Noções de Direito para Segurança Privada
Noções de Direito para Segurança Privada
Noções de Direito para Segurança Privada
para Segurança
Privada
Prof. Pedro Henrique Nascimento Zanon
Indaial – 2021
1a Edição
Elaboração:
Prof. Pedro Henrique Nascimento Zanon
Z33n
ISBN 978-65-5663-957-4
ISBN Digital 978-65-5663-958-1
CDD 342
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Noções de Direito para
Segurança Privada. Abordaremos o Direito Constitucional e as normas internas e
estruturais fundamentais da República; o Direito Penal, com ênfase nos princípios que
devem ser respeitados para o convívio social harmônico (vida, liberdade, intimidade,
propriedade etc.). Estudaremos também as leis e as normas fundamentais que regem
o Direito Administrativo, com o objetivo de explicar os serviços públicos prestados pelo
Estado à sociedade a fim de garantir o bem social comum. E, por fim, compreenderemos
as principais obrigações e direitos do trabalhador de acordo com a Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT).
Portanto, esperamos que faça bom proveito das leituras, dicas e aprendizados
que irá ver a seguir.
QR CODE
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e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR
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ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS........................................................................................................52
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 110
TÓPICO 3 — JORNADA..........................................................................................131
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................131
2 ESPÉCIES DE JORNADA................................................................................... 132
3 DURAÇÃO DO TRABALHO................................................................................ 133
4 PERÍODO DE DESCANSO..................................................................................134
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................... 136
AUTOATIVIDADE.................................................................................................. 137
REFERÊNCIAS......................................................................................................164
UNIDADE 1 —
DIREITO CONSTITUCIONAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 —
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos o Direito Constitucional e seus princípios,
objetivos e políticas que regem o nosso dia a dia no país, assim como as relações
internacionais.
2 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Os princípios fundamentais da República Federativa do Brasil são valores que
ditam a aplicabilidade de todas as normas constitucionais e infraconstitucionais. Dessa
forma, os princípios fundamentais servem como elementos de interpretação e de
integração do texto Magno, contribuindo, assim, para uma unidade da Constituição.
3
3 FUNDAMENTOS
Os fundamentos da República Federativa do Brasil são a base do ordenamento
jurídico e estão previstos no art. 1º da Constituição (BRASIL, 2016, on-line):
Com base nas disposições da normativa acima, temos que a República Federativa
do Brasil é formada pela união indissolúvel dos Estados, municípios e do Distrito Federal.
Isso significa dizer que, no Brasil, não é possível ocorrer a secessão entre os entes
federados, isto é, nenhum dos entes pode se separar ou declarar independência. Com
isso, existirá intervenção federal ou estadual caso algum dos entes federados tente se
separar da federação.
4
p. 79). Por meio desse fundamento, será concedida a possibilidade de participação
popular nas decisões políticas do Estado. Essa participação do povo será efetivada
mediante voto, iniciativa popular de leis e demais instrumentos de participação.
O Supremo Tribunal Federal editou a Súmula Vinculante nº 11, que versa sobre
o uso de algemas, a partir de uma interpretação do princípio da dignidade humana.
Vejamos:
5
Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa são o quarto fundamento da
República. O Brasil é um país que adotou o sistema capitalista, e o trabalho é um valor da
sociedade consagrado como direito social no caput do art. 6º da Constituição. Quanto
a este princípio fundamental, vejamos o comentário do jurista Alexandre de Moraes
(2020, p. 81):
6
A democracia indireta é a regra em nosso ordenamento. Por meio da democracia
indireta, os cidadãos escolhem e votam em seus representantes e estes os governam e
aprovam as leis. Por outro lado, a democracia direta é a exceção, podendo ser exercida
por meio do plebiscito (art. 14, I), referendo (art. 14, II) e iniciativa popular de lei (art. 61, §
2º), dispositivos da Constituição Federal da República (BRASIL, 2016). Vejamos:
7
4 OBJETIVOS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
A nossa Carta Magna estabelece diversos objetivos fundamentais com o escopo
de desenvolvimento e de progresso da nação brasileira. A Constituição Federal de 1988
elencou em seu art. 3º os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil. Os
objetivos fundamentais expressam os ideais, os fins a serem alcançados pelo país. Eis o
dispositivo em comento:
Além disso, esses objetivos representam quais as metas que o país deseja
alcançar, reconhecendo, ao mesmo tempo, que nenhum dos objetivos foi objetivamente
concretizado.
ATENÇÃO
Os fundamentos da República Federativa do Brasil são considerados
como a base do ordenamento jurídico brasileiro. Por sua vez, os
objetivos fundamentais da República são tidos como os ideais que o
Brasil pretende alcançar, ou seja, são as metas a serem promovidas por
todo o sistema estatal brasileiro.
8
5 PRINCÍPIOS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
QUE REGEM AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Os princípios que regem a República Federativa do Brasil em suas relações
internacionais estão elencados no art. 4º da Constituição Federal de 1988. Confira:
9
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
10
AUTOATIVIDADE
1 A Constituição Federal de 1988 foi influenciada pela evolução dos direitos sociais
positivada na Constituição Mexicana de 1917 e pela Lei Fundamental da República
Federal da Alemanha (Lei Fundamental de Bonn) de 1949. A respeito dos direitos
sociais previstos na Constituição de 1988, assinale a alternativa CORRETA:
11
4 O Título I da Constituição Federal trata “Dos princípios fundamentais”. O art. 1º dispõe
que a “República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos [...]”. Por sua vez, o art. 3º determina que “constituem objetivos
fundamentais da República Federativa do Brasil: [...]” (BRASIL, 2016, on-line). Qual
é a diferença no tocante à hermenêutica constitucional entre os fundamentos da
República Federativa do Brasil (art. 1º) e os objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil (art. 3º)?
“[...] assim como jamais se interpreta um texto normativo, mas sim o direito, não se
interpretam textos normativos constitucionais, isoladamente, mas sim a Constituição,
no seu todo. Não se interpreta a Constituição em tiras, aos pedaços. A interpretação de
qualquer norma da Constituição impõe ao intérprete, sempre, em qualquer circunstância,
o caminhar pelo percurso que se projeta a partir dela – da norma – até a Constituição”
(GRAU, 2009, p. 113).
A partir dos trechos anterior, é possível identificar a ideia de que a interpretação das
normas constitucionais não deve acontecer de maneira isolada. Considerando a unidade
da Constituição, indique exemplos da busca pelos objetivos da República Federativa
do Brasil (art. 3º CF/88) que estejam pautados nos fundamentos previstos no art. 1º da
Carta Magna.
NOTA
O tema dos direitos e garantias fundamentais é um dos mais importantes
assuntos previstos na Constituição. Com sua indiscutível relevância, os
direitos e garantias fundamentais estão topograficamente elencados a
partir do Título II da Constituição, especificamente entre o art. 5º ao 17
da Carta.
12
UNIDADE 1 TÓPICO 2 —
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
1 INTRODUÇÃO
Agora, no Tópico 2, abordaremos alguns conceitos que serão essenciais para
a compreensão dos próximos tópicos, assim como assuntos relativos aos direitos e
garantias individuais e coletivos.
13
A característica da irrenunciabilidade significa que o titular do direito não poderá
renunciar, ou seja, abrir mão de seus direitos de maneira definitiva.
ATENÇÃO
Os direitos fundamentais possuem como uma de suas
características a relatividade, ou seja, não há que se falar em
direitos fundamentais absolutos, tendo em vista que até a vida
pode ser mitigada, como ocorre, por exemplo, nos casos de
pena de morte nos casos de guerra declarada.
14
FIGURA 3 – PRINCÍPIO DA IGUALDADE É ASSEGURADO PELA CONSTITUIÇÃO
15
Ressalta-se que um mesmo ato ou evento pode gerar mais de um dano a
alguma pessoa. Assim, é possível haver a cumulação de danos e, consequentemente, a
cumulação de indenizações.
16
de residência. Dessa forma, qualquer compartimento, não aberto ao público, em que o
indivíduo esteja alojado pode ser considerado como casa, por exemplo: quarto de hotel;
barraca de acampamento, garagem, dentre outros.
Note que, em alguns casos, será possível haver a mitigação dessa inviolabilidade.
Destaca-se que o Poder Judiciário é o único a poder fazer a quebra de qualquer dos
sigilos descritos na Carta. Essa prerrogativa, entretanto, deve ser feita mediante decisão
devidamente fundamentada, justificando, no caso concreto, qual é a real necessidade
da medida, tendo em vista que a regra é o sigilo. Assim, a possibilidade da quebra de
sigilo é extraída da inexistência de direito absoluto e da impossibilidade de se valer de
uma garantia constitucional para praticar atos ilícitos.
O inciso XIII do art. 5º da CF/88 versa sobre a liberdade para exercer trabalho,
ofício ou profissão: “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas
as qualificações profissionais que a lei estabelecer” (BRASIL, 2016, on-line).
Perceba que a parte final desse dispositivo, destacada pela expressão “que a lei
estabelecer”. Isso significa dizer que alguns trabalhos, ofícios ou profissões deverão ser
regidos e exercidos em conformidade com a lei. A título de exemplo, tem-se a figura do
advogado, que deve possuir registro nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB) para realizar a sua função sem qualquer embaraço.
17
FIGURA 5 – REUNIÃO PÚBLICA NÃO PRECISA DE AUTORIZAÇÃO
Destaca-se que não se deve pedir autorização para realizar as reuniões, tendo
em vista que a Constituição cita apenas a necessidade de comunicar, isto é avisar as
autoridades competentes sobre a realização do encontro.
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Veja que o tema possui dois núcleos: de um lado, argumenta-se sobre o direito
de propriedade como componente de um direito absoluto e que, em alguns casos,
permite a ocorrência de desapropriações ou expropriações. Assim, quando for caso
de necessidade, de utilidade pública ou de interesse social, é possível formalizar um
processo de desapropriação de propriedade privada. Nessa hipótese, o proprietário
possui direito a ser previamente indenizado e com pagamento em dinheiro. Todavia,
caso a propriedade não cumpra a sua função social, como advertido pela Constituição
Federal no art. 5º, inciso XXIII; art. 170, inciso III; e art. 184 (BRASIL, 2016), poderão
acontecer algumas implicações jurídicas. Confira a seguir:
O Tribunal do Júri surgiu como garantia dos cidadãos. A ideia central é submeter
à sociedade o julgamento de alguém que matou um integrante daquela comunidade. O
Tribunal do Júri possui competência para julgar os crimes dolosos contra a vida, quais
sejam: homicídio, infanticídio, aborto e instigação, auxílio ou induzimento ao suicídio.
19
O inciso XL do art. 5º da CF dispõe sobre a retroatividade da lei penal: “a lei penal
não retroagirá, salvo para beneficiar o réu” (BRASIL, 2016, on-line). Dentro desse cenário,
caso sobrevenha uma lei mais favorável, por exemplo, diminuindo a pena, ela deverá ser
aplicada ao réu, ainda que a sentença já tenha sido proferida. Além disso, mesmo que
a condenação já tenha transitado em julgado, caberá ao juízo das execuções penais
reduzir a pena imposta ao réu.
O devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa são princípios que dão
segurança às relações entre o Estado e os particulares, bem como entre estes com seus
pares. A Constituição dispõe que ninguém será privado de sua liberdade ou de seus
bens sem que esses princípios sejam observados.
20
É provável que a garantia do devido processo legal configure uma
das mais amplas e relevantes garantias do direito constitucional, se
considerarmos a sua aplicação nas relações de caráter processual
e nas relações de caráter material (princípio da proporcionalidade/
direito substantivo). Todavia, no âmbito das garantias do processo é
que o devido processo legal assume uma amplitude inigualável e um
significado ímpar como postulado que traduz uma série de garantias
hoje devidamente especificadas e especializadas nas várias ordens
jurídicas. Assim, cogita-se de devido processo legal quando se fala
de (1) direito ao contraditório e à ampla defesa, de (2) direito ao juiz
natural, de (3) direito a não ser processado e condenado com base
em prova ilícita, de (4) direito a não ser preso senão por determinação
da autoridade competente e na forma estabelecida pela ordem
jurídica (MENDES, 2020, p. 787-788).
21
FIGURA 7 – ERRO JUDICIÁRIO É INDENIZÁVEL PELO ESTADO
Acontece que, embora a Constituição fale em prazo razoável, não existe uma
quantificação objetiva em dias ou meses de duração do processo. Assim, a questão
deve ser analisada caso a caso, observando-se a complexidade de cada processo para
a apuração de sua duração.
3 DIREITOS SOCIAIS
Os direitos sociais possuem um capítulo próprio, estando elencados entre os
art. 6º ao 11 da CF/88. O art. 6º apresenta um rol de direitos sociais. Confira.
22
FIGURA 8 – SAÚDE, LAZER, EDUCAÇÃO SÃO DIREITOS SOCIAIS
Contudo, a reserva do possível é limitada por outra teoria, qual seja: a do mínimo
existencial. Por mínimo existencial deve-se entender como uma parcela mínima capaz
de fazer com que o cidadão alcance uma vida digna. Nesse sentido, o mínimo existencial
deve ser resguardado e não pode ser negado.
23
FIGURA 9 – DIREITOS DOS TRABALHADORES
Dentre os direitos arrolados nos 34 incisos do art. 7º, merece destaque a proteção
contra a despedida arbitrária ou sem justa causa: “relação de emprego protegida contra
despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá
indenização compensatória, dentre outros direitos” (BRASIL, 2016, on-line).
24
FIGURA 10 – SALÁRIO MÍNIMO É IRREDUTÍVEL
Já o inciso VIII do art. 7º da CF/88 destaca o 13º salário: “décimo terceiro salário
com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria” (BRASIL, 2016, on-
line). Será devido o 13º salário ao trabalhador, com base na remuneração integral ou
no valor da aposentadoria. Assim, se o trabalhador recebe um salário mínimo mensal a
título de remuneração por trabalho ou a título de aposentadoria, terá o direito de receber
o mesmo valor a título de 13º salário.
25
Acontece que a Carta não determinou o quantum remuneratório do trabalho
noturno. A matéria é tratada na CLT, que irá indicar o horário considerado noturno,
levando em conta trabalhadores urbanos e rurais.
26
O inciso XXI do art. 7º da CF/88 versa sobre o aviso prévio em caso de
desligamento do trabalhador das atividades laborais: “aviso prévio proporcional ao
tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei” (BRASIL, 2016,
on-line). O dispositivo confere uma segurança tanto para o trabalhador quanto para
o empregado, evitando que ambos sejam pegos de surpresa caso o trabalhador peça
demissão ou venha a ser demitido.
27
O inciso XXXIII do art. 7º da CF/88 estabelece limites etários para determinadas
espécies de trabalho:
28
Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o
seguinte:
I- a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de
sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas
ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização
sindical (BRASIL, 2016, on-line).
Assim, a lei não possui o condão de exigir autorização do Estado para a fundação
de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ainda ao poder público
a interferência e a intervenção na organização sindical. O inciso VIII do art. 8º da CF/88
trata da estabilidade do dirigente sindical:
Dessa maneira, cabe aos trabalhadores, regidos pela Consolidação das Leis
Trabalhistas (CLT), decidir sobre a oportunidade de exercer esse direito. Com relação
aos servidores públicos, por exemplo, os concursados, regidos por estatutos próprios,
a Constituição Federal dispõe no art. 37, VII (BRASIL, 2016), que haverá uma lei
específica para regulamentar o direito de greve. No tocante aos serviços essenciais,
como transporte público, serviços de fornecimento de água, serviços funerários, dentre
outros, o exercício do direito de greve é também assegurado, mas sofrerá restrições.
4 NACIONALIDADE
A nacionalidade diz respeito a um vínculo jurídico-político que faz com que
a pessoa se torne um dos elementos componentes da dimensão pessoal do Estado,
como, por exemplo, irá compor o conjunto de nacionais, sejam eles brasileiros natos
ou naturalizados. Portanto, a nacionalidade é um vínculo que une uma pessoa a um
determinado Estado. Por isso, que os brasileiros possuem um vínculo de nacionalidade
com a República Federativa do Brasil.
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O direito internacional prevê duas formas de aquisição da nacionalidade:
a originária e a derivada. A nacionalidade originária também é chamada de primária,
de primeiro grau, ou nato. Por outro lado, a nacionalidade derivada também é chamada
secundária, de segundo grau, ou naturalizado.
O Brasil adotou como regra para definição da nacionalidade o critério ius solis,
permitindo a utilização do ius sanguinis em algumas hipóteses. O art. 12, I da CF/88
apresenta quem são os brasileiros natos. Veja:
I- natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais
estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira,
desde que qualquer deles esteja a serviço da República
Federativa do Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira,
desde que sejam registrados em repartição brasileira competente
ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem,
em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
nacionalidade brasileira (BRASIL, 2016, on-line).
Com base na alínea “a”, adota-se o critério do ius solis: nasceu no Brasil, será,
em princípio, brasileiro nato. No entanto, aquele que nascer em território brasileiro, for
filho de pais estrangeiros e ao menos um deles estiver a serviço de seu país de origem,
exemplo dos diplomatas, o critério de naturalidade nata não será aplicado.
Na alínea “b”, a Constituição adotou o critério ius sanguinis. Assim, nos casos
em que alguém nascer no exterior e algum dos pais estiver a serviço da República
Federativa do Brasil, será considerado brasileiro nato. Deve-se ter atenção que a
República Federativa do Brasil abrange todos os órgãos e todas as entidades da
Administração Pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal ou
dos municípios. Nesta senda, se nasceu no exterior e é filho de pai brasileiro que está
a serviço do município de Vitória/ES, por exemplo, esta criança será brasileira nata.
Portanto, o critério ius sanguinis se refere às relações sanguíneas ou familiares.
30
FIGURA 15 – BRASIL ADOTA CRITÉRIO IUS SOLIS PARA DEFINIR NACIONALIDADE
No caso da alínea “c”, a Constituição adotou o critério ius sanguinis e aponta duas
hipóteses distintas de nacionalidade originária, ou seja, serão brasileiros natos, os nascidos
no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em
repartição brasileira competente, por exemplo, em repartição diplomática ou consular.
Também serão brasileiros natos, os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe
brasileira, desde que venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em
qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira.Após
o estudo dos casos de nacionalidade primária, deve-se analisar as situações em que
haverá nacionalidade secundária. A nacionalidade secundária é aquela adquirida pelo
estrangeiro que passa por um processo de naturalização.
II- naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira,
exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas
residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na
República Federativa do Brasil há mais de quinze anos
ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram
a nacionalidade brasileira (BRASIL, 2016, on-line).
31
Na alínea “b”, a Constituição prevê uma hipótese de naturalização extraordinária,
que também é chamada de quinzenária. Destaca-se que nessa hipótese de naturalização,
não há discricionariedade do presidente da República. Com isso, o interessado possui
direito público subjetivo à nacionalidade brasileira, desde que requeira e preencha os
pressupostos constitucionais de residir por 15 anos ininterruptos no Brasil e não existir
condenação penal contra ele. A Constituição prevê expressamente que não poderá
haver distinção entre brasileiros natos e naturalizados. Destaca-se que apenas nos
casos apontados no art. 12, § 2º e § 3º, da CF/88 poderá haver a diferenciação. Confira:
FIGURA 16 – BANDEIRA, HINO, ARMAS E SELO SÃO SÍMBOLOS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
32
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Os direitos sociais têm um capítulo próprio na Constituição, que vai do art. 6º ao 11.
O art. 6º apresenta um rol desses direitos (educação, saúde, alimentação, trabalho,
moradia, transporte, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e
à infância e assistência aos desamparados).
• A nacionalidade diz respeito a um vínculo jurídico-político, que faz com que a pessoa
se torne um dos elementos componentes da dimensão pessoal do Estado, como,
por exemplo, irá compor o conjunto de nacionais, sejam eles brasileiros natos ou
naturalizados. O direito internacional prevê duas formas de aquisição da nacionalidade:
a originária e a derivada.
33
AUTOATIVIDADE
1 O art. 5º da CF/88 determina que todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza. Acerca do princípio da Igualdade, assinale a alternativa CORRETA:
4 A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo
nos casos previstos na Constituição. Indique três casos.
5 O que significa que dizer que os direitos e garantias fundamentais, em regra, são
relativos e não absolutos?
34
UNIDADE 1 TÓPICO 3 —
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
1 INTRODUÇÃO
No Tópico 3, abordaremos o estudo da organização do Estado. Inicialmente,
serão trabalhados alguns conceitos importantes para a compreensão do tema. Depois,
enfrentaremos assuntos como a organização político-administrativa, a União, os
Estados, os municípios, o Distrito Federal e os Territórios.
Por sua vez, o sistema de governo significa o modo pelo qual os poderes se
relacionam, especialmente o Poder Executivo e o Poder Legislativo.
2 ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA
A organização política-administrativa do Brasil possui tratativa constitucional
nos arts. 18 e 19. O art. 18 da CF/88 versa sobre a composição da República Federativa
do Brasil. “A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil
compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos,
nos termos desta Constituição” (BRASIL, 2016, on-line).
Com base no art. 18, tem-se que a República Federativa do Brasil possui
soberania; enquanto os entes que a compõem (União, Estados, Distrito Federal e
municípios) gozam apenas de autonomia. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
municípios contam com a tríplice autonomia: financeira, administrativa e política.
Por outro lado, os territórios federais, acaso sejam criados, pois, atualmente, não existe
nenhum, não serão dotados de autonomia. Ao contrário, eles pertencerão à União,
integrando a sua Administração indireta, na condição de autarquias.
35
Pelo fato de ter optado a forma federativa de Estado, a Constituição determina
que os entes da federação não poderão professar uma religião oficial, recusar fé aos
documentos públicos nem criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.
Confira:
Com base no inciso I do art. 19 da CF/88 há, atualmente, uma separação entre
o Estado e a Igreja. Assim, a Constituição adotou o Estado laico não pregando uma
religião oficial brasileira. Um ponto importante no que diz respeito à laicidade do Estado,
diz respeito ao fato de que o ensino religioso é de oferecimento obrigatório na grade
escolar, mas matrícula é facultativa.
36
Dessa maneira, em observância ao direito fundamental da escusa de consciência
e da liberdade de crença, o aluno não é obrigado a cursar a disciplina ensino religioso.
3 UNIÃO
O presidente da República assume, ao mesmo tempo, as funções de chefe do
Governo Federal e chefe de Estado. Com base nisso, a União possuirá dupla personalidade
jurídica, tendo em vista que assume um papel interno e outro internacional.
37
O inciso III do art. 20 da CF/88 especifica quais águas serão tidas como bens
da União. Sabe-se que os rios e lagos possuem grande capacidade de produção de
riquezas, dada sua capacidade de irrigação, pesca e outras maneiras de exploração.
Considerando essa fonte de rendimentos é normal que exista disputa entre os Estados
sobre a titularidade de lagos e rios. Com base nisso, serão bens da União a propriedade
dos cursos de água quando venham de outro país, sigam para outro país, ou que banhem
mais de um Estado da Federação, como ocorre por exemplo com o Rio São Francisco.
FIGURA 18 – RIO SÃO FRANCISCO ESTADOS ATINGE SEIS ESTADOS E DISTRITO FEDERAL
38
A outra ressalva diz respeito ao arquipélago de Fernando de Noronha, que
pertence ao Estado de Pernambuco por expressa previsão do art. 15 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, segundo o qual o ex-território federal foi
reincorporado ao Estado de Pernambuco (BRASIL, 2016).
ATENÇÃO
Os bens da União arrolados no art. 20 da Constituição são
exemplificativos, o que significa dizer que é possível existir
outros bens da União que não estejam dispostos nos incisos
do art. 20 da Constituição.
39
4 ESTADOS FEDERADOS
Os Estados Federados possuem tratativa constitucional, especificamente, nos
arts. 25 a 28 da CF/88. Nos moldes do caput do art. 25, os Estados também terão suas
próprias Constituições. Cabe destacar que as Constituições dos Estados não poderão violar
ou contrariar quaisquer das disposições elencadas na Constituição Federal de 1988. Eis o
dispositivo analisado: “Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições
e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição” (BRASIL, 2016, on-line).
40
Com relação à competência dos Estados para legislar, além de participar da
competência comum, os estados também atuam na competência concorrente, ocasião
em que fica responsável pela elaboração de normas suplementares.
Nesse cenário, cabe à União elaborar a norma geral. No entanto, caso ela
permaneça omissa, os Estados e do Distrito Federal poderão editar tanto a norma
geral quanto a suplementar, situação em que terão a chamada competência legislativa
plena. Contudo, se posteriormente for editada a norma federal, aquela que fora feita
pelos estados e pelo Distrito Federal ficará com sua eficácia suspensa, na parte em que
contrariar a norma federal.
5 MUNICÍPIOS
As disposições constitucionais sobre os municípios estarão localizadas nos arts.
29 ao 31 da CF/88. O art. 29 da CF/88 fala que o Município será regido por lei orgânica
devendo ser votada e aprovada pela por membros da Câmara Municipal. Veja:
Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos,
com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços
dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos
os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do
respectivo Estado e os seguintes preceitos [...] (BRASIL, 2016, on-line).
Deve-se entender por lei orgânica como um conjunto de normas que regulam
a vida pública do município. Frisa-se que a lei orgânica deve respeitar e seguir
estritamente os preceitos da Constituição do Estado e os preceitos da Constituição
Federal. Nesse sentido, as leis orgânicas serão o meio pelo qual o município irá reger e
assumir obrigações de interesse local em prol dos munícipes.
Por outro lado, a eleição para prefeito e vice-prefeito segue o sistema majoritário,
como também acontece na escolha do presidente da República, dos governadores e
dos senadores. O sistema majoritário se divide em simples e complexo. Com relação ao
sistema simples, vencerá o candidato que obtiver mais votos, independentemente da
quantidade superior. Já o sistema complexo, vencerá o candidato que atingir maioria
absoluta dos votos válidos. Assim, caso isso não aconteça no primeiro turno, os dois
mais votados seguem para o segundo turno.
41
ATENÇÃO
A eleição para vereadores segue o sistema de votação proporcional,
o qual observará a proporção de cadeiras parlamentares ocupada
por cada partido é diretamente determinada pela proporção de
votos obtida por ele. Por outro lado, a eleição para prefeito e vice-
prefeito observará o sistema majoritário, sendo este subdividido em
simples e complexo.
42
6 DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS
As tratativas constitucionais acerca do Distrito Federal e dos Territórios estão
localizadas nos arts. 32 e 33 da CF/88. Com base no art. 32 da CF/88, assim como
acontece com os municípios, o Distrito Federal também é regido por lei orgânica. Além
do mais, a Constituição veda a divisão do Distrito Federal em municípios. Veja:
ATENÇÃO
Atualmente, não existem territórios no Brasil. Contudo, eles podem
ser criados por meio de Lei Complementar federal. Além disso,
os territórios não possuem autonomia política pelo fato de seu
governador ser indicado pelo Presidente da República.
43
LEITURA
COMPLEMENTAR
30 ANOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL: ENTRE PASSADO E FUTURO
Não à toa a Declaração dos Direitos de 1789, em França, tem validade e integra
o “bloco de constitucionalidade” do direito francês.
Tão forte é a presença da Constituição na cultura jurídica ocidental, que hoje não
se reconhece governo legítimo que não conte com uma Lei Fundamental para regê-lo e
limitá-lo. Poderíamos assim dizer, na esteira do grande filósofo contemporâneo, Jürgen
Habermas, que não existe democracia sem Constituição.
44
A história seguiu, e sabemos o sucesso dos eventos. Independência, convocação
da Constituinte de 1823, dissolução da Constituinte e outorga da Constituição de
1824, que, após um período de intensa contestação (Frei Caneca e Pernambuco são
testemunhas) e instabilidade política, vigorou por décadas, pelo tempo da Monarquia.
Sobreveio para o povo a República, e, com ela em 1891, a nova Constituição, elaborada
por uma comissão de notáveis e declaradamente embebida em valores e conceitos
tão altamente anunciados à época, como progresso, desenvolvimento, civilização,
liberdade, cidadania etc.
Nova revolução se seguiu, a de 1930. O remédio tardio, vindo por pressão social
e política, foi a breve, mas promissora Constituição de 1934, que, antes de completar o
seu terceiro aniversário de vida, saiu de cena para dar lugar à Carta de 1937, escrita por
Francisco Campos, forjada à luz dos “novos tempos”, que demandavam um Estado forte
e eficiente. O Estado Novo, respaldado na “Constituição” de 1937, iniciou obscuro ciclo de
autoritarismo e centralização do poder político, cujo fim seria simbolicamente marcado
pela redemocratização com a Constituição de 1946.
45
1985 representa o marco histórico do início do regresso à democracia, cujos
primeiros passos para a “abertura lenta, gradual e segura” foram dados com o Presidente
Ernesto Geisel, embora retrocessos tenham dificultado a caminhada, a exemplo da
edição do “Pacote de Abril”. Assumindo a Presidência da República em 1979, o general
João Batista Figueiredo deu continuidade ao processo de distensionamento rumo à
democracia.
Mesmo com a derrota da emenda Dante Oliveira, em 1984, que buscava restaurar
integralmente o direito ao voto da população, realizaram-se eleições presidenciais.
Elegeu-se indiretamente o presidenciável Tancredo Neves, mas foi empossado José
Sarney.
46
participaram, influenciaram e pressionaram os constituintes. O professor Gilmar Ferreira
Mendes costuma lembrar conversa do então constituinte, ex-senador Marco Maciel,
com taxista durante a fase final da Constituinte:
E o senador quis saber por quê. E o taxista disse algo mais ou menos assim:
47
da ressignificação semântica da Constituição em prol de projetos dos novos grupos
políticos hegemônicos nem sempre republicanos e democráticos, de modo que, até
hoje, a Constituição ainda não logrou verdadeiramente plena força normativa, o que
seria próprio de sua história semântica.
A nosso ver, tem a ver com a “ética constitucional”, isto é, com a nossa atitude
em torno da aplicabilidade da Constituição voltada à realização do interesse geral da
sociedade. Nos últimos 200 anos, as Constituições no Brasil foram surpreendidas com
tentativas de serem conformadas à força da política e das necessidades governamentais
do momento. Contudo, a Constituição deve precisamente ser o esteio normativo de
racionalidade a restringir a vontade política nas horas mais sensíveis e de maior
dificuldade, quando a “crise” quer forçar decisões extremadas.
48
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
49
AUTOATIVIDADE
1 A organização política-administrativa do Brasil está prevista nos arts. 18 e 19 da
CF/88 e versa sobre a composição da República Federativa do Brasil. Com base no
exposto, assinale a alternativa CORRETA:
50
5 É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a
oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.
De igual modo, a Constituição assegura que seja livre a manifestação do pensamento,
sendo vedado o anonimato. Qual a diferença entre o direito de greve e o direito de
manifestação?
51
REFERÊNCIAS
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de
1988. Brasília, DF: Presidência da República, 2016. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm. Acesso em: 15 jul. 2021.
MENDES, G. F. Curso de direito constitucional. 15. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2020.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ADPF 153, voto do rel. min. Eros Grau, j. 29-4-2010, P,
DJE de 6-8-2010. Disponível em: http://www.stf.jus.br. Acesso em: 15 jul. 2021.
52
UNIDADE 2 —
• conceituar crime;
• identificar o bem jurídico protegido nos crimes contra a pessoa; contra o patrimônio
e; contra a dignidade sexual;
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
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53
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
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54
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos os princípios do Direito Penal. Aqui você
vai aprender a identificá-los e descobrir como aplicá-los em casos práticos. Os princípios
penais podem estar previstos na Constituição Federal de 1988, no Código Penal e no
ordenamento jurídico brasileiro de uma maneira geral.
55
Ressalta-se que existem princípios previstos em lei de maneira explícita, assim
como existem princípios implícitos no sistema jurídico. Certo é que, conforme ensina
Nucci (2019), os princípios servirão como orientações para a criação de leis, atuando
como garantias diretas e imediatas aos indivíduos, bem como funcionando como
critérios de interpretação, integração e aplicação do sistema jurídico.
[...]
XXXIX- não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem
prévia cominação legal (BRASIL, 1988, on-line).
Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem
prévia cominação legal (BRASIL, 1988, on-line).
56
O inc. XLV do art. 5º da CF/88 destaca o princípio da intranscendência ou
responsabilidade pessoal do condenado.
Com base na intranscendência, qualquer que seja a pena aplicada, ela estará
restrita à liberdade, ao patrimônio e à pessoa do agente condenado. Acontece que
temos uma exceção a essa regra. Com isso, há a possibilidade de usar o patrimônio
transferido em herança para quitar obrigação de decretação de perdimento de bens e
de reparação de dano provocado pelo de cujos. A razão da norma consiste em descontar
os valores do patrimônio do falecido, de modo que os herdeiros não sejam obrigados por
indenizações e penas além do que for efetivamente transferido.
57
FIGURA 1 – APLICAÇÃO DA LEI CONFORME O DEVIDO PROCESSO LEGAL
Nucci (2019) aponta que, com base nesse princípio, existe a discussão acerca
da execução provisória da pena, isto é, execução da pena antes do trânsito em julgado.
Com base nas interpretações dessa norma constitucional, uma corrente defende a tese
de que o agente condenado em 1ª Instância poderia iniciar o cumprimento provisório da
pena. Acontece que, a corrente contrária a esse entendimento aponta que a execução
provisória da pena viola frontalmente o princípio do estado de inocência.
Assim, com base nessas discussões, o STF entende que não é cabível a execução
provisória da pena.
58
3 PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA
O princípio da intervenção mínima também é chamado de última ratio. Com
base na intervenção mínima, o direito penal somente deve intervir quando os demais
instrumentos de controle social (não jurídicos ou jurídicos) não são capazes de proteger,
de maneira eficiente, os bens jurídicos mais importantes. Portanto, o direito penal deve
atuar como um soldado de reserva.
Com base nisso, a atuação do direito penal deve ser mínima, pois se trata de um
ramo do direito extremamente seletivo, violento e estigmatizante. Assim, intervenção
mínima é um principio constitucional implícito, no qual o Estado jura consagrar deter-
minados direitos fundamentais e intervir coercitivamente na vida dos seus cidadãos,
apenas na medida em que esses direitos consagrados e resguardados são violados.
4 PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE
O princípio da fragmentariedade aponta que o direito penal não tutela todos
os bens jurídicos existentes na seara jurídica, ou seja, o direito penal deve proteger
apenas os bens jurídicos mais importantes contra as ofensas intoleráveis.
Portanto, a atuação do direito penal é fragmentária. Esse princípio é destinado ao
legislador que deve analisar e escolher as condutas consideradas intoleráveis e tipificá-
las como o crime. Com o passar do tempo, caso essas se tornem socialmente aceitáveis,
poderão ser descriminalizadas. Um exemplo de conduta que se tornou socialmente
aceita e deixou de ser alvo do direito penal é a bigamia.
59
5 PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE
Segundo Nucci, “o princípio da subsidiariedade consiste no fato de que o direito
penal somente deve atuar caso os demais ramos do direito fracassarem na proteção
do bem jurídico” (NUCCI, 2019, s.p.). Com isso, o direito penal figura como a última ratio
atuando de maneira fragmentária, em último caso.
6 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
O princípio da insignificância também é chamado de princípio da bagatela. Esse
princípio é corolário do princípio da fragmentariedade e significa que as lesões ínfimas ao
bem jurídico protegido não preenchem a dimensão material da tipicidade penal.
Pelo fato de não preencher a dimensão material da tipicidade penal não haverá
crime. Portanto, o princípio da insignificância ou bagatela incide na dimensão
material da tipicidade penal.
Com base nisso, havendo a falta de qualquer dos parâmetros listados acima,
não poderá se falar em aplicação do princípio da insignificância. Além do mais, nos
termos das súmulas nº 599 e 589 do STJ, o princípio da insignificância é inaplicável
nos crimes praticados contra a Administração Pública e nos crimes praticados
contra a mulher no contexto de violência doméstica e familiar. Veja a seguir.
60
Súmula 599 do STJ - O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes
contra a Administração Pública.
Nucci (2019) aponta que o crime de perigo abstrato seria inconstitucional por
violar o princípio da lesividade ou ofensividade, tendo em vista que ainda não houve
uma efetiva lesão ao bem jurídico. Contudo, o poder judiciário em geral, entende que os
crimes de perigo abstrato são constitucionais. A título ilustrativo, é possível apontar o
tráfico de drogas como exemplo de crime de perigo abstrato.
61
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Antes de aplicar os princípios penais nos casos abarcados pela tutela penal, é
necessário conceituá-los e compreendê-los.
62
AUTOATIVIDADE
1 Os princípios constitucionais do Direito Penal são aqueles que estão dispostos de
maneira expressa no texto da Constituição Federal de 1988. Segundo o princípio da
legalidade, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Decreto presidencial pode criar crime, mas não pode cominar pena.
b) ( ) Lei em sentido amplo pode cominar pena.
c) ( ) A lei que criar o crime não precisa estar em vigor antes do cometimento do fato
para penalizar o agente.
d) ( ) Somente lei em sentido estrito pode criar crime e cominar pena.
I- O Código Penal prevê hipóteses em que uma lei seja aplicada a fatos ocorridos fora
do âmbito de sua vigência.
II- A lei penal maléfica pode retroagir para prejudicar o acusado.
III- Caso uma lei posterior deixe de considerar determinada conduta criminosa, haverá
a cessação da execução e dos efeitos penais da sentença penal condenatória.
63
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.
b) ( ) As afirmativas II e III estão corretas.
c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
4 Os princípios de qualquer ramo do direito são tidos como uma base normativa que
ditam o caminhar de uma ciência, servindo como meio de interpretação e integração
do sistema jurídico. Com base no estudo dos princípios do direito penal, aponte quais
são as semelhanças e quais são as diferenças dos princípios da fragmentariedade e
da subsidiariedade.
64
UNIDADE 2 TÓPICO 2 —
DIREITO PENAL – PARTE GERAL
1 INTRODUÇÃO
O Código Penal brasileiro é dividido em duas partes, quais sejam: Parte Geral e
Parte Especial.
Por outro lado, a parte especial está disciplinada entre os arts. 121 ao 361, tendo
como parâmetro a previsão dos crimes em espécie e as penas correspondentes.
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de
considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos
penais da sentença condenatória.
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer
o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por
sentença condenatória transitada em julgado (BRASIL, 1940, s.p.).
65
A ultratividade está elencada no art. 3º do CP e é um fenômeno pelo qual
a lei vigente à época da prática do fato, ainda que revogada, será aplicada. Portanto,
no momento de prolatar a sentença, o juiz aplicará a lei que estava vigente à época
da prática dos fatos e que no momento do julgamento já havia sido revogada. “A lei
excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência”
(BRASIL, 1940, s.p.).
Além disso, o §2º do art. 5º determina que será aplicada a lei penal brasileira
contra os crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de
propriedade privada, desde que estejam em território brasileiro e não estejam a serviço
do governo de seu país.
66
Nesse sentido, a extraterritorialidade incondicionada aponta que ficarão
sujeitos à lei penal brasileira, mesmo que sejam cometidos no estrangeiro, os crimes
que atentem contra a vida ou a liberdade do presidente da República. Frisa-se que aqui,
o Código Penal visou proteger a autoridade máxima da República Federativa do Brasil.
67
ATENÇÃO
Na hipótese de extraterritorialidade condicionada, prevista no §3º do
art. 7º do CP, além das condições previstas no §2º do mesmo art. 7º,
o crime deve ter sido cometido por estrangeiro contra brasileiro, não
poderá ter sido pedida a extradição ou esta deve ter sido negada. Além
disso, deve haver requisição do ministro da Justiça.
3 CRIME
Para iniciar o estudo deste tópico, faz-se necessário apresentar os conceitos
de crime, os quais serão desdobrados em conceito material, formal e analítico. Segundo
Nucci, o conceito material de crime:
68
penal” (NUCCI, 2019, s.p.). De maneira bem superficial, é possível entender que os
crimes são considerados infrações penais mais graves, enquanto que as contravenções
são consideradas infrações penais mais leves. Nucci afirma que tanto é assim que “os
crimes sujeitam seus autores às penas de reclusão ou detenção. Por outro lado, as
contravenções, no máximo, implicam em prisão simples” (NUCCI, 2019, s.p.).
Sobre os sujeitos do crime, cabe apontar aquele que figura no polo ativo e aquele
que figura no polo passivo. Com base nisso, para Nucci (2019), o sujeito ativo do crime
é a pessoa que pratica a conduta descrita pelo tipo penal. Com base nisso, animais,
objetos ou coisas não podem ser sujeitos ativos de crimes, nem autores de ações, pois
lhes falta o elemento vontade. Já o sujeito passivo é o titular do bem jurídico protegido
pelo tipo penal incriminador, que foi violado.
69
O art. 18 do CP apresenta quais crimes serão dolosos e quais crimes serão
culposos. Veja:
Nesse sentido, caso esteja presente uma das causas relacionadas no art. 23 do
Código Penal, está-se afastando um dos elementos do crime, que é a contrariedade da
conduta ao direito, ou seja, a ilicitude. Assim, não haverá crime algum, pois a excludente
de ilicitude torna lícito o que era ilícito.
70
Sobre o estrito cumprimento do dever legal, Nucci afirma se tratar de uma
“ação praticada em cumprimento de um dever imposto por lei, penal ou extrapenal,
mesmo que cause lesão a bem jurídico de terceiro” (NUCCI, 2019, s.p.). Um exemplo de
excludente de ilicitude pelo estrito cumprimento do dever legal pode ser visualizado
quando policiais realizam a prisão de algum indivíduo procurado pela justiça. Em tese,
os policiais estariam cometendo um ilícito penal ao restringir a liberdade do indivíduo.
Contudo, estão agindo aparados na legalidade.
71
4 IMPUTABILIDADE PENAL
A Imputabilidade Penal está disposta entre os arts. 26 ao 28 do Código Penal.
Segundo Nucci, a Imputabilidade Penal:
Com base nisso, o agente não possuir condições para entender a diferença entre
o certo e o errado poderá, em algum momento, praticar um fato típico e antijurídico sem
que possa por isso ser censurado, ou seja, sem que possa sofrer juízo de culpabilidade,
sendo considerado, portanto, inimputável.
O parágrafo único do art. 26 traz que a pena poderá ser reduzida caso o agente
possuísse determinadas condições, ainda que diminuídas, de compreender e entender
o caráter ilícito de sua ação. Observe:
72
A menoridade também é tida como uma das causas de inimputabilidade penal
prevista no CP. O art. 27 versa sobre a menoridade. “Os menores de 18 (dezoito) anos
são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação
especial” (BRASIL, 1940, s.p.).
Aqui, o CP adotou o critério puramente biológico, ou seja, a lei penal criou uma
presunção absoluta de que os menores de 18 anos, em face do desenvolvimento mental
incompleto, não possuem condições de compreender o caráter ilícito do que fazem ou
capacidade de determinarem de acordo com esse entendimento.
ATENÇÃO
Segundo o art. 27 do CP, menores de 18 anos não comentem crime.
Assim, crianças e adolescentes podem cometer atos análogos ao
crime, os quais são denominados de atos infracionais. Dessa forma,
os menores de 18 anos serão submetidos às disposições da Lei nº
8.069/90, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente.
5 CONCURSO DE PESSOAS
Os arts. 29 e 30 do CP versam sobre o concurso de pessoas. Trata-se da
“cooperação desenvolvida por mais de uma pessoa para o cometimento de uma
infração penal. Chama-se, ainda, em sentido lato, coautoria, participação, concurso de
delinquentes, concurso de agentes, cumplicidade” (NUCCI, 2019, s.p.).
73
FIGURA 7 – GRUPO DE AGENTES CRIMINOSOS
Art. 29- Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas
penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
§ 1º- Se a participação for de menor importância, a pena pode ser
diminuída de um sexto a um terço.
§ 2º- Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos
grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada
até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave
(BRASIL, 1940, s.p.).
74
Para Nucci (2019, s.p.), a “circunstância de caráter pessoal é a situação ou
particularidade que envolve o agente, sem constituir elemento inerente à sua pessoa”.
Como exemplo, pode-se apresentar a circunstância em que um pai comete homicídio,
em concurso de pessoas, contra um indivíduo que agrediu o seu filho naquele instante.
Note que esse pai agiu impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob
o domínio de violenta emoção, logo em seguida, a injusta provocação da vítima. Com
isso, a sua pena poderá ser reduzida de 1/6 a 1/3. Por outro lado, essa circunstância
não será comunicada ao coautor do homicídio, tendo em vista que a circunstância não
é elementar do crime.
75
6 PENAS
Pode-se entender como pena, segundo Nucci,
76
As penas restritivas de direitos são penas alternativas expressamente
previstas em lei, tendo por fim evitar o encarceramento de determinados criminosos,
autores de infrações penais consideradas mais leves, promovendo-lhes a recuperação
através de restrições a certos direitos. As penas restritivas de direitos são as seguintes:
prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas, interdição temporária de
direitos, limitação de fim de semana, prestação pecuniária e perda de bens e valores.
Por fim, a pena de multa consiste em uma pena pecuniária, ou seja, é uma
sanção penal que importa no pagamento de uma determinada quantia em dinheiro,
previamente fixada em lei, sendo destinada ao Fundo Penitenciário.
7 EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
A extinção da punibilidade consiste no desaparecimento da pretensão punitiva
ou executória do Estado, em razão de específicos obstáculos previstos em lei. O art. 107
do CP aponta as causas extintivas de punibilidade.
Dentre as causas que estão arroladas no art. 107, pode-se dividi-las em gerais
ou comuns, pois se aplicam a todos os delitos, por exemplo: morte, prescrição, dentre
outras; e as específicas ou particulares, pois somente se aplicam a alguns tipos de delitos,
por exemplo: retratação do agente nos crimes contra a honra, perdão judicial, dentre
outras. Portanto, em regra, ocorrendo uma dessas causas, extingue-se a possibilidade
de o Estado impor uma pena ao agente, embora remanesça o crime praticado.
IMPORTANTE
As causas extintivas de punibilidade previstas no art. 107, do CP,
são meramente exemplificativas, tendo em vista que existem
outras causas previstas de maneira esparsa no próprio Código
ou em legislação extravagante.
77
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
78
AUTOATIVIDADE
1 Para proceder com a aplicação da lei penal, os aplicadores da norma devem seguir
fielmente as disposições do Código Penal, como, por exemplo: a anterioridade da lei
penal, a territorialidade, o lugar do crime, o tempo do crime, dentro outros aspectos.
No tocante ao tempo do crime, assinale a alternativa CORRETA:
2 O Direito Penal prevê algumas espécies de penas quando ocorre a prática de algum
crime previsto na parte especial do Código. Com base nas penas previstas no Código
Penal, analise as sentenças a seguir:
79
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença III está correta.
c) ( ) Somente a sentença II está correta.
d) ( ) Somente a sentença I está correta.
80
UNIDADE 2 TÓPICO 3 —
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 3, abordaremos a Parte Especial do Código Penal. Serão
abordados os crimes contra as pessoas, contra o patrimônio e contra a dignidade sexual.
No que diz respeito aos crimes contra a pessoa, você aprenderá quais são os principais
crimes previstos no Código Penal e o bem jurídico tutelado.
E, por fim, estudará alguns dos crimes contra a dignidade sexual, com
enfoque para as inovações legislativas sobre o tema, principalmente, sobre o crime de
“divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo
ou de pornografia”.
O art. 121 do CP inaugura o Título dos Crime contra a vida. O verbo nuclear do
tipo penal em estudo consiste em eliminar a vida extrauterina de alguém, ou seja, a
vítima do crime de homicídio não pode se encontrar em estado de gestação, pois, se
assim estiver, haverá a prática de outro crime e não homicídio.
No tocante aos sujeitos do crime, cabe destacar que o sujeito ativo, aquele
que realiza a ação de matar, pode ser qualquer pessoa, por isso, trata-se de crime
comum. Já o sujeito passivo identificado pela elementar “alguém”, também pode ser
qualquer pessoa física, isto é, ser vivo nascido de mulher.
81
O § 3º apresenta a figura do homicídio culposo, ou seja, aquele em que o autor
não pretendia tirar a vida da vítima. O homicídio culposo, terá a aplicação de uma pena
de detenção de 1 a 3 anos.
O crime de infanticídio é um crime próprio, pois somente pode ser praticado pela
mãe em estado puerperal, o qual consiste em um fenômeno biopsicológico, promovendo
uma reação hormonal que desencadeia uma reação psicológica. Esse evento domina
o pensamento da mãe, e esta perde parcialmente a capacidade de pensar. Registra-se
que, se um homem ajudar a mãe a cometer o infanticídio, este terá cometido o mesmo
crime, pois a condições e características de caráter pessoal da mãe irão se comunicar
ao homem.
82
efeito da interrupção do processo reprodutivo da espécie, vale
dizer, da gestação, antes do término normal, com consequências
eliminatórias.
O art. 129 irá tratar dos crimes de lesões corporais: “Ofender a integridade
corporal ou a saúde de outrem” (BRASIL, 1940, s.p.). Nucci ensina que (2019, s.p.)
83
Os crimes contra a honra estão dispostos entre os arts. 138 a 145 do CP. O art.
138 trata do crime de calúnia:
84
FIGURA 11 – AGENTE REALIZANDO O CRIME DE FURTO
O art. 157 (BRASIL, 1940, s.p.) trata do crime de roubo: “subtrair coisa móvel
alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois
de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência”.
O roubo é um crime mais grave que o furto. Está descrito na lei como “subtração
de coisa alheia móvel mediante grave ameaça ou violência” (BRASIL, 1940, s.p.). Nucci
aponta que “os bens jurídicos tutelados pelo direito penal contra o crime de roubo
são o patrimônio, a integridade física e a liberdade do indivíduo” (NUCCI, 2019, s.p.).
Os mesmos elementos descritos no delito de furto estão previstos no crime de roubo.
Acontece que neste está acrescentada a violência ou a grave ameaça ou a redução da
possibilidade de resistência.
85
Os arts. 158 a 160 tratam dos crimes de extorsão. A extorsão, segundo Nucci,
O art. 213 do CP inaugura o Título dos crimes contra a dignidade sexual e trata,
especificamente, do crime de estupro. “Constranger alguém, mediante violência ou grave
ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro
ato libidinoso” (BRASIL, 1940, s.p.). Com base no art. 213 do CP, a prática da conjunção
carnal e/ou de qualquer outro ato libidinoso configura a prática do crime de estupro. O §
1º do dispositivo traz uma forma qualificada do estupro. Assim, se o crime for cometido
contra vítima menor de 18 ou maior de 14 anos ou se da ação resultar lesão corporal de
natureza grave, a pena será aumentada. O §2º do mesmo dispositivo prevê uma pena
ainda mais grave se, da conduta do estupro, sobrevenha o resultado morte.
86
Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor
à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio - inclusive
por meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou
telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que
contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça
apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da vítima,
cena de sexo, nudez ou pornografia (BRASIL, 2019, s.p.).
87
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Os crimes contra a pessoa são aqueles que afetam diretamente o ser humano. Os
crimes contra o patrimônio são aqueles em que o bem jurídico tutelado pelo direito
penal é o patrimônio dos indivíduos. E que os crimes contra a dignidade sexual são
os que acometem uma das espécies do gênero dignidade da pessoa humana.
88
AUTOATIVIDADE
1 O crime de roubo e de furto são exemplos de crimes contra o patrimônio previstos
no Código Penal brasileiro. No tocante à diferença entre furto e roubo, assinale a
alternativa CORRETA:
a) ( ) Subtrair coisa alheia móvel, com emprego de violência, configura crime de furto.
b) ( ) Crime de furto e roubo são sinônimos.
c) ( ) Considera-se crime de roubo somente se houver violência, dispensando-se a
grave ameaça.
d) ( ) Subtrair coisa alheia móvel, com emprego de violência ou grave ameaça,
configura o crime de roubo.
2 O infanticídio é tido como um crime contra a vida, previsto no art. 123 do Código Penal.
Com base nas causas excludentes de punibilidade, analise as sentenças a seguir:
I- A mulher deve estar em estado puerperal para que o crime seja considerado
infanticídio, pois é elementar do crime.
II- O crime de infanticídio não pode ser praticado em concurso de pessoas, porque o
estado puerperal é íntimo da mulher.
III- Mesmo após o estado puerperal a mulher pode praticar infanticídio contra o próprio
filho.
I- Praticar qualquer ato libidinoso com menor de 14 anos não configura estupro de
vulnerável se o menor demonstrou, sem sombra de dúvidas, que queria ter a relação.
II- O crime de estupro somente se consuma se houver conjunção carnal.
III- Divulgar cenas de estupro ou sexo sem autorização configura crime de divulgação
de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de
pornografia.
89
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
b) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.
90
UNIDADE 2 TÓPICO 4 —
PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
1 INTRODUÇÃO
Os princípios da Administração Pública encontram-se explícitos, em especial, no
texto constitucional pelo art. 37. De saída, podemos observar que a Constituição Federal
elenca que a Administração Pública, seja direta ou indireta, deverá seguir aos princípios
da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade e da eficiência.
Segundo Mazza,
91
3 PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE
PÚBLICO PELA ADMINISTRAÇÃO
Segundo ensinamentos do princípio da indisponibilidade do interesse público
pela administração, o administrador não é titular da máquina pública nem do interesse
público. O gestor público administra os bens de todos, isto é, da coletividade. Dessa
forma, não pode, por exemplo, alienar um bem público sem que haja previsão expressa
em lei que o autorize.
92
O princípio da legalidade representa a subordinação da Administração
Pública à vontade popular. Com base nisso, o exercício da função administrativa não
pode ser pautado pela vontade da administração ou dos agentes públicos, mas deve,
obrigatoriamente, respeitar a vontade da lei. A partir disso, a Administração Pública
somente pode fazer o que a lei autorizar. Por outro lado, o particular pode fazer tudo
aquilo que a lei não proibir.
93
O princípio da moralidade constitui pressuposto de validade dos atos
administrativos, podendo haver invalidação do ato administrativo por ser contrário à
moralidade. A Constituição, em pelo menos três oportunidades, impõe aos agentes
públicos o dever de observância da moralidade administrativa.
Art. 5º [...]
LXXIII- qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que
vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade
de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao
meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o
autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e
do ônus da sucumbência.
Art. 5º [...]
XXXIII- todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de
seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que
serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança
da sociedade e do Estado.
94
XXXIV- são a todos assegurados, independentemente do pagamento
de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de
direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para
defesa de direitos e esclarecimento de situações de
interesse pessoal.
95
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O princípio da publicidade pode ser definido como o dever de divulgação oficial dos
atos administrativos.
96
AUTOATIVIDADE
1 O princípio da supremacia do interesse público sobre o privado é considerado como
o fundamento para o exercício das prerrogativas conferidas à Administração Pública
em busca do interesse público. Sobre esse princípio, assinale a alternativa CORRETA:
I- Legalidade.
II- Maleabilidade.
III- Pessoalidade.
IV- Publicidade.
V- Eficiência.
a) ( ) A Administração Pública somente pode fazer o que a lei autorizar. Por outro lado,
o particular pode fazer tudo aquilo que a lei não proibir.
b) ( ) Não existe vedação legal para atuação da Administração Pública.
c) ( ) O governador pode realizar qualquer ação no seu governo, independentemente
de previsão legal que autorize seu trabalho.
d) ( ) Os particulares só podem fazer aquilo que a lei permite.
97
4 No princípio da indisponibilidade do interesse público pela administração, o
administrador não é titular da máquina pública nem do interesse público. O gestor
público administra os bens de todos, isto é, da coletividade. Disserte sobre a diferença
entre o princípio da supremacia do interesse público e o princípio da indisponibilidade
do interesse público.
98
UNIDADE 2 TÓPICO 5 —
REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO E
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
1 INTRODUÇÃO
O regime jurídico administrativo é composto pelas normas que tipificam o Direto
Administrativo e destacam a Administração Pública em circunstância verticalmente
privilegiadas na relação jurídico-administrativa. Trata-se das prerrogativas da Adminis-
tração Pública e das sujeições dos administrados e dos agentes públicos no regime
jurídico em tela.
2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos Estados
e municípios e do Distrito Federal, assim preconizado no art. 1º da Constituição
Federal. Isso significa dizer que, ao contrário do modelo político de Estado Unitário, o
Estado Federativo distingue o “poder político central dos poderes atribuídos aos entes
integrantes” (CARVALHO FILHO, 2009, p. 487).
99
A Administração Pública se subdivide em: administração direta e administração
indireta. A Administração direta compreende as pessoas federativas para o exercício das
atividades de Estado. Trata-se das pessoas políticas da federação. Em âmbito federal,
a União assume o papel de Administração Pública direta, com atuação autônoma
em termos de Poder Judiciário, Executivo e Legislativo. No âmbito estadual, temos
a mesma simetria para os Estados federativos, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande
do Sul, Amazonas etc. Por fim, a Administração Pública também possui alocação em
âmbito municipal ocupado aqui pelos municípios. Ao contrário da União e dos Estados,
o “município não tem Judiciários próprio, mas tem Legislativo (Câmara Municipal),
que também poderá dispor sobre sua organização, a símile do que ocorre nas demais
esferas” (CAVALHO FILHO, 2009, p. 494).
100
de vinculação, às pessoas políticas da federação, nas quais está a
respectiva administração direta. Por Fim, o objetivo se sua instituição –
a atuação estatal descentralizada.
Autarquia
101
São exemplos de autarquias:
Empresas Públicas
102
Sociedade de Economia Mista
103
5 FUNDAÇÃO PÚBLICA DE DIREITO PÚBLICO
Quanto às Fundações Públicas, por sua vez, trata-se de pessoa jurídica de
direito privado com finalidades não lucrativas e criadas mediante autorização legislativa.
Conforme o art. 5º, inc. IV, podemos dizer que as Fundações Públicas possuem o
objetivo de “desenvolvimento de atividades que não exijam execução por órgãos ou
entidades de direito público, com autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido
pelos respectivos órgãos de direção, e funcionamento custeado por recursos da União
e de outras fontes”.
104
LEITURA
COMPLEMENTAR
O INTERESSE PÚBLICO AINDA RESPIRA BEM,
MAS NECESSITA SEMPRE DE CUIDADOS INTENSIVOS
Fabrício Motta
Segundo a revista Veja, “em meados do ano passado, a Lava Jato já havia
deflagrado três dezenas de operações. As empresas do grupo J&F, dos irmãos Joesley
e Wesley Batista, ainda não haviam caído na teia, mas já eram alvo de investigações que
apuravam suspeitas de pagamento de propina para obter financiamentos no BNDES e
na Caixa Econômica Federal. Na época, longe de Brasília, no píer de uma mansão em
Mangaratiba, no Rio de Janeiro, uma pequena lancha aportou para apanhar um grupo
que havia chegado para um fim de semana de lazer. Todos a bordo, a embarcação rumou
mar adentro, até encontrar o iate Why Not. Para os ministros do TCU, era o começo de um
animado dia de mordomias, com boa comida, champanhe e vinho da melhor qualidade,
tudo diante de uma paisagem deslumbrante”. Segundo a reportagem, um dos ministros
negou que tenha beneficiado o Grupo J&F nos processos em trâmite no TCU, alegando
que votou a favor do prosseguimento de investigações sobre as empresas do grupo.
Ora, se não houve favorecimento, why not?
105
As sutilezas jurídicas que envolvem a proteção do interesse público não
comportam análise nesta coluna, razão pela qual remeto o leitor a estudos de autores
que já trataram do tema com profundidade e propriedade. Entretanto, algumas
características gerais atuais do conceito de interesse público – ou da investigação em
sua busca – podem ser colacionadas, sem pretensão de exaurimento: a) não existe
realização válida do interesse público pela Administração Pública fora dos quadros da
juridicidade (não há um interesse público por natureza que seja revelado ou aplicado
em sentido contrário à lei ou face a condutas desconformes com a lei, como ressalta
Paulo Otero); b) interesse público não se confunde com interesse do Estado, e este não
detém exclusividade na realização do interesse público; c) a complexidade da sociedade
e do ordenamento jurídico permitem identificar a existência de diversos interesses
igualmente públicos; e d) interesse público e interesses privados não se encontram
necessariamente em campos opostos, pois a defesa do direito ou do interesse
juridicamente protegido do particular (se considero a categoria de interesses legítimos,
por exemplo) é decorrência do interesse público.
106
A Lei Federal nº 12.813/13 regula as situações que configuram conflito de
interesses envolvendo ocupantes de cargo ou emprego no âmbito do Poder Executivo
Federal, os requisitos e restrições a ocupantes de cargo ou emprego que tenham
acesso a informações privilegiadas, os impedimentos posteriores ao exercício do
cargo ou emprego e as competências para fiscalização, avaliação e prevenção de
conflitos de interesse. A lei não se afasta das diretrizes gerais da OCDE ao identificar
como conflito de interesse, por exemplo, “receber presente de quem tenha interesse
em decisão do agente público ou de colegiado do qual este participe fora dos limites
e condições estabelecidos em regulamento” (artigo 5º, VI). A lei estabelece ainda um
sistema interessante para a gestão dos conflitos, incluindo a identificação e avaliação
das situações, além da possibilidade de orientação e esclarecimento de dúvidas e
controvérsias interpretativas.
Percebe-se que essa política possui não somente uma vertente normativa
(composta de leis, como a Lei nº 12.813/13, códigos de ética e conduta), como outra
institucional/organizacional (a colocar em relevo a importância de instituições
permanentes, com autonomia, competência e poderes para fazer cumprir suas
decisões). Ainda assim, de nada adiantará um marco normativo adequado, a ser
aplicado por instituições igualmente adequadas, se não for discutida com seriedade a
profissionalização da função pública. Nesse particular, a influência político-partidária no
provimento de cargos estruturais do Estado, sobretudo por intermédio dos cargos em
comissão, vai na contramão de qualquer tentativa de profissionalização.
FONTE: MOTTA, F. O interesse público ainda respira bem, mas necessita sempre de cuidados intensivos.
Conjur. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2017-nov-02/interesse-publico-interesse-publico-
ainda-respira-bem-necessita-cuidados. Acesso em: 7 ago. 2021.
107
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
108
AUTOATIVIDADE
1 A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
da impessoalidade, da moralidade, da publicidade e da eficiência. No que diz respeito
aos princípios da Administração Pública, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) A Administração Pública somente pode fazer o que a lei autorizar. Por outro lado,
o particular pode fazer tudo aquilo que a lei não proibir.
b) ( ) Não existe vedação legal para atuação da Administração Pública.
c) ( ) O governador pode realizar qualquer ação no seu governo, independentemente
de previsão legal que autorize o seu trabalho.
d) ( ) Os particulares só podem fazer aquilo que a lei permite.
109
REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de
Janeiro, 7 dez. 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/
del2848compilado.htm. Acesso em: 22 jul. 2021.
COUTO, R. Curso de direito administrativo. 3 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
MAZZA, A. Manual de direito administrativo. São Paulo: Saraiva Educação SA, 2020.
MOTTA, F. O interesse público ainda respira bem, mas necessita sempre de cuidados
intensivos. Revista Consultor Jurídico, [s. l.], 2 nov. 2017. Disponível em: https://
www.conjur.com.br/2017-nov-02/interesse-publico-interesse-publico-ainda-respira-
bem-necessita-cuidados. Acesso em: 6 ago. 2021.
110
UNIDADE 3 —
DIREITO DO TRABALHO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em seis tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 3 – JORNADA
TÓPICO 5 – FÉRIAS
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
111
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
Acesse o
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112
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos os princípios do Direito do Trabalho,
aprenderemos seus conceitos e as suas aplicações no dia a dia da prática jurídica.
A correta compreensão dos princípios em Direito do Trabalho é a peça-chave para
alavancar o estudo de outros conceitos. Dessa forma, trata-se de um ponto de partida
fundamental para o estudo avançado.
2 PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO
O princípio da proteção disciplina que a parte mais frágil da relação processual
trabalhista será protegida. Isso significa que as normas serão interpretadas e aplicadas
da maneira mais favorável ao trabalhador, visando ao estreitamento dos poderes das
partes, na busca do equilíbrio na relação processual. O princípio objetiva ainda oferecer
uma maneira de compensar a superioridade financeira e a técnica do empregador
em relação ao trabalhador. Ressalta-se que esse princípio não protege todos os
trabalhadores, mas o empregado.
113
FIGURA 1 – SUPERIORIDADE DO EMPREGADOR DIANTE DOS EMPREGADOS
3 PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE
Também chamado de princípio da irrenunciabilidade de direitos, esse princípio
impede que o trabalhador renuncie a direitos trabalhistas. Tal comando está subentendido
nos arts. 9º, 468 e 500 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), havendo ainda outros
textos normativos em que tal princípio encontra-se embutido. Importa ressaltar, ainda,
que a Súmula 276 do Tribunal Superior do Trabalho (TST) evidencia o seu conteúdo:
“o direito ao aviso prévio é irrenunciável pelo empregado. O pedido de dispensa de
cumprimento não exime o empregador de pagar o respectivo valor, salvo comprovação
de haver o prestador dos serviços obtido novo emprego” (BRASIL, 2003, s.p.).
114
O princípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas também está relacionado
com a busca de paridade entre os integrantes dos polos empregatícios. Mesmo sendo
considerado como um dos princípios mais importantes do direito do trabalho, em 2017,
com a reforma trabalhista, o princípio da indisponibilidade sofreu algumas modificações.
Assim, alguns acordos realizados entre empregado e empregador que antes eram tidos
como impossíveis de se concretizar, a partir de 2017 se tornaram possíveis.
Anote-se que, mesmo com as relativizações trazidas pela reforma de 2017, a CLT
ainda mantém o cerne do caráter indisponível e irrenunciável dos direitos trabalhistas.
ATENÇÃO
Em Direito do Trabalho, não se admite que o trabalhador renuncie
aos seus direitos. Se, por exemplo, o empregado decidir renunciar
ao seu direito de gozar férias, tal ato não terá qualquer validade,
pois, sendo um direito trabalhista é, portanto, irrenunciável. Nesse
sentido, o art. 9º da CLT assim prevê: “serão nulos de pleno direito
os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar
a aplicação dos preceitos trabalhistas” (BRASIL, 1943, s.p.).
115
5 PRINCÍPIO DA CONDIÇÃO MAIS BENÉFICA
Assim como o princípio da norma mais favorável, esse princípio também é um
desdobramento do princípio da proteção. O princípio da condição mais benéfica ordena
que, sobrevindo norma jurídica menos vantajosa ao trabalhador, prevalecerá aquela
anteriormente criada, por ser mais benéfica. Perceba-se que esse princípio guarda
estreita relação com o princípio da segurança jurídica, e visa à proteção do trabalhador
prevista no caput do art. 7º da Constituição Federal. Esse princípio também pode ser
visualizado no art. 468 da CLT, segundo o qual assim dispõe:
Pode-se dizer, ainda, sobre o princípio da condição mais benéfica, que este
prediz que as vantagens já conquistadas pelo trabalhador não podem ser modificadas
para pior. Trata-se da regra do direito adquirido, prevista no art. 5º, XXXVI da Constituição
Federal. Um exemplo claro de aplicação deste princípio está previsto na Súmula 51 do
TST, segundo a qual “as cláusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens
diferidas anteriormente, só atingirão os trabalhadores admitidos após a revogação ou
alteração do regulamento” (BRASIL, 2005, s.p.).
116
FIGURA 2 – CORTE SALARIAL DE TRABALHADOR
117
A título de exemplo podemos ilustrar um caso hipotético em que o empregador efetue
pagamentos ao trabalhador superiores àqueles previstos no contrato de trabalho. Nesse
caso, a realidade irá se sobressair sobre a forma e os valores que servirão para uma
futura base de cálculo em uma ação trabalhista serão os efetivamente pagos e não os
previstos no contrato de trabalho.
IMPORTANTE
Em direito do trabalho, a busca pela realidade na relação de
trabalho prevalece sobre aquilo que está documentado, a fim de
que o trabalhador seja protegido, mesmo que tenha assinado
ou, supostamente, pactuado em documento que diverge da sua
condição real de trabalho.
118
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Os princípios são normas que podem ser aplicadas diretamente, em um caso concreto,
como podem funcionar como peças de integração do sistema jurídico, auxiliando os
operadores a preencherem as lacunas existentes na legislação.
• O princípio da norma mais favorável estabelece que, existindo mais de uma norma
aplicável ao caso concreto, prevalecerá aquela que mais beneficie o empregado.
Nesses termos, existe uma vedação ao retrocesso trabalhista.
• O princípio da condição mais benéfica ordena que, sobrevindo norma jurídica menos
vantajosa ao trabalhador, prevalecerá aquela anteriormente criada, por ser mais
benéfica.
119
AUTOATIVIDADE
1 Os princípios são normas que possuem função de integrar a ordem jurídica. Assim, a
aplicabilidade dos princípios na prática trabalhista é muito grande. No que diz respeito
ao princípio da proteção, assinale a alternativa CORRETA:
2 O art. 8º da CLT (BRASIL, 1943, s.p.) aponta as fontes do Direito do Trabalho destacando
que tanto os princípios gerais quanto os princípios específicos serão aplicados
no direito do trabalho. Com base nisso, quando o juiz for interpretar determinada
norma, ele deve considerar aquela que seja mais favorável ao trabalhador. Assinale
a alternativa CORRETA que corresponda à passagem expressa anteriormente:
a) ( ) Por possuir natureza alimentar, o salário não pode ser unilateralmente reduzido.
b) ( ) Somente os trabalhadores que recebem salário-mínimo serão protegidos pela
irredutibilidade salarial, dado a sua condição de hipossuficiente.
c) ( ) O salário pode ser reduzido, desde que o trabalhador aceite de maneira individual.
d) ( ) O salário pode ser reduzido por meio de decreto.
120
5 O princípio da norma mais favorável pode ser visualizado em três esferas relacionadas
ao direito do trabalho, quais sejam: a) na elaboração das normas; b) no conflito de
normas; e na interpretação de normas. A partir disso, imagine que João trabalhe em
uma empresa XYZ e, em seu contrato de trabalho, consta que não haverá expediente
noturno. No entanto, surge a necessidade de aumento da produção e a empresa
XYZ altera o contrato de trabalho de João para que ele trabalhe no período noturno.
Considerando essa situação hipotética, a ação da empresa XYZ está abarcada pela
legislação trabalhista? Disserte sobre o assunto.
121
122
UNIDADE 3 TÓPICO 2 —
RELAÇÃO DE EMPREGO X RELAÇÃO
DE TRABALHO
1 INTRODUÇÃO
Agora, no Tópico 2, abordaremos a necessária distinção entre as relações de
emprego e de trabalho, conceitos que, muitas vezes, são confundidos (até mesmo pela
própria legislação trabalhista) e cuja diferenciação se faz necessária.
123
Art. 442. Contrato individual de trabalho é o acordo tácito ou expresso,
correspondente à relação de emprego.
[…]
Art. 443. O contrato individual de trabalho poderá ser acordado
tácita ou expressamente, verbalmente ou por escrito, por prazo
determinado ou indeterminado, ou para prestação de trabalho
intermitente (BRASIL, 1943, s. p.).
2 CONCEITOS
Martins (2019, p. 161), ao conceituar contrato de trabalho (aqui, melhor
compreendido como contrato de emprego, disciplinado pela legislação trabalhista),
o define como:
3 ELEMENTOS CARACTERIZADORES
O contrato tratado pela CLT (que, apesar de dizer “trabalho”, melhor se qualifica
como de “emprego”) refere-se ao trabalho não gratuito e contínuo, prestado de forma
hierarquicamente subordinada pelo empregado ao empregador. A relação de emprego
importa em elementos caracterizadores. São eles: continuidade, subordinação,
onerosidade, pessoalidade e alteridades. Detalharemos cada um desses elementos
a seguir.
124
Quanto à subordinação, podemos defini-la como a dependência do empregado à
direção do empregador. Na relação de emprego, a atividade econômica em que trabalha o
empregado é dirigida e comandada pelo empregador, que também assume todos os riscos
dessa atividade. Nesse caso, o empregado se coloca à disposição do empregador para
produzir conforme as orientações deste, conforme entender conveniente ao negócio.
125
A pessoalidade importa em dizer que emprego é intuito personae. Ou seja,
personalíssimo, pactuado com pessoa determinada e insubstituível. Nessa situação,
o empregado apenas pode ser pessoa física, pois não há relação de emprego entre
contratante e pessoa jurídica. Por isso, dispõe-se que o contrato de trabalho é pessoal
e intransferível. Em caso de necessidade de substituição ou troca de empregado, o
contrato deve ser encerrado e outro deve ser formulado.
126
FIGURA 7 – EMPREGADOS EM LINHA DE PRODUÇÃO
Por sua vez, o empregador será a pessoa física ou jurídica que está à frente da
atividade econômica e assume todos os riscos. Ele será o responsável por comandar a
atividade, contratar, orientar e dirigir o trabalho dos empregados, mediante o pagamento
de salário.
127
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O direito brasileiro não faz distinção entre empregado e operário, isto é, para a
legislação trabalhista brasileira, não importa se o trabalho é intelectual ou manual, a
proteção será a mesma.
128
AUTOATIVIDADE
1 O direito do trabalho é um ramo do direito responsável por abarcar as relações de
trabalhos. No que concerne às peculiaridades entre relação de emprego e relação de
trabalho, assinale a alternativa CORRETA:
I- Para caracterizar a relação de emprego, a prestação do serviço pode ser feita por
pessoa física ou jurídica.
II- A pessoalidade e a não eventualidade são alguns dos requisitos para caracterizar a
relação de emprego, embora não sejam cumulativos.
III- A subordinação do empregado ao empregador é um dos requisitos para caracterizar
a relação de emprego.
I- Nos moldes do art. 3º, da CLT, o empregado somente será pessoa física.
II- Para ser considerado empregador, o sujeito da relação de trabalho deve assumir os
riscos da atividade econômica.
III- O empregador, dentre outras atividades, assalaria e dirige a prestação pessoal de
serviço.
129
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença III está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença I está correta.
d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
4 Em uma análise fora do campo jurídico, trabalho e emprego podem ser entendidos
como sinônimos. Acontece que, assim como em todo ramo do direito, a seara
trabalhista possui termos técnicos que devem ser observados e seguidos, sob pena
de incorrer em atecnia jurídica. Dito isso, elenque as principais características sobre
relação de trabalho e relação de emprego.
5 A CLT (BRASIL, 1943, s.p.) versa sobre o trabalho do menor e apresenta algumas
peculiaridades. A título de exemplo, uma função que pode ser exercida pelos menores
é o estágio. Outro exemplo que merece destaque é o caso do menor aprendiz. A partir
disso, aponte qual é a idade legal para o trabalho dos menores, a jornada de trabalho
e as restrições impostas aos trabalhos dos menores.
130
UNIDADE 3 TÓPICO 3 —
JORNADA
1 INTRODUÇÃO
Agora, no Tópico 3, abordaremos o tema “jornada de trabalho”. A legislação
brasileira oferece olhar especial à jornada do trabalhador, pois, ao regulamentá-la, estão
sendo observados os limites de saúde do trabalhador, as horas que devem lhe restar
para outras tarefas durante o dia, como, subsistência, alimentação, lazer etc.
131
2 ESPÉCIES DE JORNADA
Conforme apresentando no tópico anterior, a jornada pode ser entendida como
uma contagem de tempo em que o empregado realiza suas atividades. Em outras
palavras, a jornada é a quantidade de trabalho fornecida, diariamente, pelo empregado
ao empregador em decorrência de uma pactuação entre as partes.
Por sua vez, o tempo in intinere representa o lapso temporal em que o trabalhador
dispende para chegar e voltar do trabalho. Com a reforma trabalhista de 2017, o art. 58,
§2º da CLT passou a prever expressamente que o tempo in intinere não integrará a
jornada de trabalho do empregado. Eis o dispositivo mencionado:
132
3 DURAÇÃO DO TRABALHO
Observa-se que a teoria do tempo à disposição do empregador considera como
duração do trabalho o momento em que o empregado, não apenas está trabalhando,
mas também os momentos em que ele está de prontidão, aguardando ser acionado; os
momentos em que ele está de sobreaviso; e os momentos em que ele está na empresa,
à disposição do empregador. A CLT (BRASIL, 1943, s.p.) prevê exemplos dessa teoria nos
arts. 294 (que trata sobre o trabalho dos mineiros); 238 e 244, § 2º (que versam sobre
o trabalho dos ferroviários); e a Súmula 229 do TST (BRASIL, 2003, s.p.), que regula o
sobreaviso dos eletricitários.
Cabe, ainda, dizer que o art. 4º da CLT assim prevê: “considera-se como serviço
efetivo o período em que o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando
ou executando ordens, salvo disposição especial expressamente consignada” (BRASIL,
1943, s.p.).
133
4 PERÍODO DE DESCANSO
Os trabalhadores possuem direito a descansar entre os turnos de trabalhos. Tanto
entre turnos de dias diferentes, quanto dentro do mesmo turno quando estiverem em
uma jornada de trabalho extensiva. Ou seja, durante a jornada de trabalho, propriamente
dita, ou entre uma jornada e outra. Estudaremos agora apenas os intervalos relacionados
à jornada de trabalho.
Após a reforma trabalhista de 2017, foi introduzido o art. 611-A. Nos moldes
do inc. III desse dispositivo, o empregado que possuir uma jornada acima de 6 horas,
poderá ser reduzido o intervalo intrajornada, desde que respeitado o limite mínimo de 30
minutos. Eis o dispositivo em análise:
Deve-se deixar claro que essa redução não significa uma discricionariedade do
empregador. Assim para haver a redução é imprescindível a presença de uma convenção
ou um acordo coletivo de trabalho, nos quais deverão constar todas as disposições
acerca do descanso e da alimentação dos empregados.
Outro ponto importante que deve ser avocado e que diz respeito ao intervalo
intrajornada é que esse lapso temporal de descanso não integrará as horas trabalhadas.
Isso significa dizer que se um empregado possui a jornada diária de 8 horas, ele deverá
permanecer no trabalho pelo período de 9 horas, pois a diferença de 1 hora será destinada
ao intervalo de descanso intrajornada.
134
O intervalo interjornada é aquele em que o trabalhador possui um tempo
para descansar entre um dia e outro de trabalho. Ou seja, entre uma jornada de trabalho
e outra. O art. 66, da CLT (BRASIL, 1943, s.p.), regulamenta o intervalo interjornada ao
dispor que, entre duas jornadas de trabalho, deve haver um intervalo mínimo de 11 horas
consecutivas para descanso.
135
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Quanto aos intervalos relacionados à jornada de trabalho, esses podem ser de dois
tipos: interjornada ou intrajornada.
136
AUTOATIVIDADE
1 A jornada pode ser compreendida como o lapso temporal diário em que o trabalhador
disponibiliza seus serviços ao empregador. No que se refere à jornada, assinale a
alternativa CORRETA:
2 As normas que versam sobre a jornada de trabalho estão intimamente ligadas com
a saúde dos trabalhadores e com a harmonia do meio ambiente do trabalho. Sobre o
intervalo de jornada, analise as sentenças a seguir:
3 A CLT prevê os períodos de descanso dos trabalhadores. Esses períodos podem ser,
por exemplo, intrajornada ou extrajornada. No tocante ao descanso dos trabalhadores,
analise as sentenças a seguir:
137
4 João trabalha em uma empresa de serviço de assistência técnica para computadores.
Nessa empresa, a sua jornada de trabalho tem duração de 6 horas. A empresa está
obrigada a permitir que João faça uma pausa? Qual é a regra geral sobre os intervalos
intrajornada?
138
UNIDADE 3 TÓPICO 4 —
REMUNERAÇÃO X SALÁRIO
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, neste tópico, abordaremos o tema da remuneração e do salário do
trabalhador. A remuneração é a contraprestação que o trabalhador recebe pelas horas
de serviço prestadas ao empregador. Além disso, é possível entender a remuneração
como um gênero composto pelo salário e pelas gorjetas. O salário é pago diretamente
pelo empregador ao empregado, enquanto que as gorjetas são pagas por terceiros.
É por essa razão que este tema deve ser objeto de muita atenção e estudo.
Como exemplo, tomemos o salário mínimo, o qual deve (ou, pelo menos, deveria) ser
suficiente para garantir ao trabalhador a sua alimentação digna, vestimentas, acesso à
saúde e à educação de qualidades. Entretanto, na prática, vemos que isso não acontece.
Por essa razão, à medida em que avançamos com os estudos em direito do trabalho,
fica mais claro o quanto ainda precisamos progredir, e apenas será possível com a
conscientização e a mobilização da sociedade e de seus líderes.
139
2 CONCEITOS
A remuneração do empregado é a retribuição, a contraprestação salarial pelo
serviço prestado. A remuneração é disciplinada pelo Capítulo II da CLT, que, em seu art.
457, assim rege:
140
O objetivo da remuneração é que o trabalhador, com ela, possa garantir a sua
subsistência e de sua família. O valor do mínimo necessário à subsistência deveria
ser aquele fixado no salário mínimo, mas sabemos que, na realidade, isso dificilmente
acontece.
141
3 ADICIONAIS
Os adicionais são contraprestações suplementares, pagas ao empregado em
razão da prática de atividades em situações ou circunstâncias especiais. São exemplos
de adicionais: a insalubridade e a periculosidade.
142
4 VERBAS QUE POSSUEM NATUREZA SALARIAL
O § 1º, do art. 457, da CLT prevê que “integram o salário a importância fixa
estipulada, as gratificações legais e as comissões pagas pelo empregador” (BRASIL,
1943, s.p.). Assim, são verbas de natureza salarial, o salário in natura, as comissões,
as gratificações e a gorjeta. Por sua vez, possuem caráter indenizatório as diárias, os
prêmios, as ajudas de custo, a participação nos lucros, o salário-família e o abono. Como
mencionado anteriormente, o salário in natura é aquele pago por meio de utilidades
(moradia, alimentação, vestuário etc.), conforme previsto no art. 458 da CLT.
143
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
144
AUTOATIVIDADE
1 O art. 3º da CLT aponta que um dos elementos caracterizadores da relação de emprego
é a onerosidade. No tocante à remuneração e salário, analise as sentenças a seguir:
I- Com base na isonomia salarial, os trabalhos de igual valor devem possuir o mesmo
salário.
II- O salário e a gorjeta formam a remuneração.
III- As gorjetas somente podem ser pagas pelo empregador e não podem ser pagas por
terceiros.
145
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença I está correta.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
4 O salário será composto por diferentes parcelas, que em sua composição, são formadas
por cinco elementos: habitualidade, periodicidade, quantificação, essencialidade e
reciprocidade. Disserte sobre, ao menos, três elementos das verbas remuneratórias.
146
UNIDADE 3 TÓPICO 5 —
FÉRIAS
1 INTRODUÇÃO
No Tópico 5, estudaremos sobre as férias. Elas são um direito do trabalhador.
Gozar férias não é apenas uma medida de lazer, mas de saúde e de segurança. Isso
porque há uma relação direta entre a realização de descanso do trabalho com a
diminuição de acidentes no trabalho, de forma que as férias são uma pausa necessária.
147
2 DIREITO ÀS FÉRIAS E SUA REMUNERAÇÃO
A Constituição Federal garantiu ao trabalhador um adicional de 1/3 em sua
remuneração durante o período de férias. Além de ser uma retribuição extra para o
empregado. Esse adicional é concedido no período de férias para incentivar o turismo e
impulsionar a economia.
148
FIGURA 17 – TRABALHADORA AGUARDANDO PERÍODO DE FÉRIAS
3 ADICIONAIS
E como deve ser realizado o cálculo do adicional de 1/3 nos casos em que o
salário recebido pelo trabalhador é variável? Nesse caso, o cálculo das férias é realizado
sobre o valor das parcelas habitualmente recebidas pelo trabalhador.
Assim prevê o art. 58-A, § 6º, da CLT: “é facultado ao empregado contratado sob
regime de tempo parcial converter um terço do período de férias a que tiver direito em
abono pecuniário” (BRASIL, 1943, s.p.).
149
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• As férias são um direito tão importante do trabalhador, que não podem ser renunciadas
em sua integralidade (ou “vendidas”, na linguagem popular).
• No cenário brasileiro, portanto, são características das férias: anuais e devem ser
de, no mínimo, 30 dias; remuneradas, tendo a Constituição Federal previsto um
adicional mínimo de 1/3; direito de todos os empregados; e irrenunciáveis; podendo
ser individuais ou coletivas.
• As férias são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social.
150
AUTOATIVIDADE
1 Quando um contrato de trabalho é extinto e são visualizadas férias adquiridas e não
gozadas, elas deverão ser indenizadas. Com base nisso, analise as sentenças a seguir:
3 As férias são direitos indisponíveis do trabalhador, ou seja, não podem ser cedidas
a outrem. Ainda sobre as características das férias, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:
151
( ) As férias são consideradas como um direito de todo empregado, por isso não podem
ser coletivas.
( ) O prazo mínimo do período de férias é de 30 dias, e o trabalhador não terá prejuízo
na remuneração.
( ) As férias serão remuneradas com um acréscimo de, no mínimo, 1/3 do valor do
salário recebido.
4 As férias podem ser entendidas como um descanso por um lapso temporal longo com
o fito de que o trabalhador recupere as suas energias para a continuidade da relação de
emprego. Disserte sobre o direito de férias, respondendo a partir de quanto tempo de
trabalho prestado que o trabalhador possuirá o direito de férias, e por quanto tempo
ele poderá ficar afastado?
152
UNIDADE 3 TÓPICO 6 —
EXTINÇÃO CONTRATUAL
1 INTRODUÇÃO
No Tópico 6, estudaremos sobre a extinção contratual, que é o término do pacto
laboral, que se dá mediante a rescisão do contrato de trabalho, isto é, o fim do vínculo
entre empregador e empregado. A extinção do contrato de trabalho pode ocorrer por
vontade do empregador ou do empregado. No entanto, a CLT prevê hipóteses em que
pode ser aplicada a decisão por justa causa.
153
2 RESCISÃO INDIRETA
A rescisão indireta ocorre quando o empregado decide romper o seu vínculo
contratual empregatício em razão de justa causa praticada pelo empregador. Tal
situação está prevista e autorizada pelo art. 483 da CLT (BRASIL, 1943, s.p.):
3 PEDIDO DE DEMISSÃO
O contrato de trabalho pode ser rescindido por vontade do empregado, através
do pedido de demissão. Trata-se de um ato unilateral, no qual o empregado comunica ao
empregador que deseja se desligar do serviço. Nessa modalidade de rescisão contratual,
o empregado deverá realizar aviso prévio para que o empregador tenha tempo hábil para
substituí-lo sem prejuízo ao seu negócio. Caso o empregado não cumpra o aviso prévio,
é permitido ao empregador descontar o valor correspondente aos dias não trabalhados
do montante devido (verba rescisória), caso queira.
154
FIGURA 18 – EMPREGADO INFORMANDO A DEMISSÃO AO EMPREGADOR
155
§ 8º - A inobservância do disposto no § 6º deste artigo sujeitará o
infrator à multa de 160 BTN, por trabalhador, bem assim ao pagamento
da multa a favor do empregado, em valor equivalente ao seu salário,
devidamente corrigido pelo índice de variação do BTN, salvo quando,
comprovadamente, o trabalhador der causa à mora.
§ 9º (vetado).
§ 10. A anotação da extinção do contrato na Carteira de Trabalho
e Previdência Social é documento hábil para requerer o benefício
do seguro-desemprego e a movimentação da conta vinculada
no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, nas hipóteses legais,
desde que a comunicação prevista no caput deste artigo tenha sido
realizada (BRASIL, 1943, s. p., grifos nossos).
5 CULPA RECÍPROCA
A culpa recíproca é a modalidade de extinção do contrato de trabalho em que,
simultaneamente, empregador e empregado cometem a prática de falta grave. Essa
forma de rescisão contratual está prevista no art. 484 da CLT, que preceitua: “havendo
culpa recíproca no ato que determinou a rescisão do contrato de trabalho, o tribunal
de trabalho reduzirá a indenização à que seria devida em caso de culpa exclusiva do
empregador, por metade” (BRASIL, 1943, s.p.).
As faltas graves que devem cometer ambas as partes para que ocorra esse tipo
de rescisão contratual são as mesmas previstas pelo art. 482 (faltas do empregado) e
pelo art. 483 (faltas do empregador) da CLT (BRASIL, 1943, s.p.). Além disso, deve estar
presente o elemento do nexo causal entre as faltas do empregador e do empregado, isto
é, ambas devem estar relacionadas para que configure a rescisão por culpa recíproca.
156
6 FALÊNCIA DE EMPRESAS
Em nossa contemporaneidade, o risco é inerente à atividade econômica de todo
o empresário, e os riscos do negócio são inerentes a todo o empreendedor em nosso
contexto econômico. Destaca-se que nem sempre o insucesso da atividade empresarial
é vinculado à inaptidão de desenvolvimento da empresa. Cenários de infortúnios ou
de condições inesperadas podem provocar graves crises econômico-financeira em
empresas.
157
Nas palavras de Sacramone (2021, p. 54):
158
LEITURA
COMPLEMENTAR
DIREITOS FUNDAMENTAIS LABORAIS E SUA EFETIVIDADE NO BRASIL
159
Mas a grande pergunta que se faz é se tais disposições são realidade no dia a dia
do povo brasileiro e, especialmente, dos trabalhadores. A resposta, em grande parte das
situações é negativa, principalmente nos momentos de crise que vive o país, quando o
trabalhador, premido pela necessidade do emprego, submete-se às mais degradantes
condições de trabalho e não se anima a reclamar seus direitos individualmente. Exemplo
inconteste é o que se vive no momento, agravado pela reforma trabalhista de 2017, que,
ao invés de cumprir o prometido (modernização das relações de trabalho e criação de
novos empregos), vem provocando mais precarização do trabalho, especialmente pela
sua intensa informalidade. Ademias, e para piorar ainda mais a situação de desemprego
e as condições de trabalho, veio a crise da Covid-19, que, lamentavelmente, promete
mais desestruturação do mercado de trabalho.
Disse Norberto Bobbio, em uma das suas obras ("A era dos direitos"), que o
grande problema, no entanto, é transformar em realidade esses direitos, uma vez que
teoria e prática andam em caminhos opostos, em velocidades bastante desiguais.
Adverte Norberto Bobbio que "nos últimos anos falou-se e continua a se falar de direitos
do homem, entre eruditos, filósofos, juristas, sociólogos e políticos, muito mais do que se
conseguiu fazer até agora para que eles sejam reconhecidos e protegidos efetivamente, ou
seja, para transformar aspirações (nobres, mas vagas), exigências (justas, mas débeis),
em direitos propriamente ditos (isto é, no sentido em que os juristas falam de 'direito')".
Assim, cabe ao Estado não só criar direitos, mas também atuar sobre sua
efetividade, apresentando-se como uma das formas de efetivar esses direitos a utilização
da jurisdição coletiva no processo do trabalho, especialmente pelos sindicatos, que, na
grande maioria, ainda não vislumbraram essa forma coletiva de defesa e concretização
dos direitos das respectivas categorias. É certo que, para uma boa aplicação dos novos
instrumentos processuais coletivos, necessita-se ultrapassar barreiras tradicionais
do velho sistema individualista ortodoxo que marcou todo o século passado, com boa
compreensão do Poder Judiciário, que também será beneficiado com a diminuição do
grande número de ações individuais que abarrotam os fóruns trabalhistas.
FONTE: MELO, R. S. Direitos fundamentais laborais e sua efetividade no Brasil. Revista Consultor
Jurídico, 19 de março de 2021. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-mar-19/reflexoes-
trabalhistas-direitos-fundamentais-laborais-efetividade-brasil. Acesso em: 12 ago. 2021.
160
RESUMO DO TÓPICO 6
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A CLT é taxativa em relação às hipóteses que ensejam a demissão por justa causa,
que se limitam estritamente àquelas previstas pelo art. 482, da CLT.
• A rescisão indireta ocorre quando o empregado decide romper o seu vínculo contratual
empregatício em razão de justa causa praticada pelo empregador.
161
AUTOATIVIDADE
1 A extinção do contrato de trabalho pode ocorrer de diversas formas. A título de
exemplo, é possível citar a demissão sem justa causa, o pedido de demissão ou
a rescisão indireta. Considerando as disposições sobre a extinção do contrato de
trabalho, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) O trabalhador demitido por justa causa não terá direito a receber os valores
proporcionais referentes às férias e ao 13º salário.
( ) O trabalhador pode rescindir seu contrato de trabalho. Para tanto, deverá avisar com
antecedência ao seu empregador e cumprir o aviso prévio.
( ) A extinção do contrato de trabalho sem justa causa é considerada quando o
empregador demite o empregado sem que o trabalhador tenha cometido alguma
falta grave incompatível com a continuidade da relação.
162
a) ( ) Deixar de declarar imposto de renda.
b) ( ) Prática ocasional de jogos de azar.
c) ( ) Negociação habitual por conta própria ou alheia sem permissão do empregador.
d) ( ) Descumprir ordem do empregador, ainda que a ordem seja para cometar ato
contra a lei.
163
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado
Federal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao.htm. Acesso em: 12 ago. 2021.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula nº 229. Por aplicação analógica do art.
244, § 2º, da CLT, as horas de sobreaviso dos eletricitários são remuneradas à base de
1/3 sobre a totalidade das parcelas de natureza salarial. Brasília, DF: Superior Tribunal
de Justiça, [2003]. Disponível em: https://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_
com_indice/Sumulas_Ind_201_250.html#SUM-229. Acesso em: 11 ago. 2021.
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