fazer a família perfeita.
Ela nunca me bateu, e por causa de um
almoço idiota e fútil, ela o fez.
Envio uma mensagem para a Beatriz, para
saber se ela vem almoçar em casa, mas ela diz
que vai trabalhar até tarde.
Eu não quero ficar sozinha, só quero me
distrair, depois de tudo.
Ligo para o escritório da dona Paula e dizem
que hoje ela está de folga.
Vou fazer uma surpresa para ela, que sempre
pede para passarmos um dia juntas. Me distrair
vai ser bom.
Chego na casa dela, e como sou conhecida,
me liberam sem questionar.
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— Luciano, Henrique te mandou embora? —


brinco com o segurança.
Ele sorri.
— Não, senhorita. Ele foi viajar com a família
e levou outros seguranças, e pediu para eu ficar
no controle daqui.
— Que bom que foram viajar!
— Sim. O patrão e a patroa trabalham muito.
— E como. Bom, dona Paula está?
— Está sim... e...
— Valeu. Quietinho, vou fazer surpresa.
Ele me olha estranho e não entendo.
Não tem ninguém na sala e nem na cozinha.
No segundo andar também não.
Desço e faço o caminho para ir até o jardim
dos fundos.
— Acho que o Luciano precisa de um exame
de vistas ou memória. Ou dona Paula saiu e ele
não viu, ou ele esqueceu que ela saiu.
A porta de vidro fume está um pouco aberta.
Olho no vão dela, e não acredito no que vejo.
David, Paula e uma loira bem bonita
conversam e riem enquanto almoçam juntos.
Eu me assusto com a Marcela, a faxineira da
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família. Ela vai dizer algo, mas faço um sinal para


que fique calada. Afasto-me da porta e ela entra.
— Não diga que eu estive aqui.
— Mas, meu anjo...
— Não. Não quero atrapalhar. Era bobagem
o motivo da minha vinda. Vou indo.
— Não vai querer nem um pedaço da
lasanha que a dona Jurema fez? É a sua favorita.
Sorrio.
— Obrigada, mas fica para uma próxima.
Dou um beijo nela e saio.
Encontro Luciano na saída, e agora entendo
o olhar dele. Talvez fosse isso que ele ia dizer
quando o interrompi. Eu me despeço dele, ele
pergunta se quero que algum dos seguranças me
leve, mas recuso.
Se o David não queria almoçar comigo, não
precisava mentir. Era só dizer que tinha que
almoçar com outra pessoa e a mãe dele. Hoje
não é meu dia.
Vou embora, mais magoada e com mais raiva
do que eu vim.

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Capítulo 3

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David Escobar
Levei Poliana para almoçar em casa. Não
porque eu realmente queria, mas porque minha
mãe soube da vinda dela e me intimou a isto. Ela
e eu éramos muitos apegamos na faculdade, e
com isso sempre estávamos juntos. Minha mãe
criava uma expectativa com a gente, porém
mesmo que naquela época eu quisesse algo, não
rolaria. Poliana parecia cortar para o outro lado.
Enfim, eu deveria estar trabalhando com ela
e buscado pelo Jorge ao invés de estar
almoçando.
Minha mãe está animada com ela, e a
conversa flui. Dou risada algumas vezes para
não deixar elas constrangidas por acharem que
estou dando atenção a tudo, quando não estou.
— Que bom que retornou. Eu sabia que não
se adaptaria a tanto tempo no interior. Você é
agitada demais. — minha mãe diz e ela sorri. —
Poliana Gonçalves, é uma moça de adrenalina.
Igual aos meus filhos, que não tem amor a vida e
a mim.

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Sorrio.
— Viver no interior é muito bom, mas
apenas para descanso. Eu realmente gosto de
agitação. Me enviarem para cá foi a melhor
coisa, e não evitei. Quando soube que era para
trabalhar na equipe do David, vim rapidamente.
— Ela sorri para mim, e retribuo para não deixá-
la sem jeito.
Vejo a Marcela disfarçadamente me
chamando.
— Já venho. — digo a elas e me retiro.
Entro em casa.
Marcela está com uma cara estranha.
— O que houve, mulher? Parece que alguém
morreu.
— Senhor...
— David! Ainda não aprendeu?
— David, a senhorita Liziara veio aqui. Ela
pediu para eu não dizer nada, mas ela saiu tão
triste... o Luciano disse que ela chegou estranha
e foi embora pior, e nem aceitou carona dos
seguranças. Estou preocupada. Ela viu vocês lá
fora. Eu a encontrei... coitadinha, estava mal. Um
lado de seu rosto estava bem marcado, e os
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olhos de quem chorou. Nem aceitou lasanha.


— Porra!
— Menino, olha a boca!
— Ela disse para onde iria?
— Não.
— Obrigado por avisar.
Retorno para o jardim.
— Poliana, vamos? Tenho um compromisso.
— Claro!
Ela se levanta junto a minha mãe.
— Vem jantar conosco. Assim matamos mais
a saudade. — minha mãe diz, abraçando-a.
— Venho sim. Quero ver todos.
— Henrique viajou com a esposa e a filha,
mas Daiane e Marcos virão, pode ter certeza.
Hoje aqueles dois não me enrolam. Daiane só
trabalha, e Marcos é um caso a ser estudado pela
NASA.
— Normal isso nos Escobar. — Poliana diz
sorrindo.
Dou um beijo na minha mãe.

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Deixo a Poliana na delegacia.


— Não vai ficar?
— Tenho algo importante.
— Jorge?
— Mais importante que isso.
Ela me olha sem entender e desce do carro.
— Até daqui a pouco, então. — ela diz.
Concordo e ela fecha a porta.

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Liziara Araújo
Estou deitada na sala, lendo um livro, mas
não estou prestando muita atenção. Prova disso
é que já li o mesmo parágrafo cinco vezes.
Olho meu celular toda hora, e não tem uma
alma boa me ligando.
A campainha toca, e só pode ser alguém com
autorização para subir.
— Não tem ninguém!
— Esse ninguém poderia abrir a porta? —
David! Merda.
Levanto e abro a porta.
Ele me olha e sorri.
— Posso?
— Entra. — digo secamente.
Ele entra e eu fecho a porta. Sento no sofá e
coloco as pernas em cima dele.
Ele se senta ao meu lado e puxa minhas
pernas para seu colo.
— Não estaria ocupado? — pergunto.
— Sim. Mas fiquei sabendo que alguém me
viu hoje e nem foi me dar um beijo. Talvez um

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“oi”, pelo menos.


— Eu fui ver sua mãe, mas estavam
ocupados. Seria chato atrapalhar.
— Por que não ficou com a gente?
— Porra, sério essa pergunta? Você mentiu
para mim. Disse que estaria ocupado, e eu,
idiota, acreditei. Então fui ver sua mãe e te
encontro lá com uma mulher. Nós tínhamos um
pacto de nunca mentir. Se ia sair com outra, era
só dizer, caramba!
— Eu não ia sair com ela. Poliana é a nova
policial, foi transferida para cá. Somos amigos da
época de faculdade, e minha mãe soube que ela
estava aqui e pediu para eu levar ela lá para
almoçar.
— E eu sou idiota? Porra, você simplesmente
estava lá rindo e se divertindo. Nem sequer me
disse que o tal do Jorge está na cidade... eu fiquei
sabendo por terceiros.
— Eu não disse para não te assustar, mas eu
ia dizer.
— Mas não disse, e teve oportunidade
quando te liguei.
— Me desculpa, mas não tem motivos para
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você ficar assim.


— Eu... só não estou bem.
Ele vira meu rosto e toca onde minha mãe
me bateu. Ainda dói um pouco.
— Quem fez isso?
— Isso o que? — me faço de desentendida.
— Você sabe.
— O almoço em casa não acabou bem.
— Quem fez isso?!
— Depois do ridículo "circo" que me
convidaram a participar, eu disse algo que
minha mãe não gostou e me bateu. Simples. —
rio nervosa.
Ele acaricia meu rosto.
— Eu deveria ter ido com você. — Ele fica
nervoso. — Que porra ela tem na cabeça?
— Já foi. Agora pode voltar para os seus
compromissos.
Ele sorri.
— Está com ciúme?
— Tanto faz. Vai embora, quero ficar
sozinha. Meu dia não está bom, então não piore.
— Você odeia ficar sozinha, meu amor.
— Não me chame de meu amor. Estou puta
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da vida com você, seu idiota!


— Eu sei, e você tem razão. Me desculpa, eu
devia ter falado sobre o Jorge e que a policial era
uma amiga de faculdade.
— Sim, ainda bem que sabe!
Afasta minhas pernas e se coloca no meio
delas.
— O que pensa que está fazendo? — Quase
berro.
— Me beija.
— Não. Acha que isso resolve o que fe...
Ele invade minha boca. Sua língua entra com
voracidade. Suas mãos vão para cada lado do
meu rosto. Ele se esfrega, e sinto sua ereção em
minha intimidade. Solto um gemido
involuntário.
Crio forças não sei de onde e o empurro. Ele
não insiste e aceita o que fiz.
— Eu tenho que voltar para a delegacia.
— É melhor. Eu iria me sentir uma idiota que
deixa o sexo ser a resolução do problema.
— Você não é idiota. Me perdoa. Não fique
com raiva... Eu sinto muito pelo o que aconteceu
na sua casa.
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— Minha maior raiva foi isso, e acabou


acumulando com minha chateação com você.
Ele me dá um selinho.
— Vai ser corrido, minha vida, mais do que
já é. Preciso encontrar o Jorge, e ajudar a treinar
mais a Poliana, porque ela ainda é nova nisso. O
delegado da cidade que ela estava me pediu esse
favor, e não pude negar, pois quando mais
precisei ele me deu forças para chegar onde
estou. Então não terei muito tempo. Tentarei ver
você, mas não garanto que será frequente.
— Sem problemas. Estarei ocupada também.
— minto.
— Com o que? — pergunta sorrindo. Merda,
tenho que mentir melhor.
— Horas extras na boate.
— Tome cuidado por lá.
Concordo.
— Tenho que ir, já fiquei tempo demais na
rua. — Ele se levanta.
— Qualquer coisa me ligue.
— Sei me virar. — ele respira fundo.
Levanto e abro a porta.
Ele para na minha frente e me dá um beijo
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no rosto.
— Se cuida, minha maluquinha.
— Está falando com uma pessoa que
aprendeu a atirar, então não tente me comprar
com carinho.
— Esse é meu medo. A maioria das pessoas
que morrem afogadas é porque sabiam nadar.
— Relaxa, não sei nadar.
— Você entendeu o que eu disse. — Sorrio.
Ele sai.
— David? — Ele me olha — Não me esconda
mais nada, por favor.
— Pode deixar. — Ele dá uma piscadela.
Fecho a porta e me jogo no sofá.
Polivaca chega depois de não sei quanto
tempo e vem querer tirar meu tempo com o meu
delegato. Estava demorando para eu dançar
nessa merda. Eu preciso me desapaixonar do
David com urgência, antes que pire de vez!
— Vou tomar um banho, porque aquele
idiota me deixou molhada. Que broxe com todas
as mulheres! — Merda, falando sozinha de novo.
Tomo um banho e coloco um vestido.
Pego bolacha e vou para o sofá tentar
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terminar minha leitura.


Depois de horas, termino de ler e fico
encantada, sonhando com uma vida igual à da
personagem. A autora me deixou querendo um
Ian Clarke do livro “Perdida”.
Levanto e pego o pacote vazio de bolacha
para jogar no lixo. Estou entediada.
Escuto barulho na porta e sei quem é.
Beatriz entra já tirando os saltos e se
jogando junto a bolsa no sofá.
— Eu ainda mato aquele reitor. O cara não
sai do meu pé! Estou me sentindo incomodada.
— Eu não confio naquele velho. Toma
cuidado, Bia.
— Tomarei. Mas me diga, por que perguntou
se eu viria para casa? Não almoçou com o
David?
— Não, meu dia foi um inferno.
— O que houve?
— Joaquim falou coisas que me deixaram
pensativa. Almoço com meus pais, e foi daquele
jeito que você sabe bem. Minha mãe me acertou
um tapa na cara. David me escondeu que a nova
policial que chegou era uma amiga de faculdade.
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Encontrei a tal na casa da mãe dele, e os três


almoçando juntos, sendo que ele disse que não
poderia almoçar comigo, porque estaria muito
ocupado... É, acordei com o pé esquerdo.
— Uau! Liziara, seus pais são terríveis. E sua
mãe agora deu para te bater? Por isso esse lado
do rosto meio avermelhado e inchado. — Ela
aponta.
— Ser muito branca faz isso, deixa marca
infinita. — sorrio.
— Ela deixou uma marca infinita dentro de
você. Que ódio. Deveria ter me dito, e eu tinha
dado uma desculpa e vindo para cá.
— Relaxa, já passou. — ela concorda.
— Quer dizer que chegou uma policial nova
que é amiga antiga dele?
— Sim. Nem a conheci e já estou odiando.
— Segue um conselho da solteirona aqui:
Você está apaixonada por ele, e para virar amor
é rapidinho. Se não quiser perder seu delegado,
fica de olho. Amigas antigas raramente são boas
coisas. Quando o passado retorna, quase sempre
vem trazendo um furacão.
— Aí, Bia! Minha paixão pelo o David vai
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acabar. Paixão é passageira. Eu vou me


desapaixonar, já decidi.
— Cuidado para não cansar. Afinal vai ser
difícil, com o sexo, carinho, e o grude da parte de
ambos.
— Nossa, hoje está para me desanimar! —
brinco.
— Estou sendo sincera.
Ela solta o cabelo que estava preso em um
coque.
— Parece estressada. Foi só o reitor ou
aconteceu algo? Aquele velho tentou abusar de
você? Eu castro ele.
— Não! Ficou louca?! Ele não tentou nada.
— Então?
— Aquele juiz, filho da puta! Que ódio!
— Encontrou com ele?! — pergunto
animada.
— Ele foi palestrante hoje na universidade.
— Mentira! Que babado. E ai?
— E ai, que quando terminou, uns
professores, funcionários e o reitor chamaram
ele para tomar um café, e eu tive que ir. Seria
fácil, já que eu não precisaria dar atenção a ele.
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Mas aquele tarado, sempre que ia falar com


alguém, fazia questão de passar se esfregando
em mim. Ainda fingiu que não me conhecia
quando o reitor veio nos apresentar. Que ódio. E
eu não podia fazer nada. Para todo lado que eu
ia, aquele imbecil ia atrás... Arg!
Ela está bem irritada.
— Marcos é terrível. Que cara de pau! Mas
ele é bem gostoso... vai dizer que não gostou das
esfregadas dele?
Ela atira a bolsa em mim e eu desvio.
— Deixa de ser besta! Claro que não gostei.
Eu juro que da próxima vez que ele aprontar
algo assim, eu enforco ele.
— Cuidado, ele é um Juiz. Faça o crime bem
feito, ou ele vai te pegar bem de jeito. — rio.
— Vai à merda! Não sei porque perco meu
tempo com você.
Ela se levanta e pega o sapato e a bolsa. Vai
para o quarto dela. Fico rindo. Esses dois são
complicados.
O interfone toca. Atendo e dizem que é uma
encomenda que deixaram na portaria e pediram
para me entregar.
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Desço até a portaria e pego a caixa, um


pouco pesada.
Subo com a caixa. Entro na sala e me sento
no sofá. Bia está na cozinha.
Abro a caixa e sorrio.
— Delegado mandando presentes, acertei?
Sorrio para a Bia, que está com um pão na
mão.
Ela vem para perto ver o que é.
— Esse é realmente sobrinho do
Juiz! Apronta e tenta agradar.
Rio.
Retiro da caixa um conjunto de lingerie
vermelha. Fico vermelha. Tem um livro, o último
da série Bridgerton, da Julia Quinn. Ele sabe que
amo livros, e faltava apenas o último para
completar a série. Há também uma caixa de
bombons, dos meus preferidos.
— Que fofo, manda lingerie junto com
bombom e livro para amenizar a safadeza. É tipo
mandar uma foto nua e postar nas redes sociais
que é santa. — Bia diz, rindo.
Meu celular toca e é uma mensagem dele:

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Para te animar depois do dia difícil que teve. E fui eu


mesmo que fui comprar, antes que pense que mandei
alguém. Essa lingerie e para usar apenas comigo, ou
arranco o pau de quem estiver com você quando usar ela.
Obs: Espero que goste. Não mandei flores porque não
curto muito, me lembra velório.
Beijos, minha maluquinha.

— Filho da puta! Que ódio. Faz merda e vem


me agradar... e pior que pegou pesado, justo meu
bombom e autora favorita?
— Preciso de um homem assim. Só
aparecem encrencas na minha vida.
— Não arranja porque não quer...
— Porque não encontrei o homem certo.
Homem para mim tem que ser com H
maiúsculo.
— Conheço um!
— Se disser o nome daquele idiota, eu me
jogo dessa sacada!
— Não digo nada.
Respondo a mensagem:

Amei tudo.
Mas deveria saber que suborno é crime.
Vou pensar no seu caso sobre a lingerie. Estou
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precisando relaxar hoje e pensei em sair. Ela pode ser útil,


se é que me entende. Obrigada pelo belo presente.
Beijo, delegato.

Ele responde:

Não me provoque sua atentada!!


(Conseguiu me irritar)

Sorrio e não respondo.


Levo as coisas para o meu quarto.
Meu celular toca e é uma mensagem do meu
chefe pedindo para eu trabalhar hoje à noite,
pois uma das meninas está doente.
Pelo visto eu realmente acordei com o pé
esquerdo.

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Capítulo 4

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David Escobar
Estou na sala de treinamento. Depois que me
despedi de Liziara, comprei os presentes para
ela e vim para delegacia.
Poliana está treinando tiros, e estou
observando. Ela tem equilíbrio quando atira,
mas tem alguns pontos muito negativos que
podem prejudicá-la.
— Abra um pouco mais as pernas. — digo a
ela e ela o faz.
— Assim?
— Isso. Outra coisa, você tem que ver qual
olho te faz ter a melhor mira. Está acertando
quando atira, mas depois de várias tentativas.
— É porque você está me deixando nervosa.
Nunca treinei com um delegado! — sorrio.
— Esquece que sou delegado. Sou apenas o
David aqui.
— Ok.
— Tenta de novo.
Ela respira fundo e tenta novamente, mas
erra.

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— Jamais atire para matar de primeira. O


alvo vai esperar por isso.
Pego a arma e atiro mirando no braço.
— E se ele continuar sendo um perigo, ou
não mostrar que vai parar, atire na perna. —
atiro no alvo, na perna direita. — Ele vai pensar
que você atirou nestes lugares porque falhou.
Provavelmente vai zombar, e então você atire
em algo muito próximo a sua cabeça, como a
parede por exemplo. — Atiro, e a bala passa
raspando na lateral esquerda da cabeça do alvo.
— E se não parar e não tiver outra solução, aí
sim atira para matar. — Atiro no peito do alvo.
Olho para ela, que está boquiaberta.
— Uau. Tipo, uau mesmo. Eu deveria ter
treinado com você quando iniciei.
— Não é minha função, apenas estou te
ajudando. Você teve um bom professor, só está
um pouco nervosa.
— Pode ser. Estou um pouco cansada. Vamos
parar por agora.
— Vamos sim. Eu vou ver se meus homens já
têm alguma coisa.
— Certo. Vou beber água.
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Saio da sala de treinamento e vou para a


minha. Paulo, o escrivão, está nela, se
arrumando para ir.
— Já vai?
— Tenho uma vida fora daqui. Deveria fazer
o mesmo. Passou quase o dia todo treinando a
nova policial.
— Tenho muita coisa ainda.
— Descanse, não vai conseguir procurar nem
um elefante se estiver cansado.
— Seguirei seu conselho, só não hoje. — ele
sorri.
— Não tem jeito mesmo! Qualquer coisa, me
ligue.
— Pode deixar.
Ele sai da sala.
Sento-me na minha cadeira.
Pego as papeladas sobre o Jorge e começo a
reler tudo. Preciso de alguma pista do paradeiro
dele.
Alguém bate à porta.
— Entre. — continuo lendo.
— Cheguei para alegrar seu dia! — Largo o
papel e sorrio.
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— Débora! O que faz por aqui? — ela sorri.


— Meu marido não vai para casa, eu tenho
que vir atrás dele. — Olho para a bela moça, alta,
com lindas curvas, loira, e de óculos. — OK...
Vim a mando do seu tio.
— O que ele quer?
Débora é esposa do policial, e meu amigo,
Cleber. Trabalha para o meu tio.
— Mandou trazer esses papeis aqui. — Ela
retira da bolsa e me entrega. — É sobre o idiota
do seu melhor amigo. — Franzo o cenho — É
lerdo mesmo! É sobre o Jorge. Não entende
ironia não? Eu hein!
— Você não muda mesmo!
— Me amo assim. — sorri.
A porta se abre e é o Cleber.
— Eu não fiz nada! — ele diz quando vê ela,
e isso me faz rir.
— Está se entregando, meu amor? — Ela
ergue a sobrancelha esquerda e cruza os braços.
— Claro que não. O que faz aqui? — ele
pergunta.
— Dar uns pegas no delegado é que não é.
Vim trazer uns papeis, mas já vou indo. O
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Marcos está acabando comigo hoje. Aquele


homem precisa de uma mulher para tirar o
estresse dele. Não aguento mais ouvir meu nome
na boca dele.
Rimos.
— Podem rir mesmo... queria ver se
estivessem no meu lugar. Bom, vou indo, mas
antes preciso comer algo, nem almocei hoje...
OK, não me olhem assim, eu almocei, mas estou
com fome. Estou estressada e fico com fome. Fui,
amores!
Ela contorna a mesa e me dá um beijo no
rosto. Para na frente do Cleber e dá um beijo
nele.
— Estou aqui, pessoal!
— Estou sabendo! — ela diz.
— Eu devia ter continuado sendo policial!
— Não está com alguém porque não quer.
Cadê a desastre? — Olho para ela sem entender
— A porra louca, como diz o Marcos. Está lerdo
mesmo!
— Está na casa dela. E eu e ela não temos
nada além de uma amizade.
— Eu tive essa amizade, e resultou em três
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anos de casamento, até agora.


— Deus me livre! Como aguentou ela,
Cleber? — provoco, e ele se segura para não rir.
— Está pedindo para morrer, essa porra! Fui,
não aguento muito tempo ficar com um Escobar.
Já bato meu recorde com o Marcos.
Um celular começa a tocar, e é o dela. Ela
atende.
— Já estou indo, homem! Estou saindo da
delegacia... Vim de taxi, bati o carro... estou sem
por uns dias, esqueceu? Vou pegar um taxi agora
e já vou... Reclama não! Está achando ruim, me
dê uma carona! Acho bom. Até daqui a pouco.
Ela desliga. Estou rindo como um idiota.
— Como vocês dois sobrevivem um com o
outro? — pergunto.
— Conheço ele há 8 anos, sei como lidar com
a fera. Nossa amizade é tapas e murros, mas a
gente sobrevive. Fui! — Ela joga beijo e se retira.
Cleber me olha e sorri. Ele se senta.
— Por sorte ela não viu a Poliana. Quando
soube que tinha policial nova, e viu quem era,
surtou. Disse que se eu relar nela, ou ela me
olhar, corta minhas bolas fora. Estou fodido!
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— Estamos. Débora e Liziara podem dar as


mãos! Estão morrendo de ciúme. Poliana não é
nada mais que uma amiga para mim e colega de
trabalho para você.
— Para mim realmente é uma colega de
trabalho, já para você...
— Não seja idiota! Vamos, o que tem de
novidade?
— Nada. O cara está como um fantasma.
— Fantasmas não existem, mas ele sim.
Temos que encontrar o filho da puta.
— Está certo. A única pista que temos é que
ele foi visto próximo a rodoviária, mais nada.
— Esse pouco pode ser um muito. Ele deve
estar muito próximo, mais do que imaginamos.
— Mas sua preocupação não é apenas essa. O
que está acontecendo além disso?
— Liziara. Eu e ela somos sempre vistos
juntos. Ela trabalha em um lugar que tem muito
movimento. E se for ela a primeira que ele for
atrás? Ela é toda doida e desligada.
— Quer que eu peça para os seus seguranças
reforçarem a equipe?
— Na verdade quero que envie amanhã
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policiais à paisana, atrás dela. Hoje ela não vai


trabalhar mais, era apenas para ela trabalhar de
dia.
— Pode deixar. Mas ela sabe se virar. É
doida, mas nem tanto.
— Espero que sim.
— Outra coisa... Você confia mesmo que essa
Poliana é apenas amizade?
— Claro. Acredito até que ela goste de
mulher.
— Não acho. O jeito que ela te olha... Tome
cuidado, David, ou vai ficar bem encrencado.
— Porra, entenda, a Liziara e eu não temos
nada. É sexo, amizade e nada mais. Não vejo
motivos para você ficar insistindo nesses
assuntos.
— Quando vai admitir?
— O que?
— Que o que sente pela Liziara é muito mais
que um carinho de amigos. Pare de mentir para
si mesmo. Você fica louco quando ela sai sem
você, quando não dá notícias... Ela ama você
também, e não é um amor de amiga. Uma hora
ela pode cansar. Ela é humana, e não vai
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aguentar esconder o que sente por muito tempo,


ou aguentar você saindo com outras ou com essa
Poliana na área... E o pior que somente você não
vê que ela te ama. — Ele se levanta. — Pense
bem.
Ele sai da sala.
Porra, não aguento mais ninguém insistindo
nesse assunto. Eu não sou idiota, sei que o que
ela sente por mim é muito mais que amizade,
mas eu não posso dar nada a ela além do que já
dou. Já a coloco em risco não tendo um
relacionamento sério, e não quero coloca-la no
precipício, tendo algo com ela. E na verdade,
nem sei o que realmente sinto por ela, não posso
fazê-la sofrer, mais do que já faço as vezes.
Meu celular vibra. É uma mensagem da
Liziara.

Estou a caminho do trabalho. Vou ter que ficar no


lugar de uma menina hoje. Me busca amanhã de manhã?
Pegarei meu carro só amanhã.

Caralho, não acredito. Pior que o Cleber já


foi, deve ter ido para a rua. E quando aquele

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louco sai para a rua, não atende celular. Preciso


que ele mande policiais à paisana para a boate.

Te busco. Qualquer coisa me ligue. Tome cuidado, por


favor. Não fique dando mole para qualquer um e preste
atenção no que faz!

Ela responde:

Relaxa! Beijos.

Relaxar? Com o Jorge à solta, e Poliana me


complicando com a Liziara? Tudo que não dá
para fazer é relaxar. E ainda tem jantar na minha
mãe hoje!

Chego na casa da minha mãe depois de um


banho e trocar de roupa. Daiane e Marcos já
estão aqui, posso escutá-los discutindo.
Entro na sala de jantar.
— Uau, já estão se matando? — provoco.
— Às vezes acho que ele não é meu tio, e sim
um irmão insuportável.
— Ai, essa doeu! — Marcos finge estar
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ofendido.
— Até que enfim chegou, meu filho! —
minha mãe diz, entrando junto com a Dona
Jurema.
— Olha só, Henrique vai ficar enciumado que
está cozinhando para mim, Juju. — brinco e dou
um beijo nela. — Está cheirosa. Não quer ir para
meu apartamento?
— Me respeite, menino! — Ela bate com o
pano de prato no meu braço e sorrio.
Ela deixa a jarra de suco na mesa e se retira.
— Deixe ela em paz. Já basta o Henrique a
atormentando. — minha mãe diz, se sentando.
— O Henrique tem sérios probleminhas, eu
já disse.
— E você tem o que? — Daiane provoca.
— Fica quieta ai que a conversa ainda não
chegou na miss Sabe Tudo.
— Como você é idiota, David!
— Parem os dois. Parece que têm dois anos.
Por favor! — minha mãe repreende.
Olho para a Daiane e começamos a rir.
— Vocês ainda vão me enlouquecer! —
minha mãe fala.
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— Mais? — Marcos provoca.


— Não me provoque, Marcos! — ele sorri.
— Pode deixar, cunhadinha. — ele diz e ela
finge não escutar.
— Cadê Poliana? — minha mãe pergunta.
— Deve estar a caminho.
— Não acredito que não deu uma carona
para ela!
— Mãe, eu não sou chofer de ninguém. Eu
tinha que passar no meu apartamento também.
— Entenda, Paula, ele não pode ficar saindo
por aí com outra mulher, ou a porra louca, deixa
ele de castigo. — Marcos provoca.
— Vá à merda! — digo a ele. — Apenas estou
tentando ao máximo evitar problemas. Já tenho
o suficiente.
— Faz bem. Não gosto dela. Poliana é uma
falsa. Se deixar, ela senta no seu colo e rebola! —
Daiane fala.
— Daiane, tenha modos!
— Só disse a verdade, mãe! Não a suporto, e
não sei fingir.
— Estou com a pirralha. Essa daí é cobra
vestida de ovelha. Tome cuidado! — Marcos
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rebate.
— Não sei porque agem assim. Ela é uma boa
moça, um pouco vulgar as vezes e oferecida, mas
é boa moça. Porém jamais desejaria ela para
algum dos meus meninos... mas não escolho,
infelizmente.
— Mãe, eu não quero nada, nem com ela e
nem com ninguém.
— E a Liziara sabe disso? — Marcos
pergunta sorrindo.
— Porra, chega desse assunto. Vamos
comer? — Estou irritado.
— Vamos esperar mais um pouco para ver se
ela vem. — minha mãe diz. — E cadê a minha
menina?
— Trabalhando. — respondo.
— Estou com saudades dela. Ela anima
qualquer um. — não consigo evitar e sorrio.
Minha mãe se levanta sorrindo. Viro para
trás.
— Que bom que chegou! — minha mãe diz
educadamente.
Poliana está com um vestido preto, justo, de
mangas longas, um pouco acima dos joelhos. E
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sapatos pretos. Sorrio.


Estou fodido, em tudo sempre terá um pouco
da Liziara. O vestido é idêntico ao que eu dei a
ela para irmos a um evento beneficente no mês
passado. Porém na minha maluquinha ficou
muito melhor.
— Desculpem a demora. Estava um pouco
ocupada.
— Não tem problema! — minha mãe diz.
— Daiane, quanto tempo! — ela se aproxima
da Daiane, que agora está de pé e cumprimenta.
— Pois é. Mas cá estamos nós... de novo... —
Daiane diz e bufa. Minha mãe olha feio para ela.
— Marcos! — Ela cumprimenta, a ele que
não emite um som sequer.
— Sente, querida! — minha mãe pede.
Ela se senta ao meu lado.
Daiane cochicha em meu ouvido:
— Acho que alguém está tentando imitar a
Liziara. Será que viu a foto de vocês dois no
evento, e quis copiar para te conquistar? — Dou
um tapa em sua perna e ela sorri.
— Vou pedir a Dona Jurema que já pode
servir. Com licen... Ai está ela! — minha mãe diz
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se sentando novamente. — Pode servir, Ju!


— Irei servir, mas antes vim dar um recado.
A menina Liziara, ligou... está tentando falar
urgente com o menino David e não consegue.
Viro rapidamente, e com o coração
acelerado. Mil coisas ruins passam por minha
mente.
— O que ela queria?
— Disse que é para não se preocupar. Não
precisa ir buscar ela de manhã, que vai pegar
carona com um amigo chamado Joaquim. Disse
que vai ficar sem celular a noite toda, pois está
muito cheio a boate, e caso ligue e ela não
atenda este é o motivo.
— Uma porra que ela vai voltar com o
Joaquim! Esse bastardo está começando a me
irritar. E que porra, como vai ficar sem celular? E
se acontece algo?
— Se acalme, meu filho!
— Quem é ela? Parece alguém muito
importe, ficou muito preocupado. — Poliana
pergunta um pouco estranha.
— É a namorada dele que ele não quer
assumir que é a namorada dele. Nossa, que
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confuso! — Daiane diz.


— Sua namorada?
— Ela não é minha namorada. Daiane não
tem o que fazer e fica inventando coisas... Vou
ligar para o Cleber e já venho. Um instante.
— Não pode ser depois? — Poliana indaga.
— Nem tente. Quando se trata dela, ele
cancela uma reunião até com a rainha. Não só
ele, como todos nós, pois fazemos de tudo para
proteger quem amamos. — Marcos diz
rispidamente enquanto saio da sala.
Ligo para o celular do Cleber, mas só chama.
Ligo para a casa dele e depois de alguns toques,
atendem.
— Alô?
— Debi, é o David.
— Você me ama muito... Te vi hoje e já está
com saudades? — brinca.
— Viu só. É muito amor! — ela ri. — O
Cleber?
— Foi na mãe dele.
— Tem como você tentar falar com ele, e
pedir para ele enviar a boate o que seria para
amanhã? É urgente.
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— Peço sim. Aconteceu algo?


— Não, e quero evitar que aconteça.
— Vou ligar na minha sogra e falo com ele.
— Obrigado.
— Beijos!
— Beijos... Sonha comigo... — provoco.
— Pode deixar, será um sonho bem erótico!
— Débora! — ela ri.
— Diz o que quer, o ouve o que não quer! Até
mais.
— Até.
Desligo.
Retorno e todos me olham.
— Então? — Daiane pergunta.
— Já resolvi. Vamos jantar? — pergunto para
mudar de assunto.
Poliana me olha estranhamente e disfarça
com um sorriso.
Dona Jurema nos serve. E assim começamos
a comer.
— Então, Poliana, veio para ficar mesmo? —
pergunto.
— Pelo que parece, sim. Me transferiram
para cá com uma oportunidade melhor para
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mim. Quero aproveitar.


— Está ficando onde? — Daiane pergunta.
— Em um hotel. Estão pagando até eu
arranjar um lugar.
— Não te ofereço um lugar por um tempo,
porque só temos um sítio longe, uma casa na
praia; e acredito que vá querer um pouco de
privacidade, e não ficar em uma casa
movimentada. — minha mãe diz.
— Sim. Privacidade é ótimo. — ela diz
sorrindo.
— A quanto tempo virou policial? — Marcos
pergunta.
— Não tem nem um ano. Quando terminei a
faculdade, fui fazer cursos.
Marcos concorda e bebe o vinho.
— Fiquei sabendo que o Henrique se casou, e
tem até filha. — ela diz.
— Sim. Minha primeira netinha, e menininha
da casa. O xodó de todos. A esposa é um amor,
Ana é maravilhosa. Estão casados a dois anos, e
a Yasmim completou um aninho recentemente.
— minha mãe diz orgulhosa e sorrio.
— Que maravilha. Quero muito conhecê-las.
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— São realmente muito amadas. — Daiane


fala. — Agora o projeto é casar o David e o tio.
— Dispenso! — Eu e Marcos respondemos
juntos.
— Entendo-os. Casamento com a vida de
vocês é complicado — Poliana diz e me olha,
sorrindo.
— Complicado é, mas não impossível. Vejo
pelo Henrique. Casou, tem uma linda filha, e
continua trabalhando. Cuida muito delas e faz de
tudo por elas. Sabe conciliar a carreira e a
família. É claro que ambas têm uma imensa
proteção. — Daiane diz.
— Concordo com a Pirralha. O problema dos
Escobar é apenas encontrar a pessoa certa. O
meu caso, é não querer encontrar a pessoa certa.
— Marcos rebate.
— Um dia vai encontrar! — Minha mãe diz.
— E vou adorar assistir a cena.
— Pare com isso que fiquei sabendo que
suas pragas pegam!
— E como! — digo.
Rimos.
— E você não tem ninguém? — minha mãe
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pergunta a Poliana.
— Não encontrei a pessoa certa ainda. — ela
responde sorrindo.
Tomo um gole do meu vinho.
Terminamos de comer e nos retiramos para
a sala. Sento, e a Poliana faz questão de sentar ao
meu lado. Esse grude está começando a me
irritar.
— David está te ajudando a treinar? —
minha mãe pergunta animada.
— Está sim. E estou melhorando cada vez
mais.
— Apenas está pegando rápido o que eu
ensino. — digo e sorrio.
Meu celular vibra e é uma mensagem da
Beatriz. — Franzo o cenho, estranhando.
— Algum problema? — Marcos pergunta em
alerta.
— Beatriz me enviando mensagens.
— A praga sabe atrapalhar uma boa
conversar!
Sorrio.
— Não ligue, Poliana. Beatriz é uma amiga da
família... e ela e Marcos são como cão e gato. —
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minha mãe fala.


Abro a mensagem:

Busque a Liziara na boate, mas não diga que eu disse


nada. E lá vai descobrir o que aconteceu. Ela mentiu quando
ligou na sua casa. A boate foi até fechada. Fiquei sabendo
agora e não tenho como ir lá; estou presa ainda no
trabalho.

— Gente, eu sinto muito, mas tenho um


compromisso. Preciso ir.
— Então eu vou aproveitar e já vou. Me dá
uma carona? — Poliana pede. Olho
disfarçadamente para o Marcos.
— Eu te levo, Poliana.
Ela parece não gostar muito mas concorda.
Despeço-me de todos.

Estaciono na parte de trás da boate. Vejo o


idiota do Joaquim abraçado a Liziara. Ela parece
estar chorando. Quando o filho da puta me vê, dá
um beijo em seu rosto, bem próximo a sua boca.
— Eu vou passar em cima dele com o carro!

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Saio do carro, e fecho a porta com força.


Liziara se vira assustada, e assim que me vê, se
despede do amigo e vem até a mim, se jogando
em meus braços. Abraço-a. O bastardo fica
olhando irritado, e logo entra na boate.
— O que houve, amor? — pergunto a ela.
— Nada, apenas queria um abraço seu.
Sei que está mentindo.
— Entra no carro.
Ela se afasta e entra no carro. Faço o mesmo.
Colocamos o cinto. Ela disfarça e enxuga o olho.
— O que aconteceu? — pergunto colocando
a mão em sua perna.
— Só vamos embora daqui. Depois eu falo,
eu prometo.
— Está bem.
Ligo o carro.

Chegamos em meu apartamento. Ela vai


direto para o quarto, onde retira, os saltos e se
deita na cama.

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Ela cobre o rosto com as mãos e começa a


chorar.
Eu me aproximo dela e a puxo para mim.
— Hey, o que houve? Se não me contar, não
posso ajudar.
Ela começa a se acalmar e se senta na cama,
virada para mim.
— Hoje tinha DJ novo, estava lotado. Estava
tudo normal, mas do nada, eu vi que começou
uma movimentação estranha. Os seguranças
começaram a correr de um lado para o outro.
Começou um bochicho que era briga, e até ai não
me importei. Do nada, chegou um cara todo
estranho encapuzado e armado, e simplesmente
veio na minha direção. Não que eu quisesse que
fosse em outra pessoa, mas é como se ele tivesse
um único objetivo, e esse objetivo fosse eu. Ele
começou a gritar que se chamassem a polícia
seria pior. Quando vi, ele estava me segurando...
Eu não tive ação nenhuma. Eu fiquei estática.
Não conseguia fazer nada. Ele pegou meu celular
e todo dinheiro do caixa. Quando tentei enfim,
me soltar, porque ele estava me machucando,
ele simplesmente cochichou no meu ouvido que
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isso só seria o começo, que ele não foi ali para


roubar, mas todos tinham que pensar isso. E aí
atirou perto do meu pé, jogou meu celular no
chão e sumiu.
Sinto meu sangue ferver. Foi aquele filho da
puta!
Puxo ela para mim.
— Me desculpa. Foi culpa minha. Esse
desgraçado não queria você. Ele quer atingir a
mim.
— Eu não fiz nada. Eu entrei em pânico.
Nada do que você vem me ensinando eu
consegui fazer. Parecia uma mocinha indefesa.
— Amor, você fez bem em não fazer nada.
Poderia ter sido pior.
— Eu me senti um lixo, sem função alguma!
— Liziara, você não é um lixo... é normal o
que aconteceu. Eu vou matar esse filho da puta!
— Não faça nada, não hoje. Só fique comigo.
— Ficarei. Eu prometo que não vou deixar
mais nada te acontecer. Eu prometo.
— Estou com medo.
— Não se preocupe. Esqueça isso. Você está
nervosa. Vá tomar um banho, você tem que
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descansar.
Ela concorda e se levanta, indo ao banheiro.
Quando ela entra no banheiro ligo para o
Marcos.
— O que houve? — ele já pergunta.
— Aquele filho da puta mexeu com a pessoa
errada. Vai ser do nosso jeito agora. Fodam-se as
leis. Eu quero esse filho da puta morto!
— Estava me perguntando quando diria isso.
Quando começamos a agir do nosso jeito?
— Amanhã. Avise Daiane... menos ao
Henrique, ele precisa descansar.
— Pode deixar. Até amanhã.
— Passo no seu escritório.
— Ficarei no aguardo.
— Até.
Desligo.
Entro no banheiro e vejo o sutiã que dei a ela
no chão.
Abro o box, e ela está apenas com a calcinha
do conjunto do sutiã. Está lavando os cabelos.
— Achei que eu tinha dado um aviso sobre
essa lingerie. Eu não acredito que descumpriu
uma ordem de um delegado!
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— David! — ela grita assustada.


Tiro os sapatos e a roupa sob seu olhar.
Entro no box e ela caminha, e acaba
encostando na parede. Massageio meu pau,
ereto.
— Acho que alguém será presa por não
cumprir minha ordem.
— David...
Puxo a com força para mim e invado sua
boca com brutalidade. Desço minhas mãos e
puxo sua calcinha com força, rasgando-a, e assim
jogo no chão. Empurro-a para parede com força,
pego-a no colo, e ela enrola as pernas ao meu
redor, sem desgrudar nossas bocas. Eu me
encaixo em sua entrada e a penetro com força.
Afasto minha boca da sua a tempo de escutar
seu grito rouco sair.
Ela enrosca os braços ao redor do meu
pescoço.
— Nunca... mais... descumpra... uma...
ordem... minha... — digo a cada vez que a
penetro com força.
Ela geme. Alguns fios molhados de seus
cabelos, caem em seu rosto, de uma forma sexy.
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Beijo seu pescoço e dou leves mordidas. Suas


unhas cravam em minha pele, me deixando mais
louco ainda.
Ela joga a cabeça para o lado. Abocanho um
de seus seios, e sugo com força, arrancando um
grito de prazer seu. Eu me afasto um pouco,
tendo visão de seu clitóris. Começo a massageá-
lo, sem interromper minhas estocadas. Ela geme
alto. Uma de suas mãos puxam meu cabelo, e
solto um grunhindo de prazer.
Penetro-a sem parar. Ela grita meu nome.
Cada vez mais fico excitado. Seus seios
chacoalham a cada estocada que dou. A água do
chuveiro deixa meu pau deslizar com mais
facilidade ainda.
Ela começa a se desmanchar, gozando.
Penetro-a mais algumas vezes, e gozo
fortemente chamando por seu nome.
Ela deita a cabeça em meu ombro. Está fraca.
— Preciso te desobedecer mais vezes.
— Safada! — ela sorri.

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Capítulo 5

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Liziara Araújo
Acordei sem o David na cama. Ele apenas
deixou um bilhete, dizendo que tinha que se
encontrar com o Marcos e a irmã. Por mim, eu
passaria o resto do dia na cama, mas tenho
coisas para fazer.
Levanto, e prendo o cabelo.
Entro no banheiro e paro em frente ao
espelho. Estou com cara de quem passou a noite
na balada. Eu me aproximo do espelho para
olhar uma pequena manchinha no meu pescoço.
— Filho da puta, ele fez de propósito. Eu não
acredito que o David me deixou um chupão!
Pequeno, mas deixou! Ele sabe que odeio isso.
Estou me sentindo no início da faculdade
vendo isso, quando eu simplesmente queria
saber de sair cada semana com um cara
diferente, e eu sempre aparecia com marcas.
Acho que é por isso que odeio que me marquem.
Foi uma época difícil. Eu tinha 18 anos, meus
pais me obrigaram a entrar para a faculdade, e
eu, como sempre, só queria ter atenção deles, e

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fazia de tudo para ter. Foi desta forma ridícula


que conheci a Beatriz.
— Esqueça essa época! — Chacoalho a
cabeça.
Escovo os dentes e me maquio, aproveitando
para esconder a marca do David.
Eu me arrumo, e peço um taxi para ir buscar
meu carro na revisão.

Chego no apartamento, depois de um


trânsito dos infernos. Mal peguei o carro e já
estou pirando novamente.
Bia aparece na sala calçando os sapatos.
— Acho que alguém se atrasou. — digo.
— Nem me fale. Virei a noite adiantando
coisas do trabalho e me lasquei.
Ela termina de calçar os sapatos.
— Merda, minha bolsa! — ela sai correndo
pelo corredor.
— Os vizinhos debaixo devem amar quando
você se atrasa e sai correndo de salto! — brinco.

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Vou para o meu quarto e separo uma roupa.


Hoje vou até a dona Paula ver como ela está, e ir
à casa dos meus pais. Preciso pegar meu
notebook que esqueci lá.
Bia entra no meu quarto e pergunta:
— Como estou?
— Depende.
— Depende o que?
— Se for para uma reunião, está sexy sem
ser vulgar. Se for para conquistar um cara, está
com cara de quem quer ser pedida em
casamento.
— Idiota! Tem reunião hoje com o dono da
faculdade, e depois um almoço.
— Está gata.
— Ótimo.
Ela está saindo quando diz:
— Na próxima vez pede para o David não
marcar tanto. Está pequeno, mas está visível. —
Começa a rir. — E se não foi o David, quero ver a
explicação que vai dar para ele. — provoca.
Eu vou matar o David!
Se não fosse ele, eu não teria que explicar
nada, afinal não temos nada sério.
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Vou para o banheiro e tomo um banho. Estou


exausta e suada.

Chego a casa da Dona Paula, e dou sorte por


ela já estar aqui antes do almoço.
Ela está no quarto dela, sentada na cama,
enquanto mexe em alguns papeis.
— Será que alguém tem um tempinho?
Ela me olha e sorri.
— Meu amor! — Ela se levanta. Entro no
quarto e a abraço.
Nós nos afastamos. Fecho a porta.
— Sente-se.
Sentamos.
— Estava preocupada. Não veio nem ao
jantar em casa.
— Que jantar?
— Fiz um jantar. Veio Marcos, e Poliana, uma
amiga antiga do David. Daiane também estava,
por incrível que pareça. Minha filha mora
comigo, e a vejo menos do que meus filhos e

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cunhado, que não moram aqui.


— Ontem foi esse jantar... Por isso dona
Jurema disse que ele estava aqui, e um pouco
ocupado.
— Foi sim. Ele não te falou?
— Não. O David anda bastante misterioso
ultimamente.
— Deve ter esquecido. Ele estava bem
distante ontem. Esse Jorge reapareceu para
tornar a vida dele um inferno.
— Sim. É o Jorge... — digo, talvez para
convencer a mim mesma.
— Você parece triste também. Vocês dois
brigaram?
— Não. Estamos bem... eu acho.
— O que houve, minha menina?
Sorrio.
Dona Paula tem sido uma mãe para mim. Ela
me conhece tão bem que não consigo esconder
nada dela.
— O David está diferente. Ele parece distante
mesmo estando comigo... É complicado.
— Não é complicado, vocês jovens que
complicam. Você o ama, mais do que um grande
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amigo. E ele sabe disso, só não quer acreditar.


Sei que não vai dizer, pois te conheço bem, mas
Poliana não é nada mais que uma velha amiga.
David nunca teria nada com ela. Eu conheço
meus filhos, cada um deles, perfeitamente. Eles
acham que me enganam, mas não conseguem.
Sorrimos.
— Estou fazendo um processo de
desapaixonar do David. Será que consigo? — ela
ri.
— Duvido. Um vive grudado ao outro.
— Nem tanto. Como disse, ele anda distante.
— David foge quando se trata de
sentimentos. Parece que não aprendeu ainda. —
sorri — Ele é igual ao pai neste aspecto. Joseph
era um homem amoroso, mas quando tinha que
demostrar sentimentos, preferia ser com ações
do que com palavras. Se tivesse que dizer... Meu
Deus, fugia como o diabo foge da cruz. — rimos.
— Ele é o mais parecido com o pai neste aspecto.
Talvez seja por isso que foi o que mais sofreu
quando recebemos a notícia que Joseph havia
sido morto em um arrastão no meio do transito.
— Noto a tristeza em seu olhar. — Não pense
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que ele demonstrou o quanto sofreu. Sofria


calado. Sumiu por um tempo em uma longa
viagem. Quase não mantinha contato. Porque ele
sempre foi assim. Se ele tiver que dizer que te
ama, ou se jogar da ponte, ele fica com a segunda
opção.
Rimos.
— Ele é difícil, mas o entendo. Eu fui a
culpada, por me apaixonar por ele. Eu sempre
soube que ele jamais iria ter um relacionamento
sério... pelo menos comigo.
— Porque diz isso, querida?
— Porque o David tem 35 anos, eu tenho 22.
Claro que idade não muda nada, mas enquanto
ele quer saber de caçar um bandido, eu quero
saber de ir para uma balada. Nem a faculdade
terminei porque sou indecisa, e não sei se é o
que eu quero. Sou toda desastrada, maluca. É
difícil. Ele é um delegado, e eu a filha odiada
pelos pais ricos. Ele é um Escobar e eu sou uma
Araújo. São tantos empecilhos, que eu poderia
passar o dia todo falando.
— Deixe disso! Nunca ouviu dizer que os
opostos se atraem? Se dissesse que está
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apaixonada pelo Marcos, eu até acreditaria que


seria um pouco difícil. Mas o David é meu filho
mais extrovertido depois do Henrique. Não é o
que mais demonstra carinho, mas é as vezes o
mais responsável. — sorri — E ser um Escobar
ou ser delegado não quer dizer nada. Quando
conheci Joseph, eu trabalhava na biblioteca da
faculdade para poder estudar nela. Era uma
simples Paula Assis, e isso nunca foi empecilho.
Joseph me amou do jeito que eu era, nos
casamos, tivemos três filhos, e sempre
acreditamos ter controle sobre eles, e vivemos
muito felizes até seu último momento.
Segura minha mão e sorri.
— Será melhor desapaixonar. Vou até fazer
uma listinha de passo a passo. — ela sorri.
— Se conseguir, me avisa!
— Claro! — rimos.
A porta se abre nos assustando.
— As duas das mulheres da minha vida
reunidas, devo me preocupar? — sorrio.
— Estava dizendo para sua mãe como irei
cortar suas bolas, depois do que fez! — Aponto
para a marca no meu pescoço.
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— Liziara! — Paula diz.


— Só ficou aí? Merda! Não fiz direito.
— David! — Paula o repreende.
— Sim, minha rainha?
— Você e a Liziara não tem jeito!
— Eu tenho sim! — digo.
— Melhor eu voltar ao trabalho depois
dessa! — David fala.
Rimos.
— Fica para almoçar? — Paula me pergunta.
— Bem que eu queria, mas tenho que pegar
uma coisa na casa dos meus pais. E depois quero
descansar, porque hoje à noite tenho que
trabalhar.
— Que pena! Mas apareça mais, ou irei te dar
uns puxões na orelha! — Sorrio e dou um beijo
nela.
— Vou indo.
Passo pelo David, que me olha e ergue uma
sobrancelha.
— Não esqueceu de nada, Liziara? — ele
pergunta e Paula ri.
— Não. — respondo.
Saio, e sei que o David me segue.
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— Não preciso de escolta policial! —


provoco.
Ele me puxa, me virando para si.
— Esqueceu disso!
Ele ataca minha boca. Sua língua procura
pela minha com intensidade. Suas mãos vão para
minha cintura. Sinto sua ereção pulsar.
Eu me afasto, empurrando-o.
— O que foi?! — pergunta aborrecido.
— Você nem se quer me disse sobre o jantar
ontem aqui. E me deixou um chupão no pescoço
sabendo que odeio isso.
— Lizi, por favor, não vamos brigar.
— Não estou brigando. Só tentando entender
porque anda me escondendo as coisas. Primeiro
me escondeu que o Jorge está por aqui. Depois
que Poliana é uma amiga antiga. Aí me esconde
sobre o jantar, e agora me deixa com um chupão.
O que está acontecendo?
— Me perdoa por não avisar sobre o jantar.
Eu nem queria vir. Foi insuportável! Mas larguei
todos, para ir até você. Não falei sobre o Jorge
para não te preocupar no trabalho. Eu sempre
faço tudo pensando no melhor para você. E o
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chupão é apenas um aviso para aquele idiota


bastardo do Joaquim.
— Que aviso? Você está testando drogas?
— Que a próxima vez que ele tiver um dedo
em você, será um cara morto!
— Ah... agora eu entendi. Você pode sair com
várias por aí, e conviver com uma policial que é
amiga antiga de faculdade, mas eu tenho que
ficar livre para você me usar e descartar sempre
que quer? E aí, como um ato machista, me
marca? Vá para a merda!
Entro no carro, irritada. Ele me chama, mas
não respondo.
Vou para casa dos meus pais, e agradeço por
eles não estarem. Pego rapidamente meu
notebook e vou para casa.

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David Escobar

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Dias Depois...
Não vejo a Liziara a dias, e não tenho uma
pista sequer sobre o paradeiro do Jorge. Estou
enlouquecendo.
Meu tio e Daiane estão me ajudando na
procura daquele imbecil, mas está difícil… é
como procurar uma agulha no palheiro. Cleber
também tem feito de tudo, mas não posso
arriscar muito com ele, porque não quero que
ele se prejudique fazendo algo fora da lei. É meu
melhor amigo, mas não posso arriscar tanto.
Poliana não desgruda de mim, e tendo que
treiná-la, prejudica mais ainda meu tempo.
Sei que a Liziara deve estar pirando comigo,
porque nem tempo de pegar no meu celular
ando tendo. Está foda a situação, e não sei mais
para onde correr ou o que fazer.
Entro na minha sala. Paulo ainda está
trabalhando.
— Ainda aqui? Pode ir já.
— Estou finalizando umas coisas. E você, já
não era para ter ido?

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— Não quando tem um filho da puta à solta.


— Ele sorri e volta a digitar no computador.
— Essa sua cara não parece ser apenas por
isso.
— Estou com muitos problemas.
— A Poliana veio te procurar. Disse que iria
para a sala de treino.
Caminho até minha mesa e sento na minha
cadeira.
— Ela anda trazendo muitos problemas pelo
visto.
— Por que?
— Sua cara quando eu falei sobre ela.
— É foda, Paulo. Desde que ela apareceu e o
Jorge fugiu, tudo começou a ficar cansativo.
— Parece que não só para você. Cleber
também não estava com uma cara boa.
— Sabe de algo? — pergunto preocupado.
— Ele estava vendo uns papeis aqui na sala,
e eu tive que sair para resolver umas coisas, e
quando sai, Poliana entrou trazendo uns papeis.
Mas a esposa do Cleber chegou na hora, que ele
ajudava Poliana que derrubou umas pastas que
estavam em cima da mesa... Os dois sozinhos...
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— Foda.
— E como. Encontrei ele e a esposa na sala
quando cheguei, e ela saiu bem brava daqui. Aí
ele me contou o que aconteceu.
— Débora não a suporta… e nunca
conviveram juntas.
— Estou com a esposa do Cleber. Não
suporto a Poliana. Acho ela muito vulgar,
oferecida. E me desculpa, mas ela é louca por
você. Essa daí é perigosa, fique de olho.
Alguém bate na porta.
— David? — É a Poliana.
Olho para o Paulo.
— Eu não estou! — cochicho para ele.
Levanto rapidamente e entro no banheiro.
Espero uns minutos até que Paulo diz que já
posso sair.
— Porra, vivi para ver você fugir de mulher!
Rio.
— Hoje não estou com cabeça para nada.
Olho no relógio e são nove horas da noite.
— Estou saindo, não volto hoje. — digo a ele.
— Oh vida boa! — brinca.
— Nem tanto!
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Vou para meu apartamento. Tomo um


banho, me troco e saio.

Estaciono o carro em frente à boate. Preciso


ver minha maluquinha. Está lotado. Tem um
banner dizendo que tem DJ novo.
Vasculho para ver onde irei estacionar, mas
meus olhos param na cena a poucos metrôs de
mim.
Liziara e Joaquim se beijando.
Sinto uma raiva me dominar de uma forma
que nunca senti. Aperto o volante com raiva.
Dou partida no carro e saio dali.
Vou para delegacia, mas só percebo que
cheguei lá quando estaciono o carro. Estou com
tanta raiva que sequer percebi para onde ia.
Saio do carro e fecho a porta. Olho para o
carro na frente do meu e vejo ser do Cleber.
Entro na delegacia. Passo por alguns
policiais, mas devo estar com uma cara péssima,
porque me olham assustados. Entro na minha

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sala e dou de cara com o Cleber.


— Nossa, já matou ou vai matar alguém?
— Estou me segurando para não matar!
Porra!
Dou um chute na mesa, e a mesma se afasta
derrubando algumas coisas que estavam de pé.
— O que a mesa te fez? — brinca.
— Ela nada. Mas o que eu vou fazer… tenho
inúmeras possibilidades.
— Hey... Se acalma. O que aconteceu?
— Tudo anda acontecendo! É sempre
problemas atrás de problemas!
— David, você precisa relaxar antes que faça
uma merda!
— O que faz por aqui? — Ignoro o que ele
fala.
— Vim pegar meu celular que tinha
esquecido.
— Vai sair hoje?
— Não.
— Vamos para uma boate? Vou ligar para o
Marcos e minha irmã. Preciso me distrair, ou
vou fazer uma grande merda.
— Vamos sim. Vou falar com a Débora. Me
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diz qual boate, que a gente se encontra lá.


— A que a Liziara trabalha.
— OK. Fui, e te acalma, porra!
Ele sai.
Ligo para o Marcos e Daiane. Meu tio diz que
vai; já Daiane, nem consigo falar com ela. Essa
menina anda sumindo demais. Se eu sonhar que
tem homem envolvido nessa porra, tranco ela
em uma cela pelo resto da vida.
Chego na boate, e por incrível que pareça,
junto com todos.
Estacionamos e descemos dos carros.
— Só pode ser piada. Me ama mesmo hein,
patrão! Desapega. — Débora brinca. — Hoje era
minha folga e ficou com saudades.
Sorrio.
— Ainda vou te demitir! — Marcos diz
sorrindo e cumprimenta.
— Ótimo. Mais distancia da minha mulher!
— Cleber diz, puxando a esposa e colocando o
braço ao redor da cintura dela.
Rio.
— Relaxa. É linda, gostosa, mas quero
distância! — Marcos provoca.
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— Está querendo morrer, porra? — Cleber


pergunta irritado.
— Que sexy. Dois homens lindos brigando
por mim! — Débora brinca.
— Eu estou aqui, gente, deixem de ser
românticos. — brinco.
— Eu vi… Estou velho, mas não cego! —
Marcos fala.
— Vamos entrar ou não? — Cleber pergunta.
— Agora! — respondo.
Entramos na boate e fomos para a área VIP.
— É folga da Liziara? — Marcos pergunta.
— Não sei dela.
— Agora sei o motivo da mesa ter sido
chutada. — Cleber provoca.
— Brigaram. Ela está trabalhando hoje, e
você veio aqui para provocá-la. — Débora fala.
— Débora! — Cleber a repreende.
— Oi, meu amor. — ela diz sorrindo.
— Não vim provocar ninguém. Apenas vim
aqui porque é a mais próxima, e preciso me
distrair.
— Vixi, a coisa foi feia. Se tivesse tido aulas
comigo, não estaria assim. — Marcos diz
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sorrindo.
— Cala a boca, porra!
— Me respeita, sobrinho! — provoca.
— Melhor pedir bebidas! — Débora diz.

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Liziara Araújo
Estou querendo matar o Joaquim. Como
aquele filho da puta foi capaz de me agarra e me
beijar?
Acertei um tapa na cara dele, e só não fiz
mais porque eu tinha que entrar para trabalhar.
Esse imbecil foi longe demais!
Beatriz encosta no balcão.
— Com essa cara vai espantar os clientes. —
ela brinca.
— Eu quero espantar a praga que trabalha
comigo!
— Essa cara não é apenas porque o Joaquim
foi um idiota. Você e o David não se veem há
dias. O que aconteceu?
Preparo as bebidas dos pedidos.
— Ele é outro filho da puta. Vive mentindo
para mim desde que aquela idiota da amiga dele
apareceu. Nem sequer me liga, e quando eu ligo
da caixa postal. Se ligo na delegacia, ele está
treinando aquela mulher; e se ligo na dona
Paula, aquela vadia está lá. Porra, estou pirando.

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Ele me largou assim que “carne” nova apareceu.


— Lizi, não fica assim...
— Eu estou puta de raiva dele. Estou
cansada de ser apenas uma foda para quando ele
não tem nenhuma mulher para se colocar entre
as pernas.
Termino as bebidas e entrego as pessoas que
pediram.
Joaquim anota mais pedidos e me passa.
— Acho melhor segurar a raiva. Olha quem
está na área VIP, e olha quem acaba de encostar
no balcão.
Olho para a área VIP e vejo David, Marcos,
Débora e Cleber. Olho para onde o Joaquim
atende, e vejo uma loira muito linda. Poliana!
— É mais bonita que na internet!
— Beatriz!
— Amiga, sinceridade sempre!
— Foda... Mil vezes foda!
Eu me afasto do balcão e entro no estoque.
— O que foi? Que cara é essa, menina! —
Daniel pergunta.
— Tem um imbecil no balcão com uma vaca.
E na área VIP um filho da puta!
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— Nossa! Vai com calma, gata! Tamires


chegou e Luciana também. Elas vão te cobrir
agora. Pode ir embora.
— Não...
— Liziara, você trabalhou todos os dias. Pedi
que apenas viesse hoje até que as meninas
chegassem. Vá embora ou vá curtir a noite. Se
ficar é por conta da casa!
— Te amo, sabia?
— Eu sei, sou muito amado! — Dou um beijo
nele.
Vou para o banheiro dos funcionários. Tiro o
avental e pego minha bolsa.
Saio e encontro a Beatriz ainda no balcão.
— Liberada?
— Sim.
— Vamos curtir a noite?
— Sim, mas em outro lugar.
— Nem pensar. Aqui! Mostre para a loira e
para o David que você pode mais!
— Será?
— Sim.
— Certo. Então vá estudar a área primeiro.
— Eu o que?
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— Suba lá, finja que vai falar com alguém e


retorne.
— Nem pensar. Com o Marcos lá, eu não vou!
— OK, iremos juntas. Vamos fingir que nem
o vimos. Tem uma mesa vaga lá. Vamos!
— Estou me arrependendo da ideia de ficar
aqui.
— Agora já era. Vamos logo, mulher!
Subimos para a área VIP. Controlo ao
máximo para não olhar a mesa deles.
— Estão olhando?
— Não sei, porra. Eu não vou olhar! — Bia
diz.
— OK, você é boa em fazer “a que não viu”…
olhe lá.
Ela o faz enquanto caminhamos para a mesa.
Finjo estar falando algo com ela.
— Estão olhando. David não tira os olhos de
você, e a Poliana dele. Marcos está de costas.
— Ótimo.
Tropeço e Beatriz me segura.
— Liziara! — ela diz.
— Foi mal, esses saltos são muito altos.
— Liziara! — Escuto a voz da Débora.
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Não tenho mais como fingir. Olho para eles e


finjo estar surpresa.
Eu me aproximo da mesa, junto com a
Beatriz.
— Se junte a nós! — Débora diz.
— Que coincidência. — digo.
— Sério? — Marcos diz ironicamente.
Cumprimento a todos, até a Poliana, menos
ao David. Beatriz cumprimenta a todos, menos o
Marcos.
“Isso não vai ser bom!”
Cleber puxa duas cadeiras, uma ao lado do
Marcos e uma ao lado do David. Eu me sento ao
lado do Marcos, e a Beatriz ao lado do David,
ficando de frente para o Marcos.
— Vou apresentar, já que ninguém fez.
Poliana estás são Liziara e Beatriz. E meninas,
essa é Poliana, nova policial da delegacia, e que
por pura coincidência, nos encontrou aqui. —
Cleber diz.
— Prazer, meninas. — Ela diz sorrindo.
— Prazer! — eu e a Bia dizemos juntas.
David me olha, e sei que está com raiva de
algo. Eu o conheço bem, e sua cara entrega isso.
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— Pensei que trabalhava hoje. — Marcos diz.


— Apenas tinha que ficar até que as outras
meninas chegassem.
— Trabalha aqui? — Poliana pergunta.
— Sim. — respondo apenas.
— Liziara é a namorada do David. — Débora
diz, e Cleber se engasga com a bebida.
— Eu não sou namorada dele, apenas somos
conhecidos. — David ergue a sobrancelha
esquerda e aperta firme o copo.
— Já ouvi falar sobre você no jantar na casa
da dona Paula. — ela diz.
— Que bom. — respondo.
— E você, Poliana… gostando do trabalho
por aqui? — Beatriz questiona.
— Sim. Estou amando. Trabalhar com David
é excelente. — Ela coloca a mão no braço dele.
— Isso não vai ser bom. — Marcos fala.
— Perdão? — Poliana fala.
— Nada não. — Marcos responde.
Todos começam a conversar e participo,
porém David não se dirige a mim. Poliana fica o
tempo todo passando a mão no David, e ele não
faz nada, parece gostar. Isso está me irritando
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profundamente. Eu me sinto sobrando aqui.


— Gente, o papo está ótimo, mas eu vou
dançar. A Beatriz estava louca por isso.
— Estava? É, estava! — ela diz.
— Então vamos todos! — Débora fala.
— Concordo. — David rebate. — Vamos,
Poliana?
Filho da puta, eu vou matá-lo!
— Claro, David. — ela diz, toda se
insinuando. Está com um vestido bem curto e
justo. E para meu azar tem um belo corpo.
— Eu não irei. — Marcos fala.
— E por que não? Pare de ser rabugento! —
Débora fala, fazendo todos rir.
— Apenas não quero dançar agora. Some
daqui, loira! — brinca.
Estamos todos saindo quando ele chama por
Beatriz.
— Fala! — ela diz sem se virar. Todos olham
para ele.
— Fique.
— Não.
— Fique! — diz autoritário.
— Por que? — ela indaga irritada.
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Ele se levanta, e olha para ela cruzando os


braços.
— Se eu disser, não vai ser bom.
— Ficarei, mas você tem um minuto!
— Bia, se quiser, eu fico... — Não quero
dançar mais, não com o David junto a sua amiga.
— Pode ir, porra louca. Sua amiga estará viva
quando voltar. — ele diz.
— Vamos, Lizi! — Cleber fala.
— OK. Qualquer coisa é só gritar. — digo a
ela sorrindo e dou uma piscadela.
Começamos a descer, mas a Débora fica
olhando.
— Amor, vamos! — Cleber diz.
— Eu quero ver isso. Eu sempre escutei ele
falar dela com tanta raiva, mas não parece ter
raiva dela. Olha o olhar de quem vai devorá-la.
— Amor, por favor! — Cleber insiste.
— OK, vamos! Depois faço ele me contar
tudo.
Descemos e fomos para a pista de dança. O
povo vai à loucura.
OMI - Cheerleader (Felix Jaehn Remix),
começa a tocar. O DJ realmente é bom.
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Começamos a dançar animadamente. Cleber,


eu e Débora, dançamos juntos, enquanto David
dança juntamente, bem colado, com a Poliana.
Não acredito na cena que vejo. Sinto um
embrulho no estômago só de ver.
Eu me afasto. Esbarro em algumas pessoas.
Subo correndo para a área VIP, que está um
pouco vazia agora.
— Merda! — digo ao ver a cena.
Marcos segurando a Beatriz pela cintura, e
quase a beijando. Mas param com meu “merda”.
— Acho que interrompi algo...
— Você é foda! — Marcos diz.
— Desculpa, eu vim pegar minha bolsa que
acabei esquecendo aqui.
— Já vai? — Beatriz pergunta um pouco
nervosa.
— Vou sim.
— Vamos!

Chegamos em casa.

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Sento no sofá.
— Está mal. O que houve dessa vez?
— Nada, Bia. Mas foi surpreendente ver você
com o Marcos.
— Você me salvou! Aquele homem sabe
como hipnotizar uma mulher. Vou tomar um
banho, para tirar o cheiro dele de mim. Arg!
Entra no corredor.
Tiro os saltos, e não consigo mais segurar.
Começo a chorar.
O Joaquim estava certo quando disse tudo
aquilo sobre o David. Eu sempre fui uma idiota.
Foi só aparecer outra mulher e ele me esqueceu.
Fui uma burra! Beatriz tinha razão quando dizia
para mim que os Escobar são para foder o juízo,
e não de um bom jeito. Eu não consigo me
desapaixonar. Estou ferrada. Eu estou mais que
apaixonada por ele… eu estou amando. Eu
jamais devia ter dado continuidade a essa
loucura depois do dia que ele foi até o evento da
universidade junto ao irmão e o tio para coletar
coisas e ajudar a Ana Louise, esposa do
Henrique.
A campainha toca, seguida de batidas na
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porta.
— Liziara, abre essa porta. Sei que já está aí.
— David grita.
— Vai embora daqui!
— Se não abrir, eu a coloco abaixo. Abre
logo, porra!
Abro a porta. Ele está nervoso, seu olhar
entrega.
— Vai embora, por favor!
— A gente precisa conversar.
— Sobre o que? Como fui idiota? Ou como é
bom estar com sua amiga Poliana? Ah, já sei!
Falar sobre tudo isso, e que nada mais pode
acontecer entre a gente.
— Você quer o que? Enquanto estou
trabalhando que nem louco, você está aos beijos
com o Joaquim. E agora quer falar da Poliana?
Nosso trato sempre foi nada de relacionamento,
então não me venha falar sobre Poliana, ou a
porra que for.
— Ah... então você viu ele me beijar. Pena
que não ficou para ver eu acertar um tapa na
cara daquele outro idiota! E sim, nosso trato foi
este, mas eu me apaixonei por você. Vai me
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prender por isso? Vamos lá, me condene, porra!


Eu suportei tudo, mas suas mentiras e sua
aproximação com essa Poliana foi demais para
mim. Posso não ser uma policial, ter um corpão
ou saber lidar com um bandido, mas tenho
consciência de quando sou feita de idiota! E tem
mais, se não posso falar de quem quer que esteja
com você, não venha falar de qualquer homem
que esteja comigo. Direito iguais, querido! —
grito.
— Eu nunca te fiz de idiota! Se você se
apaixonou por mim, a culpa foi extremamente
sua!
— Veja só, concordamos com algo. —
respondo na ironia. — O seu problema é que não
sabe se contentar apenas com uma, tem que ter
várias. Passei dois anos sem ter ninguém além
de você, e nunca te exigi o mesmo. E se tivesse
saindo com alguém, não precisaria ficar me
esfregando com ele na sua frente! Uma pessoa
me disse que eu estava largando minha vida por
você, e eu realmente fiz isso e maldita a hora que
fiz.
— Está querendo jogar as coisas na minha
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cara? Ótimo, vamos então colocar tudo em


pratos limpos. Eu nunca te pedi para não ficar
com mais ninguém. Também nunca mandei
largar nada por mim. Se ficou comigo e largou
tudo foi porque quis! Deixa de ser uma vez na
sua vida uma menina, e seja uma mulher e
assume suas atitudes.
— Que? Eu não ouvi isso. É essa menina aqui
que te fazia implorar por sexo. Essa menina, que
te acalmou quando ninguém mais podia. E essa
menina, que te entendia quando ninguém era
capaz. — Limpo as lagrimas com as mãos — E é
essa menina que te manda sumir daqui neste
momento, e sumir para sempre. E te aconselha
que uma vez na vida, pare de usar essa máscara
de delegado Escobar, e mostre que não passa de
um moleque!
Bato a porta com força e tranco.
— Liziara! — ele grita e soca a porta.
Beatriz aparece de toalha e com espuma no
corpo.
— O que está acontecendo?
Não consigo dizer. Apenas choro.
Ela abre a porta.
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— David!
Ele olha para ela de toalha, e ela fica
ruborizada.
— Queremos dormir! — um vizinho grita.
— Vá embora, David. — ela diz.
— Eu não vou. Preciso terminar minha
conversa com a Liziara!
— Você está alterado, bebeu. Vai embora.
Amanhã vocês conversam. É tarde. Os vizinhos
estão reclamando. Por favor.
Ele me olha.
— Isso não acabou.
— Acabou sim, e a tempos, apenas você não
viu. — digo a ele.
— Eu vou voltar!
— Tchau, David! — Beatriz diz.
Ele se afasta e ela fecha a porta.
— Eu nunca mais quero ver esse filho da
puta! — grito de ódio.
Ela vem até a mim e me abraça, me
molhando toda.
— Amiga, vai passar. Vocês vão se entender.
— Nunca brigamos assim. Ferimos um ao
outro demais hoje. Não tem perdão. David foi ao
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limite.
— Shiu... Vou terminar meu banho. Vá tomar
banho, e depois iremos assistir algum filme e
comer besteiras. E amanhã será um novo dia.
— Um péssimo dia, pelo visto.

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Capítulo 6

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Liziara Araújo
Faz dias que não vejo o David, e não tenho a
mínima vontade de ver. Ele me magoou muito.
Foda-se se fui idiota, ciumenta, burra. Não
importa. Ele não tinha o direito de me dizer
tantas merdas como fez!
Sei pela mídia notícias dele e da família dele;
e não porque eu fico procurando, mas porque
calha de eu encontrar acessando sites, redes
sociais, essas coisas. O canalha ainda deixou
nossa foto juntos no whatsapp. Sei também que
já foi a dois eventos com a tal da Poliana. A
família dele estava junto, mas mesmo assim isso
me deixa com raiva. Ele poderia tanto ser como
o irmão dele, Henrique, um homem amoroso,
que sabe demonstrar isso. Ana Louise foi uma
mulher de sorte, e fico feliz por ela ter um
Henrique em sua vida. Já eu sou cagada no amor,
família e amizade. Bem, minha amizade com a
Beatriz continua boa, e espero que dure muito,
porque perder ela também seria demais para
mim.

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Mas o que me deixa mais puta de raiva é ver


tantos elogios que o David faz a Poliana na TV e
jornais quando são entrevistados sobre o caso
do Jorge; e por sinal, o filho da puta ainda não
apareceu. E para minha tristeza, a policial
intrometida está ajudando no caso e recebendo
treinos do David. Ela é linda também, com um
corpo de dar inveja, e parece ser boa no que faz.
Tudo oposto de mim. Merda, estou na fossa
mesmo, me lamentando e me rebaixando.
Acorde Liziara, você é forte e nunca precisou ficar
assim, e não vai ficar agora.
Fico assistindo a série Arrow, ao mesmo
tempo que leio No mundo da Luna, da Carina
Rissi. Sim, eu consigo fazer as duas coisas ao
mesmo tempo.
A porta da sala se abre.
— Se estiver ainda na fossa, eu me jogo da
sacada! — Beatriz diz se jogando no sofá ao lado.
— Estou muito bem. Lendo e assistindo
séries.
— Você não sai de casa mais!
— Saio para trabalhar.
— Isso não conta, Liziara. Ele vive te ligando,
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e tentando contato...
Sim, ele vive fazendo isso, mas em nenhum
momento veio realmente atrás de mim. Nada se
resolve por telefone.
— Problema dele. Eu tenho mais o que fazer.
— Eu sempre disse que os Escobar são para
foder o juízo, e não é no bom sentido.
— Estou bem, Bia. Relaxa.
— Sua mãe não te procurou mais? — ela
muda de assunto.
— Não, desde o almoço desastroso.
— Amiga, se benze, reza, ora, chama o Papa,
mas faça algo para tirar a nuvem negra de cima
de você. — ela ri.
— Palhaça. Como eu sofro! — digo
dramatizada.
— Atriz P, você precisa reagir. Não dá para
ficar vendo ele bem, e você fingindo estar.
— Atriz P? — franzo o cenho.
— Você tem uma cara de atriz pornô quando
está de óculos.
— Beatriz!
Ela ri.
— Sou sincera, meu amor! Vou tomar banho
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e comer. Hoje foi difícil o dia.


— Não me diga que aquele reitor idiota fez
algo!
— Relaxa.
— Bia, tome cuidado. Ele cerca muito você.
— Eu preciso do emprego, e se ele tentar
algo, mato ele.
— Tome muito cuidado!
— Pode deixar. Vou para o banho.
Ela sai da sala com sua bolsa. Sorrio.
Como ela aguenta trabalhar o dia todo com
esses saltos? É um maior que o outro a cada dia!
Meu celular vibra e é uma mensagem do
Daniel, meu chefe:

Gatinha, preciso de você hoje. Te pago a mais se vir.


Beijos. Obs: Capriche na maquiagem, e não me venha como
uma louca, que tenho cólicas só de imaginar.

Sorrio.

Vou sim. Beijos, gato!

Daniel é um amor. O melhor chefe que eu


poderia ter. E como preciso de grana, eu vou.
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Saio da Netflix e desligo a TV. Fecho o livro e


vou para meu quarto.
Separo a roupa de hoje e arrumo minha
bolsa. Meu celular toca e aparece a foto da
Daiane.
Atendo.
— Oi, Dai.
— Oi? Oi uma porra. Libera a minha subida,
precisamos conversar seriamente!
— OK! — Desligo o celular.
Vou até o interfone na sala e libero a subida
dela.
Minutos depois a campainha toca. Abro a
porta, e ela entra e me cumprimenta.
— Precisamos conversar e a sós. Bia está?
— No banho.
— Vamos para seu quarto. Melhor.
Concordo.
Caminho até meu quarto e ela me segue.
Entramos e eu fecho a porta. Ela se senta na
cama e eu permaneço de pé.
— O que aconteceu?
— Como assim?! — pergunto.
— Você sumiu. Minha mãe está muito
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preocupada, e eu também. A Poliana vive em


casa e na cola do David. Meu tio não sabe o que
houve, já que esse era o seu papel, e não o dela.
O David nem sequer fala de você e está bem
estranho. Tentei descobrir com o amigo dele, o
Cleber, mas nem ele sabe o que aconteceu. O que
houve?
Respiro fundo.
— Brigamos feio, e desde então não nos
falamos.
— Foi tão tensa a briga ao ponto de ele
matar?
Arregalo os olhos e sinto um aperto no
coração. Engulo a seco.
— Matar?! — pergunto apavorada.
— Teve um assalto a banco hoje, e o David
matou um dos bandidos quando não tinha
necessidade. Você sabe que ele jamais atira para
matar, a não ser que seja a única opção. Mas ele
teve várias opções hoje, e mesmo assim atirou
certeiro. Foi a porra de uma burocracia terrível
para amenizar a confusão toda e acalmar o
delegado geral. Porra, o David está
descontrolado.
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— Eu não posso fazer nada. Eu não pedi para


ele vir me humilhar. E não pedi para ele me
deixar de lado e ficar com a Poliana. Ele escolheu
isso, e merece conviver com isso.
— Certo. Ele é um idiota, mas é meu irmão e
não vou deixar ele se prejudicar. Ele está assim
porque está longe de você. Liziara, por favor, dê
uma chance a ele… Nem que seja para dar na
cara dele. Eu apoio, mesmo que seja apenas para
socá-lo.
— Me desculpa Daiane, mas ele escolheu
isso. Ele é bem maduro para decidir o que quer e
ver as próprias burradas. Ele nem sequer teve
coragem de vir pessoalmente me pedir
desculpa!
— Como meu irmão pode ser tão anta as
vezes? É um pateta mesmo! Eu tenho que ir,
tenho um compromisso agora. Mas por favor,
tentem se resolver… ou tenho medo de como
isso vai acabar.
Ela se levanta. Levo ela até a porta. Nós nos
despedimos e ela se retira.
A Bia aparece na sala e me olha estranha.
— Aconteceu algo?
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— Nada. Vamos fazer algo para comer?


Ela concorda.
Preparamos o jantar e sentamos juntas a
mesa para comer.
— Vou trabalhar hoje.
— Vou com você. Quero me distrair, e, sei
lá… estou com vontade de ficar próxima de você
hoje. Não sei, uma sensação estranha.
— Credo Bia. Sai pra lá.
Bato na mesa e ela sorri.
Terminamos de jantar. Ela diz que limpa
tudo enquanto me arrumo.
Tomo um banho. Coloco uma calça jeans
preta, uma blusa branca de alcinha e sapatilhas.
Hoje é sexta-feira e lota demais a boate, e não
vou aguentar ficar de salto.
Faço uma maquiagem boa no rosto e arrumo
meu cabelo. Passo perfume e coloco uma
correntinha com a torre Eiffel de pingente.
Pego a bolsa e saio do quarto.
Beatriz já está pronta me esperando.
— Que mulher rápida!
— Muito! — ela ri.
Pego a chave do meu carro e a derrubo sem
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querer.
— Merda! — digo vendo o que aconteceu. —
Quebrou. Jura? Já derrubei de tantos lugares e
uma queda idiota faz quebrar!
— Vamos com o meu.
— Relaxa. Tenho a outra chave. Essa acho
que foi a que estava com defeito já. Quando
deixei o carro na revisão deixei as duas, e depois
não sabia qual estava boa. — Deixo a bolsa no
sofá. — Já venho.
Vou para meu quarto e começo a procurar a
chave reserva.
Guardei tanto, que guardei de mim mesma!
Vou até o último lugar que pode estar, a
última gaveta da cômoda. Costumo guardar ela
embaixo das roupas… não sei porque, é uma
mania.
Puxo as roupas do fundo da gaveta e
encontro algo além da chave. Uma das armas do
David.
Na hora me vem o que ele disse quando
deixou aqui.
— Ela sempre vai estar carregada. Se algo
acontecer, jamais mostre que está armada. Pegue
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a pessoa de surpresa, e não tenha medo, pois


estará agindo em legitima defesa. Meu mundo é
perigoso, e quando você entrou nele, os riscos de
vida e segurança te ampliaram. Se alguém entrar
aqui ou você for para um lugar perigoso, use ela,
ainda mais se eu não estiver por perto.
Sinto um calafrio estranho. Pego a chave e
guardo a arma como estava antes.

Chegamos na boate, e está lotada como eu


imaginava. Daniel liberou a entrada da Bia
gratuita.
Descubro que ficarão apenas eu e as duas
novas funcionárias no balcão, porque foi
contratado garçons novos para ficar circulando
pela boate. E os outros antigos funcionários
estão de folga.
Começo a trabalhar. Atendo aos pedidos e
dou atenção a Beatriz. Ajudo as funcionárias
com algumas dúvidas. Hoje tem aniversariante, e
com um monte de gente, fiquei responsável por

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fazer as bebidas da mesa deles também.


A Bia entra atrás do balcão enquanto pego
bebidas embaixo dele. Ela se agacha ao meu
lado.
— Vou me arrepender de dizer isso, mas se
eu não estiver louca ou bêbada, tem um cara um
pouco distante do balcão que lembra muito a
foto do tal do Jorge que saiu no jornal.
Solto a bebida com força e ela quebra.
— Não pode ser. Como ele entraria aqui com
um monte de seguranças e com a foto dele
circulando por tudo quanto é lugar? Se bem que
quando assaltaram... Merda, claro que pode ser
ele. Por isso o calafrio estranho que senti.
Sensações ruins nunca são em vão… aprendi isso
na época da faculdade de psicologia.
— O que vamos fazer? Precisamos ligar para
o David.
— Não! Antes preciso ter certeza que é ele.
— Isso é loucura! Ele não veio à toa, veio por
sua causa!
— Eu sei. E não irei recuar. Posso ser mais
que uma menina, e bem melhor que a Poliana.
— Pare de ser louca! Isso não é hora de
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provar nada.
— Confie em mim!
Levanto e ela faz o mesmo.
Ela cochicha em meu ouvido
disfarçadamente onde está o cara. Olho e o vejo.
A luz é escura e as luzes que piscam atrapalham,
mas realmente parece o tal de Jorge. Ele sorri, e
sinto novamente o calafrio.
— Preciso limpar isso aqui. Daniel vai me
matar.
— Pegue a vassoura e eu fico aqui te
cobrindo. Não faça nenhuma loucura!
— Obrigada, Bia. Pode deixar.
Olho para o cara, e ele sai pela saída dos
fundos da boate.
Saio dali e olho para ver se a Bia me olha.
Quando ela se distrai, eu saio em direção a saída
dos fundos da boate, onde tem as latas de lixo…
nada demais além de uma rua morta que
somente saímos para pôr o lixo para fora.
Preciso saber se é ele e assim ligar para a
polícia.
Saio e a rua está um pouco escura. Não tem
ninguém. Finjo mexer no lixo.
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Escuto passos lentamente.


Sinto um medo terrível. Tento entrar
novamente, mas mãos me agarram. Sei que caí
em uma cilada, e sei que o pior pode acontecer.
Mas não posso ter medo, tenho que ser forte. Eu
tenho que conseguir.
Tento me soltar, mas meu nariz e boca é
tapado por um pano com um cheiro forte de
alguma mistura com álcool. Tento não respirar
isso, mas é inevitável. Meus movimentos
começam a ficar fracos e minha visão turva.
A última coisa que escuto é:
— Te peguei branquinha!

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David Escobar
Estou na delegacia com o Cleber e Poliana.
Estamos vendo estratégias para encontrar o
Jorge do jeito Escobar.
Estou um inferno, sem cabeça para nada.
Ficar longe da Liziara está sendo difícil demais.
Só quero que esse inferno termine logo. Sei que
magoei muito a ela, e que talvez ela jamais me
perdoe, porém preciso tentar conquistar seu
perdão. Mas com a situação desse jeito, não tem
como, simplesmente não dá. Eu me sinto um lixo
longe dela, e a cada dia piora. Me prejudiquei ao
assalto no banco, mas naquele momento
descarreguei a raiva que estou guardando desde
a briga com a minha maluquinha. Estou fodido.
A porta da sala se abra fortemente. Olhamos
assustados. Marcos e Beatriz entram juntos.
Beatriz está pálida.
— Não acredito. Vivi para ver uma mulher te
denunciar, tio! — brinco.
— Eu vou acabar com sua vida, sua vadia! —
Beatriz grita.

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Ela vai para cima da Poliana e acerta um tapa


na cara dela com força. Marcos corre para
segurá-la.
— Você é louca? Isso é um desacato a
autoridade! — Poliana grita e tenta ir para cima
da Beatriz, mas a impeço.
— Foda-se a lei! Foi por sua culpa... E sua
culpa David! — ela grita desesperada, chorando.
— Beatriz, o que aconteceu com a Liziara? —
grito.
— Ele levou ela. Ele a levou! — ela grita
desesperada e Marcos a segura.
Ele a coloca sentada na cadeira. Ela está
tremendo.
Sinto meu mundo desabar.
— O que realmente aconteceu? — pergunto
tentando ser calmo. Meu coração está um
inferno.
— Estávamos na boate e vimos um cara
parecido com o Jorge. Ela saiu para pegar a
vassoura para limpar a garrafa que ela tinha
quebrado, mas eu deveria ter desconfiado que
ela iria atrás dele. O filho da puta sabia que ela
iria atrás quando ele saísse. As câmeras da boate
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mostraram ela saindo para os fundos da boate,


onde ela saiu e depois sumiu! E tudo para provar
que era melhor que essa vadia que fica se
jogando para cima de você, e provar que não era
uma menina.
— Eu vou matar aquele filho da puta. Eu vou
matar! — grito e jogo tudo da mesa no chão.
Pego a arma na gaveta da mesa e me viro
para sair da sala. Marcos me segura.
— Me solta, porra! — grito.
— Você não vai sair daqui assim! Não vai
resolver nada nesse estado! — ele grita comigo.
— Eu mandei me soltar! — Dou um murro
nele e me solto.
Cleber me segura. Marcos vem para cima de
mim, mas Beatriz se põe na frente dele.
— Parem os dois! — ela grita.
— Isso não é hora para brigas, caralho! —
Cleber diz.
— Você me respeite, David. Sou teu tio,
porra! Você nunca me levantou a mão, e agora
me dá um murro? Não me faça perder a merda
da paciência com você. Se acha que sair daqui
desse jeito vai fazer alguma coisa, está
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enganado. Não vou permitir que se coloque em


risco. Vamos pegar a Liziara de volta, mas antes
temos que agir com calma. Mete a porra da
calma nessa cabeça e se controle!
Cleber me solta e me ajeito. Jogo a arma na
mesa.
Poliana se aproxima, colocando a mão em
mim.
— Tira a mão, porra! — falo e ela recua. —
Se coloca na porra do seu lugar!
— Mas David, eu só queria...
— Você não quer caralho algum. Eu sou o
delegado nessa merda. Você apenas obedece! —
grito com ela. A mesma concorda e seus olhos
exibem raiva, mas foda-se.
Se alguma coisa acontecer com a Liziara, eu
nunca vou me perdoar… nunca.
— Desculpa, tio!
Ele concorda e se senta na cadeira. O canto
da sua boca está sangrando.
— Pegue algo para ele limpar o sangue. —
Cleber diz a Poliana, e ela assente.
— Vou reunir todos. Quero saber o que a
equipe à paisana fez que não impediu! — digo.
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Poliana vem do banheiro com papel e a


Beatriz pega.
Beatriz começa a limpar o Marcos.
— Não preciso de babá. — ele diz.
— Cala a boca! E não me tire do sério,
porque não tenho unhas grandes à toa. E hoje
para eu matar um, é apenas um estalar de dedos
que faço.
— Nós vamos encontrá-la, David! — Cleber
disse.
— Vamos, ou não me chamo David Escobar!

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Capítulo 7

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Liziara Araújo
Acordo um pouco zonza e com dor de
cabeça. Meu estomago está embrulhado. Meu
corpo, dolorido. Tento me mexer, mas estou
completamente imobilizada. Olho ao redor e não
reconheço o lugar que estou. É um quarto, e não
parece ser de um hotel, mas de um apartamento
ou casa.
Onde estou?!
Tento me soltar, porém não consigo.
A porta do quarto é aberta. Jorge entra
sorridente. Seu olhar é assustador. Parece um
louco.
— Até que fim acordou, branquinha.
— O que você quer comigo?
— Com você? Nada. Mas com seu
namoradinho, tudo.
— Eu não sou namorada do David, seu
idiota.
— Não me engane. Ele é louco por você, o
que te torna importante para mim.
— Me solta, seu filho da puta! — grito.

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— Pode gritar, se debater, chorar, porque


ninguém poderá fazer nada. Você está na minha
cidade, e quem comanda tudo aqui sou eu. Todos
só fazem o que eu permito. Se você cooperar,
prometo pensar se te deixo sair viva daqui. Do
contrário, você e aquele merdinha vão conhecer
um outro mundo, se é que ele existe.
Suas palavras são repletas de ódio e seu
olhar reflete vingança. Eu preciso dar um jeito
de sair daqui.
— Você é louco. David nunca vai deixar você
sair livre dessa. Você está cavando a própria
cova. Se pensa que ter me pegado facilitou você
ter o David em suas mãos, está enganado… pode
ter certeza que só aumentou o ódio dele por
você. E merdinha é como vai ficar a sua vida
quando vierem me tirar desse lugar.
Espero realmente que consigam me tirar
daqui!
— Cala a boca! Odeio pessoas que me
enfrentam, Normalmente elas terminam mortas,
e meus dedos coçam para te estrangular e
depois dar um tiro bem no meio da sua testa,
assim como aquele desgraçado fez com minha
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irmã.
Ele se aproxima e acerta um tapa meu rosto,
fazendo a cadeira em que estou se arrastar um
pouco. Sinto a ardência e a dor do lado direito do
meu rosto.
— Filho da puta! Vai se arrepender por ter
feito isso! — digo com raiva.
— Sua voz me irrita, garota! — ele grita. —
Vou sair, e não tente nada. Como eu disse, essa
cidade é minha, e meus parceiros estão ao lado
de fora. Nenhum deles tem um pingo de
consideração quando veem uma mulher jovem,
gostosa e teimosa. Não irei impedi-los de
abusarem de você. Então tome cuidado, aqui
ninguém tem pena de nada. — Ele segura meu
rosto com força e solta bruscamente.
Sai do quarto e fecha a porta com força.
Desgraçado.
Por que fui tão teimosa ao ponto de me
colocar em perigo? Que inferno. Minha mania de
ser impulsiva só me prejudica!

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David Escobar
Estou exausto. Já rodei a cidade inteira atrás
de pistas e não encontro. Deixei a todos em
reunião antes de sair horas atrás. A notícia já
vazou na mídia devido a confusão que ficou na
boate pelo desespero da Beatriz. Os pais da
Liziara me ligam sem parar, e não sei o que
dizer. A delegacia está uma zona de repórteres
na porta. Tudo está uma confusão em poucas
horas. Eu me sinto o verdadeiro culpado de
tudo. As câmeras da boate não revelam nada que
possa ser usado. Estou uma pilha de nervos
prestes a explodir.
Estou na estrada, mas meu pensamento está
longe. Não sei o que ela está passando e nem se
está viva ainda. Não sei mais o que pensar.
Meu celular começa a tocar novamente, e
pego no bolso para ver quem é. O nome da
minha mãe aparece na tela, mas não tenho
tempo de atender. O volante gira sem meu
controle. O celular cai. Tento controlar o volante,
mas não consigo. Vejo o acostamento da estrada,

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e é nele que meu carro acerta fortemente. O


airbag ativa. Minha cabeça bate na janela ao meu
lado. Sinto uma pressão forte. Coloco as mãos na
cabeça e vejo o sangue em meus dedos.
Porra, deve ter óleo na estrada e não vi. Ligo
o pisca-alerta do carro e me retiro dele. O
estrago na frente dele foi grande, e por pouco o
acidente não foi pior.
Pego o celular no carro e ligo para meu tio.
A estrada está bem escura, e poucas são as
iluminações. É madrugada, quase não tem carro
passando.
Marcos atende.
— Seu porra, cadê você? — ele grita.
— Estou na estrada. Bati o carro e preciso de
ajuda.
— Você o que? Como você está? Porra!
— Estou bem. Perdi o controle do carro.
Devia ter óleo na pista.
— Cacete! Diz onde está que estou indo para
ai!
— Não avise minha mãe ou a Daiane, ou vão
se preocupar à toa.
— Certo. Está armado?
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— Sim. Mas é bem perigoso onde estou. Saí


tão atordoado que não sei se a arma está
carregada.
— Ativa o rastreador do seu celular que
estou indo com os seguranças.
— OK. Fico no aguardo.
Desligo. Ativo o rastreador do celular. Sento
no banco do motorista com as pernas para fora.
Mesmo com isso, só tenho na mente a minha
maluquinha.
O que você fez, David?
Desde que eu a conheço sempre foi assim,
impulsiva e maluca. Por não ter carinho dos pais
desde pequena, ela se apega muito as pessoas, e
comete loucuras para chamar atenção ou provar
que pode ser boa como alguém que ela pensa
estar roubando seu lugar.
Ninguém jamais substituiria o lugar dela.
Ninguém está à altura dela para ocupar um
espaço que ela tem dentro de mim.
Minutos se passam até que um carro branco,
estaciona atrás do meu. A porta é aberta
rapidamente. A pessoa que sai dele é quem eu
menos esperava neste momento.
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— Débora? — pergunto.
— O que você faz aqui, David? Meu Deus,
você está sangrando. Droga, olha seu carro! Você
está bem?
— Calma, eu estou bem. O que você faz essa
hora por aqui?
— Estou vindo da casa da minha mãe.
— E sozinha? — Eu me controlo para não
gritar com ela.
— Sim. Nada demais.
— Você é esposa de um policial, porra!
Trabalha para um juiz. Tem merda nessa
cabeça?
— Talvez eu tenha um pouco. E se contar
para o Cleber que resolvi voltar a esta hora, eu te
mato, e ninguém vai encontrar os vestígios.
Agora vamos dar um jeito nisso. Não vou te
deixar sozinho aqui!
— Começa ligando o pisca-alerta do seu
carro!
— Ótima ideia.
Ela se afasta.
Débora é uma ótima amiga de anos, porém
as vezes é pior do que uma criança. É louca!
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— David, onde fica o pisca-alerta daqui?


Só pode ser brincadeira!
— Você comprou a carteira?
— Não. Eu passei e fui muito bem para sua
informação. É que esse carro é do Cleber, porque
o meu bati novamente. Então ele deixou um dos
carros dele comigo. O automático desse carro é
perfeito...
— Débora, foco! Sai daí!
Ela se retira e quase cai… se eu não tivesse
segurado ela. Ligo o pisca-alerta.
— Já ligou para alguém vir te socorrer?
— Sim. Marcos deve estar a caminho.
Ela olha para atrás de mim.
— Deve ser ele e o exército. Para que três
carros? Porra, um é o carro do Cleber. Eu vou ser
morta!
— Se ele não fizer o ato, eu faço! Sua louca!
Olha a hora, e você por aí sozinha.
— Cala a boca. Preciso pensar em uma boa
desculpa!
— Não me mande calar a boca!
— Já mandei!
Os carros encostam. Marcos, Cleber, Luciano
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segurança do Henrique e Simon segurança do


meu tio saem dos carros.
Eles se aproximam.
— Eu sei que o David bateu o carro, mas por
que essa louca está aqui? — Marcos pergunta.
— Fiz a mesma pergunta! — digo irritado.
— Bom, como está tudo resolvido, eu vou
indo... — ela diz.
— Entra na porra desse carro e fica aí até eu
mandar seguir. Em casa a gente conversa. Tem
merda na cabeça, Débora? — Cleber diz
alterado.
— Quanto rancor, homem. Não grite com
uma anja!
Ela entra no carro e fecha a porta enfurecida.
— Eu vou matar essa mulher ainda. —
Cleber diz com raiva.
— Não faça isso, preciso dela. Espera eu
achar outra funcionária… aí faz o que quiser! —
Marcos fala.
— Comece a procurar hoje!
— Ninguém vai matar ninguém. Vamos logo
resolver isso e sair daqui. — falo.
— O Simon e o Luciano vão levar seu carro
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junto ao que eles vieram. Você vem comigo, e o


Cleber vai acompanhando eles e a louca da
mulher dele.
— Certo!
Débora coloca a cabeça para fora da janela.
— Gente, temos um probleminha. Olhem
para trás.
Olhamos.
Porra, Daiane!
Ela encosta o carro e sai dele como um
tornado.
— Que porra aconteceu? Acham mesmo que
eu seria idiota, ao ponto de não perceber a
preocupação do Luciano ao sair de casa como
um louco? David, tem merda na cabeça? Isso é
hora de sair procurando a merda que for?
Ela grita.
— Não venha dizer o que posso ou não fazer.
Eu estou bem!
— Estou vendo. Seu carro batido, você
sangrando. Que inferno! Acha mesmo que vai
encontrar a Liziara quando estiver morto? Você
tem sorte do Henrique estar viajando, ou seria
um cara morto.
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— Eu só quero ir embora daqui. Entra no seu


carro e vamos embora. E espero que não tenha
aberto a boca para a dona Paula.
— Nem pensei nisso, ou ela estaria morta de
preocupação. Você é literalmente o chefe dos
três patetas!
Ela me abraça.
— Se alguma coisa acontecer com você por
sua irresponsabilidade, eu te ressuscito para te
matar novamente!
— Eu estou bem... Vamos embora daqui
antes que mais um Escobar chegue.

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Liziara Araújo
Estou cansada. Tento me manter acordada,
mas não consigo. Está amanhecendo, vejo pelas
frestas da janela. Estou dolorida. Meu estômago
implora por comida.
Eu preciso dar um jeito. Não vou aguentar
ficar muito tempo aqui. Eu devia ter pego a
arma, mas fui idiota!
Beatriz deve estar desesperada e deve ter
ido atrás do David. Ele deve estar me achando
uma louca agora, porque eu estou me achando
louca.
Esse cara é mais louco do que eu pensei.
Esfrego os pulsos para tentar lacear a corda,
mas não adianta, apenas me machuca mais.
— Filhos da puta, isso não vai ficar assim! —
grito irritada.
Foda-se! Se entrei na chuva, não vou me
proteger. Vou me molhar e encarar a
tempestade, custe o que custar!

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Capítulo 8

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Liziara Araújo

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Três dias depois...


O idiota do Jorge resolve me soltar daquelas
cordas, porém tem um bando de seus homens na
porta ao lado de fora do quarto que estou. Só
tenho acesso ao banheiro que fica no quarto e
uma janela, de onde já olhei e vi que estamos
muito alto. A rua é desconhecida, jamais vi nem
em fotos. É um lugar feio, lembra aquelas
cidades de filmes de faroestes antigos. As
pessoas que passam na rua são estranhas, e
homens andam armados para cima e para baixo.
Ele não brincou quando disse que era tudo dele
aqui.
Estou fraca, não comi nada nesses dias, por
medo de tudo que me oferecem. Meu estômago
está embrulhado, minha cabeça latejante. Já
desmaiei duas vezes nesses dias. Eu quero sair
logo daqui, e estou com medo, não posso negar.
Maldita hora que decidi ir atrás desse infeliz,
porém se ele não me pegasse na boate, me
pegaria em qualquer lugar. Não sai da minha
cabeça que a Beatriz e meus pais deve estar

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pensando que aconteceu o pior, porque se não


estão, eu estou pensando que vai acontecer o
pior. Jorge está calmo demais, e isso me
preocupa. Não temos que ter medo do inimigo
agitado, temos que ter medo do inimigo calmo.
Em pensar que fiz toda essa merda por amor...
Amor, quatro letras que pode levar uma pessoa
a fazer burradas. Talvez seja por isso que a
palavra sofrimento na maioria das vezes vem em
seguida da palavra amor.
A porta se abre e me afasto da janela para
olhar.
— Apreciando a vista, branquinha? Espero
que seja apenas isso, e não pensando em uma
forma de fugir.
Ele carrega uma bandeja de marmita na mão
esquerda, e na direita uma garra d’água.
— Não sou tão idiota como pensa!
— Ótimo saber disso. — ele deixa as coisas
na cama. — Coma. Dessa vez foi comprado em
um restaurante para a princesinha.
— Não quero nada.
— Garota, você vai comer. Acha mesmo que
eu colocaria algo na comida? Eu preciso de você
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inteirinha para pegar quem eu realmente quero.


Você só sai daqui morta e usada se em até dois
dias aquele filho da puta não der um sinal.
Afinal, não acha que está demorando demais?
Será que foi esquecida? Não seria uma má
coisa… eu e meus homens iriamos adorar ter
uma escrava de dia, e uma puta de noite.
Sinto meus olhos lacrimejarem. Minhas mãos
tremem.
— Vocês não vão encostar um dedo em mim!
Ele se aproxima me forçando a encostar na
parede. Tento me afastar, mas sou
completamente impedida. Ele aproxima a boca
do meu ouvido e então diz:
— Não gaste sua saliva dizendo bobagens.
Deixe para gastar quando estiver de joelhos na
minha frente com essa boquinha atrevida em
torno do meu pau.
Ele me dá um beijo no pescoço e se afasta. As
lágrimas escorrem por meu rosto. Antes de sair
do quarto, ele me manda comer a comida. Sento
na cama aos prantos. Que nojo desse infeliz!
— Porra David, cadê você? Cadê os Escobar
que tem fama por sua rapidez e por sempre fugir
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da lei.... Aceito qualquer policial, qualquer


delegado, qualquer coisa que me tire desse
inferno!

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David Escobar
Três dias de puro inferno, mas amanhã é o
grande dia. Recebi informações pelo Cleber, que
a cidade no interior do estado que o Jorge
comandava continua sob controle dos homens
dele. É uma cidade muito pequena e bem
perigosa. Os policiais têm receio de invadir o
lugar, porque na última invasão, na qual eu
participei, houveram muitas vítimas feridas. O
lugar talvez seja pior que o inferno. E é lá que
temos certeza que ele esconde a Liziara. Não
estou fazendo isso dentro da lei, estou colocando
meu tio e meu amigo em perigo e arriscando
nossas carreiras; mas se fossemos agir dentro a
lei, chamaria mais a atenção e isso pode ser
perigoso. Cada Escobar está com uma função
para que nada de errado. E cada membro fora da
família que vai participar, também. Nada pode
dar errado, qualquer desvio pode colocar tudo a
perder. Estou arriscando minha carreira, mas
por ela vale tudo.
Descobri que meus homens, que ficaram

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apaisana naquele maldito dia, foram distraídos,


por uma briga na entrada da boate. Jorge sabia
deles, ele não é idiota. Fez tudo esquematizado!
Estou na delegacia.
A porta se abre e os pais da Liziara entram.
Sua mãe está abatida como nunca vi.
— David, não aguentamos mais. Precisamos
da nossa filha. Fomos péssimos pais, mas ela é
nossa filha, nossa única filha. Se algo acontecer
com ela, eu jamais irei me perdoar. Eu preciso
dela. Encontre ela, David… eu estou te
implorando. — Lúcia diz aos prantos.
— David, ela é nossa filha, precisamos dela,
encontre-a, custe o que custar. Se o problema for
o dinheiro, pagamos o que for! — Leandro fala.
— Eu vou encontrar ela e trarei com vida.
Não se preocupem, e saibam que fico muito feliz
por ver que amam ela. Pena que só demostraram
diante das circunstâncias... — como talvez eu
esteja fazendo.
— Sempre a amamos. Demonstramos das
piores maneiras. Mas sempre amamos ela. —
Lúcia diz alterada.
— Vou encontrá-la. Peço que evitem jornais,
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é o melhor até o momento.


Eles concordam.
— Agora terei que me concentrar nas coisas
e em alguns trabalhos. Vão para casa, tentem se
acalmar, e eu prometo que amanhã mesmo ela
vai estar aqui, derrubando tudo por onde passa,
dando os sorrisos perfeitos dela, se machucando
com o próprio aparelho dentário, e perguntando
onde está o óculos de grau dela quando está em
seu rosto, tremendo como uma louca quando
está com fome, e perdida nos livros e nas séries
que ama. Eu prometo isso a vocês, ou não me
chamo David Escobar.
Lúcia sorri.
— Você a ama tanto. Ela merece alguém que
a ame e demostre como nunca fizemos.
Não digo nada, apenas fico olhando para ela.
Eles se retiram da sala me deixando perdido em
meus pensamentos.

Quase não dormi noite passada. Estamos

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todos na sala de investigações da delegacia. Hoje


iremos invadir aquele maldito lugar.
— Hoje nada pode sair errado! — Daiane
fala. — Não façam nada com o coração e sim com
a mente. Qualquer ato emocional pode colocar a
vida da Liziara em um risco pior.
— Eu sei. E por isso tudo ficará como
combinamos. — eu falo.
Daiane ficará responsável por manter meu
superior e toda a polícia fora disso, sem que haja
suspeitas que tem algo errado. Minha mãe
tentará manter a impressa longe disso quando
invadirmos a cidade. Poliana e Cleber vão ser
meu reforço. Meu tio será a chave surpresa caso
aconteça qualquer deslize, e que vai abafar todo
o caso perante a lei. Luciano ficará de escolta
com a família da Liziara, para que não tenhamos
surpresas. Simon, o segurança do meu tio, fará
escolta da Beatriz, para evitar qualquer loucura
dela, e protegê-la, pois não sabemos se eles têm
olheiros por aqui. E eu serei o troféu, me
entregarei a eles de bandeja.
— Eu acho isso arriscado, David, Deixe a lei
cuidar disso! — Poliana diz.
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— Eu não vou perder a Liziara por passos de


tartaruga da lei. Cada minuto lá, ela pode estar
sofrendo algo e encurtando suas chances de
sobrevivência. Então não se meta. Se quer
ajudar, faça isso calada.
— Cala a boca, loira. Você é a única aqui que
tem que agir ou cair fora; e se algo desta sala
vazar por aí, saiba que não sobrará um fio de
cabelo seu para conta a história. Ou fica e calada,
ou sai antes que eu te enforque, porque se você
não tivesse aparecido, nada disso teria
acontecido. — Beatriz diz, e percebo a falha
tentativa do meu tio de disfarçar o sorriso. — E
se a Liziara tiver um arranhão, é melhor você
fugir do país antes que eu te encontre e se
esconda muito bem, porque eu te caçarei até o
inferno se for preciso.
— Toma cuidado como fala comigo! —
Poliana diz alterada.
— Tome você, cuidado comigo. Presta muita
atenção nas suas ameaças, ou acabo com sua
vida profissional e pessoal em segundos. — meu
tio diz em um tom sério e Poliana me olha
envergonhada, na tentativa de que eu a defenda.
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— Foquem no que será feito! — minha mãe


diz alterada. — Todos sabem suas funções. Eu só
quero que todos saiam sem machucados disso.
Hoje será um dia marcante na vida de todos.
Nunca os Escobar se colocaram tanto em perigo
como hoje. Pensem antes de agir. Olhem por
onde andar. Tomem cuidado com o ar que vão
respirar. Eu já perdi meu marido Joseph, e não
quero perder mais ninguém.
Daiane passo o braço ao redor da minha
mãe.
— Sei que estou arriscando a vida e carreira
de todos, mas se faço isso, é porque estou
desesperado, e cada minuto que se passa é uma
parte de mim sendo afetada pela dor e
desespero.
— Estamos juntos com você para o que der e
vier, David. — Cleber fala, e agradeço com um
aceno.
A porta se abre e uma loirinha, alta, de
óculos, saltos altos, calça jeans preta, uma blusa
regata preta, coque no cabelo e um batom
intenso vermelho, entra na sala. Sorrio.
— O que faz aqui? — Cleber pergunta.
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— Quando conheci David e Marcos, foi nas


piores circunstâncias; ambos me livraram de um
tarado na lanchonete em que eu trabalhava.
Depois quando achei que nunca mais
encontraria eles pessoalmente, o destino cuidou
de traçar nossos caminhos novamente. Mais
uma vez estive em perigo quando delinquentes
tentaram me sequestrar junto com meu carro, e
se não fosse por eles, talvez eu nem estivesse
mais aqui. E foi nesse dia que esse policial lindo
e gostoso ajudou a eles me proteger. Larguei a
faculdade de artes cênicas, fui embora da cidade
por problemas pessoais que prefiro não dizer, e
quando voltei, vim decidida a fazer faculdade de
direito. Estava mais velha e decidida, porém sem
dinheiro algum, e fui atrás da fera conhecida por
Marcos… ele me deu emprego, juntei dinheiro, e
então iniciei a faculdade que termino em breve.
Os Escobar me receberam de braços abertos, e
de brinde ganhei um marido. Sempre que estive
em perigo de alguma forma, eles estavam lá para
me defender.
Ela recupera o folego.
— E hoje o destino me deu a chance de pagar
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a primeira parcela de tudo o que me fizeram e


de toda a ajuda em tantos momentos pessoais
que seria uma lista enorme, daria um livro...
Melhor, um conto já seria o suficiente. Posso não
ser uma boa pilota, a melhor secretaria, saber
chutar alguém sem cair ou dar um soco sem
atingir a mim mesma, mas eu gosto da Liziara e
gosto de vocês… Na verdade amo vocês, e isso é
o suficiente para me torna mais forte e lutar
para trazer ela de volta. — Débora fala, e minha
mãe chora emocionada.
— Amor, não faça isso... — Cleber implora.
— Fazer o que? — pergunto preocupado.
— Sou mulher de um policial e a melhor
secretaria de um juiz, e a amiga mais gata de um
delegado, eu preciso fazer isso. É uma vida em
risco, e se eu estivesse no lugar dela, queria que
alguém fizesse isso por mim.
— Débora? — indago.
— David, quem vai na frente não será você,
serei eu. Ninguém me conhece. Não saio muito
na mídia… o que é uma lastima, eu sei. Mas se
você for, aqueles caras podem nunca mais
devolver você e ela. Sei que terá uma imensa
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equipe preparada para qualquer coisa, mas eu


irei na frente, e quando eu tiver o local que ela
está, vocês saberão; e não se preocupe tenho
uma carta na manga.
— Isso é loucura. Ficou louca! — Digo a ela.
— Loucura ou não eu irei.
— David, ela pode ter razão. Seriam duas em
perigo, está certo, mas ninguém a conhece. Com
ela na frente dando informações é melhor. —
Daiane diz.
— Não posso colocar você em risco!
— Não vai. Eu sei o que estou fazendo.
— Qual sua carta na manga? — Marcos
pergunta.
— Segredo, mas saberão na hora. Agora
tenho que ir, porque aquele fim do mundo é
longe. E hoje não sou Débora Alencar Fernandez.
Hoje serei, Paloma Almeida, uma mulher gravida
de um traficante que não assumiu o filho, e meu
pai quer me matar por isso, e fugi para lá.
— Você não vai! — grito.
— Vamos fazer um teste. Se ela me
convencer da história, ela vai, e juro que trarei
ela viva. — Marcos fala. — Sou um dos
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traficantes que cerca a cidade, e você tem que


passar por mim e eu te impeço de entrar
pedindo para saber o que quer ali e quem é você.
Ela se aproxima dele, retira os óculos, solta o
cabelo.
— Eu estou desesperada. O filho da puta do
meu namorado me largou quando soube que
estava gravida. Meu pai quer me matar. Meu
namorado era um dos traficantes da minha
cidade, e não sei o que fazer, estou desesperada.
O único lugar que sei que teria proteção é aqui.
Preciso ficar por uma noite apenas, ou amanhã
não estarei aqui... — Ela se aproxima mais dele,
ficando com o corpo colado, passa a mão por seu
braço e diz chorosa — Não vai negar abrigo a
mim, vai? Deve ter irmãos ou alguém que ame, e
eu amo demais está criança que nem sequer a
conheço… preciso ficar. — Lágrimas escorrem
por seu rosto.
Porra, onde ela aprendeu fazer tudo isso?
— OK, me convenceu. E sai de perto de mim,
ou seu marido vai me matar. Porra, tem certeza
que quer ficar na faculdade direito? — Marcos
pergunta.
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— Tenho. Mas agora preciso trocar de roupa


por algo mais simples e colocar as lentes de
contato. Irei na frente, conhecerei o lugar e
manterei vocês informados. Só saiam daqui
quando eu disser que podem ir. Descobri que
hoje tem uma festa na cidade, e isso pode ajudar.
Cleber se aproxima dela e a beija.
— Não faça loucuras. E tome cuidado! Se
algo te acontecer...
— Eu vou voltar inteirinha, eu sempre volto.
— Cuidado, Debi! — Dou um abraço nela. —
Faça o que for preciso para se defender.
— Está bem...
Antes de sair da um último sorriso e fecha a
porta.
Cleber está tenso, assim como todos.
— Vai dar tudo certo! — Beatriz diz a ele. —
Confie.
— Essa daí vai colocar tudo a perder! —
Poliana fala.
Cleber se vira para ela e conheço esse olhar.
— Cala a boca, porra! Tome muito cuidado
como fala da minha esposa. Essa daí, tem nome e
sobrenome. Uma palavra sobre ela, e esqueço
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que você é mulher e colega de trabalho!


— Preciso tomar um ar. — Ela sai da sala
enfurecida.
— Ou você manda essa demônia para o
quinto dos infernos de onde ela veio, ou alguém
ainda vai matá-la; e sou a primeira da lista para
cometer o ato. — Daiane fala.
— Foda-se a Poliana, o que importa é a
minha mulher que está na porra das mãos
daqueles desgraçados!
Minha mãe sorri.
— O que foi mãe?
— Nada, apenas me deixa feliz ouvir isso.
Alguém bate na porta.
— Entre. — digo.
A porta abre e um dos meus homens
aparece.
— Tem um rapaz aí… chama-se Joaquim e
quer falar com você.
— Mande ele para minha sala, estou indo.
Ele concorda e se retira.
— Quem é esse? — Marcos pergunta e
Beatriz sorri.
— Um idiota que trabalha com a Liziara.
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Você o conhece, é o mesmo cara da festa da


universidade que fomos para resolver o caso da
Ana Louise com o Henrique. Ele te tirou do sério
por causa da Beatriz.
— Ah, aquele merdinha? Não sabia que a
delegacia recebia lixo. — diz com ironia. — Esse
bosta, não tem medo de morrer mesmo!
Sorrio e saio da sala.
Entro na minha sala e ele me olha.
— Olha aqui, só vim dar um recado... Eu
sempre fui contra você e a Liziara terem algo, e
sempre disse que isso traria problemas… e veja
só, eu estava certo. Se algo acontecer com ela,
quero que saiba que você é o único culpado.
— Acabou o discurso? Quem pensa que é
para vir aqui me falar isso? Isso tudo é raiva por
saber que ela nunca te quis? Enquanto você ia,
eu já estava prestes a retornar novamente ao
lugar. Não sou idiota, e sei que tem interesse
nela. Mas saiba que ela jamais será sua. Eu irei
trazer ela de volta só que para mim e ninguém
mais. Então saia daqui e leve esse seu
discursinho bosta para longe, e nunca mais
apareça na minha frente, ou vai conhecer um
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David que quem já viu, não deseja ver nunca


mais.
— Eu irei mesmo, mas não se esqueça, o
único culpado será você! Levará a culpa até o
último dia da sua vida!
Ele sai da sala e me sento na mesa.
Não precisa ninguém me dizer que a culpa
vai ser minha, porque sei disso. E sei também
que se algo acontecer com ela, matarei o filho da
puta sem remorso algum.

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Capítulo 9

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David Escobar
Estamos agoniados à espera de notícias da
Débora. Eu devia estar louco ao permitir a ida
dela. Agora são duas correndo risco. Estou
tentando me concentrar nas papeladas na minha
mesa, mas não consigo. Outros casos precisam
de mim. As horas estão passando e nada de
notícias. Temos que pegar a Liziara hoje. Eu não
aguento mais esse inferno. A cidade que Jorge
comanda é pequena, porém pode ser difícil
encontrar ela...
Porra, é isso!
— Cleber! — grito por seu nome.
Ele entra rapidamente na sala, junto a
Poliana.
— O que aconteceu?
— Eu sei onde ele deixou a Liziara. Débora
só precisa nos dar certeza.
— Onde? — Ele pergunta
— Quando invadimos aquele lugar, ele tinha
um prédio de seis andares ao lado de uma
lanchonete. Era ali que ele morava, fazia o

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escritório dele e prendia as pessoas que ele


pegava. É nesse prédio que ela deve estar, só
pode ser. Como fui idiota por não me lembrar
disso antes? Foi nesse maldito lugar que ele
tentou se esconder junto a irmã dele!
— Agora precisamos que a Débora de
notícias para termos noção do que fazer. —
Poliana fala.
— Não me lembre disso. Estou com a cabeça
fervendo. Quando eu desejei uma esposa
diferente, juro que não passou por minha cabeça
uma louca. O foda é ter que ser frio para não
atrapalhar a operação.
— Nós vamos trazer as duas, eu prometo! —
digo a ele.
— David, você precisa comer algo. Está o dia
todo sem comer.
— Poliana, tudo o que eu menos quero neste
momento é comer. — Ela fica sem jeito, mas
disfarça.
— Devemos avisar aos outros. — Cleber diz.
— Sim. Vou avisar a eles e deixar todos
preparados. Meu tio em breve deve retornar. Ele
teve que ir ao escritório dele com urgência.
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— Dessa vez, aquele filho da puta do Jorge


não escapa. — Cleber fala e suas palavras
exalam raiva.
— Pode ter certeza que não!

São quase nove horas da noite e nenhuma


notícia da Débora. Não estou gostando deste
silêncio. Não estou mesmo!
— Aquela filha da puta não iria fazer
burrada. Conheço-a há oito anos. É bem esperta
para fazer burradas! — Meu tio diz agoniado,
andando de um lado para o outro.
— Já era para termos notícias dela, porra! —
Soco a mesa com raiva.
A porta se abre com força. Cleber entra e
coloca o celular dele na mesa.
— Amor, pode falar, está no viva-voz o
celular. — ele diz.
Solto o ar. O alivio toma conta de mim. É ela.
— Gente, serei rápida. Estou no banheiro da
lanchonete que tem aqui e, por incrível que

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pareça, é a única. — ela faz uma pausa e


continua. — Consegui entrar na cidade sem
problema algum. O cara que cuida da entrada
tomou conta disso. Hoje realmente tem uma
festa para o Jorge e isso deixou falhas. Tem
apenas um cara de vigia na entrada da cidade.
Está um alvoroço devido a festa. Escutei pela
lanchonete que o prefeito vai mostrar para
todos a isca que pegou para se vingar da morte
de sua irmã. É, com toda certeza, a Liziara. Eu vi
vários homens armados saindo do prédio ao
lado da lanchonete que estou, e tem dois
homens na entrada dele. Acredito que seja ali
que ela está. Porém terei que dar um jeito de
descobrir onde ela está no prédio, só assim para
mandar informações e facilitar para vocês.
— Certo. Eles não podem desconfiar de nada.
Tome muito cuidado e não faça loucuras. Tente
ficar ao máximo nessa lanchonete. Estamos indo.
Débora, aconteça o que acontecer, não interfira
em nada. Tente descobrir por onde o Jorge está,
e nos avise assim que puder. Mantenha contato,
você será nossos olhos e ouvidos neste lugar.
Esses caras não são brincadeiras. — digo.
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— Certo. Tenho que desligar, ou vão


desconfiar do meu tempo no banheiro. Porém
esperem minha próxima ligação para
começarem a vir. Me prometam isso?
— Claro que não! — Cleber grita.
— Débora, o que vai aprontar? — Marcos
pergunta.
— Confiem em mim. Eu sei o que estou
fazendo. Até mais. — Ela desliga.
Porra!

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Liziara Araújo
Algo está acontecendo. Está tudo muito
calmo aqui dentro, porém lá fora está bem
movimentado, vi pela janela. Não escutei os
homens do Jorge e nem ele retornou aqui.
Preciso pensar com calma. Se tem uma coisa
que aprendi muito bem nesses dois anos ao lado
do David, é que nenhum crime é perfeito,
sempre tem falhas. Jorge deve ter deixado falhas
e irei descobrir, pois será minha chance de
sumir deste lugar, porque não aguento mais.
Escuto um falatório estranho, parece ser voz
de mulher e está aqui dentro.
— Me solta, seus desgraçados! Socorro! Eu
quero sair daqui. Vocês vão se arrepender de
terem feito isso. Eu vou sair daqui, e minha vai
irmã vai junto! Vocês mexeram com a família
errada! Me soltem!
A porta do quarto se abre e me assusto.
— Jorge vai amar descobrir isso! — um dos
homens dele diz com um sorriso malicioso.
Um outro surge e joga uma pessoa que eu

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conheço, e que não esperava, dentro do quarto.


— Débora! — grito.
— Minha irmã! — Ela corre até a mim e me
abraça e então cochicha no meu ouvido — Sou
sua irmã!
— Eu não acredito! — Começo a chorar.
Eles saem e trancam a porta.
— O que faz aqui sua louca? — pergunto.
— Vamos falar bem baixo. Eu sabia que você
ia estar aqui, e meu plano de fingir ser sua irmã
daria certo para me colocarem junto com você.
— O que quer dizer?
— Os Escobar estão vindo te salvar. Agora
preciso dar notícias a eles.
— Como? Eles vão nos matar se tentarmos
algo.
— Amor, eu não queria ser atriz no passado
à toa.
Ela retira da bota de cano longo o celular.
Fico olhando para a porta preocupada.
— É melhor falar no banheiro. — digo baixo.
Entramos no banheiro e deixamos a porta
um pouco encostada.
— Não podemos demorar, se eles entrarem
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no quarto e ver que estamos as duas no


banheiro, vão desconfiar.
Ela concorda e então liga para o David.
— David! — Eu me aproximo do seu ouvido
para ouvir a conversa.
— O que aconteceu? — Ouvir sua voz, me
traz uma sensação única. Um arrepio intenso.
— Estou com a Liziara. Ela está no prédio.
Vou ser rápida. O Jorge não está aqui, mas vai
ser avisado. Eu menti dizendo que era irmã dela
e que inventei uma história para entrar na
cidade, e acabei junto com ela agora. Arrisquei e
deu certo. Tem uma tropa vigiando ela, mas só
agem pelo comando do Jorge ao que notei. Ela
está bem e está ao meu lado. Venham para cá às
pressas, porque acho que posso ter ativado a
fera de um certo bandido. Estamos, ao que
parece, no sexto andar. Pelo que contei, é a
última porta à direita.
— Estamos indo, sua retarda! Cuidado, e não
façam nada! Não deixe descobrir que está aí por
minha causa.
Escuto barulho na porta. Ela me olha
assustada e desliga o celular, escondendo o na
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bota.
Saímos correndo do banheiro e nos
sentamos na cama.

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David Escobar
O caminho até essa maldita cidade foi um
inferno. Porém agora estou me aproximando, a
cada quilometro sinto meu coração acelerar.
Nunca senti isso antes.
Os outros vão ficar alguns quilômetros atrás
à espera do sinal para virem.
Uma moto sai do matagal e surge na minha
frente. O cara está armado. Ele desce na moto.
— Desce do carro, porra! — ele grita.
Saio do carro com a arma na mão, pois faz
parte do plano.
— Delegado! — ele diz sorrindo. — Muito
otário mesmo para aparecer aqui. — ri —
Coloca a arma no chão... Vai, caralho! — ele
grita e aponta a arma para mim.
Eu me abaixo lentamente, indicando que
colocarei a arma onde pediu, mas quando estou
próximo de encostar ela no chão, miro em sua
perna direita e atiro em seu joelho.
— Filho da puta! — ele grita e cai no chão.
— Isso é pelo xingamento! — Dou outro tiro

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na sua outra perna.


Isso vai ganhar tempo.
Ele se torce de dor. Pego sua arma e jogo
longe.
Entro no carro às pressas e saio cantando
pneu dali.
Entro na cidade, que esta calma. A festa deles
deve ter começado.
Nada mudou desde a última vez que estive
aqui a anos. Dirijo até o local que Liziara está.
Olho pelo retrovisor e vejo o carro do Cleber
e Marcos seguindo o meu.
Avisto o prédio, mas o que está na frente
dele faz o meu mundo parar. Freio o carro
bruscamente.
Ele está na porta, rindo, enquanto dois
homens seguram a Liziara e a Débora, com arma
apontada na cabeça de cada uma. Ele também
está armado.
Desço do carro com minha arma. Olho para
trás e vejo que Marcos, Poliana e Cleber fazem o
mesmo.
— Demorou, David! — Jorge grita em tom de
deboche. — Acho bom todos vocês largarem
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essas armas antes de se aproximarem mais, ou


essas duas aqui morrem, e você sabe que
cumpro minhas promessas!
O olhar da Liziara cruza com o meu e vejo o
pavor em seus olhos. Solto a arma no chão que
faz um estrondo. Ela balança lentamente a
cabeça em sinal de “não”.
Escuto barulhos, e sei que foram as armas
atrás.
Caminho até eles lentamente, ficando bem
mais próximo.
— Era a mim que você queria, estou aqui! —
digo ao Jorge.
Nunca pensei que um plano que desse
errado me deixaria tão apavorado como eu
estou agora.
— Enviar uma outra mulher para nos
enganar… isso mostra o quanto você é um
merdinha, David!
— Solta elas. É a mim que quer. Deixe elas ir,
Jorge. Seu problema é comigo. Porque você não
aceita que eu matei sua irmã naquele dia. Não
admiti que eu fui o único a conseguir fazer uma
equipe policial invadir essa porra! — grito com
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ele.
Seu olhar tem ódio. Ele mira a arma em mim.
— Esperei tanto por esse dia. Porém, você
atrapalhou minha festa. Todos estão lá
comemorando, e eu aqui. Isso é errado… sou o
rei deles, o prefeito que amam. Eu planejei tudo.
Pesquisei cada ponto de vocês. Infiltrei pessoas
dentro da boate que ela trabalhava. Na cadeia já
recebia informações de vocês. Foi tão fácil. Tudo
foi esquematizado. Nada poderia dar errado. E
vejam só, não deu. Você deixou muitas brechas,
delegado. — ele gargalha. — Sua princesinha é
ingênua. Descobri todos os pontos fracos dela, e
o principal é a família. Não teve atenção dos pais
desde cedo, e claro que faria qualquer loucura
por aquele que ama. Tão burra. — Ele acaricia o
rosto dela, e ela vira o rosto bruscamente. Um
ódio me consome. Tento me aproximar, mas ele
vira a arma para ela, me fazendo recuar.
Porra, tenho que ser frio, não posso colocar
tudo a perder!
— Você ficou mais louco do que já era...
SOLTA ELAS, SEU FILHO DA PUTA! — Empurro
ele com força, e ele se equilibra para não cair. —
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Eu vou acabar com você, seu filho da puta! — ele


ri ainda mais, me empurrando e apontando a
arma novamente para mim.
— Quer mesmo que eu te mate na frente da
sua protegida e do seu tio? Não teria problema
algum. Seria bom... Mas antes você tem que
sentir o que eu senti naquele dia, quando minha
irmã caiu sem vida no chão. Você tem que sentir
aquela dor, seu desgraçado. Ver a pessoa que
ama cair no chão sem vida. Ver os olhos dela
parados, sem brilho. Ver sua pele começar a
gelar e a empalidecer. O sangue escorrer por ela.
Você precisa sentir essa sensação. E agora temos
duas escolhas… seu tio e sua protegida. Porém
algo me diz que ela poderia ser a primeira... —
Seus olhos estão arregalados, sua fala é como de
um louco. Ele está mais fora de si do que o
normal.
Olho para Liziara. Ela está assustada e isso
me destrói. Eu estou sem saber o que fazer.
Qualquer ato meu pode colocar tudo a perder.
Não posso agir emocionalmente!
— Você... — tento dizer.
— Eu o que? Cala a boca, que nessa porra
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quem manda sou eu!


— Jorge, não é a Liziara que você quer, e
nem a mim. É o David, somente ele. Matá-lo
rapidamente de nada vai resolver, o prazer
acabará rápido. Você quer torturá-lo… e sabe
que apenas matando ela não vai resolver, não
será o suficiente. — Débora diz e ele a olha
atentamente. — Você está assustado. Sonhou
tanto com isso, que sua mente está confusa, e
cada palavra que digo te irrita mais. Uma voz diz
para você matar a todos, e a outra diz que isso
não será suficiente. Você está vazio por dentro,
tudo está confuso...
— Cala a boca, sua maldita! — Ele a
chacoalha e a joga no chão. Olho assustado, mas
quando vou me aproximar dela, ela me dá um
olhar estranho e recuo.
Ela começa a se contorce de dor.
— Débora? — chamo por ela, preocupado.
— Débora! Filho da puta! — Cleber grita.
— Não chegue perto ou ela morre! — Jorge
grita para ele.
— Me deixe ver ela, por favor? Ela se
machucou, por favor! Se vai mesmo me matar,
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me deixe fazer uma única coisa! — Liziara


implora a ele.
— Se tentar qualquer coisa, ele morre! —
Jorge diz e ela concorda.
Ela se joga ao lado da Débora, porém tudo
isso é estranho.
— Débora, o que você tem? Está bem? —
Liziara pergunta.
— Meu pé, devo ter torcido, dói muito... Ai!
— ela grita.
— Vai ficar tudo bem! — Liziara diz a ela.
Liziara coloca a mão por dentro da sua bota,
e tenho a impressão que tirou algo. Ela segura a
mão da Débora.
— Chega, peguem elas! — Jorge grita, e seus
homens a pegam rapidamente. — Vamos
terminar logo com isso, porque tenho uma festa
para aproveitar. Atirem nela! — ele grita.
O homem que segura a Liziara puxa o gatilho
da arma. Sinto meu peito apertar. Olho para trás,
e todos me olham assustados. Meu tio coloca a
mão para trás, é a arma reserva. Olho para a
Liziara e ela fecha os olhos.
— Não… hoje não, e nem depois! — Débora
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fala a ele com ódio.


Ela enfia uma faca pequena na perna do
homem que a segura, e a Liziara faz o mesmo.
Era isso que ela tirou da bota da Débora. Jorge
olha assustado, e os dois xingam de dor. Liziara
chuta um deles em seu membro, fazendo-o o cair
no chão de joelhos. Débora dá um chute no
estômago do outro, fazendo ele perder o ar e
cair também. Ela pega a arma dele e joga para
mim. Liziara corre para o lado dela.
Cleber e Marcos se aproximam, armados.
Jorge atira mas consigo desviar. Poliana tenta se
aproximar, mas o que segurava a Liziara
consegue pegar a armar e atira, fazendo com que
ela recue. Mais homens aparecem, nos deixando
em desvantagem. Atiro no que segurava a
Liziara, e ele cai de vez no chão. O outro tenta se
levantar e atiro nele. Jorge tenta atirar na
Liziara, mas a Débora joga ela para o lado.
Marcos luta com um cara. Um homem tenta
me segurar por trás, mas consigo me livrar dele;
e antes que atire em mim, eu disparo de volta.
Liziara grita e olho rapidamente, Jorge a pega
por trás. Tento me aproximar, mas sou impedido
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por um homem. Cleber atira em dois caras.


Poliana se aproxima deles, é a única livre no
momento. Ela vai atirar no Jorge. — Porra, não!
— Poliana, não! — grito.
Dou uma cotovelada no estomago do cara
que me segura. Eu me viro para ele quando me
solta e dou um soco em seu queixo. Ele cai, então
arranco sua arma e dou um tiro em sua coxa.
— Jorge, você não precisa disso! — falo
ofegante.
— Preciso sim, eu preciso! — ele grita e
começa a gargalhar.
Olho para a Poliana, que tem um ângulo
perfeito para atirar nele sem atingir a Liziara.
Um tiro apenas e coloca ele no chão. Mas ela não
vai conseguir, seu olhar está confuso. Se ela
atirar, pode ser que atinja Liziara.
— Poliana, não faça isso. Não atire... — Ela
posiciona o dedo para atirar — Caralho, Poliana!
O olhar da Liziara se transformar em raiva
quando Jorge a aperta mais.
— Hoje não. Eu não serei a porra da mocinha
indefesa, não mais! — ela grita com ódio.
Ela dá um cotovelada nele com força.
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— Maldita!
Ela se vira para ele e dá um soco em seu
rosto. Chuta a mão dele, que está com a arma, e
ela cai no chão.
— Filho da puta! — ela grita para ele quando
o mesmo chuta sua perna.
— Poliana, não! — grito para ela quando
vejo que vai atirar, mas não há a menor chance
de acertar o Jorge.
Ele consegue recuperar a arma de uma
forma muito rápida e começa uma luta com a
Liziara. Tento me aproximar, mas meu tio me
segura. Os outros homens já estão no chão.
— Me solta! Essa arma pode disparar! Me
solta, porra! — Cleber ajuda a me segurar.
— David, não! — Débora grita.
E então um barulho que conheço muito bem
ecoa. Sinto meu mundo congelar. Quero gritar,
mas não consigo. Não...
Liziara está com os olhos arregalados. Ela e o
Jorge caem no chão. Ambos repletos de sangue,
Eles me soltam. Meu peito dói fortemente.
Poliana olha assustada. Débora se aproxima
deles e se joga ao lado da Liziara.
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— Liziara, fala comigo! — ela grita. —


Droga! Cacete, não vim para esse fim de mundo à
toa, sua filha da mãe! Reage! — Ela chacoalha a
Liziara.
Então vejo uma pessoa caminhando até nós.
Olho assustado para a Liziara, que se levanta
com a ajuda da Débora. E é aí que vejo que foi o
Jorge que levou o tiro e o sangue é somente dele.
A pessoa se aproxima e sorri.
— Eu nunca erro um tiro, afinal nem sempre
o volume em minhas calças é uma ereção!
— Henrique, o que faz aqui? — Meu tio
pergunta.
— Digamos que eu era o plano B da loira ali.
Acham mesmo que com minha família em
perigo, eu ficaria longe? Porra, jogaram praga
para cima de mim, pois não consigo tirar férias.
Ele abraça meu tio e o Cleber, e em seguida
me abraça.
— Obrigado. — Agradeço. — Agora eu
preciso...
— Sim, vai lá. Mas seja rápido… temos que
sair logo daqui antes que outros apareçam.
Eu me aproximo dela, mas ela recua.
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— Agora não, David, Vamos sair daqui,


apenas isso.
Concordo.
— Apenas me diga se ele fez algo com você.
— Não. Quando ele soube que era uma
armação da Débora porque investigou toda
minha vida e viu que eu não tinha irmãos, ele
ficou louco; e então recebeu a notícia que
mataram o cara que vigiava a entrada da cidade,
e aí trouxe nós duas para cá. Eu só preciso sair
daqui, tomar um banho e descansar. Eu me sinto
fraca e enjoada por tudo. Preciso agradecer a
todos eles por isso.
— Não precisa agradecer. Você faz parte
dessa turma, merece nossa ajuda. — Henrique
diz.
— Obrigada, Henrique, por ficar preparado
para meu sinal de socorro. — Débora agradece
a ele.
— Desde quando sabia? — Marcos pergunta
a ele.
— Débora me ligou e contou tudo. Porra,
vocês são loucos! Enfim, ela mandou eu ficar em
alerta, pois se ela não ligasse até certa hora, era
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para eu vir que algo estava acontecendo, e foi o


que eu fiz. Estive sem acesso à mídia, ou estaria
aqui a muito tempo.
— Vamos sair daqui. — digo a eles.
— Meu amor... — Cleber abraça a Débora e a
beija.
— Por que não escolhi ser atriz? — ela
pergunta e sorrimos. — Viram como atuei bem
para pegar a mini faca na minha bota? Botas são
tudo na vida de uma mulher em perigo… dentro
delas pode sair o mundo.
Sorrimos.
Olho para Liziara, que está pálida.
— Liziara?
Seguro ela.
— O cheiro do sangue, e ele... Estão...
— Vem, vamos sair logo daqui.
— Eu ajudo ela. — Poliana fala.
— Não precisa. Acho que você já fez muito,
pelo o que a loira disse. — Henrique diz.
— Aprenda uma coisa, Poliana, nunca atire
para matar. E não tente bancar a heroína quando
você não é nada! — Liziara diz e sorrio.
Poliana a olha com ódio.
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— Você não passa de uma menina indefesa!


— Poliana grita com ela. Henrique e Marcos se
aproximam. Débora se afasta do Cleber.
— Menina indefesa? É, até pode ser, mas não
precisei de uma arma para lutar com o Jorge… já
você, nem com uma arma e sendo uma policial
conseguiu fazer algo útil! — Liziara fala para ela
e Débora gargalha.
— Vamos sair daqui. Agora! — Marcos fala.
— Poderia dormir sem essa, loira aguada! —
Débora diz passando pela Poliana.
— Você é apenas mais uma na lista dele.
Acha mesmo que ele realmente ama você?
Bastou eu reaparecer que e ele te esqueceu
rapidinho. Ninguém quer uma garota com pose
de mulher. Não passa de uma mal-amada, que
acha que um dia será uma Escobar! — Poliana
grita para Liziara.
— Agora você me irritou, vadia!
Liziara vai para cima da Poliana e acerta um
soco em sua boca. Poliana tenta puxar seu
cabelo, mas a Liziara dá um chute em sua canela
e uma rasteira em seguida, fazendo ela cair.
Monta em cima dela e começa a estapear seu
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rosto.
Fico olhando e rindo.
— David, não vai fazer nada? — Marcos grita
e sorrio.
— Deixa um pouco. Liziara merece isso, e
Poliana ainda mais. — Sorrio.
— Porra! Você é foda, delegado! — Henrique
diz, segurando a Liziara.
Meu tio segura a Poliana, que está com a
boca sangrando e com o rosto todo vermelho e
arranhado.
— Eu vou te processar, sua puta! — Poliana
grita.
— Tenta! Tenta, porra! Mete processo ou o
caralho que for, que sou capaz de te arrebentar
na frente do Juiz, do Papa, ou o que for. Não
tenho medo de você. E puta, é somente você.
— Na verdade você já fez isso na frente de
um Juiz! — Meu tio diz a ela, e sorrio mais ainda.
— David, essa maldita! Como pode? Eu toda
linda. Vim de longe para tentar uma chance com
você que sempre foi louco por mim na faculdade.
— Poliana diz chorando.
— Eu? Louco por você? Poliana, eu sou louco
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pela minha profissão e pela Liziara. De você


tenho pena. E isso que levou é apenas para
aprender a não mexer com a mulher de um
delegado, principalmente de um Escobar. E
espero que essa boca inchada fique boa logo,
porque amanhã mesmo você vai voltar para a
puta que pariu de onde não deveria ter vindo, e
torça para eu não fazer relatório seu. Agora de
boca calada vai entrar no maldito carro e ir
muda o caminho inteiro, ou deixarei a Liziara ir
no mesmo banco que você, afinal ela tem muitos
aqui para provar que nunca relou um dedo em
você… já você é o oposto.
— Isso não vai ficar assim! — ela grita. — Ela
deveria ter morrido!
Meu sangue ferve. Eu me aproximo dela, mas
Cleber me segura.
— Não ameace um Escobar. Mocinha, tome
muito cuidado! Ele é homem e delegado e pega
mal bater em você, mas você está fazendo todos
perderem a paciência aqui. Caso algo aconteça
com você, tudo pode ter saído em legitima
defesa, afinal, temos muitas testemunhas que
confirmariam isso, e você não quer isso não é
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mesmo? — Meu tio diz a ela, e a puxa pelo braço


até um dos carros.
Todos entram nos carros. Saímos dali o mais
rápido possível.
Só consigo sentir um tremendo alivio que
tudo isso terminou... Bom, agora falta nos livrar
dessa bagunça toda.

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Capítulo 10

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Liziara Araújo
Estou ainda muito assustada com tudo o que
aconteceu. Os Escobar conseguiram abafar o
caso e tirar um pouco do foco da mídia. David
recebeu uma advertência… uma bronca para
melhor dizer. E tudo isso eu sei através da
Daiane, que veio me visitar junto a Paula. Depois
de tudo eu vim para casa, e a Bia tem me
ajudado. A fraqueza já passou, me alimentei
bem, porém será um pouco complicado tirar
aquele momento da minha mente. Dormir noite
passada foi difícil, e fiquei revivendo o momento.
David não veio me ver, deve estar ocupado
resolvendo a bagunça. O que mais me irrita é
saber que a culpada de destruir minha vida com
o David teve a cara de pau de ir até aquele fim
do mundo me ajudar. Quando ataquei o Jorge foi
porque a raiva me subiu à cabeça. Fui louca,
irresponsável e orgulhosa, porque não queria ter
ajuda dela, e por isso o ataquei; mas se eu disser
que me arrependo, estarei mentindo. Meu único
arrependimento é ter me apaixonado por um

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Escobar, mesmo com todos os conselhos da


Beatriz dizendo que seria uma roubada.
Enfim, quem é que manda no coração?
Daniel e Joaquim vieram me ver também, e
disseram que a boate sem mim não é a mesma e
torcem por minha recuperação. Joaquim foi um
pouco pegajoso, mais que o normal. Sinto um
pouco de pena e culpa, pois talvez eu tenha dado
algum tipo de esperança que um dia estaria com
ele; e se dei isso não foi de proposito, pois todos
sabem que ajo e depois vou pensar.
Mas tem uma coisa boa diante de toda essa
confusão. Eu acho que finalmente sei o que eu
quero fazer, o que eu quero ser. Percebi que de
alguma forma eu sempre estive colada ao perigo,
como se fosse uma conexão. Primeiro foi com
uma ex-aluna da universidade, a Luana, a louca
era uma psicopata e já tentou me matar. Depois
ajudei os Escobar a ter certeza de quem era o
verdadeiro assassino do ex-noivo da Ana Louise,
esposa do Henrique, e então fui sequestrada e
fiquei colada com a morte. Acho que isso foram
mais do que sinais, do que eu realmente tenho
que ser.
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Ontem meus pais queriam vir me ver, mas eu


estava tão exausta que queria apenas banho,
comida, cama e esquecer tudo aquilo. E hoje
estou à espera deles. Beatriz foi trabalhar depois
de eu obriga-la a ir. Estou sozinha em casa.
A campainha toca e me levanto com cuidado
do sofá para atender. Estou com a perna um
pouco dolorida. Insistiram para eu ir ao médico,
porém me recuso, afinal, não fizeram nada
comigo. Estou com dor na perna pelo Jorge ter
chutado ela uma vez e eu ter caído no chão. Já
fico roxa à toa, imagine com um chute e um
tombo.
Abro a porta e meus pais sorriem. Eles
entram e fecho a porta. Sentam no sofá e eu faço
o mesmo.
— Filha... — minha mãe começa a dizer. —
Eu nunca pensei que um dia sentiria tanto
remorso em minha vida. Se arrependimento
matasse, eu estaria morta. Nada vai justificar
tudo o que nós fizemos com vocês. Fomos cruéis,
péssimos pais. E olha para você... Machucada,
quase foi morta... — Ela chora, e confesso que
estou estranhando essa reação.
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— Se pudéssemos voltar no tempo e corrigir


nossos erros, faríamos. Se pudéssemos começar
de novo, começaríamos. Não iremos pedir seu
perdão, porque não somos dignos dele, mas
queremos que saiba que mesmo quando
agíamos como monstros com você, no fundo
sempre te amávamos. O dinheiro, a fama, o
poder nos cegou e perdemos a maior riqueza
que poderíamos ter tido… você. — meu pai diz,
emocionado.
Meus olhos embaçam devido as lagrimas, e
pisco forte para voltarem ao normal.
— Mãe, pai...
— Não. Não diga nada. Sabemos que nem
deveríamos estar aqui. Porque se isso aconteceu,
foi por nossa culpa, que não te demos amor…
por isso você cresceu desse modo, impulsiva,
carente. Nós fomos os culpados. Mas Deus sabe o
quanto estamos completamente arrependidos.
Como eu queria voltar no tempo e não ter te
colocado em um colégio interno! Queria ter ido
as suas apresentações escolares, ter dito todos
os dias que te amava, ter dado amor e carinho,
ter falado o quanto está linda. Minha menininha
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cresceu, e temos sim muito orgulho de você,


porque sem nosso apoio se virou sozinha e
batalhou pelas coisas que queria. — Minha mãe
chora como nunca vi, e meu pai tem uma
expressão cansada, ele está abalado.
Levanto do sofá e com cuidado me ajoelho na
frente deles. Seguro uma mão de cada.
— Vocês não precisam de perdão. Pai e mãe
só temos uma vez na vida. Se passaram vinte e
dois anos, mas ainda temos muitos para corrigir
todos os nossos erros. Se tem uma coisa que
aprendi nesses dias sequestrada é que a vida é
curta demais. Não podemos perder tempo com
brigas, temos que curtir a todo instante, porque
não sabemos o dia de amanhã. Saiba que mesmo
com tudo, eu sempre amei vocês, e sempre
continuarei amando. — Abraço os dois ao
mesmo tempo e choramos.
— Te amamos, minha filha… muito, muito,
muito! — meu pai fala.
— Nunca esqueça que te amamos. E jamais
poderemos pagar o tanto de sofrimento que lhe
causamos.
— Esqueça isso, mãe. O passado já foi. O
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presente está aqui e nos dá a chance de


consertar nos erros.
Me afasto e me sento no sofá. Limpamos as
lagrimas.
— Infelizmente temos que ir a uma reunião
importante... — meu pai fala.
— Tudo bem. Em breve a Beatriz chega e não
ficarei sozinha.
— Por favor, não faça mais loucuras! —
Minha mãe diz e sorrio.
— Relaxem, estou pronta para outra.
— Nem brinque com isso! — meu pai diz
seriamente.
Eles se levantam e me dão um beijo.
— Não precisa nos acompanhar até a porta,
descanse...
— Gente, estou dolorida, andando que nem
um pinguim, mas ainda me movimento.
Levanto e levo-os até a porta. Me despeço e
tranco a porta.
Infelizmente muitas pessoas só enxergam os
erros diante dos acontecimentos graves da vida.
Mas o importante é enxergar os erros, mesmo
que as vezes seja tarde demais.
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Estou prestes a me sentar no sofá e a


campainha toca novamente.
— Gente, é sério… não irei inventar de me
jogar da sacada!
Vou até a porta e abro. Eu me assusto.
— David?
Ele sorri daquele jeito meigo e ao mesmo
tempo safado, que apenas ele sabe fazer.
— Posso? — pergunta indicando com a mão
dentro do apartamento.
— Claro.
Dou passagem a ele. Fecho a porta.
Droga, eu tinha que estar com shorts de
pijama e com uma blusa que faz conjunto, e para
piorar tudo repleto de minis cupcakes?
— Está muito dolorida ainda?
— Que nada... Apenas estou a cópia de um
pinguim andando, mas estou de boa!
Ele sorri.
— Mentira, estou com as pernas doloridas.
Porra, aquele cara sabia chutar bem uma perna.
— ele ri — E você ainda ri? Eu sofro viu!
— Queria conversar com você...
— Estou sozinha. Obriguei a Beatriz ir
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trabalhar, e foi a tarefa mais difícil da minha


vida; e olha que tentei ser psicóloga.
Eu me sento no sofá, e ele se posiciona ao
lado de onde estou.
— Me perdoa? — pergunta em um quase
sussurro.
— Pelo o que? — Sei pelo o que ele pede
perdão, mas quero ouvir.
— Por ter sido um completo imbecil e ter te
levado para as mãos dele.
— Você não foi culpado. Eu que agi como
uma louca, como sempre. Mas acredito que não
seja esse o perdão que quer. — digo em um tom
sério.
— Sim, eu fui o culpado. Fiquei tão focado
em pegar o Jorge e treinar logo a Poliana que
deixei você de lado, e resultou em tudo isso. Se
hoje me perguntasse qual foi o maior erro que
eu já cometi como Delegado, eu diria ter sido
descuidado com você. Mas se perguntasse qual
foi o meu maior erro como David Escobar, eu
diria ter sido orgulhoso ao ponto de negar para
mim mesmo que eu desde que coloquei os olhos
em você, eu te amei.
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Acho que fui ao céu e voltei. Devo ter


entendido errado, só pode!
— Você o que? — pergunto com medo de ter
entendido errado.
— Eu te amo, minha maluquinha. E fui um
merda quando vim alterado até aqui e te disse
que era uma menina. Você é uma mulher
maravilhosa, é a minha mulher maravilhosa.
Liziara, eu pouco me importei se perderia meu
cargo, se seria preso… eu apenas queria te trazer
de volta para mim. Você sempre vai ser mais
importante do que meu sobrenome, minha
carreira, meu dinheiro, minha fama. Por você eu
jogaria tudo isso fora, para ter certeza que você
sempre estaria segura e em meus braços e que
nos amaríamos para o resto da vida. Pode ser
tarde para tudo o que te digo, mas eu te amo; e a
cada vez que penso que eu poderia ter te pedido,
uma parte de mim morre. Eu só te peço uma
chance... me dê uma chance de te fazer feliz ao
meu lado, eu imploro.
Choro, emocionada. Droga, hoje tiraram o
dia para me fazer chorar. Sorte que não passei
rímel, porque está caro.
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— E quem me garante que nada vai voltar a


ser como antes? Que na primeira oportunidade
você vai me largar. Não sou mais a mesma David.
Cansei de baixar a cabeça para suas merdas. Não
vou competir com a Poliana, ou quem quer que
seja. Não sou de ninguém pela metade, e não
aceito que ninguém seja meu pela metade. —
Tento me controlar. Não irei gritar, não mais.
Chega de me humilhar.
— Eu mandei ela de volta para onde tinha
vindo. Poliana não existe mais. Ela tentou ficar,
insistiu, mas mesmo ela sendo vulgar ou como
quiser dizer que ela era, também tinha um
coração; e quanto mais ela ficasse, mais
confusão seria, e mais iludida ela ficaria. Não sou
idiota, sei que ela estava interessada em mim
antes do show dela naquele inferno e da surra
que você deu nela, mas não tenho nada com ela e
nunca tive. Também não pretendo ter. Ela foi
embora com ódio, mas paciência.
— Sem mentiras?
— Sem mentiras, sem Poliana, sem mulher
alguma entre nós, sem bandido algum tentando
te sequestrar, sem nada além de nós dois.
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— Será do meu jeito, David. Se você vacilar,


esqueça que eu existo. Eu passei o inferno e você
sabe disso. Precisou eu ser sequestrada para
você vir até aqui me dizer tudo isso. Então não
torne suas palavras apenas meras palavras.
Torne elas em atitudes.
— Te peço apenas essa chance de mostrar
que meu coração só tem lugar para uma mulher,
e é você. Eu te amo, sempre amei, mas me neguei
a dizer. Uma chance... Se eu vacilar, não será
preciso pedir duas vezes para eu sumir da sua
vida. Mas saiba que não irei vacilar com você,
não mais. Aprendi da pior forma, e não quero
mais aprender assim. — Suas palavras refletem
a verdade em seus olhos. — Parece que estou
destinado a aprender sempre da pior forma. Foi
preciso meu pai morrer para eu me apegar mais
a família, e preciso você quase morrer para eu
deixar meu coração falar, e não mais meu medo.
Não quero aprender mais assim… não com você,
pelo menos.
— Então vem até aqui me dar um beijo,
porque estou com a perna doendo para levantar.
Ela ri.
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— Folgada.
— Sempre.
Ele se aproxima e me pega no colo.
— David! — grito rindo.
Ele caminha comigo em seus braços até o
quarto, onde me coloca com cuidado na cama e
fecha a porta.
Ele sobe em cima de mim com cuidado.
— Eu te amo, meu delegado.
— Só seu, minha maluquinha. Eu também te
amo, meu amor.
Sua boca ataca a minha com uma gostosa
necessidade. Como eu senti falta do beijo dele!
Sinto um frio na barriga. Ele esfrega sua ereção
em mim, e isso me deixa excitada. Solto um
gemido involuntário. Agarro seu cabelo e puxo
com força, e o safado gosta.
— Eu deveria te prender por puxar meu
cabelo desse jeito. — ele diz com a voz rouca de
desejo.
— E o que diria em sua defesa? Afinal, quem
me colocou na cama e me atacou foi você. E tem
mais, não pense que isso é sexo de reconciliação,
porque não sou dessas… ainda estou puta de
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raiva com você.


— Diria que você me enfeitiçou... E não
penso nisso porque te conheço. Penso que é sexo
de “estou morto de tesão e preciso de você”.
Ele beija meu pescoço e fecho os olhos de
prazer.
— Isso... seria uma péssima... mentira... Ah...
— Falaria que apenas apertei seus seios e os
chupei... — Ele o faz. Eu me contorço e agarro a
colcha. — Depois diria que desci minha mão
para dentro da sua calcinha e te estimulei... —
Sua mão desce para dentro da minha calcinha e
ele faz o que disse.
— David... — Ele puxa meu short com a mão
livre e o arranca. Logo depois faz o mesmo com a
calcinha.
— Depois eu diria que não resisti e coloquei
minha cabeça entre suas pernas e a chupei.
— Porra! — digo quando sinto sua boca me
chupando.
Ele chupa com força, e sei que não irei
resistir por muito tempo.
— Falaria também que você gozou na minha
mão, quando penetrei dois dedos dentro de
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você... — Ele faz e não resisto. Suas palavras


instigaram a isso, e eu gozo em sua mão.
— Você quer acabar comigo...
Ele começa a tirar a roupa rapidamente, e
em segundos está completamente nu. Retiro a
blusa.
— Você é linda. — ele diz me admirando.
Ele se encaixa entre minhas pernas.
— Tentarei ser cuidadoso afinal você está
dolorida… e também terei que dizer na minha
defesa que fui cuidadoso... — ele provoca.
— Se for cuidadoso, eu te enforco. — ele
sorri. — Mete logo, porra!
— Boquinha suja. — diz rindo.
Ele encaixa seu membro na minha entrada
gozada. David se inclina em cima de mim e vai se
encaixando.
— Caralho... você é sempre tão apertada e
tão quente... Assim fode a minha ideia de tentar
ser romântico.
— Não pedi por isso... — Arranho suas
costas.
— Se ficar marcado vai pagar caro, meu
amor. — sorri com malicia.
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— Adoro pagar car... — Não consigo


terminar, pois ele me penetra com força. —
David!
Sua boca vem até a minha, e ele me penetra
com rapidez. O som dos nossos corpos se
batendo é nítido. Ele afasta a boca da minha.
— Você a única mulher que irei foder e fazer
amor… a única. Você é minha! — ele sussurra
roucamente no meu ouvido, e eu grito de prazer.
O suor escorre por nós. O cheiro do David
me deixa ainda mais louca. Suas estocadas são
firmes e rápidas. Meus seios chacoalham no
ritmo que sou penetrada. Estou sentindo o
orgasmo vir e começo a intensificar meus
gemidos. Ele sabe, pois me penetra ainda mais
forte.
— E por último... direi que você gozou no
meu pau e teve um orgasmo debaixo do meu
corpo… e que eu gozei dentro de você como um
louco...
— Ah... David! — grito seu nome quando o
orgasmo me atinge. Gozo como uma louca. Meu
corpo tem espasmos. Ele continua investindo,
mas em segundos sinto seu gozo dentro de mim,
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e ele goza me chamando.


Sua boca vem até a minha e me dá um beijo
casto.

Estou na cozinha de apenas calcinha e sutiã.


Tomei banho, e como está calor, não ligo de ficar
assim em casa; e foda-se se tiver vizinhos
olhando, não mando ninguém olhar o
apartamento alheio. Mas o David saiu fechando
todas as cortinas que tinha, puto de raiva
comigo.
Estou comendo nutella com a colher. David
entra na cozinha e encosta no batente da porta.
— Que foi? — pergunto.
— Seu corpo... — Tiro a colher da boca.
— O que tem? Estou mais roxa do que eu vi?
Droga! — Abaixo a cabeça olhando para meu
corpo.
— Não... é que... Deixa pra lá. Estou atrasado,
tenho um caso para resolver.
— Nem pense nisso. Diga logo o que tem

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meu corpo!
— Amor, eu tenho que me trocar. Não tem
nada demais, foi apenas uma coisa que reparei,
nada demais.
— Como assim nada demais? Se reparou é
porque está grave. David, você como delegado é
um bom observador, não iria dizer isso à toa.
Diga logo! — Largo o pote de nutella e a colher
na pia.
— Deixa eu me trocar primeiro.
— Você está fugindo do assunto... Fala logo!
— Está bem. — Ele respira fundo. Até parece
que vai dizer a rainha da Inglaterra que o cabelo
dela está péssimo. — Desde que estávamos no
quarto eu notei, e agora percebi ainda mais. Seus
seios estão maiores, seu quadril um pouco largo,
e você sempre teve a barriga lisa, mas ela está
parecendo um pouco inchada...
— David Escobar, você está me chamando de
gorda?!
— Não... Eu apenas quis dizer que seu corpo
está mudado.
— As características foram basicamente me
chamando de gorda!
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Saio da cozinha e paro na sala a tempo a


porta ser aberta. É a Bia.
— Resolveu desfilar de lingerie hoje? — ela
brinca.
— O idiota do David me chamou de gorda!
Porra, olha para mim, eu estou gorda? — ela
sorri.
— Eu não chamei você de gorda, Liziara!
— Merda, espero que não tenham feito nada
em cima da pia! — Beatriz diz tampando o rosto.
— Não fizemos. E se fosse acontecer, não
daria… afinal sou gorda! — grito com uma puta
raiva.
— Liziara, você está meio... Bom, está
diferente. Chorona, surtada, para não dizer
bipolar... — Bia diz ainda com os olhos
tampados.
— Até você, Bia?
— Beatriz, descobre esse olho. Não estou
nu... E vai me dizer que nunca viu um homem de
cueca? — ele provoca ela.
— Vocês ainda vão me enlouquecer. Eu
preciso de férias de vocês.
Ela vai para o corredor e entra no quarto
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dela.
David para na minha frente e segura minha
cintura.
— Amor, eu não te chamei de gorda. Não
precisa surtar. Apenas fiz um comentário
inocente. Porém quero te fazer uma pergunta
séria.
— Faça.
— Você está tomando regularmente o
anticoncepcional?
Engulo a seco. Acho que fiquei pálida porque
ele me olha estranho. Eu me afasto e me sento
no braço do sofá.
— Anticoncepcional?
— Sim.
— Aquele que evita gravidez?
— Liziara...
— Claro... Estou tomando certinho. Afinal
você confiou em mim, pois sou a única que você
foi para a cama sem camisinha. Eu jamais, em
hipótese alguma eu ferraria com tudo...
— Não confiei no que disse, mas irei deixar
passar porque tenho que ir. — Ele me dá um
beijo — Tenho que me trocar.
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Ele sai da sala e me levanto, sentando direito


no sofá. Estou tão preocupada, que só lembro da
dor nas pernas quando sento com tudo.
— Quando foi mesmo que eu tomei? —
Esfrego a testa — Merda, não lembro! Estou
fodida!

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Capítulo 11

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Liziara Araújo
Faz alguns dias desde o sequestro e estou
mais calma. David não desgruda de mim, e amo
isso, sua preocupação, amor e carinho sem
limites. Ainda estou afastada da boate… Daniel
preferiu assim até eu me recuperar totalmente.
As pernas já não doem mais, porém o que as
vezes acontece são alguns enjoos, mas é muito
raro… e, sim, eu estou com medo sobre o que
pode estar causando os enjoos; o que me deixa
longe dos hospitais e farmácias, porque a única
coisa que se passa na minha cabeça é gravidez, e
estou apavorada que seja isso, afinal minha
menstruação está atrasada, e pelas minhas
contagens a dois meses. Louca por ainda não ter
feito um teste? Sim, eu sou. Mas, eu irei fazer,
estou criando a coragem que me falta. Se o David
sonhar que eu comecei a me atrapalhar com os
horários do anticoncepcional e esquecia de
tomar devido ao trabalho na boate, que me
gerava muita canseira e me tirava muito tempo,
e o tempo livre eu queria saber de dormir, estar

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com ele e sair, e esquecia até meu nome do jeito


que sou, com toda certeza ele vai surtar comigo.
— Liziara, foca! — Beatriz e Daiane falam.
Ambas estão de folga e resolvemos nos juntar no
apartamento.
Quero fazer uma surpresa para o David, algo
bem sensual e romântico ao mesmo tempo, e
elas estão me ajudando nas ideias.
— Eu conheço bem meu irmão. David é do
tipo que faz de tudo, se é que me entendem, mas
não é o tipo de cara que faz isso em lugares
públicos. Henrique e ele são mais travados nesse
quesito, a não ser que estejam à beira de
gozarem nas calças. — Olhamos chocadas para
elas — Meninas sou sincera. Uma vez o
Henrique ficou tão excitado com uma menina na
boate que transou com ela no banheiro
feminino, e eu e mais outras tivemos o azar de
ver isso, tenho trauma até hoje. David transou
com uma funcionária na piscina do clube que a
família reservou apenas para nós, e minha mãe
pegou ele, coitada. — Ela toma folego e continua
— Então pense bem na loucura que vai fazer. Ele
nunca faz, e quando faz tem tendência a ser
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pego.
— Na piscina? Que cachorro! Irei focar na
parte que agora ele está comigo. — digo e elas
riem. — Mas eu pensei em um determinado
lugar... Droga. Por que ele não puxou ao tio dele?
Esse sim tem cara que não liga para fazer certas
coisas em lugares inapropriados. — Daiane ri.
— Sorte sua que não puxou ao meu tio.
Aquele ali é o pior de todos da história da
safadeza. Ele é dono do cabaré todo. São tantas
cenas que vi sem querer e que fui obrigada a
ouvir da boca dele, que sinceramente, tenho até
nojo. Não é algo que uma sobrinha quer ver ou
saber do tio. Uma vez peguei ele na sala dele
com a Débora...
— Com quem? — Beatriz quase grita.
— Vocês não sabiam? — franzimos o cenho
— Ele e ela tiveram um relacionamento a anos
atrás... Bom, eles diziam que era apenas um caso
e nada mais, porém não era o que parecia...
Enfim, o assunto é o David. Você quer algo
romântico e sensual. Por que não vão para a
fazenda da família? Lá é lindo para isso. Ou a
casa de praia.
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Ainda estou chocada em saber que o Marcos


e a Débora... Preciso focar no David, mas a
fofoca é tão boa. Merda, a cara da Bia não está
boa.
— Quero algo por aqui. Ele não vai querer
viajar agora.
— O que quer afinal? Poderia fazer algo
único e que fosse ficar marcado para o resto da
vida dele. — Beatriz fala.
— É isso, Bia! Tive uma ideia. Meninas vocês
são ótimas, mas eu tenho que sair, preciso fazer
umas comprinhas.
— Liziara, pelo amor de Deus, o que vai
aprontar? — Beatriz pergunta preocupada.
— Prometo contar tudo depois.
— Me poupe de certos detalhes... Ele é meu
irmão, é nojento.
— É tudo, menos nojento. — digo, indo para
o quarto me trocar e pegar minha bolsa.
Hoje será um dia marcante.

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David Escobar
É tarde, estou praticamente só na delegacia.
Não fui ainda ver a Liziara, mas depois daqui
irei. Estou cansado. Quero férias, eu preciso de
férias.
Meu celular toca. É a Liziara.
— Oi, meu amor. — digo a ela.
— Está na delegacia? Me diz que sim!
— Estou. Por que?
— Está sozinho?
— Estou... Mais ou menos, tem policiais, e
mais ninguém.
— Ótimo. Eu já imaginava. Estou entrando.
— ela desliga.
O que está acontecendo?
Minutos depois a porta se abre. As persianas
estão fechadas. Ela entra. Está com um
sobretudo preto, saltos altos, bolsa. E isso até
seria sexy se não fosse preocupante.
— Amor, está um calor terrível lá fora. Por
que está...
Não tenho tempo de dizer. Ela retira o

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sobretudo e revela o que escondia. Ela veste um


sutiã preto, acompanhado de uma calcinha preta
com uma mini saia rendada da mesma cor. Ela
retira da bolsa um enfeite de orelhas de gato e
coloca na cabeça.
Tento me conter, mas não aguento e começo
a rir.
— O que foi? — ela pergunta inocentemente.
— Liziara, eu não acredito. Roupa de mulher
gato? — gargalho.
— David, eu não acredito! Estou toda sexy
aqui. Rodei tudo quanto é sexy shop para achar
essa roupa e você ri?
— Amor, é que está engraçado, apenas isso.
— Eu me acalmo da gargalhada — Você é louca?
Estamos na delegacia.
— Devo ser por achar que te encantaria. Que
humilhação. Quanta calúnia!
Ela pega o sobretudo e a bolsa e caminha até
a porta.
— Onde pensa que vai assim?
— Embora. Na rua alguém pode achar
atraente.
Levanto rapidamente da mesa e a seguro,
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puxando para mim.


— Uma porra! Você sair assim, eu juro que te
mato!
— Me solta! Já te diverti muito.
— Não foi porque eu ri que não estou
excitado. Você é gotosa e muito linda, sabe disso.
Acha mesmo que não me atrairia vestida assim?
Porém você veio ao local errado, pois se eu
perder meu cargo, a culpa será apenas sua.
Puxo as coisas da sua mão e jogo para baixo
da mesa.
Coloco ela no espaço livre em cima da mesa.
Eu me coloco entre suas pernas e tomo seus
lábios para mim. Esfrego minha ereção e ela
geme.
— Mulher gato... É, combina com você. Bem
arisca como uma quando está com ciúme.
Beijo seu pescoço e ela enrola as pernas ao
meu redor. Desço até seu sutiã, abro o fecho na
frente, e chupo seu seio enquanto massageio o
outro.
— Merda... Se... Eu gritar aqui... Os outros
policiais... — Ela desiste de falar.
— O que ia dizer, amor? — pergunto
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provocando.
Pego ela no colo e caminho até minha
cadeira. Coloco ela no chão. Eu me sento na
cadeira e puxo-a para se sentar em meu colo de
costas para mim. Assim que ela senta, afasto
suas pernas, e sem cerimonias, invado sua
entrada com um dedo enquanto aperto um de
seus seios. Ela grita, e pouco me fodo para quem
vai ouvir. Faço um vai e vem com o dedo, e ela se
abre mais para mim. Desço a outra mão e
massageio seu clitóris. Ela tenta fechar as
pernas, mas a impeço. Meu pau está cada vez
mais duro e irei gozar nas calças se ela rebolar
mais um pouco em meu colo como faz.
— David, eu vou...
Escuto barulho na fechadura da porta. Tiro
rapidamente meu dedo de dentro dela. Ela se
levanta, assustada, e se coloca embaixo da minha
mesa. Eu me ajeito e tento esconder a porra da
ereção que estou, mas não resolve muito… justo
hoje vim com uma calça bem justa.
Cleber entra na sala e finjo estar olhando uns
papeis. Coloco os pés em cima da mesa, para
tentar esconder mais a ereção.
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— Esqueci meu celular. Não imaginei que


ainda estivesse aqui. — ele diz e sorri.
— Muito trabalho.
— Entendo... Olha, achei... — Ele pega na
mesa do escrivão. — Vai para casa e toma um
banho bem gelado...
Ergo o olhar dos papeis.
— Por que diz isso? — tento ser sério.
— Não adiantou a forma de esconder que
está com uma porra de uma ereção. A sala cheira
a sexo. E Liziara, boa noite, adorei seu sapato…
comprarei um igual a Débora.
— Merda! — Ela bate a cabeça na mesa. —
Boa noite, Cleber.
— Vocês dois são loucos. — ele diz rindo e
sai da sala.
Ela sai de baixo da mesa e começamos a rir.
— Poderia ter sido pior. — ela diz.
— Sim. Poderia ter sido meu superior.
Vamos terminar isso em casa.
— Pensei no carro...
— Chega de complicações por hoje.

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Liziara Araújo
É sexta-feira. David e eu, junto aos Escobar e
a Beatriz, estamos na fazenda da família que
ninguém vem a tempos. É tudo lindo como já
poderia se imaginar. Dona Paula não quis vir, diz
ainda não estar preparada para vir para cá sem
o falecido esposo, Joseph, pois quando recebeu a
notícia da morte dele, ela estava aqui. E desde
todos esses anos, nunca mais quis vir para cá.
É noite e faz um pouco de frio. Estamos ao
redor de uma fogueira, contando histórias,
rindo, comendo marshmallow e nos divertindo
bastante. Estou no meio das pernas do David.
Henrique tem a cabeça deitada no colo da Ana.
Daiane e Bia estão juntas em um cobertor, e
Marcos está deitado com a cabeça nas minhas
pernas. Yasmim, a filha do Henrique e da Ana
está dormindo lá dentro, mas a babá eletrônica
está aqui para qualquer alerta.
— Então, qual era a novidade que queria nos
contar, Liziara? — Ana pergunta animada.
— Contarei se prometerem não rir.

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— Ninguém vai rir, amor.


— Eu não prometo nada, porra louca. —
Marcos diz e dou um tapa na testa dele — Ai, sua
porra! Anda pior do que uma gata arisca! — ele
diz esfregando onde bati.
David, eu, Daiane e Beatriz começamos a rir,
pois elas sabem do que aconteceu na delegacia,
com a fantasia de mulher gato.
— O que foi? — Henrique pergunta.
— Nada. Piada interna. — David e eu
dissemos juntos.
— Diga logo, estou curiosa! — Daiane fala.
— Certo. Eu decidi que não darei
continuidade no curso de psicologia, mas
iniciarei outro curso.
— E qual curso? — David pergunta.
— Direito. Quero ser delegada.
Todos começam a gargalhar.
— Gente, não era para rir, poxa. Falo sério.
— Liziara, você delegada? Me recuso a viver
em um país que uma das delegadas seja você. —
Marcos provoca.
— Problema seu. Posso ser uma boa
delegada para sua informação.
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— Tem certeza? — Henrique pergunta


zombeteiro. Ana dá um tapa nele — Que foi,
minha advogata ruiva?
— Acho que ela seria uma boa delegada.
Seria atrapalhada, mas seria boa. — Daiane diz
sorrindo.
— Ufa, pelo menos uma. — digo.
— Sou sua amiga e serei sincera. Você não
tem jeito para isso… é toda atrapalhada, é capaz
de se prender no lugar do bandido. — Beatriz
diz rindo.
— Vou me arrepender disso, mas tenho que
concordar com a Senhorita Invocada. — Marcos
fala.
— Não me provoca, seu Juiz de quinta! — ela
diz.
— Não comecem! — Falo.
— Amor, o que quiser fazer, eu irei te apoiar.
Seria ótimo ter uma delegada gostosa e linda
como você ao meu lado ao invés daqueles
homens todos. — ele diz e me dá um beijo.
— Acho que vou vomitar! — Daiane fala.
— Estamos torcendo por você. — Ana fala e
sorrio para ela.
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Beatriz coloca um marshmallow na fogueira


e o cheiro adocicado me embrulha o estomago.
Sinto um enjoo forte. Levanto rapidamente e o
Marcos bate a cabeça no chão e me xinga. Saio
correndo sobre os gritos de todos atrás de mim.
Entro na casa e corro para o primeiro banheiro.
Fecho a porta e me jogo ao lado do vaso
sanitário; levanto a tampa e começo a vomitar
tudo o que comi.
A porta se abre e escuto passos e logo ela
fecha.
— Hey, o que aconteceu, Lizi? — Bia
pergunta.
Limpo a boca com o papel higiênico e dou
descarga. Abaixo a tampa da privada e sento em
cima. Estou fraca e tremendo.
— O cheiro do marshmallow me enjoou. Sei
lá...
— Liziara, vire mexe você anda tendo enjoos
e teima em ir ao médico. Não contei ao David do
dia que estávamos em seu apartamento e quase
colocou os órgãos para fora, mas terei que
contar. Olha como está. — Daiane diz
preocupada.
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— Linda, quanto tempo anda assim? — Ana


pergunta.
— Há um tempo já.
— Sua menstruação está atrasada, não é? —
ela pergunta novamente.
— Sim.
— Você realmente deu uma engordada… não
tão drástica, mas é notável, já que é bem magra.
— Bia fala.
— Liziara, eu fui mãe, e conheço bem os
sintomas. Você está grávida. — Ana diz animada.
— Precisa fazer um teste, mas tenho certeza!
— Não posso... — Sou interrompida por
batidas na porta.
— Liziara, abre a porta! — David diz.
— Não... Se ele sonhar, não sei o que é capaz
de acontecer... — digo baixo.
— Ele tem que saber. — Daiane diz.
— Eu não posso perder o David!
— Liziara, abre logo, ou coloco essa porta
abaixo! — ele grita.
A Ana abre.
— Vem, precisamos conversar. — ele fala em
um tom sério.
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— David... — Henrique tenta dizer, mas


David faz sinal para ele parar.
— Quero conversar com a minha namorada
e tenho esse direito. Vamos, Liziara.
Levanto da privada e saio do banheiro.
Subimos para o quarto que estamos. Ele
fecha a porta. Eu me sento na cama, pois ainda
estou um pouco fraca.
— Quando ia me contar que sua
menstruação está atrasada e que anda tendo
enjoos? Eu escutei quando disse a elas!
— David, eu não contei porque estava e
ainda estou com medo.
— Eu te dei a chance de dizer quando
comentei que notei mudança em seu corpo. Por
que não aproveitou aquele dia e disse?
— Porque eu tive medo!
— Amanhã cedo irei comprar o teste de
gravidez porque esta tarde. Mas pelo visto já
temos certeza, não é mesmo?
— David, eu sei que falhei. Droga, fui
irresponsável com o remédio, quando confiou
em mim. Eu mereço que me xingue, surte, mas
só não me deixe, por favor. Eu não tenho
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vergonha de me humilhar pedindo isso a você.


Eu já sofri demais por você, e não vou sofrer
novamente. Se me deixar, é para sempre, pois
não retornarei mais. — digo com a voz
embargada pelo choro.
— Eu não irei te deixar. Que tipo de homem
pensa que eu sou? Eu sempre soube que era
atrapalhada, desligada, e sim, eu confiei que
você tomaria corretamente o medicamento, mas
não sou idiota ao ponto de acreditar que isso
não iria falhar, e sabia que logo iria acontecer
isso em relação eu não querer camisinha. Não
estou te culpando, Liziara, e tenho certeza
absoluta de que espera um filho meu e vou
assumir a criança. Eu não irei te deixar por isso,
jamais pense nisso. Eu te amo e isso jamais
mudará. Eu tinha medo, e construir uma família
diante do medo é difícil. Quando perdi meu pai,
prometi que não sofreria a dor da perda
novamente, preferia morrer ao sofrer aquilo.
Mas você chegou em minha vida e tudo mudou.
Não irei te deixar, acredite em mim. — Ele se
aproxima e me dá um beijo na testa.
— Por que senti que esse beijo foi uma
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despedida? — pergunto preocupada.


— Vou sair, mas eu volto, não se preocupe.
Sempre irei voltar para você, meu amor.
— David, onde vai? É tarde.
— Tome um banho e descanse, quando
acordar eu estarei ao seu lado.
Ele então sai do quarto.
Fico deitada olhando para o nada por um
bom tempo.
Depois de talvez horas, tomo um banho,
escovo os dentes para tirar o gosto ruim que
ficou na boca e desço.
Apenas Ana está na sala, amamentando a
Yasmim.
Eu me sento no sofá de frente para o que ela
está.
— Ele não voltou, não é? — ela pergunta.
— Sim. Não disse para onde iria.
— Vimos ele sair. Não saiu de carro. Marcos
disse que ele deve estar no chalé da família, que
fica depois do lago. Disse que é o lugar predileto
dele aqui.
— Ana, estou com medo. Eu não sei se vou
ser uma mãe boa... — digo em um quase
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sussurro.
— Eu sei. Também fiquei quando engravidei.
É difícil ser mãe quando não teve um bom
exemplo. Minha mãe, todos sabem que nunca me
suportou, mas tem coisas que nunca contei a
ninguém, mas sinto que devo te contar. Quando
pequena ela nunca me fez uma festa sequer de
aniversario, e nem me dava parabéns. Certa vez
escutei ela dizer ao meu pai que eu fui o pior
erro dela, e ele concordou. Eles nunca quiseram
ter filho, mas aconteceu. Nunca foram a
nenhuma apresentação escolar minha, nem ao
menos a minha formatura da faculdade. Sempre
odiaram eu ter escolhido Direito Criminalista...
Yasmim dorme mamando e ela retira a
mamadeira.
— Quando conheci o meu ex-noivo, Rodolfo,
o seu antigo professor. — ela sorri — Eu
trabalhava, estudava e mantinha a vida dos
meus pais, que só queriam meu dinheiro. Mas
então quando fui morar com ele, decidimos que
eu deixaria o emprego e focaria na faculdade e
ele me ajudaria; e foi neste momento que tudo
piorou. Eu não tinha mais dinheiro para oferecer
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a eles, e eles simplesmente passaram a me


suportar ainda menos. No dia do meu casamento
com o Henrique ela apareceu, mas eu vi em seus
olhos que ela não tinha mudado, e que foi ali
apenas ver se era verdade que eu estava me
casando com o advogado criminalista mais
famoso. E como já viu, ela só me liga para pedir
dinheiro… diz que tenho obrigação de dar
dinheiro a ela e meu pai, e ele ainda confirma.
— Eu sinto muito, Ana... Não imaginava que
eles poderiam ser assim.
— Diante de tudo isso, que exemplo eu
poderia ser a minha filha? O que ensinaria a ela?
Como no futuro diria que quase fui presa por um
crime que não havia cometido? E foram essas
perguntas e muitas outras que me fizeram ter
medo. Mas eu descobri que eu poderia ser uma
boa mãe e dar a ela o que nunca recebi dos meus
pais, amor, carinho e proteção. E claro, com o
Henrique ao meu lado, tudo ficou mais fácil. —
Seus olhos brilham ao falar dele. O amor dos
dois é lindo.
— Acha que eu posso ser uma boa mãe?
Mesmo que o David desista de mim e cumpra
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apenas com o papel de pai?


— Você vai ser uma boa mãe. E ele jamais vai
desistir de você. Ele te ama e vai amar essa
criança como todos nós.
— Obrigada, por confiar em mim para contar
tudo isso. — ela assente e sorri.
Henrique aparece na sala.
— Aconteceu algo? — ele pergunta
preocupado. Estava dormindo pelo visto.
— Não. Estávamos conversando apenas. —
Ana diz.
— David retornou? — ele pergunta e nego.
— Vá deitar Liziara, é tarde. Amor, você
também. Vou acender a lareira do quarto da
Yasmim, pois está frio.
— Vai em algum lugar? — ela pergunta.
— Vou atrás do meu irmão. Está muito tarde
e estou preocupado, e não consigo dormir em
paz. Meu tio é capaz de descer daqui a pouco,
pois vi a luz do seu quarto acesa e escutei
barulho.
— OK. Tome cuidado. Vamos Lizi, você me
acompanha. — Ana pede.
Subimos. Fui para meu quarto e ela foi ao da
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Yasmim, que é ao lado do dela.


Deitei na cama e me cobri. Estou
preocupada. E se o David não estiver no chalé?!
Acordo sentindo um carinho na minha
bochecha. David me olha e sorri.
— Onde estava? Fiquei preocupada.
— No chalé. Precisava ficar um pouco
sozinho. — ele sorri.
— Está bravo comigo, não é? Pisei feio na
bola.
— Não amor, eu não estou. Apenas um pouco
assustado, porque ter filho é mais
responsabilidade do que ser um delegado e
envolve muita coisa. Mas não estou bravo com
você e não ficaria. Eu te amo e sempre vou te
amar.
Sua mão desliza para minha barriga, onde
ele faz contornos com os dedos.
— Eu também te amo, e estou assustada
também. Mas vamos ser bons pais, eu tenho
certeza... Se bem que eu como mãe é algo
grave... — ele sorri.
— Será uma mãe perfeita… louca, mas
perfeita. — Ele franze o cenho.
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— O que foi?
— Liziara, há quanto tempo a sua
menstruação está atrasada?
— Dois meses... por ai.
— Eu não acredito. Então quando você se
meteu em perigo, lutou com o Jorge e sabe se lá
o que mais aprontou, estava gravida! Eu vou te
enforcar! — ele diz nervoso.
— Em minha defesa, ainda não confirmei
que estou gravida.
— Quer mais provas? Menstruação atrasada,
enjoos, engordando, comendo mais que o
normal e ficando bipolar não são o suficiente?
— Em minha defesa? Não. Apenas amanhã
cedo depois do teste você surta... Nossa, estou
com um sono. — Eu me viro para o outro lado.
— Isso não acabou. Depois desse teste você
vai ao médico, e pode ter certeza que vai
implorar para eu te deixar, porque serei mais
protetor do que nunca, porque você é louca! E
pode esquecer sexo, porque não irei machucar
nosso filho.
— David, isso é demais! Mulher gravida pode
fazer sexo, porém tem que ter mais cuidado.
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— Pode esquecer. Criarei a porra de calos na


mão e viverei como uma porra de um
adolescente virgem, mas sem sexo a partir de
hoje.
— Porra!
A Bia estava certa ao dizer: Os Escobar são
para foder o juízo, e não é no bom sentido.

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Capítulo 12

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Liziara Araújo

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Meses depois...
Estou com quatro meses. Minha barriga já é
notável. E como não seria? Estou gravida de
gêmeos. Isso mesmo. David quase morreu
quando soube, e eu desmaiei, literalmente. Mas
aos poucos nos acostumamos com a ideia. Ainda
não sabemos o sexo, porém Marcos provoca
dizendo que serão duas meninas para arruinar a
vida do David, e ele diz que se isso acontecer é
porque está pagando os pecados.
Hoje vou almoçar com ele. Irei me encontrar
na delegacia, onde acabo de chegar.
Saio do carro sem esperar pela porta ser
aberta pelo Alex, contratado pelo David e
escolhido pelo Luciano e Simon, seguranças
mais velhos da família. Ele está ao meu dispor a
todo momento.
Encontro Cleber na entrada. Ele me
cumprimenta.
— Quem matou? — ele brinca.
— Vim para matar o que está me matando.
— A fome. Adivinhei?

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— Totalmente. — sorrimos.
— David está ocupado agora, mas entre e
espere na sala de reuniões se preferir.
— Certo. — Olho para ele e percebo que não
está de farda. — Folga?
— Não. — Ele sorri. — Não sou mais policial.
— Que?! Como? Por que? — pergunto
preocupada.
— Vim trazer a notícia ao David. Sou o mais
novo investigador da delegacia.
— Ai que maravilha!
Dou um abraço ele.
— Parabéns. Você merece.
— Obrigado! Agora entre, se David te pegar
aqui, me enforca e te enforca.
— Nem me lembre. Boa sorte na nova
carreira. Mande a Débora ir me visitar, ela some.
— Mando sim. — Ele me da um beijo no
rosto. — Até mais.
— Até mais! — Ele se afasta.
Entro na delegacia. Cumprimento algumas
pessoas que já me conhecem.
Eu me aproximo da sala do David ,e ele está
saindo com uma moça chorando
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desesperadamente. Fico preocupada e


angustiada por vê-la assim.
— Vamos encontrar. Não se preocupe! — ele
diz a ela.
Ela se afasta e ele respira fundo.
— O que aconteceu? — pergunto
preocupada.
— O filho desapareceu. Saiu para ir até a
casa de um amigo no mesmo condomínio de
casas e não voltou. Faz três dias. Ninguém tem
notícias e não tem pistas do paradeiro.
— Meu Deus! Quantos anos?
— Sete anos. O amigo mora na casa ao lado.
— Gente! E você acha que tem possibilidades
de encontra-lo?
— Infelizmente não sei dizer. Ele é branco,
olhos claro, loiro, sabemos que são as
características procuradas por pessoas que
comandam tráficos de crianças, trabalho
escravo, entre outros.
— Sinto tanto pela família.
— Odeio quando envolve criança. Fico puto
de raiva.
— Imagino...
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— Vamos almoçar.
— Vamos sim.
Ele olha para trás de mim e xinga.
— Porra, estou pagando meus pecados!
Vocês novamente! Acho que vou dar um jeito de
contratar vocês, já se tornaram parte de mim!
João Ricardo e Maximiliano, o que aprontaram
agora?
Eu me viro e sorrio.
Desde que conheço o David, perdi as contas
quantas vezes vierem parar aqui.
Cleber está com eles e sorri.
— Tinha que trazer os dois até aqui dentro
antes de sair. Não resisti. Pedro trouxe eles, mas
eu tive que fazer essa honra. — rimos.
— Senhor, esse moço implica muito! Toda
vez nos pega. A gente dessa vez não fez nada. —
João Ricardo diz.
— Não fizeram nada? Santos, claro! — David
fala. — Leve eles para sala. E chame Pedro para
relatar o que aconteceu.
— Esses vão entrar para o livro de recordes
de tanto que estão vindo aqui! — Cleber fala.
— Senhor, livra nós! — Maximiliano pede.
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— Livrar? Infelizmente é o que vai


acontecer. Esse é o nosso país. Se pudessem ter
um corretivo melhor, não estariam mais
aparecendo aqui. — David diz.
Eles são levados para sala do David. Cleber
se retira rindo. Pedro entra na sala.
— Já iremos, espera um momento, amor. —
David pede.
— Sem problemas. — sorrio.

Estamos indo almoçar no restaurante


próximo a delegacia. David mantem o braço na
minha cintura.
— David, tira essa arma da cintura, porra!
Todo mundo está olhando! Já não basta estar de
óculos de sol para te deixar mais sexy!
— Devem estar olhando a porra desse
vestido curto. E não implique com minha
amante.
— Sério que terei que ouvir que sua arma é
sua amante?

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— Sim. — ele diz como se fosse a coisa mais


normal do mundo.
Uma mulher passa por nós e fica olhando
para o David.
— Boa tarde, Delegado. — ela diz.
— Boa tarde. — ele diz sorrindo e ela
continua andando.
— Que porra é essa?
— Apenas fui educado, amor.
— Ela te comeu com os olhos!
— Paciência, amor!
— Quais são as chances do Henrique ser meu
advogado, e o Marcos, meu juiz?
— Depende. Por que?
— Porque irei te matar! Filho da...
— Olha a boca. — Ele me para no meio da
calçada, me agarra e me dá um beijo. — Eu te
amo e só tenho olhos para você, minha
maluquinha.
Sinto alguém agarrar minha perna. Eu me
assusto e me afasto do David. Olho para baixo e
vejo um menininho, assustado e chorando.
— Tia, me ajuda! — ele pede. Meu coração se
aperta.
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David retira o óculos, colocando na camisa e


olha assustado para o menino, e se abaixa
ficando na altura dele. Faço o mesmo com
cuidado, devido a barriga. Eu me apoio no David.
O menininho é lindo. Está meio sujinho e
assustado.
— Qual é seu nome, meu amor? — pergunto.
— Diego. Eu quero minha mãe. — ele pede
esfregando os olhos, chorando.
— É ele, Liziara! O menino que a mãe
procura. Ela me deixou foto dele e é o nome dele.
É ele!
— Tio, me leva até minha mãe... — Ele olha a
arma do David e se assusta, mas eu sorrio para
ele entender que está tudo bem. — Você é da
polícia. Polícia ajuda. Se for, me ajuda, tio!
Olho emocionada para o David, que está
emocionado com o menino.
— Vem, o tio vai ajudar. — Ele se levanta e
pega o menino no colo. Em seguida me ajuda a
levantar — Como chegou até aqui?
— Eu fugi. Um homem me pegou, mas eu
fugi.
— Sabe dizer como era o homem?
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— Não tio. Eu tinha medo de olhar tanto pra


ele. — Ele chora e esconde a cabeça no pescoço
do David.
Sinto as lagrimas rolarem pelo meu rosto.
— Amor...
— Eu sei. Vamos voltar para a delegacia.
Esse menininho vem em primeiro lugar. —
sorrio.

Voltamos para delegacia. Fomos direto para


sala dele. David e sua equipe começam a
trabalhar no assunto. O menininho não quer sair
do colo dele de jeito algum.
— Vem com a tia. Prometo que não vamos
sair daqui. Eles vão falar com sua mamãe.
— Não. Eu quero ficar com ele. Ele é herói
igual o Batman. — todos sorriem.
— Está tudo bem. — David diz.
Fico emocionada com a atitude do David.
Nunca vi ele agir em um caso dessa maneira.
Quando a mãe chegou, foi um lindo
reencontro. David cuidou junto a sua equipe,
para que todos os trâmites fossem feitos, mas
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eles terão que vir outras vezes, para mais


depoimentos, e outras coisas muito importantes.
Quando foram liberados, David fez a eles a
promessa de que encontraria quem pegou o
menino, para que não acontecesse nunca mais..
— Vem aqui. — ele pede me chamando para
seu colo.
Vou até ele e me sento em seu colo. Ele
coloca a mão na minha barriga.
— Se um dia acontecer algo com essas
crianças, não sei do que sou capaz. Hoje senti
como se aquela criança fosse meu filho. Senti a
dor daquela mãe.
— Eu sei. Também senti a dor dela.
Ele dá um beijo na minha barriga e mexo em
seu cabelo.
— Vamos almoçar e tirar esse clima. Vamos
relaxar.
— Só conheço uma forma de relaxar, David.
— Nem pensar. Não vou machucar eles.
— David, por favor. Eu estou pirando! — ele
sorri. — Não faça isso comigo. É tortura. Está me
fazendo pirar a meses — Eu me esfrego
propositalmente em seu colo.
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— Não me provoque. Sei o que está fazendo.


— Não estou fazendo nada...
Beijo ele com desejo. Me mexo em seu colo e
sinto sua ereção ganhar vida.
— Liziara... — ele sussurra em meus lábios.
— Vamos para casa. Porra, não aguento mais,
você venceu!
— Vamos agora!
Me levanto e ele se levanta.
— Vamos antes que o escrivão chegue e me
pegue nesse estado.
— Adoro esse seu estado.
Ele pega as coisas dele.
— Vamos, safada. — Ele me dá um tapa na
bunda e rio.
Saímos de mãos dadas. O almoço? Bom,
ficara para depois, já tinha comido antes de sair
de casa mesmo.

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Epílogo

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Liziara Araújo

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Tempos depois...
David está na delegacia e eu estou na casa da
Dona Paula. Meus pais tiveram que viajar com
urgência, e com a Bia trabalhando, David ficou
com medo de me deixar sozinha, porque estou
nos dias finais da gravidez. Meu médico disse
que tenho como ter o parto normal, pois as
minhas meninas Laura e Helena, estão na
mesma posição. Fiquei muito feliz, pois meu
sonho é o parto normal.
Estou deitada na cadeira embaixo do guarda
sol na beira da piscina. Marcos e Daiane estão na
piscina. Dona Paula está trabalhando. Ana foi
levar a Yasmim ao médico, pois ela está
gripadinha; e o Henrique, assim como o irmão,
está trabalhando.
Marcos se empoleira na beira da piscina.
— Se o David sonha que está de biquíni e
comigo na casa sem ele, eu terei minhas bolas
cortadas. — Ela brinca e eu rio.
— Com toda certeza. Mas seria divertido. —
Provoco. Ele me joga água e Daiane ri.

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— Porra, Marcos! — digo passando a mão


onde ele me molhou, mas de repente sinto um
dor forte no pé da barriga. — Ai! — grito.
Marcos sai da piscina como um louco e
Daiane faz o mesmo.
— O que houve, Liziara? — eles perguntam
juntos.
Respiro fundo. E me sento com cuidado.
— Uma dor forte. Parecia que algo estava me
rasgando.... Ai! — a dor vem novamente e mais
forte.
— Tio, eu acho que vai nascer. Temos que
ligar para o David agora!
— Ele está em uma operação!
— O que? — grito assustada, e com isso sinto
mais dor ainda e me contorço.
— Tio! — Daiane o repreende.
— Tenho um plano!
— Marcos, eu não sou um réu, que você
analisa como vai ficar a situação! — digo a ele.
— Cala a boca, porra louca! — ele diz
nervoso — Daiane tenta contato com o David e
diz que estamos levando a Liziara ao hospital.
Vou me trocar correndo. Enquanto isso, ajuda
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ela se arrumar e se arruma. Pega tudo dela. Vou


ligar para a Beatriz e Paula, e mandar elas irem
para o hospital. Vamos, vamos! — ele grita.
— É impressão minha, ou ele está mais
desesperado que eu? — pergunto.
— Não é impressão. Vamos Lizi.
Levanto e sinto a dor novamente e mais forte
ainda. Daiane me ajuda. Seguro para não gritar.
Com sua ajuda, me troco rapidamente, e ela
se troca correndo. Pega as minhas coisas e a
bolsa dela e saímos para o carro, onde o Marcos
aguarda. Vou no banco da frente.
— Beatriz está indo para o hospital e Paula
também. — ele diz.
— Vou tentar falar com o David. — Daiane
fala.
Marcos sai com o carro, e vejo o carro do
Alex seguindo atrás junto com o do Simon.
— Cai direto na caixa postal! — ela diz, e isso
me deixa com medo e preocupada.
A dor vem novamente e vejo Marcos me
olhar preocupado.
— Vamos chegar logo. Aguenta. — ele diz.
O caminho foi uma loucura. Marcos
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provavelmente perderá a carteira por tantos


pontos que deve ter levado. Passou em tantos
sinais vermelhos, entrou em ruas que eram
contramão para cortar caminho. E ver ele
apavorado me deixou mais apavorada.
Ao chegarmos no hospital, Daiane ficou
dando meus dados e Marcos me acompanhou
junto a enfermeira.

Depois de todos os procedimentos


necessários, eu estou na sala de parto. Estou
com medo. Ninguém me dá notícias do David.
Estou com medo demais.
— Mamãe, vai dar tudo certo! — o médico
diz.
— Sério? Não estou achando isso! — digo a
ele, que sorri.
As enfermeiras, o médico, tudo está me
deixando mais apavorada. Porra, cadê o David?
— É um parto arriscado. Mas vai dar tudo
certo. Apenas faça o que irei pedir. — concordo

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— Ninguém vai acompanhar a senhora? — nego


chorando. Ele se posiciona e as enfermeira
também. — Vai dar certo, confia.
Sério mesmo que justo nesse momento o
David vai me largar?
A porta se abre e olho na esperança de ser o
David. Uma enfermeira entra acompanhada do
Marcos, todo vestido adequadamente.
— Marcos? — pergunto com preocupação.
Ele se aproxima e segura minha mão.
Percebo seu sorriso mesmo por detrás da
máscara.
— Estou com medo.
— Vai dar certo. Estou aqui. Nada vai
acontecer. Confia, porra louca.
— Pronto papais?
— Não sou o pai.
— Ele não é o pai! Deus me livre disso!
— Não precisa ofender também, porra!
— Olhem a boca! E foquem no que é
importante, ou as crianças vão morrer
sufocadas, pois elas precisam nascer agora. Sua
bolsa já rompeu, e não podemos mais esperar.
— o médico diz.
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Foram horas de dor e sofrimento. Foi


desesperador. Marcos tentava me ajudar, mas
sei que ele mesmo estava apavorado. Eu via o
olhar das enfermeiras assustadas. Mas eu não
desisti. Não desisti por elas. Lutei até a segunda
nascer, minha Helena.
Ambas são tão diferentes. Laura nasceu toda
agitada, e é nítido seus olhos azuis, iguais ao do
pai. Já Helena é mais calma e sorridente, e
mesmo não entendendo nada, sorri bastante. Ela
tem a cor dos olhos diferentes, são escuros como
os meus. Gêmeas, porém já se nota o quanto são
diferentes. Marcos segura Laura e chora
emocionado.
— São lindas. Sabe fazer meninas lindas…
quem diria porra louca.
— Marcos não diga palavrão perto delas!
Vou te cobrar cada vez que disser!
— Estou lascado! — sorrio.
Elas são levadas para os cuidados das
enfermeiras.

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Horas depois e sem notícias, não tinha mais


ninguém, além das minhas meninas que estão ao
meu lado; então a porta se abre. David entra
como um furacão. Ele caminha até a mim,
chorando como um louco, e me beija com força.
Segura meu rosto com ambas as mãos.
— Me perdoa. Eu fui para casa, tomei banho
e estava indo para casa da minha mãe quando
lembrei que deixei o celular desligado; e quando
liguei vi as chamadas e mensagens. Quando
cheguei aqui você já estava em trabalho de
parto. Não me deixaram entrar na sala. Passei o
inferno lá fora. Ninguém dava notícias. E uma
enfermeira que saiu disse que estava
complicado. Porra. Me perdoa?— Ele está
apavorado.
— Amor, eu estou bem. Se acalma. Marcos
foi muito bom, me deu apoio do jeito dele, mas
deu. — Sorrio.
— Nunca serei capaz de agradecer o que ele

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fez.
— Eu também não...
Ele se afasta e caminha até onde as meninas
estão. Sorri emocionado. Helena dorme,
enquanto Laura está bem acordada.
Ele segura as mãozinhas delas com fitinhas.
— Minhas princesinhas. — ele diz e enxuga
as lagrimas.
— Parece que cada uma será uma mini nós.
— digo enquanto ele pega a Laura no colo que
começa a chorar, mas ele a acalma.
— Por que diz isso? — pergunta sorrindo
para ela e acariciando seu rostinho.
— Laura é bem agitada, brava, e os olhos
bem azuis. Helena é calma, sorridente, se deixar
come toda hora, e tem os olhos escuros como os
meus.
— Então quer dizer que você é uma mini
David. — ele diz a Laura e sorrio. — Estou
fodido! — me olha assustado.
— O que foi?
— Duas meninas, uma mulher e uma irmã!
Estou fodido.
— David, olha a boca perto delas! — Ele dá
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de ombros.
Helena acorda e começa a chorar. David me
entrega a Laura e pega a Helena.
— Outra princesa do papai. — Ele dá um
beijo nela. — Sabe, princesinha, acho que já está
na hora do papai algemar de vez sua mamãe, e
prender ela totalmente a mim.
Olho para ele franzo o cenho.
— Será que a mamãe aceita casar comigo e
ser oficialmente uma senhora Escobar?
— O que? — Lembro da Laura e olho para
meu colo.
— Amor, cuidado. — ele diz sorrindo. —
Pelo visto papai terá que ficar de olho nas três,
ou receberei ligações de que estão no hospital.
— David, eu ser o que?
— A senhora Escobar. Aceita? — Ele pega no
bolso da calça uma caixinha e me entrega. —
Não aceito não como resposta. — Sorrio
emocionada.
Abro a caixinha e vejo o lindo anel dentro
dela.
— Então Laura, acha que a mamãe deve
aceitar? Se eu tiver que aceitar, você chora. —
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Brinco.
— Se ela não chorar? — David pergunta.
— Então não casarei. — provoco.
Ele se aproxima com cuidado para não
derrubar a Helena de seu colo. Coloca a boca no
ouvido da Laura e diz algo bem baixo, não é
nítido. E por incrível que pareça, ela começa a
chorar.
— David! — repreendo ele. — O que você
fez?
— É, parece que tenho uma cumplice já.
Ele coloca a Helena no lugar dela e pega a
Laura, fazendo o mesmo.
Pega o anel e coloca em meu dedo.
— Futura senhora Escobar. — Ele me dá um
beijo nos lábios que me deixa louca.
— Epa! Não esqueça do que o médico disse.
Quarentena, Liziara. — Marcos entra sorrindo.
— Mentira? — David pergunta e eu nego.
Marcos para ao lado dele e bate em seu
ombro.
— É, meu sobrinho. Duas filhas e sem sexo.
Não queria estar na sua pele.
— Eu realmente estou fodido! — David diz
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fazendo a gente rir.


— Entrem, pessoal. — Marcos fala.
— Como deixaram todos entrar? —
pergunto rindo.
— Ainda pergunta? Sou um Escobar, tenho
meus meios, porra louca. Menos a Beatriz… ela
só entra depois.
— Tio, o que fez? — David indaga sorrindo.
— Nada. Apenas não consegui que ela
entrasse. — diz com cara de inocente.
— Marcos, eu não acredito! Você não deu o
nome dela! — digo.
— Talvez eu tenha esquecido. Isso não
importa.
Todos começam a entrar sorridentes e
animados. Mas quando a Beatriz entra, Marcos
muda o jeito e seu olhar é de um predador.
— Você me paga, juiz de quinta! — ela diz
seriamente a ele.
David bate no ombro dele e diz:
— Retiro o que eu disse. É você quem está
fodido!
— Olhem a boca suja perto das meninas! —
Eu, Daiane, Paula e Beatriz dissemos em
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uníssono.
Essa família vai ser minha loucura e minha
maior alegria.
David me dá uma piscadela, e então se
aproxima enquanto todos estão admirando as
meninas. Ele cochicha em meu ouvido:
— Sexo oral não deve ter problema. — Sinto
um arrepio no corpo, e tenho certeza de que
fiquei vermelha.
— Eu ouvi. — Marcos fala. — Acho que não
tem problema, e que não custa nada tentar.
Começamos a rir e todos nos olham sem
entender.
Eles estão aqui. Pela primeira vez estão
perto de mim em um momento muito especial.
— Mãe, pai, venham!

Fim

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Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus por mais
um sonho realizado, e por sempre me dar forças
e alegrias no decorrer do caminho.
Obrigada a Editora Angel, mais uma vez, por
acreditar no meu trabalho.
Obrigada ao senhor Google, por me ajudar
em diversas dúvidas.
Um obrigada bem especial a um alguém que
me ajudou muito, inclusive nas inspirações.
Minhas amadas betas e amigas, Liziara
Araújo e Beatriz Ferreira, muito obrigada por
todas as dicas, inspirações e por aguentarem
minhas loucuras por essa série, e entrarem na
loucura também.
Obrigada as minhas leitoras da plataforma
Wattpad, que me animaram e me deram carinho
e muito amor, e tornaram a série Escobar um
sucesso.
Obrigada a blogueira Joyce Penedo por
apoiar sempre meu trabalho, e estar apoiando
recentemente a série e divulgando em seu blog
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Livros Encantos.
Meninas do grupo fechado no facebook e do
Whatsapp, obrigada a vocês também, pois são
demais.

E por fim, obrigada a você que está lendo


este livro. Você é também digno de estar aqui.

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Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra
poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma,
meios eletrônico ou mecânico sem a permissão por escrito do
Autor e/ou Editor.
(Lei 9.610 de 19/02/1998.)
1ª Edição
Produção Editorial: Editora Angel
Capa e projeto Gráfico: Débora Santos
Diagramação digital: Débora Santos
Revisão: Carla Santos
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
(CIP)
Bibliotecária responsável: Aline Graziele Benitez

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Índice para catálogo sistemático:


1. Literatura brasileira: romance

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Sumário:
Nota da autora
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Epílogo
Bônus
Agradecimentos
Biografia

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Editora Angel

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Nota da autora
Caros leitores,
Este livro... melhor dizendo, este conto foi feito
com muito amor e carinho. Fazer uma história
que envolva um lado criminal, mesmo sendo
muito curta, não foi fácil, e foram feitas algumas
pesquisas. Tudo aqui é totalmente ficcional. Pulei
alguns atos da lei para não falar demais e acabar
falando coisas sem sentido. Espero que gostem.
Com amor,
Deby.

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Para Beatriz Ferreira, uma grande


amiga e inspiração.

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Capítulo 1

Acordo com uma puta dor de cabeça e


com malditas batidas na minha porta; e, para
ter passado pela segurança, é alguém da
família. Se forem meus sobrinhos, Daiane,
Henrique ou David, mato eles, sem dó. Essas
porras sabem me atrapalhar e me tirar do
sério! Amo os muito, mas são um inferno
quando querem.
Vou para o banheiro, escovo rapidamente
os dentes e vou atender a porta. Assim que
abro, conto de um a dez, para não matar a
pessoa que está nela.
— Liziara! — A esposa completamente
maluca do David me olha e sorri, segurando
as gêmeas que dormem.
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— Bom dia! — ela me cumprimenta


passando por mim.
— Tinha tudo para ser um bom dia, mas
você apareceu. O que quer, porra-louca?!
— Primeiro passe a grana, cinquentinha,
pois acaba de falar palavrão na presença das
minhas filhas e este é o combinado!
— Porra, abre uma conta para elas e me
passa, porque será mais prático depositar o
dinheiro.
— Antes, passe a grana para cá!
Pego o dinheiro no quarto e retorno
entregando para ela, ou não dirá o que quer,
conheço muito bem essa bendita!
— Agora diz logo o que faz aqui!
— Preciso que fique com elas até a
Beatriz chegar, pois ela está vindo da casa da
tia, na praia. Tenho que ir resolver alguns
problemas, David, Paula, Daiane e Ana Louise
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estão ocupados. Só você pode me salvar.


— E achou que eu sou babá?!
— Pare de ser ruim! Por favor, Marcos!
Tenho que ir até uma tia minha.
— Você não tem tia, Liziara.
— Não precisa jogar na minha cara... Bom,
a Bia chega rápido. Fui! As mamadeiras e
fraldas estão na bolsa.
Ela dá um beijo em cada uma. Caminha
até meu quarto e a sigo. Ela deixa as meninas
na minha cama.
— Cuide bem delas ou corto suas bolas!
Tchau.
Ela sai, deixando-me parado no meio do
quarto.
Posso ser um juiz temido, autoritário e
bipolar, mas tenho muito carinho por minhas
sobrinhas, que são quatro, afinal, Henrique e
a esposa Ana Louise tem uma menina
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também e tem Daiane.


Sei que Liziara está aprontando algo e,
quando eu descobrir, eu a enforco.
Deito-me ao lado das meninas, que
dormem gostoso. Sorrio.
Sou um exemplo para muitos como juiz.
Venho de uma família importante. Perdi
meus pais há anos e depois meu irmão
Joseph, que era um renomado juiz e
construiu uma bela família ao lado de Paula,
mas, infelizmente, partiu deixando todos
sofrendo, inclusive a mim. Porém, tenho um
enorme orgulho por ele, pois soube criar
bem seus filhos e fazer com que tivessem
uma boa perspectiva para o futuro. Daiane, a
mais nova, é promotora; David, o do meio, é
delegado; e Henrique, o mais velho, é
advogado criminalista. Henrique e David
estão casados e com filhas, somente Daiane
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está solteira, o que espero que fique por


muito tempo, sobrinha minha tem que ser
freira. Já Paula, é advogada civil, e uma mãe,
conselheira e cunhada maravilhosa. As
esposas dos meus sobrinhos são
maravilhosas. Eu só tenho o que agradecer
pela família que eu tenho.
A mídia mostra apenas que sou um juiz
temido, ou um libertino, mas não mostram
que também sou família, sou amor. Minha
imagem é de um predador, e não nego que
sou como um em noite de caça, e também não
sinto vergonha, pois amo saber que levo
mulheres à loucura, que várias gritam meu
nome enquanto gozam por minha causa.
Estou em uma idade que minhas
necessidades se intensificaram. Sou homem,
porra, tenho o direito de transar sem ter

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compromisso, e parece que isso é difícil de


ser compreendido.
Tudo o que quero para a minha vida é ter
um nome a ser lembrado sempre na história
da lei, e que minha família esteja sempre
segura. Sempre digo que um Escobar precisa
apenas encontrar a pessoa certa para perder
o coração para esta pessoa, mas que eu sou
exceção. Não quero encontrar a pessoa certa
e muito menos entregar meu coração a ela.
Eu quero ficar livre dessa história de amor,
porque já me fodi demais com isso.
Assim que escuto a campainha, eu levanto
e ajeito os travesseiros em volta de Laura e
Helena. Vou até a sala e abro a porta. É
Beatriz Oliveira.
— Vim buscar as meninas. Disseram que
eu podia entrar...
— Sei. Entre.
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Beatriz me avalia.
Eu e ela não nos suportamos desde que a
conheci na universidade que a Liziara
estudava há alguns anos. Eu e meus
sobrinhos precisávamos dela para um caso. E
ela meio que me desafiou e desde então
somos como cão e gato, e vivemos assim.
— Não é necessário. Apenas traga as
meninas.
— Está com medo de entrar e não querer
ou conseguir sair?! — provoco.
— Não me tira do sério, porque não tenho
unhas grandes à toa — rebate.
— Cuidado, quem assina a sentença sou
eu. Pode ser que a sua seja longa e peculiar.
Ela engole em seco e fica ruborizada.
— Traga logo elas, Marcos.
— Entre logo!
Ela entra e fecho a porta.
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— Estão no meu quarto.


— Vamos logo pegar elas. Tenho pressa.
— Para fugir de perto de mim?
— Você se acha demais!
— Não me acho. Apenas sou um homem
observador e sincero.
— Que seja. Vamos!
Caminho com ela me seguindo até o meu
quarto. Entramos e, sem cerimônia, ela pega
Laura no colo.
— Me ajude com a Helena, pois preciso
colocá-las nas cadeirinhas do carro.
— Claro.
Pego Helena, que dorme.
Saímos de casa e fomos até seu carro. Ela
abre a porta e fica empinada para colocar a
Laura na cadeirinha.
Fico olhando atentamente sua bunda,
coberta e marcada pelo tecido da calça justa
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que usa.
Não posso negar que ela é bem gostosa e
que sua língua afiada apenas comigo, mesmo
sendo tímida, me deixa louco.
Porra, se controle! Estou ficando duro
com essa visão.
Ela se vira para mim e pega a Helena.
Contorna o carro e abre o outro lado para
pôr a menina na cadeirinha.
Quando termina, fecha a outra porta e
caminha até o lado que estou para fechar a
porta que ficou aberta.
— Sem segurança?
— Vim do litoral. Passei em casa, peguei
as cadeirinhas reservas e vim para cá. Não
tem nada demais.
— Ambas são filhas de um delegado e são
Escobar.
— Não pira, homem!
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— Tome cuidado!
— Tchau, Marcos.
Ela passa por mim e entra no carro.
Essa porra é teimosa!
Viro-me e vejo o Simon, meu segurança,
sorrindo.
— O que foi, porra?
— Nada, senhor!
— Envie uma equipe atrás dela. Não vou
testar a sorte.
— É para já.
Ela sai rapidamente com o celular na
mão.

Retorno para dentro de casa e vou para


meu escritório. Acesso meu e-mail e
respondo os mais importantes.
A bela bunda da Beatriz não sai da minha
mente e está me deixando duro de novo.

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Porra, preciso de um banho bem gelado!


Cacete, virei um merda de um adolescente
agora?!

Estou no meu escritório no centro. Não


viria trabalhar hoje, mas achei melhor para
adiantar umas papeladas que parecem não
ter fim.
Porém, estou com a mente longe, só não
sei exatamente aonde. Estou distraído, e sei
disso porque assinei duas vezes um
documento errado.
— Marcos! — Assusto-me com a voz da
irritante, que acaba de gritar meu nome.
— Porra, Débora, quer me matar,
mulher?!
— Não, porque eu ficaria sem emprego.
Não tenho culpa que está paralisado olhando
para o nada há um bom tempo enquanto eu

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te chamo.
— O que quer? — Solto a caneta na mesa
e passo a mão pelo cabelo.
— Precisa assinar esses papéis. — Ela os
coloca na mesa — Tem audiência amanhã, às
8h, e precisa disso tudo aí assinado.
— Qual caso?
— Está de brincadeira, não é?! Como
assim qual caso? Com um juiz assim, entendo
o motivo do país estar nesse estado.
Olho seriamente para ela, que sorri.
Débora é uma grande amiga, a conheço
há anos. Ela trabalha para mim como
secretária enquanto cursa Direito. É casada,
linda, e mesmo sendo louca quase sempre, é
muito inteligente e boa no que faz. Tivemos
no passado um caso de alguns meses, mas
nada grande e que deixasse marcas ou
qualquer sentimento complicado... Bom, com
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o marido dela sim, o cara tem um ciúme filho


da puta em relação a mim, mas confesso que
provoco.
— Qual o caso, loira?
— A idade já está te causando
esquecimento, entendo. Bom, é o caso do
marido retardado que tentou matar a esposa,
fugiu e foi pego, e depois pegou a filha à base
da tortura... O caso que eu disse que deveria
amarrar ele e meter o chicote e depois jogar
óleo quente.
— Me lembrei. E saiba que, às vezes,
tenho medo de você. Nem eu sou tão frio
assim.
Ela ri.
— Trabalho para um juiz, meu marido é
um investigador da polícia, o melhor amigo
dele delegado, minha mãe enfermeira, e meu
pai um traste, eu tinha que ser um pouco fria,
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ou estava ferrada. — Ela dá uma piscadela e


caminha para sair da sala.
— Seu marido sabe que você veio
trabalhar hoje com essa calça bem justa? —
provoco e sorrio. Ela ergue a mão e mostra o
dedo do meio. — Menina má, isso é feio.
— Eu realmente não mereço aguentar
isso, não mereço! — Ela sai da sala e bate a
porta.
Rio.
Pego os papéis e leio. Preciso me
concentrar no trabalho.

Eu quero matar a Liziara por me fazer


buscar as meninas na casa daquele juiz de
quinta! Vim correndo do litoral para pegar as
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meninas e só quando cheguei à cidade, que


ela me disse que era na casa do Marcos. Eu
ficarei viúva de amiga, mas mato ela.
As meninas estão dormindo no quarto. A
Liziara diz que chega em uma hora. Tenho
coisas das meninas aqui, e adoro ficar com
elas, mas hoje eu quero matar a mãe delas
por me pedir isso.
Marcos e eu nunca nos daremos bem. Ele
é insuportável, safado, estúpido... Droga, ele
tinha que ser lindo e gostoso? E as tatuagens?
São um pecado. Merda!
Entro com cuidado no quarto para não
acordar as meninas. Começo a desfazer
minha mala. Amanhã volto à rotina normal.
As férias acabaram e o trabalho me espera.
Trabalho na coordenação de uma
renomada universidade, o que muitos não
entendem, já que sou formada em
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Administração. Mas é que sempre tive a vida


toda programada, e quero ficar mais um
tempo na universidade para procurar
emprego em um banco, meu maior sonho.
Tenho quase 28 anos, e minha tia
Jaqueline diz que sou louca por ter tudo tão
controlado, ter tido apenas um namorado na
época da faculdade, nunca cometer erros,
planejar tudo, mas é meu jeito. Perdi minha
mãe cedo, não conheci meu pai. Quero que,
mesmo de onde ela esteja, eu seja um
orgulho para ela. Conquistei meu diploma
universitário, meu carro, meu apartamento,
e sou feliz por isso. Ainda irei conquistar
meu emprego em um banco bem importante,
casar, ter filhos, mas construir uma família
somente depois de estar um tempo no banco,
me realizando profissionalmente, porque
quero continuar sempre dependendo apenas
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de mim e jamais de outros.


Talvez eu seja um pouco careta, mas é
realmente meu jeito de ser. Às vezes, as
pessoas não entendem, mas não perco meu
tempo em tentar explicar. Liziara e eu
brigávamos muito em relação a isso, pois
quase nunca queria ir às festas com ela, nas
baladas, e ela ficava louca com isso. Para não
dizer que não saio, às vezes vou na boate que
a Liziara trabalha e ao shopping, se isso
contar como diversão. Divirto-me demais.
A campainha toca. Largo o que estou
fazendo. Abro a porta e é a Liziara. Talvez eu
mate ela agora mesmo.
— Vim pegar as meninas.
— Pensei que viria em uma hora.
— Foi rápido meu compromisso.
— Sei...
Ela entra, e coloca a bolsa no sofá.
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— Cadê a sua chave?


— Esqueci. Bia, se, às vezes, esqueço
quem é quem das meninas e olha que uma
tem o olho diferente da outra, acha mesmo
que lembraria sempre de chave?
Sorrio.
— Liziara o que está aprontando?
— Eu? Como assim? Vim apenas pegar
elas. Quanta calúnia!
— Se eu sonhar que está tentando me
jogar para aquele juiz de quinta, eu te
enforco sem pena.
— Credo. Anda agressiva. Vou falar para o
David me deixar com escolta além do Alex.
— Falo muito sério. Eu e ele não temos e
nunca teremos nada. E se você ficar fazendo
eu me encontrar com ele, esquece que tem
amiga. Sabe que não o suporto. Já basta ter
me feito aguentar aquele traste no altar do
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seu casamento e no batizado das meninas


quando fez nós dois sermos padrinhos, o que
tenho certeza de que não foi apenas por
gostar muito de mim ou dele.
— Não suporta ou não suporta não ter
ele? — ela provoca.
— Você tem um minuto para pegar as
meninas e sair daqui sem nenhum arranhão.
— Estou indo. — Ela vai rindo para o
quarto.
Eu preciso de férias da Liziara. Essa
mulher ainda vai me deixar louca.
Ela retorna para a sala com as duas.
— Toda vez que o Marcos fica com elas, o
cheiro dele impregna nelas. Esse homem
toma banho de perfume? Quero chegar em
casa e dar banho nelas antes do David
chegar, ou do jeito que é louco vai achar que
estão desde bebê com namorados.
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Sorrio, pois não duvido nada. Ele tem


ciúmes de outro homem com as meninas nos
braços.
— Vou indo. E pare de negar, vocês dois
formam um casal perfeito.
— Liziara, o que falei sobre te enforcar?
Ainda está valendo!
— Fui. Pega minha bolsa, por favor.
— Eu te ajudo a colocar elas no carro.
— Obrigada.

Ajudo-a com as meninas no carro.


— Aumentou a tropa? — pergunto vendo
dois carros pretos atrás do dela.
— Não. Vim apenas com o Alex. O outro
carro é do segurança do Marcos. Cheguei e
ele já estava aqui.
— Aquele imbecil o mandou atrás. Ele
não gostou porque eu viria com as meninas

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sem segurança.
— Se acostuma. Viver com um Escobar é
viver assim. E antes que me enforque me
refiro a você ser amiga de membros da
família Escobar. Amiga, você tem noção que
eu, Liziara, sou uma Escobar?! — ela diz
animada.
— Tenho, e não sei se isso é bom ou ruim.
— Respiro fundo e cruzo os braços.
— Por quê? — ela pergunta enquanto
fecha a porta traseira do carro.
— Porque você já é perigosa por conta
própria, sendo uma Escobar, ferra tudo de
vez.
— Quanta calúnia. Já vou, pois hoje você
está para me agredir verbalmente e tenho
certeza de que em pensamentos também,
credo! — Ela dá a volta no carro e me joga
um beijo, que retribuo.
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Ela sai com o carro e o Alex segue atrás,


mas o carro do Simon permanece.
— Era só o que me faltava!
Vou até o carro e bato no vidro. Ele
abaixa.
— As meninas já foram. Pode ir.
— Não recebi ainda autorização do
senhor Marcos. Ele pediu para vir, mas não
disse se era para retornar quando as
meninas fossem embora. E não consigo
contato com ele.
— Pode ir. Eu te libero. Aproveita e vai
comer algo por aí, porque, para aguentar
aquele homem, tem que ser forte.
Ele sorri.
— Só irei quando ele autorizar, senhorita
Beatriz.
— Simon, primeiro esquece o tal de
senhorita. E, por favor, pode ir, eu não sou
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Escobar e você não tem obrigação de ficar


aqui, afinal, trabalha para os Escobar. Sério,
pode ir e se ele falar algo diga que expulsei
você daqui com uma vassoura.
— Tudo bem. — Ele ri.
— Que bom que nos entendemos. Tenha
um excelente dia. — Afasto-me do carro e
entro no prédio.
Até parece que agora muralhas vão ficar
na minha porta ou me seguindo.
Os Escobar são para foder o juízo e não é
no bom sentido. Eu não sirvo para isso não.
Aguentar o que eles aguentam, estou fora!

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Capítulo 2

Dias depois...

Estou me aprontando para mais um dia


de trabalho na universidade em que estudei.
Trabalho na coordenação há alguns anos.
Quando me formei em administração era
porque eu tinha o sonho de trabalhar em um
banco muito importante ou em uma empresa
muito famosa. Porém, sempre fui medrosa. O
medo de tentar coisas novas, e sair da minha
zona de conforto me causa pânico. Não saber
o que me espera me deixa amedrontada, e
por isso nunca me arrisquei em tentar
arrumar um emprego fora da dali.
Mas como nada é perfeito, tenho alguns
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problemas no trabalho. Digamos que o reitor


Edson, é um senhor insuportável e que vive
cercando meu caminho e com tentativas
persistentes de ter algo comigo. Nunca
tentou algo grave, e nunca dei liberdade para
tal, porém suas indiretas e seu jeito de me
olhar são irritantes. Só suporto porque são
raras as vezes que ele está lá e meu contato
com ele é bem curto e na maioria das vezes
sempre tem alguém junto.
Trabalhar lá me trouxe algo muito bom,
uma amizade forte e bela com Liziara. Além
de ter contato com ex-professores, que foram
muito importantes na minha formação.
Sempre fui muito sozinha antes de
trabalhar lá, só tenho uma tia, a dona
Jaqueline. Ela é um amor, louca demais, mas
tem sua vida, que é bem diferente da minha.
Ela cuidou de mim quando perdi minha mãe,
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e a agradeço muito por isso, e queria muito


ser mais presente na vida dela, porém ela
vive no litoral e sua vida é... digamos que
mais animada do que a de um jovem, o que é
bem diferente do meu estilo. Então ter
conhecido a Liziara foi bom, mesmo ela
sendo louca, e uma ótima companhia para eu
não me sentir tão sozinha aqui na cidade.
E por lembrar da titia, olha só quem está
me ligando. Atendo ao celular.
— Oi, tia.
— Sua traíra. Não lembra mais de mim!
— Eu voltei daí dias atrás. Não seja
dramática!
— Estou ligando para dizer que chego
amanhã aí. E não adianta dizer que não se lembra
de ter me convidado, porque eu não preciso de
convites. Cansei de ver mar, e um bando de velhos
correndo de sunga. Quero ar novo, homens novos
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com seus preciosos erguidos e grossos.


— Tia!
Ela ri.
— Será muito bem-vinda. Quando sair daí
me avisa.
— Pode deixar, pois você que vai me buscar
na rodoviária, jovem. Titia ama você!
Sorrio.
— Também te amo, tia. Beijos, que eu
tenho que ir trabalhar.
— Vai lá, gatona!
Desligo o celular e dou uma conferida no
espelho. Está ótimo. Não tem reunião, então
não preciso estar muito elegante, como eles
exigem.
Pego minha bolsa e jogo o celular dentro.
Saio do quarto e vou direto para a sala, não
tenho tempo de comer nada. Acordei tarde, e
não posso me atrasar.
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Pego a chaves do carro e saio do


apartamento.

Chego à universidade e saio rapidamente


do estacionamento. Corro para a entrada.
Procuro minha carteirinha para passar pela
catraca, porém não encontro.
— Merda, hoje não é a droga do meu
melhor dia!
Diogo, um dos seguranças, aparece e
sorri.
— Pela sua cara, não está em um bom dia.
— Não! Esqueci até a carteirinha. Libera
minha entrada, por favor.
— Sabe que é errado e posso me
prejudicar, porém farei isso, já que nunca
esqueceu a carteirinha.
— Obrigada. Você foi meu herói.
Ele sorri e libera minha entrada com sua

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carteirinha.
— Hoje tem palestra surpresa, o reitor
está aí e com um homem importante. Sorte
sua. Afinal, está uma hora atrasada. — Ele
olha no relógio e dá uma piscadela.
— Obrigada! Não sei se fico aliviada ou
apavorada de vez.

Entro na minha sala e encontro Lilian,


uma das atendentes da secretaria. Não nos
damos muito bem. Digamos que nossos santos
não se batem.
— Pensei que não iria mais vir. Não tenho
obrigação de ficar aqui cuidando dos seus
afazeres. Já tenho muita coisa para fazer por
pouco salário, não sou obrigada a cuidar dos
seus.
— Lilian, obrigada. E tenho certeza de que
não te levou à morte ficar aqui. E veio porque

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quis.
— Eu não quis nada. O reitor me obrigou,
porque os professores precisam assinar a
lista. Agora tenho que ir. — Ela joga o cabelo
para o lado e sai da sala.
Eu mereço um prêmio por ter tanta
paciência e, principalmente, com essa
mulher louca.
Deixo minha bolsa na mesa mesmo e pego
a lista para passar as presenças dos
professores para o sistema.

Primeira coisa a ser lembrada sempre:


jamais aceite dar palestras apenas para as
mulheres em universidades.
Pela primeira vez, a universidade quis
fazer algo diferente e dar uma palestra
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apenas para as mulheres que querem ser


juízas. Mas, pelo visto, tenho certa fama entre
elas, já que me olhavam como se fossem me
comer vivo, e estava começando a ficar
preocupado de alguma pular no meu colo.
Odeio mulheres que se insinuam, e era tudo
o que elas faziam, desde as perguntas com
segundas intenções, aos sorrisos safados.
Tenho que confessar, que estou um pouco
aterrorizado.
É um alívio que tenha terminado.
Segunda coisa a ser lembrada: bate-papo
pós palestra com o reitor e diretor
pedagógico é um porre.
Edson, o reitor, e Eric, o diretor
pedagógico, não saem da porra do meu pé!
— Fico grato por ter vindo e permitido
que a palestra vá para nosso site e nossas
redes sociais. É uma grande forma de
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destacar ainda mais a universidade. É claro


que você aqui é bom para as nossas alunas.
Espero poder ter você aqui, mas com todos
os alunos do Direito — Edson diz, e tomo um
gole da minha bebida, antes de responder:
— Pode contar com isso. — Preciso avisar
a Débora para dizer, quando me ligarem, que
tenho compromisso mesmo não tendo.
— Ter um Escobar entre nós é uma honra.
Nossa universidade já teve contato com você
e sua família, porém em um momento triste,
na perda de nosso professor Rodolfo. Mas,
agora, são tempos novos, e estava na hora de
termos você aqui novamente para coisas
boas — Eric diz sorridente.
— Claro. — Apenas consigo dizer, além de
dar um famoso sorriso diplomático.
Alguém bate à porta e sinto um alívio.
Essa pessoa salvou meus ouvidos de diálogos
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irritantes de gente puxa-saco.


— Entre, por favor — Edson diz. E
percebo que ele não gostou de alguém vir
interromper.
A porta se abre e me viro para ver quem é
o salvador do momento.
Terceira coisa a ser lembrada: evite a
universidade que a pessoa que não te
suporta trabalha.
Ela me olha e fica vermelha na hora.
Sorrio.
Isso vai ser bom!
— Beatriz, diga — o reitor fala a ela, que
tem alguns papéis na mão.
— Eu... Hã... — se atrapalha nas palavras e
isso me diverte. Até que não foi tão ruim vir
aqui.
— O que houve? — Eric pergunta.
Ela entra na sala e se aproxima da mesa,
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ficando bem próxima de mim. Ergo o olhar e


bebo um gole da minha bebida, para
esconder o sorriso. Ela não me suporta, tanto
que nem sequer consegue me olhar.
— Me desculpe por interrompê-los, não
imaginei que estivessem... — ela procura as
palavras. — Bom, preciso que o senhor
assine esses documentos, pois tenho que
enviar aos advogados.
— E que papéis são esses? — o reitor
pergunta.
E, porra, não gostei muito do jeito que ela
olha para ela. E sei que não fui apenas eu que
percebi, porque o diretor fica sem graça e me
olha dando um sorriso forçado. Beatriz fica
mais séria que o normal.
— Os acordos de parceria com a
universidade internacional. — Ela entrega os
papéis. — Depois retorno para buscar. Com
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licença.
Ela se retira sem olhar para mim. O reitor
não tira os olhos da bunda dela, e isso me
deixa com uma raiva dos infernos. Caralho,
quem esse velho pensa que é?! Porra, preciso
ir embora daqui, ou sairei dentro do carro da
polícia.

Merda, hoje realmente não é o meu


melhor dia. O reitor e o Marcos na
universidade é azar demais. O pior é que
Edson não soube disfarçar seu olhar idiota
para mim. Esse homem não se enxerga
mesmo. É um safado escroto!
Entro na minha sala, e para ajudar está
me dando dor de cabeça por não ter comido
e dor no estômago. Vou terminar de

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responder aos e-mails de ontem e irei até a


lanchonete comer algo.
Concentro-me no trabalho para terminar
logo.
— Se for um ladrão, ele entra, rouba e
você nem vê! — Dou um pulo da cadeira e
solto um grito.
Coloco a mão no peito e a outra, apoio na
cadeira.
— Quer me matar do coração, idiota? E o
que faz aqui? Que droga!
Ele me olha sério.
— Te matar não é exatamente o que vim
fazer aqui, Beatriz. Mas tenho uma
curiosidade.
— Sério?! Marcos, eu tenho trabalho a ser
feito. E se você não tem algo de útil para
fazer, ou algum réu jurando que não vai
mentir enquanto é julgado, me dê licença.
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— Olha só, ela sabe o que é réu.


Reviro os olhos e puxo a cadeira para me
sentar, porém ele é mais rápido e se senta
nela.
— Por favor, vai embora.
— Irei assim que me responder algo. Sei
que aqui não terá como fugir.
— Pergunte logo.
Droga, por que esse homem tem sempre que
ficar aparecendo na minha vida?!
— Por que só consegue me olhar nos
olhos e me enfrentar quando estamos a sós?
Deveria ser o contrário, não?
Sinto minhas bochechas corarem.
— Não acredito que veio até aqui para me
perguntar isso.
— Já entendi. Você é tímida, Beatriz!
Porém, por algum motivo, não é quando
estamos sozinhos. Interessante. — Ele sorri
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do jeito safado dele.


— Se já tem a sua própria resposta para
sua pergunta, então pode ir!
— Só mais uma coisa.
— Fala!
— Tome cuidado com o Edson. Esse cara
pouco se fode de despir você com o olhar na
frente dos outros! — Seu tom é sério e
autoritário.
— Sei cuidar de mim. Agora saia.
Ele se levanta e apoia as duas mãos nos
braços da cadeira. Engulo em seco. Além de
idiota, tinha que ser sexy, que clichê!
— Quem assina a sentença sou eu. Espero
que ele tome muito cuidado e você também,
para eu não ter que assinar a dele, que
poderá ser longa e com um pacote de
torturas incluso — ele diz e sai da sala.
Sento-me na cadeira e respiro fundo. Os
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Escobar são para foder o juízo, e não é de


uma boa forma!

Saio do elevador e vejo uma pessoa cair


da cadeira bem na minha frente.
— Débora, eu irei querer saber o que
aconteceu? — Aproximo-me da mesa dela, e
a ajudo se levantar.
— Fui pegar a caneta de um jeito
preguiçoso. Minha bunda está doendo.
Droga!
— Bom saber da sua bunda nesse
momento. Agora preciso que puxe a ficha
completa de Edson Almeida, o reitor da
universidade que acabei de voltar.
— Poxa, isso que é um bom chefe. Acaba
de ver a funcionária se quebrar e nem sequer

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oferece um remedinho, já manda ela


trabalhar.
— Irei almoçar no McDonald’s, pensei em
te convidar, mas se machucou.
— Já sarei! — Ela se levanta. — Edson
Almeida, saindo a ficha em um minuto!
Rio.
— Pensei que estivesse machucada.
— Curei rapidamente. Milagres existem,
meu querido chefe!
Sorrio e vou para minha sala.
Revejo uns casos importantes que terá
julgamento essa semana.
A porta se abre.
— Senhor — diz Simon, meu segurança.
— Muito corajoso da sua parte vir até
aqui, onde tem uma arma grudada embaixo
da minha mesa e outra embaixo da minha
cadeira. — Largo os papéis e olho para ele. —
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Ainda não esqueci que acatou uma ordem da


Beatriz e desacatou uma minha.
— Já pedi perdão e te expliquei a
situação, senhor.
— E eu ainda não perdoei. Mas, diga, o
que quer?
— Venho pedir permissão de ir até o
hospital, visitar minha irmã, que acaba de ter
filho. Será rápido.
— Pode ir. Não irei sair antes das 18h.
— Obrigado, senhor.
— Cuidado quando for dormir.
Ele me olha e sorri.
— Porra, estou sem moral!
Ele se retira da sala.
A porta se abre novamente e, desta vez, é
a Débora.
— Foi difícil. O cara sabe esconder as
coisas, mas para mim nada é impossível.
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Entrei em contato com alguns conhecidos, e


veja só o que descobri do tal Edson Almeida.
— Ela me entrega dois papéis. — Agora vou
indo, porque tenho uma tonelada de papéis
para revisar.
— Obrigado.
Assim que ela se retira, eu leio os papéis,
e confirmo minha suspeita de que aquele
cara não vale nada. Não foi à toa meu aviso a
Beatriz.
Esse filho da mãe foi detido na cidade
onde morava, por assediar uma funcionária
de um restaurante, e depois por agredir
verbalmente outra da universidade e tentar
assediar a mesma, e isso há sete anos, porém
nos dois casos ele se safou e, pelo visto,
escondeu bem da mídia. E duvido que não
tenha outros casos, mas sem denúncias. Sua
ex-esposa pediu medida protetiva contra ele...
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Que cacete esse homem faz como reitor em uma


universidade?!
Pego os papéis e vou até a Débora.
— Faça uma cópia para mim.
— Ok. A curiosidade é mais forte. Por que
quer saber desse homem?
— Tenho alguns motivos.
— Quais? — Sei que ela não vai desistir,
enquanto eu não dizer.
— Além de ser um puxa-saco da porra, a
Beatriz trabalha na mesma universidade que
ele, e o cara quase comeu ela com os olhos na
minha frente e do diretor, ele pouco se
importou conosco, e ela ficou desconfortável
com a situação. Apenas isso.
— Beatriz... A amiga da Liziara? — Ela
sabe quem é, está se fazendo de sonsa.
— A mesma — respondo com ironia.
— Agora sei por que quer tanto saber do
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cara. Pelo visto, o jeito que ele olhou para ela


não incomodou apenas ela.
— Faça a cópia e calada!
— Não está mais aqui quem falou!
O elevador se abre e olho para ver quem é
o palhaço que não pediu autorização para
subir.
— É o que imaginei. Um palhaço. Porra,
virou a casa da sogra? Entram e saem, sem
anunciar?
Débora gargalha.
— Sei que sou bem-vindo. Não precisa
insistir em dizer, tio.
— Henrique, só tem um motivo para você
vir até aqui. Qual o caso que quer saber se já
chegou ao meu reconhecimento, para aliviar
o seu lado?
— Nossa. Anda bem espertinho. Ficou
assim com a idade, ou...
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— Que caso, Henrique?!


— Como você aguenta esse mau humor,
Déb?
— Estou fazendo algumas pesquisas para
descobrir.
— Você em minha sala, e você faça o que
pedi e calada!

Assim que entramos na minha sala,


Henrique diz:
— Caso do Lorenzo Silva.
— Não sei de nada ainda. Quando foi?
— Hoje cedo.
— Com a lerdeza dos processos e das
entregas de novos casos, vai chegar mais
tarde ou amanhã.
— Sabemos que se você quiser, pode dar
um jeitinho. Alivia para mim. Tenho uma
ruiva gostosa de folga hoje, e uma filha

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passando o dia na casa da avó. Estou há uma


semana sem sexo. Ajuda!
— Te ligo assim que conseguir algo. Agora
some daqui. E que você broche. O tio te ama
— ironizo.
— Jamais brocharei. Ele é rei, e um rei
jamais se curva.
— Porra, vivi para ouvir uma merda
dessa. Some daqui, Henrique!
— Cuidado, tio, nem sempre o volume em
minhas calças é uma ereção.
— E cuidado, porque nem sempre minha
paciência é longa, e minhas armas andam
sempre carregadas!
— Porra! Que mau humor, hein! — Ele se
retira da sala.

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Capítulo 3

Folga era tudo o que eu precisava, depois


de um dia horrível como ontem. Porém, não
pude acordar mais tarde hoje, porque tenho
que buscar minha tia na rodoviária, ela
chega às nove, mas antes combinei de passar
na Liziara e ver as meninas.
Está um calor insuportável, então
coloquei um short jeans e uma camiseta
preta, e está ótimo. Nós pés sapatilha e estou
pronta para enfrentar o sol.
Pego a carteira e as chaves e saio de casa.

O caminho até a casa da Liziara é curto.


Eles se mudaram e agora moram mais perto

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de mim.
Estaciono o carro e o porteiro, que já me
conhece, libera minha entrada.
Chego ao andar deles e aperto a
campainha. Escuto a chave na porta e David a
abre.
— Sério, David? Logo cedo sou obrigada a
ver você de cueca?
— Bia, você acaba de ver o paraíso e
reclama?! Bom dia para você também.
— Bom dia.
Ele me dá passagem.
— Eles estão na sala de jantar. Eu ia
tomar um banho, mas você atrapalhou.
— Não tenho unhas grandes à toa, então
não provoca.
— Não está mais aqui quem reclamou.
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— Eles quem?
— Marcos e Liziara. As meninas estão
dormindo.
— Certo. Vou embora, e você finge que
era o síndico.
— Amor, a Bia chegou! — ele grita.
— Você vai me pagar, David! — Ele me dá
uma piscadela e fecha a porta.
Vou até à sala de jantar e Liziara sorri
animada assim que me vê. Marcos murmura
algo, mas não entendo.
Vou até Liziara e a cumprimento com um
beijo no rosto.
— Tome café com a gente. Daqui a pouco,
acordo as meninas.
— Estou sem fome, mas obrigada. — Olho
para o Marcos antes de me sentar. — Bom
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dia.
Ele assente apenas.
— Te liguei, mas só chamava. Queria
minha bolsa preta que esqueci lá. Vou usar
ela hoje.
Coloco a mão no bolso do short e percebo
que esqueci o celular.
— Eu o esqueci. Ultimamente não
esqueço a cabeça que fica grudada no corpo.
— Bem-vinda ao clube. Folga hoje?
— Sim. Bom, sim e não. Com minha tia
vindo para cá, não existirá folga. — Sorrio.
— Jaque é um amor. Adoro-a.
— Fique uma semana com ela, e você
pede socorro. E você está de folga?
— Que nada. Mais tarde vou para a boate.
A Daiane vai vir pra cá ficar com as meninas.
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— Mais uma babá foi mandada embora?


— Não confiei nela.
— Você diz isso de todas.
— Concordo! — Marcos se manifesta.
— Bia, é que...
— Eu sei. Ficaria preocupada igual a você
se estivesse no seu lugar.
— Vou acordar elas. Já venho.
— Vou junto.
— Fique e faça companhia ao Marcos.
— Eu não mordo, Beatriz, só se você pedir
— Marcos diz e Liziara olha feio para ele.
— Seja rápida, Lizi, ainda tenho que
buscar meu celular, minha tia vai ligar
quando estiver chegando.
— Pode deixar! — Ela sai rapidamente

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me deixando a sós com Marcos.


— Foi bom te encontrar aqui, facilitou eu
ter que te procurar.
— Por quê? — pergunto.
— Venha. — Ele se levanta e fico olhando
para ele. — Pare de ser medrosa. Vamos até a
sala.
Acompanho-o até a sala. Ele caminha até
o sofá e pega alguns papéis dentro de sua
pasta.
— Um presentinho para você. — Ele me
entrega.
— O que é isso?
— Leia. Acho que vai gostar de saber.
Olho os papéis e então começo a ler.
Fico horrorizada ao terminar de ler.
Sento-me no braço do sofá e olho para o
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Marcos.
— Não posso acreditar que Edson tenha
feito tudo isso! Como conseguiu isso?!
Ele ergue a sobrancelha esquerda e me
olha como se eu fosse uma idiota.
— Ok. Vou refazer a pergunta. Para que
foi pesquisar isso?
— Porque não confiei naquele cara
depois do que ele fez.
— E o que resolve eu saber disso? Eu não
sou a lei, e não posso fazer nada. Porque o
principal para minha segurança eu já faço,
que é evitá-lo ao máximo.
— Apenas quero que saiba. Porque se ele
aparecer quebrado, teve motivos.
— Por que ficou com tanta raiva assim
dele a ponto de investigar o seu passado?

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— Por que eu não ficaria? O cara te


comeu com os olhos. Porra, na frente de um
juiz e pouco se importou com isso, mesmo
você sendo funcionária da universidade e ter
ficado claro em seu olhar que não gostou do
que ele fez. E quando você saiu, ele ficou
vidrado em sua bunda. Tem como não ficar
puto com um cara desse?
Ele está nervoso.
— Obrigada por me alertar, Marcos.
— Alertar sobre o quê? — Liziara
pergunta preocupada enquanto segura as
duas meninas.
Pego Laura no colo e dou um beijo em seu
rosto.
— O reitor da universidade que ela
trabalha.

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— O que aquele filho da mãe fez com


você?
— Nada, Lizi. Marcos apenas não gostou
do jeito dele e veio me alertar.
— Ninguém gosta. Eu odeio aquele
homem nojento, safado. Ele só falta comer as
alunas com os olhos. Aquele idiota vive
babando pela Beatriz. Não gosto dele. Ele não
me inspira confiança.
— Bom, Beatriz, o que eu disse ontem
está valendo. Quem assina a sentença sou eu!
Agora vou indo que o dia vai ser longo e
cheio. — Dá um beijo nas meninas. — Até
mais. — Ele se retira.
— Ontem? — Liziara pergunta sorridente.
— Ele estava na universidade.
Encontramo-nos e ele meio que ameaçou ao
Edson.
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— Fez é pouco. Deveria ter dado umas


porradas naquele homem.
— Vamos esquecer-nos do Edson, por
hoje.
Fico brincando com as meninas e
conversando com a Liziara. Quando chega
certo horário, pego a carteira junto com as
chaves e os papéis que o Marcos trouxe e me
despeço.

Estou cansado. A audiência foi difícil, e


não pôde ser concluída, foi marcada para
mais um dia, o que odeio ter que fazer, mas
não tive escolha.
Sento-me na cadeira, e solto o nó da
gravata. O caminho até aqui foi com um

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trânsito caótico, que tenho certeza de que


levei multa, pela impaciência e cansaço.
Odeio agir com insensatez, porém hoje o dia
está uma nuvem negra sem previsão de sol.
A porta se abre e Débora entra, parece
estar mal.
— O que aconteceu? — pergunto
preocupado.
— Dor de cabeça. Mas já tomei remédio,
logo passa. Ligaram do escritório E.A..
— O que o Henrique quer?
— A secretária dele queria saber se o que
o Henrique pediu para você, já chegou ao seu
conhecimento.
— Ainda não. Vou ligar para ele e resolver
isso.
— O escritório da dona Paula também

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ligou. A secretária dela mandou informar


que tem um jantar hoje com a família, e sua
presença é indispensável.
— Porra! Estou fodido hoje! A nuvem
negra virou um poço escuro e sem fim. Só
quero paz — resmungo. — Alguém mais dos
Escobar ligou para me exigir algo? —
pergunto irritado.
— Na verdade, Daiane veio até aqui.
Precisa conversar sobre algo, mas acredito
que não tenha nada a ver com a promotoria.
— Ligarei para ela também. Alguém
mais?
— Não mais. — Ela dá uma piscadela. —
Dia difícil? — Ela se senta na cadeira.
— E como! Só preciso relaxar.
— Marcos, posso te fazer uma pergunta?

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— Se eu não deixar, vai fazer do mesmo


jeito.
— Ainda bem que sabe. Não está na hora
de deixar de ter uma vida sozinho? Sei lá,
você precisa de alguém, homem!
— Você sabe que não sou capaz, não mais.
— Marcos...
— Débora, você é a única que sabe o que
aconteceu, e deveria entender os meus
motivos.
— E por saber o que aconteceu, está na
hora de esquecer o passado. Quando
estávamos juntos, que nos encontramos na
nossa dor, você me fez lutar e ir em busca da
felicidade, e eu encontrei o Cleber, porque
me permiti isso. Se permita lutar por algo
novo.

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— Não consigo. — Jogo a cabeça para trás


apoiando na cadeira. — Não posso esquecer.
— Então se permita ser feliz e use do
passado como uma lição de vida. Aprenda
que contos de fadas não existem. A vida é
dura, e você como ninguém deveria saber,
afinal, convive com casos terríveis dia e
noite, tem marcas no passado, perdeu seu
irmão. Nem todos que vão entrar na sua vida
vai ser para ficar. Tivemos algo no passado, e
hoje estou casada, e nem por isso foi ruim,
são lembranças boas, de um tempo triste,
mas que me permiti a começar a lutar e ir
atrás da minha grande felicidade, e encontrei
no homem que amo demais e sei que ele me
ama da mesma forma ou até mais. Faça da
mesma forma. Eu sonho em te ver com uma
alegria duradoura, homem!

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Ajeito-me na cadeira e olho para ela


sorrindo.
— Déb...
— Me prometa que vai tentar, por favor?
— Eu...
— Me prometa, porque o tempo está
passando e lá fora tem alguém à sua espera,
mas se demorar, pode perdê-la, ou perdê-lo.
— Uma porra! Não sou gay, sua praga! —
Ela ri. — Prometo. E sei que já sabe disso, e
confio em você. Mas nunca conte a ninguém o
que sabe. Isso é meu segredo, que escolhi
apenas a você para dividi-lo, porque você é
uma grande amiga, mesmo me tirando do
sério sempre.
— Não contarei. Mas sei que um dia terá
alguém para se libertar desse trauma, e que

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confie tanto quanto confia em mim, para


dividir o que tanto esconde.
— Quem sabe.
— Sei que vai, apenas permita que isso
aconteça. Agora tenho serviço. — Ela se
levanta.
— Obrigado.
Ela sorri e se retira.
Depois dessa conversa depressiva, hora
de ver o que os Escobar querem.
Ligo para o escritório do Henrique, na
E.A. (Escobar Advocacia). A secretária dele
atende e passa a ligação para a sala dele.
— Vejam só, o tio amoroso liga para o
sobrinho que tanto ama. Eu sei que sou o
predileto, prometo não contar ao David.
— Você tem dois minutos, antes que eu
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me arrependa de ter ligado.


— Senhor bom humor, recebeu o caso do
Lorenzo Silva?
— Não. Em qual delegacia ele foi detido?
— Do David.
— Certo. Vou dar uma passada lá, e
depois conversamos.
— Às vezes, paro para pensar, eu sou o único
que fode tudo pra vocês.
— Por que diz isso?
— David prende, você e a Daiane fazem de
tudo para os culpados terem o que merecem, e eu
acabo libertando eles. — Ele ri.
— Pois é. Até na vida profissional, você é
um porre. Depois nos falamos.
— Beijinho na bochecha, titio.

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— Vá se...
Ele ri e desliga antes que eu termine de
falar.
Eu vou infartar com esses sobrinhos. Que
porra!
Lembro que tenho que ler e assinar uns
papéis. Faço isso antes de ligar para a
Daiane.
Assim que termino, ligo para ela
imediatamente.
— Oi, tio. Aconteceu algo? — pergunta
preocupada.
— Não. Apenas soube que veio aqui. O
que está acontecendo?
— Nada. É que passei na delegacia depois daí,
e soube que o David está na rua, em uma invasão
a um mercado, e tem reféns. Já pensei o pior,

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porque não consigo contato com ele, e ele e sua


equipe não retornaram, e pediram para os jornais
pararem a transmissão do ocorrido.
— Porra! Não se preocupe, vai acabar
tudo bem — tento acalmá-la.
— Tomara. Espero que todos os reféns e os
policiais saiam ilesos. Tio, qualquer coisa que
souber me avise. Vou entrar em uma audiência
agora.
— Certo. Mas, antes o que queria comigo?
— Depois conversamos, eu prometo. Agora
vou indo. Por favor, tenta descobrir algo.
— Irei, não se preocupe. Amo você.
— Também amo você. Beijos. — Escuto
chamarem ela, e ela desliga.
Era só o que faltava, cacete!
Ligo para Liziara. Ela atende depois de
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um tempo.
— Oi. — Ela está chorando.
— Está tudo bem? — pergunto
preocupado.
— Não. O David, acabei de receber a notícia
de que ele está na rua com a equipe dele.
Ninguém sabe mais nada. Não consigo falar com
ele. Estou desesperada. Na delegacia falaram que
eles estão fora há mais de três horas e que não
podem passar mais informações. Pediram até
para os jornais não transmitirem mais nada.
Marcos, e se...
— Não diga. Estou saindo do escritório.
Fique calma. Vá para a casa da Paula com as
meninas. Qualquer novidade ligo para vocês.
— Ok!
Desligo e pego minhas coisas na mesa.

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Saio da sala rapidamente.


— Débora, está dispensada. Tenta contato
com o Cleber, e se conseguir diz que quero
falar com ele urgentemente!
— Se é sobre o David... — Ela se levanta e
seu olhar é estranho.
— Débora, o que houve?! — indago
preocupado.
— Cleber acabou de ligar avisando... Tem
uma notícia boa e uma ruim.
— Diz logo!
— A boa é que prenderam os bandidos, e
nenhum refém se feriu. A notícia ruim é que
teve um confronto com os bandidos, e o
David foi atingido. Não se sabe o estado dele.
Foi encaminhado para o hospital que ele tem
convênio.

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— Caralho! Está dispensada. Mantenha-


me informado sobre qualquer novidade.
Ligue antes para a casa da Paula e informe lá.
Estou indo para o hospital.
Sinto meu peito apertar. Estou
desesperado. Este dia estava ruim e ficou
pior.

Chego ao hospital e me informam que ele


está na sala de cirurgia. Vou para a sala de
espera, que dá acesso a sala que ele está.
Henrique já está aqui, andando de um
lado para o outro. Tem policiais na porta da
sala de cirurgia e seguranças cercando o
andar.
— Tio! — Abraço ele.
— Fiquei sabendo agora, pela Débora.
— Assim que terminamos de nos falar
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pelo telefone, minha secretária me avisou,


pois o Cleber ligou avisando. Corri para cá
tão desesperado, que em menos de dez
minutos estava aqui.
— Como está a situação dele?
— Não sei. Não sai uma porra para avisar.
— Vai dar tudo certo. Se acalma.
Ficamos em silêncio. O desespero
aumenta a cada minuto que esperamos.
— Cadê meu marido?! — Liziara chega
com a Paula. Elas estão assustadas. Liziara
chora.
— Está em cirurgia — Henrique diz.
— Meu filho. Meu Deus! Eu sempre disse
que vocês não têm amor à vida, mas não me
escutam! — Paula chora. Henrique a abraça.
— Quero saber do meu marido! Que
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porra! — Liziara grita.


— Se acalma... — Abraço ela, que chora
desesperada.
Tenho que ser forte e frio. Não posso me
permitir ser diferente neste momento, pois
pode ser pior.
Beatriz chega com uma mulher, e passa
por nossos seguranças, pois eles a conhecem.
— Lizi... — ela diz e a Liziara me solta e
corre para a amiga, que a abraça.
— Estava aqui perto, quando me ligou.
Não entendi nada, estava tão nervosa, o que
houve?
— David foi atingido por uma bala. Está
na sala de cirurgia. Não sabemos mais nada.
Estou com medo.
Paula se senta e Henrique também, ela

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apoia a cabeça no ombro dele, que a abraça.


— Vai ficar tudo bem. David é forte. Vai
sair dessa rapidamente. Tenha fé — Beatriz
diz.
— Prazer, sou Jaqueline, tia da Beatriz.
Sou médica cirurgiã. Vou tentar saber como
está a situação, se me permitirem.
Liziara solta a Beatriz.
— Por favor, Jaque!
— Seremos muito gratos — Paula fala.
— Obrigada, tia — Beatriz diz.
Jaqueline se retira.
— Senta um pouco. Está tremendo, Lizi. —
Beatriz ajuda ela a se sentar e depois se
encosta na parede de frente para nós, e cruza
os braços.
Alguns minutos depois, Jaqueline
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aparece, vestida com roupas apropriadas


para médicos cirurgiões.
— O enfermeiro-chefe avisou ao cirurgião
que estou aqui, e com muito custo me
permitiu a entrada, pois me conhece, mas é
proibido no momento, então ficará em sigilo.
Verei de perto tudo o que se passa, e trago
informações.
— Obrigado — Henrique e eu dissemos
juntos.
Ela se retira e entra na sala de cirurgia.
Estou preocupado demais. Ver meu
sobrinho, Paula e Liziara desesperados, me
deixa pior. David tem que ser forte e sair
dessa, esse filho da puta não pode fazer isso
com a família agora.
Um tempo depois, Jaqueline sai da sala.
Levantamos e ela vem até nós.
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— O que aconteceu? — Paula pergunta


aflita.
— Terminou a cirurgia. Me permitiram
dar a notícia. Ele foi atingido no ombro
esquerdo. Mas, felizmente, não foi grave. Ele
vai ser levado para o quarto. Não poderá
receber visitas no momento, pois está
sedado e precisa descansar.
— Graças a Deus! — Liziara diz chorando
e Paula a abraça, sorrindo. Henrique se senta
e solta o ar com força.
— Podem ir para casa se quiserem.
Provavelmente só mais tarde ele poderá ter
visitas. E ele está sedado, não tem mais o que
ser feito. Só ficarem felizes e agradecerem a
Deus — Jaqueline diz sorrindo.
— Não saio daqui, enquanto não ver ele
— Liziara diz.
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— Muito menos eu — Paula rebate.


— Obrigado, mais uma vez, Jaqueline —
digo a ela.
— Não tem pelo que agradecer. Só fiz
minha parte. Vou retirar esses trajes, e
conversar com o cirurgião. Se eu souber de
algo a mais aviso — fala e então se retira.
Sinto um alívio imenso. Se algo
acontecesse ao David, ou a qualquer um da
minha família, não sei o que eu faria. Nunca
me perdoaria. Prometi ao Joseph que se algo
um dia acontecesse com ele, eu cuidaria da
família que ele construiu, e daria todo amor.
Não poderia jamais quebrar essa promessa
que fiz ao meu irmão. Minha família é tudo
para mim.
— Bia, me perdoa por fazê-la vir para cá.
Sua tia chegou hoje e já dei trabalho...
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— Não se preocupe. Fico feliz por ele


estar bem — ela diz e sorri.
— Posso te pedir mais um favor, Bia?
— Sempre — Beatriz responde.
— Fica com as meninas? Deixei elas com a
dona Jurema, na Paula.
— Fico sim. Irei apenas avisar minha tia, e
ver se ela vai ficar, ou vai embora.
— Não se preocupe, eu levo sua tia — falo
para ela.
— Obrigada — agradece.

O que tinha para ser um bom dia, virou


um pesadelo. Quando Liziara me ligou,
estava comendo em um restaurante perto do
hospital com minha tia. Corri para o hospital
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sem pensar duas vezes. Fico aliviada por


saber que David está bem. Tenho muito
carinho por ele, afinal, é esposo da minha
melhor amiga e pai das minhas afilhadas.
Quando chego na dona Paula, Jurema e os
seguranças perguntam agoniados por
notícias do David, e digo a eles que foi um
susto, mas a cirurgia correu bem e não foi
nada grave. Vejo o carinho que todos têm
pela família que são seus patrões, pois ficam
aliviados com a notícia.
Digo para dona Jurema que pode ir
embora, e com muito custo ela se vai. Ela
informou que as meninas já mamaram. Elas
estão dormindo no quarto do David. E fico
com elas na cama. E pensar que poderiam ter
perdido o pai tão novas. Melhor nem pensar.
Deus as livre de algo tão difícil assim.

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Tia Jaqueline sai de férias, mas o trabalho


não sai dela. Aquela mulher ama sua
profissão e faz de tudo por ela. Me orgulho
disso, pois é uma profissão linda, e merece
profissionais bons como ela.
Porém, só um rosto me vem à mente sem
parar: Marcos.
Nunca o vi tão abatido como hoje. Parecia
tão frágil, ali sentado sem ação, com o olhar
perdido. É estranho ver um homem que
conheço há um bom tempo e sei que é
sempre de ação, grosso, de atitude, e hoje o vi
daquela forma. Esse juiz de quinta está
mexendo com minha mente há um bom
tempo. Droga!
Sinto meu olho pesar. Acordei cedo, e o
dia foi longo. Estou exausta. Levanto da cama
e a empurro com cuidado para que fique

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encostada na parede, e assim ter certeza de


que as meninas não vão se mexer e cair.
Ajeito elas certinho na cama e me deito
novamente. Estou realmente cansada.

Escuto alguém me chamando suavemente


e sinto me chacoalhar de leve.
Abro os olhos com calma. E vejo que as
meninas não estão mais na cama.
— Daiane e Ana Louise chegaram há um
tempo, e estão com elas lá embaixo. Não te
acordaram, porque ficaram com dó.
— Marcos... — Levanto-me e ajeito o
cabelo — Que horas são? Nem vi ninguém
chegar. Estava cansada demais e ainda estou.
— Duas da manhã.
— Meu Deus! Preciso ir.
— Não queriam que eu te acordasse, mas
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achei melhor, porque deixei sua tia na sua


casa já.
— Obrigada por me acordar e levar
minha tia. Deixa eu ir.
Quando vou sair do quarto, ele me segura
pela mão.
— Obrigado. Por ter ido até lá, mesmo
com sua tia que acabou de chegar. E obrigado
também por ficar com as meninas.
— Não tem porque agradecer. Preciso ir
agora.
Ele me solta.
— Eu te levo. Está tarde. Depois mando
um dos seguranças levar seu carro.
— Não precisa. Obrigada.
— Não foi um pedido. Eu te levo.
Inferno de homem!
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— Eu já disse que não precisa, Marcos!


— Não estou perguntando se precisa.
Vamos logo.
Saio do quarto irritada.
Cumprimento Ana e Daiane e me despeço
delas.

Entro no carro do Marcos e ele entra em


seguida.
— Só estou deixando, porque estou
cansada demais para discutir.
— Sei — ele diz e dá partida no carro.
O caminho até minha casa é em silêncio, o
que é ótimo. Pois nossas conversas acabam
em ameaças, ou provocações, e estou exausta
para isso.

Ele estaciona o carro e destrava as portas.


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— Antes das sete da manhã, seu carro


estará aqui.
— Certo. Obrigada, pela carona, mesmo
eu não querendo. — Ele sorri, e não sei se
isso é bom ou ruim. — Tchau.
— Tchau. — Desço do carro e fecho a
porta.
Passo pela portaria e só então ele vai
embora.

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Capítulo 4

O dia de ontem foi terrível. Torço para


que o de hoje seja bom.
Estou no hospital. Todos já foram visitar
David, eu fiquei por último, mas tenho que
ser rápido, tenho audiência em breve.
Entro no quarto e ele me olha. Está com
uma péssima aparência, o que é difícil para
eu ver, pois sempre o vi forte, determinado,
sorrindo por aí.
— Não foi dessa vez que se livrou de mim
— ele diz, rindo.
— Nem pense nisso. Quer me matar do
coração, cacete? Que não tenha uma próxima

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vez, David Escobar, ou serei eu a tentar te


matar! — digo seriamente.
— Não posso prometer.
— Como se sente?
— Bem, mas querendo ir embora, ficar
com minha mulher e minhas filhas. E voltar
ao trabalho. Porém, ficarei uns dias sem
poder entrar em ação, só ficando nos
bastidores. Recebo alta amanhã, o que é um
alívio. Se eu tiver que aguentar mais uma
enfermeira derrubando remédios, se
engasgando quando vai falar, ou ficando
parada me olhando como se eu fosse um bife
bem suculento, eu me suicido.
Rio.
— Está rodeado de mulheres e ainda
reclama? Porra, quem é você e o que fez com
o David? — provoco.
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— Não vou mentir, me deparo sempre


com mulheres lindas, gostosas, que em
outros tempos eu as levaria para a cama,
porém em casa tem uma mais linda, mais
gostosa, que amo, e não a trocaria por
nenhuma outra.
— Vou vomitar ali um pouco, e já venho.
Essa declaração me fez ver unicórnios.
Ele revira os olhos e sorri.
— Fiquei sabendo que a tia da Beatriz
ajudou. Liziara me contou hoje, antes de eu
expulsar ela, que não queria ir embora de
jeito algum.
— Essa é sua mulher, uma porra-louca
teimosa. Quando eu digo, ninguém me dá
atenção. E sim, ajudou.
— Levou a Beatriz para casa. Mandou o
Simon levar o carro para ela hoje... — diz e ri.
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— Puta que pariu, as notícias correm


nessa família! Sim a levei, o que não tem
nada de mais. Só não queria ter que
acompanhar todos a um hospital novamente,
porque ela bateu o carro. Ela estava cansada,
não ouviu nem a Daiane e a Ana chegando e
pegando a Helena e a Laura, imagine
dirigindo? Partiria o carro ao meio.
— E agora preocupado com ela? Quem é
você e o que fez com o Marcos? — ele me
provoca.
— É, você está bem, perdeu até o medo de
morrer. Vou indo, alguém aqui trabalha.

Termino meu café, e algo me incomoda


profundamente!

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— Ok. Passou o café da manhã inteiro me


olhando e dando sorrisinhos toscos. O que
foi, tia?
— Ufa, achei que não iria perguntar! Meu
Deus, estava ficando louca já.
— Diga rápido, porque tenho que ir
trabalhar.
— Você e o gostosão tem algo?
— Quê? Que gostosão?
— Não se faça de idiota! O Marcos
Escobar. O juizão delícia, que pude conferir
pessoalmente que é tudo o que dizem nos
sites e revistas.
— Pelo amor de Deus! Nunca. Eu e aquele
juiz de quinta não temos nada. Eu, hein!
— Sei... Então, por que ele não parava de
olhar para você?

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— Sei lá... Tia, por favor, não comece com


suas loucuras.
— Quando irei te ver com um homem pra
valer?
— No momento não. Sabe que tenho
minha vida planejada. Ainda não é tempo
para isso. Quero um homem certo, para
casar, construir uma vida nova. Porém, só
depois que eu criar coragem, largar meu
emprego, e correr atrás de emprego em um
banco importante, o que sempre foi meu
sonho.
— Nossa, me cansei depois de tanto
planejamento que tive que ouvir. Querida,
tenho 40 anos, e curto a vida mais que você, e
ainda sendo cirurgiã, fazendo plantões
absurdos, no dia da folga saio e me divirto. A
vida é uma só, viver planejando nem sempre

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é bom. Planejar uma viagem, um filho,


comprar um carro, tudo bem, agora planejar
quando vai encontrar um amor, quando vai
transar, quando vai procurar outro
emprego... Me poupe, se poupe, nos poupe!
Bia, acorda! Você tem 27 anos, é jovem, vá
curtir mais a vida!
— Tia, eu vou trabalhar. Esse papo vai
acabar em briga, como sempre. Então sinta-
se em casa. Qualquer coisa me ligue. Te levo
para jantar fora hoje, você escolhe o local.
— Beleza. Se não quiser o juiz, me passa o
contato dele, posso ensinar a ele sobre cada
parte do corpo humano — ela gargalha.
— Papo desnecessário. Fui. Amo você.
Pego minha bolsa e me retiro. Não estou a
fim de começar meu dia tendo que escutar
falar do Marcos!
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Liguei para a Liziara e soube que David


passa bem. Infelizmente não poderei ir até o
hospital hoje visitar ele. Mas só de saber que
passa bem é um alívio.

O trabalho está sendo cansativo hoje. De


sexta-feira é sempre assim. Alunos correndo
atrás de prejuízos da semana para se
organizarem na próxima. Professores
faltando, Eric, diretor pedagógico, surtando
porque os professores faltam. É um dia
cansativo. Porém, só de lembrar que é sexta,
já me dá um alívio.
Termino de imprimir alguns papéis que
preciso entregar para alguns alunos. Assino
todos e saio da sala para entregá-los.
Retorno a minha sala e Lilian está nela
com alguns papéis.

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— Recebemos um e-mail do reitor,


mandou esses arquivos, quer que você peça
aos professores para assinar. Ele está
chegando e quer na sala dele o quanto antes
e que programe uma reunião com os
professores do noturno e deixe a
coordenadora da noite avisada.
Pego os papéis e coloco em minha mesa.
— Ok. Obrigada.
Ela se retira da sala.
— Sinto muito, mas já está chegando a
hora do meu almoço, farei isso só depois.
Preciso estar alimentada, para aguentar o
reitor — digo sozinha.
Meu celular toca e é a Liziara ligando.
— Oi, Lizi.
— Estou atrapalhando?

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— Nunca. O que foi?


— Devido aos problemas com o David, Paula
teve que cancelar o jantar que faria. Então
amanhã terá uma festa, para comemorar a volta
do David. Você está convidada.
— Obrigada, Lizi. Mas minha tia está aqui.
Quero aproveitar o final de semana com ela.
Mas, muito obrigada mesmo pelo convite.
— Está bem... Entendo. Bom, vou indo, hoje
estou de folga do trabalho, mas tenho faculdade.
Já encontrei alguém para ficar com as meninas.
Bom, meio que fui intimada. Paula quer ficar com
elas à noite, enquanto eu estiver na faculdade.
— Mas quando for trabalhar? Anda
abusando muito, Lizi. É faculdade, trabalho,
cuidar das meninas, da casa, do David.
— Conversei hoje com o David quando fui
visitá-lo. Ele está certo, por minha segurança, e
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para meu rendimento na faculdade, melhor eu


deixar a boate. Estava perdendo aulas, cansada,
estressada, não tinha nem paciência com as
meninas mais.
— Está querendo se fazer em mil.
— Então. Ele pediu para eu sair da boate, e
hoje vou conversar lá. As meninas são bebês
ainda, precisam de mim, e minha faculdade
também, e meu marido precisa da minha atenção
também e eu preciso relaxar um pouco também.
Não queria deixar de trabalhar, mas é só até as
meninas estarem um pouco maiores e eu ter paz
para ir ao trabalho e faculdade, deixando elas
com babá.
— Está certa. Ainda mais elas sendo filhas
de Escobar, todo cuidado é pouco.
— E quando a Paula não puder ficar, minha
mãe fica.
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— Ótimo! Fico feliz que resolveu isso,


estava uma loucura.
— Ai, Bia, eu aqui falando, e você no trabalho.
— Na verdade... — olho no relógio —
estou indo almoçar.
— Comida. Nem me fale, estou morta de fome,
mas estou presa no trânsito, a caminho do
hospital. Consegui que deixassem as meninas
visitarem ele. Acredita que não queriam? Cada
coisa.
Rio.
— É como falam mesmo... Os Escobar
conseguem tudo.
— Querida, posso ser uma Escobar, mas o
Araújo ainda está no sangue, e um Araújo sabe
ser irritante quando quer e é persistente ao
extremo até conseguir o que tanto quer. —

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Rimos.
— Bom, vou almoçar. Depois a gente se
fala. Beijos.
— Beijos. E coma muito por mim.
— Pode deixar. Até. — Desligo o celular.

Recebi uma ligação do reitor da


universidade querendo mais uma palestra
minha hoje, porém com todos os alunos do
Direito. E como sou um homem bom, aceitei.
Quem eu quero enganar? Preciso ver a
Beatriz novamente. Não consigo parar de
pensar nela, desde ontem... Desde sempre.
Cheguei na hora do almoço dela. E sim,
puxei a ficha dela aqui do trabalho, para
saber os horários dela. A palestra é depois do

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almoço, por que não chegar mais cedo?


Fiquei parado na porta da sala dela vendo
a conversar com a Liziara no telefone. E juro
que pensei que não calariam mais a boca.
Ela se organiza para sair da sala, e ainda
não notou minha presença.
Ela desliga a tela do computador, joga
alguns papéis no lixo. Em seguida, pega o
celular, coloca na bolsa e pega a chave do
carro.
Quando se vira e me vê, grita, derrubando
a bolsa no chão. Ela está pálida. Vai dar um
passo para trás, mas enrosca o salto no pé da
cadeira e cai sentada nela.
— Sempre soube que causava algo nas
mulheres, mas nunca presenciei algo tão
assim... Como posso dizer... Assustador? Se
for desmaiar, avisa para eu sair sem ser
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acusado depois. — Ela me olha com raiva.


— Quer me matar, não é? Fala a verdade!
Qual o seu problema?! Que inferno.
— Não. Matar? Não.
— Há quanto tempo está aí?
— Você vai passar o final de semana com
sua tia, e por isso recusou o convite que ela
deve ter te feito... E escutei também “Oi, Lizi”.
— Como você é ridículo. Ficou escutando
minha conversa.
— Sou educado. Não quis interromper.
— Isso é perseguição? Porque vive
aparecendo no meu caminho e no meu
trabalho principalmente!
— Tenho palestra novamente hoje.
— Não trabalha? — pergunta com ironia.

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— Saí de uma audiência de quatro horas e


vim para cá.
— E o que quer aqui? — Ela se levanta e
pega a bolsa no chão.
— Vim te visitar. Deveria se sentir
honrada. Juiz Escobar tira um tempo para
visitar você.
— Olha aqui, seu juiz de quinta, se veio
para me provocar, saiba que perdeu seu
tempo. Estou de saída. Agora saia da porta
que eu quero passar.
— Se você for um pouco educada, posso
pensar em sair.
— Marcos, por favor, estou com pressa.
Some!
— Cuidado, quem assina a sentença sou
eu, e a sua pode ser longa.

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— Não tenho unhas grandes à toa. Some.


— Ela passa por mim esbarrando com força
no meu braço.
— Já que não me convida para almoçar,
eu me convido. — Começo a seguir ela.
— Serei obrigada a ir em uma delegacia
pedir uma medida de proteção contra você!
— Se quiser faço uma para você.
Ela me olha mais irritada ainda, e isso
deixa-a ainda mais linda.
Ela para no meio do caminho.
— Quer saber. Se vai mesmo me encher,
você vai pagar o almoço. E vamos no seu
carro. Economizo minha gasolina. E tem
mais, sem segurança, não sou obrigada a
comer com um bando de homens olhando
cada movimento meu.

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— Pago almoço, te levo no meu carro.


Seguranças vão, mas não ficarão do lado de
dentro.
— Sem segurança.
— Com eles, ou nada feito.
— Sabia que diria isso. Nada feito.
Tchauzinho. — Ela sorri e volta a caminhar.
Essa mulher é uma demônia!
— Não pense que vai se livrar de mim no
almoço.
— Que inferno! Eu pago meus pecados
com você.
— Deveria agradecer, por pagar seus
pecados comigo.
— Que ódio! — ela resmunga e isso me
faz rir. — Que bom que isso te diverte. Vamos
logo, senhor Escobar.
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— Se me chamar de senhor novamente, eu


gozo. Vamos.
Ela fica vermelha e boquiaberta.
Ela escolhe um restaurante italiano que
apenas vende macarrão de vários tipos, e fica
bem perto da universidade, e tenho certeza
de que é para sair logo do meu carro.

Entramos no restaurante e peço aos


seguranças que fiquem ao lado de fora. Irei
realizar o pedido dela, ao menos hoje.
Nos levam até uma mesa no fundo do
restaurante. Beatriz se senta de frente para
mim. Essa realmente tem pavor de ficar
perto de mim, o que é estranho já que
normalmente as mulheres só faltam sentar
no meu colo.
O garçom oferece os cardápios, e pedimos

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um macarrão bolonhesa. Para beber peço


água com gás, e ela um suco natural de
laranja.
— Eu deveria ter pedido álcool — digo
enquanto deixo o celular no silencioso.
— Por quê? Que belo exemplo de juiz.
Álcool e carro, péssima combinação. Quando
digo que é um juiz de quinta, tenho razão.
— Porque você está me deixando louco
com essa perna chacoalhando embaixo da
mesa. — Ela me olha e disfarça, parando a
perna lentamente. — Eu já tinha sentido. E
quando digo louco, não é no sentido que você
pensa. É de nervosismo mesmo. Pare de ficar
intimidada perto de mim. Sou Marcos,
esquece o juiz, e esquece Escobar. Álcool iria
relaxar a tensão que está. — Dou uma
piscadela e ela revira os olhos.

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Nosso pedido é servido.


— Então, Jaqueline é sua tia. Não imaginei
que tivesse uma tia aparentemente jovem.
Ela larga o garfo e me olha irritada.
— Veio para falar da minha tia? Devia ter
dito antes, que eu te passaria o telefone dela.
— Nossa... Uau! Se acalma, gata arisca. Foi
apenas um comentário, sem quaisquer
segundas intenções.
— Se me chamar de gata arisca
novamente, perde o que tem no meio das
pernas.
— É sempre carinhosa assim? — provoco.
— Não me provoca, Marcos Escobar!
— Vim em missão de paz. — Ela me olha
desconfiada. — Falo sério, Beatriz. Me conta
mais sobre você, enquanto almoçamos.
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— Quer saber o quê? — pergunta e leva o


macarrão à boca.
— Sei lá. Tudo? Você é bem misteriosa.
— Como se não tivesse investigado minha
vida.
— Poderia, mas não fiz.
— Não tem muito o que saber sobre mim.
Tenho uma vida sem muita atração, como a
sua.
— Sei que isso foi uma indireta ao que
dizem as revistas e jornais, então vou fingir
que não entendi. Tem quantos anos? —
pergunto mesmo já sabendo.
— Vinte e sete. Farei 28 em breve.
Tomo um gole da minha água.
— Por que trabalha há tanto tempo na
universidade? Isso eu sei, pois tive que
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investigar muita coisa lá, para resolver o


caso da Ana Louise.
— Para ser sincera, eu não sei. Trabalho
lá, desde que fazia faculdade. Acho que me
acomodei por medo de tentar coisas novas.
Tenho uma vida bem programada.
— Formada em quê?
— Administração.
— E por que trabalha como coordenadora
na universidade? Isso é loucura.
— Porque... — ela larga o garfo e sorri
nervosa — eu planejei minha vida toda.
Desde a faculdade ao futuro casamento. O
problema foi colocar tudo em prática. Mas
consegui algumas coisas, arranjei um
trabalho, terminei a faculdade, consegui meu
carro, meu apartamento, mas não meu maior
sonho de trabalhar em um banco.
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— E por que não fez isso? É jovem,


inteligente... tem tudo pra conseguir
trabalhar em um bom banco.
— Aí que está o problema. Tenho tudo...
Um bom diploma, muito boa com números,
sou bilíngue... Tenho tudo o que precisaria
para realizar meu sonho, mas percebi
recentemente que...
— Mas falta a coragem.
Ela concorda.
— Não sei nem porque falei tudo isso...
— É bom te conhecer mais. — Olho para
ela, que me olha também. Ela baixa o olhar
para seu prato.
— Falamos muito de mim. Me diz... Quem
é o verdadeiro Marcos Escobar. — Sorrio.
— Para começar... Irei confessar algo de

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imediato.
— O quê?
— Não gosto de macarrão e muito menos
molho vermelho. — Afasto o prato.
— E por que não pediu outra coisa?
— Porque não sei se você reparou, o
restaurante que escolheu é italiano, porém
apenas de macarrão de vários tipos.
— Droga, por que não disse antes? —
indaga nervosa.
— Porque seria uma desculpa ótima para
você fugir.
— Isso é verdade. Mas você queria
almoçar, e não comeu nada.
— Não importa. Usei a desculpa de
almoçar apenas para acompanhar você.
— E para ter minha companhia, valia um
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restaurante que oferece apenas uma comida


que não gosta em vários tipos e ainda por
cima caro? — pergunta com ironia.
— Valia.
Ela tenta dizer algo, mas não consegue.
— Esse é o Marcos Escobar verdadeiro.
Que não gosta de macarrão e muito menos
molho vermelho, e que não se importa de
gastar dinheiro ou ir em um restaurante que
venda apenas macarrão, só para ter a
companhia de alguém especial.
— E por acaso eu sou especial? — Sorrio.
— Demorei alguns anos para perceber...
Você de alguma forma se tornou especial
desde a primeira vez que nos encontramos
na universidade, quando você me respondeu
bruscamente e passou por mim da mesma
forma, fazendo com que meus sobrinhos me
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atormentassem com as bobagens que saem


da boca deles quase sempre. Acha mesmo
que estou te cercando à toa? E só para você
saber, eu já sabia que iria na Liziara ver as
meninas, eu não estava lá por acaso.
Ela derruba o garfo no chão.
Não sou idiota. Sei o que estou sentindo,
apenas estou querendo mascarar. Já senti
isso antes e não acabou bem. Mas prometi a
Débora que tentaria. E porra, sou Marcos
Escobar, eu sou direto.
— Eu... é... Temos que ir. Ou estarei
ferrada. Tenho coisas para fazer.
— Sei que está fugindo. Porém, mais uma
vez, fingirei que não entendi.
Peço a conta e pago.
O caminho até a universidade é em total

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silêncio. Às vezes, ela me olha, mas eu finjo


não perceber. Ela já está nervosa o bastante
com o que eu disse.
Assim que chegamos, eu estaciono o carro
e ela desce rapidamente. Desço e fecho a
porta.
— Obrigada pelo almoço, e desculpa por
ser em um lugar que não come nada. Tenho
que ir.
— Também irei, mas antes tenho que
falar com os seguranças.
Ela concorda e entra rapidamente.
Deixo ela entrar. Não tenho que falar com
ninguém. Apenas sei que se eu entrasse ao
mesmo tempo, ela ficaria mais estranha do
que já está, pois teria que fazer o mesmo
caminho que eu.

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Sou direto, não fujo do que eu tenho para


dizer a ninguém. E não esconderei o que
sinto... Mas primeiro preciso entender o que
realmente sinto, e se for o que penso, e tenho
quase certeza do que é, eu estou fodido!

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Capítulo 5

É sábado e Liziara não para de me enviar


mensagens no celular, insistindo para que vá
participar da festa para o David. Ao que
parece, o que era para ser pequeno, se
tornou algo grande, e com muitos
convidados. Família Escobar é realmente
bem conhecida. Mas eu não quero ir. Já não
queria ir, e agora quero menos ainda. Depois
do que o Marcos disse, eu estou atormentada.
Depois de anos que nos conhecemos,
vivemos em pé de guerra e do nada ele diz
aquilo, e age daquela forma. Não posso ter
minha vida bagunçada, porque aquele juiz de
quinta me deixou sem ação, e pensando em

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um milhão de coisas. Os Escobar são um


perigo para a mente e coração feminino e por
isso eu preciso continuar deixando o meu
blindado.
Quando estou perto dele sinto medo, mas
é um medo diferente. Sempre tento evitá-lo e
é como se uma força me puxasse para ele.
Isso me deixa louca, com medo. Depois do
que aconteceu, é melhor eu realmente evitá-
lo.
— Então quer dizer que hoje tem uma
festa na casa dos famosos Escobar, e você não
me diz? Mulher, isso não se faz. Não trouxe
calcinhas para essa ocasião — minha tia me
fala.
— Quê?!
— Ficar perto deles molha muita
calcinha, e aí terei que trocar toda hora...
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Preciso correr e comprar umas além das que


eu trouxe.
— Não! Eu não quero saber das calcinhas
que vai molhar, e juro que preferia não
saber. Eu quero saber como soube?
— Não faz a pergunta direito e pira.
Liziara, meu bem. Ela sim se sai uma boa
sobrinha.
Eu ainda vou ficar viúva de amiga.
— Tia, não iremos. Escolhe qualquer
lugar, menos lá.
Ela se senta no sofá e fica me encarando.
— O que foi?
— Vai... me fala.
— Falar o quê?
— Está fugindo do bonitão do Marcos, da
Daiane ou da Paula? Porque os outros dois
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são casados. E eu voto no Marcos, porque até


onde sei não é lésbica.
Fico olhando para ela sem acreditar no
que estou ouvindo.
— Sim, eu sei sobre cada um. As revistas
contam. E tive a sorte de conhecê-los no
hospital, não que conhecer alguém no
hospital é sorte, mas... Ah, você entendeu!
— Tia, eu não estou fugindo deles e
também não sou lésbica, e também não
tenho nada contra quem seja.
— Então por que não quer ir? É uma festa
para o marido da sua melhor amiga.
— Porque quero curtir a noite com você
— digo, tentando soar bem firme.
— Mentira! Te conheço muito bem. Fala a
verdade.

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— Ok. — Sento-me no sofá no qual eu


estava deitada. — Eu estou evitando o
Marcos. Satisfeita?
— Não! Evitando aquele tesudo? Você é
lésbica sim! — diz assustada. — Agora sei
porque nunca quer os homens lindos e
gostosos que te mostro. Meu amor, era só
dizer, poxa. Eu apoio, e acho até maneiro.
— Sério que você tem 40 anos?
— Não diga esse número em voz alta!
— Estou evitando por motivos que
precisam disso. E não fico reparando se ele é
tesudo ou não — minto.
— Pois eu reparei. Aqueles olhos são um
orgasmo duplo. E aquele olhar? Puta que
pariu, gozei!
— Tia! Não tenho que ouvir isso. —

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Levanto-me.
— Senta aí agora! — ela diz seriamente e
obedeço. — Quer que eu aja como uma tia de
verdade? Certo! Pare de fugir dos seus
sentimentos. Não sou ingênua. Vi o modo que
se olhavam. Se gostam. Desde que virou
amiga dessa família, você está diferente.
Parece que está em uma corda bamba com
medo de que, se cair, não tenha algo para te
salvar. E sabe por que fica assim? Porque
algo dentro de você te pede para correr para
os braços do tesudo, e outra coisa te puxa e
sobe um muro ao seu redor te fechando para
novas tentativas. Você se proíbe de tentar,
por causa de um maldito planejamento de
vida. Nem sempre as coisas são como
queremos.
Engulo em seco. Ela sabe tocar no meu

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ponto fraco... O medo. Não quero continuar


ouvindo, porque sei que vai acabar em briga
e odeio isso.
— Acredite, eu não sinto nada por ele! —
digo isso mais para mim do que para ela.
Como se eu dizendo em voz alta tornasse
mais certo.
— Ah, é? Então coloque sua melhor roupa,
e vamos à festa — provoca.
— Ok. Vamos!
— Isso vai ser ótimo.

Festa, tudo o que eu não queria. Ainda


mais quando, o que era para ser entre
família, ficou entre o Brasil inteiro.
Porra, Daiane e Paula não sabem fazer
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nada simples?!
Estou jogado no sofá da sala da Paula,
vendo o pessoal do buffet para lá e para cá, e
Paula e Daiane dando ordens. Não tenho
paciência para isso não.
— Cadê a Ana Louise? Ela disse que viria
ajudar. Vou enforcá-la — Daiane diz
digitando algo no celular.
— Ela faz bem em não estar nesta
loucura. E cadê o David e família?
— Não queremos eles aqui antes da festa,
pois é para o David, não quero nem ele e nem
a Liziara ajudando. E você, por que não está
fazendo nada? Poderia estar conferindo o
moço que vai cuidar das bebidas e ver se está
tudo certo.
— Eu poderia. Mas não irei. Estou
cansado. Ontem foi um inferno aquela
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maldita audiência e correndo atrás de um


caso para o Henrique.
— Vocês, homens, são todos moles... —
Desvia o olhar de mim. — Não! Essas coisas
devem ficar lá fora! — ela grita para um
rapaz com caixas passando pela sala.
Coitado! — Mãe, liga para a Louise! — ela
grita e sai da sala.
Porra, que tanto grita?! Maldita hora que
falei que ficaria aqui com elas.
O telefone começa a tocar, mas não tenho
tempo de atender, pois a Jurema atende e me
traz.
— Senhor, é a Beatriz. — Pego o telefone.
— Senhor está no túmulo. Que porra,
mulher, desapegue disso!
— Não, não! E olha a boca! — Ela se retira

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e rio.
Deito novamente no sofá e coloco o
telefone na orelha.
— Oi — digo.
— Marcos? Isso é perseguição.
— Você que ligou. Então você que está
perseguindo! Diga o que quer?
— Quero falar com a Paula, Liziara...
Qualquer uma das mulheres que devem estar por
aí.
— Só está a Paula e a Daiane e não me
atrevo a chamá-las para nada, pois tenho
amor as minhas bolas.
— Não tenho um pingo de interesse de saber
do amor por suas bolas. Estou tentando falar com
a Liziara, mas não consigo. Avise, por favor, que
irei com minha tia.

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— Vai pra porra! E precisa avisar algo?


Sabe que te tratam como da família, não fode
minha paciência e humor com isso.
— Avisa! E me respeita, seu juiz de quinta.
— Juiz de quinta, mas o pau é de
primeira!
— Eu não ouvi isso! Tchau! — Ela desliga e
começo a rir.
Essa noite você não me escapa!

Já são 22h, e isso aqui parece mais um


metrô na parte da manhã, do que uma festa.
De onde veio tanta gente?
— Senhor Marcos Escobar, juiz mais
amado pelas mulheres e odiado pelos réus.
— E a noite acaba de piorar.
— Henrique, você não tem uma filha ou
uma esposa para cuidar?
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— Minha esposa está lá fora com a Daiane


e a Liziara, e minha filha dormindo.
— E eu saindo... — mas sou interrompido
por uma morena que se aproxima e
cumprimenta a mim e ao Henrique. E não, eu
não sei quem é ela.
— Henrique... — ela diz toda manhosa.
Olho para a cara dele e rio. Está fodido se Ana
Louise aparecer.
— Oi. — Pelo tom da voz dele, sabe quem
é, mas não sabe o nome.
— Sumiu. Não apareceu mais na boate. —
Ele engole em seco. — Saudades, amor! — Ela
acaricia o braço dele. Eu não me aguento e
me viro para o lado para disfarçar o riso. Ele
está pálido.
Vejo Ana Louise vindo, e parece que está
indo para a guerra. Isso vai ficar melhor
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ainda. Nunca imaginei me divertir tanto em


poucos segundos.
— Eu... Então... Melhor sair enquanto é
tempo, tenho uma fera como esposa. — Ele
retira a mão dela do braço dele. Coloco a mão
no bolso.
Ana Louise para ao lado dele e olha a
morena de cima a baixo.
— Cuidado, nem sempre minhas pernas
servem apenas para andar. Na maioria das
vezes é para chutar o rosto de oferecidas
como você. — A morena olha assustada.
— Eu disse a você que eu tinha uma fera!
— Henrique diz.
— Lá fora e agora, Henrique Escobar! —
Ana diz, e se afasta.
A morena baixa o olhar e fica mais sem
jeito do que já estava e eu adoro ver isso.
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— Se eu não voltar em três minutos, diga


a minha filha que a amo — Henrique fala e se
retira.
— É, morena, nunca mexa com o homem
de uma Escobar — digo a ela, que se retira
rapidamente.
Isso sim é festa! Henrique se estrepando...
Escuto um riso atrás de mim e me viro para
ver quem é.
Meu olhar segue das suas pernas até o
maldito vestido vermelho, colado e justo ao
seu corpo. Talvez eu tenha ficado tempo
demais olhando, pois ela pigarreia. Continuo
o trajeto com o olhar até parar em seu rosto.
Essa mulher vai foder comigo!
Preciso manter a postura, porra!
Beatriz me olha e ri ainda mais.
— Virei dentista agora, para ficar rindo?
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— pergunto a ela.
— Não — ela responde e bebe sua bebida
para disfarçar o riso.
— E por que ri então?
— Porque você realmente está ficando
para "titio". Depois de dizer a moça "nunca
mexa com o homem de uma Escobar", me fez
perceber que você é o único homem Escobar,
velho, mal-humorado e sozinho — provoca.
Em seguida, ela me entrega a taça e se
afasta, rindo.
— Beatriz Ferreira de Oliveira, você me
paga! Titio, é uma porra!
Eu não acredito que essa porra veio até
aqui para me provocar. Isso não vai ficar
assim. Agora ela conseguiu me irritar!
Entrego as taças para um garçom que
passa.
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Saio para o lado de fora, onde o som está


bem alto. Daiane não mentiu quando disse
que teria DJ, e colocariam a casa abaixo.
Dou de cara com a Débora, que está com
uma bebida na mão. Qual o problema dessas
mulheres para comprarem roupas faltando
pano? A outra, com um vestido que parece
uma blusa; e essa, com um short que parece
uma calcinha. Se Daiane estiver nua, não irei
me impressionar.
— Vai matar quem? — pergunta rindo.
— Está tão óbvio que estou irritado?
— Sim.
— Então por que está falando comigo?
— Seu humor é foda!
Começa a tocar outra música.
— Se quem está procurando for a Beatriz,
ela está ali — aponta na direção — dançando
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com as meninas e a tia dela.


— E quem disse a você que procuro ela?
— Intuição feminina. Vai, homem. Vamos
nos divertir. — Ela me puxa.
Vamos até onde estão as meninas
dançando e os rapazes conversando.
— Sofre no presente por causa do seu
passado. Do que adianta chorar pelo leite
derramado. — Débora canta junto com a
música e sei que é para me provocar mais.
Beatriz ainda não nota minha presença.
Aproximo-me do David, que está com o
Cleber.
— Posso saber o que fazia com minha
mulher? — Cleber pergunta.
— Tentando me livrar dela, mas o que
posso fazer, se ela não resiste ao que já
provou? — Ele tenta vir até a mim, mas o
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David segura.
— Hoje não, caralho! — David diz.
Beatriz dá um passo para trás e acaba
batendo as costas em mim.
— Ai, des... — ela vai pedir desculpa, mas
desiste quando me vê.
Viro-a para mim. E foda-se, sei que as
meninas olham e os rapazes também e que
está lotado de gente. Ela me olha assustada.
— Titio, Beatriz, é uma porra!
Ela vai responder, mas não permito.
Seguro-a com mais força, e a beijo. No
início, ela não corresponde, mas logo o faz.
Mergulho com força minha língua e a dela se
encontra com a minha. Escuto o berro da
Liziara e da Débora, mas não me importo.
Desço minha mão até a altura da sua bunda,
enquanto permaneço com a outra em sua
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nuca. Seus braços contornam meu pescoço e


ela pressiona ainda mais em mim, soltando
um gemido em meus lábios.
— Caralho! Eu bebi demais, só pode.
Beatriz e Marcos! — Henrique grita. Beatriz
se afasta no mesmo instante.
Ela olha para mim e depois para todos,
mas sai em disparada para o jardim dos
fundos.
— Fiz merda? — Henrique pergunta.
— Eu... — não consigo responder. Apenas
me afasto, indo à procura da Beatriz.
Porra!

Encosto-me na árvore, do jardim. Escuto a


música de longe. Que merda eu fiz?! Inferno!

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Isso não podia ter acontecido! Henrique


salvou a pátria. Que vergonha, na frente de
todos, e ainda gemi. Que ódio de mim! Não
vou conseguir olhar na cara de ninguém
mais.
Assusto-me quando alguém toca meu
braço. Mas reconheço seu perfume.
— Marcos, me deixe sozinha, por favor.
— Queria eu ser capaz disso. Olhe para
mim, por favor. — Ele me solta e então me
viro para ele e só consigo me perder em seus
olhos lindos.
— O que aconteceu...
— Foi um erro, eu sei.
— Não diga isso. Bata na minha cara, mas
jamais repita isso a mim. Não foi um erro.
Foram dois adultos se beijando e que sabiam
o que estavam sentindo.
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— Marcos, entenda...
— Entenda você. Eu não brinquei quando
disse aquilo no almoço para você. Eu não
brinquei quando te beijei agora...
— Eu estou confusa. Só preciso ficar
sozinha — sussurro.
— Você não está confusa. Sabe o que
sentiu agora há pouco, pois foi o mesmo que
eu. Porque, se aquele beijo não tivesse tido
nenhuma importância, não teria fugido.
Sinto um frio na barriga.
— Marcos. A gente sempre implicou um
com o outro. Eu não posso... Não faz sentido.
Eu não quero ser brinquedo de ninguém, e
não posso ter ninguém, não agora. Então...
— Cale a boca e me ouve, porra! Qual a
parte que você ainda não entendeu que algo
está acontecendo entre nós e não é de hoje?
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Sou homem o suficiente para te confessar


que você mexe comigo, e isso tem me
deixado louco. Beatriz, eu... — ele tem
dificuldade em dizer.
— Você o quê, Marcos? — pergunto com
os olhos marejados. Não posso chorar, não
agora.
— Eu me apaixonei por você.
— Você não pode dizer isso. Não se brinca
assim com as pessoas.
— Você calada é muito mais linda.
Ele me agarra e invade minha boca com a
sua. Não consigo resistir. Afinal, é nestes
braços que eu quero estar.
Beijo-o, mas, desta vez, é um beijo
tranquilo... Leve. Suas mãos apertam minha
cintura. Ele encosta na árvore comigo ainda
em seus braços, encaixa-me entre suas
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pernas e continua me beijando.


Seu beijo apenas confirma tudo o que ele
me diz. O juiz de quinta realmente diz a
verdade.
As lágrimas escorrem por meu rosto e
deixa o beijo salgado. Afastamos nossos
lábios. Ele me olha e seu olhar é diferente,
difícil de explicar. Em seguida, enxuga
minhas lágrimas.
— Não chora. Se soubesse o quanto é
linda sorrindo, jamais derramaria uma
lágrima.
— Não estou chorando de tristeza. Eu
nem sei por que estou chorando.
Ele sorri.
— Eu não minto em relação aos meus
sentimentos, porque já sofri demais no
passado, e não desejo aquela dor a ninguém.
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— Por que eu?


Ele sorri novamente.
— Porque foi a única que não correu
atrás de mim. Foi a única que mostrou o
sorriso e a fúria ao invés dos seios. Foi a
única que teve coragem de me chamar de juiz
de quinta e a única que fica vermelha após
me beijar, e é tímida quando me beija. —
Sorrio envergonhada. — E é a única que vi
uma beleza que nunca vi em nenhuma outra.
— Marcos... Não sou as mulheres que você
está acostumado. Não aceito que brinque
comigo. Não sou uma mulher da lei, e muito
menos sei lidar com uma arma. Não sou rica,
e curto muito pouco baladas, ou beber. E
prometi a mim que abriria meu coração no
momento certo, e não seria a qualquer um.
— E é por tudo isso que você conseguiu

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me conquistar. Eu jamais ousaria brincar


com os seus sentimentos ou de qualquer
mulher. E tem mais, será um prazer não ter
uma mulher que ande armada. Vejo o que
meus sobrinhos sofrem.
Rio.
— Parece mentira. Nós dois aqui... —
Sorrio.
— O juiz de quinta é irresistível. Confessa,
delícia! — Ele me dá um beijo leve nos lábios.
— Convencido, sim. Irresistível? Não.
— Não me provoca! Quem assina a
sentença sou eu e a sua pode ser longa e
peculiar.
— E eu não tenho unhas grandes à toa.
— Adoraria que testasse elas em meu
corpo.
Tenho certeza de que fiquei roxa.
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— Fica linda quando está tímida. Eu disse,


delícia. — Ele ri.
— O casal fora da lei poderia vir para
festa? Depois planejam os filhos e o
casamento! — David grita.
— David! — Paula e Liziara dizem juntas.
— Vamos, ou vão vir até aqui, pode
acreditar.
— Não duvido, se tratando da Paula e
Liziara.
— Tenho que cuidar de certo sobrinho.
Henrique só fode. Aparece quando não tem
que aparecer. Esse porra me paga.
Rio.
— Não sei com que cara vou olhar para
eles. Estou morrendo de vergonha.
— Com a cara de que foi beijada por mim,
e que se não tivesse ninguém ali, teria sido
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fodida por mim.


Certo, agora eu fiquei roxa de vez.
— Nunca vou me acostumar com seu
jeito.
— Pois se acostume, delícia. Vamos logo!
— Ele segura minha mão e começamos a
retornar à festa.
Eu juro que ainda estou achando que é
algum tipo de sonho, e que irei acordar logo.

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Capítulo 6

Dormimos na casa da Paula, a festa


acabou muito tarde, e minha tia acabou
bêbada.
Já estou acordada, e anestesiada. Eu
acredito que tudo o que aconteceu ontem à
noite não terá passado de um sonho. Afinal,
eu bebi um pouco, posso ter ficado bêbada, e
dormido acreditando que aconteceu tudo
aquilo entre mim e o Marcos. Que, por falar
nele, foi embora para a casa dele, assim como
Henrique foi embora com a Ana e a Yasmim,
pois hoje iriam para a fazenda.
David e Liziara, junto com as filhas, estão
aqui também e dormindo. Minha tia ainda
dorme, da mesma forma que Daiane.
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Eu me arrumo, com uma roupa da Daiane


mesmo, porque sou dessas. Dona Paula
deixou escovas de dentes novas para mim e
minha tia. Dou um jeito no meu cabelo que
parece que teve uma briga séria com o pente.
Faço um coque, e tudo certo. Pego meu
celular, e desço descalça mesmo.
A claridade do sol me atinge quando me
aproximo da janela e me sinto um vampiro.
Caramba, as vistas ardem!
— Bom dia, minha linda! — Dona Paula
diz, ainda de camisola e penhoar.
— Bom dia.
— Dormiu bem?
— Ótima.
— Venha, vamos tomar café lá fora, está
um dia lindo.
Sigo-a e me surpreendo, pois a equipe
que foi contratada já limpou tudo. Isso que é
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eficiência, nem parece que teve festa aqui.


Sentamos para tomar café, que ela
mesmo preparou com toda certeza, afinal,
dona Jurema e dona Marcela estão de folga. A
mesa está farta e linda. Se bem que tendo
comida, acho tudo lindo logo cedo.
— Pelo visto, não vão acordar tão cedo.
Foram dormir depois de nós. O pessoal já
tinha ido embora e eles estavam aqui ainda,
porque acordei no meio da madrugada com
os gritos da Daiane que, ao que indicava, foi
jogada na piscina por algum dos meninos.
Sorrio.
— Não ouvi nada. Eu morri. Acho que
entrei em coma e acordei agora.
Ela ri e se serve de café.
Sirvo-me um copo de suco e bolo.
— Levantou bem mais cedo, preparou até
bolo, fora a mesa linda.
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— Eu madrugo. Criar três filhos e um


sendo Henrique, um homem que sempre tem
fome, me fez acostumar levantar muito cedo.
Sorrio.
Ela toma o café, mas fica me olhando e
estou ficando desconfortável.
— Paula, o que houve? — pergunto
agoniada.
— Certo. Ainda bem que perguntou.
Menina, estava me corroendo de curiosidade
e felicidade. Você e o Marcos ontem foram
tão lindos. Não irei mentir, ficamos vendo de
longe.
Certo, de repente meu estômago
embrulha e sinto minhas bochechas
esquentarem.
Não foi um sonho!
— O que aconteceu ontem foi... Como
posso dizer. Eu... Eu não sei — digo e tomo
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um bom gole de suco.


— Foi amor. Isso que aconteceu, foi amor.
Fez-me lembrar do meu primeiro beijo com
Joseph... mas depois não queria me
desgrudar nunca mais dele, mas,
infelizmente, ninguém vive para sempre.
— Eu sinto muito. Ele devia ter sido um
bom homem.
— E foi. Marcos lembra-o em alguns
aspectos, mas David é ele todinho. — Sorrio e
como um pedaço do bolo.
— Não sei se foi amor realmente. É
estranho o que aconteceu. Passamos tanto
tempo nos odiando e do nada isso.
— O amor muitas vezes vem mascarado
de ódio. Não é mentira que os opostos se
atraem.
— Mas o Marcos, ele é tão...
— Bipolar?... Lindo?... Bom homem?...
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Grosso?...
— Basicamente.
— Meu anjo, ele é um Escobar. Os homens
Escobar, ou você doma, ou eles te
enlouquecem. Porém, também tem que
aprender a conviver no ritmo deles.
— Eu planejei tanto sobre o amor, minha
vida, minha carreira. E agora, estou aqui,
perdida, com medo...
— Ninguém deve planejar o amor, porque
não tem como saber quando ele vai
acontecer. Eu tive medo também. Não tinha
noção do que a vida me guardava, mas
quando conheci meu falecido marido, eu
soube que coisas não planejadas, na maioria
das vezes são as melhores. — Sorri
emocionada e bebe um gole de seu café.
— Somos muito opostos. Meu ritmo de
vida, minhas decisões, meu jeito, é muito
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diferente do dele... Do de todos vocês.


— Bia, acha mesmo que eu tinha jeito
para ser uma Escobar? Eu era uma simples
Paula Assis. Ele era um homem com um
sobrenome que pesava muito e pesa até hoje.
Ana Louise acabou ficando presa ao coração
do Henrique. Liziara também tinha medo,
louquinha como sempre, e depois de tanto
sufoco, conseguiu amarrar o David a ela.
Nenhuma pessoa nasce preparada a algo ou
alguém, aprendemos com o tempo.
Tomo o resto do meu suco.
— Você diz ser diferente, mas se fosse
igual qual seria a graça? Convive conosco há
anos, uma família rodeada de seguranças,
que já passou apuros. Ajudou no caso da Ana
e da Liziara, deu força no caso do David.
Sempre salva a Liziara quando ela precisa. Se
precisarmos, você sempre está por perto. Já
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faz parte desta família, mas não percebeu


ainda. — Sorrimos.
Minha tia aparece, e parece ter fugido do
hospício. Paula deve ter deixado uma roupa
separada para ela.
— Bom dia. Anotaram a placa? —
pergunta se sentando.
— Bom dia. De quê? — Paula e eu
dizemos em uníssono.
— Do trator que passou em cima de mim.
Droga! — Rimos.
Mesmo com cara de ter fugido do
hospício, tia Jaqueline continua linda como
sempre, e nunca aparentando a idade que
tem.
— Estou com uma dor de cabeça que nem
quem é corno sente tanto.
Paula gargalha.
— Tia! — repreendo.
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— Sou sincera, gata! — Ela se serve de


café puro.
— Paula, obrigada por cuidar da gente
com tanto carinho — digo.
— Não tem porque agradecer. Adoro a
casa cheia.
— Daiane disse que já desce. Ia pôr um
biquíni. Gente rica é assim, já acorda com
biquíni — minha tia fala e fico envergonhada.
Paula ri.
— Daiane ama piscina e praia. Se quiser
tenho biquínis novos, te arrumo.
— Mulher, vejo mar todo santo dia, tudo o
que menos quero é ver algo que lembre o
mar.
— Não dê atenção! — digo a Paula.
— Deixa disso, Bia. Adorei sua tia.
— Todos me adoram. Sou assim, fazer o
quê.
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Reviro os olhos.
Meu celular começa a tocar e é um
número desconhecido.
— Com licença.
Levanto-me para ir atender. Passo
correndo pela entrada da sala, e trombo com
a Daiane.
— Meu Deus, isso que é disposição de
correr logo cedo! — ela diz rindo e sai da
casa.
Atendo ao celular.
— Beatriz?
— É ela. Quem fala?
— Edson.
Porra!
— Aconteceu algo?
O que ele quer no domingo?!
— Preciso que me reenvie alguns documentos,
pois os apaguei do meu e-mail e amanhã cedo
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preciso estar com eles.


— E não posso enviar amanhã cedo?! —
Só pode ser brincadeira!
— Quero hoje.
A porta da sala se abre e é o Marcos,
vestido em uma bermuda na cor caqui,
chinelo, e camiseta branca. Droga, devo ter
babado! Algumas de suas tatuagens estão à
mostra, e isso me deixa mais fascinada ainda.
— Beatriz? — Edson diz.
— Perdão. Então, é que agora não estou
em casa. E não tenho acesso ao e-mail da
universidade pelo meu celular.
Marcos encosta na escada e cruza os
braços me observando. Se um buraco abrir
embaixo de mim, irei agradecer. O sol reflete
em seu relógio dourado, e chega a doer a
vista. Tudo deixa esse homem mais sexy
ainda, merda!
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— Preciso agora. São importantes.


Viro-me de costas ou não conseguirei
falar com ele com o Marcos me encarando.
— Estou indo para casa e assim que
chegar te envio.
— Preciso em 20 minutos.
— Vinte minutos?! Me desculpe, mas não
acha meio impossível? — digo perdendo a
minha paciência.
— Beatriz, não é um caso qualquer. É urgente.
— Certo, Edson, mas não estou em casa, e
em vinte minutos não tenho como te enviar o
que quer.
Puxam o celular da minha mão, e me
assusto.
— Ma... — vou reclamar, mas ele me olha
bem sério.
— Bom dia. Infelizmente, ela não tem como te
enviar a puta que pariu que for. E hoje é domingo,
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vai pagar a mais, sendo que é folga dela?... Não!


Então pode esquecer, afinal, isso é lei. Até mais! —
Ele desliga e me entrega o celular.
— Qual o seu problema? Como ousa pegar
meu celular e falar por mim? Pior, ainda
xinga. Eu perder meu emprego, vai me
sustentar! — falo frustrada.
— Te livrei de um trabalho no domingo.
Me agradeça, não me condene, deixa a
condenação por minha conta. E não me
importaria em te sustentar.
Eu pago com toda certeza meus pecados
com ele.
— Obrigada, porque eu realmente não
estava a fim de fazer o que ele queria em
pleno domingo. Porém, não se acostume,
porque não sou de agradecer a você, afinal,
meus problemas acontecem quando você
aparece.
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O filho da mãe sorri.


Ele se aproxima e segura meu queixo
levemente, e me dá um beijo casto nos lábios,
e apenas isso foi capaz de me deixar
completamente arrepiada.
— Bom dia, delícia! — Ele dá uma
piscadela e se afasta indo para o lado de fora.
Eu não acredito. Ele sabia que essa
atitude me deixaria desse jeito, fez de
propósito. Juiz de quinta, idiota!
Vou para o lado de fora e ele está
cumprimentando minha tia. Aproximo-me e
me sento na cadeira que eu já estava antes.
Daiane está ao meu lado, e coloca as pernas
no meu colo.
— Nem um pouco folgada — digo a ela.
— Gata, estou no momento de
relaxamento — diz e rio.
Marcos está deitado no gramado com os
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braços atrás da cabeça, e isso é uma visão


deliciosa, Senhor!
— Não vai tomar café? — Paula pergunta
a ele.
— Estou de dieta — ele diz rindo.
— Sei. O dia que você e Henrique
estiverem de dieta é o fim do mundo se
aproximando. — Rimos.
— Porra, vocês falam, hein! — David
aparece sonolento. Dá um chute no pé do
Marcos.
— Gazela, já acordou na TPM? — Marcos
provoca.
— Não provoque um delegado...
— Não comecem! — Paula repreende.
— Bom dia, moças! — David diz e se senta
no colo da Paula.
— David, sai, menino. Você é pesado.
— Esse peso todo é gostosura. Vim apenas
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dar um bom-dia. Vou me arrumar e sair.


— Vai para onde? — Daiane pergunta.
— Curiosa, pirralha!
— Teu...
— Olha a boca, Daiane! — Paula diz
olhando feio para ela.
— Fazenda. Aquele puto do Henrique não
esperou. Liziara está se arrumando e
arrumando as meninas.
— Saudades daquele lugar! — Paula fala,
e sabemos o porquê. Desde que o seu esposo
faleceu, ela nunca mais pisou lá.
— Mãe, vamos? — David pergunta.
— Não. Mas por que não vão todos?
— Dispenso passar meu domingo ao lado
de David e Henrique! — Daiane diz enquanto
come.
— Vamos, Bia? — David pergunta.
— Obrigada, mas desta vez não.
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— E por que não? — minha tia pergunta e


parece uma criança.
— Tia, não comece. Vamos lembrar quem
é a mais velha aqui e quem tem que agir
como tal?
Ela sorri.
— Velha? Meu amor, você parece mais
velha que todos aqui.
— Vou começar a pesquisar o asilo, hein.
— Te mato! — ela diz e todos riem.
— Cheguei, meu povo! — Liziara aparece.
— David, vamos?
— Vamos, maluquinha.
— Bia, vamos? Qualquer coisa volta com o
Henrique, ele vem hoje. Eu e David vamos
ficar uns dias lá.
— Não, Lizi. Valeu pelo convite, mas já
estou indo para casa.
— Então tá!
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David e Liziara se despedem de nós e vão


embora com as meninas.
— Tia, vamos?
— Vamos, sim. Preciso recuperar a beleza
que camuflou por trás das olheiras.
Rio.
Marcos foi à casa dele buscar o celular
que esqueceu. Nos despedimos da Daiane e
da Paula e vamos embora.

Ao chegarmos no prédio, antes de liberar


nossa entrada o porteiro avisa que tem um
homem me aguardando há algum tempo do
outro lado da rua. Entro no estacionamento,
saímos do carro e minha tia sobe para o
apartamento com as nossas coisas.
Saio do prédio e o porteiro me informa
onde o homem está.
Olho para o outro lado da rua e vejo o

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carro do Edson.
O que ele quer aqui? Eu não acredito que
ele foi ver meus dados na contratação da
universidade!
Atravesso a rua e ele sai do carro.
— O que faz aqui? — pergunto e ele me
olha de um jeito bem estranho e isso me
deixa desconfortável.
— Como eu disse, preciso do e-mail.
Só para me livrar logo, enviarei a merda
que ele quer. Mas pera aí...
— O senhor não tinha necessidade de vir
até aqui para isso.
Ele sorri de um jeito estranho.
— Tinha sim...
Ele me puxa para si, tento me soltar, mas
ele é mais forte, e segura meu rosto me
beijando à força. Sinto um nojo terrível, e as
lágrimas escorrerem. Mordo com força o
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lábio dele, e mesmo assim não me larga.


De repente, alguém atinge ele com um
murro, e me puxa para o lado. Olho
assustada e vejo que é o Simon, segurança do
Marcos.
— Entra no carro, senhorita! — ele diz.
Edson está no chão e me olha de um jeito
horrível. Sua boca está sangrando devido à
mordida e seu rosto vermelho e inchado pelo
soco.
— Filha da puta! Isso não vai ficar assim.
Se aquele juiz de merda pode usar esse seu
corpo, eu também posso. Sei que foi aquele
maldito que falou no telefone comigo, eu vi
vocês almoçando e também o vi em sua sala.
Isso não vai ficar assim. Sempre me evita,
mas para dar para ele não evita, um homem
que come qualquer puta que aparece. Você
só é mais uma puta na lista dele. — Ele se
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levanta e entra no carro dele batendo a porta


com força. Em seguida, sai com o carro a mil.
Ainda estou paralisada.
— Ele a machucou, senhorita?!
Não respondo.
— Vamos, irei ajudar a senhorita ir para
seu apartamento.
— Não... Eu não quero assustar minha tia.
— Certo. Levarei a senhorita para a casa
da dona Paula, o senhor Marcos está lá.
Concordo apenas.
Ele me ajuda a entrar no carro. Estou
ainda em estado de choque. Aquele maldito é
louco. Andou me vigiando, e veio até aqui
apenas para me atacar!
— Por que estava aqui, Simon? —
pergunto lentamente.
— Porque, desde o dia que levei uma
bronca por ter seguido a ordem da senhorita,
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tenho deixado sempre alguém de vigia na


senhorita, para amenizar a minha
irresponsabilidade e protegê-la. Então me
informaram que tinha um suspeito aqui, e
que tinha ido na portaria duas vezes.
Desconfiei, e resolvi ver quem era e fiquei
aqui, então quando vi que a senhorita foi até
o homem, fiquei preparado dentro do carro
para qualquer coisa que acontecesse.
— Marcos sabe que está aqui?
— Não. Eu disse que tinha algo para fazer.
Conhecemos ele, sabemos que qualquer
suspeita ele fica louco. Então queria ter
certeza.
Concordo.
— Obrigada.
— Tem certeza de que está bem? Posso
levar a senhorita ao médico.
— Não precisa. Obrigada.
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Ligo para a minha tia, e digo que tive que


ir na Paula buscar minha carteira que
esqueci. Ela desconfiou, mas não disse mais
nada, apenas que iria tomar um banho e
deitar um pouco.

Assim que chegamos à casa da dona


Paula, nós entramos. Simon me acompanha,
bem preocupado. Parece que estou em modo
câmera lenta. Alguns dos seguranças aqui
nos olham, mas Simon faz um sinal a eles,
que concordam.
Entro na casa com ele. Simon me leva até
a área da piscina, onde estão Paula, Marcos e
Daiane.
Marcos e Daiane estão na piscina, e Paula
deitada na espreguiçadeira lendo um livro.
Paula se vira para o lado e assim que me
vê dá um pulo da espreguiçadeira, largando o

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livro e vindo até a mim.


— Beatriz, o que houve, meu anjo?! — ela
diz alto, chamando a atenção do Marcos e da
Daiane, que antes não notaram minha
presença.
Paula me senta em uma espreguiçadeira.
Marcos sai da piscina como um louco e
Daiane faz o mesmo.
Paula se senta ao meu lado. Marcos olha
para Simon e para mim.
— O que aconteceu?! — pergunta
nervoso.
— Senhor, por pouco não aconteceu o
pior. A senhorita Beatriz foi assediada por
um homem, que não tem como não
reconhecer. Quando o livrei dela, vi ser o
reitor da universidade que a mesma
trabalha.
— Ele o quê?! Eu vou matar aquele filho
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da puta! — ele grita e se abaixa na minha


frente.
— Meu Deus! Está machucada — Daiane
diz.
— Simon, por favor, pegue algo para
limparmos o sangue na boca dela — Paula
fala.
Nem tinha notado o sangue. É do idiota,
quando mordi ele.
— Bia, não quer ir ao hospital?! — Daiane
pergunta preocupada. E eu apenas nego.
— Vai ficar tudo bem. Vamos dar um jeito
nisso. Ninguém toca em você ou qualquer
outra pessoa, sem consentimento — Paula
fala.
— Me deixem sozinho com ela, por favor
— Marcos pede e elas se retiram.
Simon traz gaze e Marcos diz que depois
conversa com ele e então ele se retira. Ele
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limpa minha boca com cuidado.


— Me conta o que aconteceu, por favor.
— Só me abraça, e não pergunta nada,
não agora.
Ele fica entre minhas pernas e me abraça.
Não importo que ele está me molhando,
afinal, ele estava na piscina. Só me importo
com o abraço dele. Choro assustada, sem
acreditar que aquele desgraçado teve
coragem de fazer aquilo comigo!
— Você tinha avisado, e a Liziara também.
— Não se culpe. Mas preciso saber o que
aconteceu por você.
Ele se afasta, se senta no chão e me puxa
para seu colo.
Conto tudo a ele cada detalhe. A cada
palavra vejo a raiva em seu olhar. Sua
expressão vai ficando cada vez mais séria.
— Beatriz, eu vou matar esse cara! — ele
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diz nervoso.
— Não, não suje suas mãos com aquele
homem.
— Homem? Aquele filho da puta é um
desgraçado! Ele estava te vigiando, te
assediou, por pouco não aconteceu o pior e
ainda te ameaçou. Ele mexeu com a pessoa
errada. Esse desgraçado vai ter a pior
sentença que alguém poderia ter.
— Marcos...
— Ele vai ter a fúria de um Marcos
Escobar que ninguém quer conhecer. Esse
desgraçado vai pedir para morrer! — Seu
tom é assustador assim como seu olhar.
— Me promete que não vai fazer nada que
suje sua carreira?
— Foda-se minha carreira. O que importa
é você. Amanhã mesmo vai denunciar a ele. E
se você pisar naquela universidade, eu juro
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que te amarro na cama!


— Não quero ver aquele idiota tão cedo.
Só de lembrar da boca dele na minha, sinto
um nojo! — digo com ódio.
— Ninguém que estiver em sã consciência
toca em algo que é meu. Ninguém toca na
boca da mulher que é minha. E o maldito que
se atrever a isso fica com a sentença assinada
comigo!
Ele me beija, com força. Aperta-me sobre
seu corpo e permito totalmente. Agarro seu
cabelo e puxo. Seu beijo me leva a outro
mundo, onde é quente, lindo, e gostoso de se
ficar. Ele coloca a mão na minha coxa
apertando. A outra mão sobe por baixo da
minha blusa e pousa nas minhas costas nuas,
onde ele faz um M imaginário, posso senti-lo
contornando a letra e é inconfundível a
forma dela. Minha pele se arrepia inteira, e
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gemo em seus lábios.


Ele morde de leve meu lábio inferior e
sorri.
— Não queremos dar um show para a
Paula e Daiane agora. Preciso conversar com
o Simon. Depois passaremos no seu
apartamento, pegaremos sua tia e vamos
para a fazenda. Você precisa relaxar e ficar
longe, até resolvermos sobre o Edson. Para
sua segurança, então não discuta.
— Hoje, não tenho raciocínio para nada,
quem dirá discussão.
Levanto-me e ele faz o mesmo.
Depois dele conversar com o Simon, e eu
contar o que aconteceu a Daiane e Paula, que
ficam chocadas e com muita raiva do Edson,
Marcos me leva para a casa dele onde pega as
coisas dele e, em seguida, vamos para a
minha.
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Conto a minha tia o que aconteceu, e ela


entra em desespero. Agradece ao Marcos e
me abraça muito, me fazendo chorar
novamente. Ela aceita de imediato ir para a
fazenda, ficar longe do caminho do Edson até
resolver tudo.
Arrumamos as coisas e seguimos no carro
do Marcos, com o Simon no carro de trás
onde tem mais dois seguranças dentro. Duas
motos com seguranças também estão junto,
indo na nossa frente.
Estou no banco do passageiro e minha tia
vai atrás, conversando, e sei que para me
distrair a agradeço, pois é tudo que preciso.
— Minha nossa! Esse carro tem mais
armas que o batalhão da polícia. Só até agora
contei cinco — minha tia diz arrancando um
sorriso meu e do Marcos.

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— Um Escobar não pode nunca dar mole.


— Tenho certeza de que nunca dão mole
— minha tia diz e sei que foi maliciosamente.
— Pode ter certeza de que não. Pelo
menos, eu nunca — Marcos responde no
mesmo tom.
— Sério? Se quiserem um clima melhor,
encosta o carro e vou no do Simon!
Marcos me olha e ri. Sério! Minha tia
também.
— O ciúme é tão lindo — ela fala.
— Meu martelo e eu somos apenas seu,
delícia.
Droga, por que ele tem que falar essas
coisas? Sabe que fico roxa de vergonha.
— Não sei de nada! — digo e viro o rosto
para olhar qualquer coisa que não seja ele.
— Esse homem é quente! Eu te falei que
ele era tesudo.
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— Tia!
Ela ri.
— E a Beatriz falou algo sobre, Jaqueline?
— ele pergunta para provocar.
— Tímida como sempre, e teimosa, diz
que não reparou.
— Pois a mim ela falou — ele diz e olho
para ele franzindo o cenho.
— O quê?! — Minha tia não perde uma!
— Respondeu com gemidos.
— Alguém liga o ar-condicionado, por
favor! — ela grita e Marcos ri.
Eu não mereço isso, sério!
— Eu estou no carro, não finjam o
contrário.
— Eu sei que está, delícia, e para seu
alívio, estamos chegando.
— Que pena, o papo estava tão bom! —
minha tia reclama.
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— Tia, se abrir a boca novamente, eu te


jogo no primeiro matagal que eu encontrar.
— Agressiva, hein! — ela diz rindo.
— Pelo menos, não é apenas comigo! —
Marcos diz e olho para ele, que me olha e dá
uma piscadela.
O que Edson fez poderia ter sido pior.
Serei eternamente grata ao Simon por me
salvar. Cada vez que lembro do ocorrido,
sinto um nojo com um forte arrepio. Aquele
homem é um nojento.

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Capítulo 7

Ao chegarmos à fazenda, minha tia sai do


carro como uma criança, apaixonada pelo
que vê.
Desço do carro, fecho a porta e encosto
nele. Assim que Marcos sai, ativa o alarme e
vem até a mim, parando na minha frente.
— Vamos? — pergunta e concordo.
— Gente, que lugar lindo! Bia, e eu
achando que você estava na pior. Porra,
homem gostoso, e ainda dono de um lugar
lindo desses — Minha tia diz olhando para
todos os lados.
— Tia, você sabe que nunca me importei

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com isso.
— Meu anjo, eu sei! Mas que você nasceu
com o rabo pra lua, nasceu. — Sorrio e
Marcos também.
— Vamos, antes que eu tranque ela no
carro — digo e minha tia me olha fingindo
estar ofendida.

Entramos na casa, e todos estão na sala


conversando.
Assim que me vê, Liziara corre até a mim
e me abraça.
— Eu vou matar aquele filho da puta! —
ela diz chorando.
Olho para o Marcos, que diz:
— Eu tive que dizer porque iríamos vir
para cá.

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— Está tudo bem, Lizi. — Ela se afasta e


Ana me abraça.
— Não está tudo bem! — Ana diz e se
afasta.
Minha tia cumprimenta a todos.
— Bia, eu vou acabar com esse cara! —
David diz.
— Está tudo bem. Na verdade, não
deveriam resolver isso. É um problema
meu...
Marcos me olha nervoso.
— Nem mais uma palavra! — ele diz.
— Marcos está certo. O cara mexeu com
alguém especial para nós, e não iremos
deixar barato! — Henrique se manifesta.
— É tão lindo ver isso. Esse carinho, e
proteção por minha menina! — minha tia diz
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emocionada, fazendo todos sorrirem.


— Ela é minha melhor amiga, jamais
deixaria ela na mão, Jaque! — Liziara fala
enroscando seu braço no dela.
— O papo está ótimo, mas vamos. Temos
muito o que fazer. E amanhã, eu quero seu
depoimento, Beatriz — David diz.
— Vão para onde? — pergunto.
— Marcos não falou? — Ana pergunta e
faço que não. — Vamos deixar vocês aqui,
afinal, você precisa esquecer um pouco do
que aconteceu, colocar a cabeça em ordem. E
com Henrique e David por perto, não existe
paz que reine.
— Cuidado, minha advogata, nem sempre
o volume em minhas calças é uma ereção —
Henrique diz a esposa.

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— Suas ameaças não funcionam comigo.


— Mas outra coisa sim — ele rebate.
— Espero que apenas comigo, ou corto! —
ela diz a ele e sorrio. É lindo o amor desses
dois.
— Gente, pode ficar — digo.
— Não, eles não podem. Hora de irem! —
Marcos diz.
— Vocês dois juntos parece um sonho! —
Liziara diz animada e aperta o ombro do
David fazendo ele soltar um gemido, pois é o
mesmo que ele foi ferido.
— Nós não... — tento dizer, mas Marcos
me abraça por trás, me assustando.
— Não responda o que todos sabem ser
mentira, e você mesma sabe! — ele diz e
reviro os olhos.

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— Vamos pegar as garotas — Henrique


diz.

David e Henrique saem da sala e


retornam com as meninas. Laura e Helena
dormem, mas Yasmim está bem acordada, e
sorridente.
Afasto-me do Marcos e vou até ela, que
imediatamente se joga para os meus braços.
— Princesa mais linda! E está ficando
ruivinha igual a mamãe! — Sorrio.
— Estou fodido. Ela está ficando a cara da
mãe. Quando crescer terei que pôr alarme
na...
— Henrique Escobar, nem pense em
terminar o que vai dizer! — Ana o repreende
e rimos.

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— Vai ser uma menina conquistadora de


corações. Você e David estão ferrados, pois
Laura e Helena não ficarão de fora! — digo.
— Não jogue praga! — Henrique diz e rio.
Yasmim me dá um beijo bem babado no
rosto e um abraço todo carinhoso. E isso me
derrete.
— Ai, que linda! — digo toda babona. —
Quando ela aprendeu isso?
— Agora! — Ana diz emocionada.
— Olha, Beatriz, isso está bem errado.
Roubando as primeiras atitudes da minha
filha. Isso é crime! — Henrique diz fingindo
estar ofendido e isso faz com todos nós
caímos na risada.
— Bia, sempre teve jeito com criança!
Onde vai, e tem criança, ela conquista —

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minha tia diz.


— Isso é verdade! — Liziara confirma.
Olho de relance para o Marcos, que está
encostado na parede, com os braços
cruzados e me olhando de um jeito estranho.
Parece que nem está aqui.
Yasmim se inclina para o pai, e isso me
tira a atenção. Entrego ela a ele. Mas me viro
após escutar a porta ser aberta e fechada.
Marcos saiu.
— Não ligue, ele é assim mesmo, rei dos
bipolares — Henrique comenta.

Todos vão embora, deixando minha tia e


eu na sala.
— Vou conhecer a casa! — minha tia diz
animada.
— Vai lá. Vou pegar as malas.
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Ela concorda.
— Pelo visto voltaremos amanhã, porque
tem que dar depoimento.
— Sim. Então curte bem seu passeio —
brinco.
— Alegria de pobre dura bem pouco. Vou
ver essa mansão! — Ela sai animada.
Saio à procura do Marcos, pois preciso
pegar minhas coisas e também saber o que
aconteceu.
Olho em direção ao carro dele, e vejo ele
dentro. Vou até lá. Bato no vidro do
passageiro e ele abre.
— Está aberto o carro.
— Me ajuda com as malas? — pergunto.
— Claro. — Ele desce do carro e esfrega o
rosto. Posso estar ficando louca, mas
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acredito que ele estava chorando.


Ele me ajuda a tirar as malas do carro.
— Exageramos, afinal, vamos voltar
amanhã.
— Não iremos voltar amanhã.
— Tenho que dar meu depoimento ao
David.
— Será por videoconferência. Você
apenas tem que alegar que está com medo de
voltar para ir até a delegacia, e vai dar os
dados do lugar em que está.
— Mas você precisa trabalhar.
— Mandei a Débora cancelar minha
agenda até segunda ordem.
— Entendi. Então quanto tempo vamos
ficar?
— Até termos ideia do que esse cara
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realmente quer. Porque, pelo que o Simon


disse, ele não vai deixar barato o que
aconteceu.
— Então, ficarei aqui com você. Apenas
nós dois?
— Sua tia também — ele diz e sorri.
— Sim. Ela também — digo
envergonhada.
Ele sorri e isso me faz sorrir também.
— Por que saiu daquele jeito e estava
aqui sozinho? — não resisto e pergunto.
— Estava fazendo algumas ligações.
Marcos é péssimo com mentiras, afinal,
ele nunca mente. O cara é um poço de
sinceridade.
— Entendo — minto.
Entramos com as malas.
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— E sua tia?
— Foi conhecer a casa — respondo
sorrindo.
— Ela sempre foi assim? Animada?
— Sim. Minha tia não age conforme a
idade, e isso é bom!
— Quantos anos ela tem?
— Quer o tamanho da calcinha também?
— pergunto irritada, e fico com raiva de mim
mesma por isso.
— Calma. Segure as garras. Apenas
curiosidade.
— 40 anos.
— Ela é linda, pouca diferença de idade
comigo... Não é de se jogar fora!
— Juiz de quinta! Marcos some daqui!

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Subo as escadas com mais raiva ainda, e


deixo ele subindo com as malas.
— Ciúmes, Bia?
— Não. Apenas nojo! Se trouxe a gente
aqui, porque quer tentar algo com ela, era só
ter dito, não precisava fingir a droga da
preocupação.
O idiota ri e isso me deixa mais irritada, o
que me faz ficar muda.
Ele me leva até o quarto que irei ficar,
deixa minha mala e se retira.
Fecho a porta e deito na cama.
Como minha vida se tornou um pesadelo
de uma hora para a outra?! Estou tendo que
ficar escondida, porque tem um louco me
querendo. Merda, que problemão eu me
meti!

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Escuto minha tia conversando com o


Marcos e não resisto, é mais forte que eu e
saio do quarto. Caminho até o quarto ao lado,
de onde vem as vozes.
— Não seja ridícula, Beatriz! — digo a
mim mesma.
Minha curiosidade tem que ser maior que
eu, inferno!
Paro na porta do quarto e vejo minha tia
admirando tudo e Marcos dizendo que foi
tudo escolha da Paula e minha tia diz que ela
tem bom gosto.
Será mesmo que estou com ciúmes desse
babaca? Merda! Ela é minha tia, linda, não
aparenta ter a idade que tem, e é tão
diferente de mim, fora que tem uma idade
legal para ele, diferente de mim que temos
uma puta diferença de idade, e não, eu nunca
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pensei que para o amor tenha idade, mas é


tão estranho pensar em nós juntos. Merda de
ter planejado tanto a vida, e ter criado tantas
expectativas!
— Beatriz? — me assusto com a voz da
minha tia.
— Oi?
— Ficou surda? Está parada aí, e nós te
chamando e você parecia estar em outro
planeta. Está tudo bem? — pergunta.
— Sim. Está. Vim ver se já conheceu toda
a casa — respondo sorrindo. Como me tornei
uma mentirosa? Na verdade, não me tornei.
Sou péssima com mentiras.
Marcos me olha e balança a cabeça
sorrindo.
— Conheci e amei tudo. Vou conhecer lá

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fora, me acompanha? — pergunta animada.


— Tudo o que eu quero é deitar. Não
estou muito animada para caminhar.
— Tudo bem. Você precisa mesmo.
Descanse, meu anjo, e saiba que tudo vai
acabar bem. — Ela me dá um beijo na testa.
Retorno para o quarto que estou ficando
e me deito na cama, agarrando o travesseiro
ao lado.
Estou tão confusa sobre tudo. É o Marcos
e o ciúme estranho que estou sentindo dele.
Tem também o problema com o Edson, que,
se não fosse por Simon, nem sei o que
poderia ter acontecido. Agora os Escobar
querendo resolver meu caso, me sinto mal, é
como se eu estivesse abusando da boa
vontade deles. Tantos planejamentos, tantos
sonhos, e tudo se modificando do dia para a
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noite. Estou com um baita medo!

Acordo com um carinho no meu braço.


Viro-me assustada, e é o Marcos sentado na
cama sorrindo. Seu cabelo está um pouco
molhado, e ele cheira a sabonete, misturado
com um perfume amadeirado tentador. Está
com uma camiseta cinza e calça jeans preta.
— Eu estava começando a ficar
preocupado.
— Dormi muito? — Sento-me na cama e
olho pela janela que já consta ser noite. —
Meu Deus! Já é noite. Eu basicamente entrei
em coma. Que horror!
— Foi o que pensei. Mas depois de tudo
era normal que estivesse exausta. Por isso
vai tomar um banho, que tem um jantar
esperando a gente, e depois vamos dar um

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passeio.
— Jantar sim. Passeio com você, não!
— Não está em condições de opinar ou
discutir. — Ele sorri e se retira do quarto.
Idiota, mil vezes idiota!
Tomo um banho e visto um vestido de
alça preto, acima dos joelhos. Penteio meu
cabelo que lavei, passo um perfume e calço
chinelo. Saio do quarto e vou para a sala de
jantar.
Minha tia, que preparou a janta, e estava
tudo uma delícia. Jantamos entre risos das
conversas dela, que sabe como animar uma
pessoa. Depois do jantar, ela disse que
cuidava de limpar tudo, e depois iria tomar
um banho e deitar.
Marcos e eu fomos para sala e quando

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faço menção de sentar no sofá ele me


impede.
— Pegue um cobertor, lençol e
travesseiros no quarto.
— Por quê? Vai fazer cabaninha? Não está
velho demais para isso? — provoco.
— Cuidado, sou eu quem assina a
sentença e a sua pode ser longa e peculiar.
— Nossa, que pavor! Me fala logo para
que tudo isso?
— Vai descobrir em breve. Vai logo,
mulher!
— Eu vou me arrepender, tenho certeza!

Pego tudo o que ele pede e desço. Ele está


na sala com uma garrafa de vinho na mão.

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Jogo um travesseiro na direção dele, mas


o imbecil tem um bom reflexo e segura
rapidamente.
— Vamos — ele diz.
Acompanho-o, seja lá aonde for que
estamos indo.
Não demora muito e nos aproximamos de
um lugar lindo onde tem um rio, onde a luz
da lua reflete.
— Que lindo! — digo e ele sorri.
— Um dos meus lugares prediletos aqui.
Ele coloca a garrafa no chão e me entrega
o travesseiro.
Pega o cobertor e forra o chão, coloca os
travesseiros nele e deixa o lençol dobrado na
ponta.
Ele se deita e sorri.
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— Vem, eu não irei te engolir. Apenas te


trouxe aqui para curtir um pouco da
tranquilidade. Esse lugar traz paz, e você
precisa disso.
Deito no travesseiro ao seu lado, e ajeito
o vestido que sobe um pouco. Olho para o céu
onde tenho uma bela visão da lua. É
realmente tranquilizador aqui.
— Nunca tinha visto este lugar nas vezes
que vim aqui — digo e olho para ele.
— Nunca quis ir onde eu estava. — Ele
sorri.
— Tenho que concordar.
Ficamos em silêncio por um tempo,
perdido em nossos pensamentos.
— Me diz a verdade. Por que saiu da casa
daquele jeito e foi para o carro? —

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interrompo o silêncio.
Ele coloca um braço atrás da cabeça e me
olha sorrindo.
— Você é bem insistente.
Concordo.
— É que, de repente, tive algumas
lembranças do passado, que ainda
machucam.
— Quer falar sobre isso?
— Não posso, não agora.
Ele olha para o rio e fica sério e me sinto
culpada por ter tocado no assunto, talvez
seja bem difícil para ele.
— Por que me trouxe para cá? Poderia ter
ficado na cidade mesmo, na Paula, qualquer
outro lugar, se o problema é segurança.
— Porque eu queria ficar sozinho com
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você.
Engulo em seco e olho para ele, que me
olha atentamente.
— Minha tia está aqui também.
— Não aqui. — Ele vira o corpo para mim
e apoia a cabeça na mão. Com a outra mão
acaricia meu rosto.
— Eu estou com medo — deixo sair o que
eu realmente sinto.
— Não fique. Daremos um jeito no Edson.
— Não me refiro a ele, pois sei que ele vai
pagar, os Escobar não falham. Eu me refiro a
você.
— Está com medo de mim? — pergunta
preocupado.
— Estou com medo do que você
despertou em mim, Marcos.
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— E o que eu despertei, Beatriz? —


pergunta aproximando seu rosto do meu.
— Eu devo estar louca, pelo que irei dizer,
mas acredito que eu realmente me apaixonei
por você.
— Pensei que nunca iria perceber! — Ri.
— Não ria. É sério. Toda vez que está por
perto, sinto algo diferente. Você me deixa
diferente. Eu...
— O sentimento é recíproco.
E com essas palavras, ele me beija
apaixonadamente. Seu corpo se aproxima do
meu, e minha mão toca seu rosto. Sinto a
sensação de adrenalina, como se eu estivesse
em uma montanha-russa que acaba de
descer do ponto mais alto.
Ele desce a mão pelo meu corpo, até

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minha perna, que ele puxa para cima da sua.


— Me deixe... — ele diz entre o beijo, mas
não permito que termine o que vai dizer,
pois sei o que é e eu quero.
— Sim.
Não paro para pensar, porque sei que o
medo pode me fazer desistir. Ele junta ainda
mais nossos corpos. Sua mão sobe por baixo
do meu vestido, passando por minha bunda,
onde ele aperta me causando um forte
arrepio. Sua língua chupa a minha com uma
força bruta e sexy. Ele desce até meu pescoço
onde beija me fazendo inclinar a cabeça para
trás. Seu beijo sobe lentamente até minha
orelha onde ele morde levemente e solto um
gemido baixo.
Ele me vira, subindo em cima de mim, e
com isso meu vestido sobe deixando minha
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calcinha à mostra.
Não precisamos de palavras no momento,
apenas olhares mostrando o desejo
crescendo cada vez mais. Ele retira a camisa
e joga ao lado. Admiro suas tatuagens e seu
físico.
— Espero que não tenha muito apego por
este vestido.
Ele puxa o vestido com força e as alças
estouram. Com isso ele retira o mesmo, me
deixando apenas de calcinha e sutiã. Se
levanta e seu olhar é diferente, me traz um
calor inexplicável. Ele retira a calça sem tirar
os olhos dos meus. Sua cueca marca
visivelmente o seu membro duro. A lua
reflete sobre seu corpo e isso deixa a visão
mais adorável ainda. Sem cerimônia, ele tira
a cueca revelando o quão grande e duro está.

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Isso me excita ainda mais, e sinto minha


calcinha se molhando. Ele se ajoelha
retirando minha calcinha, e o mesmo faz com
o sutiã, logo em seguida abre minhas pernas,
me deixando completamente exposta para
ele.
— É linda — diz com a voz rouca.
De repente, a vergonha me invade, tento
fechar as pernas, mas ele impede.
— Nunca, a partir de hoje, feche as pernas
para mim, ou sinta vergonha diante de mim
por estar nua. Você é linda, e a cada segundo
que passa me deixa ainda mais duro, apenas
por te olhar.
E era tudo o que minha coragem
precisava ouvir para se manifestar, e assim,
abro bem minhas pernas e ele sorri
maliciosamente. Se encaixa entre elas, e
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ataca meu seio chupando com força e me


fazendo fechar os olhos e gemer em resposta.
— Olhe para mim, delícia. Você é mais
gostosa ainda quando está louca de tesão. —
Abro os olhos, e ele retorna a sua tortura.
Ele segura seu membro rígido, e começa a
esfregar no meu clitóris, completamente
molhado de desejo, enquanto chupa agora
meu outro seio.
— Marcos... — digo seu nome, sem nem
saber porque, apenas sai. Estou fora de
raciocínio.
Ele larga meu seio, e continua seu
trabalho de massagear excitantemente meu
clitóris, só que desta vez mais rápido, me
fazendo perder o controle sobre meus
gemidos e sobre meu corpo. Me ofereço mais
para ele. Preciso de mais, muito mais.
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— Sei o que quer, apenas preciso saber se


toma anticoncepcional, ou é pedir para o
gozo não ser abençoado, porque não
colocarei a porra de uma camisinha agora —
ele diz sem parar o que está fazendo.
— Eu tomo... — digo com dificuldade.
— Ótimo. Porque está na hora de você
sentir o pau do juiz de quinta e gozar nele —
diz com a voz rouca de desejo.
Ele me penetra e gemo alto de prazer. E
quando penso que vai inclinar o corpo sobre
mim, ele ergue minhas pernas, colocando em
seus ombros, e assim sinto ainda mais fundo
dentro de mim. Ele segura minha cintura
com força, e começa com movimentos fortes
de vai e vem. Agarro o cobertor e gemo sem
me importar com a altura que deve estar. O
barulho de nossos corpos se chocando um

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contra o outro é ainda mais excitante. O suor


começa a escorrer a cada penetração.
Ele desce minhas pernas e, desta vez, se
inclina sobre mim sem deixar de me
penetrar. Agarro seus ombros, e ele começa a
me beijar. Minha mão segue o percurso de
suas costas, onde passo minhas unhas, e ele
geme, afastando-se dos meus lábios.
Sinto que não irei mais aguentar, e o
agarro com força. E assim começo a gozar
disparando gritos involuntários.
— Minha delícia! — ele diz e me penetra
com mais força ainda, e posso sentir seu gozo
jorrar fortemente dentro de mim.
Ficamos assim, por alguns segundos, e
sinto como se eu tivesse corrido uma
maratona. Ele me olha e sorri com carinho,
em seguida me dá um beijo leve nos lábios.
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Sai de dentro de mim com cuidado, e pega a


garrafa de vinho retirando a rolha que já se
encontrava aberta.
— Acho que esqueceu a taça — digo ainda
mole.
— E quem disse que irei beber na taça? —
Seu olhar é de um predador em caça.
— Marcos, o que vai...
Não tenho tempo de dizer, pois sinto o
líquido frio escorrer por minha intimidade, e
a sensação é... deliciosa.
Ele se inclina e molha os lábios com a
língua.
— Marcos...
— Para que taça, quando se tem sua
boceta, onde posso beber muito melhor o
vinho?

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E com essas palavras, ele se inclina e


começa a me chupar. O fogo se reacende
dentro de mim. Ele chupa com força, e isso é
dolorido, mas muito gostoso.
Ele derrama mais vinho, só que dessa vez
por todo meu corpo, e lambe cada parte que
o líquido escorre. E vai subindo até minha
boca.
— Abre a boca, amor — ele diz e faço.
Derrama o vinho nela e coloca a garrafa
de lado. Sua boca invade a minha, e nosso
beijo é preenchido pelo sabor do vinho, que
escorre por minha boca e meu corpo. Ele fica
duro novamente, e faz questão de se esfregar
em mim, para me deixar mais louca do que já
estou ficando.
— Abre bem as pernas, e não ouse fechar.
— Nessa altura da situação, não ouso nada,
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apenas quero ele.


Abro as pernas como ele pede, e volta a
me chupar, só que desta vez me preenche
com seu dedo, e com a mão livre esfrega o
bico do meu seio. A sensação é diferente,
nunca senti antes. Seu dedo me penetra na
mesma intensidade que ele me chupa.
— Marcos! — grito, e me contorço.
Ele não para, e aprofunda cada vez mais
me deixando mais louca. Minha garganta fica
seca, assim como meus lábios, travo meus
pés no chão, e cravo minhas unhas no
cobertor. Não tenho mais como aguentar. É
mais forte que tudo que já senti. Sinto meu
ventre se contrair, e inclino a cabeça. Começo
a gritar de prazer e a tremer como uma
louca, e ele não para. Tento fechar as pernas,
mas não consigo. Sou atingida por um forte

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orgasmo, que me faz gozar em seus dedos. Ele


lambe tudo.
Estou desnorteada, e com uma sensação
maravilhosa. Olho para ele, que me olha
satisfeito e então se encaixa entre minhas
pernas.
— Marcos, eu não aguento... mais nada.
— Aguenta sim, e sabe disso. — Então ele
me penetra com calma, e é automático,
minhas mãos o agarram.
Desta vez ele é calmo, mas mesmo assim é
gostoso. Seu olhar é fixo no meu. Sua boca
alcança a minha e nos beijamos, sem pressa.
Fazemos amor. Ele se vira, deixando-me por
cima dele, sem sair de dentro de mim. Está
tudo perfeito.
— Eu já disse e repito, eu estou
apaixonado por você — ele diz, e sorrio com
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sua declaração.
— E eu por você, juiz de quinta. Quem
diria?!
Sua boca ataca a minha novamente, e
passamos a noite assim, nos amando sem
importar com a hora, o vento que começou,
ou com qualquer outra coisa.

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Capítulo 8

Sento-me lentamente na cama. Na mesma


cama que Marcos está deitado me
observando e sorrindo.
— Bom dia — ele diz e me dá um leve
beijo nos lábios.
— Bom dia. — Sorrio.
Estou com uma camiseta dele. Depois da
nossa noite, que terminou em seu quarto,
roubei uma camiseta dele, que está enorme
em mim, mas é muito confortável.
Encosto na cabeceira da cama e puxo
minhas pernas junto ao meu corpo.
— Qual o problema? Se arrependeu? —
ele pergunta e nego. — Então o que houve?

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Respiro fundo, e coloco uma mecha de


cabelo atrás da orelha e o olho.
— A nossa noite foi espetacular, Marcos.
— Lembro-me de alguns detalhes e sorrio
timidamente. — Mas eu preciso te contar
algo que eu nunca disse a ninguém, nem
mesmo minha tia ou Liziara. Porém, sinto
que preciso dividir com você.
— Pode dizer...
Engulo em seco. Esse é, com certeza, um
assunto que tento esquecer, fugir, mas não
posso mais, não se eu quiser mudar as coisas.
— Quando perdi minha mãe, fiquei com
minha tia e foi difícil. Difícil mesmo. Minha
tia fez de tudo por mim e serei eternamente
grata, porque sei o quanto foi difícil para ela
perder a irmã, ter que cuidar da filha dela, e
ainda trabalhar em um hospital. A vida dela
era tão corrida, que eu vivia mais sozinha do
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que com companhia, e não culpo, eu juro. —


Sorrio.
— Eu sinto muito...
Concordo.
— Eu apenas pensava na minha mãe,
éramos muito apegadas, e eu me espelhava
nela. Uma mulher linda, batalhadora, tímida,
que gostava mais de um final de semana em
família do que em uma festa. Ela era tudo
para mim. E por isso eu comecei a me
afundar. Saia todas as vezes que minha tia
fazia plantão no hospital. Ia para bares,
participava de rachas, comecei a sair com
uma galera da pesada, eu virei uma louca. —
Rio sem jeito.
Ele me olha atentamente. E seu olhar me
incentiva a continuar.
— Eu esquecia a dor do luto quando
estava aprontando, mas aquilo era apenas no
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momento; quando eu colocava a cabeça no


travesseiro, a dor voltava. E isso durou há
quase um ano. Então percebi que nada do
que eu fizesse mudaria aquilo e eu teria que
aprender a conviver com a dor, porque eu
não queria fazer minha tia sofrer
descobrindo que a sobrinha estava fazendo
coisas erradas e queria que minha mãe se
orgulhasse de mim onde quer que estivesse.
— Tenho certeza de que ela se orgulha.
— Mudei toda minha vida. E prometi a
mim que tudo o que eu fizesse seria para
orgulhar ela, e foi aí que planejei tudo. Meu
primeiro passo foi ingressar na faculdade e
arrumar um emprego e consegui os dois em
um único lugar... e daí em diante você sabe.
— Beatriz...
— Não, me deixe terminar, por favor.
Ele assente.
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— Se eu me tranquei para o mundo, não


quis relacionamentos, prefiro um jantar em
família a baladas e festas, é porque eu quero
que ela se orgulhe de mim. E porque eu
quero ter a chance de encontrar alguém que
vale a pena. Que me ame e que eu o ame.
Quero construir uma família. Quero ter a
família reunida ao redor da mesa. Um
domingo entediante assistindo filmes na
sala, e aqueles repetidos que vemos sempre
e não abandonamos. E quero tudo isso,
porque eu demorei, mas vi que a Beatriz
Ferreira de Oliveira é essa. Não ligo para os
que acham que sou careta, ou que sou tímida
demais. Minha tia sempre disse que eu sou a
cópia da minha mãe e eu me orgulho disso.
Porque, quando tentei ser quem eu não era,
eu quase me perdi, eu poderia nem estar
aqui contando isso a você. — Sinto as
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lágrimas escorrendo por meu rosto.


Ele segura minha mão e acaricia.
— Então eu quero que seja sincero. Eu te
conheço, sei das suas conquistas, sei o
homem que é, e por isso não quero arrancar
a proteção do meu coração por completo,
porque se for para sofrer novamente e ter
que perder alguém novamente, eu prefiro
continuar com ele blindado. Marcos, se essa
noite vai se tornar apenas mais uma na sua
lista me fala, porque eu não irei surtar, ou te
julgar, mas poderei ir embora em paz,
sabendo que não corro o risco de sofrer a dor
da perda novamente.
— Me diz como faz para retirar a
proteção que colocou em seu coração? —
pergunta sorrindo.
— Marcos, é sério. Me diz, e acabamos de
vez com esse maldito medo que estou
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sentindo agora. — Ele enxuga meu rosto e


sorri.
— Retira a proteção. Manda o medo para
a puta que pariu! E seja minha, porque serei
seu por completo. — Ele sorri e me beija com
carinho, segurando meu rosto.
— Você, como juiz, sabe mais do que
ninguém, que condenar alguém injustamente
é um grave erro que gera enormes
consequências. Então me promete que não
vai condenar meu coração injustamente.
— Sentencio ao réu, prisão perpétua ao
meu lado com a felicidade. Caso encerrado.
— Ele bate na madeira da cama e sorrio.
— Não existe prisão perpétua no Brasil.
— Não discuta com um juiz, porra!
— Vai ser para valer?
— Terei que me ajoelhar para pedir você
em namoro?
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— Seria lindo. — Sorrio emocionada. —


Mas sei que não faria. E sim, eu deixo você
me namorar.
— E desde quando eu preciso de
autoridade sua?
— Para que perguntou, então, se teria que
se ajoelhar?
— Sou educado, às vezes.
Rio e ele me abraça.
— Aceita namorar comigo? Estou sendo
educado, isso é um privilégio!
— Eu aceito, seu bobo! — Rio.
Ficamos abraçados por um tempo. E sei
que não deveria tocar novamente no assunto
neste momento, mas eu preciso.
— Me diz a verdade. Sei que esconde algo.
Não iria sair da sala e se trancar à toa no
carro.
— Minha família não sabe. Apenas a
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Débora sabe sobre isso...


Afasto-me dele, que me olha sem
entender.
— Se vamos realmente seguir em diante
com isso, tem que me dizer a verdade. Não
fica bem um relacionamento que se inicia
com mentiras, ou escondendo coisas. Eu me
abri com você, contei o que nunca contei a
ninguém, então confia em mim, Marcos —
peço a ele. — Tudo que começa cheio de
segredos, acaba da pior forma possível.
— Eu não posso, Bia. — Vejo a dor em
seus olhos.
— Não confia em mim ou tem medo de
dizer? Seja o que for, eu não te condenarei. Se
abra comigo, pois vejo a dor em seus olhos
quando toco no assunto, assim como vi
quando estava no carro e, pelo visto,
chorando.
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— Eu não consigo! — ele diz alterado e se


levanta da cama. — Não posso contar isso a
ninguém, porque eu não consigo! — grita
com raiva.
— Só se lembre que, por esconder as
coisas, Liziara quase foi morta e David ficou
sem ela e teve que conquistá-la novamente; e
por causa da mesma merda de segredos, Ana
Louise quase foi presa porque o ex-noivo foi
assassinado, e tudo porque escondia as
coisas dela. Então, os Escobar têm um imã
para atrair graves problemas, por esconder
as coisas, e eu não quero isso, porque se uma
quase morre, o que seria agora?
Ele me olha atentamente.
— Eu me abri com você porque eu quis,
não me obrigou. Não irei te obrigar a dizer o
que esconde. Porém, para a Débora que
levou apenas algumas vezes para cama, você
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se abriu, mas para a mulher que se declarou


recentemente, está evitando.
Relacionamento exige confiança, e se não
tivermos isso, não sei como pode ter chances
de dar certo.
Abro a porta para sair do quarto, mas ele
me impede.
— Como soube de mim e da Débora?
— Daiane deixou escapar. Mas não
importa. Corre para os braços daquela que se
sente mais à vontade, que, pelo visto, sempre
foi ela. Afinal, desde o sequestro da Liziara,
eu notei o quanto são próximos, até demais, e
aí comecei a entender a raiva do Cleber com
você as vezes. Mas tudo bem, cada um é dono
dos seus próprios segredos e faz deles o que
acharem melhor. Só me diz uma coisa: esse
passado tem a ver com ela?
Estou com ciúmes, merda!
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— Débora é apenas uma grande amiga de


muitos anos. Eu a amo, mas como amiga.
Tivemos um caso, mas foi no passado e há
muito tempo. Ela ama o marido loucamente.
E me ajudou quando pensei em desistir e
vice-versa. Mas ela encontrou o Cleber e
apoiei sempre, ou não teria sido padrinho
deles e aguentado ela indo em bilhões de
lojas escolher o vestido perfeito para o
marido achá-la uma princesa, como ela tanto
queria. Cleber sente raiva porque o provoco,
afinal, sou Marcos Escobar, mas ele sabe que
jamais existiria algo entre nós novamente. E
não, o passado não tem a ver com ela. Meu
passado tem a ver com outra coisa, outra
pessoa, e você tem razão, eu tenho que
começar esse relacionamento com verdades,
então se arrume e, depois do café, iremos
para onde te darei as respostas que precisa.
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— Para onde iremos? — indago.


— Para onde minha vida foi destruída!
Sinto um arrepio percorrer meu corpo
com suas palavras frias, e repletas de ódio e
dor.

Estamos saindo da delegacia. Enquanto


estávamos indo para o tal lugar que estou
completamente curiosa para saber onde é,
David ligou perguntando do depoimento e
Marcos me levou até lá, já que estávamos por
perto. Minha tia ficou na fazenda com alguns
seguranças.
Depois do depoimento parece que o que
Edson fez se tornou mais real. Dizer tudo
aquilo em voz alta para um delegado e um
escrivão, com um investigador junto, tornou
real demais. Talvez se tivesse feito o
depoimento por videoconferência como foi

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dito antes, não estando na cidade, e próxima


de onde tudo aconteceu, eu teria ficado
menos abalada novamente.
— Vamos para o lugar agora? — pergunto
a ele para esquecer os pensamentos que me
cercam.
Ele aperta os dedos no volante. Mantém
os olhos na avenida, e permanece em
silêncio. Seu olhar é frio.
Seguimos em silêncio. Ele não respondeu
minha pergunta, e preferi não insistir.
Ele entra em uma rua repleta de casarões
e algumas árvores. Se nota que é um local
nobre. A rua é sem saída.
Ele para o carro na última casa, que é a
maior de todas.
Os portões são enormes e pretos. Já se vê
um jardim imenso e que não é cuidado há
muito tempo. Ele desce do carro e faço o
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mesmo.
Vejo o carro do Simon estacionar e dele
desce Simon e mais três seguranças.
— Fiquem aqui — Marcos diz a eles e
então separa uma chave que estava junto a
algumas outras no chaveiro.
Ele abre o portão e me dá passagem.
Por fora, a casa é enorme demais. Parece
de filmes antigos, onde tem aquelas lindas
construções.
Ele caminha em silêncio até a enorme
porta de madeira e eu o sigo.
Mais uma vez, ele separa uma chave e
abre a porta.
Sinto um medo. Que lugar é esse?!
Ele entra e eu fico parada na porta.
— Venha, não tenha medo. Somos apenas
nós aqui. — Ele segura minha mão e entro.
Olho ao redor completamente chocada.
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Estamos na sala, e é linda demais. Tons


claros decoram o ambiente. Uma escadaria
de mármore com corrimão de vidro deixa
ainda mais elegante. Há uma parede embaixo
da escada que, ao que tudo indica, seria um
aquário enorme, pois está somente o vidro.
Porém, é notável que não vem ninguém
aqui há muito tempo. A poeira consome os
móveis e alguns já estão sendo danificados
por isso, o que é uma pena.
As janelas enormes de vidro trazem vista
à piscina que, pelo visto, está vazia. Além
desta vista, trazem claridade do sol lá fora.
Ele sobe a escada e me chama para
acompanhá-lo.
Subimos ao segundo andar, onde tem um
enorme corredor com diversas portas. Ele
acende a luz do mesmo, me dando uma visão
muito mais clara. O chão é acarpetado em um
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tom de bege claro. Há um quadro enorme em


uma das paredes que deve valer mais que
meu carro. Ele caminha até o fim do corredor
e abre uma porta. Vou até ele.
Marcos me deixa entrar primeiro.
Quando entro no ambiente ele acende a luz,
me fazendo ficar boquiaberta. É um enorme
quarto de... bebê? É lindo, mesmo não estando
sendo cuidado. Ele é todo branco e dourado.
Meus olhos param no berço onde, dentro
dele, tem um “E” dourado e todo trabalhado.
Viro-me para ele, que olha tudo com
desprezo.
— É lindo! O pouco que vi dessa casa é
linda. Você morava aqui?
Ele ri com sarcasmo.
— Se eu morava aqui? Este é o último
lugar que eu desejaria morar. — Ele segura
um urso que estava na poltrona e balança a
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cabeça, logo depois coloca no lugar


novamente.
— Por que me trouxe aqui? Por acaso é
este o lugar que me falou? Porque, de
verdade, não tenho ideia do que está
acontecendo.
Ele indica a poltrona e me sento nela.
Ele se aproxima da janela e abre. Logo
após se vira para mim, e cruza os braços.
— Eu namorei há muito tempo uma
mulher. Seu nome era Renata. Ela era uma
modelo brasileira, de família simples, e que
sonhava com a carreira internacional.
Não deveria, mas sinto um pequeno
ciúme.
— Eu a amava muito, e ao que tudo
indicava ela a mim. — Sinto a dor em suas
palavras.
— Marcos... — Ele não me deixa terminar.
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— Namoramos durante dois anos, e


éramos um casal invejado. Saímos em todas
as manchetes como o casal perfeito. Eu exibia
ela com orgulho e admiração. Minha família a
amava. Ela era tratada como rainha.
Ele respira fundo e se senta no chão
encostando-se na parede.
— Na época, eu já era um juiz de renome
e ela modelo conhecida aqui no país. O
tempo passou, e após dois anos de namoro,
decidi que a queria eternamente em minha
vida, então a levei para Paris, em uma
viagem romântica, com tudo que tem direito
e, diante da Torre Eiffel, pedi-a em
casamento. Voltamos noivos de lá e eu
exalando felicidade. Porém, o tempo foi
passando, e ela não se manifestava sobre
planejar o casamento, marcar a data, e fui
ficando preocupado, mas eu, muito idiota,
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achei que era porque ela estava esperando


um incentivo meu. Então me lembrei de que
ela sempre dizia, que quando se casasse
queria morar em uma casa enorme, com um
grande jardim na entrada, e uma sala toda
clara com um enorme aquário embaixo da
escada, e na sala teria que ter vista para
piscina... — Ele faz uma pausa.
Merda, estamos na casa que a ex dele queria!
— Em segredo, comprei esta casa e
contratei a melhor equipe de designer de
interiores e o melhor arquiteto do país.
Gastei uma fortuna sem me importar, e fiz a
casa dos sonhos dela. Em cinco meses esta
casa estava pronta, faltando apenas terminar
o aquário, mas a desgraça em minha vida
também estava pronta para começar. — Ele
olha em um ponto fixo no chão.
— Continue, por favor, não tenha medo —
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incentivo-o.
— Quando eu ia fazer a surpresa da casa,
ela me surpreendeu primeiro, dizendo que
tinha recebido uma proposta para morar em
Milão durante dois anos e ser a modelo
estrela de um estilista famoso. Era o sonho
dela e eu, óbvio, que fiquei feliz. Disse a ela
que onde ela fosse eu iria, e então ela me
disse que precisava ir para Milão ficar quinze
dias lá, para resolver tudo do contrato, antes
de ir definitivamente, então eu resolvi fazer
uma surpresa. — Ele passa a me olhar agora
e vejo a forte dor em seus olhos. — Para me
despedir dela antes da viagem, levei-a à casa
da família na praia, e dei a ela uma noite dos
sonhos, e no dia seguinte levei ela ao
aeroporto.
Ele está desconfortável dizendo isso, sei
que está ocultando detalhes, mas é melhor.
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Ajeito-me na poltrona e aguardo que ele


continue:
— Nas primeiras semanas, ela me ligava
sempre e estava tudo bem. Porém, no dia que
ela teria que voltar, me ligou dizendo que
teria que ficar mais um mês. Ela estava
estranha, nervosa no telefone. Pensei que era
estresse de estar resolvendo tudo por lá.
Mas, então, veio a bomba. Antes de completar
um mês, ela retornou sem avisar, e pediu
para se encontrar comigo. Eu estava ansioso
e marquei aqui nesta casa, assim faria a tão
esperada surpresa mesmo faltando alguns
detalhes... Quando ela chegou, eu estava na
sala a esperando, e aquela vadia nem sequer
notou nada, apenas se aproximou de mim e
me jogou um contrato, que quando li era o
dela em Milão com um enorme "cancelado"
em cima. Fiquei sem entender, perguntei o
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que tinha acontecido e, então, ela me jogou


mais um papel e era um exame de gravidez.
Ela estava grávida de mim, e ficou na
despedida que fiz a ela, pois o tempo
marcava certo isso. — As lágrimas escorrem
por seu rosto.
Quero abraçá-lo, mas tenho medo que ele
desista de se abrir.
— Eu, um imbecil, fiquei feliz, era meu
sonho ser pai, mas a maldita disse que a
criança havia destruído a vida dela e por
minha culpa. Como se eu a obrigasse não
tomar remédio ou exigisse sexo sem
proteção. — Ele ri de nervoso. — Tentei
acalmá-la, mas ela não ficava. Então disse
que fizeram teste para saber se ela estava
grávida, pois não poderia engravidar em dois
anos, mas, para comprovar que ela não
estava enganando eles, foi feito o teste e por
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isso cancelaram. Isso para ela foi como se


tivesse descoberto que iria morrer em um
dia. Ela estava transtornada. Saiu sem me
dizer para onde ia e sumiu durante quase um
mês.
Ele se levanta e se aproxima do berço.
— Eu fiquei desesperado. Procurei ela
como um louco, mas não havia rastros, até
que ela apareceu em meu escritório, e
mostrou um papel... — o ódio em seu olhar é
mais intenso, e as lágrimas em seu rosto não
param de cair — que dizia que ela havia
abortado a criança! Aquela filha da puta
matou um filho meu! — ele grita. — Eu
cuidaria da criança, faria de tudo, mas ela
não me permitiu isso. Porém, nesse tempo
que ela sumiu, contratei pessoas para
preparar esse quarto, porque eu diria a ela
que, se ela não quisesse a mim e a criança, eu
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ficaria com meu filho. Eu ajudei a decoradora


a escolher cada coisa daqui. Tudo branco e
dourado, porque eu não sabia o sexo. Tudo
em dourado é ouro, assim como esse “E” de
Escobar no berço. — Ele aponta a letra e sua
mão está trêmula.
As lágrimas escorrem por meu rosto.
Como ela pôde fazer isso?!
— Mas ela destruiu minha vida. Abortou
meu filho, e ainda disse que sempre foi pelo
dinheiro, que ela era uma boa atriz, e que
nunca me suportou. Aquela puta me fez de
idiota durante anos e me apunhalou quando
matou uma criança que tinha o sangue do
meu sangue. — Ele se vira para mim
chorando desesperado.
Levanto-me e tento me aproximar, mas
ele não permite.
— Eu nunca vou saber como aquela
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criança seria. Eu nunca irei ouvi-la me


chamando de papai. Não verei seus
primeiros passos. Não verei nada, porque
não foi possível sentir seu coração bater! —
Ele dá um chute com força no berço me
assustando. A grade se solta e cai.
— Marcos, por favor, vai se machucar! —
digo a ele aos prantos.
— Foda-se, porque qualquer machucado
não chegará aos pés de saber que abortaram
meu filho, sem o caralho do meu
consentimento! Que pensaram apenas na
maldita carreira! — Ele joga a cômoda no
chão e isso faz um estrondo que ecoa. Logo
em seguida, o abajur tem o mesmo destino.
Coloco as mãos na boca e me encosto na
parede. Ele está desolado, com ódio.
— Ela me destruiu! Por isso, quando vi
você e a Yasmim na fazenda, eu saí da sala.
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Porque vi naquele ambiente que eu era o


único que não conseguiu construir uma
família. O único que ficaria eternamente
sozinho e sem saber a sensação de ser pai. —
Ele chora desesperadamente.
— Marcos, você construiu sim! Você foi
um pai para seus sobrinhos e continua
sendo. É o homem da casa para sua família.
Você é o mais próximo de um pai para eles
depois da perda de seu irmão. Você jamais
ficaria sozinho! — digo embargada pelo
choro.
— Eu já fiz o que tinha que fazer por eles.
Eles não precisam mais de mim. Eu não sou
mais necessário na vida deles. Acabou! — Ele
encosta-se à parede e coloca as mãos no
rosto e chora como uma criança perdida.
Aproximo dele e o abraço. Ele retribui.
Nunca o vi desse jeito e isso me destrói.
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Faço-o olhar para mim segurando em


cada lado de seu rosto.
— Marcos, eu preciso de você. Talvez eles
não precisem mais como antes, mas eu
preciso. Não sofra mais pelo passado. Aquela
mulher foi um monstro, e não merece suas
lágrimas. Pense que talvez não tendo essa
criança foi melhor, pois ela viveria sem a
mãe e correndo o risco dessa louca aparecer
sempre para tornar a vida de vocês um
inferno. Essa criança cresceria sabendo que
foi rejeitada pela mãe, isso doeria muito.
Então não fique assim. Eu preciso de você! Se
aquela puta não precisava, eu preciso!
Ele me olha desolado ainda e começa a
dizer:
— Eu nunca mais voltei aqui. Apenas
continuei pagando as contas, mas nunca tive
coragem de voltar. Minha família nem sonha
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com nada do que aconteceu, acham que


terminamos porque não deu certo. Eu passei
todo esse tempo sofrendo em silêncio.
Sonhando com aquela criança e me
perguntando quando todo esse inferno iria
sumir. Quantas noites, naquele ano, eu
acordei escutando a voz da criança me
chamando de papai... eu sofri
desgraçadamente. E comecei a sair com
todas as mulheres que via para apagar a dor
do passado. Então foi aí que a Débora
apareceu, eu tinha visto ela antes em alguns
problemas que ela passou, mas depois
sumiu. Porém, em uma noite, eu tinha tido o
maldito sonho novamente, saí para uma
boate para esquecer o sonho. Ao sair da
boate encontrei ela na calçada, desesperada,
chorando. Ajudei-a e ela me contou que tinha
fugido da cidade dela por algo que nunca
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quis me dizer em detalhes, mas em resumo


foi violentada. Ela estava assustada, suja. Eu
acolhi-a, dei emprego. Tempos depois, ela
começou a faculdade, foi se reerguendo e
nossa amizade crescendo. Um dia, ela me viu
chorando no escritório, despedaçado, e
acabei dividindo tudo isso com ela, e acabou
rolando um caso durante pouco tempo, até
ela conhecer Cleber, e aí você já deve
imaginar. Por isso, ela era a única a saber,
porque passou uma dor também.
— Meu Deus! Eu não imaginava que ela
sofreu isso. Que vocês dois sofreram isso.
Agora entendo a amizade forte de vocês.
Perdoe-me se fui grossa quando me disse
que ela sabia. É que fica difícil confiar em um
homem que já foi para a cama com tantas.
Mas, por favor, me perdoa. Eu disse para
você não condenar meu coração, mas
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condenei você e a Débora.


— Eu te entendo. Pode ter certeza de que
faria o mesmo no seu lugar. E não me
condenou, apenas me deu força para me
abrir sobre um passado que me atormenta
sempre que pode — ele diz mais calmo.
— Marcos, obrigada por se abrir — digo
com carinho e ele concorda.
— Obrigado por me ouvir. Sinto um alívio
ter me aberto com mais alguém. Mas vamos
sair desse quarto, porque me sinto sufocado
aqui.
— Claro.
Saímos do quarto, agora com móveis
destruídos pelo chão.
— Quer ver o resto da casa? — me
pergunta.
— Não precisa — minto, pois estou
curiosa.
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— Sei que está curiosa. Vamos.


Minto mal mesmo.
Ele me mostra o andar que estamos e só
sei dizer "uau". É cada cômodo, um mais
lindo que o outro.
Descemos para o primeiro andar e
entramos no corredor que dá acesso a mais
cômodos, sendo eles: escritório, banheiro,
biblioteca, sala de jantar e, então, a cozinha,
onde estamos agora.
— É tudo lindo demais. O que me faz
odiar mais sua ex.
Ele sorri fracamente.
— Te levaria lá fora, mas está complicado
andar lá. Não é limpo aqui há um tempo.
Simon mantinha gente vindo aqui, mas decidi
que não deveria mais.
— Por que não vende isso? Se livra dessa
dor? — pergunto e ele respira fundo.
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— Pretendo fazer isso em breve.


— Doe os móveis para quem precisa. Só
do quarto de bebê, faria uma família carente
muito feliz. Porque tem muito dourado lá —
brinco tentando animá-lo.
— Eu sempre quis estrear essa casa... —
Entendo o que ele quer dizer, e tento não
parecer enciumada. Aproximo-me do balcão
de mármore da cozinha.
— Sinto muito.
Ele se aproxima.
— Eu também sinto muito, Beatriz...
— Não tem que sentir. Ela foi a culpada!
— Não por isso. Mas porque eu dizia que
iria estrear essa casa com a mulher que eu
amo.
— Hummm... mais uma vez, eu sinto
muito.
— Então sinto muito pela Renata. Porque
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essa casa nunca foi para ela, e hoje vejo isso.


Porque a mulher que amo é você! — Ele me
pega e coloca sentada em cima do balcão. —
É você que eu amo. E estrearei a casa com a
mulher que amo.
Estou emocionada. Meu coração
acelerado. Eu não acredito que ouvi isso.
— Eu... eu também te amo, Sr. Escobar.
Ele sorri se encaixando entre minhas
pernas.
— Quero marcar essa casa, essa
lembrança ruim, com a marca do amor
verdadeiro. Então me faça esquecer, por
favor, eu te imploro.
Marcos Escobar implorando por algo é
épico e inédito.
— Eu te amo, e acho que te amei desde o
dia que foi no meu trabalho e me convenceu
a ajudar vocês. E parece que apenas nós não
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notávamos isso, porque temos uma grande


torcida na sua família.
Ele ri e isso é bom, depois de vê-lo tão
desolado.
— Eu também, minha delícia!
Sua boca ataca a minha. Nosso beijo é
urgente e quente. Sua boca desce por meu
pescoço onde ele morde levemente, fazendo-
me arrepiar inteira.
Marcos sobe meu vestido, e arranca
minha calcinha rasgando, sem cerimônia.
Temos pressa, nosso desejo é urgente. Ele
abre a calça e abaixa junto a cueca. Seu pau
está duro e delicioso apenas de olhar. Estou
excitada com a visão.
Ele me puxa para a ponta do balcão e, sem
qualquer calma, me penetra e eu solto um
gemido alto de prazer. Minhas mãos agarram
seus ombros rapidamente. Ele se movimenta
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com força. Suas mãos vão para minha


cintura. Ele aproxima o rosto do meu sem
parar o movimento. Sua testa está colada à
minha. Nossa respiração é intensa. O balcão
faz barulho a cada estocada. Ele puxa meu
lábio inferior lentamente com os dentes. As
lágrimas começam a escorrer por seu rosto.
— Não chore, amor, por favor — peço a
ele, que me penetra agora com calma.
— Eu não posso te perder!
— E não vai, te dou minha palavra.
— Você planejou tudo e não estou em
seus planos.
— Você se tornou meu mais complicado e
importante plano de felicidade. — Enxugo
suas lágrimas e o beijo.
Ele intensifica novamente as estocadas.
Retira a camisa, sem parar o que está
fazendo.
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Passo minhas unhas por suas tatuagens.


São tão sexys nele.
— Tenho uma nova tatuagem! — ele diz
levando sua mão a minha intimidade onde
massageia junto as estocadas.
Apoio as mãos com força no balcão. Estou
quase lá... meu corpo está perdendo o
controle. Estou gemendo como uma louca.
— Goza para mim, delícia! — ele diz
intensificando ainda mais a massagem e a
penetração.
Não aguento mais e me desmancho me
jogando em seus braços. Ele goza em seguida,
sussurrando meu nome em meu ouvido.
Ele sai de dentro de mim, me mantendo
em seus braços. Inalo seu cheiro delicioso
misturando com o cheiro de sexo no
ambiente.
— Qual a nova tatuagem? — enfim,
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pergunto a ele.
— Não pode ver.
Afasto-me dele, que está sorrindo.
— Por quê? Afinal, acho que já vi mais do
que imaginaria ver de você um dia.
Ele sobe a cueca e a calça. Ajeito meu
vestido, pois minha calcinha já era.
Ele se aproxima e me dá um beijo na
testa.
— Não pode ver, mas pode sentir. — Ele
segura minha mão e leva até seu coração. —
Minha nova tatuagem é seu nome em meu
coração.
Sorrio emocionada.
— Você vai acabar comigo com essas
declarações!
Ele me dá um beijo casto nos lábios.
— Precisamos voltar para a fazenda, mas
antes vamos pegar roupa no seu
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apartamento, passaremos na minha casa,


tomamos um banho e depois vamos para a
fazenda. Não deixarei você ir sem calcinha e
suja de gozo. E aqui não tem a mínima
condição de um banho. — Fico envergonhada
por suas palavras.
— Fica linda quando está tímida. Vem,
delícia! — Ele me desce do balcão.
— Obrigada mesmo por me mostrar aqui
e se abrir — digo com a mais pura
sinceridade.
— Estava na hora. E fazer isso com você
foi mais fácil. Marcar essa casa com você me
deixou muito melhor, tornou a dor
esquecida. Porque você me faz esquecer tudo
o que aconteceu. — Inclina-se e me beija com
carinho.
Marcos Escobar, meu juiz, se faz de forte;
na maioria das vezes é um ogro, mas, no
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fundo, é apenas um homem que foi ferido e


precisa de amor. Quem diria? Eu não diria.

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Capítulo 9

Fomos na casa do Marcos e na minha para


tomarmos um banho e trocar de roupa, nós
estamos retornando para a fazenda e não
vejo a hora de chegar lá. Com tudo o que vem
acontecendo tão rápido, eu apenas quero
saber de descansar. É muita coisa para
assimilar. Marcos e eu juntos, o Edson sendo
um idiota psicótico, a revelação do Marcos,
meu depoimento hoje tendo que reviver tudo
o que vivi, que não é confortável para
ninguém.
O celular do Marcos toca e ele coloca no
viva-voz do carro.
— Fala, Cleber — ele diz, mas continuo
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olhando pela janela. Não estou bem desde


que saí da delegacia. Estou com mal-estar e
leves tonturas. Só quero um banho.
— Encontramos o filho da puta. Ele está na
universidade, na maior tranquilidade. É um idiota
mesmo! Estamos mandando policiais para lá. Se
tudo der certo e vai dar, vamos dar um jeito nele.
Conseguimos contato com a ex-esposa dele, e ela
aceitou conversar conosco. Estamos em contato
com uma ex-funcionária e ela também aceitou
falar. Agora precisamos do cara e, em breve,
descobriremos por que ele sempre se safou. David
parece ter encontrado alguma coisa sobre isso,
mas não confirmou nada, sabe que ele só fala
quanto tem certeza. Achei que iria querer saber...
— Ele está na universidade?! — O tom do
Marcos é um pouco assustador. Viro-me para
olhá-lo e vejo sua testa franzida, seus lábios

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rígidos, e suas mãos apertando fortemente o


volante.
— Sim... Marcos, onde está? — A voz de
Cleber mostra preocupação.
Olho rapidamente pela janela, e só me
dou conta agora, que estamos muito
próximos da universidade.
— Aonde eu deveria estar! — Marcos diz
e desliga.
— Marcos, tudo bem? — pergunto com
calma.
— Vai ficar. — Ele não me olha e isso é
sinal que a coisa está séria.
— Você não vai até onde eu penso que vai,
não é?
— Cale a boca, por favor? — ele pede, e
Marcos nunca pede, ele exige.

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Ele entra em uma rua que conheço muito


bem. Droga, eu tenho que falar com alguém.
Mas se tiver sorte, já terá policiais aqui.
Pensamento positivo é sempre bom.
Ele entra no estacionamento da
universidade como um louco. Os seguranças
não têm tempo de barrar. Estaciona de
qualquer jeito e fora da vaga. Ele desce do
carro, e nem sequer desliga. Ele não é o
Marcos que eu conheço e isso começou a me
assustar. Desço correndo, e que se foda o
carro.
Ele corre em direção a entrada, e o
acompanho. Diogo, um dos seguranças, tenta
barrá-lo, mas Marcos empurra-o com muita
força. Ele me vê e faço sinal para deixar. Esse
problema é meu, e eu tenho que resolver.
Entro na universidade e sigo o Marcos

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que anda rapidamente, desviando de


algumas pessoas que o olham.
— Marcos! — grito, mas ele não me dá
ouvidos.
Pego o celular no bolso, e me encosto em
uma parede. O mal-estar está piorando
demais, estou começando a me sentir fraca.
Ligo para o David. Demora um pouco, mas ele
atende.
— Oi, Bia, estou meio ocupado agora, posso te
ligar depois?
— Não... Não pode. Estou na universidade,
com seu tio. Ele não me ouve, e foi atrás do
Edson, não estou me sentindo muito bem,
preciso de ajuda!
— Porra! Ele tem merda na cabeça? Bia,
presta bastante atenção no que vou dizer. Ok?

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— Sim... — Fecho os olhos e respiro


fundo, estou começando a sentir muito calor
e suar.
— Vai atrás dele, e não deixe ele fazer
nenhuma besteira. Para ser mais explícito. Por
favor, não deixe ele começar, porque ele não vai
parar, ele não para quando começa, ele é assim
desde sempre, o único que o controlava era meu
pai, não deixe! Vou verificar onde estão os
policiais que mandei aí, e estou a caminho. Vai
ficar tudo bem, só seja o controle dele, ou não
apenas Edson terá problemas, mas ele também e
serão graves.
— Ok. Ser o controle, acho que consigo. Só
vem logo! — digo a ele.
Começo ir a caminho do primeiro lugar
que Edson pode estar, que é seu escritório.
Queria ir mais rápido, mas estou fraca, não

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consigo. A cada passo, respiro fundo para


tentar me controlar, não estou bem.
Com dificuldade me aproximo da sala, e
entro. Está vazia, não tem ninguém. Merda!
Vejo os seguranças correndo e dentre
eles o Simon, que tinha ido resolver não sei o
que... Merda, seguranças correndo não é
bom.
— Simon! — grito por ele. Ele retorna e
me olha surpreso.
— A senhorita está muito pálida...
— Onde estão?!
— Os seguranças daqui informaram que
Edson chamou por eles no banheiro deste
andar.
— Merda! Precisamos ir.
— Não, a senhorita não está bem...
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— Vamos! — Reúno as poucas forças que


me restam e começo a caminhar com ele. —
Ainda bem que está aqui.
— O senhor David me ligou. Tive que
resolver alguns problemas, mas não contava
com isso. Se eu estivesse...
— Não é sua culpa. É segurança dele, mas
tem uma vida fora dos Escobar...
Nos aproximamos do banheiro, tem
alunos na porta assustados.
— Saiam daqui, agora! — digo a eles que
saem rapidamente.
Entro no banheiro seguida de Simon. Pelo
espelho de entrada, vejo Marcos segurando
Edson na parede. Ele está transtornado. Os
seguranças estão ao redor dele, pedindo
para que se afaste e ele grita para não se
aproximarem.
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— Isso não... Quando se trata do lado


pessoal, ele não para quando começa... —
Simon diz preocupado.
Viro-me e começo ir em direção a eles.
Diogo me impede.
— Ele está louco, disse que um passo a
mais e ele mata o reitor.
— Me deixa, eu sei o que faço, só me
deixa... Por favor... — Ele me olha por um
tempo, e me solta.
— Sai daqui, Beatriz! — Marcos diz
alterado.
— Agora ficou melhor. A vadiazinha
chegou. Não sei para que tanto ódio, Marcos,
ela é apenas mais uma para você, assim como
seria para mim. E sabe que não pode fazer
nada comigo, porque sua carreira te impede
— Edson diz com dificuldade, e Marcos o
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aperta ainda mais.


— Cale essa boca, seu filho da puta! Você
beijou ela forçado. Sua ex-mulher pediu
medida protetiva contra você, sua ficha é
péssima. Você é o tipo de cara que um juiz
como eu iria amar ter prisão perpétua ou
pena de morte nesse país. Você é um nojento,
não merece um pingo de consideração. Seu
maldito dos infernos! Minha carreira que se
foda, mas você não sair daqui ileso. Não
dessa vez, desgraçado! — Marcos fecha o
punho e aponta para a cabeça do Edson. Com
um soco, Edson baterá a cabeça na parede
azulejada, e isso com toda certeza não
acabará bem.
Aproximo-me e com cuidado toco em sua
mão, prestes a deixar Edson com hematoma,
ou até mesmo com algo grave na cabeça.

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— Por favor, não vale a pena. Você não é


isso. Você é melhor que ele. Não deixa ele
tirar o pior de você. Eu estou te implorando...
Não suje suas mãos com ele.
— Isso, escuta ela. Mostra que, por trás da
fachada de juiz foda, existe um imbecil, que
cai no papo de qualquer mulher. — Edson ri
com ironia.
— Cale a boca, seu idiota! Eu nem deveria
impedir isso, mas estou fazendo. Ele não
precisou chamar nenhum segurança para
defendê-lo, então antes ele escutar uma
mulher do que precisar dos seguranças por
estar encurralado em uma droga de
banheiro.
Edson revira os olhos e ri. Ele é um doente!
— Me deixa terminar isso. Com você aqui
não consigo. Você consegue colocar em mim
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o que não deveria ter neste momento! Eu vou


acabar com esse cara, vou derrotá-lo, ele vai
ver o inferno! — Marcos grita com raiva.
— Por isso eu tenho que estar aqui.
Marcos, eu não te imploro nada, então me
escuta quando te faço isso. Larga ele, e deixa
a lei cuidar disso. Eu faço o que quiser, mas
larga ele. Porque o cara que me mostrou hoje
naquele lugar é um cara que enfrentou uma
grande barra e sozinho, e não precisou sujar
as mãos, não precisou disso. Você não
precisa socar ele para fazê-lo pagar. Você já o
torna derrotado por ser tio do delegado que
vai pegar ele e por ser o homem que eu amo,
e que eu me entrego de livre e espontânea
vontade. Você já o derrotou, sem precisar
bater, porque olha esse banheiro, lotado de
seguranças, que não se aproximam com

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medo de você matá-lo, e ele está entre suas


mãos com medo também, ou não teria
chamado os seguranças. Você já o derrotou
por fazê-lo sentir medo, e se tornar um idiota
prestes a morrer por você, e eu estou
fazendo um puta de um discurso para te
impedir. Marcos, ele já é um derrotado, olha
para ele, suando, rindo para não se
desesperar ainda mais, com uma ficha
complicada... — Marcos me olha e com calma
vou abaixando sua mão. Ele solta o Edson
com força.
— Você é um idiota mesmo! — Edson diz
com ódio, e sem esperar dá um soco no
Marcos, que pega em seu braço, Edson ainda
está um pouco tonto. Marcos sorri e é um
sorriso de deboche com raiva. — Achou
mesmo que só os Escobar têm autoridade

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para andarem armados?! — Ele levanta a


blusa e retira uma arma da cintura.
Olho assustada. Os seguranças se
posicionam para tentar impedir. Marcos me
olha, quando Edson aponta a arma para ele e
ri.
— Vamos ver quem está derrotado!
Marcos me empurra para o lado com
força, mas me desequilibro devido a uma
forte tontura e caio batendo a cabeça, não
consigo me levantar, estou zonza demais,
escuto apenas um barulho e sei que foi um
tiro.
— Marcos... — É a única coisa que digo
antes de tudo ficar escuro e apagar
completamente.

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Edson atira, mas erra. Esse idiota não


sabe atirar, ele não tem autorização para
andar armado. Ele olha com raiva para a
parede que acertou o tiro. Aproveito esta
brecha e dou um chute em sua mão fazendo
ele derrubar a arma. Simon se aproxima
rapidamente e o imobiliza.
— Senhor... Olhe!
Viro-me para onde Simon indica, e vejo
meu mundo ir ao chão. Beatriz está caída,
apagada. Está completamente pálida.
— Tirem esse filho da puta daqui!
Os seguranças da universidade pegam o
Edson do Simon.
— Seus idiotas, me soltem! — Edson grita.
— Soltar você? Nem tão cedo! Peguem ele
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e recolham a arma — David diz entrando no


banheiro com policiais.
— Senhor, temos que tirar ela daqui —
Simon diz.
Aproximo-me dela e confiro seu pulso,
está fraco... Porra, está fraco!
— Foi culpa minha. Eu não devia ter
vindo aqui... Eu a empurrei... Porra!
— Marcos, ela precisa de um médico, e
você delegacia. Agora! — David diz. — Você
tinha que ter vindo aqui, cacete?! Me
desculpe, mas tenho que agir como delegado.
— Não irei a porra nenhuma! — digo.
Pego ela no colo.
Saio do banheiro e caminho sob o olhar
de todos até o estacionamento.

— Simon, dirige... Ela... Eu... — não


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consigo nem dizer as palavras direito.


Entro com cuidado no carro e deixo ela
em meu colo. Está um pouco fria.
David me olha a balança a cabeça.
— Não foi sua culpa. No telefone, ela já
tinha me dito que não estava muito bem.
— Ele tem razão, senhor. Ela estava muito
pálida quando encontrei ela.
— Ela não acorda... — Estou apavorado.
— Vão para o hospital. Irei em seguida,
preciso fazer meu papel de delegado, mesmo
sendo difícil pra cacete neste momento. Me
mantenha informado.
Concordo. Estou no automático. Não sei o
que fazer. Olho para ela em meus braços, e
isso me deixa cada vez mais desesperado.
Simon fecha a porta traseira e entra no
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carro. Dá partida e saímos da universidade.


O caminho até o hospital está se tornando
longo. Ela não acorda, não dá um sinal de que
vai acordar. Lágrimas escorrem por meu
rosto, enquanto acaricio o rosto dela. Não
posso perder ela. Já perdi um filho, um
irmão, pais... Eu não posso perder mais
ninguém. Esse maldito passado, toda vez que
toco nele nunca termina bem. Se eu não
tivesse vindo, para contar tudo a ela, nada
disso teria acontecido.
— Senhor, ela vai ficar bem. O senhor
precisa ser forte como sempre é, e não deixar
o medo te derrotar agora — Simon diz e
balanço a cabeça.
— As pessoas me olham e pensam que
sou feito de titânio... Antes eu fosse. Queria
eu ser realmente a rocha que a mídia e

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minha família pensam que sou. Queria ser o


homem criado por eles, mas não posso. Não
quando me tiraram tudo, e o mais
importante: o amor e a esperança. Foram
perdas demais, e não estou preparado para
mais essa. Porque ela acendeu algo em mim...
Merda! Acho que ela acendeu a luz mais
importante que eu achava ter perdido. Deu
energia à luz, para lutar contra tudo, e se
acender. E essa luz faz meu coração acelerar
e minha alma sofrer por vê-la assim, então
essa luz não pode apagar novamente, era
muito escuro aqui dentro. Eu preciso te
confessar algo, Simon, eu sinto medo... E meu
maior medo neste momento é perdê-la. —
Encosto os lábios em sua testa e dou um leve
beijo.
— Senhor...

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— Mar...
Simon olha pelo retrovisor e sorri. As
lágrimas se multiplicam em meu rosto.
— Meu amor... você acordou! Não diz
nada. Estamos te levando para o hospital. Vai
ficar tudo bem. Eu prometo! — Ela está fraca,
tenta sair do meu colo, mas não permito.
— O que... aconteceu? — pergunta com
dificuldade.
— Está tudo bem. Fique quietinha, poupe
energia e tente ficar acordada.
Ela concorda.
— Estou enjoada. — Devagar ela vira o
rosto, e se inclina com cuidado, e então
começa a vomitar. Seguro seu cabelo.
— Você caiu. Isso é uma reação.
Simon estica o braço com um lenço e eu
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pego.
— Você me surpreende sempre — digo a
ele.
Ajudo-a limpando sua boca. Abro um
pouco os vidros.
— Que nojo! — ela diz, parecendo estar
um pouco melhor. — Eu vou acabar
vomitando novamente se eu ficar aqui
dentro com esse vômito.
— Estamos chegando, senhorita.
— Só olha para mim. — Ela se senta no
banco com as pernas para cima. Retiro
minha camiseta e a entrego.
— Hã? — Ela me olha sem entender.
— Coloca no rosto, assim não sente o
cheiro do vômito e não olha, assim não passa
mais mal ainda.

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Ela então o faz e encosta a cabeça no


banco.
— Minha cabeça dói. O enjoo não passou,
eu estou mal... — ela diz. Está suando
bastante. Ainda permanece pálida e suas
mãos estão um pouco trêmulas.
— Chegamos! — Simon diz estacionando
o carro.
— Vamos, eu te ajudo.
— Não vai entrar sem camiseta — ela diz
e me entrega.
Visto a camiseta e ajudo ela sair do carro.
Simon desce com a bolsa dela, que estava no
banco da frente. Ela está fraca, cambaleia um
pouco, mas a seguro. Pego a bolsa dela.
— Dê um jeito no carro. Pegue o seu na
universidade, e depois venha para cá. Não

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avise a tia dela, para não preocupar, e nem as


mulheres da família. Depois cuidamos disso.
— Ele concorda e se retira.
— Acho que vou vomitar novamente...
— Espero que isso seja uma gravidez, e
não o resultado de eu ter feito você cair.
— Gravidez? Jamais! Não me deixe pior
do que estou. Eu me cuido. Vamos, não estou
aguentando em pé. E então, me conta tudo o
que aconteceu.

Entramos no hospital. Faço a ficha dela e


somos encaminhados para o segundo andar.
Fazem exames nela, e algumas perguntas,
e então encaminham ela para um quarto
onde estamos agora.
— Se mais alguma enfermeira perguntar
se estou grávida, eu me jogo dessa janela.
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— Amor, se você se jogar não terá muita


diferença, pois voltará para cá.
— Você entendeu o que eu quis dizer...
estou mal...
A porta se abre e um médico entra.
— Beatriz, sou o doutor Enzo. — Ele olha
os papéis em suas mãos. — Vou fazer mais
alguns exames, e pedir uma tomografia, pois
desmaiou após cair e bater a cabeça, e está
vomitando, e aqui diz que alega não estar
grávida, mas pedirei alguns exames para
conferir isso também.
— Não estou grávida. Eu me cuido,
doutor. E não foi do tombo. Eu já estava ruim
antes.
— Sei... Mas exames nunca são demais...
Pelo menos, eu adoro pedir exames, são
como chocolates, amo e não vivo sem. —
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Reviro os olhos. Esse cara é um idiota!


— Ninguém quer saber. Só faça logo,
doutor! — digo irritado.
— É realmente como dizem. O senhor é
terrível, como um enorme e bom touro.
— Eu não... Quer saber, apenas faça seu
dever.
Ele examina ela e anota tudo.
— Vamos fazer a tomografia e o exame de
gravidez, por enquanto parece tudo certo.
— Eu vou me jogar... — ela diz e sorrio.
— Não compreendi — o doutor diz.
— Nada não, senhor. Eu só quero algo
para controlar esse enjoo e essas leves
tonturas, e então sumir daqui.
— Paciência, paciente — o doutor diz,
rindo. — Ficou engraçado a frase.
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Ele se retira e olho para Beatriz, que


sorri.
— Esse cara é louco. E eu vou jogar ele da
janela — digo.

Depois de ficar esperando o resultado da


tomografia e do exame de gravidez e vomitar
ainda mais, eu não tenho nada grave e nem
estou grávida. David passou aqui, após
Marcos ligar para ele, e ele recolheu nosso
depoimento, mas logo foi embora. Estou
esperando o doutor retornar para saber o
porquê de eu estar assim. Marcos me contou
tudo o que aconteceu depois que desmaiei.
Eu só quero que Edson pague por tudo e não
saia ileso desta vez para não tentar ferir mais
ninguém.
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— Minha tia deve estar louca de


preocupação — digo enquanto olho para o
teto.
— Simon retornou enquanto estava
fazendo exames. Ele foi para a fazenda, e eu
liguei para a sua tia. Ela ficou preocupada,
mas expliquei tudo e ela apenas quer te ver,
e, provavelmente, deve estar surtando com
os seguranças porque mandei não deixarem
ela sair da fazenda. Paula, Daiane, Ana e
Liziara já sabem, então daqui iremos passar
na casa da Ana, onde elas estão, ou
invadiriam esse hospital e deixariam todos
loucos.
— Estou me sentindo fraca, com fome,
cansada... Só quero ir embora logo.
A porta se abre e o doutor entra.
— Ao que tudo indica, o vômito, tonturas,
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mal-estar, são apenas suas emoções se


manifestando ao mesmo tempo. Talvez tenha
tido fortes emoções, e não deve estar
acostumada, e com isso teve essas reações.
Vou pedir para as enfermeiras te aplicar uma
injeção com alguns medicamentos para
controlar o enjoo e tonturas. Caso piorar,
tiver dores de cabeça também, retorne
imediatamente. Mas, por enquanto, repouso,
tente não ficar muito nervosa ou ansiosa, e
evite comer coisas pesadas, pois vomitou,
então não queremos que aconteça
novamente. — Ele sorri.
— Então está tudo bem?! — Marcos
pergunta preocupado.
— Está sim. Sua namorada ficará bem,
qualquer um ficaria com o senhor todo
assim... Perdão, eu não quis dizer isso. Vou

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pedir a enfermeira para aplicar a injeção. —


Ele se retira rapidamente e sorrio.
— Ele disse mesmo o que eu ouvi?! —
Marcos pergunta.
— Eu acho que ele gosta da mesma fruta
que eu. Marcos, você deixou o doutor
nervoso. — Rio.
— Cale a boca!
— Ele te conquistou também? — provoco.
— Não me provoque, quem assina a
sentença sou eu, e a sua vai ser longa e
peculiar.
— Não tenho unhas grandes à toa. Mas,
como estou mal, irei me calar.
— Melhor... — Ele me dá um selinho.
— O que será que vai acontecer com
Edson?
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— Vamos torcer para que pague por tudo.


A enfermeira entra e é uma senhora de
idade, e com o semblante bem sério.
— Chegou a hora de eu confessar mais
uma coisa... — digo.
— Tem medo de injeção. Seu olhar para a
enfermeira te entregou e começou a
chacoalhar as pernas. Você me desafia e tem
medo de injeção? Mulher, você é foda!
— Senhor, o palavreado. Estamos em um
hospital. Gosto de manter a educação e
respeito — a enfermeira diz enquanto
prepara a injeção.
Marcos se aproxima do meu ouvido:
— Sabe o doutor? Comecei a gostar dele. E
se você disser isso para alguém, te fodo em
público, e como é tímida não vai querer isso.

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Sinto minhas bochechas esquentarem.


— Senhor, não é com pouca vergonha que
vai acalmar sua esposa!
Agora eu estou roxa, tenho certeza.
— Não sou esposa dele.
— Por enquanto — ele diz e me dá um
beijo no pescoço, que me deixa
completamente arrepiada.
— Vamos, mocinha, antes que eu tenha
que ver uma cena pornô nesta sala. E eu não
vejo isso há muito tempo. — Marcos ri
enquanto eu só quero me afundar em um
poço de tanta vergonha. Ela começa a limpar
onde vai aplicar a injeção.
— Vai com calma, eu e agulhas não temos
química.
Ela termina e isso me deixa mais

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apavorada.
— Vamos lá! — ela diz.
— Merda! — Tenho certeza de que minha
pressão foi pra China. Eu tenho pavor de
injeção. Pavor mesmo!
— Amor, sua tia é bem gostosa, estava
aqui me lembrando dela...
— Você o quê?! Eu vou te matar, seu
idiota! Que ódio de você, Marcos! — digo a
ele com raiva.
— Prontinho.
— Prontinho o quê? — pergunto.
— Já apliquei e você nem sentiu. Bom
trabalho, senhor — a enfermeira diz a ele.
— Fez isso apenas para me distrair? —
pergunto e ele sorri.
— A raiva, o estado de choque, o prazer
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intenso, são alguns dos sintomas que não nos


deixa sentir a dor como ela deveria ser.
— Obrigada. Mas isso não esconde o fato
de ter dito da minha tia. Eu te mato se disser
novamente.
— É, enfermeira, ela está melhor,
começou a me ameaçar com intensidade.
— O médico precisa apenas assinar sua
alta e pode ir embora — ela diz e se retira.
Ele se aproxima, ficando entre minhas
pernas.
— Eu quero ir logo. Preciso de um bom
banho, uma boa limpeza na boca, comer e
esquecer desse dia.
Ele concorda e me dá um beijo na testa.

Depois de irmos até à casa da Ana Louise,


e acalmar o surto da Liziara, que queria
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matar o Edson; e da Daiane, que queria


cortar as bolas dele; convencer a dona Paula
de que eu estava bem; e fazer o Henrique
parar de provocar o Marcos, porque sem
querer deixei escapar sobre o que o médico
disse, estamos na fazenda, aguentando
minha tia surtar porque não deixaram ela ir
até o hospital.
— Eu jamais reclamaria de homens
gostosos me agarrando e claro que eu
querendo, mas eles tentaram me impedir de
ir até minha sobrinha. Isso nunca mais deve
se repetir! — ela diz, me mantendo em seus
braços enquanto estamos sentadas no sofá.
— Não vai se repetir, eu garanto! —
Marcos diz a ela.
— Que péssimo. Vocês têm uma noite de
sexo, depois saem pela manhã e acontece

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isso. Esse Edson é um idiota!


— Tia! — repreendo. — Como...
— Eu vi ele te trazendo para dentro,
enrolada em um lençol. Não sou boba,
querida.
— Esse dia só piora — digo enquanto
Marcos sorri.
— Melhor ela ir tomar um banho — ele
diz.
— Concordo. E para eu concordar com
tanta animação é porque o papo aqui foi para
um caminho complicado.
— Querida, sexo é tão natural. Que
bobagem ter vergonha. Você veio dele, assim
como todos vieram de um bom sexo, Adão e
Eva não... é da nossa natureza. Parece que
falar de sexo é como desejar que alguém com

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câncer morra. Eu, hein!


— Tia, eu vou para o banho.
Ela sorri.
— Eu te amo, e se algo lhe acontecesse, eu
nem sei o que seria de mim. — Ela me abraça.
— Também te amo!
Assim que nos afastamos, Marcos me
acompanha até o quarto.

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Capítulo 10

Semanas depois...

Visto meu short e vou atender a porta,


pois a campainha não para de tocar. Sei bem
quem é. Acabei de sair do banho correndo,
porque a pessoa do lado de fora é impaciente
e, pela minha demora, deve estar pensando
mil merdas, e todas envolvem eu com um
assassino em casa, porque é bem a cara dele
pensar loucuras do tipo.
Abro a porta, e ele me dá um beijo rápido
nos lábios. Ele entra e eu fecho a porta.
Retira as coisas do bolso e se senta no sofá.
— Eu quero a chave daqui — ele diz me
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fazendo revirar os olhos, pois não aguento


mais esse assunto nessas últimas semanas.
— Já disse que não vou dar. Não tenho da
sua, por que quer tanto da minha? — Deito
no outro sofá.
— Você não precisa de chave para entrar
na minha casa. Tenho seguranças lá vinte e
quatro horas, ela fica aberta, e você tem
autorização de entrar com ou sem mim lá. E
respondendo sua pergunta, é porque toda
vez que venho aqui fico uma porra de um
século esperando você abrir essa merda.
— Falando nessa educação, até me
convence — digo com ironia e ele me olha
quase que me fuzilando.
— Sabe que posso conseguir a chave
daqui, não é?
— Sei. E se fizer isso, te denuncio a
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polícia, e a denúncia não vai ser com o David.


— Não seria capaz!
— Testa para ver.
— Cuidado, amor, quem assina a sentença
sou eu e a sua pode ser longa e peculiar.
— Minhas unhas não são grandes à toa,
Marcos. — Ele sorri.
— Está tranquilo por aqui...
— Minha tia reencontrou uma amiga de
muitos anos atrás e passou a noite na casa
dela.
— Entendi. Voltando ao assunto das
chaves, por que não quer me dar? Me fala a
real razão.
— Porque não estou a fim de chegar em
casa e encontrar o exército aqui dentro!
— Até que não é uma má ideia, mas
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infelizmente não tenho poder para tanto —


ele provoca.
— Marcos! Chega desse assunto. O que
veio fazer aqui? Não devia estar
trabalhando?
— O caso do Edson vai para julgamento.
Descobriram muita merda dele. Quando ele
foi preso e a noticia percorreu, várias
mulheres procuraram a delegacia para
denunciá-lo. O filho da puta tinha um amigo
dentro da polícia, e o cara tinha um nível de
poder alto e por isso Edson sempre ficava
impune, o amigo dele também está fodido.
Edson é um tarado que merecia ter o pau
cortado ao invés de apenas pegar tempos de
prisão.
— Isso é maravilhoso! Ele tem que pagar
o que fez comigo, e com essas moças.

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— E vai pagar! Porém, eu preciso ser o


juiz desse caso, mas estão me privando. Não
querem, porque se trata do cara que minha
namorada teve problemas. Estão dizendo
que não irei agir com a razão e com
profissionalismo. Tenho que fazer de tudo,
porque é apenas essa semana, na sexta-feira
eles vão dizer quem vai ser o juiz e, em
poucos dias, marcar a data do julgamento.
— E estão certos. Esquece esse homem. A
justiça vai cobrar dele.
— Não irei esquecer. Ele mexeu com a
pessoa errada, e não é apenas por você, é por
todas as outras que ele fez o que fez. Eu
preciso ser o juiz do caso, mas estão vendo
outros juízes.
— Eu acho ótimo. Não quero que você se
envolva em mais nada que ligue ao Edson. Eu

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vi o que aconteceu da última vez, e foi por um


milagre que tudo não acabou em uma grande
tragédia. Vamos seguir nossa vida e torcer
muito para que ele pegue muito tempo na
cadeia.
— Beatriz...
— Chega. Eu não quero. Você não vai agir
com profissionalismo, eu sei disso, porque
quando fala dele ainda tem o mesmo ódio
nas palavras e na expressão. Não vai colocar
sua carreira em risco novamente. Você quase
se prejudicou da última vez, então não vai se
meter nisso. E não falo isso apenas como
Beatriz, digo isso como sua namorada
também. Da mesma forma que você deseja
que eu siga as coisas que manda, eu quero
que faça o que estou mandando. Final de
semana é meu aniversário e eu só quero

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passar essa semana na mais pura paz, com


dias normais, até chegar final de semana e eu
assim envelhecer com tranquilidade e não
infartando porque meu namorado está louco
querendo matar um idiota. Então não, você
não vai ser o juiz!
— Me peça qualquer coisa, menos isso.
— Seja apenas o Marcos essa semana e
não o juiz, por favor?
— É o pacote, amor. Fica com um e ganha
o outro.
— Marcos, por favor, só seja um homem
normal, essa semana.
Ele se levanta e sobe em cima de mim.
— Por você, apenas por você farei isso.
Posso ser um homem normal essa semana,
desde que você fique comigo a semana toda.

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— Por mim tudo bem. Minha tia vai


embora amanhã, então fica mais fácil.
— Certo!
Ele me beija com completo desejo.
Pressiona meu corpo com o seu. Uma de suas
mãos vai para minha perna e ele a acaricia.
Seguro seu rosto com ambas as mãos. Sinto
sua ereção e isso me excita.
— Tenho que passar no escritório e pegar
alguns papéis para estudar um caso em casa
e tem que ser agora, porque tenho que
assinar algumas coisas urgentes para a
Débora cuidar.
— Não pode fazer isso comigo. Me atiçar e
dizer que tem que ir!
— Vamos comigo. De lá, vamos para a
minha casa e você não vai sair da minha
cama tão cedo. E eu que teria que reclamar,
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sou eu que vou dirigir de pau duro.


— Preciso pegar minha bolsa, e trocar de
roupa.
— Não precisa trocar de roupa. Não vou
ficar por lá, e mesmo que eu fosse, pouco me
importaria você estar de short e camiseta, é
minha namorada, se quiser ir até meu
escritório de pijama tem permissão. Agora
seja rápida, porque você embaixo de mim
está me deixando cada vez mais duro. — Ele
se levanta e se senta no sofá. O volume em
sua calça jeans é visível e isso me faz sorrir.

Foi rápido o percurso até o escritório, o


trânsito ajudou muito.
Saímos do elevador e está bem calmo,
Débora não está, o que é estranho.
— Às vezes, eu me pergunto porque ainda

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pago uma fortuna a Débora, pois secretária é


para estar no trabalho, porque o chefe
precisa dela — ele diz e sorrio.
— Deve estar no banheiro.
— Ou fofocando pelos outros andares, ou
comendo em algum lugar.
— Que horror, caluniando ela sem saber
— brinco.
— Trabalha há anos para mim, sei sim.
Ele caminha até a sala dele e o sigo.
Entramos e ele vai direto para a sua
mesa, onde tem alguns papéis, e uma caneta
em cima.
— Ela esteve por aqui, pois é ela quem
deixa os papéis que eu tenho que assinar
desta forma e com uma caneta em cima.
— Isso é bom, não terá desconto no
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salário.
Sorrimos.
— Ai, meu Deus! — Escutamos alguém
gritar.
Marcos se levanta correndo e saímos da
sala rapidamente. Deparamo-nos com a
Débora olhando assustada e com batatas
fritas caídas no chão.
— O que foi?! — Marcos pergunta
preocupado.
— Nunca mais faça isso! Achei que tinham
invadido. Não tem nem cinco minutos que saí
para roubar as batatinhas da Daisy do
primeiro andar, e quando volto vejo sua sala
aberta. Isso não se faz! Nem vi vocês
entrando.
Rio.

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— Você é louca! E precisa gritar assim? —


Marcos diz.
— Claro! Só acontece loucuras nessa sua
família, que quando cai um copo no chão eu
já acho que alguém invisível derrubou da
minha mão.
Não me aguento e gargalho.
— Não dê atenção a isso, ou ela não vai
parar! — ele diz e tento me controlar.
— Droga, vou ter que limpar isso agora.
— Ela se agacha e começa a recolher as
batatas e colocar no pote pequeno em que
estavam. — Hoje tem o evento, não esqueça,
você precisa ir, todos os Escobar têm que ir.
Antes que eu me esqueça, Daiane veio aqui
para falar com você.
— Segunda vez que ela me procura e
desiste, algo ela está aprontando. Tinha me
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esquecido do evento, estarei lá. Vou assinar


os papéis, e depois irei embora.
— Certo. Beatriz, poderia me fazer
companhia enquanto ele faz o serviço?
Queria falar com você rapidinho. — Marcos
olha para ela desconfiado e depois para mim.
— Claro! — digo e ele se retira entrando
em sua sala e fechando a porta.
Débora termina o que estava fazendo e
coloca em sua mesa, onde se senta em
seguida.
— Eu quero te agradecer! Muito obrigada
mesmo — ela diz.
— Pelo quê?
— Por fazer esse homem voltar a
acreditar no amor. Ele é meu melhor amigo, e
me doía vê-lo se entregando a várias

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mulheres, mas nenhuma sendo a certa, e a


mídia o detonando. Obrigada por não
desistir dele, e dar uma chance — ela
responde e sorri.
— Não tem o que agradecer. Nos
encontramos no meio das nossas bagunças.
Não é fácil, mas estamos trabalhando para
aprender a lidar com tudo.
— Isso me deixa muito feliz. Você não
imagina o quanto eu esperava por esse dia,
ver esse homem feliz. Conheço ele há muito
tempo, e sei que não vai ser fácil, vai ter dias
que vai querer matá-lo, mas é o jeito dele,
assim como de todos os Escobar, são ossos
duros de roer e ciumentos de uma forma
absurda. Então, se em algum momento
pensar em desistir, pensa em mim que terei
que aguentar a fúria dele aqui no trabalho —

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brinca e sorrimos.
— Pode deixar! — Sorrio. — Preciso te
pedir desculpa. — Ela me olha sem entender.
— Não gostava muito de você, ainda mais
quando soube de você e do Marcos, mas fui
tola. Entre vocês dois, apenas existe uma
grande e linda amizade, é como eu e a
Liziara, só que sem a parte do sexo no
passado... — Rimos.
— Normal, muitos condenam sem saber, e
fico grata por você ter visto que somos
apenas grandes amigos. Eu amo meu marido,
e não o trocaria nunca, mesmo quando ele
me proíbe de sair com o carro porque
sempre dou prejuízo, ou quando ele me
proíbe de comer besteiras o dia todo. E vou
te confessar algo: o ciúme que o Cleber sente
do Marcos não é pelo nosso passado junto, é

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porque o Marcos passa mais tempo comigo


do que ele, pois vejo pouco meu marido, só
nas folgas, do contrário ele chega e eu estou
dormindo, eu saio para trabalhar e ele está
dormindo, ainda mais agora que ele é
investigador. — Ela sorri.
— Amigas? — pergunto sorrindo.
— Paga comida para mim, e será minha
melhor amiga.
Rio, e ela vem até a mim e me dá um
abraço.
— Achei alguém pior que a Liziara. —
Rimos.
Marcos sai da sala e nos observa.
— Tudo em paz? — ele pergunta.
— Não. A próxima vez que essa idiota vir
aqui, eu me demito! — Débora responde e sei

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que está brincando. Marcos olha para ela e ri.


— O que foi?
— Não tente me enganar.
— No que eu falhei? — ela pergunta
rindo.
— Você jamais chamaria alguém que está
com raiva de idiota. Você tem mais boca suja
que eu.
— Bem lembrado! Vou pegar os papéis. —
Ela entra na sala dele rindo.
— Vamos? — ele me pergunta.
— Sim.

Estamos em seu carro. Está calor, e o sol


forte. A visão dele de óculos escuros e
dirigindo é de foder o juízo, e no bom
sentido.

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— Tem roupa formal? — ele pergunta.


— Sim. Por quê?
— Evento hoje.
— Do que seria o evento?
— Resumidamente, é um monte de
advogados, juízes, policiais, delegados,
promotores, um querendo ser melhor que o
outro, mas a causa do evento é beneficente,
cada um que confirma a presença tem que
doar um valor, para uma das instituições da
lista que eles têm.
— Entendi.
— Pode levar sua tia também.
— Pera aí... Se cada um que confirma a
presença tem que doar, quer dizer que eu
indo terei que doar também?
— Exato.
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— E ainda quer levar minha tia?


— Sim. Qual o problema?
— Qual o valor da doação?
— Bia...
— Qual?
— Acima de vinte e cinco mil.
Arregalo os olhos e ele me olha
rapidamente e sorri.
— Eu não vou e minha tia não vai. Porra,
adoro ajudar a caridade, mas isso aí é
demais!
— Por isso só vai quem tem condições
para isso.
— Marcos, não vou. É dinheiro demais.
— Você não tem noção do tanto que os
Escobar são ricos, não é? — pergunta rindo.

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— Estou começando a ter, afinal, acima de


vinte e cinco mil não é pouco.
— Para de ser boba. Você e sua tia vão e
ponto final.
— Vou procurar um mercado negro por
aí, e vender um rim... Merda, falei isso perto
de um juiz de quinta, me ferrei!
Ele ri.
— Gastaria milhões por você, sem
problema algum. Você vai e sua tia também,
assunto encerrado.
— Depois não diga por aí que dou
prejuízo, que eu te faço engolir moeda por
moeda, assim que eu roubar um banco e
poder pagar.
— Falou mais uma merda perto do juiz de
quinta — provoca.

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— É juiz de quinta mesmo. — Rio.


— Adora provocar, vamos ver se vai
gostar quando eu começar. — Ele estaciona o
carro.
Assim que descemos do veículo, Simon
estaciona atrás.
— Sério, de onde esse homem surge que
nunca vejo? Só vejo quando ele estaciona.
— Às vezes, me pergunto isso também.
Alex, o segurança da Liziara, está na
porta.
— Liziara o expulsou?
— David está de folga.
— Está explicado. Quando liberam os
seguranças, você rapta?
— Não. É que o Simon coordena eles com
o Luciano. Então é o Simon que ordena onde
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eles vão ficar, quando não estiverem


trabalhando com algum de nós. — Ele abre a
porta e me dá passagem. — Entra.
Entro e espero ele fazer o mesmo, mas ele
retira os óculos e fica olhando seriamente
para o Alex.
— Olha a bunda dela novamente, e você
não vai ver mais nada!
— Marcos?!
— Senhor, eu não...
— Não sou cego, Alex. Sua tentativa de
disfarçar não funcionou. Faça isso e não vai
ver mais nada, isso se eu te deixar vivo. — Ele
entra e fecha a porta.
— Que vergonha! — digo a ele e me sento
no sofá.
— Vergonha? O idiota olhou para a sua

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bunda. Teve sorte de eu não esmurrar o olho


dele. A próxima vez, ele não vê mais porra
nenhuma!
— Você é estressado demais. Já tentou
praticar pescaria?
— Odeio. Prefiro futebol.
— Você joga? — pergunto animada.
— Jogo. — Ele joga os óculos com a
carteira e as chaves no sofá e retira a
camiseta em seguida.
— Isso é novidade.
— Às vezes, jogo com alguns conhecidos.
Mas, ultimamente, ando na correria, então
prefiro ficar o tempo livre com você.
— Que honra...
— Sua ironia me deixa puto.
— Não fui irônica.
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Ele fica me olhando.


— Fui sim. — Sorrio.
Ele me puxa do sofá e vamos até seu
quarto.
Deito na cama.
— Preciso pedir para a Débora confirmar
a presença da sua tia também no evento. —
Ele pega o telefone na lateral da cama.
Conversa com a Débora e desliga
rapidamente, deitando-se ao meu lado.
— Vamos comemorar seu aniversário
hoje.
— Dizem que dá azar comemorar antes
do dia.
— Só para quem acredita nessas
bobagens. Vamos aproveitar que sua tia vai
estar aqui. Depois do evento vamos para a
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Paula, ou aqui mesmo, e pedimos algumas


besteiras, e se quiser faço uma dança
sensual, para animar. — Dou um tapa em seu
braço.
— Faça e te mato! — Ele ri e me dá um
beijo.
— Está combinado então.
— Eu não disse que aceitava.
— E eu não perguntei.
— Isso não é novidade. Você nunca
pergunta.
— Sou Marcos Escobar.
— Meu juiz de quinta.
— Só seu. — Ele me beija e me puxa para
cima de si.

Estão todos os Escobar juntos, em uma

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mesa. O local está repleto de representantes


da lei famosos, e que com certeza juntos
construiriam um novo país, de tantas
fortunas. Estou começando a me sentir a
Cinderela do lugar.
— Esse ano está mais lotado! — Paula
comenta.
— Lotado de deuses gregos. Senhor,
alguém me segura! — minha tia diz, fazendo
todos rirem.
— Eu disse para não trazer ela —
comento.
— A cada ano, esse evento se torna
ridículo, tirando a parte das doações. É um
querendo ser melhor que o outro. Olha só
isso... — Daiane diz olhando ao redor.
— Alguns até que se salvam, outros é
foda! — Henrique fala.
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— Precisamos de baldes — Marcos diz e


todos olhamos para ele. — O veneno de vocês
está escorrendo. — Rimos.
— Eu estou quieta — Ana se defende.
— Duas! — digo.
— Três! — Liziara completa, rindo.
— Saímos como as mulheres ruins,
Daiane — Paula diz sorrindo.
— Eu saí como a tarada... Meu Deus, olha
aquele gostoso vindo até aqui! — minha tia
diz, fazendo todos olharem. — Pena que tem
mulher junto.
Travo meu olhar apenas na mulher.
Liziara fica vermelha, e não é de vergonha.
— Só pode ser brincadeira! — David diz e
pelo seu tom está com raiva.
— Não gostam dele? A cara de vocês está
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me dando medo — minha tia comenta.


— Não gostamos dela! — Daiane exala
raiva.
Eles se aproximam. O homem, que é
muito bonito, sorri, enquanto ela nos olha
com desdém.
— É uma honra conhecê-los
pessoalmente. Sou um grande admirador.
Meu Deus, estou tão feliz em ver vocês, talvez
até mais do que no dia que conquistei a OAB
— ele diz e sorrio. — Não pensem que sou um
louco. Sou Jacob Casagrande, promotor, vim
recentemente de Minas Gerais para cá — ele
cumprimenta a todos.
— Novo por aqui. Realmente não o
conhecia.
— Sou novo na profissão também. Porra,
Marcos Escobar falou comigo! Caramba! —
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ele diz animado, e Henrique gargalha.


— Você é doidinho, cara! — Henrique diz,
e Ana dá um tapa em seu braço.
— Nem apresentei a vocês, minha noiva,
Poliana Xavier.
— Já os conheço, meu amor — a vaca diz.
Odeio essa mulher, desde que quase
destruiu a vida da Liziara, e por falar na
minha amiga, ela está olhando fixamente
para a taça a sua frente e isso está me
preocupando.
— Como não me disse isso?! Sabe o
quanto sou fã deles. Na verdade, quem eu
mais admiro é o Marcos. Me lembro como se
fosse ontem, quando foi até a universidade
que eu estudava e fez uma palestra. Você é
foda, com todo respeito do mundo dos fodas,
porque estou me credenciando a esse
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mundo, um dia chego lá, igual a sua família e


você — ele diz animado ao Marcos, fazendo
todos sorrirem.
— Ele é fã de carteirinha do seu tesudo —
minha tia cochicha no meu ouvido.
— Obrigado! — Marcos diz, com seu jeito
sério.
— Vamos, amor, nossos amigos nos
esperam — Poliana diz a ele.
— Vamos. Foi uma honra conhecer vocês!
Honra das grandes, tipo do tamanho do
Everest. Espero nos encontrarmos
novamente. Com licença. — Eles se retiram.
— Agora eu posso falar. O que aquela
rainha das vadias está fazendo aqui? E como
assim está noiva? Com certeza aplicando
golpe no cara! — Daiane diz. — E que
homem! Jaqueline, tenho que concordar, é
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gostoso e mais, muito bonito.


— Fale isso novamente, e vai para um
convento! — David diz.
— Amanhã mesmo! — Marcos fala.
— Façam isso e começo a contar os
podres de cada um. As mulheres de vocês
iriam amar saber!
— Se quiser, tiramos Poliana do caminho
dele! — Henrique comenta e rio.
— Vocês têm medo, mas não têm
vergonha! — Daiane provoca.
— David, você sabia?! — Liziara pergunta
séria, fazendo todos se calarem.
— Não. Eu te juro que não sabia.
— Para mim esse evento acabou. Essa
mulher me dá nojo. Não consigo ficar no
mesmo lugar que ela! — Liziara fala com
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raiva. — Vamos embora, porque se eu


escutar a voz dela novamente, dessa vez
serei capaz de matá-la.
— Segura a leoa aí! — Marcos provoca.
— Marcos! — repreendo ele.
— Vamos, amor! — David se levanta e ela
faz o mesmo.
— Desculpa, pessoal, mas conheço meu
limite, e com ela aqui, não tenho controle.
— Não se preocupe, Lizi — digo a ela.
— Se quiser dar na cara dela, só dizer,
tranco ela no banheiro, e você quebra ela lá
mesmo — minha tia diz.
— Eu ajudo! — Daiane e Ana dizem
juntas.
— Vigio a porta — Henrique se anima.
— Até você, Henrique? Adora uma
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encrenca, porra! — Marcos brinca e


Henrique sorri.
— Não irei descer ao nível dela mais uma
vez. Nos vemos na casa da Paula — Lizi diz e
se retira com o David.
— O que essa mulher veio fazer aqui?!
Coitado desse cara — Henrique fala
inconformado.
— Ou é um idiota que acredita que essa
cobra é uma boa pessoa, ou é igual a ela, e
quem sabe pior — Daiane diz e bebe sua
bebida.
— Pelo visto, esta mulher é muito amada
por vocês — minha tia ironiza.
— A Poliana é uma puta, para ser direta
— falo a ela.
— Nunca gostei dela — Marcos diz. — Só a

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Paula gostava.
— Epa! Pode parar. Eu era educada, o que
é diferente. Ninguém é bocudo e cara de pau
como você e Henrique! — Paula se defende e
eu rio.
— Chega, vamos mudar de assunto.
Afinal, ninguém merece ficar falando dessa
cobra — Ana se manifesta.
— Eu apoio! Vamos falar de quando
Beatriz e Marcos vão casar, ter filhos... —
Paula diz, e eu começo a me engasgar. Minha
tia ri e Marcos dá leves tapas nas minhas
costas.
— Nossa, Bia, está bem? — Daiane
pergunta preocupada.
— Isso aí é apenas susto, porque sabe que
vai acontecer, só não tinha ouvido em voz
alta — Henrique diz.
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— Henrique Escobar! — Ana o repreende.


— Porra, não posso falar nada mesmo! —
ele diz.
— Não! — Ana e Paula dizem juntas.
— Estou bem — respondo à pergunta
feita por Daiane.
— Sua mãe era assim, querida. E veja só,
você aqui. E logo, logo, pode ser que venha
um bebezinho, afinal, vocês dois são fogo
puro... — Todos riem.
— Tia, por favor! — Sinto minhas
bochechas esquentarem.
— Coitada, foi escolher entrar para a
família Escobar e é um poço de timidez —
Henrique diz, rindo.
— Agora chega. Vamos dar umas voltas,
Henrique! — Ana se levanta. — Vai logo!

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— Cuidado, amor, nem sempre o volume


em minhas calças é uma ereção — ele diz e se
levanta.
— Voltamos depois. — Ana diz e eles
saem.
— Vamos bater papo com o pessoal, e
dançar. — Daiane se levanta e Paula faz o
mesmo.
— Me convidando para ir com vocês! —
Minha tia se levanta.
— Vocês não vêm? — Daiane indaga.
— Não estou a fim de distribuir murros
gratuitos — Marcos diz e sabemos ao que ele
se refere.
Elas saem e ficamos apenas nós dois na
mesa. Bebo um gole da minha bebida.
— Vou até o banheiro, já venho — Marcos

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diz e se levanta. Antes de sair, me dá um


beijo nos lábios.
Fico observando o lugar. As pessoas são
todas muito elegantes, porém sérias, um ou
outro grupo conversam animadamente.
Prefiro os eventos de pessoas mais simples
como eu, pois tem de tudo, e depois rende
muitos assuntos.
Aproveito que Marcos foi ao banheiro, e
faço o mesmo.
Caminho entre as pessoas. Vejo Henrique
e Ana conversando com um casal, e pela cara
do Henrique o assunto está bem entediante.
Entro no banheiro, e vou até o espelho,
ver se estou bem ou já está tudo borrado e eu
parecendo um palhaço. Retoco o batom que
está fraco. Dou uma ajeitada no cabelo que
está solto, e meu cabelo é um perigo, ele tem
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vida própria, todo cuidado é pouco. Saio do


banheiro e, para meu azar, dou de cara com a
Poliana. Ela me olha e sorri.
— Não perdeu tempo. Depois eu era
interesseira, porque sei que era isso que
rodava na boca dos Escobar. Mas vejam só, o
jogo virou.
— Poliana, não estou com o Marcos pelo
dinheiro, estou com ele por amor, mas não te
culpo se não souber o que é isso. E fica um
conselho para você: Esse Jacob parece ser um
cara legal, vi nos olhos dele admiração pelos
Escobar e não de inveja como os seus
mostraram. Então, não o use como tentou
usar o David, porque seu fim foi voltar para
onde tinha vindo, mas agora, você voltaria
para onde? Já sei... O galinheiro de onde
nunca deveria ter saído! Com licença. —

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Passo por ela, que fica me olhando com raiva.


Essa mulher não aprende. Surge do
inferno para atazanar a vida do próximo!
Faço o caminho de volta para a mesa que
estávamos, mas sou surpreendida por duas
mulheres falando com Marcos. Quando me
vê, ele me olha um pouco assustado e isso
não me traz conforto algum.
Aproximo-me da mesa, e as mulheres me
olham, mas voltam a olhar o Marcos.
— Então, nem nos ligou... Ficamos
esperando — uma delas diz e Marcos toma
um bom gole da bebida. Está nervoso.
Sento-me e fico apenas observando para
ver até onde vai isso.
— Marcos, eu queria tanto que tivesse
ligado. Odeio ter que ir atrás. Me sinto uma

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intrometida — a outra diz, e ele permanece


calado.
Minha presença não diz nada para elas.
— Foi tão bom aquela noite. Podíamos
repetir a dose.
Cruzo os braços e inclino um pouco a
cabeça para o lado e avalio o Marcos, que me
olha de rabo de olho.
— Pois é... Eu não liguei. Porém, já passou.
Isso é passado. Não teve importância.
— Claro que teve! Ligamos para seu
escritório, já que não nos deu seu telefone.
Sua secretária foi bem grossa e não nos quis
informar seu paradeiro.
Débora, como eu te amo, mulher!
— Minha secretária faz o que é pedido a
ela.

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Dou um chute em sua perna por baixo da


mesa e ele me olha feio.
— Esqueçam o que aconteceu. Não vai
acontecer nunca mais!
— Por que não, juizinho? — uma delas diz
toda manhosa.
— Porque o juizinho teve o pau dele
cortado! — respondo e elas me olham
assustadas.
— Sério?! Que horror! — exclamam
juntas.
— Sim. Horror mesmo. Porém, foi o que
aconteceu. Uma mulher cortou o pau dele,
por ele ser um filho da puta e dar trela para
outras. — Elas ficam boquiabertas e se
afastam rapidamente.
Levanto-me da mesa.

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— Amor! — Marcos diz.


— Não me chame de amor. Até quando
pretendia ficar nesse papo, Marcos?
— Porra, eu fiquei sem reação. Eu nunca
fiquei em um momento... assim.
— Você sem reação? Conta outra, Marcos!
— Minha última namorada foi anos atrás,
e você sabe como terminou. Me desculpa.
Senta aqui novamente.
— Não. Vamos embora, porque ainda
tenho que trocar de roupa, por algo mais
confortável, para ir a Paula.
Nos afastamos dali. As duas mulheres que
estavam com ele estão perto da saída, e ficam
nos olhando.
Marcos me puxa pela mão e se aproxima
delas.

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— Não estou com o pau cortado. Ele


apenas tem dona. Minha futura esposa e mãe
dos meus filhos. Eu nunca ligo de volta ou
vou atrás, mas escolhi ela para fazer isso.
Porque a amo. — Ele me dá um beijo na
frente delas e elas xingam ele. Quando nos
afastamos, já não estão mais ali.
— Foi lindo, mas não está desculpado.
— Posso resolver isso em breve. Vamos.
— Ele sorri maliciosamente para mim.
Ele vai pensando que terá algo!

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Capítulo 11

Meses depois...

Acordo com o despertador, e Beatriz não


está na cama. Levanto e vou até o banheiro.
Escovo os dentes, faço minha necessidade e
entro no chuveiro. Odeio quando acordo com
dor de cabeça, porque fico o resto do dia em
um completo mau humor.
Saio do banho, enrolo a toalha na cintura
e vou para o quarto. Beatriz está nele agora,
e encolhida na cama.
— Aconteceu algo? — pergunto
preocupado.

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— Cólica. Estou naqueles malditos dias.


Que ódio!
— Começou hoje? — pergunto entrando
no closet.
— Sim — ela diz alto para que eu ouça. —
Por quê?
Pego a roupa que vou usar, e retorno ao
quarto.
— Curiosidade, apenas.
— Sei... Pior que hoje tenho entrevista de
emprego. Que raiva que estou. Tenho que
passar na minha casa, para me arrumar e
tomar remédio para ver se essa cólica passa
logo.
— Está tomando o anticoncepcional
ainda? — pergunto enquanto visto a cueca.
— Óbvio. Por que tantas perguntas?

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Algum tipo de julgamento aqui? — pergunta


sorrindo.
— Não — respondo, e sei que fui seco.
— Marcos, o que foi? Quem está na TPM
sou eu.
— Dor de cabeça. Só isso. Vai querer
carona para sua casa?
— Não. Vou com meu carro, vou precisar
dele hoje, então não dá para deixar ele aqui
de novo.
— Vou pedir ao Simon que deixe algum
segurança com você.
— Como eu sei que mesmo dizendo que
não quero, você vai fazer, então nem irei
discutir.
— Ótimo. — Visto a calça jeans preta.
— Marcos, olha para mim. — Faço o que
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pede — O que foi? Ficou assim por que estou


menstruada e vai ficar sem sexo por dias? Se
bem que deve estar acostumado, porque
ficou três semanas, depois do evento que
encontrou suas “putianes”.
— Já disse que é apenas dor de cabeça. —
Visto a camisa branca que peguei.
— Não vai de terno hoje?
— Não. Ficarei apenas no escritório.
Ela se levanta e caminha até a mim,
parando na minha frente. Coloca os braços ao
redor do meu pescoço.
— Me fala logo o porquê do mau humor?
— Dor de cabeça. — Dou um beijo nela e
me afasto para terminar de me arrumar.
— Vou fingir que acredito. Deixa eu me
arrumar, porque ainda vou passar em casa.

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— Ela entra no banheiro.


Saio do quarto e vou para a cozinha. A
raiva está me deixando com mais dor de
cabeça. Vejo que ela preparou café. Pego uma
caneca e encho com ele.
Caminho até a porta de vidro que dá
acesso ao jardim nos fundos e me encosto
com a caneca em mãos.
O tempo está passando. Cada dia é um dia
a menos de aproveitar. Parece que a cada dia
que se passa as chances de me tornar o que
sempre quis ficam longe. Estou começando a
ficar cansado de persistir. Faz meses que
estou insistindo para ela vir morar comigo,
fazendo de tudo para ela desistir do maldito
anticoncepcional. Porra, quando ela vai
entender que eu não sou mais jovem, e que
vai chegar um dia que não terei mais

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capacidade de atuar na minha área, de ter


energia para fazer as coisas, e desta forma
não ter mais tanto tempo ou disposição para
ter um filho? Ela sabe que não quero mais
enrolações, que eu quero algo sério, porque
meu tempo logo se esgota, ainda mais com a
carreira que tenho.
Ela me abraça por trás.
— Café gelado é horrível. — Olho a caneca
ainda cheia.
— Estava perdido em pensamentos.
— Posso saber quais?
— Nada que importe. Preciso terminar de
me arrumar — respondo e forço um sorriso.
— Tudo bem. Vou indo. Quando eu sair da
entrevista te ligo. Me deseje boa sorte.
— Não precisa de sorte. Vai se sair muito

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bem. Confio em você. — Ela sorri. Beijo-a e


cuido para não derrubar o café da caneca.
— Já falou com o Simon?
— Não. Me distraí. Pode sair e avisar que
quer segurança com você.
— Ele vai querer que você diga.
— Na verdade, ele vai amar você pedindo,
já que sempre expulsa ele.
— Ok. — Ela sai e fico olhando a porta se
fechar.
Deixo a caneca dentro da pia. Vou para o
quarto e termino de me arrumar. Logo
depois, vou para o escritório.

Chego ao escritório e Débora já está


trabalhando.
— Bom dia! — diz animada como sempre.

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— Bom dia. — Passo por ela e entro em


minha sala.
Tiro as coisas do bolso e jogo em cima da
mesa. Sento na minha cadeira e ligo meu
computador.
Débora entra na sala e me olha
desconfiada.
— Seu dia hoje será tranquilo. Tem que
rever um caso. Daiane ligou dizendo que vai
passar aqui para conversar com você. Chegou
um processo também. E precisa assinar
alguns documentos importantes. Acredito
que até antes do almoço fique livre.
— Está certo. Organize tudo e me envie.
— Se quiser pode ir para casa e trabalhar
de lá. Aviso a Daiane para ir para sua casa.
— Não. Passarei o dia aqui. Apenas faça o

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que mandei, Débora!


— Está bem. — Ela se retira.
Pego meu celular e tem uma mensagem
da Daiane, dizendo que vai vir antes do
almoço.
Vejo meus e-mails, e respondo apenas os
mais importantes, deixarei os outros para
depois.
Débora retorna com as coisas que pedi,
porém entra calada e sai da mesma forma.
Sabe quando não estou de bom humor.
Começo revendo um caso, que está mais
enrolado que nó. Logo depois, vejo do que se
trata o processo, porém perto de tantas
coisas graves, isso é nada, deixo de lado por
hoje. Assino os documentos para finalizar.
Olho no relógio e já são onze horas. Nem

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percebi, porque para mim foi tudo no


automático. Quando vou chamar a Débora,
ela entra sorridente.
— Edson foi condenado. Sete anos de
prisão. Não é muito, mas já é algo!
— Só? Por mim ficaria 20 anos e ainda
seria pouco — respondo irritado.
— Poxa, homem, fique animado, já é algo,
nesse país que tem dificuldade para tudo.
— Pegue essas coisas. Já terminei.
— Aconteceu alguma coisa? Está
estranho. — Ela pega as coisas.
— Débora, faça o que mandei. Cuide das
suas coisas, e deixe que eu cuido dos meus
problemas. Saia e me deixe sozinho.
— Vou me arrepender de insistir, mas
vamos lá. Problemas com a Beatriz?

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— Não, Débora! Some.


— Mas envolve ela, só assim para estar
distribuindo coices gratuitos!
— Saia, quero ficar um pouco sozinho!
— Não vai ficar não. Cheguei! — Daiane
aparece na porta. — Oi, Déb — ela
cumprimenta a Débora. — Está de péssimo
humor, não é?
Débora concorda e sai rindo da sala.
Daiane fecha a porta. Coloca a bolsa na
minha mesa e se senta na cadeira da frente.
— Consegui encontrar você aqui! — Sorri.
— O que tanto quer comigo?
— Vim em péssimo dia, pelo visto. Seu
humor não está bom.
— Pode dizer, sempre terei tempo e
disposição para você.
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— David e Henrique têm que saber disso.


Os dois patetas ficariam putos de ciúme. —
Ela ri.
— Daiane, foca no assunto.
— Sorry. — Ela se ajeita na cadeira, se
aproximando ainda mais da mesa, onde
apoia os braços. — Como é se apaixonar? —
Olho para ela, sem entender. — Tio, eu não
sei o que é isso! Minha dúvida é esta.
— Não estou entendendo onde quer
chegar.
— Henrique se apaixonou à primeira
vista, e foi lindo, porque muitos duvidam
desse amor e ele está aí para provar que
existe. David, um babaca, que encontrou o
amor em uma amizade colorida. Você que eu
jurava que morreria solteiro depois de ter
namorado a Renata, e ela ter sumido, só Deus
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sabe o que aconteceu entre vocês dois, mas,


enfim, está aí namorando, e feliz. Droga, eu
sou a única que não sei falar de amor entre
um homem e uma mulher! Saio com caras,
apenas rola sexo e nada mais.
Nunca vou me acostumar com a Daiane
ser tão direta.
— Primeiro, não quero saber sobre o sexo
que faz! Porra, me deu até enjoo! Segundo,
não tem como explicar o amor, Daiane.
— Tio, eu estou com medo. As pessoas
estão dizendo por aí que eu sou os Escobar
masculino de vestido. Estou com medo de
acabar sozinha!
— Eu, particularmente, iria amar.
— Tio, por favor! Eu não tenho coragem
de perguntar isso a minha mãe, porque sei
que ela vai lembrar do papai, e eu irei me
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sentir mal. Se eu perguntar ao Henrique, ele


vai levar tudo na brincadeira. E ao David
impossível, porque nas horas livres, o idiota
só sabe ficar enfiado na Liziara, aquelas
meninas vão crescer traumatizadas!
— Daiane!
— Sorry, mas é a realidade.
— Eu sou o menos indicado a te falar
sobre se apaixonar.
— Me fala como foi com a Beatriz, mas
pula a parte do sexo. — Ela sorri, e não tenho
como não sorrir junto, ainda mais vendo que
seu sorriso é idêntico ao do meu irmão.
— Foi estranho. Assustador. Mas ela já
tinha me conquistado desde a primeira vez
que a vi. O jeito tímido dela, e a forma dela
sempre me desafiar, me deixava louco. Estar
perto dela sem poder tocar era torturador.
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Mas quando a vi na festa, e ela me provocou,


a raiva se misturou com o desejo, e eu já
sabia que estava apaixonado, porque meu
coração batia em ritmo diferente, e a
sensação que eu sentia era louca. Quando a
beijei foi o ponto que restava, e então eu
soube que precisava dela na minha vida.
— Que lindo! — ela diz emocionada. —
Então é assim que o tal do se apaixonar
acontece? Droga, nunca irei sentir isso! Não
consigo me apegar, gosto de ser liberal. Vou
morrer sozinha e com 82 gatos.
— Gostei disso! — Ela me olha feio. —
Uma hora, infelizmente, mas, infelizmente
mesmo, isso vai acontecer, e o cara estará
fodido comigo, mas vai acontecer.
— Quando? Estou ficando velhinha já.
— Quem me dera eu estivesse ficando
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velhinho como você. Você vai encontrar,


confie em mim. Só deixa acontecer
naturalmente.
— Quero encontrar um homem como era
o papai, ou como é o Henrique, romântico, e
que não ligue por eu não ser!
— David e eu não somos?
— São, mas é de um jeito mais... Vocês
demonstram com sexo, tenho dó da Liziara e
da Beatriz, devem estar assadas. Não dá para
eu encontrar um cara que seja como eu.
Porque eu tenho que ser realista, sou como
você e o David, preciso de um homem que
seja a mistura da Liziara, com a Ana e a Bia,
ou não vai dar certo. Veja por vocês que
encontraram mulheres, completamente o
oposto.
— Não sabe ser menos direta?
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— Não! — responde como se fosse óbvio.


— Um dia, essa minha vida de apenas sexo
por uma noite vai acabar, e estou com medo,
mas louca para viver essa aventura do tal do
amor.
— Que assunto mais desconfortável para
mim!
— Por quê? Não pedi para me ensinar
sobre sexo. Minha mãe fez isso, sem meu pai
saber na época, ele ficaria louco.
— Que ótimo, então foi a Paula? Pensei
que tinha sido na internet. Tenho que
conversar seriamente com ela.
— Tio, sou experiente nisso há muito
tempo.
— Há quanto tempo?!
— Desde os 18.

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— Quê?! Porra! Quem foi o filho da puta?


— Um carinha da faculdade. Foi um lixo!
Mas depois encontrei outros caras e foram
fodas! Nossa, o último que tive foi uma
loucura...
— Quando foi esse último, Daiane
Gabrielle Escobar?
— Pelo amor de Deus, esquece meu
segundo nome, tenho pavor, dessa falta de
criatividade que minha mãe teve ao escolher
meu nome! E foi ontem.
— Porra! Isso é demais para mim. Meu
dia só piora. Puta que pariu!
— Relaxa, homem. Eu, hein!
— Relaxar? Impossível, pirralha!
— Tio, mesmo sendo insuportável, você
me ajudou muito hoje e sempre me ajuda

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muito. Obrigada por levar a sério o que eu


perguntei. Às vezes, tem coisas que não
consigo desabafar com ninguém, além de
você.
— Estarei aqui, sempre que precisar...
A porta se abre com força, olhamos
assustados. Henrique entra e está pálido.
— O que foi?! — Daiane pergunta
preocupada.
Ele se senta na cadeira ao lado dela, e
solta a gravata do pescoço.
— Henrique, o que aconteceu, porra? —
pergunto sem paciência alguma.
— A Ana Louise...
— O que aconteceu com ela?! — Daiane e
eu perguntamos juntos.
— Ela está...
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— Não... ela não está... — Daiane diz


desesperada.
— Não está morta!
— Porra, diga logo! Está nos apavorando
— digo a ele.
— Ela está grávida novamente. Caralho,
eu vou ser pai de novo! — ele diz e o sorriso
cresce em seu rosto.
— AI, MEU DEUS! — Daiane o abraça e ele
chora emocionado. — Vou ser titia
novamente, que coisa maravilhosa!
Parabéns, pateta número um.
— Obrigado, moreninha. — Eles se
afastam.
Levanto-me e vou até ele, que faz o
mesmo. O abraço.
— Parabéns. Vocês merecem toda

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felicidade do mundo. E a família está


crescendo! — Sorrio.
— Obrigado, tio.
Retorno ao meu lugar.
Porra, justo uma notícia dessas hoje!
— O que foi, tio? Não está realmente feliz
por mim? — Henrique pergunta.
— Não é isso!
— Então, o que é? Está bravo desde a hora
que cheguei — Daiane fala.
— Problemas pessoais, não tem nada a
ver com vocês, não se preocupem.
— Tem a ver com a Bia, não é? —
Henrique pergunta.
— É foda. Nada de mais. Preciso
trabalhar.

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— Se está dizendo... Vamos, Henrique!


— Vamos!
— Então vamos, que quero curtir minha
folga — Daiane fala animada.
— Eu me dei folga — Henrique diz rindo.
— Normal isso! Agora vão, tenho trabalho
a ser feito.
Eles se despedem e saem.
Débora entra na sala e balança a cabeça
negativamente.
— Você pode enganar a eles, mas não a
mim. Está fugindo de todo mundo hoje. Você
não tem mais nada para fazer aqui. Não vou
perguntar o que é, porém saiba, que se não
se abrir, ninguém vai poder te ajudar. — Ela
sai da sala e fecha a porta.
Vou até o sofá que tem no canto da sala, e
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me deito nele, cobrindo os olhos com o


braço. O dia está foda demais hoje!

Estou em êxtase. Irei trabalhar no setor


administrativo, em um dos maiores bancos
do país. Não acredito ainda, parece um
sonho.
Foi demorada a entrevista, mas deram a
resposta na hora! Estou chocada. Um dos
meus maiores sonhos acaba de se realizar.
Paro na escadaria de entrada do banco.
Roberto, o segurança que me acompanhou
hoje, fica me observando.
Ligo para minha tia, que atende
rapidamente.
— Meu amor?

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— Tia, liguei apenas para te dar uma


notícia.
— Vai casar? Está grávida? Ai, meu Deus, que
alegria!
— Não, tia. Nenhum dos dois! Eu consegui
um emprego no setor administrativo em um
dos maiores bancos do país!
— Ai, que alegria! Você merecia, meu amor.
Estou tão feliz por ti.
— Muito obrigada, tia. Estou que não me
aguento de alegria. Vou desligar, preciso dar
a notícia ao Marcos.
— Que esse seja o caminho de uma nova vida!
Te amo, minha linda!
— Também te amo, tia! — desligo.
Ligo para o Marcos, porém só chama.
Deve estar ocupado.

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Entro no meu carro, e vejo o segurança


entrar no dele e esperar eu sair.

Vou para a minha casa. Troco a roupa por


uma mais confortável. E tento ligar
novamente para o Marcos, porém só chama.
Merda, odeio segurar as novidades! Nada hoje
pode sair fora dos planos! Tem que ser tudo
uma grande surpresa. Preciso me controlar,
para não deixar escapar.
Ligo para o escritório dele e a Débora
atende.
— Bia...
— Eu mesma! Marcos está ocupado?
Estou ligando, porém só cai na caixa postal.
— Ele... é... Está em reunião por
videoconferência.
— Ah, sim. Quando ele tiver um
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tempinho, pede para me ligar, por favor?


— Peço sim. Mas, Bia, vocês estão bem?
— Estamos sim... Por quê?
— Ele está meio estressado hoje. Fiquei
preocupada.
— Ele está estranho comigo também.
Deve ser algo do trabalho.
— Por falar em trabalho. Edson foi
condenado a sete anos de prisão, não só pelo que
fez com você, mas por todas as merdas!
— Que bom! Merecia mais, porém a
melhor justiça será a Divina.
— Com certeza! Assim que Marcos estiver
livre, peço para te ligar.
— Obrigada! Beijos!
— Beijos! — Ela desliga.

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Vou para o banheiro, e faço minha


necessidade. Depois me deito toda animada.
A campainha toca, e tenho vontade de
xingar, porque acabo de me deitar. Vou
atender, mas desconfio ser a Liziara.
Abro a porta e é ela mesma.
— Esqueci a chave em casa! — diz
sorrindo.
— Não é novidade. Vamos para o quarto.
Ela concorda e entra.
Entramos no quarto e me deito, enquanto
ela deita de bruços nos pés da cama.
— Conta tudo!
— Passei!
— Ai, que tudo, Bia! Estou tão feliz.
Realizou seu sonho! Que bom!

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— Sim, estou tão feliz.


— Você merecia esse emprego. Minha
amiga trabalha em um banco agora. Que
chique. Inimigas vão chorar no recalque. —
Rimos.
— E as meninas?
— Estão com a Paula, ela está de folga e
quis ficar com as meninas.
— E você, como adivinhou que eu já tinha
chegado?
— Torci. Porque, quando estava aqui
perto, lembrei-me da chave.
Rio.
— Você não muda! Desastre completo.
— Sempre, querida! Antes que eu me
esqueça. Soube da novidade?
— Não. Sou a pessoa mais desatualizada
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do mundo.
— Ana está grávida novamente.
— Mentira?! Henrique deve estar todo
bobo! — Filho da mãe não me falou nada hoje
quando falei no caminho para entrevista,
para ver se ele e David já tinham feito o que
pedi.
— Está sim. Estava na Paula quando eu
soube da notícia. Paula pirou, aquela ali ama
crianças.
— Imagino! Ser avó é tudo para ela!
— Sim. Fiquei boba sabendo da novidade.
Eles dois são tão fofos, e agora pais
novamente, vai ser incrível.
— Com certeza! Tomara que seja um
menininho, assim faz casal!
— Sim! Essa família precisa de menino.

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Eu tive duas meninas, Ana uma menina, não


dá para vir mais meninas, os homens
Escobar vão ficar loucos. — Rimos.
— Vamos ver se vem um menino agora, aí
sim Henrique vai ficar mais bobo.
— Nem me fale. David vai pirar dizendo
que jogaram praga nele, para ter três
mulheres na vida dele.
Gargalho.
— Bem a cara dele fazer isso!
— E você... Como anda o relacionamento
com o senhor juiz gostosão? — pergunta
sorrindo maliciosamente.
— Estamos bem, tonta.
— Ele ainda continua com o papo de
morarem juntos e terem filhos?
— Continua, mas no momento não dá.
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Quero fazer as coisas com calma, uma de


cada vez. Não quero correr e acabar
tropeçando. Acho que as coisas têm que
acontecer em seu devido tempo — respondo
meio desconfortável.
— Vai deixar o homem doido! Ele é louco
por você. Dá logo um time de futebol para ele
e se casa, antes que ele enlouqueça. — Ela ri.
— O problema é que ele quer morar junto
e ter filhos, nenhum momento ele se referiu
a casarmos e termos filhos. Quero as coisas
corretas — tento soar firme em minhas falas.
— Amiga, ele querer morar com você é
sinal de que quer se casar. Marcos Escobar
não faz nada pela metade.
— Eu sei, mas... Ai, sei lá.
— Ele ainda não fez o pedido como deve
ser feito. Já entendi. Você sonha com cada
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detalhe, tudo em ordem. Te entendo e não te


condeno.
Sorrio.
— Exatamente.
— Se ele fizesse, você aceitaria?
— Quem sabe... — Rimos.
— Tenho que passar na casa dos meus
pais e tenho faculdade depois. Depois a gente
se fala. Está meio corrido hoje. Tenho que ir.
Passei apenas para te dar um “oi”. — Sorrio.
— Vai lá! A gente se vê.
Ela me dá um beijo no rosto.
— Depois eu vou lá e fecho a porta, só
bate ela.
— Ok.
Ela se retira, e corro ligar novamente

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para a Débora.
— Oi, Bia.
— Chegou algo?
— Algo tipo o quê?
— David ou Henrique estiveram por aí?
— Henrique sim.
— Então não chegou nada?
— Não. O que aconteceu?
— Nada. E, por favor, não diga ao Marcos
que liguei desta vez.
— Ok. — Desligo.
Estou muito ansiosa. Planejei tudo com o
Henrique e David há semanas, só que não
contava com a entrevista hoje, para sair dos
horários programados.
Ligo para o David, que atende no

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primeiro toque.
— Calma. Tive que despistar a Liziara o dia
todo, e só agora o Henrique conseguiu um tempo.
Estamos bolando aqui. Vai rolar hoje, se acalma!
— Estou agoniada. Ele não me atende.
Quero dar logo as novidades a ele. Tive que
fazer quase que um teatro hoje mais cedo.
— Henrique pensou em você aparecer lá.
Assim que chegar lá, nos avisa e enviaremos para
o e-mail da Débora. Ela também não pode saber
de nada. Se quer que dê certo essa surpresa, por
enquanto apenas, eu você e o Henrique podemos
ficar sabendo.
— Pode deixar. Vou me arrumar e vou
para lá. Hoje, já despistei ele e a Liziara.
— Ok. Henrique o viu hoje, e disse que ele está
estranho.

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— Ele ficou depois que eu disse que


estava naqueles dias e com cólica. — Rimos.
— Lembrando que isso tudo foi ideia sua, não
queremos morrer junto.
— Seus medrosos. Ok. Estou indo. Assim
que chegar lá aviso.
— Seja o que Deus quiser! — ele diz e sorrio.

Acabei pegando no sono. Acordo com a


Débora me cutucando desesperadamente.
— Marcos, você precisa ver isso! — Ela
me entrega alguns papéis. Sento-me no sofá,
ainda meio sonolento.
— O que é isso?
— Leia! Acabei de receber e imprimi para
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você. Estou no chão de tão em choque! — Ela


se senta na cadeira e me olha boquiaberta.
Começo a ler, e vejo que se trata de uma
denúncia feita contra mim. Porra, que merda
é essa?
— Que cacete é isso?
— Leia tudo, homem. Estou em
desespero!
Foi feita uma denúncia contra mim na
delegacia do David, e foi assinada por ele.
Henrique está como o advogado da vítima.
— Quem é a vítima e que caralho de
denúncia é esta?!
— Vire a página... — ela diz preocupada.
Faço o que ela pede e vejo do que se trata.
Diz que Beatriz Ferreira de Oliveira me
denunciou. Henrique está como advogado

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dela e a denúncia foi feita hoje.


— QUE PORRA É ESSA?!
O telefone da minha sala toca e levanto
para atender.
— Fala!
— Tio, já recebeu?! — Henrique pergunta.
— Já! E que caralho é isso? Puta que
pariu! Que merda é essa, Henrique?!
— Eu que pergunto. Beatriz veio desesperada
na delegacia e pediu minha ajuda e do David. Que
merda você fez! Estou envergonhado.
— Que brincadeira idiota é essa? Como
assim? Cadê o motivo da denúncia? Isso é
ridículo. Que merda é isso aqui todo mal
feito? O que estão aprontando, seus putos?!
— grito com ele.
— Vamos enviar tudo corretamente depois.
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Apenas foi feito às pressas, para você ser


informado antes de qualquer outra autoridade.
Saiba que estou com nojo de tudo que ouvi! — ele
termina de dizer e desliga.
— Débora, que porra é essa? Isso só pode
ser brincadeira. Está todo estranho esse
caralho!
— Eu não sei. Estou tão perdida quanto
você. Beatriz me ligou perguntando se tinha
chegado algo. Estava estranha. Eu disse que
não. Porém, depois recebi isso. Marcos, o que
aconteceu? Você estava nervoso hoje. Você
fez alguma merda?
— Claro que não! Quem pensa que sou?!
— Beatriz?! — Débora diz e me viro para
olhar a porta.
— Por favor, se retire Débora, quero falar
com ele a sós. — Ela está séria.
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Débora sai da sala e fecha a porta.


— O que é isso, Beatriz?! — Entrego os
papéis a ela. — Que porra de brincadeira é
essa?
Ela abre a bolsa, e retira alguns papéis e
me entrega.
— Não é brincadeira. Te denunciei
mesmo. Leia!
Começo a ler e me sento na cadeira. Estou
sem ação. Minhas mãos tremem. Não sei o
que fazer, como agir. Só pode ser piada. Isso
não pode ser real...
— Te denunciei por ter me engravidado,
ter ficado de péssimo humor quando
inventei que estava naqueles dias, por ter me
feito ter que esconder os enjoos e por ter me
feito esconder isso há semanas de você.
Porque você, Marcos Escobar, me fez fazer
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amor com você loucamente, e assim nem a


pílula aguentou ou eu acabei esquecendo de
tomar... Já nem sei.
— Eu vou matar você, o David e o
Henrique! — exclamo sorrindo e chorando
emocionado.
— Eles sabiam há semanas, mas eu queria
te torturar um pouco, e dar a notícia de um
jeito dramático, igual é a vida de vocês
Escobar!
Levanto e largo os papéis. Abraço ela e a
beijo com amor.
— Isso é real, ou estou velho demais e
pirei?
— É real. Você vai ser papai, Marcos.
Obrigada por ter me feito sair dos meus
planos novamente. Isso também fez parte da
denúncia.
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— Não estou acreditando. Não estou!


Porra, você me torturou a porra do dia
inteiro. O filho da puta do Henrique sabia e
ainda veio me falar que ia ser pai novamente.
David, o imbecil, contribuiu com essa
loucura! Sabe que isso não vai ficar assim,
não é?
— Sei. E não acabou a novidade.
— Se for gêmeos, infarto.
— Eu também! — Ela ri. — Passei na
entrevista!
— Parabéns, amor! Já sabia que
conseguiria. — Beijo-a rapidamente. — Mas,
me desculpa, a única coisa que está me
importando no momento é que eu serei pai!
Porra! — Pego-a no colo e rodopio, ela solta
uns gritinhos.
— Você merecia ser torturado!
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— Dei coices na Débora, e basicamente


expulsei Daiane e Henrique daqui. Você me
paga! Meu dia foi uma merda. E ainda quase
me infarta com essa porra desses papéis.
— Eu queria algo diferente. E sabia que
David e Henrique não fugiriam de aprontar
com você.
— Estão fodidos comigo!
Coloco-a sentada em cima da mesa, e
começo a beijá-la. Subo seu vestido e acaricio
suas coxas.
— Vai ser preso... por essa denúncia... —
ela diz quase que em um sussurro, enquanto
beijo seu pescoço.
— Fui condenado por esse crime. Você é a
juíza, o que decide? — Desço até suas coxas, e
distribuo beijos lentos.

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— Te... condeno a... ser um bom pai... bom


namorado... e fazer amor comigo aqui!
— Serei um bom pai... — Aperto seus
seios, e ela geme. — Bom namorado... Porém,
farei amor se a minha juíza disser
exatamente o que quer...
— Marcos...
Puxo sua calcinha para o lado e
massageio seu clitóris. Ela segura na beirada
da mesa, e joga a cabeça para trás, enquanto
geme.
— Por favor... Faz amor comigo!
— Fala o que quer dentro de você, e farei.
Abro minha calça e desço junto a cueca.
Pego sua mão e levo até meu pau,
esfregando, para que sinta a rigidez e meu
desejo.

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— Merda... — ela diz e me olha com


desejo.
— Diga. Você é a juíza agora. É sua função
dizer.
— Quero seu pau dentro de mim! — ela
implora.
— Com muito prazer!
Retiro sua calcinha e jogo no chão.
Encaixo-me entre suas pernas, e
segurando sua cintura, penetro-a. Suas mãos
agarram meus ombros. Começo a fazer
movimentos. Ela enrola as pernas na minha
cintura, me permitindo ir mais fundo ainda.
Sua boca vem até a minha e ela me beija com
voracidade. Nosso beijo é envolvido pelo som
de nossos corpos se chocando um contra o
outro, e as coisas da mesa balançando.

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Estamos em um ritmo intenso. Não


consigo ser calmo. Ela me deixa louco, e sem
controle.
Beijo seu pescoço, e não me importo com
o gosto do perfume. Ela joga a cabeça para
trás e geme alto. Deito seu corpo sobre a
mesa, sem deixar de me movimentar.
— Marcos...
Ela chama por meu nome fechando os
olhos e fazendo um O com a boca. Aperta meu
pau, deixando-me mais louco ainda. Suas
mãos travam na mesa com força, sinto a
tensão em suas pernas.
Curvo-me sobre seu corpo e sussurro em
seu ouvido:
— Goza, meu amor. Goza no meu pau!
Suas mãos vão para meu cabelo, onde

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puxa com força. Seus gemidos se


intensificam. Seu corpo treme, enquanto
goza chamando por mim. Não demoro a
acompanhá-la.
Aproximo-me de sua barriga, onde planto
um beijo demorado.
— Amo vocês. — Olho para ela, que sorri.
— Meu juiz de quinta.
— Sempre seu!

Estamos em seu apartamento. São quase


dez da noite, e estou na cozinha comendo um
bolo de chocolate que nem louca. Marcos está
no escritório trabalhando, mas não imagina
que estou aqui. Estava dormindo e perdi o
sono.

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Estou agitada. Desesperada. Agora estou


caindo na realidade que estou grávida. Antes
de eu dizer ao Marcos, parecia que era tudo
um sonho, mas quando falei para ele, depois
da brincadeira que planejei durante
semanas, a realidade bate na porta da minha
consciência! O que eu vou fazer?!
— Bia?! — Viro-me assustada com a voz
do Marcos. Ele me olha preocupado, e olha
para o balcão, onde metade do bolo já foi
comido por mim. — Está tudo bem?
— Sim! — Enfio o pedaço pequeno de
bolo em minhas mãos, na boca.
— Você comeu quase o bolo inteiro. Tem
certeza de que está bem?
— Não! — Limpo as mãos e a boca e saio
da cozinha com ele me seguindo.
Sento-me no sofá e ele encosta na parede
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de frente para mim, cruzando os braços,


sobre o peito nu.
— O que houve? — pergunta com uma
calma que eu nunca vi.
— Estou grávida!
— Sim. Eu sei... — ele diz tão calmo, que
parece ter medo das palavras que usa. Eu
devo estar parecendo louca mesmo, para ele
agir assim.
— Eu sei que sabe. Mas antes de eu abrir
a boca para você, não tinha caído na
realidade. Quando fiz o exame, porque estava
atrasada a menstruação, e o médico
confirmou a gravidez, e eu contei ao David e
Henrique, ainda não tinha caído a ficha, mas
agora caiu. Marcos, eu vou ser mãe. Isso não
estava nos meus planos no momento. Droga,
eu saí novamente dos planos. Eu não sei o
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que fazer. Nunca cuidei de uma criança.


— Ajuda a Liziara.
— Sim, mas eram filhas dela, depois
retornavam a ela e eu não tinha que me
preocupar.
— E não precisa se preocupar agora.
— Claro que preciso. Um filho não é
brinquedo e não é fácil. Eu vejo a Liziara e o
David o esforço que têm, os gastos, assim
como a Ana e o Henrique. Marcos, criança
não é só amor, tem uma tremenda
responsabilidade.
— Você não está bem... Volte para a cama,
amor, está assustada só isso.
— Não estou bem mesmo. Tem noção de
que um ser humano cresce dentro de mim?
— Ele sorri. — Já viu o valor das fraldas? A

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última vez que fui comprar com a Liziara


quase chamei a polícia, porque aquilo era um
roubo! Olha o mundo como está uma loucura,
eu não vou ter paz de deixar essa criança na
escola, ou levar para sair. E a faculdade? Eu
lutei demais para pagar a minha, como
pagarei a dele ou dela?... Já sei, posso vender
meu carro e meu apartamento, com o
dinheiro coloco em uma poupança... isso! —
Ele se aproxima e se abaixa na minha frente,
apoiando os braços na minha perna. — Mas
se for menina vai ser pior. Tudo para menina
parece ser mais caro e eu tenho que dar tudo
do bom e do melhor para ela, afinal, filha de
um juiz não pode andar que nem doida. Mas
menino tem gostos caros... Droga! Marcos
será que meu carro e o apartamento dão
dinheiro suficiente? Preciso fazer as contas.
Porque tenho que comprar as coisas para o
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bebê, e já me preparar para o futuro e claro


dar muito amor que isso vai ser o principal
plano para mim.
— Respira fundo... — ele diz e faço isso,
porque começo a sentir falta de ar. — Não vai
vender nada. Não se preocupe com essas
coisas, amor...
— Claro que me preocupo. Não vou
depender de você para tudo. E quero poder
dar ao meu filho o que não pude ter, claro
que não irei mimar, para não estragar, mas
se eu tenho a chance de fazer isso, quero
fazer, porque eu sei o que é passar
dificuldades... Tenho que ver um lugar maior,
criança precisa de espaço, não é?
— Olha para mim! — diz sério agora. —
Não vai vender nada. Se o problema é
dinheiro, não se preocupe. Fraldas? Compro

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a porra da fábrica e contrato funcionários


para ela se quiser. Faculdade? Se quiser
mandar nosso filho para Harvard ou qualquer
outra, eu pago sem olhar o valor, porque
para estudos eu jamais negarei qualquer
coisa. Se o problema for espaço, eu compro
um prédio inteiro ou onde quiser. As coisas
para agora, te dou meu cartão e você compra
tudo que quiser, onde quiser, e com o valor
que quiser. Mas não se preocupe com nada
mais, até porque estava pálida e sem ar. Eu
darei o mundo a vocês dois e não me
importarei com isso. Eu sou o pai e sou seu
namorado, tenho condições suficiente para
cuidar dos dois. Pare de se torturar com o
futuro, antes que tenha uma crise de
ansiedade. Nós três estaremos juntos
sempre!

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— E se a gente não der certo? Sabemos


que nem todo namoro dura! Não irei ser a ex,
que é mãe do seu filho e que vai atrapalhar
seu futuro relacionamento. — A falta de ar
começa a retornar e respiro fundo.
— Porra, você vai realmente me obrigar a
fazer isso agora? — Ele se levanta e sai da
sala.
O que ele foi fazer?
Droga, acho que estou em pânico com
tudo! Não sei o que fazer. Mãe de primeira
viagem, não tenho culpa de surtar assim. Só é
tudo muito novo.
Ele retorna e volta a se abaixar na minha
frente. Ele coloca uma caixinha preta no meu
colo e na caixinha vem escrito Vivara. E então
a abre. Meus lábios se abrem levemente. Fico
sem fala e sem ar.
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— Eu ia fazer em um momento mais


romântico, mas talvez esse seja o momento
certo. Comprei depois que você veio do
escritório, e eu fiquei porque tinha chegado
uma visita importante. Não pense que é
apenas porque está grávida. Eu havia bolado
diversas formas de fazer o pedido, nos
últimos dias, só não sabia como. Mas saiba,
que quero que se case comigo, não porque
teremos um filho, que fique claro isso. Quero
você casada comigo, para ter você sempre ao
meu lado, em qualquer momento. Acordar
sempre com você em meus braços, e dormir
da mesma forma. Poder mudar o status de
solteiro para muito bem casado. Quero ficar
te esperando em um terno caro, bem
nervoso, porque você atrasou em nosso
casamento, e meus sobrinhos infernizando
dizendo que você desistiu. Quero te levar
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para a lua de mel em qualquer lugar que


deseje, mas confesso que pensei na Itália. Eu
quero você casada comigo, para te amar dia e
noite de todas as formas. Ter você como
minha esposa vai ser como poder tocar o céu,
e pegar um pedaço dele com a mão. Ter você
como esposa vai ser a melhor sentença da
minha vida. Tudo isso, porque eu te amo
demais!
As lágrimas não param de escorrer por
meu rosto. Olho o anel com uma pedrinha
brilhante no centro. Meu coração está
disparado.
— Isso é... — não consigo dizer.
— Ouro branco, com 50 pontos de
diamante, e ainda não vale o que você vale
para mim.
— Não o anel! Isso... isso tudo que disse é
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de verdade?
— Totalmente!
— Marcos, eu...
— Não gosto de perguntar e você sabe.
Mas por você eu faço tudo! Beatriz Ferreira
de Oliveira, diga sim para mim? — Ele me
olha com amor.
— Sim. Merda, estou mais uma vez saindo
dos meus planos, mas por você vale a pena.
Sim, eu digo mil vezes sim para você, Marcos
Escobar!
Ele coloca o anel na minha mão trêmula.
Em seguida coloca a caixinha de lado e
segura meu rosto com ambas as mãos.
— Você é meu ponto fraco, meu sonho,
minha raiva, meu controle, meu amor. Você é
minha! — Ele me beija emocionado.

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Nosso beijo é apaixonante. O gosto


salgado das lágrimas invade ele. Estou sem
chão. Não acredito nisso!
— Eu te amo, e me perdoa pelo surto.
— Tudo bem... É normal, Ana teve um pior
quando engravidou da Yasmim.
Rio.
— Que bom que não fui uma louca
solitária.
— Temos que comemorar esse momento.
— E como sugere?
— Estou pensando em vinho e morangos
— diz com malícia.
— Não posso mais beber.
— E nem permitiria. Mas eu posso beber,
e quero na minha melhor taça... — Fico
ruborizada, pois lembro da nossa primeira
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vez.
— Qual seria sua melhor taça? —
provoco.
— Você. — Ele me pega no colo e rio.

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Capítulo 12

Marcos está mais cuidadoso e protetor do


que nunca nos últimos dias, e confesso que
estou ficando louca com isso, pois esse
homem está me deixando sem paciência com
tanta proteção. Já não basta ser fofoqueiro.
Pedi que esperássemos, pelo menos, eu
completar três meses e contaríamos a todos,
pois ontem teve um jantar no Henrique e,
quando me ofereceram champanhe e eu
recusei, Marcos abriu a boca do motivo, mas
nem consegui brigar com ele, entendo sua
alegria, e sua ansiedade, é como uma criança
que acaba de ganhar um brinquedo que tanto
queria. Todos enlouqueceram,

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principalmente Ana e Liziara, que ficaram


bravas por eu ter dito ao Henrique e David
antes delas, mas compreenderam que não
iria conseguir segurar essa novidade mesmo
e acabariam com minha surpresa — o que
meu noivo já fez!
Hoje recebi uma ligação do banco em que
vou trabalhar, para avisarem que começarei
no início do próximo mês, para começar com
a nova turma que vai entrar e começar de
uma forma correta para o calendário de
trabalho deles.
Minha tia está indo à loucura por eu estar
grávida, e noiva! Disse que foi só ela ir
embora, e eu tratei de me amarrar, que está
bem orgulhosa e feliz por mim. Henrique
disse que se não for padrinho do casamento,
nunca mais olha na minha cara, e David disse

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a mesma coisa, porém não aceita que


Henrique seja, porque ele tem que ser o
padrinho que vai roubar a cena, já meu noivo
muito paciente, disse que se os dois
continuarem com a putaria — palavras dele
— nem um e nem o outro será e ele
contratará padrinhos.
Daiane está organizando o casamento,
que nem sequer escolhemos o dia, hora,
lugar... mas ela ama organizar festas, e isso
me preocupa bastante, porque ela adora
extravagância quando se trata de festas; e,
para piorar, Paula disse que vai indicar as
melhores empresas de organizações de
festas para a Daiane ir atrás pesquisar; e,
como o Marcos ficou preocupado, acredito
que eu tenha que ficar também, porque essa
mulher sabe ser louca quando quer.

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Estou ficando na casa do Marcos, não por


escolha própria, ele basicamente me obrigou,
a maior parte das minhas roupas já estão
aqui, Simon trouxe, e esse homem só acata
ordens do Marcos, então não adiantou eu
dizer para ele não trazer tudo, somente o
básico.
Neste momento estou na sala, escutando
Daiane falar sobre o que imaginou para o
casamento, e Ana e Liziara concordarem.
Laura e Helena estão no sofá junto a mim, e
Yasmim brincando no tapete no chão.
— Pensei em ser na fazenda. Afinal, é do
seu futuro marido mesmo — Dai diz, e olho
surpresa.
— Quis dizer que é dos Escobar, não é?
— Não! A fazenda é no nome do meu tio, é
dele, mas, como quase não vai, nos
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apossamos, e mamãe é quem cuida para ter


pessoas cuidando da parte das plantações, e
manter aquele lugar inteiro.
— Isso é novidade. — Ela sorri.
— Amiga, todo dia descubro coisas novas
dessa família, e preciso de plásticas em
breve, de tantas caras e bocas que faço a cada
novidade — Liziara brinca e rimos.
Laura está fechando os olhinhos de sono,
e Helena come a mãozinha. Sorrio vendo a
cena.
— Daiane, você sabe que nem data
marcamos, não é?
— Não, mas vão! Nada de enrolar para
esse casamento acontecer, meu tio já enrolou
demais para casar, comigo é tudo para
ontem!

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— Ela organizou o meu! — Ana diz. —


Ficou lindo, pode confiar.
— Ana, não está ajudando — brinco.
— Aprendi com o melhor, meu marido.
Ele mais atrapalha que ajuda. — Rimos.
— Yasmim entra com plaquinha, e
escolhemos alguém para ajudar ela. Helena e
Laura vão carregar as alianças, e Simon leva
elas, como se estivesse protegendo as
alianças. Madrinhas, cada uma de uma cor.
— Você tem que ser madrinha também —
Liziara diz. — Não é, Bia?
— É sim! — Aprendi que concordar é o
melhor nesses momentos.
— Não tenho par.
— Já sei! Cleber entra com você, Dai, e
Débora entra ajudando a Yasmim! — Ana diz.

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— Isso! Adorei. Débora vai amar, aquela


ali adora fazer algazarra, e entrar com a
Yasmim vai ser uma oportunidade para ela
fazer isso.
— E por que Cleber aceitaria? Ele não é
bem meu amigo. Tenho mais amizade com a
mulher dele.
— Bia, Cleber é amigo da família, e jamais
recusaria um pedido do David! — Daiane
fala.
— David não vai querer pedir, conheço
meu marido. São melhores amigos, mas ele
não vai pedir.
— Eu peço. Falo com a Débora e ele! —
digo.
— Até que enfim está colaborando! —
Ana brinca. — Gente, esse casamento
realmente tem que ser para ontem. Pensem
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que logo mais estarei redonda e vai ser um


inferno conseguir um vestido bacana, assim
será o mesmo para a Bia.
— Boa, Ana. Eu como que nem louca
quando estou ansiosa, então bora colaborar
comigo! — Dai diz e anota algo na agenda em
suas mãos.
— Quero algo mais familiar! — digo
enquanto coloco a chupeta na boca da
Helena, que começa a querer chorar.
— Pode deixar! Tem a despedida de
solteira. Como sei que eles vão falar até pelos
cotovelos sobre isso, então para evitar
estresse, pensei em irmos nós todos juntos
para curtir em algum lugar...
— Dai, boa ideia, e podíamos ir para a
fazenda, se vai ser lá, já íamos para lá na
semana do casamento, igual aqueles
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casamentos de filmes, que as madrinhas e


alguns convidados já vão para o lugar uma
semana antes, acho bem legal e divertido! —
Liziara comenta.
— Tem um detalhe. Paula não vai a
fazenda, desde o ocorrido com seu pai, Dai —
comento.
— Relaxa. Darei um jeito, está em tempo
disso mudar!
— Lua de mel? Onde vão? — Ana
pergunta animada.
— Não sei, mas provavelmente devido ao
trabalho e a gravidez, nenhum lugar muito
longe.
— A casa na praia! Faz tanto tempo que
meu tio não vai para lá. E tenho certeza de
que vai adorar, Bia, é bem diferente de tudo
que já viu dos Escobar, é tão acolhedor lá —
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Dai diz e sorri.


— Boa ideia. Pensarei nisso, pois fiquei
curiosa agora.
Yasmim tomba e bate a cabeça
levemente, levando-a a chorar. Ana corre
pegar ela e começa a acalmá-la.
— Ela está bem? — pergunto preocupada.
— Está sim. Yasmim é mimada, qualquer
coisa chora — responde enquanto acaricia a
cabeça dela.
— Bom, tenho aula, e ainda preciso
deixar as meninas em casa com o David.
A porta da sala se abre e viramos todas
para olhar.
Sinto um friozinho na barriga. Sempre
que vejo ele chegando em algum lugar é essa
sensação.

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— Ok. Devo correr? Porra, quatro


mulheres juntas é perigoso. — Ele solta a
pasta em cima da Daiane.
— Oh, homem folgado! — ela diz e ele
finge nem ouvir.
Caminha até a mim e me dá um beijo
rápido, e faz o mesmo com Laura e Helena.
— Não esquece de depositar o dinheiro.
Falou palavrão perto das minhas meninas —
Liziara diz e começamos a rir.
— Só me fod... deixa pra lá! — ele
cumprimenta elas com um beijo no rosto, e
dá um beijo na Yasmim.
Retira o paletó, e a gravata e coloca no
braço do sofá, se aproxima do sofá que estou
e pega a Helena no colo. Se senta com ela no
colo.

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— Essas meninas vão enriquecer à custa


do padrinho! — brinca.
— Quem manda ser boca suja? — Ana
brinca.
— Ruiva, fica quieta aí — diz rindo.
— Tio, estamos organizando as coisas do
casamento. Quando vai ser?
— Olha, fui bom de mira e ela engravidou.
— Sinto meu rosto arder. — Comprei o anel,
pedi-a em casamento e fiz um bom discurso.
Além de amar ela demais, querer que eu
saiba a data é foda pra caralho! Calcula o que
tenho que depositar — ele diz e aponta para
Liziara.
— Pode deixar! As meninas no futuro vão
amar.
— Ela que tem que decidir. O que ela

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escolher, por mim tudo bem. — Olha para


mim e dá uma piscadela.
— Bia? — Dai me olha.
— Não tenho ideia — confesso. — Marcos,
ajuda! — Jogo a bomba para ele.
— Se eu der o dia, você não vai querer.
Melhor eu ficar quieto.
— Parem de jogar um para o outro! Qual
a porra da data?! — Daiane fala.
— Se você cobra o Marcos por falar
palavrão na frente das suas meninas, irei
cobrar a Daiane por falar na frente da
Yasmim.
— Faça, Ana, dá supercerto. Faculdade
garantida! — Liziara brinca e elas riem.
— Eu quero que os dois me falem logo,
tenho compromisso!

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— Já disse que não tenho ideia! — Dai


revira os olhos.
— Viu como é difícil? — Marcos brinca.
— Marcos escolhe você — peço.
— Ok. Mas você não vai poder negar.
Promete?
— Prometo.
— Semana que vem! — ele diz e arregalo
os olhos.
— Não! Muito rápido! — digo.
— Você prometeu diante de todos que
não iria negar — ele fala e ergue a
sobrancelha.
— Que ódio! Isso não vale. Você fez de
propósito! — exclamo irritada.
— Exato! — ele fala e brinca com a
Helena, que ri.
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— Fechado! Semana que vem. Tenho que


correr com tudo. Vamos, meninas! — Daiane
diz animada e se levanta. — Amo festas.
Não acredito. Eu devia ter escolhido
qualquer mês, menos ter deixado Marcos
fazer isso. Eu deveria ter imaginado que ele
aprontaria.

Na semana seguinte...

Vestido escolhido, casamento na fazenda,


convites distribuídos. Minha tia conseguiu
vir para essa semana, mesmo tendo pegado
férias. Mas Débora não porque é a última
semana da faculdade, porém vem na sexta-
feira à noite. Paula disse que vai vir, para não
nos preocuparmos, só precisa de um tempo.
Estamos todos na fazenda. O casamento será

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no sábado. Já foi contratado buffet e


confirmado a presença do juiz de paz. Ainda
não estou acreditando.
Marcos disse que amanhã iremos sair
cedo, apenas nós dois, porque ele tem uma
coisa para me mostrar. Essas pessoas
resolveram fazer dessa semana lotada de
ansiedade.
É de noite, e estamos todos na sala,
conversando, comendo e rindo. As crianças
dormem, está bem frio hoje, então para
evitar delas ficarem na friagem, foram
colocadas cedo na cama.
Estamos sentados nos colchões que
espalhamos pelo chão da sala, e debaixo das
cobertas. Estou entre as pernas do Marcos,
que está abraçado a mim. Minha tia está
agarrada a uma almofada. David com a

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cabeça no colo da Liziara e Henrique


esparramado, enquanto Ana está com a
cabeça apoiada na minha tia. Daiane está no
sofá debaixo das cobertas, e com a famosa
agenda dos preparativos nas mãos, está bem
concentrada.
— Porra, Marcos Escobar vai ser
acorrentado no sábado! Quem diria? Eu não!
— Henrique brinca.
— Casamento significa estar acorrentado
para você, Henrique Escobar? — Ana
pergunta.
— Se fodeu! — David provoca e ri.
— Claro que não! — ele responde e
sorrio.
— Como aguenta ele? — Marcos pergunta.
— Me faço essa pergunta todos os dias —

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ela diz sorrindo do jeito meigo dela.


— Estou aqui, porra! Cuidado, nem
sempre o volume em minhas calças é uma
ereção.
— Que ótimo, porque significa que esse
volume aí é uma arma e não outra coisa,
estava ficando desconfortável já! — David
provoca.
— Vai se foder, idiota! — Rimos.
— Está quieta, Jaque... — Lizi diz
sorrindo.
— Vou me arrepender em dizer, mas está
mesmo, tia.
— Estava pensando aqui. Fiquei pra titia
real! Preciso arrumar um homem pra mim.
Olha minha situação, agarrada a uma
almofada! — Rimos.

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— Bem-vinda ao clube! — Dai diz.


— E que este clube seja longo — David se
pronuncia.
— Se você soubesse sobre esse clube da sua
irmã, ficaria traumatizado, como eu fiquei —
Marcos comenta.
— Como assim? — Henrique questiona. —
Ela é virgem! Não é, Daiane?!
— Só de um lugar, e pretendo continuar
— responde séria enquanto anota algo em
sua agenda.
Rio.
— Beatriz, é para colaborar! — Henrique
fala e bem sério.
— Foi mal.
— Estou ficando enjoado. Vamos mudar
de assunto — David diz rindo.
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— Henrique, já imaginou se for outra


menina? — Lizi pergunta.
— Nem fodendo. Já sofro com duas
mulheres em casa. Mas se for, amarei da
mesma forma.
— E você, tio? O que desejaria que fosse?
Menino ou menina?
— Menino... — comento baixinho.
— Está enganada, amor. Na verdade,
gostaria muito se fosse menina.
— Você é corajoso — David diz.
— Mulheres são obras-primas. Reclamam
demais — minha tia comenta. — Mas não
vivem sem.
— Exato! — Ana concorda.
— Porra, está frio demais! Desisto, vou
para o quarto. Meu pau deve estar do
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tamanho do meu dedo mindinho. —


Henrique e suas pérolas.
— Desnecessário eu saber disso! —
Marcos fala.
— Henrique, relaxa, sempre foi assim —
Daiane provoca.
— Cale a boca, pirralha! — Ele se levanta
e Ana faz o mesmo.
— Também vou. Aproveitar para ver
como Yasmim está.
Eles saem da sala, com Henrique
agarrando Ana e ela brigando com ele.
— Podíamos sair para beber. Se
esquentar, essa casa é mais fria, que lá fora
— minha tia comenta.
— Tem lareira. — Marcos aponta para a
lareira.

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— Essa bosta está fazendo sujeira demais


e está estranha, mamãe ficou de mandar
alguém vir ver, mas... — Daiane diz.
— Pois eu vou beber. Vamos, Daiane? —
minha tia pergunta.
— Claro! Vamos pôr uma roupa mais
quente — ela diz animada, enquanto desce
do sofá quase caindo na Liziara.
— Corajosas, porque, nesse frio, é sair e
morrer congelada — falo.
— Amor, por bebida e ver rostos
solteiros, se é que me entende, eu saio até na
neve. Fui! — Minha tia levanta e passa por
nós.
Daiane a segue e elas se retiram da sala.
— Como tenho duas meninas que
precisam de mim, eu ficarei por aqui, então

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vou preparar algo para comer, que estou com


fome. — Lizi diz e se levanta. David está de
olhos fechados. — David, vai deitar na cama,
homem. — Ela chacoalha ele com o pé.
— Porra, delicadeza, mandou
lembranças. — Ele se levanta emburrado.
— Quem mandou se casar com uma
porra-louca! — Marcos provoca.
— Quanta calúnia — Liziara diz saindo da
sala e David vai atrás.
— LIZIARA, VAI SE ARREBENTAR, OLHA
POR ONDE ANDA! — Escutamos David dizer a
ela, e rio.
— Como ela chegou até a idade adulta? —
Marcos pergunta e rio.
— Faço a mesma pergunta... Mas vai me
dizer o que tem amanhã?

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— Não. A única coisa que vou te dizer é


que vendi a casa...
Viro-me para ele surpresa.
— Estou feliz por você. Sabendo que está
conseguindo superar. Você merecia depois
de tudo.
— Desde que te encontrei superei. — Ele
me dá um beijo casto.
— Vai me deixar ansiosa mesmo?
— Sim. Logo, vai saber o que é — ele
responde e sorrio.
— Vai ficar sem saber o sexo do bebê até
eu achar conveniente, só de pirraça.
— Não seria capaz!
— Já fui capaz. Não vai saber. Ninguém vai
até eu achar que é o momento certo. Já abriu
a boca sobre a gravidez antes do tempo,
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melhor eu não arriscar, já que eu quero


surpresa com isso.
Ele sorri.
— Está aprendendo a ser bem maldosa.
— Aprendendo com o mestre.
Ele me deita no colchão e fica entre
minhas pernas.
— Está preparada para ser a mais nova
Escobar?
— Nem um pouco. — Sorrio. — Por falar
nisso, tem mais coisa que preciso saber
sobre você, além do seu problema com a sua
ex e que você é o dono oficial da fazenda?
— Como soube da fazenda?
— Daiane falou.
— É mais deles do que minha. Comprei há
muito tempo, mas nunca usufruí de verdade.
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— Como poderia? Você vive pelo


trabalho.
— Por falar nisso, estou de férias. Fazia
dois anos que não tirava, resolvi tirar este
ano, começando por hoje.
— Olha só, Marcos Escobar, juiz de quinta,
de férias. Os criminosos agradecem e os
juízes também, pois vão poder mostrar que
são bons também.
— Sabe que sou o único bom — diz com
malícia.
— Como homem? Com certeza. Mas como
juiz? Duvido — provoco.
— Você não deveria ter dito isso...
— Olha lá o que vai fazer. Estamos na
sala, Daiane e minha tia daqui a pouco vão
passar por aqui para sair, e Liziara está na

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cozinha.
— O perigo torna tudo mais excitante.
— Marcos, aqui não!
— Tudo bem! — Ele se levanta e me ajuda
a levantar. — Vamos subir.
— Você não vale nada.
Ele ri.
— Nem um centavo. Vamos logo, mulher!

Entro no quarto, rindo, ele me olha bem


sério. Fecha a porta e tranca com a chave.
— Isso é algum tipo de cárcere privado?
— brinco.
— Quase.
Ele me puxa para si, e me vira. Minhas
costas encostam em seu peito. Sinto sua
ereção.
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— Vamos ver o quanto o juiz aqui é de


quinta...
— Você sabe que eu disse em outro
sentido!
— Calada agora.
Ele retira minha blusa, e faz o mesmo com
o sutiã. Suas mãos agarram meus seios e
apertam. Inclino a cabeça, e seus lábios
passam por meu pescoço.
— Isso é golpe baixo...
— Eu disse para ficar calada — ordena
com sua voz rouca, que me causam tremores.
Suas mãos deslizam para as laterais da
minha calça legging, e devagar, vai descendo
ela junto a calcinha, até chegar aos meus pés,
onde termino de retirar. Caminha parando
na minha frente. Seu olhar é provocante e

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intenso. Ele retira a blusa, e jogo no canto do


quarto. Suas tatuagens e músculos chamam a
atenção como sempre. O botão de sua calça é
aberto e ele a retira, e dá a ela o mesmo
destino que sua blusa. A cueca toma o mesmo
caminho, e seu membro se torna
completamente visível e duro. Ele se senta na
beirada da cama e me chama com um gesto.
Caminho até ele, que me vira de costas
novamente, já estou completamente
excitada. A ansiedade e a intensidade que ele
carrega estão me deixando louca.
— Afaste as pernas um pouco — ordena e
faço. Minha respiração é ofegante. — Vou
massageá-la, e somente quando eu achar que
está excitada ao máximo, irei fazer você
sentar no meu pau, eu vou te foder a noite
toda.

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Deixo um gemido escapar.


Ele cumpre o que diz. Sua mão me
massageia, e enquanto a outra me mantém
firme. Estou ficando louca, e gemendo muito.
A cena é refletida no espelho enorme a nossa
frente e isso torna tudo mais excitante. Sua
mão não para, e estou sem controle sobre
meus atos. Um de seus dedos entra em mim e
grito:
— Marcos... Eu preciso de você... — gemo.
Ele não diz nada, um dedo entra e sai de
mim, enquanto continua me massageando.
Seu dedo sai de mim, e ele me vira para ele.
Seu olhar é escuro. Começa então a me
chupar. Automaticamente, minhas mãos vão
para seu cabelo, e puxo com força.
— Eu vou...
Ele para, e isso me deixa aborrecida.
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— Se vira de costas e senta no meu pau.


Agora!
Sento-me, e seu pau vai se encaixando em
mim, até estar completamente dentro. Ele
geme. Segurando minha cintura, começamos
a nos movimentar. A cada sobe e desce é
mais intenso.
— Tenta se controlar e não gozar agora —
ele pede e apenas consigo concordar com a
cabeça.
Seu pedido tornou tudo ainda mais
gostoso. Tentar o controle sobre isso é
doloroso, mas de uma forma louca, deliciosa.
— Porra, você é muito deliciosa! Caralho!
O suor escorre por nós. O barulho de
nossos corpos, ecoa pelo quarto.
Ele me levanta rapidamente e me deita na

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cama. Abre bem minhas pernas e me penetra


com força. Depois me beija e retribuo.
— Não vou mais... — não consigo
terminar de dizer.
Libero o que privei por um tempo. Ele me
acompanha, e juntos alcançamos o que
ansiamos. Gozamos juntos, como dois loucos.
Deita com cuidado em cima de mim, e me
beija com carinho.
— Um banho, minha noiva?
— Adoraria.
— Como eu disse, a noite toda!
Sorrio.

Estou começando a ficar agoniada.


Marcos não diz para onde estamos indo. Sei
que é na cidade, nada com a fazenda. Saímos

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logo após o café da manhã.


— Estou ficando louca. Me fala logo!
— Calma, mulher. Estamos chegando!
Ele entra em uma rua que conheço, a da
casa da dona Paula.
— Vamos na Paula? — Ele me olha e sorri.
— Aaargh! Seu insuportável!
Ele estaciona o carro em frente à casa da
Paula. Descemos.
— Que milagre, Simon não surgiu do
nada.
— Porque é aniversário da filha dele.
— Ele tem filha?! Uau!
— Ele é casado. — Marcos sorri.
— Gente! Não imaginava. Ele é tão sério, e
tão focado no trabalho, que não imaginava

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que tivesse tempo para vida social. — Sorrio.


— Ninguém imagina isso dele. Agora
vamos.
— O que vamos fazer na Paula?
— Não vamos na Paula. Vamos ali. — Ele
aponta para uma casa enorme em frente a
Paula.
— Marcos, isso não é o que estou
pensando, é?
— Vem. — Ele segura minha mão.
Caminhamos até a casa. Ele tira uma
chave do bolso e abre o portão.
Paramos na entrada, em frente e porta.
— Estou fechando negócio. Porém, quero
depois do casamento, para estar em seu
nome também, e você já estar casada comigo.
Precisa de reformas, mas queria que você
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escolhesse tudo.
— Podemos entrar? — pergunto chocada.
— Claro.
Ele abre a porta e entramos na casa. O
primeiro cômodo que nos deparamos é
enorme, todo branco, tem um longo
corredor, e uma escada de madeira com o
corrimão de vidro que dá acesso ao andar
superior, embaixo há flores, parece de casa
de novela.
— Marcos... Isso...
— Precisa de reforma, eu sei. Acredito
que em menos de seis meses esteja do jeito
que quer. É muito grande, tem cinco quartos,
todos com suíte, sala de jantar e de estar, três
banheiros, e três lavabos, piscina, biblioteca,
ambientes para escritórios... Bom, vou te
mostrar, é bem grande, então pode ser que a
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reforma demore. Tem que escolher os


móveis também...
— Marcos, reforma?!
— Não gostou da casa? — pergunta
preocupado.
— Eu amei. Estou procurando onde
precisa de reformas, desde que entramos.
Não precisa. É linda!
— Tem certeza?
— Claro que tenho. Vamos, quero ver
tudo! — digo animada e ele sorri.
Ele me leva para conhecer toda a casa, e é
muito, mas muito grande mesmo. Se eu
disser que decorei cada lugar, estou
mentindo. Isso é uma mansão. Meu Deus!
— O que achou agora que viu tudo? —
Estamos nos fundos da casa.

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— Vamos pintar ela toda de pink —


brinco.
— Pink, porra?! — pergunta assustado e
rio.
— Não precisa de reforma. Isso deve ter
sido reformado há poucos dias, ainda tem
um pouco do cheiro da tinta. Marcos, é linda.
Eu nem sei o que dizer... — falo emocionada.
— Vai ficar ainda mais linda, quando você
escolher a decoração.
— Você levou a sério o que eu disse, sobre
um lugar grande, no meu surto.
— Apenas quero que minha futura
esposa, e nosso filho, tenha um bom lugar, e
uma excelente vida.
— Você não existe. Tem que ter sido feito
em algum laboratório. — Ele sorri e me

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abraça.
— Eu te amo, e farei de tudo por vocês.
— Você já é tudo que eu preciso.
— Idem, amor. — Ele me beija e sorrio. —
Não vejo a hora de assinar muitas sentenças
suas em cada cômodo aqui.
— Marcos! — Dou um tapa de leve em seu
braço e ele ri. — Te amo, seu louco!
— Louco por você, porra! — Ele me beija.
Às vezes, penso que tudo pode ser um
sonho, mas toda vez que sinto seus beijos,
seus toques, vejo que é real. Merda, é real!
Depois de sábado, não terei mais como
pensar que pode ser um sonho, a realidade
vai gritar para mim e dizer: Sua louca, você vai
ser mãe, se casou com Marcos Escobar, o juiz mais
conhecido do país!

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Capítulo 13

Meses depois...

Estamos sentados na areia. É fim de tarde.


O som do mar acalma o ambiente.
Resolvemos vir à praia, passar o final de
semana. Acabou que depois do nosso
casamento, que foi realmente lindo, Daiane
arrasou, eu não consegui ir para qualquer
lugar, os enjoos ficaram intensos demais, fui
para o hospital diversas vezes, e o médico
disse que o melhor era repousar. No mês
seguinte comecei a trabalhar, e graças a Deus
estava melhor.
Estou com quase sete meses. Marcos e
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todos estão loucos para saber o sexo. Não


deixei ninguém saber. Meu marido até tentou
subornar o médico, mas não deu certo. O
quarto do bebê está decorado, em nossa casa,
e trancado, fiz Marcos prometer que não
tentaria invadir, e ele com muita dificuldade
aceitou.
Sinto um chute no lado esquerdo da
barriga e sorrio.
Ajeito-me entre as pernas do Marcos, que
está no celular, falando com alguém por
mensagem. Está sério.
— Algum problema? — pergunto.
— Apenas trabalho.
— É sábado, Marcos.
— Eu sei, amor. Eu sei. É importante,
estou falando com Jacob Casagrande, ele

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marcou uma reunião comigo segunda.


— Esse é o noivo da Poliana?
— Exatamente.
— Ele é seu fã. — Sorrio.
— Ele é louco, isso sim. — Ele ri.
Olho para minha enorme barriga, e sorrio
ao me lembrar da confusão que deu quando
Henrique e Marcos escutaram eu e Ana
falando sobre o sexo do bebê dela e
pensaram que era o meu. Henrique riu e
zoou o Marcos, mas na verdade Henrique
estava sendo papai de menina, mais uma vez,
e foi Marcos quem o provocou depois. Mas,
infelizmente naquele dia, ainda não sabia o
sexo do nosso bebê. Ana está um mês a frente
de mim, e teve mais sorte em ver o sexo. Já
comigo demorou um pouco, porque o bebê
não colaborava muito. O doutor disse que,
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pelo visto, seria o mesmo gênio do pai, e a


teimosia reinaria, porque não queria revelar
qual sexo era, e Marcos infernizava minha
vida e do doutor dia e noite para saber qual o
sexo, o coitado do médico perdeu a
paciência, foi horrível.
Paula tentou, de todas as formas, saber
também, mas nem a ela revelei, e nem a
Liziara, que está brava comigo. Por falar na
Paula, foi tão lindo ver ela retornando à
fazenda por nós, foi emocionante e isso foi
muito especial para mim e para todos os
Escobar. Mostrou que ela superou uma fase
triste e isso é tão importante; superar é como
reviver.
— Amor?
— Hum? — digo a ele.
— Está pensativa. Aconteceu algo?
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— Não. Apenas admirando a vista. Está


tão lindo e tranquilo. Depois do Edson, das
preocupações com a gravidez, do casamento,
de tudo, sabe, merecíamos essa
tranquilidade, porque, vamos ser sinceros,
que nunca ficamos tão tranquilos como hoje.
— Concordo. Esses meses foram fodas,
teve coisas boas e ruins, mas parece que
somente agora eu estou relaxado, tranquilo.
— Sabe a cor deste mar?
— Hum-hum...
— Fala para mim a cor dele.
— Azul, um lindo azul e bem limpo.
— Gosta desta cor? — Sorrio.
— Sim.
Fico em silêncio, sorrindo. Suas mãos
acariciam minha barriga.
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— Que nome daria se fosse menina?


— Tatiane. Um nome que acho lindo, não
sei por que, mas sinto uma paz com este
nome.
— Lindo nome. E se fosse menino?
— Arthur — diz sem hesitar.
— Por que Arthur?
— Porque significa pedra, urso. É um
nome que, se formos ver, é forte, porque
pedra e ursos são fortes.
— Amei. Tanto quanto o azul deste mar...
— Amor... — Viro-me um pouco para
olhá-lo. — Agora que me toquei. Você está
querendo dizer que... — Seus olhos estão
brilhando e seus lábios trêmulos.
— Eu acho lindo ursinho e de roupinha
azul.
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— É MENINO!
Concordo e ele chora emocionado.
— Este era o momento certo para te
contar. Na tranquilidade, e com essa vista
esplêndida. Amor, seremos pais de um
garotão.
Ele segura meu rosto com as mãos
trêmulas, e me beija.
— Porra, Henrique e David precisam
saber! — diz animado e planta um beijo na
minha barriga. — É, vai ser foda como o
papai.
Rio.
— Não! Vai me prometer que vai guardar
segredo. Vão saber só quando nascer. Quero
manter o suspense para eles.
— Eu prometo.

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— Disse isso quando pedi em relação a


gravidez.
— Eu prometo desta vez! Porra,
precisamos comemorar. Escolhe o lugar.
— Qualquer lugar com comida. Estou uma
bola, não é? — Ele concorda, rindo.
— A bola mais perfeita deste mundo!
— Marcos! Não tenho unhas grandes à
toa, homem! Não me provoque.
— Quem assina a sentença sou eu, e a sua
vai ser longa e peculiar.
Sorrio.
Beijo o homem que tanto amo, e que não
quero viver sem. Porque ele é meu homem
ideal, imperfeito, mas seu jeito imperfeito é
perfeito para mim.
Como eu amo este homem! Com ele
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aprendi que não devemos viver sempre


planejando cada passo da nossa vida, porque
as melhores coisas acontecem fora do
planejamento.

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Epílogo

Já se passaram alguns dias desde que


Beatriz me contou sobre o sexo do nosso
filho, após me torturar em esconder. Porra,
essa mulher é foda! É a única capaz de me
deixar louco e ao mesmo tempo calmo.
Hoje tive um julgamento dos infernos, e
que maldito seja o infeliz que foi julgado.
Tomou meu dia inteiro, me atrasando para
um compromisso. Beatriz está me ligando
sem parar, mas no momento não posso
atender. Pedi ao Simon para conferir se ela
está bem e o infeliz ainda não retornou.
— Relaxe, Marcos, ou vai demorar ainda
mais.
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— Mais? Porra, que dificuldade está


tendo em fazer essa merda, rápido? —
pergunto a ela, que me olha sério e revira os
olhos.
— Depois de todas as outras vezes, ainda
fica tenso? Admirável isso. — Sorri.
— Só termine logo! — digo
completamente sem paciência.
— Se você ficar quieto, posso ser mais
rápida.
Respiro fundo, e ela continua o que está
fazendo.
A porta de vidro se abre, e Simon entra
acompanhado por Estefan, o segurança da
Daiane.
— Porra, o que houve?
— Ah, desisto! Cacete, não tem como

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terminar isso, com você tenso desse jeito. —


Ela se levanta irritada.
— Ela está bem, senhor. Porém, muito
enfurecida, por não atendê-la. Melhor eu
nem repetir o que ela disse. — Simon diz e
sorrio. Beatriz tem enlouquecido a ele.
— Estefan, por que veio?
— Terá reunião com os seguranças. O
senhor David quer reorganizar a equipe.
Assinto.
— Podem ir.
— Senhor, antes... — Simon pigarreia. —
Bom, a senhora Beatriz disse que tem uma
hora para retornar ou... ela... Hum...
— Fale de uma vez, porra!
Estefan disfarça muito mal um riso.
— Ela disse que o senhor dormiria na rua.
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Patrícia, que apenas observa, começa a


rir. Estefan está ficando vermelho tentando
controlar o riso.
— Saiam, agora! — Eles saem, e Patrícia ri
como uma louca.
— Isso sim é bom! Valeu a pena ficar até
tarde aqui — ela diz.
— Termine logo o que começou, não
tenho todo o tempo do mundo!
— Realmente. Tem uma hora apenas! —
Ela se aproxima. — Deite, porque do jeito
que está não vai dar certo. Vamos, homem! O
relógio não para — provoca.
— Vai se foder! — Ela ri. — Termine logo.
— Sim, senhor!

Chego em casa, após uma porra de um


trânsito que dificultou tudo. Pego minha
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pasta e saio do carro, jogando as chaves para


o Simon, que já estava de prontidão.
— Como foi a reunião?
— Muito bem, senhor!
— Não contou aonde eu estava, certo?
— Não. Mantive segredo, como pediu!
— Ok!
Entro em casa. Olho em meu relógio de
pulso, e são dez horas da noite. Demorei
muito.
Deixo a pasta, junto ao celular e carteira
no sofá. Enfrentar a fera agora será foda.
— Olha só. O juiz Marcos Escobar
resolveu retornar para o seu lar, desde que
saiu há horas do julgamento, e não teve a
coragem de atender às ligações da esposa
dele, que poderia estar morrendo.
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Olho para ela, que está com uma camisola


de seda preta, evidenciando seus seios
maiores que me excitam ainda mais e
marcando sua barriga que me preenche de
amor.
— Isso tudo é um grande fato, delícia. —
Sorrio.
— Não me chame de delícia. E não sorria.
Não estou brincando. Caramba, Marcos!
Onde esteve? Teve a coragem de enviar o
Simon aqui para ver o que eu queria, mas
não prestou para me atender. Você não
estava no escritório, e nem nos seus
sobrinhos ou na Paula. Sim, eu estou com
muita raiva!
— É melhor se acalmar. Sabe que não
pode ficar se estressando.
— Ah, não me diga! Então é melhor parar
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de me enlouquecer, porque você é o culpado


de todas as raivas que passo. Onde estava
que não podia me atender? Sei que o Simon
sabe, mas o infeliz não quis me dizer. E por
que diabos está com a camisa toda
amarrotada? Marcos Escobar, quero uma
resposta agora! — Ela cruza os braços e me
fuzila com o olhar.
— É melhor se acalmar antes de eu dizer.
— Só pode ser brincadeira! Quer me
pedir calma? Agora sim, perdi qualquer
chance de tê-la. — Ela se aproxima e tenta
mexer em minha camisa, mas não deixo. —
Se for o que eu estou pensando, eu corto seu
pau em pedaços. Eu juro! — Sorrio.
— Anda bem agressiva!
— Fale logo, Marcos! — ela grita.
— Primeiro, tem que se acalmar. E não
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estou brincando!
— Me acalmar? Nunca! Chame o Simon,
porque eu quero testemunhas quando eu te
matar.
— Na verdade, não deveria querer.
— Mas eu quero. Para todos terem a
certeza do porquê te matei!
— Amor, senta.
— Só vou fazer isso, porque estou
tremendo!
Ela se senta e fica me olhando
atentamente. Começo a retirar o paletó.
— Não quero um striptease!
— Porra, apenas espere!
Entrego o paletó a ela, e logo depois
começo a retirar a camisa com um pouco
mais de dificuldade. Entrego a camisa a ela,
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que está boquiaberta.


— Eu não acredito! — diz se levantando e
parando a minha frente. — Marcos, você não
fez isso!
— Bom, pelo visto fiz.
Retiro a proteção transparente que
Patrícia colocou. Dói um pouco, mas é
suportável.
— Eu realmente não acredito! Você é
louco!
Sorrio.
— Só agora percebeu? O que achou?
— É linda. Muito linda. — Ela toca com
cuidado. — Os traços são lindos. Então foi
por isso que não me atendia e enviou o
Simon.
— Sim. Enviei ele por não poder atender,
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ou desconfiaria, afinal, eu não tinha


nenhuma desculpa de onde estaria, por
incrível que pareça.
— E resolveu colocar o Simon para me
enfrentar? Que baixo! — Sua pose de durona
se desfaz por completo e o sorriso que tanto
amo surge.
— Eu queria ter o nome dele registrado
não só em meu coração, como também em
minha pele.
— Que lindo, meu juiz de quinta!
Beijo-a com carinho.
— A Patrícia, minha tatuadora, tentou ser
rápida, mas não pôde. Por isso demorei
tanto.
— Então é mulher sua tatuadora? Não sei
se curto muito saber que outra mulher toca e

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vê partes do seu corpo.


— Relaxa, delícia! Você é a única que me
tem por inteiro, enquanto as outras apenas
desejam.
Ela sorri.
— Nunca mais me deixe preocupada.
Estava ficando louca com a sua demora.
— Agora sabe como me sinto, quando sai
sem os seguranças, e demora.
— Isso não vem ao caso — ela diz, rindo.
— Te amo, e por vocês dois... — me
ajoelho, segurando sua barriga com cuidado
— eu faria qualquer coisa. — Deposito um
beijo sobre o tecido preto.
— Eu também te amo, meu eterno juiz de
quinta.
— Nunca vai desistir desse apelido, não
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é? — Sorrio e ela também. — Viu só, filhão,


como sua mãe é má?
Levanto e ela fica olhando a tatuagem, em
meu peito, que pega uma parte da âncora,
onde se lê claramente:

— É uma pena ter demorado tanto em ter


feito a tatuagem. Desse jeito, não posso te
tocar como eu quero, e só por ter me deixado
louca, merece saber que estou sem calcinha,
e que não terá o que planejei — diz
deslizando as unhas por meu abdômen. — A
noite poderia ser tão quente. — Deposita um
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beijo em meus lábios.


— Só pode ser brincadeira! Porra,
mulher!
— Boa noite, amor!
Ela se retira, rindo. Caralho, eu vou
morrer antes de conhecer meu filho, se ela
continuar me deixando louco e excitado
assim.
— Isso não vai ficar assim! — grito, indo
atrás dela.
Porra, me atiça e foge? Aí é para me
ferrar.

Fim

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Bônus
“BELOS E FAMOSOS”

NOTÍCIA MAIS VISITADA DO DIA:

A COR AZUL TOMA CONTA DA VIDA DO JUIZ


MARCOS ESCOBAR!

O assunto não para de circular pelos


corredores dos tribunais. Desde que o casal
Beatriz e Marcos Escobar retornaram de um
final de semana romântico na praia, as
notícias começaram. Fontes seguras afirmam
que até o nome já foi escolhido; e o que era
para ser segredo se espalhou para todos, pela
boca do papai coruja.
ARTHUR ESCOBAR (JÁ SABEMOS O
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NOMINHO), DESEJAMOS QUE VOCÊ VENHA


COM MUITA SAÚDE, E QUEREMOS ESTAR
AQUI POR MUITO TEMPO, E ASSIM
CONFIRMARMOS QUAL CARREIRA VAI
SEGUIR, JÁ QUE TODA SUA FAMÍLIA PARECE
GOSTAR MUITO DA LEI, DIFERENTE DA SUA
MAMÃE!
As apostas aqui na redação já
começaram, para saber qual será a futura
carreira do pequeno. E você, no que aposta?

É... falta muito tempo, mas já estamos


imaginando, afinal, o rapazinho é o único
herdeiro masculino até o momento da
família Escobar.
AS MULHERES DA NOSSA REDAÇÃO
CHORAM DE INVEJA DA BEATRIZ, PORQUE
FOI A ÚNICA CAPAZ DE ENLAÇAR O JUIZ, E
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AINDA TRAZER UM HERDEIRO MASCULINO


AOS ESCOBAR!
Estamos ansiosos para as cenas dos
próximos capítulos, desse lindo romance.
Senhorita Daiane Escobar, parece que
falta apenas você para desencalhar!

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Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus por mais
um sonho realizado, e por sempre me dar
forças e alegrias no decorrer do caminho.
Obrigada a Editora Angel, mais uma vez,
por acreditar no meu trabalho.
Obrigada ao Sr. Google, por me ajudar em
diversas dúvidas. E Cláudia por me dar uma
excelente ideia em um dos capítulos.
Minhas amadas betas e amigas, Liziara
Araújo e Beatriz Ferreira, muito obrigada
por todas as dicas, inspirações e por
aguentarem minhas loucuras por essa série,
e entrarem na loucura também.
Obrigada as minhas leitoras da
plataforma Wattpad, que me animaram, me

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deram carinho e muito amor, e tornou a série


Escobar um sucesso.
Meninas do grupo fechado no Facebook e
do WhatsApp, obrigada a vocês também, pois
são demais!
E, por fim, obrigada a você que está lendo
este livro. Você é também digno de estar
aqui.

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Biografia
Deby Incour nasceu em Guarulhos, na
Grande São Paulo. Apaixonada por livros, ela
escreveu seu primeiro romance em 2014,
que foi publicado pela Editora Angel. Desde
então, nunca mais parou. Os livros fazem
com que se sinta em um mundo mágico, onde
existe tudo que se pode imaginar. Em 2016,
foi best-seller na Amazon brasileira, com o
livro “Meu advogado”; e isso foi para ela uma
imensa conquista.
Instagram.com/autoradebyincour
wattpad.com/debyincour
facebook.com/debyincour

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Copyright © 2018 Deby Incour
Copyright © 2018 Editora Angel

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer
forma, meios eletrônico ou mecânico sem a permissão por escrito do Autor e/ou Editor.
(Lei 9.610 de 19/02/1998.)
1ª Edição

Produção Editorial: Editora Angel


Capa e projeto Gráfico: Débora Santos
Diagramação digital: Débora Santos
Revisão: Carla Santos

TEXTO REVISADO SEGUNDO O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA


PORTUGUESA.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

FICHA CATALOGRÁFICA FEITA PELA EDITORA.


Sumário:
Nota da autora
Dedicatória:
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Catorze
Quinze
Dezesseis
Epílogo
Agradecimentos
Biografia
Editora Angel
Nota da autora

Caros leitores,
Este livro... melhor dizendo, este conto foi feito com muito
amor e carinho. Torço para que gostem. Fazer uma história
que envolva um lado criminal, mesmo sendo muito curta, não
foi fácil, e foram feitas algumas pesquisas. Tudo aqui é
totalmente ficcional. Pulei alguns atos da lei para não
falar demais e acabar falando coisas sem sentido. Espero que
gostem.
Com amor, Deby.
Dedicatória:
Para Beatriz e Liziara, minhas grandes fontes de inspirações para as
cenas em que seus nomes aparecem no livro.

Senhor Google, você também merece estar aqui, mesmo me dando várias
respostas diferentes para algumas pesquisas. Te dedico este conto.
Um

Daiane Escobar

REVISTA ON-LINE BELOS E FAMOSOS

NOTÍCIA MAIS VISITADA DO DIA:

“E a princesinha Escobar, ataca novamente”


Daiane foi vista na boate mais frequentada pela família Escobar, porém,
desta vez, o alvo da promotora foi um rapaz “comum”, perto dos homens com
quem ela costuma sair.
A vida da princesinha anda muito animada. O que nos leva a pensar:
Quando a promotora vai desencalhar e deixar a vida de conquistas de uma noite
de lado?
Acorda, Srta. Escobar, o tempo está passando e você está cada vez mais
assumindo o cargo de titia.

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Comentários mais recentes:


Patrícia: Nossa, isso porque é uma promotora. Por isso, o país não vai
para frente! Pelo visto, as únicas mulheres sensatas da família são a mãe, as
esposas dos irmãos e a esposa do tio dela.
Alex: Até eu pegaria ela. Gostosona!
Larissa: Depois a família dela vem pagar de bom senso com os outros.
Essa ridícula não para com cara nenhum. Tenho nojo de gente assim. Ela anda
mais rodada que pratinho de micro-ondas. O pai dela deve se arrepender do que
deixou aqui.
Bloqueio a tela do celular e coloco no bolso do short que estou vestindo.
Yasmim, minha sobrinha mais velha, cai no meu colo, depois de uma
falha tentativa de correr. A família toda veio se juntar aqui em casa. Porém, estou
sozinha ao lado de fora, próxima da piscina.
— Você anda comendo o quê? Está uma perfeita bolota, princesa. —
Aperto-a com força e começo a enchê-la de beijos. Ela ri.
— Que cara é essa, filha? — minha mãe me questiona ao se aproximar, e
dá para Yasmim a bonequinha dela.
— Calor demais — minto.
— Você acredita que me engana, e eu finjo que deu certo. — Ela sorri.
— Cadê o povo? — mudo de assunto. — Está um silêncio.
— Aqui fora, só se for. Beatriz discutiu com o Marcos, e subiu para um
dos quartos de hóspedes. Liziara e Ana estão na cozinha, tentando fazer um
pudim, enquanto David e Henrique ficam comendo o leite condensado, e elas
brigando com eles, que estão atrapalhando. Ah... E seu tio está com a Laura,
fazendo uma zona na sala, enquanto a Helena dorme.
— Nossa, não faz nem vinte minutos que estou aqui, e já aconteceu tudo
isso? Essa família me surpreende.
Rimos.
— Levanta essa bunda do chão e vamos entrar.
Vou entregar a Yasmim para minha mãe, mas ela se recusa. Levanto com
ela no colo.
— Desse jeito, ela nunca vai andar direitinho — minha mãe diz.
— Mas eu pretendo chegar ainda hoje dentro de casa, e com os passinhos
dela, chegaremos no próximo ano.
— Isso é verdade.

Entramos em casa e o falatório é alto.


Coloco Yasmim no chão da sala com meu tio.
— Resolveu se juntar à família? — ele provoca.
— Meu limite de aguentar os homens dessa família juntos é muito pouco.
— Dou uma piscada e vou para a cozinha, rindo.
Assim que entro, eu fico chocada com a situação. Parece que passou um
furacão. Minha mãe para atrás de mim.
— Eu vou para a sala, e irei fingir que nada está acontecendo. Porque se
eu ficar aqui, vou enforcar todos vocês pela zona que estão fazendo! — ela diz e
se retira. Começo a rir.
— Daiane, coloca ordem nesse lugar! — Liziara diz apontando para os
meus irmãos.
— Convivi muito tempo com eles, agora essa bomba é de vocês.
— Estamos quietos. Elas que não conseguem fazer um simples pudim, e
estão surtando — Henrique diz, enquanto vira a lata de leite condensado na
boca.
— Henrique, pare de ficar comendo. Eu vou te esganar. Some daqui! —
Ana briga com ele, que ri.
— Eu disse para comprar um pronto, mas quiseram fazer. — David ajuda
a provocar.
— David, você tem duas filhas largadas por algum canto da casa, vai
cuidar delas, antes que eu fique viúva, porque te matei. — Liziara bate nele com
a colher de pau.
— Eu tenho que ser adotada! — digo.
— Infelizmente não é — Henrique diz.
— Some daqui, peste. Henrique e David sumam agora da cozinha.
Liziara e Ana, joguem tudo isso fora, porque está pura água, não tenho ideia do
que fizeram para ficar assim. Deixa que eu faço e vocês vão me ajudando.
— Pelo menos, uma sabe fazer algo! — David ri.
— Eu disse para os dois sumirem daqui.
— Estamos indo, bonequinha — Henrique provoca.
Eles saem da cozinha, rindo.
— Eu acho que coloquei água no lugar do leite. — Liziara ri.
— Vindo de você, espero de tudo, Lizi — digo.
Limpamos tudo, e começamos a fazer do zero.
— Se a dona Jurema estivesse aqui, estaria pirando com a bagunça que
estava essa cozinha — Ana comenta.
— Estaria mesmo! E Marcela também — confirmo.
— Gente, vou chamar a Bia, ela ficou realmente irritada — Liziara diz.
— Por quê? — pergunto.
— Marcos com a proteção constante dele. Ele não deixa ela fazer nada,
tudo ele fica dizendo que vai prejudicar o bebê. Ela perdeu a paciência com ele e
subiu.
— Normal. Estranharia se eles estivessem sem brigar — brinco. —
Melhor deixar ela quieta. Quando ela quiser, vem.
Ela concorda.
— E você, Dai? Estou te achando tão estranha — Ana pergunta.
— Não é nada não...
— Sabemos que é algo! — Lizi diz.
— Viram a última notícia sobre mim?
— Vimos sim, e estávamos comentando sobre isso. Esses sites não têm o
que fazer. Não sabem o que dizem. Estão focados em você, porque é a única da
família que ainda pode gerar assunto para eles. Logo isso passa — Ana fala.
— Estou cansada disso. Tudo isso está me prejudicando até
profissionalmente. Nos corredores dos tribunais ficam cochichando, e fui
retirada de dois casos muito importantes por causa dessas notícias.
— Daiane, nós sabemos que eles estão aumentando as histórias e
inventando outras. O que importa somos nós, que te amamos, sabermos a
verdade — Liziara comenta.
— Não é tão fácil. E eles estão certos. Eu não encontro ninguém bom de
verdade. Os que aparecem são por interesse. Tenho medo de ficar sozinha para
sempre.
— Não pira! Vai aparecer alguém. Tudo tem seu tempo — Ana fala
enquanto guarda o açúcar.
— Estou vivendo sob muita pressão, não sei se aguento mais pessoas
falando de mim, e julgando sem saber.
— Marcos poderia fazer algo em relação a esse site que mais tem te
atacado — Liziara diz.
— Não resolverá nada. Vai piorar tudo. E para ele é frescura minha me
importar. Mas eu queria ver se fosse o nome da mulher dele nesses sites. — Jogo
a colher dentro da pia, com raiva. — Está sendo foda demais. Desde que foi
anunciado a gravidez da Beatriz, a mídia está em cima de mim o tempo inteiro.
Sei que ninguém tem obrigação de me ajudar com isso, mas ter o apoio do meu
tio, e dos meus irmãos, sem ser julgada, seria ótimo demais.
Elas me olham chateadas com a situação.
— Ana, melhor ir descansar, seus pés estão bem inchados — Liziara
comenta, quebrando o silêncio.
— Preciso sentar um pouco mesmo. Minhas costas estão doendo. Ainda
não sei porque eu quis engravidar novamente, é sofrido demais. — Ela ri.
— Por isso sempre digo que o melhor é adotar, tantas crianças pedindo
um lar — brinco.
— Minha fábrica está fechada, ou melhor, foi demolida. Daqui nada mais
sai. Se de primeira veio duas de uma vez, na segunda é capaz de vir quatro. Deus
me livre. Chega! — Liziara diz apavorada, nos fazendo rir.
Após terminar de preparar o pudim, seguimos conversando sobre outros
assuntos. Beatriz se junta a nós e ficamos conversando no jardim, enquanto os
rapazes ficam com as crianças dentro de casa, e minha mãe vai descansar um
pouco devido a uma dor de cabeça.
Às vezes, a melhor maneira de esquecer um pouco dos problemas é ficar
junto das pessoas que você ama, e saber que este amor é recíproco.

Nossa tarde foi maravilhosa. Depois de comermos o pudim, que ficou


bastante tempo na geladeira, os rapazes se juntaram a nós e minha mãe também.
À noite, todos seguiram com suas esposas e filhas para casa.
— Estou exausta. Filhos e netos nos alegram, mas também faz com que
fiquemos cansadas — minha mãe comenta, deitando-se no sofá da sala.
— Eu me canso com qualquer coisa, então... — Sorrio.
— Você é um caso a ser estudado, Daiane.
— Pior que sou mesmo. — Rimos. — Vou tomar um banho e tentar
relaxar. Amanhã o dia será cheio.
— Vai lá, filha. Daqui a pouco farei o mesmo.
Subo para o meu quarto.

Estou em meu escritório, no centro na cidade. Essa semana tenho apenas


uma audiência, o que significa que será tranquila.
Releio alguns documentos que precisarei para a audiência.
Meu celular começa a tocar, e o nome do Henrique aparece na tela.
— Oi. Estou ocupada para escutar suas gracinhas, Henrique.
— Não liguei para te irritar. O assunto é grave.
— O que aconteceu? — questiono alarmada.
— Os pais da Ana sofreram um acidente. A mãe morreu na hora, mas o
pai dela... morreu a caminho do hospital. — Seu tom é grave.
— Meu Deus! Como aconteceu isso? Ela deve estar arrasada. Eles eram
terríveis com ela, mas eram seus pais.
— Sim, ela está mal. Parece que uma carreta entrou na contramão, após
perder o controle, e acertou o carro deles. Preciso de você. Ana não está com
cabeça para resolver nada, e tenho medo de algo acontecer. A Yasmim vai ficar
com a Beatriz.
— Claro que fico com a Ana. Nossa mãe já sabe?
— Sim. Se você ligar a TV, ou acessar a internet, vai ver que todos
sabem. Os jornais não perdoaram o momento.
— Estou indo para sua casa.
— Certo. Vou passar na mãe, porque ela vai comigo resolver tudo.
Quero correr com toda situação para o enterro ser ainda hoje, e assim acabar
com toda essa situação.
— Estou indo.
— Vou esperar você chegar.
— Ok. Beijos. — Desligo o celular.
Parece que todos que entram para a família Escobar, estão destinados a
tragédias... Pobre Ana, sei bem como é perder quem amamos.

Chego à casa do Henrique, e encontro ele e Ana na sala. Yasmim está no


colo dele dormindo.
Eles me olham.
— Daiane... — Ana diz com a voz trêmula.
Largo a bolsa no sofá.
Ela se levanta e eu me aproximo. Nos abraçamos e ela chora.
— Eu sinto muito, Ana. Sinto de verdade. Não era fã deles, não vou
mentir, mas não mereciam isso. Eu sinto muito de coração — digo com a mais
pura sinceridade.
— Eu sei...
Ela se senta novamente.
— Vou indo — Henrique diz, dando um beijo nela.
— Te ajudo com a Yasmim — digo, pegando ela no colo. — Já venho,
Ana.
Ela concorda.
Saio com o Henrique. Coloco a Yasmim em sua cadeirinha no carro, e ela
continua dormindo. Isso é bom, assim não sente o clima pesado.
— Cuida dela. Qualquer coisa me liga.
— Pode deixar.
— Vou tentar, ao máximo, correr com tudo.
— Vai ficar tudo bem. Já passamos por isso, e vamos ajudar ela a passar.
Ele concorda.
Acho que é a primeira vez, desde a morte do meu pai, que vejo o
Henrique sem ânimo e sem suas piadas. Isso é horrível!
Ele entra no carro e, então, dá partida. Luciano, seu segurança, segue
com outro carro.
Entro na casa, e fecho a porta.
Ana continua no sofá, mas desta vez olhando para o nada. Sento-me na
mesa de centro, ficando de frente para ela.
— Sou um monstro, Dai? — Sua voz é trêmula.
— Por que pergunta isso?
— Por estar abalada com a morte deles, mas em momento algum sentir
remorso por não ter feito mais visitas, ou ter passado por cima de todos nossos
problemas e lutado por eles? — As lágrimas escorrem por seu rosto.
— Claro que não. Ana, cada pessoa lida com a dor de um jeito. Isso não
te torna um monstro. Se não foram uma família unida teve motivos, e todos que
conviveram com você sabe disso.
Ela enxuga um lado do rosto com a própria mão.
— Eu realmente estou abalada pela morte deles. Nós nunca nos demos
bem, porém eu nunca pedi por isso. Eles eram meus pais... — Um soluço escapa
de seus lábios, e meu coração se parte.
— Eu sei, e acredito em você. Eram seus pais, sendo bons ou ruins, eram
seus pais, e é óbvio, que você ficaria abalada.
— Só quero que esse dia acabe logo. Sempre tenho esperança que um dia
ruim vem acompanhado por um melhor.
— Vai ser. Com o tempo, melhora. Não fica fácil, mas melhora um
pouquinho.
— Obrigada por vir me fazer companhia.
— Não precisa me agradecer. Você é uma irmã para mim, assim como a
Liziara e a Bia. Eu jamais abandonaria a família em um momento como esse.
— Preciso beber alguma coisa. Ver se, pelo menos, o líquido para no
estômago.
— Vamos comigo na cozinha, preparamos uma boa vitamina, e assim
você se distrai um pouco. Topa?
Ela concorda.

— Que possam, juntos, seguirem um destino em paz e tranquilo. E que


Aquele lá em cima, que olha por nós, conforte a todos que aqui ficaram e que
tinham alguma ligação com eles.
Rosas são jogadas em ambos os túmulos. Henrique conseguiu que tudo
acontecesse hoje. Pensei que não voltaria a este lugar por muito tempo. Minha
mãe passa os braços em mim, e ficamos juntas. A tarde é fria. Acontece mais
alguns enterros ao redor. Henrique não se desgruda de Ana. Liziara e David
ficam juntos. Beatriz e Marcos estão atrás de mim juntos a Débora e Cleber,
amigos da família, e, pela primeira vez em muito tempo, o silêncio reina em
nossa família.
Começo a me sentir sufocada.
— Mãe, eu já vou. Não posso mais ficar aqui. Ficarei no carro, à sua
espera... — ela concorda.
Passo por meu tio, que me olha preocupado. David me chama e apenas
faço um sinal com a mão.
Passo pelos túmulos, o mais rápido possível, para chegar até ao lado de
fora. Preciso de ar fora daqui, e no estacionamento será pior.
— Senhorita Daiane! Senhorita Daiane! — Os flashes disparam,
enquanto me chamam sem parar.
— Por favor, saiam! — digo.
— Como a senhorita se sente?
— A senhorita já vai embora? Aconteceu algo?
— Saiam! — grito, tentando passar.
— Qual a marca do seu vestido? Veio acompanhada?
Empurro alguns.
Estefan, meu segurança, aparece e me ajuda a entrar novamente. Outros
seguranças barram a entrada.
— A senhorita está bem?
— Só vou para o meu carro.
Ele concorda.
Chego ao estacionamento, onde eu não queria estar, por ser dentro do
cemitério, lugar que eu quero sair o mais rápido possível. Encontro meu carro, e
dispenso o segurança. Entro e respiro fundo.
— Esses idiotas não sabem respeitar! Não aguento mais isso.
Encosto a cabeça no volante.
Batidas no vidro me assustam. Olho para ver quem é. Abaixo o vidro, ao
ver a pessoa.
— Vi os seguranças saindo, e fui perguntar o que era. Eles realmente não
te deixam em paz... — Débora diz.
— Não, Déb, e estou me cansando disso. Só quero sair daqui logo, não é
um lugar que eu tenha gosto de ficar.
— Eu sei. Logo termina e você pode ir embora. Também não curto esses
lugares. Tadinha da Ana, grávida, e recebe essa bomba.
— Sim. Sei bem como é receber essa bomba...
— Nunca recebi, mas já passei por muitas bombas. O bom é que elas nos
fortalecem.
— Será? — pergunto com ironia.
— Claro. Pode acreditar. — Ela sorri.
— Queria acreditar que estou ficando forte depois de tantas coisas, mas,
na verdade, me sinto uma farsa. Estou cansada de fingir o tempo todo que estou
bem.
— Pare de fingir. Não é errado você desabar em público. Você é humana,
Daiane.
— Queria que fosse fácil assim. Mas veja só, é tragédia atrás de tragédia,
e quando não, é a mídia no meu pé, ou o trabalho me consumindo. Não está
fácil.
— Posso dizer, que vi quase todas essas tragédias, e por isso ouso dizer.
Daiane, você precisa viver sua vida. Sua família tem que caminhar sozinha.
— Como assim? — Franzo o cenho sem entender.
— Conheço vocês há anos, e você quer carregar toda a família nas
costas, e tem feito isso muito bem. Mas, veja só, quando são seus problemas para
resolver, você fica no modo bloqueio, e isso não é bom. Precisa começar a cuidar
de você.
— Não é fácil...
— Eu sei. Mas se não tentar, vai continuar se torturando sozinha. Seus
irmãos e seu tio fizeram a vida deles, e sua mãe está caminhando com a dela.
Comece a caminhar com a sua, antes que seja tarde.
— Queria férias, de tudo e de todos, mas com essa situação agora...
— Daiane, a Ana tem o Henrique, e muitas pessoas por ela
— Se eu sair vai dar mais motivos para a mídia falar bostas.
— E você liga? Que se foda a mídia! Vai viver, menina. Quer mais
manchetes, do que amanhã vai ter, quando eles começarem a falar de você aqui?
Já imagino a manchete: “Princesinha Escobar vai ao enterro e sai causando!”.
Sorrio.
— Sabe que eles vão dizer coisas que nem existem. Você ficando ou
indo, vão falar. Pelo menos vai deixar a todos curiosos para saber seu paradeiro.
— Vou pensar.
— Pense bem. Pode ser um bom momento para tirar férias. — Ela sorri.
Dois

Daiane Escobar

REVISTA ON-LINE BELOS E FAMOSOS


NOTÍCIA MAIS VISITADA DO DIA:
“Daiane Escobar foi flagrada no cemitério Central”
Daiane, com um vestido preto longo, e uma jaqueta preta de couro, foi
pega no flagra saindo do cemitério Central. Nenhuma das perguntas foram
respondidas pela promotora. A mesma chegou a agredir um dos fotógrafos,
empurrando-o. Logo após os seguranças da família levaram a princesinha para
dentro.
Nós da revista lamentamos a morte dos pais da Ana Louise Ferdinand
Escobar.
É, Daiane, deu para agredir paparazzi agora? Cuidado, mocinha, está
destruindo sua fama cada vez mais. A família Escobar está perdida com essa aí.

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— Sério, Daiane, você tinha que dar motivos para fofocas justo neste
momento? — Henrique me questiona.
Estamos todos na sala da minha mãe. Viemos para cá, após o enterro. E
eu que pensei que as notícias sairiam amanhã, saiu hoje mesmo.
— Eu dar motivos? Era só o que me faltava! — Abaixo a tela do
notebook com força. Levanto-me do sofá.
— Nossa família anda muito na mídia, não acha? — David pergunta. —
Não dava para evitar uma fofoca pelo menos nessa semana?
— Só pode ser brincadeira de vocês.
— Gente, por favor... — minha mãe diz.
— Por favor, uma porra! — Henrique diz alterado.
— Henrique! — Ana diz a ele. — Parem. Ela não tem culpa desses
idiotas.
— Ana está certa. Chega disso, pessoal — Liziara se manifesta.
— Eles têm razão. Daiane está demais. Poderia ter evitado pelo menos
hoje! — meu tio diz.
— Marcos, não coloque mais lenha! Respeitem o momento — Beatriz
diz.
— Estou atrapalhando, não é isso? Está tudo bem!
Saio da sala e subo para meu quarto, já de saco cheio de tudo isso. Pego
duas malas no closet e começo a colocar tudo que será necessário. Coloco uma
calça jeans e bota sem salto. Visto uma blusa de frio, pois está chovendo e frio.
Pego minha bolsa, as malas e desço.
Todos me olham.
— Filha, onde vai? — minha mãe pergunta preocupada.
— Vou viajar. Aproveitem o tempo sem a mídia difamar o sobrenome
Escobar por minha causa. Ana, você pode me ligar se precisar. Não quero
seguranças na minha cola.
— Daiane, é tarde. Aonde vai?! — meu tio, pergunta.
— Não interessa.
Saio da sala com o David e Henrique me chamando. Mas escuto quando
minha mãe diz para me deixarem em paz, porque preciso ficar sozinha.
Coloco as malas no carro e sigo para qualquer lugar, longe do ambiente
Escobar. Talvez eu vá para o interior do estado, sempre gostei de lugares assim.
Chegando ao local, vejo uma pousada ou hotel. Só quero sair logo da cidade.

Depois de algumas horas dirigindo, chego em uma cidade pequena, vinha


muito com meus pais quando criança, para os rodeios que haviam aqui. Está
chovendo muito, e já fui em duas pousadas e cinco hotéis, e todos estão lotados.
Parece que a chuva fez algumas pessoas procurarem abrigo logo. Esta cidade
fica a três horas da fazenda da minha família.
— Vou retornar e ficar na fazenda hoje, amanhã volto... — digo,
enquanto forço as vistas para enxergar através da chuva.
Faço o retorno para sair da cidade, mas para meu azar, está interditada.
— Sério? Qual é, Deus? Joguei o que na cruz? Dá uma forcinha aqui.
Um guarda de trânsito vem até meu carro. Está de capa de chuva, mas
não sei para que, já que está molhado do mesmo jeito.
Abaixo um pouco do vidro.
— Senhorita, sinto muito, mas terá que retornar.
— Não tem vagas nos hotéis, e nem pousadas. Preciso retornar para outra
cidade. Lá tenho lugar para ficar.
— Sinto muito, mas por aqui é impossível.
— Tem algum outro caminho?
— Tem uma estrada, que leva para a outra cidade.
— Como faço?
— Retorne, e vire à direita, siga a rua, e verá a placa Fazenda
Casagrande, siga pela estrada desta fazenda, e vai embora. Logo sairá na metade
da rodovia.
— Muito obrigada, moço.
— Porém, pode ser que não consiga passar. A chuva está forte demais, e
a estrada é de barro.
— Acredito que eu consigo. Na fazenda da minha família passo com esse
carro, em dias de muitas chuvas.
— Tome cuidado, senhorita.
— Pode deixar. Obrigada.
Subo o vidro e faço o retorno.
Faço o caminho que o moço explicou. Encontro a placa da tal fazenda e
sigo o caminho que ela indica. A chuva piorou ainda mais. A estrada está
horrível, e tenho que passar devagar. Não consigo enxergar quase nada. É
escuro, e tem bastante mato na lateral.
— Ah não! — digo acelerando o carro, que está enroscando e não sai do
lugar. — Sério, que vai atolar? Puta que pariu! Droga, droga, droga!
Desligo o carro e tento várias vezes. Nada.
Pego meu celular na bolsa, sem qualquer sinal.
— Isso é algum teste?! — pergunto olhando para o teto do carro.
Abro a porta do carro, pego a bolsa, e meu celular. Desligo o carro. Ligo
a lanterna do celular.
— Não vou ficar nesse lugar! Mas é melhor deixar o pisca alerta ligado,
para o caso, de vir outro carro — digo sozinha. O que tenho feito muito
ultimamente.
Ligo o pisca alerta. Fecho o carro e começo a caminhar pela lama, com
cuidado. Com meu celular, ilumino o caminho.
— Maldita hora que peguei esse atalho! Mas não vou ficar para ver o que
vai acontecer.
Caminho ao que parece uma eternidade, devido à lentidão que tenho que
andar.
Vejo um portão grande, e me apoio nele. Estou pingando. Olho para cima
e vejo outra placa “Fazenda Casagrande”. Empurro e o portão está aberto.
Caminho pelo lugar, torcendo para não ter algum animal que goste de
comer carne humana.
A chuva começa a diminuir.
— Agora?! Obrigada chuva.
O caminho começa a ficar iluminado, e me dá a visão de uma casa
enorme. Acelero o passo e subo a pequena escada que dá para a porta de entrada,
onde é coberto.
Respiro fundo, e passo a mão no rosto. Estou tremendo de frio, e
pingando. Desligo a lanterna do celular. A luz da casa está acesa. Bato na porta.
— Que seja uma família amorosa e acolhedora, amém!
Bato novamente. Não paro de tremer. Mas já não sei se é pelo frio, ou
pelo medo.
— Já vai! — uma voz de mulher grita.
A porta se abre, e uma senhora muito bonita por sinal, me olha assustada.
— Santo Deus, que isso?! Pai misericordioso, está amarrado — diz
espantada.
— Senhora, preciso de ajuda — falo com a voz trêmula pelo frio.
— O que aconteceu?
— Estava na estrada, mas meu carro atolou.
— Meu Pai! Entre, menina, entre! — Ela me ajuda a entrar. — Fique
aqui, que vou buscar uma toalha.
Ela sai me deixando na sala sozinha. A sala é com móveis antigos, e
muito bem decorada. Quero muito me sentar, porque estou acabada, mas não
tenho condições, estou suja de barro e encharcada.
Ela retorna com a toalha e me entrega. Pega minha bolsa e celular e
coloca no sofá.
Começo a me enxugar.
— Menina, é louca? Como sai nesse temporal?
— Eu vim da cidade. A chuva não estava tão forte. Não encontrei hotel
ou pousada livre. Peguei este atalho e meu carro atolou.
— Vou pedir para retirarem de lá e trazer para cá. Aproveitar que a chuva
melhorou um pouco.
— Muito obrigada, senhora.
— Me chamo Joana.
— Daiane Escobar.
— Conheço esse sobrenome... Família da lei?
— Sim.
— São famosos.
Sorrio.
— Precisa de um banho quente, e beber algo quente também. Está
tremendo como um pintinho molhado.
— Minhas roupas estão no carro, senhora.
— Joana, menina. Se me chamar de senhora te chuto o traseiro.
Controlo-me para não rir.
— Vá para o banho, e vemos alguma coisa para você vestir. Venha
comigo.
Acompanho ela pelo corredor, e entramos na primeira porta.
— Este quarto é do meu neto, mas ele está em lua de mel. Te colocaria
em um quarto de hóspedes, mas faz uns dias que não limpo... Quem eu quero
enganar? Não limpo há tempos, pois não tenho visitas, então nem me canso.
Rio.
— Não quero incomodar, Joana.
— Não incomoda. O banheiro é naquela porta. Tem toalhas no armário
dele. Vou ver uma roupa e deixo na cama. Tome banho, enquanto vou preparar
um chocolate quente e avisar alguém para rebocar seu carro.
— Muito obrigada por me ajudar. Amanhã cedo mesmo, vou embora.
— Se acalme, menina. Não precisa ter pressa.
Ela sai do quarto e vou para o banheiro. Assim como o quarto é enorme e
lindo. Joana é boa com decoração. Ligo o chuveiro e começo a retirar as roupas.
Tomo um banho completamente delicioso. Estava precisando disso.
Saio do chuveiro e pego uma toalha amarela, que está no armarinho
embaixo da pia.
Me enxugo e me enrolo nela. Saio do banheiro, e vejo em cima da cama
uma camiseta preta e uma cueca. O chinelo está no chão.
— Que lugar você foi se meter, Daiane?!
Visto a cueca e a camiseta. Coloco a toalha no cabelo, calço o chinelo e
saio do quarto. Vou para a sala, mas a senhora não está. Caminho no outro
corredor, e vou para onde a luz está acesa e que, pelo visto, é a cozinha. Entro
nela e Joana está arrumando a mesa.
— Aí está você. Veja só, a camiseta ficou grande, como imaginei.
— Atrevo a dizer, que são do seu neto?
Ela concorda.
— Espero que ele ou a esposa não surtem por eu estar aqui, usando o
quarto dele e as roupas dele.
— Não surtará. Não se preocupe. Venha se alimentar, é magrinha demais.
Sorrio.
Sento ao redor da mesa, e ela serve chocolate quente e uma fatia grande
de bolo.
— Obrigada.
Ela assente e se senta também.
— O que pensou, quando veio para cá com essa chuva?
— Pensei em fugir da cidade. Problemas pessoais me fizeram querer
férias.
— Problemas pessoais... Envolve namorado?
— Não. Sou solteira.
Ela sorri bem animada.
— Ficaria com homem casado?
— Quê?! Não!
— Apenas uma curiosidade. — Sorri e pega um pedaço de bolo. —
Coma, menina.
— A senhora vive sozinha?
— Não. Minha bisneta praticamente mora comigo. O pai trabalha muito,
e ela não se dá muito bem com a madrasta. Então prefere ficar aqui. Tem dez
anos, um amor de menina, quando quer. Mas é muito inteligente.
— Crianças são uns amores, mas quando querem são bem terríveis.
— Exatamente. Tem filho?
— Não. Mas tenho três sobrinhas. Um primo e mais uma sobrinha a
caminho.
— Uau!
Como enquanto conversamos. Joana gosta de conversar e gosto dela. É
uma senhora simpática e divertida.
— Pedi para trazerem seu carro, mas vai demorar um pouco, a estrada
está ruim.
— Tudo bem.
— Deve estar cansada. Va dormir, e amanhã terá seu carro de volta.
— Estou mesmo. Obrigada.
— Bons sonhos, menina.
— Igualmente, Joana.
Pego a minha bolsa e o celular na sala. E vou para o quarto. Agora que
meu celular tem rede, envio uma mensagem para minha mãe:

Mãe, estou bem. Vou tirar minhas férias merecida. Avise que não estarei
para a audiência, e que passem para outro promotor. Sei que posso me
prejudicar por isso, mas preciso deste tempo. Depois entro em contato e digo
sobre minhas férias com eles. Amo a senhora, beijos.

O celular descarrega após eu enviar a mensagem. Pego o carregador na


bolsa, e coloco ele para carregar. Apago a luz, e me enfio embaixo do edredom
que cobre a cama. Sinto meu corpo relaxar.

Jacob Casagrande

— Ainda não acredito, que estamos voltando. Jacob, não tivemos nem
dois dias de lua de mel! — Poliana reclama ao meu lado.
— Não tive escolhas. Você viu quando me ligaram, preciso estar aqui
para substituir uma promotora que não poderá ficar com um caso.
— E só tem você de promotor?
— Poliana, menos. Depois retornamos para a viagem.
Entro com o carro na fazenda. Vim logo após receber a ligação do meu
escritório. Por sorte estávamos em uma cidade vizinha, onde a Poliana escolheu.
— Choveu muito aqui. A estrada estava um caos.
— Sim... E de quem é esse carro na entrada da casa? De branco está
marrom!
— Não tenho ideia. — Estaciono o carro, e desligo. — Ainda é muito
cedo.
Descemos do carro.
— Depois pego as malas. Vamos.
— Prefiro ir para nossa casa. Sua avó e sua filha não são muito minhas
fãs, e não quero que quando acordem, vejam a mim de primeira.
— Deixe de medo, vamos.
— Jacob, não. Eu vou para nossa casa.
— Está bem. Vá com o carro, depois vou com o outro que está aqui.
— Ok. — Entrego a chave e dou um beijo rápido nela.
Ela entra no carro e dá partida.
Subo a escada, e abro a porta, com minha chave.
Entro e fecho a porta. Está tudo calmo. Devem estar dormindo. Vou
direto para o quarto da minha pequena. Abro a porta com cuidado. Ela dorme,
tranquilamente. Fecho a porta com cuidado, e escuto barulho na cozinha.
Caminho para a cozinha. Minha avó está preparando café.
— Já fora da cama?
— Ah, menino! Santo Deus, quer me matar?!
Rio.
Aproximo-me dela e dou um beijo em seu rosto. Encosto na pia.
— Desistiu do casamento? — pergunta animada.
— Não, vó. Eu voltei porque tinha trabalho.
— E Poliana?
— Foi para casa.
— Melhor, assim alivia a bomba.
— Que bomba?
— Nada.
— Vó, o que aprontou?
— Eu? Nada.
— Sei... Vou para o meu quarto. Preciso de um banho para acordar de
vez.
— NÃO! — ela grita. — Quero, dizer... Não. Tome banho no meu, e eu
levo a roupa. Seu quarto está com problemas no banheiro, e vão arrumar.
— Eu pego a roupa e tomo banho em outro banheiro.
— Eu pego a roupa, deve estar cansado.
— Vó, o que está aprontando? Está escondendo algo, e vou descobrir!
— Vá para seu banho! Deixe de papo.
— Está bem, estressada.
Saio da cozinha. Verifico para ver se não me segue. Caminho até meu
quarto, e com cuidado tento abrir a porta, mas sou impedido.
— Papai!
— Oi, princesa! — Pego ela no colo. Está cada dia maior e mais pesada.
— Já voltou? A bisa disse que demoraria um pouco.
— Tive que voltar antes.
Ela sorri e beija meu rosto.
— Vai ficar comigo hoje?
— O dia todo, meu amor.
— Ebaaaaa! — ela grita animada.
Coloco ela no chão.
— Vou escovar os dentes, e tomar café. Você vem, papai?
— Já vou, meu amor. Primeiro vou tomar um banho.
Ela volta para o quarto.
Minha avó vem trazendo roupas limpas.
— Por que não pegou no meu quarto? — questiono.
— Porque estas estavam passadas e limpinhas na lavanderia.
— Hum-hum...
Pego e vou para o banheiro, que fica ao lado do meu quarto. Mas retorno
ao lembrar de algo.
— Vó? — Ela para no corredor e me olha. — De quem é o carro aí fora?
— Carro? Não sei.
— Não sabe? Tem um carro na sua fazenda, na sua porta, e você não
sabe?
— Ah, é do encanador.
— Meu banheiro está com problemas no encanamento?
— Seu banheiro não está com problemas.
— Você disse que estava.
— Ah, é mesmo! Está. Que cabeça a minha. Tenho que ir.
Ela está me escondendo algo. Dona Joana não me engana!

Daiane Escobar

Acordo e me sento rapidamente na cama.


— Onde estou?! — Olho para os lados e começo a me localizar. —
Preciso me arrumar.
Levanto rapidamente. Caminho para o banheiro. Não encontro mais
minhas roupas que deixei pelo chão. Em cima da pia tem uma escova de dente
na embalagem. Joana deve ter entrado aqui, enquanto eu dormia. Escovo os
dentes. Procuro por um roupão, mas não encontro, nem no banheiro e nem no
guarda-roupa, onde percebo que o neto da Joana tem bom gosto para roupas.
Saio do quarto e caminho para cozinha, à procura de Joana. Preciso saber
se já trouxeram meu carro, e assim me arrumar e ir embora. Chego na cozinha e
não tem ninguém.
— Droga!
— Menina, acordou!
Viro-me assustada.
— Joana. Que susto!
— Desculpe.
— Preciso de roupas. Meu carro já está aqui? Tenho que me trocar para ir
embora.
— Está sim. Mas os funcionários estão circulando, não será legal você
sair assim lá fora.
— A chave do carro está na bolsa no quarto. Pega qualquer roupa nas
malas para mim, por favor?
— Claro. Espere aqui. Se sirva com o que quiser. Vou já buscar. Ah...
Quase me esqueci, a bateria descarregou.
— Ai, que droga!
— Um dos funcionários disse que pode fazer uma tal de chupeta que liga.
— Sim. Tenho o cabo no porta-malas
— Ok. — Ela se retira.
Encosto na pia e cruzo os braços.
Preciso ir embora logo, já dei trabalho demais.
— Bisa, o meu pai... Quem é você? — Uma garotinha, em um pijama
rosa, e de cabelos loiros e olhos bem azuis, cruza os braços e me encara.
— Oi... Sou Daiane, deve ser a bisneta da Joana?
— Sou. O que faz aqui?
— Sua bisavó me ajudou ontem. Meu carro atolou e precisei de ajuda.
Mas já estou indo embora. Só vou esperar ela pegar uma roupa no meu carro.
— Está com a camiseta do meu pai.
Olho para a camiseta e sorrio.
— Sim. Minha roupa molhou toda. Será que ele ficará bravo?
— Não. Meu pai só fica bravo com o trabalho, ou quando apronto.
Sorrio.
— Como se chama?
— Sophie Casagrande.
— Lindo nome.
— O seu também é bonito. Mas é sério demais.
— Tenho dois nomes, mas não gosto do segundo.
— Como é?
— Gabrielle. Daiane Gabrielle.
— Prefiro Gabrielle. Por que não gosta?
— Não gosto dele em conjunto do Daiane.
— Entendi, Daiane. Você é bonita, acho que já te vi em algum lugar.
Imagino que tenha sido na TV, ou na internet, mas fico quieta.
— Bom, vou comer.
Concordo e ela caminha para a mesa.
Joana retorna com uma mala.
— Não sabia o que trazer...
— Tudo bem. Vou me trocar. Obrigada.
— Claro.
Pego a mala e vou para o quarto que eu dormi. Troco a cueca por uma
calcinha, visto um sutiã e coloco um vestido, curto de alcinha, preto florido. Ele
é larguinho e bem confortável. Coloco uma sapatilha que estava na mala. Pego
minha bolsa e celular. Fecho a mala e saio do quarto.
Deixo as coisas na sala e vou para a cozinha.
— Joana, poderia pedir para alguém me ajudar com o carro? Preciso ir.
Não quero mais incomodar.
— Imagine. Não incomoda. Tomou café?
— Não. Eu tomo em algum lugar.
— Nunca. Ninguém vai embora da minha casa com fome. Sente e coma.
— A bisa tem razão. Come com a gente. Gostei de você, Daiane, e nunca
gosto fácil de alguém.
Sorrio.
— É verdade — Joana confirma.
— Eu...
— Vó, onde está meu chinel... — Viro-me para a voz maravilhosa e
atraente. Me assusto ao olhar. Só pode ser brincadeira. Eu devo estar louca.
— Jacob?!
— Daiane Escobar! O que faz aqui?
— Eu... Eu...
— Se lembra de mim?! Porra, uma Escobar se lembra de mim! — Ele
sorri.
— Tenho boa memória. Você falou com minha família em um evento...
Eu... — Estou chocada.
— Ainda não disse o que faz aqui.
— Ela veio ontem. O carro atolou com a chuva, e eu dei abrigo a ela.
Confirmo o que Joana diz.
— Era esse o motivo de me proibir entrar no quarto? — ele pergunta a
ela.
— Exato!
— Eu...
— Menina, empacou na fala? — Joana diz e Sophie ri.
— Estou chocada de como o mundo é pequeno.
— Eu quem o diga... Que falta de educação a minha. Que prazer em
revê-la, Escobar. — ele me cumprimenta dando um beijo no rosto.
— Eu não queria incomodar. É que vim para a cidade, e não tinha vaga
nos hotéis e nem nas pousadas. Desculpe usar seu quarto, sua camiseta e sua
cueca.
Ele ergue a sobrancelha esquerda e sorri.
— Emprestei a ela, Jacob! — Joana diz.
— Falo muito quando estou nervosa.
— Percebi. Eu que deveria estar chocado. Uma Escobar na minha casa!
— Sua casa? Desde que casou com aquela coisa, perdeu o direito de
dizer que aqui era um lar seu.
— Vó!
— Sou sincera, meu neto.
— Joana, eu preciso realmente ir...
Tudo o que não preciso neste momento, é um fã da minha família. E que
está mais atraente do que a primeira vez que o vi.
— Já disse, fique para o café.
— Joana, eu...
— Não adianta. Ninguém foge dela, quando quer algo — Jacob cochicha
em meu ouvido, e sinto um arrepio, mas tento disfarçar.
— Está bem.
Sentamos ao redor da mesa e tomamos café. Jacob e Sophie perguntam
como vim parar aqui, e conto a eles, cortando o motivo da minha vinda.
Uma forte chuva começa, e clarões entram na cozinha pela janela.
— Ah, não! Preciso ir embora.
— Nem pensar. Essa estrada na chuva é um perigo. Estamos na
temporada de chuvas, menina.
— Mentira! Sério?
— Sim. Fica por dias, e ficamos ilhados.
— Eu vou a pé, e mando alguém vir tirar o carro.
— Nunca. Jamais deixaria uma hóspede nessa situação. Fique conosco
até melhorar o tempo.
— Jacob! — alguém grita. E se eu não estiver louca, conheço essa voz
também. Que não seja quem eu estou pensando.
— Na cozinha! — ele grita.
— E acabou a alegria! — Sophie solta o pão na mesa.
— Sophie! — Jacob a repreende.
Meu Deus! Acorda, Daiane, Sophie é filha dele. Nunca imaginei que ele
tinha uma filha. Vi-o algumas vezes nos corredores dos tribunais, mas fugia,
antes dele me ver. Desde que disse que era noivo da Poliana Xavier, em um
evento, eu queria evitar o máximo de contato com alguém próximo a ela. Essa
mulher foi uma peste na minha família.
— Amor, ainda bem que cheguei antes da chuva... Daiane! — Ela se
espanta quando me vê.
Estou pagando meus pecados.
— Se conhecem? — Joana pergunta.
— Sim — ela responde. — O que está fazendo aqui?
— Nossa convidada — Sophie diz.
— Tive problemas com o carro ontem, e Joana me abrigou. Mas vou
embora já.
— Mande lembranças para a sua família. Minha e do meu esposo —
enfatiza.
Olho para o Jacob e ele sorri.
— Poliana é minha esposa agora.
— SUA O QUÊ?! — Eles me olham espantados, mas ela sorri.
— Casei com ele, Daiane. Não mandei convites porque foi reservado.
Entende, não é? — Ela se aproxima dele e lhe beija.
— C-Claro. Estou apenas surpresa.
— Pensei que não queria vir — Jacob diz a ela.
— Não queria ficar sozinha em casa. Então resolvi vir, e encontrei uma
velha amiga.
— Não somos amigas. — Sorrio forçadamente. Ela fica sem graça e tenta
disfarçar. — Poliana era amiga do meu irmão e trabalhou com ele por um
período curto.
— Sim. Exatamente isso! — ela diz encerrando o assunto. Eles com toda
certeza não sabem o porquê ela não trabalha mais para o David.
— Que grande coincidência... — digo observando ela, que sorri de um
jeito cínico.
— Vai embora que horas? — pergunta.
— Agora!
— Não. Olhe o tempo. Não teime. Você vai ficar. Enquanto não estiver
melhor, não vai embora.
— Dona Joana, ela deve ter trabalho.
— Estou de férias, Poliana.
Ainda não oficializei, mas estou. Porém, ela não tem que saber da minha
vida.
— Sorte a sua. Tenho que cobrir uma promotora que não poderá mais
estar em uma audiência — Jacob diz e sorrio.
— Na cidade? — pergunto.
— Sim. — Controlo para não rir. Só pode ser brincadeira. O destino deve
estar brincando com a minha cara.
— Poliana? — Sophie chama ela.
— Sim, anjinha? — Mais falsa que isso impossível. Joana revira os olhos
e Jacob finge não ver.
— Seu cabelo está...
— Lindo? Eu sei. Hidratação milagrosa — responde passando as mãos
nele.
— Na verdade, eu ia dizer seboso. Credo!
— Sophie! — Jacob chama sua atenção. Quero rir, mas me controlo.
— Deixe meu amor, ela só está brincando.
— Não estou não.
— Agora chega. Vai se trocar! — Jacob diz a ela.
— Daiane, vem comigo? Quero te mostrar meu quarto.
Jacob e Poliana olham surpresos.
— O que foi? — pergunto.
— É que ela nunca deixa ninguém entrar — Poliana diz.
— Na verdade, eu não deixo apenas você entrar. Só entra quem eu gosto.
Jacob olha feio para ela. Levanto e seguro sua mão.
— Vamos ver o quarto?
— Claro!
Enfrento até um dragão para sair desse clima tenso.

Seu quarto parece de princesa. Sento-me na cama enquanto ela vai até o
guarda-roupa e começa a procurar algo.
— Então, o que devo vestir?
— O que te fizer sentir confortável.
— Verdade!
Ela pega um lindo vestido, entra no banheiro e, depois de alguns
segundos, sai.
— Linda.
— Obrigada.
Ela guarda o pijama e se senta ao meu lado.
— Posso fazer uma trança em você? Vai ficar ainda mais bonita.
— Sim! Eu adoraria.
Ela pega elásticos de cabelo, escova e me entrega. Se senta na cama, de
costas para mim. Começo a pentear seu cabelo com cuidado.
— Você trabalha de quê?
— Sou promotora. Igual seu pai.
— Ele trabalha muito. Quase não temos tempo, porque o que temos, a
Polichata tira de nós.
Sorrio com o apelido.
— Não gosta dela, pelo visto.
— Nem um pouco. E ela também não gosta de mim.
— Por que diz isso?
— Ela não gosta. Eu vejo pela forma que me trata.
— Acredito que seja impressão sua, ou seu pai não se casaria com ela —
tento amenizar.
— Não. Meu pai casou porque ela vivia dizendo que eu precisava de uma
mãe, e porque os pais dela ficavam insistindo.
— Quem te disse isso?
— Tenho dez anos, não sou um bebê mais. E eu escutei conversas.
— Entendo. Sinto muito.
— Só queria meu pai mais tempo comigo.
Não tenho o que responder. Começo a trançar seu cabelo.
— Você tem pai?
— Não. Meu pai morreu há um tempo.
— Que triste. Eu não tenho mãe. Meu pai e minha bisa dizem que ela
morreu, mas que me amou muito e foi uma linda mulher. Eu não lembro dela.
— Nunca viu em fotos?
— Não tem fotos. Sempre pedi uma, mas meu pai nunca me deu.
— Sinto muito.
Termino a trança.
— Terminei. Tem algum espelho pequeno além deste do quarto?
— Sim. Vou pegar.
Ela vai até o banheiro e retorna com um espelho menor. Pego e posiciono
ela em frente ao enorme espelho. Posiciono o espelho pequeno de uma forma
que ela veja sua trança refletida no grande.
— Está linda.
— Que bom que gostou.
Coloco o espelho na cama.
— Vamos — ela diz e saímos do quarto.
Ao passar pela sala, pego meu celular. Tem mensagem da minha mãe.

Meu amor, me mantenha informada. Não ligue para o que aconteceu


aqui. Estavam nervosos. Se cuida. Farei o que me pediu. Te amo muito.

Coloco o celular na bolsa após ler. Jacob aparece na sala.


— Olha, pai, o que a Daiane fez no meu cabelo.
— Está lindo! — ele diz e vejo o quanto importou para ela, pois seus
olhos brilham.
— Vamos fazer o quê?
— Com essa chuva? Nada que envolva sair da fazenda.
— Podíamos mostrar a fazenda para ela.
— Uma ótima ideia, se ela não se importar em se sujar — ele diz me
olhando.
— Vão aonde? — Poliana aparece na sala.
— Sophie quer levar Daiane para conhecer a fazenda.
— Leve, ela vai adorar — Poliana diz.
— Vamos, Daiane? — Sophie me pergunta.
— Claro.
— Pai, vamos?
— Vamos sim. Quer ir, Poliana?
— Sim! — ela diz sorrindo para ele.

Não conseguimos ver muita coisa. A chuva piorou e a lama estava


horrível. Mas o que vimos, é lindo. Estamos retornando para a casa. Sigo na
frente com a Sophie, enquanto o casal segue atrás.
— Quer ver uma coisa divertida? — Sophie me pergunta.
— Quero sim.
— UMA COBRA! — ela grita pulando.
Viro-me para ver Poliana, que começa a gritar e se agarra ao Jacob.
Sophie começa a rir, e não me aguento, rio junto.
— Olha só! Me sujei — ela diz, limpando as pernas. Sophie ri ainda mais
da situação. — Jacob, não vai fazer nada?
— Ela realmente pensou ter visto uma cobra. Eu também pensei que era
— minto para ajudar a Sophie. Jacob me olha desconfiado e sorri.
— Sei! — Poliana diz irritada.
Sophie e eu continuamos caminhando.
— Valeu! — ela diz e concordo sorrindo.
Ao entrarmos na casa, Poliana diz que vai para o banho, pois está toda
suja.
Sento na sala com a Sophie.
— Sophie, precisava mesmo disso? — Jacob a questiona.
— Mas não fiz nada pai.
— Vou trabalhar um pouco, depois conversamos. — Ele se retira.
Sophie olha para mim e começamos a rir.
— Vou usar essa técnica para atormentar minhas cunhadas — digo e ela
ri.
— Sabe jogar UNO?
— Amo esse jogo.
— Vamos jogar?
— Claro!
Fomos para seu quarto, e ficamos jogando por um tempo, até que Joana
veio chamar para o almoço. Poliana não quis almoçar, disse estar com dor de
cabeça, e Jacob ficou trabalhando. Então fomos apenas Sophie, eu e Joana.
Jacob Casagrande

Estou em meu quarto, trabalhando no notebook que tenho aqui. Poliana


está deitada na cama, ao meu lado.
— Não gosto da ideia dela aqui.
— Por quê? — pergunto sem tirar os olhos do que estou fazendo.
— Porque ela é solteira, bonita, sua filha gosta dela e sua avó também.
— Não tem o porquê ter ciúmes, Poliana.
— Eu sei. Mas parece que a Sophie está usando ela para me provocar.
— Não seja louca. Não tem nada disso. Sophie apenas gostou dela.
— Não gosto do fato dela estar aqui. Isso não me deixa com a mente em
paz. Por isso quero ir embora hoje com você e a Sophie.
— Vamos ficar aqui até a Sophie se acostumar mais com você e assim eu
ter paz para sair e saber que quando eu voltar, não se mataram.
— Quase não ficaremos sozinhas. Trabalho e chego tarde, amor. Sua avó
vai levar ela assim que eu chegar, e logo depois você chega.
— Mesmo assim, Poliana. Essa é minha decisão final.
— Ok. Só não quero você de conversa com a Daiane.
Fecho a tela do notebook e olho para ela.
— Quero saber o porquê desse ciúme. Nunca te dei motivos de
desconfiança.
— Porque você é louco pela família Escobar, e ela surge aqui do nada.
Você é lindo, e não confio nas mulheres.
— Pare de ser louca. — Aproximo-me dela e a beijo. — Vou comer.
Quer algo?
— Não, obrigada.

Vou para a cozinha. Daiane enxuga a louça que minha avó lava e Sophie
guarda.
— Pai, Daiane é boa no UNO, me venceu todas as vezes.
— Isso é um milagre. Todos que jogam com você perdem.
— Deixei ela ganhar — ela diz e ri.
— Ah é... — Daiane bate o pano de prato no braço da Sophie, que ri. —
Sou uma excelente jogadora.
— Verdade. É mesmo — Sophie concorda.
— Jacob, se veio comer vai lavar a louça depois — minha avó diz.
— Sim, senhora.
— A coisa não vem? — ela pergunta.
— Não vó. E a coisa tem nome.
— Não gosto nem de lembrar do nome dela.
Daiane enxuga a louça e finge que não escuta a conversa.
— Você mora onde, Daiane? — Sophie pergunta.
— Na cidade. Mas minha família tem uma fazenda algumas horas antes
daqui.
— Que legal!
— Eu que o diga. Deve ser foda ser da família Escobar! — digo
animado.
— Nem sempre. Pode acreditar. — Noto a sinceridade em suas palavras e
olhar.
— Levaram o carro dela para a garagem. Ajude ela a trazer a outra mala
que ficou lá e a fazer a tal da chupeta no veículo.
— Descarregado? — pergunto.
— É o que parece — Daiane responde.
— Eu posso trazer. É só me dizerem onde é.
— Eu ajudo. — Pego uma maçã na fruteira, mas desisto de comer e
retorno ela. — Vamos.
— Não terminei ainda aqui.
— Vai logo, menina! — minha avó diz tirando o pano de prato dela. Rio.
Levo ela até a garagem.
— É, meu carro precisa de um banho.
— Com certeza.
Ela abre o carro e pega a mala. Mas fica procurando por algo dentro.
— Perdeu algo? — pergunto.
— Espero que não. Merda!
— O que procura?
— Minha arma.
— Não precisa me matar. Vim apenas ajudar. — Ela me olha séria. —
Estou brincando. Onde deixa ela?
— Embaixo do banco. Mas não está. Eu tenho certeza de que eu trou...
Achei! Estava embaixo do banco do passageiro.
Ela coloca embaixo do banco dela e sai do carro.
— Então a moça Escobar tem as habilidades dos irmãos e do tio?
— Quem me dera. Apenas tenho arma por precaução. — Sorrio.
— Vou fazer chupeta no seu carro, com o meu.
Ela concorda. Caminha até o porta-malas, pega o cabo e me entrega.
Faço o que tem que ser feito e o carro dela liga.
— Obrigada.
— Imagine. Agora posso morrer em paz. Ajudei um Escobar.
Ela sorri.
— Você realmente é fã da minha família, não é?
— Sim. Vocês são uma inspiração na lei.
— Nem sempre.
— Sei que fogem as vezes das leis, mas é isso que me atrai. Porque
mesmo fazendo errado, agem certo.
— Pensando por esse lado.
— Vamos?
— Vamos sim.
Estamos retornando para a casa. O caminho é em silêncio. Já percebi que
ela fica desconfortável perto de mim, e por isso não insisto em falar. Ela sobe a
escada na minha frente. E porra, que me chamem de pecador, mas que bunda do
caralho! Sou casado, e não cego.
Entramos na sala.
— Obrigada mais uma vez. Preciso falar com sua avó. Com licença. —
Ela sai rapidamente da sala.
Ela realmente está fugindo de mim. Porra, tenho a chance de estar
próximo a um Escobar, e quando estou, foge de mim. Está foda!
Três

Daiane Escobar

Já é noite, e estou sem sono. Joana mandou limpar um quarto de hóspede


para mim, que fica de frente ao do Jacob. Isso não me traz confiança. Penso que
a louca da Poliana pode surgir a qualquer momento enquanto durmo e tentar me
matar. O que não é de se desconfiar. Aquela louca não está gostando nada da
minha presença aqui. Estou no quarto deitada na cama, mexendo no celular. Na
verdade, pesquisando sobre uma pessoa.

“Promotor Casagrande é destaque em reuniões de Nova York”

O promotor foi um dos escolhidos para participar de uma reunião em


benefício da lei brasileira, nos Estados Unidos. Ele se destacou grandemente, e
foi elogiado pelos melhores juízes internacionais que estavam presentes. Jacob
Casagrande é um mineiro, que há pouco tempo decidiu ir morar junto com a avó
materna em uma pequena cidade no interior de São Paulo.
O jovem tem se destacado muito, não apenas no exterior, mas também
em solo brasileiro.

Uma foto dele está logo abaixo da notícia, junto a outros homens na
reunião de Nova York.
Pergunto-me por que ele se inspira na minha família, nós que temos que
nos inspirar nele, que faz tudo correto. Todas as notícias que vi até agora são
elogios, até mesmo nos sites de fofocas.
— É, Poliana, você ganhou na loteria. Bonito, inteligente e, de brinde,
rico. Tudo o você sempre quis — penso alto.
Largo o celular e fico olhando para o teto.
Se existe realmente o papo de destino, o meu está brincando com a minha
cara. Tanto lugar para parar, e vim parar justo nesta fazenda. Se isso não é azar,
desisto de pensar o que pode ser.
A porta se abre lentamente e fico observando. Se for aquela louca, ela vai
sair voando daqui.
— Daiane?
Sophie entra.
Sento na cama. Ela acende a luz.
— Posso falar com você? — pergunta já encostando a porta.
— Claro. Sente aqui. — Indico a cama. Ela se senta. — Pensei que já
estava dormindo.
— Não. Na verdade, eu estava pesquisando sobre você na internet.
— Sério?! — pergunto surpresa.
— Eu disse que já tinha te visto. Você é bem falada na internet.
— Sim...
— É verdade tudo o que dizem?
— Depende. Algumas coisas sim, outras não.
— Meu pai também aparece muito em notícias, mas nunca falam de
mim.
— Posso contar um segredo?
Ela concorda.
— Eu queria não aparecer nas notícias. Nem sempre é bom o que dizem,
e isso pode te fazer mal.
— Pode ser que tenha razão... A Poliana conhece seu irmão? — Engulo
em seco — Vi sobre ela com um tal de David, mas é antiga as notícias.
— Você não deveria dormir? E realmente tem dez anos? — pergunto
assustada.
— Tenho dez anos, e em dias de chuvas assim, suspendem as aulas aqui.
Então não tenho o porquê de dormir cedo. E tenho tablet e celular em mãos.
— Percebi.
— Não me respondeu. — Garota direta.
— Sophie, isso é passado. Melhor esquecermos esse assunto.
— Você também não gosta dela. Eu percebi e está me escondendo algo.
Mas tudo bem. Ninguém gosta dela mesmo. Nem minha bisa gosta dela. Só
queria saber por que você não gosta.
Certo, eu estou pagando meus pecados. Uma criança está me
questionando e me deixando sem fala!
— Não é que não gosto dela. Apenas não sou a favor de algumas atitudes
dela... — minto.
— Isso é não gostar.
— Você é sempre assim? Inteligente demais?
Ela sorri.
— Sou esperta, fazer o quê!
— Notei. Mas é melhor ir para a cama, está tarde, antes que seu pai
acorde e veja você acordada.
— Ele vai apenas dizer: “Sophie, vai para cama já!” — ela diz com uma
voz grossa, e rio.
— Mas vamos evitá-lo de dizer isso?
— Está bem. Me leva até o quarto?
— Com certeza! Vou garantir que ficará longe da internet.
Ela ri.
Fomos para seu quarto. Ela deita na cama.
— Boa noite, espertinha!
Ela sorri.
— Boa noite, princesinha Escobar. — Fico boquiaberta.
— Você realmente precisa ficar longe da internet.
Ela ri.
Apago a luz e saio de seu quarto.
Entro no quarto que estou, a tempo de escutar meu celular tocar.
O nome do Henrique aparece na tela.
— O que você quer? Não tem noção da hora?
— Daiane, onde está? Porra, está todo mundo preocupado. Você não
usou cartões, nem a fazenda. — Sua voz é de desespero.
— Sério que estão me rastreando? Que ridículo! — Rio.
— Tentamos até seu celular e carro, mas não encontra o lugar. Por
favor, estamos preocupados. Desculpe o que falei. Porra, eu estava nervoso.
Volta para casa.
— Henrique, acorda! Sou maior de idade, vacinada, e não preciso do
dinheiro de vocês. Então cuide da sua filha, e sua mulher, e deixe que da minha
vida cuido eu. Não interessa aonde estou, e pouco interessa para onde irei
depois. Apenas me deixe em paz.
— Daiane, para de putaria. A mãe está angustiada. Você deixou a
audiência que tinha de lado.
— Eu estou bem. Muito bem. Não precisa ninguém se preocupar.
— Pode, pelo menos, dizer em que lugar está?
— Em uma fazenda. Satisfeito?
— Não. Eu não estou satisfeito.
— Problema seu!
— Nos mantenha informados. Você está sem segurança.
— Henrique, a única pessoa que vai precisar de segurança é uma idiota
que calhei de encontrar, caso ela me provoque. Vai dormir.
— Se cuida. Te amo, pirralha!
— Eu sei, também amo você. Amo todos vocês, mas preciso ficar longe
um tempo. Beijos. — Desligo.
Essa noite está cheia de questionamentos.
Saio do quarto. Preciso de água e ar.
Vou para a cozinha, que é iluminada pelos clarões da tempestade. Encho
um copo com água.
Abro a porta que dá para o quintal, e encosto no batente. Fico observando
a tempestade. Bebo um pouco da água e fico segurando o copo.
Nunca pensei, que seria bom, ficar um pouco longe da cidade, e da
família. Viver um pouco da independência que tenho direito. Vivi minha vida em
função de todo mundo, e esqueci de mim. Não estou com raiva pelo que me
disseram em casa, apenas chateada, mas logo passa. Ficar longe por um tempo
vai me fazer muito bem.
— Gosta de tempo assim?
Viro-me assustada e sorrio.
— Gosto sim, Joana.
— Eu também. Ela acalma. Mas também nos ajuda a refletir.
— E como!
— Fugir dos problemas não vai resolvê-los.
— Não estou fugindo.
— Sempre dizemos isso, mas vivemos em constante fuga.
— Foram problemas familiares. Digamos que estava fazendo o
sobrenome Escobar ser citado demais, e quando precisei não tive apoio das
pessoas que tanto ajudei.
— Eu sei como é isso. Por isso não coloco minha mão no fogo por
ninguém, porque já fui queimada. Por mais que amemos alguém, temos que
limitar esse amor e nos colocarmos em primeiro lugar as vezes.
— Percebi isso... Demorei, mas percebi.
— Antes tarde do que nunca. Vocês jovens fazem tantas burradas, que
essa frase se tornou constante em minha boca.
Sorrio.
— Até que eu não faço tantas.
— Poderia ensinar ao meu neto, então. Porque eu quero acreditar que
Poliana fez alguma mandinga para prender ele. Não pode ser burro ao nível que
está sendo. Tem que ser mandinga.
Rio.
— Ele deve amar ela. Tem louco para tudo.
Ela ri.
— Amar ela? Menina, se aquilo é amor, desisto da humanidade.
— Não posso dizer nada a respeito. Para o amor, eu sou um desastre. No
entanto, nunca namorei, sempre foram casos de uma noite, e nada mais.
— Melhor ser assim do que encontrar um cara estilo Poliana.
Sorrio.
— Pelo visto, ninguém realmente gosta dela.
— Acho que nem ela mesmo se gosta. Por isso digo que foi mandinga
em cima do Jacob. Mulher interesseira como a mãe, vulgar, e nem sequer aceita
a Sophie. Tenho muitos motivos para não gostar dela, e você quais os motivos?
— Está realmente na minha cara que não gosto dela — comento
sorrindo. — Bom, minha família teve alguns problemas por culpa dela, e eu
nunca fui com a cara dela.
— Nunca foi com a cara de quem?
Joana grita com a voz que surgiu.
— Menino, quer me matar? Deus me livre!
Ele sorri.
— Fica fofocando, e não vê as pessoas chegarem — Jacob diz sorrindo.
— Você me respeita! — Ela acerta um tapa em braço e, em seguida, pega
uma garrafa de água na geladeira.
— Vou dormir. Boa noite! — Ela para ao lado dele e me olha. — Eu digo
que é mandinga. Lua de mel, e nem sexo, pelo visto, está acontecendo — diz
apontando para ele e me engasgo com a própria saliva. Bebo o restante de água
no meu copo.
Ela se afasta, rindo. Coloco o copo na pia.
— Não ligue para o que ela diz.
Concordo sorrindo.
— Vou dormir.
— Por que foge de mim?
— Não estou fugindo. Apenas vou dormir.
— Percebi que evita contato visual, e sempre arranja uma oportunidade e
foge.
— Impressão sua — minto.
— Duvido, mas fingirei que acredito.
Que se dane, vou perguntar.
— Por que se casou com ela?
Ele me olha impressionado.
— Porque...
— Amor, o que faz aqui? — Ele é interrompido por ela.
— Já vou indo.
Saio da cozinha o mais rápido possível. Preciso sair daqui, antes que eu
abra minha boca de vez sobre Poliana. E que merda foi essa de questioná-lo?
Quanto menos eu souber, será muito melhor.

Jacob Casagrande

Olho para Poliana, que está me encarando seriamente.


— Sério? Sozinho com ela na cozinha!
— Poliana, não comece com seus surtos de ciúmes — respondo sem
paciência.
— Surtos com razão. Isso é hora de você estar fora da cama da sua
esposa e ainda com outra na cozinha?
— E isso é hora da minha esposa ficar me vigiando para saber o que
estou fazendo? Não me enche a porra do saco! Pare com esse ciúme idiota!
Quem vê pensa que sou próximo da Daiane há anos. Estávamos conversando.
Menos, Poliana.
— Não interessa. Procure na internet e veja a fama dela por lá. Sei bem
como Daiane é. Então não quero você de conversa com ela — desdenha.
— Poliana, se você não se garante, não encha a porra das minhas bolas.
Com licença, que até a sede eu perdi.
Passo por ela, deixando-a sozinha na cozinha. Se tem uma porra que
odeio fortemente em Poliana é o ciúme com qualquer mulher que ela tem, mas
com a Daiane está sendo demais. Não tenho nem intimidade com ela, e a louca
vem surtar. Se arrependimento matasse, eu estava fodido. Sei muito bem porque
me casei, e tive motivos nobres para tal. Mas está sendo foda. Nunca pensei que
fazer o bem alguma vez fosse ser sufocante para mim.
Vejo a luz do quarto da Sophie acesa. Vou até seu quarto, e a encontro na
cama, mexendo no tablet.
— Isso são horas?
Ela me olha assustada.
— Estou sem sono.
Aproximo-me e pego o tablet da sua mão. Ela estava jogando. Bloqueio a
tela e coloco em cima da cômoda.
— Dorme comigo hoje, pai?
Olho para ela e sorrio.
— Vou pensar no seu caso. — Dou uma piscadela e saio do quarto.
Vejo a Poliana entrando em nosso quarto.
— Vou ficar com a Sophie.
— Sério? Vai me deixar sozinha? Estamos em lua de mel. Já não basta
termos que voltar antes do tempo? — diz irritada.
— Triste, não é? Mas minha filha precisa de mim e sempre será ela em
primeiro lugar. Boa noite, querida — falo com ironia, e ela entra no quarto
batendo a porta com raiva.
Entro no quarto da Sophie e fecho a porta. Apago a luz, e deito ao seu
lado na cama. Ela deita a cabeça em meu peito. Cubro nós dois. Começo a mexer
em seu cabelo com carinho.
— Pai, por que não desistiu dessa bruxa? Ela é irritante.
— É complicado, meu amor.
— Sempre diz isso, desde que noivou com ela.
— Filha, nem eu sei explicar — minto e isso me dói. Nunca gostei de
mentir para a minha pequena.
— A bisa disse que você vai acordar do seu erro.
— O problema é que eu sempre estive acordado. Isso é pior, princesa.
— Vocês, adultos, são complicados.
Sorrio e dou um beijo em sua testa.
— Dorme, está bem tarde.

Daiane Escobar

Já é cedo. Joana está na cozinha.


— Bom dia, menina!
— Bom dia!
— Vou para o estábulo, Sophie já me espera lá. Tome café.
— Claro. E o casal, onde está?
— A coisa teve um chamado e foi trabalhar, e não gostou nada, porque,
ao que parece, não queria meu neto com você.
Rio.
— Coitada de mim. Estou sendo uma anja. Sou tão santa as vezes —
brinco e ela sorri.
— Jacob está no escritório, trabalhando. E só para você saber, se a coisa
está com ciúmes, ela vê motivos para isso.
— Mas eu não fiz nada! — digo irritada.
— E precisa? Olhe para você e olhe para ela. Só se fosse louca, não teria
ciúmes. — Ela sorri e passa por mim.
É, ganhei meu dia. Irritei Poliana, sem estar presente.
Sento-me e tomo meu café. Só bem alimentada para aguentar essa louca.
Essa chuva tem que passar logo, porque preciso sumir daqui, e sei que a Joana
não vai deixar eu sair na chuva.
Termino de comer, e lavo o que eu sujei.
— Eu estou pensando em matar a pessoa que largou a audiência e sobrou
para eu substituir. Porra, estou ficando louco para me inteirar melhor. Pior que
ainda não sei quem foi a pessoa, vou saber só quando for para cidade. — Rio,
enquanto enxugo as mãos. — Que ótimo, meu suplício te diverte.
— Pode matar, mas faça bem feito o crime! — Ele fica me olhando sem
entender. — Prazer, Daiane Escobar, a pessoa que largou a audiência, que você
vai substituir! — Estendo a mão para ele.
— Puta que pariu! Vou substituir você?
Concordo rindo.
— Estou fodido. Eu iria com um terno preto, mas é melhor ver uma saia,
não é? Tenho que estar ao seu nível nesta audiência, mas sei que, como
promotor, não será, é melhor eu tentar na vestimenta.
Gargalho. Ele ri.
— Eu não uso saia. Apenas quando quero impressionar — digo com
malícia e ele sorri. E como não reparei que o sorriso dele é lindo?
— Então é assim que joga? Terei que depilar as pernas então. Porra, deve
doer demais.
Rio.
— Te empresto uma meia-calça.
— Fechado! — Ele ri.
— Falando sério. Me desculpe estragar sua lua de mel. Imagino que foi
por isso que retornou — tento ser educada.
— Foi um dos motivos.
— Teve outros?
Ele me olha sorrindo. Esse maldito sorriso de menino levado.
— Desculpe, sou curiosa as vezes.
— A lista é enorme. Na verdade, essa audiência me salvou.
— Posso te ajudar para compensar.
— Seria trapaça.
— Eu chamaria de ajuda ainda.
— Gosto de trapaça. Aceito sua ajuda.
Sorrio.
— Mas antes preciso comer.
Concordo.
— Vou pegar meu notebook. Te espero na sala.
— Me espere no escritório. Final do corredor. Última porta. Está aberta,
você vai ver.
— Pode deixar.
Saio da cozinha e vou buscar meu notebook que deixei dentro de uma
das malas.

Após ficarmos horas trabalhando, e eu deixá-lo a par de tudo que eu


sabia, estou sentada, ainda no chão do escritório com o notebook fechado no
colo e ele está na cadeira com as pernas na mesa.
— Vai se sair bem. Tomara que consiga sair daqui com essa chuva.
— Dá para sair com a chuva, é minha avó que não quer deixar você ir.
Mas também é bem perigoso. A estrada está um caos.
— Já percebi isso. E ainda não fui, porque gostei dela e de ficar em um
lugar diferente, mas pretendo ir embora amanhã. Vou ficar na cidade, mas em
um hotel.
— Se pretende fazer isso, não diga a dona Joana, ela jamais deixaria você
sair para ir a um hotel.
Sorrio.
— Acredito que meu carro não passaria na lama que deve estar, o que é
surpreendente, porque na fazenda da minha família, ele passa.
— Para seu azar, foi acontecer justo aqui. — Ele sorri.
— Não é para tanto. Sua avó é divertida e sua filha um amor.
— Amor? Você tem sorte dela ter gostado de você. Sophie pode ser bem
terrível quando quer.
Sorrio.
— Não imaginei que poderia ter uma filha de dez anos.
— Ninguém imagina. Não deixo ela sair na mídia. Eles podem ser bem
terríveis. E também pela segurança dela. Ser promotor nem sempre é seguro,
mas você deve saber.
— E como sei! Faz bem evitar ela na mídia. Minha família tenta ao
máximo evitar as crianças na boca dos jornais... Mas, e a mãe dela?
Ele se levanta e fecha a porta. Depois se senta em cima da mesa.
— Longa história — ele diz me olhando atentamente.
— Estamos com tempo — incentivo-o a contar.
— Conheci a mãe dela na faculdade. Ela engravidou, pois não tomamos
todas as precauções como já deve imaginar. Ela não era nenhuma santa, e eu
sabia, mas éramos jovens, e foi o famoso romance de faculdade. Um dia
terminamos, ela ficou com outro cara, isso no decorrer da gravidez, e foi aí que
começou a usar drogas, ir para lugares terríveis. Até que recebi a ligação que ela
estava no hospital. Tinha sofrido um acidente de moto, e teve a Sophie antes do
tempo. Ela não resistiu e morreu. Claro que assumi minha filha, afinal, não
poderia pagar pelo erro dos pais. Os médicos diziam ser um milagre ela ter
nascido sem nenhuma sequela. Mas para ela sempre dizemos que a mãe foi uma
linda mulher, de boa índole e a amou muito... Ela não merece saber quem era a
mãe de verdade, pelo menos, não agora.
Fico emocionada com sua atitude.
— Uau... Sem palavras. Sophie teve sorte de ter você como pai.
— Eu que tive sorte de ter ela. Logo depois, minha mãe faleceu e foi a
Sophie que me deu forças para continuar.
— Nossa! — exclamo boquiaberta. — Sua mãe deve estar muito
orgulhosa de você. Porque eu estaria. Jovem, cuidou da filha, e ainda teve que
aguentar o baque de perdê-la.
Ele sorri.
— E como foi que ela...
— Ela era policial. Morreu em serviço.
— Sinto muito. De verdade!
— Faz tanto tempo já. Dez anos. A idade da Sophie. Ficou mais fácil
falar do assunto com o tempo.
— Sei como é. Já passei por uma grande perda.
— Seu pai... Foi noticiado. Foi um grande baque para todos que admiram
sua família.
Ficamos nos observando. Ele é muito bonito. Seus olhos acinzentados
são completamente atraentes. Chamam atenção. É o que mais chama atenção
nele. Que olhos lindos.
Preciso sair desse lugar, urgente. Porra, isso não vai acabar bem!
— Melhor eu ir. — Levanto com cuidado, pois estou de vestido, e tudo o
que menos preciso agora é mostrar minha calcinha.
Ele me observa de um jeito intenso, e não sei se me sinto desconfortável
ou despida, e normalmente gosto de ser despida por homens que eu queira...
Mas... Porra, o que estou pensando? Foco, Daiane Gabrielle!
— Espero que se saia bem na audiência.
— E irei. Tive a melhor professora!
Sorrio.
Mal sabe o modo que estou me vendo de professora.
Abro a porta e saio.
Entro rapidamente no meu quarto e fecho a porta. Jogo-me na cama com
o notebook. Solto o ar com força.
— Daiane, precisa sair desta casa, logo. Esse cara vai ser seu pecado.
Desde o dia que ele se apresentou para mim e minha família, em um
maldito evento, já tinha ficado um pouco interessada, mas ficando agora na
mesma casa, está sendo foda. Preciso ir, antes que eu faça uma merda.
— Ele é casado! Ele é casado! Ele é casado! Foca nisso.

Jacob Casagrande

Saio do escritório. Preciso de muito ar. Porra, o que aconteceu?


Passo pela minha avó na sala.
— O que foi, menino? Está estranho.
— Nada. Vou para o estábulo.
— Só vai para lá quando vai pensar, ou tocar violão. O que houve?
— Nada... Nada.
Vou para o estábulo o mais depressa possível, e nem tento me desviar da
chuva.
Pego o violão que está no canto e me sento no chão.
— Jacob, que porra está acontecendo? — questiono a mim mesmo. —
Não posso fazer isso, inferno! Preciso manter distância. Talvez seja melhor ela ir
embora mesmo.
Estou fodido!
Começo a dedilhar All of me no violão e me permito cantar. Se tem uma
coisa que me faz relaxar e pensar, é tocar e cantar. Nessa loucura da minha vida,
eu precisava de um modo de relaxar, e porque não o modo com que aprendi com
minha mãe?

“What would I do without your smart mouth


Drawing me in, and you kicking me out
Got my head spinning, no kidding, I can’t pin you down
What’s going on in that beautiful mind?
I’m on your magical mystery ride
And I’m so dizzy, don’t know what hit me, but I’ll be alright”

Concentro-me na música, e vou relaxando os músculos, que só agora


notei estarem tensos.

“My head’s under water


But I’m breathing fine
You’re crazy and I’m out of my mind”

Abro os olhos e vejo de quem estou querendo fugir, e sei que não é uma
miragem. Ela me observa, surpresa. Não paro o que estou fazendo, porém, desta
vez, de olhos bem abertos focados nela.

“How many times do I have to tell you


Even when you’re crying you’re beautiful too
The world is beating you down, I’m around through every mood
You’re my downfall, you’re my muse
My worst distraction, my rhythm and blues
I can’t stop singing, it’s ringing, in my head for you”

Ela entra mais enquanto continuo com a música. Se aproxima parando ao


lado de um dos cavalos, que aproxima dela e ela o acaricia.
Talvez eu seja muito mais fã em especial de uma jovem da família
Escobar. Fazer o que, sempre a admirei, tanto no profissional quanto na beleza.
E desde o evento que a encontrei, nunca a tirei da mente. Só não sei o porquê.
Pode ser o fato de eu ser fã dos Escobar, como também pode não ser.
Termino a música sob seu olhar. Sorrio ao ver que ainda está
impressionada.
— Sou romântico, fazer o quê! — digo, colocando o violão de lado.
— Se você é romântico, eu não sei. Mas que canta e toca bem, isso eu
posso garantir que você faz. Esconde mais algum talento? — pergunta sorrindo.
— Nem imagina... — Ela fica ruborizada e rio. — Então?
— Então o quê? — pergunta confusa.
— Veio até aqui...
Ela franze o cenho como se quisesse se lembrar do que veio fazer e isso
me diverte.
— Sua avó pediu para te avisar que o almoço está pronto. E ainda bem
que vim. Assisti a um belo show de camarote.
— A primeira vez é gratuita, depois irei cobrar.
— Pago qualquer valor. — Ela sorri.
Porra, ela precisa parar de sorrir desse jeito meigo que carrega uma certa
malícia.
Levanto e ajeito o violão no lugar que estava.
— Aonde aprendeu tocar tão bem e a cantar também?
— É um dom! — brinco e ela revira os olhos.
— Ser convencido deve ser um dom também.
— Não. Isso é questão de prática.
Ela me empurra.
— Você é irritante! — Ela sai na minha frente.
— Já me chamaram de muitas coisas, menos irritante.
— Pode ter certeza de que quiseram te dizer! — ela grita, andando rápido
na minha frente, se protegendo da chuva.
— Duvido. Sou bom demais para ser irritante. — Rio.
Ela se vira para dizer algo, mas escorrega, caindo para fora da área
coberta e indo para a chuva. Aproximo-me rapidamente, me molhando
completamente. Ergo ela e maldita a hora que fiz isso. Ela fica completamente
colada a mim. Seu vestido está encharcado e marcando todo seu corpo enquanto
apoia as mãos em meu peito. Seus olhos estão vidrados nos meus.
— Fui te xingar, e me ferrei... — ela sussurra.
— Se machucou? — pergunto, enquanto minha respiração está acelerada.
— E-eu... — ela tenta dizer, mas não consegue.
— Daiane, se machucou? — pergunto com a voz firme. Pressiono ainda
mais seu corpo ao meu.
Eu estou perdendo o controle!
Seus olhos descem para a minha boca. Sua respiração é intensa.
— Papai! — Sophie grita.
Daiane se afasta rapidamente. E sai em disparada em direção a casa.
Sophie fica olhando para Daiane, e eu faço o mesmo.
— Pai? — ela me chama.
— Vamos!
Eu estou definitivamente fodido! Daiane precisa ir embora logo.
Quatro

Daiane Escobar

Estou sentada no chão do banheiro, em estado talvez vegetativo.


— Daiane, que merda está acontecendo?
Nunca pensei que seria tão grata a uma criança, como sou a Sophie. Se
ela não tivesse chegado, aconteceria o que eu queria, mas que não deveria. Eu
não sou assim. Eu preciso manter controle, e para isso preciso sumir daqui. Tudo
o que não preciso é arranjar problemas com homem casado. Se uma merda dessa
cai na boca da mídia, eu acabo com o sobrenome Escobar.
Levanto e entro no chuveiro. Estou suja com a lama e encharcada.
Meu banho é rápido. Me seco, coloco uma calça jeans e uma blusa de
mangas. Preciso ir embora hoje. Chega!
Calço as botas de quando vim. Arrumo meu cabelo e logo em seguida as
minhas coisas.
Pego meu celular e tem ligações perdidas da minha família. Depois falo
com eles.
Saio do quarto e vou até a cozinha, onde escuto vozes. Sophie está
sentada ao redor da mesa com cara de poucos amigos e Joana serve comida a ela.
Mas o único olhar que sinto em mim é do homem sentado ao lado da filha. Ele já
trocou de roupa, e... que porra, fica lindo em qualquer uma!
— Olha só quem apareceu. Eu já iria atrás de você para saber o que
aconteceu. Jacob contou que caiu.
— É... eu estou bem. Joana, eu só vim para agradecer tudo o que fez por
mim. Mas vou embora. Preciso ir. Não se preocupe, que irei em segurança, vou
pedir para o meu segurança vir me buscar aqui.
Ela me olha espantada e depois olha para o Jacob, que fica olhando para
qualquer coisa na mesa.
— Vai tarde! — Sophie diz e fico surpresa.
— Sophie, isso são modos?! — Joana a repreende.
— Está tudo bem, Joana — digo, tentando não mostrar que realmente
estou chateada pelo que ela disse.
— Não vai embora, antes de almoçar conosco!
— Estou sem fome. Vou esperar na sala.
— Nem pensar! Daiane, almoce conosco — ela insiste.
Sento-me para almoçar, e estou quase vomitando, por estar forçando a
comida descer. Sophie passa a refeição inteira me encarando. Conversa com sua
bisavó, e com o pai, mas não desvia os olhos de mim. Não a culpo, ela não é
bobinha, sabe o que viu, e já percebi que tem um enorme ciúme do pai.
Termino de comer, e juro que foi a refeição mais difícil da minha vida.
— Eu limpo aqui, vão vocês — Joana diz.
Eu não penso duas vezes, coloco meu prato na pia e saio em disparada da
cozinha. Pego meu celular no quarto e ligo para Estefan.
— Senhorita?
— Estefan, preciso que venha me buscar. Vou te passar os detalhes por
mensagem. O lugar tem muita lama, e chove sem parar. Meu carro vai ter que
aprender a voar para sair daqui rapidamente.
— Ficarei no aguardo.
— Não diga a ninguém onde estou, e isso não é um pedido, é uma
ordem!
— Sim, senhorita! — Desligo o celular.
Envio uma mensagem para ele, explicando detalhadamente o lugar, pois
sei que o GPS não achará aqui facilmente. Pego todas as minhas coisas e levo
para a garagem, onde começo a guardar em meu carro, ficando apenas com o
celular em meu bolso e minha bolsa. Retorno para a casa e, para meu azar, dou
de cara com a Poliana na sala, junto ao Jacob e a Sophie. Ela me olha com
desdém, o que não é novidade alguma.
— Ainda aqui... Que maravilha! — ela tenta soar animada, mas falha.
Não consegue fingir que gosta de mim, e isso é recíproco.
— Você deveria pegar carona com ela, Poliana — Sophie diz e me
controlo para não rir.
— Sophie, agora não, por favor! — Jacob a repreende.
— Mas, pai...
— Eu disse, agora não! — ele diz com rigidez. A menina me encara com
raiva, e Poliana percebe, pois franze o cenho.
— Vou para o meu quarto! — ela diz e sai da sala.
— Perdi algo? Até eu ir trabalhar, ela te adorava — Poliana me
questiona.
Não respondo a sua pergunta. Saio da casa e fico ao lado de fora na parte
coberta. Estefan avisa que já está a caminho.
A porta se abre. Reviro os olhos ao ver quem é. Ela fecha a porta e
caminha parando de frente para mim, onde se senta na mureta.
— Fiquei impressionada. Sophie normalmente não gosta das mulheres
que se interessem por seu pai. De você ela gostou de primeira, e agora te olha
com raiva, e foi dura nas palavras quando sugeriu que eu fosse embora com
você. Olha, você me surpreendeu, Daiane. Que você era uma qualquer, todos já
sabiam, mas ao ponto de dar em cima de homem casado, nossa, isso é baixo
demais, até para você. — Ela me olha e sorri. — Devo dar os parabéns! — Ela
bate palmas.
— Não fale o que não sabe, e não me provoque. Não sabe do que sou
capaz. E quem é você para falar qualquer coisa? Pelo que me lembro, deu em
cima do meu irmão e tentou separar ele da Liziara.
Ela ri.
— Isso foi passado. E ele não tinha qualquer relacionamento com ela.
Que eu me lembre, ele disse que não eram namorados.
— Não tente jogar comigo, porque não jogo para perder, Poliana. É
melhor você tomar muito cuidado. Meus irmãos e meu tio nada fizeram com
você, porque eram homens, mas eu não tenho um pingo de medo de marcar essa
sua cara de pau.
— Daiane, a única sobrando aqui é você. Jacob é meu. Se conforme com
isso. Ele não tem olhos para outra que não seja eu. Não tente tirar o que é meu.
Os Escobar já me ferraram demais, me mandando para esse fim de mundo
novamente. Eu posso não ter ficado com o David, mas você não vai me tirar o
Jacob. Até porque vocês nem se conhecem direito. Seja lá o que for, é
passageiro, então não se iluda. — Sorri.
— Até concordo com a parte que minha família te ferrou. Mas sobre o
Jacob só ter olhos para você? Porra, você é bem míope, então comece a olhar
bem de perto.
Ela se levanta com raiva. Se aproxima de mim, e ergue a mão.
— Bate! Acerta esse tapa em mim. — Aproximo-me ainda mais dela. —
Eu dou um milhão para não entrar em uma briga, mas quando entro, dou o
Banco Central e a Casa da Moeda, para não sair dela. Você sabe que mexer com
minha família não acaba bem, mas não experimente mexer comigo, que acabará
bem pior. Da última vez que você agiu como uma imbecil e quis estragar a vida
da Liziara, e quase coloca a vida dela em risco no dia que foram livrar ela,
porra... eu deixei passar, afinal, eu sabia que você não passava de uma coitada.
Agora, o negócio é diferente. — Ela abaixa a mão. Está tremendo de raiva.
— Isso não acabou. Ele é meu, Daiane. Jacob é meu. Você se garante
porque é uma Escobar. Mas mexeu com a pessoa errada! — diz com ódio.
— Poliana, só ameace a mim, se você tiver descoberto como fugir sem
que eu te ache. Do contrário, tome muito cuidado. E não se preocupe, se o Jacob
te largar, não vai ser por minha causa. Ele não precisa de outra mulher para
destruir esse casamento, a dele fará isso sozinha.
Entro na casa, dou de cara com o Jacob.
Eu definitivamente estou pagando meus pecados.
— Eu já sabia de tudo isso que ela fez... — Olho sem entender. —
Escutei a conversa de vocês. Na verdade, acredito que a fazenda inteira tenha
escutado.
— Cara, não sei se fico chocada por você se casar com essa mulher, já
sabendo o tipo dela, ou por sua cara de pau em me dizer isso! — cuspo as
palavras, pois nada mais importa.
— Daiane, eu não me casei com ela, porque eu aceito suas atitudes...
— Jacob, não me interessa saber. Isso é problema seu! — digo alterada.
Passo por ele, e vou atrás da única pessoa na qual não quero que fique
chateada comigo, quando eu for embora.
Entro em seu quarto e ela está deitada na cama mexendo em seu tablet.
Ergue o olhar, mas volta ao que estava fazendo. Encosto a porta e me aproximo,
sentando ao seu lado na cama.
— Sophie, o que você viu hoje não significa nada. — Ela deixa o tablet
de lado e se senta na cama, com as pernas cruzadas.
— Eu não sou bobinha. Eu sei que quase se beijaram. Eu sempre vejo
mulheres querendo meu pai, e pensei que você fosse diferente. — Seus olhos
estão repletos de lágrimas e isso me mata por dentro.
— O que aconteceu foi um acidente. Eu não tenho e nem terei nada com
ele. Seu pai é casado, e eu jamais iria querer algo com um homem nessas
circunstâncias. Entende?
Ela concorda.
— Eu sempre tive que dividir meu pai com o trabalho, mas depois era
com as mulheres que ele saía, mas eu sabia que não era nada. Depois, quando a
Poliana apareceu, eu tive que dividir ele com o trabalho e com ela, mas desde
que se casaram, eu quase não tenho tempo com ele. Ela sempre faz de tudo para
me tirar do caminho. — As lágrimas escorrem por seu rosto, e eu limpo com
carinho.
— Sophie, ele te ama, e não tem mulher alguma que vá tirar ele de você.
Quando eu era pequena também morria de ciúmes do meu pai, mas com o tempo
vi que ele jamais deixaria de me amar por outras coisas ou pessoas.
— Mas é diferente. Nunca conheci minha mãe, cresci com meninas da
minha idade me provocando por isso, e meu pai arruma uma mulher chata. Só
tenho minha bisavó, mas nem sempre ela tem tempo para mim, porque tem os
trabalhos na fazenda. Eu só queria ter meu pai mais tempo para mim. Por isso
fiquei com raiva de você, já tenho que dividir ele com a Poliana, não queria ter
que dividir com você também.
Sorrio.
— Não tenho nada com ele. Não se preocupe. O que aconteceu foi um
acidente.
Ela me olha desconfiada.
— Eu vou embora hoje, não vai precisar ter medo mais.
— Me desculpa? — ela pede, e eu concordo. — Vai vir me visitar?
— Quem sabe. Ou você pode ir me visitar na minha casa em São Paulo
também. Mas vou te deixar meu número, e você me liga sempre que quiser.
Ela concorda animada. Se levanta e pega o celular.
Anoto meu número em seu celular e anoto o dela no meu.
— Amigas? — pergunto e ela sorri.
— Sim! — Ela me abraça e a aperto forte. Sempre fui apaixonada por
crianças, elas me acalmam mesmo quando fazem coisa errada.
— Vou falar com sua bisavó, mas antes de eu ir, eu vou querer um outro
abraço, combinado?
Ela concorda sorrindo.
Saio do seu quarto e procuro por Joana. Encontro-a na despensa. Ela está
conferindo alguns alimentos.
— Se resolveram? — ela me pergunta, sem tirar os olhos das prateleiras.
— Você e Sophie. Ela me contou o que viu.
— Não foi nada. Conversamos e terminamos amigas.
— Crianças são sábias e, na maior parte das vezes, sinceras. Ninguém as
engana por muito tempo. — Franzo o cenho.
— Sei onde quer chegar, e não tem nada.
— Conheço meu neto. Vi como ele te olha, e como você olha para ele. O
arrependimento deve estar destruindo ele por dentro.
— Joana, me desculpe, mas a vida pessoal dele não cabe a mim. — Ela
retira os óculos, e me observa.
— Podem pensar que é apenas atração, afinal é normal se sentir atraído
por alguém. Só não é normal essa atração gerar tanta confusão em menos de uma
semana. — Fico sem graça.
— Não estou atraída por ele.
— E você quer que eu acredite nisso? — Sorri. — Ele sempre foi fã da
sua família, então pode ter certeza de que não é de agora que ele está encantado
por você. Agora, se não está atraída por ele, por que foge?
— Não estou fugindo. Apenas tenho que ir embora, porque não era para
cá que eu viria. Mas, por que quer tanto me prender aqui? — questiono.
— Porque eu acredito em milagres, e quando te vi naquela porta, tinha
acabado de pedir aos céus, que Jacob largasse aquela mulher que está
destruindo-o. Quando te vi, eu enxerguei o meu milagre. Eu amo demais esse
meu menino para vê-lo sofrendo assim. Eu sei que ele não a ama, mas ainda não
descobri o porquê se casou. Eu daria essa fazenda, e todas as propriedades da
família Casagrande, para ela sumir da vida dele. Pensei que você poderia fazê-lo
ver que tem mulheres melhores neste mundo — diz emocionada.
— Joana, acho linda sua atitude, mas ele é adulto e sabe onde se meteu.
Eu não sou um milagre, e nesta relação, eu não quero ser. Eu posso sair com
muitos homens e não me envergonho disso, mas conheço bem cada terreno que
piso, e este é perigoso, e estou procurando paz, não mais problemas. Sei que a
mídia diz muitas coisas sobre mim, e algumas pessoas também, e posso aceitar
ser chamada de tudo, menos de destruidora de lares, esse cargo eu dispenso.
Dizem que jamais devemos usar a palavra “nunca”, mas neste caso eu digo. Eu
nunca saio com homens casados e nunca irei sair.
— Tudo bem. Eu jamais te pediria algo assim. Desculpe por te colocar
em uma situação terrível.
Sorrio.
— Está bem. — Ela me abraça.

Estefan chega, e coloca as coisas em seu carro. Disse que vão vir buscar
meu automóvel.
Despeço-me da Joana e da Sophie. Jacob e Poliana não vejo, e dou
graças a Deus por isso.
A chuva não amenizou, mas sairia até em um dilúvio, para não ficar mais
nem um segundo aqui.
Entro no carro e Estefan se vira para trás.
— A Sra. Escobar está bem preocupada — ele diz. E só então me lembro
de uma coisa.
— Merda, é por isso tantas ligações no meu celular e eu perdi todas e
esqueci de ligar. Amanhã é aniversário dela. Como eu posso ter esquecido? Que
péssima filha! Estefan, vamos para casa. E não esqueça que meu carro precisa
sair daqui hoje. — Ele concorda e se vira para frente.
O caminho para sair da estrada da fazenda é bem tenso, mas
conseguimos passar. Estefan é um bom motorista e sabe o que faz. Pegamos o
atalho da estrada, que nos leva direto para a rodovia.
Ligo para minha mãe, que atende rapidamente.
— Pelo amor de Deus, me diga onde está!
— Daqui algumas horas chego em casa. Não avise ninguém. Depois
conversamos.
— Graças a Deus. Eu estou desesperada. Te aguardo. Te amo, filha!
— Também te amo. Beijos. — Desligo o celular e jogo na bolsa.
Encosto a cabeça no banco, e imagens do Jacob cantando invadem minha
memória.
— Estefan, dá para atirar nas memórias sem atingir o cérebro? — Ele me
olha pelo retrovisor e sorri.
— É, então estou bem ferrada.
— Senhorita, sei que pediu para que eu não dissesse nada. Mas o Simon
é meu supervisor, e eu tive que dizer.
— Tudo bem, Estefan.
— E a senhorita sabe que o Simon não esconde nada do senhor Marcos,
não é?
— Sei. E é por isso que já estou me preparando para aguentar a chuva de
perguntas.
— Sinto muito — ele é sincero em suas palavras.
— Relaxa. Até parece que não conheço como funciona essa família. O
pateta chefe descobre e fofoca para o pateta número um, que fofoca para o pateta
número dois, então os três patetas se juntam e vão patetar a vida alheia. —
Sorrio e vejo ele fazendo o mesmo. — Eu sei, buguei sua mente. — Ele ri.

Estou no sofá, escutando há exato vinte e cinco minutos, minha mãe


falando o quanto ficou preocupada, e que eu sou uma louca.
Quando ela termina de falar, respira exausta e sorrio.
— Que ótimo, ainda sorri! Eu vou enfartar com vocês, tenho certeza
disso!
— Mãe, não sou mais uma criança. Não precisava ficar desse jeito.
— Vocês todos sempre serão crianças para mim. — Sorri. — Vou pegar
um chá, para me acalmar mais. — Ela se levanta.
— Melhor escutar o que tenho para dizer, aí depois já preparamos um
barril de chá.
Ela me olha desconfiada.
— Daiane Gabrielle Escobar, o que você aprontou? Eu sou cardíaca!
Rio.
— Mãe, você não é cardíaca, e deixa de drama. Agora sei a quem o
Henrique puxou. — Reviro os olhos.
— Diga logo! — diz nervosa, mas não se senta.
— Eu não fiquei em um hotel, nem pousada. Eu fiquei em uma fazenda,
porque meu carro ficou atolado e a chuva era muita na cidade, então a dona do
lugar, uma senhora, me ajudou e fiquei lá.
— Pelo amor de Deus! Menina, precisa aprender como contar as coisas
para alguém. Isso me deixou feliz, pois mostra que neste mundo existe pessoas
boas.
— Mas...
Ela coloca uma mão no peito e a outra na cintura. Me controlo para não
rir.
— Ela tem um neto. Promotor Jacob Casagrande.
— Já ouvi falar dele. Ótimo rapaz.
— Ótimo rapaz e marido da Poliana Xavier. — Ela cai sentada no sofá.
— Eu disse para ficar sentada!
— Daiane, o que você fez? — pergunta desesperada.
— Nada! Eu não sabia que a fazenda era da avó dele, e nem que ele tinha
se casado com ela. Sabia apenas que eram noivos, mas não imaginaria que ele
chegaria com ela e que tinha uma filha.
— Poliana é mãe?! — pergunta em um grito e arregala os olhos.
— Não. É filha apenas dele. — Ela está pálida. — Mãe, eu não fiz nada.
Não precisa ficar assim — digo desesperada.
— Daiane, sei o quanto não suporta a Poliana. Não tenho como não ficar
assim, após descobrir isso. — Encosta-se no sofá e fica me olhando chocada.
— Mãe, quase nos beijamos — solto a bomba.
— O QUÊ? — grita.
— Foi apenas um momento bobo. Peguei minhas coisas e vim embora,
mas a Poliana veio me confrontar e não me segurei.
— Eu estou enfartando. Olha, minha mão está tremendo. Daiane, eu
estou tremendo! — ela diz rapidamente e nervosa.
— Mãe, está tudo bem. Foi algo sem importância. Eu estou em casa. Não
aconteceu nada.
Ela segura minhas mãos e me olha nos olhos, sem piscar. Estou
começando a ficar preocupada.
— Não diga nada a seus irmãos e ao seu tio. Se eles descobrirem isso,
essa família vai se transformar em um completo inferno! — implora. — Eu
aceito que você faça da sua vida o que bem entender, mas jamais aceitarei que se
envolva com alguém casado!
— Mãe, me poupe! Que tipo de mulher pensa que eu sou? Jamais teria
algo com um homem casado. E meus irmãos, além do meu tio, não têm que se
meter na minha vida.
— Daiane, me prometa que David, Henrique e Marcos não vão saber
disso?!
— Saber do quê?
Viramos rapidamente e Henrique entra com o Marcos.
— Saber do quê? — meu tio refaz a pergunta.
— Nada! — minha mãe responde. Ele olha desconfiado, mas se percebe
algo, finge que não.
— A donzela voltou ao lar! Daiane, o que fazia na fazenda Casagrande?
— ele me questiona, e minha mãe fica pálida novamente.
— Simon ficou sabendo e avisou! — Henrique diz.
— Não que vocês tenham alguma coisa a ver com isso, mas responderei.
Meu carro atolou e a dona da fazenda me ajudou. — Henrique me observa,
procurando alguma coisa.
— Que eu saiba esta fazenda pertence a avó do promotor Jacob
Casagrande — Marcos diz. — E que eu me lembre, da última vez que o
encontramos, ele era noivo da Poliana.
— Não investiguei a vida dele. Sorry — digo a ele.
— Ana, como está? — minha mãe joga outro assunto na conversa.
— Está com a Liziara. Está bem, mas não perfeitamente bem. É difícil —
Henrique responde, e sinto vontade de vê-la.
— Por que seu carro ficou lá? — meu tio continua no assunto.
— Até isso te informaram? — Ele dá de ombros. — Vão trazer ainda
hoje.
— Esse Jacob não é pouca coisa não. Ele é o único herdeiro de uma
fortuna acumulada em bilhões. Parece que a família dele, além da fazenda, tem
casas para temporadas em Orlando e casas e sítio em Minas Gerais. O dinheiro
desse promotor compra nossa família e ainda sobra — Henrique diz, e ficamos
olhando para ele. — Eu leio jornais! E puxei a vida dele, para saber o porquê
minha irmã estava lá, mas o cara não tem uma sujeira sequer, e a vida pessoal
dele é quase que um mistério. Porra, o cara é um tédio! — Fico surpresa.
— Agora sei o porquê ela está com... — Percebo que começo a falar alto,
e todos me olham. — Bom, estou morrendo de fome.
Saio da sala rapidamente.
Entro na cozinha e dona Jurema está jogando calda de chocolate em um
bolo. O cheiro está maravilhoso.
— Cheguei na hora certa. — Ela me olha e sorri.
— Sim, minha menina. Logo, irei preparar a mesa. É seu favorito. Bolo
de cenoura com chocolate.
Sorrio.
— Vou esperar na sala de jantar.
Ela concorda e saio da cozinha, dando de cara com o Henrique.
— Precisamos conversar.
— Se for falar do lugar que eu estava, nem comece. Porque estou
achando, que na verdade é você o fã do Jacob e não ele de vocês. Sabe toda a
vida do cara.
— Cuidado, maninha, nem sempre o volume em minhas calças é uma
ereção.
— Diz logo o que quer, pateta.
— Vamos lá fora.
Saímos para a área da piscina. Sento-me em uma espreguiçadeira e ele se
senta em outra ficando de frente para mim.
— Me desculpe por ter dito aquilo a você. Eu estava nervoso. Ver a Ana
passando por uma situação dessa, e ainda grávida, me deixou transtornado. —
Suas palavras transbordam sinceridade. Seus olhos ficam marejados.
— Claro que te desculpo, mas não significa que eu irei esquecer. Você foi
injusto! Fez parecer que eu era culpada. Não posso fazer nada se esses infelizes
não têm outro assunto, a não ser eu. Não pedi para eles irem até o cemitério —
digo e sinto um alívio, por estar conversando com ele.
— Eu sei... Fui um imbecil nas palavras — diz cabisbaixo.
— Você foi. E o que mais me magoou, é que quando precisa eu estou lá
pelo que for. O tio e o David, até entendo, eles são mais sérios, e não gostam da
mídia na família. Mas você, quando era mais jovem, não saía dos tabloides, e
sabe como é. Quanto mais tenta evitar, mais eles caem matando. Não tinha o
direito de surtar, quando já foi vítima deles também — digo e ele me olha
atentamente.
— Me desculpe de verdade. Sou seu irmão mais velho e deveria te
apoiar, e não descontar os problemas em cima de você — diz me olhando nos
olhos.
— Está tudo bem. Tenho que me conformar, que você e David são
patetas. — Sorrio e ele me olha sério. — Somos irmãos e vai existir brigas, mas
sabe que sou vingativa, e isso não vai ficar assim.
— Não abusa da situação! — Sorrimos.
— Venham vocês dois, o bolo já está na mesa! — minha mãe nos diz da
porta.
— É pra já! — Henrique levanta rapidamente e sai em disparada. Rio.
Cinco

Jacob Casagrande

Termino de organizar os últimos papéis, que precisarei para amanhã, e


saio do escritório.
Vou para a cozinha, onde todos tomam café da manhã.
— Resolveu nos acompanhar? — minha avó diz, e olha para Poliana.
— Estava terminando de organizar algumas coisas — respondo e me
sento.
— Ai! — Poliana diz e olho sem entender, mas então vejo Sophie
sorrindo.
— Desculpa. Era sua perna? Pensei que era a mesa! — Sophie diz.
— Sophie, vamos ter, pelo menos, um café em paz? — pergunto a ela,
que concorda, mas não muito feliz.
— Então, meu amor, eu vou ligar para a delegacia, e pegar hoje e amanhã
de folga, assim posso acompanhá-lo. Tenho horas extras acumuladas. — Encho
minha xícara com café, e tomo um gole.
— Pai, eu posso ir? Você nunca me leva. Por favor! — Sophie implora,
segurando meu braço.
Olho para minha avó, que esconde o riso por detrás da caneca. Ela ama
quando estou em apuros.
— Poliana, eu vou a trabalho e não a passeio. Vou hoje, mas volto
amanhã logo após a audiência. Não precisa ir. E isso serve para você também,
Sophie.
Poliana não esconde a raiva em seu rosto, e Sophie fica emburrada.
— Amor, claro que preciso ir. Tenho que acompanhar você...
— Já que pode tirar folga, que tal cuidar dos negócios da família,
Poliana? É esposa do Jacob. Tem vistoria nas terras da fazenda, e visitar o
veterinário, para saber como andam os nossos animais. — Sei que minha avó
está fazendo para provocar. Poliana tem pavor de animais e dessa fazenda.
— Dona Joana, acho que eu...
— Ótimo, então vai me acompanhar em tudo. Agora preciso ir, tenho
muita coisa para fazer. — Ela se levanta e sai nos deixando sozinhos.
— Jacob, eu... — ela tenta dizer, mas a interrompo.
— Ninguém cancela um compromisso com minha avó. — Dou uma
piscadela e ela sai da cozinha nervosa. Sophie ri.
— Ela é muito fresca. Eca! — Sophie diz sorrindo e logo me olha com
esperança.
— Nem pensar, mocinha. O colégio me ligou e disse que amanhã
retornam as aulas. A chuva tranquilizou e com isso, significa estudos. — Ela
bufa e sorrio.
— Não é justo. Eu nunca viajo com você. — Cruza os braços.
— Viajou recentemente para a Disney comigo. E pelo que eu me lembro,
ficamos quase um mês lá.
— Isso não conta, a bruxa foi junto.
Sorrio.
— Sophie, desta vez não vou levar. Vou apenas a trabalho e volto logo.
E, por favor, não apronte nada. Você vai ficar aqui com a sua bisavó e com a
Poliana.
— Ai, que saco! Desse jeito, não tem como eu ser boazinha. — Ela sai da
mesa bufando.
Eu mereço um lugar reservado no céu, pela minha santa paciência.
Termino meu café e vou para o quarto, arrumar a mala que vou levar.
Poliana está deitada na cama, mexendo no notebook.
— Elas fazem de propósito. Me tratam mal de propósito, e você não faz
nada! — diz se referindo a minha avó e a Sophie.
— Poliana, você também não ajuda.
Abro o guarda-roupa e pego algumas coisas.
— Quando vamos para o nosso apartamento?
— Assim que você e a Sophie começarem a se dar bem e eu não ter
medo de sair para trabalhar e receber notícias que as duas se mataram, então
poderemos ir para o meu apartamento.
Ela deixa o notebook de lado e se senta na cama.
— Jacob, deixa eu ir com você? Não vou te atrapalhar! — implora. Pego
a mala e começo a colocar as coisas dentro.
— Poliana, se nem minha filha vou levar, que é uma criança, com total
razão quando reclama que não tenho tempo, imagine só se irei levar você, que é
bem grandinha para entender que vou a trabalho e não para diversão.
— Ai, que ódio! — ela reclama e se levanta da cama. — Se eu for ficar,
pode ter certeza de que não ficarei aqui. E pode me deixar dinheiro, é o mínimo,
depois de você cancelar nossa lua de mel, ficar de gracinha com a Daiane
Escobar e agora não querer me levar para a viagem.
Rio.
— Que ótimo, ainda divirto você.
— E como!
Ela sai do quarto e bate a porta com força.
Porra, maldita a hora que aceitei tudo isso!

Já estou em São Paulo, no hotel que reservei. Vim o caminho todo com
os pensamentos em certa pessoa, e que Deus me perdoe, mas não era na minha
esposa.
Estou começando a achar que esse tempo todo, a única pessoa da família
Escobar que eu realmente sou fã é uma bela morena, que vou substituir amanhã
na audiência.
— É, Daiane, acho que minha fascinação na verdade era por você!
Esfrego o rosto e deito na cama. Olho para o aro dourado em minha mão
esquerda, e logo me vem à memória quando decidi que tinha que colocá-lo em
meu dedo, e no da Poliana.

Entrei na sala, onde fui informado que o pai dela estava. Vi o senhor de
cabelos brancos, aparência de uma pessoa cansada. Ele estava sentado na
poltrona, e assim que me viu sorriu. Ele é um bom homem, diferente da esposa.
Respirei fundo. Precisava seguir em frente com o que tinha ido fazer.
— Assim que me disseram que estava aqui, e queria falar comigo,
imaginei o que seria.
Olhei sem entender.
— Minha esposa não está e nem minha filha. Uma ótima oportunidade
para dizer o que tem em mente.
Engoli em seco.
— Sente, por favor. — Ele indicou o sofá ao lado e fiz o que pediu.
— Senhor Luiz, não sei nem como dizer isso, sem parecer grosso ou
direto.
Ele sorriu de um modo triste.
— Mas não posso mais... Não posso dar continuidade a este
compromisso com ela. Eu tentei, mas não dá. Nunca foi a minha intenção casar
com ela. O senhor sabe que foi por insistência de sua esposa e da sua filha que
ficamos noivos, mas ela sempre soube que eu nunca a amei. Eu não posso
continuar com isso. Eu sinto muito, mas não posso me casar com ela. E por
valorizar demais a família, queria que o primeiro a saber disso fosse o senhor —
soltei as palavras de uma vez, e senti um peso sair de mim.
— Eu já sabia. Sempre soube que nunca a amou. Você é um bom rapaz,
menino, e merece alguém que te faça feliz, e ela não fará isso. Infelizmente,
acredito que ela nunca faça ninguém feliz, e isso também é culpa minha, por ter
permitido que minha esposa criasse-a desse modo e não intervisse. — A tristeza
está em suas palavras. E isso me corta o coração. — Eu nem tenho o direito de
te fazer qualquer pedido, mas eu preciso.
— Pode me pedir qualquer coisa!
— Case-se com ela. — Olhei espantado. — Nem que seja para se
separar no dia seguinte, ou na semana seguinte. Eu peço isso, não por ela, mas
pelo nome da minha família. Poliana já destruiu demais o sobrenome Xavier. —
As lágrimas escorrem por seu rosto. — Eu não vou aguentar mais pessoas nos
apontando. A cidade inteira já sabe desse casamento. Pode ser uma cerimônia
apenas no civil, não precisa de jornais, e nem quero que saia neles. Mas por
mim, pela minha família. Já não temos mais nada, e não posso perder o resto de
dignidade que me resta. Estou cansado, já não sou mais saudável o bastante
para aguentar mais humilhações. Se fosse apenas ela que saísse humilhada, eu
juro que não iria me importar, e não me envergonho de dizer isso, porque ela
merece depois de tantas coisas ruins que tem feito. Mas, meu rapaz, é o
sobrenome da única coisa que me resta, que vai sujar ainda mais. — As
lágrimas não param de escorrer por seu rosto, e suas mãos tremem sem parar.
Fiquei sem saber o que fazer. Vi a dor em suas palavras e em seus olhos.
— Ela se casando e separando, já não será tão falado, quando você
desistir antes do casamento. Eu te imploro. Até me ajoelharia a sua frente, para
pedir isso, se eu pudesse. O que estou te pedindo pode ser um absurdo para
você, mas é a única forma de não destruir por completo essa família. Não quero
seu dinheiro, e nem aconselho que partilhe algo com ela. Sei que tem uma filha,
e pela sua filha também não aconselho que fique com Poliana. Tudo o que eu
peço é que se case apenas e depois tem meu total apoio para se separar dela,
quando quiser. Eu imploro. — Sua voz é carregada pelas lágrimas. E sinto uma
dor forte ao vê-lo assim. Sei o quanto tem sofrido com as atitudes da filha e da
mulher, e hoje se vê que não tem mais forças para tentar mudar os erros da
criação. — Pensei o quanto será falado que o promotor Casagrande largou-a
antes do casamento. Depois podem fazer de um modo restrito a separação...
Levantei-me do sofá. Ele olhou para o chão e com as mãos trêmulas
enxugou as lágrimas.
— Não se preocupe. Farei o que for possível para não sujar a sua
família. O senhor não merece. Eu devia ter dado um basta quando começou a
ser um namoro, mas não fiz, então devo ao senhor um apoio, pois sei que é um
bom homem e merece um pouco de paz. Preciso ir, agora. — Saí da sala às
pressas. Eu precisava de ar, muito ar.

Eu valorizo muito a família, e jamais destruiria uma, sendo que poderia


fazer algo para ajudar. Poliana e a mãe dela não merecem qualquer ajuda, mas
aquele senhor, cansado, merece paz, nem que seja um pouco apenas. Muitos não
entenderiam se eu contasse que esse foi o motivo de levar ela até o civil. Mas só
quem sabe o verdadeiro valor de uma família entenderia, que, às vezes,
sacrifícios são necessários, para que tudo termine bem. Perdi minha mãe, que
poucos sabem que era adotiva, e quase perdi minha filha, por causa de pessoas
inconsequentes, inclusive por minha culpa, então jamais permitiria que um pobre
senhor perdesse a única coisa importante para ele, caso eu, o famoso promotor
Jacob Casagrande, largasse a filha dele antes do casamento. A cidade que eles
moram é muito pequena, e a notícia correria, e ele jamais teria a pouca paz que o
resta.
Logo isso vai acabar, e farei de tudo para que a mídia não fique em cima,
porque, quando isso acabar, não quero o sobrenome Xavier envolvido, pelo pai
dela, que me implorou uma ajuda; eu no lugar dele faria o mesmo, porque tenho
família, e pela honra das pessoas que fazem parte dela eu faria de tudo até
sacrificar minha própria felicidade.

Daiane Escobar

Estamos em uma boate, menos Henrique e Ana. As meninas da Liziara


ficaram com uma babá. Marcos não iria vir, porque Bia está a pouco tempo do
parto, mas insisti, afinal, minha mãe merecia alguma comemoração. Débora e
Cleber também nos acompanham.
Reservamos uma mesa na área VIP.
— Eu não devia ter vindo. Não estou muito acostumada com isso.
— Mãe, não começa — digo.
— Paula, você é um mulherão ainda, precisa curtir mais — Débora diz e
concordo sorrindo.
— Eu não concordo! — David diz e Liziara dá um tapa em seu braço. —
Não vou mentir. Por mim, ela e Daiane virariam freiras.
— David, eu acabaria com a santidade das freiras em um dia — digo e
Liziara ri.
— Concordo. Se você tivesse ouvido tudo o que ela me disse uma vez
em meu escritório... Tenho pesadelos até hoje — meu tio diz e rio.
— Pobre menino, ainda sonha que Daiane é santa — Débora completa.
— De santa aqui, só a parte...
— EU NÃO QUERO SABER! — David berra e algumas pessoas nos
olham.
— Nem eu! — Cleber e meu tio dizem em uníssono.
— Homens! — Beatriz fala rindo.
Pedimos bebidas, e jogamos conversa fora.
— Olha aquela mulher. Onde está o resto do pano? — minha mãe
questiona e olho na direção que ela aponta disfarçadamente e rio.
— Mãe, o vestido dela está mais comportado que a saia que eu uso. Vai
me dizer que, quando era mais jovem, não usava roupas assim? — questiono
sorrindo e ela ri.
— Marcos se você olhar, eu furo seus olhos, seu juiz de quinta! — Bia
diz, e olho para ver.
— Porra, mulher, fui apenas conferir o que a Paula dizia. Relaxa, delícia.
— Todos riem dele se defendendo.
— Bom, não viemos para ficar sentados, não é? Eu vou dançar, quem
vem? — Débora pergunta.
— Eu! — Liziara, David, Cleber e eu levantamos as mãos e respondemos
juntos.
— Paula, pode vir! — ela diz, fazendo minha mãe se levantar.
— Eu vou ficar, afinal, tenho que carregar um serzinho dentro de mim,
que não é leve — Bia diz e sorrio.
— É bom, assim fica de olho nos homens bonitos, e quando vir me faz
sinal daqui — digo e ela ri, mas meu tio olha sério para ela, que tenta disfarçar o
riso e acaba falhando.
Descemos para a pista de dança, e começo a rir da minha mãe perdida e
David a provocando.
Um remix de Despacito começa a tocar.
Um cara se aproxima, e começamos a dançar juntos. Vejo alguns olhares
do David. Se tem homens mais ciumentos que os Escobar, eu desconheço.
Sorrio.
Ele se aproxima ainda mais de mim. Dançamos grudados. Minha mãe me
olha e sorri. Liziara me dá uma piscadela e David percebe, pois olha bem feio
para ela, que revira os olhos. Débora e Cleber dançam juntos, e, porra, podiam ir
para um quarto.

Sua Cara começa a tocar. Olho para ele, que mostra suas intenções
apenas com o olhar. O que me motiva a continuar dançando sensualmente. Se a
mídia quer falar de mim, que fale com motivos agora. Ao imaginar as manchetes
amanhã, sorrio novamente. Suas mãos contornam meu corpo, e não impeço.
Iludido, se acha que depois dessa dança terá algo.
A música termina, e ele indica o bar, para onde vamos.
Está lotado, mas encontro um espaço onde encostamos, à espera de
sermos atendidos.
— Tão linda quanto nas revistas e jornais — ele diz. Não é feio, mas
também não tem cara que faz meu tipo, nem para conversar.
— Obrigada. Eles usam muito Photoshop, a realidade na maioria das
vezes é sempre melhor. — Sorrio.
— Me chamo Nathan — ele diz.
— Bom, o meu já deve saber, afinal me viu nos jornais e revistas — sou
direta.
— Touché!
Assim que nos atendem, pedimos a bebida. Optei por cerveja, não sou
muito fã de bebidas com muitas misturas. Já deixamos paga.
— Vodca! — alguém diz ao meu lado, e tenho certeza de que não estou
bêbada, e nem louca, para garantir que conheço essa voz.
Não me viro. Fico estática.
— Vamos dançar novamente? Ou se preferir, podemos ir para outro lugar
— o cara, que até esqueci o nome, de tão nervosa que estou, diz.
— Na verdade, não vai rolar. Estou com a família. Às vezes, sou santa!
— Ele me olha sem entender e se afasta.
Viro-me lentamente, para o lado de onde ouvi a voz. Mas é uma mulher.
Fico olhando sem compreender. Eu não estou louca!
Tomo um bom gole da cerveja, e deixo no balcão. Afasto-me e subo para
a área VIP. Todos já estão lá.
— Está pálida, Daiane. O que houve? — minha mãe pergunta e todos me
olham em alerta.
— Acho que virei a bebida rápido demais — minto. — Cansou de
dançar, mãe? — mudo de assunto e me sento.
— Pior que sim — ela diz rindo.

Jacob Casagrande

Estou em uma boate. Precisava me distrair um pouco, antes da audiência


de amanhã. Será foda ter que superar ou se igualar a um Escobar.
Peço uma vodca no bar, e vou para o outro lado dele.
— Jacob Casagrande, mentira! — Olho para a pessoa que diz isso e
sorrio surpreso.
— Ressurgiu das sombras?! — pergunto, e ele ri alto. Se aproxima e me
cumprimenta com um abraço.
— Que mundo pequeno. Perdido em São Paulo? — me pergunta.
— Eu que deveria perguntar isso. A última vez que te vi, foi dando aula
na faculdade que estudei.
— Nem me lembre. Sua turma era uma peste, mas você se salvava.
Rio.
— Quem vê pensa que dava aula para nós.
— E agradeço ao universo por isso. — Ele toma um gole da bebida.
— Então Alessandro Santos, o famoso professor de Filosofia, curte
boates?
— Sou velho, mas não sou mole. Porra, sou bem duro na verdade. Me
mudei dia desses para cá. Vou dar aula na universidade daqui e precisava
preparar minha mente.
— E escolheu uma boate para isso?
Ele dá de ombros.
— Escolhi uma boate para preparar a mente também. Audiência difícil
amanhã.
— Boa sorte! — Ele bate a bebida na minha, em forma de brinde. — E
aí, como anda a vida? Casou? Tem filhos? — pergunta rindo, enquanto observa
uma mulher que está próxima. Rio.
— Tenho uma filha. Já no relacionamento, se eu te contar, vai me achar
louco. Mas, e você?
Ele me olha.
— Solteiro. E ainda bem. Relacionamento é enrascada.
— Tenho que concordar.
Ele diz algo, mas não escuto. Meus olhos estão vidrados na parte superior
da boate, onde encontro ela. Levanta-se e indica algo para alguém que parece ser
Marcos Escobar. Ela está vestindo uma saia curta dourada e uma blusa de alças
preta. Seus cabelos estão soltos. Ela sorri de algo, e então caminha até a escada,
e começa a descer.
— Terra chamando! — Olho assustado para o idiota que me deu um
murro no braço.
— Porra! — reclamo.
— Eu que tenho que dizer isso. Estou falando e você aí babando. Quem é
a moça que precisa de água? Porque você secou ela! Não a vi, mas tenho certeza
de que ficou seca.
— Não era ninguém — minto. — O que dizia?
— Para marcarmos um almoço amanhã, se estiver livre. Quero saber
como andam as coisas. De todos aqueles alunos demoníacos, você era o único
que eu não tinha vontade de socar.
Sorrio.
— Sou foda, eu sei! — brinco.
— Cara, eu gosto de você, então não me faça te odiar, é chato pra caralho
quando isso acontece. — Coloca a bebida no bar.
Meus olhos, procuram por ela, mas não encontro. Olho para a escada
novamente, então vejo Paula Escobar descendo. Após descer, caminha até o bar.
Sigo-a com o olhar. E então ela para, e olho para o seu lado, e agora vejo a
morena que está me deixando perturbado.
— Aquelas ali não são as Escobar?
— Hum-hum... — Dou um bom gole na minha bebida, que até agora
estava intocável e coloco no balcão.
— Ah, agora sei para quem estava babando. Parece um cachorrinho com
sede. Se controla, porra! — Ele me dá um leve empurrão.
— Cara, bebeu demais? Não estou babando por ninguém.
Ele ri.
— Mas eu estou. Mamãe Escobar é bem gostosa. — Reviro os olhos. —
Com licença.
Ele começa a ir em direção a elas e vou atrás. Esse cara é louco!
Ele para ao lado delas, que ainda não notaram a presença.
— Ah, resolveu vir? — ele diz.
— Já que não preciso te considerar um professor aqui. Vai se foder,
Alessandro!
Ele sorri.
— Aprende com o mestre.
Ele esbarra na Paula, que o olha, e Daiane faz o mesmo. Assim que me
vê fica assustada, e não evito, sorrio.
— Perdão. Esse cara esbarrou em mim — ele diz.
— Filho da puta! — digo, e ele me olha rindo.
— Mas já que nos olhamos. Prazer, Alessandro. — Paula sorri. Mas
Daiane não tem qualquer reação, a não ser ficar me olhando.
— Paula — ela responde.
— Está com você? — ele pergunta para ela, indicando a Daiane. O
imbecil sabe que estão juntas, e sabe quem são.
— Está sim. Daiane... — Paula chama por ela.
Alessandro a cumprimenta. Paula só então me olha, e tem a mesma
reação que a filha. Porra, qual o problema comigo?
— Jacob? — ela pergunta e sorrio.
— Se conhecem? — Alessandro pergunta.
— Sim! — Desta vez, Daiane responde.
— Quer água? Talvez esteja secando... Quero dizer... Esquece —
Alessandro diz a ela, que olha sem entender.
— Paula, Daiane! — digo as duas. Paula já muda a expressão e sorri para
mim. Ao contrário da filha, que me fuzila com o olhar.
— Vamos dançar — Alessandro diz a Paula.
— Eu não...
— Não convidei. Eu intimei. Vamos! — Ele sai praticamente arrastando
a Paula, e Daiane sorri com a situação.
— Perseguição é crime. Mas isso você deve saber — ela diz sem me
olhar. Me aproximo, ficando ao seu lado.
— Pensar que eu perseguiria você, é ser convencida demais. Mas isso
você deve saber.
Ela olha com raiva.
— O que faz aqui? — pergunta.
— A boate é pública.
Seu olhar é de raiva e isso me diverte.
— Amanhã é a audiência e vim relaxar.
— Que bom. Mas é melhor manter distância, ou sua mulher vai surtar. E
hoje não estou para problemas. Na verdade, estou à procura de solução, como
uma boa noite de sexo, mas não há ninguém que preste aqui dentro — provoca,
se virando, e assim ficando de costas para o balcão. Faço o mesmo.
— Bom, minha esposa não veio. E não que seja da sua conta, adoro sexo,
e uma noite inteira praticando ele, mas sou casado, e como faço parte da turma
do ninguém aqui dentro, não presto.
Ela me olha e sorri.
— Quem é o cara que estava com você? — pergunta.
— Um conhecido da época da faculdade. Ele não vai raptar sua mãe,
relaxa.
— Ótimo. Ou dois patetas presentes me mandariam para a forca — ela
diz olhando na direção da pista de dança, onde Paula e Alessandro dançam. — É
que se torna difícil ter confiança em pessoas que estejam com certas pessoas,
que tem dedo podre para escolhas.
Rio.
— Eu quis te explicar, o porque a escolhi, foi você que não quis ouvir.
— E ainda não quero. Saber detalhes da vida pessoal de alguém, torna
íntimo demais. E de você, quero distância. Estou fora de problemas.
— E o que ainda faz ao meu lado? — provoco.
Jacob, você não tem que começar esse jogo. É competitivo e sabe que
não deve.
— É como você disse. É uma boate pública. — Ela me olha e seu olhar é
puro fogo.
Jacob, sai, cara! Isso não vai acabar bem.
Ouço minha consciência. E desencosto do balcão para sair.
— Preciso ir. — Dou um beijo demorado em seu rosto e me aproximo de
seu ouvido. — Preciso ir, antes que eu faça o que não devo. E só para você saber,
está linda com essa roupa.
Afasto-me. Vou até a pista e entrego ao Alessandro meu cartão com meu
número. Despeço-me dele e da Paula.

Ao chegar no hotel, retiro a roupa, ficando apenas de cueca, e me deito


na cama.
— O que está acontecendo comigo? Porra!
Fechos os olhos e vejo ela, com aquela saia curta, mostrando muito bem
suas pernas. Sua blusa, marcando seus seios e sua cintura e seu perfume
adocicado, que exalava cada vez que se mexia. Logo em seguida, vem a imagem
dela em meus braços, molhada, seus olhos na minha boca e nossa respiração
forte, pedindo mais que aquilo.
Meu pau ganha vida com as imagens em minha memória.
— Daiane Escobar, você está fodendo comigo!
Seis

Daiane Escobar

Aquele cara está testando minha humilde paciência. Ele tinha que estar
no mesmo lugar que eu? Não poderia ser em outro lugar? Acho que em outra
vida, cometi muitos erros, e estou pagando nessa.
— Daiane, o que houve? — Olho rapidamente para minha mãe e volto a
atenção para a avenida.
— Nada. Absolutamente nada! — Dou um soco de leve no volante.
Preferi vir dirigindo. Não deveria, mas preferi. Estou bem.
— Aconteceu sim. Largou todos na boate e resolveu vir embora,
dirigindo, depois de ter bebido. Tive que te acompanhar, ou seu tio e seu irmão
te matariam. Então trate de me dizer o que está acontecendo para estar estranha.
Sou sua mãe e isso não foi um pedido, foi uma ordem. Desembucha, Daiane
Gabrielle Escobar!
Respiro fundo. Entro em uma rua movimentada, onde estaciono o carro,
e então desligo.
Viro-me para ela, que me olha atentamente.
— A culpa por eu estar assim é do Jacob Casagrande. De alguma forma,
completamente inexplicável, quando ele está por perto, começo a sentir coisas
estranhas, e estou com medo. O imbecil é casado com a inimiga da família
Escobar. E tudo o que eu não preciso é de problemas, ainda mais neste momento
que meu nome não sai da mídia.
Ela solta o cinto e segura minha mão.
— Filha, o que realmente aconteceu naquele lugar?
— Nada, mãe, eu juro! Mas Poliana e a filha dele perceberam algo, não
sei. Mãe, eu estou ferrada!
— Sei que isso não foi uma pergunta, mas tenho que concordar. Está
muito ferrada!
— O que eu faço? Estou sem saber, e odeio quando fico sem saber como
resolver algo.
Ela sorri.
— Poderia dizer para seguir seu coração, mas eu estaria sendo errada. Às
vezes, não podemos seguir o coração, pois muita gente pode sair ferida,
inclusive nós. Deixe o tempo cuidar de tudo. Sempre acreditei em destinos, e não
deve ser à toa que você foi parar justo na casa da avó dele, e ele tenha ficado
com a audiência que era sua na promotoria, e também ambos estarem no mesmo
lugar hoje. — Ela toma fôlego e continua: — Deixe o tempo cuidar de tudo, mas
não tente interferir, e tenha consciência de suas ações, pois não envolve apenas
ele, ou você, mas também Poliana, que, por mais que não seja uma pessoa legal,
você não deve descer ao nível dela, e ela é um ser humano, e envolve uma
criança, que pode ficar confusa no meio dessa bagunça. Pense muito bem antes
de tomar qualquer decisão. — Ela solta minha mão e recoloca o cinto.
— Vamos ver o que vai acontecer, mas obrigada pelo conselho, de
verdade, mãe!
Ela sorri e assente.
— Mas e o homão da porra, que você ficou dançando?
Ela sorri envergonhada.
— Não foi nada de mais. Me diverti, mas foi apenas isso.
Ligo o carro e sorrio, retomando o caminho para casa.
— Ele tem os traços semelhantes com...
— É, eu sei... — ela me interrompe e logo após fica olhando pela janela.
Coloco uma mão na sua, e acaricio. Sei que será muito difícil para ela
conseguir superar o grande amor da vida dela: meu pai.

Ao chegarmos em casa, entro primeiro, pois minha mãe fica falando com
os seguranças que a parabenizam pelo seu dia.
Alguém grita atrás de mim, e grito junto de susto. Me viro e é o
Henrique.
— Filho da mãe! Quer me matar, infeliz? — digo com a mão sobre o
peito, onde sinto meu coração completamente acelerado. O idiota fica rindo.
— Está devendo? Se assustando à toa.
— À toa? Você surge do nada e ainda grita! Quanta maturidade, nem
parece ser meu irmão mais velho e um homem que é pai e casado! — Ele me dá
um beijo na bochecha e se joga no sofá. — O que faz aqui? Cadê a Ana?
— Vim dar pessoalmente parabéns para a mãe e trazer o presente dela. A
Ana está em casa. Logo irei embora. Cheguei agorinha. Marcos avisou que
tinham saído da boate.
— Que maravilha. Agora tenho um GPS humano rastreando cada passo
meu!
Ele ri.
Minha mãe entra e Henrique vai até ela, parabenizando em nome dele e
da Ana.
Sento no sofá e retiro o salto.
Ele entrega uma caixinha a ela, e é uma Pandora.
— Que linda, Henrique! — ela diz emocionada e ele coloca nela.
— E no meu aniversário você me deu um buquê de flores! Direitos iguais
existem apenas no trabalho, pelo visto — brinco e ele ri.
— Ciuminho, maninha? — provoca e mostro o dedo para ele.
— Não comecem! — minha mãe repreende e começamos a rir. — Vocês
querem me deixar louca! Eu sou cardíaca.
— Mãe, já vou. Saí de casa e a Ana Louise estava dormindo. Não sei se
ela vai ver o celular e nem o bilhete, deixei mensagem para ela avisando que
viria, então melhor eu retornar para ela não se preocupar. E também a Yasmim
estava dormindo na cama com a mãe, mas como aprendeu descer sozinha, se
acordar antes da Ana, vai colocar fogo na casa.
Minha mãe sorri.
— Vai lá e dá um beijão nas duas por mim. Amanhã tenho uma
audiência, e depois passo lá para ver elas.
— Vai sim. — Ele dá um beijo nela e, em seguida, em mim. — Fui. —
ele sai.
Minha mãe me olha e depois para a pulseira sorrindo.
— Não adianta me olhar, não comprei nada para te dar. Estou falida —
brinco e ela pega uma almofada e atira em mim.
— Vou mostrar para o David e o Marcos depois — ela diz rindo.
— Que horror, mãe! Depois eu sou a terrível. Sabe muito bem que eles
competem nos presentes para te dar. — Rio.
— Eu apenas dou a lenha, fica a critério deles colocar o fogo. — Rimos.
— Vou tomar um banho, e descansar. Estou precisando disso. Aproveitar
que peguei minhas férias. Talvez eu vá para a casa de praia, não sei ainda.
— Só não suma como fez! — Dou uma piscadela, pego meus sapatos e
subo para meu quarto.

Jacob Casagrande

Acabo de sair da audiência. Estou acabado. Não dormi quase nada noite
passada, e enfrentar uma audiência hoje, não ajudou em nada.
Saio para a escadaria da entrada. Retiro meu celular do bolso e ligo ele.
Tem duas chamadas perdidas da minha avó, e uma da Sophie, e dez da Poliana.
Depois eu ligo, pois sei que essas chamadas significam problemas, e não estou
querendo resolvê-los no momento.
— Que porra, Henrique! Saia logo, antes que eu te mate. Eu queria estar
longe deste lugar nas minhas férias, e você fez eu vir te buscar, porque seu carro
não poderia rodar hoje, e agora fica me enrolando? Estou há quase uma hora
aqui te esperando. Sei muito bem que já terminou a sua audiência. Saia logo,
merda!
Viro-me para onde escuto a voz da pessoa raivosa. Ela senta na escadaria
e joga o celular na bolsa.
Essa eu não perco por nada. Desço parando no degrau abaixo dela. Ela
me olha assustada e depois revira os olhos. Retiro meu paletó, está um calor
infernal.
— Qual é, cara? Isso já é perseguição!
— Bom, eu tinha uma audiência hoje, já você... — provoco.
— Não estava te esperando, e nunca estaria. Eu vim buscar meu irmão,
mas me esqueci de que ele adora ficar fofocando nos corredores, quando acaba a
audiência.
— Adorei nossa foto nos jornais.
Ela me olha assustada.
— Nossa o quê? Eu não acredito! — diz alterada e se levanta.
Está nas notícias mais lidas em um site e na capa de um jornal minha foto
com ela, ontem na boate, o que imagino que seja esse o motivo das ligações em
meu celular.
— Só não entendo por que não colocaram “Jacob Casagrande e Daiane
Gabrielle Escobar são vistos juntos” ao invés de “Jacob Casagrande e Daiane
Escobar”...
Ela me olha franzindo o cenho.
— Como você sabe...
— Que se chama Daiane Gabrielle? Fiquei com sua audiência.
— Verdade, você teve acesso a minha ficha.
— Fiquei curioso. Porque nunca usa o segundo nome, e pelo visto
somente no trabalho sabem da existência dele.
— Longa história, e não lhe diz respeito.
— Nossa, não tem nem cinco minutos que estamos conversando e já me
deu patada. Isso é tão indelicado — provoco e ela me olha com mais raiva ainda.
— Faz assim, vou embora amanhã, então janta comigo hoje e me conta sobre
esconder seu segundo nome.
— Eu não vou sair com você. Você é casado!
— Te chamei para jantar, não para meu quarto de hotel. Te pego hoje as
oito, e sim, também vi seu endereço e número de celular na sua ficha. Até mais!
— Desço as escadas, sem dar tempo dela dizer qualquer coisa.
Entro em meu carro no estacionamento e só então ligo para minha avó, e
assim saber o que aconteceu.
— Jacob, menino do céu, eu estou desesperada atrás de você.
— Aconteceu algo com a Sophie? — pergunto alarmado.
— Não! É que parece que saiu não sei o que sobre você e a moça
Escobar, e a megera da sua esposa viu, e começou a surtar e a Sophie provocou
a doida, e eu não sabia mais o que fazer.
— Sophie foi para a escola?
— Menino, eu disse que mundo estava acabando aqui, e você me
pergunta isso? Mas, foi sim! Levei ela, porque não queria de jeito nenhum
deixar a Poliana levar.
— Fez bem em não deixar elas juntas sozinhas.
— É verdade que esteve com a moça?
— Acabamos nos esbarrando, mas não foi nada planejado. E a mídia,
como vive em cima da família dela, acabou registrando o momento.
— Sua mulher está louca. Se eu fosse você voltava logo.
— Não se preocupe, depois me entendo com ela.
— Não estou preocupada com ela. Estou preocupada comigo, de eu
perder a paciência e afogar ela no rio, ou jogar ela no estrume das vacas.
Rio.
— Amanhã retorno.
— Pensei que viria hoje.
— Tenho compromisso. Mais tarde ligo e falo com a Sophie. Qualquer
coisa me ligue.
— Ligarei mesmo. Você fez a cagada de casar com a louca, e eu que
tenho que aturar. Estou ficando uma velha mole!
Sorrio.
— Beijos, vó.
— Beijos e se alimente direito! — diz e desliga.
Coloco o cinto e saio do estacionamento. Se a Poliana já surtou pela foto
na boate, não quero nem imaginar se sair alguma foto no restaurante onde vou
levar a Daiane. Mas, é como eu disse: Estou levando ela para jantar, e não para
o meu quarto de hotel.
Coloco meus óculos de sol e ligo o som do carro.

Lembra daquele garoto que sentou do seu lado


Te ofereceu no recreio um sanduíche amassado?
Lembra daquele rapaz que você nem dava bola
Que escrevia eu te amo nas paredes da escola?
Aquele cara que te deu um guarda-chuva
Quando a tempestade te pegou na rua
Aquelas flores que deixavam no portão
Que sempre vinha assinado no cartão
Romântico anônimo!
Romântico anônimo!

A música preenche meus ouvidos e relaxo. Entro na avenida, e como


sempre existe aquele trânsito infernal. Canto junto e por um breve momento
esqueço dos problemas.
Sete
Daiane Escobar

Estou há exatamente uma hora na frente do espelho olhando a roupa que


escolhi.
— Vai acabar se apaixonando pelo espelho de tanto que olha. —
Assusto-me com a voz da minha mãe. — Onde vai?
— Digamos que não tive escolha. Eu juro. Não tive mesmo! Está vindo
me buscar.
Ela me olha e cruza os braços.
— Não me diga que vai sair com o tal do Jacob! — grita.
— Sair é uma palavra tão forte para esse momento. Eu vou por livre e
espontânea pressão jantar. — Sorrio.
— Sair é uma palavra forte, mas jantar não? Daiane, tome cuidado. Se já
deu o que falar as notícias sobre os dois na boate, imagine esse jantar.
— Mãe, não piore a situação. Eu estou tremendo. A senhora entende que
eu estou tremendo?
Ela sorri.
— Era assim quando seu pai me buscava para sair. — O brilho em seu
olhar é nítido.
— Mãe, lembra da parte que eu estou tremendo? Então, a senhora piorou
a situação.
— Está bem! — Levanta as mãos rendida. — É maior de idade,
vacinada, então deve saber o que está fazendo.
— Essa roupa está boa? Não quero parecer que me arrumei demais, mas
também não quero sair de qualquer jeito.
— Bom, se estar com um vestido azul que é bem elegante e ao mesmo
tempo sensual, cabelos bem arrumados, uma maquiagem bem feita, e esta
sandália... — Ela se aproxima para ver mais de perto. — Ah sim! Uma sandália
Louboutin e uma bolsa — ela olha para a cama e vê a bolsa — Chanel, não é
estar bem arrumada, minha filha, eu não sei o que é. Se não queria chamar tanto
a atenção, errou em cheio!
— Que droga! Vou trocar tudo — digo apavorada e minha mãe ri.
Dona Marcela, ajudante dos deveres da casa, aparece na porta.
— Com licença, mas tem um moço chamado Jacob Casagrande, à sua
espera. Estefan quer saber se será necessário acompanhá-la.
— Obrigada. Fala para o Estefan que não irei precisar dele hoje. E avise
ao Jacob que já estou indo.
Ela concorda.
— Está muito chamativo, Marcela?
Ela olha para minha mãe e sorri.
— Melhor nem dizer, ou ela vai sentar no chão do closet e chorar —
minha mãe provoca.
Pego minha bolsa e saio do quarto com elas rindo atrás de mim.
Saio de casa com elas ainda rindo. Reviro os olhos e respiro fundo.
Passo pelos seguranças, e então um deles abre o portão e vejo Jacob,
encostado no carro, com as mãos no bolso. Ele me olha dos pés à cabeça, e isso
me deixa completamente desconfortável, o que raramente acontece.
— Saiba que estou indo por livre e espontânea pressão.
Ele sorri.
— Bateu o seu recorde. Não levou um minuto para dar patada.
Reviro os olhos.
Abre a porta e me dá passagem. Era só o que me faltava, o imbecil ser
cavalheiro, além de gato e do sorriso e vozes perfeitas. É pra ferrar com minha
sanidade.
Entro no carro, e ele fecha a porta. Coloco o cinto, e fico dura, olhando
para frente. Ele entra fechando a porta e coloca o cinto.
Ele começa a se aproximar, e o empurro.
— Jacob, olha só, eu só estou indo porque tentei ser legal, mas se tentar
qualquer coisa, eu mato você, mas antes corto seu saco e colo na sua testa.
Ele ergue uma sobrancelha.
— Acabou? Porque eu só estou travando seu cinto corretamente, porque
se não notou está apitando o carro e no painel indicando que você não travou
corretamente.
Olho para o painel e fico envergonhada. Nem percebi o barulho. Estou
tão nervosa, que estou cega e surda.
— M-me desculpa...
— Relaxa, já disse que vamos apenas jantar. — O infeliz dá aquele
sorriso de menino levado.
Ele liga na rádio.
E o destino deve estar querendo foder com minha mente e comigo.
Marilia Mendonça canta e a música De quem é culpa.
— Posso saber para onde vamos? — pergunto para quebrar a agonia que
estou sentindo.
Ele dá partida no carro.
— Segredo.
— Jacob!
— Relaxa, mulher!

Estamos pegando a Rodovia Fernão Dias. Porra!


— Ok. Onde é o lugar?
— Interior.
— Onde?! — pergunto assustada.
— Mudei os planos. Não quero a mídia enchendo o saco, então vamos
para o interior. Então estamos a caminho de Bragança Paulista.
— Você tem probleminha? — pergunto nervosa.
— Acho que essa roupa não será tão confortável — desconversa.
— Para onde vamos? Ou você fala, ou eu abro a porta e pulo do carro em
movimento.
Ele me olha e ri.
— E eu que tenho probleminha? — pergunta rindo.
— Jacob, estou falando sério!
— Vamos jantar em um restaurante lá, que é ao ar livre, e depois vou te
levar para conhecer um lugar.
— Devo me preocupar com esse lugar?
— Sim. O quanto ama suas sandálias?
— Muito! São bem caras, e parcelei. Sim eu parcelei, porque não sou
obrigada a pagar o preço delas à vista.
Ele ri.
— Talvez suje com um pouco de barro.
— Vai me jogar em uma cova?
— Olha, a ideia não é ruim. — Ele me olha rindo, e olho bem séria para
ele. — Brincadeira. Relaxa, logo chegaremos.
Maldita a hora que vim. Eu realmente estou com medo.

O restaurante era realmente lindo e bom. E relaxei mais, comendo e


jogando conversa fora. Mas não consegui tirar da cabeça que outro lugar é esse
que ele vai me levar. Estamos novamente no carro, e ele disse que será rápido até
o lugar. Porém, estamos há um bom tempo em uma estrada estranha, e com
muito mato, e eu estou novamente entrando em pânico. Preciso parar de assistir
filmes de terror.
Ele entra em uma estrada mais estreita, e parece aquelas entradas de
sítios.
— Estamos chegando.
— Ok. — É a única coisa que conseguiria dizer, sem falar demais ou
surtar.
Ele estaciona, e ao que parece é realmente uma estrada de sítio, pois vejo
algumas luzes.
— É aqui que vai me matar?
— Você é paranoica! — ele diz soltando o cinto. — Vamos subir a pé.
Não consigo subir de carro, estando tão escuro.
— E quer subir a pé? A palavra subir não me animou.
— Conheço muito bem o caminho. E se estou dizendo que subir a pé é
mais confiável, é porque eu sei o que estou falando. Pare de ser doida, e vamos.
Ele sai do carro e abre minha porta. Solto o cinto e desço. Fecho a porta e
ele ativa o alarme.
Ele estende a mão para mim.
— Não vou ficar segurando sua mão.
— Está bem — ele diz e, mais uma vez, o sorriso de menino levado
surge, e isso me dá um frio na barriga.
Começamos a caminhar, e parece fácil até o momento. Tem algumas
luzes, não muito fortes, mas já ajuda. Piso em falso algumas vezes, mas nada
grave.
Ele para e faço o mesmo. Ele se aproxima do portão a nossa frente, e tira
um molho de chaves do bolso. Abre o portão me dando passagem. Quando
entramos, ele fecha. As luzes se tornaram passado. É um breu total. Ele liga a
lanterna do celular.
— Ainda vai querer andar sem minha ajuda?
— Não! — Seguro sua mão que vejo na pouca luz.
Caminhamos, ao que parece horas, mas para ir à esquina de casa, eu já
reclamo, sou sedentária demais.
Quando ele falou subir, não estava exagerando. Parece um morro.
— Falta muito?
— Não.
Caminhamos mais um pouco, e então começo a ver muitas luzes, muitas
mesmo. Mas, de repente, sou puxada para trás brutamente.
— Ai! — Sinto suas mãos ao redor de mim, e seu perfume muito
próximo.
— Se eu não tivesse segurado, você teria caído... — Estou ofegante. Ele
me vira calmamente, e então olho para baixo e vejo a altura que estamos, e que
as luzes são da cidade.
— Você não brincou quando disse a palavra subir.
Ele sorri.
— Não, eu não brinquei.
Afasto-me dele com cuidado, e observo. É tão lindo. As luzes, o vento e
o silêncio torna tudo tão mágico. Já vi a cidade através de um avião, mas nunca
assim, no alto de um morro, montanha, ou seja lá o que for isso.
— Vem, senta aqui. — Ele se senta deixando as pernas penduradas para
baixo. Faço o mesmo e que se dane o vestido. Coloco a bolsa ao meu lado.
— Que lugar é esse? É lindo! — digo olhando fascinada.
— Eu comprei esse terreno. Ninguém queria comprar, porque não
poderia aproveitar muito. Mas, quando vi a luz do dia, só imaginei qual era a
vista à noite. E então vim de noite, e quando vi tudo isso, comprei na hora. —
Indica a vista com as mãos.
— É lindo demais ver a cidade daqui, e neste silêncio. Parece um quadro.
Ele sorri.
— É exatamente o que pensei quando vi. Então tornei aqui meu refúgio.
Quando quero paz e sossego corro para cá.
— É realmente maravilhoso — digo impressionada.
— Quando eu era menor, minha mãe adorava me levar para lugares
assim, e acampávamos. Acho que esse foi o motivo maior para eu comprar.
— Meu pai amava a fazenda. Eu e ele íamos sempre à noite para o lago
que tem lá, sem minha mãe saber, e nadávamos. Toda vez que estávamos lá,
íamos. Era o nosso momento. — Olho para ele, que mantém as vistas na cidade.
— Perdi ela quando ainda estava na faculdade. Ela levou um tiro em uma
operação policial, e não resistiu. Morreu sendo a heroína que sempre foi e com a
farda que tanto amava vestir. A mesma farda na qual ela me viu pela primeira
vez no orfanato quando eu era apenas um bebê, foi a mesma que me disse adeus.
No dia do acontecido, ela quis almoçar comigo e estava fardada, e fomos, mas
parecia que ela já sabia que algo aconteceria, me abraçou e disse para nunca
mudar meu jeito, e seguir meus sonhos, e mais tarde, naquele dia, recebi a
notícia, corri para o hospital, a tempo dela dizer um último adeus. Saí do hospital
e fui direto ver a Sophie que era prematura e foi nela que encontrei todas as
forças para continuar.
— Nossa, eu sinto muito de verdade. — Não encontrei nada melhor para
dizer, diante desta declaração, porém não poderia ficar em silêncio.
— Ela foi minha heroína desde sempre. Lutou pela minha guarda,
mesmo sendo solteira, e nunca desistiu de tentar me fazer feliz. Mas, às vezes,
dói saber que fui abandonado pelos meus pais verdadeiros sem nem ao menos
conhecê-los, e depois perdi minha mãe adotiva, que tive como minha mãe de
verdade. — O leve rancor em sua voz é evidente.
— Pense que, mesmo depois de tudo, você tem uma linda filha e uma
avó, não ficou sozinho. É um promotor brilhante, um bom pai ao que aparenta, e
está casado. Sua mãe tem muito orgulho de onde quer que ela esteja.
Ele sorri.
— Mas também deve estar muito brava, por eu ter feito o que fiz...
— Jacob...
— Ninguém deve brincar de amar, e eu estou fazendo isso.
— Não preciso saber disso. E acho melhor nem saber, por favor.
— Então, por que não usa seu segundo nome? — ele muda de assunto e
agradeço por isso.
— Tudo começou com uma briga dos meus pais.
Ele olha surpreso e sorri.
— Meu pai queria muito o nome Gabrielle e minha mãe aprovou. Mas,
no dia que nasci, foram me registrar, e o rapaz que fazia o registro era um
conhecido do meu pai, e quando ele disse o nome, o cara deixou escapar que
meu pai teve uma ex-namorada com esse nome, e minha mãe surtou, porque ele
dizia que queria esse nome, porque não saía da cabeça dele, mas, coitado, nem se
lembrava da ex-namorada. — Sorrio e o Jacob ri. — E na hora da raiva, minha
mãe disse Daiane ao tabelião que estava registrando, meu pai gritou Gabrielle
em seguida, e o pobre homem, todo confuso, achou que seria nome composto,
mas daí já era tarde, eu já tinha sido registrada.
— E por que não mudaram? — pergunta rindo.
— Porque, quando meu pai foi mudar, minha mãe com ciúmes louco
dela, disse a ele que se ele mudasse era porque realmente pensava na ex e ele não
mudou. Mas era o único que me chamava por Gabi, já minha mãe só me
chamava pelos dois nomes quando queria me dar um sermão. Bom, na verdade,
até hoje ela me dá sermão e faz usando todo meu nome.
Ele ri.
— Então você não usa o Gabrielle por causa disso?
— Não. É porque eu acho muito estranho, não combina. Mas depois que
meu pai morreu, era estranho ouvir outras pessoas me chamando pelo nome que
apenas ele chamava.
— Entendi. Mas não acho estranho. Acho diferente.
— Obrigada, eu acho! — Sorrio.
Meu celular começa a tocar. O nome da minha mãe aparece na tela.
Atendo.
— Oi, mãe.
— Filha, a Ana está no hospital. A bolsa estourou. Ela vai ter bebê. Vá
para o Hospital Central.
— Ai, meu Deus! Ok. Me mantenha informada.
— Ok. Beijos!
Levanto e ele faz o mesmo.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunta preocupado.
— Minha cunhada está no hospital. Vai ter a segunda filha.
— Vamos. Te deixo no hospital.
— Obrigada. E obrigada por me mostrar esse lugar. É realmente lindo.
Ele sorri.
Oito
Um mês e alguns dias depois...

Jacob Casagrande

REVISTA ON-LINE BELOS E FAMOSOS

NOTÍCIA MAIS VISITADA DO DIA:

“E a família Escobar acaba de crescer ainda mais.”

Há pouco tempo, noticiamos que o casal Henrique Escobar e Ana Louise


tiveram sua segunda filha, e já descobrimos o nome da mocinha. “Bem-vinda,
Laís!”. Agora recebemos a notícia que o filho do juiz Marcos Escobar nasceu há
poucos dias. O casal foi visto com o filho nos braços e um cobertor, cobrindo-o
totalmente, na rua de sua residência (local que não informaremos por
segurança). Fontes próximas disseram que o juiz tem feito de tudo para manter
o primogênito Arthur, fora da mídia, assim como Henrique e David com as
filhas.
Mas sabemos que filho de pessoas públicas não ficam escondidos por muito
tempo. E a prova disso é que vimos a promotora Daiane Escobar e Liziara
Escobar (esposa do David Escobar) com as gêmeas e a filha mais velha do
Henrique, no parque Ibirapuera.
Mas o que estamos estranhando aqui na redação é: Daiane tem sido vista
frequentemente em passeios com as sobrinhas. Será que desistiu da carreira de
promotora? Já faz algum tempo que a mesma não trabalha em nenhum caso.
Qualquer notícia nova, estaremos de plantão.
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Fecho a tela do notebook, e deito a cabeça no apoio da cadeira. A última
vez que a vi foi quando a levei para jantar. Desde então ela não sai da minha
mente, e isso tem me deixado louco. Para piorar, estou com todos os casos dela
em mãos. Tenho que conviver com o nome dela no trabalho, e também nas
notícias. Eu realmente estou fodido. Não sei o que está acontecendo.
A porta se abre, e Poliana entra.
— Amor, sai desse escritório e vamos sair. Aproveitar que a Sophie ficou
com a bisavó.
Ela se aproxima e se senta em meu colo.
— Não estou com cabeça para sair. Tenho muito trabalho.
— Que inferno! Faz um mês que você só sabe ficar trabalhando neste
escritório. Eu não te vejo ir deitar, e não me acompanha em lugar algum. Quando
sai é para levar a Sophie na escola, isso quando ela insiste para que faça. Eu
quero um pouco da atenção do meu marido, será que isso é difícil? — diz
segurando meu rosto com ambas as mãos e, quando vejo que vai me beijar,
afasto o rosto.
— Eu realmente preciso trabalhar.
Ela revira os olhos.
— O que tanto trabalha?! — Ela abre o notebook rapidamente e me
preparo para a onda de surto que ela vai ter.
Ela pula do meu colo e me olha com raiva.
— Esse é seu trabalho? Ficar vendo notícias da família Escobar? Ou
melhor, ficar olhando a foto da Daiane? Porra! Eu sabia que evitar sexo, sair
comigo e me beijar, tinha algo. Jacob você está me traindo! — ela grita. — Me
traindo com aquela vadia! — Levanto-me e dou um murro na mesa.
— Chega, Poliana! Eu não aguento mais você e seus ataques de ciúmes.
Porra, vai fazer alguma coisa da vida, e pare de criar histórias que não existem.
Quem muito teme, deve. Sai da frente, tenho mais o que fazer. — Passo por ela e
saio.
Meu celular apita e vejo o que é.
“Senhor Casagrande, e sua família, estão convidados para o evento em prol da
ONG que ajuda crianças de ruas. O evento acontece hoje, na Cidade de São
Paulo. Confirme sua presença e enviaremos os dados do local. Contamos com o
senhor.”

Retorno para o escritório e Poliana ainda está lá, sentada e bem irritada.
— Vamos a um evento hoje.
Ela me olha animada.
— Sophie também vai.
— Melhor do que nada!
— Vou buscá-la na minha avó.
— Vou junto!
— Coloca um rastreador no meu pênis, assim você não precisa me seguir
em todo local.
— Seu ridículo! — Ela passa por mim. — Eu vou e ponto final. Não sou
obrigada a ficar aqui. E sim, desconfio de cada passo que dá.
— Jura? Não fui capaz de notar — ironizo.
Isso vai acabar. Só preciso de mais alguns dias.

Estamos na sala da minha avó. Ela está preparando um bolo e disse que
Sophie não sai, enquanto não comer.
— Pai, é muito longe o lugar que vamos? — pergunta sentada no meu
colo.
— Não, meu amor.
— E aquela ali também vai?
Poliana olha feio e sorrio.
— Vai sim.
— Todo lugar que a gente for, ela vai? Credo!
— Vou sim, porque sou mulher do seu pai, queridinha.
— E eu sou filha! — Sophie mostra a língua para ela.
— Olha aqui, queridinha...
— Chega as duas! — falo firme.
— Jacob vem aqui um pouquinho! — minha avó me grita.
— Já venho. E não precisa me seguir, Poliana — provoco.
Coloco Sophie sentada no sofá e me levanto. Vou até a cozinha, onde
minha avó cobre um bolo com calda de chocolate.
— Sente! — Ela indica a cadeira e pelo seu tom, não é nada bom o que
vai dizer.
— Prefiro ficar de pé.
— Eu mandei sentar! — ela diz e sento.
— Olha aqui, mocinho, eu estou cansada!
— O que eu fiz? — Faço careta.
— Não nega quem a Sophie puxou. Faz igualzinho a ela quando sabe que
errou, e que vai levar bronca.
Ela termina o que está fazendo e coloca a panela suja junto a colher na
pia. Então se encosta na pia e cruza os braços.
— Eu não aguento mais a Sophie ligando para mim, dizendo que o pai e
a madrasta estão brigando como loucos. Assim como eu também não aguento
mais essas brigas da Poliana e da menina. Ela não tem idade para ficar passando
por tudo isso...
— Vó...
— Eu ainda não terminei. Se as coisas estão a este ponto, é melhor
encerrar. Não sei o que está acontecendo dentro da sua cabeça ou do seu coração,
mas tem muita gente envolvida nisso. Você não ama a Poliana, e só Deus sabe o
porquê casou com ela. A briga de vocês dois sempre envolve a Daiane Escobar, a
pobre moça que nem aqui fica para se defender. Então se está tendo um caso
com ela, ou sei lá, como vocês jovens chamam, trate de resolver a situação aqui
primeiro.
— Pelo amor de Deus! Eu não tenho nada com a Daiane. Nunca que eu a
sujeitaria ser uma amante. Ela merece muito mais que isso. Posso não amar a
Poliana, mas não traio, porque não sou assim. E tampouco usaria Daiane para
isso.
— Ah, então confessa que não a ama! Por que se casou, Jacob? Me diga
de uma vez por todas, ou eu juro que te coloco no forno, e ligado, até você dizer.
— Não posso falar disso aqui.
— Então quando?
— Assim que eu voltar do lugar que irei hoje.
— Ótimo. E pense bem, porque seja lá o que sente pela Daiane, precisa
ser resolvido.
— Eu não sei...
— Não sabe o quê?
— O que sinto. Estou muito confuso. Eu nem a conheço direito, mas
quando a vejo, fico estranho, e só de ouvir seu nome, eu... Esquece. — Deixo o
ar sair, e relaxo os ombros.
— Meu filho, você sempre teve grande admiração pela família dela.
Porém, talvez tenha criado tanta admiração por ela, que isso se transformou em
outro sentimento. Nos dias que ela esteve aqui fez com que este sentimento se
libertasse por completo.
— Vai ser ridículo o que vou dizer, mas e se eu apenas estiver sentindo
isso por ser um grande fã dela e da família?
— Também pode ser, o que eu duvido, mas só vai descobrir tentando, e
estando com uma mulher que não ama, não vai ajudar. Entenda, não podemos
colocar substitutos em nossos sentimentos. Cada pessoa terá seu lugar. O tempo
é a resposta para tudo. Mas antes de tomar qualquer atitude em relação a esta
moça, precisa resolver sua situação aqui...
Ouvimos um grito da Poliana e corremos para a sala.
— Ela pisou de propósito! — Poliana grita mexendo no pé.
— Não pisei! Eu não iria fazer isso! — Sophie grita, mas vejo em seu
rosto que está mentindo. — Pai, eu não fiz nada.
— Você fez sim, garota! — Poliana grita.
Minha avó me olha e balança a cabeça negativamente. Então sussurra em
meu ouvido:
— Pegou essa bomba sabendo que poderia explodir, agora arque com os
estragos — diz e sai da sala, levando a Sophie junto.

Daiane Escobar

Faz um mês que não vejo o Jacob, mas o babaca não sai da minha mente.
E depois de conhecê-lo ainda mais no dia do jantar, eu fico inconformada por ele
estar com a Poliana. Se fosse qualquer outra mulher, tudo bem, mas a Poliana é
loucura. Porém, não quero pensar nisso. Prefiro deixar qualquer coisa estranha
que sinto por ele, de lado, estou fora de confusões.
— Você vai, não é? — Liziara pergunta. Estamos sentadas na sala.
— Vou, Lizi.
— Ótimo. O evento é por uma boa causa, mas as pessoas ali
normalmente são irritantes. Vou deixar as meninas com minha mãe. Paula disse
que vai ao evento também.
— Mas não irei ficar enrolando lá. Tenho um compromisso hoje.
Ela me olha e sorri.

— Conheço?
— Sim. É grande, grosso...
— Daiane, poupe os detalhes.
— Mas eu disse que você conhecia. E já se sentou e deitou nele!
— Daiane!
Gargalho.
— É meu colchão, tonta. Eu quero voltar logo e dormir. Não estou com
cabeça para festas hoje.
Ela me dá um tapa na perna.
— Sua idiota! — diz rindo.
— Você que é maliciosa.
— Sou mesmo. Seu irmão me ensinou a ser assim.
— Me poupe totalmente desses detalhes!
Ela ri.
— Bom, tenho que ir. Tenho alguns compromissos. Não tenho aula, mas
tenho muita coisa para fazer. Nos encontramos lá, ou vamos todos juntos?
— Nos encontramos lá. Não sei que horas irei ficar pronta, e o David não
é um homem muito paciente. — Sorrio.
— Nisso você tem total razão.
— Sempre tenho. — Nos levantamos e ela se despede com um beijo.
Da porta, grita que nos vemos à noite.
Subo para o meu quarto e me jogo na cama.
— Eu devia ter ido viajar antes de qualquer evento. Enrolei para ir a
qualquer lugar e sumir da mídia, e hoje vou para um lugar repleto deles —
resmungo.
Preciso ainda visitar a Ana hoje. Eu apenas queria sumir do planeta. Será
que a NASA topa me enviar para qualquer lugar no espaço por alguns dias?
Meu celular vibra no criado-mudo, e quando pego para ver o que é,
apenas me surpreendo.
Abro a mensagem.

Daiane, eu vou para pertinho de você hoje! Meu pai vai me levar com ele em
um lugar e ele disse que é em São Paulo, e você mora aí. Será que vamos nos
ver?

Fico olhando a mensagem por muito tempo, chocada.

Oi, meu amor! Fico feliz por isso. Você sabe onde é?

Estou com um pressentimento um pouco ruim. Algo me diz... Não! Seria muito
azar para mim. Óbvio que não.

Não sei direito. Mas acho que é algo de ajudar. Depois falo com você. Beijos.
Estou com saudades!

Não respondo. Não pode ser!


Levanto, pego minha bolsa e celular e saio correndo. Estefan fala algo,
mas não escuto. Entro em meu carro e saio. Vejo que o carro dele segue o meu.

Chego ao local onde será o evento. Estaciono, e dou sinal para o Estefan
ficar. Subo a escadaria de entrada. Está um entra e sai de pessoas com caixas e
arranjos de flores. Paro na frente de um rapaz que olha uma lista nas mãos.
— Oi! — digo o mais animada possível.
Ele me olha e não tem a melhor expressão.
— Este local está fechado para um evento. Não pode entrar, senhorita.
— É eu sei! Eu queria saber se o senhor poderia confirmar se meu nome
está na lista? Eu confirmei, mas meu celular pifou, bem na hora. Estou
desesperada — minto e ele me olha com desconfiança. Sorrio e ele bufa.
— Qual o seu nome?
— Daiane Escobar. — Ele puxa o último papel e analisa.
— Sim. Seu nome está — diz secamente.
— E confirma também se encontra o da minha tia. É Jaqueline Ferreira.
— Que a tia da Beatriz me perdoe por mentir usando ela, mas é o único nome
com J que me veio à memória. — Por favor, moço!
Ele respira fundo.
Aproximo-me bem, e corro os olhos por onde ele passa lentamente e
caneta, e então vejo o nome que tanto queria não encontrar: Jacob Casagrande.
Mil vezes merda!
Meu celular começa a tocar na hora, e ele me olha surpreso, e só então
me lembro da minha mentira.
— Veja só, é um milagre! — Retiro o celular da bolsa. Ele me olha sério.
— O nome da sua tia não está na lista!
— Que pena para ela. Queria tanto vir. Mas obrigada. Fui!
Desço as escadas correndo e por pouco não caio. Entro em meu carro, e
então vejo quem me ligava. Era a Ana. Provavelmente para saber se eu vou na
casa dela.
Ajeito-me no carro, coloco o cinto e dou partida.
Sigo diretamente para a casa dela. E com muito ódio. Eu tenho que ter
feito algo de muito ruim em outra vida — se é que existiu — para ter tanto azar
assim.
Chego à casa dela, e saio do carro fechando a porta com raiva. Passo
pelos seguranças e cumprimento. Luciano, o segurança mais antigo do meu
irmão, abre a porta para mim. Entro chamando pela Ana, que não responde.
— Aqui ela está ou os seguranças teriam dito o contrário.
Caminho para a cozinha. Preciso de água para me acalmar.
— Ah! Meu Deus! — Viro-me de costas.
— Daiane... E-eu... N-nós...
— Achei que a quarentena fosse algo para ser seguido corretamente. Que
nojo ver isso — digo.
— Maninha, já te avisaram que se avisa quando vem na casa do seu
irmão casado? — Henrique diz com a ironia bem evidente.
— Já te falaram que sua irmã viria hoje, e que ela tem passe livre para
entrar aqui sem ser anunciada? Porra, já se vestiu?
Ele passa por mim e diz:
— E quem disse que precisa estar dentro, para ter prazer — diz se
referindo ao que eu disse sobre a quarentena.
Dou um tapa em seu braço com força e ele sai rindo.
Viro-me e Ana, que é bem branquinha, está muito vermelha.
— Daiane, eu te liguei, achei que não viria.
— Então resolveu usar a cozinha para outra coisa? — provoco.
— Seu irmão...
— Esquece, boba!
Cumprimento-a, pego água. Bebo e vamos para a sala.
— Onde estão as princesinhas?
— Ambas dormindo. — Sorri.
— E como se sente?
— Bem. Na primeira gravidez foi mais complicado a recuperação, agora
está sendo melhor.
— Laís dando muito trabalho?
— Sabe que não! — diz animada. — Já Yasmim, sim. Cada vez andando
melhor, e começando a falar mais. Mexendo em tudo, então se junta com o pai e
me deixa louca. Acredita que até aprendeu a cruzar os braços e me olhar brava
como ele?
Rio.
— Se não puxasse nada do Henrique, não seria divertido. Minha mãe diz
que ele era muito agitado, e foi o que mais deu trabalho quando pequeno, junto
ao meu tio.
— Nem me fale! Mas, então, fiquei sabendo do evento hoje, porém não
tenho como ir. Quero ficar mais tempo com as meninas, aproveitar que estou
longe do trabalho. O Henrique não quer ir, se eu não for.
— Eu meio que fui obrigada a ir pela Liziara. Confirmei presença ontem,
porque ela passou a semana inteira me enchendo o saco. Mas eu não queria ir.
Minha mãe também vai, o que se torna mais uma me obrigando a ir.
— Se anima, boba. Esses eventos sempre têm algo para nos divertir.
— Não vejo o quê! — digo desanimada.
— Imagino que o Marcos não vá também.
— Não. Com o Arthur recém-nascido, não tem como. — Sorrimos.
— Então, por que essa carinha desanimada?
— É que...
— Mulheres da minha vida, tenho que ir! — Henrique deposita um beijo
na minha testa e um beijo na Ana, então sai.
— Então, agora pode me dizer. O que tem te deixado desanimada?
— Nem eu sei dizer o porquê estou ficando assim. É complicado, mas
vou resolver.
Passamos o resto do tempo conversando sobre várias coisas. Ela disse
como tem se mantido firme em relação aos pais. Antes de ir embora, a Yasmim
acordou, e brinquei um pouco com ela. Depois dei um beijo na Laís, que ainda
dormia, e fui embora. Queria ver o Arthur, mas o banho para relaxar falou mais
alto.
Cheguei em casa e fui direto para o banho, coloquei algo confortável e
me deitei para descansar bem, porque a noite será muito, mas muito longa.

Estou na porta do evento. Eu e minha mãe já passamos pelos seguranças.


— Vai, Daiane, você precisa entrar! — Ela me empurra. Atrás de nós
uma fila enorme se forma e ninguém está com uma cara de felicidade por isso.
— Mãe, eu perdi a coragem. Ele vai estar aqui. Eu vi o nome dele!
— Você tem que parar de fugir desse homem, minha filha!
— Eu não quero entrar!
— Filha, olha o vexame. Estão todos olhando.
— Mãe...
— Daiane Gabrielle, entra agora! — Ela me empurra, e por pouco não
caio.
Agarro seu braço, e seguimos à procura do meu irmão e da Liziara.
Cumprimentamos alguns conhecidos, e encontramos o David e a Liziara. Ambos
sentados em uma mesa discreta nos fundos.
Sento-me rapidamente.
— Demoraram! — David reclama.
— Porque sua irmã empacou na porta. Parecia uma mula, essa teimosa.
— Por quê? — ele questiona.
— Por nada! — Pego a taça de champanhe dele, que está cheia e bebo de
uma vez.
Eles me olham surpresos.
— Estava com sede! — digo e minha mãe sorri sem graça.
— Pelo visto, vai lotar! — Liziara comenta olhando ao redor.
— Sim! Mais de cento e cinquenta convidados, fora o pessoal da mídia
— David diz.
— Fazendo a vez do Henrique em bisbilhotar tudo? — minha mãe
pergunta a ele e rio.
— Não! — ele diz e sorri.
— Mãe, vamos ao banheiro?
Liziara e David nos olham estranhamente.
— Não, eu não estou precisando.
— Mãe!
— Ah sim, verdade. Bexiga solta — ela diz e se levanta rapidamente.
Faço o mesmo.
— O que está acontecendo? Vocês duas estão estranhas — David diz
desconfiado.
— Estão mesmo! — Liziara concorda.
— Nada não! — respondemos juntas.
Fomos correndo ao banheiro. E por sorte ainda estava vazio.
— Mãe, estou tremendo! Não vou conseguir ficar aqui.
— Daiane, o que realmente sente por esse moço? Porque preciso saber o
nível de alerta de perigo que vamos enfrentar hoje.
— Mãe, não sei. Eu apenas não quero vê-lo.
— Talvez não veja. Ouviu seu irmão dizendo a quantidade de pessoas.
Vai lotar muito.
— É, você tem razão.
— Sou mãe, sempre tenho!
— Vamos!
— Agora, espera. Realmente me deu vontade de usar o banheiro.
Rio.
— É o nervoso que me faz passar. Sou cardíaca, eu sempre disse!
— Não é não! Vai logo.
— Não me apresse. — Ela me dá sua bolsa de mão para segurar.
A porta do banheiro se abre e é a Liziara.
— O que é isso? Reunião dos Escobar?! — brinco.
— Você tem dois segundos para me dizer o que está acontecendo, antes
que seu irmão comece a dar de delegado aqui para descobrir. Ele está
desconfiado e achando que sei algo. Eu não sei de nada, e assim não tem graça
alguma. O legal é dizer que não sei, quando eu sei.
Sorrio.
— Tem um cara, o cara da fazenda que eu fui parar quando viajei. Ele é
marido da Poliana. Rolou uma certa química, e ele vai estar aqui hoje. Estou
desesperada.
— A Poliana vai estar aqui?! — ela grita.
— Não sei. Liziara, o assunto não é esse, foca!
— Ok. O que temos que fazer? Podemos arrastar ela para algum lugar,
depois matamos e sumimos com o corpo. Ana e Bia ajudam. Bom, a Bia ajuda
mantendo os homens fora disso.
— Não, sua louca!
— Também pensei que fazer na frente de todos é mais adrenalina. Eu
topo!
— Não vamos fazer nada, louca! Vamos manter a calma e compostura.
Vamos ser civilizadas, com ela vindo ou não! E o David não pode saber de nada.
— Fechado!
Minha mãe aparece e lava as mãos.
— Quem vamos matar? Mulheres Escobar reunidas é preocupante — ela
diz nos olhando através do espelho.
— Não vamos matar ninguém. Vamos ser civilizadas e manter a calma.
Estão me deixando mais nervosa.
— Está bem. Então vamos, antes que o David invada aqui — Liziara diz.
Abrimos a porta do banheiro e damos um grito de susto.
— O que está acontecendo? — David pergunta.
— NADA! — respondemos em coro. Passamos por ele e retornamos
para a nossa mesa calmamente.
O local está mais cheio.
Nos servem bebidas, e acompanhamentos. Meus olhos percorrem o local
completamente. Nada ainda. Sinto um alívio por isso.
— Filha, está pálida! Vai tomar um ar. Eu acompanho você.
Concordo e saímos para fora.

Algumas pessoas passam por nós e nos cumprimentam. Encosto na


parede e respiro fundo.
— Que prazer em revê-las! — Olho para a voz. O homem do bar, que
dançou com minha mãe.
— Alessandro?! — ela diz surpresa.
— Surpresa em me ver? Claro que sim. Mas antes que pense, não estou
te seguindo. Apenas fui convidado.
Ela concorda e sorrio.
— Um prazer em revê-lo também — digo.
— Passa bem? Está pálida — ele pergunta.
— Sim! Apenas muito abafado lá dentro.
Ele concorda.
— Bom, nos vemos, lá dentro. Até logo! — Ele sorri e se retira.
Minha mãe me olha boquiaberta.
— Eu não acredito que ele está aqui. Está me seguindo com toda certeza
— ela diz.
— Não seja doida. Ele foi convidado.
— Verdade! Tem razão.
— Sou Daiane Escobar, sempre tenho razão. — Rimos.
— Filha, vamos entrar?
— Vou ficar mais um pouquinho. Mas pode ir, vou ficar bem.
Ela concorda e então entra.
Vou para a lateral, mais afastada da entrada, e do movimento.
Sento no altinho, e pouco me importo com minha roupa. Só preciso de
mais ar, e ficar sentada. Encosto a cabeça na parede e fecho os olhos.
O que realmente está acontecendo? Estou tão confusa. Não sei nada
sobre sentimentos assim. Nunca senti de verdade. Ouvia meus irmãos, pais e tio
falar, mas nunca fui eu a sentir. Henrique sempre contou com tanto amor, como
foi se apaixonar à primeira vista pela Ana, e o David em como a amizade dele
com a Liziara virou casamento, e também minha mãe sempre contou como foi
que tudo começou com meu pai, e óbvio que vi como tudo foi com o meu tio e a
Beatriz, mas comigo... Droga, por que é tão difícil entender as coisas quando
acontecem com você?
Se fosse um caso criminal, ou um problema familiar, eu saberia
exatamente o que fazer, mas isso, esse sentimento louco, eu não tenho ideia. Eu
preciso entender. Mas como entender, o que não sei nem por onde começar? Se
meu pai estivesse aqui, ele saberia como ajudar. Minha mãe faz seu melhor, mas
não quero envolver ela assim, nunca fui de me abrir com todo mundo, a não ser
com ele, então me sinto travada quanto a isso.
Eu conheci tantos caras, e alguns até legais, mas tinha que ficar assim
justo com um casado? Seria possível sentir algo diferente por um cara que nem
sequer beijou, ou passou mais tempo? Tantas perguntas sem respostas. Eu odeio
ficar em uma situação na qual não entendo.
— Tentando fugir? — Me assusto com a voz. Abro os olhos e meu
coração dispara.
— O que faz aqui? — pergunto e ele sorri. O maldito sorriso de menino
levado.
— Estou tomando um ar.
— Lá dentro realmente está abafado.
— Me seguindo? — pergunto.
— Não. Apenas vim para cá, tomar ar, e acabei te encontrando.
Concordo.
— Chegou há muito tempo?
— Faz algum tempo sim. Mas já me senti sufocado com tanto
cumprimentos e sorrisos forçados.
Sorrio.
— Sei bem como é. Bom, melhor eu entrar.
— Não! Não precisa fugir, Daiane. — Ele se senta ao meu lado. — Só
queria entender, por que sempre tenta me evitar.
— Não tento! — minto.
— Sei... Então, fiquei sabendo que nasceu sua nova sobrinha e seu
primo.
— Nasceu sim. — Sorrio ao me lembrar deles.
— Meus parabéns.
Ficamos em silêncio por um tempo.
— Ficou com meus casos?
— Ao que parece sim. Casos muito bons. Fiquei surpreso em saber que
tirou férias antes de conclui-los.
— Sim. Precisava. Não ficaram muito felizes com isso, mas eu precisava
disso.
— Entendi. Prometo que vou cuidar deles da melhor forma.
— Sei que vai.
Sorrio.
— Daiane, nós precisamos conversar, mas não aqui. — Me levanto e ele
faz o mesmo.
— Jacob, não. Eu sei do que se trata essa conversa e não precisamos.
Você tem a Poliana, e tem uma filha. Eu não quero ficar no meio disso. Eu
preciso evitar tudo isso. Então é melhor não conversarmos, porque eu sei quem
vai sair perdendo, e não quero. Não vou mentir, odeio perder, mas também não
irei destruir lar de ninguém. Não gosto da Poliana, e não vou mentir sobre isso
também. Eu não a suporto e nunca suportei. Apenas não entendo o porquê de
você estar com ela. Me surpreendi quando descobri que eram noivos naquela
época, mas apenas por saber que tipo ela era. Mas quer saber? Nada disso
importa. Eu não posso ter essa conversa. E realmente preciso sair daqui.
Vou descer, mas ele me segura.
— Daiane, não é bem assim. Não podemos fugir, do que nem sequer
sabemos o que é. Precisamos sim conversar...
— JACOB!
Fecho os olhos ao escutar a voz que chama por ele. Ele me solta e se vira.
— Que merda foi essa? Eu sabia que você estava me traindo. E ainda
com essa vagabunda! Seu cretino. Em um evento foge para ver a amante! — ela
berra.
Algumas pessoas começam a se aproximar, não só as que chegam no
evento, como as que passam na rua. Homens com câmeras, e mulheres com
celular e microfones, se aproximam também.
Ótimo, agora o espetáculo está pronto.
— Poliana, abaixa o tom, e tome cuidado com suas palavras. Não está
acontecendo nada! Eu nunca te traí — Jacob diz calmamente. Mas vejo a
dificuldade que tem.
— Não? E por que vivia vendo fotos dela na internet? Por que de todos
lugares ela foi parar na sua fazenda? E hoje você some de perto de mim e da sua
filha e te encontro aqui? Ah, teve também a boate que foram juntos! — Ela ri. —
Não sei porque me surpreendo. Ela é uma Escobar, e eles sempre adoram fazer
de tudo para passar à frente, e principalmente me ferrar!
— Olha aqui, Poliana...
— Olha aqui você, Daiane! Eu cansei de sempre ter vocês destruindo
minha vida. Eu cansei dessa putaria toda. Você é uma vadia. É uma promotora
rodada, e é claro que o Jacob iria se atrair por você, afinal se atraiu por uma
igual no passado, a mãe putinha da filhinha dele! — ela grita e ri.
— Papai! — Sophie grita, chorando, e só agora percebemos a presença
dela, e não só dela, como da minha família e muito mais gente.
— Daiane, que merda é essa? — David pergunta se aproximando.
— Filha, o papai...
— Por que ela falou isso da minha mãe? — ela pergunta chorando e me
corta o coração.
— Porque ela era uma qualquer. Nunca foi linda, e muito menos uma boa
moça! Ela mentiu para você! — Poliana diz e então perco a cabeça e acerto um
tapa em seu rosto.
— Você me ofendeu e eu aguentei. Ofendeu minha família e também
aguentei, mas não vou aturar você falando isso para uma criança, sua louca! —
Ela ri.
— Papai, você mentiu! — Sophie diz chorando muito.
— Filha, eu... — Ela se afasta dele.
— Mentiu, pai!
Minha mãe puxa ela.
— Mãe, leva ela para nossa casa!
— Eu não quero ir! — ela diz chorando.
Aproximo-me dela e seguro seu rostinho.
— Confia em mim?
Ela concorda.
— Então vai com minha mãe e depois vou até você.
Ela concorda novamente.
— Vai no meu carro, mãe, a chave está na minha bolsa.
Ela assente e sai com a Sophie.
— Poliana, você viu a merda que você fez? — Jacob diz, e percebo que
seu tom é diferente agora, ele se aproxima dela, e David se aproxima dele.
Flashes não param de disparar.
— Eu fiz? Foi você e essa prostituta que fizeram. Vocês dois se
merecem! Dois idiotas. Mas, antes saiba que aqueles que admira, quebram leis,
cometem crimes... Isso mesmo! Registrem isso! — ela diz a todos ao redor, e os
que tem câmeras, registram sem parar, enquanto os com microfones, se
aproximam mais.
— Cala essa maldita boca, porra! — Jacob grita e me assusto e ela
também.
— Vai defender mesmo eles? Então é pior que eles!
— Olha como fala da minha família, sua filha da puta! — Vou para cima
dela, mas o David me segura e Liziara também.
— Segura ela, Liziara! — David grita.
— Daiane, se controla! Lembra do papo de manter a compostura? — ela
diz.
— Com essa infeliz não tem como!
— Deixa ela, Liziara. Deixe ela mostrar a todos quem é ela de verdade,
assim como você e todos os Escobar mostram, mas os cegos não veem! Você,
Daiane, não aceita que eu casei com um homem que me ama, e que é mais rico
que você! — gargalha. Está sem controle.
— Eu te amar? Tenha dó! Nunca te amei. Sabe por que me casei com
você, Poliana? Porque seu pai me implorou. Quis que eu fosse até o final,
mesmo que depois de alguns dias pedisse o divórcio, apenas para não
envergonhar ainda mais a sua família, que você e sua mãe afundaram e faliram!
Eu nunca te amei, e jamais iria ficar eternamente casado com você. — Olho
espantada e ela também para Jacob.
— É mentira! É mentira! — Ela se joga nele e começa a bater em seu
peito.
— Sai de perto de mim! — Ele a afasta, e ela cai ao perder o equilíbrio.
— Eu aguentei por ele, que não merece a filha que tem. Porque você sim é uma
qualquer. Que não sabe o que é amor de verdade. Quer apenas dinheiro e nada
mais. A Daiane nunca poderia destruir o que nunca existiu. — Ela se levanta e
vem para cima de mim, a Liziara me puxa e o Jacob vai para cima dela, mas meu
irmão segura ele.
— Não faça nenhuma merda, cara! Tem muita gente, e isso não precisa
acontecer. Mantenha a calma.
— Eu quero que se foda! — ele grita. — Me solta, David!
— Não vou te soltar!
— Solta, deixe ele mostrar as garras. Vamos lá, Jacob! A mídia vai adorar
isso! — Poliana grita.
— Me solta! — ele grita e se debate.
Alguns seguranças se aproximam, mas David faz sinal para saírem. O
mesmo acontece com nossos seguranças.
Ele derruba o David, e me assusto com a agilidade que faz isso. Poliana
ri.
Liziara me solta. Jacob está descontrolado. Ele vai para cima da Poliana,
e me coloco na frente dela.
— Jacob, olha para mim! Você não precisa fazer isso. Ela não merece
que se suje assim.
— Vem, Jacob, mostra seu lado mau! — ela provoca.
— Cale a boca, sua louca! — ele grita, e continua vindo na direção dela.
— Jacob, que isso, cara! — Alessandro aparece não sei de que local. —
Se controla, porra! Você não é assim. — Ele segura o braço do Jacob, mas ele
puxa com força. Ele me empurra para o lado e vai para cima da Poliana, que o
provoca xingando e ofendendo a Sophie.
— JACOB! — David e Alessandro gritam segurando ele.
Tudo está sendo registrado. Liziara se aproxima da Poliana.
— Cale a boca, porra! Pare de provocá-lo. Eu sei que você quer que ele
perca a razão e te agrida, mas não vamos deixar! — Liziara diz segurando seu
braço.
— Jacob, chega! Ela não merece isso.
— Ela merece tudo que não for bom. Ela é suja, é uma cobra à espera
para o bote! — ele grita.
— Jacob, não me faça ter que fazer isso! — digo a ele.
— Eu quero que se dane. Ela mexeu com minha filha!
Ele se solta novamente.
Coloco-me rapidamente na frente dele e seguro seu rosto. Ele me olha e
seu olhar é escuro. O brilho de seus olhos não existe neste momento.
— Jacob Casagrande, o senhor está preso! — digo a ele, com a voz
trêmula.
— O quê?! — ele diz.
— Sim. Está preso e tem o direito de permanecer calado. Vou chamar
uma equipe. E Poliana Xavier também deverá nos acompanhar — David
conclui.
— Eu o quê?! — Poliana grita.
— Calada! — digo a ela.
— Eu sinto muito... — digo a ele.
Um carro da polícia chega após alguns minutos e todos nós vamos para a
delegacia. Na porta da delegacia tem muitos paparazzi, e repórteres que, com
toda certeza, foram informados pelos outros do escândalo.

Óbvio que eu não deixaria ele em uma cela, apenas precisava acabar com
todo aquele escândalo. Dei o endereço de casa e pedi para o Alessandro ir dar
notícias a minha mãe e tentar mantê-la calma. Estamos na sala do David.
Jacob retira o paletó e joga na cadeira. Pega o celular, mexe em algo e
coloca no bolso, então se encosta na parede e cruza os braços. Está cansado, para
não dizer derrotado. A ira ainda permanece em sua face.
— Poliana, eu vou enviar um relatório para a delegacia onde trabalha,
informando sobre o que aconteceu. Não vou me envolver em caso algum que
tenha você, então apenas mandarei que alguém venha retirar você daqui, e levá-
la para que as autoridades de lá possam resolver.
— Não, você não vai fazer isso. Eu vou para casa normalmente, e não
terá relatório. Ou eu conto tudo o que sei sobre o caso da Liziara, e que todos os
Escobar colocaram a mão para que fosse abafado da lei. Eu posso cair, David,
mas levo todos ao poço comigo!
David me olha e esfrega o rosto. Liziara me olha e sei que se sente
culpada neste momento, seu olhar mostra isso.
— Você é muito baixa mesmo! — David diz.
— Eu posso ter feito muita coisa errada como policial. Talvez até
quebrado leis, e hoje provocado a ira do Jacob e até prejudicado a relação dele
com a filha, mas vocês são piores. Tem muitos casos que resolveram fora da lei,
e o da Liziara é um, eu participei e sei de cada detalhe. Me ferram e ferro vocês.
Então eu vou embora, tranquilamente. — Ela se levanta.
Olho para o David e ele abre os braços em rendição. Sei que se fosse
apenas ele envolvido no caso da Liziara, ele não iria se importar, mas se
preocupa muito com a família, para sujar a todos nós.
Poliana se aproxima da porta e se vira sorrindo.
— Jacob, não precisa pedir o divórcio, eu darei, mas irei querer um carro
novo, uma casa nova, e muito dinheiro. Ou a polícia da nossa cidade vai adorar
saber que você me agrediu! — Ela ri cinicamente. — E antes que eu me esqueça.
Quero meu nome fora da mídia, em relação a tudo que aconteceu hoje. Pensando
bem, não será legal eles na minha cola, e isso vai me sujar. Não se esqueçam, eu
me ferro, mas levo os Escobar e os Casagrande juntos.
Ela abre a porta.
— Poliana? — Jacob chama por ela, que olha para ele.
Ele retira o celular do bolso e então começamos a ouvir a gravação de
tudo o que foi dito nesta sala. Ela olha surpresa assim, como todos nós.
— Ouvimos apenas você se entregando e dizendo tudo o que fez. Então,
faremos assim: Você vai embora, acompanhada por um oficial. David vai fazer o
relatório. Vamos nos divorciar, e você não terá nada. A mídia, vai sim, apagar
todo o material, por causa da minha filha, e cada um segue a sua vida. Se abrir
sua boca, você não vai para o fundo do poço, mas sim para o fundo do bueiro,
porque vai se afundar nas próprias merdas, e não vai levar ninguém junto. — Ele
guarda o celular no bolso. — Então fica aqui, espera um oficial, e o relatório, ou
essa gravação vai parar na mídia. E você terá dois promotores, e um delegado,
contra você. Sendo assim terá Casagrande e Escobar contra Xavier e Poliana,
isso não será nada bom. Porque não restará nem o bueiro, porque seria caçada
até em outro planeta, e sabe que seria encontrada em algum momento!
Ela tem raiva no olhar. Se senta na cadeira e vejo o quanto suas mãos
tremem.
— Isso não vai ficar assim! — ela diz com ódio nas palavras.
— Poliana, acabou para você e, na verdade, não são apenas dois
promotores e um delegado contra você. Terá um juiz, duas advogadas e um
advogado que ama uma briga — digo a ela.
A porta se abre e Cleber e Débora entram.
— Escutamos tudo. Me coloca na lista das advogadas contra ela —
Débora diz e sorrio.
— Tem um investigador também! — Cleber fala.
— É, Poliana, realmente acabou para você! — Liziara diz rindo.
Poliana está vermelha de raiva e seu olhar é duro.
Após tudo o que tinha que ser feito, avisei por cima ao meu tio e ele
cuidará da mídia. Os repórteres foram retirados da porta da delegacia.
— Preciso ver minha filha.
— Eu te levo até em casa!
Ele concorda.
— Depois mando buscarem seu carro no estacionamento do evento.
— Daiane, eu...
— Não Jacob, agora não. Aconteceu muita coisa e quase destruí a
carreira da minha família, então não!
Ligo para o Estefan da delegacia e o mando vir me buscar.

Assim que chegamos em casa, grito pela minha mãe.


Ela vem correndo junto com a Sophie e o Alessandro.
— Papai! — Sophie corre para os braços do pai.
— Filha! — Ele a abraça. — Vamos, porque o papai precisa conversar
com você.
Ela concorda.
— Tchau, tia Paula!
Minha mãe sorri para ela e então dá um beijo em seu rosto.
— Tchau, Daiane!
Dou um beijo nela.
— Alessandro tem como...
— Eu levo vocês.
— Só me deixa no evento que preciso pegar meu carro lá.
Ele concorda.
— Obrigada por ajudar! — digo ao Alessandro.
— Foi um prazer! — ele diz.
— Obrigado! — Jacob diz a minha mãe e ela assente. Então eles saem.
Sento-me no sofá e minha mãe acompanha eles até a porta. Então retorna
e se senta ao meu lado.
— Mãe.... — Jogo-me em seus braços e choro desesperadamente.
Nove

Jacob Casagrande

Entro na casa, após ser anunciado.


Faz alguns dias desde o ocorrido. Infelizmente poucas foram as
reportagens que consegui evitar que fossem ao ar. Conversei no colégio da
Sophie e ela vai ficar afastada por alguns dias, até a história não ser tão
comentada, enquanto isso ela segue fazendo trabalhos e lições que foram dadas
em casa.
Poliana foi longe demais com tudo. Sei que ela já está aqui na cidade,
pois pegou tudo o que era dela do apartamento, mas não a vi desde aquele dia.
Aproximo-me da biblioteca, onde fui informado que a pessoa estaria.
Bato na porta, e a voz diz para eu entrar.
Ele me observa e, como da outra vez, seu semblante é triste.
— Senhor Xavier. — Ele indica a poltrona a sua frente e me sento.
— Me chame apenas de Luiz. — Ele sorri.
— Acho que já sabe o motivo da minha vinda.
Ele concorda e retira os óculos.
Vou falar, mas ele faz um sinal para eu esperar.
— Obrigado. Você fez o favor que te pedi, e tenho por total obrigação
agradecer. Eu te pedi um favor difícil. Isso mostra ainda mais o quanto ela não te
merece. Eu peço perdão por toda situação em que coloquei você e sua família.
Mas já sou um velho, não sei quanto tempo irei durar, pois minha saúde já não é
a mesma, e eu precisava apenas ter um pouco de paz, sem as pessoas nos
apontando... — Ele sorri fracamente e desvio o olhar, porque sinto a dor de suas
palavras. — Porém, mesmo assim ela aprontou. Eu errei tanto com ela. Deus
sabe o quanto errei e o quanto me arrependo disso. — Retorno o olhar a ele, e
vejo uma lágrima solitária escorrer por seu rosto. —Você se sacrificou à toa, e
por minha culpa. Me perdoe, menino.
— O senhor, não tem que me pedir perdão algum. A Poliana é assim por
escolha dela. Se ela quisesse poderia ser uma pessoa melhor. Nosso
relacionamento poderia até ter dado certo, mas o problema é que a ganância e a
vontade pelo poder a consomem e ela deixa de lado o que realmente poderia
torná-la feliz e boa. Ninguém tem culpa dela ser assim. É adulta, tem uma
carreira que mostra dia e noite o que a vida traz para aqueles que fazem tudo
errado, então ela sabe muito bem o que é certo ou errado. Por favor, não se culpe
pelos erros dela!
— Isso mostra que nem sempre o sacrifício é a solução para o problema.
Sacrifiquei a você e até mesmo a mim, com a dor pelo meu pedido, e de nada
resolveu. Ela conseguiu estragar tudo novamente. Sei que veio para falar do
divórcio, e tem meu total apoio.
— Sim, vim exatamente por isso. Eu quero um divórcio amigável, para
acabar com tudo isso logo. Mas não sei o paradeiro dela.
— Minha esposa foi viajar para a casa de uma irmã, Poliana pode ter ido
junto. Irei agora mesmo descobrir. — Ele se levanta e faço o mesmo.
Fomos para a sala, onde ele pega o telefone.
— Pai... Jacob? — Nos viramos e o motivo da minha vinda para no meio
da sala. — O que faz aqui? — ela pergunta com raiva.
Coloco as mãos no bolso da calça jeans bege que estou. Ela olha de mim
para o pai.
— Vim para saber do seu paradeiro. Precisamos resolver essa situação
logo!
Ela ri com deboche.
— Olha, Jacob, eu fui afastada do meu emprego, estou sem dinheiro. Não
temos nada juntos, então se pensa que vou assinar o divórcio e sair de mãos
abanando está enganado!
— Pelo amor de Deus, Poliana! Já fomos humilhados demais por sua
causa. Tenha consciência uma vez na vida. Chega de envergonhar a família! —
seu pai implora, com a voz carregada de sentimentos e trêmula. Mas ela pouco
se importa, pois ri ainda mais.
— Humilhados? A única humilhada da história sou eu, papai! Eu não
vou sair de mãos abanando.
— Poliana, não faça isso, eu estou te implorando. Se ainda se importa
com seu velho pai, chega disso! — ele grita.
Respiro fundo e retiro a carteira do bolso.
— Quero uma caneta. — Eles me olham. — Não tenho o dia todo. — Ela
pega rapidamente na bolsa que está e me entrega.
Aproximo-me da mesa de jantar e apoio o cheque que retirei da carteira.
Coloco um valor e assino. Destaco do talão e entrego em suas mãos junto a
caneta guardando a carteira no bolso novamente.
— Esse valor é o suficiente para você assinar o divórcio de forma
amigável e sumir da minha vista?
Seus olhos brilham ao ver o valor, mas logo ela me olha novamente séria.
— Sim, mas quero algo a mais.
— O que, Poliana? — questiono sem paciência.
— Quero um apartamento nos Estados Unidos. Vou recomeçar minha
vida longe daqui.
— Isso é um absurdo! — seu pai diz alterado.
— Ou é isso, ou espere sentado por um divórcio amigável.
Rio.
— Poliana, vamos amanhã mesmo tratar do divórcio. Leve tudo o que
tiver de documentos, passarei para o meu advogado e ele colocará um
apartamento que eu tenho na Flórida em seu nome.
Ela sorri animada.
— Mas tem uma coisa.
— O quê?! — pergunta alarmada.
— Se você aparecer no meu caminho, ou no da minha família, eu destruo
a sua vida, e você não será aceita nem na sarjeta! Amanhã cedo esteja pronta.
Meu advogado vai entrar em contato com você. E tem mais... primeiro assina o
divórcio, depois terá tudo o que precisa.
Saio da casa o mais depressa possível. Essa mulher é louca, e se pensa
que vai sair na vantagem está muito enganada. Quando começamos a sair, ela se
mostrou ser uma pessoa, mas quando ficamos noivos na base da pressão, notei
quem ela era de verdade, e investiguei a fundo sua vida, mas então seu pai me
fez um pedido, e adoro aquele homem, e eu daria tudo para realizar um pedido
de minha mãe, mas não pude, e não queria jamais que o dia que ele não estivesse
mais aqui entre nós, eu me sentisse destruído, por ter negado a ele um pouco de
paz. Vejo casos e mais casos, e todos as vítimas querem justiça, mas acima de
tudo um pouco de paz, e não seria eu a negar a ele isso, mesmo que custasse um
pouco do meu sacrifício, porém, quando toda essa merda caiu sobre minha filha,
eu não aguentaria mais um dia nessa farsa. Sophie é a única pessoa que me
importa grandemente, e por ela eu faço e faria tudo até mesmo além do meu
alcance.
Se Poliana pensa que sairá na vantagem, está enganada.
Ligo para o banco e converso com meu gerente deixando avisado para
que não desconte nenhum cheque, até segunda ordem, e que enrole a pessoa que
tentar fazer isso.
Ligo o carro e saio pela cidade. Está fresco o dia. Abro a janela e deixo a
brisa entrar. Solto o ar e relaxo. Amanhã um grande peso sairá das minhas
costas.
Vou para a fazenda, preciso conversar com minha avó. Contei tudo a ela
no dia que retornei de São Paulo com Sophie, e até mesmo o motivo do
casamento, e ela me xingou por exatos trinta minutos, mas depois me abraçou
até me deixar sem ar, e disse que esse era o neto que ela tanto amava, sempre
pensando no próximo. Dona Joana é um amor, mesmo me deixando louco.
Estaciono na fazenda e entro rapidamente.
— Vó? — grito por seu nome.
— Aqui na cozinha. Eu sou velha, mas não surda. Precisa gritar assim?
— ela grita de volta e rio.
Caminho até a cozinha e ela está apoiada no cabo da vassoura olhando a
TV na parede onde passa uma reportagem.
— Desde quando tem TV aqui?
— Desde hoje. Pedi para colocarem. Estou na idade de ficar em frente à
televisão assistindo bobagens para depois contar tudo a você e Sophie.
Sorrio.
— Onde ela está?
— Foi na casa de uma amiguinha.
— Com a ordem de quem? — pergunto abrindo a geladeira. — Não
lembro de ter autorizado.
— Meu querido, com a minha ordem. Então isso basta.
Sorrio. Adoro provocá-la.
— Agora silêncio. Olha, olha! — Ela bate a vassoura na minha perna.
Pego uma garrafa d’água e olho o que ela indica.
Ela aumenta o volume da televisão.
— Estamos em frente ao tribunal, onde acaba de acontecer o julgamento
de Flávio Enrico. Para quem não esteve conosco desde o início da reportagem,
irei resumir. O Flávio Enrico, conhecido como Rico, foi acusado pelo homicídio
da filha Lara, de 5 anos e da esposa Milena, de 35 anos, dentro da própria casa
onde moravam. O caso se estendeu por quatro anos, pois ele se negava de ter
cometido o crime, enquanto a família de Milena alegava que ela tinha sido o
culpado, pois o relacionamento deles era bastante instável. Após muita luta na
justiça, hoje, após dois longos dias de julgamento, apresentações de provas, e
até mesmo briga entre os advogados, o juiz leu a sentença. A família da vítima e
pessoas que torciam por um bom resultado estão indo à loucura, como podem
ver. Após o juiz ter lido a sentença, não teve como conter a emoção. Afinal,
foram anos de sofrimento para a família da vítima.
— Me lembro deste caso. A sentença foi transmitida ao vivo?
Minha avó concorda.
— Shhh, estou esperando uma coisa!
— O quê? — pergunto curioso e bebo a água.
— Estamos à espera da saída do advogado da vítima para ver se ele
aceita falar conosco, e também da promotora que esteve no caso — a repórter
fala.
Minha avó sorri animada e bate a vassoura no chão.
— Ok, eu vou sair daqui, antes que seja lá o que estiver acontecendo
contagie a mim.
Ela ri.
— Fique! Tem que ver. Tomara que apareça. Você não viu quem estava
no caso?
— Não. Estive bem ocupado, nos últimos tempos, com uma louca na
minha cola. — Rio.
— OLHA! — ela grita apontando a TV e me assusto, derrubando até a
garrafa d’água molhando todo o chão, devido ao grito.
— A promotora Daiane Escobar, aceitou falar conosco. — Ao ouvir este
nome olho rapidamente para a TV. — Doutora Promotora, todos elogiam
bastante sua posição diante do caso, pois retornou há pouco de férias e entrou
no caso assumindo o lugar do antigo promotor. — Daiane assente. Sua aparência
é de cansada. — Foi difícil estar diante de um caso como este em pouco tempo?
— Todos os casos são difíceis — ela responde rapidamente e com
firmeza.
— É, foi contagiado! Está sorrindo igual a mim — minha avó diz e
reviro os olhos.
— Ficamos um pouco tensos, pois circulava que a promotoria já havia
escolhido um lado. Isso foi verdade?
Daiane sorri.
— Na promotoria não deve existir isso. Temos de ser imparciais.
Analisamos ambos os lados, e medimos o peso de cada um. É um trabalho
difícil, assim como o do juiz. Não escolho lados, eu apenas escolho o que é o
melhor para a sociedade, mesmo que algum lado saia ferido. Infelizmente, na
justiça e na vida, não serão todos que se sentirão felizes com alguns resultados,
mas tento da melhor forma escolher o que é o melhor sem deixar de lado todos
os direitos humanos.
Sorrio com sua resposta.
— Poderia nos dizer qual foi o momento mais difícil lá dentro?
— Infelizmente não posso entrar em muitos detalhes, o que vocês tinham
para ouvir foi transmitido pelo juiz ao vivo. — Sua resposta é curta e direta.
A repórter agradece e Daiane se retira com um segurança a ajudando
passar por todos os repórteres.
Minha avó desliga a TV.
— Acorda, menino! — Olho para ela. — Então, já sabe o que vai fazer?
— Fazer sobre o quê? — Me faço de desentendido.
— Se vai se arriscar com ela, ou vai morrer cheio de gatos.
Sorrio.
— Vó, eu e ela não temos nada. Confesso que sempre fui atraído por ela,
mas isso não significa que terá algo. Ainda nem me livrei da Poliana por
completo.
— Eu não falei que tem que pedi-la em casamento. Poderiam se conhecer
mais. Tem amores que vêm de boas amizades. Não custa nada se aproximar e ver
no que dá. Vocês são jovens, vão curtir e, se não der certo, amém, mas só vão
saber no que vai dar quando tentarem.
— Vó, pare de bancar a cupido. Eu vou para minha casa e, quando
Sophie chegar, me avise que venho buscá-la. Fui! — Saio da cozinha.
— Não vai limpar a sujeira que fez?! — ela grita.
— Não, os pensamentos estão me deixando cansado — retruco
provocando e ela me xinga.
Saio da casa e entro em meu carro. Encosto a cabeça no banco, e sorrio,
quando a imagem da Daiane invade minha mente.
Ligo o carro e coloco o cinto.

Já é tarde, e Sophie já está em casa. Estamos na sala deitados no sofá


assistindo filme e comendo pipoca.
— Pai, a bruxa da Poliana não vai mais morar com a gente?
— Não! Seremos apenas nós dois. — Sorrio para ela e aperto seu nariz
fazendo-a rir.
Foi difícil a nossa conversa depois do que a Poliana disse, mas, às vezes,
esqueço que minha filha está crescendo e a cada dia mais inteligente. Não
conseguiria esconder mais a história real sobre a mãe dela por muito tempo.
Então prometi a ela que nunca mais esconderia nada e ela prometeu que jamais
mentiria para mim, o que sei que não será verdade, afinal, duvido que, quando
começar a namorar daqui a alguns anos, vai dizer de primeira para mim. Com
toda certeza vai contar à bisavó e então para mim. Estremeço só de pensar na
possibilidade.
— Podíamos voltar a morar com a bisa!
— E perder a chance de nos entupir de besteiras sem ela brigar?
Ela ri.
— Verdade! Esses dias que vou ficar em casa, podíamos viajar. Nunca
mais fomos pra praia.
— Infelizmente, o trabalho não vai deixar, mas converse com a bisa,
quem sabe ela não aceita ir.
Ela emburra e sorrio.
— Eu já falei e ela disse que não tem mais idade para aguentar areia no
corpo e onde eu não podia saber.
Rio.
— Então, nas suas férias, eu prometo pegar férias juntos e vamos para
onde você quiser.
— Mas esses dias eu não queria ficar em casa, só fazendo lição. — Ela
come a pipoca e deita a cabeça no meu colo cruzando ambas as mãos. — Por
favor, por favor, por favor!
— Princesa, eu não posso ir. Se eu pudesse jamais te negaria isso.
Podemos sair para algum lugar, mas viajar é impossível.
— Que chato! — Ela se vira para a TV.
Continuamos assistindo, até que ela salta do sofá animada e, por pouco,
não derruba a pipoca.
— Eu conheço alguém que iria querer viajar comigo!
— Se for algum garoto, eu corto a cabeça dele. — Ela me olha sem
entender.
— Pai, eu sou criança. Não tenho namorado.
— Pense assim por mais cem anos. Quem é a pessoa?
— Se a pessoa quiser, você vai deixar?
— Não, até eu saber quem é a pessoa! — Coloco a pipoca na boca.
— É a Daiane! Somos amigas. Ela vai querer, eu sei!
Me engasgo com a pipoca. Afasto a travessa para o lado e pego o copo
com refrigerante.
— Papai? — ela pergunta.
Me recupero e respiro fundo.
— Posso pedir pra ela?
— Filha, ela trabalha. Não tem tempo para isso.
— Vou tentar!
Ela sai em disparada para o quarto dela.
— Olha, é raro eu te pedir as coisas, mas esse pedido é importante. Faça
com que ela diga que não pode, amém! — digo olhando para o teto.
Sophie se joga no sofá com o celular no ouvido, após alguns minutos.
— Hum-hum... Vou falar para ele... Hum-hum... Não... Ele leva! — ela
diz animada.
— Levo aonde?! — grito.
— Ok. Beijos. — Ela desliga o celular.
— Então? — pergunto preocupado.
— Ela disse que só tinha dois dias livre essa semana.
Solto o ar em agradecimento.
Levanto com a travessa de pipoca e o copo para levar na cozinha.
— Sinto muito, princesa.
— Mas por quê? Ela vai comigo. No apartamento que a família dela tem.
Viro-me rapidamente e as pipocas que ainda existiam na travessa saem
voando.
— E-ela...
— Sim, irei com ela. Mas ela disse que você teria que me deixar na casa
dela hoje, que assim podemos ir de madrugada, porque o segurança dela nos
leva. Ir daqui vai ser mais demorado.
— Não!
— Mas, pai, você disse...
— Não é não! Eu não vou levar, porque você não vai. Decisão tomada.
Não discuta comigo. Essa é minha decisão final! Você não vai e ponto.

Daiane Escobar

Estou exausta. Acordei quase na hora do jantar. Esses dois dias de


tribunal acabaram comigo. Meus pés estão parecendo uma bola. Quando
cheguei, ainda fui visitar Ana e Beatriz, para ver as crianças, e quando cheguei
aqui em casa, as meninas da Liziara estavam aqui e fui dar atenção a elas.
Quando deitei, desmaiei. Acordei com meu celular tocando e era a Sophie
dizendo que ficaria em casa alguns dias, mas queria viajar para a praia, e o pai e
a bisavó não podiam ir. Depois do que ela enfrentou, merece um lugar diferente
para se distrair, e eu também, porque estou acabada. E como faz tempo que não
vou para o litoral, resolvi ir. Termino de arrumar minhas coisas na mala. Estou
levando pouca coisa. Desço com a mala e minha bolsa.
— Daiane, não quer levar a dona Jurema ou a Marcela? Você vai estar
com criança — minha mãe diz preocupada.
— Não tem necessidade. Eu cuido dos meus sobrinhos e meu primo e
estão todos bem.
— Eu sei, mas lá deve estar uma imundície. Depois de Marcos, Henrique
foi para lá, e sabe como ele adora fazer uma zona.
— Relaxa, mãe!
— Estefan vai ficar lá com você?
— Não. Irei dispensar, e depois ele retorna para nos buscar. Não irei
precisar do carro lá, tudo é perto, e caso eu precise peço táxi.
— Filha, é perigoso!
— Mãe, já está decidido.
— Está bem! Quando coloca algo na cabeça, ninguém muda. Pelo
menos, me mantenha sempre informada. Leve remédio para dores de cabeça, e
protetor solar, um para enjoos também. Criança as vezes passa mal na serra. —
Sorrio caminhando para o escritório para pegar a chave do apartamento na
gaveta da mesa do meu pai.
Entro e sorrio. Um quadro enorme dele fica acima da cadeira. Este lugar
me lembra muito dele, não tanto quanto a fazenda, mas me traz boas lembranças
também.
Retorno para a sala, e minha mãe está sentada no sofá.
— Será que ela vem? Vocês se falaram depois? — minha mãe questiona.
— Pelo jeito que ela falou vem sim. Mas já era para estarem aqui. Será
que mudou de ideia? Melhor eu ligar.
— Sim! Ligue. Afinal, fico preocupada, com vocês em estrada foras de
hora, e fora que ela está vindo do interior e é um perigo essa hora.
Ligo em seu celular, mas dá caixa postal.
O interfone de casa toca. Corro para atender.
— Tem uma jovem aqui que deseja entrar. Se chama Sophie.
— Pode liberar a entrada, Estefan.
Desligo e abro a porta da sala.
Alguns segundos depois, ela para na minha frente com uma mochila e
uma mala de rodinha rosa. Dou um beijo nela, que entra, e quando vou fechar a
porta, uma mão me impede.
Abro e engulo em seco.
— Boa noite, Daiane... Dona Paula! — A voz rouca, que me faz vibrar,
diz parado na porta.
Fico olhando sem responder. Seu cheiro me faz alucinar, e logo o
imagino sem essa roupa e eu completamente nua.
— Filha, deixe ele entrar! — minha mãe diz me tirando do devaneio.
Dou passagem a ele, que passa por mim, deixando o ambiente com seu
perfume.
Jacob cumprimenta minha mãe e se volta para mim.
— Eu não concordo com essa viagem, quero que isso fique muito claro.
Mas por confiar em você vou deixá-la ir. Porém, qualquer problema me ligue, e
não evite em repreendê-la se for necessário. Na mochila deixei um cartão de
crédito junto com a senha e todos os documentos dela. — Seu tom é tão sério
que me surpreende. Mas percebo que age assim, apenas por amor a filha e
preocupação.
— Vai ficar tudo bem, não se preocupe! — digo apenas isso.
— Certo! — Ele se abaixa e abraça a filha. — Juízo, por favor!
— Sempre, papai! — Ela sorri animada.
— Quando voltar, vai fazer toda lição que ficará de lado durante esses
dois dias!
Ela concorda.
— E não vai ter desculpas. Sabe as regras sobre estudos.
Ela concorda, mais uma vez.
Minha mãe passa o braço ao redor dos ombros dela e sorri.
— Não se preocupe, Daiane é muito responsável. Não acontecerá nada a
Sophie.
— Não estou preocupado com isso. Minha preocupação é o que a Sophie
pode fazer com ela.
Eu e Sophie rimos, e ele nos olha sério.
— Papai, pode ir. Já sou grandinha.
Ele dá um beijo em sua testa e se despede de minha mãe.
— Me acompanha? — pergunta para mim e concordo.
Saímos da casa, e encosto a porta.
— Meu tio tentou ao máximo evitar a mídia, eu sinto muito, fiquei
sabendo que não deu muito certo — digo com sinceridade, enquanto ele me
olha.
— Não se preocupe. Uma hora isso aconteceria. Porém, agradeço, e
muito, afinal, os Escobar tentaram me ajudar, e isso é uma grande honra — diz
sorridente.
— Então, eu vou indo, tenho que terminar algumas coisas.
Ele concorda.
Viro-me, mas sua mão segura a minha e um calor me consome. Olho
para ele.
— Daiane, não podemos continuar assim. Eu evitei ao máximo trazer
Sophie, mas não posso privá-la de diversão, para evitar você. Temos que
entender o que está acontecendo.
— Jacob, ainda é cedo para isso. Na verdade, acredito que assim seja
melhor! — minto.
— Não, você não acredita, Daiane! Sabe que está acontecendo algo e
precisamos resolver. Histórias mal resolvidas não são para mim.
— Eu não posso. Não quando é um homem casado, e que se casou
apenas porque o pai dela pediu. Isso é um absurdo! — digo com raiva.
— E você não faria o mesmo? Se alguém que gostasse de verdade, te
pedisse ajuda, você negaria, Daiane? Claro que não. Afinal, todos sabem que
sacrifica a si mesma pela felicidade da família. Todos sabem disso. Então somos
iguais. Eu fiz isso por uma família que estava à beira do precipício. Eu não
conheci meus pais verdadeiros, perdi minha mãe, e tenho apenas minha avó e
minha filha, que quase perdi. Então, sim, eu sacrificaria mil vezes a mim mesmo
para trazer alegria a qualquer um que necessitasse da minha ajuda. Sabe como se
chama isso?
— Burrice? — respondo ainda com raiva e ele sorri.
Jacob se aproxima, deixando nossos corpos colados e segura meu queixo
sem pressionar.
— Não. Se chama humanidade ou compaixão. Você, como promotora,
deveria saber o que significa tudo isso. Talvez eu tenha sacrificado demais a
minha felicidade, mas quer saber? Valeu a pena, apenas por deixar aquele senhor
sorrir, por alguns dias, ter alegria. Porque eu faria qualquer coisa para ver o
sorriso da minha mãe mais uma vez, ou para trazer mais alegrias a minha avó.
Eu sou assim. Quem quiser ficar ao meu lado, ou aceita o pacote completo, ou
cai fora. Não sou duas caras, e tampouco um desalmado. Eu sempre fui assim, e
não me arrependo, porque olha só onde eu cheguei, sem precisar me humilhar,
rebaixar, ou deixar de ajudar alguém. E antes que diga, o que aconteceu na frente
do evento aquele dia foi uma exceção, afinal sou humano, tenho falhas, perco a
cabeça. Só não diga que é burrice quando você não esteve lá, e não sentiu o
clima, ou viu as lágrimas e a dor daquele homem. — Sua voz é carregada pela
raiva e, ao mesmo tempo, pela calmaria, é uma mistura louca.
Sinto um nó se formar na minha garganta, e me arrependo
profundamente por ter dito o que eu disse. Essa mania de dizer sempre o que
penso me colocaria em uma situação ruim, só não imaginava que seria ruim, ao
ponto de me fazer sentir culpada demais.
— Desculpe. Eu...
— Não peça desculpas. Apenas me deixe saber que não vai fugir, e vai
tentar descobrir o que é tudo isso? — Desvio o olhar. Ele segura meu rosto com
ambas as mãos me fazendo olhá-lo. — Porra, se isso for um pecado, que eu seja
perdoado ou que me envie de uma vez ao inferno que será menos enlouquecedor
do que o que estou prestes a fazer, mas preciso sentir isso...
Sua boca alcança a minha e tudo o que controlei some. Um fogo
enlouquecedor começa do meu pé e vai subindo por minhas pernas até chegar a
garganta. Quando sua língua se enrosca na minha, e uma de suas mãos descem
para a minha cintura, o botão do foda-se é ativado, e deixo me levar pelo que
está acontecendo. Enrosco meus braços ao redor de seu pescoço, e puxo
levemente seu cabelo. Com força, pressiona ainda mais nossos corpos e sinto sua
ereção pulsar entre minhas pernas. Um frio se instala na minha barriga e parece
que nunca fui beijada, pois essa sensação é nova. A mão que estava em meu
rosto serve para me conduzir até a parede, com seu corpo me prende e o fogo se
alastra. Meu coração está acelerado. Sua mão desliza por baixo da minha blusa e
aperta minha cintura. Deslizo as unhas por seu pescoço, sentindo ainda mais sua
ereção me pressionando. Um gemido escapa de meus lábios, e ele sorri, em
seguida morde levemente meu lábio inferior.
Meu fôlego foi para qualquer lugar longe daqui. Ele morde o próprio
lábio inferior, e como se não bastasse passa a língua. Porra!
— Amanhã assino o divórcio. Pense bem nesses dois dias fora. Não vou
implorar mais, tampouco correr atrás. Essa decisão está nas suas mãos. Não é
machismo, entenda que é apenas eu te dando espaço, e respeitando isso. Dois
dias, e se não der um retorno, eu prometo que nunca mais cruzarei seu caminho.
Ele se afasta e começa a sair.
— A essa altura do campeonato vem me dizer isso? Porra, homem, não
ferra comigo!
— Dois dias! — Então some me deixando encostada na parede, toda
desengonçada e com a boca inchada. Mas, o pior, é que me deixou
completamente excitada!
Dez

Daiane Escobar

Acordo e fico olhando para o teto. Chegamos exaustas e fomos dormir.


Sophie quis dormir comigo em meu quarto. Dispensei Estefan, o que não o
deixou feliz, mas eu não quero ninguém me vigiando.
Levanto e vou até o banheiro. Tomei banho após o acontecido com o
Jacob, seria impossível não tomar. Então apenas faço minha higiene e me troco.
Vim o caminho todo recordando a cena, e lembrando de suas palavras. Bia diz
que “Os Escobar são para foder o juízo, e não em um bom sentido”, mas estou
começando a achar que essa frase se encaixa para o Casagrande. E eu achando
que era a louca e tarada!
Vou para a sala onde o sol entra pela sacada, que esqueci de fechar a
cortina. Abro as portas, e deixo a brisa entrar. O apartamento fica de frente para
o mar. O barulho das ondas me acalma e me anima.
Entro no quarto e Sophie está acordada, sentada na cama esfregando os
olhos.
— Bom dia, raio de sol! — digo a ela.
— Bom dia, Gabi!
Fico olhando emocionada. Lembro do meu pai, e isso me faz sorrir.
Apenas ele me chamava por este apelido.
— Vamos tomar café em uma padaria, e depois praia. Logo depois, você
escolhe o que iremos comer de almoço... Bora levantar que hoje teremos um dia
cheio — digo puxando a coberta.
— Você acorda sempre tão animada?
Rio.
— Não! Mas quando estou na praia sim. Vou ver um biquíni para
colocar, porque pensei que demoraria mais para acordar, e nem coloquei.
Enquanto isso, escove os dentes e logo depois te ajudo com protetor solar e as
vestimentas.
— Só mais dez minutinhos... — Ela volta a deitar e sorrio.
— Nem pensar! — Abro a janela do quarto e deixo o sol entrar.
— Você e meu pai são muito chatos pela manhã. Quanta alegria, nossa!
— ela diz saindo da cama e rio.
— A vida é bela, então vamos aproveitar, pequena!
— Está animada demais. O que aconteceu?
Sorrio ao lembrar, mas fico quieta.
Ela pega a escova de dente na mala e entra no banheiro.
Escolho um biquíni e visto. Passo bastante protetor solar, e coloco uma
saída de praia não muito reveladora.
Ajudo Sophie com o protetor e o maiô, ela coloca um short junto.
Pegamos óculos de sol e uma bolsa pequena; e, então, saímos do apartamento e
fomos comer em uma padaria, que fica na esquina. Sophie disse que eu era louca
por entrarmos daquele jeito no local, mas estamos em uma praia. Se eu morasse
em praia, andaria de biquíni para cima e para baixo.
Após o café, atravessamos a avenida e logo pisamos na areia. Tiro meu
chinelo e ela faz o mesmo.
Tiro a saída de praia e sentamos na areia próximo ao mar. A praia não
está muito cheia.
— Fazia tanto tempo que não vinha para cá — digo.
— Por quê?
— O tempo era curto demais. Mas, agora estamos aqui. Duas amigas, na
praia, tomando um belo sol, e olhando o mar.
— Eu quis vir com você, porque não me trata como um bebê, igual ao
meu pai e a bisa. Vou fazer onze anos!
Sorrio da sua revolta.
— Sempre seremos bebês para nossos pais. Minha mãe tem eu e meus
irmãos como bebês também.
— Você sabia da minha mãe? — ela pergunta enquanto brinca com a
areia nas mãos.
— Sim! Mas não pense sobre isso — respondo.
— Meu pai me contou a verdade, e entendi mais ou menos. Só não
entendi por que ele se casou com a Poliana. Ela não é legal.
— Tudo na vida tem uma explicação; e um dia, quando for mais adulta,
vai compreender melhor.
— O pai dela, o senhor Luiz, é legal, minha bisa disse que ele conhece o
meu pai desde pequeno, porque meu bisavô era amigo dele.
— Nunca conheci o pai dela, mas imagino que seja boa pessoa.
— A mãe dela, é chata! — ela diz em um tom engraçado e rio.
— Não sinta raiva, isso não é bom para você. Como eu disse, um dia vai
entender tudo.
— Tomara, assim vou poder cuidar do meu pai, para nenhuma mulher má
chegar perto.
Rio.
— Está certa! Um dia, nós, os filhos, temos que recompensar tudo o que
nossos pais já fizeram por nós.
Ficamos horas conversando sobre sua escola e sobre suas amigas. Então
fomos brincar um pouco no mar, e depois decidimos voltar, porque o sol
começou a esquentar muito e a ficar insuportável.
Deixo ela tomar banho primeiro enquanto faço uma ligação.
Depois de uma eternidade, David atende:
— Diga, Daiane!
— David, você que estudou com a Poliana, por acaso conheceu os pais
dela?
Ele demora um pouco a responder:
— Conheci. Por que a pergunta?
— Sabe como eles eram? — Não respondo a sua questão.
— Ela é a cópia da mãe. Já o pai era um homem bom. Policial. Mas
nunca teve voz ativa na família, dava dó de ver, mas, por que tanto
questionamento? E não me diga que não é nada!
— Digamos que pensei que uma pessoa poderia ter sido manipulada.
— Que pessoa? Daiane, o que está aprontando?
— Tem como puxar a ficha dos pais dela para mim?
— Sinto muito, mas estou com meu supervisor na cola. Não posso dar
um passo e o cara fica em cima. Tenta ver com o Henrique, ele pode ajudar,
aquele ali adora uma fofoca.
Sorrio.
— Ok. Valeu! — Desligo, antes dele fazer mais questionamentos.
Algo não saiu da minha cabeça. Por que o pai dela queria tanto esse
casamento? Acredito que exista pessoas boas, mas tem que existir algo a mais.
Jacob não deve estar tão a par da situação.
Ligo para o Henrique.
— Olha, ao que devo a honra desta maravilhosa ligação? Deixa eu
adivinhar, quer um favor? — ele pergunta e reviro os olhos.
— Preciso que puxe a ficha dos pais da Poliana Xavier.
— Não, sem antes saber do que se trata.
— Faça, ou esqueça que existe eu de babá para quando quer dar uns
perdidos com a Ana e a babá das meninas não está.
— É foda! Vou puxar e te envio por e-mail.
— Seja rápido. Beijos! — Desligo a tempo da Sophie entrar na sala.
— Vou tomar um banho, e depois vamos sair para comer, pode ser?
— Sim! — diz animada.
Vou para o banho e levo o celular junto.
Minutos depois escuto meu celular apitar, e abro o boxe do chuveiro,
para pegá-lo, tomando cuidado com as mãos molhadas. É um e-mail do
Henrique. Esse sabe ser rápido.

De: Henrique Escobar


Para: Daiane Escobar
Assunto: O que pediu!

Não tem nada de interessante. Consegui rápido com um contato meu.


Mas segue o anexo da ficha.

Abro o anexo e leio. Realmente não tem nada.


Deixo o celular de lado e continuo o banho.
Por que um pai sacrificaria a felicidade de outro pai, sem um motivo
grande?

Jacob Casagrande

Sabe aquela liberdade que tanto queremos ter? Então, estou sentindo
neste momento. Assinamos o divórcio, e em até quarenta e oito horas, Poliana
deixa oficialmente de ser minha esposa. Tudo no modo amigável. Estamos no
prédio que fica o meu advogado, que nos acompanhou em tudo.
Poliana sorri sem parar.
Combinei tudo com Tobias, meu advogado, antes de vir para cá. Tudo
está esquematizado, assim como a delegacia onde Poliana trabalha. Eu precisava
entrar no jogo dela, para vencê-la. Sabia que ela jamais entregaria o divórcio de
forma amigável. Eu queria tudo muito rápido, e nunca gostei ou fui a favor de
abuso de poder, e então jamais faria algo imprudente por ser promotor para
liberar o divórcio rapidamente. Antes de promotor, sou como qualquer outro
cidadão. E desta forma, entrando no jogo da Poliana, não conseguiria apenas o
divórcio, como também faria ela pagar a humilhação que causou a minha filha e
a família Escobar, que pouco tem a ver conosco.
Entramos no escritório, seguido de Tobias. Poliana se senta e eu opto por
ficar de pé.
— Então... O meu cliente, senhor Jacob Casagrande, me informou de que
a senhorita ficaria com uma propriedade dele, mesmo sem ter qualquer direito. O
que entendo por ser uma generosidade do mesmo, já que desde que casaram não
adquiriram nada juntos — Tobias diz e Poliana sorri. Tudo está saindo como
planejei.
— Generosidade? Não! Isso se chama acordo. Era isso, ou nunca teria o
divórcio — digo, e Poliana me olha vitoriosa. Mal sabe o que te espera, cobra!
— Certo. Antes, gostaria de informar algumas coisas. — Tobias, se senta
em sua cadeira. — A senhorita sabe que o que pede ao meu cliente é chantagem?
— Ele gira a caneta nas mãos esperando por sua resposta.
— Não é não! É apenas meu direito. Não irei sair de mãos abanando
mais uma vez. Olha aqui, doutorzinho, eu já me ferrei demais nessa vida, e não
será agora, que tenho uma oportunidade de sair ganhando que não irei utilizar.
Quero sumir deste país, pois aqui não tenho mais benefícios.
Sorrio, e Tobias me olha balançando levemente a cabeça.
Poliana está entrando no próprio jogo, só que ainda não percebeu, que ela
é a vítima da vez.
— Se é assim, faremos do seu jeito. Desde que deixe meu cliente em paz.
— Deixarei, até quando me for conveniente. Quem faz as regras sou eu
agora. Cansei de ter sempre os Escobar destruindo minha vida. E se eles pensam
que a maldita de uma gravação vai me intimidar, estão enganados. Jacob não
perde por esperar. Nunca darei a paz que ele e a entojada da filha tanto querem.
— Ela se vira para mim e ri. — Você foi um idiota por fazer o que o velho do
meu pai queria. Ele é um idiota tanto quanto você. E farei tudo o que for preciso
para conseguir tudo o que eu quero. — Se volta para Tobias e aponta o dedo para
ele. — E nem pense em deixar escapar qualquer coisa dita aqui, porque não vai
querer conhecer a Poliana que existe dentro de mim. E entenda isso como uma
ameaça. Agora agilize toda essa merda!
Tobias me olha e faço um sinal disfarçadamente para ele, que
compreende de imediato.
É hora desse jogo entrar em ação.
— Está bem. Irei buscar alguns documentos. Aguardem, por favor.
Ele se retira e fecha a porta. Me aproximo da janela e pego meu celular.
— O que está fazendo? — ela pergunta alarmada.
— Cuide das suas coisas, que das minhas cuido eu.
— Quem diria, Jacob Casagrande, o famoso promotor, cair nas garras de
uma humilde policial. Que vergonha — debocha e rio.
Envio a mensagem, que faz parte do plano, e guardo o celular.
— Para você ver, todos erramos. — Cruzo os braços e me encosto na
parede.
— Desta vez, eu apenas acertei. Escolhi o cara certo. Um bom moço, que
preza sempre pelo bem-estar de todos, que tem um coração tão bom, que coloca
a própria felicidade de lado, para conseguir alegrar o próximo. Nunca te
ensinaram que não se deve deixar a própria alegria de lado, pelas pessoas? — ela
diz e ri.
— Veja só, aprendi isso estando com você. — Entro no seu jogo ainda
mais.
Ela não gosta da minha resposta, seu olhar entrega isso. Poliana não está
gostando da minha calmaria, pois sempre discordo dela, e hoje não está sendo
assim. Ela se remexe na cadeira. Está ficando desconfortável.
— Esse advogado está demorando muito. Não precisava dele. Poderia ter
feito isso sozinho.
— Não gosto das partes burocráticas na minha vida pessoal.
Tobias entra na sala, e faz um sinal que entendo o que quer dizer. Poliana
se vira para ele.
— Demorou. Ande logo, não tenho todo tempo do mundo.
— Só mais um minuto. Faltou apenas mais uma coisa, que já está vindo.
Peço um pouco de paciência — ele diz se aproximando na mesa.
Olho e a porta ficou apenas encostada.
— Poderia ler? — Ele entrega três documentos a ela, que pega e revira os
olhos, mas então começa a ler.
A porta levemente é aberta por completo. O delegado Almir acompanha a
equipe. Ele faz um sinal, para que Tobias se afaste e para que eu permaneça onde
estou. Tobias caminha para próximo da copiadora, que fica ao meu lado. Três
policiais entram pela esquerda rapidamente, em um silêncio espantoso. Duas
policiais caminham para a direita.
— Como assim, terei que arcar com tudo da casa? — Poliana se
manifesta alterada, e então se levanta e só agora nota os policiais no lugar. Ela
arregala aos olhos e deixa os documentos caírem.
— Que merda é essa? — ela grita.
— Senhorita, nos acompanhe! — Almir diz a ela, calmamente.
— Não irei. Que porra é essa, Almir? — ela grita novamente.
— Poliana Xavier, tem que nos acompanhar, e na delegacia
conversaremos. Tem o direito de pedir por um advogado, ou de permanecer
calada, e já deve saber que tudo o que disser poderá ser usado contra você — ele
diz e as duas policiais femininas se aproximam dela.
— Eu não vou! Jacob, seu filho da puta, armou para cima de mim! Isso
não vai ficar assim, desgraçado! Eu vou matar você e aquela sua filha entojada.
Você me paga! — ela grita histérica.
— Mantenha a calma, ou pode ser pior. Não nos faça usar a força! —
Almir diz a ela.
— Eu não irei. Já fui afastada do cargo, não preciso de mais nada! — ela
grita e empurra uma policial, e a outra a segura com força. — Me solta! — Ela
se debate, e tem que ser segurada pelas duas.
— Poliana, você mexeu com minha filha e eu jamais te deixarei impune.
Vai pagar por tudo — digo, e sinto um tremendo orgulho por vê-la nesta
situação.
— Seu imbecil. Vai me pagar, Jacob! Vocês todos vão! — ela grita e olha
para Almir. — Eu exijo ter meu advogado!
— Ótimo, da delegacia você pede um. Agora levem ela daqui, e se
precisar, algemem — ele diz rispidamente, e retiram ela da sala, sob protestos e
muitos gritos.
Aproximo-me de Almir, e lhe cumprimento.
— Obrigado!
— Estamos apenas fazendo nosso trabalho, Casagrande. Terá que nos
acompanhar. Quero a gravação do celular que tem, e tudo o que tiver de provar
contra ela, pois, junto ao relatório que recebi da capital, Poliana não vai escapar
desta. Nosso investigador conseguiu muitas provas contra ela, no quesito
profissional. Ela abusou demais do poder e até ameaças fez contra membros da
equipe. Poliana perdeu totalmente o controle.
— Tem mais uma prova — Tobias diz entregando a caneta gravadora que
retira do bolso. — Gravei toda nossa conversa. Isso aqui é um bom conteúdo. —
Ele sorri e faço o mesmo.
— Eu quero que ela pague pela humilhação que causou a minha filha, e a
tudo de errado que fez.
— Certo. Nos acompanhe até a delegacia, e Tobias também. Uma equipe
já foi enviada até a casa dela. Preciso ouvir aos pais dela também.
— Tenho certeza de que Poliana pegará muito tempo atrás das grades,
essa mulher é louca e nem o hospício a merece. Vamos! — digo animado.

Estamos na delegacia. Poliana está prestando depoimento. Seus pais


estão em uma sala à espera. Eu estou ao lado de fora, pois precisava falar com
Daiane.
— Alô?
— Daiane. Como estão?
— Jacob... nós estamos bem. Aconteceu algo? Sua voz está estranha.
Respiro fundo e olho para o céu, que está cinzento.
— Estou na delegacia, mas não deixe Sophie saber disso.
— A trabalho? — pergunta desconfiada.
— Poliana foi trazida para cá, e estou aqui junto com a família dela e
meu advogado. Meu advogado vai apresentar todas as provas, e eu tenho que dar
meu depoimento também. Todos serão ouvidos.
— Meu Deus! Eu vou ligar para meus irmãos e tio. Eles podem ajudar.
— Não. Está tudo sob controle, não se preocupe. Apenas não deixe
Sophie descobrir nada.
— Está bem. Mas, tem certeza? Se quiser, eu volto; deixo a Sophie na
minha mãe e vou até aí.
— Não. — Sorrio. — Vai ficar tudo bem. Desta vez, ela entrou no
próprio jogo dela. Não precisou de muito. E estou feliz por ter sido tudo rápido e
calmo, assim evita a mídia.
— Está bem. Me mantenha informada.
— Não se preocupe. Apenas liguei para o caso de me ligar e eu não
atender, afinal está com minha filha aí.
— Jacob?
— Hum?
— Se você não conseguir deixar essa vaca atrás das grades, eu corto
suas mãos e faço elas de orelha em você.
Rio. O riso mais sincero que dei hoje.
— Falo sério. Essa mulher é louca!
— Pode deixar. Receber ameaça do tipo de um Escobar é para ser levada
em consideração.
— E como! Tenho que desligar, Sophie está me chamando.
— Ok. Até mais.
— Até. — Ela desliga.
— Senhor, o delegado pede por sua presença — um policial me chama e
entro.
Após horas de depoimentos, e até mesmo o da minha avó que teve que
vir, Poliana foi encaminhada para uma cela por estar muito histérica e até mesmo
desacatar ao delegado e um policial, enquanto seu advogado foi atrás do habeas
corpus para ela alegando que não foi presa por uma justa causa — o que é
externamente ridículo, e isso me faz pensar que o mesmo é igual ou pior que ela
—, mas sei que não conseguirá. Conversei com o juiz da cidade, e o mesmo já
estava a par do caso desde que ela foi afastada do cargo por tempo
indeterminado, e disse para eu não me preocupar. Não abusei do poder, apenas
fui mais esperto do que o advogado meia boca dela, e Poliana fora das ruas é um
bem para toda humanidade. Isso conta como ética profissional, não?
— O pai dela quer falar com você. Porém, acho melhor não. Não
sabemos ao certo de que lado ele joga agora — Tobias diz.
— O moço aí tem razão — minha avó diz.
— Quero falar com ele, mas quero você presente.
Ele concorda.
— Teimoso! — minha avó fala e se senta na cadeira.
Caminho até o lugar onde ele está. A mulher dele está sendo ouvida mais
uma vez, Tobias me informou enquanto caminhávamos até aqui.
— Jacob. Nunca nos encontramos para boas coisas — ele diz, sem se
levantar.
— Parece que não. Sabe que isso não é correto. Não poderia nem estar
aqui. Então preciso que seja rápido.
— Eu contei toda a verdade. Eu disse que eu te fiz casar com ela, e contei
tudo o que minha filha fez e eu me fiz de cego. Poliana tem que pagar por tudo.
Apenas queria que soubesse. Obrigado, mais uma vez. — Ele sorri fracamente.
— Está tudo bem. Não se preocupe. Deixe as autoridades cuidarem disso
agora. — Não posso ser emocional aqui.
— Vamos! — Tobias diz e nos afastamos dali.
— Ela não merecia um pai como este.
— Não podemos escolher — ele diz.
— Não.
Após o último depoimento da mãe dela, o delegado está finalizando os
relatórios para o juiz.
Depois de horas e mais horas intermináveis esperando a decisão do poder
judiciário que analisava o relatório enviado, foi declarado prisão preventiva até o
julgamento. A ficha de Poliana é mais suja do que eu pensava. Descobriram
armas ilegais, e até mesmo que ela aceitava suborno de muitos bandidos. Sua
mãe até ajudava em algumas coisas. Além dela ter ameaçado colegas de
trabalho, desacatado ao delegado e policial, ela também expos minha filha, uma
menor de idade, e usou chantagem contra mim e os Escobar. Eu não irei colocar
minha mão no caso, quero distância de tudo que diz respeito a ela. Apenas,
quero que pague não apenas pelo que expos minha filha, e sim por tudo.
Vejo policiais correndo, e alguns pedindo para chamar uma ambulância.
Eles entram na sala onde estavam os pais da Poliana. Tobias, eu e minha avó
vamos atrás para saber o que está acontecendo. O delegado pede passagem.
Entro e vejo Luiz caído no chão e Sandra sua esposa em cima dele
gritando. Um policial a afasta e o outro analisa o pulso dele, e então olha para o
delegado e balança a cabeça negativamente. Olho assustado para tudo aquilo.
Minha avó cobre a boca com as mãos. Tobias fala ao telefone muito rápido.
— Você fez isso! Nos destruiu, Jacob! — Sandra grita alterada.
— Meu neto não fez isso, sua louca! Isso é culpa sua e da bruaca da sua
filha! — minha avó grita e se aproxima, mas a afasto.
— O que houve aqui?! — pergunto impaciente.
— Ele passou mal, e então caiu. Está muito pálido e gelado. A culpa é
sua, Jacob. Vai viver com isso na consciência, maldito! — ela grita.
As provas contra Sandra não foram suficientes, então na lei que,
infelizmente, é na maior parte falha, ela ficou solta, mas ainda será investigada.
— Saiam todos daqui, agora! — Almir grita.
Minha avó sai me puxando. Vou para o lado de fora. Preciso de ar.

Daiane Escobar

Estou tentando manter a compostura, diante da Sophie. Estávamos


voltando para o apartamento, depois do almoço e passeio, quando Jacob me
ligou e tive que disfarçar. Eu estou bastante preocupada, e estar aqui sem poder
fazer nada me deixa ainda mais irritada. Agora ligo, e apenas chama.
Sophie me olha sorridente, mas logo para de sorrir.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunta.
— N-não. Apenas uma dor de cabeça chata. — Sorrio para disfarçar.
— Entendi. Toma remédio. Eu vou dormir um pouquinho, estou com
muito sono — ela diz realmente sonolenta.
— Vai lá. E quando acordar, faremos o que quiser.
Ela sorri animada e vai para o quarto.
Saio para a sacada fechando as portas atrás de mim e ligo, mais uma vez,
para ele. E o infeliz não me atende.
A campainha toca e saio para atender, desconfiada, pois a portaria não
informou quem poderia ser.
“Olho mágico é brega, Daiane!”
Vou dar um brega na cabeça do Henrique agora!
Abro a porta e fico surpresa.
— Não acredito! — digo. — Como você...
— Me mudei essa semana para o apartamento à frente. Mas hoje reparei,
quando cheguei, que o molho de chaves desse apartamento estava para fora, e
vim avisar. Menina do céu, mas é muita coincidência para pouco mundo.
Olho para a porta e vejo a segurança que proporcionei para mim e
Sophie. Retiro a chave e coloco do lado de dentro.
Sorrio.
— Entre! — digo animada, e ela entra.
Dou um abraço apertado nela, que retribui da mesma forma.
— Jaqueline, que saudades de você, mulher! Não te vejo há tempos.
Jaqueline é a tia da Beatriz, e único parentesco. É uma cirurgiã doida,
muito bonita, e um amor de pessoa.
Ela se senta no sofá e me sento ao seu lado.
— Como estão todos? Estava trabalhando tanto, que faz dias que nem
sequer consegui falar com a Beatriz — diz sorridente.
— Estão todos bem!
— Fala se não é sorte! Eu me mudei, e acabei no mesmo prédio e no
apartamento de frente da família cheia de testosteronas que me deixa sem ar, e
com a calcinha mais molhada que o oceano.
Rio.
— Adorei saber disso! Mas por que se mudou?
— Cansei do lugar em que morava. Cheio de velhotes resmungando
porque o elevador quebrava. Certo, sou uma velha já, mas não sou obrigada a
conviver com pessoas na mesma categoria que eu, para mostrar a realidade bem
no meio da minha cara. Dispenso essa baboseira. — Rimos.
— Está certa. Tem que curtir o máximo que puder, enquanto está com
tudo em cima.
— Menina, mesmo que estiver tudo embaixo, vou continuar curtindo,
porque enquanto meu banco estiver bom para receber, continuarei deixando
depositarem.
Gargalho da sua ironia, e por entender bem ao que ela se refere.
— Mas me fale de você! Está de férias?
— Não. Mas precisava vir.
— E veio sozinha?
— Não. Trouxe a filha de um conhecido, ela está dormindo.
— Virou babá, ou está querendo o conhecido e por isso conquistando a
filha?
Sorrio.
— Não. Longa história, mas, por ora, envolve problemas.
— Nos Escobar problemas não é novidade. Quem é o cara? — ela é
direta assim como eu, e amo isso nela.
— Já ouviu falar do promotor Jacob Casagrande?
— Ouvi sim, mas nunca vi.
Tiro meu celular do bolso e acesso a internet para lhe mostrar uma foto.
Assim que encontro mostro a ela.
— Puta que pariu! Eu preciso conviver mais com vocês. Porra, qual o
feitiço que fizeram? Resolveram colocar todos os homens bonitões e gostosos
apenas no círculo de vocês? A tia aqui fica chupando o dedo, desse jeito não dá
não! — Rimos. — Mas, espera aí! Ele é o cara daquele evento que estávamos
com uma tal de Po... Ai, não lembro!
— Poliana!
Ela concorda me entregando o celular.
— Ele é casado com ela.
— Daiane, sua safadinha! E eu achando que eu era a única pecadora.
Sorri.
— Não! Não temos nada. Calhou de cruzarmos nosso caminho. A filha
dele está aqui, porque ficamos amigas. É uma história muito complicada. E neste
momento acaba de ficar ainda mais.
— Por quê? Isso está me cheirando encrenca.
— E é exatamente isso.
— Menina, não sei o que é, mas conte comigo para ajudar — diz
animada.
— Sério? Porque vou precisar da sua ajuda agora!
— Fechou!
— Preciso que cuide da Sophie, filha do Jacob. Eu retornarei hoje
mesmo. É caso de vida ou morte, já nem sei mais.
— Está me preocupando!
— Preciso da sua ajuda. Por favor?
— Claro! Mas para onde vai?
— Preciso encontrar o Jacob.
— E lá está eu chupando o dedo. Viro a babá, enquanto você vai babar
no papai bonitão.
— Não é isso. Eu prometo que volto hoje. Eu vou falar com ela, e você
pode ficar aqui em casa.
— Vá fazer o que tem para ser feito. Para sua sorte, peguei a segunda
parte das minhas férias hoje. Então vá sem pressa, minha vida não tem nada de
melhor para fazer.
— Muito obrigada, Jaque!
— Vou para o meu apartamento pegar umas coisas, para distrair a
menina, porque, pelo visto, ela não pode saber de nada.
— Exato! Obrigada, de verdade. E preciso de mais um favor. Tem carro?
— Claro! E sim, eu te empresto.
— Muito obrigada, de verdade!
— Pare de agradecer, e ande para fazer logo, o que tem que ser feito.

Depois de conversar com Sophie, e inventar que precisava buscar meus


documentos que esqueci, e apresentar ela a Jaqueline, que para minha surpresa
se deram muito bem, estou agora indo até o Jacob. Preciso saber o que está
acontecendo.
Algumas horas depois, devido ao trânsito, chego à fazenda e está vazia.
Um funcionário informa que saíram há horas e não retornaram ainda.
Meu celular apita e é uma mensagem do Henrique.

Daiane, esquece o que eu disse! Tem sim algo sobre os pais da Poliana, na
verdade sobre o pai dela. Luiz Xavier é um ex-policial aposentado, porém ele
apenas se aposentou após alguns resultados médicos. Tenho um conhecido
que trabalha no hospital que ele visitava e me devia um favor, e com isso
descobri que o Luiz tem um tumor no cérebro inoperável, e que os médicos
deram a ele dois anos, mas que este tempo poderia ser reduzido. Ele foi
afastado do cargo por não poder passar estresse, ou emoções do tipo. O
homem tem uma bomba relógio dentro da cabeça. Te enviei o exame dele por
e-mail, e pelo que fui informado, ele nunca foi com a família, sempre sozinho,
e pediu sigilo. Não me deixe essa informação vazar, ou ferra para mim.
Quando retornar para casa, vamos conversar seriamente, porque fiquei
sabendo da porra que aconteceu na casa da mãe. O tio viu, pois estava na
janela da casa dele, e se a mocinha não sabe, ele mora de frente para você.
Essa merda não ficará assim.

Guardo o celular e engulo em seco. Eu estou ferrada! Mas se é para estar


ferrada, que seja por completo.
Saio da fazenda e vou para a delegacia mais próxima. Estaciono o carro e
entro. Perguntam-me o que faço lá, e informo ser promotora, e que estou à
procura de Jacob Casagrande, mas me dizem que ele saiu há pouco tempo de lá.

Saio da delegacia, e entro no carro. Onde esse cara foi parar?


Vou para dois hospitais, dou o nome dele, mas não adianta. Ligo para ele,
e cai diretamente na caixa postal.
Resolvo retornar para a fazenda, e esperar lá. Estou ficando cansada.

Entro na fazenda e sorrio ao ver o carro dele estacionado, mas logo o


sorriso é substituído pela raiva.
Saio do carro, pegando apenas o celular que coloco no bolso. Bato na
porta da casa, mas não espero abrirem, vejo se está aberta, e para minha alegria
está. Entro na casa, e dou de cara com a Joana, que me olha espantada.
— Menina, o que faz aqui?! Cadê Sophie?
— Quem faz as perguntas agora sou eu. Onde está o bendito do seu neto?
— No estábulo. Chegamos e ele foi direto para lá. Aconteceu algo com
Sophie?
— Joana, ela está bem, mas seu neto eu vou matá-lo.
Saio da casa e sigo para o estábulo.
Quem ele pensa que é? Me liga, me deixando completamente
preocupada. Depois resolve não me atender mais? Eu estou com a filha dele, e
preocupada, e o bastardo não me atende? Ah, ele vai ver quem é Daiane
Escobar!
Entro no estábulo, e ele está deitado em uma rede estendida, que antes
não havia. Seus olhos estão cobertos por um de seus braços.
Aproximo-me com cuidado, e confirmo se os cavalos realmente estão
presos. Ele não se mexe, parece não notar minha presença.
Pego meu celular e atiro nele, logo após dou um tapa em sua perna.
Ele salta e por pouco não cai da rede.
— Que porra é essa? Daiane? — pergunta surpreso.
— Olha aqui, seu imbecil! Primeiro, se meu celular quebrou, quero
outro. Segundo, não pense que pode me preocupar e sumir! — grito e ele pega
meu celular no chão me entregando.
— Daiane, não estou com cabeça. Onde está minha filha?
— Ah, sua filha? Eu vendi!
Ele franze o cenho.
— Óbvio que está segura. Agora, me diga por que não me atende? Eu
estava morrendo de preocupação. Te procurei em um monte de lugar, e nada de
encontrar. Estou exausta, e parecendo uma doida. O que aconteceu, Jacob?
Ele caminha para fora do estábulo e encosta-se à mureta olhando as
árvores. Paro na sua frente.
— Poliana foi presa. E seu pai faleceu, satisfeita? — Ele está abatido.
— O pai dela o quê? — Fico boquiaberta.
—Isso mesmo que ouviu.
— Você não está pensando que a culpa é sua, não é?
— Pode dizer que me avisou. Você estava certa. Foi burrice. Não me
arrependo de ter feito o que ele pediu, mas me arrependo de ter deixado chegar
ao ponto que chegou.
— Ah, pelo amor de Deus, Jacob! Você não teve culpa e não foi burro.
Aquela ali é tão louca, que ninguém poderia imaginar o nível da loucura. E você
não teve nada a ver com a morte do homem.
— Daiane, como pode garantir? — Ele está nervoso.
— Eu desconfiei que esse pedido dele tivesse alguma coisa por trás, e
pedi para o Henrique investigar. Jacob, ele tinha um tumor inoperável, ele estava
com os dias contados. Você só foi o culpado de trazer paz para ele, pelo menos
por poucos dias, mas não teve culpa de sua morte. A filha dele teve e ela sim tem
que conviver com essa culpa pelo resto da vida. Infelizmente, o pai dela se foi,
mas ela vai pagar por toda loucura dela. Você não teve culpa, e eu estava errada
sim. Você não teve medo de fazer o que acreditava ser o certo, enquanto eu recuo
sempre que não estou entendendo nada, porque odeio me sentir vulnerável.
Jacob, você não foi burro e não foi o culpado.
Seu olhar é de surpresa.
— Daiane, ele realmente tinha um tumor? — pergunta surpreso.
— Sim! Tenho o exame que comprova.
— Então, eu...
— Não, você não teve culpa! — Sorrio.
— Porra! — Ele me abraça e logo se afasta. — Não estou feliz por ele ter
morrido, é só...
— Eu sei. Eu realmente sei, Jacob! Agora que já te bati, te dei notícia
boa, e sei que a vaca da Poliana teve o que mereceu, depois de quase ferrar a
vida da minha cunhada, e do vexame na porta do evento e, óbvio, ameaçar a
minha família, eu já posso ir. Deixei Sophie com a tia da Beatriz. Que bela babá
eu sou! — Rio.
— Uma bela babá mesmo. — Ele se aproxima, mas me afasto e ele
recua. — Eu te levo de volta. Deve estar cansada, veio dirigindo e ainda ficou
me procurando.
— Não vou recusar! Vim com o carro da tia da Beatriz, mas de lá peço
para levarem meu carro.
Ele concorda.
Meu celular toca e é o meu tio.
— Oi!
— Daiane, você conferiu o esquema de segurança da fazenda?
— Eu?
Tento me lembrar e, então, percebo que me esqueci completamente.
— Então... Claro!
— Tem certeza? Sabe que já tivemos duas tentativas de roubo. Você ficou
de conferir, então espero que tenha feito. Confiei em você! — ele diz e engulo
em seco.
— Fique tranquilo, está tudo certo.
— Quando volta? Preciso conversar com você. — Seu tom de voz é
estranho.
— Não sei. Estou ocupada. Tchau! — Desligo e Jacob me olha com o
cenho franzido.
— Vamos ter que passar na fazenda da minha família primeiro.
— Porra, vou para a fazenda Escobar, eu sou foda! — Rio.
— Tomara que seja à prova de balas também! — digo a ele, que fica sem
entender e é melhor.
Onze

Daiane Escobar

Ele estaciona o carro na fazenda, após eu guiá-lo. Estranho por ver a


porta da frente aberta.
Descemos do carro e pego meu celular, mas está completamente
descarregado. Se fosse algo grave, os seguranças na entrada saberiam. Algum
segurança deve ter entrado para fazer vistoria na casa.
Assim eu espero!
— Uau. Belo lugar.
— Ainda não viu a fazenda em si. Minha família só fica aqui e deixa os
funcionários cuidando do restante, mas eu gosto de ir até os animais, lá sim é
muito lindo — digo olhando para a porta.
— Por que está olhando desse jeito?
— Nada. Vamos.
Entro com cuidado na sala.
— Esta fazenda é realmente da sua família? Pelo jeito que está agindo
parece que estamos invadindo terras privadas — ele diz e ri.
— Claro que é, babaca! É que a porta estava aberta, mas...
— OLHA SÓ, O CASAL BEIJOQUEIRO VISITANDO A FAZENDA!
— Dou um grito e agarro ao Jacob, que me olha assustado.
Henrique, David e Marcos Escobar estão parados na saída do corredor à
minha esquerda e seus olhares não são os melhores. Afasto-me rapidamente do
Jacob e engulo em seco.
Sim, foi o Henrique que gritou!
— O que fazem aqui? David, não estava trabalhando? E você, Henrique?
— faço diversas perguntas.
— Porra, estou com os Escobar em peso! — Jacob diz animado.
— Calado! — digo a ele.
— Assim que me ligou, desconfiei que algo estava errado. Então recebi
ligações de que o novo esquema de segurança não havia sido feito e vim com o
tio e o Henrique para cá, mas imagine minha surpresa e do Henrique, quando
descobrimos sobre o beijo de vocês, e que você pegou o caminho daqui enquanto
rastreávamos seu celular, e logo depois a porra do sinal se perdeu. O promotor aí
é casado, não? — David diz rispidamente.
— Para tudo tem uma explicação — digo.
— Estamos com tempo, Daiane! — Henrique se manifesta.
— Mas ele não terá muito tempo nesta Terra. — Marcos diz olhando
seriamente para Jacob.
— Ok, pesquei a ameaça. Isso é normal ameaçarem a todos? Dessa aqui,
sou sempre ameaçado — Jacob diz e olho feio para ele.
— Vamos, Daiane! — meu tio grita e me assusto. — Quero a porra da
explicação. Que cacete está acontecendo?
— Nada! O que viu não foi nada.
— Claro que foi. Nos beijamos.
— Jacob, não está ajudando!
— Foi mal.
— Você não abra a porra da boca! — Henrique diz a ele.
— Quanto ódio gratuito — ele fala e David se aproxima. — Me calei! —
Então se senta no sofá esticando os braços.
Meu Deus, isso não vai acabar bem.
— Jacob e eu, não temos nada. Eu me esqueci de arrumar o esquema de
segurança e vim para cá. Como estava muito cansada de dirigir, ele me
acompanhou. Vim do litoral para saber o que estava acontecendo, pois Poliana
foi presa.
— Por que ele a acompanhou? Por que não ligou para o Estefan? —
David pergunta.
— Porra, Poliana foi presa, e você focou apenas nisso?
— Que se foda a Poliana. Quero saber o que está acontecendo entre
vocês dois. Ele é casado! — meu tio diz nervoso.
— Não sou não. Assinamos o divórcio. Em até quarenta e oito horas
estarei oficialmente pronto para um novo casamento. — Meu tio olha feio para
ele. — Apenas queria deixar claro isso — Jacob diz sorrindo.
— Eu juro que não temos nada. Porra, para que todo esse show?
— Ainda não temos. Dei dois dias a ela. Sobrinha difícil essa, hein,
Marcos! — Jacob provoca e tenho vontade de matá-lo.
— Para você é Sr. Escobar! E não abra a boca mais!
— OK — Jacob fala e sorri.
— Quero conversar a sós com vocês.
— Ah, por quê? Está tão animado! — Olho feio. — Está bem, vou me
retirar — Jacob diz saindo.
Indico o sofá para os três patetas se sentarem, eles não gostam, mas
fazem.
— Vocês não têm o direito de fazer essa palhaçada toda. Eu e ele não
temos nada, mas se tivermos o problema será nosso. Eu nunca interferi no
relacionamento de vocês e espero que façam o mesmo comigo.
— Ele foi casado com a Poliana, cacete! — David grita.
— E daí? Isso não quer dizer que ele seja como ela. Me poupe, David!
— O cara não me inspira confiança. Não quero os dois juntos! —
Henrique rebate.
— Sério? Vocês realmente querem julgar ele? — grito nervosa. — Ana
foi acusada de assassinar o noivo e mesmo assim você se casou com ela. A
Liziara foi uma louca que se colocou em risco, e você, David, colocou toda a
família em risco para salvá-la e se casou com ela. E você, tio, casou com a
mulher que odiava, e quase foi preso por atacar o cara que fez merda com ela. —
Aponto para eles. — Então, não venham julgar um cara, que casou para fazer o
bem à outra pessoa, e conseguiu colocar a Poliana na cadeia, coisa que vocês não
conseguiram, mesmo ela ameaçando a todos nós.
Estou tremendo de raiva.
Meu tio me observa e então se levanta.
— Vou me arrepender de dizer isso, mas ela está certa.
— Quê? Vai ficar do lado do imbecil? — Henrique questiona nervoso.
— Não. Eu estou do lado do que é certo. Porra, quando todos nós
precisamos Daiane esteve presente. Se ela quer ter ou tem algo com o tal do
Jacob, que se dane, a vida é dela! Não vou ser hipócrita em julgar o cara quando
não tem a merda de uma falha. Não sei por que se casou com a Poliana, e pouco
me importa saber. Mas não seremos idiotas em dizer que ele não presta ou algo
do tipo, quando nosso sobrenome é o que fica no topo da lista de não seguir
todas as leis e regras.
— Não estou acreditando. Porra, Marcos, é isso mesmo? — David diz
nervoso.
— Sim. É isso mesmo. Agora quem está falando é o tio de vocês, e não o
Marcos que cresceu junto. Temos duas escolhas: aprendemos a confiar nas
decisões da Daiane ou sejamos um bando de hipócritas, fingindo que ela não
sabe o que faz. — Seu tom é grave, e fico feliz por suas palavras.
David se levanta e caminha até a janela observando. Não está contente.
Henrique esfrega o rosto e se levanta também.
— Vou respeitar, mas não irei fingir que gosto. Vou querer conversar com
ele e não irei medir palavras — ele diz em um tom rude. — Antes de ser maior
de idade e saber o que faz é minha irmã mais nova, e não vai ser qualquer
fedelho que vou permitir que entre para esta família acompanhando você. — Me
olha seriamente.
— Não quero que finjam gostar, mas quero que respeitem. Já falhamos
com ela. E podem ter certeza de que ele vai enfrentar uma conversa conosco a
sós, e isso ninguém vai impedir. Nem você, Daiane — meu tio diz usando o tom
de voz que ninguém ousaria rebater, mas eu sou Daiane.
— Não vão não! Nós não temos nada. Não me façam passar vergonha.
Pelo amor de Deus!
— Será assim. E saiba que minha arma está carregada — David diz se
virando para nós. — Não quer passar vergonha? Então é melhor o
promotorzinho não me tirar do sério, e tampouco interferir no modo que agimos,
e ele terá um por cento de chance de sair ileso.
— Vocês são uns patetas ridículos.
— E tem mais, se vira para organizar o novo esquema de segurança da
fazenda. Estamos retornando para a cidade, e antes da meia-noite quero um
relatório de como foi feito, ou vai conhecer um tio que não quer.
— Que isso? Tenho doze anos de novo?
— Não provoque. Sua sentença está sendo analisada e a cada instante
tem se tornado muito peculiar as formas que penso em te esganar.
— Depois mamãe que é dramática!
— Não estou brincando! — Marcos diz.
— E teremos a conversa com ele, no momento certo. Vamos, Henrique!
— David passa por mim, e olha para o Henrique, que troca olhares que não
entendo, mas o outro pateta parece entender.
— Nem pensar. Vamos logo, porra!
— É foda! — Henrique diz.
— O quê? — questiono.
— Seu irmão não quer sair daqui sem dar ao menos um soco no Jacob.
Depois eu que sou o estourado dessa família — meu tio diz.
— Por isso que digo que, às vezes, sou uma santa. Vocês são loucos!
Eles saem pelos fundos. Vou para frente da casa, e Jacob está encostado
no carro mexendo no celular, assim que me vê coloca no bolso. Não demora
muito e o carro do meu tio com os três patetas dentro passa na frente da casa,
com o Henrique fazendo sinal no relógio e entendo bem o que quer dizer. O
problema é: Como irei organizar o esquema de segurança sendo que nunca fiz
antes? Estefan sempre me ajudou. Estou ferrada!
— Sobrevivi!
— Por pouco, seu louco. Entra logo!
Ele entra na casa e fecha a porta atrás de si.
— Então, o que iremos fazer? — ele questiona.
— Eu irei resolver algumas coisas, e você pode conhecer a casa se quiser.
Só não entre na última porta do segundo andar à esquerda.
— Por quê? — pergunta curioso.
— Porque não.
— Isso só me faz querer entrar.
— Quantos anos têm?
Ele sorri.
— Já volto.
Saio da casa e convoco todos os seguranças.

Depois de uma hora, a fazenda estando escura ao lado de fora, e


começando a chover, retorno para a casa, e encontro Jacob falando ao celular.
Pelo visto, é assunto de trabalho, ele está sério, e sentado no sofá. Quando me vê
dá uma piscadela, e que ódio, pois me faz estremecer.
Indico que irei para a cozinha, e ele concorda.
Entro na cozinha e bebo água. Retorno para a sala, e ele já desligou o
celular. Pego o telefone sem fio, e ligo para o apartamento no litoral e torço para
a Jaqueline estar lá, porque seu número tenho apenas no meu celular
descarregado.
Na segunda tentativa atendem.
— Jaqueline?
— Daiane? Meu Deus! Estava endoidando de preocupação. Já está
ficando tarde, e não conseguia falar com você. Sophie dormiu esperando uma
ligação sua.
— Eu sinto muito. Meu celular descarregou, e tive que vir para a
fazenda. Mas estou indo para aí.
— Nem pensar, menina. Está um temporal terrível aqui e está tudo
parado na serra, acabou de passar no jornal. Não vá se arriscar, vem amanhã
cedo.
— Não irei dirigindo. O pai da Sophie que vai levar o carro.
— Hum... Danadinha! — Rio e Jacob me olha. — Mesmo assim eu fico
com ela, sem problemas. Sou doida, mas não ao ponto de permitir que venham
com tudo parado e chovendo.
— Aqui também começou a chover, mas não tão forte... — Um
relâmpago clareia a sala inteira e me assusto.
Jacob se levanta e fecha as cortinas.
— Bom, esquece o que eu disse, pelo visto vai piorar aqui.
— Venha amanhã cedo. Se cuida.
— Mas te deixei sem carro, e a Sophie vai ficar...
— Eu sei cuidar de criança. E ela está muito bem. Nos divertimos
bastante. Ela até dormiu de tão cansada. Irei ficar aqui no apartamento.
Qualquer coisa retorno neste número que apareceu no identificador de
chamada, ou peço a ela o número do pai. Se cuida. Beijos.
— Obrigada. Liga sim! Beijos. — Desligo e um trovão ecoa e estremeço
com o barulho.
— Tem medo, Daiane? — Jacob pergunta surpreso.
— Não. É que aqui na sala tem muitas janelas.
— Sophie? — pergunta preocupado.
— Dormindo. A tia da esposa do Marcos está cuidando dela. Não se
preocupe, é bem responsável e confio muito nela.
— Se confia, então fico mais despreocupado.
A chuva forte desaba.
— Eu queria retornar hoje para o litoral, droga! — digo colocando o
telefone no lugar e me levantando. — O pior é que estou sem carregador, e nem
sei se tenho roupas aqui. Da última vez que vim, levei embora para lavar, e não
sei se deixei alguma.
— Pelo visto tem problemas em esquecer as coisas — provoca.
— Engraçadinho!
Pego as chaves reservas que ficam aqui, e tranco ambas as entradas. Os
seguranças também têm, então não me preocupei em vir para cá sem estar
trazendo. Minha bolsa está no carro, e vai ficar, não irei sair na chuva por ela.
— Se quiser, deve ter alguma troca de roupa dos meus irmãos por aqui.
— Está tudo bem. — Ele sorri. — A casa é bonita, mas fiquei curioso
para saber sobre a porta misteriosa.
Rio.
— Eu te mostro se prometer não rir.
— Não irei prometer, moreninha, porque toda vez que prometo isso eu
rio.
Reviro os olhos.
— Está bem. Vem comigo!
— Estou começando a gostar. O que tem lá? Algemas, chicotes? — diz e
ri.
— Não, mas tem armas na casa, então não me provoque!
— Oh família que gosta de ameaças. Vamos logo!
Sorrio.
Estamos no segundo andar agora. Paro na porta e olho para ele.
— Se rir, eu te jogo pela janela.
Ele concorda sorrindo.
Abro a porta e entro acendendo a luz. Ele entra e começa a olhar tudo,
parado no centro do ambiente, com as mãos no bolso. Fico ao seu lado e ele
analisa cada detalhe.
— Então? — pergunto.
— Porra, eu não iria rir, mas você tinha que perguntar?
O ambiente é preenchido pelo som de sua gargalhada, e acabo rindo
junto. Sento-me na cama de casal e ele não para rir. Seus olhos cinza escuros,
agora estão claros, devido às lágrimas conduzidas pelo riso. Depois de alguns
minutos, ele se acalma e recupera o fôlego, pois até tossir faz.
— Desculpe, é que você vive me ameaçando, e é toda nervosinha, então
me mostra esse ambiente, que não tem como negar ser seu quarto, afinal tem
fotos suas para todos os lados...
— Eu tinha dez anos, e era apaixonada por essa decoração. Nunca quis
mudar. Dá um desconto. Apenas retoco os detalhes. Algo contra?
— Nada contra. Apenas é engraçado. Pôneis? — pergunta rindo.
— Sim! Eu amava pôneis e meu pai decorou tudo para mim. Não seja tão
cruel. São fofinhos.
— São fofinhos, mas em um quarto todo rosa, repleto deles por todas as
paredes, e até na cama, fica difícil de levar a dona dele a sério.
Atiro uma almofada nele, que desvia e sorri do jeito menino levado.
— Só não irei te jogar da janela, porque sujaria o chão com sangue —
brinco.
— Instinto assassina, hein! — ele brinca.
Levanto e salto com outro trovão ainda mais alto. A chuva parece piorar
cada vez mais.
Jacob franze o cenho e se aproxima da porta.
— O que foi?
— Não escutou?
— Não! O quê? — pergunto preocupada.
— Algo fez barulho lá embaixo.
— Ai, meu Deus! — Entro em pânico.
— Já venho.
— Não! Eu vou junto. Vai que é alguém.
— Não deve ser ninguém. Mas não custa nada conferir.
Descemos a escada com cuidado, e a sala parece tudo normal.
— Daiane! — Jacob sussurra me puxando para ele, e quando vou gritar,
ele coloca a mão sobre minha boca. — Shhh...
Concordo e ele então retira.
— O que foi?
— Vi um vulto passando na cozinha.
— Ai, meu coração! — digo em desespero. — E-eu não sei o que fazer.
Preciso chamar os seguranças. — Entro em desespero.
— Se acalma! — ele diz baixinho e coloco a mão sobre seu peito, pois
ele ainda me mantém junto de si.
— Não me peça calma em um momento assim!
Escutamos o armário da cozinha abrir e fechar, e a pessoa esbarrar na
cadeira, pois faz um barulho alto e ela xinga.
— Eu tranquei tudo — sussurro.
— Daiane, não tem como chamar ninguém, não sabemos se a pessoa está
armada ou quem é. Onde está sua arma?
— Quê?! Não. Não posso. Eu não sei.
— Quê?
— Ficou no meu carro, e eu... Jacob, é que...
— Você o quê?
— Não sei atirar. — Ele me olha espantado, mas não diz nada sobre o
assunto.
— Tem alguma por aqui?
— Sim!
Afasto-me com cuidado e puxo uma que fica presa embaixo da escada e
entrego para ele sem jeito.
— Sabe usar?
— É óbvio!
— Ah...
Passos na cozinha indicam que a pessoa está em movimento e vindo para
cá.
— Jacob... — Ele faz sinal para eu subir, mas subo apenas alguns
degraus.
Acontece tudo muito rápido. Quando vejo, Jacob está em cima de alguém
no chão, e com a arma apontada para a pessoa, que só agora vejo ser quem é!
— Para, para! — grito correndo até eles, pois o que está no chão já
começava a retirar a arma que estava na cintura.
— Senhorita Daiane! — Estefan diz surpreso.
Jacob sai de cima dele deixando a arma apontada para o chão.
— Meu Deus! Pensamos que alguém tivesse invadido! — digo a ele que
ajeita a roupa.
— Não. Eu vim para cá, pois o Simon recebeu a ordem de virmos para
cá. Pensei que a senhorita estivesse dormindo. Perdão pelo barulho, vim beber
um pouco d’água. E nossa, o rapaz aí tem força — ele diz chacoalhando um dos
braços.
— Perdão! — Jacob diz a ele.
— Está tudo bem. O carro da senhorita está aqui, seu tio quer o relatório,
preciso levá-lo, Simon acompanhou com outro carro, e estamos no aguardo para
retornar.
— Nunca mais me assuste assim, homem!
Ele sorri envergonhado.
— Eu irei fazer o relatório aqui no escritório e volto em alguns minutos.
Apenas consegui ajeitar algumas coisas com os seguranças.
— Se precisar, posso ajudar a senhorita.
— Claro! Me aguarde lá.
Ele concorda.
— Mais uma vez, perdão aos dois, pelo ocorrido — diz então se retira.
Jacob me entrega a arma e me olha sério.
— Desculpa te fazer passar por isso!
— Eu quero saber, como que uma promotora anda armada sem saber
atirar?
— Eu vou contar, mas tem que me jurar não contar a ninguém.
Ele concorda.
— Me espere lá em cima. Serei rápida aqui!
— Quer saber? Me dê isso aqui! — Ele pega arma da minha mão e
coloca no lugar que retirei. — Já vi que é um perigo com você.
Sorrio sem jeito.
Meu tio não brincou mesmo quando deu seu prazo para o relatório.
Descobri que, na verdade, era para o Estefan ficar, mas dispensei, e disse a ele
que se meu tio falasse algo, era para vir falar comigo.
Jacob está observando através da janela do meu quarto que tem apenas a
cortina aberta.
— E então? — ele diz.
Sento-me na cama virada para ele.
— Eu dei início aos prévios testes, e até autodefesa fui fazer. Por mim
nunca estaria perto de uma arma, mas o David insistiu, e o Henrique e meu tio
concordaram. Porém, eu não levava jeito. Chegava toda dolorida, e nos tiros?
Puff... — Solto uma lufada de ar. — Eu realmente não sei atirar. Miro na
esquerda e atiro para direita, eu juro. Sou muito péssima.
— E por que anda com a arma se não saber usar? — Ele mantém agora
os olhos em mim, e os braços cruzados.
— Minha família acredita que eu sei. Eu menti. Como eles nunca foram
atrás para saber, porque jamais imaginariam que eu mentiria sobre isso, fiquei
tranquila. Estefan é o único que sabe, por isso mesmo eu o expulsando ele
sempre surge, por medo de que algo aconteça e eu não saiba como agir. Eu entro
em total pânico, quando a situação é do tipo que necessite de armas ou luta
corporal. Por isso sempre fico nos bastidores da minha família.
— Ainda não respondeu por que anda com a arma se não sabe usá-la —
ele diz seriamente.
— Para eles não desconfiarem. Mas eu juro que nunca a usei sem saber
como manusear. A arma pertence ao Estefan. Eu sei que é errado eu não saber
atirar e ficar com a arma para cima e para baixo, colocando minha vida em risco,
mas você não conhece minha família, seria uma Terceira Guerra Mundial se
soubessem que menti.
— Eu prometi que não contaria a ninguém. Mas tenho uma condição?
— O quê?
— Vai aprender a atirar, ou eu conto a verdade.
— Não está falando sério!
— Estou sim. Isso pode te prejudicar. Não saber usar uma arma, e andar
como uma, te faz refém dela. Aprende a usar e então retorna a andar com ela, ou
conto a verdade. E durante o tempo que estiver aprendendo a atirar, não andará
armada.
— Só pode ser brincadeira. Eu sou péssima com tiros.
— Você decide.
— Não tem esse direito! — digo irritada.
— Tenho sim. Quando vejo que está errada, eu tenho esse direito. Você
não sabe atirar, e ainda anda com uma arma. Daiane, você é uma promotora, sua
vida corre riscos e não será sempre que terá o Estefan ou seus irmãos por perto.
Ter a bendita da arma, sem saber usar, é a mesma coisa que não ter.
— Está bem. Está satisfeito?
— A verdade? Não!
— Por quê? — pergunto sem entender.
— Odeio ter que agir assim, porque a pessoa é teimosa.
— Sou uma santa as vezes, só para você saber. — Levanto e paro na sua
frente. — E só estou aceitando isso, porque realmente sei que estou errada
quanto a minha segurança. Agora, irei te acompanhar até algum quarto de
hóspedes, e voltarei para cá e irei tomar um banho e dormir.
— Seu estresse não me intimida.
— Foda-se!
— Boquinha suja, não? — diz e me puxa para si, colando nossos corpos.
— Culpa sua que me estressa.
— Eu te estresso, ou o tesão que sente por mim, e tenta controlar, faz
isso? — Engulo em seco e meus lábios abrem levemente.
— Você é muito convencido!
— Gostaria de descobrir o que mais posso ser?
— Não me provoque, pateta número quatro.
Rapidamente ele gira meu corpo, mantendo-me de costas para si. Seus
lábios trilham meu pescoço com beijos intensos, me fazendo inclinar a cabeça
para dar mais acesso. Fecho meus olhos, enquanto sinto a sensação deliciosa que
me invade. Suas mãos deslizam por minha barriga, até o cós do meu short. Uma
mão prende meu corpo, e a outra adentra o tecido, fazendo com que eu jogue a
cabeça para trás. Sua boca encontra a minha, e sem qualquer espera, a mão livre
invade minha boceta, massageando. Estou úmida, e um calor exorbitante domina
o quarto. Nem mesmo os sons do trovão ou os clarões dos relâmpagos são
capazes de me incomodar agora. Sua língua se aprofunda junto a minha, em um
beijo louco e dominador. Quando seus dedos me invadem, ele cessa o beijo e um
gemido alto sai de meus lábios.
— Ainda te estresso, Morena? — pergunta com os lábios colados em
meu ouvido, e sua voz rouca pelo desejo me consome de dentro para fora. —
Pelo visto, não. Está tão molhada e prestes a gozar!
— Jacob... Porra!
Os movimentos são fortes, me fazendo afastar as pernas e segurar firme
em seu braço.
— Não quero que goze agora, Morena... — sussurra.
Com lentidão retira os dedos de dentro de mim.
— É brincadeira, não é? — pergunto sem fôlego.
— Tire a roupa e deite na cama. Vamos fazer isso direito. Porque meu
pau está louco para entrar em você há muito tempo.
Fico boquiaberta e ele sorri.
Retiro cada peça com calma, e ele observa com os olhos em chamas.
Caminho de quatro sobre a cama, então lentamente me deito ficando com os
seios expostos para cima. Se ele pensa que sou tímida, está enganado. Abro as
pernas, ficando completamente exposta. Ele ergue sua sobrancelha esquerda, e
seu olhar escurece ainda mais. A luz acaba, revelando ter acabado a força após
um forte estrondo do trovão, mas os clarões da chuva deixam o quarto ainda
iluminado. Vejo cada momento dele retirando a roupa, e expondo seu corpo
musculoso e seu pau ereto e de comprimento perfeito.
— Primeira gaveta do criado-mudo — digo. — Não confio apenas nos
remédios. — Sorrimos.
Ele não diz nada, apenas pega a carteira e retira o pequeno pacote
laminado.
Aproxima-se, ficando entre minhas pernas.
— Faz as honras? — pergunta se deliciando com a visão, pois seu olhar
entrega o desejo.
— Com certeza!
Abro o pequeno pacote. Aproximo-me, deslizando a língua sobre sua
ereção, enquanto um som rouco sai de sua boca. Coloco o preservativo e me
deito ficando novamente com as pernas abertas, só que desta vez bem mais.
Em um único movimento, ele me preenche, trazendo um formato de “O”
para os meus lábios. Enrolo as pernas em sua cintura e agarro seus ombros. Seu
peso é sustentado por seus braços, e seus olhos fixos aos meus. Aperto seu pau
dentro de mim, e vejo as veias em seus braços ficarem mais expostas. A
profundidade com que me penetra me faz gemer sem qualquer controle.
— Porra... Daiane! Você já é apertada... e faz isso... — ele diz entre as
estocadas.
— Mais forte... — digo enroscando os braços em seu pescoço.
Em uma facilidade, sem sair de dentro de mim, se senta comigo em seu
colo. Começo a cavalgar com força, sentindo suas mãos apertarem firmemente
minha cintura, que com toda certeza deixará marcas. Sua boca abocanha meu
seio, e chupa com força, a dor traz mais prazer ao momento. Aperto seus
ombros, e agora quem me controla é ele. Larga meu seio e começa a controlar
meus movimentos tornando tudo mais intenso.
— Jacob! — chamo por ele sem qualquer intenção de dizer algo.
Ele me retira rapidamente de cima, e me coloca de quatro com o rosto
colado ao colchão. Então me invade novamente, preenchendo minha boceta com
mais força.
— Goza, Morena... — ele diz dando um tapa forte em minha bunda que
faz arder, mas me deixa mais louca de tesão ainda.
São apenas mais três estocadas, para me fazerem gozar atingindo um
orgasmo, que me faz tremer por inteira, e gritar por seu nome. E ele me
acompanha, pois na terceira investiu com mais força fazendo um som forte e
rouco e chamando por meu nome.

Estou com a cabeça em seu peito, e nossos corpos nus estão colados um
ao outro. Já tive muito sexo bom, mas nunca igual a este. O sentimento que
esteve presente foi diferente. Foi mais caloroso.
— Só tem uma forma que você não me estressa — digo para quebrar o
silêncio. Olho e vejo que sorri, os clarões, que não param de atravessar a janela,
permitem esta visão.
Segurando meu queixo, ele me beija. É diferente do nosso primeiro beijo
e dos beijos de hoje. Este é tão calmo, que parece até um carinho.
— Você é linda, Moreninha.
— Agora é Moreninha?
— Tudo tem sua hora.
Sorrio.
— Riu do meu quarto, mas aproveitou bem dele — provoco.
— Ele foi ofuscado pelo tesão que sinto só de ter você por perto.
— Então é apenas tesão? — continuo nas provocações.
— Se fosse, eu não teria dado a você dois dias. E por falar nisso, qual a
resposta?
Inclino-me sobre ele, e sinto uma alegria enorme me consumir. Quer
saber? Que se danem tudo e todos.
— Vamos deixar rolar. Agora, eu quero outra coisa, aproveitar que
estamos sem luz para qualquer outra coisa mesmo... — brinco.
— Monstrinha do sexo? — pergunta rindo.
— É o pacote, baby. Se quer a mim, tem que saber que sou insaciável.
— Eu nunca disse que eu não era.
Ele me deita, pegando-me de surpresa e ficando por cima, e com isso
solto um gritinho acompanhado por risos.
— Quero ver suas desculpas, quando formos embora e estiver andando
com dificuldade.
— Direi que certo promotor sabe fazer um bom trabalho. — Rimos.
Doze

Jacob Casagrande

Acordo com meu celular tocando sem parar. Com cuidado retiro Daiane
dos meus braços, e me levanto para pegá-lo. Vejo o nome da Sophie no visor.
Atendo enquanto visto minha cueca.
— Oi, princesa.
— Pai, sabe da Daiane? — Olho para a morena deitada na cama,
dormindo e sorrio.
— Não tenho ideia — minto.
— A Jaqueline disse que estavam juntos.
— É... — Começo a vestir a calça. — Já tomou café? — mudo
rapidamente de assunto.
— Já. A Daiane prometeu ficar comigo e sumiu.
— Antes do almoço, ela vai estar por aí.
— Como sabe? — Esqueço o quanto ela consegue ser curiosa as vezes.
— Sabendo, amor.
— Sei... Está me enganando. — Escuto sua risada e isso me preenche de
amor por dentro.
— Não estou. O pai tem que desligar agora. Mas fique tranquila, que
logo ela estará aí.
— Você vai vir? Jaqueline disse que provavelmente viria.
Não conheço essa mulher, mas já estou começando a ficar puto com ela.
Sophie é o tipo de garota que não esquece nada do que dizem, e faz perguntas,
atrás de perguntas, até a pessoa ficar confusa e falar o que ela tanto quer ouvir.
— Sim. Eu irei.
— Então está com a Daiane? — pergunta animada.
— Depois conversamos. Beijos, princesa.
— Beijos, pai! — Ela desliga.
Coloco o celular no bolso e termino de me vestir. Daiane se mexe na
cama e então se senta, enrolada no cobertor.
— A luz voltou. — Indica com a cabeça a luz acesa. — E você mente
muito mal.
— Coisa feia, escutando conversas. E bom dia para você também. — ela
sorri, e que sorriso lindo.
— Bom dia. No meu banheiro tem escova de dente nova, só não tenho
cueca nova, a não ser que queira vestir alguma calcinha — diz rindo.
— Engraçadinha! — Aproximo-me e ela se cobre por completo com o
cobertor.
— Jacob, nem pensar. Temos que ir logo para o litoral. — Puxo a
coberta, deixando a completamente exposta com seu corpo nu.
— Mente poluída. Apenas vim fazer isso. — Dou um beijo demorado em
seus lábios. — Depois diz ser santa. — Afasto-me.
— E sou! — Rio e vou até o banheiro dentro do quarto.

Depois de um café rápido, estamos a caminho do litoral. Ela está indo no


carro dela que o segurança deixou, enquanto eu sigo com o que ela disse ser da
tal Jaqueline. Bom, estou tentando seguir, já que a mesma dirige como uma
louca. Porra!
Não está trânsito, o que faz com que ela pense que está em um
autódromo. Essa louca não está vendo as placas? Caralho! Sem contar que está
com o som bem alto.
Acelero mais, desviando de duas motos, e assim ficando na faixa ao lado
dela. Seu vidro está aberto, e ela me olha rindo.
— Está louca, porra? — grito e ela ri ainda mais. Ela me passa
novamente, ficando na frente.
Vou para a faixa que ela está. Ficando com o carro quase colado ao dela.
Ela está me deixando louco. Qual foi a autoescola que fez? Impossível
ela ter realmente uma carteira de motorista.
Daiane Escobar

A música Pesadão toca no som. Se tem uma coisa que eu amo é não ter
trânsito. Talvez eu realmente dirija como uma doida, como meus irmãos e tio
dizem. Mas, na verdade, não devo ser tão doida, afinal, nunca recebi uma multa,
ou fui parada por alguma blitz da polícia. Isso conta como boa motorista?
Jacob deve estar bem puto, porque consegui escutar ele gritando comigo.
Mas estou tão concentrada dirigindo e pensando, que nem sequer me importa o
estresse dele.
Porra, ontem tivemos uma noite de puro sexo. E foi o melhor da minha
vida toda. Clichê? Talvez, mas é a verdade. Eu nunca namorei, e nem sei como é
ter um relacionamento do tipo com alguém. O que vai ser quando a mídia
começar a desconfiar de algo? E a Sophie? Ela vai me odiar. Ela odeia todas as
mulheres que se aproximam do pai. Meus irmãos não vão dar paz. E meu tio?
Estou fodida!
Droga, Daiane, por que esta loucura de sentimentos dentro de você?
Seria o tal do amor? Nessas horas, a saudade do meu pai triplica.

— Pai, o que está aprontando? — pergunto ao ver que chegou animado e


correu para o quarto, e logo depois desceu e ficou cochichando com Marcela e
Jurema.
— Eu? Nada.
— Não minta!
Ele sorri e seus olhos brilham.
— Programando uma noite especial com sua mãe. Ela merece, depois de
eu passar um mês focado no trabalho e não ter tido tempo para ela.
— Jantar?
— Melhor não querer saber. — Ele ri, e sua risada contagia.
— Que nojo. Já imagino o que seja. Deixa eu ir. Tenho uma festa hoje.
— Filha, cuidado. Não volte tarde.
— Relaxa, pai.
— Jamais. Irei ficar bem velhinho, e indo atrás de cada passo seu.
Sorrio, e dou um beijo em seu rosto.
— Tio Marcos já faz isso, e David e Henrique também. Não precisa de
mais.
— Gabi, eu sempre irei atrás de você e estarei contigo. E o homem que
ousar cruzar seu caminho um dia, estará bem fodido em minhas mãos.
— Pensei que mamãe tivesse proibido os palavrões aqui.
— Segredo nosso. — Ele ri e retira os óculos de grau, que o deixa ainda
mais charmoso. — Agora, tenho que ir! — Ele deposita um beijo na minha testa
e sai animado para a cozinha.

Se tinha um homem mais romântico que ele, eu desconheço. É certo que


Henrique puxou muito a ele neste ponto, porém ninguém jamais chegará aos pés
do amor que ele distribuía a família e, principalmente, a minha mãe. Meu pai era
meu herói, o homem mais lindo do mundo para mim, o mais engraçado, o mais
responsável. Mesmo com todas as tatuagens que minha mãe endoidava, pois a
cada mês aparecia mais uma em seu corpo, ele continuava sendo um homem que
era respeitado. Ninguém o olhava torto como fazem quando olham para alguns
homens tatuados. Ninguém tinha preconceito com ele por seu estilo moderno,
porque conquistava a todos por onde passava. Meu pai era e ainda é minha
fortaleza. Sempre fui muito apegada a ele. Ele também era o meu melhor amigo.
Confidenciei muitos segredos somente a ele, e por isso hoje, quando a barra
aperta, ou os sentimentos confusos me invadem, eu fico perdida, porque sei que
em algum lugar, ele está olhando por mim, mas não posso mais vê-lo e tampouco
ouvi-lo e se ainda lembro de cada detalhe dele, é porque sempre olho suas fotos
e foco nos melhores momentos, porque até isso o tempo tenta me tirar, a
lembrança dele, e eu luto dia e noite contra isso.
E hoje, que estou confusa, sem saber como seguir, já que nunca senti
isso, eu não posso chamá-lo, porque sei que não virá. Não posso dizer a
ninguém, porque não quero que pensem que sou tão fraca ao ponto de me deixar
confundir por sentimentos que eu deveria conhecer, mas que só há pouco tempo
venho sentindo.
Jacob não trouxe apenas novos sentimentos. Ele me trouxe uma saudade
imensa do meu melhor amigo... Do meu pai.

Entro no estacionamento do prédio, seguida por Jacob, após dizer ao


porteiro que ele estava comigo. Estacionamos e saio do carro, e ele faz o mesmo.
— Você é louca? Porra, como pode dirigir daquele jeito? Cacete! — diz
nervoso e isso me faz sorrir.
— Não viu nada ainda. Minha família tem medo de andar comigo de
carro.
— Sério? Não imagino o porquê! — diz com ironia.
— Relaxa, desse jeito vai envelhecer mais rápido.
— Você é louca! Estou começando a repensar sobre você aprender a
atirar. Se dirigindo já age como louca, imagine atirando!
— Atirando, eu posso garantir que sou um perigo. Agora vamos logo.
— Quero deixar bem claro, que voltarei dirigindo.
— Está bem, medroso.
— Apenas prezo pela vida da minha filha que vai estar no carro.
— Idiota! — Bato em seu braço e rio.
Entramos no apartamento, e está um completo silêncio. Chamo por
Jaqueline e Sophie, mas ninguém se manifesta.
— Devem estar no apartamento dela ou foram em algum lugar. Vou pôr
meu celular para carregar — digo e ele concorda.

Jacob Casagrande

Assim que ela se retira da sala, me aproximo da estante com alguns


porta-retratos, e então vejo um onde o famoso Joseph Escobar está junto com
ela, e o cenário do fundo revela ser Londres. Ela sorri de um modo tão doce, e o
olhar dele para ela revela o quão protetor era e o quanto a amava. Sorrio.
Sempre ouvi falar muito dele. O homem era foda demais. Pena que
perdeu a vida de um modo tão trágico.
— Espero que, de onde esteja, aprove a mim para, quem sabe, seu futuro
genro. Eu me aprovaria em seu lugar, porque sou um homem muito bom, e
modéstia à parte, muito bonito. — Sorrio e me afasto.
Fico olhando as demais fotos de longe.
— Já vou! — Daiane grita.
Caminho pelo corredor onde ela entrou, e vou até a porta que está aberta.
Paro e vejo-a mexendo no celular, que carrega próximo a cama. Está de costas
para mim, e bem entretida no aparelho em suas mãos.
Aproximo-me com cuidado, para que não ouça. E então a abraço por trás,
fazendo ela se assustar.
— Qual o problema dos homens? Adoram me assustar, eu hein!
Sorrio.
— Dos homens? Bom, eu não sei. Mas o meu problema, é falta do seu
beijo, isso deve bastar, não?
Ela sorri e coloca o celular na cama, e então se vira para mim,
enroscando os braços ao redor do meu pescoço. Passo os braços ao redor de sua
cintura, mantendo-a colada em mim.
— Podemos resolver este problema, o que acha?
— Adoraria. — Sorrio.
Beijo-a sem pressa alguma. Seus lábios macios me deixam louco. Seu
perfume, então nem se fala. Daiane me deixa louco por completo. Aperto ainda
mais seu corpo contra o meu. Coloco uma mão em sua nuca. Seus cabelos se
enroscam em meus dedos e o puxo. Suas unhas deslizam pelo meu pescoço me
causando um arrepio e elevando o nível do meu tesão. Essa morena ainda vai
foder o meu juízo.
— Pai! — Daiane se afasta rapidamente tampando a boca.
Viro-me assustado, e vejo Sophie com uma mulher muito bonita por
sinal. Ambas com os olhos arregalados.
— Filha... Eu... É...
Sophie cruza os braços e olha para a Daiane.
— Sophie, vamos. Eu vou te mostrar um negócio. — A moça, que deve
ser a tal Jaqueline, e acredito que já a tenha visto em algum lugar, diz se
controlando para não rir.
— Não vou. Pai, você e a Daiane são namorados?
Uma crise de tosse começa atrás de mim. Viro-me para olhar, e Daiane
chega a ficar vermelha de tanto tossir. Mas faz sinal de que está bem.
— Eu? Ela? Então, filha...
— Ah, pelo amor de Deus! A menina não é tonta não. Mania besta que
vocês têm de pensar que uma menina de dez anos é bobinha. Minha sobrinha
com essa idade sabia de mais coisas que o normal. E eu, como cirurgiã, vejo
cada tipo de criança, que vocês ficariam chocados, com os papos deles. Então,
desembuche logo. O clima está péssimo.
— Vou fazer onze! — Sophie diz como se fosse fazer vinte anos.
— Esta é a Jaqueline — Daiane diz, após se recuperar da tosse.
— Não, Sophie. Não estamos namorando. Nós... Como posso explicar
sem que fique confusa... — digo mais para mim do que para ela.
— A bisa me disse hoje pelo telefone, que não é mais casado com a
bruxa, e que poderia se casar com alguém melhor um dia. É isso que vai
acontecer? Vai casar com a Daiane? — Agora é minha vez de me engasgar
completamente. Daiane me dá alguns tapas nas costas, enquanto a Jaqueline
revira os olhos.
— Tenha santa paciência! Parecem minha sobrinha Beatriz. Olhe para
mim, gatinha.
Sophie faz o que ela pede.
— Seu pai e a Daiane estão se conhecendo um pouco melhor. Isso não
significa que vão casar, namorar ou algo assim. Adultos têm dessas coisas.
Agora pode ser confuso, mas um dia entenderá melhor.
— Exatamente! — Daiane e eu dissemos em uníssono.
— Ainda parecem namorados! Eu gosto de você, Daiane. Não precisa ter
medo. Só não tente roubar meu pai somente pra você — diz animada e sorrio.
— Viu só, Morena? Tem que dividir — provoco e Jaqueline ri, enquanto
Daiane revira os olhos.
— Eu jamais o roubaria de você, raio de sol. Mas tem uma coisa muito
importante que precisa entender.
— O quê? — ela pergunta a Daiane.
— Se um dia eu e ele não estivermos mais próximos, não significa que
nós duas não seremos mais amigas. E você não tem que se preocupar com nada
sobre nós dois, porque isso é outra história, fechado?
— Sim! Eu já disse, vou fazer onze anos, eu entendo o que vocês falam
— diz nervosa. — Tem meninas de onze anos na minha escola que já namoram.
Então eu sei muita coisa, só não como vem os bebês, mais sei que não é da
cegonha.
— Chega! Vamos mudar de assunto. E fique longe dessas meninas e dos
meninos — digo a ela, e todas riem.
Ela sai rindo do quarto. Jaqueline fica me olhando, e depois faz o mesmo
com a Daiane e então chacoalha a cabeça.
— Porra, eu preciso andar mais com os Escobar. A fonte dos homens
tesudos está no círculo de vocês. — Daiane gargalha. — Lembra-se de mim,
gato? Eu estava no evento que você encontrou os Escobar.
Sorrio, pois agora sei muito bem de onde a conheço.
— Me lembro sim.
— Que sorte, hein, Daiane! Eu vou dormir depressiva hoje. — É a minha
vez de rir.

Já é tarde e estamos chegando ao meu apartamento. Daiane vai embora


daqui. Vim dirigindo, enquanto ela veio implicando o caminho todo, dizendo que
eu estava fazendo bullying com seu modo de dirigir, e Sophie a ajudando me
condenar.
Perfect, do Ed Sheeran, é anunciada na rádio e começa a tocar.
Acompanho a música cantando, enquanto Daiane e Sophie conversam sobre algo
de vestido que alguma famosa usou e não combinou. Como chegaram neste
assunto? Não faço ideia.

'Cause we were just kids when we fell in love


Not knowing what it was
I will not give you up this time
But darling, just kiss me slow
Your heart is all I own
And in your eyes you're holding mine

Entramos na rua do condomínio.


— Adoro estar no seu show particular — Daiane comenta e sorrio.
— Canto bem demais, eu sei.
— Você é convencido demais, isso sim.
— Ele é. A bisa sempre diz isso a ele — Sophie completa e elas riem.
— Mas, infelizmente, ele tem razão, Sophie. Canta muito bem.
— Sim. E também sabe tocar violão — Sophie comenta toda orgulhosa
me fazendo sorrir.
Passamos pela portaria e entramos no estacionamento.
Descemos do carro e fomos para o elevador.
Chegamos ao andar e entramos no apartamento, que estava destrancado,
o que indica que certa pessoa está por aqui.
— Oi, bisa! — Sophie diz animada indo cumprimentá-la.
— Oi, meu amor — minha avó diz dando um abraço nela. Está de
avental, o que indica que está fazendo algo na cozinha.
— Vou tomar banho, está calor demais — ela diz.
— Antes, me dê um beijo, que já vou embora — Daiane diz a ela, que a
abraça e dá um beijo em seu rosto. — Desculpa por não ter sido um passeio tão
legal.
— Foi sim. Jaqueline é divertida demais. — Sorrimos.
— Ela é sim. Vamos marcar de sairmos só nós duas, eu prometo.
— Não prometa. Ela não esquece — brinco.
— Não mesmo! — minha avó diz e rimos.
— Tchau! — Sophie diz saindo da sala, rindo.
Minha avó fica olhando para nós, sorrindo.
— O que foi? — pergunto colocando a mochila e mala da Sophie no
sofá.
— Eu que tenho que perguntar. Estão com um sorriso e olhar diferente —
diz e ri.
— É melhor eu ir — Daiane fala, rindo. — Antes que a tropa Escobar
surja atrás de mim.
— Não pense que vai embora sem me dizer o que está acontecendo,
mocinha — minha avó fala e rio.
— Isso aí, Daiane. Não ouse deixar minha pobre avó sem uma resposta
— provoco e se ela pudesse me matar com o olhar teria feito.
— Só precisa saber que seu neto é muito bem-dotado.
Arregalo os olhos e minha avó gargalha. Daiane me olha vitoriosa.
— Eu sempre soube! Então rolou? Vocês estão juntos?
— Não. Daiane não quer este belo homem solitário — brinco abraçando
minha avó.
— Vai me esmagar, menino! — Sorrimos.
— Estamos deixando rolar, dona Joana — Daiane diz.
— Vocês jovens inventam nome para tudo. Assumem logo que é namoro,
e que eram loucos um pelo outro há tempos. E é Joana apenas!
— Ainda não. Preciso ver se ele merece este título — Daiane diz
sorrindo.
— Isso é um desafio, Morena?
— Entenda como quiser.
— Ok! — digo.
— Preciso ir — ela se despede da minha avó.
— Vai com cuidado. E estou muito feliz por vocês dois. Agora deixa eu
ficar no pé da Sophie, ou ela vai morar no banho — diz se retirando da sala.
— Adoro desafios — digo a Daiane. Ela se aproxima e me dá um beijo
rápido.
— Ótimo. Isso faz com que ganhe dois pontos comigo. Na verdade,
depois da nossa noite, já tem seis pontos.
— Quantos preciso?
— Dez.
— Só?
— Só. — Ela sorri e me dá outro beijo. — Fui. — Ela sai rindo.
Ela realmente vai foder o meu juízo.
Treze

Daiane Escobar

Já se passaram alguns dias desde que estive com Jacob. O trabalho tem
ocupado meu tempo e o dele também. O que fez nosso contato ser por telefone
apenas. Hoje, por fim, depois de trabalhar tanto, resolvi sair com a Débora.
Marquei com ela na boate que sempre vamos. Preciso muito relaxar a mente e
esquecer do trabalho neste fim de semana, começando por hoje, sexta-feira.
A mídia não mudou nada. A cada passo que dou eles estão atrás.
Especulam se estou com alguém, por não estar saindo com outros homens. Em
partes estão certos. Não estou saindo com outros homens, meu tempo estava tão
corrido, que mesmo se eu quisesse — o que não quero — não teria tempo. Está
tão difícil de dizer o que sinto pelo Jacob, que prefiro não colocar mais
confusões em minha mente.
Estamos na área VIP como sempre. Mas, desta vez, viemos apenas nós
duas. Liziara disse estar atolada de trabalho da faculdade e a Helena — uma das
gêmeas — está gripada e consequentemente bem enjoadinha. Ana Louise falou
que está tentando evitar deixar as meninas com outras pessoas, porque Yasmim
tem ficado enciumada com a irmã. Beatriz disse que o Arthur tomou vacina e
também ficou enjoadinho. Dona Paula nem adianta tentar trazer, aquela ali foge
de passeios como o Diabo foge da cruz. Então sobrou eu e a Débora.
— Isso sim deve ser considerado épico. De toda a turma apenas nós aqui
— Débora diz e ri.
— Para você ver como as coisas mudam. E o Cleber não quis vir?
— Ele e o David não têm hora para saírem daquela delegacia hoje. Estão
que nem loucos com um caso. Passei lá antes de vir para cá, e apenas com isso
posso te dar um bom conselho para hoje: Não tente falar uma palavra com
nenhum dos dois, ou vai ganhar um belo coice gratuito.
Rio.
— Estou fugindo de trabalho e da tropa Escobar. Esses últimos dias
foram muito difíceis. Estou literalmente acabada, tanto mentalmente, quanto
fisicamente.
— Nem me fale. Por sorte estou pegando apenas casos pequenos ainda,
ou não sei se daria conta. Não ando muito bem.
— O que você tem? — pergunto preocupada e dou um gole na minha
bebida.
— Se o teste de gravidez não estiver errado, estou grávida de três
semanas. — Fico surpresa. — Não conte a ninguém, além de você ninguém mais
sabe. Quero confirmar primeiro na consulta que marquei segunda-feira e ver se
está tudo bem, e espero que sim.
— Meus parabéns, Déb! Que maravilha. — Abraço-a desajeitadamente,
devido ao fato de estarmos sentadas ao redor da mesa. — Cleber vai endoidar —
digo assim que nos afastamos. — Por isso não quis beber nada. Deveria ter dito
antes, e iríamos para outro lugar.
— Não se preocupe. Gosto de vir aqui e queria sair. Nossa, se eu não
contasse para alguém piraria.
Rimos.
— O Cleber não desconfiou nem um pouco? Ele rastreia cada
movimento seu, já que diz que você é louca. — Ela sorri.
— Que nada. Ele está tão focado no trabalho, que nem sequer percebeu.
O único que, por incrível que pareça, desconfiou foi seu tio.
— Nada passa despercebido dele. Não sei como ainda aguenta trabalhar
com ele.
— Não é tão ruim quanto parece. Ele me ofereceu a oportunidade de
utilizar a sala que estava vazia para meu escritório e assim continuar ajudando
ele em algumas coisas, enquanto me ajuda também. Digamos que entre
palavrões, patadas, e um bom-dia, nos damos bem.
Rio.
— Se passar um dia com um Escobar eu já fico louca, imagine trabalhar
no mesmo ambiente. Deus me livre! Porém, tem um detalhe: não confirmou a
ele que estava grávida, não é?
— Não! Depois que ele me viu indo vomitar umas mil vezes e perguntou,
eu menti dizendo que era intoxicação alimentar. Conheço bem como aquele ali
pode ser fofoqueiro.
Gargalho.
— Bia é a prova disso. Ele abriu a boca sobre a gravidez e sobre o sexo
do bebê e nome. Se tem uma pessoa que pode confiar algo do tipo, não é ao meu
tio.
— Com certeza.
Sorri.
— Mas me fala sobre você. Fiquei sabendo que esteve com o promotor
bonitão.
Franzo o cenho.
— Estive com sua mãe esses dias, e ela me contou.
— Nossa, como essa família é fofoqueira.
Ela ri.
— Bom, não tem muito o que dizer.
— Ah, Daiane! Está rolando algo entre vocês?
— Rolou. Mas não sei dizer ao certo. Estamos deixando acontecer, sem
pressa.
— E a Poliana? Fiquei sabendo que foi presa, e que vai ser levada a
julgamento, a coisa está feia para o lado dela.
— Mereceu isso. Sinto apenas pelo pai dela, que faleceu sem um pingo
de orgulho da filha.
— Triste. Infelizmente algumas pessoas não sabem aproveitar os
pequenos detalhes que a vida nos dá. Hoje aproveito cada momento. Já sofri
muito no passado, e precisei de todo o sofrimento para ver que o que realmente
importa é estar ao lado de quem nos faz bem. Uma pena ela não perceber isso. A
ganância pelo poder e dinheiro, afundaram ela, o que é uma realidade de muitos.
— Sim! Ela terá que pagar por tudo o que fez, e tomara que perceba que
foi pelas próprias escolhas, que foi parar em uma cela. Só sei que não quero vê-
la nunca mais.
Ela concorda.
— Vamos mudar de assunto. Quero saber como está sendo com ele? Tem
que me contar detalhes de algo. Sou curiosa, sabe disso!
— Bom. Estivemos juntos na fazenda e acabou rolando.
— Ai, meu Deus! Não perdeu tempo, hein! Assim que eu gosto. A
Daiane poderosa ressurgiu dos mortos.
Rimos.
— Não nos vemos há dias. Ele tem trabalhado muito e eu também. Nosso
contato tem sido por ligações e mensagens.
— Que tipos de mensagens? — pergunta com uma voz sensual me
fazendo rir.
— Nada do que está pensando, tarada.
— Que sem graça! — Faz beicinho e ri.
Pego meu celular lembrando que deixei no silencioso. Vejo ter uma
mensagem e ligações perdidas também.
— Merda! Deixei no silencioso e está cheio de ligações perdidas, e uma
mensagem.
— Hummm... — Débora fala enquanto se levanta. — Vou ao banheiro;
se for ele, eu quero saber de tudo. Sou uma mulher grávida e se não quiser que
meu filho nasça com cara de curiosidade, vai me contar tudo. — Rio e ela se
afasta.
E a mensagem é do próprio:

Tentei de ligar, mas só chama. Aconteceu algo? Preciso falar com você.

Respondo por mensagem, porque ligar daqui com o barulho alto de


música e pessoas falando vai ser impossível escutar qualquer coisa.

Esqueci o celular no silencioso. Estou em uma boate com uma amiga.

A resposta é rápida:

Com uma amiga? Hum... Aproveite, então.


Quando estiver com tempo me liga. Irei me afundar no trabalho agora.
Respondo rapidamente:

Sim, com uma amiga. Ciúmes?


Ligo sim.

Leio mais duas vezes sua mensagem e sorrio. Ele não manda mais
nenhuma. Débora retorna e fica me olhando como um gatinho perdido.
— Era ele. Mas não tem nada de mais. Só acho que ele ficou com
ciúmes.
— Por quê? — pergunta rindo.
— Eu disse que estava em uma boate com uma amiga, e ele respondeu
assim... — Mostro a mensagem para ela.
— E você apenas acha que ele ficou com ciúmes? Esse aí está caidinho
por você, pode ter certeza de que por ele já seria muito mais do que um deixar
rolar. E não parece que ele acreditou muito que está com uma amiga.
Reviro os olhos.
— Foda-se! Não tenho que provar nada a ele. Já basta meus irmãos e tios
controlando meus passos. E não temos nada, para ele ficar enciumado.
— Como é bobinha. Daiane, se ele está com ciúmes, é porque realmente
sente algo por você. Pelo pouco que sei sobre ele, não é do tipo que brincaria
com alguém. E vai por mim, um pouquinho de ciúmes é até fofo, só não deixe
isso ser constante, que aí já pode se agravar. Agora, ele apenas está inseguro, já
que estão nessa de não saberem o que está rolando. Dá um desconto para ele, o
homem foi casado com a Poliana, deve estar traumatizado.
— Nunca tive nada parecido com outro homem, então é complicado. Por
isso, um passo de cada vez.
— Você é realmente uma Escobar? Porque, conhecendo como foi o
relacionamento de cada um, só posso dizer que não teve passos, foi mais para
uma corrida, ou melhor, uma maratona. — Rimos.
— Eu sempre digo que sou eles de saia, mas nunca disse em que
momento sou igual ou pior.
— Nem precisa dizer, já tenho ideia. Acredito que até se a fazenda
falasse teria ideia.
Ficamos mais algumas horas rindo, jogando conversa fora, nos
divertindo, e até dançamos um pouco, mas não muito, afinal todo cuidado é
pouco agora com a saúde e bem-estar da Débora.

Chego em casa, e já passa da uma hora da manhã.


Retiro os saltos na porta de entrada, para não fazerem barulho, caso
minha mãe já esteja dormindo. Abro a porta e a luz da sala está acesa, ou seja,
dona Paula está acordada à minha espera. Fecho a porta e caminho, deixando os
saltos e a bolsa no sofá.
— Mãe? — chamo por ela, mas silêncio absoluto.
Vou até o escritório que, às vezes, ela fica até tarde trabalhando, e está
vazio. Ela deve ter subido, e pego no sono enquanto me esperava. Sempre faz
isso.
Vou até a cozinha, e pego uma garrafinha d’água e retorno a sala. O que a
Débora não bebeu, eu bebi por ela. Ouço batidas na porta. Digo para entrar, pois
sei que é algum dos seguranças.
Estefan entra.
— Vai descansar, homem!
— Vim conferir se estava tudo bem. A senhorita não saiu de carro hoje.
— Estefan, pare de me chamar de senhorita. E está tudo bem. Pode ir
descansar.
— Está bem. Mas antes preciso dizer que sua mãe saiu.
— Oi? — Fico bem surpresa. — Aconteceu algo? — pergunto alarmada.
— Não. Ela pediu que caso eu a visse chegar, avisasse, que ela vai passar
a noite na casa do senhor David. Ela informou que ajudaria a senhora Liziara
com as filhas, pois seu irmão chegaria muito tarde. E também pediu para que
ligasse para ela quando chegasse.
— Ah sim. Liziara deve estar pirando, falei com ela hoje, e amanhã irei
ver as meninas. Obrigada por avisar. Avise aos outros que pedi para trocarem a
ronda de vigia e assim podem ir descansar.
— Certo. Boa noite. — Ele faz um cumprimento com a cabeça e se
retira.
Pego meu celular e ligo para a minha mãe, é tarde, mas não quero deixá-
la preocupada. Podemos ter sessenta anos, e ela ainda vai ficar preocupada
quando saímos.
— Oi, filha.
— Mãe, já cheguei. Está tudo bem por aí?
— Está sim. Liziara deu uma pausa nos trabalhos da faculdade agora,
porque Helena só quer ficar com ela. Laura parece sentir que a irmã não está
bem, porque não dorme de jeito nenhum e só fica calma próxima da irmã. Mas
vamos sobreviver a esta noite. — Sorrio.
— Qualquer coisa avise. David ainda está na delegacia?
— Acabou de avisar que está a caminho. Ele quer levar novamente
Helena ao hospital, mas não adiantará nada. A médica já disse o que deveria
ser feito, mas conhece seu irmão.
— Está bem. Boa noite, e dá um beijo em todos por mim.
— Pela manhã estarei aí. Os pais da Liziara retornam nesta madrugada
de viagem, e vão dar uma força para ela também.
— Certo. Agora vou desligar. Beijos, te amo.
— Está sozinha?
— Sim, mãe. — Suspiro. Mães adoram um papo quando estamos
querendo só descansar.
— Ah... Beijos. Amo você.
— Tchau, mãe. — Desligo.
Quando pega para puxar a assunto, é quase uma batalha para fazer com
que dona Paula pare.
Pego minhas coisas, apago a luz e subo para o segundo andar.
Entro no meu quarto abrindo a porta com dificuldade, já que estou com
as mãos cheias. Tateio a parede, para acender a luz, e quando consigo, não tenho
tempo de segurar nada nas mãos, tudo vai para o chão, fazendo um estrondo, e
grito.
— Assustada, Daiane? — Fecho os olhos e respiro fundo, tentando
controlar os batimentos cardíacos, e as mãos trêmulas, pelo susto.
— O que faz aqui?!
Sorrindo para mim, ele se ajeita na cama.
— É bom te ver também.
Pego as coisas do chão e coloco sobre a cama.
— Como entrou aqui?
— Isso importa?
— Claro! Já sei...
— Adoraria ouvir sua teoria. — Cruza os braços, sorrindo.
— Chegou quando minha mãe estava aqui.
— Exatamente. Ela me deixou entrar, me recepcionou muito bem por
sinal, diferente de você que nem sequer um sorriso deu. Ela também me ofereceu
algo para beber e me contou muitas histórias de quando você era criança, e
fiquei bem surpreso em saber que você não largou de jeito algum a chupeta até
os nove anos de idade.
Eu vou esganar minha mãe.
Ele se levanta ficando bem próximo.
— Então ela teve que sair, e disse que eu poderia ficar e te esperar, e
óbvio que eu não perderia a oportunidade de te assustar, e surpreender, então
pedi a ela segredo, e a mesma aceitou.
— Por isso ela perguntou se eu estava sozinha e o Estefan ficou até agora
na vigia. E que bom saber que tinha a intenção de me assustar.
Ele ri.
— Agora, pode fingir que adorou me ver? — pergunta dando o sorriso de
menino levado que me tira o juízo.
— Com prazer.
Ele puxa minha cintura, e me beija. Coloco as mãos em seu rosto, com a
barba por fazer. Nosso beijo é urgente. Existe saudade, e desejo ao mesmo
tempo, uma combinação mais do que perfeita. Com uma mordida leve no meu
lábio inferior, ele então afasta a boca da minha, mas permanece com os braços ao
redor da minha cintura.
— E Sophie?
— Quando existe festa do pijama com as amigas e o pai, ela escolhe, sem
dúvida alguma, as amigas.
Sorrio.
— Quando me mandou mensagem já estava aqui? — pergunto curiosa.
— Sim. Te esperei por um bom tempo.
— Então não me respondeu por que não quis? — provoco.
— Na verdade, sua pergunta deve ser respondida pessoalmente. Por isso
não respondi por mensagem.
— E qual é a resposta? — Sorrio.
— Ciúmes? Não — ele diz em um tom sério e sinto uma leve mágoa por
isso, só não sei o porquê.
— Entendi. — Ele sorri.
— Não terminei. Eu, na verdade, estava morrendo de ciúmes, por saber
que certa moreninha estava em uma boate e, segundo ela, com uma amiga. Sei
que esta moreninha não mentiria sobre com quem estaria, mas também sei que,
por onde ela passa, arranca olhares de muitos homens, e isso sim me deixou puto
de raiva e com um acúmulo de ciúmes. Podemos não ter oficializado nada, mas
não gosto de pensar na possibilidade de você com outro homem, porque sim, eu
sou egoísta, e te quero apenas para mim. — Fico boquiaberta com sua
declaração.
— Eu não estava com outro homem. Não vou mentir, que alguns ficaram
olhando, mas não me atraíram em nada. Porque certo promotor tem deixado
meus sentimentos bem malucos e minha mente uma bagunça. E só por ter vindo
até aqui e feito esta declaração toda, ganhou mais um ponto. — Sorrio.
— E você achou que isso foi uma declaração? Não viu nada. — Ele me
dá um beijo casto.
— Me surpreenda.
— Com prazer. Agora uma pergunta. Esse belo homem poderia passar a
noite com você?
— Meu Deus, como você é convencido! Encontrei alguém mais
convencido do que o Henrique e mais cara de pau do que o David. — Rimos. —
Claro que pode.
— Ótimo.
Olho para o outro lado da cama e vejo uma pequena mala preta.
— Pelo visto, já sabia que eu diria sim.
— Sou irresistível, sei que não rejeitaria. — Bato em seu braço e ele ri.
— Pateta! Preciso de um banho. Sinta-se em casa.
— Isso não será problema. Sua mãe disse que posso atacar a geladeira.
Isso foi mais do que me sentir em casa, conquistou meu coração.
Rio.
— Você poderia ser um Escobar.
— Na verdade, eu preferiria que alguém um dia se tornasse uma
Casagrande. — Sinto minhas bochechas esquentarem, e sei que ele percebe, pois
sorri. Afasto-me dele.
— Bom, vou tomar um banho, fui.
Entro rapidamente no banheiro. Apoio-me no espaço livre do mármore
que se inicia da pia, e me olho através do enorme espelho horizontal. Parece que
meu coração vai explodir. Quando ele disse aquilo, senti algo no meu estômago,
como se estivesse se mexendo; foi uma sensação boa, e uma adrenalina por
dentro, difícil de explicar.
Respira.
Respira.
Respira.
Retiro a roupa e as joias ficando apenas de lingerie.
A porta do banheiro se abre e Jacob entra, ficando parado atrás de mim,
me olhando pelo espelho.
— Não precisa fugir. Não te pedi em casamento, apenas comentei.
— Eu não fugi.
— Eu não quis te assustar.
Viro-me ficando de frente para ele.
— Não me assustou. Não fugi. Apenas precisava respirar um pouco, e eu
disse que iria tomar banho. Eu só fiquei surpresa.
Ele concorda.
— Você pediu para deixarmos rolar, e estou tentando respeitar isso, mas
está sendo foda.
— Me beija!
Ele não questiona e tampouco espera. Com rapidez me coloca sobre o
mármore frio, e fica entre minhas pernas. Beija-me com luxúria. Agarro seus
cabelos sem qualquer delicadeza. Suas mãos deslizam sobre minhas coxas, me
causando arrepios por todo o corpo, então elas alcançam o fecho frontal do meu
sutiã e abrem, deixando-o cair sobre meus braços onde retiro e jogo no chão.
— Gosta desta calcinha? — pergunta com malícia. Seus olhos brilham de
desejo.
— Faça o que quiser — respondo louca para ser preenchida por ele.
Com apenas um puxão, o tecido se rasga e é jogado para qualquer lugar
do banheiro.
— Está vestido demais. Posso ajudar com isso. — Sorrio.
Ele me coloca no chão. Então retiro sua camiseta com sua ajuda. Seus
músculos são expostos me deixando completamente fascinada. Abro o botão de
sua calça e começo a deslizá-la para baixo junto à cueca. Quando chegam a seus
pés descalços, ele chuta para o lado da porta. Ajoelho-me a sua frente. Seguro
sem cerimônia seu pau ereto, e coloco-o na boca, e então começo a sugá-lo.
Nossos olhares estão vidrados. Ele segura fortemente meus cabelos. Seus olhos
escurecem com o desejo. A cada segundo fico mais excitada. Sugo-o com mais
profundidade, e Jacob fecha os olhos, enrijecendo o maxilar.
— Porra! — ele diz me afastando.
Levanto-me e ele me coloca sobre a pia, abrindo minhas pernas, então
sem demora me penetra. Enrosco as pernas ao redor de sua cintura, sentindo a
penetração mais profunda. Apoio as mãos sobre o mármore, inclinando a cabeça
para trás. Sons incoerentes escapam de meus lábios, sem qualquer controle.
Sinto o suor escorrer, e o calor se multiplicar no ambiente. Com uma mão
massageia meu ponto mais sensível, e com a outra aperta minha coxa.
Mais fundo.
Mais rápido.
Mais intenso.
— Jacob, eu vou... Caralho! — grito, sentindo um descontrole me
invadir.
— Goza comigo, Morena...
— Ah... — não consigo dizer mais nada. Meu corpo começa a
estremecer. Suas estocadas ficam mais duras, e então sinto ele se liberar dentro
de mim.
Com calma, ele sai de dentro de mim, puxando meu corpo para si, que
ainda está trêmulo. Sinto seu corpo suado e seus batimentos intensos. Não estou
diferente.
— Será que ainda consegue tomar seu banho? — pergunta e apenas
concordo com a cabeça, pois estou fraca até mesmo para responder. — Vem, eu
te ajudo.

Depois do banho estamos deitados na cama.


— Se toda vez for assim, não sei se terei forças para andar. — Ele ri.
— Te carrego, se este for o problema. — Rimos.
O silêncio invade o ambiente, por vários minutos. Sei que ele ainda está
acordado, mesmo sem olhar, pois sua respiração entrega isso. Ajeito-me ficando
completamente virada para ele. Posso ver nitidamente seu rosto, através da
claridade amarela que saem dos abajures em cada lado da cama. Seu olhar está
distante.
— Tudo bem? — Ele me olha e seu sorriso é fraco.
— Estava pensando em tudo o que aconteceu, e no pai da Poliana. Ele
não merecia um final como aquele. Talvez se eu tivesse descoberto a verdade
sobre o que ele tinha, poderia ter feito algo.
— Ei... Não pense nisso. Não tinha o que ser feito. Ele estava doente, e
não tinha cura. O tempo dele já era curto, Jacob.
— Eu sei... É que ele era um bom homem. Não consegui ir ao velório e
nem ao enterro. Não tive coragem.
— Não fique se martirizando por isso. Você fez sua parte, e ele pôde ser
feliz por um curto tempo, graças a isso. Sinta-se orgulhoso, por ter trazido
alegria a ele.
— É só que já perdi muitas pessoas ao meu redor. Meus pais verdadeiros
sumiram, e nunca os conheci. A mãe da Sophie se foi, mesmo ela não tendo
escolhido o caminho certo, não merecia o que aconteceu. Minha mãe também
partiu. E agora o senhor Luiz. Parece que, de alguma forma, todos que se
aproximam de mim, vão embora. — Ele tenta sorrir, mas falha.
— Sei como é isso. Mas eu estou aqui. Não vou embora. Só se você
quiser.
Ele passa os braços ao meu redor.
— Jamais irei querer que vá. Com você eu pularia todas as etapas de um
relacionamento, porque com você vale a pena... Mas está bem tarde para
ficarmos falando disso. Vamos descansar e curtir mais uma noite juntos. —
Sorrio. Ele deposita um beijo em meus lábios e logo após, um em minha testa.
Apagamos os abajures, e ficamos abraçados. Um tempo se passa e sinto
sua respiração ficar leve, e seu corpo relaxar. Afasto-me com cuidado e saio do
quarto.
Entro no quarto da minha mãe e acendo a luz. Vou até o closet. Pego um
dos álbuns de fotos e retorno me sentando na cama. Começo a olhar cada foto,
até chegar na minha favorita: a que meu pai estava em Paris, na famosa e típica
foto com a Torre Eiffel ao fundo. Seu sorriso e seu olhar são lindos. Ele está
sozinho nesta foto. Passo os dedos por ela, como se de onde estivesse pudesse
sentir. Uma lágrima escorre por meu rosto.
— Pai, eu acho que eu encontrei. De alguma forma sinto que me ajudou a
encontrar... É, eu estou falando do amor. Ele é um cara muito incrível e me faz
sentir bem. Eu só queria que estivesse aqui, para conhecê-lo pessoalmente, e
fazer um interrogatório, como fazia com meus amigos na adolescência. Ele
também tem fazenda, pelo visto teriam um assunto em comum além de falarem
sobre trabalho, já que ele é promotor. — Sorrio e sinto mais lágrimas descerem
por meu rosto. — Mas não se preocupe, você sempre será o homem número um
em minha vida. Eu te amo, pai, e sinto muito sua falta. Prometo que, mesmo que
um dia eu me case e tenha que ir embora de casa, vou continuar cuidando de
todos, inclusive da mãe como sempre tenho feito. De onde estiver e se realmente
isso for possível, tenta dar uma forcinha, porque sei que ela ainda sofre muito
pela sua perda. Todos sofremos. — A foto começa a ser preenchida por minhas
lágrimas. — Sinto sua falta. — Um soluço escapa e me deixo levar pelo choro.
Fecho o álbum e fico abraçada a ele por um tempo. Então me
recomponho e coloco-o no lugar. Apago a luz e saio do quarto, retornando para o
meu. Deito-me e os braços do Jacob me puxam para si.
— Está tudo bem? — Sua voz rouca preenche meus ouvidos.
— Sim. Vamos dormir.
Fecho os meus olhos e relaxo não só a mente, mas também o corpo.
Catorze

Daiane Escobar

Estou na cozinha e hoje dona Jurema e Marcela não estão. Então pego
tudo o que for prático, para o café da manhã.
Minha mãe ainda não chegou, disse que teve um imprevisto, mas logo
chegaria.
Coloco tudo na mesa da cozinha mesmo.
Encho um copo com suco e me aproximo da pia, olhando pela janela que
dá para os fundos da casa, no jardim. Bebo um gole de suco.
Passos atrás de mim causa um tremor. O perfume amadeirado, misturado
com o cheiro de sabonete, me deixa fascinada.
Sorrio.
Seus braços envolvem minha cintura e um beijo é depositado em meu
pescoço.
— Bom dia, Moreninha.
— Bom dia. — Deixo o copo de suco na pia e me viro, ficando de frente
para ele.
Seguro seu rosto e beijo seus lábios. Ele retribui, pressionando-me contra
a pia, e apertando seus braços em mim.
— O café da manhã está na mesa — digo a ele, que sorri.
— Eu preferiria outro tipo de café.
— Eu adoraria te servir. — Mordo meu lábio inferior.
Desta vez é ele que inicia o beijo. Enrosco meus braços ao redor de seu
pescoço. Sinto sua ereção endurecer através da calça jeans justa que usa. Coloca-
me sobre a pia fazendo com que meu vestido já curto, fique ainda mais. Encaixa-
se entre minhas pernas. Enrolo-as em sua cintura e uma de suas mãos desliza
pela minha pele, arrepiando-me.
— Que porra é essa?! — Nosso beijo é interrompido.
Uma voz, quase como um trovão, preenche o ambiente. Jacob não se
afasta, e tampouco faz menção de que irá fazer. Olho para a figura alta, com suas
tatuagens expostas devido à camiseta que usa. Seu olhar é frio. Sua mandíbula
está rígida, e uma de suas mãos se fecha tão forte que as veias saltam ainda mais.
Jacob me coloca no chão, mas em momento algum mantém distância,
abraçando-me por trás.
Sorrio, e seu olhar escurece ainda mais.
— Eu fiz uma pergunta, e ainda não obtive a resposta.
— Acho que estava bem claro o que estava acontecendo — respondo
com firmeza.
— O que esse cara faz aqui? — Ele dá um passo para frente.
Beatriz surge na porta com Arthur em seus braços. Seus olhos se
arregalam e sua boca se abre, mas não sai qualquer tipo de som.
— Vim visitar a Daiane — Jacob responde e, pela primeira vez, não
existe qualquer mansidão em sua voz ou brincadeira por estar diante de um
homem Escobar e isso me surpreende.
Meu tio ergue a sobrancelha, e outro passo é dado. Agora, eu realmente
estou começando a ficar preocupada.
— Eu tentei ser razoável. Porra, até conversei com seus irmãos. Mas
agora ver este cara, com você nessas situações, na cozinha, é demais!
— Marcos, ela é adulta. E está na casa dela.
— Dane-se, Beatriz. Eu vou matar esse cara. Porra, vou arrancar esse
projeto de pau e com as próprias mãos, e nunca mais vai encostá-lo na minha
sobrinha.
Meu tio caminha em passos largos, ficando muito próximo.
— Marcos! — Beatriz diz apavorada e Arthur, que dorme, se mexe. Ela
olha para ele e depois para mim, assustada.
— Sai da frente, Daiane! — ele diz e seu olhar é como o de um alfa que
protege sua matilha. Engulo em seco.
— Não! Tio, pelo amor de Deus, não fizemos nada de mais. Sabia que
isso aconteceria. E como sua esposa disse, sou adulta e a casa não te pertence
para chegar aqui ditando regras! — Deixo as palavras escaparem, e só então me
dou conta delas. — Desculpe. Não queria dizer isso... Mas não sou mais criança.
Você e todos os outros precisam parar de agir como se eu fosse.
Jacob me afasta, ficando cara a cara com meu tio.
— Jacob, não faça isso! — imploro a ele.
— Vamos lá, faça o que quer fazer. Eu tenho uma filha e com toda
certeza agiria da mesma forma. Só que tem um detalhe, eu apenas faria se eu
soubesse que o cara não prestasse. Se você, ou qualquer outro membro desta
família, tiver qualquer prova de algo ruim contra mim faça o que quer fazer. Do
contrário, cancelamos esse show e seguimos como se nada tivesse acontecido —
Jacob diz e, desta vez, sou eu quem arregala os olhos. Beatriz sorri e chacoalha
Arthur em seus braços, que resmunga um pouco.
— Só saia da minha frente! — meu tio diz a ele, e se afasta esfregando o
rosto. Então se aproxima da pia onde se mantém de costas.
Jacob me olha e sussurro um “pode ir”.
— Venha comigo — Beatriz diz a ele, e ambos saem da cozinha.
Aproximo-me do meu tio, tocando seu braço. Ele me olha de lado e sua
raiva já não está mais presente em seu olhar.
— Vocês todos precisam parar com isso. Ainda vão acabar entrando em
uma briga, por motivos tolos. Se todo homem que surgir no caminho das
mulheres Escobar, vocês tiverem reações assim, vamos acabar solteiras, cheias
de gatos. — Ele sorri e reviro os olhos. — Não quero acabar assim. Desculpe-me
de verdade por ter dito aquilo. A raiva...
— É só que eu prometi cuidar de vocês, caso algo acontecesse ao Joseph.
Quando vi vocês naquela situação, eu perdi o controle. Porra, você é minha
sobrinha predileta, sabe disso.
Sorrio.
— Eu sei. E ainda preciso gravar você dizendo isso, e mostrar aos meus
irmãos.
Ele ri.
— Gosta realmente dele? — Ele se vira, ficando de frente para mim.
— Sim. Ele se tornou muito especial, mas se continuar tendo que
enfrentar vocês, não sei se vai querer permanecer ao meu lado — brinco.
— Se ele realmente gostar de você, vai aguentar.
— Mas viver em um pouco de paz, não seria ruim.
— Vou tentar me controlar.
— Vai tratá-lo bem?
— Não exija muito.
Rio.
— Se ele te fizer qualquer coisa, eu não irei recuar.
Concordo.
— Agora, vamos atrás deles.
— Por que vieram?
— Sua mãe disse que queria todos os Escobar aqui.
Franzo o cenho.
— Por quê?
— Não disse.
— Estranho.
Ele concorda.

Não demora muito para a casa ser preenchida por todos os Escobar. Dos
filhos aos pais. Estamos na sala. Jacob está sentado ao meu lado, com os braços
em mim. David e Henrique não tiram os olhos de nós, e meu tio não tira os olhos
das mãos do Jacob. Yasmim está em meu colo, brincando com o pingente da
minha pulseira.
— Paula, estou curiosa! — Ana diz.
Minha mãe está no centro da sala, nos olhando.
— Bem-vinda ao clube, Ana! — Liziara fala, enquanto coloca a chupeta
na boca da Helena, que está em seu colo, quietinha.
Observo Laura, irmã de Helena, brincando de passar o urso no pé do
Henrique, e sorrio. Laís e Arthur dormem no colo de suas mães. Todas as
crianças estão tranquilas, enquanto nós adultos, ansiosos para saber o porquê
desta reunião.
David e Henrique sabem o que aconteceu mais cedo, pois vi quando
chegaram e meu tio rapidamente se reuniu com eles no escritório. E óbvio que o
olhar deles entrega que sabem realmente de tudo.
— Mãe, agiliza! — digo. — Estou curiosa.
— Esse aí não é da família. Acredito que nem aqui, deveria estar —
Henrique não se aguenta, e diz.
— Ele fica! Parem de implicar. Jacob é um amor de pessoa, e se está com
a Daiane, fica! — minha mãe diz e lança um sorriso para o Jacob, que olha para
o Henrique e sorri.
— Cuidado, cara, nem sempre o volume em minhas calças é uma ereção.
— Sou um anjo. Fique tranquilo aí. Só não tenho culpa que sua mãe me
adorou.
— Parem os dois! — digo.
— Chega. Vamos ao que interessa. Eu queria todos aqui, porque irei
fazer um belo almoço e queria a família reunida, de verdade. Sem brigas, ou
provocações.
— Então tira esse cara, e não terá brigas! — David se manifesta e Liziara
dá um tapa em seu braço.
— Eu já disse que ele fica! Estão surdos? — minha mãe diz. — Eu
cansei de tentar reunir vocês e sempre virem com desculpas de filhos, marido,
faculdade, serviço ou a puta que pariu que for. — Todos olhamos assustados. —
Estão vendo como estou cansada? Até palavrão me fizeram dizer. A partir de
hoje, quero que, pelo menos, uma vez por semana, estejamos todos juntos.
— Paula... — Meu tio vai começar a dizer, mas ela faz um sinal para ele
se calar.
— Não quero desculpas. Não é porque casaram que devem deixar de se
unirem. Quero esta família unida novamente. Passando um dia juntos, sem
tentarem se matar. E não estou fazendo um pedido. Isso é uma ordem. — Seu
tom é sério e seu olhar não é nada amável. — Então eu vou até aquela cozinha,
começar a preparar um belo almoço para a minha família, e quero minhas noras
junto, porque os filhos não vão morrer por ficarem sozinhos brincando, ou
dormindo, por pouco tempo, tem babá eletrônicas, e pais que não serviram
apenas para colocarem eles no mundo. Afinal, andam mimando também demais
essas crianças, por isso estão doentes, ou demorando para andarem bem, falarem
mais. Na idade delas, vocês subiam e desciam escadas, falavam muito e viviam
brincando sem preocupação de sujar roupa. Até parece que nunca foram
crianças, parem de criar essas crianças como robôs.
Jacob tenta esconder o riso, me fazendo sorrir.
— Paula, não sei se estando gripada seria a melhor escolha ir para a
cozinha — Bia diz.
— Daremos um jeito. Sobreviverá!
Rio.
— Você também, Daiane. Vamos, agora.
Meus irmãos começam a rir e Henrique chega a ficar vermelho. Fuzilo
ambos com o olhar.
— Rindo por quê? Vocês vão ficar olhando as crianças e tratando muito
bem meu anjo ali. — Ela aponta para o Jacob e a risada se encerra bruscamente.
— Eu sou o anjo! — Jacob diz levantando a mão, e Liziara ri.
— Porra! Conquista minha irmã e rouba minha mãe. Cara, eu não gosto
de você! — Henrique diz irritado.
— Que pena, eu sou muito fã de vocês — Jacob fala sorridente.
— Ele está me irritando! — David comenta se ajeitando no sofá.
— Vamos! — minha mãe fala.
— A Yasmim vai chorar. Ela está tão bem comigo — digo preguiçosa.
E neste momento, a traíra da minha sobrinha se joga para o colo do Jacob
e ri. Ele a segura, sorrindo, e a mesma se aproxima do seu rosto lhe dando um
beijo molhado. Um “Ai, que amor!” sai em uníssono das mulheres, exceto de
mim, que apenas sorrio fascinada, já que Yasmim não se dá com todos.
— Acho que conquistei mais alguém, não é, gatinha? — ele diz, e ela
esconde o rostinho em seu pescoço, tímida.
— Agora a porra ficou séria! A minha filha também, cara? Qual o seu
problema comigo?
— Nem comigo ela fica assim! Porra! — Marcos diz irritado.
— Marcos, no final do dia quero o dinheiro. Hoje, as meninas vão lucrar,
pelo visto! — Liziara diz, se referindo a ele não poder falar palavrão na frente
das gêmeas.
— Já disse para abrir uma conta bancária a elas!
Henrique se aproxima, enciumado, para pegar a Yasmim.
— Vem, filha! — ele diz a ela.
Ela olha o pai e depois o Jacob, e faz isso por um tempo.
Não faça isso, pequena.
— Nãn! — ela diz franzindo o cenho, e então agarra o pescoço do Jacob.
Não me aguento e gargalho. Henrique me lança um olhar furioso.
— Posso falar? — Jacob diz olhando para ele. — Falaria mesmo que não
pudesse. Acho que ela realmente gostou de mim, mas não se preocupe, sou
muito atraente, é normal isso.
— Eu vou matar esse cara! — Henrique diz olhando para todos.
— Pegue a senha! — David diz. — Fique longe das minhas filhas, ou
morre! — Jacob ri e Yasmim também, sem ao menos saber do quê.
— Chega! Vamos, mulherada! — minha mãe fala.
Henrique se afasta. Levanto-me e, quando vou dar um beijo no Jacob,
sou impedida por Yasmim, que me empurra dizendo não. Fico chocada e Ana ri.
— É, vai ter que me dividir com mais uma — Jacob diz, rindo.
— Pateta!
— Eita! Chamou-o de pateta. Cara, esquece, não tem mais como fugir da
família — Beatriz diz entregando Arthur para o Marcos.
— Beatriz, lembra-se da sentença? Então, é melhor não colaborar com
aquele ali! — Marcos diz e sorrio.
— Vamos, e eles que se entendam. Não quero sangue pela casa, e
tampouco móveis quebrados. E se o Jacob estiver machucado, vocês não vão
querer ver o que pode acontecer! — minha mãe fala, saindo da sala.
Ana entrega Laís para o Henrique. David pega Helena, e então todas nós
saímos da sala.

Jacob Casagrande

Brinco com Yasmim em meu colo, e uma das gêmeas — a que estava no
chão — se aproxima.
— Não toque! Você tem algo de ruim que atrai elas para você. — David
diz e sorrio.
Pego a outra no chão e, então, uma batalha de quem ganha mais a minha
atenção começa em meu colo, e rio.
Os olhares são fixos em mim. Tenho vontade de rir, mas evito.
— Melhor fazermos logo. Aproveitar que elas não estão. Crianças que
estiverem dormindo, colocamos no quarto com a babá eletrônica — Marcos diz.
Eles sobem, deixando-me sozinho com as duas acordadas.
— Acho que o pai de cada uma não gosta muito de mim. Tenho esta leve
impressão — digo a elas, que riem, quando começo as distribuir beijos em
ambas.
Eles retornam, parando na minha frente.
— O que querem agora? — pergunto.
— Venha conosco. — Eles pegam as meninas sob seus protestos.
— Não posso deixar um beijo de despedida na Daiane antes? — provoco.
— Não brinque, cara! — David fala e rio.
Sigo-os até um corredor, onde entram em um ambiente, em que a porta
estava aberta. Entramos e vejo ser um escritório. Eles colocam as meninas no
carpete e fecham a porta.
— Que pecado. Vão cometer um crime na frente de duas crianças...
— Cale a boca, cara! — Henrique diz.
— Sente-se! — Marcos aponta o sofá.
— Só irei, porque ando muito idoso e fadigado — brinco.
Sento-me no sofá, e eles vão para trás da mesa.
— Tribunal? Porque se for, terei que falar somente a verdade, entendem,
não é? — Os olhares não são nada amigáveis.
Duas, exatamente duas armas, são jogadas em cima da mesa de madeira.
Do David e do Henrique.
— Não incomoda andar com elas na cintura? A mim incomoda um pouco
quando utilizo.
David gira a sua arma na mesa, e ela fica apontada para mim.
— Faltou uma, não? — pergunto olhando para o Marcos, que se mantém
no meio deles, com as mãos no bolso.
— Não preciso de uma.
— Porra, gostei de como falou! Senti uma firmeza excepcional. — Sorrio
e ele se inclina apoiando ambas as mãos sobre a mesa.
— Não brinque. É melhor escutar muito bem o que iremos dizer.
— Podem falar. Porra, quem diria, que eu estaria em uma reunião um
pouco violenta com os Escobar.
David olha as meninas que brincam no chão, e depois retorna o olhar a
mim.
— Se quer realmente sobreviver nesta família, tem que estar a par das
regras! — Henrique diz.
— Quais? — pergunto realmente ficando curioso.
— Primeiro, jamais faça a Daiane sofrer — David diz.
— Segundo, não tente interferir no modo em como agimos — Marcos
fala.
— Terceiro, nunca pense que pode fazer o que bem entender nesta
família — Henrique diz cruzando os braços. — Quarto, se tentar roubar minha
mãe e minha filha de mim, morre.
— No caso, eu já fiz isso. É agora que tenho que me despedir do mundo?
— Você sempre faz piada de tudo? Porra, eu odeio isso! — Henrique diz.
— Sério?! — Marcos e David dizem olhando para ele, que dá de ombros.
— Quinta regra, e não menos importante. A memória do meu irmão é
muito respeitada, não tente desrespeitá-la jamais. — Marcos se afasta da mesa.
— Compreendeu? — David questiona.
— Sim. Mas tenho algo para dizer. — Levanto-me e vou até a mesa. Giro
a arma do David, como ele fez, e ela fica apontada para ele. — Primeiro, armas
não me intimidam ou não teria me tornado promotor. Segundo, não sou homem
de brincar com mulheres, então Daiane jamais sofreria comigo. Terceiro,
deveriam ter feito essa reunião, ou seja lá o nome que dão a isso, depois que
realmente tivéssemos algo, porque estamos apenas saindo, nada oficial.
— Não é oficial? — Henrique pergunta surpreso, enquanto os outros
franzem o cenho. — Você dormiu aqui e ainda está aqui, porra.
— Isso se chama século XXI, devem estar familiarizados. E eu já havia
dito que ela era difícil — falo e sorrio.
A porta se abre e me viro. Daiane entra e olha para as meninas no chão e
logo depois para nós, e só então para a mesa onde vê as armas.
— Quer nos dizer algo, Daiane? — Marcos pergunta. Henrique e David
pegam as armas. Mas Daiane fica pálida.
— Você disse que não contaria, Jacob! — ela diz e franzo o cenho, sem
entender.
— Contar o quê? — David pergunta em um tom desconfiado.
— Eu vou te esganar! — ela diz olhando para mim. E só então entendo
ao que se refere. Faço um sinal para que se cale.
— Talvez queira nos dizer o que ele não deveria contar, Daiane! —
Marcos diz a ela.
— Para quê? O fofoqueiro já contou!
— Daiane, acho que te chamaram — digo, tentando fazer com que ela se
cale.
— Não mude de assunto.
— O que está acontecendo? — Henrique pergunta.
— Não se façam de idiotas. Sei que sabem de tudo — diz irritada. —
Vamos lá, surtem de uma vez.
Porra, ela realmente é difícil!
Eles me olham e dou de ombros.
— Vamos. Podem dizer que sou louca, que confiaram em mim e fiz isso!
— Eles olham para ela sem entender, porém, desconfiados.
— Daiane, podemos conversar um minuto? — pergunto me aproximando
dela.
— Para você contar a eles tudo o que iremos falar? Realmente é um
pateta. Perfeito para o clube deles.
Fico em sua frente, de costas para eles. Olho para ela, e digo um “não”
silencioso. Ela inclina um pouco a cabeça para o lado, olhando para eles, e então
arregala os olhos, voltando o olhar para mim. Balança a cabeça negativamente e
concordo.
— Droga! — diz.
— Chega. Que merda estão escondendo?! — Marcos grita, enfurecido, e
as meninas se assustam, mas voltam a brincar juntas.
— Nada! — dissemos juntos e me viro para eles.
— Nada uma porra! O que aconteceu? — Henrique questiona.
— Daiane, o que faz... Meu Deus, o que está acontecendo? — Dona
Paula entra no escritório, e começa a olhar de um para o outro.
— Estamos esperando eles responderem! — David diz, cruzando os
braços.
— O que aconteceu? — Paula pergunta para nós e Daiane me olha em
busca de uma resposta. — Daiane, você não está grávida, não é? — pergunta
desesperada, e me contenho para não rir.
— Não! Está louca? Gente, não é nada. Apenas uma grande confusão.
Vou indo!
— Ninguém sai daqui sem me dizer o que está acontecendo! — Paula
fala enfurecida.
— Está bem — digo. — Daiane pensou que eu...
— Jacob... — Daiane tenta me impedir, mas impeço fazendo um sinal
com a mão.
— Daiane pensou que eu havia dito do pedido que fiz a ela, e a mesma
disse que responderia depois.
Ela concorda entrando no jogo.
— Que pedido? — Marcos pergunta desconfiado.
— Um pedido! — ela diz.
— Daiane Gabrielle Escobar, o que estão escondendo?! — Henrique
indaga.
— Então, Jacob, o pedido... — Ela me olha, procurando ajuda.
Olho para todos e respiro fundo. Já que a gasolina foi jogada, é melhor
acender de vez a porra do fogo!
— Vamos, porra! — David fala.
— Jacob? — Daiane procura por uma resposta, está assustada.
— O pedido foi bem simples — digo.
— Então diga para nós, meu anjo. Conheço estes homens, enquanto não
tiverem certeza de que não estão o enganando, não vão terminar isso, e tenho um
almoço para continuar preparando.
— Lá vai. — Respiro fundo. — Perguntei a ela se queria casar comigo.
Então, Daiane, será que agora pode me dar a resposta, aproveitando que todos
estão aqui? — digo de uma vez, e rápido.
Um grito e uma queda na cadeira é o que acontece a Paula. Marcos,
David e Henrique estão com uma cara que, porra, agora estou preocupado.
Porém, a única coisa que me mantém muito mais preocupado é o fato de Daiane
estar muito pálida.
— Este foi o pedido. Simples, rápido, porém sincero. E foi exatamente
isso que ela ficou com medo de eu ter contado antes de me dar a resposta. O que
realmente espero é que a resposta seja um “sim”, porque ela me conquistou
desde o primeiro encontro. E sei que o que sinto não é paixão apenas. É
admiração, respeito e amor. Te amei desde o primeiro momento, só tentei negar.
Amor à primeira vista? Talvez — digo olhando em seus olhos e deixando meu
coração falar, aproveitando a oportunidade que me foi dada. — Aceita se casar
comigo?
— Quê?! — todas as outras mulheres gritam na porta, e nem ao menos
havia notado a presença delas.
O silêncio reina. Mantenho meus olhos em Daiane, mas sinto todos os
outros olhares em mim. Desvio o olhar por apenas um instante, para as meninas
no chão, que estão sem entender, até que sorriem para mim.
Pelo visto, coloquei o fogo.
Quinze

Daiane Escobar

Faz dois meses, desde que tudo aconteceu. Quando digo tudo, eu me
refiro ao pedido de casamento e à confusão com meus irmãos. Nossa! Que
loucura!
Observo a cidade através da sacada do vigésimo andar. A noite está
estrelada, e nem mesmo as luzes da grande cidade são capazes de ofuscar os
diversos brilhos no céu.
Foi tudo tão rápido, e confuso, que até agora me pego lembrando tudo, e
tendo as mesmas reações daquele momento: o frio na barriga, o medo e o susto.
Sorrio encabulada.
Minha vida mudou tão rápido nos últimos tempos. Senti-me em um mar
revolto, onde diversas ondas me surpreendiam cada vez que eu tentava me
equilibrar.
Parando para pensar em tudo, eu tenho apenas um grande aprendizado:
Nada será como imaginamos. Nem tudo virá no tempo que desejamos.
Jamais saberemos como vamos reagir em uma situação, até que ela aconteça.
Essa é a vida, e ela corre, e temos apenas duas escolhas: ficamos parados
lamentando por tudo o que não fizemos, ou seguimos com ela, aprendendo a
lidar com a constante oscilação de adrenalina que ela nos impõe.
A vida é uma loucura. Em um instante tudo muda, e ela nem sequer te
oferece um manual de como agir. Ela basicamente te diz “se vira”.
Mas hoje, estando aqui, sentindo a brisa desta noite iluminada, eu sinto
algo. Eu sinto um arrependimento por ser tão medrosa, e usar uma máscara
invisível contra isso. É tão normal sentir medo. Isso é humano. Arrependo-me
sim, por isso. Porque penso o quanto já perdi pelo medo. Mas de nada vai me
adiantar agora. Tenho apenas que seguir meu caminho, lembrando-me sempre
disso.
Sorrio mais uma vez, porém, agora ao me lembrar daquele dia...
— Lá vai. — Jacob respira fundo e isso me deixa ainda mais nervosa. —
Perguntei a ela se queria casar comigo. Então, Daiane, será que agora pode me
dar a resposta, aproveitando que todos estão aqui? — ele diz rápido. Meu
raciocínio não acompanha claramente. Fico parada.
Olho para todos e, pelo visto, não sou a única que está tendo a mesma
reação de choque, pois minha mãe grita e cai sentada na cadeira atrás dela.
Olho para os três patetas e não sei dizer o que a expressão deles significa.
Estou assustada.
Jacob me olha e meu corpo inteiro treme ainda mais. Tento manter ao
máximo minhas pernas firmes.
— Este foi o pedido. Simples, rápido, porém sincero. E foi exatamente
isso que ela ficou com medo de eu ter contado antes de me dar a resposta. O que
realmente espero é que a resposta seja um “sim”, porque ela me conquistou
desde o primeiro encontro. E sei que o que sinto, não é paixão apenas. É
admiração, respeito e amor. Te amei desde o primeiro momento, só tentei negar.
Amor à primeira vista? Talvez — diz olhando em meus olhos. — Aceita se casar
comigo?
Suas palavras transmitem verdades e isso me deixa ainda mais nervosa.
— Quê?! — Ouço as meninas gritarem atrás de mim.
Todos os olhos estão fixos em mim. Eu não tenho nenhuma reação.
Maldição, eu não consigo reagir.
Eu pensei que ele havia dito aos meus irmãos e ao meu tio sobre eu não
saber atirar. Porém, jamais imaginei que ele sairia da confusão que armei com
um pedido de casamento.
Posso estar louca, mas é como se Pabllo Vittar cantasse K.O. como
música tema deste momento.
Jacob sorri. O pateta número quatro simplesmente sorri, como se o que
tivesse dito fosse a coisa mais normal deste mundo.
— Daiane? — minha mãe diz. Eu apenas olho, porque me falta voz.
Vejo Beatriz, Ana Louise e Liziara caminhando, e então ficando na
lateral da mesa, onde os três patetas estão.
— Titi! — Yasmim chama por mim, e só percebo que está tão perto,
quando suas mãozinhas tocam minha perna. Sua mãe rapidamente se aproxima
e a pega no colo.
— Alguém, pelo caralho da minha paciência, pode dizer algo?! — David
indaga nervoso.
Forço as palavras a saírem:
— É... Eu... Nós...
— Daiane, fale algo! — Liziara fala animada.
Olho para o Jacob e seu olhar é de preocupação. Pelo visto, não estou
tendo uma boa reação.
— Filha, eu sou cardíaca! — minha mãe exclama, com a mão sobre o
peito.
Henrique se joga na cadeira e bufa, jogando a arma sobre mesa.
— Eu já disse que não gosto deste cara? Porra, agora até entrar para a
família o infeliz quer! — Henrique reclama.
— Cale a boca, Henrique! — Ana grita. — Estamos deixando ela mais
nervosa. Vamos deixá-los sozinhos.
— Não! — Os três patetas acompanhados por Liziara dizem.
— Estou curiosa! Ninguém brinca com a minha curiosidade assim —
Liziara fala com as mãos na cintura.
— Gente, ela está pálida demais — Beatriz comenta transparecendo
preocupação.
— Não vai desmaiar agora, porra! — meu tio fala furiosamente. —
Quero uma resposta agora, porque preciso saber qual o nível de tortura que
esse cara merece.
— Marcos! — Beatriz o repreende e ele dá de ombros.
— Filha, pelo amor de Deus, reaja! — minha mãe diz se levantando da
cadeira.
Jacob que apenas me observava se aproxima segurando meu rosto com
as mãos e então diz baixinho:
— Não precisa ter medo. Eu só pensei que estava na hora de me jogar de
cabeça em algo que valesse a pena. Você vale a pena. Eu já tive dois
relacionamentos péssimos. Fiz péssimas escolhas. Mas o coração sabe
identificar quando a escolha certa está na nossa frente. Podemos fingir que não
estamos vendo, mas no fundo, bem lá no fundo, uma seta iluminada aponta para
a pessoa que nos completará. — Suas mãos acariciam meu rosto. — Eu sei que
estou sendo rápido, pulando diversas etapas, mas por você vale a pena pular
todas. Daiane, eu só preciso da resposta; e seja qual for, não irei desistir de
você. Só respira fundo.
Faço o que pede. Respiro fundo, e começo a sentir meu corpo relaxar,
mas o frio na barriga não vai embora, e o medo também não.
— Gente, vou precisar alugar um vestido para o casamento, ou comprar
lencinhos para as lágrimas de tristeza que irei derramar, caso seja um “não”?
— Liziara pergunta, mas logo reclama quando Beatriz belisca seu braço.
— Pare de ser curiosa! Deixe-os — Beatriz diz a ela.
— Quanta calúnia! — reclama.
Laura vai até minha mãe, que a pega no colo.
— Morena? — Seu tom agora me invade a alma, causando-me um calor
acompanhado de uma montanha-russa de sentimentos. — Casa comigo?
Fecho os olhos e respiro fundo.
Deixo o que estou sentindo falar por mim.
— Eu posso estar fazendo uma escolha maluca, afinal foi tudo tão
rápido, mas eu aceito. Sim. Eu aceito me casar com você, Sr. Jacob Casagrande!
— Sinto as lágrimas escorrerem por meu rosto. — Você alcançou os dez pontos
neste momento!
— Jesus, Maria e José! Sou cardíaca. Alguém chama um médico. —
Minha mãe cai na cadeira mais uma vez, porém com a Laura em seus braços,
que ri.
— Porra! — ele diz sorrindo, e me abraça, me obrigando a contornar
seu pescoço com meus braços.
— Aaaaaah! Eu vou alugar o vestido então! — Liziara grita animada, e
começa a pular batendo palmas.
— Chega, eu desisto. Querem saber? Que se foda! — Henrique fala
nervoso e sorrio.
Jacob toma meus lábios com os seus e sua língua invade minha boca,
entrelaçando-se à minha.
— Que lindos! — Beatriz e Ana dizem juntas.
— Vamos lá, David, pode me matar. Ficarei aqui, e você mira essa porra
de arma em mim e me mata neste instante.
— Sempre tive vontade de te matar, Henrique, mas, desta vez, cara, terá
que enfrentar essa barra comigo. Cacete!
— Agora, pode soltá-la! Paula, poderia se manifestar sobre esta
loucura? — meu tio diz todo autoritário. Jacob se afasta apenas para ficar
abraçado a mim.
— Eu? Agora quer que eu diga algo? Pois irei dizer. — Ela entrega
Laura para Liziara, e então se aproxima de nós dois. — Seja feliz, meu amor.
Que seja igual ou mais feliz do que fui com seu pai. Você merece, minha
princesa! — ela diz chorando e me abraça.
— Porra, não era isso que eu esperava — Marcos diz entredentes.
— Posso começar a chamá-lo de tio? — Jacob provoca.
— Agora, eu irei te matar! — meu tio grita.
Uma confusão se inicia. Ouço “Parem” para todos os lados, mas só faço
sorrir. Não me importa quem está “matando” quem, estou tão nas nuvens, que
nada importa agora.

Assusto-me quando uma voz doce me chama.


— Oi? — digo, olhando para Sophie.
— Estão esperando por você.
— Vamos!
Seguro sua mão, e entramos passando pela porta dupla escura. Todos
estão conversando e se divertindo.
— Onde está seu pai? — questiono.
— Espera aqui! — diz animada e se retira.
Em alguns minutos, todas as luzes se apagam. Então, a luz do palco
improvisado para a banda acende e me surpreendo quando vejo-o sentado no
banco, com um violão e o microfone em sua frente.
Lentamente, as outras luzes vão se acendendo em um tom mais
amarelado, e vejo que todos olham para ele como eu, menos Jaqueline e minha
mãe, que me olham e sorriem emocionadas.
— Faz dois meses, desde que escolhi você como minha esposa. E hoje
estamos com nossos familiares e amigos, do outro lado do país, mais
precisamente na Califórnia, comemorando nosso noivado. Morena, isso só
mostra que, para te ver feliz, eu atravesso o mundo se for possível. Eu te amo e
tenho uma surpresa para você.
Fico sorrindo como uma boba para ele. O homem mais lindo e sexy, na
minha frente, começa a dedilhar no violão, deixando as primeiras notas
preencherem o ambiente. E então começa a cantar, trazendo-me uma grande
emoção, me arrepiando.
E de uma forma acústica, a música Sugar, do Maroon 5, começa a sair de
sua voz:

I'm hurting baby, I'm broken down


I need your loving, loving
I need it now
When I'm without you
I'm something weak
You got me begging, begging
I'm on my knees

Seu olhar é fixo no meu, me transmitindo amor e segurança. Desvio o


olhar por um instante e olho para todos. Jaqueline e minha mãe olham para ele
sorrindo, enquanto Sophie está junto à bisavó e Alessandro, que também veio.
Meu tio está com Beatriz e Arthur em seus braços, e dançam em um ritmo lento,
assim como David, Liziara e as gêmeas. Já Henrique olha furioso para ele, e
sorrio, enquanto Ana curte o momento também. O ciúme do Henrique não
mudou, e talvez seja por serem tão parecidos, que implicam tanto um com o
outro.
Torno a olhar para o meu homem, meu amigo, meu noivo, meu tudo.

My broken pieces
You pick 'em up
Don't leave me hanging, hanging
Come give me some
When I'm without ya
So insecure
You are the one thing, one thing
I'm living for

Fecha os olhos por um momento, e vejo o quanto a música fala por ele.
Mais uma vez, seus olhos encontram os meus e me pego sorrindo, pois é
o que tenho feito direto nos últimos dias. Droga, estou tão emotiva. Isso é o
resultado de ter alguém tão especial ao meu lado.
Em um sinal rápido, ele me chama. E então caminho em passos lentos,
com meus saltos brancos, com o solado vermelho. Meu vestido azul-turquesa,
curto na frente e mais longo atrás, balança com o andar e me sinto a caminho da
minha felicidade, o que não é mentira alguma. Meus cabelos estão soltos com
ondas bem-feitas, e balançam também.
Paro ao seu lado, e ele se vira para mim e continua cantando:

I want that red velvet


I want that sugar sweet
Don't let nobody touch it
Unless that somebody is me
I gotta be a man
There ain't no other way
'Cause girl you're hotter than
Southern California bay
I don't wanna play no games
I don't gotta be afraid
Don't give all that shy sh-t
No make up on
That's my

Sorri para mim. E continua a música. Estou em êxtase.


Quando a música termina, ele entrega o violão para um homem que
surgiu não sei de onde, e então segura minha cintura e me beija com doçura.
Coloco minhas mãos em seu rosto e devolvo o beijo com a mesma intensidade.
Os aplausos interrompem nosso beijo.
— Eu te amo, meu pateta quatro.
Ele ri e me dá uma piscada.
— Ele também canta e toca violão? Nossa, que alegria! — Escutamos
Henrique dizer em um tom irônico e rimos.
— Sou um homem de qualidades! — Jacob rebate e Henrique revira os
olhos.
— Henrique, você também faz muitas coisas legais! — Sophie diz a ele.
Ambos se dão muito bem.
— O que prometeu a minha filha, para ela te idolatrar tanto? — Jacob
pergunta e sorrio.
Henrique e Sophie se olham e riem.
— Deixem de besteira. Vamos continuar nos divertindo. Em breve
teremos o casamento; e, por favor, não me enrolem para terem bebês lindos! —
Dona Joana se manifesta. E sim, Jacob ficou quase da cor de um tomate.
— Isso aí, Jacob, mete dentro. Quero dizer, faça direito! — Alessandro
provoca e rio, mas não deixo de notar o olhar de minha mãe para ele junto de...
Jaqueline? Não sei se gosto disso agora.

Estamos todos reunidos em uma única mesa.


— Já decidiu se o casamento será na igreja? — minha mãe pergunta.
— Ainda não! — digo.
— Como não? Daiane Escobar ainda não decidiu uma festa? Quem é
você e o que fez com ela? — Beatriz diz e rio.
— Só não decidi isso. De resto, está tudo certo.
— O principal não decidiu? Amor, você é um pouco maluca — Jacob diz
e dou um tapa em sua perna.
— Fala sério, com esses homens o que menos importa é onde será o
casamento. Falem a verdade, qual foi a mandinga que fizeram? Eu realmente
preciso saber. Impossível ter sido tudo por acaso. O acaso nem sequer deve
existir em situações assim. Me nego a aceitar — Jaqueline diz, arrancando risos
de todos, e um tom muito avermelhado surge na Bia.
— Tia! Ainda morro de vergonha com você! — Bia se manifesta.
— O acaso existe, Jaqueline, e ele é muito bom na maioria das vezes —
Alessandro se pronuncia, olhando para ela, que sorri, e vejo que minha mãe olha
de um para o outro e tenta disfarçar, mas o sorriso que tinha no rosto morre um
pouco.
Notei que, desde que chegamos aqui, Jaqueline e Alessandro estão muito
próximos, íntimos demais. E minha mãe sempre observando. Não sei, mas
acredito que eu deva começar a me preocupar com isso. Não posso ver minha
mãe sofrendo novamente. Sei que ela e Alessandro saíram algumas vezes, o que
não significa nada. Bom, talvez tenha significado algo. Na verdade, estou bem
confusa com o que ando vendo.
— Então, vão morar em que lugar? — meu tio indaga.
— Decidimos que vamos ficar na capital. Assim evitará tantas viagens e
ficarei mais tempo com Sophie — Jacob responde.
— Serei abandonada. Jogada aos ventos — Joana diz dramaticamente, e
rio.
— Vem com a gente! — falo.
— Deus me livre! Vocês dois são... — Ela olha para as crianças na mesa.
— Melhor eu ficar quieta.
Rimos.
— Amo minha fazenda. Quero ficar por lá.
— Bom, sei que este não é um assunto para o momento, mas acredito que
gostariam de saber — David fala e olha para Henrique e Marcos. E então eles
concordam com algo e David se volta para nós. — Recebemos hoje a notícia.
Ontem foi o julgamento da Poliana, e ela foi condenada a dezesseis anos de
prisão. Além de todos os motivos pelo qual foi presa, foi descoberto muitos
outros, até mesmo parceria com alguns membros de tráfico, tudo por dinheiro. A
mãe dela está em investigação ainda, e será interrogada mais uma vez.
Sorrio animada. E todos comemoram.
Jacob pede licença e se retira.

Jacob Casagrande

Estou apoiado na grade da enorme sacada. Precisava de ar puro. Daiane e


eu evitamos ao máximo qualquer notícia sobre Poliana. Porém, recebê-la hoje
me deixou feliz, mas ao mesmo tempo enfurecido, por ter tido uma louca em
minha vida. Às vezes, nós sacrificamos demais nossa vida por outras pessoas.
Seu Luiz merecia alegria, mas o preço foi longo e caro. Porra!
Mãos envolvem minha cintura, e sorrio.
— O que aconteceu? — pergunta. Viro-me, colando as costas na grade,
agarrando seu corpo.
— Não importa. Já passou.
Ela sorri.
Está tão linda.
— Então, vamos voltar? — pergunta e sorrio.
— Claro. Mas antes...
Seguro sua nuca aproximando nossos rostos. Beijo-a com força. Suas
mãos deslizam pelos meus ombros, e caminham até meu cabelo, onde ela puxa
com delicadeza, mas qualquer toque seu é excitante. Ela é gostosa pra caralho.
Meu pau está prestes a rasgar minha calça. Aperto-a ainda mais contra
meu corpo. Ela geme baixinho entre meus lábios.
Paro o beijo e ela resmunga.
— Não queremos disponibilizar cena hot para as pessoas da rua —
brinco.
— Seria sexy se fôssemos presos por isso. — Morde o lábio e se esfrega
propositalmente em mim.
— Porra! Preciso de você agora! — digo entredentes.
Arrasto-a para fora dali, pela segunda porta dupla, pois o lugar que
reservamos no hotel é dois ambientes. Saímos pelo corredor e paramos à espera
do elevador, e por Deus, se demorar um segundo mais, darei um belo show a
todos.
As portas se abrem e um casal de senhores saem, e nos cumprimentam
apenas com um aceno de cabeça. Entramos no elevador, e assim que aperto o
andar do nosso quarto, as portas se fecham, pressiono-a contra a parede
espelhada, segurando seu rosto com apenas uma mão, enquanto a outra desliza
por seu corpo. Beijo-a, e ela se entrega na mesma intensidade. O elevador se
torna quente.
As portas se abrem, e nos afastamos bruscamente. Olho e vejo ser o
nosso andar. Saímos do elevador e fomos para o quarto. Coloco o cartão na porta
e entramos. Fecho a porta em um baque, e jogo o cartão sobre a mesa de entrada.
Ela retira os saltos, e faço o mesmo com o terno e a camisa branca. Sem
tirarmos os olhos um do outro, despimo-nos.
Completamente nua, ela me olha maliciosamente e sorri atrevida. Retiro
a cueca, e assim que vê minha ereção passa a língua pelo lábio inferior.
Perco de vez qualquer controle, se é que existia algum.
Empurro-a contra o sofá, ficando entre suas pernas abertas, me
convidando para possuí-la, como se não houvesse o amanhã. Sua mão alisa meu
pau, me fazendo pulsar ainda mais. Ela sorri vitoriosa.
— Quero fodê-la a noite toda, mas temos uma festa para nos atrapalhar,
então, terei que fazer em minutos o que deveria ser feito em horas.
— Só faça! — diz com a voz consumida pelo desejo.
Deslizo um dedo em sua boceta, que está molhada, convidativa.
Ela geme.
— Porra! — Retiro o dedo, e encaixo meu pau em sua entrada.
Penetro-a.
Coloco as mãos no braço do sofá, apoiando meu peso. Uma de suas
pernas sobe para o encosto do sofá, deixando a mais aberta ainda. Começo a
movimentar-me. É intenso. Sua boceta aperta meu pau, deixando-me ainda mais
alucinado pelo prazer. Suas unhas deslizam por minhas costas, arranhando. Seus
olhos se fecham, e sua boca se abre. Nossos gemidos são espalhados pelo quarto.
Deslizo uma mão até seu clitóris, e massageio seu ponto mais sensível. Nossos
gemidos aumentam junto com as minhas estocadas e a massagem. Aperta forte
meus ombros, e então solta um grito repleto de luxúria, e começa a estremecer,
atingindo um orgasmo.
Vê-la assim me faz gozar forte, liberando todo meu sêmen dentro dela.
Sento-me no espaço livre do sofá, com a respiração forte. Ela está fraca.
Puxo-a para o meu colo, onde esconde o rosto em meu pescoço.
— Precisamos de um banho, e rápido, antes que venham atrás de nós —
ela diz fracamente e sorrio.
— Já devem estar imaginando o porquê sumimos. Relaxa, Morena.
— Você ainda vai acabar comigo desse jeito! — A fraqueza ainda
domina sua fala.
— Seria um problema? — pergunto e ela me olha sorrindo.
— Jamais!
Sorrimos.
— Já disse que eu te amo hoje?
— Não! — mente.
— Já disse. Mas repito. Eu te amo!
— Eu também... Eu também te amo, Jacob!
Batidas na porta fazem Daiane pular para o sofá.
— Pai? O Henrique pediu para eu vir até aqui. Disse que é pra você e a
Gabi voltarem.
Daiane ri cobrindo o rosto e se deitando no sofá.
— Ele fez de propósito! — digo furioso e ela concorda, ainda rindo.
— Filha, já estamos indo! — grito.
— Ooook — diz prolongando a fala.
Olho para Daiane, que está vermelha de tanto rir.
— Eu ainda vou matar o seu irmão.
— A fila para isso é enorme! — continua rindo da situação.
Dezesseis

Daiane Escobar

Olho através do enorme espelho. Meu vestido branco, de alças finas, com
um pequeno decote em “V”, desce por meu corpo, se ajustando a minha cintura,
e caindo com leveza cobrindo completamente meus pés. Nas pontas, toques de
renda dão uma delicadeza e sofisticação. Meus cabelos estão mais curtos, e
soltos, com ondas que tanto amo. Uma tiara de flores compõe o penteado. Meus
brincos são de brilhantes — ganhei de meu tio —, em formato de losango, não
muito longo, combinando com a pulseira que minha mãe me presenteou.
Dispensei o colar. Queria delicadeza na composição do look e foi o que
consegui, junto à equipe contratada para me arrumar. Nos pés, optei por uma
sandália branca, com pequenos detalhes em prateado.
Estou me sentindo uma princesa.
O local escolhido para a cerimônia foi a fazenda de minha família. Aqui,
eu consigo sentir a presença de meu pai de uma forma diferente. Sei que, de
alguma forma, ele participará deste momento.
Decidi fugir do modo tradicional, em escolher padrinhos para cada um
dos noivos. Todos os padrinhos serão de nós dois. Assim como também não
casarei na igreja, mas teremos o juiz de paz e não colocarei as crianças para
entrar, afinal não precisaria de todas, e jamais colocaria apenas uma.
Optamos também por convidar apenas os mais íntimos. Não queríamos
nada grande e que chamasse ainda mais a atenção da mídia, o que me lembra que
estava na hora de responder com classe o que certa revista merecia, e por isso
foram os únicos convidados.
A porta se abre, assustando-me.
— Daiane está tudo pronto, mas temos uma dúvida.
Miranda é a organizadora que sempre contrato para me ajudar em todas
as festas da família, e para ela ter dúvida de algo, é porque se tornou um
problema, e ela está tentando não me deixar nervosa.
— Qual dúvida?
— Os padrinhos já chegaram. Convidados faltam apenas um casal... —
Ela faz uma pausa, olha para a lista e para mim. — Sua mãe não confirmou
presença, e tampouco chegou. Perguntamos por ela, mas não souberam
responder.
— Quê? Como assim? Os convites foram enviados há semanas. Como
não me comunicaram sobre isso antes?
— Porque ela é sua mãe. Normalmente não temos que confirmar a
presença da mãe da noiva — diz e sorri.
— Miranda, você sabe muito bem que gosto de tudo correto. Festas para
mim são como julgamentos, tem que estar tudo em ordem. Se bobear, até o meu
noivo teria que ter confirmado presença. Eu sou a louca da lista de convidados.
Eu quase não vi minha mãe nos últimos dias. — Fico nervosa.
— Calma, vai borrar a maquiagem se ficar nervosa e começar a
transpirar.
— Quero meu celular! Onde está meu celular. — Olho para todos os
cantos à procura dele.
— Aqui! — Ela pega de cima da cômoda e me entrega. — Irei conferir
algumas coisas e retorno em breve. Tente ficar calma.
— O noivo está aí? Porque era só o que me faltava, ele ter sumido.
— Está sim, e bem nervoso. Pergunta o tempo todo por você. A tal
revista também está de prontidão, e infelizmente já notou que sua mãe não
chegou ainda. Mas tudo dará certo. Já venho! — Ela se retira.
Ligo para a minha mãe, e apenas na segunda tentativa ela atende.
— Mãe, pelo amor de Deus, onde está?
— Filha, calma. Logo estarei aí. Eu... estou chegando.
— Mãe, como não confirmou presença?
— Daiane, me poupe! Sou sua mãe. Não preciso confirmar nada.
— Mãe, eu sou paranoica com listas. Onde está? — Tento controlar o
choro.
— Filha, tenho que desligar, estou chegando. Se acalme.
Ela desliga e me sento na cama.
A porta se abre e Sophie entra sorridente.
— Você está muito linda!
— Obrigada, raio de sol. Você está uma verdadeira princesa. —
Sorrimos.
— Vai demorar? — pergunta ansiosa.
— Noivas sempre atrasam — brinco.
— Entendi. Meu pai está nervoso. É engraçado. Minha bisa disse que
daqui a pouco ele vai gritar até com o vento. — Rimos.
— Filma tudo, depois quero ver.
Ela concorda.
— Vou indo! — Ela se retira.
Fico andando de um lado para o outro. Estou nervosa demais. Sempre
fico nervosa no casamento dos outros, não seria diferente no meu.
— Não, vocês não podem! Ela disse que não queria nenhum homem
aqui. — Ouço a voz da Miranda.
— Você tem duas opções: sair por vontade própria ou retiramos você —
David fala.
Sorrio.
Caminho até a porta e abro. Os três patetas me olham.
— Pode deixar, Miranda. — Eles olham para ela e sorriem, provocando-
a.
— Sua mãe chegou, e daqui a pouco vem até você... — Olha para eles.
— Vocês são impossíveis! — diz se retirando.
Fecho a porta e eles ficam me olhando.
— Está linda! — dizem juntos.
— Sempre estou — provoco.
— Seu pai teria muito orgulho — meu tio diz e sorrio emocionada.
A porta se abre, e minha mãe entra em um belo vestido e penteado.
Henrique bate palmas e ela cora.
— Demorei, mas cheguei!
— Como pode sumir assim? O que aconteceu? Quase não a vi! Mãe, não
queria vir? — indago sem parar.
— Se acalme! Eu ajudei na escolha de decoração, óbvio que viria. Só que
os últimos dias foram de grande surpresa.
— Como assim? — David questiona.
Ela caminha até a cama onde se senta. Faço o mesmo.
— Estive mexendo nas coisas de seu pai, no escritório no centro da
cidade...
— Mãe, já falamos para você que está na hora de alugar ou vender
aquilo. Tem que começar a desapegar ou nunca vai deixar de lado essa dor —
digo.
— Não é nada disso. Fui exatamente para ver do que iria me desfazer,
para vender o lugar, mas, para a minha grande surpresa, seu pai mantinha uma
gaveta trancada. Nunca mexi em nada, sabem que sempre foi muito difícil para
mim.
Concordamos.
Ela retira da bolsa um pequeno caderno preto, com o nosso sobrenome
escrito em branco na capa, em uma letra bem detalhada.
— O que é isso? — Marcos pergunta.
— Pedi para o Conrado abrir a gaveta, pois não encontrei qualquer
chave, e nela havia apenas este diário. — Seus olhos estão marejados. —
Escreveu alguns anos antes de sua morte. Ele falava de tudo, e de cada um de
nós. E passei os últimos dias lendo com calma e sentindo cada palavra escrita.
Então encontrei uma parte que... — ela abre o diário em uma página e me
entrega — que você precisava ler hoje, Daiane.
Com as mãos trêmulas, olho para todos e para o pequeno caderno. Então
começo a ler em voz alta o pequeno texto:
— Hoje, acordei antes de todos, precisava estudar um pouco mais um
caso difícil, antes do julgamento que tive nesta tarde. A casa estava silenciosa e
eu me acomodei em minha cadeira no escritório, com uma caneca de café, a
minha preferida, e fiquei tão concentrado, que não notei quando minha menina
adentrou o escritório e se sentou no sofá de frente para mim a me observar. —
Minha voz está trêmula e minha mãe passa os braços ao meu redor. Henrique e
David se abaixam a minha frente, e se apoiam em minha perna. Já meu tio,
apenas observa através da janela. — Quando a notei, ela sorriu para mim e me
desejou um grande bom dia. Sorri. Perguntei o porquê de estar acordada àquela
hora, então me disse que queria me fazer companhia, porque sabia que eu
estava bastante estressado nos últimos dias. Ela sempre me conheceu muito
bem...
Não consigo terminar de ler, e David percebe, pois pega de minhas mãos
dando continuidade:
— Ela sempre me conheceu muito bem. Se tem uma pessoa, depois de
minha esposa, que consegue me acalmar é minha pequena Gabi. E então,
perguntou se eu queria ajuda; e sem esperar a resposta, se colocou ao meu lado
e começou a ler cada pergunta daquelas folhas, enquanto aguardava minhas
respostas. E olhando ela tão concentrada no que fazia, e com aquela perfeita
postura e dicção, não tive dúvidas de que teria uma carreira brilhante como
uma mulher da lei. E foi então que também percebi que sua escolha de carreira,
nunca foi por mim e sim por ter nascido com o dom para tal. Minha pequena
está se tornando uma grande mulher. Tempo, vá mais devagar.
David termina de ler e fecha o caderno. Minha mãe pega e coloca ao
outro lado da cama. Lágrimas escorrem por meu rosto, e Henrique as enxuga
com cuidado.
— Eu o queria aqui... — digo entre um soluço, que me escapa.
— Eu sei, maninha. Todos queríamos. Mas ele está aqui, dentro de cada
um de nós! — Henrique diz e sorri emocionado para mim.
— Henrique tem razão. Nosso pai está aqui neste momento prestigiando
você. Olhando por todos nós. Somos brutos, às vezes irritantes, mas sabemos
que ele está orgulhoso da escolha que fez. Aquele cara lá embaixo nos irrita, mas
é perfeito para você. Joseph Escobar abençoaria esta união com toda certeza —
David fala enquanto acaricia minha mão.
— Sim. Seus irmãos estão certos — minha mãe diz e deposita um beijo
em minha cabeça.
Meu tio se aproxima. E sorri para mim.
— Posso dizer com toda certeza que ele realmente está orgulhoso por
você. Eu estou orgulhoso, e sentindo-me muito honrado em representá-lo neste
dia. Uma responsabilidade do caralho! A menininha da casa cresceu, e se tornou
uma excelente mulher, porque recebeu conselhos e amor da melhor pessoa que
poderia lhe oferecer. Estamos contigo, e sempre vamos estar — ele me diz. Meus
irmãos se afastam e me levanto, abraçando-o.
— Obrigada! — digo a todos.
Estou muito emocionada, e jamais poderia imaginar senti-lo tão próximo
novamente como hoje.
A porta se abre e Miranda entra.
— Ah, meu Deus! Todos saiam. Vão para suas posições. Vou chamar a
equipe de maquiagem para retocar esse estrago. Estamos muito atrasados! — diz
desesperada, arrancando risos de todos. — Não riam. São quase seis horas da
tarde. Vamos, vamos! — diz retirando todos do quarto.

Jacob Casagrande

Pensei que em minha primeira audiência, eu havia ficado nervoso. Mas,


vendo meu estado neste momento, aquilo não foi nada. Estou completamente
nervoso. Já andei para todos os lados e distribuí coices para outros; e, porra, sem
motivo algum. Daiane está demorando muito e isso está me matando.
Será que desistiu?
Olho mais uma vez para toda a decoração carregada em tons de marrom,
branco e bege. Decorei cada detalhe, de tanto olhar, em busca de tranquilizar-me.
Miranda, a organizadora, me faz um sinal para ficar em meu lugar, e se
meu coração estava acelerado, agora... Droga, está parando.
Os padrinhos se posicionam. Ajeito o nó da gravata que parece me
sufocar. Está calor?
A banda contratada começa a tocar com os instrumentos de cordas,
enquanto a cantora deixa Beauty and the Beast sair de seu interior. Escolha da
Daiane, mesmo todos insistindo para ser a famosa marcha nupcial.
Então, olho para a mulher completamente linda, que entra de braço dado
ao seu tio, enquanto a outra mão carrega um buquê de flores. Ela sorri sem parar.
Seus olhos são fixos aos meus. Sinto tudo paralisar. É como se não existisse
ninguém, além de nós dois. Sorrio emocionado e me aproximo quando Marcos a
entrega para mim, e nem mesmo sua ameaça me faz desconectar deste momento.
Seguro sua pequena mão trêmula. Lágrimas começam a deslizar por seu
rosto, me fazendo plantar um beijo em sua testa. A música se encerra.
Não consigo tirar os olhos dela, nem mesmo quando o juiz de paz
começa a falar. Meu olhar é somente para ela.
O juiz fala.
Respondemos o sim.
Colocamos as alianças.
Assinamos.
Os padrinhos assinam.
Tudo acontece, com o meu olhar apenas nela. Está linda demais.
As palavras “pode beijar a noiva” é o que mais esperei ouvir. E quando
são ditas, tomo seu rosto com minhas mãos e a beijo com amor. É um beijo
diferente. Porque algo grita dentro de mim “ela pertence a você, e você a ela”.
Aplausos e assovios saem dos convidados. Flashes disparam tanto dos
fotógrafos, quanto da revista que Daiane escolheu convidar.
— Eu te amo — ela diz sorrindo.
— Eu também te amo. — Beijo-a novamente.
Então, todos se aproximam para nos cumprimentar. E uma chuva de
votos de felicidades e abraços se inicia. Além de ameaças dos homens Escobar.

Estamos todos reunidos, enquanto Daiane está no lugar da banda, com o


microfone nas mãos. Ela não disse o que faria, então até mesmo eu estou
curioso.
A revista está como um animal em dia de caça. Cada movimento é
registrado.
— Primeiramente, quero agradecer a cada um que participou deste
momento conosco. Para quem conhece nossa história, está a par de tudo o que
foi enfrentado para estarmos aqui hoje. Sei que é um casamento, e apenas coisas
boas devem estar presentes. Mas esta foi a melhor oportunidade para dizer
algumas coisas. — Ela ajeita uma mecha que cai sobre seu rosto. Os flashes e
filmagem não param. — Eu não me importo que algumas pessoas não gostem de
mim. Jamais iremos agradar a todos, isso é um fato. Mas eu me importo quando
proferem palavras mentirosas não apenas a meu respeito. E por isso permiti a
vocês, da Revista Belos e Famosos, que participassem deste dia. Para, pelo
menos uma vez, serem verdadeiros em suas palavras. Não pensem em editar
nada do que registraram aqui, porque a equipe de filmagem e fotógrafos que
contratamos também está registrando tudo. Então, qualquer mentira dita na
revista de vocês, irei provar o contrário.
A equipe da revista começa a olhar de um para o outro, mas não deixam
de filmar e fotografar. Nós na mesa, olhamos surpresos pela atitude da minha
esposa.
— E tem mais. Pessoas que seguem esta e outras revistas que falam sobre
a vida de outras pessoas, por favor, não acreditem em tudo, e não saiam dizendo
ou concordando com coisas que não sabem se é verdade. Isso pode machucar e
destruir a vida da pessoa citada. — Ela sai do palco e caminha até a moça da
revista, que filma tudo. — Aquela que tanto julgam está, hoje, dando uma
matéria de verdade para vocês. Aproveitem bem, porque não terá uma próxima
vez.
Ela vem até nós, enquanto a equipe da revista se reúne em um canto
afastado.
— Arrasou, cunhadinha! — Liziara diz batendo palmas.
— Eles mereciam! Que tapa na cara convidá-los para o casamento —
Ana Louise diz.
— Eles realmente mereciam. A melhor resposta a eles não foi a que dei
agora. Foi convidá-los para o casamento, mesmo eles me detonando. — Ela se
senta em meu colo, e sorrio.
— Os Escobar sabem como encontrar o momento certo! — Beatriz diz
sorrindo.
— E como! Arrasou! — Jaqueline diz a ela, e ri. — Foi impagável a cara
deles. Agora estão ali reunidos. Devem estar pensando em como sairão desta
saia justa.
— Não vão sair. Se difamarem mais uma vez a Daiane, aquela revista
sumirá do mapa — falo e ela sorri para mim.
— Ai, meu Deus, multiplica! — Jaqueline fala e todos riem.
— Aprendam com ele, meus filhos — Paula diz e Henrique me lança um
olhar de raiva. — Meu anjo é um príncipe. — Dou uma piscadela para ela.
— Eu não gosto dele! — Henrique se manifesta.
Os garçons trazem outras bebidas para nós.
— Vamos falar do que interessa. Este casamento está lindo demais. Você
merecia, Daiane! — Débora diz emocionada. — Droga, esta gravidez me faz
chorar por tudo, que ódio! Cleber, olha isso. Ai, que raiva!
Sorrio.
— Eu que tenho que sentir ódio. Porra, a cada cinco minutos começa a
chorar do nada no trabalho! — Marcos se manifesta e Beatriz lhe dá um tapa no
braço.
— Ana foi muito tranquila na gravidez. Cleber, pelo visto está ferrado —
Henrique provoca.
— Nem me fale! — Cleber responde rindo.
— Henrique, mas você me disse que Laís está igual à Ana, só chora —
Sophie diz e começo a rir, não consigo me controlar, e Daiane me belisca.
— Henrique?! — Ana o olha furiosa.
— Não. Sophie se confundiu! — Bebe a bebida rapidamente.
— Não confundi, não! — Sophie rebate.
— Ela nunca se confunde — provoco.
— Confundiu sim! — ele fala para ela.
— Não confundi! — diz nervosa.
— Parem os dois! — minha avó interrompe a briga deles. — Menino
Henrique parece mais criança que ela.
Sophie olha para ele e ri.
— Vocês viram ela me provocando, não é?! — ele pergunta e rimos.
— Não fiz nada, não é, Daiane?
— Exatamente. Não fez nada, Sophie!
— Estou ferrado! — ele fala escorregando um pouco na cadeira.
— Veja só, ela não secou, Jacob! — Alessandro fala, e sorrio por me
lembrar do que se tratava.
— Não sequei o quê? — Daiane pergunta.
— Nada! — respondemos juntos.
Percebo quando Paula olha para ele e sorri timidamente, e o mesmo a
encara descaradamente. Porra, esse não sabe disfarçar. Mas algo me chama a
atenção. Jaqueline percebe o olhar de ambos, e então fica com uma expressão
diferente. Olho para Daiane, e ela balança a cabeça indicando que também viu.
— Bom, vamos dançar?! Aproveitar que ninguém ainda surgiu dizendo
que as crianças precisam de nós — Liziara pergunta animada.
— Vamos sim! — Daiane exclama.

Reunimo-nos na pista de dança, onde diversas luzes em tom amarelo


cobrem o lugar. Dançamos diversas músicas, mas quando Perfect ecoa puxo
Daiane exclusivamente para mim. Colados, dançamos juntos. Sei que todos
observam e, mais uma vez, meu olhar é apenas para ela.

Baby, I'm dancing in the dark


With you between my arms
Barefoot on the grass
Listening to our favorite song
When you said you looked a mess
I whispered underneath my breath
But you heard it, darling
You look perfect tonight

Canto em seu ouvido, e vejo sua pele se arrepiar.


Quando a música se encerra, beijo-a rapidamente e ela sorri.
— Melhor jogar logo o buquê, para sairmos logo daqui — diz em um
tom sexy. Rio.
— Senhora Casagrande, está se saindo uma bela pervertida.
— Sempre! — Ri.
— Estamos ouvindo! — David fala nos fazendo rir.
— Todos estamos! — Alessandro grita.

Daiane Escobar Casagrande

Chamei todas as mulheres solteiras que ajudaram a deixar meu


casamento perfeito. Minha mãe, Joana e Jaqueline também estão juntas, para
pegarem o buquê.
— Um... Dois... — Jogo sem esperar chegar ao três. Uma gritaria se
inicia, e me viro rindo para olhar, porém fico bem surpresa.
— Vai ter que jogar de novo! — Beatriz diz rindo.
— Não! Isso é o destino. Ambas pegaram! — Joana exclama.
— Mas...
— Mas nada! Sua mãe e Jaqueline pegaram! — Joana insiste.
Olho para o Jacob, que dá de ombros.
— Joana está certa. A sorte é para nós duas! — Jaqueline comenta.
— Mas como conseguiram partir o buquê ao meio? Gente... — falo
olhando incrédula para o buquê que se partiu ao meio, em uma divisão perfeita.
— Apenas pegamos juntas! — minha mãe diz sorridente.
— Não estou gostando disso! — Henrique fala observando a situação.
— Isso que é quererem casar. Porra, que proeza fizeram! — Alessandro
diz olhando também incrédulo para o buquê.
— Eu, hein! — falo, me aproximando do Jacob, que passa o braço pela
minha cintura.
— Que venha meu casamento. Deus é pai! Onde estão os homens
solteiros desse círculo? — Jaqueline grita e rimos.
— Tia, se controla! — Beatriz fala rindo.
— Você é o único solteiro aqui, Alessandro — Marcos provoca e ri.
— Me tira fora dessa. Estou longe dessas histórias de casamento. Estou
longe de qualquer relacionamento. — Seu tom é sério.
Percebo o olhar de minha mãe e de Jaqueline. Merda!
Só pode ser brincadeira. Depois de tanto tempo para sair do luto foi
escolher justo um que não quer saber de relacionamento, e que ainda por cima
tem uma amiga da família a fim dele também.
— Deixe o tempo cuidar disso — Joana diz ao meu lado, e olho para ela
sem entender. — Já percebi. Sou velha, não burra.
Sorrio.
— Minha avó está certa — Jacob se manifesta.
Olho para o David, que apenas observa a situação e quando olha para
mim desvio o olhar.
— Só não sei se vai acabar bem! — comento.
Miranda anuncia que tem uma surpresa para nós, próximo ao lago da
fazenda e que a revista já foi embora, não muito contentes.

Estamos todos próximos ao lago, quando tudo começa a clarear em tons


dourados e prata na noite. Emociono-me com a surpresa.
— Obrigada, Miranda!
Ela concorda e sorri.
Jacob me abraça por trás, e Sophie se aproxima, ficando na minha frente,
onde coloco as mãos em seus ombros, e ela me olha sorrindo.
— Agora é uma família de verdade, né? — pergunta sorrindo.
— Sim, minha princesa. Agora sim! — Jacob responde.
Ficamos todos ali, observando os fogos e curtindo o momento.
— Te amo demais, Morena! — ele sussurra em meu ouvido.
— Eu também te amo!
Olho para uma parte acima das árvores, e posso estar louca, mas é como
se eu visse o rosto de meu pai sorrindo para mim. Emociono-me.
Observo então a todos, e concluo: Todas as lágrimas, um dia se tornam
grandes sorrisos. Basta querermos.

REVISTA ONLINE BELOS E FAMOSOS

NOTÍCIA MAIS VISITADA DO DIA:

“A PRINCESINHA SE TORNOU UMA RAINHA”


Tivemos a oportunidade de estarmos no casamento do ano!
Daiane Escobar e Jacob Casagrande casaram-se segunda-feira (22), na fazenda
Escobar.
O casamento foi repleto de muita sofisticação. O amor pairava no ar.
Registramos cada momento dos pombinhos, que, por sinal, formam um belo
casal.
Nós da Revista desejamos as mais sinceras felicidades aos promotores, e
estamos loucos de curiosidades, para sabermos se a família Escobar terá novos
herdeiros.
E temos mais uma novidade: o promotor exibiu o tempo inteiro sua herdeira,
Sophie Casagrande, o que foi uma grande surpresa.
Confiram as fotos dos melhores momentos da cerimônia.

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Comentários mais recentes:


Doroti: Nossa, não era esta revista que vivia criticando a Daiane? Quanto estão
recebendo para elogiá-la?
Kelly: Essa revista deve ter se ferrado para estar publicando algo de bom desta
promotora. Enfim, felicidades ao casal! Linda a filha do promotor, assim como
ele, que é lindo demais.
Larissa: Deve ser puro marketing. Ela é mais rodada que não sei o quê. Este
promotor é muito bom para ela. Já prevejo notícias da separação em breve.
Lala: Essa tal Larissa aí em cima vive comentando maldades em relação à
Daiane. Deve ser inveja demais. Coisa feia! Que este casal seja completamente
feliz, e que a inveja do povo não atinja a eles. Sophie é linda demais.
Joana Casagrande: Não esqueceram de algo, não? Onde está o que ela falou?
Carinha feia, carinha feia, carinha feia... Adorando esse treco de internet. Trem
bom demais. Enfim, acho bom continuarem falando bem do meu neto e da minha
nova neta!
Resposta a Joana:
Lala: Joana, não escrevemos carinha feia. É emoji, tem no celular kkk. Beijos,
lindona. Adorei seu comentário. Quero uma avó assim!
Epílogo

Daiane Escobar Casagrande

A vida de casada é bem diferente do que se imagina. Não é sempre um


mar de rosas. Existem altos e baixos. É como na promotoria, temos que analisar
todos os lados, pesando-os na balança.
Jacob e eu estamos tentando lidar com as diferenças, e incluir a Sophie
no meio de tudo. Não é fácil, mas não vamos desistir. Temos gênios fortes e
somos muito parecidos em alguns aspectos, e isso é complicado, mas não
impossível de lidar.
Nosso trabalho toma muito de nosso tempo e isso é um dos maiores
desafios que estamos enfrentando, mas com jeitinho estamos conseguindo
superar cada obstáculo.
— Gabi, hoje irei para a bisa? — Sophie questiona pela quarta vez. Está
ansiosa para a festinha com as amigas da sua antiga cidade.
— Sim. Eu já disse que iria. Só um pouquinho de paciência que logo seu
pai chega e levará você.
Ela sorri animada.
— É que ele está demorando.
— Deve estar no trânsito. Daqui a pouco chega. Não se preocupe.
— Está bem. Vou para o quarto.
— Isso. Descanse e, assim que ele chegar, prometo que não deixarei ele
ficar enrolando.
Ela concorda sorridente e sai do escritório.
Continuo estudando o caso que estou cuidando nas últimas semanas, e
tem sido bem complicado. O julgamento é nesta semana e estou muito nervosa,
odeio casos que envolvem crianças, e este é um deles, um estupro seguido de
homicídio, muito pesado, e isso tem tomado quase todo o meu tempo. O
advogado do réu está vindo com tudo para cima da promotoria e da família da
vítima, e a mídia está em cada detalhe, o que tem dificultado ainda mais o
trabalho da polícia, e isso acaba por dificultar para mim. Não posso escolher um
lado, eu tenho que escolher a melhor justiça e arcar com as consequências de
minha decisão. Às vezes me cansa lidar com tudo isso.
Olho no relógio e já era para o Jacob estar em casa. Ele sabe que precisa
levar a Sophie para o interior. Por sorte, nos próximos dias não terá aula devido a
alguns eventos na escola. Pagamos uma nota na escola para inventarem eventos
sem necessidade, e os alunos sem aula, absurdo total.
Prendo o cabelo em um coque bagunçado e ligo para ele, mas não atende.
Nem no celular e nem do escritório que abriu recentemente aqui na cidade para
evitar ficar trabalhando em casa, e eu sei bem como é isso, por este motivo tenho
meu escritório no centro.
Saio do escritório, e vou para a sacada do apartamento. Preciso relaxar
um pouco a mente. Estou estressada, e cansada.
A tarde está fria, e chuviscando. Puxo a manga da minha blusa de frio
cobrindo boa parte das minhas mãos. Sento na cadeira de madeira e fico
observando a vista da piscina. Estou de short jeans, bem típico eu colocar blusa
de frio e short. Nem eu mesma me entendo.
— Nada do meu pai ainda? — Sophie pergunta me assustando, já que
não a vi chegar.
— Não.
Bufa irritada e sai.
Apoio as pernas na cadeira da frente cruzando-as. Eu vou matar o Jacob
caso não leve a filha para o interior. A menina está completamente ansiosa e
animada para a tal festinha.

São quase onze horas da noite e nada do Jacob. Agora dá apenas caixa
postal no celular, e no escritório só chama. Eu vou arrumar uma secretária para
este homem. Sophie acabou dormindo cansada de esperar o pai, depois de chorar
porque sabe que não vai hoje para a casa da bisavó. Dona Joana me ligou
preocupada, e eu disse que não daria para a Sophie ir hoje, mas que a levaria
amanhã. Não contei que o neto ainda não chegou e não tenho notícias, de
preocupada basta eu.
Pedi ao Estefan para ir até o escritório do Jacob, e ver se está lá e estou
no aguardo de notícias.
A porta da sala se abre e levanto rapidamente do sofá. Jacob entra. Meu
coração fica aliviado.
Ele deixa as coisas no sofá e vem até a minha direção, mas impeço de se
aproximar.
— Morena, perdão. O celular e o telefone estavam no mudo, e eu estava
tão concentrado no caso que estou estudando, que perdi noção da hora. Estefan
foi até o escritório e vim na mesma hora.
— Jacob, não é para mim que deve desculpas. Sua filha foi dormir depois
de tanto chorar porque o pai não a levaria para o interior.
— Eu vou levar. Só vou trocar de roupa.
— A esta hora? Ficou louco! Não vai sair com a menina uma hora destas
com este tempo.
— Relaxa, amor.
— Eu já viajei com ela de madrugada, mas estava com meu segurança e
não tinha chuva. Você não a levará com chuva, e cansado. Sua aparência entrega
o cansaço.
Ele retira a gravata e o paletó. Abre os primeiros botões da camisa
branca.
— Realmente estou bem cansado. Mas...
— Não vai levar e pronto. Amanhã eu me viro e levo-a, ou peço ao
Estefan para levar, não sei. Dou um jeito. Agora você arrasta esta bunda até
aquele quarto, e passe a noite com ela, porque está bem chateada com você, e vai
ser bom quando ela acordar encontrar o pai.
— Amor, está nervosa apenas por isso, ou tem mais?
— Nervosa? Estou com muita raiva. Você chega tarde, esquece de dar
satisfações, eu tenho que ficar em casa tentando controlar os problemas que
causou, e quando chega age como se nada tivesse acontecido. Tenha a santa
paciência. Está com muito trabalho? Eu também, mas estou me virando para
lidar com tudo, então é melhor você também começar a lidar.
Saio da sala com ele me seguindo até o quarto. Ele fecha a porta.
— Daiane, você está achando que não atendi suas ligações ou fiquei até
agora trabalhando de propósito? Porque se estiver, porra não me conhece. Eu
estou fazendo de tudo para conciliar o trabalho com vida pessoal. Divido-me em
mil para dar atenção a você e a Sophie, além da minha avó. Então, por favor, não
tente se transformar em vítima, quando sabe que faço de tudo para que nosso
casamento seja de alegrias na maior parte do tempo. — Está irritado. Eu também
estou.
Respiro fundo e conto mentalmente até dez.
— Desculpa. Estou cansada.
Ele se aproxima e desta vez eu deixo. Beija-me com carinho.
— Me desculpa por hoje. Estou tentando adiantar tudo para ter mais
tempo para as duas. — Beija-me com carinho.
— Está bem. Só vá ficar com a Sophie, ela precisa mais do pai.
— Vou tomar um banho e vou ficar com ela.
— Está com fome?
— Não. Comi na rua.
Concordo.
Ele se afasta e vai até o banheiro.
Eu já tomei banho e estou de pijama. Deito na cama e me cubro. A noite
está ainda mais fria.

Acordo sobressaltada com um som. O quarto está iluminado apenas com


as luzes dos abajures. Olho para o Jacob, que está com a Sophie dormindo em
seu colo. Ele a coloca no centro da nossa cama, e vai fechar a porta. Retorna e se
deita. Fico olhando para ele, que sorri.
— As duas precisam de mim. E eu preciso das duas — ele sussurra.
Sorrio. Esse pateta ainda vai me matar de amor.
Cubro direito a Sophie e dou um beijinho em sua testa. Ela dorme
tranquilamente.
— Amo você.
— Eu também, amor — digo a ele baixinho.
Estamos tomando café. Irei levar a Sophie até a avó acompanhada por
Estefan e logo depois vou para o escritório. Jacob não pode ir, tem uma reunião
importante.
— Será que vai dar tempo de ir para a festa?
— Vai sim. Começa duas horas, e vamos chegar bem antes lá — digo a
ela.
— Chegando lá me avisem — Jacob diz.
— Pode deixar — respondo.
— Nossa! — Sophie diz e olhamos para ela sem entender. — Ontem,
quando cheguei da escola, esqueci-me de mostrar uma coisa.
Ela sai da mesa e Jacob me olha, mas dou de ombros. Ela retorna com
um papel e entrega ao pai.
Jacob fica olhando. Tomo meu suco.
— A professora disse para desenharmos nossa família quando voltarmos
para a escola levarmos uma redação falando sobre o que desenhamos.
Jacob ri.
— Não gostou, papai?
Chuto a perna dele por debaixo da mesa e ele resmunga.
— Olhe, amor. — Ele me entrega.
Tem um prédio um pouco torto atrás de um casal com uma criança.
— É você, o papai e eu.
Olho cada detalhe e fico sem entender uma coisa.
— Sophie, por que eu estou gordinha? Sei que como bastante, mas não é
para tanto.
Jacob gargalha.
— Ué. Porque está com meu irmãozinho ou irmãzinha na barriga.
Jacob engasga e eu arregalo os olhos.
— Estou com o quê?!
— Está surdinha?
Jacob bebe meu suco e controla a tosse. Entrego o desenho a ela.
— Sophie, é muito cedo para isso.
— Não custa nada imaginar, ué. — Ela ri. Pega o desenho. — Vou
escovar os dentes e me trocar para irmos. — Concordo e ela sai saltitante.
Jacob me olha assustado.
— É, pode me olhar assim, porque tenho certeza de que também estou
assustada. Este desenho é um futuro muito longe e talvez inexistente.
— Concordo. No momento é melhor não.
— Isso aí. Já estamos pirando com uma criança. — Ele ri.
— Porra se eu tiver mais uma menina e, desta vez, for igual a você, estou
ferrado.
— Pateta! — Ele se levanta e sorri. Beija-me com carinho.
Segura meu queixo me fazendo ficar com a cabeça um pouco inclinada
olhando para ele.
— Morena, se você desejar estarei com você em tudo. Só quero nossa
felicidade.
— Pode deixar. Mas agora é impossível.
— Concordo. — Ele me beija novamente. — Te amo.
— Também te amo.
— Então é melhor reforçar os remédios, já que o sexo é frequente. —
Rio.
— Tarado. Melhor diminuirmos o sexo então.
— Porra, aí me ferra. — Ele sorri.
Levanto e enrosco os braços ao redor de seu pescoço. Beijo-o. Ele
retribui desta vez com intensidade. Aperta meu corpo de encontro ao seu. O
calor nos envolve, e é como se chamas estivessem aos nossos pés. Se tem uma
coisa que torço é para que sejamos sempre assim, puro fogo. Sinto sua ereção e
fico louca. Puxo levemente seu cabelo. Suas mãos apertam meu corpo, e é bem
capaz de ficar marcado.
— Que nojo! — Sophie grita e nos afastamos. Viro de costas e Jacob me
abraça por trás. — Você dois vivem assim, eca!
— Isso mesmo filha, pense que é nojento eternamente. — Reviro os
olhos.
— Um dia será você, bobinha, assim que encontrar o homem certo.
— Credo! Não quero não.
— Isso aí! — Jacob fala e sorrio.
— Um dia vai, e terá que me contar tudo antes de fazer qualquer coisa.
— Está bem. Mas não quero namorado.
— Viu só, Morena? Ela não quer, não insiste.
— Vamos, Sophie. O ciumento aqui precisa trabalhar.
— Vamos sim!
Descemos para a garagem. Estefan já aguardava por nós dentro do meu
carro.
— Cuidado. E Sophie, se comporte.
— Está bem, papai. Eu vou fazer onze anos, sei me comportar.
Sorrio.
— Ela sabe, amor — provoco.
— Vocês duas vão me deixar louco.
— Vamos nada — Sophie responde rindo e entra no carro.
Jacob se aproxima e beija o rosto da filha. Prende o cinto nela e fecha a
porta.
— Não aprontem.
— Amor, vou apenas levá-la e vou retornar. Não tenho o que aprontar.
— Daiane, vocês duas sempre arrumam um jeito de aprontar. — Ele me
dá um beijo rápido. — Mais tarde quero chegar em casa e te encontrar nua à
minha espera. Ainda estou excitado. — Ele retira o paletó da frente do corpo, e
vejo o volume em sua calça. Sorrio.
— Pode deixar, pateta.
— Te amo, Morena.
— Eu sei... — Derrubo minha bolsa propositalmente e me abaixo de uma
forma provocativa para pegar. Quando levanto, ele está me olhando sério. Então
sussurra em meu ouvido:
— Isso não vai ficar assim.
Rio.
Antes de entrar no carro, ele me dá um tapa na bunda e sorrio. Quando
entramos cada um em nossos respectivos veículos, Estefan dá partida e Jacob sai
logo atrás.
Ninguém disse que casamento seria fácil, mas sempre ouvi que temos
que lutar pelo que amamos, mesmo que seja difícil as vezes.

Fim
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus por sempre estar comigo em todas as
conquistas e todos os momentos difíceis também.
Obrigada a Editora Angel por me apoiar desde o início.
Também tenho que agradecer as leitoras do Wattpad que tornaram esta
série completamente especial. E as meninas do grupo no Facebook e WhatsApp
também.
Cláudia Pereira, obrigada por cada dica que tem dado para esta série e
pelo apoio constante.
Betas Liziara e Beatriz, obrigada. Além de grandes amigas, vocês são
excelentes fontes de inspirações para a série Escobar.
Wesley Ferraz, caro marido, merece estar aqui também, já que vive me
ajudando quando o assunto é carro em cena, mesmo me deixando louca pedindo
atenção.
Obrigada a você que está lendo também, está tornando este conto ainda
mais especial.
Biografia

Deby Incour nasceu em Guarulhos, na Grande São Paulo.


Apaixonada por livros, escreveu seu primeiro em 2014, que foi publicado pela
Editora Angel. Desde então, nunca mais parou. Os livros fazem com que ela se
sinta em um mundo mágico, onde existe tudo que se pode imaginar. Em 2016 foi
best-seller na Amazon brasileira, com o livro “Meu advogado”; e isso foi para
ela uma imensa conquista.
Editora Angel
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WWW.EDITORAANGEL.COM.BR
Table of Contents
Nota da autora
Dedicatória:
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Catorze
Quinze
Dezesseis
Epílogo
Agradecimentos
Biografia
Editora Angel
Copyright © 2020 Deby Incour
Copyright © 2020 Editora Angel

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser reproduzida ou
transmitida por qualquer forma, meios eletrônico ou mecânico sem a permissão por
escrito do Autor e/ou Editor.
(Lei 9.610 de 19/02/1998.)
1ª Edição

Produção Editorial: Editora Angel


Capa e projeto Gráfico: Débora Santos
Diagramação digital: Débora Santos
Revisão: Carla Santos

TEXTO REVISADO SEGUNDO O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DA


LÍNGUA PORTUGUESA.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.

FICHA CATALOGRÁFICA FEITA PELA EDITORA.


Sumário:
Nota da autora
Dedicatória:
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Quatorze
Quinze
Dezesseis
Epílogo 1
Epílogo 2
Agradecimentos
Biografia
Editora Angel
Nota da autora

Estes livros alguns são contos, outros novelas e


alguns noveletas, sim, eu não tenho equilíbrio.
Pois bem, todos os assuntos policiais, leis, etc.,
tratados em toda a série, são pesquisados e muitas
vezes colocados de uma forma prática, leve ou
misturada a ficção.
E mais uma coisinha importante: mesmo que
seja uma série onde cada livro conta a história de
um personagem, todos se ligam de alguma forma e
ler fora de ordem vai acarretar spoilers
indesejados e confusões em algum momento. Por
isso, aconselho que leiam na ordem correta.
Dedicatória:

Para todos que fizeram dessa série especial.

Bia a Lizi, vocês me deixaram louca com suas ideias, mas seguraram as
pontas comigo e fizeram essa série chegar até aqui.
Um

Joseph Escobar

Anos antes...

O trânsito está um inferno. Tudo parado. Não tem a mínima


escapatória. Alguns carros buzinam. Provavelmente deve ter tido algum
acidente à frente.

Meu celular toca. O nome dela aparece na tela.

— Oi, meu amor — digo ao atender.

— Joseph, onde está? Estamos te aguardando. — Sua voz está aflita.

— No trânsito, amor. Saindo desse caos, em dez minutos chego à


fazenda. Podem começar a comer sem mim. Pelo visto vai demorar aqui.

Abro o vidro para entrar ar. O ar-condicionado deu problema, e não


tive tempo de levar o carro para arrumar isso.

— Se cuida, amor. — Está preocupada.

— Paula, aconteceu algo? Está estranha.

— Não. Apenas estou preocupada com você que não chega logo. Mas
agora sei que está bem. Estava demorando demais...
Sorrio.

— Não precisa se preocupar, amor.

— Você está sem segurança, isso me preocupa. Sua teimosia me


preocupa.

— Não se preocupe tanto que dá rugas.

— Joseph, falo sério!

— Daqui a pouco chego. Te amo.

— Também te amo. Beijos.

Desligo.

Coloco o celular no bolso da calça, e pego meus óculos de sol no


banco ao lado e coloco no rosto. O calor e o sol estão demais!

Fico tamborilando os dedos no volante, para passar o tempo.

Os carros começam a buzinar mais, e olho para ver o que é. Motos


começam a vir de vários lados. Porra, era só o que me faltava agora!

Uma moto surge na lateral que estou. Não tenho tempo de fechar o
vidro do carro, que é blindado, porque outra moto encosta e o delinquente
encosta a arma na minha cabeça.

As outras motos assaltam os carros à frente.

Tento manter o máximo de calma. Não posso pegar a arma embaixo


do banco, ou ele pode fazer merda, e tem pessoas demais ao redor para
causar um tiroteio. Todos os motoqueiros estão armados. Retiro meus
óculos e jogo no banco ao lado.
— Passa tudo, filho da puta! — ele grita.

Retiro o relógio e anel, entrego a ele.

— Não pense em olhar, vai passando tudo sem olhar! — ele pede. —
Carteira! Vai, vai! — Está nervoso. — Esse caralho tem que parecer um
assalto! Vai, porra!

Que merda ele está querendo dizer?

A outra moto está encostada no vidro do passageiro, o qual está


fechado.

Pego a carteira e entrego a ele.

— A aliança, passa a aliança, porra!

Retiro minha aliança, e entrego a ele também.

O outro motoqueiro bate a arma com muita força no vidro do


passageiro, mas não quebra, é blindado.

— Abre essa porra! — o que está ao meu lado grita.

Abro o vidro do passageiro. Respiro fundo. Isso não vai acabar bem.
Para que esse cara quer o outro vidro aberto, porra?

— Sabia que era você. Carro blindado, Juiz Escobar? Achou mesmo
que isso te ajudaria? — O outro motoqueiro ri. — Valeu a pena seguir cada
passo seu, desgraçado!

— Eu não achei nada. Já dei tudo o que queriam!

Mantenho a calma. Qualquer passo em falso posso causar algo grave.

— Quem diria que um dia estaria cara a cara com filho da puta que
fodeu a vida do meu pai e da minha família.

Tento virar o rosto para ele, mas o que mantém a arma na minha
cabeça impede.

— Não sabe o que está dizendo! — digo.

— Eu prometi ao meu pai que um dia encontraria você, na terra ou


no inferno. Só não contava que o diabo me ofereceria um dia maravilhoso
como este. Todos vão pensar que foi apenas um assalto no trânsito — ele
gargalha. — Tudo tão bem planejado. Estamos vigiando seus passos há
semanas.

Meu celular começar a tocar. Porra, justo agora?!

— Vocês já têm tudo o que queriam.

— Sai daqui. Vai, porra! — ele exige e o que mantinha a arma em


mim sai rapidamente com a moto.

O outro vira a moto e sai.

Encosto a cabeça no banco e respiro fundo. Fecho os olhos e deixo o


ar sair.

Coloco a mão no bolso para pegar o celular.

— No inferno, a gente se vê novamente! — É tudo o que escuto, antes


dele atirar.

Minha mão automaticamente vai para o local atingido. A dor é forte.


Queima muito. Meus lábios estão entreabertos. Olho para os meus dedos,
repletos de sangue, assim como minha camisa branca. O celular em meu
bolso toca sem parar. Não tenho força para pegá-lo.
Preciso de ajuda...

Não consigo me mover. Tento pressionar o ferimento, mas não tenho


forças. A dor está forte demais. As lágrimas escorrem por meu rosto. Não
consigo nem gritar. Um formigamento atinge minhas mãos. Meus lábios
estão tremendo, assim como minhas mãos.

Eu preciso ser forte. Minha família precisa de mim.

Meu Deus, me ajuda!

Viro lentamente o rosto para o lado, o trânsito continua. As pessoas


estão fora dos carros, conversando, parecem nervosas. Algumas olham
para mim, assustadas. Sinto o suor escorrer. O celular não para de tocar...
ele não para.

As motos foram embora.

Preciso de ajuda...

O silêncio se faz em meu celular.

— Levaram nossos celulares! Como vamos pedir ajuda?! — alguém


grita.

Eu quero dizer que tem no meu bolso, mas não consigo. Merda!

— O meu não levaram. Eu escondi assim que vi. Vou chamar a


ambulância, polícia, o que for necessário! — outra voz grita.

Alguém se aproxima do meu vidro e diz:

— Vai ficar tudo bem... Ah, droga, é o juiz Escobar. Meu Deus! Vai
ficar tudo bem. Estão pedindo socorro — é uma mulher que diz
desesperada. Mas eu não consigo dizer nada, e nem me mover.
Aquele filho da puta, eu devia esperar que ele não iria sair daqui sem
fazer nada. Veio vingar o pai que condenei a anos de prisão, um chefe da
máfia, que acabou morrendo dentro da prisão.

Ser juiz criminal, não faz de você apenas um herói para alguns, ele
faz de você um alvo, e você nunca sabe quando será atingido.

Eu preciso dizer a minha família que amo eles, que vão ficar bem... Eu
preciso dizer ao menos um adeus. Eu preciso! Não posso partir, como meus
pais e meu velho amigo Joel, que não puderam me dizer adeus.

Eu não vou viver. Não vou!

Paula precisa saber que ela vai ficar bem e que ela precisa continuar
lutando por nossa família. Ela precisa continuar lutando por si mesma...
Precisa continuar sorrindo... Eu tenho que dizer isso.

Eles precisam saber que vai ficar tudo bem, mesmo que aqui eu não
esteja. Meus filhos precisam saber que eu tenho orgulho demais deles...
Minha menina Daiane, não irei vê-la se formar, e não verei meu David ser
um delegado... Marcos, meu irmão, vai perder mais uma pessoa que é
sangue do seu sangue, ele não merece. Henrique terá de ser forte por todos,
ele vai conseguir, vai trazer alegria, mesmo que chorem.

Eu não vou viver. Não vou!

A dor começa a ficar longe, assim como as vozes ao redor.

Um flashback começa a passar na minha memória, e sorrio


fracamente, revivendo cada momento importante para mim... Até minhas
vistas começarem a escurecer e tudo ficar calmo... Tranquilo.
Dois

Paula Escobar

Dias atuais...

Escobar, se você não sentiu um tremor ao ser citado este


sobrenome, então você não o conhece.

Minha família é composta por homens e mulheres que dão sua


vida para salvar a vida de outras pessoas. Temos o poder em nossas
mãos, mas também temos o perigo na mesma medida. E é desta
forma que venho vivendo nestes longos anos sendo a matriarca
deste clã.

Observo o retrato do Joseph diante da mesa amadeirada de


seu escritório em casa. Sorrio.

— É, conseguimos. Casamos todos os nossos filhos, e até o


abestalhado do Marcos, que achávamos que daria tanto trabalho
por seu jeito arrogante, mas acabou que virou um pai babão e um
marido ciumento. Sei que de alguma forma, de onde quer que
esteja, está olhando por nós, e nos dando a força necessária que
precisamos. — Acaricio sua imagem sorridente. — Agora é somente
paz neste coração aqui.
Faz bons meses desde que minha última companheira de casa,
casou-se. Daiane, minha filha mais nova, se entregou ao amor, assim
como seus irmãos e tio. Cada um em sua casa, vivendo sua vida.
Claro que ainda cobro que tenhamos ao menos um dia da semana
juntos, e mesmo contra a vontade deles, às vezes, comparecem.
Tudo está se encaixando nos eixos, a não ser a dor que nunca vai se
apagar pela morte do Joseph. Sempre soubemos que nunca foi
apenas um “arrastão” – assalto – no trânsito, sempre pensamos que
foi muita coincidência, ele condenar a anos de prisão um grande
mafioso, e todas as perseguições triplicarem naquela época, e com o
passar do tempo, o pior vir a acontecer. Mas vivemos em um círculo
sem escapatórias; quando um problema desta proporção surge, a
melhor coisa é se calar, se fazer de cego, mesmo que seja
imensamente dolorido, pois mexer em algo assim, com grandes
investigações, pode acarretar em mais perdas, e não estamos
preparados para isso, e foi assim que toda a família usou seu poder
e abafamos o caso, mas dentro de nós... dentro de mim, sempre irei
acreditar que foi tudo planejado e que nada foi por acaso, mas tento
sempre deixar esse pensamento de lado, como eu sei que ele faria,
para proteger a família de pessoas que queiram se vingar por
estarmos mexendo em um passado que não deve retornar. É melhor
buscarmos a paz mediante a tudo.

— Mããããããeeee, o príncipe chegou.

E lá se foi a paz que tanto disse.

— No escritório! — grito de volta.

Sou surpreendida por dois dos meus filhos, Henrique, o que


gritou, e David.
— Aconteceu — Henrique diz.

— Aconteceu o quê? Por que essas caras? Meninos, sabem que


sou cardíaca.

— Primeiramente a senhora não é! — David rebate. — E


segundo, como pode esquecer o que aconteceria hoje?

Começo a buscar em minha memória, e então me levanto


rapidamente da cadeira.

— O julgamento mais importante. Como pude esquecer-me? —


Levo a mão ao peito.

Bom, está quase tudo calmo. Por ironia do destino, após anos
do julgamento na qual Joseph como juiz condenou o maldito
mafioso, e o infeliz foi morto na prisão, já era de se esperar que ele
tivesse herdeiros e foi o que aconteceu. O herdeiro dele, que
ocupava o lugar do pai, foi encontrado após tempos de trabalho
árduo da polícia, e hoje foi seu julgamento, e é aí que entra a ironia.
Anos atrás, o pai foi sentenciado a anos de prisão por meu falecido
esposo Joseph Escobar, e hoje o filho dele é sentenciado pelo irmão
do Joseph, o Marcos Escobar.

— E agora? Céus, que não comece tudo de novo. Não agora.

— Código vermelho — Henrique diz e se senta na cadeira


estofada.

— Que diabos é isso, garoto? — questiono.

— Sempre quis falar isso — responde sorrindo.

— O que o imbecil quer dizer é que a segurança a partir de


hoje será triplicada em nossas casas, e nossos homens vão ter
treinamento pesado, assim como nós, e a estratégia de equipe será
refeita duas vezes por semana, para não ter brechas — David
informa em seu tom sério. Meu filho é sempre muito responsável
quanto a segurança de todos. Não apenas por ser um delegado, mas
por entender que não podemos perder mais ninguém. Porém, sinto
que nada é perfeito e tudo pode acontecer.

— Faremos uma reunião hoje com todos da família —


Henrique comenta.

— Certo. Que Deus nos proteja... — digo e olho para a imagem


de Joseph no porta-retratos.

Estamos reunidos na sala de casa. Todos da família, menos as


crianças que estão com a dona Jurema e Marcela, no jardim.

— Foram anos desde a época do papai que vivemos em


constante alerta. Já deixamos brechas para nossos inimigos, e já
estivemos em risco em algum momento a ponto de pensarmos que o
pior aconteceria. Mas hoje não somos apenas a matriarca do clã
Escobar, e seus filhos, junto de seu cunhado. Temos membros
novos, e dentre eles, crianças que não podem se defender sozinhas.
Não é tempo para brincadeiras, ou teimosias. É tempo de sermos
unidos e confiarmos apenas em nós mesmos. O atual chefe da máfia
brasileira com interligação russa e italiana, foi condenado a muitos
anos de prisão por um de nós, e sabemos o resultado de mexer com
um deles — Henrique fala parado ao centro da sala. Seu tom é muito
sério, e meu filho sem brincadeiras é porque a situação é
complicada.

Marcos leva as mãos ao bolso e para ao lado do Henrique e do


David.

— Não confiem em ninguém além da família. Não saiam sem


seguranças. Não sejam heróis — Marcos avisa em seu tom
autoritário. — Talvez sejam tempos sombrios, então está na hora de
voltarmos ao que um dia fomos. Está na hora de sermos apenas os
Escobar, e não mais os membros da Lei que são apenas destacados
por suas famílias e belezas. É hora de usufruirmos novamente dos
poderes que adquirimos ao longo dos anos.

Nós mulheres estamos fazendo treinos de luta corporal e aulas


de tiro. Bom, irei começar essa semana. Já sei atirar, mas nada como
reaprender algumas coisas. Nunca gostei de ter que usar uma arma,
mas pela minha família sou capaz de tudo.

— David, eu não posso ficar com seguranças dentro da


faculdade. Assim como a Beatriz também não pode ter homens de
preto na sua cola dentro do banco ou a Paula, Ana e Daiane terem
gente seguindo-as a cada audiência, julgamento... Isso é loucura. Eu
compreendo tudo isso, mas é absurdo. Além do mais, tem a tia da
Bia, a avó do Jacob, e não podemos esquecer da Sophie que estuda, a
Yasmim que começou a ir à escolinha, as babás das crianças... É
loucura. O que será da gente se tudo dependermos de segurança ou
vocês? — Liziara diz ao esposo, e entendo seu ponto, mas também
sei que, pela cara do meu filho, não existem discussões.

— Liziara, se eu tiver que colocar segurança dentro do


banheiro que usarem, será feito. Não estamos abertos para
discussões quanto a isso. A partir de hoje teremos milhares de olhos
em nós, queiram vocês ou não. Aprendam a lidar com isso, se
adaptem. Todos aqui sabem o preço que é ser um Escobar, ou um
Casagrande como o Jacob, que tem ficado com casos complicados e
graves como promotor. Não temos escolhas.

— Gente, é loucura tudo isso... Dentro de casa é tanto


segurança, membros novos na equipe, isso não é vida — Ana Louise
fala e sinto o peso da tristeza em sua voz.

Eu sei exatamente o que elas sentem. Passei por tudo isso, e o


pior que no final, por uma teimosia do Joseph que deixou brechas, o
perdemos. O pior de tudo é saber que, às vezes, o esforço não vale a
pena.

— Eu estou com medo — Beatriz declara o que todos nós


estamos sentindo, mas não queríamos falar.

— Todos nós estamos, mas vamos passar por isso. Porra,


somos os Escobar! — Daiane diz e Jacob, seu esposo, a olha. —
Somos Escobar e Casagrande, ninguém vai cair, e se isso acontecer
vamos todos juntos, porque seremos um só.

— Daiane tem razão. Precisamos ter a esperança de que tudo


vai dar certo, ou não sei o que pode nos acontecer — falo e eles
concordam.

Meu celular toca e é uma mensagem que me deixa bem


surpresa. Peço licença a todos e vou até a biblioteca.

“Paula, estou de volta à cidade. Pensei em sairmos para jantar


esta noite. Me ligue.

Alessandro.”

Alessandro Santos é um professor e amigo do Jacob que


conheci no meu aniversário em uma boate e desde então estivemos
próximos em alguns eventos. Mas desde o casamento da Daiane não
nos vimos mais. Achei que poderíamos nos conhecer melhor, mas
tudo indicava que ele estava a fim da tia da Beatriz, porém ele
sumiu e descobri através do Jacob que ele havia ido para os Estados
Unidos, estranhei sua partida repentina, mas estou achando ainda
mais estranho seu retorno e convite.

Respondo sua mensagem recusando ao convite. Hoje só


preciso curtir minha família, ainda mais depois desta notícia. Já
basta um drama para hoje, não preciso de outro tipo, com um
homem que some do nada. Cada segundo de agora em diante conta
ao lado daqueles que amo.

— É ele, não é? — sobressalto com a voz da Daiane, que entra


na biblioteca.

Concordo com apenas um sinal de cabeça.

— Jacob falou que ele voltou há uma semana e já está dando


aula na universidade novamente. Mãe, eu sei que sempre digo que
está na hora da senhora recomeçar e procurar ter o seu final feliz,
mas cuide do seu coração, não se deixe levar precipitadamente.

— Não se preocupe, meu bem, está tudo bem. — Eu acho.


Ela sorri e, quando se vira para sair, eu a chamo e ela volta a
me olhar.

— Como está?

— Bem.

— Certeza? — Conheço muito bem meus filhos. Sei quando algo


está os incomodando.

— Mãe, é pecado meu esposo e eu não querermos filhos? Poxa,


não aguento mais essa cobrança da mídia, das pessoas. Que inferno!
Já é um trabalho tremendo conseguirmos dar atenção a Sophie da
forma que ela merece, e olha toda essa merda que vamos viver
agora, e as pessoas olham para mim como se eu fosse minhas
cunhadas ou a Beatriz. Eu não sou elas. Eu não quero ser elas. Mas...

— Se acalme, querida. Não tem que ser igual a ninguém. Seja


você, apenas e exclusivamente você. Não é pecado você e o Jacob
não desejarem ter filhos, afinal, Sophie, por mais que seja filha dele,
tem você como mãe, até mesmo lhe chama de “mamãe” às vezes.
Vocês três já são uma linda e pequenininha família, e não tem nada
de errado nisso. Quando olho para você, vejo uma mulher forte,
determinada, mas com um coração caridoso, humilde e cheio de
amor para dar, e é isso o que importa. Não dê ouvidos ao que as
pessoas dizem. Afinal, ser uma promotora com o seu talento já é um
intenso trabalho, não tem obrigação alguma de colocar outra linda
criança no meio dessa vida intensa, até porque Jacob também é um
maravilhoso promotor, que tem se destacado cada dia mais com
casos grandes. É uma barra pesada demais para dois jovens
carregarem, e estão dando conta, como talvez eu no seu lugar não
daria. Então façam apenas o que tiverem vontade, é um direito de
vocês.

Ela pisca rapidamente. Sei que está se controlando para não


chorar. Minha menina não suporta desmoronar assim.

— Obrigada, mãe. Era tudo o que eu precisava ouvir.

Saímos da biblioteca e nos juntamos com todos na sala e agora


com as crianças também.
Três

Alessandro Santos

Retornei ao Brasil e voltei a dar aula de filosofia na


universidade. Nunca fui de ficar parado em um só local, mas estava
gostando de ficar aqui, porém, desta vez, se fez necessário a minha
ida para os Estados Unidos. As coisas meio que fugiram do controle
e não pude deixar de interferir o quanto antes e dar apoio a quem
precisava.

Quando cheguei tive esperança de falar com a famosa Paula


Escobar, que conheci em uma boate uma vez, e ficamos próximos
depois em alguns eventos, afinal, ela era a sogra de um conhecido,
que se tornou amigo. Eu queria tentar arrumar um modo de
explicar que não queria brincar com ela, como todos devem estar
pensando. Apenas nunca tive um relacionamento sério, e não
pretendia ter, até pagar com a porra da própria língua, e começar a
me interessar muito mais por ela, mas, ao que parece, virou uma
grande confusão; uma outra mulher entrou na jogada, e pelo que
fiquei sabendo, estão achando que joguei com ambas. Caralho, por
isso não me relaciono, é um rolo dos infernos! E agora que estou
tentando explicar um pouco da situação, ela me evita, negando o
convite para jantar e as ligações que fiz ontem, horas depois. Odeio
assuntos mal resolvidos.
— Professor, só mais dois pontos. Eu não posso pegar DP! —
Celma implora e me contenho para não rir.

— Não sou Deus para fazer milagres. Teve muito tempo para
estudar. Sabe que não sou do tipo que dá segunda chance.

Ela bufa irritada.

— Como pode ser tão ruim às vezes? Sempre brinca, xinga na


sala de aula, mas na hora de ajudar um aluno com as notas se
recusa.

Ergo o olhar dos papéis em minha mesa e sorrio.

— Quem tem que fazer notas altas são vocês e não eu. Eu já
passei desta fase, e hoje sou reconhecido como um dos melhores
professores de filosofia, e estou aqui ensinando a vocês. Agora, se
não se esforçam, o problema é de vocês. Não posso pegar a matéria
e socar no cérebro de cada um. Já viu o tamanho desta universidade
e do tanto de alunos que tenho? Se eu for ajudar cada um que não se
preocupa com estudos, estou ferrado. Aqui não é mais o ensino
fundamental, que precisam de babás e não professores.

— Que ódio! Eu vou morrer odiando filosofia.

— Ainda bem que é a matéria e não eu.

Ela me olha irritada e sai da sala.

Porra, amo dar aulas, sou apaixonado pela filosofia, mas tem
horas que meus alunos testam a minha humilde paciência. Sou tão
bom, e tentam abusar disso. É foda!

Pego minhas coisas e saio da sala. Celma me prendeu por


muito tempo implorando por mais dois pontos em seu teste. Até
parece que eu daria! Se dou moleza, montam em cima. Quantas
vezes em aula, ela ficava fazendo gracinhas. Não são mais crianças
que têm que ficar pegando na mão e ensinando o bê-á-bá.

No corredor rumo à sala dos professores e coordenação, dou


de cara com outro aluno meu.

— Professor...

— Se for pedir pontos, eu soco minha cara; e se me achar louco,


soco a sua. — Ele ri.

— Não! Estou com uma dúvida.

— O dia que vocês não tiverem, eu não precisarei trabalhar.


Então, diga.

— O trabalho é para enviar no e-mail e trazer impresso


também? — Coça a cabeça.

— Não. Já tenho preguiça de ler o trabalho de vocês por e-mail,


que é tudo copiado e colado da internet, imagine impresso. Aí é pra
foder comigo!

Ele ri.

— Por isso gosto de você, é sincero e fala sem formalidades.

— Não me agrade, não terá nota a mais no trabalho.

— Nem pensei nisso.

— Bom, garoto. Agora tenho que ir. Um minuto a mais aqui, e


eu me mato.
— Eu já vou. Vim pegar um livro que esqueci. Fui.

Ele sai em disparada para a biblioteca. Tenho certeza de que


este livro é para o trabalho que pedi para ser entregue amanhã.
Essas pestes gostam de fazer tudo de última hora.

Passo na sala dos professores, converso com alguns e depois


vou na coordenação para registrar minha saída.

Desde que me mudei para a capital, estou mais relaxado. Não


aguentava mais ficar na antiga cidade, aqueles alunos iriam causar
minha morte. Não tenho filhos, mulher, ou familiares por perto,
então não tinha mais o que me prender naquele lugar. Tenho um
irmão mais novo e ele mora fora do país, e nosso contato é limitado,
devido ao nosso tempo corrido e outras coisas. Nunca parei por
muito tempo em um lugar por escolha própria... Até agora. Sou
muito disputado quanto a professor, e porra preciso me gabar,
como homem também sou, não é à toa que estou enfiado em um
rolo com duas mulheres, sendo que com uma era apenas
tratamento recheado de educação e simpatia, afinal, sempre fui
assim, confesso que tem vezes que sou menos paciente do que
deveria.

Chego em meu apartamento e vou direto para o banho. Desde


que retornei para a cidade, estou chegando tarde. Estou ficando
muito cansado mentalmente. É muita pessoa testando minha
paciência diariamente.

Saio do banho e visto uma cueca e vou para a cozinha.

— Senhor?
— Puta que pariu! Mulher, quer me matar? Parece um
fantasma, cacete! — Irene me olha assustada.

Esta mulher me acompanha há muito tempo. Para onde vou


carrego-a. Ela é sozinha, e isso facilita minha vida.

— Quer que eu prepare algo?

— Não. Eu me viro aqui. Vai dormir, antes que fique parecendo


uma vovó de cem anos e eu seja denunciado por maus-tratos.

Ela sorri envergonhada.

— Adoro trabalhar para o senhor. Não me importo. Agora que


fica o dia todo fora, quase não tenho o que fazer.

— Arrume um namorado. Se quiser te ajudo — provoco.

— Não. Por Deus, senhor. Não tenho mais idade para isso.

— Tem desejos sexuais, Irene? Se tiver, a idade que se dane! —


Fica completamente corada e tenho vontade de rir, mas me
controlo.

— Ai, senhor, não tem jeito mesmo.

— Irritam a minha pessoa de segunda a sexta-feira e, às vezes,


ao sábado, então preciso irritar alguém para relaxar. — Ela sorri. —
Vai dormir. Sei que estou muito atraente apenas de cueca, e que
tenho um volume desejável na frente, mas estou cansado demais
para te satisfazer.

— Senhor Alessandro! — me repreende envergonhada e rio.

— Sabe que estou brincando. Vai dormir.


— Está bem. Com licença. — Ela se retira e vai para seu quarto.

Abro a geladeira e pego um pouco de salada de frutas que ela


deixou pronta. Estou tão velho ou com a saúde ferrada por
completo, que ela fica preparando coisas saudáveis o tempo todo?
Pelo amor de Deus! Essa mulher precisa rever o cardápio.

Termino de comer, apago as luzes e vou para o quarto, e deixo


apenas um abajur aceso. Deito-me e começo a relaxar. Eu preciso
sair para me distrair, ou vou ficar louco. Pego o celular e talvez eu
tente ligar mais uma vez.

Paula Escobar

Hoje tive duas audiências. Não gosto de audiências que


envolvem crianças. Terminou por volta das seis da tarde a última.

Visto uma legging preta, e uma regata da mesma cor, junto de


uma blusa de moletom cinza. Está frio, para meu azar. Quem tem
ânimo para treinar no frio, merece um prêmio. E para minha
“sorte”, meus treinos começam hoje. Prendo os cabelos em um rabo
de cavalo. Calço o tênis e desço para o primeiro andar. Pascoal, meu
segurança pessoal, já me espera.

— Vamos, antes que eu me arrependa — informo e ele sorri.

Seguimos para o lugar que fica meia-hora de casa sem o


trânsito, pois com ele vira uma eternidade. As meninas me ligaram
dizendo que estão à minha espera. Apenas Daiane e Ana que vão
faltar hoje, devido ao trabalho.
Meu celular começa a tocar e é o Alessandro, mas ignoro as
chamadas. Não sei se estou preparada para começar tudo isso de
novo, vê-lo depois do tempo que ele sumiu, e não sei se estou pronta
para recomeçar, sem pensar sempre no meu Joseph.

Ele envia uma mensagem agora. Abro e ele questiona se


podemos jantar hoje. Que precisamos conversar.

Respiro fundo.

Ele não vai desistir enquanto eu não falar com ele. Concordo, e
ele pergunta que horas pode me buscar, e falo que eu irei até ele,
para me enviar o endereço do local, que assim que eu sair do meu
compromisso informo que horas poderei ir ao jantar.

Chegamos no lugar e vejo o Simon, segurança do Marcos e


Beatriz, no estacionamento; ele faz um cumprimento rápido e
Pascoal vai até ele. Entro mostrando minha carteirinha na catraca,
pois já reativei meu acesso ao local.

Sou informada de onde as meninas estão e vou até elas.

Entro e tem dois instrutores muito fortes, praticando luta


corporal com elas. Liziara é jogada no chão com colchonetes, e
Beatriz é rendida por trás pelo outro instrutor.

— De novo! — um deles grita.

Eu não vou fazer isso. Elas sabem que na minha idade, uma
travada na coluna já era.

— Paula! — Bia diz ofegante e se afastando do homem que a


mantinha presa em seus braços, estou desconfiada de que Marcos
não viu nenhum treino, ou teríamos um problema, já que ele
colocaria o mundo abaixo.

— Oi!

— Olhe só, família completa. Uma honra poder ensinar vocês.


Sou Laerte e este é Frederico — o homem que derrubou Liziara diz.

— Sou a Paula, e não sei se quero participar. — Olho as


meninas suadas, vermelhas. Havia me esquecido do quanto eram
pesados esses negócios.

— Relaxa. Elas estão mais à frente, mas com você


começaremos do início — Frederico se manifesta.

Deixo minha bolsa ao lado da delas.

— Ok.

— Pode usar o Laerte, porque não acredito que conseguirei me


levantar tão cedo daqui — Liziara diz respirando forte.

— Que conforto, minha nora. — Ela ri.

— Preciso de pausa também. Estou dolorida, e sem fôlego —


Bia diz se deitando no colchonete também.

— Parem de ser moles, meninas! Mas daremos uma pausa.


Paula, que tal vermos o que sabe? Fomos informados de que já fez
treinos.

— Sim. Mas faz um tempo.

— Não tem problema. Queremos apenas ver o que sabe, mas


vamos começar totalmente do início. No mais, tente não se matar —
informa Frederico, o mais forte e de olhos azuis; mas o outro
também tem. Estou com tanto medo que até na cor dos olhos estou
reparando para não pensar tanto no que vou fazer.

— Chega! — falo e Frederico se afasta.

Liziara e Beatriz riem.

— Paula, quem diria! Você é uma mulher perigosa. Derrubou


Laerte, e se manteve em pé com Frederico — Liziara comenta rindo
do Laerte no chão.

— Tenho que concordar — Beatriz comenta levantando-se do


chão.

— Bom, leva jeito para algumas coisas como derrubar o


frangote ali, mas para outras tem falhas, porém vamos começar do
zero.

— E por hoje é só, não é? — Eles riem. Laerte, o loiro, se


levanta.

— Sim. Precisamos saber como seria com você. As meninas já


torturamos muito.

— Tenho uma dúvida. Vocês são instrutores de tiros também?

— Sim! — Liziara responde e gargalha.

— No que eu fui me meter? Meu Deus, sou cardíaca! — Todos


riem. Eu mereço!

Pascoal, Alex e Simon estão na porta à nossa espera.


— Certo, Simon, você segue no meu carro. Alex e Pascoal
seguem no da Paula. E nós iremos no da Liziara. Precisamos de um
tempo juntas, sem vocês ouvindo cada assunto — Beatriz declara.

— Olha só, aprendendo a ser autoritária como o Marcos. Isso


merece uma comemoração — Lizi brinca, deixando Beatriz
vermelha.

Sorrio.

— Vamos, meninas. Ainda não acredito que fiz isso. Vocês vão
acabar comigo.

— Vamos nada, Paula — Beatriz diz sorrindo.

Estou sentada na frente ao lado da Liziara, que dirige. Beatriz


está no banco de trás. Olho pelo retrovisor, e vejo os dois carros dos
seguranças seguindo o nosso.

— Eu quero banho, cama e nunca mais vir para isso — Beatriz


fala.

— Nem me fale. Quando penso que estou avançando, eles me


fazem retornar dois passos — Liziara comenta atenta a avenida.

— Eu fiz uma vez e já quero me trancar no quarto e chorar —


brinco.

— Nossa, nem me fale. Pensei que iria ficar mais tranquilo com
o tempo, mas que nada! Faculdade de manhã, treinos à tarde,
trabalhos, David e as meninas à noite. Vou endoidar. Mudei os
horários de tudo, mas não adiantou. A babá ajuda, mas não alivia
tanto, porque as meninas querem sempre minha atenção e quero
dar a elas.

— Não endoida não. Se consegue aguentar um Escobar em


casa, então consegue tudo — comento e acabamos rindo.

Da minha casa para o local do treino é meia hora, mas para


retornar demora mais, devido ao fato de muitas ruas serem
contramão, então temos que pegar a avenida, uma parte da rodovia,
e cortar por dentro para sair no centro e voltar para casa. Quando
penso que vão melhorar a cidade, quem a comanda só complica.

Ficamos conversando para matar o tempo, já que para


complicar uma chuva forte iniciou assim que pegamos a rodovia, o
que resultou em lentidão no trânsito.

Meu celular toca e é o Pascoal. Olho pelo retrovisor,


preocupada, e vejo o meu carro que ele está junto do Alex.

Atendo.

— Senhora, não achamos certo ficar aqui nesse trânsito para pegar a
saída lá na frente. Vamos mudar a rota. Saiam pela primeira à direita, e
sigam em frente. Estamos logo atrás. Assim que saírem, eu irei seguir na
frente de vocês, e o Simon vai ficar atrás. Não tem como continuarmos
seguindo assim.

— Certo. Vou avisar aqui.

Desligo.

— Lizi, pegue a primeira saída à direita. Simon vai seguir atrás,


e Pascoal vai a nossa frente. Estão achando perigoso ficar aqui e
realmente está. Pouca iluminação, chuva forte. Melhor prevenir.
— Tudo bem — Liziara diz.

— Nossa, vamos dar uma volta. Indo por aqui, vamos seguir
sentido ao escritório do Marcos, que é bem no centro, e de lá vamos
ter de cortar sentido à delegacia, para ir para casa. Hoje não é o
nosso dia — Beatriz declara.

— Não. Literalmente não é. Alguém mais com fome? — Lizi diz


e acabamos rindo.

— Eu não gosto de andar por onde não conheço — declaro.

— Nem me fale. Nunca vim por aqui. Vou literalmente segui-los


— Liziara comenta.

— Eu já vim por aqui. Marcos corta por aqui, quando não quer
pegar trânsito, mas ele não é fã de passar aqui à noite.

— Que conforto, Beatriz! — Liziara reclama e sorrio.

Liziara pega a saída à direita, e é cheio de curvas e matos.


Agora entendo por que o Marcos não gosta.

Pascoal corta nossa carro, ficando a nossa frente e piscando o


farol, enquanto Simon permanece atrás.

O celular da Bia toca e ela diz ser o Simon.

— Está no viva-voz — ela fala.

— Bom, não queremos preocupá-las, mas pedimos para sair, porque


tem quatro motos estranhas que estavam na nossa cola e olhavam muito
para o carro do Pascoal, que seria o da senhora Paula. Por favor, fiquem
atentas a qualquer sinal nosso.
— Essa noite pode melhorar? — Liziara declara irônica.

Olho pelo retrovisor e vejo faróis atrás do Simon, e um aperto


se instala no meu coração. Meu Deus!

— Senhoras, estão nos seguindo. É oficial. Eu vou mantê-las na linha,


e irei chamar o Pascoal pelo ponto. Não desliguem, o contato agora é
fundamental.

— Certo — Beatriz declara e me olha assustada.

Escutamos ele falar com o Pascoal e dar as instruções, para ele


acelerar e cortar na primeira saída à esquerda. Beatriz diz que este
caminho retorna à rodovia e nos leva sentido à fazenda. E ele diz
que sabe e é isso mesmo. Não podemos entrar na cidade porque
pode ser pior.

Uma das motos acelera fazendo um barulho forte. Liziara


acelera o carro e segue o Pascoal.

— O que vamos fazer? — pergunto.

— Vamos manter a calma. Alex vai fazer o procedimento de alerta


máximo, Pascoal pediu a ele. Os senhores Marcos, David, Jacob e Henrique
vão ser avisados. Outros seguranças vão vir ao nosso encontro. Por
enquanto, só podemos agir se eles tentarem algo, ou colocaremos tudo a
perder.

— Caralho! — Liziara grita e olho assustada para ela e depois


para a frente e entendo seu desespero.

— Isso, por acaso, significa que estão tentando algo, Simon? —


indago nervosa.
Mais duas motos saem da saída à esquerda, e fecham o carro
do Pascoal.

— Sim. Senhora Liziara, preciso que confie em mim.

— Nessa hora vem pedir confiança? Fala logo! — ela grita.

Uma moto vem de trás e passa muito rente ao nosso carro.


Beatriz fecha os olhos.

— Não para. A senhora não para! Acelera. Vou chamar a atenção


deles, e quando eu piscar o farol duas vezes seguidas, vai entrar na faixa da
direita e cortar o carro do Pascoal. Não olhe para trás.

— Nos filmes que assisti, quando mandam não olhar para trás,
é porque vai dar merda! — Beatriz fala com a voz tomada pelo
pânico.

Liziara faz o que ele pede, assim que ele da ré em cima das três
motos, e elas jogam para a lateral. Então pisca o farol e ela corta o
carro do Pascoal, e agradeço a Deus por não ter outros carros aqui.
Seriam mais vidas em risco. A chuva intensifica. As duas motos
próximas do Pascoal, agora seguem a nós, e vejo apontarem algo,
mas não preciso ver direito para saber o que é.

— Liziara, joga para a direita agora! — grito e ela o faz.

— Senhora, estão armados. Vão atirar. Acelera. Só acelera. Está


chegando reforço.

— Mais seguranças? Ou a polícia? Eu ficaria com um


helicóptero! — Liziara declara desesperada.

— Não — ele é seco na resposta.


Vejo pelo retrovisor uma moto jogar em cima do carro do
Pascoal e atirar, e o Alex se colocar para fora pela janela e revidar
com tiros também. Simon está cercado e o pior acontece. Tiroteios
disparam para todos os lados. Meu celular e o da Liziara tocam ao
mesmo tempo. Marcos e David estão ligando. Atendemos e
colocamos no viva-voz.

— Não podemos pegar a esquerda, porque vamos para a


rodovia novamente, e vamos colocar todos ali em risco no trânsito.
E o plano de seguir para a fazenda é pior ainda, não temos saída.
Eles não estão para brincadeiras. — Liziara começa a tremer ao
volante.

Merda! Eu já passei por isso com o Joseph e sei bem como é.


Seguro o celular da Liziara e o meu.

— Estão no viva-voz — declaro.

— Certo. Já estamos a par de tudo — David tem a voz firme, está


em seu modo delegado.

Olho para toda confusão e, pelo visto, pode piorar.

— Caralho! Vai, vai! — Simon grita e talvez seja com o Pascoal


ou o Alex no ponto deles.

— Cadê o reforço? Eles vão acabar com a gente. Estão atirando.


Merda! — falo.

— Quem está dirigindo? — David questiona.

— Liziara.

— Merda! Não tem experiência... Porra! — Ele faz um curto


silêncio. — Certo. Não parem. Só não parem. Aconteça o que
acontecer, não olhem para trás.

— Ela pode fazer — declaro. Sei o porquê ele citou a


experiência.

— Mãe...

— Liziara pode e vai fazer essa porra! — Marcos grita.

— O que eu vou fazer? Meu Deus!

— Acelera tudo o que puder, e comece a fazer ziguezague na pista.


Precisa confundi-los. Beatriz e Paula precisam ser os olhos laterais da
Liziara! — David ordena.

— Chegou o reforço! — Simon grita. E a comunicação cai.

— Meu Deus, o que aconteceu? — Beatriz pergunta apavorada.


Ela faz menção de olhar para trás, mas recua.

— Não olhe para trás. Eles disseram para não fazermos isso.
Vai ficar tudo bem — digo e ela concorda.

Liziara começa a “costurar” a pista e em alta velocidade. A


chuva não melhorou. O pneu “canta” a cada deslize.

Esse inferno de novo não.

Meus olhos seguem para o retrovisor à direita, e meu peito


gela. Agora sei quem é o reforço. Olho para a Beatriz e meu olhar
deve ter entregado o meu desespero. Os olhos dela se enchem de
lágrimas.

— Marcos, você mandou ninguém tentar ser o herói — ela diz


com a voz trêmula.

— Eu estava aqui perto — é a única coisa que ele diz.

Uma moto entra na nossa frente e para, mas Liziara não, e


segue em alta velocidade, atingindo-o, fazendo a moto com o piloto
voar, o impacto foi forte e faz o carro ir para a direita e começar a
rodopiar, devido a pista molhada.

— EU PERDI O CONTROLE DO VOLANTE. EU PERDI A PORRA


DO CONTROLE! — ela grita.

— Liziara, larga o volante. Deixa o carro seguir, ele para, confia em


mim, amor! — David grita e sei que é o que ele deseja que aconteça,
porque nem sempre para na melhor circunstância um carro assim,
mas eu desligo sua chamada e a do Marcos, e simplesmente fecho os
olhos.

Elas gritam. Escuto disparos, chuva, motos, o vidro traseiro é


atingido algumas vezes, é blindado, mas é como se não fosse, é como
se cada tiro estivesse nos atingindo. Então escuto um estouro e
sinto um aperto forte no coração.

O nosso carro para próximo a um barranco. Não sei por quanto


tempo ficamos assim. Beatriz começa a chorar de soluçar. Liziara
não chora, ela tem outra fisionomia. Ela simplesmente segura o
volante, testa o carro e começa a dirigir, não se importando com os
disparos que continuam, com as motos que ela joga o carro e atinge,
levando-as ao chão. Beatriz está em pânico. Liziara pega uma saída,
e tenho medo de olhar para trás.

Um carro corta o nosso, nos assustando, mas é o Pascoal, que


pisca o farol. Beatriz solta o cinto e se vira para trás.

— Cadê eles? As motos sumiram. Cadê eles?! — ela grita. —


Liziara, para o carro, eu quero o Marcos.

Resolvo olhar e vejo o carro do Simon vindo atrás... Mas nada


do carro do Marcos.

Liziara começa a chorar. Mas não para de dirigir.

— Eu vi. Bia... Não podemos parar.

— O QUE VOCÊ VIU, LIZIARA?! — Beatriz grita.

— Explodiu. Merda. Eu vi o clarão. Eu vi.

Ligo para o Simon, e ele atende.

— Senhora, apenas siga o Pascoal. Vamos para casa. Essas são as


ordens.

— Simon, cadê o carro do Marcos? Cadê as motos?

— Apenas sigam. Por favor. — Sua voz é fria e ele desliga.

— Liziara, meu anjo, o que você viu? — pergunto tentando ser


calma.

— Eu abri os olhos e escutei o estouro e vi a explosão ao longe


enquanto rodopiávamos. Eu não quis pensar o pior, e por isso
continuei a dirigir. Eu não quis olhar para trás... eu não quis.

— Não. Não... Nããão! — Beatriz berra aos prantos.

Não tenho reação. Apenas sinto as lágrimas caírem.


Estamos sentados na sala. Simon, Pascoal e Alex assim que nos
deixaram em segurança, saíram em disparada.

Liziara chora nos braços do David, e Beatriz é consolada pela


Daiane e a Ana.

Não sabemos o que aconteceu. Simon declarou que quando ele


viu nosso carro naquele estado, ele não viu mais o carro do Marcos,
pois estava atirando contra as motos, e tentando tirar eles do
caminho. Outras motos surgiram e ele começou a distraí-las. O
Pascoal e o Alex cortaram a visão dele, enquanto tentavam derrubar
algumas motos, ou imaginavam que teria acontecido o pior com
nosso carro. Até que viu a explosão no barranco a distância, mas
quando viu nosso carro seguindo novamente, percebeu que
estávamos bem e priorizou o comando do Marcos que era: “Se algo
acontecer, não volte por mim. Salve elas e vão para casa”, e esta foi a
maldita frase que o Marcos disse, após desligar o contato com o
Simon.

Henrique entra com o Jacob. E olhamos com esperança, eles


tinham ido tentar alguma informação, neste longo tempo que
estamos aqui à espera.

— Nada. Tem muita ambulância, bombeiro indo para onde


tudo aconteceu. Não conseguimos falar no celular dele... Por que ele
foi bancar a porra do herói? Ele vai voltar com vida, para eu matá-
lo! — Henrique diz nervoso.

— Eu quero o meu marido. Eu preciso dele! — Beatriz chora


sem parar.

— Não vamos perder a esperança. Está cheio de repórteres no


local. Vou cuidar de abafar isso, porque pode piorar tudo. Os
bombeiros vão nos informar se algum carro foi visto em meio a
explosão. Simon e Luciano estão tentando rastrear o carro do
Marcos, e o Alex e Pascoal estão tentando coletar informações do
que foi tudo isso e quem mandou esses caras. Estefan está rondando
aos redores com mais equipes para ver se tem rastros de algo —
Jacob declara.

— Eu preciso ir. Posso conseguir essas informações mais


rápido — David diz e Liziara concorda. Ele deixa um beijo nela. —
Henrique fique com elas, está muito nervoso. Não precisamos de
dois estourados agora. Jacob, vem comigo.

Eles saem. Liziara olha para o Henrique e ele diz:

— A culpa não foi sua, Liziara.

— E se ele tentou ir nos ajudar quando perdi o controle, e


acabou...

— Não termine isso. Não foi sua culpa! — Ana fala e se


aproxima da Liziara abraçando-a pela lateral.

— Ninguém teve culpa, além dos que estavam na moto. Estão


me entendendo? Ninguém vai se culpar por essa tragédia. Ninguém!
— digo firme.

A porta da sala se abre e todos olhamos. Meus olhos


arregalam.

— Alessandro?!

— Jacob falou que eu podia entrar. Eu vi todo o noticiário, eu


sinto muito... No que posso ajudar?

Essa frase me faz desmoronar, porque agora a ficha


literalmente caiu. A história se repetiu.

Alessandro se aproxima e me abraça, e eu permito. Nessa hora,


não consigo mais pensar em nada.

— Porra, por que ele tinha que ser o herói?! — Henrique chuta
a mesa de centro que voa em direção à parede próxima marcando a
parede e quebrando o vaso em cima dela. Então vai para o chão, e
deita cobrindo o rosto. Ana vai até ele.

— Ele quis ser o herói, porque eu perdi o controle do carro. Ele


quis nos ajudar. Eu tenho certeza. Eu fiz isso a ele. Eu fiz — Liziara
diz e sai em direção à porta da sala, então abre e sai correndo.
Daiane corre atrás dela. Beatriz se senta no chão e leva a cabeça
entre os joelhos e treme enquanto chora. Olho para o Alessandro
que me mantém em seus braços.

— O que eles declararam no noticiário?

— Que foi... — Ele me olha preocupado. — Que foi uma


perseguição aos Escobar, segundo o que foram informados, e que...
— Fica em silêncio.

— Fale! — imploro.

— Marcos estava dentre os Escobar, e o carro dele estava na


explosão junto de algumas motos. Não sabem mais nada além
disso...

Não vejo mais nada. Sinto meu corpo ficar leve, e paro de
escutar qualquer coisa.
Quatro

Paula Escobar

Sabe quando parece que você está revivendo um dia ruim?


Estou exatamente assim. É como se o passado tivesse retornado,
mudando apenas sua vítima no meio da tragédia. Olho o noticiário,
e meu coração está despedaçado ao ouvir que era o carro do Marcos
e que meu eterno menino, não foi encontrado e isso me agonia
ainda mais.

Assim que acordei do meu desmaio, só queria notícias boas e


acreditar que tudo foi um sonho, mas não foi. Já é madrugada, e
nada do Jacob, David e Simon retornarem, ou qualquer outro que foi
em busca de notícias. Liziara se acalmou um pouco e trouxe as
meninas para cá, e elas dormem junto das meninas da Ana que
também resolveu que o melhor é todos ficarem juntos. Jaqueline e a
avó do Jacob estão vindo para cá. Sophie está na casa de uma
amiguinha, e a Daiane conversou com os pais da menina, e
concordaram em cuidar dela sem problema algum. A compaixão de
todos não me gera paz, conforto. Isso traz pavor, porque é como se
todos estivessem pensando o mesmo que eu: a história se repetiu.

Beatriz está agarrada ao Arthur, que não queria ficar com


ninguém. O pequeno deve ter sentido tudo. Ela está isolada em um
canto da sala, e a cada instante enxuga as lágrimas. Pobre jovem, eu
sei o que é isso. Eu passei por esse mesmo inferno.

— Chega! Eu não irei ficar de braços cruzados! Que se foda o


que estiver acontecendo! Cansei dessa merda! — Henrique brada
nervoso. Pega a arma que ficou no sofá e coloca na sua cintura.

— Henrique, não. Por favor. Não vou suportar mais um nessa


loucura! — imploro a ele.

— Mãe, ninguém vem com notícias, então eu irei atrás.

— Amor, por favor, escuta sua mãe. Henrique, olha todo esse
clima. Suas filhas precisam de você e eu também. Por favor... — Ana
pede chorando.

— Desculpa, minha linda... Eu preciso fazer algo. Eu amo você...


Amo todos vocês. — Deixa um beijo na testa da esposa e começa a
caminhar em direção a saída.

Alessandro está no celular digitando algo muito rápido.


Quando nota que estou olhando, guarda o celular.

— Henrique Escobar, eu disse não! — peço nervosa.

Ele não me escuta e abre a porta, mas a figura do David e Jacob


aparecem. Todos nós olhamos para eles. Henrique dá passagem e
encosta na parede.

A aparência dos meus meninos não é nada boa. Não... Não...

— Não encontramos nada. A mídia está caindo matando em


cima. Jacob já acionou os contatos dele, para abafarem o caso, ou
pode piorar. Quem fez isso não foi idiota, mexeu com o ponto fraco:
vocês. O carro era do tio, mas nada dele. Não sabemos o que
aconteceu. Meus homens estão investigando. Eu vim... Eu vim
porque não consegui ficar lá. Não dava — David diz.

Jacob se aproxima da Daiane, que apareceu na sala, então a


puxa para seus braços. Beatriz se levanta chorando, e entrega o
Arthur a Ana.

— Eu não posso ficar aqui. Ele tem que estar vivo. Ele está em
algum lugar. Ele tem que estar. — Ela começa a caminhar para sair,
mas Henrique impede sua saída.

— Beatriz, não tem o que ser feito agora. Temos que esperar!
— David fala autoritário.

— NÃO VOU ESPERAR. VOCÊ TEM IDEIA DO QUE ESTOU


SENTINDO, PORRA? — ela grita.

— Eu tenho. Eu perdi o meu esposo, e ainda tenho que fingir


para todos os conhecidos que acreditei na porcaria do tal do assalto
no trânsito. Então, sim. Eu sei exatamente o que está sentindo. Mas
mesmo na pior, eu fiz de tudo para ser forte pelos meus filhos. O
Arthur precisa de você, então não irei deixar que saia como uma
louca por aí. Nem que para isso, eu tenha que amarrá-la na merda
de uma cadeira! — falo em um tom que achei que jamais usaria com
ela.

— Ninguém vai me impedir, Paula! — Ela me dá as costas.

Henrique segura seu braço, e ela o puxa com força. Empurra


ele, abre a porta. Luciano, segurança do Henrique, barra a sua saída.

— Senhora, não pode sair. São ordens do Simon, para que


nenhuma de vocês saia mais. Até que ele retorne. Ele acabou de
informar.

— Foda-se o Simon! Não me interessa, eu vou sair, e vou atrás


do meu marido, porque ninguém vem com uma notícia, são sempre
as mesmas coisas, então saia da minha frente, porque eu esgano
você...

— Acho melhor se acalmar, Delícia...

Caio sentada no sofá e choro sem parar. Liziara se ajoelha e


começa a chorar de soluçar. David se aproxima dela e a abraça.
Alessandro se aproxima e passa o braço ao meu redor. Daiane
esconde o rosto no peito do marido. Ana se aproxima de mim
carregando o Arthur, e segura a minha mão. Henrique não tem
qualquer reação, além de olhar para a porta.

Ele entra acompanhado do Simon, e Beatriz se joga em seus


braços.

— Marcos... — Ela chora em seus braços e ele a aperta com


força.

Obrigada, meu Deus!

Ele é abraçado por todos nós. Então se senta no sofá. Está


machucado e sujo. Daiane correu para pegar as coisas de primeiros
socorros.

— O que diabos aconteceu? — Henrique finalmente indaga.

— Eu vou contar tudo... Mas antes, preciso agradecer muito ao


Simon. Ele cumpriu o que me prometeu, mas depois foi ao meu
encontro. Obrigado.

Simon apenas assente.

— Senhor, preciso ir. Vamos reajustar a segurança da casa.


Tem muitos repórteres ao lado de fora. Depois precisamos
conversar. — Ele se retira.

Beatriz, agora com o filho no colo e ao lado do esposo, espera,


assim como nós, sua explicação. Marcos olha para o Alessandro e
ele se levanta.

— Bom, fico feliz em saber que está bem. Qualquer coisa


contem comigo. Este é um momento familiar... É melhor ficarem
apenas vocês — Alessandro diz e sorri.

— Obrigada, por tudo... De verdade — falo e ele assente, então


se retira.

Daiane cuidou dos ferimentos no tio, enquanto apenas


observávamos em silêncio. Assim que ela terminou, Marcos
respirou fundo e começou a falar:

— Quando vi que o carro de vocês começou a rodopiar, eu


fiquei louco, e pedi a Deus que não rolasse o barranco. Eles
começaram a atirar na direção de vocês, e eu sabia que isso daria
merda maior, mesmo o carro sendo blindado. Então chamei a
atenção deles, comecei a atirar e deixei que me vissem. Meu carro
tem proteção de Insulfilm, então quando abri o vidro para atacá-los e
viram quem eu era, começaram a vir para cima de mim, porém
tinham que passar pelos seguranças. Nessa hora, outras motos
surgiram, e dali nada de bom sairia. Foi quando eu acionei o Simon,
e disse a ele que salvasse vocês e não a mim.

— Foi minha culpa. Eu disse. Eu perdi o controle e você quis


ajudar... Marcos, me perdoa... — Liziara diz com a voz trêmula.
Seguro sua mão e acaricio.

— Querida, não foi sua culpa! — digo a ela.

— Paula, tem razão. Você foi bem. Não se culpe — Marcos diz a
ela.

— Continue! — Henrique pede com a voz séria, sentado agora


em uma poltrona.

— Dei ré em alta velocidade, e quando acertei algumas motos,


outras tentaram passar por mim, nessa hora eu tive que pensar
rápido. Se eu deixasse eles virem na minha direção, morreria,
porque daria espaço para me matarem, mas se fizesse com que eles
passassem, matariam vocês, pois o carro estava perdendo a força e
vi que pararia. Eu poderia retornar para a rodovia, mas colocaria
muita gente em risco. Foi então, que joguei o carro em direção ao
barranco, porque sabia que seguiriam a mim, já que não
imaginariam que eu faria tal loucura e na velocidade que estavam e
descontrolados, eles não teriam raciocínio para o que viesse.
Quando joguei, pulei, mas o impacto foi forte, e acabei rolando pelo
barranco, só lembro de motos voando, um estouro muito forte, e ver
meu carro indo em direção ao matagal abaixo. Eu acho que bati a
cabeça em uma pedra, não sei, e apaguei. Simon me encontrou,
porque eu fiquei entre umas árvores, enquanto procuravam na
direção que o carro foi parar, por isso não me encontravam.
— Meu Deus! Você está bem mesmo? Precisa de um médico.
Você é louco. Por que fez isso? — indago com a voz trêmula.

— Sim. Estou bem. E fiz porque faria qualquer coisa por vocês.
E deu certo. Simon contou que, quando a explosão aconteceu, as
motos começaram a sair, vocês voltaram a dirigir, alguns tentaram
atacá-las, mas seguiram sem olhar para trás. Eu faria qualquer
caralho que fosse para vocês ficarem bem. Eles não queriam alguém
específico, eles queriam qualquer Escobar.

— Está realmente bem? — Henrique pergunta e se levanta.

— Sim. Já disse que estou.

— Ótimo... Agora me fale que caralho tinha na cabeça de ser a


merda do herói? Você foi o primeiro a dizer para ninguém ser, mas
na primeira oportunidade tenta ser. Sabe o que é pensar que
poderia ter perdido o homem que tenho como segundo pai? Não.
Claro que não sabe, ou não teria feito essa merda. Mais equipes
estavam a caminho, e você cancelou tudo. David estava se
aproximando e você pediu para ele vir para cá. — Henrique aperta
as mãos em punhos.

— Eu sei o que fiz. Eu fiz por elas. Aquilo não ia acabar bem.
Quanto mais estivessem lá, mais merda aconteceria. Era isso ou
foder tudo!

— Mais merda? Olhe ao seu redor. Agora todos que estiveram


ali vão ter de ir à delegacia prestar depoimento. O caso vai entrar
para a polícia e eu não poderei cuidar, porque a porra do meu chefe
vai estar na minha cola. Você bancou o herói, mas se esqueceu de
que não precisamos de um herói, precisamos de você vivo, porra! —
David grita.

— David, por favor... — Liziara tenta falar, mas ele a olha feio.

— Marcos, eu não tiro a razão do nervoso deles. O que você fez


foi loucura. Estávamos pensando o pior. Eu não poderia vivenciar
tudo isso novamente. Nunca mais faça isso, ou eu mesma te mato. E
precisa ir ao médico! — Olho seriamente para ele.

— Você sabia que poderia sobreviver? — Henrique questiona.


— Você sabia que sairia vivo dessa loucura?

— NÃO. EU SABIA QUE PODERIA MORRER, CARALHO. ESTÁ


FELIZ, HENRIQUE? — Marcos grita alterado.

— Tio... Meu Deus! — Daiane exclama chocada.

— Claro que sabia. Você fez isso sabendo que iria morrer e
nem sequer pensou na família. No seu filho, e sua esposa... Você foi
um idiota! — Henrique esbraveja e sai da sala subindo para o
segundo andar. Ana o segue.

— Marcos, você foi louco, por que fez isso? — Bia questiona
com a voz trêmula e ele a olha, mas não responde.

— Quero falar sozinha com o Marcos — peço e todos saem da


sala sem questionar.

Sento-me ao seu lado, e seguro suas mãos. Analiso seu rosto


machucado, assim como seus braços.

— Henrique está nervoso. Todos estão. Mas eu também estou e


não tiro a razão deles estarem assim. O que fez nunca mais deve se
repetir. Eu pensei que você seria o mais sensato, mas me
decepcionou. Tentar ser o nosso salvador não foi certo. Se continuar
agindo por impulso, como fez para salvar a todos, vai acabar morto,
e sem saber se alguém sobreviveu. Marcos Escobar, você dentro do
tribunal pode ser o juiz mais temido, mas para mim será sempre
como o meu filho, o que criei com amor, dedicação e não irei
admitir de forma alguma que seja um suicida. Não me faça jogar
flores em mais um caixão, porque as que joguei no do seu irmão,
ainda posso sentir o cheiro delas e ver nitidamente seu rosto pálido
e sem vida. Nada está em preto em branco, é tudo nítido. Tudo ainda
dói. Eu deixei que abafassem o caso do Joseph, mesmo que todos
nós soubéssemos que tinha algo por trás, porque eu não queria ter
que ver mais ninguém morto em busca de justiça.

— Paula...

— Não terminei. — Respiro fundo. — Ou vocês todos agem com


prudência, ou eu sumo sem deixar rastros, porque não serei capaz
de enterrar mais ninguém. Não é uma ameaça, é um aviso. Querem
se matar? Então façam isso agora, peguem uma arma e se matem,
mas já deixem um aviso antes, porque não irei pegar nada, saio
desta casa com a roupa do corpo e sumo pelo mundo. Vai doer
menos do que vestir o luto. Vocês têm apenas duas opções: saiam
vivos dessa merda, ou eu desapareço antes que o pior aconteça. —
Seu olhar é firme no meu

— Me perdoa.

É nítido a sinceridade em seu tom. Sei que ter que fazer isso
doeu muito para ele também, eu vi quando olhou para a esposa e o
filho, e quando olhou para nós. Sei o que é ficar sem escolhas, mas
sei que agir sem pensar um pouquinho que seja é bem pior.
— Não é para mim que tem que pedir perdão. Peça aos seus
sobrinhos, que têm você como um pai também, e peça a sua esposa
e filho. Pois a Beatriz quase faz uma loucura saindo que nem louca
para te encontrar. E agora sou eu quem diz: “Não seja o herói”. —
Deixo meu tom mais leve. — Precisa de médico, Marcos.

— Não preciso de médico, é sério quando digo isso.

Me levanto e acaricio seu rosto.

— Tome um banho e vai curtir com sua família. Vou falar com
o David para ver como serão os depoimentos e toda a burocracia.
Jacob está tentando abafar tudo isso. Por ora, precisamos
descansar. A tia da Beatriz e avó do Jacob chegam a qualquer
momento. Então, acho melhor todos ficarem hoje aqui, já que elas
vão vir para cá... Tem mais uma coisa, viram quando Simon o
encontrou?

— Não. Por enquanto melhor assim, depois vamos resolver


isso e mandar parar as buscas. Sabemos o que estamos fazendo.

— Certo. Então vá para o banho.

Ele concorda e se levanta.

— Antes vou falar com eles.

— Faça isso. Preciso ficar sozinha um pouco... Marcos, eu amo


você, não me faça te dizer adeus.

— Também amo você, Paula. Não farei, isso é uma promessa.


— Deixa um beijo na minha testa.

— Acho bom, porque sou cardíaca e sabe disso.


Ele sorri.

— Paula, antes que eu me esqueça. Não quero esse Alessandro


aqui. A partir de agora, todos são suspeitos.

— Ele não é suspeito. Sabe que não.

Saio da sala e vou para o escritório. Assim que fecho a porta


começo a chorar sem parar. Olho para o quadro com a foto do
Joseph e então choro ainda mais. Tudo de novo. O inferno de novo.
Não sei o que estes homens queriam, mas já estão causando
desavenças. Os Escobar não podem ficar um contra o outro. Não
podem. Isso nos enfraquece...

Não sei se conseguirei ser forte o tempo todo ao lado deles.

Para piorar, o Alessandro retornou e está estranho, parece


misterioso. E se o Marcos tiver razão? E se todos forem suspeitos?
Como recomeçar, quando a vida te faz focar nos temores do passado
e te impede de seguir em frente?
Cinco

Paula Escobar

Faz alguns dias desde o susto que levamos por conta da


perseguição e pensamos que o pior poderia ter acontecido. Já fomos
à delegacia dar nossos depoimentos, e o David conversou com o seu
chefe para que possam abafar o caso, e assim não piorar as coisas, e
ele compreendeu. Jacob conseguiu com que a mídia parasse de ficar
comentando sobre tudo. Estamos seguindo quase que normalmente
nossas vidas, com segurança triplicada e desconfiando até mesmo
de nossas sombras.

Estou saindo do meu escritório de advocacia no centro da


cidade, e sou acompanhada por Pascoal, meu segurança pessoal.
Assim que colocamos os pés na rua, vejo duas motos e mais dois
carros, próximos ao meu. Seguranças e mais seguranças. Às vezes
me pego pensando se o Joseph estivesse vivo, se tudo isso estaria
sempre saindo do controle. Muitas vezes penso que sou a culpada
por algo sempre desandar em nossa família, mesmo que em
pequenos detalhes. E se eu fosse mais firme? E se eu tomasse mais
decisões? São tantos “e se”... Olhar para todos e ver que a paz não
reina mais, me dói. Me sinto tão inútil muitas das vezes. Joseph
Escobar saberia como agir, e quais decisões tomar nessas situações.
— Senhora, por favor... — Pascoal diz com a porta do carro
aberta.

Coloco meus óculos de sol e faço um aceno em agradecimento.

Entro no carro e a porta é fechada. Assim que ele entra,


começam a fazer o esquema de segurança, todos em suas posições
seguindo ao nosso carro, que fica no meio dos demais seguranças
que o cercam. Mas, olhando pela janela, além de toda essa proteção,
me perco em pensamentos.

Foram anos ao lado do homem que mais amei na vida. Joseph


era diferente de todos que já conheci. Parece clichê dizer tal coisa,
mas é apenas uma verdade absoluta. Com ele aprendi tanto, e
ensinei muito a ele também. Perdê-lo em um terrível ato de
crueldade é o que mais me dói. Ele foi um grande juiz, e muito
famoso. Mas não foi sua fama ou dinheiro que me atraíram, jamais
seria. Foi o seu caráter e seu jeito brincalhão de ser nos momentos
mais difíceis. Sempre digo que ele me deixou muito mais do que
dinheiro e fama. Joseph deixou filhos maravilhosos, e as melhores
lembranças que um dia poderia ter. É difícil entrar em nosso quarto
todos os dias, como também é difícil olhar cada canto que juntos
tivemos momentos incríveis. Mas muitas lágrimas e dores, eu
guardei para mim, porque meus filhos precisavam seguir adiante
sem ter que a todo instante olhar para trás para ter a certeza de que
eu não desabaria. E seguiram. Hoje eles têm suas famílias, e sei que
o pai deles, de onde estiver, sente um grande orgulho. Eu sinto um
enorme orgulho.

Queria poder dizer que segui em frente depois de tanto tempo,


mas seria ousadia demais dizer isto. Eu estou tentando, e não tem
sido tão fácil. Depois de um bom tempo resolvi dar uma chance para
um recomeço, mas a confusão me deixa desnorteada. E talvez seja
por isso que sempre fujo dos homens... Fujo do Alessandro.

Quando ele sumiu após o casamento da Daiane, pareceu tão


fácil não precisar vê-lo e encarar que algo estava acontecendo, só
que agora ele retornou, e existe tanta coisa em volta disso, muita
confusão, pessoas demais... Uma mulher a mais, a qual admiro
muito e jamais faria algo com que criasse um tipo de inimizade.
Jaqueline é um amor de mulher, e notei o interesse dela ao
Alessandro e, talvez, isso seja um dos maiores motivos por eu ter
ficado mais tranquila quando ele se foi. Só que nem tudo é como
queremos. Mas quem um dia disse que seria?

E no meio de tantas confusões e sentimentos inexplicáveis, só


consigo pensar se posso realmente recomeçar. Não é tão fácil
esquecer um passado que sempre tem algo para recordar, mas já
dizia a música “é preciso saber viver”, eu preciso saber viver, sem
aquele que um dia jurou a eternidade ao meu lado, mas partiu sem
um único adeus. Só não sei se estou preparada para isso, e entender
que posso ser feliz novamente seja sozinha ou com outro alguém.

Meu celular toca me fazendo sobressaltar. Retiro-o de dentro


da bolsa e vejo o nome do Alessandro na tela. É isso o que eu chamo
de “não morre mais”. Resolvo atender e parar de agir
imaturamente. Ele tem me procurado todos os dias desde o terrível
ocorrido e eu tenho fugido sem parar. Ele não merece isso, e eu não
sou assim.

— Oi.
— Fico feliz que tenha resolvido não rejeitar a ligação.

— Alessandro, me desculpe. Tem muita coisa acontecendo. —


Retiro os óculos de sol e respiro fundo.

— Eu sei. Mas fiquei preocupado. Tive informações através do Jacob...


Enfim, como está se sentindo?

Paro para pensar. E não sei. São tantas coisas envolvidas que
simplesmente não sei.

— Não sei... Estou levando como posso.

— Podemos sair para conversar? Isso pode ser bom. Cacete, eu nunca
corro atrás de ninguém. Não me faça te odiar, inferno! — diz rindo e
acabo sorrindo.

— Hoje tenho treinamento... Posso ir depois das sete horas.


Estou saindo mais cedo do trabalho.

— Treinamento? O que é isso? Algum tipo de código para mulheres?

— Não. Eu treino com as mulheres Escobar. Bom, com tudo o


que está acontecendo... Entende?

— Claro. Posso te pegar depois do treino?

— Não! Estarei péssima. Deus me livre! Na verdade, que Deus


te livre disso! E é contramão de alguns locais, pois fica depois da
delegacia do centro.

— Já sei onde é. Não tem problema. Posso te buscar, pois é bem fácil
do meu apartamento até o local. Vai sozinha, ou com todas elas?

— Irei sozinha, bom, com a equipe de segurança... Mas


esquece. Eu volto para casa, tomo um banho, e então te aviso para ir
me buscar.

— Ok. Se prefere assim. Aproveito para resolver algumas coisas


então.

— Universidade?

— Não... Também. Outras coisas. Então me avise assim que sair do


treino, para eu me arrumar e já ficar à espera do seu aviso.

— Tudo bem. Até mais tarde.

— Até. E se cuida.

— Tentarei. Tchau.

Desligo e coloco o celular na bolsa. Olho para o espelho


retrovisor e Pascoal me olha de relance e depois volta a fitar a
avenida.

— O que foi?

— Senhora, com todo respeito, mas não tinha como não ouvir a
ligação, afinal estamos no mesmo carro. Enfim, não acho bom que
fique passando tantas informações ao indivíduo com quem falava.
Até descobrirmos quem está por trás ao ataque, todos são
suspeitos.

— Pascoal, ele é amigo da família!

— O pior inimigo é aquele que já foi seu amigo, pois saberá


todos os seus pontos fracos.

— Bobagem. Confio no Alessandro.


— A senhora confia em todo mundo.

— Isso é uma mentira — respondo nervosa.

— Confia em mim?

— Claro.

— Confia nos demais seguranças?

— Sim. Foram muito bem selecionados.

— Viu? Confia em todo mundo. Eu não confiaria em mim.

— Pois eu confio... — Levo a mão à porta, qualquer coisa viro o


Marcos e pulo desse carro. Merda, eu trouxe a arma?

Ele ri baixinho. Era só o que me faltava, ser piada dentro do


meu carro.

Alessandro Santos

Estou em casa hoje. E porra, graças a Deus, ou seria um


professor assassino.

— Senhor, o que devo preparar para o jantar?

Olho para Irene e sorrio.

— Não jantarei em casa, Irene.

— Mas nem um lanchinho? Não comeu nada o dia todo, ficou


enfurnado nesta biblioteca.
— Os livros são uma boa distração.

— Tem razão. Bom, irei me retirar. Com licença. — Faço um


aceno com a cabeça e ela se retira.

Fecho o livro em minhas mãos e saio da biblioteca em direção


ao meu quarto. Preciso de um banho e, quem sabe, um pouco de ar
fresco, pois realmente fiquei naquela biblioteca o dia todo. Porra, e
só à noite ela foi ver se eu queria algo, eu poderia estar morto
naquele lugar... Irene já cuidou muito mais de mim.

A campainha toca, e para isso acontecer ou é alguém do prédio


ou pessoas autorizadas. Faço uma lista mentalmente de quem
poderia ser e nenhuma me anima, a não ser... não poderia. Estou
querendo contato há dias, não teria a porra da cara de pau de
aparecer aqui do nada.

— Eu abro, Irene... Pelo visto nem está escutando, não é


mesmo? — digo alto e nem resposta tenho. Reviro os olhos e vou até
a porta.

Por que cacete ainda não coloquei olho mágico nessa porta?
Inferno!

Abro e mesmo já suspeitando sou surpreendido.

— O que faz aqui?

— Porra, isso lá é jeito de recepcionar seu irmãozinho mais


novo que veio de outro país?

— Só estou surpreso. Entre!

Ele sorri e entra. Nos abraçamos.


— Felipe, que merda fez? Estava te ligando e não tive resposta.

— Por que pensa isso? E sabe que não sou muito de manter
contato, apenas quando quero.

Ele olha tudo ao redor e caminha em direção ao sofá onde se


deita esparramado.

— Porque eu estive com você há pouco tempo. E você estava


passando por um divórcio, se é que aquela loucura poderia levar
este nome. Estava mais para jogos mortais.

Felipe Santos é meu irmão mais novo e adotivo. Tem 40 anos,


mora há muitos anos na Califórnia, onde era casado com uma louca.
Desde que perdemos nossa mãe, ele foi embora e tem se tornado
complicado.

— Sou um homem livre. A louca da Meg assinou o divórcio.


Então resolvi tirar férias e espairecer.

— Você nunca faz nada por acaso. O que está tramando?

— Porra, custa confiar em mim?

— Bom, quando você é um louco que não parece ter 40 anos,


sim, custa.

— Cansei da Califórnia. Vou investir no Brasil.

— Sei... Quem é o rabo de saia que arrumou aqui ou a merda


grave que está se metendo?

— Sempre pensando o pior.

— Felipe, puta que pariu! Eu saí do Brasil para ir te ajudar


porque a louca da sua ex acusou você de milhares de coisas, e foi um
caralho provar o contrário, porque sua fama de safado não ajuda.
Agora você vem para o Brasil na maior cara de imbecil e quer que
eu acredite que não têm merdas por detrás? Difícil! Depois do que
presenciei nessa porra de divórcio, eu espero só merdas.

— Não posso querer ficar mais próximo de você? — A ironia


em seu tom me irrita.

— Fale de uma vez que merda faz aqui! — peço mais alterado.

— Me mandaram para cá. Tenho umas coisas para resolver.

— Quando vai desistir dessa merda? Você tem a porra de uma


profissão de sucesso, para que continuar nessas merdas?

— Eles são minha família — declara com firmeza e é nítido a


irritação em seu tom.

— Você chama aquela merda de família? Você é um cirurgião


plástico de sucesso. Não precisava disso, Felipe.

— Aconteceu. Eu também me encontrei nisso. Eu nunca julguei


suas escolhas, não faça isso com as minhas, porra!

— Porque eu não faço escolhas que possam me matar! — grito.

— Não? E andar com os Escobar e o Casagrande não é uma


escolha de risco? — Ele fica de pé.

Dou um passo em sua direção. Que merda ele está querendo


dizer?

— Você não vai fazer nada. Se tentar algo contra algum deles,
eu...

— Você o quê? Vai me matar? Sabe que não faria isso, porque
no fundo me ama e quer meu bem. E eu também amo você e quero
seu bem. Sei de tudo o que está acontecendo com eles. Caia fora,
irmão! Saia dessa loucura, porque você vai ficar na mira!

— Foi por isso que veio? Você tem algo com essa história toda?
— Sinto meu sangue gelar e a raiva me dominar.

— Eu? Sou apenas uma pessoa que não dita as ordens! —


debocha.

— Você é um filho da puta! — Meu tom é elevado novamente.

Ele retira a arma do cós da calça e joga no sofá.

— Estou aqui para te proteger.

— Não preciso de sua proteção, Felipe. Tire essa merda do meu


sofá e suma daqui.

— Qual o preconceito? Você também tem.

— Eu sei o que faço. E sei quando usar e se uso é por culpa do


maldito inferno que você entrou! — rebato.

— E porque consegui que te liberassem de forma mais rápida.


No fim, você precisa de mim, Alessandro, e é tão perigoso quanto eu,
basta apenas pisar em falso com você, que já se estoura.

— Não preciso de você. O que tenho para fazer não dependo de


você — declaro.

Ele ri.
— Sabe, tudo isso acontecendo com eles... Fiquei pensando até
que poderia ser você. Afinal, da última vez que nos vimos, você
enfrentou muita adrenalina para me ajudar e pareceu gostar.

Olho com raiva para ele, mas no fundo o desgraçado sabe que
quero o bem e a proteção dele.

— Não! Não tenho motivos para fazer essa merda toda.

— Será? Eles já sabem quem é você? Ou melhor, quem era


nosso pai?

— Cale a boca! Não toque nesse assunto! — Fico mais próximo


ainda.

— Bom, eu no seu lugar, teria motivo de sobra para querer me


vingar. Certo de que nosso pai não valia nada. Depois nossa mãe
morreu... muita coisa aconteceu. E agora você se aproximou deles e
tudo isso acontecendo. Será mesmo que você é inocente? Preciso
saber para ajudá-lo — ele está provocando, quer informações, está
jogando sujo. Conheço bem meu irmão.

— Vai se foder! — xingo, mas minha vontade é de socá-lo.

— E por que queria saber onde a Paula Escobar treinaria?

— Como você... Caralho, grampeou meu telefone?

— Sou competente, fazer o quê. — Dá de ombros.

— O que faço ou deixo de fazer não diz respeito a você. Agora


some daqui e não faça nada que eu não faria.

— Ah, deixa de ser rabugento! Quero comida. Estou com fome.


Afinal, cheguei de madrugada, e a comida do hotel que estou é
péssima. Cadê a Irene? — está mudando de assunto. Modo bipolar
ou distração está ativado.

— Que bom que lembra daquela que foi uma mãe para você
antes de sumir pelo mundo e ser duas caras! — acuso sem nenhuma
dó.

— Quanta revolta. Vê se transa hoje no seu encontro com a


Paula. Mande um “oi” da minha parte... Melhor não. E se eu fosse
você, não diria de que família veio. Ao que parece, são muitos
vingativos e cismados. Ah, vi a tal Ana Louise, esposa do Henrique
Escobar, andava pela cidade antes de vir para cá. Bela moça e bem
simpática, quando esbarrei nela, propositalmente, claro.

Eu vou matar esse cara. É sério! Porra!

— Você está cavando sua cova — alerto.

— Não! Quem está é você. Entra na porra da linha, e fique


atento. Porque...

— Porque se tiver que escolher entre salvar a mim ou a eles,


será eles, não é?

Ele se levanta e sai da sala sem falar nada, então entra na


cozinha.

Porra, Felipe vai me foder e estragar tudo! Eu passei a vida


escondendo toda a merda por detrás da minha família, e quando
pensei que estaria tudo certo, essa porra desanda.

Estamos em um restaurante italiano, mais tranquilo, e discreto


para evitar a mídia. Paula está linda como sempre, mas posso
perceber sua desconfiança ou talvez medo no olhar. Já comemos, e
estamos apenas bebendo tranquilamente agora. Nem tão
tranquilamente, já que tem quatro seguranças particulares
espalhados, e não duvido que tenha mais ao lado de fora. Porra!

— Sabe, serei direta. Por que esse encontro? Você sumiu, e


então aparece, fica correndo atrás. Nunca correu antes, e agora tudo
isso. O que está acontecendo, Alessandro? — questiona nervosa.

— Eu tive que sair do país por um tempo, resolver algumas


coisas. Foi corrido, não pude avisá-la.

— Avisar a mim? Não me deve satisfações, só não entendo por


que esta marcação agora.

Como lidar com algo que nunca teve que lidar antes? Merda!

— Não. Tem razão, eu não devo. Mas eu me aproximei e


desapareci como você citou. Não fugi, só queria que soubesse disso
— sou direto.

— Fugiu de quê? Nunca tivemos nada. Ao que parece era tudo


coisa da minha cabeça. — Seu tom é baixo.

— Como assim? Eu sei que dei indícios de que queria algo


além, e cacete, não vou mentir, queria... Quero. Mas não sei bem o
que eu desejo. Nunca tive que fazer isso, inferno!

— E por que está fazendo? Acredito que seja a outra pessoa


que deveria estar falando tudo isso.

Só pode ser brincadeira. Isso é algum julgamento e ela está no


modo advogada? Porque está parecendo e eu estou no banco do réu.

— Está se referindo à Jaqueline? Paula, não aconteceu nada


entre nós. Eu nunca dei esperanças a ela; e se ela acreditou, viu
errado.

Seu rosto cora e ela bebe um gole de seu vinho.

— Estive com ela ontem, e parece que mantiveram contato.


Não quero problemas. Minha vida está uma loucura, é muita coisa
acontecendo, e amo a Jaqueline, jamais faria algo para magoá-la.

Esfrego o rosto. Olha, quero que um filósofo do caralho surja


na minha frente e me ensine como lidar com este momento, porque
não sei e todas as malditas frases que penso agora, não serviriam.

— Sim. Ela mandou mensagens, eu respondi porque sou


educado. Se tem uma coisa que sou com mulheres, é educado e você
sabe. Porque todas merecem ser tratadas com educação. Todos
sabem que sou assim. Mas sou direto quando quero algo, e que se
dane se você correr. — Ela engole em seco e é notável. — A única
pessoa que eu desejaria beijar, ou transar, seria com você e não com
ela. Nada contra, mas a Jaqueline eu vejo como uma boa pessoa para
ser amiga, conversar e nada mais.

— E a mim, uma qualquer que serve apenas para você... O que


você disse aí. Sou cardíaca demais para lidar com isso.

Estou ficando nervoso e não gosto do meu jeito quando estou


assim. Por isso tento me controlar antes de dizer:

— Não coloque palavras na minha boca. Não é dela que estou


correndo atrás, e não foi a ela que convidei para jantar.
— Olha, é melhor eu ir.

Ela faz menção de levantar-se, mas a impeço segurando sua


mão.

— Eu não fugi. Mas você vive fugindo. Desde que nos


conhecemos, você sempre arruma um jeito de fugir. Só falta me
pegar pela mão e me levar para a Jaqueline, porque sempre me
deixa a sós com ela, ou nunca abre a boca e fica parecendo que eu
dou total atenção apenas a ela. Por quê? Eu fiz algo a você ou falei
algo que te magoou? Sou direto demais? Ou por que quer alguém
que te prometa amor eterno? — sou direto.

Tento, mas não consigo mais ser o homem tranquilo que fui
desde o início e ficar vendo as pessoas julgarem a mim como um
cretino, quando é ela que foge desde que nos conhecemos, como se
eu sempre forçasse a situação. Eu sempre disse que mulher era
encrenca, e agora entendo por que dizia isso. Mas nunca disse que
não poderia acontecer essa armadilha comigo. E olha a loucura que
foi e está sendo.

— Alessandro, você não entende...

Olho o relógio em meu pulso e torno a olhá-la e sorrio.

— Temos tempo.

Ela puxa a mão da minha e suspira.

— Eu não posso me envolver com ninguém. Essa é a verdade.

— Prometeu fidelidade ao Joseph Escobar mesmo após a


morte? E, por favor, não pense que estou zombando. Só preciso
saber.

— Não! Ele iria querer me ver seguindo minha vida e feliz. Mas
eu não consigo. Não posso colocar mais ninguém nessa confusão da
minha família.

— Sério? Não pode ser verdade. Tem algo a mais. Me diga.

— Porque... Porque você me lembra a ele! Porque todo homem


que olho o vejo... Porque eu tenho medo de não conseguir superar e
machucar outra pessoa! — Ela se levanta e sai às pressas. Os
seguranças a seguem imediatamente.

Peço a conta e pago deixando o garçom ficar com o troco que é


uma boa gorjeta. Saio às pressas, com algumas pessoas olhando, e
vejo ela falando com um segurança. Mas quando vai entrar no carro,
impeço. Um segurança me empurra e faz proteção a ela, outro
segurança saca a arma enquanto os demais fecham um círculo.
Fodeu!

— Deixe, Pascoal. Está tudo bem.

— Caralho, que isso? Esses caras deveriam trabalhar para a


Rainha.

O tal Pascoal se afasta.

— Senhora, podemos tirá-lo à base da porrada, ou atirando


nele... Gosto das duas opções.

Esse cara quer morrer com a própria arma dele? Que porra é
essa de duas opções?

— Está tudo bem, Pascoal, eu...


Uma moto passa atirando e, imediatamente, jogo a Paula no
chão. Os seguranças se espalham e Pascoal faz proteção a nós. Um
carro é atingido. Pessoas gritam e se protegem. Escuto os
seguranças mandarem comandos uns aos outros. Os seguranças do
restaurante saem e se unem a eles para apoio. Mais tiros são
disparados. Meus olhos estão vidrados no rosto da Paula que tem os
olhos fechados. Ela treme.

Sirenes começam a surgir. Pascoal se levanta e fala ao celular.


Não presto atenção.

— Paula, abre os olhos e fala comigo... Está tudo bem? Me


responde, por favor.

Ela lentamente faz o que digo e seu olhar é de medo.

— Está.

Ajudo ela a se levantar e Pascoal abre a porta do carro e faz


sinal para ela entrar às pressas. Entendo o porquê. Querem evitar
mais interrogatórios agora para a polícia e a mídia que logo vai
surgir. Paula fica olhando, ainda em choque.

Jogo a chave do meu carro ao segurança dela e o cartão para o


manobrista pegar o carro. Ele me olha sem entender.

— Eu vou com ela. Cuidem de tudo aqui.

— Não. Você não dá as ordens! — ele é firme no que diz.

— Eu posso cuidar dela. Já vocês precisam evitar o inferno que


isso vai se formar. Não é um ordem, é o aviso do que vou fazer!

Não espero ele falar mais nada. Entro no carro e a chave está
nele. Paula entra e saio a mil dali.

— Esse inferno não vai ter fim. Ataques seguidos... — começa a


dizer, porém é interrompida.

Seu celular toca e ela diz o nome do David. Conversam e ela, ao


que parece, está tentando acalmar o filho.

Passo em sinais vermelhos, entro em ruas na contramão, tudo


para cortar caminho. Parece que, de alguma forma, a vida sempre
vai me colocar em adrenalina.

Estaciono o carro na sua casa e tem diversos carros,


seguranças andando de um lado para o outro, e alguns correndo.

Saímos do carro. Encosto nele e ela me olha.

— Segunda vez que presencia a confusão nesta família. É sua


chance de sair, antes que vire alvo.

— Engraçado, é a segunda pessoa a me falar isso. — Ela franze


o cenho e sorrio para distraí-la.

— Obrigada por ajudar... Mas vamos entrar, preciso sentar e


me acalmar ou fingir estar calma para tranquilizar a todos dentro
desta casa, ultimamente ando sendo o projeto de um alicerce mais
do que eu poderia imaginar, só não sei até quando isso vai durar...

Não deixo que ela termine. Puxo-a para meus braços e beijo-a.
Não é calmo e não desejo que seja. Levo as mãos a cada lado de seu
rosto. Ela está entregue ao beijo. Eu nem sabia que precisava disso.
Caralho, o que esta mulher fez comigo? Maldita foi a hora que a vi
naquela boate e o Jacob não me impediu de ir até ela. Maldito seja
nossos encontros em seguida. Maldito seja o mundo por me obrigar
a fazer o que não queria, mas se faz necessário agora.

Afasto nossos lábios e ela abre os olhos e me encara. Sua boca


está borrada pelo batom e seus olhos confusos, preocupados.

— Entre. Eu vou em seguida — sou calmo ao dizer.

— Por quê? O que houve? Olha, não beijo tão mal assim, não é?
Faz tempo que não beijo... Que vergonha! Eu deveria calar a boca.

Sorrio ao acariciar seu rosto.

— Homem, não faça isso. Primeiro diz que fujo, e agora você
me beija, e fica estranho em seguida!

— Paula, eu só preciso fazer uma ligação. E você não beija nada


mal, pois saiba que eu não prolonguei ou seus seguranças
assistiriam algo não apropriado. Além do mais, sua família deve
estar preocupada. Entre primeiro e acalme a todos, irei em seguida.
E, por favor, que não tenha armas apontadas a mim. Só hoje tive
várias.

— Pode deixar. Eu... Eu vou entrar.

Ela sai toda atrapalhada. Alguns seguranças viram, mas estão


fingindo cegueira.

Viro em direção ao carro e ligo para o Felipe, que atende


rapidamente.

— Caralho, ainda diz que se vira sozinho! Porra, já está no noticiário!


— atende nervoso.
— Preciso da sua ajuda.

— Sabia.

— Não fale mais nada. Agora preciso desligar.

— Ok. E comi a torta de morango que a Irene fez para você. Ela disse
que estou magrinho.

Reviro os olhos e desligo.

Sou surpreendido por Jacob bem ao meu lado. Cacete, o que ele
ouviu? Merda!

— Sabe, Alessandro, você sempre diz para ninguém fazer você


odiar, mas hoje eu te falo isso. Cara, não me faça te odiar! Meus
cunhados estão desconfiados, e o Marcos também. Pascoal alertou
que você queria saber onde a Paula treinava. Então o ataque na
porta do restaurante, um ato heroico e agora ligação misteriosa
dizendo que precisa de ajuda. Cara, eu te coloquei nesta família,
aproximei você de todos. Me fale que caralho está acontecendo e
agora. Ou eu deixarei os homens ali dentro acabarem com você,
antes mesmo de se explicar, e não vão precisar da ajuda da imensa
equipe de segurança, vão fazer sozinhos e a sangue frio — Jacob diz
me olhando firme.

— “Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de


pensar, mergulho em profundo silêncio e eis que a verdade se me
revela”. Albert Einstein disse isso. Sempre gostei dessa fala do físico.

— Não venha com suas frases enigmáticas a esta hora. Fale a


verdade!
— Só saiba que, o que vi hoje, não queriam matá-la, era um
aviso.

— Que aviso?

— Que sabem cada passo dela, e pelo visto de todos vocês. —


Olho seriamente para ele. — Eu não sou inimigo. Mas ele pode estar
entre vocês.

— Alessandro, que merda você fez?

— Não fiz nada. Mas, pelo visto, eles estão fazendo.

Ele balança a cabeça negativamente.

— Se você for...

— Vão me matar. Ótimo. Já sei. Frase forte. Podemos entrar?

— Eu confio em você. Não me decepcione.

— Jacob, não me faça te odiar!

— Está preparado?

— Por quê? Estão armados?

— Sim. Mas a Jaqueline está lá dentro também.

— E o que tenho com isso?

— Está dando em cima dela e da Paula? É o que a Daiane e eu


pensamos.

— Nunca fiz isso. Porra, não posso ser educado com nenhuma
mulher? Jaqueline e eu nunca tivemos e nunca iremos ter nada.
Puta que pariu, está difícil compreender isso?!
— Ótimo. Espero que ela saiba, porque viu os dois se beijando,
e deixou escapar para a Beatriz, que por pouco não deixa o Marcos
ouvir o motivo dela mandar a tia calar a boca.

— Olha, não sei se tenho medo dessas armas, dos Escobar, ou


das mulheres.

— Eu teria das mulheres.

— Sábio. Muito sábio.

Se já desconfiam de mim sem saber a verdade, serei morto


quando souberem.
Seis

Paula Escobar

Estou bebericando meu café sentada diante da mesa próxima à


piscina.

Perseguições inexplicáveis, Alessandro correndo atrás de mim


e me beijando inesperadamente. Tanta coisa para deixar minha
mente uma loucura. Me ausentei do trabalho por hoje, pois minha
mente não teria foco para mais problemas. Minha família está uma
loucura, meu coração uma bagunça. Parece que o furacão se
hospedou bem aqui e está deixando tudo fora de ordem e com
estragos.

Dona Jurema e Marcela me chamam para comer, mas nego. Só


quero meu cafezinho e um pouco desse ar gélido.

— Paulinha! — Olho surpresa para a Liziara, que se aproxima


e se senta ao meu lado.

— Querida, por que não disse que viria? Teria preparado uma
mesa de café do jeitinho que gosta.

Ela sorri.

— Eu estou livre na universidade hoje, e vou ajudar o Daniel,


meu ex-chefe, na boate. O David com muito custo e muita segurança,
acabou cedendo, afinal, Dani foi a pessoa que me deu emprego
quando mais precisei. Não posso deixá-lo na mão por causa dessa
loucura toda, e ali é bom para relaxar.

— Jamais devemos esquecer de onde viemos e de quem esteve


lá para nos ajudar. Está certa, meu bem. Não podemos parar nossas
vidas devido aos últimos acontecimentos.

— Concordo. Só que fiquei sabendo que o Joaquim, um carinha


que o David odeia, vai ajudar, ele saiu da boate, mas hoje também
vai ajudar. Se o meu marido sonhar com isso, tem um AVC.

Sorrimos.

— David é ciumento, mas vai compreender.

— Paula, estamos falando do David!

— Verdade. Ele vai surtar e, no fim, vamos rir como sempre


fazemos.

— Isso mesmo!

— Mas por que passou aqui? Adoro sua companhia, mas veio
sozinha... Por que não trouxe as meninas? Minhas netas animariam
meu dia.

— Estão com a babá. E eu quis ver como você estava.

— Vou bem, meu anjo. Só tentando compreender tudo.

— Sabe, Paulinha, direi o que penso e serei sincera.

— Sinceridade é o que mais desejo. — Sorrio.


— Joseph morreu. Não o conheci, mas tenho certeza de que foi
um bom homem. Vocês se amaram e fizeram uma linda família e eu
tenho a honra de pertencer a ela. Só que agora está na hora de você
seguir em frente. Investe no Alessandro. O cara está na sua cola, e
interessadíssimo. Não faça a burrada que eu fiz; por causa dos
ciúmes e medo, eu me coloquei em risco e quase perdi o David.
Tente com o Alessandro e veja no que vai dar. E não fique pensando
nas merdas que falaram ontem. Eu confio nesse cara; para mim, ele
não tem nada com isso. Os meninos implicam, mas estão com a
família montada, já você empacou. É isso mesmo. Se joga, sogrinha!

Se eu estivesse com o café na boca teria cuspido. Às vezes


esqueço o quanto Liziara pode ser sincera demais, ou maluquinha,
como o próprio David a chama.

— Querida, obrigada, mas eu...

— Chega de “mas”, e comece a ser “eu vou”. Olhe toda essa


loucura, não sabemos se alguém chegará até ao anoitecer vivo.
Estamos tentando sobreviver a tudo isso. Seus filhos estão que nem
loucos atrás de pistas, junto da polícia. Jacob e Ana correndo atrás
de tirar a mídia do caminho, pois a maldita Belos e Famosos já fez
nota sobre isso tudo. Joana e Jaqueline tentando acalmar a todos. As
crianças quase que sendo colocadas em cabines blindadas... Acha
mesmo que temos tempo de ficar pensando? É hora de agir. Fazer e
não temer. Vai por mim. Eu mesma me acabei em sexo essa noite,
porque pode ser o último.

— Liziara!

Ela ri.
— Sou sincera. Enquanto fica aqui bebendo café, sua vida está
passando, e talvez tudo termine e nada tenha feito. Levante o
bumbum daí, mulher, e seja a Paula Escobar, a mulher mais
poderosa que conheço.

— Essa tal Paula é uma farsa.

— Mentira! Você é essa mulher poderosa, e está com medo de


deixar seu poder vir com tudo neste momento. Essa aqui na minha
frente não é você. Você é a matriarca desta família. Use seu poder e
comece a ser mais “eu vou, eu sou e eu farei”. Seja uma Escobar.

Coloco a caneca na mesinha e abraço minha menininha


guerreira e atrapalhada.

— Obrigada. Às vezes precisamos de pessoas que acreditem


em nós, mais do que nós mesmos.

— Eu estou com medo. Mas tenho duas filhas que precisam de


mim e do pai, e não posso deixar tudo desmoronar. Então, não
desmorone. Essa família precisa de você.

— Eu não sei ser o Joseph.

— Não precisamos dele, porque a parte dele já foi feita.


Precisamos de você, o arco-íris desta tempestade... Nossa, estou
filósofa demais, David tinha que escutar, para aprender o que é
falar bonito, aquele traste me faz passar cada nervoso. — Revira os
olhos.

Nos afastamos e sorrio emocionada.

— Agora tenho que ir. Se cuida.


— Você também. Te amo, minha linda.

— Eu também amo você. Agora fui. Tenho uma tropa à minha


espera para me seguir. — Ela se levanta e sai rapidamente.

Uma lembrança me vem à memória...

— Amor, se um dia eu não estiver aqui...

— Joseph, pare com isso. Sabe que não gosto desses papos.

Ele sorri e me abraça por trás.

— Se um dia eu não estiver aqui... prometa que vai continuar sua


vida, e não vai parar no tempo?

— Joseph, eu não posso prometer. E não fale dessas coisas.

— Preciso falar. Eu preciso ter a certeza de que se um dia eu não


estiver, você será feliz ainda; talvez com alguém que te faça mais feliz do
que eu tento.

— Você me faz a mulher mais feliz. Eu não poderia querer mais que
isso.

— Promete, Paula...

Viro em sua direção e ele contorna minha cintura. Vejo a


preocupação em seu olhar e a veia pulsar em sua garganta que revela
parte de suas tatuagens. Está nervoso também.

— Sim. Eu prometo.

— Obrigado. Eu fico mais tranquilo, pois sei que não quebra


promessas. E preciso que me prometa mais uma coisa?
— O que quiser, amor.

— Que sempre vai lutar por nossa família.

— Joseph, eu não sou você. Não sei como lidar com os problemas
graves.

— Você é melhor do que eu. Você é a principal voz desta família. Suas
palavras são leis inquebráveis. Só precisa acreditar nisso.

— Eu... Eu prometo. Vou cuidar de tudo. Mas agora é você que tem
que prometer uma coisa.

— O quê?

— Se algo acontecer... — minha voz fica embargada pelo choro que


se forma. — Se algo acontecer a você, vai lutar até o último momento.

— Eu prometo. Mas talvez não tenha jeito, meu amor. Essa é a vida
que levo.

— Se não tiver, prometa que não vai... sem dizer adeus. Eu preciso
ouvir você diante de qualquer circunstância. Não me deixe sem ao menos
me dar a chance de me despedir de verdade. — O choro não é mais
controlado, e ele enxuga cada uma das minhas lágrimas, com seus dedos.

— Eu prometo...

Soluço pelo choro.

Não demorou muito e o perdi. Bem que dizem que às vezes


sentimos quando algo vai acontecer. Joseph não cumpriu sua
promessa de me dizer adeus, mas eu irei cumprir a minha, porque
ele tinha razão: eu cumpro tudo o que prometo. Essa família precisa
de mim, e eu preciso ser feliz de verdade. Eu preciso ser mais que
mãe, avó e advogada. Eu tenho que ser a matriarca do clã Escobar.
Tenho que ser a Paula Assis, e não viver mediante a um sobrenome.
Não mais!

Enxugo minhas lágrimas e entro. Hora de correr atrás do


tempo perdido, e seguir minha intuição e coração.

Preciso de um banho e me arrumar.

Chego ao escritório do Marcos e vejo a Débora empurrando o


carrinho do filho Eric em direção ao elevador que acabo de sair.

— Paula!

Me aproximo e abraço-a. Adoro essa menina, pois é tão


divertida, e sempre com palavras sábias, além de sempre nos ajudar
quando precisamos.

— Como está? — Olho para o pequeno gordinho no carrinho


que é a cara dela, puxando apenas os cabelos loiros e os olhos bem
azuis do pai, além do jeitinho levado.

— Estou bem cansada. Trabalhando, cuidando do Eric... Tenho


babá para ajudar e minha mãe, mas está uma loucura.

— Essa fase traz canseira mesmo.

— Nem me fale! Estou a ponto de surtar e sair como uma louca


pelas ruas, ainda mais com o marido que tenho, que agora triplicou
minha proteção. Só para vir aqui, tem seis seguranças me
acompanhando.
Sorrio.

— Não sorria. Juro que pensei que estava carregando a coroa


do Papa, para tantos seguranças. Deus me livre! Eu vou surtar,
acredite... — rimos. — Mas me fale, como estão as coisas? Esses
atentados... Eu sinto tanto. Queria poder estar mais próxima dando
mais apoio, mas estou na correria. Hoje mesmo vim aqui pegar uns
documentos com o insuportável que leva o nome de Marcos. Já vou
dizendo, que está com um humor digno de limão.

— Ah, querida. Não se preocupe. Quanto menos pessoas


estiverem envolvidas, melhor. Além do mais, já temos crianças
demais em risco. — Sorrimos. — Estou bem. Preocupada, porém
temos que seguir com nossas vidas. O tempo não para.

— Verdade. Bom, eu tenho que ir.

Nos abraçamos. Assim que nos separamos, faço um carinho na


bochecha do pequeno.

— Se cuide, Débora.

Ela segue para o elevador e fica a sua espera, enquanto eu vou


à sala do Marcos, onde entro sem bater.

— Porra, Débora! Eu vou te matar, e não pense...

— Melhore seu humor, meu querido.

— Paula? O que faz aqui? — indaga ajeitando alguns papéis.

— Pare tudo o que estiver fazendo. Temos uma reunião.

— Estou ocupado. E não temos uma reunião. — Ergue o olhar


desafiador e volta a olhar para o que estava fazendo.

— Olha aqui, mocinho, depois de ter feito um ato suicida, é


melhor não testar a minha paciência.

Ele respira fundo e larga os papéis.

— Vão ficar falando disso eternamente? Caralho!

— Olha a boca! E sim, irei falar. Até porque sou cardíaca, e você
quase me mata.

— Você não é cardíaca!

— Não discuta. O assunto que vim tratar é sério.

— Claro que é... Fale. Tenho tribunal hoje. Agilize.

Que homem mais ranzinza. Não lembro de ter dado limão para
ele no lugar do leite. Se bem que, como o criei como meu filho, posso
dar uns tapas... Bom, guardarei essa possibilidade.

— Quero que me diga tudo o que estão investigando sobre os


atentados e agora. Quero estar a par de tudo. E não adianta dizer
que não sabem nada, porque conheço vocês. Chega, é hora de
agirmos como os Escobar.

— CARALHO! É HORA DE QUEBRAR AS LEIS!

Assusto-me com o grito e levo a mão ao peito.

— Que porra está acontecendo aqui? Que entre e sai do


inferno. Henrique, eu não te chamei, e não irei te ajudar em caso
algum.

— Que isso, titio! Quase me matou do coração, pois pensei que


não teria mais com quem implicar. Então vai me aturar muito. Não
mandei fazer a quase morte.

— Henrique, não teste minha paciência, quem assina a


sentença sou eu, e a sua será longa e peculiar — Marcos diz
autoritário.

Henrique revira os olhos e me abraça por trás.

— Eu ouvi tudo. Concordo com a rainha aqui. Hora de


burlarmos as leis.

— Eu nunca disse isso, menino!

— Claro que disse, mãe. Só não percebeu, mas disse.

Afasto-me e acerto seu braço com um tapa.

— Eu venho fazer uma humilde visita e sou agredido. Que


absurdo! Vou sair para beber algo forte, afogar as mágoas —
dramatiza como sempre.

— Henrique, se concentra, já que está aqui. E você não bebia


álcool, o que houve? — questiono.

Ele ergue os braços em rendição e se senta na poltrona.

— Tenho três mulheres para cuidar, preciso consumir algo


muito forte, ou viro um assassino.

— O que sabem? — questiono, me sentando ao lado do


Henrique e ignorando seus papos loucos.

— Eles querem você, mas ao que parece o Escobar que


pegarem será lucro — Marcos é direto.
— Quem pode ser? — pergunto, afinal, suspeitas devem existir.

— Temos suspeitas. A primeira é a máfia na qual o Marcos


sentenciou o chefão à prisão, e que é a mesma que o papai também
levou o primeiro chefe à prisão e o cara morreu. Podem estar
querendo vingança e começando por você, que nos deixaria
vulneráveis ao extremo — Henrique revela, totalmente sério.

Sim. É uma possibilidade. Na época do Joseph, coisas assim


aconteceram e terminou com ele morto.

— Quais as outras suspeitas?

— O que não encaixa no quebra-cabeça é que, para fazerem


isso, precisam estar a par de cada passo seu. Saber todas as suas
decisões, já que não tem uma agenda pessoal, somente de trabalho.
Então é alguém que conhece cada lugar que você frequenta e que
tem suas decisões em mãos — Marcos responde.

— Mas na época do Joseph, acontecia e não foi ninguém de


dentro! — rebato.

— Não. Mas os locais dos ataques eram sempre após eventos,


julgamentos, ou seguiam o carro. Neste caso, ninguém está seguindo
para ser notado, e os ataques são feitos em lugares inimagináveis.
Saída de treino e restaurante — meu filho fala e seu olhar é de quem
está pensando em algo.

— Alguém da segurança? Uma pessoa assim saberia cada


passo que dou.

— Estamos estudando esta possibilidade, mas acho provável


demais. Não seriam idiotas, sabem que são os primeiros suspeitos.
Deixariam escapar algo nos treinos e reuniões, todo suspeito acaba
deixando uma brecha. Nenhum crime é perfeito! — Marcos declara.

Henrique se levanta rapidamente.

— Me dá seu celular, agora! — ele exige.

— O que houve, Henrique? — pergunto sem entender.

— Me dá! — pede nervoso.

Retiro da bolsa e entrego a ele.

— Porra! Como deixamos isso passar?! — Marcos fala alterado.

Henrique retira meu chip com um pouco de dificuldade e


quebra. Em seguida quebra meu celular.

— Seja o que for, irei querer um novo! — digo completamente


chocada com a cena.

— Não é ninguém de dentro da equipe. Quem está fazendo isso


grampeou seu telefone. Estava tendo acesso as suas ligações, GPS,
mensagens...

Arregalo os olhos.

— Você mantém contato por mensagens e ligações com os


seguranças. Por isso os ataques foram em horários muito
correspondentes a sua saída dos locais — Marcos fala como se isso
fosse óbvio o tempo todo e fomos burros ao não notar, o que é uma
verdade, mas, pela expressão dele, é melhor eu ficar quietinha
quanto a isso.

Fico olhando para eles, e vendo o ponto que chegou tudo isso.
— E agora, como vamos saber quem é? Gente, isso é loucura
demais! Que inferno é este?

— Simples, Paula. Quem estava grampeando vai ter que


arrumar outra forma de saber cada passo seu. E então vamos pegá-
lo — Marcos fala e dá seu olhar que conheço bem: estarão dispostos
a tudo.

Sinto uma sensação ruim. Da última vez que senti algo assim
perdi o Joseph. Esfrego o peito e respiro fundo.

— Tem mais uma coisa — Henrique avisa se sentando


novamente. — Mãe, o Alessandro é um suspeito...

Sinto um calafrio e uma sensação esquisita. Mas não sei dizer


se é de medo, raiva, ou o que é.

— Não comecem. Ele não faria essas coisas.

— Mãe, escute, por favor. O cara apareceu em casa depois do


primeiro atentado. Esteve com você no segundo. Pascoal informou
que a senhora deu informações a ele... Mãe, todos são suspeitos. O
cara some e aparece do nada...

— Pascoal é um linguarudo. E Alessandro é inocente. Eu sei


disso — afirmo com toda a minha certeza.

— Ninguém é inocente agora. Todos são suspeitos! — Marcos


tem o tom rígido.

Levanto nervosa e olho de um para o outro.

— Querem que eu acredite que ele tem alguma coisa com isso?
Então me tragam provas. Do contrário, ele é inocente.
— Paula, o Jacob o escutou pedindo ajuda para alguém...

— Não. Isso não é certo...

— Mãe, o que sente por este cara? Por que tanta proteção?

— Porque não admito que julguem alguém sem provas. Isso eu


não aceito. Trabalhem com provas, então conversaremos. Do
contrário, sem julgamentos.

— Mãe...

— Isso é minha palavra final, Henrique Escobar! — Ele bufa e


abaixa o olhar. — Irei até a delegacia falar com o David e ver se
sabem de mais coisas. Levantem os traseiros daí e comecem a agir
para que ninguém saia ferido. E repito: só acusem com provas.

Entro no carro e Pascoal começa a dirigir.

— Pare de ser linguarudo, homem!

— Só fiz minha função, senhora.

Solto o ar com força. Não estou bem. Odeio julgamentos sem


provas. Eles são da lei assim como eu, sabem que nada e ninguém
deve ser julgado sem que tenhamos certezas. Todos são suspeitos?
São! Mas persistir apenas de um lado? Desse jeito não. Se todos são,
então que olhem para tudo e todos, e não apenas para um lado, e
foquem todas acusações para lá.

— Eu sei... Vamos até a delegacia do David, e depois preciso de


um celular novo... Melhor, eles vão me dar um novo e o que eu
escolher.
— Sabe, senhora, trabalho um bom tempo para esta família, e
nunca vi todos sem saber o que fazer. Talvez esse excesso de
preocupação com o rapaz da barba bem-feitinha é porque é a única
certeza que eles têm; e para os Escobar ficarem de mãos atadas, não
é fácil.

— Certeza de quê? Isso que não entendo. Se tem provas, me


falem.

— A certeza de que ninguém é confiável neste momento,


senhora.

Resolvo ficar calada e refletindo. Também não sei por que


estou defendendo tanto o Alessandro, mas essa desconfiança sem
provas me deixa... Não sei. Só me sinto péssima. Ele entrou para a
família, e agora está correndo atrás de mim, quando pensei que ele
queria outra... Não sei por que esta proteção a ele da minha parte.
Na verdade, talvez eu saiba. Já fomos enganados por pessoas que
confiávamos, como a Poliana Xavier e o Joel, um grande amigo do
Joseph que, mesmo depois de tanta ajuda, e ter se formado e sido
um bom juiz, começou a mexer com o que não devia e foi morto. É
difícil acreditar que, pela terceira vez, alguém trairia nossa
confiança, depois de abrirmos nossas portas e acolhermos. Já
perdemos muita coisa, é difícil perder ainda mais...

Alessandro Santos

Saio da universidade e vou direto para casa. Tentei contato


com a Paula, mas não consegui. Caralho, no que me transformei?
Vivo atrás de uma única mulher agora!

O caminho até em casa é rápido, o que me deixa muito feliz, já


que estou cansado e queria ficar longe daqueles alunos que têm o
poder de me enlouquecerem.

Entro em casa e jogo as coisas no sofá.

— Estava a sua espera — Felipe diz saindo do corredor.

— Que ótimo! Quero saber qual foi o pecado que fiz, para estar
pagando tudo?

— Não seja mal-humorado. Tenho novidades sobre a ajuda que


me pediu.

Ele me entrega alguns papéis que estão em suas mãos e sorri.

— O que é isso?

— Leia. Tudo o que precisa saber... Bom, quase tudo. Seus


queridos Escobar investigaram sobre você hoje, e bem a fundo. Se
prepare, pois já devem estar sabendo sobre nosso pai; e se não
sabem, vão acabar descobrindo.

Olho para ele e respiro fundo.

— Como sabe disso?

— Porque tenho alguns contatos. Além do mais, não precisa


me agradecer.

— Fale a verdade, Felipe. Por que realmente está aqui?


— Não interessa. Apenas olhe logo o que consegui, é tudo o que
precisa saber agora. — Está sério. Bipolaridade reinando.

Começo a ler e me sento no sofá.

Merda!

— Como conseguiu isso? Que garantias isso traz? Como


confiar?

— Confiando, cacete! Parece que os Escobar esqueceram deste


detalhe. Estão pagando para cada um desses caras agirem. E quem
está fazendo isso é...

O meu celular toca e é o número da Jaqueline.

— Bom, agora já sabe. A pessoa pode ter muitos contatos, mas


eu tenho mais, e tenho pessoas fiéis ao meu lado, ao contrário desta
pessoa. Só que você não pode falar a eles...

Meu celular continua tocando.

— Não, sem me ferrar. Sem ferrar a nós dois. Agora pense bem
no que vai fazer, Alessandro. Vou indo, tenho que ver o espaço da
minha nova clínica. — Ele me encara sério. — Deixe para abrir a
porra da boca no momento certo, não seja um fofoqueiro, porque
vai foder a todos.

Ele sai e atendo ao celular. Merda!

— Oi, Jaqueline.

— Olá, Alessandro. Temos que conversar, é urgente.

— Jaqueline, eu...
— É urgente. Me encontre no endereço que vou te mandar.

— Ok. — Ela desliga.

Era só o que me faltava, para desandar tudo de vez. A Paula já


pensa que tive algo com a Jaqueline, e agora se sonhar com isso...
estou fodido. E esses papéis... Caralho, se for verdade, não vai
acabar bem. Felipe sabe muito mais, e quero saber o que ele está
escondendo. Esse papo de comprar clínica não me convenceu. Está
camuflando algo e acho que é sério. Ele não ajudaria homens da lei
com facilidade, tudo tem um preço, e resta saber qual é desta vez e o
quanto está envolvido nisso tudo.
Sete

Alessandro Santos

— Que bom que você veio! — Jaqueline exclama sorridente


como sempre.

Estamos em uma cafeteria no centro da cidade. Ao que parece


ela veio acompanhar a sobrinha ao banco e decidiu que
precisávamos conversar.

Mexo impaciente o café. Realmente não estou com a cabeça no


lugar nos últimos dias. É muita coisa acontecendo, e meu irmão no
país não me alegra. Eu o amo, mas amaria mais se parasse com
essas coisas. Felipe já fez muita merda, e já tive que me calar por
muitas vezes, assim como foi com nosso pai. E agora mais segredos
aparecem, mais confusões. Tudo estava tranquilo demais. Hoje me
arrependo amargamente do dia que reencontrei Jacob Casagrande e
me aproximei dos Escobar. Porque tudo voltou. Os problemas com
meu irmão, que antes pareciam ter dado uma trégua; e agora de
brinde o problema com uma família, que parece querer me
condenar de todas as formas. Mas em partes, eu sou péssimo para
eles, porque nunca fui sincero sobre tudo, nem com eles e nem com
ninguém. Passei a vida escondendo muitas coisas, e quando achei
que poderia me acostumar com tudo, descobri que não é possível,
pois a vida sempre vai esfregar na nossa cara quem somos e de
onde viemos.

— Por que não viria? — Sorrio para amenizar meu tom


escroto, pois ela não tem culpa de nada.

— Você desapareceu... Não consegui contato até agora.

Sério que o assunto urgente é este? Porra, minha cabeça não


está nada boa para isso!

— Jaqueline, não sei se agora é a melhor hora para tratar


sobre isso.

— Sei que não. E não vim te cobrar nada. Eu pedi que viesse
por dois motivos.

Bebo um gole do café e faço um gesto para que ela continue:

— Primeiro, quero que saiba que não me deve explicações.


Nunca tivemos nada, Alessandro, então não precisa fugir. Eu
realmente pensei que estava interessado em mim e, meu Deus, seria
um milagre, porque só me aparece tranqueiras, mas já me
conformei que a vida não me quer comprometida. Porém, isso tem
deixado um clima estranho entre a Paula e eu. Não sei se algo está
acontecendo entre vocês, mas seria bom que deixasse claro a ela
que nunca tivemos nada. Seria estranho demais eu ter que tocar
neste assunto, ela poderia ficar chateada achando que estou
insinuando algo, não sei. Desde o início, eu deveria ter percebido
que seu interesse sempre foi por ela, mesmo nós dois ficando mais
próximos no início, entretanto não sei o que acontece, mas ela
parece fugir sempre quando você se aproxima... Só não deixe essa
mulher sofrer, e é isso o que vai me fazer entrar no segundo
assunto.

— Antes de continuar, quero que me desculpe se deixei


segundas intenções com você. Porque uma coisa você está muito
certa. Meu interesse sempre foi nela. O que é estranho. Sempre fugi
de relacionamentos, porque sempre gostei de me sentir livre. Mas
se a vida não me esmurrar e fazer eu mudar de opinião, ela não se
chamaria vida. — Dou de ombros.

Ela sorri e bebe o café.

— O segundo assunto é que tem muita gente desconfiando de


você. E puta merda, espero que não seja o culpado. Eu, Jacob, Ana e
Joana estamos colocando a mão no fogo por você. Porque até
mesmo Daiane está começando a ficar com a pulga atrás da orelha.
Juro que, se você for o culpado, eu mesma te mato. Porque a família
que hoje também considero minha, está correndo muito risco; e
uma mulher que, pelo visto, já sofreu demais é o alvo da vez. Então
se for você, pare. Vai embora. Suma de uma vez. E eu juro que irei
fingir que esse encontro nunca aconteceu. Agora se não for você, eu
sinto em lhe dizer, mas precisa começar a provar isso, porque tem
um bando de gente investigando você e deve saber o quanto são
poderosos. Seja o que for, abra o jogo.

Respiro fundo e retiro o papel do meu bolso e entrego a ela.


Foda-se, eu preciso compartilhar isso com alguém! Não dá para
segurar isso de todo mundo, não quando é a vida de muita gente em
jogo, inclusive da Paula.

Jaqueline abre o papel desconfiada e começa a ler. Sua


expressão muda e sua cara de espanto vêm fortemente. Dobra o
papel e me entrega.

— Que merda é essa? Como conseguiu tudo isso? Alessandro,


se isso for verdade, eles precisam saber.

— Aí está o problema. Não posso falar, porque vão exigir


respostas.

— O que está escondendo? Seja sincero. A minha sobrinha e o


filho estão correndo risco também. Ela é a única pessoa que me
sobrou da família, não posso perdê-la. Então abre a merda do jogo.
Olha, não me faça esfolar sua cara todinha em um asfalto bem
quente, porque, por aqueles que eu amo, eu faço sem dó e nem
piedade.

Psicopata, não? Por que todos vivem para me ameaçar? Devo


começar a andar com seguranças.

— Quem me trouxe essas informações não quer que eu revele,


pois vão querer saber quem forneceu.

— É próximo a você? Alessandro, se estão te ameaçando me


fale, eu posso tentar ajudar.

— Não pode, Jaqueline. Não tão facilmente. Esse papel é a


prova de que não tenho nada a ver com isso. Bom, em partes,
porque desconfio de algumas coisas...

— Mas te condena se revelar quem te deu as informações. Já


entendi. Você tem e não tem as provas.

Concordo.
— Preciso encontrar um jeito dessa informação chegar até
eles, sem que leve até a mim.

— Só me pergunto como deixaram isso passar, porque... É isso!


Temos que arrumar um jeito deste assunto surgir.

— Eles nunca vão imaginar isso. Para eles isso seria


impossível. Até porque não desconfiaram até agora.

— É, nisso você tem razão. Pelo visto é um beco sem saída.

Seu celular toca e ela declara ser mensagem da Beatriz. Não


demora e ergue o olhar espantada.

— Você me deu um papel dizendo que não tem nada a ver com
isso. Mas por que os Escobar estão atrás de você neste momento? —
Ela se levanta.

Caralho! Se eu sobreviver a isso, irei me considerar um


vitorioso de primeira categoria!

— Porque eles acabaram de fazer o que a pessoa queria.


Mudaram o foco das investigações. A Paula precisa tomar cuidado.
Eu vou para o meu apartamento, vai ser o primeiro lugar que vão
chegar. Por favor, confie em mim, e não diga nada deste papel.

— Por que devo fazer isso?

— Porque disse que estava colocando a mão no fogo por mim.

— Foi passado.

— Não foi, ou não estaria aqui me ouvindo. Não diga a ninguém


sobre o que viu. A ninguém, Jaqueline!
— Abra o jogo, busque um jeito, porque isso pode acabar mal,
Alessandro. Muito mal!

Pega a bolsa e se retira.

Paula Escobar

Ando de um lado para o outro. Eles só podem estar loucos.

— Mãe, ele pode sim ser o culpado. Temos informações sobre


ele. Você queria provas e temos. Vamos atrás do Alessandro! —
David diz nervoso.

— Me mostrem então!

— Porra, mãe! Abre os olhos. Olha ao seu redor. O que está te


prendendo a ele? Ele te pagou como advogada? É difícil saber que
mais uma pessoa próxima a esta família nos traiu, mas é uma
realidade. Estamos nos controlando com esse cara por sua causa. As
minhas filhas e esposa estão correndo risco, e estou abrindo mão de
tudo para proteger a todos. A senhora vai trocar a sua família por
esse cara? Tem certeza disso? Era isso que nosso pai faria?

Viro nervosa e olho seriamente para ele.

— NÃO OUSE FALAR DO SEU PAI NESTA SITUAÇÃO! — grito e


ele respira fundo. — Eu respeitei cada decisão que todos vocês
tomaram. Enfrentei o céu e o inferno por esta família. Sempre
coloquei todos vocês à frente de qualquer coisa. Quando seu pai se
foi, eu me tirei do lixo e coloquei uma máscara para não deixar essa
família desmoronar. Quando todos seguiam a vida, era eu que
chorava todas as noites pela dor de ter perdido o meu marido e ter
que me fazer de forte.

— Eu também sofri. Todos sofremos. Mas ele deixou um


legado, e estamos deixando ir por água abaixo pela senhora, que
prefere acreditar no Alessandro à família. — Ele está exaltado
também. Estamos nervosos demais.

— Mas você fugiu, David, como sempre faz. Você foge quando a
vida te aperta. Você foge quando os sentimentos te deixam confuso.
Sempre foi assim. Você tem isso do seu pai. Prefere morrer do que
ter que assumir seus sentimentos. Então não venha dizer que é por
minha causa que o legado da merda de um sobrenome está indo por
água abaixo. Eu não sou uma delegada, nem juíza e tampouco uma
promotora ou advogada criminalista. Se o legado que tanto quer
estufar o peito ao dizer está indo pelo ralo, é por culpa de vocês, que
estão ficando vulneráveis e atirando culpa para todos os lados, ao
invés de honrar a profissão que escolheram. E nisso seu pai não
teria orgulho. Porque ele jamais iria admitir que acusações sem
sentido acontecessem, e o foco das investigações desviassem. Você é
meu filho, David, e vai me respeitar, quer queira ou não. Fora desta
casa, você pode ser um delegado. Aqui dentro, embaixo do meu teto,
é meu filho, e não me faça perder a cabeça porque sou capaz disso.

Ele balança a cabeça e coloca a arma que estava na mesa, na


cintura.

— Onde vai? — pergunto com a voz trêmula. Estou muito


nervosa e odeio ter que agir assim, porque não é uma Paula que eu
gosto.
— Não vou fugir, se é isso o que a senhora vai declarar. Vou
cumprir com meu papel de delegado, como falou. Começando por
acompanhar os outros na busca pelo Alessandro Santos, um
possível culpado. Porque, na minha profissão, quando alguém é
suspeito, deve ser investigado, queiram as demais pessoas, ou não.
Com licença. — Ele se vira e começa a andar; quando para na porta
me olha mais uma vez. — Se for sair, não deixe os seguranças. Seja
prudente. E não deixe os treinos de lado. Nos próximos dias iremos
ter treino fechado na casa do Henrique, compareça. E isso não é
uma ordem é apenas um pedido, afinal, aqui dentro a senhora já
deixou claro que são suas ordens, e faremos isso. Mas daqui para
fora, não espere por isso, mãe. Eu a amo, mas desta vez a senhora
está errada. Se tem algo que te ligue a esse homem é melhor
descobrir logo, porque isso está afetando a todos. E sobre te
mostrar as provas... Mais uma vez serei o delegado e honrar minha
profissão, então, saiba que elas são confidenciais a senhora, pois
está muito afetada nessa história toda.

Ele sai e caio sentada no sofá, levando a cabeça às mãos. Não


choro. Não consigo. Mas dói. Minha família está desmoronando, e
não sei por onde começar a consertar. Tudo aconteceu de repente,
em uma queda livre.

Recebo uma mensagem da Daiane dizendo para ir ao treino


que ela está me esperando junto da Ana Louise. E irei, pois irei
liberar todos os sentimentos que estou tendo e não consigo deixar
vir em lágrimas ou palavras.

— De novo! — Laerte grita para Daiane, que levanta irritada.


— Não adianta me olhar assim, vocês estão sem foco. Deixando
falhas. Se concentra e respira. Antes que acabe se matando por
segurar o ar por tanto tempo. Vocês são Escobar, mostrem o que
sabem! — Frederico diz e leva a Ana ao chão em seguida.

— Vamos fazer melhor. Serão as três contra nós dois.


Queremos o chão, e espero que queiram ficar em pé. Agora é melhor
não ficarem desatentas — Laerte orienta ficando em posição junto
do Frederico.

Eles nos cercam. E começam a golpear. Desviamos. Está cada


uma por si. Abaixo quando Laerte vem me atingir e golpeio sua
perna, mas ele é esperto e segura meu braço direito levando-o para
trás, em seguida me dá uma rasteira e o colchonete amortece minha
queda. Ana tenta pegar Frederico, mas ele a usa de escudo, e
derruba a Daiane com ela. Nós três estamos no chão. Suadas,
vermelhas e cansadas.

— Se falar “de novo”, eu juro que reúno o resto da força que


tenho e vou arrancar sua língua. — Ana está ofegante e retira os fios
de cabelo do rosto.

— Apenas direi para se sentarem, Sra. Nervosinha. — Fazemos


o que Laerte diz.

Hoje foi puxado, mas foi bom. Estou me sentindo mais leve.
Uma pena Liziara e Bia não terem vindo.

— Vocês estão desatentas. Assim como Beatriz e Liziara,


também. Todas estão péssimas. Não sei o que está tirando o foco,
mas não é bom. Quando falei para deixarem nós dois no chão, vocês
lutaram cada uma por si. Sendo que são uma equipe. E deveriam ter
agido como tal. Esses treinos não são brincadeiras. Podem manter
vocês vivas pelo máximo de tempo possível, até conseguirem ajuda
ou se livrarem do perigo, quem sabe.

— Ele está certo. Se continuarem assim, vão acabar se


matando. E desse jeito, é melhor nem irem para aulas de tiro,
porque se no corpo e mente estão fracas, desatentas, seria perigoso
demais armadas. Se matariam com toda a certeza. — Laerte cruza
os braços erguendo uma sobrancelha.

Daiane se deita novamente concordando:

— Eles têm razão.

— Tem mesmo. Precisamos focar mais — Ana assente.

— Não apenas aqui. Mas na família toda. Ouviram, Liziara e


Beatriz também estão ruins. Todos nós perdemos o foco de tudo e
estamos vulneráveis. E seja quem for querendo nosso fim, está
gostando disso e talvez fosse exatamente o que queria. Hoje, minha
discussão com o David só provou que precisamos nos unir mais.
Armas, treinos, seguranças, nada disso será suficiente, se não
focarmos — falo e respiro fundo.

— Porra, até que enfim entenderam! Amanhã quero vocês


todas aqui e sem desculpas. E espero que seja um treino e não um
palco de derrotas para vocês. Podem ir agora — Frederico nos
libera e nos ajuda a levantar.

— Vamos sair daqui e ir resolver uma coisa.

— Que coisa, mãe? — Daiane questiona. — Eu prometi que


ajudaria a Sophie com os deveres hoje.
— Pois ajude em outro dia, e ela vai entender. Uma coisa que o
David disse é certa: um suspeito tem que ser investigado. Chega de
agir com o coração. Está na hora de agir com a razão. Vamos atrás
dos meninos e do Alessandro. Não posso mais deixar meu coração
falar, até porque não sei o que ele quer dizer. Quero saber o que
descobriram sobre ele.

— As Panteras? — Laerte questiona rindo.

— Não. As Escobar. E sei o primeiro lugar que vão procurar


pelo Alessandro, pois talvez eu tenha aprendido alguns truques de
rastreio e investigações com meu marido, e juro que não quero
saber como ele aprendeu, porque é cheio dos contatos e devedores.
De verdade, acho que o Henrique é de alguma máfia e não conta —
Ana fala e acabamos rindo.

— Máfia dos folgados, só se for. Vamos! — Daiane rebate.

— Obrigada, rapazes. Vocês ajudaram muito hoje. Agora temos


que ir, e nos vemos amanhã — despeço-me deles.

— Se minhas costelas deixarem. Andarei de quatro e não sei,


mas para o Henrique isso vai ser bom... — Ana faz cara de dor ao
tentar se alongar.

— Ana, eu não precisava desta informação — resmungo e


rimos.

É hora de buscar algumas informações e levar


questionamentos, que com toda certeza vão existir.
Oito

Paula Escobar

Ana localizou o endereço de onde o Alessandro mora, afinal, eu


nunca estive aqui. Sou liberada para subir, e como ainda não tem
nenhum segurança na rua, ou carros conhecidos, sei que os homens
da família ainda não chegaram.
Subo com as meninas. E minha ansiedade é grande, mas tento
manter o controle. Jamais imaginei que um dia eu estaria assim,
indo basicamente contra meus filhos e aquele que criei como um.
Mas há coisas nesta vida que temos que nos posicionar, mesmo que
vá contra a decisão de todos. Se tem uma coisa que jamais admito é
injustiça. E preciso ter certeza se estão ou não cometendo uma.
Saímos do elevador e elas me olham. Nem banho tomamos.
Apenas viemos do jeito que estávamos.
— Tem certeza, Paula? — Ana questiona preocupada.
— Tenho. Mas não precisa ir contra seu marido. Assim como a
Daiane, não precisa ir contra seus irmãos e tio.
— Mãe, eu realmente estou começando a desconfiar do
Alessandro, mas não daria para trás agora. A senhora precisa de
mim, e eu vou estar ao seu lado.
Ana segura minha mão.
— Eu irei ficar. Não importa no que o Henrique acredita. A
minha opinião também tem valor. E não irei me obrigar a sempre ir
a favor dele. Mas também não irei nos deixar vulneráveis. — Ela
mostra a arma presa nas costas.
— Eu até traria uma, mas eu seria vítima dela. Ainda não sou a
melhor pessoa na pontaria — Daiane fala e acabamos rindo.
Sempre soube que ela mentiu sobre ter concluído os cursos no
passado. Conheço meus filhos, sei cada mentira que acham que me
convence.
Respiro fundo e aperto a campainha. Não demora e a porta é
aberta por uma senhora.
— Podem entrar. Ele já vem.
Entramos e a mulher sorri.
— Querem algo para beber, comer?
Negamos e ela pede licença e se retira.
Observo o local e é muito bonito, e bem claro. Ótimo gosto para
decoração, devo dizer.
— Você sabe o que descobriram, filha?
— Não. Se negaram a me dizer. Acho que desconfiaram que eu
abriria a boca para a senhora.
Sentamo-nos e não demora para o Alessandro aparecer com
uma pasta nas mãos.
— Olha, se me dissessem que eu teria três mulheres na minha
sala, e com a aparência de que lutaram com um dragão, eu não
acreditaria. — Sua voz me faz sobressaltar, e sinto um arrepio
percorrer todo o meu corpo, mas busco disfarçar com um sorriso.
Ele nos cumprimenta, e seu cheiro é atraente, nunca neguei
que Alessandro fosse muito bonito e que tivesse um charme
diferente, peculiar. Ele se senta à mesa de centro a nossa frente.
— Chegaram primeiro que os outros. Muito rápidas. E acredito
que com muitas perguntas. Podem fazê-las. — Seu tom é calmo.
Fico olhando para ele, e em nenhum momento desvia o olhar.
Me observa atentamente. Seu semblante é tranquilo. Deixa a pasta
que segura, ao seu lado. Um sorriso surge em seus lábios e seu olhar
transmite mistério e luxúria... Deus, eu não posso reparar nisso a
esta altura do campeonato!
— Vamos. Não sejam tímidas. Sou um livro aberto. Bom, em
alguns momentos sou.
— O que eles sabem? — questiono e pisco rápido para ver se
isso ajuda eu parar de analisar seu olhar.
— Uma ótima pergunta. Bom, é uma longa história, mas
tentarei resumir.
— Sem brincadeiras, Alessandro. Eu estou indo contra todos
por você. Então fale, por favor. Seja sincero — peço e meu coração
acelera. É como se eu estivesse colocando em provas uma pessoa
que passei a vida inteira ao lado, porque é estranho este sentimento
que tenho por ele, é como se já nos conhecêssemos há anos, difícil
de explicar.
— Valmir Sanchez. Conhece esse nome?
Sinto um aperto no peito. Recordações invadem minha
memória. Meu estômago contrai. Um arrepio percorre meu corpo.
— Paula, está tudo bem? Ficou pálida — Ana questiona e vejo o
semblante de preocupação que surge em todos na sala.
— Mãe, conhece esse nome?
— Sim... O q-que esse nome tem a ver com isso? — me
atrapalho um pouco ao questionar.
— Meu pai. Sim, meu pai era o delegado que tentou matar o
juiz Joseph Escobar. É isso o que os Escobar descobriram. Que eu
sou filho do delegado Sanchez.
Levanto e levo uma mão ao peito indo para a lateral do sofá.
— E por que nunca disse isso? Você tem noção do quanto
passamos um inferno por perseguições desse homem louco? Você
sabia que o Joseph fez uma cirurgia de risco porque esse psicopata
o atingiu com um tiro e por pouco não tirou a vida dele naquela
época? Eu quase perdi a minha filha por causa daquela maldita
perseguição. — Sinto meu corpo tremer.
— Mãe... Se acalma.
— Me acalmar? Eu quase perdi você, e por culpa desse maldito
delegado que nunca irei sentir pena pela morte trágica que teve. Ele
mereceu depois de todo inferno que nos causou. Ele foi o terror em
nossa família no passado. — Minha voz sai mais intensa do que eu
esperava.
— Saiba que eu nunca senti pena também. Meu pai fez muita
merda. Era um delegado corrupto e tornou a vida da minha mãe um
inferno! — Alessandro mantém a voz baixa, mas seu tom é frio.
— Isso é alguma vingança? Era a mim que queria, Alessandro?
Porque eu estou aqui. Faça o que tiver que ser feito, só pare de
mexer com a minha família! — grito nervosa. — Foi por isso que
tentou me seduzir? O beijo foi falso? Tudo isso está sendo parte de
algum plano? Fale.
Ele se levanta e caminha na minha direção. Fico firme, não
recuo. A adrenalina toma meu corpo inteiro. As meninas ficam em
posição, e Ana leva a mão às costas, onde está a arma.
— Por que vingança? Por que na última perseguição o Joseph
atirou várias vezes contra o carro dele, e ele capotou e explodiu?
Não, Paula. Na verdade, eu agradeço por aquele demônio ter
morrido, só tenho ódio disso não ter acontecido antes da minha
mãe ficar depressiva e tirar a própria vida e eu ter que abafar isso
de todo mundo.
— Por que nunca contou? Sabe o quanto esse homem fez mal
para o Joseph no passado. E você...
— Sou filho dele? Não escolhi isso. Passei anos tentando
ocultar qualquer ligação dele comigo. No entanto agradeço minha
mãe por nunca ter me dado o sobrenome dele. Seria péssimo
carregar o sobrenome de um homem como ele. Mas esta não é a
questão. Se queriam usar isso contra mim, não precisam, porque
posso provar cada coisa que digo. Nesta pasta ao meu lado há todos
os boletins de ocorrência que minha mãe fez contra ele, e de
repente tudo sumia do sistema da polícia e restava apenas as cópias
que ela obtinha. Ele abafava tudo. Todos achavam que ela era louca,
porque ele fez todo mundo acreditar nisso, e até hoje quem a
conhecia acredita que morreu de infarto, quando na verdade se
entupiu de remédio, porque a dor de tudo o que passou era
grande... — Ele faz uma pausa. — Não importa. Nada do que eu diga
vai resolver algo. Vão ser os homens da lei contra mim. E tudo bem.
Só que, enquanto vocês perdem tempo procurando formas de me
condenar, o tempo está passando e o pior pode acontecer. — Sinto a
raiva em cada fala dele.
— Alessandro, está tudo fora de controle. E eu sinto que sabe
de mais coisas. Me fale. Se quer que eu acredite totalmente em você,
me fale toda a verdade.
Ele passa a mão pelos cabelos de corte moderno e grisalhos
que trazem ainda mais charme a ele.
— Não sei... Não sei de nada, Paula.
— Por que está mentindo? — Daiane questiona. — Jacob confia
tanto em você. Ele colocaria a mão dele no fogo pelo amigo. Mas
será que está valendo a pena?
— Vocês não entenderiam.
— Tente. Quer que eu acredite em você? Me conte toda a
verdade.
O celular da Ana começa a tocar.
— É o Henrique. Ele já deve saber que estamos aqui. Melhor
descermos, Daiane, e tentarmos segurá-los pelo máximo de tempo.
Quem sabe assim, Alessandro para de esconder o que sabe, e nos
ajude a descobrir o culpado disso tudo, e assim possamos pegá-lo.
— Não sei. Não vou deixar minha mãe sozinha...
— Vai, filha. Eu sei me virar.
— Mãe...
— Vai, Daiane! — peço nervosa.
Ela me olha e acaba cedendo. Elas saem do apartamento.
Olho para o Alessandro e vejo o semblante obscuro que se
forma.
— Se tem uma coisa que aprendi nesses anos vivendo nesta
loucura, é identificar quando mentem. Então me diga a verdade.
Você já escondeu algo muito importante, o que mais esconde? Me
ajude a continuar acreditando em você. — Minha voz embarga.
— Paula, eu não posso. Mas...
— Alessandro, se existe um pingo de sentimento por mim, fale
a verdade. A minha família está indo à ruína. Me ajude. Eu quero
continuar acreditando. Por favor, Alessandro.
Ele leva a mão ao meu rosto e acaricia. Sentir seu toque me
acalma, não deveria, mas é o que acontece.
— Jamais imaginei que uma mulher poderia me fazer perder o
juízo. Sempre fugi, porque achava ser uma coisa de louco. Mas desde
que te vi naquela boate é somente em você que penso. E porra, que
merda é isso?! Porque parece que tudo começou a piorar quando eu
resolvi abrir meu coração. Só que mesmo nutrindo sentimentos
muito importantes por você, eu não posso falar nada, porque terei
que trazer mais informações e eu prejudicaria alguém que amo
muito, mesmo sendo uma pessoa errada na maior parte do tempo.
Retiro sua mão do meu rosto.
— Mas pode continuar me prejudicando?
— Paula, por favor, tente entender...
— Passei anos me remoendo pela morte do Joseph. Não queria
voltar a amar ninguém. Mas então você apareceu. Eu achei que você
estava interessado na Jaqueline, mas quando pensei que poderia
estar errada sobre isso, você sumiu. Voltei a me bloquear para
sentir qualquer coisa, só que pelo inferno... você retornou, sem dar
qualquer explicação coerente, e veio se aproximando cada vez mais,
e mexendo com meus sentimentos, me deixando confusa. Todas
essas perseguições iniciaram, e por Deus... Alessandro, você
aparecia em seguida. Eu sinto que devo confiar em você, algo me diz
isso, e por causa disso estou indo contra minha família. Entretanto,
a história só piora, porque descubro que é filho de um homem
louco, que por motivos de inveja tentou matar o Joseph e a mim; e
para dar um enredo ainda melhor a essa louca história, você está
escondendo algo e me pede para tentar entender. Não, posso mais.
Estou ficando louca com tudo isso. Se tem uma coisa que aprendi de
verdade é que ou você está dentro ou você está fora, não existe
meio-termo para isso. Faça a sua escolha, ou suma da minha vida
eternamente. Porque culpado você não é, eu tenho certeza, mas
acobertar quem quer que seja te condenará também. E eu não
quero ficar para ver isso.
Vou me afastar, mas ele me puxa e tudo acontece rápido. Seus
lábios estão nos meus. Meu corpo perde a rigidez, e acabo cedendo
em seus braços, onde ele me aperta com mais força. Retribuo o
beijo e não consigo pensar em nada. Tudo que desejo e quero é ele,
e isso é assustador, porque fazia muito tempo que isso não me
acontecia. Seus braços me acolhem como se fosse me perder em
qualquer instante. Lágrimas começam a escorrer por meu rosto,
porque uma onda de sentimentos e medo me invadem. Eu sei o que
é isso. Eu já senti isso. Meu coração teve seu lacre rompido.
Todos os nossos encontros após aquela boate, e até o tempo
que ele desapareceu depois do casamento da Daiane, e agora seu
retorno e toda essa confusão o envolvendo, tudo trouxe o
sentimento que eu temia e não queria ter mais por ninguém. Só um
homem conseguiu me desestabilizar assim, conseguiu fazer a Paula
Assis perder toda a compostura e mostrar seu lado carinhoso e
sensível. Achei que jamais essa história se repetiria. Eu não
imaginei que poderia haver um recomeço, o meu recomeço. Mas e
se for errado? E se o que ele me esconde é o que pode proteger
minha família e a mim? Meu Deus...
Me afasto bruscamente. Ele tenta se aproximar e recuo. Eu
preciso tomar uma decisão. Preciso fazer isso e agora. Porque este
beijo que me deu foi um pedido de desculpas, não por algo que fez,
mas por algo que pode acontecer, por ele ter se calado. Ele está com
medo. Ele sabe que algo vai acontecer. Está me escondendo algo. É
proteção. Joseph Escobar já fez isso, e hoje não está mais aqui. Não
posso deixar que isso se repita. Homem nenhum mais vai me beijar,
cuidar de mim, proteger, apenas pelo medo do que pode vir a
acontecer. Eu cansei disso. Cansei de sentir pavor a cada carinho
que recebo. Cansei de ficar noites em claro, pelo medo do
desconhecido. Cansei de beijos que parecem um tipo de adeus.
— Deixe-os subirem. Conte a verdade. E não faça mais isso, não
me beije como se fosse a última vez.
— Paula, por favor, não complique mais toda essa história.
Precisamos tentar entender o que há entre nós, já que a porra do
destino vive para nos aproximar. — Ele se aproxima mais uma vez
e, desta vez, não recuo. Ele segura meu rosto com ambas as mãos e
me olha nos olhos. — Eu vou confessar algo que... puta que pariu,
não me faça repetir, porque não sei se serei capaz no momento, já
que é a primeira vez na minha vida que isso está acontecendo.
Concordo, nervosa pela curiosidade.
— Eu quero você. Nunca foi a Jaqueline, sempre foi você. Não
sei o que o destino está tentando fazer comigo, porque louco eu já
sou, afinal, sou professor de um bando de marmanjos que parecem
crianças. Mas eu quero você. Não foi um beijo de despedida, foi um
tal que chamam de amor, e maldito seja esse infeliz que está me
deixando perturbado. Eu não vou deixar que nada aconteça. Só
confia em mim. Eu vou dar um jeito. Mas tem muita coisa em jogo.
Só saiba que eu não sou o culpado e jamais seria. Mesmo sendo filho
daquele desgraçado, eu não sou como ele.
— Alessandro Santos, eu sou cardíaca, então não brinque
comigo. E você diz de amor, eu digo que foi de despedida, porque já
senti isso...
— Não me compare com Joseph Escobar, cacete! — Fica
nervoso. — Eu não sou ele. Joseph se foi, mas eu estou aqui na sua
frente, com um bando de gente me acusando, e você querendo me
matar pelo visto. Então, não me compare. Pare de pensar nele por
um instante, e se preocupe em se manter viva, para decidir se fica
comigo, ou eu vou embora.
— Não pode me pedir isso.
— Já fiz. E porra, não me faça te odiar, mulher. Facilita, que não
sei ser romântico. Recomeça, ou fique presa no passado, deixando a
sua vida passar. Sua escolha.
— Então me fale. O que sabe?
— A única coisa que posso dizer é para que observem mais.
Fiquem atentos aos detalhes. Prestem mais atenção. Vocês já têm o
nome da pessoa, só não viram o que está diante de vocês. Use a lei
para isso. A resposta está aí.
— Homem, eu já disse que sou cardíaca. Então não me venha
com enigmas.
Ele se afasta e sorri.
— Vou liberar a entrada deles. Qual deles anda armado?
— Todos.
— Que ótimo. Bem que dizem que a vida é como um sopro.
Hora de mostrar a Deus que fui um bom menino e pedir uma
proteção.
— Não adianta tentar enganá-Lo. Assim como não adianta
tentar enganar um Escobar.
— Você está de que lado, porra?
Dou de ombros e me sento. Comigo aqui não vão fazer nada a
ele. E vamos ter uma conversa civilizada ou com a confusão interna
que estou, soco a cara de todos.
Ele autoriza a subida deles. Então se vira para mim e aponta
um dedo.
— Se eu sair vivo hoje, amanhã teremos um dia apenas nosso.
Depois que eu der aula para aquele bando de gente, que acredito
que ainda vão me deixar louco.
Vou argumentar, mas prefiro me calar com o olhar que ele me
lança.
— Sem discussões. Preciso lembrar se tenho colete à prova de
balas. Não sei se restou algo que eu tenha guardado do traste do
meu pai.
— Simples. Não fique na frente do Marcos. E jamais gagueje
para o David. E nunca fale que nos beijamos e que amanhã iremos
sair ao Henrique. E então irei manter a casa sem respingos de
sangue.
Ele me lança um olhar de raiva e sorrio, porque mediante a
esta loucura só nos resta sorrir, ou iremos ao fundo do poço para
não voltarmos mais.
— Paula? — Olho para ele. — Pare de pensar demais. Nunca
acreditei nessa história de destino que une pessoas, mas estou
começando a ver isso como a nossa realidade. Estou aqui de alma,
mente e corpo, e quero que você também esteja assim. Eu não sou
ele; e se for para ficar e buscar comparações, eu te peço para ir,
porque não vou lutar com alguém que nem vivo está, isso é muito
fodido até mesmo para mim. Eu quero você como jamais quis, eu
voltei e fui atrás de você, eu sempre vi você, meus olhos sempre
foram seus desde que te encontrei, então me mostre que isso é
recíproco, porque eu não sei lidar com isso e preciso de você, mas
desde que esteja vendo eu, Alessandro Santos, que está louco para
ter você totalmente para mim. Um homem vivo, porque eu estou
vivo e você também. Se eu estiver sendo duro demais, desculpe, mas
não irei pedir perdão por dizer o que está preso dentro de mim.
Fique, se for para ser uma pessoa que está disposta a se entregar.
Suas palavras tomam conta de mim. Eu vim em busca de
informações que sabia que me dariam o que pensar, e agora
encontro algo tão grande quanto qualquer outro assunto intenso
que temos enfrentado nos últimos dias. Está uma loucura sem fim
tudo isso.
Ainda estou assustada por saber de quem ele é filho, mas
sendo essa a prova que o David disse ter, meu filho está errado.
Todos eles estão. Alessandro não é o culpado, e falo isso como
advogada, eu vi cada reação que ele emitiu ao contar tudo. Fiz uma
análise corporal, e ela entrega muitas coisas. Mas seja lá quem for o
culpado, está fazendo um bom serviço em deixar todos
perturbados.
Quem quer o nosso fim?
Nove

Alessandro Santos

— Professor, e quem me garante que qualquer um destes


filósofos estavam certos? Quais provas pode nos oferecer? Por
enquanto parece um monte de asneiras.
Paro com o controle na mão e volto a olhar para o telão com a
apresentação. Neste instante começo a pensar o porquê eu quis ser
professor. Eu tinha tantas outras opções. Até mesmo na área
policial, claro que não seria como o cretino do meu pai, mas era
uma opção. Poderia apenas estar me esbanjando com mulheres e
dinheiro também, afinal, não preciso mais trabalhar, posso viver
bem até meu último suspiro, que imagino ser antes do término
desta aula.
Ontem eu deveria ter provocado mais os homens Escobar, feito
com que eles perdessem o controle, ao ponto da Paula não
conseguir apartar, e hoje simplesmente não precisaria estar aqui
ouvindo isso de um aluno que parece um turista, vive de passagem
nas aulas, e o pai é um empresário que sempre passa a mão na
cabeça do cara de vinte e cinco anos, como se fosse uma criança.
Mas não, eu fiquei quieto ontem, e eles foram profissionais, e a
Paula uma calmaria sem igual.
Como sou um homem paciente, e que ama o que faz, terei
calma.
Volto a olhar para o ser humano e com toda calma respondo:
— Se você tivesse participado com frequência das aulas,
saberia o que estes filósofos queriam dizer com cada palavra e que
alguns tiveram determinadas falas, através de acontecimentos
reais, ou seja, as provas que tanto quer. Se para você tudo isso é
asneira te convido a se retirar com um pouco de dignidade que lhe
resta, e não me faça te odiar. E, por favor, diga a seu pai que estou à
disposição dele quando vier me dizer que vai processar a mim ou a
porra que for — digo calmo, como se eu não estivesse buscando
formas de pular da janela antes de cometer um crime.
Um aluno assovia e começa a zombar. Os demais permanecem
quietos, pois sabem que “esta calmaria” é porque meu limite já foi.
O aluno pega a mochila e sai sorrindo da sala.
— Eu vou ter que lidar com mais alguma criança mimada? Me
avisem, pois saio da sala e peço que um professor apropriado para
isso venha dar aula. Caso contrário, que possamos seguir com a
aula, pois na próxima é prova, e vocês precisam dessa nota, porque
não vou poupar ninguém. Sem privilégios... Aquele papo todo que já
conhecem.
— Acordou de péssimo humor hoje, hein? — Celma diz e sorri.
— É que vim preparado para dar aula para adultos e não
crianças.
— Não está mais aqui quem falou... E sabe, professor, existe
alguma política sobre relações entre alunos e professores? Uma
dúvida que minha amiga teve — diz com a voz manhosa.
Eles começam a rir.
— Eu vou fingir que não ouvi, Celma. E não vai ganhar notas a
mais, se achou que flertar comigo resolveria, afinal, essa história de
“minha amiga” é antiga e falsa. — Respiro fundo. — Posso
continuar?
Eles continuam rindo, mas concordam.

A aula foi complicada, mas no final, parece que conseguiram


compreender alguma coisa. Só queria ir embora logo. Tem muita
coisa acontecendo para ficar aguentando aluno que não valoriza o
que paga neste lugar. Além do mais, eu realmente não estou com a
mente muito boa para ensinar algo, desde a conversa de ontem com
os Escobar. Ocultei uma parte da história para eles, e algo me diz
que não deixaram passar, mas vão esperar o momento certo para
vir atrás de respostas. Passei a noite pensando em tudo e o quanto
estou ferrado, pois se falo o que sei vão querer saber como consegui
as informações e vão descobrir sobre meu irmão e com isso ferro
com ele, e a turma retardada dele ferra com todos. Mas se continuo
calado fodo a vida da Paula e companhia. Se eu for o herói que ela
precisa, ferro meu irmão. Se eu for o vilão ferro ela. Nunca a frase
“ser ou não ser, eis a questão”, fez tanto sentido para mim.
Ela prometeu que hoje aceitaria sair comigo, após o trabalho e
o treino. Passar um tempo longe de tudo e tentando entender o que
realmente sinto por ela, pode me ajudar a decidir qual passo devo
dar neste caminho cheio de conflitos. Iria levá-la para meu
apartamento, mas o Felipe tem acesso. Então levarei ela para a casa
que tenho no interior. Longe da cidade e desta confusão. Hoje cedo
já avisei que não viria trabalhar amanhã, e espero que ela não tenha
feito planos, pois será surpresa, porque sei que se eu falar, ela
desiste de ir para um lugar mais afastado.
Me aproximo do meu carro no estacionamento da
universidade e sou surpreendido pela figura do homem alto, arma
na cintura, e olhar de fúria.
— David Escobar, estou começando a achar que está
interessado em mim. Vindo me visitar no trabalho... E nem irei
perguntar como sabia que este é meu carro, acharia meio psicopata
da sua parte saber a placa e o modelo do carro que nunca fui à casa
de sua mãe.
Olho de relance atrás dele, e vejo homens disfarçando. São
policiais à paisana. Encosto no meu carro, e vejo próximo a entrada
um homem alto e loiro, é Cleber, o investigador, e óbvio que carrega
uma arma também.
Abro a porta do carro e jogo minhas coisas dentro.
— Sabe, fiquei curioso. Veio me prender e está com medo de eu
fugir? — Sorrio.
— Bastante observador. Mas mentiroso combina melhor para
você. — Ele me prende no carro pelo colarinho da minha camisa.
— Porra, Irene vai ficar nervosa com o estrago nessa camisa.
Me elogiou tanto antes de eu sair e disse que eu ficava lindo com ela.
— Gosta de fazer piadas, filho da puta? — Me aperta mais e
continuo sorrindo. — Por que não abriu a boca para falar do seu
irmão, o famoso cirurgião plástico, e não disse que ele está na
cidade? Eu não falei na frente da minha mãe, porque percebi que
esconde isso dela, e ela já sofreu demais, não merece mais
decepções. O que está escondendo? Fale de uma vez, antes que eu
perca o restante da minha paciência e faça uma merda.
Olho ao redor e vejo que os seguranças da universidade
sumiram. Cara esperto esse!
— Pode me soltar? Não gosto de homens me prensando em um
carro.
Ele me larga com força e me ajeito.
— Alessandro, por que escondeu sobre seu irmão? Não
brinque comigo. Eu prometi aos outros que teria calma, mas está
sendo impossível. — A ira é visível em seu olhar.
— Eu não escondi. Apenas não me foi questionado. E o que
meu irmão faz ou deixa de fazer é problema dele, não controlo sua
vida.
— Caralho! Seja homem e fale a verdade! — ele grita.
— Não me diga o que tenho que fazer. Está aqui sem nenhuma
autorização, melhor, mandato. Você com toda certeza ameaçou aos
seguranças para saírem. Muitas coisas erradas para um delegado
que está com seu chefe te vigiando. — Ele leva a mão à arma e isso
me faz sorrir ainda mais. — E o que vai fazer agora? Atirar de
raspão diante do meu pé; e se eu não lhe der o que quer, vai atirar
na minha perna direita, como forma de tortura; e se não resolver
vai atirar de raspão próximo a minha cabeça? Afinal, se existe
outras possibilidades você não atira para matar, não é mesmo?
— Como você sabe todas as técnicas que costumo usar? — Sua
expressão fica mais tensa. — FILHO DA PUTA!
Consegui. Eu vejo em seus olhos. Ontem, depois que eles foram
embora, meu irmão veio com informações após estar com a pessoa
que anda fazendo tudo isso, na qual cedeu informações demais, e eu
sabia que iria poder usar alguma, meu irmão não é idiota, ele sabia
que a oportunidade iria vir, e eu usaria algo daquela conversa toda.
Só resta saber, porque ele quer tanto ajudar.
Ele grita para Cleber. O homem se aproxima rapidamente.
— As fichas. As malditas fichas que iríamos mexer hoje e
desistimos. Pegue aquelas porras e olhe cada coisa. Cada detalhe! —
Seu tom é rude.
— O que eu procuro exatamente, David?
— Se estiver lá, você vai saber. Vai, agora! Leve todos com
você! — grita.
O homem sai às pressas e faz sinal para os demais que lhe
seguem.
— Como conseguiu isso? Como sabia? Melhor, como tem
certeza?
— Não me peça isso. Tem muita coisa em jogo. Se eu quisesse
foder todos vocês, jamais daria esta pista.
— COMO EU DEIXEI ISSO PASSAR. PORRA! — Ele dá um murro
na parte de cima do carro branco que parece ser seu. — Aquele
maldito delegado na minha cola, controlando tudo. Eu deveria ter
fugido de seguir as regras faz tempo. — Me olha e a ira é evidente
em seu olhar. — Minha mãe estava certa, você nunca foi o culpado...
Em partes. Você vai nos dar todas as respostas, nem que para isso
eu entregue meu cargo, mas te encherei de porrada se for
necessário, para que abra o caralho da boca.
— Porra, gostam de violência! Mas se quer fazer algo, tem hoje
e amanhã. Levarei sua mãe para fora da cidade, e você vai aceitar
isso — digo sério.
— Como é? O caralho que vou!
— David, deixe a raiva de lado e confie em mim. Eu estou
colocando a minha vida em risco também e de uma pessoa que, por
mais que torne a minha vida um inferno, eu quero viva. Eu abri
demais o jogo. Então resolvam isso entre hoje e amanhã, agora você
sabe quem procura. Sabe por onde começar; e se não conseguir tem
por perto a pessoa que mais pode te ajudar, por conhecer ainda
mais os passos do verdadeiro inimigo. Tira sua mãe disso. Ela é o
ponto fraco de vocês. É ela que querem, para deixá-los fracos. Vocês
estão tão focados em condenar todo mundo, que não viram o
quanto estão sem saber como agir. Quer o culpado? Então não perca
seu tempo comigo. E convença a sua mãe a me acompanhar.
Ele reluta por um tempo.
— Uma equipe vai com vocês. O celular dela será rastreado o
tempo todo e o seu também. Um deslize, eu fodo a sua vida como
nunca imaginaria.
— Que novidade eu ter meu celular... Esquece. Faça o que
quiser. Mas acredite, está focado em acusar o cara errado.
Ele entra no carro e antes de fechar a porta digo:
— Eu não vou ocupar o lugar do seu pai. Assumam que a maior
parte desta raiva que estão é pelo ciúme. Vocês fizeram a vida de
vocês, deixe sua mãe fazer a dela. Joseph Escobar está morto, mas
ela não. E eu não serei como ele, porque sei que ele era único para
vocês.
Ele bate a porta com força e sai rapidamente dali em uma
manobra que tenho certeza de que veio por muitas perseguições.

Chego em casa e Felipe está ao celular e conversa em inglês,


está nervoso. Jogo as coisas no sofá e prefiro nem prestar atenção
nas coisas que ele diz.
Irene entra na sala e sorri assim que me vê.
— Senhor, algum pedido especial para sobremesa? O almoço
está pronto.
— Não. Na verdade, nem irei almoçar.
— O senhor precisa se alimentar. Seu irmão come muito bem.
Só parou de assaltar minha cozinha quando ligaram para ele e está
há um bom tempo assim. Não entendo nada do que ele diz, mas
parece nervoso.
— Melhor não entender. Vou tomar um banho, e não prepare
nada para o jantar. Irei viajar.
— Vai viajar? O senhor não disse nada antes. Não fiz mala, ou
deixei roupas prontas...
— Se acalme, mulher. Está tudo bem. Não se preocupe. E pare
de me mimar. — Deixo um beijo em sua testa e saio da sala.
Entro no quarto, retiro as coisas do bolso e coloco na cama.
Retiro os sapatos e a camisa também. A porta é aberta enquanto
começo a abrir meu cinto.
— Sabe o que a nossa mãe ensinou sobre bater na porta antes
de entrar? Então, ainda é válido. Esses seus amigos estão sendo má
influência ao extremo, perdendo toda educação, porra! — reclamo e
ele sorri.
— Não me provoque. Lembre-se de que na hora da briga eu
sempre venço e você sai todo roxo e comigo tendo que pôr gelo no
seu traseiro. Porra, aquilo foi constrangedor!
Acabo rindo e jogo o cinto na cama.
Eu amo esse infeliz, mesmo fazendo tanta merda. Porra, é meu
irmão! Não importa que não é de sangue.
— Consegui a clínica — informa aleatoriamente.
— Pretende ficar no Brasil, então?
Ele encosta na parede e cruza os braços.
— Problemas com seus amigos, Felipe?
— Nada que eu não resolva.
— O que está acontecendo? Você pode ser um filho da puta, às
vezes, mas ama ser cirurgião e construiu uma carreira bastante
popular na Califórnia. Vai desistir disso?
— Não. Irei continuar com a clínica lá, mas quero ficar um
tempo no Brasil. Também aluguei um apartamento, para te dar paz.
Mas não chore de saudade.
— Idiota!
— Você abriu a boca para eles. Pegou o que joguei. Esperto.
— Não como pensa. Mas como sabe?
— Tenho contatos na polícia.
— Claro que tem.
— Escutei você falando para a Irene que vai viajar. Vai tirar a
Paula Escobar da cidade?
— Vou. Para dar tempo a eles de conseguirem algo sem que a
peguem e use de isca. E para tentar resolver nossa situação... Nem
sei como nomear isso.
— Isso ainda vai dar merda e das grandes. E sinto por você,
meu irmão. Pela primeira vez vejo que realmente gosta de alguém.
Vou dizer até que acredito que a ama. Não que eu entenda muito
sobre isso, afinal sou um homem divorciado por problemas
complicados no casamento.
Sento-me na poltrona e fico observando-o.
— Felipe, nesse tempo todo você sempre foi um homem frio.
Nunca se importou em ficar próximo a mim. O que aconteceu?
— Digamos que talvez eu me importe com meu irmão. — Sua
bipolaridade é ativada. Seu lado sombrio toma conta de seu tom e
sua expressão.
— Fez merda, não foi?
— Acho que foi você que se meteu em uma grande confusão,
desta vez.
— Como estão seguindo-a?
— A Paula? Conhecem os passos dela. Primeiro estavam
rastreando o celular, e grampearam as ligações, mas parece que os
Escobar resolveram ser espertos. Agora estão observando a
oportunidade perfeita. A pessoa por detrás está apenas esperando
uma falha, e vai existir. Eles estão vulneráveis.
— Por que a pessoa resolveu te contar tantas coisas? Por que
confia em você?
Ele me encara por um tempo em silêncio.
— Porque sabe quem eu sou. E sabe que essas informações
chegariam até você, é isso que tinha que acontecer.
— E por que caralho fez eu entender que deveria abrir a boca?
Porra!
— Porque faz parte. Estou jogando o mesmo jogo, mas sou
mais esperto.
— Felipe, é difícil de entender tudo isso. Por que não para essa
merda toda?
— Estou tentando, mas não posso agir diretamente, estou
agindo em cima de terceiros, que a pessoa acha que é de confiança.
Mas estão comigo. Querem saber o que tanto protejo aqui.
— O quanto está envolvido nisso, seja sincero...
— Você tem que saber apenas o que eu acho que é importante,
no mais, não faça perguntas.
Levanto rapidamente e olho fixamente em seus olhos. Agora
eu entendi tudo. Porra!
— Você está agindo por fora. Pelo quê? A que preço?
— Cara, não se preocupe. Eu sei o que estou fazendo.
— Sabe mesmo? O que prometeu a eles? Tudo tem um preço.
— Não vai querer saber.
— Fale, porra! — grito.
— Já que insiste... Disseram que me ajudariam a te proteger,
mas que se os homens da Lei descobrissem qualquer coisa,
honrariam com sua principal regra de que “traidores não tem
direito a defesa”.
— Você é louco. Eu daria um jeito. Olha a merda agora. O
problema triplicou.
— Só não abra mais sua boca, e nada acontecerá a nós dois.
Vou te ajudar a manter a sua Escobar viva.
— E por que faria isso? Sabemos que vai honrar o legado deles.
E sei que esconde algo grave — falo com ironia e desgosto.
— Está enganado. Você não me conhece de verdade,
Alessandro.
— Não. Desde que trocou a mim, que sou sua única família,
porque aqueles malditos...
— Eu fiz uma escolha, mas ela nunca me impediu de valorizar
você. Se sou frio, foi porque aprendi a ser assim para aguentar todas
as merdas dessa família. E quer saber por que vou te ajudar a
manter a Paula Escobar viva? Porque você vai fazer qualquer merda
por ela. — Ele descruza os braços. — E porque eu amo você, que não
enxerga que eu faria de tudo para protegê-lo, porque é a minha
única família. Iria até contra as leis mais intensas da qual eu
aprendi a respeitar. Então, se estou controlando muita merda, é
porque o idiota do meu irmão quer se envolver com uma mulher
que vive em perigo. Não é porque hoje tenho dois estilos de vida,
que deixei a frieza de um deles me tomar por completo, existem
exceções e agora é uma delas. Goste ou não, ficarei no Brasil, para
proteger sua bunda dos chutes que pode levar. — Seu olhar é de
raiva. — E eu já imagino que vai levá-la para a casa do interior,
saiba que está muito bem protegida por meus homens, porque os
poderosos Escobar não imaginam o quanto a pessoa está mexendo
psicologicamente com eles, e vai ganhar esta luta, porque eles estão
fracos, e vão deixar brechas e com isso os seguranças deles se
tornam vulneráveis também. Então se eu for frio para algumas
coisas e ter sentimento para outras é errado, atire em mim, porra!
Mas não diga que eu troquei você por eles. Não faça mais isso, cara!
— Ele se retira batendo a porta.
Caio sentado na poltrona e passo as mãos pelos cabelos.
Quando acho que tudo vai melhorar, mais coisas parecem estar
prestes a explodir.

Paula Escobar

Estou prestes a sair do meu escritório no centro quando David


e Henrique entram.
— O que houve? Que caras são essas? Quem morreu? Meninos,
sou cardíaca.
— Ninguém, querida mamãe. Mas saiba que a senhora vai
viajar hoje e volta amanhã ou daqui uns cinco dias, porque vai ser
foda resolver em um dia e meio, porque não dá para considerar
como dois dias... — Henrique abre a boca e David dá uma
cotovelada no irmão.
— Certo. O que está acontecendo?
— Então... A Daiane, isso... Ela quer que a senhora viaje —
David fala.
— Pare de mentir. Diga a verdade antes que eu arranque ela
na base dos tapas.
— O grisalho metido a professor vai viajar com a senhora... e
você vai aceitar — Henrique diz e David o olha feio e ele dá de
ombros.
— Como é? Piada isso? Primeiro condenam, depois o
interrogam, e agora querem que eu vá viajar? Exijo que digam agora
o que está acontecendo.
Mais uma pessoa entra e é a Liziara e toda animada.
— Já fiz sua mala, Paulinha. Saiba que milagres acontecem e
eles estão amando o Alessandro... — Ela se controla para não rir. —
E tem mais, realmente o que vocês mães dizem, devemos sempre
levar em conta, porque estão certinhas. — Henrique belisca o braço
dela, e ela acerta um tapa nele. David fica entre os dois. — Enfim,
nada aconteceu. Só viajar. E eu estava escutando tudo ao lado de
fora, mas não resisti e entrei.
— Por que querem se livrar de mim, junto com aquele que
tanto condenaram? Quero uma resposta agora. — Observo
atentamente os três.
— Por quê? Oras... Porque o David é a melhor pessoa para te
dizer isso. Fale, meu irmão. — Henrique está todo nervoso.
David empurra a Liziara para frente e ela por pouco não cai.
— Que belo cavalheiro, jogando a esposa na linha de frente.
Patético! Saiba que, quando eu for delegada, juro que irei dar tanto
na sua cabeça e te deixar cinco dias em uma cela, e o Henrique vai
me ajudar a arrumar desculpas para esse ocorrido!
Ajeito a bolsa no antebraço e levo uma mão à cintura.
— Falem agora o que está acontecendo e por que resolveram
que devo viajar? Vocês têm cinco segundos...
— Então, porque... Na verdade, é algo sério, não posso falar
muito, já que o David não é paciente para me explicar muita coisa,
mas entendi que devo calar a boca sobre o assunto. Então confie no
seu filho, que mesmo sendo um babaca é um bom delegado; e se
você tem que sair com aquele que ele condenou, e ele não diz o
motivo a você, é porque algo aconteceu, e um deles é o fato de ter
descoberto que, ao que parece, Alessandro, o gatão, é inocente! Fim.
— Eu vou ficar viúvo e serei preso pelo homicídio da minha
mulher! — David diz entredentes e sua esposa sorri. — Mãe, confie
em nós. Sai da cidade. Uma equipe de segurança vai acompanhá-la,
e deixei um celular novo para a senhora na sua mala. Não converse
nada com os seguranças por ele. Use para contato conosco, e tome
cuidado com tudo o que for falar, sempre em códigos. Sabe como
funciona.
— Você não vai falar... Mas o Henrique, ele não cala a boca.
Então, meu amado filho, diga o que está acontecendo? — Uso meu
tom de mãe quando quer algo.
— Porra, mãe! Aí me fode. Me elogiando... Eu... Só confia.
— Eu vou. Está na hora de confiarmos mais uns nos outros.
Mas, quando for o momento, digam a verdade. Nada de segredos.
Eles concordam.
— Precisamos buscar informações e com a senhora na cidade é
perigoso demais — David revela.
Apenas assinto.
— Eu nunca viajei com outro homem... — digo em pânico.
— Relaxa. Fiz sua mala com a ajuda da Ana. Coloquei cada
lingerie... — Liziara sorri animada.
— CARALHO, EU NÃO PRECISO SABER DISSO! — David grita e
sai da sala completamente nervoso.
— Liziara, eu vou te matar, porra! — Henrique grita com ela.
— Ué, é a oportunidade de ela destravar o que deve estar
travado há anos. Vocês são espertos, só faltam malhar o “precioso”
para estar sempre na ativa, mas a poderosa matriarca tem que ficar
de escanteio? Nem pensar. Irei ser a porta voz das mulheres desta
família.
Acabo rindo.
— Cuidado com o que apronta para a minha mãe. O David sabe
que o trabalho na boate teve a companhia do Joaquim, o cara que te
amava e o enfrentou?
— Como você... Paula? — Ela me olha e nego.
— Não falei nadinha.
— Eu estive lá. Você não me viu, mas eu vi cada passo seu.
— Eu vou te cegar. É isso. Agora entendo a Ana. Você é
irritante. Eu te odeio.
— Me ama demais, cunhadinha. — Ele puxa uma mecha do
cabelo dela, que acerta sua mão.
— Chega! Parecem duas crianças! Quem vê, nem imagina que
são pais e casados. Andem, todos para fora... Sou cardíaca, vou
morrer ainda. Sinto palpitações.
Eles riem e saem se provocando.
O que querem esconder? Por que agora querem que eu viaje
com o Alessandro? Eles nunca escondem nada do restante da
família quando envolve a nossa segurança. Ou estão aprontando, ou
é algo bem sério. Mas tem outra coisa: não sei se estou preparada
para viajar com o Alessandro. Sei que esta é a oportunidade de
entendermos o que acontece entre nós, porém é tão estranho sair
com alguém que não seja... Eu prometi não pensar e tentar
recomeçar, chega! Eu irei realmente tentar.
Dez

Paula Escobar

O local é próximo ao sítio Escobar. Os meninos não


economizaram na equipe de segurança. Ainda estou achando tudo
isso uma loucura. Alessandro sabe de algo e não me fala. Eu preciso
saber o que estão fazendo. Algo está acontecendo. E simplesmente
não acreditei na versão dos meninos. É algo maior, e mais grave. E
sinto que foi o Alessandro que deu a eles o que precisavam, e com
isso tiraram a culpa de cima dele. É, terei que descobrir logo o que
estão aprontando.
Observo a casa e tem um estilo rústico. É simples, perto do
Sítio Escobar, mas é tão aconchegante e bonito. Sempre gostei da
simplicidade, mas Joseph gostava de exibir o que o dinheiro podia
comprar, e Marcos e Henrique herdaram isso também, não são
desprezíveis por isso, apenas gostam de gastar, enquanto eu
sempre fui econômica e Daiane e David herdaram isso de mim.
Enfim, pelo visto ficarei aqui, com um homem que também
está escondendo algo.
— Sabe, na minha área de trabalho, e olha que sou civil, mas
em geral isso é cárcere privado. Só um comentário qualquer — digo
deixando minha bolsa no sofá encostando na lateral dele.
Alessandro liga o ar-condicionado, pois está calor, e por ser
tarde, é melhor evitar deixar tudo aberto, mesmo com a tropa de
segurança ao lado de fora.
— Seria cárcere se você não tivesse vindo por vontade própria.
Ninguém te obrigou. E tem a chance de ir a hora que desejar.
— Tem certeza? Eu meio que não tive escolha, e sou uma
mulher de muitas escolhas.
Ele se vira e sorri. Me sinto como uma jovem e não uma mãe,
avó e mulher madura. Um friozinho se instala na minha barriga, e
cruzo os braços para ver se a mudança de posição retira o que estou
sentindo. Mas foi à toa.
Ele joga o controle do ar-condicionado no sofá.
— Vem, vou te mostrar a casa. É bem humilde, como pode ver.
Evito o luxo nos lugares que quero paz.
Acompanho ele, que me mostra cada canto. São três quartos,
dois banheiros, cozinha pequena, lavanderia, um quintal aos
fundos, além da área da frente que é toda repleta de árvores. Tem
entrada pelos fundos, laterais e na frente, que tem um cercado
baixo, bem ao estilo interior mesmo. Todos os cômodos são como a
sala, rústicos. É realmente uma casa bonita, como eu já havia
reparado.
— Se estiver com fome, posso pedir algo. Foi de última hora a
decisão de vir para cá. Então não tem nada para comer.
— Não. Estou bem. Jantamos antes de vir para cá e não é uma
viagem longa.
Ele concorda e se senta no sofá. Faço o mesmo.
Meu celular toca e é o Marcos.
— Oi.
— Está tudo bem? — indaga sério.
— Sim.
— Está com o que precisa? — Escuto a risada do Arthur ao fundo
e a Beatriz pedindo para ele ficar quietinho.
— Sim.
— Ótimo. Até breve. — Ele desliga.
Acatei ao que o David disse, sobre tomar cuidado com tudo o
que fosse dito, e falar por códigos. E, pelo visto, o Marcos também. E
para ele querer saber se estou armada, ao dizer “está com o que
precisa?”, é porque não está gostando disso.
— Então, me conte. O que sabe? Por que passaram a confiar em
você?
— Paula, não peça isso. Não agora. Por favor, vamos pensar em
outra coisa, esquecer tudo isso.
— Meio impossível, com seguranças ao lado de fora, armados
até os dentes. Essa mudança repentina dos meus filhos...
— Jaqueline me procurou — ele diz.
Que mudança ousada de assunto.
— Interessante desvio da conversa.
— Ela estava preocupada com você. Gosta muito de você, e não
quer que eu ferre sua vida. E acha que você está enciumada, por
algo que nunca aconteceu.
— Como é? Bom saber que eu sou o assunto principal nas
conversas de vocês. Mas acho que, de verdade, não é o tipo de
assunto que eu quero ter que lidar neste momento, se não se
incomodar. — Meu tom é sério e sei que minha expressão também e
não busco disfarçar.
Ele sorri.
— Você sabe que nunca houve nada. Que foi algo que vocês
todos imaginaram, apenas por eu ser um homem belo e educado,
modéstia à parte. — Sorri. — E estão acostumados com os
trogloditas do Marcos e do David, e os ciúmes loucos do Henrique.
Eu não sou como eles. Eu não sou um Escobar.
— Não. Você é o Alessandro, um professor de filosofia, que está
a todo custo tentando mudar de assunto.
— E está funcionando, e vai funcionar mais se você parar
interromper.
Sorrimos.
— Nem alcoolizada eu esqueceria.
— Podemos testar. Bebidas têm de sobra.
— Tem vinho?
— Sim. Vou pegar. Sabia que quanto mais velho melhor?
— Por que estou sentindo um duplo sentido nisso?
— Porque tem a mente safada. Eu apenas fiz um inocente
comentário.
Sai rindo e fico olhando para ele. Alto, com um andar elegante.
Por que esse homem tinha que ser tão belo? E por que tinha que ter
um sorriso tão perturbador?
Ele retorna com duas taças e uma garrafa de vinho aberta. Faz
um sinal para eu me sentar no chão sobre o imenso tapete marrom.
Retiro meus saltos e me sento, encostando no sofá. Ele se senta ao
meu lado e nos serve. Retira os sapatos e os chuta para longe.
— Um fato sobre mim. Não sou muito organizado.
— Por incrível que pareça, criei três meninos e todos eram
bagunceiros, e hoje querem dizer serem os mais organizados. — Ele
me entrega a taça depois de mexê-la com cuidado. Dou um gole. —
Sabia que dos três, o mais desorganizado era o Marcos? Nada ele
sabia colocar no lugar, eu ficava doida.
Ele sorri e bebe um gole do seu vinho, e afasta mais a garrafa
se virando ainda mais para mim.
— Difícil acreditar, afinal do jeito que é hoje.
— Mas sério ele sempre foi. Joseph tinha um amigo muito
próximo, Joel, não se desgrudavam, e o Marcos não suportava esse
homem. Aprontava cada uma. Puxava as cadeiras que ele iria se
sentar, derrubava as coisas nele e fazia cara de santo, ou jogava a
culpa no Henrique, e aí a confusão se armava. E o David colocava
lenha na fogueira, ficava dizendo: “Eu não deixava, Henrique”, “olha,
Marcos, vai deixá-lo falar isso?”... Era uma loucura.
Rimos.
— E a Daiane? Ela parece ser mais sensata. Mais tranquila. O
Jacob, pelo visto, deu sorte.
— A Daiane tranquila? Ela sempre foi mais organizada, mas
era terrível também, queria ficar imitando tudo o que o pai fazia,
então invadia o escritório dele, fazia zona e sumia com as
papeladas, isso o deixava louco. E os meninos evitavam provocá-la,
porque ela batia mesmo, o que tinha na mão voava neles. Uma vez
acertou um sapato que eu tinha na testa do David, porque ele a
chamou de “nojentinha”. Pense, eu estava sozinha, empregados de
folga, incluindo a babá deles. Então eu tive que carregar os quatro
para o hospital, porque David chegou a levar pontos na testa, e o pai
deles viajando. Quase colocaram o hospital abaixo. Um culpando o
outro. Henrique pegou o estetoscópio de um médico, que ficou
sobre um balcão, e correu pelo hospital. Quem dizia que
pegávamos? Foi terrível. Mas surtei muito aquele dia, todos ficaram
de castigo por um mês.
— Então a Paula se estressa mesmo? — Ele ri.
— E como. Até hoje dou muitos surtos. Sou cardíaca, sabe,
então não posso me estressar, evito.
Bebemos mais do vinho.
— Não é cardíaca de verdade.
— Claro que sou. Não discuta.
— Tudo bem... Mas me diga, como era você antes de ser mãe,
esposa... Antes de tudo?
— Eu era moleca. Encrenqueira demais. Na faculdade vivia
arrumando confusão, ainda mais com um professor que não gostava
de mim.
— Sempre somos nós a levar a culpa. — Ele finge estar
ofendido e bebe mais vinho.
— Se você o conhecesse entenderia. O homem era um terror.
Tornava a minha vida um inferno. Ainda mais que sabia que eu
dependia do meu trabalho na faculdade para me manter ali. Minha
família sempre foi muito humilde. Perdi minha mãe cedo, e meu pai
não conheci. Fui criada pela minha madrinha, em uma pensão que
eu amava.
— Ela ainda...
— Não está mais viva. Ela faleceu quando engravidei da
Daiane. Teve um infarto. Na época, eu poderia ficar com a pensão
que lhe pertencia, mas não quis. Com o tempo acabei vendendo para
dois senhores, que fariam um hotel.
— As lembranças eram grandes... Entendo. — Ele olha ao redor
e suspira.
— Essa casa era dos seus pais?
— Sim. Depois da morte deles, reformei tudo, mesmo assim
ainda traz lembranças. Minha mãe sorria muito nesta casa, porque,
quando estávamos aqui, raramente meu pai nos acompanhava.
Então quando ficava apenas ela, meu irmão e eu fazíamos a festa...
— ele parece perceber que falou demais e noto o desconforto.
Bebo o que restou do meu vinho e deixo a taça de lado.
— Irmão? Que irmão?
Ele nos serve mais vinho e deixa a garrafa de lado mais uma
vez.
— Tenho um irmão. Mas não conto a todos. Ele tem uma certa
fama, e tento evitar a mídia.
— Como assim?
— Ele é cirurgião plástico na Califórnia. Está no Brasil no
momento. Felipe Santos.
— Já ouvi falar desse cirurgião, mas jamais imaginaria que
eram irmãos. Por que nunca contou para nós?
— Bom, o David descobriu rápido. Digamos que não sou muito
de falar da minha vida pessoal. E realmente, quem olha para ele não
imagina que somos irmãos. Nenhuma semelhança sequer. Ele é
adotado. Minha mãe, depois que teve a mim, não conseguia mais ter
filhos e sonhava em ter mais um. Meu pai, naquela época era um pai
de verdade, e um bom marido. Aceitou a opção dela de adotarem.
Mas depois que o Felipe chegou, tudo foi mudando. Meu pai foi
mudando, e daí você já deve imaginar todo o inferno que foi. Felipe
veio bebezinho, e minha mãe acreditava que era a atenção que dava
a ele que deixou meu pai enciumado. Doce ilusão.
— Deveria ter nos contado sobre ele. O que ele faz no Brasil?
— mudo o rumo da conversa, pois percebo que, quando fala do pai,
uma mágoa cresce dentro dele.
— Vai abrir uma clínica aqui. Ele não fala muito sobre seus
planos.
— Entendo. Mas e você, sempre quis ser professor?
— Sempre amei ensinar. Meu pai queria que fôssemos da
polícia, mas sempre odiei toda a correria e burocracia que
enfrentavam. Ele nos treinou muito quando adultos, fizemos
treinamentos de todos os tipos, mas não existia amor da nossa
parte com isso. Então resolvi me tornar professor de filosofia,
sempre me achei louco o suficiente para poder entender os loucos
que estudei. E ensinar me acalma. Confesso, que hoje, já tenho mais
vontade de matar meus alunos, mas nada que uns xingos não
resolvam.
Começo a rir.
Ele retira os óculos e deixa no sofá. Passa a mão pelo cabelo e
bebe mais de sua bebida. Faço o mesmo com a minha. O vinho
esquenta o corpo e traz um rubor que sempre julguei ser atraente.
— Sabe, quando te vi na boate pela primeira vez, o Jacob
estava nervoso, pois viu a Daiane e pelo visto tinham tido
problemas. Assim que coloquei os olhos em você fui atraído. Ele
veio atrás, pensando que eu faria merda. Todos sempre souberam
que declarei que mulheres eram enrascadas. Mas, pelo visto, todos
que dizem isso pagam com a língua.
— Pelo menos, dos meus filhos, todos pagaram. E incluo o
Marcos, porque tenho ele como filho.
Ele me olha e sorri.
— Desde aquele dia, eu não deixava de comparecer a nenhum
evento que o Jacob me convidava, pela esperança de ver você.
Loucura?
— Um pouquinho psicopata, talvez. — Sorrio.
— Foi exatamente esse sorriso que me atraiu ainda mais.
Sinto a timidez tomar conta de mim e finalizo minha bebida.
Abaixo o olhar para a taça vazia.
— Todos os momentos que acreditavam que eu queria a
Jaqueline era para você que eu olhava. Ela só foi uma boa amiga,
acabava rindo das loucuras dela. No casamento da Daiane, quando
conseguiram partir o buquê ao meio, aquilo me assustou, ainda
mais quando vi o olhar dela para mim; e quando olhei para você, a
que eu queria que me olhasse, desviou rapidamente o olhar. Então
eu falei qualquer coisa que fosse soar engraçado para quebrar o
clima estranho.
— E depois disse que estava fora de qualquer relacionamento.
— Sim. Boa memória... Eu estava começando a me assustar
com tudo.
— Foi por isso que sumiu e foi dar notícias agora?
— Em partes. Eu também precisava ajudar meu irmão no
divórcio dele.
Olho para ele; e sempre que fala da família, algo muda em seu
olhar.
— Eu comecei a me assustar com o que vinha sentindo por
você a cada vez que te via. Porque você tem traços dele... É difícil.
— Mas não sou ele, Paula. Eu estou bem aqui e te pedindo uma
chance de descobrirmos o que existe entre nós.
— Eu estive esses últimos dias em constante reflexões, e
lembrei que prometi que se algo acontecesse, eu me permitiria ser
feliz novamente. Mas não é fácil. Muita coisa acontecendo... e ainda
está acontecendo.
Ele pega nossas taças e afasta. Então se volta para mim,
prendendo uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha, e
acariciando meu rosto diz:
— Não seja uma Escobar... Seja apenas a Paula. Esqueça tudo.
Seja minha. Se entregue completamente a mim.
Sinto meu coração disparar muito forte. Um tremor toma
conta de mim.
— E se der errado? E se tudo ruir?
— E se der certo? E se nada ruir? — Ele aproxima mais seu
rosto do meu. — Friedrich Nietzsche, um filósofo e poeta, disse uma
vez: “Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco
de razão na loucura”.
— Quem garante que tem razão na loucura?
— Quem garante que não tem? — Sorrimos. — Eu vou te beijar,
mas não serei capaz de parar.
— Isso é loucura, e tenho razão quando digo isso. Mas quero
um pouco de loucura, não que minha vida não seja recheada delas,
mas é bom...
Ele não me deixa terminar. Me beija e sinto todo o meu corpo
tremer. O gosto do vinho em nossa boca torna tudo mais quente. Eu
não consigo pensar em mais nada. Não com sua mão deslizando pela
minha perna, e meu vestido subindo. Meu coração vai explodir, e
tenho certeza de que serei cardíaca de verdade. Meu corpo vai se
inclinando e acabo deitada sobre o tapete, meus cabelos se
esparramam pelo chão. Santa Liziara, que me fez pôr toda depilação
em dia, e pôr uma boa lingerie, e a Ana Louise que me fez usar um
excelente creme corporal, que eu não usava tem bons dias.
Ele fica entre as minhas pernas, e não consigo me intimidar ou
recuar. Eu quero ir além. Não quero que ele pare. Ele afasta os
lábios, e seu olhar é outro, muito mais atraente.
— Eu não vou parar.
— Não peço por isso.
Tenho certeza de que o vinho está me ajudando a ser assim.
Ele desliza os lábios pelo meu pescoço e beija dando leves
mordidas. Me remexo e sinto o quanto está duro. Deslizo as unhas
por sua nuca, e ele arfa. Se afasta e começa a retirar a roupa. Não
consigo desviar o olhar. Seu corpo acaba me hipnotizando. Ele
retira a cueca preta, e tenho que morder o lábio inferior para não
falar ou deixar qualquer som sair. Volta ao meu encontro, e retira
meu vestido. Minha lingerie vermelha fica toda aparente. Torna a
me beijar, mas desta vez não é demorado; logo em seguida, ele
começa a descer o beijo, sem tirar os olhos dos meus. Se aproxima
dos meus seios, e solto um gemido baixo. Ele descobre que o sutiã se
abre na frente, e assim o faz, e ajudo a retirar a peça de perto de
mim. E Deus abençoe o silicone que não é nada surreal, foi apenas
para erguer o que três filhos derrubaram.
Ele chupa o bico do meu seio, e meu corpo automaticamente
acende por completo. Estou em chamas. Sinto minha calcinha
umedecer. Alessandro começa a dar atenção ao outro seio também,
e minha respiração muda drasticamente. Quero logo ele dentro de
mim, essa tortura está acabando comigo. É o desejo que se
acumulou por muito tempo. Se afasta dos seios e começa a retirar
minha calcinha. Parece que os segundos que leva se tornam horas.
Fica entre as minhas pernas, prendendo-as, para que fiquem bem
abertas. Esse homem vai me causar um treco.
— Vou chupar sua boceta toda, e só então vou colocar meu pau
em você.
— Não pode pular a primeira parte?
Ele sorri, e começa a fazer o que disse. Me chupa e meus
gemidos aumentam. E nem sequer me importo se os seguranças
grudados as portas e janelas vão ouvir. É a melhor sensação que
estou sentindo. Como eu senti falta de estar assim, sendo amada de
todas as formas... Pera aí, seu olhar... Ele me olha com... amor? Agora
vejo. Seu olhar sempre foi este quando direcionado a mim. Sempre
foi de amor, carinho, respeito. Eu sempre desviei de todos seus
olhares, sempre fugi dele por medo, por achar que ele olhava igual
para Jaqueline, mas nunca foi. Comigo era este olhar dilatado,
brilhante e ao mesmo tempo repleto de promessas não ditas, bem
diferente do modo que ele se direcionava a outros... a ela. E na
minha loucura de fugir de tudo, eu preferi acreditar em algo que
nunca foi verdade, eu criei na minha mente uma situação que nunca
existiu, apenas para culpá-lo e sair dessa loucura que a vida me
colocou após mais de anos da grande tragédia na família.
Não tenho tempo de continuar a pensar nisso, porque ele
enterra dois dedos dentro de mim e os movimenta enquanto me
chupa. É como se eu estivesse em uma queda livre, sem saber como
agir, sem ter controle de nada.
Ele sente que não irei durar muito tempo desse jeito, então se
afasta e resmungo. Pega a carteira dentro do bolso da calça jogada,
e dela retira um preservativo.
Como são safados, sempre andam na esperança de ter sexo!
Acabo sorrindo do meu próprio pensamento.
Ele coloca o preservativo e se aproxima. Inclina seu corpo
diante do meu.
— Não sou mais virgem, sabe disso... Não precisa ser delicado...
Ele sorri e beija meus lábios. Então se aproxima do meu ouvido
e sussurra:
— Você quer forte?
Meu corpo queima por inteiro com sua voz grossa em meu
ouvido.
— Responde, Paula...
— S-sim...
— Ótimo. Fique de quatro, agora — pede mandão.
Faço o que ele pede, e por sorte o tapete é fofo. Ou teria joelhos
ralados, experiência própria.
Segura minha cintura, e começa a me penetrar, e vai cada vez
mais fundo.
— Forte, não é? — questiona, e sinto o aperto de suas mãos.
— Bruto! — rebato provocando.
— Seu pedido é uma ordem, doutora Paula.
O movimento é único e forte. Prendo o ar e um grito sai de
meus lábios, não pela dor, mas pelo prazer. Está completamente
fundo. Então começa a se movimentar intensamente. Segura meu
cabelo com uma das mãos, e enrolando, puxa para trás, com isso
inclinando minha cabeça.
— Cacete, Alessandro! — grito.
— Temos uma Paula que diz palavrão, estou gostando cada vez
mais...
Continua os movimentos fortes. Meu corpo inteiro está suado e
nossos gemidos são altos. Ele diz coisas safadas, o que me deixa
ainda mais louca. Tapas são acertados na minha bunda, e a dor traz
mais prazer.
Não consigo aguentar muito e começo a gozar. Meu corpo
inteiro treme, e ele não demora a ter o mesmo destino.
Deito-me no chão e ele se afasta dizendo que vai se livrar do
preservativo. Eu fico como uma morta. Não sei terei forças de voltar
a andar, meu Deus!
Não demora e retorna. Estou fraca. Então me pega no colo e
caminha em direção ao quarto que disse ser dele. Me deita sobre a
cama. Os abajures são as únicas luzes acesas. Se deita ao meu lado e
me puxa para si, nos cobrindo.
— Só não darei continuidade, porque tem sido longos dias, e
precisa de paz ao menos uma noite.
— Que cavalheiro! — provoco.
Escuto seu risinho.
— Só preciso de alguns minutos, depois de um banho. E, talvez,
eu não queira um banho sozinha.
— E quem disse que eu daria a opção de ir sozinha?
Bato de leve em seu braço e rimos.
Ficamos em silêncio. Fecho os olhos, mas ainda estou
acordada. Apenas pensando em muitas coisas. Ele talvez pense que
dormi, pois diz a seguinte coisa em tom baixo que me causa mais
pensamentos, e um discreto sorriso:
— Eu acho que me fodi. Estou totalmente apaixonado por você.
Talvez eu consiga cumprir minha promessa a você Joseph. Porque
talvez eu tenha encontrado um alguém que vai me tornar muito feliz
também. Só preciso que esse inferno acabe logo e peguemos quem está por
trás. E que assim uma tragédia seja evitada, porque não suportaria
continuar vivendo assim, e nem com todos escondendo tudo de mim, como
se fosse algo maior do que imagino. Odeio esse tipo de proteção. Mas no
fim, eu poderei dizer a ele o que tive medo de sentir desde sua partida.
Com os olhos ainda fechados, é como se eu visse o sorriso em
aprovação daquele que um dia tanto amei.
Onze

Paula Escobar

Caminho em direção à cozinha, com os cabelos molhados, após


o banho. Ainda é bem cedo, e o Alessandro permanece dormindo.
Não sei como consegui acordar tão cedo, pois nossa noite foi longa.
E ainda não consigo acreditar que senti alegria em me entregar a
outro homem, e me senti protegida e em busca de mais.
Entro na cozinha e procuro nos armários tudo para preparar o
café, e encontro. Amo uma boa xícara de café para começar bem o
dia. Encosto no balcão enquanto o espero ficar pronto na cafeteira.
Caminho em direção à janela e fico olhando a vista do quintal.
É lindo. E os passarinhos tornam um ambiente digno de filme.
Falando nisso, minha vida daria um filme ou uma boa série. Tantas
coisas aconteceram e vem acontecendo. Já enfrentei muitos casos
loucos como advogada, mas nenhum chegou aos pés da confusão
que é minha vida. E agora é como se tudo estivesse prestes a ruir. Eu
tenho a sensação de que algo vai acontecer, não sei se é bom ou
ruim, mas parece tudo calmo demais. Aprendi nesses anos
enfrentando tantas coisas com essa família, que quando o mar
chamado Escobar fica calmo é porque vem tempestade das grandes
em seguida e ele vai ficar muito revolto.
Porém, estar aqui depois de uma noite incrível, mesmo com
tantos problemas, e sem saber o porquê perdoaram Alessandro tão
rápido, eu sinto que foi certo. Que não é pecado diante de tantos
acontecimentos, a busca pela paz, coisa que antigamente eu me
condenaria muito. As lembranças do Joseph parecem estar
tornando-se aprendizados para todos os momentos de apreensão. É
um legado repleto de amor e poder que ele deixou em minhas mãos.
Ele sempre será meu primeiro amor, só que agora compreendo que
vivi tanto tempo dentro de uma bolha após sua partida, que esqueci
que o tempo passava, e fiquei parada nele, vendo todos seguirem
com suas vidas, e eu ali, apenas como uma singela telespectadora da
minha própria família... da minha vida.
Sempre perguntei aos meus clientes se tinham certeza de suas
decisões, e buscava com eles formas de tentar consertar algo, antes
de colocar um fim definitivo, só que agora entendo quando diziam
que, às vezes, quando algo se quebra, não tem mais conserto. Meu
amor com o Joseph foi parecido. Ele se rompeu, seguindo um rumo
diferente, e não tem volta, não tem conserto. E eu deveria ter
entendido isso há muito tempo, mas é vivendo e aprendendo. Uma
hora a vida vai nos colocar frente a frente com aquilo que tentamos
evitar, e não teremos escolha a não ser reagir.
Respiro fundo e sorrio.
Escuto um barulho que me assusta.
— Porra! — um xingamento vem em seguida.
Olho em direção à porta e vejo o Alessandro entrando, com os
cabelos despenteados, apenas de cueca... e que visão maravilhosa é
essa?!
— Está tudo bem? — questiono devido ao barulho e o xingo.
— Sim, só acabei batendo na parede, estava meio sonolento,
digo “estava” no passado, porque ao ver você, acordei
completamente, e literalmente. — Ele desce os olhos sobre mim e
sorrio.
Ele se aproxima, e puxa meu corpo diante do seu.
— Ontem, eu não estava com fome, hoje estou.
— Bom dia, primeiramente. — Deixa um leve beijo em meus
lábios.
— Primeiramente minha fome. Não desacate minha fome. Está
na lei, artigo em algum número, onde diz: “Respeitarás a fome da
mulher diante de si. Em caso de descumprimento desta lei, a pena
poderá ser aplicada mediante a decisão participativa da vítima na
escolha dos anos a qual o réu será condenado, podendo ser apenas
acima de oito anos, resultando em um regime fechado”.
Ele ergue a sobrancelha e faz uma careta. Começo a rir.
— Vou tomar um banho rápido, e então buscarei algo para nós,
porque o café já está preparando. — Ele indica com a cabeça a
cafeteira. — E antes que eu seja preso. — Revira os olhos.
— Então seja rápido, não vai querer me ver com mais fome.
— Tudo bem, madame. — Me beija. — E não fique tarando
minha bunda quando eu me virar.
— Me respeita! — digo e ele se afasta com um sorrisinho no
rosto.
Não consigo evitar e fico olhando sua bunda. Senhor, isso é
convivência com as mulheres Escobar! Todas safadas, elas estão me
levando para o mau caminho, principalmente a Liziara.
Vou até o café que estava preparando e adoço. Pego uma xícara
e tomo um pouco. Ainda não perdi o jeito de preparar, viver com
dona Jurema e Marcela faz com que a gente fique mal-acostumada
com algumas coisas, como um simples café, que não faço mais com
frequência; ou comida, que quando faço é uma zona completa. Pior
que meus filhos em casa.
Deixo a xícara na pia e vou para a sala e me sento no sofá.
Escuto os seguranças ao lado de fora, nunca me senti tão presa
quanto agora. Preciso decidir qual deles irei subornar para que me
diga o que os meninos sabem e o porquê me tiraram da cidade.
Olho para nossas coisas espalhadas e ainda não acredito que
eu realmente fiz isso. Depois de anos resolvi me dar mais uma
chance para me sentir amada de outro modo. Que loucura, ainda
mais em meio a tanta confusão!
Vejo o celular do Alessandro no sofá, que começa a acender a
tela e fazer um barulhinho. Olho para ver se ele está vindo, pode ser
os meninos e com isso posso descobrir algo. Me aproximo e pego,
tem senha, mas o que fazia acender o visor era uma mensagem, que
dá para ler perfeitamente na notificação de tela bloqueada.
Não é dos meninos, é do Felipe, irmão dele. Eu não deveria
fazer isso, mas me pego lendo a mensagem e antes eu não tivesse
feito.
EU NÃO ACREDITO!
— Pronto, vou buscar comida.
Me viro para ele, e seu olhar foca em minhas mãos e depois em
meu rosto; meu semblante não deve ser bom.
— Por que está com meu celular? — ele tenta soar tranquilo,
mas falha completamente.
— Isso não vem ao caso agora. Como pode me esconder isso? É
assim que quer começar algo? Na base de mentiras? Não qualquer
mentira. Algo bem grave!
— Do que está falando? — Ele dá um passo na minha direção e
estico a mão entregando o celular a ele.
— Quando ia me contar o que realmente seu irmão é? Melhor,
nunca iria, não é mesmo? — Me afasto e começo a recolher minhas
coisas pelo chão.
— Paula, eu posso explicar. Se acalma.
Minhas mãos começam a tremer e sinto meu estômago
embrulhar.
— Me acalmar? Quem me garante que seu irmão não é culpado
disso tudo? Como fui burra! Os meus filhos sabem quem é ele?
— Ainda não — responde friamente.
— Ótimo. Enganou a todos. Marcos tinha razão, não devíamos
ter confiado em ninguém. Eu preciso sair daqui.
— Paula, você não pode. Eles estão tentando buscar um meio
de tirar você da mira de quem está causando isso e pegar a pessoa.
Tente se acalmar e me deixe explicar tudo.
— Jura? Pelo visto, eu posso estar na casa de um dos culpados!
— Não sou de julgar assim, eu abomino completamente esse ato,
mas agora é diferente. Ele escondeu algo grave.
— Você realmente acha que eu faria algo assim, ou deixaria
meu irmão fazer? Porra! — grita.
— Não sei de mais nada, Alessandro.
Contorno o sofá e grito pelo Pascoal, que entra rapidamente na
sala.
— Prepare o nosso retorno. Agora!
— Irei avisar aos Escobar.
— NÃO! Se você abrir a porra da boca, eu te coloco na rua junto
com toda essa tropa, e vão implorar por perdão, porque farei da
vida de vocês um inferno. Calem a boca!
— Está tudo bem, senhora?
— Só prepara a nossa ida, e agora.
— Para onde iremos?
— No carro, eu aviso.
Saio da sala às pressas e vou para o banheiro me trocar. Me
arrumo rapidamente, e em seguida saio do banheiro e pego tudo.
Alessandro continua na sala e no celular, digita algo rápido.
— Paula, vamos conversar! Caralho, você está nervosa! Não
faça isso.
— Não. Agora, não tem conversa. Você não escondeu algo
pequeno, é algo grave, ainda mais para minha família. E foi por isso
que sumiu, não foi? E eu idiota não confiei na minha intuição na
qual me fazia notar que sempre que envolvia sua família em algo,
você mudava completamente o semblante e o olhar! — Não consigo
ser calma, não com isso.
— Em partes. Porém, eu realmente fui ajudar meu irmão no
divórcio.
— Claro que foi. Eu deveria ter ligado os pontos. Afinal, o que
você poderia ajudar se nem advogado é? Você nunca disse que foi
dar um apoio pelo divórcio, você sempre disse que foi ajudá-lo, e ao
que ele pertence existem regras e precisa de testemunhas em
alguns casos. Fui idiota demais! Merda!
Preciso sair daqui logo. Caminho para a saída e ele tenta me
impedir, mas recua com meu olhar que sei que é frio.
— Paula, você está ferrando tudo. Não faz isso. Não se deixe
levar pela raiva. Eu saio daqui e você fica apenas com os seguranças,
mas não vai embora. Não faça merda por raiva. Eu posso explicar
tudo — ele tenta ser calmo, mas continua falhando, seu tom oscila e
sua expressão é tensa.
— Agora não quero ouvir nada. Só preciso sair daqui o quanto
antes.
E é o que faço. Saio da casa e entro no meu carro. Pascoal
coloca as coisas no porta-malas e entra no carro fazendo sinal aos
outros. Saímos, com todos juntos e cercando o carro. Quando
entramos na rua principal logo à esquina, Pascoal despista nosso
carro entre os outros e seguimos.
— Não vai dizer o que houve? Posso matá-lo e sumir com o
corpo.
— Mentiras. As mentiras podem destruir tudo. — Minha voz
sai trêmula, mas logo controlo.
— E a verdade pode machucar ou piorar tudo.
— Mas sempre será a melhor opção no final. Sempre, Pascoal.
— Para onde vamos?
— Não vou para casa agora. Preciso não pensar por um tempo.
— Frederico e Laerte podem ajudar.
— Ótimo.
Meu celular toca e é a Daiane. Atendo.
— Mãe, tudo bem? — Sinto a preocupação em sua voz, e raiva
talvez por ter que falar com cuidado, caso esse celular seja
grampeado também.
— Sim. Não se preocupe.
— Irei rastrear.
— Não. Não vai. Até mais tarde! — Desligo.
Desativo o rastreio do celular compartilhado apenas com eles.
— Vão rastrear os carros e nossos celulares.
— Eu sei, mas o sistema de rastreio dos carros é interligado na
polícia, pois dá mais acesso ao David e todos os outros, e eles têm
que evitar ao máximo chamar tanta atenção, ainda mais com todos
sendo suspeitos. E pelo celular o rastreio pode ficar oscilando,
porque estamos saindo do interior para a cidade.
— Esperta. A senhora deveria comandar essa família, as coisas
dariam mais certo. Sou sincero.
Forço um sorriso.

Visto uma roupa mais confortável que estava na mala e entro


na sala de treinos.
— Fiquei sabendo que hoje eu teria apenas uma Escobar —
Laerte diz sorridente.
— Preciso relaxar a mente.
— É comigo mesmo. Quer começar por tiros, ou defesa
corporal? Que tal fugir um pouco do comum e fazer Muay Thai? Sua
cara não está das melhores. Mas tenho outro exercício que pode
ajudar ainda mais. — Ele sorri maliciosamente e acabo rindo.
— Deixa de ser safado! — Rimos. — Vai ser bom socar e chutar
algo.
— Esse algo será eu, mas tudo bem. Vamos para a outra sala.
Agora, se quiser socar outra coisa, eu posso socar...
Acerto um tapa nele, que ri.

Alessandro Santos

— Mas que porra aconteceu? — Felipe grita do outro lado da


linha, enquanto dirijo de volta à cidade.
— Se gritar mais um pouco, as pessoas fora do carro vão achar
que estou raptando alguém. Está no viva-voz do carro, porra!
— Não faça gracinha agora, caralho!
— Ela viu sua mensagem. Parabéns, idiota! Por que não me
ligou?
— Como eu iria imaginar que você seria um burro ao deixar o celular
jogado? Você já foi mais esperto.
— Agora ela foi embora. Os Escobar vão me matar. Eles
queriam tirar ela do foco, e jogar eles na linha de frente, mas eu
acabo de jogar ela bandeja no perigo.
— Foda! Tenho que resolver essa merda toda! — Seu tom é rude.
— Precisamos parar isso tudo.
— Já arrumei desculpa na Universidade para você ficar esses dias
longe. Vem para casa. Tenho uma ideia. Convoque os Escobar.
— O que quer fazer? — questiono desconfiado e preocupado.
— Se quiserem parar essa merda vão precisar da minha ajuda, pois
sou o único que está a par há muito tempo de tudo que está acontecendo, e
sei os passos da pessoa que está fazendo isso.
— E o que o cirurgião plástico vai dizer a eles? Já sei: “vou
resolver tudo com um bisturi, não se preocupem, só preciso das
minhas luvas!”.
— Engraçado, mas não!
— Felipe, o que está querendo fazer?
— Direi a verdade sobre mim para aqueles idiotas.
Começo a rir.
— Andou bebendo?
— Não fode ainda mais meu humor.
Reviro os olhos e paro o carro no farol vermelho.
— Qual parte da verdade? Porque ela toda só fará eles te
matarem ou prenderem, ainda estou em dúvida qual seria a
escolha.
— Toda a verdade. Eles vão ter que fazer um acordo com o diabo,
simples. E seria mais fácil eu derrubar todos, do que eles encostarem em
mim. — É frio. Não gosto disso. Tem algo a mais.
O farol abre e volto a dirigir.
— Está brincando, não é? — pergunto bem sério.
— Não. Os Escobar vão precisar de ajuda para resolver isso, já que
estão bem vulneráveis. Sou o único que posso encontrar a pessoa
facilmente e sei o que pode desestabilizá-la.
— Felipe, pensa bem. É muita merda para ser explicada. E tudo
tem um preço. Por que está ajudando?
— Só convoca eles. E pode deixar comigo, pois você viverá para ver os
famosos homens da lei assinarem um acordo com o conselheiro da máfia
americana.
Isso vai dar merda!

Paula Escobar

Estou exausta. Tudo que preciso é de um banho, descansar e


refletir, não necessariamente nesta ordem.
Entro em casa, e deixo a mala encostada perto da porta.
Carrego só a bolsa para o sofá. Retiro o celular dela e coloco sobre o
sofá. Vou para a cozinha, e pego uma garrafinha de água na
geladeira e saio para a área da piscina. Sento-me na beirada de uma
das espreguiçadeiras e fico observando o entardecer. Passei horas
com o Laerte, nem senti o tempo passar. Eu precisava disso.
Abro a garrafinha e bebo um bom gole de água. Nunca pensei
que amaria totalmente o silêncio desta casa.
Parece brincadeira, mas toda vez que acho que as coisas vão se
acertar, elas tendem a estragar. Desde o início sempre foi assim.
Quando conheci o Joseph, estava tudo ruim, aí melhorou; e então
começaram as perseguições e, quando achei que tudo tinha
melhorado por ele ter condenado o chefe da máfia que estava
procurando, então anos e anos nesta luta infernal, ele foi morto; e
como não quisemos mexer para não trazer mais problemas, tudo
piorou. Agora anos depois, tudo está ruim novamente, entretanto
achei que ficaria melhor e descubro que pode piorar porque o
homem que agora eu sei que realmente estou apaixonada – pois me
dói pensar que fui enganada por ele, e é uma dor insuportável –
mentiu para mim sobre a família... sobre tudo. Só penso quando a
vida vai parar com essa montanha-russa em queda livre, e dar uma
trégua dos problemas.
Bebo mais um pouco da água e fico olhando em direção à
piscina, porém passo a me sentir observada, e não como se fosse
pelos seguranças. Sinto um arrepio percorrer todo o meu corpo e
estremeço. Olho para os lados, porém não tem nada. Devo estar
ficando paranoica já. Afinal, como entrariam aqui? Parece uma
fortaleza com tanta segurança.
Fico mais um tempo ali, e quando dou por mim as luzes
automáticas começam a acender. A noite chega, e pelo visto fiquei
mais tempo do que pretendia pensando em tudo que vem
acontecendo.
Saio do lado de fora e entro pela cozinha. Deixo a garrafa sobre
a pia e respiro fundo. Vou tomar um banho, avisar algum dos
meninos que estou em casa e dormir.
Entro na sala e novamente a sensação de estar sendo
observada me toma. Estremeço mais uma vez. Não estou gostando
disso. Pego meu celular no sofá, mas um pigarreio me faz deixá-lo
cair no chão pelo susto. Olho em direção ao som, que vem do
corredor que dá acesso ao escritório, e vejo uma figura sorridente
me olhando. Fico imóvel. Meu coração dispara completamente.
— Sentiu minha falta?
— Você? — Desço o olhar e vejo a arma em sua mão.
— Como esperei por este momento.
Outra pessoa surge e não acredito no que vejo.
— Senhora, eu não tive escolha... — Vejo seu semblante de
desespero, seu olhar de medo.
— Pascoal, o que é tudo isso?
— Ele diz a verdade. Não teve escolha, não com a filha dele e a
esposa sendo feitas de refém na casa deles. Como foi fácil conseguir
tudo. Cada passo. — Mostra um celular, que retira do bolso, e vejo a
foto da família dele amarrada e amordaçada em um canto da casa
deles.
— Me perdoa! — Pascoal implora desesperado.
— Chega desse papo. Odeio essa palavra. Vamos ao que
interessa.
— Podemos conversar. Solta essa arma e deixa a família dele
livre — peço com calma.
Qualquer deslize agora é crucial. Seu olhar não é normal. É
calculista, sombrio. Já vi pessoas assim na minha frente, e
demonstrar pânico não é a melhor opção, isso instiga o lado
obscuro deles.
— Quem dita as ordens agora sou eu. Senta-se no sofá e liga
para eles. Quero todos os Escobar aqui e não pensem em trazer a
polícia, porque meus homens estão vigiando, e vocês têm crianças
com babás, bisavó, tia... Não vão querer elas em risco também. Sei
onde está cada pirralho nojento e com quem está. Melhor fazer tudo
o que eu mandar, e sem gracinhas.
Pego o celular calmamente e sento no sofá. Escuto seus passos
atrás de mim e sinto o aperto da arma agora em minha nuca. Engulo
em seco.
— O que quer que eu faça? — pergunto tentando manter a voz
firme.
— Diga para virem para cá, mas não deixe descobrirem que
estou aqui. Quero fazer uma surpresa, mesmo já sabendo que
sabem quem sou. Deixe essa merda no viva-voz... Exija todos os
Escobar.
— Está bem.
Disco para o primeiro contato da lista, Daiane, mas só chama.
Então tento do David, porém só chama também.
A porta da sala é aberta e a Liziara entra.
— Nossa, agora virei babá da Paula. Por que eles não vieram?
Tinham que mandar a “funcionária” aqui, porque até parece que
recebo algum salário de tanta coisa que me pedem. David está
ferrado, pois exigiu que eu viesse. Abusado! — diz fechando a porta
nervosa. Ela guarda as chaves na bolsa, ainda não olhou para trás.
Assim que faz sorri. Mas seu olhar sobe e ela fica estática.
— Isso vai ser mais divertido do que pensei — a voz repleta de
frieza diz.
— Eu sabia que tinha algo estranho sem nenhum segurança na
entrada. Deixe a Paula! — Liziara grita deixando a bolsa ir ao chão.
Ela está pálida.
— Senta-se na porra do sofá, ao lado dela. Agora!
— Liziara, faça isso, por favor! — imploro e vejo o olhar da
minha menina e ela compreende o que passo em minha voz.
Liziara se senta ao meu lado.
— Pascoal, passe para cá. Quero você sobre minhas vistas. Não
confio em bunda mole que se rende pela família.
Pascoal caminha em direção à escada e fica nos olhando.
— TENTE LIGAR NOVAMENTE! — grita e sobressalto.
Tento do Henrique e torço para que atenda.
Liziara faz menção de levantar, mas é puxada pelo cabelo e
xinga.
Agora eu sei por que tentavam esconder. Entendo o motivo de
estarmos vulneráveis, porque foi uma falha nossa! Alessandro sabia
quem era, todos já sabiam. Eu era o foco, e não foi à toa.
Henrique não atende. Por que ninguém atende?
— Tente mais uma vez. Se não atenderem, farei do jeito difícil,
e vai começar pela pequena Sophie Casagrande. Ela está com a
bisavó e a tal Jaqueline, pois, como eu disse, sei onde está cada peste
dessas crianças.
— Tenta do Marcos — Liziara sugere com a voz trêmula. — Ele
sempre atende.
Olho para o Pascoal, e vejo a vergonha estampada em seu rosto
junto do desespero. Não o condeno. Eu faria qualquer coisa por
minha família em apuros.
Mais um homem entra na sala, deve ter vindo dos fundos.
— Fique de olho nessa puta!
O homem se aproxima da Liziara. Está armado também. Pega
ela pelos cabelos e a joga no canto da sala, e a acerta com um chute
em sua perna. Ela geme de dor. Meu coração aperta com essa cena.
A porta se abre e mais homens entram, e muito bem armados.
Isso é prova de que deve ter usado o Pascoal para romper a
segurança da casa.
— Treinos, seguranças, armas... Nada disso adiantou, não é
mesmo? — Ri. — Tanto tempo tentaram ser espertos, e falharam.
Paula Escobar está rendida, por uma falha de sua própria família.
Eu prometi que me vingaria de vocês, e estou honrando com a
minha palavra. Porque filho da puta nenhum mexe comigo e sai
impune.
— Por favor, não precisa ser assim... — digo e meu tom é baixo.
— Vai ser assim! — diz com ódio em sua voz.
Olho para a Liziara e ela está assustada. E sei bem o porquê.
Poliana Gonçalves Xavier não está para brincadeiras. Ela fugiu da
prisão, derrubou nossa segurança, mexeu com a nossa mente nos
deixando perturbados nas últimas semanas, e agora tem todos nós
em suas mãos. Ela nos deixou sem saída. Estamos vulneráveis.
Estamos perdidos.
Ligo para o Marcos e espero que me atenda, porque não sei por
quanto tempo conseguirei mantê-la calma.
Doze

Alessandro Santos

Observo atentamente cada um que está em minha sala. Porra,


nunca imaginei que minha casa estaria forrada de homens. Tem
apenas uma mulher, a Daiane, mas ela é assustadora quando está
nervosa.
Por que caralho meu irmão inventou de armar isso? E por que
ninguém atende os celulares? Por que eu aceitei fazer parte disso
tudo? Eu estava tão bem odiando meus alunos, e fazendo da vida
deles um inferno e tentando convencer a todos que filosofia é muito
simples e é a melhor matéria, quando nem eu entendo porra
alguma do que alguns filósofos queriam dizer, mas finjo que sei.
Também poderia estar transando com alguma mulher, sem me
importar com o depois. Mas quando penso nisso, é só a praga
chamada Paula que me vem à memória e seu corpo... Essa família
tem alguma magia que atrai todos para eles. Certeza de que ela foi
em alguma mulher que diz “trago seu homem em três dias” e deu
meu nome, pois é impossível que eu esteja me sujeitando a morrer
por causa de uma mulher. Minha vida era tão simples antes de
conhecer pessoalmente essa família. Culparei o Jacob, ele que me
levou a tudo isso quando nos encontramos naquela maldita boate,
um lugar que também levará a culpa por eu estar vivendo tudo isso,
já que foi lá que conheci a Paula pessoalmente e, pelo visto, não
apenas meu pau ficou atraído, porque porra, tenho de ser sincero,
mas meu coração também. Inferno, virei um romântico, era só o que
me faltava!
Que caralho, algum deles pode atender a merda do celular?
Observo o Marcos segurar o David, que tenta socar meu irmão,
o Henrique gritando para ele deixar o David e a Daiane dizendo que
vai tacar o sapato dela na cabeça de cada um, enquanto o Jacob...
Por que ele está se aproximando de mim e sério? Fodeu!
— Filho da puta! Eu confiei em você. Caralho, Alessandro! —
Ele me empurra na parede e agarra a gola da minha camiseta com
ambas as mãos.
— Por que sempre sou agarrado por alguém dessa família? —
questiono e ele pressiona meu pescoço e sorrio.
Meu irmão joga o David no chão e o Henrique chuta Felipe, que
cai também. Marcos saca a arma e é rápido. Vejo a bala passar de
raspão por mim, e acertar a parede, bem ao lado da minha cabeça.
Todos olham assustados.
— Caralho, minha parede, porra! — reclamo, e Jacob me solta.
— Chega! Todo mundo calado e, quando eu perguntar, vão
responder. Não testem a porra da minha paciência, porque estou
prestes a assinar a sentença de todos vocês. Caralho!
Juizinho estressado. Quero ver se vai pagar o prejuízo da
parede!
David e Felipe levantam e ficam se encarando.
— Estava na hora de alguém resolver parar esse circo! —
Daiane diz e Marcos olha sério para ela, que levanta as mãos em
rendição.
— Esse filho da puta é a porra de um conselheiro do chefe da
máfia americana e é irmão do Alessandro. Olha a merda que nossa
família se envolveu! — Henrique diz.
O celular do Marcos começa a tocar novamente.
— Alguém atende essa merda. Não param de ligar. Pode ser
algo grave, e vocês ficaram tentando se matar — Daiane diz.
Marcos pega o celular e franze a testa.
— Vou deixar no viva-voz. É a Paula.
A expressão de todos muda e tenho certeza de que a minha
também.
— Marcos... É, estou em casa. Vocês podem vir para cá... Quero jantar
com todos. — Sua voz é diferente. Não é tranquila.
— Estamos ocupados. Está tudo bem?
— Está sim. Mas venham logo. Nada é mais importante que a família.
Estou em casa, a Lizi também. Mas não tragam as crianças, vamos fazer
algo de adulto. Vim da casa do Alessandro que ficava no interior, e estou
precisando desabafar com vocês. E o Pascoal... — Faz uma pausa. —
Pascoal quer conversar sobre toda nossa equipe. Venham logo.
Henrique dá um passo à frente e Marcos faz um sinal para ele
parar.
— Eu vou convocar a todos e vamos. Até logo.
— Aguardo vocês. Quando chegarem entrem direto, não precisa mais
dos códigos de segurança para entrar na casa.
Franzo o cenho.
— Está bem, Paula. Se cuida.
Ela desliga. Daiane cai sentada no sofá. David começa a se
ajeitar.
— Ela não está sozinha — Henrique declara.
— Nunca teve códigos — David constata nervoso.
— Não. Poliana está na casa! — Marcos fala e aperta o celular
com força.
— LIZIARA! — David diz nervoso. — Eu a mandei ir para lá. Se
ela tentar alguma coisa pode arruinar tudo.
A porta da sala abre rapidamente.
— Simon? — Marcos olha preocupado.
— A segurança foi corrompida, senhor. Pascoal disse a eles que
estavam liberados, e como ele ficou de comando por hoje, alguns
acreditaram, mas outros ligaram para mim, bem desconfiados. Já
mandei eles irem para a casa de cada um espiar a movimentação,
porque ela espalhou os homens dela.
— Caralho, a Sophie e minha avó. Eles iriam para a fazenda
hoje, e Jaqueline em seguida! — Jacob fala nervoso.
— Mandei mais equipes para lá, senhor — Simon o acalma. —
Poliana tem homens vigiando cada casa.
— Pascoal estava por trás dessa merda?! — Daiane indaga
nervosa.
— Não. Ela pegou a família dele; e se tivesse deixado eu falar
tudo, antes de tentarem me atacar, eu teria dito. Eu sei cada passo
dela. Ela abriu a boca assim que soube quem eu era. Fugiu da cadeia
na noite que teve uma rebelião. Conseguiu ajuda de alguns policiais
corruptos e amigos antigos. Ela está muito frustrada com vocês.
Tem motivos para odiar cada um. É uma louca, e se torna pior por
ser apaixonada pelo delegado. Não superou que não se tornou uma
Escobar e que, quando poderia pisar em todos sendo uma
Casagrande, foi jogada de lado por mais uma da família que ela
tanto odeia. Me contou cada coisa que sentia pelo David e tudo o
que ele fez para ela, os momentos, meio ilusórios acredito eu, e
falou da forma que ele a ensinou a atirar. E foi isso que passei ao
meu irmão, porque sabia que ele usaria no momento certo. —
Aponta para o David. — E você, David, entenderia tudo. Ela sabia
que eu era irmão do Alessandro e que isso poderia vazar, porque
era isso que ela queria e eu também, mas não vem ao caso. Ela
queria que soubessem que era ela, mas que tivessem que descobrir
como pegá-la. Ela sente prazer em ver o quanto estão desatentos,
instáveis, e o sonho dela era que desde o início soubessem a
verdade, e tivessem que correr atrás dela, isso tornaria tudo mais
prazeroso, ela gosta de ser caçada, porque se sente mais forte. Só
que eu atrapalhei os planos dela desde o início, porque sou mais
esperto, e ela está agindo do jeito que planejei. Vim por um motivo a
esta cidade, e está tudo saindo melhor que a encomenda — meu
irmão fala de um jeito que eu não gosto. Felipe está fazendo alguma
coisa.
— Desgraçada! Eu vou matar essa maldita! Temos que ir agora
para lá! — Jacob fala.
— Vocês ouviram o Simon? A segurança foi corrompida. Estão
todos vulneráveis. Cada casa sendo vigiada — digo como se fosse o
único consciente aqui.
— Ele tem razão. Ela entrou em cada detalhe. Vocês estão
vulneráveis. Ela tem cada um na mão dela. E não pensem em
acionar a polícia, vai ser pior. Precisam de mim.
— Não vamos selar a porra de um acordo com uma máfia! —
Marcos declara ainda mais nervoso.
— Vamos sim. Vamos selar a porra do acordo sim. É a nossa
família. E sei que tudo para essas merdas tem um preço. Então,
Felipe, qual o de vocês? — Jacob diz sério.
— Não se mete, Casagrande! — Marcos grita.
— Sou um Casagrande, mas me casei com uma de vocês, e amo
essa família, e amo ainda mais minha filha, e por ela faço acordo até
com o diabo!
— Não vai ter um preço. Ninguém vai pagar por nada — digo e
aponto para o meu irmão. — Você vai nos ajudar e não vai ter um
preço. Se você realmente se importa comigo, então saiba que esses
loucos, que vão pagar o prejuízo da minha parede, me importam.
Então, se você sabe como arrumar essa zona, comece a falar e agora.
Simon olha para o celular e depois para nós.
— Se me permitem dizer, temos que pensar com rapidez.
Ouviram um tiro na casa da Paula.
— Vamos, Felipe! — grito.
— Não tem nenhum preço para pagarem. Ajudarei vocês. Eu
sei o modo que ela vai agir, eu sei o que ela quer. Ela se acha
esperta, mas está alucinada. Precisam jogar o jogo dela e só atacar
no momento certo. Sei o que vai deixá-la vulnerável.
— A casa está cheia de homens — Simon comenta. — Alex
disse que teve que ir para a casa dos pais da Liziara, onde ela deixou
as meninas antes de ir para a Paula. E tem homens vigiando a casa.
— O que vamos fazer? — Daiane indaga desesperada.
— Jogar o jogo dela. Vamos até ela — Marcos diz como se
tivesse rendido. Eu nunca vi o homem assim. Sua expressão mudou
muito.
— É minha culpa. Eu não olhei a lista dos que fugiram, mesmo
sabendo que ela estava naquele presidio. Eu dei este deslize.
Caralho, eu fui um filho da puta! Como eu pude deixar essa merda
passar?!
— David, somos todos culpados. Ficamos o tempo todo focando
na pessoa errada, enquanto ela mexeu em tudo que tínhamos. Ela
pegou o que mais nos deixaria vulneráveis: a família. Porque temos
coração e porque pensamos tanto com ele, que nos ferramos.
Falhamos como pessoas da lei! — Henrique enfatiza ao irmão.
— Acabou o momento punição? Podemos ir? — questiono.
— Vamos. Simon, faz vigia por conta própria na minha casa.
— Senhor, já temos uma equipe espionando sua casa.
— Eu sei, mas se algo acontecer, quero que esteja com ela e
com meu filho. — Marcos se vira e sai da sala, com todos o olhando.
Simon sai e começamos a sair.
— Obrigado por não ter um preço — digo ao Felipe quando
fecho a porta da sala.
— Vocês não vão pagar, mas eu vou. Pedi ajuda deles, e estão à
espera do meu sinal; já estão aqui na cidade. Porém, eu quebrei
regras e serei julgado pela máfia, se eu sair vivo dessa. Eu serei o
preço de vocês.
— Felipe, que porra...
— Eu disse que me importava com você, Alessandro. — Ele
desce pelas escadas do prédio, por onde todos foram, já que o
elevador está em manutenção.
Sigo pelas escadas e com o coração apertado.

Paula Escobar

Consegui falar com o Marcos e espero que entenda meus


sinais. Estou preocupada. Ouvi tiro ao fundo da casa, e a Poliana
mandou um dos homens ir conferir. Liziara me olha apreensiva, e
tento não pensar que talvez essa seja a última imagem que eu possa
ter dela.
— Pensaram ter visto alguém, por isso o tiro. — O homem
retorna e avisa.
— Idiotas! — ela responde e se senta na poltrona branca sem
tirar os olhos da Liziara.
— Você não precisa disso. Podemos conversar decentemente.
Isso só vai piorar sua situação — tento dizer com calma.
— Não sou eu e nem minha família que estamos sendo feitos
de reféns. Não tente me dizer o que eu devo ou não fazer, Paula. —
Ela faz sinal para um dos homens, que pega nossos celulares, e os
joga do outro lado da sala.
A porta se abre com força e olhamos em direção a ela. Um
homem muito alto e forte traz Beatriz e a empurra. Ela tropeça e
acaba caindo ao lado da Liziara.
— Bia! — Liziara grita assustada.
— Se machucarem meu filho, eu acabo com a sua vida, sua
desgraçada! — Beatriz grita.
Olho assustada para Poliana.
— Não encoste nas crianças. Elas não têm nada a ver com isso
— mantenho a voz firme ao dizer.
— Cala a boca, porra! A peste do filho dela está ainda na casa e
com a babá. Mas, se tiver qualquer gracinha, darei ordens e não
perdoarei ninguém.
— Para que chegar a este ponto, Poliana? — Liziara indaga
nervosa.
Ela não responde. Apenas sorri.
Parece que estamos há dias nesta tortura. Não posso fazer
nada pela minha família que está completamente em risco. Não
sinto qualquer esperança de que isso possa terminar bem.
A porta se abre mais uma vez e olhamos todos para ela.
Poliana sorri e faz sinal para seus homens presentes na sala.
Pascoal dá um passo, mas é barrado por um.
Marcos é o primeiro a entrar. Ele me olha e sinto o vazio em
sua expressão; pela primeira vez, ele não sabe o que fazer. Nenhum
de nós sabe. Henrique e David entram e param ao lado do Marcos. E
então, para minha surpresa, Alessandro surge e seu olhar se
encontra com o meu.
— Peguem todas as armas que eles tiverem! — Ela dá o
comando. — E, queridos Escobar, não tentem qualquer merda se
amam aquele bando de pirralhos.
Vejo meus filhos e Marcos se desarmarem. Sei o quanto isso é
declarado como uma derrota para eles. Alessandro é revistado, mas
não tem nada.
— Está faltando gente... Aí estão — Poliana diz se levantando e
sorrindo em direção a porta.
Um homem traz a Ana segurando forte em seu braço e seu
cabelo. Henrique dá um passo, mas David coloca a mão em sua
frente. Daiane e Jacob entram em seguida, são revistados e a arma
do Jacob é recolhida. A porta da sala é fechada, porém mais homens
entram pelos fundos. Alguns rostos eu já vi: policiais. Todos do lado
dela.
— Levantem-se! — ela grita e aponta para mim, Liziara e
Beatriz.
Ficamos de pé enquanto seus homens estão com as armas em
nossa direção.
— Como é lindo ver isso. Este tempo na prisão pensei muito
em como faria tudo isso quando saísse. E vejam só, deu certo.
Conquistei mais amigos na polícia, passei um mês rodeando cada
passo de vocês, rastreando tudo, e nas últimas semanas consegui
mexer com a mente de todos. Foi tão fácil. Já sabia muita coisa sobre
vocês, então ajudou muito. Porém, ao que parece, o celular da Paula
não funcionou mais, suspeito que descobriram que estava
grampeado, só que eu já tinha feito tudo o que eu desejava. Prometi
a mim mesma que destruiria a vida perfeita de vocês, e estou
cumprindo com isso. — Ela suspira. — Perguntas? Aproveitem.
Essa mulher está louca. Fora de si.
— O que você quer? Vamos terminar logo com isso — David
diz.
Ela se aproxima dele e leva a mão ao seu rosto, mas ele desvia.
— Eu vou matar essa filha da puta, e o David que me fez vir
aqui! — Liziara avança para cima dela, mas o Marcos a segura a
tempo e prende ela ao seu lado.
Poliana ri e desliza a mão pelo peito do David.
— Poderíamos ter evitado tudo isso. Era para você ser o pai
dos meus filhos e estarmos casados.
— Pirou de vez. Se enxerga, lambisgoia! Deixa-me te pegar que
te mando para o inferno, onde vai casar com o capeta! — Liziara
retruca, e Marcos prende ela a sua frente e leva a mão a sua boca.
Ela olha feio para ele.
— Doce Liziara. Ainda não aprendeu que sempre faz merda
por seu ciúme? Não se garante? Medo do David ver que sempre quis
a mim e não uma garota como você?
Vejo o Marcos segurá-la ainda mais forte.
— Solte-a. Agora! — Poliana pede.
Marcos nem se move. Deve estar pensando como todos, que
isso é uma jogada louca. Liziara está fora de si.
— SOLTE! — Poliana grita desta vez e se aproxima.
Marcos solta Liziara calmamente, como se ela fosse um animal
feroz. O que não está longe de ser.
Liziara está com a respiração forte, tentando se controlar.
— Vamos, faça o seu melhor, vadia! — Poliana grita com ela.
— Poliana, chega disso. Vamos resolver isso da melhor forma
— digo mantendo o máximo da calma.
— Sou a vadia que você sente inveja. A vadia que você quer
estar no lugar, não é mesmo, Poliana?!
O rosto da Liziara vira com o tapa que Poliana acerta. Puxo
Liziara ao meu encontro protegendo-a, mas ela sorri, como se este
tapa não fosse nada. David está vermelho, vejo o ódio em seu olhar,
assim como nos demais. Eles querem agir, mas não podem. Mas eu
não vou admitir que machuquem minha família, não mesmo!
Coloco Liziara atrás de mim e olho fixamente nos olhos da
Poliana.
— Não toque nos meus filhos! Você não me conhece. Sou um
amor, mas não mexa com a minha família, sua louca! — Fecho o
punho e acerto seu rosto sem pensar duas vezes.
Ela cambaleia e faz um sinal, um tiro dispara para o teto e foi
atrás de mim. Ela vem para cima de mim e o movimento da Ana é
rápido, dando uma rasteira nela.
— Faça o que tem que ser feito, porque minha paciência
esgotou! — Henrique diz.
Ela ri diante do chão e leva a mão ao canto da boca onde
sangra. Levanta e seu olhar é de alguém que não vai ser gentil em
nada.
— Não é tão fácil. Antes de acabar com um por um dessa
merda, vocês têm uma hora para me arrumar uma boa quantia em
dinheiro, e dar um jeito para que eu consiga sair desse país com
minha mãe. Novas identidades, uma nova vida. Uma hora é o meu
tempo. E sem tentarem quaisquer gracinhas, ou aquelas malditas
crianças morrem. E tem mais, quanto mais o tempo for passando,
torturas serão feitas. Não pensem em acionar a porra da polícia,
pois irei saber. Um deslize e a primeira a morrer é a matriarca
dessa merda de família! — ela emana ódio diante das palavras.
— Qual a quantia? — Beatriz pergunta.
— Quero um milhão na conta que irei passar a vocês. Não
aceito menos.
Jacob começa a rir.
— Acha mesmo que conseguiriam transferir isso em uma
hora? Andou bebendo água dos vasos sanitários do presídio, sua
louca? — Ana questiona.
— Foda-se! Se virem! — Ela abre os braços — Não são os
Escobar e Casagrande? Não são poderosos? Então arrumem a porra
de um jeito, e agora. Qualquer ligação, apenas no viva-voz.
Computadores serão monitorados por meus homens; e repito,
qualquer deslize e mando matarem as crianças.
— Você ficou ainda mais louca. Olha na merda que se meteu e
envolveu todas essas pessoas. Poliana, para com isso! Você precisa
de ajuda. Está paranoica! — Daiane fala nervosa.
— Cala a sua boca, putinha!
— Toma cuidado em como fala com a minha sobrinha! —
Marcos alerta e conheço bem seu tom.
Alessandro observa ao redor e vejo quando ele faz um leve
sinal com o olhar para mim. Não entendo, mas parece que algo vai
acontecer.
Sei cada canto que temos armas escondidas, mas não podemos
pegar, não com a situação desse modo.
— Sabia que, quando eu falei para o Felipe sobre o David e
tudo o que ele me ensinou, foi proposital? Eu testei a lealdade dele.
E não demorou para eu saber que estavam me investigando e
tentaram tirar a Paula da cidade. Patético! Vocês poderiam ter feito
melhor... Marcos Escobar, você poderia ter feito melhor. Mas
mostrou o quanto é fraco e não passa de uma farsa essa pose de
macho alfa.
— Você só esqueceu de uma coisa, Poliana — Alessandro diz.
— Nenhum plano é perfeito, e o seu não seria.
— Do que está falando, seu idiota? Eu descobri que ele era seu
irmão e sabia que correria abrir o bico. Eu fiz ele jogar o meu jogo.
— Não. É você que está jogando o nosso. — Ele olha o relógio
em seu pulso e sorri. — Está na hora.
É tudo muito rápido. Daiane é empurrada para trás pelo Jacob.
Marcos faz o mesmo com a Ana e Beatriz. Henrique me puxa e
automaticamente puxo a Liziara, mediante os disparos que
começam a ecoar pela sala. Gritos e xingos se misturam na loucura
que passa a acontecer.
— Sempre gosto de uma entrada triunfal! — Olho para a figura
do homem belo que diz e reconheço: é Felipe, o cirurgião famoso e
irmão do Alessandro. Ele está com vários homens.
Começam a lutar corpo a corpo. A porta de entrada se abre
com um baque, e Simon entra jogando armas na direção do Marcos
e Henrique. David desvia de um homem e pega a arma abaixo da
escada. Jogo a pequena mesa a minha esquerda ao chão, e pego a
arma presa embaixo dela. Liziara passa pela Ana e desvia de um tiro
vindo da direção da Poliana, então puxa o fundo falso do sofá e pega
duas armas e corre para entregar a Ana. Um dos homens, que
chegou pelos fundos com o Felipe, entrega armas para os membros
de nossa família que estão sem.
— Nunca deixe brechas, principalmente aos fundos do local
onde você planeja o crime! — Felipe grita para Poliana e a acerta
com um golpe.
— Eu vou matar o David, olha no que ele me meteu. Estou
inconformada... Filho da puta! Eu sempre fico em situações... fodidas
por causa dele! — Liziara grita quando é atingida por um soco de
um homem. E então ela atira nele, que cai.
Atiro no homem que se aproxima de mim, mas ele desvia; e,
quando penso que serei atingida, Marcos atira nele. Henrique
parece estar em um parque de diversões, nunca erra um tiro e
acerta dois homens de uma vez. Jacob trava uma luta com um
maior. Pascoal e Simon saem em luta com outros. Vidros, quadros,
tudo está sendo destruído. Ana grita e olho assustada, porque ela foi
levada ao chão e um homem está em cima dela com a arma em sua
testa.
— NÃO TOCA NELA, DESGRAÇADO! — Henrique acerta o
homem com um chute e atira sem piedade nele.
Ana se levanta rapidamente e não é fraca, continua sua luta.
Vejo Poliana correr atrás da Liziara, e imediatamente corto
caminho empurrando um homem e só vejo ser o Alessandro depois.
— Paula, não! — ele grita.
Liziara escorrega e cai próxima aos vidros estilhaçados. O
alarme da casa não para de apitar. O cheiro de pólvora é forte e tem
sangue para todo lado. Mas nada disso me abala, não quando
Poliana quer matar Liziara, e vejo o ódio em suas ações. Desvio dos
homens, enquanto minha menina tenta se levantar. Daiane atira em
um homem, mas erra; Marcos termina o serviço. David está em uma
luta com três e tenta se desvencilhar. Felipe atira na cabeça de dois
rapidamente. Seus homens são bons também. Os homens da Poliana
estão morrendo. Jacob vê Daiane e tenta impedi-la. Ela quer pegar a
Poliana. Sou atingida por um golpe e um tiro passa de raspão pelo
meu braço, sinto a ardência, mas nada mais importa além da minha
família.
Os minutos parecem horas. Felipe grita algo como um código, e
mais disparos surgem. Luciano aparece vindo dos fundos com uma
mulher, eu sei quem ela é. Sandra Gonçalves Xavier, mãe da Poliana.
Ela está chorando e parece assustada. Poliana grita e seus homens
sobreviventes param imediatamente.
— Mãe, que merda faz aqui? — Ela está ofegante e nervosa.
— Minha filha... — Ela se aproxima tremendo. — Eu senti sua
falta...
— Mãe. Não deveria estar aqui. Eu vou conseguir nos tirar da
pior. A senhora vai ver.
— Filha, não... Não precisava chegar a isso. Vamos sair daqui.
— Não. A senhora me fez assim, não está orgulhosa? — Sua voz
é trêmula. Sandra é o ponto fraco da Poliana.
Olhamos atentamente para a situação. Liziara se levanta e está
machucada. Daiane a ajuda e fica ao seu lado. Alessandro toca
minha cintura e olho para ele, que está machucado também; então
cochicha disfarçadamente em meu ouvido:
— Há equipes vigiando as crianças... Só à espera de um sinal.
Vai acabar tudo bem.
Sinto um pouco de paz por saber que, seja da forma que isso
terminar, tem pessoas para tentar proteger nossos pequenos e os
outros membros da família: como os pais da Liziara, tia da Beatriz e
a avó do Jacob.
— Filha, vamos embora. Vamos conversar. — Sandra chora.
— Não. Agora é tarde. Eu vou terminar isso. Saia daqui! — ela
grita fazendo um sinal e seus homens tornam a atirar.
Sandra grita e Luciano a puxa. Poliana mira na direção da
Liziara e Daiane está indecisa. Confusa. Isso não é bom. Ela ficou
vulnerável, não está sabendo raciocinar, ela está ainda mais furiosa,
não sei se foi bom trazer a mãe dela. Tento fazer algo, mas
Alessandro me impede e sou jogada para o lado com barreiras de
homens do Felipe. Tento sair, mas não deixam. Minhas meninas,
não! Eles me seguram e grito em desespero. Minha arma vai ao
chão, e um deles pega. Marcos puxa a Beatriz a tempo de o lustre
estilhaçar. Estamos às escuras, apenas as luzes de fora e dos
corredores nos iluminam. Ana é atingida e não sei se foi pelo tiro ou
pelo golpe. Ela cai e está suja de sangue. Henrique tenta ir até ela,
mas David requer seu apoio, e ele ajuda ao irmão, ele tem que ser
frio, e ver isso me dói. Estão desesperados. Beatriz atinge um
homem com um tiro, mas acerta em sua perna, e ele apenas cai e
atira na direção dela, só que o Marcos a empurra e atinge a ele.
— NÃO! MINHA FAMILIA! — grito tentando fazer algo, mas os
homens que me protegem não deixam.
Felipe e Alessandro atingem dois dos quatro restantes. Poliana
está desesperada.
Felipe, em uma tentativa de atingir um homem que vai na
direção das meninas, acaba atingindo Sandra que escorrega pelos
braços do Luciano, que atira contra o homem. Não sei, mas o olhar
do Felipe não diz que ele errou sem querer.
Poliana grita muito pela mãe e se joga ao lado dela.
— Você fez isso! Causou a morte dos seus dois pais. Está
satisfeita, Poliana? — Jacob grita com ela.
Consigo me soltar dos homens e corro na direção da Ana,
seguro ela em meus braços e tento reanimá-la. Sem sucesso.
Continuo agarrada a ela, e choro sem parar. Olho na direção do
Marcos e Beatriz está agarrada a ele e toda suja de sangue, não sei
mais de quem é o sangue, e se ele e Ana estão bem.
— MÃE! — Poliana grita, mas ela não obtém resposta. Se
levanta como um animal em caça, e cambaleia, atirando em seu
único homem restante e o acusa de incompetente. Com o celular
que tira do bolso, ela leva ao ouvido e não demora a dizer: — Matem
as crianças!
— NÃO, SUA MALDITA! — David grita.
Me levanto e dou um último olhar a Ana. David se aproxima da
Poliana e quando vai atingi-la, ela mira na Liziara e Daiane, que são
jogadas para trás pelo Jacob. David a empurra, mas ela se equilibra,
apenas há ódio em seu olhar. Pego a arma da Beatriz e me
aproximo. Alessandro tenta me impedir, mas apenas um olhar é o
que dou a ele e Felipe ergue a mão lentamente e seus homens
também se afastam.
— Eu vou matar as duas! Porque meu inferno veio a partir de
vocês, suas malditas! — Poliana diz entredentes.
— Não vai! — Henrique grita e atira, em sua direção, mas, pela
primeira vez, vejo meu filho errar.
Ela sorri e então mira nas meninas, mas Jacob fica à frente
novamente. Daiane passa a sua frente.
— ESSA BRIGA EU TERMINO! — Daiane grita com muita raiva.
— FILHA, NÃO! — grito desta vez, mas um tiro dispara e minha
arma vai ao chão. Não consigo ter ação. Daiane e Poliana vão ao
chão.
Henrique está com os olhos arregalados. Alessandro leva a
mão ao cabelo. Jacob se joga na direção da Daiane, mas é então que
vejo o David sorrir para Liziara. Ela se aproxima com uma arma,
seus passos são firmes. Para ao lado da Poliana, e vejo Daiane se
levantar com a ajuda do Jacob. Com um chute, Liziara joga a arma da
Poliana para longe.
— Ninguém que mexe com minha família e me chama de vadia
sai ileso! — Liziara acerta um chute na Poliana, que está com um
ferimento pelo tiro em sua perna e se contorce. — Eu sabia que
tinha boa mira.
— Onde mirou? — Henrique questiona.
— Melhor nem saber, cunhadinho.
Simon começa a fazer sinal para o Luciano, que se aproxima do
Marcos. Henrique vai até a esposa. A nossa equipe começa a falar
nos celulares com os outros.
Me aproximo sentindo raiva, ódio por tudo. Coloco os pés
diante da Poliana e miro a arma nela.
— Você brincou conosco. Mexeu com minha família. Nos
machucou, e tudo pela ganância. Está pondo em risco crianças, e
trouxe policiais para o seu lado. Poliana, mexa comigo, mas não
mexa com a minha gente. Não provoque a Paula Assis que existe em
mim.
— O que... Ai... Vai fazer? — geme de dor. — Nunca
conseguiria... atirar... É idiota demais...
— Pela minha família, eu termino isso agora.
— Vai ser presa... Está atirando sem necessidade... — Engole
em seco e franze o cenho pela dor.
— Não. Tenho muitas testemunhas de que isso foi em legítima
defesa. E as câmeras, daremos um jeito.
— Eu. Odeio. Todos. Vocês! — ela declara com raiva e tenta se
levantar.
— É recíproco. — Então, pela primeira vez, eu mato alguém a
sangue frio olhando bem em seus olhos. Não me arrependo, e não
quero.
Felipe atira nos pontos das câmeras na sala.
— No meio do tiroteio, elas foram atingidas. É isso o que será
dito! — ele declara.
— Me perdoem, foi minha culpa! — Pascoal implora.
— Não foi sua culpa. Era sua família — David o tranquiliza
seriamente.
Deixo a arma cair e sinto a tremedeira vir. Alessandro
rapidamente me ampara. Daiane, Liziara e David se aproximam de
mim. Vejo Henrique ao lado de sua amada, a ruivinha mais linda,
que abre lentamente seus olhos e ele a abraça forte e vejo meu
menino chorar enquanto a beija com carinho. Beatriz arranca a
própria blusa, sem qualquer vergonha, e amarra com força sobre o
braço do Marcos onde foi atingido. Ele está agora sentado.
— COLOCA A PORRA DA BLUSA! — o juiz mais estressado grita.
— Calado, seu juiz de quinta! — ela briga com ele e ao que
parece aperta ainda mais forte o braço dele, que xinga.
— As crianças estão bem. A polícia está a caminho. Melhor o
senhor Felipe e sua turma saírem — Simon avisa. — Os vizinhos
denunciaram devido a gritaria e o alarme, e o Cleber desconfiou que
o rastreio, que o senhor David mantém às escondidas e era
novidade até mesmo para nós, foi disparado, quando os carros da
equipe saíram todos e deixaram em ruas próximas às outras
residências. Então ele mandou equipes para as outras casas e isso
ajudou muito.
Olho para o David, que dá de ombros.
— COM SEGREDINHOS, DAVID ESCOBAR? EU SOU PERIGOSA!
EU VOU TE MATAR! — Liziara fala e ele sorri apertando-a em seus
braços e beijando-a.
Marcos se levanta.
— Vamos todos para a minha casa. Sair desse lugar. — Olha na
direção dos homens caídos.
— Luciano, dê um fim nas imagens a partir do momento certo!
— Henrique ordena.
— Obrigada — agradeço ao Felipe, que me olha e assente.
— Qual o preço? — David questiona a ele.
— Ele! O filho da puta se deu como um pagamento! —
Alessandro diz com raiva e ao mesmo tempo orgulho por algo.
— Vou tirar a mídia dessa história e conseguir com que a
polícia não prorrogue isso e que o delegado geral saia da sua cola,
David. Sim, sei cada coisa sobre vocês. Mas não me agradeçam. Não
faço isso com muita alegria.
— Obrigado — Alessandro declara ao irmão. — Mas vou
arrebentá-lo ainda.
— Espere, porque isso pode mudar — Felipe diz e sinto uma
frieza em seu tom.
Olho para o Alessandro e não me importo com o clima, o
ambiente, nada. Eu apenas o beijo. Ele estava me protegendo e se
colocou em risco por minha família e por mim, e isso é uma possível
prova de amor, mesmo que ele vá negar. Ele me agarra e retribui
como se eu fosse escorregar por seus braços e sumir. Ele estava com
medo, e eu também. Sinto isso e não preciso que ele diga, ele
transmite diante do gosto salgado do beijo pelas lágrimas.
— Ótimo. Meu marido me manda para a morte, e minha sogra
ganha um belo final. Vida injusta! Bia, você estava certa. Os Escobar
são para foder o juízo e não de um bom jeito!
— Concordo plenamente! — Ana diz levando a mão à cabeça.
— Precisamos sair daqui e de médicos. Vamos — Jacob fala.
Saímos lentamente do lugar que um dia chamei de lar, mas
quero que isso mude. Não tem mais como viver aqui. Não mediante
a tanto sangue e duras lembranças que irão cravar em minha
memória se continuar vivendo aqui.
Atravessamos a rua sob escolta dos seguranças que vão
chegando e pedindo perdão pelo ocorrido. Os meninos declaram
que isso será resolvido depois.
Quando passamos pela porta da casa do Marcos, a babá corre
desesperada com o Arthur, mas Beatriz impede, não dá para ficar
com ele toda suja de sangue, mas vejo a alegria em seu olhar e do
Marcos.
— Estão trazendo todos para cá — Pascoal declara sobre o
restante da família e concordamos. — Sei que não é momento, mas
quero pedir minha demissão.
— Ninguém se demite ou sai, até conversarmos. Estamos no
mesmo barco. Todos falhamos. Mas acabou. Depois conversamos —
Henrique diz.
Simon, Luciano e Pascoal saem.
— Gente, acho que preciso muito de um médico — Liziara
comenta.
Olhamos assustados, afinal todos nós precisamos.
— Sou cardíaca, Lizi. Diz o que houve? Está muito machucada?
Mostre! — peço desesperada.
— Estou com instinto assassino. Juro que olho para o David e
só quero matá-lo por ter me levado a essa loucura e ter feito eu me
apaixonar por ele. Algum médico tem que me receitar algo, me
examinar, porque é sério, sinto que vou voar no pescoço dele.
— Cala a boca, minha maluquinha! — David ri e a abraça
apertado.
Minha família não é perfeita, mas fazemos sempre dar certo.
Alessandro me abraça por trás.
— Olha, cara, nem sempre o volume em minhas calças é uma
ereção — Henrique diz nervoso apontando para o Alessandro e Ana
balança a cabeça rindo.
— Acabou — Jacob suspira.
Olho para a Beatriz junto do Marcos, que manda a babá trazer
uma blusa para ela. Mesmo diante dessa situação, ele consegue ter
ciúmes.
A porta se abre e todos começam a chegar. Jaqueline, dona
Joana e Sophie vão demorar um pouco, pois estão vindo da fazenda.
As gêmeas se aproximam. Laís está no colo do Luciano e a Yasmim
no do Simon. Ana e Henrique vão até elas; mesmo sem pegarem no
colo, beijam as pequenas. Laura e Helena gritam pelos pais e cada
uma se joga nos braços deles, e não tem como evitar, eles acabam
segurando-as.
Me aproximo do Jacob e da Daiane.
— Acabou. Por enquanto acabou — digo e eles sorriem.
— Que elas não demorem — Jacob diz e entendo ser sobre a
Sophie e sua avó.
A polícia chega e junto Cleber e Débora, que nos abraçam
muito.

Uma hora depois e estamos com equipes médicas em casa,


delegado geral, escrivão, perícia... muitas pessoas. No decorrer dos
depoimentos, exames, vão indo tomar banho, e usando o que a
Beatriz e Marcos fornecem. A porta se abre e Sophie, Joana e
Jaqueline entram. As duas primeiras correm até o Jacob e Daiane,
com a Sophie gritando por “mãe”, e vejo o amor grande ali. Minha
menina mal sabe que tem sim uma filha e tem sim um amor de mãe.
Jaqueline nos abraça e corre para a Beatriz onde começa a chorar.
Joana e Sophie vêm até a mim que estou sendo examinada. Me
cumprimentam com carinho.
Alessandro discute com o Henrique sobre algo, me fazendo
sorrir. David se aproxima e segura minha mão livre.
— Me perdoa, eu fui um completo idiota. Eu te amo, mãe.
Mesmo que demonstre pouco. E saiba que mesmo não sendo muito
a favor, se ama o Alessandro fique com ele, porque ele não mediu
esforços para nos ajudar a te proteger. Esse cara é bom, mas não
deixe ele saber que eu disse isso.
— Sempre vai existir discussões entre nós dois. Na verdade,
sempre vai existir discussões entre todos nós. Que família não
briga? Mas saiba que reconhecermos o erro e corrermos atrás do
perdão nos torna fortes e prontos para tudo. — Acaricio sua mão. —
Sinto falta do seu pai, mas ele me deixou vocês e vou protegê-los
sempre, custe o custar.
Daiane se aproxima, e David passa o braço ao seu redor.
Henrique e Marcos também acabam se aproximando.
— Jamais devemos nos esquecer desse dia. Ele deve servir de
lição. Poderia tudo ter dado errado — Daiane fala e sorri.
— A pirralha está certa. Eu mesmo aprendi muito com tudo
isso. Às vezes sou egoísta e quero ser um herói para vocês. Mas
somos todos heróis da nossa história e vencermos juntos é bem
mais foda do que separados — Marcos diz e sorrio.
— E no final tudo termina do jeito Escobar, sempre quebrando
regras. Porra, olha com o que negociamos. Se isso cai na boca de
alguém estamos na merda! — Henrique ri.
— Eu precisei matar alguém, olha o nível da loucura. E tudo
porque nossa teimosia e brechas, nos trouxe a essa situação. Joseph
falhou em uma coisa... — digo olhando para as crianças, as mulheres
e o Jacob, que conversa com o Alessandro.
— No quê, mãe? — David questiona.
— Os Escobar não são tão poderosos por seu nome. Mas sim
por colocar a família à frente de tudo, até da própria vida.
— Mas em uma coisa meu irmão acertou muito: escolheu você,
Paula.
Sorrio emocionada. E olho para o Alessandro, que me encara e
lança uma piscada. E acabo viajando em uma linda lembrança,
perfeita.
— Um dia você vai saber o quanto é boa e o quanto merece sempre
ser feliz, meu amor — Joseph diz enquanto me abraça e ficamos olhando
para a cidade à noite, através da sacada do apartamento no litoral.
— Não sei não. Parece que tudo dá errado sempre que me envolvo.
Ele sorri e beija meu pescoço.
— Você merece ser feliz e vai ser. E ainda vai descobrir que não
precisa de mim para isso.
— Pare com essas coisas!
Ele não diz mais nada e ficamos curtindo o momento enquanto aliso
minha barriga de oito meses. Meu primeiro filho. Meu David.
Marcos se aproxima, todo gordinho e fofinho. Loirinho lindo. Olhos
claros que transmitem tanta paz.
— Naum goto de Daidi! — diz e sorrio.
Me abaixo com um pouco de dificuldade e seguro suas mãozinhas.
— E que nome gostaria, já que não gosta de David? — Sorrio.
Ele faz uma carinha de pensativo. E fica sério. Joseph ri. Se parecem
tanto em algumas atitudes. Meu esposo foi um pai para este menino, além
de irmão. Mesmo jovem vem recheado de tanta responsabilidade.
— Inriqui. Quelu exe.
— Henrique?
— Issu. Maisi naum dividu nada com ele.
Rio mesmo tentando evitar.
— Então mudanças de planos. O bebê vai se chamar Henrique, e se
um dia eu tiver outro, coloco David.
— Ei, eu escolhi David. Injustiça, baby. — Joseph finge estar ofendido.
— Mamain escoleu o que quelu! — Marcos diz e me surpreendo. Ele
parece se dar conta do que meu chamou e entra em disparada todo
vermelhinho.
Joseph me ajuda a levantar e lágrimas escorrem pelo meu rosto.
— Ele sente que sou uma mãe para ele.
— E é... amor, eu cuidei dele tendo que lidar com tantas coisas, na
luta por um lugar de juiz. Foram anos loucos. Marcos vai fazer três anos
amanhã, e nunca o vi tão animado com um aniversário, e tudo isso por sua
causa, que está lidando com essa vida de estudante que teve que pausar
mais uma vez, lidando com a fama pelo poder do nome Escobar e com meu
tempo corrido por estar agora iniciando como um juiz. Você lidou com
mais coisas do que eu acharia possível. Então sim, é uma mãe para ele, e
uma gostosa para mim.
— Joseph!
Ele ri e me beija.
Eu fui feliz e Joseph estava certo. Eu posso sempre ser feliz e
vou ser. Porque vou recomeçar. Hoje inicia o meu recomeço. Olho
para o Alessandro e sorrio, ele retribui, mas fecha a cara quando a
enfermeira o chama.
— Mãe, você sempre será nossa Escobar mais poderosa,
mesmo que vire uma Santos, talvez — Daiane fala e sorri.
— Menina, que isso! Não estou pensando nisso. Sou cardíaca,
me respeita!
— Acho bom. Porque estou enfartando. Amor, me ajuda! Ana,
vou morrer! Minha mãe cresceu e quer outro homem. Ai, que dor no
peito! — Henrique grita assustando as pessoas e se senta ao lado da
Ana, que briga com ele. — Estou morrendo, mulher!
— Num tá não, papai — Yasmim diz e ri.
— Que isso? Ninguém me defende!
Rimos, mas logo paramos quando o delegado pede nossa
atenção e começa a falar. Vamos resolver tudo de uma vez.
Treze

Paula Escobar

Semanas depois...

Observo o ambiente espaçoso, claro. Dando vista para a


cozinha que tem conceito aberto. Ando lentamente observando
atentamente os detalhes. Já conferi os demais cômodos e me
agradaram.
— Sra. Escobar, aqui é o local ideal para se viver. Condomínio
fechado, segurança vinte e quatro horas deixando tudo bem seguro.
Não tem problemas na vizinhança.
Sento-me no sofá e cruzo as pernas olhando para o corretor.
— Eu posso te garantir que nenhum lugar é cem por cento
seguro. — Olho de lado para o Pascoal, que afirma.
— Claro. Nisso a senhora tem razão. Porém, aqui é o paraíso.
Garagem para cinco carros, como viu. Piscina em uma linda área de
lazer. Todos os quartos são suítes e enormes e com closet. Sala de
visitas, cinema e escritório. Além da belíssima biblioteca e desta
cozinha toda moderna.
— Não sei, Clóvis. Ainda preciso decidir se eu quero viver aqui.
— A senhora tem que pensar rápido. Todas as casas que vimos
nas últimas semanas estão com propostas incríveis.
— Não me importa. Eu dobrarei o valor se eu realmente achar
que alguma será meu lar. Porém, não irei decidir correndo. Estamos
falando de um lugar que deve ser meu refúgio e que toda minha
família se sinta bem.
— Perdão. Fui muito rápido. A sua antiga casa tem recebido
propostas incríveis, ainda mais com a reforma na sala. Com o valor
podemos ver outras casas ainda melhores se este for o problema.
— Temos um problema e não é o valor. Todas essas casas que
me mostrou são modernas, cheias de novidades, materiais de
primeira. Mas não são aconchegantes. Todas parecem lugares que a
pessoa mal viveria, pois estaria sempre viajando... — Olho para o
Pascoal. — O que achou desta?
— Belíssima, senhora. Perto da minha, qualquer casa é luxo. —
Ele ri.
— Mas na sua casa, você sente que é aconchegante?
— E como! Amo o espacinho que tenho para a minha família.
— Viu, Clóvis. É isso que eu quero.
— Uma casa como do seu segurança? — pergunta confuso.
Levanto e reviro os olhos.
— Não, homem! Acompanha meu raciocínio. O que eu quero é
uma casa aconchegante, que tenha cara de lar e não apenas que foi
arrumada para sair na capa de uma revista de designer.
— Está certo. Irei ver o que consigo.
— Ótimo. Vamos, Pascoal. Tenho uma cliente que chega daqui
a pouco.

Depois de tudo o que aconteceu, demos diversos depoimentos,


nossa casa passou por perícia, muita coisa aconteceu. Mas Felipe
cumpriu a promessa, conseguiu com que a polícia deixasse
arquivado o caso, afinal não tinha quem interrogar mais, pois os
únicos da equipe da Poliana que sobreviveram, foram os que
vigiavam as outras casas; e confirmaram o que já sabíamos: ela foi a
cabeça de tudo. Policiais de onde ela estava presa foram
investigados e descobriram os dois que a ajudaram com
informações e a fugir quando teve a rebelião no presidio, na qual foi
a deixa dela. A mídia também não fala mais nada. Comentaram nos
primeiros dias, com informações desencontradas, mas Felipe
também cuidou disso.
Nossa equipe não sofreu nenhuma demissão. Fizemos uma
reunião e compreendemos que as falhas eram nossas também.
Todos erramos e devemos aprender com nossos erros. Porém,
agora, chega de evitar seguranças. Chega de acharmos que nada vai
nos acontecer. Todo cuidado é pouco. Mais seguranças foram
contratados. E estamos levando a sério nossos treinos. Yasmim e
Sophie ficam com seguranças na escola, conversamos com os
diretores e entenderam perfeitamente a situação. Jaqueline e os
pais da Liziara também andam com seguranças agora. E dona Joana
parou de reclamar do monte de homens que viviam em suas terras.
As babás das crianças agora são fixas, pararam de ficar trocando,
pois isso era mais uma brecha. Os carros foram readaptados por um
sistema de rastreio ainda melhor. Os meninos também vão ter que
ser acompanhados por seguranças, mesmo quando acharem que se
garantem sozinhos. E até Alessandro tem segurança, o Josh, claro
que o professor odiou saber que teria um homem na sua cola. As
famílias dos nossos seguranças também estão sendo vigiadas e
protegidas, afinal eles dão a vida por nós, e alguém precisa proteger
seus familiares. O sítio está ainda mais monitorado, mas ainda não
achamos ser bom ter um caseiro. Tudo está se ajeitando. E estamos
tentando esquecer que aquele maldito dia existiu.
Estou ficando no flat do Henrique, um lugar da vida de solteiro
que ele mantém e achou que eu não descobriria. Não quis ficar em
hotel e na casa de nenhum deles por enquanto. Eu queria um espaço
para continuar agindo com normalidade. David está esperando eu
me decidir onde irei morar, para encontrar uma casa por perto,
pois a Liziara precisa de mais apoio e parou de ser orgulhosa e
entender isso, e eu me dispus a ajudá-la sempre que for necessário.
Laura e Helena ainda não vão para a escolinha como Yasmim, que já
começou a ir para a adaptação.
Mas depois de tudo, eu acho que agora posso pensar um pouco
mais em mim. Tudo isso serviu de lição para tantas coisas. Passei
anos e anos da morte do Joseph me lamentando, e vivendo um
eterno luto. Mas está na hora de recomeçar. Viver mais, me amar
mais, amar outra pessoa, porque o Joseph não volta, e eu estou aqui
e preciso continuar.

Alessandro Santos

Estou sentado em cima da mesa e observando os alunos


fazerem suas provas. Não sei por que, mas amo. Gosto de ver o
pavor neles, é a fonte da juventude para mim. Louco? Todo mundo
tem um pouco de loucura e é recomendável ter, para lidar com a
vida.
Porém, minha mente está apenas no meu irmão. Depois de
toda aquela merda, ele viajou para a Califórnia para resolver toda a
situação com a máfia na qual ele faz parte. Não tenho notícias, e já
busquei de todas as formas, mas nada. Cogitei buscar ajuda dos
Escobar, mas já foi a morte para eles aceitarem essa situação, não
quero colocá-los em mais problemas, e não posso ir atrás dele
pessoalmente, estou atolado de trabalho.
Felipe é um bom homem, mesmo tendo feito escolhas loucas.
Quando digo louca é porque tudo isso começou com ele tendo uma
grande amizade com o chefe da máfia. E terminou com ele se
tornando conselheiro. Na minha família, tudo sempre foi na base da
loucura. Meu pai era um policial corrupto, minha mãe ficou doente
por culpa dele, seria até desonesto com eles, que nós filhos
fôssemos normais. Nunca aponto que meu irmão veio de adoção;
para mim, ele sempre foi e sempre será como de sangue e pode
parecer paranoia, mas sempre tive comigo que não teria irmão mais
perfeito que ele, pois parece que temos tantas semelhanças ao
mesmo tempo que somos tão diferentes. Caralho, até eu sou louco,
porque poderia me apaixonar por qualquer outra pessoa! Sério,
poderia ser qualquer outra mulher. Mas tinha que ser pela
matriarca de uma família que nunca sei quando querem me matar
ou apenas me socar. Maldito coração! Eu estava tão bem sem esse
papo de romance, entretanto seria óbvio que eu iria pagar com a
língua e ferrar tudo. Devo ser meio masoquista, não sei, só que falou
em dar merda, eu me jogo de cabeça.
Arlete me faz sobressaltar quando coloca a prova literalmente
em meu rosto.
— Querida, eu uso óculos, mas não sou cego a este nível. —
Pego a prova e coloco ao meu lado.
— Estou liberada?
Olho no relógio em meu pulso.
— Espere mais quinze minutos, assine seu nome na lista e
pode desaparecer.
Ela revira os olhos e volta a se sentar.
— Essa porra está difícil. O senhor gosta de nos torturar! —
Maicon resmunga fazendo os outros rirem.
— Primeiramente, “senhor” é teu passado. E segundo, se
estudassem, não estaria difícil... Quem eu quero enganar? Está
difícil sim, e amo torturar vocês. E eu iria agradecer se terminassem
logo porque é sexta-feira e não aguento mais olhar para a cara de
nenhum aluno.
— Que horror! Tenha mais compaixão — Maicon finge estar
ofendido e sorrio.
— Minha compaixão terminou assim que coloquei os pés aqui,
às sete da manhã. São seis horas da tarde agora, mais uma hora aqui
e mato alguém. Agilizem! E amanhã ainda tenho que vir porque tem
palestra, que absurdo! — Cruzo os braços.
— Você é o professor que menos nos anima. Você é louco! —
Yara fala.
— Não sou palhaço e tampouco animador de torcida, para
deixar vocês animadinhos.
— Mas tem um charme que anima de outra forma. Está calor,
né? — Brenda provoca e os outros gritam.
— Se eu levasse em consideração tudo que escuto de vocês,
estaria fodido! Deixe de enrolar, Brenda! — Sorrio.
Eles riem e voltam a fazer a prova.
Entro no estacionamento às sete e meia da noite, e parece que
estive em uma prisão há anos. Sigo para o meu carro, com um
brutamontes me seguindo. Não irei superar que tem um homem de
olho na minha bunda, porra! Josh é um cara legal, mas, puta que
pariu, tenho medo de ir à cozinha de madrugada e dar de cara com
ele. Entro no meu carro e vejo ele subir na moto, que estava ao lado
do meu veículo. Tiro o celular do bolso e vejo que tem uma
mensagem da Paula, me chamando para ir até o local que está
treinando para buscá-la. Respondo que vou tomar um banho, e
depois irei.

Assim que chego em casa, Irene já me avisa que tem comida


pronta. E não irei recusar. Estou morrendo de fome. Mas primeiro
preciso de um banho. Tiro tudo do bolso e deixo na cama. Olho meu
celular e nada, nenhuma resposta do Felipe.
Retiro a roupa e entro no meu banheiro. Ligo o chuveiro e
deixo a água quente relaxar meu corpo, meus músculos. Era tudo
que eu precisava hoje. Esfrego o rosto e respiro fundo.

Estou indo para o local onde a Paula treina. Se ela pensa que
vou treinar, está enganada. O único modo que pretendo suar é com
sexo, o que ela tem evitado desde a nossa viagem. Só me lasco, eu
digo!
Sigo com o segurança fazendo escolta. Quem vê pensa que sou
parente da rainha. Acabo rindo disso. Quem diria que teria um
homem na minha cola!
O percurso não é longo, mesmo com um pequeno trânsito
chego rápido. Estaciono e Josh me assusta parando a minha frente.
Quando ele saiu da moto?
— Eu vou entrar, e não precisa vir.
— Ficarei na recepção, senhor.
— Você quem sabe. E pare de me chamar de senhor.
— Senhor Henrique mandou não acatar nenhuma ordem sua.
— Senhor Henrique é um idiota, pode transmitir essa
informação a ele? Não, né? Não tenho poder sobre nada aqui.
Ele sorri.
Entro e aviso que vim ver a Paula Escobar. Estou autorizado ao
que parece, já havia vindo essa semana trazê-la, mas não entrei
além da recepção. Informam a sala que ela está e como chegar até
lá.
Faço o trajeto e paro diante de uma enorme porta, de uma sala
muito grande, com alguns colchonetes, uma parede de espelhos, e
alguns instrumentos que devem usar nos treinos.
Jacob está encostado em um canto e assim que me vê se
aproxima.
Daiane, Paula, Ana, Liziara e Beatriz treinam com dois homens
fortões. Vejo Jaqueline saindo de outra porta dentro da sala, e ela se
senta em um canto bebendo a água da garrafa e faz um aceno rápido
para mim, que retribuo.
— Até a Jaqueline veio para essa loucura?
— Ela quis tentar. Mas desde que cheguei, apenas a vi sentada
e olhando assustada.
— Nem imagino o motivo! — ironizo.
É soco, chute, braçadas e gritos para tudo quanto é lado. Porra,
preciso me lembrar de nunca irritar a Paula! Ela me mata, com toda
certeza! Como esse corpo tão pequeno e magrinho consegue tudo
isso?
Liziara cai e sinto a dor. Será que devo chamar um médico?
— É, Frederico e Laerte não perdoam ninguém! Daiane às
vezes chega roxa em casa. Estou começando a cogitar que ela grave
os treinos, para usar como provas que eu nunca encostei nela. Já
pensou se alguém a vê assim na rua e denuncia?
Acabo sorrindo.
Laerte prende a Paula por trás, e ela tenta se livrar. Esse
mamute não pode ficar mais distante, não?
— Precisa ser tão colado assim? Apenas uma dúvida.
— Se acostume ou vai pirar.
Jaqueline se aproxima sorridente como sempre.
— Olha, eu vou embora, pedir uma deliciosa pizza e
atormentar o Arthur. Isso não é para mim. Prefiro andar com mais
seguranças, até porque não acho ruim. Adoro!
Rimos e ela passa por nós.
Ela está vendo casa na cidade. Vai se mudar, quer ficar mais
próxima de todos. Então já está ficando na Beatriz enquanto isso.
— Notícias do seu irmão? — Jacob questiona.
— Não.
— Eu sinto muito. Se precisar de ajuda...
— Não se preocupe. Não quero colocá-los em problemas.
— Não aceitamos o que seu irmão faz, mas, diante de tudo, ele
foi nosso apoio; e graças a ele, não tivemos que justificar muitas das
merdas naquele dia, como a morte da Poliana, que poderia ter sido
evitada. Se ele precisar de ajuda, conte conosco, temos uma dívida
com vocês.
— Não, vocês não têm e eu faria de tudo para proteger a Paula.
— Que bom que você tem amor por nossa amizade. E fez isso
pensando em nós também — ironiza e rio.
Daiane xinga quando vai ao chão e olhamos para ela, que nos
vê e sorri.
— E sua avó, não quer vir morar para cá? — Me lembro da
discussão deles no dia seguinte ao acontecido.
— Não. Ela ama aquele lugar. E é até bom, pois é um lugar a
mais para Sophie ir e ela tem amigas lá. Daiane e eu temos a vida
corrida, então infelizmente não dá para levar a Sophie para viajar
com tanta frequência. A melhor opção é ter minha avó no interior,
que sempre pega minha menina.
Assinto, e fico olhando para elas. Eu não estou simpatizando
com esses mamutes. É muito contato físico para meu gosto... Porra,
era só o que me faltava: crises de ciúmes.
— No dia do acontecido, a Daiane estava suspeitando que
poderia estar grávida. — Olho assustado para ele, que mantém os
olhos nela. — Não contamos a ninguém. E porra, nunca desejei tanto
que ela não estivesse, porque as chances de ela perder seriam
grandes. Por fim, ela não estava, e foi um alívio. Ela redobrou os
cuidados com o medicamento, porque um susto desse novamente
não aguentaríamos.
— Eu sinto muito... O pavor de vocês então estava triplicado.
Ele assente e leva as mãos aos bolsos da calça.
— Vocês formam um casal bonito. Na verdade, uma família
bonita... Mas pretendem... Sabe, aumentar a família?
Ele me olha e sorri.
— Não. É algo nosso já. Não queremos. Se acontecer, tudo bem.
Mas vamos cuidar ao máximo para não termos mais surpresas. Mal
temos tempo para Sophie, ser promotores já toma mais do nosso
tempo do que queríamos, imagine ter outra criança? Vê a vida da
Liziara, sem tempo até para respirar, se divide em mil para estudos,
trabalhos, gêmeas, treinos; a Paula vai passar a ajudá-la, porque
apenas a babá não está sendo suficiente. Tem a Ana também, duas
meninas, e vive em constante desespero, prezando a segurança
delas, afinal, as duas têm pais advogados criminalistas, que não são
tão amados por seus réus... Essa vida é foda. Admiro muito todos os
Escobar que conseguem lidar com tudo e todas as crianças. Porém,
não quero ver a Daiane mais pirada do que fica para cuidar da
Sophie, e não quero ficar mais preocupado do que fico quando saio,
viajo e tenho que deixá-las. Já arrisquei muitas coisas quando me
casei com a Poliana e quando escolhi ser promotor, não sou tão
forte quanto eu pensei para querer arriscar ainda mais, colocando
mais um filho no mundo. E a Daiane conversou comigo, ela pensa o
mesmo, diz não estar preparada tão cedo para isso.
— Vocês dois são mais fortes do que pensam. São pais
incríveis, Sophie tem muito orgulho de vocês. São ainda mais fortes
por saberem respeitar que agora não é o momento para outra
criança, e não ligarem para as fofocas da mídia e tampouco para
comentários que sei que devem ocorrer. Sempre acreditei que ser
um bom pai é, acima de tudo, saber compreender o momento certo
para colocar um filho no mundo, e não colocar apenas para dizer
“eu que fiz”. Só por pensar nisso já mostra o quanto vocês são
ótimos pais para a Sophie e seriam ótimos pais para outra criança,
que, sem existir, já tem a proteção de vocês.
Ele leva uma mão ao meu ombro e aperta, então surge um
sorriso em seu rosto.
Anunciam o fim do treino e elas se deitam no colchonete,
exceto a Paula que caminha até a mim, sorridente. Um dos homens a
chama e joga uma toalha, que pegaram no canto dos acessórios; ela
enxuga o suor e torna a se aproximar.
— Sempre me lembre do porquê não posso te irritar — peço
levando a mão a sua cintura.
— Pode deixar.
Inclino o corpo e beijo seus lábios.
— Está vendo, Daiane? É assim que você tem que me tratar. —
Jacob aponta para ela, que mostra o dedo a ele.
Elas se levantam e se aproximam.
— São moles demais! Uma hora de aula e estão assim?
— Cala a boca, Frederico! Com a raiva que estou por este
treino, eu mato você e o Laerte! — Paula rebate.
Agora já sei quem é o mamute um e o mamute dois. Eles
acenam com a cabeça para mim, e retribuo bem sério. De verdade,
não gostei deles. Porra, para que esse olho azul, esses músculos só
do Laerte? E o Frederico com essa cara de “fodo melhor que você”...
Porra!
— Eu não sinto minhas pernas. Ainda bem que vim com o Alex
e ele vai dirigindo — Liziara diz se apoiando na Beatriz e na Ana.
— Eu vim de carona com Simon, então estou de boa também. E
minha tia? — Beatriz questiona franzindo o cenho.
— Ela foi embora. Melhor, fugiu — digo e ela revira os olhos.
— Por isso ela veio com o carro dela. Para fugir a hora que
quisesse — Beatriz constata, sorrindo.
— E eu me lasquei! Vim no meu carro e o Luciano no dele.
Henrique vai trabalhar até tarde, não posso explorar ele.
— Ana deveria ter dito que, na hora em que o Jacob me deixou
aqui, traria você e agora iria conosco. Saiba que vou explorar muito
o meu pateta, porque esses ogros aqui ferraram com minha coluna.
— Qual é, princesinha Escobar, pensei que era mais forte! —
Frederico provoca.
— Me chama assim de novo, que arranco seu pênis e enforco
você com ele.
— Daiane! Tenha modos! — Paula exclama horrorizada.
— Eu tenho, mamãe. Mas as pessoas me irritam!
Eles riem.
— Vamos, antes que saia alguma morte — Paula fala
segurando minha mão.
— Antes, eu quero saber quando vai se assumir de vez com o
pateta número cinco?
— Queria entender isso de pateta — comento.
— Ela só chama de pateta os homens que ela já considera da
família — Beatriz responde.
— Isso é para ser um elogio? — indago provocando a Daiane.
— Não. Eu descobri que sou ogra, não curto elogiar demais —
Daiane diz agarrando o braço do marido, que sorri.
— Agora que descobriu que é ogra? Mulher, eu já sabia há
tempos. Merda, que dor nas pernas! Estou ferrada, sem sexo hoje.
— Liziara! — Paula a repreende e ela dá de ombros.
— Vou te passar o nome do produto que uso para dores depois
do treino. Nunca fico sem sexo — Ana comenta.
— Ana Louise! Até você, o anjo puro desta família? — Paula a
repreende e acabo rindo.
— Eu sou o único anjo, sogrinha — Jacob fala fazendo cara de
santo.
A ruiva revira os olhos e sorri.
— Sim, meu amor. É o único mesmo. Agora vamos. — Paula
entra na dele.
— Melhor. Não precisamos saber da vida íntima de vocês —
Laerte diz empurrando todos para fora da sala.
Caminho na frente com a Paula.
— Ana, não esquece de me dar o nome. Vou comprar antes de
ir para casa! — Liziara diz bem alto.
— Mãe e Pateta, não fujam do assunto. Quando vão se assumir?
Olho para a Paula que está muito vermelha, e não é pela
adrenalina do treino.
— Essa família ainda vai me matar de vergonha — diz
baixinho.
— Quando está com loucos, seja mais um — falo para ela. — Se
eu disser namorados, irei mentir, porque nunca conversamos sobre
isso! — rebato e escuto os risinhos atrás.
— Gente, cuidem da vida de vocês. Estão me matando de
vergonha! — Paula reclama.
— Ela tem razão. Mas fala aí, são apenas beijinhos, mãos dadas
ou estão levando a sério o envolvimento? — Jacob provoca e rio,
mas Paula acerta um tapa no meu braço. Cacete, ela tem força!
— São inocentes demais, por ainda não verem que já rolou
uma rodada bem intensa de sexo! — Liziara diz e Beatriz briga com
ela. — Meu povo, não se façam de santos não! Aqui todo mundo faz
sexo!
— Fala baixo, Liziara! — Ana rebate rindo.
Paramos na porta e os seguranças se aproximam.
— Senhora Beatriz, antes de irmos para casa, temos que passar
em um lugar.
— Que lugar, Simon? Não inventa. Que merda o Marcos pediu?
Estou cansada.
— Pediu para a senhora escolher um bom vinho e levar. E
depois se arrumar e se encontrar com ele no local que irei levá-la.
Ela fica vermelha. Posso estar louco, mas tem algo nesse
convite do juizinho estressado.
— Olha, esses dias o Marcos me usou de secretária e fez eu ir
ao banco para ele; folgado demais, vale ressaltar. Mas, enfim, o
extrato bancário do homem tem vinho pra caramba! Estão abrindo
uma adega ou coisa do tipo, ou gostam muito de beber vinho? —
Liziara indaga cruzando os braços e dando risinhos.
— Olha, Liziara, eu só não te mato, porque te amo. Vamos,
Simon.
Ela entra no carro rapidamente, sem se despedir de ninguém.
Jacob me olha e não aguentamos, começamos a rir. Ficam
olhando para nós com cara de interrogação.
— Esse juiz vive embriagado — Jacob comenta sem parar de
rir.
— Taça especial, será? Besta somos nós, Jacob — comento já
entendendo tudo.
— Do que os patetas estão falando? — Paula questiona. —
Nossa, filha, é realmente bom chamar de pateta!
Daiane sorri do comentário da mãe.
— Apenas pensamos o mesmo. Vamos? — digo a Paula.
— Cacete! Eu entendi. Depois séculos... Bia está safada! Estou
nas antigas mesmo, usando algemas ainda, acreditam? Esses dias
prendi o David na grade da cama e quebrei a chave quando fui
abrir. Tive que chamar um segurança para ajudar. Se eu sumir, já
sabem, ele me matou. Está puto por isso e não me deixa encostar em
mais nenhuma algema.
— Luciano pegou o Henrique e eu transando na piscina. Sei
bem o que é ver um homem puto. Henrique por pouco não mata ele!
— Liziara e Ana, como podem? Meu Deus! Vamos, Alessandro.
Saímos dali com os risos deles.
E eu achando que era louco, mas essa família se supera!

Paula Escobar

Entramos no flat e eu já retiro o tênis e as meias. Sinto o alívio


por meus pés estarem livres.
— Preciso de um banho e depois podemos sair para comer
algo, ou podemos pedir. — Giro o pescoço de um lado para o outro.
— Não estou com fome. Mas posso te levar para comer.
— Olha, depois desse treino prefiro apenas um bom chá ou
café e relaxar. Pensei que não tinha jantado ainda, por isso
comentei.
Ele sorri e se senta na poltrona preta.
— Nada do seu irmão?
— Não. Mas sei que ele vai aparecer.
— Vai sim. Ainda me sinto mal por ter saído daquele jeito da
sua casa no interior e feito julgamentos, quando, na verdade, ele
quem nos ajudou.
— Eu faria o mesmo em seu lugar. Estava acontecendo muitas
coisas.
Concordo agradecida por ele pensar assim. Eu realmente
estava mal. Mas saber que ele entende torna isso melhor.
— Então vou tomar um banho.
Ele assente. Mas seu olhar é outro. É intenso. Eu já vi este
olhar. Sinto um friozinho na barriga. Levanto-me, pego uma toalha e
as roupas e sigo para o banheiro.
Tiro a roupa e solto o cabelo. Ligo o chuveiro e quando vou
entrar, ouço batidas na porta e a voz do Alessandro. Respiro fundo e
volto a me olhar no espelho. Dou uma ajeitada na juba de leão, que
se formou meu cabelo, e abro a porta colocando apenas a cabeça
para fora. Ele ergue uma sobrancelha e acabo sorrindo.
— Oi?
— Eu já te vi nua, sabia?
— Já? Já, claro. Mas é que estou suada...
— Não me importo.
Claro que não se importa. Como vou dizer a ele que, na
verdade, estou com vergonha? Que na verdade, Paula Assis sempre
foi tímida para essas coisas de ser totalmente atirada? Que só deixo
me levar na hora do sexo mesmo? Droga! Pareço uma menininha e
não uma mulher, adulta, advogada, mãe... e Deus do céu, também
avó!
— Paula?
— Ah, sim. Quer que eu abra toda a porta, né? Ver meu corpo...
Essas coisas.
— Você está bem? — Ele franze o cenho. — Porra, já fizemos
sexo antes. Estamos saindo. Rola beijos, e vivemos um com o outro
nas últimas semanas. Até dormimos juntos. Você sabe mais da
minha vida do que eu da sua. Realmente vai ficar tímida?
— Está certo. Abrindo tudo... Quero dizer, abrindo a porta. —
Abro toda a porta e ele me analisa.
Corro para o box e entro embaixo da água.
— Pode falar. Estou ouvindo...
Molho o cabelo e, quando abro os olhos, me assusto ao ver ele
na porta do box, de braços cruzados, me olhando.
— A Daiane fez uma boa pergunta hoje. O que somos?
— Humanos?
— Paula! — repreende-me nervoso. Estou perdida com esses
homens bipolares me rondando.
— Desculpa. Quando fico nervosa fico meio aleatória, irônica...
— E por que está nervosa?
— Não sei. Talvez timidez.
— Mas na hora do sexo não fica tímida.
— Não... Alessandro!
Ele sorri e sinto meu coração palpitar com esse sorriso. Pego o
xampu, mas paro com ele no ar, ao ver o Alessandro tirando os
sapatos e se despindo.
— O que... Você já não tomou banho? Não era isso que eu
deveria perguntar.
Ele retira a camiseta e começa a abrir a calça. Deixo o xampu
cair e sobressalto com o barulho. Apenas de cueca entra no box e
fecha o vidro. Então bem lentamente se aproxima.
— O que somos?
— E-eu não sei...
— Eu sinto sua falta, Paula.
— Estamos nos vendo bastante desde o acontecido.
Ele leva uma mão ao meu rosto e acaricia.
— Estou falando de você por inteira. Por que evita? — Seu tom
é rouco e baixo.
Droga... Estou sentindo como se flutuasse. Ele consegue me
desestabilizar demais.
— Porque estou com medo de ser apenas por sexo que você me
queira — digo o que me vem rapidamente, e paro para analisar
minhas palavras; e é uma verdade absoluta. Estou com medo disso e
só dizendo em voz alta e rápido vejo o quanto é verdade.
Ele franze o cenho e, em seguida, sorri. Segura meu rosto com
ambas as mãos.
— Se fosse o Alessandro da boate, onde nos conhecemos, você
poderia ter este medo. Mas este Alessandro aqui, parado a sua
frente, não quer apenas sexo... Paula, eu não quero apenas sexo. Eu
quero tudo. Pela primeira vez, eu quero tentar tudo com alguém...
Estou apaixonado por você e acredito que foi desde quando te vi
pela primeira vez, bons meses atrás. Só não queria admitir. Precisei
passar o inferno achando que te perderia naquele maldito dia, para
entender que quero você. Quero tudo com você.
Meus olhos embaçam pelas lágrimas que começam a escorrer.
— Estava ensaiando em como te dizer que quero você...
Alessandro, tudo o que disse é recíproco. Não consigo mais me
imaginar sem você, meu professor. — Acaricio seu rosto.
— Vai recomeçar? Porque preciso de você por inteiro, não
posso competir com alguém que deu uma família, poder, muito
amor e felicidade durante anos e que não está mais aqui. É difícil
demais tentar competir com algo assim.
— Não precisa competir. Ele foi o início de uma história para
mim, me deu o meio e o fim dela. Aquela história, hoje eu
compreendo que já se foi, terminou, teve seu ponto final. Eu sempre
vou amá-lo em um lugarzinho especial em meu coração, mas não
posso mais viver por isso, estava me machucando demais.
Ele beija minha testa e sorri.
— Então é o recomeço de uma nova história? Posso acreditar
nisso?
— Pode. Eu quero que você seja o meu recomeço.
— Serei, e você será o meu início.
— O jogo virou. Hoje sou o início de alguém.
Sorrimos e ele me beija. É um beijo diferente de todas as
outras vezes. Neste tem cem por cento de sentimentos, entregas. É
como se as correntes que nos aprisionavam estivessem sendo
quebradas. Precisei passar por tantas coisas, para ter o sentimento
do amor novamente, e valeu a pena. Tudo nessa vida tem um tempo
certo para acontecer, só precisamos ter paciência e não desistir; e
se eu não desisti foi pela minha família, devo muito a eles. Se tem
uma coisa que aprendi, depois de toda aquela confusão com a
Poliana, é que não sabemos nosso dia de amanhã; então temos que
viver o hoje como se fosse o último dia, porque a vida é curta
demais para deixar tudo para depois.
Meu corpo é levado à parede, e sinto sua ereção sendo
pressionada em mim. Um calor me consome, e parece que estou em
chamas. Ele se afasta retirando a cueca, e torna a me agarrar, e
desta vez sinto seu pau se esfregar em mim. Fico em êxtase com a
sensação. Sua boca ataca meu seio e acabo gemendo alto. Uma mão
desliza para a minha boceta e ele começa a massagear meu clitóris.
Aperto seu braço, ele larga meu seio, indo na direção do meu
pescoço, onde morde e beija em seguida.
— Alessandro... Como isso é bom... Deveria ter insistido mais...
Ele sorri e desliza o dedo para dentro de mim. Grito pela
sensação, e ele aperta meu rosto e sussurra em meu ouvido:
— Não posso esperar mais. Estou louco para enterrar meu pau
em você.
— Faça...
Ele tira o dedo e não tenho tempo de sentir falta, pois é rápido,
me ergue em seus braços diante da parede fria e me penetra. É
bruto, intenso. Minhas mãos apertam seus ombros.
— Tudo bem? — questiona e afirmo com a cabeça.
Se movimenta em um vaivém rápido e forte. Nossos gemidos
se misturam com o som da água e dos estalos do nosso corpo se
chocando um ao outro. Sinto-o ir mais fundo. Aperto as pernas ao
seu redor e inclino a cabeça para beijá-lo. Nosso beijo é feroz tanto
quanto suas investidas. Afasto nossos lábios e beijo seu pescoço. Ele
começa a dizer coisas indecentes, e isso me deixa ainda mais louca e
prestes a gozar.
Levo a cabeça para trás vibrando com a sensação de ser tão
preenchida por ele. Meu corpo está parecendo que vai desmoronar.
Como o sexo com ele é maravilhoso! Preciso disso para sempre.
Chupa meu seio e morde e a dor se mistura ao prazer, agarro seu
cabelo.
— Você é gostosa demais!
Sinto que não posso mais segurar. Inclino o corpo para frente e
levo o rosto ao seu pescoço. E ouvir seu gemido ao pé do meu
ouvido me faz delirar ainda mais. Sinto seu pau pulsar, e a sensação
é deliciosa.
— Porra... — sussurro.
Ele solta um gemido rouco, e sinto ele gozar em mim, enquanto
gozo em seu pau com força. Meu corpo fica fraco, mas é uma
fraqueza muito boa.

Estamos deitados na cama enquanto ele acaricia meu cabelo,


que sequei após sairmos do chuveiro.
— Namorados — Acariciando seu peito nu, eu dou a resposta
para o que somos.
— Gosto disso... — Ele me beija com carinho.
— Se prepare! A mídia vai adorar essa novidade.
— Sou gato demais, vou adorar as fotos que vão fazer.
— Convencido!
Ele ri e é um som maravilhoso. Fico olhando e apreciando.
— O que foi? — questiona. — Está me olhando como se fosse
babar! — provoca.
— Gosto do som da sua risada. Me acalma.
— Tem outra coisa para te acalmar. — Beija meu pescoço.
— Eu queria muito. Mas não vamos parar. E você falou ontem,
que amanhã teria palestra bem cedo na universidade.
— Nem me lembre. Quero matar o babaca que for dar a
palestra. Por causa do infeliz, somos obrigados a estarmos juntos
dos alunos em um sábado.
Sorrio.
— Eu odiava palestra quando estudava.
— Eu odiava quando estudava. Odeio ter de dar, e continuo
odiando ter que assistir. Ainda mais quando isso impede uma longa
noite e madrugada de sexo com a minha namorada.
— Estamos velhos demais para isso?
— Meu pau ainda sobe sem precisar de nada e, porra, tenho
uma aparência muito bonita. E você parece irmã dos seus filhos e tia
dos seus netos... A idade para nós é apenas um número.
— Então não estamos?
— Não. Ninguém está velho para nada. Eu só me considero
velho quando o assunto é academia. Porra, me sinto ancião!
— Bem-vindo ao clube!
Rimos totalmente descontraídos. É tão bom estar assim. Sentir
a leveza e a paz. Senti falta disso.
Quatorze

Paula Escobar

Observo atentamente o auditório da Universidade que o


Alessandro leciona. Está lotado de alunos e professores. Ele me
convidou para acompanhá-lo. É óbvio que eu viria. Quero ficar mais
próxima dele. Estar mais presente, criar mais conexão do que
estamos tendo. E não perderia de ver a sua cara emburrada por
nada. Faz tempo que não me divirto tanto.
Não sei quem vai dar a palestra e tampouco ele. Ao que parece
é surpresa. Ele está bem irritado, pois queria ficar em casa,
curtindo, mas foi obrigado a vir. Está xingando desde ontem todos
os santos possíveis, e tenho certeza de que um lugar ao inferno já
está garantido e espero que apenas a ele, pois eu fiquei caladinha.
Não queria estar na pele de quem vai dar a palestra, porque
Alessandro está bem revoltado e é capaz de enforcar a pessoa. Que
Deus nos ajude, ou sairemos presos daqui, tenho certeza!
Confesso que estou cansada. Passamos a noite e madrugada
mergulhados em sexo, não resistimos, e acabou que tínhamos que
acordar cedo e cá estamos, com cara de sono.
Ele entra no auditório, e para ao meu lado. Sua cara é fechada e
é raro vê-lo assim com tanta frequência.
— Olha, eu tenho milhares de ideias de como enforcar a pessoa
que resolveu dar uma palestra neste sábado. Juro! Eu posso lidar
com o corpo. Cá entre nós, tenho loucos suficientes ao meu redor
que me fizeram virar um pouco psicopata.
Disfarço o riso com uma tosse fingida.
As pessoas passam e ficam olhando espantadas e
envergonhadas para mim. Até parece que sou uma celebridade. Sou
mais comum do que pensam. Às vezes parece que nós, Escobar,
somos um objeto em um vidro onde todos podem ficar admirando,
credo!
— Sabe, as pessoas realmente têm certas coisas quando se
trata de um Escobar. Não param de me olhar! Ale, eu estou com algo
no rosto? Seja sincero — pergunto completamente preocupada.
— Deve ser porque sua maquiagem está borrada. — Dá de
ombros.
— Está? Meu Deus! Eu preciso trocar o grau da lente de
contato. Porcaria! Tem espelho aí? — Estou a ponto de pular em seu
pescoço por não ter dito isso antes.
— Por que eu andaria com espelho? Sei que sempre estou belo.
— Ele ri, enquanto estou desesperada procurando o celular na bolsa
para ver o que estão rindo, mas não acho.
— Alessandro, está muito borrado? Deixa de rir, homem. Eu
vou te enforcar, pode ter certeza!
Ele ri alto. Fico sem entender sua graça.
— É brincadeira, mulher! Está linda. — Pisca para mim e beija
meus lábios.
Olho feio para ele, que continua rindo sem se importar.
— Não teve graça! Quase morri. Eu sou cardíaca, sabe disso!
— Teve sim. A única coisa que não tem graça é o empata-foda
que não aparece logo e se acha o dono do universo, só pode. Por que
está atrasado?
— Tenha paciência! Logo seremos expulsos se continuar
agindo assim.
— Não seria uma má ideia, viu!
Reviro os olhos.
Sentamo-nos nos lugares reservados. Alguns alunos
cumprimentam a ele e a mim, como se eu fosse mordê-los. Isso que
dá Marcos e David serem cara fechadas e Henrique exibido, pensam
que todos os Escobar são estrupícios como eles.
— Eu só vim porque o reitor basicamente me obrigou. Na
verdade, obrigou a todos os professores virem. Absurdo! Porra, vou
querer aumento! É muita babaquice! Toda palestra é a mesma
coisa. “Não desistam de seus sonhos”, tem também o famoso
“corram atrás de seus objetivos” ou o inevitável “eu cheguei aonde
estou porque batalhei desde muito jovem”. Parecem discursos
prontos e eles revezam a cada vez! — resmunga e se soubesse o
quanto fica mais lindo assim, tenho certeza de que faria mais vezes
porque ama se exibir.
— Para de ser ranzinza. Pode ser diferente e bem animado.
Olha eu nunca fui fã de palestras, mas tem algumas bem legais e
produtivas.
— Sei. Sabe o que mais é produtivo pela manhã? — Ele aponta
para o centro de suas pernas.
— Alessandro Santos! — repreendo-o.
O homem ri. Eu digo que vou enfartar. Só aparecem malucos na
minha vida, começando pelos filhos e noras. Sou cardíaca e ninguém
respeita isso.
O auditório está lotado agora, e o reitor, que já conheço de
alguns eventos, sobe ao palco e fala com todos dizendo que o
convidado especial chegou.
— Vamos conhecer o empata-foda, seja quem for.
— Shhh... — Bato em seu braço. Ele sorri e morro mil vezes
com esse sorriso lindo.
A porta ao lado do palco se abre e aplausos e assobios
começam. Alessandro me olha e eu quero rir, mas estou tentando
me controlar.
O convidado se aproxima do palco após cumprimentar o reitor
e pega o microfone onde começa a falar:
— Peço desculpas pelo atraso, mas, como sabem, tenho uma
vida corrida e acabei por pegar um engarrafamento terrível... Então,
bom dia a todos! — Respondem em uníssono. Muitas meninas estão
vermelhas e agitadas. E eu estou sentindo que vou morrer por
segurar o riso pela cara do Alessandro. — Já devem saber quem eu
sou, mas, para quem não sabe, me chamo David Escobar e sou
delegado civil. Ao que parece fui escolhido para ser uma surpresa a
todos. E aqui estou, então surpresa! — ele brinca.
Aproveito a oportunidade para libertar minha risada. Algumas
pessoas olham e escorrego um pouco pelo banco.
— Como chamou ele mesmo, Alessandro? — provoco.
— Paula, eu não sabia que seria o David... Porra, eu estava
xingando seu filho. Eu... Para de rir, cacete! — ele cochicha e olham
para nós e os dois a nossa frente reclamam e pedem silêncio.
Olho para o palco e lágrimas escorrem em meu rosto de tanto
rir. Levo a mão à boca e encosto no Alessandro, virando o rosto para
o seu peito e continuo rindo. Ele está sem jeito. Passa o braço ao
meu redor e cochicha em meu ouvido:
— Para de rir, ou vão nos expulsar. E seu filho está com uma
arma na cintura, bem capaz de atirar em mim!
Começo a contar mentalmente e respirar fundo. Vou
controlando a risada aos poucos. Algumas pessoas olham sem
entender. Quando olho para o palco, David fala com o olhar em nós.
Dou um pequeno aceno e encaro o Alessandro.
— Sua cara foi impagável! — confesso com a voz chorosa pelo
riso.
— Claro, eu estou desde ontem xingando, e para você que é
mãe dele!
— Relaxa. Eu mesma xingo tanto eles; mentalmente então,
nem se fala. Vamos prestar a atenção no que ele tem a dizer. Já que
foi empata-foda como o chamou, o mínimo é dar atenção. — Dou um
risinho.
Ele me olha feio e não aguento, volto a rir com vontade. Tenho
que sair de fininho do auditório para o banheiro onde começo a me
recompor e ajeitar a maquiagem, que agora sim borrou, de tanto eu
rir e acabar chorando.
Nunca vi o Alessandro ficar tão desconcertado como hoje. Isso
só prova o quanto ele respeita minha família, mesmo irritando a
ele. Coitadinho, ele preocupado e eu me acabando de rir. Estou
ficando perdida como todos os Escobar. Eu não era assim. Preciso
de terapia, essa família está me enlouquecendo.

A palestra terminou e todos foram cumprimentar meu filho.


Alessandro e eu saímos às pressas do auditório. Ele conversou com
alguns professores e o reitor e nos despedimos rapidamente e
fomos para a entrada da universidade. Paramos em um canto e ele
me abraça por trás. As pessoas que saem ou entram observam
curiosas.
Resolvemos esperar o David ao menos para dar um “oi”, o que
nunca é apenas isso. Sempre envolve eu enforcar algum dos meus
filhos. Pascoal e Josh fazem sinal e retribuo dizendo que está tudo
bem e eles concordam, mas mantêm um pouco de proximidade.
Demora um pouco, mas logo meu filho sai e chamo seu nome.
Ele se aproxima, e faz sinal para sairmos da entrada. Vamos em
direção aos nossos carros. Os seguranças seguem e o novo
segurança dele, Michael, se aproxima e se junta aos outros.
— Qual era a comédia, dona Paula? — ele questiona e
pigarreio.
— Nenhuma, meu lindo. Tudo na mais perfeita ordem. — Coço
a nuca.
— Sei... — Ele olha para a minha mão e a do Alessandro
entrelaçadas. — Está mesmo sério. Estão se mostrando em público...
Sabe, eu realmente quero gostar disso, mas está foda!
— Está sério. Isso é verdade — confirmo sorridente e olho
para o Alessandro, que me lança seu sorriso.
— Se você a machucar, eu fodo sua vida. Eu te mato. Ninguém
nunca vai te encontrar. Eu acabo de verdade com você. Vai implorar
por perdão! — ele diz sério e bipolar como sempre.
— Quando um delegado me ameaça, eu tenho que prestar
queixa ou algo do tipo? E faço isso para qual delegado? —
Alessandro provoca e aperto sua mão.
— Eu não gosto de você, cara. Henrique tinha razão.
Deveríamos ter dado fim em você.
— E desde quando você dá razão ao louco do seu irmão? —
questiono.
— Desde que esse aí passou a ficar grudado na senhora. Porra,
passou cola? Virou tatuagem?
Acabo sorrindo do nervosinho a minha frente.
— Filho, menos... E me diga. O delegado geral não tocou mais
no assunto do acontecido? — mudo o rumo da conversa.
— Não. Ele pediu para não escutar mais nada sobre isso. Ele
quer sigilo e foi arquivado. Porém, disse que mais um deslize meu
vai acabar com minha carreira. Ao que parece, estou sendo mais
vigiado que reality show. É foda!
— Sinto muito, meu amor. Mas vai dar tudo certo. Acho que vai
ser um momento de paz por enquanto.
— Espero... — ele diz olhando para o Alessandro. — Retiro o
que eu disse.
— Porra, eu nem fiz nada agora! — Alessandro rebate e meu
filho fecha ainda mais a cara.
— As meninas, como estão? — pergunto e sua expressão
suaviza e o brilho em seus olhos aparece.
— Mãe, eu estou para enlouquecer. Laura está muito arteira e
teimosa. Sem contar que a cada dia ambas aprendem a falar mais e
a escalar mais as coisas. Quando estou em casa é o dia todo
brigando com elas e a Liziara dizendo que a culpa é minha porque
“são minhas filhas”.
Sorrio.
— Agora sabe o que passei com vocês. Mas logo essa fase
passa. Estão na fase do conhecimento.
— Por que não ficam no conhecimento como a Yasmim, Laís, o
Arthur e até o Eric, filho da Débora e do Cleber? Porra, tenho
certeza de que a Liziara manda elas me torturarem. Até Sophie é
mais calma que elas. Elas vão me dar ainda mais trabalho quando
maiores, certeza. É praga pelo que fiz a Liziara passar.
— Amarra elas — Alessandro diz em tom irônico e rio.
— Vou amarrar sua língua, infeliz! — David dá um passo.
— Não tem que amarrar. Tem que ter paciência e ensinar com
calma, filho.
— Eu sou calmo! — ele diz nervoso. Ergo a sobrancelha e ele
revira os olhos. — Mesmo assim, amo muito as minimaluquinhas. Se
bem que Helena ainda obedece mais, e só faz as travessuras quando
vai na onda da Laura.
— Igualzinha a vocês menores. É a lei do retorno.
— Porra, ela existe mesmo! Estou ferrado! — Alessandro
comenta e David o encara sério. — Eu era uma praga como aluno e
hoje vejo meus alunos sendo comigo. Está explicado o motivo.
— Você é um professor renomado e não acreditava na lei do
retorno? — brinco.
— Não acredito até hoje que meu pau é grande. E posso
comprovar; na verdade, você já comprovou, amor... Mas, enfim,
como vou acreditar em tudo que dizem?
Fico vermelha. David olha como um gavião para o Alessandro.
Seus olhos, que são azuis meio acinzentados, ganham um tom mais
forte, um azul bem intenso. Parece que sua altura triplica pela raiva,
e ele é o mais alto dos meus filhos e até mais que o Marcos. Seus
lábios ficam em uma linha fina. Ele vai matar o Alessandro.
— E vamos embora... Amo você, filho!
Saio arrastando o Alessandro, que está com um sorriso
debochado.
— Eu sou cardíaca e você não coopera.
— Na hora do sexo, você não é cardíaca, né?
— Você... Meu Deus! Você é impossível, Alessandro!
Ele ri e me lança uma piscadela antes de entrarmos no carro.

Estamos na casa dele, deitados na cama enquanto ele prepara


alguns materiais para sua aula de segunda-feira e eu para a
audiência que terei, envolvendo a guarda de uma menininha de
cinco aninhos. Estamos tentando adiantar as coisas para ficarmos
livre hoje à tarde e amanhã.
Fico atenta a tudo que leio através do iPad que ele me
emprestou e pude acessar meu e-mail onde tenho acesso a tudo que
estou lendo. Faço algumas anotações no celular para passar a
Marilene, minha atual secretária, e assim ela me ajudar nos
contatos que preciso fazer na segunda-feira antes da audiência.

Alessandro Santos

Termino tudo o que tenho que fazer e fecho a tela do notebook


deixando-o no criado-mudo. Olho para a mulher ao meu lado, que
morde um canto do lábio em uma forma bastante atraente. Sua
expressão é séria e isso me atrai ainda mais. Paula sabe ficar linda
de qualquer forma.
Levanto e ela nem se move. Parece ler algo muito importante.
Saio do quarto e vou até a cozinha onde bebo água. Expulsei a Irene
por esse final de semana, pois parece que ela não tem vida além
daqui. Dei um final de semana de spa a ela, que com muito custo
aceitou.
Saio da cozinha e vou para a sacada da sala onde me apoio nas
grades e tiro o celular do bolso e ligo para o Felipe. Dizem que a
esperança é a última que morre.
Apenas chama até cair na caixa postal.
Sinto mãos contornarem minha cintura e dou um leve sorriso.
Viro ficando de costas para a vista da área da piscina e de frente
para a mulher que tem me deixado louco. Ela leva ambas as mãos ao
meu peito. Desço as mãos para a sua cintura e puxo-a deixando
completamente colada ao meu corpo.
— Estava ligando para ele?
Concordo com um aceno.
— Aquele filho da puta me irrita e só faz merda, mas o amo e
preciso de notícias.
— Eu de verdade sinto muito por tê-lo julgado. Naquele dia em
que vi a mensagem e ele falando que a máfia tinha liberado ele de
vez para ajudar, eu pensei como advogada, e não como uma mulher
que sabe que nem mesmo a própria família, que é da lei, vive
seguindo as regras e que seu irmão seja ele o que for, não cabe a
mim julgar. É uma escolha dele e não minha.
Sorrio e beijo levemente seus lábios.
— Ele não é filho de sangue do meu pai, mas pelo visto o gênio
ruim do velho passou para ele. Mas ele não era assim. Porém, após a
morte dos nossos pais, ao que parece, se encontrou neste meio,
mesmo tendo uma carreira brilhante como cirurgião plástico, algo
que também ama, afinal, iria abrir uma clínica no Brasil, se não foi
mais uma de suas omissões.
— Ale, podemos investigar se ele realmente está comprando
algo ou já comprou. E caso tenha comprado, tem que estar tendo
alguma movimentação. Com isso podemos saber algo que nos leve a
ele. Seu irmão pode ser o que for, mas eu devo muito a ele pelo
apoio e ajuda a minha família; e graças a ele, vocês descobriram
antes que era a Poliana fazendo tudo e já foram preparados.
Respiro fundo. Eu sou louco, tenho que confessar, mas não ao
ponto de querer colocá-la em mais problemas.
— Não faça essa cara.
— De lindo? Impossível. É algo natural — brinco e ela revira os
olhos, sorrindo.
— Não. Eu falo da cara de preocupação e querendo me
proteger. Passei a vida ao lado de um homem que daria a vida por
mim; e para muitos, isso seria digno de um grande herói. Mas para
mim apenas me fez recuar diversas vezes, ter medo e não confiar
que eu posso ser mais do que a viúva de um Escobar. Eu amava
muito o Joseph e sempre vou ter um lugar especial em meu coração
para ele, mas não preciso viver repetindo tudo. Acaba se tornando
cansativo viver à sombra de outro, mesmo que sem querer. Então
não me olhe assim, com preocupação e prestes a me dizer algo
como “não quero te envolver nisso”. Estamos juntos e vamos sim
nos envolver nos assuntos um do outro.
Seguro seu rosto com ambas as mãos. Que orgulho que tenho
dessa mulher!
— Eu já te disse que você é um mulherão da porra?!
Paula sorri timidamente e beijo seus lábios com puro desejo,
mas ela se afasta rapidamente.
— Nem pensar. Não me enrola. Vou pedir uma certa ajudinha.
— Homens Escobar? Prefiro o Casagrande, com ele me entendo
mais. — Sorrio.
— Não. Nesta família tem mulheres maravilhosas também.
Como Ana, que é advogada criminalista; Daiane, promotora; Liziara,
com seu gênio forte e sua esperteza além do desastre, óbvio, mas às
vezes até isso ajuda; e Beatriz com sua sabedoria e calmaria.
— E assim nasceram as meninas superamorosas.
— É superpoderosas, Alessandro.
— Que seja. Entendeu, cacete? Não complica.
Rimos.
— Vamos, no caminho ligo para elas e marco de nos
encontrarmos no meu escritório ou na casa de quem estiver livre.
Vai por mim, meu querido, você não vai querer os homens desta
família tentando encontrar uma solução, são um bando de ogros.
— Não pode ser aqui? Podemos relaxar enquanto isso.
— Não. Porque você vai acabar me atentando e vamos nos
perder no sexo e ficar sem atenção.
— Gosto de ficar sem atenção.
— Alessandro, vamos logo!
Ela se vira e fico rindo.
Paula tem razão! Preciso de informações sobre meu irmão.

Paula Escobar

Chegamos à casa do Henrique e Ana. Beatriz e Liziara estão a


caminho. Ao que fui informada os homens foram jogar futebol, o
que é uma maravilha. Não quero eles deixando a todos loucos e se
matando. Alessandro não precisa disso e eu também não.
— Sentem-se. Fiquei curiosa com a reunião — Ana pede
enquanto nos sentamos.
— Precisamos saber o paradeiro do meu irmão.
— Ele não dá notícias desde aquele dia? — Minha nora fica
completamente espantada.
— Nenhuma. Sabemos que ele estava comprando uma clínica
aqui; se for verdade da parte dele, talvez podemos obter
informações.
— Sim. Posso ajudar. Porém, eu irei precisar do notebook
“especial” do Henrique. Ele tem acesso livre a diversos meios de
buscas. Mas o bonito do meu marido não me passa a senha, porém
Luciano pode ajudar. — Ela aponta na direção do segurança ao lado
da porta, que faz cara de encrencado.
— Ótimo. Vamos esperar a Liziara e a Beatriz. E cada uma
investiga de um modo — digo e ela concorda.
— Desculpa envolver vocês nisso.
— Alessandro, eu fui acusada de assassina, nesta família
ninguém é perfeito — ela diz do seu jeitinho doce de ser.
— Que bom que, no meu caso, apenas meu irmão é o assassino.
Acerto um tapa em sua perna e rimos.
— Yasmim e Laís? — questiono devido ao silêncio da casa.
— Laís está dormindo, ela anda bem enjoadinha, gripada e
com mais dentinhos nascendo. Noite passada foi difícil, revezei com
o Henrique, porque ela não queria dormir — ela suspira. — Já
Yasmim estava desenhando no quarto dela com a babá Celinha.
Logo ela aparece, para querer mostrar o que fez.
Sorrio. Amo tanto as crianças dessa família. São meu brilho na
escuridão.
Escutamos vozes ao lado de fora e não dá tempo de o Luciano
abrir a porta, pois o pobre homem é acertado por ela quando
Liziara abre com tudo.
— Meu Deus, Luciano. Perdão! — diz desesperada.
— Tudo... Tudo bem, senhora Liziara — tranquiliza-a
esfregando o rosto.
Ela entra com as gêmeas, que correm com seus jeitinhos
desconcertados em nossa direção. Laura vem para os meus braços e
Helena para os da tia.
— Oi, meu povo. Manda a confusão da vez! — Liziara se senta
na poltrona à frente, deixando a bolsa das meninas ao lado.
— Bobó, mamãe bigou — Laura diz e sorrio.
— E por que ela brigou?
— Laula falô cota fea — Helena a entrega e Ana sorri beijando o
rosto da pequena e a abraçando apertado.
— Essas duas estão uns monstrinhos. Tudo que fala, elas
repetem. E elas têm um pai e um padrinho com um linguajar nada
apropriado. E um tio que só ensina coisa errada. O único que se
salva é o Jacob, misericórdia!
— E eu. Não faço nada — Alessandro diz e Laura olha séria
para ele.
— Papai num gota de vuce.
— Laura Escobar! — Liziara a repreende e ela sorri sem jeito.
— Alessandro, não liga. Eu sou uma boa mãe... tento ser...
Certo, nem sempre sou. Mas juro que o que elas falaram não veio de
mim.
Rimos.
— Liziara, acho que elas têm muito de você e do David — Ana
diz e coloca a Helena no chão.
— Nem pensar. Eu sou calma, pura, tranquila... Deus me livre
se fosse como elas.
— Mas você gosta de mim? — Alessandro questiona Laura, que
o analisa bem.
— Num xei. Vai dar ocolati?
— Eu vou matar o Henrique! Olha o que ensinou a elas! —
Liziara diz revoltada. — Filha, não se faz isso. É feio querer algo em
troca de carinho e amizade.
— Ele ensinou a Yasmim também. Bem-vinda ao clube! Meu
marido é louco e já desisti de tentar entendê-lo faz tempo. — Ana dá
de ombros.
— Sabe, essas crianças devem ser cuidadas bem longe dos
homens da família — digo realmente preocupada.
— Eu dou, se você me der um abraço bem apertado toda vez
que me ver — Alessandro negocia com ela e estende a mão e ela
pula para o colo dele.
Helena não perde tempo e faz o mesmo.
— Pronto. Olha o outro entrando no jogo delas. Estou ferrada!
— Estamos, Liziara. Estamos! — digo bem chocada com a
situação.

Laura e Helena foram ficar com a Yasmim. Beatriz já chegou, e


deixou Arthur na casa deles com a babá Cida.
Estamos no escritório e Luciano já desbloqueou o notebook do
Henrique onde Ana mexe agora.
— Ai, meu Deus! Vamos usar isso. Meu sonho usar esses
painéis iguais das séries policiais! — Beatriz grita animada olhando
o painel em uma parte da parede ao lado esquerdo.
— Henrique colocou com a intenção de resolver casos, mas
resulta apenas em desenhos da Yasmim que sobe na cadeira e fica
rabiscando tudo — Ana fala e sorri.
— Vocês são sempre focadas assim? — Alessandro questiona
irônico.
— O professor aí tem razão. Vamos focar — Liziara concorda
andando de um lado para o outro com uma caneta nas mãos. — O
último contato foi no dia da imensa confusão.
— Ele seria julgado pela máfia. Mas como conselheiro, não
acredito que o matariam... Que tipo de máfia é essa, Alessandro? —
questiono.
— Eles são um tanto agressivos e diferente do que vemos nos
livros e filmes.
— Que droga! Assisti a “O poderoso chefão” à toa? É enorme!
— Ana comenta desanimada e sorrimos.
— Quando um membro falha, passa por um julgamento que
pode haver torturas. Felipe falhou duas vezes. A primeira no
casamento onde traía a esposa, que era filha de outro chefe, e
fizeram união das famílias, mas ele ferrou tudo e por isso sumi.
Podem ter uma testemunha para ajudá-los. Não sou da máfia, mas
como irmão dele permitiram, desde que eu fizesse o juramento que
não mentiria ou iria contra a verdade, em prol de defendê-lo. Com
isso, vi ele ser torturado, com rasgos nas pernas e ombros, socos no
estômago. Ele pagou caro por desfazer a aliança entre as duas
máfias, rompendo o maldito casamento. E disseram que, como
Conselheiro da máfia, ele deveria dar o exemplo. É tudo o que sei.
Ele não fala muito.
Olhamos assustadas. Que loucura é essa?!
— Ótimo. Ele é também um cirurgião plástico famoso. Vocês
comentaram sobre ele estar comprando algo, é isso?
— Exatamente, Ana — respondo.
— Puxarei o nome dele para saber se estava realmente
comprando algo ou se já comprou, e qual a movimentação dele
diante disso.
— Enquanto você faz isso, Ana, irei investigar a conta dele
através do acesso ao banco, e ver se ele movimentou a própria
conta nas últimas semanas — Beatriz declara, mexendo no
notebook da Ana em seu colo.
— Eu vou puxar todos os sites que noticiaram algo sobre ele e
tentar a busca através do programa facial. — Liziara pega o iPad na
mesa e se senta.
— Irei entrar em contato com a Débora e ver se consegue mais
informações — aviso.
— Alessandro, me passa seu celular. Vou abrir uma conexão de
rastreio, e tentar colher informações através das tentativas de
chamada que fez a ele — Ana pede olhando para a tela do notebook.
— E eu faço o quê? — Alessandro questiona.
— Você é observador. Busque algo em sua memória que nos
possa ser útil, meu amor — digo a ele.
— Que lindo! O David e eu trabalhando juntos em algo só sai
xingamentos.
— Não é diferente de mim e do Marcos. Aquele homem é para
foder o juízo e não é de um bom jeito.
Rimos.
Envio mensagem a Débora e peço ajuda. Ela rapidamente
responde dizendo que vai revirar tudo que puder, pois precisaria
de alguns acessos que o Cleber tem, mas ele está no futebol com os
outros. Envio também mensagem a Daiane, que diz que está no
trânsito, pois vem da fazenda Casagrande, onde foi almoçar com a
Sophie.
Alessandro entrega o celular a Ana e encosta na parede à
nossa frente e fica observando. Está pensativo. Pelo visto busca algo
em sua memória.

Tempos depois temos alguns resultados nada positivos.


Débora alega que não tem rastros dele na cidade, após eu passar
todos os dados que me pediu.
— Ana? — questiono.
— O rastreio ao celular dá como restrito, mesmo tentando
burlar o sistema e puxando pelo do Alessandro. E sim, ele comprou
a clínica.
— Comprou dias antes do acontecimento. Pagamento à vista e
era uma alta quantia e foi a última vez que mexeu em sua conta —
Beatriz diz firmemente.
— Reconhecimento facial o localiza apenas na última semana
que o vimos. Depois não encontra mais nada. Os sites e revistas de
fofocas como a praga da Belos e Famosos só diz a mesma coisa: “Onde
está o cirurgião Plástico Felipe Santos?”. Nada além.
— Débora também não conseguiu nada. Hospitais, delegacias,
e até mesmo últimas entradas em cemitérios na Califórnia e Brasil.
— Tenho duas opções — Alessandro fala e seu tom é sério
fazendo com que todas nós olhemos para ele. — Ele é esperto, sabe
esconder rastros. Na primeira opção, ele pode estar vivo e quer
ficar no modo oculto. A segunda, mataram ele e camuflaram os
rastros — sinto o pesar em seu tom ao dizer.
— Não vamos perder as esperanças. Não consegue se lembrar
de nada? — Ana pergunta.
— Não que eu... — Faz uma pausa e franze o cenho. — Claro!
Ele veio em uma missão, mas desviou para nos ajudar. Ele estava
investigando a máfia que está agora vulnerável após o chefe ser
preso e julgado. Pelo menos foi o que o infeliz disse.
— Bia, é com você. Como conseguir as informações sobre este
caso que seu juizão trabalhou? — Lizi aponta para a Beatriz.
— Complicou. Marcos é muito reservado quando se trata do
trabalho. Nem a mim, ele compartilha muito.
A porta se abre e Daiane entra sorridente.
— Ouvi que precisam de informações um tanto privilegiadas?
— Oi, gente! — Sophie cumprimenta toda sorridente como
sempre.
— Oi, princesa — digo e ela vem até a mim. Me abraça e depois
faz isso em todos.
— Estão tramando. Os homens vão ficar bravos que não estão
juntos. Isso vai dar confusão. Por isso vou procurar a Yasmim.
Cuidar dela é bem melhor que enfrentar eles nervosos — Sophie diz
e não aguentamos, acabamos rindo. — Tia Ana, onde ela está?
— No quarto dela com as gêmeas. Pode ir lá, meu amor. E
evitem gritos, a Laís está enjoadinha e não dormiu nada na noite
passada.
— Pode deixar. — Ela sai animada.
Daiane se senta ao lado da Beatriz.
— Daiane, você pode ser a chave para a porta fechada. Você é
promotora, o que consegue do caso da máfia que o Marcos julgou?
— Liziara questiona.
— Tudo. Isso é como fazer brigadeiro de colher, muito fácil.
— Estou com fome — Alessandro fala e ela sorri. — Ficar
falando de brigadeiro não ajuda.
— Que péssima pessoa eu sou. Vou trazer algumas coisas para
beliscarmos enquanto isso.
— Ana Louise, até que enfim se tocou! Na lista black das
cunhadas, você lidera! — Liziara fala tirando o tênis e colocando os
pés na poltrona.
Ana mostra a língua a ela e sai do escritório.
— Vou fazer algumas ligações e em breve teremos os
relatórios dessa máfia e se estão em confronto com algo ou não.
Com o chefe deles preso, estão um pouco vulneráveis e a Polícia
Federal está investigando mais a fundo com seus agentes.
— Ele saberia disso. E tomaria o triplo de cuidado em ser
encontrado — Alessandro comenta se sentando ao meu lado.
— Boa. Ele pode estar bem embaixo do nosso nariz, e só
estamos olhando na direção errada! — Beatriz rebate e morde o
canto da boca pensativa.
Concordamos totalmente com ela.
— E se for ele que não quer ser encontrado? — indago.
— Então não encontremos. Ele fez isso e fiquei sem vê-lo por
dois anos.
— E como sabia que ele estava vivo? — Daiane questiona.
— Ele deixava mensagens em formas de bilhetes no meu
apartamento, sem ninguém nunca ter visto como.
— E agora ele não fez... Alessandro, por mais que tudo esteja
indicando uma péssima notícia, vamos manter a esperança da
famosa luz no fim do túnel — Liziara diz com carinho.
— Ela tem razão. Talvez ele esteja mais uma vez te protegendo,
Ale. Não vamos perder a fé. — Seguro sua mão.

Alessandro Santos

Elas investigam e eu preciso de um pouco de ar. Pensar mais.


Porra, Felipe ainda vai me matar de ódio!
Paro na porta que dá para o jardim dos fundos e fico
observando. Só preciso disso, vento e alguns minutos. Porque é
muita coisa acontecendo nos últimos tempos.
— Sai, Laura. Não podi pega. — Olho para a vozinha atrás e vejo
uma ruivinha de olhos claros, segurando uma folha e a mão da
Laura.
Elas me olham e Yasmim inclina a cabeça um pouco para o
lado me observando, mania que notei que o pai dela também tem.
— Onde as mocinhas vão? — pergunto sorrindo.
— Oi, voxe é o homem que meu papai não gosta!
Me sinto tão amado nesta família!
— Ismim, mamãe falo que naum podi tizer itu.
— Laura, é Yasmim! — a ruivinha a corrige e a pequena Laura
faz bico pela bronca.
— Yasmim, você precisa ser mais paciente. Ela é mais nova que
você.
— Já sei disso. — Percebo o quanto ela consegue falar bem
melhor dependendo das palavras. Essa é inteligente demais.
— Pois bem, desse modo é seu dever ser mais calma e
entender que ela tem mais dificuldade em falar do que você.
Ela me olha desconfiada e abaixo ficando à altura das duas.
Laura vem para os meus braços e seguro-a, está com os lábios
tremendo. Vai chorar e vão cortar meu pau fora achando que eu fiz
algo.
— Tá bom! Desculpa, Laura.
Sorrio para ela e dou uma piscadela e ela fica vermelhinha
destacando ainda mais as sardas.
— Então, gatinha, vai desculpar sua prima? — questiono a
pequena agarrada a mim.
— Xim!
Laura se afasta e abraça a prima.
Ana se aproxima e sorri. Levanto-me sob seu olhar.
— As gêmeas têm mais dificuldade em falar algumas coisas,
Lizi levou ao médico, pois estava preocupada, mas ele disse que está
tudo bem, é apenas uma pequena manha delas e preguiça, mas que,
com mais firmeza e ajudando sempre, pegam o jeito. E outra, elas
são novinhas, quase bebês na minha opinião — diz baixo.
Ficamos olhando e Ana torna a falar e, desta vez, bem alto:
— Já a dona Yasmim anda amadurecendo demais para a idade
dela. Já te falei que é a prima mais velha, e deve ter mais paciência!
— Mamãe, Sofi que é.
— Ponto para a ruivinha ai! — digo e Ana me olha feio. Melhor
eu me calar.
— O que estão aprontando?
— Vim tazer pra você. Aí a Lau veio.
Ela entrega o papel a mãe e olho para o desenho todo cheio de
rabiscos. E eu achando que meus alunos entregavam coisas
incompreensíveis.
— Que lindo, meu amor. Eu amei.
— Eu judei, titi!
Ana se abaixa e dá um beijo em cada uma.
— Ficou lindo, princesas! Agora voltem lá para o quarto.
Elas concordam.
— Se estiverem com fome, avisem... O que me lembra de que
tem lanches no escritório, Alessandro. Vamos?
A porta se abre e olhamos para a tropa que chega. Marcos,
David, Jacob e Henrique entram animados, vermelhos, suados. Mas
a alegria morre assim que me olham.
— LUCIANO, ESTÁ DEMITIDO! — Henrique grita olhando para
o segurança e apontando para mim.
— Ultimamente o senhor tem me mandado embora toda
semana. Com licença, vou verificar a ronda dos seguranças. — Ele se
retira e Ana ri. Se ela riu, eu posso, né?
— Papai! — Ana e Laura gritam e correm para seus respectivos
pais, que as pegam no colo.
— O que esse porra faz aqui?
— Epa, olha o palavreado, Marcos! Deposita a grana depois! —
Liziara diz surgindo na sala ao lado das outras.
Olho sem entender e prefiro continuar assim.
— Que caralho está acontecendo aqui? — David questiona.
— Olha a boca, David! — Liziara repreende e ele a olha feio.
— Ele é legal, papai! — Yasmim diz.
— QUE ISSO, YASMIM? TRAINDO SEU PAI? — ele grita e ela
segura para não rir levando a mão à boca.
Nem a filha o leva a sério. Coitadinho.
Paula para ao meu lado e revira os olhos. Cruza os braços e
suspira.
— Beatriz, cadê o Arthur?
— Com a babá, Marcos. Não pira.
— Não pira? O caralho que não pira! — ele rebate e ela o
desafia com o olhar.
— Menos, bem menos, meu amor — a corajosa declara e eu
quero rir.
Sophie desce com a Helena. E a segunda vai até o pai.
— Pai! — Sophie corre para o pai e o abraça. — Que nojo!
Assim não tenho como ser boazinha. Todo suado igual porquinho.
Eca, Daiane! Como aguenta?
— Me faço essa pergunta todos os dias, gata!
— Ótimo. Bom saber o quanto valorizam a mim — Jacob diz e
se senta no braço da poltrona.
— Sabe, eu me sinto bem recebido nesta família — comento.
— Que bom que leva na esportiva — Beatriz diz sorrindo.
— O que estão aprontando? — Henrique questiona colocando
a filha no chão e o David faz o mesmo com as gêmeas. Elas
cumprimentam os outros e Yasmim parece ter um apego enorme ao
Jacob porque se agarra a ele, sem se importar se ele está suado.
Laura olha feio para o Marcos quando ele aperta a bochecha dela.
— Sabe, Marcos, suas afilhadas têm amor e ódio por você, mas
o bom que a conta bancária delas é bem gorda, graças a você.
Faculdade garantida.
— Cala a boca, porra-louca! — o juiz fala olhando feio para a
Liziara.
— Acabou o circo? — Paula questiona com a sobrancelha
erguida.
— Eita! Vamos, meninas. Como diria minha bisa: agora danou-
se! — Sophie fala levando a mão à cabeça.
Elas saem da sala e rio.
— Que caralho faz aqui? — Henrique me encara nervoso.
— Sempre quis fazer orgia — provoco.
— Filho da puta! — Henrique avança e Jacob o segura. — Tira a
mão, seu rouba mãe!
— Qual é? O que mais eu iria fazer aqui? Já tentaram falar ao
menos com essas mulheres quando se reúnem para algo? Elas
enlouquecem qualquer um — digo e Paula me acerta de um lado e
Liziara do outro. Só me fodo!
— Cuidado, Alessandro, não tenho unhas grandes à toa! —
Beatriz declara.
— Nem sempre minhas pernas servem apenas para andar, na
maioria das vezes é para chutar a bunda de quem me provoca! —
Ana rebate e cruza os braços.
— É, Ale, às vezes sou uma santa, a única entre elas — Daiane
diz rindo.
— Quanta calúnia! Eu sou santa, e a única. — Liziara finge estar
ofendida.
Que porra de gente louca é essa? E essas falas? Devo me
preocupar? Puta que pariu! Em que manicômio vim parar?
— Liziara, você é tão santa que... Esquece — Henrique começa,
mas para.
— O que ia dizer, Henrique? Desembucha! — David diz sério.
Henrique se afasta. Esperto, provoca e corre.
— Porra-louca, aprontou, com certeza — Marcos diz e cruza os
braços.
— Fodeu! — Jacob ri.
— N-não aprontei. Henrique é louco! — Ela fica nervosa. Isso
não é bom.
— Por que está nervosa? — David questiona ainda mais.
— Deixem disso. Estamos aqui por assuntos que não diz
respeito a vocês e parem de atormentar as pessoas. E, Henrique,
deixa de ser linguarudo. Se a Liziara não contou que trabalhou na
boate e o Joaquim estava lá, o problema... Ai, Deus!
— PAULA! — As meninas dizem juntas.
— Mamãe, que bela fofoqueira! — Henrique provoca.
— Olha o que fez, eu vou te matar, Henrique. Eu vou!
— Desta vez, ele não teve culpa sozinho, sogra — Jacob fala.
— Cala a boca, pateta! — Daiane repreende o esposo.
— Eu nunca defendo o Henrique e, quando faço, me lasco! Vou
para a cozinha assaltar a geladeira alheia.
— ENCOSTA NA MINHA COMIDA E ARRANCO SEU PAU! —
Henrique grita.
— Tem lanche no escritório... — comento e Jacob sorri.
— Eu não gosto de você, cara! — Henrique fala entredentes
enquanto me olha raivoso.
Jacob vai para o escritório com o Henrique seguindo-o e
ameaçando atirar em sua bunda.
— Paula, acho que você criou um ambiente perigoso. Olha a
cara do David. Não parece que ele vai arrastar o pé direito, e então
vir que nem um touro louco? — cochicho em seu ouvido e ela
concorda.
— Beatriz, vamos. Não estou a fim de presenciar um homicídio,
ainda mais não sabendo quem vai matar quem.
— Pois, eu estou. Se aquieta, juiz de quinta.
— Porra de mulher! — reclama nervosinho. Esse juiz precisa
de um calmante.
— David, antes de surtar, eu quero dizer...
— Não quero ouvir. Melhor nem falar nada agora, porque eu
sinto que você vai me matar de tanto estresse. E esse Joaquim,
considere ele morto.
— Epa! Ninguém morre. Depois eu tenho que limpar da mídia
toda merda que fazem! — Daiane reclama apontando para eles.
— E eu tenho que limpar de tudo quanto é buraco nesse meio
jurídico, que é um caralho de burocrático. A pirralha tem razão —
Marcos concorda e se senta no sofá.
Quem vai fazer a pipoca e trazer as bebidas?
— Que bom que não preciso falar nada, porque nesses longos
dias escondendo, não achei a melhor forma de dizer. Nossa, me
livrou de um grande e enrolado discurso, amor — Liziara suspira ao
dizer e não sei, mas não me parece que foi uma boa escolha essas
palavras.
— É, eu vou te matar primeiro! — David dá um passo e Liziara
corre e se esconde atrás de mim.
— Porra, virei escudo?! — grito.
— Cala a boca, Alessandro, e ajuda! — ela pede e vira para a
Paula, levando meu corpo junto. — Uma vez, você disse que ele é o
segundo mais extrovertido.
— Meu amor, eu passei a repetir muitos adjetivos sobre esses
homens na esperança de que se tornassem realidade. Acredite em
mim, sou uma grande esperançosa. — Minha mulher tenta ajudar,
mas só piora.
— Em casa vamos conversar sobre isso — David diz ao passar
a mão no cabelo e se sentar.
— Isso quer dizer sexo. Adoro ele bruto — Liziara cochicha no
meu ouvido e acabo rindo.
O clima louco muda quando Daiane olha para o seu celular,
que faz barulho, e depois para mim em negativa. Liziara se afasta e
me olha triste.
— Ele vai aparecer, meu amor — Paula me fala entendendo a
situação e segura minha mão.
— Deveria ter pedido nossa ajuda. Não concordo com ele e
nem em ter você nesta família, mas nos ajudou quando precisamos.
É uma troca — David diz.
— Ele tem razão. Sabemos que não tem notícias do Felipe
desde o ocorrido. Isso não é brincadeira. Seja a porra que ele for, é
seu irmão. E nos ajudou, devemos sim um favor a ele, mesmo que o
idiota diga o contrário. E olha que, para eu querer ajudar alguém
como ele, é um milagre — Marcos fala e faz um sinal para a esposa
que caminha até ele, e se senta em seu colo. É nítido o quanto ele
precisa sentir que tem o controle de tudo e todos, até mesmo da
esposa, quando sabemos que é ela quem dita as regras e ele segue,
porque a ama.
— Já fizeram o bastante. Está tudo bem. — Sou sincero.
— Vamos, vou preparar um café da tarde para nós e animar
essa situação. Os lanches devem ter sido devorados. Marcos, traga o
Arthur e tome um banho. Você também, David. Vou mandar o Jacob
e o Henrique fazerem o mesmo. Nada como um fim de tarde em
família para animar tudo — Ana diz carinhosa e sorrimos.
— Ana tem razão. E já que me enrolam sobre as reuniões em
família que impus uma vez, vamos aproveitar quando por um
milagre estamos reunidos sem combinar — Paula fala.
Cada um faz o que foi combinado. Paula acompanha Ana na
cozinha para ajudar.
Sento-me na sala e respiro fundo.
Meu celular faz barulho e é uma mensagem de um número
desconhecido:

“Pare de vasculhar o que não deve. Estou vivo, é tudo o que precisa
saber. Não quero essa família puxando minha vida, até porque não sou
idiota e não deixo rastros e sei cada acesso que qualquer um faz sobre mim.
Segunda-feira, eu encontro você na sua casa. Precisamos conversar sobre
uma coisa. Não retorne a este número, será inútil.
F.S.”

Leio três vezes e começo a respirar aliviado. Esse filho da puta


está bem. Mas o que ele quer conversar? O que aconteceu?
Paula retorna.
— Vem ficar conosco. Não fique sozinho, é entediante; se bem
que, às vezes, é tudo o que preciso devido a essa família louca.
Ela se aproxima e a puxo para o meu colo, beijando seus lábios
com força. É como se eu precisasse sentir que tudo isso é real. Como
se estivesse vivendo com o ar preso nos últimos dias. Sentir seus
lábios me acalmam, ao mesmo tempo que me fazem querer tirar sua
roupa e possuí-la seja onde for e sem qualquer pudor.
Ela afasta delicadamente os lábios e sorri acariciando meu
rosto.
— Ele está vivo e ele mesmo te disse isso — diz baixinho.
— Como sabe?
— Seu semblante. Ficou leve, e seu beijo, existe alívio nele,
assim como seu olhar transmite a paz de antes.
— Ele fode tudo toda vez.
— Mas é seu irmão. Eu entendo, já te disse. Mas não concordo.
Porém, jamais pediria a você que o largasse. Joel, antigo amigo do
Joseph, era assim; só fazia coisas erradas, mas jamais pedi para que
se afastassem, porque, às vezes, isso pode ser pior.
— Já disse que você é um mulherão da porra?
— Sim. — Ela sorri e porra de sorriso lindo!
— E eu também avisei que eu amo esse mulherão da porra?
Ela fica parada por um tempo, mas logo um sorriso ainda
maior e mais lindo surge em seus lábios.
— Não. Isso não disse. — Sua voz é trêmula.
— Então avisa a uma determinada mulher que a amo.
— Se for a que está em seu colo, ela acha que também ama
você. — Seus olhos brilham e é lindo de ver.
— Acha? — Ergo as sobrancelhas e ela ri.
— Estava apenas esperando você dizer que me amava para eu
retribuir essa palavra, que para mim tem um imenso poder.
Também amo você.
Torno a beijá-la. Passei a vida saindo com muitas mulheres, e
dizendo que jamais amaria alguma e a tornaria minha. Mas maldita
seja a tal lei do retorno. Ela retornou tendo nome e sobrenome, e
pisando na minha cabeça com seus saltos que eu, particularmente,
acho que a deixam ainda mais gostosa.
— Vamos, antes que eu pire.
— Não posso ir agora. Vai na frente. Está tenso.
— Eu senti — responde timidamente.
— Que bom. Porque eu me sentiria mal caso contrário, afinal
não é pequeno.
— Safado!
— Sempre.
Ela fica vermelha e sai rindo.
Quinze

Paula Escobar

Saio completamente feliz da audiência. Consegui o melhor


para a criança pela qual a mãe lutava para o pai ser mais decente e
arcar com mais coisas, afinal, o homem é ricaço e estava enrolando
a filha, e se fazendo de coitado; mas consegui todas as informações
necessárias e o coloquei contra a parede na frente do juiz, junto do
advogado dele, que longe de mim desmerecer qualquer outro
colega de profissão, mas um que se sujeita a ficar ao lado de um
homem que se nega a ajudar a filha, para mim é igual ao homem,
pois ficou o tempo todo tentando virar o jogo a favor do cliente dele,
mesmo sendo nítido que o homem não enganou apenas a garotinha,
mas como o próprio advogado dele. Mas, enfim, deu tudo certo.
Olho sorridente para o Pascoal, que abre a porta para mim.
— Pelo visto foi uma excelente audiência.
— E como, meu querido. Vi uma mãe e filha saírem com um
brilho nos olhos. Incrível como, para aquela garotinha inocente, o
pai é um herói. Ficou feliz por ter ganhado um abraço dele, e ele
prometer que vão fazer mais viagens, passeios... Por isso digo aos
meus filhos para preservarem a inocência dos nossos pequenos o
quanto puderem, porque, quando isso acaba, passamos a enxergar
um mundo escuro na maioria das vezes. — Entro no carro.
— Tem toda razão. Uma prova disso é quando parei de
acreditar em Papai Noel, o Natal parece não ter sido mais o mesmo
desde então.
— Viu só! Estou certa. Sempre estou. Agora vamos. Quero
relaxar antes do maldito treino. Por que eu faço isso mesmo?
— Porque sempre tem alguém tentando matar vocês.
— Sua sinceridade é uma dádiva.
Rimos e ele fecha a minha porta. Contorna o carro, fazendo o
protocolo de segurança, ao averiguar tudo ao redor. Vejo mais duas
motos se aproximarem com membros da equipe. Ele entra no carro
e não demora para sairmos dali, com as motos fazendo escolta.
Meu celular começa a tocar e é uma ligação do Clóvis.
— Olá.
— Sra. Escobar, encontrei a casa perfeita. Próxima de onde morava.
Bem grande, aconchegante, mobiliada, e bem ao estilo família como
gostaria. Fica em um condomínio de casas, e tem apenas duas para vender
e ambas com propostas de compradores, está uma loucura. É o mesmo
dono em ambas, e ele alegou que aquele que lhe der a melhor oferta leva
uma ou as duas.
— Pois, bem. Vamos ver a tal casa. Pelo visto é bem concorrida.
— Sim, e já reservei para que possa conhecer, porém deve ser hoje...
Mais precisamente agora. Tem como?
— Claro! Mande o endereço e estarei a caminho.
— Ótimo. Vou mandar tudo por mensagem e aguardo a senhora aqui
no local.
— Certo. Até logo.
Desligamos e não demora a vir a mensagem dele. Mostro ao
Pascoal, que muda a rota e avisa aos outros dois seguranças pelo
ponto de escuta.
— Será que conseguiremos uma casa hoje? — indago.
— Torcendo para que consiga.
— Eu também. O flat do Henrique é bom, mas não é o meu lar.
— Entendo. Então vamos torcer em dobro para esta casa ser
boa.
— Sim. E quem sabe, o David não fique com a outra casa. São
duas à venda no mesmo condomínio.
— Seria ótimo. Família por perto é bom.
— Muito. Eles precisam de uma força e eu estando por perto é
melhor. Vamos torcer, Pascoal.
Sorrimos.
Uma mensagem do Alessandro me faz sorrir e sentir que meu
corpo inteiro ficou vermelho. Leio duas vezes seguidas sua
safadeza.

“Estou trabalhando e a ponto de matar meus alunos. Mas sabe por


que não fiz? Pois preciso do seu corpo inteiramente nu para mim, e na
porra da cadeia não terei. Meu pau requer cuidados preciosos, começando
por suas lambidas... Foda, estou duro! Mulher, você está me ferrando todo!”

Respondo:

“Tenha modos. Sou cardíaca. Rsrs.”

Ele responde com uma carinha de diabinho. Eu estou


arranjada com esse homem, que é pior que os loucos dos meus
filhos, que só me causam vergonha com suas loucuras.
Chegamos ao condomínio, e Clóvis vem até nós com
autorização da nossa entrada. É realmente próximo da antiga casa.
— Diz que tem segurança vinte e quatro horas. — Pascoal
aponta a placa. — Duvido que seja tão eficaz.
— Homem, nada de paranoias. Claro que nada será totalmente
seguro, mas precisamos viver.
— Cometi uma falha, senhora, e não cometerei mais. — A dor
em suas palavras é nítida.
— Você não falhou. Você não teve escolha. É bem diferente. Eu
faria o mesmo por minha família. Você foi homem suficiente para
colocar a sua família à frente até mesmo da sua segurança. E acha
mesmo que meus filhos teriam mantido você após tudo, se tivesse
agido totalmente errado? Todos erramos naqueles dias, então se for
para colocar a culpa em alguém, que seja em todos nós. Certo?
— A senhora quem manda.
— Acho bom. Poderia dizer isso nas reuniões da equipe com
aqueles projetos de filhos?
— Isso inclui o senhor Marcos?
— Sim. Principalmente esse estressadinho. Vontade de dar uns
petelecos na cabeça loira dele. Teimoso e bravo igual uma mula.
— E mula é brava? — ele indaga seguindo o carro do Clóvis.
— Não sei, mas se for como o Marcos é totalmente.
Rimos.
Clóvis estaciona na frente de uma casa, que mais parece uma
mansão, assim como todas as outras. Estacionamos atrás. As motos
param uma de cada lado do carro. Desço e Pascoal faz o mesmo. Ele
ajeita a arma na cintura e faz sinal para os outros dois, que descem
da moto e ficam em posição.
— Essa é a casa número 1 — Clóvis informa. — Vamos
conhecê-la?
— Agora. Estou ansiosa. Já gostei do condomínio, bastante
vegetação, casas lindas e parece ser tranquilo.
— É sim. Tem muitos idosos morando.
— Você está insinuando que me arrumou uma casa em um
asilo?
— Acho que ele está, senhora — Pascoal diz e os outros tentam
disfarçar o riso, mas não fazem muito bem.
— N-Não, senhora. E-eu... — fica nervoso.
— Calma, Clóvis. Estou brincando apenas. Vamos conhecer a
casa.
Ele vai na frente e Pascoal faz sinal de que ele é louco. Acabo
rindo.
Passamos pela imensa porta. Os outros seguranças ficam na
porta.
Olho para o primeiro ambiente que sou recebida e fico
boquiaberta. É muito grande a sala. A decoração é linda, ao estilo
praiano, bem tropical, aconchegante.
As janelas imensas dão vistas para lindas árvores.
— As janelas são sem cortinas, para dar este ar mais tropical.
Porém, quem está de fora, não vê nada dentro. Vão notar que
muitos cômodos têm janelas assim. E com isso acaba tendo redução
no custo de energia devido a claridade natural.
Os móveis são impecáveis. O tapete listrado em diversos tons
de marrom chama a atenção, pois criam contraste com os sofás
brancos.
— Liste os cômodos, Clóvis.
— São oito suítes e todas incluem closet. Tem também cinco
banheiros, sendo dois apenas lavatórios. Sala de estar é onde
estamos. Tem a sala de jantar, de TV e de leitura. São dois
escritórios. Há duas cozinhas, sendo uma exclusiva da área gourmet
onde tem churrasqueira, piscina, área de lazer completa, uma
academia adaptada à casa...
— Porra! — Pascoal diz e acaba ficando sem graça.
— Pensei o mesmo, não se preocupe — digo a ele.
— Não terminei. Garagem para cinco carros e tem
brinquedoteca. Além da ala exclusiva para funcionários.
— Tem chances de conhecermos a casa inteira hoje? — brinco.
— Totalmente. Vamos! — responde animado.

Um tempo depois, conheci cada cômodo, não tão lentamente


como gostaria, mas tem horário para visitas na casa. Desta eu
gostei. Gostei muito. Sento-me no sofá e fecho os olhos. É, eu consigo
me imaginar sendo feliz aqui com minha família e com o
Alessandro... Abro os olhos e sorrio. Acho que estou indo longe na
imaginação. Estamos começando agora, mas fazer o quê, me tornei
uma romântica dos velhos clichês.
— O dono quer uma resposta até... — Clóvis começa a falar,
mas faço um sinal para que ele espere.
— Dá para montar um bom esquema de segurança aqui? —
questiono o Pascoal.
— Com toda certeza. Dá para brincar e muito por aqui —
responde animado.
— Ótimo. Clóvis, faça a melhor proposta. Essa casa tem que ser
minha, e não aceito outra resposta, além das chaves nas minhas
mãos.
— Sério? Quero dizer, essa casa será da senhora, conte com
isso. — Tenho certeza de que ele quer sair pulando.
— Ótimo. A outra casa é como esta?
— Sim. Porém, tem alguns cômodos a menos, sendo apenas um
escritório, e seis suítes.
— Certo. Preciso das fotos de toda casa e vídeos. Irei enviar ao
David e Liziara. Segure a outra casa.
— Não vai querer saber os valores? — Franze o cenho.
— Não tenho sete vidas, melhor eu nem saber. Minha antiga
casa vale muito, e sei que terei um excelente retorno. Tenho muitas
condições financeiras, mas não jogo dinheiro para o ar. Dê seus
pulos e faça a melhor negociação, e segure essas chaves. É uma
ordem.
— Pode deixar. Até amanhã darei notícias.
— Ótimo. Vamos, Pascoal... — Meu segurança está analisando
tudo. — Já está pensando nos esquemas de segurança?
— Este lugar é magnífico. As câmeras são a mais atual
tecnologia. Olhe o painel do alarme de segurança. — Ele aponta o
painel ao lado da porta. — Pode ser ajustado para comando de
travas de portas, janelas, ou até escolher apenas um único cômodo...
É um sonho... PORRA, CÂMERAS EM 360 GRAUS! Se for possível a
comunicação por elas, eu tenho a porcaria de um infarto.
— Ao que parece o dono disse que tem isso aí que falou, senhor
Pascoal — Clóvis comenta.
— Sra. Escobar, quando vai se mudar para este lugar? Porra!
— Coitadinho, ficou doido. Vamos. — Sorrio.
Saímos animados, acredito que o Pascoal bem mais que eu.
Mas a verdade é que estou feliz demais. Clóvis encontrou o que pedi.
Eu precisava me imaginar vivendo neste lugar e consegui. Consigo
ver um novo recomeço completo agora.

Alessandro Santos

Chego em casa completamente cansado. Preciso de um banho,


comida, e mais tarde irei ver a Paula.
O cansaço mental se torna um tanto pior que o físico, e porra,
estou mentalmente cansado.
— Senhor, chegou!
— PUTA QUE PARIU! Irene, você ainda me mata, inferno! —
Olho para a senhora baixinha que surge na sala.
— Perdão! Mas o senhor que anda distraído.
— Mulher, você é um fantasma. Tenho certeza.
— Não sou não. Só gostaria de saber se vai ficar para almoçar,
pois não para mais em casa...
— Está enciumada, meu amor? Tem Alessandro para todas.
Que a Paula não me escute, você precisa ver essa mulher treinando.
— Tenha modos. Não tenho ciúmes. Apenas fiz comida, e o
menino Felipe está aí também.
— Como é?! Caralho!
— No escritório. Chegou há pouco.
— TEREMOS UM NOVO PRATO: FELIPE ASSADO. EU MATO ESSE
FILHO DA PUTA!
Largo tudo no sofá e vou para o escritório. Eu vou matá-lo...
Primeiro deixarei ele falar, e depois matarei.
Abro a porta e ele abaixa o livro que está em suas mãos e o
coloca sobre a mesa, então me olha e retira os pés da mesa e se
senta ereto.
— Meu irmão.
— Irmão? — Fecho a porta com força. — Você some, manda o
caralho de uma mensagem e acha que pode vir com essa cara de
idiota e me chamar de irmão?
— Deveria estar feliz. Estou vivo. Não morto como deveria
estar pensando.
— Felipe, me dê um bom motivo para não socar essa sua cara!
— Simples. Vai me ouvir, e com muita atenção. É sério. Não
estou com tempo para ficar repetindo e nem paciência.
— Onde estava? — questiono bem sério.
— Negócios. Precisava resolver o que vim fazer aqui.
Alessandro, eu omiti algumas coisas.
— Sobre o quê? Seja mais claro.
— Sobre muitas coisas. Não me interrompa.
— Prossiga, inferno! — Sento-me no sofá e observo-o.
— Eu vim para livrar o chefe dessa máfia, que foi preso. Eles
queriam a cabeça de todos os Escobar, e eu os ajudaria. Mas
descobri que você estava com essa família, e precisava saber o que
estava fazendo com eles. Passei a investigá-los e entendi tudo. Você
estava interessado na Paula. Porém, isso te colocaria em risco e eu
não poderia poupá-lo. E, mais uma vez, fui surpreendido. Os idiotas
dos Escobar passaram a sofrer atentados, e não era a máfia dando
um recado, era outro inimigo, e caralho, você estava próximo
demais. Tive que me aproximar, então menti sobre a clínica, eu não
precisava, mas comprei. Eu me aproximei, porque meu irmão
estava nessa merda, e família sempre vem em primeiro lugar. Eu
precisava descobrir quem queria a família da lei fora de jogo, foi
então que o nome da Poliana Gonçalves Xavier surgiu. Ela havia
fugido com a ajuda de diversos policiais corruptos e comecei a
rastrear os passos dela, ela era esperta, mas eu bem mais.
— Vai direto ao caralho do ponto! — Sinto a raiva me dominar.
Eu sempre soube que tinha mais coisas ligadas à sua vinda ao
Brasil. Felipe nunca é claro sobre o que está fazendo e eu sentia que
ele escondia coisas, e pelo visto não estava errado.
— O chefe da minha máfia queria saber por que eu estava
demorando e resolveu vir pessoalmente com os outros membros.
Contei a verdade a ele e pedi ajuda. Ele queria saber o pagamento e
eu disse que, no final, ele e eu decidiríamos. Entreguei a você os
papéis com as informações, porque eu sabia que no momento certo
você abriria a boca. Só que imaginei que você cairia fora, mas não.
Você pagou de herói, e puta que pariu, eu queria te matar de tanta
raiva! E mais uma vez, coloquei sua segurança à frente. Nunca foi
por eles, sempre foi por você. Se esta família está viva foi por você.
Mas tudo desandou. Aqueles idiotas não conseguiram deter a
Poliana a tempo, e houve a briga final. Após aquilo, eu fui enfrentar
meu chefe. Eu falhei com a minha máfia e com o acordo que
devíamos a máfia daqui. Houve então o “Julgamento da aliança”.
— Que merda é isso?
— Quem atira primeiro fica com o poder. Eu era o conselheiro
da máfia, devia respeito, e falhei em todos os aspectos. Para eu sair,
apenas morto. Mas se eu ganhasse...
— Você assumiria o poder. Você não estaria apenas na máfia,
você seria essa merda.
— Exatamente, meu irmão. — Ele sorri e ergue a mão
mostrando o anel dourado com uma pedra preta que carrega em
seu dedo indicador. — Quando ele está neste dedo indica poder... Eu
atirei primeiro. Afinal, é assim que funcionam as coisas no meu
mundo. Ninguém brinca, ou hesita.
Levanto-me nervoso. Passo as mãos pelo cabelo. Puta que
pariu, isso só pode ser piada!
— Era para matar os Escobar e ajudar o caralho da máfia
daqui, e agora ainda está dizendo que se tornou o chefe dessa
merda? Era para eu ter a porra de um orgulho? — indago com
ironia.
— Não. Era para você entender como funcionam as coisas.
Aquele juiz do caralho condenou o chefe daqui e devíamos um
favor. Mas você estava nisso tudo, e priorizei você.
— Que lindo! Devo agradecer? — ironizo novamente. — Felipe,
você se ouve, porra?
— Sim. Me ouço muito bem. E não precisa me agradecer. Mas
quero que saiba de algo. A partir de agora, tudo muda. E eles não
podem saber o que me tornei. Quero eles longe dos meus negócios,
e ninguém se machuca.
— Você é um filho da puta! Sempre estraga tudo. Porra! —
grito nervoso.
— Eu sei... Mas amo você, então tome cuidado. Porque, se nada
aconteceu, foi para te proteger. — Ele se levanta e me aproximo.
— Você vai me prometer que não vai machucá-los. Porque eu
não vou mais passar pano para as suas merdas. Eu cansei, Felipe.
Ele sorri. O desgraçado sorri.
— Meu irmão, onde você estiver, ninguém sairá ferido. Não
notou ainda? Eu poderia ter ajudado aquela louca, mas salvei o rabo
deles. Mas uma hora eles podem mexer no que não deve, e você não
vai estar por perto.
— Felipe, ela já perdeu o ex.
— Eu sei. Perdeu o ex-marido, o melhor amigo deles também,
que era um tal de Joel. Os pais da ruivinha Ana Louise morreram... O
juiz teve uma ex bem louca, que chamava Renata e estava grávida
dele... Eu sei tudo sobre eles. Não preciso do seu relatório. E não irei
encostar um dedo na sua protegida. Desde que ninguém interfira
nos meus negócios. Passarei um tempo aqui na cidade, porque
agora tenho uma nova clínica — debocha.
— Eu sempre vou estar por perto. E se foder tudo, eu acabo
com você.
— Somos iguais, Alessandro. Só você não vê isso. Estamos
protegendo quem amamos.
— Com uma diferença. Não mato ninguém para isso.
— Será? Eu duvido muito. Por aquela mulher, você faria tal
coisa. Na verdade, já fez. Não se subestime.
— Se eu estiver perto...
— Eu sei que sempre vai estar, Alessandro.
— Você é um desgraçado.
— E mesmo assim ficou me buscando em todos os meios. Meus
homens têm acesso a tudo.
— Porque você é o meu irmão, seu filho da puta!
— Eu sei.
Ele me abraça e sinto o alívio desse idiota estar vivo, mas
ainda estou puto com tudo isso. Eu sabia que ele viria com alguma
merda. Sempre foi assim. Não se pode subestimar o Felipe, porque
ele é sempre capaz de surpreender e nem sempre são com coisas
boas.
Nos afastamos e a raiva ainda é intensa, acerto um murro em
seu rosto levando-o ao chão.
— Seu filho da puta! — xinga nervoso.
— É, meu irmão. Talvez tenhamos algumas coisas em comum.
Saio do escritório e escuto o riso de deboche dele. Desgraçado.

Estou no flat com a Paula e ela me conta animada sobre a casa


que viu.
Depois do soco em meu irmão, ele foi embora, mas disse que
nos veríamos com frequência nas últimas semanas. É um infeliz
mesmo.
— Vamos torcer para ser minha. Se não for, eu esgano o Clóvis.
Esgano mesmo. Não queira me ver estressada.
Sorrio e beijo seus lábios.
— Não quero. Tenho medo de você.
Ela me olha desconfiada.
— Ei, o que houve? Está muito estranho desde que chegou.
— Encontrei com o Felipe.
— Isso é bom! — Sorri animada. — Não é?
— Já nem sei mais. Meu irmão é complicado.
— Família é complicada, Alessandro. O importante é que ele
está vivo, não é?
— Tem razão. Mas ele me disse umas coisas, é difícil confiar
nele e ele ainda ferra com tudo.
— Está tudo bem. Não precisa me dizer nada, se não puder. Eu
sei bem como funciona esse mundo dele. E está tudo bem. Porque
eu escolhi você e não ele. Então respeito. Eu quero que sejamos
parceiros em tudo, e vou respeitar cada escolha sua, assim como
quero que respeite as minhas. E quanto menos eu souber desse
mundo dele, será melhor para todos nós. O importante é que
sabemos o que ele faz, então temos base em como lidar com a
situação. Porém, não é válido que você fique assim ou que ele tenha
o poder de sempre estragar tudo, pense nas coisas boas apenas,
porque no fundo o ama muito, e é isso o que deve ser sempre
lembrado. Deixe as coisas caminharem sozinhas, não interfira e não
se culpe.
— Mulher, você deveria ser psicóloga.
— Pensei nisso já, mas não daria certo. Tem dias que nem eu
mesma sei o que dizer. Meus pacientes teriam uma psicóloga
complicada.
— Mas muito gostosa... Amo como faz com que eu me desligue
rápido dos problemas.
— Isso é muito bom. E que tal sairmos para jantar?
— Vamos sim. E converse com seus filhos. Sinto que meu
segurança anda tarando meu rabo!
— Alessandro!
Ela ri e, caralho, risada perfeita dos infernos! Talvez não seja
apenas o recomeço dela, mas também o meu!
— Com quantas mulheres já saiu? — Olho assustado.
— Que merda de pergunta é essa? Um tanto aleatória, não?
— Preciso saber onde estou entrando. Sei um pouco da sua
fama. Mas é sempre bom estar preparada. Sou muito madura até
certo ponto, porque todo mundo tem uma fraqueza e a minha é
quando sou provocada ou subestimada.
— Mulher, mal começamos o relacionamento e já quer
terminar? Porra!
— Tenho que saber. Afinal, tenho que estar preparada para o
caso de todas as mulheres que você iludiu aparecerem.
— Você é louca. E está me assustando.
Ela sorri e me beija. Afasto nossos lábios e digo:
— Muitas. Melhor nem saber da quantidade que eu lembro, e
devo estar esquecendo algumas.
— Ale...
Não deixo que ela termine. Beijo-a e ela se rende em meus
braços. Melhor assim, ou terei um tiro bem no meu pau, já que, às
vezes, surge algumas mulheres do além para infernizar minha vida
em busca de mais algumas rodadas de sexo.
Dezesseis

Paula Escobar

Um mês depois...

Depois de tanta burocracia, muitos papéis assinados e muita


coisa a ser feita, eu finalmente peguei as chaves da minha nova casa,
e sim, David e Liziara compraram a segunda casa. Hoje estou bem
agitada e animada, afinal estamos fazendo a mudança, a antiga casa
foi vendida e temos apenas uma semana para retirarmos tudo. Não
é fácil, mas vamos conseguir. Até porque coloquei todo mundo para
ajudar, até mesmo Alessandro, Débora, Cleber, Frederico e Laerte
entraram nisso, afinal, os dois últimos consideram um bom treino.
Ninguém se salvou. Marcela e Jurema também estão ajudando,
confiscando cada coisa que não deve ser destruída no transporte.
Henrique queria contratar uma empresa para fazer tudo isso.
Mas eu o proibi. Nunca vi filho mais preguiçoso que este. As crianças
estão na casa do Marcos com todas as babás, o que está causando
desespero a ele, por saber que pode pegar fogo ou explodir com
aqueles pequenos “pestinhas”, como ele disse.
Jaqueline e dona Joana vieram também, foi o que eu disse: não
deixei ninguém passar batido.
— Mãe, eu juro que você vai ter um filho com as pernas
quebradas. Dê um jeito no Henrique, ou eu o mato! — Nervosa,
Daiane coloca uma caixa no chão da sala. — Pode levar, Frederico —
ela pede a ele, que leva para fora onde os carros esperam.
Irei levar todos os pertences pessoais, pois esta casa foi
vendida com todos os móveis, já que a outra está mobiliada
também.
— O que ele fez desta vez? — questiono enquanto lacro uma
caixa cheia de documentações que retirei do escritório.
— Ele está sentado sem fazer nada e dando ordens. Eu juro que
se o tio, David e o meu marido o pegarem para socar, eu vou deixar.
— Meu amor, precisa manter a calma. Ele faz isso para
pirraçar.
— Ele é o mais velho, cacete! — rebate indignada.
— Penso nisso o tempo todo — Frederico diz ao entrar. — Por
isso não gosto quando eles visitam os treinos. — Caminha na
direção do escritório, onde Ana e Beatriz ajudam a retirar as coisas.
— Paciência. Apenas, paciência! — peço terminando de lacrar
a caixa.
— Paciência é um dom que poucos tem. Eu vou socá-lo, isso
sim.
— Tudo bem. Eu vou resolver isso. Meu Deus, parecem
crianças!
Subo para o segundo andar. Escuto os xingos do David e
Marcos, e Jacob dizendo que vai matar alguém.
Vou até o quarto que estão e é o meu. Henrique está deitado na
cama, mexendo no celular.
— Eu vou matar a porra do seu filho. É sério! — Marcos diz
apontando para mim.
— Caralho, ele não faz nada! — David está estressado e joga
umas roupas dentro de uma caixa.
— Eu dei a opção de atirar nas bolas dele. — Jacob dá de
ombros.
Olho para as caixas com minhas roupas completamente
jogadas. Eu disse para Daiane manter a calma, mas...
— HENRIQUE ESCOBAR, LEVANTA A BUNDA AGORA DESSA
CAMA E COMECE A AJUDAR! — grito.
Todos me olham assustados.
— Mãe, estou cansado...
— Levanta-se agora! — Me aproximo acertando um tapa nele.
— Vocês três, arrumem minhas coisas direito nessas caixas, ou eu
juro que arranco cada pelo de vocês com uma pinça. Eu não estou
brincando!
— Ele faz a merda, e nós levamos a culpa? — David retruca
indignado.
— Eu deveria ter derrubado ele do berço! — Marcos rebate. —
Por que me impedia quando eu tinha alguma maldade planejada a
ele? Caralho!
— AGORA, SEM CONVERSA. QUERO ISSO TUDO ENCAIXOTADO
E BEM ARRUMADINHO EM MEIA HORA, OU VOU ACABAR COM
VOCÊS! EU SOU CARDÍACA, INFERNO!
Saio do quarto ouvindo-os se xingarem, e Henrique diz que se
encostarem nele, mata todos.
Encontro Liziara e a Débora saindo do antigo quarto do David.
— Paula, meu marido é um tarado! Ele tem revistas cheias de
mulheres nuas guardadas. Como pode? Eu fui traída. Eu quero o
divórcio! — Liziara fala revoltada e Débora ri.
— Como seria um divórcio de algum homem Escobar? —
Débora questiona carregando uma caixa para baixo.
— DIFÍCIL, BEM DIFÍCIL! — grito para ela, que desce as escadas
gargalhando.
— Ele me traiu. Paulinha...
— Meu amor, isso é antigo. Ele nem usa esse quarto há séculos
e você sabe disso.
— Mas por que não jogou isso fora? Eu vou matar o David!
David sai carregando duas caixas e para ao meu lado.
— O que houve? Reunião de família? — ele ergue a
sobrancelha ao questionar.
— Seu filho da puta! — ela xinga. — Perdão, Paula.
— Tudo bem, sempre sobra para as mães...
— O que eu fiz?
Ela retira da sacola as revistas e joga nele, que desvia
inutilmente, pois duas o acertam.
— Caralho, ficou louca?
— Louca é o teu passado. Você é um cretino. Esqueça sexo.
Esqueça tudo. Quero o divórcio.
Ele ri e eu também tenho vontade, mas amo minha vida.
— Não tem divórcio. E são antigas, Liziara.
— Por que, quando se trata do Joaquim, não pensa assim? Ele é
passado, e eu não me masturbei pensando nele, como deve ter feito
com cada mulher nessa revista.
— Agora você me irritou!
— Problema seu, babaca! — Ela dá as costas a ele e sai pisando
firme entrando no quarto e batendo a porta com força.
— Talvez precisemos trocar a porta, antes do novo dono...
— Mãe, que porra eu fiz para aturá-la? Era tão fácil lidar com
ela quando tínhamos apenas uma amizade com sexo, agora eu perdi
as contas de quantas vezes sou ameaçado por dia, e de quantas eu
penso em enforcá-la.
— Simples. A amou e ainda ama muito. Vocês são perfeitos um
para o outro. Se completam.
— É uma porra mesmo! Mas amo demais essa maluquinha —
diz passando por mim e rio.
— MENINOS, MEIA HORA! — grito e desço.

Alessandro e Laerte carregam mais caixas para fora. Cleber


está indo com o David levar algumas para a outra casa. Vejo Pascoal
saindo de fininho.
— Pascoal, nem pense!
— Mas, senhora, eu vou ajudá-los...
— Você vai apenas para mexer nos seus brinquedos
tecnológicos. Pode ficar e ajudar aqui.
— Que vida injusta! — ele reclama, mas volta e segue para o
corredor da biblioteca.

Marcela e Jurema confiscam algumas caixas brigando com os


meninos, por terem lacrado errado.
— Olha, nunca pensei que diria isso. Mas cuidar do Arthur me
cansa menos — Bia diz se jogando no sofá e respirando fundo.
— Eu não sinto minhas belas pernas. Eu vou morrer! — Liziara
reclama ao descer as escadas. Ela caminha para perto do sofá e se
deita no chão.
— Tudo um bando de fracas! — Laerte diz se aproximando do
sofá que a Bia está. — Uma mosca derruba vocês, que vergonha.
— Eu te odeio, é real isso! — Liziara rebate e ele ri.
— Falta pouco. Força, meninas... Cadê a Ana, a Daiane e a
Débora?
— Eu vi algumas mulheres deitadas no chão da cozinha —
Marcos informa entrando na sala e se encosta na escada. — Se
afasta deste sofá, ou eu mato você! — Olha para o Laerte.
Olho para o homem todo tatuado que fechou a cara. Ele já
terminou a parte dele com os meninos e estava confiscando o
restante das coisas. Porém, Marcos Escobar não fica calmo por
muito tempo.
— Você sabe que ela treina comigo, e existe muito corpo... —
Laerte provoca ainda mais.
Marcos leva a mão às costas e ergue um pouco da blusa, o
suficiente para o Laerte sair às pressas e rindo.
— Você não está armado — constato sentando-me no braço do
sofá.
— Não. Mas isso nunca falha. Não preciso de uma arma para
matá-lo.
— Você é um monstro! — Beatriz diz rindo.
— Só não olharem, encostarem e respirarem perto de você.
— Eu diria psicopata, Bia! — Liziara rebate.
— Cala a boca, porra-louca, cuidado que estou para assinar sua
sentença e vai ser longa e peculiar! — Liziara ri do homem que
pouco lhe assusta ou intimida.
— JACOB, EU VOU TE MATAR, FILHO DA PUTA! — um grito
surge e Jacob e Henrique descem que nem loucos as escadas. Jacob
sai em disparada e rindo muito e meu filho o segue como um cão
bravo.
— Sabe, às vezes penso quantos anos os dois têm! — digo
pasma.
— Prontinho. Tudo lacrado na biblioteca. — Jaqueline surge
junto da dona Joana.
— Vão para a nova casa e fiquem de vigia naqueles loucos.
Marcos leva vocês.
— Certo, querida — Joana assente sorridente.
— Virei motorista nessa porra? — Marcos reclama e olho feio
para ele, que revira os olhos. — Vamos.
— Pare de reclamar, homem. Tão lindo e tão rabugento. —
Joana passa por ele, apertando a sua bochecha.
Vejo a raiva no olhar dele, e me controlo para não rir.
— É, juiz delícia, atura ou surta. — Jaqueline segue Joana.
— Tia, tenha modos! — Beatriz grita e rimos, menos Marcos,
que sai xingando todo mundo.
Escutamos um barulho de coisa quebrando aos fundos da casa.
Saímos às pressas.
Chego aos fundos e, para a minha surpresa, é uma caixa que o
Alessandro derrubou com o Frederico. Jacob e Henrique olham
rindo.
— Se fodeu, cara! Eram os quadros que ela mais amava. Minha
mãe vai te chutar e depois eu vou arrancar suas orelhas e costurar
nas suas bolas.
— Alessandro, estou do lado dele. Dessa vez, você se lascou!
— Porra, não tenho ninguém ao meu favor? — Alessandro
reclama.
— Não. Porque você derrubou. Eu pedi para segurar essa
merda. — Frederico olha furioso.
— Seu mamute do caralho, você não disse que embalaram essa
merda igual o ra...
— EPA! Eu embalei. Respeita meu talento, idiota! — Henrique
rebate.
Pigarreio e eles se viram assustados. As meninas riem.
— Amor... Morena... Gata... Mulherão da porra...
— Você está piorando tudo. Ela está fazendo a cara que a
Daiane faz quando quer me matar.
— Não ajuda? Então não atrapalha, Jacob! — Alessandro diz se
aproximando e ergo as mãos e ele se afasta.
— Ele se fodeu! — Frederico diz cruzando os braços.
— Paulinha, deveria ter contratado a empresa. Eu fiz isso e vão
arrumar tudo a partir de amanhã. A mudança vai ser tranquila. Sem
estresse, porque já basta o David estressadinho e as meninas me
enlouquecendo.
— Mãe, eu embalei muito bem...
— Calado... Todos calados. Eu vou entrar, terminar o restante
das coisas e quero todos em silêncio até o final do dia. Eu vou sair
daqui e respirar fundo. Ninguém abre a porcaria da boca. Estou
saindo.
Me viro respirando fundo e saio lentamente sob o silêncio,
menos da Liziara que tenta controlar o riso, mas começa a tossir e
se engasga. Beatriz a manda parar e ri baixinho.
Entro na sala e volto a fazer as coisas, ou irei matar todo
mundo.
Alessandro Santos

Paula não parece muito feliz. Seu olhar diz que a qualquer
instante ela pode matar alguém, prova disso que expulsou a todos
da nova casa e disse que faria tudo sozinha, mas a Marcela e Jurema
disseram que ficariam e ajudariam, não deram ouvidos a mulher
bastante estressada, e estão na cozinha organizando as coisas.
Eu já havia vindo aqui durante o processo da compra da casa e
sou apaixonado pelo lugar. É incrível. Ela tem um bom gosto. Mas
foda-se a casa, quero saber da mulher a minha frente!
— Você vai continuar com essa cara emburrada? Porque
preciso saber se vou ficar aqui o dia todo com você assim, pois
prefiro aturar a Irene me xingando — digo com sinceridade e ela
me olha feio. O arrependimento bateu forte agora, ela vai me matar
nessa porra.
— Só estou brava porque vocês são terríveis e me
enlouquecem demais.
Me aproximo e abraço-a por trás.
— Não tente me agradar.
— Longe de mim. — Beijo seu pescoço e sinto seus ombros
relaxarem. — Os últimos dias foram corridos, você precisa relaxar.
— Não... enquanto não estiver tudo ajeitado.
— Estou sem seu corpo há dias. Isso é tortura. — Viro-a
deixando de frente para mim, e pressiono seu corpo ao meu.
— Não diga essas coisas, e alto. Marcela e Jurema podem ouvir
e os seguranças também.
— Foda-se! Eu sei como te fazer relaxar e sabe disso. — Levo a
mão a sua nuca e aproximo meu rosto.
— Aqui não, estamos na sala.
— Assim que é mais divertido.
— Ale...
Não deixo que termine de falar. Beijo sua boca com vontade.
Meu corpo reage ao contato rapidamente. Caralho, estou há dias
sem ela. Caminho levando-a até o sofá, sem tirar os lábios dos seus.
Fico entre suas pernas, onde seu vestido já curto – essa porra é
curta demais – sobe ainda mais. Ela afasta os lábios lentamente e
sorri.
— Você é louco. Sorte que as câmeras da casa vão ser ligadas à
noite pelos meninos com a equipe.
— Daríamos um belo show. — Sorrio e esfrego meu pau nela,
que geme baixinho.
— Marcela e Jurema vão ter um treco. É sério.
— Eu já disse que foda-se! Eu preciso de você.
Levo a mão entre suas pernas e esfrego sua boceta, fazendo-a
gemer ainda mais. Aproximo os lábios de seu ouvido e mordo sua
orelha de leve.
— Vou fodê-la nesta sala e agora... Porra, que saudade!
— Alessandro, você é louco... — Sua voz é trêmula. Ela sorri.
Afasto-me o suficiente para retirar sua calcinha e deixar de
lado. Ela olha para os lados e sorrio.
— Perigoso é mais gostoso, nunca ouviu dizer? — indago
abrindo a calça e abaixando o suficiente junto com a cueca.
Seus olhos vão direto para o meu pau e ela morde o lábio.
Safada, ela quer tanto quanto eu e ficou torturando a nós dois nos
últimos dias.
Fico entre suas pernas mais uma vez, e encaixo meu pau em
sua entrada molhada. Deixo uma mão em seu rosto e a outra, uso de
apoio ao lado de sua cabeça. Levo meus lábios aos seus, e penetro-a
de uma vez. Seu gemido é abafado por mim. Suas mãos agarram
minhas costas e suas pernas me contornam. Afasto os nossos lábios
e começo a movimentar-me rápido e forte, ela acompanha e morde
o lábio, mas suas tentativas de diminuir os gemidos são inúteis,
assim como as minhas.
— Amo seu corpo, sua boceta... Amo você, Paula — falo em seu
ouvido e ela geme alto desta vez, enquanto suas mãos me apertam
ainda mais.
— É tão bom... Também amo... — geme. — Amo você.
Sentir meu pau dentro dela é delicioso demais. Sua boceta é
quente, e ela me aperta muito. É uma sensação do caralho.
Nossa respiração é irregular. Meus movimentos são brutos e o
calor de sua boceta, os gemidos tímidos que saem de seus lábios,
suas expressões, todo o conjunto está me deixando ainda mais
louco.
Levo as mãos por baixo de seu corpo, elevando-o um pouco e
deixando as estocadas ainda mais profundas. Agarra meu pescoço e
esconde o rosto nele. Sua respiração quente e rápida me causa
arrepios pelo corpo inteiro.
— Goza comigo, meu amor.
Ela xinga entre os gemidos insanos.
Saio de dentro dela e penetro de uma vez novamente. Repito
isso algumas vezes, e seu corpo fica rígido. Ela me aperta com mais
força. Sua boceta contrai ainda mais meu pau.
— Caralho! — xingo e seu corpo começa a tremer. Gozo com
ela, derramando todo o meu prazer dentro dela, que me envolve em
um deslizar perfeito.
Ficamos abraçados por alguns minutos, recuperando nossas
forças e fôlego.
— Você é louco, muito louco e vai me enlouquecer...
— Meu destino é fazer exatamente isso a você. — Beijo com
carinho seus lábios e sorrio.
— Obrigada, por fazer parte da minha vida. Por ser incrível.
Você é maravilhoso, Alessandro.
— Nunca acreditei na redenção de um homem que leva a vida
como eu, mas hoje entendo que ele precisa apenas encontrar a
pessoa certa. Encontrei você, e porra, que sorte a minha!
Ela sorri e segura meu rosto.
— Eu te amo e me sinto muito bem em lhe dizer isso.
— Eu também te amo, meu mulherão da porra!
Sorrimos.
Se eu tivesse apostado, teria perdido. Era para ser apenas uma
noite, eu planejei isso desde que a vi na boate pela primeira vez,
mas caralho de destino. E tenho que agradecê-lo, porque desta vez
ele caprichou demais. Não é apenas o recomeço dela, é o meu e isso
é um fato.
— Meu recomeço... sempre foi você. — Beijo-a com carinho.
Preciso levá-la para o quarto, porque meu pau quer
comemorar muito essa nova fase. Sou um safado incurável.
Sempre foi ela. Desde que a conheci, meu olhar, pensamentos,
desejos e coração foram dela, e fui um idiota em notar apenas
agora. Mas ainda bem que descobri a tempo.
— Meu recomeço — ela repete e sorri.
Epílogo 1

PAULA SANTOS

Dois anos depois...

Olho o brilho dourado em meu dedo anelar esquerdo e só


consigo sorrir. Mais uma nova etapa. Os últimos anos foram difíceis,
enfrentei céu e inferno, passei tudo o que poderia e não poderia
imaginar. Mas então, quando achei que tudo estava perdido, eu vi
uma nova chance, e tive que agarrar. Dois anos atrás, Alessandro
provou que faria tudo por mim, quando se colocou em risco por
mim e minha família, e sinto orgulho disso. Eu encontrei a paz
novamente, o amor de outro alguém, mesmo que dentro do meu
coração sempre existirá um homem que eu amei muito, e me fez
muito feliz em nossa jornada. Porém, eu estou amando uma vez
mais.
Esses dois anos foram de aprendizados, brigas, risos, choros,
algumas perseguições, porque ninguém disse que ter uma família
chamada Escobar seria fácil, e muito menos que todos que entrasse
nela trariam bagagens pesadas. Mas seguimos fortes.
Vejo minha família reunida para o simples almoço de
casamento que Alessandro e eu optamos. Todos aqui, e sinto tanto
orgulho, até mesmo em ver o Felipe; mesmo ele tendo uma vida
dupla é parte disso tudo, e ao que parece, uma parte muito boa para
Jaqueline, que está saindo com ele um bom tempo, e tem dito para
todos que “até que enfim sobrou um homem bonito a ela”. Às vezes
penso que o fato dele pertencer a uma máfia, deixou tudo mais
atraente a ela, que ama uma adrenalina, e o fato dele ser cirurgião
também, já que ela também é uma, só que de área diferente.
Enfim, Alessandro me pediu em casamento há dois meses e foi
tão natural, sem nada elaborado. Ele apenas perguntou se eu me
casaria com ele e eu disse que sim, e cá estamos nós como marido e
mulher.
Estamos sentados na área de lazer aos fundos da nova casa, e
todos se divertem. Até mesmo Cleber e Débora estão presentes,
afinal são parte dessa nossa jornada.
— Olha, eu fico feliz por ter um dia livre. Tenho estudado
tanto, que penso que poderei endoidar a qualquer instante! —
Liziara reclama.
— Escolheu ser delegada. Se prepara! — David diz ao abraçá-la
por trás.
As crianças brincam entre si, com um Arthur emburrado, pois
tem um enorme ciúme de sua prima Laís, são muito apegados; e ao
que parece Laís gosta bastante do Eric, filho da Débora e do Cleber.
— Mãe, estou tão feliz pela senhora — Daiane diz e sorrio.
— Fico feliz em saber que vocês nos apoiaram em tudo.
— Eu não apoiei em nada. Ainda não gosto desse cara. Na
verdade, nem do Jacob. Por que não chutamos ambos? — Henrique
rebate e Ana acerta um tapa nele.
— Supera, pois dessa mulher aqui eu não largo. — Meu marido
beija meu rosto.
— Daiane está certa. Estamos felizes pela senhora. Mas saiba
que, se ele te fizer sofrer, morre — David avisa sério.
— Ele não vai fazer nada. Alessandro não machucaria nem
uma mosca! — Felipe provoca o irmão, que o olha feio e acabo
sorrindo.
— Paula, você merece. E não liga para esses idiotas! — Beatriz
fala e Marcos passa o braço por sua cintura.
— É tão lindo ver isso... Eu acompanhei muitas coisas dessa
família, e sonhei com o dia em que eu fosse ver a felicidade de
todos... Merda, vou chorar! — Débora diz abanando o rosto, fazendo
todos sorrir.
— Ela tem razão. Vocês todos merecem essa felicidade —
Cleber afirma.
— Ninguém disse que tudo é fácil, mas podemos tornar as
coisas o mais simples possível. Quando meu neto se apaixonou por
Daiane, eu sabia que ele estava entrando na melhor família que
poderia existir. Vocês são especiais — Joana fala e o neto deixa um
beijo no topo de sua cabeça. — E eu sempre soube que Paula e
Alessandro terminariam juntos, porque no casamento da Daiane eu
vi a forma como ele a olhava. Havia uma coisa diferente: era amor,
carinho. Por isso avisei que deixassem o tempo cuidar. Eu disse
naquele dia que eu tinha notado algo, mas nunca disse o quê,
porque não era o que alguns viam, eu enxerguei além, e me
emociono por ver o resultado hoje.
Sorrimos emocionados com suas palavras.
— E vocês têm um imã que atrai homens gostosos, obrigada...
Eu peguei esse imã — Jaqueline diz e agarra o braço do Felipe, que
revira os olhos e dá uma sorriso disfarçado.
— Se um dia dissessem que eu veria essa família desse
jeitinho, eu não acreditaria — digo emocionada.
— É, Alessandro, quem diria? Você casado! — Jacob diz.
— Para você ver. Por livre e espontânea pressão — meu
esposo responde e acerto seu braço.
— Eu sou cardíaca, homem. Não brinca assim.
Ele sorri e beija meus lábios com carinho.
— AI, MEU DEUS! YASMIM, NÃO PODE! — Ana sai correndo em
direção à filha, que acerta um brinquedo no Arthur.
— Acho que já vi isso antes. — Henrique sorri.
— Essa geração vai dar trabalho — comento.
— Nem me diga! — Marcos concorda e olha na direção da
barriga da esposa. Sim, Beatriz carrega mais uma criança e, desta
vez, vem uma princesinha: Agatha. — Estou bem fodido!
— Estava na hora de se lascar também, era injusto ser o único
a ter um menino! — David retruca. Marcos o fuzila com o olhar.
Eu gostaria de poder eternizar esse momento. Pois não sei
nosso dia de amanhã, afinal tudo nesta família é sempre
imprevisível demais.
— Quando iremos pular para a lua de mel? — Alessandro
cochicha em meu ouvido e começo a rir.
— Deixa de ser safado — sussurro.

Depois do almoço preparado pelo buffet, estamos reunidos na


sala, onde Jacob toca em seu violão e canta. Amo quando meu
menino faz isso.

Amor sincero tenho dentro de mim


Pra te dar, é só você querer e arriscar
Pois não é ilusão, nem tampouco atração
É mais forte do que pode pensar
Não sabe o quanto já sofri por amor
Conheço bem essa dor que destrói
E causa insegurança demais
Pra você superar, tem que uma chance se dar
E não ter medo de se apaixonar
Deixa eu te amar...

A música flui lindamente por sua voz, e aprecio.


— Exibido! — Henrique resmunga ao meu lado e acabo rindo.
Cada criança está com seus pais, e é lindo ver essa união. A
união que sempre desejo.
Assim que a música encerra peço a atenção a todos.
— Não foi fácil. Mas chegamos até aqui. Não sabemos se esta
pode ser a última vez que estaremos juntos, é difícil, mas é a nossa
realidade. Porém, eu tenho orgulho demais de todos nós. Passamos
por tantas tempestades, e com elas perdemos algumas pessoas... Se
tivessem dito que teríamos que enfrentar tantas coisas, talvez a
emoção e aprendizados não teriam nos acompanhado. Viramos
exemplo para tantas pessoas, mesmo que a mídia insista em nos
atacar algumas vezes. Muitos acompanham a nossa família como se
fôssemos algum tipo de inspiração. Eu poderia dizer que é algo
bom, mas sabemos que nem sempre vai ser. Não somos perfeitos e
estamos longe de ser. Mas somos a família da lei, somos muito mais
que um nome, somos bem mais que a fama que o sobrenome
Escobar carrega. Somos humanos, em busca do melhor. E sei que
sempre dizem do orgulho que sentem de mim, porém sou eu que
tenho um enorme orgulho por ter todos vocês, que são meus
maiores presentes. São minhas joias raras, e por essa família eu
enfrentaria tudo novamente, apenas para ter mais momentos como
este.
As lágrimas escorrem pelo meu rosto e não me importo. Deixo-
as serem livres. Todos estão emocionados.
— Quando eu vi essa mulher ao meu lado, não enxerguei seu
sobrenome, poder, fama... Eu vi uma mulher linda, guerreira e que
hoje tenho o orgulho de chamar de esposa — Alessandro diz e
enxuga meu rosto com carinho.
— Somos os Escobar, Casagrande, Santos... — Henrique olha
para o Cleber e a Débora e completa: — Fernandez... Somos uma
grande família, e cheia de loucuras e problemas, teremos sempre
uma vida agitada e no final teremos essa união, podem contar com
isso sempre.
— O pateta tem razão. Sempre iremos estar juntos — Daiane
diz chorosa.
— Nesses anos, eu pude aprender muitas coisas. Algumas
pessoas pensam que não tenho medo, mas todos os dias sinto o
medo de perder algum de vocês, então iremos sim valorizar muito
esses momentos. E porra, não façam merda, estamos sem grandes
confusões por um tempo até longo, então não fodam com nada! —
Marcos diz do seu jeitinho que sempre irei amar.
— Lembrando que no ataque da semana passada, Henrique
fodeu seu carro — David se refere a alguns inimigos que Henrique
adquiriu no último caso que pegou. Nada que não pudessem dar um
jeito ou que fosse acabar com a paz que está reinando nos últimos
tempos.
— Não me lembre dessa merda. Ainda não acredito que esse
puto, com a porra de uma boa mira, acertou meu carro!
— E minha parede que até hoje o juiz não consertou? Atira e
não arruma. Foda! Por sorte visito muito pouco o apartamento onde
deixou aquela marca de dor, brutalidade... Irene sempre me lembra
do quanto ninguém valoriza a parede também...
— Cala a boca, Alessandro! — digo entredentes para ele, que
sorri, enquanto Marcos o encara bem nervoso.
— Obrigado, David, por colocar meu rabo na mira da arma do
homem estressado, vulgo Marcos. — Henrique revira os olhos.
— Não tem pelo que agradecer, meu irmão. — David sorri.
— Viu, sogrinha, sou o único anjinho aqui. — Jacob dá uma
piscadela.
— Anjinho, onde? Peste do jeito que é! — Joana rebate e revira
os olhos.
— Mas o tio Henrique se supera! — Sophie ri e Henrique fica
boquiaberto.
— Até você? Cadê nossa parceria, pirralha?
— Sempre parceiros. — Eles fazem um cumprimento louco que
nunca vou entender como decoraram.
— Ele roubou minha filha. Odeio ele... Vem, Yasmim! — Jacob
diz e a ruivinha corre até ele animada.
— Titio! — diz quando ele a pega no colo.
Essas crianças estão crescendo rápido demais.
Arthur e Eric conversam na língua deles, pois só se entende
uma coisa ou outra, e Laís fica grudada ao primo.
— Marcos, não nos contou, já arrumou o plano de segurança da
Agatha? Porque, meu querido, chegou a sua vez de surtar. — Lizi ri.
— Não o lembre disso! — Beatriz pede nervosa.
— Por isso ele perguntou se eu conhecia algum colégio de
freiras — Débora comenta. — Logo eu, a impureza.
Rimos e Marcos olha feio.
— Vou ensinar a essas crianças os prazeres da vida, quando
forem adultos — Alessandro provoca.
— E te matamos! — os outros dizem juntos.
— Viu, Alessandro? E depois eu que tenho instinto assassino —
Felipe ironiza e bebe um gole de seu champanhe. — Porra de bebida
fraca!
Como eu amo essa família, até mesmo o jeito louco do Felipe,
que quando aparece por aqui respeita, mesmo que às vezes saiam
faíscas e o Alessandro interfira, como se existisse algum assunto
secreto entre eles. Porém, isso não interfere em nada na nossa
relação, acho até melhor.
Eles discutem entre si, um provocando o outro e sorrio. Daiane
diz que agora que sabe atirar muito bem, não vai recuar se eles
continuarem irritando-a. Liziara fala que está ao lado dela,
enquanto Ana, Débora e Bia riem. Joana palpita e quando não
escutam, acerta um tapa neles, e Jaqueline está ao lado do Felipe,
deixando suas pérolas escaparem.
— Adora essas confusões, né?
— Não sabe como, Ale...
Ele me puxa para um canto mais tranquilo da sala onde me
beija com paixão e retribuo da mesma forma.
— Eu te amo, meu mulherão da porra!
— Eu também te amo, meu professor.
Olho mais uma vez para todos ali e respiro aliviada. Essa
família tem tantas coisas a serem ditas que cinco livros não seriam
suficientes. A cada dia é uma nova história. Não tem como ter um
dia entediante ao lado de todos. Todos aprendemos tanto nesses
anos, e eles me ensinaram tanto. Com o Henrique aprendi que até
mesmo nas situações difíceis podem se tirar algo bom que nos faça
sorrir. David e Marcos me ensinaram que o orgulho não leva a nada,
e ser nós mesmos é o que torna tudo épico. Jacob me fez ver que se
não arriscarmos, nada teremos. Felipe, até esse doido, me ensinou
algo, como aprender a confiar nas pessoas certas. Todas as
mulheres me ensinaram a ser mais forte, porque nada será
tranquilo o tempo todo e temos que estar preparados para tudo.
Essas crianças, sim, até esses pequenos me ensinaram algo, o amor
puro e sincero e a alegria dos momentos mais simples. E meu
marido me ensinou a recomeçar, a amar mais uma vez e a valorizar-
me a cada instante, ele me ensinou a resiliência, depois de tantas
tristezas.
Mas teve uma coisa que apenas a vida e a dor me ensinaram:
ser uma mulher que sabe o quer, quando quer e como quer. Eu
aprendi que sou e sempre serei a matriarca desta família, e que isso
jamais deveria ter me colocado medo, porque é uma honra.
Seja eu uma Assis, Escobar ou Santos, eu sempre serei uma só,
que aprendeu que é nos pequenos detalhes que a vida costuma ser
mais surpreendente.
Não é apenas o meu recomeço, é o de todos nós. E não é o fim, é
apenas o início de uma nova etapa e de uma nova geração.
Epílogo 2

ARTHUR ESCOBAR

Muitos anos depois...

Porra! É sempre assim aonde vamos, os malditos fofoqueiros


das revistas não perdem uma, e não sabem nem disfarçar esse
inferno. Amanhã tenho certeza de que a primeira a dizer onde
estamos será a maldita “Belos e famosos”; se eu pego o dono dela,
estrangulo.

A área VIP está abarrotada de seguranças, sempre assim, é o


efeito Escobar.

— Sabe, primo... O Eric vai vir mesmo? — Laís questiona e bebe


sua bebida.

— Ele disse que viria. E pare com isso ou saio te arrastando


pelo cabelo daqui.

— Deixa de ser ogro! Não nega ser filho do tio Marcos — diz
com seu jeitinho doce, assim como o de sua mãe, a tia Ana.

— Arthur tem que parar de ferrar nossos futuros namoros,


toda vez ele faz isso. E ainda está no último ano de faculdade, e por
conta disso diz que é sem tempo. Imagine se tivesse mais tempo! —
Yasmim reclama e posiciona o celular para fazer uma foto dela. Essa
ruiva é irritante.

— Mais irritante que o Arthur, só nossos pais. Acreditam que


meu pai colocou à paisanas na nossa cola? David Escobar é um
homem louco! — Laura reclama.

— Ele está certo. Ambas estão saidinhas demais. Que tanto


fazem naquela faculdade? Porque tudo de vocês é que estão indo
para lá.

— Moda, Arthur. M.O.D.A! — Helena se altera e revira os olhos.

— Viram a nova arma que está na moda? Vou testá-la para


entenderem o tipo de moda que gosto... E cadê a porra da minha
irmã nesse inferno? Eu vou socar a Agatha!

— Meu Deus, deixe de controlar todo mundo. Ela foi ao


banheiro. E nem me olhe com essa cara, sou a mais velha aqui e
posso mandar em todos — Sophie responde.

— Não lembro de ter questionado sua idade.

— Você tem certeza de que vai seguir Psicologia? Porque não é


a pessoa mais paciente! — Laís rebate e as outras riem.

Sim, eu escolhi algo bem diferente dos homens da família


Escobar, e me apoiaram, assim como apoiaram as gêmeas no sonho
de serem estilistas e Laís em ser veterinária. Sophie escolheu ser
advogada trabalhista e já se formou e passou na temida OAB, a
menina é inteligente demais. Já minha irmã seguiu o lado da minha
mãe, ama administração e tem o sonho de um dia ter um banco
também assim como nossa mãe que é dona de um, e sabe
administrá-lo da melhor forma.

Agatha aparece cheia de sorrisos.

— Não estou gostando disso na sua cara!

— O quê? Minha beleza? — provoca.

— Risinho de quem aprontou.

— Cala a boca, seu irritante! — ela reclama e se senta ao meu


lado.

— Vocês são a perdição dessa família! — digo e bebo o restante


do meu White Russian.

— Vamos mudar de assunto... Cadê? — Helena questiona


apontando para Laís.

Observo as loucas sem entender nada.

— Aqui. — A Laís mostra a foto no celular e fico olhando.

— É lindinha — Helena diz e as outras concordam.

— Vai tatuar esse pontinho? — questiono.

Olha, essas meninas são lindas, maravilhosas, mas têm umas


ideias preocupantes.

— É um coraçãozinho, Arthur. Seu ogro.

— Isso é um coração? Em que mundo?

— Claro que é. Ela quer começar com algo pequeno. Diferente


de você, que fechou todo o braço direito e a perna esquerda —
minha irmã diz e me mostra a língua. Voltamos ao primário?
— Me jogo de cabeça no que tem que ser feito.

— A mamãe diz que daqui uns dias só vai ver seu olho, pois
está indo pelo mesmo caminho do papai.

— Mamãe é exagerada! — rebato.

— Não mais que a minha. Quando meu pai fez uma tatuagem,
ela surtou. Falou que se casou com um gibi humano, sendo que foi
apenas uma.

— Laura, tia Liziara é louca. Ainda não sei como conseguiu ser
nomeada a melhor delegada do país.

— Nem nós entendemos! — as gêmeas respondem em


uníssono e rimos.

— Adoro quando acontece essas coisas de vocês falarem


juntas, saírem com roupas iguais, sem querer... É loucura, e muito
divertido — Sophie diz animada.

— Por falar em nossos pais, meu pai está louco comigo, porque
não estou indo aos treinos — Yasmim diz desanimada.

— Ele está certo. Não importa a profissão que cada um tenha


escolhido, os treinos são fundamentais para a nossa segurança. Eles
não são mais jovens, não vão estar sempre aqui como também não
são capazes de agirem da mesma forma. Não podemos estragar isso.

— Ao que parece, já estragamos, Tutu. A mídia vive para nos


difamar — Laís diz.

— Primeiro, se me chamar de Tutu novamente, eu te esgano. E


segundo, que se foda a mídia!
— Não pensou assim quando te chamaram de Don Juan Escobar
— Laura provoca.

Se eu matar alguma das minhas primas ou irmã, eu serei muito


ruim?

Vejo Eric entrar na área VIP e cumprimentar uns seguranças.


Porra, demorou!

— Cheguei para a alegria de todos — ele cumprimenta cada


uma e na vez da Laís, ela fica vermelha.

Inferno, amo todas as minhas primas, mas por ter idade


próxima da Laís acredito que tivemos mais conexão, e tenho um
ciúme ainda maior por ela, porque sempre a protegi desde
pequena, assim como fiz com Agatha, porque com as gêmeas,
Yasmim e Sophie passo raiva triplicada. Conheço a fama do meu
amigo, e não quero minha menininha sofrendo, pois ela é
romântica, acredita em finais felizes, tem uma pureza linda e Eric
pode foder tudo.

— Veio a pé? — questiono e ele ri se sentando ao lado da


Sophie.

— Nem demorei tanto. Peguei trânsito. E tive que resolver


alguns assuntos na faculdade. Último ano, logo esse inferno
termina.

Ele quer ser delegado, ama o meio policial. É engraçado até,


porque também amo essa vida louca que levamos, mas sempre amei
observar as pessoas, suas expressões corporais e entender a mente
delas, por isso escolhi psicologia.
— Assume que o assunto era mulher, porque hoje é domingo,
idiota! — rebato.

— O que dizer? Sou um cara muito estudioso — diz rindo.

Yasmim passa o braço ao redor da irmã e finge mostrar algo a


ela no celular. É sempre assim, ele com suas novas conquistas e Laís
amando-o de longe.

— Vamos dançar? Antes que a patrulha do estraga momento


surja aqui. — Agatha se levanta.

E ela tem razão. Da última vez alguns membros da família


como meus tios – sei que somos primos, mas chamo todos de tios
assim como Paula, que eu chamo de avó, e o Felipe de avô – Jacob,
Daiane e Liziara surgiram para conferir porque demorávamos, e
digamos que a delegada Liziara não é muito discreta.

Levantamo-nos e descemos com os seguranças nos seguindo.


Vamos para a pista onde uma garota se aproxima tentando chamar
minha atenção, e porra, odeio isso. Não gosto que fiquem tentando
se mostrar para mim, eu gosto de enxergar o diferente, o que me
atrai. Deve ser algo que herdei do meu pai, porra, herdei muita
coisa dele e não posso negar. Desvio dela, e sigo para perto dos
meus primos. Eric dança com uma garota que surgiu da casa do
caralho ao lado dele.

Laís se afasta e passa pelas primas que tentam falar com ela,
mas a pequena faz sinal que quer ficar sozinha.

E ainda questionam por que quero ser psicólogo. Tenho que


resolver as merdas de toda essa nova geração. Mas é assim mesmo,
e amo esses porras, mesmo quando me deixam louco. Olho para a
minha irmã e dou um sinal de observação, e ela dá de ombros, meu
pai deveria ter mandado ela para o tal colégio de freiras que passou
a infância e adolescência dela dizendo e minha mãe o xingando.

Sigo atrás da pequena ciumenta. Porra, era só o que me faltava,


ser psicólogo do amor, logo eu que fujo disso.

Nessa família acontece de tudo, puta merda...

Vejo os seguranças fazerem sinal e falarem no ponto de escuta.

— Estava demorando...

A noite tranquila acabou. Chamo as meninas e o Eric. Vou atrás


da Laís para sairmos logo daqui.

Queria entender por que meu pai e meus tios pegam casos com
pessoas loucas ao extremo? Sempre sobra para nós, pois a nova
geração está no destaque. Puta merda! Por que não se aposentam
logo? Meu Deus!

Vejo Simon dando as coordenadas.

— Se aposente, homem! — digo para ele, que parece um louco


e nada com um homem de... Qual a idade desse ser? Não envelhece
não? Caralho!

— Enquanto eu respirar, não.

Parece que fica mais forte a cada ano e isso me assusta, sério, e
poucas coisas me assustam.

— O que houve dessa vez?


— Estão cercando a boate... Querem vocês... Nada de novo.
Vamos.

— Mentira, sempre tem algo novo. Da última vez, Sophie


quebrou o braço e fez a porra de um escândalo, que mais parecia
que era o fim do mundo, e caralho, ela grita muito. E Yasmim bateu
o carro, e causou um grande engavetamento. Não podemos
esquecer que as gêmeas em uma fuga derrubaram dois inocentes,
sendo um deles cadeirante. Laís é a que menos dá trabalho nisso.

— É, sempre tem algo novo, então. — Ele sorri.

Saio à procura da minha prima. Eric xinga que só se fode por


ser próximo de nós.

Cacete, não é hoje que terminarei a noite do melhor jeito. Mas


não trocaria esses momentos loucos por nada, afinal faz parte de
quem somos. Faz parte de sermos Escobar.

E lá vamos nós... Maldição.

REVISTA ON-LINE BELOS E FAMOSOS

NOTÍCIA MAIS VISITADA DO DIA:

“NOVA GERAÇÃO DOS ESCOBAR EM BOATE MAIS FAMOSA DA


CIDADE”

Não é novidade para ninguém que a nova geração dos herdeiros Escobar
tem dado o que falar. E desta vez marcaram presença na boate mais
famosa da cidade, e podem gritar corações apaixonados, todos juntinhos e
solteiros.

Até mesmo Eric Fernandez (filho de umas das advogadas mais requisitadas
e do investigador mais conhecido) esteve com eles.

Mas ao que parece a vida deles não anda tão tranquila. Assim como no
passado, a família continua enfrentando diversas perseguições, e ao que
tudo indica a saída repentina foi em questão disso.

Mas a pergunta que não quer calar é: Quando veremos esses jovens dando
o que falar em busca dos seus grandes amores?

Vai dar trabalho essa geração, e é ótimo, porque estamos cansados da


tranquilidade dos mais velhos da família, que já renderam muitos assuntos
para nós.

Confiram as fotos que conseguimos deles:

20M visualizações 300.000 comentários 11M curtidas 15.000


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Comentários mais recentes:

Lali: Essa família sempre com assuntos. Meus pais acompanharam a


geração antiga e a fama continua, pois até eu os conheço. Como a Sophie
está cada vez mais linda. Todos são lindos.
Rafinha: Esse Arthur é um pedaço de mau caminho assim como o pai, que,
quanto mais velho, mais gostoso fica.

Luan: Essas gêmeas são lindas demais, porra!

Babi: Laís sempre com cara de anjinho, essa menina tem jeito de sonsa.
Mas esse primo dela e o Eric, gatos demais, eu pegava.

Resposta a Babi:

Precisa ver se eles iriam querer você. E a Laís é fofinha, tem seu charme,
assim como as outras! Menos recalque, e mais amor.

Paul: Agatha é a mais bonita. Que sorriso do caralho!


Agradecimentos

Nesses anos escrevendo essa série, eu sempre achei difícil


fazer os agradecimentos. Mas neste livro, ele flui tão tranquilo.

O primeiro lugar será sempre a Deus, porque Ele sim é a


principal base de apoio que eu poderia ter, então meu muito
obrigada ao Papai.

Liziara e Beatriz, o que dizer de vocês? Embarcaram nessa


loucura que deu certo e foi graças a vocês que as inspirações
vieram, mesmo quando o mundo estava desabando. Vocês não têm
ideia do orgulho que tenho em ter vocês como amigas e da emoção
que carrego no peito por terem me dado tanto incentivo e
acreditarem nessa série. Amo vocês demais.

Claro que eu vou agradecer ao apoio da Mariana Coelho, que


chegou de mansinho na minha vida, e olha, fez grandes mudanças.
Me escutou, surtou junto comigo, me amparou, cuidou de mim como
uma irmã e ainda me arranca lindos sorrisos de manhã com seus
“bom dia” no WhatsApp. Mais uma amiga-irmã, que me ajudou nessa
fase final da série.

Meu amor, Wesley Ferraz, mesmo me irritando, você me


apoiou, ajudou em muitas cenas que envolviam carros e foi paciente
nos meus surtos, madrugadas sem dormir, e passeios cancelados.
Eu te amo, e você acompanhou tudo, mesmo não lendo nada, e eu
brigando com você por isso, e fazendo você escutar cada trecho que
eu considerei o melhor.
A Kira Baptista, essa pessoa especial que me ajuda muito nas
divulgações, me arranca boas risadas, me compreende porque suas
loucuras são como as minhas, e que do seu jeitinho me fez sentir
especial.

Editora Angel, nem preciso dizer muito, vocês tornaram tudo


isso real. Vocês são demais e, sem vocês, talvez esses livros nunca
fossem para as mãos de ninguém.

Leitoras que me amam tanto, que me apelidaram de


“Malévola”, obrigada, mil vezes obrigada, por acreditarem nessa
família louca e tornarem isso tudo maior a cada ano. Vocês são
parte disso tudo e uma parte importante demais.

Enfim, obrigada a você que acompanhou tudo até aqui. Espero


que tenha valido a pena.

Respiro aliviada sabendo que dei o meu melhor, e espero


sempre continuar assim. Não é o fim, é apenas a hora de dizer “até
logo”, porque os Escobar sempre vão estar dentro de cada coração,
deixando sua marca registrada, e isso os tornará eternos.

Com amor,

Deby Incour.

#SérieEscobarParaSempre
Biografia
Deby Incour é brasileira e começou a escrever em 2014 e
desde então nunca mais parou. Seus livros foram publicados no
Wattpad e renderam milhares de leituras. Em 2016 se destacou
ainda mais com a Série Escobar, se tornando autora bestseller com
o primeiro livro da série na Amazon brasileira. Sempre amou o
mundo do “era uma vez”, e poder criar o seu próprio foi como ter
uma varinha mágica ou um gênio da lâmpada realizando seus
desejos. Também é completamente apaixonada por romances de
época, onde sonha com bailes e vestidos bufantes. Adora tirar fotos,
e assistir filmes clichês como as famosas comédias românticas.
Porém, é quando escreve ou lê que tudo fica perfeito, além de
escutar músicas e cantar na ilusão de que faz isso muito bem.

Instagram.com/deby.incour
Editora Angel
www.editoraangel.com.br

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PERIGOSAS

Copyright © 2017 Deby Incour


Copyright © 2017 Editora Angel

Produção Editorial: Editora Angel


Capa e projeto gráfico: Débora Santos

Diagramação Digital: Beka Assis


Revisão: Beka Assis

Todos os direitos reservados.

A violação dos direitos autorais é crime


estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo
artigo 184 do Código Penal.
É proibida a cópia do material contido nesse
exemplar sem o consentimento do autor. Esse livro
é fruto da imaginação do autor e nenhum dos
personagens e acontecimentos citados nele tem
qualquer equivalente na vida real.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Nota da autora
Capíulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Epílogo
Agradecimentos

NACIONAIS - ACHERON
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Nota da autora
Caros leitores, este livro... melhor dizendo,
este conto foi feito com muito amor e carinho.
Torço para que gostem. Fazer uma história que
envolva um lado criminal, mesmo sendo muito
curta, não foi fácil, e foram feitas algumas
pesquisas. Tudo aqui é totalmente ficcional.
Pulei alguns atos da lei para não falar demais e
acabar falando coisas sem sentido. Espero que
gostem.
Com amor, Deby.

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Para Liziara Aráujo, uma


grande amiga e inspiração.

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Capíulo 1

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David Escobar

Meu celular toca. — Merda!


Paro o que estou fazendo. Olho na tela e é
minha mãe. Dona Paula sabe como ligar ou
aparecer quando estou ocupado.
— Oi, mãe!
— David, eu sei que você é delegado, e com
isso trabalha muito. Mas eu sou advogada, seu
irmão também, sua irmã promotora, e seu tio é
Juiz, mas todos, sem exceção sabem dar um
tempo para família! Hoje é aniversário da sua
sobrinha Yasmim, e até agora você não chegou. É
o primeiro aninho dela. Seu irmão e sua cunhada
estão loucos com você! — ela dispara em falar.
— Mãe, em 20 minutos estarei aí. Estou
finalizando um serviço ao qual me dedico muito
há anos. Prometo que chegarei logo. Fale para o
Henrique e para a Ana Louise que eu vou para o
aniversário da Yasmim.
— 20 minutos, ou eu juro que vou nesta
delegacia e faço com que você passe a maior

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vergonha da sua vida toda!


— Está bem. Vou finalizar esse serviço que é
muito importante e já vou. Te amo!
— 20 minutos! — ela diz e desliga.
Porra, minha família sabe como apressar um
serviço.
Jogo o celular na cama.
Olho para a bela loira de quatro na minha
frente. Sorrio.
— Temos 10 minutos!
Dou um tapa em sua bunda e ela sorri.
Penetro-a com força e a safada grita ao
mesmo tempo que geme.
Enrolo seu cabelo em minha mão e o puxo.
— Rebola bem gostoso... — Ela faz — Isso!
Em minutos estamos gozando como loucos.
Principalmente ela, que grita alucinadamente.

Entro no meu carro e ligo para Liziara, uma


grande amiga. Nós nos conhecemos a quase dois
anos, quando fui na universidade em que ela
estudava para interroga-la. Ela simplesmente foi

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de grande ajuda para resolver o caso da minha


cunhada, Ana Louise, que naquela época foi
acusada de ter assassinado o noivo. Desde então
criamos uma grande amizade, com alguns
benefícios.
— Oi, delegato! — Sorrio.
— Maluquinha, está pronta?
— Estou sim. Vai vir me pegar? Meu carro
está na revisão.
— Vou sim. A Beatriz vai?
— Vai, consegui convencê-la a ir.
— Está bem, em dez minutos estarei aí.
— OK.
Ela desliga.

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Liziara Araújo
Quando se tem 22 anos, e não se tem juízo, é
um caso muito sério. E este é meu caso. Eu
confesso que não tenho juízo. Sou muito
impulsiva, faço as coisas, e depois que vou
pensar na loucura que fiz. Há meses larguei o
curso de psicologia em uma renomada
universidade. Meus pais ficaram loucos, não
porque querem um futuro bom para mim, mas
porque se preocupam demais com o que a
sociedade vai dizer, já que são empresários, e
tem amigos que adoram uma fofoca. Desde que
larguei o curso, eles tornaram um inferno minha
vida, e por isso sai de casa. Não aguentava mais
ter que ficar dependendo deles para tudo e
aguentando os surtos que eles davam. Então
arrumei um emprego como barwoman e vim
morar em um apartamento junto a minha
melhor amiga, Beatriz, que é coordenadora da
universidade que eu estudava. E confesso que
estou mais feliz agora do que antes. Quem sabe
daqui um tempo eu decida se é psicologia que eu

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realmente quero fazer?


Ter o David como amigo é muito importante
para mim, pois ele me compreende quando
ninguém é capaz disso. Porém, ter a amizade
dele me deixa as vezes em cima do muro em
relação a minha melhor amiga, pois ela se dá
bem com todos da família Escobar, menos com o
tio do David, o Juiz Marcos Escobar; e onde um
está, o outro não vai. Foi um inferno convencê-la
a ir ao primeiro aninho da Yasmim, filha do
irmão mais velho do David, porque ela sabe que
ele vai estar lá. E por isso, muitas vezes tenho
que ficar com ela, porque não posso deixa-la
sozinha e pôr o David sempre em primeiro lugar.
Porém, o pior de tudo é que eu desenvolvi
uma paixão por ele, e isto tem me deixado bem
confusa, ainda mais por ele não querer
relacionamentos sérios. Quer saber apenas de
trabalho e nada mais. Sempre está saindo com
alguma mulher por aí, e isso me deixa puta da
vida, mas me controlo. Temos uma amizade
colorida, ou amizade com benefícios, como ele
gosta de dizer... e foco nisso, porque o amor é
uma roubada das grandes.
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— Ele chegou, Lizi. Vamos?


— Vamos sim. Me promete que não vai voar
no Marcos?
— Se ele não vier me provocar, já ajuda
bastante.
— Ele não vai, assim eu espero.
— Também espero. Vamos logo. Está
perfeita, pare de ficar se olhando no espelho.
— Está bem, vamos.
Pego a caixa de presente da Yasmim e quase
caio.
— Cuidado, Lizi! Nunca vi pessoa mais
desastrada que você.
— Quanta calunia!
Rimos
Beatriz pega o presente que ela vai dar e
saímos do apartamento.
No lado de fora damos de cara com a Range
Rover Evoque na cor branca, do David. Ele abre a
porta e sorri para mim.
Entro no carro e a Bia também. Dou o
presente para ela deixar no banco traseiro.
Fechamos a porta e coloco o cinto.
Ele me cumprimenta com um beijo na
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bochecha.
— Oi Bia, dormiu comigo essa noite? — ele
provoca.
— Dormi, e foi uma maravilha! — ela rebate
e eu rio.
— Pare de atormentá-la.
— Sou um anjo.
— Sabemos! — ela e eu dizemos em
uníssono.
Ele da partida no carro.
O celular dele começa a tocar.
— Pega aqui, amor. Deve ser minha mãe
pirando comigo.
Pego o celular no bolso que ele indica
enquanto continua dirigindo. Olho na tela e é a
própria.
— O que eu devo dizer?
— Que está trânsito, e por isso estou
demorando.
— Resumindo: você mentiu dizendo que
estava na delegacia, e na verdade estava perdido
no meio das pernas de uma mulher, acertei?
— Basicamente.
— Bia, fica com essa função... não sou boa
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com mentiras, nunca dá certo.


— Dispenso a Dona Paula nervosa.
— Muito amiga você hein!
— Você já foi mais nossa amiga, Bia. — David
diz.
Atendo o celular.
— David, eu vou te matar! Onde você está,
menino!
— Oi Paulinha, estamos no trânsito. Está
tudo parado.
— Oi, meu amor. Já pensei que ele estava me
enrolando. Beatriz vem? Estou com saudades
dela.
— Vai sim, está aqui conosco. Logo
chegaremos.
— Está bem. Beijos, minha querida!
— Beijos, gostosa!
Ela ri e desligamos.
— Prontinho.
— E depois diz que não sabe mentir. — Ele
ri.
— Tenho meus momentos.
— Sei.
— Liziara, é impressão minha, ou o cara do
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carro ao lado está te tarando? — Beatriz diz. —


Odeio homens que agem assim. Vê se pode uma
coisa dessas!
Olho e rio. Não é que o palhaço está mesmo?
— Que ridículo! Odeio homens assim.
— Vamos ver se ele vai gostar disso.
David joga o carro na frente dele, o cortando,
e ele buzina.
— Você é louco? — pergunto.
— Sei o que faço. Não virei delegado à toa.
— Ok, mas não tenho sete vidas não! —
Beatriz diz.
— Nem eu. Não precisava disso.
— Se continuar, faço pior.
— Não está mais aqui quem falou.
— Que bom que nos entendemos. — ele diz e
dá uma piscadela para mim.
Chegamos a casa da Dona Paula, onde ocorre
a festa da Yasmim.
David pega o meu presente, pois me conhece
e sabe que pode ser que não chegue inteiro.
Henrique e Ana Louise, pais da Yasmim,
quiseram algo mais familiar, pois assim evitaria
o holofote dos paparazzi, já que os Escobar são
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bem conhecidos.
— Até que enfim chegaram! — Daiane, a
irmã mais nova, diz.
— O trânsito estava péssimo. — digo e David
sorri.
— Sei qual é este trânsito. A mim ele não
engana. Sigam para o Jardim dos fundos, mamãe
e Ana estão lá.
Deixamos o presente no sofá e fomos para o
jardim dos fundos enquanto Daiane ficou na
sala.
Dona Paula vem rapidamente nos
cumprimentar, seguida da Ana.
— Achei que não viriam. — Ana diz.
— E perder festinha de criança com muitas
besteiras para comer? Nunca! — brinco.
Sorrimos.
— Beatriz, isso é uma miragem? Não
acredito que veio! — ela diz, e a Bia sorri
timidamente.
— Adoro a Yasmim, faço sacrifícios por ela.
Rimos, pois sabemos ao que ela se refere.
Beatriz e Marcos não se dão bem desde a vez
em que ele foi meio estupido com ela na
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Universidade, e na festa da mesma.


— Cadê o Henrique e o Marcos?
— Nem me pergunte. Quero matar o
Henrique! — Ana diz.
— O que o pateta número um aprontou?
— Esqueceu de encomendar o bolo. Foi com
o Marcos a procura. — Paula diz sorrindo. —
Esse é o meu filho mais velho, uma
responsabilidade absurda. — rimos.
Daiane aparece com a Yasmim no colo. Está
linda, com maiô rosa de bolinhas pretas. Está
muito calor hoje, e a piscina dela está montada.
— Ai que coisa mais gostosa! — Pego ela no
colo. — Parabéns, minha princesinha, mais
linda... e pesada! — Todos riem.
— Liziara, só tenta não cair. — David
provoca.
— Idiota!
— Quer segurar? — pergunto para Bia.
— Claro! Vontade de morder. Está cada vez
mais linda.
— Só não deixe o Henrique escutar isso,
porque vai ficar dizendo que puxou a ele. — Ana
diz.
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— Nem pensaria nisso. — Beatriz ri.


— Por falar nele... — Paula fala.
Olhamos para trás, e ele está entrando com o
Marcos.
— Porra, hoje o mundo acaba! Beatriz. —
Henrique diz dramatizado.
Rio.
Ele nos cumprimenta.
— Quero beijo também! — David pede.
— Cuidado, nem sempre o volume em
minhas calças é uma ereção.
Rimos.
— Marcos, quem diria, sem terno! —
provoco.
— Uma hora tenho que tirar a armadura! —
Me cumprimenta.
Olha para Beatriz, que finge nem o notar, e
assim continua brincando com a Yasmim em seu
colo.
Ele se aproxima dela, e dá um beijo em seu
rosto sem dizer nada, e ela muito menos.
Quando ele se afasta, vejo que ela ficou
vermelha.
— Então David, muito serviço hoje? —
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Marcos pergunta.
— Claro, tio!
— Essa porra não presta nem para mentir.
Passei na delegacia e você estava de folga hoje.
— ele diz, rindo.
— Definitivamente não é meu irmão! Não
sabe nem mentir. — Henrique provoca ainda
mais.
— Seu filho de uma boa mãe! Eu não
acredito que me enganou. E você ajudou, Liziara!
— Paula diz e dá um tapa em seu braço.
— Em minha defesa, fui obrigada! Não foi,
Bia?
— Total! — ela responde com ironia.
— Muito obrigado, pela ajuda! — ele diz
para a gente.
— Lizi, pegue as bebidas lá dentro, por favor.
Preciso ligar para minha mãe, e ver o que ela
quer dessa vez. Nunca vou ter paz, pelo visto. —
Ana diz.
— Claro, mas vou precisar de ajuda se for
muita coisa.
— Vamos, porra louca, eu te ajudo. —
Marcos fala.
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A mãe da Ana é um pouco complicada.


Sempre liga para infernizar a vida dela e pedir
dinheiro.
Entro na cozinha com o Marcos e pegamos as
bebidas na geladeira.
— Por favor, ela nunca vem quando você
está, então não a provoque!
— Nem pensei nisso.
— Obrigada.
Voltamos para fora e colocamos as bebidas
em cima da mesa.
Passamos uma tarde muito gostosa,
brincando muito com a Yasmim e rindo das
loucuras de todos juntos. Cantamos parabéns, e
ela ficou bem cansadinha; o que já era de se
esperar por ter brincado bastante.
Henrique foi trocá-la para irem embora,
porque ela começou a ficar enjoadinha. Bia e eu
ajudamos a limpar um pouco da bagunça, pois
hoje foi a folga da faxineira, e apesar dela vir
amanhã, não queremos deixar tanta sujeira para
ela.
— Vamos? — David pergunta.
— Vamos sim. — respondo enquanto ajudo
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Daiane a carregar os presentes da Yasmim para


o carro do Henrique.
— Se quiser levamos a Beatriz, e você e o
David podem ficar sozinhos. Sei que querem
isso. — Ana diz ao aparecer para ajudar.
— Tudo bem, vou ver com ela.
— Já falei com ela.
— Que rápida!
— Aprendeu comigo. — Daiane diz.
— Depois me diz o que achou do meu
presente e da Bia, e se a gatinha gostou.
— Claro! — ela sorri.
Henrique e Ana se despedem da gente, e Bia
também. Logo foram embora.
Marcos foi em seguida. Agradeci muito por
ele e a Bia não terem se matado depois de tanto
tempo sem se verem, mas pude ver os olhares
que um dava para o outro.
Eu me despeço da Paula e da Daiane, e vou
embora com o David.
Fomos para seu apartamento.
Assim que chegamos, me jogo no sofá e
retiro o sapato.
— Estou exausta.
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— Eu também.
Temos uma regra: Quando um vai para cama
com outra pessoa, nada de sexo entre nós.
— Vai dormir aqui?
— Não sei. Amanhã entro cedo no trabalho.
— Eu te levo.
— OK. Devo ter roupa ainda aqui.
— Tem sim. Vou tomar um banho.
— Pega o controle da TV para mim.
— Folgada!
— Quanta calunia!
Ele ri e me joga o controle.
Depois que ele toma banho, eu faço o
mesmo, e coloco uma camiseta dele, pois as
minhas roupas que estão lá não são nada
confortáveis.
Deitamos na cama. Ele me agarra e deito a
cabeça em seu peito. A TV está ligada, e está
passando um filme.
O celular dele toca e ele atende.
— Oi... Amanhã?... OK... Te aguardo... Beijos...
Ele desliga.
Interrompem o filme para uma alerta.
— Acabamos de recebe a notícia, que Jorge, o
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traficante que comanda uma pequena cidade no


interior do Estado, fugiu da cadeia. A polícia já
está à procura. Jorge foi preso há cinco anos, e
teria que cumprir pena de 20 anos. Foi preso
quando a polícia invadiu a cidade que ele
comanda, e a polícia acabou matando sua irmã.
Se você vir este homem... — Uma foto dele é
mostrada — Ligue imediatamente para a polícia.
O nível de alerta para sua procura é máximo.
Jorge tem um histórico aterrorizante...
David desliga a TV.
— O que foi? Ficou estranho. Parece
assustado.
— Esse filho da puta! Foi por minha causa
que ele foi preso, e eu matei a irmã dele... uma
grande traficante como ele. Quem deu a ele a
pena de 20 anos de prisão foi meu tio. Esse
desgraçado tem um ódio mortal por mim, e se
ele fugiu é porque chegou o tempo de ele fazer o
que disse dentro do tribunal.
— O que ele disse?
— Que mataria a mim, mas começaria por
aqueles que mais amo. Porra!
Ele esfrega o rosto.
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— Ei... calma. Vão encontrar ele. Esse cara


não vai fazer nada.
— Assim espero. Você tem que me prometer
que enquanto ele não for pego, você vai tomar
muito cuidado.
— Eu prometo...
Ele me agarra e me beija com intensidade.
Sua língua explora minha boca em uma invasão
profunda e gostosa. Ele se inclina um pouco
sobre mim e segura minha cintura, morde meu
lábio inferior e encerra o beijo com um selinho.
— Preciso encontrar esse filho da puta antes
que ele encontre aqueles que amo.
— Nada vai acontecer.
— Assim espero, minha maluquinha. Assim
espero!

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Capítulo 2

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Liziara Araújo
David me deixou na boate em que trabalho.
Não consegui dormir nada bem. Ele ficou quase
que a noite toda acordado, levantando e
deitando. Está preocupado; e eu no lugar dele
também ficaria. Ser um Escobar exige muita
segurança, e para piorar, ele é um delegado, o
que complica ainda mais a situação.
Quando começamos a ter uma amizade, ele
sempre me disse que todos que entram para
família, seja da forma que for, passam a correr
riscos; e por isso começou a me treinar, me
ensinar a atirar e lutar. Sou um desastre com
tudo, eu confesso, mas faço porque sei que isso o
deixa tranquilo.
Daniel, o dono da boate, me chama.
— Sim?
— Você está com a cara péssima. Dê um jeito
ou vai espantar nossos clientes. Sair com o
delegado está acabando com você! Passe um
blush e um corretivo!
Sim, ele é gay, e um amor quando quer.

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— Não estou assim pelo que você está


pensando.
— Brigou com ele?
— Não. São alguns problemas pessoais dele,
que acabam interferindo na minha vida e no
meu sono de beleza também. Vou passar um
reboco melhor no rosto.
Ele ri.
Vou para o banheiro dos funcionários. Eu me
olho no espelho e contenho um grito. Estou pior
do que os zumbis de The Walking Dead, e só sei
disso porque o David assiste e me faz assistir
algumas vezes, por livre e espontânea pressão.
Prefiro Arrow, e não é só pelos personagens
gostosões... é que não tem zumbi, e eu odeio
zumbis. Meu foco mesmo é livros. Sempre que
tenho um tempinho, corro para ler algum.
Pego meu kit de maquiagem na bolsa. Passo
um corretivo, um pó compacto e blush. É o que
tenho para o momento.
Não sou feia, também não sou uma Gisele
Bündchen. Tenho um corpo magro e bonito. Sou
alta, meus cabelos são escuros e cacheados nas
pontas, e longos. Uso aparelho fixo —
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recentemente — e odeio. Às vezes uso óculos


porque não está fácil para ninguém. Tenho meus
dias de lutas e glórias com a minha aparência, e
hoje é um dia de muita luta, tipo... uma guerra.
A boate abre mais cedo hoje, porém de dia
fica vazia. Somente quando tem DJ novo na casa,
ou evento, aí sim lota. Funcionamos 24 horas, e
por isso há um revezamento por parte dos
funcionários.
Meu celular toca. Olho e a foto da Lúcia
aparece na tela. — Mamãe.
— Oi, mãe.
— Sua desnaturada, onde está?
— Trabalhando. É, eu vou bem; e a senhora?
— Você nunca diz por onde anda. Sabia que
querendo ou não, tem um pai e uma mãe?
— Sim, e vocês sabiam que tem uma filha? E
não diga que sabem só porque a mídia e seus
amigos lembram que eu existo.
— Como ousa? Nós nos importamos com
você!
— Mamãe, diz logo o que eu tenho que fazer?
— Tem um almoço hoje em casa. Um casal de
amigos de seu pai vem. Você poderia vir com o
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delegado e prometer se comportar. Eles adoram


se gabar, dizendo que a filha é isso e aquilo...
— Nossa, me lembram alguém... só que não
se gabam pelo dinheiro que tem.
— Liziara!
— Meu nome.
— Você vem ou não?
— Vou, mãe.
— Não esqueça de trazer o delegado.
— Vou ver se ele estará disponível. E você
sabe que ele não é nada mais que amigo, não é?
— Sim eu sei. E também sei que todos os dias
almoçam juntos. Não será problema então. Te
espero. Venha vestida como gente, e não como
uma doida que não sabe a diferença entre uma
Prada e uma Louis Vuitton.
— E eu não sei mesmo. Tudo é caro. Prefiro
as bolsas de brechó, que não tenho medo de ser
roubada; e se estragar não irei chorar até o resto
da vida; ao contrário da Prada, e a Louis alguma
coisa, que eu teria que vender um rim para
comprar uma... Na verdade não venderia,
porque não compraria. Pense no tanto de
comida e livros que eu poderia comprar com o
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valor de uma bolsa dessas marcas?


— Você foi trocada no berçário, só pode! —
diz com raiva.
Sorrio.
— Beijos, mamãe. Amo você.
— Beijos. Te espero.
Desligo e guardo o celular no bolso da calça.
Deixo minha bolsa no armário e vou para o
balcão.
Ajeito as bebidas por ordem alfabética. Acho
que assim facilita.
— Oi, gata!
— E aí, Joaquim.
Vou me levantar e bato a cabeça.
— Ai, merda!
— Cuidado. Ainda se mata um dia.
— Eu também acho.
Esfrego onde bati.
— Seu delegado estava passando na TV.
Sinto meu corpo gelar na hora.
— Por que? Aconteceu algo?
— Não. Parece que um cara fugiu, e já teve
uma informação que ele estava aqui na cidade, e
aí o caso foi para as mãos dele.
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— Merda!
— O que foi?
— Um rolo bem grande. E tenho medo de
como isso vai acabar.
— Esse cara é furada. Se meter com um
Escobar é furada. Você mesmo sabe disso desde
que o tal do Henrique se casou com a cliente que
foi acusada de assassinar o noivo.
— Mas foi provado que ela não fez nada. E
tem mais, ambos se amam. Foi amor à primeira
vista. E saiba que eu queria muito um dia ter um
amor como o deles.
— Que seja. Se cuida, os caras vivem no
perigo. Não é brincadeira se envolver com um
delegado. Te conheço desde que entrou na
faculdade, e sei que seu estilo é diferente do
dele... Você não está pronta para enfrentar o que
ele enfrenta. Você foi interrogada por ele e pela
família para resolver o caso da esposa do irmão
dele que eu sei, e colocou eles dentro da festa da
faculdade quando trabalhamos nela...
— Eu não fiz...
— Não minta. Eu sei, te conheço bem.
Sempre quer ajudar, e acho legal isso. Mas desde
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que firmou uma amizade com o delegado, você


vive mais distraída que antes. As vezes chega
machucada pelos treinos que faz, largou a
faculdade, saiu de casa. Você vive para ele, e é
capaz de se colocar na frente dele por um tiro.
Você precisa saber se quando mais precisar, ele
vai ser capaz de fazer algo grande por você. Um
dia você pode precisar muito dele, e ele estar
ocupado... e aí, será que ele vai largar o que está
fazendo para te ajudar, mesmo que seja uma
coisa boba? Pense bem. Você se sacrifica demais.
E falo isso porque gosto de você.
Ele se afasta, me deixando sozinha.
Eu não me sacrifico tanto. Claro que as vezes
queria que tudo fosse diferente e ele fosse uma
pessoa “normal”, mas eu gosto dele e da vida
dele. Eu aceitei a amizade dele assim, mesmo
depois que descobri estar apaixonada, e não foi
apenas por ele, foi pelo pacote completo.
Joaquim é um cara legal, mas as vezes
consegue ser um irritante, que acha que sabe
tudo. E pelo visto, hoje ele está insuportável.
Terei que aguentar, já que é nossa vez de
trabalhar de dia.
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A boate abre.
Joaquim não tocou mais no assunto, e
agradeci por isso.

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David Escobar
Estou parecendo louco desde que soube que
o filho da puta do Jorge fugiu. Não dormi de
noite. Estou uma pilha de nervos. E para ajudar,
fui informado que receberam uma ligação que
ele foi visto aqui na cidade. Dobrei a segurança
da minha mãe e minha irmã. Já falei com o
Henrique e meu tio Marcos para dobrarem a
segurança deles. Mandei seguranças disfarçados
para ficarem de olho na boate que a Liziara
trabalha, e na faculdade da Beatriz. Ela não
convive muito conosco, mas é muito amiga da
Liziara, e quanto mais segurança, melhor.
Cleber, grande policial e amigo, entra na
minha sala.
— Está péssimo.
— E como! Alguma novidade sobre o Jorge?
— Nada. O cara parece fantasma, some e
aparece.
— Precisamos encontrá-lo antes que ele
tente algo.
— Faremos o necessário.

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— Nenhuma notícia da Poliana?


— Parece que já chegou e está vindo para cá.
— Certo.
— Vou com os homens rodar na cidade, e ver
se encontramos algo sobre o paradeiro do Jorge.
— Certo. Vou continuar investigando daqui e
cuidando dos outros casos.
— Vê se relaxa. Chama a doidinha, ela te
anima. — provoca.
— Nem poderei ver ela hoje, e nem sei
quando vou ter tempo. Com o Jorge à solta, a
Poliana chegando para trabalhar aqui, e eu
tendo que ajudar ela nos treinos, vai me deixar
sem tempo.
— Poliana era uma amiga de faculdade sua,
não é? Lembro que você disse algo sobre.
— Sim. Amiga antiga.
— Isso não vai ser bom.
— O que quer dizer? — Eu me ajeito na
cadeira.
— Essa história de amiga antiga não dá
certo. Sou casado e sei o que digo, vai por mim.
— Eu e a Liziara somo apenas amigos, nada
demais. Não tem porque isso ser um problema.
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— Vocês têm uma amizade e um


relacionamento aberto. Mas você é muito idiota
se ainda não notou que ela sente muito mais que
amizade por você. Com a Poliana na área, vai dar
B.O.
— Eu não posso ter relacionamento sério
com ninguém e a Liziara sabe disso. Minha
carreira e meu tempo me privam disso, e estou
bem desta forma. E você está enganado... ela
apenas tem um carinho por mim, assim como eu
tenho por ela. A Poliana é uma amiga antiga e
nada mais. E repito, minha carreira me priva
disso. É perigoso demais. Você soube o que
aconteceu com meu pai, e eu não suportaria
perder mais ninguém.
— Se o delegado diz, quem sou eu para
discordar? Só não diga depois que eu não avisei.
— Que foi? Além de policial é conselheiro
amoroso? Porra, deveria ter dito antes, que eu te
colocaria para arrumar uma mulher para meu
tio. Aquele cara é muito amargo.
Rimos.
— Estou fora do caminho do juiz.
— Bunda mole.
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— Você me ama, fala sério!


— Muito, delicia.
— Vai se foder.
— Posso te prender por desacato.
— Só se você se prender comigo. — Ele dá
uma piscadela.
— Vá à merda!
Ele ri.
— Meu negócio é outra fruta. Então pode
esquecer.
Sai rindo da sala.

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Liziara Araújo
Já está quase na hora do almoço. Minha mãe
vai me matar, mas vou chegar atrasada.
Ligo para o David, que depois de uma
eternidade, atende.
— Hoje o almoço será nível família Araújo.
— digo e escuto sua risada.
— Bem que eu queria aguentar as loucuras
dos seus pais e provocá-los, mas não poderei
almoçar com você hoje.
— Mentira. Não me deixe sozinha! Um casal
de amigos dos meus pais vão estar lá, e minha
mãe me ligou enchendo o saco. Sabe que nunca
dá certo almoçar com eles porque sempre
brigamos. Você tem que ir junto, é um caso de
vida ou morte.
— Eu sinto muito, mas não poderei. Hoje
chega uma nova policial e ela vai precisar de
mim. E tenho muita coisa para fazer.
— OK. Sem problemas. Nos vemos a noite?
— Não sei, mas é provável que não. O dia
será cheio hoje. Na verdade, parece que a

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semana vai ser cheia. Desculpe.


— Tudo bem. Até qualquer dia, então.
— Não fica brava, está bem? É que está
complicado hoje.
— Não estou. Bom, tenho que me apressar.
Tchau.
— Beijos. E boa sorte.
— Valeu.
Desligo.
Fiquei chateada, mas ele tem
responsabilidades. Porém a merda que o
Joaquim disse me veio a memória. Que inferno!
Ele nem sequer disse que o tal do Jorge está na
cidade, e se o Joaquim não dissesse, eu ficaria
até agora sem saber; o que é estranho já que
ontem o David pareceu muito preocupado, falou
o que aconteceu, mas hoje nem comentou nada,
e ele sempre me conta tudo, ainda mais quando
envolve minha segurança. Temos um pacto forte
em nossa amizade: Jamais esconder nada um do
outro, mesmo que pense que esconder protegeria
de algo.
Mas não farei tempestade em um copo
d’água.
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Pego minha bolsa e peço um taxi. Vou para


meu apartamento, e de lá para a casa dos meus
pais. Meu chefe liberou a mim e o Joaquim para
ficar em casa depois do almoço. O movimento
está fraco demais, e hoje a noite é minha folga
Chego em casa e tomo um banho rápido. Eu
me arrumo rapidamente e peço outro taxi para a
casa dos meus pais, pois só pegarei meu carro
amanhã.

Encontro todos na sala. Minha mãe me olha


com alivio, mas a procura de alguém, e este
alguém é David.
— Perdoem meu atraso.
— Sem problemas. — minha mãe falsamente
diz.
Cumprimento os convidados, e em seguida
fomos almoçar.
Como já era de imaginar, minha mãe está
tentando ser sempre melhor em tudo e fingindo
ser boa mãe. O casal, Pamela e Junior, e meus

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pais juntos... não sei distinguir quem é o pior.


Um mais esnobe que o outro. Chego a me sentir
mal perto deles.
— Sua mãe me disse que está saindo com o
delegado David Escobar. — Pamela fala.
— Somos apenas amigos.
— Por mim seriam mais que isso. — minha
mãe rebate.
— Eles só não estão juntos porque ainda
estou analisando se isso seria a melhor coisa. —
meu pai fala. Mentiroso.
— Minha filha está noiva de um empresário
no ramo da tecnologia. O rapaz é um gênio e
muito bem de vida. Marcarei um dia para que o
conheça, Leandro. — Junior diz ao meu pai.
Afasto minha comida. Está me dando nojo
toda essa palhaçada. Eu deveria imaginar que
seria assim, sempre é.
— Soube que largou a faculdade... isso é
loucura. Minha filha está prestes a se formar. —
Pamela me diz.
— Que bom. — digo e meu pai me olha de
lado.
— Nossa filha apenas trancou a faculdade,
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pois vai para uma melhor. — minha mãe


provoca.
— Sei. — Junior diz e toma um gole do
champanhe.
— Achei que teria a oportunidade de
conhecer o David. Sua mãe me falou tanto sobre
ele, mas...
— Ele é um homem ocupado, e eu também.
Eu sinto muito, mas preciso ir.
Todos me olham.
— Liziara... — meu pai diz.
Levanto e saio.
Pego minha bolsa na sala.
Minha mãe segura meu braço me
assustando.
— O que pensa que está fazendo?
— Indo embora. Me solte, por favor. — Ela o
faz.
— Você nos envergonhou!
— Eu? Poupe-me! Vocês pediram para eu vir,
apenas para ficarem se gabando e criando uma
Liziara que não existe para seus amigos, como
sempre fazem. Vocês têm vergonha da própria
filha, e não cansam de deixar isso claro quando
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ficam mentindo para os outros, e me fazendo


uma moça perfeita. Eu não sei porque perco meu
tempo.
— Você é uma vergonha para nós! Não
presta para fazer nada do que pedimos! Cadê o
David?
— Trabalhando, coisa que você não tem
ideia do que seja, já que nunca precisou
trabalhar na vida.
Ela me acerta um tapa na cara, que minha
cabeça chega a virar.
Meu sangue ferve. Estou tremendo de raiva.
Seguro as lagrimas.
— Um dia você vai se arrepender por este
tapa, e tomara que não seja tarde.
Passo por ela e saio.

Chego no meu apartamento, e só então me


permito chorar.
Desde de pequena ela sempre inventou uma
Liziara perfeita para os outros, e nunca disse

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quem eu era de verdade. Meu pai e minha mãe


nunca aceitaram que eu fosse desastrada, doida,
brincalhona, e que não me importasse com
dinheiro, fama ou poder. Eles não aceitam que
eu sou o oposto deles. Já me humilharam tantas
vezes. Quando pequena estudei em um colégio
interno porque eles não queriam me ver. Tinha
finais de semana que nem iam me buscar, só
faziam quando tinham eventos, ou festas em
casa e queriam fazer a família perfeita.
Ela nunca me bateu, e por causa de um
almoço idiota e fútil, ela o fez.
Envio uma mensagem para a Beatriz, para
saber se ela vem almoçar em casa, mas ela diz
que vai trabalhar até tarde.
Eu não quero ficar sozinha, só quero me
distrair, depois de tudo.
Ligo para o escritório da dona Paula e dizem
que hoje ela está de folga.
Vou fazer uma surpresa para ela, que sempre
pede para passarmos um dia juntas. Me distrair
vai ser bom.
Chego na casa dela, e como sou conhecida,
me liberam sem questionar.
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— Luciano, Henrique te mandou embora? —


brinco com o segurança.
Ele sorri.
— Não, senhorita. Ele foi viajar com a família
e levou outros seguranças, e pediu para eu ficar
no controle daqui.
— Que bom que foram viajar!
— Sim. O patrão e a patroa trabalham muito.
— E como. Bom, dona Paula está?
— Está sim... e...
— Valeu. Quietinho, vou fazer surpresa.
Ele me olha estranho e não entendo.
Não tem ninguém na sala e nem na cozinha.
No segundo andar também não.
Desço e faço o caminho para ir até o jardim
dos fundos.
— Acho que o Luciano precisa de um exame
de vistas ou memória. Ou dona Paula saiu e ele
não viu, ou ele esqueceu que ela saiu.
A porta de vidro fume está um pouco aberta.
Olho no vão dela, e não acredito no que vejo.
David, Paula e uma loira bem bonita
conversam e riem enquanto almoçam juntos.
Eu me assusto com a Marcela, a faxineira da
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família. Ela vai dizer algo, mas faço um sinal para


que fique calada. Afasto-me da porta e ela entra.
— Não diga que eu estive aqui.
— Mas, meu anjo...
— Não. Não quero atrapalhar. Era bobagem
o motivo da minha vinda. Vou indo.
— Não vai querer nem um pedaço da
lasanha que a dona Jurema fez? É a sua favorita.
Sorrio.
— Obrigada, mas fica para uma próxima.
Dou um beijo nela e saio.
Encontro Luciano na saída, e agora entendo
o olhar dele. Talvez fosse isso que ele ia dizer
quando o interrompi. Eu me despeço dele, ele
pergunta se quero que algum dos seguranças me
leve, mas recuso.
Se o David não queria almoçar comigo, não
precisava mentir. Era só dizer que tinha que
almoçar com outra pessoa e a mãe dele. Hoje
não é meu dia.
Vou embora, mais magoada e com mais raiva
do que eu vim.

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Capítulo 3

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David Escobar
Levei Poliana para almoçar em casa. Não
porque eu realmente queria, mas porque minha
mãe soube da vinda dela e me intimou a isto. Ela
e eu éramos muitos apegamos na faculdade, e
com isso sempre estávamos juntos. Minha mãe
criava uma expectativa com a gente, porém
mesmo que naquela época eu quisesse algo, não
rolaria. Poliana parecia cortar para o outro lado.
Enfim, eu deveria estar trabalhando com ela
e buscado pelo Jorge ao invés de estar
almoçando.
Minha mãe está animada com ela, e a
conversa flui. Dou risada algumas vezes para
não deixar elas constrangidas por acharem que
estou dando atenção a tudo, quando não estou.
— Que bom que retornou. Eu sabia que não
se adaptaria a tanto tempo no interior. Você é
agitada demais. — minha mãe diz e ela sorri. —
Poliana Gonçalves, é uma moça de adrenalina.
Igual aos meus filhos, que não tem amor a vida e
a mim.

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Sorrio.
— Viver no interior é muito bom, mas
apenas para descanso. Eu realmente gosto de
agitação. Me enviarem para cá foi a melhor
coisa, e não evitei. Quando soube que era para
trabalhar na equipe do David, vim rapidamente.
— Ela sorri para mim, e retribuo para não deixá-
la sem jeito.
Vejo a Marcela disfarçadamente me
chamando.
— Já venho. — digo a elas e me retiro.
Entro em casa.
Marcela está com uma cara estranha.
— O que houve, mulher? Parece que alguém
morreu.
— Senhor...
— David! Ainda não aprendeu?
— David, a senhorita Liziara veio aqui. Ela
pediu para eu não dizer nada, mas ela saiu tão
triste... o Luciano disse que ela chegou estranha
e foi embora pior, e nem aceitou carona dos
seguranças. Estou preocupada. Ela viu vocês lá
fora. Eu a encontrei... coitadinha, estava mal. Um
lado de seu rosto estava bem marcado, e os
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olhos de quem chorou. Nem aceitou lasanha.


— Porra!
— Menino, olha a boca!
— Ela disse para onde iria?
— Não.
— Obrigado por avisar.
Retorno para o jardim.
— Poliana, vamos? Tenho um compromisso.
— Claro!
Ela se levanta junto a minha mãe.
— Vem jantar conosco. Assim matamos mais
a saudade. — minha mãe diz, abraçando-a.
— Venho sim. Quero ver todos.
— Henrique viajou com a esposa e a filha,
mas Daiane e Marcos virão, pode ter certeza.
Hoje aqueles dois não me enrolam. Daiane só
trabalha, e Marcos é um caso a ser estudado pela
NASA.
— Normal isso nos Escobar. — Poliana diz
sorrindo.
Dou um beijo na minha mãe.

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Deixo a Poliana na delegacia.


— Não vai ficar?
— Tenho algo importante.
— Jorge?
— Mais importante que isso.
Ela me olha sem entender e desce do carro.
— Até daqui a pouco, então. — ela diz.
Concordo e ela fecha a porta.

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Liziara Araújo
Estou deitada na sala, lendo um livro, mas
não estou prestando muita atenção. Prova disso
é que já li o mesmo parágrafo cinco vezes.
Olho meu celular toda hora, e não tem uma
alma boa me ligando.
A campainha toca, e só pode ser alguém com
autorização para subir.
— Não tem ninguém!
— Esse ninguém poderia abrir a porta? —
David! Merda.
Levanto e abro a porta.
Ele me olha e sorri.
— Posso?
— Entra. — digo secamente.
Ele entra e eu fecho a porta. Sento no sofá e
coloco as pernas em cima dele.
Ele se senta ao meu lado e puxa minhas
pernas para seu colo.
— Não estaria ocupado? — pergunto.
— Sim. Mas fiquei sabendo que alguém me
viu hoje e nem foi me dar um beijo. Talvez um

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“oi”, pelo menos.


— Eu fui ver sua mãe, mas estavam
ocupados. Seria chato atrapalhar.
— Por que não ficou com a gente?
— Porra, sério essa pergunta? Você mentiu
para mim. Disse que estaria ocupado, e eu,
idiota, acreditei. Então fui ver sua mãe e te
encontro lá com uma mulher. Nós tínhamos um
pacto de nunca mentir. Se ia sair com outra, era
só dizer, caramba!
— Eu não ia sair com ela. Poliana é a nova
policial, foi transferida para cá. Somos amigos da
época de faculdade, e minha mãe soube que ela
estava aqui e pediu para eu levar ela lá para
almoçar.
— E eu sou idiota? Porra, você simplesmente
estava lá rindo e se divertindo. Nem sequer me
disse que o tal do Jorge está na cidade... eu fiquei
sabendo por terceiros.
— Eu não disse para não te assustar, mas eu
ia dizer.
— Mas não disse, e teve oportunidade
quando te liguei.
— Me desculpa, mas não tem motivos para
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você ficar assim.


— Eu... só não estou bem.
Ele vira meu rosto e toca onde minha mãe
me bateu. Ainda dói um pouco.
— Quem fez isso?
— Isso o que? — me faço de desentendida.
— Você sabe.
— O almoço em casa não acabou bem.
— Quem fez isso?!
— Depois do ridículo "circo" que me
convidaram a participar, eu disse algo que
minha mãe não gostou e me bateu. Simples. —
rio nervosa.
Ele acaricia meu rosto.
— Eu deveria ter ido com você. — Ele fica
nervoso. — Que porra ela tem na cabeça?
— Já foi. Agora pode voltar para os seus
compromissos.
Ele sorri.
— Está com ciúme?
— Tanto faz. Vai embora, quero ficar
sozinha. Meu dia não está bom, então não piore.
— Você odeia ficar sozinha, meu amor.
— Não me chame de meu amor. Estou puta
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da vida com você, seu idiota!


— Eu sei, e você tem razão. Me desculpa, eu
devia ter falado sobre o Jorge e que a policial era
uma amiga de faculdade.
— Sim, ainda bem que sabe!
Afasta minhas pernas e se coloca no meio
delas.
— O que pensa que está fazendo? — Quase
berro.
— Me beija.
— Não. Acha que isso resolve o que fe...
Ele invade minha boca. Sua língua entra com
voracidade. Suas mãos vão para cada lado do
meu rosto. Ele se esfrega, e sinto sua ereção em
minha intimidade. Solto um gemido
involuntário.
Crio forças não sei de onde e o empurro. Ele
não insiste e aceita o que fiz.
— Eu tenho que voltar para a delegacia.
— É melhor. Eu iria me sentir uma idiota que
deixa o sexo ser a resolução do problema.
— Você não é idiota. Me perdoa. Não fique
com raiva... Eu sinto muito pelo o que aconteceu
na sua casa.
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— Minha maior raiva foi isso, e acabou


acumulando com minha chateação com você.
Ele me dá um selinho.
— Vai ser corrido, minha vida, mais do que
já é. Preciso encontrar o Jorge, e ajudar a treinar
mais a Poliana, porque ela ainda é nova nisso. O
delegado da cidade que ela estava me pediu esse
favor, e não pude negar, pois quando mais
precisei ele me deu forças para chegar onde
estou. Então não terei muito tempo. Tentarei ver
você, mas não garanto que será frequente.
— Sem problemas. Estarei ocupada também.
— minto.
— Com o que? — pergunta sorrindo. Merda,
tenho que mentir melhor.
— Horas extras na boate.
— Tome cuidado por lá.
Concordo.
— Tenho que ir, já fiquei tempo demais na
rua. — Ele se levanta.
— Qualquer coisa me ligue.
— Sei me virar. — ele respira fundo.
Levanto e abro a porta.
Ele para na minha frente e me dá um beijo
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no rosto.
— Se cuida, minha maluquinha.
— Está falando com uma pessoa que
aprendeu a atirar, então não tente me comprar
com carinho.
— Esse é meu medo. A maioria das pessoas
que morrem afogadas é porque sabiam nadar.
— Relaxa, não sei nadar.
— Você entendeu o que eu disse. — Sorrio.
Ele sai.
— David? — Ele me olha — Não me esconda
mais nada, por favor.
— Pode deixar. — Ele dá uma piscadela.
Fecho a porta e me jogo no sofá.
Polivaca chega depois de não sei quanto
tempo e vem querer tirar meu tempo com o meu
delegato. Estava demorando para eu dançar
nessa merda. Eu preciso me desapaixonar do
David com urgência, antes que pire de vez!
— Vou tomar um banho, porque aquele
idiota me deixou molhada. Que broxe com todas
as mulheres! — Merda, falando sozinha de novo.
Tomo um banho e coloco um vestido.
Pego bolacha e vou para o sofá tentar
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terminar minha leitura.


Depois de horas, termino de ler e fico
encantada, sonhando com uma vida igual à da
personagem. A autora me deixou querendo um
Ian Clarke do livro “Perdida”.
Levanto e pego o pacote vazio de bolacha
para jogar no lixo. Estou entediada.
Escuto barulho na porta e sei quem é.
Beatriz entra já tirando os saltos e se
jogando junto a bolsa no sofá.
— Eu ainda mato aquele reitor. O cara não
sai do meu pé! Estou me sentindo incomodada.
— Eu não confio naquele velho. Toma
cuidado, Bia.
— Tomarei. Mas me diga, por que perguntou
se eu viria para casa? Não almoçou com o
David?
— Não, meu dia foi um inferno.
— O que houve?
— Joaquim falou coisas que me deixaram
pensativa. Almoço com meus pais, e foi daquele
jeito que você sabe bem. Minha mãe me acertou
um tapa na cara. David me escondeu que a nova
policial que chegou era uma amiga de faculdade.
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Encontrei a tal na casa da mãe dele, e os três


almoçando juntos, sendo que ele disse que não
poderia almoçar comigo, porque estaria muito
ocupado... É, acordei com o pé esquerdo.
— Uau! Liziara, seus pais são terríveis. E sua
mãe agora deu para te bater? Por isso esse lado
do rosto meio avermelhado e inchado. — Ela
aponta.
— Ser muito branca faz isso, deixa marca
infinita. — sorrio.
— Ela deixou uma marca infinita dentro de
você. Que ódio. Deveria ter me dito, e eu tinha
dado uma desculpa e vindo para cá.
— Relaxa, já passou. — ela concorda.
— Quer dizer que chegou uma policial nova
que é amiga antiga dele?
— Sim. Nem a conheci e já estou odiando.
— Segue um conselho da solteirona aqui:
Você está apaixonada por ele, e para virar amor
é rapidinho. Se não quiser perder seu delegado,
fica de olho. Amigas antigas raramente são boas
coisas. Quando o passado retorna, quase sempre
vem trazendo um furacão.
— Aí, Bia! Minha paixão pelo o David vai
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acabar. Paixão é passageira. Eu vou me


desapaixonar, já decidi.
— Cuidado para não cansar. Afinal vai ser
difícil, com o sexo, carinho, e o grude da parte de
ambos.
— Nossa, hoje está para me desanimar! —
brinco.
— Estou sendo sincera.
Ela solta o cabelo que estava preso em um
coque.
— Parece estressada. Foi só o reitor ou
aconteceu algo? Aquele velho tentou abusar de
você? Eu castro ele.
— Não! Ficou louca?! Ele não tentou nada.
— Então?
— Aquele juiz, filho da puta! Que ódio!
— Encontrou com ele?! — pergunto
animada.
— Ele foi palestrante hoje na universidade.
— Mentira! Que babado. E ai?
— E ai, que quando terminou, uns
professores, funcionários e o reitor chamaram
ele para tomar um café, e eu tive que ir. Seria
fácil, já que eu não precisaria dar atenção a ele.
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Mas aquele tarado, sempre que ia falar com


alguém, fazia questão de passar se esfregando
em mim. Ainda fingiu que não me conhecia
quando o reitor veio nos apresentar. Que ódio. E
eu não podia fazer nada. Para todo lado que eu
ia, aquele imbecil ia atrás... Arg!
Ela está bem irritada.
— Marcos é terrível. Que cara de pau! Mas
ele é bem gostoso... vai dizer que não gostou das
esfregadas dele?
Ela atira a bolsa em mim e eu desvio.
— Deixa de ser besta! Claro que não gostei.
Eu juro que da próxima vez que ele aprontar
algo assim, eu enforco ele.
— Cuidado, ele é um Juiz. Faça o crime bem
feito, ou ele vai te pegar bem de jeito. — rio.
— Vai à merda! Não sei porque perco meu
tempo com você.
Ela se levanta e pega o sapato e a bolsa. Vai
para o quarto dela. Fico rindo. Esses dois são
complicados.
O interfone toca. Atendo e dizem que é uma
encomenda que deixaram na portaria e pediram
para me entregar.
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Desço até a portaria e pego a caixa, um


pouco pesada.
Subo com a caixa. Entro na sala e me sento
no sofá. Bia está na cozinha.
Abro a caixa e sorrio.
— Delegado mandando presentes, acertei?
Sorrio para a Bia, que está com um pão na
mão.
Ela vem para perto ver o que é.
— Esse é realmente sobrinho do
Juiz! Apronta e tenta agradar.
Rio.
Retiro da caixa um conjunto de lingerie
vermelha. Fico vermelha. Tem um livro, o último
da série Bridgerton, da Julia Quinn. Ele sabe que
amo livros, e faltava apenas o último para
completar a série. Há também uma caixa de
bombons, dos meus preferidos.
— Que fofo, manda lingerie junto com
bombom e livro para amenizar a safadeza. É tipo
mandar uma foto nua e postar nas redes sociais
que é santa. — Bia diz, rindo.
Meu celular toca e é uma mensagem dele:

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Para te animar depois do dia difícil que teve. E fui eu


mesmo que fui comprar, antes que pense que mandei
alguém. Essa lingerie e para usar apenas comigo, ou
arranco o pau de quem estiver com você quando usar ela.
Obs: Espero que goste. Não mandei flores porque não
curto muito, me lembra velório.
Beijos, minha maluquinha.

— Filho da puta! Que ódio. Faz merda e vem


me agradar... e pior que pegou pesado, justo meu
bombom e autora favorita?
— Preciso de um homem assim. Só
aparecem encrencas na minha vida.
— Não arranja porque não quer...
— Porque não encontrei o homem certo.
Homem para mim tem que ser com H
maiúsculo.
— Conheço um!
— Se disser o nome daquele idiota, eu me
jogo dessa sacada!
— Não digo nada.
Respondo a mensagem:

Amei tudo.
Mas deveria saber que suborno é crime.
Vou pensar no seu caso sobre a lingerie. Estou
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precisando relaxar hoje e pensei em sair. Ela pode ser útil,


se é que me entende. Obrigada pelo belo presente.
Beijo, delegato.

Ele responde:

Não me provoque sua atentada!!


(Conseguiu me irritar)

Sorrio e não respondo.


Levo as coisas para o meu quarto.
Meu celular toca e é uma mensagem do meu
chefe pedindo para eu trabalhar hoje à noite,
pois uma das meninas está doente.
Pelo visto eu realmente acordei com o pé
esquerdo.

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Capítulo 4

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David Escobar
Estou na sala de treinamento. Depois que me
despedi de Liziara, comprei os presentes para
ela e vim para delegacia.
Poliana está treinando tiros, e estou
observando. Ela tem equilíbrio quando atira,
mas tem alguns pontos muito negativos que
podem prejudicá-la.
— Abra um pouco mais as pernas. — digo a
ela e ela o faz.
— Assim?
— Isso. Outra coisa, você tem que ver qual
olho te faz ter a melhor mira. Está acertando
quando atira, mas depois de várias tentativas.
— É porque você está me deixando nervosa.
Nunca treinei com um delegado! — sorrio.
— Esquece que sou delegado. Sou apenas o
David aqui.
— Ok.
— Tenta de novo.
Ela respira fundo e tenta novamente, mas
erra.

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— Jamais atire para matar de primeira. O


alvo vai esperar por isso.
Pego a arma e atiro mirando no braço.
— E se ele continuar sendo um perigo, ou
não mostrar que vai parar, atire na perna. —
atiro no alvo, na perna direita. — Ele vai pensar
que você atirou nestes lugares porque falhou.
Provavelmente vai zombar, e então você atire
em algo muito próximo a sua cabeça, como a
parede por exemplo. — Atiro, e a bala passa
raspando na lateral esquerda da cabeça do alvo.
— E se não parar e não tiver outra solução, aí
sim atira para matar. — Atiro no peito do alvo.
Olho para ela, que está boquiaberta.
— Uau. Tipo, uau mesmo. Eu deveria ter
treinado com você quando iniciei.
— Não é minha função, apenas estou te
ajudando. Você teve um bom professor, só está
um pouco nervosa.
— Pode ser. Estou um pouco cansada. Vamos
parar por agora.
— Vamos sim. Eu vou ver se meus homens já
têm alguma coisa.
— Certo. Vou beber água.
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Saio da sala de treinamento e vou para a


minha. Paulo, o escrivão, está nela, se
arrumando para ir.
— Já vai?
— Tenho uma vida fora daqui. Deveria fazer
o mesmo. Passou quase o dia todo treinando a
nova policial.
— Tenho muita coisa ainda.
— Descanse, não vai conseguir procurar nem
um elefante se estiver cansado.
— Seguirei seu conselho, só não hoje. — ele
sorri.
— Não tem jeito mesmo! Qualquer coisa, me
ligue.
— Pode deixar.
Ele sai da sala.
Sento-me na minha cadeira.
Pego as papeladas sobre o Jorge e começo a
reler tudo. Preciso de alguma pista do paradeiro
dele.
Alguém bate à porta.
— Entre. — continuo lendo.
— Cheguei para alegrar seu dia! — Largo o
papel e sorrio.
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— Débora! O que faz por aqui? — ela sorri.


— Meu marido não vai para casa, eu tenho
que vir atrás dele. — Olho para a bela moça, alta,
com lindas curvas, loira, e de óculos. — OK...
Vim a mando do seu tio.
— O que ele quer?
Débora é esposa do policial, e meu amigo,
Cleber. Trabalha para o meu tio.
— Mandou trazer esses papeis aqui. — Ela
retira da bolsa e me entrega. — É sobre o idiota
do seu melhor amigo. — Franzo o cenho — É
lerdo mesmo! É sobre o Jorge. Não entende
ironia não? Eu hein!
— Você não muda mesmo!
— Me amo assim. — sorri.
A porta se abre e é o Cleber.
— Eu não fiz nada! — ele diz quando vê ela,
e isso me faz rir.
— Está se entregando, meu amor? — Ela
ergue a sobrancelha esquerda e cruza os braços.
— Claro que não. O que faz aqui? — ele
pergunta.
— Dar uns pegas no delegado é que não é.
Vim trazer uns papeis, mas já vou indo. O
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Marcos está acabando comigo hoje. Aquele


homem precisa de uma mulher para tirar o
estresse dele. Não aguento mais ouvir meu nome
na boca dele.
Rimos.
— Podem rir mesmo... queria ver se
estivessem no meu lugar. Bom, vou indo, mas
antes preciso comer algo, nem almocei hoje...
OK, não me olhem assim, eu almocei, mas estou
com fome. Estou estressada e fico com fome. Fui,
amores!
Ela contorna a mesa e me dá um beijo no
rosto. Para na frente do Cleber e dá um beijo
nele.
— Estou aqui, pessoal!
— Estou sabendo! — ela diz.
— Eu devia ter continuado sendo policial!
— Não está com alguém porque não quer.
Cadê a desastre? — Olho para ela sem entender
— A porra louca, como diz o Marcos. Está lerdo
mesmo!
— Está na casa dela. E eu e ela não temos
nada além de uma amizade.
— Eu tive essa amizade, e resultou em três
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anos de casamento, até agora.


— Deus me livre! Como aguentou ela,
Cleber? — provoco, e ele se segura para não rir.
— Está pedindo para morrer, essa porra! Fui,
não aguento muito tempo ficar com um Escobar.
Já bato meu recorde com o Marcos.
Um celular começa a tocar, e é o dela. Ela
atende.
— Já estou indo, homem! Estou saindo da
delegacia... Vim de taxi, bati o carro... estou sem
por uns dias, esqueceu? Vou pegar um taxi agora
e já vou... Reclama não! Está achando ruim, me
dê uma carona! Acho bom. Até daqui a pouco.
Ela desliga. Estou rindo como um idiota.
— Como vocês dois sobrevivem um com o
outro? — pergunto.
— Conheço ele há 8 anos, sei como lidar com
a fera. Nossa amizade é tapas e murros, mas a
gente sobrevive. Fui! — Ela joga beijo e se retira.
Cleber me olha e sorri. Ele se senta.
— Por sorte ela não viu a Poliana. Quando
soube que tinha policial nova, e viu quem era,
surtou. Disse que se eu relar nela, ou ela me
olhar, corta minhas bolas fora. Estou fodido!
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— Estamos. Débora e Liziara podem dar as


mãos! Estão morrendo de ciúme. Poliana não é
nada mais que uma amiga para mim e colega de
trabalho para você.
— Para mim realmente é uma colega de
trabalho, já para você...
— Não seja idiota! Vamos, o que tem de
novidade?
— Nada. O cara está como um fantasma.
— Fantasmas não existem, mas ele sim.
Temos que encontrar o filho da puta.
— Está certo. A única pista que temos é que
ele foi visto próximo a rodoviária, mais nada.
— Esse pouco pode ser um muito. Ele deve
estar muito próximo, mais do que imaginamos.
— Mas sua preocupação não é apenas essa. O
que está acontecendo além disso?
— Liziara. Eu e ela somos sempre vistos
juntos. Ela trabalha em um lugar que tem muito
movimento. E se for ela a primeira que ele for
atrás? Ela é toda doida e desligada.
— Quer que eu peça para os seus seguranças
reforçarem a equipe?
— Na verdade quero que envie amanhã
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policiais à paisana, atrás dela. Hoje ela não vai


trabalhar mais, era apenas para ela trabalhar de
dia.
— Pode deixar. Mas ela sabe se virar. É
doida, mas nem tanto.
— Espero que sim.
— Outra coisa... Você confia mesmo que essa
Poliana é apenas amizade?
— Claro. Acredito até que ela goste de
mulher.
— Não acho. O jeito que ela te olha... Tome
cuidado, David, ou vai ficar bem encrencado.
— Porra, entenda, a Liziara e eu não temos
nada. É sexo, amizade e nada mais. Não vejo
motivos para você ficar insistindo nesses
assuntos.
— Quando vai admitir?
— O que?
— Que o que sente pela Liziara é muito mais
que um carinho de amigos. Pare de mentir para
si mesmo. Você fica louco quando ela sai sem
você, quando não dá notícias... Ela ama você
também, e não é um amor de amiga. Uma hora
ela pode cansar. Ela é humana, e não vai
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aguentar esconder o que sente por muito tempo,


ou aguentar você saindo com outras ou com essa
Poliana na área... E o pior que somente você não
vê que ela te ama. — Ele se levanta. — Pense
bem.
Ele sai da sala.
Porra, não aguento mais ninguém insistindo
nesse assunto. Eu não sou idiota, sei que o que
ela sente por mim é muito mais que amizade,
mas eu não posso dar nada a ela além do que já
dou. Já a coloco em risco não tendo um
relacionamento sério, e não quero coloca-la no
precipício, tendo algo com ela. E na verdade,
nem sei o que realmente sinto por ela, não posso
fazê-la sofrer, mais do que já faço as vezes.
Meu celular vibra. É uma mensagem da
Liziara.

Estou a caminho do trabalho. Vou ter que ficar no


lugar de uma menina hoje. Me busca amanhã de manhã?
Pegarei meu carro só amanhã.

Caralho, não acredito. Pior que o Cleber já


foi, deve ter ido para a rua. E quando aquele

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louco sai para a rua, não atende celular. Preciso


que ele mande policiais à paisana para a boate.

Te busco. Qualquer coisa me ligue. Tome cuidado, por


favor. Não fique dando mole para qualquer um e preste
atenção no que faz!

Ela responde:

Relaxa! Beijos.

Relaxar? Com o Jorge à solta, e Poliana me


complicando com a Liziara? Tudo que não dá
para fazer é relaxar. E ainda tem jantar na minha
mãe hoje!

Chego na casa da minha mãe depois de um


banho e trocar de roupa. Daiane e Marcos já
estão aqui, posso escutá-los discutindo.
Entro na sala de jantar.
— Uau, já estão se matando? — provoco.
— Às vezes acho que ele não é meu tio, e sim
um irmão insuportável.
— Ai, essa doeu! — Marcos finge estar
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ofendido.
— Até que enfim chegou, meu filho! —
minha mãe diz, entrando junto com a Dona
Jurema.
— Olha só, Henrique vai ficar enciumado que
está cozinhando para mim, Juju. — brinco e dou
um beijo nela. — Está cheirosa. Não quer ir para
meu apartamento?
— Me respeite, menino! — Ela bate com o
pano de prato no meu braço e sorrio.
Ela deixa a jarra de suco na mesa e se retira.
— Deixe ela em paz. Já basta o Henrique a
atormentando. — minha mãe diz, se sentando.
— O Henrique tem sérios probleminhas, eu
já disse.
— E você tem o que? — Daiane provoca.
— Fica quieta ai que a conversa ainda não
chegou na miss Sabe Tudo.
— Como você é idiota, David!
— Parem os dois. Parece que têm dois anos.
Por favor! — minha mãe repreende.
Olho para a Daiane e começamos a rir.
— Vocês ainda vão me enlouquecer! —
minha mãe fala.
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— Mais? — Marcos provoca.


— Não me provoque, Marcos! — ele sorri.
— Pode deixar, cunhadinha. — ele diz e ela
finge não escutar.
— Cadê Poliana? — minha mãe pergunta.
— Deve estar a caminho.
— Não acredito que não deu uma carona
para ela!
— Mãe, eu não sou chofer de ninguém. Eu
tinha que passar no meu apartamento também.
— Entenda, Paula, ele não pode ficar saindo
por aí com outra mulher, ou a porra louca, deixa
ele de castigo. — Marcos provoca.
— Vá à merda! — digo a ele. — Apenas estou
tentando ao máximo evitar problemas. Já tenho
o suficiente.
— Faz bem. Não gosto dela. Poliana é uma
falsa. Se deixar, ela senta no seu colo e rebola! —
Daiane fala.
— Daiane, tenha modos!
— Só disse a verdade, mãe! Não a suporto, e
não sei fingir.
— Estou com a pirralha. Essa daí é cobra
vestida de ovelha. Tome cuidado! — Marcos
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rebate.
— Não sei porque agem assim. Ela é uma boa
moça, um pouco vulgar as vezes e oferecida, mas
é boa moça. Porém jamais desejaria ela para
algum dos meus meninos... mas não escolho,
infelizmente.
— Mãe, eu não quero nada, nem com ela e
nem com ninguém.
— E a Liziara sabe disso? — Marcos
pergunta sorrindo.
— Porra, chega desse assunto. Vamos
comer? — Estou irritado.
— Vamos esperar mais um pouco para ver se
ela vem. — minha mãe diz. — E cadê a minha
menina?
— Trabalhando. — respondo.
— Estou com saudades dela. Ela anima
qualquer um. — não consigo evitar e sorrio.
Minha mãe se levanta sorrindo. Viro para
trás.
— Que bom que chegou! — minha mãe diz
educadamente.
Poliana está com um vestido preto, justo, de
mangas longas, um pouco acima dos joelhos. E
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sapatos pretos. Sorrio.


Estou fodido, em tudo sempre terá um pouco
da Liziara. O vestido é idêntico ao que eu dei a
ela para irmos a um evento beneficente no mês
passado. Porém na minha maluquinha ficou
muito melhor.
— Desculpem a demora. Estava um pouco
ocupada.
— Não tem problema! — minha mãe diz.
— Daiane, quanto tempo! — ela se aproxima
da Daiane, que agora está de pé e cumprimenta.
— Pois é. Mas cá estamos nós... de novo... —
Daiane diz e bufa. Minha mãe olha feio para ela.
— Marcos! — Ela cumprimenta, a ele que
não emite um som sequer.
— Sente, querida! — minha mãe pede.
Ela se senta ao meu lado.
Daiane cochicha em meu ouvido:
— Acho que alguém está tentando imitar a
Liziara. Será que viu a foto de vocês dois no
evento, e quis copiar para te conquistar? — Dou
um tapa em sua perna e ela sorri.
— Vou pedir a Dona Jurema que já pode
servir. Com licen... Ai está ela! — minha mãe diz
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se sentando novamente. — Pode servir, Ju!


— Irei servir, mas antes vim dar um recado.
A menina Liziara, ligou... está tentando falar
urgente com o menino David e não consegue.
Viro rapidamente, e com o coração
acelerado. Mil coisas ruins passam por minha
mente.
— O que ela queria?
— Disse que é para não se preocupar. Não
precisa ir buscar ela de manhã, que vai pegar
carona com um amigo chamado Joaquim. Disse
que vai ficar sem celular a noite toda, pois está
muito cheio a boate, e caso ligue e ela não
atenda este é o motivo.
— Uma porra que ela vai voltar com o
Joaquim! Esse bastardo está começando a me
irritar. E que porra, como vai ficar sem celular? E
se acontece algo?
— Se acalme, meu filho!
— Quem é ela? Parece alguém muito
importe, ficou muito preocupado. — Poliana
pergunta um pouco estranha.
— É a namorada dele que ele não quer
assumir que é a namorada dele. Nossa, que
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confuso! — Daiane diz.


— Sua namorada?
— Ela não é minha namorada. Daiane não
tem o que fazer e fica inventando coisas... Vou
ligar para o Cleber e já venho. Um instante.
— Não pode ser depois? — Poliana indaga.
— Nem tente. Quando se trata dela, ele
cancela uma reunião até com a rainha. Não só
ele, como todos nós, pois fazemos de tudo para
proteger quem amamos. — Marcos diz
rispidamente enquanto saio da sala.
Ligo para o celular do Cleber, mas só chama.
Ligo para a casa dele e depois de alguns toques,
atendem.
— Alô?
— Debi, é o David.
— Você me ama muito... Te vi hoje e já está
com saudades? — brinca.
— Viu só. É muito amor! — ela ri. — O
Cleber?
— Foi na mãe dele.
— Tem como você tentar falar com ele, e
pedir para ele enviar a boate o que seria para
amanhã? É urgente.
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— Peço sim. Aconteceu algo?


— Não, e quero evitar que aconteça.
— Vou ligar na minha sogra e falo com ele.
— Obrigado.
— Beijos!
— Beijos... Sonha comigo... — provoco.
— Pode deixar, será um sonho bem erótico!
— Débora! — ela ri.
— Diz o que quer, o ouve o que não quer! Até
mais.
— Até.
Desligo.
Retorno e todos me olham.
— Então? — Daiane pergunta.
— Já resolvi. Vamos jantar? — pergunto para
mudar de assunto.
Poliana me olha estranhamente e disfarça
com um sorriso.
Dona Jurema nos serve. E assim começamos
a comer.
— Então, Poliana, veio para ficar mesmo? —
pergunto.
— Pelo que parece, sim. Me transferiram
para cá com uma oportunidade melhor para
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mim. Quero aproveitar.


— Está ficando onde? — Daiane pergunta.
— Em um hotel. Estão pagando até eu
arranjar um lugar.
— Não te ofereço um lugar por um tempo,
porque só temos um sítio longe, uma casa na
praia; e acredito que vá querer um pouco de
privacidade, e não ficar em uma casa
movimentada. — minha mãe diz.
— Sim. Privacidade é ótimo. — ela diz
sorrindo.
— A quanto tempo virou policial? — Marcos
pergunta.
— Não tem nem um ano. Quando terminei a
faculdade, fui fazer cursos.
Marcos concorda e bebe o vinho.
— Fiquei sabendo que o Henrique se casou, e
tem até filha. — ela diz.
— Sim. Minha primeira netinha, e menininha
da casa. O xodó de todos. A esposa é um amor,
Ana é maravilhosa. Estão casados a dois anos, e
a Yasmim completou um aninho recentemente.
— minha mãe diz orgulhosa e sorrio.
— Que maravilha. Quero muito conhecê-las.
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— São realmente muito amadas. — Daiane


fala. — Agora o projeto é casar o David e o tio.
— Dispenso! — Eu e Marcos respondemos
juntos.
— Entendo-os. Casamento com a vida de
vocês é complicado — Poliana diz e me olha,
sorrindo.
— Complicado é, mas não impossível. Vejo
pelo Henrique. Casou, tem uma linda filha, e
continua trabalhando. Cuida muito delas e faz de
tudo por elas. Sabe conciliar a carreira e a
família. É claro que ambas têm uma imensa
proteção. — Daiane diz.
— Concordo com a Pirralha. O problema dos
Escobar é apenas encontrar a pessoa certa. O
meu caso, é não querer encontrar a pessoa certa.
— Marcos rebate.
— Um dia vai encontrar! — Minha mãe diz.
— E vou adorar assistir a cena.
— Pare com isso que fiquei sabendo que
suas pragas pegam!
— E como! — digo.
Rimos.
— E você não tem ninguém? — minha mãe
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pergunta a Poliana.
— Não encontrei a pessoa certa ainda. — ela
responde sorrindo.
Tomo um gole do meu vinho.
Terminamos de comer e nos retiramos para
a sala. Sento, e a Poliana faz questão de sentar ao
meu lado. Esse grude está começando a me
irritar.
— David está te ajudando a treinar? —
minha mãe pergunta animada.
— Está sim. E estou melhorando cada vez
mais.
— Apenas está pegando rápido o que eu
ensino. — digo e sorrio.
Meu celular vibra e é uma mensagem da
Beatriz. — Franzo o cenho, estranhando.
— Algum problema? — Marcos pergunta em
alerta.
— Beatriz me enviando mensagens.
— A praga sabe atrapalhar uma boa
conversar!
Sorrio.
— Não ligue, Poliana. Beatriz é uma amiga da
família... e ela e Marcos são como cão e gato. —
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minha mãe fala.


Abro a mensagem:

Busque a Liziara na boate, mas não diga que eu disse


nada. E lá vai descobrir o que aconteceu. Ela mentiu quando
ligou na sua casa. A boate foi até fechada. Fiquei sabendo
agora e não tenho como ir lá; estou presa ainda no
trabalho.

— Gente, eu sinto muito, mas tenho um


compromisso. Preciso ir.
— Então eu vou aproveitar e já vou. Me dá
uma carona? — Poliana pede. Olho
disfarçadamente para o Marcos.
— Eu te levo, Poliana.
Ela parece não gostar muito mas concorda.
Despeço-me de todos.

Estaciono na parte de trás da boate. Vejo o


idiota do Joaquim abraçado a Liziara. Ela parece
estar chorando. Quando o filho da puta me vê, dá
um beijo em seu rosto, bem próximo a sua boca.
— Eu vou passar em cima dele com o carro!

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Saio do carro, e fecho a porta com força.


Liziara se vira assustada, e assim que me vê, se
despede do amigo e vem até a mim, se jogando
em meus braços. Abraço-a. O bastardo fica
olhando irritado, e logo entra na boate.
— O que houve, amor? — pergunto a ela.
— Nada, apenas queria um abraço seu.
Sei que está mentindo.
— Entra no carro.
Ela se afasta e entra no carro. Faço o mesmo.
Colocamos o cinto. Ela disfarça e enxuga o olho.
— O que aconteceu? — pergunto colocando
a mão em sua perna.
— Só vamos embora daqui. Depois eu falo,
eu prometo.
— Está bem.
Ligo o carro.

Chegamos em meu apartamento. Ela vai


direto para o quarto, onde retira, os saltos e se
deita na cama.

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Ela cobre o rosto com as mãos e começa a


chorar.
Eu me aproximo dela e a puxo para mim.
— Hey, o que houve? Se não me contar, não
posso ajudar.
Ela começa a se acalmar e se senta na cama,
virada para mim.
— Hoje tinha DJ novo, estava lotado. Estava
tudo normal, mas do nada, eu vi que começou
uma movimentação estranha. Os seguranças
começaram a correr de um lado para o outro.
Começou um bochicho que era briga, e até ai não
me importei. Do nada, chegou um cara todo
estranho encapuzado e armado, e simplesmente
veio na minha direção. Não que eu quisesse que
fosse em outra pessoa, mas é como se ele tivesse
um único objetivo, e esse objetivo fosse eu. Ele
começou a gritar que se chamassem a polícia
seria pior. Quando vi, ele estava me segurando...
Eu não tive ação nenhuma. Eu fiquei estática.
Não conseguia fazer nada. Ele pegou meu celular
e todo dinheiro do caixa. Quando tentei enfim,
me soltar, porque ele estava me machucando,
ele simplesmente cochichou no meu ouvido que
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isso só seria o começo, que ele não foi ali para


roubar, mas todos tinham que pensar isso. E aí
atirou perto do meu pé, jogou meu celular no
chão e sumiu.
Sinto meu sangue ferver. Foi aquele filho da
puta!
Puxo ela para mim.
— Me desculpa. Foi culpa minha. Esse
desgraçado não queria você. Ele quer atingir a
mim.
— Eu não fiz nada. Eu entrei em pânico.
Nada do que você vem me ensinando eu
consegui fazer. Parecia uma mocinha indefesa.
— Amor, você fez bem em não fazer nada.
Poderia ter sido pior.
— Eu me senti um lixo, sem função alguma!
— Liziara, você não é um lixo... é normal o
que aconteceu. Eu vou matar esse filho da puta!
— Não faça nada, não hoje. Só fique comigo.
— Ficarei. Eu prometo que não vou deixar
mais nada te acontecer. Eu prometo.
— Estou com medo.
— Não se preocupe. Esqueça isso. Você está
nervosa. Vá tomar um banho, você tem que
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descansar.
Ela concorda e se levanta, indo ao banheiro.
Quando ela entra no banheiro ligo para o
Marcos.
— O que houve? — ele já pergunta.
— Aquele filho da puta mexeu com a pessoa
errada. Vai ser do nosso jeito agora. Fodam-se as
leis. Eu quero esse filho da puta morto!
— Estava me perguntando quando diria isso.
Quando começamos a agir do nosso jeito?
— Amanhã. Avise Daiane... menos ao
Henrique, ele precisa descansar.
— Pode deixar. Até amanhã.
— Passo no seu escritório.
— Ficarei no aguardo.
— Até.
Desligo.
Entro no banheiro e vejo o sutiã que dei a ela
no chão.
Abro o box, e ela está apenas com a calcinha
do conjunto do sutiã. Está lavando os cabelos.
— Achei que eu tinha dado um aviso sobre
essa lingerie. Eu não acredito que descumpriu
uma ordem de um delegado!
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— David! — ela grita assustada.


Tiro os sapatos e a roupa sob seu olhar.
Entro no box e ela caminha, e acaba
encostando na parede. Massageio meu pau,
ereto.
— Acho que alguém será presa por não
cumprir minha ordem.
— David...
Puxo a com força para mim e invado sua
boca com brutalidade. Desço minhas mãos e
puxo sua calcinha com força, rasgando-a, e assim
jogo no chão. Empurro-a para parede com força,
pego-a no colo, e ela enrola as pernas ao meu
redor, sem desgrudar nossas bocas. Eu me
encaixo em sua entrada e a penetro com força.
Afasto minha boca da sua a tempo de escutar
seu grito rouco sair.
Ela enrosca os braços ao redor do meu
pescoço.
— Nunca... mais... descumpra... uma...
ordem... minha... — digo a cada vez que a
penetro com força.
Ela geme. Alguns fios molhados de seus
cabelos, caem em seu rosto, de uma forma sexy.
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Beijo seu pescoço e dou leves mordidas. Suas


unhas cravam em minha pele, me deixando mais
louco ainda.
Ela joga a cabeça para o lado. Abocanho um
de seus seios, e sugo com força, arrancando um
grito de prazer seu. Eu me afasto um pouco,
tendo visão de seu clitóris. Começo a massageá-
lo, sem interromper minhas estocadas. Ela geme
alto. Uma de suas mãos puxam meu cabelo, e
solto um grunhindo de prazer.
Penetro-a sem parar. Ela grita meu nome.
Cada vez mais fico excitado. Seus seios
chacoalham a cada estocada que dou. A água do
chuveiro deixa meu pau deslizar com mais
facilidade ainda.
Ela começa a se desmanchar, gozando.
Penetro-a mais algumas vezes, e gozo
fortemente chamando por seu nome.
Ela deita a cabeça em meu ombro. Está fraca.
— Preciso te desobedecer mais vezes.
— Safada! — ela sorri.

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Capítulo 5

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Liziara Araújo
Acordei sem o David na cama. Ele apenas
deixou um bilhete, dizendo que tinha que se
encontrar com o Marcos e a irmã. Por mim, eu
passaria o resto do dia na cama, mas tenho
coisas para fazer.
Levanto, e prendo o cabelo.
Entro no banheiro e paro em frente ao
espelho. Estou com cara de quem passou a noite
na balada. Eu me aproximo do espelho para
olhar uma pequena manchinha no meu pescoço.
— Filho da puta, ele fez de propósito. Eu não
acredito que o David me deixou um chupão!
Pequeno, mas deixou! Ele sabe que odeio isso.
Estou me sentindo no início da faculdade
vendo isso, quando eu simplesmente queria
saber de sair cada semana com um cara
diferente, e eu sempre aparecia com marcas.
Acho que é por isso que odeio que me marquem.
Foi uma época difícil. Eu tinha 18 anos, meus
pais me obrigaram a entrar para a faculdade, e
eu, como sempre, só queria ter atenção deles, e

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fazia de tudo para ter. Foi desta forma ridícula


que conheci a Beatriz.
— Esqueça essa época! — Chacoalho a
cabeça.
Escovo os dentes e me maquio, aproveitando
para esconder a marca do David.
Eu me arrumo, e peço um taxi para ir buscar
meu carro na revisão.

Chego no apartamento, depois de um


trânsito dos infernos. Mal peguei o carro e já
estou pirando novamente.
Bia aparece na sala calçando os sapatos.
— Acho que alguém se atrasou. — digo.
— Nem me fale. Virei a noite adiantando
coisas do trabalho e me lasquei.
Ela termina de calçar os sapatos.
— Merda, minha bolsa! — ela sai correndo
pelo corredor.
— Os vizinhos debaixo devem amar quando
você se atrasa e sai correndo de salto! — brinco.

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Vou para o meu quarto e separo uma roupa.


Hoje vou até a dona Paula ver como ela está, e ir
à casa dos meus pais. Preciso pegar meu
notebook que esqueci lá.
Bia entra no meu quarto e pergunta:
— Como estou?
— Depende.
— Depende o que?
— Se for para uma reunião, está sexy sem
ser vulgar. Se for para conquistar um cara, está
com cara de quem quer ser pedida em
casamento.
— Idiota! Tem reunião hoje com o dono da
faculdade, e depois um almoço.
— Está gata.
— Ótimo.
Ela está saindo quando diz:
— Na próxima vez pede para o David não
marcar tanto. Está pequeno, mas está visível. —
Começa a rir. — E se não foi o David, quero ver a
explicação que vai dar para ele. — provoca.
Eu vou matar o David!
Se não fosse ele, eu não teria que explicar
nada, afinal não temos nada sério.
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Vou para o banheiro e tomo um banho. Estou


exausta e suada.

Chego a casa da Dona Paula, e dou sorte por


ela já estar aqui antes do almoço.
Ela está no quarto dela, sentada na cama,
enquanto mexe em alguns papeis.
— Será que alguém tem um tempinho?
Ela me olha e sorri.
— Meu amor! — Ela se levanta. Entro no
quarto e a abraço.
Nós nos afastamos. Fecho a porta.
— Sente-se.
Sentamos.
— Estava preocupada. Não veio nem ao
jantar em casa.
— Que jantar?
— Fiz um jantar. Veio Marcos, e Poliana, uma
amiga antiga do David. Daiane também estava,
por incrível que pareça. Minha filha mora
comigo, e a vejo menos do que meus filhos e

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cunhado, que não moram aqui.


— Ontem foi esse jantar... Por isso dona
Jurema disse que ele estava aqui, e um pouco
ocupado.
— Foi sim. Ele não te falou?
— Não. O David anda bastante misterioso
ultimamente.
— Deve ter esquecido. Ele estava bem
distante ontem. Esse Jorge reapareceu para
tornar a vida dele um inferno.
— Sim. É o Jorge... — digo, talvez para
convencer a mim mesma.
— Você parece triste também. Vocês dois
brigaram?
— Não. Estamos bem... eu acho.
— O que houve, minha menina?
Sorrio.
Dona Paula tem sido uma mãe para mim. Ela
me conhece tão bem que não consigo esconder
nada dela.
— O David está diferente. Ele parece distante
mesmo estando comigo... É complicado.
— Não é complicado, vocês jovens que
complicam. Você o ama, mais do que um grande
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amigo. E ele sabe disso, só não quer acreditar.


Sei que não vai dizer, pois te conheço bem, mas
Poliana não é nada mais que uma velha amiga.
David nunca teria nada com ela. Eu conheço
meus filhos, cada um deles, perfeitamente. Eles
acham que me enganam, mas não conseguem.
Sorrimos.
— Estou fazendo um processo de
desapaixonar do David. Será que consigo? — ela
ri.
— Duvido. Um vive grudado ao outro.
— Nem tanto. Como disse, ele anda distante.
— David foge quando se trata de
sentimentos. Parece que não aprendeu ainda. —
sorri — Ele é igual ao pai neste aspecto. Joseph
era um homem amoroso, mas quando tinha que
demostrar sentimentos, preferia ser com ações
do que com palavras. Se tivesse que dizer... Meu
Deus, fugia como o diabo foge da cruz. — rimos.
— Ele é o mais parecido com o pai neste aspecto.
Talvez seja por isso que foi o que mais sofreu
quando recebemos a notícia que Joseph havia
sido morto em um arrastão no meio do transito.
— Noto a tristeza em seu olhar. — Não pense
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que ele demonstrou o quanto sofreu. Sofria


calado. Sumiu por um tempo em uma longa
viagem. Quase não mantinha contato. Porque ele
sempre foi assim. Se ele tiver que dizer que te
ama, ou se jogar da ponte, ele fica com a segunda
opção.
Rimos.
— Ele é difícil, mas o entendo. Eu fui a
culpada, por me apaixonar por ele. Eu sempre
soube que ele jamais iria ter um relacionamento
sério... pelo menos comigo.
— Porque diz isso, querida?
— Porque o David tem 35 anos, eu tenho 22.
Claro que idade não muda nada, mas enquanto
ele quer saber de caçar um bandido, eu quero
saber de ir para uma balada. Nem a faculdade
terminei porque sou indecisa, e não sei se é o
que eu quero. Sou toda desastrada, maluca. É
difícil. Ele é um delegado, e eu a filha odiada
pelos pais ricos. Ele é um Escobar e eu sou uma
Araújo. São tantos empecilhos, que eu poderia
passar o dia todo falando.
— Deixe disso! Nunca ouviu dizer que os
opostos se atraem? Se dissesse que está
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apaixonada pelo Marcos, eu até acreditaria que


seria um pouco difícil. Mas o David é meu filho
mais extrovertido depois do Henrique. Não é o
que mais demonstra carinho, mas é as vezes o
mais responsável. — sorri — E ser um Escobar
ou ser delegado não quer dizer nada. Quando
conheci Joseph, eu trabalhava na biblioteca da
faculdade para poder estudar nela. Era uma
simples Paula Assis, e isso nunca foi empecilho.
Joseph me amou do jeito que eu era, nos
casamos, tivemos três filhos, e sempre
acreditamos ter controle sobre eles, e vivemos
muito felizes até seu último momento.
Segura minha mão e sorri.
— Será melhor desapaixonar. Vou até fazer
uma listinha de passo a passo. — ela sorri.
— Se conseguir, me avisa!
— Claro! — rimos.
A porta se abre nos assustando.
— As duas das mulheres da minha vida
reunidas, devo me preocupar? — sorrio.
— Estava dizendo para sua mãe como irei
cortar suas bolas, depois do que fez! — Aponto
para a marca no meu pescoço.
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— Liziara! — Paula diz.


— Só ficou aí? Merda! Não fiz direito.
— David! — Paula o repreende.
— Sim, minha rainha?
— Você e a Liziara não tem jeito!
— Eu tenho sim! — digo.
— Melhor eu voltar ao trabalho depois
dessa! — David fala.
Rimos.
— Fica para almoçar? — Paula me pergunta.
— Bem que eu queria, mas tenho que pegar
uma coisa na casa dos meus pais. E depois quero
descansar, porque hoje à noite tenho que
trabalhar.
— Que pena! Mas apareça mais, ou irei te dar
uns puxões na orelha! — Sorrio e dou um beijo
nela.
— Vou indo.
Passo pelo David, que me olha e ergue uma
sobrancelha.
— Não esqueceu de nada, Liziara? — ele
pergunta e Paula ri.
— Não. — respondo.
Saio, e sei que o David me segue.
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— Não preciso de escolta policial! —


provoco.
Ele me puxa, me virando para si.
— Esqueceu disso!
Ele ataca minha boca. Sua língua procura
pela minha com intensidade. Suas mãos vão para
minha cintura. Sinto sua ereção pulsar.
Eu me afasto, empurrando-o.
— O que foi?! — pergunta aborrecido.
— Você nem se quer me disse sobre o jantar
ontem aqui. E me deixou um chupão no pescoço
sabendo que odeio isso.
— Lizi, por favor, não vamos brigar.
— Não estou brigando. Só tentando entender
porque anda me escondendo as coisas. Primeiro
me escondeu que o Jorge está por aqui. Depois
que Poliana é uma amiga antiga. Aí me esconde
sobre o jantar, e agora me deixa com um chupão.
O que está acontecendo?
— Me perdoa por não avisar sobre o jantar.
Eu nem queria vir. Foi insuportável! Mas larguei
todos, para ir até você. Não falei sobre o Jorge
para não te preocupar no trabalho. Eu sempre
faço tudo pensando no melhor para você. E o
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chupão é apenas um aviso para aquele idiota


bastardo do Joaquim.
— Que aviso? Você está testando drogas?
— Que a próxima vez que ele tiver um dedo
em você, será um cara morto!
— Ah... agora eu entendi. Você pode sair com
várias por aí, e conviver com uma policial que é
amiga antiga de faculdade, mas eu tenho que
ficar livre para você me usar e descartar sempre
que quer? E aí, como um ato machista, me
marca? Vá para a merda!
Entro no carro, irritada. Ele me chama, mas
não respondo.
Vou para casa dos meus pais, e agradeço por
eles não estarem. Pego rapidamente meu
notebook e vou para casa.

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David Escobar

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Dias Depois...
Não vejo a Liziara a dias, e não tenho uma
pista sequer sobre o paradeiro do Jorge. Estou
enlouquecendo.
Meu tio e Daiane estão me ajudando na
procura daquele imbecil, mas está difícil… é
como procurar uma agulha no palheiro. Cleber
também tem feito de tudo, mas não posso
arriscar muito com ele, porque não quero que
ele se prejudique fazendo algo fora da lei. É meu
melhor amigo, mas não posso arriscar tanto.
Poliana não desgruda de mim, e tendo que
treiná-la, prejudica mais ainda meu tempo.
Sei que a Liziara deve estar pirando comigo,
porque nem tempo de pegar no meu celular
ando tendo. Está foda a situação, e não sei mais
para onde correr ou o que fazer.
Entro na minha sala. Paulo ainda está
trabalhando.
— Ainda aqui? Pode ir já.
— Estou finalizando umas coisas. E você, já
não era para ter ido?

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— Não quando tem um filho da puta à solta.


— Ele sorri e volta a digitar no computador.
— Essa sua cara não parece ser apenas por
isso.
— Estou com muitos problemas.
— A Poliana veio te procurar. Disse que iria
para a sala de treino.
Caminho até minha mesa e sento na minha
cadeira.
— Ela anda trazendo muitos problemas pelo
visto.
— Por que?
— Sua cara quando eu falei sobre ela.
— É foda, Paulo. Desde que ela apareceu e o
Jorge fugiu, tudo começou a ficar cansativo.
— Parece que não só para você. Cleber
também não estava com uma cara boa.
— Sabe de algo? — pergunto preocupado.
— Ele estava vendo uns papeis aqui na sala,
e eu tive que sair para resolver umas coisas, e
quando sai, Poliana entrou trazendo uns papeis.
Mas a esposa do Cleber chegou na hora, que ele
ajudava Poliana que derrubou umas pastas que
estavam em cima da mesa... Os dois sozinhos...
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— Foda.
— E como. Encontrei ele e a esposa na sala
quando cheguei, e ela saiu bem brava daqui. Aí
ele me contou o que aconteceu.
— Débora não a suporta… e nunca
conviveram juntas.
— Estou com a esposa do Cleber. Não
suporto a Poliana. Acho ela muito vulgar,
oferecida. E me desculpa, mas ela é louca por
você. Essa daí é perigosa, fique de olho.
Alguém bate na porta.
— David? — É a Poliana.
Olho para o Paulo.
— Eu não estou! — cochicho para ele.
Levanto rapidamente e entro no banheiro.
Espero uns minutos até que Paulo diz que já
posso sair.
— Porra, vivi para ver você fugir de mulher!
Rio.
— Hoje não estou com cabeça para nada.
Olho no relógio e são nove horas da noite.
— Estou saindo, não volto hoje. — digo a ele.
— Oh vida boa! — brinca.
— Nem tanto!
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Vou para meu apartamento. Tomo um


banho, me troco e saio.

Estaciono o carro em frente à boate. Preciso


ver minha maluquinha. Está lotado. Tem um
banner dizendo que tem DJ novo.
Vasculho para ver onde irei estacionar, mas
meus olhos param na cena a poucos metrôs de
mim.
Liziara e Joaquim se beijando.
Sinto uma raiva me dominar de uma forma
que nunca senti. Aperto o volante com raiva.
Dou partida no carro e saio dali.
Vou para delegacia, mas só percebo que
cheguei lá quando estaciono o carro. Estou com
tanta raiva que sequer percebi para onde ia.
Saio do carro e fecho a porta. Olho para o
carro na frente do meu e vejo ser do Cleber.
Entro na delegacia. Passo por alguns
policiais, mas devo estar com uma cara péssima,
porque me olham assustados. Entro na minha

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sala e dou de cara com o Cleber.


— Nossa, já matou ou vai matar alguém?
— Estou me segurando para não matar!
Porra!
Dou um chute na mesa, e a mesma se afasta
derrubando algumas coisas que estavam de pé.
— O que a mesa te fez? — brinca.
— Ela nada. Mas o que eu vou fazer… tenho
inúmeras possibilidades.
— Hey... Se acalma. O que aconteceu?
— Tudo anda acontecendo! É sempre
problemas atrás de problemas!
— David, você precisa relaxar antes que faça
uma merda!
— O que faz por aqui? — Ignoro o que ele
fala.
— Vim pegar meu celular que tinha
esquecido.
— Vai sair hoje?
— Não.
— Vamos para uma boate? Vou ligar para o
Marcos e minha irmã. Preciso me distrair, ou
vou fazer uma grande merda.
— Vamos sim. Vou falar com a Débora. Me
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diz qual boate, que a gente se encontra lá.


— A que a Liziara trabalha.
— OK. Fui, e te acalma, porra!
Ele sai.
Ligo para o Marcos e Daiane. Meu tio diz que
vai; já Daiane, nem consigo falar com ela. Essa
menina anda sumindo demais. Se eu sonhar que
tem homem envolvido nessa porra, tranco ela
em uma cela pelo resto da vida.
Chego na boate, e por incrível que pareça,
junto com todos.
Estacionamos e descemos dos carros.
— Só pode ser piada. Me ama mesmo hein,
patrão! Desapega. — Débora brinca. — Hoje era
minha folga e ficou com saudades.
Sorrio.
— Ainda vou te demitir! — Marcos diz
sorrindo e cumprimenta.
— Ótimo. Mais distancia da minha mulher!
— Cleber diz, puxando a esposa e colocando o
braço ao redor da cintura dela.
Rio.
— Relaxa. É linda, gostosa, mas quero
distância! — Marcos provoca.
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— Está querendo morrer, porra? — Cleber


pergunta irritado.
— Que sexy. Dois homens lindos brigando
por mim! — Débora brinca.
— Eu estou aqui, gente, deixem de ser
românticos. — brinco.
— Eu vi… Estou velho, mas não cego! —
Marcos fala.
— Vamos entrar ou não? — Cleber pergunta.
— Agora! — respondo.
Entramos na boate e fomos para a área VIP.
— É folga da Liziara? — Marcos pergunta.
— Não sei dela.
— Agora sei o motivo da mesa ter sido
chutada. — Cleber provoca.
— Brigaram. Ela está trabalhando hoje, e
você veio aqui para provocá-la. — Débora fala.
— Débora! — Cleber a repreende.
— Oi, meu amor. — ela diz sorrindo.
— Não vim provocar ninguém. Apenas vim
aqui porque é a mais próxima, e preciso me
distrair.
— Vixi, a coisa foi feia. Se tivesse tido aulas
comigo, não estaria assim. — Marcos diz
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sorrindo.
— Cala a boca, porra!
— Me respeita, sobrinho! — provoca.
— Melhor pedir bebidas! — Débora diz.

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Liziara Araújo
Estou querendo matar o Joaquim. Como
aquele filho da puta foi capaz de me agarra e me
beijar?
Acertei um tapa na cara dele, e só não fiz
mais porque eu tinha que entrar para trabalhar.
Esse imbecil foi longe demais!
Beatriz encosta no balcão.
— Com essa cara vai espantar os clientes. —
ela brinca.
— Eu quero espantar a praga que trabalha
comigo!
— Essa cara não é apenas porque o Joaquim
foi um idiota. Você e o David não se veem há
dias. O que aconteceu?
Preparo as bebidas dos pedidos.
— Ele é outro filho da puta. Vive mentindo
para mim desde que aquela idiota da amiga dele
apareceu. Nem sequer me liga, e quando eu ligo
da caixa postal. Se ligo na delegacia, ele está
treinando aquela mulher; e se ligo na dona
Paula, aquela vadia está lá. Porra, estou pirando.

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Ele me largou assim que “carne” nova apareceu.


— Lizi, não fica assim...
— Eu estou puta de raiva dele. Estou
cansada de ser apenas uma foda para quando ele
não tem nenhuma mulher para se colocar entre
as pernas.
Termino as bebidas e entrego as pessoas que
pediram.
Joaquim anota mais pedidos e me passa.
— Acho melhor segurar a raiva. Olha quem
está na área VIP, e olha quem acaba de encostar
no balcão.
Olho para a área VIP e vejo David, Marcos,
Débora e Cleber. Olho para onde o Joaquim
atende, e vejo uma loira muito linda. Poliana!
— É mais bonita que na internet!
— Beatriz!
— Amiga, sinceridade sempre!
— Foda... Mil vezes foda!
Eu me afasto do balcão e entro no estoque.
— O que foi? Que cara é essa, menina! —
Daniel pergunta.
— Tem um imbecil no balcão com uma vaca.
E na área VIP um filho da puta!
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— Nossa! Vai com calma, gata! Tamires


chegou e Luciana também. Elas vão te cobrir
agora. Pode ir embora.
— Não...
— Liziara, você trabalhou todos os dias. Pedi
que apenas viesse hoje até que as meninas
chegassem. Vá embora ou vá curtir a noite. Se
ficar é por conta da casa!
— Te amo, sabia?
— Eu sei, sou muito amado! — Dou um beijo
nele.
Vou para o banheiro dos funcionários. Tiro o
avental e pego minha bolsa.
Saio e encontro a Beatriz ainda no balcão.
— Liberada?
— Sim.
— Vamos curtir a noite?
— Sim, mas em outro lugar.
— Nem pensar. Aqui! Mostre para a loira e
para o David que você pode mais!
— Será?
— Sim.
— Certo. Então vá estudar a área primeiro.
— Eu o que?
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— Suba lá, finja que vai falar com alguém e


retorne.
— Nem pensar. Com o Marcos lá, eu não vou!
— OK, iremos juntas. Vamos fingir que nem
o vimos. Tem uma mesa vaga lá. Vamos!
— Estou me arrependendo da ideia de ficar
aqui.
— Agora já era. Vamos logo, mulher!
Subimos para a área VIP. Controlo ao
máximo para não olhar a mesa deles.
— Estão olhando?
— Não sei, porra. Eu não vou olhar! — Bia
diz.
— OK, você é boa em fazer “a que não viu”…
olhe lá.
Ela o faz enquanto caminhamos para a mesa.
Finjo estar falando algo com ela.
— Estão olhando. David não tira os olhos de
você, e a Poliana dele. Marcos está de costas.
— Ótimo.
Tropeço e Beatriz me segura.
— Liziara! — ela diz.
— Foi mal, esses saltos são muito altos.
— Liziara! — Escuto a voz da Débora.
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Não tenho mais como fingir. Olho para eles e


finjo estar surpresa.
Eu me aproximo da mesa, junto com a
Beatriz.
— Se junte a nós! — Débora diz.
— Que coincidência. — digo.
— Sério? — Marcos diz ironicamente.
Cumprimento a todos, até a Poliana, menos
ao David. Beatriz cumprimenta a todos, menos o
Marcos.
“Isso não vai ser bom!”
Cleber puxa duas cadeiras, uma ao lado do
Marcos e uma ao lado do David. Eu me sento ao
lado do Marcos, e a Beatriz ao lado do David,
ficando de frente para o Marcos.
— Vou apresentar, já que ninguém fez.
Poliana estás são Liziara e Beatriz. E meninas,
essa é Poliana, nova policial da delegacia, e que
por pura coincidência, nos encontrou aqui. —
Cleber diz.
— Prazer, meninas. — Ela diz sorrindo.
— Prazer! — eu e a Bia dizemos juntas.
David me olha, e sei que está com raiva de
algo. Eu o conheço bem, e sua cara entrega isso.
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— Pensei que trabalhava hoje. — Marcos diz.


— Apenas tinha que ficar até que as outras
meninas chegassem.
— Trabalha aqui? — Poliana pergunta.
— Sim. — respondo apenas.
— Liziara é a namorada do David. — Débora
diz, e Cleber se engasga com a bebida.
— Eu não sou namorada dele, apenas somos
conhecidos. — David ergue a sobrancelha
esquerda e aperta firme o copo.
— Já ouvi falar sobre você no jantar na casa
da dona Paula. — ela diz.
— Que bom. — respondo.
— E você, Poliana… gostando do trabalho
por aqui? — Beatriz questiona.
— Sim. Estou amando. Trabalhar com David
é excelente. — Ela coloca a mão no braço dele.
— Isso não vai ser bom. — Marcos fala.
— Perdão? — Poliana fala.
— Nada não. — Marcos responde.
Todos começam a conversar e participo,
porém David não se dirige a mim. Poliana fica o
tempo todo passando a mão no David, e ele não
faz nada, parece gostar. Isso está me irritando
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profundamente. Eu me sinto sobrando aqui.


— Gente, o papo está ótimo, mas eu vou
dançar. A Beatriz estava louca por isso.
— Estava? É, estava! — ela diz.
— Então vamos todos! — Débora fala.
— Concordo. — David rebate. — Vamos,
Poliana?
Filho da puta, eu vou matá-lo!
— Claro, David. — ela diz, toda se
insinuando. Está com um vestido bem curto e
justo. E para meu azar tem um belo corpo.
— Eu não irei. — Marcos fala.
— E por que não? Pare de ser rabugento! —
Débora fala, fazendo todos rir.
— Apenas não quero dançar agora. Some
daqui, loira! — brinca.
Estamos todos saindo quando ele chama por
Beatriz.
— Fala! — ela diz sem se virar. Todos olham
para ele.
— Fique.
— Não.
— Fique! — diz autoritário.
— Por que? — ela indaga irritada.
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Ele se levanta, e olha para ela cruzando os


braços.
— Se eu disser, não vai ser bom.
— Ficarei, mas você tem um minuto!
— Bia, se quiser, eu fico... — Não quero
dançar mais, não com o David junto a sua amiga.
— Pode ir, porra louca. Sua amiga estará viva
quando voltar. — ele diz.
— Vamos, Lizi! — Cleber fala.
— OK. Qualquer coisa é só gritar. — digo a
ela sorrindo e dou uma piscadela.
Começamos a descer, mas a Débora fica
olhando.
— Amor, vamos! — Cleber diz.
— Eu quero ver isso. Eu sempre escutei ele
falar dela com tanta raiva, mas não parece ter
raiva dela. Olha o olhar de quem vai devorá-la.
— Amor, por favor! — Cleber insiste.
— OK, vamos! Depois faço ele me contar
tudo.
Descemos e fomos para a pista de dança. O
povo vai à loucura.
OMI - Cheerleader (Felix Jaehn Remix),
começa a tocar. O DJ realmente é bom.
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Começamos a dançar animadamente. Cleber,


eu e Débora, dançamos juntos, enquanto David
dança juntamente, bem colado, com a Poliana.
Não acredito na cena que vejo. Sinto um
embrulho no estômago só de ver.
Eu me afasto. Esbarro em algumas pessoas.
Subo correndo para a área VIP, que está um
pouco vazia agora.
— Merda! — digo ao ver a cena.
Marcos segurando a Beatriz pela cintura, e
quase a beijando. Mas param com meu “merda”.
— Acho que interrompi algo...
— Você é foda! — Marcos diz.
— Desculpa, eu vim pegar minha bolsa que
acabei esquecendo aqui.
— Já vai? — Beatriz pergunta um pouco
nervosa.
— Vou sim.
— Vamos!

Chegamos em casa.

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Sento no sofá.
— Está mal. O que houve dessa vez?
— Nada, Bia. Mas foi surpreendente ver você
com o Marcos.
— Você me salvou! Aquele homem sabe
como hipnotizar uma mulher. Vou tomar um
banho, para tirar o cheiro dele de mim. Arg!
Entra no corredor.
Tiro os saltos, e não consigo mais segurar.
Começo a chorar.
O Joaquim estava certo quando disse tudo
aquilo sobre o David. Eu sempre fui uma idiota.
Foi só aparecer outra mulher e ele me esqueceu.
Fui uma burra! Beatriz tinha razão quando dizia
para mim que os Escobar são para foder o juízo,
e não de um bom jeito. Eu não consigo me
desapaixonar. Estou ferrada. Eu estou mais que
apaixonada por ele… eu estou amando. Eu
jamais devia ter dado continuidade a essa
loucura depois do dia que ele foi até o evento da
universidade junto ao irmão e o tio para coletar
coisas e ajudar a Ana Louise, esposa do
Henrique.
A campainha toca, seguida de batidas na
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porta.
— Liziara, abre essa porta. Sei que já está aí.
— David grita.
— Vai embora daqui!
— Se não abrir, eu a coloco abaixo. Abre
logo, porra!
Abro a porta. Ele está nervoso, seu olhar
entrega.
— Vai embora, por favor!
— A gente precisa conversar.
— Sobre o que? Como fui idiota? Ou como é
bom estar com sua amiga Poliana? Ah, já sei!
Falar sobre tudo isso, e que nada mais pode
acontecer entre a gente.
— Você quer o que? Enquanto estou
trabalhando que nem louco, você está aos beijos
com o Joaquim. E agora quer falar da Poliana?
Nosso trato sempre foi nada de relacionamento,
então não me venha falar sobre Poliana, ou a
porra que for.
— Ah... então você viu ele me beijar. Pena
que não ficou para ver eu acertar um tapa na
cara daquele outro idiota! E sim, nosso trato foi
este, mas eu me apaixonei por você. Vai me
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prender por isso? Vamos lá, me condene, porra!


Eu suportei tudo, mas suas mentiras e sua
aproximação com essa Poliana foi demais para
mim. Posso não ser uma policial, ter um corpão
ou saber lidar com um bandido, mas tenho
consciência de quando sou feita de idiota! E tem
mais, se não posso falar de quem quer que esteja
com você, não venha falar de qualquer homem
que esteja comigo. Direito iguais, querido! —
grito.
— Eu nunca te fiz de idiota! Se você se
apaixonou por mim, a culpa foi extremamente
sua!
— Veja só, concordamos com algo. —
respondo na ironia. — O seu problema é que não
sabe se contentar apenas com uma, tem que ter
várias. Passei dois anos sem ter ninguém além
de você, e nunca te exigi o mesmo. E se tivesse
saindo com alguém, não precisaria ficar me
esfregando com ele na sua frente! Uma pessoa
me disse que eu estava largando minha vida por
você, e eu realmente fiz isso e maldita a hora que
fiz.
— Está querendo jogar as coisas na minha
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cara? Ótimo, vamos então colocar tudo em


pratos limpos. Eu nunca te pedi para não ficar
com mais ninguém. Também nunca mandei
largar nada por mim. Se ficou comigo e largou
tudo foi porque quis! Deixa de ser uma vez na
sua vida uma menina, e seja uma mulher e
assume suas atitudes.
— Que? Eu não ouvi isso. É essa menina aqui
que te fazia implorar por sexo. Essa menina, que
te acalmou quando ninguém mais podia. E essa
menina, que te entendia quando ninguém era
capaz. — Limpo as lagrimas com as mãos — E é
essa menina que te manda sumir daqui neste
momento, e sumir para sempre. E te aconselha
que uma vez na vida, pare de usar essa máscara
de delegado Escobar, e mostre que não passa de
um moleque!
Bato a porta com força e tranco.
— Liziara! — ele grita e soca a porta.
Beatriz aparece de toalha e com espuma no
corpo.
— O que está acontecendo?
Não consigo dizer. Apenas choro.
Ela abre a porta.
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— David!
Ele olha para ela de toalha, e ela fica
ruborizada.
— Queremos dormir! — um vizinho grita.
— Vá embora, David. — ela diz.
— Eu não vou. Preciso terminar minha
conversa com a Liziara!
— Você está alterado, bebeu. Vai embora.
Amanhã vocês conversam. É tarde. Os vizinhos
estão reclamando. Por favor.
Ele me olha.
— Isso não acabou.
— Acabou sim, e a tempos, apenas você não
viu. — digo a ele.
— Eu vou voltar!
— Tchau, David! — Beatriz diz.
Ele se afasta e ela fecha a porta.
— Eu nunca mais quero ver esse filho da
puta! — grito de ódio.
Ela vem até a mim e me abraça, me
molhando toda.
— Amiga, vai passar. Vocês vão se entender.
— Nunca brigamos assim. Ferimos um ao
outro demais hoje. Não tem perdão. David foi ao
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limite.
— Shiu... Vou terminar meu banho. Vá tomar
banho, e depois iremos assistir algum filme e
comer besteiras. E amanhã será um novo dia.
— Um péssimo dia, pelo visto.

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Capítulo 6

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Liziara Araújo
Faz dias que não vejo o David, e não tenho a
mínima vontade de ver. Ele me magoou muito.
Foda-se se fui idiota, ciumenta, burra. Não
importa. Ele não tinha o direito de me dizer
tantas merdas como fez!
Sei pela mídia notícias dele e da família dele;
e não porque eu fico procurando, mas porque
calha de eu encontrar acessando sites, redes
sociais, essas coisas. O canalha ainda deixou
nossa foto juntos no whatsapp. Sei também que
já foi a dois eventos com a tal da Poliana. A
família dele estava junto, mas mesmo assim isso
me deixa com raiva. Ele poderia tanto ser como
o irmão dele, Henrique, um homem amoroso,
que sabe demonstrar isso. Ana Louise foi uma
mulher de sorte, e fico feliz por ela ter um
Henrique em sua vida. Já eu sou cagada no amor,
família e amizade. Bem, minha amizade com a
Beatriz continua boa, e espero que dure muito,
porque perder ela também seria demais para
mim.

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Mas o que me deixa mais puta de raiva é ver


tantos elogios que o David faz a Poliana na TV e
jornais quando são entrevistados sobre o caso
do Jorge; e por sinal, o filho da puta ainda não
apareceu. E para minha tristeza, a policial
intrometida está ajudando no caso e recebendo
treinos do David. Ela é linda também, com um
corpo de dar inveja, e parece ser boa no que faz.
Tudo oposto de mim. Merda, estou na fossa
mesmo, me lamentando e me rebaixando.
Acorde Liziara, você é forte e nunca precisou ficar
assim, e não vai ficar agora.
Fico assistindo a série Arrow, ao mesmo
tempo que leio No mundo da Luna, da Carina
Rissi. Sim, eu consigo fazer as duas coisas ao
mesmo tempo.
A porta da sala se abre.
— Se estiver ainda na fossa, eu me jogo da
sacada! — Beatriz diz se jogando no sofá ao lado.
— Estou muito bem. Lendo e assistindo
séries.
— Você não sai de casa mais!
— Saio para trabalhar.
— Isso não conta, Liziara. Ele vive te ligando,
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e tentando contato...
Sim, ele vive fazendo isso, mas em nenhum
momento veio realmente atrás de mim. Nada se
resolve por telefone.
— Problema dele. Eu tenho mais o que fazer.
— Eu sempre disse que os Escobar são para
foder o juízo, e não é no bom sentido.
— Estou bem, Bia. Relaxa.
— Sua mãe não te procurou mais? — ela
muda de assunto.
— Não, desde o almoço desastroso.
— Amiga, se benze, reza, ora, chama o Papa,
mas faça algo para tirar a nuvem negra de cima
de você. — ela ri.
— Palhaça. Como eu sofro! — digo
dramatizada.
— Atriz P, você precisa reagir. Não dá para
ficar vendo ele bem, e você fingindo estar.
— Atriz P? — franzo o cenho.
— Você tem uma cara de atriz pornô quando
está de óculos.
— Beatriz!
Ela ri.
— Sou sincera, meu amor! Vou tomar banho
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e comer. Hoje foi difícil o dia.


— Não me diga que aquele reitor idiota fez
algo!
— Relaxa.
— Bia, tome cuidado. Ele cerca muito você.
— Eu preciso do emprego, e se ele tentar
algo, mato ele.
— Tome muito cuidado!
— Pode deixar. Vou para o banho.
Ela sai da sala com sua bolsa. Sorrio.
Como ela aguenta trabalhar o dia todo com
esses saltos? É um maior que o outro a cada dia!
Meu celular vibra e é uma mensagem do
Daniel, meu chefe:

Gatinha, preciso de você hoje. Te pago a mais se vir.


Beijos. Obs: Capriche na maquiagem, e não me venha como
uma louca, que tenho cólicas só de imaginar.

Sorrio.

Vou sim. Beijos, gato!

Daniel é um amor. O melhor chefe que eu


poderia ter. E como preciso de grana, eu vou.
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Saio da Netflix e desligo a TV. Fecho o livro e


vou para meu quarto.
Separo a roupa de hoje e arrumo minha
bolsa. Meu celular toca e aparece a foto da
Daiane.
Atendo.
— Oi, Dai.
— Oi? Oi uma porra. Libera a minha subida,
precisamos conversar seriamente!
— OK! — Desligo o celular.
Vou até o interfone na sala e libero a subida
dela.
Minutos depois a campainha toca. Abro a
porta, e ela entra e me cumprimenta.
— Precisamos conversar e a sós. Bia está?
— No banho.
— Vamos para seu quarto. Melhor.
Concordo.
Caminho até meu quarto e ela me segue.
Entramos e eu fecho a porta. Ela se senta na
cama e eu permaneço de pé.
— O que aconteceu?
— Como assim?! — pergunto.
— Você sumiu. Minha mãe está muito
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preocupada, e eu também. A Poliana vive em


casa e na cola do David. Meu tio não sabe o que
houve, já que esse era o seu papel, e não o dela.
O David nem sequer fala de você e está bem
estranho. Tentei descobrir com o amigo dele, o
Cleber, mas nem ele sabe o que aconteceu. O que
houve?
Respiro fundo.
— Brigamos feio, e desde então não nos
falamos.
— Foi tão tensa a briga ao ponto de ele
matar?
Arregalo os olhos e sinto um aperto no
coração. Engulo a seco.
— Matar?! — pergunto apavorada.
— Teve um assalto a banco hoje, e o David
matou um dos bandidos quando não tinha
necessidade. Você sabe que ele jamais atira para
matar, a não ser que seja a única opção. Mas ele
teve várias opções hoje, e mesmo assim atirou
certeiro. Foi a porra de uma burocracia terrível
para amenizar a confusão toda e acalmar o
delegado geral. Porra, o David está
descontrolado.
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— Eu não posso fazer nada. Eu não pedi para


ele vir me humilhar. E não pedi para ele me
deixar de lado e ficar com a Poliana. Ele escolheu
isso, e merece conviver com isso.
— Certo. Ele é um idiota, mas é meu irmão e
não vou deixar ele se prejudicar. Ele está assim
porque está longe de você. Liziara, por favor, dê
uma chance a ele… Nem que seja para dar na
cara dele. Eu apoio, mesmo que seja apenas para
socá-lo.
— Me desculpa Daiane, mas ele escolheu
isso. Ele é bem maduro para decidir o que quer e
ver as próprias burradas. Ele nem sequer teve
coragem de vir pessoalmente me pedir
desculpa!
— Como meu irmão pode ser tão anta as
vezes? É um pateta mesmo! Eu tenho que ir,
tenho um compromisso agora. Mas por favor,
tentem se resolver… ou tenho medo de como
isso vai acabar.
Ela se levanta. Levo ela até a porta. Nós nos
despedimos e ela se retira.
A Bia aparece na sala e me olha estranha.
— Aconteceu algo?
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— Nada. Vamos fazer algo para comer?


Ela concorda.
Preparamos o jantar e sentamos juntas a
mesa para comer.
— Vou trabalhar hoje.
— Vou com você. Quero me distrair, e, sei
lá… estou com vontade de ficar próxima de você
hoje. Não sei, uma sensação estranha.
— Credo Bia. Sai pra lá.
Bato na mesa e ela sorri.
Terminamos de jantar. Ela diz que limpa
tudo enquanto me arrumo.
Tomo um banho. Coloco uma calça jeans
preta, uma blusa branca de alcinha e sapatilhas.
Hoje é sexta-feira e lota demais a boate, e não
vou aguentar ficar de salto.
Faço uma maquiagem boa no rosto e arrumo
meu cabelo. Passo perfume e coloco uma
correntinha com a torre Eiffel de pingente.
Pego a bolsa e saio do quarto.
Beatriz já está pronta me esperando.
— Que mulher rápida!
— Muito! — ela ri.
Pego a chave do meu carro e a derrubo sem
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querer.
— Merda! — digo vendo o que aconteceu. —
Quebrou. Jura? Já derrubei de tantos lugares e
uma queda idiota faz quebrar!
— Vamos com o meu.
— Relaxa. Tenho a outra chave. Essa acho
que foi a que estava com defeito já. Quando
deixei o carro na revisão deixei as duas, e depois
não sabia qual estava boa. — Deixo a bolsa no
sofá. — Já venho.
Vou para meu quarto e começo a procurar a
chave reserva.
Guardei tanto, que guardei de mim mesma!
Vou até o último lugar que pode estar, a
última gaveta da cômoda. Costumo guardar ela
embaixo das roupas… não sei porque, é uma
mania.
Puxo as roupas do fundo da gaveta e
encontro algo além da chave. Uma das armas do
David.
Na hora me vem o que ele disse quando
deixou aqui.
— Ela sempre vai estar carregada. Se algo
acontecer, jamais mostre que está armada. Pegue
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a pessoa de surpresa, e não tenha medo, pois


estará agindo em legitima defesa. Meu mundo é
perigoso, e quando você entrou nele, os riscos de
vida e segurança te ampliaram. Se alguém entrar
aqui ou você for para um lugar perigoso, use ela,
ainda mais se eu não estiver por perto.
Sinto um calafrio estranho. Pego a chave e
guardo a arma como estava antes.

Chegamos na boate, e está lotada como eu


imaginava. Daniel liberou a entrada da Bia
gratuita.
Descubro que ficarão apenas eu e as duas
novas funcionárias no balcão, porque foi
contratado garçons novos para ficar circulando
pela boate. E os outros antigos funcionários
estão de folga.
Começo a trabalhar. Atendo aos pedidos e
dou atenção a Beatriz. Ajudo as funcionárias
com algumas dúvidas. Hoje tem aniversariante, e
com um monte de gente, fiquei responsável por

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fazer as bebidas da mesa deles também.


A Bia entra atrás do balcão enquanto pego
bebidas embaixo dele. Ela se agacha ao meu
lado.
— Vou me arrepender de dizer isso, mas se
eu não estiver louca ou bêbada, tem um cara um
pouco distante do balcão que lembra muito a
foto do tal do Jorge que saiu no jornal.
Solto a bebida com força e ela quebra.
— Não pode ser. Como ele entraria aqui com
um monte de seguranças e com a foto dele
circulando por tudo quanto é lugar? Se bem que
quando assaltaram... Merda, claro que pode ser
ele. Por isso o calafrio estranho que senti.
Sensações ruins nunca são em vão… aprendi isso
na época da faculdade de psicologia.
— O que vamos fazer? Precisamos ligar para
o David.
— Não! Antes preciso ter certeza que é ele.
— Isso é loucura! Ele não veio à toa, veio por
sua causa!
— Eu sei. E não irei recuar. Posso ser mais
que uma menina, e bem melhor que a Poliana.
— Pare de ser louca! Isso não é hora de
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provar nada.
— Confie em mim!
Levanto e ela faz o mesmo.
Ela cochicha em meu ouvido
disfarçadamente onde está o cara. Olho e o vejo.
A luz é escura e as luzes que piscam atrapalham,
mas realmente parece o tal de Jorge. Ele sorri, e
sinto novamente o calafrio.
— Preciso limpar isso aqui. Daniel vai me
matar.
— Pegue a vassoura e eu fico aqui te
cobrindo. Não faça nenhuma loucura!
— Obrigada, Bia. Pode deixar.
Olho para o cara, e ele sai pela saída dos
fundos da boate.
Saio dali e olho para ver se a Bia me olha.
Quando ela se distrai, eu saio em direção a saída
dos fundos da boate, onde tem as latas de lixo…
nada demais além de uma rua morta que
somente saímos para pôr o lixo para fora.
Preciso saber se é ele e assim ligar para a
polícia.
Saio e a rua está um pouco escura. Não tem
ninguém. Finjo mexer no lixo.
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Escuto passos lentamente.


Sinto um medo terrível. Tento entrar
novamente, mas mãos me agarram. Sei que caí
em uma cilada, e sei que o pior pode acontecer.
Mas não posso ter medo, tenho que ser forte. Eu
tenho que conseguir.
Tento me soltar, mas meu nariz e boca é
tapado por um pano com um cheiro forte de
alguma mistura com álcool. Tento não respirar
isso, mas é inevitável. Meus movimentos
começam a ficar fracos e minha visão turva.
A última coisa que escuto é:
— Te peguei branquinha!

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David Escobar
Estou na delegacia com o Cleber e Poliana.
Estamos vendo estratégias para encontrar o
Jorge do jeito Escobar.
Estou um inferno, sem cabeça para nada.
Ficar longe da Liziara está sendo difícil demais.
Só quero que esse inferno termine logo. Sei que
magoei muito a ela, e que talvez ela jamais me
perdoe, porém preciso tentar conquistar seu
perdão. Mas com a situação desse jeito, não tem
como, simplesmente não dá. Eu me sinto um lixo
longe dela, e a cada dia piora. Me prejudiquei ao
assalto no banco, mas naquele momento
descarreguei a raiva que estou guardando desde
a briga com a minha maluquinha. Estou fodido.
A porta da sala se abra fortemente. Olhamos
assustados. Marcos e Beatriz entram juntos.
Beatriz está pálida.
— Não acredito. Vivi para ver uma mulher te
denunciar, tio! — brinco.
— Eu vou acabar com sua vida, sua vadia! —
Beatriz grita.

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Ela vai para cima da Poliana e acerta um tapa


na cara dela com força. Marcos corre para
segurá-la.
— Você é louca? Isso é um desacato a
autoridade! — Poliana grita e tenta ir para cima
da Beatriz, mas a impeço.
— Foda-se a lei! Foi por sua culpa... E sua
culpa David! — ela grita desesperada, chorando.
— Beatriz, o que aconteceu com a Liziara? —
grito.
— Ele levou ela. Ele a levou! — ela grita
desesperada e Marcos a segura.
Ele a coloca sentada na cadeira. Ela está
tremendo.
Sinto meu mundo desabar.
— O que realmente aconteceu? — pergunto
tentando ser calmo. Meu coração está um
inferno.
— Estávamos na boate e vimos um cara
parecido com o Jorge. Ela saiu para pegar a
vassoura para limpar a garrafa que ela tinha
quebrado, mas eu deveria ter desconfiado que
ela iria atrás dele. O filho da puta sabia que ela
iria atrás quando ele saísse. As câmeras da boate
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mostraram ela saindo para os fundos da boate,


onde ela saiu e depois sumiu! E tudo para provar
que era melhor que essa vadia que fica se
jogando para cima de você, e provar que não era
uma menina.
— Eu vou matar aquele filho da puta. Eu vou
matar! — grito e jogo tudo da mesa no chão.
Pego a arma na gaveta da mesa e me viro
para sair da sala. Marcos me segura.
— Me solta, porra! — grito.
— Você não vai sair daqui assim! Não vai
resolver nada nesse estado! — ele grita comigo.
— Eu mandei me soltar! — Dou um murro
nele e me solto.
Cleber me segura. Marcos vem para cima de
mim, mas Beatriz se põe na frente dele.
— Parem os dois! — ela grita.
— Isso não é hora para brigas, caralho! —
Cleber diz.
— Você me respeite, David. Sou teu tio,
porra! Você nunca me levantou a mão, e agora
me dá um murro? Não me faça perder a merda
da paciência com você. Se acha que sair daqui
desse jeito vai fazer alguma coisa, está
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enganado. Não vou permitir que se coloque em


risco. Vamos pegar a Liziara de volta, mas antes
temos que agir com calma. Mete a porra da
calma nessa cabeça e se controle!
Cleber me solta e me ajeito. Jogo a arma na
mesa.
Poliana se aproxima, colocando a mão em
mim.
— Tira a mão, porra! — falo e ela recua. —
Se coloca na porra do seu lugar!
— Mas David, eu só queria...
— Você não quer caralho algum. Eu sou o
delegado nessa merda. Você apenas obedece! —
grito com ela. A mesma concorda e seus olhos
exibem raiva, mas foda-se.
Se alguma coisa acontecer com a Liziara, eu
nunca vou me perdoar… nunca.
— Desculpa, tio!
Ele concorda e se senta na cadeira. O canto
da sua boca está sangrando.
— Pegue algo para ele limpar o sangue. —
Cleber diz a Poliana, e ela assente.
— Vou reunir todos. Quero saber o que a
equipe à paisana fez que não impediu! — digo.
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Poliana vem do banheiro com papel e a


Beatriz pega.
Beatriz começa a limpar o Marcos.
— Não preciso de babá. — ele diz.
— Cala a boca! E não me tire do sério,
porque não tenho unhas grandes à toa. E hoje
para eu matar um, é apenas um estalar de dedos
que faço.
— Nós vamos encontrá-la, David! — Cleber
disse.
— Vamos, ou não me chamo David Escobar!

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Capítulo 7

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Liziara Araújo
Acordo um pouco zonza e com dor de
cabeça. Meu estomago está embrulhado. Meu
corpo, dolorido. Tento me mexer, mas estou
completamente imobilizada. Olho ao redor e não
reconheço o lugar que estou. É um quarto, e não
parece ser de um hotel, mas de um apartamento
ou casa.
Onde estou?!
Tento me soltar, porém não consigo.
A porta do quarto é aberta. Jorge entra
sorridente. Seu olhar é assustador. Parece um
louco.
— Até que fim acordou, branquinha.
— O que você quer comigo?
— Com você? Nada. Mas com seu
namoradinho, tudo.
— Eu não sou namorada do David, seu
idiota.
— Não me engane. Ele é louco por você, o
que te torna importante para mim.
— Me solta, seu filho da puta! — grito.

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— Pode gritar, se debater, chorar, porque


ninguém poderá fazer nada. Você está na minha
cidade, e quem comanda tudo aqui sou eu. Todos
só fazem o que eu permito. Se você cooperar,
prometo pensar se te deixo sair viva daqui. Do
contrário, você e aquele merdinha vão conhecer
um outro mundo, se é que ele existe.
Suas palavras são repletas de ódio e seu
olhar reflete vingança. Eu preciso dar um jeito
de sair daqui.
— Você é louco. David nunca vai deixar você
sair livre dessa. Você está cavando a própria
cova. Se pensa que ter me pegado facilitou você
ter o David em suas mãos, está enganado… pode
ter certeza que só aumentou o ódio dele por
você. E merdinha é como vai ficar a sua vida
quando vierem me tirar desse lugar.
Espero realmente que consigam me tirar
daqui!
— Cala a boca! Odeio pessoas que me
enfrentam, Normalmente elas terminam mortas,
e meus dedos coçam para te estrangular e
depois dar um tiro bem no meio da sua testa,
assim como aquele desgraçado fez com minha
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irmã.
Ele se aproxima e acerta um tapa meu rosto,
fazendo a cadeira em que estou se arrastar um
pouco. Sinto a ardência e a dor do lado direito do
meu rosto.
— Filho da puta! Vai se arrepender por ter
feito isso! — digo com raiva.
— Sua voz me irrita, garota! — ele grita. —
Vou sair, e não tente nada. Como eu disse, essa
cidade é minha, e meus parceiros estão ao lado
de fora. Nenhum deles tem um pingo de
consideração quando veem uma mulher jovem,
gostosa e teimosa. Não irei impedi-los de
abusarem de você. Então tome cuidado, aqui
ninguém tem pena de nada. — Ele segura meu
rosto com força e solta bruscamente.
Sai do quarto e fecha a porta com força.
Desgraçado.
Por que fui tão teimosa ao ponto de me
colocar em perigo? Que inferno. Minha mania de
ser impulsiva só me prejudica!

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David Escobar
Estou exausto. Já rodei a cidade inteira atrás
de pistas e não encontro. Deixei a todos em
reunião antes de sair horas atrás. A notícia já
vazou na mídia devido a confusão que ficou na
boate pelo desespero da Beatriz. Os pais da
Liziara me ligam sem parar, e não sei o que
dizer. A delegacia está uma zona de repórteres
na porta. Tudo está uma confusão em poucas
horas. Eu me sinto o verdadeiro culpado de
tudo. As câmeras da boate não revelam nada que
possa ser usado. Estou uma pilha de nervos
prestes a explodir.
Estou na estrada, mas meu pensamento está
longe. Não sei o que ela está passando e nem se
está viva ainda. Não sei mais o que pensar.
Meu celular começa a tocar novamente, e
pego no bolso para ver quem é. O nome da
minha mãe aparece na tela, mas não tenho
tempo de atender. O volante gira sem meu
controle. O celular cai. Tento controlar o volante,
mas não consigo. Vejo o acostamento da estrada,

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e é nele que meu carro acerta fortemente. O


airbag ativa. Minha cabeça bate na janela ao meu
lado. Sinto uma pressão forte. Coloco as mãos na
cabeça e vejo o sangue em meus dedos.
Porra, deve ter óleo na estrada e não vi. Ligo
o pisca-alerta do carro e me retiro dele. O
estrago na frente dele foi grande, e por pouco o
acidente não foi pior.
Pego o celular no carro e ligo para meu tio.
A estrada está bem escura, e poucas são as
iluminações. É madrugada, quase não tem carro
passando.
Marcos atende.
— Seu porra, cadê você? — ele grita.
— Estou na estrada. Bati o carro e preciso de
ajuda.
— Você o que? Como você está? Porra!
— Estou bem. Perdi o controle do carro.
Devia ter óleo na pista.
— Cacete! Diz onde está que estou indo para
ai!
— Não avise minha mãe ou a Daiane, ou vão
se preocupar à toa.
— Certo. Está armado?
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— Sim. Mas é bem perigoso onde estou. Saí


tão atordoado que não sei se a arma está
carregada.
— Ativa o rastreador do seu celular que
estou indo com os seguranças.
— OK. Fico no aguardo.
Desligo. Ativo o rastreador do celular. Sento
no banco do motorista com as pernas para fora.
Mesmo com isso, só tenho na mente a minha
maluquinha.
O que você fez, David?
Desde que eu a conheço sempre foi assim,
impulsiva e maluca. Por não ter carinho dos pais
desde pequena, ela se apega muito as pessoas, e
comete loucuras para chamar atenção ou provar
que pode ser boa como alguém que ela pensa
estar roubando seu lugar.
Ninguém jamais substituiria o lugar dela.
Ninguém está à altura dela para ocupar um
espaço que ela tem dentro de mim.
Minutos se passam até que um carro branco,
estaciona atrás do meu. A porta é aberta
rapidamente. A pessoa que sai dele é quem eu
menos esperava neste momento.
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— Débora? — pergunto.
— O que você faz aqui, David? Meu Deus,
você está sangrando. Droga, olha seu carro! Você
está bem?
— Calma, eu estou bem. O que você faz essa
hora por aqui?
— Estou vindo da casa da minha mãe.
— E sozinha? — Eu me controlo para não
gritar com ela.
— Sim. Nada demais.
— Você é esposa de um policial, porra!
Trabalha para um juiz. Tem merda nessa
cabeça?
— Talvez eu tenha um pouco. E se contar
para o Cleber que resolvi voltar a esta hora, eu te
mato, e ninguém vai encontrar os vestígios.
Agora vamos dar um jeito nisso. Não vou te
deixar sozinho aqui!
— Começa ligando o pisca-alerta do seu
carro!
— Ótima ideia.
Ela se afasta.
Débora é uma ótima amiga de anos, porém
as vezes é pior do que uma criança. É louca!
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— David, onde fica o pisca-alerta daqui?


Só pode ser brincadeira!
— Você comprou a carteira?
— Não. Eu passei e fui muito bem para sua
informação. É que esse carro é do Cleber, porque
o meu bati novamente. Então ele deixou um dos
carros dele comigo. O automático desse carro é
perfeito...
— Débora, foco! Sai daí!
Ela se retira e quase cai… se eu não tivesse
segurado ela. Ligo o pisca-alerta.
— Já ligou para alguém vir te socorrer?
— Sim. Marcos deve estar a caminho.
Ela olha para atrás de mim.
— Deve ser ele e o exército. Para que três
carros? Porra, um é o carro do Cleber. Eu vou ser
morta!
— Se ele não fizer o ato, eu faço! Sua louca!
Olha a hora, e você por aí sozinha.
— Cala a boca. Preciso pensar em uma boa
desculpa!
— Não me mande calar a boca!
— Já mandei!
Os carros encostam. Marcos, Cleber, Luciano
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segurança do Henrique e Simon segurança do


meu tio saem dos carros.
Eles se aproximam.
— Eu sei que o David bateu o carro, mas por
que essa louca está aqui? — Marcos pergunta.
— Fiz a mesma pergunta! — digo irritado.
— Bom, como está tudo resolvido, eu vou
indo... — ela diz.
— Entra na porra desse carro e fica aí até eu
mandar seguir. Em casa a gente conversa. Tem
merda na cabeça, Débora? — Cleber diz
alterado.
— Quanto rancor, homem. Não grite com
uma anja!
Ela entra no carro e fecha a porta enfurecida.
— Eu vou matar essa mulher ainda. —
Cleber diz com raiva.
— Não faça isso, preciso dela. Espera eu
achar outra funcionária… aí faz o que quiser! —
Marcos fala.
— Comece a procurar hoje!
— Ninguém vai matar ninguém. Vamos logo
resolver isso e sair daqui. — falo.
— O Simon e o Luciano vão levar seu carro
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junto ao que eles vieram. Você vem comigo, e o


Cleber vai acompanhando eles e a louca da
mulher dele.
— Certo!
Débora coloca a cabeça para fora da janela.
— Gente, temos um probleminha. Olhem
para trás.
Olhamos.
Porra, Daiane!
Ela encosta o carro e sai dele como um
tornado.
— Que porra aconteceu? Acham mesmo que
eu seria idiota, ao ponto de não perceber a
preocupação do Luciano ao sair de casa como
um louco? David, tem merda na cabeça? Isso é
hora de sair procurando a merda que for?
Ela grita.
— Não venha dizer o que posso ou não fazer.
Eu estou bem!
— Estou vendo. Seu carro batido, você
sangrando. Que inferno! Acha mesmo que vai
encontrar a Liziara quando estiver morto? Você
tem sorte do Henrique estar viajando, ou seria
um cara morto.
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— Eu só quero ir embora daqui. Entra no seu


carro e vamos embora. E espero que não tenha
aberto a boca para a dona Paula.
— Nem pensei nisso, ou ela estaria morta de
preocupação. Você é literalmente o chefe dos
três patetas!
Ela me abraça.
— Se alguma coisa acontecer com você por
sua irresponsabilidade, eu te ressuscito para te
matar novamente!
— Eu estou bem... Vamos embora daqui
antes que mais um Escobar chegue.

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Liziara Araújo
Estou cansada. Tento me manter acordada,
mas não consigo. Está amanhecendo, vejo pelas
frestas da janela. Estou dolorida. Meu estômago
implora por comida.
Eu preciso dar um jeito. Não vou aguentar
ficar muito tempo aqui. Eu devia ter pego a
arma, mas fui idiota!
Beatriz deve estar desesperada e deve ter
ido atrás do David. Ele deve estar me achando
uma louca agora, porque eu estou me achando
louca.
Esse cara é mais louco do que eu pensei.
Esfrego os pulsos para tentar lacear a corda,
mas não adianta, apenas me machuca mais.
— Filhos da puta, isso não vai ficar assim! —
grito irritada.
Foda-se! Se entrei na chuva, não vou me
proteger. Vou me molhar e encarar a
tempestade, custe o que custar!

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Capítulo 8

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Liziara Araújo

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Três dias depois...


O idiota do Jorge resolve me soltar daquelas
cordas, porém tem um bando de seus homens na
porta ao lado de fora do quarto que estou. Só
tenho acesso ao banheiro que fica no quarto e
uma janela, de onde já olhei e vi que estamos
muito alto. A rua é desconhecida, jamais vi nem
em fotos. É um lugar feio, lembra aquelas
cidades de filmes de faroestes antigos. As
pessoas que passam na rua são estranhas, e
homens andam armados para cima e para baixo.
Ele não brincou quando disse que era tudo dele
aqui.
Estou fraca, não comi nada nesses dias, por
medo de tudo que me oferecem. Meu estômago
está embrulhado, minha cabeça latejante. Já
desmaiei duas vezes nesses dias. Eu quero sair
logo daqui, e estou com medo, não posso negar.
Maldita hora que decidi ir atrás desse infeliz,
porém se ele não me pegasse na boate, me
pegaria em qualquer lugar. Não sai da minha
cabeça que a Beatriz e meus pais deve estar

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pensando que aconteceu o pior, porque se não


estão, eu estou pensando que vai acontecer o
pior. Jorge está calmo demais, e isso me
preocupa. Não temos que ter medo do inimigo
agitado, temos que ter medo do inimigo calmo.
Em pensar que fiz toda essa merda por amor...
Amor, quatro letras que pode levar uma pessoa
a fazer burradas. Talvez seja por isso que a
palavra sofrimento na maioria das vezes vem em
seguida da palavra amor.
A porta se abre e me afasto da janela para
olhar.
— Apreciando a vista, branquinha? Espero
que seja apenas isso, e não pensando em uma
forma de fugir.
Ele carrega uma bandeja de marmita na mão
esquerda, e na direita uma garra d’água.
— Não sou tão idiota como pensa!
— Ótimo saber disso. — ele deixa as coisas
na cama. — Coma. Dessa vez foi comprado em
um restaurante para a princesinha.
— Não quero nada.
— Garota, você vai comer. Acha mesmo que
eu colocaria algo na comida? Eu preciso de você
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inteirinha para pegar quem eu realmente quero.


Você só sai daqui morta e usada se em até dois
dias aquele filho da puta não der um sinal.
Afinal, não acha que está demorando demais?
Será que foi esquecida? Não seria uma má
coisa… eu e meus homens iriamos adorar ter
uma escrava de dia, e uma puta de noite.
Sinto meus olhos lacrimejarem. Minhas mãos
tremem.
— Vocês não vão encostar um dedo em mim!
Ele se aproxima me forçando a encostar na
parede. Tento me afastar, mas sou
completamente impedida. Ele aproxima a boca
do meu ouvido e então diz:
— Não gaste sua saliva dizendo bobagens.
Deixe para gastar quando estiver de joelhos na
minha frente com essa boquinha atrevida em
torno do meu pau.
Ele me dá um beijo no pescoço e se afasta. As
lágrimas escorrem por meu rosto. Antes de sair
do quarto, ele me manda comer a comida. Sento
na cama aos prantos. Que nojo desse infeliz!
— Porra David, cadê você? Cadê os Escobar
que tem fama por sua rapidez e por sempre fugir
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da lei.... Aceito qualquer policial, qualquer


delegado, qualquer coisa que me tire desse
inferno!

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David Escobar
Três dias de puro inferno, mas amanhã é o
grande dia. Recebi informações pelo Cleber, que
a cidade no interior do estado que o Jorge
comandava continua sob controle dos homens
dele. É uma cidade muito pequena e bem
perigosa. Os policiais têm receio de invadir o
lugar, porque na última invasão, na qual eu
participei, houveram muitas vítimas feridas. O
lugar talvez seja pior que o inferno. E é lá que
temos certeza que ele esconde a Liziara. Não
estou fazendo isso dentro da lei, estou colocando
meu tio e meu amigo em perigo e arriscando
nossas carreiras; mas se fossemos agir dentro a
lei, chamaria mais a atenção e isso pode ser
perigoso. Cada Escobar está com uma função
para que nada de errado. E cada membro fora da
família que vai participar, também. Nada pode
dar errado, qualquer desvio pode colocar tudo a
perder. Estou arriscando minha carreira, mas
por ela vale tudo.
Descobri que meus homens, que ficaram

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apaisana naquele maldito dia, foram distraídos,


por uma briga na entrada da boate. Jorge sabia
deles, ele não é idiota. Fez tudo esquematizado!
Estou na delegacia.
A porta se abre e os pais da Liziara entram.
Sua mãe está abatida como nunca vi.
— David, não aguentamos mais. Precisamos
da nossa filha. Fomos péssimos pais, mas ela é
nossa filha, nossa única filha. Se algo acontecer
com ela, eu jamais irei me perdoar. Eu preciso
dela. Encontre ela, David… eu estou te
implorando. — Lúcia diz aos prantos.
— David, ela é nossa filha, precisamos dela,
encontre-a, custe o que custar. Se o problema for
o dinheiro, pagamos o que for! — Leandro fala.
— Eu vou encontrar ela e trarei com vida.
Não se preocupem, e saibam que fico muito feliz
por ver que amam ela. Pena que só demostraram
diante das circunstâncias... — como talvez eu
esteja fazendo.
— Sempre a amamos. Demonstramos das
piores maneiras. Mas sempre amamos ela. —
Lúcia diz alterada.
— Vou encontrá-la. Peço que evitem jornais,
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é o melhor até o momento.


Eles concordam.
— Agora terei que me concentrar nas coisas
e em alguns trabalhos. Vão para casa, tentem se
acalmar, e eu prometo que amanhã mesmo ela
vai estar aqui, derrubando tudo por onde passa,
dando os sorrisos perfeitos dela, se machucando
com o próprio aparelho dentário, e perguntando
onde está o óculos de grau dela quando está em
seu rosto, tremendo como uma louca quando
está com fome, e perdida nos livros e nas séries
que ama. Eu prometo isso a vocês, ou não me
chamo David Escobar.
Lúcia sorri.
— Você a ama tanto. Ela merece alguém que
a ame e demostre como nunca fizemos.
Não digo nada, apenas fico olhando para ela.
Eles se retiram da sala me deixando perdido em
meus pensamentos.

Quase não dormi noite passada. Estamos

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todos na sala de investigações da delegacia. Hoje


iremos invadir aquele maldito lugar.
— Hoje nada pode sair errado! — Daiane
fala. — Não façam nada com o coração e sim com
a mente. Qualquer ato emocional pode colocar a
vida da Liziara em um risco pior.
— Eu sei. E por isso tudo ficará como
combinamos. — eu falo.
Daiane ficará responsável por manter meu
superior e toda a polícia fora disso, sem que haja
suspeitas que tem algo errado. Minha mãe
tentará manter a impressa longe disso quando
invadirmos a cidade. Poliana e Cleber vão ser
meu reforço. Meu tio será a chave surpresa caso
aconteça qualquer deslize, e que vai abafar todo
o caso perante a lei. Luciano ficará de escolta
com a família da Liziara, para que não tenhamos
surpresas. Simon, o segurança do meu tio, fará
escolta da Beatriz, para evitar qualquer loucura
dela, e protegê-la, pois não sabemos se eles têm
olheiros por aqui. E eu serei o troféu, me
entregarei a eles de bandeja.
— Eu acho isso arriscado, David, Deixe a lei
cuidar disso! — Poliana diz.
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— Eu não vou perder a Liziara por passos de


tartaruga da lei. Cada minuto lá, ela pode estar
sofrendo algo e encurtando suas chances de
sobrevivência. Então não se meta. Se quer
ajudar, faça isso calada.
— Cala a boca, loira. Você é a única aqui que
tem que agir ou cair fora; e se algo desta sala
vazar por aí, saiba que não sobrará um fio de
cabelo seu para conta a história. Ou fica e calada,
ou sai antes que eu te enforque, porque se você
não tivesse aparecido, nada disso teria
acontecido. — Beatriz diz, e percebo a falha
tentativa do meu tio de disfarçar o sorriso. — E
se a Liziara tiver um arranhão, é melhor você
fugir do país antes que eu te encontre e se
esconda muito bem, porque eu te caçarei até o
inferno se for preciso.
— Toma cuidado como fala comigo! —
Poliana diz alterada.
— Tome você, cuidado comigo. Presta muita
atenção nas suas ameaças, ou acabo com sua
vida profissional e pessoal em segundos. — meu
tio diz em um tom sério e Poliana me olha
envergonhada, na tentativa de que eu a defenda.
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— Foquem no que será feito! — minha mãe


diz alterada. — Todos sabem suas funções. Eu só
quero que todos saiam sem machucados disso.
Hoje será um dia marcante na vida de todos.
Nunca os Escobar se colocaram tanto em perigo
como hoje. Pensem antes de agir. Olhem por
onde andar. Tomem cuidado com o ar que vão
respirar. Eu já perdi meu marido Joseph, e não
quero perder mais ninguém.
Daiane passo o braço ao redor da minha
mãe.
— Sei que estou arriscando a vida e carreira
de todos, mas se faço isso, é porque estou
desesperado, e cada minuto que se passa é uma
parte de mim sendo afetada pela dor e
desespero.
— Estamos juntos com você para o que der e
vier, David. — Cleber fala, e agradeço com um
aceno.
A porta se abre e uma loirinha, alta, de
óculos, saltos altos, calça jeans preta, uma blusa
regata preta, coque no cabelo e um batom
intenso vermelho, entra na sala. Sorrio.
— O que faz aqui? — Cleber pergunta.
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— Quando conheci David e Marcos, foi nas


piores circunstâncias; ambos me livraram de um
tarado na lanchonete em que eu trabalhava.
Depois quando achei que nunca mais
encontraria eles pessoalmente, o destino cuidou
de traçar nossos caminhos novamente. Mais
uma vez estive em perigo quando delinquentes
tentaram me sequestrar junto com meu carro, e
se não fosse por eles, talvez eu nem estivesse
mais aqui. E foi nesse dia que esse policial lindo
e gostoso ajudou a eles me proteger. Larguei a
faculdade de artes cênicas, fui embora da cidade
por problemas pessoais que prefiro não dizer, e
quando voltei, vim decidida a fazer faculdade de
direito. Estava mais velha e decidida, porém sem
dinheiro algum, e fui atrás da fera conhecida por
Marcos… ele me deu emprego, juntei dinheiro, e
então iniciei a faculdade que termino em breve.
Os Escobar me receberam de braços abertos, e
de brinde ganhei um marido. Sempre que estive
em perigo de alguma forma, eles estavam lá para
me defender.
Ela recupera o folego.
— E hoje o destino me deu a chance de pagar
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a primeira parcela de tudo o que me fizeram e


de toda a ajuda em tantos momentos pessoais
que seria uma lista enorme, daria um livro...
Melhor, um conto já seria o suficiente. Posso não
ser uma boa pilota, a melhor secretaria, saber
chutar alguém sem cair ou dar um soco sem
atingir a mim mesma, mas eu gosto da Liziara e
gosto de vocês… Na verdade amo vocês, e isso é
o suficiente para me torna mais forte e lutar
para trazer ela de volta. — Débora fala, e minha
mãe chora emocionada.
— Amor, não faça isso... — Cleber implora.
— Fazer o que? — pergunto preocupado.
— Sou mulher de um policial e a melhor
secretaria de um juiz, e a amiga mais gata de um
delegado, eu preciso fazer isso. É uma vida em
risco, e se eu estivesse no lugar dela, queria que
alguém fizesse isso por mim.
— Débora? — indago.
— David, quem vai na frente não será você,
serei eu. Ninguém me conhece. Não saio muito
na mídia… o que é uma lastima, eu sei. Mas se
você for, aqueles caras podem nunca mais
devolver você e ela. Sei que terá uma imensa
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equipe preparada para qualquer coisa, mas eu


irei na frente, e quando eu tiver o local que ela
está, vocês saberão; e não se preocupe tenho
uma carta na manga.
— Isso é loucura. Ficou louca! — Digo a ela.
— Loucura ou não eu irei.
— David, ela pode ter razão. Seriam duas em
perigo, está certo, mas ninguém a conhece. Com
ela na frente dando informações é melhor. —
Daiane diz.
— Não posso colocar você em risco!
— Não vai. Eu sei o que estou fazendo.
— Qual sua carta na manga? — Marcos
pergunta.
— Segredo, mas saberão na hora. Agora
tenho que ir, porque aquele fim do mundo é
longe. E hoje não sou Débora Alencar Fernandez.
Hoje serei, Paloma Almeida, uma mulher gravida
de um traficante que não assumiu o filho, e meu
pai quer me matar por isso, e fugi para lá.
— Você não vai! — grito.
— Vamos fazer um teste. Se ela me
convencer da história, ela vai, e juro que trarei
ela viva. — Marcos fala. — Sou um dos
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traficantes que cerca a cidade, e você tem que


passar por mim e eu te impeço de entrar
pedindo para saber o que quer ali e quem é você.
Ela se aproxima dele, retira os óculos, solta o
cabelo.
— Eu estou desesperada. O filho da puta do
meu namorado me largou quando soube que
estava gravida. Meu pai quer me matar. Meu
namorado era um dos traficantes da minha
cidade, e não sei o que fazer, estou desesperada.
O único lugar que sei que teria proteção é aqui.
Preciso ficar por uma noite apenas, ou amanhã
não estarei aqui... — Ela se aproxima mais dele,
ficando com o corpo colado, passa a mão por seu
braço e diz chorosa — Não vai negar abrigo a
mim, vai? Deve ter irmãos ou alguém que ame, e
eu amo demais está criança que nem sequer a
conheço… preciso ficar. — Lágrimas escorrem
por seu rosto.
Porra, onde ela aprendeu fazer tudo isso?
— OK, me convenceu. E sai de perto de mim,
ou seu marido vai me matar. Porra, tem certeza
que quer ficar na faculdade direito? — Marcos
pergunta.
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— Tenho. Mas agora preciso trocar de roupa


por algo mais simples e colocar as lentes de
contato. Irei na frente, conhecerei o lugar e
manterei vocês informados. Só saiam daqui
quando eu disser que podem ir. Descobri que
hoje tem uma festa na cidade, e isso pode ajudar.
Cleber se aproxima dela e a beija.
— Não faça loucuras. E tome cuidado! Se
algo te acontecer...
— Eu vou voltar inteirinha, eu sempre volto.
— Cuidado, Debi! — Dou um abraço nela. —
Faça o que for preciso para se defender.
— Está bem...
Antes de sair da um último sorriso e fecha a
porta.
Cleber está tenso, assim como todos.
— Vai dar tudo certo! — Beatriz diz a ele. —
Confie.
— Essa daí vai colocar tudo a perder! —
Poliana fala.
Cleber se vira para ela e conheço esse olhar.
— Cala a boca, porra! Tome muito cuidado
como fala da minha esposa. Essa daí, tem nome e
sobrenome. Uma palavra sobre ela, e esqueço
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que você é mulher e colega de trabalho!


— Preciso tomar um ar. — Ela sai da sala
enfurecida.
— Ou você manda essa demônia para o
quinto dos infernos de onde ela veio, ou alguém
ainda vai matá-la; e sou a primeira da lista para
cometer o ato. — Daiane fala.
— Foda-se a Poliana, o que importa é a
minha mulher que está na porra das mãos
daqueles desgraçados!
Minha mãe sorri.
— O que foi mãe?
— Nada, apenas me deixa feliz ouvir isso.
Alguém bate na porta.
— Entre. — digo.
A porta abre e um dos meus homens
aparece.
— Tem um rapaz aí… chama-se Joaquim e
quer falar com você.
— Mande ele para minha sala, estou indo.
Ele concorda e se retira.
— Quem é esse? — Marcos pergunta e
Beatriz sorri.
— Um idiota que trabalha com a Liziara.
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Você o conhece, é o mesmo cara da festa da


universidade que fomos para resolver o caso da
Ana Louise com o Henrique. Ele te tirou do sério
por causa da Beatriz.
— Ah, aquele merdinha? Não sabia que a
delegacia recebia lixo. — diz com ironia. — Esse
bosta, não tem medo de morrer mesmo!
Sorrio e saio da sala.
Entro na minha sala e ele me olha.
— Olha aqui, só vim dar um recado... Eu
sempre fui contra você e a Liziara terem algo, e
sempre disse que isso traria problemas… e veja
só, eu estava certo. Se algo acontecer com ela,
quero que saiba que você é o único culpado.
— Acabou o discurso? Quem pensa que é
para vir aqui me falar isso? Isso tudo é raiva por
saber que ela nunca te quis? Enquanto você ia,
eu já estava prestes a retornar novamente ao
lugar. Não sou idiota, e sei que tem interesse
nela. Mas saiba que ela jamais será sua. Eu irei
trazer ela de volta só que para mim e ninguém
mais. Então saia daqui e leve esse seu
discursinho bosta para longe, e nunca mais
apareça na minha frente, ou vai conhecer um
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David que quem já viu, não deseja ver nunca


mais.
— Eu irei mesmo, mas não se esqueça, o
único culpado será você! Levará a culpa até o
último dia da sua vida!
Ele sai da sala e me sento na mesa.
Não precisa ninguém me dizer que a culpa
vai ser minha, porque sei disso. E sei também
que se algo acontecer com ela, matarei o filho da
puta sem remorso algum.

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Capítulo 9

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David Escobar
Estamos agoniados à espera de notícias da
Débora. Eu devia estar louco ao permitir a ida
dela. Agora são duas correndo risco. Estou
tentando me concentrar nas papeladas na minha
mesa, mas não consigo. Outros casos precisam
de mim. As horas estão passando e nada de
notícias. Temos que pegar a Liziara hoje. Eu não
aguento mais esse inferno. A cidade que Jorge
comanda é pequena, porém pode ser difícil
encontrar ela...
Porra, é isso!
— Cleber! — grito por seu nome.
Ele entra rapidamente na sala, junto a
Poliana.
— O que aconteceu?
— Eu sei onde ele deixou a Liziara. Débora
só precisa nos dar certeza.
— Onde? — Ele pergunta
— Quando invadimos aquele lugar, ele tinha
um prédio de seis andares ao lado de uma
lanchonete. Era ali que ele morava, fazia o

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escritório dele e prendia as pessoas que ele


pegava. É nesse prédio que ela deve estar, só
pode ser. Como fui idiota por não me lembrar
disso antes? Foi nesse maldito lugar que ele
tentou se esconder junto a irmã dele!
— Agora precisamos que a Débora de
notícias para termos noção do que fazer. —
Poliana fala.
— Não me lembre disso. Estou com a cabeça
fervendo. Quando eu desejei uma esposa
diferente, juro que não passou por minha cabeça
uma louca. O foda é ter que ser frio para não
atrapalhar a operação.
— Nós vamos trazer as duas, eu prometo! —
digo a ele.
— David, você precisa comer algo. Está o dia
todo sem comer.
— Poliana, tudo o que eu menos quero neste
momento é comer. — Ela fica sem jeito, mas
disfarça.
— Devemos avisar aos outros. — Cleber diz.
— Sim. Vou avisar a eles e deixar todos
preparados. Meu tio em breve deve retornar. Ele
teve que ir ao escritório dele com urgência.
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— Dessa vez, aquele filho da puta do Jorge


não escapa. — Cleber fala e suas palavras
exalam raiva.
— Pode ter certeza que não!

São quase nove horas da noite e nenhuma


notícia da Débora. Não estou gostando deste
silêncio. Não estou mesmo!
— Aquela filha da puta não iria fazer
burrada. Conheço-a há oito anos. É bem esperta
para fazer burradas! — Meu tio diz agoniado,
andando de um lado para o outro.
— Já era para termos notícias dela, porra! —
Soco a mesa com raiva.
A porta se abre com força. Cleber entra e
coloca o celular dele na mesa.
— Amor, pode falar, está no viva-voz o
celular. — ele diz.
Solto o ar. O alivio toma conta de mim. É ela.
— Gente, serei rápida. Estou no banheiro da
lanchonete que tem aqui e, por incrível que

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pareça, é a única. — ela faz uma pausa e


continua. — Consegui entrar na cidade sem
problema algum. O cara que cuida da entrada
tomou conta disso. Hoje realmente tem uma
festa para o Jorge e isso deixou falhas. Tem
apenas um cara de vigia na entrada da cidade.
Está um alvoroço devido a festa. Escutei pela
lanchonete que o prefeito vai mostrar para
todos a isca que pegou para se vingar da morte
de sua irmã. É, com toda certeza, a Liziara. Eu vi
vários homens armados saindo do prédio ao
lado da lanchonete que estou, e tem dois
homens na entrada dele. Acredito que seja ali
que ela está. Porém terei que dar um jeito de
descobrir onde ela está no prédio, só assim para
mandar informações e facilitar para vocês.
— Certo. Eles não podem desconfiar de nada.
Tome muito cuidado e não faça loucuras. Tente
ficar ao máximo nessa lanchonete. Estamos indo.
Débora, aconteça o que acontecer, não interfira
em nada. Tente descobrir por onde o Jorge está,
e nos avise assim que puder. Mantenha contato,
você será nossos olhos e ouvidos neste lugar.
Esses caras não são brincadeiras. — digo.
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— Certo. Tenho que desligar, ou vão


desconfiar do meu tempo no banheiro. Porém
esperem minha próxima ligação para
começarem a vir. Me prometam isso?
— Claro que não! — Cleber grita.
— Débora, o que vai aprontar? — Marcos
pergunta.
— Confiem em mim. Eu sei o que estou
fazendo. Até mais. — Ela desliga.
Porra!

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Liziara Araújo
Algo está acontecendo. Está tudo muito
calmo aqui dentro, porém lá fora está bem
movimentado, vi pela janela. Não escutei os
homens do Jorge e nem ele retornou aqui.
Preciso pensar com calma. Se tem uma coisa
que aprendi muito bem nesses dois anos ao lado
do David, é que nenhum crime é perfeito,
sempre tem falhas. Jorge deve ter deixado falhas
e irei descobrir, pois será minha chance de
sumir deste lugar, porque não aguento mais.
Escuto um falatório estranho, parece ser voz
de mulher e está aqui dentro.
— Me solta, seus desgraçados! Socorro! Eu
quero sair daqui. Vocês vão se arrepender de
terem feito isso. Eu vou sair daqui, e minha vai
irmã vai junto! Vocês mexeram com a família
errada! Me soltem!
A porta do quarto se abre e me assusto.
— Jorge vai amar descobrir isso! — um dos
homens dele diz com um sorriso malicioso.
Um outro surge e joga uma pessoa que eu

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conheço, e que não esperava, dentro do quarto.


— Débora! — grito.
— Minha irmã! — Ela corre até a mim e me
abraça e então cochicha no meu ouvido — Sou
sua irmã!
— Eu não acredito! — Começo a chorar.
Eles saem e trancam a porta.
— O que faz aqui sua louca? — pergunto.
— Vamos falar bem baixo. Eu sabia que você
ia estar aqui, e meu plano de fingir ser sua irmã
daria certo para me colocarem junto com você.
— O que quer dizer?
— Os Escobar estão vindo te salvar. Agora
preciso dar notícias a eles.
— Como? Eles vão nos matar se tentarmos
algo.
— Amor, eu não queria ser atriz no passado
à toa.
Ela retira da bota de cano longo o celular.
Fico olhando para a porta preocupada.
— É melhor falar no banheiro. — digo baixo.
Entramos no banheiro e deixamos a porta
um pouco encostada.
— Não podemos demorar, se eles entrarem
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no quarto e ver que estamos as duas no


banheiro, vão desconfiar.
Ela concorda e então liga para o David.
— David! — Eu me aproximo do seu ouvido
para ouvir a conversa.
— O que aconteceu? — Ouvir sua voz, me
traz uma sensação única. Um arrepio intenso.
— Estou com a Liziara. Ela está no prédio.
Vou ser rápida. O Jorge não está aqui, mas vai
ser avisado. Eu menti dizendo que era irmã dela
e que inventei uma história para entrar na
cidade, e acabei junto com ela agora. Arrisquei e
deu certo. Tem uma tropa vigiando ela, mas só
agem pelo comando do Jorge ao que notei. Ela
está bem e está ao meu lado. Venham para cá às
pressas, porque acho que posso ter ativado a
fera de um certo bandido. Estamos, ao que
parece, no sexto andar. Pelo que contei, é a
última porta à direita.
— Estamos indo, sua retarda! Cuidado, e não
façam nada! Não deixe descobrir que está aí por
minha causa.
Escuto barulho na porta. Ela me olha
assustada e desliga o celular, escondendo o na
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bota.
Saímos correndo do banheiro e nos
sentamos na cama.

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David Escobar
O caminho até essa maldita cidade foi um
inferno. Porém agora estou me aproximando, a
cada quilometro sinto meu coração acelerar.
Nunca senti isso antes.
Os outros vão ficar alguns quilômetros atrás
à espera do sinal para virem.
Uma moto sai do matagal e surge na minha
frente. O cara está armado. Ele desce na moto.
— Desce do carro, porra! — ele grita.
Saio do carro com a arma na mão, pois faz
parte do plano.
— Delegado! — ele diz sorrindo. — Muito
otário mesmo para aparecer aqui. — ri —
Coloca a arma no chão... Vai, caralho! — ele
grita e aponta a arma para mim.
Eu me abaixo lentamente, indicando que
colocarei a arma onde pediu, mas quando estou
próximo de encostar ela no chão, miro em sua
perna direita e atiro em seu joelho.
— Filho da puta! — ele grita e cai no chão.
— Isso é pelo xingamento! — Dou outro tiro

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na sua outra perna.


Isso vai ganhar tempo.
Ele se torce de dor. Pego sua arma e jogo
longe.
Entro no carro às pressas e saio cantando
pneu dali.
Entro na cidade, que esta calma. A festa deles
deve ter começado.
Nada mudou desde a última vez que estive
aqui a anos. Dirijo até o local que Liziara está.
Olho pelo retrovisor e vejo o carro do Cleber
e Marcos seguindo o meu.
Avisto o prédio, mas o que está na frente
dele faz o meu mundo parar. Freio o carro
bruscamente.
Ele está na porta, rindo, enquanto dois
homens seguram a Liziara e a Débora, com arma
apontada na cabeça de cada uma. Ele também
está armado.
Desço do carro com minha arma. Olho para
trás e vejo que Marcos, Poliana e Cleber fazem o
mesmo.
— Demorou, David! — Jorge grita em tom de
deboche. — Acho bom todos vocês largarem
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essas armas antes de se aproximarem mais, ou


essas duas aqui morrem, e você sabe que
cumpro minhas promessas!
O olhar da Liziara cruza com o meu e vejo o
pavor em seus olhos. Solto a arma no chão que
faz um estrondo. Ela balança lentamente a
cabeça em sinal de “não”.
Escuto barulhos, e sei que foram as armas
atrás.
Caminho até eles lentamente, ficando bem
mais próximo.
— Era a mim que você queria, estou aqui! —
digo ao Jorge.
Nunca pensei que um plano que desse
errado me deixaria tão apavorado como eu
estou agora.
— Enviar uma outra mulher para nos
enganar… isso mostra o quanto você é um
merdinha, David!
— Solta elas. É a mim que quer. Deixe elas ir,
Jorge. Seu problema é comigo. Porque você não
aceita que eu matei sua irmã naquele dia. Não
admiti que eu fui o único a conseguir fazer uma
equipe policial invadir essa porra! — grito com
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ele.
Seu olhar tem ódio. Ele mira a arma em mim.
— Esperei tanto por esse dia. Porém, você
atrapalhou minha festa. Todos estão lá
comemorando, e eu aqui. Isso é errado… sou o
rei deles, o prefeito que amam. Eu planejei tudo.
Pesquisei cada ponto de vocês. Infiltrei pessoas
dentro da boate que ela trabalhava. Na cadeia já
recebia informações de vocês. Foi tão fácil. Tudo
foi esquematizado. Nada poderia dar errado. E
vejam só, não deu. Você deixou muitas brechas,
delegado. — ele gargalha. — Sua princesinha é
ingênua. Descobri todos os pontos fracos dela, e
o principal é a família. Não teve atenção dos pais
desde cedo, e claro que faria qualquer loucura
por aquele que ama. Tão burra. — Ele acaricia o
rosto dela, e ela vira o rosto bruscamente. Um
ódio me consome. Tento me aproximar, mas ele
vira a arma para ela, me fazendo recuar.
Porra, tenho que ser frio, não posso colocar
tudo a perder!
— Você ficou mais louco do que já era...
SOLTA ELAS, SEU FILHO DA PUTA! — Empurro
ele com força, e ele se equilibra para não cair. —
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Eu vou acabar com você, seu filho da puta! — ele


ri ainda mais, me empurrando e apontando a
arma novamente para mim.
— Quer mesmo que eu te mate na frente da
sua protegida e do seu tio? Não teria problema
algum. Seria bom... Mas antes você tem que
sentir o que eu senti naquele dia, quando minha
irmã caiu sem vida no chão. Você tem que sentir
aquela dor, seu desgraçado. Ver a pessoa que
ama cair no chão sem vida. Ver os olhos dela
parados, sem brilho. Ver sua pele começar a
gelar e a empalidecer. O sangue escorrer por ela.
Você precisa sentir essa sensação. E agora temos
duas escolhas… seu tio e sua protegida. Porém
algo me diz que ela poderia ser a primeira... —
Seus olhos estão arregalados, sua fala é como de
um louco. Ele está mais fora de si do que o
normal.
Olho para Liziara. Ela está assustada e isso
me destrói. Eu estou sem saber o que fazer.
Qualquer ato meu pode colocar tudo a perder.
Não posso agir emocionalmente!
— Você... — tento dizer.
— Eu o que? Cala a boca, que nessa porra
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quem manda sou eu!


— Jorge, não é a Liziara que você quer, e
nem a mim. É o David, somente ele. Matá-lo
rapidamente de nada vai resolver, o prazer
acabará rápido. Você quer torturá-lo… e sabe
que apenas matando ela não vai resolver, não
será o suficiente. — Débora diz e ele a olha
atentamente. — Você está assustado. Sonhou
tanto com isso, que sua mente está confusa, e
cada palavra que digo te irrita mais. Uma voz diz
para você matar a todos, e a outra diz que isso
não será suficiente. Você está vazio por dentro,
tudo está confuso...
— Cala a boca, sua maldita! — Ele a
chacoalha e a joga no chão. Olho assustado, mas
quando vou me aproximar dela, ela me dá um
olhar estranho e recuo.
Ela começa a se contorce de dor.
— Débora? — chamo por ela, preocupado.
— Débora! Filho da puta! — Cleber grita.
— Não chegue perto ou ela morre! — Jorge
grita para ele.
— Me deixe ver ela, por favor? Ela se
machucou, por favor! Se vai mesmo me matar,
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me deixe fazer uma única coisa! — Liziara


implora a ele.
— Se tentar qualquer coisa, ele morre! —
Jorge diz e ela concorda.
Ela se joga ao lado da Débora, porém tudo
isso é estranho.
— Débora, o que você tem? Está bem? —
Liziara pergunta.
— Meu pé, devo ter torcido, dói muito... Ai!
— ela grita.
— Vai ficar tudo bem! — Liziara diz a ela.
Liziara coloca a mão por dentro da sua bota,
e tenho a impressão que tirou algo. Ela segura a
mão da Débora.
— Chega, peguem elas! — Jorge grita, e seus
homens a pegam rapidamente. — Vamos
terminar logo com isso, porque tenho uma festa
para aproveitar. Atirem nela! — ele grita.
O homem que segura a Liziara puxa o gatilho
da arma. Sinto meu peito apertar. Olho para trás,
e todos me olham assustados. Meu tio coloca a
mão para trás, é a arma reserva. Olho para a
Liziara e ela fecha os olhos.
— Não… hoje não, e nem depois! — Débora
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fala a ele com ódio.


Ela enfia uma faca pequena na perna do
homem que a segura, e a Liziara faz o mesmo.
Era isso que ela tirou da bota da Débora. Jorge
olha assustado, e os dois xingam de dor. Liziara
chuta um deles em seu membro, fazendo-o o cair
no chão de joelhos. Débora dá um chute no
estômago do outro, fazendo ele perder o ar e
cair também. Ela pega a arma dele e joga para
mim. Liziara corre para o lado dela.
Cleber e Marcos se aproximam, armados.
Jorge atira mas consigo desviar. Poliana tenta se
aproximar, mas o que segurava a Liziara
consegue pegar a armar e atira, fazendo com que
ela recue. Mais homens aparecem, nos deixando
em desvantagem. Atiro no que segurava a
Liziara, e ele cai de vez no chão. O outro tenta se
levantar e atiro nele. Jorge tenta atirar na
Liziara, mas a Débora joga ela para o lado.
Marcos luta com um cara. Um homem tenta
me segurar por trás, mas consigo me livrar dele;
e antes que atire em mim, eu disparo de volta.
Liziara grita e olho rapidamente, Jorge a pega
por trás. Tento me aproximar, mas sou impedido
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por um homem. Cleber atira em dois caras.


Poliana se aproxima deles, é a única livre no
momento. Ela vai atirar no Jorge. — Porra, não!
— Poliana, não! — grito.
Dou uma cotovelada no estomago do cara
que me segura. Eu me viro para ele quando me
solta e dou um soco em seu queixo. Ele cai, então
arranco sua arma e dou um tiro em sua coxa.
— Jorge, você não precisa disso! — falo
ofegante.
— Preciso sim, eu preciso! — ele grita e
começa a gargalhar.
Olho para a Poliana, que tem um ângulo
perfeito para atirar nele sem atingir a Liziara.
Um tiro apenas e coloca ele no chão. Mas ela não
vai conseguir, seu olhar está confuso. Se ela
atirar, pode ser que atinja Liziara.
— Poliana, não faça isso. Não atire... — Ela
posiciona o dedo para atirar — Caralho, Poliana!
O olhar da Liziara se transformar em raiva
quando Jorge a aperta mais.
— Hoje não. Eu não serei a porra da mocinha
indefesa, não mais! — ela grita com ódio.
Ela dá um cotovelada nele com força.
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— Maldita!
Ela se vira para ele e dá um soco em seu
rosto. Chuta a mão dele, que está com a arma, e
ela cai no chão.
— Filho da puta! — ela grita para ele quando
o mesmo chuta sua perna.
— Poliana, não! — grito para ela quando
vejo que vai atirar, mas não há a menor chance
de acertar o Jorge.
Ele consegue recuperar a arma de uma
forma muito rápida e começa uma luta com a
Liziara. Tento me aproximar, mas meu tio me
segura. Os outros homens já estão no chão.
— Me solta! Essa arma pode disparar! Me
solta, porra! — Cleber ajuda a me segurar.
— David, não! — Débora grita.
E então um barulho que conheço muito bem
ecoa. Sinto meu mundo congelar. Quero gritar,
mas não consigo. Não...
Liziara está com os olhos arregalados. Ela e o
Jorge caem no chão. Ambos repletos de sangue,
Eles me soltam. Meu peito dói fortemente.
Poliana olha assustada. Débora se aproxima
deles e se joga ao lado da Liziara.
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— Liziara, fala comigo! — ela grita. —


Droga! Cacete, não vim para esse fim de mundo à
toa, sua filha da mãe! Reage! — Ela chacoalha a
Liziara.
Então vejo uma pessoa caminhando até nós.
Olho assustado para a Liziara, que se levanta
com a ajuda da Débora. E é aí que vejo que foi o
Jorge que levou o tiro e o sangue é somente dele.
A pessoa se aproxima e sorri.
— Eu nunca erro um tiro, afinal nem sempre
o volume em minhas calças é uma ereção!
— Henrique, o que faz aqui? — Meu tio
pergunta.
— Digamos que eu era o plano B da loira ali.
Acham mesmo que com minha família em
perigo, eu ficaria longe? Porra, jogaram praga
para cima de mim, pois não consigo tirar férias.
Ele abraça meu tio e o Cleber, e em seguida
me abraça.
— Obrigado. — Agradeço. — Agora eu
preciso...
— Sim, vai lá. Mas seja rápido… temos que
sair logo daqui antes que outros apareçam.
Eu me aproximo dela, mas ela recua.
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— Agora não, David, Vamos sair daqui,


apenas isso.
Concordo.
— Apenas me diga se ele fez algo com você.
— Não. Quando ele soube que era uma
armação da Débora porque investigou toda
minha vida e viu que eu não tinha irmãos, ele
ficou louco; e então recebeu a notícia que
mataram o cara que vigiava a entrada da cidade,
e aí trouxe nós duas para cá. Eu só preciso sair
daqui, tomar um banho e descansar. Eu me sinto
fraca e enjoada por tudo. Preciso agradecer a
todos eles por isso.
— Não precisa agradecer. Você faz parte
dessa turma, merece nossa ajuda. — Henrique
diz.
— Obrigada, Henrique, por ficar preparado
para meu sinal de socorro. — Débora agradece
a ele.
— Desde quando sabia? — Marcos pergunta
a ele.
— Débora me ligou e contou tudo. Porra,
vocês são loucos! Enfim, ela mandou eu ficar em
alerta, pois se ela não ligasse até certa hora, era
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para eu vir que algo estava acontecendo, e foi o


que eu fiz. Estive sem acesso à mídia, ou estaria
aqui a muito tempo.
— Vamos sair daqui. — digo a eles.
— Meu amor... — Cleber abraça a Débora e a
beija.
— Por que não escolhi ser atriz? — ela
pergunta e sorrimos. — Viram como atuei bem
para pegar a mini faca na minha bota? Botas são
tudo na vida de uma mulher em perigo… dentro
delas pode sair o mundo.
Sorrimos.
Olho para Liziara, que está pálida.
— Liziara?
Seguro ela.
— O cheiro do sangue, e ele... Estão...
— Vem, vamos sair logo daqui.
— Eu ajudo ela. — Poliana fala.
— Não precisa. Acho que você já fez muito,
pelo o que a loira disse. — Henrique diz.
— Aprenda uma coisa, Poliana, nunca atire
para matar. E não tente bancar a heroína quando
você não é nada! — Liziara diz e sorrio.
Poliana a olha com ódio.
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— Você não passa de uma menina indefesa!


— Poliana grita com ela. Henrique e Marcos se
aproximam. Débora se afasta do Cleber.
— Menina indefesa? É, até pode ser, mas não
precisei de uma arma para lutar com o Jorge… já
você, nem com uma arma e sendo uma policial
conseguiu fazer algo útil! — Liziara fala para ela
e Débora gargalha.
— Vamos sair daqui. Agora! — Marcos fala.
— Poderia dormir sem essa, loira aguada! —
Débora diz passando pela Poliana.
— Você é apenas mais uma na lista dele.
Acha mesmo que ele realmente ama você?
Bastou eu reaparecer que e ele te esqueceu
rapidinho. Ninguém quer uma garota com pose
de mulher. Não passa de uma mal-amada, que
acha que um dia será uma Escobar! — Poliana
grita para Liziara.
— Agora você me irritou, vadia!
Liziara vai para cima da Poliana e acerta um
soco em sua boca. Poliana tenta puxar seu
cabelo, mas a Liziara dá um chute em sua canela
e uma rasteira em seguida, fazendo ela cair.
Monta em cima dela e começa a estapear seu
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rosto.
Fico olhando e rindo.
— David, não vai fazer nada? — Marcos grita
e sorrio.
— Deixa um pouco. Liziara merece isso, e
Poliana ainda mais. — Sorrio.
— Porra! Você é foda, delegado! — Henrique
diz, segurando a Liziara.
Meu tio segura a Poliana, que está com a
boca sangrando e com o rosto todo vermelho e
arranhado.
— Eu vou te processar, sua puta! — Poliana
grita.
— Tenta! Tenta, porra! Mete processo ou o
caralho que for, que sou capaz de te arrebentar
na frente do Juiz, do Papa, ou o que for. Não
tenho medo de você. E puta, é somente você.
— Na verdade você já fez isso na frente de
um Juiz! — Meu tio diz a ela, e sorrio mais ainda.
— David, essa maldita! Como pode? Eu toda
linda. Vim de longe para tentar uma chance com
você que sempre foi louco por mim na faculdade.
— Poliana diz chorando.
— Eu? Louco por você? Poliana, eu sou louco
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pela minha profissão e pela Liziara. De você


tenho pena. E isso que levou é apenas para
aprender a não mexer com a mulher de um
delegado, principalmente de um Escobar. E
espero que essa boca inchada fique boa logo,
porque amanhã mesmo você vai voltar para a
puta que pariu de onde não deveria ter vindo, e
torça para eu não fazer relatório seu. Agora de
boca calada vai entrar no maldito carro e ir
muda o caminho inteiro, ou deixarei a Liziara ir
no mesmo banco que você, afinal ela tem muitos
aqui para provar que nunca relou um dedo em
você… já você é o oposto.
— Isso não vai ficar assim! — ela grita. — Ela
deveria ter morrido!
Meu sangue ferve. Eu me aproximo dela, mas
Cleber me segura.
— Não ameace um Escobar. Mocinha, tome
muito cuidado! Ele é homem e delegado e pega
mal bater em você, mas você está fazendo todos
perderem a paciência aqui. Caso algo aconteça
com você, tudo pode ter saído em legitima
defesa, afinal, temos muitas testemunhas que
confirmariam isso, e você não quer isso não é
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mesmo? — Meu tio diz a ela, e a puxa pelo braço


até um dos carros.
Todos entram nos carros. Saímos dali o mais
rápido possível.
Só consigo sentir um tremendo alivio que
tudo isso terminou... Bom, agora falta nos livrar
dessa bagunça toda.

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Capítulo 10

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Liziara Araújo
Estou ainda muito assustada com tudo o que
aconteceu. Os Escobar conseguiram abafar o
caso e tirar um pouco do foco da mídia. David
recebeu uma advertência… uma bronca para
melhor dizer. E tudo isso eu sei através da
Daiane, que veio me visitar junto a Paula. Depois
de tudo eu vim para casa, e a Bia tem me
ajudado. A fraqueza já passou, me alimentei
bem, porém será um pouco complicado tirar
aquele momento da minha mente. Dormir noite
passada foi difícil, e fiquei revivendo o momento.
David não veio me ver, deve estar ocupado
resolvendo a bagunça. O que mais me irrita é
saber que a culpada de destruir minha vida com
o David teve a cara de pau de ir até aquele fim
do mundo me ajudar. Quando ataquei o Jorge foi
porque a raiva me subiu à cabeça. Fui louca,
irresponsável e orgulhosa, porque não queria ter
ajuda dela, e por isso o ataquei; mas se eu disser
que me arrependo, estarei mentindo. Meu único
arrependimento é ter me apaixonado por um

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Escobar, mesmo com todos os conselhos da


Beatriz dizendo que seria uma roubada.
Enfim, quem é que manda no coração?
Daniel e Joaquim vieram me ver também, e
disseram que a boate sem mim não é a mesma e
torcem por minha recuperação. Joaquim foi um
pouco pegajoso, mais que o normal. Sinto um
pouco de pena e culpa, pois talvez eu tenha dado
algum tipo de esperança que um dia estaria com
ele; e se dei isso não foi de proposito, pois todos
sabem que ajo e depois vou pensar.
Mas tem uma coisa boa diante de toda essa
confusão. Eu acho que finalmente sei o que eu
quero fazer, o que eu quero ser. Percebi que de
alguma forma eu sempre estive colada ao perigo,
como se fosse uma conexão. Primeiro foi com
uma ex-aluna da universidade, a Luana, a louca
era uma psicopata e já tentou me matar. Depois
ajudei os Escobar a ter certeza de quem era o
verdadeiro assassino do ex-noivo da Ana Louise,
esposa do Henrique, e então fui sequestrada e
fiquei colada com a morte. Acho que isso foram
mais do que sinais, do que eu realmente tenho
que ser.
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Ontem meus pais queriam vir me ver, mas eu


estava tão exausta que queria apenas banho,
comida, cama e esquecer tudo aquilo. E hoje
estou à espera deles. Beatriz foi trabalhar depois
de eu obriga-la a ir. Estou sozinha em casa.
A campainha toca e me levanto com cuidado
do sofá para atender. Estou com a perna um
pouco dolorida. Insistiram para eu ir ao médico,
porém me recuso, afinal, não fizeram nada
comigo. Estou com dor na perna pelo Jorge ter
chutado ela uma vez e eu ter caído no chão. Já
fico roxa à toa, imagine com um chute e um
tombo.
Abro a porta e meus pais sorriem. Eles
entram e fecho a porta. Sentam no sofá e eu faço
o mesmo.
— Filha... — minha mãe começa a dizer. —
Eu nunca pensei que um dia sentiria tanto
remorso em minha vida. Se arrependimento
matasse, eu estaria morta. Nada vai justificar
tudo o que nós fizemos com vocês. Fomos cruéis,
péssimos pais. E olha para você... Machucada,
quase foi morta... — Ela chora, e confesso que
estou estranhando essa reação.
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— Se pudéssemos voltar no tempo e corrigir


nossos erros, faríamos. Se pudéssemos começar
de novo, começaríamos. Não iremos pedir seu
perdão, porque não somos dignos dele, mas
queremos que saiba que mesmo quando
agíamos como monstros com você, no fundo
sempre te amávamos. O dinheiro, a fama, o
poder nos cegou e perdemos a maior riqueza
que poderíamos ter tido… você. — meu pai diz,
emocionado.
Meus olhos embaçam devido as lagrimas, e
pisco forte para voltarem ao normal.
— Mãe, pai...
— Não. Não diga nada. Sabemos que nem
deveríamos estar aqui. Porque se isso aconteceu,
foi por nossa culpa, que não te demos amor…
por isso você cresceu desse modo, impulsiva,
carente. Nós fomos os culpados. Mas Deus sabe o
quanto estamos completamente arrependidos.
Como eu queria voltar no tempo e não ter te
colocado em um colégio interno! Queria ter ido
as suas apresentações escolares, ter dito todos
os dias que te amava, ter dado amor e carinho,
ter falado o quanto está linda. Minha menininha
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cresceu, e temos sim muito orgulho de você,


porque sem nosso apoio se virou sozinha e
batalhou pelas coisas que queria. — Minha mãe
chora como nunca vi, e meu pai tem uma
expressão cansada, ele está abalado.
Levanto do sofá e com cuidado me ajoelho na
frente deles. Seguro uma mão de cada.
— Vocês não precisam de perdão. Pai e mãe
só temos uma vez na vida. Se passaram vinte e
dois anos, mas ainda temos muitos para corrigir
todos os nossos erros. Se tem uma coisa que
aprendi nesses dias sequestrada é que a vida é
curta demais. Não podemos perder tempo com
brigas, temos que curtir a todo instante, porque
não sabemos o dia de amanhã. Saiba que mesmo
com tudo, eu sempre amei vocês, e sempre
continuarei amando. — Abraço os dois ao
mesmo tempo e choramos.
— Te amamos, minha filha… muito, muito,
muito! — meu pai fala.
— Nunca esqueça que te amamos. E jamais
poderemos pagar o tanto de sofrimento que lhe
causamos.
— Esqueça isso, mãe. O passado já foi. O
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presente está aqui e nos dá a chance de


consertar nos erros.
Me afasto e me sento no sofá. Limpamos as
lagrimas.
— Infelizmente temos que ir a uma reunião
importante... — meu pai fala.
— Tudo bem. Em breve a Beatriz chega e não
ficarei sozinha.
— Por favor, não faça mais loucuras! —
Minha mãe diz e sorrio.
— Relaxem, estou pronta para outra.
— Nem brinque com isso! — meu pai diz
seriamente.
Eles se levantam e me dão um beijo.
— Não precisa nos acompanhar até a porta,
descanse...
— Gente, estou dolorida, andando que nem
um pinguim, mas ainda me movimento.
Levanto e levo-os até a porta. Me despeço e
tranco a porta.
Infelizmente muitas pessoas só enxergam os
erros diante dos acontecimentos graves da vida.
Mas o importante é enxergar os erros, mesmo
que as vezes seja tarde demais.
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Estou prestes a me sentar no sofá e a


campainha toca novamente.
— Gente, é sério… não irei inventar de me
jogar da sacada!
Vou até a porta e abro. Eu me assusto.
— David?
Ele sorri daquele jeito meigo e ao mesmo
tempo safado, que apenas ele sabe fazer.
— Posso? — pergunta indicando com a mão
dentro do apartamento.
— Claro.
Dou passagem a ele. Fecho a porta.
Droga, eu tinha que estar com shorts de
pijama e com uma blusa que faz conjunto, e para
piorar tudo repleto de minis cupcakes?
— Está muito dolorida ainda?
— Que nada... Apenas estou a cópia de um
pinguim andando, mas estou de boa!
Ele sorri.
— Mentira, estou com as pernas doloridas.
Porra, aquele cara sabia chutar bem uma perna.
— ele ri — E você ainda ri? Eu sofro viu!
— Queria conversar com você...
— Estou sozinha. Obriguei a Beatriz ir
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trabalhar, e foi a tarefa mais difícil da minha


vida; e olha que tentei ser psicóloga.
Eu me sento no sofá, e ele se posiciona ao
lado de onde estou.
— Me perdoa? — pergunta em um quase
sussurro.
— Pelo o que? — Sei pelo o que ele pede
perdão, mas quero ouvir.
— Por ter sido um completo imbecil e ter te
levado para as mãos dele.
— Você não foi culpado. Eu que agi como
uma louca, como sempre. Mas acredito que não
seja esse o perdão que quer. — digo em um tom
sério.
— Sim, eu fui o culpado. Fiquei tão focado
em pegar o Jorge e treinar logo a Poliana que
deixei você de lado, e resultou em tudo isso. Se
hoje me perguntasse qual foi o maior erro que
eu já cometi como Delegado, eu diria ter sido
descuidado com você. Mas se perguntasse qual
foi o meu maior erro como David Escobar, eu
diria ter sido orgulhoso ao ponto de negar para
mim mesmo que eu desde que coloquei os olhos
em você, eu te amei.
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Acho que fui ao céu e voltei. Devo ter


entendido errado, só pode!
— Você o que? — pergunto com medo de ter
entendido errado.
— Eu te amo, minha maluquinha. E fui um
merda quando vim alterado até aqui e te disse
que era uma menina. Você é uma mulher
maravilhosa, é a minha mulher maravilhosa.
Liziara, eu pouco me importei se perderia meu
cargo, se seria preso… eu apenas queria te trazer
de volta para mim. Você sempre vai ser mais
importante do que meu sobrenome, minha
carreira, meu dinheiro, minha fama. Por você eu
jogaria tudo isso fora, para ter certeza que você
sempre estaria segura e em meus braços e que
nos amaríamos para o resto da vida. Pode ser
tarde para tudo o que te digo, mas eu te amo; e a
cada vez que penso que eu poderia ter te pedido,
uma parte de mim morre. Eu só te peço uma
chance... me dê uma chance de te fazer feliz ao
meu lado, eu imploro.
Choro, emocionada. Droga, hoje tiraram o
dia para me fazer chorar. Sorte que não passei
rímel, porque está caro.
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— E quem me garante que nada vai voltar a


ser como antes? Que na primeira oportunidade
você vai me largar. Não sou mais a mesma David.
Cansei de baixar a cabeça para suas merdas. Não
vou competir com a Poliana, ou quem quer que
seja. Não sou de ninguém pela metade, e não
aceito que ninguém seja meu pela metade. —
Tento me controlar. Não irei gritar, não mais.
Chega de me humilhar.
— Eu mandei ela de volta para onde tinha
vindo. Poliana não existe mais. Ela tentou ficar,
insistiu, mas mesmo ela sendo vulgar ou como
quiser dizer que ela era, também tinha um
coração; e quanto mais ela ficasse, mais
confusão seria, e mais iludida ela ficaria. Não sou
idiota, sei que ela estava interessada em mim
antes do show dela naquele inferno e da surra
que você deu nela, mas não tenho nada com ela e
nunca tive. Também não pretendo ter. Ela foi
embora com ódio, mas paciência.
— Sem mentiras?
— Sem mentiras, sem Poliana, sem mulher
alguma entre nós, sem bandido algum tentando
te sequestrar, sem nada além de nós dois.
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— Será do meu jeito, David. Se você vacilar,


esqueça que eu existo. Eu passei o inferno e você
sabe disso. Precisou eu ser sequestrada para
você vir até aqui me dizer tudo isso. Então não
torne suas palavras apenas meras palavras.
Torne elas em atitudes.
— Te peço apenas essa chance de mostrar
que meu coração só tem lugar para uma mulher,
e é você. Eu te amo, sempre amei, mas me neguei
a dizer. Uma chance... Se eu vacilar, não será
preciso pedir duas vezes para eu sumir da sua
vida. Mas saiba que não irei vacilar com você,
não mais. Aprendi da pior forma, e não quero
mais aprender assim. — Suas palavras refletem
a verdade em seus olhos. — Parece que estou
destinado a aprender sempre da pior forma. Foi
preciso meu pai morrer para eu me apegar mais
a família, e preciso você quase morrer para eu
deixar meu coração falar, e não mais meu medo.
Não quero aprender mais assim… não com você,
pelo menos.
— Então vem até aqui me dar um beijo,
porque estou com a perna doendo para levantar.
Ela ri.
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— Folgada.
— Sempre.
Ele se aproxima e me pega no colo.
— David! — grito rindo.
Ele caminha comigo em seus braços até o
quarto, onde me coloca com cuidado na cama e
fecha a porta.
Ele sobe em cima de mim com cuidado.
— Eu te amo, meu delegado.
— Só seu, minha maluquinha. Eu também te
amo, meu amor.
Sua boca ataca a minha com uma gostosa
necessidade. Como eu senti falta do beijo dele!
Sinto um frio na barriga. Ele esfrega sua ereção
em mim, e isso me deixa excitada. Solto um
gemido involuntário. Agarro seu cabelo e puxo
com força, e o safado gosta.
— Eu deveria te prender por puxar meu
cabelo desse jeito. — ele diz com a voz rouca de
desejo.
— E o que diria em sua defesa? Afinal, quem
me colocou na cama e me atacou foi você. E tem
mais, não pense que isso é sexo de reconciliação,
porque não sou dessas… ainda estou puta de
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raiva com você.


— Diria que você me enfeitiçou... E não
penso nisso porque te conheço. Penso que é sexo
de “estou morto de tesão e preciso de você”.
Ele beija meu pescoço e fecho os olhos de
prazer.
— Isso... seria uma péssima... mentira... Ah...
— Falaria que apenas apertei seus seios e os
chupei... — Ele o faz. Eu me contorço e agarro a
colcha. — Depois diria que desci minha mão
para dentro da sua calcinha e te estimulei... —
Sua mão desce para dentro da minha calcinha e
ele faz o que disse.
— David... — Ele puxa meu short com a mão
livre e o arranca. Logo depois faz o mesmo com a
calcinha.
— Depois eu diria que não resisti e coloquei
minha cabeça entre suas pernas e a chupei.
— Porra! — digo quando sinto sua boca me
chupando.
Ele chupa com força, e sei que não irei
resistir por muito tempo.
— Falaria também que você gozou na minha
mão, quando penetrei dois dedos dentro de
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você... — Ele faz e não resisto. Suas palavras


instigaram a isso, e eu gozo em sua mão.
— Você quer acabar comigo...
Ele começa a tirar a roupa rapidamente, e
em segundos está completamente nu. Retiro a
blusa.
— Você é linda. — ele diz me admirando.
Ele se encaixa entre minhas pernas.
— Tentarei ser cuidadoso afinal você está
dolorida… e também terei que dizer na minha
defesa que fui cuidadoso... — ele provoca.
— Se for cuidadoso, eu te enforco. — ele
sorri. — Mete logo, porra!
— Boquinha suja. — diz rindo.
Ele encaixa seu membro na minha entrada
gozada. David se inclina em cima de mim e vai se
encaixando.
— Caralho... você é sempre tão apertada e
tão quente... Assim fode a minha ideia de tentar
ser romântico.
— Não pedi por isso... — Arranho suas
costas.
— Se ficar marcado vai pagar caro, meu
amor. — sorri com malicia.
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— Adoro pagar car... — Não consigo


terminar, pois ele me penetra com força. —
David!
Sua boca vem até a minha, e ele me penetra
com rapidez. O som dos nossos corpos se
batendo é nítido. Ele afasta a boca da minha.
— Você a única mulher que irei foder e fazer
amor… a única. Você é minha! — ele sussurra
roucamente no meu ouvido, e eu grito de prazer.
O suor escorre por nós. O cheiro do David
me deixa ainda mais louca. Suas estocadas são
firmes e rápidas. Meus seios chacoalham no
ritmo que sou penetrada. Estou sentindo o
orgasmo vir e começo a intensificar meus
gemidos. Ele sabe, pois me penetra ainda mais
forte.
— E por último... direi que você gozou no
meu pau e teve um orgasmo debaixo do meu
corpo… e que eu gozei dentro de você como um
louco...
— Ah... David! — grito seu nome quando o
orgasmo me atinge. Gozo como uma louca. Meu
corpo tem espasmos. Ele continua investindo,
mas em segundos sinto seu gozo dentro de mim,
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e ele goza me chamando.


Sua boca vem até a minha e me dá um beijo
casto.

Estou na cozinha de apenas calcinha e sutiã.


Tomei banho, e como está calor, não ligo de ficar
assim em casa; e foda-se se tiver vizinhos
olhando, não mando ninguém olhar o
apartamento alheio. Mas o David saiu fechando
todas as cortinas que tinha, puto de raiva
comigo.
Estou comendo nutella com a colher. David
entra na cozinha e encosta no batente da porta.
— Que foi? — pergunto.
— Seu corpo... — Tiro a colher da boca.
— O que tem? Estou mais roxa do que eu vi?
Droga! — Abaixo a cabeça olhando para meu
corpo.
— Não... é que... Deixa pra lá. Estou atrasado,
tenho um caso para resolver.
— Nem pense nisso. Diga logo o que tem

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meu corpo!
— Amor, eu tenho que me trocar. Não tem
nada demais, foi apenas uma coisa que reparei,
nada demais.
— Como assim nada demais? Se reparou é
porque está grave. David, você como delegado é
um bom observador, não iria dizer isso à toa.
Diga logo! — Largo o pote de nutella e a colher
na pia.
— Deixa eu me trocar primeiro.
— Você está fugindo do assunto... Fala logo!
— Está bem. — Ele respira fundo. Até parece
que vai dizer a rainha da Inglaterra que o cabelo
dela está péssimo. — Desde que estávamos no
quarto eu notei, e agora percebi ainda mais. Seus
seios estão maiores, seu quadril um pouco largo,
e você sempre teve a barriga lisa, mas ela está
parecendo um pouco inchada...
— David Escobar, você está me chamando de
gorda?!
— Não... Eu apenas quis dizer que seu corpo
está mudado.
— As características foram basicamente me
chamando de gorda!
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Saio da cozinha e paro na sala a tempo a


porta ser aberta. É a Bia.
— Resolveu desfilar de lingerie hoje? — ela
brinca.
— O idiota do David me chamou de gorda!
Porra, olha para mim, eu estou gorda? — ela
sorri.
— Eu não chamei você de gorda, Liziara!
— Merda, espero que não tenham feito nada
em cima da pia! — Beatriz diz tampando o rosto.
— Não fizemos. E se fosse acontecer, não
daria… afinal sou gorda! — grito com uma puta
raiva.
— Liziara, você está meio... Bom, está
diferente. Chorona, surtada, para não dizer
bipolar... — Bia diz ainda com os olhos
tampados.
— Até você, Bia?
— Beatriz, descobre esse olho. Não estou
nu... E vai me dizer que nunca viu um homem de
cueca? — ele provoca ela.
— Vocês ainda vão me enlouquecer. Eu
preciso de férias de vocês.
Ela vai para o corredor e entra no quarto
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dela.
David para na minha frente e segura minha
cintura.
— Amor, eu não te chamei de gorda. Não
precisa surtar. Apenas fiz um comentário
inocente. Porém quero te fazer uma pergunta
séria.
— Faça.
— Você está tomando regularmente o
anticoncepcional?
Engulo a seco. Acho que fiquei pálida porque
ele me olha estranho. Eu me afasto e me sento
no braço do sofá.
— Anticoncepcional?
— Sim.
— Aquele que evita gravidez?
— Liziara...
— Claro... Estou tomando certinho. Afinal
você confiou em mim, pois sou a única que você
foi para a cama sem camisinha. Eu jamais, em
hipótese alguma eu ferraria com tudo...
— Não confiei no que disse, mas irei deixar
passar porque tenho que ir. — Ele me dá um
beijo — Tenho que me trocar.
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Ele sai da sala e me levanto, sentando direito


no sofá. Estou tão preocupada, que só lembro da
dor nas pernas quando sento com tudo.
— Quando foi mesmo que eu tomei? —
Esfrego a testa — Merda, não lembro! Estou
fodida!

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Capítulo 11

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Liziara Araújo
Faz alguns dias desde o sequestro e estou
mais calma. David não desgruda de mim, e amo
isso, sua preocupação, amor e carinho sem
limites. Ainda estou afastada da boate… Daniel
preferiu assim até eu me recuperar totalmente.
As pernas já não doem mais, porém o que as
vezes acontece são alguns enjoos, mas é muito
raro… e, sim, eu estou com medo sobre o que
pode estar causando os enjoos; o que me deixa
longe dos hospitais e farmácias, porque a única
coisa que se passa na minha cabeça é gravidez, e
estou apavorada que seja isso, afinal minha
menstruação está atrasada, e pelas minhas
contagens a dois meses. Louca por ainda não ter
feito um teste? Sim, eu sou. Mas, eu irei fazer,
estou criando a coragem que me falta. Se o David
sonhar que eu comecei a me atrapalhar com os
horários do anticoncepcional e esquecia de
tomar devido ao trabalho na boate, que me
gerava muita canseira e me tirava muito tempo,
e o tempo livre eu queria saber de dormir, estar

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com ele e sair, e esquecia até meu nome do jeito


que sou, com toda certeza ele vai surtar comigo.
— Liziara, foca! — Beatriz e Daiane falam.
Ambas estão de folga e resolvemos nos juntar no
apartamento.
Quero fazer uma surpresa para o David, algo
bem sensual e romântico ao mesmo tempo, e
elas estão me ajudando nas ideias.
— Eu conheço bem meu irmão. David é do
tipo que faz de tudo, se é que me entendem, mas
não é o tipo de cara que faz isso em lugares
públicos. Henrique e ele são mais travados nesse
quesito, a não ser que estejam à beira de
gozarem nas calças. — Olhamos chocadas para
elas — Meninas sou sincera. Uma vez o
Henrique ficou tão excitado com uma menina na
boate que transou com ela no banheiro
feminino, e eu e mais outras tivemos o azar de
ver isso, tenho trauma até hoje. David transou
com uma funcionária na piscina do clube que a
família reservou apenas para nós, e minha mãe
pegou ele, coitada. — Ela toma folego e continua
— Então pense bem na loucura que vai fazer. Ele
nunca faz, e quando faz tem tendência a ser
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pego.
— Na piscina? Que cachorro! Irei focar na
parte que agora ele está comigo. — digo e elas
riem. — Mas eu pensei em um determinado
lugar... Droga. Por que ele não puxou ao tio dele?
Esse sim tem cara que não liga para fazer certas
coisas em lugares inapropriados. — Daiane ri.
— Sorte sua que não puxou ao meu tio.
Aquele ali é o pior de todos da história da
safadeza. Ele é dono do cabaré todo. São tantas
cenas que vi sem querer e que fui obrigada a
ouvir da boca dele, que sinceramente, tenho até
nojo. Não é algo que uma sobrinha quer ver ou
saber do tio. Uma vez peguei ele na sala dele
com a Débora...
— Com quem? — Beatriz quase grita.
— Vocês não sabiam? — franzimos o cenho
— Ele e ela tiveram um relacionamento a anos
atrás... Bom, eles diziam que era apenas um caso
e nada mais, porém não era o que parecia...
Enfim, o assunto é o David. Você quer algo
romântico e sensual. Por que não vão para a
fazenda da família? Lá é lindo para isso. Ou a
casa de praia.
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Ainda estou chocada em saber que o Marcos


e a Débora... Preciso focar no David, mas a
fofoca é tão boa. Merda, a cara da Bia não está
boa.
— Quero algo por aqui. Ele não vai querer
viajar agora.
— O que quer afinal? Poderia fazer algo
único e que fosse ficar marcado para o resto da
vida dele. — Beatriz fala.
— É isso, Bia! Tive uma ideia. Meninas vocês
são ótimas, mas eu tenho que sair, preciso fazer
umas comprinhas.
— Liziara, pelo amor de Deus, o que vai
aprontar? — Beatriz pergunta preocupada.
— Prometo contar tudo depois.
— Me poupe de certos detalhes... Ele é meu
irmão, é nojento.
— É tudo, menos nojento. — digo, indo para
o quarto me trocar e pegar minha bolsa.
Hoje será um dia marcante.

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David Escobar
É tarde, estou praticamente só na delegacia.
Não fui ainda ver a Liziara, mas depois daqui
irei. Estou cansado. Quero férias, eu preciso de
férias.
Meu celular toca. É a Liziara.
— Oi, meu amor. — digo a ela.
— Está na delegacia? Me diz que sim!
— Estou. Por que?
— Está sozinho?
— Estou... Mais ou menos, tem policiais, e
mais ninguém.
— Ótimo. Eu já imaginava. Estou entrando.
— ela desliga.
O que está acontecendo?
Minutos depois a porta se abre. As persianas
estão fechadas. Ela entra. Está com um
sobretudo preto, saltos altos, bolsa. E isso até
seria sexy se não fosse preocupante.
— Amor, está um calor terrível lá fora. Por
que está...
Não tenho tempo de dizer. Ela retira o

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sobretudo e revela o que escondia. Ela veste um


sutiã preto, acompanhado de uma calcinha preta
com uma mini saia rendada da mesma cor. Ela
retira da bolsa um enfeite de orelhas de gato e
coloca na cabeça.
Tento me conter, mas não aguento e começo
a rir.
— O que foi? — ela pergunta inocentemente.
— Liziara, eu não acredito. Roupa de mulher
gato? — gargalho.
— David, eu não acredito! Estou toda sexy
aqui. Rodei tudo quanto é sexy shop para achar
essa roupa e você ri?
— Amor, é que está engraçado, apenas isso.
— Eu me acalmo da gargalhada — Você é louca?
Estamos na delegacia.
— Devo ser por achar que te encantaria. Que
humilhação. Quanta calúnia!
Ela pega o sobretudo e a bolsa e caminha até
a porta.
— Onde pensa que vai assim?
— Embora. Na rua alguém pode achar
atraente.
Levanto rapidamente da mesa e a seguro,
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puxando para mim.


— Uma porra! Você sair assim, eu juro que te
mato!
— Me solta! Já te diverti muito.
— Não foi porque eu ri que não estou
excitado. Você é gotosa e muito linda, sabe disso.
Acha mesmo que não me atrairia vestida assim?
Porém você veio ao local errado, pois se eu
perder meu cargo, a culpa será apenas sua.
Puxo as coisas da sua mão e jogo para baixo
da mesa.
Coloco ela no espaço livre em cima da mesa.
Eu me coloco entre suas pernas e tomo seus
lábios para mim. Esfrego minha ereção e ela
geme.
— Mulher gato... É, combina com você. Bem
arisca como uma quando está com ciúme.
Beijo seu pescoço e ela enrola as pernas ao
meu redor. Desço até seu sutiã, abro o fecho na
frente, e chupo seu seio enquanto massageio o
outro.
— Merda... Se... Eu gritar aqui... Os outros
policiais... — Ela desiste de falar.
— O que ia dizer, amor? — pergunto
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provocando.
Pego ela no colo e caminho até minha
cadeira. Coloco ela no chão. Eu me sento na
cadeira e puxo-a para se sentar em meu colo de
costas para mim. Assim que ela senta, afasto
suas pernas, e sem cerimonias, invado sua
entrada com um dedo enquanto aperto um de
seus seios. Ela grita, e pouco me fodo para quem
vai ouvir. Faço um vai e vem com o dedo, e ela se
abre mais para mim. Desço a outra mão e
massageio seu clitóris. Ela tenta fechar as
pernas, mas a impeço. Meu pau está cada vez
mais duro e irei gozar nas calças se ela rebolar
mais um pouco em meu colo como faz.
— David, eu vou...
Escuto barulho na fechadura da porta. Tiro
rapidamente meu dedo de dentro dela. Ela se
levanta, assustada, e se coloca embaixo da minha
mesa. Eu me ajeito e tento esconder a porra da
ereção que estou, mas não resolve muito… justo
hoje vim com uma calça bem justa.
Cleber entra na sala e finjo estar olhando uns
papeis. Coloco os pés em cima da mesa, para
tentar esconder mais a ereção.
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— Esqueci meu celular. Não imaginei que


ainda estivesse aqui. — ele diz e sorri.
— Muito trabalho.
— Entendo... Olha, achei... — Ele pega na
mesa do escrivão. — Vai para casa e toma um
banho bem gelado...
Ergo o olhar dos papeis.
— Por que diz isso? — tento ser sério.
— Não adiantou a forma de esconder que
está com uma porra de uma ereção. A sala cheira
a sexo. E Liziara, boa noite, adorei seu sapato…
comprarei um igual a Débora.
— Merda! — Ela bate a cabeça na mesa. —
Boa noite, Cleber.
— Vocês dois são loucos. — ele diz rindo e
sai da sala.
Ela sai de baixo da mesa e começamos a rir.
— Poderia ter sido pior. — ela diz.
— Sim. Poderia ter sido meu superior.
Vamos terminar isso em casa.
— Pensei no carro...
— Chega de complicações por hoje.

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Liziara Araújo
É sexta-feira. David e eu, junto aos Escobar e
a Beatriz, estamos na fazenda da família que
ninguém vem a tempos. É tudo lindo como já
poderia se imaginar. Dona Paula não quis vir, diz
ainda não estar preparada para vir para cá sem
o falecido esposo, Joseph, pois quando recebeu a
notícia da morte dele, ela estava aqui. E desde
todos esses anos, nunca mais quis vir para cá.
É noite e faz um pouco de frio. Estamos ao
redor de uma fogueira, contando histórias,
rindo, comendo marshmallow e nos divertindo
bastante. Estou no meio das pernas do David.
Henrique tem a cabeça deitada no colo da Ana.
Daiane e Bia estão juntas em um cobertor, e
Marcos está deitado com a cabeça nas minhas
pernas. Yasmim, a filha do Henrique e da Ana
está dormindo lá dentro, mas a babá eletrônica
está aqui para qualquer alerta.
— Então, qual era a novidade que queria nos
contar, Liziara? — Ana pergunta animada.
— Contarei se prometerem não rir.

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— Ninguém vai rir, amor.


— Eu não prometo nada, porra louca. —
Marcos diz e dou um tapa na testa dele — Ai, sua
porra! Anda pior do que uma gata arisca! — ele
diz esfregando onde bati.
David, eu, Daiane e Beatriz começamos a rir,
pois elas sabem do que aconteceu na delegacia,
com a fantasia de mulher gato.
— O que foi? — Henrique pergunta.
— Nada. Piada interna. — David e eu
dissemos juntos.
— Diga logo, estou curiosa! — Daiane fala.
— Certo. Eu decidi que não darei
continuidade no curso de psicologia, mas
iniciarei outro curso.
— E qual curso? — David pergunta.
— Direito. Quero ser delegada.
Todos começam a gargalhar.
— Gente, não era para rir, poxa. Falo sério.
— Liziara, você delegada? Me recuso a viver
em um país que uma das delegadas seja você. —
Marcos provoca.
— Problema seu. Posso ser uma boa
delegada para sua informação.
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— Tem certeza? — Henrique pergunta


zombeteiro. Ana dá um tapa nele — Que foi,
minha advogata ruiva?
— Acho que ela seria uma boa delegada.
Seria atrapalhada, mas seria boa. — Daiane diz
sorrindo.
— Ufa, pelo menos uma. — digo.
— Sou sua amiga e serei sincera. Você não
tem jeito para isso… é toda atrapalhada, é capaz
de se prender no lugar do bandido. — Beatriz
diz rindo.
— Vou me arrepender disso, mas tenho que
concordar com a Senhorita Invocada. — Marcos
fala.
— Não me provoca, seu Juiz de quinta! — ela
diz.
— Não comecem! — Falo.
— Amor, o que quiser fazer, eu irei te apoiar.
Seria ótimo ter uma delegada gostosa e linda
como você ao meu lado ao invés daqueles
homens todos. — ele diz e me dá um beijo.
— Acho que vou vomitar! — Daiane fala.
— Estamos torcendo por você. — Ana fala e
sorrio para ela.
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Beatriz coloca um marshmallow na fogueira


e o cheiro adocicado me embrulha o estomago.
Sinto um enjoo forte. Levanto rapidamente e o
Marcos bate a cabeça no chão e me xinga. Saio
correndo sobre os gritos de todos atrás de mim.
Entro na casa e corro para o primeiro banheiro.
Fecho a porta e me jogo ao lado do vaso
sanitário; levanto a tampa e começo a vomitar
tudo o que comi.
A porta se abre e escuto passos e logo ela
fecha.
— Hey, o que aconteceu, Lizi? — Bia
pergunta.
Limpo a boca com o papel higiênico e dou
descarga. Abaixo a tampa da privada e sento em
cima. Estou fraca e tremendo.
— O cheiro do marshmallow me enjoou. Sei
lá...
— Liziara, vire mexe você anda tendo enjoos
e teima em ir ao médico. Não contei ao David do
dia que estávamos em seu apartamento e quase
colocou os órgãos para fora, mas terei que
contar. Olha como está. — Daiane diz
preocupada.
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— Linda, quanto tempo anda assim? — Ana


pergunta.
— Há um tempo já.
— Sua menstruação está atrasada, não é? —
ela pergunta novamente.
— Sim.
— Você realmente deu uma engordada… não
tão drástica, mas é notável, já que é bem magra.
— Bia fala.
— Liziara, eu fui mãe, e conheço bem os
sintomas. Você está grávida. — Ana diz animada.
— Precisa fazer um teste, mas tenho certeza!
— Não posso... — Sou interrompida por
batidas na porta.
— Liziara, abre a porta! — David diz.
— Não... Se ele sonhar, não sei o que é capaz
de acontecer... — digo baixo.
— Ele tem que saber. — Daiane diz.
— Eu não posso perder o David!
— Liziara, abre logo, ou coloco essa porta
abaixo! — ele grita.
A Ana abre.
— Vem, precisamos conversar. — ele fala em
um tom sério.
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— David... — Henrique tenta dizer, mas


David faz sinal para ele parar.
— Quero conversar com a minha namorada
e tenho esse direito. Vamos, Liziara.
Levanto da privada e saio do banheiro.
Subimos para o quarto que estamos. Ele
fecha a porta. Eu me sento na cama, pois ainda
estou um pouco fraca.
— Quando ia me contar que sua
menstruação está atrasada e que anda tendo
enjoos? Eu escutei quando disse a elas!
— David, eu não contei porque estava e
ainda estou com medo.
— Eu te dei a chance de dizer quando
comentei que notei mudança em seu corpo. Por
que não aproveitou aquele dia e disse?
— Porque eu tive medo!
— Amanhã cedo irei comprar o teste de
gravidez porque esta tarde. Mas pelo visto já
temos certeza, não é mesmo?
— David, eu sei que falhei. Droga, fui
irresponsável com o remédio, quando confiou
em mim. Eu mereço que me xingue, surte, mas
só não me deixe, por favor. Eu não tenho
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vergonha de me humilhar pedindo isso a você.


Eu já sofri demais por você, e não vou sofrer
novamente. Se me deixar, é para sempre, pois
não retornarei mais. — digo com a voz
embargada pelo choro.
— Eu não irei te deixar. Que tipo de homem
pensa que eu sou? Eu sempre soube que era
atrapalhada, desligada, e sim, eu confiei que
você tomaria corretamente o medicamento, mas
não sou idiota ao ponto de acreditar que isso
não iria falhar, e sabia que logo iria acontecer
isso em relação eu não querer camisinha. Não
estou te culpando, Liziara, e tenho certeza
absoluta de que espera um filho meu e vou
assumir a criança. Eu não irei te deixar por isso,
jamais pense nisso. Eu te amo e isso jamais
mudará. Eu tinha medo, e construir uma família
diante do medo é difícil. Quando perdi meu pai,
prometi que não sofreria a dor da perda
novamente, preferia morrer ao sofrer aquilo.
Mas você chegou em minha vida e tudo mudou.
Não irei te deixar, acredite em mim. — Ele se
aproxima e me dá um beijo na testa.
— Por que senti que esse beijo foi uma
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despedida? — pergunto preocupada.


— Vou sair, mas eu volto, não se preocupe.
Sempre irei voltar para você, meu amor.
— David, onde vai? É tarde.
— Tome um banho e descanse, quando
acordar eu estarei ao seu lado.
Ele então sai do quarto.
Fico deitada olhando para o nada por um
bom tempo.
Depois de talvez horas, tomo um banho,
escovo os dentes para tirar o gosto ruim que
ficou na boca e desço.
Apenas Ana está na sala, amamentando a
Yasmim.
Eu me sento no sofá de frente para o que ela
está.
— Ele não voltou, não é? — ela pergunta.
— Sim. Não disse para onde iria.
— Vimos ele sair. Não saiu de carro. Marcos
disse que ele deve estar no chalé da família, que
fica depois do lago. Disse que é o lugar predileto
dele aqui.
— Ana, estou com medo. Eu não sei se vou
ser uma mãe boa... — digo em um quase
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sussurro.
— Eu sei. Também fiquei quando engravidei.
É difícil ser mãe quando não teve um bom
exemplo. Minha mãe, todos sabem que nunca me
suportou, mas tem coisas que nunca contei a
ninguém, mas sinto que devo te contar. Quando
pequena ela nunca me fez uma festa sequer de
aniversario, e nem me dava parabéns. Certa vez
escutei ela dizer ao meu pai que eu fui o pior
erro dela, e ele concordou. Eles nunca quiseram
ter filho, mas aconteceu. Nunca foram a
nenhuma apresentação escolar minha, nem ao
menos a minha formatura da faculdade. Sempre
odiaram eu ter escolhido Direito Criminalista...
Yasmim dorme mamando e ela retira a
mamadeira.
— Quando conheci o meu ex-noivo, Rodolfo,
o seu antigo professor. — ela sorri — Eu
trabalhava, estudava e mantinha a vida dos
meus pais, que só queriam meu dinheiro. Mas
então quando fui morar com ele, decidimos que
eu deixaria o emprego e focaria na faculdade e
ele me ajudaria; e foi neste momento que tudo
piorou. Eu não tinha mais dinheiro para oferecer
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a eles, e eles simplesmente passaram a me


suportar ainda menos. No dia do meu casamento
com o Henrique ela apareceu, mas eu vi em seus
olhos que ela não tinha mudado, e que foi ali
apenas ver se era verdade que eu estava me
casando com o advogado criminalista mais
famoso. E como já viu, ela só me liga para pedir
dinheiro… diz que tenho obrigação de dar
dinheiro a ela e meu pai, e ele ainda confirma.
— Eu sinto muito, Ana... Não imaginava que
eles poderiam ser assim.
— Diante de tudo isso, que exemplo eu
poderia ser a minha filha? O que ensinaria a ela?
Como no futuro diria que quase fui presa por um
crime que não havia cometido? E foram essas
perguntas e muitas outras que me fizeram ter
medo. Mas eu descobri que eu poderia ser uma
boa mãe e dar a ela o que nunca recebi dos meus
pais, amor, carinho e proteção. E claro, com o
Henrique ao meu lado, tudo ficou mais fácil. —
Seus olhos brilham ao falar dele. O amor dos
dois é lindo.
— Acha que eu posso ser uma boa mãe?
Mesmo que o David desista de mim e cumpra
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apenas com o papel de pai?


— Você vai ser uma boa mãe. E ele jamais vai
desistir de você. Ele te ama e vai amar essa
criança como todos nós.
— Obrigada, por confiar em mim para contar
tudo isso. — ela assente e sorri.
Henrique aparece na sala.
— Aconteceu algo? — ele pergunta
preocupado. Estava dormindo pelo visto.
— Não. Estávamos conversando apenas. —
Ana diz.
— David retornou? — ele pergunta e nego.
— Vá deitar Liziara, é tarde. Amor, você
também. Vou acender a lareira do quarto da
Yasmim, pois está frio.
— Vai em algum lugar? — ela pergunta.
— Vou atrás do meu irmão. Está muito tarde
e estou preocupado, e não consigo dormir em
paz. Meu tio é capaz de descer daqui a pouco,
pois vi a luz do seu quarto acesa e escutei
barulho.
— OK. Tome cuidado. Vamos Lizi, você me
acompanha. — Ana pede.
Subimos. Fui para meu quarto e ela foi ao da
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Yasmim, que é ao lado do dela.


Deitei na cama e me cobri. Estou
preocupada. E se o David não estiver no chalé?!
Acordo sentindo um carinho na minha
bochecha. David me olha e sorri.
— Onde estava? Fiquei preocupada.
— No chalé. Precisava ficar um pouco
sozinho. — ele sorri.
— Está bravo comigo, não é? Pisei feio na
bola.
— Não amor, eu não estou. Apenas um pouco
assustado, porque ter filho é mais
responsabilidade do que ser um delegado e
envolve muita coisa. Mas não estou bravo com
você e não ficaria. Eu te amo e sempre vou te
amar.
Sua mão desliza para minha barriga, onde
ele faz contornos com os dedos.
— Eu também te amo, e estou assustada
também. Mas vamos ser bons pais, eu tenho
certeza... Se bem que eu como mãe é algo
grave... — ele sorri.
— Será uma mãe perfeita… louca, mas
perfeita. — Ele franze o cenho.
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— O que foi?
— Liziara, há quanto tempo a sua
menstruação está atrasada?
— Dois meses... por ai.
— Eu não acredito. Então quando você se
meteu em perigo, lutou com o Jorge e sabe se lá
o que mais aprontou, estava gravida! Eu vou te
enforcar! — ele diz nervoso.
— Em minha defesa, ainda não confirmei
que estou gravida.
— Quer mais provas? Menstruação atrasada,
enjoos, engordando, comendo mais que o
normal e ficando bipolar não são o suficiente?
— Em minha defesa? Não. Apenas amanhã
cedo depois do teste você surta... Nossa, estou
com um sono. — Eu me viro para o outro lado.
— Isso não acabou. Depois desse teste você
vai ao médico, e pode ter certeza que vai
implorar para eu te deixar, porque serei mais
protetor do que nunca, porque você é louca! E
pode esquecer sexo, porque não irei machucar
nosso filho.
— David, isso é demais! Mulher gravida pode
fazer sexo, porém tem que ter mais cuidado.
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— Pode esquecer. Criarei a porra de calos na


mão e viverei como uma porra de um
adolescente virgem, mas sem sexo a partir de
hoje.
— Porra!
A Bia estava certa ao dizer: Os Escobar são
para foder o juízo, e não é no bom sentido.

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Capítulo 12

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Liziara Araújo

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Meses depois...
Estou com quatro meses. Minha barriga já é
notável. E como não seria? Estou gravida de
gêmeos. Isso mesmo. David quase morreu
quando soube, e eu desmaiei, literalmente. Mas
aos poucos nos acostumamos com a ideia. Ainda
não sabemos o sexo, porém Marcos provoca
dizendo que serão duas meninas para arruinar a
vida do David, e ele diz que se isso acontecer é
porque está pagando os pecados.
Hoje vou almoçar com ele. Irei me encontrar
na delegacia, onde acabo de chegar.
Saio do carro sem esperar pela porta ser
aberta pelo Alex, contratado pelo David e
escolhido pelo Luciano e Simon, seguranças
mais velhos da família. Ele está ao meu dispor a
todo momento.
Encontro Cleber na entrada. Ele me
cumprimenta.
— Quem matou? — ele brinca.
— Vim para matar o que está me matando.
— A fome. Adivinhei?

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— Totalmente. — sorrimos.
— David está ocupado agora, mas entre e
espere na sala de reuniões se preferir.
— Certo. — Olho para ele e percebo que não
está de farda. — Folga?
— Não. — Ele sorri. — Não sou mais policial.
— Que?! Como? Por que? — pergunto
preocupada.
— Vim trazer a notícia ao David. Sou o mais
novo investigador da delegacia.
— Ai que maravilha!
Dou um abraço ele.
— Parabéns. Você merece.
— Obrigado! Agora entre, se David te pegar
aqui, me enforca e te enforca.
— Nem me lembre. Boa sorte na nova
carreira. Mande a Débora ir me visitar, ela some.
— Mando sim. — Ele me da um beijo no
rosto. — Até mais.
— Até mais! — Ele se afasta.
Entro na delegacia. Cumprimento algumas
pessoas que já me conhecem.
Eu me aproximo da sala do David ,e ele está
saindo com uma moça chorando
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desesperadamente. Fico preocupada e


angustiada por vê-la assim.
— Vamos encontrar. Não se preocupe! — ele
diz a ela.
Ela se afasta e ele respira fundo.
— O que aconteceu? — pergunto
preocupada.
— O filho desapareceu. Saiu para ir até a
casa de um amigo no mesmo condomínio de
casas e não voltou. Faz três dias. Ninguém tem
notícias e não tem pistas do paradeiro.
— Meu Deus! Quantos anos?
— Sete anos. O amigo mora na casa ao lado.
— Gente! E você acha que tem possibilidades
de encontra-lo?
— Infelizmente não sei dizer. Ele é branco,
olhos claro, loiro, sabemos que são as
características procuradas por pessoas que
comandam tráficos de crianças, trabalho
escravo, entre outros.
— Sinto tanto pela família.
— Odeio quando envolve criança. Fico puto
de raiva.
— Imagino...
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— Vamos almoçar.
— Vamos sim.
Ele olha para trás de mim e xinga.
— Porra, estou pagando meus pecados!
Vocês novamente! Acho que vou dar um jeito de
contratar vocês, já se tornaram parte de mim!
João Ricardo e Maximiliano, o que aprontaram
agora?
Eu me viro e sorrio.
Desde que conheço o David, perdi as contas
quantas vezes vierem parar aqui.
Cleber está com eles e sorri.
— Tinha que trazer os dois até aqui dentro
antes de sair. Não resisti. Pedro trouxe eles, mas
eu tive que fazer essa honra. — rimos.
— Senhor, esse moço implica muito! Toda
vez nos pega. A gente dessa vez não fez nada. —
João Ricardo diz.
— Não fizeram nada? Santos, claro! — David
fala. — Leve eles para sala. E chame Pedro para
relatar o que aconteceu.
— Esses vão entrar para o livro de recordes
de tanto que estão vindo aqui! — Cleber fala.
— Senhor, livra nós! — Maximiliano pede.
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— Livrar? Infelizmente é o que vai


acontecer. Esse é o nosso país. Se pudessem ter
um corretivo melhor, não estariam mais
aparecendo aqui. — David diz.
Eles são levados para sala do David. Cleber
se retira rindo. Pedro entra na sala.
— Já iremos, espera um momento, amor. —
David pede.
— Sem problemas. — sorrio.

Estamos indo almoçar no restaurante


próximo a delegacia. David mantem o braço na
minha cintura.
— David, tira essa arma da cintura, porra!
Todo mundo está olhando! Já não basta estar de
óculos de sol para te deixar mais sexy!
— Devem estar olhando a porra desse
vestido curto. E não implique com minha
amante.
— Sério que terei que ouvir que sua arma é
sua amante?

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— Sim. — ele diz como se fosse a coisa mais


normal do mundo.
Uma mulher passa por nós e fica olhando
para o David.
— Boa tarde, Delegado. — ela diz.
— Boa tarde. — ele diz sorrindo e ela
continua andando.
— Que porra é essa?
— Apenas fui educado, amor.
— Ela te comeu com os olhos!
— Paciência, amor!
— Quais são as chances do Henrique ser meu
advogado, e o Marcos, meu juiz?
— Depende. Por que?
— Porque irei te matar! Filho da...
— Olha a boca. — Ele me para no meio da
calçada, me agarra e me dá um beijo. — Eu te
amo e só tenho olhos para você, minha
maluquinha.
Sinto alguém agarrar minha perna. Eu me
assusto e me afasto do David. Olho para baixo e
vejo um menininho, assustado e chorando.
— Tia, me ajuda! — ele pede. Meu coração se
aperta.
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David retira o óculos, colocando na camisa e


olha assustado para o menino, e se abaixa
ficando na altura dele. Faço o mesmo com
cuidado, devido a barriga. Eu me apoio no David.
O menininho é lindo. Está meio sujinho e
assustado.
— Qual é seu nome, meu amor? — pergunto.
— Diego. Eu quero minha mãe. — ele pede
esfregando os olhos, chorando.
— É ele, Liziara! O menino que a mãe
procura. Ela me deixou foto dele e é o nome dele.
É ele!
— Tio, me leva até minha mãe... — Ele olha a
arma do David e se assusta, mas eu sorrio para
ele entender que está tudo bem. — Você é da
polícia. Polícia ajuda. Se for, me ajuda, tio!
Olho emocionada para o David, que está
emocionado com o menino.
— Vem, o tio vai ajudar. — Ele se levanta e
pega o menino no colo. Em seguida me ajuda a
levantar — Como chegou até aqui?
— Eu fugi. Um homem me pegou, mas eu
fugi.
— Sabe dizer como era o homem?
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— Não tio. Eu tinha medo de olhar tanto pra


ele. — Ele chora e esconde a cabeça no pescoço
do David.
Sinto as lagrimas rolarem pelo meu rosto.
— Amor...
— Eu sei. Vamos voltar para a delegacia.
Esse menininho vem em primeiro lugar. —
sorrio.

Voltamos para delegacia. Fomos direto para


sala dele. David e sua equipe começam a
trabalhar no assunto. O menininho não quer sair
do colo dele de jeito algum.
— Vem com a tia. Prometo que não vamos
sair daqui. Eles vão falar com sua mamãe.
— Não. Eu quero ficar com ele. Ele é herói
igual o Batman. — todos sorriem.
— Está tudo bem. — David diz.
Fico emocionada com a atitude do David.
Nunca vi ele agir em um caso dessa maneira.
Quando a mãe chegou, foi um lindo
reencontro. David cuidou junto a sua equipe,
para que todos os trâmites fossem feitos, mas
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eles terão que vir outras vezes, para mais


depoimentos, e outras coisas muito importantes.
Quando foram liberados, David fez a eles a
promessa de que encontraria quem pegou o
menino, para que não acontecesse nunca mais..
— Vem aqui. — ele pede me chamando para
seu colo.
Vou até ele e me sento em seu colo. Ele
coloca a mão na minha barriga.
— Se um dia acontecer algo com essas
crianças, não sei do que sou capaz. Hoje senti
como se aquela criança fosse meu filho. Senti a
dor daquela mãe.
— Eu sei. Também senti a dor dela.
Ele dá um beijo na minha barriga e mexo em
seu cabelo.
— Vamos almoçar e tirar esse clima. Vamos
relaxar.
— Só conheço uma forma de relaxar, David.
— Nem pensar. Não vou machucar eles.
— David, por favor. Eu estou pirando! — ele
sorri. — Não faça isso comigo. É tortura. Está me
fazendo pirar a meses — Eu me esfrego
propositalmente em seu colo.
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— Não me provoque. Sei o que está fazendo.


— Não estou fazendo nada...
Beijo ele com desejo. Me mexo em seu colo e
sinto sua ereção ganhar vida.
— Liziara... — ele sussurra em meus lábios.
— Vamos para casa. Porra, não aguento mais,
você venceu!
— Vamos agora!
Me levanto e ele se levanta.
— Vamos antes que o escrivão chegue e me
pegue nesse estado.
— Adoro esse seu estado.
Ele pega as coisas dele.
— Vamos, safada. — Ele me dá um tapa na
bunda e rio.
Saímos de mãos dadas. O almoço? Bom,
ficara para depois, já tinha comido antes de sair
de casa mesmo.

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Epílogo

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Liziara Araújo

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Tempos depois...
David está na delegacia e eu estou na casa da
Dona Paula. Meus pais tiveram que viajar com
urgência, e com a Bia trabalhando, David ficou
com medo de me deixar sozinha, porque estou
nos dias finais da gravidez. Meu médico disse
que tenho como ter o parto normal, pois as
minhas meninas Laura e Helena, estão na
mesma posição. Fiquei muito feliz, pois meu
sonho é o parto normal.
Estou deitada na cadeira embaixo do guarda
sol na beira da piscina. Marcos e Daiane estão na
piscina. Dona Paula está trabalhando. Ana foi
levar a Yasmim ao médico, pois ela está
gripadinha; e o Henrique, assim como o irmão,
está trabalhando.
Marcos se empoleira na beira da piscina.
— Se o David sonha que está de biquíni e
comigo na casa sem ele, eu terei minhas bolas
cortadas. — Ela brinca e eu rio.
— Com toda certeza. Mas seria divertido. —
Provoco. Ele me joga água e Daiane ri.

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— Porra, Marcos! — digo passando a mão


onde ele me molhou, mas de repente sinto um
dor forte no pé da barriga. — Ai! — grito.
Marcos sai da piscina como um louco e
Daiane faz o mesmo.
— O que houve, Liziara? — eles perguntam
juntos.
Respiro fundo. E me sento com cuidado.
— Uma dor forte. Parecia que algo estava me
rasgando.... Ai! — a dor vem novamente e mais
forte.
— Tio, eu acho que vai nascer. Temos que
ligar para o David agora!
— Ele está em uma operação!
— O que? — grito assustada, e com isso sinto
mais dor ainda e me contorço.
— Tio! — Daiane o repreende.
— Tenho um plano!
— Marcos, eu não sou um réu, que você
analisa como vai ficar a situação! — digo a ele.
— Cala a boca, porra louca! — ele diz
nervoso — Daiane tenta contato com o David e
diz que estamos levando a Liziara ao hospital.
Vou me trocar correndo. Enquanto isso, ajuda
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ela se arrumar e se arruma. Pega tudo dela. Vou


ligar para a Beatriz e Paula, e mandar elas irem
para o hospital. Vamos, vamos! — ele grita.
— É impressão minha, ou ele está mais
desesperado que eu? — pergunto.
— Não é impressão. Vamos Lizi.
Levanto e sinto a dor novamente e mais forte
ainda. Daiane me ajuda. Seguro para não gritar.
Com sua ajuda, me troco rapidamente, e ela
se troca correndo. Pega as minhas coisas e a
bolsa dela e saímos para o carro, onde o Marcos
aguarda. Vou no banco da frente.
— Beatriz está indo para o hospital e Paula
também. — ele diz.
— Vou tentar falar com o David. — Daiane
fala.
Marcos sai com o carro, e vejo o carro do
Alex seguindo atrás junto com o do Simon.
— Cai direto na caixa postal! — ela diz, e isso
me deixa com medo e preocupada.
A dor vem novamente e vejo Marcos me
olhar preocupado.
— Vamos chegar logo. Aguenta. — ele diz.
O caminho foi uma loucura. Marcos
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provavelmente perderá a carteira por tantos


pontos que deve ter levado. Passou em tantos
sinais vermelhos, entrou em ruas que eram
contramão para cortar caminho. E ver ele
apavorado me deixou mais apavorada.
Ao chegarmos no hospital, Daiane ficou
dando meus dados e Marcos me acompanhou
junto a enfermeira.

Depois de todos os procedimentos


necessários, eu estou na sala de parto. Estou
com medo. Ninguém me dá notícias do David.
Estou com medo demais.
— Mamãe, vai dar tudo certo! — o médico
diz.
— Sério? Não estou achando isso! — digo a
ele, que sorri.
As enfermeiras, o médico, tudo está me
deixando mais apavorada. Porra, cadê o David?
— É um parto arriscado. Mas vai dar tudo
certo. Apenas faça o que irei pedir. — concordo

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— Ninguém vai acompanhar a senhora? — nego


chorando. Ele se posiciona e as enfermeira
também. — Vai dar certo, confia.
Sério mesmo que justo nesse momento o
David vai me largar?
A porta se abre e olho na esperança de ser o
David. Uma enfermeira entra acompanhada do
Marcos, todo vestido adequadamente.
— Marcos? — pergunto com preocupação.
Ele se aproxima e segura minha mão.
Percebo seu sorriso mesmo por detrás da
máscara.
— Estou com medo.
— Vai dar certo. Estou aqui. Nada vai
acontecer. Confia, porra louca.
— Pronto papais?
— Não sou o pai.
— Ele não é o pai! Deus me livre disso!
— Não precisa ofender também, porra!
— Olhem a boca! E foquem no que é
importante, ou as crianças vão morrer
sufocadas, pois elas precisam nascer agora. Sua
bolsa já rompeu, e não podemos mais esperar.
— o médico diz.
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Foram horas de dor e sofrimento. Foi


desesperador. Marcos tentava me ajudar, mas
sei que ele mesmo estava apavorado. Eu via o
olhar das enfermeiras assustadas. Mas eu não
desisti. Não desisti por elas. Lutei até a segunda
nascer, minha Helena.
Ambas são tão diferentes. Laura nasceu toda
agitada, e é nítido seus olhos azuis, iguais ao do
pai. Já Helena é mais calma e sorridente, e
mesmo não entendendo nada, sorri bastante. Ela
tem a cor dos olhos diferentes, são escuros como
os meus. Gêmeas, porém já se nota o quanto são
diferentes. Marcos segura Laura e chora
emocionado.
— São lindas. Sabe fazer meninas lindas…
quem diria porra louca.
— Marcos não diga palavrão perto delas!
Vou te cobrar cada vez que disser!
— Estou lascado! — sorrio.
Elas são levadas para os cuidados das
enfermeiras.

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Horas depois e sem notícias, não tinha mais


ninguém, além das minhas meninas que estão ao
meu lado; então a porta se abre. David entra
como um furacão. Ele caminha até a mim,
chorando como um louco, e me beija com força.
Segura meu rosto com ambas as mãos.
— Me perdoa. Eu fui para casa, tomei banho
e estava indo para casa da minha mãe quando
lembrei que deixei o celular desligado; e quando
liguei vi as chamadas e mensagens. Quando
cheguei aqui você já estava em trabalho de
parto. Não me deixaram entrar na sala. Passei o
inferno lá fora. Ninguém dava notícias. E uma
enfermeira que saiu disse que estava
complicado. Porra. Me perdoa?— Ele está
apavorado.
— Amor, eu estou bem. Se acalma. Marcos
foi muito bom, me deu apoio do jeito dele, mas
deu. — Sorrio.
— Nunca serei capaz de agradecer o que ele

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fez.
— Eu também não...
Ele se afasta e caminha até onde as meninas
estão. Sorri emocionado. Helena dorme,
enquanto Laura está bem acordada.
Ele segura as mãozinhas delas com fitinhas.
— Minhas princesinhas. — ele diz e enxuga
as lagrimas.
— Parece que cada uma será uma mini nós.
— digo enquanto ele pega a Laura no colo que
começa a chorar, mas ele a acalma.
— Por que diz isso? — pergunta sorrindo
para ela e acariciando seu rostinho.
— Laura é bem agitada, brava, e os olhos
bem azuis. Helena é calma, sorridente, se deixar
come toda hora, e tem os olhos escuros como os
meus.
— Então quer dizer que você é uma mini
David. — ele diz a Laura e sorrio. — Estou
fodido! — me olha assustado.
— O que foi?
— Duas meninas, uma mulher e uma irmã!
Estou fodido.
— David, olha a boca perto delas! — Ele dá
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de ombros.
Helena acorda e começa a chorar. David me
entrega a Laura e pega a Helena.
— Outra princesa do papai. — Ele dá um
beijo nela. — Sabe, princesinha, acho que já está
na hora do papai algemar de vez sua mamãe, e
prender ela totalmente a mim.
Olho para ele franzo o cenho.
— Será que a mamãe aceita casar comigo e
ser oficialmente uma senhora Escobar?
— O que? — Lembro da Laura e olho para
meu colo.
— Amor, cuidado. — ele diz sorrindo. —
Pelo visto papai terá que ficar de olho nas três,
ou receberei ligações de que estão no hospital.
— David, eu ser o que?
— A senhora Escobar. Aceita? — Ele pega no
bolso da calça uma caixinha e me entrega. —
Não aceito não como resposta. — Sorrio
emocionada.
Abro a caixinha e vejo o lindo anel dentro
dela.
— Então Laura, acha que a mamãe deve
aceitar? Se eu tiver que aceitar, você chora. —
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Brinco.
— Se ela não chorar? — David pergunta.
— Então não casarei. — provoco.
Ele se aproxima com cuidado para não
derrubar a Helena de seu colo. Coloca a boca no
ouvido da Laura e diz algo bem baixo, não é
nítido. E por incrível que pareça, ela começa a
chorar.
— David! — repreendo ele. — O que você
fez?
— É, parece que tenho uma cumplice já.
Ele coloca a Helena no lugar dela e pega a
Laura, fazendo o mesmo.
Pega o anel e coloca em meu dedo.
— Futura senhora Escobar. — Ele me dá um
beijo nos lábios que me deixa louca.
— Epa! Não esqueça do que o médico disse.
Quarentena, Liziara. — Marcos entra sorrindo.
— Mentira? — David pergunta e eu nego.
Marcos para ao lado dele e bate em seu
ombro.
— É, meu sobrinho. Duas filhas e sem sexo.
Não queria estar na sua pele.
— Eu realmente estou fodido! — David diz
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fazendo a gente rir.


— Entrem, pessoal. — Marcos fala.
— Como deixaram todos entrar? —
pergunto rindo.
— Ainda pergunta? Sou um Escobar, tenho
meus meios, porra louca. Menos a Beatriz… ela
só entra depois.
— Tio, o que fez? — David indaga sorrindo.
— Nada. Apenas não consegui que ela
entrasse. — diz com cara de inocente.
— Marcos, eu não acredito! Você não deu o
nome dela! — digo.
— Talvez eu tenha esquecido. Isso não
importa.
Todos começam a entrar sorridentes e
animados. Mas quando a Beatriz entra, Marcos
muda o jeito e seu olhar é de um predador.
— Você me paga, juiz de quinta! — ela diz
seriamente a ele.
David bate no ombro dele e diz:
— Retiro o que eu disse. É você quem está
fodido!
— Olhem a boca suja perto das meninas! —
Eu, Daiane, Paula e Beatriz dissemos em
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uníssono.
Essa família vai ser minha loucura e minha
maior alegria.
David me dá uma piscadela, e então se
aproxima enquanto todos estão admirando as
meninas. Ele cochicha em meu ouvido:
— Sexo oral não deve ter problema. — Sinto
um arrepio no corpo, e tenho certeza de que
fiquei vermelha.
— Eu ouvi. — Marcos fala. — Acho que não
tem problema, e que não custa nada tentar.
Começamos a rir e todos nos olham sem
entender.
Eles estão aqui. Pela primeira vez estão
perto de mim em um momento muito especial.
— Mãe, pai, venham!

Fim

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Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus por mais
um sonho realizado, e por sempre me dar forças
e alegrias no decorrer do caminho.
Obrigada a Editora Angel, mais uma vez, por
acreditar no meu trabalho.
Obrigada ao senhor Google, por me ajudar
em diversas dúvidas.
Um obrigada bem especial a um alguém que
me ajudou muito, inclusive nas inspirações.
Minhas amadas betas e amigas, Liziara
Araújo e Beatriz Ferreira, muito obrigada por
todas as dicas, inspirações e por aguentarem
minhas loucuras por essa série, e entrarem na
loucura também.
Obrigada as minhas leitoras da plataforma
Wattpad, que me animaram e me deram carinho
e muito amor, e tornaram a série Escobar um
sucesso.
Obrigada a blogueira Joyce Penedo por
apoiar sempre meu trabalho, e estar apoiando
recentemente a série e divulgando em seu blog
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Livros Encantos.
Meninas do grupo fechado no facebook e do
Whatsapp, obrigada a vocês também, pois são
demais.

E por fim, obrigada a você que está lendo


este livro. Você é também digno de estar aqui.

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Copyright © 2018, Deby Incour


Copyright © 2018, Editora Angel
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra
poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma,
meios eletrônico ou mecânico sem a permissão por escrito do
Autor e/ou Editor.
(Lei 9.610 de 19/02/1998.)
1ª Edição
Produção Editorial: Editora Angel
Capa e projeto Gráfico: Débora Santos
Diagramação digital: Débora Santos
Revisão: Carla Santos
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
(CIP)
Bibliotecária responsável: Aline Graziele Benitez

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Índice para catálogo sistemático:


1. Literatura brasileira: romance

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Sumário:
Nota da autora
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Epílogo
Bônus
Agradecimentos
Biografia

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Editora Angel

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Nota da autora
Caros leitores,
Este livro... melhor dizendo, este conto foi feito
com muito amor e carinho. Fazer uma história
que envolva um lado criminal, mesmo sendo
muito curta, não foi fácil, e foram feitas algumas
pesquisas. Tudo aqui é totalmente ficcional. Pulei
alguns atos da lei para não falar demais e acabar
falando coisas sem sentido. Espero que gostem.
Com amor,
Deby.

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Para Beatriz Ferreira, uma grande


amiga e inspiração.

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Capítulo 1

Acordo com uma puta dor de cabeça e


com malditas batidas na minha porta; e, para
ter passado pela segurança, é alguém da
família. Se forem meus sobrinhos, Daiane,
Henrique ou David, mato eles, sem dó. Essas
porras sabem me atrapalhar e me tirar do
sério! Amo os muito, mas são um inferno
quando querem.
Vou para o banheiro, escovo rapidamente
os dentes e vou atender a porta. Assim que
abro, conto de um a dez, para não matar a
pessoa que está nela.
— Liziara! — A esposa completamente
maluca do David me olha e sorri, segurando
as gêmeas que dormem.
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— Bom dia! — ela me cumprimenta


passando por mim.
— Tinha tudo para ser um bom dia, mas
você apareceu. O que quer, porra-louca?!
— Primeiro passe a grana, cinquentinha,
pois acaba de falar palavrão na presença das
minhas filhas e este é o combinado!
— Porra, abre uma conta para elas e me
passa, porque será mais prático depositar o
dinheiro.
— Antes, passe a grana para cá!
Pego o dinheiro no quarto e retorno
entregando para ela, ou não dirá o que quer,
conheço muito bem essa bendita!
— Agora diz logo o que faz aqui!
— Preciso que fique com elas até a
Beatriz chegar, pois ela está vindo da casa da
tia, na praia. Tenho que ir resolver alguns
problemas, David, Paula, Daiane e Ana Louise
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estão ocupados. Só você pode me salvar.


— E achou que eu sou babá?!
— Pare de ser ruim! Por favor, Marcos!
Tenho que ir até uma tia minha.
— Você não tem tia, Liziara.
— Não precisa jogar na minha cara... Bom,
a Bia chega rápido. Fui! As mamadeiras e
fraldas estão na bolsa.
Ela dá um beijo em cada uma. Caminha
até meu quarto e a sigo. Ela deixa as meninas
na minha cama.
— Cuide bem delas ou corto suas bolas!
Tchau.
Ela sai, deixando-me parado no meio do
quarto.
Posso ser um juiz temido, autoritário e
bipolar, mas tenho muito carinho por minhas
sobrinhas, que são quatro, afinal, Henrique e
a esposa Ana Louise tem uma menina
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também e tem Daiane.


Sei que Liziara está aprontando algo e,
quando eu descobrir, eu a enforco.
Deito-me ao lado das meninas, que
dormem gostoso. Sorrio.
Sou um exemplo para muitos como juiz.
Venho de uma família importante. Perdi
meus pais há anos e depois meu irmão
Joseph, que era um renomado juiz e
construiu uma bela família ao lado de Paula,
mas, infelizmente, partiu deixando todos
sofrendo, inclusive a mim. Porém, tenho um
enorme orgulho por ele, pois soube criar
bem seus filhos e fazer com que tivessem
uma boa perspectiva para o futuro. Daiane, a
mais nova, é promotora; David, o do meio, é
delegado; e Henrique, o mais velho, é
advogado criminalista. Henrique e David
estão casados e com filhas, somente Daiane
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está solteira, o que espero que fique por


muito tempo, sobrinha minha tem que ser
freira. Já Paula, é advogada civil, e uma mãe,
conselheira e cunhada maravilhosa. As
esposas dos meus sobrinhos são
maravilhosas. Eu só tenho o que agradecer
pela família que eu tenho.
A mídia mostra apenas que sou um juiz
temido, ou um libertino, mas não mostram
que também sou família, sou amor. Minha
imagem é de um predador, e não nego que
sou como um em noite de caça, e também não
sinto vergonha, pois amo saber que levo
mulheres à loucura, que várias gritam meu
nome enquanto gozam por minha causa.
Estou em uma idade que minhas
necessidades se intensificaram. Sou homem,
porra, tenho o direito de transar sem ter

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compromisso, e parece que isso é difícil de


ser compreendido.
Tudo o que quero para a minha vida é ter
um nome a ser lembrado sempre na história
da lei, e que minha família esteja sempre
segura. Sempre digo que um Escobar precisa
apenas encontrar a pessoa certa para perder
o coração para esta pessoa, mas que eu sou
exceção. Não quero encontrar a pessoa certa
e muito menos entregar meu coração a ela.
Eu quero ficar livre dessa história de amor,
porque já me fodi demais com isso.
Assim que escuto a campainha, eu levanto
e ajeito os travesseiros em volta de Laura e
Helena. Vou até a sala e abro a porta. É
Beatriz Oliveira.
— Vim buscar as meninas. Disseram que
eu podia entrar...
— Sei. Entre.
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Beatriz me avalia.
Eu e ela não nos suportamos desde que a
conheci na universidade que a Liziara
estudava há alguns anos. Eu e meus
sobrinhos precisávamos dela para um caso. E
ela meio que me desafiou e desde então
somos como cão e gato, e vivemos assim.
— Não é necessário. Apenas traga as
meninas.
— Está com medo de entrar e não querer
ou conseguir sair?! — provoco.
— Não me tira do sério, porque não tenho
unhas grandes à toa — rebate.
— Cuidado, quem assina a sentença sou
eu. Pode ser que a sua seja longa e peculiar.
Ela engole em seco e fica ruborizada.
— Traga logo elas, Marcos.
— Entre logo!
Ela entra e fecho a porta.
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— Estão no meu quarto.


— Vamos logo pegar elas. Tenho pressa.
— Para fugir de perto de mim?
— Você se acha demais!
— Não me acho. Apenas sou um homem
observador e sincero.
— Que seja. Vamos!
Caminho com ela me seguindo até o meu
quarto. Entramos e, sem cerimônia, ela pega
Laura no colo.
— Me ajude com a Helena, pois preciso
colocá-las nas cadeirinhas do carro.
— Claro.
Pego Helena, que dorme.
Saímos de casa e fomos até seu carro. Ela
abre a porta e fica empinada para colocar a
Laura na cadeirinha.
Fico olhando atentamente sua bunda,
coberta e marcada pelo tecido da calça justa
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que usa.
Não posso negar que ela é bem gostosa e
que sua língua afiada apenas comigo, mesmo
sendo tímida, me deixa louco.
Porra, se controle! Estou ficando duro
com essa visão.
Ela se vira para mim e pega a Helena.
Contorna o carro e abre o outro lado para
pôr a menina na cadeirinha.
Quando termina, fecha a outra porta e
caminha até o lado que estou para fechar a
porta que ficou aberta.
— Sem segurança?
— Vim do litoral. Passei em casa, peguei
as cadeirinhas reservas e vim para cá. Não
tem nada demais.
— Ambas são filhas de um delegado e são
Escobar.
— Não pira, homem!
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— Tome cuidado!
— Tchau, Marcos.
Ela passa por mim e entra no carro.
Essa porra é teimosa!
Viro-me e vejo o Simon, meu segurança,
sorrindo.
— O que foi, porra?
— Nada, senhor!
— Envie uma equipe atrás dela. Não vou
testar a sorte.
— É para já.
Ela sai rapidamente com o celular na
mão.

Retorno para dentro de casa e vou para


meu escritório. Acesso meu e-mail e
respondo os mais importantes.
A bela bunda da Beatriz não sai da minha
mente e está me deixando duro de novo.

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Porra, preciso de um banho bem gelado!


Cacete, virei um merda de um adolescente
agora?!

Estou no meu escritório no centro. Não


viria trabalhar hoje, mas achei melhor para
adiantar umas papeladas que parecem não
ter fim.
Porém, estou com a mente longe, só não
sei exatamente aonde. Estou distraído, e sei
disso porque assinei duas vezes um
documento errado.
— Marcos! — Assusto-me com a voz da
irritante, que acaba de gritar meu nome.
— Porra, Débora, quer me matar,
mulher?!
— Não, porque eu ficaria sem emprego.
Não tenho culpa que está paralisado olhando
para o nada há um bom tempo enquanto eu

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te chamo.
— O que quer? — Solto a caneta na mesa
e passo a mão pelo cabelo.
— Precisa assinar esses papéis. — Ela os
coloca na mesa — Tem audiência amanhã, às
8h, e precisa disso tudo aí assinado.
— Qual caso?
— Está de brincadeira, não é?! Como
assim qual caso? Com um juiz assim, entendo
o motivo do país estar nesse estado.
Olho seriamente para ela, que sorri.
Débora é uma grande amiga, a conheço
há anos. Ela trabalha para mim como
secretária enquanto cursa Direito. É casada,
linda, e mesmo sendo louca quase sempre, é
muito inteligente e boa no que faz. Tivemos
no passado um caso de alguns meses, mas
nada grande e que deixasse marcas ou
qualquer sentimento complicado... Bom, com
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o marido dela sim, o cara tem um ciúme filho


da puta em relação a mim, mas confesso que
provoco.
— Qual o caso, loira?
— A idade já está te causando
esquecimento, entendo. Bom, é o caso do
marido retardado que tentou matar a esposa,
fugiu e foi pego, e depois pegou a filha à base
da tortura... O caso que eu disse que deveria
amarrar ele e meter o chicote e depois jogar
óleo quente.
— Me lembrei. E saiba que, às vezes,
tenho medo de você. Nem eu sou tão frio
assim.
Ela ri.
— Trabalho para um juiz, meu marido é
um investigador da polícia, o melhor amigo
dele delegado, minha mãe enfermeira, e meu
pai um traste, eu tinha que ser um pouco fria,
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ou estava ferrada. — Ela dá uma piscadela e


caminha para sair da sala.
— Seu marido sabe que você veio
trabalhar hoje com essa calça bem justa? —
provoco e sorrio. Ela ergue a mão e mostra o
dedo do meio. — Menina má, isso é feio.
— Eu realmente não mereço aguentar
isso, não mereço! — Ela sai da sala e bate a
porta.
Rio.
Pego os papéis e leio. Preciso me
concentrar no trabalho.

Eu quero matar a Liziara por me fazer


buscar as meninas na casa daquele juiz de
quinta! Vim correndo do litoral para pegar as
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meninas e só quando cheguei à cidade, que


ela me disse que era na casa do Marcos. Eu
ficarei viúva de amiga, mas mato ela.
As meninas estão dormindo no quarto. A
Liziara diz que chega em uma hora. Tenho
coisas das meninas aqui, e adoro ficar com
elas, mas hoje eu quero matar a mãe delas
por me pedir isso.
Marcos e eu nunca nos daremos bem. Ele
é insuportável, safado, estúpido... Droga, ele
tinha que ser lindo e gostoso? E as tatuagens?
São um pecado. Merda!
Entro com cuidado no quarto para não
acordar as meninas. Começo a desfazer
minha mala. Amanhã volto à rotina normal.
As férias acabaram e o trabalho me espera.
Trabalho na coordenação de uma
renomada universidade, o que muitos não
entendem, já que sou formada em
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Administração. Mas é que sempre tive a vida


toda programada, e quero ficar mais um
tempo na universidade para procurar
emprego em um banco, meu maior sonho.
Tenho quase 28 anos, e minha tia
Jaqueline diz que sou louca por ter tudo tão
controlado, ter tido apenas um namorado na
época da faculdade, nunca cometer erros,
planejar tudo, mas é meu jeito. Perdi minha
mãe cedo, não conheci meu pai. Quero que,
mesmo de onde ela esteja, eu seja um
orgulho para ela. Conquistei meu diploma
universitário, meu carro, meu apartamento,
e sou feliz por isso. Ainda irei conquistar
meu emprego em um banco bem importante,
casar, ter filhos, mas construir uma família
somente depois de estar um tempo no banco,
me realizando profissionalmente, porque
quero continuar sempre dependendo apenas
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de mim e jamais de outros.


Talvez eu seja um pouco careta, mas é
realmente meu jeito de ser. Às vezes, as
pessoas não entendem, mas não perco meu
tempo em tentar explicar. Liziara e eu
brigávamos muito em relação a isso, pois
quase nunca queria ir às festas com ela, nas
baladas, e ela ficava louca com isso. Para não
dizer que não saio, às vezes vou na boate que
a Liziara trabalha e ao shopping, se isso
contar como diversão. Divirto-me demais.
A campainha toca. Largo o que estou
fazendo. Abro a porta e é a Liziara. Talvez eu
mate ela agora mesmo.
— Vim pegar as meninas.
— Pensei que viria em uma hora.
— Foi rápido meu compromisso.
— Sei...
Ela entra, e coloca a bolsa no sofá.
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— Cadê a sua chave?


— Esqueci. Bia, se, às vezes, esqueço
quem é quem das meninas e olha que uma
tem o olho diferente da outra, acha mesmo
que lembraria sempre de chave?
Sorrio.
— Liziara o que está aprontando?
— Eu? Como assim? Vim apenas pegar
elas. Quanta calúnia!
— Se eu sonhar que está tentando me
jogar para aquele juiz de quinta, eu te
enforco sem pena.
— Credo. Anda agressiva. Vou falar para o
David me deixar com escolta além do Alex.
— Falo muito sério. Eu e ele não temos e
nunca teremos nada. E se você ficar fazendo
eu me encontrar com ele, esquece que tem
amiga. Sabe que não o suporto. Já basta ter
me feito aguentar aquele traste no altar do
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seu casamento e no batizado das meninas


quando fez nós dois sermos padrinhos, o que
tenho certeza de que não foi apenas por
gostar muito de mim ou dele.
— Não suporta ou não suporta não ter
ele? — ela provoca.
— Você tem um minuto para pegar as
meninas e sair daqui sem nenhum arranhão.
— Estou indo. — Ela vai rindo para o
quarto.
Eu preciso de férias da Liziara. Essa
mulher ainda vai me deixar louca.
Ela retorna para a sala com as duas.
— Toda vez que o Marcos fica com elas, o
cheiro dele impregna nelas. Esse homem
toma banho de perfume? Quero chegar em
casa e dar banho nelas antes do David
chegar, ou do jeito que é louco vai achar que
estão desde bebê com namorados.
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Sorrio, pois não duvido nada. Ele tem


ciúmes de outro homem com as meninas nos
braços.
— Vou indo. E pare de negar, vocês dois
formam um casal perfeito.
— Liziara, o que falei sobre te enforcar?
Ainda está valendo!
— Fui. Pega minha bolsa, por favor.
— Eu te ajudo a colocar elas no carro.
— Obrigada.

Ajudo-a com as meninas no carro.


— Aumentou a tropa? — pergunto vendo
dois carros pretos atrás do dela.
— Não. Vim apenas com o Alex. O outro
carro é do segurança do Marcos. Cheguei e
ele já estava aqui.
— Aquele imbecil o mandou atrás. Ele
não gostou porque eu viria com as meninas

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sem segurança.
— Se acostuma. Viver com um Escobar é
viver assim. E antes que me enforque me
refiro a você ser amiga de membros da
família Escobar. Amiga, você tem noção que
eu, Liziara, sou uma Escobar?! — ela diz
animada.
— Tenho, e não sei se isso é bom ou ruim.
— Respiro fundo e cruzo os braços.
— Por quê? — ela pergunta enquanto
fecha a porta traseira do carro.
— Porque você já é perigosa por conta
própria, sendo uma Escobar, ferra tudo de
vez.
— Quanta calúnia. Já vou, pois hoje você
está para me agredir verbalmente e tenho
certeza de que em pensamentos também,
credo! — Ela dá a volta no carro e me joga
um beijo, que retribuo.
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Ela sai com o carro e o Alex segue atrás,


mas o carro do Simon permanece.
— Era só o que me faltava!
Vou até o carro e bato no vidro. Ele
abaixa.
— As meninas já foram. Pode ir.
— Não recebi ainda autorização do
senhor Marcos. Ele pediu para vir, mas não
disse se era para retornar quando as
meninas fossem embora. E não consigo
contato com ele.
— Pode ir. Eu te libero. Aproveita e vai
comer algo por aí, porque, para aguentar
aquele homem, tem que ser forte.
Ele sorri.
— Só irei quando ele autorizar, senhorita
Beatriz.
— Simon, primeiro esquece o tal de
senhorita. E, por favor, pode ir, eu não sou
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Escobar e você não tem obrigação de ficar


aqui, afinal, trabalha para os Escobar. Sério,
pode ir e se ele falar algo diga que expulsei
você daqui com uma vassoura.
— Tudo bem. — Ele ri.
— Que bom que nos entendemos. Tenha
um excelente dia. — Afasto-me do carro e
entro no prédio.
Até parece que agora muralhas vão ficar
na minha porta ou me seguindo.
Os Escobar são para foder o juízo e não é
no bom sentido. Eu não sirvo para isso não.
Aguentar o que eles aguentam, estou fora!

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Capítulo 2

Dias depois...

Estou me aprontando para mais um dia


de trabalho na universidade em que estudei.
Trabalho na coordenação há alguns anos.
Quando me formei em administração era
porque eu tinha o sonho de trabalhar em um
banco muito importante ou em uma empresa
muito famosa. Porém, sempre fui medrosa. O
medo de tentar coisas novas, e sair da minha
zona de conforto me causa pânico. Não saber
o que me espera me deixa amedrontada, e
por isso nunca me arrisquei em tentar
arrumar um emprego fora da dali.
Mas como nada é perfeito, tenho alguns
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problemas no trabalho. Digamos que o reitor


Edson, é um senhor insuportável e que vive
cercando meu caminho e com tentativas
persistentes de ter algo comigo. Nunca
tentou algo grave, e nunca dei liberdade para
tal, porém suas indiretas e seu jeito de me
olhar são irritantes. Só suporto porque são
raras as vezes que ele está lá e meu contato
com ele é bem curto e na maioria das vezes
sempre tem alguém junto.
Trabalhar lá me trouxe algo muito bom,
uma amizade forte e bela com Liziara. Além
de ter contato com ex-professores, que foram
muito importantes na minha formação.
Sempre fui muito sozinha antes de
trabalhar lá, só tenho uma tia, a dona
Jaqueline. Ela é um amor, louca demais, mas
tem sua vida, que é bem diferente da minha.
Ela cuidou de mim quando perdi minha mãe,
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e a agradeço muito por isso, e queria muito


ser mais presente na vida dela, porém ela
vive no litoral e sua vida é... digamos que
mais animada do que a de um jovem, o que é
bem diferente do meu estilo. Então ter
conhecido a Liziara foi bom, mesmo ela
sendo louca, e uma ótima companhia para eu
não me sentir tão sozinha aqui na cidade.
E por lembrar da titia, olha só quem está
me ligando. Atendo ao celular.
— Oi, tia.
— Sua traíra. Não lembra mais de mim!
— Eu voltei daí dias atrás. Não seja
dramática!
— Estou ligando para dizer que chego
amanhã aí. E não adianta dizer que não se lembra
de ter me convidado, porque eu não preciso de
convites. Cansei de ver mar, e um bando de velhos
correndo de sunga. Quero ar novo, homens novos
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com seus preciosos erguidos e grossos.


— Tia!
Ela ri.
— Será muito bem-vinda. Quando sair daí
me avisa.
— Pode deixar, pois você que vai me buscar
na rodoviária, jovem. Titia ama você!
Sorrio.
— Também te amo, tia. Beijos, que eu
tenho que ir trabalhar.
— Vai lá, gatona!
Desligo o celular e dou uma conferida no
espelho. Está ótimo. Não tem reunião, então
não preciso estar muito elegante, como eles
exigem.
Pego minha bolsa e jogo o celular dentro.
Saio do quarto e vou direto para a sala, não
tenho tempo de comer nada. Acordei tarde, e
não posso me atrasar.
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Pego a chaves do carro e saio do


apartamento.

Chego à universidade e saio rapidamente


do estacionamento. Corro para a entrada.
Procuro minha carteirinha para passar pela
catraca, porém não encontro.
— Merda, hoje não é a droga do meu
melhor dia!
Diogo, um dos seguranças, aparece e
sorri.
— Pela sua cara, não está em um bom dia.
— Não! Esqueci até a carteirinha. Libera
minha entrada, por favor.
— Sabe que é errado e posso me
prejudicar, porém farei isso, já que nunca
esqueceu a carteirinha.
— Obrigada. Você foi meu herói.
Ele sorri e libera minha entrada com sua

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carteirinha.
— Hoje tem palestra surpresa, o reitor
está aí e com um homem importante. Sorte
sua. Afinal, está uma hora atrasada. — Ele
olha no relógio e dá uma piscadela.
— Obrigada! Não sei se fico aliviada ou
apavorada de vez.

Entro na minha sala e encontro Lilian,


uma das atendentes da secretaria. Não nos
damos muito bem. Digamos que nossos santos
não se batem.
— Pensei que não iria mais vir. Não tenho
obrigação de ficar aqui cuidando dos seus
afazeres. Já tenho muita coisa para fazer por
pouco salário, não sou obrigada a cuidar dos
seus.
— Lilian, obrigada. E tenho certeza de que
não te levou à morte ficar aqui. E veio porque

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quis.
— Eu não quis nada. O reitor me obrigou,
porque os professores precisam assinar a
lista. Agora tenho que ir. — Ela joga o cabelo
para o lado e sai da sala.
Eu mereço um prêmio por ter tanta
paciência e, principalmente, com essa
mulher louca.
Deixo minha bolsa na mesa mesmo e pego
a lista para passar as presenças dos
professores para o sistema.

Primeira coisa a ser lembrada sempre:


jamais aceite dar palestras apenas para as
mulheres em universidades.
Pela primeira vez, a universidade quis
fazer algo diferente e dar uma palestra
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apenas para as mulheres que querem ser


juízas. Mas, pelo visto, tenho certa fama entre
elas, já que me olhavam como se fossem me
comer vivo, e estava começando a ficar
preocupado de alguma pular no meu colo.
Odeio mulheres que se insinuam, e era tudo
o que elas faziam, desde as perguntas com
segundas intenções, aos sorrisos safados.
Tenho que confessar, que estou um pouco
aterrorizado.
É um alívio que tenha terminado.
Segunda coisa a ser lembrada: bate-papo
pós palestra com o reitor e diretor
pedagógico é um porre.
Edson, o reitor, e Eric, o diretor
pedagógico, não saem da porra do meu pé!
— Fico grato por ter vindo e permitido
que a palestra vá para nosso site e nossas
redes sociais. É uma grande forma de
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destacar ainda mais a universidade. É claro


que você aqui é bom para as nossas alunas.
Espero poder ter você aqui, mas com todos
os alunos do Direito — Edson diz, e tomo um
gole da minha bebida, antes de responder:
— Pode contar com isso. — Preciso avisar
a Débora para dizer, quando me ligarem, que
tenho compromisso mesmo não tendo.
— Ter um Escobar entre nós é uma honra.
Nossa universidade já teve contato com você
e sua família, porém em um momento triste,
na perda de nosso professor Rodolfo. Mas,
agora, são tempos novos, e estava na hora de
termos você aqui novamente para coisas
boas — Eric diz sorridente.
— Claro. — Apenas consigo dizer, além de
dar um famoso sorriso diplomático.
Alguém bate à porta e sinto um alívio.
Essa pessoa salvou meus ouvidos de diálogos
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irritantes de gente puxa-saco.


— Entre, por favor — Edson diz. E
percebo que ele não gostou de alguém vir
interromper.
A porta se abre e me viro para ver quem é
o salvador do momento.
Terceira coisa a ser lembrada: evite a
universidade que a pessoa que não te
suporta trabalha.
Ela me olha e fica vermelha na hora.
Sorrio.
Isso vai ser bom!
— Beatriz, diga — o reitor fala a ela, que
tem alguns papéis na mão.
— Eu... Hã... — se atrapalha nas palavras e
isso me diverte. Até que não foi tão ruim vir
aqui.
— O que houve? — Eric pergunta.
Ela entra na sala e se aproxima da mesa,
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ficando bem próxima de mim. Ergo o olhar e


bebo um gole da minha bebida, para
esconder o sorriso. Ela não me suporta, tanto
que nem sequer consegue me olhar.
— Me desculpe por interrompê-los, não
imaginei que estivessem... — ela procura as
palavras. — Bom, preciso que o senhor
assine esses documentos, pois tenho que
enviar aos advogados.
— E que papéis são esses? — o reitor
pergunta.
E, porra, não gostei muito do jeito que ela
olha para ela. E sei que não fui apenas eu que
percebi, porque o diretor fica sem graça e me
olha dando um sorriso forçado. Beatriz fica
mais séria que o normal.
— Os acordos de parceria com a
universidade internacional. — Ela entrega os
papéis. — Depois retorno para buscar. Com
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licença.
Ela se retira sem olhar para mim. O reitor
não tira os olhos da bunda dela, e isso me
deixa com uma raiva dos infernos. Caralho,
quem esse velho pensa que é?! Porra, preciso
ir embora daqui, ou sairei dentro do carro da
polícia.

Merda, hoje realmente não é o meu


melhor dia. O reitor e o Marcos na
universidade é azar demais. O pior é que
Edson não soube disfarçar seu olhar idiota
para mim. Esse homem não se enxerga
mesmo. É um safado escroto!
Entro na minha sala, e para ajudar está
me dando dor de cabeça por não ter comido
e dor no estômago. Vou terminar de

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responder aos e-mails de ontem e irei até a


lanchonete comer algo.
Concentro-me no trabalho para terminar
logo.
— Se for um ladrão, ele entra, rouba e
você nem vê! — Dou um pulo da cadeira e
solto um grito.
Coloco a mão no peito e a outra, apoio na
cadeira.
— Quer me matar do coração, idiota? E o
que faz aqui? Que droga!
Ele me olha sério.
— Te matar não é exatamente o que vim
fazer aqui, Beatriz. Mas tenho uma
curiosidade.
— Sério?! Marcos, eu tenho trabalho a ser
feito. E se você não tem algo de útil para
fazer, ou algum réu jurando que não vai
mentir enquanto é julgado, me dê licença.
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— Olha só, ela sabe o que é réu.


Reviro os olhos e puxo a cadeira para me
sentar, porém ele é mais rápido e se senta
nela.
— Por favor, vai embora.
— Irei assim que me responder algo. Sei
que aqui não terá como fugir.
— Pergunte logo.
Droga, por que esse homem tem sempre que
ficar aparecendo na minha vida?!
— Por que só consegue me olhar nos
olhos e me enfrentar quando estamos a sós?
Deveria ser o contrário, não?
Sinto minhas bochechas corarem.
— Não acredito que veio até aqui para me
perguntar isso.
— Já entendi. Você é tímida, Beatriz!
Porém, por algum motivo, não é quando
estamos sozinhos. Interessante. — Ele sorri
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do jeito safado dele.


— Se já tem a sua própria resposta para
sua pergunta, então pode ir!
— Só mais uma coisa.
— Fala!
— Tome cuidado com o Edson. Esse cara
pouco se fode de despir você com o olhar na
frente dos outros! — Seu tom é sério e
autoritário.
— Sei cuidar de mim. Agora saia.
Ele se levanta e apoia as duas mãos nos
braços da cadeira. Engulo em seco. Além de
idiota, tinha que ser sexy, que clichê!
— Quem assina a sentença sou eu. Espero
que ele tome muito cuidado e você também,
para eu não ter que assinar a dele, que
poderá ser longa e com um pacote de
torturas incluso — ele diz e sai da sala.
Sento-me na cadeira e respiro fundo. Os
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Escobar são para foder o juízo, e não é de


uma boa forma!

Saio do elevador e vejo uma pessoa cair


da cadeira bem na minha frente.
— Débora, eu irei querer saber o que
aconteceu? — Aproximo-me da mesa dela, e
a ajudo se levantar.
— Fui pegar a caneta de um jeito
preguiçoso. Minha bunda está doendo.
Droga!
— Bom saber da sua bunda nesse
momento. Agora preciso que puxe a ficha
completa de Edson Almeida, o reitor da
universidade que acabei de voltar.
— Poxa, isso que é um bom chefe. Acaba
de ver a funcionária se quebrar e nem sequer

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oferece um remedinho, já manda ela


trabalhar.
— Irei almoçar no McDonald’s, pensei em
te convidar, mas se machucou.
— Já sarei! — Ela se levanta. — Edson
Almeida, saindo a ficha em um minuto!
Rio.
— Pensei que estivesse machucada.
— Curei rapidamente. Milagres existem,
meu querido chefe!
Sorrio e vou para minha sala.
Revejo uns casos importantes que terá
julgamento essa semana.
A porta se abre.
— Senhor — diz Simon, meu segurança.
— Muito corajoso da sua parte vir até
aqui, onde tem uma arma grudada embaixo
da minha mesa e outra embaixo da minha
cadeira. — Largo os papéis e olho para ele. —
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Ainda não esqueci que acatou uma ordem da


Beatriz e desacatou uma minha.
— Já pedi perdão e te expliquei a
situação, senhor.
— E eu ainda não perdoei. Mas, diga, o
que quer?
— Venho pedir permissão de ir até o
hospital, visitar minha irmã, que acaba de ter
filho. Será rápido.
— Pode ir. Não irei sair antes das 18h.
— Obrigado, senhor.
— Cuidado quando for dormir.
Ele me olha e sorri.
— Porra, estou sem moral!
Ele se retira da sala.
A porta se abre novamente e, desta vez, é
a Débora.
— Foi difícil. O cara sabe esconder as
coisas, mas para mim nada é impossível.
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Entrei em contato com alguns conhecidos, e


veja só o que descobri do tal Edson Almeida.
— Ela me entrega dois papéis. — Agora vou
indo, porque tenho uma tonelada de papéis
para revisar.
— Obrigado.
Assim que ela se retira, eu leio os papéis,
e confirmo minha suspeita de que aquele
cara não vale nada. Não foi à toa meu aviso a
Beatriz.
Esse filho da mãe foi detido na cidade
onde morava, por assediar uma funcionária
de um restaurante, e depois por agredir
verbalmente outra da universidade e tentar
assediar a mesma, e isso há sete anos, porém
nos dois casos ele se safou e, pelo visto,
escondeu bem da mídia. E duvido que não
tenha outros casos, mas sem denúncias. Sua
ex-esposa pediu medida protetiva contra ele...
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Que cacete esse homem faz como reitor em uma


universidade?!
Pego os papéis e vou até a Débora.
— Faça uma cópia para mim.
— Ok. A curiosidade é mais forte. Por que
quer saber desse homem?
— Tenho alguns motivos.
— Quais? — Sei que ela não vai desistir,
enquanto eu não dizer.
— Além de ser um puxa-saco da porra, a
Beatriz trabalha na mesma universidade que
ele, e o cara quase comeu ela com os olhos na
minha frente e do diretor, ele pouco se
importou conosco, e ela ficou desconfortável
com a situação. Apenas isso.
— Beatriz... A amiga da Liziara? — Ela
sabe quem é, está se fazendo de sonsa.
— A mesma — respondo com ironia.
— Agora sei por que quer tanto saber do
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cara. Pelo visto, o jeito que ele olhou para ela


não incomodou apenas ela.
— Faça a cópia e calada!
— Não está mais aqui quem falou!
O elevador se abre e olho para ver quem é
o palhaço que não pediu autorização para
subir.
— É o que imaginei. Um palhaço. Porra,
virou a casa da sogra? Entram e saem, sem
anunciar?
Débora gargalha.
— Sei que sou bem-vindo. Não precisa
insistir em dizer, tio.
— Henrique, só tem um motivo para você
vir até aqui. Qual o caso que quer saber se já
chegou ao meu reconhecimento, para aliviar
o seu lado?
— Nossa. Anda bem espertinho. Ficou
assim com a idade, ou...
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— Que caso, Henrique?!


— Como você aguenta esse mau humor,
Déb?
— Estou fazendo algumas pesquisas para
descobrir.
— Você em minha sala, e você faça o que
pedi e calada!

Assim que entramos na minha sala,


Henrique diz:
— Caso do Lorenzo Silva.
— Não sei de nada ainda. Quando foi?
— Hoje cedo.
— Com a lerdeza dos processos e das
entregas de novos casos, vai chegar mais
tarde ou amanhã.
— Sabemos que se você quiser, pode dar
um jeitinho. Alivia para mim. Tenho uma
ruiva gostosa de folga hoje, e uma filha

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passando o dia na casa da avó. Estou há uma


semana sem sexo. Ajuda!
— Te ligo assim que conseguir algo. Agora
some daqui. E que você broche. O tio te ama
— ironizo.
— Jamais brocharei. Ele é rei, e um rei
jamais se curva.
— Porra, vivi para ouvir uma merda
dessa. Some daqui, Henrique!
— Cuidado, tio, nem sempre o volume em
minhas calças é uma ereção.
— E cuidado, porque nem sempre minha
paciência é longa, e minhas armas andam
sempre carregadas!
— Porra! Que mau humor, hein! — Ele se
retira da sala.

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Capítulo 3

Folga era tudo o que eu precisava, depois


de um dia horrível como ontem. Porém, não
pude acordar mais tarde hoje, porque tenho
que buscar minha tia na rodoviária, ela
chega às nove, mas antes combinei de passar
na Liziara e ver as meninas.
Está um calor insuportável, então
coloquei um short jeans e uma camiseta
preta, e está ótimo. Nós pés sapatilha e estou
pronta para enfrentar o sol.
Pego a carteira e as chaves e saio de casa.

O caminho até a casa da Liziara é curto.


Eles se mudaram e agora moram mais perto

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de mim.
Estaciono o carro e o porteiro, que já me
conhece, libera minha entrada.
Chego ao andar deles e aperto a
campainha. Escuto a chave na porta e David a
abre.
— Sério, David? Logo cedo sou obrigada a
ver você de cueca?
— Bia, você acaba de ver o paraíso e
reclama?! Bom dia para você também.
— Bom dia.
Ele me dá passagem.
— Eles estão na sala de jantar. Eu ia
tomar um banho, mas você atrapalhou.
— Não tenho unhas grandes à toa, então
não provoca.
— Não está mais aqui quem reclamou.
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— Eles quem?
— Marcos e Liziara. As meninas estão
dormindo.
— Certo. Vou embora, e você finge que
era o síndico.
— Amor, a Bia chegou! — ele grita.
— Você vai me pagar, David! — Ele me dá
uma piscadela e fecha a porta.
Vou até à sala de jantar e Liziara sorri
animada assim que me vê. Marcos murmura
algo, mas não entendo.
Vou até Liziara e a cumprimento com um
beijo no rosto.
— Tome café com a gente. Daqui a pouco,
acordo as meninas.
— Estou sem fome, mas obrigada. — Olho
para o Marcos antes de me sentar. — Bom
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dia.
Ele assente apenas.
— Te liguei, mas só chamava. Queria
minha bolsa preta que esqueci lá. Vou usar
ela hoje.
Coloco a mão no bolso do short e percebo
que esqueci o celular.
— Eu o esqueci. Ultimamente não
esqueço a cabeça que fica grudada no corpo.
— Bem-vinda ao clube. Folga hoje?
— Sim. Bom, sim e não. Com minha tia
vindo para cá, não existirá folga. — Sorrio.
— Jaque é um amor. Adoro-a.
— Fique uma semana com ela, e você
pede socorro. E você está de folga?
— Que nada. Mais tarde vou para a boate.
A Daiane vai vir pra cá ficar com as meninas.
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— Mais uma babá foi mandada embora?


— Não confiei nela.
— Você diz isso de todas.
— Concordo! — Marcos se manifesta.
— Bia, é que...
— Eu sei. Ficaria preocupada igual a você
se estivesse no seu lugar.
— Vou acordar elas. Já venho.
— Vou junto.
— Fique e faça companhia ao Marcos.
— Eu não mordo, Beatriz, só se você pedir
— Marcos diz e Liziara olha feio para ele.
— Seja rápida, Lizi, ainda tenho que
buscar meu celular, minha tia vai ligar
quando estiver chegando.
— Pode deixar! — Ela sai rapidamente

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me deixando a sós com Marcos.


— Foi bom te encontrar aqui, facilitou eu
ter que te procurar.
— Por quê? — pergunto.
— Venha. — Ele se levanta e fico olhando
para ele. — Pare de ser medrosa. Vamos até a
sala.
Acompanho-o até a sala. Ele caminha até
o sofá e pega alguns papéis dentro de sua
pasta.
— Um presentinho para você. — Ele me
entrega.
— O que é isso?
— Leia. Acho que vai gostar de saber.
Olho os papéis e então começo a ler.
Fico horrorizada ao terminar de ler.
Sento-me no braço do sofá e olho para o
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Marcos.
— Não posso acreditar que Edson tenha
feito tudo isso! Como conseguiu isso?!
Ele ergue a sobrancelha esquerda e me
olha como se eu fosse uma idiota.
— Ok. Vou refazer a pergunta. Para que
foi pesquisar isso?
— Porque não confiei naquele cara
depois do que ele fez.
— E o que resolve eu saber disso? Eu não
sou a lei, e não posso fazer nada. Porque o
principal para minha segurança eu já faço,
que é evitá-lo ao máximo.
— Apenas quero que saiba. Porque se ele
aparecer quebrado, teve motivos.
— Por que ficou com tanta raiva assim
dele a ponto de investigar o seu passado?

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— Por que eu não ficaria? O cara te


comeu com os olhos. Porra, na frente de um
juiz e pouco se importou com isso, mesmo
você sendo funcionária da universidade e ter
ficado claro em seu olhar que não gostou do
que ele fez. E quando você saiu, ele ficou
vidrado em sua bunda. Tem como não ficar
puto com um cara desse?
Ele está nervoso.
— Obrigada por me alertar, Marcos.
— Alertar sobre o quê? — Liziara
pergunta preocupada enquanto segura as
duas meninas.
Pego Laura no colo e dou um beijo em seu
rosto.
— O reitor da universidade que ela
trabalha.

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— O que aquele filho da mãe fez com


você?
— Nada, Lizi. Marcos apenas não gostou
do jeito dele e veio me alertar.
— Ninguém gosta. Eu odeio aquele
homem nojento, safado. Ele só falta comer as
alunas com os olhos. Aquele idiota vive
babando pela Beatriz. Não gosto dele. Ele não
me inspira confiança.
— Bom, Beatriz, o que eu disse ontem
está valendo. Quem assina a sentença sou eu!
Agora vou indo que o dia vai ser longo e
cheio. — Dá um beijo nas meninas. — Até
mais. — Ele se retira.
— Ontem? — Liziara pergunta sorridente.
— Ele estava na universidade.
Encontramo-nos e ele meio que ameaçou ao
Edson.
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— Fez é pouco. Deveria ter dado umas


porradas naquele homem.
— Vamos esquecer-nos do Edson, por
hoje.
Fico brincando com as meninas e
conversando com a Liziara. Quando chega
certo horário, pego a carteira junto com as
chaves e os papéis que o Marcos trouxe e me
despeço.

Estou cansado. A audiência foi difícil, e


não pôde ser concluída, foi marcada para
mais um dia, o que odeio ter que fazer, mas
não tive escolha.
Sento-me na cadeira, e solto o nó da
gravata. O caminho até aqui foi com um

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trânsito caótico, que tenho certeza de que


levei multa, pela impaciência e cansaço.
Odeio agir com insensatez, porém hoje o dia
está uma nuvem negra sem previsão de sol.
A porta se abre e Débora entra, parece
estar mal.
— O que aconteceu? — pergunto
preocupado.
— Dor de cabeça. Mas já tomei remédio,
logo passa. Ligaram do escritório E.A..
— O que o Henrique quer?
— A secretária dele queria saber se o que
o Henrique pediu para você, já chegou ao seu
conhecimento.
— Ainda não. Vou ligar para ele e resolver
isso.
— O escritório da dona Paula também

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ligou. A secretária dela mandou informar


que tem um jantar hoje com a família, e sua
presença é indispensável.
— Porra! Estou fodido hoje! A nuvem
negra virou um poço escuro e sem fim. Só
quero paz — resmungo. — Alguém mais dos
Escobar ligou para me exigir algo? —
pergunto irritado.
— Na verdade, Daiane veio até aqui.
Precisa conversar sobre algo, mas acredito
que não tenha nada a ver com a promotoria.
— Ligarei para ela também. Alguém
mais?
— Não mais. — Ela dá uma piscadela. —
Dia difícil? — Ela se senta na cadeira.
— E como! Só preciso relaxar.
— Marcos, posso te fazer uma pergunta?

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— Se eu não deixar, vai fazer do mesmo


jeito.
— Ainda bem que sabe. Não está na hora
de deixar de ter uma vida sozinho? Sei lá,
você precisa de alguém, homem!
— Você sabe que não sou capaz, não mais.
— Marcos...
— Débora, você é a única que sabe o que
aconteceu, e deveria entender os meus
motivos.
— E por saber o que aconteceu, está na
hora de esquecer o passado. Quando
estávamos juntos, que nos encontramos na
nossa dor, você me fez lutar e ir em busca da
felicidade, e eu encontrei o Cleber, porque
me permiti isso. Se permita lutar por algo
novo.

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— Não consigo. — Jogo a cabeça para trás


apoiando na cadeira. — Não posso esquecer.
— Então se permita ser feliz e use do
passado como uma lição de vida. Aprenda
que contos de fadas não existem. A vida é
dura, e você como ninguém deveria saber,
afinal, convive com casos terríveis dia e
noite, tem marcas no passado, perdeu seu
irmão. Nem todos que vão entrar na sua vida
vai ser para ficar. Tivemos algo no passado, e
hoje estou casada, e nem por isso foi ruim,
são lembranças boas, de um tempo triste,
mas que me permiti a começar a lutar e ir
atrás da minha grande felicidade, e encontrei
no homem que amo demais e sei que ele me
ama da mesma forma ou até mais. Faça da
mesma forma. Eu sonho em te ver com uma
alegria duradoura, homem!

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Ajeito-me na cadeira e olho para ela


sorrindo.
— Déb...
— Me prometa que vai tentar, por favor?
— Eu...
— Me prometa, porque o tempo está
passando e lá fora tem alguém à sua espera,
mas se demorar, pode perdê-la, ou perdê-lo.
— Uma porra! Não sou gay, sua praga! —
Ela ri. — Prometo. E sei que já sabe disso, e
confio em você. Mas nunca conte a ninguém o
que sabe. Isso é meu segredo, que escolhi
apenas a você para dividi-lo, porque você é
uma grande amiga, mesmo me tirando do
sério sempre.
— Não contarei. Mas sei que um dia terá
alguém para se libertar desse trauma, e que

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confie tanto quanto confia em mim, para


dividir o que tanto esconde.
— Quem sabe.
— Sei que vai, apenas permita que isso
aconteça. Agora tenho serviço. — Ela se
levanta.
— Obrigado.
Ela sorri e se retira.
Depois dessa conversa depressiva, hora
de ver o que os Escobar querem.
Ligo para o escritório do Henrique, na
E.A. (Escobar Advocacia). A secretária dele
atende e passa a ligação para a sala dele.
— Vejam só, o tio amoroso liga para o
sobrinho que tanto ama. Eu sei que sou o
predileto, prometo não contar ao David.
— Você tem dois minutos, antes que eu
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me arrependa de ter ligado.


— Senhor bom humor, recebeu o caso do
Lorenzo Silva?
— Não. Em qual delegacia ele foi detido?
— Do David.
— Certo. Vou dar uma passada lá, e
depois conversamos.
— Às vezes, paro para pensar, eu sou o único
que fode tudo pra vocês.
— Por que diz isso?
— David prende, você e a Daiane fazem de
tudo para os culpados terem o que merecem, e eu
acabo libertando eles. — Ele ri.
— Pois é. Até na vida profissional, você é
um porre. Depois nos falamos.
— Beijinho na bochecha, titio.

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— Vá se...
Ele ri e desliga antes que eu termine de
falar.
Eu vou infartar com esses sobrinhos. Que
porra!
Lembro que tenho que ler e assinar uns
papéis. Faço isso antes de ligar para a
Daiane.
Assim que termino, ligo para ela
imediatamente.
— Oi, tio. Aconteceu algo? — pergunta
preocupada.
— Não. Apenas soube que veio aqui. O
que está acontecendo?
— Nada. É que passei na delegacia depois daí,
e soube que o David está na rua, em uma invasão
a um mercado, e tem reféns. Já pensei o pior,

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porque não consigo contato com ele, e ele e sua


equipe não retornaram, e pediram para os jornais
pararem a transmissão do ocorrido.
— Porra! Não se preocupe, vai acabar
tudo bem — tento acalmá-la.
— Tomara. Espero que todos os reféns e os
policiais saiam ilesos. Tio, qualquer coisa que
souber me avise. Vou entrar em uma audiência
agora.
— Certo. Mas, antes o que queria comigo?
— Depois conversamos, eu prometo. Agora
vou indo. Por favor, tenta descobrir algo.
— Irei, não se preocupe. Amo você.
— Também amo você. Beijos. — Escuto
chamarem ela, e ela desliga.
Era só o que faltava, cacete!
Ligo para Liziara. Ela atende depois de
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um tempo.
— Oi. — Ela está chorando.
— Está tudo bem? — pergunto
preocupado.
— Não. O David, acabei de receber a notícia
de que ele está na rua com a equipe dele.
Ninguém sabe mais nada. Não consigo falar com
ele. Estou desesperada. Na delegacia falaram que
eles estão fora há mais de três horas e que não
podem passar mais informações. Pediram até
para os jornais não transmitirem mais nada.
Marcos, e se...
— Não diga. Estou saindo do escritório.
Fique calma. Vá para a casa da Paula com as
meninas. Qualquer novidade ligo para vocês.
— Ok!
Desligo e pego minhas coisas na mesa.

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Saio da sala rapidamente.


— Débora, está dispensada. Tenta contato
com o Cleber, e se conseguir diz que quero
falar com ele urgentemente!
— Se é sobre o David... — Ela se levanta e
seu olhar é estranho.
— Débora, o que houve?! — indago
preocupado.
— Cleber acabou de ligar avisando... Tem
uma notícia boa e uma ruim.
— Diz logo!
— A boa é que prenderam os bandidos, e
nenhum refém se feriu. A notícia ruim é que
teve um confronto com os bandidos, e o
David foi atingido. Não se sabe o estado dele.
Foi encaminhado para o hospital que ele tem
convênio.

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— Caralho! Está dispensada. Mantenha-


me informado sobre qualquer novidade.
Ligue antes para a casa da Paula e informe lá.
Estou indo para o hospital.
Sinto meu peito apertar. Estou
desesperado. Este dia estava ruim e ficou
pior.

Chego ao hospital e me informam que ele


está na sala de cirurgia. Vou para a sala de
espera, que dá acesso a sala que ele está.
Henrique já está aqui, andando de um
lado para o outro. Tem policiais na porta da
sala de cirurgia e seguranças cercando o
andar.
— Tio! — Abraço ele.
— Fiquei sabendo agora, pela Débora.
— Assim que terminamos de nos falar
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pelo telefone, minha secretária me avisou,


pois o Cleber ligou avisando. Corri para cá
tão desesperado, que em menos de dez
minutos estava aqui.
— Como está a situação dele?
— Não sei. Não sai uma porra para avisar.
— Vai dar tudo certo. Se acalma.
Ficamos em silêncio. O desespero
aumenta a cada minuto que esperamos.
— Cadê meu marido?! — Liziara chega
com a Paula. Elas estão assustadas. Liziara
chora.
— Está em cirurgia — Henrique diz.
— Meu filho. Meu Deus! Eu sempre disse
que vocês não têm amor à vida, mas não me
escutam! — Paula chora. Henrique a abraça.
— Quero saber do meu marido! Que
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porra! — Liziara grita.


— Se acalma... — Abraço ela, que chora
desesperada.
Tenho que ser forte e frio. Não posso me
permitir ser diferente neste momento, pois
pode ser pior.
Beatriz chega com uma mulher, e passa
por nossos seguranças, pois eles a conhecem.
— Lizi... — ela diz e a Liziara me solta e
corre para a amiga, que a abraça.
— Estava aqui perto, quando me ligou.
Não entendi nada, estava tão nervosa, o que
houve?
— David foi atingido por uma bala. Está
na sala de cirurgia. Não sabemos mais nada.
Estou com medo.
Paula se senta e Henrique também, ela

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apoia a cabeça no ombro dele, que a abraça.


— Vai ficar tudo bem. David é forte. Vai
sair dessa rapidamente. Tenha fé — Beatriz
diz.
— Prazer, sou Jaqueline, tia da Beatriz.
Sou médica cirurgiã. Vou tentar saber como
está a situação, se me permitirem.
Liziara solta a Beatriz.
— Por favor, Jaque!
— Seremos muito gratos — Paula fala.
— Obrigada, tia — Beatriz diz.
Jaqueline se retira.
— Senta um pouco. Está tremendo, Lizi. —
Beatriz ajuda ela a se sentar e depois se
encosta na parede de frente para nós, e cruza
os braços.
Alguns minutos depois, Jaqueline
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aparece, vestida com roupas apropriadas


para médicos cirurgiões.
— O enfermeiro-chefe avisou ao cirurgião
que estou aqui, e com muito custo me
permitiu a entrada, pois me conhece, mas é
proibido no momento, então ficará em sigilo.
Verei de perto tudo o que se passa, e trago
informações.
— Obrigado — Henrique e eu dissemos
juntos.
Ela se retira e entra na sala de cirurgia.
Estou preocupado demais. Ver meu
sobrinho, Paula e Liziara desesperados, me
deixa pior. David tem que ser forte e sair
dessa, esse filho da puta não pode fazer isso
com a família agora.
Um tempo depois, Jaqueline sai da sala.
Levantamos e ela vem até nós.
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— O que aconteceu? — Paula pergunta


aflita.
— Terminou a cirurgia. Me permitiram
dar a notícia. Ele foi atingido no ombro
esquerdo. Mas, felizmente, não foi grave. Ele
vai ser levado para o quarto. Não poderá
receber visitas no momento, pois está
sedado e precisa descansar.
— Graças a Deus! — Liziara diz chorando
e Paula a abraça, sorrindo. Henrique se senta
e solta o ar com força.
— Podem ir para casa se quiserem.
Provavelmente só mais tarde ele poderá ter
visitas. E ele está sedado, não tem mais o que
ser feito. Só ficarem felizes e agradecerem a
Deus — Jaqueline diz sorrindo.
— Não saio daqui, enquanto não ver ele
— Liziara diz.
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— Muito menos eu — Paula rebate.


— Obrigado, mais uma vez, Jaqueline —
digo a ela.
— Não tem pelo que agradecer. Só fiz
minha parte. Vou retirar esses trajes, e
conversar com o cirurgião. Se eu souber de
algo a mais aviso — fala e então se retira.
Sinto um alívio imenso. Se algo
acontecesse ao David, ou a qualquer um da
minha família, não sei o que eu faria. Nunca
me perdoaria. Prometi ao Joseph que se algo
um dia acontecesse com ele, eu cuidaria da
família que ele construiu, e daria todo amor.
Não poderia jamais quebrar essa promessa
que fiz ao meu irmão. Minha família é tudo
para mim.
— Bia, me perdoa por fazê-la vir para cá.
Sua tia chegou hoje e já dei trabalho...
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— Não se preocupe. Fico feliz por ele


estar bem — ela diz e sorri.
— Posso te pedir mais um favor, Bia?
— Sempre — Beatriz responde.
— Fica com as meninas? Deixei elas com a
dona Jurema, na Paula.
— Fico sim. Irei apenas avisar minha tia, e
ver se ela vai ficar, ou vai embora.
— Não se preocupe, eu levo sua tia — falo
para ela.
— Obrigada — agradece.

O que tinha para ser um bom dia, virou


um pesadelo. Quando Liziara me ligou,
estava comendo em um restaurante perto do
hospital com minha tia. Corri para o hospital
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sem pensar duas vezes. Fico aliviada por


saber que David está bem. Tenho muito
carinho por ele, afinal, é esposo da minha
melhor amiga e pai das minhas afilhadas.
Quando chego na dona Paula, Jurema e os
seguranças perguntam agoniados por
notícias do David, e digo a eles que foi um
susto, mas a cirurgia correu bem e não foi
nada grave. Vejo o carinho que todos têm
pela família que são seus patrões, pois ficam
aliviados com a notícia.
Digo para dona Jurema que pode ir
embora, e com muito custo ela se vai. Ela
informou que as meninas já mamaram. Elas
estão dormindo no quarto do David. E fico
com elas na cama. E pensar que poderiam ter
perdido o pai tão novas. Melhor nem pensar.
Deus as livre de algo tão difícil assim.

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Tia Jaqueline sai de férias, mas o trabalho


não sai dela. Aquela mulher ama sua
profissão e faz de tudo por ela. Me orgulho
disso, pois é uma profissão linda, e merece
profissionais bons como ela.
Porém, só um rosto me vem à mente sem
parar: Marcos.
Nunca o vi tão abatido como hoje. Parecia
tão frágil, ali sentado sem ação, com o olhar
perdido. É estranho ver um homem que
conheço há um bom tempo e sei que é
sempre de ação, grosso, de atitude, e hoje o vi
daquela forma. Esse juiz de quinta está
mexendo com minha mente há um bom
tempo. Droga!
Sinto meu olho pesar. Acordei cedo, e o
dia foi longo. Estou exausta. Levanto da cama
e a empurro com cuidado para que fique

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encostada na parede, e assim ter certeza de


que as meninas não vão se mexer e cair.
Ajeito elas certinho na cama e me deito
novamente. Estou realmente cansada.

Escuto alguém me chamando suavemente


e sinto me chacoalhar de leve.
Abro os olhos com calma. E vejo que as
meninas não estão mais na cama.
— Daiane e Ana Louise chegaram há um
tempo, e estão com elas lá embaixo. Não te
acordaram, porque ficaram com dó.
— Marcos... — Levanto-me e ajeito o
cabelo — Que horas são? Nem vi ninguém
chegar. Estava cansada demais e ainda estou.
— Duas da manhã.
— Meu Deus! Preciso ir.
— Não queriam que eu te acordasse, mas
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achei melhor, porque deixei sua tia na sua


casa já.
— Obrigada por me acordar e levar
minha tia. Deixa eu ir.
Quando vou sair do quarto, ele me segura
pela mão.
— Obrigado. Por ter ido até lá, mesmo
com sua tia que acabou de chegar. E obrigado
também por ficar com as meninas.
— Não tem porque agradecer. Preciso ir
agora.
Ele me solta.
— Eu te levo. Está tarde. Depois mando
um dos seguranças levar seu carro.
— Não precisa. Obrigada.
— Não foi um pedido. Eu te levo.
Inferno de homem!
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— Eu já disse que não precisa, Marcos!


— Não estou perguntando se precisa.
Vamos logo.
Saio do quarto irritada.
Cumprimento Ana e Daiane e me despeço
delas.

Entro no carro do Marcos e ele entra em


seguida.
— Só estou deixando, porque estou
cansada demais para discutir.
— Sei — ele diz e dá partida no carro.
O caminho até minha casa é em silêncio, o
que é ótimo. Pois nossas conversas acabam
em ameaças, ou provocações, e estou exausta
para isso.

Ele estaciona o carro e destrava as portas.


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— Antes das sete da manhã, seu carro


estará aqui.
— Certo. Obrigada, pela carona, mesmo
eu não querendo. — Ele sorri, e não sei se
isso é bom ou ruim. — Tchau.
— Tchau. — Desço do carro e fecho a
porta.
Passo pela portaria e só então ele vai
embora.

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Capítulo 4

O dia de ontem foi terrível. Torço para


que o de hoje seja bom.
Estou no hospital. Todos já foram visitar
David, eu fiquei por último, mas tenho que
ser rápido, tenho audiência em breve.
Entro no quarto e ele me olha. Está com
uma péssima aparência, o que é difícil para
eu ver, pois sempre o vi forte, determinado,
sorrindo por aí.
— Não foi dessa vez que se livrou de mim
— ele diz, rindo.
— Nem pense nisso. Quer me matar do
coração, cacete? Que não tenha uma próxima

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vez, David Escobar, ou serei eu a tentar te


matar! — digo seriamente.
— Não posso prometer.
— Como se sente?
— Bem, mas querendo ir embora, ficar
com minha mulher e minhas filhas. E voltar
ao trabalho. Porém, ficarei uns dias sem
poder entrar em ação, só ficando nos
bastidores. Recebo alta amanhã, o que é um
alívio. Se eu tiver que aguentar mais uma
enfermeira derrubando remédios, se
engasgando quando vai falar, ou ficando
parada me olhando como se eu fosse um bife
bem suculento, eu me suicido.
Rio.
— Está rodeado de mulheres e ainda
reclama? Porra, quem é você e o que fez com
o David? — provoco.
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— Não vou mentir, me deparo sempre


com mulheres lindas, gostosas, que em
outros tempos eu as levaria para a cama,
porém em casa tem uma mais linda, mais
gostosa, que amo, e não a trocaria por
nenhuma outra.
— Vou vomitar ali um pouco, e já venho.
Essa declaração me fez ver unicórnios.
Ele revira os olhos e sorri.
— Fiquei sabendo que a tia da Beatriz
ajudou. Liziara me contou hoje, antes de eu
expulsar ela, que não queria ir embora de
jeito algum.
— Essa é sua mulher, uma porra-louca
teimosa. Quando eu digo, ninguém me dá
atenção. E sim, ajudou.
— Levou a Beatriz para casa. Mandou o
Simon levar o carro para ela hoje... — diz e ri.
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— Puta que pariu, as notícias correm


nessa família! Sim a levei, o que não tem
nada de mais. Só não queria ter que
acompanhar todos a um hospital novamente,
porque ela bateu o carro. Ela estava cansada,
não ouviu nem a Daiane e a Ana chegando e
pegando a Helena e a Laura, imagine
dirigindo? Partiria o carro ao meio.
— E agora preocupado com ela? Quem é
você e o que fez com o Marcos? — ele me
provoca.
— É, você está bem, perdeu até o medo de
morrer. Vou indo, alguém aqui trabalha.

Termino meu café, e algo me incomoda


profundamente!

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— Ok. Passou o café da manhã inteiro me


olhando e dando sorrisinhos toscos. O que
foi, tia?
— Ufa, achei que não iria perguntar! Meu
Deus, estava ficando louca já.
— Diga rápido, porque tenho que ir
trabalhar.
— Você e o gostosão tem algo?
— Quê? Que gostosão?
— Não se faça de idiota! O Marcos
Escobar. O juizão delícia, que pude conferir
pessoalmente que é tudo o que dizem nos
sites e revistas.
— Pelo amor de Deus! Nunca. Eu e aquele
juiz de quinta não temos nada. Eu, hein!
— Sei... Então, por que ele não parava de
olhar para você?

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— Sei lá... Tia, por favor, não comece com


suas loucuras.
— Quando irei te ver com um homem pra
valer?
— No momento não. Sabe que tenho
minha vida planejada. Ainda não é tempo
para isso. Quero um homem certo, para
casar, construir uma vida nova. Porém, só
depois que eu criar coragem, largar meu
emprego, e correr atrás de emprego em um
banco importante, o que sempre foi meu
sonho.
— Nossa, me cansei depois de tanto
planejamento que tive que ouvir. Querida,
tenho 40 anos, e curto a vida mais que você, e
ainda sendo cirurgiã, fazendo plantões
absurdos, no dia da folga saio e me divirto. A
vida é uma só, viver planejando nem sempre

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é bom. Planejar uma viagem, um filho,


comprar um carro, tudo bem, agora planejar
quando vai encontrar um amor, quando vai
transar, quando vai procurar outro
emprego... Me poupe, se poupe, nos poupe!
Bia, acorda! Você tem 27 anos, é jovem, vá
curtir mais a vida!
— Tia, eu vou trabalhar. Esse papo vai
acabar em briga, como sempre. Então sinta-
se em casa. Qualquer coisa me ligue. Te levo
para jantar fora hoje, você escolhe o local.
— Beleza. Se não quiser o juiz, me passa o
contato dele, posso ensinar a ele sobre cada
parte do corpo humano — ela gargalha.
— Papo desnecessário. Fui. Amo você.
Pego minha bolsa e me retiro. Não estou a
fim de começar meu dia tendo que escutar
falar do Marcos!
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Liguei para a Liziara e soube que David


passa bem. Infelizmente não poderei ir até o
hospital hoje visitar ele. Mas só de saber que
passa bem é um alívio.

O trabalho está sendo cansativo hoje. De


sexta-feira é sempre assim. Alunos correndo
atrás de prejuízos da semana para se
organizarem na próxima. Professores
faltando, Eric, diretor pedagógico, surtando
porque os professores faltam. É um dia
cansativo. Porém, só de lembrar que é sexta,
já me dá um alívio.
Termino de imprimir alguns papéis que
preciso entregar para alguns alunos. Assino
todos e saio da sala para entregá-los.
Retorno a minha sala e Lilian está nela
com alguns papéis.

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— Recebemos um e-mail do reitor,


mandou esses arquivos, quer que você peça
aos professores para assinar. Ele está
chegando e quer na sala dele o quanto antes
e que programe uma reunião com os
professores do noturno e deixe a
coordenadora da noite avisada.
Pego os papéis e coloco em minha mesa.
— Ok. Obrigada.
Ela se retira da sala.
— Sinto muito, mas já está chegando a
hora do meu almoço, farei isso só depois.
Preciso estar alimentada, para aguentar o
reitor — digo sozinha.
Meu celular toca e é a Liziara ligando.
— Oi, Lizi.
— Estou atrapalhando?

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— Nunca. O que foi?


— Devido aos problemas com o David, Paula
teve que cancelar o jantar que faria. Então
amanhã terá uma festa, para comemorar a volta
do David. Você está convidada.
— Obrigada, Lizi. Mas minha tia está aqui.
Quero aproveitar o final de semana com ela.
Mas, muito obrigada mesmo pelo convite.
— Está bem... Entendo. Bom, vou indo, hoje
estou de folga do trabalho, mas tenho faculdade.
Já encontrei alguém para ficar com as meninas.
Bom, meio que fui intimada. Paula quer ficar com
elas à noite, enquanto eu estiver na faculdade.
— Mas quando for trabalhar? Anda
abusando muito, Lizi. É faculdade, trabalho,
cuidar das meninas, da casa, do David.
— Conversei hoje com o David quando fui
visitá-lo. Ele está certo, por minha segurança, e
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para meu rendimento na faculdade, melhor eu


deixar a boate. Estava perdendo aulas, cansada,
estressada, não tinha nem paciência com as
meninas mais.
— Está querendo se fazer em mil.
— Então. Ele pediu para eu sair da boate, e
hoje vou conversar lá. As meninas são bebês
ainda, precisam de mim, e minha faculdade
também, e meu marido precisa da minha atenção
também e eu preciso relaxar um pouco também.
Não queria deixar de trabalhar, mas é só até as
meninas estarem um pouco maiores e eu ter paz
para ir ao trabalho e faculdade, deixando elas
com babá.
— Está certa. Ainda mais elas sendo filhas
de Escobar, todo cuidado é pouco.
— E quando a Paula não puder ficar, minha
mãe fica.
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— Ótimo! Fico feliz que resolveu isso,


estava uma loucura.
— Ai, Bia, eu aqui falando, e você no trabalho.
— Na verdade... — olho no relógio —
estou indo almoçar.
— Comida. Nem me fale, estou morta de fome,
mas estou presa no trânsito, a caminho do
hospital. Consegui que deixassem as meninas
visitarem ele. Acredita que não queriam? Cada
coisa.
Rio.
— É como falam mesmo... Os Escobar
conseguem tudo.
— Querida, posso ser uma Escobar, mas o
Araújo ainda está no sangue, e um Araújo sabe
ser irritante quando quer e é persistente ao
extremo até conseguir o que tanto quer. —

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Rimos.
— Bom, vou almoçar. Depois a gente se
fala. Beijos.
— Beijos. E coma muito por mim.
— Pode deixar. Até. — Desligo o celular.

Recebi uma ligação do reitor da


universidade querendo mais uma palestra
minha hoje, porém com todos os alunos do
Direito. E como sou um homem bom, aceitei.
Quem eu quero enganar? Preciso ver a
Beatriz novamente. Não consigo parar de
pensar nela, desde ontem... Desde sempre.
Cheguei na hora do almoço dela. E sim,
puxei a ficha dela aqui do trabalho, para
saber os horários dela. A palestra é depois do

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almoço, por que não chegar mais cedo?


Fiquei parado na porta da sala dela vendo
a conversar com a Liziara no telefone. E juro
que pensei que não calariam mais a boca.
Ela se organiza para sair da sala, e ainda
não notou minha presença.
Ela desliga a tela do computador, joga
alguns papéis no lixo. Em seguida, pega o
celular, coloca na bolsa e pega a chave do
carro.
Quando se vira e me vê, grita, derrubando
a bolsa no chão. Ela está pálida. Vai dar um
passo para trás, mas enrosca o salto no pé da
cadeira e cai sentada nela.
— Sempre soube que causava algo nas
mulheres, mas nunca presenciei algo tão
assim... Como posso dizer... Assustador? Se
for desmaiar, avisa para eu sair sem ser
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acusado depois. — Ela me olha com raiva.


— Quer me matar, não é? Fala a verdade!
Qual o seu problema?! Que inferno.
— Não. Matar? Não.
— Há quanto tempo está aí?
— Você vai passar o final de semana com
sua tia, e por isso recusou o convite que ela
deve ter te feito... E escutei também “Oi, Lizi”.
— Como você é ridículo. Ficou escutando
minha conversa.
— Sou educado. Não quis interromper.
— Isso é perseguição? Porque vive
aparecendo no meu caminho e no meu
trabalho principalmente!
— Tenho palestra novamente hoje.
— Não trabalha? — pergunta com ironia.

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— Saí de uma audiência de quatro horas e


vim para cá.
— E o que quer aqui? — Ela se levanta e
pega a bolsa no chão.
— Vim te visitar. Deveria se sentir
honrada. Juiz Escobar tira um tempo para
visitar você.
— Olha aqui, seu juiz de quinta, se veio
para me provocar, saiba que perdeu seu
tempo. Estou de saída. Agora saia da porta
que eu quero passar.
— Se você for um pouco educada, posso
pensar em sair.
— Marcos, por favor, estou com pressa.
Some!
— Cuidado, quem assina a sentença sou
eu, e a sua pode ser longa.

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— Não tenho unhas grandes à toa. Some.


— Ela passa por mim esbarrando com força
no meu braço.
— Já que não me convida para almoçar,
eu me convido. — Começo a seguir ela.
— Serei obrigada a ir em uma delegacia
pedir uma medida de proteção contra você!
— Se quiser faço uma para você.
Ela me olha mais irritada ainda, e isso
deixa-a ainda mais linda.
Ela para no meio do caminho.
— Quer saber. Se vai mesmo me encher,
você vai pagar o almoço. E vamos no seu
carro. Economizo minha gasolina. E tem
mais, sem segurança, não sou obrigada a
comer com um bando de homens olhando
cada movimento meu.

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— Pago almoço, te levo no meu carro.


Seguranças vão, mas não ficarão do lado de
dentro.
— Sem segurança.
— Com eles, ou nada feito.
— Sabia que diria isso. Nada feito.
Tchauzinho. — Ela sorri e volta a caminhar.
Essa mulher é uma demônia!
— Não pense que vai se livrar de mim no
almoço.
— Que inferno! Eu pago meus pecados
com você.
— Deveria agradecer, por pagar seus
pecados comigo.
— Que ódio! — ela resmunga e isso me
faz rir. — Que bom que isso te diverte. Vamos
logo, senhor Escobar.
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— Se me chamar de senhor novamente, eu


gozo. Vamos.
Ela fica vermelha e boquiaberta.
Ela escolhe um restaurante italiano que
apenas vende macarrão de vários tipos, e fica
bem perto da universidade, e tenho certeza
de que é para sair logo do meu carro.

Entramos no restaurante e peço aos


seguranças que fiquem ao lado de fora. Irei
realizar o pedido dela, ao menos hoje.
Nos levam até uma mesa no fundo do
restaurante. Beatriz se senta de frente para
mim. Essa realmente tem pavor de ficar
perto de mim, o que é estranho já que
normalmente as mulheres só faltam sentar
no meu colo.
O garçom oferece os cardápios, e pedimos

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um macarrão bolonhesa. Para beber peço


água com gás, e ela um suco natural de
laranja.
— Eu deveria ter pedido álcool — digo
enquanto deixo o celular no silencioso.
— Por quê? Que belo exemplo de juiz.
Álcool e carro, péssima combinação. Quando
digo que é um juiz de quinta, tenho razão.
— Porque você está me deixando louco
com essa perna chacoalhando embaixo da
mesa. — Ela me olha e disfarça, parando a
perna lentamente. — Eu já tinha sentido. E
quando digo louco, não é no sentido que você
pensa. É de nervosismo mesmo. Pare de ficar
intimidada perto de mim. Sou Marcos,
esquece o juiz, e esquece Escobar. Álcool iria
relaxar a tensão que está. — Dou uma
piscadela e ela revira os olhos.

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Nosso pedido é servido.


— Então, Jaqueline é sua tia. Não imaginei
que tivesse uma tia aparentemente jovem.
Ela larga o garfo e me olha irritada.
— Veio para falar da minha tia? Devia ter
dito antes, que eu te passaria o telefone dela.
— Nossa... Uau! Se acalma, gata arisca. Foi
apenas um comentário, sem quaisquer
segundas intenções.
— Se me chamar de gata arisca
novamente, perde o que tem no meio das
pernas.
— É sempre carinhosa assim? — provoco.
— Não me provoca, Marcos Escobar!
— Vim em missão de paz. — Ela me olha
desconfiada. — Falo sério, Beatriz. Me conta
mais sobre você, enquanto almoçamos.
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— Quer saber o quê? — pergunta e leva o


macarrão à boca.
— Sei lá. Tudo? Você é bem misteriosa.
— Como se não tivesse investigado minha
vida.
— Poderia, mas não fiz.
— Não tem muito o que saber sobre mim.
Tenho uma vida sem muita atração, como a
sua.
— Sei que isso foi uma indireta ao que
dizem as revistas e jornais, então vou fingir
que não entendi. Tem quantos anos? —
pergunto mesmo já sabendo.
— Vinte e sete. Farei 28 em breve.
Tomo um gole da minha água.
— Por que trabalha há tanto tempo na
universidade? Isso eu sei, pois tive que
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investigar muita coisa lá, para resolver o


caso da Ana Louise.
— Para ser sincera, eu não sei. Trabalho
lá, desde que fazia faculdade. Acho que me
acomodei por medo de tentar coisas novas.
Tenho uma vida bem programada.
— Formada em quê?
— Administração.
— E por que trabalha como coordenadora
na universidade? Isso é loucura.
— Porque... — ela larga o garfo e sorri
nervosa — eu planejei minha vida toda.
Desde a faculdade ao futuro casamento. O
problema foi colocar tudo em prática. Mas
consegui algumas coisas, arranjei um
trabalho, terminei a faculdade, consegui meu
carro, meu apartamento, mas não meu maior
sonho de trabalhar em um banco.
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— E por que não fez isso? É jovem,


inteligente... tem tudo pra conseguir
trabalhar em um bom banco.
— Aí que está o problema. Tenho tudo...
Um bom diploma, muito boa com números,
sou bilíngue... Tenho tudo o que precisaria
para realizar meu sonho, mas percebi
recentemente que...
— Mas falta a coragem.
Ela concorda.
— Não sei nem porque falei tudo isso...
— É bom te conhecer mais. — Olho para
ela, que me olha também. Ela baixa o olhar
para seu prato.
— Falamos muito de mim. Me diz... Quem
é o verdadeiro Marcos Escobar. — Sorrio.
— Para começar... Irei confessar algo de

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imediato.
— O quê?
— Não gosto de macarrão e muito menos
molho vermelho. — Afasto o prato.
— E por que não pediu outra coisa?
— Porque não sei se você reparou, o
restaurante que escolheu é italiano, porém
apenas de macarrão de vários tipos.
— Droga, por que não disse antes? —
indaga nervosa.
— Porque seria uma desculpa ótima para
você fugir.
— Isso é verdade. Mas você queria
almoçar, e não comeu nada.
— Não importa. Usei a desculpa de
almoçar apenas para acompanhar você.
— E para ter minha companhia, valia um
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restaurante que oferece apenas uma comida


que não gosta em vários tipos e ainda por
cima caro? — pergunta com ironia.
— Valia.
Ela tenta dizer algo, mas não consegue.
— Esse é o Marcos Escobar verdadeiro.
Que não gosta de macarrão e muito menos
molho vermelho, e que não se importa de
gastar dinheiro ou ir em um restaurante que
venda apenas macarrão, só para ter a
companhia de alguém especial.
— E por acaso eu sou especial? — Sorrio.
— Demorei alguns anos para perceber...
Você de alguma forma se tornou especial
desde a primeira vez que nos encontramos
na universidade, quando você me respondeu
bruscamente e passou por mim da mesma
forma, fazendo com que meus sobrinhos me
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atormentassem com as bobagens que saem


da boca deles quase sempre. Acha mesmo
que estou te cercando à toa? E só para você
saber, eu já sabia que iria na Liziara ver as
meninas, eu não estava lá por acaso.
Ela derruba o garfo no chão.
Não sou idiota. Sei o que estou sentindo,
apenas estou querendo mascarar. Já senti
isso antes e não acabou bem. Mas prometi a
Débora que tentaria. E porra, sou Marcos
Escobar, eu sou direto.
— Eu... é... Temos que ir. Ou estarei
ferrada. Tenho coisas para fazer.
— Sei que está fugindo. Porém, mais uma
vez, fingirei que não entendi.
Peço a conta e pago.
O caminho até a universidade é em total

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silêncio. Às vezes, ela me olha, mas eu finjo


não perceber. Ela já está nervosa o bastante
com o que eu disse.
Assim que chegamos, eu estaciono o carro
e ela desce rapidamente. Desço e fecho a
porta.
— Obrigada pelo almoço, e desculpa por
ser em um lugar que não come nada. Tenho
que ir.
— Também irei, mas antes tenho que
falar com os seguranças.
Ela concorda e entra rapidamente.
Deixo ela entrar. Não tenho que falar com
ninguém. Apenas sei que se eu entrasse ao
mesmo tempo, ela ficaria mais estranha do
que já está, pois teria que fazer o mesmo
caminho que eu.

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Sou direto, não fujo do que eu tenho para


dizer a ninguém. E não esconderei o que
sinto... Mas primeiro preciso entender o que
realmente sinto, e se for o que penso, e tenho
quase certeza do que é, eu estou fodido!

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Capítulo 5

É sábado e Liziara não para de me enviar


mensagens no celular, insistindo para que vá
participar da festa para o David. Ao que
parece, o que era para ser pequeno, se
tornou algo grande, e com muitos
convidados. Família Escobar é realmente
bem conhecida. Mas eu não quero ir. Já não
queria ir, e agora quero menos ainda. Depois
do que o Marcos disse, eu estou atormentada.
Depois de anos que nos conhecemos,
vivemos em pé de guerra e do nada ele diz
aquilo, e age daquela forma. Não posso ter
minha vida bagunçada, porque aquele juiz de
quinta me deixou sem ação, e pensando em

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um milhão de coisas. Os Escobar são um


perigo para a mente e coração feminino e por
isso eu preciso continuar deixando o meu
blindado.
Quando estou perto dele sinto medo, mas
é um medo diferente. Sempre tento evitá-lo e
é como se uma força me puxasse para ele.
Isso me deixa louca, com medo. Depois do
que aconteceu, é melhor eu realmente evitá-
lo.
— Então quer dizer que hoje tem uma
festa na casa dos famosos Escobar, e você não
me diz? Mulher, isso não se faz. Não trouxe
calcinhas para essa ocasião — minha tia me
fala.
— Quê?!
— Ficar perto deles molha muita
calcinha, e aí terei que trocar toda hora...
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Preciso correr e comprar umas além das que


eu trouxe.
— Não! Eu não quero saber das calcinhas
que vai molhar, e juro que preferia não
saber. Eu quero saber como soube?
— Não faz a pergunta direito e pira.
Liziara, meu bem. Ela sim se sai uma boa
sobrinha.
Eu ainda vou ficar viúva de amiga.
— Tia, não iremos. Escolhe qualquer
lugar, menos lá.
Ela se senta no sofá e fica me encarando.
— O que foi?
— Vai... me fala.
— Falar o quê?
— Está fugindo do bonitão do Marcos, da
Daiane ou da Paula? Porque os outros dois
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são casados. E eu voto no Marcos, porque até


onde sei não é lésbica.
Fico olhando para ela sem acreditar no
que estou ouvindo.
— Sim, eu sei sobre cada um. As revistas
contam. E tive a sorte de conhecê-los no
hospital, não que conhecer alguém no
hospital é sorte, mas... Ah, você entendeu!
— Tia, eu não estou fugindo deles e
também não sou lésbica, e também não
tenho nada contra quem seja.
— Então por que não quer ir? É uma festa
para o marido da sua melhor amiga.
— Porque quero curtir a noite com você
— digo, tentando soar bem firme.
— Mentira! Te conheço muito bem. Fala a
verdade.

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— Ok. — Sento-me no sofá no qual eu


estava deitada. — Eu estou evitando o
Marcos. Satisfeita?
— Não! Evitando aquele tesudo? Você é
lésbica sim! — diz assustada. — Agora sei
porque nunca quer os homens lindos e
gostosos que te mostro. Meu amor, era só
dizer, poxa. Eu apoio, e acho até maneiro.
— Sério que você tem 40 anos?
— Não diga esse número em voz alta!
— Estou evitando por motivos que
precisam disso. E não fico reparando se ele é
tesudo ou não — minto.
— Pois eu reparei. Aqueles olhos são um
orgasmo duplo. E aquele olhar? Puta que
pariu, gozei!
— Tia! Não tenho que ouvir isso. —

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Levanto-me.
— Senta aí agora! — ela diz seriamente e
obedeço. — Quer que eu aja como uma tia de
verdade? Certo! Pare de fugir dos seus
sentimentos. Não sou ingênua. Vi o modo que
se olhavam. Se gostam. Desde que virou
amiga dessa família, você está diferente.
Parece que está em uma corda bamba com
medo de que, se cair, não tenha algo para te
salvar. E sabe por que fica assim? Porque
algo dentro de você te pede para correr para
os braços do tesudo, e outra coisa te puxa e
sobe um muro ao seu redor te fechando para
novas tentativas. Você se proíbe de tentar,
por causa de um maldito planejamento de
vida. Nem sempre as coisas são como
queremos.
Engulo em seco. Ela sabe tocar no meu

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ponto fraco... O medo. Não quero continuar


ouvindo, porque sei que vai acabar em briga
e odeio isso.
— Acredite, eu não sinto nada por ele! —
digo isso mais para mim do que para ela.
Como se eu dizendo em voz alta tornasse
mais certo.
— Ah, é? Então coloque sua melhor roupa,
e vamos à festa — provoca.
— Ok. Vamos!
— Isso vai ser ótimo.

Festa, tudo o que eu não queria. Ainda


mais quando, o que era para ser entre
família, ficou entre o Brasil inteiro.
Porra, Daiane e Paula não sabem fazer
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nada simples?!
Estou jogado no sofá da sala da Paula,
vendo o pessoal do buffet para lá e para cá, e
Paula e Daiane dando ordens. Não tenho
paciência para isso não.
— Cadê a Ana Louise? Ela disse que viria
ajudar. Vou enforcá-la — Daiane diz
digitando algo no celular.
— Ela faz bem em não estar nesta
loucura. E cadê o David e família?
— Não queremos eles aqui antes da festa,
pois é para o David, não quero nem ele e nem
a Liziara ajudando. E você, por que não está
fazendo nada? Poderia estar conferindo o
moço que vai cuidar das bebidas e ver se está
tudo certo.
— Eu poderia. Mas não irei. Estou
cansado. Ontem foi um inferno aquela
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maldita audiência e correndo atrás de um


caso para o Henrique.
— Vocês, homens, são todos moles... —
Desvia o olhar de mim. — Não! Essas coisas
devem ficar lá fora! — ela grita para um
rapaz com caixas passando pela sala.
Coitado! — Mãe, liga para a Louise! — ela
grita e sai da sala.
Porra, que tanto grita?! Maldita hora que
falei que ficaria aqui com elas.
O telefone começa a tocar, mas não tenho
tempo de atender, pois a Jurema atende e me
traz.
— Senhor, é a Beatriz. — Pego o telefone.
— Senhor está no túmulo. Que porra,
mulher, desapegue disso!
— Não, não! E olha a boca! — Ela se retira

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e rio.
Deito novamente no sofá e coloco o
telefone na orelha.
— Oi — digo.
— Marcos? Isso é perseguição.
— Você que ligou. Então você que está
perseguindo! Diga o que quer?
— Quero falar com a Paula, Liziara...
Qualquer uma das mulheres que devem estar por
aí.
— Só está a Paula e a Daiane e não me
atrevo a chamá-las para nada, pois tenho
amor as minhas bolas.
— Não tenho um pingo de interesse de saber
do amor por suas bolas. Estou tentando falar com
a Liziara, mas não consigo. Avise, por favor, que
irei com minha tia.

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— Vai pra porra! E precisa avisar algo?


Sabe que te tratam como da família, não fode
minha paciência e humor com isso.
— Avisa! E me respeita, seu juiz de quinta.
— Juiz de quinta, mas o pau é de
primeira!
— Eu não ouvi isso! Tchau! — Ela desliga e
começo a rir.
Essa noite você não me escapa!

Já são 22h, e isso aqui parece mais um


metrô na parte da manhã, do que uma festa.
De onde veio tanta gente?
— Senhor Marcos Escobar, juiz mais
amado pelas mulheres e odiado pelos réus.
— E a noite acaba de piorar.
— Henrique, você não tem uma filha ou
uma esposa para cuidar?
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— Minha esposa está lá fora com a Daiane


e a Liziara, e minha filha dormindo.
— E eu saindo... — mas sou interrompido
por uma morena que se aproxima e
cumprimenta a mim e ao Henrique. E não, eu
não sei quem é ela.
— Henrique... — ela diz toda manhosa.
Olho para a cara dele e rio. Está fodido se Ana
Louise aparecer.
— Oi. — Pelo tom da voz dele, sabe quem
é, mas não sabe o nome.
— Sumiu. Não apareceu mais na boate. —
Ele engole em seco. — Saudades, amor! — Ela
acaricia o braço dele. Eu não me aguento e
me viro para o lado para disfarçar o riso. Ele
está pálido.
Vejo Ana Louise vindo, e parece que está
indo para a guerra. Isso vai ficar melhor
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ainda. Nunca imaginei me divertir tanto em


poucos segundos.
— Eu... Então... Melhor sair enquanto é
tempo, tenho uma fera como esposa. — Ele
retira a mão dela do braço dele. Coloco a mão
no bolso.
Ana Louise para ao lado dele e olha a
morena de cima a baixo.
— Cuidado, nem sempre minhas pernas
servem apenas para andar. Na maioria das
vezes é para chutar o rosto de oferecidas
como você. — A morena olha assustada.
— Eu disse a você que eu tinha uma fera!
— Henrique diz.
— Lá fora e agora, Henrique Escobar! —
Ana diz, e se afasta.
A morena baixa o olhar e fica mais sem
jeito do que já estava e eu adoro ver isso.
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— Se eu não voltar em três minutos, diga


a minha filha que a amo — Henrique fala e se
retira.
— É, morena, nunca mexa com o homem
de uma Escobar — digo a ela, que se retira
rapidamente.
Isso sim é festa! Henrique se estrepando...
Escuto um riso atrás de mim e me viro para
ver quem é.
Meu olhar segue das suas pernas até o
maldito vestido vermelho, colado e justo ao
seu corpo. Talvez eu tenha ficado tempo
demais olhando, pois ela pigarreia. Continuo
o trajeto com o olhar até parar em seu rosto.
Essa mulher vai foder comigo!
Preciso manter a postura, porra!
Beatriz me olha e ri ainda mais.
— Virei dentista agora, para ficar rindo?
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— pergunto a ela.
— Não — ela responde e bebe sua bebida
para disfarçar o riso.
— E por que ri então?
— Porque você realmente está ficando
para "titio". Depois de dizer a moça "nunca
mexa com o homem de uma Escobar", me fez
perceber que você é o único homem Escobar,
velho, mal-humorado e sozinho — provoca.
Em seguida, ela me entrega a taça e se
afasta, rindo.
— Beatriz Ferreira de Oliveira, você me
paga! Titio, é uma porra!
Eu não acredito que essa porra veio até
aqui para me provocar. Isso não vai ficar
assim. Agora ela conseguiu me irritar!
Entrego as taças para um garçom que
passa.
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Saio para o lado de fora, onde o som está


bem alto. Daiane não mentiu quando disse
que teria DJ, e colocariam a casa abaixo.
Dou de cara com a Débora, que está com
uma bebida na mão. Qual o problema dessas
mulheres para comprarem roupas faltando
pano? A outra, com um vestido que parece
uma blusa; e essa, com um short que parece
uma calcinha. Se Daiane estiver nua, não irei
me impressionar.
— Vai matar quem? — pergunta rindo.
— Está tão óbvio que estou irritado?
— Sim.
— Então por que está falando comigo?
— Seu humor é foda!
Começa a tocar outra música.
— Se quem está procurando for a Beatriz,
ela está ali — aponta na direção — dançando
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com as meninas e a tia dela.


— E quem disse a você que procuro ela?
— Intuição feminina. Vai, homem. Vamos
nos divertir. — Ela me puxa.
Vamos até onde estão as meninas
dançando e os rapazes conversando.
— Sofre no presente por causa do seu
passado. Do que adianta chorar pelo leite
derramado. — Débora canta junto com a
música e sei que é para me provocar mais.
Beatriz ainda não nota minha presença.
Aproximo-me do David, que está com o
Cleber.
— Posso saber o que fazia com minha
mulher? — Cleber pergunta.
— Tentando me livrar dela, mas o que
posso fazer, se ela não resiste ao que já
provou? — Ele tenta vir até a mim, mas o
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David segura.
— Hoje não, caralho! — David diz.
Beatriz dá um passo para trás e acaba
batendo as costas em mim.
— Ai, des... — ela vai pedir desculpa, mas
desiste quando me vê.
Viro-a para mim. E foda-se, sei que as
meninas olham e os rapazes também e que
está lotado de gente. Ela me olha assustada.
— Titio, Beatriz, é uma porra!
Ela vai responder, mas não permito.
Seguro-a com mais força, e a beijo. No
início, ela não corresponde, mas logo o faz.
Mergulho com força minha língua e a dela se
encontra com a minha. Escuto o berro da
Liziara e da Débora, mas não me importo.
Desço minha mão até a altura da sua bunda,
enquanto permaneço com a outra em sua
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nuca. Seus braços contornam meu pescoço e


ela pressiona ainda mais em mim, soltando
um gemido em meus lábios.
— Caralho! Eu bebi demais, só pode.
Beatriz e Marcos! — Henrique grita. Beatriz
se afasta no mesmo instante.
Ela olha para mim e depois para todos,
mas sai em disparada para o jardim dos
fundos.
— Fiz merda? — Henrique pergunta.
— Eu... — não consigo responder. Apenas
me afasto, indo à procura da Beatriz.
Porra!

Encosto-me na árvore, do jardim. Escuto a


música de longe. Que merda eu fiz?! Inferno!

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Isso não podia ter acontecido! Henrique


salvou a pátria. Que vergonha, na frente de
todos, e ainda gemi. Que ódio de mim! Não
vou conseguir olhar na cara de ninguém
mais.
Assusto-me quando alguém toca meu
braço. Mas reconheço seu perfume.
— Marcos, me deixe sozinha, por favor.
— Queria eu ser capaz disso. Olhe para
mim, por favor. — Ele me solta e então me
viro para ele e só consigo me perder em seus
olhos lindos.
— O que aconteceu...
— Foi um erro, eu sei.
— Não diga isso. Bata na minha cara, mas
jamais repita isso a mim. Não foi um erro.
Foram dois adultos se beijando e que sabiam
o que estavam sentindo.
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— Marcos, entenda...
— Entenda você. Eu não brinquei quando
disse aquilo no almoço para você. Eu não
brinquei quando te beijei agora...
— Eu estou confusa. Só preciso ficar
sozinha — sussurro.
— Você não está confusa. Sabe o que
sentiu agora há pouco, pois foi o mesmo que
eu. Porque, se aquele beijo não tivesse tido
nenhuma importância, não teria fugido.
Sinto um frio na barriga.
— Marcos. A gente sempre implicou um
com o outro. Eu não posso... Não faz sentido.
Eu não quero ser brinquedo de ninguém, e
não posso ter ninguém, não agora. Então...
— Cale a boca e me ouve, porra! Qual a
parte que você ainda não entendeu que algo
está acontecendo entre nós e não é de hoje?
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Sou homem o suficiente para te confessar


que você mexe comigo, e isso tem me
deixado louco. Beatriz, eu... — ele tem
dificuldade em dizer.
— Você o quê, Marcos? — pergunto com
os olhos marejados. Não posso chorar, não
agora.
— Eu me apaixonei por você.
— Você não pode dizer isso. Não se brinca
assim com as pessoas.
— Você calada é muito mais linda.
Ele me agarra e invade minha boca com a
sua. Não consigo resistir. Afinal, é nestes
braços que eu quero estar.
Beijo-o, mas, desta vez, é um beijo
tranquilo... Leve. Suas mãos apertam minha
cintura. Ele encosta na árvore comigo ainda
em seus braços, encaixa-me entre suas
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pernas e continua me beijando.


Seu beijo apenas confirma tudo o que ele
me diz. O juiz de quinta realmente diz a
verdade.
As lágrimas escorrem por meu rosto e
deixa o beijo salgado. Afastamos nossos
lábios. Ele me olha e seu olhar é diferente,
difícil de explicar. Em seguida, enxuga
minhas lágrimas.
— Não chora. Se soubesse o quanto é
linda sorrindo, jamais derramaria uma
lágrima.
— Não estou chorando de tristeza. Eu
nem sei por que estou chorando.
Ele sorri.
— Eu não minto em relação aos meus
sentimentos, porque já sofri demais no
passado, e não desejo aquela dor a ninguém.
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— Por que eu?


Ele sorri novamente.
— Porque foi a única que não correu
atrás de mim. Foi a única que mostrou o
sorriso e a fúria ao invés dos seios. Foi a
única que teve coragem de me chamar de juiz
de quinta e a única que fica vermelha após
me beijar, e é tímida quando me beija. —
Sorrio envergonhada. — E é a única que vi
uma beleza que nunca vi em nenhuma outra.
— Marcos... Não sou as mulheres que você
está acostumado. Não aceito que brinque
comigo. Não sou uma mulher da lei, e muito
menos sei lidar com uma arma. Não sou rica,
e curto muito pouco baladas, ou beber. E
prometi a mim que abriria meu coração no
momento certo, e não seria a qualquer um.
— E é por tudo isso que você conseguiu

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me conquistar. Eu jamais ousaria brincar


com os seus sentimentos ou de qualquer
mulher. E tem mais, será um prazer não ter
uma mulher que ande armada. Vejo o que
meus sobrinhos sofrem.
Rio.
— Parece mentira. Nós dois aqui... —
Sorrio.
— O juiz de quinta é irresistível. Confessa,
delícia! — Ele me dá um beijo leve nos lábios.
— Convencido, sim. Irresistível? Não.
— Não me provoca! Quem assina a
sentença sou eu e a sua pode ser longa e
peculiar.
— E eu não tenho unhas grandes à toa.
— Adoraria que testasse elas em meu
corpo.
Tenho certeza de que fiquei roxa.
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— Fica linda quando está tímida. Eu disse,


delícia. — Ele ri.
— O casal fora da lei poderia vir para
festa? Depois planejam os filhos e o
casamento! — David grita.
— David! — Paula e Liziara dizem juntas.
— Vamos, ou vão vir até aqui, pode
acreditar.
— Não duvido, se tratando da Paula e
Liziara.
— Tenho que cuidar de certo sobrinho.
Henrique só fode. Aparece quando não tem
que aparecer. Esse porra me paga.
Rio.
— Não sei com que cara vou olhar para
eles. Estou morrendo de vergonha.
— Com a cara de que foi beijada por mim,
e que se não tivesse ninguém ali, teria sido
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fodida por mim.


Certo, agora eu fiquei roxa de vez.
— Nunca vou me acostumar com seu
jeito.
— Pois se acostume, delícia. Vamos logo!
— Ele segura minha mão e começamos a
retornar à festa.
Eu juro que ainda estou achando que é
algum tipo de sonho, e que irei acordar logo.

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Capítulo 6

Dormimos na casa da Paula, a festa


acabou muito tarde, e minha tia acabou
bêbada.
Já estou acordada, e anestesiada. Eu
acredito que tudo o que aconteceu ontem à
noite não terá passado de um sonho. Afinal,
eu bebi um pouco, posso ter ficado bêbada, e
dormido acreditando que aconteceu tudo
aquilo entre mim e o Marcos. Que, por falar
nele, foi embora para a casa dele, assim como
Henrique foi embora com a Ana e a Yasmim,
pois hoje iriam para a fazenda.
David e Liziara, junto com as filhas, estão
aqui também e dormindo. Minha tia ainda
dorme, da mesma forma que Daiane.
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Eu me arrumo, com uma roupa da Daiane


mesmo, porque sou dessas. Dona Paula
deixou escovas de dentes novas para mim e
minha tia. Dou um jeito no meu cabelo que
parece que teve uma briga séria com o pente.
Faço um coque, e tudo certo. Pego meu
celular, e desço descalça mesmo.
A claridade do sol me atinge quando me
aproximo da janela e me sinto um vampiro.
Caramba, as vistas ardem!
— Bom dia, minha linda! — Dona Paula
diz, ainda de camisola e penhoar.
— Bom dia.
— Dormiu bem?
— Ótima.
— Venha, vamos tomar café lá fora, está
um dia lindo.
Sigo-a e me surpreendo, pois a equipe
que foi contratada já limpou tudo. Isso que é
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eficiência, nem parece que teve festa aqui.


Sentamos para tomar café, que ela
mesmo preparou com toda certeza, afinal,
dona Jurema e dona Marcela estão de folga. A
mesa está farta e linda. Se bem que tendo
comida, acho tudo lindo logo cedo.
— Pelo visto, não vão acordar tão cedo.
Foram dormir depois de nós. O pessoal já
tinha ido embora e eles estavam aqui ainda,
porque acordei no meio da madrugada com
os gritos da Daiane que, ao que indicava, foi
jogada na piscina por algum dos meninos.
Sorrio.
— Não ouvi nada. Eu morri. Acho que
entrei em coma e acordei agora.
Ela ri e se serve de café.
Sirvo-me um copo de suco e bolo.
— Levantou bem mais cedo, preparou até
bolo, fora a mesa linda.
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— Eu madrugo. Criar três filhos e um


sendo Henrique, um homem que sempre tem
fome, me fez acostumar levantar muito cedo.
Sorrio.
Ela toma o café, mas fica me olhando e
estou ficando desconfortável.
— Paula, o que houve? — pergunto
agoniada.
— Certo. Ainda bem que perguntou.
Menina, estava me corroendo de curiosidade
e felicidade. Você e o Marcos ontem foram
tão lindos. Não irei mentir, ficamos vendo de
longe.
Certo, de repente meu estômago
embrulha e sinto minhas bochechas
esquentarem.
Não foi um sonho!
— O que aconteceu ontem foi... Como
posso dizer. Eu... Eu não sei — digo e tomo
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um bom gole de suco.


— Foi amor. Isso que aconteceu, foi amor.
Fez-me lembrar do meu primeiro beijo com
Joseph... mas depois não queria me
desgrudar nunca mais dele, mas,
infelizmente, ninguém vive para sempre.
— Eu sinto muito. Ele devia ter sido um
bom homem.
— E foi. Marcos lembra-o em alguns
aspectos, mas David é ele todinho. — Sorrio e
como um pedaço do bolo.
— Não sei se foi amor realmente. É
estranho o que aconteceu. Passamos tanto
tempo nos odiando e do nada isso.
— O amor muitas vezes vem mascarado
de ódio. Não é mentira que os opostos se
atraem.
— Mas o Marcos, ele é tão...
— Bipolar?... Lindo?... Bom homem?...
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Grosso?...
— Basicamente.
— Meu anjo, ele é um Escobar. Os homens
Escobar, ou você doma, ou eles te
enlouquecem. Porém, também tem que
aprender a conviver no ritmo deles.
— Eu planejei tanto sobre o amor, minha
vida, minha carreira. E agora, estou aqui,
perdida, com medo...
— Ninguém deve planejar o amor, porque
não tem como saber quando ele vai
acontecer. Eu tive medo também. Não tinha
noção do que a vida me guardava, mas
quando conheci meu falecido marido, eu
soube que coisas não planejadas, na maioria
das vezes são as melhores. — Sorri
emocionada e bebe um gole de seu café.
— Somos muito opostos. Meu ritmo de
vida, minhas decisões, meu jeito, é muito
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diferente do dele... Do de todos vocês.


— Bia, acha mesmo que eu tinha jeito
para ser uma Escobar? Eu era uma simples
Paula Assis. Ele era um homem com um
sobrenome que pesava muito e pesa até hoje.
Ana Louise acabou ficando presa ao coração
do Henrique. Liziara também tinha medo,
louquinha como sempre, e depois de tanto
sufoco, conseguiu amarrar o David a ela.
Nenhuma pessoa nasce preparada a algo ou
alguém, aprendemos com o tempo.
Tomo o resto do meu suco.
— Você diz ser diferente, mas se fosse
igual qual seria a graça? Convive conosco há
anos, uma família rodeada de seguranças,
que já passou apuros. Ajudou no caso da Ana
e da Liziara, deu força no caso do David.
Sempre salva a Liziara quando ela precisa. Se
precisarmos, você sempre está por perto. Já
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faz parte desta família, mas não percebeu


ainda. — Sorrimos.
Minha tia aparece, e parece ter fugido do
hospício. Paula deve ter deixado uma roupa
separada para ela.
— Bom dia. Anotaram a placa? —
pergunta se sentando.
— Bom dia. De quê? — Paula e eu
dizemos em uníssono.
— Do trator que passou em cima de mim.
Droga! — Rimos.
Mesmo com cara de ter fugido do
hospício, tia Jaqueline continua linda como
sempre, e nunca aparentando a idade que
tem.
— Estou com uma dor de cabeça que nem
quem é corno sente tanto.
Paula gargalha.
— Tia! — repreendo.
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— Sou sincera, gata! — Ela se serve de


café puro.
— Paula, obrigada por cuidar da gente
com tanto carinho — digo.
— Não tem porque agradecer. Adoro a
casa cheia.
— Daiane disse que já desce. Ia pôr um
biquíni. Gente rica é assim, já acorda com
biquíni — minha tia fala e fico envergonhada.
Paula ri.
— Daiane ama piscina e praia. Se quiser
tenho biquínis novos, te arrumo.
— Mulher, vejo mar todo santo dia, tudo o
que menos quero é ver algo que lembre o
mar.
— Não dê atenção! — digo a Paula.
— Deixa disso, Bia. Adorei sua tia.
— Todos me adoram. Sou assim, fazer o
quê.
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Reviro os olhos.
Meu celular começa a tocar e é um
número desconhecido.
— Com licença.
Levanto-me para ir atender. Passo
correndo pela entrada da sala, e trombo com
a Daiane.
— Meu Deus, isso que é disposição de
correr logo cedo! — ela diz rindo e sai da
casa.
Atendo ao celular.
— Beatriz?
— É ela. Quem fala?
— Edson.
Porra!
— Aconteceu algo?
O que ele quer no domingo?!
— Preciso que me reenvie alguns documentos,
pois os apaguei do meu e-mail e amanhã cedo
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preciso estar com eles.


— E não posso enviar amanhã cedo?! —
Só pode ser brincadeira!
— Quero hoje.
A porta da sala se abre e é o Marcos,
vestido em uma bermuda na cor caqui,
chinelo, e camiseta branca. Droga, devo ter
babado! Algumas de suas tatuagens estão à
mostra, e isso me deixa mais fascinada ainda.
— Beatriz? — Edson diz.
— Perdão. Então, é que agora não estou
em casa. E não tenho acesso ao e-mail da
universidade pelo meu celular.
Marcos encosta na escada e cruza os
braços me observando. Se um buraco abrir
embaixo de mim, irei agradecer. O sol reflete
em seu relógio dourado, e chega a doer a
vista. Tudo deixa esse homem mais sexy
ainda, merda!
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— Preciso agora. São importantes.


Viro-me de costas ou não conseguirei
falar com ele com o Marcos me encarando.
— Estou indo para casa e assim que
chegar te envio.
— Preciso em 20 minutos.
— Vinte minutos?! Me desculpe, mas não
acha meio impossível? — digo perdendo a
minha paciência.
— Beatriz, não é um caso qualquer. É urgente.
— Certo, Edson, mas não estou em casa, e
em vinte minutos não tenho como te enviar o
que quer.
Puxam o celular da minha mão, e me
assusto.
— Ma... — vou reclamar, mas ele me olha
bem sério.
— Bom dia. Infelizmente, ela não tem como te
enviar a puta que pariu que for. E hoje é domingo,
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vai pagar a mais, sendo que é folga dela?... Não!


Então pode esquecer, afinal, isso é lei. Até mais! —
Ele desliga e me entrega o celular.
— Qual o seu problema? Como ousa pegar
meu celular e falar por mim? Pior, ainda
xinga. Eu perder meu emprego, vai me
sustentar! — falo frustrada.
— Te livrei de um trabalho no domingo.
Me agradeça, não me condene, deixa a
condenação por minha conta. E não me
importaria em te sustentar.
Eu pago com toda certeza meus pecados
com ele.
— Obrigada, porque eu realmente não
estava a fim de fazer o que ele queria em
pleno domingo. Porém, não se acostume,
porque não sou de agradecer a você, afinal,
meus problemas acontecem quando você
aparece.
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O filho da mãe sorri.


Ele se aproxima e segura meu queixo
levemente, e me dá um beijo casto nos lábios,
e apenas isso foi capaz de me deixar
completamente arrepiada.
— Bom dia, delícia! — Ele dá uma
piscadela e se afasta indo para o lado de fora.
Eu não acredito. Ele sabia que essa
atitude me deixaria desse jeito, fez de
propósito. Juiz de quinta, idiota!
Vou para o lado de fora e ele está
cumprimentando minha tia. Aproximo-me e
me sento na cadeira que eu já estava antes.
Daiane está ao meu lado, e coloca as pernas
no meu colo.
— Nem um pouco folgada — digo a ela.
— Gata, estou no momento de
relaxamento — diz e rio.
Marcos está deitado no gramado com os
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braços atrás da cabeça, e isso é uma visão


deliciosa, Senhor!
— Não vai tomar café? — Paula pergunta
a ele.
— Estou de dieta — ele diz rindo.
— Sei. O dia que você e Henrique
estiverem de dieta é o fim do mundo se
aproximando. — Rimos.
— Porra, vocês falam, hein! — David
aparece sonolento. Dá um chute no pé do
Marcos.
— Gazela, já acordou na TPM? — Marcos
provoca.
— Não provoque um delegado...
— Não comecem! — Paula repreende.
— Bom dia, moças! — David diz e se senta
no colo da Paula.
— David, sai, menino. Você é pesado.
— Esse peso todo é gostosura. Vim apenas
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dar um bom-dia. Vou me arrumar e sair.


— Vai para onde? — Daiane pergunta.
— Curiosa, pirralha!
— Teu...
— Olha a boca, Daiane! — Paula diz
olhando feio para ela.
— Fazenda. Aquele puto do Henrique não
esperou. Liziara está se arrumando e
arrumando as meninas.
— Saudades daquele lugar! — Paula fala,
e sabemos o porquê. Desde que o seu esposo
faleceu, ela nunca mais pisou lá.
— Mãe, vamos? — David pergunta.
— Não. Mas por que não vão todos?
— Dispenso passar meu domingo ao lado
de David e Henrique! — Daiane diz enquanto
come.
— Vamos, Bia? — David pergunta.
— Obrigada, mas desta vez não.
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— E por que não? — minha tia pergunta e


parece uma criança.
— Tia, não comece. Vamos lembrar quem
é a mais velha aqui e quem tem que agir
como tal?
Ela sorri.
— Velha? Meu amor, você parece mais
velha que todos aqui.
— Vou começar a pesquisar o asilo, hein.
— Te mato! — ela diz e todos riem.
— Cheguei, meu povo! — Liziara aparece.
— David, vamos?
— Vamos, maluquinha.
— Bia, vamos? Qualquer coisa volta com o
Henrique, ele vem hoje. Eu e David vamos
ficar uns dias lá.
— Não, Lizi. Valeu pelo convite, mas já
estou indo para casa.
— Então tá!
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David e Liziara se despedem de nós e vão


embora com as meninas.
— Tia, vamos?
— Vamos, sim. Preciso recuperar a beleza
que camuflou por trás das olheiras.
Rio.
Marcos foi à casa dele buscar o celular
que esqueceu. Nos despedimos da Daiane e
da Paula e vamos embora.

Ao chegarmos no prédio, antes de liberar


nossa entrada o porteiro avisa que tem um
homem me aguardando há algum tempo do
outro lado da rua. Entro no estacionamento,
saímos do carro e minha tia sobe para o
apartamento com as nossas coisas.
Saio do prédio e o porteiro me informa
onde o homem está.
Olho para o outro lado da rua e vejo o

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carro do Edson.
O que ele quer aqui? Eu não acredito que
ele foi ver meus dados na contratação da
universidade!
Atravesso a rua e ele sai do carro.
— O que faz aqui? — pergunto e ele me
olha de um jeito bem estranho e isso me
deixa desconfortável.
— Como eu disse, preciso do e-mail.
Só para me livrar logo, enviarei a merda
que ele quer. Mas pera aí...
— O senhor não tinha necessidade de vir
até aqui para isso.
Ele sorri de um jeito estranho.
— Tinha sim...
Ele me puxa para si, tento me soltar, mas
ele é mais forte, e segura meu rosto me
beijando à força. Sinto um nojo terrível, e as
lágrimas escorrerem. Mordo com força o
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lábio dele, e mesmo assim não me larga.


De repente, alguém atinge ele com um
murro, e me puxa para o lado. Olho
assustada e vejo que é o Simon, segurança do
Marcos.
— Entra no carro, senhorita! — ele diz.
Edson está no chão e me olha de um jeito
horrível. Sua boca está sangrando devido à
mordida e seu rosto vermelho e inchado pelo
soco.
— Filha da puta! Isso não vai ficar assim.
Se aquele juiz de merda pode usar esse seu
corpo, eu também posso. Sei que foi aquele
maldito que falou no telefone comigo, eu vi
vocês almoçando e também o vi em sua sala.
Isso não vai ficar assim. Sempre me evita,
mas para dar para ele não evita, um homem
que come qualquer puta que aparece. Você
só é mais uma puta na lista dele. — Ele se
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levanta e entra no carro dele batendo a porta


com força. Em seguida, sai com o carro a mil.
Ainda estou paralisada.
— Ele a machucou, senhorita?!
Não respondo.
— Vamos, irei ajudar a senhorita ir para
seu apartamento.
— Não... Eu não quero assustar minha tia.
— Certo. Levarei a senhorita para a casa
da dona Paula, o senhor Marcos está lá.
Concordo apenas.
Ele me ajuda a entrar no carro. Estou
ainda em estado de choque. Aquele maldito é
louco. Andou me vigiando, e veio até aqui
apenas para me atacar!
— Por que estava aqui, Simon? —
pergunto lentamente.
— Porque, desde o dia que levei uma
bronca por ter seguido a ordem da senhorita,
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tenho deixado sempre alguém de vigia na


senhorita, para amenizar a minha
irresponsabilidade e protegê-la. Então me
informaram que tinha um suspeito aqui, e
que tinha ido na portaria duas vezes.
Desconfiei, e resolvi ver quem era e fiquei
aqui, então quando vi que a senhorita foi até
o homem, fiquei preparado dentro do carro
para qualquer coisa que acontecesse.
— Marcos sabe que está aqui?
— Não. Eu disse que tinha algo para fazer.
Conhecemos ele, sabemos que qualquer
suspeita ele fica louco. Então queria ter
certeza.
Concordo.
— Obrigada.
— Tem certeza de que está bem? Posso
levar a senhorita ao médico.
— Não precisa. Obrigada.
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Ligo para a minha tia, e digo que tive que


ir na Paula buscar minha carteira que
esqueci. Ela desconfiou, mas não disse mais
nada, apenas que iria tomar um banho e
deitar um pouco.

Assim que chegamos à casa da dona


Paula, nós entramos. Simon me acompanha,
bem preocupado. Parece que estou em modo
câmera lenta. Alguns dos seguranças aqui
nos olham, mas Simon faz um sinal a eles,
que concordam.
Entro na casa com ele. Simon me leva até
a área da piscina, onde estão Paula, Marcos e
Daiane.
Marcos e Daiane estão na piscina, e Paula
deitada na espreguiçadeira lendo um livro.
Paula se vira para o lado e assim que me
vê dá um pulo da espreguiçadeira, largando o

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livro e vindo até a mim.


— Beatriz, o que houve, meu anjo?! — ela
diz alto, chamando a atenção do Marcos e da
Daiane, que antes não notaram minha
presença.
Paula me senta em uma espreguiçadeira.
Marcos sai da piscina como um louco e
Daiane faz o mesmo.
Paula se senta ao meu lado. Marcos olha
para Simon e para mim.
— O que aconteceu?! — pergunta
nervoso.
— Senhor, por pouco não aconteceu o
pior. A senhorita Beatriz foi assediada por
um homem, que não tem como não
reconhecer. Quando o livrei dela, vi ser o
reitor da universidade que a mesma
trabalha.
— Ele o quê?! Eu vou matar aquele filho
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da puta! — ele grita e se abaixa na minha


frente.
— Meu Deus! Está machucada — Daiane
diz.
— Simon, por favor, pegue algo para
limparmos o sangue na boca dela — Paula
fala.
Nem tinha notado o sangue. É do idiota,
quando mordi ele.
— Bia, não quer ir ao hospital?! — Daiane
pergunta preocupada. E eu apenas nego.
— Vai ficar tudo bem. Vamos dar um jeito
nisso. Ninguém toca em você ou qualquer
outra pessoa, sem consentimento — Paula
fala.
— Me deixem sozinho com ela, por favor
— Marcos pede e elas se retiram.
Simon traz gaze e Marcos diz que depois
conversa com ele e então ele se retira. Ele
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limpa minha boca com cuidado.


— Me conta o que aconteceu, por favor.
— Só me abraça, e não pergunta nada,
não agora.
Ele fica entre minhas pernas e me abraça.
Não importo que ele está me molhando,
afinal, ele estava na piscina. Só me importo
com o abraço dele. Choro assustada, sem
acreditar que aquele desgraçado teve
coragem de fazer aquilo comigo!
— Você tinha avisado, e a Liziara também.
— Não se culpe. Mas preciso saber o que
aconteceu por você.
Ele se afasta, se senta no chão e me puxa
para seu colo.
Conto tudo a ele cada detalhe. A cada
palavra vejo a raiva em seu olhar. Sua
expressão vai ficando cada vez mais séria.
— Beatriz, eu vou matar esse cara! — ele
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diz nervoso.
— Não, não suje suas mãos com aquele
homem.
— Homem? Aquele filho da puta é um
desgraçado! Ele estava te vigiando, te
assediou, por pouco não aconteceu o pior e
ainda te ameaçou. Ele mexeu com a pessoa
errada. Esse desgraçado vai ter a pior
sentença que alguém poderia ter.
— Marcos...
— Ele vai ter a fúria de um Marcos
Escobar que ninguém quer conhecer. Esse
desgraçado vai pedir para morrer! — Seu
tom é assustador assim como seu olhar.
— Me promete que não vai fazer nada que
suje sua carreira?
— Foda-se minha carreira. O que importa
é você. Amanhã mesmo vai denunciar a ele. E
se você pisar naquela universidade, eu juro
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que te amarro na cama!


— Não quero ver aquele idiota tão cedo.
Só de lembrar da boca dele na minha, sinto
um nojo! — digo com ódio.
— Ninguém que estiver em sã consciência
toca em algo que é meu. Ninguém toca na
boca da mulher que é minha. E o maldito que
se atrever a isso fica com a sentença assinada
comigo!
Ele me beija, com força. Aperta-me sobre
seu corpo e permito totalmente. Agarro seu
cabelo e puxo. Seu beijo me leva a outro
mundo, onde é quente, lindo, e gostoso de se
ficar. Ele coloca a mão na minha coxa
apertando. A outra mão sobe por baixo da
minha blusa e pousa nas minhas costas nuas,
onde ele faz um M imaginário, posso senti-lo
contornando a letra e é inconfundível a
forma dela. Minha pele se arrepia inteira, e
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gemo em seus lábios.


Ele morde de leve meu lábio inferior e
sorri.
— Não queremos dar um show para a
Paula e Daiane agora. Preciso conversar com
o Simon. Depois passaremos no seu
apartamento, pegaremos sua tia e vamos
para a fazenda. Você precisa relaxar e ficar
longe, até resolvermos sobre o Edson. Para
sua segurança, então não discuta.
— Hoje, não tenho raciocínio para nada,
quem dirá discussão.
Levanto-me e ele faz o mesmo.
Depois dele conversar com o Simon, e eu
contar o que aconteceu a Daiane e Paula, que
ficam chocadas e com muita raiva do Edson,
Marcos me leva para a casa dele onde pega as
coisas dele e, em seguida, vamos para a
minha.
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Conto a minha tia o que aconteceu, e ela


entra em desespero. Agradece ao Marcos e
me abraça muito, me fazendo chorar
novamente. Ela aceita de imediato ir para a
fazenda, ficar longe do caminho do Edson até
resolver tudo.
Arrumamos as coisas e seguimos no carro
do Marcos, com o Simon no carro de trás
onde tem mais dois seguranças dentro. Duas
motos com seguranças também estão junto,
indo na nossa frente.
Estou no banco do passageiro e minha tia
vai atrás, conversando, e sei que para me
distrair a agradeço, pois é tudo que preciso.
— Minha nossa! Esse carro tem mais
armas que o batalhão da polícia. Só até agora
contei cinco — minha tia diz arrancando um
sorriso meu e do Marcos.

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— Um Escobar não pode nunca dar mole.


— Tenho certeza de que nunca dão mole
— minha tia diz e sei que foi maliciosamente.
— Pode ter certeza de que não. Pelo
menos, eu nunca — Marcos responde no
mesmo tom.
— Sério? Se quiserem um clima melhor,
encosta o carro e vou no do Simon!
Marcos me olha e ri. Sério! Minha tia
também.
— O ciúme é tão lindo — ela fala.
— Meu martelo e eu somos apenas seu,
delícia.
Droga, por que ele tem que falar essas
coisas? Sabe que fico roxa de vergonha.
— Não sei de nada! — digo e viro o rosto
para olhar qualquer coisa que não seja ele.
— Esse homem é quente! Eu te falei que
ele era tesudo.
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— Tia!
Ela ri.
— E a Beatriz falou algo sobre, Jaqueline?
— ele pergunta para provocar.
— Tímida como sempre, e teimosa, diz
que não reparou.
— Pois a mim ela falou — ele diz e olho
para ele franzindo o cenho.
— O quê?! — Minha tia não perde uma!
— Respondeu com gemidos.
— Alguém liga o ar-condicionado, por
favor! — ela grita e Marcos ri.
Eu não mereço isso, sério!
— Eu estou no carro, não finjam o
contrário.
— Eu sei que está, delícia, e para seu
alívio, estamos chegando.
— Que pena, o papo estava tão bom! —
minha tia reclama.
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— Tia, se abrir a boca novamente, eu te


jogo no primeiro matagal que eu encontrar.
— Agressiva, hein! — ela diz rindo.
— Pelo menos, não é apenas comigo! —
Marcos diz e olho para ele, que me olha e dá
uma piscadela.
O que Edson fez poderia ter sido pior.
Serei eternamente grata ao Simon por me
salvar. Cada vez que lembro do ocorrido,
sinto um nojo com um forte arrepio. Aquele
homem é um nojento.

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Capítulo 7

Ao chegarmos à fazenda, minha tia sai do


carro como uma criança, apaixonada pelo
que vê.
Desço do carro, fecho a porta e encosto
nele. Assim que Marcos sai, ativa o alarme e
vem até a mim, parando na minha frente.
— Vamos? — pergunta e concordo.
— Gente, que lugar lindo! Bia, e eu
achando que você estava na pior. Porra,
homem gostoso, e ainda dono de um lugar
lindo desses — Minha tia diz olhando para
todos os lados.
— Tia, você sabe que nunca me importei

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com isso.
— Meu anjo, eu sei! Mas que você nasceu
com o rabo pra lua, nasceu. — Sorrio e
Marcos também.
— Vamos, antes que eu tranque ela no
carro — digo e minha tia me olha fingindo
estar ofendida.

Entramos na casa, e todos estão na sala


conversando.
Assim que me vê, Liziara corre até a mim
e me abraça.
— Eu vou matar aquele filho da puta! —
ela diz chorando.
Olho para o Marcos, que diz:
— Eu tive que dizer porque iríamos vir
para cá.

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— Está tudo bem, Lizi. — Ela se afasta e


Ana me abraça.
— Não está tudo bem! — Ana diz e se
afasta.
Minha tia cumprimenta a todos.
— Bia, eu vou acabar com esse cara! —
David diz.
— Está tudo bem. Na verdade, não
deveriam resolver isso. É um problema
meu...
Marcos me olha nervoso.
— Nem mais uma palavra! — ele diz.
— Marcos está certo. O cara mexeu com
alguém especial para nós, e não iremos
deixar barato! — Henrique se manifesta.
— É tão lindo ver isso. Esse carinho, e
proteção por minha menina! — minha tia diz
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emocionada, fazendo todos sorrirem.


— Ela é minha melhor amiga, jamais
deixaria ela na mão, Jaque! — Liziara fala
enroscando seu braço no dela.
— O papo está ótimo, mas vamos. Temos
muito o que fazer. E amanhã, eu quero seu
depoimento, Beatriz — David diz.
— Vão para onde? — pergunto.
— Marcos não falou? — Ana pergunta e
faço que não. — Vamos deixar vocês aqui,
afinal, você precisa esquecer um pouco do
que aconteceu, colocar a cabeça em ordem. E
com Henrique e David por perto, não existe
paz que reine.
— Cuidado, minha advogata, nem sempre
o volume em minhas calças é uma ereção —
Henrique diz a esposa.

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— Suas ameaças não funcionam comigo.


— Mas outra coisa sim — ele rebate.
— Espero que apenas comigo, ou corto! —
ela diz a ele e sorrio. É lindo o amor desses
dois.
— Gente, pode ficar — digo.
— Não, eles não podem. Hora de irem! —
Marcos diz.
— Vocês dois juntos parece um sonho! —
Liziara diz animada e aperta o ombro do
David fazendo ele soltar um gemido, pois é o
mesmo que ele foi ferido.
— Nós não... — tento dizer, mas Marcos
me abraça por trás, me assustando.
— Não responda o que todos sabem ser
mentira, e você mesma sabe! — ele diz e
reviro os olhos.

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— Vamos pegar as garotas — Henrique


diz.

David e Henrique saem da sala e


retornam com as meninas. Laura e Helena
dormem, mas Yasmim está bem acordada, e
sorridente.
Afasto-me do Marcos e vou até ela, que
imediatamente se joga para os meus braços.
— Princesa mais linda! E está ficando
ruivinha igual a mamãe! — Sorrio.
— Estou fodido. Ela está ficando a cara da
mãe. Quando crescer terei que pôr alarme
na...
— Henrique Escobar, nem pense em
terminar o que vai dizer! — Ana o repreende
e rimos.

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— Vai ser uma menina conquistadora de


corações. Você e David estão ferrados, pois
Laura e Helena não ficarão de fora! — digo.
— Não jogue praga! — Henrique diz e rio.
Yasmim me dá um beijo bem babado no
rosto e um abraço todo carinhoso. E isso me
derrete.
— Ai, que linda! — digo toda babona. —
Quando ela aprendeu isso?
— Agora! — Ana diz emocionada.
— Olha, Beatriz, isso está bem errado.
Roubando as primeiras atitudes da minha
filha. Isso é crime! — Henrique diz fingindo
estar ofendido e isso faz com todos nós
caímos na risada.
— Bia, sempre teve jeito com criança!
Onde vai, e tem criança, ela conquista —

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minha tia diz.


— Isso é verdade! — Liziara confirma.
Olho de relance para o Marcos, que está
encostado na parede, com os braços
cruzados e me olhando de um jeito estranho.
Parece que nem está aqui.
Yasmim se inclina para o pai, e isso me
tira a atenção. Entrego ela a ele. Mas me viro
após escutar a porta ser aberta e fechada.
Marcos saiu.
— Não ligue, ele é assim mesmo, rei dos
bipolares — Henrique comenta.

Todos vão embora, deixando minha tia e


eu na sala.
— Vou conhecer a casa! — minha tia diz
animada.
— Vai lá. Vou pegar as malas.
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Ela concorda.
— Pelo visto voltaremos amanhã, porque
tem que dar depoimento.
— Sim. Então curte bem seu passeio —
brinco.
— Alegria de pobre dura bem pouco. Vou
ver essa mansão! — Ela sai animada.
Saio à procura do Marcos, pois preciso
pegar minhas coisas e também saber o que
aconteceu.
Olho em direção ao carro dele, e vejo ele
dentro. Vou até lá. Bato no vidro do
passageiro e ele abre.
— Está aberto o carro.
— Me ajuda com as malas? — pergunto.
— Claro. — Ele desce do carro e esfrega o
rosto. Posso estar ficando louca, mas
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acredito que ele estava chorando.


Ele me ajuda a tirar as malas do carro.
— Exageramos, afinal, vamos voltar
amanhã.
— Não iremos voltar amanhã.
— Tenho que dar meu depoimento ao
David.
— Será por videoconferência. Você
apenas tem que alegar que está com medo de
voltar para ir até a delegacia, e vai dar os
dados do lugar em que está.
— Mas você precisa trabalhar.
— Mandei a Débora cancelar minha
agenda até segunda ordem.
— Entendi. Então quanto tempo vamos
ficar?
— Até termos ideia do que esse cara
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realmente quer. Porque, pelo que o Simon


disse, ele não vai deixar barato o que
aconteceu.
— Então, ficarei aqui com você. Apenas
nós dois?
— Sua tia também — ele diz e sorri.
— Sim. Ela também — digo
envergonhada.
Ele sorri e isso me faz sorrir também.
— Por que saiu daquele jeito e estava
aqui sozinho? — não resisto e pergunto.
— Estava fazendo algumas ligações.
Marcos é péssimo com mentiras, afinal,
ele nunca mente. O cara é um poço de
sinceridade.
— Entendo — minto.
Entramos com as malas.
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— E sua tia?
— Foi conhecer a casa — respondo
sorrindo.
— Ela sempre foi assim? Animada?
— Sim. Minha tia não age conforme a
idade, e isso é bom!
— Quantos anos ela tem?
— Quer o tamanho da calcinha também?
— pergunto irritada, e fico com raiva de mim
mesma por isso.
— Calma. Segure as garras. Apenas
curiosidade.
— 40 anos.
— Ela é linda, pouca diferença de idade
comigo... Não é de se jogar fora!
— Juiz de quinta! Marcos some daqui!

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Subo as escadas com mais raiva ainda, e


deixo ele subindo com as malas.
— Ciúmes, Bia?
— Não. Apenas nojo! Se trouxe a gente
aqui, porque quer tentar algo com ela, era só
ter dito, não precisava fingir a droga da
preocupação.
O idiota ri e isso me deixa mais irritada, o
que me faz ficar muda.
Ele me leva até o quarto que irei ficar,
deixa minha mala e se retira.
Fecho a porta e deito na cama.
Como minha vida se tornou um pesadelo
de uma hora para a outra?! Estou tendo que
ficar escondida, porque tem um louco me
querendo. Merda, que problemão eu me
meti!

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Escuto minha tia conversando com o


Marcos e não resisto, é mais forte que eu e
saio do quarto. Caminho até o quarto ao lado,
de onde vem as vozes.
— Não seja ridícula, Beatriz! — digo a
mim mesma.
Minha curiosidade tem que ser maior que
eu, inferno!
Paro na porta do quarto e vejo minha tia
admirando tudo e Marcos dizendo que foi
tudo escolha da Paula e minha tia diz que ela
tem bom gosto.
Será mesmo que estou com ciúmes desse
babaca? Merda! Ela é minha tia, linda, não
aparenta ter a idade que tem, e é tão
diferente de mim, fora que tem uma idade
legal para ele, diferente de mim que temos
uma puta diferença de idade, e não, eu nunca
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pensei que para o amor tenha idade, mas é


tão estranho pensar em nós juntos. Merda de
ter planejado tanto a vida, e ter criado tantas
expectativas!
— Beatriz? — me assusto com a voz da
minha tia.
— Oi?
— Ficou surda? Está parada aí, e nós te
chamando e você parecia estar em outro
planeta. Está tudo bem? — pergunta.
— Sim. Está. Vim ver se já conheceu toda
a casa — respondo sorrindo. Como me tornei
uma mentirosa? Na verdade, não me tornei.
Sou péssima com mentiras.
Marcos me olha e balança a cabeça
sorrindo.
— Conheci e amei tudo. Vou conhecer lá

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fora, me acompanha? — pergunta animada.


— Tudo o que eu quero é deitar. Não
estou muito animada para caminhar.
— Tudo bem. Você precisa mesmo.
Descanse, meu anjo, e saiba que tudo vai
acabar bem. — Ela me dá um beijo na testa.
Retorno para o quarto que estou ficando
e me deito na cama, agarrando o travesseiro
ao lado.
Estou tão confusa sobre tudo. É o Marcos
e o ciúme estranho que estou sentindo dele.
Tem também o problema com o Edson, que,
se não fosse por Simon, nem sei o que
poderia ter acontecido. Agora os Escobar
querendo resolver meu caso, me sinto mal, é
como se eu estivesse abusando da boa
vontade deles. Tantos planejamentos, tantos
sonhos, e tudo se modificando do dia para a
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noite. Estou com um baita medo!

Acordo com um carinho no meu braço.


Viro-me assustada, e é o Marcos sentado na
cama sorrindo. Seu cabelo está um pouco
molhado, e ele cheira a sabonete, misturado
com um perfume amadeirado tentador. Está
com uma camiseta cinza e calça jeans preta.
— Eu estava começando a ficar
preocupado.
— Dormi muito? — Sento-me na cama e
olho pela janela que já consta ser noite. —
Meu Deus! Já é noite. Eu basicamente entrei
em coma. Que horror!
— Foi o que pensei. Mas depois de tudo
era normal que estivesse exausta. Por isso
vai tomar um banho, que tem um jantar
esperando a gente, e depois vamos dar um

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passeio.
— Jantar sim. Passeio com você, não!
— Não está em condições de opinar ou
discutir. — Ele sorri e se retira do quarto.
Idiota, mil vezes idiota!
Tomo um banho e visto um vestido de
alça preto, acima dos joelhos. Penteio meu
cabelo que lavei, passo um perfume e calço
chinelo. Saio do quarto e vou para a sala de
jantar.
Minha tia, que preparou a janta, e estava
tudo uma delícia. Jantamos entre risos das
conversas dela, que sabe como animar uma
pessoa. Depois do jantar, ela disse que
cuidava de limpar tudo, e depois iria tomar
um banho e deitar.
Marcos e eu fomos para sala e quando

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faço menção de sentar no sofá ele me


impede.
— Pegue um cobertor, lençol e
travesseiros no quarto.
— Por quê? Vai fazer cabaninha? Não está
velho demais para isso? — provoco.
— Cuidado, sou eu quem assina a
sentença e a sua pode ser longa e peculiar.
— Nossa, que pavor! Me fala logo para
que tudo isso?
— Vai descobrir em breve. Vai logo,
mulher!
— Eu vou me arrepender, tenho certeza!

Pego tudo o que ele pede e desço. Ele está


na sala com uma garrafa de vinho na mão.

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Jogo um travesseiro na direção dele, mas


o imbecil tem um bom reflexo e segura
rapidamente.
— Vamos — ele diz.
Acompanho-o, seja lá aonde for que
estamos indo.
Não demora muito e nos aproximamos de
um lugar lindo onde tem um rio, onde a luz
da lua reflete.
— Que lindo! — digo e ele sorri.
— Um dos meus lugares prediletos aqui.
Ele coloca a garrafa no chão e me entrega
o travesseiro.
Pega o cobertor e forra o chão, coloca os
travesseiros nele e deixa o lençol dobrado na
ponta.
Ele se deita e sorri.
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— Vem, eu não irei te engolir. Apenas te


trouxe aqui para curtir um pouco da
tranquilidade. Esse lugar traz paz, e você
precisa disso.
Deito no travesseiro ao seu lado, e ajeito
o vestido que sobe um pouco. Olho para o céu
onde tenho uma bela visão da lua. É
realmente tranquilizador aqui.
— Nunca tinha visto este lugar nas vezes
que vim aqui — digo e olho para ele.
— Nunca quis ir onde eu estava. — Ele
sorri.
— Tenho que concordar.
Ficamos em silêncio por um tempo,
perdido em nossos pensamentos.
— Me diz a verdade. Por que saiu da casa
daquele jeito e foi para o carro? —

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interrompo o silêncio.
Ele coloca um braço atrás da cabeça e me
olha sorrindo.
— Você é bem insistente.
Concordo.
— É que, de repente, tive algumas
lembranças do passado, que ainda
machucam.
— Quer falar sobre isso?
— Não posso, não agora.
Ele olha para o rio e fica sério e me sinto
culpada por ter tocado no assunto, talvez
seja bem difícil para ele.
— Por que me trouxe para cá? Poderia ter
ficado na cidade mesmo, na Paula, qualquer
outro lugar, se o problema é segurança.
— Porque eu queria ficar sozinho com
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você.
Engulo em seco e olho para ele, que me
olha atentamente.
— Minha tia está aqui também.
— Não aqui. — Ele vira o corpo para mim
e apoia a cabeça na mão. Com a outra mão
acaricia meu rosto.
— Eu estou com medo — deixo sair o que
eu realmente sinto.
— Não fique. Daremos um jeito no Edson.
— Não me refiro a ele, pois sei que ele vai
pagar, os Escobar não falham. Eu me refiro a
você.
— Está com medo de mim? — pergunta
preocupado.
— Estou com medo do que você
despertou em mim, Marcos.
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— E o que eu despertei, Beatriz? —


pergunta aproximando seu rosto do meu.
— Eu devo estar louca, pelo que irei dizer,
mas acredito que eu realmente me apaixonei
por você.
— Pensei que nunca iria perceber! — Ri.
— Não ria. É sério. Toda vez que está por
perto, sinto algo diferente. Você me deixa
diferente. Eu...
— O sentimento é recíproco.
E com essas palavras, ele me beija
apaixonadamente. Seu corpo se aproxima do
meu, e minha mão toca seu rosto. Sinto a
sensação de adrenalina, como se eu estivesse
em uma montanha-russa que acaba de
descer do ponto mais alto.
Ele desce a mão pelo meu corpo, até

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minha perna, que ele puxa para cima da sua.


— Me deixe... — ele diz entre o beijo, mas
não permito que termine o que vai dizer,
pois sei o que é e eu quero.
— Sim.
Não paro para pensar, porque sei que o
medo pode me fazer desistir. Ele junta ainda
mais nossos corpos. Sua mão sobe por baixo
do meu vestido, passando por minha bunda,
onde ele aperta me causando um forte
arrepio. Sua língua chupa a minha com uma
força bruta e sexy. Ele desce até meu pescoço
onde beija me fazendo inclinar a cabeça para
trás. Seu beijo sobe lentamente até minha
orelha onde ele morde levemente e solto um
gemido baixo.
Ele me vira, subindo em cima de mim, e
com isso meu vestido sobe deixando minha
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calcinha à mostra.
Não precisamos de palavras no momento,
apenas olhares mostrando o desejo
crescendo cada vez mais. Ele retira a camisa
e joga ao lado. Admiro suas tatuagens e seu
físico.
— Espero que não tenha muito apego por
este vestido.
Ele puxa o vestido com força e as alças
estouram. Com isso ele retira o mesmo, me
deixando apenas de calcinha e sutiã. Se
levanta e seu olhar é diferente, me traz um
calor inexplicável. Ele retira a calça sem tirar
os olhos dos meus. Sua cueca marca
visivelmente o seu membro duro. A lua
reflete sobre seu corpo e isso deixa a visão
mais adorável ainda. Sem cerimônia, ele tira
a cueca revelando o quão grande e duro está.

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Isso me excita ainda mais, e sinto minha


calcinha se molhando. Ele se ajoelha
retirando minha calcinha, e o mesmo faz com
o sutiã, logo em seguida abre minhas pernas,
me deixando completamente exposta para
ele.
— É linda — diz com a voz rouca.
De repente, a vergonha me invade, tento
fechar as pernas, mas ele impede.
— Nunca, a partir de hoje, feche as pernas
para mim, ou sinta vergonha diante de mim
por estar nua. Você é linda, e a cada segundo
que passa me deixa ainda mais duro, apenas
por te olhar.
E era tudo o que minha coragem
precisava ouvir para se manifestar, e assim,
abro bem minhas pernas e ele sorri
maliciosamente. Se encaixa entre elas, e
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ataca meu seio chupando com força e me


fazendo fechar os olhos e gemer em resposta.
— Olhe para mim, delícia. Você é mais
gostosa ainda quando está louca de tesão. —
Abro os olhos, e ele retorna a sua tortura.
Ele segura seu membro rígido, e começa a
esfregar no meu clitóris, completamente
molhado de desejo, enquanto chupa agora
meu outro seio.
— Marcos... — digo seu nome, sem nem
saber porque, apenas sai. Estou fora de
raciocínio.
Ele larga meu seio, e continua seu
trabalho de massagear excitantemente meu
clitóris, só que desta vez mais rápido, me
fazendo perder o controle sobre meus
gemidos e sobre meu corpo. Me ofereço mais
para ele. Preciso de mais, muito mais.
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— Sei o que quer, apenas preciso saber se


toma anticoncepcional, ou é pedir para o
gozo não ser abençoado, porque não
colocarei a porra de uma camisinha agora —
ele diz sem parar o que está fazendo.
— Eu tomo... — digo com dificuldade.
— Ótimo. Porque está na hora de você
sentir o pau do juiz de quinta e gozar nele —
diz com a voz rouca de desejo.
Ele me penetra e gemo alto de prazer. E
quando penso que vai inclinar o corpo sobre
mim, ele ergue minhas pernas, colocando em
seus ombros, e assim sinto ainda mais fundo
dentro de mim. Ele segura minha cintura
com força, e começa com movimentos fortes
de vai e vem. Agarro o cobertor e gemo sem
me importar com a altura que deve estar. O
barulho de nossos corpos se chocando um

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contra o outro é ainda mais excitante. O suor


começa a escorrer a cada penetração.
Ele desce minhas pernas e, desta vez, se
inclina sobre mim sem deixar de me
penetrar. Agarro seus ombros, e ele começa a
me beijar. Minha mão segue o percurso de
suas costas, onde passo minhas unhas, e ele
geme, afastando-se dos meus lábios.
Sinto que não irei mais aguentar, e o
agarro com força. E assim começo a gozar
disparando gritos involuntários.
— Minha delícia! — ele diz e me penetra
com mais força ainda, e posso sentir seu gozo
jorrar fortemente dentro de mim.
Ficamos assim, por alguns segundos, e
sinto como se eu tivesse corrido uma
maratona. Ele me olha e sorri com carinho,
em seguida me dá um beijo leve nos lábios.
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Sai de dentro de mim com cuidado, e pega a


garrafa de vinho retirando a rolha que já se
encontrava aberta.
— Acho que esqueceu a taça — digo ainda
mole.
— E quem disse que irei beber na taça? —
Seu olhar é de um predador em caça.
— Marcos, o que vai...
Não tenho tempo de dizer, pois sinto o
líquido frio escorrer por minha intimidade, e
a sensação é... deliciosa.
Ele se inclina e molha os lábios com a
língua.
— Marcos...
— Para que taça, quando se tem sua
boceta, onde posso beber muito melhor o
vinho?

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E com essas palavras, ele se inclina e


começa a me chupar. O fogo se reacende
dentro de mim. Ele chupa com força, e isso é
dolorido, mas muito gostoso.
Ele derrama mais vinho, só que dessa vez
por todo meu corpo, e lambe cada parte que
o líquido escorre. E vai subindo até minha
boca.
— Abre a boca, amor — ele diz e faço.
Derrama o vinho nela e coloca a garrafa
de lado. Sua boca invade a minha, e nosso
beijo é preenchido pelo sabor do vinho, que
escorre por minha boca e meu corpo. Ele fica
duro novamente, e faz questão de se esfregar
em mim, para me deixar mais louca do que já
estou ficando.
— Abre bem as pernas, e não ouse fechar.
— Nessa altura da situação, não ouso nada,
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apenas quero ele.


Abro as pernas como ele pede, e volta a
me chupar, só que desta vez me preenche
com seu dedo, e com a mão livre esfrega o
bico do meu seio. A sensação é diferente,
nunca senti antes. Seu dedo me penetra na
mesma intensidade que ele me chupa.
— Marcos! — grito, e me contorço.
Ele não para, e aprofunda cada vez mais
me deixando mais louca. Minha garganta fica
seca, assim como meus lábios, travo meus
pés no chão, e cravo minhas unhas no
cobertor. Não tenho mais como aguentar. É
mais forte que tudo que já senti. Sinto meu
ventre se contrair, e inclino a cabeça. Começo
a gritar de prazer e a tremer como uma
louca, e ele não para. Tento fechar as pernas,
mas não consigo. Sou atingida por um forte

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orgasmo, que me faz gozar em seus dedos. Ele


lambe tudo.
Estou desnorteada, e com uma sensação
maravilhosa. Olho para ele, que me olha
satisfeito e então se encaixa entre minhas
pernas.
— Marcos, eu não aguento... mais nada.
— Aguenta sim, e sabe disso. — Então ele
me penetra com calma, e é automático,
minhas mãos o agarram.
Desta vez ele é calmo, mas mesmo assim é
gostoso. Seu olhar é fixo no meu. Sua boca
alcança a minha e nos beijamos, sem pressa.
Fazemos amor. Ele se vira, deixando-me por
cima dele, sem sair de dentro de mim. Está
tudo perfeito.
— Eu já disse e repito, eu estou
apaixonado por você — ele diz, e sorrio com
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sua declaração.
— E eu por você, juiz de quinta. Quem
diria?!
Sua boca ataca a minha novamente, e
passamos a noite assim, nos amando sem
importar com a hora, o vento que começou,
ou com qualquer outra coisa.

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Capítulo 8

Sento-me lentamente na cama. Na mesma


cama que Marcos está deitado me
observando e sorrindo.
— Bom dia — ele diz e me dá um leve
beijo nos lábios.
— Bom dia. — Sorrio.
Estou com uma camiseta dele. Depois da
nossa noite, que terminou em seu quarto,
roubei uma camiseta dele, que está enorme
em mim, mas é muito confortável.
Encosto na cabeceira da cama e puxo
minhas pernas junto ao meu corpo.
— Qual o problema? Se arrependeu? —
ele pergunta e nego. — Então o que houve?

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Respiro fundo, e coloco uma mecha de


cabelo atrás da orelha e o olho.
— A nossa noite foi espetacular, Marcos.
— Lembro-me de alguns detalhes e sorrio
timidamente. — Mas eu preciso te contar
algo que eu nunca disse a ninguém, nem
mesmo minha tia ou Liziara. Porém, sinto
que preciso dividir com você.
— Pode dizer...
Engulo em seco. Esse é, com certeza, um
assunto que tento esquecer, fugir, mas não
posso mais, não se eu quiser mudar as coisas.
— Quando perdi minha mãe, fiquei com
minha tia e foi difícil. Difícil mesmo. Minha
tia fez de tudo por mim e serei eternamente
grata, porque sei o quanto foi difícil para ela
perder a irmã, ter que cuidar da filha dela, e
ainda trabalhar em um hospital. A vida dela
era tão corrida, que eu vivia mais sozinha do
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que com companhia, e não culpo, eu juro. —


Sorrio.
— Eu sinto muito...
Concordo.
— Eu apenas pensava na minha mãe,
éramos muito apegadas, e eu me espelhava
nela. Uma mulher linda, batalhadora, tímida,
que gostava mais de um final de semana em
família do que em uma festa. Ela era tudo
para mim. E por isso eu comecei a me
afundar. Saia todas as vezes que minha tia
fazia plantão no hospital. Ia para bares,
participava de rachas, comecei a sair com
uma galera da pesada, eu virei uma louca. —
Rio sem jeito.
Ele me olha atentamente. E seu olhar me
incentiva a continuar.
— Eu esquecia a dor do luto quando
estava aprontando, mas aquilo era apenas no
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momento; quando eu colocava a cabeça no


travesseiro, a dor voltava. E isso durou há
quase um ano. Então percebi que nada do
que eu fizesse mudaria aquilo e eu teria que
aprender a conviver com a dor, porque eu
não queria fazer minha tia sofrer
descobrindo que a sobrinha estava fazendo
coisas erradas e queria que minha mãe se
orgulhasse de mim onde quer que estivesse.
— Tenho certeza de que ela se orgulha.
— Mudei toda minha vida. E prometi a
mim que tudo o que eu fizesse seria para
orgulhar ela, e foi aí que planejei tudo. Meu
primeiro passo foi ingressar na faculdade e
arrumar um emprego e consegui os dois em
um único lugar... e daí em diante você sabe.
— Beatriz...
— Não, me deixe terminar, por favor.
Ele assente.
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— Se eu me tranquei para o mundo, não


quis relacionamentos, prefiro um jantar em
família a baladas e festas, é porque eu quero
que ela se orgulhe de mim. E porque eu
quero ter a chance de encontrar alguém que
vale a pena. Que me ame e que eu o ame.
Quero construir uma família. Quero ter a
família reunida ao redor da mesa. Um
domingo entediante assistindo filmes na
sala, e aqueles repetidos que vemos sempre
e não abandonamos. E quero tudo isso,
porque eu demorei, mas vi que a Beatriz
Ferreira de Oliveira é essa. Não ligo para os
que acham que sou careta, ou que sou tímida
demais. Minha tia sempre disse que eu sou a
cópia da minha mãe e eu me orgulho disso.
Porque, quando tentei ser quem eu não era,
eu quase me perdi, eu poderia nem estar
aqui contando isso a você. — Sinto as
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lágrimas escorrendo por meu rosto.


Ele segura minha mão e acaricia.
— Então eu quero que seja sincero. Eu te
conheço, sei das suas conquistas, sei o
homem que é, e por isso não quero arrancar
a proteção do meu coração por completo,
porque se for para sofrer novamente e ter
que perder alguém novamente, eu prefiro
continuar com ele blindado. Marcos, se essa
noite vai se tornar apenas mais uma na sua
lista me fala, porque eu não irei surtar, ou te
julgar, mas poderei ir embora em paz,
sabendo que não corro o risco de sofrer a dor
da perda novamente.
— Me diz como faz para retirar a
proteção que colocou em seu coração? —
pergunta sorrindo.
— Marcos, é sério. Me diz, e acabamos de
vez com esse maldito medo que estou
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sentindo agora. — Ele enxuga meu rosto e


sorri.
— Retira a proteção. Manda o medo para
a puta que pariu! E seja minha, porque serei
seu por completo. — Ele sorri e me beija com
carinho, segurando meu rosto.
— Você, como juiz, sabe mais do que
ninguém, que condenar alguém injustamente
é um grave erro que gera enormes
consequências. Então me promete que não
vai condenar meu coração injustamente.
— Sentencio ao réu, prisão perpétua ao
meu lado com a felicidade. Caso encerrado.
— Ele bate na madeira da cama e sorrio.
— Não existe prisão perpétua no Brasil.
— Não discuta com um juiz, porra!
— Vai ser para valer?
— Terei que me ajoelhar para pedir você
em namoro?
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— Seria lindo. — Sorrio emocionada. —


Mas sei que não faria. E sim, eu deixo você
me namorar.
— E desde quando eu preciso de
autoridade sua?
— Para que perguntou, então, se teria que
se ajoelhar?
— Sou educado, às vezes.
Rio e ele me abraça.
— Aceita namorar comigo? Estou sendo
educado, isso é um privilégio!
— Eu aceito, seu bobo! — Rio.
Ficamos abraçados por um tempo. E sei
que não deveria tocar novamente no assunto
neste momento, mas eu preciso.
— Me diz a verdade. Sei que esconde algo.
Não iria sair da sala e se trancar à toa no
carro.
— Minha família não sabe. Apenas a
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Débora sabe sobre isso...


Afasto-me dele, que me olha sem
entender.
— Se vamos realmente seguir em diante
com isso, tem que me dizer a verdade. Não
fica bem um relacionamento que se inicia
com mentiras, ou escondendo coisas. Eu me
abri com você, contei o que nunca contei a
ninguém, então confia em mim, Marcos —
peço a ele. — Tudo que começa cheio de
segredos, acaba da pior forma possível.
— Eu não posso, Bia. — Vejo a dor em
seus olhos.
— Não confia em mim ou tem medo de
dizer? Seja o que for, eu não te condenarei. Se
abra comigo, pois vejo a dor em seus olhos
quando toco no assunto, assim como vi
quando estava no carro e, pelo visto,
chorando.
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— Eu não consigo! — ele diz alterado e se


levanta da cama. — Não posso contar isso a
ninguém, porque eu não consigo! — grita
com raiva.
— Só se lembre que, por esconder as
coisas, Liziara quase foi morta e David ficou
sem ela e teve que conquistá-la novamente; e
por causa da mesma merda de segredos, Ana
Louise quase foi presa porque o ex-noivo foi
assassinado, e tudo porque escondia as
coisas dela. Então, os Escobar têm um imã
para atrair graves problemas, por esconder
as coisas, e eu não quero isso, porque se uma
quase morre, o que seria agora?
Ele me olha atentamente.
— Eu me abri com você porque eu quis,
não me obrigou. Não irei te obrigar a dizer o
que esconde. Porém, para a Débora que
levou apenas algumas vezes para cama, você
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se abriu, mas para a mulher que se declarou


recentemente, está evitando.
Relacionamento exige confiança, e se não
tivermos isso, não sei como pode ter chances
de dar certo.
Abro a porta para sair do quarto, mas ele
me impede.
— Como soube de mim e da Débora?
— Daiane deixou escapar. Mas não
importa. Corre para os braços daquela que se
sente mais à vontade, que, pelo visto, sempre
foi ela. Afinal, desde o sequestro da Liziara,
eu notei o quanto são próximos, até demais, e
aí comecei a entender a raiva do Cleber com
você as vezes. Mas tudo bem, cada um é dono
dos seus próprios segredos e faz deles o que
acharem melhor. Só me diz uma coisa: esse
passado tem a ver com ela?
Estou com ciúmes, merda!
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— Débora é apenas uma grande amiga de


muitos anos. Eu a amo, mas como amiga.
Tivemos um caso, mas foi no passado e há
muito tempo. Ela ama o marido loucamente.
E me ajudou quando pensei em desistir e
vice-versa. Mas ela encontrou o Cleber e
apoiei sempre, ou não teria sido padrinho
deles e aguentado ela indo em bilhões de
lojas escolher o vestido perfeito para o
marido achá-la uma princesa, como ela tanto
queria. Cleber sente raiva porque o provoco,
afinal, sou Marcos Escobar, mas ele sabe que
jamais existiria algo entre nós novamente. E
não, o passado não tem a ver com ela. Meu
passado tem a ver com outra coisa, outra
pessoa, e você tem razão, eu tenho que
começar esse relacionamento com verdades,
então se arrume e, depois do café, iremos
para onde te darei as respostas que precisa.
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— Para onde iremos? — indago.


— Para onde minha vida foi destruída!
Sinto um arrepio percorrer meu corpo
com suas palavras frias, e repletas de ódio e
dor.

Estamos saindo da delegacia. Enquanto


estávamos indo para o tal lugar que estou
completamente curiosa para saber onde é,
David ligou perguntando do depoimento e
Marcos me levou até lá, já que estávamos por
perto. Minha tia ficou na fazenda com alguns
seguranças.
Depois do depoimento parece que o que
Edson fez se tornou mais real. Dizer tudo
aquilo em voz alta para um delegado e um
escrivão, com um investigador junto, tornou
real demais. Talvez se tivesse feito o
depoimento por videoconferência como foi

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dito antes, não estando na cidade, e próxima


de onde tudo aconteceu, eu teria ficado
menos abalada novamente.
— Vamos para o lugar agora? — pergunto
a ele para esquecer os pensamentos que me
cercam.
Ele aperta os dedos no volante. Mantém
os olhos na avenida, e permanece em
silêncio. Seu olhar é frio.
Seguimos em silêncio. Ele não respondeu
minha pergunta, e preferi não insistir.
Ele entra em uma rua repleta de casarões
e algumas árvores. Se nota que é um local
nobre. A rua é sem saída.
Ele para o carro na última casa, que é a
maior de todas.
Os portões são enormes e pretos. Já se vê
um jardim imenso e que não é cuidado há
muito tempo. Ele desce do carro e faço o
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mesmo.
Vejo o carro do Simon estacionar e dele
desce Simon e mais três seguranças.
— Fiquem aqui — Marcos diz a eles e
então separa uma chave que estava junto a
algumas outras no chaveiro.
Ele abre o portão e me dá passagem.
Por fora, a casa é enorme demais. Parece
de filmes antigos, onde tem aquelas lindas
construções.
Ele caminha em silêncio até a enorme
porta de madeira e eu o sigo.
Mais uma vez, ele separa uma chave e
abre a porta.
Sinto um medo. Que lugar é esse?!
Ele entra e eu fico parada na porta.
— Venha, não tenha medo. Somos apenas
nós aqui. — Ele segura minha mão e entro.
Olho ao redor completamente chocada.
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Estamos na sala, e é linda demais. Tons


claros decoram o ambiente. Uma escadaria
de mármore com corrimão de vidro deixa
ainda mais elegante. Há uma parede embaixo
da escada que, ao que tudo indica, seria um
aquário enorme, pois está somente o vidro.
Porém, é notável que não vem ninguém
aqui há muito tempo. A poeira consome os
móveis e alguns já estão sendo danificados
por isso, o que é uma pena.
As janelas enormes de vidro trazem vista
à piscina que, pelo visto, está vazia. Além
desta vista, trazem claridade do sol lá fora.
Ele sobe a escada e me chama para
acompanhá-lo.
Subimos ao segundo andar, onde tem um
enorme corredor com diversas portas. Ele
acende a luz do mesmo, me dando uma visão
muito mais clara. O chão é acarpetado em um
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tom de bege claro. Há um quadro enorme em


uma das paredes que deve valer mais que
meu carro. Ele caminha até o fim do corredor
e abre uma porta. Vou até ele.
Marcos me deixa entrar primeiro.
Quando entro no ambiente ele acende a luz,
me fazendo ficar boquiaberta. É um enorme
quarto de... bebê? É lindo, mesmo não estando
sendo cuidado. Ele é todo branco e dourado.
Meus olhos param no berço onde, dentro
dele, tem um “E” dourado e todo trabalhado.
Viro-me para ele, que olha tudo com
desprezo.
— É lindo! O pouco que vi dessa casa é
linda. Você morava aqui?
Ele ri com sarcasmo.
— Se eu morava aqui? Este é o último
lugar que eu desejaria morar. — Ele segura
um urso que estava na poltrona e balança a
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cabeça, logo depois coloca no lugar


novamente.
— Por que me trouxe aqui? Por acaso é
este o lugar que me falou? Porque, de
verdade, não tenho ideia do que está
acontecendo.
Ele indica a poltrona e me sento nela.
Ele se aproxima da janela e abre. Logo
após se vira para mim, e cruza os braços.
— Eu namorei há muito tempo uma
mulher. Seu nome era Renata. Ela era uma
modelo brasileira, de família simples, e que
sonhava com a carreira internacional.
Não deveria, mas sinto um pequeno
ciúme.
— Eu a amava muito, e ao que tudo
indicava ela a mim. — Sinto a dor em suas
palavras.
— Marcos... — Ele não me deixa terminar.
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— Namoramos durante dois anos, e


éramos um casal invejado. Saímos em todas
as manchetes como o casal perfeito. Eu exibia
ela com orgulho e admiração. Minha família a
amava. Ela era tratada como rainha.
Ele respira fundo e se senta no chão
encostando-se na parede.
— Na época, eu já era um juiz de renome
e ela modelo conhecida aqui no país. O
tempo passou, e após dois anos de namoro,
decidi que a queria eternamente em minha
vida, então a levei para Paris, em uma
viagem romântica, com tudo que tem direito
e, diante da Torre Eiffel, pedi-a em
casamento. Voltamos noivos de lá e eu
exalando felicidade. Porém, o tempo foi
passando, e ela não se manifestava sobre
planejar o casamento, marcar a data, e fui
ficando preocupado, mas eu, muito idiota,
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achei que era porque ela estava esperando


um incentivo meu. Então me lembrei de que
ela sempre dizia, que quando se casasse
queria morar em uma casa enorme, com um
grande jardim na entrada, e uma sala toda
clara com um enorme aquário embaixo da
escada, e na sala teria que ter vista para
piscina... — Ele faz uma pausa.
Merda, estamos na casa que a ex dele queria!
— Em segredo, comprei esta casa e
contratei a melhor equipe de designer de
interiores e o melhor arquiteto do país.
Gastei uma fortuna sem me importar, e fiz a
casa dos sonhos dela. Em cinco meses esta
casa estava pronta, faltando apenas terminar
o aquário, mas a desgraça em minha vida
também estava pronta para começar. — Ele
olha em um ponto fixo no chão.
— Continue, por favor, não tenha medo —
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incentivo-o.
— Quando eu ia fazer a surpresa da casa,
ela me surpreendeu primeiro, dizendo que
tinha recebido uma proposta para morar em
Milão durante dois anos e ser a modelo
estrela de um estilista famoso. Era o sonho
dela e eu, óbvio, que fiquei feliz. Disse a ela
que onde ela fosse eu iria, e então ela me
disse que precisava ir para Milão ficar quinze
dias lá, para resolver tudo do contrato, antes
de ir definitivamente, então eu resolvi fazer
uma surpresa. — Ele passa a me olhar agora
e vejo a forte dor em seus olhos. — Para me
despedir dela antes da viagem, levei-a à casa
da família na praia, e dei a ela uma noite dos
sonhos, e no dia seguinte levei ela ao
aeroporto.
Ele está desconfortável dizendo isso, sei
que está ocultando detalhes, mas é melhor.
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Ajeito-me na poltrona e aguardo que ele


continue:
— Nas primeiras semanas, ela me ligava
sempre e estava tudo bem. Porém, no dia que
ela teria que voltar, me ligou dizendo que
teria que ficar mais um mês. Ela estava
estranha, nervosa no telefone. Pensei que era
estresse de estar resolvendo tudo por lá.
Mas, então, veio a bomba. Antes de completar
um mês, ela retornou sem avisar, e pediu
para se encontrar comigo. Eu estava ansioso
e marquei aqui nesta casa, assim faria a tão
esperada surpresa mesmo faltando alguns
detalhes... Quando ela chegou, eu estava na
sala a esperando, e aquela vadia nem sequer
notou nada, apenas se aproximou de mim e
me jogou um contrato, que quando li era o
dela em Milão com um enorme "cancelado"
em cima. Fiquei sem entender, perguntei o
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que tinha acontecido e, então, ela me jogou


mais um papel e era um exame de gravidez.
Ela estava grávida de mim, e ficou na
despedida que fiz a ela, pois o tempo
marcava certo isso. — As lágrimas escorrem
por seu rosto.
Quero abraçá-lo, mas tenho medo que ele
desista de se abrir.
— Eu, um imbecil, fiquei feliz, era meu
sonho ser pai, mas a maldita disse que a
criança havia destruído a vida dela e por
minha culpa. Como se eu a obrigasse não
tomar remédio ou exigisse sexo sem
proteção. — Ele ri de nervoso. — Tentei
acalmá-la, mas ela não ficava. Então disse
que fizeram teste para saber se ela estava
grávida, pois não poderia engravidar em dois
anos, mas, para comprovar que ela não
estava enganando eles, foi feito o teste e por
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isso cancelaram. Isso para ela foi como se


tivesse descoberto que iria morrer em um
dia. Ela estava transtornada. Saiu sem me
dizer para onde ia e sumiu durante quase um
mês.
Ele se levanta e se aproxima do berço.
— Eu fiquei desesperado. Procurei ela
como um louco, mas não havia rastros, até
que ela apareceu em meu escritório, e
mostrou um papel... — o ódio em seu olhar é
mais intenso, e as lágrimas em seu rosto não
param de cair — que dizia que ela havia
abortado a criança! Aquela filha da puta
matou um filho meu! — ele grita. — Eu
cuidaria da criança, faria de tudo, mas ela
não me permitiu isso. Porém, nesse tempo
que ela sumiu, contratei pessoas para
preparar esse quarto, porque eu diria a ela
que, se ela não quisesse a mim e a criança, eu
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ficaria com meu filho. Eu ajudei a decoradora


a escolher cada coisa daqui. Tudo branco e
dourado, porque eu não sabia o sexo. Tudo
em dourado é ouro, assim como esse “E” de
Escobar no berço. — Ele aponta a letra e sua
mão está trêmula.
As lágrimas escorrem por meu rosto.
Como ela pôde fazer isso?!
— Mas ela destruiu minha vida. Abortou
meu filho, e ainda disse que sempre foi pelo
dinheiro, que ela era uma boa atriz, e que
nunca me suportou. Aquela puta me fez de
idiota durante anos e me apunhalou quando
matou uma criança que tinha o sangue do
meu sangue. — Ele se vira para mim
chorando desesperado.
Levanto-me e tento me aproximar, mas
ele não permite.
— Eu nunca vou saber como aquela
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criança seria. Eu nunca irei ouvi-la me


chamando de papai. Não verei seus
primeiros passos. Não verei nada, porque
não foi possível sentir seu coração bater! —
Ele dá um chute com força no berço me
assustando. A grade se solta e cai.
— Marcos, por favor, vai se machucar! —
digo a ele aos prantos.
— Foda-se, porque qualquer machucado
não chegará aos pés de saber que abortaram
meu filho, sem o caralho do meu
consentimento! Que pensaram apenas na
maldita carreira! — Ele joga a cômoda no
chão e isso faz um estrondo que ecoa. Logo
em seguida, o abajur tem o mesmo destino.
Coloco as mãos na boca e me encosto na
parede. Ele está desolado, com ódio.
— Ela me destruiu! Por isso, quando vi
você e a Yasmim na fazenda, eu saí da sala.
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Porque vi naquele ambiente que eu era o


único que não conseguiu construir uma
família. O único que ficaria eternamente
sozinho e sem saber a sensação de ser pai. —
Ele chora desesperadamente.
— Marcos, você construiu sim! Você foi
um pai para seus sobrinhos e continua
sendo. É o homem da casa para sua família.
Você é o mais próximo de um pai para eles
depois da perda de seu irmão. Você jamais
ficaria sozinho! — digo embargada pelo
choro.
— Eu já fiz o que tinha que fazer por eles.
Eles não precisam mais de mim. Eu não sou
mais necessário na vida deles. Acabou! — Ele
encosta-se à parede e coloca as mãos no
rosto e chora como uma criança perdida.
Aproximo dele e o abraço. Ele retribui.
Nunca o vi desse jeito e isso me destrói.
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Faço-o olhar para mim segurando em


cada lado de seu rosto.
— Marcos, eu preciso de você. Talvez eles
não precisem mais como antes, mas eu
preciso. Não sofra mais pelo passado. Aquela
mulher foi um monstro, e não merece suas
lágrimas. Pense que talvez não tendo essa
criança foi melhor, pois ela viveria sem a
mãe e correndo o risco dessa louca aparecer
sempre para tornar a vida de vocês um
inferno. Essa criança cresceria sabendo que
foi rejeitada pela mãe, isso doeria muito.
Então não fique assim. Eu preciso de você! Se
aquela puta não precisava, eu preciso!
Ele me olha desolado ainda e começa a
dizer:
— Eu nunca mais voltei aqui. Apenas
continuei pagando as contas, mas nunca tive
coragem de voltar. Minha família nem sonha
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com nada do que aconteceu, acham que


terminamos porque não deu certo. Eu passei
todo esse tempo sofrendo em silêncio.
Sonhando com aquela criança e me
perguntando quando todo esse inferno iria
sumir. Quantas noites, naquele ano, eu
acordei escutando a voz da criança me
chamando de papai... eu sofri
desgraçadamente. E comecei a sair com
todas as mulheres que via para apagar a dor
do passado. Então foi aí que a Débora
apareceu, eu tinha visto ela antes em alguns
problemas que ela passou, mas depois
sumiu. Porém, em uma noite, eu tinha tido o
maldito sonho novamente, saí para uma
boate para esquecer o sonho. Ao sair da
boate encontrei ela na calçada, desesperada,
chorando. Ajudei-a e ela me contou que tinha
fugido da cidade dela por algo que nunca
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quis me dizer em detalhes, mas em resumo


foi violentada. Ela estava assustada, suja. Eu
acolhi-a, dei emprego. Tempos depois, ela
começou a faculdade, foi se reerguendo e
nossa amizade crescendo. Um dia, ela me viu
chorando no escritório, despedaçado, e
acabei dividindo tudo isso com ela, e acabou
rolando um caso durante pouco tempo, até
ela conhecer Cleber, e aí você já deve
imaginar. Por isso, ela era a única a saber,
porque passou uma dor também.
— Meu Deus! Eu não imaginava que ela
sofreu isso. Que vocês dois sofreram isso.
Agora entendo a amizade forte de vocês.
Perdoe-me se fui grossa quando me disse
que ela sabia. É que fica difícil confiar em um
homem que já foi para a cama com tantas.
Mas, por favor, me perdoa. Eu disse para
você não condenar meu coração, mas
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condenei você e a Débora.


— Eu te entendo. Pode ter certeza de que
faria o mesmo no seu lugar. E não me
condenou, apenas me deu força para me
abrir sobre um passado que me atormenta
sempre que pode — ele diz mais calmo.
— Marcos, obrigada por se abrir — digo
com carinho e ele concorda.
— Obrigado por me ouvir. Sinto um alívio
ter me aberto com mais alguém. Mas vamos
sair desse quarto, porque me sinto sufocado
aqui.
— Claro.
Saímos do quarto, agora com móveis
destruídos pelo chão.
— Quer ver o resto da casa? — me
pergunta.
— Não precisa — minto, pois estou
curiosa.
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— Sei que está curiosa. Vamos.


Minto mal mesmo.
Ele me mostra o andar que estamos e só
sei dizer "uau". É cada cômodo, um mais
lindo que o outro.
Descemos para o primeiro andar e
entramos no corredor que dá acesso a mais
cômodos, sendo eles: escritório, banheiro,
biblioteca, sala de jantar e, então, a cozinha,
onde estamos agora.
— É tudo lindo demais. O que me faz
odiar mais sua ex.
Ele sorri fracamente.
— Te levaria lá fora, mas está complicado
andar lá. Não é limpo aqui há um tempo.
Simon mantinha gente vindo aqui, mas decidi
que não deveria mais.
— Por que não vende isso? Se livra dessa
dor? — pergunto e ele respira fundo.
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— Pretendo fazer isso em breve.


— Doe os móveis para quem precisa. Só
do quarto de bebê, faria uma família carente
muito feliz. Porque tem muito dourado lá —
brinco tentando animá-lo.
— Eu sempre quis estrear essa casa... —
Entendo o que ele quer dizer, e tento não
parecer enciumada. Aproximo-me do balcão
de mármore da cozinha.
— Sinto muito.
Ele se aproxima.
— Eu também sinto muito, Beatriz...
— Não tem que sentir. Ela foi a culpada!
— Não por isso. Mas porque eu dizia que
iria estrear essa casa com a mulher que eu
amo.
— Hummm... mais uma vez, eu sinto
muito.
— Então sinto muito pela Renata. Porque
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essa casa nunca foi para ela, e hoje vejo isso.


Porque a mulher que amo é você! — Ele me
pega e coloca sentada em cima do balcão. —
É você que eu amo. E estrearei a casa com a
mulher que amo.
Estou emocionada. Meu coração
acelerado. Eu não acredito que ouvi isso.
— Eu... eu também te amo, Sr. Escobar.
Ele sorri se encaixando entre minhas
pernas.
— Quero marcar essa casa, essa
lembrança ruim, com a marca do amor
verdadeiro. Então me faça esquecer, por
favor, eu te imploro.
Marcos Escobar implorando por algo é
épico e inédito.
— Eu te amo, e acho que te amei desde o
dia que foi no meu trabalho e me convenceu
a ajudar vocês. E parece que apenas nós não
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notávamos isso, porque temos uma grande


torcida na sua família.
Ele ri e isso é bom, depois de vê-lo tão
desolado.
— Eu também, minha delícia!
Sua boca ataca a minha. Nosso beijo é
urgente e quente. Sua boca desce por meu
pescoço onde ele morde levemente, fazendo-
me arrepiar inteira.
Marcos sobe meu vestido, e arranca
minha calcinha rasgando, sem cerimônia.
Temos pressa, nosso desejo é urgente. Ele
abre a calça e abaixa junto a cueca. Seu pau
está duro e delicioso apenas de olhar. Estou
excitada com a visão.
Ele me puxa para a ponta do balcão e, sem
qualquer calma, me penetra e eu solto um
gemido alto de prazer. Minhas mãos agarram
seus ombros rapidamente. Ele se movimenta
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com força. Suas mãos vão para minha


cintura. Ele aproxima o rosto do meu sem
parar o movimento. Sua testa está colada à
minha. Nossa respiração é intensa. O balcão
faz barulho a cada estocada. Ele puxa meu
lábio inferior lentamente com os dentes. As
lágrimas começam a escorrer por seu rosto.
— Não chore, amor, por favor — peço a
ele, que me penetra agora com calma.
— Eu não posso te perder!
— E não vai, te dou minha palavra.
— Você planejou tudo e não estou em
seus planos.
— Você se tornou meu mais complicado e
importante plano de felicidade. — Enxugo
suas lágrimas e o beijo.
Ele intensifica novamente as estocadas.
Retira a camisa, sem parar o que está
fazendo.
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Passo minhas unhas por suas tatuagens.


São tão sexys nele.
— Tenho uma nova tatuagem! — ele diz
levando sua mão a minha intimidade onde
massageia junto as estocadas.
Apoio as mãos com força no balcão. Estou
quase lá... meu corpo está perdendo o
controle. Estou gemendo como uma louca.
— Goza para mim, delícia! — ele diz
intensificando ainda mais a massagem e a
penetração.
Não aguento mais e me desmancho me
jogando em seus braços. Ele goza em seguida,
sussurrando meu nome em meu ouvido.
Ele sai de dentro de mim, me mantendo
em seus braços. Inalo seu cheiro delicioso
misturando com o cheiro de sexo no
ambiente.
— Qual a nova tatuagem? — enfim,
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pergunto a ele.
— Não pode ver.
Afasto-me dele, que está sorrindo.
— Por quê? Afinal, acho que já vi mais do
que imaginaria ver de você um dia.
Ele sobe a cueca e a calça. Ajeito meu
vestido, pois minha calcinha já era.
Ele se aproxima e me dá um beijo na
testa.
— Não pode ver, mas pode sentir. — Ele
segura minha mão e leva até seu coração. —
Minha nova tatuagem é seu nome em meu
coração.
Sorrio emocionada.
— Você vai acabar comigo com essas
declarações!
Ele me dá um beijo casto nos lábios.
— Precisamos voltar para a fazenda, mas
antes vamos pegar roupa no seu
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apartamento, passaremos na minha casa,


tomamos um banho e depois vamos para a
fazenda. Não deixarei você ir sem calcinha e
suja de gozo. E aqui não tem a mínima
condição de um banho. — Fico envergonhada
por suas palavras.
— Fica linda quando está tímida. Vem,
delícia! — Ele me desce do balcão.
— Obrigada mesmo por me mostrar aqui
e se abrir — digo com a mais pura
sinceridade.
— Estava na hora. E fazer isso com você
foi mais fácil. Marcar essa casa com você me
deixou muito melhor, tornou a dor
esquecida. Porque você me faz esquecer tudo
o que aconteceu. — Inclina-se e me beija com
carinho.
Marcos Escobar, meu juiz, se faz de forte;
na maioria das vezes é um ogro, mas, no
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fundo, é apenas um homem que foi ferido e


precisa de amor. Quem diria? Eu não diria.

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Capítulo 9

Fomos na casa do Marcos e na minha para


tomarmos um banho e trocar de roupa, nós
estamos retornando para a fazenda e não
vejo a hora de chegar lá. Com tudo o que vem
acontecendo tão rápido, eu apenas quero
saber de descansar. É muita coisa para
assimilar. Marcos e eu juntos, o Edson sendo
um idiota psicótico, a revelação do Marcos,
meu depoimento hoje tendo que reviver tudo
o que vivi, que não é confortável para
ninguém.
O celular do Marcos toca e ele coloca no
viva-voz do carro.
— Fala, Cleber — ele diz, mas continuo
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olhando pela janela. Não estou bem desde


que saí da delegacia. Estou com mal-estar e
leves tonturas. Só quero um banho.
— Encontramos o filho da puta. Ele está na
universidade, na maior tranquilidade. É um idiota
mesmo! Estamos mandando policiais para lá. Se
tudo der certo e vai dar, vamos dar um jeito nele.
Conseguimos contato com a ex-esposa dele, e ela
aceitou conversar conosco. Estamos em contato
com uma ex-funcionária e ela também aceitou
falar. Agora precisamos do cara e, em breve,
descobriremos por que ele sempre se safou. David
parece ter encontrado alguma coisa sobre isso,
mas não confirmou nada, sabe que ele só fala
quanto tem certeza. Achei que iria querer saber...
— Ele está na universidade?! — O tom do
Marcos é um pouco assustador. Viro-me para
olhá-lo e vejo sua testa franzida, seus lábios

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rígidos, e suas mãos apertando fortemente o


volante.
— Sim... Marcos, onde está? — A voz de
Cleber mostra preocupação.
Olho rapidamente pela janela, e só me
dou conta agora, que estamos muito
próximos da universidade.
— Aonde eu deveria estar! — Marcos diz
e desliga.
— Marcos, tudo bem? — pergunto com
calma.
— Vai ficar. — Ele não me olha e isso é
sinal que a coisa está séria.
— Você não vai até onde eu penso que vai,
não é?
— Cale a boca, por favor? — ele pede, e
Marcos nunca pede, ele exige.

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Ele entra em uma rua que conheço muito


bem. Droga, eu tenho que falar com alguém.
Mas se tiver sorte, já terá policiais aqui.
Pensamento positivo é sempre bom.
Ele entra no estacionamento da
universidade como um louco. Os seguranças
não têm tempo de barrar. Estaciona de
qualquer jeito e fora da vaga. Ele desce do
carro, e nem sequer desliga. Ele não é o
Marcos que eu conheço e isso começou a me
assustar. Desço correndo, e que se foda o
carro.
Ele corre em direção a entrada, e o
acompanho. Diogo, um dos seguranças, tenta
barrá-lo, mas Marcos empurra-o com muita
força. Ele me vê e faço sinal para deixar. Esse
problema é meu, e eu tenho que resolver.
Entro na universidade e sigo o Marcos

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que anda rapidamente, desviando de


algumas pessoas que o olham.
— Marcos! — grito, mas ele não me dá
ouvidos.
Pego o celular no bolso, e me encosto em
uma parede. O mal-estar está piorando
demais, estou começando a me sentir fraca.
Ligo para o David. Demora um pouco, mas ele
atende.
— Oi, Bia, estou meio ocupado agora, posso te
ligar depois?
— Não... Não pode. Estou na universidade,
com seu tio. Ele não me ouve, e foi atrás do
Edson, não estou me sentindo muito bem,
preciso de ajuda!
— Porra! Ele tem merda na cabeça? Bia,
presta bastante atenção no que vou dizer. Ok?

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— Sim... — Fecho os olhos e respiro


fundo, estou começando a sentir muito calor
e suar.
— Vai atrás dele, e não deixe ele fazer
nenhuma besteira. Para ser mais explícito. Por
favor, não deixe ele começar, porque ele não vai
parar, ele não para quando começa, ele é assim
desde sempre, o único que o controlava era meu
pai, não deixe! Vou verificar onde estão os
policiais que mandei aí, e estou a caminho. Vai
ficar tudo bem, só seja o controle dele, ou não
apenas Edson terá problemas, mas ele também e
serão graves.
— Ok. Ser o controle, acho que consigo. Só
vem logo! — digo a ele.
Começo ir a caminho do primeiro lugar
que Edson pode estar, que é seu escritório.
Queria ir mais rápido, mas estou fraca, não

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consigo. A cada passo, respiro fundo para


tentar me controlar, não estou bem.
Com dificuldade me aproximo da sala, e
entro. Está vazia, não tem ninguém. Merda!
Vejo os seguranças correndo e dentre
eles o Simon, que tinha ido resolver não sei o
que... Merda, seguranças correndo não é
bom.
— Simon! — grito por ele. Ele retorna e
me olha surpreso.
— A senhorita está muito pálida...
— Onde estão?!
— Os seguranças daqui informaram que
Edson chamou por eles no banheiro deste
andar.
— Merda! Precisamos ir.
— Não, a senhorita não está bem...
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— Vamos! — Reúno as poucas forças que


me restam e começo a caminhar com ele. —
Ainda bem que está aqui.
— O senhor David me ligou. Tive que
resolver alguns problemas, mas não contava
com isso. Se eu estivesse...
— Não é sua culpa. É segurança dele, mas
tem uma vida fora dos Escobar...
Nos aproximamos do banheiro, tem
alunos na porta assustados.
— Saiam daqui, agora! — digo a eles que
saem rapidamente.
Entro no banheiro seguida de Simon. Pelo
espelho de entrada, vejo Marcos segurando
Edson na parede. Ele está transtornado. Os
seguranças estão ao redor dele, pedindo
para que se afaste e ele grita para não se
aproximarem.
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— Isso não... Quando se trata do lado


pessoal, ele não para quando começa... —
Simon diz preocupado.
Viro-me e começo ir em direção a eles.
Diogo me impede.
— Ele está louco, disse que um passo a
mais e ele mata o reitor.
— Me deixa, eu sei o que faço, só me
deixa... Por favor... — Ele me olha por um
tempo, e me solta.
— Sai daqui, Beatriz! — Marcos diz
alterado.
— Agora ficou melhor. A vadiazinha
chegou. Não sei para que tanto ódio, Marcos,
ela é apenas mais uma para você, assim como
seria para mim. E sabe que não pode fazer
nada comigo, porque sua carreira te impede
— Edson diz com dificuldade, e Marcos o
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aperta ainda mais.


— Cale essa boca, seu filho da puta! Você
beijou ela forçado. Sua ex-mulher pediu
medida protetiva contra você, sua ficha é
péssima. Você é o tipo de cara que um juiz
como eu iria amar ter prisão perpétua ou
pena de morte nesse país. Você é um nojento,
não merece um pingo de consideração. Seu
maldito dos infernos! Minha carreira que se
foda, mas você não sair daqui ileso. Não
dessa vez, desgraçado! — Marcos fecha o
punho e aponta para a cabeça do Edson. Com
um soco, Edson baterá a cabeça na parede
azulejada, e isso com toda certeza não
acabará bem.
Aproximo-me e com cuidado toco em sua
mão, prestes a deixar Edson com hematoma,
ou até mesmo com algo grave na cabeça.

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— Por favor, não vale a pena. Você não é


isso. Você é melhor que ele. Não deixa ele
tirar o pior de você. Eu estou te implorando...
Não suje suas mãos com ele.
— Isso, escuta ela. Mostra que, por trás da
fachada de juiz foda, existe um imbecil, que
cai no papo de qualquer mulher. — Edson ri
com ironia.
— Cale a boca, seu idiota! Eu nem deveria
impedir isso, mas estou fazendo. Ele não
precisou chamar nenhum segurança para
defendê-lo, então antes ele escutar uma
mulher do que precisar dos seguranças por
estar encurralado em uma droga de
banheiro.
Edson revira os olhos e ri. Ele é um doente!
— Me deixa terminar isso. Com você aqui
não consigo. Você consegue colocar em mim
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o que não deveria ter neste momento! Eu vou


acabar com esse cara, vou derrotá-lo, ele vai
ver o inferno! — Marcos grita com raiva.
— Por isso eu tenho que estar aqui.
Marcos, eu não te imploro nada, então me
escuta quando te faço isso. Larga ele, e deixa
a lei cuidar disso. Eu faço o que quiser, mas
larga ele. Porque o cara que me mostrou hoje
naquele lugar é um cara que enfrentou uma
grande barra e sozinho, e não precisou sujar
as mãos, não precisou disso. Você não
precisa socar ele para fazê-lo pagar. Você já o
torna derrotado por ser tio do delegado que
vai pegar ele e por ser o homem que eu amo,
e que eu me entrego de livre e espontânea
vontade. Você já o derrotou, sem precisar
bater, porque olha esse banheiro, lotado de
seguranças, que não se aproximam com

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medo de você matá-lo, e ele está entre suas


mãos com medo também, ou não teria
chamado os seguranças. Você já o derrotou
por fazê-lo sentir medo, e se tornar um idiota
prestes a morrer por você, e eu estou
fazendo um puta de um discurso para te
impedir. Marcos, ele já é um derrotado, olha
para ele, suando, rindo para não se
desesperar ainda mais, com uma ficha
complicada... — Marcos me olha e com calma
vou abaixando sua mão. Ele solta o Edson
com força.
— Você é um idiota mesmo! — Edson diz
com ódio, e sem esperar dá um soco no
Marcos, que pega em seu braço, Edson ainda
está um pouco tonto. Marcos sorri e é um
sorriso de deboche com raiva. — Achou
mesmo que só os Escobar têm autoridade

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para andarem armados?! — Ele levanta a


blusa e retira uma arma da cintura.
Olho assustada. Os seguranças se
posicionam para tentar impedir. Marcos me
olha, quando Edson aponta a arma para ele e
ri.
— Vamos ver quem está derrotado!
Marcos me empurra para o lado com
força, mas me desequilibro devido a uma
forte tontura e caio batendo a cabeça, não
consigo me levantar, estou zonza demais,
escuto apenas um barulho e sei que foi um
tiro.
— Marcos... — É a única coisa que digo
antes de tudo ficar escuro e apagar
completamente.

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Edson atira, mas erra. Esse idiota não


sabe atirar, ele não tem autorização para
andar armado. Ele olha com raiva para a
parede que acertou o tiro. Aproveito esta
brecha e dou um chute em sua mão fazendo
ele derrubar a arma. Simon se aproxima
rapidamente e o imobiliza.
— Senhor... Olhe!
Viro-me para onde Simon indica, e vejo
meu mundo ir ao chão. Beatriz está caída,
apagada. Está completamente pálida.
— Tirem esse filho da puta daqui!
Os seguranças da universidade pegam o
Edson do Simon.
— Seus idiotas, me soltem! — Edson grita.
— Soltar você? Nem tão cedo! Peguem ele
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e recolham a arma — David diz entrando no


banheiro com policiais.
— Senhor, temos que tirar ela daqui —
Simon diz.
Aproximo-me dela e confiro seu pulso,
está fraco... Porra, está fraco!
— Foi culpa minha. Eu não devia ter
vindo aqui... Eu a empurrei... Porra!
— Marcos, ela precisa de um médico, e
você delegacia. Agora! — David diz. — Você
tinha que ter vindo aqui, cacete?! Me
desculpe, mas tenho que agir como delegado.
— Não irei a porra nenhuma! — digo.
Pego ela no colo.
Saio do banheiro e caminho sob o olhar
de todos até o estacionamento.

— Simon, dirige... Ela... Eu... — não


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consigo nem dizer as palavras direito.


Entro com cuidado no carro e deixo ela
em meu colo. Está um pouco fria.
David me olha a balança a cabeça.
— Não foi sua culpa. No telefone, ela já
tinha me dito que não estava muito bem.
— Ele tem razão, senhor. Ela estava muito
pálida quando encontrei ela.
— Ela não acorda... — Estou apavorado.
— Vão para o hospital. Irei em seguida,
preciso fazer meu papel de delegado, mesmo
sendo difícil pra cacete neste momento. Me
mantenha informado.
Concordo. Estou no automático. Não sei o
que fazer. Olho para ela em meus braços, e
isso me deixa cada vez mais desesperado.
Simon fecha a porta traseira e entra no
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carro. Dá partida e saímos da universidade.


O caminho até o hospital está se tornando
longo. Ela não acorda, não dá um sinal de que
vai acordar. Lágrimas escorrem por meu
rosto, enquanto acaricio o rosto dela. Não
posso perder ela. Já perdi um filho, um
irmão, pais... Eu não posso perder mais
ninguém. Esse maldito passado, toda vez que
toco nele nunca termina bem. Se eu não
tivesse vindo, para contar tudo a ela, nada
disso teria acontecido.
— Senhor, ela vai ficar bem. O senhor
precisa ser forte como sempre é, e não deixar
o medo te derrotar agora — Simon diz e
balanço a cabeça.
— As pessoas me olham e pensam que
sou feito de titânio... Antes eu fosse. Queria
eu ser realmente a rocha que a mídia e

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minha família pensam que sou. Queria ser o


homem criado por eles, mas não posso. Não
quando me tiraram tudo, e o mais
importante: o amor e a esperança. Foram
perdas demais, e não estou preparado para
mais essa. Porque ela acendeu algo em mim...
Merda! Acho que ela acendeu a luz mais
importante que eu achava ter perdido. Deu
energia à luz, para lutar contra tudo, e se
acender. E essa luz faz meu coração acelerar
e minha alma sofrer por vê-la assim, então
essa luz não pode apagar novamente, era
muito escuro aqui dentro. Eu preciso te
confessar algo, Simon, eu sinto medo... E meu
maior medo neste momento é perdê-la. —
Encosto os lábios em sua testa e dou um leve
beijo.
— Senhor...

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— Mar...
Simon olha pelo retrovisor e sorri. As
lágrimas se multiplicam em meu rosto.
— Meu amor... você acordou! Não diz
nada. Estamos te levando para o hospital. Vai
ficar tudo bem. Eu prometo! — Ela está fraca,
tenta sair do meu colo, mas não permito.
— O que... aconteceu? — pergunta com
dificuldade.
— Está tudo bem. Fique quietinha, poupe
energia e tente ficar acordada.
Ela concorda.
— Estou enjoada. — Devagar ela vira o
rosto, e se inclina com cuidado, e então
começa a vomitar. Seguro seu cabelo.
— Você caiu. Isso é uma reação.
Simon estica o braço com um lenço e eu
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pego.
— Você me surpreende sempre — digo a
ele.
Ajudo-a limpando sua boca. Abro um
pouco os vidros.
— Que nojo! — ela diz, parecendo estar
um pouco melhor. — Eu vou acabar
vomitando novamente se eu ficar aqui
dentro com esse vômito.
— Estamos chegando, senhorita.
— Só olha para mim. — Ela se senta no
banco com as pernas para cima. Retiro
minha camiseta e a entrego.
— Hã? — Ela me olha sem entender.
— Coloca no rosto, assim não sente o
cheiro do vômito e não olha, assim não passa
mais mal ainda.

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Ela então o faz e encosta a cabeça no


banco.
— Minha cabeça dói. O enjoo não passou,
eu estou mal... — ela diz. Está suando
bastante. Ainda permanece pálida e suas
mãos estão um pouco trêmulas.
— Chegamos! — Simon diz estacionando
o carro.
— Vamos, eu te ajudo.
— Não vai entrar sem camiseta — ela diz
e me entrega.
Visto a camiseta e ajudo ela sair do carro.
Simon desce com a bolsa dela, que estava no
banco da frente. Ela está fraca, cambaleia um
pouco, mas a seguro. Pego a bolsa dela.
— Dê um jeito no carro. Pegue o seu na
universidade, e depois venha para cá. Não

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avise a tia dela, para não preocupar, e nem as


mulheres da família. Depois cuidamos disso.
— Ele concorda e se retira.
— Acho que vou vomitar novamente...
— Espero que isso seja uma gravidez, e
não o resultado de eu ter feito você cair.
— Gravidez? Jamais! Não me deixe pior
do que estou. Eu me cuido. Vamos, não estou
aguentando em pé. E então, me conta tudo o
que aconteceu.

Entramos no hospital. Faço a ficha dela e


somos encaminhados para o segundo andar.
Fazem exames nela, e algumas perguntas,
e então encaminham ela para um quarto
onde estamos agora.
— Se mais alguma enfermeira perguntar
se estou grávida, eu me jogo dessa janela.
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— Amor, se você se jogar não terá muita


diferença, pois voltará para cá.
— Você entendeu o que eu quis dizer...
estou mal...
A porta se abre e um médico entra.
— Beatriz, sou o doutor Enzo. — Ele olha
os papéis em suas mãos. — Vou fazer mais
alguns exames, e pedir uma tomografia, pois
desmaiou após cair e bater a cabeça, e está
vomitando, e aqui diz que alega não estar
grávida, mas pedirei alguns exames para
conferir isso também.
— Não estou grávida. Eu me cuido,
doutor. E não foi do tombo. Eu já estava ruim
antes.
— Sei... Mas exames nunca são demais...
Pelo menos, eu adoro pedir exames, são
como chocolates, amo e não vivo sem. —
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Reviro os olhos. Esse cara é um idiota!


— Ninguém quer saber. Só faça logo,
doutor! — digo irritado.
— É realmente como dizem. O senhor é
terrível, como um enorme e bom touro.
— Eu não... Quer saber, apenas faça seu
dever.
Ele examina ela e anota tudo.
— Vamos fazer a tomografia e o exame de
gravidez, por enquanto parece tudo certo.
— Eu vou me jogar... — ela diz e sorrio.
— Não compreendi — o doutor diz.
— Nada não, senhor. Eu só quero algo
para controlar esse enjoo e essas leves
tonturas, e então sumir daqui.
— Paciência, paciente — o doutor diz,
rindo. — Ficou engraçado a frase.
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Ele se retira e olho para Beatriz, que


sorri.
— Esse cara é louco. E eu vou jogar ele da
janela — digo.

Depois de ficar esperando o resultado da


tomografia e do exame de gravidez e vomitar
ainda mais, eu não tenho nada grave e nem
estou grávida. David passou aqui, após
Marcos ligar para ele, e ele recolheu nosso
depoimento, mas logo foi embora. Estou
esperando o doutor retornar para saber o
porquê de eu estar assim. Marcos me contou
tudo o que aconteceu depois que desmaiei.
Eu só quero que Edson pague por tudo e não
saia ileso desta vez para não tentar ferir mais
ninguém.
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— Minha tia deve estar louca de


preocupação — digo enquanto olho para o
teto.
— Simon retornou enquanto estava
fazendo exames. Ele foi para a fazenda, e eu
liguei para a sua tia. Ela ficou preocupada,
mas expliquei tudo e ela apenas quer te ver,
e, provavelmente, deve estar surtando com
os seguranças porque mandei não deixarem
ela sair da fazenda. Paula, Daiane, Ana e
Liziara já sabem, então daqui iremos passar
na casa da Ana, onde elas estão, ou
invadiriam esse hospital e deixariam todos
loucos.
— Estou me sentindo fraca, com fome,
cansada... Só quero ir embora logo.
A porta se abre e o doutor entra.
— Ao que tudo indica, o vômito, tonturas,
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mal-estar, são apenas suas emoções se


manifestando ao mesmo tempo. Talvez tenha
tido fortes emoções, e não deve estar
acostumada, e com isso teve essas reações.
Vou pedir para as enfermeiras te aplicar uma
injeção com alguns medicamentos para
controlar o enjoo e tonturas. Caso piorar,
tiver dores de cabeça também, retorne
imediatamente. Mas, por enquanto, repouso,
tente não ficar muito nervosa ou ansiosa, e
evite comer coisas pesadas, pois vomitou,
então não queremos que aconteça
novamente. — Ele sorri.
— Então está tudo bem?! — Marcos
pergunta preocupado.
— Está sim. Sua namorada ficará bem,
qualquer um ficaria com o senhor todo
assim... Perdão, eu não quis dizer isso. Vou

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pedir a enfermeira para aplicar a injeção. —


Ele se retira rapidamente e sorrio.
— Ele disse mesmo o que eu ouvi?! —
Marcos pergunta.
— Eu acho que ele gosta da mesma fruta
que eu. Marcos, você deixou o doutor
nervoso. — Rio.
— Cale a boca!
— Ele te conquistou também? — provoco.
— Não me provoque, quem assina a
sentença sou eu, e a sua vai ser longa e
peculiar.
— Não tenho unhas grandes à toa. Mas,
como estou mal, irei me calar.
— Melhor... — Ele me dá um selinho.
— O que será que vai acontecer com
Edson?
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— Vamos torcer para que pague por tudo.


A enfermeira entra e é uma senhora de
idade, e com o semblante bem sério.
— Chegou a hora de eu confessar mais
uma coisa... — digo.
— Tem medo de injeção. Seu olhar para a
enfermeira te entregou e começou a
chacoalhar as pernas. Você me desafia e tem
medo de injeção? Mulher, você é foda!
— Senhor, o palavreado. Estamos em um
hospital. Gosto de manter a educação e
respeito — a enfermeira diz enquanto
prepara a injeção.
Marcos se aproxima do meu ouvido:
— Sabe o doutor? Comecei a gostar dele. E
se você disser isso para alguém, te fodo em
público, e como é tímida não vai querer isso.

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Sinto minhas bochechas esquentarem.


— Senhor, não é com pouca vergonha que
vai acalmar sua esposa!
Agora eu estou roxa, tenho certeza.
— Não sou esposa dele.
— Por enquanto — ele diz e me dá um
beijo no pescoço, que me deixa
completamente arrepiada.
— Vamos, mocinha, antes que eu tenha
que ver uma cena pornô nesta sala. E eu não
vejo isso há muito tempo. — Marcos ri
enquanto eu só quero me afundar em um
poço de tanta vergonha. Ela começa a limpar
onde vai aplicar a injeção.
— Vai com calma, eu e agulhas não temos
química.
Ela termina e isso me deixa mais

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apavorada.
— Vamos lá! — ela diz.
— Merda! — Tenho certeza de que minha
pressão foi pra China. Eu tenho pavor de
injeção. Pavor mesmo!
— Amor, sua tia é bem gostosa, estava
aqui me lembrando dela...
— Você o quê?! Eu vou te matar, seu
idiota! Que ódio de você, Marcos! — digo a
ele com raiva.
— Prontinho.
— Prontinho o quê? — pergunto.
— Já apliquei e você nem sentiu. Bom
trabalho, senhor — a enfermeira diz a ele.
— Fez isso apenas para me distrair? —
pergunto e ele sorri.
— A raiva, o estado de choque, o prazer
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intenso, são alguns dos sintomas que não nos


deixa sentir a dor como ela deveria ser.
— Obrigada. Mas isso não esconde o fato
de ter dito da minha tia. Eu te mato se disser
novamente.
— É, enfermeira, ela está melhor,
começou a me ameaçar com intensidade.
— O médico precisa apenas assinar sua
alta e pode ir embora — ela diz e se retira.
Ele se aproxima, ficando entre minhas
pernas.
— Eu quero ir logo. Preciso de um bom
banho, uma boa limpeza na boca, comer e
esquecer desse dia.
Ele concorda e me dá um beijo na testa.

Depois de irmos até à casa da Ana Louise,


e acalmar o surto da Liziara, que queria
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matar o Edson; e da Daiane, que queria


cortar as bolas dele; convencer a dona Paula
de que eu estava bem; e fazer o Henrique
parar de provocar o Marcos, porque sem
querer deixei escapar sobre o que o médico
disse, estamos na fazenda, aguentando
minha tia surtar porque não deixaram ela ir
até o hospital.
— Eu jamais reclamaria de homens
gostosos me agarrando e claro que eu
querendo, mas eles tentaram me impedir de
ir até minha sobrinha. Isso nunca mais deve
se repetir! — ela diz, me mantendo em seus
braços enquanto estamos sentadas no sofá.
— Não vai se repetir, eu garanto! —
Marcos diz a ela.
— Que péssimo. Vocês têm uma noite de
sexo, depois saem pela manhã e acontece

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isso. Esse Edson é um idiota!


— Tia! — repreendo. — Como...
— Eu vi ele te trazendo para dentro,
enrolada em um lençol. Não sou boba,
querida.
— Esse dia só piora — digo enquanto
Marcos sorri.
— Melhor ela ir tomar um banho — ele
diz.
— Concordo. E para eu concordar com
tanta animação é porque o papo aqui foi para
um caminho complicado.
— Querida, sexo é tão natural. Que
bobagem ter vergonha. Você veio dele, assim
como todos vieram de um bom sexo, Adão e
Eva não... é da nossa natureza. Parece que
falar de sexo é como desejar que alguém com

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câncer morra. Eu, hein!


— Tia, eu vou para o banho.
Ela sorri.
— Eu te amo, e se algo lhe acontecesse, eu
nem sei o que seria de mim. — Ela me abraça.
— Também te amo!
Assim que nos afastamos, Marcos me
acompanha até o quarto.

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Capítulo 10

Semanas depois...

Visto meu short e vou atender a porta,


pois a campainha não para de tocar. Sei bem
quem é. Acabei de sair do banho correndo,
porque a pessoa do lado de fora é impaciente
e, pela minha demora, deve estar pensando
mil merdas, e todas envolvem eu com um
assassino em casa, porque é bem a cara dele
pensar loucuras do tipo.
Abro a porta, e ele me dá um beijo rápido
nos lábios. Ele entra e eu fecho a porta.
Retira as coisas do bolso e se senta no sofá.
— Eu quero a chave daqui — ele diz me
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fazendo revirar os olhos, pois não aguento


mais esse assunto nessas últimas semanas.
— Já disse que não vou dar. Não tenho da
sua, por que quer tanto da minha? — Deito
no outro sofá.
— Você não precisa de chave para entrar
na minha casa. Tenho seguranças lá vinte e
quatro horas, ela fica aberta, e você tem
autorização de entrar com ou sem mim lá. E
respondendo sua pergunta, é porque toda
vez que venho aqui fico uma porra de um
século esperando você abrir essa merda.
— Falando nessa educação, até me
convence — digo com ironia e ele me olha
quase que me fuzilando.
— Sabe que posso conseguir a chave
daqui, não é?
— Sei. E se fizer isso, te denuncio a
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polícia, e a denúncia não vai ser com o David.


— Não seria capaz!
— Testa para ver.
— Cuidado, amor, quem assina a sentença
sou eu e a sua pode ser longa e peculiar.
— Minhas unhas não são grandes à toa,
Marcos. — Ele sorri.
— Está tranquilo por aqui...
— Minha tia reencontrou uma amiga de
muitos anos atrás e passou a noite na casa
dela.
— Entendi. Voltando ao assunto das
chaves, por que não quer me dar? Me fala a
real razão.
— Porque não estou a fim de chegar em
casa e encontrar o exército aqui dentro!
— Até que não é uma má ideia, mas
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infelizmente não tenho poder para tanto —


ele provoca.
— Marcos! Chega desse assunto. O que
veio fazer aqui? Não devia estar
trabalhando?
— O caso do Edson vai para julgamento.
Descobriram muita merda dele. Quando ele
foi preso e a noticia percorreu, várias
mulheres procuraram a delegacia para
denunciá-lo. O filho da puta tinha um amigo
dentro da polícia, e o cara tinha um nível de
poder alto e por isso Edson sempre ficava
impune, o amigo dele também está fodido.
Edson é um tarado que merecia ter o pau
cortado ao invés de apenas pegar tempos de
prisão.
— Isso é maravilhoso! Ele tem que pagar
o que fez comigo, e com essas moças.

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— E vai pagar! Porém, eu preciso ser o


juiz desse caso, mas estão me privando. Não
querem, porque se trata do cara que minha
namorada teve problemas. Estão dizendo
que não irei agir com a razão e com
profissionalismo. Tenho que fazer de tudo,
porque é apenas essa semana, na sexta-feira
eles vão dizer quem vai ser o juiz e, em
poucos dias, marcar a data do julgamento.
— E estão certos. Esquece esse homem. A
justiça vai cobrar dele.
— Não irei esquecer. Ele mexeu com a
pessoa errada, e não é apenas por você, é por
todas as outras que ele fez o que fez. Eu
preciso ser o juiz do caso, mas estão vendo
outros juízes.
— Eu acho ótimo. Não quero que você se
envolva em mais nada que ligue ao Edson. Eu

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vi o que aconteceu da última vez, e foi por um


milagre que tudo não acabou em uma grande
tragédia. Vamos seguir nossa vida e torcer
muito para que ele pegue muito tempo na
cadeia.
— Beatriz...
— Chega. Eu não quero. Você não vai agir
com profissionalismo, eu sei disso, porque
quando fala dele ainda tem o mesmo ódio
nas palavras e na expressão. Não vai colocar
sua carreira em risco novamente. Você quase
se prejudicou da última vez, então não vai se
meter nisso. E não falo isso apenas como
Beatriz, digo isso como sua namorada
também. Da mesma forma que você deseja
que eu siga as coisas que manda, eu quero
que faça o que estou mandando. Final de
semana é meu aniversário e eu só quero

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passar essa semana na mais pura paz, com


dias normais, até chegar final de semana e eu
assim envelhecer com tranquilidade e não
infartando porque meu namorado está louco
querendo matar um idiota. Então não, você
não vai ser o juiz!
— Me peça qualquer coisa, menos isso.
— Seja apenas o Marcos essa semana e
não o juiz, por favor?
— É o pacote, amor. Fica com um e ganha
o outro.
— Marcos, por favor, só seja um homem
normal, essa semana.
Ele se levanta e sobe em cima de mim.
— Por você, apenas por você farei isso.
Posso ser um homem normal essa semana,
desde que você fique comigo a semana toda.

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— Por mim tudo bem. Minha tia vai


embora amanhã, então fica mais fácil.
— Certo!
Ele me beija com completo desejo.
Pressiona meu corpo com o seu. Uma de suas
mãos vai para minha perna e ele a acaricia.
Seguro seu rosto com ambas as mãos. Sinto
sua ereção e isso me excita.
— Tenho que passar no escritório e pegar
alguns papéis para estudar um caso em casa
e tem que ser agora, porque tenho que
assinar algumas coisas urgentes para a
Débora cuidar.
— Não pode fazer isso comigo. Me atiçar e
dizer que tem que ir!
— Vamos comigo. De lá, vamos para a
minha casa e você não vai sair da minha
cama tão cedo. E eu que teria que reclamar,
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sou eu que vou dirigir de pau duro.


— Preciso pegar minha bolsa, e trocar de
roupa.
— Não precisa trocar de roupa. Não vou
ficar por lá, e mesmo que eu fosse, pouco me
importaria você estar de short e camiseta, é
minha namorada, se quiser ir até meu
escritório de pijama tem permissão. Agora
seja rápida, porque você embaixo de mim
está me deixando cada vez mais duro. — Ele
se levanta e se senta no sofá. O volume em
sua calça jeans é visível e isso me faz sorrir.

Foi rápido o percurso até o escritório, o


trânsito ajudou muito.
Saímos do elevador e está bem calmo,
Débora não está, o que é estranho.
— Às vezes, eu me pergunto porque ainda

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pago uma fortuna a Débora, pois secretária é


para estar no trabalho, porque o chefe
precisa dela — ele diz e sorrio.
— Deve estar no banheiro.
— Ou fofocando pelos outros andares, ou
comendo em algum lugar.
— Que horror, caluniando ela sem saber
— brinco.
— Trabalha há anos para mim, sei sim.
Ele caminha até a sala dele e o sigo.
Entramos e ele vai direto para a sua
mesa, onde tem alguns papéis, e uma caneta
em cima.
— Ela esteve por aqui, pois é ela quem
deixa os papéis que eu tenho que assinar
desta forma e com uma caneta em cima.
— Isso é bom, não terá desconto no
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salário.
Sorrimos.
— Ai, meu Deus! — Escutamos alguém
gritar.
Marcos se levanta correndo e saímos da
sala rapidamente. Deparamo-nos com a
Débora olhando assustada e com batatas
fritas caídas no chão.
— O que foi?! — Marcos pergunta
preocupado.
— Nunca mais faça isso! Achei que tinham
invadido. Não tem nem cinco minutos que saí
para roubar as batatinhas da Daisy do
primeiro andar, e quando volto vejo sua sala
aberta. Isso não se faz! Nem vi vocês
entrando.
Rio.

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— Você é louca! E precisa gritar assim? —


Marcos diz.
— Claro! Só acontece loucuras nessa sua
família, que quando cai um copo no chão eu
já acho que alguém invisível derrubou da
minha mão.
Não me aguento e gargalho.
— Não dê atenção a isso, ou ela não vai
parar! — ele diz e tento me controlar.
— Droga, vou ter que limpar isso agora.
— Ela se agacha e começa a recolher as
batatas e colocar no pote pequeno em que
estavam. — Hoje tem o evento, não esqueça,
você precisa ir, todos os Escobar têm que ir.
Antes que eu me esqueça, Daiane veio aqui
para falar com você.
— Segunda vez que ela me procura e
desiste, algo ela está aprontando. Tinha me
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esquecido do evento, estarei lá. Vou assinar


os papéis, e depois irei embora.
— Certo. Beatriz, poderia me fazer
companhia enquanto ele faz o serviço?
Queria falar com você rapidinho. — Marcos
olha para ela desconfiado e depois para mim.
— Claro! — digo e ele se retira entrando
em sua sala e fechando a porta.
Débora termina o que estava fazendo e
coloca em sua mesa, onde se senta em
seguida.
— Eu quero te agradecer! Muito obrigada
mesmo — ela diz.
— Pelo quê?
— Por fazer esse homem voltar a
acreditar no amor. Ele é meu melhor amigo, e
me doía vê-lo se entregando a várias

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mulheres, mas nenhuma sendo a certa, e a


mídia o detonando. Obrigada por não
desistir dele, e dar uma chance — ela
responde e sorri.
— Não tem o que agradecer. Nos
encontramos no meio das nossas bagunças.
Não é fácil, mas estamos trabalhando para
aprender a lidar com tudo.
— Isso me deixa muito feliz. Você não
imagina o quanto eu esperava por esse dia,
ver esse homem feliz. Conheço ele há muito
tempo, e sei que não vai ser fácil, vai ter dias
que vai querer matá-lo, mas é o jeito dele,
assim como de todos os Escobar, são ossos
duros de roer e ciumentos de uma forma
absurda. Então, se em algum momento
pensar em desistir, pensa em mim que terei
que aguentar a fúria dele aqui no trabalho —

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brinca e sorrimos.
— Pode deixar! — Sorrio. — Preciso te
pedir desculpa. — Ela me olha sem entender.
— Não gostava muito de você, ainda mais
quando soube de você e do Marcos, mas fui
tola. Entre vocês dois, apenas existe uma
grande e linda amizade, é como eu e a
Liziara, só que sem a parte do sexo no
passado... — Rimos.
— Normal, muitos condenam sem saber, e
fico grata por você ter visto que somos
apenas grandes amigos. Eu amo meu marido,
e não o trocaria nunca, mesmo quando ele
me proíbe de sair com o carro porque
sempre dou prejuízo, ou quando ele me
proíbe de comer besteiras o dia todo. E vou
te confessar algo: o ciúme que o Cleber sente
do Marcos não é pelo nosso passado junto, é

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porque o Marcos passa mais tempo comigo


do que ele, pois vejo pouco meu marido, só
nas folgas, do contrário ele chega e eu estou
dormindo, eu saio para trabalhar e ele está
dormindo, ainda mais agora que ele é
investigador. — Ela sorri.
— Amigas? — pergunto sorrindo.
— Paga comida para mim, e será minha
melhor amiga.
Rio, e ela vem até a mim e me dá um
abraço.
— Achei alguém pior que a Liziara. —
Rimos.
Marcos sai da sala e nos observa.
— Tudo em paz? — ele pergunta.
— Não. A próxima vez que essa idiota vir
aqui, eu me demito! — Débora responde e sei

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que está brincando. Marcos olha para ela e ri.


— O que foi?
— Não tente me enganar.
— No que eu falhei? — ela pergunta
rindo.
— Você jamais chamaria alguém que está
com raiva de idiota. Você tem mais boca suja
que eu.
— Bem lembrado! Vou pegar os papéis. —
Ela entra na sala dele rindo.
— Vamos? — ele me pergunta.
— Sim.

Estamos em seu carro. Está calor, e o sol


forte. A visão dele de óculos escuros e
dirigindo é de foder o juízo, e no bom
sentido.

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— Tem roupa formal? — ele pergunta.


— Sim. Por quê?
— Evento hoje.
— Do que seria o evento?
— Resumidamente, é um monte de
advogados, juízes, policiais, delegados,
promotores, um querendo ser melhor que o
outro, mas a causa do evento é beneficente,
cada um que confirma a presença tem que
doar um valor, para uma das instituições da
lista que eles têm.
— Entendi.
— Pode levar sua tia também.
— Pera aí... Se cada um que confirma a
presença tem que doar, quer dizer que eu
indo terei que doar também?
— Exato.
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— E ainda quer levar minha tia?


— Sim. Qual o problema?
— Qual o valor da doação?
— Bia...
— Qual?
— Acima de vinte e cinco mil.
Arregalo os olhos e ele me olha
rapidamente e sorri.
— Eu não vou e minha tia não vai. Porra,
adoro ajudar a caridade, mas isso aí é
demais!
— Por isso só vai quem tem condições
para isso.
— Marcos, não vou. É dinheiro demais.
— Você não tem noção do tanto que os
Escobar são ricos, não é? — pergunta rindo.

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— Estou começando a ter, afinal, acima de


vinte e cinco mil não é pouco.
— Para de ser boba. Você e sua tia vão e
ponto final.
— Vou procurar um mercado negro por
aí, e vender um rim... Merda, falei isso perto
de um juiz de quinta, me ferrei!
Ele ri.
— Gastaria milhões por você, sem
problema algum. Você vai e sua tia também,
assunto encerrado.
— Depois não diga por aí que dou
prejuízo, que eu te faço engolir moeda por
moeda, assim que eu roubar um banco e
poder pagar.
— Falou mais uma merda perto do juiz de
quinta — provoca.

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— É juiz de quinta mesmo. — Rio.


— Adora provocar, vamos ver se vai
gostar quando eu começar. — Ele estaciona o
carro.
Assim que descemos do veículo, Simon
estaciona atrás.
— Sério, de onde esse homem surge que
nunca vejo? Só vejo quando ele estaciona.
— Às vezes, me pergunto isso também.
Alex, o segurança da Liziara, está na
porta.
— Liziara o expulsou?
— David está de folga.
— Está explicado. Quando liberam os
seguranças, você rapta?
— Não. É que o Simon coordena eles com
o Luciano. Então é o Simon que ordena onde
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eles vão ficar, quando não estiverem


trabalhando com algum de nós. — Ele abre a
porta e me dá passagem. — Entra.
Entro e espero ele fazer o mesmo, mas ele
retira os óculos e fica olhando seriamente
para o Alex.
— Olha a bunda dela novamente, e você
não vai ver mais nada!
— Marcos?!
— Senhor, eu não...
— Não sou cego, Alex. Sua tentativa de
disfarçar não funcionou. Faça isso e não vai
ver mais nada, isso se eu te deixar vivo. — Ele
entra e fecha a porta.
— Que vergonha! — digo a ele e me sento
no sofá.
— Vergonha? O idiota olhou para a sua

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bunda. Teve sorte de eu não esmurrar o olho


dele. A próxima vez, ele não vê mais porra
nenhuma!
— Você é estressado demais. Já tentou
praticar pescaria?
— Odeio. Prefiro futebol.
— Você joga? — pergunto animada.
— Jogo. — Ele joga os óculos com a
carteira e as chaves no sofá e retira a
camiseta em seguida.
— Isso é novidade.
— Às vezes, jogo com alguns conhecidos.
Mas, ultimamente, ando na correria, então
prefiro ficar o tempo livre com você.
— Que honra...
— Sua ironia me deixa puto.
— Não fui irônica.
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Ele fica me olhando.


— Fui sim. — Sorrio.
Ele me puxa do sofá e vamos até seu
quarto.
Deito na cama.
— Preciso pedir para a Débora confirmar
a presença da sua tia também no evento. —
Ele pega o telefone na lateral da cama.
Conversa com a Débora e desliga
rapidamente, deitando-se ao meu lado.
— Vamos comemorar seu aniversário
hoje.
— Dizem que dá azar comemorar antes
do dia.
— Só para quem acredita nessas
bobagens. Vamos aproveitar que sua tia vai
estar aqui. Depois do evento vamos para a
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Paula, ou aqui mesmo, e pedimos algumas


besteiras, e se quiser faço uma dança
sensual, para animar. — Dou um tapa em seu
braço.
— Faça e te mato! — Ele ri e me dá um
beijo.
— Está combinado então.
— Eu não disse que aceitava.
— E eu não perguntei.
— Isso não é novidade. Você nunca
pergunta.
— Sou Marcos Escobar.
— Meu juiz de quinta.
— Só seu. — Ele me beija e me puxa para
cima de si.

Estão todos os Escobar juntos, em uma

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mesa. O local está repleto de representantes


da lei famosos, e que com certeza juntos
construiriam um novo país, de tantas
fortunas. Estou começando a me sentir a
Cinderela do lugar.
— Esse ano está mais lotado! — Paula
comenta.
— Lotado de deuses gregos. Senhor,
alguém me segura! — minha tia diz, fazendo
todos rirem.
— Eu disse para não trazer ela —
comento.
— A cada ano, esse evento se torna
ridículo, tirando a parte das doações. É um
querendo ser melhor que o outro. Olha só
isso... — Daiane diz olhando ao redor.
— Alguns até que se salvam, outros é
foda! — Henrique fala.
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— Precisamos de baldes — Marcos diz e


todos olhamos para ele. — O veneno de vocês
está escorrendo. — Rimos.
— Eu estou quieta — Ana se defende.
— Duas! — digo.
— Três! — Liziara completa, rindo.
— Saímos como as mulheres ruins,
Daiane — Paula diz sorrindo.
— Eu saí como a tarada... Meu Deus, olha
aquele gostoso vindo até aqui! — minha tia
diz, fazendo todos olharem. — Pena que tem
mulher junto.
Travo meu olhar apenas na mulher.
Liziara fica vermelha, e não é de vergonha.
— Só pode ser brincadeira! — David diz e
pelo seu tom está com raiva.
— Não gostam dele? A cara de vocês está
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me dando medo — minha tia comenta.


— Não gostamos dela! — Daiane exala
raiva.
Eles se aproximam. O homem, que é
muito bonito, sorri, enquanto ela nos olha
com desdém.
— É uma honra conhecê-los
pessoalmente. Sou um grande admirador.
Meu Deus, estou tão feliz em ver vocês, talvez
até mais do que no dia que conquistei a OAB
— ele diz e sorrio. — Não pensem que sou um
louco. Sou Jacob Casagrande, promotor, vim
recentemente de Minas Gerais para cá — ele
cumprimenta a todos.
— Novo por aqui. Realmente não o
conhecia.
— Sou novo na profissão também. Porra,
Marcos Escobar falou comigo! Caramba! —
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ele diz animado, e Henrique gargalha.


— Você é doidinho, cara! — Henrique diz,
e Ana dá um tapa em seu braço.
— Nem apresentei a vocês, minha noiva,
Poliana Xavier.
— Já os conheço, meu amor — a vaca diz.
Odeio essa mulher, desde que quase
destruiu a vida da Liziara, e por falar na
minha amiga, ela está olhando fixamente
para a taça a sua frente e isso está me
preocupando.
— Como não me disse isso?! Sabe o
quanto sou fã deles. Na verdade, quem eu
mais admiro é o Marcos. Me lembro como se
fosse ontem, quando foi até a universidade
que eu estudava e fez uma palestra. Você é
foda, com todo respeito do mundo dos fodas,
porque estou me credenciando a esse
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mundo, um dia chego lá, igual a sua família e


você — ele diz animado ao Marcos, fazendo
todos sorrirem.
— Ele é fã de carteirinha do seu tesudo —
minha tia cochicha no meu ouvido.
— Obrigado! — Marcos diz, com seu jeito
sério.
— Vamos, amor, nossos amigos nos
esperam — Poliana diz a ele.
— Vamos. Foi uma honra conhecer vocês!
Honra das grandes, tipo do tamanho do
Everest. Espero nos encontrarmos
novamente. Com licença. — Eles se retiram.
— Agora eu posso falar. O que aquela
rainha das vadias está fazendo aqui? E como
assim está noiva? Com certeza aplicando
golpe no cara! — Daiane diz. — E que
homem! Jaqueline, tenho que concordar, é
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gostoso e mais, muito bonito.


— Fale isso novamente, e vai para um
convento! — David diz.
— Amanhã mesmo! — Marcos fala.
— Façam isso e começo a contar os
podres de cada um. As mulheres de vocês
iriam amar saber!
— Se quiser, tiramos Poliana do caminho
dele! — Henrique comenta e rio.
— Vocês têm medo, mas não têm
vergonha! — Daiane provoca.
— David, você sabia?! — Liziara pergunta
séria, fazendo todos se calarem.
— Não. Eu te juro que não sabia.
— Para mim esse evento acabou. Essa
mulher me dá nojo. Não consigo ficar no
mesmo lugar que ela! — Liziara fala com
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raiva. — Vamos embora, porque se eu


escutar a voz dela novamente, dessa vez
serei capaz de matá-la.
— Segura a leoa aí! — Marcos provoca.
— Marcos! — repreendo ele.
— Vamos, amor! — David se levanta e ela
faz o mesmo.
— Desculpa, pessoal, mas conheço meu
limite, e com ela aqui, não tenho controle.
— Não se preocupe, Lizi — digo a ela.
— Se quiser dar na cara dela, só dizer,
tranco ela no banheiro, e você quebra ela lá
mesmo — minha tia diz.
— Eu ajudo! — Daiane e Ana dizem
juntas.
— Vigio a porta — Henrique se anima.
— Até você, Henrique? Adora uma
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encrenca, porra! — Marcos brinca e


Henrique sorri.
— Não irei descer ao nível dela mais uma
vez. Nos vemos na casa da Paula — Lizi diz e
se retira com o David.
— O que essa mulher veio fazer aqui?!
Coitado desse cara — Henrique fala
inconformado.
— Ou é um idiota que acredita que essa
cobra é uma boa pessoa, ou é igual a ela, e
quem sabe pior — Daiane diz e bebe sua
bebida.
— Pelo visto, esta mulher é muito amada
por vocês — minha tia ironiza.
— A Poliana é uma puta, para ser direta
— falo a ela.
— Nunca gostei dela — Marcos diz. — Só a

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Paula gostava.
— Epa! Pode parar. Eu era educada, o que
é diferente. Ninguém é bocudo e cara de pau
como você e Henrique! — Paula se defende e
eu rio.
— Chega, vamos mudar de assunto.
Afinal, ninguém merece ficar falando dessa
cobra — Ana se manifesta.
— Eu apoio! Vamos falar de quando
Beatriz e Marcos vão casar, ter filhos... —
Paula diz, e eu começo a me engasgar. Minha
tia ri e Marcos dá leves tapas nas minhas
costas.
— Nossa, Bia, está bem? — Daiane
pergunta preocupada.
— Isso aí é apenas susto, porque sabe que
vai acontecer, só não tinha ouvido em voz
alta — Henrique diz.
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— Henrique Escobar! — Ana o repreende.


— Porra, não posso falar nada mesmo! —
ele diz.
— Não! — Ana e Paula dizem juntas.
— Estou bem — respondo à pergunta
feita por Daiane.
— Sua mãe era assim, querida. E veja só,
você aqui. E logo, logo, pode ser que venha
um bebezinho, afinal, vocês dois são fogo
puro... — Todos riem.
— Tia, por favor! — Sinto minhas
bochechas esquentarem.
— Coitada, foi escolher entrar para a
família Escobar e é um poço de timidez —
Henrique diz, rindo.
— Agora chega. Vamos dar umas voltas,
Henrique! — Ana se levanta. — Vai logo!

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— Cuidado, amor, nem sempre o volume


em minhas calças é uma ereção — ele diz e se
levanta.
— Voltamos depois. — Ana diz e eles
saem.
— Vamos bater papo com o pessoal, e
dançar. — Daiane se levanta e Paula faz o
mesmo.
— Me convidando para ir com vocês! —
Minha tia se levanta.
— Vocês não vêm? — Daiane indaga.
— Não estou a fim de distribuir murros
gratuitos — Marcos diz e sabemos ao que ele
se refere.
Elas saem e ficamos apenas nós dois na
mesa. Bebo um gole da minha bebida.
— Vou até o banheiro, já venho — Marcos

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diz e se levanta. Antes de sair, me dá um


beijo nos lábios.
Fico observando o lugar. As pessoas são
todas muito elegantes, porém sérias, um ou
outro grupo conversam animadamente.
Prefiro os eventos de pessoas mais simples
como eu, pois tem de tudo, e depois rende
muitos assuntos.
Aproveito que Marcos foi ao banheiro, e
faço o mesmo.
Caminho entre as pessoas. Vejo Henrique
e Ana conversando com um casal, e pela cara
do Henrique o assunto está bem entediante.
Entro no banheiro, e vou até o espelho,
ver se estou bem ou já está tudo borrado e eu
parecendo um palhaço. Retoco o batom que
está fraco. Dou uma ajeitada no cabelo que
está solto, e meu cabelo é um perigo, ele tem
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vida própria, todo cuidado é pouco. Saio do


banheiro e, para meu azar, dou de cara com a
Poliana. Ela me olha e sorri.
— Não perdeu tempo. Depois eu era
interesseira, porque sei que era isso que
rodava na boca dos Escobar. Mas vejam só, o
jogo virou.
— Poliana, não estou com o Marcos pelo
dinheiro, estou com ele por amor, mas não te
culpo se não souber o que é isso. E fica um
conselho para você: Esse Jacob parece ser um
cara legal, vi nos olhos dele admiração pelos
Escobar e não de inveja como os seus
mostraram. Então, não o use como tentou
usar o David, porque seu fim foi voltar para
onde tinha vindo, mas agora, você voltaria
para onde? Já sei... O galinheiro de onde
nunca deveria ter saído! Com licença. —

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Passo por ela, que fica me olhando com raiva.


Essa mulher não aprende. Surge do
inferno para atazanar a vida do próximo!
Faço o caminho de volta para a mesa que
estávamos, mas sou surpreendida por duas
mulheres falando com Marcos. Quando me
vê, ele me olha um pouco assustado e isso
não me traz conforto algum.
Aproximo-me da mesa, e as mulheres me
olham, mas voltam a olhar o Marcos.
— Então, nem nos ligou... Ficamos
esperando — uma delas diz e Marcos toma
um bom gole da bebida. Está nervoso.
Sento-me e fico apenas observando para
ver até onde vai isso.
— Marcos, eu queria tanto que tivesse
ligado. Odeio ter que ir atrás. Me sinto uma

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intrometida — a outra diz, e ele permanece


calado.
Minha presença não diz nada para elas.
— Foi tão bom aquela noite. Podíamos
repetir a dose.
Cruzo os braços e inclino um pouco a
cabeça para o lado e avalio o Marcos, que me
olha de rabo de olho.
— Pois é... Eu não liguei. Porém, já passou.
Isso é passado. Não teve importância.
— Claro que teve! Ligamos para seu
escritório, já que não nos deu seu telefone.
Sua secretária foi bem grossa e não nos quis
informar seu paradeiro.
Débora, como eu te amo, mulher!
— Minha secretária faz o que é pedido a
ela.

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Dou um chute em sua perna por baixo da


mesa e ele me olha feio.
— Esqueçam o que aconteceu. Não vai
acontecer nunca mais!
— Por que não, juizinho? — uma delas diz
toda manhosa.
— Porque o juizinho teve o pau dele
cortado! — respondo e elas me olham
assustadas.
— Sério?! Que horror! — exclamam
juntas.
— Sim. Horror mesmo. Porém, foi o que
aconteceu. Uma mulher cortou o pau dele,
por ele ser um filho da puta e dar trela para
outras. — Elas ficam boquiabertas e se
afastam rapidamente.
Levanto-me da mesa.

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— Amor! — Marcos diz.


— Não me chame de amor. Até quando
pretendia ficar nesse papo, Marcos?
— Porra, eu fiquei sem reação. Eu nunca
fiquei em um momento... assim.
— Você sem reação? Conta outra, Marcos!
— Minha última namorada foi anos atrás,
e você sabe como terminou. Me desculpa.
Senta aqui novamente.
— Não. Vamos embora, porque ainda
tenho que trocar de roupa, por algo mais
confortável, para ir a Paula.
Nos afastamos dali. As duas mulheres que
estavam com ele estão perto da saída, e ficam
nos olhando.
Marcos me puxa pela mão e se aproxima
delas.

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— Não estou com o pau cortado. Ele


apenas tem dona. Minha futura esposa e mãe
dos meus filhos. Eu nunca ligo de volta ou
vou atrás, mas escolhi ela para fazer isso.
Porque a amo. — Ele me dá um beijo na
frente delas e elas xingam ele. Quando nos
afastamos, já não estão mais ali.
— Foi lindo, mas não está desculpado.
— Posso resolver isso em breve. Vamos.
— Ele sorri maliciosamente para mim.
Ele vai pensando que terá algo!

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Capítulo 11

Meses depois...

Acordo com o despertador, e Beatriz não


está na cama. Levanto e vou até o banheiro.
Escovo os dentes, faço minha necessidade e
entro no chuveiro. Odeio quando acordo com
dor de cabeça, porque fico o resto do dia em
um completo mau humor.
Saio do banho, enrolo a toalha na cintura
e vou para o quarto. Beatriz está nele agora,
e encolhida na cama.
— Aconteceu algo? — pergunto
preocupado.

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— Cólica. Estou naqueles malditos dias.


Que ódio!
— Começou hoje? — pergunto entrando
no closet.
— Sim — ela diz alto para que eu ouça. —
Por quê?
Pego a roupa que vou usar, e retorno ao
quarto.
— Curiosidade, apenas.
— Sei... Pior que hoje tenho entrevista de
emprego. Que raiva que estou. Tenho que
passar na minha casa, para me arrumar e
tomar remédio para ver se essa cólica passa
logo.
— Está tomando o anticoncepcional
ainda? — pergunto enquanto visto a cueca.
— Óbvio. Por que tantas perguntas?

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Algum tipo de julgamento aqui? — pergunta


sorrindo.
— Não — respondo, e sei que fui seco.
— Marcos, o que foi? Quem está na TPM
sou eu.
— Dor de cabeça. Só isso. Vai querer
carona para sua casa?
— Não. Vou com meu carro, vou precisar
dele hoje, então não dá para deixar ele aqui
de novo.
— Vou pedir ao Simon que deixe algum
segurança com você.
— Como eu sei que mesmo dizendo que
não quero, você vai fazer, então nem irei
discutir.
— Ótimo. — Visto a calça jeans preta.
— Marcos, olha para mim. — Faço o que
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pede — O que foi? Ficou assim por que estou


menstruada e vai ficar sem sexo por dias? Se
bem que deve estar acostumado, porque
ficou três semanas, depois do evento que
encontrou suas “putianes”.
— Já disse que é apenas dor de cabeça. —
Visto a camisa branca que peguei.
— Não vai de terno hoje?
— Não. Ficarei apenas no escritório.
Ela se levanta e caminha até a mim,
parando na minha frente. Coloca os braços ao
redor do meu pescoço.
— Me fala logo o porquê do mau humor?
— Dor de cabeça. — Dou um beijo nela e
me afasto para terminar de me arrumar.
— Vou fingir que acredito. Deixa eu me
arrumar, porque ainda vou passar em casa.

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— Ela entra no banheiro.


Saio do quarto e vou para a cozinha. A
raiva está me deixando com mais dor de
cabeça. Vejo que ela preparou café. Pego uma
caneca e encho com ele.
Caminho até a porta de vidro que dá
acesso ao jardim nos fundos e me encosto
com a caneca em mãos.
O tempo está passando. Cada dia é um dia
a menos de aproveitar. Parece que a cada dia
que se passa as chances de me tornar o que
sempre quis ficam longe. Estou começando a
ficar cansado de persistir. Faz meses que
estou insistindo para ela vir morar comigo,
fazendo de tudo para ela desistir do maldito
anticoncepcional. Porra, quando ela vai
entender que eu não sou mais jovem, e que
vai chegar um dia que não terei mais

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capacidade de atuar na minha área, de ter


energia para fazer as coisas, e desta forma
não ter mais tanto tempo ou disposição para
ter um filho? Ela sabe que não quero mais
enrolações, que eu quero algo sério, porque
meu tempo logo se esgota, ainda mais com a
carreira que tenho.
Ela me abraça por trás.
— Café gelado é horrível. — Olho a caneca
ainda cheia.
— Estava perdido em pensamentos.
— Posso saber quais?
— Nada que importe. Preciso terminar de
me arrumar — respondo e forço um sorriso.
— Tudo bem. Vou indo. Quando eu sair da
entrevista te ligo. Me deseje boa sorte.
— Não precisa de sorte. Vai se sair muito

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bem. Confio em você. — Ela sorri. Beijo-a e


cuido para não derrubar o café da caneca.
— Já falou com o Simon?
— Não. Me distraí. Pode sair e avisar que
quer segurança com você.
— Ele vai querer que você diga.
— Na verdade, ele vai amar você pedindo,
já que sempre expulsa ele.
— Ok. — Ela sai e fico olhando a porta se
fechar.
Deixo a caneca dentro da pia. Vou para o
quarto e termino de me arrumar. Logo
depois, vou para o escritório.

Chego ao escritório e Débora já está


trabalhando.
— Bom dia! — diz animada como sempre.

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— Bom dia. — Passo por ela e entro em


minha sala.
Tiro as coisas do bolso e jogo em cima da
mesa. Sento na minha cadeira e ligo meu
computador.
Débora entra na sala e me olha
desconfiada.
— Seu dia hoje será tranquilo. Tem que
rever um caso. Daiane ligou dizendo que vai
passar aqui para conversar com você. Chegou
um processo também. E precisa assinar
alguns documentos importantes. Acredito
que até antes do almoço fique livre.
— Está certo. Organize tudo e me envie.
— Se quiser pode ir para casa e trabalhar
de lá. Aviso a Daiane para ir para sua casa.
— Não. Passarei o dia aqui. Apenas faça o

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que mandei, Débora!


— Está bem. — Ela se retira.
Pego meu celular e tem uma mensagem
da Daiane, dizendo que vai vir antes do
almoço.
Vejo meus e-mails, e respondo apenas os
mais importantes, deixarei os outros para
depois.
Débora retorna com as coisas que pedi,
porém entra calada e sai da mesma forma.
Sabe quando não estou de bom humor.
Começo revendo um caso, que está mais
enrolado que nó. Logo depois, vejo do que se
trata o processo, porém perto de tantas
coisas graves, isso é nada, deixo de lado por
hoje. Assino os documentos para finalizar.
Olho no relógio e já são onze horas. Nem

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percebi, porque para mim foi tudo no


automático. Quando vou chamar a Débora,
ela entra sorridente.
— Edson foi condenado. Sete anos de
prisão. Não é muito, mas já é algo!
— Só? Por mim ficaria 20 anos e ainda
seria pouco — respondo irritado.
— Poxa, homem, fique animado, já é algo,
nesse país que tem dificuldade para tudo.
— Pegue essas coisas. Já terminei.
— Aconteceu alguma coisa? Está
estranho. — Ela pega as coisas.
— Débora, faça o que mandei. Cuide das
suas coisas, e deixe que eu cuido dos meus
problemas. Saia e me deixe sozinho.
— Vou me arrepender de insistir, mas
vamos lá. Problemas com a Beatriz?

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— Não, Débora! Some.


— Mas envolve ela, só assim para estar
distribuindo coices gratuitos!
— Saia, quero ficar um pouco sozinho!
— Não vai ficar não. Cheguei! — Daiane
aparece na porta. — Oi, Déb — ela
cumprimenta a Débora. — Está de péssimo
humor, não é?
Débora concorda e sai rindo da sala.
Daiane fecha a porta. Coloca a bolsa na
minha mesa e se senta na cadeira da frente.
— Consegui encontrar você aqui! — Sorri.
— O que tanto quer comigo?
— Vim em péssimo dia, pelo visto. Seu
humor não está bom.
— Pode dizer, sempre terei tempo e
disposição para você.
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— David e Henrique têm que saber disso.


Os dois patetas ficariam putos de ciúme. —
Ela ri.
— Daiane, foca no assunto.
— Sorry. — Ela se ajeita na cadeira, se
aproximando ainda mais da mesa, onde
apoia os braços. — Como é se apaixonar? —
Olho para ela, sem entender. — Tio, eu não
sei o que é isso! Minha dúvida é esta.
— Não estou entendendo onde quer
chegar.
— Henrique se apaixonou à primeira
vista, e foi lindo, porque muitos duvidam
desse amor e ele está aí para provar que
existe. David, um babaca, que encontrou o
amor em uma amizade colorida. Você que eu
jurava que morreria solteiro depois de ter
namorado a Renata, e ela ter sumido, só Deus
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sabe o que aconteceu entre vocês dois, mas,


enfim, está aí namorando, e feliz. Droga, eu
sou a única que não sei falar de amor entre
um homem e uma mulher! Saio com caras,
apenas rola sexo e nada mais.
Nunca vou me acostumar com a Daiane
ser tão direta.
— Primeiro, não quero saber sobre o sexo
que faz! Porra, me deu até enjoo! Segundo,
não tem como explicar o amor, Daiane.
— Tio, eu estou com medo. As pessoas
estão dizendo por aí que eu sou os Escobar
masculino de vestido. Estou com medo de
acabar sozinha!
— Eu, particularmente, iria amar.
— Tio, por favor! Eu não tenho coragem
de perguntar isso a minha mãe, porque sei
que ela vai lembrar do papai, e eu irei me
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sentir mal. Se eu perguntar ao Henrique, ele


vai levar tudo na brincadeira. E ao David
impossível, porque nas horas livres, o idiota
só sabe ficar enfiado na Liziara, aquelas
meninas vão crescer traumatizadas!
— Daiane!
— Sorry, mas é a realidade.
— Eu sou o menos indicado a te falar
sobre se apaixonar.
— Me fala como foi com a Beatriz, mas
pula a parte do sexo. — Ela sorri, e não tenho
como não sorrir junto, ainda mais vendo que
seu sorriso é idêntico ao do meu irmão.
— Foi estranho. Assustador. Mas ela já
tinha me conquistado desde a primeira vez
que a vi. O jeito tímido dela, e a forma dela
sempre me desafiar, me deixava louco. Estar
perto dela sem poder tocar era torturador.
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Mas quando a vi na festa, e ela me provocou,


a raiva se misturou com o desejo, e eu já
sabia que estava apaixonado, porque meu
coração batia em ritmo diferente, e a
sensação que eu sentia era louca. Quando a
beijei foi o ponto que restava, e então eu
soube que precisava dela na minha vida.
— Que lindo! — ela diz emocionada. —
Então é assim que o tal do se apaixonar
acontece? Droga, nunca irei sentir isso! Não
consigo me apegar, gosto de ser liberal. Vou
morrer sozinha e com 82 gatos.
— Gostei disso! — Ela me olha feio. —
Uma hora, infelizmente, mas, infelizmente
mesmo, isso vai acontecer, e o cara estará
fodido comigo, mas vai acontecer.
— Quando? Estou ficando velhinha já.
— Quem me dera eu estivesse ficando
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velhinho como você. Você vai encontrar,


confie em mim. Só deixa acontecer
naturalmente.
— Quero encontrar um homem como era
o papai, ou como é o Henrique, romântico, e
que não ligue por eu não ser!
— David e eu não somos?
— São, mas é de um jeito mais... Vocês
demonstram com sexo, tenho dó da Liziara e
da Beatriz, devem estar assadas. Não dá para
eu encontrar um cara que seja como eu.
Porque eu tenho que ser realista, sou como
você e o David, preciso de um homem que
seja a mistura da Liziara, com a Ana e a Bia,
ou não vai dar certo. Veja por vocês que
encontraram mulheres, completamente o
oposto.
— Não sabe ser menos direta?
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— Não! — responde como se fosse óbvio.


— Um dia, essa minha vida de apenas sexo
por uma noite vai acabar, e estou com medo,
mas louca para viver essa aventura do tal do
amor.
— Que assunto mais desconfortável para
mim!
— Por quê? Não pedi para me ensinar
sobre sexo. Minha mãe fez isso, sem meu pai
saber na época, ele ficaria louco.
— Que ótimo, então foi a Paula? Pensei
que tinha sido na internet. Tenho que
conversar seriamente com ela.
— Tio, sou experiente nisso há muito
tempo.
— Há quanto tempo?!
— Desde os 18.

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— Quê?! Porra! Quem foi o filho da puta?


— Um carinha da faculdade. Foi um lixo!
Mas depois encontrei outros caras e foram
fodas! Nossa, o último que tive foi uma
loucura...
— Quando foi esse último, Daiane
Gabrielle Escobar?
— Pelo amor de Deus, esquece meu
segundo nome, tenho pavor, dessa falta de
criatividade que minha mãe teve ao escolher
meu nome! E foi ontem.
— Porra! Isso é demais para mim. Meu
dia só piora. Puta que pariu!
— Relaxa, homem. Eu, hein!
— Relaxar? Impossível, pirralha!
— Tio, mesmo sendo insuportável, você
me ajudou muito hoje e sempre me ajuda

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muito. Obrigada por levar a sério o que eu


perguntei. Às vezes, tem coisas que não
consigo desabafar com ninguém, além de
você.
— Estarei aqui, sempre que precisar...
A porta se abre com força, olhamos
assustados. Henrique entra e está pálido.
— O que foi?! — Daiane pergunta
preocupada.
Ele se senta na cadeira ao lado dela, e
solta a gravata do pescoço.
— Henrique, o que aconteceu, porra? —
pergunto sem paciência alguma.
— A Ana Louise...
— O que aconteceu com ela?! — Daiane e
eu perguntamos juntos.
— Ela está...
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— Não... ela não está... — Daiane diz


desesperada.
— Não está morta!
— Porra, diga logo! Está nos apavorando
— digo a ele.
— Ela está grávida novamente. Caralho,
eu vou ser pai de novo! — ele diz e o sorriso
cresce em seu rosto.
— AI, MEU DEUS! — Daiane o abraça e ele
chora emocionado. — Vou ser titia
novamente, que coisa maravilhosa!
Parabéns, pateta número um.
— Obrigado, moreninha. — Eles se
afastam.
Levanto-me e vou até ele, que faz o
mesmo. O abraço.
— Parabéns. Vocês merecem toda

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felicidade do mundo. E a família está


crescendo! — Sorrio.
— Obrigado, tio.
Retorno ao meu lugar.
Porra, justo uma notícia dessas hoje!
— O que foi, tio? Não está realmente feliz
por mim? — Henrique pergunta.
— Não é isso!
— Então, o que é? Está bravo desde a hora
que cheguei — Daiane fala.
— Problemas pessoais, não tem nada a
ver com vocês, não se preocupem.
— Tem a ver com a Bia, não é? —
Henrique pergunta.
— É foda. Nada de mais. Preciso
trabalhar.

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— Se está dizendo... Vamos, Henrique!


— Vamos!
— Então vamos, que quero curtir minha
folga — Daiane fala animada.
— Eu me dei folga — Henrique diz rindo.
— Normal isso! Agora vão, tenho trabalho
a ser feito.
Eles se despedem e saem.
Débora entra na sala e balança a cabeça
negativamente.
— Você pode enganar a eles, mas não a
mim. Está fugindo de todo mundo hoje. Você
não tem mais nada para fazer aqui. Não vou
perguntar o que é, porém saiba, que se não
se abrir, ninguém vai poder te ajudar. — Ela
sai da sala e fecha a porta.
Vou até o sofá que tem no canto da sala, e
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me deito nele, cobrindo os olhos com o


braço. O dia está foda demais hoje!

Estou em êxtase. Irei trabalhar no setor


administrativo, em um dos maiores bancos
do país. Não acredito ainda, parece um
sonho.
Foi demorada a entrevista, mas deram a
resposta na hora! Estou chocada. Um dos
meus maiores sonhos acaba de se realizar.
Paro na escadaria de entrada do banco.
Roberto, o segurança que me acompanhou
hoje, fica me observando.
Ligo para minha tia, que atende
rapidamente.
— Meu amor?

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— Tia, liguei apenas para te dar uma


notícia.
— Vai casar? Está grávida? Ai, meu Deus, que
alegria!
— Não, tia. Nenhum dos dois! Eu consegui
um emprego no setor administrativo em um
dos maiores bancos do país!
— Ai, que alegria! Você merecia, meu amor.
Estou tão feliz por ti.
— Muito obrigada, tia. Estou que não me
aguento de alegria. Vou desligar, preciso dar
a notícia ao Marcos.
— Que esse seja o caminho de uma nova vida!
Te amo, minha linda!
— Também te amo, tia! — desligo.
Ligo para o Marcos, porém só chama.
Deve estar ocupado.

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Entro no meu carro, e vejo o segurança


entrar no dele e esperar eu sair.

Vou para a minha casa. Troco a roupa por


uma mais confortável. E tento ligar
novamente para o Marcos, porém só chama.
Merda, odeio segurar as novidades! Nada hoje
pode sair fora dos planos! Tem que ser tudo
uma grande surpresa. Preciso me controlar,
para não deixar escapar.
Ligo para o escritório dele e a Débora
atende.
— Bia...
— Eu mesma! Marcos está ocupado?
Estou ligando, porém só cai na caixa postal.
— Ele... é... Está em reunião por
videoconferência.
— Ah, sim. Quando ele tiver um
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tempinho, pede para me ligar, por favor?


— Peço sim. Mas, Bia, vocês estão bem?
— Estamos sim... Por quê?
— Ele está meio estressado hoje. Fiquei
preocupada.
— Ele está estranho comigo também.
Deve ser algo do trabalho.
— Por falar em trabalho. Edson foi
condenado a sete anos de prisão, não só pelo que
fez com você, mas por todas as merdas!
— Que bom! Merecia mais, porém a
melhor justiça será a Divina.
— Com certeza! Assim que Marcos estiver
livre, peço para te ligar.
— Obrigada! Beijos!
— Beijos! — Ela desliga.

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Vou para o banheiro, e faço minha


necessidade. Depois me deito toda animada.
A campainha toca, e tenho vontade de
xingar, porque acabo de me deitar. Vou
atender, mas desconfio ser a Liziara.
Abro a porta e é ela mesma.
— Esqueci a chave em casa! — diz
sorrindo.
— Não é novidade. Vamos para o quarto.
Ela concorda e entra.
Entramos no quarto e me deito, enquanto
ela deita de bruços nos pés da cama.
— Conta tudo!
— Passei!
— Ai, que tudo, Bia! Estou tão feliz.
Realizou seu sonho! Que bom!

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— Sim, estou tão feliz.


— Você merecia esse emprego. Minha
amiga trabalha em um banco agora. Que
chique. Inimigas vão chorar no recalque. —
Rimos.
— E as meninas?
— Estão com a Paula, ela está de folga e
quis ficar com as meninas.
— E você, como adivinhou que eu já tinha
chegado?
— Torci. Porque, quando estava aqui
perto, lembrei-me da chave.
Rio.
— Você não muda! Desastre completo.
— Sempre, querida! Antes que eu me
esqueça. Soube da novidade?
— Não. Sou a pessoa mais desatualizada
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do mundo.
— Ana está grávida novamente.
— Mentira?! Henrique deve estar todo
bobo! — Filho da mãe não me falou nada hoje
quando falei no caminho para entrevista,
para ver se ele e David já tinham feito o que
pedi.
— Está sim. Estava na Paula quando eu
soube da notícia. Paula pirou, aquela ali ama
crianças.
— Imagino! Ser avó é tudo para ela!
— Sim. Fiquei boba sabendo da novidade.
Eles dois são tão fofos, e agora pais
novamente, vai ser incrível.
— Com certeza! Tomara que seja um
menininho, assim faz casal!
— Sim! Essa família precisa de menino.

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Eu tive duas meninas, Ana uma menina, não


dá para vir mais meninas, os homens
Escobar vão ficar loucos. — Rimos.
— Vamos ver se vem um menino agora, aí
sim Henrique vai ficar mais bobo.
— Nem me fale. David vai pirar dizendo
que jogaram praga nele, para ter três
mulheres na vida dele.
Gargalho.
— Bem a cara dele fazer isso!
— E você... Como anda o relacionamento
com o senhor juiz gostosão? — pergunta
sorrindo maliciosamente.
— Estamos bem, tonta.
— Ele ainda continua com o papo de
morarem juntos e terem filhos?
— Continua, mas no momento não dá.
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Quero fazer as coisas com calma, uma de


cada vez. Não quero correr e acabar
tropeçando. Acho que as coisas têm que
acontecer em seu devido tempo — respondo
meio desconfortável.
— Vai deixar o homem doido! Ele é louco
por você. Dá logo um time de futebol para ele
e se casa, antes que ele enlouqueça. — Ela ri.
— O problema é que ele quer morar junto
e ter filhos, nenhum momento ele se referiu
a casarmos e termos filhos. Quero as coisas
corretas — tento soar firme em minhas falas.
— Amiga, ele querer morar com você é
sinal de que quer se casar. Marcos Escobar
não faz nada pela metade.
— Eu sei, mas... Ai, sei lá.
— Ele ainda não fez o pedido como deve
ser feito. Já entendi. Você sonha com cada
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detalhe, tudo em ordem. Te entendo e não te


condeno.
Sorrio.
— Exatamente.
— Se ele fizesse, você aceitaria?
— Quem sabe... — Rimos.
— Tenho que passar na casa dos meus
pais e tenho faculdade depois. Depois a gente
se fala. Está meio corrido hoje. Tenho que ir.
Passei apenas para te dar um “oi”. — Sorrio.
— Vai lá! A gente se vê.
Ela me dá um beijo no rosto.
— Depois eu vou lá e fecho a porta, só
bate ela.
— Ok.
Ela se retira, e corro ligar novamente

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para a Débora.
— Oi, Bia.
— Chegou algo?
— Algo tipo o quê?
— David ou Henrique estiveram por aí?
— Henrique sim.
— Então não chegou nada?
— Não. O que aconteceu?
— Nada. E, por favor, não diga ao Marcos
que liguei desta vez.
— Ok. — Desligo.
Estou muito ansiosa. Planejei tudo com o
Henrique e David há semanas, só que não
contava com a entrevista hoje, para sair dos
horários programados.
Ligo para o David, que atende no

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primeiro toque.
— Calma. Tive que despistar a Liziara o dia
todo, e só agora o Henrique conseguiu um tempo.
Estamos bolando aqui. Vai rolar hoje, se acalma!
— Estou agoniada. Ele não me atende.
Quero dar logo as novidades a ele. Tive que
fazer quase que um teatro hoje mais cedo.
— Henrique pensou em você aparecer lá.
Assim que chegar lá, nos avisa e enviaremos para
o e-mail da Débora. Ela também não pode saber
de nada. Se quer que dê certo essa surpresa, por
enquanto apenas, eu você e o Henrique podemos
ficar sabendo.
— Pode deixar. Vou me arrumar e vou
para lá. Hoje, já despistei ele e a Liziara.
— Ok. Henrique o viu hoje, e disse que ele está
estranho.

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— Ele ficou depois que eu disse que


estava naqueles dias e com cólica. — Rimos.
— Lembrando que isso tudo foi ideia sua, não
queremos morrer junto.
— Seus medrosos. Ok. Estou indo. Assim
que chegar lá aviso.
— Seja o que Deus quiser! — ele diz e sorrio.

Acabei pegando no sono. Acordo com a


Débora me cutucando desesperadamente.
— Marcos, você precisa ver isso! — Ela
me entrega alguns papéis. Sento-me no sofá,
ainda meio sonolento.
— O que é isso?
— Leia! Acabei de receber e imprimi para
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você. Estou no chão de tão em choque! — Ela


se senta na cadeira e me olha boquiaberta.
Começo a ler, e vejo que se trata de uma
denúncia feita contra mim. Porra, que merda
é essa?
— Que cacete é isso?
— Leia tudo, homem. Estou em
desespero!
Foi feita uma denúncia contra mim na
delegacia do David, e foi assinada por ele.
Henrique está como o advogado da vítima.
— Quem é a vítima e que caralho de
denúncia é esta?!
— Vire a página... — ela diz preocupada.
Faço o que ela pede e vejo do que se trata.
Diz que Beatriz Ferreira de Oliveira me
denunciou. Henrique está como advogado

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dela e a denúncia foi feita hoje.


— QUE PORRA É ESSA?!
O telefone da minha sala toca e levanto
para atender.
— Fala!
— Tio, já recebeu?! — Henrique pergunta.
— Já! E que caralho é isso? Puta que
pariu! Que merda é essa, Henrique?!
— Eu que pergunto. Beatriz veio desesperada
na delegacia e pediu minha ajuda e do David. Que
merda você fez! Estou envergonhado.
— Que brincadeira idiota é essa? Como
assim? Cadê o motivo da denúncia? Isso é
ridículo. Que merda é isso aqui todo mal
feito? O que estão aprontando, seus putos?!
— grito com ele.
— Vamos enviar tudo corretamente depois.
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Apenas foi feito às pressas, para você ser


informado antes de qualquer outra autoridade.
Saiba que estou com nojo de tudo que ouvi! — ele
termina de dizer e desliga.
— Débora, que porra é essa? Isso só pode
ser brincadeira. Está todo estranho esse
caralho!
— Eu não sei. Estou tão perdida quanto
você. Beatriz me ligou perguntando se tinha
chegado algo. Estava estranha. Eu disse que
não. Porém, depois recebi isso. Marcos, o que
aconteceu? Você estava nervoso hoje. Você
fez alguma merda?
— Claro que não! Quem pensa que sou?!
— Beatriz?! — Débora diz e me viro para
olhar a porta.
— Por favor, se retire Débora, quero falar
com ele a sós. — Ela está séria.
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Débora sai da sala e fecha a porta.


— O que é isso, Beatriz?! — Entrego os
papéis a ela. — Que porra de brincadeira é
essa?
Ela abre a bolsa, e retira alguns papéis e
me entrega.
— Não é brincadeira. Te denunciei
mesmo. Leia!
Começo a ler e me sento na cadeira. Estou
sem ação. Minhas mãos tremem. Não sei o
que fazer, como agir. Só pode ser piada. Isso
não pode ser real...
— Te denunciei por ter me engravidado,
ter ficado de péssimo humor quando
inventei que estava naqueles dias, por ter me
feito ter que esconder os enjoos e por ter me
feito esconder isso há semanas de você.
Porque você, Marcos Escobar, me fez fazer
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amor com você loucamente, e assim nem a


pílula aguentou ou eu acabei esquecendo de
tomar... Já nem sei.
— Eu vou matar você, o David e o
Henrique! — exclamo sorrindo e chorando
emocionado.
— Eles sabiam há semanas, mas eu queria
te torturar um pouco, e dar a notícia de um
jeito dramático, igual é a vida de vocês
Escobar!
Levanto e largo os papéis. Abraço ela e a
beijo com amor.
— Isso é real, ou estou velho demais e
pirei?
— É real. Você vai ser papai, Marcos.
Obrigada por ter me feito sair dos meus
planos novamente. Isso também fez parte da
denúncia.
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— Não estou acreditando. Não estou!


Porra, você me torturou a porra do dia
inteiro. O filho da puta do Henrique sabia e
ainda veio me falar que ia ser pai novamente.
David, o imbecil, contribuiu com essa
loucura! Sabe que isso não vai ficar assim,
não é?
— Sei. E não acabou a novidade.
— Se for gêmeos, infarto.
— Eu também! — Ela ri. — Passei na
entrevista!
— Parabéns, amor! Já sabia que
conseguiria. — Beijo-a rapidamente. — Mas,
me desculpa, a única coisa que está me
importando no momento é que eu serei pai!
Porra! — Pego-a no colo e rodopio, ela solta
uns gritinhos.
— Você merecia ser torturado!
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— Dei coices na Débora, e basicamente


expulsei Daiane e Henrique daqui. Você me
paga! Meu dia foi uma merda. E ainda quase
me infarta com essa porra desses papéis.
— Eu queria algo diferente. E sabia que
David e Henrique não fugiriam de aprontar
com você.
— Estão fodidos comigo!
Coloco-a sentada em cima da mesa, e
começo a beijá-la. Subo seu vestido e acaricio
suas coxas.
— Vai ser preso... por essa denúncia... —
ela diz quase que em um sussurro, enquanto
beijo seu pescoço.
— Fui condenado por esse crime. Você é a
juíza, o que decide? — Desço até suas coxas, e
distribuo beijos lentos.

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— Te... condeno a... ser um bom pai... bom


namorado... e fazer amor comigo aqui!
— Serei um bom pai... — Aperto seus
seios, e ela geme. — Bom namorado... Porém,
farei amor se a minha juíza disser
exatamente o que quer...
— Marcos...
Puxo sua calcinha para o lado e
massageio seu clitóris. Ela segura na beirada
da mesa, e joga a cabeça para trás, enquanto
geme.
— Por favor... Faz amor comigo!
— Fala o que quer dentro de você, e farei.
Abro minha calça e desço junto a cueca.
Pego sua mão e levo até meu pau,
esfregando, para que sinta a rigidez e meu
desejo.

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— Merda... — ela diz e me olha com


desejo.
— Diga. Você é a juíza agora. É sua função
dizer.
— Quero seu pau dentro de mim! — ela
implora.
— Com muito prazer!
Retiro sua calcinha e jogo no chão.
Encaixo-me entre suas pernas, e
segurando sua cintura, penetro-a. Suas mãos
agarram meus ombros. Começo a fazer
movimentos. Ela enrola as pernas na minha
cintura, me permitindo ir mais fundo ainda.
Sua boca vem até a minha e ela me beija com
voracidade. Nosso beijo é envolvido pelo som
de nossos corpos se chocando um contra o
outro, e as coisas da mesa balançando.

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Estamos em um ritmo intenso. Não


consigo ser calmo. Ela me deixa louco, e sem
controle.
Beijo seu pescoço, e não me importo com
o gosto do perfume. Ela joga a cabeça para
trás e geme alto. Deito seu corpo sobre a
mesa, sem deixar de me movimentar.
— Marcos...
Ela chama por meu nome fechando os
olhos e fazendo um O com a boca. Aperta meu
pau, deixando-me mais louco ainda. Suas
mãos travam na mesa com força, sinto a
tensão em suas pernas.
Curvo-me sobre seu corpo e sussurro em
seu ouvido:
— Goza, meu amor. Goza no meu pau!
Suas mãos vão para meu cabelo, onde

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puxa com força. Seus gemidos se


intensificam. Seu corpo treme, enquanto
goza chamando por mim. Não demoro a
acompanhá-la.
Aproximo-me de sua barriga, onde planto
um beijo demorado.
— Amo vocês. — Olho para ela, que sorri.
— Meu juiz de quinta.
— Sempre seu!

Estamos em seu apartamento. São quase


dez da noite, e estou na cozinha comendo um
bolo de chocolate que nem louca. Marcos está
no escritório trabalhando, mas não imagina
que estou aqui. Estava dormindo e perdi o
sono.

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Estou agitada. Desesperada. Agora estou


caindo na realidade que estou grávida. Antes
de eu dizer ao Marcos, parecia que era tudo
um sonho, mas quando falei para ele, depois
da brincadeira que planejei durante
semanas, a realidade bate na porta da minha
consciência! O que eu vou fazer?!
— Bia?! — Viro-me assustada com a voz
do Marcos. Ele me olha preocupado, e olha
para o balcão, onde metade do bolo já foi
comido por mim. — Está tudo bem?
— Sim! — Enfio o pedaço pequeno de
bolo em minhas mãos, na boca.
— Você comeu quase o bolo inteiro. Tem
certeza de que está bem?
— Não! — Limpo as mãos e a boca e saio
da cozinha com ele me seguindo.
Sento-me no sofá e ele encosta na parede
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de frente para mim, cruzando os braços,


sobre o peito nu.
— O que houve? — pergunta com uma
calma que eu nunca vi.
— Estou grávida!
— Sim. Eu sei... — ele diz tão calmo, que
parece ter medo das palavras que usa. Eu
devo estar parecendo louca mesmo, para ele
agir assim.
— Eu sei que sabe. Mas antes de eu abrir
a boca para você, não tinha caído na
realidade. Quando fiz o exame, porque estava
atrasada a menstruação, e o médico
confirmou a gravidez, e eu contei ao David e
Henrique, ainda não tinha caído a ficha, mas
agora caiu. Marcos, eu vou ser mãe. Isso não
estava nos meus planos no momento. Droga,
eu saí novamente dos planos. Eu não sei o
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que fazer. Nunca cuidei de uma criança.


— Ajuda a Liziara.
— Sim, mas eram filhas dela, depois
retornavam a ela e eu não tinha que me
preocupar.
— E não precisa se preocupar agora.
— Claro que preciso. Um filho não é
brinquedo e não é fácil. Eu vejo a Liziara e o
David o esforço que têm, os gastos, assim
como a Ana e o Henrique. Marcos, criança
não é só amor, tem uma tremenda
responsabilidade.
— Você não está bem... Volte para a cama,
amor, está assustada só isso.
— Não estou bem mesmo. Tem noção de
que um ser humano cresce dentro de mim?
— Ele sorri. — Já viu o valor das fraldas? A

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última vez que fui comprar com a Liziara


quase chamei a polícia, porque aquilo era um
roubo! Olha o mundo como está uma loucura,
eu não vou ter paz de deixar essa criança na
escola, ou levar para sair. E a faculdade? Eu
lutei demais para pagar a minha, como
pagarei a dele ou dela?... Já sei, posso vender
meu carro e meu apartamento, com o
dinheiro coloco em uma poupança... isso! —
Ele se aproxima e se abaixa na minha frente,
apoiando os braços na minha perna. — Mas
se for menina vai ser pior. Tudo para menina
parece ser mais caro e eu tenho que dar tudo
do bom e do melhor para ela, afinal, filha de
um juiz não pode andar que nem doida. Mas
menino tem gostos caros... Droga! Marcos
será que meu carro e o apartamento dão
dinheiro suficiente? Preciso fazer as contas.
Porque tenho que comprar as coisas para o
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bebê, e já me preparar para o futuro e claro


dar muito amor que isso vai ser o principal
plano para mim.
— Respira fundo... — ele diz e faço isso,
porque começo a sentir falta de ar. — Não vai
vender nada. Não se preocupe com essas
coisas, amor...
— Claro que me preocupo. Não vou
depender de você para tudo. E quero poder
dar ao meu filho o que não pude ter, claro
que não irei mimar, para não estragar, mas
se eu tenho a chance de fazer isso, quero
fazer, porque eu sei o que é passar
dificuldades... Tenho que ver um lugar maior,
criança precisa de espaço, não é?
— Olha para mim! — diz sério agora. —
Não vai vender nada. Se o problema é
dinheiro, não se preocupe. Fraldas? Compro

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a porra da fábrica e contrato funcionários


para ela se quiser. Faculdade? Se quiser
mandar nosso filho para Harvard ou qualquer
outra, eu pago sem olhar o valor, porque
para estudos eu jamais negarei qualquer
coisa. Se o problema for espaço, eu compro
um prédio inteiro ou onde quiser. As coisas
para agora, te dou meu cartão e você compra
tudo que quiser, onde quiser, e com o valor
que quiser. Mas não se preocupe com nada
mais, até porque estava pálida e sem ar. Eu
darei o mundo a vocês dois e não me
importarei com isso. Eu sou o pai e sou seu
namorado, tenho condições suficiente para
cuidar dos dois. Pare de se torturar com o
futuro, antes que tenha uma crise de
ansiedade. Nós três estaremos juntos
sempre!

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— E se a gente não der certo? Sabemos


que nem todo namoro dura! Não irei ser a ex,
que é mãe do seu filho e que vai atrapalhar
seu futuro relacionamento. — A falta de ar
começa a retornar e respiro fundo.
— Porra, você vai realmente me obrigar a
fazer isso agora? — Ele se levanta e sai da
sala.
O que ele foi fazer?
Droga, acho que estou em pânico com
tudo! Não sei o que fazer. Mãe de primeira
viagem, não tenho culpa de surtar assim. Só é
tudo muito novo.
Ele retorna e volta a se abaixar na minha
frente. Ele coloca uma caixinha preta no meu
colo e na caixinha vem escrito Vivara. E então
a abre. Meus lábios se abrem levemente. Fico
sem fala e sem ar.
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— Eu ia fazer em um momento mais


romântico, mas talvez esse seja o momento
certo. Comprei depois que você veio do
escritório, e eu fiquei porque tinha chegado
uma visita importante. Não pense que é
apenas porque está grávida. Eu havia bolado
diversas formas de fazer o pedido, nos
últimos dias, só não sabia como. Mas saiba,
que quero que se case comigo, não porque
teremos um filho, que fique claro isso. Quero
você casada comigo, para ter você sempre ao
meu lado, em qualquer momento. Acordar
sempre com você em meus braços, e dormir
da mesma forma. Poder mudar o status de
solteiro para muito bem casado. Quero ficar
te esperando em um terno caro, bem
nervoso, porque você atrasou em nosso
casamento, e meus sobrinhos infernizando
dizendo que você desistiu. Quero te levar
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para a lua de mel em qualquer lugar que


deseje, mas confesso que pensei na Itália. Eu
quero você casada comigo, para te amar dia e
noite de todas as formas. Ter você como
minha esposa vai ser como poder tocar o céu,
e pegar um pedaço dele com a mão. Ter você
como esposa vai ser a melhor sentença da
minha vida. Tudo isso, porque eu te amo
demais!
As lágrimas não param de escorrer por
meu rosto. Olho o anel com uma pedrinha
brilhante no centro. Meu coração está
disparado.
— Isso é... — não consigo dizer.
— Ouro branco, com 50 pontos de
diamante, e ainda não vale o que você vale
para mim.
— Não o anel! Isso... isso tudo que disse é
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de verdade?
— Totalmente!
— Marcos, eu...
— Não gosto de perguntar e você sabe.
Mas por você eu faço tudo! Beatriz Ferreira
de Oliveira, diga sim para mim? — Ele me
olha com amor.
— Sim. Merda, estou mais uma vez saindo
dos meus planos, mas por você vale a pena.
Sim, eu digo mil vezes sim para você, Marcos
Escobar!
Ele coloca o anel na minha mão trêmula.
Em seguida coloca a caixinha de lado e
segura meu rosto com ambas as mãos.
— Você é meu ponto fraco, meu sonho,
minha raiva, meu controle, meu amor. Você é
minha! — Ele me beija emocionado.

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Nosso beijo é apaixonante. O gosto


salgado das lágrimas invade ele. Estou sem
chão. Não acredito nisso!
— Eu te amo, e me perdoa pelo surto.
— Tudo bem... É normal, Ana teve um pior
quando engravidou da Yasmim.
Rio.
— Que bom que não fui uma louca
solitária.
— Temos que comemorar esse momento.
— E como sugere?
— Estou pensando em vinho e morangos
— diz com malícia.
— Não posso mais beber.
— E nem permitiria. Mas eu posso beber,
e quero na minha melhor taça... — Fico
ruborizada, pois lembro da nossa primeira
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vez.
— Qual seria sua melhor taça? —
provoco.
— Você. — Ele me pega no colo e rio.

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Capítulo 12

Marcos está mais cuidadoso e protetor do


que nunca nos últimos dias, e confesso que
estou ficando louca com isso, pois esse
homem está me deixando sem paciência com
tanta proteção. Já não basta ser fofoqueiro.
Pedi que esperássemos, pelo menos, eu
completar três meses e contaríamos a todos,
pois ontem teve um jantar no Henrique e,
quando me ofereceram champanhe e eu
recusei, Marcos abriu a boca do motivo, mas
nem consegui brigar com ele, entendo sua
alegria, e sua ansiedade, é como uma criança
que acaba de ganhar um brinquedo que tanto
queria. Todos enlouqueceram,

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principalmente Ana e Liziara, que ficaram


bravas por eu ter dito ao Henrique e David
antes delas, mas compreenderam que não
iria conseguir segurar essa novidade mesmo
e acabariam com minha surpresa — o que
meu noivo já fez!
Hoje recebi uma ligação do banco em que
vou trabalhar, para avisarem que começarei
no início do próximo mês, para começar com
a nova turma que vai entrar e começar de
uma forma correta para o calendário de
trabalho deles.
Minha tia está indo à loucura por eu estar
grávida, e noiva! Disse que foi só ela ir
embora, e eu tratei de me amarrar, que está
bem orgulhosa e feliz por mim. Henrique
disse que se não for padrinho do casamento,
nunca mais olha na minha cara, e David disse

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a mesma coisa, porém não aceita que


Henrique seja, porque ele tem que ser o
padrinho que vai roubar a cena, já meu noivo
muito paciente, disse que se os dois
continuarem com a putaria — palavras dele
— nem um e nem o outro será e ele
contratará padrinhos.
Daiane está organizando o casamento,
que nem sequer escolhemos o dia, hora,
lugar... mas ela ama organizar festas, e isso
me preocupa bastante, porque ela adora
extravagância quando se trata de festas; e,
para piorar, Paula disse que vai indicar as
melhores empresas de organizações de
festas para a Daiane ir atrás pesquisar; e,
como o Marcos ficou preocupado, acredito
que eu tenha que ficar também, porque essa
mulher sabe ser louca quando quer.

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Estou ficando na casa do Marcos, não por


escolha própria, ele basicamente me obrigou,
a maior parte das minhas roupas já estão
aqui, Simon trouxe, e esse homem só acata
ordens do Marcos, então não adiantou eu
dizer para ele não trazer tudo, somente o
básico.
Neste momento estou na sala, escutando
Daiane falar sobre o que imaginou para o
casamento, e Ana e Liziara concordarem.
Laura e Helena estão no sofá junto a mim, e
Yasmim brincando no tapete no chão.
— Pensei em ser na fazenda. Afinal, é do
seu futuro marido mesmo — Dai diz, e olho
surpresa.
— Quis dizer que é dos Escobar, não é?
— Não! A fazenda é no nome do meu tio, é
dele, mas, como quase não vai, nos
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apossamos, e mamãe é quem cuida para ter


pessoas cuidando da parte das plantações, e
manter aquele lugar inteiro.
— Isso é novidade. — Ela sorri.
— Amiga, todo dia descubro coisas novas
dessa família, e preciso de plásticas em
breve, de tantas caras e bocas que faço a cada
novidade — Liziara brinca e rimos.
Laura está fechando os olhinhos de sono,
e Helena come a mãozinha. Sorrio vendo a
cena.
— Daiane, você sabe que nem data
marcamos, não é?
— Não, mas vão! Nada de enrolar para
esse casamento acontecer, meu tio já enrolou
demais para casar, comigo é tudo para
ontem!

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— Ela organizou o meu! — Ana diz. —


Ficou lindo, pode confiar.
— Ana, não está ajudando — brinco.
— Aprendi com o melhor, meu marido.
Ele mais atrapalha que ajuda. — Rimos.
— Yasmim entra com plaquinha, e
escolhemos alguém para ajudar ela. Helena e
Laura vão carregar as alianças, e Simon leva
elas, como se estivesse protegendo as
alianças. Madrinhas, cada uma de uma cor.
— Você tem que ser madrinha também —
Liziara diz. — Não é, Bia?
— É sim! — Aprendi que concordar é o
melhor nesses momentos.
— Não tenho par.
— Já sei! Cleber entra com você, Dai, e
Débora entra ajudando a Yasmim! — Ana diz.

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— Isso! Adorei. Débora vai amar, aquela


ali adora fazer algazarra, e entrar com a
Yasmim vai ser uma oportunidade para ela
fazer isso.
— E por que Cleber aceitaria? Ele não é
bem meu amigo. Tenho mais amizade com a
mulher dele.
— Bia, Cleber é amigo da família, e jamais
recusaria um pedido do David! — Daiane
fala.
— David não vai querer pedir, conheço
meu marido. São melhores amigos, mas ele
não vai pedir.
— Eu peço. Falo com a Débora e ele! —
digo.
— Até que enfim está colaborando! —
Ana brinca. — Gente, esse casamento
realmente tem que ser para ontem. Pensem
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que logo mais estarei redonda e vai ser um


inferno conseguir um vestido bacana, assim
será o mesmo para a Bia.
— Boa, Ana. Eu como que nem louca
quando estou ansiosa, então bora colaborar
comigo! — Dai diz e anota algo na agenda em
suas mãos.
— Quero algo mais familiar! — digo
enquanto coloco a chupeta na boca da
Helena, que começa a querer chorar.
— Pode deixar! Tem a despedida de
solteira. Como sei que eles vão falar até pelos
cotovelos sobre isso, então para evitar
estresse, pensei em irmos nós todos juntos
para curtir em algum lugar...
— Dai, boa ideia, e podíamos ir para a
fazenda, se vai ser lá, já íamos para lá na
semana do casamento, igual aqueles
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casamentos de filmes, que as madrinhas e


alguns convidados já vão para o lugar uma
semana antes, acho bem legal e divertido! —
Liziara comenta.
— Tem um detalhe. Paula não vai a
fazenda, desde o ocorrido com seu pai, Dai —
comento.
— Relaxa. Darei um jeito, está em tempo
disso mudar!
— Lua de mel? Onde vão? — Ana
pergunta animada.
— Não sei, mas provavelmente devido ao
trabalho e a gravidez, nenhum lugar muito
longe.
— A casa na praia! Faz tanto tempo que
meu tio não vai para lá. E tenho certeza de
que vai adorar, Bia, é bem diferente de tudo
que já viu dos Escobar, é tão acolhedor lá —
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Dai diz e sorri.


— Boa ideia. Pensarei nisso, pois fiquei
curiosa agora.
Yasmim tomba e bate a cabeça
levemente, levando-a a chorar. Ana corre
pegar ela e começa a acalmá-la.
— Ela está bem? — pergunto preocupada.
— Está sim. Yasmim é mimada, qualquer
coisa chora — responde enquanto acaricia a
cabeça dela.
— Bom, tenho aula, e ainda preciso
deixar as meninas em casa com o David.
A porta da sala se abre e viramos todas
para olhar.
Sinto um friozinho na barriga. Sempre
que vejo ele chegando em algum lugar é essa
sensação.

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— Ok. Devo correr? Porra, quatro


mulheres juntas é perigoso. — Ele solta a
pasta em cima da Daiane.
— Oh, homem folgado! — ela diz e ele
finge nem ouvir.
Caminha até a mim e me dá um beijo
rápido, e faz o mesmo com Laura e Helena.
— Não esquece de depositar o dinheiro.
Falou palavrão perto das minhas meninas —
Liziara diz e começamos a rir.
— Só me fod... deixa pra lá! — ele
cumprimenta elas com um beijo no rosto, e
dá um beijo na Yasmim.
Retira o paletó, e a gravata e coloca no
braço do sofá, se aproxima do sofá que estou
e pega a Helena no colo. Se senta com ela no
colo.

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— Essas meninas vão enriquecer à custa


do padrinho! — brinca.
— Quem manda ser boca suja? — Ana
brinca.
— Ruiva, fica quieta aí — diz rindo.
— Tio, estamos organizando as coisas do
casamento. Quando vai ser?
— Olha, fui bom de mira e ela engravidou.
— Sinto meu rosto arder. — Comprei o anel,
pedi-a em casamento e fiz um bom discurso.
Além de amar ela demais, querer que eu
saiba a data é foda pra caralho! Calcula o que
tenho que depositar — ele diz e aponta para
Liziara.
— Pode deixar! As meninas no futuro vão
amar.
— Ela que tem que decidir. O que ela

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escolher, por mim tudo bem. — Olha para


mim e dá uma piscadela.
— Bia? — Dai me olha.
— Não tenho ideia — confesso. — Marcos,
ajuda! — Jogo a bomba para ele.
— Se eu der o dia, você não vai querer.
Melhor eu ficar quieto.
— Parem de jogar um para o outro! Qual
a porra da data?! — Daiane fala.
— Se você cobra o Marcos por falar
palavrão na frente das suas meninas, irei
cobrar a Daiane por falar na frente da
Yasmim.
— Faça, Ana, dá supercerto. Faculdade
garantida! — Liziara brinca e elas riem.
— Eu quero que os dois me falem logo,
tenho compromisso!

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— Já disse que não tenho ideia! — Dai


revira os olhos.
— Viu como é difícil? — Marcos brinca.
— Marcos escolhe você — peço.
— Ok. Mas você não vai poder negar.
Promete?
— Prometo.
— Semana que vem! — ele diz e arregalo
os olhos.
— Não! Muito rápido! — digo.
— Você prometeu diante de todos que
não iria negar — ele fala e ergue a
sobrancelha.
— Que ódio! Isso não vale. Você fez de
propósito! — exclamo irritada.
— Exato! — ele fala e brinca com a
Helena, que ri.
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— Fechado! Semana que vem. Tenho que


correr com tudo. Vamos, meninas! — Daiane
diz animada e se levanta. — Amo festas.
Não acredito. Eu devia ter escolhido
qualquer mês, menos ter deixado Marcos
fazer isso. Eu deveria ter imaginado que ele
aprontaria.

Na semana seguinte...

Vestido escolhido, casamento na fazenda,


convites distribuídos. Minha tia conseguiu
vir para essa semana, mesmo tendo pegado
férias. Mas Débora não porque é a última
semana da faculdade, porém vem na sexta-
feira à noite. Paula disse que vai vir, para não
nos preocuparmos, só precisa de um tempo.
Estamos todos na fazenda. O casamento será

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no sábado. Já foi contratado buffet e


confirmado a presença do juiz de paz. Ainda
não estou acreditando.
Marcos disse que amanhã iremos sair
cedo, apenas nós dois, porque ele tem uma
coisa para me mostrar. Essas pessoas
resolveram fazer dessa semana lotada de
ansiedade.
É de noite, e estamos todos na sala,
conversando, comendo e rindo. As crianças
dormem, está bem frio hoje, então para
evitar delas ficarem na friagem, foram
colocadas cedo na cama.
Estamos sentados nos colchões que
espalhamos pelo chão da sala, e debaixo das
cobertas. Estou entre as pernas do Marcos,
que está abraçado a mim. Minha tia está
agarrada a uma almofada. David com a

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cabeça no colo da Liziara e Henrique


esparramado, enquanto Ana está com a
cabeça apoiada na minha tia. Daiane está no
sofá debaixo das cobertas, e com a famosa
agenda dos preparativos nas mãos, está bem
concentrada.
— Porra, Marcos Escobar vai ser
acorrentado no sábado! Quem diria? Eu não!
— Henrique brinca.
— Casamento significa estar acorrentado
para você, Henrique Escobar? — Ana
pergunta.
— Se fodeu! — David provoca e ri.
— Claro que não! — ele responde e
sorrio.
— Como aguenta ele? — Marcos pergunta.
— Me faço essa pergunta todos os dias —

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ela diz sorrindo do jeito meigo dela.


— Estou aqui, porra! Cuidado, nem
sempre o volume em minhas calças é uma
ereção.
— Que ótimo, porque significa que esse
volume aí é uma arma e não outra coisa,
estava ficando desconfortável já! — David
provoca.
— Vai se foder, idiota! — Rimos.
— Está quieta, Jaque... — Lizi diz
sorrindo.
— Vou me arrepender em dizer, mas está
mesmo, tia.
— Estava pensando aqui. Fiquei pra titia
real! Preciso arrumar um homem pra mim.
Olha minha situação, agarrada a uma
almofada! — Rimos.

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— Bem-vinda ao clube! — Dai diz.


— E que este clube seja longo — David se
pronuncia.
— Se você soubesse sobre esse clube da sua
irmã, ficaria traumatizado, como eu fiquei —
Marcos comenta.
— Como assim? — Henrique questiona. —
Ela é virgem! Não é, Daiane?!
— Só de um lugar, e pretendo continuar
— responde séria enquanto anota algo em
sua agenda.
Rio.
— Beatriz, é para colaborar! — Henrique
fala e bem sério.
— Foi mal.
— Estou ficando enjoado. Vamos mudar
de assunto — David diz rindo.
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— Henrique, já imaginou se for outra


menina? — Lizi pergunta.
— Nem fodendo. Já sofro com duas
mulheres em casa. Mas se for, amarei da
mesma forma.
— E você, tio? O que desejaria que fosse?
Menino ou menina?
— Menino... — comento baixinho.
— Está enganada, amor. Na verdade,
gostaria muito se fosse menina.
— Você é corajoso — David diz.
— Mulheres são obras-primas. Reclamam
demais — minha tia comenta. — Mas não
vivem sem.
— Exato! — Ana concorda.
— Porra, está frio demais! Desisto, vou
para o quarto. Meu pau deve estar do
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tamanho do meu dedo mindinho. —


Henrique e suas pérolas.
— Desnecessário eu saber disso! —
Marcos fala.
— Henrique, relaxa, sempre foi assim —
Daiane provoca.
— Cale a boca, pirralha! — Ele se levanta
e Ana faz o mesmo.
— Também vou. Aproveitar para ver
como Yasmim está.
Eles saem da sala, com Henrique
agarrando Ana e ela brigando com ele.
— Podíamos sair para beber. Se
esquentar, essa casa é mais fria, que lá fora
— minha tia comenta.
— Tem lareira. — Marcos aponta para a
lareira.

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— Essa bosta está fazendo sujeira demais


e está estranha, mamãe ficou de mandar
alguém vir ver, mas... — Daiane diz.
— Pois eu vou beber. Vamos, Daiane? —
minha tia pergunta.
— Claro! Vamos pôr uma roupa mais
quente — ela diz animada, enquanto desce
do sofá quase caindo na Liziara.
— Corajosas, porque, nesse frio, é sair e
morrer congelada — falo.
— Amor, por bebida e ver rostos
solteiros, se é que me entende, eu saio até na
neve. Fui! — Minha tia levanta e passa por
nós.
Daiane a segue e elas se retiram da sala.
— Como tenho duas meninas que
precisam de mim, eu ficarei por aqui, então

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vou preparar algo para comer, que estou com


fome. — Lizi diz e se levanta. David está de
olhos fechados. — David, vai deitar na cama,
homem. — Ela chacoalha ele com o pé.
— Porra, delicadeza, mandou
lembranças. — Ele se levanta emburrado.
— Quem mandou se casar com uma
porra-louca! — Marcos provoca.
— Quanta calúnia — Liziara diz saindo da
sala e David vai atrás.
— LIZIARA, VAI SE ARREBENTAR, OLHA
POR ONDE ANDA! — Escutamos David dizer a
ela, e rio.
— Como ela chegou até a idade adulta? —
Marcos pergunta e rio.
— Faço a mesma pergunta... Mas vai me
dizer o que tem amanhã?

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— Não. A única coisa que vou te dizer é


que vendi a casa...
Viro-me para ele surpresa.
— Estou feliz por você. Sabendo que está
conseguindo superar. Você merecia depois
de tudo.
— Desde que te encontrei superei. — Ele
me dá um beijo casto.
— Vai me deixar ansiosa mesmo?
— Sim. Logo, vai saber o que é — ele
responde e sorrio.
— Vai ficar sem saber o sexo do bebê até
eu achar conveniente, só de pirraça.
— Não seria capaz!
— Já fui capaz. Não vai saber. Ninguém vai
até eu achar que é o momento certo. Já abriu
a boca sobre a gravidez antes do tempo,
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melhor eu não arriscar, já que eu quero


surpresa com isso.
Ele sorri.
— Está aprendendo a ser bem maldosa.
— Aprendendo com o mestre.
Ele me deita no colchão e fica entre
minhas pernas.
— Está preparada para ser a mais nova
Escobar?
— Nem um pouco. — Sorrio. — Por falar
nisso, tem mais coisa que preciso saber
sobre você, além do seu problema com a sua
ex e que você é o dono oficial da fazenda?
— Como soube da fazenda?
— Daiane falou.
— É mais deles do que minha. Comprei há
muito tempo, mas nunca usufruí de verdade.
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— Como poderia? Você vive pelo


trabalho.
— Por falar nisso, estou de férias. Fazia
dois anos que não tirava, resolvi tirar este
ano, começando por hoje.
— Olha só, Marcos Escobar, juiz de quinta,
de férias. Os criminosos agradecem e os
juízes também, pois vão poder mostrar que
são bons também.
— Sabe que sou o único bom — diz com
malícia.
— Como homem? Com certeza. Mas como
juiz? Duvido — provoco.
— Você não deveria ter dito isso...
— Olha lá o que vai fazer. Estamos na
sala, Daiane e minha tia daqui a pouco vão
passar por aqui para sair, e Liziara está na

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cozinha.
— O perigo torna tudo mais excitante.
— Marcos, aqui não!
— Tudo bem! — Ele se levanta e me ajuda
a levantar. — Vamos subir.
— Você não vale nada.
Ele ri.
— Nem um centavo. Vamos logo, mulher!

Entro no quarto, rindo, ele me olha bem


sério. Fecha a porta e tranca com a chave.
— Isso é algum tipo de cárcere privado?
— brinco.
— Quase.
Ele me puxa para si, e me vira. Minhas
costas encostam em seu peito. Sinto sua
ereção.
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— Vamos ver o quanto o juiz aqui é de


quinta...
— Você sabe que eu disse em outro
sentido!
— Calada agora.
Ele retira minha blusa, e faz o mesmo com
o sutiã. Suas mãos agarram meus seios e
apertam. Inclino a cabeça, e seus lábios
passam por meu pescoço.
— Isso é golpe baixo...
— Eu disse para ficar calada — ordena
com sua voz rouca, que me causam tremores.
Suas mãos deslizam para as laterais da
minha calça legging, e devagar, vai descendo
ela junto a calcinha, até chegar aos meus pés,
onde termino de retirar. Caminha parando
na minha frente. Seu olhar é provocante e

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intenso. Ele retira a blusa, e jogo no canto do


quarto. Suas tatuagens e músculos chamam a
atenção como sempre. O botão de sua calça é
aberto e ele a retira, e dá a ela o mesmo
destino que sua blusa. A cueca toma o mesmo
caminho, e seu membro se torna
completamente visível e duro. Ele se senta na
beirada da cama e me chama com um gesto.
Caminho até ele, que me vira de costas
novamente, já estou completamente
excitada. A ansiedade e a intensidade que ele
carrega estão me deixando louca.
— Afaste as pernas um pouco — ordena e
faço. Minha respiração é ofegante. — Vou
massageá-la, e somente quando eu achar que
está excitada ao máximo, irei fazer você
sentar no meu pau, eu vou te foder a noite
toda.

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Deixo um gemido escapar.


Ele cumpre o que diz. Sua mão me
massageia, e enquanto a outra me mantém
firme. Estou ficando louca, e gemendo muito.
A cena é refletida no espelho enorme a nossa
frente e isso torna tudo mais excitante. Sua
mão não para, e estou sem controle sobre
meus atos. Um de seus dedos entra em mim e
grito:
— Marcos... Eu preciso de você... — gemo.
Ele não diz nada, um dedo entra e sai de
mim, enquanto continua me massageando.
Seu dedo sai de mim, e ele me vira para ele.
Seu olhar é escuro. Começa então a me
chupar. Automaticamente, minhas mãos vão
para seu cabelo, e puxo com força.
— Eu vou...
Ele para, e isso me deixa aborrecida.
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— Se vira de costas e senta no meu pau.


Agora!
Sento-me, e seu pau vai se encaixando em
mim, até estar completamente dentro. Ele
geme. Segurando minha cintura, começamos
a nos movimentar. A cada sobe e desce é
mais intenso.
— Tenta se controlar e não gozar agora —
ele pede e apenas consigo concordar com a
cabeça.
Seu pedido tornou tudo ainda mais
gostoso. Tentar o controle sobre isso é
doloroso, mas de uma forma louca, deliciosa.
— Porra, você é muito deliciosa! Caralho!
O suor escorre por nós. O barulho de
nossos corpos, ecoa pelo quarto.
Ele me levanta rapidamente e me deita na

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cama. Abre bem minhas pernas e me penetra


com força. Depois me beija e retribuo.
— Não vou mais... — não consigo
terminar de dizer.
Libero o que privei por um tempo. Ele me
acompanha, e juntos alcançamos o que
ansiamos. Gozamos juntos, como dois loucos.
Deita com cuidado em cima de mim, e me
beija com carinho.
— Um banho, minha noiva?
— Adoraria.
— Como eu disse, a noite toda!
Sorrio.

Estou começando a ficar agoniada.


Marcos não diz para onde estamos indo. Sei
que é na cidade, nada com a fazenda. Saímos

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logo após o café da manhã.


— Estou ficando louca. Me fala logo!
— Calma, mulher. Estamos chegando!
Ele entra em uma rua que conheço, a da
casa da dona Paula.
— Vamos na Paula? — Ele me olha e sorri.
— Aaargh! Seu insuportável!
Ele estaciona o carro em frente à casa da
Paula. Descemos.
— Que milagre, Simon não surgiu do
nada.
— Porque é aniversário da filha dele.
— Ele tem filha?! Uau!
— Ele é casado. — Marcos sorri.
— Gente! Não imaginava. Ele é tão sério, e
tão focado no trabalho, que não imaginava

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que tivesse tempo para vida social. — Sorrio.


— Ninguém imagina isso dele. Agora
vamos.
— O que vamos fazer na Paula?
— Não vamos na Paula. Vamos ali. — Ele
aponta para uma casa enorme em frente a
Paula.
— Marcos, isso não é o que estou
pensando, é?
— Vem. — Ele segura minha mão.
Caminhamos até a casa. Ele tira uma
chave do bolso e abre o portão.
Paramos na entrada, em frente e porta.
— Estou fechando negócio. Porém, quero
depois do casamento, para estar em seu
nome também, e você já estar casada comigo.
Precisa de reformas, mas queria que você
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escolhesse tudo.
— Podemos entrar? — pergunto chocada.
— Claro.
Ele abre a porta e entramos na casa. O
primeiro cômodo que nos deparamos é
enorme, todo branco, tem um longo
corredor, e uma escada de madeira com o
corrimão de vidro que dá acesso ao andar
superior, embaixo há flores, parece de casa
de novela.
— Marcos... Isso...
— Precisa de reforma, eu sei. Acredito
que em menos de seis meses esteja do jeito
que quer. É muito grande, tem cinco quartos,
todos com suíte, sala de jantar e de estar, três
banheiros, e três lavabos, piscina, biblioteca,
ambientes para escritórios... Bom, vou te
mostrar, é bem grande, então pode ser que a
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reforma demore. Tem que escolher os


móveis também...
— Marcos, reforma?!
— Não gostou da casa? — pergunta
preocupado.
— Eu amei. Estou procurando onde
precisa de reformas, desde que entramos.
Não precisa. É linda!
— Tem certeza?
— Claro que tenho. Vamos, quero ver
tudo! — digo animada e ele sorri.
Ele me leva para conhecer toda a casa, e é
muito, mas muito grande mesmo. Se eu
disser que decorei cada lugar, estou
mentindo. Isso é uma mansão. Meu Deus!
— O que achou agora que viu tudo? —
Estamos nos fundos da casa.

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— Vamos pintar ela toda de pink —


brinco.
— Pink, porra?! — pergunta assustado e
rio.
— Não precisa de reforma. Isso deve ter
sido reformado há poucos dias, ainda tem
um pouco do cheiro da tinta. Marcos, é linda.
Eu nem sei o que dizer... — falo emocionada.
— Vai ficar ainda mais linda, quando você
escolher a decoração.
— Você levou a sério o que eu disse, sobre
um lugar grande, no meu surto.
— Apenas quero que minha futura
esposa, e nosso filho, tenha um bom lugar, e
uma excelente vida.
— Você não existe. Tem que ter sido feito
em algum laboratório. — Ele sorri e me

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abraça.
— Eu te amo, e farei de tudo por vocês.
— Você já é tudo que eu preciso.
— Idem, amor. — Ele me beija e sorrio. —
Não vejo a hora de assinar muitas sentenças
suas em cada cômodo aqui.
— Marcos! — Dou um tapa de leve em seu
braço e ele ri. — Te amo, seu louco!
— Louco por você, porra! — Ele me beija.
Às vezes, penso que tudo pode ser um
sonho, mas toda vez que sinto seus beijos,
seus toques, vejo que é real. Merda, é real!
Depois de sábado, não terei mais como
pensar que pode ser um sonho, a realidade
vai gritar para mim e dizer: Sua louca, você vai
ser mãe, se casou com Marcos Escobar, o juiz mais
conhecido do país!

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Capítulo 13

Meses depois...

Estamos sentados na areia. É fim de tarde.


O som do mar acalma o ambiente.
Resolvemos vir à praia, passar o final de
semana. Acabou que depois do nosso
casamento, que foi realmente lindo, Daiane
arrasou, eu não consegui ir para qualquer
lugar, os enjoos ficaram intensos demais, fui
para o hospital diversas vezes, e o médico
disse que o melhor era repousar. No mês
seguinte comecei a trabalhar, e graças a Deus
estava melhor.
Estou com quase sete meses. Marcos e
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todos estão loucos para saber o sexo. Não


deixei ninguém saber. Meu marido até tentou
subornar o médico, mas não deu certo. O
quarto do bebê está decorado, em nossa casa,
e trancado, fiz Marcos prometer que não
tentaria invadir, e ele com muita dificuldade
aceitou.
Sinto um chute no lado esquerdo da
barriga e sorrio.
Ajeito-me entre as pernas do Marcos, que
está no celular, falando com alguém por
mensagem. Está sério.
— Algum problema? — pergunto.
— Apenas trabalho.
— É sábado, Marcos.
— Eu sei, amor. Eu sei. É importante,
estou falando com Jacob Casagrande, ele

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marcou uma reunião comigo segunda.


— Esse é o noivo da Poliana?
— Exatamente.
— Ele é seu fã. — Sorrio.
— Ele é louco, isso sim. — Ele ri.
Olho para minha enorme barriga, e sorrio
ao me lembrar da confusão que deu quando
Henrique e Marcos escutaram eu e Ana
falando sobre o sexo do bebê dela e
pensaram que era o meu. Henrique riu e
zoou o Marcos, mas na verdade Henrique
estava sendo papai de menina, mais uma vez,
e foi Marcos quem o provocou depois. Mas,
infelizmente naquele dia, ainda não sabia o
sexo do nosso bebê. Ana está um mês a frente
de mim, e teve mais sorte em ver o sexo. Já
comigo demorou um pouco, porque o bebê
não colaborava muito. O doutor disse que,
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pelo visto, seria o mesmo gênio do pai, e a


teimosia reinaria, porque não queria revelar
qual sexo era, e Marcos infernizava minha
vida e do doutor dia e noite para saber qual o
sexo, o coitado do médico perdeu a
paciência, foi horrível.
Paula tentou, de todas as formas, saber
também, mas nem a ela revelei, e nem a
Liziara, que está brava comigo. Por falar na
Paula, foi tão lindo ver ela retornando à
fazenda por nós, foi emocionante e isso foi
muito especial para mim e para todos os
Escobar. Mostrou que ela superou uma fase
triste e isso é tão importante; superar é como
reviver.
— Amor?
— Hum? — digo a ele.
— Está pensativa. Aconteceu algo?
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— Não. Apenas admirando a vista. Está


tão lindo e tranquilo. Depois do Edson, das
preocupações com a gravidez, do casamento,
de tudo, sabe, merecíamos essa
tranquilidade, porque, vamos ser sinceros,
que nunca ficamos tão tranquilos como hoje.
— Concordo. Esses meses foram fodas,
teve coisas boas e ruins, mas parece que
somente agora eu estou relaxado, tranquilo.
— Sabe a cor deste mar?
— Hum-hum...
— Fala para mim a cor dele.
— Azul, um lindo azul e bem limpo.
— Gosta desta cor? — Sorrio.
— Sim.
Fico em silêncio, sorrindo. Suas mãos
acariciam minha barriga.
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— Que nome daria se fosse menina?


— Tatiane. Um nome que acho lindo, não
sei por que, mas sinto uma paz com este
nome.
— Lindo nome. E se fosse menino?
— Arthur — diz sem hesitar.
— Por que Arthur?
— Porque significa pedra, urso. É um
nome que, se formos ver, é forte, porque
pedra e ursos são fortes.
— Amei. Tanto quanto o azul deste mar...
— Amor... — Viro-me um pouco para
olhá-lo. — Agora que me toquei. Você está
querendo dizer que... — Seus olhos estão
brilhando e seus lábios trêmulos.
— Eu acho lindo ursinho e de roupinha
azul.
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— É MENINO!
Concordo e ele chora emocionado.
— Este era o momento certo para te
contar. Na tranquilidade, e com essa vista
esplêndida. Amor, seremos pais de um
garotão.
Ele segura meu rosto com as mãos
trêmulas, e me beija.
— Porra, Henrique e David precisam
saber! — diz animado e planta um beijo na
minha barriga. — É, vai ser foda como o
papai.
Rio.
— Não! Vai me prometer que vai guardar
segredo. Vão saber só quando nascer. Quero
manter o suspense para eles.
— Eu prometo.

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— Disse isso quando pedi em relação a


gravidez.
— Eu prometo desta vez! Porra,
precisamos comemorar. Escolhe o lugar.
— Qualquer lugar com comida. Estou uma
bola, não é? — Ele concorda, rindo.
— A bola mais perfeita deste mundo!
— Marcos! Não tenho unhas grandes à
toa, homem! Não me provoque.
— Quem assina a sentença sou eu, e a sua
vai ser longa e peculiar.
Sorrio.
Beijo o homem que tanto amo, e que não
quero viver sem. Porque ele é meu homem
ideal, imperfeito, mas seu jeito imperfeito é
perfeito para mim.
Como eu amo este homem! Com ele
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aprendi que não devemos viver sempre


planejando cada passo da nossa vida, porque
as melhores coisas acontecem fora do
planejamento.

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Epílogo

Já se passaram alguns dias desde que


Beatriz me contou sobre o sexo do nosso
filho, após me torturar em esconder. Porra,
essa mulher é foda! É a única capaz de me
deixar louco e ao mesmo tempo calmo.
Hoje tive um julgamento dos infernos, e
que maldito seja o infeliz que foi julgado.
Tomou meu dia inteiro, me atrasando para
um compromisso. Beatriz está me ligando
sem parar, mas no momento não posso
atender. Pedi ao Simon para conferir se ela
está bem e o infeliz ainda não retornou.
— Relaxe, Marcos, ou vai demorar ainda
mais.
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— Mais? Porra, que dificuldade está


tendo em fazer essa merda, rápido? —
pergunto a ela, que me olha sério e revira os
olhos.
— Depois de todas as outras vezes, ainda
fica tenso? Admirável isso. — Sorri.
— Só termine logo! — digo
completamente sem paciência.
— Se você ficar quieto, posso ser mais
rápida.
Respiro fundo, e ela continua o que está
fazendo.
A porta de vidro se abre, e Simon entra
acompanhado por Estefan, o segurança da
Daiane.
— Porra, o que houve?
— Ah, desisto! Cacete, não tem como

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terminar isso, com você tenso desse jeito. —


Ela se levanta irritada.
— Ela está bem, senhor. Porém, muito
enfurecida, por não atendê-la. Melhor eu
nem repetir o que ela disse. — Simon diz e
sorrio. Beatriz tem enlouquecido a ele.
— Estefan, por que veio?
— Terá reunião com os seguranças. O
senhor David quer reorganizar a equipe.
Assinto.
— Podem ir.
— Senhor, antes... — Simon pigarreia. —
Bom, a senhora Beatriz disse que tem uma
hora para retornar ou... ela... Hum...
— Fale de uma vez, porra!
Estefan disfarça muito mal um riso.
— Ela disse que o senhor dormiria na rua.
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Patrícia, que apenas observa, começa a


rir. Estefan está ficando vermelho tentando
controlar o riso.
— Saiam, agora! — Eles saem, e Patrícia ri
como uma louca.
— Isso sim é bom! Valeu a pena ficar até
tarde aqui — ela diz.
— Termine logo o que começou, não
tenho todo o tempo do mundo!
— Realmente. Tem uma hora apenas! —
Ela se aproxima. — Deite, porque do jeito
que está não vai dar certo. Vamos, homem! O
relógio não para — provoca.
— Vai se foder! — Ela ri. — Termine logo.
— Sim, senhor!

Chego em casa, após uma porra de um


trânsito que dificultou tudo. Pego minha
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pasta e saio do carro, jogando as chaves para


o Simon, que já estava de prontidão.
— Como foi a reunião?
— Muito bem, senhor!
— Não contou aonde eu estava, certo?
— Não. Mantive segredo, como pediu!
— Ok!
Entro em casa. Olho em meu relógio de
pulso, e são dez horas da noite. Demorei
muito.
Deixo a pasta, junto ao celular e carteira
no sofá. Enfrentar a fera agora será foda.
— Olha só. O juiz Marcos Escobar
resolveu retornar para o seu lar, desde que
saiu há horas do julgamento, e não teve a
coragem de atender às ligações da esposa
dele, que poderia estar morrendo.
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Olho para ela, que está com uma camisola


de seda preta, evidenciando seus seios
maiores que me excitam ainda mais e
marcando sua barriga que me preenche de
amor.
— Isso tudo é um grande fato, delícia. —
Sorrio.
— Não me chame de delícia. E não sorria.
Não estou brincando. Caramba, Marcos!
Onde esteve? Teve a coragem de enviar o
Simon aqui para ver o que eu queria, mas
não prestou para me atender. Você não
estava no escritório, e nem nos seus
sobrinhos ou na Paula. Sim, eu estou com
muita raiva!
— É melhor se acalmar. Sabe que não
pode ficar se estressando.
— Ah, não me diga! Então é melhor parar
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de me enlouquecer, porque você é o culpado


de todas as raivas que passo. Onde estava
que não podia me atender? Sei que o Simon
sabe, mas o infeliz não quis me dizer. E por
que diabos está com a camisa toda
amarrotada? Marcos Escobar, quero uma
resposta agora! — Ela cruza os braços e me
fuzila com o olhar.
— É melhor se acalmar antes de eu dizer.
— Só pode ser brincadeira! Quer me
pedir calma? Agora sim, perdi qualquer
chance de tê-la. — Ela se aproxima e tenta
mexer em minha camisa, mas não deixo. —
Se for o que eu estou pensando, eu corto seu
pau em pedaços. Eu juro! — Sorrio.
— Anda bem agressiva!
— Fale logo, Marcos! — ela grita.
— Primeiro, tem que se acalmar. E não
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estou brincando!
— Me acalmar? Nunca! Chame o Simon,
porque eu quero testemunhas quando eu te
matar.
— Na verdade, não deveria querer.
— Mas eu quero. Para todos terem a
certeza do porquê te matei!
— Amor, senta.
— Só vou fazer isso, porque estou
tremendo!
Ela se senta e fica me olhando
atentamente. Começo a retirar o paletó.
— Não quero um striptease!
— Porra, apenas espere!
Entrego o paletó a ela, e logo depois
começo a retirar a camisa com um pouco
mais de dificuldade. Entrego a camisa a ela,
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que está boquiaberta.


— Eu não acredito! — diz se levantando e
parando a minha frente. — Marcos, você não
fez isso!
— Bom, pelo visto fiz.
Retiro a proteção transparente que
Patrícia colocou. Dói um pouco, mas é
suportável.
— Eu realmente não acredito! Você é
louco!
Sorrio.
— Só agora percebeu? O que achou?
— É linda. Muito linda. — Ela toca com
cuidado. — Os traços são lindos. Então foi
por isso que não me atendia e enviou o
Simon.
— Sim. Enviei ele por não poder atender,
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ou desconfiaria, afinal, eu não tinha


nenhuma desculpa de onde estaria, por
incrível que pareça.
— E resolveu colocar o Simon para me
enfrentar? Que baixo! — Sua pose de durona
se desfaz por completo e o sorriso que tanto
amo surge.
— Eu queria ter o nome dele registrado
não só em meu coração, como também em
minha pele.
— Que lindo, meu juiz de quinta!
Beijo-a com carinho.
— A Patrícia, minha tatuadora, tentou ser
rápida, mas não pôde. Por isso demorei
tanto.
— Então é mulher sua tatuadora? Não sei
se curto muito saber que outra mulher toca e

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vê partes do seu corpo.


— Relaxa, delícia! Você é a única que me
tem por inteiro, enquanto as outras apenas
desejam.
Ela sorri.
— Nunca mais me deixe preocupada.
Estava ficando louca com a sua demora.
— Agora sabe como me sinto, quando sai
sem os seguranças, e demora.
— Isso não vem ao caso — ela diz, rindo.
— Te amo, e por vocês dois... — me
ajoelho, segurando sua barriga com cuidado
— eu faria qualquer coisa. — Deposito um
beijo sobre o tecido preto.
— Eu também te amo, meu eterno juiz de
quinta.
— Nunca vai desistir desse apelido, não
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é? — Sorrio e ela também. — Viu só, filhão,


como sua mãe é má?
Levanto e ela fica olhando a tatuagem, em
meu peito, que pega uma parte da âncora,
onde se lê claramente:

— É uma pena ter demorado tanto em ter


feito a tatuagem. Desse jeito, não posso te
tocar como eu quero, e só por ter me deixado
louca, merece saber que estou sem calcinha,
e que não terá o que planejei — diz
deslizando as unhas por meu abdômen. — A
noite poderia ser tão quente. — Deposita um
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beijo em meus lábios.


— Só pode ser brincadeira! Porra,
mulher!
— Boa noite, amor!
Ela se retira, rindo. Caralho, eu vou
morrer antes de conhecer meu filho, se ela
continuar me deixando louco e excitado
assim.
— Isso não vai ficar assim! — grito, indo
atrás dela.
Porra, me atiça e foge? Aí é para me
ferrar.

Fim

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Bônus
“BELOS E FAMOSOS”

NOTÍCIA MAIS VISITADA DO DIA:

A COR AZUL TOMA CONTA DA VIDA DO JUIZ


MARCOS ESCOBAR!

O assunto não para de circular pelos


corredores dos tribunais. Desde que o casal
Beatriz e Marcos Escobar retornaram de um
final de semana romântico na praia, as
notícias começaram. Fontes seguras afirmam
que até o nome já foi escolhido; e o que era
para ser segredo se espalhou para todos, pela
boca do papai coruja.
ARTHUR ESCOBAR (JÁ SABEMOS O
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NOMINHO), DESEJAMOS QUE VOCÊ VENHA


COM MUITA SAÚDE, E QUEREMOS ESTAR
AQUI POR MUITO TEMPO, E ASSIM
CONFIRMARMOS QUAL CARREIRA VAI
SEGUIR, JÁ QUE TODA SUA FAMÍLIA PARECE
GOSTAR MUITO DA LEI, DIFERENTE DA SUA
MAMÃE!
As apostas aqui na redação já
começaram, para saber qual será a futura
carreira do pequeno. E você, no que aposta?

É... falta muito tempo, mas já estamos


imaginando, afinal, o rapazinho é o único
herdeiro masculino até o momento da
família Escobar.
AS MULHERES DA NOSSA REDAÇÃO
CHORAM DE INVEJA DA BEATRIZ, PORQUE
FOI A ÚNICA CAPAZ DE ENLAÇAR O JUIZ, E
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AINDA TRAZER UM HERDEIRO MASCULINO


AOS ESCOBAR!
Estamos ansiosos para as cenas dos
próximos capítulos, desse lindo romance.
Senhorita Daiane Escobar, parece que
falta apenas você para desencalhar!

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Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus por mais
um sonho realizado, e por sempre me dar
forças e alegrias no decorrer do caminho.
Obrigada a Editora Angel, mais uma vez,
por acreditar no meu trabalho.
Obrigada ao Sr. Google, por me ajudar em
diversas dúvidas. E Cláudia por me dar uma
excelente ideia em um dos capítulos.
Minhas amadas betas e amigas, Liziara
Araújo e Beatriz Ferreira, muito obrigada
por todas as dicas, inspirações e por
aguentarem minhas loucuras por essa série,
e entrarem na loucura também.
Obrigada as minhas leitoras da
plataforma Wattpad, que me animaram, me

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deram carinho e muito amor, e tornou a série


Escobar um sucesso.
Meninas do grupo fechado no Facebook e
do WhatsApp, obrigada a vocês também, pois
são demais!
E, por fim, obrigada a você que está lendo
este livro. Você é também digno de estar
aqui.

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Biografia
Deby Incour nasceu em Guarulhos, na
Grande São Paulo. Apaixonada por livros, ela
escreveu seu primeiro romance em 2014,
que foi publicado pela Editora Angel. Desde
então, nunca mais parou. Os livros fazem
com que se sinta em um mundo mágico, onde
existe tudo que se pode imaginar. Em 2016,
foi best-seller na Amazon brasileira, com o
livro “Meu advogado”; e isso foi para ela uma
imensa conquista.
Instagram.com/autoradebyincour
wattpad.com/debyincour
facebook.com/debyincour

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PERIGOSAS ACHERON
Copyright © 2018 Deby Incour
Copyright © 2018 Editora Angel

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer
forma, meios eletrônico ou mecânico sem a permissão por escrito do Autor e/ou Editor.
(Lei 9.610 de 19/02/1998.)
1ª Edição

Produção Editorial: Editora Angel


Capa e projeto Gráfico: Débora Santos
Diagramação digital: Débora Santos
Revisão: Carla Santos

TEXTO REVISADO SEGUNDO O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA


PORTUGUESA.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

FICHA CATALOGRÁFICA FEITA PELA EDITORA.


Sumário:
Nota da autora
Dedicatória:
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Catorze
Quinze
Dezesseis
Epílogo
Agradecimentos
Biografia
Editora Angel
Nota da autora

Caros leitores,
Este livro... melhor dizendo, este conto foi feito com muito
amor e carinho. Torço para que gostem. Fazer uma história
que envolva um lado criminal, mesmo sendo muito curta, não
foi fácil, e foram feitas algumas pesquisas. Tudo aqui é
totalmente ficcional. Pulei alguns atos da lei para não
falar demais e acabar falando coisas sem sentido. Espero que
gostem.
Com amor, Deby.
Dedicatória:
Para Beatriz e Liziara, minhas grandes fontes de inspirações para as
cenas em que seus nomes aparecem no livro.

Senhor Google, você também merece estar aqui, mesmo me dando várias
respostas diferentes para algumas pesquisas. Te dedico este conto.
Um

Daiane Escobar

REVISTA ON-LINE BELOS E FAMOSOS

NOTÍCIA MAIS VISITADA DO DIA:

“E a princesinha Escobar, ataca novamente”


Daiane foi vista na boate mais frequentada pela família Escobar, porém,
desta vez, o alvo da promotora foi um rapaz “comum”, perto dos homens com
quem ela costuma sair.
A vida da princesinha anda muito animada. O que nos leva a pensar:
Quando a promotora vai desencalhar e deixar a vida de conquistas de uma noite
de lado?
Acorda, Srta. Escobar, o tempo está passando e você está cada vez mais
assumindo o cargo de titia.

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Comentários mais recentes:


Patrícia: Nossa, isso porque é uma promotora. Por isso, o país não vai
para frente! Pelo visto, as únicas mulheres sensatas da família são a mãe, as
esposas dos irmãos e a esposa do tio dela.
Alex: Até eu pegaria ela. Gostosona!
Larissa: Depois a família dela vem pagar de bom senso com os outros.
Essa ridícula não para com cara nenhum. Tenho nojo de gente assim. Ela anda
mais rodada que pratinho de micro-ondas. O pai dela deve se arrepender do que
deixou aqui.
Bloqueio a tela do celular e coloco no bolso do short que estou vestindo.
Yasmim, minha sobrinha mais velha, cai no meu colo, depois de uma
falha tentativa de correr. A família toda veio se juntar aqui em casa. Porém, estou
sozinha ao lado de fora, próxima da piscina.
— Você anda comendo o quê? Está uma perfeita bolota, princesa. —
Aperto-a com força e começo a enchê-la de beijos. Ela ri.
— Que cara é essa, filha? — minha mãe me questiona ao se aproximar, e
dá para Yasmim a bonequinha dela.
— Calor demais — minto.
— Você acredita que me engana, e eu finjo que deu certo. — Ela sorri.
— Cadê o povo? — mudo de assunto. — Está um silêncio.
— Aqui fora, só se for. Beatriz discutiu com o Marcos, e subiu para um
dos quartos de hóspedes. Liziara e Ana estão na cozinha, tentando fazer um
pudim, enquanto David e Henrique ficam comendo o leite condensado, e elas
brigando com eles, que estão atrapalhando. Ah... E seu tio está com a Laura,
fazendo uma zona na sala, enquanto a Helena dorme.
— Nossa, não faz nem vinte minutos que estou aqui, e já aconteceu tudo
isso? Essa família me surpreende.
Rimos.
— Levanta essa bunda do chão e vamos entrar.
Vou entregar a Yasmim para minha mãe, mas ela se recusa. Levanto com
ela no colo.
— Desse jeito, ela nunca vai andar direitinho — minha mãe diz.
— Mas eu pretendo chegar ainda hoje dentro de casa, e com os passinhos
dela, chegaremos no próximo ano.
— Isso é verdade.

Entramos em casa e o falatório é alto.


Coloco Yasmim no chão da sala com meu tio.
— Resolveu se juntar à família? — ele provoca.
— Meu limite de aguentar os homens dessa família juntos é muito pouco.
— Dou uma piscada e vou para a cozinha, rindo.
Assim que entro, eu fico chocada com a situação. Parece que passou um
furacão. Minha mãe para atrás de mim.
— Eu vou para a sala, e irei fingir que nada está acontecendo. Porque se
eu ficar aqui, vou enforcar todos vocês pela zona que estão fazendo! — ela diz e
se retira. Começo a rir.
— Daiane, coloca ordem nesse lugar! — Liziara diz apontando para os
meus irmãos.
— Convivi muito tempo com eles, agora essa bomba é de vocês.
— Estamos quietos. Elas que não conseguem fazer um simples pudim, e
estão surtando — Henrique diz, enquanto vira a lata de leite condensado na
boca.
— Henrique, pare de ficar comendo. Eu vou te esganar. Some daqui! —
Ana briga com ele, que ri.
— Eu disse para comprar um pronto, mas quiseram fazer. — David ajuda
a provocar.
— David, você tem duas filhas largadas por algum canto da casa, vai
cuidar delas, antes que eu fique viúva, porque te matei. — Liziara bate nele com
a colher de pau.
— Eu tenho que ser adotada! — digo.
— Infelizmente não é — Henrique diz.
— Some daqui, peste. Henrique e David sumam agora da cozinha.
Liziara e Ana, joguem tudo isso fora, porque está pura água, não tenho ideia do
que fizeram para ficar assim. Deixa que eu faço e vocês vão me ajudando.
— Pelo menos, uma sabe fazer algo! — David ri.
— Eu disse para os dois sumirem daqui.
— Estamos indo, bonequinha — Henrique provoca.
Eles saem da cozinha, rindo.
— Eu acho que coloquei água no lugar do leite. — Liziara ri.
— Vindo de você, espero de tudo, Lizi — digo.
Limpamos tudo, e começamos a fazer do zero.
— Se a dona Jurema estivesse aqui, estaria pirando com a bagunça que
estava essa cozinha — Ana comenta.
— Estaria mesmo! E Marcela também — confirmo.
— Gente, vou chamar a Bia, ela ficou realmente irritada — Liziara diz.
— Por quê? — pergunto.
— Marcos com a proteção constante dele. Ele não deixa ela fazer nada,
tudo ele fica dizendo que vai prejudicar o bebê. Ela perdeu a paciência com ele e
subiu.
— Normal. Estranharia se eles estivessem sem brigar — brinco. —
Melhor deixar ela quieta. Quando ela quiser, vem.
Ela concorda.
— E você, Dai? Estou te achando tão estranha — Ana pergunta.
— Não é nada não...
— Sabemos que é algo! — Lizi diz.
— Viram a última notícia sobre mim?
— Vimos sim, e estávamos comentando sobre isso. Esses sites não têm o
que fazer. Não sabem o que dizem. Estão focados em você, porque é a única da
família que ainda pode gerar assunto para eles. Logo isso passa — Ana fala.
— Estou cansada disso. Tudo isso está me prejudicando até
profissionalmente. Nos corredores dos tribunais ficam cochichando, e fui
retirada de dois casos muito importantes por causa dessas notícias.
— Daiane, nós sabemos que eles estão aumentando as histórias e
inventando outras. O que importa somos nós, que te amamos, sabermos a
verdade — Liziara comenta.
— Não é tão fácil. E eles estão certos. Eu não encontro ninguém bom de
verdade. Os que aparecem são por interesse. Tenho medo de ficar sozinha para
sempre.
— Não pira! Vai aparecer alguém. Tudo tem seu tempo — Ana fala
enquanto guarda o açúcar.
— Estou vivendo sob muita pressão, não sei se aguento mais pessoas
falando de mim, e julgando sem saber.
— Marcos poderia fazer algo em relação a esse site que mais tem te
atacado — Liziara diz.
— Não resolverá nada. Vai piorar tudo. E para ele é frescura minha me
importar. Mas eu queria ver se fosse o nome da mulher dele nesses sites. — Jogo
a colher dentro da pia, com raiva. — Está sendo foda demais. Desde que foi
anunciado a gravidez da Beatriz, a mídia está em cima de mim o tempo inteiro.
Sei que ninguém tem obrigação de me ajudar com isso, mas ter o apoio do meu
tio, e dos meus irmãos, sem ser julgada, seria ótimo demais.
Elas me olham chateadas com a situação.
— Ana, melhor ir descansar, seus pés estão bem inchados — Liziara
comenta, quebrando o silêncio.
— Preciso sentar um pouco mesmo. Minhas costas estão doendo. Ainda
não sei porque eu quis engravidar novamente, é sofrido demais. — Ela ri.
— Por isso sempre digo que o melhor é adotar, tantas crianças pedindo
um lar — brinco.
— Minha fábrica está fechada, ou melhor, foi demolida. Daqui nada mais
sai. Se de primeira veio duas de uma vez, na segunda é capaz de vir quatro. Deus
me livre. Chega! — Liziara diz apavorada, nos fazendo rir.
Após terminar de preparar o pudim, seguimos conversando sobre outros
assuntos. Beatriz se junta a nós e ficamos conversando no jardim, enquanto os
rapazes ficam com as crianças dentro de casa, e minha mãe vai descansar um
pouco devido a uma dor de cabeça.
Às vezes, a melhor maneira de esquecer um pouco dos problemas é ficar
junto das pessoas que você ama, e saber que este amor é recíproco.

Nossa tarde foi maravilhosa. Depois de comermos o pudim, que ficou


bastante tempo na geladeira, os rapazes se juntaram a nós e minha mãe também.
À noite, todos seguiram com suas esposas e filhas para casa.
— Estou exausta. Filhos e netos nos alegram, mas também faz com que
fiquemos cansadas — minha mãe comenta, deitando-se no sofá da sala.
— Eu me canso com qualquer coisa, então... — Sorrio.
— Você é um caso a ser estudado, Daiane.
— Pior que sou mesmo. — Rimos. — Vou tomar um banho e tentar
relaxar. Amanhã o dia será cheio.
— Vai lá, filha. Daqui a pouco farei o mesmo.
Subo para o meu quarto.

Estou em meu escritório, no centro na cidade. Essa semana tenho apenas


uma audiência, o que significa que será tranquila.
Releio alguns documentos que precisarei para a audiência.
Meu celular começa a tocar, e o nome do Henrique aparece na tela.
— Oi. Estou ocupada para escutar suas gracinhas, Henrique.
— Não liguei para te irritar. O assunto é grave.
— O que aconteceu? — questiono alarmada.
— Os pais da Ana sofreram um acidente. A mãe morreu na hora, mas o
pai dela... morreu a caminho do hospital. — Seu tom é grave.
— Meu Deus! Como aconteceu isso? Ela deve estar arrasada. Eles eram
terríveis com ela, mas eram seus pais.
— Sim, ela está mal. Parece que uma carreta entrou na contramão, após
perder o controle, e acertou o carro deles. Preciso de você. Ana não está com
cabeça para resolver nada, e tenho medo de algo acontecer. A Yasmim vai ficar
com a Beatriz.
— Claro que fico com a Ana. Nossa mãe já sabe?
— Sim. Se você ligar a TV, ou acessar a internet, vai ver que todos
sabem. Os jornais não perdoaram o momento.
— Estou indo para sua casa.
— Certo. Vou passar na mãe, porque ela vai comigo resolver tudo.
Quero correr com toda situação para o enterro ser ainda hoje, e assim acabar
com toda essa situação.
— Estou indo.
— Vou esperar você chegar.
— Ok. Beijos. — Desligo o celular.
Parece que todos que entram para a família Escobar, estão destinados a
tragédias... Pobre Ana, sei bem como é perder quem amamos.

Chego à casa do Henrique, e encontro ele e Ana na sala. Yasmim está no


colo dele dormindo.
Eles me olham.
— Daiane... — Ana diz com a voz trêmula.
Largo a bolsa no sofá.
Ela se levanta e eu me aproximo. Nos abraçamos e ela chora.
— Eu sinto muito, Ana. Sinto de verdade. Não era fã deles, não vou
mentir, mas não mereciam isso. Eu sinto muito de coração — digo com a mais
pura sinceridade.
— Eu sei...
Ela se senta novamente.
— Vou indo — Henrique diz, dando um beijo nela.
— Te ajudo com a Yasmim — digo, pegando ela no colo. — Já venho,
Ana.
Ela concorda.
Saio com o Henrique. Coloco a Yasmim em sua cadeirinha no carro, e ela
continua dormindo. Isso é bom, assim não sente o clima pesado.
— Cuida dela. Qualquer coisa me liga.
— Pode deixar.
— Vou tentar, ao máximo, correr com tudo.
— Vai ficar tudo bem. Já passamos por isso, e vamos ajudar ela a passar.
Ele concorda.
Acho que é a primeira vez, desde a morte do meu pai, que vejo o
Henrique sem ânimo e sem suas piadas. Isso é horrível!
Ele entra no carro e, então, dá partida. Luciano, seu segurança, segue
com outro carro.
Entro na casa, e fecho a porta.
Ana continua no sofá, mas desta vez olhando para o nada. Sento-me na
mesa de centro, ficando de frente para ela.
— Sou um monstro, Dai? — Sua voz é trêmula.
— Por que pergunta isso?
— Por estar abalada com a morte deles, mas em momento algum sentir
remorso por não ter feito mais visitas, ou ter passado por cima de todos nossos
problemas e lutado por eles? — As lágrimas escorrem por seu rosto.
— Claro que não. Ana, cada pessoa lida com a dor de um jeito. Isso não
te torna um monstro. Se não foram uma família unida teve motivos, e todos que
conviveram com você sabe disso.
Ela enxuga um lado do rosto com a própria mão.
— Eu realmente estou abalada pela morte deles. Nós nunca nos demos
bem, porém eu nunca pedi por isso. Eles eram meus pais... — Um soluço escapa
de seus lábios, e meu coração se parte.
— Eu sei, e acredito em você. Eram seus pais, sendo bons ou ruins, eram
seus pais, e é óbvio, que você ficaria abalada.
— Só quero que esse dia acabe logo. Sempre tenho esperança que um dia
ruim vem acompanhado por um melhor.
— Vai ser. Com o tempo, melhora. Não fica fácil, mas melhora um
pouquinho.
— Obrigada por vir me fazer companhia.
— Não precisa me agradecer. Você é uma irmã para mim, assim como a
Liziara e a Bia. Eu jamais abandonaria a família em um momento como esse.
— Preciso beber alguma coisa. Ver se, pelo menos, o líquido para no
estômago.
— Vamos comigo na cozinha, preparamos uma boa vitamina, e assim
você se distrai um pouco. Topa?
Ela concorda.

— Que possam, juntos, seguirem um destino em paz e tranquilo. E que


Aquele lá em cima, que olha por nós, conforte a todos que aqui ficaram e que
tinham alguma ligação com eles.
Rosas são jogadas em ambos os túmulos. Henrique conseguiu que tudo
acontecesse hoje. Pensei que não voltaria a este lugar por muito tempo. Minha
mãe passa os braços em mim, e ficamos juntas. A tarde é fria. Acontece mais
alguns enterros ao redor. Henrique não se desgruda de Ana. Liziara e David
ficam juntos. Beatriz e Marcos estão atrás de mim juntos a Débora e Cleber,
amigos da família, e, pela primeira vez em muito tempo, o silêncio reina em
nossa família.
Começo a me sentir sufocada.
— Mãe, eu já vou. Não posso mais ficar aqui. Ficarei no carro, à sua
espera... — ela concorda.
Passo por meu tio, que me olha preocupado. David me chama e apenas
faço um sinal com a mão.
Passo pelos túmulos, o mais rápido possível, para chegar até ao lado de
fora. Preciso de ar fora daqui, e no estacionamento será pior.
— Senhorita Daiane! Senhorita Daiane! — Os flashes disparam,
enquanto me chamam sem parar.
— Por favor, saiam! — digo.
— Como a senhorita se sente?
— A senhorita já vai embora? Aconteceu algo?
— Saiam! — grito, tentando passar.
— Qual a marca do seu vestido? Veio acompanhada?
Empurro alguns.
Estefan, meu segurança, aparece e me ajuda a entrar novamente. Outros
seguranças barram a entrada.
— A senhorita está bem?
— Só vou para o meu carro.
Ele concorda.
Chego ao estacionamento, onde eu não queria estar, por ser dentro do
cemitério, lugar que eu quero sair o mais rápido possível. Encontro meu carro, e
dispenso o segurança. Entro e respiro fundo.
— Esses idiotas não sabem respeitar! Não aguento mais isso.
Encosto a cabeça no volante.
Batidas no vidro me assustam. Olho para ver quem é. Abaixo o vidro, ao
ver a pessoa.
— Vi os seguranças saindo, e fui perguntar o que era. Eles realmente não
te deixam em paz... — Débora diz.
— Não, Déb, e estou me cansando disso. Só quero sair daqui logo, não é
um lugar que eu tenha gosto de ficar.
— Eu sei. Logo termina e você pode ir embora. Também não curto esses
lugares. Tadinha da Ana, grávida, e recebe essa bomba.
— Sim. Sei bem como é receber essa bomba...
— Nunca recebi, mas já passei por muitas bombas. O bom é que elas nos
fortalecem.
— Será? — pergunto com ironia.
— Claro. Pode acreditar. — Ela sorri.
— Queria acreditar que estou ficando forte depois de tantas coisas, mas,
na verdade, me sinto uma farsa. Estou cansada de fingir o tempo todo que estou
bem.
— Pare de fingir. Não é errado você desabar em público. Você é humana,
Daiane.
— Queria que fosse fácil assim. Mas veja só, é tragédia atrás de tragédia,
e quando não, é a mídia no meu pé, ou o trabalho me consumindo. Não está
fácil.
— Posso dizer, que vi quase todas essas tragédias, e por isso ouso dizer.
Daiane, você precisa viver sua vida. Sua família tem que caminhar sozinha.
— Como assim? — Franzo o cenho sem entender.
— Conheço vocês há anos, e você quer carregar toda a família nas
costas, e tem feito isso muito bem. Mas, veja só, quando são seus problemas para
resolver, você fica no modo bloqueio, e isso não é bom. Precisa começar a cuidar
de você.
— Não é fácil...
— Eu sei. Mas se não tentar, vai continuar se torturando sozinha. Seus
irmãos e seu tio fizeram a vida deles, e sua mãe está caminhando com a dela.
Comece a caminhar com a sua, antes que seja tarde.
— Queria férias, de tudo e de todos, mas com essa situação agora...
— Daiane, a Ana tem o Henrique, e muitas pessoas por ela
— Se eu sair vai dar mais motivos para a mídia falar bostas.
— E você liga? Que se foda a mídia! Vai viver, menina. Quer mais
manchetes, do que amanhã vai ter, quando eles começarem a falar de você aqui?
Já imagino a manchete: “Princesinha Escobar vai ao enterro e sai causando!”.
Sorrio.
— Sabe que eles vão dizer coisas que nem existem. Você ficando ou
indo, vão falar. Pelo menos vai deixar a todos curiosos para saber seu paradeiro.
— Vou pensar.
— Pense bem. Pode ser um bom momento para tirar férias. — Ela sorri.
Dois

Daiane Escobar

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NOTÍCIA MAIS VISITADA DO DIA:
“Daiane Escobar foi flagrada no cemitério Central”
Daiane, com um vestido preto longo, e uma jaqueta preta de couro, foi
pega no flagra saindo do cemitério Central. Nenhuma das perguntas foram
respondidas pela promotora. A mesma chegou a agredir um dos fotógrafos,
empurrando-o. Logo após os seguranças da família levaram a princesinha para
dentro.
Nós da revista lamentamos a morte dos pais da Ana Louise Ferdinand
Escobar.
É, Daiane, deu para agredir paparazzi agora? Cuidado, mocinha, está
destruindo sua fama cada vez mais. A família Escobar está perdida com essa aí.

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— Sério, Daiane, você tinha que dar motivos para fofocas justo neste
momento? — Henrique me questiona.
Estamos todos na sala da minha mãe. Viemos para cá, após o enterro. E
eu que pensei que as notícias sairiam amanhã, saiu hoje mesmo.
— Eu dar motivos? Era só o que me faltava! — Abaixo a tela do
notebook com força. Levanto-me do sofá.
— Nossa família anda muito na mídia, não acha? — David pergunta. —
Não dava para evitar uma fofoca pelo menos nessa semana?
— Só pode ser brincadeira de vocês.
— Gente, por favor... — minha mãe diz.
— Por favor, uma porra! — Henrique diz alterado.
— Henrique! — Ana diz a ele. — Parem. Ela não tem culpa desses
idiotas.
— Ana está certa. Chega disso, pessoal — Liziara se manifesta.
— Eles têm razão. Daiane está demais. Poderia ter evitado pelo menos
hoje! — meu tio diz.
— Marcos, não coloque mais lenha! Respeitem o momento — Beatriz
diz.
— Estou atrapalhando, não é isso? Está tudo bem!
Saio da sala e subo para meu quarto, já de saco cheio de tudo isso. Pego
duas malas no closet e começo a colocar tudo que será necessário. Coloco uma
calça jeans e bota sem salto. Visto uma blusa de frio, pois está chovendo e frio.
Pego minha bolsa, as malas e desço.
Todos me olham.
— Filha, onde vai? — minha mãe pergunta preocupada.
— Vou viajar. Aproveitem o tempo sem a mídia difamar o sobrenome
Escobar por minha causa. Ana, você pode me ligar se precisar. Não quero
seguranças na minha cola.
— Daiane, é tarde. Aonde vai?! — meu tio, pergunta.
— Não interessa.
Saio da sala com o David e Henrique me chamando. Mas escuto quando
minha mãe diz para me deixarem em paz, porque preciso ficar sozinha.
Coloco as malas no carro e sigo para qualquer lugar, longe do ambiente
Escobar. Talvez eu vá para o interior do estado, sempre gostei de lugares assim.
Chegando ao local, vejo uma pousada ou hotel. Só quero sair logo da cidade.

Depois de algumas horas dirigindo, chego em uma cidade pequena, vinha


muito com meus pais quando criança, para os rodeios que haviam aqui. Está
chovendo muito, e já fui em duas pousadas e cinco hotéis, e todos estão lotados.
Parece que a chuva fez algumas pessoas procurarem abrigo logo. Esta cidade
fica a três horas da fazenda da minha família.
— Vou retornar e ficar na fazenda hoje, amanhã volto... — digo,
enquanto forço as vistas para enxergar através da chuva.
Faço o retorno para sair da cidade, mas para meu azar, está interditada.
— Sério? Qual é, Deus? Joguei o que na cruz? Dá uma forcinha aqui.
Um guarda de trânsito vem até meu carro. Está de capa de chuva, mas
não sei para que, já que está molhado do mesmo jeito.
Abaixo um pouco do vidro.
— Senhorita, sinto muito, mas terá que retornar.
— Não tem vagas nos hotéis, e nem pousadas. Preciso retornar para outra
cidade. Lá tenho lugar para ficar.
— Sinto muito, mas por aqui é impossível.
— Tem algum outro caminho?
— Tem uma estrada, que leva para a outra cidade.
— Como faço?
— Retorne, e vire à direita, siga a rua, e verá a placa Fazenda
Casagrande, siga pela estrada desta fazenda, e vai embora. Logo sairá na metade
da rodovia.
— Muito obrigada, moço.
— Porém, pode ser que não consiga passar. A chuva está forte demais, e
a estrada é de barro.
— Acredito que eu consigo. Na fazenda da minha família passo com esse
carro, em dias de muitas chuvas.
— Tome cuidado, senhorita.
— Pode deixar. Obrigada.
Subo o vidro e faço o retorno.
Faço o caminho que o moço explicou. Encontro a placa da tal fazenda e
sigo o caminho que ela indica. A chuva piorou ainda mais. A estrada está
horrível, e tenho que passar devagar. Não consigo enxergar quase nada. É
escuro, e tem bastante mato na lateral.
— Ah não! — digo acelerando o carro, que está enroscando e não sai do
lugar. — Sério, que vai atolar? Puta que pariu! Droga, droga, droga!
Desligo o carro e tento várias vezes. Nada.
Pego meu celular na bolsa, sem qualquer sinal.
— Isso é algum teste?! — pergunto olhando para o teto do carro.
Abro a porta do carro, pego a bolsa, e meu celular. Desligo o carro. Ligo
a lanterna do celular.
— Não vou ficar nesse lugar! Mas é melhor deixar o pisca alerta ligado,
para o caso, de vir outro carro — digo sozinha. O que tenho feito muito
ultimamente.
Ligo o pisca alerta. Fecho o carro e começo a caminhar pela lama, com
cuidado. Com meu celular, ilumino o caminho.
— Maldita hora que peguei esse atalho! Mas não vou ficar para ver o que
vai acontecer.
Caminho ao que parece uma eternidade, devido à lentidão que tenho que
andar.
Vejo um portão grande, e me apoio nele. Estou pingando. Olho para cima
e vejo outra placa “Fazenda Casagrande”. Empurro e o portão está aberto.
Caminho pelo lugar, torcendo para não ter algum animal que goste de
comer carne humana.
A chuva começa a diminuir.
— Agora?! Obrigada chuva.
O caminho começa a ficar iluminado, e me dá a visão de uma casa
enorme. Acelero o passo e subo a pequena escada que dá para a porta de entrada,
onde é coberto.
Respiro fundo, e passo a mão no rosto. Estou tremendo de frio, e
pingando. Desligo a lanterna do celular. A luz da casa está acesa. Bato na porta.
— Que seja uma família amorosa e acolhedora, amém!
Bato novamente. Não paro de tremer. Mas já não sei se é pelo frio, ou
pelo medo.
— Já vai! — uma voz de mulher grita.
A porta se abre, e uma senhora muito bonita por sinal, me olha assustada.
— Santo Deus, que isso?! Pai misericordioso, está amarrado — diz
espantada.
— Senhora, preciso de ajuda — falo com a voz trêmula pelo frio.
— O que aconteceu?
— Estava na estrada, mas meu carro atolou.
— Meu Pai! Entre, menina, entre! — Ela me ajuda a entrar. — Fique
aqui, que vou buscar uma toalha.
Ela sai me deixando na sala sozinha. A sala é com móveis antigos, e
muito bem decorada. Quero muito me sentar, porque estou acabada, mas não
tenho condições, estou suja de barro e encharcada.
Ela retorna com a toalha e me entrega. Pega minha bolsa e celular e
coloca no sofá.
Começo a me enxugar.
— Menina, é louca? Como sai nesse temporal?
— Eu vim da cidade. A chuva não estava tão forte. Não encontrei hotel
ou pousada livre. Peguei este atalho e meu carro atolou.
— Vou pedir para retirarem de lá e trazer para cá. Aproveitar que a chuva
melhorou um pouco.
— Muito obrigada, senhora.
— Me chamo Joana.
— Daiane Escobar.
— Conheço esse sobrenome... Família da lei?
— Sim.
— São famosos.
Sorrio.
— Precisa de um banho quente, e beber algo quente também. Está
tremendo como um pintinho molhado.
— Minhas roupas estão no carro, senhora.
— Joana, menina. Se me chamar de senhora te chuto o traseiro.
Controlo-me para não rir.
— Vá para o banho, e vemos alguma coisa para você vestir. Venha
comigo.
Acompanho ela pelo corredor, e entramos na primeira porta.
— Este quarto é do meu neto, mas ele está em lua de mel. Te colocaria
em um quarto de hóspedes, mas faz uns dias que não limpo... Quem eu quero
enganar? Não limpo há tempos, pois não tenho visitas, então nem me canso.
Rio.
— Não quero incomodar, Joana.
— Não incomoda. O banheiro é naquela porta. Tem toalhas no armário
dele. Vou ver uma roupa e deixo na cama. Tome banho, enquanto vou preparar
um chocolate quente e avisar alguém para rebocar seu carro.
— Muito obrigada por me ajudar. Amanhã cedo mesmo, vou embora.
— Se acalme, menina. Não precisa ter pressa.
Ela sai do quarto e vou para o banheiro. Assim como o quarto é enorme e
lindo. Joana é boa com decoração. Ligo o chuveiro e começo a retirar as roupas.
Tomo um banho completamente delicioso. Estava precisando disso.
Saio do chuveiro e pego uma toalha amarela, que está no armarinho
embaixo da pia.
Me enxugo e me enrolo nela. Saio do banheiro, e vejo em cima da cama
uma camiseta preta e uma cueca. O chinelo está no chão.
— Que lugar você foi se meter, Daiane?!
Visto a cueca e a camiseta. Coloco a toalha no cabelo, calço o chinelo e
saio do quarto. Vou para a sala, mas a senhora não está. Caminho no outro
corredor, e vou para onde a luz está acesa e que, pelo visto, é a cozinha. Entro
nela e Joana está arrumando a mesa.
— Aí está você. Veja só, a camiseta ficou grande, como imaginei.
— Atrevo a dizer, que são do seu neto?
Ela concorda.
— Espero que ele ou a esposa não surtem por eu estar aqui, usando o
quarto dele e as roupas dele.
— Não surtará. Não se preocupe. Venha se alimentar, é magrinha demais.
Sorrio.
Sento ao redor da mesa, e ela serve chocolate quente e uma fatia grande
de bolo.
— Obrigada.
Ela assente e se senta também.
— O que pensou, quando veio para cá com essa chuva?
— Pensei em fugir da cidade. Problemas pessoais me fizeram querer
férias.
— Problemas pessoais... Envolve namorado?
— Não. Sou solteira.
Ela sorri bem animada.
— Ficaria com homem casado?
— Quê?! Não!
— Apenas uma curiosidade. — Sorri e pega um pedaço de bolo. —
Coma, menina.
— A senhora vive sozinha?
— Não. Minha bisneta praticamente mora comigo. O pai trabalha muito,
e ela não se dá muito bem com a madrasta. Então prefere ficar aqui. Tem dez
anos, um amor de menina, quando quer. Mas é muito inteligente.
— Crianças são uns amores, mas quando querem são bem terríveis.
— Exatamente. Tem filho?
— Não. Mas tenho três sobrinhas. Um primo e mais uma sobrinha a
caminho.
— Uau!
Como enquanto conversamos. Joana gosta de conversar e gosto dela. É
uma senhora simpática e divertida.
— Pedi para trazerem seu carro, mas vai demorar um pouco, a estrada
está ruim.
— Tudo bem.
— Deve estar cansada. Va dormir, e amanhã terá seu carro de volta.
— Estou mesmo. Obrigada.
— Bons sonhos, menina.
— Igualmente, Joana.
Pego a minha bolsa e o celular na sala. E vou para o quarto. Agora que
meu celular tem rede, envio uma mensagem para minha mãe:

Mãe, estou bem. Vou tirar minhas férias merecida. Avise que não estarei
para a audiência, e que passem para outro promotor. Sei que posso me
prejudicar por isso, mas preciso deste tempo. Depois entro em contato e digo
sobre minhas férias com eles. Amo a senhora, beijos.

O celular descarrega após eu enviar a mensagem. Pego o carregador na


bolsa, e coloco ele para carregar. Apago a luz, e me enfio embaixo do edredom
que cobre a cama. Sinto meu corpo relaxar.

Jacob Casagrande

— Ainda não acredito, que estamos voltando. Jacob, não tivemos nem
dois dias de lua de mel! — Poliana reclama ao meu lado.
— Não tive escolhas. Você viu quando me ligaram, preciso estar aqui
para substituir uma promotora que não poderá ficar com um caso.
— E só tem você de promotor?
— Poliana, menos. Depois retornamos para a viagem.
Entro com o carro na fazenda. Vim logo após receber a ligação do meu
escritório. Por sorte estávamos em uma cidade vizinha, onde a Poliana escolheu.
— Choveu muito aqui. A estrada estava um caos.
— Sim... E de quem é esse carro na entrada da casa? De branco está
marrom!
— Não tenho ideia. — Estaciono o carro, e desligo. — Ainda é muito
cedo.
Descemos do carro.
— Depois pego as malas. Vamos.
— Prefiro ir para nossa casa. Sua avó e sua filha não são muito minhas
fãs, e não quero que quando acordem, vejam a mim de primeira.
— Deixe de medo, vamos.
— Jacob, não. Eu vou para nossa casa.
— Está bem. Vá com o carro, depois vou com o outro que está aqui.
— Ok. — Entrego a chave e dou um beijo rápido nela.
Ela entra no carro e dá partida.
Subo a escada, e abro a porta, com minha chave.
Entro e fecho a porta. Está tudo calmo. Devem estar dormindo. Vou
direto para o quarto da minha pequena. Abro a porta com cuidado. Ela dorme,
tranquilamente. Fecho a porta com cuidado, e escuto barulho na cozinha.
Caminho para a cozinha. Minha avó está preparando café.
— Já fora da cama?
— Ah, menino! Santo Deus, quer me matar?!
Rio.
Aproximo-me dela e dou um beijo em seu rosto. Encosto na pia.
— Desistiu do casamento? — pergunta animada.
— Não, vó. Eu voltei porque tinha trabalho.
— E Poliana?
— Foi para casa.
— Melhor, assim alivia a bomba.
— Que bomba?
— Nada.
— Vó, o que aprontou?
— Eu? Nada.
— Sei... Vou para o meu quarto. Preciso de um banho para acordar de
vez.
— NÃO! — ela grita. — Quero, dizer... Não. Tome banho no meu, e eu
levo a roupa. Seu quarto está com problemas no banheiro, e vão arrumar.
— Eu pego a roupa e tomo banho em outro banheiro.
— Eu pego a roupa, deve estar cansado.
— Vó, o que está aprontando? Está escondendo algo, e vou descobrir!
— Vá para seu banho! Deixe de papo.
— Está bem, estressada.
Saio da cozinha. Verifico para ver se não me segue. Caminho até meu
quarto, e com cuidado tento abrir a porta, mas sou impedido.
— Papai!
— Oi, princesa! — Pego ela no colo. Está cada dia maior e mais pesada.
— Já voltou? A bisa disse que demoraria um pouco.
— Tive que voltar antes.
Ela sorri e beija meu rosto.
— Vai ficar comigo hoje?
— O dia todo, meu amor.
— Ebaaaaa! — ela grita animada.
Coloco ela no chão.
— Vou escovar os dentes, e tomar café. Você vem, papai?
— Já vou, meu amor. Primeiro vou tomar um banho.
Ela volta para o quarto.
Minha avó vem trazendo roupas limpas.
— Por que não pegou no meu quarto? — questiono.
— Porque estas estavam passadas e limpinhas na lavanderia.
— Hum-hum...
Pego e vou para o banheiro, que fica ao lado do meu quarto. Mas retorno
ao lembrar de algo.
— Vó? — Ela para no corredor e me olha. — De quem é o carro aí fora?
— Carro? Não sei.
— Não sabe? Tem um carro na sua fazenda, na sua porta, e você não
sabe?
— Ah, é do encanador.
— Meu banheiro está com problemas no encanamento?
— Seu banheiro não está com problemas.
— Você disse que estava.
— Ah, é mesmo! Está. Que cabeça a minha. Tenho que ir.
Ela está me escondendo algo. Dona Joana não me engana!

Daiane Escobar

Acordo e me sento rapidamente na cama.


— Onde estou?! — Olho para os lados e começo a me localizar. —
Preciso me arrumar.
Levanto rapidamente. Caminho para o banheiro. Não encontro mais
minhas roupas que deixei pelo chão. Em cima da pia tem uma escova de dente
na embalagem. Joana deve ter entrado aqui, enquanto eu dormia. Escovo os
dentes. Procuro por um roupão, mas não encontro, nem no banheiro e nem no
guarda-roupa, onde percebo que o neto da Joana tem bom gosto para roupas.
Saio do quarto e caminho para cozinha, à procura de Joana. Preciso saber
se já trouxeram meu carro, e assim me arrumar e ir embora. Chego na cozinha e
não tem ninguém.
— Droga!
— Menina, acordou!
Viro-me assustada.
— Joana. Que susto!
— Desculpe.
— Preciso de roupas. Meu carro já está aqui? Tenho que me trocar para ir
embora.
— Está sim. Mas os funcionários estão circulando, não será legal você
sair assim lá fora.
— A chave do carro está na bolsa no quarto. Pega qualquer roupa nas
malas para mim, por favor?
— Claro. Espere aqui. Se sirva com o que quiser. Vou já buscar. Ah...
Quase me esqueci, a bateria descarregou.
— Ai, que droga!
— Um dos funcionários disse que pode fazer uma tal de chupeta que liga.
— Sim. Tenho o cabo no porta-malas
— Ok. — Ela se retira.
Encosto na pia e cruzo os braços.
Preciso ir embora logo, já dei trabalho demais.
— Bisa, o meu pai... Quem é você? — Uma garotinha, em um pijama
rosa, e de cabelos loiros e olhos bem azuis, cruza os braços e me encara.
— Oi... Sou Daiane, deve ser a bisneta da Joana?
— Sou. O que faz aqui?
— Sua bisavó me ajudou ontem. Meu carro atolou e precisei de ajuda.
Mas já estou indo embora. Só vou esperar ela pegar uma roupa no meu carro.
— Está com a camiseta do meu pai.
Olho para a camiseta e sorrio.
— Sim. Minha roupa molhou toda. Será que ele ficará bravo?
— Não. Meu pai só fica bravo com o trabalho, ou quando apronto.
Sorrio.
— Como se chama?
— Sophie Casagrande.
— Lindo nome.
— O seu também é bonito. Mas é sério demais.
— Tenho dois nomes, mas não gosto do segundo.
— Como é?
— Gabrielle. Daiane Gabrielle.
— Prefiro Gabrielle. Por que não gosta?
— Não gosto dele em conjunto do Daiane.
— Entendi, Daiane. Você é bonita, acho que já te vi em algum lugar.
Imagino que tenha sido na TV, ou na internet, mas fico quieta.
— Bom, vou comer.
Concordo e ela caminha para a mesa.
Joana retorna com uma mala.
— Não sabia o que trazer...
— Tudo bem. Vou me trocar. Obrigada.
— Claro.
Pego a mala e vou para o quarto que eu dormi. Troco a cueca por uma
calcinha, visto um sutiã e coloco um vestido, curto de alcinha, preto florido. Ele
é larguinho e bem confortável. Coloco uma sapatilha que estava na mala. Pego
minha bolsa e celular. Fecho a mala e saio do quarto.
Deixo as coisas na sala e vou para a cozinha.
— Joana, poderia pedir para alguém me ajudar com o carro? Preciso ir.
Não quero mais incomodar.
— Imagine. Não incomoda. Tomou café?
— Não. Eu tomo em algum lugar.
— Nunca. Ninguém vai embora da minha casa com fome. Sente e coma.
— A bisa tem razão. Come com a gente. Gostei de você, Daiane, e nunca
gosto fácil de alguém.
Sorrio.
— É verdade — Joana confirma.
— Eu...
— Vó, onde está meu chinel... — Viro-me para a voz maravilhosa e
atraente. Me assusto ao olhar. Só pode ser brincadeira. Eu devo estar louca.
— Jacob?!
— Daiane Escobar! O que faz aqui?
— Eu... Eu...
— Se lembra de mim?! Porra, uma Escobar se lembra de mim! — Ele
sorri.
— Tenho boa memória. Você falou com minha família em um evento...
Eu... — Estou chocada.
— Ainda não disse o que faz aqui.
— Ela veio ontem. O carro atolou com a chuva, e eu dei abrigo a ela.
Confirmo o que Joana diz.
— Era esse o motivo de me proibir entrar no quarto? — ele pergunta a
ela.
— Exato!
— Eu...
— Menina, empacou na fala? — Joana diz e Sophie ri.
— Estou chocada de como o mundo é pequeno.
— Eu quem o diga... Que falta de educação a minha. Que prazer em
revê-la, Escobar. — ele me cumprimenta dando um beijo no rosto.
— Eu não queria incomodar. É que vim para a cidade, e não tinha vaga
nos hotéis e nem nas pousadas. Desculpe usar seu quarto, sua camiseta e sua
cueca.
Ele ergue a sobrancelha esquerda e sorri.
— Emprestei a ela, Jacob! — Joana diz.
— Falo muito quando estou nervosa.
— Percebi. Eu que deveria estar chocado. Uma Escobar na minha casa!
— Sua casa? Desde que casou com aquela coisa, perdeu o direito de
dizer que aqui era um lar seu.
— Vó!
— Sou sincera, meu neto.
— Joana, eu preciso realmente ir...
Tudo o que não preciso neste momento, é um fã da minha família. E que
está mais atraente do que a primeira vez que o vi.
— Já disse, fique para o café.
— Joana, eu...
— Não adianta. Ninguém foge dela, quando quer algo — Jacob cochicha
em meu ouvido, e sinto um arrepio, mas tento disfarçar.
— Está bem.
Sentamos ao redor da mesa e tomamos café. Jacob e Sophie perguntam
como vim parar aqui, e conto a eles, cortando o motivo da minha vinda.
Uma forte chuva começa, e clarões entram na cozinha pela janela.
— Ah, não! Preciso ir embora.
— Nem pensar. Essa estrada na chuva é um perigo. Estamos na
temporada de chuvas, menina.
— Mentira! Sério?
— Sim. Fica por dias, e ficamos ilhados.
— Eu vou a pé, e mando alguém vir tirar o carro.
— Nunca. Jamais deixaria uma hóspede nessa situação. Fique conosco
até melhorar o tempo.
— Jacob! — alguém grita. E se eu não estiver louca, conheço essa voz
também. Que não seja quem eu estou pensando.
— Na cozinha! — ele grita.
— E acabou a alegria! — Sophie solta o pão na mesa.
— Sophie! — Jacob a repreende.
Meu Deus! Acorda, Daiane, Sophie é filha dele. Nunca imaginei que ele
tinha uma filha. Vi-o algumas vezes nos corredores dos tribunais, mas fugia,
antes dele me ver. Desde que disse que era noivo da Poliana Xavier, em um
evento, eu queria evitar o máximo de contato com alguém próximo a ela. Essa
mulher foi uma peste na minha família.
— Amor, ainda bem que cheguei antes da chuva... Daiane! — Ela se
espanta quando me vê.
Estou pagando meus pecados.
— Se conhecem? — Joana pergunta.
— Sim — ela responde. — O que está fazendo aqui?
— Nossa convidada — Sophie diz.
— Tive problemas com o carro ontem, e Joana me abrigou. Mas vou
embora já.
— Mande lembranças para a sua família. Minha e do meu esposo —
enfatiza.
Olho para o Jacob e ele sorri.
— Poliana é minha esposa agora.
— SUA O QUÊ?! — Eles me olham espantados, mas ela sorri.
— Casei com ele, Daiane. Não mandei convites porque foi reservado.
Entende, não é? — Ela se aproxima dele e lhe beija.
— C-Claro. Estou apenas surpresa.
— Pensei que não queria vir — Jacob diz a ela.
— Não queria ficar sozinha em casa. Então resolvi vir, e encontrei uma
velha amiga.
— Não somos amigas. — Sorrio forçadamente. Ela fica sem graça e tenta
disfarçar. — Poliana era amiga do meu irmão e trabalhou com ele por um
período curto.
— Sim. Exatamente isso! — ela diz encerrando o assunto. Eles com toda
certeza não sabem o porquê ela não trabalha mais para o David.
— Que grande coincidência... — digo observando ela, que sorri de um
jeito cínico.
— Vai embora que horas? — pergunta.
— Agora!
— Não. Olhe o tempo. Não teime. Você vai ficar. Enquanto não estiver
melhor, não vai embora.
— Dona Joana, ela deve ter trabalho.
— Estou de férias, Poliana.
Ainda não oficializei, mas estou. Porém, ela não tem que saber da minha
vida.
— Sorte a sua. Tenho que cobrir uma promotora que não poderá mais
estar em uma audiência — Jacob diz e sorrio.
— Na cidade? — pergunto.
— Sim. — Controlo para não rir. Só pode ser brincadeira. O destino deve
estar brincando com a minha cara.
— Poliana? — Sophie chama ela.
— Sim, anjinha? — Mais falsa que isso impossível. Joana revira os olhos
e Jacob finge não ver.
— Seu cabelo está...
— Lindo? Eu sei. Hidratação milagrosa — responde passando as mãos
nele.
— Na verdade, eu ia dizer seboso. Credo!
— Sophie! — Jacob chama sua atenção. Quero rir, mas me controlo.
— Deixe meu amor, ela só está brincando.
— Não estou não.
— Agora chega. Vai se trocar! — Jacob diz a ela.
— Daiane, vem comigo? Quero te mostrar meu quarto.
Jacob e Poliana olham surpresos.
— O que foi? — pergunto.
— É que ela nunca deixa ninguém entrar — Poliana diz.
— Na verdade, eu não deixo apenas você entrar. Só entra quem eu gosto.
Jacob olha feio para ela. Levanto e seguro sua mão.
— Vamos ver o quarto?
— Claro!
Enfrento até um dragão para sair desse clima tenso.

Seu quarto parece de princesa. Sento-me na cama enquanto ela vai até o
guarda-roupa e começa a procurar algo.
— Então, o que devo vestir?
— O que te fizer sentir confortável.
— Verdade!
Ela pega um lindo vestido, entra no banheiro e, depois de alguns
segundos, sai.
— Linda.
— Obrigada.
Ela guarda o pijama e se senta ao meu lado.
— Posso fazer uma trança em você? Vai ficar ainda mais bonita.
— Sim! Eu adoraria.
Ela pega elásticos de cabelo, escova e me entrega. Se senta na cama, de
costas para mim. Começo a pentear seu cabelo com cuidado.
— Você trabalha de quê?
— Sou promotora. Igual seu pai.
— Ele trabalha muito. Quase não temos tempo, porque o que temos, a
Polichata tira de nós.
Sorrio com o apelido.
— Não gosta dela, pelo visto.
— Nem um pouco. E ela também não gosta de mim.
— Por que diz isso?
— Ela não gosta. Eu vejo pela forma que me trata.
— Acredito que seja impressão sua, ou seu pai não se casaria com ela —
tento amenizar.
— Não. Meu pai casou porque ela vivia dizendo que eu precisava de uma
mãe, e porque os pais dela ficavam insistindo.
— Quem te disse isso?
— Tenho dez anos, não sou um bebê mais. E eu escutei conversas.
— Entendo. Sinto muito.
— Só queria meu pai mais tempo comigo.
Não tenho o que responder. Começo a trançar seu cabelo.
— Você tem pai?
— Não. Meu pai morreu há um tempo.
— Que triste. Eu não tenho mãe. Meu pai e minha bisa dizem que ela
morreu, mas que me amou muito e foi uma linda mulher. Eu não lembro dela.
— Nunca viu em fotos?
— Não tem fotos. Sempre pedi uma, mas meu pai nunca me deu.
— Sinto muito.
Termino a trança.
— Terminei. Tem algum espelho pequeno além deste do quarto?
— Sim. Vou pegar.
Ela vai até o banheiro e retorna com um espelho menor. Pego e posiciono
ela em frente ao enorme espelho. Posiciono o espelho pequeno de uma forma
que ela veja sua trança refletida no grande.
— Está linda.
— Que bom que gostou.
Coloco o espelho na cama.
— Vamos — ela diz e saímos do quarto.
Ao passar pela sala, pego meu celular. Tem mensagem da minha mãe.

Meu amor, me mantenha informada. Não ligue para o que aconteceu


aqui. Estavam nervosos. Se cuida. Farei o que me pediu. Te amo muito.

Coloco o celular na bolsa após ler. Jacob aparece na sala.


— Olha, pai, o que a Daiane fez no meu cabelo.
— Está lindo! — ele diz e vejo o quanto importou para ela, pois seus
olhos brilham.
— Vamos fazer o quê?
— Com essa chuva? Nada que envolva sair da fazenda.
— Podíamos mostrar a fazenda para ela.
— Uma ótima ideia, se ela não se importar em se sujar — ele diz me
olhando.
— Vão aonde? — Poliana aparece na sala.
— Sophie quer levar Daiane para conhecer a fazenda.
— Leve, ela vai adorar — Poliana diz.
— Vamos, Daiane? — Sophie me pergunta.
— Claro.
— Pai, vamos?
— Vamos sim. Quer ir, Poliana?
— Sim! — ela diz sorrindo para ele.

Não conseguimos ver muita coisa. A chuva piorou e a lama estava


horrível. Mas o que vimos, é lindo. Estamos retornando para a casa. Sigo na
frente com a Sophie, enquanto o casal segue atrás.
— Quer ver uma coisa divertida? — Sophie me pergunta.
— Quero sim.
— UMA COBRA! — ela grita pulando.
Viro-me para ver Poliana, que começa a gritar e se agarra ao Jacob.
Sophie começa a rir, e não me aguento, rio junto.
— Olha só! Me sujei — ela diz, limpando as pernas. Sophie ri ainda mais
da situação. — Jacob, não vai fazer nada?
— Ela realmente pensou ter visto uma cobra. Eu também pensei que era
— minto para ajudar a Sophie. Jacob me olha desconfiado e sorri.
— Sei! — Poliana diz irritada.
Sophie e eu continuamos caminhando.
— Valeu! — ela diz e concordo sorrindo.
Ao entrarmos na casa, Poliana diz que vai para o banho, pois está toda
suja.
Sento na sala com a Sophie.
— Sophie, precisava mesmo disso? — Jacob a questiona.
— Mas não fiz nada pai.
— Vou trabalhar um pouco, depois conversamos. — Ele se retira.
Sophie olha para mim e começamos a rir.
— Vou usar essa técnica para atormentar minhas cunhadas — digo e ela
ri.
— Sabe jogar UNO?
— Amo esse jogo.
— Vamos jogar?
— Claro!
Fomos para seu quarto, e ficamos jogando por um tempo, até que Joana
veio chamar para o almoço. Poliana não quis almoçar, disse estar com dor de
cabeça, e Jacob ficou trabalhando. Então fomos apenas Sophie, eu e Joana.
Jacob Casagrande

Estou em meu quarto, trabalhando no notebook que tenho aqui. Poliana


está deitada na cama, ao meu lado.
— Não gosto da ideia dela aqui.
— Por quê? — pergunto sem tirar os olhos do que estou fazendo.
— Porque ela é solteira, bonita, sua filha gosta dela e sua avó também.
— Não tem o porquê ter ciúmes, Poliana.
— Eu sei. Mas parece que a Sophie está usando ela para me provocar.
— Não seja louca. Não tem nada disso. Sophie apenas gostou dela.
— Não gosto do fato dela estar aqui. Isso não me deixa com a mente em
paz. Por isso quero ir embora hoje com você e a Sophie.
— Vamos ficar aqui até a Sophie se acostumar mais com você e assim eu
ter paz para sair e saber que quando eu voltar, não se mataram.
— Quase não ficaremos sozinhas. Trabalho e chego tarde, amor. Sua avó
vai levar ela assim que eu chegar, e logo depois você chega.
— Mesmo assim, Poliana. Essa é minha decisão final.
— Ok. Só não quero você de conversa com a Daiane.
Fecho a tela do notebook e olho para ela.
— Quero saber o porquê desse ciúme. Nunca te dei motivos de
desconfiança.
— Porque você é louco pela família Escobar, e ela surge aqui do nada.
Você é lindo, e não confio nas mulheres.
— Pare de ser louca. — Aproximo-me dela e a beijo. — Vou comer.
Quer algo?
— Não, obrigada.

Vou para a cozinha. Daiane enxuga a louça que minha avó lava e Sophie
guarda.
— Pai, Daiane é boa no UNO, me venceu todas as vezes.
— Isso é um milagre. Todos que jogam com você perdem.
— Deixei ela ganhar — ela diz e ri.
— Ah é... — Daiane bate o pano de prato no braço da Sophie, que ri. —
Sou uma excelente jogadora.
— Verdade. É mesmo — Sophie concorda.
— Jacob, se veio comer vai lavar a louça depois — minha avó diz.
— Sim, senhora.
— A coisa não vem? — ela pergunta.
— Não vó. E a coisa tem nome.
— Não gosto nem de lembrar do nome dela.
Daiane enxuga a louça e finge que não escuta a conversa.
— Você mora onde, Daiane? — Sophie pergunta.
— Na cidade. Mas minha família tem uma fazenda algumas horas antes
daqui.
— Que legal!
— Eu que o diga. Deve ser foda ser da família Escobar! — digo
animado.
— Nem sempre. Pode acreditar. — Noto a sinceridade em suas palavras e
olhar.
— Levaram o carro dela para a garagem. Ajude ela a trazer a outra mala
que ficou lá e a fazer a tal da chupeta no veículo.
— Descarregado? — pergunto.
— É o que parece — Daiane responde.
— Eu posso trazer. É só me dizerem onde é.
— Eu ajudo. — Pego uma maçã na fruteira, mas desisto de comer e
retorno ela. — Vamos.
— Não terminei ainda aqui.
— Vai logo, menina! — minha avó diz tirando o pano de prato dela. Rio.
Levo ela até a garagem.
— É, meu carro precisa de um banho.
— Com certeza.
Ela abre o carro e pega a mala. Mas fica procurando por algo dentro.
— Perdeu algo? — pergunto.
— Espero que não. Merda!
— O que procura?
— Minha arma.
— Não precisa me matar. Vim apenas ajudar. — Ela me olha séria. —
Estou brincando. Onde deixa ela?
— Embaixo do banco. Mas não está. Eu tenho certeza de que eu trou...
Achei! Estava embaixo do banco do passageiro.
Ela coloca embaixo do banco dela e sai do carro.
— Então a moça Escobar tem as habilidades dos irmãos e do tio?
— Quem me dera. Apenas tenho arma por precaução. — Sorrio.
— Vou fazer chupeta no seu carro, com o meu.
Ela concorda. Caminha até o porta-malas, pega o cabo e me entrega.
Faço o que tem que ser feito e o carro dela liga.
— Obrigada.
— Imagine. Agora posso morrer em paz. Ajudei um Escobar.
Ela sorri.
— Você realmente é fã da minha família, não é?
— Sim. Vocês são uma inspiração na lei.
— Nem sempre.
— Sei que fogem as vezes das leis, mas é isso que me atrai. Porque
mesmo fazendo errado, agem certo.
— Pensando por esse lado.
— Vamos?
— Vamos sim.
Estamos retornando para a casa. O caminho é em silêncio. Já percebi que
ela fica desconfortável perto de mim, e por isso não insisto em falar. Ela sobe a
escada na minha frente. E porra, que me chamem de pecador, mas que bunda do
caralho! Sou casado, e não cego.
Entramos na sala.
— Obrigada mais uma vez. Preciso falar com sua avó. Com licença. —
Ela sai rapidamente da sala.
Ela realmente está fugindo de mim. Porra, tenho a chance de estar
próximo a um Escobar, e quando estou, foge de mim. Está foda!
Três

Daiane Escobar

Já é noite, e estou sem sono. Joana mandou limpar um quarto de hóspede


para mim, que fica de frente ao do Jacob. Isso não me traz confiança. Penso que
a louca da Poliana pode surgir a qualquer momento enquanto durmo e tentar me
matar. O que não é de se desconfiar. Aquela louca não está gostando nada da
minha presença aqui. Estou no quarto deitada na cama, mexendo no celular. Na
verdade, pesquisando sobre uma pessoa.

“Promotor Casagrande é destaque em reuniões de Nova York”

O promotor foi um dos escolhidos para participar de uma reunião em


benefício da lei brasileira, nos Estados Unidos. Ele se destacou grandemente, e
foi elogiado pelos melhores juízes internacionais que estavam presentes. Jacob
Casagrande é um mineiro, que há pouco tempo decidiu ir morar junto com a avó
materna em uma pequena cidade no interior de São Paulo.
O jovem tem se destacado muito, não apenas no exterior, mas também
em solo brasileiro.

Uma foto dele está logo abaixo da notícia, junto a outros homens na
reunião de Nova York.
Pergunto-me por que ele se inspira na minha família, nós que temos que
nos inspirar nele, que faz tudo correto. Todas as notícias que vi até agora são
elogios, até mesmo nos sites de fofocas.
— É, Poliana, você ganhou na loteria. Bonito, inteligente e, de brinde,
rico. Tudo o você sempre quis — penso alto.
Largo o celular e fico olhando para o teto.
Se existe realmente o papo de destino, o meu está brincando com a minha
cara. Tanto lugar para parar, e vim parar justo nesta fazenda. Se isso não é azar,
desisto de pensar o que pode ser.
A porta se abre lentamente e fico observando. Se for aquela louca, ela vai
sair voando daqui.
— Daiane?
Sophie entra.
Sento na cama. Ela acende a luz.
— Posso falar com você? — pergunta já encostando a porta.
— Claro. Sente aqui. — Indico a cama. Ela se senta. — Pensei que já
estava dormindo.
— Não. Na verdade, eu estava pesquisando sobre você na internet.
— Sério?! — pergunto surpresa.
— Eu disse que já tinha te visto. Você é bem falada na internet.
— Sim...
— É verdade tudo o que dizem?
— Depende. Algumas coisas sim, outras não.
— Meu pai também aparece muito em notícias, mas nunca falam de
mim.
— Posso contar um segredo?
Ela concorda.
— Eu queria não aparecer nas notícias. Nem sempre é bom o que dizem,
e isso pode te fazer mal.
— Pode ser que tenha razão... A Poliana conhece seu irmão? — Engulo
em seco — Vi sobre ela com um tal de David, mas é antiga as notícias.
— Você não deveria dormir? E realmente tem dez anos? — pergunto
assustada.
— Tenho dez anos, e em dias de chuvas assim, suspendem as aulas aqui.
Então não tenho o porquê de dormir cedo. E tenho tablet e celular em mãos.
— Percebi.
— Não me respondeu. — Garota direta.
— Sophie, isso é passado. Melhor esquecermos esse assunto.
— Você também não gosta dela. Eu percebi e está me escondendo algo.
Mas tudo bem. Ninguém gosta dela mesmo. Nem minha bisa gosta dela. Só
queria saber por que você não gosta.
Certo, eu estou pagando meus pecados. Uma criança está me
questionando e me deixando sem fala!
— Não é que não gosto dela. Apenas não sou a favor de algumas atitudes
dela... — minto.
— Isso é não gostar.
— Você é sempre assim? Inteligente demais?
Ela sorri.
— Sou esperta, fazer o quê!
— Notei. Mas é melhor ir para a cama, está tarde, antes que seu pai
acorde e veja você acordada.
— Ele vai apenas dizer: “Sophie, vai para cama já!” — ela diz com uma
voz grossa, e rio.
— Mas vamos evitá-lo de dizer isso?
— Está bem. Me leva até o quarto?
— Com certeza! Vou garantir que ficará longe da internet.
Ela ri.
Fomos para seu quarto. Ela deita na cama.
— Boa noite, espertinha!
Ela sorri.
— Boa noite, princesinha Escobar. — Fico boquiaberta.
— Você realmente precisa ficar longe da internet.
Ela ri.
Apago a luz e saio de seu quarto.
Entro no quarto que estou, a tempo de escutar meu celular tocar.
O nome do Henrique aparece na tela.
— O que você quer? Não tem noção da hora?
— Daiane, onde está? Porra, está todo mundo preocupado. Você não
usou cartões, nem a fazenda. — Sua voz é de desespero.
— Sério que estão me rastreando? Que ridículo! — Rio.
— Tentamos até seu celular e carro, mas não encontra o lugar. Por
favor, estamos preocupados. Desculpe o que falei. Porra, eu estava nervoso.
Volta para casa.
— Henrique, acorda! Sou maior de idade, vacinada, e não preciso do
dinheiro de vocês. Então cuide da sua filha, e sua mulher, e deixe que da minha
vida cuido eu. Não interessa aonde estou, e pouco interessa para onde irei
depois. Apenas me deixe em paz.
— Daiane, para de putaria. A mãe está angustiada. Você deixou a
audiência que tinha de lado.
— Eu estou bem. Muito bem. Não precisa ninguém se preocupar.
— Pode, pelo menos, dizer em que lugar está?
— Em uma fazenda. Satisfeito?
— Não. Eu não estou satisfeito.
— Problema seu!
— Nos mantenha informados. Você está sem segurança.
— Henrique, a única pessoa que vai precisar de segurança é uma idiota
que calhei de encontrar, caso ela me provoque. Vai dormir.
— Se cuida. Te amo, pirralha!
— Eu sei, também amo você. Amo todos vocês, mas preciso ficar longe
um tempo. Beijos. — Desligo.
Essa noite está cheia de questionamentos.
Saio do quarto. Preciso de água e ar.
Vou para a cozinha, que é iluminada pelos clarões da tempestade. Encho
um copo com água.
Abro a porta que dá para o quintal, e encosto no batente. Fico observando
a tempestade. Bebo um pouco da água e fico segurando o copo.
Nunca pensei, que seria bom, ficar um pouco longe da cidade, e da
família. Viver um pouco da independência que tenho direito. Vivi minha vida em
função de todo mundo, e esqueci de mim. Não estou com raiva pelo que me
disseram em casa, apenas chateada, mas logo passa. Ficar longe por um tempo
vai me fazer muito bem.
— Gosta de tempo assim?
Viro-me assustada e sorrio.
— Gosto sim, Joana.
— Eu também. Ela acalma. Mas também nos ajuda a refletir.
— E como!
— Fugir dos problemas não vai resolvê-los.
— Não estou fugindo.
— Sempre dizemos isso, mas vivemos em constante fuga.
— Foram problemas familiares. Digamos que estava fazendo o
sobrenome Escobar ser citado demais, e quando precisei não tive apoio das
pessoas que tanto ajudei.
— Eu sei como é isso. Por isso não coloco minha mão no fogo por
ninguém, porque já fui queimada. Por mais que amemos alguém, temos que
limitar esse amor e nos colocarmos em primeiro lugar as vezes.
— Percebi isso... Demorei, mas percebi.
— Antes tarde do que nunca. Vocês jovens fazem tantas burradas, que
essa frase se tornou constante em minha boca.
Sorrio.
— Até que eu não faço tantas.
— Poderia ensinar ao meu neto, então. Porque eu quero acreditar que
Poliana fez alguma mandinga para prender ele. Não pode ser burro ao nível que
está sendo. Tem que ser mandinga.
Rio.
— Ele deve amar ela. Tem louco para tudo.
Ela ri.
— Amar ela? Menina, se aquilo é amor, desisto da humanidade.
— Não posso dizer nada a respeito. Para o amor, eu sou um desastre. No
entanto, nunca namorei, sempre foram casos de uma noite, e nada mais.
— Melhor ser assim do que encontrar um cara estilo Poliana.
Sorrio.
— Pelo visto, ninguém realmente gosta dela.
— Acho que nem ela mesmo se gosta. Por isso digo que foi mandinga
em cima do Jacob. Mulher interesseira como a mãe, vulgar, e nem sequer aceita
a Sophie. Tenho muitos motivos para não gostar dela, e você quais os motivos?
— Está realmente na minha cara que não gosto dela — comento
sorrindo. — Bom, minha família teve alguns problemas por culpa dela, e eu
nunca fui com a cara dela.
— Nunca foi com a cara de quem?
Joana grita com a voz que surgiu.
— Menino, quer me matar? Deus me livre!
Ele sorri.
— Fica fofocando, e não vê as pessoas chegarem — Jacob diz sorrindo.
— Você me respeita! — Ela acerta um tapa em braço e, em seguida, pega
uma garrafa de água na geladeira.
— Vou dormir. Boa noite! — Ela para ao lado dele e me olha. — Eu digo
que é mandinga. Lua de mel, e nem sexo, pelo visto, está acontecendo — diz
apontando para ele e me engasgo com a própria saliva. Bebo o restante de água
no meu copo.
Ela se afasta, rindo. Coloco o copo na pia.
— Não ligue para o que ela diz.
Concordo sorrindo.
— Vou dormir.
— Por que foge de mim?
— Não estou fugindo. Apenas vou dormir.
— Percebi que evita contato visual, e sempre arranja uma oportunidade e
foge.
— Impressão sua — minto.
— Duvido, mas fingirei que acredito.
Que se dane, vou perguntar.
— Por que se casou com ela?
Ele me olha impressionado.
— Porque...
— Amor, o que faz aqui? — Ele é interrompido por ela.
— Já vou indo.
Saio da cozinha o mais rápido possível. Preciso sair daqui, antes que eu
abra minha boca de vez sobre Poliana. E que merda foi essa de questioná-lo?
Quanto menos eu souber, será muito melhor.

Jacob Casagrande

Olho para Poliana, que está me encarando seriamente.


— Sério? Sozinho com ela na cozinha!
— Poliana, não comece com seus surtos de ciúmes — respondo sem
paciência.
— Surtos com razão. Isso é hora de você estar fora da cama da sua
esposa e ainda com outra na cozinha?
— E isso é hora da minha esposa ficar me vigiando para saber o que
estou fazendo? Não me enche a porra do saco! Pare com esse ciúme idiota!
Quem vê pensa que sou próximo da Daiane há anos. Estávamos conversando.
Menos, Poliana.
— Não interessa. Procure na internet e veja a fama dela por lá. Sei bem
como Daiane é. Então não quero você de conversa com ela — desdenha.
— Poliana, se você não se garante, não encha a porra das minhas bolas.
Com licença, que até a sede eu perdi.
Passo por ela, deixando-a sozinha na cozinha. Se tem uma porra que
odeio fortemente em Poliana é o ciúme com qualquer mulher que ela tem, mas
com a Daiane está sendo demais. Não tenho nem intimidade com ela, e a louca
vem surtar. Se arrependimento matasse, eu estava fodido. Sei muito bem porque
me casei, e tive motivos nobres para tal. Mas está sendo foda. Nunca pensei que
fazer o bem alguma vez fosse ser sufocante para mim.
Vejo a luz do quarto da Sophie acesa. Vou até seu quarto, e a encontro na
cama, mexendo no tablet.
— Isso são horas?
Ela me olha assustada.
— Estou sem sono.
Aproximo-me e pego o tablet da sua mão. Ela estava jogando. Bloqueio a
tela e coloco em cima da cômoda.
— Dorme comigo hoje, pai?
Olho para ela e sorrio.
— Vou pensar no seu caso. — Dou uma piscadela e saio do quarto.
Vejo a Poliana entrando em nosso quarto.
— Vou ficar com a Sophie.
— Sério? Vai me deixar sozinha? Estamos em lua de mel. Já não basta
termos que voltar antes do tempo? — diz irritada.
— Triste, não é? Mas minha filha precisa de mim e sempre será ela em
primeiro lugar. Boa noite, querida — falo com ironia, e ela entra no quarto
batendo a porta com raiva.
Entro no quarto da Sophie e fecho a porta. Apago a luz, e deito ao seu
lado na cama. Ela deita a cabeça em meu peito. Cubro nós dois. Começo a mexer
em seu cabelo com carinho.
— Pai, por que não desistiu dessa bruxa? Ela é irritante.
— É complicado, meu amor.
— Sempre diz isso, desde que noivou com ela.
— Filha, nem eu sei explicar — minto e isso me dói. Nunca gostei de
mentir para a minha pequena.
— A bisa disse que você vai acordar do seu erro.
— O problema é que eu sempre estive acordado. Isso é pior, princesa.
— Vocês, adultos, são complicados.
Sorrio e dou um beijo em sua testa.
— Dorme, está bem tarde.

Daiane Escobar

Já é cedo. Joana está na cozinha.


— Bom dia, menina!
— Bom dia!
— Vou para o estábulo, Sophie já me espera lá. Tome café.
— Claro. E o casal, onde está?
— A coisa teve um chamado e foi trabalhar, e não gostou nada, porque,
ao que parece, não queria meu neto com você.
Rio.
— Coitada de mim. Estou sendo uma anja. Sou tão santa as vezes —
brinco e ela sorri.
— Jacob está no escritório, trabalhando. E só para você saber, se a coisa
está com ciúmes, ela vê motivos para isso.
— Mas eu não fiz nada! — digo irritada.
— E precisa? Olhe para você e olhe para ela. Só se fosse louca, não teria
ciúmes. — Ela sorri e passa por mim.
É, ganhei meu dia. Irritei Poliana, sem estar presente.
Sento-me e tomo meu café. Só bem alimentada para aguentar essa louca.
Essa chuva tem que passar logo, porque preciso sumir daqui, e sei que a Joana
não vai deixar eu sair na chuva.
Termino de comer, e lavo o que eu sujei.
— Eu estou pensando em matar a pessoa que largou a audiência e sobrou
para eu substituir. Porra, estou ficando louco para me inteirar melhor. Pior que
ainda não sei quem foi a pessoa, vou saber só quando for para cidade. — Rio,
enquanto enxugo as mãos. — Que ótimo, meu suplício te diverte.
— Pode matar, mas faça bem feito o crime! — Ele fica me olhando sem
entender. — Prazer, Daiane Escobar, a pessoa que largou a audiência, que você
vai substituir! — Estendo a mão para ele.
— Puta que pariu! Vou substituir você?
Concordo rindo.
— Estou fodido. Eu iria com um terno preto, mas é melhor ver uma saia,
não é? Tenho que estar ao seu nível nesta audiência, mas sei que, como
promotor, não será, é melhor eu tentar na vestimenta.
Gargalho. Ele ri.
— Eu não uso saia. Apenas quando quero impressionar — digo com
malícia e ele sorri. E como não reparei que o sorriso dele é lindo?
— Então é assim que joga? Terei que depilar as pernas então. Porra, deve
doer demais.
Rio.
— Te empresto uma meia-calça.
— Fechado! — Ele ri.
— Falando sério. Me desculpe estragar sua lua de mel. Imagino que foi
por isso que retornou — tento ser educada.
— Foi um dos motivos.
— Teve outros?
Ele me olha sorrindo. Esse maldito sorriso de menino levado.
— Desculpe, sou curiosa as vezes.
— A lista é enorme. Na verdade, essa audiência me salvou.
— Posso te ajudar para compensar.
— Seria trapaça.
— Eu chamaria de ajuda ainda.
— Gosto de trapaça. Aceito sua ajuda.
Sorrio.
— Mas antes preciso comer.
Concordo.
— Vou pegar meu notebook. Te espero na sala.
— Me espere no escritório. Final do corredor. Última porta. Está aberta,
você vai ver.
— Pode deixar.
Saio da cozinha e vou buscar meu notebook que deixei dentro de uma
das malas.

Após ficarmos horas trabalhando, e eu deixá-lo a par de tudo que eu


sabia, estou sentada, ainda no chão do escritório com o notebook fechado no
colo e ele está na cadeira com as pernas na mesa.
— Vai se sair bem. Tomara que consiga sair daqui com essa chuva.
— Dá para sair com a chuva, é minha avó que não quer deixar você ir.
Mas também é bem perigoso. A estrada está um caos.
— Já percebi isso. E ainda não fui, porque gostei dela e de ficar em um
lugar diferente, mas pretendo ir embora amanhã. Vou ficar na cidade, mas em
um hotel.
— Se pretende fazer isso, não diga a dona Joana, ela jamais deixaria você
sair para ir a um hotel.
Sorrio.
— Acredito que meu carro não passaria na lama que deve estar, o que é
surpreendente, porque na fazenda da minha família, ele passa.
— Para seu azar, foi acontecer justo aqui. — Ele sorri.
— Não é para tanto. Sua avó é divertida e sua filha um amor.
— Amor? Você tem sorte dela ter gostado de você. Sophie pode ser bem
terrível quando quer.
Sorrio.
— Não imaginei que poderia ter uma filha de dez anos.
— Ninguém imagina. Não deixo ela sair na mídia. Eles podem ser bem
terríveis. E também pela segurança dela. Ser promotor nem sempre é seguro,
mas você deve saber.
— E como sei! Faz bem evitar ela na mídia. Minha família tenta ao
máximo evitar as crianças na boca dos jornais... Mas, e a mãe dela?
Ele se levanta e fecha a porta. Depois se senta em cima da mesa.
— Longa história — ele diz me olhando atentamente.
— Estamos com tempo — incentivo-o a contar.
— Conheci a mãe dela na faculdade. Ela engravidou, pois não tomamos
todas as precauções como já deve imaginar. Ela não era nenhuma santa, e eu
sabia, mas éramos jovens, e foi o famoso romance de faculdade. Um dia
terminamos, ela ficou com outro cara, isso no decorrer da gravidez, e foi aí que
começou a usar drogas, ir para lugares terríveis. Até que recebi a ligação que ela
estava no hospital. Tinha sofrido um acidente de moto, e teve a Sophie antes do
tempo. Ela não resistiu e morreu. Claro que assumi minha filha, afinal, não
poderia pagar pelo erro dos pais. Os médicos diziam ser um milagre ela ter
nascido sem nenhuma sequela. Mas para ela sempre dizemos que a mãe foi uma
linda mulher, de boa índole e a amou muito... Ela não merece saber quem era a
mãe de verdade, pelo menos, não agora.
Fico emocionada com sua atitude.
— Uau... Sem palavras. Sophie teve sorte de ter você como pai.
— Eu que tive sorte de ter ela. Logo depois, minha mãe faleceu e foi a
Sophie que me deu forças para continuar.
— Nossa! — exclamo boquiaberta. — Sua mãe deve estar muito
orgulhosa de você. Porque eu estaria. Jovem, cuidou da filha, e ainda teve que
aguentar o baque de perdê-la.
Ele sorri.
— E como foi que ela...
— Ela era policial. Morreu em serviço.
— Sinto muito. De verdade!
— Faz tanto tempo já. Dez anos. A idade da Sophie. Ficou mais fácil
falar do assunto com o tempo.
— Sei como é. Já passei por uma grande perda.
— Seu pai... Foi noticiado. Foi um grande baque para todos que admiram
sua família.
Ficamos nos observando. Ele é muito bonito. Seus olhos acinzentados
são completamente atraentes. Chamam atenção. É o que mais chama atenção
nele. Que olhos lindos.
Preciso sair desse lugar, urgente. Porra, isso não vai acabar bem!
— Melhor eu ir. — Levanto com cuidado, pois estou de vestido, e tudo o
que menos preciso agora é mostrar minha calcinha.
Ele me observa de um jeito intenso, e não sei se me sinto desconfortável
ou despida, e normalmente gosto de ser despida por homens que eu queira...
Mas... Porra, o que estou pensando? Foco, Daiane Gabrielle!
— Espero que se saia bem na audiência.
— E irei. Tive a melhor professora!
Sorrio.
Mal sabe o modo que estou me vendo de professora.
Abro a porta e saio.
Entro rapidamente no meu quarto e fecho a porta. Jogo-me na cama com
o notebook. Solto o ar com força.
— Daiane, precisa sair desta casa, logo. Esse cara vai ser seu pecado.
Desde o dia que ele se apresentou para mim e minha família, em um
maldito evento, já tinha ficado um pouco interessada, mas ficando agora na
mesma casa, está sendo foda. Preciso ir, antes que eu faça uma merda.
— Ele é casado! Ele é casado! Ele é casado! Foca nisso.

Jacob Casagrande

Saio do escritório. Preciso de muito ar. Porra, o que aconteceu?


Passo pela minha avó na sala.
— O que foi, menino? Está estranho.
— Nada. Vou para o estábulo.
— Só vai para lá quando vai pensar, ou tocar violão. O que houve?
— Nada... Nada.
Vou para o estábulo o mais depressa possível, e nem tento me desviar da
chuva.
Pego o violão que está no canto e me sento no chão.
— Jacob, que porra está acontecendo? — questiono a mim mesmo. —
Não posso fazer isso, inferno! Preciso manter distância. Talvez seja melhor ela ir
embora mesmo.
Estou fodido!
Começo a dedilhar All of me no violão e me permito cantar. Se tem uma
coisa que me faz relaxar e pensar, é tocar e cantar. Nessa loucura da minha vida,
eu precisava de um modo de relaxar, e porque não o modo com que aprendi com
minha mãe?

“What would I do without your smart mouth


Drawing me in, and you kicking me out
Got my head spinning, no kidding, I can’t pin you down
What’s going on in that beautiful mind?
I’m on your magical mystery ride
And I’m so dizzy, don’t know what hit me, but I’ll be alright”

Concentro-me na música, e vou relaxando os músculos, que só agora


notei estarem tensos.

“My head’s under water


But I’m breathing fine
You’re crazy and I’m out of my mind”

Abro os olhos e vejo de quem estou querendo fugir, e sei que não é uma
miragem. Ela me observa, surpresa. Não paro o que estou fazendo, porém, desta
vez, de olhos bem abertos focados nela.

“How many times do I have to tell you


Even when you’re crying you’re beautiful too
The world is beating you down, I’m around through every mood
You’re my downfall, you’re my muse
My worst distraction, my rhythm and blues
I can’t stop singing, it’s ringing, in my head for you”

Ela entra mais enquanto continuo com a música. Se aproxima parando ao


lado de um dos cavalos, que aproxima dela e ela o acaricia.
Talvez eu seja muito mais fã em especial de uma jovem da família
Escobar. Fazer o que, sempre a admirei, tanto no profissional quanto na beleza.
E desde o evento que a encontrei, nunca a tirei da mente. Só não sei o porquê.
Pode ser o fato de eu ser fã dos Escobar, como também pode não ser.
Termino a música sob seu olhar. Sorrio ao ver que ainda está
impressionada.
— Sou romântico, fazer o quê! — digo, colocando o violão de lado.
— Se você é romântico, eu não sei. Mas que canta e toca bem, isso eu
posso garantir que você faz. Esconde mais algum talento? — pergunta sorrindo.
— Nem imagina... — Ela fica ruborizada e rio. — Então?
— Então o quê? — pergunta confusa.
— Veio até aqui...
Ela franze o cenho como se quisesse se lembrar do que veio fazer e isso
me diverte.
— Sua avó pediu para te avisar que o almoço está pronto. E ainda bem
que vim. Assisti a um belo show de camarote.
— A primeira vez é gratuita, depois irei cobrar.
— Pago qualquer valor. — Ela sorri.
Porra, ela precisa parar de sorrir desse jeito meigo que carrega uma certa
malícia.
Levanto e ajeito o violão no lugar que estava.
— Aonde aprendeu tocar tão bem e a cantar também?
— É um dom! — brinco e ela revira os olhos.
— Ser convencido deve ser um dom também.
— Não. Isso é questão de prática.
Ela me empurra.
— Você é irritante! — Ela sai na minha frente.
— Já me chamaram de muitas coisas, menos irritante.
— Pode ter certeza de que quiseram te dizer! — ela grita, andando rápido
na minha frente, se protegendo da chuva.
— Duvido. Sou bom demais para ser irritante. — Rio.
Ela se vira para dizer algo, mas escorrega, caindo para fora da área
coberta e indo para a chuva. Aproximo-me rapidamente, me molhando
completamente. Ergo ela e maldita a hora que fiz isso. Ela fica completamente
colada a mim. Seu vestido está encharcado e marcando todo seu corpo enquanto
apoia as mãos em meu peito. Seus olhos estão vidrados nos meus.
— Fui te xingar, e me ferrei... — ela sussurra.
— Se machucou? — pergunto, enquanto minha respiração está acelerada.
— E-eu... — ela tenta dizer, mas não consegue.
— Daiane, se machucou? — pergunto com a voz firme. Pressiono ainda
mais seu corpo ao meu.
Eu estou perdendo o controle!
Seus olhos descem para a minha boca. Sua respiração é intensa.
— Papai! — Sophie grita.
Daiane se afasta rapidamente. E sai em disparada em direção a casa.
Sophie fica olhando para Daiane, e eu faço o mesmo.
— Pai? — ela me chama.
— Vamos!
Eu estou definitivamente fodido! Daiane precisa ir embora logo.
Quatro

Daiane Escobar

Estou sentada no chão do banheiro, em estado talvez vegetativo.


— Daiane, que merda está acontecendo?
Nunca pensei que seria tão grata a uma criança, como sou a Sophie. Se
ela não tivesse chegado, aconteceria o que eu queria, mas que não deveria. Eu
não sou assim. Eu preciso manter controle, e para isso preciso sumir daqui. Tudo
o que não preciso é arranjar problemas com homem casado. Se uma merda dessa
cai na boca da mídia, eu acabo com o sobrenome Escobar.
Levanto e entro no chuveiro. Estou suja com a lama e encharcada.
Meu banho é rápido. Me seco, coloco uma calça jeans e uma blusa de
mangas. Preciso ir embora hoje. Chega!
Calço as botas de quando vim. Arrumo meu cabelo e logo em seguida as
minhas coisas.
Pego meu celular e tem ligações perdidas da minha família. Depois falo
com eles.
Saio do quarto e vou até a cozinha, onde escuto vozes. Sophie está
sentada ao redor da mesa com cara de poucos amigos e Joana serve comida a ela.
Mas o único olhar que sinto em mim é do homem sentado ao lado da filha. Ele já
trocou de roupa, e... que porra, fica lindo em qualquer uma!
— Olha só quem apareceu. Eu já iria atrás de você para saber o que
aconteceu. Jacob contou que caiu.
— É... eu estou bem. Joana, eu só vim para agradecer tudo o que fez por
mim. Mas vou embora. Preciso ir. Não se preocupe, que irei em segurança, vou
pedir para o meu segurança vir me buscar aqui.
Ela me olha espantada e depois olha para o Jacob, que fica olhando para
qualquer coisa na mesa.
— Vai tarde! — Sophie diz e fico surpresa.
— Sophie, isso são modos?! — Joana a repreende.
— Está tudo bem, Joana — digo, tentando não mostrar que realmente
estou chateada pelo que ela disse.
— Não vai embora, antes de almoçar conosco!
— Estou sem fome. Vou esperar na sala.
— Nem pensar! Daiane, almoce conosco — ela insiste.
Sento-me para almoçar, e estou quase vomitando, por estar forçando a
comida descer. Sophie passa a refeição inteira me encarando. Conversa com sua
bisavó, e com o pai, mas não desvia os olhos de mim. Não a culpo, ela não é
bobinha, sabe o que viu, e já percebi que tem um enorme ciúme do pai.
Termino de comer, e juro que foi a refeição mais difícil da minha vida.
— Eu limpo aqui, vão vocês — Joana diz.
Eu não penso duas vezes, coloco meu prato na pia e saio em disparada da
cozinha. Pego meu celular no quarto e ligo para Estefan.
— Senhorita?
— Estefan, preciso que venha me buscar. Vou te passar os detalhes por
mensagem. O lugar tem muita lama, e chove sem parar. Meu carro vai ter que
aprender a voar para sair daqui rapidamente.
— Ficarei no aguardo.
— Não diga a ninguém onde estou, e isso não é um pedido, é uma
ordem!
— Sim, senhorita! — Desligo o celular.
Envio uma mensagem para ele, explicando detalhadamente o lugar, pois
sei que o GPS não achará aqui facilmente. Pego todas as minhas coisas e levo
para a garagem, onde começo a guardar em meu carro, ficando apenas com o
celular em meu bolso e minha bolsa. Retorno para a casa e, para meu azar, dou
de cara com a Poliana na sala, junto ao Jacob e a Sophie. Ela me olha com
desdém, o que não é novidade alguma.
— Ainda aqui... Que maravilha! — ela tenta soar animada, mas falha.
Não consegue fingir que gosta de mim, e isso é recíproco.
— Você deveria pegar carona com ela, Poliana — Sophie diz e me
controlo para não rir.
— Sophie, agora não, por favor! — Jacob a repreende.
— Mas, pai...
— Eu disse, agora não! — ele diz com rigidez. A menina me encara com
raiva, e Poliana percebe, pois franze o cenho.
— Vou para o meu quarto! — ela diz e sai da sala.
— Perdi algo? Até eu ir trabalhar, ela te adorava — Poliana me
questiona.
Não respondo a sua pergunta. Saio da casa e fico ao lado de fora na parte
coberta. Estefan avisa que já está a caminho.
A porta se abre. Reviro os olhos ao ver quem é. Ela fecha a porta e
caminha parando de frente para mim, onde se senta na mureta.
— Fiquei impressionada. Sophie normalmente não gosta das mulheres
que se interessem por seu pai. De você ela gostou de primeira, e agora te olha
com raiva, e foi dura nas palavras quando sugeriu que eu fosse embora com
você. Olha, você me surpreendeu, Daiane. Que você era uma qualquer, todos já
sabiam, mas ao ponto de dar em cima de homem casado, nossa, isso é baixo
demais, até para você. — Ela me olha e sorri. — Devo dar os parabéns! — Ela
bate palmas.
— Não fale o que não sabe, e não me provoque. Não sabe do que sou
capaz. E quem é você para falar qualquer coisa? Pelo que me lembro, deu em
cima do meu irmão e tentou separar ele da Liziara.
Ela ri.
— Isso foi passado. E ele não tinha qualquer relacionamento com ela.
Que eu me lembre, ele disse que não eram namorados.
— Não tente jogar comigo, porque não jogo para perder, Poliana. É
melhor você tomar muito cuidado. Meus irmãos e meu tio nada fizeram com
você, porque eram homens, mas eu não tenho um pingo de medo de marcar essa
sua cara de pau.
— Daiane, a única sobrando aqui é você. Jacob é meu. Se conforme com
isso. Ele não tem olhos para outra que não seja eu. Não tente tirar o que é meu.
Os Escobar já me ferraram demais, me mandando para esse fim de mundo
novamente. Eu posso não ter ficado com o David, mas você não vai me tirar o
Jacob. Até porque vocês nem se conhecem direito. Seja lá o que for, é
passageiro, então não se iluda. — Sorri.
— Até concordo com a parte que minha família te ferrou. Mas sobre o
Jacob só ter olhos para você? Porra, você é bem míope, então comece a olhar
bem de perto.
Ela se levanta com raiva. Se aproxima de mim, e ergue a mão.
— Bate! Acerta esse tapa em mim. — Aproximo-me ainda mais dela. —
Eu dou um milhão para não entrar em uma briga, mas quando entro, dou o
Banco Central e a Casa da Moeda, para não sair dela. Você sabe que mexer com
minha família não acaba bem, mas não experimente mexer comigo, que acabará
bem pior. Da última vez que você agiu como uma imbecil e quis estragar a vida
da Liziara, e quase coloca a vida dela em risco no dia que foram livrar ela,
porra... eu deixei passar, afinal, eu sabia que você não passava de uma coitada.
Agora, o negócio é diferente. — Ela abaixa a mão. Está tremendo de raiva.
— Isso não acabou. Ele é meu, Daiane. Jacob é meu. Você se garante
porque é uma Escobar. Mas mexeu com a pessoa errada! — diz com ódio.
— Poliana, só ameace a mim, se você tiver descoberto como fugir sem
que eu te ache. Do contrário, tome muito cuidado. E não se preocupe, se o Jacob
te largar, não vai ser por minha causa. Ele não precisa de outra mulher para
destruir esse casamento, a dele fará isso sozinha.
Entro na casa, dou de cara com o Jacob.
Eu definitivamente estou pagando meus pecados.
— Eu já sabia de tudo isso que ela fez... — Olho sem entender. —
Escutei a conversa de vocês. Na verdade, acredito que a fazenda inteira tenha
escutado.
— Cara, não sei se fico chocada por você se casar com essa mulher, já
sabendo o tipo dela, ou por sua cara de pau em me dizer isso! — cuspo as
palavras, pois nada mais importa.
— Daiane, eu não me casei com ela, porque eu aceito suas atitudes...
— Jacob, não me interessa saber. Isso é problema seu! — digo alterada.
Passo por ele, e vou atrás da única pessoa na qual não quero que fique
chateada comigo, quando eu for embora.
Entro em seu quarto e ela está deitada na cama mexendo em seu tablet.
Ergue o olhar, mas volta ao que estava fazendo. Encosto a porta e me aproximo,
sentando ao seu lado na cama.
— Sophie, o que você viu hoje não significa nada. — Ela deixa o tablet
de lado e se senta na cama, com as pernas cruzadas.
— Eu não sou bobinha. Eu sei que quase se beijaram. Eu sempre vejo
mulheres querendo meu pai, e pensei que você fosse diferente. — Seus olhos
estão repletos de lágrimas e isso me mata por dentro.
— O que aconteceu foi um acidente. Eu não tenho e nem terei nada com
ele. Seu pai é casado, e eu jamais iria querer algo com um homem nessas
circunstâncias. Entende?
Ela concorda.
— Eu sempre tive que dividir meu pai com o trabalho, mas depois era
com as mulheres que ele saía, mas eu sabia que não era nada. Depois, quando a
Poliana apareceu, eu tive que dividir ele com o trabalho e com ela, mas desde
que se casaram, eu quase não tenho tempo com ele. Ela sempre faz de tudo para
me tirar do caminho. — As lágrimas escorrem por seu rosto, e eu limpo com
carinho.
— Sophie, ele te ama, e não tem mulher alguma que vá tirar ele de você.
Quando eu era pequena também morria de ciúmes do meu pai, mas com o tempo
vi que ele jamais deixaria de me amar por outras coisas ou pessoas.
— Mas é diferente. Nunca conheci minha mãe, cresci com meninas da
minha idade me provocando por isso, e meu pai arruma uma mulher chata. Só
tenho minha bisavó, mas nem sempre ela tem tempo para mim, porque tem os
trabalhos na fazenda. Eu só queria ter meu pai mais tempo para mim. Por isso
fiquei com raiva de você, já tenho que dividir ele com a Poliana, não queria ter
que dividir com você também.
Sorrio.
— Não tenho nada com ele. Não se preocupe. O que aconteceu foi um
acidente.
Ela me olha desconfiada.
— Eu vou embora hoje, não vai precisar ter medo mais.
— Me desculpa? — ela pede, e eu concordo. — Vai vir me visitar?
— Quem sabe. Ou você pode ir me visitar na minha casa em São Paulo
também. Mas vou te deixar meu número, e você me liga sempre que quiser.
Ela concorda animada. Se levanta e pega o celular.
Anoto meu número em seu celular e anoto o dela no meu.
— Amigas? — pergunto e ela sorri.
— Sim! — Ela me abraça e a aperto forte. Sempre fui apaixonada por
crianças, elas me acalmam mesmo quando fazem coisa errada.
— Vou falar com sua bisavó, mas antes de eu ir, eu vou querer um outro
abraço, combinado?
Ela concorda sorrindo.
Saio do seu quarto e procuro por Joana. Encontro-a na despensa. Ela está
conferindo alguns alimentos.
— Se resolveram? — ela me pergunta, sem tirar os olhos das prateleiras.
— Você e Sophie. Ela me contou o que viu.
— Não foi nada. Conversamos e terminamos amigas.
— Crianças são sábias e, na maior parte das vezes, sinceras. Ninguém as
engana por muito tempo. — Franzo o cenho.
— Sei onde quer chegar, e não tem nada.
— Conheço meu neto. Vi como ele te olha, e como você olha para ele. O
arrependimento deve estar destruindo ele por dentro.
— Joana, me desculpe, mas a vida pessoal dele não cabe a mim. — Ela
retira os óculos, e me observa.
— Podem pensar que é apenas atração, afinal é normal se sentir atraído
por alguém. Só não é normal essa atração gerar tanta confusão em menos de uma
semana. — Fico sem graça.
— Não estou atraída por ele.
— E você quer que eu acredite nisso? — Sorri. — Ele sempre foi fã da
sua família, então pode ter certeza de que não é de agora que ele está encantado
por você. Agora, se não está atraída por ele, por que foge?
— Não estou fugindo. Apenas tenho que ir embora, porque não era para
cá que eu viria. Mas, por que quer tanto me prender aqui? — questiono.
— Porque eu acredito em milagres, e quando te vi naquela porta, tinha
acabado de pedir aos céus, que Jacob largasse aquela mulher que está
destruindo-o. Quando te vi, eu enxerguei o meu milagre. Eu amo demais esse
meu menino para vê-lo sofrendo assim. Eu sei que ele não a ama, mas ainda não
descobri o porquê se casou. Eu daria essa fazenda, e todas as propriedades da
família Casagrande, para ela sumir da vida dele. Pensei que você poderia fazê-lo
ver que tem mulheres melhores neste mundo — diz emocionada.
— Joana, acho linda sua atitude, mas ele é adulto e sabe onde se meteu.
Eu não sou um milagre, e nesta relação, eu não quero ser. Eu posso sair com
muitos homens e não me envergonho disso, mas conheço bem cada terreno que
piso, e este é perigoso, e estou procurando paz, não mais problemas. Sei que a
mídia diz muitas coisas sobre mim, e algumas pessoas também, e posso aceitar
ser chamada de tudo, menos de destruidora de lares, esse cargo eu dispenso.
Dizem que jamais devemos usar a palavra “nunca”, mas neste caso eu digo. Eu
nunca saio com homens casados e nunca irei sair.
— Tudo bem. Eu jamais te pediria algo assim. Desculpe por te colocar
em uma situação terrível.
Sorrio.
— Está bem. — Ela me abraça.

Estefan chega, e coloca as coisas em seu carro. Disse que vão vir buscar
meu automóvel.
Despeço-me da Joana e da Sophie. Jacob e Poliana não vejo, e dou
graças a Deus por isso.
A chuva não amenizou, mas sairia até em um dilúvio, para não ficar mais
nem um segundo aqui.
Entro no carro e Estefan se vira para trás.
— A Sra. Escobar está bem preocupada — ele diz. E só então me lembro
de uma coisa.
— Merda, é por isso tantas ligações no meu celular e eu perdi todas e
esqueci de ligar. Amanhã é aniversário dela. Como eu posso ter esquecido? Que
péssima filha! Estefan, vamos para casa. E não esqueça que meu carro precisa
sair daqui hoje. — Ele concorda e se vira para frente.
O caminho para sair da estrada da fazenda é bem tenso, mas
conseguimos passar. Estefan é um bom motorista e sabe o que faz. Pegamos o
atalho da estrada, que nos leva direto para a rodovia.
Ligo para minha mãe, que atende rapidamente.
— Pelo amor de Deus, me diga onde está!
— Daqui algumas horas chego em casa. Não avise ninguém. Depois
conversamos.
— Graças a Deus. Eu estou desesperada. Te aguardo. Te amo, filha!
— Também te amo. Beijos. — Desligo o celular e jogo na bolsa.
Encosto a cabeça no banco, e imagens do Jacob cantando invadem minha
memória.
— Estefan, dá para atirar nas memórias sem atingir o cérebro? — Ele me
olha pelo retrovisor e sorri.
— É, então estou bem ferrada.
— Senhorita, sei que pediu para que eu não dissesse nada. Mas o Simon
é meu supervisor, e eu tive que dizer.
— Tudo bem, Estefan.
— E a senhorita sabe que o Simon não esconde nada do senhor Marcos,
não é?
— Sei. E é por isso que já estou me preparando para aguentar a chuva de
perguntas.
— Sinto muito — ele é sincero em suas palavras.
— Relaxa. Até parece que não conheço como funciona essa família. O
pateta chefe descobre e fofoca para o pateta número um, que fofoca para o pateta
número dois, então os três patetas se juntam e vão patetar a vida alheia. —
Sorrio e vejo ele fazendo o mesmo. — Eu sei, buguei sua mente. — Ele ri.

Estou no sofá, escutando há exato vinte e cinco minutos, minha mãe


falando o quanto ficou preocupada, e que eu sou uma louca.
Quando ela termina de falar, respira exausta e sorrio.
— Que ótimo, ainda sorri! Eu vou enfartar com vocês, tenho certeza
disso!
— Mãe, não sou mais uma criança. Não precisava ficar desse jeito.
— Vocês todos sempre serão crianças para mim. — Sorri. — Vou pegar
um chá, para me acalmar mais. — Ela se levanta.
— Melhor escutar o que tenho para dizer, aí depois já preparamos um
barril de chá.
Ela me olha desconfiada.
— Daiane Gabrielle Escobar, o que você aprontou? Eu sou cardíaca!
Rio.
— Mãe, você não é cardíaca, e deixa de drama. Agora sei a quem o
Henrique puxou. — Reviro os olhos.
— Diga logo! — diz nervosa, mas não se senta.
— Eu não fiquei em um hotel, nem pousada. Eu fiquei em uma fazenda,
porque meu carro ficou atolado e a chuva era muita na cidade, então a dona do
lugar, uma senhora, me ajudou e fiquei lá.
— Pelo amor de Deus! Menina, precisa aprender como contar as coisas
para alguém. Isso me deixou feliz, pois mostra que neste mundo existe pessoas
boas.
— Mas...
Ela coloca uma mão no peito e a outra na cintura. Me controlo para não
rir.
— Ela tem um neto. Promotor Jacob Casagrande.
— Já ouvi falar dele. Ótimo rapaz.
— Ótimo rapaz e marido da Poliana Xavier. — Ela cai sentada no sofá.
— Eu disse para ficar sentada!
— Daiane, o que você fez? — pergunta desesperada.
— Nada! Eu não sabia que a fazenda era da avó dele, e nem que ele tinha
se casado com ela. Sabia apenas que eram noivos, mas não imaginaria que ele
chegaria com ela e que tinha uma filha.
— Poliana é mãe?! — pergunta em um grito e arregala os olhos.
— Não. É filha apenas dele. — Ela está pálida. — Mãe, eu não fiz nada.
Não precisa ficar assim — digo desesperada.
— Daiane, sei o quanto não suporta a Poliana. Não tenho como não ficar
assim, após descobrir isso. — Encosta-se no sofá e fica me olhando chocada.
— Mãe, quase nos beijamos — solto a bomba.
— O QUÊ? — grita.
— Foi apenas um momento bobo. Peguei minhas coisas e vim embora,
mas a Poliana veio me confrontar e não me segurei.
— Eu estou enfartando. Olha, minha mão está tremendo. Daiane, eu
estou tremendo! — ela diz rapidamente e nervosa.
— Mãe, está tudo bem. Foi algo sem importância. Eu estou em casa. Não
aconteceu nada.
Ela segura minhas mãos e me olha nos olhos, sem piscar. Estou
começando a ficar preocupada.
— Não diga nada a seus irmãos e ao seu tio. Se eles descobrirem isso,
essa família vai se transformar em um completo inferno! — implora. — Eu
aceito que você faça da sua vida o que bem entender, mas jamais aceitarei que se
envolva com alguém casado!
— Mãe, me poupe! Que tipo de mulher pensa que eu sou? Jamais teria
algo com um homem casado. E meus irmãos, além do meu tio, não têm que se
meter na minha vida.
— Daiane, me prometa que David, Henrique e Marcos não vão saber
disso?!
— Saber do quê?
Viramos rapidamente e Henrique entra com o Marcos.
— Saber do quê? — meu tio refaz a pergunta.
— Nada! — minha mãe responde. Ele olha desconfiado, mas se percebe
algo, finge que não.
— A donzela voltou ao lar! Daiane, o que fazia na fazenda Casagrande?
— ele me questiona, e minha mãe fica pálida novamente.
— Simon ficou sabendo e avisou! — Henrique diz.
— Não que vocês tenham alguma coisa a ver com isso, mas responderei.
Meu carro atolou e a dona da fazenda me ajudou. — Henrique me observa,
procurando alguma coisa.
— Que eu saiba esta fazenda pertence a avó do promotor Jacob
Casagrande — Marcos diz. — E que eu me lembre, da última vez que o
encontramos, ele era noivo da Poliana.
— Não investiguei a vida dele. Sorry — digo a ele.
— Ana, como está? — minha mãe joga outro assunto na conversa.
— Está com a Liziara. Está bem, mas não perfeitamente bem. É difícil —
Henrique responde, e sinto vontade de vê-la.
— Por que seu carro ficou lá? — meu tio continua no assunto.
— Até isso te informaram? — Ele dá de ombros. — Vão trazer ainda
hoje.
— Esse Jacob não é pouca coisa não. Ele é o único herdeiro de uma
fortuna acumulada em bilhões. Parece que a família dele, além da fazenda, tem
casas para temporadas em Orlando e casas e sítio em Minas Gerais. O dinheiro
desse promotor compra nossa família e ainda sobra — Henrique diz, e ficamos
olhando para ele. — Eu leio jornais! E puxei a vida dele, para saber o porquê
minha irmã estava lá, mas o cara não tem uma sujeira sequer, e a vida pessoal
dele é quase que um mistério. Porra, o cara é um tédio! — Fico surpresa.
— Agora sei o porquê ela está com... — Percebo que começo a falar alto,
e todos me olham. — Bom, estou morrendo de fome.
Saio da sala rapidamente.
Entro na cozinha e dona Jurema está jogando calda de chocolate em um
bolo. O cheiro está maravilhoso.
— Cheguei na hora certa. — Ela me olha e sorri.
— Sim, minha menina. Logo, irei preparar a mesa. É seu favorito. Bolo
de cenoura com chocolate.
Sorrio.
— Vou esperar na sala de jantar.
Ela concorda e saio da cozinha, dando de cara com o Henrique.
— Precisamos conversar.
— Se for falar do lugar que eu estava, nem comece. Porque estou
achando, que na verdade é você o fã do Jacob e não ele de vocês. Sabe toda a
vida do cara.
— Cuidado, maninha, nem sempre o volume em minhas calças é uma
ereção.
— Diz logo o que quer, pateta.
— Vamos lá fora.
Saímos para a área da piscina. Sento-me em uma espreguiçadeira e ele se
senta em outra ficando de frente para mim.
— Me desculpe por ter dito aquilo a você. Eu estava nervoso. Ver a Ana
passando por uma situação dessa, e ainda grávida, me deixou transtornado. —
Suas palavras transbordam sinceridade. Seus olhos ficam marejados.
— Claro que te desculpo, mas não significa que eu irei esquecer. Você foi
injusto! Fez parecer que eu era culpada. Não posso fazer nada se esses infelizes
não têm outro assunto, a não ser eu. Não pedi para eles irem até o cemitério —
digo e sinto um alívio, por estar conversando com ele.
— Eu sei... Fui um imbecil nas palavras — diz cabisbaixo.
— Você foi. E o que mais me magoou, é que quando precisa eu estou lá
pelo que for. O tio e o David, até entendo, eles são mais sérios, e não gostam da
mídia na família. Mas você, quando era mais jovem, não saía dos tabloides, e
sabe como é. Quanto mais tenta evitar, mais eles caem matando. Não tinha o
direito de surtar, quando já foi vítima deles também — digo e ele me olha
atentamente.
— Me desculpe de verdade. Sou seu irmão mais velho e deveria te
apoiar, e não descontar os problemas em cima de você — diz me olhando nos
olhos.
— Está tudo bem. Tenho que me conformar, que você e David são
patetas. — Sorrio e ele me olha sério. — Somos irmãos e vai existir brigas, mas
sabe que sou vingativa, e isso não vai ficar assim.
— Não abusa da situação! — Sorrimos.
— Venham vocês dois, o bolo já está na mesa! — minha mãe nos diz da
porta.
— É pra já! — Henrique levanta rapidamente e sai em disparada. Rio.
Cinco

Jacob Casagrande

Termino de organizar os últimos papéis, que precisarei para amanhã, e


saio do escritório.
Vou para a cozinha, onde todos tomam café da manhã.
— Resolveu nos acompanhar? — minha avó diz, e olha para Poliana.
— Estava terminando de organizar algumas coisas — respondo e me
sento.
— Ai! — Poliana diz e olho sem entender, mas então vejo Sophie
sorrindo.
— Desculpa. Era sua perna? Pensei que era a mesa! — Sophie diz.
— Sophie, vamos ter, pelo menos, um café em paz? — pergunto a ela,
que concorda, mas não muito feliz.
— Então, meu amor, eu vou ligar para a delegacia, e pegar hoje e amanhã
de folga, assim posso acompanhá-lo. Tenho horas extras acumuladas. — Encho
minha xícara com café, e tomo um gole.
— Pai, eu posso ir? Você nunca me leva. Por favor! — Sophie implora,
segurando meu braço.
Olho para minha avó, que esconde o riso por detrás da caneca. Ela ama
quando estou em apuros.
— Poliana, eu vou a trabalho e não a passeio. Vou hoje, mas volto
amanhã logo após a audiência. Não precisa ir. E isso serve para você também,
Sophie.
Poliana não esconde a raiva em seu rosto, e Sophie fica emburrada.
— Amor, claro que preciso ir. Tenho que acompanhar você...
— Já que pode tirar folga, que tal cuidar dos negócios da família,
Poliana? É esposa do Jacob. Tem vistoria nas terras da fazenda, e visitar o
veterinário, para saber como andam os nossos animais. — Sei que minha avó
está fazendo para provocar. Poliana tem pavor de animais e dessa fazenda.
— Dona Joana, acho que eu...
— Ótimo, então vai me acompanhar em tudo. Agora preciso ir, tenho
muita coisa para fazer. — Ela se levanta e sai nos deixando sozinhos.
— Jacob, eu... — ela tenta dizer, mas a interrompo.
— Ninguém cancela um compromisso com minha avó. — Dou uma
piscadela e ela sai da cozinha nervosa. Sophie ri.
— Ela é muito fresca. Eca! — Sophie diz sorrindo e logo me olha com
esperança.
— Nem pensar, mocinha. O colégio me ligou e disse que amanhã
retornam as aulas. A chuva tranquilizou e com isso, significa estudos. — Ela
bufa e sorrio.
— Não é justo. Eu nunca viajo com você. — Cruza os braços.
— Viajou recentemente para a Disney comigo. E pelo que eu me lembro,
ficamos quase um mês lá.
— Isso não conta, a bruxa foi junto.
Sorrio.
— Sophie, desta vez não vou levar. Vou apenas a trabalho e volto logo.
E, por favor, não apronte nada. Você vai ficar aqui com a sua bisavó e com a
Poliana.
— Ai, que saco! Desse jeito, não tem como eu ser boazinha. — Ela sai da
mesa bufando.
Eu mereço um lugar reservado no céu, pela minha santa paciência.
Termino meu café e vou para o quarto, arrumar a mala que vou levar.
Poliana está deitada na cama, mexendo no notebook.
— Elas fazem de propósito. Me tratam mal de propósito, e você não faz
nada! — diz se referindo a minha avó e a Sophie.
— Poliana, você também não ajuda.
Abro o guarda-roupa e pego algumas coisas.
— Quando vamos para o nosso apartamento?
— Assim que você e a Sophie começarem a se dar bem e eu não ter
medo de sair para trabalhar e receber notícias que as duas se mataram, então
poderemos ir para o meu apartamento.
Ela deixa o notebook de lado e se senta na cama.
— Jacob, deixa eu ir com você? Não vou te atrapalhar! — implora. Pego
a mala e começo a colocar as coisas dentro.
— Poliana, se nem minha filha vou levar, que é uma criança, com total
razão quando reclama que não tenho tempo, imagine só se irei levar você, que é
bem grandinha para entender que vou a trabalho e não para diversão.
— Ai, que ódio! — ela reclama e se levanta da cama. — Se eu for ficar,
pode ter certeza de que não ficarei aqui. E pode me deixar dinheiro, é o mínimo,
depois de você cancelar nossa lua de mel, ficar de gracinha com a Daiane
Escobar e agora não querer me levar para a viagem.
Rio.
— Que ótimo, ainda divirto você.
— E como!
Ela sai do quarto e bate a porta com força.
Porra, maldita a hora que aceitei tudo isso!

Já estou em São Paulo, no hotel que reservei. Vim o caminho todo com
os pensamentos em certa pessoa, e que Deus me perdoe, mas não era na minha
esposa.
Estou começando a achar que esse tempo todo, a única pessoa da família
Escobar que eu realmente sou fã é uma bela morena, que vou substituir amanhã
na audiência.
— É, Daiane, acho que minha fascinação na verdade era por você!
Esfrego o rosto e deito na cama. Olho para o aro dourado em minha mão
esquerda, e logo me vem à memória quando decidi que tinha que colocá-lo em
meu dedo, e no da Poliana.

Entrei na sala, onde fui informado que o pai dela estava. Vi o senhor de
cabelos brancos, aparência de uma pessoa cansada. Ele estava sentado na
poltrona, e assim que me viu sorriu. Ele é um bom homem, diferente da esposa.
Respirei fundo. Precisava seguir em frente com o que tinha ido fazer.
— Assim que me disseram que estava aqui, e queria falar comigo,
imaginei o que seria.
Olhei sem entender.
— Minha esposa não está e nem minha filha. Uma ótima oportunidade
para dizer o que tem em mente.
Engoli em seco.
— Sente, por favor. — Ele indicou o sofá ao lado e fiz o que pediu.
— Senhor Luiz, não sei nem como dizer isso, sem parecer grosso ou
direto.
Ele sorriu de um modo triste.
— Mas não posso mais... Não posso dar continuidade a este
compromisso com ela. Eu tentei, mas não dá. Nunca foi a minha intenção casar
com ela. O senhor sabe que foi por insistência de sua esposa e da sua filha que
ficamos noivos, mas ela sempre soube que eu nunca a amei. Eu não posso
continuar com isso. Eu sinto muito, mas não posso me casar com ela. E por
valorizar demais a família, queria que o primeiro a saber disso fosse o senhor —
soltei as palavras de uma vez, e senti um peso sair de mim.
— Eu já sabia. Sempre soube que nunca a amou. Você é um bom rapaz,
menino, e merece alguém que te faça feliz, e ela não fará isso. Infelizmente,
acredito que ela nunca faça ninguém feliz, e isso também é culpa minha, por ter
permitido que minha esposa criasse-a desse modo e não intervisse. — A tristeza
está em suas palavras. E isso me corta o coração. — Eu nem tenho o direito de
te fazer qualquer pedido, mas eu preciso.
— Pode me pedir qualquer coisa!
— Case-se com ela. — Olhei espantado. — Nem que seja para se
separar no dia seguinte, ou na semana seguinte. Eu peço isso, não por ela, mas
pelo nome da minha família. Poliana já destruiu demais o sobrenome Xavier. —
As lágrimas escorrem por seu rosto. — Eu não vou aguentar mais pessoas nos
apontando. A cidade inteira já sabe desse casamento. Pode ser uma cerimônia
apenas no civil, não precisa de jornais, e nem quero que saia neles. Mas por
mim, pela minha família. Já não temos mais nada, e não posso perder o resto de
dignidade que me resta. Estou cansado, já não sou mais saudável o bastante
para aguentar mais humilhações. Se fosse apenas ela que saísse humilhada, eu
juro que não iria me importar, e não me envergonho de dizer isso, porque ela
merece depois de tantas coisas ruins que tem feito. Mas, meu rapaz, é o
sobrenome da única coisa que me resta, que vai sujar ainda mais. — As
lágrimas não param de escorrer por seu rosto, e suas mãos tremem sem parar.
Fiquei sem saber o que fazer. Vi a dor em suas palavras e em seus olhos.
— Ela se casando e separando, já não será tão falado, quando você
desistir antes do casamento. Eu te imploro. Até me ajoelharia a sua frente, para
pedir isso, se eu pudesse. O que estou te pedindo pode ser um absurdo para
você, mas é a única forma de não destruir por completo essa família. Não quero
seu dinheiro, e nem aconselho que partilhe algo com ela. Sei que tem uma filha,
e pela sua filha também não aconselho que fique com Poliana. Tudo o que eu
peço é que se case apenas e depois tem meu total apoio para se separar dela,
quando quiser. Eu imploro. — Sua voz é carregada pelas lágrimas. E sinto uma
dor forte ao vê-lo assim. Sei o quanto tem sofrido com as atitudes da filha e da
mulher, e hoje se vê que não tem mais forças para tentar mudar os erros da
criação. — Pensei o quanto será falado que o promotor Casagrande largou-a
antes do casamento. Depois podem fazer de um modo restrito a separação...
Levantei-me do sofá. Ele olhou para o chão e com as mãos trêmulas
enxugou as lágrimas.
— Não se preocupe. Farei o que for possível para não sujar a sua
família. O senhor não merece. Eu devia ter dado um basta quando começou a
ser um namoro, mas não fiz, então devo ao senhor um apoio, pois sei que é um
bom homem e merece um pouco de paz. Preciso ir, agora. — Saí da sala às
pressas. Eu precisava de ar, muito ar.

Eu valorizo muito a família, e jamais destruiria uma, sendo que poderia


fazer algo para ajudar. Poliana e a mãe dela não merecem qualquer ajuda, mas
aquele senhor, cansado, merece paz, nem que seja um pouco apenas. Muitos não
entenderiam se eu contasse que esse foi o motivo de levar ela até o civil. Mas só
quem sabe o verdadeiro valor de uma família entenderia, que, às vezes,
sacrifícios são necessários, para que tudo termine bem. Perdi minha mãe, que
poucos sabem que era adotiva, e quase perdi minha filha, por causa de pessoas
inconsequentes, inclusive por minha culpa, então jamais permitiria que um pobre
senhor perdesse a única coisa importante para ele, caso eu, o famoso promotor
Jacob Casagrande, largasse a filha dele antes do casamento. A cidade que eles
moram é muito pequena, e a notícia correria, e ele jamais teria a pouca paz que o
resta.
Logo isso vai acabar, e farei de tudo para que a mídia não fique em cima,
porque, quando isso acabar, não quero o sobrenome Xavier envolvido, pelo pai
dela, que me implorou uma ajuda; eu no lugar dele faria o mesmo, porque tenho
família, e pela honra das pessoas que fazem parte dela eu faria de tudo até
sacrificar minha própria felicidade.

Daiane Escobar

Estamos em uma boate, menos Henrique e Ana. As meninas da Liziara


ficaram com uma babá. Marcos não iria vir, porque Bia está a pouco tempo do
parto, mas insisti, afinal, minha mãe merecia alguma comemoração. Débora e
Cleber também nos acompanham.
Reservamos uma mesa na área VIP.
— Eu não devia ter vindo. Não estou muito acostumada com isso.
— Mãe, não começa — digo.
— Paula, você é um mulherão ainda, precisa curtir mais — Débora diz e
concordo sorrindo.
— Eu não concordo! — David diz e Liziara dá um tapa em seu braço. —
Não vou mentir. Por mim, ela e Daiane virariam freiras.
— David, eu acabaria com a santidade das freiras em um dia — digo e
Liziara ri.
— Concordo. Se você tivesse ouvido tudo o que ela me disse uma vez
em meu escritório... Tenho pesadelos até hoje — meu tio diz e rio.
— Pobre menino, ainda sonha que Daiane é santa — Débora completa.
— De santa aqui, só a parte...
— EU NÃO QUERO SABER! — David berra e algumas pessoas nos
olham.
— Nem eu! — Cleber e meu tio dizem em uníssono.
— Homens! — Beatriz fala rindo.
Pedimos bebidas, e jogamos conversa fora.
— Olha aquela mulher. Onde está o resto do pano? — minha mãe
questiona e olho na direção que ela aponta disfarçadamente e rio.
— Mãe, o vestido dela está mais comportado que a saia que eu uso. Vai
me dizer que, quando era mais jovem, não usava roupas assim? — questiono
sorrindo e ela ri.
— Marcos se você olhar, eu furo seus olhos, seu juiz de quinta! — Bia
diz, e olho para ver.
— Porra, mulher, fui apenas conferir o que a Paula dizia. Relaxa, delícia.
— Todos riem dele se defendendo.
— Bom, não viemos para ficar sentados, não é? Eu vou dançar, quem
vem? — Débora pergunta.
— Eu! — Liziara, David, Cleber e eu levantamos as mãos e respondemos
juntos.
— Paula, pode vir! — ela diz, fazendo minha mãe se levantar.
— Eu vou ficar, afinal, tenho que carregar um serzinho dentro de mim,
que não é leve — Bia diz e sorrio.
— É bom, assim fica de olho nos homens bonitos, e quando vir me faz
sinal daqui — digo e ela ri, mas meu tio olha sério para ela, que tenta disfarçar o
riso e acaba falhando.
Descemos para a pista de dança, e começo a rir da minha mãe perdida e
David a provocando.
Um remix de Despacito começa a tocar.
Um cara se aproxima, e começamos a dançar juntos. Vejo alguns olhares
do David. Se tem homens mais ciumentos que os Escobar, eu desconheço.
Sorrio.
Ele se aproxima ainda mais de mim. Dançamos grudados. Minha mãe me
olha e sorri. Liziara me dá uma piscadela e David percebe, pois olha bem feio
para ela, que revira os olhos. Débora e Cleber dançam juntos, e, porra, podiam ir
para um quarto.

Sua Cara começa a tocar. Olho para ele, que mostra suas intenções
apenas com o olhar. O que me motiva a continuar dançando sensualmente. Se a
mídia quer falar de mim, que fale com motivos agora. Ao imaginar as manchetes
amanhã, sorrio novamente. Suas mãos contornam meu corpo, e não impeço.
Iludido, se acha que depois dessa dança terá algo.
A música termina, e ele indica o bar, para onde vamos.
Está lotado, mas encontro um espaço onde encostamos, à espera de
sermos atendidos.
— Tão linda quanto nas revistas e jornais — ele diz. Não é feio, mas
também não tem cara que faz meu tipo, nem para conversar.
— Obrigada. Eles usam muito Photoshop, a realidade na maioria das
vezes é sempre melhor. — Sorrio.
— Me chamo Nathan — ele diz.
— Bom, o meu já deve saber, afinal me viu nos jornais e revistas — sou
direta.
— Touché!
Assim que nos atendem, pedimos a bebida. Optei por cerveja, não sou
muito fã de bebidas com muitas misturas. Já deixamos paga.
— Vodca! — alguém diz ao meu lado, e tenho certeza de que não estou
bêbada, e nem louca, para garantir que conheço essa voz.
Não me viro. Fico estática.
— Vamos dançar novamente? Ou se preferir, podemos ir para outro lugar
— o cara, que até esqueci o nome, de tão nervosa que estou, diz.
— Na verdade, não vai rolar. Estou com a família. Às vezes, sou santa!
— Ele me olha sem entender e se afasta.
Viro-me lentamente, para o lado de onde ouvi a voz. Mas é uma mulher.
Fico olhando sem compreender. Eu não estou louca!
Tomo um bom gole da cerveja, e deixo no balcão. Afasto-me e subo para
a área VIP. Todos já estão lá.
— Está pálida, Daiane. O que houve? — minha mãe pergunta e todos me
olham em alerta.
— Acho que virei a bebida rápido demais — minto. — Cansou de
dançar, mãe? — mudo de assunto e me sento.
— Pior que sim — ela diz rindo.

Jacob Casagrande

Estou em uma boate. Precisava me distrair um pouco, antes da audiência


de amanhã. Será foda ter que superar ou se igualar a um Escobar.
Peço uma vodca no bar, e vou para o outro lado dele.
— Jacob Casagrande, mentira! — Olho para a pessoa que diz isso e
sorrio surpreso.
— Ressurgiu das sombras?! — pergunto, e ele ri alto. Se aproxima e me
cumprimenta com um abraço.
— Que mundo pequeno. Perdido em São Paulo? — me pergunta.
— Eu que deveria perguntar isso. A última vez que te vi, foi dando aula
na faculdade que estudei.
— Nem me lembre. Sua turma era uma peste, mas você se salvava.
Rio.
— Quem vê pensa que dava aula para nós.
— E agradeço ao universo por isso. — Ele toma um gole da bebida.
— Então Alessandro Santos, o famoso professor de Filosofia, curte
boates?
— Sou velho, mas não sou mole. Porra, sou bem duro na verdade. Me
mudei dia desses para cá. Vou dar aula na universidade daqui e precisava
preparar minha mente.
— E escolheu uma boate para isso?
Ele dá de ombros.
— Escolhi uma boate para preparar a mente também. Audiência difícil
amanhã.
— Boa sorte! — Ele bate a bebida na minha, em forma de brinde. — E
aí, como anda a vida? Casou? Tem filhos? — pergunta rindo, enquanto observa
uma mulher que está próxima. Rio.
— Tenho uma filha. Já no relacionamento, se eu te contar, vai me achar
louco. Mas, e você?
Ele me olha.
— Solteiro. E ainda bem. Relacionamento é enrascada.
— Tenho que concordar.
Ele diz algo, mas não escuto. Meus olhos estão vidrados na parte superior
da boate, onde encontro ela. Levanta-se e indica algo para alguém que parece ser
Marcos Escobar. Ela está vestindo uma saia curta dourada e uma blusa de alças
preta. Seus cabelos estão soltos. Ela sorri de algo, e então caminha até a escada,
e começa a descer.
— Terra chamando! — Olho assustado para o idiota que me deu um
murro no braço.
— Porra! — reclamo.
— Eu que tenho que dizer isso. Estou falando e você aí babando. Quem é
a moça que precisa de água? Porque você secou ela! Não a vi, mas tenho certeza
de que ficou seca.
— Não era ninguém — minto. — O que dizia?
— Para marcarmos um almoço amanhã, se estiver livre. Quero saber
como andam as coisas. De todos aqueles alunos demoníacos, você era o único
que eu não tinha vontade de socar.
Sorrio.
— Sou foda, eu sei! — brinco.
— Cara, eu gosto de você, então não me faça te odiar, é chato pra caralho
quando isso acontece. — Coloca a bebida no bar.
Meus olhos, procuram por ela, mas não encontro. Olho para a escada
novamente, então vejo Paula Escobar descendo. Após descer, caminha até o bar.
Sigo-a com o olhar. E então ela para, e olho para o seu lado, e agora vejo a
morena que está me deixando perturbado.
— Aquelas ali não são as Escobar?
— Hum-hum... — Dou um bom gole na minha bebida, que até agora
estava intocável e coloco no balcão.
— Ah, agora sei para quem estava babando. Parece um cachorrinho com
sede. Se controla, porra! — Ele me dá um leve empurrão.
— Cara, bebeu demais? Não estou babando por ninguém.
Ele ri.
— Mas eu estou. Mamãe Escobar é bem gostosa. — Reviro os olhos. —
Com licença.
Ele começa a ir em direção a elas e vou atrás. Esse cara é louco!
Ele para ao lado delas, que ainda não notaram a presença.
— Ah, resolveu vir? — ele diz.
— Já que não preciso te considerar um professor aqui. Vai se foder,
Alessandro!
Ele sorri.
— Aprende com o mestre.
Ele esbarra na Paula, que o olha, e Daiane faz o mesmo. Assim que me
vê fica assustada, e não evito, sorrio.
— Perdão. Esse cara esbarrou em mim — ele diz.
— Filho da puta! — digo, e ele me olha rindo.
— Mas já que nos olhamos. Prazer, Alessandro. — Paula sorri. Mas
Daiane não tem qualquer reação, a não ser ficar me olhando.
— Paula — ela responde.
— Está com você? — ele pergunta para ela, indicando a Daiane. O
imbecil sabe que estão juntas, e sabe quem são.
— Está sim. Daiane... — Paula chama por ela.
Alessandro a cumprimenta. Paula só então me olha, e tem a mesma
reação que a filha. Porra, qual o problema comigo?
— Jacob? — ela pergunta e sorrio.
— Se conhecem? — Alessandro pergunta.
— Sim! — Desta vez, Daiane responde.
— Quer água? Talvez esteja secando... Quero dizer... Esquece —
Alessandro diz a ela, que olha sem entender.
— Paula, Daiane! — digo as duas. Paula já muda a expressão e sorri para
mim. Ao contrário da filha, que me fuzila com o olhar.
— Vamos dançar — Alessandro diz a Paula.
— Eu não...
— Não convidei. Eu intimei. Vamos! — Ele sai praticamente arrastando
a Paula, e Daiane sorri com a situação.
— Perseguição é crime. Mas isso você deve saber — ela diz sem me
olhar. Me aproximo, ficando ao seu lado.
— Pensar que eu perseguiria você, é ser convencida demais. Mas isso
você deve saber.
Ela olha com raiva.
— O que faz aqui? — pergunta.
— A boate é pública.
Seu olhar é de raiva e isso me diverte.
— Amanhã é a audiência e vim relaxar.
— Que bom. Mas é melhor manter distância, ou sua mulher vai surtar. E
hoje não estou para problemas. Na verdade, estou à procura de solução, como
uma boa noite de sexo, mas não há ninguém que preste aqui dentro — provoca,
se virando, e assim ficando de costas para o balcão. Faço o mesmo.
— Bom, minha esposa não veio. E não que seja da sua conta, adoro sexo,
e uma noite inteira praticando ele, mas sou casado, e como faço parte da turma
do ninguém aqui dentro, não presto.
Ela me olha e sorri.
— Quem é o cara que estava com você? — pergunta.
— Um conhecido da época da faculdade. Ele não vai raptar sua mãe,
relaxa.
— Ótimo. Ou dois patetas presentes me mandariam para a forca — ela
diz olhando na direção da pista de dança, onde Paula e Alessandro dançam. — É
que se torna difícil ter confiança em pessoas que estejam com certas pessoas,
que tem dedo podre para escolhas.
Rio.
— Eu quis te explicar, o porque a escolhi, foi você que não quis ouvir.
— E ainda não quero. Saber detalhes da vida pessoal de alguém, torna
íntimo demais. E de você, quero distância. Estou fora de problemas.
— E o que ainda faz ao meu lado? — provoco.
Jacob, você não tem que começar esse jogo. É competitivo e sabe que
não deve.
— É como você disse. É uma boate pública. — Ela me olha e seu olhar é
puro fogo.
Jacob, sai, cara! Isso não vai acabar bem.
Ouço minha consciência. E desencosto do balcão para sair.
— Preciso ir. — Dou um beijo demorado em seu rosto e me aproximo de
seu ouvido. — Preciso ir, antes que eu faça o que não devo. E só para você saber,
está linda com essa roupa.
Afasto-me. Vou até a pista e entrego ao Alessandro meu cartão com meu
número. Despeço-me dele e da Paula.

Ao chegar no hotel, retiro a roupa, ficando apenas de cueca, e me deito


na cama.
— O que está acontecendo comigo? Porra!
Fechos os olhos e vejo ela, com aquela saia curta, mostrando muito bem
suas pernas. Sua blusa, marcando seus seios e sua cintura e seu perfume
adocicado, que exalava cada vez que se mexia. Logo em seguida, vem a imagem
dela em meus braços, molhada, seus olhos na minha boca e nossa respiração
forte, pedindo mais que aquilo.
Meu pau ganha vida com as imagens em minha memória.
— Daiane Escobar, você está fodendo comigo!
Seis

Daiane Escobar

Aquele cara está testando minha humilde paciência. Ele tinha que estar
no mesmo lugar que eu? Não poderia ser em outro lugar? Acho que em outra
vida, cometi muitos erros, e estou pagando nessa.
— Daiane, o que houve? — Olho rapidamente para minha mãe e volto a
atenção para a avenida.
— Nada. Absolutamente nada! — Dou um soco de leve no volante.
Preferi vir dirigindo. Não deveria, mas preferi. Estou bem.
— Aconteceu sim. Largou todos na boate e resolveu vir embora,
dirigindo, depois de ter bebido. Tive que te acompanhar, ou seu tio e seu irmão
te matariam. Então trate de me dizer o que está acontecendo para estar estranha.
Sou sua mãe e isso não foi um pedido, foi uma ordem. Desembucha, Daiane
Gabrielle Escobar!
Respiro fundo. Entro em uma rua movimentada, onde estaciono o carro,
e então desligo.
Viro-me para ela, que me olha atentamente.
— A culpa por eu estar assim é do Jacob Casagrande. De alguma forma,
completamente inexplicável, quando ele está por perto, começo a sentir coisas
estranhas, e estou com medo. O imbecil é casado com a inimiga da família
Escobar. E tudo o que eu não preciso é de problemas, ainda mais neste momento
que meu nome não sai da mídia.
Ela solta o cinto e segura minha mão.
— Filha, o que realmente aconteceu naquele lugar?
— Nada, mãe, eu juro! Mas Poliana e a filha dele perceberam algo, não
sei. Mãe, eu estou ferrada!
— Sei que isso não foi uma pergunta, mas tenho que concordar. Está
muito ferrada!
— O que eu faço? Estou sem saber, e odeio quando fico sem saber como
resolver algo.
Ela sorri.
— Poderia dizer para seguir seu coração, mas eu estaria sendo errada. Às
vezes, não podemos seguir o coração, pois muita gente pode sair ferida,
inclusive nós. Deixe o tempo cuidar de tudo. Sempre acreditei em destinos, e não
deve ser à toa que você foi parar justo na casa da avó dele, e ele tenha ficado
com a audiência que era sua na promotoria, e também ambos estarem no mesmo
lugar hoje. — Ela toma fôlego e continua: — Deixe o tempo cuidar de tudo, mas
não tente interferir, e tenha consciência de suas ações, pois não envolve apenas
ele, ou você, mas também Poliana, que, por mais que não seja uma pessoa legal,
você não deve descer ao nível dela, e ela é um ser humano, e envolve uma
criança, que pode ficar confusa no meio dessa bagunça. Pense muito bem antes
de tomar qualquer decisão. — Ela solta minha mão e recoloca o cinto.
— Vamos ver o que vai acontecer, mas obrigada pelo conselho, de
verdade, mãe!
Ela sorri e assente.
— Mas e o homão da porra, que você ficou dançando?
Ela sorri envergonhada.
— Não foi nada de mais. Me diverti, mas foi apenas isso.
Ligo o carro e sorrio, retomando o caminho para casa.
— Ele tem os traços semelhantes com...
— É, eu sei... — ela me interrompe e logo após fica olhando pela janela.
Coloco uma mão na sua, e acaricio. Sei que será muito difícil para ela
conseguir superar o grande amor da vida dela: meu pai.

Ao chegarmos em casa, entro primeiro, pois minha mãe fica falando com
os seguranças que a parabenizam pelo seu dia.
Alguém grita atrás de mim, e grito junto de susto. Me viro e é o
Henrique.
— Filho da mãe! Quer me matar, infeliz? — digo com a mão sobre o
peito, onde sinto meu coração completamente acelerado. O idiota fica rindo.
— Está devendo? Se assustando à toa.
— À toa? Você surge do nada e ainda grita! Quanta maturidade, nem
parece ser meu irmão mais velho e um homem que é pai e casado! — Ele me dá
um beijo na bochecha e se joga no sofá. — O que faz aqui? Cadê a Ana?
— Vim dar pessoalmente parabéns para a mãe e trazer o presente dela. A
Ana está em casa. Logo irei embora. Cheguei agorinha. Marcos avisou que
tinham saído da boate.
— Que maravilha. Agora tenho um GPS humano rastreando cada passo
meu!
Ele ri.
Minha mãe entra e Henrique vai até ela, parabenizando em nome dele e
da Ana.
Sento no sofá e retiro o salto.
Ele entrega uma caixinha a ela, e é uma Pandora.
— Que linda, Henrique! — ela diz emocionada e ele coloca nela.
— E no meu aniversário você me deu um buquê de flores! Direitos iguais
existem apenas no trabalho, pelo visto — brinco e ele ri.
— Ciuminho, maninha? — provoca e mostro o dedo para ele.
— Não comecem! — minha mãe repreende e começamos a rir. — Vocês
querem me deixar louca! Eu sou cardíaca.
— Mãe, já vou. Saí de casa e a Ana Louise estava dormindo. Não sei se
ela vai ver o celular e nem o bilhete, deixei mensagem para ela avisando que
viria, então melhor eu retornar para ela não se preocupar. E também a Yasmim
estava dormindo na cama com a mãe, mas como aprendeu descer sozinha, se
acordar antes da Ana, vai colocar fogo na casa.
Minha mãe sorri.
— Vai lá e dá um beijão nas duas por mim. Amanhã tenho uma
audiência, e depois passo lá para ver elas.
— Vai sim. — Ele dá um beijo nela e, em seguida, em mim. — Fui. —
ele sai.
Minha mãe me olha e depois para a pulseira sorrindo.
— Não adianta me olhar, não comprei nada para te dar. Estou falida —
brinco e ela pega uma almofada e atira em mim.
— Vou mostrar para o David e o Marcos depois — ela diz rindo.
— Que horror, mãe! Depois eu sou a terrível. Sabe muito bem que eles
competem nos presentes para te dar. — Rio.
— Eu apenas dou a lenha, fica a critério deles colocar o fogo. — Rimos.
— Vou tomar um banho, e descansar. Estou precisando disso. Aproveitar
que peguei minhas férias. Talvez eu vá para a casa de praia, não sei ainda.
— Só não suma como fez! — Dou uma piscadela, pego meus sapatos e
subo para meu quarto.

Jacob Casagrande

Acabo de sair da audiência. Estou acabado. Não dormi quase nada noite
passada, e enfrentar uma audiência hoje, não ajudou em nada.
Saio para a escadaria da entrada. Retiro meu celular do bolso e ligo ele.
Tem duas chamadas perdidas da minha avó, e uma da Sophie, e dez da Poliana.
Depois eu ligo, pois sei que essas chamadas significam problemas, e não estou
querendo resolvê-los no momento.
— Que porra, Henrique! Saia logo, antes que eu te mate. Eu queria estar
longe deste lugar nas minhas férias, e você fez eu vir te buscar, porque seu carro
não poderia rodar hoje, e agora fica me enrolando? Estou há quase uma hora
aqui te esperando. Sei muito bem que já terminou a sua audiência. Saia logo,
merda!
Viro-me para onde escuto a voz da pessoa raivosa. Ela senta na escadaria
e joga o celular na bolsa.
Essa eu não perco por nada. Desço parando no degrau abaixo dela. Ela
me olha assustada e depois revira os olhos. Retiro meu paletó, está um calor
infernal.
— Qual é, cara? Isso já é perseguição!
— Bom, eu tinha uma audiência hoje, já você... — provoco.
— Não estava te esperando, e nunca estaria. Eu vim buscar meu irmão,
mas me esqueci de que ele adora ficar fofocando nos corredores, quando acaba a
audiência.
— Adorei nossa foto nos jornais.
Ela me olha assustada.
— Nossa o quê? Eu não acredito! — diz alterada e se levanta.
Está nas notícias mais lidas em um site e na capa de um jornal minha foto
com ela, ontem na boate, o que imagino que seja esse o motivo das ligações em
meu celular.
— Só não entendo por que não colocaram “Jacob Casagrande e Daiane
Gabrielle Escobar são vistos juntos” ao invés de “Jacob Casagrande e Daiane
Escobar”...
Ela me olha franzindo o cenho.
— Como você sabe...
— Que se chama Daiane Gabrielle? Fiquei com sua audiência.
— Verdade, você teve acesso a minha ficha.
— Fiquei curioso. Porque nunca usa o segundo nome, e pelo visto
somente no trabalho sabem da existência dele.
— Longa história, e não lhe diz respeito.
— Nossa, não tem nem cinco minutos que estamos conversando e já me
deu patada. Isso é tão indelicado — provoco e ela me olha com mais raiva ainda.
— Faz assim, vou embora amanhã, então janta comigo hoje e me conta sobre
esconder seu segundo nome.
— Eu não vou sair com você. Você é casado!
— Te chamei para jantar, não para meu quarto de hotel. Te pego hoje as
oito, e sim, também vi seu endereço e número de celular na sua ficha. Até mais!
— Desço as escadas, sem dar tempo dela dizer qualquer coisa.
Entro em meu carro no estacionamento e só então ligo para minha avó, e
assim saber o que aconteceu.
— Jacob, menino do céu, eu estou desesperada atrás de você.
— Aconteceu algo com a Sophie? — pergunto alarmado.
— Não! É que parece que saiu não sei o que sobre você e a moça
Escobar, e a megera da sua esposa viu, e começou a surtar e a Sophie provocou
a doida, e eu não sabia mais o que fazer.
— Sophie foi para a escola?
— Menino, eu disse que mundo estava acabando aqui, e você me
pergunta isso? Mas, foi sim! Levei ela, porque não queria de jeito nenhum
deixar a Poliana levar.
— Fez bem em não deixar elas juntas sozinhas.
— É verdade que esteve com a moça?
— Acabamos nos esbarrando, mas não foi nada planejado. E a mídia,
como vive em cima da família dela, acabou registrando o momento.
— Sua mulher está louca. Se eu fosse você voltava logo.
— Não se preocupe, depois me entendo com ela.
— Não estou preocupada com ela. Estou preocupada comigo, de eu
perder a paciência e afogar ela no rio, ou jogar ela no estrume das vacas.
Rio.
— Amanhã retorno.
— Pensei que viria hoje.
— Tenho compromisso. Mais tarde ligo e falo com a Sophie. Qualquer
coisa me ligue.
— Ligarei mesmo. Você fez a cagada de casar com a louca, e eu que
tenho que aturar. Estou ficando uma velha mole!
Sorrio.
— Beijos, vó.
— Beijos e se alimente direito! — diz e desliga.
Coloco o cinto e saio do estacionamento. Se a Poliana já surtou pela foto
na boate, não quero nem imaginar se sair alguma foto no restaurante onde vou
levar a Daiane. Mas, é como eu disse: Estou levando ela para jantar, e não para
o meu quarto de hotel.
Coloco meus óculos de sol e ligo o som do carro.

Lembra daquele garoto que sentou do seu lado


Te ofereceu no recreio um sanduíche amassado?
Lembra daquele rapaz que você nem dava bola
Que escrevia eu te amo nas paredes da escola?
Aquele cara que te deu um guarda-chuva
Quando a tempestade te pegou na rua
Aquelas flores que deixavam no portão
Que sempre vinha assinado no cartão
Romântico anônimo!
Romântico anônimo!

A música preenche meus ouvidos e relaxo. Entro na avenida, e como


sempre existe aquele trânsito infernal. Canto junto e por um breve momento
esqueço dos problemas.
Sete
Daiane Escobar

Estou há exatamente uma hora na frente do espelho olhando a roupa que


escolhi.
— Vai acabar se apaixonando pelo espelho de tanto que olha. —
Assusto-me com a voz da minha mãe. — Onde vai?
— Digamos que não tive escolha. Eu juro. Não tive mesmo! Está vindo
me buscar.
Ela me olha e cruza os braços.
— Não me diga que vai sair com o tal do Jacob! — grita.
— Sair é uma palavra tão forte para esse momento. Eu vou por livre e
espontânea pressão jantar. — Sorrio.
— Sair é uma palavra forte, mas jantar não? Daiane, tome cuidado. Se já
deu o que falar as notícias sobre os dois na boate, imagine esse jantar.
— Mãe, não piore a situação. Eu estou tremendo. A senhora entende que
eu estou tremendo?
Ela sorri.
— Era assim quando seu pai me buscava para sair. — O brilho em seu
olhar é nítido.
— Mãe, lembra da parte que eu estou tremendo? Então, a senhora piorou
a situação.
— Está bem! — Levanta as mãos rendida. — É maior de idade,
vacinada, então deve saber o que está fazendo.
— Essa roupa está boa? Não quero parecer que me arrumei demais, mas
também não quero sair de qualquer jeito.
— Bom, se estar com um vestido azul que é bem elegante e ao mesmo
tempo sensual, cabelos bem arrumados, uma maquiagem bem feita, e esta
sandália... — Ela se aproxima para ver mais de perto. — Ah sim! Uma sandália
Louboutin e uma bolsa — ela olha para a cama e vê a bolsa — Chanel, não é
estar bem arrumada, minha filha, eu não sei o que é. Se não queria chamar tanto
a atenção, errou em cheio!
— Que droga! Vou trocar tudo — digo apavorada e minha mãe ri.
Dona Marcela, ajudante dos deveres da casa, aparece na porta.
— Com licença, mas tem um moço chamado Jacob Casagrande, à sua
espera. Estefan quer saber se será necessário acompanhá-la.
— Obrigada. Fala para o Estefan que não irei precisar dele hoje. E avise
ao Jacob que já estou indo.
Ela concorda.
— Está muito chamativo, Marcela?
Ela olha para minha mãe e sorri.
— Melhor nem dizer, ou ela vai sentar no chão do closet e chorar —
minha mãe provoca.
Pego minha bolsa e saio do quarto com elas rindo atrás de mim.
Saio de casa com elas ainda rindo. Reviro os olhos e respiro fundo.
Passo pelos seguranças, e então um deles abre o portão e vejo Jacob,
encostado no carro, com as mãos no bolso. Ele me olha dos pés à cabeça, e isso
me deixa completamente desconfortável, o que raramente acontece.
— Saiba que estou indo por livre e espontânea pressão.
Ele sorri.
— Bateu o seu recorde. Não levou um minuto para dar patada.
Reviro os olhos.
Abre a porta e me dá passagem. Era só o que me faltava, o imbecil ser
cavalheiro, além de gato e do sorriso e vozes perfeitas. É pra ferrar com minha
sanidade.
Entro no carro, e ele fecha a porta. Coloco o cinto, e fico dura, olhando
para frente. Ele entra fechando a porta e coloca o cinto.
Ele começa a se aproximar, e o empurro.
— Jacob, olha só, eu só estou indo porque tentei ser legal, mas se tentar
qualquer coisa, eu mato você, mas antes corto seu saco e colo na sua testa.
Ele ergue uma sobrancelha.
— Acabou? Porque eu só estou travando seu cinto corretamente, porque
se não notou está apitando o carro e no painel indicando que você não travou
corretamente.
Olho para o painel e fico envergonhada. Nem percebi o barulho. Estou
tão nervosa, que estou cega e surda.
— M-me desculpa...
— Relaxa, já disse que vamos apenas jantar. — O infeliz dá aquele
sorriso de menino levado.
Ele liga na rádio.
E o destino deve estar querendo foder com minha mente e comigo.
Marilia Mendonça canta e a música De quem é culpa.
— Posso saber para onde vamos? — pergunto para quebrar a agonia que
estou sentindo.
Ele dá partida no carro.
— Segredo.
— Jacob!
— Relaxa, mulher!

Estamos pegando a Rodovia Fernão Dias. Porra!


— Ok. Onde é o lugar?
— Interior.
— Onde?! — pergunto assustada.
— Mudei os planos. Não quero a mídia enchendo o saco, então vamos
para o interior. Então estamos a caminho de Bragança Paulista.
— Você tem probleminha? — pergunto nervosa.
— Acho que essa roupa não será tão confortável — desconversa.
— Para onde vamos? Ou você fala, ou eu abro a porta e pulo do carro em
movimento.
Ele me olha e ri.
— E eu que tenho probleminha? — pergunta rindo.
— Jacob, estou falando sério!
— Vamos jantar em um restaurante lá, que é ao ar livre, e depois vou te
levar para conhecer um lugar.
— Devo me preocupar com esse lugar?
— Sim. O quanto ama suas sandálias?
— Muito! São bem caras, e parcelei. Sim eu parcelei, porque não sou
obrigada a pagar o preço delas à vista.
Ele ri.
— Talvez suje com um pouco de barro.
— Vai me jogar em uma cova?
— Olha, a ideia não é ruim. — Ele me olha rindo, e olho bem séria para
ele. — Brincadeira. Relaxa, logo chegaremos.
Maldita a hora que vim. Eu realmente estou com medo.

O restaurante era realmente lindo e bom. E relaxei mais, comendo e


jogando conversa fora. Mas não consegui tirar da cabeça que outro lugar é esse
que ele vai me levar. Estamos novamente no carro, e ele disse que será rápido até
o lugar. Porém, estamos há um bom tempo em uma estrada estranha, e com
muito mato, e eu estou novamente entrando em pânico. Preciso parar de assistir
filmes de terror.
Ele entra em uma estrada mais estreita, e parece aquelas entradas de
sítios.
— Estamos chegando.
— Ok. — É a única coisa que conseguiria dizer, sem falar demais ou
surtar.
Ele estaciona, e ao que parece é realmente uma estrada de sítio, pois vejo
algumas luzes.
— É aqui que vai me matar?
— Você é paranoica! — ele diz soltando o cinto. — Vamos subir a pé.
Não consigo subir de carro, estando tão escuro.
— E quer subir a pé? A palavra subir não me animou.
— Conheço muito bem o caminho. E se estou dizendo que subir a pé é
mais confiável, é porque eu sei o que estou falando. Pare de ser doida, e vamos.
Ele sai do carro e abre minha porta. Solto o cinto e desço. Fecho a porta e
ele ativa o alarme.
Ele estende a mão para mim.
— Não vou ficar segurando sua mão.
— Está bem — ele diz e, mais uma vez, o sorriso de menino levado
surge, e isso me dá um frio na barriga.
Começamos a caminhar, e parece fácil até o momento. Tem algumas
luzes, não muito fortes, mas já ajuda. Piso em falso algumas vezes, mas nada
grave.
Ele para e faço o mesmo. Ele se aproxima do portão a nossa frente, e tira
um molho de chaves do bolso. Abre o portão me dando passagem. Quando
entramos, ele fecha. As luzes se tornaram passado. É um breu total. Ele liga a
lanterna do celular.
— Ainda vai querer andar sem minha ajuda?
— Não! — Seguro sua mão que vejo na pouca luz.
Caminhamos, ao que parece horas, mas para ir à esquina de casa, eu já
reclamo, sou sedentária demais.
Quando ele falou subir, não estava exagerando. Parece um morro.
— Falta muito?
— Não.
Caminhamos mais um pouco, e então começo a ver muitas luzes, muitas
mesmo. Mas, de repente, sou puxada para trás brutamente.
— Ai! — Sinto suas mãos ao redor de mim, e seu perfume muito
próximo.
— Se eu não tivesse segurado, você teria caído... — Estou ofegante. Ele
me vira calmamente, e então olho para baixo e vejo a altura que estamos, e que
as luzes são da cidade.
— Você não brincou quando disse a palavra subir.
Ele sorri.
— Não, eu não brinquei.
Afasto-me dele com cuidado, e observo. É tão lindo. As luzes, o vento e
o silêncio torna tudo tão mágico. Já vi a cidade através de um avião, mas nunca
assim, no alto de um morro, montanha, ou seja lá o que for isso.
— Vem, senta aqui. — Ele se senta deixando as pernas penduradas para
baixo. Faço o mesmo e que se dane o vestido. Coloco a bolsa ao meu lado.
— Que lugar é esse? É lindo! — digo olhando fascinada.
— Eu comprei esse terreno. Ninguém queria comprar, porque não
poderia aproveitar muito. Mas, quando vi a luz do dia, só imaginei qual era a
vista à noite. E então vim de noite, e quando vi tudo isso, comprei na hora. —
Indica a vista com as mãos.
— É lindo demais ver a cidade daqui, e neste silêncio. Parece um quadro.
Ele sorri.
— É exatamente o que pensei quando vi. Então tornei aqui meu refúgio.
Quando quero paz e sossego corro para cá.
— É realmente maravilhoso — digo impressionada.
— Quando eu era menor, minha mãe adorava me levar para lugares
assim, e acampávamos. Acho que esse foi o motivo maior para eu comprar.
— Meu pai amava a fazenda. Eu e ele íamos sempre à noite para o lago
que tem lá, sem minha mãe saber, e nadávamos. Toda vez que estávamos lá,
íamos. Era o nosso momento. — Olho para ele, que mantém as vistas na cidade.
— Perdi ela quando ainda estava na faculdade. Ela levou um tiro em uma
operação policial, e não resistiu. Morreu sendo a heroína que sempre foi e com a
farda que tanto amava vestir. A mesma farda na qual ela me viu pela primeira
vez no orfanato quando eu era apenas um bebê, foi a mesma que me disse adeus.
No dia do acontecido, ela quis almoçar comigo e estava fardada, e fomos, mas
parecia que ela já sabia que algo aconteceria, me abraçou e disse para nunca
mudar meu jeito, e seguir meus sonhos, e mais tarde, naquele dia, recebi a
notícia, corri para o hospital, a tempo dela dizer um último adeus. Saí do hospital
e fui direto ver a Sophie que era prematura e foi nela que encontrei todas as
forças para continuar.
— Nossa, eu sinto muito de verdade. — Não encontrei nada melhor para
dizer, diante desta declaração, porém não poderia ficar em silêncio.
— Ela foi minha heroína desde sempre. Lutou pela minha guarda,
mesmo sendo solteira, e nunca desistiu de tentar me fazer feliz. Mas, às vezes,
dói saber que fui abandonado pelos meus pais verdadeiros sem nem ao menos
conhecê-los, e depois perdi minha mãe adotiva, que tive como minha mãe de
verdade. — O leve rancor em sua voz é evidente.
— Pense que, mesmo depois de tudo, você tem uma linda filha e uma
avó, não ficou sozinho. É um promotor brilhante, um bom pai ao que aparenta, e
está casado. Sua mãe tem muito orgulho de onde quer que ela esteja.
Ele sorri.
— Mas também deve estar muito brava, por eu ter feito o que fiz...
— Jacob...
— Ninguém deve brincar de amar, e eu estou fazendo isso.
— Não preciso saber disso. E acho melhor nem saber, por favor.
— Então, por que não usa seu segundo nome? — ele muda de assunto e
agradeço por isso.
— Tudo começou com uma briga dos meus pais.
Ele olha surpreso e sorri.
— Meu pai queria muito o nome Gabrielle e minha mãe aprovou. Mas,
no dia que nasci, foram me registrar, e o rapaz que fazia o registro era um
conhecido do meu pai, e quando ele disse o nome, o cara deixou escapar que
meu pai teve uma ex-namorada com esse nome, e minha mãe surtou, porque ele
dizia que queria esse nome, porque não saía da cabeça dele, mas, coitado, nem se
lembrava da ex-namorada. — Sorrio e o Jacob ri. — E na hora da raiva, minha
mãe disse Daiane ao tabelião que estava registrando, meu pai gritou Gabrielle
em seguida, e o pobre homem, todo confuso, achou que seria nome composto,
mas daí já era tarde, eu já tinha sido registrada.
— E por que não mudaram? — pergunta rindo.
— Porque, quando meu pai foi mudar, minha mãe com ciúmes louco
dela, disse a ele que se ele mudasse era porque realmente pensava na ex e ele não
mudou. Mas era o único que me chamava por Gabi, já minha mãe só me
chamava pelos dois nomes quando queria me dar um sermão. Bom, na verdade,
até hoje ela me dá sermão e faz usando todo meu nome.
Ele ri.
— Então você não usa o Gabrielle por causa disso?
— Não. É porque eu acho muito estranho, não combina. Mas depois que
meu pai morreu, era estranho ouvir outras pessoas me chamando pelo nome que
apenas ele chamava.
— Entendi. Mas não acho estranho. Acho diferente.
— Obrigada, eu acho! — Sorrio.
Meu celular começa a tocar. O nome da minha mãe aparece na tela.
Atendo.
— Oi, mãe.
— Filha, a Ana está no hospital. A bolsa estourou. Ela vai ter bebê. Vá
para o Hospital Central.
— Ai, meu Deus! Ok. Me mantenha informada.
— Ok. Beijos!
Levanto e ele faz o mesmo.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunta preocupado.
— Minha cunhada está no hospital. Vai ter a segunda filha.
— Vamos. Te deixo no hospital.
— Obrigada. E obrigada por me mostrar esse lugar. É realmente lindo.
Ele sorri.
Oito
Um mês e alguns dias depois...

Jacob Casagrande

REVISTA ON-LINE BELOS E FAMOSOS

NOTÍCIA MAIS VISITADA DO DIA:

“E a família Escobar acaba de crescer ainda mais.”

Há pouco tempo, noticiamos que o casal Henrique Escobar e Ana Louise


tiveram sua segunda filha, e já descobrimos o nome da mocinha. “Bem-vinda,
Laís!”. Agora recebemos a notícia que o filho do juiz Marcos Escobar nasceu há
poucos dias. O casal foi visto com o filho nos braços e um cobertor, cobrindo-o
totalmente, na rua de sua residência (local que não informaremos por
segurança). Fontes próximas disseram que o juiz tem feito de tudo para manter
o primogênito Arthur, fora da mídia, assim como Henrique e David com as
filhas.
Mas sabemos que filho de pessoas públicas não ficam escondidos por muito
tempo. E a prova disso é que vimos a promotora Daiane Escobar e Liziara
Escobar (esposa do David Escobar) com as gêmeas e a filha mais velha do
Henrique, no parque Ibirapuera.
Mas o que estamos estranhando aqui na redação é: Daiane tem sido vista
frequentemente em passeios com as sobrinhas. Será que desistiu da carreira de
promotora? Já faz algum tempo que a mesma não trabalha em nenhum caso.
Qualquer notícia nova, estaremos de plantão.
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Fecho a tela do notebook, e deito a cabeça no apoio da cadeira. A última
vez que a vi foi quando a levei para jantar. Desde então ela não sai da minha
mente, e isso tem me deixado louco. Para piorar, estou com todos os casos dela
em mãos. Tenho que conviver com o nome dela no trabalho, e também nas
notícias. Eu realmente estou fodido. Não sei o que está acontecendo.
A porta se abre, e Poliana entra.
— Amor, sai desse escritório e vamos sair. Aproveitar que a Sophie ficou
com a bisavó.
Ela se aproxima e se senta em meu colo.
— Não estou com cabeça para sair. Tenho muito trabalho.
— Que inferno! Faz um mês que você só sabe ficar trabalhando neste
escritório. Eu não te vejo ir deitar, e não me acompanha em lugar algum. Quando
sai é para levar a Sophie na escola, isso quando ela insiste para que faça. Eu
quero um pouco da atenção do meu marido, será que isso é difícil? — diz
segurando meu rosto com ambas as mãos e, quando vejo que vai me beijar,
afasto o rosto.
— Eu realmente preciso trabalhar.
Ela revira os olhos.
— O que tanto trabalha?! — Ela abre o notebook rapidamente e me
preparo para a onda de surto que ela vai ter.
Ela pula do meu colo e me olha com raiva.
— Esse é seu trabalho? Ficar vendo notícias da família Escobar? Ou
melhor, ficar olhando a foto da Daiane? Porra! Eu sabia que evitar sexo, sair
comigo e me beijar, tinha algo. Jacob você está me traindo! — ela grita. — Me
traindo com aquela vadia! — Levanto-me e dou um murro na mesa.
— Chega, Poliana! Eu não aguento mais você e seus ataques de ciúmes.
Porra, vai fazer alguma coisa da vida, e pare de criar histórias que não existem.
Quem muito teme, deve. Sai da frente, tenho mais o que fazer. — Passo por ela e
saio.
Meu celular apita e vejo o que é.
“Senhor Casagrande, e sua família, estão convidados para o evento em prol da
ONG que ajuda crianças de ruas. O evento acontece hoje, na Cidade de São
Paulo. Confirme sua presença e enviaremos os dados do local. Contamos com o
senhor.”

Retorno para o escritório e Poliana ainda está lá, sentada e bem irritada.
— Vamos a um evento hoje.
Ela me olha animada.
— Sophie também vai.
— Melhor do que nada!
— Vou buscá-la na minha avó.
— Vou junto!
— Coloca um rastreador no meu pênis, assim você não precisa me seguir
em todo local.
— Seu ridículo! — Ela passa por mim. — Eu vou e ponto final. Não sou
obrigada a ficar aqui. E sim, desconfio de cada passo que dá.
— Jura? Não fui capaz de notar — ironizo.
Isso vai acabar. Só preciso de mais alguns dias.

Estamos na sala da minha avó. Ela está preparando um bolo e disse que
Sophie não sai, enquanto não comer.
— Pai, é muito longe o lugar que vamos? — pergunta sentada no meu
colo.
— Não, meu amor.
— E aquela ali também vai?
Poliana olha feio e sorrio.
— Vai sim.
— Todo lugar que a gente for, ela vai? Credo!
— Vou sim, porque sou mulher do seu pai, queridinha.
— E eu sou filha! — Sophie mostra a língua para ela.
— Olha aqui, queridinha...
— Chega as duas! — falo firme.
— Jacob vem aqui um pouquinho! — minha avó me grita.
— Já venho. E não precisa me seguir, Poliana — provoco.
Coloco Sophie sentada no sofá e me levanto. Vou até a cozinha, onde
minha avó cobre um bolo com calda de chocolate.
— Sente! — Ela indica a cadeira e pelo seu tom, não é nada bom o que
vai dizer.
— Prefiro ficar de pé.
— Eu mandei sentar! — ela diz e sento.
— Olha aqui, mocinho, eu estou cansada!
— O que eu fiz? — Faço careta.
— Não nega quem a Sophie puxou. Faz igualzinho a ela quando sabe que
errou, e que vai levar bronca.
Ela termina o que está fazendo e coloca a panela suja junto a colher na
pia. Então se encosta na pia e cruza os braços.
— Eu não aguento mais a Sophie ligando para mim, dizendo que o pai e
a madrasta estão brigando como loucos. Assim como eu também não aguento
mais essas brigas da Poliana e da menina. Ela não tem idade para ficar passando
por tudo isso...
— Vó...
— Eu ainda não terminei. Se as coisas estão a este ponto, é melhor
encerrar. Não sei o que está acontecendo dentro da sua cabeça ou do seu coração,
mas tem muita gente envolvida nisso. Você não ama a Poliana, e só Deus sabe o
porquê casou com ela. A briga de vocês dois sempre envolve a Daiane Escobar, a
pobre moça que nem aqui fica para se defender. Então se está tendo um caso
com ela, ou sei lá, como vocês jovens chamam, trate de resolver a situação aqui
primeiro.
— Pelo amor de Deus! Eu não tenho nada com a Daiane. Nunca que eu a
sujeitaria ser uma amante. Ela merece muito mais que isso. Posso não amar a
Poliana, mas não traio, porque não sou assim. E tampouco usaria Daiane para
isso.
— Ah, então confessa que não a ama! Por que se casou, Jacob? Me diga
de uma vez por todas, ou eu juro que te coloco no forno, e ligado, até você dizer.
— Não posso falar disso aqui.
— Então quando?
— Assim que eu voltar do lugar que irei hoje.
— Ótimo. E pense bem, porque seja lá o que sente pela Daiane, precisa
ser resolvido.
— Eu não sei...
— Não sabe o quê?
— O que sinto. Estou muito confuso. Eu nem a conheço direito, mas
quando a vejo, fico estranho, e só de ouvir seu nome, eu... Esquece. — Deixo o
ar sair, e relaxo os ombros.
— Meu filho, você sempre teve grande admiração pela família dela.
Porém, talvez tenha criado tanta admiração por ela, que isso se transformou em
outro sentimento. Nos dias que ela esteve aqui fez com que este sentimento se
libertasse por completo.
— Vai ser ridículo o que vou dizer, mas e se eu apenas estiver sentindo
isso por ser um grande fã dela e da família?
— Também pode ser, o que eu duvido, mas só vai descobrir tentando, e
estando com uma mulher que não ama, não vai ajudar. Entenda, não podemos
colocar substitutos em nossos sentimentos. Cada pessoa terá seu lugar. O tempo
é a resposta para tudo. Mas antes de tomar qualquer atitude em relação a esta
moça, precisa resolver sua situação aqui...
Ouvimos um grito da Poliana e corremos para a sala.
— Ela pisou de propósito! — Poliana grita mexendo no pé.
— Não pisei! Eu não iria fazer isso! — Sophie grita, mas vejo em seu
rosto que está mentindo. — Pai, eu não fiz nada.
— Você fez sim, garota! — Poliana grita.
Minha avó me olha e balança a cabeça negativamente. Então sussurra em
meu ouvido:
— Pegou essa bomba sabendo que poderia explodir, agora arque com os
estragos — diz e sai da sala, levando a Sophie junto.

Daiane Escobar

Faz um mês que não vejo o Jacob, mas o babaca não sai da minha mente.
E depois de conhecê-lo ainda mais no dia do jantar, eu fico inconformada por ele
estar com a Poliana. Se fosse qualquer outra mulher, tudo bem, mas a Poliana é
loucura. Porém, não quero pensar nisso. Prefiro deixar qualquer coisa estranha
que sinto por ele, de lado, estou fora de confusões.
— Você vai, não é? — Liziara pergunta. Estamos sentadas na sala.
— Vou, Lizi.
— Ótimo. O evento é por uma boa causa, mas as pessoas ali
normalmente são irritantes. Vou deixar as meninas com minha mãe. Paula disse
que vai ao evento também.
— Mas não irei ficar enrolando lá. Tenho um compromisso hoje.
Ela me olha e sorri.

— Conheço?
— Sim. É grande, grosso...
— Daiane, poupe os detalhes.
— Mas eu disse que você conhecia. E já se sentou e deitou nele!
— Daiane!
Gargalho.
— É meu colchão, tonta. Eu quero voltar logo e dormir. Não estou com
cabeça para festas hoje.
Ela me dá um tapa na perna.
— Sua idiota! — diz rindo.
— Você que é maliciosa.
— Sou mesmo. Seu irmão me ensinou a ser assim.
— Me poupe totalmente desses detalhes!
Ela ri.
— Bom, tenho que ir. Tenho alguns compromissos. Não tenho aula, mas
tenho muita coisa para fazer. Nos encontramos lá, ou vamos todos juntos?
— Nos encontramos lá. Não sei que horas irei ficar pronta, e o David não
é um homem muito paciente. — Sorrio.
— Nisso você tem total razão.
— Sempre tenho. — Nos levantamos e ela se despede com um beijo.
Da porta, grita que nos vemos à noite.
Subo para o meu quarto e me jogo na cama.
— Eu devia ter ido viajar antes de qualquer evento. Enrolei para ir a
qualquer lugar e sumir da mídia, e hoje vou para um lugar repleto deles —
resmungo.
Preciso ainda visitar a Ana hoje. Eu apenas queria sumir do planeta. Será
que a NASA topa me enviar para qualquer lugar no espaço por alguns dias?
Meu celular vibra no criado-mudo, e quando pego para ver o que é,
apenas me surpreendo.
Abro a mensagem.

Daiane, eu vou para pertinho de você hoje! Meu pai vai me levar com ele em
um lugar e ele disse que é em São Paulo, e você mora aí. Será que vamos nos
ver?

Fico olhando a mensagem por muito tempo, chocada.

Oi, meu amor! Fico feliz por isso. Você sabe onde é?

Estou com um pressentimento um pouco ruim. Algo me diz... Não! Seria muito
azar para mim. Óbvio que não.

Não sei direito. Mas acho que é algo de ajudar. Depois falo com você. Beijos.
Estou com saudades!

Não respondo. Não pode ser!


Levanto, pego minha bolsa e celular e saio correndo. Estefan fala algo,
mas não escuto. Entro em meu carro e saio. Vejo que o carro dele segue o meu.

Chego ao local onde será o evento. Estaciono, e dou sinal para o Estefan
ficar. Subo a escadaria de entrada. Está um entra e sai de pessoas com caixas e
arranjos de flores. Paro na frente de um rapaz que olha uma lista nas mãos.
— Oi! — digo o mais animada possível.
Ele me olha e não tem a melhor expressão.
— Este local está fechado para um evento. Não pode entrar, senhorita.
— É eu sei! Eu queria saber se o senhor poderia confirmar se meu nome
está na lista? Eu confirmei, mas meu celular pifou, bem na hora. Estou
desesperada — minto e ele me olha com desconfiança. Sorrio e ele bufa.
— Qual o seu nome?
— Daiane Escobar. — Ele puxa o último papel e analisa.
— Sim. Seu nome está — diz secamente.
— E confirma também se encontra o da minha tia. É Jaqueline Ferreira.
— Que a tia da Beatriz me perdoe por mentir usando ela, mas é o único nome
com J que me veio à memória. — Por favor, moço!
Ele respira fundo.
Aproximo-me bem, e corro os olhos por onde ele passa lentamente e
caneta, e então vejo o nome que tanto queria não encontrar: Jacob Casagrande.
Mil vezes merda!
Meu celular começa a tocar na hora, e ele me olha surpreso, e só então
me lembro da minha mentira.
— Veja só, é um milagre! — Retiro o celular da bolsa. Ele me olha sério.
— O nome da sua tia não está na lista!
— Que pena para ela. Queria tanto vir. Mas obrigada. Fui!
Desço as escadas correndo e por pouco não caio. Entro em meu carro, e
então vejo quem me ligava. Era a Ana. Provavelmente para saber se eu vou na
casa dela.
Ajeito-me no carro, coloco o cinto e dou partida.
Sigo diretamente para a casa dela. E com muito ódio. Eu tenho que ter
feito algo de muito ruim em outra vida — se é que existiu — para ter tanto azar
assim.
Chego à casa dela, e saio do carro fechando a porta com raiva. Passo
pelos seguranças e cumprimento. Luciano, o segurança mais antigo do meu
irmão, abre a porta para mim. Entro chamando pela Ana, que não responde.
— Aqui ela está ou os seguranças teriam dito o contrário.
Caminho para a cozinha. Preciso de água para me acalmar.
— Ah! Meu Deus! — Viro-me de costas.
— Daiane... E-eu... N-nós...
— Achei que a quarentena fosse algo para ser seguido corretamente. Que
nojo ver isso — digo.
— Maninha, já te avisaram que se avisa quando vem na casa do seu
irmão casado? — Henrique diz com a ironia bem evidente.
— Já te falaram que sua irmã viria hoje, e que ela tem passe livre para
entrar aqui sem ser anunciada? Porra, já se vestiu?
Ele passa por mim e diz:
— E quem disse que precisa estar dentro, para ter prazer — diz se
referindo ao que eu disse sobre a quarentena.
Dou um tapa em seu braço com força e ele sai rindo.
Viro-me e Ana, que é bem branquinha, está muito vermelha.
— Daiane, eu te liguei, achei que não viria.
— Então resolveu usar a cozinha para outra coisa? — provoco.
— Seu irmão...
— Esquece, boba!
Cumprimento-a, pego água. Bebo e vamos para a sala.
— Onde estão as princesinhas?
— Ambas dormindo. — Sorri.
— E como se sente?
— Bem. Na primeira gravidez foi mais complicado a recuperação, agora
está sendo melhor.
— Laís dando muito trabalho?
— Sabe que não! — diz animada. — Já Yasmim, sim. Cada vez andando
melhor, e começando a falar mais. Mexendo em tudo, então se junta com o pai e
me deixa louca. Acredita que até aprendeu a cruzar os braços e me olhar brava
como ele?
Rio.
— Se não puxasse nada do Henrique, não seria divertido. Minha mãe diz
que ele era muito agitado, e foi o que mais deu trabalho quando pequeno, junto
ao meu tio.
— Nem me fale! Mas, então, fiquei sabendo do evento hoje, porém não
tenho como ir. Quero ficar mais tempo com as meninas, aproveitar que estou
longe do trabalho. O Henrique não quer ir, se eu não for.
— Eu meio que fui obrigada a ir pela Liziara. Confirmei presença ontem,
porque ela passou a semana inteira me enchendo o saco. Mas eu não queria ir.
Minha mãe também vai, o que se torna mais uma me obrigando a ir.
— Se anima, boba. Esses eventos sempre têm algo para nos divertir.
— Não vejo o quê! — digo desanimada.
— Imagino que o Marcos não vá também.
— Não. Com o Arthur recém-nascido, não tem como. — Sorrimos.
— Então, por que essa carinha desanimada?
— É que...
— Mulheres da minha vida, tenho que ir! — Henrique deposita um beijo
na minha testa e um beijo na Ana, então sai.
— Então, agora pode me dizer. O que tem te deixado desanimada?
— Nem eu sei dizer o porquê estou ficando assim. É complicado, mas
vou resolver.
Passamos o resto do tempo conversando sobre várias coisas. Ela disse
como tem se mantido firme em relação aos pais. Antes de ir embora, a Yasmim
acordou, e brinquei um pouco com ela. Depois dei um beijo na Laís, que ainda
dormia, e fui embora. Queria ver o Arthur, mas o banho para relaxar falou mais
alto.
Cheguei em casa e fui direto para o banho, coloquei algo confortável e
me deitei para descansar bem, porque a noite será muito, mas muito longa.

Estou na porta do evento. Eu e minha mãe já passamos pelos seguranças.


— Vai, Daiane, você precisa entrar! — Ela me empurra. Atrás de nós
uma fila enorme se forma e ninguém está com uma cara de felicidade por isso.
— Mãe, eu perdi a coragem. Ele vai estar aqui. Eu vi o nome dele!
— Você tem que parar de fugir desse homem, minha filha!
— Eu não quero entrar!
— Filha, olha o vexame. Estão todos olhando.
— Mãe...
— Daiane Gabrielle, entra agora! — Ela me empurra, e por pouco não
caio.
Agarro seu braço, e seguimos à procura do meu irmão e da Liziara.
Cumprimentamos alguns conhecidos, e encontramos o David e a Liziara. Ambos
sentados em uma mesa discreta nos fundos.
Sento-me rapidamente.
— Demoraram! — David reclama.
— Porque sua irmã empacou na porta. Parecia uma mula, essa teimosa.
— Por quê? — ele questiona.
— Por nada! — Pego a taça de champanhe dele, que está cheia e bebo de
uma vez.
Eles me olham surpresos.
— Estava com sede! — digo e minha mãe sorri sem graça.
— Pelo visto, vai lotar! — Liziara comenta olhando ao redor.
— Sim! Mais de cento e cinquenta convidados, fora o pessoal da mídia
— David diz.
— Fazendo a vez do Henrique em bisbilhotar tudo? — minha mãe
pergunta a ele e rio.
— Não! — ele diz e sorri.
— Mãe, vamos ao banheiro?
Liziara e David nos olham estranhamente.
— Não, eu não estou precisando.
— Mãe!
— Ah sim, verdade. Bexiga solta — ela diz e se levanta rapidamente.
Faço o mesmo.
— O que está acontecendo? Vocês duas estão estranhas — David diz
desconfiado.
— Estão mesmo! — Liziara concorda.
— Nada não! — respondemos juntas.
Fomos correndo ao banheiro. E por sorte ainda estava vazio.
— Mãe, estou tremendo! Não vou conseguir ficar aqui.
— Daiane, o que realmente sente por esse moço? Porque preciso saber o
nível de alerta de perigo que vamos enfrentar hoje.
— Mãe, não sei. Eu apenas não quero vê-lo.
— Talvez não veja. Ouviu seu irmão dizendo a quantidade de pessoas.
Vai lotar muito.
— É, você tem razão.
— Sou mãe, sempre tenho!
— Vamos!
— Agora, espera. Realmente me deu vontade de usar o banheiro.
Rio.
— É o nervoso que me faz passar. Sou cardíaca, eu sempre disse!
— Não é não! Vai logo.
— Não me apresse. — Ela me dá sua bolsa de mão para segurar.
A porta do banheiro se abre e é a Liziara.
— O que é isso? Reunião dos Escobar?! — brinco.
— Você tem dois segundos para me dizer o que está acontecendo, antes
que seu irmão comece a dar de delegado aqui para descobrir. Ele está
desconfiado e achando que sei algo. Eu não sei de nada, e assim não tem graça
alguma. O legal é dizer que não sei, quando eu sei.
Sorrio.
— Tem um cara, o cara da fazenda que eu fui parar quando viajei. Ele é
marido da Poliana. Rolou uma certa química, e ele vai estar aqui hoje. Estou
desesperada.
— A Poliana vai estar aqui?! — ela grita.
— Não sei. Liziara, o assunto não é esse, foca!
— Ok. O que temos que fazer? Podemos arrastar ela para algum lugar,
depois matamos e sumimos com o corpo. Ana e Bia ajudam. Bom, a Bia ajuda
mantendo os homens fora disso.
— Não, sua louca!
— Também pensei que fazer na frente de todos é mais adrenalina. Eu
topo!
— Não vamos fazer nada, louca! Vamos manter a calma e compostura.
Vamos ser civilizadas, com ela vindo ou não! E o David não pode saber de nada.
— Fechado!
Minha mãe aparece e lava as mãos.
— Quem vamos matar? Mulheres Escobar reunidas é preocupante — ela
diz nos olhando através do espelho.
— Não vamos matar ninguém. Vamos ser civilizadas e manter a calma.
Estão me deixando mais nervosa.
— Está bem. Então vamos, antes que o David invada aqui — Liziara diz.
Abrimos a porta do banheiro e damos um grito de susto.
— O que está acontecendo? — David pergunta.
— NADA! — respondemos em coro. Passamos por ele e retornamos
para a nossa mesa calmamente.
O local está mais cheio.
Nos servem bebidas, e acompanhamentos. Meus olhos percorrem o local
completamente. Nada ainda. Sinto um alívio por isso.
— Filha, está pálida! Vai tomar um ar. Eu acompanho você.
Concordo e saímos para fora.

Algumas pessoas passam por nós e nos cumprimentam. Encosto na


parede e respiro fundo.
— Que prazer em revê-las! — Olho para a voz. O homem do bar, que
dançou com minha mãe.
— Alessandro?! — ela diz surpresa.
— Surpresa em me ver? Claro que sim. Mas antes que pense, não estou
te seguindo. Apenas fui convidado.
Ela concorda e sorrio.
— Um prazer em revê-lo também — digo.
— Passa bem? Está pálida — ele pergunta.
— Sim! Apenas muito abafado lá dentro.
Ele concorda.
— Bom, nos vemos, lá dentro. Até logo! — Ele sorri e se retira.
Minha mãe me olha boquiaberta.
— Eu não acredito que ele está aqui. Está me seguindo com toda certeza
— ela diz.
— Não seja doida. Ele foi convidado.
— Verdade! Tem razão.
— Sou Daiane Escobar, sempre tenho razão. — Rimos.
— Filha, vamos entrar?
— Vou ficar mais um pouquinho. Mas pode ir, vou ficar bem.
Ela concorda e então entra.
Vou para a lateral, mais afastada da entrada, e do movimento.
Sento no altinho, e pouco me importo com minha roupa. Só preciso de
mais ar, e ficar sentada. Encosto a cabeça na parede e fecho os olhos.
O que realmente está acontecendo? Estou tão confusa. Não sei nada
sobre sentimentos assim. Nunca senti de verdade. Ouvia meus irmãos, pais e tio
falar, mas nunca fui eu a sentir. Henrique sempre contou com tanto amor, como
foi se apaixonar à primeira vista pela Ana, e o David em como a amizade dele
com a Liziara virou casamento, e também minha mãe sempre contou como foi
que tudo começou com meu pai, e óbvio que vi como tudo foi com o meu tio e a
Beatriz, mas comigo... Droga, por que é tão difícil entender as coisas quando
acontecem com você?
Se fosse um caso criminal, ou um problema familiar, eu saberia
exatamente o que fazer, mas isso, esse sentimento louco, eu não tenho ideia. Eu
preciso entender. Mas como entender, o que não sei nem por onde começar? Se
meu pai estivesse aqui, ele saberia como ajudar. Minha mãe faz seu melhor, mas
não quero envolver ela assim, nunca fui de me abrir com todo mundo, a não ser
com ele, então me sinto travada quanto a isso.
Eu conheci tantos caras, e alguns até legais, mas tinha que ficar assim
justo com um casado? Seria possível sentir algo diferente por um cara que nem
sequer beijou, ou passou mais tempo? Tantas perguntas sem respostas. Eu odeio
ficar em uma situação na qual não entendo.
— Tentando fugir? — Me assusto com a voz. Abro os olhos e meu
coração dispara.
— O que faz aqui? — pergunto e ele sorri. O maldito sorriso de menino
levado.
— Estou tomando um ar.
— Lá dentro realmente está abafado.
— Me seguindo? — pergunto.
— Não. Apenas vim para cá, tomar ar, e acabei te encontrando.
Concordo.
— Chegou há muito tempo?
— Faz algum tempo sim. Mas já me senti sufocado com tanto
cumprimentos e sorrisos forçados.
Sorrio.
— Sei bem como é. Bom, melhor eu entrar.
— Não! Não precisa fugir, Daiane. — Ele se senta ao meu lado. — Só
queria entender, por que sempre tenta me evitar.
— Não tento! — minto.
— Sei... Então, fiquei sabendo que nasceu sua nova sobrinha e seu
primo.
— Nasceu sim. — Sorrio ao me lembrar deles.
— Meus parabéns.
Ficamos em silêncio por um tempo.
— Ficou com meus casos?
— Ao que parece sim. Casos muito bons. Fiquei surpreso em saber que
tirou férias antes de conclui-los.
— Sim. Precisava. Não ficaram muito felizes com isso, mas eu precisava
disso.
— Entendi. Prometo que vou cuidar deles da melhor forma.
— Sei que vai.
Sorrio.
— Daiane, nós precisamos conversar, mas não aqui. — Me levanto e ele
faz o mesmo.
— Jacob, não. Eu sei do que se trata essa conversa e não precisamos.
Você tem a Poliana, e tem uma filha. Eu não quero ficar no meio disso. Eu
preciso evitar tudo isso. Então é melhor não conversarmos, porque eu sei quem
vai sair perdendo, e não quero. Não vou mentir, odeio perder, mas também não
irei destruir lar de ninguém. Não gosto da Poliana, e não vou mentir sobre isso
também. Eu não a suporto e nunca suportei. Apenas não entendo o porquê de
você estar com ela. Me surpreendi quando descobri que eram noivos naquela
época, mas apenas por saber que tipo ela era. Mas quer saber? Nada disso
importa. Eu não posso ter essa conversa. E realmente preciso sair daqui.
Vou descer, mas ele me segura.
— Daiane, não é bem assim. Não podemos fugir, do que nem sequer
sabemos o que é. Precisamos sim conversar...
— JACOB!
Fecho os olhos ao escutar a voz que chama por ele. Ele me solta e se vira.
— Que merda foi essa? Eu sabia que você estava me traindo. E ainda
com essa vagabunda! Seu cretino. Em um evento foge para ver a amante! — ela
berra.
Algumas pessoas começam a se aproximar, não só as que chegam no
evento, como as que passam na rua. Homens com câmeras, e mulheres com
celular e microfones, se aproximam também.
Ótimo, agora o espetáculo está pronto.
— Poliana, abaixa o tom, e tome cuidado com suas palavras. Não está
acontecendo nada! Eu nunca te traí — Jacob diz calmamente. Mas vejo a
dificuldade que tem.
— Não? E por que vivia vendo fotos dela na internet? Por que de todos
lugares ela foi parar na sua fazenda? E hoje você some de perto de mim e da sua
filha e te encontro aqui? Ah, teve também a boate que foram juntos! — Ela ri. —
Não sei porque me surpreendo. Ela é uma Escobar, e eles sempre adoram fazer
de tudo para passar à frente, e principalmente me ferrar!
— Olha aqui, Poliana...
— Olha aqui você, Daiane! Eu cansei de sempre ter vocês destruindo
minha vida. Eu cansei dessa putaria toda. Você é uma vadia. É uma promotora
rodada, e é claro que o Jacob iria se atrair por você, afinal se atraiu por uma
igual no passado, a mãe putinha da filhinha dele! — ela grita e ri.
— Papai! — Sophie grita, chorando, e só agora percebemos a presença
dela, e não só dela, como da minha família e muito mais gente.
— Daiane, que merda é essa? — David pergunta se aproximando.
— Filha, o papai...
— Por que ela falou isso da minha mãe? — ela pergunta chorando e me
corta o coração.
— Porque ela era uma qualquer. Nunca foi linda, e muito menos uma boa
moça! Ela mentiu para você! — Poliana diz e então perco a cabeça e acerto um
tapa em seu rosto.
— Você me ofendeu e eu aguentei. Ofendeu minha família e também
aguentei, mas não vou aturar você falando isso para uma criança, sua louca! —
Ela ri.
— Papai, você mentiu! — Sophie diz chorando muito.
— Filha, eu... — Ela se afasta dele.
— Mentiu, pai!
Minha mãe puxa ela.
— Mãe, leva ela para nossa casa!
— Eu não quero ir! — ela diz chorando.
Aproximo-me dela e seguro seu rostinho.
— Confia em mim?
Ela concorda.
— Então vai com minha mãe e depois vou até você.
Ela concorda novamente.
— Vai no meu carro, mãe, a chave está na minha bolsa.
Ela assente e sai com a Sophie.
— Poliana, você viu a merda que você fez? — Jacob diz, e percebo que
seu tom é diferente agora, ele se aproxima dela, e David se aproxima dele.
Flashes não param de disparar.
— Eu fiz? Foi você e essa prostituta que fizeram. Vocês dois se
merecem! Dois idiotas. Mas, antes saiba que aqueles que admira, quebram leis,
cometem crimes... Isso mesmo! Registrem isso! — ela diz a todos ao redor, e os
que tem câmeras, registram sem parar, enquanto os com microfones, se
aproximam mais.
— Cala essa maldita boca, porra! — Jacob grita e me assusto e ela
também.
— Vai defender mesmo eles? Então é pior que eles!
— Olha como fala da minha família, sua filha da puta! — Vou para cima
dela, mas o David me segura e Liziara também.
— Segura ela, Liziara! — David grita.
— Daiane, se controla! Lembra do papo de manter a compostura? — ela
diz.
— Com essa infeliz não tem como!
— Deixa ela, Liziara. Deixe ela mostrar a todos quem é ela de verdade,
assim como você e todos os Escobar mostram, mas os cegos não veem! Você,
Daiane, não aceita que eu casei com um homem que me ama, e que é mais rico
que você! — gargalha. Está sem controle.
— Eu te amar? Tenha dó! Nunca te amei. Sabe por que me casei com
você, Poliana? Porque seu pai me implorou. Quis que eu fosse até o final,
mesmo que depois de alguns dias pedisse o divórcio, apenas para não
envergonhar ainda mais a sua família, que você e sua mãe afundaram e faliram!
Eu nunca te amei, e jamais iria ficar eternamente casado com você. — Olho
espantada e ela também para Jacob.
— É mentira! É mentira! — Ela se joga nele e começa a bater em seu
peito.
— Sai de perto de mim! — Ele a afasta, e ela cai ao perder o equilíbrio.
— Eu aguentei por ele, que não merece a filha que tem. Porque você sim é uma
qualquer. Que não sabe o que é amor de verdade. Quer apenas dinheiro e nada
mais. A Daiane nunca poderia destruir o que nunca existiu. — Ela se levanta e
vem para cima de mim, a Liziara me puxa e o Jacob vai para cima dela, mas meu
irmão segura ele.
— Não faça nenhuma merda, cara! Tem muita gente, e isso não precisa
acontecer. Mantenha a calma.
— Eu quero que se foda! — ele grita. — Me solta, David!
— Não vou te soltar!
— Solta, deixe ele mostrar as garras. Vamos lá, Jacob! A mídia vai adorar
isso! — Poliana grita.
— Me solta! — ele grita e se debate.
Alguns seguranças se aproximam, mas David faz sinal para saírem. O
mesmo acontece com nossos seguranças.
Ele derruba o David, e me assusto com a agilidade que faz isso. Poliana
ri.
Liziara me solta. Jacob está descontrolado. Ele vai para cima da Poliana,
e me coloco na frente dela.
— Jacob, olha para mim! Você não precisa fazer isso. Ela não merece
que se suje assim.
— Vem, Jacob, mostra seu lado mau! — ela provoca.
— Cale a boca, sua louca! — ele grita, e continua vindo na direção dela.
— Jacob, que isso, cara! — Alessandro aparece não sei de que local. —
Se controla, porra! Você não é assim. — Ele segura o braço do Jacob, mas ele
puxa com força. Ele me empurra para o lado e vai para cima da Poliana, que o
provoca xingando e ofendendo a Sophie.
— JACOB! — David e Alessandro gritam segurando ele.
Tudo está sendo registrado. Liziara se aproxima da Poliana.
— Cale a boca, porra! Pare de provocá-lo. Eu sei que você quer que ele
perca a razão e te agrida, mas não vamos deixar! — Liziara diz segurando seu
braço.
— Jacob, chega! Ela não merece isso.
— Ela merece tudo que não for bom. Ela é suja, é uma cobra à espera
para o bote! — ele grita.
— Jacob, não me faça ter que fazer isso! — digo a ele.
— Eu quero que se dane. Ela mexeu com minha filha!
Ele se solta novamente.
Coloco-me rapidamente na frente dele e seguro seu rosto. Ele me olha e
seu olhar é escuro. O brilho de seus olhos não existe neste momento.
— Jacob Casagrande, o senhor está preso! — digo a ele, com a voz
trêmula.
— O quê?! — ele diz.
— Sim. Está preso e tem o direito de permanecer calado. Vou chamar
uma equipe. E Poliana Xavier também deverá nos acompanhar — David
conclui.
— Eu o quê?! — Poliana grita.
— Calada! — digo a ela.
— Eu sinto muito... — digo a ele.
Um carro da polícia chega após alguns minutos e todos nós vamos para a
delegacia. Na porta da delegacia tem muitos paparazzi, e repórteres que, com
toda certeza, foram informados pelos outros do escândalo.

Óbvio que eu não deixaria ele em uma cela, apenas precisava acabar com
todo aquele escândalo. Dei o endereço de casa e pedi para o Alessandro ir dar
notícias a minha mãe e tentar mantê-la calma. Estamos na sala do David.
Jacob retira o paletó e joga na cadeira. Pega o celular, mexe em algo e
coloca no bolso, então se encosta na parede e cruza os braços. Está cansado, para
não dizer derrotado. A ira ainda permanece em sua face.
— Poliana, eu vou enviar um relatório para a delegacia onde trabalha,
informando sobre o que aconteceu. Não vou me envolver em caso algum que
tenha você, então apenas mandarei que alguém venha retirar você daqui, e levá-
la para que as autoridades de lá possam resolver.
— Não, você não vai fazer isso. Eu vou para casa normalmente, e não
terá relatório. Ou eu conto tudo o que sei sobre o caso da Liziara, e que todos os
Escobar colocaram a mão para que fosse abafado da lei. Eu posso cair, David,
mas levo todos ao poço comigo!
David me olha e esfrega o rosto. Liziara me olha e sei que se sente
culpada neste momento, seu olhar mostra isso.
— Você é muito baixa mesmo! — David diz.
— Eu posso ter feito muita coisa errada como policial. Talvez até
quebrado leis, e hoje provocado a ira do Jacob e até prejudicado a relação dele
com a filha, mas vocês são piores. Tem muitos casos que resolveram fora da lei,
e o da Liziara é um, eu participei e sei de cada detalhe. Me ferram e ferro vocês.
Então eu vou embora, tranquilamente. — Ela se levanta.
Olho para o David e ele abre os braços em rendição. Sei que se fosse
apenas ele envolvido no caso da Liziara, ele não iria se importar, mas se
preocupa muito com a família, para sujar a todos nós.
Poliana se aproxima da porta e se vira sorrindo.
— Jacob, não precisa pedir o divórcio, eu darei, mas irei querer um carro
novo, uma casa nova, e muito dinheiro. Ou a polícia da nossa cidade vai adorar
saber que você me agrediu! — Ela ri cinicamente. — E antes que eu me esqueça.
Quero meu nome fora da mídia, em relação a tudo que aconteceu hoje. Pensando
bem, não será legal eles na minha cola, e isso vai me sujar. Não se esqueçam, eu
me ferro, mas levo os Escobar e os Casagrande juntos.
Ela abre a porta.
— Poliana? — Jacob chama por ela, que olha para ele.
Ele retira o celular do bolso e então começamos a ouvir a gravação de
tudo o que foi dito nesta sala. Ela olha surpresa assim, como todos nós.
— Ouvimos apenas você se entregando e dizendo tudo o que fez. Então,
faremos assim: Você vai embora, acompanhada por um oficial. David vai fazer o
relatório. Vamos nos divorciar, e você não terá nada. A mídia, vai sim, apagar
todo o material, por causa da minha filha, e cada um segue a sua vida. Se abrir
sua boca, você não vai para o fundo do poço, mas sim para o fundo do bueiro,
porque vai se afundar nas próprias merdas, e não vai levar ninguém junto. — Ele
guarda o celular no bolso. — Então fica aqui, espera um oficial, e o relatório, ou
essa gravação vai parar na mídia. E você terá dois promotores, e um delegado,
contra você. Sendo assim terá Casagrande e Escobar contra Xavier e Poliana,
isso não será nada bom. Porque não restará nem o bueiro, porque seria caçada
até em outro planeta, e sabe que seria encontrada em algum momento!
Ela tem raiva no olhar. Se senta na cadeira e vejo o quanto suas mãos
tremem.
— Isso não vai ficar assim! — ela diz com ódio nas palavras.
— Poliana, acabou para você e, na verdade, não são apenas dois
promotores e um delegado contra você. Terá um juiz, duas advogadas e um
advogado que ama uma briga — digo a ela.
A porta se abre e Cleber e Débora entram.
— Escutamos tudo. Me coloca na lista das advogadas contra ela —
Débora diz e sorrio.
— Tem um investigador também! — Cleber fala.
— É, Poliana, realmente acabou para você! — Liziara diz rindo.
Poliana está vermelha de raiva e seu olhar é duro.
Após tudo o que tinha que ser feito, avisei por cima ao meu tio e ele
cuidará da mídia. Os repórteres foram retirados da porta da delegacia.
— Preciso ver minha filha.
— Eu te levo até em casa!
Ele concorda.
— Depois mando buscarem seu carro no estacionamento do evento.
— Daiane, eu...
— Não Jacob, agora não. Aconteceu muita coisa e quase destruí a
carreira da minha família, então não!
Ligo para o Estefan da delegacia e o mando vir me buscar.

Assim que chegamos em casa, grito pela minha mãe.


Ela vem correndo junto com a Sophie e o Alessandro.
— Papai! — Sophie corre para os braços do pai.
— Filha! — Ele a abraça. — Vamos, porque o papai precisa conversar
com você.
Ela concorda.
— Tchau, tia Paula!
Minha mãe sorri para ela e então dá um beijo em seu rosto.
— Tchau, Daiane!
Dou um beijo nela.
— Alessandro tem como...
— Eu levo vocês.
— Só me deixa no evento que preciso pegar meu carro lá.
Ele concorda.
— Obrigada por ajudar! — digo ao Alessandro.
— Foi um prazer! — ele diz.
— Obrigado! — Jacob diz a minha mãe e ela assente. Então eles saem.
Sento-me no sofá e minha mãe acompanha eles até a porta. Então retorna
e se senta ao meu lado.
— Mãe.... — Jogo-me em seus braços e choro desesperadamente.
Nove

Jacob Casagrande

Entro na casa, após ser anunciado.


Faz alguns dias desde o ocorrido. Infelizmente poucas foram as
reportagens que consegui evitar que fossem ao ar. Conversei no colégio da
Sophie e ela vai ficar afastada por alguns dias, até a história não ser tão
comentada, enquanto isso ela segue fazendo trabalhos e lições que foram dadas
em casa.
Poliana foi longe demais com tudo. Sei que ela já está aqui na cidade,
pois pegou tudo o que era dela do apartamento, mas não a vi desde aquele dia.
Aproximo-me da biblioteca, onde fui informado que a pessoa estaria.
Bato na porta, e a voz diz para eu entrar.
Ele me observa e, como da outra vez, seu semblante é triste.
— Senhor Xavier. — Ele indica a poltrona a sua frente e me sento.
— Me chame apenas de Luiz. — Ele sorri.
— Acho que já sabe o motivo da minha vinda.
Ele concorda e retira os óculos.
Vou falar, mas ele faz um sinal para eu esperar.
— Obrigado. Você fez o favor que te pedi, e tenho por total obrigação
agradecer. Eu te pedi um favor difícil. Isso mostra ainda mais o quanto ela não te
merece. Eu peço perdão por toda situação em que coloquei você e sua família.
Mas já sou um velho, não sei quanto tempo irei durar, pois minha saúde já não é
a mesma, e eu precisava apenas ter um pouco de paz, sem as pessoas nos
apontando... — Ele sorri fracamente e desvio o olhar, porque sinto a dor de suas
palavras. — Porém, mesmo assim ela aprontou. Eu errei tanto com ela. Deus
sabe o quanto errei e o quanto me arrependo disso. — Retorno o olhar a ele, e
vejo uma lágrima solitária escorrer por seu rosto. —Você se sacrificou à toa, e
por minha culpa. Me perdoe, menino.
— O senhor, não tem que me pedir perdão algum. A Poliana é assim por
escolha dela. Se ela quisesse poderia ser uma pessoa melhor. Nosso
relacionamento poderia até ter dado certo, mas o problema é que a ganância e a
vontade pelo poder a consomem e ela deixa de lado o que realmente poderia
torná-la feliz e boa. Ninguém tem culpa dela ser assim. É adulta, tem uma
carreira que mostra dia e noite o que a vida traz para aqueles que fazem tudo
errado, então ela sabe muito bem o que é certo ou errado. Por favor, não se culpe
pelos erros dela!
— Isso mostra que nem sempre o sacrifício é a solução para o problema.
Sacrifiquei a você e até mesmo a mim, com a dor pelo meu pedido, e de nada
resolveu. Ela conseguiu estragar tudo novamente. Sei que veio para falar do
divórcio, e tem meu total apoio.
— Sim, vim exatamente por isso. Eu quero um divórcio amigável, para
acabar com tudo isso logo. Mas não sei o paradeiro dela.
— Minha esposa foi viajar para a casa de uma irmã, Poliana pode ter ido
junto. Irei agora mesmo descobrir. — Ele se levanta e faço o mesmo.
Fomos para a sala, onde ele pega o telefone.
— Pai... Jacob? — Nos viramos e o motivo da minha vinda para no meio
da sala. — O que faz aqui? — ela pergunta com raiva.
Coloco as mãos no bolso da calça jeans bege que estou. Ela olha de mim
para o pai.
— Vim para saber do seu paradeiro. Precisamos resolver essa situação
logo!
Ela ri com deboche.
— Olha, Jacob, eu fui afastada do meu emprego, estou sem dinheiro. Não
temos nada juntos, então se pensa que vou assinar o divórcio e sair de mãos
abanando está enganado!
— Pelo amor de Deus, Poliana! Já fomos humilhados demais por sua
causa. Tenha consciência uma vez na vida. Chega de envergonhar a família! —
seu pai implora, com a voz carregada de sentimentos e trêmula. Mas ela pouco
se importa, pois ri ainda mais.
— Humilhados? A única humilhada da história sou eu, papai! Eu não
vou sair de mãos abanando.
— Poliana, não faça isso, eu estou te implorando. Se ainda se importa
com seu velho pai, chega disso! — ele grita.
Respiro fundo e retiro a carteira do bolso.
— Quero uma caneta. — Eles me olham. — Não tenho o dia todo. — Ela
pega rapidamente na bolsa que está e me entrega.
Aproximo-me da mesa de jantar e apoio o cheque que retirei da carteira.
Coloco um valor e assino. Destaco do talão e entrego em suas mãos junto a
caneta guardando a carteira no bolso novamente.
— Esse valor é o suficiente para você assinar o divórcio de forma
amigável e sumir da minha vista?
Seus olhos brilham ao ver o valor, mas logo ela me olha novamente séria.
— Sim, mas quero algo a mais.
— O que, Poliana? — questiono sem paciência.
— Quero um apartamento nos Estados Unidos. Vou recomeçar minha
vida longe daqui.
— Isso é um absurdo! — seu pai diz alterado.
— Ou é isso, ou espere sentado por um divórcio amigável.
Rio.
— Poliana, vamos amanhã mesmo tratar do divórcio. Leve tudo o que
tiver de documentos, passarei para o meu advogado e ele colocará um
apartamento que eu tenho na Flórida em seu nome.
Ela sorri animada.
— Mas tem uma coisa.
— O quê?! — pergunta alarmada.
— Se você aparecer no meu caminho, ou no da minha família, eu destruo
a sua vida, e você não será aceita nem na sarjeta! Amanhã cedo esteja pronta.
Meu advogado vai entrar em contato com você. E tem mais... primeiro assina o
divórcio, depois terá tudo o que precisa.
Saio da casa o mais depressa possível. Essa mulher é louca, e se pensa
que vai sair na vantagem está muito enganada. Quando começamos a sair, ela se
mostrou ser uma pessoa, mas quando ficamos noivos na base da pressão, notei
quem ela era de verdade, e investiguei a fundo sua vida, mas então seu pai me
fez um pedido, e adoro aquele homem, e eu daria tudo para realizar um pedido
de minha mãe, mas não pude, e não queria jamais que o dia que ele não estivesse
mais aqui entre nós, eu me sentisse destruído, por ter negado a ele um pouco de
paz. Vejo casos e mais casos, e todos as vítimas querem justiça, mas acima de
tudo um pouco de paz, e não seria eu a negar a ele isso, mesmo que custasse um
pouco do meu sacrifício, porém, quando toda essa merda caiu sobre minha filha,
eu não aguentaria mais um dia nessa farsa. Sophie é a única pessoa que me
importa grandemente, e por ela eu faço e faria tudo até mesmo além do meu
alcance.
Se Poliana pensa que sairá na vantagem, está enganada.
Ligo para o banco e converso com meu gerente deixando avisado para
que não desconte nenhum cheque, até segunda ordem, e que enrole a pessoa que
tentar fazer isso.
Ligo o carro e saio pela cidade. Está fresco o dia. Abro a janela e deixo a
brisa entrar. Solto o ar e relaxo. Amanhã um grande peso sairá das minhas
costas.
Vou para a fazenda, preciso conversar com minha avó. Contei tudo a ela
no dia que retornei de São Paulo com Sophie, e até mesmo o motivo do
casamento, e ela me xingou por exatos trinta minutos, mas depois me abraçou
até me deixar sem ar, e disse que esse era o neto que ela tanto amava, sempre
pensando no próximo. Dona Joana é um amor, mesmo me deixando louco.
Estaciono na fazenda e entro rapidamente.
— Vó? — grito por seu nome.
— Aqui na cozinha. Eu sou velha, mas não surda. Precisa gritar assim?
— ela grita de volta e rio.
Caminho até a cozinha e ela está apoiada no cabo da vassoura olhando a
TV na parede onde passa uma reportagem.
— Desde quando tem TV aqui?
— Desde hoje. Pedi para colocarem. Estou na idade de ficar em frente à
televisão assistindo bobagens para depois contar tudo a você e Sophie.
Sorrio.
— Onde ela está?
— Foi na casa de uma amiguinha.
— Com a ordem de quem? — pergunto abrindo a geladeira. — Não
lembro de ter autorizado.
— Meu querido, com a minha ordem. Então isso basta.
Sorrio. Adoro provocá-la.
— Agora silêncio. Olha, olha! — Ela bate a vassoura na minha perna.
Pego uma garrafa d’água e olho o que ela indica.
Ela aumenta o volume da televisão.
— Estamos em frente ao tribunal, onde acaba de acontecer o julgamento
de Flávio Enrico. Para quem não esteve conosco desde o início da reportagem,
irei resumir. O Flávio Enrico, conhecido como Rico, foi acusado pelo homicídio
da filha Lara, de 5 anos e da esposa Milena, de 35 anos, dentro da própria casa
onde moravam. O caso se estendeu por quatro anos, pois ele se negava de ter
cometido o crime, enquanto a família de Milena alegava que ela tinha sido o
culpado, pois o relacionamento deles era bastante instável. Após muita luta na
justiça, hoje, após dois longos dias de julgamento, apresentações de provas, e
até mesmo briga entre os advogados, o juiz leu a sentença. A família da vítima e
pessoas que torciam por um bom resultado estão indo à loucura, como podem
ver. Após o juiz ter lido a sentença, não teve como conter a emoção. Afinal,
foram anos de sofrimento para a família da vítima.
— Me lembro deste caso. A sentença foi transmitida ao vivo?
Minha avó concorda.
— Shhh, estou esperando uma coisa!
— O quê? — pergunto curioso e bebo a água.
— Estamos à espera da saída do advogado da vítima para ver se ele
aceita falar conosco, e também da promotora que esteve no caso — a repórter
fala.
Minha avó sorri animada e bate a vassoura no chão.
— Ok, eu vou sair daqui, antes que seja lá o que estiver acontecendo
contagie a mim.
Ela ri.
— Fique! Tem que ver. Tomara que apareça. Você não viu quem estava
no caso?
— Não. Estive bem ocupado, nos últimos tempos, com uma louca na
minha cola. — Rio.
— OLHA! — ela grita apontando a TV e me assusto, derrubando até a
garrafa d’água molhando todo o chão, devido ao grito.
— A promotora Daiane Escobar, aceitou falar conosco. — Ao ouvir este
nome olho rapidamente para a TV. — Doutora Promotora, todos elogiam
bastante sua posição diante do caso, pois retornou há pouco de férias e entrou
no caso assumindo o lugar do antigo promotor. — Daiane assente. Sua aparência
é de cansada. — Foi difícil estar diante de um caso como este em pouco tempo?
— Todos os casos são difíceis — ela responde rapidamente e com
firmeza.
— É, foi contagiado! Está sorrindo igual a mim — minha avó diz e
reviro os olhos.
— Ficamos um pouco tensos, pois circulava que a promotoria já havia
escolhido um lado. Isso foi verdade?
Daiane sorri.
— Na promotoria não deve existir isso. Temos de ser imparciais.
Analisamos ambos os lados, e medimos o peso de cada um. É um trabalho
difícil, assim como o do juiz. Não escolho lados, eu apenas escolho o que é o
melhor para a sociedade, mesmo que algum lado saia ferido. Infelizmente, na
justiça e na vida, não serão todos que se sentirão felizes com alguns resultados,
mas tento da melhor forma escolher o que é o melhor sem deixar de lado todos
os direitos humanos.
Sorrio com sua resposta.
— Poderia nos dizer qual foi o momento mais difícil lá dentro?
— Infelizmente não posso entrar em muitos detalhes, o que vocês tinham
para ouvir foi transmitido pelo juiz ao vivo. — Sua resposta é curta e direta.
A repórter agradece e Daiane se retira com um segurança a ajudando
passar por todos os repórteres.
Minha avó desliga a TV.
— Acorda, menino! — Olho para ela. — Então, já sabe o que vai fazer?
— Fazer sobre o quê? — Me faço de desentendido.
— Se vai se arriscar com ela, ou vai morrer cheio de gatos.
Sorrio.
— Vó, eu e ela não temos nada. Confesso que sempre fui atraído por ela,
mas isso não significa que terá algo. Ainda nem me livrei da Poliana por
completo.
— Eu não falei que tem que pedi-la em casamento. Poderiam se conhecer
mais. Tem amores que vêm de boas amizades. Não custa nada se aproximar e ver
no que dá. Vocês são jovens, vão curtir e, se não der certo, amém, mas só vão
saber no que vai dar quando tentarem.
— Vó, pare de bancar a cupido. Eu vou para minha casa e, quando
Sophie chegar, me avise que venho buscá-la. Fui! — Saio da cozinha.
— Não vai limpar a sujeira que fez?! — ela grita.
— Não, os pensamentos estão me deixando cansado — retruco
provocando e ela me xinga.
Saio da casa e entro em meu carro. Encosto a cabeça no banco, e sorrio,
quando a imagem da Daiane invade minha mente.
Ligo o carro e coloco o cinto.

Já é tarde, e Sophie já está em casa. Estamos na sala deitados no sofá


assistindo filme e comendo pipoca.
— Pai, a bruxa da Poliana não vai mais morar com a gente?
— Não! Seremos apenas nós dois. — Sorrio para ela e aperto seu nariz
fazendo-a rir.
Foi difícil a nossa conversa depois do que a Poliana disse, mas, às vezes,
esqueço que minha filha está crescendo e a cada dia mais inteligente. Não
conseguiria esconder mais a história real sobre a mãe dela por muito tempo.
Então prometi a ela que nunca mais esconderia nada e ela prometeu que jamais
mentiria para mim, o que sei que não será verdade, afinal, duvido que, quando
começar a namorar daqui a alguns anos, vai dizer de primeira para mim. Com
toda certeza vai contar à bisavó e então para mim. Estremeço só de pensar na
possibilidade.
— Podíamos voltar a morar com a bisa!
— E perder a chance de nos entupir de besteiras sem ela brigar?
Ela ri.
— Verdade! Esses dias que vou ficar em casa, podíamos viajar. Nunca
mais fomos pra praia.
— Infelizmente, o trabalho não vai deixar, mas converse com a bisa,
quem sabe ela não aceita ir.
Ela emburra e sorrio.
— Eu já falei e ela disse que não tem mais idade para aguentar areia no
corpo e onde eu não podia saber.
Rio.
— Então, nas suas férias, eu prometo pegar férias juntos e vamos para
onde você quiser.
— Mas esses dias eu não queria ficar em casa, só fazendo lição. — Ela
come a pipoca e deita a cabeça no meu colo cruzando ambas as mãos. — Por
favor, por favor, por favor!
— Princesa, eu não posso ir. Se eu pudesse jamais te negaria isso.
Podemos sair para algum lugar, mas viajar é impossível.
— Que chato! — Ela se vira para a TV.
Continuamos assistindo, até que ela salta do sofá animada e, por pouco,
não derruba a pipoca.
— Eu conheço alguém que iria querer viajar comigo!
— Se for algum garoto, eu corto a cabeça dele. — Ela me olha sem
entender.
— Pai, eu sou criança. Não tenho namorado.
— Pense assim por mais cem anos. Quem é a pessoa?
— Se a pessoa quiser, você vai deixar?
— Não, até eu saber quem é a pessoa! — Coloco a pipoca na boca.
— É a Daiane! Somos amigas. Ela vai querer, eu sei!
Me engasgo com a pipoca. Afasto a travessa para o lado e pego o copo
com refrigerante.
— Papai? — ela pergunta.
Me recupero e respiro fundo.
— Posso pedir pra ela?
— Filha, ela trabalha. Não tem tempo para isso.
— Vou tentar!
Ela sai em disparada para o quarto dela.
— Olha, é raro eu te pedir as coisas, mas esse pedido é importante. Faça
com que ela diga que não pode, amém! — digo olhando para o teto.
Sophie se joga no sofá com o celular no ouvido, após alguns minutos.
— Hum-hum... Vou falar para ele... Hum-hum... Não... Ele leva! — ela
diz animada.
— Levo aonde?! — grito.
— Ok. Beijos. — Ela desliga o celular.
— Então? — pergunto preocupado.
— Ela disse que só tinha dois dias livre essa semana.
Solto o ar em agradecimento.
Levanto com a travessa de pipoca e o copo para levar na cozinha.
— Sinto muito, princesa.
— Mas por quê? Ela vai comigo. No apartamento que a família dela tem.
Viro-me rapidamente e as pipocas que ainda existiam na travessa saem
voando.
— E-ela...
— Sim, irei com ela. Mas ela disse que você teria que me deixar na casa
dela hoje, que assim podemos ir de madrugada, porque o segurança dela nos
leva. Ir daqui vai ser mais demorado.
— Não!
— Mas, pai, você disse...
— Não é não! Eu não vou levar, porque você não vai. Decisão tomada.
Não discuta comigo. Essa é minha decisão final! Você não vai e ponto.

Daiane Escobar

Estou exausta. Acordei quase na hora do jantar. Esses dois dias de


tribunal acabaram comigo. Meus pés estão parecendo uma bola. Quando
cheguei, ainda fui visitar Ana e Beatriz, para ver as crianças, e quando cheguei
aqui em casa, as meninas da Liziara estavam aqui e fui dar atenção a elas.
Quando deitei, desmaiei. Acordei com meu celular tocando e era a Sophie
dizendo que ficaria em casa alguns dias, mas queria viajar para a praia, e o pai e
a bisavó não podiam ir. Depois do que ela enfrentou, merece um lugar diferente
para se distrair, e eu também, porque estou acabada. E como faz tempo que não
vou para o litoral, resolvi ir. Termino de arrumar minhas coisas na mala. Estou
levando pouca coisa. Desço com a mala e minha bolsa.
— Daiane, não quer levar a dona Jurema ou a Marcela? Você vai estar
com criança — minha mãe diz preocupada.
— Não tem necessidade. Eu cuido dos meus sobrinhos e meu primo e
estão todos bem.
— Eu sei, mas lá deve estar uma imundície. Depois de Marcos, Henrique
foi para lá, e sabe como ele adora fazer uma zona.
— Relaxa, mãe!
— Estefan vai ficar lá com você?
— Não. Irei dispensar, e depois ele retorna para nos buscar. Não irei
precisar do carro lá, tudo é perto, e caso eu precise peço táxi.
— Filha, é perigoso!
— Mãe, já está decidido.
— Está bem! Quando coloca algo na cabeça, ninguém muda. Pelo
menos, me mantenha sempre informada. Leve remédio para dores de cabeça, e
protetor solar, um para enjoos também. Criança as vezes passa mal na serra. —
Sorrio caminhando para o escritório para pegar a chave do apartamento na
gaveta da mesa do meu pai.
Entro e sorrio. Um quadro enorme dele fica acima da cadeira. Este lugar
me lembra muito dele, não tanto quanto a fazenda, mas me traz boas lembranças
também.
Retorno para a sala, e minha mãe está sentada no sofá.
— Será que ela vem? Vocês se falaram depois? — minha mãe questiona.
— Pelo jeito que ela falou vem sim. Mas já era para estarem aqui. Será
que mudou de ideia? Melhor eu ligar.
— Sim! Ligue. Afinal, fico preocupada, com vocês em estrada foras de
hora, e fora que ela está vindo do interior e é um perigo essa hora.
Ligo em seu celular, mas dá caixa postal.
O interfone de casa toca. Corro para atender.
— Tem uma jovem aqui que deseja entrar. Se chama Sophie.
— Pode liberar a entrada, Estefan.
Desligo e abro a porta da sala.
Alguns segundos depois, ela para na minha frente com uma mochila e
uma mala de rodinha rosa. Dou um beijo nela, que entra, e quando vou fechar a
porta, uma mão me impede.
Abro e engulo em seco.
— Boa noite, Daiane... Dona Paula! — A voz rouca, que me faz vibrar,
diz parado na porta.
Fico olhando sem responder. Seu cheiro me faz alucinar, e logo o
imagino sem essa roupa e eu completamente nua.
— Filha, deixe ele entrar! — minha mãe diz me tirando do devaneio.
Dou passagem a ele, que passa por mim, deixando o ambiente com seu
perfume.
Jacob cumprimenta minha mãe e se volta para mim.
— Eu não concordo com essa viagem, quero que isso fique muito claro.
Mas por confiar em você vou deixá-la ir. Porém, qualquer problema me ligue, e
não evite em repreendê-la se for necessário. Na mochila deixei um cartão de
crédito junto com a senha e todos os documentos dela. — Seu tom é tão sério
que me surpreende. Mas percebo que age assim, apenas por amor a filha e
preocupação.
— Vai ficar tudo bem, não se preocupe! — digo apenas isso.
— Certo! — Ele se abaixa e abraça a filha. — Juízo, por favor!
— Sempre, papai! — Ela sorri animada.
— Quando voltar, vai fazer toda lição que ficará de lado durante esses
dois dias!
Ela concorda.
— E não vai ter desculpas. Sabe as regras sobre estudos.
Ela concorda, mais uma vez.
Minha mãe passa o braço ao redor dos ombros dela e sorri.
— Não se preocupe, Daiane é muito responsável. Não acontecerá nada a
Sophie.
— Não estou preocupado com isso. Minha preocupação é o que a Sophie
pode fazer com ela.
Eu e Sophie rimos, e ele nos olha sério.
— Papai, pode ir. Já sou grandinha.
Ele dá um beijo em sua testa e se despede de minha mãe.
— Me acompanha? — pergunta para mim e concordo.
Saímos da casa, e encosto a porta.
— Meu tio tentou ao máximo evitar a mídia, eu sinto muito, fiquei
sabendo que não deu muito certo — digo com sinceridade, enquanto ele me
olha.
— Não se preocupe. Uma hora isso aconteceria. Porém, agradeço, e
muito, afinal, os Escobar tentaram me ajudar, e isso é uma grande honra — diz
sorridente.
— Então, eu vou indo, tenho que terminar algumas coisas.
Ele concorda.
Viro-me, mas sua mão segura a minha e um calor me consome. Olho
para ele.
— Daiane, não podemos continuar assim. Eu evitei ao máximo trazer
Sophie, mas não posso privá-la de diversão, para evitar você. Temos que
entender o que está acontecendo.
— Jacob, ainda é cedo para isso. Na verdade, acredito que assim seja
melhor! — minto.
— Não, você não acredita, Daiane! Sabe que está acontecendo algo e
precisamos resolver. Histórias mal resolvidas não são para mim.
— Eu não posso. Não quando é um homem casado, e que se casou
apenas porque o pai dela pediu. Isso é um absurdo! — digo com raiva.
— E você não faria o mesmo? Se alguém que gostasse de verdade, te
pedisse ajuda, você negaria, Daiane? Claro que não. Afinal, todos sabem que
sacrifica a si mesma pela felicidade da família. Todos sabem disso. Então somos
iguais. Eu fiz isso por uma família que estava à beira do precipício. Eu não
conheci meus pais verdadeiros, perdi minha mãe, e tenho apenas minha avó e
minha filha, que quase perdi. Então, sim, eu sacrificaria mil vezes a mim mesmo
para trazer alegria a qualquer um que necessitasse da minha ajuda. Sabe como se
chama isso?
— Burrice? — respondo ainda com raiva e ele sorri.
Jacob se aproxima, deixando nossos corpos colados e segura meu queixo
sem pressionar.
— Não. Se chama humanidade ou compaixão. Você, como promotora,
deveria saber o que significa tudo isso. Talvez eu tenha sacrificado demais a
minha felicidade, mas quer saber? Valeu a pena, apenas por deixar aquele senhor
sorrir, por alguns dias, ter alegria. Porque eu faria qualquer coisa para ver o
sorriso da minha mãe mais uma vez, ou para trazer mais alegrias a minha avó.
Eu sou assim. Quem quiser ficar ao meu lado, ou aceita o pacote completo, ou
cai fora. Não sou duas caras, e tampouco um desalmado. Eu sempre fui assim, e
não me arrependo, porque olha só onde eu cheguei, sem precisar me humilhar,
rebaixar, ou deixar de ajudar alguém. E antes que diga, o que aconteceu na frente
do evento aquele dia foi uma exceção, afinal sou humano, tenho falhas, perco a
cabeça. Só não diga que é burrice quando você não esteve lá, e não sentiu o
clima, ou viu as lágrimas e a dor daquele homem. — Sua voz é carregada pela
raiva e, ao mesmo tempo, pela calmaria, é uma mistura louca.
Sinto um nó se formar na minha garganta, e me arrependo
profundamente por ter dito o que eu disse. Essa mania de dizer sempre o que
penso me colocaria em uma situação ruim, só não imaginava que seria ruim, ao
ponto de me fazer sentir culpada demais.
— Desculpe. Eu...
— Não peça desculpas. Apenas me deixe saber que não vai fugir, e vai
tentar descobrir o que é tudo isso? — Desvio o olhar. Ele segura meu rosto com
ambas as mãos me fazendo olhá-lo. — Porra, se isso for um pecado, que eu seja
perdoado ou que me envie de uma vez ao inferno que será menos enlouquecedor
do que o que estou prestes a fazer, mas preciso sentir isso...
Sua boca alcança a minha e tudo o que controlei some. Um fogo
enlouquecedor começa do meu pé e vai subindo por minhas pernas até chegar a
garganta. Quando sua língua se enrosca na minha, e uma de suas mãos descem
para a minha cintura, o botão do foda-se é ativado, e deixo me levar pelo que
está acontecendo. Enrosco meus braços ao redor de seu pescoço, e puxo
levemente seu cabelo. Com força, pressiona ainda mais nossos corpos e sinto sua
ereção pulsar entre minhas pernas. Um frio se instala na minha barriga e parece
que nunca fui beijada, pois essa sensação é nova. A mão que estava em meu
rosto serve para me conduzir até a parede, com seu corpo me prende e o fogo se
alastra. Meu coração está acelerado. Sua mão desliza por baixo da minha blusa e
aperta minha cintura. Deslizo as unhas por seu pescoço, sentindo ainda mais sua
ereção me pressionando. Um gemido escapa de meus lábios, e ele sorri, em
seguida morde levemente meu lábio inferior.
Meu fôlego foi para qualquer lugar longe daqui. Ele morde o próprio
lábio inferior, e como se não bastasse passa a língua. Porra!
— Amanhã assino o divórcio. Pense bem nesses dois dias fora. Não vou
implorar mais, tampouco correr atrás. Essa decisão está nas suas mãos. Não é
machismo, entenda que é apenas eu te dando espaço, e respeitando isso. Dois
dias, e se não der um retorno, eu prometo que nunca mais cruzarei seu caminho.
Ele se afasta e começa a sair.
— A essa altura do campeonato vem me dizer isso? Porra, homem, não
ferra comigo!
— Dois dias! — Então some me deixando encostada na parede, toda
desengonçada e com a boca inchada. Mas, o pior, é que me deixou
completamente excitada!
Dez

Daiane Escobar

Acordo e fico olhando para o teto. Chegamos exaustas e fomos dormir.


Sophie quis dormir comigo em meu quarto. Dispensei Estefan, o que não o
deixou feliz, mas eu não quero ninguém me vigiando.
Levanto e vou até o banheiro. Tomei banho após o acontecido com o
Jacob, seria impossível não tomar. Então apenas faço minha higiene e me troco.
Vim o caminho todo recordando a cena, e lembrando de suas palavras. Bia diz
que “Os Escobar são para foder o juízo, e não em um bom sentido”, mas estou
começando a achar que essa frase se encaixa para o Casagrande. E eu achando
que era a louca e tarada!
Vou para a sala onde o sol entra pela sacada, que esqueci de fechar a
cortina. Abro as portas, e deixo a brisa entrar. O apartamento fica de frente para
o mar. O barulho das ondas me acalma e me anima.
Entro no quarto e Sophie está acordada, sentada na cama esfregando os
olhos.
— Bom dia, raio de sol! — digo a ela.
— Bom dia, Gabi!
Fico olhando emocionada. Lembro do meu pai, e isso me faz sorrir.
Apenas ele me chamava por este apelido.
— Vamos tomar café em uma padaria, e depois praia. Logo depois, você
escolhe o que iremos comer de almoço... Bora levantar que hoje teremos um dia
cheio — digo puxando a coberta.
— Você acorda sempre tão animada?
Rio.
— Não! Mas quando estou na praia sim. Vou ver um biquíni para
colocar, porque pensei que demoraria mais para acordar, e nem coloquei.
Enquanto isso, escove os dentes e logo depois te ajudo com protetor solar e as
vestimentas.
— Só mais dez minutinhos... — Ela volta a deitar e sorrio.
— Nem pensar! — Abro a janela do quarto e deixo o sol entrar.
— Você e meu pai são muito chatos pela manhã. Quanta alegria, nossa!
— ela diz saindo da cama e rio.
— A vida é bela, então vamos aproveitar, pequena!
— Está animada demais. O que aconteceu?
Sorrio ao lembrar, mas fico quieta.
Ela pega a escova de dente na mala e entra no banheiro.
Escolho um biquíni e visto. Passo bastante protetor solar, e coloco uma
saída de praia não muito reveladora.
Ajudo Sophie com o protetor e o maiô, ela coloca um short junto.
Pegamos óculos de sol e uma bolsa pequena; e, então, saímos do apartamento e
fomos comer em uma padaria, que fica na esquina. Sophie disse que eu era louca
por entrarmos daquele jeito no local, mas estamos em uma praia. Se eu morasse
em praia, andaria de biquíni para cima e para baixo.
Após o café, atravessamos a avenida e logo pisamos na areia. Tiro meu
chinelo e ela faz o mesmo.
Tiro a saída de praia e sentamos na areia próximo ao mar. A praia não
está muito cheia.
— Fazia tanto tempo que não vinha para cá — digo.
— Por quê?
— O tempo era curto demais. Mas, agora estamos aqui. Duas amigas, na
praia, tomando um belo sol, e olhando o mar.
— Eu quis vir com você, porque não me trata como um bebê, igual ao
meu pai e a bisa. Vou fazer onze anos!
Sorrio da sua revolta.
— Sempre seremos bebês para nossos pais. Minha mãe tem eu e meus
irmãos como bebês também.
— Você sabia da minha mãe? — ela pergunta enquanto brinca com a
areia nas mãos.
— Sim! Mas não pense sobre isso — respondo.
— Meu pai me contou a verdade, e entendi mais ou menos. Só não
entendi por que ele se casou com a Poliana. Ela não é legal.
— Tudo na vida tem uma explicação; e um dia, quando for mais adulta,
vai compreender melhor.
— O pai dela, o senhor Luiz, é legal, minha bisa disse que ele conhece o
meu pai desde pequeno, porque meu bisavô era amigo dele.
— Nunca conheci o pai dela, mas imagino que seja boa pessoa.
— A mãe dela, é chata! — ela diz em um tom engraçado e rio.
— Não sinta raiva, isso não é bom para você. Como eu disse, um dia vai
entender tudo.
— Tomara, assim vou poder cuidar do meu pai, para nenhuma mulher má
chegar perto.
Rio.
— Está certa! Um dia, nós, os filhos, temos que recompensar tudo o que
nossos pais já fizeram por nós.
Ficamos horas conversando sobre sua escola e sobre suas amigas. Então
fomos brincar um pouco no mar, e depois decidimos voltar, porque o sol
começou a esquentar muito e a ficar insuportável.
Deixo ela tomar banho primeiro enquanto faço uma ligação.
Depois de uma eternidade, David atende:
— Diga, Daiane!
— David, você que estudou com a Poliana, por acaso conheceu os pais
dela?
Ele demora um pouco a responder:
— Conheci. Por que a pergunta?
— Sabe como eles eram? — Não respondo a sua questão.
— Ela é a cópia da mãe. Já o pai era um homem bom. Policial. Mas
nunca teve voz ativa na família, dava dó de ver, mas, por que tanto
questionamento? E não me diga que não é nada!
— Digamos que pensei que uma pessoa poderia ter sido manipulada.
— Que pessoa? Daiane, o que está aprontando?
— Tem como puxar a ficha dos pais dela para mim?
— Sinto muito, mas estou com meu supervisor na cola. Não posso dar
um passo e o cara fica em cima. Tenta ver com o Henrique, ele pode ajudar,
aquele ali adora uma fofoca.
Sorrio.
— Ok. Valeu! — Desligo, antes dele fazer mais questionamentos.
Algo não saiu da minha cabeça. Por que o pai dela queria tanto esse
casamento? Acredito que exista pessoas boas, mas tem que existir algo a mais.
Jacob não deve estar tão a par da situação.
Ligo para o Henrique.
— Olha, ao que devo a honra desta maravilhosa ligação? Deixa eu
adivinhar, quer um favor? — ele pergunta e reviro os olhos.
— Preciso que puxe a ficha dos pais da Poliana Xavier.
— Não, sem antes saber do que se trata.
— Faça, ou esqueça que existe eu de babá para quando quer dar uns
perdidos com a Ana e a babá das meninas não está.
— É foda! Vou puxar e te envio por e-mail.
— Seja rápido. Beijos! — Desligo a tempo da Sophie entrar na sala.
— Vou tomar um banho, e depois vamos sair para comer, pode ser?
— Sim! — diz animada.
Vou para o banho e levo o celular junto.
Minutos depois escuto meu celular apitar, e abro o boxe do chuveiro,
para pegá-lo, tomando cuidado com as mãos molhadas. É um e-mail do
Henrique. Esse sabe ser rápido.

De: Henrique Escobar


Para: Daiane Escobar
Assunto: O que pediu!

Não tem nada de interessante. Consegui rápido com um contato meu.


Mas segue o anexo da ficha.

Abro o anexo e leio. Realmente não tem nada.


Deixo o celular de lado e continuo o banho.
Por que um pai sacrificaria a felicidade de outro pai, sem um motivo
grande?

Jacob Casagrande

Sabe aquela liberdade que tanto queremos ter? Então, estou sentindo
neste momento. Assinamos o divórcio, e em até quarenta e oito horas, Poliana
deixa oficialmente de ser minha esposa. Tudo no modo amigável. Estamos no
prédio que fica o meu advogado, que nos acompanhou em tudo.
Poliana sorri sem parar.
Combinei tudo com Tobias, meu advogado, antes de vir para cá. Tudo
está esquematizado, assim como a delegacia onde Poliana trabalha. Eu precisava
entrar no jogo dela, para vencê-la. Sabia que ela jamais entregaria o divórcio de
forma amigável. Eu queria tudo muito rápido, e nunca gostei ou fui a favor de
abuso de poder, e então jamais faria algo imprudente por ser promotor para
liberar o divórcio rapidamente. Antes de promotor, sou como qualquer outro
cidadão. E desta forma, entrando no jogo da Poliana, não conseguiria apenas o
divórcio, como também faria ela pagar a humilhação que causou a minha filha e
a família Escobar, que pouco tem a ver conosco.
Entramos no escritório, seguido de Tobias. Poliana se senta e eu opto por
ficar de pé.
— Então... O meu cliente, senhor Jacob Casagrande, me informou de que
a senhorita ficaria com uma propriedade dele, mesmo sem ter qualquer direito. O
que entendo por ser uma generosidade do mesmo, já que desde que casaram não
adquiriram nada juntos — Tobias diz e Poliana sorri. Tudo está saindo como
planejei.
— Generosidade? Não! Isso se chama acordo. Era isso, ou nunca teria o
divórcio — digo, e Poliana me olha vitoriosa. Mal sabe o que te espera, cobra!
— Certo. Antes, gostaria de informar algumas coisas. — Tobias, se senta
em sua cadeira. — A senhorita sabe que o que pede ao meu cliente é chantagem?
— Ele gira a caneta nas mãos esperando por sua resposta.
— Não é não! É apenas meu direito. Não irei sair de mãos abanando
mais uma vez. Olha aqui, doutorzinho, eu já me ferrei demais nessa vida, e não
será agora, que tenho uma oportunidade de sair ganhando que não irei utilizar.
Quero sumir deste país, pois aqui não tenho mais benefícios.
Sorrio, e Tobias me olha balançando levemente a cabeça.
Poliana está entrando no próprio jogo, só que ainda não percebeu, que ela
é a vítima da vez.
— Se é assim, faremos do seu jeito. Desde que deixe meu cliente em paz.
— Deixarei, até quando me for conveniente. Quem faz as regras sou eu
agora. Cansei de ter sempre os Escobar destruindo minha vida. E se eles pensam
que a maldita de uma gravação vai me intimidar, estão enganados. Jacob não
perde por esperar. Nunca darei a paz que ele e a entojada da filha tanto querem.
— Ela se vira para mim e ri. — Você foi um idiota por fazer o que o velho do
meu pai queria. Ele é um idiota tanto quanto você. E farei tudo o que for preciso
para conseguir tudo o que eu quero. — Se volta para Tobias e aponta o dedo para
ele. — E nem pense em deixar escapar qualquer coisa dita aqui, porque não vai
querer conhecer a Poliana que existe dentro de mim. E entenda isso como uma
ameaça. Agora agilize toda essa merda!
Tobias me olha e faço um sinal disfarçadamente para ele, que
compreende de imediato.
É hora desse jogo entrar em ação.
— Está bem. Irei buscar alguns documentos. Aguardem, por favor.
Ele se retira e fecha a porta. Me aproximo da janela e pego meu celular.
— O que está fazendo? — ela pergunta alarmada.
— Cuide das suas coisas, que das minhas cuido eu.
— Quem diria, Jacob Casagrande, o famoso promotor, cair nas garras de
uma humilde policial. Que vergonha — debocha e rio.
Envio a mensagem, que faz parte do plano, e guardo o celular.
— Para você ver, todos erramos. — Cruzo os braços e me encosto na
parede.
— Desta vez, eu apenas acertei. Escolhi o cara certo. Um bom moço, que
preza sempre pelo bem-estar de todos, que tem um coração tão bom, que coloca
a própria felicidade de lado, para conseguir alegrar o próximo. Nunca te
ensinaram que não se deve deixar a própria alegria de lado, pelas pessoas? — ela
diz e ri.
— Veja só, aprendi isso estando com você. — Entro no seu jogo ainda
mais.
Ela não gosta da minha resposta, seu olhar entrega isso. Poliana não está
gostando da minha calmaria, pois sempre discordo dela, e hoje não está sendo
assim. Ela se remexe na cadeira. Está ficando desconfortável.
— Esse advogado está demorando muito. Não precisava dele. Poderia ter
feito isso sozinho.
— Não gosto das partes burocráticas na minha vida pessoal.
Tobias entra na sala, e faz um sinal que entendo o que quer dizer. Poliana
se vira para ele.
— Demorou. Ande logo, não tenho todo tempo do mundo.
— Só mais um minuto. Faltou apenas mais uma coisa, que já está vindo.
Peço um pouco de paciência — ele diz se aproximando na mesa.
Olho e a porta ficou apenas encostada.
— Poderia ler? — Ele entrega três documentos a ela, que pega e revira os
olhos, mas então começa a ler.
A porta levemente é aberta por completo. O delegado Almir acompanha a
equipe. Ele faz um sinal, para que Tobias se afaste e para que eu permaneça onde
estou. Tobias caminha para próximo da copiadora, que fica ao meu lado. Três
policiais entram pela esquerda rapidamente, em um silêncio espantoso. Duas
policiais caminham para a direita.
— Como assim, terei que arcar com tudo da casa? — Poliana se
manifesta alterada, e então se levanta e só agora nota os policiais no lugar. Ela
arregala aos olhos e deixa os documentos caírem.
— Que merda é essa? — ela grita.
— Senhorita, nos acompanhe! — Almir diz a ela, calmamente.
— Não irei. Que porra é essa, Almir? — ela grita novamente.
— Poliana Xavier, tem que nos acompanhar, e na delegacia
conversaremos. Tem o direito de pedir por um advogado, ou de permanecer
calada, e já deve saber que tudo o que disser poderá ser usado contra você — ele
diz e as duas policiais femininas se aproximam dela.
— Eu não vou! Jacob, seu filho da puta, armou para cima de mim! Isso
não vai ficar assim, desgraçado! Eu vou matar você e aquela sua filha entojada.
Você me paga! — ela grita histérica.
— Mantenha a calma, ou pode ser pior. Não nos faça usar a força! —
Almir diz a ela.
— Eu não irei. Já fui afastada do cargo, não preciso de mais nada! — ela
grita e empurra uma policial, e a outra a segura com força. — Me solta! — Ela
se debate, e tem que ser segurada pelas duas.
— Poliana, você mexeu com minha filha e eu jamais te deixarei impune.
Vai pagar por tudo — digo, e sinto um tremendo orgulho por vê-la nesta
situação.
— Seu imbecil. Vai me pagar, Jacob! Vocês todos vão! — ela grita e olha
para Almir. — Eu exijo ter meu advogado!
— Ótimo, da delegacia você pede um. Agora levem ela daqui, e se
precisar, algemem — ele diz rispidamente, e retiram ela da sala, sob protestos e
muitos gritos.
Aproximo-me de Almir, e lhe cumprimento.
— Obrigado!
— Estamos apenas fazendo nosso trabalho, Casagrande. Terá que nos
acompanhar. Quero a gravação do celular que tem, e tudo o que tiver de provar
contra ela, pois, junto ao relatório que recebi da capital, Poliana não vai escapar
desta. Nosso investigador conseguiu muitas provas contra ela, no quesito
profissional. Ela abusou demais do poder e até ameaças fez contra membros da
equipe. Poliana perdeu totalmente o controle.
— Tem mais uma prova — Tobias diz entregando a caneta gravadora que
retira do bolso. — Gravei toda nossa conversa. Isso aqui é um bom conteúdo. —
Ele sorri e faço o mesmo.
— Eu quero que ela pague pela humilhação que causou a minha filha, e a
tudo de errado que fez.
— Certo. Nos acompanhe até a delegacia, e Tobias também. Uma equipe
já foi enviada até a casa dela. Preciso ouvir aos pais dela também.
— Tenho certeza de que Poliana pegará muito tempo atrás das grades,
essa mulher é louca e nem o hospício a merece. Vamos! — digo animado.

Estamos na delegacia. Poliana está prestando depoimento. Seus pais


estão em uma sala à espera. Eu estou ao lado de fora, pois precisava falar com
Daiane.
— Alô?
— Daiane. Como estão?
— Jacob... nós estamos bem. Aconteceu algo? Sua voz está estranha.
Respiro fundo e olho para o céu, que está cinzento.
— Estou na delegacia, mas não deixe Sophie saber disso.
— A trabalho? — pergunta desconfiada.
— Poliana foi trazida para cá, e estou aqui junto com a família dela e
meu advogado. Meu advogado vai apresentar todas as provas, e eu tenho que dar
meu depoimento também. Todos serão ouvidos.
— Meu Deus! Eu vou ligar para meus irmãos e tio. Eles podem ajudar.
— Não. Está tudo sob controle, não se preocupe. Apenas não deixe
Sophie descobrir nada.
— Está bem. Mas, tem certeza? Se quiser, eu volto; deixo a Sophie na
minha mãe e vou até aí.
— Não. — Sorrio. — Vai ficar tudo bem. Desta vez, ela entrou no
próprio jogo dela. Não precisou de muito. E estou feliz por ter sido tudo rápido e
calmo, assim evita a mídia.
— Está bem. Me mantenha informada.
— Não se preocupe. Apenas liguei para o caso de me ligar e eu não
atender, afinal está com minha filha aí.
— Jacob?
— Hum?
— Se você não conseguir deixar essa vaca atrás das grades, eu corto
suas mãos e faço elas de orelha em você.
Rio. O riso mais sincero que dei hoje.
— Falo sério. Essa mulher é louca!
— Pode deixar. Receber ameaça do tipo de um Escobar é para ser levada
em consideração.
— E como! Tenho que desligar, Sophie está me chamando.
— Ok. Até mais.
— Até. — Ela desliga.
— Senhor, o delegado pede por sua presença — um policial me chama e
entro.
Após horas de depoimentos, e até mesmo o da minha avó que teve que
vir, Poliana foi encaminhada para uma cela por estar muito histérica e até mesmo
desacatar ao delegado e um policial, enquanto seu advogado foi atrás do habeas
corpus para ela alegando que não foi presa por uma justa causa — o que é
externamente ridículo, e isso me faz pensar que o mesmo é igual ou pior que ela
—, mas sei que não conseguirá. Conversei com o juiz da cidade, e o mesmo já
estava a par do caso desde que ela foi afastada do cargo por tempo
indeterminado, e disse para eu não me preocupar. Não abusei do poder, apenas
fui mais esperto do que o advogado meia boca dela, e Poliana fora das ruas é um
bem para toda humanidade. Isso conta como ética profissional, não?
— O pai dela quer falar com você. Porém, acho melhor não. Não
sabemos ao certo de que lado ele joga agora — Tobias diz.
— O moço aí tem razão — minha avó diz.
— Quero falar com ele, mas quero você presente.
Ele concorda.
— Teimoso! — minha avó fala e se senta na cadeira.
Caminho até o lugar onde ele está. A mulher dele está sendo ouvida mais
uma vez, Tobias me informou enquanto caminhávamos até aqui.
— Jacob. Nunca nos encontramos para boas coisas — ele diz, sem se
levantar.
— Parece que não. Sabe que isso não é correto. Não poderia nem estar
aqui. Então preciso que seja rápido.
— Eu contei toda a verdade. Eu disse que eu te fiz casar com ela, e contei
tudo o que minha filha fez e eu me fiz de cego. Poliana tem que pagar por tudo.
Apenas queria que soubesse. Obrigado, mais uma vez. — Ele sorri fracamente.
— Está tudo bem. Não se preocupe. Deixe as autoridades cuidarem disso
agora. — Não posso ser emocional aqui.
— Vamos! — Tobias diz e nos afastamos dali.
— Ela não merecia um pai como este.
— Não podemos escolher — ele diz.
— Não.
Após o último depoimento da mãe dela, o delegado está finalizando os
relatórios para o juiz.
Depois de horas e mais horas intermináveis esperando a decisão do poder
judiciário que analisava o relatório enviado, foi declarado prisão preventiva até o
julgamento. A ficha de Poliana é mais suja do que eu pensava. Descobriram
armas ilegais, e até mesmo que ela aceitava suborno de muitos bandidos. Sua
mãe até ajudava em algumas coisas. Além dela ter ameaçado colegas de
trabalho, desacatado ao delegado e policial, ela também expos minha filha, uma
menor de idade, e usou chantagem contra mim e os Escobar. Eu não irei colocar
minha mão no caso, quero distância de tudo que diz respeito a ela. Apenas,
quero que pague não apenas pelo que expos minha filha, e sim por tudo.
Vejo policiais correndo, e alguns pedindo para chamar uma ambulância.
Eles entram na sala onde estavam os pais da Poliana. Tobias, eu e minha avó
vamos atrás para saber o que está acontecendo. O delegado pede passagem.
Entro e vejo Luiz caído no chão e Sandra sua esposa em cima dele
gritando. Um policial a afasta e o outro analisa o pulso dele, e então olha para o
delegado e balança a cabeça negativamente. Olho assustado para tudo aquilo.
Minha avó cobre a boca com as mãos. Tobias fala ao telefone muito rápido.
— Você fez isso! Nos destruiu, Jacob! — Sandra grita alterada.
— Meu neto não fez isso, sua louca! Isso é culpa sua e da bruaca da sua
filha! — minha avó grita e se aproxima, mas a afasto.
— O que houve aqui?! — pergunto impaciente.
— Ele passou mal, e então caiu. Está muito pálido e gelado. A culpa é
sua, Jacob. Vai viver com isso na consciência, maldito! — ela grita.
As provas contra Sandra não foram suficientes, então na lei que,
infelizmente, é na maior parte falha, ela ficou solta, mas ainda será investigada.
— Saiam todos daqui, agora! — Almir grita.
Minha avó sai me puxando. Vou para o lado de fora. Preciso de ar.

Daiane Escobar

Estou tentando manter a compostura, diante da Sophie. Estávamos


voltando para o apartamento, depois do almoço e passeio, quando Jacob me
ligou e tive que disfarçar. Eu estou bastante preocupada, e estar aqui sem poder
fazer nada me deixa ainda mais irritada. Agora ligo, e apenas chama.
Sophie me olha sorridente, mas logo para de sorrir.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunta.
— N-não. Apenas uma dor de cabeça chata. — Sorrio para disfarçar.
— Entendi. Toma remédio. Eu vou dormir um pouquinho, estou com
muito sono — ela diz realmente sonolenta.
— Vai lá. E quando acordar, faremos o que quiser.
Ela sorri animada e vai para o quarto.
Saio para a sacada fechando as portas atrás de mim e ligo, mais uma vez,
para ele. E o infeliz não me atende.
A campainha toca e saio para atender, desconfiada, pois a portaria não
informou quem poderia ser.
“Olho mágico é brega, Daiane!”
Vou dar um brega na cabeça do Henrique agora!
Abro a porta e fico surpresa.
— Não acredito! — digo. — Como você...
— Me mudei essa semana para o apartamento à frente. Mas hoje reparei,
quando cheguei, que o molho de chaves desse apartamento estava para fora, e
vim avisar. Menina do céu, mas é muita coincidência para pouco mundo.
Olho para a porta e vejo a segurança que proporcionei para mim e
Sophie. Retiro a chave e coloco do lado de dentro.
Sorrio.
— Entre! — digo animada, e ela entra.
Dou um abraço apertado nela, que retribui da mesma forma.
— Jaqueline, que saudades de você, mulher! Não te vejo há tempos.
Jaqueline é a tia da Beatriz, e único parentesco. É uma cirurgiã doida,
muito bonita, e um amor de pessoa.
Ela se senta no sofá e me sento ao seu lado.
— Como estão todos? Estava trabalhando tanto, que faz dias que nem
sequer consegui falar com a Beatriz — diz sorridente.
— Estão todos bem!
— Fala se não é sorte! Eu me mudei, e acabei no mesmo prédio e no
apartamento de frente da família cheia de testosteronas que me deixa sem ar, e
com a calcinha mais molhada que o oceano.
Rio.
— Adorei saber disso! Mas por que se mudou?
— Cansei do lugar em que morava. Cheio de velhotes resmungando
porque o elevador quebrava. Certo, sou uma velha já, mas não sou obrigada a
conviver com pessoas na mesma categoria que eu, para mostrar a realidade bem
no meio da minha cara. Dispenso essa baboseira. — Rimos.
— Está certa. Tem que curtir o máximo que puder, enquanto está com
tudo em cima.
— Menina, mesmo que estiver tudo embaixo, vou continuar curtindo,
porque enquanto meu banco estiver bom para receber, continuarei deixando
depositarem.
Gargalho da sua ironia, e por entender bem ao que ela se refere.
— Mas me fale de você! Está de férias?
— Não. Mas precisava vir.
— E veio sozinha?
— Não. Trouxe a filha de um conhecido, ela está dormindo.
— Virou babá, ou está querendo o conhecido e por isso conquistando a
filha?
Sorrio.
— Não. Longa história, mas, por ora, envolve problemas.
— Nos Escobar problemas não é novidade. Quem é o cara? — ela é
direta assim como eu, e amo isso nela.
— Já ouviu falar do promotor Jacob Casagrande?
— Ouvi sim, mas nunca vi.
Tiro meu celular do bolso e acesso a internet para lhe mostrar uma foto.
Assim que encontro mostro a ela.
— Puta que pariu! Eu preciso conviver mais com vocês. Porra, qual o
feitiço que fizeram? Resolveram colocar todos os homens bonitões e gostosos
apenas no círculo de vocês? A tia aqui fica chupando o dedo, desse jeito não dá
não! — Rimos. — Mas, espera aí! Ele é o cara daquele evento que estávamos
com uma tal de Po... Ai, não lembro!
— Poliana!
Ela concorda me entregando o celular.
— Ele é casado com ela.
— Daiane, sua safadinha! E eu achando que eu era a única pecadora.
Sorri.
— Não! Não temos nada. Calhou de cruzarmos nosso caminho. A filha
dele está aqui, porque ficamos amigas. É uma história muito complicada. E neste
momento acaba de ficar ainda mais.
— Por quê? Isso está me cheirando encrenca.
— E é exatamente isso.
— Menina, não sei o que é, mas conte comigo para ajudar — diz
animada.
— Sério? Porque vou precisar da sua ajuda agora!
— Fechou!
— Preciso que cuide da Sophie, filha do Jacob. Eu retornarei hoje
mesmo. É caso de vida ou morte, já nem sei mais.
— Está me preocupando!
— Preciso da sua ajuda. Por favor?
— Claro! Mas para onde vai?
— Preciso encontrar o Jacob.
— E lá está eu chupando o dedo. Viro a babá, enquanto você vai babar
no papai bonitão.
— Não é isso. Eu prometo que volto hoje. Eu vou falar com ela, e você
pode ficar aqui em casa.
— Vá fazer o que tem para ser feito. Para sua sorte, peguei a segunda
parte das minhas férias hoje. Então vá sem pressa, minha vida não tem nada de
melhor para fazer.
— Muito obrigada, Jaque!
— Vou para o meu apartamento pegar umas coisas, para distrair a
menina, porque, pelo visto, ela não pode saber de nada.
— Exato! Obrigada, de verdade. E preciso de mais um favor. Tem carro?
— Claro! E sim, eu te empresto.
— Muito obrigada, de verdade!
— Pare de agradecer, e ande para fazer logo, o que tem que ser feito.

Depois de conversar com Sophie, e inventar que precisava buscar meus


documentos que esqueci, e apresentar ela a Jaqueline, que para minha surpresa
se deram muito bem, estou agora indo até o Jacob. Preciso saber o que está
acontecendo.
Algumas horas depois, devido ao trânsito, chego à fazenda e está vazia.
Um funcionário informa que saíram há horas e não retornaram ainda.
Meu celular apita e é uma mensagem do Henrique.

Daiane, esquece o que eu disse! Tem sim algo sobre os pais da Poliana, na
verdade sobre o pai dela. Luiz Xavier é um ex-policial aposentado, porém ele
apenas se aposentou após alguns resultados médicos. Tenho um conhecido
que trabalha no hospital que ele visitava e me devia um favor, e com isso
descobri que o Luiz tem um tumor no cérebro inoperável, e que os médicos
deram a ele dois anos, mas que este tempo poderia ser reduzido. Ele foi
afastado do cargo por não poder passar estresse, ou emoções do tipo. O
homem tem uma bomba relógio dentro da cabeça. Te enviei o exame dele por
e-mail, e pelo que fui informado, ele nunca foi com a família, sempre sozinho,
e pediu sigilo. Não me deixe essa informação vazar, ou ferra para mim.
Quando retornar para casa, vamos conversar seriamente, porque fiquei
sabendo da porra que aconteceu na casa da mãe. O tio viu, pois estava na
janela da casa dele, e se a mocinha não sabe, ele mora de frente para você.
Essa merda não ficará assim.

Guardo o celular e engulo em seco. Eu estou ferrada! Mas se é para estar


ferrada, que seja por completo.
Saio da fazenda e vou para a delegacia mais próxima. Estaciono o carro e
entro. Perguntam-me o que faço lá, e informo ser promotora, e que estou à
procura de Jacob Casagrande, mas me dizem que ele saiu há pouco tempo de lá.

Saio da delegacia, e entro no carro. Onde esse cara foi parar?


Vou para dois hospitais, dou o nome dele, mas não adianta. Ligo para ele,
e cai diretamente na caixa postal.
Resolvo retornar para a fazenda, e esperar lá. Estou ficando cansada.

Entro na fazenda e sorrio ao ver o carro dele estacionado, mas logo o


sorriso é substituído pela raiva.
Saio do carro, pegando apenas o celular que coloco no bolso. Bato na
porta da casa, mas não espero abrirem, vejo se está aberta, e para minha alegria
está. Entro na casa, e dou de cara com a Joana, que me olha espantada.
— Menina, o que faz aqui?! Cadê Sophie?
— Quem faz as perguntas agora sou eu. Onde está o bendito do seu neto?
— No estábulo. Chegamos e ele foi direto para lá. Aconteceu algo com
Sophie?
— Joana, ela está bem, mas seu neto eu vou matá-lo.
Saio da casa e sigo para o estábulo.
Quem ele pensa que é? Me liga, me deixando completamente
preocupada. Depois resolve não me atender mais? Eu estou com a filha dele, e
preocupada, e o bastardo não me atende? Ah, ele vai ver quem é Daiane
Escobar!
Entro no estábulo, e ele está deitado em uma rede estendida, que antes
não havia. Seus olhos estão cobertos por um de seus braços.
Aproximo-me com cuidado, e confirmo se os cavalos realmente estão
presos. Ele não se mexe, parece não notar minha presença.
Pego meu celular e atiro nele, logo após dou um tapa em sua perna.
Ele salta e por pouco não cai da rede.
— Que porra é essa? Daiane? — pergunta surpreso.
— Olha aqui, seu imbecil! Primeiro, se meu celular quebrou, quero
outro. Segundo, não pense que pode me preocupar e sumir! — grito e ele pega
meu celular no chão me entregando.
— Daiane, não estou com cabeça. Onde está minha filha?
— Ah, sua filha? Eu vendi!
Ele franze o cenho.
— Óbvio que está segura. Agora, me diga por que não me atende? Eu
estava morrendo de preocupação. Te procurei em um monte de lugar, e nada de
encontrar. Estou exausta, e parecendo uma doida. O que aconteceu, Jacob?
Ele caminha para fora do estábulo e encosta-se à mureta olhando as
árvores. Paro na sua frente.
— Poliana foi presa. E seu pai faleceu, satisfeita? — Ele está abatido.
— O pai dela o quê? — Fico boquiaberta.
—Isso mesmo que ouviu.
— Você não está pensando que a culpa é sua, não é?
— Pode dizer que me avisou. Você estava certa. Foi burrice. Não me
arrependo de ter feito o que ele pediu, mas me arrependo de ter deixado chegar
ao ponto que chegou.
— Ah, pelo amor de Deus, Jacob! Você não teve culpa e não foi burro.
Aquela ali é tão louca, que ninguém poderia imaginar o nível da loucura. E você
não teve nada a ver com a morte do homem.
— Daiane, como pode garantir? — Ele está nervoso.
— Eu desconfiei que esse pedido dele tivesse alguma coisa por trás, e
pedi para o Henrique investigar. Jacob, ele tinha um tumor inoperável, ele estava
com os dias contados. Você só foi o culpado de trazer paz para ele, pelo menos
por poucos dias, mas não teve culpa de sua morte. A filha dele teve e ela sim tem
que conviver com essa culpa pelo resto da vida. Infelizmente, o pai dela se foi,
mas ela vai pagar por toda loucura dela. Você não teve culpa, e eu estava errada
sim. Você não teve medo de fazer o que acreditava ser o certo, enquanto eu recuo
sempre que não estou entendendo nada, porque odeio me sentir vulnerável.
Jacob, você não foi burro e não foi o culpado.
Seu olhar é de surpresa.
— Daiane, ele realmente tinha um tumor? — pergunta surpreso.
— Sim! Tenho o exame que comprova.
— Então, eu...
— Não, você não teve culpa! — Sorrio.
— Porra! — Ele me abraça e logo se afasta. — Não estou feliz por ele ter
morrido, é só...
— Eu sei. Eu realmente sei, Jacob! Agora que já te bati, te dei notícia
boa, e sei que a vaca da Poliana teve o que mereceu, depois de quase ferrar a
vida da minha cunhada, e do vexame na porta do evento e, óbvio, ameaçar a
minha família, eu já posso ir. Deixei Sophie com a tia da Beatriz. Que bela babá
eu sou! — Rio.
— Uma bela babá mesmo. — Ele se aproxima, mas me afasto e ele
recua. — Eu te levo de volta. Deve estar cansada, veio dirigindo e ainda ficou
me procurando.
— Não vou recusar! Vim com o carro da tia da Beatriz, mas de lá peço
para levarem meu carro.
Ele concorda.
Meu celular toca e é o meu tio.
— Oi!
— Daiane, você conferiu o esquema de segurança da fazenda?
— Eu?
Tento me lembrar e, então, percebo que me esqueci completamente.
— Então... Claro!
— Tem certeza? Sabe que já tivemos duas tentativas de roubo. Você ficou
de conferir, então espero que tenha feito. Confiei em você! — ele diz e engulo
em seco.
— Fique tranquilo, está tudo certo.
— Quando volta? Preciso conversar com você. — Seu tom de voz é
estranho.
— Não sei. Estou ocupada. Tchau! — Desligo e Jacob me olha com o
cenho franzido.
— Vamos ter que passar na fazenda da minha família primeiro.
— Porra, vou para a fazenda Escobar, eu sou foda! — Rio.
— Tomara que seja à prova de balas também! — digo a ele, que fica sem
entender e é melhor.
Onze

Daiane Escobar

Ele estaciona o carro na fazenda, após eu guiá-lo. Estranho por ver a


porta da frente aberta.
Descemos do carro e pego meu celular, mas está completamente
descarregado. Se fosse algo grave, os seguranças na entrada saberiam. Algum
segurança deve ter entrado para fazer vistoria na casa.
Assim eu espero!
— Uau. Belo lugar.
— Ainda não viu a fazenda em si. Minha família só fica aqui e deixa os
funcionários cuidando do restante, mas eu gosto de ir até os animais, lá sim é
muito lindo — digo olhando para a porta.
— Por que está olhando desse jeito?
— Nada. Vamos.
Entro com cuidado na sala.
— Esta fazenda é realmente da sua família? Pelo jeito que está agindo
parece que estamos invadindo terras privadas — ele diz e ri.
— Claro que é, babaca! É que a porta estava aberta, mas...
— OLHA SÓ, O CASAL BEIJOQUEIRO VISITANDO A FAZENDA!
— Dou um grito e agarro ao Jacob, que me olha assustado.
Henrique, David e Marcos Escobar estão parados na saída do corredor à
minha esquerda e seus olhares não são os melhores. Afasto-me rapidamente do
Jacob e engulo em seco.
Sim, foi o Henrique que gritou!
— O que fazem aqui? David, não estava trabalhando? E você, Henrique?
— faço diversas perguntas.
— Porra, estou com os Escobar em peso! — Jacob diz animado.
— Calado! — digo a ele.
— Assim que me ligou, desconfiei que algo estava errado. Então recebi
ligações de que o novo esquema de segurança não havia sido feito e vim com o
tio e o Henrique para cá, mas imagine minha surpresa e do Henrique, quando
descobrimos sobre o beijo de vocês, e que você pegou o caminho daqui enquanto
rastreávamos seu celular, e logo depois a porra do sinal se perdeu. O promotor aí
é casado, não? — David diz rispidamente.
— Para tudo tem uma explicação — digo.
— Estamos com tempo, Daiane! — Henrique se manifesta.
— Mas ele não terá muito tempo nesta Terra. — Marcos diz olhando
seriamente para Jacob.
— Ok, pesquei a ameaça. Isso é normal ameaçarem a todos? Dessa aqui,
sou sempre ameaçado — Jacob diz e olho feio para ele.
— Vamos, Daiane! — meu tio grita e me assusto. — Quero a porra da
explicação. Que cacete está acontecendo?
— Nada! O que viu não foi nada.
— Claro que foi. Nos beijamos.
— Jacob, não está ajudando!
— Foi mal.
— Você não abra a porra da boca! — Henrique diz a ele.
— Quanto ódio gratuito — ele fala e David se aproxima. — Me calei! —
Então se senta no sofá esticando os braços.
Meu Deus, isso não vai acabar bem.
— Jacob e eu, não temos nada. Eu me esqueci de arrumar o esquema de
segurança e vim para cá. Como estava muito cansada de dirigir, ele me
acompanhou. Vim do litoral para saber o que estava acontecendo, pois Poliana
foi presa.
— Por que ele a acompanhou? Por que não ligou para o Estefan? —
David pergunta.
— Porra, Poliana foi presa, e você focou apenas nisso?
— Que se foda a Poliana. Quero saber o que está acontecendo entre
vocês dois. Ele é casado! — meu tio diz nervoso.
— Não sou não. Assinamos o divórcio. Em até quarenta e oito horas
estarei oficialmente pronto para um novo casamento. — Meu tio olha feio para
ele. — Apenas queria deixar claro isso — Jacob diz sorrindo.
— Eu juro que não temos nada. Porra, para que todo esse show?
— Ainda não temos. Dei dois dias a ela. Sobrinha difícil essa, hein,
Marcos! — Jacob provoca e tenho vontade de matá-lo.
— Para você é Sr. Escobar! E não abra a boca mais!
— OK — Jacob fala e sorri.
— Quero conversar a sós com vocês.
— Ah, por quê? Está tão animado! — Olho feio. — Está bem, vou me
retirar — Jacob diz saindo.
Indico o sofá para os três patetas se sentarem, eles não gostam, mas
fazem.
— Vocês não têm o direito de fazer essa palhaçada toda. Eu e ele não
temos nada, mas se tivermos o problema será nosso. Eu nunca interferi no
relacionamento de vocês e espero que façam o mesmo comigo.
— Ele foi casado com a Poliana, cacete! — David grita.
— E daí? Isso não quer dizer que ele seja como ela. Me poupe, David!
— O cara não me inspira confiança. Não quero os dois juntos! —
Henrique rebate.
— Sério? Vocês realmente querem julgar ele? — grito nervosa. — Ana
foi acusada de assassinar o noivo e mesmo assim você se casou com ela. A
Liziara foi uma louca que se colocou em risco, e você, David, colocou toda a
família em risco para salvá-la e se casou com ela. E você, tio, casou com a
mulher que odiava, e quase foi preso por atacar o cara que fez merda com ela. —
Aponto para eles. — Então, não venham julgar um cara, que casou para fazer o
bem à outra pessoa, e conseguiu colocar a Poliana na cadeia, coisa que vocês não
conseguiram, mesmo ela ameaçando a todos nós.
Estou tremendo de raiva.
Meu tio me observa e então se levanta.
— Vou me arrepender de dizer isso, mas ela está certa.
— Quê? Vai ficar do lado do imbecil? — Henrique questiona nervoso.
— Não. Eu estou do lado do que é certo. Porra, quando todos nós
precisamos Daiane esteve presente. Se ela quer ter ou tem algo com o tal do
Jacob, que se dane, a vida é dela! Não vou ser hipócrita em julgar o cara quando
não tem a merda de uma falha. Não sei por que se casou com a Poliana, e pouco
me importa saber. Mas não seremos idiotas em dizer que ele não presta ou algo
do tipo, quando nosso sobrenome é o que fica no topo da lista de não seguir
todas as leis e regras.
— Não estou acreditando. Porra, Marcos, é isso mesmo? — David diz
nervoso.
— Sim. É isso mesmo. Agora quem está falando é o tio de vocês, e não o
Marcos que cresceu junto. Temos duas escolhas: aprendemos a confiar nas
decisões da Daiane ou sejamos um bando de hipócritas, fingindo que ela não
sabe o que faz. — Seu tom é grave, e fico feliz por suas palavras.
David se levanta e caminha até a janela observando. Não está contente.
Henrique esfrega o rosto e se levanta também.
— Vou respeitar, mas não irei fingir que gosto. Vou querer conversar com
ele e não irei medir palavras — ele diz em um tom rude. — Antes de ser maior
de idade e saber o que faz é minha irmã mais nova, e não vai ser qualquer
fedelho que vou permitir que entre para esta família acompanhando você. — Me
olha seriamente.
— Não quero que finjam gostar, mas quero que respeitem. Já falhamos
com ela. E podem ter certeza de que ele vai enfrentar uma conversa conosco a
sós, e isso ninguém vai impedir. Nem você, Daiane — meu tio diz usando o tom
de voz que ninguém ousaria rebater, mas eu sou Daiane.
— Não vão não! Nós não temos nada. Não me façam passar vergonha.
Pelo amor de Deus!
— Será assim. E saiba que minha arma está carregada — David diz se
virando para nós. — Não quer passar vergonha? Então é melhor o
promotorzinho não me tirar do sério, e tampouco interferir no modo que agimos,
e ele terá um por cento de chance de sair ileso.
— Vocês são uns patetas ridículos.
— E tem mais, se vira para organizar o novo esquema de segurança da
fazenda. Estamos retornando para a cidade, e antes da meia-noite quero um
relatório de como foi feito, ou vai conhecer um tio que não quer.
— Que isso? Tenho doze anos de novo?
— Não provoque. Sua sentença está sendo analisada e a cada instante
tem se tornado muito peculiar as formas que penso em te esganar.
— Depois mamãe que é dramática!
— Não estou brincando! — Marcos diz.
— E teremos a conversa com ele, no momento certo. Vamos, Henrique!
— David passa por mim, e olha para o Henrique, que troca olhares que não
entendo, mas o outro pateta parece entender.
— Nem pensar. Vamos logo, porra!
— É foda! — Henrique diz.
— O quê? — questiono.
— Seu irmão não quer sair daqui sem dar ao menos um soco no Jacob.
Depois eu que sou o estourado dessa família — meu tio diz.
— Por isso que digo que, às vezes, sou uma santa. Vocês são loucos!
Eles saem pelos fundos. Vou para frente da casa, e Jacob está encostado
no carro mexendo no celular, assim que me vê coloca no bolso. Não demora
muito e o carro do meu tio com os três patetas dentro passa na frente da casa,
com o Henrique fazendo sinal no relógio e entendo bem o que quer dizer. O
problema é: Como irei organizar o esquema de segurança sendo que nunca fiz
antes? Estefan sempre me ajudou. Estou ferrada!
— Sobrevivi!
— Por pouco, seu louco. Entra logo!
Ele entra na casa e fecha a porta atrás de si.
— Então, o que iremos fazer? — ele questiona.
— Eu irei resolver algumas coisas, e você pode conhecer a casa se quiser.
Só não entre na última porta do segundo andar à esquerda.
— Por quê? — pergunta curioso.
— Porque não.
— Isso só me faz querer entrar.
— Quantos anos têm?
Ele sorri.
— Já volto.
Saio da casa e convoco todos os seguranças.

Depois de uma hora, a fazenda estando escura ao lado de fora, e


começando a chover, retorno para a casa, e encontro Jacob falando ao celular.
Pelo visto, é assunto de trabalho, ele está sério, e sentado no sofá. Quando me vê
dá uma piscadela, e que ódio, pois me faz estremecer.
Indico que irei para a cozinha, e ele concorda.
Entro na cozinha e bebo água. Retorno para a sala, e ele já desligou o
celular. Pego o telefone sem fio, e ligo para o apartamento no litoral e torço para
a Jaqueline estar lá, porque seu número tenho apenas no meu celular
descarregado.
Na segunda tentativa atendem.
— Jaqueline?
— Daiane? Meu Deus! Estava endoidando de preocupação. Já está
ficando tarde, e não conseguia falar com você. Sophie dormiu esperando uma
ligação sua.
— Eu sinto muito. Meu celular descarregou, e tive que vir para a
fazenda. Mas estou indo para aí.
— Nem pensar, menina. Está um temporal terrível aqui e está tudo
parado na serra, acabou de passar no jornal. Não vá se arriscar, vem amanhã
cedo.
— Não irei dirigindo. O pai da Sophie que vai levar o carro.
— Hum... Danadinha! — Rio e Jacob me olha. — Mesmo assim eu fico
com ela, sem problemas. Sou doida, mas não ao ponto de permitir que venham
com tudo parado e chovendo.
— Aqui também começou a chover, mas não tão forte... — Um
relâmpago clareia a sala inteira e me assusto.
Jacob se levanta e fecha as cortinas.
— Bom, esquece o que eu disse, pelo visto vai piorar aqui.
— Venha amanhã cedo. Se cuida.
— Mas te deixei sem carro, e a Sophie vai ficar...
— Eu sei cuidar de criança. E ela está muito bem. Nos divertimos
bastante. Ela até dormiu de tão cansada. Irei ficar aqui no apartamento.
Qualquer coisa retorno neste número que apareceu no identificador de
chamada, ou peço a ela o número do pai. Se cuida. Beijos.
— Obrigada. Liga sim! Beijos. — Desligo e um trovão ecoa e estremeço
com o barulho.
— Tem medo, Daiane? — Jacob pergunta surpreso.
— Não. É que aqui na sala tem muitas janelas.
— Sophie? — pergunta preocupado.
— Dormindo. A tia da esposa do Marcos está cuidando dela. Não se
preocupe, é bem responsável e confio muito nela.
— Se confia, então fico mais despreocupado.
A chuva forte desaba.
— Eu queria retornar hoje para o litoral, droga! — digo colocando o
telefone no lugar e me levantando. — O pior é que estou sem carregador, e nem
sei se tenho roupas aqui. Da última vez que vim, levei embora para lavar, e não
sei se deixei alguma.
— Pelo visto tem problemas em esquecer as coisas — provoca.
— Engraçadinho!
Pego as chaves reservas que ficam aqui, e tranco ambas as entradas. Os
seguranças também têm, então não me preocupei em vir para cá sem estar
trazendo. Minha bolsa está no carro, e vai ficar, não irei sair na chuva por ela.
— Se quiser, deve ter alguma troca de roupa dos meus irmãos por aqui.
— Está tudo bem. — Ele sorri. — A casa é bonita, mas fiquei curioso
para saber sobre a porta misteriosa.
Rio.
— Eu te mostro se prometer não rir.
— Não irei prometer, moreninha, porque toda vez que prometo isso eu
rio.
Reviro os olhos.
— Está bem. Vem comigo!
— Estou começando a gostar. O que tem lá? Algemas, chicotes? — diz e
ri.
— Não, mas tem armas na casa, então não me provoque!
— Oh família que gosta de ameaças. Vamos logo!
Sorrio.
Estamos no segundo andar agora. Paro na porta e olho para ele.
— Se rir, eu te jogo pela janela.
Ele concorda sorrindo.
Abro a porta e entro acendendo a luz. Ele entra e começa a olhar tudo,
parado no centro do ambiente, com as mãos no bolso. Fico ao seu lado e ele
analisa cada detalhe.
— Então? — pergunto.
— Porra, eu não iria rir, mas você tinha que perguntar?
O ambiente é preenchido pelo som de sua gargalhada, e acabo rindo
junto. Sento-me na cama de casal e ele não para rir. Seus olhos cinza escuros,
agora estão claros, devido às lágrimas conduzidas pelo riso. Depois de alguns
minutos, ele se acalma e recupera o fôlego, pois até tossir faz.
— Desculpe, é que você vive me ameaçando, e é toda nervosinha, então
me mostra esse ambiente, que não tem como negar ser seu quarto, afinal tem
fotos suas para todos os lados...
— Eu tinha dez anos, e era apaixonada por essa decoração. Nunca quis
mudar. Dá um desconto. Apenas retoco os detalhes. Algo contra?
— Nada contra. Apenas é engraçado. Pôneis? — pergunta rindo.
— Sim! Eu amava pôneis e meu pai decorou tudo para mim. Não seja tão
cruel. São fofinhos.
— São fofinhos, mas em um quarto todo rosa, repleto deles por todas as
paredes, e até na cama, fica difícil de levar a dona dele a sério.
Atiro uma almofada nele, que desvia e sorri do jeito menino levado.
— Só não irei te jogar da janela, porque sujaria o chão com sangue —
brinco.
— Instinto assassina, hein! — ele brinca.
Levanto e salto com outro trovão ainda mais alto. A chuva parece piorar
cada vez mais.
Jacob franze o cenho e se aproxima da porta.
— O que foi?
— Não escutou?
— Não! O quê? — pergunto preocupada.
— Algo fez barulho lá embaixo.
— Ai, meu Deus! — Entro em pânico.
— Já venho.
— Não! Eu vou junto. Vai que é alguém.
— Não deve ser ninguém. Mas não custa nada conferir.
Descemos a escada com cuidado, e a sala parece tudo normal.
— Daiane! — Jacob sussurra me puxando para ele, e quando vou gritar,
ele coloca a mão sobre minha boca. — Shhh...
Concordo e ele então retira.
— O que foi?
— Vi um vulto passando na cozinha.
— Ai, meu coração! — digo em desespero. — E-eu não sei o que fazer.
Preciso chamar os seguranças. — Entro em desespero.
— Se acalma! — ele diz baixinho e coloco a mão sobre seu peito, pois
ele ainda me mantém junto de si.
— Não me peça calma em um momento assim!
Escutamos o armário da cozinha abrir e fechar, e a pessoa esbarrar na
cadeira, pois faz um barulho alto e ela xinga.
— Eu tranquei tudo — sussurro.
— Daiane, não tem como chamar ninguém, não sabemos se a pessoa está
armada ou quem é. Onde está sua arma?
— Quê?! Não. Não posso. Eu não sei.
— Quê?
— Ficou no meu carro, e eu... Jacob, é que...
— Você o quê?
— Não sei atirar. — Ele me olha espantado, mas não diz nada sobre o
assunto.
— Tem alguma por aqui?
— Sim!
Afasto-me com cuidado e puxo uma que fica presa embaixo da escada e
entrego para ele sem jeito.
— Sabe usar?
— É óbvio!
— Ah...
Passos na cozinha indicam que a pessoa está em movimento e vindo para
cá.
— Jacob... — Ele faz sinal para eu subir, mas subo apenas alguns
degraus.
Acontece tudo muito rápido. Quando vejo, Jacob está em cima de alguém
no chão, e com a arma apontada para a pessoa, que só agora vejo ser quem é!
— Para, para! — grito correndo até eles, pois o que está no chão já
começava a retirar a arma que estava na cintura.
— Senhorita Daiane! — Estefan diz surpreso.
Jacob sai de cima dele deixando a arma apontada para o chão.
— Meu Deus! Pensamos que alguém tivesse invadido! — digo a ele que
ajeita a roupa.
— Não. Eu vim para cá, pois o Simon recebeu a ordem de virmos para
cá. Pensei que a senhorita estivesse dormindo. Perdão pelo barulho, vim beber
um pouco d’água. E nossa, o rapaz aí tem força — ele diz chacoalhando um dos
braços.
— Perdão! — Jacob diz a ele.
— Está tudo bem. O carro da senhorita está aqui, seu tio quer o relatório,
preciso levá-lo, Simon acompanhou com outro carro, e estamos no aguardo para
retornar.
— Nunca mais me assuste assim, homem!
Ele sorri envergonhado.
— Eu irei fazer o relatório aqui no escritório e volto em alguns minutos.
Apenas consegui ajeitar algumas coisas com os seguranças.
— Se precisar, posso ajudar a senhorita.
— Claro! Me aguarde lá.
Ele concorda.
— Mais uma vez, perdão aos dois, pelo ocorrido — diz então se retira.
Jacob me entrega a arma e me olha sério.
— Desculpa te fazer passar por isso!
— Eu quero saber, como que uma promotora anda armada sem saber
atirar?
— Eu vou contar, mas tem que me jurar não contar a ninguém.
Ele concorda.
— Me espere lá em cima. Serei rápida aqui!
— Quer saber? Me dê isso aqui! — Ele pega arma da minha mão e
coloca no lugar que retirei. — Já vi que é um perigo com você.
Sorrio sem jeito.
Meu tio não brincou mesmo quando deu seu prazo para o relatório.
Descobri que, na verdade, era para o Estefan ficar, mas dispensei, e disse a ele
que se meu tio falasse algo, era para vir falar comigo.
Jacob está observando através da janela do meu quarto que tem apenas a
cortina aberta.
— E então? — ele diz.
Sento-me na cama virada para ele.
— Eu dei início aos prévios testes, e até autodefesa fui fazer. Por mim
nunca estaria perto de uma arma, mas o David insistiu, e o Henrique e meu tio
concordaram. Porém, eu não levava jeito. Chegava toda dolorida, e nos tiros?
Puff... — Solto uma lufada de ar. — Eu realmente não sei atirar. Miro na
esquerda e atiro para direita, eu juro. Sou muito péssima.
— E por que anda com a arma se não saber usar? — Ele mantém agora
os olhos em mim, e os braços cruzados.
— Minha família acredita que eu sei. Eu menti. Como eles nunca foram
atrás para saber, porque jamais imaginariam que eu mentiria sobre isso, fiquei
tranquila. Estefan é o único que sabe, por isso mesmo eu o expulsando ele
sempre surge, por medo de que algo aconteça e eu não saiba como agir. Eu entro
em total pânico, quando a situação é do tipo que necessite de armas ou luta
corporal. Por isso sempre fico nos bastidores da minha família.
— Ainda não respondeu por que anda com a arma se não sabe usá-la —
ele diz seriamente.
— Para eles não desconfiarem. Mas eu juro que nunca a usei sem saber
como manusear. A arma pertence ao Estefan. Eu sei que é errado eu não saber
atirar e ficar com a arma para cima e para baixo, colocando minha vida em risco,
mas você não conhece minha família, seria uma Terceira Guerra Mundial se
soubessem que menti.
— Eu prometi que não contaria a ninguém. Mas tenho uma condição?
— O quê?
— Vai aprender a atirar, ou eu conto a verdade.
— Não está falando sério!
— Estou sim. Isso pode te prejudicar. Não saber usar uma arma, e andar
como uma, te faz refém dela. Aprende a usar e então retorna a andar com ela, ou
conto a verdade. E durante o tempo que estiver aprendendo a atirar, não andará
armada.
— Só pode ser brincadeira. Eu sou péssima com tiros.
— Você decide.
— Não tem esse direito! — digo irritada.
— Tenho sim. Quando vejo que está errada, eu tenho esse direito. Você
não sabe atirar, e ainda anda com uma arma. Daiane, você é uma promotora, sua
vida corre riscos e não será sempre que terá o Estefan ou seus irmãos por perto.
Ter a bendita da arma, sem saber usar, é a mesma coisa que não ter.
— Está bem. Está satisfeito?
— A verdade? Não!
— Por quê? — pergunto sem entender.
— Odeio ter que agir assim, porque a pessoa é teimosa.
— Sou uma santa as vezes, só para você saber. — Levanto e paro na sua
frente. — E só estou aceitando isso, porque realmente sei que estou errada
quanto a minha segurança. Agora, irei te acompanhar até algum quarto de
hóspedes, e voltarei para cá e irei tomar um banho e dormir.
— Seu estresse não me intimida.
— Foda-se!
— Boquinha suja, não? — diz e me puxa para si, colando nossos corpos.
— Culpa sua que me estressa.
— Eu te estresso, ou o tesão que sente por mim, e tenta controlar, faz
isso? — Engulo em seco e meus lábios abrem levemente.
— Você é muito convencido!
— Gostaria de descobrir o que mais posso ser?
— Não me provoque, pateta número quatro.
Rapidamente ele gira meu corpo, mantendo-me de costas para si. Seus
lábios trilham meu pescoço com beijos intensos, me fazendo inclinar a cabeça
para dar mais acesso. Fecho meus olhos, enquanto sinto a sensação deliciosa que
me invade. Suas mãos deslizam por minha barriga, até o cós do meu short. Uma
mão prende meu corpo, e a outra adentra o tecido, fazendo com que eu jogue a
cabeça para trás. Sua boca encontra a minha, e sem qualquer espera, a mão livre
invade minha boceta, massageando. Estou úmida, e um calor exorbitante domina
o quarto. Nem mesmo os sons do trovão ou os clarões dos relâmpagos são
capazes de me incomodar agora. Sua língua se aprofunda junto a minha, em um
beijo louco e dominador. Quando seus dedos me invadem, ele cessa o beijo e um
gemido alto sai de meus lábios.
— Ainda te estresso, Morena? — pergunta com os lábios colados em
meu ouvido, e sua voz rouca pelo desejo me consome de dentro para fora. —
Pelo visto, não. Está tão molhada e prestes a gozar!
— Jacob... Porra!
Os movimentos são fortes, me fazendo afastar as pernas e segurar firme
em seu braço.
— Não quero que goze agora, Morena... — sussurra.
Com lentidão retira os dedos de dentro de mim.
— É brincadeira, não é? — pergunto sem fôlego.
— Tire a roupa e deite na cama. Vamos fazer isso direito. Porque meu
pau está louco para entrar em você há muito tempo.
Fico boquiaberta e ele sorri.
Retiro cada peça com calma, e ele observa com os olhos em chamas.
Caminho de quatro sobre a cama, então lentamente me deito ficando com os
seios expostos para cima. Se ele pensa que sou tímida, está enganado. Abro as
pernas, ficando completamente exposta. Ele ergue sua sobrancelha esquerda, e
seu olhar escurece ainda mais. A luz acaba, revelando ter acabado a força após
um forte estrondo do trovão, mas os clarões da chuva deixam o quarto ainda
iluminado. Vejo cada momento dele retirando a roupa, e expondo seu corpo
musculoso e seu pau ereto e de comprimento perfeito.
— Primeira gaveta do criado-mudo — digo. — Não confio apenas nos
remédios. — Sorrimos.
Ele não diz nada, apenas pega a carteira e retira o pequeno pacote
laminado.
Aproxima-se, ficando entre minhas pernas.
— Faz as honras? — pergunta se deliciando com a visão, pois seu olhar
entrega o desejo.
— Com certeza!
Abro o pequeno pacote. Aproximo-me, deslizando a língua sobre sua
ereção, enquanto um som rouco sai de sua boca. Coloco o preservativo e me
deito ficando novamente com as pernas abertas, só que desta vez bem mais.
Em um único movimento, ele me preenche, trazendo um formato de “O”
para os meus lábios. Enrolo as pernas em sua cintura e agarro seus ombros. Seu
peso é sustentado por seus braços, e seus olhos fixos aos meus. Aperto seu pau
dentro de mim, e vejo as veias em seus braços ficarem mais expostas. A
profundidade com que me penetra me faz gemer sem qualquer controle.
— Porra... Daiane! Você já é apertada... e faz isso... — ele diz entre as
estocadas.
— Mais forte... — digo enroscando os braços em seu pescoço.
Em uma facilidade, sem sair de dentro de mim, se senta comigo em seu
colo. Começo a cavalgar com força, sentindo suas mãos apertarem firmemente
minha cintura, que com toda certeza deixará marcas. Sua boca abocanha meu
seio, e chupa com força, a dor traz mais prazer ao momento. Aperto seus
ombros, e agora quem me controla é ele. Larga meu seio e começa a controlar
meus movimentos tornando tudo mais intenso.
— Jacob! — chamo por ele sem qualquer intenção de dizer algo.
Ele me retira rapidamente de cima, e me coloca de quatro com o rosto
colado ao colchão. Então me invade novamente, preenchendo minha boceta com
mais força.
— Goza, Morena... — ele diz dando um tapa forte em minha bunda que
faz arder, mas me deixa mais louca de tesão ainda.
São apenas mais três estocadas, para me fazerem gozar atingindo um
orgasmo, que me faz tremer por inteira, e gritar por seu nome. E ele me
acompanha, pois na terceira investiu com mais força fazendo um som forte e
rouco e chamando por meu nome.

Estou com a cabeça em seu peito, e nossos corpos nus estão colados um
ao outro. Já tive muito sexo bom, mas nunca igual a este. O sentimento que
esteve presente foi diferente. Foi mais caloroso.
— Só tem uma forma que você não me estressa — digo para quebrar o
silêncio. Olho e vejo que sorri, os clarões, que não param de atravessar a janela,
permitem esta visão.
Segurando meu queixo, ele me beija. É diferente do nosso primeiro beijo
e dos beijos de hoje. Este é tão calmo, que parece até um carinho.
— Você é linda, Moreninha.
— Agora é Moreninha?
— Tudo tem sua hora.
Sorrio.
— Riu do meu quarto, mas aproveitou bem dele — provoco.
— Ele foi ofuscado pelo tesão que sinto só de ter você por perto.
— Então é apenas tesão? — continuo nas provocações.
— Se fosse, eu não teria dado a você dois dias. E por falar nisso, qual a
resposta?
Inclino-me sobre ele, e sinto uma alegria enorme me consumir. Quer
saber? Que se danem tudo e todos.
— Vamos deixar rolar. Agora, eu quero outra coisa, aproveitar que
estamos sem luz para qualquer outra coisa mesmo... — brinco.
— Monstrinha do sexo? — pergunta rindo.
— É o pacote, baby. Se quer a mim, tem que saber que sou insaciável.
— Eu nunca disse que eu não era.
Ele me deita, pegando-me de surpresa e ficando por cima, e com isso
solto um gritinho acompanhado por risos.
— Quero ver suas desculpas, quando formos embora e estiver andando
com dificuldade.
— Direi que certo promotor sabe fazer um bom trabalho. — Rimos.
Doze

Jacob Casagrande

Acordo com meu celular tocando sem parar. Com cuidado retiro Daiane
dos meus braços, e me levanto para pegá-lo. Vejo o nome da Sophie no visor.
Atendo enquanto visto minha cueca.
— Oi, princesa.
— Pai, sabe da Daiane? — Olho para a morena deitada na cama,
dormindo e sorrio.
— Não tenho ideia — minto.
— A Jaqueline disse que estavam juntos.
— É... — Começo a vestir a calça. — Já tomou café? — mudo
rapidamente de assunto.
— Já. A Daiane prometeu ficar comigo e sumiu.
— Antes do almoço, ela vai estar por aí.
— Como sabe? — Esqueço o quanto ela consegue ser curiosa as vezes.
— Sabendo, amor.
— Sei... Está me enganando. — Escuto sua risada e isso me preenche de
amor por dentro.
— Não estou. O pai tem que desligar agora. Mas fique tranquila, que
logo ela estará aí.
— Você vai vir? Jaqueline disse que provavelmente viria.
Não conheço essa mulher, mas já estou começando a ficar puto com ela.
Sophie é o tipo de garota que não esquece nada do que dizem, e faz perguntas,
atrás de perguntas, até a pessoa ficar confusa e falar o que ela tanto quer ouvir.
— Sim. Eu irei.
— Então está com a Daiane? — pergunta animada.
— Depois conversamos. Beijos, princesa.
— Beijos, pai! — Ela desliga.
Coloco o celular no bolso e termino de me vestir. Daiane se mexe na
cama e então se senta, enrolada no cobertor.
— A luz voltou. — Indica com a cabeça a luz acesa. — E você mente
muito mal.
— Coisa feia, escutando conversas. E bom dia para você também. — ela
sorri, e que sorriso lindo.
— Bom dia. No meu banheiro tem escova de dente nova, só não tenho
cueca nova, a não ser que queira vestir alguma calcinha — diz rindo.
— Engraçadinha! — Aproximo-me e ela se cobre por completo com o
cobertor.
— Jacob, nem pensar. Temos que ir logo para o litoral. — Puxo a
coberta, deixando a completamente exposta com seu corpo nu.
— Mente poluída. Apenas vim fazer isso. — Dou um beijo demorado em
seus lábios. — Depois diz ser santa. — Afasto-me.
— E sou! — Rio e vou até o banheiro dentro do quarto.

Depois de um café rápido, estamos a caminho do litoral. Ela está indo no


carro dela que o segurança deixou, enquanto eu sigo com o que ela disse ser da
tal Jaqueline. Bom, estou tentando seguir, já que a mesma dirige como uma
louca. Porra!
Não está trânsito, o que faz com que ela pense que está em um
autódromo. Essa louca não está vendo as placas? Caralho! Sem contar que está
com o som bem alto.
Acelero mais, desviando de duas motos, e assim ficando na faixa ao lado
dela. Seu vidro está aberto, e ela me olha rindo.
— Está louca, porra? — grito e ela ri ainda mais. Ela me passa
novamente, ficando na frente.
Vou para a faixa que ela está. Ficando com o carro quase colado ao dela.
Ela está me deixando louco. Qual foi a autoescola que fez? Impossível
ela ter realmente uma carteira de motorista.
Daiane Escobar

A música Pesadão toca no som. Se tem uma coisa que eu amo é não ter
trânsito. Talvez eu realmente dirija como uma doida, como meus irmãos e tio
dizem. Mas, na verdade, não devo ser tão doida, afinal, nunca recebi uma multa,
ou fui parada por alguma blitz da polícia. Isso conta como boa motorista?
Jacob deve estar bem puto, porque consegui escutar ele gritando comigo.
Mas estou tão concentrada dirigindo e pensando, que nem sequer me importa o
estresse dele.
Porra, ontem tivemos uma noite de puro sexo. E foi o melhor da minha
vida toda. Clichê? Talvez, mas é a verdade. Eu nunca namorei, e nem sei como é
ter um relacionamento do tipo com alguém. O que vai ser quando a mídia
começar a desconfiar de algo? E a Sophie? Ela vai me odiar. Ela odeia todas as
mulheres que se aproximam do pai. Meus irmãos não vão dar paz. E meu tio?
Estou fodida!
Droga, Daiane, por que esta loucura de sentimentos dentro de você?
Seria o tal do amor? Nessas horas, a saudade do meu pai triplica.

— Pai, o que está aprontando? — pergunto ao ver que chegou animado e


correu para o quarto, e logo depois desceu e ficou cochichando com Marcela e
Jurema.
— Eu? Nada.
— Não minta!
Ele sorri e seus olhos brilham.
— Programando uma noite especial com sua mãe. Ela merece, depois de
eu passar um mês focado no trabalho e não ter tido tempo para ela.
— Jantar?
— Melhor não querer saber. — Ele ri, e sua risada contagia.
— Que nojo. Já imagino o que seja. Deixa eu ir. Tenho uma festa hoje.
— Filha, cuidado. Não volte tarde.
— Relaxa, pai.
— Jamais. Irei ficar bem velhinho, e indo atrás de cada passo seu.
Sorrio, e dou um beijo em seu rosto.
— Tio Marcos já faz isso, e David e Henrique também. Não precisa de
mais.
— Gabi, eu sempre irei atrás de você e estarei contigo. E o homem que
ousar cruzar seu caminho um dia, estará bem fodido em minhas mãos.
— Pensei que mamãe tivesse proibido os palavrões aqui.
— Segredo nosso. — Ele ri e retira os óculos de grau, que o deixa ainda
mais charmoso. — Agora, tenho que ir! — Ele deposita um beijo na minha testa
e sai animado para a cozinha.

Se tinha um homem mais romântico que ele, eu desconheço. É certo que


Henrique puxou muito a ele neste ponto, porém ninguém jamais chegará aos pés
do amor que ele distribuía a família e, principalmente, a minha mãe. Meu pai era
meu herói, o homem mais lindo do mundo para mim, o mais engraçado, o mais
responsável. Mesmo com todas as tatuagens que minha mãe endoidava, pois a
cada mês aparecia mais uma em seu corpo, ele continuava sendo um homem que
era respeitado. Ninguém o olhava torto como fazem quando olham para alguns
homens tatuados. Ninguém tinha preconceito com ele por seu estilo moderno,
porque conquistava a todos por onde passava. Meu pai era e ainda é minha
fortaleza. Sempre fui muito apegada a ele. Ele também era o meu melhor amigo.
Confidenciei muitos segredos somente a ele, e por isso hoje, quando a barra
aperta, ou os sentimentos confusos me invadem, eu fico perdida, porque sei que
em algum lugar, ele está olhando por mim, mas não posso mais vê-lo e tampouco
ouvi-lo e se ainda lembro de cada detalhe dele, é porque sempre olho suas fotos
e foco nos melhores momentos, porque até isso o tempo tenta me tirar, a
lembrança dele, e eu luto dia e noite contra isso.
E hoje, que estou confusa, sem saber como seguir, já que nunca senti
isso, eu não posso chamá-lo, porque sei que não virá. Não posso dizer a
ninguém, porque não quero que pensem que sou tão fraca ao ponto de me deixar
confundir por sentimentos que eu deveria conhecer, mas que só há pouco tempo
venho sentindo.
Jacob não trouxe apenas novos sentimentos. Ele me trouxe uma saudade
imensa do meu melhor amigo... Do meu pai.

Entro no estacionamento do prédio, seguida por Jacob, após dizer ao


porteiro que ele estava comigo. Estacionamos e saio do carro, e ele faz o mesmo.
— Você é louca? Porra, como pode dirigir daquele jeito? Cacete! — diz
nervoso e isso me faz sorrir.
— Não viu nada ainda. Minha família tem medo de andar comigo de
carro.
— Sério? Não imagino o porquê! — diz com ironia.
— Relaxa, desse jeito vai envelhecer mais rápido.
— Você é louca! Estou começando a repensar sobre você aprender a
atirar. Se dirigindo já age como louca, imagine atirando!
— Atirando, eu posso garantir que sou um perigo. Agora vamos logo.
— Quero deixar bem claro, que voltarei dirigindo.
— Está bem, medroso.
— Apenas prezo pela vida da minha filha que vai estar no carro.
— Idiota! — Bato em seu braço e rio.
Entramos no apartamento, e está um completo silêncio. Chamo por
Jaqueline e Sophie, mas ninguém se manifesta.
— Devem estar no apartamento dela ou foram em algum lugar. Vou pôr
meu celular para carregar — digo e ele concorda.

Jacob Casagrande

Assim que ela se retira da sala, me aproximo da estante com alguns


porta-retratos, e então vejo um onde o famoso Joseph Escobar está junto com
ela, e o cenário do fundo revela ser Londres. Ela sorri de um modo tão doce, e o
olhar dele para ela revela o quão protetor era e o quanto a amava. Sorrio.
Sempre ouvi falar muito dele. O homem era foda demais. Pena que
perdeu a vida de um modo tão trágico.
— Espero que, de onde esteja, aprove a mim para, quem sabe, seu futuro
genro. Eu me aprovaria em seu lugar, porque sou um homem muito bom, e
modéstia à parte, muito bonito. — Sorrio e me afasto.
Fico olhando as demais fotos de longe.
— Já vou! — Daiane grita.
Caminho pelo corredor onde ela entrou, e vou até a porta que está aberta.
Paro e vejo-a mexendo no celular, que carrega próximo a cama. Está de costas
para mim, e bem entretida no aparelho em suas mãos.
Aproximo-me com cuidado, para que não ouça. E então a abraço por trás,
fazendo ela se assustar.
— Qual o problema dos homens? Adoram me assustar, eu hein!
Sorrio.
— Dos homens? Bom, eu não sei. Mas o meu problema, é falta do seu
beijo, isso deve bastar, não?
Ela sorri e coloca o celular na cama, e então se vira para mim,
enroscando os braços ao redor do meu pescoço. Passo os braços ao redor de sua
cintura, mantendo-a colada em mim.
— Podemos resolver este problema, o que acha?
— Adoraria. — Sorrio.
Beijo-a sem pressa alguma. Seus lábios macios me deixam louco. Seu
perfume, então nem se fala. Daiane me deixa louco por completo. Aperto ainda
mais seu corpo contra o meu. Coloco uma mão em sua nuca. Seus cabelos se
enroscam em meus dedos e o puxo. Suas unhas deslizam pelo meu pescoço me
causando um arrepio e elevando o nível do meu tesão. Essa morena ainda vai
foder o meu juízo.
— Pai! — Daiane se afasta rapidamente tampando a boca.
Viro-me assustado, e vejo Sophie com uma mulher muito bonita por
sinal. Ambas com os olhos arregalados.
— Filha... Eu... É...
Sophie cruza os braços e olha para a Daiane.
— Sophie, vamos. Eu vou te mostrar um negócio. — A moça, que deve
ser a tal Jaqueline, e acredito que já a tenha visto em algum lugar, diz se
controlando para não rir.
— Não vou. Pai, você e a Daiane são namorados?
Uma crise de tosse começa atrás de mim. Viro-me para olhar, e Daiane
chega a ficar vermelha de tanto tossir. Mas faz sinal de que está bem.
— Eu? Ela? Então, filha...
— Ah, pelo amor de Deus! A menina não é tonta não. Mania besta que
vocês têm de pensar que uma menina de dez anos é bobinha. Minha sobrinha
com essa idade sabia de mais coisas que o normal. E eu, como cirurgiã, vejo
cada tipo de criança, que vocês ficariam chocados, com os papos deles. Então,
desembuche logo. O clima está péssimo.
— Vou fazer onze! — Sophie diz como se fosse fazer vinte anos.
— Esta é a Jaqueline — Daiane diz, após se recuperar da tosse.
— Não, Sophie. Não estamos namorando. Nós... Como posso explicar
sem que fique confusa... — digo mais para mim do que para ela.
— A bisa me disse hoje pelo telefone, que não é mais casado com a
bruxa, e que poderia se casar com alguém melhor um dia. É isso que vai
acontecer? Vai casar com a Daiane? — Agora é minha vez de me engasgar
completamente. Daiane me dá alguns tapas nas costas, enquanto a Jaqueline
revira os olhos.
— Tenha santa paciência! Parecem minha sobrinha Beatriz. Olhe para
mim, gatinha.
Sophie faz o que ela pede.
— Seu pai e a Daiane estão se conhecendo um pouco melhor. Isso não
significa que vão casar, namorar ou algo assim. Adultos têm dessas coisas.
Agora pode ser confuso, mas um dia entenderá melhor.
— Exatamente! — Daiane e eu dissemos em uníssono.
— Ainda parecem namorados! Eu gosto de você, Daiane. Não precisa ter
medo. Só não tente roubar meu pai somente pra você — diz animada e sorrio.
— Viu só, Morena? Tem que dividir — provoco e Jaqueline ri, enquanto
Daiane revira os olhos.
— Eu jamais o roubaria de você, raio de sol. Mas tem uma coisa muito
importante que precisa entender.
— O quê? — ela pergunta a Daiane.
— Se um dia eu e ele não estivermos mais próximos, não significa que
nós duas não seremos mais amigas. E você não tem que se preocupar com nada
sobre nós dois, porque isso é outra história, fechado?
— Sim! Eu já disse, vou fazer onze anos, eu entendo o que vocês falam
— diz nervosa. — Tem meninas de onze anos na minha escola que já namoram.
Então eu sei muita coisa, só não como vem os bebês, mais sei que não é da
cegonha.
— Chega! Vamos mudar de assunto. E fique longe dessas meninas e dos
meninos — digo a ela, e todas riem.
Ela sai rindo do quarto. Jaqueline fica me olhando, e depois faz o mesmo
com a Daiane e então chacoalha a cabeça.
— Porra, eu preciso andar mais com os Escobar. A fonte dos homens
tesudos está no círculo de vocês. — Daiane gargalha. — Lembra-se de mim,
gato? Eu estava no evento que você encontrou os Escobar.
Sorrio, pois agora sei muito bem de onde a conheço.
— Me lembro sim.
— Que sorte, hein, Daiane! Eu vou dormir depressiva hoje. — É a minha
vez de rir.

Já é tarde e estamos chegando ao meu apartamento. Daiane vai embora


daqui. Vim dirigindo, enquanto ela veio implicando o caminho todo, dizendo que
eu estava fazendo bullying com seu modo de dirigir, e Sophie a ajudando me
condenar.
Perfect, do Ed Sheeran, é anunciada na rádio e começa a tocar.
Acompanho a música cantando, enquanto Daiane e Sophie conversam sobre algo
de vestido que alguma famosa usou e não combinou. Como chegaram neste
assunto? Não faço ideia.

'Cause we were just kids when we fell in love


Not knowing what it was
I will not give you up this time
But darling, just kiss me slow
Your heart is all I own
And in your eyes you're holding mine

Entramos na rua do condomínio.


— Adoro estar no seu show particular — Daiane comenta e sorrio.
— Canto bem demais, eu sei.
— Você é convencido demais, isso sim.
— Ele é. A bisa sempre diz isso a ele — Sophie completa e elas riem.
— Mas, infelizmente, ele tem razão, Sophie. Canta muito bem.
— Sim. E também sabe tocar violão — Sophie comenta toda orgulhosa
me fazendo sorrir.
Passamos pela portaria e entramos no estacionamento.
Descemos do carro e fomos para o elevador.
Chegamos ao andar e entramos no apartamento, que estava destrancado,
o que indica que certa pessoa está por aqui.
— Oi, bisa! — Sophie diz animada indo cumprimentá-la.
— Oi, meu amor — minha avó diz dando um abraço nela. Está de
avental, o que indica que está fazendo algo na cozinha.
— Vou tomar banho, está calor demais — ela diz.
— Antes, me dê um beijo, que já vou embora — Daiane diz a ela, que a
abraça e dá um beijo em seu rosto. — Desculpa por não ter sido um passeio tão
legal.
— Foi sim. Jaqueline é divertida demais. — Sorrimos.
— Ela é sim. Vamos marcar de sairmos só nós duas, eu prometo.
— Não prometa. Ela não esquece — brinco.
— Não mesmo! — minha avó diz e rimos.
— Tchau! — Sophie diz saindo da sala, rindo.
Minha avó fica olhando para nós, sorrindo.
— O que foi? — pergunto colocando a mochila e mala da Sophie no
sofá.
— Eu que tenho que perguntar. Estão com um sorriso e olhar diferente —
diz e ri.
— É melhor eu ir — Daiane fala, rindo. — Antes que a tropa Escobar
surja atrás de mim.
— Não pense que vai embora sem me dizer o que está acontecendo,
mocinha — minha avó fala e rio.
— Isso aí, Daiane. Não ouse deixar minha pobre avó sem uma resposta
— provoco e se ela pudesse me matar com o olhar teria feito.
— Só precisa saber que seu neto é muito bem-dotado.
Arregalo os olhos e minha avó gargalha. Daiane me olha vitoriosa.
— Eu sempre soube! Então rolou? Vocês estão juntos?
— Não. Daiane não quer este belo homem solitário — brinco abraçando
minha avó.
— Vai me esmagar, menino! — Sorrimos.
— Estamos deixando rolar, dona Joana — Daiane diz.
— Vocês jovens inventam nome para tudo. Assumem logo que é namoro,
e que eram loucos um pelo outro há tempos. E é Joana apenas!
— Ainda não. Preciso ver se ele merece este título — Daiane diz
sorrindo.
— Isso é um desafio, Morena?
— Entenda como quiser.
— Ok! — digo.
— Preciso ir — ela se despede da minha avó.
— Vai com cuidado. E estou muito feliz por vocês dois. Agora deixa eu
ficar no pé da Sophie, ou ela vai morar no banho — diz se retirando da sala.
— Adoro desafios — digo a Daiane. Ela se aproxima e me dá um beijo
rápido.
— Ótimo. Isso faz com que ganhe dois pontos comigo. Na verdade,
depois da nossa noite, já tem seis pontos.
— Quantos preciso?
— Dez.
— Só?
— Só. — Ela sorri e me dá outro beijo. — Fui. — Ela sai rindo.
Ela realmente vai foder o meu juízo.
Treze

Daiane Escobar

Já se passaram alguns dias desde que estive com Jacob. O trabalho tem
ocupado meu tempo e o dele também. O que fez nosso contato ser por telefone
apenas. Hoje, por fim, depois de trabalhar tanto, resolvi sair com a Débora.
Marquei com ela na boate que sempre vamos. Preciso muito relaxar a mente e
esquecer do trabalho neste fim de semana, começando por hoje, sexta-feira.
A mídia não mudou nada. A cada passo que dou eles estão atrás.
Especulam se estou com alguém, por não estar saindo com outros homens. Em
partes estão certos. Não estou saindo com outros homens, meu tempo estava tão
corrido, que mesmo se eu quisesse — o que não quero — não teria tempo. Está
tão difícil de dizer o que sinto pelo Jacob, que prefiro não colocar mais
confusões em minha mente.
Estamos na área VIP como sempre. Mas, desta vez, viemos apenas nós
duas. Liziara disse estar atolada de trabalho da faculdade e a Helena — uma das
gêmeas — está gripada e consequentemente bem enjoadinha. Ana Louise falou
que está tentando evitar deixar as meninas com outras pessoas, porque Yasmim
tem ficado enciumada com a irmã. Beatriz disse que o Arthur tomou vacina e
também ficou enjoadinho. Dona Paula nem adianta tentar trazer, aquela ali foge
de passeios como o Diabo foge da cruz. Então sobrou eu e a Débora.
— Isso sim deve ser considerado épico. De toda a turma apenas nós aqui
— Débora diz e ri.
— Para você ver como as coisas mudam. E o Cleber não quis vir?
— Ele e o David não têm hora para saírem daquela delegacia hoje. Estão
que nem loucos com um caso. Passei lá antes de vir para cá, e apenas com isso
posso te dar um bom conselho para hoje: Não tente falar uma palavra com
nenhum dos dois, ou vai ganhar um belo coice gratuito.
Rio.
— Estou fugindo de trabalho e da tropa Escobar. Esses últimos dias
foram muito difíceis. Estou literalmente acabada, tanto mentalmente, quanto
fisicamente.
— Nem me fale. Por sorte estou pegando apenas casos pequenos ainda,
ou não sei se daria conta. Não ando muito bem.
— O que você tem? — pergunto preocupada e dou um gole na minha
bebida.
— Se o teste de gravidez não estiver errado, estou grávida de três
semanas. — Fico surpresa. — Não conte a ninguém, além de você ninguém mais
sabe. Quero confirmar primeiro na consulta que marquei segunda-feira e ver se
está tudo bem, e espero que sim.
— Meus parabéns, Déb! Que maravilha. — Abraço-a desajeitadamente,
devido ao fato de estarmos sentadas ao redor da mesa. — Cleber vai endoidar —
digo assim que nos afastamos. — Por isso não quis beber nada. Deveria ter dito
antes, e iríamos para outro lugar.
— Não se preocupe. Gosto de vir aqui e queria sair. Nossa, se eu não
contasse para alguém piraria.
Rimos.
— O Cleber não desconfiou nem um pouco? Ele rastreia cada
movimento seu, já que diz que você é louca. — Ela sorri.
— Que nada. Ele está tão focado no trabalho, que nem sequer percebeu.
O único que, por incrível que pareça, desconfiou foi seu tio.
— Nada passa despercebido dele. Não sei como ainda aguenta trabalhar
com ele.
— Não é tão ruim quanto parece. Ele me ofereceu a oportunidade de
utilizar a sala que estava vazia para meu escritório e assim continuar ajudando
ele em algumas coisas, enquanto me ajuda também. Digamos que entre
palavrões, patadas, e um bom-dia, nos damos bem.
Rio.
— Se passar um dia com um Escobar eu já fico louca, imagine trabalhar
no mesmo ambiente. Deus me livre! Porém, tem um detalhe: não confirmou a
ele que estava grávida, não é?
— Não! Depois que ele me viu indo vomitar umas mil vezes e perguntou,
eu menti dizendo que era intoxicação alimentar. Conheço bem como aquele ali
pode ser fofoqueiro.
Gargalho.
— Bia é a prova disso. Ele abriu a boca sobre a gravidez e sobre o sexo
do bebê e nome. Se tem uma pessoa que pode confiar algo do tipo, não é ao meu
tio.
— Com certeza.
Sorri.
— Mas me fala sobre você. Fiquei sabendo que esteve com o promotor
bonitão.
Franzo o cenho.
— Estive com sua mãe esses dias, e ela me contou.
— Nossa, como essa família é fofoqueira.
Ela ri.
— Bom, não tem muito o que dizer.
— Ah, Daiane! Está rolando algo entre vocês?
— Rolou. Mas não sei dizer ao certo. Estamos deixando acontecer, sem
pressa.
— E a Poliana? Fiquei sabendo que foi presa, e que vai ser levada a
julgamento, a coisa está feia para o lado dela.
— Mereceu isso. Sinto apenas pelo pai dela, que faleceu sem um pingo
de orgulho da filha.
— Triste. Infelizmente algumas pessoas não sabem aproveitar os
pequenos detalhes que a vida nos dá. Hoje aproveito cada momento. Já sofri
muito no passado, e precisei de todo o sofrimento para ver que o que realmente
importa é estar ao lado de quem nos faz bem. Uma pena ela não perceber isso. A
ganância pelo poder e dinheiro, afundaram ela, o que é uma realidade de muitos.
— Sim! Ela terá que pagar por tudo o que fez, e tomara que perceba que
foi pelas próprias escolhas, que foi parar em uma cela. Só sei que não quero vê-
la nunca mais.
Ela concorda.
— Vamos mudar de assunto. Quero saber como está sendo com ele? Tem
que me contar detalhes de algo. Sou curiosa, sabe disso!
— Bom. Estivemos juntos na fazenda e acabou rolando.
— Ai, meu Deus! Não perdeu tempo, hein! Assim que eu gosto. A
Daiane poderosa ressurgiu dos mortos.
Rimos.
— Não nos vemos há dias. Ele tem trabalhado muito e eu também. Nosso
contato tem sido por ligações e mensagens.
— Que tipos de mensagens? — pergunta com uma voz sensual me
fazendo rir.
— Nada do que está pensando, tarada.
— Que sem graça! — Faz beicinho e ri.
Pego meu celular lembrando que deixei no silencioso. Vejo ter uma
mensagem e ligações perdidas também.
— Merda! Deixei no silencioso e está cheio de ligações perdidas, e uma
mensagem.
— Hummm... — Débora fala enquanto se levanta. — Vou ao banheiro;
se for ele, eu quero saber de tudo. Sou uma mulher grávida e se não quiser que
meu filho nasça com cara de curiosidade, vai me contar tudo. — Rio e ela se
afasta.
E a mensagem é do próprio:

Tentei de ligar, mas só chama. Aconteceu algo? Preciso falar com você.

Respondo por mensagem, porque ligar daqui com o barulho alto de


música e pessoas falando vai ser impossível escutar qualquer coisa.

Esqueci o celular no silencioso. Estou em uma boate com uma amiga.

A resposta é rápida:

Com uma amiga? Hum... Aproveite, então.


Quando estiver com tempo me liga. Irei me afundar no trabalho agora.
Respondo rapidamente:

Sim, com uma amiga. Ciúmes?


Ligo sim.

Leio mais duas vezes sua mensagem e sorrio. Ele não manda mais
nenhuma. Débora retorna e fica me olhando como um gatinho perdido.
— Era ele. Mas não tem nada de mais. Só acho que ele ficou com
ciúmes.
— Por quê? — pergunta rindo.
— Eu disse que estava em uma boate com uma amiga, e ele respondeu
assim... — Mostro a mensagem para ela.
— E você apenas acha que ele ficou com ciúmes? Esse aí está caidinho
por você, pode ter certeza de que por ele já seria muito mais do que um deixar
rolar. E não parece que ele acreditou muito que está com uma amiga.
Reviro os olhos.
— Foda-se! Não tenho que provar nada a ele. Já basta meus irmãos e tios
controlando meus passos. E não temos nada, para ele ficar enciumado.
— Como é bobinha. Daiane, se ele está com ciúmes, é porque realmente
sente algo por você. Pelo pouco que sei sobre ele, não é do tipo que brincaria
com alguém. E vai por mim, um pouquinho de ciúmes é até fofo, só não deixe
isso ser constante, que aí já pode se agravar. Agora, ele apenas está inseguro, já
que estão nessa de não saberem o que está rolando. Dá um desconto para ele, o
homem foi casado com a Poliana, deve estar traumatizado.
— Nunca tive nada parecido com outro homem, então é complicado. Por
isso, um passo de cada vez.
— Você é realmente uma Escobar? Porque, conhecendo como foi o
relacionamento de cada um, só posso dizer que não teve passos, foi mais para
uma corrida, ou melhor, uma maratona. — Rimos.
— Eu sempre digo que sou eles de saia, mas nunca disse em que
momento sou igual ou pior.
— Nem precisa dizer, já tenho ideia. Acredito que até se a fazenda
falasse teria ideia.
Ficamos mais algumas horas rindo, jogando conversa fora, nos
divertindo, e até dançamos um pouco, mas não muito, afinal todo cuidado é
pouco agora com a saúde e bem-estar da Débora.

Chego em casa, e já passa da uma hora da manhã.


Retiro os saltos na porta de entrada, para não fazerem barulho, caso
minha mãe já esteja dormindo. Abro a porta e a luz da sala está acesa, ou seja,
dona Paula está acordada à minha espera. Fecho a porta e caminho, deixando os
saltos e a bolsa no sofá.
— Mãe? — chamo por ela, mas silêncio absoluto.
Vou até o escritório que, às vezes, ela fica até tarde trabalhando, e está
vazio. Ela deve ter subido, e pego no sono enquanto me esperava. Sempre faz
isso.
Vou até a cozinha, e pego uma garrafinha d’água e retorno a sala. O que a
Débora não bebeu, eu bebi por ela. Ouço batidas na porta. Digo para entrar, pois
sei que é algum dos seguranças.
Estefan entra.
— Vai descansar, homem!
— Vim conferir se estava tudo bem. A senhorita não saiu de carro hoje.
— Estefan, pare de me chamar de senhorita. E está tudo bem. Pode ir
descansar.
— Está bem. Mas antes preciso dizer que sua mãe saiu.
— Oi? — Fico bem surpresa. — Aconteceu algo? — pergunto alarmada.
— Não. Ela pediu que caso eu a visse chegar, avisasse, que ela vai passar
a noite na casa do senhor David. Ela informou que ajudaria a senhora Liziara
com as filhas, pois seu irmão chegaria muito tarde. E também pediu para que
ligasse para ela quando chegasse.
— Ah sim. Liziara deve estar pirando, falei com ela hoje, e amanhã irei
ver as meninas. Obrigada por avisar. Avise aos outros que pedi para trocarem a
ronda de vigia e assim podem ir descansar.
— Certo. Boa noite. — Ele faz um cumprimento com a cabeça e se
retira.
Pego meu celular e ligo para a minha mãe, é tarde, mas não quero deixá-
la preocupada. Podemos ter sessenta anos, e ela ainda vai ficar preocupada
quando saímos.
— Oi, filha.
— Mãe, já cheguei. Está tudo bem por aí?
— Está sim. Liziara deu uma pausa nos trabalhos da faculdade agora,
porque Helena só quer ficar com ela. Laura parece sentir que a irmã não está
bem, porque não dorme de jeito nenhum e só fica calma próxima da irmã. Mas
vamos sobreviver a esta noite. — Sorrio.
— Qualquer coisa avise. David ainda está na delegacia?
— Acabou de avisar que está a caminho. Ele quer levar novamente
Helena ao hospital, mas não adiantará nada. A médica já disse o que deveria
ser feito, mas conhece seu irmão.
— Está bem. Boa noite, e dá um beijo em todos por mim.
— Pela manhã estarei aí. Os pais da Liziara retornam nesta madrugada
de viagem, e vão dar uma força para ela também.
— Certo. Agora vou desligar. Beijos, te amo.
— Está sozinha?
— Sim, mãe. — Suspiro. Mães adoram um papo quando estamos
querendo só descansar.
— Ah... Beijos. Amo você.
— Tchau, mãe. — Desligo.
Quando pega para puxar a assunto, é quase uma batalha para fazer com
que dona Paula pare.
Pego minhas coisas, apago a luz e subo para o segundo andar.
Entro no meu quarto abrindo a porta com dificuldade, já que estou com
as mãos cheias. Tateio a parede, para acender a luz, e quando consigo, não tenho
tempo de segurar nada nas mãos, tudo vai para o chão, fazendo um estrondo, e
grito.
— Assustada, Daiane? — Fecho os olhos e respiro fundo, tentando
controlar os batimentos cardíacos, e as mãos trêmulas, pelo susto.
— O que faz aqui?!
Sorrindo para mim, ele se ajeita na cama.
— É bom te ver também.
Pego as coisas do chão e coloco sobre a cama.
— Como entrou aqui?
— Isso importa?
— Claro! Já sei...
— Adoraria ouvir sua teoria. — Cruza os braços, sorrindo.
— Chegou quando minha mãe estava aqui.
— Exatamente. Ela me deixou entrar, me recepcionou muito bem por
sinal, diferente de você que nem sequer um sorriso deu. Ela também me ofereceu
algo para beber e me contou muitas histórias de quando você era criança, e
fiquei bem surpreso em saber que você não largou de jeito algum a chupeta até
os nove anos de idade.
Eu vou esganar minha mãe.
Ele se levanta ficando bem próximo.
— Então ela teve que sair, e disse que eu poderia ficar e te esperar, e
óbvio que eu não perderia a oportunidade de te assustar, e surpreender, então
pedi a ela segredo, e a mesma aceitou.
— Por isso ela perguntou se eu estava sozinha e o Estefan ficou até agora
na vigia. E que bom saber que tinha a intenção de me assustar.
Ele ri.
— Agora, pode fingir que adorou me ver? — pergunta dando o sorriso de
menino levado que me tira o juízo.
— Com prazer.
Ele puxa minha cintura, e me beija. Coloco as mãos em seu rosto, com a
barba por fazer. Nosso beijo é urgente. Existe saudade, e desejo ao mesmo
tempo, uma combinação mais do que perfeita. Com uma mordida leve no meu
lábio inferior, ele então afasta a boca da minha, mas permanece com os braços ao
redor da minha cintura.
— E Sophie?
— Quando existe festa do pijama com as amigas e o pai, ela escolhe, sem
dúvida alguma, as amigas.
Sorrio.
— Quando me mandou mensagem já estava aqui? — pergunto curiosa.
— Sim. Te esperei por um bom tempo.
— Então não me respondeu por que não quis? — provoco.
— Na verdade, sua pergunta deve ser respondida pessoalmente. Por isso
não respondi por mensagem.
— E qual é a resposta? — Sorrio.
— Ciúmes? Não — ele diz em um tom sério e sinto uma leve mágoa por
isso, só não sei o porquê.
— Entendi. — Ele sorri.
— Não terminei. Eu, na verdade, estava morrendo de ciúmes, por saber
que certa moreninha estava em uma boate e, segundo ela, com uma amiga. Sei
que esta moreninha não mentiria sobre com quem estaria, mas também sei que,
por onde ela passa, arranca olhares de muitos homens, e isso sim me deixou puto
de raiva e com um acúmulo de ciúmes. Podemos não ter oficializado nada, mas
não gosto de pensar na possibilidade de você com outro homem, porque sim, eu
sou egoísta, e te quero apenas para mim. — Fico boquiaberta com sua
declaração.
— Eu não estava com outro homem. Não vou mentir, que alguns ficaram
olhando, mas não me atraíram em nada. Porque certo promotor tem deixado
meus sentimentos bem malucos e minha mente uma bagunça. E só por ter vindo
até aqui e feito esta declaração toda, ganhou mais um ponto. — Sorrio.
— E você achou que isso foi uma declaração? Não viu nada. — Ele me
dá um beijo casto.
— Me surpreenda.
— Com prazer. Agora uma pergunta. Esse belo homem poderia passar a
noite com você?
— Meu Deus, como você é convencido! Encontrei alguém mais
convencido do que o Henrique e mais cara de pau do que o David. — Rimos. —
Claro que pode.
— Ótimo.
Olho para o outro lado da cama e vejo uma pequena mala preta.
— Pelo visto, já sabia que eu diria sim.
— Sou irresistível, sei que não rejeitaria. — Bato em seu braço e ele ri.
— Pateta! Preciso de um banho. Sinta-se em casa.
— Isso não será problema. Sua mãe disse que posso atacar a geladeira.
Isso foi mais do que me sentir em casa, conquistou meu coração.
Rio.
— Você poderia ser um Escobar.
— Na verdade, eu preferiria que alguém um dia se tornasse uma
Casagrande. — Sinto minhas bochechas esquentarem, e sei que ele percebe, pois
sorri. Afasto-me dele.
— Bom, vou tomar um banho, fui.
Entro rapidamente no banheiro. Apoio-me no espaço livre do mármore
que se inicia da pia, e me olho através do enorme espelho horizontal. Parece que
meu coração vai explodir. Quando ele disse aquilo, senti algo no meu estômago,
como se estivesse se mexendo; foi uma sensação boa, e uma adrenalina por
dentro, difícil de explicar.
Respira.
Respira.
Respira.
Retiro a roupa e as joias ficando apenas de lingerie.
A porta do banheiro se abre e Jacob entra, ficando parado atrás de mim,
me olhando pelo espelho.
— Não precisa fugir. Não te pedi em casamento, apenas comentei.
— Eu não fugi.
— Eu não quis te assustar.
Viro-me ficando de frente para ele.
— Não me assustou. Não fugi. Apenas precisava respirar um pouco, e eu
disse que iria tomar banho. Eu só fiquei surpresa.
Ele concorda.
— Você pediu para deixarmos rolar, e estou tentando respeitar isso, mas
está sendo foda.
— Me beija!
Ele não questiona e tampouco espera. Com rapidez me coloca sobre o
mármore frio, e fica entre minhas pernas. Beija-me com luxúria. Agarro seus
cabelos sem qualquer delicadeza. Suas mãos deslizam sobre minhas coxas, me
causando arrepios por todo o corpo, então elas alcançam o fecho frontal do meu
sutiã e abrem, deixando-o cair sobre meus braços onde retiro e jogo no chão.
— Gosta desta calcinha? — pergunta com malícia. Seus olhos brilham de
desejo.
— Faça o que quiser — respondo louca para ser preenchida por ele.
Com apenas um puxão, o tecido se rasga e é jogado para qualquer lugar
do banheiro.
— Está vestido demais. Posso ajudar com isso. — Sorrio.
Ele me coloca no chão. Então retiro sua camiseta com sua ajuda. Seus
músculos são expostos me deixando completamente fascinada. Abro o botão de
sua calça e começo a deslizá-la para baixo junto à cueca. Quando chegam a seus
pés descalços, ele chuta para o lado da porta. Ajoelho-me a sua frente. Seguro
sem cerimônia seu pau ereto, e coloco-o na boca, e então começo a sugá-lo.
Nossos olhares estão vidrados. Ele segura fortemente meus cabelos. Seus olhos
escurecem com o desejo. A cada segundo fico mais excitada. Sugo-o com mais
profundidade, e Jacob fecha os olhos, enrijecendo o maxilar.
— Porra! — ele diz me afastando.
Levanto-me e ele me coloca sobre a pia, abrindo minhas pernas, então
sem demora me penetra. Enrosco as pernas ao redor de sua cintura, sentindo a
penetração mais profunda. Apoio as mãos sobre o mármore, inclinando a cabeça
para trás. Sons incoerentes escapam de meus lábios, sem qualquer controle.
Sinto o suor escorrer, e o calor se multiplicar no ambiente. Com uma mão
massageia meu ponto mais sensível, e com a outra aperta minha coxa.
Mais fundo.
Mais rápido.
Mais intenso.
— Jacob, eu vou... Caralho! — grito, sentindo um descontrole me
invadir.
— Goza comigo, Morena...
— Ah... — não consigo dizer mais nada. Meu corpo começa a
estremecer. Suas estocadas ficam mais duras, e então sinto ele se liberar dentro
de mim.
Com calma, ele sai de dentro de mim, puxando meu corpo para si, que
ainda está trêmulo. Sinto seu corpo suado e seus batimentos intensos. Não estou
diferente.
— Será que ainda consegue tomar seu banho? — pergunta e apenas
concordo com a cabeça, pois estou fraca até mesmo para responder. — Vem, eu
te ajudo.

Depois do banho estamos deitados na cama.


— Se toda vez for assim, não sei se terei forças para andar. — Ele ri.
— Te carrego, se este for o problema. — Rimos.
O silêncio invade o ambiente, por vários minutos. Sei que ele ainda está
acordado, mesmo sem olhar, pois sua respiração entrega isso. Ajeito-me ficando
completamente virada para ele. Posso ver nitidamente seu rosto, através da
claridade amarela que saem dos abajures em cada lado da cama. Seu olhar está
distante.
— Tudo bem? — Ele me olha e seu sorriso é fraco.
— Estava pensando em tudo o que aconteceu, e no pai da Poliana. Ele
não merecia um final como aquele. Talvez se eu tivesse descoberto a verdade
sobre o que ele tinha, poderia ter feito algo.
— Ei... Não pense nisso. Não tinha o que ser feito. Ele estava doente, e
não tinha cura. O tempo dele já era curto, Jacob.
— Eu sei... É que ele era um bom homem. Não consegui ir ao velório e
nem ao enterro. Não tive coragem.
— Não fique se martirizando por isso. Você fez sua parte, e ele pôde ser
feliz por um curto tempo, graças a isso. Sinta-se orgulhoso, por ter trazido
alegria a ele.
— É só que já perdi muitas pessoas ao meu redor. Meus pais verdadeiros
sumiram, e nunca os conheci. A mãe da Sophie se foi, mesmo ela não tendo
escolhido o caminho certo, não merecia o que aconteceu. Minha mãe também
partiu. E agora o senhor Luiz. Parece que, de alguma forma, todos que se
aproximam de mim, vão embora. — Ele tenta sorrir, mas falha.
— Sei como é isso. Mas eu estou aqui. Não vou embora. Só se você
quiser.
Ele passa os braços ao meu redor.
— Jamais irei querer que vá. Com você eu pularia todas as etapas de um
relacionamento, porque com você vale a pena... Mas está bem tarde para
ficarmos falando disso. Vamos descansar e curtir mais uma noite juntos. —
Sorrio. Ele deposita um beijo em meus lábios e logo após, um em minha testa.
Apagamos os abajures, e ficamos abraçados. Um tempo se passa e sinto
sua respiração ficar leve, e seu corpo relaxar. Afasto-me com cuidado e saio do
quarto.
Entro no quarto da minha mãe e acendo a luz. Vou até o closet. Pego um
dos álbuns de fotos e retorno me sentando na cama. Começo a olhar cada foto,
até chegar na minha favorita: a que meu pai estava em Paris, na famosa e típica
foto com a Torre Eiffel ao fundo. Seu sorriso e seu olhar são lindos. Ele está
sozinho nesta foto. Passo os dedos por ela, como se de onde estivesse pudesse
sentir. Uma lágrima escorre por meu rosto.
— Pai, eu acho que eu encontrei. De alguma forma sinto que me ajudou a
encontrar... É, eu estou falando do amor. Ele é um cara muito incrível e me faz
sentir bem. Eu só queria que estivesse aqui, para conhecê-lo pessoalmente, e
fazer um interrogatório, como fazia com meus amigos na adolescência. Ele
também tem fazenda, pelo visto teriam um assunto em comum além de falarem
sobre trabalho, já que ele é promotor. — Sorrio e sinto mais lágrimas descerem
por meu rosto. — Mas não se preocupe, você sempre será o homem número um
em minha vida. Eu te amo, pai, e sinto muito sua falta. Prometo que, mesmo que
um dia eu me case e tenha que ir embora de casa, vou continuar cuidando de
todos, inclusive da mãe como sempre tenho feito. De onde estiver e se realmente
isso for possível, tenta dar uma forcinha, porque sei que ela ainda sofre muito
pela sua perda. Todos sofremos. — A foto começa a ser preenchida por minhas
lágrimas. — Sinto sua falta. — Um soluço escapa e me deixo levar pelo choro.
Fecho o álbum e fico abraçada a ele por um tempo. Então me
recomponho e coloco-o no lugar. Apago a luz e saio do quarto, retornando para o
meu. Deito-me e os braços do Jacob me puxam para si.
— Está tudo bem? — Sua voz rouca preenche meus ouvidos.
— Sim. Vamos dormir.
Fecho os meus olhos e relaxo não só a mente, mas também o corpo.
Catorze

Daiane Escobar

Estou na cozinha e hoje dona Jurema e Marcela não estão. Então pego
tudo o que for prático, para o café da manhã.
Minha mãe ainda não chegou, disse que teve um imprevisto, mas logo
chegaria.
Coloco tudo na mesa da cozinha mesmo.
Encho um copo com suco e me aproximo da pia, olhando pela janela que
dá para os fundos da casa, no jardim. Bebo um gole de suco.
Passos atrás de mim causa um tremor. O perfume amadeirado, misturado
com o cheiro de sabonete, me deixa fascinada.
Sorrio.
Seus braços envolvem minha cintura e um beijo é depositado em meu
pescoço.
— Bom dia, Moreninha.
— Bom dia. — Deixo o copo de suco na pia e me viro, ficando de frente
para ele.
Seguro seu rosto e beijo seus lábios. Ele retribui, pressionando-me contra
a pia, e apertando seus braços em mim.
— O café da manhã está na mesa — digo a ele, que sorri.
— Eu preferiria outro tipo de café.
— Eu adoraria te servir. — Mordo meu lábio inferior.
Desta vez é ele que inicia o beijo. Enrosco meus braços ao redor de seu
pescoço. Sinto sua ereção endurecer através da calça jeans justa que usa. Coloca-
me sobre a pia fazendo com que meu vestido já curto, fique ainda mais. Encaixa-
se entre minhas pernas. Enrolo-as em sua cintura e uma de suas mãos desliza
pela minha pele, arrepiando-me.
— Que porra é essa?! — Nosso beijo é interrompido.
Uma voz, quase como um trovão, preenche o ambiente. Jacob não se
afasta, e tampouco faz menção de que irá fazer. Olho para a figura alta, com suas
tatuagens expostas devido à camiseta que usa. Seu olhar é frio. Sua mandíbula
está rígida, e uma de suas mãos se fecha tão forte que as veias saltam ainda mais.
Jacob me coloca no chão, mas em momento algum mantém distância,
abraçando-me por trás.
Sorrio, e seu olhar escurece ainda mais.
— Eu fiz uma pergunta, e ainda não obtive a resposta.
— Acho que estava bem claro o que estava acontecendo — respondo
com firmeza.
— O que esse cara faz aqui? — Ele dá um passo para frente.
Beatriz surge na porta com Arthur em seus braços. Seus olhos se
arregalam e sua boca se abre, mas não sai qualquer tipo de som.
— Vim visitar a Daiane — Jacob responde e, pela primeira vez, não
existe qualquer mansidão em sua voz ou brincadeira por estar diante de um
homem Escobar e isso me surpreende.
Meu tio ergue a sobrancelha, e outro passo é dado. Agora, eu realmente
estou começando a ficar preocupada.
— Eu tentei ser razoável. Porra, até conversei com seus irmãos. Mas
agora ver este cara, com você nessas situações, na cozinha, é demais!
— Marcos, ela é adulta. E está na casa dela.
— Dane-se, Beatriz. Eu vou matar esse cara. Porra, vou arrancar esse
projeto de pau e com as próprias mãos, e nunca mais vai encostá-lo na minha
sobrinha.
Meu tio caminha em passos largos, ficando muito próximo.
— Marcos! — Beatriz diz apavorada e Arthur, que dorme, se mexe. Ela
olha para ele e depois para mim, assustada.
— Sai da frente, Daiane! — ele diz e seu olhar é como o de um alfa que
protege sua matilha. Engulo em seco.
— Não! Tio, pelo amor de Deus, não fizemos nada de mais. Sabia que
isso aconteceria. E como sua esposa disse, sou adulta e a casa não te pertence
para chegar aqui ditando regras! — Deixo as palavras escaparem, e só então me
dou conta delas. — Desculpe. Não queria dizer isso... Mas não sou mais criança.
Você e todos os outros precisam parar de agir como se eu fosse.
Jacob me afasta, ficando cara a cara com meu tio.
— Jacob, não faça isso! — imploro a ele.
— Vamos lá, faça o que quer fazer. Eu tenho uma filha e com toda
certeza agiria da mesma forma. Só que tem um detalhe, eu apenas faria se eu
soubesse que o cara não prestasse. Se você, ou qualquer outro membro desta
família, tiver qualquer prova de algo ruim contra mim faça o que quer fazer. Do
contrário, cancelamos esse show e seguimos como se nada tivesse acontecido —
Jacob diz e, desta vez, sou eu quem arregala os olhos. Beatriz sorri e chacoalha
Arthur em seus braços, que resmunga um pouco.
— Só saia da minha frente! — meu tio diz a ele, e se afasta esfregando o
rosto. Então se aproxima da pia onde se mantém de costas.
Jacob me olha e sussurro um “pode ir”.
— Venha comigo — Beatriz diz a ele, e ambos saem da cozinha.
Aproximo-me do meu tio, tocando seu braço. Ele me olha de lado e sua
raiva já não está mais presente em seu olhar.
— Vocês todos precisam parar com isso. Ainda vão acabar entrando em
uma briga, por motivos tolos. Se todo homem que surgir no caminho das
mulheres Escobar, vocês tiverem reações assim, vamos acabar solteiras, cheias
de gatos. — Ele sorri e reviro os olhos. — Não quero acabar assim. Desculpe-me
de verdade por ter dito aquilo. A raiva...
— É só que eu prometi cuidar de vocês, caso algo acontecesse ao Joseph.
Quando vi vocês naquela situação, eu perdi o controle. Porra, você é minha
sobrinha predileta, sabe disso.
Sorrio.
— Eu sei. E ainda preciso gravar você dizendo isso, e mostrar aos meus
irmãos.
Ele ri.
— Gosta realmente dele? — Ele se vira, ficando de frente para mim.
— Sim. Ele se tornou muito especial, mas se continuar tendo que
enfrentar vocês, não sei se vai querer permanecer ao meu lado — brinco.
— Se ele realmente gostar de você, vai aguentar.
— Mas viver em um pouco de paz, não seria ruim.
— Vou tentar me controlar.
— Vai tratá-lo bem?
— Não exija muito.
Rio.
— Se ele te fizer qualquer coisa, eu não irei recuar.
Concordo.
— Agora, vamos atrás deles.
— Por que vieram?
— Sua mãe disse que queria todos os Escobar aqui.
Franzo o cenho.
— Por quê?
— Não disse.
— Estranho.
Ele concorda.

Não demora muito para a casa ser preenchida por todos os Escobar. Dos
filhos aos pais. Estamos na sala. Jacob está sentado ao meu lado, com os braços
em mim. David e Henrique não tiram os olhos de nós, e meu tio não tira os olhos
das mãos do Jacob. Yasmim está em meu colo, brincando com o pingente da
minha pulseira.
— Paula, estou curiosa! — Ana diz.
Minha mãe está no centro da sala, nos olhando.
— Bem-vinda ao clube, Ana! — Liziara fala, enquanto coloca a chupeta
na boca da Helena, que está em seu colo, quietinha.
Observo Laura, irmã de Helena, brincando de passar o urso no pé do
Henrique, e sorrio. Laís e Arthur dormem no colo de suas mães. Todas as
crianças estão tranquilas, enquanto nós adultos, ansiosos para saber o porquê
desta reunião.
David e Henrique sabem o que aconteceu mais cedo, pois vi quando
chegaram e meu tio rapidamente se reuniu com eles no escritório. E óbvio que o
olhar deles entrega que sabem realmente de tudo.
— Mãe, agiliza! — digo. — Estou curiosa.
— Esse aí não é da família. Acredito que nem aqui, deveria estar —
Henrique não se aguenta, e diz.
— Ele fica! Parem de implicar. Jacob é um amor de pessoa, e se está com
a Daiane, fica! — minha mãe diz e lança um sorriso para o Jacob, que olha para
o Henrique e sorri.
— Cuidado, cara, nem sempre o volume em minhas calças é uma ereção.
— Sou um anjo. Fique tranquilo aí. Só não tenho culpa que sua mãe me
adorou.
— Parem os dois! — digo.
— Chega. Vamos ao que interessa. Eu queria todos aqui, porque irei
fazer um belo almoço e queria a família reunida, de verdade. Sem brigas, ou
provocações.
— Então tira esse cara, e não terá brigas! — David se manifesta e Liziara
dá um tapa em seu braço.
— Eu já disse que ele fica! Estão surdos? — minha mãe diz. — Eu
cansei de tentar reunir vocês e sempre virem com desculpas de filhos, marido,
faculdade, serviço ou a puta que pariu que for. — Todos olhamos assustados. —
Estão vendo como estou cansada? Até palavrão me fizeram dizer. A partir de
hoje, quero que, pelo menos, uma vez por semana, estejamos todos juntos.
— Paula... — Meu tio vai começar a dizer, mas ela faz um sinal para ele
se calar.
— Não quero desculpas. Não é porque casaram que devem deixar de se
unirem. Quero esta família unida novamente. Passando um dia juntos, sem
tentarem se matar. E não estou fazendo um pedido. Isso é uma ordem. — Seu
tom é sério e seu olhar não é nada amável. — Então eu vou até aquela cozinha,
começar a preparar um belo almoço para a minha família, e quero minhas noras
junto, porque os filhos não vão morrer por ficarem sozinhos brincando, ou
dormindo, por pouco tempo, tem babá eletrônicas, e pais que não serviram
apenas para colocarem eles no mundo. Afinal, andam mimando também demais
essas crianças, por isso estão doentes, ou demorando para andarem bem, falarem
mais. Na idade delas, vocês subiam e desciam escadas, falavam muito e viviam
brincando sem preocupação de sujar roupa. Até parece que nunca foram
crianças, parem de criar essas crianças como robôs.
Jacob tenta esconder o riso, me fazendo sorrir.
— Paula, não sei se estando gripada seria a melhor escolha ir para a
cozinha — Bia diz.
— Daremos um jeito. Sobreviverá!
Rio.
— Você também, Daiane. Vamos, agora.
Meus irmãos começam a rir e Henrique chega a ficar vermelho. Fuzilo
ambos com o olhar.
— Rindo por quê? Vocês vão ficar olhando as crianças e tratando muito
bem meu anjo ali. — Ela aponta para o Jacob e a risada se encerra bruscamente.
— Eu sou o anjo! — Jacob diz levantando a mão, e Liziara ri.
— Porra! Conquista minha irmã e rouba minha mãe. Cara, eu não gosto
de você! — Henrique diz irritado.
— Que pena, eu sou muito fã de vocês — Jacob fala sorridente.
— Ele está me irritando! — David comenta se ajeitando no sofá.
— Vamos! — minha mãe fala.
— A Yasmim vai chorar. Ela está tão bem comigo — digo preguiçosa.
E neste momento, a traíra da minha sobrinha se joga para o colo do Jacob
e ri. Ele a segura, sorrindo, e a mesma se aproxima do seu rosto lhe dando um
beijo molhado. Um “Ai, que amor!” sai em uníssono das mulheres, exceto de
mim, que apenas sorrio fascinada, já que Yasmim não se dá com todos.
— Acho que conquistei mais alguém, não é, gatinha? — ele diz, e ela
esconde o rostinho em seu pescoço, tímida.
— Agora a porra ficou séria! A minha filha também, cara? Qual o seu
problema comigo?
— Nem comigo ela fica assim! Porra! — Marcos diz irritado.
— Marcos, no final do dia quero o dinheiro. Hoje, as meninas vão lucrar,
pelo visto! — Liziara diz, se referindo a ele não poder falar palavrão na frente
das gêmeas.
— Já disse para abrir uma conta bancária a elas!
Henrique se aproxima, enciumado, para pegar a Yasmim.
— Vem, filha! — ele diz a ela.
Ela olha o pai e depois o Jacob, e faz isso por um tempo.
Não faça isso, pequena.
— Nãn! — ela diz franzindo o cenho, e então agarra o pescoço do Jacob.
Não me aguento e gargalho. Henrique me lança um olhar furioso.
— Posso falar? — Jacob diz olhando para ele. — Falaria mesmo que não
pudesse. Acho que ela realmente gostou de mim, mas não se preocupe, sou
muito atraente, é normal isso.
— Eu vou matar esse cara! — Henrique diz olhando para todos.
— Pegue a senha! — David diz. — Fique longe das minhas filhas, ou
morre! — Jacob ri e Yasmim também, sem ao menos saber do quê.
— Chega! Vamos, mulherada! — minha mãe fala.
Henrique se afasta. Levanto-me e, quando vou dar um beijo no Jacob,
sou impedida por Yasmim, que me empurra dizendo não. Fico chocada e Ana ri.
— É, vai ter que me dividir com mais uma — Jacob diz, rindo.
— Pateta!
— Eita! Chamou-o de pateta. Cara, esquece, não tem mais como fugir da
família — Beatriz diz entregando Arthur para o Marcos.
— Beatriz, lembra-se da sentença? Então, é melhor não colaborar com
aquele ali! — Marcos diz e sorrio.
— Vamos, e eles que se entendam. Não quero sangue pela casa, e
tampouco móveis quebrados. E se o Jacob estiver machucado, vocês não vão
querer ver o que pode acontecer! — minha mãe fala, saindo da sala.
Ana entrega Laís para o Henrique. David pega Helena, e então todas nós
saímos da sala.

Jacob Casagrande

Brinco com Yasmim em meu colo, e uma das gêmeas — a que estava no
chão — se aproxima.
— Não toque! Você tem algo de ruim que atrai elas para você. — David
diz e sorrio.
Pego a outra no chão e, então, uma batalha de quem ganha mais a minha
atenção começa em meu colo, e rio.
Os olhares são fixos em mim. Tenho vontade de rir, mas evito.
— Melhor fazermos logo. Aproveitar que elas não estão. Crianças que
estiverem dormindo, colocamos no quarto com a babá eletrônica — Marcos diz.
Eles sobem, deixando-me sozinho com as duas acordadas.
— Acho que o pai de cada uma não gosta muito de mim. Tenho esta leve
impressão — digo a elas, que riem, quando começo as distribuir beijos em
ambas.
Eles retornam, parando na minha frente.
— O que querem agora? — pergunto.
— Venha conosco. — Eles pegam as meninas sob seus protestos.
— Não posso deixar um beijo de despedida na Daiane antes? — provoco.
— Não brinque, cara! — David fala e rio.
Sigo-os até um corredor, onde entram em um ambiente, em que a porta
estava aberta. Entramos e vejo ser um escritório. Eles colocam as meninas no
carpete e fecham a porta.
— Que pecado. Vão cometer um crime na frente de duas crianças...
— Cale a boca, cara! — Henrique diz.
— Sente-se! — Marcos aponta o sofá.
— Só irei, porque ando muito idoso e fadigado — brinco.
Sento-me no sofá, e eles vão para trás da mesa.
— Tribunal? Porque se for, terei que falar somente a verdade, entendem,
não é? — Os olhares não são nada amigáveis.
Duas, exatamente duas armas, são jogadas em cima da mesa de madeira.
Do David e do Henrique.
— Não incomoda andar com elas na cintura? A mim incomoda um pouco
quando utilizo.
David gira a sua arma na mesa, e ela fica apontada para mim.
— Faltou uma, não? — pergunto olhando para o Marcos, que se mantém
no meio deles, com as mãos no bolso.
— Não preciso de uma.
— Porra, gostei de como falou! Senti uma firmeza excepcional. — Sorrio
e ele se inclina apoiando ambas as mãos sobre a mesa.
— Não brinque. É melhor escutar muito bem o que iremos dizer.
— Podem falar. Porra, quem diria, que eu estaria em uma reunião um
pouco violenta com os Escobar.
David olha as meninas que brincam no chão, e depois retorna o olhar a
mim.
— Se quer realmente sobreviver nesta família, tem que estar a par das
regras! — Henrique diz.
— Quais? — pergunto realmente ficando curioso.
— Primeiro, jamais faça a Daiane sofrer — David diz.
— Segundo, não tente interferir no modo em como agimos — Marcos
fala.
— Terceiro, nunca pense que pode fazer o que bem entender nesta
família — Henrique diz cruzando os braços. — Quarto, se tentar roubar minha
mãe e minha filha de mim, morre.
— No caso, eu já fiz isso. É agora que tenho que me despedir do mundo?
— Você sempre faz piada de tudo? Porra, eu odeio isso! — Henrique diz.
— Sério?! — Marcos e David dizem olhando para ele, que dá de ombros.
— Quinta regra, e não menos importante. A memória do meu irmão é
muito respeitada, não tente desrespeitá-la jamais. — Marcos se afasta da mesa.
— Compreendeu? — David questiona.
— Sim. Mas tenho algo para dizer. — Levanto-me e vou até a mesa. Giro
a arma do David, como ele fez, e ela fica apontada para ele. — Primeiro, armas
não me intimidam ou não teria me tornado promotor. Segundo, não sou homem
de brincar com mulheres, então Daiane jamais sofreria comigo. Terceiro,
deveriam ter feito essa reunião, ou seja lá o nome que dão a isso, depois que
realmente tivéssemos algo, porque estamos apenas saindo, nada oficial.
— Não é oficial? — Henrique pergunta surpreso, enquanto os outros
franzem o cenho. — Você dormiu aqui e ainda está aqui, porra.
— Isso se chama século XXI, devem estar familiarizados. E eu já havia
dito que ela era difícil — falo e sorrio.
A porta se abre e me viro. Daiane entra e olha para as meninas no chão e
logo depois para nós, e só então para a mesa onde vê as armas.
— Quer nos dizer algo, Daiane? — Marcos pergunta. Henrique e David
pegam as armas. Mas Daiane fica pálida.
— Você disse que não contaria, Jacob! — ela diz e franzo o cenho, sem
entender.
— Contar o quê? — David pergunta em um tom desconfiado.
— Eu vou te esganar! — ela diz olhando para mim. E só então entendo
ao que se refere. Faço um sinal para que se cale.
— Talvez queira nos dizer o que ele não deveria contar, Daiane! —
Marcos diz a ela.
— Para quê? O fofoqueiro já contou!
— Daiane, acho que te chamaram — digo, tentando fazer com que ela se
cale.
— Não mude de assunto.
— O que está acontecendo? — Henrique pergunta.
— Não se façam de idiotas. Sei que sabem de tudo — diz irritada. —
Vamos lá, surtem de uma vez.
Porra, ela realmente é difícil!
Eles me olham e dou de ombros.
— Vamos. Podem dizer que sou louca, que confiaram em mim e fiz isso!
— Eles olham para ela sem entender, porém, desconfiados.
— Daiane, podemos conversar um minuto? — pergunto me aproximando
dela.
— Para você contar a eles tudo o que iremos falar? Realmente é um
pateta. Perfeito para o clube deles.
Fico em sua frente, de costas para eles. Olho para ela, e digo um “não”
silencioso. Ela inclina um pouco a cabeça para o lado, olhando para eles, e então
arregala os olhos, voltando o olhar para mim. Balança a cabeça negativamente e
concordo.
— Droga! — diz.
— Chega. Que merda estão escondendo?! — Marcos grita, enfurecido, e
as meninas se assustam, mas voltam a brincar juntas.
— Nada! — dissemos juntos e me viro para eles.
— Nada uma porra! O que aconteceu? — Henrique questiona.
— Daiane, o que faz... Meu Deus, o que está acontecendo? — Dona
Paula entra no escritório, e começa a olhar de um para o outro.
— Estamos esperando eles responderem! — David diz, cruzando os
braços.
— O que aconteceu? — Paula pergunta para nós e Daiane me olha em
busca de uma resposta. — Daiane, você não está grávida, não é? — pergunta
desesperada, e me contenho para não rir.
— Não! Está louca? Gente, não é nada. Apenas uma grande confusão.
Vou indo!
— Ninguém sai daqui sem me dizer o que está acontecendo! — Paula
fala enfurecida.
— Está bem — digo. — Daiane pensou que eu...
— Jacob... — Daiane tenta me impedir, mas impeço fazendo um sinal
com a mão.
— Daiane pensou que eu havia dito do pedido que fiz a ela, e a mesma
disse que responderia depois.
Ela concorda entrando no jogo.
— Que pedido? — Marcos pergunta desconfiado.
— Um pedido! — ela diz.
— Daiane Gabrielle Escobar, o que estão escondendo?! — Henrique
indaga.
— Então, Jacob, o pedido... — Ela me olha, procurando ajuda.
Olho para todos e respiro fundo. Já que a gasolina foi jogada, é melhor
acender de vez a porra do fogo!
— Vamos, porra! — David fala.
— Jacob? — Daiane procura por uma resposta, está assustada.
— O pedido foi bem simples — digo.
— Então diga para nós, meu anjo. Conheço estes homens, enquanto não
tiverem certeza de que não estão o enganando, não vão terminar isso, e tenho um
almoço para continuar preparando.
— Lá vai. — Respiro fundo. — Perguntei a ela se queria casar comigo.
Então, Daiane, será que agora pode me dar a resposta, aproveitando que todos
estão aqui? — digo de uma vez, e rápido.
Um grito e uma queda na cadeira é o que acontece a Paula. Marcos,
David e Henrique estão com uma cara que, porra, agora estou preocupado.
Porém, a única coisa que me mantém muito mais preocupado é o fato de Daiane
estar muito pálida.
— Este foi o pedido. Simples, rápido, porém sincero. E foi exatamente
isso que ela ficou com medo de eu ter contado antes de me dar a resposta. O que
realmente espero é que a resposta seja um “sim”, porque ela me conquistou
desde o primeiro encontro. E sei que o que sinto não é paixão apenas. É
admiração, respeito e amor. Te amei desde o primeiro momento, só tentei negar.
Amor à primeira vista? Talvez — digo olhando em seus olhos e deixando meu
coração falar, aproveitando a oportunidade que me foi dada. — Aceita se casar
comigo?
— Quê?! — todas as outras mulheres gritam na porta, e nem ao menos
havia notado a presença delas.
O silêncio reina. Mantenho meus olhos em Daiane, mas sinto todos os
outros olhares em mim. Desvio o olhar por apenas um instante, para as meninas
no chão, que estão sem entender, até que sorriem para mim.
Pelo visto, coloquei o fogo.
Quinze

Daiane Escobar

Faz dois meses, desde que tudo aconteceu. Quando digo tudo, eu me
refiro ao pedido de casamento e à confusão com meus irmãos. Nossa! Que
loucura!
Observo a cidade através da sacada do vigésimo andar. A noite está
estrelada, e nem mesmo as luzes da grande cidade são capazes de ofuscar os
diversos brilhos no céu.
Foi tudo tão rápido, e confuso, que até agora me pego lembrando tudo, e
tendo as mesmas reações daquele momento: o frio na barriga, o medo e o susto.
Sorrio encabulada.
Minha vida mudou tão rápido nos últimos tempos. Senti-me em um mar
revolto, onde diversas ondas me surpreendiam cada vez que eu tentava me
equilibrar.
Parando para pensar em tudo, eu tenho apenas um grande aprendizado:
Nada será como imaginamos. Nem tudo virá no tempo que desejamos.
Jamais saberemos como vamos reagir em uma situação, até que ela aconteça.
Essa é a vida, e ela corre, e temos apenas duas escolhas: ficamos parados
lamentando por tudo o que não fizemos, ou seguimos com ela, aprendendo a
lidar com a constante oscilação de adrenalina que ela nos impõe.
A vida é uma loucura. Em um instante tudo muda, e ela nem sequer te
oferece um manual de como agir. Ela basicamente te diz “se vira”.
Mas hoje, estando aqui, sentindo a brisa desta noite iluminada, eu sinto
algo. Eu sinto um arrependimento por ser tão medrosa, e usar uma máscara
invisível contra isso. É tão normal sentir medo. Isso é humano. Arrependo-me
sim, por isso. Porque penso o quanto já perdi pelo medo. Mas de nada vai me
adiantar agora. Tenho apenas que seguir meu caminho, lembrando-me sempre
disso.
Sorrio mais uma vez, porém, agora ao me lembrar daquele dia...
— Lá vai. — Jacob respira fundo e isso me deixa ainda mais nervosa. —
Perguntei a ela se queria casar comigo. Então, Daiane, será que agora pode me
dar a resposta, aproveitando que todos estão aqui? — ele diz rápido. Meu
raciocínio não acompanha claramente. Fico parada.
Olho para todos e, pelo visto, não sou a única que está tendo a mesma
reação de choque, pois minha mãe grita e cai sentada na cadeira atrás dela.
Olho para os três patetas e não sei dizer o que a expressão deles significa.
Estou assustada.
Jacob me olha e meu corpo inteiro treme ainda mais. Tento manter ao
máximo minhas pernas firmes.
— Este foi o pedido. Simples, rápido, porém sincero. E foi exatamente
isso que ela ficou com medo de eu ter contado antes de me dar a resposta. O que
realmente espero é que a resposta seja um “sim”, porque ela me conquistou
desde o primeiro encontro. E sei que o que sinto, não é paixão apenas. É
admiração, respeito e amor. Te amei desde o primeiro momento, só tentei negar.
Amor à primeira vista? Talvez — diz olhando em meus olhos. — Aceita se casar
comigo?
Suas palavras transmitem verdades e isso me deixa ainda mais nervosa.
— Quê?! — Ouço as meninas gritarem atrás de mim.
Todos os olhos estão fixos em mim. Eu não tenho nenhuma reação.
Maldição, eu não consigo reagir.
Eu pensei que ele havia dito aos meus irmãos e ao meu tio sobre eu não
saber atirar. Porém, jamais imaginei que ele sairia da confusão que armei com
um pedido de casamento.
Posso estar louca, mas é como se Pabllo Vittar cantasse K.O. como
música tema deste momento.
Jacob sorri. O pateta número quatro simplesmente sorri, como se o que
tivesse dito fosse a coisa mais normal deste mundo.
— Daiane? — minha mãe diz. Eu apenas olho, porque me falta voz.
Vejo Beatriz, Ana Louise e Liziara caminhando, e então ficando na
lateral da mesa, onde os três patetas estão.
— Titi! — Yasmim chama por mim, e só percebo que está tão perto,
quando suas mãozinhas tocam minha perna. Sua mãe rapidamente se aproxima
e a pega no colo.
— Alguém, pelo caralho da minha paciência, pode dizer algo?! — David
indaga nervoso.
Forço as palavras a saírem:
— É... Eu... Nós...
— Daiane, fale algo! — Liziara fala animada.
Olho para o Jacob e seu olhar é de preocupação. Pelo visto, não estou
tendo uma boa reação.
— Filha, eu sou cardíaca! — minha mãe exclama, com a mão sobre o
peito.
Henrique se joga na cadeira e bufa, jogando a arma sobre mesa.
— Eu já disse que não gosto deste cara? Porra, agora até entrar para a
família o infeliz quer! — Henrique reclama.
— Cale a boca, Henrique! — Ana grita. — Estamos deixando ela mais
nervosa. Vamos deixá-los sozinhos.
— Não! — Os três patetas acompanhados por Liziara dizem.
— Estou curiosa! Ninguém brinca com a minha curiosidade assim —
Liziara fala com as mãos na cintura.
— Gente, ela está pálida demais — Beatriz comenta transparecendo
preocupação.
— Não vai desmaiar agora, porra! — meu tio fala furiosamente. —
Quero uma resposta agora, porque preciso saber qual o nível de tortura que
esse cara merece.
— Marcos! — Beatriz o repreende e ele dá de ombros.
— Filha, pelo amor de Deus, reaja! — minha mãe diz se levantando da
cadeira.
Jacob que apenas me observava se aproxima segurando meu rosto com
as mãos e então diz baixinho:
— Não precisa ter medo. Eu só pensei que estava na hora de me jogar de
cabeça em algo que valesse a pena. Você vale a pena. Eu já tive dois
relacionamentos péssimos. Fiz péssimas escolhas. Mas o coração sabe
identificar quando a escolha certa está na nossa frente. Podemos fingir que não
estamos vendo, mas no fundo, bem lá no fundo, uma seta iluminada aponta para
a pessoa que nos completará. — Suas mãos acariciam meu rosto. — Eu sei que
estou sendo rápido, pulando diversas etapas, mas por você vale a pena pular
todas. Daiane, eu só preciso da resposta; e seja qual for, não irei desistir de
você. Só respira fundo.
Faço o que pede. Respiro fundo, e começo a sentir meu corpo relaxar,
mas o frio na barriga não vai embora, e o medo também não.
— Gente, vou precisar alugar um vestido para o casamento, ou comprar
lencinhos para as lágrimas de tristeza que irei derramar, caso seja um “não”?
— Liziara pergunta, mas logo reclama quando Beatriz belisca seu braço.
— Pare de ser curiosa! Deixe-os — Beatriz diz a ela.
— Quanta calúnia! — reclama.
Laura vai até minha mãe, que a pega no colo.
— Morena? — Seu tom agora me invade a alma, causando-me um calor
acompanhado de uma montanha-russa de sentimentos. — Casa comigo?
Fecho os olhos e respiro fundo.
Deixo o que estou sentindo falar por mim.
— Eu posso estar fazendo uma escolha maluca, afinal foi tudo tão
rápido, mas eu aceito. Sim. Eu aceito me casar com você, Sr. Jacob Casagrande!
— Sinto as lágrimas escorrerem por meu rosto. — Você alcançou os dez pontos
neste momento!
— Jesus, Maria e José! Sou cardíaca. Alguém chama um médico. —
Minha mãe cai na cadeira mais uma vez, porém com a Laura em seus braços,
que ri.
— Porra! — ele diz sorrindo, e me abraça, me obrigando a contornar
seu pescoço com meus braços.
— Aaaaaah! Eu vou alugar o vestido então! — Liziara grita animada, e
começa a pular batendo palmas.
— Chega, eu desisto. Querem saber? Que se foda! — Henrique fala
nervoso e sorrio.
Jacob toma meus lábios com os seus e sua língua invade minha boca,
entrelaçando-se à minha.
— Que lindos! — Beatriz e Ana dizem juntas.
— Vamos lá, David, pode me matar. Ficarei aqui, e você mira essa porra
de arma em mim e me mata neste instante.
— Sempre tive vontade de te matar, Henrique, mas, desta vez, cara, terá
que enfrentar essa barra comigo. Cacete!
— Agora, pode soltá-la! Paula, poderia se manifestar sobre esta
loucura? — meu tio diz todo autoritário. Jacob se afasta apenas para ficar
abraçado a mim.
— Eu? Agora quer que eu diga algo? Pois irei dizer. — Ela entrega
Laura para Liziara, e então se aproxima de nós dois. — Seja feliz, meu amor.
Que seja igual ou mais feliz do que fui com seu pai. Você merece, minha
princesa! — ela diz chorando e me abraça.
— Porra, não era isso que eu esperava — Marcos diz entredentes.
— Posso começar a chamá-lo de tio? — Jacob provoca.
— Agora, eu irei te matar! — meu tio grita.
Uma confusão se inicia. Ouço “Parem” para todos os lados, mas só faço
sorrir. Não me importa quem está “matando” quem, estou tão nas nuvens, que
nada importa agora.

Assusto-me quando uma voz doce me chama.


— Oi? — digo, olhando para Sophie.
— Estão esperando por você.
— Vamos!
Seguro sua mão, e entramos passando pela porta dupla escura. Todos
estão conversando e se divertindo.
— Onde está seu pai? — questiono.
— Espera aqui! — diz animada e se retira.
Em alguns minutos, todas as luzes se apagam. Então, a luz do palco
improvisado para a banda acende e me surpreendo quando vejo-o sentado no
banco, com um violão e o microfone em sua frente.
Lentamente, as outras luzes vão se acendendo em um tom mais
amarelado, e vejo que todos olham para ele como eu, menos Jaqueline e minha
mãe, que me olham e sorriem emocionadas.
— Faz dois meses, desde que escolhi você como minha esposa. E hoje
estamos com nossos familiares e amigos, do outro lado do país, mais
precisamente na Califórnia, comemorando nosso noivado. Morena, isso só
mostra que, para te ver feliz, eu atravesso o mundo se for possível. Eu te amo e
tenho uma surpresa para você.
Fico sorrindo como uma boba para ele. O homem mais lindo e sexy, na
minha frente, começa a dedilhar no violão, deixando as primeiras notas
preencherem o ambiente. E então começa a cantar, trazendo-me uma grande
emoção, me arrepiando.
E de uma forma acústica, a música Sugar, do Maroon 5, começa a sair de
sua voz:

I'm hurting baby, I'm broken down


I need your loving, loving
I need it now
When I'm without you
I'm something weak
You got me begging, begging
I'm on my knees

Seu olhar é fixo no meu, me transmitindo amor e segurança. Desvio o


olhar por um instante e olho para todos. Jaqueline e minha mãe olham para ele
sorrindo, enquanto Sophie está junto à bisavó e Alessandro, que também veio.
Meu tio está com Beatriz e Arthur em seus braços, e dançam em um ritmo lento,
assim como David, Liziara e as gêmeas. Já Henrique olha furioso para ele, e
sorrio, enquanto Ana curte o momento também. O ciúme do Henrique não
mudou, e talvez seja por serem tão parecidos, que implicam tanto um com o
outro.
Torno a olhar para o meu homem, meu amigo, meu noivo, meu tudo.

My broken pieces
You pick 'em up
Don't leave me hanging, hanging
Come give me some
When I'm without ya
So insecure
You are the one thing, one thing
I'm living for

Fecha os olhos por um momento, e vejo o quanto a música fala por ele.
Mais uma vez, seus olhos encontram os meus e me pego sorrindo, pois é
o que tenho feito direto nos últimos dias. Droga, estou tão emotiva. Isso é o
resultado de ter alguém tão especial ao meu lado.
Em um sinal rápido, ele me chama. E então caminho em passos lentos,
com meus saltos brancos, com o solado vermelho. Meu vestido azul-turquesa,
curto na frente e mais longo atrás, balança com o andar e me sinto a caminho da
minha felicidade, o que não é mentira alguma. Meus cabelos estão soltos com
ondas bem-feitas, e balançam também.
Paro ao seu lado, e ele se vira para mim e continua cantando:

I want that red velvet


I want that sugar sweet
Don't let nobody touch it
Unless that somebody is me
I gotta be a man
There ain't no other way
'Cause girl you're hotter than
Southern California bay
I don't wanna play no games
I don't gotta be afraid
Don't give all that shy sh-t
No make up on
That's my

Sorri para mim. E continua a música. Estou em êxtase.


Quando a música termina, ele entrega o violão para um homem que
surgiu não sei de onde, e então segura minha cintura e me beija com doçura.
Coloco minhas mãos em seu rosto e devolvo o beijo com a mesma intensidade.
Os aplausos interrompem nosso beijo.
— Eu te amo, meu pateta quatro.
Ele ri e me dá uma piscada.
— Ele também canta e toca violão? Nossa, que alegria! — Escutamos
Henrique dizer em um tom irônico e rimos.
— Sou um homem de qualidades! — Jacob rebate e Henrique revira os
olhos.
— Henrique, você também faz muitas coisas legais! — Sophie diz a ele.
Ambos se dão muito bem.
— O que prometeu a minha filha, para ela te idolatrar tanto? — Jacob
pergunta e sorrio.
Henrique e Sophie se olham e riem.
— Deixem de besteira. Vamos continuar nos divertindo. Em breve
teremos o casamento; e, por favor, não me enrolem para terem bebês lindos! —
Dona Joana se manifesta. E sim, Jacob ficou quase da cor de um tomate.
— Isso aí, Jacob, mete dentro. Quero dizer, faça direito! — Alessandro
provoca e rio, mas não deixo de notar o olhar de minha mãe para ele junto de...
Jaqueline? Não sei se gosto disso agora.

Estamos todos reunidos em uma única mesa.


— Já decidiu se o casamento será na igreja? — minha mãe pergunta.
— Ainda não! — digo.
— Como não? Daiane Escobar ainda não decidiu uma festa? Quem é
você e o que fez com ela? — Beatriz diz e rio.
— Só não decidi isso. De resto, está tudo certo.
— O principal não decidiu? Amor, você é um pouco maluca — Jacob diz
e dou um tapa em sua perna.
— Fala sério, com esses homens o que menos importa é onde será o
casamento. Falem a verdade, qual foi a mandinga que fizeram? Eu realmente
preciso saber. Impossível ter sido tudo por acaso. O acaso nem sequer deve
existir em situações assim. Me nego a aceitar — Jaqueline diz, arrancando risos
de todos, e um tom muito avermelhado surge na Bia.
— Tia! Ainda morro de vergonha com você! — Bia se manifesta.
— O acaso existe, Jaqueline, e ele é muito bom na maioria das vezes —
Alessandro se pronuncia, olhando para ela, que sorri, e vejo que minha mãe olha
de um para o outro e tenta disfarçar, mas o sorriso que tinha no rosto morre um
pouco.
Notei que, desde que chegamos aqui, Jaqueline e Alessandro estão muito
próximos, íntimos demais. E minha mãe sempre observando. Não sei, mas
acredito que eu deva começar a me preocupar com isso. Não posso ver minha
mãe sofrendo novamente. Sei que ela e Alessandro saíram algumas vezes, o que
não significa nada. Bom, talvez tenha significado algo. Na verdade, estou bem
confusa com o que ando vendo.
— Então, vão morar em que lugar? — meu tio indaga.
— Decidimos que vamos ficar na capital. Assim evitará tantas viagens e
ficarei mais tempo com Sophie — Jacob responde.
— Serei abandonada. Jogada aos ventos — Joana diz dramaticamente, e
rio.
— Vem com a gente! — falo.
— Deus me livre! Vocês dois são... — Ela olha para as crianças na mesa.
— Melhor eu ficar quieta.
Rimos.
— Amo minha fazenda. Quero ficar por lá.
— Bom, sei que este não é um assunto para o momento, mas acredito que
gostariam de saber — David fala e olha para Henrique e Marcos. E então eles
concordam com algo e David se volta para nós. — Recebemos hoje a notícia.
Ontem foi o julgamento da Poliana, e ela foi condenada a dezesseis anos de
prisão. Além de todos os motivos pelo qual foi presa, foi descoberto muitos
outros, até mesmo parceria com alguns membros de tráfico, tudo por dinheiro. A
mãe dela está em investigação ainda, e será interrogada mais uma vez.
Sorrio animada. E todos comemoram.
Jacob pede licença e se retira.

Jacob Casagrande

Estou apoiado na grade da enorme sacada. Precisava de ar puro. Daiane e


eu evitamos ao máximo qualquer notícia sobre Poliana. Porém, recebê-la hoje
me deixou feliz, mas ao mesmo tempo enfurecido, por ter tido uma louca em
minha vida. Às vezes, nós sacrificamos demais nossa vida por outras pessoas.
Seu Luiz merecia alegria, mas o preço foi longo e caro. Porra!
Mãos envolvem minha cintura, e sorrio.
— O que aconteceu? — pergunta. Viro-me, colando as costas na grade,
agarrando seu corpo.
— Não importa. Já passou.
Ela sorri.
Está tão linda.
— Então, vamos voltar? — pergunta e sorrio.
— Claro. Mas antes...
Seguro sua nuca aproximando nossos rostos. Beijo-a com força. Suas
mãos deslizam pelos meus ombros, e caminham até meu cabelo, onde ela puxa
com delicadeza, mas qualquer toque seu é excitante. Ela é gostosa pra caralho.
Meu pau está prestes a rasgar minha calça. Aperto-a ainda mais contra
meu corpo. Ela geme baixinho entre meus lábios.
Paro o beijo e ela resmunga.
— Não queremos disponibilizar cena hot para as pessoas da rua —
brinco.
— Seria sexy se fôssemos presos por isso. — Morde o lábio e se esfrega
propositalmente em mim.
— Porra! Preciso de você agora! — digo entredentes.
Arrasto-a para fora dali, pela segunda porta dupla, pois o lugar que
reservamos no hotel é dois ambientes. Saímos pelo corredor e paramos à espera
do elevador, e por Deus, se demorar um segundo mais, darei um belo show a
todos.
As portas se abrem e um casal de senhores saem, e nos cumprimentam
apenas com um aceno de cabeça. Entramos no elevador, e assim que aperto o
andar do nosso quarto, as portas se fecham, pressiono-a contra a parede
espelhada, segurando seu rosto com apenas uma mão, enquanto a outra desliza
por seu corpo. Beijo-a, e ela se entrega na mesma intensidade. O elevador se
torna quente.
As portas se abrem, e nos afastamos bruscamente. Olho e vejo ser o
nosso andar. Saímos do elevador e fomos para o quarto. Coloco o cartão na porta
e entramos. Fecho a porta em um baque, e jogo o cartão sobre a mesa de entrada.
Ela retira os saltos, e faço o mesmo com o terno e a camisa branca. Sem
tirarmos os olhos um do outro, despimo-nos.
Completamente nua, ela me olha maliciosamente e sorri atrevida. Retiro
a cueca, e assim que vê minha ereção passa a língua pelo lábio inferior.
Perco de vez qualquer controle, se é que existia algum.
Empurro-a contra o sofá, ficando entre suas pernas abertas, me
convidando para possuí-la, como se não houvesse o amanhã. Sua mão alisa meu
pau, me fazendo pulsar ainda mais. Ela sorri vitoriosa.
— Quero fodê-la a noite toda, mas temos uma festa para nos atrapalhar,
então, terei que fazer em minutos o que deveria ser feito em horas.
— Só faça! — diz com a voz consumida pelo desejo.
Deslizo um dedo em sua boceta, que está molhada, convidativa.
Ela geme.
— Porra! — Retiro o dedo, e encaixo meu pau em sua entrada.
Penetro-a.
Coloco as mãos no braço do sofá, apoiando meu peso. Uma de suas
pernas sobe para o encosto do sofá, deixando a mais aberta ainda. Começo a
movimentar-me. É intenso. Sua boceta aperta meu pau, deixando-me ainda mais
alucinado pelo prazer. Suas unhas deslizam por minhas costas, arranhando. Seus
olhos se fecham, e sua boca se abre. Nossos gemidos são espalhados pelo quarto.
Deslizo uma mão até seu clitóris, e massageio seu ponto mais sensível. Nossos
gemidos aumentam junto com as minhas estocadas e a massagem. Aperta forte
meus ombros, e então solta um grito repleto de luxúria, e começa a estremecer,
atingindo um orgasmo.
Vê-la assim me faz gozar forte, liberando todo meu sêmen dentro dela.
Sento-me no espaço livre do sofá, com a respiração forte. Ela está fraca.
Puxo-a para o meu colo, onde esconde o rosto em meu pescoço.
— Precisamos de um banho, e rápido, antes que venham atrás de nós —
ela diz fracamente e sorrio.
— Já devem estar imaginando o porquê sumimos. Relaxa, Morena.
— Você ainda vai acabar comigo desse jeito! — A fraqueza ainda
domina sua fala.
— Seria um problema? — pergunto e ela me olha sorrindo.
— Jamais!
Sorrimos.
— Já disse que eu te amo hoje?
— Não! — mente.
— Já disse. Mas repito. Eu te amo!
— Eu também... Eu também te amo, Jacob!
Batidas na porta fazem Daiane pular para o sofá.
— Pai? O Henrique pediu para eu vir até aqui. Disse que é pra você e a
Gabi voltarem.
Daiane ri cobrindo o rosto e se deitando no sofá.
— Ele fez de propósito! — digo furioso e ela concorda, ainda rindo.
— Filha, já estamos indo! — grito.
— Ooook — diz prolongando a fala.
Olho para Daiane, que está vermelha de tanto rir.
— Eu ainda vou matar o seu irmão.
— A fila para isso é enorme! — continua rindo da situação.
Dezesseis

Daiane Escobar

Olho através do enorme espelho. Meu vestido branco, de alças finas, com
um pequeno decote em “V”, desce por meu corpo, se ajustando a minha cintura,
e caindo com leveza cobrindo completamente meus pés. Nas pontas, toques de
renda dão uma delicadeza e sofisticação. Meus cabelos estão mais curtos, e
soltos, com ondas que tanto amo. Uma tiara de flores compõe o penteado. Meus
brincos são de brilhantes — ganhei de meu tio —, em formato de losango, não
muito longo, combinando com a pulseira que minha mãe me presenteou.
Dispensei o colar. Queria delicadeza na composição do look e foi o que
consegui, junto à equipe contratada para me arrumar. Nos pés, optei por uma
sandália branca, com pequenos detalhes em prateado.
Estou me sentindo uma princesa.
O local escolhido para a cerimônia foi a fazenda de minha família. Aqui,
eu consigo sentir a presença de meu pai de uma forma diferente. Sei que, de
alguma forma, ele participará deste momento.
Decidi fugir do modo tradicional, em escolher padrinhos para cada um
dos noivos. Todos os padrinhos serão de nós dois. Assim como também não
casarei na igreja, mas teremos o juiz de paz e não colocarei as crianças para
entrar, afinal não precisaria de todas, e jamais colocaria apenas uma.
Optamos também por convidar apenas os mais íntimos. Não queríamos
nada grande e que chamasse ainda mais a atenção da mídia, o que me lembra que
estava na hora de responder com classe o que certa revista merecia, e por isso
foram os únicos convidados.
A porta se abre, assustando-me.
— Daiane está tudo pronto, mas temos uma dúvida.
Miranda é a organizadora que sempre contrato para me ajudar em todas
as festas da família, e para ela ter dúvida de algo, é porque se tornou um
problema, e ela está tentando não me deixar nervosa.
— Qual dúvida?
— Os padrinhos já chegaram. Convidados faltam apenas um casal... —
Ela faz uma pausa, olha para a lista e para mim. — Sua mãe não confirmou
presença, e tampouco chegou. Perguntamos por ela, mas não souberam
responder.
— Quê? Como assim? Os convites foram enviados há semanas. Como
não me comunicaram sobre isso antes?
— Porque ela é sua mãe. Normalmente não temos que confirmar a
presença da mãe da noiva — diz e sorri.
— Miranda, você sabe muito bem que gosto de tudo correto. Festas para
mim são como julgamentos, tem que estar tudo em ordem. Se bobear, até o meu
noivo teria que ter confirmado presença. Eu sou a louca da lista de convidados.
Eu quase não vi minha mãe nos últimos dias. — Fico nervosa.
— Calma, vai borrar a maquiagem se ficar nervosa e começar a
transpirar.
— Quero meu celular! Onde está meu celular. — Olho para todos os
cantos à procura dele.
— Aqui! — Ela pega de cima da cômoda e me entrega. — Irei conferir
algumas coisas e retorno em breve. Tente ficar calma.
— O noivo está aí? Porque era só o que me faltava, ele ter sumido.
— Está sim, e bem nervoso. Pergunta o tempo todo por você. A tal
revista também está de prontidão, e infelizmente já notou que sua mãe não
chegou ainda. Mas tudo dará certo. Já venho! — Ela se retira.
Ligo para a minha mãe, e apenas na segunda tentativa ela atende.
— Mãe, pelo amor de Deus, onde está?
— Filha, calma. Logo estarei aí. Eu... estou chegando.
— Mãe, como não confirmou presença?
— Daiane, me poupe! Sou sua mãe. Não preciso confirmar nada.
— Mãe, eu sou paranoica com listas. Onde está? — Tento controlar o
choro.
— Filha, tenho que desligar, estou chegando. Se acalme.
Ela desliga e me sento na cama.
A porta se abre e Sophie entra sorridente.
— Você está muito linda!
— Obrigada, raio de sol. Você está uma verdadeira princesa. —
Sorrimos.
— Vai demorar? — pergunta ansiosa.
— Noivas sempre atrasam — brinco.
— Entendi. Meu pai está nervoso. É engraçado. Minha bisa disse que
daqui a pouco ele vai gritar até com o vento. — Rimos.
— Filma tudo, depois quero ver.
Ela concorda.
— Vou indo! — Ela se retira.
Fico andando de um lado para o outro. Estou nervosa demais. Sempre
fico nervosa no casamento dos outros, não seria diferente no meu.
— Não, vocês não podem! Ela disse que não queria nenhum homem
aqui. — Ouço a voz da Miranda.
— Você tem duas opções: sair por vontade própria ou retiramos você —
David fala.
Sorrio.
Caminho até a porta e abro. Os três patetas me olham.
— Pode deixar, Miranda. — Eles olham para ela e sorriem, provocando-
a.
— Sua mãe chegou, e daqui a pouco vem até você... — Olha para eles.
— Vocês são impossíveis! — diz se retirando.
Fecho a porta e eles ficam me olhando.
— Está linda! — dizem juntos.
— Sempre estou — provoco.
— Seu pai teria muito orgulho — meu tio diz e sorrio emocionada.
A porta se abre, e minha mãe entra em um belo vestido e penteado.
Henrique bate palmas e ela cora.
— Demorei, mas cheguei!
— Como pode sumir assim? O que aconteceu? Quase não a vi! Mãe, não
queria vir? — indago sem parar.
— Se acalme! Eu ajudei na escolha de decoração, óbvio que viria. Só que
os últimos dias foram de grande surpresa.
— Como assim? — David questiona.
Ela caminha até a cama onde se senta. Faço o mesmo.
— Estive mexendo nas coisas de seu pai, no escritório no centro da
cidade...
— Mãe, já falamos para você que está na hora de alugar ou vender
aquilo. Tem que começar a desapegar ou nunca vai deixar de lado essa dor —
digo.
— Não é nada disso. Fui exatamente para ver do que iria me desfazer,
para vender o lugar, mas, para a minha grande surpresa, seu pai mantinha uma
gaveta trancada. Nunca mexi em nada, sabem que sempre foi muito difícil para
mim.
Concordamos.
Ela retira da bolsa um pequeno caderno preto, com o nosso sobrenome
escrito em branco na capa, em uma letra bem detalhada.
— O que é isso? — Marcos pergunta.
— Pedi para o Conrado abrir a gaveta, pois não encontrei qualquer
chave, e nela havia apenas este diário. — Seus olhos estão marejados. —
Escreveu alguns anos antes de sua morte. Ele falava de tudo, e de cada um de
nós. E passei os últimos dias lendo com calma e sentindo cada palavra escrita.
Então encontrei uma parte que... — ela abre o diário em uma página e me
entrega — que você precisava ler hoje, Daiane.
Com as mãos trêmulas, olho para todos e para o pequeno caderno. Então
começo a ler em voz alta o pequeno texto:
— Hoje, acordei antes de todos, precisava estudar um pouco mais um
caso difícil, antes do julgamento que tive nesta tarde. A casa estava silenciosa e
eu me acomodei em minha cadeira no escritório, com uma caneca de café, a
minha preferida, e fiquei tão concentrado, que não notei quando minha menina
adentrou o escritório e se sentou no sofá de frente para mim a me observar. —
Minha voz está trêmula e minha mãe passa os braços ao meu redor. Henrique e
David se abaixam a minha frente, e se apoiam em minha perna. Já meu tio,
apenas observa através da janela. — Quando a notei, ela sorriu para mim e me
desejou um grande bom dia. Sorri. Perguntei o porquê de estar acordada àquela
hora, então me disse que queria me fazer companhia, porque sabia que eu
estava bastante estressado nos últimos dias. Ela sempre me conheceu muito
bem...
Não consigo terminar de ler, e David percebe, pois pega de minhas mãos
dando continuidade:
— Ela sempre me conheceu muito bem. Se tem uma pessoa, depois de
minha esposa, que consegue me acalmar é minha pequena Gabi. E então,
perguntou se eu queria ajuda; e sem esperar a resposta, se colocou ao meu lado
e começou a ler cada pergunta daquelas folhas, enquanto aguardava minhas
respostas. E olhando ela tão concentrada no que fazia, e com aquela perfeita
postura e dicção, não tive dúvidas de que teria uma carreira brilhante como
uma mulher da lei. E foi então que também percebi que sua escolha de carreira,
nunca foi por mim e sim por ter nascido com o dom para tal. Minha pequena
está se tornando uma grande mulher. Tempo, vá mais devagar.
David termina de ler e fecha o caderno. Minha mãe pega e coloca ao
outro lado da cama. Lágrimas escorrem por meu rosto, e Henrique as enxuga
com cuidado.
— Eu o queria aqui... — digo entre um soluço, que me escapa.
— Eu sei, maninha. Todos queríamos. Mas ele está aqui, dentro de cada
um de nós! — Henrique diz e sorri emocionado para mim.
— Henrique tem razão. Nosso pai está aqui neste momento prestigiando
você. Olhando por todos nós. Somos brutos, às vezes irritantes, mas sabemos
que ele está orgulhoso da escolha que fez. Aquele cara lá embaixo nos irrita, mas
é perfeito para você. Joseph Escobar abençoaria esta união com toda certeza —
David fala enquanto acaricia minha mão.
— Sim. Seus irmãos estão certos — minha mãe diz e deposita um beijo
em minha cabeça.
Meu tio se aproxima. E sorri para mim.
— Posso dizer com toda certeza que ele realmente está orgulhoso por
você. Eu estou orgulhoso, e sentindo-me muito honrado em representá-lo neste
dia. Uma responsabilidade do caralho! A menininha da casa cresceu, e se tornou
uma excelente mulher, porque recebeu conselhos e amor da melhor pessoa que
poderia lhe oferecer. Estamos contigo, e sempre vamos estar — ele me diz. Meus
irmãos se afastam e me levanto, abraçando-o.
— Obrigada! — digo a todos.
Estou muito emocionada, e jamais poderia imaginar senti-lo tão próximo
novamente como hoje.
A porta se abre e Miranda entra.
— Ah, meu Deus! Todos saiam. Vão para suas posições. Vou chamar a
equipe de maquiagem para retocar esse estrago. Estamos muito atrasados! — diz
desesperada, arrancando risos de todos. — Não riam. São quase seis horas da
tarde. Vamos, vamos! — diz retirando todos do quarto.

Jacob Casagrande

Pensei que em minha primeira audiência, eu havia ficado nervoso. Mas,


vendo meu estado neste momento, aquilo não foi nada. Estou completamente
nervoso. Já andei para todos os lados e distribuí coices para outros; e, porra, sem
motivo algum. Daiane está demorando muito e isso está me matando.
Será que desistiu?
Olho mais uma vez para toda a decoração carregada em tons de marrom,
branco e bege. Decorei cada detalhe, de tanto olhar, em busca de tranquilizar-me.
Miranda, a organizadora, me faz um sinal para ficar em meu lugar, e se
meu coração estava acelerado, agora... Droga, está parando.
Os padrinhos se posicionam. Ajeito o nó da gravata que parece me
sufocar. Está calor?
A banda contratada começa a tocar com os instrumentos de cordas,
enquanto a cantora deixa Beauty and the Beast sair de seu interior. Escolha da
Daiane, mesmo todos insistindo para ser a famosa marcha nupcial.
Então, olho para a mulher completamente linda, que entra de braço dado
ao seu tio, enquanto a outra mão carrega um buquê de flores. Ela sorri sem parar.
Seus olhos são fixos aos meus. Sinto tudo paralisar. É como se não existisse
ninguém, além de nós dois. Sorrio emocionado e me aproximo quando Marcos a
entrega para mim, e nem mesmo sua ameaça me faz desconectar deste momento.
Seguro sua pequena mão trêmula. Lágrimas começam a deslizar por seu
rosto, me fazendo plantar um beijo em sua testa. A música se encerra.
Não consigo tirar os olhos dela, nem mesmo quando o juiz de paz
começa a falar. Meu olhar é somente para ela.
O juiz fala.
Respondemos o sim.
Colocamos as alianças.
Assinamos.
Os padrinhos assinam.
Tudo acontece, com o meu olhar apenas nela. Está linda demais.
As palavras “pode beijar a noiva” é o que mais esperei ouvir. E quando
são ditas, tomo seu rosto com minhas mãos e a beijo com amor. É um beijo
diferente. Porque algo grita dentro de mim “ela pertence a você, e você a ela”.
Aplausos e assovios saem dos convidados. Flashes disparam tanto dos
fotógrafos, quanto da revista que Daiane escolheu convidar.
— Eu te amo — ela diz sorrindo.
— Eu também te amo. — Beijo-a novamente.
Então, todos se aproximam para nos cumprimentar. E uma chuva de
votos de felicidades e abraços se inicia. Além de ameaças dos homens Escobar.

Estamos todos reunidos, enquanto Daiane está no lugar da banda, com o


microfone nas mãos. Ela não disse o que faria, então até mesmo eu estou
curioso.
A revista está como um animal em dia de caça. Cada movimento é
registrado.
— Primeiramente, quero agradecer a cada um que participou deste
momento conosco. Para quem conhece nossa história, está a par de tudo o que
foi enfrentado para estarmos aqui hoje. Sei que é um casamento, e apenas coisas
boas devem estar presentes. Mas esta foi a melhor oportunidade para dizer
algumas coisas. — Ela ajeita uma mecha que cai sobre seu rosto. Os flashes e
filmagem não param. — Eu não me importo que algumas pessoas não gostem de
mim. Jamais iremos agradar a todos, isso é um fato. Mas eu me importo quando
proferem palavras mentirosas não apenas a meu respeito. E por isso permiti a
vocês, da Revista Belos e Famosos, que participassem deste dia. Para, pelo
menos uma vez, serem verdadeiros em suas palavras. Não pensem em editar
nada do que registraram aqui, porque a equipe de filmagem e fotógrafos que
contratamos também está registrando tudo. Então, qualquer mentira dita na
revista de vocês, irei provar o contrário.
A equipe da revista começa a olhar de um para o outro, mas não deixam
de filmar e fotografar. Nós na mesa, olhamos surpresos pela atitude da minha
esposa.
— E tem mais. Pessoas que seguem esta e outras revistas que falam sobre
a vida de outras pessoas, por favor, não acreditem em tudo, e não saiam dizendo
ou concordando com coisas que não sabem se é verdade. Isso pode machucar e
destruir a vida da pessoa citada. — Ela sai do palco e caminha até a moça da
revista, que filma tudo. — Aquela que tanto julgam está, hoje, dando uma
matéria de verdade para vocês. Aproveitem bem, porque não terá uma próxima
vez.
Ela vem até nós, enquanto a equipe da revista se reúne em um canto
afastado.
— Arrasou, cunhadinha! — Liziara diz batendo palmas.
— Eles mereciam! Que tapa na cara convidá-los para o casamento —
Ana Louise diz.
— Eles realmente mereciam. A melhor resposta a eles não foi a que dei
agora. Foi convidá-los para o casamento, mesmo eles me detonando. — Ela se
senta em meu colo, e sorrio.
— Os Escobar sabem como encontrar o momento certo! — Beatriz diz
sorrindo.
— E como! Arrasou! — Jaqueline diz a ela, e ri. — Foi impagável a cara
deles. Agora estão ali reunidos. Devem estar pensando em como sairão desta
saia justa.
— Não vão sair. Se difamarem mais uma vez a Daiane, aquela revista
sumirá do mapa — falo e ela sorri para mim.
— Ai, meu Deus, multiplica! — Jaqueline fala e todos riem.
— Aprendam com ele, meus filhos — Paula diz e Henrique me lança um
olhar de raiva. — Meu anjo é um príncipe. — Dou uma piscadela para ela.
— Eu não gosto dele! — Henrique se manifesta.
Os garçons trazem outras bebidas para nós.
— Vamos falar do que interessa. Este casamento está lindo demais. Você
merecia, Daiane! — Débora diz emocionada. — Droga, esta gravidez me faz
chorar por tudo, que ódio! Cleber, olha isso. Ai, que raiva!
Sorrio.
— Eu que tenho que sentir ódio. Porra, a cada cinco minutos começa a
chorar do nada no trabalho! — Marcos se manifesta e Beatriz lhe dá um tapa no
braço.
— Ana foi muito tranquila na gravidez. Cleber, pelo visto está ferrado —
Henrique provoca.
— Nem me fale! — Cleber responde rindo.
— Henrique, mas você me disse que Laís está igual à Ana, só chora —
Sophie diz e começo a rir, não consigo me controlar, e Daiane me belisca.
— Henrique?! — Ana o olha furiosa.
— Não. Sophie se confundiu! — Bebe a bebida rapidamente.
— Não confundi, não! — Sophie rebate.
— Ela nunca se confunde — provoco.
— Confundiu sim! — ele fala para ela.
— Não confundi! — diz nervosa.
— Parem os dois! — minha avó interrompe a briga deles. — Menino
Henrique parece mais criança que ela.
Sophie olha para ele e ri.
— Vocês viram ela me provocando, não é?! — ele pergunta e rimos.
— Não fiz nada, não é, Daiane?
— Exatamente. Não fez nada, Sophie!
— Estou ferrado! — ele fala escorregando um pouco na cadeira.
— Veja só, ela não secou, Jacob! — Alessandro fala, e sorrio por me
lembrar do que se tratava.
— Não sequei o quê? — Daiane pergunta.
— Nada! — respondemos juntos.
Percebo quando Paula olha para ele e sorri timidamente, e o mesmo a
encara descaradamente. Porra, esse não sabe disfarçar. Mas algo me chama a
atenção. Jaqueline percebe o olhar de ambos, e então fica com uma expressão
diferente. Olho para Daiane, e ela balança a cabeça indicando que também viu.
— Bom, vamos dançar?! Aproveitar que ninguém ainda surgiu dizendo
que as crianças precisam de nós — Liziara pergunta animada.
— Vamos sim! — Daiane exclama.

Reunimo-nos na pista de dança, onde diversas luzes em tom amarelo


cobrem o lugar. Dançamos diversas músicas, mas quando Perfect ecoa puxo
Daiane exclusivamente para mim. Colados, dançamos juntos. Sei que todos
observam e, mais uma vez, meu olhar é apenas para ela.

Baby, I'm dancing in the dark


With you between my arms
Barefoot on the grass
Listening to our favorite song
When you said you looked a mess
I whispered underneath my breath
But you heard it, darling
You look perfect tonight

Canto em seu ouvido, e vejo sua pele se arrepiar.


Quando a música se encerra, beijo-a rapidamente e ela sorri.
— Melhor jogar logo o buquê, para sairmos logo daqui — diz em um
tom sexy. Rio.
— Senhora Casagrande, está se saindo uma bela pervertida.
— Sempre! — Ri.
— Estamos ouvindo! — David fala nos fazendo rir.
— Todos estamos! — Alessandro grita.

Daiane Escobar Casagrande

Chamei todas as mulheres solteiras que ajudaram a deixar meu


casamento perfeito. Minha mãe, Joana e Jaqueline também estão juntas, para
pegarem o buquê.
— Um... Dois... — Jogo sem esperar chegar ao três. Uma gritaria se
inicia, e me viro rindo para olhar, porém fico bem surpresa.
— Vai ter que jogar de novo! — Beatriz diz rindo.
— Não! Isso é o destino. Ambas pegaram! — Joana exclama.
— Mas...
— Mas nada! Sua mãe e Jaqueline pegaram! — Joana insiste.
Olho para o Jacob, que dá de ombros.
— Joana está certa. A sorte é para nós duas! — Jaqueline comenta.
— Mas como conseguiram partir o buquê ao meio? Gente... — falo
olhando incrédula para o buquê que se partiu ao meio, em uma divisão perfeita.
— Apenas pegamos juntas! — minha mãe diz sorridente.
— Não estou gostando disso! — Henrique fala observando a situação.
— Isso que é quererem casar. Porra, que proeza fizeram! — Alessandro
diz olhando também incrédulo para o buquê.
— Eu, hein! — falo, me aproximando do Jacob, que passa o braço pela
minha cintura.
— Que venha meu casamento. Deus é pai! Onde estão os homens
solteiros desse círculo? — Jaqueline grita e rimos.
— Tia, se controla! — Beatriz fala rindo.
— Você é o único solteiro aqui, Alessandro — Marcos provoca e ri.
— Me tira fora dessa. Estou longe dessas histórias de casamento. Estou
longe de qualquer relacionamento. — Seu tom é sério.
Percebo o olhar de minha mãe e de Jaqueline. Merda!
Só pode ser brincadeira. Depois de tanto tempo para sair do luto foi
escolher justo um que não quer saber de relacionamento, e que ainda por cima
tem uma amiga da família a fim dele também.
— Deixe o tempo cuidar disso — Joana diz ao meu lado, e olho para ela
sem entender. — Já percebi. Sou velha, não burra.
Sorrio.
— Minha avó está certa — Jacob se manifesta.
Olho para o David, que apenas observa a situação e quando olha para
mim desvio o olhar.
— Só não sei se vai acabar bem! — comento.
Miranda anuncia que tem uma surpresa para nós, próximo ao lago da
fazenda e que a revista já foi embora, não muito contentes.

Estamos todos próximos ao lago, quando tudo começa a clarear em tons


dourados e prata na noite. Emociono-me com a surpresa.
— Obrigada, Miranda!
Ela concorda e sorri.
Jacob me abraça por trás, e Sophie se aproxima, ficando na minha frente,
onde coloco as mãos em seus ombros, e ela me olha sorrindo.
— Agora é uma família de verdade, né? — pergunta sorrindo.
— Sim, minha princesa. Agora sim! — Jacob responde.
Ficamos todos ali, observando os fogos e curtindo o momento.
— Te amo demais, Morena! — ele sussurra em meu ouvido.
— Eu também te amo!
Olho para uma parte acima das árvores, e posso estar louca, mas é como
se eu visse o rosto de meu pai sorrindo para mim. Emociono-me.
Observo então a todos, e concluo: Todas as lágrimas, um dia se tornam
grandes sorrisos. Basta querermos.

REVISTA ONLINE BELOS E FAMOSOS

NOTÍCIA MAIS VISITADA DO DIA:

“A PRINCESINHA SE TORNOU UMA RAINHA”


Tivemos a oportunidade de estarmos no casamento do ano!
Daiane Escobar e Jacob Casagrande casaram-se segunda-feira (22), na fazenda
Escobar.
O casamento foi repleto de muita sofisticação. O amor pairava no ar.
Registramos cada momento dos pombinhos, que, por sinal, formam um belo
casal.
Nós da Revista desejamos as mais sinceras felicidades aos promotores, e
estamos loucos de curiosidades, para sabermos se a família Escobar terá novos
herdeiros.
E temos mais uma novidade: o promotor exibiu o tempo inteiro sua herdeira,
Sophie Casagrande, o que foi uma grande surpresa.
Confiram as fotos dos melhores momentos da cerimônia.

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Comentários mais recentes:


Doroti: Nossa, não era esta revista que vivia criticando a Daiane? Quanto estão
recebendo para elogiá-la?
Kelly: Essa revista deve ter se ferrado para estar publicando algo de bom desta
promotora. Enfim, felicidades ao casal! Linda a filha do promotor, assim como
ele, que é lindo demais.
Larissa: Deve ser puro marketing. Ela é mais rodada que não sei o quê. Este
promotor é muito bom para ela. Já prevejo notícias da separação em breve.
Lala: Essa tal Larissa aí em cima vive comentando maldades em relação à
Daiane. Deve ser inveja demais. Coisa feia! Que este casal seja completamente
feliz, e que a inveja do povo não atinja a eles. Sophie é linda demais.
Joana Casagrande: Não esqueceram de algo, não? Onde está o que ela falou?
Carinha feia, carinha feia, carinha feia... Adorando esse treco de internet. Trem
bom demais. Enfim, acho bom continuarem falando bem do meu neto e da minha
nova neta!
Resposta a Joana:
Lala: Joana, não escrevemos carinha feia. É emoji, tem no celular kkk. Beijos,
lindona. Adorei seu comentário. Quero uma avó assim!
Epílogo

Daiane Escobar Casagrande

A vida de casada é bem diferente do que se imagina. Não é sempre um


mar de rosas. Existem altos e baixos. É como na promotoria, temos que analisar
todos os lados, pesando-os na balança.
Jacob e eu estamos tentando lidar com as diferenças, e incluir a Sophie
no meio de tudo. Não é fácil, mas não vamos desistir. Temos gênios fortes e
somos muito parecidos em alguns aspectos, e isso é complicado, mas não
impossível de lidar.
Nosso trabalho toma muito de nosso tempo e isso é um dos maiores
desafios que estamos enfrentando, mas com jeitinho estamos conseguindo
superar cada obstáculo.
— Gabi, hoje irei para a bisa? — Sophie questiona pela quarta vez. Está
ansiosa para a festinha com as amigas da sua antiga cidade.
— Sim. Eu já disse que iria. Só um pouquinho de paciência que logo seu
pai chega e levará você.
Ela sorri animada.
— É que ele está demorando.
— Deve estar no trânsito. Daqui a pouco chega. Não se preocupe.
— Está bem. Vou para o quarto.
— Isso. Descanse e, assim que ele chegar, prometo que não deixarei ele
ficar enrolando.
Ela concorda sorridente e sai do escritório.
Continuo estudando o caso que estou cuidando nas últimas semanas, e
tem sido bem complicado. O julgamento é nesta semana e estou muito nervosa,
odeio casos que envolvem crianças, e este é um deles, um estupro seguido de
homicídio, muito pesado, e isso tem tomado quase todo o meu tempo. O
advogado do réu está vindo com tudo para cima da promotoria e da família da
vítima, e a mídia está em cada detalhe, o que tem dificultado ainda mais o
trabalho da polícia, e isso acaba por dificultar para mim. Não posso escolher um
lado, eu tenho que escolher a melhor justiça e arcar com as consequências de
minha decisão. Às vezes me cansa lidar com tudo isso.
Olho no relógio e já era para o Jacob estar em casa. Ele sabe que precisa
levar a Sophie para o interior. Por sorte, nos próximos dias não terá aula devido a
alguns eventos na escola. Pagamos uma nota na escola para inventarem eventos
sem necessidade, e os alunos sem aula, absurdo total.
Prendo o cabelo em um coque bagunçado e ligo para ele, mas não atende.
Nem no celular e nem do escritório que abriu recentemente aqui na cidade para
evitar ficar trabalhando em casa, e eu sei bem como é isso, por este motivo tenho
meu escritório no centro.
Saio do escritório, e vou para a sacada do apartamento. Preciso relaxar
um pouco a mente. Estou estressada, e cansada.
A tarde está fria, e chuviscando. Puxo a manga da minha blusa de frio
cobrindo boa parte das minhas mãos. Sento na cadeira de madeira e fico
observando a vista da piscina. Estou de short jeans, bem típico eu colocar blusa
de frio e short. Nem eu mesma me entendo.
— Nada do meu pai ainda? — Sophie pergunta me assustando, já que
não a vi chegar.
— Não.
Bufa irritada e sai.
Apoio as pernas na cadeira da frente cruzando-as. Eu vou matar o Jacob
caso não leve a filha para o interior. A menina está completamente ansiosa e
animada para a tal festinha.

São quase onze horas da noite e nada do Jacob. Agora dá apenas caixa
postal no celular, e no escritório só chama. Eu vou arrumar uma secretária para
este homem. Sophie acabou dormindo cansada de esperar o pai, depois de chorar
porque sabe que não vai hoje para a casa da bisavó. Dona Joana me ligou
preocupada, e eu disse que não daria para a Sophie ir hoje, mas que a levaria
amanhã. Não contei que o neto ainda não chegou e não tenho notícias, de
preocupada basta eu.
Pedi ao Estefan para ir até o escritório do Jacob, e ver se está lá e estou
no aguardo de notícias.
A porta da sala se abre e levanto rapidamente do sofá. Jacob entra. Meu
coração fica aliviado.
Ele deixa as coisas no sofá e vem até a minha direção, mas impeço de se
aproximar.
— Morena, perdão. O celular e o telefone estavam no mudo, e eu estava
tão concentrado no caso que estou estudando, que perdi noção da hora. Estefan
foi até o escritório e vim na mesma hora.
— Jacob, não é para mim que deve desculpas. Sua filha foi dormir depois
de tanto chorar porque o pai não a levaria para o interior.
— Eu vou levar. Só vou trocar de roupa.
— A esta hora? Ficou louco! Não vai sair com a menina uma hora destas
com este tempo.
— Relaxa, amor.
— Eu já viajei com ela de madrugada, mas estava com meu segurança e
não tinha chuva. Você não a levará com chuva, e cansado. Sua aparência entrega
o cansaço.
Ele retira a gravata e o paletó. Abre os primeiros botões da camisa
branca.
— Realmente estou bem cansado. Mas...
— Não vai levar e pronto. Amanhã eu me viro e levo-a, ou peço ao
Estefan para levar, não sei. Dou um jeito. Agora você arrasta esta bunda até
aquele quarto, e passe a noite com ela, porque está bem chateada com você, e vai
ser bom quando ela acordar encontrar o pai.
— Amor, está nervosa apenas por isso, ou tem mais?
— Nervosa? Estou com muita raiva. Você chega tarde, esquece de dar
satisfações, eu tenho que ficar em casa tentando controlar os problemas que
causou, e quando chega age como se nada tivesse acontecido. Tenha a santa
paciência. Está com muito trabalho? Eu também, mas estou me virando para
lidar com tudo, então é melhor você também começar a lidar.
Saio da sala com ele me seguindo até o quarto. Ele fecha a porta.
— Daiane, você está achando que não atendi suas ligações ou fiquei até
agora trabalhando de propósito? Porque se estiver, porra não me conhece. Eu
estou fazendo de tudo para conciliar o trabalho com vida pessoal. Divido-me em
mil para dar atenção a você e a Sophie, além da minha avó. Então, por favor, não
tente se transformar em vítima, quando sabe que faço de tudo para que nosso
casamento seja de alegrias na maior parte do tempo. — Está irritado. Eu também
estou.
Respiro fundo e conto mentalmente até dez.
— Desculpa. Estou cansada.
Ele se aproxima e desta vez eu deixo. Beija-me com carinho.
— Me desculpa por hoje. Estou tentando adiantar tudo para ter mais
tempo para as duas. — Beija-me com carinho.
— Está bem. Só vá ficar com a Sophie, ela precisa mais do pai.
— Vou tomar um banho e vou ficar com ela.
— Está com fome?
— Não. Comi na rua.
Concordo.
Ele se afasta e vai até o banheiro.
Eu já tomei banho e estou de pijama. Deito na cama e me cubro. A noite
está ainda mais fria.

Acordo sobressaltada com um som. O quarto está iluminado apenas com


as luzes dos abajures. Olho para o Jacob, que está com a Sophie dormindo em
seu colo. Ele a coloca no centro da nossa cama, e vai fechar a porta. Retorna e se
deita. Fico olhando para ele, que sorri.
— As duas precisam de mim. E eu preciso das duas — ele sussurra.
Sorrio. Esse pateta ainda vai me matar de amor.
Cubro direito a Sophie e dou um beijinho em sua testa. Ela dorme
tranquilamente.
— Amo você.
— Eu também, amor — digo a ele baixinho.
Estamos tomando café. Irei levar a Sophie até a avó acompanhada por
Estefan e logo depois vou para o escritório. Jacob não pode ir, tem uma reunião
importante.
— Será que vai dar tempo de ir para a festa?
— Vai sim. Começa duas horas, e vamos chegar bem antes lá — digo a
ela.
— Chegando lá me avisem — Jacob diz.
— Pode deixar — respondo.
— Nossa! — Sophie diz e olhamos para ela sem entender. — Ontem,
quando cheguei da escola, esqueci-me de mostrar uma coisa.
Ela sai da mesa e Jacob me olha, mas dou de ombros. Ela retorna com
um papel e entrega ao pai.
Jacob fica olhando. Tomo meu suco.
— A professora disse para desenharmos nossa família quando voltarmos
para a escola levarmos uma redação falando sobre o que desenhamos.
Jacob ri.
— Não gostou, papai?
Chuto a perna dele por debaixo da mesa e ele resmunga.
— Olhe, amor. — Ele me entrega.
Tem um prédio um pouco torto atrás de um casal com uma criança.
— É você, o papai e eu.
Olho cada detalhe e fico sem entender uma coisa.
— Sophie, por que eu estou gordinha? Sei que como bastante, mas não é
para tanto.
Jacob gargalha.
— Ué. Porque está com meu irmãozinho ou irmãzinha na barriga.
Jacob engasga e eu arregalo os olhos.
— Estou com o quê?!
— Está surdinha?
Jacob bebe meu suco e controla a tosse. Entrego o desenho a ela.
— Sophie, é muito cedo para isso.
— Não custa nada imaginar, ué. — Ela ri. Pega o desenho. — Vou
escovar os dentes e me trocar para irmos. — Concordo e ela sai saltitante.
Jacob me olha assustado.
— É, pode me olhar assim, porque tenho certeza de que também estou
assustada. Este desenho é um futuro muito longe e talvez inexistente.
— Concordo. No momento é melhor não.
— Isso aí. Já estamos pirando com uma criança. — Ele ri.
— Porra se eu tiver mais uma menina e, desta vez, for igual a você, estou
ferrado.
— Pateta! — Ele se levanta e sorri. Beija-me com carinho.
Segura meu queixo me fazendo ficar com a cabeça um pouco inclinada
olhando para ele.
— Morena, se você desejar estarei com você em tudo. Só quero nossa
felicidade.
— Pode deixar. Mas agora é impossível.
— Concordo. — Ele me beija novamente. — Te amo.
— Também te amo.
— Então é melhor reforçar os remédios, já que o sexo é frequente. —
Rio.
— Tarado. Melhor diminuirmos o sexo então.
— Porra, aí me ferra. — Ele sorri.
Levanto e enrosco os braços ao redor de seu pescoço. Beijo-o. Ele
retribui desta vez com intensidade. Aperta meu corpo de encontro ao seu. O
calor nos envolve, e é como se chamas estivessem aos nossos pés. Se tem uma
coisa que torço é para que sejamos sempre assim, puro fogo. Sinto sua ereção e
fico louca. Puxo levemente seu cabelo. Suas mãos apertam meu corpo, e é bem
capaz de ficar marcado.
— Que nojo! — Sophie grita e nos afastamos. Viro de costas e Jacob me
abraça por trás. — Você dois vivem assim, eca!
— Isso mesmo filha, pense que é nojento eternamente. — Reviro os
olhos.
— Um dia será você, bobinha, assim que encontrar o homem certo.
— Credo! Não quero não.
— Isso aí! — Jacob fala e sorrio.
— Um dia vai, e terá que me contar tudo antes de fazer qualquer coisa.
— Está bem. Mas não quero namorado.
— Viu só, Morena? Ela não quer, não insiste.
— Vamos, Sophie. O ciumento aqui precisa trabalhar.
— Vamos sim!
Descemos para a garagem. Estefan já aguardava por nós dentro do meu
carro.
— Cuidado. E Sophie, se comporte.
— Está bem, papai. Eu vou fazer onze anos, sei me comportar.
Sorrio.
— Ela sabe, amor — provoco.
— Vocês duas vão me deixar louco.
— Vamos nada — Sophie responde rindo e entra no carro.
Jacob se aproxima e beija o rosto da filha. Prende o cinto nela e fecha a
porta.
— Não aprontem.
— Amor, vou apenas levá-la e vou retornar. Não tenho o que aprontar.
— Daiane, vocês duas sempre arrumam um jeito de aprontar. — Ele me
dá um beijo rápido. — Mais tarde quero chegar em casa e te encontrar nua à
minha espera. Ainda estou excitado. — Ele retira o paletó da frente do corpo, e
vejo o volume em sua calça. Sorrio.
— Pode deixar, pateta.
— Te amo, Morena.
— Eu sei... — Derrubo minha bolsa propositalmente e me abaixo de uma
forma provocativa para pegar. Quando levanto, ele está me olhando sério. Então
sussurra em meu ouvido:
— Isso não vai ficar assim.
Rio.
Antes de entrar no carro, ele me dá um tapa na bunda e sorrio. Quando
entramos cada um em nossos respectivos veículos, Estefan dá partida e Jacob sai
logo atrás.
Ninguém disse que casamento seria fácil, mas sempre ouvi que temos
que lutar pelo que amamos, mesmo que seja difícil as vezes.

Fim
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus por sempre estar comigo em todas as
conquistas e todos os momentos difíceis também.
Obrigada a Editora Angel por me apoiar desde o início.
Também tenho que agradecer as leitoras do Wattpad que tornaram esta
série completamente especial. E as meninas do grupo no Facebook e WhatsApp
também.
Cláudia Pereira, obrigada por cada dica que tem dado para esta série e
pelo apoio constante.
Betas Liziara e Beatriz, obrigada. Além de grandes amigas, vocês são
excelentes fontes de inspirações para a série Escobar.
Wesley Ferraz, caro marido, merece estar aqui também, já que vive me
ajudando quando o assunto é carro em cena, mesmo me deixando louca pedindo
atenção.
Obrigada a você que está lendo também, está tornando este conto ainda
mais especial.
Biografia

Deby Incour nasceu em Guarulhos, na Grande São Paulo.


Apaixonada por livros, escreveu seu primeiro em 2014, que foi publicado pela
Editora Angel. Desde então, nunca mais parou. Os livros fazem com que ela se
sinta em um mundo mágico, onde existe tudo que se pode imaginar. Em 2016 foi
best-seller na Amazon brasileira, com o livro “Meu advogado”; e isso foi para
ela uma imensa conquista.
Editora Angel
VISITE O NOSSO SITE
WWW.EDITORAANGEL.COM.BR
Table of Contents
Nota da autora
Dedicatória:
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Catorze
Quinze
Dezesseis
Epílogo
Agradecimentos
Biografia
Editora Angel
Copyright © 2020 Deby Incour
Copyright © 2020 Editora Angel

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser reproduzida ou
transmitida por qualquer forma, meios eletrônico ou mecânico sem a permissão por
escrito do Autor e/ou Editor.
(Lei 9.610 de 19/02/1998.)
1ª Edição

Produção Editorial: Editora Angel


Capa e projeto Gráfico: Débora Santos
Diagramação digital: Débora Santos
Revisão: Carla Santos

TEXTO REVISADO SEGUNDO O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DA


LÍNGUA PORTUGUESA.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.

FICHA CATALOGRÁFICA FEITA PELA EDITORA.


Sumário:
Nota da autora
Dedicatória:
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Quatorze
Quinze
Dezesseis
Epílogo 1
Epílogo 2
Agradecimentos
Biografia
Editora Angel
Nota da autora

Estes livros alguns são contos, outros novelas e


alguns noveletas, sim, eu não tenho equilíbrio.
Pois bem, todos os assuntos policiais, leis, etc.,
tratados em toda a série, são pesquisados e muitas
vezes colocados de uma forma prática, leve ou
misturada a ficção.
E mais uma coisinha importante: mesmo que
seja uma série onde cada livro conta a história de
um personagem, todos se ligam de alguma forma e
ler fora de ordem vai acarretar spoilers
indesejados e confusões em algum momento. Por
isso, aconselho que leiam na ordem correta.
Dedicatória:

Para todos que fizeram dessa série especial.

Bia a Lizi, vocês me deixaram louca com suas ideias, mas seguraram as
pontas comigo e fizeram essa série chegar até aqui.
Um

Joseph Escobar

Anos antes...

O trânsito está um inferno. Tudo parado. Não tem a mínima


escapatória. Alguns carros buzinam. Provavelmente deve ter tido algum
acidente à frente.

Meu celular toca. O nome dela aparece na tela.

— Oi, meu amor — digo ao atender.

— Joseph, onde está? Estamos te aguardando. — Sua voz está aflita.

— No trânsito, amor. Saindo desse caos, em dez minutos chego à


fazenda. Podem começar a comer sem mim. Pelo visto vai demorar aqui.

Abro o vidro para entrar ar. O ar-condicionado deu problema, e não


tive tempo de levar o carro para arrumar isso.

— Se cuida, amor. — Está preocupada.

— Paula, aconteceu algo? Está estranha.

— Não. Apenas estou preocupada com você que não chega logo. Mas
agora sei que está bem. Estava demorando demais...
Sorrio.

— Não precisa se preocupar, amor.

— Você está sem segurança, isso me preocupa. Sua teimosia me


preocupa.

— Não se preocupe tanto que dá rugas.

— Joseph, falo sério!

— Daqui a pouco chego. Te amo.

— Também te amo. Beijos.

Desligo.

Coloco o celular no bolso da calça, e pego meus óculos de sol no


banco ao lado e coloco no rosto. O calor e o sol estão demais!

Fico tamborilando os dedos no volante, para passar o tempo.

Os carros começam a buzinar mais, e olho para ver o que é. Motos


começam a vir de vários lados. Porra, era só o que me faltava agora!

Uma moto surge na lateral que estou. Não tenho tempo de fechar o
vidro do carro, que é blindado, porque outra moto encosta e o delinquente
encosta a arma na minha cabeça.

As outras motos assaltam os carros à frente.

Tento manter o máximo de calma. Não posso pegar a arma embaixo


do banco, ou ele pode fazer merda, e tem pessoas demais ao redor para
causar um tiroteio. Todos os motoqueiros estão armados. Retiro meus
óculos e jogo no banco ao lado.
— Passa tudo, filho da puta! — ele grita.

Retiro o relógio e anel, entrego a ele.

— Não pense em olhar, vai passando tudo sem olhar! — ele pede. —
Carteira! Vai, vai! — Está nervoso. — Esse caralho tem que parecer um
assalto! Vai, porra!

Que merda ele está querendo dizer?

A outra moto está encostada no vidro do passageiro, o qual está


fechado.

Pego a carteira e entrego a ele.

— A aliança, passa a aliança, porra!

Retiro minha aliança, e entrego a ele também.

O outro motoqueiro bate a arma com muita força no vidro do


passageiro, mas não quebra, é blindado.

— Abre essa porra! — o que está ao meu lado grita.

Abro o vidro do passageiro. Respiro fundo. Isso não vai acabar bem.
Para que esse cara quer o outro vidro aberto, porra?

— Sabia que era você. Carro blindado, Juiz Escobar? Achou mesmo
que isso te ajudaria? — O outro motoqueiro ri. — Valeu a pena seguir cada
passo seu, desgraçado!

— Eu não achei nada. Já dei tudo o que queriam!

Mantenho a calma. Qualquer passo em falso posso causar algo grave.

— Quem diria que um dia estaria cara a cara com filho da puta que
fodeu a vida do meu pai e da minha família.

Tento virar o rosto para ele, mas o que mantém a arma na minha
cabeça impede.

— Não sabe o que está dizendo! — digo.

— Eu prometi ao meu pai que um dia encontraria você, na terra ou


no inferno. Só não contava que o diabo me ofereceria um dia maravilhoso
como este. Todos vão pensar que foi apenas um assalto no trânsito — ele
gargalha. — Tudo tão bem planejado. Estamos vigiando seus passos há
semanas.

Meu celular começar a tocar. Porra, justo agora?!

— Vocês já têm tudo o que queriam.

— Sai daqui. Vai, porra! — ele exige e o que mantinha a arma em


mim sai rapidamente com a moto.

O outro vira a moto e sai.

Encosto a cabeça no banco e respiro fundo. Fecho os olhos e deixo o


ar sair.

Coloco a mão no bolso para pegar o celular.

— No inferno, a gente se vê novamente! — É tudo o que escuto, antes


dele atirar.

Minha mão automaticamente vai para o local atingido. A dor é forte.


Queima muito. Meus lábios estão entreabertos. Olho para os meus dedos,
repletos de sangue, assim como minha camisa branca. O celular em meu
bolso toca sem parar. Não tenho força para pegá-lo.
Preciso de ajuda...

Não consigo me mover. Tento pressionar o ferimento, mas não tenho


forças. A dor está forte demais. As lágrimas escorrem por meu rosto. Não
consigo nem gritar. Um formigamento atinge minhas mãos. Meus lábios
estão tremendo, assim como minhas mãos.

Eu preciso ser forte. Minha família precisa de mim.

Meu Deus, me ajuda!

Viro lentamente o rosto para o lado, o trânsito continua. As pessoas


estão fora dos carros, conversando, parecem nervosas. Algumas olham
para mim, assustadas. Sinto o suor escorrer. O celular não para de tocar...
ele não para.

As motos foram embora.

Preciso de ajuda...

O silêncio se faz em meu celular.

— Levaram nossos celulares! Como vamos pedir ajuda?! — alguém


grita.

Eu quero dizer que tem no meu bolso, mas não consigo. Merda!

— O meu não levaram. Eu escondi assim que vi. Vou chamar a


ambulância, polícia, o que for necessário! — outra voz grita.

Alguém se aproxima do meu vidro e diz:

— Vai ficar tudo bem... Ah, droga, é o juiz Escobar. Meu Deus! Vai
ficar tudo bem. Estão pedindo socorro — é uma mulher que diz
desesperada. Mas eu não consigo dizer nada, e nem me mover.
Aquele filho da puta, eu devia esperar que ele não iria sair daqui sem
fazer nada. Veio vingar o pai que condenei a anos de prisão, um chefe da
máfia, que acabou morrendo dentro da prisão.

Ser juiz criminal, não faz de você apenas um herói para alguns, ele
faz de você um alvo, e você nunca sabe quando será atingido.

Eu preciso dizer a minha família que amo eles, que vão ficar bem... Eu
preciso dizer ao menos um adeus. Eu preciso! Não posso partir, como meus
pais e meu velho amigo Joel, que não puderam me dizer adeus.

Eu não vou viver. Não vou!

Paula precisa saber que ela vai ficar bem e que ela precisa continuar
lutando por nossa família. Ela precisa continuar lutando por si mesma...
Precisa continuar sorrindo... Eu tenho que dizer isso.

Eles precisam saber que vai ficar tudo bem, mesmo que aqui eu não
esteja. Meus filhos precisam saber que eu tenho orgulho demais deles...
Minha menina Daiane, não irei vê-la se formar, e não verei meu David ser
um delegado... Marcos, meu irmão, vai perder mais uma pessoa que é
sangue do seu sangue, ele não merece. Henrique terá de ser forte por todos,
ele vai conseguir, vai trazer alegria, mesmo que chorem.

Eu não vou viver. Não vou!

A dor começa a ficar longe, assim como as vozes ao redor.

Um flashback começa a passar na minha memória, e sorrio


fracamente, revivendo cada momento importante para mim... Até minhas
vistas começarem a escurecer e tudo ficar calmo... Tranquilo.
Dois

Paula Escobar

Dias atuais...

Escobar, se você não sentiu um tremor ao ser citado este


sobrenome, então você não o conhece.

Minha família é composta por homens e mulheres que dão sua


vida para salvar a vida de outras pessoas. Temos o poder em nossas
mãos, mas também temos o perigo na mesma medida. E é desta
forma que venho vivendo nestes longos anos sendo a matriarca
deste clã.

Observo o retrato do Joseph diante da mesa amadeirada de


seu escritório em casa. Sorrio.

— É, conseguimos. Casamos todos os nossos filhos, e até o


abestalhado do Marcos, que achávamos que daria tanto trabalho
por seu jeito arrogante, mas acabou que virou um pai babão e um
marido ciumento. Sei que de alguma forma, de onde quer que
esteja, está olhando por nós, e nos dando a força necessária que
precisamos. — Acaricio sua imagem sorridente. — Agora é somente
paz neste coração aqui.
Faz bons meses desde que minha última companheira de casa,
casou-se. Daiane, minha filha mais nova, se entregou ao amor, assim
como seus irmãos e tio. Cada um em sua casa, vivendo sua vida.
Claro que ainda cobro que tenhamos ao menos um dia da semana
juntos, e mesmo contra a vontade deles, às vezes, comparecem.
Tudo está se encaixando nos eixos, a não ser a dor que nunca vai se
apagar pela morte do Joseph. Sempre soubemos que nunca foi
apenas um “arrastão” – assalto – no trânsito, sempre pensamos que
foi muita coincidência, ele condenar a anos de prisão um grande
mafioso, e todas as perseguições triplicarem naquela época, e com o
passar do tempo, o pior vir a acontecer. Mas vivemos em um círculo
sem escapatórias; quando um problema desta proporção surge, a
melhor coisa é se calar, se fazer de cego, mesmo que seja
imensamente dolorido, pois mexer em algo assim, com grandes
investigações, pode acarretar em mais perdas, e não estamos
preparados para isso, e foi assim que toda a família usou seu poder
e abafamos o caso, mas dentro de nós... dentro de mim, sempre irei
acreditar que foi tudo planejado e que nada foi por acaso, mas tento
sempre deixar esse pensamento de lado, como eu sei que ele faria,
para proteger a família de pessoas que queiram se vingar por
estarmos mexendo em um passado que não deve retornar. É melhor
buscarmos a paz mediante a tudo.

— Mããããããeeee, o príncipe chegou.

E lá se foi a paz que tanto disse.

— No escritório! — grito de volta.

Sou surpreendida por dois dos meus filhos, Henrique, o que


gritou, e David.
— Aconteceu — Henrique diz.

— Aconteceu o quê? Por que essas caras? Meninos, sabem que


sou cardíaca.

— Primeiramente a senhora não é! — David rebate. — E


segundo, como pode esquecer o que aconteceria hoje?

Começo a buscar em minha memória, e então me levanto


rapidamente da cadeira.

— O julgamento mais importante. Como pude esquecer-me? —


Levo a mão ao peito.

Bom, está quase tudo calmo. Por ironia do destino, após anos
do julgamento na qual Joseph como juiz condenou o maldito
mafioso, e o infeliz foi morto na prisão, já era de se esperar que ele
tivesse herdeiros e foi o que aconteceu. O herdeiro dele, que
ocupava o lugar do pai, foi encontrado após tempos de trabalho
árduo da polícia, e hoje foi seu julgamento, e é aí que entra a ironia.
Anos atrás, o pai foi sentenciado a anos de prisão por meu falecido
esposo Joseph Escobar, e hoje o filho dele é sentenciado pelo irmão
do Joseph, o Marcos Escobar.

— E agora? Céus, que não comece tudo de novo. Não agora.

— Código vermelho — Henrique diz e se senta na cadeira


estofada.

— Que diabos é isso, garoto? — questiono.

— Sempre quis falar isso — responde sorrindo.

— O que o imbecil quer dizer é que a segurança a partir de


hoje será triplicada em nossas casas, e nossos homens vão ter
treinamento pesado, assim como nós, e a estratégia de equipe será
refeita duas vezes por semana, para não ter brechas — David
informa em seu tom sério. Meu filho é sempre muito responsável
quanto a segurança de todos. Não apenas por ser um delegado, mas
por entender que não podemos perder mais ninguém. Porém, sinto
que nada é perfeito e tudo pode acontecer.

— Faremos uma reunião hoje com todos da família —


Henrique comenta.

— Certo. Que Deus nos proteja... — digo e olho para a imagem


de Joseph no porta-retratos.

Estamos reunidos na sala de casa. Todos da família, menos as


crianças que estão com a dona Jurema e Marcela, no jardim.

— Foram anos desde a época do papai que vivemos em


constante alerta. Já deixamos brechas para nossos inimigos, e já
estivemos em risco em algum momento a ponto de pensarmos que o
pior aconteceria. Mas hoje não somos apenas a matriarca do clã
Escobar, e seus filhos, junto de seu cunhado. Temos membros
novos, e dentre eles, crianças que não podem se defender sozinhas.
Não é tempo para brincadeiras, ou teimosias. É tempo de sermos
unidos e confiarmos apenas em nós mesmos. O atual chefe da máfia
brasileira com interligação russa e italiana, foi condenado a muitos
anos de prisão por um de nós, e sabemos o resultado de mexer com
um deles — Henrique fala parado ao centro da sala. Seu tom é muito
sério, e meu filho sem brincadeiras é porque a situação é
complicada.

Marcos leva as mãos ao bolso e para ao lado do Henrique e do


David.

— Não confiem em ninguém além da família. Não saiam sem


seguranças. Não sejam heróis — Marcos avisa em seu tom
autoritário. — Talvez sejam tempos sombrios, então está na hora de
voltarmos ao que um dia fomos. Está na hora de sermos apenas os
Escobar, e não mais os membros da Lei que são apenas destacados
por suas famílias e belezas. É hora de usufruirmos novamente dos
poderes que adquirimos ao longo dos anos.

Nós mulheres estamos fazendo treinos de luta corporal e aulas


de tiro. Bom, irei começar essa semana. Já sei atirar, mas nada como
reaprender algumas coisas. Nunca gostei de ter que usar uma arma,
mas pela minha família sou capaz de tudo.

— David, eu não posso ficar com seguranças dentro da


faculdade. Assim como a Beatriz também não pode ter homens de
preto na sua cola dentro do banco ou a Paula, Ana e Daiane terem
gente seguindo-as a cada audiência, julgamento... Isso é loucura. Eu
compreendo tudo isso, mas é absurdo. Além do mais, tem a tia da
Bia, a avó do Jacob, e não podemos esquecer da Sophie que estuda, a
Yasmim que começou a ir à escolinha, as babás das crianças... É
loucura. O que será da gente se tudo dependermos de segurança ou
vocês? — Liziara diz ao esposo, e entendo seu ponto, mas também
sei que, pela cara do meu filho, não existem discussões.

— Liziara, se eu tiver que colocar segurança dentro do


banheiro que usarem, será feito. Não estamos abertos para
discussões quanto a isso. A partir de hoje teremos milhares de olhos
em nós, queiram vocês ou não. Aprendam a lidar com isso, se
adaptem. Todos aqui sabem o preço que é ser um Escobar, ou um
Casagrande como o Jacob, que tem ficado com casos complicados e
graves como promotor. Não temos escolhas.

— Gente, é loucura tudo isso... Dentro de casa é tanto


segurança, membros novos na equipe, isso não é vida — Ana Louise
fala e sinto o peso da tristeza em sua voz.

Eu sei exatamente o que elas sentem. Passei por tudo isso, e o


pior que no final, por uma teimosia do Joseph que deixou brechas, o
perdemos. O pior de tudo é saber que, às vezes, o esforço não vale a
pena.

— Eu estou com medo — Beatriz declara o que todos nós


estamos sentindo, mas não queríamos falar.

— Todos nós estamos, mas vamos passar por isso. Porra,


somos os Escobar! — Daiane diz e Jacob, seu esposo, a olha. —
Somos Escobar e Casagrande, ninguém vai cair, e se isso acontecer
vamos todos juntos, porque seremos um só.

— Daiane tem razão. Precisamos ter a esperança de que tudo


vai dar certo, ou não sei o que pode nos acontecer — falo e eles
concordam.

Meu celular toca e é uma mensagem que me deixa bem


surpresa. Peço licença a todos e vou até a biblioteca.

“Paula, estou de volta à cidade. Pensei em sairmos para jantar


esta noite. Me ligue.

Alessandro.”

Alessandro Santos é um professor e amigo do Jacob que


conheci no meu aniversário em uma boate e desde então estivemos
próximos em alguns eventos. Mas desde o casamento da Daiane não
nos vimos mais. Achei que poderíamos nos conhecer melhor, mas
tudo indicava que ele estava a fim da tia da Beatriz, porém ele
sumiu e descobri através do Jacob que ele havia ido para os Estados
Unidos, estranhei sua partida repentina, mas estou achando ainda
mais estranho seu retorno e convite.

Respondo sua mensagem recusando ao convite. Hoje só


preciso curtir minha família, ainda mais depois desta notícia. Já
basta um drama para hoje, não preciso de outro tipo, com um
homem que some do nada. Cada segundo de agora em diante conta
ao lado daqueles que amo.

— É ele, não é? — sobressalto com a voz da Daiane, que entra


na biblioteca.

Concordo com apenas um sinal de cabeça.

— Jacob falou que ele voltou há uma semana e já está dando


aula na universidade novamente. Mãe, eu sei que sempre digo que
está na hora da senhora recomeçar e procurar ter o seu final feliz,
mas cuide do seu coração, não se deixe levar precipitadamente.

— Não se preocupe, meu bem, está tudo bem. — Eu acho.


Ela sorri e, quando se vira para sair, eu a chamo e ela volta a
me olhar.

— Como está?

— Bem.

— Certeza? — Conheço muito bem meus filhos. Sei quando algo


está os incomodando.

— Mãe, é pecado meu esposo e eu não querermos filhos? Poxa,


não aguento mais essa cobrança da mídia, das pessoas. Que inferno!
Já é um trabalho tremendo conseguirmos dar atenção a Sophie da
forma que ela merece, e olha toda essa merda que vamos viver
agora, e as pessoas olham para mim como se eu fosse minhas
cunhadas ou a Beatriz. Eu não sou elas. Eu não quero ser elas. Mas...

— Se acalme, querida. Não tem que ser igual a ninguém. Seja


você, apenas e exclusivamente você. Não é pecado você e o Jacob
não desejarem ter filhos, afinal, Sophie, por mais que seja filha dele,
tem você como mãe, até mesmo lhe chama de “mamãe” às vezes.
Vocês três já são uma linda e pequenininha família, e não tem nada
de errado nisso. Quando olho para você, vejo uma mulher forte,
determinada, mas com um coração caridoso, humilde e cheio de
amor para dar, e é isso o que importa. Não dê ouvidos ao que as
pessoas dizem. Afinal, ser uma promotora com o seu talento já é um
intenso trabalho, não tem obrigação alguma de colocar outra linda
criança no meio dessa vida intensa, até porque Jacob também é um
maravilhoso promotor, que tem se destacado cada dia mais com
casos grandes. É uma barra pesada demais para dois jovens
carregarem, e estão dando conta, como talvez eu no seu lugar não
daria. Então façam apenas o que tiverem vontade, é um direito de
vocês.

Ela pisca rapidamente. Sei que está se controlando para não


chorar. Minha menina não suporta desmoronar assim.

— Obrigada, mãe. Era tudo o que eu precisava ouvir.

Saímos da biblioteca e nos juntamos com todos na sala e agora


com as crianças também.
Três

Alessandro Santos

Retornei ao Brasil e voltei a dar aula de filosofia na


universidade. Nunca fui de ficar parado em um só local, mas estava
gostando de ficar aqui, porém, desta vez, se fez necessário a minha
ida para os Estados Unidos. As coisas meio que fugiram do controle
e não pude deixar de interferir o quanto antes e dar apoio a quem
precisava.

Quando cheguei tive esperança de falar com a famosa Paula


Escobar, que conheci em uma boate uma vez, e ficamos próximos
depois em alguns eventos, afinal, ela era a sogra de um conhecido,
que se tornou amigo. Eu queria tentar arrumar um modo de
explicar que não queria brincar com ela, como todos devem estar
pensando. Apenas nunca tive um relacionamento sério, e não
pretendia ter, até pagar com a porra da própria língua, e começar a
me interessar muito mais por ela, mas, ao que parece, virou uma
grande confusão; uma outra mulher entrou na jogada, e pelo que
fiquei sabendo, estão achando que joguei com ambas. Caralho, por
isso não me relaciono, é um rolo dos infernos! E agora que estou
tentando explicar um pouco da situação, ela me evita, negando o
convite para jantar e as ligações que fiz ontem, horas depois. Odeio
assuntos mal resolvidos.
— Professor, só mais dois pontos. Eu não posso pegar DP! —
Celma implora e me contenho para não rir.

— Não sou Deus para fazer milagres. Teve muito tempo para
estudar. Sabe que não sou do tipo que dá segunda chance.

Ela bufa irritada.

— Como pode ser tão ruim às vezes? Sempre brinca, xinga na


sala de aula, mas na hora de ajudar um aluno com as notas se
recusa.

Ergo o olhar dos papéis em minha mesa e sorrio.

— Quem tem que fazer notas altas são vocês e não eu. Eu já
passei desta fase, e hoje sou reconhecido como um dos melhores
professores de filosofia, e estou aqui ensinando a vocês. Agora, se
não se esforçam, o problema é de vocês. Não posso pegar a matéria
e socar no cérebro de cada um. Já viu o tamanho desta universidade
e do tanto de alunos que tenho? Se eu for ajudar cada um que não se
preocupa com estudos, estou ferrado. Aqui não é mais o ensino
fundamental, que precisam de babás e não professores.

— Que ódio! Eu vou morrer odiando filosofia.

— Ainda bem que é a matéria e não eu.

Ela me olha irritada e sai da sala.

Porra, amo dar aulas, sou apaixonado pela filosofia, mas tem
horas que meus alunos testam a minha humilde paciência. Sou tão
bom, e tentam abusar disso. É foda!

Pego minhas coisas e saio da sala. Celma me prendeu por


muito tempo implorando por mais dois pontos em seu teste. Até
parece que eu daria! Se dou moleza, montam em cima. Quantas
vezes em aula, ela ficava fazendo gracinhas. Não são mais crianças
que têm que ficar pegando na mão e ensinando o bê-á-bá.

No corredor rumo à sala dos professores e coordenação, dou


de cara com outro aluno meu.

— Professor...

— Se for pedir pontos, eu soco minha cara; e se me achar louco,


soco a sua. — Ele ri.

— Não! Estou com uma dúvida.

— O dia que vocês não tiverem, eu não precisarei trabalhar.


Então, diga.

— O trabalho é para enviar no e-mail e trazer impresso


também? — Coça a cabeça.

— Não. Já tenho preguiça de ler o trabalho de vocês por e-mail,


que é tudo copiado e colado da internet, imagine impresso. Aí é pra
foder comigo!

Ele ri.

— Por isso gosto de você, é sincero e fala sem formalidades.

— Não me agrade, não terá nota a mais no trabalho.

— Nem pensei nisso.

— Bom, garoto. Agora tenho que ir. Um minuto a mais aqui, e


eu me mato.
— Eu já vou. Vim pegar um livro que esqueci. Fui.

Ele sai em disparada para a biblioteca. Tenho certeza de que


este livro é para o trabalho que pedi para ser entregue amanhã.
Essas pestes gostam de fazer tudo de última hora.

Passo na sala dos professores, converso com alguns e depois


vou na coordenação para registrar minha saída.

Desde que me mudei para a capital, estou mais relaxado. Não


aguentava mais ficar na antiga cidade, aqueles alunos iriam causar
minha morte. Não tenho filhos, mulher, ou familiares por perto,
então não tinha mais o que me prender naquele lugar. Tenho um
irmão mais novo e ele mora fora do país, e nosso contato é limitado,
devido ao nosso tempo corrido e outras coisas. Nunca parei por
muito tempo em um lugar por escolha própria... Até agora. Sou
muito disputado quanto a professor, e porra preciso me gabar,
como homem também sou, não é à toa que estou enfiado em um
rolo com duas mulheres, sendo que com uma era apenas
tratamento recheado de educação e simpatia, afinal, sempre fui
assim, confesso que tem vezes que sou menos paciente do que
deveria.

Chego em meu apartamento e vou direto para o banho. Desde


que retornei para a cidade, estou chegando tarde. Estou ficando
muito cansado mentalmente. É muita pessoa testando minha
paciência diariamente.

Saio do banho e visto uma cueca e vou para a cozinha.

— Senhor?
— Puta que pariu! Mulher, quer me matar? Parece um
fantasma, cacete! — Irene me olha assustada.

Esta mulher me acompanha há muito tempo. Para onde vou


carrego-a. Ela é sozinha, e isso facilita minha vida.

— Quer que eu prepare algo?

— Não. Eu me viro aqui. Vai dormir, antes que fique parecendo


uma vovó de cem anos e eu seja denunciado por maus-tratos.

Ela sorri envergonhada.

— Adoro trabalhar para o senhor. Não me importo. Agora que


fica o dia todo fora, quase não tenho o que fazer.

— Arrume um namorado. Se quiser te ajudo — provoco.

— Não. Por Deus, senhor. Não tenho mais idade para isso.

— Tem desejos sexuais, Irene? Se tiver, a idade que se dane! —


Fica completamente corada e tenho vontade de rir, mas me
controlo.

— Ai, senhor, não tem jeito mesmo.

— Irritam a minha pessoa de segunda a sexta-feira e, às vezes,


ao sábado, então preciso irritar alguém para relaxar. — Ela sorri. —
Vai dormir. Sei que estou muito atraente apenas de cueca, e que
tenho um volume desejável na frente, mas estou cansado demais
para te satisfazer.

— Senhor Alessandro! — me repreende envergonhada e rio.

— Sabe que estou brincando. Vai dormir.


— Está bem. Com licença. — Ela se retira e vai para seu quarto.

Abro a geladeira e pego um pouco de salada de frutas que ela


deixou pronta. Estou tão velho ou com a saúde ferrada por
completo, que ela fica preparando coisas saudáveis o tempo todo?
Pelo amor de Deus! Essa mulher precisa rever o cardápio.

Termino de comer, apago as luzes e vou para o quarto, e deixo


apenas um abajur aceso. Deito-me e começo a relaxar. Eu preciso
sair para me distrair, ou vou ficar louco. Pego o celular e talvez eu
tente ligar mais uma vez.

Paula Escobar

Hoje tive duas audiências. Não gosto de audiências que


envolvem crianças. Terminou por volta das seis da tarde a última.

Visto uma legging preta, e uma regata da mesma cor, junto de


uma blusa de moletom cinza. Está frio, para meu azar. Quem tem
ânimo para treinar no frio, merece um prêmio. E para minha
“sorte”, meus treinos começam hoje. Prendo os cabelos em um rabo
de cavalo. Calço o tênis e desço para o primeiro andar. Pascoal, meu
segurança pessoal, já me espera.

— Vamos, antes que eu me arrependa — informo e ele sorri.

Seguimos para o lugar que fica meia-hora de casa sem o


trânsito, pois com ele vira uma eternidade. As meninas me ligaram
dizendo que estão à minha espera. Apenas Daiane e Ana que vão
faltar hoje, devido ao trabalho.
Meu celular começa a tocar e é o Alessandro, mas ignoro as
chamadas. Não sei se estou preparada para começar tudo isso de
novo, vê-lo depois do tempo que ele sumiu, e não sei se estou pronta
para recomeçar, sem pensar sempre no meu Joseph.

Ele envia uma mensagem agora. Abro e ele questiona se


podemos jantar hoje. Que precisamos conversar.

Respiro fundo.

Ele não vai desistir enquanto eu não falar com ele. Concordo, e
ele pergunta que horas pode me buscar, e falo que eu irei até ele,
para me enviar o endereço do local, que assim que eu sair do meu
compromisso informo que horas poderei ir ao jantar.

Chegamos no lugar e vejo o Simon, segurança do Marcos e


Beatriz, no estacionamento; ele faz um cumprimento rápido e
Pascoal vai até ele. Entro mostrando minha carteirinha na catraca,
pois já reativei meu acesso ao local.

Sou informada de onde as meninas estão e vou até elas.

Entro e tem dois instrutores muito fortes, praticando luta


corporal com elas. Liziara é jogada no chão com colchonetes, e
Beatriz é rendida por trás pelo outro instrutor.

— De novo! — um deles grita.

Eu não vou fazer isso. Elas sabem que na minha idade, uma
travada na coluna já era.

— Paula! — Bia diz ofegante e se afastando do homem que a


mantinha presa em seus braços, estou desconfiada de que Marcos
não viu nenhum treino, ou teríamos um problema, já que ele
colocaria o mundo abaixo.

— Oi!

— Olhe só, família completa. Uma honra poder ensinar vocês.


Sou Laerte e este é Frederico — o homem que derrubou Liziara diz.

— Sou a Paula, e não sei se quero participar. — Olho as


meninas suadas, vermelhas. Havia me esquecido do quanto eram
pesados esses negócios.

— Relaxa. Elas estão mais à frente, mas com você


começaremos do início — Frederico se manifesta.

Deixo minha bolsa ao lado da delas.

— Ok.

— Pode usar o Laerte, porque não acredito que conseguirei me


levantar tão cedo daqui — Liziara diz respirando forte.

— Que conforto, minha nora. — Ela ri.

— Preciso de pausa também. Estou dolorida, e sem fôlego —


Bia diz se deitando no colchonete também.

— Parem de ser moles, meninas! Mas daremos uma pausa.


Paula, que tal vermos o que sabe? Fomos informados de que já fez
treinos.

— Sim. Mas faz um tempo.

— Não tem problema. Queremos apenas ver o que sabe, mas


vamos começar totalmente do início. No mais, tente não se matar —
informa Frederico, o mais forte e de olhos azuis; mas o outro
também tem. Estou com tanto medo que até na cor dos olhos estou
reparando para não pensar tanto no que vou fazer.

— Chega! — falo e Frederico se afasta.

Liziara e Beatriz riem.

— Paula, quem diria! Você é uma mulher perigosa. Derrubou


Laerte, e se manteve em pé com Frederico — Liziara comenta rindo
do Laerte no chão.

— Tenho que concordar — Beatriz comenta levantando-se do


chão.

— Bom, leva jeito para algumas coisas como derrubar o


frangote ali, mas para outras tem falhas, porém vamos começar do
zero.

— E por hoje é só, não é? — Eles riem. Laerte, o loiro, se


levanta.

— Sim. Precisamos saber como seria com você. As meninas já


torturamos muito.

— Tenho uma dúvida. Vocês são instrutores de tiros também?

— Sim! — Liziara responde e gargalha.

— No que eu fui me meter? Meu Deus, sou cardíaca! — Todos


riem. Eu mereço!

Pascoal, Alex e Simon estão na porta à nossa espera.


— Certo, Simon, você segue no meu carro. Alex e Pascoal
seguem no da Paula. E nós iremos no da Liziara. Precisamos de um
tempo juntas, sem vocês ouvindo cada assunto — Beatriz declara.

— Olha só, aprendendo a ser autoritária como o Marcos. Isso


merece uma comemoração — Lizi brinca, deixando Beatriz
vermelha.

Sorrio.

— Vamos, meninas. Ainda não acredito que fiz isso. Vocês vão
acabar comigo.

— Vamos nada, Paula — Beatriz diz sorrindo.

Estou sentada na frente ao lado da Liziara, que dirige. Beatriz


está no banco de trás. Olho pelo retrovisor, e vejo os dois carros dos
seguranças seguindo o nosso.

— Eu quero banho, cama e nunca mais vir para isso — Beatriz


fala.

— Nem me fale. Quando penso que estou avançando, eles me


fazem retornar dois passos — Liziara comenta atenta a avenida.

— Eu fiz uma vez e já quero me trancar no quarto e chorar —


brinco.

— Nossa, nem me fale. Pensei que iria ficar mais tranquilo com
o tempo, mas que nada! Faculdade de manhã, treinos à tarde,
trabalhos, David e as meninas à noite. Vou endoidar. Mudei os
horários de tudo, mas não adiantou. A babá ajuda, mas não alivia
tanto, porque as meninas querem sempre minha atenção e quero
dar a elas.

— Não endoida não. Se consegue aguentar um Escobar em


casa, então consegue tudo — comento e acabamos rindo.

Da minha casa para o local do treino é meia hora, mas para


retornar demora mais, devido ao fato de muitas ruas serem
contramão, então temos que pegar a avenida, uma parte da rodovia,
e cortar por dentro para sair no centro e voltar para casa. Quando
penso que vão melhorar a cidade, quem a comanda só complica.

Ficamos conversando para matar o tempo, já que para


complicar uma chuva forte iniciou assim que pegamos a rodovia, o
que resultou em lentidão no trânsito.

Meu celular toca e é o Pascoal. Olho pelo retrovisor,


preocupada, e vejo o meu carro que ele está junto do Alex.

Atendo.

— Senhora, não achamos certo ficar aqui nesse trânsito para pegar a
saída lá na frente. Vamos mudar a rota. Saiam pela primeira à direita, e
sigam em frente. Estamos logo atrás. Assim que saírem, eu irei seguir na
frente de vocês, e o Simon vai ficar atrás. Não tem como continuarmos
seguindo assim.

— Certo. Vou avisar aqui.

Desligo.

— Lizi, pegue a primeira saída à direita. Simon vai seguir atrás,


e Pascoal vai a nossa frente. Estão achando perigoso ficar aqui e
realmente está. Pouca iluminação, chuva forte. Melhor prevenir.
— Tudo bem — Liziara diz.

— Nossa, vamos dar uma volta. Indo por aqui, vamos seguir
sentido ao escritório do Marcos, que é bem no centro, e de lá vamos
ter de cortar sentido à delegacia, para ir para casa. Hoje não é o
nosso dia — Beatriz declara.

— Não. Literalmente não é. Alguém mais com fome? — Lizi diz


e acabamos rindo.

— Eu não gosto de andar por onde não conheço — declaro.

— Nem me fale. Nunca vim por aqui. Vou literalmente segui-los


— Liziara comenta.

— Eu já vim por aqui. Marcos corta por aqui, quando não quer
pegar trânsito, mas ele não é fã de passar aqui à noite.

— Que conforto, Beatriz! — Liziara reclama e sorrio.

Liziara pega a saída à direita, e é cheio de curvas e matos.


Agora entendo por que o Marcos não gosta.

Pascoal corta nossa carro, ficando a nossa frente e piscando o


farol, enquanto Simon permanece atrás.

O celular da Bia toca e ela diz ser o Simon.

— Está no viva-voz — ela fala.

— Bom, não queremos preocupá-las, mas pedimos para sair, porque


tem quatro motos estranhas que estavam na nossa cola e olhavam muito
para o carro do Pascoal, que seria o da senhora Paula. Por favor, fiquem
atentas a qualquer sinal nosso.
— Essa noite pode melhorar? — Liziara declara irônica.

Olho pelo retrovisor e vejo faróis atrás do Simon, e um aperto


se instala no meu coração. Meu Deus!

— Senhoras, estão nos seguindo. É oficial. Eu vou mantê-las na linha,


e irei chamar o Pascoal pelo ponto. Não desliguem, o contato agora é
fundamental.

— Certo — Beatriz declara e me olha assustada.

Escutamos ele falar com o Pascoal e dar as instruções, para ele


acelerar e cortar na primeira saída à esquerda. Beatriz diz que este
caminho retorna à rodovia e nos leva sentido à fazenda. E ele diz
que sabe e é isso mesmo. Não podemos entrar na cidade porque
pode ser pior.

Uma das motos acelera fazendo um barulho forte. Liziara


acelera o carro e segue o Pascoal.

— O que vamos fazer? — pergunto.

— Vamos manter a calma. Alex vai fazer o procedimento de alerta


máximo, Pascoal pediu a ele. Os senhores Marcos, David, Jacob e Henrique
vão ser avisados. Outros seguranças vão vir ao nosso encontro. Por
enquanto, só podemos agir se eles tentarem algo, ou colocaremos tudo a
perder.

— Caralho! — Liziara grita e olho assustada para ela e depois


para a frente e entendo seu desespero.

— Isso, por acaso, significa que estão tentando algo, Simon? —


indago nervosa.
Mais duas motos saem da saída à esquerda, e fecham o carro
do Pascoal.

— Sim. Senhora Liziara, preciso que confie em mim.

— Nessa hora vem pedir confiança? Fala logo! — ela grita.

Uma moto vem de trás e passa muito rente ao nosso carro.


Beatriz fecha os olhos.

— Não para. A senhora não para! Acelera. Vou chamar a atenção


deles, e quando eu piscar o farol duas vezes seguidas, vai entrar na faixa da
direita e cortar o carro do Pascoal. Não olhe para trás.

— Nos filmes que assisti, quando mandam não olhar para trás,
é porque vai dar merda! — Beatriz fala com a voz tomada pelo
pânico.

Liziara faz o que ele pede, assim que ele da ré em cima das três
motos, e elas jogam para a lateral. Então pisca o farol e ela corta o
carro do Pascoal, e agradeço a Deus por não ter outros carros aqui.
Seriam mais vidas em risco. A chuva intensifica. As duas motos
próximas do Pascoal, agora seguem a nós, e vejo apontarem algo,
mas não preciso ver direito para saber o que é.

— Liziara, joga para a direita agora! — grito e ela o faz.

— Senhora, estão armados. Vão atirar. Acelera. Só acelera. Está


chegando reforço.

— Mais seguranças? Ou a polícia? Eu ficaria com um


helicóptero! — Liziara declara desesperada.

— Não — ele é seco na resposta.


Vejo pelo retrovisor uma moto jogar em cima do carro do
Pascoal e atirar, e o Alex se colocar para fora pela janela e revidar
com tiros também. Simon está cercado e o pior acontece. Tiroteios
disparam para todos os lados. Meu celular e o da Liziara tocam ao
mesmo tempo. Marcos e David estão ligando. Atendemos e
colocamos no viva-voz.

— Não podemos pegar a esquerda, porque vamos para a


rodovia novamente, e vamos colocar todos ali em risco no trânsito.
E o plano de seguir para a fazenda é pior ainda, não temos saída.
Eles não estão para brincadeiras. — Liziara começa a tremer ao
volante.

Merda! Eu já passei por isso com o Joseph e sei bem como é.


Seguro o celular da Liziara e o meu.

— Estão no viva-voz — declaro.

— Certo. Já estamos a par de tudo — David tem a voz firme, está


em seu modo delegado.

Olho para toda confusão e, pelo visto, pode piorar.

— Caralho! Vai, vai! — Simon grita e talvez seja com o Pascoal


ou o Alex no ponto deles.

— Cadê o reforço? Eles vão acabar com a gente. Estão atirando.


Merda! — falo.

— Quem está dirigindo? — David questiona.

— Liziara.

— Merda! Não tem experiência... Porra! — Ele faz um curto


silêncio. — Certo. Não parem. Só não parem. Aconteça o que
acontecer, não olhem para trás.

— Ela pode fazer — declaro. Sei o porquê ele citou a


experiência.

— Mãe...

— Liziara pode e vai fazer essa porra! — Marcos grita.

— O que eu vou fazer? Meu Deus!

— Acelera tudo o que puder, e comece a fazer ziguezague na pista.


Precisa confundi-los. Beatriz e Paula precisam ser os olhos laterais da
Liziara! — David ordena.

— Chegou o reforço! — Simon grita. E a comunicação cai.

— Meu Deus, o que aconteceu? — Beatriz pergunta apavorada.


Ela faz menção de olhar para trás, mas recua.

— Não olhe para trás. Eles disseram para não fazermos isso.
Vai ficar tudo bem — digo e ela concorda.

Liziara começa a “costurar” a pista e em alta velocidade. A


chuva não melhorou. O pneu “canta” a cada deslize.

Esse inferno de novo não.

Meus olhos seguem para o retrovisor à direita, e meu peito


gela. Agora sei quem é o reforço. Olho para a Beatriz e meu olhar
deve ter entregado o meu desespero. Os olhos dela se enchem de
lágrimas.

— Marcos, você mandou ninguém tentar ser o herói — ela diz


com a voz trêmula.

— Eu estava aqui perto — é a única coisa que ele diz.

Uma moto entra na nossa frente e para, mas Liziara não, e


segue em alta velocidade, atingindo-o, fazendo a moto com o piloto
voar, o impacto foi forte e faz o carro ir para a direita e começar a
rodopiar, devido a pista molhada.

— EU PERDI O CONTROLE DO VOLANTE. EU PERDI A PORRA


DO CONTROLE! — ela grita.

— Liziara, larga o volante. Deixa o carro seguir, ele para, confia em


mim, amor! — David grita e sei que é o que ele deseja que aconteça,
porque nem sempre para na melhor circunstância um carro assim,
mas eu desligo sua chamada e a do Marcos, e simplesmente fecho os
olhos.

Elas gritam. Escuto disparos, chuva, motos, o vidro traseiro é


atingido algumas vezes, é blindado, mas é como se não fosse, é como
se cada tiro estivesse nos atingindo. Então escuto um estouro e
sinto um aperto forte no coração.

O nosso carro para próximo a um barranco. Não sei por quanto


tempo ficamos assim. Beatriz começa a chorar de soluçar. Liziara
não chora, ela tem outra fisionomia. Ela simplesmente segura o
volante, testa o carro e começa a dirigir, não se importando com os
disparos que continuam, com as motos que ela joga o carro e atinge,
levando-as ao chão. Beatriz está em pânico. Liziara pega uma saída,
e tenho medo de olhar para trás.

Um carro corta o nosso, nos assustando, mas é o Pascoal, que


pisca o farol. Beatriz solta o cinto e se vira para trás.

— Cadê eles? As motos sumiram. Cadê eles?! — ela grita. —


Liziara, para o carro, eu quero o Marcos.

Resolvo olhar e vejo o carro do Simon vindo atrás... Mas nada


do carro do Marcos.

Liziara começa a chorar. Mas não para de dirigir.

— Eu vi. Bia... Não podemos parar.

— O QUE VOCÊ VIU, LIZIARA?! — Beatriz grita.

— Explodiu. Merda. Eu vi o clarão. Eu vi.

Ligo para o Simon, e ele atende.

— Senhora, apenas siga o Pascoal. Vamos para casa. Essas são as


ordens.

— Simon, cadê o carro do Marcos? Cadê as motos?

— Apenas sigam. Por favor. — Sua voz é fria e ele desliga.

— Liziara, meu anjo, o que você viu? — pergunto tentando ser


calma.

— Eu abri os olhos e escutei o estouro e vi a explosão ao longe


enquanto rodopiávamos. Eu não quis pensar o pior, e por isso
continuei a dirigir. Eu não quis olhar para trás... eu não quis.

— Não. Não... Nããão! — Beatriz berra aos prantos.

Não tenho reação. Apenas sinto as lágrimas caírem.


Estamos sentados na sala. Simon, Pascoal e Alex assim que nos
deixaram em segurança, saíram em disparada.

Liziara chora nos braços do David, e Beatriz é consolada pela


Daiane e a Ana.

Não sabemos o que aconteceu. Simon declarou que quando ele


viu nosso carro naquele estado, ele não viu mais o carro do Marcos,
pois estava atirando contra as motos, e tentando tirar eles do
caminho. Outras motos surgiram e ele começou a distraí-las. O
Pascoal e o Alex cortaram a visão dele, enquanto tentavam derrubar
algumas motos, ou imaginavam que teria acontecido o pior com
nosso carro. Até que viu a explosão no barranco a distância, mas
quando viu nosso carro seguindo novamente, percebeu que
estávamos bem e priorizou o comando do Marcos que era: “Se algo
acontecer, não volte por mim. Salve elas e vão para casa”, e esta foi a
maldita frase que o Marcos disse, após desligar o contato com o
Simon.

Henrique entra com o Jacob. E olhamos com esperança, eles


tinham ido tentar alguma informação, neste longo tempo que
estamos aqui à espera.

— Nada. Tem muita ambulância, bombeiro indo para onde


tudo aconteceu. Não conseguimos falar no celular dele... Por que ele
foi bancar a porra do herói? Ele vai voltar com vida, para eu matá-
lo! — Henrique diz nervoso.

— Eu quero o meu marido. Eu preciso dele! — Beatriz chora


sem parar.

— Não vamos perder a esperança. Está cheio de repórteres no


local. Vou cuidar de abafar isso, porque pode piorar tudo. Os
bombeiros vão nos informar se algum carro foi visto em meio a
explosão. Simon e Luciano estão tentando rastrear o carro do
Marcos, e o Alex e Pascoal estão tentando coletar informações do
que foi tudo isso e quem mandou esses caras. Estefan está rondando
aos redores com mais equipes para ver se tem rastros de algo —
Jacob declara.

— Eu preciso ir. Posso conseguir essas informações mais


rápido — David diz e Liziara concorda. Ele deixa um beijo nela. —
Henrique fique com elas, está muito nervoso. Não precisamos de
dois estourados agora. Jacob, vem comigo.

Eles saem. Liziara olha para o Henrique e ele diz:

— A culpa não foi sua, Liziara.

— E se ele tentou ir nos ajudar quando perdi o controle, e


acabou...

— Não termine isso. Não foi sua culpa! — Ana fala e se


aproxima da Liziara abraçando-a pela lateral.

— Ninguém teve culpa, além dos que estavam na moto. Estão


me entendendo? Ninguém vai se culpar por essa tragédia. Ninguém!
— digo firme.

A porta da sala se abre e todos olhamos. Meus olhos


arregalam.

— Alessandro?!

— Jacob falou que eu podia entrar. Eu vi todo o noticiário, eu


sinto muito... No que posso ajudar?

Essa frase me faz desmoronar, porque agora a ficha


literalmente caiu. A história se repetiu.

Alessandro se aproxima e me abraça, e eu permito. Nessa hora,


não consigo mais pensar em nada.

— Porra, por que ele tinha que ser o herói?! — Henrique chuta
a mesa de centro que voa em direção à parede próxima marcando a
parede e quebrando o vaso em cima dela. Então vai para o chão, e
deita cobrindo o rosto. Ana vai até ele.

— Ele quis ser o herói, porque eu perdi o controle do carro. Ele


quis nos ajudar. Eu tenho certeza. Eu fiz isso a ele. Eu fiz — Liziara
diz e sai em direção à porta da sala, então abre e sai correndo.
Daiane corre atrás dela. Beatriz se senta no chão e leva a cabeça
entre os joelhos e treme enquanto chora. Olho para o Alessandro
que me mantém em seus braços.

— O que eles declararam no noticiário?

— Que foi... — Ele me olha preocupado. — Que foi uma


perseguição aos Escobar, segundo o que foram informados, e que...
— Fica em silêncio.

— Fale! — imploro.

— Marcos estava dentre os Escobar, e o carro dele estava na


explosão junto de algumas motos. Não sabem mais nada além
disso...

Não vejo mais nada. Sinto meu corpo ficar leve, e paro de
escutar qualquer coisa.
Quatro

Paula Escobar

Sabe quando parece que você está revivendo um dia ruim?


Estou exatamente assim. É como se o passado tivesse retornado,
mudando apenas sua vítima no meio da tragédia. Olho o noticiário,
e meu coração está despedaçado ao ouvir que era o carro do Marcos
e que meu eterno menino, não foi encontrado e isso me agonia
ainda mais.

Assim que acordei do meu desmaio, só queria notícias boas e


acreditar que tudo foi um sonho, mas não foi. Já é madrugada, e
nada do Jacob, David e Simon retornarem, ou qualquer outro que foi
em busca de notícias. Liziara se acalmou um pouco e trouxe as
meninas para cá, e elas dormem junto das meninas da Ana que
também resolveu que o melhor é todos ficarem juntos. Jaqueline e a
avó do Jacob estão vindo para cá. Sophie está na casa de uma
amiguinha, e a Daiane conversou com os pais da menina, e
concordaram em cuidar dela sem problema algum. A compaixão de
todos não me gera paz, conforto. Isso traz pavor, porque é como se
todos estivessem pensando o mesmo que eu: a história se repetiu.

Beatriz está agarrada ao Arthur, que não queria ficar com


ninguém. O pequeno deve ter sentido tudo. Ela está isolada em um
canto da sala, e a cada instante enxuga as lágrimas. Pobre jovem, eu
sei o que é isso. Eu passei por esse mesmo inferno.

— Chega! Eu não irei ficar de braços cruzados! Que se foda o


que estiver acontecendo! Cansei dessa merda! — Henrique brada
nervoso. Pega a arma que ficou no sofá e coloca na sua cintura.

— Henrique, não. Por favor. Não vou suportar mais um nessa


loucura! — imploro a ele.

— Mãe, ninguém vem com notícias, então eu irei atrás.

— Amor, por favor, escuta sua mãe. Henrique, olha todo esse
clima. Suas filhas precisam de você e eu também. Por favor... — Ana
pede chorando.

— Desculpa, minha linda... Eu preciso fazer algo. Eu amo você...


Amo todos vocês. — Deixa um beijo na testa da esposa e começa a
caminhar em direção a saída.

Alessandro está no celular digitando algo muito rápido.


Quando nota que estou olhando, guarda o celular.

— Henrique Escobar, eu disse não! — peço nervosa.

Ele não me escuta e abre a porta, mas a figura do David e Jacob


aparecem. Todos nós olhamos para eles. Henrique dá passagem e
encosta na parede.

A aparência dos meus meninos não é nada boa. Não... Não...

— Não encontramos nada. A mídia está caindo matando em


cima. Jacob já acionou os contatos dele, para abafarem o caso, ou
pode piorar. Quem fez isso não foi idiota, mexeu com o ponto fraco:
vocês. O carro era do tio, mas nada dele. Não sabemos o que
aconteceu. Meus homens estão investigando. Eu vim... Eu vim
porque não consegui ficar lá. Não dava — David diz.

Jacob se aproxima da Daiane, que apareceu na sala, então a


puxa para seus braços. Beatriz se levanta chorando, e entrega o
Arthur a Ana.

— Eu não posso ficar aqui. Ele tem que estar vivo. Ele está em
algum lugar. Ele tem que estar. — Ela começa a caminhar para sair,
mas Henrique impede sua saída.

— Beatriz, não tem o que ser feito agora. Temos que esperar!
— David fala autoritário.

— NÃO VOU ESPERAR. VOCÊ TEM IDEIA DO QUE ESTOU


SENTINDO, PORRA? — ela grita.

— Eu tenho. Eu perdi o meu esposo, e ainda tenho que fingir


para todos os conhecidos que acreditei na porcaria do tal do assalto
no trânsito. Então, sim. Eu sei exatamente o que está sentindo. Mas
mesmo na pior, eu fiz de tudo para ser forte pelos meus filhos. O
Arthur precisa de você, então não irei deixar que saia como uma
louca por aí. Nem que para isso, eu tenha que amarrá-la na merda
de uma cadeira! — falo em um tom que achei que jamais usaria com
ela.

— Ninguém vai me impedir, Paula! — Ela me dá as costas.

Henrique segura seu braço, e ela o puxa com força. Empurra


ele, abre a porta. Luciano, segurança do Henrique, barra a sua saída.

— Senhora, não pode sair. São ordens do Simon, para que


nenhuma de vocês saia mais. Até que ele retorne. Ele acabou de
informar.

— Foda-se o Simon! Não me interessa, eu vou sair, e vou atrás


do meu marido, porque ninguém vem com uma notícia, são sempre
as mesmas coisas, então saia da minha frente, porque eu esgano
você...

— Acho melhor se acalmar, Delícia...

Caio sentada no sofá e choro sem parar. Liziara se ajoelha e


começa a chorar de soluçar. David se aproxima dela e a abraça.
Alessandro se aproxima e passa o braço ao meu redor. Daiane
esconde o rosto no peito do marido. Ana se aproxima de mim
carregando o Arthur, e segura a minha mão. Henrique não tem
qualquer reação, além de olhar para a porta.

Ele entra acompanhado do Simon, e Beatriz se joga em seus


braços.

— Marcos... — Ela chora em seus braços e ele a aperta com


força.

Obrigada, meu Deus!

Ele é abraçado por todos nós. Então se senta no sofá. Está


machucado e sujo. Daiane correu para pegar as coisas de primeiros
socorros.

— O que diabos aconteceu? — Henrique finalmente indaga.

— Eu vou contar tudo... Mas antes, preciso agradecer muito ao


Simon. Ele cumpriu o que me prometeu, mas depois foi ao meu
encontro. Obrigado.

Simon apenas assente.

— Senhor, preciso ir. Vamos reajustar a segurança da casa.


Tem muitos repórteres ao lado de fora. Depois precisamos
conversar. — Ele se retira.

Beatriz, agora com o filho no colo e ao lado do esposo, espera,


assim como nós, sua explicação. Marcos olha para o Alessandro e
ele se levanta.

— Bom, fico feliz em saber que está bem. Qualquer coisa


contem comigo. Este é um momento familiar... É melhor ficarem
apenas vocês — Alessandro diz e sorri.

— Obrigada, por tudo... De verdade — falo e ele assente, então


se retira.

Daiane cuidou dos ferimentos no tio, enquanto apenas


observávamos em silêncio. Assim que ela terminou, Marcos
respirou fundo e começou a falar:

— Quando vi que o carro de vocês começou a rodopiar, eu


fiquei louco, e pedi a Deus que não rolasse o barranco. Eles
começaram a atirar na direção de vocês, e eu sabia que isso daria
merda maior, mesmo o carro sendo blindado. Então chamei a
atenção deles, comecei a atirar e deixei que me vissem. Meu carro
tem proteção de Insulfilm, então quando abri o vidro para atacá-los e
viram quem eu era, começaram a vir para cima de mim, porém
tinham que passar pelos seguranças. Nessa hora, outras motos
surgiram, e dali nada de bom sairia. Foi quando eu acionei o Simon,
e disse a ele que salvasse vocês e não a mim.

— Foi minha culpa. Eu disse. Eu perdi o controle e você quis


ajudar... Marcos, me perdoa... — Liziara diz com a voz trêmula.
Seguro sua mão e acaricio.

— Querida, não foi sua culpa! — digo a ela.

— Paula, tem razão. Você foi bem. Não se culpe — Marcos diz a
ela.

— Continue! — Henrique pede com a voz séria, sentado agora


em uma poltrona.

— Dei ré em alta velocidade, e quando acertei algumas motos,


outras tentaram passar por mim, nessa hora eu tive que pensar
rápido. Se eu deixasse eles virem na minha direção, morreria,
porque daria espaço para me matarem, mas se fizesse com que eles
passassem, matariam vocês, pois o carro estava perdendo a força e
vi que pararia. Eu poderia retornar para a rodovia, mas colocaria
muita gente em risco. Foi então, que joguei o carro em direção ao
barranco, porque sabia que seguiriam a mim, já que não
imaginariam que eu faria tal loucura e na velocidade que estavam e
descontrolados, eles não teriam raciocínio para o que viesse.
Quando joguei, pulei, mas o impacto foi forte, e acabei rolando pelo
barranco, só lembro de motos voando, um estouro muito forte, e ver
meu carro indo em direção ao matagal abaixo. Eu acho que bati a
cabeça em uma pedra, não sei, e apaguei. Simon me encontrou,
porque eu fiquei entre umas árvores, enquanto procuravam na
direção que o carro foi parar, por isso não me encontravam.
— Meu Deus! Você está bem mesmo? Precisa de um médico.
Você é louco. Por que fez isso? — indago com a voz trêmula.

— Sim. Estou bem. E fiz porque faria qualquer coisa por vocês.
E deu certo. Simon contou que, quando a explosão aconteceu, as
motos começaram a sair, vocês voltaram a dirigir, alguns tentaram
atacá-las, mas seguiram sem olhar para trás. Eu faria qualquer
caralho que fosse para vocês ficarem bem. Eles não queriam alguém
específico, eles queriam qualquer Escobar.

— Está realmente bem? — Henrique pergunta e se levanta.

— Sim. Já disse que estou.

— Ótimo... Agora me fale que caralho tinha na cabeça de ser a


merda do herói? Você foi o primeiro a dizer para ninguém ser, mas
na primeira oportunidade tenta ser. Sabe o que é pensar que
poderia ter perdido o homem que tenho como segundo pai? Não.
Claro que não sabe, ou não teria feito essa merda. Mais equipes
estavam a caminho, e você cancelou tudo. David estava se
aproximando e você pediu para ele vir para cá. — Henrique aperta
as mãos em punhos.

— Eu sei o que fiz. Eu fiz por elas. Aquilo não ia acabar bem.
Quanto mais estivessem lá, mais merda aconteceria. Era isso ou
foder tudo!

— Mais merda? Olhe ao seu redor. Agora todos que estiveram


ali vão ter de ir à delegacia prestar depoimento. O caso vai entrar
para a polícia e eu não poderei cuidar, porque a porra do meu chefe
vai estar na minha cola. Você bancou o herói, mas se esqueceu de
que não precisamos de um herói, precisamos de você vivo, porra! —
David grita.

— David, por favor... — Liziara tenta falar, mas ele a olha feio.

— Marcos, eu não tiro a razão do nervoso deles. O que você fez


foi loucura. Estávamos pensando o pior. Eu não poderia vivenciar
tudo isso novamente. Nunca mais faça isso, ou eu mesma te mato. E
precisa ir ao médico! — Olho seriamente para ele.

— Você sabia que poderia sobreviver? — Henrique questiona.


— Você sabia que sairia vivo dessa loucura?

— NÃO. EU SABIA QUE PODERIA MORRER, CARALHO. ESTÁ


FELIZ, HENRIQUE? — Marcos grita alterado.

— Tio... Meu Deus! — Daiane exclama chocada.

— Claro que sabia. Você fez isso sabendo que iria morrer e
nem sequer pensou na família. No seu filho, e sua esposa... Você foi
um idiota! — Henrique esbraveja e sai da sala subindo para o
segundo andar. Ana o segue.

— Marcos, você foi louco, por que fez isso? — Bia questiona
com a voz trêmula e ele a olha, mas não responde.

— Quero falar sozinha com o Marcos — peço e todos saem da


sala sem questionar.

Sento-me ao seu lado, e seguro suas mãos. Analiso seu rosto


machucado, assim como seus braços.

— Henrique está nervoso. Todos estão. Mas eu também estou e


não tiro a razão deles estarem assim. O que fez nunca mais deve se
repetir. Eu pensei que você seria o mais sensato, mas me
decepcionou. Tentar ser o nosso salvador não foi certo. Se continuar
agindo por impulso, como fez para salvar a todos, vai acabar morto,
e sem saber se alguém sobreviveu. Marcos Escobar, você dentro do
tribunal pode ser o juiz mais temido, mas para mim será sempre
como o meu filho, o que criei com amor, dedicação e não irei
admitir de forma alguma que seja um suicida. Não me faça jogar
flores em mais um caixão, porque as que joguei no do seu irmão,
ainda posso sentir o cheiro delas e ver nitidamente seu rosto pálido
e sem vida. Nada está em preto em branco, é tudo nítido. Tudo ainda
dói. Eu deixei que abafassem o caso do Joseph, mesmo que todos
nós soubéssemos que tinha algo por trás, porque eu não queria ter
que ver mais ninguém morto em busca de justiça.

— Paula...

— Não terminei. — Respiro fundo. — Ou vocês todos agem com


prudência, ou eu sumo sem deixar rastros, porque não serei capaz
de enterrar mais ninguém. Não é uma ameaça, é um aviso. Querem
se matar? Então façam isso agora, peguem uma arma e se matem,
mas já deixem um aviso antes, porque não irei pegar nada, saio
desta casa com a roupa do corpo e sumo pelo mundo. Vai doer
menos do que vestir o luto. Vocês têm apenas duas opções: saiam
vivos dessa merda, ou eu desapareço antes que o pior aconteça. —
Seu olhar é firme no meu

— Me perdoa.

É nítido a sinceridade em seu tom. Sei que ter que fazer isso
doeu muito para ele também, eu vi quando olhou para a esposa e o
filho, e quando olhou para nós. Sei o que é ficar sem escolhas, mas
sei que agir sem pensar um pouquinho que seja é bem pior.
— Não é para mim que tem que pedir perdão. Peça aos seus
sobrinhos, que têm você como um pai também, e peça a sua esposa
e filho. Pois a Beatriz quase faz uma loucura saindo que nem louca
para te encontrar. E agora sou eu quem diz: “Não seja o herói”. —
Deixo meu tom mais leve. — Precisa de médico, Marcos.

— Não preciso de médico, é sério quando digo isso.

Me levanto e acaricio seu rosto.

— Tome um banho e vai curtir com sua família. Vou falar com
o David para ver como serão os depoimentos e toda a burocracia.
Jacob está tentando abafar tudo isso. Por ora, precisamos
descansar. A tia da Beatriz e avó do Jacob chegam a qualquer
momento. Então, acho melhor todos ficarem hoje aqui, já que elas
vão vir para cá... Tem mais uma coisa, viram quando Simon o
encontrou?

— Não. Por enquanto melhor assim, depois vamos resolver


isso e mandar parar as buscas. Sabemos o que estamos fazendo.

— Certo. Então vá para o banho.

Ele concorda e se levanta.

— Antes vou falar com eles.

— Faça isso. Preciso ficar sozinha um pouco... Marcos, eu amo


você, não me faça te dizer adeus.

— Também amo você, Paula. Não farei, isso é uma promessa.


— Deixa um beijo na minha testa.

— Acho bom, porque sou cardíaca e sabe disso.


Ele sorri.

— Paula, antes que eu me esqueça. Não quero esse Alessandro


aqui. A partir de agora, todos são suspeitos.

— Ele não é suspeito. Sabe que não.

Saio da sala e vou para o escritório. Assim que fecho a porta


começo a chorar sem parar. Olho para o quadro com a foto do
Joseph e então choro ainda mais. Tudo de novo. O inferno de novo.
Não sei o que estes homens queriam, mas já estão causando
desavenças. Os Escobar não podem ficar um contra o outro. Não
podem. Isso nos enfraquece...

Não sei se conseguirei ser forte o tempo todo ao lado deles.

Para piorar, o Alessandro retornou e está estranho, parece


misterioso. E se o Marcos tiver razão? E se todos forem suspeitos?
Como recomeçar, quando a vida te faz focar nos temores do passado
e te impede de seguir em frente?
Cinco

Paula Escobar

Faz alguns dias desde o susto que levamos por conta da


perseguição e pensamos que o pior poderia ter acontecido. Já fomos
à delegacia dar nossos depoimentos, e o David conversou com o seu
chefe para que possam abafar o caso, e assim não piorar as coisas, e
ele compreendeu. Jacob conseguiu com que a mídia parasse de ficar
comentando sobre tudo. Estamos seguindo quase que normalmente
nossas vidas, com segurança triplicada e desconfiando até mesmo
de nossas sombras.

Estou saindo do meu escritório de advocacia no centro da


cidade, e sou acompanhada por Pascoal, meu segurança pessoal.
Assim que colocamos os pés na rua, vejo duas motos e mais dois
carros, próximos ao meu. Seguranças e mais seguranças. Às vezes
me pego pensando se o Joseph estivesse vivo, se tudo isso estaria
sempre saindo do controle. Muitas vezes penso que sou a culpada
por algo sempre desandar em nossa família, mesmo que em
pequenos detalhes. E se eu fosse mais firme? E se eu tomasse mais
decisões? São tantos “e se”... Olhar para todos e ver que a paz não
reina mais, me dói. Me sinto tão inútil muitas das vezes. Joseph
Escobar saberia como agir, e quais decisões tomar nessas situações.
— Senhora, por favor... — Pascoal diz com a porta do carro
aberta.

Coloco meus óculos de sol e faço um aceno em agradecimento.

Entro no carro e a porta é fechada. Assim que ele entra,


começam a fazer o esquema de segurança, todos em suas posições
seguindo ao nosso carro, que fica no meio dos demais seguranças
que o cercam. Mas, olhando pela janela, além de toda essa proteção,
me perco em pensamentos.

Foram anos ao lado do homem que mais amei na vida. Joseph


era diferente de todos que já conheci. Parece clichê dizer tal coisa,
mas é apenas uma verdade absoluta. Com ele aprendi tanto, e
ensinei muito a ele também. Perdê-lo em um terrível ato de
crueldade é o que mais me dói. Ele foi um grande juiz, e muito
famoso. Mas não foi sua fama ou dinheiro que me atraíram, jamais
seria. Foi o seu caráter e seu jeito brincalhão de ser nos momentos
mais difíceis. Sempre digo que ele me deixou muito mais do que
dinheiro e fama. Joseph deixou filhos maravilhosos, e as melhores
lembranças que um dia poderia ter. É difícil entrar em nosso quarto
todos os dias, como também é difícil olhar cada canto que juntos
tivemos momentos incríveis. Mas muitas lágrimas e dores, eu
guardei para mim, porque meus filhos precisavam seguir adiante
sem ter que a todo instante olhar para trás para ter a certeza de que
eu não desabaria. E seguiram. Hoje eles têm suas famílias, e sei que
o pai deles, de onde estiver, sente um grande orgulho. Eu sinto um
enorme orgulho.

Queria poder dizer que segui em frente depois de tanto tempo,


mas seria ousadia demais dizer isto. Eu estou tentando, e não tem
sido tão fácil. Depois de um bom tempo resolvi dar uma chance para
um recomeço, mas a confusão me deixa desnorteada. E talvez seja
por isso que sempre fujo dos homens... Fujo do Alessandro.

Quando ele sumiu após o casamento da Daiane, pareceu tão


fácil não precisar vê-lo e encarar que algo estava acontecendo, só
que agora ele retornou, e existe tanta coisa em volta disso, muita
confusão, pessoas demais... Uma mulher a mais, a qual admiro
muito e jamais faria algo com que criasse um tipo de inimizade.
Jaqueline é um amor de mulher, e notei o interesse dela ao
Alessandro e, talvez, isso seja um dos maiores motivos por eu ter
ficado mais tranquila quando ele se foi. Só que nem tudo é como
queremos. Mas quem um dia disse que seria?

E no meio de tantas confusões e sentimentos inexplicáveis, só


consigo pensar se posso realmente recomeçar. Não é tão fácil
esquecer um passado que sempre tem algo para recordar, mas já
dizia a música “é preciso saber viver”, eu preciso saber viver, sem
aquele que um dia jurou a eternidade ao meu lado, mas partiu sem
um único adeus. Só não sei se estou preparada para isso, e entender
que posso ser feliz novamente seja sozinha ou com outro alguém.

Meu celular toca me fazendo sobressaltar. Retiro-o de dentro


da bolsa e vejo o nome do Alessandro na tela. É isso o que eu chamo
de “não morre mais”. Resolvo atender e parar de agir
imaturamente. Ele tem me procurado todos os dias desde o terrível
ocorrido e eu tenho fugido sem parar. Ele não merece isso, e eu não
sou assim.

— Oi.
— Fico feliz que tenha resolvido não rejeitar a ligação.

— Alessandro, me desculpe. Tem muita coisa acontecendo. —


Retiro os óculos de sol e respiro fundo.

— Eu sei. Mas fiquei preocupado. Tive informações através do Jacob...


Enfim, como está se sentindo?

Paro para pensar. E não sei. São tantas coisas envolvidas que
simplesmente não sei.

— Não sei... Estou levando como posso.

— Podemos sair para conversar? Isso pode ser bom. Cacete, eu nunca
corro atrás de ninguém. Não me faça te odiar, inferno! — diz rindo e
acabo sorrindo.

— Hoje tenho treinamento... Posso ir depois das sete horas.


Estou saindo mais cedo do trabalho.

— Treinamento? O que é isso? Algum tipo de código para mulheres?

— Não. Eu treino com as mulheres Escobar. Bom, com tudo o


que está acontecendo... Entende?

— Claro. Posso te pegar depois do treino?

— Não! Estarei péssima. Deus me livre! Na verdade, que Deus


te livre disso! E é contramão de alguns locais, pois fica depois da
delegacia do centro.

— Já sei onde é. Não tem problema. Posso te buscar, pois é bem fácil
do meu apartamento até o local. Vai sozinha, ou com todas elas?

— Irei sozinha, bom, com a equipe de segurança... Mas


esquece. Eu volto para casa, tomo um banho, e então te aviso para ir
me buscar.

— Ok. Se prefere assim. Aproveito para resolver algumas coisas


então.

— Universidade?

— Não... Também. Outras coisas. Então me avise assim que sair do


treino, para eu me arrumar e já ficar à espera do seu aviso.

— Tudo bem. Até mais tarde.

— Até. E se cuida.

— Tentarei. Tchau.

Desligo e coloco o celular na bolsa. Olho para o espelho


retrovisor e Pascoal me olha de relance e depois volta a fitar a
avenida.

— O que foi?

— Senhora, com todo respeito, mas não tinha como não ouvir a
ligação, afinal estamos no mesmo carro. Enfim, não acho bom que
fique passando tantas informações ao indivíduo com quem falava.
Até descobrirmos quem está por trás ao ataque, todos são
suspeitos.

— Pascoal, ele é amigo da família!

— O pior inimigo é aquele que já foi seu amigo, pois saberá


todos os seus pontos fracos.

— Bobagem. Confio no Alessandro.


— A senhora confia em todo mundo.

— Isso é uma mentira — respondo nervosa.

— Confia em mim?

— Claro.

— Confia nos demais seguranças?

— Sim. Foram muito bem selecionados.

— Viu? Confia em todo mundo. Eu não confiaria em mim.

— Pois eu confio... — Levo a mão à porta, qualquer coisa viro o


Marcos e pulo desse carro. Merda, eu trouxe a arma?

Ele ri baixinho. Era só o que me faltava, ser piada dentro do


meu carro.

Alessandro Santos

Estou em casa hoje. E porra, graças a Deus, ou seria um


professor assassino.

— Senhor, o que devo preparar para o jantar?

Olho para Irene e sorrio.

— Não jantarei em casa, Irene.

— Mas nem um lanchinho? Não comeu nada o dia todo, ficou


enfurnado nesta biblioteca.
— Os livros são uma boa distração.

— Tem razão. Bom, irei me retirar. Com licença. — Faço um


aceno com a cabeça e ela se retira.

Fecho o livro em minhas mãos e saio da biblioteca em direção


ao meu quarto. Preciso de um banho e, quem sabe, um pouco de ar
fresco, pois realmente fiquei naquela biblioteca o dia todo. Porra, e
só à noite ela foi ver se eu queria algo, eu poderia estar morto
naquele lugar... Irene já cuidou muito mais de mim.

A campainha toca, e para isso acontecer ou é alguém do prédio


ou pessoas autorizadas. Faço uma lista mentalmente de quem
poderia ser e nenhuma me anima, a não ser... não poderia. Estou
querendo contato há dias, não teria a porra da cara de pau de
aparecer aqui do nada.

— Eu abro, Irene... Pelo visto nem está escutando, não é


mesmo? — digo alto e nem resposta tenho. Reviro os olhos e vou até
a porta.

Por que cacete ainda não coloquei olho mágico nessa porta?
Inferno!

Abro e mesmo já suspeitando sou surpreendido.

— O que faz aqui?

— Porra, isso lá é jeito de recepcionar seu irmãozinho mais


novo que veio de outro país?

— Só estou surpreso. Entre!

Ele sorri e entra. Nos abraçamos.


— Felipe, que merda fez? Estava te ligando e não tive resposta.

— Por que pensa isso? E sabe que não sou muito de manter
contato, apenas quando quero.

Ele olha tudo ao redor e caminha em direção ao sofá onde se


deita esparramado.

— Porque eu estive com você há pouco tempo. E você estava


passando por um divórcio, se é que aquela loucura poderia levar
este nome. Estava mais para jogos mortais.

Felipe Santos é meu irmão mais novo e adotivo. Tem 40 anos,


mora há muitos anos na Califórnia, onde era casado com uma louca.
Desde que perdemos nossa mãe, ele foi embora e tem se tornado
complicado.

— Sou um homem livre. A louca da Meg assinou o divórcio.


Então resolvi tirar férias e espairecer.

— Você nunca faz nada por acaso. O que está tramando?

— Porra, custa confiar em mim?

— Bom, quando você é um louco que não parece ter 40 anos,


sim, custa.

— Cansei da Califórnia. Vou investir no Brasil.

— Sei... Quem é o rabo de saia que arrumou aqui ou a merda


grave que está se metendo?

— Sempre pensando o pior.

— Felipe, puta que pariu! Eu saí do Brasil para ir te ajudar


porque a louca da sua ex acusou você de milhares de coisas, e foi um
caralho provar o contrário, porque sua fama de safado não ajuda.
Agora você vem para o Brasil na maior cara de imbecil e quer que
eu acredite que não têm merdas por detrás? Difícil! Depois do que
presenciei nessa porra de divórcio, eu espero só merdas.

— Não posso querer ficar mais próximo de você? — A ironia


em seu tom me irrita.

— Fale de uma vez que merda faz aqui! — peço mais alterado.

— Me mandaram para cá. Tenho umas coisas para resolver.

— Quando vai desistir dessa merda? Você tem a porra de uma


profissão de sucesso, para que continuar nessas merdas?

— Eles são minha família — declara com firmeza e é nítido a


irritação em seu tom.

— Você chama aquela merda de família? Você é um cirurgião


plástico de sucesso. Não precisava disso, Felipe.

— Aconteceu. Eu também me encontrei nisso. Eu nunca julguei


suas escolhas, não faça isso com as minhas, porra!

— Porque eu não faço escolhas que possam me matar! — grito.

— Não? E andar com os Escobar e o Casagrande não é uma


escolha de risco? — Ele fica de pé.

Dou um passo em sua direção. Que merda ele está querendo


dizer?

— Você não vai fazer nada. Se tentar algo contra algum deles,
eu...

— Você o quê? Vai me matar? Sabe que não faria isso, porque
no fundo me ama e quer meu bem. E eu também amo você e quero
seu bem. Sei de tudo o que está acontecendo com eles. Caia fora,
irmão! Saia dessa loucura, porque você vai ficar na mira!

— Foi por isso que veio? Você tem algo com essa história toda?
— Sinto meu sangue gelar e a raiva me dominar.

— Eu? Sou apenas uma pessoa que não dita as ordens! —


debocha.

— Você é um filho da puta! — Meu tom é elevado novamente.

Ele retira a arma do cós da calça e joga no sofá.

— Estou aqui para te proteger.

— Não preciso de sua proteção, Felipe. Tire essa merda do meu


sofá e suma daqui.

— Qual o preconceito? Você também tem.

— Eu sei o que faço. E sei quando usar e se uso é por culpa do


maldito inferno que você entrou! — rebato.

— E porque consegui que te liberassem de forma mais rápida.


No fim, você precisa de mim, Alessandro, e é tão perigoso quanto eu,
basta apenas pisar em falso com você, que já se estoura.

— Não preciso de você. O que tenho para fazer não dependo de


você — declaro.

Ele ri.
— Sabe, tudo isso acontecendo com eles... Fiquei pensando até
que poderia ser você. Afinal, da última vez que nos vimos, você
enfrentou muita adrenalina para me ajudar e pareceu gostar.

Olho com raiva para ele, mas no fundo o desgraçado sabe que
quero o bem e a proteção dele.

— Não! Não tenho motivos para fazer essa merda toda.

— Será? Eles já sabem quem é você? Ou melhor, quem era


nosso pai?

— Cale a boca! Não toque nesse assunto! — Fico mais próximo


ainda.

— Bom, eu no seu lugar, teria motivo de sobra para querer me


vingar. Certo de que nosso pai não valia nada. Depois nossa mãe
morreu... muita coisa aconteceu. E agora você se aproximou deles e
tudo isso acontecendo. Será mesmo que você é inocente? Preciso
saber para ajudá-lo — ele está provocando, quer informações, está
jogando sujo. Conheço bem meu irmão.

— Vai se foder! — xingo, mas minha vontade é de socá-lo.

— E por que queria saber onde a Paula Escobar treinaria?

— Como você... Caralho, grampeou meu telefone?

— Sou competente, fazer o quê. — Dá de ombros.

— O que faço ou deixo de fazer não diz respeito a você. Agora


some daqui e não faça nada que eu não faria.

— Ah, deixa de ser rabugento! Quero comida. Estou com fome.


Afinal, cheguei de madrugada, e a comida do hotel que estou é
péssima. Cadê a Irene? — está mudando de assunto. Modo bipolar
ou distração está ativado.

— Que bom que lembra daquela que foi uma mãe para você
antes de sumir pelo mundo e ser duas caras! — acuso sem nenhuma
dó.

— Quanta revolta. Vê se transa hoje no seu encontro com a


Paula. Mande um “oi” da minha parte... Melhor não. E se eu fosse
você, não diria de que família veio. Ao que parece, são muitos
vingativos e cismados. Ah, vi a tal Ana Louise, esposa do Henrique
Escobar, andava pela cidade antes de vir para cá. Bela moça e bem
simpática, quando esbarrei nela, propositalmente, claro.

Eu vou matar esse cara. É sério! Porra!

— Você está cavando sua cova — alerto.

— Não! Quem está é você. Entra na porra da linha, e fique


atento. Porque...

— Porque se tiver que escolher entre salvar a mim ou a eles,


será eles, não é?

Ele se levanta e sai da sala sem falar nada, então entra na


cozinha.

Porra, Felipe vai me foder e estragar tudo! Eu passei a vida


escondendo toda a merda por detrás da minha família, e quando
pensei que estaria tudo certo, essa porra desanda.

Estamos em um restaurante italiano, mais tranquilo, e discreto


para evitar a mídia. Paula está linda como sempre, mas posso
perceber sua desconfiança ou talvez medo no olhar. Já comemos, e
estamos apenas bebendo tranquilamente agora. Nem tão
tranquilamente, já que tem quatro seguranças particulares
espalhados, e não duvido que tenha mais ao lado de fora. Porra!

— Sabe, serei direta. Por que esse encontro? Você sumiu, e


então aparece, fica correndo atrás. Nunca correu antes, e agora tudo
isso. O que está acontecendo, Alessandro? — questiona nervosa.

— Eu tive que sair do país por um tempo, resolver algumas


coisas. Foi corrido, não pude avisá-la.

— Avisar a mim? Não me deve satisfações, só não entendo por


que esta marcação agora.

Como lidar com algo que nunca teve que lidar antes? Merda!

— Não. Tem razão, eu não devo. Mas eu me aproximei e


desapareci como você citou. Não fugi, só queria que soubesse disso
— sou direto.

— Fugiu de quê? Nunca tivemos nada. Ao que parece era tudo


coisa da minha cabeça. — Seu tom é baixo.

— Como assim? Eu sei que dei indícios de que queria algo


além, e cacete, não vou mentir, queria... Quero. Mas não sei bem o
que eu desejo. Nunca tive que fazer isso, inferno!

— E por que está fazendo? Acredito que seja a outra pessoa


que deveria estar falando tudo isso.

Só pode ser brincadeira. Isso é algum julgamento e ela está no


modo advogada? Porque está parecendo e eu estou no banco do réu.

— Está se referindo à Jaqueline? Paula, não aconteceu nada


entre nós. Eu nunca dei esperanças a ela; e se ela acreditou, viu
errado.

Seu rosto cora e ela bebe um gole de seu vinho.

— Estive com ela ontem, e parece que mantiveram contato.


Não quero problemas. Minha vida está uma loucura, é muita coisa
acontecendo, e amo a Jaqueline, jamais faria algo para magoá-la.

Esfrego o rosto. Olha, quero que um filósofo do caralho surja


na minha frente e me ensine como lidar com este momento, porque
não sei e todas as malditas frases que penso agora, não serviriam.

— Sim. Ela mandou mensagens, eu respondi porque sou


educado. Se tem uma coisa que sou com mulheres, é educado e você
sabe. Porque todas merecem ser tratadas com educação. Todos
sabem que sou assim. Mas sou direto quando quero algo, e que se
dane se você correr. — Ela engole em seco e é notável. — A única
pessoa que eu desejaria beijar, ou transar, seria com você e não com
ela. Nada contra, mas a Jaqueline eu vejo como uma boa pessoa para
ser amiga, conversar e nada mais.

— E a mim, uma qualquer que serve apenas para você... O que


você disse aí. Sou cardíaca demais para lidar com isso.

Estou ficando nervoso e não gosto do meu jeito quando estou


assim. Por isso tento me controlar antes de dizer:

— Não coloque palavras na minha boca. Não é dela que estou


correndo atrás, e não foi a ela que convidei para jantar.
— Olha, é melhor eu ir.

Ela faz menção de levantar-se, mas a impeço segurando sua


mão.

— Eu não fugi. Mas você vive fugindo. Desde que nos


conhecemos, você sempre arruma um jeito de fugir. Só falta me
pegar pela mão e me levar para a Jaqueline, porque sempre me
deixa a sós com ela, ou nunca abre a boca e fica parecendo que eu
dou total atenção apenas a ela. Por quê? Eu fiz algo a você ou falei
algo que te magoou? Sou direto demais? Ou por que quer alguém
que te prometa amor eterno? — sou direto.

Tento, mas não consigo mais ser o homem tranquilo que fui
desde o início e ficar vendo as pessoas julgarem a mim como um
cretino, quando é ela que foge desde que nos conhecemos, como se
eu sempre forçasse a situação. Eu sempre disse que mulher era
encrenca, e agora entendo por que dizia isso. Mas nunca disse que
não poderia acontecer essa armadilha comigo. E olha a loucura que
foi e está sendo.

— Alessandro, você não entende...

Olho o relógio em meu pulso e torno a olhá-la e sorrio.

— Temos tempo.

Ela puxa a mão da minha e suspira.

— Eu não posso me envolver com ninguém. Essa é a verdade.

— Prometeu fidelidade ao Joseph Escobar mesmo após a


morte? E, por favor, não pense que estou zombando. Só preciso
saber.

— Não! Ele iria querer me ver seguindo minha vida e feliz. Mas
eu não consigo. Não posso colocar mais ninguém nessa confusão da
minha família.

— Sério? Não pode ser verdade. Tem algo a mais. Me diga.

— Porque... Porque você me lembra a ele! Porque todo homem


que olho o vejo... Porque eu tenho medo de não conseguir superar e
machucar outra pessoa! — Ela se levanta e sai às pressas. Os
seguranças a seguem imediatamente.

Peço a conta e pago deixando o garçom ficar com o troco que é


uma boa gorjeta. Saio às pressas, com algumas pessoas olhando, e
vejo ela falando com um segurança. Mas quando vai entrar no carro,
impeço. Um segurança me empurra e faz proteção a ela, outro
segurança saca a arma enquanto os demais fecham um círculo.
Fodeu!

— Deixe, Pascoal. Está tudo bem.

— Caralho, que isso? Esses caras deveriam trabalhar para a


Rainha.

O tal Pascoal se afasta.

— Senhora, podemos tirá-lo à base da porrada, ou atirando


nele... Gosto das duas opções.

Esse cara quer morrer com a própria arma dele? Que porra é
essa de duas opções?

— Está tudo bem, Pascoal, eu...


Uma moto passa atirando e, imediatamente, jogo a Paula no
chão. Os seguranças se espalham e Pascoal faz proteção a nós. Um
carro é atingido. Pessoas gritam e se protegem. Escuto os
seguranças mandarem comandos uns aos outros. Os seguranças do
restaurante saem e se unem a eles para apoio. Mais tiros são
disparados. Meus olhos estão vidrados no rosto da Paula que tem os
olhos fechados. Ela treme.

Sirenes começam a surgir. Pascoal se levanta e fala ao celular.


Não presto atenção.

— Paula, abre os olhos e fala comigo... Está tudo bem? Me


responde, por favor.

Ela lentamente faz o que digo e seu olhar é de medo.

— Está.

Ajudo ela a se levantar e Pascoal abre a porta do carro e faz


sinal para ela entrar às pressas. Entendo o porquê. Querem evitar
mais interrogatórios agora para a polícia e a mídia que logo vai
surgir. Paula fica olhando, ainda em choque.

Jogo a chave do meu carro ao segurança dela e o cartão para o


manobrista pegar o carro. Ele me olha sem entender.

— Eu vou com ela. Cuidem de tudo aqui.

— Não. Você não dá as ordens! — ele é firme no que diz.

— Eu posso cuidar dela. Já vocês precisam evitar o inferno que


isso vai se formar. Não é um ordem, é o aviso do que vou fazer!

Não espero ele falar mais nada. Entro no carro e a chave está
nele. Paula entra e saio a mil dali.

— Esse inferno não vai ter fim. Ataques seguidos... — começa a


dizer, porém é interrompida.

Seu celular toca e ela diz o nome do David. Conversam e ela, ao


que parece, está tentando acalmar o filho.

Passo em sinais vermelhos, entro em ruas na contramão, tudo


para cortar caminho. Parece que, de alguma forma, a vida sempre
vai me colocar em adrenalina.

Estaciono o carro na sua casa e tem diversos carros,


seguranças andando de um lado para o outro, e alguns correndo.

Saímos do carro. Encosto nele e ela me olha.

— Segunda vez que presencia a confusão nesta família. É sua


chance de sair, antes que vire alvo.

— Engraçado, é a segunda pessoa a me falar isso. — Ela franze


o cenho e sorrio para distraí-la.

— Obrigada por ajudar... Mas vamos entrar, preciso sentar e


me acalmar ou fingir estar calma para tranquilizar a todos dentro
desta casa, ultimamente ando sendo o projeto de um alicerce mais
do que eu poderia imaginar, só não sei até quando isso vai durar...

Não deixo que ela termine. Puxo-a para meus braços e beijo-a.
Não é calmo e não desejo que seja. Levo as mãos a cada lado de seu
rosto. Ela está entregue ao beijo. Eu nem sabia que precisava disso.
Caralho, o que esta mulher fez comigo? Maldita foi a hora que a vi
naquela boate e o Jacob não me impediu de ir até ela. Maldito seja
nossos encontros em seguida. Maldito seja o mundo por me obrigar
a fazer o que não queria, mas se faz necessário agora.

Afasto nossos lábios e ela abre os olhos e me encara. Sua boca


está borrada pelo batom e seus olhos confusos, preocupados.

— Entre. Eu vou em seguida — sou calmo ao dizer.

— Por quê? O que houve? Olha, não beijo tão mal assim, não é?
Faz tempo que não beijo... Que vergonha! Eu deveria calar a boca.

Sorrio ao acariciar seu rosto.

— Homem, não faça isso. Primeiro diz que fujo, e agora você
me beija, e fica estranho em seguida!

— Paula, eu só preciso fazer uma ligação. E você não beija nada


mal, pois saiba que eu não prolonguei ou seus seguranças
assistiriam algo não apropriado. Além do mais, sua família deve
estar preocupada. Entre primeiro e acalme a todos, irei em seguida.
E, por favor, que não tenha armas apontadas a mim. Só hoje tive
várias.

— Pode deixar. Eu... Eu vou entrar.

Ela sai toda atrapalhada. Alguns seguranças viram, mas estão


fingindo cegueira.

Viro em direção ao carro e ligo para o Felipe, que atende


rapidamente.

— Caralho, ainda diz que se vira sozinho! Porra, já está no noticiário!


— atende nervoso.
— Preciso da sua ajuda.

— Sabia.

— Não fale mais nada. Agora preciso desligar.

— Ok. E comi a torta de morango que a Irene fez para você. Ela disse
que estou magrinho.

Reviro os olhos e desligo.

Sou surpreendido por Jacob bem ao meu lado. Cacete, o que ele
ouviu? Merda!

— Sabe, Alessandro, você sempre diz para ninguém fazer você


odiar, mas hoje eu te falo isso. Cara, não me faça te odiar! Meus
cunhados estão desconfiados, e o Marcos também. Pascoal alertou
que você queria saber onde a Paula treinava. Então o ataque na
porta do restaurante, um ato heroico e agora ligação misteriosa
dizendo que precisa de ajuda. Cara, eu te coloquei nesta família,
aproximei você de todos. Me fale que caralho está acontecendo e
agora. Ou eu deixarei os homens ali dentro acabarem com você,
antes mesmo de se explicar, e não vão precisar da ajuda da imensa
equipe de segurança, vão fazer sozinhos e a sangue frio — Jacob diz
me olhando firme.

— “Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de


pensar, mergulho em profundo silêncio e eis que a verdade se me
revela”. Albert Einstein disse isso. Sempre gostei dessa fala do físico.

— Não venha com suas frases enigmáticas a esta hora. Fale a


verdade!
— Só saiba que, o que vi hoje, não queriam matá-la, era um
aviso.

— Que aviso?

— Que sabem cada passo dela, e pelo visto de todos vocês. —


Olho seriamente para ele. — Eu não sou inimigo. Mas ele pode estar
entre vocês.

— Alessandro, que merda você fez?

— Não fiz nada. Mas, pelo visto, eles estão fazendo.

Ele balança a cabeça negativamente.

— Se você for...

— Vão me matar. Ótimo. Já sei. Frase forte. Podemos entrar?

— Eu confio em você. Não me decepcione.

— Jacob, não me faça te odiar!

— Está preparado?

— Por quê? Estão armados?

— Sim. Mas a Jaqueline está lá dentro também.

— E o que tenho com isso?

— Está dando em cima dela e da Paula? É o que a Daiane e eu


pensamos.

— Nunca fiz isso. Porra, não posso ser educado com nenhuma
mulher? Jaqueline e eu nunca tivemos e nunca iremos ter nada.
Puta que pariu, está difícil compreender isso?!
— Ótimo. Espero que ela saiba, porque viu os dois se beijando,
e deixou escapar para a Beatriz, que por pouco não deixa o Marcos
ouvir o motivo dela mandar a tia calar a boca.

— Olha, não sei se tenho medo dessas armas, dos Escobar, ou


das mulheres.

— Eu teria das mulheres.

— Sábio. Muito sábio.

Se já desconfiam de mim sem saber a verdade, serei morto


quando souberem.
Seis

Paula Escobar

Estou bebericando meu café sentada diante da mesa próxima à


piscina.

Perseguições inexplicáveis, Alessandro correndo atrás de mim


e me beijando inesperadamente. Tanta coisa para deixar minha
mente uma loucura. Me ausentei do trabalho por hoje, pois minha
mente não teria foco para mais problemas. Minha família está uma
loucura, meu coração uma bagunça. Parece que o furacão se
hospedou bem aqui e está deixando tudo fora de ordem e com
estragos.

Dona Jurema e Marcela me chamam para comer, mas nego. Só


quero meu cafezinho e um pouco desse ar gélido.

— Paulinha! — Olho surpresa para a Liziara, que se aproxima


e se senta ao meu lado.

— Querida, por que não disse que viria? Teria preparado uma
mesa de café do jeitinho que gosta.

Ela sorri.

— Eu estou livre na universidade hoje, e vou ajudar o Daniel,


meu ex-chefe, na boate. O David com muito custo e muita segurança,
acabou cedendo, afinal, Dani foi a pessoa que me deu emprego
quando mais precisei. Não posso deixá-lo na mão por causa dessa
loucura toda, e ali é bom para relaxar.

— Jamais devemos esquecer de onde viemos e de quem esteve


lá para nos ajudar. Está certa, meu bem. Não podemos parar nossas
vidas devido aos últimos acontecimentos.

— Concordo. Só que fiquei sabendo que o Joaquim, um carinha


que o David odeia, vai ajudar, ele saiu da boate, mas hoje também
vai ajudar. Se o meu marido sonhar com isso, tem um AVC.

Sorrimos.

— David é ciumento, mas vai compreender.

— Paula, estamos falando do David!

— Verdade. Ele vai surtar e, no fim, vamos rir como sempre


fazemos.

— Isso mesmo!

— Mas por que passou aqui? Adoro sua companhia, mas veio
sozinha... Por que não trouxe as meninas? Minhas netas animariam
meu dia.

— Estão com a babá. E eu quis ver como você estava.

— Vou bem, meu anjo. Só tentando compreender tudo.

— Sabe, Paulinha, direi o que penso e serei sincera.

— Sinceridade é o que mais desejo. — Sorrio.


— Joseph morreu. Não o conheci, mas tenho certeza de que foi
um bom homem. Vocês se amaram e fizeram uma linda família e eu
tenho a honra de pertencer a ela. Só que agora está na hora de você
seguir em frente. Investe no Alessandro. O cara está na sua cola, e
interessadíssimo. Não faça a burrada que eu fiz; por causa dos
ciúmes e medo, eu me coloquei em risco e quase perdi o David.
Tente com o Alessandro e veja no que vai dar. E não fique pensando
nas merdas que falaram ontem. Eu confio nesse cara; para mim, ele
não tem nada com isso. Os meninos implicam, mas estão com a
família montada, já você empacou. É isso mesmo. Se joga, sogrinha!

Se eu estivesse com o café na boca teria cuspido. Às vezes


esqueço o quanto Liziara pode ser sincera demais, ou maluquinha,
como o próprio David a chama.

— Querida, obrigada, mas eu...

— Chega de “mas”, e comece a ser “eu vou”. Olhe toda essa


loucura, não sabemos se alguém chegará até ao anoitecer vivo.
Estamos tentando sobreviver a tudo isso. Seus filhos estão que nem
loucos atrás de pistas, junto da polícia. Jacob e Ana correndo atrás
de tirar a mídia do caminho, pois a maldita Belos e Famosos já fez
nota sobre isso tudo. Joana e Jaqueline tentando acalmar a todos. As
crianças quase que sendo colocadas em cabines blindadas... Acha
mesmo que temos tempo de ficar pensando? É hora de agir. Fazer e
não temer. Vai por mim. Eu mesma me acabei em sexo essa noite,
porque pode ser o último.

— Liziara!

Ela ri.
— Sou sincera. Enquanto fica aqui bebendo café, sua vida está
passando, e talvez tudo termine e nada tenha feito. Levante o
bumbum daí, mulher, e seja a Paula Escobar, a mulher mais
poderosa que conheço.

— Essa tal Paula é uma farsa.

— Mentira! Você é essa mulher poderosa, e está com medo de


deixar seu poder vir com tudo neste momento. Essa aqui na minha
frente não é você. Você é a matriarca desta família. Use seu poder e
comece a ser mais “eu vou, eu sou e eu farei”. Seja uma Escobar.

Coloco a caneca na mesinha e abraço minha menininha


guerreira e atrapalhada.

— Obrigada. Às vezes precisamos de pessoas que acreditem


em nós, mais do que nós mesmos.

— Eu estou com medo. Mas tenho duas filhas que precisam de


mim e do pai, e não posso deixar tudo desmoronar. Então, não
desmorone. Essa família precisa de você.

— Eu não sei ser o Joseph.

— Não precisamos dele, porque a parte dele já foi feita.


Precisamos de você, o arco-íris desta tempestade... Nossa, estou
filósofa demais, David tinha que escutar, para aprender o que é
falar bonito, aquele traste me faz passar cada nervoso. — Revira os
olhos.

Nos afastamos e sorrio emocionada.

— Agora tenho que ir. Se cuida.


— Você também. Te amo, minha linda.

— Eu também amo você. Agora fui. Tenho uma tropa à minha


espera para me seguir. — Ela se levanta e sai rapidamente.

Uma lembrança me vem à memória...

— Amor, se um dia eu não estiver aqui...

— Joseph, pare com isso. Sabe que não gosto desses papos.

Ele sorri e me abraça por trás.

— Se um dia eu não estiver aqui... prometa que vai continuar sua


vida, e não vai parar no tempo?

— Joseph, eu não posso prometer. E não fale dessas coisas.

— Preciso falar. Eu preciso ter a certeza de que se um dia eu não


estiver, você será feliz ainda; talvez com alguém que te faça mais feliz do
que eu tento.

— Você me faz a mulher mais feliz. Eu não poderia querer mais que
isso.

— Promete, Paula...

Viro em sua direção e ele contorna minha cintura. Vejo a


preocupação em seu olhar e a veia pulsar em sua garganta que revela
parte de suas tatuagens. Está nervoso também.

— Sim. Eu prometo.

— Obrigado. Eu fico mais tranquilo, pois sei que não quebra


promessas. E preciso que me prometa mais uma coisa?
— O que quiser, amor.

— Que sempre vai lutar por nossa família.

— Joseph, eu não sou você. Não sei como lidar com os problemas
graves.

— Você é melhor do que eu. Você é a principal voz desta família. Suas
palavras são leis inquebráveis. Só precisa acreditar nisso.

— Eu... Eu prometo. Vou cuidar de tudo. Mas agora é você que tem
que prometer uma coisa.

— O quê?

— Se algo acontecer... — minha voz fica embargada pelo choro que


se forma. — Se algo acontecer a você, vai lutar até o último momento.

— Eu prometo. Mas talvez não tenha jeito, meu amor. Essa é a vida
que levo.

— Se não tiver, prometa que não vai... sem dizer adeus. Eu preciso
ouvir você diante de qualquer circunstância. Não me deixe sem ao menos
me dar a chance de me despedir de verdade. — O choro não é mais
controlado, e ele enxuga cada uma das minhas lágrimas, com seus dedos.

— Eu prometo...

Soluço pelo choro.

Não demorou muito e o perdi. Bem que dizem que às vezes


sentimos quando algo vai acontecer. Joseph não cumpriu sua
promessa de me dizer adeus, mas eu irei cumprir a minha, porque
ele tinha razão: eu cumpro tudo o que prometo. Essa família precisa
de mim, e eu preciso ser feliz de verdade. Eu preciso ser mais que
mãe, avó e advogada. Eu tenho que ser a matriarca do clã Escobar.
Tenho que ser a Paula Assis, e não viver mediante a um sobrenome.
Não mais!

Enxugo minhas lágrimas e entro. Hora de correr atrás do


tempo perdido, e seguir minha intuição e coração.

Preciso de um banho e me arrumar.

Chego ao escritório do Marcos e vejo a Débora empurrando o


carrinho do filho Eric em direção ao elevador que acabo de sair.

— Paula!

Me aproximo e abraço-a. Adoro essa menina, pois é tão


divertida, e sempre com palavras sábias, além de sempre nos ajudar
quando precisamos.

— Como está? — Olho para o pequeno gordinho no carrinho


que é a cara dela, puxando apenas os cabelos loiros e os olhos bem
azuis do pai, além do jeitinho levado.

— Estou bem cansada. Trabalhando, cuidando do Eric... Tenho


babá para ajudar e minha mãe, mas está uma loucura.

— Essa fase traz canseira mesmo.

— Nem me fale! Estou a ponto de surtar e sair como uma louca


pelas ruas, ainda mais com o marido que tenho, que agora triplicou
minha proteção. Só para vir aqui, tem seis seguranças me
acompanhando.
Sorrio.

— Não sorria. Juro que pensei que estava carregando a coroa


do Papa, para tantos seguranças. Deus me livre! Eu vou surtar,
acredite... — rimos. — Mas me fale, como estão as coisas? Esses
atentados... Eu sinto tanto. Queria poder estar mais próxima dando
mais apoio, mas estou na correria. Hoje mesmo vim aqui pegar uns
documentos com o insuportável que leva o nome de Marcos. Já vou
dizendo, que está com um humor digno de limão.

— Ah, querida. Não se preocupe. Quanto menos pessoas


estiverem envolvidas, melhor. Além do mais, já temos crianças
demais em risco. — Sorrimos. — Estou bem. Preocupada, porém
temos que seguir com nossas vidas. O tempo não para.

— Verdade. Bom, eu tenho que ir.

Nos abraçamos. Assim que nos separamos, faço um carinho na


bochecha do pequeno.

— Se cuide, Débora.

Ela segue para o elevador e fica a sua espera, enquanto eu vou


à sala do Marcos, onde entro sem bater.

— Porra, Débora! Eu vou te matar, e não pense...

— Melhore seu humor, meu querido.

— Paula? O que faz aqui? — indaga ajeitando alguns papéis.

— Pare tudo o que estiver fazendo. Temos uma reunião.

— Estou ocupado. E não temos uma reunião. — Ergue o olhar


desafiador e volta a olhar para o que estava fazendo.

— Olha aqui, mocinho, depois de ter feito um ato suicida, é


melhor não testar a minha paciência.

Ele respira fundo e larga os papéis.

— Vão ficar falando disso eternamente? Caralho!

— Olha a boca! E sim, irei falar. Até porque sou cardíaca, e você
quase me mata.

— Você não é cardíaca!

— Não discuta. O assunto que vim tratar é sério.

— Claro que é... Fale. Tenho tribunal hoje. Agilize.

Que homem mais ranzinza. Não lembro de ter dado limão para
ele no lugar do leite. Se bem que, como o criei como meu filho, posso
dar uns tapas... Bom, guardarei essa possibilidade.

— Quero que me diga tudo o que estão investigando sobre os


atentados e agora. Quero estar a par de tudo. E não adianta dizer
que não sabem nada, porque conheço vocês. Chega, é hora de
agirmos como os Escobar.

— CARALHO! É HORA DE QUEBRAR AS LEIS!

Assusto-me com o grito e levo a mão ao peito.

— Que porra está acontecendo aqui? Que entre e sai do


inferno. Henrique, eu não te chamei, e não irei te ajudar em caso
algum.

— Que isso, titio! Quase me matou do coração, pois pensei que


não teria mais com quem implicar. Então vai me aturar muito. Não
mandei fazer a quase morte.

— Henrique, não teste minha paciência, quem assina a


sentença sou eu, e a sua será longa e peculiar — Marcos diz
autoritário.

Henrique revira os olhos e me abraça por trás.

— Eu ouvi tudo. Concordo com a rainha aqui. Hora de


burlarmos as leis.

— Eu nunca disse isso, menino!

— Claro que disse, mãe. Só não percebeu, mas disse.

Afasto-me e acerto seu braço com um tapa.

— Eu venho fazer uma humilde visita e sou agredido. Que


absurdo! Vou sair para beber algo forte, afogar as mágoas —
dramatiza como sempre.

— Henrique, se concentra, já que está aqui. E você não bebia


álcool, o que houve? — questiono.

Ele ergue os braços em rendição e se senta na poltrona.

— Tenho três mulheres para cuidar, preciso consumir algo


muito forte, ou viro um assassino.

— O que sabem? — questiono, me sentando ao lado do


Henrique e ignorando seus papos loucos.

— Eles querem você, mas ao que parece o Escobar que


pegarem será lucro — Marcos é direto.
— Quem pode ser? — pergunto, afinal, suspeitas devem existir.

— Temos suspeitas. A primeira é a máfia na qual o Marcos


sentenciou o chefão à prisão, e que é a mesma que o papai também
levou o primeiro chefe à prisão e o cara morreu. Podem estar
querendo vingança e começando por você, que nos deixaria
vulneráveis ao extremo — Henrique revela, totalmente sério.

Sim. É uma possibilidade. Na época do Joseph, coisas assim


aconteceram e terminou com ele morto.

— Quais as outras suspeitas?

— O que não encaixa no quebra-cabeça é que, para fazerem


isso, precisam estar a par de cada passo seu. Saber todas as suas
decisões, já que não tem uma agenda pessoal, somente de trabalho.
Então é alguém que conhece cada lugar que você frequenta e que
tem suas decisões em mãos — Marcos responde.

— Mas na época do Joseph, acontecia e não foi ninguém de


dentro! — rebato.

— Não. Mas os locais dos ataques eram sempre após eventos,


julgamentos, ou seguiam o carro. Neste caso, ninguém está seguindo
para ser notado, e os ataques são feitos em lugares inimagináveis.
Saída de treino e restaurante — meu filho fala e seu olhar é de quem
está pensando em algo.

— Alguém da segurança? Uma pessoa assim saberia cada


passo que dou.

— Estamos estudando esta possibilidade, mas acho provável


demais. Não seriam idiotas, sabem que são os primeiros suspeitos.
Deixariam escapar algo nos treinos e reuniões, todo suspeito acaba
deixando uma brecha. Nenhum crime é perfeito! — Marcos declara.

Henrique se levanta rapidamente.

— Me dá seu celular, agora! — ele exige.

— O que houve, Henrique? — pergunto sem entender.

— Me dá! — pede nervoso.

Retiro da bolsa e entrego a ele.

— Porra! Como deixamos isso passar?! — Marcos fala alterado.

Henrique retira meu chip com um pouco de dificuldade e


quebra. Em seguida quebra meu celular.

— Seja o que for, irei querer um novo! — digo completamente


chocada com a cena.

— Não é ninguém de dentro da equipe. Quem está fazendo isso


grampeou seu telefone. Estava tendo acesso as suas ligações, GPS,
mensagens...

Arregalo os olhos.

— Você mantém contato por mensagens e ligações com os


seguranças. Por isso os ataques foram em horários muito
correspondentes a sua saída dos locais — Marcos fala como se isso
fosse óbvio o tempo todo e fomos burros ao não notar, o que é uma
verdade, mas, pela expressão dele, é melhor eu ficar quietinha
quanto a isso.

Fico olhando para eles, e vendo o ponto que chegou tudo isso.
— E agora, como vamos saber quem é? Gente, isso é loucura
demais! Que inferno é este?

— Simples, Paula. Quem estava grampeando vai ter que


arrumar outra forma de saber cada passo seu. E então vamos pegá-
lo — Marcos fala e dá seu olhar que conheço bem: estarão dispostos
a tudo.

Sinto uma sensação ruim. Da última vez que senti algo assim
perdi o Joseph. Esfrego o peito e respiro fundo.

— Tem mais uma coisa — Henrique avisa se sentando


novamente. — Mãe, o Alessandro é um suspeito...

Sinto um calafrio e uma sensação esquisita. Mas não sei dizer


se é de medo, raiva, ou o que é.

— Não comecem. Ele não faria essas coisas.

— Mãe, escute, por favor. O cara apareceu em casa depois do


primeiro atentado. Esteve com você no segundo. Pascoal informou
que a senhora deu informações a ele... Mãe, todos são suspeitos. O
cara some e aparece do nada...

— Pascoal é um linguarudo. E Alessandro é inocente. Eu sei


disso — afirmo com toda a minha certeza.

— Ninguém é inocente agora. Todos são suspeitos! — Marcos


tem o tom rígido.

Levanto nervosa e olho de um para o outro.

— Querem que eu acredite que ele tem alguma coisa com isso?
Então me tragam provas. Do contrário, ele é inocente.
— Paula, o Jacob o escutou pedindo ajuda para alguém...

— Não. Isso não é certo...

— Mãe, o que sente por este cara? Por que tanta proteção?

— Porque não admito que julguem alguém sem provas. Isso eu


não aceito. Trabalhem com provas, então conversaremos. Do
contrário, sem julgamentos.

— Mãe...

— Isso é minha palavra final, Henrique Escobar! — Ele bufa e


abaixa o olhar. — Irei até a delegacia falar com o David e ver se
sabem de mais coisas. Levantem os traseiros daí e comecem a agir
para que ninguém saia ferido. E repito: só acusem com provas.

Entro no carro e Pascoal começa a dirigir.

— Pare de ser linguarudo, homem!

— Só fiz minha função, senhora.

Solto o ar com força. Não estou bem. Odeio julgamentos sem


provas. Eles são da lei assim como eu, sabem que nada e ninguém
deve ser julgado sem que tenhamos certezas. Todos são suspeitos?
São! Mas persistir apenas de um lado? Desse jeito não. Se todos são,
então que olhem para tudo e todos, e não apenas para um lado, e
foquem todas acusações para lá.

— Eu sei... Vamos até a delegacia do David, e depois preciso de


um celular novo... Melhor, eles vão me dar um novo e o que eu
escolher.
— Sabe, senhora, trabalho um bom tempo para esta família, e
nunca vi todos sem saber o que fazer. Talvez esse excesso de
preocupação com o rapaz da barba bem-feitinha é porque é a única
certeza que eles têm; e para os Escobar ficarem de mãos atadas, não
é fácil.

— Certeza de quê? Isso que não entendo. Se tem provas, me


falem.

— A certeza de que ninguém é confiável neste momento,


senhora.

Resolvo ficar calada e refletindo. Também não sei por que


estou defendendo tanto o Alessandro, mas essa desconfiança sem
provas me deixa... Não sei. Só me sinto péssima. Ele entrou para a
família, e agora está correndo atrás de mim, quando pensei que ele
queria outra... Não sei por que esta proteção a ele da minha parte.
Na verdade, talvez eu saiba. Já fomos enganados por pessoas que
confiávamos, como a Poliana Xavier e o Joel, um grande amigo do
Joseph que, mesmo depois de tanta ajuda, e ter se formado e sido
um bom juiz, começou a mexer com o que não devia e foi morto. É
difícil acreditar que, pela terceira vez, alguém trairia nossa
confiança, depois de abrirmos nossas portas e acolhermos. Já
perdemos muita coisa, é difícil perder ainda mais...

Alessandro Santos

Saio da universidade e vou direto para casa. Tentei contato


com a Paula, mas não consegui. Caralho, no que me transformei?
Vivo atrás de uma única mulher agora!

O caminho até em casa é rápido, o que me deixa muito feliz, já


que estou cansado e queria ficar longe daqueles alunos que têm o
poder de me enlouquecerem.

Entro em casa e jogo as coisas no sofá.

— Estava a sua espera — Felipe diz saindo do corredor.

— Que ótimo! Quero saber qual foi o pecado que fiz, para estar
pagando tudo?

— Não seja mal-humorado. Tenho novidades sobre a ajuda que


me pediu.

Ele me entrega alguns papéis que estão em suas mãos e sorri.

— O que é isso?

— Leia. Tudo o que precisa saber... Bom, quase tudo. Seus


queridos Escobar investigaram sobre você hoje, e bem a fundo. Se
prepare, pois já devem estar sabendo sobre nosso pai; e se não
sabem, vão acabar descobrindo.

Olho para ele e respiro fundo.

— Como sabe disso?

— Porque tenho alguns contatos. Além do mais, não precisa


me agradecer.

— Fale a verdade, Felipe. Por que realmente está aqui?


— Não interessa. Apenas olhe logo o que consegui, é tudo o que
precisa saber agora. — Está sério. Bipolaridade reinando.

Começo a ler e me sento no sofá.

Merda!

— Como conseguiu isso? Que garantias isso traz? Como


confiar?

— Confiando, cacete! Parece que os Escobar esqueceram deste


detalhe. Estão pagando para cada um desses caras agirem. E quem
está fazendo isso é...

O meu celular toca e é o número da Jaqueline.

— Bom, agora já sabe. A pessoa pode ter muitos contatos, mas


eu tenho mais, e tenho pessoas fiéis ao meu lado, ao contrário desta
pessoa. Só que você não pode falar a eles...

Meu celular continua tocando.

— Não, sem me ferrar. Sem ferrar a nós dois. Agora pense bem
no que vai fazer, Alessandro. Vou indo, tenho que ver o espaço da
minha nova clínica. — Ele me encara sério. — Deixe para abrir a
porra da boca no momento certo, não seja um fofoqueiro, porque
vai foder a todos.

Ele sai e atendo ao celular. Merda!

— Oi, Jaqueline.

— Olá, Alessandro. Temos que conversar, é urgente.

— Jaqueline, eu...
— É urgente. Me encontre no endereço que vou te mandar.

— Ok. — Ela desliga.

Era só o que me faltava, para desandar tudo de vez. A Paula já


pensa que tive algo com a Jaqueline, e agora se sonhar com isso...
estou fodido. E esses papéis... Caralho, se for verdade, não vai
acabar bem. Felipe sabe muito mais, e quero saber o que ele está
escondendo. Esse papo de comprar clínica não me convenceu. Está
camuflando algo e acho que é sério. Ele não ajudaria homens da lei
com facilidade, tudo tem um preço, e resta saber qual é desta vez e o
quanto está envolvido nisso tudo.
Sete

Alessandro Santos

— Que bom que você veio! — Jaqueline exclama sorridente


como sempre.

Estamos em uma cafeteria no centro da cidade. Ao que parece


ela veio acompanhar a sobrinha ao banco e decidiu que
precisávamos conversar.

Mexo impaciente o café. Realmente não estou com a cabeça no


lugar nos últimos dias. É muita coisa acontecendo, e meu irmão no
país não me alegra. Eu o amo, mas amaria mais se parasse com
essas coisas. Felipe já fez muita merda, e já tive que me calar por
muitas vezes, assim como foi com nosso pai. E agora mais segredos
aparecem, mais confusões. Tudo estava tranquilo demais. Hoje me
arrependo amargamente do dia que reencontrei Jacob Casagrande e
me aproximei dos Escobar. Porque tudo voltou. Os problemas com
meu irmão, que antes pareciam ter dado uma trégua; e agora de
brinde o problema com uma família, que parece querer me
condenar de todas as formas. Mas em partes, eu sou péssimo para
eles, porque nunca fui sincero sobre tudo, nem com eles e nem com
ninguém. Passei a vida escondendo muitas coisas, e quando achei
que poderia me acostumar com tudo, descobri que não é possível,
pois a vida sempre vai esfregar na nossa cara quem somos e de
onde viemos.

— Por que não viria? — Sorrio para amenizar meu tom


escroto, pois ela não tem culpa de nada.

— Você desapareceu... Não consegui contato até agora.

Sério que o assunto urgente é este? Porra, minha cabeça não


está nada boa para isso!

— Jaqueline, não sei se agora é a melhor hora para tratar


sobre isso.

— Sei que não. E não vim te cobrar nada. Eu pedi que viesse
por dois motivos.

Bebo um gole do café e faço um gesto para que ela continue:

— Primeiro, quero que saiba que não me deve explicações.


Nunca tivemos nada, Alessandro, então não precisa fugir. Eu
realmente pensei que estava interessado em mim e, meu Deus, seria
um milagre, porque só me aparece tranqueiras, mas já me
conformei que a vida não me quer comprometida. Porém, isso tem
deixado um clima estranho entre a Paula e eu. Não sei se algo está
acontecendo entre vocês, mas seria bom que deixasse claro a ela
que nunca tivemos nada. Seria estranho demais eu ter que tocar
neste assunto, ela poderia ficar chateada achando que estou
insinuando algo, não sei. Desde o início, eu deveria ter percebido
que seu interesse sempre foi por ela, mesmo nós dois ficando mais
próximos no início, entretanto não sei o que acontece, mas ela
parece fugir sempre quando você se aproxima... Só não deixe essa
mulher sofrer, e é isso o que vai me fazer entrar no segundo
assunto.

— Antes de continuar, quero que me desculpe se deixei


segundas intenções com você. Porque uma coisa você está muito
certa. Meu interesse sempre foi nela. O que é estranho. Sempre fugi
de relacionamentos, porque sempre gostei de me sentir livre. Mas
se a vida não me esmurrar e fazer eu mudar de opinião, ela não se
chamaria vida. — Dou de ombros.

Ela sorri e bebe o café.

— O segundo assunto é que tem muita gente desconfiando de


você. E puta merda, espero que não seja o culpado. Eu, Jacob, Ana e
Joana estamos colocando a mão no fogo por você. Porque até
mesmo Daiane está começando a ficar com a pulga atrás da orelha.
Juro que, se você for o culpado, eu mesma te mato. Porque a família
que hoje também considero minha, está correndo muito risco; e
uma mulher que, pelo visto, já sofreu demais é o alvo da vez. Então
se for você, pare. Vai embora. Suma de uma vez. E eu juro que irei
fingir que esse encontro nunca aconteceu. Agora se não for você, eu
sinto em lhe dizer, mas precisa começar a provar isso, porque tem
um bando de gente investigando você e deve saber o quanto são
poderosos. Seja o que for, abra o jogo.

Respiro fundo e retiro o papel do meu bolso e entrego a ela.


Foda-se, eu preciso compartilhar isso com alguém! Não dá para
segurar isso de todo mundo, não quando é a vida de muita gente em
jogo, inclusive da Paula.

Jaqueline abre o papel desconfiada e começa a ler. Sua


expressão muda e sua cara de espanto vêm fortemente. Dobra o
papel e me entrega.

— Que merda é essa? Como conseguiu tudo isso? Alessandro,


se isso for verdade, eles precisam saber.

— Aí está o problema. Não posso falar, porque vão exigir


respostas.

— O que está escondendo? Seja sincero. A minha sobrinha e o


filho estão correndo risco também. Ela é a única pessoa que me
sobrou da família, não posso perdê-la. Então abre a merda do jogo.
Olha, não me faça esfolar sua cara todinha em um asfalto bem
quente, porque, por aqueles que eu amo, eu faço sem dó e nem
piedade.

Psicopata, não? Por que todos vivem para me ameaçar? Devo


começar a andar com seguranças.

— Quem me trouxe essas informações não quer que eu revele,


pois vão querer saber quem forneceu.

— É próximo a você? Alessandro, se estão te ameaçando me


fale, eu posso tentar ajudar.

— Não pode, Jaqueline. Não tão facilmente. Esse papel é a


prova de que não tenho nada a ver com isso. Bom, em partes,
porque desconfio de algumas coisas...

— Mas te condena se revelar quem te deu as informações. Já


entendi. Você tem e não tem as provas.

Concordo.
— Preciso encontrar um jeito dessa informação chegar até
eles, sem que leve até a mim.

— Só me pergunto como deixaram isso passar, porque... É isso!


Temos que arrumar um jeito deste assunto surgir.

— Eles nunca vão imaginar isso. Para eles isso seria


impossível. Até porque não desconfiaram até agora.

— É, nisso você tem razão. Pelo visto é um beco sem saída.

Seu celular toca e ela declara ser mensagem da Beatriz. Não


demora e ergue o olhar espantada.

— Você me deu um papel dizendo que não tem nada a ver com
isso. Mas por que os Escobar estão atrás de você neste momento? —
Ela se levanta.

Caralho! Se eu sobreviver a isso, irei me considerar um


vitorioso de primeira categoria!

— Porque eles acabaram de fazer o que a pessoa queria.


Mudaram o foco das investigações. A Paula precisa tomar cuidado.
Eu vou para o meu apartamento, vai ser o primeiro lugar que vão
chegar. Por favor, confie em mim, e não diga nada deste papel.

— Por que devo fazer isso?

— Porque disse que estava colocando a mão no fogo por mim.

— Foi passado.

— Não foi, ou não estaria aqui me ouvindo. Não diga a ninguém


sobre o que viu. A ninguém, Jaqueline!
— Abra o jogo, busque um jeito, porque isso pode acabar mal,
Alessandro. Muito mal!

Pega a bolsa e se retira.

Paula Escobar

Ando de um lado para o outro. Eles só podem estar loucos.

— Mãe, ele pode sim ser o culpado. Temos informações sobre


ele. Você queria provas e temos. Vamos atrás do Alessandro! —
David diz nervoso.

— Me mostrem então!

— Porra, mãe! Abre os olhos. Olha ao seu redor. O que está te


prendendo a ele? Ele te pagou como advogada? É difícil saber que
mais uma pessoa próxima a esta família nos traiu, mas é uma
realidade. Estamos nos controlando com esse cara por sua causa. As
minhas filhas e esposa estão correndo risco, e estou abrindo mão de
tudo para proteger a todos. A senhora vai trocar a sua família por
esse cara? Tem certeza disso? Era isso que nosso pai faria?

Viro nervosa e olho seriamente para ele.

— NÃO OUSE FALAR DO SEU PAI NESTA SITUAÇÃO! — grito e


ele respira fundo. — Eu respeitei cada decisão que todos vocês
tomaram. Enfrentei o céu e o inferno por esta família. Sempre
coloquei todos vocês à frente de qualquer coisa. Quando seu pai se
foi, eu me tirei do lixo e coloquei uma máscara para não deixar essa
família desmoronar. Quando todos seguiam a vida, era eu que
chorava todas as noites pela dor de ter perdido o meu marido e ter
que me fazer de forte.

— Eu também sofri. Todos sofremos. Mas ele deixou um


legado, e estamos deixando ir por água abaixo pela senhora, que
prefere acreditar no Alessandro à família. — Ele está exaltado
também. Estamos nervosos demais.

— Mas você fugiu, David, como sempre faz. Você foge quando a
vida te aperta. Você foge quando os sentimentos te deixam confuso.
Sempre foi assim. Você tem isso do seu pai. Prefere morrer do que
ter que assumir seus sentimentos. Então não venha dizer que é por
minha causa que o legado da merda de um sobrenome está indo por
água abaixo. Eu não sou uma delegada, nem juíza e tampouco uma
promotora ou advogada criminalista. Se o legado que tanto quer
estufar o peito ao dizer está indo pelo ralo, é por culpa de vocês, que
estão ficando vulneráveis e atirando culpa para todos os lados, ao
invés de honrar a profissão que escolheram. E nisso seu pai não
teria orgulho. Porque ele jamais iria admitir que acusações sem
sentido acontecessem, e o foco das investigações desviassem. Você é
meu filho, David, e vai me respeitar, quer queira ou não. Fora desta
casa, você pode ser um delegado. Aqui dentro, embaixo do meu teto,
é meu filho, e não me faça perder a cabeça porque sou capaz disso.

Ele balança a cabeça e coloca a arma que estava na mesa, na


cintura.

— Onde vai? — pergunto com a voz trêmula. Estou muito


nervosa e odeio ter que agir assim, porque não é uma Paula que eu
gosto.
— Não vou fugir, se é isso o que a senhora vai declarar. Vou
cumprir com meu papel de delegado, como falou. Começando por
acompanhar os outros na busca pelo Alessandro Santos, um
possível culpado. Porque, na minha profissão, quando alguém é
suspeito, deve ser investigado, queiram as demais pessoas, ou não.
Com licença. — Ele se vira e começa a andar; quando para na porta
me olha mais uma vez. — Se for sair, não deixe os seguranças. Seja
prudente. E não deixe os treinos de lado. Nos próximos dias iremos
ter treino fechado na casa do Henrique, compareça. E isso não é
uma ordem é apenas um pedido, afinal, aqui dentro a senhora já
deixou claro que são suas ordens, e faremos isso. Mas daqui para
fora, não espere por isso, mãe. Eu a amo, mas desta vez a senhora
está errada. Se tem algo que te ligue a esse homem é melhor
descobrir logo, porque isso está afetando a todos. E sobre te
mostrar as provas... Mais uma vez serei o delegado e honrar minha
profissão, então, saiba que elas são confidenciais a senhora, pois
está muito afetada nessa história toda.

Ele sai e caio sentada no sofá, levando a cabeça às mãos. Não


choro. Não consigo. Mas dói. Minha família está desmoronando, e
não sei por onde começar a consertar. Tudo aconteceu de repente,
em uma queda livre.

Recebo uma mensagem da Daiane dizendo para ir ao treino


que ela está me esperando junto da Ana Louise. E irei, pois irei
liberar todos os sentimentos que estou tendo e não consigo deixar
vir em lágrimas ou palavras.

— De novo! — Laerte grita para Daiane, que levanta irritada.


— Não adianta me olhar assim, vocês estão sem foco. Deixando
falhas. Se concentra e respira. Antes que acabe se matando por
segurar o ar por tanto tempo. Vocês são Escobar, mostrem o que
sabem! — Frederico diz e leva a Ana ao chão em seguida.

— Vamos fazer melhor. Serão as três contra nós dois.


Queremos o chão, e espero que queiram ficar em pé. Agora é melhor
não ficarem desatentas — Laerte orienta ficando em posição junto
do Frederico.

Eles nos cercam. E começam a golpear. Desviamos. Está cada


uma por si. Abaixo quando Laerte vem me atingir e golpeio sua
perna, mas ele é esperto e segura meu braço direito levando-o para
trás, em seguida me dá uma rasteira e o colchonete amortece minha
queda. Ana tenta pegar Frederico, mas ele a usa de escudo, e
derruba a Daiane com ela. Nós três estamos no chão. Suadas,
vermelhas e cansadas.

— Se falar “de novo”, eu juro que reúno o resto da força que


tenho e vou arrancar sua língua. — Ana está ofegante e retira os fios
de cabelo do rosto.

— Apenas direi para se sentarem, Sra. Nervosinha. — Fazemos


o que Laerte diz.

Hoje foi puxado, mas foi bom. Estou me sentindo mais leve.
Uma pena Liziara e Bia não terem vindo.

— Vocês estão desatentas. Assim como Beatriz e Liziara,


também. Todas estão péssimas. Não sei o que está tirando o foco,
mas não é bom. Quando falei para deixarem nós dois no chão, vocês
lutaram cada uma por si. Sendo que são uma equipe. E deveriam ter
agido como tal. Esses treinos não são brincadeiras. Podem manter
vocês vivas pelo máximo de tempo possível, até conseguirem ajuda
ou se livrarem do perigo, quem sabe.

— Ele está certo. Se continuarem assim, vão acabar se


matando. E desse jeito, é melhor nem irem para aulas de tiro,
porque se no corpo e mente estão fracas, desatentas, seria perigoso
demais armadas. Se matariam com toda a certeza. — Laerte cruza
os braços erguendo uma sobrancelha.

Daiane se deita novamente concordando:

— Eles têm razão.

— Tem mesmo. Precisamos focar mais — Ana assente.

— Não apenas aqui. Mas na família toda. Ouviram, Liziara e


Beatriz também estão ruins. Todos nós perdemos o foco de tudo e
estamos vulneráveis. E seja quem for querendo nosso fim, está
gostando disso e talvez fosse exatamente o que queria. Hoje, minha
discussão com o David só provou que precisamos nos unir mais.
Armas, treinos, seguranças, nada disso será suficiente, se não
focarmos — falo e respiro fundo.

— Porra, até que enfim entenderam! Amanhã quero vocês


todas aqui e sem desculpas. E espero que seja um treino e não um
palco de derrotas para vocês. Podem ir agora — Frederico nos
libera e nos ajuda a levantar.

— Vamos sair daqui e ir resolver uma coisa.

— Que coisa, mãe? — Daiane questiona. — Eu prometi que


ajudaria a Sophie com os deveres hoje.
— Pois ajude em outro dia, e ela vai entender. Uma coisa que o
David disse é certa: um suspeito tem que ser investigado. Chega de
agir com o coração. Está na hora de agir com a razão. Vamos atrás
dos meninos e do Alessandro. Não posso mais deixar meu coração
falar, até porque não sei o que ele quer dizer. Quero saber o que
descobriram sobre ele.

— As Panteras? — Laerte questiona rindo.

— Não. As Escobar. E sei o primeiro lugar que vão procurar


pelo Alessandro, pois talvez eu tenha aprendido alguns truques de
rastreio e investigações com meu marido, e juro que não quero
saber como ele aprendeu, porque é cheio dos contatos e devedores.
De verdade, acho que o Henrique é de alguma máfia e não conta —
Ana fala e acabamos rindo.

— Máfia dos folgados, só se for. Vamos! — Daiane rebate.

— Obrigada, rapazes. Vocês ajudaram muito hoje. Agora temos


que ir, e nos vemos amanhã — despeço-me deles.

— Se minhas costelas deixarem. Andarei de quatro e não sei,


mas para o Henrique isso vai ser bom... — Ana faz cara de dor ao
tentar se alongar.

— Ana, eu não precisava desta informação — resmungo e


rimos.

É hora de buscar algumas informações e levar


questionamentos, que com toda certeza vão existir.
Oito

Paula Escobar

Ana localizou o endereço de onde o Alessandro mora, afinal, eu


nunca estive aqui. Sou liberada para subir, e como ainda não tem
nenhum segurança na rua, ou carros conhecidos, sei que os homens
da família ainda não chegaram.
Subo com as meninas. E minha ansiedade é grande, mas tento
manter o controle. Jamais imaginei que um dia eu estaria assim,
indo basicamente contra meus filhos e aquele que criei como um.
Mas há coisas nesta vida que temos que nos posicionar, mesmo que
vá contra a decisão de todos. Se tem uma coisa que jamais admito é
injustiça. E preciso ter certeza se estão ou não cometendo uma.
Saímos do elevador e elas me olham. Nem banho tomamos.
Apenas viemos do jeito que estávamos.
— Tem certeza, Paula? — Ana questiona preocupada.
— Tenho. Mas não precisa ir contra seu marido. Assim como a
Daiane, não precisa ir contra seus irmãos e tio.
— Mãe, eu realmente estou começando a desconfiar do
Alessandro, mas não daria para trás agora. A senhora precisa de
mim, e eu vou estar ao seu lado.
Ana segura minha mão.
— Eu irei ficar. Não importa no que o Henrique acredita. A
minha opinião também tem valor. E não irei me obrigar a sempre ir
a favor dele. Mas também não irei nos deixar vulneráveis. — Ela
mostra a arma presa nas costas.
— Eu até traria uma, mas eu seria vítima dela. Ainda não sou a
melhor pessoa na pontaria — Daiane fala e acabamos rindo.
Sempre soube que ela mentiu sobre ter concluído os cursos no
passado. Conheço meus filhos, sei cada mentira que acham que me
convence.
Respiro fundo e aperto a campainha. Não demora e a porta é
aberta por uma senhora.
— Podem entrar. Ele já vem.
Entramos e a mulher sorri.
— Querem algo para beber, comer?
Negamos e ela pede licença e se retira.
Observo o local e é muito bonito, e bem claro. Ótimo gosto para
decoração, devo dizer.
— Você sabe o que descobriram, filha?
— Não. Se negaram a me dizer. Acho que desconfiaram que eu
abriria a boca para a senhora.
Sentamo-nos e não demora para o Alessandro aparecer com
uma pasta nas mãos.
— Olha, se me dissessem que eu teria três mulheres na minha
sala, e com a aparência de que lutaram com um dragão, eu não
acreditaria. — Sua voz me faz sobressaltar, e sinto um arrepio
percorrer todo o meu corpo, mas busco disfarçar com um sorriso.
Ele nos cumprimenta, e seu cheiro é atraente, nunca neguei
que Alessandro fosse muito bonito e que tivesse um charme
diferente, peculiar. Ele se senta à mesa de centro a nossa frente.
— Chegaram primeiro que os outros. Muito rápidas. E acredito
que com muitas perguntas. Podem fazê-las. — Seu tom é calmo.
Fico olhando para ele, e em nenhum momento desvia o olhar.
Me observa atentamente. Seu semblante é tranquilo. Deixa a pasta
que segura, ao seu lado. Um sorriso surge em seus lábios e seu olhar
transmite mistério e luxúria... Deus, eu não posso reparar nisso a
esta altura do campeonato!
— Vamos. Não sejam tímidas. Sou um livro aberto. Bom, em
alguns momentos sou.
— O que eles sabem? — questiono e pisco rápido para ver se
isso ajuda eu parar de analisar seu olhar.
— Uma ótima pergunta. Bom, é uma longa história, mas
tentarei resumir.
— Sem brincadeiras, Alessandro. Eu estou indo contra todos
por você. Então fale, por favor. Seja sincero — peço e meu coração
acelera. É como se eu estivesse colocando em provas uma pessoa
que passei a vida inteira ao lado, porque é estranho este sentimento
que tenho por ele, é como se já nos conhecêssemos há anos, difícil
de explicar.
— Valmir Sanchez. Conhece esse nome?
Sinto um aperto no peito. Recordações invadem minha
memória. Meu estômago contrai. Um arrepio percorre meu corpo.
— Paula, está tudo bem? Ficou pálida — Ana questiona e vejo o
semblante de preocupação que surge em todos na sala.
— Mãe, conhece esse nome?
— Sim... O q-que esse nome tem a ver com isso? — me
atrapalho um pouco ao questionar.
— Meu pai. Sim, meu pai era o delegado que tentou matar o
juiz Joseph Escobar. É isso o que os Escobar descobriram. Que eu
sou filho do delegado Sanchez.
Levanto e levo uma mão ao peito indo para a lateral do sofá.
— E por que nunca disse isso? Você tem noção do quanto
passamos um inferno por perseguições desse homem louco? Você
sabia que o Joseph fez uma cirurgia de risco porque esse psicopata
o atingiu com um tiro e por pouco não tirou a vida dele naquela
época? Eu quase perdi a minha filha por causa daquela maldita
perseguição. — Sinto meu corpo tremer.
— Mãe... Se acalma.
— Me acalmar? Eu quase perdi você, e por culpa desse maldito
delegado que nunca irei sentir pena pela morte trágica que teve. Ele
mereceu depois de todo inferno que nos causou. Ele foi o terror em
nossa família no passado. — Minha voz sai mais intensa do que eu
esperava.
— Saiba que eu nunca senti pena também. Meu pai fez muita
merda. Era um delegado corrupto e tornou a vida da minha mãe um
inferno! — Alessandro mantém a voz baixa, mas seu tom é frio.
— Isso é alguma vingança? Era a mim que queria, Alessandro?
Porque eu estou aqui. Faça o que tiver que ser feito, só pare de
mexer com a minha família! — grito nervosa. — Foi por isso que
tentou me seduzir? O beijo foi falso? Tudo isso está sendo parte de
algum plano? Fale.
Ele se levanta e caminha na minha direção. Fico firme, não
recuo. A adrenalina toma meu corpo inteiro. As meninas ficam em
posição, e Ana leva a mão às costas, onde está a arma.
— Por que vingança? Por que na última perseguição o Joseph
atirou várias vezes contra o carro dele, e ele capotou e explodiu?
Não, Paula. Na verdade, eu agradeço por aquele demônio ter
morrido, só tenho ódio disso não ter acontecido antes da minha
mãe ficar depressiva e tirar a própria vida e eu ter que abafar isso
de todo mundo.
— Por que nunca contou? Sabe o quanto esse homem fez mal
para o Joseph no passado. E você...
— Sou filho dele? Não escolhi isso. Passei anos tentando
ocultar qualquer ligação dele comigo. No entanto agradeço minha
mãe por nunca ter me dado o sobrenome dele. Seria péssimo
carregar o sobrenome de um homem como ele. Mas esta não é a
questão. Se queriam usar isso contra mim, não precisam, porque
posso provar cada coisa que digo. Nesta pasta ao meu lado há todos
os boletins de ocorrência que minha mãe fez contra ele, e de
repente tudo sumia do sistema da polícia e restava apenas as cópias
que ela obtinha. Ele abafava tudo. Todos achavam que ela era louca,
porque ele fez todo mundo acreditar nisso, e até hoje quem a
conhecia acredita que morreu de infarto, quando na verdade se
entupiu de remédio, porque a dor de tudo o que passou era
grande... — Ele faz uma pausa. — Não importa. Nada do que eu diga
vai resolver algo. Vão ser os homens da lei contra mim. E tudo bem.
Só que, enquanto vocês perdem tempo procurando formas de me
condenar, o tempo está passando e o pior pode acontecer. — Sinto a
raiva em cada fala dele.
— Alessandro, está tudo fora de controle. E eu sinto que sabe
de mais coisas. Me fale. Se quer que eu acredite totalmente em você,
me fale toda a verdade.
Ele passa a mão pelos cabelos de corte moderno e grisalhos
que trazem ainda mais charme a ele.
— Não sei... Não sei de nada, Paula.
— Por que está mentindo? — Daiane questiona. — Jacob confia
tanto em você. Ele colocaria a mão dele no fogo pelo amigo. Mas
será que está valendo a pena?
— Vocês não entenderiam.
— Tente. Quer que eu acredite em você? Me conte toda a
verdade.
O celular da Ana começa a tocar.
— É o Henrique. Ele já deve saber que estamos aqui. Melhor
descermos, Daiane, e tentarmos segurá-los pelo máximo de tempo.
Quem sabe assim, Alessandro para de esconder o que sabe, e nos
ajude a descobrir o culpado disso tudo, e assim possamos pegá-lo.
— Não sei. Não vou deixar minha mãe sozinha...
— Vai, filha. Eu sei me virar.
— Mãe...
— Vai, Daiane! — peço nervosa.
Ela me olha e acaba cedendo. Elas saem do apartamento.
Olho para o Alessandro e vejo o semblante obscuro que se
forma.
— Se tem uma coisa que aprendi nesses anos vivendo nesta
loucura, é identificar quando mentem. Então me diga a verdade.
Você já escondeu algo muito importante, o que mais esconde? Me
ajude a continuar acreditando em você. — Minha voz embarga.
— Paula, eu não posso. Mas...
— Alessandro, se existe um pingo de sentimento por mim, fale
a verdade. A minha família está indo à ruína. Me ajude. Eu quero
continuar acreditando. Por favor, Alessandro.
Ele leva a mão ao meu rosto e acaricia. Sentir seu toque me
acalma, não deveria, mas é o que acontece.
— Jamais imaginei que uma mulher poderia me fazer perder o
juízo. Sempre fugi, porque achava ser uma coisa de louco. Mas desde
que te vi naquela boate é somente em você que penso. E porra, que
merda é isso?! Porque parece que tudo começou a piorar quando eu
resolvi abrir meu coração. Só que mesmo nutrindo sentimentos
muito importantes por você, eu não posso falar nada, porque terei
que trazer mais informações e eu prejudicaria alguém que amo
muito, mesmo sendo uma pessoa errada na maior parte do tempo.
Retiro sua mão do meu rosto.
— Mas pode continuar me prejudicando?
— Paula, por favor, tente entender...
— Passei anos me remoendo pela morte do Joseph. Não queria
voltar a amar ninguém. Mas então você apareceu. Eu achei que você
estava interessado na Jaqueline, mas quando pensei que poderia
estar errada sobre isso, você sumiu. Voltei a me bloquear para
sentir qualquer coisa, só que pelo inferno... você retornou, sem dar
qualquer explicação coerente, e veio se aproximando cada vez mais,
e mexendo com meus sentimentos, me deixando confusa. Todas
essas perseguições iniciaram, e por Deus... Alessandro, você
aparecia em seguida. Eu sinto que devo confiar em você, algo me diz
isso, e por causa disso estou indo contra minha família. Entretanto,
a história só piora, porque descubro que é filho de um homem
louco, que por motivos de inveja tentou matar o Joseph e a mim; e
para dar um enredo ainda melhor a essa louca história, você está
escondendo algo e me pede para tentar entender. Não, posso mais.
Estou ficando louca com tudo isso. Se tem uma coisa que aprendi de
verdade é que ou você está dentro ou você está fora, não existe
meio-termo para isso. Faça a sua escolha, ou suma da minha vida
eternamente. Porque culpado você não é, eu tenho certeza, mas
acobertar quem quer que seja te condenará também. E eu não
quero ficar para ver isso.
Vou me afastar, mas ele me puxa e tudo acontece rápido. Seus
lábios estão nos meus. Meu corpo perde a rigidez, e acabo cedendo
em seus braços, onde ele me aperta com mais força. Retribuo o
beijo e não consigo pensar em nada. Tudo que desejo e quero é ele,
e isso é assustador, porque fazia muito tempo que isso não me
acontecia. Seus braços me acolhem como se fosse me perder em
qualquer instante. Lágrimas começam a escorrer por meu rosto,
porque uma onda de sentimentos e medo me invadem. Eu sei o que
é isso. Eu já senti isso. Meu coração teve seu lacre rompido.
Todos os nossos encontros após aquela boate, e até o tempo
que ele desapareceu depois do casamento da Daiane, e agora seu
retorno e toda essa confusão o envolvendo, tudo trouxe o
sentimento que eu temia e não queria ter mais por ninguém. Só um
homem conseguiu me desestabilizar assim, conseguiu fazer a Paula
Assis perder toda a compostura e mostrar seu lado carinhoso e
sensível. Achei que jamais essa história se repetiria. Eu não
imaginei que poderia haver um recomeço, o meu recomeço. Mas e
se for errado? E se o que ele me esconde é o que pode proteger
minha família e a mim? Meu Deus...
Me afasto bruscamente. Ele tenta se aproximar e recuo. Eu
preciso tomar uma decisão. Preciso fazer isso e agora. Porque este
beijo que me deu foi um pedido de desculpas, não por algo que fez,
mas por algo que pode acontecer, por ele ter se calado. Ele está com
medo. Ele sabe que algo vai acontecer. Está me escondendo algo. É
proteção. Joseph Escobar já fez isso, e hoje não está mais aqui. Não
posso deixar que isso se repita. Homem nenhum mais vai me beijar,
cuidar de mim, proteger, apenas pelo medo do que pode vir a
acontecer. Eu cansei disso. Cansei de sentir pavor a cada carinho
que recebo. Cansei de ficar noites em claro, pelo medo do
desconhecido. Cansei de beijos que parecem um tipo de adeus.
— Deixe-os subirem. Conte a verdade. E não faça mais isso, não
me beije como se fosse a última vez.
— Paula, por favor, não complique mais toda essa história.
Precisamos tentar entender o que há entre nós, já que a porra do
destino vive para nos aproximar. — Ele se aproxima mais uma vez
e, desta vez, não recuo. Ele segura meu rosto com ambas as mãos e
me olha nos olhos. — Eu vou confessar algo que... puta que pariu,
não me faça repetir, porque não sei se serei capaz no momento, já
que é a primeira vez na minha vida que isso está acontecendo.
Concordo, nervosa pela curiosidade.
— Eu quero você. Nunca foi a Jaqueline, sempre foi você. Não
sei o que o destino está tentando fazer comigo, porque louco eu já
sou, afinal, sou professor de um bando de marmanjos que parecem
crianças. Mas eu quero você. Não foi um beijo de despedida, foi um
tal que chamam de amor, e maldito seja esse infeliz que está me
deixando perturbado. Eu não vou deixar que nada aconteça. Só
confia em mim. Eu vou dar um jeito. Mas tem muita coisa em jogo.
Só saiba que eu não sou o culpado e jamais seria. Mesmo sendo filho
daquele desgraçado, eu não sou como ele.
— Alessandro Santos, eu sou cardíaca, então não brinque
comigo. E você diz de amor, eu digo que foi de despedida, porque já
senti isso...
— Não me compare com Joseph Escobar, cacete! — Fica
nervoso. — Eu não sou ele. Joseph se foi, mas eu estou aqui na sua
frente, com um bando de gente me acusando, e você querendo me
matar pelo visto. Então, não me compare. Pare de pensar nele por
um instante, e se preocupe em se manter viva, para decidir se fica
comigo, ou eu vou embora.
— Não pode me pedir isso.
— Já fiz. E porra, não me faça te odiar, mulher. Facilita, que não
sei ser romântico. Recomeça, ou fique presa no passado, deixando a
sua vida passar. Sua escolha.
— Então me fale. O que sabe?
— A única coisa que posso dizer é para que observem mais.
Fiquem atentos aos detalhes. Prestem mais atenção. Vocês já têm o
nome da pessoa, só não viram o que está diante de vocês. Use a lei
para isso. A resposta está aí.
— Homem, eu já disse que sou cardíaca. Então não me venha
com enigmas.
Ele se afasta e sorri.
— Vou liberar a entrada deles. Qual deles anda armado?
— Todos.
— Que ótimo. Bem que dizem que a vida é como um sopro.
Hora de mostrar a Deus que fui um bom menino e pedir uma
proteção.
— Não adianta tentar enganá-Lo. Assim como não adianta
tentar enganar um Escobar.
— Você está de que lado, porra?
Dou de ombros e me sento. Comigo aqui não vão fazer nada a
ele. E vamos ter uma conversa civilizada ou com a confusão interna
que estou, soco a cara de todos.
Ele autoriza a subida deles. Então se vira para mim e aponta
um dedo.
— Se eu sair vivo hoje, amanhã teremos um dia apenas nosso.
Depois que eu der aula para aquele bando de gente, que acredito
que ainda vão me deixar louco.
Vou argumentar, mas prefiro me calar com o olhar que ele me
lança.
— Sem discussões. Preciso lembrar se tenho colete à prova de
balas. Não sei se restou algo que eu tenha guardado do traste do
meu pai.
— Simples. Não fique na frente do Marcos. E jamais gagueje
para o David. E nunca fale que nos beijamos e que amanhã iremos
sair ao Henrique. E então irei manter a casa sem respingos de
sangue.
Ele me lança um olhar de raiva e sorrio, porque mediante a
esta loucura só nos resta sorrir, ou iremos ao fundo do poço para
não voltarmos mais.
— Paula? — Olho para ele. — Pare de pensar demais. Nunca
acreditei nessa história de destino que une pessoas, mas estou
começando a ver isso como a nossa realidade. Estou aqui de alma,
mente e corpo, e quero que você também esteja assim. Eu não sou
ele; e se for para ficar e buscar comparações, eu te peço para ir,
porque não vou lutar com alguém que nem vivo está, isso é muito
fodido até mesmo para mim. Eu quero você como jamais quis, eu
voltei e fui atrás de você, eu sempre vi você, meus olhos sempre
foram seus desde que te encontrei, então me mostre que isso é
recíproco, porque eu não sei lidar com isso e preciso de você, mas
desde que esteja vendo eu, Alessandro Santos, que está louco para
ter você totalmente para mim. Um homem vivo, porque eu estou
vivo e você também. Se eu estiver sendo duro demais, desculpe, mas
não irei pedir perdão por dizer o que está preso dentro de mim.
Fique, se for para ser uma pessoa que está disposta a se entregar.
Suas palavras tomam conta de mim. Eu vim em busca de
informações que sabia que me dariam o que pensar, e agora
encontro algo tão grande quanto qualquer outro assunto intenso
que temos enfrentado nos últimos dias. Está uma loucura sem fim
tudo isso.
Ainda estou assustada por saber de quem ele é filho, mas
sendo essa a prova que o David disse ter, meu filho está errado.
Todos eles estão. Alessandro não é o culpado, e falo isso como
advogada, eu vi cada reação que ele emitiu ao contar tudo. Fiz uma
análise corporal, e ela entrega muitas coisas. Mas seja lá quem for o
culpado, está fazendo um bom serviço em deixar todos
perturbados.
Quem quer o nosso fim?
Nove

Alessandro Santos

— Professor, e quem me garante que qualquer um destes


filósofos estavam certos? Quais provas pode nos oferecer? Por
enquanto parece um monte de asneiras.
Paro com o controle na mão e volto a olhar para o telão com a
apresentação. Neste instante começo a pensar o porquê eu quis ser
professor. Eu tinha tantas outras opções. Até mesmo na área
policial, claro que não seria como o cretino do meu pai, mas era
uma opção. Poderia apenas estar me esbanjando com mulheres e
dinheiro também, afinal, não preciso mais trabalhar, posso viver
bem até meu último suspiro, que imagino ser antes do término
desta aula.
Ontem eu deveria ter provocado mais os homens Escobar, feito
com que eles perdessem o controle, ao ponto da Paula não
conseguir apartar, e hoje simplesmente não precisaria estar aqui
ouvindo isso de um aluno que parece um turista, vive de passagem
nas aulas, e o pai é um empresário que sempre passa a mão na
cabeça do cara de vinte e cinco anos, como se fosse uma criança.
Mas não, eu fiquei quieto ontem, e eles foram profissionais, e a
Paula uma calmaria sem igual.
Como sou um homem paciente, e que ama o que faz, terei
calma.
Volto a olhar para o ser humano e com toda calma respondo:
— Se você tivesse participado com frequência das aulas,
saberia o que estes filósofos queriam dizer com cada palavra e que
alguns tiveram determinadas falas, através de acontecimentos
reais, ou seja, as provas que tanto quer. Se para você tudo isso é
asneira te convido a se retirar com um pouco de dignidade que lhe
resta, e não me faça te odiar. E, por favor, diga a seu pai que estou à
disposição dele quando vier me dizer que vai processar a mim ou a
porra que for — digo calmo, como se eu não estivesse buscando
formas de pular da janela antes de cometer um crime.
Um aluno assovia e começa a zombar. Os demais permanecem
quietos, pois sabem que “esta calmaria” é porque meu limite já foi.
O aluno pega a mochila e sai sorrindo da sala.
— Eu vou ter que lidar com mais alguma criança mimada? Me
avisem, pois saio da sala e peço que um professor apropriado para
isso venha dar aula. Caso contrário, que possamos seguir com a
aula, pois na próxima é prova, e vocês precisam dessa nota, porque
não vou poupar ninguém. Sem privilégios... Aquele papo todo que já
conhecem.
— Acordou de péssimo humor hoje, hein? — Celma diz e sorri.
— É que vim preparado para dar aula para adultos e não
crianças.
— Não está mais aqui quem falou... E sabe, professor, existe
alguma política sobre relações entre alunos e professores? Uma
dúvida que minha amiga teve — diz com a voz manhosa.
Eles começam a rir.
— Eu vou fingir que não ouvi, Celma. E não vai ganhar notas a
mais, se achou que flertar comigo resolveria, afinal, essa história de
“minha amiga” é antiga e falsa. — Respiro fundo. — Posso
continuar?
Eles continuam rindo, mas concordam.

A aula foi complicada, mas no final, parece que conseguiram


compreender alguma coisa. Só queria ir embora logo. Tem muita
coisa acontecendo para ficar aguentando aluno que não valoriza o
que paga neste lugar. Além do mais, eu realmente não estou com a
mente muito boa para ensinar algo, desde a conversa de ontem com
os Escobar. Ocultei uma parte da história para eles, e algo me diz
que não deixaram passar, mas vão esperar o momento certo para
vir atrás de respostas. Passei a noite pensando em tudo e o quanto
estou ferrado, pois se falo o que sei vão querer saber como consegui
as informações e vão descobrir sobre meu irmão e com isso ferro
com ele, e a turma retardada dele ferra com todos. Mas se continuo
calado fodo a vida da Paula e companhia. Se eu for o herói que ela
precisa, ferro meu irmão. Se eu for o vilão ferro ela. Nunca a frase
“ser ou não ser, eis a questão”, fez tanto sentido para mim.
Ela prometeu que hoje aceitaria sair comigo, após o trabalho e
o treino. Passar um tempo longe de tudo e tentando entender o que
realmente sinto por ela, pode me ajudar a decidir qual passo devo
dar neste caminho cheio de conflitos. Iria levá-la para meu
apartamento, mas o Felipe tem acesso. Então levarei ela para a casa
que tenho no interior. Longe da cidade e desta confusão. Hoje cedo
já avisei que não viria trabalhar amanhã, e espero que ela não tenha
feito planos, pois será surpresa, porque sei que se eu falar, ela
desiste de ir para um lugar mais afastado.
Me aproximo do meu carro no estacionamento da
universidade e sou surpreendido pela figura do homem alto, arma
na cintura, e olhar de fúria.
— David Escobar, estou começando a achar que está
interessado em mim. Vindo me visitar no trabalho... E nem irei
perguntar como sabia que este é meu carro, acharia meio psicopata
da sua parte saber a placa e o modelo do carro que nunca fui à casa
de sua mãe.
Olho de relance atrás dele, e vejo homens disfarçando. São
policiais à paisana. Encosto no meu carro, e vejo próximo a entrada
um homem alto e loiro, é Cleber, o investigador, e óbvio que carrega
uma arma também.
Abro a porta do carro e jogo minhas coisas dentro.
— Sabe, fiquei curioso. Veio me prender e está com medo de eu
fugir? — Sorrio.
— Bastante observador. Mas mentiroso combina melhor para
você. — Ele me prende no carro pelo colarinho da minha camisa.
— Porra, Irene vai ficar nervosa com o estrago nessa camisa.
Me elogiou tanto antes de eu sair e disse que eu ficava lindo com ela.
— Gosta de fazer piadas, filho da puta? — Me aperta mais e
continuo sorrindo. — Por que não abriu a boca para falar do seu
irmão, o famoso cirurgião plástico, e não disse que ele está na
cidade? Eu não falei na frente da minha mãe, porque percebi que
esconde isso dela, e ela já sofreu demais, não merece mais
decepções. O que está escondendo? Fale de uma vez, antes que eu
perca o restante da minha paciência e faça uma merda.
Olho ao redor e vejo que os seguranças da universidade
sumiram. Cara esperto esse!
— Pode me soltar? Não gosto de homens me prensando em um
carro.
Ele me larga com força e me ajeito.
— Alessandro, por que escondeu sobre seu irmão? Não
brinque comigo. Eu prometi aos outros que teria calma, mas está
sendo impossível. — A ira é visível em seu olhar.
— Eu não escondi. Apenas não me foi questionado. E o que
meu irmão faz ou deixa de fazer é problema dele, não controlo sua
vida.
— Caralho! Seja homem e fale a verdade! — ele grita.
— Não me diga o que tenho que fazer. Está aqui sem nenhuma
autorização, melhor, mandato. Você com toda certeza ameaçou aos
seguranças para saírem. Muitas coisas erradas para um delegado
que está com seu chefe te vigiando. — Ele leva a mão à arma e isso
me faz sorrir ainda mais. — E o que vai fazer agora? Atirar de
raspão diante do meu pé; e se eu não lhe der o que quer, vai atirar
na minha perna direita, como forma de tortura; e se não resolver
vai atirar de raspão próximo a minha cabeça? Afinal, se existe
outras possibilidades você não atira para matar, não é mesmo?
— Como você sabe todas as técnicas que costumo usar? — Sua
expressão fica mais tensa. — FILHO DA PUTA!
Consegui. Eu vejo em seus olhos. Ontem, depois que eles foram
embora, meu irmão veio com informações após estar com a pessoa
que anda fazendo tudo isso, na qual cedeu informações demais, e eu
sabia que iria poder usar alguma, meu irmão não é idiota, ele sabia
que a oportunidade iria vir, e eu usaria algo daquela conversa toda.
Só resta saber, porque ele quer tanto ajudar.
Ele grita para Cleber. O homem se aproxima rapidamente.
— As fichas. As malditas fichas que iríamos mexer hoje e
desistimos. Pegue aquelas porras e olhe cada coisa. Cada detalhe! —
Seu tom é rude.
— O que eu procuro exatamente, David?
— Se estiver lá, você vai saber. Vai, agora! Leve todos com
você! — grita.
O homem sai às pressas e faz sinal para os demais que lhe
seguem.
— Como conseguiu isso? Como sabia? Melhor, como tem
certeza?
— Não me peça isso. Tem muita coisa em jogo. Se eu quisesse
foder todos vocês, jamais daria esta pista.
— COMO EU DEIXEI ISSO PASSAR. PORRA! — Ele dá um murro
na parte de cima do carro branco que parece ser seu. — Aquele
maldito delegado na minha cola, controlando tudo. Eu deveria ter
fugido de seguir as regras faz tempo. — Me olha e a ira é evidente
em seu olhar. — Minha mãe estava certa, você nunca foi o culpado...
Em partes. Você vai nos dar todas as respostas, nem que para isso
eu entregue meu cargo, mas te encherei de porrada se for
necessário, para que abra o caralho da boca.
— Porra, gostam de violência! Mas se quer fazer algo, tem hoje
e amanhã. Levarei sua mãe para fora da cidade, e você vai aceitar
isso — digo sério.
— Como é? O caralho que vou!
— David, deixe a raiva de lado e confie em mim. Eu estou
colocando a minha vida em risco também e de uma pessoa que, por
mais que torne a minha vida um inferno, eu quero viva. Eu abri
demais o jogo. Então resolvam isso entre hoje e amanhã, agora você
sabe quem procura. Sabe por onde começar; e se não conseguir tem
por perto a pessoa que mais pode te ajudar, por conhecer ainda
mais os passos do verdadeiro inimigo. Tira sua mãe disso. Ela é o
ponto fraco de vocês. É ela que querem, para deixá-los fracos. Vocês
estão tão focados em condenar todo mundo, que não viram o
quanto estão sem saber como agir. Quer o culpado? Então não perca
seu tempo comigo. E convença a sua mãe a me acompanhar.
Ele reluta por um tempo.
— Uma equipe vai com vocês. O celular dela será rastreado o
tempo todo e o seu também. Um deslize, eu fodo a sua vida como
nunca imaginaria.
— Que novidade eu ter meu celular... Esquece. Faça o que
quiser. Mas acredite, está focado em acusar o cara errado.
Ele entra no carro e antes de fechar a porta digo:
— Eu não vou ocupar o lugar do seu pai. Assumam que a maior
parte desta raiva que estão é pelo ciúme. Vocês fizeram a vida de
vocês, deixe sua mãe fazer a dela. Joseph Escobar está morto, mas
ela não. E eu não serei como ele, porque sei que ele era único para
vocês.
Ele bate a porta com força e sai rapidamente dali em uma
manobra que tenho certeza de que veio por muitas perseguições.

Chego em casa e Felipe está ao celular e conversa em inglês,


está nervoso. Jogo as coisas no sofá e prefiro nem prestar atenção
nas coisas que ele diz.
Irene entra na sala e sorri assim que me vê.
— Senhor, algum pedido especial para sobremesa? O almoço
está pronto.
— Não. Na verdade, nem irei almoçar.
— O senhor precisa se alimentar. Seu irmão come muito bem.
Só parou de assaltar minha cozinha quando ligaram para ele e está
há um bom tempo assim. Não entendo nada do que ele diz, mas
parece nervoso.
— Melhor não entender. Vou tomar um banho, e não prepare
nada para o jantar. Irei viajar.
— Vai viajar? O senhor não disse nada antes. Não fiz mala, ou
deixei roupas prontas...
— Se acalme, mulher. Está tudo bem. Não se preocupe. E pare
de me mimar. — Deixo um beijo em sua testa e saio da sala.
Entro no quarto, retiro as coisas do bolso e coloco na cama.
Retiro os sapatos e a camisa também. A porta é aberta enquanto
começo a abrir meu cinto.
— Sabe o que a nossa mãe ensinou sobre bater na porta antes
de entrar? Então, ainda é válido. Esses seus amigos estão sendo má
influência ao extremo, perdendo toda educação, porra! — reclamo e
ele sorri.
— Não me provoque. Lembre-se de que na hora da briga eu
sempre venço e você sai todo roxo e comigo tendo que pôr gelo no
seu traseiro. Porra, aquilo foi constrangedor!
Acabo rindo e jogo o cinto na cama.
Eu amo esse infeliz, mesmo fazendo tanta merda. Porra, é meu
irmão! Não importa que não é de sangue.
— Consegui a clínica — informa aleatoriamente.
— Pretende ficar no Brasil, então?
Ele encosta na parede e cruza os braços.
— Problemas com seus amigos, Felipe?
— Nada que eu não resolva.
— O que está acontecendo? Você pode ser um filho da puta, às
vezes, mas ama ser cirurgião e construiu uma carreira bastante
popular na Califórnia. Vai desistir disso?
— Não. Irei continuar com a clínica lá, mas quero ficar um
tempo no Brasil. Também aluguei um apartamento, para te dar paz.
Mas não chore de saudade.
— Idiota!
— Você abriu a boca para eles. Pegou o que joguei. Esperto.
— Não como pensa. Mas como sabe?
— Tenho contatos na polícia.
— Claro que tem.
— Escutei você falando para a Irene que vai viajar. Vai tirar a
Paula Escobar da cidade?
— Vou. Para dar tempo a eles de conseguirem algo sem que a
peguem e use de isca. E para tentar resolver nossa situação... Nem
sei como nomear isso.
— Isso ainda vai dar merda e das grandes. E sinto por você,
meu irmão. Pela primeira vez vejo que realmente gosta de alguém.
Vou dizer até que acredito que a ama. Não que eu entenda muito
sobre isso, afinal sou um homem divorciado por problemas
complicados no casamento.
Sento-me na poltrona e fico observando-o.
— Felipe, nesse tempo todo você sempre foi um homem frio.
Nunca se importou em ficar próximo a mim. O que aconteceu?
— Digamos que talvez eu me importe com meu irmão. — Sua
bipolaridade é ativada. Seu lado sombrio toma conta de seu tom e
sua expressão.
— Fez merda, não foi?
— Acho que foi você que se meteu em uma grande confusão,
desta vez.
— Como estão seguindo-a?
— A Paula? Conhecem os passos dela. Primeiro estavam
rastreando o celular, e grampearam as ligações, mas parece que os
Escobar resolveram ser espertos. Agora estão observando a
oportunidade perfeita. A pessoa por detrás está apenas esperando
uma falha, e vai existir. Eles estão vulneráveis.
— Por que a pessoa resolveu te contar tantas coisas? Por que
confia em você?
Ele me encara por um tempo em silêncio.
— Porque sabe quem eu sou. E sabe que essas informações
chegariam até você, é isso que tinha que acontecer.
— E por que caralho fez eu entender que deveria abrir a boca?
Porra!
— Porque faz parte. Estou jogando o mesmo jogo, mas sou
mais esperto.
— Felipe, é difícil de entender tudo isso. Por que não para essa
merda toda?
— Estou tentando, mas não posso agir diretamente, estou
agindo em cima de terceiros, que a pessoa acha que é de confiança.
Mas estão comigo. Querem saber o que tanto protejo aqui.
— O quanto está envolvido nisso, seja sincero...
— Você tem que saber apenas o que eu acho que é importante,
no mais, não faça perguntas.
Levanto rapidamente e olho fixamente em seus olhos. Agora
eu entendi tudo. Porra!
— Você está agindo por fora. Pelo quê? A que preço?
— Cara, não se preocupe. Eu sei o que estou fazendo.
— Sabe mesmo? O que prometeu a eles? Tudo tem um preço.
— Não vai querer saber.
— Fale, porra! — grito.
— Já que insiste... Disseram que me ajudariam a te proteger,
mas que se os homens da Lei descobrissem qualquer coisa,
honrariam com sua principal regra de que “traidores não tem
direito a defesa”.
— Você é louco. Eu daria um jeito. Olha a merda agora. O
problema triplicou.
— Só não abra mais sua boca, e nada acontecerá a nós dois.
Vou te ajudar a manter a sua Escobar viva.
— E por que faria isso? Sabemos que vai honrar o legado deles.
E sei que esconde algo grave — falo com ironia e desgosto.
— Está enganado. Você não me conhece de verdade,
Alessandro.
— Não. Desde que trocou a mim, que sou sua única família,
porque aqueles malditos...
— Eu fiz uma escolha, mas ela nunca me impediu de valorizar
você. Se sou frio, foi porque aprendi a ser assim para aguentar todas
as merdas dessa família. E quer saber por que vou te ajudar a
manter a Paula Escobar viva? Porque você vai fazer qualquer merda
por ela. — Ele descruza os braços. — E porque eu amo você, que não
enxerga que eu faria de tudo para protegê-lo, porque é a minha
única família. Iria até contra as leis mais intensas da qual eu
aprendi a respeitar. Então, se estou controlando muita merda, é
porque o idiota do meu irmão quer se envolver com uma mulher
que vive em perigo. Não é porque hoje tenho dois estilos de vida,
que deixei a frieza de um deles me tomar por completo, existem
exceções e agora é uma delas. Goste ou não, ficarei no Brasil, para
proteger sua bunda dos chutes que pode levar. — Seu olhar é de
raiva. — E eu já imagino que vai levá-la para a casa do interior,
saiba que está muito bem protegida por meus homens, porque os
poderosos Escobar não imaginam o quanto a pessoa está mexendo
psicologicamente com eles, e vai ganhar esta luta, porque eles estão
fracos, e vão deixar brechas e com isso os seguranças deles se
tornam vulneráveis também. Então se eu for frio para algumas
coisas e ter sentimento para outras é errado, atire em mim, porra!
Mas não diga que eu troquei você por eles. Não faça mais isso, cara!
— Ele se retira batendo a porta.
Caio sentado na poltrona e passo as mãos pelos cabelos.
Quando acho que tudo vai melhorar, mais coisas parecem estar
prestes a explodir.

Paula Escobar

Estou prestes a sair do meu escritório no centro quando David


e Henrique entram.
— O que houve? Que caras são essas? Quem morreu? Meninos,
sou cardíaca.
— Ninguém, querida mamãe. Mas saiba que a senhora vai
viajar hoje e volta amanhã ou daqui uns cinco dias, porque vai ser
foda resolver em um dia e meio, porque não dá para considerar
como dois dias... — Henrique abre a boca e David dá uma
cotovelada no irmão.
— Certo. O que está acontecendo?
— Então... A Daiane, isso... Ela quer que a senhora viaje —
David fala.
— Pare de mentir. Diga a verdade antes que eu arranque ela
na base dos tapas.
— O grisalho metido a professor vai viajar com a senhora... e
você vai aceitar — Henrique diz e David o olha feio e ele dá de
ombros.
— Como é? Piada isso? Primeiro condenam, depois o
interrogam, e agora querem que eu vá viajar? Exijo que digam agora
o que está acontecendo.
Mais uma pessoa entra e é a Liziara e toda animada.
— Já fiz sua mala, Paulinha. Saiba que milagres acontecem e
eles estão amando o Alessandro... — Ela se controla para não rir. —
E tem mais, realmente o que vocês mães dizem, devemos sempre
levar em conta, porque estão certinhas. — Henrique belisca o braço
dela, e ela acerta um tapa nele. David fica entre os dois. — Enfim,
nada aconteceu. Só viajar. E eu estava escutando tudo ao lado de
fora, mas não resisti e entrei.
— Por que querem se livrar de mim, junto com aquele que
tanto condenaram? Quero uma resposta agora. — Observo
atentamente os três.
— Por quê? Oras... Porque o David é a melhor pessoa para te
dizer isso. Fale, meu irmão. — Henrique está todo nervoso.
David empurra a Liziara para frente e ela por pouco não cai.
— Que belo cavalheiro, jogando a esposa na linha de frente.
Patético! Saiba que, quando eu for delegada, juro que irei dar tanto
na sua cabeça e te deixar cinco dias em uma cela, e o Henrique vai
me ajudar a arrumar desculpas para esse ocorrido!
Ajeito a bolsa no antebraço e levo uma mão à cintura.
— Falem agora o que está acontecendo e por que resolveram
que devo viajar? Vocês têm cinco segundos...
— Então, porque... Na verdade, é algo sério, não posso falar
muito, já que o David não é paciente para me explicar muita coisa,
mas entendi que devo calar a boca sobre o assunto. Então confie no
seu filho, que mesmo sendo um babaca é um bom delegado; e se
você tem que sair com aquele que ele condenou, e ele não diz o
motivo a você, é porque algo aconteceu, e um deles é o fato de ter
descoberto que, ao que parece, Alessandro, o gatão, é inocente! Fim.
— Eu vou ficar viúvo e serei preso pelo homicídio da minha
mulher! — David diz entredentes e sua esposa sorri. — Mãe, confie
em nós. Sai da cidade. Uma equipe de segurança vai acompanhá-la,
e deixei um celular novo para a senhora na sua mala. Não converse
nada com os seguranças por ele. Use para contato conosco, e tome
cuidado com tudo o que for falar, sempre em códigos. Sabe como
funciona.
— Você não vai falar... Mas o Henrique, ele não cala a boca.
Então, meu amado filho, diga o que está acontecendo? — Uso meu
tom de mãe quando quer algo.
— Porra, mãe! Aí me fode. Me elogiando... Eu... Só confia.
— Eu vou. Está na hora de confiarmos mais uns nos outros.
Mas, quando for o momento, digam a verdade. Nada de segredos.
Eles concordam.
— Precisamos buscar informações e com a senhora na cidade é
perigoso demais — David revela.
Apenas assinto.
— Eu nunca viajei com outro homem... — digo em pânico.
— Relaxa. Fiz sua mala com a ajuda da Ana. Coloquei cada
lingerie... — Liziara sorri animada.
— CARALHO, EU NÃO PRECISO SABER DISSO! — David grita e
sai da sala completamente nervoso.
— Liziara, eu vou te matar, porra! — Henrique grita com ela.
— Ué, é a oportunidade de ela destravar o que deve estar
travado há anos. Vocês são espertos, só faltam malhar o “precioso”
para estar sempre na ativa, mas a poderosa matriarca tem que ficar
de escanteio? Nem pensar. Irei ser a porta voz das mulheres desta
família.
Acabo rindo.
— Cuidado com o que apronta para a minha mãe. O David sabe
que o trabalho na boate teve a companhia do Joaquim, o cara que te
amava e o enfrentou?
— Como você... Paula? — Ela me olha e nego.
— Não falei nadinha.
— Eu estive lá. Você não me viu, mas eu vi cada passo seu.
— Eu vou te cegar. É isso. Agora entendo a Ana. Você é
irritante. Eu te odeio.
— Me ama demais, cunhadinha. — Ele puxa uma mecha do
cabelo dela, que acerta sua mão.
— Chega! Parecem duas crianças! Quem vê, nem imagina que
são pais e casados. Andem, todos para fora... Sou cardíaca, vou
morrer ainda. Sinto palpitações.
Eles riem e saem se provocando.
O que querem esconder? Por que agora querem que eu viaje
com o Alessandro? Eles nunca escondem nada do restante da
família quando envolve a nossa segurança. Ou estão aprontando, ou
é algo bem sério. Mas tem outra coisa: não sei se estou preparada
para viajar com o Alessandro. Sei que esta é a oportunidade de
entendermos o que acontece entre nós, porém é tão estranho sair
com alguém que não seja... Eu prometi não pensar e tentar
recomeçar, chega! Eu irei realmente tentar.
Dez

Paula Escobar

O local é próximo ao sítio Escobar. Os meninos não


economizaram na equipe de segurança. Ainda estou achando tudo
isso uma loucura. Alessandro sabe de algo e não me fala. Eu preciso
saber o que estão fazendo. Algo está acontecendo. E simplesmente
não acreditei na versão dos meninos. É algo maior, e mais grave. E
sinto que foi o Alessandro que deu a eles o que precisavam, e com
isso tiraram a culpa de cima dele. É, terei que descobrir logo o que
estão aprontando.
Observo a casa e tem um estilo rústico. É simples, perto do
Sítio Escobar, mas é tão aconchegante e bonito. Sempre gostei da
simplicidade, mas Joseph gostava de exibir o que o dinheiro podia
comprar, e Marcos e Henrique herdaram isso também, não são
desprezíveis por isso, apenas gostam de gastar, enquanto eu
sempre fui econômica e Daiane e David herdaram isso de mim.
Enfim, pelo visto ficarei aqui, com um homem que também
está escondendo algo.
— Sabe, na minha área de trabalho, e olha que sou civil, mas
em geral isso é cárcere privado. Só um comentário qualquer — digo
deixando minha bolsa no sofá encostando na lateral dele.
Alessandro liga o ar-condicionado, pois está calor, e por ser
tarde, é melhor evitar deixar tudo aberto, mesmo com a tropa de
segurança ao lado de fora.
— Seria cárcere se você não tivesse vindo por vontade própria.
Ninguém te obrigou. E tem a chance de ir a hora que desejar.
— Tem certeza? Eu meio que não tive escolha, e sou uma
mulher de muitas escolhas.
Ele se vira e sorri. Me sinto como uma jovem e não uma mãe,
avó e mulher madura. Um friozinho se instala na minha barriga, e
cruzo os braços para ver se a mudança de posição retira o que estou
sentindo. Mas foi à toa.
Ele joga o controle do ar-condicionado no sofá.
— Vem, vou te mostrar a casa. É bem humilde, como pode ver.
Evito o luxo nos lugares que quero paz.
Acompanho ele, que me mostra cada canto. São três quartos,
dois banheiros, cozinha pequena, lavanderia, um quintal aos
fundos, além da área da frente que é toda repleta de árvores. Tem
entrada pelos fundos, laterais e na frente, que tem um cercado
baixo, bem ao estilo interior mesmo. Todos os cômodos são como a
sala, rústicos. É realmente uma casa bonita, como eu já havia
reparado.
— Se estiver com fome, posso pedir algo. Foi de última hora a
decisão de vir para cá. Então não tem nada para comer.
— Não. Estou bem. Jantamos antes de vir para cá e não é uma
viagem longa.
Ele concorda e se senta no sofá. Faço o mesmo.
Meu celular toca e é o Marcos.
— Oi.
— Está tudo bem? — indaga sério.
— Sim.
— Está com o que precisa? — Escuto a risada do Arthur ao fundo
e a Beatriz pedindo para ele ficar quietinho.
— Sim.
— Ótimo. Até breve. — Ele desliga.
Acatei ao que o David disse, sobre tomar cuidado com tudo o
que fosse dito, e falar por códigos. E, pelo visto, o Marcos também. E
para ele querer saber se estou armada, ao dizer “está com o que
precisa?”, é porque não está gostando disso.
— Então, me conte. O que sabe? Por que passaram a confiar em
você?
— Paula, não peça isso. Não agora. Por favor, vamos pensar em
outra coisa, esquecer tudo isso.
— Meio impossível, com seguranças ao lado de fora, armados
até os dentes. Essa mudança repentina dos meus filhos...
— Jaqueline me procurou — ele diz.
Que mudança ousada de assunto.
— Interessante desvio da conversa.
— Ela estava preocupada com você. Gosta muito de você, e não
quer que eu ferre sua vida. E acha que você está enciumada, por
algo que nunca aconteceu.
— Como é? Bom saber que eu sou o assunto principal nas
conversas de vocês. Mas acho que, de verdade, não é o tipo de
assunto que eu quero ter que lidar neste momento, se não se
incomodar. — Meu tom é sério e sei que minha expressão também e
não busco disfarçar.
Ele sorri.
— Você sabe que nunca houve nada. Que foi algo que vocês
todos imaginaram, apenas por eu ser um homem belo e educado,
modéstia à parte. — Sorri. — E estão acostumados com os
trogloditas do Marcos e do David, e os ciúmes loucos do Henrique.
Eu não sou como eles. Eu não sou um Escobar.
— Não. Você é o Alessandro, um professor de filosofia, que está
a todo custo tentando mudar de assunto.
— E está funcionando, e vai funcionar mais se você parar
interromper.
Sorrimos.
— Nem alcoolizada eu esqueceria.
— Podemos testar. Bebidas têm de sobra.
— Tem vinho?
— Sim. Vou pegar. Sabia que quanto mais velho melhor?
— Por que estou sentindo um duplo sentido nisso?
— Porque tem a mente safada. Eu apenas fiz um inocente
comentário.
Sai rindo e fico olhando para ele. Alto, com um andar elegante.
Por que esse homem tinha que ser tão belo? E por que tinha que ter
um sorriso tão perturbador?
Ele retorna com duas taças e uma garrafa de vinho aberta. Faz
um sinal para eu me sentar no chão sobre o imenso tapete marrom.
Retiro meus saltos e me sento, encostando no sofá. Ele se senta ao
meu lado e nos serve. Retira os sapatos e os chuta para longe.
— Um fato sobre mim. Não sou muito organizado.
— Por incrível que pareça, criei três meninos e todos eram
bagunceiros, e hoje querem dizer serem os mais organizados. — Ele
me entrega a taça depois de mexê-la com cuidado. Dou um gole. —
Sabia que dos três, o mais desorganizado era o Marcos? Nada ele
sabia colocar no lugar, eu ficava doida.
Ele sorri e bebe um gole do seu vinho, e afasta mais a garrafa
se virando ainda mais para mim.
— Difícil acreditar, afinal do jeito que é hoje.
— Mas sério ele sempre foi. Joseph tinha um amigo muito
próximo, Joel, não se desgrudavam, e o Marcos não suportava esse
homem. Aprontava cada uma. Puxava as cadeiras que ele iria se
sentar, derrubava as coisas nele e fazia cara de santo, ou jogava a
culpa no Henrique, e aí a confusão se armava. E o David colocava
lenha na fogueira, ficava dizendo: “Eu não deixava, Henrique”, “olha,
Marcos, vai deixá-lo falar isso?”... Era uma loucura.
Rimos.
— E a Daiane? Ela parece ser mais sensata. Mais tranquila. O
Jacob, pelo visto, deu sorte.
— A Daiane tranquila? Ela sempre foi mais organizada, mas
era terrível também, queria ficar imitando tudo o que o pai fazia,
então invadia o escritório dele, fazia zona e sumia com as
papeladas, isso o deixava louco. E os meninos evitavam provocá-la,
porque ela batia mesmo, o que tinha na mão voava neles. Uma vez
acertou um sapato que eu tinha na testa do David, porque ele a
chamou de “nojentinha”. Pense, eu estava sozinha, empregados de
folga, incluindo a babá deles. Então eu tive que carregar os quatro
para o hospital, porque David chegou a levar pontos na testa, e o pai
deles viajando. Quase colocaram o hospital abaixo. Um culpando o
outro. Henrique pegou o estetoscópio de um médico, que ficou
sobre um balcão, e correu pelo hospital. Quem dizia que
pegávamos? Foi terrível. Mas surtei muito aquele dia, todos ficaram
de castigo por um mês.
— Então a Paula se estressa mesmo? — Ele ri.
— E como. Até hoje dou muitos surtos. Sou cardíaca, sabe,
então não posso me estressar, evito.
Bebemos mais do vinho.
— Não é cardíaca de verdade.
— Claro que sou. Não discuta.
— Tudo bem... Mas me diga, como era você antes de ser mãe,
esposa... Antes de tudo?
— Eu era moleca. Encrenqueira demais. Na faculdade vivia
arrumando confusão, ainda mais com um professor que não gostava
de mim.
— Sempre somos nós a levar a culpa. — Ele finge estar
ofendido e bebe mais vinho.
— Se você o conhecesse entenderia. O homem era um terror.
Tornava a minha vida um inferno. Ainda mais que sabia que eu
dependia do meu trabalho na faculdade para me manter ali. Minha
família sempre foi muito humilde. Perdi minha mãe cedo, e meu pai
não conheci. Fui criada pela minha madrinha, em uma pensão que
eu amava.
— Ela ainda...
— Não está mais viva. Ela faleceu quando engravidei da
Daiane. Teve um infarto. Na época, eu poderia ficar com a pensão
que lhe pertencia, mas não quis. Com o tempo acabei vendendo para
dois senhores, que fariam um hotel.
— As lembranças eram grandes... Entendo. — Ele olha ao redor
e suspira.
— Essa casa era dos seus pais?
— Sim. Depois da morte deles, reformei tudo, mesmo assim
ainda traz lembranças. Minha mãe sorria muito nesta casa, porque,
quando estávamos aqui, raramente meu pai nos acompanhava.
Então quando ficava apenas ela, meu irmão e eu fazíamos a festa...
— ele parece perceber que falou demais e noto o desconforto.
Bebo o que restou do meu vinho e deixo a taça de lado.
— Irmão? Que irmão?
Ele nos serve mais vinho e deixa a garrafa de lado mais uma
vez.
— Tenho um irmão. Mas não conto a todos. Ele tem uma certa
fama, e tento evitar a mídia.
— Como assim?
— Ele é cirurgião plástico na Califórnia. Está no Brasil no
momento. Felipe Santos.
— Já ouvi falar desse cirurgião, mas jamais imaginaria que
eram irmãos. Por que nunca contou para nós?
— Bom, o David descobriu rápido. Digamos que não sou muito
de falar da minha vida pessoal. E realmente, quem olha para ele não
imagina que somos irmãos. Nenhuma semelhança sequer. Ele é
adotado. Minha mãe, depois que teve a mim, não conseguia mais ter
filhos e sonhava em ter mais um. Meu pai, naquela época era um pai
de verdade, e um bom marido. Aceitou a opção dela de adotarem.
Mas depois que o Felipe chegou, tudo foi mudando. Meu pai foi
mudando, e daí você já deve imaginar todo o inferno que foi. Felipe
veio bebezinho, e minha mãe acreditava que era a atenção que dava
a ele que deixou meu pai enciumado. Doce ilusão.
— Deveria ter nos contado sobre ele. O que ele faz no Brasil?
— mudo o rumo da conversa, pois percebo que, quando fala do pai,
uma mágoa cresce dentro dele.
— Vai abrir uma clínica aqui. Ele não fala muito sobre seus
planos.
— Entendo. Mas e você, sempre quis ser professor?
— Sempre amei ensinar. Meu pai queria que fôssemos da
polícia, mas sempre odiei toda a correria e burocracia que
enfrentavam. Ele nos treinou muito quando adultos, fizemos
treinamentos de todos os tipos, mas não existia amor da nossa
parte com isso. Então resolvi me tornar professor de filosofia,
sempre me achei louco o suficiente para poder entender os loucos
que estudei. E ensinar me acalma. Confesso, que hoje, já tenho mais
vontade de matar meus alunos, mas nada que uns xingos não
resolvam.
Começo a rir.
Ele retira os óculos e deixa no sofá. Passa a mão pelo cabelo e
bebe mais de sua bebida. Faço o mesmo com a minha. O vinho
esquenta o corpo e traz um rubor que sempre julguei ser atraente.
— Sabe, quando te vi na boate pela primeira vez, o Jacob
estava nervoso, pois viu a Daiane e pelo visto tinham tido
problemas. Assim que coloquei os olhos em você fui atraído. Ele
veio atrás, pensando que eu faria merda. Todos sempre souberam
que declarei que mulheres eram enrascadas. Mas, pelo visto, todos
que dizem isso pagam com a língua.
— Pelo menos, dos meus filhos, todos pagaram. E incluo o
Marcos, porque tenho ele como filho.
Ele me olha e sorri.
— Desde aquele dia, eu não deixava de comparecer a nenhum
evento que o Jacob me convidava, pela esperança de ver você.
Loucura?
— Um pouquinho psicopata, talvez. — Sorrio.
— Foi exatamente esse sorriso que me atraiu ainda mais.
Sinto a timidez tomar conta de mim e finalizo minha bebida.
Abaixo o olhar para a taça vazia.
— Todos os momentos que acreditavam que eu queria a
Jaqueline era para você que eu olhava. Ela só foi uma boa amiga,
acabava rindo das loucuras dela. No casamento da Daiane, quando
conseguiram partir o buquê ao meio, aquilo me assustou, ainda
mais quando vi o olhar dela para mim; e quando olhei para você, a
que eu queria que me olhasse, desviou rapidamente o olhar. Então
eu falei qualquer coisa que fosse soar engraçado para quebrar o
clima estranho.
— E depois disse que estava fora de qualquer relacionamento.
— Sim. Boa memória... Eu estava começando a me assustar
com tudo.
— Foi por isso que sumiu e foi dar notícias agora?
— Em partes. Eu também precisava ajudar meu irmão no
divórcio dele.
Olho para ele; e sempre que fala da família, algo muda em seu
olhar.
— Eu comecei a me assustar com o que vinha sentindo por
você a cada vez que te via. Porque você tem traços dele... É difícil.
— Mas não sou ele, Paula. Eu estou bem aqui e te pedindo uma
chance de descobrirmos o que existe entre nós.
— Eu estive esses últimos dias em constante reflexões, e
lembrei que prometi que se algo acontecesse, eu me permitiria ser
feliz novamente. Mas não é fácil. Muita coisa acontecendo... e ainda
está acontecendo.
Ele pega nossas taças e afasta. Então se volta para mim,
prendendo uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha, e
acariciando meu rosto diz:
— Não seja uma Escobar... Seja apenas a Paula. Esqueça tudo.
Seja minha. Se entregue completamente a mim.
Sinto meu coração disparar muito forte. Um tremor toma
conta de mim.
— E se der errado? E se tudo ruir?
— E se der certo? E se nada ruir? — Ele aproxima mais seu
rosto do meu. — Friedrich Nietzsche, um filósofo e poeta, disse uma
vez: “Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco
de razão na loucura”.
— Quem garante que tem razão na loucura?
— Quem garante que não tem? — Sorrimos. — Eu vou te beijar,
mas não serei capaz de parar.
— Isso é loucura, e tenho razão quando digo isso. Mas quero
um pouco de loucura, não que minha vida não seja recheada delas,
mas é bom...
Ele não me deixa terminar. Me beija e sinto todo o meu corpo
tremer. O gosto do vinho em nossa boca torna tudo mais quente. Eu
não consigo pensar em mais nada. Não com sua mão deslizando pela
minha perna, e meu vestido subindo. Meu coração vai explodir, e
tenho certeza de que serei cardíaca de verdade. Meu corpo vai se
inclinando e acabo deitada sobre o tapete, meus cabelos se
esparramam pelo chão. Santa Liziara, que me fez pôr toda depilação
em dia, e pôr uma boa lingerie, e a Ana Louise que me fez usar um
excelente creme corporal, que eu não usava tem bons dias.
Ele fica entre as minhas pernas, e não consigo me intimidar ou
recuar. Eu quero ir além. Não quero que ele pare. Ele afasta os
lábios, e seu olhar é outro, muito mais atraente.
— Eu não vou parar.
— Não peço por isso.
Tenho certeza de que o vinho está me ajudando a ser assim.
Ele desliza os lábios pelo meu pescoço e beija dando leves
mordidas. Me remexo e sinto o quanto está duro. Deslizo as unhas
por sua nuca, e ele arfa. Se afasta e começa a retirar a roupa. Não
consigo desviar o olhar. Seu corpo acaba me hipnotizando. Ele
retira a cueca preta, e tenho que morder o lábio inferior para não
falar ou deixar qualquer som sair. Volta ao meu encontro, e retira
meu vestido. Minha lingerie vermelha fica toda aparente. Torna a
me beijar, mas desta vez não é demorado; logo em seguida, ele
começa a descer o beijo, sem tirar os olhos dos meus. Se aproxima
dos meus seios, e solto um gemido baixo. Ele descobre que o sutiã se
abre na frente, e assim o faz, e ajudo a retirar a peça de perto de
mim. E Deus abençoe o silicone que não é nada surreal, foi apenas
para erguer o que três filhos derrubaram.
Ele chupa o bico do meu seio, e meu corpo automaticamente
acende por completo. Estou em chamas. Sinto minha calcinha
umedecer. Alessandro começa a dar atenção ao outro seio também,
e minha respiração muda drasticamente. Quero logo ele dentro de
mim, essa tortura está acabando comigo. É o desejo que se
acumulou por muito tempo. Se afasta dos seios e começa a retirar
minha calcinha. Parece que os segundos que leva se tornam horas.
Fica entre as minhas pernas, prendendo-as, para que fiquem bem
abertas. Esse homem vai me causar um treco.
— Vou chupar sua boceta toda, e só então vou colocar meu pau
em você.
— Não pode pular a primeira parte?
Ele sorri, e começa a fazer o que disse. Me chupa e meus
gemidos aumentam. E nem sequer me importo se os seguranças
grudados as portas e janelas vão ouvir. É a melhor sensação que
estou sentindo. Como eu senti falta de estar assim, sendo amada de
todas as formas... Pera aí, seu olhar... Ele me olha com... amor? Agora
vejo. Seu olhar sempre foi este quando direcionado a mim. Sempre
foi de amor, carinho, respeito. Eu sempre desviei de todos seus
olhares, sempre fugi dele por medo, por achar que ele olhava igual
para Jaqueline, mas nunca foi. Comigo era este olhar dilatado,
brilhante e ao mesmo tempo repleto de promessas não ditas, bem
diferente do modo que ele se direcionava a outros... a ela. E na
minha loucura de fugir de tudo, eu preferi acreditar em algo que
nunca foi verdade, eu criei na minha mente uma situação que nunca
existiu, apenas para culpá-lo e sair dessa loucura que a vida me
colocou após mais de anos da grande tragédia na família.
Não tenho tempo de continuar a pensar nisso, porque ele
enterra dois dedos dentro de mim e os movimenta enquanto me
chupa. É como se eu estivesse em uma queda livre, sem saber como
agir, sem ter controle de nada.
Ele sente que não irei durar muito tempo desse jeito, então se
afasta e resmungo. Pega a carteira dentro do bolso da calça jogada,
e dela retira um preservativo.
Como são safados, sempre andam na esperança de ter sexo!
Acabo sorrindo do meu próprio pensamento.
Ele coloca o preservativo e se aproxima. Inclina seu corpo
diante do meu.
— Não sou mais virgem, sabe disso... Não precisa ser delicado...
Ele sorri e beija meus lábios. Então se aproxima do meu ouvido
e sussurra:
— Você quer forte?
Meu corpo queima por inteiro com sua voz grossa em meu
ouvido.
— Responde, Paula...
— S-sim...
— Ótimo. Fique de quatro, agora — pede mandão.
Faço o que ele pede, e por sorte o tapete é fofo. Ou teria joelhos
ralados, experiência própria.
Segura minha cintura, e começa a me penetrar, e vai cada vez
mais fundo.
— Forte, não é? — questiona, e sinto o aperto de suas mãos.
— Bruto! — rebato provocando.
— Seu pedido é uma ordem, doutora Paula.
O movimento é único e forte. Prendo o ar e um grito sai de
meus lábios, não pela dor, mas pelo prazer. Está completamente
fundo. Então começa a se movimentar intensamente. Segura meu
cabelo com uma das mãos, e enrolando, puxa para trás, com isso
inclinando minha cabeça.
— Cacete, Alessandro! — grito.
— Temos uma Paula que diz palavrão, estou gostando cada vez
mais...
Continua os movimentos fortes. Meu corpo inteiro está suado e
nossos gemidos são altos. Ele diz coisas safadas, o que me deixa
ainda mais louca. Tapas são acertados na minha bunda, e a dor traz
mais prazer.
Não consigo aguentar muito e começo a gozar. Meu corpo
inteiro treme, e ele não demora a ter o mesmo destino.
Deito-me no chão e ele se afasta dizendo que vai se livrar do
preservativo. Eu fico como uma morta. Não sei terei forças de voltar
a andar, meu Deus!
Não demora e retorna. Estou fraca. Então me pega no colo e
caminha em direção ao quarto que disse ser dele. Me deita sobre a
cama. Os abajures são as únicas luzes acesas. Se deita ao meu lado e
me puxa para si, nos cobrindo.
— Só não darei continuidade, porque tem sido longos dias, e
precisa de paz ao menos uma noite.
— Que cavalheiro! — provoco.
Escuto seu risinho.
— Só preciso de alguns minutos, depois de um banho. E, talvez,
eu não queira um banho sozinha.
— E quem disse que eu daria a opção de ir sozinha?
Bato de leve em seu braço e rimos.
Ficamos em silêncio. Fecho os olhos, mas ainda estou
acordada. Apenas pensando em muitas coisas. Ele talvez pense que
dormi, pois diz a seguinte coisa em tom baixo que me causa mais
pensamentos, e um discreto sorriso:
— Eu acho que me fodi. Estou totalmente apaixonado por você.
Talvez eu consiga cumprir minha promessa a você Joseph. Porque
talvez eu tenha encontrado um alguém que vai me tornar muito feliz
também. Só preciso que esse inferno acabe logo e peguemos quem está por
trás. E que assim uma tragédia seja evitada, porque não suportaria
continuar vivendo assim, e nem com todos escondendo tudo de mim, como
se fosse algo maior do que imagino. Odeio esse tipo de proteção. Mas no
fim, eu poderei dizer a ele o que tive medo de sentir desde sua partida.
Com os olhos ainda fechados, é como se eu visse o sorriso em
aprovação daquele que um dia tanto amei.
Onze

Paula Escobar

Caminho em direção à cozinha, com os cabelos molhados, após


o banho. Ainda é bem cedo, e o Alessandro permanece dormindo.
Não sei como consegui acordar tão cedo, pois nossa noite foi longa.
E ainda não consigo acreditar que senti alegria em me entregar a
outro homem, e me senti protegida e em busca de mais.
Entro na cozinha e procuro nos armários tudo para preparar o
café, e encontro. Amo uma boa xícara de café para começar bem o
dia. Encosto no balcão enquanto o espero ficar pronto na cafeteira.
Caminho em direção à janela e fico olhando a vista do quintal.
É lindo. E os passarinhos tornam um ambiente digno de filme.
Falando nisso, minha vida daria um filme ou uma boa série. Tantas
coisas aconteceram e vem acontecendo. Já enfrentei muitos casos
loucos como advogada, mas nenhum chegou aos pés da confusão
que é minha vida. E agora é como se tudo estivesse prestes a ruir. Eu
tenho a sensação de que algo vai acontecer, não sei se é bom ou
ruim, mas parece tudo calmo demais. Aprendi nesses anos
enfrentando tantas coisas com essa família, que quando o mar
chamado Escobar fica calmo é porque vem tempestade das grandes
em seguida e ele vai ficar muito revolto.
Porém, estar aqui depois de uma noite incrível, mesmo com
tantos problemas, e sem saber o porquê perdoaram Alessandro tão
rápido, eu sinto que foi certo. Que não é pecado diante de tantos
acontecimentos, a busca pela paz, coisa que antigamente eu me
condenaria muito. As lembranças do Joseph parecem estar
tornando-se aprendizados para todos os momentos de apreensão. É
um legado repleto de amor e poder que ele deixou em minhas mãos.
Ele sempre será meu primeiro amor, só que agora compreendo que
vivi tanto tempo dentro de uma bolha após sua partida, que esqueci
que o tempo passava, e fiquei parada nele, vendo todos seguirem
com suas vidas, e eu ali, apenas como uma singela telespectadora da
minha própria família... da minha vida.
Sempre perguntei aos meus clientes se tinham certeza de suas
decisões, e buscava com eles formas de tentar consertar algo, antes
de colocar um fim definitivo, só que agora entendo quando diziam
que, às vezes, quando algo se quebra, não tem mais conserto. Meu
amor com o Joseph foi parecido. Ele se rompeu, seguindo um rumo
diferente, e não tem volta, não tem conserto. E eu deveria ter
entendido isso há muito tempo, mas é vivendo e aprendendo. Uma
hora a vida vai nos colocar frente a frente com aquilo que tentamos
evitar, e não teremos escolha a não ser reagir.
Respiro fundo e sorrio.
Escuto um barulho que me assusta.
— Porra! — um xingamento vem em seguida.
Olho em direção à porta e vejo o Alessandro entrando, com os
cabelos despenteados, apenas de cueca... e que visão maravilhosa é
essa?!
— Está tudo bem? — questiono devido ao barulho e o xingo.
— Sim, só acabei batendo na parede, estava meio sonolento,
digo “estava” no passado, porque ao ver você, acordei
completamente, e literalmente. — Ele desce os olhos sobre mim e
sorrio.
Ele se aproxima, e puxa meu corpo diante do seu.
— Ontem, eu não estava com fome, hoje estou.
— Bom dia, primeiramente. — Deixa um leve beijo em meus
lábios.
— Primeiramente minha fome. Não desacate minha fome. Está
na lei, artigo em algum número, onde diz: “Respeitarás a fome da
mulher diante de si. Em caso de descumprimento desta lei, a pena
poderá ser aplicada mediante a decisão participativa da vítima na
escolha dos anos a qual o réu será condenado, podendo ser apenas
acima de oito anos, resultando em um regime fechado”.
Ele ergue a sobrancelha e faz uma careta. Começo a rir.
— Vou tomar um banho rápido, e então buscarei algo para nós,
porque o café já está preparando. — Ele indica com a cabeça a
cafeteira. — E antes que eu seja preso. — Revira os olhos.
— Então seja rápido, não vai querer me ver com mais fome.
— Tudo bem, madame. — Me beija. — E não fique tarando
minha bunda quando eu me virar.
— Me respeita! — digo e ele se afasta com um sorrisinho no
rosto.
Não consigo evitar e fico olhando sua bunda. Senhor, isso é
convivência com as mulheres Escobar! Todas safadas, elas estão me
levando para o mau caminho, principalmente a Liziara.
Vou até o café que estava preparando e adoço. Pego uma xícara
e tomo um pouco. Ainda não perdi o jeito de preparar, viver com
dona Jurema e Marcela faz com que a gente fique mal-acostumada
com algumas coisas, como um simples café, que não faço mais com
frequência; ou comida, que quando faço é uma zona completa. Pior
que meus filhos em casa.
Deixo a xícara na pia e vou para a sala e me sento no sofá.
Escuto os seguranças ao lado de fora, nunca me senti tão presa
quanto agora. Preciso decidir qual deles irei subornar para que me
diga o que os meninos sabem e o porquê me tiraram da cidade.
Olho para nossas coisas espalhadas e ainda não acredito que
eu realmente fiz isso. Depois de anos resolvi me dar mais uma
chance para me sentir amada de outro modo. Que loucura, ainda
mais em meio a tanta confusão!
Vejo o celular do Alessandro no sofá, que começa a acender a
tela e fazer um barulhinho. Olho para ver se ele está vindo, pode ser
os meninos e com isso posso descobrir algo. Me aproximo e pego,
tem senha, mas o que fazia acender o visor era uma mensagem, que
dá para ler perfeitamente na notificação de tela bloqueada.
Não é dos meninos, é do Felipe, irmão dele. Eu não deveria
fazer isso, mas me pego lendo a mensagem e antes eu não tivesse
feito.
EU NÃO ACREDITO!
— Pronto, vou buscar comida.
Me viro para ele, e seu olhar foca em minhas mãos e depois em
meu rosto; meu semblante não deve ser bom.
— Por que está com meu celular? — ele tenta soar tranquilo,
mas falha completamente.
— Isso não vem ao caso agora. Como pode me esconder isso? É
assim que quer começar algo? Na base de mentiras? Não qualquer
mentira. Algo bem grave!
— Do que está falando? — Ele dá um passo na minha direção e
estico a mão entregando o celular a ele.
— Quando ia me contar o que realmente seu irmão é? Melhor,
nunca iria, não é mesmo? — Me afasto e começo a recolher minhas
coisas pelo chão.
— Paula, eu posso explicar. Se acalma.
Minhas mãos começam a tremer e sinto meu estômago
embrulhar.
— Me acalmar? Quem me garante que seu irmão não é culpado
disso tudo? Como fui burra! Os meus filhos sabem quem é ele?
— Ainda não — responde friamente.
— Ótimo. Enganou a todos. Marcos tinha razão, não devíamos
ter confiado em ninguém. Eu preciso sair daqui.
— Paula, você não pode. Eles estão tentando buscar um meio
de tirar você da mira de quem está causando isso e pegar a pessoa.
Tente se acalmar e me deixe explicar tudo.
— Jura? Pelo visto, eu posso estar na casa de um dos culpados!
— Não sou de julgar assim, eu abomino completamente esse ato,
mas agora é diferente. Ele escondeu algo grave.
— Você realmente acha que eu faria algo assim, ou deixaria
meu irmão fazer? Porra! — grita.
— Não sei de mais nada, Alessandro.
Contorno o sofá e grito pelo Pascoal, que entra rapidamente na
sala.
— Prepare o nosso retorno. Agora!
— Irei avisar aos Escobar.
— NÃO! Se você abrir a porra da boca, eu te coloco na rua junto
com toda essa tropa, e vão implorar por perdão, porque farei da
vida de vocês um inferno. Calem a boca!
— Está tudo bem, senhora?
— Só prepara a nossa ida, e agora.
— Para onde iremos?
— No carro, eu aviso.
Saio da sala às pressas e vou para o banheiro me trocar. Me
arrumo rapidamente, e em seguida saio do banheiro e pego tudo.
Alessandro continua na sala e no celular, digita algo rápido.
— Paula, vamos conversar! Caralho, você está nervosa! Não
faça isso.
— Não. Agora, não tem conversa. Você não escondeu algo
pequeno, é algo grave, ainda mais para minha família. E foi por isso
que sumiu, não foi? E eu idiota não confiei na minha intuição na
qual me fazia notar que sempre que envolvia sua família em algo,
você mudava completamente o semblante e o olhar! — Não consigo
ser calma, não com isso.
— Em partes. Porém, eu realmente fui ajudar meu irmão no
divórcio.
— Claro que foi. Eu deveria ter ligado os pontos. Afinal, o que
você poderia ajudar se nem advogado é? Você nunca disse que foi
dar um apoio pelo divórcio, você sempre disse que foi ajudá-lo, e ao
que ele pertence existem regras e precisa de testemunhas em
alguns casos. Fui idiota demais! Merda!
Preciso sair daqui logo. Caminho para a saída e ele tenta me
impedir, mas recua com meu olhar que sei que é frio.
— Paula, você está ferrando tudo. Não faz isso. Não se deixe
levar pela raiva. Eu saio daqui e você fica apenas com os seguranças,
mas não vai embora. Não faça merda por raiva. Eu posso explicar
tudo — ele tenta ser calmo, mas continua falhando, seu tom oscila e
sua expressão é tensa.
— Agora não quero ouvir nada. Só preciso sair daqui o quanto
antes.
E é o que faço. Saio da casa e entro no meu carro. Pascoal
coloca as coisas no porta-malas e entra no carro fazendo sinal aos
outros. Saímos, com todos juntos e cercando o carro. Quando
entramos na rua principal logo à esquina, Pascoal despista nosso
carro entre os outros e seguimos.
— Não vai dizer o que houve? Posso matá-lo e sumir com o
corpo.
— Mentiras. As mentiras podem destruir tudo. — Minha voz
sai trêmula, mas logo controlo.
— E a verdade pode machucar ou piorar tudo.
— Mas sempre será a melhor opção no final. Sempre, Pascoal.
— Para onde vamos?
— Não vou para casa agora. Preciso não pensar por um tempo.
— Frederico e Laerte podem ajudar.
— Ótimo.
Meu celular toca e é a Daiane. Atendo.
— Mãe, tudo bem? — Sinto a preocupação em sua voz, e raiva
talvez por ter que falar com cuidado, caso esse celular seja
grampeado também.
— Sim. Não se preocupe.
— Irei rastrear.
— Não. Não vai. Até mais tarde! — Desligo.
Desativo o rastreio do celular compartilhado apenas com eles.
— Vão rastrear os carros e nossos celulares.
— Eu sei, mas o sistema de rastreio dos carros é interligado na
polícia, pois dá mais acesso ao David e todos os outros, e eles têm
que evitar ao máximo chamar tanta atenção, ainda mais com todos
sendo suspeitos. E pelo celular o rastreio pode ficar oscilando,
porque estamos saindo do interior para a cidade.
— Esperta. A senhora deveria comandar essa família, as coisas
dariam mais certo. Sou sincero.
Forço um sorriso.

Visto uma roupa mais confortável que estava na mala e entro


na sala de treinos.
— Fiquei sabendo que hoje eu teria apenas uma Escobar —
Laerte diz sorridente.
— Preciso relaxar a mente.
— É comigo mesmo. Quer começar por tiros, ou defesa
corporal? Que tal fugir um pouco do comum e fazer Muay Thai? Sua
cara não está das melhores. Mas tenho outro exercício que pode
ajudar ainda mais. — Ele sorri maliciosamente e acabo rindo.
— Deixa de ser safado! — Rimos. — Vai ser bom socar e chutar
algo.
— Esse algo será eu, mas tudo bem. Vamos para a outra sala.
Agora, se quiser socar outra coisa, eu posso socar...
Acerto um tapa nele, que ri.

Alessandro Santos

— Mas que porra aconteceu? — Felipe grita do outro lado da


linha, enquanto dirijo de volta à cidade.
— Se gritar mais um pouco, as pessoas fora do carro vão achar
que estou raptando alguém. Está no viva-voz do carro, porra!
— Não faça gracinha agora, caralho!
— Ela viu sua mensagem. Parabéns, idiota! Por que não me
ligou?
— Como eu iria imaginar que você seria um burro ao deixar o celular
jogado? Você já foi mais esperto.
— Agora ela foi embora. Os Escobar vão me matar. Eles
queriam tirar ela do foco, e jogar eles na linha de frente, mas eu
acabo de jogar ela bandeja no perigo.
— Foda! Tenho que resolver essa merda toda! — Seu tom é rude.
— Precisamos parar isso tudo.
— Já arrumei desculpa na Universidade para você ficar esses dias
longe. Vem para casa. Tenho uma ideia. Convoque os Escobar.
— O que quer fazer? — questiono desconfiado e preocupado.
— Se quiserem parar essa merda vão precisar da minha ajuda, pois
sou o único que está a par há muito tempo de tudo que está acontecendo, e
sei os passos da pessoa que está fazendo isso.
— E o que o cirurgião plástico vai dizer a eles? Já sei: “vou
resolver tudo com um bisturi, não se preocupem, só preciso das
minhas luvas!”.
— Engraçado, mas não!
— Felipe, o que está querendo fazer?
— Direi a verdade sobre mim para aqueles idiotas.
Começo a rir.
— Andou bebendo?
— Não fode ainda mais meu humor.
Reviro os olhos e paro o carro no farol vermelho.
— Qual parte da verdade? Porque ela toda só fará eles te
matarem ou prenderem, ainda estou em dúvida qual seria a
escolha.
— Toda a verdade. Eles vão ter que fazer um acordo com o diabo,
simples. E seria mais fácil eu derrubar todos, do que eles encostarem em
mim. — É frio. Não gosto disso. Tem algo a mais.
O farol abre e volto a dirigir.
— Está brincando, não é? — pergunto bem sério.
— Não. Os Escobar vão precisar de ajuda para resolver isso, já que
estão bem vulneráveis. Sou o único que posso encontrar a pessoa
facilmente e sei o que pode desestabilizá-la.
— Felipe, pensa bem. É muita merda para ser explicada. E tudo
tem um preço. Por que está ajudando?
— Só convoca eles. E pode deixar comigo, pois você viverá para ver os
famosos homens da lei assinarem um acordo com o conselheiro da máfia
americana.
Isso vai dar merda!

Paula Escobar

Estou exausta. Tudo que preciso é de um banho, descansar e


refletir, não necessariamente nesta ordem.
Entro em casa, e deixo a mala encostada perto da porta.
Carrego só a bolsa para o sofá. Retiro o celular dela e coloco sobre o
sofá. Vou para a cozinha, e pego uma garrafinha de água na
geladeira e saio para a área da piscina. Sento-me na beirada de uma
das espreguiçadeiras e fico observando o entardecer. Passei horas
com o Laerte, nem senti o tempo passar. Eu precisava disso.
Abro a garrafinha e bebo um bom gole de água. Nunca pensei
que amaria totalmente o silêncio desta casa.
Parece brincadeira, mas toda vez que acho que as coisas vão se
acertar, elas tendem a estragar. Desde o início sempre foi assim.
Quando conheci o Joseph, estava tudo ruim, aí melhorou; e então
começaram as perseguições e, quando achei que tudo tinha
melhorado por ele ter condenado o chefe da máfia que estava
procurando, então anos e anos nesta luta infernal, ele foi morto; e
como não quisemos mexer para não trazer mais problemas, tudo
piorou. Agora anos depois, tudo está ruim novamente, entretanto
achei que ficaria melhor e descubro que pode piorar porque o
homem que agora eu sei que realmente estou apaixonada – pois me
dói pensar que fui enganada por ele, e é uma dor insuportável –
mentiu para mim sobre a família... sobre tudo. Só penso quando a
vida vai parar com essa montanha-russa em queda livre, e dar uma
trégua dos problemas.
Bebo mais um pouco da água e fico olhando em direção à
piscina, porém passo a me sentir observada, e não como se fosse
pelos seguranças. Sinto um arrepio percorrer todo o meu corpo e
estremeço. Olho para os lados, porém não tem nada. Devo estar
ficando paranoica já. Afinal, como entrariam aqui? Parece uma
fortaleza com tanta segurança.
Fico mais um tempo ali, e quando dou por mim as luzes
automáticas começam a acender. A noite chega, e pelo visto fiquei
mais tempo do que pretendia pensando em tudo que vem
acontecendo.
Saio do lado de fora e entro pela cozinha. Deixo a garrafa sobre
a pia e respiro fundo. Vou tomar um banho, avisar algum dos
meninos que estou em casa e dormir.
Entro na sala e novamente a sensação de estar sendo
observada me toma. Estremeço mais uma vez. Não estou gostando
disso. Pego meu celular no sofá, mas um pigarreio me faz deixá-lo
cair no chão pelo susto. Olho em direção ao som, que vem do
corredor que dá acesso ao escritório, e vejo uma figura sorridente
me olhando. Fico imóvel. Meu coração dispara completamente.
— Sentiu minha falta?
— Você? — Desço o olhar e vejo a arma em sua mão.
— Como esperei por este momento.
Outra pessoa surge e não acredito no que vejo.
— Senhora, eu não tive escolha... — Vejo seu semblante de
desespero, seu olhar de medo.
— Pascoal, o que é tudo isso?
— Ele diz a verdade. Não teve escolha, não com a filha dele e a
esposa sendo feitas de refém na casa deles. Como foi fácil conseguir
tudo. Cada passo. — Mostra um celular, que retira do bolso, e vejo a
foto da família dele amarrada e amordaçada em um canto da casa
deles.
— Me perdoa! — Pascoal implora desesperado.
— Chega desse papo. Odeio essa palavra. Vamos ao que
interessa.
— Podemos conversar. Solta essa arma e deixa a família dele
livre — peço com calma.
Qualquer deslize agora é crucial. Seu olhar não é normal. É
calculista, sombrio. Já vi pessoas assim na minha frente, e
demonstrar pânico não é a melhor opção, isso instiga o lado
obscuro deles.
— Quem dita as ordens agora sou eu. Senta-se no sofá e liga
para eles. Quero todos os Escobar aqui e não pensem em trazer a
polícia, porque meus homens estão vigiando, e vocês têm crianças
com babás, bisavó, tia... Não vão querer elas em risco também. Sei
onde está cada pirralho nojento e com quem está. Melhor fazer tudo
o que eu mandar, e sem gracinhas.
Pego o celular calmamente e sento no sofá. Escuto seus passos
atrás de mim e sinto o aperto da arma agora em minha nuca. Engulo
em seco.
— O que quer que eu faça? — pergunto tentando manter a voz
firme.
— Diga para virem para cá, mas não deixe descobrirem que
estou aqui. Quero fazer uma surpresa, mesmo já sabendo que
sabem quem sou. Deixe essa merda no viva-voz... Exija todos os
Escobar.
— Está bem.
Disco para o primeiro contato da lista, Daiane, mas só chama.
Então tento do David, porém só chama também.
A porta da sala é aberta e a Liziara entra.
— Nossa, agora virei babá da Paula. Por que eles não vieram?
Tinham que mandar a “funcionária” aqui, porque até parece que
recebo algum salário de tanta coisa que me pedem. David está
ferrado, pois exigiu que eu viesse. Abusado! — diz fechando a porta
nervosa. Ela guarda as chaves na bolsa, ainda não olhou para trás.
Assim que faz sorri. Mas seu olhar sobe e ela fica estática.
— Isso vai ser mais divertido do que pensei — a voz repleta de
frieza diz.
— Eu sabia que tinha algo estranho sem nenhum segurança na
entrada. Deixe a Paula! — Liziara grita deixando a bolsa ir ao chão.
Ela está pálida.
— Senta-se na porra do sofá, ao lado dela. Agora!
— Liziara, faça isso, por favor! — imploro e vejo o olhar da
minha menina e ela compreende o que passo em minha voz.
Liziara se senta ao meu lado.
— Pascoal, passe para cá. Quero você sobre minhas vistas. Não
confio em bunda mole que se rende pela família.
Pascoal caminha em direção à escada e fica nos olhando.
— TENTE LIGAR NOVAMENTE! — grita e sobressalto.
Tento do Henrique e torço para que atenda.
Liziara faz menção de levantar, mas é puxada pelo cabelo e
xinga.
Agora eu sei por que tentavam esconder. Entendo o motivo de
estarmos vulneráveis, porque foi uma falha nossa! Alessandro sabia
quem era, todos já sabiam. Eu era o foco, e não foi à toa.
Henrique não atende. Por que ninguém atende?
— Tente mais uma vez. Se não atenderem, farei do jeito difícil,
e vai começar pela pequena Sophie Casagrande. Ela está com a
bisavó e a tal Jaqueline, pois, como eu disse, sei onde está cada peste
dessas crianças.
— Tenta do Marcos — Liziara sugere com a voz trêmula. — Ele
sempre atende.
Olho para o Pascoal, e vejo a vergonha estampada em seu rosto
junto do desespero. Não o condeno. Eu faria qualquer coisa por
minha família em apuros.
Mais um homem entra na sala, deve ter vindo dos fundos.
— Fique de olho nessa puta!
O homem se aproxima da Liziara. Está armado também. Pega
ela pelos cabelos e a joga no canto da sala, e a acerta com um chute
em sua perna. Ela geme de dor. Meu coração aperta com essa cena.
A porta se abre e mais homens entram, e muito bem armados.
Isso é prova de que deve ter usado o Pascoal para romper a
segurança da casa.
— Treinos, seguranças, armas... Nada disso adiantou, não é
mesmo? — Ri. — Tanto tempo tentaram ser espertos, e falharam.
Paula Escobar está rendida, por uma falha de sua própria família.
Eu prometi que me vingaria de vocês, e estou honrando com a
minha palavra. Porque filho da puta nenhum mexe comigo e sai
impune.
— Por favor, não precisa ser assim... — digo e meu tom é baixo.
— Vai ser assim! — diz com ódio em sua voz.
Olho para a Liziara e ela está assustada. E sei bem o porquê.
Poliana Gonçalves Xavier não está para brincadeiras. Ela fugiu da
prisão, derrubou nossa segurança, mexeu com a nossa mente nos
deixando perturbados nas últimas semanas, e agora tem todos nós
em suas mãos. Ela nos deixou sem saída. Estamos vulneráveis.
Estamos perdidos.
Ligo para o Marcos e espero que me atenda, porque não sei por
quanto tempo conseguirei mantê-la calma.
Doze

Alessandro Santos

Observo atentamente cada um que está em minha sala. Porra,


nunca imaginei que minha casa estaria forrada de homens. Tem
apenas uma mulher, a Daiane, mas ela é assustadora quando está
nervosa.
Por que caralho meu irmão inventou de armar isso? E por que
ninguém atende os celulares? Por que eu aceitei fazer parte disso
tudo? Eu estava tão bem odiando meus alunos, e fazendo da vida
deles um inferno e tentando convencer a todos que filosofia é muito
simples e é a melhor matéria, quando nem eu entendo porra
alguma do que alguns filósofos queriam dizer, mas finjo que sei.
Também poderia estar transando com alguma mulher, sem me
importar com o depois. Mas quando penso nisso, é só a praga
chamada Paula que me vem à memória e seu corpo... Essa família
tem alguma magia que atrai todos para eles. Certeza de que ela foi
em alguma mulher que diz “trago seu homem em três dias” e deu
meu nome, pois é impossível que eu esteja me sujeitando a morrer
por causa de uma mulher. Minha vida era tão simples antes de
conhecer pessoalmente essa família. Culparei o Jacob, ele que me
levou a tudo isso quando nos encontramos naquela maldita boate,
um lugar que também levará a culpa por eu estar vivendo tudo isso,
já que foi lá que conheci a Paula pessoalmente e, pelo visto, não
apenas meu pau ficou atraído, porque porra, tenho de ser sincero,
mas meu coração também. Inferno, virei um romântico, era só o que
me faltava!
Que caralho, algum deles pode atender a merda do celular?
Observo o Marcos segurar o David, que tenta socar meu irmão,
o Henrique gritando para ele deixar o David e a Daiane dizendo que
vai tacar o sapato dela na cabeça de cada um, enquanto o Jacob...
Por que ele está se aproximando de mim e sério? Fodeu!
— Filho da puta! Eu confiei em você. Caralho, Alessandro! —
Ele me empurra na parede e agarra a gola da minha camiseta com
ambas as mãos.
— Por que sempre sou agarrado por alguém dessa família? —
questiono e ele pressiona meu pescoço e sorrio.
Meu irmão joga o David no chão e o Henrique chuta Felipe, que
cai também. Marcos saca a arma e é rápido. Vejo a bala passar de
raspão por mim, e acertar a parede, bem ao lado da minha cabeça.
Todos olham assustados.
— Caralho, minha parede, porra! — reclamo, e Jacob me solta.
— Chega! Todo mundo calado e, quando eu perguntar, vão
responder. Não testem a porra da minha paciência, porque estou
prestes a assinar a sentença de todos vocês. Caralho!
Juizinho estressado. Quero ver se vai pagar o prejuízo da
parede!
David e Felipe levantam e ficam se encarando.
— Estava na hora de alguém resolver parar esse circo! —
Daiane diz e Marcos olha sério para ela, que levanta as mãos em
rendição.
— Esse filho da puta é a porra de um conselheiro do chefe da
máfia americana e é irmão do Alessandro. Olha a merda que nossa
família se envolveu! — Henrique diz.
O celular do Marcos começa a tocar novamente.
— Alguém atende essa merda. Não param de ligar. Pode ser
algo grave, e vocês ficaram tentando se matar — Daiane diz.
Marcos pega o celular e franze a testa.
— Vou deixar no viva-voz. É a Paula.
A expressão de todos muda e tenho certeza de que a minha
também.
— Marcos... É, estou em casa. Vocês podem vir para cá... Quero jantar
com todos. — Sua voz é diferente. Não é tranquila.
— Estamos ocupados. Está tudo bem?
— Está sim. Mas venham logo. Nada é mais importante que a família.
Estou em casa, a Lizi também. Mas não tragam as crianças, vamos fazer
algo de adulto. Vim da casa do Alessandro que ficava no interior, e estou
precisando desabafar com vocês. E o Pascoal... — Faz uma pausa. —
Pascoal quer conversar sobre toda nossa equipe. Venham logo.
Henrique dá um passo à frente e Marcos faz um sinal para ele
parar.
— Eu vou convocar a todos e vamos. Até logo.
— Aguardo vocês. Quando chegarem entrem direto, não precisa mais
dos códigos de segurança para entrar na casa.
Franzo o cenho.
— Está bem, Paula. Se cuida.
Ela desliga. Daiane cai sentada no sofá. David começa a se
ajeitar.
— Ela não está sozinha — Henrique declara.
— Nunca teve códigos — David constata nervoso.
— Não. Poliana está na casa! — Marcos fala e aperta o celular
com força.
— LIZIARA! — David diz nervoso. — Eu a mandei ir para lá. Se
ela tentar alguma coisa pode arruinar tudo.
A porta da sala abre rapidamente.
— Simon? — Marcos olha preocupado.
— A segurança foi corrompida, senhor. Pascoal disse a eles que
estavam liberados, e como ele ficou de comando por hoje, alguns
acreditaram, mas outros ligaram para mim, bem desconfiados. Já
mandei eles irem para a casa de cada um espiar a movimentação,
porque ela espalhou os homens dela.
— Caralho, a Sophie e minha avó. Eles iriam para a fazenda
hoje, e Jaqueline em seguida! — Jacob fala nervoso.
— Mandei mais equipes para lá, senhor — Simon o acalma. —
Poliana tem homens vigiando cada casa.
— Pascoal estava por trás dessa merda?! — Daiane indaga
nervosa.
— Não. Ela pegou a família dele; e se tivesse deixado eu falar
tudo, antes de tentarem me atacar, eu teria dito. Eu sei cada passo
dela. Ela abriu a boca assim que soube quem eu era. Fugiu da cadeia
na noite que teve uma rebelião. Conseguiu ajuda de alguns policiais
corruptos e amigos antigos. Ela está muito frustrada com vocês.
Tem motivos para odiar cada um. É uma louca, e se torna pior por
ser apaixonada pelo delegado. Não superou que não se tornou uma
Escobar e que, quando poderia pisar em todos sendo uma
Casagrande, foi jogada de lado por mais uma da família que ela
tanto odeia. Me contou cada coisa que sentia pelo David e tudo o
que ele fez para ela, os momentos, meio ilusórios acredito eu, e
falou da forma que ele a ensinou a atirar. E foi isso que passei ao
meu irmão, porque sabia que ele usaria no momento certo. —
Aponta para o David. — E você, David, entenderia tudo. Ela sabia
que eu era irmão do Alessandro e que isso poderia vazar, porque
era isso que ela queria e eu também, mas não vem ao caso. Ela
queria que soubessem que era ela, mas que tivessem que descobrir
como pegá-la. Ela sente prazer em ver o quanto estão desatentos,
instáveis, e o sonho dela era que desde o início soubessem a
verdade, e tivessem que correr atrás dela, isso tornaria tudo mais
prazeroso, ela gosta de ser caçada, porque se sente mais forte. Só
que eu atrapalhei os planos dela desde o início, porque sou mais
esperto, e ela está agindo do jeito que planejei. Vim por um motivo a
esta cidade, e está tudo saindo melhor que a encomenda — meu
irmão fala de um jeito que eu não gosto. Felipe está fazendo alguma
coisa.
— Desgraçada! Eu vou matar essa maldita! Temos que ir agora
para lá! — Jacob fala.
— Vocês ouviram o Simon? A segurança foi corrompida. Estão
todos vulneráveis. Cada casa sendo vigiada — digo como se fosse o
único consciente aqui.
— Ele tem razão. Ela entrou em cada detalhe. Vocês estão
vulneráveis. Ela tem cada um na mão dela. E não pensem em
acionar a polícia, vai ser pior. Precisam de mim.
— Não vamos selar a porra de um acordo com uma máfia! —
Marcos declara ainda mais nervoso.
— Vamos sim. Vamos selar a porra do acordo sim. É a nossa
família. E sei que tudo para essas merdas tem um preço. Então,
Felipe, qual o de vocês? — Jacob diz sério.
— Não se mete, Casagrande! — Marcos grita.
— Sou um Casagrande, mas me casei com uma de vocês, e amo
essa família, e amo ainda mais minha filha, e por ela faço acordo até
com o diabo!
— Não vai ter um preço. Ninguém vai pagar por nada — digo e
aponto para o meu irmão. — Você vai nos ajudar e não vai ter um
preço. Se você realmente se importa comigo, então saiba que esses
loucos, que vão pagar o prejuízo da minha parede, me importam.
Então, se você sabe como arrumar essa zona, comece a falar e agora.
Simon olha para o celular e depois para nós.
— Se me permitem dizer, temos que pensar com rapidez.
Ouviram um tiro na casa da Paula.
— Vamos, Felipe! — grito.
— Não tem nenhum preço para pagarem. Ajudarei vocês. Eu
sei o modo que ela vai agir, eu sei o que ela quer. Ela se acha
esperta, mas está alucinada. Precisam jogar o jogo dela e só atacar
no momento certo. Sei o que vai deixá-la vulnerável.
— A casa está cheia de homens — Simon comenta. — Alex
disse que teve que ir para a casa dos pais da Liziara, onde ela deixou
as meninas antes de ir para a Paula. E tem homens vigiando a casa.
— O que vamos fazer? — Daiane indaga desesperada.
— Jogar o jogo dela. Vamos até ela — Marcos diz como se
tivesse rendido. Eu nunca vi o homem assim. Sua expressão mudou
muito.
— É minha culpa. Eu não olhei a lista dos que fugiram, mesmo
sabendo que ela estava naquele presidio. Eu dei este deslize.
Caralho, eu fui um filho da puta! Como eu pude deixar essa merda
passar?!
— David, somos todos culpados. Ficamos o tempo todo focando
na pessoa errada, enquanto ela mexeu em tudo que tínhamos. Ela
pegou o que mais nos deixaria vulneráveis: a família. Porque temos
coração e porque pensamos tanto com ele, que nos ferramos.
Falhamos como pessoas da lei! — Henrique enfatiza ao irmão.
— Acabou o momento punição? Podemos ir? — questiono.
— Vamos. Simon, faz vigia por conta própria na minha casa.
— Senhor, já temos uma equipe espionando sua casa.
— Eu sei, mas se algo acontecer, quero que esteja com ela e
com meu filho. — Marcos se vira e sai da sala, com todos o olhando.
Simon sai e começamos a sair.
— Obrigado por não ter um preço — digo ao Felipe quando
fecho a porta da sala.
— Vocês não vão pagar, mas eu vou. Pedi ajuda deles, e estão à
espera do meu sinal; já estão aqui na cidade. Porém, eu quebrei
regras e serei julgado pela máfia, se eu sair vivo dessa. Eu serei o
preço de vocês.
— Felipe, que porra...
— Eu disse que me importava com você, Alessandro. — Ele
desce pelas escadas do prédio, por onde todos foram, já que o
elevador está em manutenção.
Sigo pelas escadas e com o coração apertado.

Paula Escobar

Consegui falar com o Marcos e espero que entenda meus


sinais. Estou preocupada. Ouvi tiro ao fundo da casa, e a Poliana
mandou um dos homens ir conferir. Liziara me olha apreensiva, e
tento não pensar que talvez essa seja a última imagem que eu possa
ter dela.
— Pensaram ter visto alguém, por isso o tiro. — O homem
retorna e avisa.
— Idiotas! — ela responde e se senta na poltrona branca sem
tirar os olhos da Liziara.
— Você não precisa disso. Podemos conversar decentemente.
Isso só vai piorar sua situação — tento dizer com calma.
— Não sou eu e nem minha família que estamos sendo feitos
de reféns. Não tente me dizer o que eu devo ou não fazer, Paula. —
Ela faz sinal para um dos homens, que pega nossos celulares, e os
joga do outro lado da sala.
A porta se abre com força e olhamos em direção a ela. Um
homem muito alto e forte traz Beatriz e a empurra. Ela tropeça e
acaba caindo ao lado da Liziara.
— Bia! — Liziara grita assustada.
— Se machucarem meu filho, eu acabo com a sua vida, sua
desgraçada! — Beatriz grita.
Olho assustada para Poliana.
— Não encoste nas crianças. Elas não têm nada a ver com isso
— mantenho a voz firme ao dizer.
— Cala a boca, porra! A peste do filho dela está ainda na casa e
com a babá. Mas, se tiver qualquer gracinha, darei ordens e não
perdoarei ninguém.
— Para que chegar a este ponto, Poliana? — Liziara indaga
nervosa.
Ela não responde. Apenas sorri.
Parece que estamos há dias nesta tortura. Não posso fazer
nada pela minha família que está completamente em risco. Não
sinto qualquer esperança de que isso possa terminar bem.
A porta se abre mais uma vez e olhamos todos para ela.
Poliana sorri e faz sinal para seus homens presentes na sala.
Pascoal dá um passo, mas é barrado por um.
Marcos é o primeiro a entrar. Ele me olha e sinto o vazio em
sua expressão; pela primeira vez, ele não sabe o que fazer. Nenhum
de nós sabe. Henrique e David entram e param ao lado do Marcos. E
então, para minha surpresa, Alessandro surge e seu olhar se
encontra com o meu.
— Peguem todas as armas que eles tiverem! — Ela dá o
comando. — E, queridos Escobar, não tentem qualquer merda se
amam aquele bando de pirralhos.
Vejo meus filhos e Marcos se desarmarem. Sei o quanto isso é
declarado como uma derrota para eles. Alessandro é revistado, mas
não tem nada.
— Está faltando gente... Aí estão — Poliana diz se levantando e
sorrindo em direção a porta.
Um homem traz a Ana segurando forte em seu braço e seu
cabelo. Henrique dá um passo, mas David coloca a mão em sua
frente. Daiane e Jacob entram em seguida, são revistados e a arma
do Jacob é recolhida. A porta da sala é fechada, porém mais homens
entram pelos fundos. Alguns rostos eu já vi: policiais. Todos do lado
dela.
— Levantem-se! — ela grita e aponta para mim, Liziara e
Beatriz.
Ficamos de pé enquanto seus homens estão com as armas em
nossa direção.
— Como é lindo ver isso. Este tempo na prisão pensei muito
em como faria tudo isso quando saísse. E vejam só, deu certo.
Conquistei mais amigos na polícia, passei um mês rodeando cada
passo de vocês, rastreando tudo, e nas últimas semanas consegui
mexer com a mente de todos. Foi tão fácil. Já sabia muita coisa sobre
vocês, então ajudou muito. Porém, ao que parece, o celular da Paula
não funcionou mais, suspeito que descobriram que estava
grampeado, só que eu já tinha feito tudo o que eu desejava. Prometi
a mim mesma que destruiria a vida perfeita de vocês, e estou
cumprindo com isso. — Ela suspira. — Perguntas? Aproveitem.
Essa mulher está louca. Fora de si.
— O que você quer? Vamos terminar logo com isso — David
diz.
Ela se aproxima dele e leva a mão ao seu rosto, mas ele desvia.
— Eu vou matar essa filha da puta, e o David que me fez vir
aqui! — Liziara avança para cima dela, mas o Marcos a segura a
tempo e prende ela ao seu lado.
Poliana ri e desliza a mão pelo peito do David.
— Poderíamos ter evitado tudo isso. Era para você ser o pai
dos meus filhos e estarmos casados.
— Pirou de vez. Se enxerga, lambisgoia! Deixa-me te pegar que
te mando para o inferno, onde vai casar com o capeta! — Liziara
retruca, e Marcos prende ela a sua frente e leva a mão a sua boca.
Ela olha feio para ele.
— Doce Liziara. Ainda não aprendeu que sempre faz merda
por seu ciúme? Não se garante? Medo do David ver que sempre quis
a mim e não uma garota como você?
Vejo o Marcos segurá-la ainda mais forte.
— Solte-a. Agora! — Poliana pede.
Marcos nem se move. Deve estar pensando como todos, que
isso é uma jogada louca. Liziara está fora de si.
— SOLTE! — Poliana grita desta vez e se aproxima.
Marcos solta Liziara calmamente, como se ela fosse um animal
feroz. O que não está longe de ser.
Liziara está com a respiração forte, tentando se controlar.
— Vamos, faça o seu melhor, vadia! — Poliana grita com ela.
— Poliana, chega disso. Vamos resolver isso da melhor forma
— digo mantendo o máximo da calma.
— Sou a vadia que você sente inveja. A vadia que você quer
estar no lugar, não é mesmo, Poliana?!
O rosto da Liziara vira com o tapa que Poliana acerta. Puxo
Liziara ao meu encontro protegendo-a, mas ela sorri, como se este
tapa não fosse nada. David está vermelho, vejo o ódio em seu olhar,
assim como nos demais. Eles querem agir, mas não podem. Mas eu
não vou admitir que machuquem minha família, não mesmo!
Coloco Liziara atrás de mim e olho fixamente nos olhos da
Poliana.
— Não toque nos meus filhos! Você não me conhece. Sou um
amor, mas não mexa com a minha família, sua louca! — Fecho o
punho e acerto seu rosto sem pensar duas vezes.
Ela cambaleia e faz um sinal, um tiro dispara para o teto e foi
atrás de mim. Ela vem para cima de mim e o movimento da Ana é
rápido, dando uma rasteira nela.
— Faça o que tem que ser feito, porque minha paciência
esgotou! — Henrique diz.
Ela ri diante do chão e leva a mão ao canto da boca onde
sangra. Levanta e seu olhar é de alguém que não vai ser gentil em
nada.
— Não é tão fácil. Antes de acabar com um por um dessa
merda, vocês têm uma hora para me arrumar uma boa quantia em
dinheiro, e dar um jeito para que eu consiga sair desse país com
minha mãe. Novas identidades, uma nova vida. Uma hora é o meu
tempo. E sem tentarem quaisquer gracinhas, ou aquelas malditas
crianças morrem. E tem mais, quanto mais o tempo for passando,
torturas serão feitas. Não pensem em acionar a porra da polícia,
pois irei saber. Um deslize e a primeira a morrer é a matriarca
dessa merda de família! — ela emana ódio diante das palavras.
— Qual a quantia? — Beatriz pergunta.
— Quero um milhão na conta que irei passar a vocês. Não
aceito menos.
Jacob começa a rir.
— Acha mesmo que conseguiriam transferir isso em uma
hora? Andou bebendo água dos vasos sanitários do presídio, sua
louca? — Ana questiona.
— Foda-se! Se virem! — Ela abre os braços — Não são os
Escobar e Casagrande? Não são poderosos? Então arrumem a porra
de um jeito, e agora. Qualquer ligação, apenas no viva-voz.
Computadores serão monitorados por meus homens; e repito,
qualquer deslize e mando matarem as crianças.
— Você ficou ainda mais louca. Olha na merda que se meteu e
envolveu todas essas pessoas. Poliana, para com isso! Você precisa
de ajuda. Está paranoica! — Daiane fala nervosa.
— Cala a sua boca, putinha!
— Toma cuidado em como fala com a minha sobrinha! —
Marcos alerta e conheço bem seu tom.
Alessandro observa ao redor e vejo quando ele faz um leve
sinal com o olhar para mim. Não entendo, mas parece que algo vai
acontecer.
Sei cada canto que temos armas escondidas, mas não podemos
pegar, não com a situação desse modo.
— Sabia que, quando eu falei para o Felipe sobre o David e
tudo o que ele me ensinou, foi proposital? Eu testei a lealdade dele.
E não demorou para eu saber que estavam me investigando e
tentaram tirar a Paula da cidade. Patético! Vocês poderiam ter feito
melhor... Marcos Escobar, você poderia ter feito melhor. Mas
mostrou o quanto é fraco e não passa de uma farsa essa pose de
macho alfa.
— Você só esqueceu de uma coisa, Poliana — Alessandro diz.
— Nenhum plano é perfeito, e o seu não seria.
— Do que está falando, seu idiota? Eu descobri que ele era seu
irmão e sabia que correria abrir o bico. Eu fiz ele jogar o meu jogo.
— Não. É você que está jogando o nosso. — Ele olha o relógio
em seu pulso e sorri. — Está na hora.
É tudo muito rápido. Daiane é empurrada para trás pelo Jacob.
Marcos faz o mesmo com a Ana e Beatriz. Henrique me puxa e
automaticamente puxo a Liziara, mediante os disparos que
começam a ecoar pela sala. Gritos e xingos se misturam na loucura
que passa a acontecer.
— Sempre gosto de uma entrada triunfal! — Olho para a figura
do homem belo que diz e reconheço: é Felipe, o cirurgião famoso e
irmão do Alessandro. Ele está com vários homens.
Começam a lutar corpo a corpo. A porta de entrada se abre
com um baque, e Simon entra jogando armas na direção do Marcos
e Henrique. David desvia de um homem e pega a arma abaixo da
escada. Jogo a pequena mesa a minha esquerda ao chão, e pego a
arma presa embaixo dela. Liziara passa pela Ana e desvia de um tiro
vindo da direção da Poliana, então puxa o fundo falso do sofá e pega
duas armas e corre para entregar a Ana. Um dos homens, que
chegou pelos fundos com o Felipe, entrega armas para os membros
de nossa família que estão sem.
— Nunca deixe brechas, principalmente aos fundos do local
onde você planeja o crime! — Felipe grita para Poliana e a acerta
com um golpe.
— Eu vou matar o David, olha no que ele me meteu. Estou
inconformada... Filho da puta! Eu sempre fico em situações... fodidas
por causa dele! — Liziara grita quando é atingida por um soco de
um homem. E então ela atira nele, que cai.
Atiro no homem que se aproxima de mim, mas ele desvia; e,
quando penso que serei atingida, Marcos atira nele. Henrique
parece estar em um parque de diversões, nunca erra um tiro e
acerta dois homens de uma vez. Jacob trava uma luta com um
maior. Pascoal e Simon saem em luta com outros. Vidros, quadros,
tudo está sendo destruído. Ana grita e olho assustada, porque ela foi
levada ao chão e um homem está em cima dela com a arma em sua
testa.
— NÃO TOCA NELA, DESGRAÇADO! — Henrique acerta o
homem com um chute e atira sem piedade nele.
Ana se levanta rapidamente e não é fraca, continua sua luta.
Vejo Poliana correr atrás da Liziara, e imediatamente corto
caminho empurrando um homem e só vejo ser o Alessandro depois.
— Paula, não! — ele grita.
Liziara escorrega e cai próxima aos vidros estilhaçados. O
alarme da casa não para de apitar. O cheiro de pólvora é forte e tem
sangue para todo lado. Mas nada disso me abala, não quando
Poliana quer matar Liziara, e vejo o ódio em suas ações. Desvio dos
homens, enquanto minha menina tenta se levantar. Daiane atira em
um homem, mas erra; Marcos termina o serviço. David está em uma
luta com três e tenta se desvencilhar. Felipe atira na cabeça de dois
rapidamente. Seus homens são bons também. Os homens da Poliana
estão morrendo. Jacob vê Daiane e tenta impedi-la. Ela quer pegar a
Poliana. Sou atingida por um golpe e um tiro passa de raspão pelo
meu braço, sinto a ardência, mas nada mais importa além da minha
família.
Os minutos parecem horas. Felipe grita algo como um código, e
mais disparos surgem. Luciano aparece vindo dos fundos com uma
mulher, eu sei quem ela é. Sandra Gonçalves Xavier, mãe da Poliana.
Ela está chorando e parece assustada. Poliana grita e seus homens
sobreviventes param imediatamente.
— Mãe, que merda faz aqui? — Ela está ofegante e nervosa.
— Minha filha... — Ela se aproxima tremendo. — Eu senti sua
falta...
— Mãe. Não deveria estar aqui. Eu vou conseguir nos tirar da
pior. A senhora vai ver.
— Filha, não... Não precisava chegar a isso. Vamos sair daqui.
— Não. A senhora me fez assim, não está orgulhosa? — Sua voz
é trêmula. Sandra é o ponto fraco da Poliana.
Olhamos atentamente para a situação. Liziara se levanta e está
machucada. Daiane a ajuda e fica ao seu lado. Alessandro toca
minha cintura e olho para ele, que está machucado também; então
cochicha disfarçadamente em meu ouvido:
— Há equipes vigiando as crianças... Só à espera de um sinal.
Vai acabar tudo bem.
Sinto um pouco de paz por saber que, seja da forma que isso
terminar, tem pessoas para tentar proteger nossos pequenos e os
outros membros da família: como os pais da Liziara, tia da Beatriz e
a avó do Jacob.
— Filha, vamos embora. Vamos conversar. — Sandra chora.
— Não. Agora é tarde. Eu vou terminar isso. Saia daqui! — ela
grita fazendo um sinal e seus homens tornam a atirar.
Sandra grita e Luciano a puxa. Poliana mira na direção da
Liziara e Daiane está indecisa. Confusa. Isso não é bom. Ela ficou
vulnerável, não está sabendo raciocinar, ela está ainda mais furiosa,
não sei se foi bom trazer a mãe dela. Tento fazer algo, mas
Alessandro me impede e sou jogada para o lado com barreiras de
homens do Felipe. Tento sair, mas não deixam. Minhas meninas,
não! Eles me seguram e grito em desespero. Minha arma vai ao
chão, e um deles pega. Marcos puxa a Beatriz a tempo de o lustre
estilhaçar. Estamos às escuras, apenas as luzes de fora e dos
corredores nos iluminam. Ana é atingida e não sei se foi pelo tiro ou
pelo golpe. Ela cai e está suja de sangue. Henrique tenta ir até ela,
mas David requer seu apoio, e ele ajuda ao irmão, ele tem que ser
frio, e ver isso me dói. Estão desesperados. Beatriz atinge um
homem com um tiro, mas acerta em sua perna, e ele apenas cai e
atira na direção dela, só que o Marcos a empurra e atinge a ele.
— NÃO! MINHA FAMILIA! — grito tentando fazer algo, mas os
homens que me protegem não deixam.
Felipe e Alessandro atingem dois dos quatro restantes. Poliana
está desesperada.
Felipe, em uma tentativa de atingir um homem que vai na
direção das meninas, acaba atingindo Sandra que escorrega pelos
braços do Luciano, que atira contra o homem. Não sei, mas o olhar
do Felipe não diz que ele errou sem querer.
Poliana grita muito pela mãe e se joga ao lado dela.
— Você fez isso! Causou a morte dos seus dois pais. Está
satisfeita, Poliana? — Jacob grita com ela.
Consigo me soltar dos homens e corro na direção da Ana,
seguro ela em meus braços e tento reanimá-la. Sem sucesso.
Continuo agarrada a ela, e choro sem parar. Olho na direção do
Marcos e Beatriz está agarrada a ele e toda suja de sangue, não sei
mais de quem é o sangue, e se ele e Ana estão bem.
— MÃE! — Poliana grita, mas ela não obtém resposta. Se
levanta como um animal em caça, e cambaleia, atirando em seu
único homem restante e o acusa de incompetente. Com o celular
que tira do bolso, ela leva ao ouvido e não demora a dizer: — Matem
as crianças!
— NÃO, SUA MALDITA! — David grita.
Me levanto e dou um último olhar a Ana. David se aproxima da
Poliana e quando vai atingi-la, ela mira na Liziara e Daiane, que são
jogadas para trás pelo Jacob. David a empurra, mas ela se equilibra,
apenas há ódio em seu olhar. Pego a arma da Beatriz e me
aproximo. Alessandro tenta me impedir, mas apenas um olhar é o
que dou a ele e Felipe ergue a mão lentamente e seus homens
também se afastam.
— Eu vou matar as duas! Porque meu inferno veio a partir de
vocês, suas malditas! — Poliana diz entredentes.
— Não vai! — Henrique grita e atira, em sua direção, mas, pela
primeira vez, vejo meu filho errar.
Ela sorri e então mira nas meninas, mas Jacob fica à frente
novamente. Daiane passa a sua frente.
— ESSA BRIGA EU TERMINO! — Daiane grita com muita raiva.
— FILHA, NÃO! — grito desta vez, mas um tiro dispara e minha
arma vai ao chão. Não consigo ter ação. Daiane e Poliana vão ao
chão.
Henrique está com os olhos arregalados. Alessandro leva a
mão ao cabelo. Jacob se joga na direção da Daiane, mas é então que
vejo o David sorrir para Liziara. Ela se aproxima com uma arma,
seus passos são firmes. Para ao lado da Poliana, e vejo Daiane se
levantar com a ajuda do Jacob. Com um chute, Liziara joga a arma da
Poliana para longe.
— Ninguém que mexe com minha família e me chama de vadia
sai ileso! — Liziara acerta um chute na Poliana, que está com um
ferimento pelo tiro em sua perna e se contorce. — Eu sabia que
tinha boa mira.
— Onde mirou? — Henrique questiona.
— Melhor nem saber, cunhadinho.
Simon começa a fazer sinal para o Luciano, que se aproxima do
Marcos. Henrique vai até a esposa. A nossa equipe começa a falar
nos celulares com os outros.
Me aproximo sentindo raiva, ódio por tudo. Coloco os pés
diante da Poliana e miro a arma nela.
— Você brincou conosco. Mexeu com minha família. Nos
machucou, e tudo pela ganância. Está pondo em risco crianças, e
trouxe policiais para o seu lado. Poliana, mexa comigo, mas não
mexa com a minha gente. Não provoque a Paula Assis que existe em
mim.
— O que... Ai... Vai fazer? — geme de dor. — Nunca
conseguiria... atirar... É idiota demais...
— Pela minha família, eu termino isso agora.
— Vai ser presa... Está atirando sem necessidade... — Engole
em seco e franze o cenho pela dor.
— Não. Tenho muitas testemunhas de que isso foi em legítima
defesa. E as câmeras, daremos um jeito.
— Eu. Odeio. Todos. Vocês! — ela declara com raiva e tenta se
levantar.
— É recíproco. — Então, pela primeira vez, eu mato alguém a
sangue frio olhando bem em seus olhos. Não me arrependo, e não
quero.
Felipe atira nos pontos das câmeras na sala.
— No meio do tiroteio, elas foram atingidas. É isso o que será
dito! — ele declara.
— Me perdoem, foi minha culpa! — Pascoal implora.
— Não foi sua culpa. Era sua família — David o tranquiliza
seriamente.
Deixo a arma cair e sinto a tremedeira vir. Alessandro
rapidamente me ampara. Daiane, Liziara e David se aproximam de
mim. Vejo Henrique ao lado de sua amada, a ruivinha mais linda,
que abre lentamente seus olhos e ele a abraça forte e vejo meu
menino chorar enquanto a beija com carinho. Beatriz arranca a
própria blusa, sem qualquer vergonha, e amarra com força sobre o
braço do Marcos onde foi atingido. Ele está agora sentado.
— COLOCA A PORRA DA BLUSA! — o juiz mais estressado grita.
— Calado, seu juiz de quinta! — ela briga com ele e ao que
parece aperta ainda mais forte o braço dele, que xinga.
— As crianças estão bem. A polícia está a caminho. Melhor o
senhor Felipe e sua turma saírem — Simon avisa. — Os vizinhos
denunciaram devido a gritaria e o alarme, e o Cleber desconfiou que
o rastreio, que o senhor David mantém às escondidas e era
novidade até mesmo para nós, foi disparado, quando os carros da
equipe saíram todos e deixaram em ruas próximas às outras
residências. Então ele mandou equipes para as outras casas e isso
ajudou muito.
Olho para o David, que dá de ombros.
— COM SEGREDINHOS, DAVID ESCOBAR? EU SOU PERIGOSA!
EU VOU TE MATAR! — Liziara fala e ele sorri apertando-a em seus
braços e beijando-a.
Marcos se levanta.
— Vamos todos para a minha casa. Sair desse lugar. — Olha na
direção dos homens caídos.
— Luciano, dê um fim nas imagens a partir do momento certo!
— Henrique ordena.
— Obrigada — agradeço ao Felipe, que me olha e assente.
— Qual o preço? — David questiona a ele.
— Ele! O filho da puta se deu como um pagamento! —
Alessandro diz com raiva e ao mesmo tempo orgulho por algo.
— Vou tirar a mídia dessa história e conseguir com que a
polícia não prorrogue isso e que o delegado geral saia da sua cola,
David. Sim, sei cada coisa sobre vocês. Mas não me agradeçam. Não
faço isso com muita alegria.
— Obrigado — Alessandro declara ao irmão. — Mas vou
arrebentá-lo ainda.
— Espere, porque isso pode mudar — Felipe diz e sinto uma
frieza em seu tom.
Olho para o Alessandro e não me importo com o clima, o
ambiente, nada. Eu apenas o beijo. Ele estava me protegendo e se
colocou em risco por minha família e por mim, e isso é uma possível
prova de amor, mesmo que ele vá negar. Ele me agarra e retribui
como se eu fosse escorregar por seus braços e sumir. Ele estava com
medo, e eu também. Sinto isso e não preciso que ele diga, ele
transmite diante do gosto salgado do beijo pelas lágrimas.
— Ótimo. Meu marido me manda para a morte, e minha sogra
ganha um belo final. Vida injusta! Bia, você estava certa. Os Escobar
são para foder o juízo e não de um bom jeito!
— Concordo plenamente! — Ana diz levando a mão à cabeça.
— Precisamos sair daqui e de médicos. Vamos — Jacob fala.
Saímos lentamente do lugar que um dia chamei de lar, mas
quero que isso mude. Não tem mais como viver aqui. Não mediante
a tanto sangue e duras lembranças que irão cravar em minha
memória se continuar vivendo aqui.
Atravessamos a rua sob escolta dos seguranças que vão
chegando e pedindo perdão pelo ocorrido. Os meninos declaram
que isso será resolvido depois.
Quando passamos pela porta da casa do Marcos, a babá corre
desesperada com o Arthur, mas Beatriz impede, não dá para ficar
com ele toda suja de sangue, mas vejo a alegria em seu olhar e do
Marcos.
— Estão trazendo todos para cá — Pascoal declara sobre o
restante da família e concordamos. — Sei que não é momento, mas
quero pedir minha demissão.
— Ninguém se demite ou sai, até conversarmos. Estamos no
mesmo barco. Todos falhamos. Mas acabou. Depois conversamos —
Henrique diz.
Simon, Luciano e Pascoal saem.
— Gente, acho que preciso muito de um médico — Liziara
comenta.
Olhamos assustados, afinal todos nós precisamos.
— Sou cardíaca, Lizi. Diz o que houve? Está muito machucada?
Mostre! — peço desesperada.
— Estou com instinto assassino. Juro que olho para o David e
só quero matá-lo por ter me levado a essa loucura e ter feito eu me
apaixonar por ele. Algum médico tem que me receitar algo, me
examinar, porque é sério, sinto que vou voar no pescoço dele.
— Cala a boca, minha maluquinha! — David ri e a abraça
apertado.
Minha família não é perfeita, mas fazemos sempre dar certo.
Alessandro me abraça por trás.
— Olha, cara, nem sempre o volume em minhas calças é uma
ereção — Henrique diz nervoso apontando para o Alessandro e Ana
balança a cabeça rindo.
— Acabou — Jacob suspira.
Olho para a Beatriz junto do Marcos, que manda a babá trazer
uma blusa para ela. Mesmo diante dessa situação, ele consegue ter
ciúmes.
A porta se abre e todos começam a chegar. Jaqueline, dona
Joana e Sophie vão demorar um pouco, pois estão vindo da fazenda.
As gêmeas se aproximam. Laís está no colo do Luciano e a Yasmim
no do Simon. Ana e Henrique vão até elas; mesmo sem pegarem no
colo, beijam as pequenas. Laura e Helena gritam pelos pais e cada
uma se joga nos braços deles, e não tem como evitar, eles acabam
segurando-as.
Me aproximo do Jacob e da Daiane.
— Acabou. Por enquanto acabou — digo e eles sorriem.
— Que elas não demorem — Jacob diz e entendo ser sobre a
Sophie e sua avó.
A polícia chega e junto Cleber e Débora, que nos abraçam
muito.

Uma hora depois e estamos com equipes médicas em casa,


delegado geral, escrivão, perícia... muitas pessoas. No decorrer dos
depoimentos, exames, vão indo tomar banho, e usando o que a
Beatriz e Marcos fornecem. A porta se abre e Sophie, Joana e
Jaqueline entram. As duas primeiras correm até o Jacob e Daiane,
com a Sophie gritando por “mãe”, e vejo o amor grande ali. Minha
menina mal sabe que tem sim uma filha e tem sim um amor de mãe.
Jaqueline nos abraça e corre para a Beatriz onde começa a chorar.
Joana e Sophie vêm até a mim que estou sendo examinada. Me
cumprimentam com carinho.
Alessandro discute com o Henrique sobre algo, me fazendo
sorrir. David se aproxima e segura minha mão livre.
— Me perdoa, eu fui um completo idiota. Eu te amo, mãe.
Mesmo que demonstre pouco. E saiba que mesmo não sendo muito
a favor, se ama o Alessandro fique com ele, porque ele não mediu
esforços para nos ajudar a te proteger. Esse cara é bom, mas não
deixe ele saber que eu disse isso.
— Sempre vai existir discussões entre nós dois. Na verdade,
sempre vai existir discussões entre todos nós. Que família não
briga? Mas saiba que reconhecermos o erro e corrermos atrás do
perdão nos torna fortes e prontos para tudo. — Acaricio sua mão. —
Sinto falta do seu pai, mas ele me deixou vocês e vou protegê-los
sempre, custe o custar.
Daiane se aproxima, e David passa o braço ao seu redor.
Henrique e Marcos também acabam se aproximando.
— Jamais devemos nos esquecer desse dia. Ele deve servir de
lição. Poderia tudo ter dado errado — Daiane fala e sorri.
— A pirralha está certa. Eu mesmo aprendi muito com tudo
isso. Às vezes sou egoísta e quero ser um herói para vocês. Mas
somos todos heróis da nossa história e vencermos juntos é bem
mais foda do que separados — Marcos diz e sorrio.
— E no final tudo termina do jeito Escobar, sempre quebrando
regras. Porra, olha com o que negociamos. Se isso cai na boca de
alguém estamos na merda! — Henrique ri.
— Eu precisei matar alguém, olha o nível da loucura. E tudo
porque nossa teimosia e brechas, nos trouxe a essa situação. Joseph
falhou em uma coisa... — digo olhando para as crianças, as mulheres
e o Jacob, que conversa com o Alessandro.
— No quê, mãe? — David questiona.
— Os Escobar não são tão poderosos por seu nome. Mas sim
por colocar a família à frente de tudo, até da própria vida.
— Mas em uma coisa meu irmão acertou muito: escolheu você,
Paula.
Sorrio emocionada. E olho para o Alessandro, que me encara e
lança uma piscada. E acabo viajando em uma linda lembrança,
perfeita.
— Um dia você vai saber o quanto é boa e o quanto merece sempre
ser feliz, meu amor — Joseph diz enquanto me abraça e ficamos olhando
para a cidade à noite, através da sacada do apartamento no litoral.
— Não sei não. Parece que tudo dá errado sempre que me envolvo.
Ele sorri e beija meu pescoço.
— Você merece ser feliz e vai ser. E ainda vai descobrir que não
precisa de mim para isso.
— Pare com essas coisas!
Ele não diz mais nada e ficamos curtindo o momento enquanto aliso
minha barriga de oito meses. Meu primeiro filho. Meu David.
Marcos se aproxima, todo gordinho e fofinho. Loirinho lindo. Olhos
claros que transmitem tanta paz.
— Naum goto de Daidi! — diz e sorrio.
Me abaixo com um pouco de dificuldade e seguro suas mãozinhas.
— E que nome gostaria, já que não gosta de David? — Sorrio.
Ele faz uma carinha de pensativo. E fica sério. Joseph ri. Se parecem
tanto em algumas atitudes. Meu esposo foi um pai para este menino, além
de irmão. Mesmo jovem vem recheado de tanta responsabilidade.
— Inriqui. Quelu exe.
— Henrique?
— Issu. Maisi naum dividu nada com ele.
Rio mesmo tentando evitar.
— Então mudanças de planos. O bebê vai se chamar Henrique, e se
um dia eu tiver outro, coloco David.
— Ei, eu escolhi David. Injustiça, baby. — Joseph finge estar ofendido.
— Mamain escoleu o que quelu! — Marcos diz e me surpreendo. Ele
parece se dar conta do que meu chamou e entra em disparada todo
vermelhinho.
Joseph me ajuda a levantar e lágrimas escorrem pelo meu rosto.
— Ele sente que sou uma mãe para ele.
— E é... amor, eu cuidei dele tendo que lidar com tantas coisas, na
luta por um lugar de juiz. Foram anos loucos. Marcos vai fazer três anos
amanhã, e nunca o vi tão animado com um aniversário, e tudo isso por sua
causa, que está lidando com essa vida de estudante que teve que pausar
mais uma vez, lidando com a fama pelo poder do nome Escobar e com meu
tempo corrido por estar agora iniciando como um juiz. Você lidou com
mais coisas do que eu acharia possível. Então sim, é uma mãe para ele, e
uma gostosa para mim.
— Joseph!
Ele ri e me beija.
Eu fui feliz e Joseph estava certo. Eu posso sempre ser feliz e
vou ser. Porque vou recomeçar. Hoje inicia o meu recomeço. Olho
para o Alessandro e sorrio, ele retribui, mas fecha a cara quando a
enfermeira o chama.
— Mãe, você sempre será nossa Escobar mais poderosa,
mesmo que vire uma Santos, talvez — Daiane fala e sorri.
— Menina, que isso! Não estou pensando nisso. Sou cardíaca,
me respeita!
— Acho bom. Porque estou enfartando. Amor, me ajuda! Ana,
vou morrer! Minha mãe cresceu e quer outro homem. Ai, que dor no
peito! — Henrique grita assustando as pessoas e se senta ao lado da
Ana, que briga com ele. — Estou morrendo, mulher!
— Num tá não, papai — Yasmim diz e ri.
— Que isso? Ninguém me defende!
Rimos, mas logo paramos quando o delegado pede nossa
atenção e começa a falar. Vamos resolver tudo de uma vez.
Treze

Paula Escobar

Semanas depois...

Observo o ambiente espaçoso, claro. Dando vista para a


cozinha que tem conceito aberto. Ando lentamente observando
atentamente os detalhes. Já conferi os demais cômodos e me
agradaram.
— Sra. Escobar, aqui é o local ideal para se viver. Condomínio
fechado, segurança vinte e quatro horas deixando tudo bem seguro.
Não tem problemas na vizinhança.
Sento-me no sofá e cruzo as pernas olhando para o corretor.
— Eu posso te garantir que nenhum lugar é cem por cento
seguro. — Olho de lado para o Pascoal, que afirma.
— Claro. Nisso a senhora tem razão. Porém, aqui é o paraíso.
Garagem para cinco carros, como viu. Piscina em uma linda área de
lazer. Todos os quartos são suítes e enormes e com closet. Sala de
visitas, cinema e escritório. Além da belíssima biblioteca e desta
cozinha toda moderna.
— Não sei, Clóvis. Ainda preciso decidir se eu quero viver aqui.
— A senhora tem que pensar rápido. Todas as casas que vimos
nas últimas semanas estão com propostas incríveis.
— Não me importa. Eu dobrarei o valor se eu realmente achar
que alguma será meu lar. Porém, não irei decidir correndo. Estamos
falando de um lugar que deve ser meu refúgio e que toda minha
família se sinta bem.
— Perdão. Fui muito rápido. A sua antiga casa tem recebido
propostas incríveis, ainda mais com a reforma na sala. Com o valor
podemos ver outras casas ainda melhores se este for o problema.
— Temos um problema e não é o valor. Todas essas casas que
me mostrou são modernas, cheias de novidades, materiais de
primeira. Mas não são aconchegantes. Todas parecem lugares que a
pessoa mal viveria, pois estaria sempre viajando... — Olho para o
Pascoal. — O que achou desta?
— Belíssima, senhora. Perto da minha, qualquer casa é luxo. —
Ele ri.
— Mas na sua casa, você sente que é aconchegante?
— E como! Amo o espacinho que tenho para a minha família.
— Viu, Clóvis. É isso que eu quero.
— Uma casa como do seu segurança? — pergunta confuso.
Levanto e reviro os olhos.
— Não, homem! Acompanha meu raciocínio. O que eu quero é
uma casa aconchegante, que tenha cara de lar e não apenas que foi
arrumada para sair na capa de uma revista de designer.
— Está certo. Irei ver o que consigo.
— Ótimo. Vamos, Pascoal. Tenho uma cliente que chega daqui
a pouco.

Depois de tudo o que aconteceu, demos diversos depoimentos,


nossa casa passou por perícia, muita coisa aconteceu. Mas Felipe
cumpriu a promessa, conseguiu com que a polícia deixasse
arquivado o caso, afinal não tinha quem interrogar mais, pois os
únicos da equipe da Poliana que sobreviveram, foram os que
vigiavam as outras casas; e confirmaram o que já sabíamos: ela foi a
cabeça de tudo. Policiais de onde ela estava presa foram
investigados e descobriram os dois que a ajudaram com
informações e a fugir quando teve a rebelião no presidio, na qual foi
a deixa dela. A mídia também não fala mais nada. Comentaram nos
primeiros dias, com informações desencontradas, mas Felipe
também cuidou disso.
Nossa equipe não sofreu nenhuma demissão. Fizemos uma
reunião e compreendemos que as falhas eram nossas também.
Todos erramos e devemos aprender com nossos erros. Porém,
agora, chega de evitar seguranças. Chega de acharmos que nada vai
nos acontecer. Todo cuidado é pouco. Mais seguranças foram
contratados. E estamos levando a sério nossos treinos. Yasmim e
Sophie ficam com seguranças na escola, conversamos com os
diretores e entenderam perfeitamente a situação. Jaqueline e os
pais da Liziara também andam com seguranças agora. E dona Joana
parou de reclamar do monte de homens que viviam em suas terras.
As babás das crianças agora são fixas, pararam de ficar trocando,
pois isso era mais uma brecha. Os carros foram readaptados por um
sistema de rastreio ainda melhor. Os meninos também vão ter que
ser acompanhados por seguranças, mesmo quando acharem que se
garantem sozinhos. E até Alessandro tem segurança, o Josh, claro
que o professor odiou saber que teria um homem na sua cola. As
famílias dos nossos seguranças também estão sendo vigiadas e
protegidas, afinal eles dão a vida por nós, e alguém precisa proteger
seus familiares. O sítio está ainda mais monitorado, mas ainda não
achamos ser bom ter um caseiro. Tudo está se ajeitando. E estamos
tentando esquecer que aquele maldito dia existiu.
Estou ficando no flat do Henrique, um lugar da vida de solteiro
que ele mantém e achou que eu não descobriria. Não quis ficar em
hotel e na casa de nenhum deles por enquanto. Eu queria um espaço
para continuar agindo com normalidade. David está esperando eu
me decidir onde irei morar, para encontrar uma casa por perto,
pois a Liziara precisa de mais apoio e parou de ser orgulhosa e
entender isso, e eu me dispus a ajudá-la sempre que for necessário.
Laura e Helena ainda não vão para a escolinha como Yasmim, que já
começou a ir para a adaptação.
Mas depois de tudo, eu acho que agora posso pensar um pouco
mais em mim. Tudo isso serviu de lição para tantas coisas. Passei
anos e anos da morte do Joseph me lamentando, e vivendo um
eterno luto. Mas está na hora de recomeçar. Viver mais, me amar
mais, amar outra pessoa, porque o Joseph não volta, e eu estou aqui
e preciso continuar.

Alessandro Santos

Estou sentado em cima da mesa e observando os alunos


fazerem suas provas. Não sei por que, mas amo. Gosto de ver o
pavor neles, é a fonte da juventude para mim. Louco? Todo mundo
tem um pouco de loucura e é recomendável ter, para lidar com a
vida.
Porém, minha mente está apenas no meu irmão. Depois de
toda aquela merda, ele viajou para a Califórnia para resolver toda a
situação com a máfia na qual ele faz parte. Não tenho notícias, e já
busquei de todas as formas, mas nada. Cogitei buscar ajuda dos
Escobar, mas já foi a morte para eles aceitarem essa situação, não
quero colocá-los em mais problemas, e não posso ir atrás dele
pessoalmente, estou atolado de trabalho.
Felipe é um bom homem, mesmo tendo feito escolhas loucas.
Quando digo louca é porque tudo isso começou com ele tendo uma
grande amizade com o chefe da máfia. E terminou com ele se
tornando conselheiro. Na minha família, tudo sempre foi na base da
loucura. Meu pai era um policial corrupto, minha mãe ficou doente
por culpa dele, seria até desonesto com eles, que nós filhos
fôssemos normais. Nunca aponto que meu irmão veio de adoção;
para mim, ele sempre foi e sempre será como de sangue e pode
parecer paranoia, mas sempre tive comigo que não teria irmão mais
perfeito que ele, pois parece que temos tantas semelhanças ao
mesmo tempo que somos tão diferentes. Caralho, até eu sou louco,
porque poderia me apaixonar por qualquer outra pessoa! Sério,
poderia ser qualquer outra mulher. Mas tinha que ser pela
matriarca de uma família que nunca sei quando querem me matar
ou apenas me socar. Maldito coração! Eu estava tão bem sem esse
papo de romance, entretanto seria óbvio que eu iria pagar com a
língua e ferrar tudo. Devo ser meio masoquista, não sei, só que falou
em dar merda, eu me jogo de cabeça.
Arlete me faz sobressaltar quando coloca a prova literalmente
em meu rosto.
— Querida, eu uso óculos, mas não sou cego a este nível. —
Pego a prova e coloco ao meu lado.
— Estou liberada?
Olho no relógio em meu pulso.
— Espere mais quinze minutos, assine seu nome na lista e
pode desaparecer.
Ela revira os olhos e volta a se sentar.
— Essa porra está difícil. O senhor gosta de nos torturar! —
Maicon resmunga fazendo os outros rirem.
— Primeiramente, “senhor” é teu passado. E segundo, se
estudassem, não estaria difícil... Quem eu quero enganar? Está
difícil sim, e amo torturar vocês. E eu iria agradecer se terminassem
logo porque é sexta-feira e não aguento mais olhar para a cara de
nenhum aluno.
— Que horror! Tenha mais compaixão — Maicon finge estar
ofendido e sorrio.
— Minha compaixão terminou assim que coloquei os pés aqui,
às sete da manhã. São seis horas da tarde agora, mais uma hora aqui
e mato alguém. Agilizem! E amanhã ainda tenho que vir porque tem
palestra, que absurdo! — Cruzo os braços.
— Você é o professor que menos nos anima. Você é louco! —
Yara fala.
— Não sou palhaço e tampouco animador de torcida, para
deixar vocês animadinhos.
— Mas tem um charme que anima de outra forma. Está calor,
né? — Brenda provoca e os outros gritam.
— Se eu levasse em consideração tudo que escuto de vocês,
estaria fodido! Deixe de enrolar, Brenda! — Sorrio.
Eles riem e voltam a fazer a prova.
Entro no estacionamento às sete e meia da noite, e parece que
estive em uma prisão há anos. Sigo para o meu carro, com um
brutamontes me seguindo. Não irei superar que tem um homem de
olho na minha bunda, porra! Josh é um cara legal, mas, puta que
pariu, tenho medo de ir à cozinha de madrugada e dar de cara com
ele. Entro no meu carro e vejo ele subir na moto, que estava ao lado
do meu veículo. Tiro o celular do bolso e vejo que tem uma
mensagem da Paula, me chamando para ir até o local que está
treinando para buscá-la. Respondo que vou tomar um banho, e
depois irei.

Assim que chego em casa, Irene já me avisa que tem comida


pronta. E não irei recusar. Estou morrendo de fome. Mas primeiro
preciso de um banho. Tiro tudo do bolso e deixo na cama. Olho meu
celular e nada, nenhuma resposta do Felipe.
Retiro a roupa e entro no meu banheiro. Ligo o chuveiro e
deixo a água quente relaxar meu corpo, meus músculos. Era tudo
que eu precisava hoje. Esfrego o rosto e respiro fundo.

Estou indo para o local onde a Paula treina. Se ela pensa que
vou treinar, está enganada. O único modo que pretendo suar é com
sexo, o que ela tem evitado desde a nossa viagem. Só me lasco, eu
digo!
Sigo com o segurança fazendo escolta. Quem vê pensa que sou
parente da rainha. Acabo rindo disso. Quem diria que teria um
homem na minha cola!
O percurso não é longo, mesmo com um pequeno trânsito
chego rápido. Estaciono e Josh me assusta parando a minha frente.
Quando ele saiu da moto?
— Eu vou entrar, e não precisa vir.
— Ficarei na recepção, senhor.
— Você quem sabe. E pare de me chamar de senhor.
— Senhor Henrique mandou não acatar nenhuma ordem sua.
— Senhor Henrique é um idiota, pode transmitir essa
informação a ele? Não, né? Não tenho poder sobre nada aqui.
Ele sorri.
Entro e aviso que vim ver a Paula Escobar. Estou autorizado ao
que parece, já havia vindo essa semana trazê-la, mas não entrei
além da recepção. Informam a sala que ela está e como chegar até
lá.
Faço o trajeto e paro diante de uma enorme porta, de uma sala
muito grande, com alguns colchonetes, uma parede de espelhos, e
alguns instrumentos que devem usar nos treinos.
Jacob está encostado em um canto e assim que me vê se
aproxima.
Daiane, Paula, Ana, Liziara e Beatriz treinam com dois homens
fortões. Vejo Jaqueline saindo de outra porta dentro da sala, e ela se
senta em um canto bebendo a água da garrafa e faz um aceno rápido
para mim, que retribuo.
— Até a Jaqueline veio para essa loucura?
— Ela quis tentar. Mas desde que cheguei, apenas a vi sentada
e olhando assustada.
— Nem imagino o motivo! — ironizo.
É soco, chute, braçadas e gritos para tudo quanto é lado. Porra,
preciso me lembrar de nunca irritar a Paula! Ela me mata, com toda
certeza! Como esse corpo tão pequeno e magrinho consegue tudo
isso?
Liziara cai e sinto a dor. Será que devo chamar um médico?
— É, Frederico e Laerte não perdoam ninguém! Daiane às
vezes chega roxa em casa. Estou começando a cogitar que ela grave
os treinos, para usar como provas que eu nunca encostei nela. Já
pensou se alguém a vê assim na rua e denuncia?
Acabo sorrindo.
Laerte prende a Paula por trás, e ela tenta se livrar. Esse
mamute não pode ficar mais distante, não?
— Precisa ser tão colado assim? Apenas uma dúvida.
— Se acostume ou vai pirar.
Jaqueline se aproxima sorridente como sempre.
— Olha, eu vou embora, pedir uma deliciosa pizza e
atormentar o Arthur. Isso não é para mim. Prefiro andar com mais
seguranças, até porque não acho ruim. Adoro!
Rimos e ela passa por nós.
Ela está vendo casa na cidade. Vai se mudar, quer ficar mais
próxima de todos. Então já está ficando na Beatriz enquanto isso.
— Notícias do seu irmão? — Jacob questiona.
— Não.
— Eu sinto muito. Se precisar de ajuda...
— Não se preocupe. Não quero colocá-los em problemas.
— Não aceitamos o que seu irmão faz, mas, diante de tudo, ele
foi nosso apoio; e graças a ele, não tivemos que justificar muitas das
merdas naquele dia, como a morte da Poliana, que poderia ter sido
evitada. Se ele precisar de ajuda, conte conosco, temos uma dívida
com vocês.
— Não, vocês não têm e eu faria de tudo para proteger a Paula.
— Que bom que você tem amor por nossa amizade. E fez isso
pensando em nós também — ironiza e rio.
Daiane xinga quando vai ao chão e olhamos para ela, que nos
vê e sorri.
— E sua avó, não quer vir morar para cá? — Me lembro da
discussão deles no dia seguinte ao acontecido.
— Não. Ela ama aquele lugar. E é até bom, pois é um lugar a
mais para Sophie ir e ela tem amigas lá. Daiane e eu temos a vida
corrida, então infelizmente não dá para levar a Sophie para viajar
com tanta frequência. A melhor opção é ter minha avó no interior,
que sempre pega minha menina.
Assinto, e fico olhando para elas. Eu não estou simpatizando
com esses mamutes. É muito contato físico para meu gosto... Porra,
era só o que me faltava: crises de ciúmes.
— No dia do acontecido, a Daiane estava suspeitando que
poderia estar grávida. — Olho assustado para ele, que mantém os
olhos nela. — Não contamos a ninguém. E porra, nunca desejei tanto
que ela não estivesse, porque as chances de ela perder seriam
grandes. Por fim, ela não estava, e foi um alívio. Ela redobrou os
cuidados com o medicamento, porque um susto desse novamente
não aguentaríamos.
— Eu sinto muito... O pavor de vocês então estava triplicado.
Ele assente e leva as mãos aos bolsos da calça.
— Vocês formam um casal bonito. Na verdade, uma família
bonita... Mas pretendem... Sabe, aumentar a família?
Ele me olha e sorri.
— Não. É algo nosso já. Não queremos. Se acontecer, tudo bem.
Mas vamos cuidar ao máximo para não termos mais surpresas. Mal
temos tempo para Sophie, ser promotores já toma mais do nosso
tempo do que queríamos, imagine ter outra criança? Vê a vida da
Liziara, sem tempo até para respirar, se divide em mil para estudos,
trabalhos, gêmeas, treinos; a Paula vai passar a ajudá-la, porque
apenas a babá não está sendo suficiente. Tem a Ana também, duas
meninas, e vive em constante desespero, prezando a segurança
delas, afinal, as duas têm pais advogados criminalistas, que não são
tão amados por seus réus... Essa vida é foda. Admiro muito todos os
Escobar que conseguem lidar com tudo e todas as crianças. Porém,
não quero ver a Daiane mais pirada do que fica para cuidar da
Sophie, e não quero ficar mais preocupado do que fico quando saio,
viajo e tenho que deixá-las. Já arrisquei muitas coisas quando me
casei com a Poliana e quando escolhi ser promotor, não sou tão
forte quanto eu pensei para querer arriscar ainda mais, colocando
mais um filho no mundo. E a Daiane conversou comigo, ela pensa o
mesmo, diz não estar preparada tão cedo para isso.
— Vocês dois são mais fortes do que pensam. São pais
incríveis, Sophie tem muito orgulho de vocês. São ainda mais fortes
por saberem respeitar que agora não é o momento para outra
criança, e não ligarem para as fofocas da mídia e tampouco para
comentários que sei que devem ocorrer. Sempre acreditei que ser
um bom pai é, acima de tudo, saber compreender o momento certo
para colocar um filho no mundo, e não colocar apenas para dizer
“eu que fiz”. Só por pensar nisso já mostra o quanto vocês são
ótimos pais para a Sophie e seriam ótimos pais para outra criança,
que, sem existir, já tem a proteção de vocês.
Ele leva uma mão ao meu ombro e aperta, então surge um
sorriso em seu rosto.
Anunciam o fim do treino e elas se deitam no colchonete,
exceto a Paula que caminha até a mim, sorridente. Um dos homens a
chama e joga uma toalha, que pegaram no canto dos acessórios; ela
enxuga o suor e torna a se aproximar.
— Sempre me lembre do porquê não posso te irritar — peço
levando a mão a sua cintura.
— Pode deixar.
Inclino o corpo e beijo seus lábios.
— Está vendo, Daiane? É assim que você tem que me tratar. —
Jacob aponta para ela, que mostra o dedo a ele.
Elas se levantam e se aproximam.
— São moles demais! Uma hora de aula e estão assim?
— Cala a boca, Frederico! Com a raiva que estou por este
treino, eu mato você e o Laerte! — Paula rebate.
Agora já sei quem é o mamute um e o mamute dois. Eles
acenam com a cabeça para mim, e retribuo bem sério. De verdade,
não gostei deles. Porra, para que esse olho azul, esses músculos só
do Laerte? E o Frederico com essa cara de “fodo melhor que você”...
Porra!
— Eu não sinto minhas pernas. Ainda bem que vim com o Alex
e ele vai dirigindo — Liziara diz se apoiando na Beatriz e na Ana.
— Eu vim de carona com Simon, então estou de boa também. E
minha tia? — Beatriz questiona franzindo o cenho.
— Ela foi embora. Melhor, fugiu — digo e ela revira os olhos.
— Por isso ela veio com o carro dela. Para fugir a hora que
quisesse — Beatriz constata, sorrindo.
— E eu me lasquei! Vim no meu carro e o Luciano no dele.
Henrique vai trabalhar até tarde, não posso explorar ele.
— Ana deveria ter dito que, na hora em que o Jacob me deixou
aqui, traria você e agora iria conosco. Saiba que vou explorar muito
o meu pateta, porque esses ogros aqui ferraram com minha coluna.
— Qual é, princesinha Escobar, pensei que era mais forte! —
Frederico provoca.
— Me chama assim de novo, que arranco seu pênis e enforco
você com ele.
— Daiane! Tenha modos! — Paula exclama horrorizada.
— Eu tenho, mamãe. Mas as pessoas me irritam!
Eles riem.
— Vamos, antes que saia alguma morte — Paula fala
segurando minha mão.
— Antes, eu quero saber quando vai se assumir de vez com o
pateta número cinco?
— Queria entender isso de pateta — comento.
— Ela só chama de pateta os homens que ela já considera da
família — Beatriz responde.
— Isso é para ser um elogio? — indago provocando a Daiane.
— Não. Eu descobri que sou ogra, não curto elogiar demais —
Daiane diz agarrando o braço do marido, que sorri.
— Agora que descobriu que é ogra? Mulher, eu já sabia há
tempos. Merda, que dor nas pernas! Estou ferrada, sem sexo hoje.
— Liziara! — Paula a repreende e ela dá de ombros.
— Vou te passar o nome do produto que uso para dores depois
do treino. Nunca fico sem sexo — Ana comenta.
— Ana Louise! Até você, o anjo puro desta família? — Paula a
repreende e acabo rindo.
— Eu sou o único anjo, sogrinha — Jacob fala fazendo cara de
santo.
A ruiva revira os olhos e sorri.
— Sim, meu amor. É o único mesmo. Agora vamos. — Paula
entra na dele.
— Melhor. Não precisamos saber da vida íntima de vocês —
Laerte diz empurrando todos para fora da sala.
Caminho na frente com a Paula.
— Ana, não esquece de me dar o nome. Vou comprar antes de
ir para casa! — Liziara diz bem alto.
— Mãe e Pateta, não fujam do assunto. Quando vão se assumir?
Olho para a Paula que está muito vermelha, e não é pela
adrenalina do treino.
— Essa família ainda vai me matar de vergonha — diz
baixinho.
— Quando está com loucos, seja mais um — falo para ela. — Se
eu disser namorados, irei mentir, porque nunca conversamos sobre
isso! — rebato e escuto os risinhos atrás.
— Gente, cuidem da vida de vocês. Estão me matando de
vergonha! — Paula reclama.
— Ela tem razão. Mas fala aí, são apenas beijinhos, mãos dadas
ou estão levando a sério o envolvimento? — Jacob provoca e rio,
mas Paula acerta um tapa no meu braço. Cacete, ela tem força!
— São inocentes demais, por ainda não verem que já rolou
uma rodada bem intensa de sexo! — Liziara diz e Beatriz briga com
ela. — Meu povo, não se façam de santos não! Aqui todo mundo faz
sexo!
— Fala baixo, Liziara! — Ana rebate rindo.
Paramos na porta e os seguranças se aproximam.
— Senhora Beatriz, antes de irmos para casa, temos que passar
em um lugar.
— Que lugar, Simon? Não inventa. Que merda o Marcos pediu?
Estou cansada.
— Pediu para a senhora escolher um bom vinho e levar. E
depois se arrumar e se encontrar com ele no local que irei levá-la.
Ela fica vermelha. Posso estar louco, mas tem algo nesse
convite do juizinho estressado.
— Olha, esses dias o Marcos me usou de secretária e fez eu ir
ao banco para ele; folgado demais, vale ressaltar. Mas, enfim, o
extrato bancário do homem tem vinho pra caramba! Estão abrindo
uma adega ou coisa do tipo, ou gostam muito de beber vinho? —
Liziara indaga cruzando os braços e dando risinhos.
— Olha, Liziara, eu só não te mato, porque te amo. Vamos,
Simon.
Ela entra no carro rapidamente, sem se despedir de ninguém.
Jacob me olha e não aguentamos, começamos a rir. Ficam
olhando para nós com cara de interrogação.
— Esse juiz vive embriagado — Jacob comenta sem parar de
rir.
— Taça especial, será? Besta somos nós, Jacob — comento já
entendendo tudo.
— Do que os patetas estão falando? — Paula questiona. —
Nossa, filha, é realmente bom chamar de pateta!
Daiane sorri do comentário da mãe.
— Apenas pensamos o mesmo. Vamos? — digo a Paula.
— Cacete! Eu entendi. Depois séculos... Bia está safada! Estou
nas antigas mesmo, usando algemas ainda, acreditam? Esses dias
prendi o David na grade da cama e quebrei a chave quando fui
abrir. Tive que chamar um segurança para ajudar. Se eu sumir, já
sabem, ele me matou. Está puto por isso e não me deixa encostar em
mais nenhuma algema.
— Luciano pegou o Henrique e eu transando na piscina. Sei
bem o que é ver um homem puto. Henrique por pouco não mata ele!
— Liziara e Ana, como podem? Meu Deus! Vamos, Alessandro.
Saímos dali com os risos deles.
E eu achando que era louco, mas essa família se supera!

Paula Escobar

Entramos no flat e eu já retiro o tênis e as meias. Sinto o alívio


por meus pés estarem livres.
— Preciso de um banho e depois podemos sair para comer
algo, ou podemos pedir. — Giro o pescoço de um lado para o outro.
— Não estou com fome. Mas posso te levar para comer.
— Olha, depois desse treino prefiro apenas um bom chá ou
café e relaxar. Pensei que não tinha jantado ainda, por isso
comentei.
Ele sorri e se senta na poltrona preta.
— Nada do seu irmão?
— Não. Mas sei que ele vai aparecer.
— Vai sim. Ainda me sinto mal por ter saído daquele jeito da
sua casa no interior e feito julgamentos, quando, na verdade, ele
quem nos ajudou.
— Eu faria o mesmo em seu lugar. Estava acontecendo muitas
coisas.
Concordo agradecida por ele pensar assim. Eu realmente
estava mal. Mas saber que ele entende torna isso melhor.
— Então vou tomar um banho.
Ele assente. Mas seu olhar é outro. É intenso. Eu já vi este
olhar. Sinto um friozinho na barriga. Levanto-me, pego uma toalha e
as roupas e sigo para o banheiro.
Tiro a roupa e solto o cabelo. Ligo o chuveiro e quando vou
entrar, ouço batidas na porta e a voz do Alessandro. Respiro fundo e
volto a me olhar no espelho. Dou uma ajeitada na juba de leão, que
se formou meu cabelo, e abro a porta colocando apenas a cabeça
para fora. Ele ergue uma sobrancelha e acabo sorrindo.
— Oi?
— Eu já te vi nua, sabia?
— Já? Já, claro. Mas é que estou suada...
— Não me importo.
Claro que não se importa. Como vou dizer a ele que, na
verdade, estou com vergonha? Que na verdade, Paula Assis sempre
foi tímida para essas coisas de ser totalmente atirada? Que só deixo
me levar na hora do sexo mesmo? Droga! Pareço uma menininha e
não uma mulher, adulta, advogada, mãe... e Deus do céu, também
avó!
— Paula?
— Ah, sim. Quer que eu abra toda a porta, né? Ver meu corpo...
Essas coisas.
— Você está bem? — Ele franze o cenho. — Porra, já fizemos
sexo antes. Estamos saindo. Rola beijos, e vivemos um com o outro
nas últimas semanas. Até dormimos juntos. Você sabe mais da
minha vida do que eu da sua. Realmente vai ficar tímida?
— Está certo. Abrindo tudo... Quero dizer, abrindo a porta. —
Abro toda a porta e ele me analisa.
Corro para o box e entro embaixo da água.
— Pode falar. Estou ouvindo...
Molho o cabelo e, quando abro os olhos, me assusto ao ver ele
na porta do box, de braços cruzados, me olhando.
— A Daiane fez uma boa pergunta hoje. O que somos?
— Humanos?
— Paula! — repreende-me nervoso. Estou perdida com esses
homens bipolares me rondando.
— Desculpa. Quando fico nervosa fico meio aleatória, irônica...
— E por que está nervosa?
— Não sei. Talvez timidez.
— Mas na hora do sexo não fica tímida.
— Não... Alessandro!
Ele sorri e sinto meu coração palpitar com esse sorriso. Pego o
xampu, mas paro com ele no ar, ao ver o Alessandro tirando os
sapatos e se despindo.
— O que... Você já não tomou banho? Não era isso que eu
deveria perguntar.
Ele retira a camiseta e começa a abrir a calça. Deixo o xampu
cair e sobressalto com o barulho. Apenas de cueca entra no box e
fecha o vidro. Então bem lentamente se aproxima.
— O que somos?
— E-eu não sei...
— Eu sinto sua falta, Paula.
— Estamos nos vendo bastante desde o acontecido.
Ele leva uma mão ao meu rosto e acaricia.
— Estou falando de você por inteira. Por que evita? — Seu tom
é rouco e baixo.
Droga... Estou sentindo como se flutuasse. Ele consegue me
desestabilizar demais.
— Porque estou com medo de ser apenas por sexo que você me
queira — digo o que me vem rapidamente, e paro para analisar
minhas palavras; e é uma verdade absoluta. Estou com medo disso e
só dizendo em voz alta e rápido vejo o quanto é verdade.
Ele franze o cenho e, em seguida, sorri. Segura meu rosto com
ambas as mãos.
— Se fosse o Alessandro da boate, onde nos conhecemos, você
poderia ter este medo. Mas este Alessandro aqui, parado a sua
frente, não quer apenas sexo... Paula, eu não quero apenas sexo. Eu
quero tudo. Pela primeira vez, eu quero tentar tudo com alguém...
Estou apaixonado por você e acredito que foi desde quando te vi
pela primeira vez, bons meses atrás. Só não queria admitir. Precisei
passar o inferno achando que te perderia naquele maldito dia, para
entender que quero você. Quero tudo com você.
Meus olhos embaçam pelas lágrimas que começam a escorrer.
— Estava ensaiando em como te dizer que quero você...
Alessandro, tudo o que disse é recíproco. Não consigo mais me
imaginar sem você, meu professor. — Acaricio seu rosto.
— Vai recomeçar? Porque preciso de você por inteiro, não
posso competir com alguém que deu uma família, poder, muito
amor e felicidade durante anos e que não está mais aqui. É difícil
demais tentar competir com algo assim.
— Não precisa competir. Ele foi o início de uma história para
mim, me deu o meio e o fim dela. Aquela história, hoje eu
compreendo que já se foi, terminou, teve seu ponto final. Eu sempre
vou amá-lo em um lugarzinho especial em meu coração, mas não
posso mais viver por isso, estava me machucando demais.
Ele beija minha testa e sorri.
— Então é o recomeço de uma nova história? Posso acreditar
nisso?
— Pode. Eu quero que você seja o meu recomeço.
— Serei, e você será o meu início.
— O jogo virou. Hoje sou o início de alguém.
Sorrimos e ele me beija. É um beijo diferente de todas as
outras vezes. Neste tem cem por cento de sentimentos, entregas. É
como se as correntes que nos aprisionavam estivessem sendo
quebradas. Precisei passar por tantas coisas, para ter o sentimento
do amor novamente, e valeu a pena. Tudo nessa vida tem um tempo
certo para acontecer, só precisamos ter paciência e não desistir; e
se eu não desisti foi pela minha família, devo muito a eles. Se tem
uma coisa que aprendi, depois de toda aquela confusão com a
Poliana, é que não sabemos nosso dia de amanhã; então temos que
viver o hoje como se fosse o último dia, porque a vida é curta
demais para deixar tudo para depois.
Meu corpo é levado à parede, e sinto sua ereção sendo
pressionada em mim. Um calor me consome, e parece que estou em
chamas. Ele se afasta retirando a cueca, e torna a me agarrar, e
desta vez sinto seu pau se esfregar em mim. Fico em êxtase com a
sensação. Sua boca ataca meu seio e acabo gemendo alto. Uma mão
desliza para a minha boceta e ele começa a massagear meu clitóris.
Aperto seu braço, ele larga meu seio, indo na direção do meu
pescoço, onde morde e beija em seguida.
— Alessandro... Como isso é bom... Deveria ter insistido mais...
Ele sorri e desliza o dedo para dentro de mim. Grito pela
sensação, e ele aperta meu rosto e sussurra em meu ouvido:
— Não posso esperar mais. Estou louco para enterrar meu pau
em você.
— Faça...
Ele tira o dedo e não tenho tempo de sentir falta, pois é rápido,
me ergue em seus braços diante da parede fria e me penetra. É
bruto, intenso. Minhas mãos apertam seus ombros.
— Tudo bem? — questiona e afirmo com a cabeça.
Se movimenta em um vaivém rápido e forte. Nossos gemidos
se misturam com o som da água e dos estalos do nosso corpo se
chocando um ao outro. Sinto-o ir mais fundo. Aperto as pernas ao
seu redor e inclino a cabeça para beijá-lo. Nosso beijo é feroz tanto
quanto suas investidas. Afasto nossos lábios e beijo seu pescoço. Ele
começa a dizer coisas indecentes, e isso me deixa ainda mais louca e
prestes a gozar.
Levo a cabeça para trás vibrando com a sensação de ser tão
preenchida por ele. Meu corpo está parecendo que vai desmoronar.
Como o sexo com ele é maravilhoso! Preciso disso para sempre.
Chupa meu seio e morde e a dor se mistura ao prazer, agarro seu
cabelo.
— Você é gostosa demais!
Sinto que não posso mais segurar. Inclino o corpo para frente e
levo o rosto ao seu pescoço. E ouvir seu gemido ao pé do meu
ouvido me faz delirar ainda mais. Sinto seu pau pulsar, e a sensação
é deliciosa.
— Porra... — sussurro.
Ele solta um gemido rouco, e sinto ele gozar em mim, enquanto
gozo em seu pau com força. Meu corpo fica fraco, mas é uma
fraqueza muito boa.

Estamos deitados na cama enquanto ele acaricia meu cabelo,


que sequei após sairmos do chuveiro.
— Namorados — Acariciando seu peito nu, eu dou a resposta
para o que somos.
— Gosto disso... — Ele me beija com carinho.
— Se prepare! A mídia vai adorar essa novidade.
— Sou gato demais, vou adorar as fotos que vão fazer.
— Convencido!
Ele ri e é um som maravilhoso. Fico olhando e apreciando.
— O que foi? — questiona. — Está me olhando como se fosse
babar! — provoca.
— Gosto do som da sua risada. Me acalma.
— Tem outra coisa para te acalmar. — Beija meu pescoço.
— Eu queria muito. Mas não vamos parar. E você falou ontem,
que amanhã teria palestra bem cedo na universidade.
— Nem me lembre. Quero matar o babaca que for dar a
palestra. Por causa do infeliz, somos obrigados a estarmos juntos
dos alunos em um sábado.
Sorrio.
— Eu odiava palestra quando estudava.
— Eu odiava quando estudava. Odeio ter de dar, e continuo
odiando ter que assistir. Ainda mais quando isso impede uma longa
noite e madrugada de sexo com a minha namorada.
— Estamos velhos demais para isso?
— Meu pau ainda sobe sem precisar de nada e, porra, tenho
uma aparência muito bonita. E você parece irmã dos seus filhos e tia
dos seus netos... A idade para nós é apenas um número.
— Então não estamos?
— Não. Ninguém está velho para nada. Eu só me considero
velho quando o assunto é academia. Porra, me sinto ancião!
— Bem-vindo ao clube!
Rimos totalmente descontraídos. É tão bom estar assim. Sentir
a leveza e a paz. Senti falta disso.
Quatorze

Paula Escobar

Observo atentamente o auditório da Universidade que o


Alessandro leciona. Está lotado de alunos e professores. Ele me
convidou para acompanhá-lo. É óbvio que eu viria. Quero ficar mais
próxima dele. Estar mais presente, criar mais conexão do que
estamos tendo. E não perderia de ver a sua cara emburrada por
nada. Faz tempo que não me divirto tanto.
Não sei quem vai dar a palestra e tampouco ele. Ao que parece
é surpresa. Ele está bem irritado, pois queria ficar em casa,
curtindo, mas foi obrigado a vir. Está xingando desde ontem todos
os santos possíveis, e tenho certeza de que um lugar ao inferno já
está garantido e espero que apenas a ele, pois eu fiquei caladinha.
Não queria estar na pele de quem vai dar a palestra, porque
Alessandro está bem revoltado e é capaz de enforcar a pessoa. Que
Deus nos ajude, ou sairemos presos daqui, tenho certeza!
Confesso que estou cansada. Passamos a noite e madrugada
mergulhados em sexo, não resistimos, e acabou que tínhamos que
acordar cedo e cá estamos, com cara de sono.
Ele entra no auditório, e para ao meu lado. Sua cara é fechada e
é raro vê-lo assim com tanta frequência.
— Olha, eu tenho milhares de ideias de como enforcar a pessoa
que resolveu dar uma palestra neste sábado. Juro! Eu posso lidar
com o corpo. Cá entre nós, tenho loucos suficientes ao meu redor
que me fizeram virar um pouco psicopata.
Disfarço o riso com uma tosse fingida.
As pessoas passam e ficam olhando espantadas e
envergonhadas para mim. Até parece que sou uma celebridade. Sou
mais comum do que pensam. Às vezes parece que nós, Escobar,
somos um objeto em um vidro onde todos podem ficar admirando,
credo!
— Sabe, as pessoas realmente têm certas coisas quando se
trata de um Escobar. Não param de me olhar! Ale, eu estou com algo
no rosto? Seja sincero — pergunto completamente preocupada.
— Deve ser porque sua maquiagem está borrada. — Dá de
ombros.
— Está? Meu Deus! Eu preciso trocar o grau da lente de
contato. Porcaria! Tem espelho aí? — Estou a ponto de pular em seu
pescoço por não ter dito isso antes.
— Por que eu andaria com espelho? Sei que sempre estou belo.
— Ele ri, enquanto estou desesperada procurando o celular na bolsa
para ver o que estão rindo, mas não acho.
— Alessandro, está muito borrado? Deixa de rir, homem. Eu
vou te enforcar, pode ter certeza!
Ele ri alto. Fico sem entender sua graça.
— É brincadeira, mulher! Está linda. — Pisca para mim e beija
meus lábios.
Olho feio para ele, que continua rindo sem se importar.
— Não teve graça! Quase morri. Eu sou cardíaca, sabe disso!
— Teve sim. A única coisa que não tem graça é o empata-foda
que não aparece logo e se acha o dono do universo, só pode. Por que
está atrasado?
— Tenha paciência! Logo seremos expulsos se continuar
agindo assim.
— Não seria uma má ideia, viu!
Reviro os olhos.
Sentamo-nos nos lugares reservados. Alguns alunos
cumprimentam a ele e a mim, como se eu fosse mordê-los. Isso que
dá Marcos e David serem cara fechadas e Henrique exibido, pensam
que todos os Escobar são estrupícios como eles.
— Eu só vim porque o reitor basicamente me obrigou. Na
verdade, obrigou a todos os professores virem. Absurdo! Porra, vou
querer aumento! É muita babaquice! Toda palestra é a mesma
coisa. “Não desistam de seus sonhos”, tem também o famoso
“corram atrás de seus objetivos” ou o inevitável “eu cheguei aonde
estou porque batalhei desde muito jovem”. Parecem discursos
prontos e eles revezam a cada vez! — resmunga e se soubesse o
quanto fica mais lindo assim, tenho certeza de que faria mais vezes
porque ama se exibir.
— Para de ser ranzinza. Pode ser diferente e bem animado.
Olha eu nunca fui fã de palestras, mas tem algumas bem legais e
produtivas.
— Sei. Sabe o que mais é produtivo pela manhã? — Ele aponta
para o centro de suas pernas.
— Alessandro Santos! — repreendo-o.
O homem ri. Eu digo que vou enfartar. Só aparecem malucos na
minha vida, começando pelos filhos e noras. Sou cardíaca e ninguém
respeita isso.
O auditório está lotado agora, e o reitor, que já conheço de
alguns eventos, sobe ao palco e fala com todos dizendo que o
convidado especial chegou.
— Vamos conhecer o empata-foda, seja quem for.
— Shhh... — Bato em seu braço. Ele sorri e morro mil vezes
com esse sorriso lindo.
A porta ao lado do palco se abre e aplausos e assobios
começam. Alessandro me olha e eu quero rir, mas estou tentando
me controlar.
O convidado se aproxima do palco após cumprimentar o reitor
e pega o microfone onde começa a falar:
— Peço desculpas pelo atraso, mas, como sabem, tenho uma
vida corrida e acabei por pegar um engarrafamento terrível... Então,
bom dia a todos! — Respondem em uníssono. Muitas meninas estão
vermelhas e agitadas. E eu estou sentindo que vou morrer por
segurar o riso pela cara do Alessandro. — Já devem saber quem eu
sou, mas, para quem não sabe, me chamo David Escobar e sou
delegado civil. Ao que parece fui escolhido para ser uma surpresa a
todos. E aqui estou, então surpresa! — ele brinca.
Aproveito a oportunidade para libertar minha risada. Algumas
pessoas olham e escorrego um pouco pelo banco.
— Como chamou ele mesmo, Alessandro? — provoco.
— Paula, eu não sabia que seria o David... Porra, eu estava
xingando seu filho. Eu... Para de rir, cacete! — ele cochicha e olham
para nós e os dois a nossa frente reclamam e pedem silêncio.
Olho para o palco e lágrimas escorrem em meu rosto de tanto
rir. Levo a mão à boca e encosto no Alessandro, virando o rosto para
o seu peito e continuo rindo. Ele está sem jeito. Passa o braço ao
meu redor e cochicha em meu ouvido:
— Para de rir, ou vão nos expulsar. E seu filho está com uma
arma na cintura, bem capaz de atirar em mim!
Começo a contar mentalmente e respirar fundo. Vou
controlando a risada aos poucos. Algumas pessoas olham sem
entender. Quando olho para o palco, David fala com o olhar em nós.
Dou um pequeno aceno e encaro o Alessandro.
— Sua cara foi impagável! — confesso com a voz chorosa pelo
riso.
— Claro, eu estou desde ontem xingando, e para você que é
mãe dele!
— Relaxa. Eu mesma xingo tanto eles; mentalmente então,
nem se fala. Vamos prestar a atenção no que ele tem a dizer. Já que
foi empata-foda como o chamou, o mínimo é dar atenção. — Dou um
risinho.
Ele me olha feio e não aguento, volto a rir com vontade. Tenho
que sair de fininho do auditório para o banheiro onde começo a me
recompor e ajeitar a maquiagem, que agora sim borrou, de tanto eu
rir e acabar chorando.
Nunca vi o Alessandro ficar tão desconcertado como hoje. Isso
só prova o quanto ele respeita minha família, mesmo irritando a
ele. Coitadinho, ele preocupado e eu me acabando de rir. Estou
ficando perdida como todos os Escobar. Eu não era assim. Preciso
de terapia, essa família está me enlouquecendo.

A palestra terminou e todos foram cumprimentar meu filho.


Alessandro e eu saímos às pressas do auditório. Ele conversou com
alguns professores e o reitor e nos despedimos rapidamente e
fomos para a entrada da universidade. Paramos em um canto e ele
me abraça por trás. As pessoas que saem ou entram observam
curiosas.
Resolvemos esperar o David ao menos para dar um “oi”, o que
nunca é apenas isso. Sempre envolve eu enforcar algum dos meus
filhos. Pascoal e Josh fazem sinal e retribuo dizendo que está tudo
bem e eles concordam, mas mantêm um pouco de proximidade.
Demora um pouco, mas logo meu filho sai e chamo seu nome.
Ele se aproxima, e faz sinal para sairmos da entrada. Vamos em
direção aos nossos carros. Os seguranças seguem e o novo
segurança dele, Michael, se aproxima e se junta aos outros.
— Qual era a comédia, dona Paula? — ele questiona e
pigarreio.
— Nenhuma, meu lindo. Tudo na mais perfeita ordem. — Coço
a nuca.
— Sei... — Ele olha para a minha mão e a do Alessandro
entrelaçadas. — Está mesmo sério. Estão se mostrando em público...
Sabe, eu realmente quero gostar disso, mas está foda!
— Está sério. Isso é verdade — confirmo sorridente e olho
para o Alessandro, que me lança seu sorriso.
— Se você a machucar, eu fodo sua vida. Eu te mato. Ninguém
nunca vai te encontrar. Eu acabo de verdade com você. Vai implorar
por perdão! — ele diz sério e bipolar como sempre.
— Quando um delegado me ameaça, eu tenho que prestar
queixa ou algo do tipo? E faço isso para qual delegado? —
Alessandro provoca e aperto sua mão.
— Eu não gosto de você, cara. Henrique tinha razão.
Deveríamos ter dado fim em você.
— E desde quando você dá razão ao louco do seu irmão? —
questiono.
— Desde que esse aí passou a ficar grudado na senhora. Porra,
passou cola? Virou tatuagem?
Acabo sorrindo do nervosinho a minha frente.
— Filho, menos... E me diga. O delegado geral não tocou mais
no assunto do acontecido? — mudo o rumo da conversa.
— Não. Ele pediu para não escutar mais nada sobre isso. Ele
quer sigilo e foi arquivado. Porém, disse que mais um deslize meu
vai acabar com minha carreira. Ao que parece, estou sendo mais
vigiado que reality show. É foda!
— Sinto muito, meu amor. Mas vai dar tudo certo. Acho que vai
ser um momento de paz por enquanto.
— Espero... — ele diz olhando para o Alessandro. — Retiro o
que eu disse.
— Porra, eu nem fiz nada agora! — Alessandro rebate e meu
filho fecha ainda mais a cara.
— As meninas, como estão? — pergunto e sua expressão
suaviza e o brilho em seus olhos aparece.
— Mãe, eu estou para enlouquecer. Laura está muito arteira e
teimosa. Sem contar que a cada dia ambas aprendem a falar mais e
a escalar mais as coisas. Quando estou em casa é o dia todo
brigando com elas e a Liziara dizendo que a culpa é minha porque
“são minhas filhas”.
Sorrio.
— Agora sabe o que passei com vocês. Mas logo essa fase
passa. Estão na fase do conhecimento.
— Por que não ficam no conhecimento como a Yasmim, Laís, o
Arthur e até o Eric, filho da Débora e do Cleber? Porra, tenho
certeza de que a Liziara manda elas me torturarem. Até Sophie é
mais calma que elas. Elas vão me dar ainda mais trabalho quando
maiores, certeza. É praga pelo que fiz a Liziara passar.
— Amarra elas — Alessandro diz em tom irônico e rio.
— Vou amarrar sua língua, infeliz! — David dá um passo.
— Não tem que amarrar. Tem que ter paciência e ensinar com
calma, filho.
— Eu sou calmo! — ele diz nervoso. Ergo a sobrancelha e ele
revira os olhos. — Mesmo assim, amo muito as minimaluquinhas. Se
bem que Helena ainda obedece mais, e só faz as travessuras quando
vai na onda da Laura.
— Igualzinha a vocês menores. É a lei do retorno.
— Porra, ela existe mesmo! Estou ferrado! — Alessandro
comenta e David o encara sério. — Eu era uma praga como aluno e
hoje vejo meus alunos sendo comigo. Está explicado o motivo.
— Você é um professor renomado e não acreditava na lei do
retorno? — brinco.
— Não acredito até hoje que meu pau é grande. E posso
comprovar; na verdade, você já comprovou, amor... Mas, enfim,
como vou acreditar em tudo que dizem?
Fico vermelha. David olha como um gavião para o Alessandro.
Seus olhos, que são azuis meio acinzentados, ganham um tom mais
forte, um azul bem intenso. Parece que sua altura triplica pela raiva,
e ele é o mais alto dos meus filhos e até mais que o Marcos. Seus
lábios ficam em uma linha fina. Ele vai matar o Alessandro.
— E vamos embora... Amo você, filho!
Saio arrastando o Alessandro, que está com um sorriso
debochado.
— Eu sou cardíaca e você não coopera.
— Na hora do sexo, você não é cardíaca, né?
— Você... Meu Deus! Você é impossível, Alessandro!
Ele ri e me lança uma piscadela antes de entrarmos no carro.

Estamos na casa dele, deitados na cama enquanto ele prepara


alguns materiais para sua aula de segunda-feira e eu para a
audiência que terei, envolvendo a guarda de uma menininha de
cinco aninhos. Estamos tentando adiantar as coisas para ficarmos
livre hoje à tarde e amanhã.
Fico atenta a tudo que leio através do iPad que ele me
emprestou e pude acessar meu e-mail onde tenho acesso a tudo que
estou lendo. Faço algumas anotações no celular para passar a
Marilene, minha atual secretária, e assim ela me ajudar nos
contatos que preciso fazer na segunda-feira antes da audiência.

Alessandro Santos

Termino tudo o que tenho que fazer e fecho a tela do notebook


deixando-o no criado-mudo. Olho para a mulher ao meu lado, que
morde um canto do lábio em uma forma bastante atraente. Sua
expressão é séria e isso me atrai ainda mais. Paula sabe ficar linda
de qualquer forma.
Levanto e ela nem se move. Parece ler algo muito importante.
Saio do quarto e vou até a cozinha onde bebo água. Expulsei a Irene
por esse final de semana, pois parece que ela não tem vida além
daqui. Dei um final de semana de spa a ela, que com muito custo
aceitou.
Saio da cozinha e vou para a sacada da sala onde me apoio nas
grades e tiro o celular do bolso e ligo para o Felipe. Dizem que a
esperança é a última que morre.
Apenas chama até cair na caixa postal.
Sinto mãos contornarem minha cintura e dou um leve sorriso.
Viro ficando de costas para a vista da área da piscina e de frente
para a mulher que tem me deixado louco. Ela leva ambas as mãos ao
meu peito. Desço as mãos para a sua cintura e puxo-a deixando
completamente colada ao meu corpo.
— Estava ligando para ele?
Concordo com um aceno.
— Aquele filho da puta me irrita e só faz merda, mas o amo e
preciso de notícias.
— Eu de verdade sinto muito por tê-lo julgado. Naquele dia em
que vi a mensagem e ele falando que a máfia tinha liberado ele de
vez para ajudar, eu pensei como advogada, e não como uma mulher
que sabe que nem mesmo a própria família, que é da lei, vive
seguindo as regras e que seu irmão seja ele o que for, não cabe a
mim julgar. É uma escolha dele e não minha.
Sorrio e beijo levemente seus lábios.
— Ele não é filho de sangue do meu pai, mas pelo visto o gênio
ruim do velho passou para ele. Mas ele não era assim. Porém, após a
morte dos nossos pais, ao que parece, se encontrou neste meio,
mesmo tendo uma carreira brilhante como cirurgião plástico, algo
que também ama, afinal, iria abrir uma clínica no Brasil, se não foi
mais uma de suas omissões.
— Ale, podemos investigar se ele realmente está comprando
algo ou já comprou. E caso tenha comprado, tem que estar tendo
alguma movimentação. Com isso podemos saber algo que nos leve a
ele. Seu irmão pode ser o que for, mas eu devo muito a ele pelo
apoio e ajuda a minha família; e graças a ele, vocês descobriram
antes que era a Poliana fazendo tudo e já foram preparados.
Respiro fundo. Eu sou louco, tenho que confessar, mas não ao
ponto de querer colocá-la em mais problemas.
— Não faça essa cara.
— De lindo? Impossível. É algo natural — brinco e ela revira os
olhos, sorrindo.
— Não. Eu falo da cara de preocupação e querendo me
proteger. Passei a vida ao lado de um homem que daria a vida por
mim; e para muitos, isso seria digno de um grande herói. Mas para
mim apenas me fez recuar diversas vezes, ter medo e não confiar
que eu posso ser mais do que a viúva de um Escobar. Eu amava
muito o Joseph e sempre vou ter um lugar especial em meu coração
para ele, mas não preciso viver repetindo tudo. Acaba se tornando
cansativo viver à sombra de outro, mesmo que sem querer. Então
não me olhe assim, com preocupação e prestes a me dizer algo
como “não quero te envolver nisso”. Estamos juntos e vamos sim
nos envolver nos assuntos um do outro.
Seguro seu rosto com ambas as mãos. Que orgulho que tenho
dessa mulher!
— Eu já te disse que você é um mulherão da porra?!
Paula sorri timidamente e beijo seus lábios com puro desejo,
mas ela se afasta rapidamente.
— Nem pensar. Não me enrola. Vou pedir uma certa ajudinha.
— Homens Escobar? Prefiro o Casagrande, com ele me entendo
mais. — Sorrio.
— Não. Nesta família tem mulheres maravilhosas também.
Como Ana, que é advogada criminalista; Daiane, promotora; Liziara,
com seu gênio forte e sua esperteza além do desastre, óbvio, mas às
vezes até isso ajuda; e Beatriz com sua sabedoria e calmaria.
— E assim nasceram as meninas superamorosas.
— É superpoderosas, Alessandro.
— Que seja. Entendeu, cacete? Não complica.
Rimos.
— Vamos, no caminho ligo para elas e marco de nos
encontrarmos no meu escritório ou na casa de quem estiver livre.
Vai por mim, meu querido, você não vai querer os homens desta
família tentando encontrar uma solução, são um bando de ogros.
— Não pode ser aqui? Podemos relaxar enquanto isso.
— Não. Porque você vai acabar me atentando e vamos nos
perder no sexo e ficar sem atenção.
— Gosto de ficar sem atenção.
— Alessandro, vamos logo!
Ela se vira e fico rindo.
Paula tem razão! Preciso de informações sobre meu irmão.

Paula Escobar

Chegamos à casa do Henrique e Ana. Beatriz e Liziara estão a


caminho. Ao que fui informada os homens foram jogar futebol, o
que é uma maravilha. Não quero eles deixando a todos loucos e se
matando. Alessandro não precisa disso e eu também não.
— Sentem-se. Fiquei curiosa com a reunião — Ana pede
enquanto nos sentamos.
— Precisamos saber o paradeiro do meu irmão.
— Ele não dá notícias desde aquele dia? — Minha nora fica
completamente espantada.
— Nenhuma. Sabemos que ele estava comprando uma clínica
aqui; se for verdade da parte dele, talvez podemos obter
informações.
— Sim. Posso ajudar. Porém, eu irei precisar do notebook
“especial” do Henrique. Ele tem acesso livre a diversos meios de
buscas. Mas o bonito do meu marido não me passa a senha, porém
Luciano pode ajudar. — Ela aponta na direção do segurança ao lado
da porta, que faz cara de encrencado.
— Ótimo. Vamos esperar a Liziara e a Beatriz. E cada uma
investiga de um modo — digo e ela concorda.
— Desculpa envolver vocês nisso.
— Alessandro, eu fui acusada de assassina, nesta família
ninguém é perfeito — ela diz do seu jeitinho doce de ser.
— Que bom que, no meu caso, apenas meu irmão é o assassino.
Acerto um tapa em sua perna e rimos.
— Yasmim e Laís? — questiono devido ao silêncio da casa.
— Laís está dormindo, ela anda bem enjoadinha, gripada e
com mais dentinhos nascendo. Noite passada foi difícil, revezei com
o Henrique, porque ela não queria dormir — ela suspira. — Já
Yasmim estava desenhando no quarto dela com a babá Celinha.
Logo ela aparece, para querer mostrar o que fez.
Sorrio. Amo tanto as crianças dessa família. São meu brilho na
escuridão.
Escutamos vozes ao lado de fora e não dá tempo de o Luciano
abrir a porta, pois o pobre homem é acertado por ela quando
Liziara abre com tudo.
— Meu Deus, Luciano. Perdão! — diz desesperada.
— Tudo... Tudo bem, senhora Liziara — tranquiliza-a
esfregando o rosto.
Ela entra com as gêmeas, que correm com seus jeitinhos
desconcertados em nossa direção. Laura vem para os meus braços e
Helena para os da tia.
— Oi, meu povo. Manda a confusão da vez! — Liziara se senta
na poltrona à frente, deixando a bolsa das meninas ao lado.
— Bobó, mamãe bigou — Laura diz e sorrio.
— E por que ela brigou?
— Laula falô cota fea — Helena a entrega e Ana sorri beijando o
rosto da pequena e a abraçando apertado.
— Essas duas estão uns monstrinhos. Tudo que fala, elas
repetem. E elas têm um pai e um padrinho com um linguajar nada
apropriado. E um tio que só ensina coisa errada. O único que se
salva é o Jacob, misericórdia!
— E eu. Não faço nada — Alessandro diz e Laura olha séria
para ele.
— Papai num gota de vuce.
— Laura Escobar! — Liziara a repreende e ela sorri sem jeito.
— Alessandro, não liga. Eu sou uma boa mãe... tento ser...
Certo, nem sempre sou. Mas juro que o que elas falaram não veio de
mim.
Rimos.
— Liziara, acho que elas têm muito de você e do David — Ana
diz e coloca a Helena no chão.
— Nem pensar. Eu sou calma, pura, tranquila... Deus me livre
se fosse como elas.
— Mas você gosta de mim? — Alessandro questiona Laura, que
o analisa bem.
— Num xei. Vai dar ocolati?
— Eu vou matar o Henrique! Olha o que ensinou a elas! —
Liziara diz revoltada. — Filha, não se faz isso. É feio querer algo em
troca de carinho e amizade.
— Ele ensinou a Yasmim também. Bem-vinda ao clube! Meu
marido é louco e já desisti de tentar entendê-lo faz tempo. — Ana dá
de ombros.
— Sabe, essas crianças devem ser cuidadas bem longe dos
homens da família — digo realmente preocupada.
— Eu dou, se você me der um abraço bem apertado toda vez
que me ver — Alessandro negocia com ela e estende a mão e ela
pula para o colo dele.
Helena não perde tempo e faz o mesmo.
— Pronto. Olha o outro entrando no jogo delas. Estou ferrada!
— Estamos, Liziara. Estamos! — digo bem chocada com a
situação.

Laura e Helena foram ficar com a Yasmim. Beatriz já chegou, e


deixou Arthur na casa deles com a babá Cida.
Estamos no escritório e Luciano já desbloqueou o notebook do
Henrique onde Ana mexe agora.
— Ai, meu Deus! Vamos usar isso. Meu sonho usar esses
painéis iguais das séries policiais! — Beatriz grita animada olhando
o painel em uma parte da parede ao lado esquerdo.
— Henrique colocou com a intenção de resolver casos, mas
resulta apenas em desenhos da Yasmim que sobe na cadeira e fica
rabiscando tudo — Ana fala e sorri.
— Vocês são sempre focadas assim? — Alessandro questiona
irônico.
— O professor aí tem razão. Vamos focar — Liziara concorda
andando de um lado para o outro com uma caneta nas mãos. — O
último contato foi no dia da imensa confusão.
— Ele seria julgado pela máfia. Mas como conselheiro, não
acredito que o matariam... Que tipo de máfia é essa, Alessandro? —
questiono.
— Eles são um tanto agressivos e diferente do que vemos nos
livros e filmes.
— Que droga! Assisti a “O poderoso chefão” à toa? É enorme!
— Ana comenta desanimada e sorrimos.
— Quando um membro falha, passa por um julgamento que
pode haver torturas. Felipe falhou duas vezes. A primeira no
casamento onde traía a esposa, que era filha de outro chefe, e
fizeram união das famílias, mas ele ferrou tudo e por isso sumi.
Podem ter uma testemunha para ajudá-los. Não sou da máfia, mas
como irmão dele permitiram, desde que eu fizesse o juramento que
não mentiria ou iria contra a verdade, em prol de defendê-lo. Com
isso, vi ele ser torturado, com rasgos nas pernas e ombros, socos no
estômago. Ele pagou caro por desfazer a aliança entre as duas
máfias, rompendo o maldito casamento. E disseram que, como
Conselheiro da máfia, ele deveria dar o exemplo. É tudo o que sei.
Ele não fala muito.
Olhamos assustadas. Que loucura é essa?!
— Ótimo. Ele é também um cirurgião plástico famoso. Vocês
comentaram sobre ele estar comprando algo, é isso?
— Exatamente, Ana — respondo.
— Puxarei o nome dele para saber se estava realmente
comprando algo ou se já comprou, e qual a movimentação dele
diante disso.
— Enquanto você faz isso, Ana, irei investigar a conta dele
através do acesso ao banco, e ver se ele movimentou a própria
conta nas últimas semanas — Beatriz declara, mexendo no
notebook da Ana em seu colo.
— Eu vou puxar todos os sites que noticiaram algo sobre ele e
tentar a busca através do programa facial. — Liziara pega o iPad na
mesa e se senta.
— Irei entrar em contato com a Débora e ver se consegue mais
informações — aviso.
— Alessandro, me passa seu celular. Vou abrir uma conexão de
rastreio, e tentar colher informações através das tentativas de
chamada que fez a ele — Ana pede olhando para a tela do notebook.
— E eu faço o quê? — Alessandro questiona.
— Você é observador. Busque algo em sua memória que nos
possa ser útil, meu amor — digo a ele.
— Que lindo! O David e eu trabalhando juntos em algo só sai
xingamentos.
— Não é diferente de mim e do Marcos. Aquele homem é para
foder o juízo e não é de um bom jeito.
Rimos.
Envio mensagem a Débora e peço ajuda. Ela rapidamente
responde dizendo que vai revirar tudo que puder, pois precisaria
de alguns acessos que o Cleber tem, mas ele está no futebol com os
outros. Envio também mensagem a Daiane, que diz que está no
trânsito, pois vem da fazenda Casagrande, onde foi almoçar com a
Sophie.
Alessandro entrega o celular a Ana e encosta na parede à
nossa frente e fica observando. Está pensativo. Pelo visto busca algo
em sua memória.

Tempos depois temos alguns resultados nada positivos.


Débora alega que não tem rastros dele na cidade, após eu passar
todos os dados que me pediu.
— Ana? — questiono.
— O rastreio ao celular dá como restrito, mesmo tentando
burlar o sistema e puxando pelo do Alessandro. E sim, ele comprou
a clínica.
— Comprou dias antes do acontecimento. Pagamento à vista e
era uma alta quantia e foi a última vez que mexeu em sua conta —
Beatriz diz firmemente.
— Reconhecimento facial o localiza apenas na última semana
que o vimos. Depois não encontra mais nada. Os sites e revistas de
fofocas como a praga da Belos e Famosos só diz a mesma coisa: “Onde
está o cirurgião Plástico Felipe Santos?”. Nada além.
— Débora também não conseguiu nada. Hospitais, delegacias,
e até mesmo últimas entradas em cemitérios na Califórnia e Brasil.
— Tenho duas opções — Alessandro fala e seu tom é sério
fazendo com que todas nós olhemos para ele. — Ele é esperto, sabe
esconder rastros. Na primeira opção, ele pode estar vivo e quer
ficar no modo oculto. A segunda, mataram ele e camuflaram os
rastros — sinto o pesar em seu tom ao dizer.
— Não vamos perder as esperanças. Não consegue se lembrar
de nada? — Ana pergunta.
— Não que eu... — Faz uma pausa e franze o cenho. — Claro!
Ele veio em uma missão, mas desviou para nos ajudar. Ele estava
investigando a máfia que está agora vulnerável após o chefe ser
preso e julgado. Pelo menos foi o que o infeliz disse.
— Bia, é com você. Como conseguir as informações sobre este
caso que seu juizão trabalhou? — Lizi aponta para a Beatriz.
— Complicou. Marcos é muito reservado quando se trata do
trabalho. Nem a mim, ele compartilha muito.
A porta se abre e Daiane entra sorridente.
— Ouvi que precisam de informações um tanto privilegiadas?
— Oi, gente! — Sophie cumprimenta toda sorridente como
sempre.
— Oi, princesa — digo e ela vem até a mim. Me abraça e depois
faz isso em todos.
— Estão tramando. Os homens vão ficar bravos que não estão
juntos. Isso vai dar confusão. Por isso vou procurar a Yasmim.
Cuidar dela é bem melhor que enfrentar eles nervosos — Sophie diz
e não aguentamos, acabamos rindo. — Tia Ana, onde ela está?
— No quarto dela com as gêmeas. Pode ir lá, meu amor. E
evitem gritos, a Laís está enjoadinha e não dormiu nada na noite
passada.
— Pode deixar. — Ela sai animada.
Daiane se senta ao lado da Beatriz.
— Daiane, você pode ser a chave para a porta fechada. Você é
promotora, o que consegue do caso da máfia que o Marcos julgou?
— Liziara questiona.
— Tudo. Isso é como fazer brigadeiro de colher, muito fácil.
— Estou com fome — Alessandro fala e ela sorri. — Ficar
falando de brigadeiro não ajuda.
— Que péssima pessoa eu sou. Vou trazer algumas coisas para
beliscarmos enquanto isso.
— Ana Louise, até que enfim se tocou! Na lista black das
cunhadas, você lidera! — Liziara fala tirando o tênis e colocando os
pés na poltrona.
Ana mostra a língua a ela e sai do escritório.
— Vou fazer algumas ligações e em breve teremos os
relatórios dessa máfia e se estão em confronto com algo ou não.
Com o chefe deles preso, estão um pouco vulneráveis e a Polícia
Federal está investigando mais a fundo com seus agentes.
— Ele saberia disso. E tomaria o triplo de cuidado em ser
encontrado — Alessandro comenta se sentando ao meu lado.
— Boa. Ele pode estar bem embaixo do nosso nariz, e só
estamos olhando na direção errada! — Beatriz rebate e morde o
canto da boca pensativa.
Concordamos totalmente com ela.
— E se for ele que não quer ser encontrado? — indago.
— Então não encontremos. Ele fez isso e fiquei sem vê-lo por
dois anos.
— E como sabia que ele estava vivo? — Daiane questiona.
— Ele deixava mensagens em formas de bilhetes no meu
apartamento, sem ninguém nunca ter visto como.
— E agora ele não fez... Alessandro, por mais que tudo esteja
indicando uma péssima notícia, vamos manter a esperança da
famosa luz no fim do túnel — Liziara diz com carinho.
— Ela tem razão. Talvez ele esteja mais uma vez te protegendo,
Ale. Não vamos perder a fé. — Seguro sua mão.

Alessandro Santos

Elas investigam e eu preciso de um pouco de ar. Pensar mais.


Porra, Felipe ainda vai me matar de ódio!
Paro na porta que dá para o jardim dos fundos e fico
observando. Só preciso disso, vento e alguns minutos. Porque é
muita coisa acontecendo nos últimos tempos.
— Sai, Laura. Não podi pega. — Olho para a vozinha atrás e vejo
uma ruivinha de olhos claros, segurando uma folha e a mão da
Laura.
Elas me olham e Yasmim inclina a cabeça um pouco para o
lado me observando, mania que notei que o pai dela também tem.
— Onde as mocinhas vão? — pergunto sorrindo.
— Oi, voxe é o homem que meu papai não gosta!
Me sinto tão amado nesta família!
— Ismim, mamãe falo que naum podi tizer itu.
— Laura, é Yasmim! — a ruivinha a corrige e a pequena Laura
faz bico pela bronca.
— Yasmim, você precisa ser mais paciente. Ela é mais nova que
você.
— Já sei disso. — Percebo o quanto ela consegue falar bem
melhor dependendo das palavras. Essa é inteligente demais.
— Pois bem, desse modo é seu dever ser mais calma e
entender que ela tem mais dificuldade em falar do que você.
Ela me olha desconfiada e abaixo ficando à altura das duas.
Laura vem para os meus braços e seguro-a, está com os lábios
tremendo. Vai chorar e vão cortar meu pau fora achando que eu fiz
algo.
— Tá bom! Desculpa, Laura.
Sorrio para ela e dou uma piscadela e ela fica vermelhinha
destacando ainda mais as sardas.
— Então, gatinha, vai desculpar sua prima? — questiono a
pequena agarrada a mim.
— Xim!
Laura se afasta e abraça a prima.
Ana se aproxima e sorri. Levanto-me sob seu olhar.
— As gêmeas têm mais dificuldade em falar algumas coisas,
Lizi levou ao médico, pois estava preocupada, mas ele disse que está
tudo bem, é apenas uma pequena manha delas e preguiça, mas que,
com mais firmeza e ajudando sempre, pegam o jeito. E outra, elas
são novinhas, quase bebês na minha opinião — diz baixo.
Ficamos olhando e Ana torna a falar e, desta vez, bem alto:
— Já a dona Yasmim anda amadurecendo demais para a idade
dela. Já te falei que é a prima mais velha, e deve ter mais paciência!
— Mamãe, Sofi que é.
— Ponto para a ruivinha ai! — digo e Ana me olha feio. Melhor
eu me calar.
— O que estão aprontando?
— Vim tazer pra você. Aí a Lau veio.
Ela entrega o papel a mãe e olho para o desenho todo cheio de
rabiscos. E eu achando que meus alunos entregavam coisas
incompreensíveis.
— Que lindo, meu amor. Eu amei.
— Eu judei, titi!
Ana se abaixa e dá um beijo em cada uma.
— Ficou lindo, princesas! Agora voltem lá para o quarto.
Elas concordam.
— Se estiverem com fome, avisem... O que me lembra de que
tem lanches no escritório, Alessandro. Vamos?
A porta se abre e olhamos para a tropa que chega. Marcos,
David, Jacob e Henrique entram animados, vermelhos, suados. Mas
a alegria morre assim que me olham.
— LUCIANO, ESTÁ DEMITIDO! — Henrique grita olhando para
o segurança e apontando para mim.
— Ultimamente o senhor tem me mandado embora toda
semana. Com licença, vou verificar a ronda dos seguranças. — Ele se
retira e Ana ri. Se ela riu, eu posso, né?
— Papai! — Ana e Laura gritam e correm para seus respectivos
pais, que as pegam no colo.
— O que esse porra faz aqui?
— Epa, olha o palavreado, Marcos! Deposita a grana depois! —
Liziara diz surgindo na sala ao lado das outras.
Olho sem entender e prefiro continuar assim.
— Que caralho está acontecendo aqui? — David questiona.
— Olha a boca, David! — Liziara repreende e ele a olha feio.
— Ele é legal, papai! — Yasmim diz.
— QUE ISSO, YASMIM? TRAINDO SEU PAI? — ele grita e ela
segura para não rir levando a mão à boca.
Nem a filha o leva a sério. Coitadinho.
Paula para ao meu lado e revira os olhos. Cruza os braços e
suspira.
— Beatriz, cadê o Arthur?
— Com a babá, Marcos. Não pira.
— Não pira? O caralho que não pira! — ele rebate e ela o
desafia com o olhar.
— Menos, bem menos, meu amor — a corajosa declara e eu
quero rir.
Sophie desce com a Helena. E a segunda vai até o pai.
— Pai! — Sophie corre para o pai e o abraça. — Que nojo!
Assim não tenho como ser boazinha. Todo suado igual porquinho.
Eca, Daiane! Como aguenta?
— Me faço essa pergunta todos os dias, gata!
— Ótimo. Bom saber o quanto valorizam a mim — Jacob diz e
se senta no braço da poltrona.
— Sabe, eu me sinto bem recebido nesta família — comento.
— Que bom que leva na esportiva — Beatriz diz sorrindo.
— O que estão aprontando? — Henrique questiona colocando
a filha no chão e o David faz o mesmo com as gêmeas. Elas
cumprimentam os outros e Yasmim parece ter um apego enorme ao
Jacob porque se agarra a ele, sem se importar se ele está suado.
Laura olha feio para o Marcos quando ele aperta a bochecha dela.
— Sabe, Marcos, suas afilhadas têm amor e ódio por você, mas
o bom que a conta bancária delas é bem gorda, graças a você.
Faculdade garantida.
— Cala a boca, porra-louca! — o juiz fala olhando feio para a
Liziara.
— Acabou o circo? — Paula questiona com a sobrancelha
erguida.
— Eita! Vamos, meninas. Como diria minha bisa: agora danou-
se! — Sophie fala levando a mão à cabeça.
Elas saem da sala e rio.
— Que caralho faz aqui? — Henrique me encara nervoso.
— Sempre quis fazer orgia — provoco.
— Filho da puta! — Henrique avança e Jacob o segura. — Tira a
mão, seu rouba mãe!
— Qual é? O que mais eu iria fazer aqui? Já tentaram falar ao
menos com essas mulheres quando se reúnem para algo? Elas
enlouquecem qualquer um — digo e Paula me acerta de um lado e
Liziara do outro. Só me fodo!
— Cuidado, Alessandro, não tenho unhas grandes à toa! —
Beatriz declara.
— Nem sempre minhas pernas servem apenas para andar, na
maioria das vezes é para chutar a bunda de quem me provoca! —
Ana rebate e cruza os braços.
— É, Ale, às vezes sou uma santa, a única entre elas — Daiane
diz rindo.
— Quanta calúnia! Eu sou santa, e a única. — Liziara finge estar
ofendida.
Que porra de gente louca é essa? E essas falas? Devo me
preocupar? Puta que pariu! Em que manicômio vim parar?
— Liziara, você é tão santa que... Esquece — Henrique começa,
mas para.
— O que ia dizer, Henrique? Desembucha! — David diz sério.
Henrique se afasta. Esperto, provoca e corre.
— Porra-louca, aprontou, com certeza — Marcos diz e cruza os
braços.
— Fodeu! — Jacob ri.
— N-não aprontei. Henrique é louco! — Ela fica nervosa. Isso
não é bom.
— Por que está nervosa? — David questiona ainda mais.
— Deixem disso. Estamos aqui por assuntos que não diz
respeito a vocês e parem de atormentar as pessoas. E, Henrique,
deixa de ser linguarudo. Se a Liziara não contou que trabalhou na
boate e o Joaquim estava lá, o problema... Ai, Deus!
— PAULA! — As meninas dizem juntas.
— Mamãe, que bela fofoqueira! — Henrique provoca.
— Olha o que fez, eu vou te matar, Henrique. Eu vou!
— Desta vez, ele não teve culpa sozinho, sogra — Jacob fala.
— Cala a boca, pateta! — Daiane repreende o esposo.
— Eu nunca defendo o Henrique e, quando faço, me lasco! Vou
para a cozinha assaltar a geladeira alheia.
— ENCOSTA NA MINHA COMIDA E ARRANCO SEU PAU! —
Henrique grita.
— Tem lanche no escritório... — comento e Jacob sorri.
— Eu não gosto de você, cara! — Henrique fala entredentes
enquanto me olha raivoso.
Jacob vai para o escritório com o Henrique seguindo-o e
ameaçando atirar em sua bunda.
— Paula, acho que você criou um ambiente perigoso. Olha a
cara do David. Não parece que ele vai arrastar o pé direito, e então
vir que nem um touro louco? — cochicho em seu ouvido e ela
concorda.
— Beatriz, vamos. Não estou a fim de presenciar um homicídio,
ainda mais não sabendo quem vai matar quem.
— Pois, eu estou. Se aquieta, juiz de quinta.
— Porra de mulher! — reclama nervosinho. Esse juiz precisa
de um calmante.
— David, antes de surtar, eu quero dizer...
— Não quero ouvir. Melhor nem falar nada agora, porque eu
sinto que você vai me matar de tanto estresse. E esse Joaquim,
considere ele morto.
— Epa! Ninguém morre. Depois eu tenho que limpar da mídia
toda merda que fazem! — Daiane reclama apontando para eles.
— E eu tenho que limpar de tudo quanto é buraco nesse meio
jurídico, que é um caralho de burocrático. A pirralha tem razão —
Marcos concorda e se senta no sofá.
Quem vai fazer a pipoca e trazer as bebidas?
— Que bom que não preciso falar nada, porque nesses longos
dias escondendo, não achei a melhor forma de dizer. Nossa, me
livrou de um grande e enrolado discurso, amor — Liziara suspira ao
dizer e não sei, mas não me parece que foi uma boa escolha essas
palavras.
— É, eu vou te matar primeiro! — David dá um passo e Liziara
corre e se esconde atrás de mim.
— Porra, virei escudo?! — grito.
— Cala a boca, Alessandro, e ajuda! — ela pede e vira para a
Paula, levando meu corpo junto. — Uma vez, você disse que ele é o
segundo mais extrovertido.
— Meu amor, eu passei a repetir muitos adjetivos sobre esses
homens na esperança de que se tornassem realidade. Acredite em
mim, sou uma grande esperançosa. — Minha mulher tenta ajudar,
mas só piora.
— Em casa vamos conversar sobre isso — David diz ao passar
a mão no cabelo e se sentar.
— Isso quer dizer sexo. Adoro ele bruto — Liziara cochicha no
meu ouvido e acabo rindo.
O clima louco muda quando Daiane olha para o seu celular,
que faz barulho, e depois para mim em negativa. Liziara se afasta e
me olha triste.
— Ele vai aparecer, meu amor — Paula me fala entendendo a
situação e segura minha mão.
— Deveria ter pedido nossa ajuda. Não concordo com ele e
nem em ter você nesta família, mas nos ajudou quando precisamos.
É uma troca — David diz.
— Ele tem razão. Sabemos que não tem notícias do Felipe
desde o ocorrido. Isso não é brincadeira. Seja a porra que ele for, é
seu irmão. E nos ajudou, devemos sim um favor a ele, mesmo que o
idiota diga o contrário. E olha que, para eu querer ajudar alguém
como ele, é um milagre — Marcos fala e faz um sinal para a esposa
que caminha até ele, e se senta em seu colo. É nítido o quanto ele
precisa sentir que tem o controle de tudo e todos, até mesmo da
esposa, quando sabemos que é ela quem dita as regras e ele segue,
porque a ama.
— Já fizeram o bastante. Está tudo bem. — Sou sincero.
— Vamos, vou preparar um café da tarde para nós e animar
essa situação. Os lanches devem ter sido devorados. Marcos, traga o
Arthur e tome um banho. Você também, David. Vou mandar o Jacob
e o Henrique fazerem o mesmo. Nada como um fim de tarde em
família para animar tudo — Ana diz carinhosa e sorrimos.
— Ana tem razão. E já que me enrolam sobre as reuniões em
família que impus uma vez, vamos aproveitar quando por um
milagre estamos reunidos sem combinar — Paula fala.
Cada um faz o que foi combinado. Paula acompanha Ana na
cozinha para ajudar.
Sento-me na sala e respiro fundo.
Meu celular faz barulho e é uma mensagem de um número
desconhecido:

“Pare de vasculhar o que não deve. Estou vivo, é tudo o que precisa
saber. Não quero essa família puxando minha vida, até porque não sou
idiota e não deixo rastros e sei cada acesso que qualquer um faz sobre mim.
Segunda-feira, eu encontro você na sua casa. Precisamos conversar sobre
uma coisa. Não retorne a este número, será inútil.
F.S.”

Leio três vezes e começo a respirar aliviado. Esse filho da puta


está bem. Mas o que ele quer conversar? O que aconteceu?
Paula retorna.
— Vem ficar conosco. Não fique sozinho, é entediante; se bem
que, às vezes, é tudo o que preciso devido a essa família louca.
Ela se aproxima e a puxo para o meu colo, beijando seus lábios
com força. É como se eu precisasse sentir que tudo isso é real. Como
se estivesse vivendo com o ar preso nos últimos dias. Sentir seus
lábios me acalmam, ao mesmo tempo que me fazem querer tirar sua
roupa e possuí-la seja onde for e sem qualquer pudor.
Ela afasta delicadamente os lábios e sorri acariciando meu
rosto.
— Ele está vivo e ele mesmo te disse isso — diz baixinho.
— Como sabe?
— Seu semblante. Ficou leve, e seu beijo, existe alívio nele,
assim como seu olhar transmite a paz de antes.
— Ele fode tudo toda vez.
— Mas é seu irmão. Eu entendo, já te disse. Mas não concordo.
Porém, jamais pediria a você que o largasse. Joel, antigo amigo do
Joseph, era assim; só fazia coisas erradas, mas jamais pedi para que
se afastassem, porque, às vezes, isso pode ser pior.
— Já disse que você é um mulherão da porra?
— Sim. — Ela sorri e porra de sorriso lindo!
— E eu também avisei que eu amo esse mulherão da porra?
Ela fica parada por um tempo, mas logo um sorriso ainda
maior e mais lindo surge em seus lábios.
— Não. Isso não disse. — Sua voz é trêmula.
— Então avisa a uma determinada mulher que a amo.
— Se for a que está em seu colo, ela acha que também ama
você. — Seus olhos brilham e é lindo de ver.
— Acha? — Ergo as sobrancelhas e ela ri.
— Estava apenas esperando você dizer que me amava para eu
retribuir essa palavra, que para mim tem um imenso poder.
Também amo você.
Torno a beijá-la. Passei a vida saindo com muitas mulheres, e
dizendo que jamais amaria alguma e a tornaria minha. Mas maldita
seja a tal lei do retorno. Ela retornou tendo nome e sobrenome, e
pisando na minha cabeça com seus saltos que eu, particularmente,
acho que a deixam ainda mais gostosa.
— Vamos, antes que eu pire.
— Não posso ir agora. Vai na frente. Está tenso.
— Eu senti — responde timidamente.
— Que bom. Porque eu me sentiria mal caso contrário, afinal
não é pequeno.
— Safado!
— Sempre.
Ela fica vermelha e sai rindo.
Quinze

Paula Escobar

Saio completamente feliz da audiência. Consegui o melhor


para a criança pela qual a mãe lutava para o pai ser mais decente e
arcar com mais coisas, afinal, o homem é ricaço e estava enrolando
a filha, e se fazendo de coitado; mas consegui todas as informações
necessárias e o coloquei contra a parede na frente do juiz, junto do
advogado dele, que longe de mim desmerecer qualquer outro
colega de profissão, mas um que se sujeita a ficar ao lado de um
homem que se nega a ajudar a filha, para mim é igual ao homem,
pois ficou o tempo todo tentando virar o jogo a favor do cliente dele,
mesmo sendo nítido que o homem não enganou apenas a garotinha,
mas como o próprio advogado dele. Mas, enfim, deu tudo certo.
Olho sorridente para o Pascoal, que abre a porta para mim.
— Pelo visto foi uma excelente audiência.
— E como, meu querido. Vi uma mãe e filha saírem com um
brilho nos olhos. Incrível como, para aquela garotinha inocente, o
pai é um herói. Ficou feliz por ter ganhado um abraço dele, e ele
prometer que vão fazer mais viagens, passeios... Por isso digo aos
meus filhos para preservarem a inocência dos nossos pequenos o
quanto puderem, porque, quando isso acaba, passamos a enxergar
um mundo escuro na maioria das vezes. — Entro no carro.
— Tem toda razão. Uma prova disso é quando parei de
acreditar em Papai Noel, o Natal parece não ter sido mais o mesmo
desde então.
— Viu só! Estou certa. Sempre estou. Agora vamos. Quero
relaxar antes do maldito treino. Por que eu faço isso mesmo?
— Porque sempre tem alguém tentando matar vocês.
— Sua sinceridade é uma dádiva.
Rimos e ele fecha a minha porta. Contorna o carro, fazendo o
protocolo de segurança, ao averiguar tudo ao redor. Vejo mais duas
motos se aproximarem com membros da equipe. Ele entra no carro
e não demora para sairmos dali, com as motos fazendo escolta.
Meu celular começa a tocar e é uma ligação do Clóvis.
— Olá.
— Sra. Escobar, encontrei a casa perfeita. Próxima de onde morava.
Bem grande, aconchegante, mobiliada, e bem ao estilo família como
gostaria. Fica em um condomínio de casas, e tem apenas duas para vender
e ambas com propostas de compradores, está uma loucura. É o mesmo
dono em ambas, e ele alegou que aquele que lhe der a melhor oferta leva
uma ou as duas.
— Pois, bem. Vamos ver a tal casa. Pelo visto é bem concorrida.
— Sim, e já reservei para que possa conhecer, porém deve ser hoje...
Mais precisamente agora. Tem como?
— Claro! Mande o endereço e estarei a caminho.
— Ótimo. Vou mandar tudo por mensagem e aguardo a senhora aqui
no local.
— Certo. Até logo.
Desligamos e não demora a vir a mensagem dele. Mostro ao
Pascoal, que muda a rota e avisa aos outros dois seguranças pelo
ponto de escuta.
— Será que conseguiremos uma casa hoje? — indago.
— Torcendo para que consiga.
— Eu também. O flat do Henrique é bom, mas não é o meu lar.
— Entendo. Então vamos torcer em dobro para esta casa ser
boa.
— Sim. E quem sabe, o David não fique com a outra casa. São
duas à venda no mesmo condomínio.
— Seria ótimo. Família por perto é bom.
— Muito. Eles precisam de uma força e eu estando por perto é
melhor. Vamos torcer, Pascoal.
Sorrimos.
Uma mensagem do Alessandro me faz sorrir e sentir que meu
corpo inteiro ficou vermelho. Leio duas vezes seguidas sua
safadeza.

“Estou trabalhando e a ponto de matar meus alunos. Mas sabe por


que não fiz? Pois preciso do seu corpo inteiramente nu para mim, e na
porra da cadeia não terei. Meu pau requer cuidados preciosos, começando
por suas lambidas... Foda, estou duro! Mulher, você está me ferrando todo!”

Respondo:

“Tenha modos. Sou cardíaca. Rsrs.”

Ele responde com uma carinha de diabinho. Eu estou


arranjada com esse homem, que é pior que os loucos dos meus
filhos, que só me causam vergonha com suas loucuras.
Chegamos ao condomínio, e Clóvis vem até nós com
autorização da nossa entrada. É realmente próximo da antiga casa.
— Diz que tem segurança vinte e quatro horas. — Pascoal
aponta a placa. — Duvido que seja tão eficaz.
— Homem, nada de paranoias. Claro que nada será totalmente
seguro, mas precisamos viver.
— Cometi uma falha, senhora, e não cometerei mais. — A dor
em suas palavras é nítida.
— Você não falhou. Você não teve escolha. É bem diferente. Eu
faria o mesmo por minha família. Você foi homem suficiente para
colocar a sua família à frente até mesmo da sua segurança. E acha
mesmo que meus filhos teriam mantido você após tudo, se tivesse
agido totalmente errado? Todos erramos naqueles dias, então se for
para colocar a culpa em alguém, que seja em todos nós. Certo?
— A senhora quem manda.
— Acho bom. Poderia dizer isso nas reuniões da equipe com
aqueles projetos de filhos?
— Isso inclui o senhor Marcos?
— Sim. Principalmente esse estressadinho. Vontade de dar uns
petelecos na cabeça loira dele. Teimoso e bravo igual uma mula.
— E mula é brava? — ele indaga seguindo o carro do Clóvis.
— Não sei, mas se for como o Marcos é totalmente.
Rimos.
Clóvis estaciona na frente de uma casa, que mais parece uma
mansão, assim como todas as outras. Estacionamos atrás. As motos
param uma de cada lado do carro. Desço e Pascoal faz o mesmo. Ele
ajeita a arma na cintura e faz sinal para os outros dois, que descem
da moto e ficam em posição.
— Essa é a casa número 1 — Clóvis informa. — Vamos
conhecê-la?
— Agora. Estou ansiosa. Já gostei do condomínio, bastante
vegetação, casas lindas e parece ser tranquilo.
— É sim. Tem muitos idosos morando.
— Você está insinuando que me arrumou uma casa em um
asilo?
— Acho que ele está, senhora — Pascoal diz e os outros tentam
disfarçar o riso, mas não fazem muito bem.
— N-Não, senhora. E-eu... — fica nervoso.
— Calma, Clóvis. Estou brincando apenas. Vamos conhecer a
casa.
Ele vai na frente e Pascoal faz sinal de que ele é louco. Acabo
rindo.
Passamos pela imensa porta. Os outros seguranças ficam na
porta.
Olho para o primeiro ambiente que sou recebida e fico
boquiaberta. É muito grande a sala. A decoração é linda, ao estilo
praiano, bem tropical, aconchegante.
As janelas imensas dão vistas para lindas árvores.
— As janelas são sem cortinas, para dar este ar mais tropical.
Porém, quem está de fora, não vê nada dentro. Vão notar que
muitos cômodos têm janelas assim. E com isso acaba tendo redução
no custo de energia devido a claridade natural.
Os móveis são impecáveis. O tapete listrado em diversos tons
de marrom chama a atenção, pois criam contraste com os sofás
brancos.
— Liste os cômodos, Clóvis.
— São oito suítes e todas incluem closet. Tem também cinco
banheiros, sendo dois apenas lavatórios. Sala de estar é onde
estamos. Tem a sala de jantar, de TV e de leitura. São dois
escritórios. Há duas cozinhas, sendo uma exclusiva da área gourmet
onde tem churrasqueira, piscina, área de lazer completa, uma
academia adaptada à casa...
— Porra! — Pascoal diz e acaba ficando sem graça.
— Pensei o mesmo, não se preocupe — digo a ele.
— Não terminei. Garagem para cinco carros e tem
brinquedoteca. Além da ala exclusiva para funcionários.
— Tem chances de conhecermos a casa inteira hoje? — brinco.
— Totalmente. Vamos! — responde animado.

Um tempo depois, conheci cada cômodo, não tão lentamente


como gostaria, mas tem horário para visitas na casa. Desta eu
gostei. Gostei muito. Sento-me no sofá e fecho os olhos. É, eu consigo
me imaginar sendo feliz aqui com minha família e com o
Alessandro... Abro os olhos e sorrio. Acho que estou indo longe na
imaginação. Estamos começando agora, mas fazer o quê, me tornei
uma romântica dos velhos clichês.
— O dono quer uma resposta até... — Clóvis começa a falar,
mas faço um sinal para que ele espere.
— Dá para montar um bom esquema de segurança aqui? —
questiono o Pascoal.
— Com toda certeza. Dá para brincar e muito por aqui —
responde animado.
— Ótimo. Clóvis, faça a melhor proposta. Essa casa tem que ser
minha, e não aceito outra resposta, além das chaves nas minhas
mãos.
— Sério? Quero dizer, essa casa será da senhora, conte com
isso. — Tenho certeza de que ele quer sair pulando.
— Ótimo. A outra casa é como esta?
— Sim. Porém, tem alguns cômodos a menos, sendo apenas um
escritório, e seis suítes.
— Certo. Preciso das fotos de toda casa e vídeos. Irei enviar ao
David e Liziara. Segure a outra casa.
— Não vai querer saber os valores? — Franze o cenho.
— Não tenho sete vidas, melhor eu nem saber. Minha antiga
casa vale muito, e sei que terei um excelente retorno. Tenho muitas
condições financeiras, mas não jogo dinheiro para o ar. Dê seus
pulos e faça a melhor negociação, e segure essas chaves. É uma
ordem.
— Pode deixar. Até amanhã darei notícias.
— Ótimo. Vamos, Pascoal... — Meu segurança está analisando
tudo. — Já está pensando nos esquemas de segurança?
— Este lugar é magnífico. As câmeras são a mais atual
tecnologia. Olhe o painel do alarme de segurança. — Ele aponta o
painel ao lado da porta. — Pode ser ajustado para comando de
travas de portas, janelas, ou até escolher apenas um único cômodo...
É um sonho... PORRA, CÂMERAS EM 360 GRAUS! Se for possível a
comunicação por elas, eu tenho a porcaria de um infarto.
— Ao que parece o dono disse que tem isso aí que falou, senhor
Pascoal — Clóvis comenta.
— Sra. Escobar, quando vai se mudar para este lugar? Porra!
— Coitadinho, ficou doido. Vamos. — Sorrio.
Saímos animados, acredito que o Pascoal bem mais que eu.
Mas a verdade é que estou feliz demais. Clóvis encontrou o que pedi.
Eu precisava me imaginar vivendo neste lugar e consegui. Consigo
ver um novo recomeço completo agora.

Alessandro Santos

Chego em casa completamente cansado. Preciso de um banho,


comida, e mais tarde irei ver a Paula.
O cansaço mental se torna um tanto pior que o físico, e porra,
estou mentalmente cansado.
— Senhor, chegou!
— PUTA QUE PARIU! Irene, você ainda me mata, inferno! —
Olho para a senhora baixinha que surge na sala.
— Perdão! Mas o senhor que anda distraído.
— Mulher, você é um fantasma. Tenho certeza.
— Não sou não. Só gostaria de saber se vai ficar para almoçar,
pois não para mais em casa...
— Está enciumada, meu amor? Tem Alessandro para todas.
Que a Paula não me escute, você precisa ver essa mulher treinando.
— Tenha modos. Não tenho ciúmes. Apenas fiz comida, e o
menino Felipe está aí também.
— Como é?! Caralho!
— No escritório. Chegou há pouco.
— TEREMOS UM NOVO PRATO: FELIPE ASSADO. EU MATO ESSE
FILHO DA PUTA!
Largo tudo no sofá e vou para o escritório. Eu vou matá-lo...
Primeiro deixarei ele falar, e depois matarei.
Abro a porta e ele abaixa o livro que está em suas mãos e o
coloca sobre a mesa, então me olha e retira os pés da mesa e se
senta ereto.
— Meu irmão.
— Irmão? — Fecho a porta com força. — Você some, manda o
caralho de uma mensagem e acha que pode vir com essa cara de
idiota e me chamar de irmão?
— Deveria estar feliz. Estou vivo. Não morto como deveria
estar pensando.
— Felipe, me dê um bom motivo para não socar essa sua cara!
— Simples. Vai me ouvir, e com muita atenção. É sério. Não
estou com tempo para ficar repetindo e nem paciência.
— Onde estava? — questiono bem sério.
— Negócios. Precisava resolver o que vim fazer aqui.
Alessandro, eu omiti algumas coisas.
— Sobre o quê? Seja mais claro.
— Sobre muitas coisas. Não me interrompa.
— Prossiga, inferno! — Sento-me no sofá e observo-o.
— Eu vim para livrar o chefe dessa máfia, que foi preso. Eles
queriam a cabeça de todos os Escobar, e eu os ajudaria. Mas
descobri que você estava com essa família, e precisava saber o que
estava fazendo com eles. Passei a investigá-los e entendi tudo. Você
estava interessado na Paula. Porém, isso te colocaria em risco e eu
não poderia poupá-lo. E, mais uma vez, fui surpreendido. Os idiotas
dos Escobar passaram a sofrer atentados, e não era a máfia dando
um recado, era outro inimigo, e caralho, você estava próximo
demais. Tive que me aproximar, então menti sobre a clínica, eu não
precisava, mas comprei. Eu me aproximei, porque meu irmão
estava nessa merda, e família sempre vem em primeiro lugar. Eu
precisava descobrir quem queria a família da lei fora de jogo, foi
então que o nome da Poliana Gonçalves Xavier surgiu. Ela havia
fugido com a ajuda de diversos policiais corruptos e comecei a
rastrear os passos dela, ela era esperta, mas eu bem mais.
— Vai direto ao caralho do ponto! — Sinto a raiva me dominar.
Eu sempre soube que tinha mais coisas ligadas à sua vinda ao
Brasil. Felipe nunca é claro sobre o que está fazendo e eu sentia que
ele escondia coisas, e pelo visto não estava errado.
— O chefe da minha máfia queria saber por que eu estava
demorando e resolveu vir pessoalmente com os outros membros.
Contei a verdade a ele e pedi ajuda. Ele queria saber o pagamento e
eu disse que, no final, ele e eu decidiríamos. Entreguei a você os
papéis com as informações, porque eu sabia que no momento certo
você abriria a boca. Só que imaginei que você cairia fora, mas não.
Você pagou de herói, e puta que pariu, eu queria te matar de tanta
raiva! E mais uma vez, coloquei sua segurança à frente. Nunca foi
por eles, sempre foi por você. Se esta família está viva foi por você.
Mas tudo desandou. Aqueles idiotas não conseguiram deter a
Poliana a tempo, e houve a briga final. Após aquilo, eu fui enfrentar
meu chefe. Eu falhei com a minha máfia e com o acordo que
devíamos a máfia daqui. Houve então o “Julgamento da aliança”.
— Que merda é isso?
— Quem atira primeiro fica com o poder. Eu era o conselheiro
da máfia, devia respeito, e falhei em todos os aspectos. Para eu sair,
apenas morto. Mas se eu ganhasse...
— Você assumiria o poder. Você não estaria apenas na máfia,
você seria essa merda.
— Exatamente, meu irmão. — Ele sorri e ergue a mão
mostrando o anel dourado com uma pedra preta que carrega em
seu dedo indicador. — Quando ele está neste dedo indica poder... Eu
atirei primeiro. Afinal, é assim que funcionam as coisas no meu
mundo. Ninguém brinca, ou hesita.
Levanto-me nervoso. Passo as mãos pelo cabelo. Puta que
pariu, isso só pode ser piada!
— Era para matar os Escobar e ajudar o caralho da máfia
daqui, e agora ainda está dizendo que se tornou o chefe dessa
merda? Era para eu ter a porra de um orgulho? — indago com
ironia.
— Não. Era para você entender como funcionam as coisas.
Aquele juiz do caralho condenou o chefe daqui e devíamos um
favor. Mas você estava nisso tudo, e priorizei você.
— Que lindo! Devo agradecer? — ironizo novamente. — Felipe,
você se ouve, porra?
— Sim. Me ouço muito bem. E não precisa me agradecer. Mas
quero que saiba de algo. A partir de agora, tudo muda. E eles não
podem saber o que me tornei. Quero eles longe dos meus negócios,
e ninguém se machuca.
— Você é um filho da puta! Sempre estraga tudo. Porra! —
grito nervoso.
— Eu sei... Mas amo você, então tome cuidado. Porque, se nada
aconteceu, foi para te proteger. — Ele se levanta e me aproximo.
— Você vai me prometer que não vai machucá-los. Porque eu
não vou mais passar pano para as suas merdas. Eu cansei, Felipe.
Ele sorri. O desgraçado sorri.
— Meu irmão, onde você estiver, ninguém sairá ferido. Não
notou ainda? Eu poderia ter ajudado aquela louca, mas salvei o rabo
deles. Mas uma hora eles podem mexer no que não deve, e você não
vai estar por perto.
— Felipe, ela já perdeu o ex.
— Eu sei. Perdeu o ex-marido, o melhor amigo deles também,
que era um tal de Joel. Os pais da ruivinha Ana Louise morreram... O
juiz teve uma ex bem louca, que chamava Renata e estava grávida
dele... Eu sei tudo sobre eles. Não preciso do seu relatório. E não irei
encostar um dedo na sua protegida. Desde que ninguém interfira
nos meus negócios. Passarei um tempo aqui na cidade, porque
agora tenho uma nova clínica — debocha.
— Eu sempre vou estar por perto. E se foder tudo, eu acabo
com você.
— Somos iguais, Alessandro. Só você não vê isso. Estamos
protegendo quem amamos.
— Com uma diferença. Não mato ninguém para isso.
— Será? Eu duvido muito. Por aquela mulher, você faria tal
coisa. Na verdade, já fez. Não se subestime.
— Se eu estiver perto...
— Eu sei que sempre vai estar, Alessandro.
— Você é um desgraçado.
— E mesmo assim ficou me buscando em todos os meios. Meus
homens têm acesso a tudo.
— Porque você é o meu irmão, seu filho da puta!
— Eu sei.
Ele me abraça e sinto o alívio desse idiota estar vivo, mas
ainda estou puto com tudo isso. Eu sabia que ele viria com alguma
merda. Sempre foi assim. Não se pode subestimar o Felipe, porque
ele é sempre capaz de surpreender e nem sempre são com coisas
boas.
Nos afastamos e a raiva ainda é intensa, acerto um murro em
seu rosto levando-o ao chão.
— Seu filho da puta! — xinga nervoso.
— É, meu irmão. Talvez tenhamos algumas coisas em comum.
Saio do escritório e escuto o riso de deboche dele. Desgraçado.

Estou no flat com a Paula e ela me conta animada sobre a casa


que viu.
Depois do soco em meu irmão, ele foi embora, mas disse que
nos veríamos com frequência nas últimas semanas. É um infeliz
mesmo.
— Vamos torcer para ser minha. Se não for, eu esgano o Clóvis.
Esgano mesmo. Não queira me ver estressada.
Sorrio e beijo seus lábios.
— Não quero. Tenho medo de você.
Ela me olha desconfiada.
— Ei, o que houve? Está muito estranho desde que chegou.
— Encontrei com o Felipe.
— Isso é bom! — Sorri animada. — Não é?
— Já nem sei mais. Meu irmão é complicado.
— Família é complicada, Alessandro. O importante é que ele
está vivo, não é?
— Tem razão. Mas ele me disse umas coisas, é difícil confiar
nele e ele ainda ferra com tudo.
— Está tudo bem. Não precisa me dizer nada, se não puder. Eu
sei bem como funciona esse mundo dele. E está tudo bem. Porque
eu escolhi você e não ele. Então respeito. Eu quero que sejamos
parceiros em tudo, e vou respeitar cada escolha sua, assim como
quero que respeite as minhas. E quanto menos eu souber desse
mundo dele, será melhor para todos nós. O importante é que
sabemos o que ele faz, então temos base em como lidar com a
situação. Porém, não é válido que você fique assim ou que ele tenha
o poder de sempre estragar tudo, pense nas coisas boas apenas,
porque no fundo o ama muito, e é isso o que deve ser sempre
lembrado. Deixe as coisas caminharem sozinhas, não interfira e não
se culpe.
— Mulher, você deveria ser psicóloga.
— Pensei nisso já, mas não daria certo. Tem dias que nem eu
mesma sei o que dizer. Meus pacientes teriam uma psicóloga
complicada.
— Mas muito gostosa... Amo como faz com que eu me desligue
rápido dos problemas.
— Isso é muito bom. E que tal sairmos para jantar?
— Vamos sim. E converse com seus filhos. Sinto que meu
segurança anda tarando meu rabo!
— Alessandro!
Ela ri e, caralho, risada perfeita dos infernos! Talvez não seja
apenas o recomeço dela, mas também o meu!
— Com quantas mulheres já saiu? — Olho assustado.
— Que merda de pergunta é essa? Um tanto aleatória, não?
— Preciso saber onde estou entrando. Sei um pouco da sua
fama. Mas é sempre bom estar preparada. Sou muito madura até
certo ponto, porque todo mundo tem uma fraqueza e a minha é
quando sou provocada ou subestimada.
— Mulher, mal começamos o relacionamento e já quer
terminar? Porra!
— Tenho que saber. Afinal, tenho que estar preparada para o
caso de todas as mulheres que você iludiu aparecerem.
— Você é louca. E está me assustando.
Ela sorri e me beija. Afasto nossos lábios e digo:
— Muitas. Melhor nem saber da quantidade que eu lembro, e
devo estar esquecendo algumas.
— Ale...
Não deixo que ela termine. Beijo-a e ela se rende em meus
braços. Melhor assim, ou terei um tiro bem no meu pau, já que, às
vezes, surge algumas mulheres do além para infernizar minha vida
em busca de mais algumas rodadas de sexo.
Dezesseis

Paula Escobar

Um mês depois...

Depois de tanta burocracia, muitos papéis assinados e muita


coisa a ser feita, eu finalmente peguei as chaves da minha nova casa,
e sim, David e Liziara compraram a segunda casa. Hoje estou bem
agitada e animada, afinal estamos fazendo a mudança, a antiga casa
foi vendida e temos apenas uma semana para retirarmos tudo. Não
é fácil, mas vamos conseguir. Até porque coloquei todo mundo para
ajudar, até mesmo Alessandro, Débora, Cleber, Frederico e Laerte
entraram nisso, afinal, os dois últimos consideram um bom treino.
Ninguém se salvou. Marcela e Jurema também estão ajudando,
confiscando cada coisa que não deve ser destruída no transporte.
Henrique queria contratar uma empresa para fazer tudo isso.
Mas eu o proibi. Nunca vi filho mais preguiçoso que este. As crianças
estão na casa do Marcos com todas as babás, o que está causando
desespero a ele, por saber que pode pegar fogo ou explodir com
aqueles pequenos “pestinhas”, como ele disse.
Jaqueline e dona Joana vieram também, foi o que eu disse: não
deixei ninguém passar batido.
— Mãe, eu juro que você vai ter um filho com as pernas
quebradas. Dê um jeito no Henrique, ou eu o mato! — Nervosa,
Daiane coloca uma caixa no chão da sala. — Pode levar, Frederico —
ela pede a ele, que leva para fora onde os carros esperam.
Irei levar todos os pertences pessoais, pois esta casa foi
vendida com todos os móveis, já que a outra está mobiliada
também.
— O que ele fez desta vez? — questiono enquanto lacro uma
caixa cheia de documentações que retirei do escritório.
— Ele está sentado sem fazer nada e dando ordens. Eu juro que
se o tio, David e o meu marido o pegarem para socar, eu vou deixar.
— Meu amor, precisa manter a calma. Ele faz isso para
pirraçar.
— Ele é o mais velho, cacete! — rebate indignada.
— Penso nisso o tempo todo — Frederico diz ao entrar. — Por
isso não gosto quando eles visitam os treinos. — Caminha na
direção do escritório, onde Ana e Beatriz ajudam a retirar as coisas.
— Paciência. Apenas, paciência! — peço terminando de lacrar
a caixa.
— Paciência é um dom que poucos tem. Eu vou socá-lo, isso
sim.
— Tudo bem. Eu vou resolver isso. Meu Deus, parecem
crianças!
Subo para o segundo andar. Escuto os xingos do David e
Marcos, e Jacob dizendo que vai matar alguém.
Vou até o quarto que estão e é o meu. Henrique está deitado na
cama, mexendo no celular.
— Eu vou matar a porra do seu filho. É sério! — Marcos diz
apontando para mim.
— Caralho, ele não faz nada! — David está estressado e joga
umas roupas dentro de uma caixa.
— Eu dei a opção de atirar nas bolas dele. — Jacob dá de
ombros.
Olho para as caixas com minhas roupas completamente
jogadas. Eu disse para Daiane manter a calma, mas...
— HENRIQUE ESCOBAR, LEVANTA A BUNDA AGORA DESSA
CAMA E COMECE A AJUDAR! — grito.
Todos me olham assustados.
— Mãe, estou cansado...
— Levanta-se agora! — Me aproximo acertando um tapa nele.
— Vocês três, arrumem minhas coisas direito nessas caixas, ou eu
juro que arranco cada pelo de vocês com uma pinça. Eu não estou
brincando!
— Ele faz a merda, e nós levamos a culpa? — David retruca
indignado.
— Eu deveria ter derrubado ele do berço! — Marcos rebate. —
Por que me impedia quando eu tinha alguma maldade planejada a
ele? Caralho!
— AGORA, SEM CONVERSA. QUERO ISSO TUDO ENCAIXOTADO
E BEM ARRUMADINHO EM MEIA HORA, OU VOU ACABAR COM
VOCÊS! EU SOU CARDÍACA, INFERNO!
Saio do quarto ouvindo-os se xingarem, e Henrique diz que se
encostarem nele, mata todos.
Encontro Liziara e a Débora saindo do antigo quarto do David.
— Paula, meu marido é um tarado! Ele tem revistas cheias de
mulheres nuas guardadas. Como pode? Eu fui traída. Eu quero o
divórcio! — Liziara fala revoltada e Débora ri.
— Como seria um divórcio de algum homem Escobar? —
Débora questiona carregando uma caixa para baixo.
— DIFÍCIL, BEM DIFÍCIL! — grito para ela, que desce as escadas
gargalhando.
— Ele me traiu. Paulinha...
— Meu amor, isso é antigo. Ele nem usa esse quarto há séculos
e você sabe disso.
— Mas por que não jogou isso fora? Eu vou matar o David!
David sai carregando duas caixas e para ao meu lado.
— O que houve? Reunião de família? — ele ergue a
sobrancelha ao questionar.
— Seu filho da puta! — ela xinga. — Perdão, Paula.
— Tudo bem, sempre sobra para as mães...
— O que eu fiz?
Ela retira da sacola as revistas e joga nele, que desvia
inutilmente, pois duas o acertam.
— Caralho, ficou louca?
— Louca é o teu passado. Você é um cretino. Esqueça sexo.
Esqueça tudo. Quero o divórcio.
Ele ri e eu também tenho vontade, mas amo minha vida.
— Não tem divórcio. E são antigas, Liziara.
— Por que, quando se trata do Joaquim, não pensa assim? Ele é
passado, e eu não me masturbei pensando nele, como deve ter feito
com cada mulher nessa revista.
— Agora você me irritou!
— Problema seu, babaca! — Ela dá as costas a ele e sai pisando
firme entrando no quarto e batendo a porta com força.
— Talvez precisemos trocar a porta, antes do novo dono...
— Mãe, que porra eu fiz para aturá-la? Era tão fácil lidar com
ela quando tínhamos apenas uma amizade com sexo, agora eu perdi
as contas de quantas vezes sou ameaçado por dia, e de quantas eu
penso em enforcá-la.
— Simples. A amou e ainda ama muito. Vocês são perfeitos um
para o outro. Se completam.
— É uma porra mesmo! Mas amo demais essa maluquinha —
diz passando por mim e rio.
— MENINOS, MEIA HORA! — grito e desço.

Alessandro e Laerte carregam mais caixas para fora. Cleber


está indo com o David levar algumas para a outra casa. Vejo Pascoal
saindo de fininho.
— Pascoal, nem pense!
— Mas, senhora, eu vou ajudá-los...
— Você vai apenas para mexer nos seus brinquedos
tecnológicos. Pode ficar e ajudar aqui.
— Que vida injusta! — ele reclama, mas volta e segue para o
corredor da biblioteca.

Marcela e Jurema confiscam algumas caixas brigando com os


meninos, por terem lacrado errado.
— Olha, nunca pensei que diria isso. Mas cuidar do Arthur me
cansa menos — Bia diz se jogando no sofá e respirando fundo.
— Eu não sinto minhas belas pernas. Eu vou morrer! — Liziara
reclama ao descer as escadas. Ela caminha para perto do sofá e se
deita no chão.
— Tudo um bando de fracas! — Laerte diz se aproximando do
sofá que a Bia está. — Uma mosca derruba vocês, que vergonha.
— Eu te odeio, é real isso! — Liziara rebate e ele ri.
— Falta pouco. Força, meninas... Cadê a Ana, a Daiane e a
Débora?
— Eu vi algumas mulheres deitadas no chão da cozinha —
Marcos informa entrando na sala e se encosta na escada. — Se
afasta deste sofá, ou eu mato você! — Olha para o Laerte.
Olho para o homem todo tatuado que fechou a cara. Ele já
terminou a parte dele com os meninos e estava confiscando o
restante das coisas. Porém, Marcos Escobar não fica calmo por
muito tempo.
— Você sabe que ela treina comigo, e existe muito corpo... —
Laerte provoca ainda mais.
Marcos leva a mão às costas e ergue um pouco da blusa, o
suficiente para o Laerte sair às pressas e rindo.
— Você não está armado — constato sentando-me no braço do
sofá.
— Não. Mas isso nunca falha. Não preciso de uma arma para
matá-lo.
— Você é um monstro! — Beatriz diz rindo.
— Só não olharem, encostarem e respirarem perto de você.
— Eu diria psicopata, Bia! — Liziara rebate.
— Cala a boca, porra-louca, cuidado que estou para assinar sua
sentença e vai ser longa e peculiar! — Liziara ri do homem que
pouco lhe assusta ou intimida.
— JACOB, EU VOU TE MATAR, FILHO DA PUTA! — um grito
surge e Jacob e Henrique descem que nem loucos as escadas. Jacob
sai em disparada e rindo muito e meu filho o segue como um cão
bravo.
— Sabe, às vezes penso quantos anos os dois têm! — digo
pasma.
— Prontinho. Tudo lacrado na biblioteca. — Jaqueline surge
junto da dona Joana.
— Vão para a nova casa e fiquem de vigia naqueles loucos.
Marcos leva vocês.
— Certo, querida — Joana assente sorridente.
— Virei motorista nessa porra? — Marcos reclama e olho feio
para ele, que revira os olhos. — Vamos.
— Pare de reclamar, homem. Tão lindo e tão rabugento. —
Joana passa por ele, apertando a sua bochecha.
Vejo a raiva no olhar dele, e me controlo para não rir.
— É, juiz delícia, atura ou surta. — Jaqueline segue Joana.
— Tia, tenha modos! — Beatriz grita e rimos, menos Marcos,
que sai xingando todo mundo.
Escutamos um barulho de coisa quebrando aos fundos da casa.
Saímos às pressas.
Chego aos fundos e, para a minha surpresa, é uma caixa que o
Alessandro derrubou com o Frederico. Jacob e Henrique olham
rindo.
— Se fodeu, cara! Eram os quadros que ela mais amava. Minha
mãe vai te chutar e depois eu vou arrancar suas orelhas e costurar
nas suas bolas.
— Alessandro, estou do lado dele. Dessa vez, você se lascou!
— Porra, não tenho ninguém ao meu favor? — Alessandro
reclama.
— Não. Porque você derrubou. Eu pedi para segurar essa
merda. — Frederico olha furioso.
— Seu mamute do caralho, você não disse que embalaram essa
merda igual o ra...
— EPA! Eu embalei. Respeita meu talento, idiota! — Henrique
rebate.
Pigarreio e eles se viram assustados. As meninas riem.
— Amor... Morena... Gata... Mulherão da porra...
— Você está piorando tudo. Ela está fazendo a cara que a
Daiane faz quando quer me matar.
— Não ajuda? Então não atrapalha, Jacob! — Alessandro diz se
aproximando e ergo as mãos e ele se afasta.
— Ele se fodeu! — Frederico diz cruzando os braços.
— Paulinha, deveria ter contratado a empresa. Eu fiz isso e vão
arrumar tudo a partir de amanhã. A mudança vai ser tranquila. Sem
estresse, porque já basta o David estressadinho e as meninas me
enlouquecendo.
— Mãe, eu embalei muito bem...
— Calado... Todos calados. Eu vou entrar, terminar o restante
das coisas e quero todos em silêncio até o final do dia. Eu vou sair
daqui e respirar fundo. Ninguém abre a porcaria da boca. Estou
saindo.
Me viro respirando fundo e saio lentamente sob o silêncio,
menos da Liziara que tenta controlar o riso, mas começa a tossir e
se engasga. Beatriz a manda parar e ri baixinho.
Entro na sala e volto a fazer as coisas, ou irei matar todo
mundo.
Alessandro Santos

Paula não parece muito feliz. Seu olhar diz que a qualquer
instante ela pode matar alguém, prova disso que expulsou a todos
da nova casa e disse que faria tudo sozinha, mas a Marcela e Jurema
disseram que ficariam e ajudariam, não deram ouvidos a mulher
bastante estressada, e estão na cozinha organizando as coisas.
Eu já havia vindo aqui durante o processo da compra da casa e
sou apaixonado pelo lugar. É incrível. Ela tem um bom gosto. Mas
foda-se a casa, quero saber da mulher a minha frente!
— Você vai continuar com essa cara emburrada? Porque
preciso saber se vou ficar aqui o dia todo com você assim, pois
prefiro aturar a Irene me xingando — digo com sinceridade e ela
me olha feio. O arrependimento bateu forte agora, ela vai me matar
nessa porra.
— Só estou brava porque vocês são terríveis e me
enlouquecem demais.
Me aproximo e abraço-a por trás.
— Não tente me agradar.
— Longe de mim. — Beijo seu pescoço e sinto seus ombros
relaxarem. — Os últimos dias foram corridos, você precisa relaxar.
— Não... enquanto não estiver tudo ajeitado.
— Estou sem seu corpo há dias. Isso é tortura. — Viro-a
deixando de frente para mim, e pressiono seu corpo ao meu.
— Não diga essas coisas, e alto. Marcela e Jurema podem ouvir
e os seguranças também.
— Foda-se! Eu sei como te fazer relaxar e sabe disso. — Levo a
mão a sua nuca e aproximo meu rosto.
— Aqui não, estamos na sala.
— Assim que é mais divertido.
— Ale...
Não deixo que termine de falar. Beijo sua boca com vontade.
Meu corpo reage ao contato rapidamente. Caralho, estou há dias
sem ela. Caminho levando-a até o sofá, sem tirar os lábios dos seus.
Fico entre suas pernas, onde seu vestido já curto – essa porra é
curta demais – sobe ainda mais. Ela afasta os lábios lentamente e
sorri.
— Você é louco. Sorte que as câmeras da casa vão ser ligadas à
noite pelos meninos com a equipe.
— Daríamos um belo show. — Sorrio e esfrego meu pau nela,
que geme baixinho.
— Marcela e Jurema vão ter um treco. É sério.
— Eu já disse que foda-se! Eu preciso de você.
Levo a mão entre suas pernas e esfrego sua boceta, fazendo-a
gemer ainda mais. Aproximo os lábios de seu ouvido e mordo sua
orelha de leve.
— Vou fodê-la nesta sala e agora... Porra, que saudade!
— Alessandro, você é louco... — Sua voz é trêmula. Ela sorri.
Afasto-me o suficiente para retirar sua calcinha e deixar de
lado. Ela olha para os lados e sorrio.
— Perigoso é mais gostoso, nunca ouviu dizer? — indago
abrindo a calça e abaixando o suficiente junto com a cueca.
Seus olhos vão direto para o meu pau e ela morde o lábio.
Safada, ela quer tanto quanto eu e ficou torturando a nós dois nos
últimos dias.
Fico entre suas pernas mais uma vez, e encaixo meu pau em
sua entrada molhada. Deixo uma mão em seu rosto e a outra, uso de
apoio ao lado de sua cabeça. Levo meus lábios aos seus, e penetro-a
de uma vez. Seu gemido é abafado por mim. Suas mãos agarram
minhas costas e suas pernas me contornam. Afasto os nossos lábios
e começo a movimentar-me rápido e forte, ela acompanha e morde
o lábio, mas suas tentativas de diminuir os gemidos são inúteis,
assim como as minhas.
— Amo seu corpo, sua boceta... Amo você, Paula — falo em seu
ouvido e ela geme alto desta vez, enquanto suas mãos me apertam
ainda mais.
— É tão bom... Também amo... — geme. — Amo você.
Sentir meu pau dentro dela é delicioso demais. Sua boceta é
quente, e ela me aperta muito. É uma sensação do caralho.
Nossa respiração é irregular. Meus movimentos são brutos e o
calor de sua boceta, os gemidos tímidos que saem de seus lábios,
suas expressões, todo o conjunto está me deixando ainda mais
louco.
Levo as mãos por baixo de seu corpo, elevando-o um pouco e
deixando as estocadas ainda mais profundas. Agarra meu pescoço e
esconde o rosto nele. Sua respiração quente e rápida me causa
arrepios pelo corpo inteiro.
— Goza comigo, meu amor.
Ela xinga entre os gemidos insanos.
Saio de dentro dela e penetro de uma vez novamente. Repito
isso algumas vezes, e seu corpo fica rígido. Ela me aperta com mais
força. Sua boceta contrai ainda mais meu pau.
— Caralho! — xingo e seu corpo começa a tremer. Gozo com
ela, derramando todo o meu prazer dentro dela, que me envolve em
um deslizar perfeito.
Ficamos abraçados por alguns minutos, recuperando nossas
forças e fôlego.
— Você é louco, muito louco e vai me enlouquecer...
— Meu destino é fazer exatamente isso a você. — Beijo com
carinho seus lábios e sorrio.
— Obrigada, por fazer parte da minha vida. Por ser incrível.
Você é maravilhoso, Alessandro.
— Nunca acreditei na redenção de um homem que leva a vida
como eu, mas hoje entendo que ele precisa apenas encontrar a
pessoa certa. Encontrei você, e porra, que sorte a minha!
Ela sorri e segura meu rosto.
— Eu te amo e me sinto muito bem em lhe dizer isso.
— Eu também te amo, meu mulherão da porra!
Sorrimos.
Se eu tivesse apostado, teria perdido. Era para ser apenas uma
noite, eu planejei isso desde que a vi na boate pela primeira vez,
mas caralho de destino. E tenho que agradecê-lo, porque desta vez
ele caprichou demais. Não é apenas o recomeço dela, é o meu e isso
é um fato.
— Meu recomeço... sempre foi você. — Beijo-a com carinho.
Preciso levá-la para o quarto, porque meu pau quer
comemorar muito essa nova fase. Sou um safado incurável.
Sempre foi ela. Desde que a conheci, meu olhar, pensamentos,
desejos e coração foram dela, e fui um idiota em notar apenas
agora. Mas ainda bem que descobri a tempo.
— Meu recomeço — ela repete e sorri.
Epílogo 1

PAULA SANTOS

Dois anos depois...

Olho o brilho dourado em meu dedo anelar esquerdo e só


consigo sorrir. Mais uma nova etapa. Os últimos anos foram difíceis,
enfrentei céu e inferno, passei tudo o que poderia e não poderia
imaginar. Mas então, quando achei que tudo estava perdido, eu vi
uma nova chance, e tive que agarrar. Dois anos atrás, Alessandro
provou que faria tudo por mim, quando se colocou em risco por
mim e minha família, e sinto orgulho disso. Eu encontrei a paz
novamente, o amor de outro alguém, mesmo que dentro do meu
coração sempre existirá um homem que eu amei muito, e me fez
muito feliz em nossa jornada. Porém, eu estou amando uma vez
mais.
Esses dois anos foram de aprendizados, brigas, risos, choros,
algumas perseguições, porque ninguém disse que ter uma família
chamada Escobar seria fácil, e muito menos que todos que entrasse
nela trariam bagagens pesadas. Mas seguimos fortes.
Vejo minha família reunida para o simples almoço de
casamento que Alessandro e eu optamos. Todos aqui, e sinto tanto
orgulho, até mesmo em ver o Felipe; mesmo ele tendo uma vida
dupla é parte disso tudo, e ao que parece, uma parte muito boa para
Jaqueline, que está saindo com ele um bom tempo, e tem dito para
todos que “até que enfim sobrou um homem bonito a ela”. Às vezes
penso que o fato dele pertencer a uma máfia, deixou tudo mais
atraente a ela, que ama uma adrenalina, e o fato dele ser cirurgião
também, já que ela também é uma, só que de área diferente.
Enfim, Alessandro me pediu em casamento há dois meses e foi
tão natural, sem nada elaborado. Ele apenas perguntou se eu me
casaria com ele e eu disse que sim, e cá estamos nós como marido e
mulher.
Estamos sentados na área de lazer aos fundos da nova casa, e
todos se divertem. Até mesmo Cleber e Débora estão presentes,
afinal são parte dessa nossa jornada.
— Olha, eu fico feliz por ter um dia livre. Tenho estudado
tanto, que penso que poderei endoidar a qualquer instante! —
Liziara reclama.
— Escolheu ser delegada. Se prepara! — David diz ao abraçá-la
por trás.
As crianças brincam entre si, com um Arthur emburrado, pois
tem um enorme ciúme de sua prima Laís, são muito apegados; e ao
que parece Laís gosta bastante do Eric, filho da Débora e do Cleber.
— Mãe, estou tão feliz pela senhora — Daiane diz e sorrio.
— Fico feliz em saber que vocês nos apoiaram em tudo.
— Eu não apoiei em nada. Ainda não gosto desse cara. Na
verdade, nem do Jacob. Por que não chutamos ambos? — Henrique
rebate e Ana acerta um tapa nele.
— Supera, pois dessa mulher aqui eu não largo. — Meu marido
beija meu rosto.
— Daiane está certa. Estamos felizes pela senhora. Mas saiba
que, se ele te fizer sofrer, morre — David avisa sério.
— Ele não vai fazer nada. Alessandro não machucaria nem
uma mosca! — Felipe provoca o irmão, que o olha feio e acabo
sorrindo.
— Paula, você merece. E não liga para esses idiotas! — Beatriz
fala e Marcos passa o braço por sua cintura.
— É tão lindo ver isso... Eu acompanhei muitas coisas dessa
família, e sonhei com o dia em que eu fosse ver a felicidade de
todos... Merda, vou chorar! — Débora diz abanando o rosto, fazendo
todos sorrir.
— Ela tem razão. Vocês todos merecem essa felicidade —
Cleber afirma.
— Ninguém disse que tudo é fácil, mas podemos tornar as
coisas o mais simples possível. Quando meu neto se apaixonou por
Daiane, eu sabia que ele estava entrando na melhor família que
poderia existir. Vocês são especiais — Joana fala e o neto deixa um
beijo no topo de sua cabeça. — E eu sempre soube que Paula e
Alessandro terminariam juntos, porque no casamento da Daiane eu
vi a forma como ele a olhava. Havia uma coisa diferente: era amor,
carinho. Por isso avisei que deixassem o tempo cuidar. Eu disse
naquele dia que eu tinha notado algo, mas nunca disse o quê,
porque não era o que alguns viam, eu enxerguei além, e me
emociono por ver o resultado hoje.
Sorrimos emocionados com suas palavras.
— E vocês têm um imã que atrai homens gostosos, obrigada...
Eu peguei esse imã — Jaqueline diz e agarra o braço do Felipe, que
revira os olhos e dá uma sorriso disfarçado.
— Se um dia dissessem que eu veria essa família desse
jeitinho, eu não acreditaria — digo emocionada.
— É, Alessandro, quem diria? Você casado! — Jacob diz.
— Para você ver. Por livre e espontânea pressão — meu
esposo responde e acerto seu braço.
— Eu sou cardíaca, homem. Não brinca assim.
Ele sorri e beija meus lábios com carinho.
— AI, MEU DEUS! YASMIM, NÃO PODE! — Ana sai correndo em
direção à filha, que acerta um brinquedo no Arthur.
— Acho que já vi isso antes. — Henrique sorri.
— Essa geração vai dar trabalho — comento.
— Nem me diga! — Marcos concorda e olha na direção da
barriga da esposa. Sim, Beatriz carrega mais uma criança e, desta
vez, vem uma princesinha: Agatha. — Estou bem fodido!
— Estava na hora de se lascar também, era injusto ser o único
a ter um menino! — David retruca. Marcos o fuzila com o olhar.
Eu gostaria de poder eternizar esse momento. Pois não sei
nosso dia de amanhã, afinal tudo nesta família é sempre
imprevisível demais.
— Quando iremos pular para a lua de mel? — Alessandro
cochicha em meu ouvido e começo a rir.
— Deixa de ser safado — sussurro.

Depois do almoço preparado pelo buffet, estamos reunidos na


sala, onde Jacob toca em seu violão e canta. Amo quando meu
menino faz isso.

Amor sincero tenho dentro de mim


Pra te dar, é só você querer e arriscar
Pois não é ilusão, nem tampouco atração
É mais forte do que pode pensar
Não sabe o quanto já sofri por amor
Conheço bem essa dor que destrói
E causa insegurança demais
Pra você superar, tem que uma chance se dar
E não ter medo de se apaixonar
Deixa eu te amar...

A música flui lindamente por sua voz, e aprecio.


— Exibido! — Henrique resmunga ao meu lado e acabo rindo.
Cada criança está com seus pais, e é lindo ver essa união. A
união que sempre desejo.
Assim que a música encerra peço a atenção a todos.
— Não foi fácil. Mas chegamos até aqui. Não sabemos se esta
pode ser a última vez que estaremos juntos, é difícil, mas é a nossa
realidade. Porém, eu tenho orgulho demais de todos nós. Passamos
por tantas tempestades, e com elas perdemos algumas pessoas... Se
tivessem dito que teríamos que enfrentar tantas coisas, talvez a
emoção e aprendizados não teriam nos acompanhado. Viramos
exemplo para tantas pessoas, mesmo que a mídia insista em nos
atacar algumas vezes. Muitos acompanham a nossa família como se
fôssemos algum tipo de inspiração. Eu poderia dizer que é algo
bom, mas sabemos que nem sempre vai ser. Não somos perfeitos e
estamos longe de ser. Mas somos a família da lei, somos muito mais
que um nome, somos bem mais que a fama que o sobrenome
Escobar carrega. Somos humanos, em busca do melhor. E sei que
sempre dizem do orgulho que sentem de mim, porém sou eu que
tenho um enorme orgulho por ter todos vocês, que são meus
maiores presentes. São minhas joias raras, e por essa família eu
enfrentaria tudo novamente, apenas para ter mais momentos como
este.
As lágrimas escorrem pelo meu rosto e não me importo. Deixo-
as serem livres. Todos estão emocionados.
— Quando eu vi essa mulher ao meu lado, não enxerguei seu
sobrenome, poder, fama... Eu vi uma mulher linda, guerreira e que
hoje tenho o orgulho de chamar de esposa — Alessandro diz e
enxuga meu rosto com carinho.
— Somos os Escobar, Casagrande, Santos... — Henrique olha
para o Cleber e a Débora e completa: — Fernandez... Somos uma
grande família, e cheia de loucuras e problemas, teremos sempre
uma vida agitada e no final teremos essa união, podem contar com
isso sempre.
— O pateta tem razão. Sempre iremos estar juntos — Daiane
diz chorosa.
— Nesses anos, eu pude aprender muitas coisas. Algumas
pessoas pensam que não tenho medo, mas todos os dias sinto o
medo de perder algum de vocês, então iremos sim valorizar muito
esses momentos. E porra, não façam merda, estamos sem grandes
confusões por um tempo até longo, então não fodam com nada! —
Marcos diz do seu jeitinho que sempre irei amar.
— Lembrando que no ataque da semana passada, Henrique
fodeu seu carro — David se refere a alguns inimigos que Henrique
adquiriu no último caso que pegou. Nada que não pudessem dar um
jeito ou que fosse acabar com a paz que está reinando nos últimos
tempos.
— Não me lembre dessa merda. Ainda não acredito que esse
puto, com a porra de uma boa mira, acertou meu carro!
— E minha parede que até hoje o juiz não consertou? Atira e
não arruma. Foda! Por sorte visito muito pouco o apartamento onde
deixou aquela marca de dor, brutalidade... Irene sempre me lembra
do quanto ninguém valoriza a parede também...
— Cala a boca, Alessandro! — digo entredentes para ele, que
sorri, enquanto Marcos o encara bem nervoso.
— Obrigado, David, por colocar meu rabo na mira da arma do
homem estressado, vulgo Marcos. — Henrique revira os olhos.
— Não tem pelo que agradecer, meu irmão. — David sorri.
— Viu, sogrinha, sou o único anjinho aqui. — Jacob dá uma
piscadela.
— Anjinho, onde? Peste do jeito que é! — Joana rebate e revira
os olhos.
— Mas o tio Henrique se supera! — Sophie ri e Henrique fica
boquiaberto.
— Até você? Cadê nossa parceria, pirralha?
— Sempre parceiros. — Eles fazem um cumprimento louco que
nunca vou entender como decoraram.
— Ele roubou minha filha. Odeio ele... Vem, Yasmim! — Jacob
diz e a ruivinha corre até ele animada.
— Titio! — diz quando ele a pega no colo.
Essas crianças estão crescendo rápido demais.
Arthur e Eric conversam na língua deles, pois só se entende
uma coisa ou outra, e Laís fica grudada ao primo.
— Marcos, não nos contou, já arrumou o plano de segurança da
Agatha? Porque, meu querido, chegou a sua vez de surtar. — Lizi ri.
— Não o lembre disso! — Beatriz pede nervosa.
— Por isso ele perguntou se eu conhecia algum colégio de
freiras — Débora comenta. — Logo eu, a impureza.
Rimos e Marcos olha feio.
— Vou ensinar a essas crianças os prazeres da vida, quando
forem adultos — Alessandro provoca.
— E te matamos! — os outros dizem juntos.
— Viu, Alessandro? E depois eu que tenho instinto assassino —
Felipe ironiza e bebe um gole de seu champanhe. — Porra de bebida
fraca!
Como eu amo essa família, até mesmo o jeito louco do Felipe,
que quando aparece por aqui respeita, mesmo que às vezes saiam
faíscas e o Alessandro interfira, como se existisse algum assunto
secreto entre eles. Porém, isso não interfere em nada na nossa
relação, acho até melhor.
Eles discutem entre si, um provocando o outro e sorrio. Daiane
diz que agora que sabe atirar muito bem, não vai recuar se eles
continuarem irritando-a. Liziara fala que está ao lado dela,
enquanto Ana, Débora e Bia riem. Joana palpita e quando não
escutam, acerta um tapa neles, e Jaqueline está ao lado do Felipe,
deixando suas pérolas escaparem.
— Adora essas confusões, né?
— Não sabe como, Ale...
Ele me puxa para um canto mais tranquilo da sala onde me
beija com paixão e retribuo da mesma forma.
— Eu te amo, meu mulherão da porra!
— Eu também te amo, meu professor.
Olho mais uma vez para todos ali e respiro aliviada. Essa
família tem tantas coisas a serem ditas que cinco livros não seriam
suficientes. A cada dia é uma nova história. Não tem como ter um
dia entediante ao lado de todos. Todos aprendemos tanto nesses
anos, e eles me ensinaram tanto. Com o Henrique aprendi que até
mesmo nas situações difíceis podem se tirar algo bom que nos faça
sorrir. David e Marcos me ensinaram que o orgulho não leva a nada,
e ser nós mesmos é o que torna tudo épico. Jacob me fez ver que se
não arriscarmos, nada teremos. Felipe, até esse doido, me ensinou
algo, como aprender a confiar nas pessoas certas. Todas as
mulheres me ensinaram a ser mais forte, porque nada será
tranquilo o tempo todo e temos que estar preparados para tudo.
Essas crianças, sim, até esses pequenos me ensinaram algo, o amor
puro e sincero e a alegria dos momentos mais simples. E meu
marido me ensinou a recomeçar, a amar mais uma vez e a valorizar-
me a cada instante, ele me ensinou a resiliência, depois de tantas
tristezas.
Mas teve uma coisa que apenas a vida e a dor me ensinaram:
ser uma mulher que sabe o quer, quando quer e como quer. Eu
aprendi que sou e sempre serei a matriarca desta família, e que isso
jamais deveria ter me colocado medo, porque é uma honra.
Seja eu uma Assis, Escobar ou Santos, eu sempre serei uma só,
que aprendeu que é nos pequenos detalhes que a vida costuma ser
mais surpreendente.
Não é apenas o meu recomeço, é o de todos nós. E não é o fim, é
apenas o início de uma nova etapa e de uma nova geração.
Epílogo 2

ARTHUR ESCOBAR

Muitos anos depois...

Porra! É sempre assim aonde vamos, os malditos fofoqueiros


das revistas não perdem uma, e não sabem nem disfarçar esse
inferno. Amanhã tenho certeza de que a primeira a dizer onde
estamos será a maldita “Belos e famosos”; se eu pego o dono dela,
estrangulo.

A área VIP está abarrotada de seguranças, sempre assim, é o


efeito Escobar.

— Sabe, primo... O Eric vai vir mesmo? — Laís questiona e bebe


sua bebida.

— Ele disse que viria. E pare com isso ou saio te arrastando


pelo cabelo daqui.

— Deixa de ser ogro! Não nega ser filho do tio Marcos — diz
com seu jeitinho doce, assim como o de sua mãe, a tia Ana.

— Arthur tem que parar de ferrar nossos futuros namoros,


toda vez ele faz isso. E ainda está no último ano de faculdade, e por
conta disso diz que é sem tempo. Imagine se tivesse mais tempo! —
Yasmim reclama e posiciona o celular para fazer uma foto dela. Essa
ruiva é irritante.

— Mais irritante que o Arthur, só nossos pais. Acreditam que


meu pai colocou à paisanas na nossa cola? David Escobar é um
homem louco! — Laura reclama.

— Ele está certo. Ambas estão saidinhas demais. Que tanto


fazem naquela faculdade? Porque tudo de vocês é que estão indo
para lá.

— Moda, Arthur. M.O.D.A! — Helena se altera e revira os olhos.

— Viram a nova arma que está na moda? Vou testá-la para


entenderem o tipo de moda que gosto... E cadê a porra da minha
irmã nesse inferno? Eu vou socar a Agatha!

— Meu Deus, deixe de controlar todo mundo. Ela foi ao


banheiro. E nem me olhe com essa cara, sou a mais velha aqui e
posso mandar em todos — Sophie responde.

— Não lembro de ter questionado sua idade.

— Você tem certeza de que vai seguir Psicologia? Porque não é


a pessoa mais paciente! — Laís rebate e as outras riem.

Sim, eu escolhi algo bem diferente dos homens da família


Escobar, e me apoiaram, assim como apoiaram as gêmeas no sonho
de serem estilistas e Laís em ser veterinária. Sophie escolheu ser
advogada trabalhista e já se formou e passou na temida OAB, a
menina é inteligente demais. Já minha irmã seguiu o lado da minha
mãe, ama administração e tem o sonho de um dia ter um banco
também assim como nossa mãe que é dona de um, e sabe
administrá-lo da melhor forma.

Agatha aparece cheia de sorrisos.

— Não estou gostando disso na sua cara!

— O quê? Minha beleza? — provoca.

— Risinho de quem aprontou.

— Cala a boca, seu irritante! — ela reclama e se senta ao meu


lado.

— Vocês são a perdição dessa família! — digo e bebo o restante


do meu White Russian.

— Vamos mudar de assunto... Cadê? — Helena questiona


apontando para Laís.

Observo as loucas sem entender nada.

— Aqui. — A Laís mostra a foto no celular e fico olhando.

— É lindinha — Helena diz e as outras concordam.

— Vai tatuar esse pontinho? — questiono.

Olha, essas meninas são lindas, maravilhosas, mas têm umas


ideias preocupantes.

— É um coraçãozinho, Arthur. Seu ogro.

— Isso é um coração? Em que mundo?

— Claro que é. Ela quer começar com algo pequeno. Diferente


de você, que fechou todo o braço direito e a perna esquerda —
minha irmã diz e me mostra a língua. Voltamos ao primário?
— Me jogo de cabeça no que tem que ser feito.

— A mamãe diz que daqui uns dias só vai ver seu olho, pois
está indo pelo mesmo caminho do papai.

— Mamãe é exagerada! — rebato.

— Não mais que a minha. Quando meu pai fez uma tatuagem,
ela surtou. Falou que se casou com um gibi humano, sendo que foi
apenas uma.

— Laura, tia Liziara é louca. Ainda não sei como conseguiu ser
nomeada a melhor delegada do país.

— Nem nós entendemos! — as gêmeas respondem em


uníssono e rimos.

— Adoro quando acontece essas coisas de vocês falarem


juntas, saírem com roupas iguais, sem querer... É loucura, e muito
divertido — Sophie diz animada.

— Por falar em nossos pais, meu pai está louco comigo, porque
não estou indo aos treinos — Yasmim diz desanimada.

— Ele está certo. Não importa a profissão que cada um tenha


escolhido, os treinos são fundamentais para a nossa segurança. Eles
não são mais jovens, não vão estar sempre aqui como também não
são capazes de agirem da mesma forma. Não podemos estragar isso.

— Ao que parece, já estragamos, Tutu. A mídia vive para nos


difamar — Laís diz.

— Primeiro, se me chamar de Tutu novamente, eu te esgano. E


segundo, que se foda a mídia!
— Não pensou assim quando te chamaram de Don Juan Escobar
— Laura provoca.

Se eu matar alguma das minhas primas ou irmã, eu serei muito


ruim?

Vejo Eric entrar na área VIP e cumprimentar uns seguranças.


Porra, demorou!

— Cheguei para a alegria de todos — ele cumprimenta cada


uma e na vez da Laís, ela fica vermelha.

Inferno, amo todas as minhas primas, mas por ter idade


próxima da Laís acredito que tivemos mais conexão, e tenho um
ciúme ainda maior por ela, porque sempre a protegi desde
pequena, assim como fiz com Agatha, porque com as gêmeas,
Yasmim e Sophie passo raiva triplicada. Conheço a fama do meu
amigo, e não quero minha menininha sofrendo, pois ela é
romântica, acredita em finais felizes, tem uma pureza linda e Eric
pode foder tudo.

— Veio a pé? — questiono e ele ri se sentando ao lado da


Sophie.

— Nem demorei tanto. Peguei trânsito. E tive que resolver


alguns assuntos na faculdade. Último ano, logo esse inferno
termina.

Ele quer ser delegado, ama o meio policial. É engraçado até,


porque também amo essa vida louca que levamos, mas sempre amei
observar as pessoas, suas expressões corporais e entender a mente
delas, por isso escolhi psicologia.
— Assume que o assunto era mulher, porque hoje é domingo,
idiota! — rebato.

— O que dizer? Sou um cara muito estudioso — diz rindo.

Yasmim passa o braço ao redor da irmã e finge mostrar algo a


ela no celular. É sempre assim, ele com suas novas conquistas e Laís
amando-o de longe.

— Vamos dançar? Antes que a patrulha do estraga momento


surja aqui. — Agatha se levanta.

E ela tem razão. Da última vez alguns membros da família


como meus tios – sei que somos primos, mas chamo todos de tios
assim como Paula, que eu chamo de avó, e o Felipe de avô – Jacob,
Daiane e Liziara surgiram para conferir porque demorávamos, e
digamos que a delegada Liziara não é muito discreta.

Levantamo-nos e descemos com os seguranças nos seguindo.


Vamos para a pista onde uma garota se aproxima tentando chamar
minha atenção, e porra, odeio isso. Não gosto que fiquem tentando
se mostrar para mim, eu gosto de enxergar o diferente, o que me
atrai. Deve ser algo que herdei do meu pai, porra, herdei muita
coisa dele e não posso negar. Desvio dela, e sigo para perto dos
meus primos. Eric dança com uma garota que surgiu da casa do
caralho ao lado dele.

Laís se afasta e passa pelas primas que tentam falar com ela,
mas a pequena faz sinal que quer ficar sozinha.

E ainda questionam por que quero ser psicólogo. Tenho que


resolver as merdas de toda essa nova geração. Mas é assim mesmo,
e amo esses porras, mesmo quando me deixam louco. Olho para a
minha irmã e dou um sinal de observação, e ela dá de ombros, meu
pai deveria ter mandado ela para o tal colégio de freiras que passou
a infância e adolescência dela dizendo e minha mãe o xingando.

Sigo atrás da pequena ciumenta. Porra, era só o que me faltava,


ser psicólogo do amor, logo eu que fujo disso.

Nessa família acontece de tudo, puta merda...

Vejo os seguranças fazerem sinal e falarem no ponto de escuta.

— Estava demorando...

A noite tranquila acabou. Chamo as meninas e o Eric. Vou atrás


da Laís para sairmos logo daqui.

Queria entender por que meu pai e meus tios pegam casos com
pessoas loucas ao extremo? Sempre sobra para nós, pois a nova
geração está no destaque. Puta merda! Por que não se aposentam
logo? Meu Deus!

Vejo Simon dando as coordenadas.

— Se aposente, homem! — digo para ele, que parece um louco


e nada com um homem de... Qual a idade desse ser? Não envelhece
não? Caralho!

— Enquanto eu respirar, não.

Parece que fica mais forte a cada ano e isso me assusta, sério, e
poucas coisas me assustam.

— O que houve dessa vez?


— Estão cercando a boate... Querem vocês... Nada de novo.
Vamos.

— Mentira, sempre tem algo novo. Da última vez, Sophie


quebrou o braço e fez a porra de um escândalo, que mais parecia
que era o fim do mundo, e caralho, ela grita muito. E Yasmim bateu
o carro, e causou um grande engavetamento. Não podemos
esquecer que as gêmeas em uma fuga derrubaram dois inocentes,
sendo um deles cadeirante. Laís é a que menos dá trabalho nisso.

— É, sempre tem algo novo, então. — Ele sorri.

Saio à procura da minha prima. Eric xinga que só se fode por


ser próximo de nós.

Cacete, não é hoje que terminarei a noite do melhor jeito. Mas


não trocaria esses momentos loucos por nada, afinal faz parte de
quem somos. Faz parte de sermos Escobar.

E lá vamos nós... Maldição.

REVISTA ON-LINE BELOS E FAMOSOS

NOTÍCIA MAIS VISITADA DO DIA:

“NOVA GERAÇÃO DOS ESCOBAR EM BOATE MAIS FAMOSA DA


CIDADE”

Não é novidade para ninguém que a nova geração dos herdeiros Escobar
tem dado o que falar. E desta vez marcaram presença na boate mais
famosa da cidade, e podem gritar corações apaixonados, todos juntinhos e
solteiros.

Até mesmo Eric Fernandez (filho de umas das advogadas mais requisitadas
e do investigador mais conhecido) esteve com eles.

Mas ao que parece a vida deles não anda tão tranquila. Assim como no
passado, a família continua enfrentando diversas perseguições, e ao que
tudo indica a saída repentina foi em questão disso.

Mas a pergunta que não quer calar é: Quando veremos esses jovens dando
o que falar em busca dos seus grandes amores?

Vai dar trabalho essa geração, e é ótimo, porque estamos cansados da


tranquilidade dos mais velhos da família, que já renderam muitos assuntos
para nós.

Confiram as fotos que conseguimos deles:

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Comentários mais recentes:

Lali: Essa família sempre com assuntos. Meus pais acompanharam a


geração antiga e a fama continua, pois até eu os conheço. Como a Sophie
está cada vez mais linda. Todos são lindos.
Rafinha: Esse Arthur é um pedaço de mau caminho assim como o pai, que,
quanto mais velho, mais gostoso fica.

Luan: Essas gêmeas são lindas demais, porra!

Babi: Laís sempre com cara de anjinho, essa menina tem jeito de sonsa.
Mas esse primo dela e o Eric, gatos demais, eu pegava.

Resposta a Babi:

Precisa ver se eles iriam querer você. E a Laís é fofinha, tem seu charme,
assim como as outras! Menos recalque, e mais amor.

Paul: Agatha é a mais bonita. Que sorriso do caralho!


Agradecimentos

Nesses anos escrevendo essa série, eu sempre achei difícil


fazer os agradecimentos. Mas neste livro, ele flui tão tranquilo.

O primeiro lugar será sempre a Deus, porque Ele sim é a


principal base de apoio que eu poderia ter, então meu muito
obrigada ao Papai.

Liziara e Beatriz, o que dizer de vocês? Embarcaram nessa


loucura que deu certo e foi graças a vocês que as inspirações
vieram, mesmo quando o mundo estava desabando. Vocês não têm
ideia do orgulho que tenho em ter vocês como amigas e da emoção
que carrego no peito por terem me dado tanto incentivo e
acreditarem nessa série. Amo vocês demais.

Claro que eu vou agradecer ao apoio da Mariana Coelho, que


chegou de mansinho na minha vida, e olha, fez grandes mudanças.
Me escutou, surtou junto comigo, me amparou, cuidou de mim como
uma irmã e ainda me arranca lindos sorrisos de manhã com seus
“bom dia” no WhatsApp. Mais uma amiga-irmã, que me ajudou nessa
fase final da série.

Meu amor, Wesley Ferraz, mesmo me irritando, você me


apoiou, ajudou em muitas cenas que envolviam carros e foi paciente
nos meus surtos, madrugadas sem dormir, e passeios cancelados.
Eu te amo, e você acompanhou tudo, mesmo não lendo nada, e eu
brigando com você por isso, e fazendo você escutar cada trecho que
eu considerei o melhor.
A Kira Baptista, essa pessoa especial que me ajuda muito nas
divulgações, me arranca boas risadas, me compreende porque suas
loucuras são como as minhas, e que do seu jeitinho me fez sentir
especial.

Editora Angel, nem preciso dizer muito, vocês tornaram tudo


isso real. Vocês são demais e, sem vocês, talvez esses livros nunca
fossem para as mãos de ninguém.

Leitoras que me amam tanto, que me apelidaram de


“Malévola”, obrigada, mil vezes obrigada, por acreditarem nessa
família louca e tornarem isso tudo maior a cada ano. Vocês são
parte disso tudo e uma parte importante demais.

Enfim, obrigada a você que acompanhou tudo até aqui. Espero


que tenha valido a pena.

Respiro aliviada sabendo que dei o meu melhor, e espero


sempre continuar assim. Não é o fim, é apenas a hora de dizer “até
logo”, porque os Escobar sempre vão estar dentro de cada coração,
deixando sua marca registrada, e isso os tornará eternos.

Com amor,

Deby Incour.

#SérieEscobarParaSempre
Biografia
Deby Incour é brasileira e começou a escrever em 2014 e
desde então nunca mais parou. Seus livros foram publicados no
Wattpad e renderam milhares de leituras. Em 2016 se destacou
ainda mais com a Série Escobar, se tornando autora bestseller com
o primeiro livro da série na Amazon brasileira. Sempre amou o
mundo do “era uma vez”, e poder criar o seu próprio foi como ter
uma varinha mágica ou um gênio da lâmpada realizando seus
desejos. Também é completamente apaixonada por romances de
época, onde sonha com bailes e vestidos bufantes. Adora tirar fotos,
e assistir filmes clichês como as famosas comédias românticas.
Porém, é quando escreve ou lê que tudo fica perfeito, além de
escutar músicas e cantar na ilusão de que faz isso muito bem.

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