Livro Sociologia - A Construção Da Modernidade - 3º Anos
Livro Sociologia - A Construção Da Modernidade - 3º Anos
Livro Sociologia - A Construção Da Modernidade - 3º Anos
SOCIOLOGIA A 04
A construção da modernidade
A construção Neste capítulo, abordaremos alguns dos temas que se
tornaram objeto de estudo das Ciências Sociais e são incontor-
da Modernidade náveis na atualidade, trazendo nomes importantes da Socio-
logia, do século XX, para a reflexão social contemporânea.
As reflexões iniciadas pelo positivismo, no século XIX,
desencadearam uma série de novos caminhos que buscavam
Minorias
investigar cientificamente a vida em sociedade. Vimos que Questão Étnico-racial
Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber foram os principais
No século XIX, com o desenvolvimento da biologia,
nomes a oferecer os primeiros caminhos sociológicos para
do positivismo e do evolucionismo social, surgiram as
interpretar a vida em sociedade. Após eles, seguiram-se
chamadas teorias do racismo científico ou racialismo, que
muitos outros pensadores nessa árdua tarefa, partindo das
postulavam uma relação determinista entre raça e progresso.
análises dos sociólogos tidos como clássicos e criando novas
Para teóricos como os britânicos Herbert Spencer, Robert
ferramentas de interpretação da sociedade. No século XX,
Knox e Samuel George Morton, parecia evidente que o
a investigação sobre a vida em sociedade se ramificou em segredo do sucesso civilizacional europeu se encontrava na
muitas disciplinas, como a Antropologia, a Psicologia Social, genética privilegiada das raças brancas, ao contrário das
a Economia e várias subdivisões da Sociologia (política, raças de pele escura, que estavam biologicamente fadadas
rural, do lazer, do consumo...). Por isso, o campo de a serem subordinadas por sua inferioridade. O discurso
estudos se ampliou, sendo denominado de Ciências Sociais, da superioridade natural dos brancos, autoatribuída pelos
passando a ser composto de muitas subáreas, cada vez mais próprios brancos, estava na base das ciências racialistas que
especializadas, contudo, sem perder de vista a totalidade alimentavam as fileiras dos defensores da missão civilizadora
das relações sociais. do imperialismo europeu. No Brasil, esse discurso alimentou
a tese do “branqueamento racial” (ou “embranquecimento
O desdobramento histórico do pós-guerra trouxe à
racial”), materializado nos vários incentivos dados à
tona novas temáticas que se mostraram essenciais
imigração europeia, com finalidade de reduzir os efeitos
para compreender a complexidade das relações sociais,
da “má influência” genética negra e indígena, que não
assumindo lugar de grande importância nas Ciências
permitiam ao Brasil se civilizar.
Sociais. Nas últimas quatro décadas, as Ciências Sociais,
em geral, têm se preocupado em repensar os pressupostos No Brasil, o racismo científico teve muita força e foi a
teórico-metodológicos sobre os quais se assenta o seu principal teoria para tentar explicar as relações raciais
entendimento científico do mundo. Esse fato pode ser advindas desde o Período Colonial. Com isso, até a década
constatado por meio do número de autores clássicos que de 1930, para os adeptos dessa pseudociência, a mestiçagem
são atualmente objeto de releituras (como Émile Durkheim, (mistura racial) era vista como um mal porque produzia
Karl Marx e Max Weber); pelas reflexões de caráter raças impuras e imperfeitas, manchadas pela presença do
multiplicidade de paradigmas e de referências teórico- Foi somente a partir do sociólogo pernambucano Gilberto
-metodológicas; pelas tentativas de integração e sínteses Freyre, seguidor do antropólogo culturalista alemão Franz
teóricas propostas; pela busca de superação de uma série Boas, que a questão da mestiçagem passou a ganhar
de pares de conceitos clássicos (como subjetivo e objetivo, conotação positiva. Crítico da visão determinista, pregada
agente e estrutura, coletivo e individual, macrossociologia pelo racialismo, Freyre defendia que as relações sociais
e microssociologia); e, principalmente, pela expansão de são construções sociais, submetidas às forças históricas e
novos campos de pesquisas que ultrapassam as tradicionais culturais, e não ditadas pela genética. Em livros como Casa-
fronteiras disciplinares. -grande e senzala (1933) e Sobrados e mucambos (1936),
Freyre defendia que o grande valor do Brasil se encontrava Na década de 1940, começam a efervescer vários
na mistura, ao mesmo tempo, racial e cultural. Tal mistura, movimentos negros no Brasil e no mundo – exemplo disso
para Freyre, permitiu o surgimento de uma cultura híbrida é a criação do Teatro Experimental do Negro, de Abdias
e única desde o Período Colonial. A miscigenação seria o do Nascimento – que preconizavam as lutas sociais que
que o Brasil possuiria de mais próprio, único e identitário. vão se desencadear na década de 1960. Nessa década,
No entanto, uma interpretação equivocada (e conveniente) considerada o auge das lutas identitárias no mundo como
de Gilberto Freyre acabou por defender a tese de que, um todo, destacam-se os movimentos negros dos EUA,
em função da miscigenação, haveria uma convivência tendo como expoentes Malcolm X e os Panteras Negras
pacífica e harmônica entre todas as raças e, portanto, não
e Martin Luther King e suas bandeiras que, além de
existiria racismo no Brasil. Essa tese ficou conhecida como
lutarem contra o racismo e contra a violência praticada,
democracia racial, sendo alvo de severas críticas de diversas
exigiam igualdade política.
leituras científicas posteriores, por se mostrar insustentável,
sob todos os pontos de vista, principalmente a partir das Durante a Ditadura Militar, de 1964 a 1985, os movi-
estatísticas que mostram com facilidade o abismo social mentos sociais, no Brasil, foram abafados, mas, com a
existente entre brancos e negros quanto ao acesso a política, redemocratização, na década de 1980, ganharam novo fôlego
cultura, bens econômicos, trabalho, assim como na relação e passaram a pressionar o Estado por igualdade de direitos e
com a polícia, a justiça e a violência. maior visibilidade para problemas sociais que haviam ficado
em segundo plano. Experiências com políticas de ações
A valorização da miscigenação não ocultava, no entanto,
afirmativas, cuja pretensão é criar mecanismos sociais para
as relações de dominação e desigualdade produzidas por
diminuir as diferenças historicamente produzidas entre brancos,
séculos de escravidão e racismo. A situação social do
negros e outros setores menos favorecidos, tornaram-se mais
negro, após a abolição da escravidão, permanecia ainda
frequentes a partir de iniciativas nascidas nos Estados Unidos.
de pobreza, exclusão e falta de poder político. Florestan
Entre as ações afirmativas adotadas encontra-se a política de
Fernandes, sociólogo e professor da USP, adotando um
cotas sociorraciais para acesso às universidades públicas. Tal
viés materialista histórico, faz uma leitura mais apro-
política foi iniciada, em experiência piloto, na UnB em 2006 e
fundada das relações entre raça e facilidade no Brasil em
expandida em 2013 para a totalidade das universidades federais,
seu livro A integração do negro na sociedade de classes
a partir da declaração de sua legalidade constitucional pelo
(1964). Para Fernandes, o negro possui oportunidades
Supremo Tribunal Federal.
desiguais em relação ao branco, uma vez que é inserido
em uma “ordem social competitiva” – formação das Apesar de sua declarada constitucionalidade, as políticas
classes sociais no capitalismo periférico-dependente – de cotas raciais não são uma unanimidade, principalmente
e não consegue alcançar uma autonomia de classe social porque elas reorganizam o acesso às universidades, o qual,
necessária ao seu projeto político de emancipação de raça até então, era e, de certa maneira, ainda é majoritariamente
e de classe – perspectivas indissociáveis. Nas palavras de ditado por um sistema meritocrático sustentado pela posição
Florestan Fernandes: social privilegiada de alguns indivíduos. Entre os críticos da
política de cotas raciais encontra-se o sociólogo Demétrio
“[...] a convicção de que as relações entre ‘negros’ e ‘brancos’ Magnoli, que acusa esse sistema de ferir o princípio da
corresponderiam aos requisitos de uma democracia racial igualdade ao favorecer um grupo em detrimento de outro.
não passa de um mito”.
Porém, baseando-se na diferença entre igualdade formal
FERNANDES, F.
A integração do negro na sociedade de classes.
(abstrata) e a igualdade material (real, efetiva), teóricos
3. ed. São Paulo: Ática, 1978. p. 262. como a historiadora Lilia Moritz Schwarcz (O espetáculo
das raças, de 1996) e o sociólogo congolês Kabengele
Munanga, atualmente professor da USP, sustentam que as
Pouco depois, o historiador estadunidense radicado no
ações afirmativas são medidas necessárias por um espaço
Brasil, Thomas Skidmore, publicou o livro Preto no Branco:
de tempo determinado para que o abismo social, produzido
raça e nacionalidade no pensamento Brasileiro (1976), no
ao longo de séculos, seja gradualmente minimizado.
qual interpreta a persistência do racismo e da escravidão
Segundo Lilian Schwarcz, o Brasil seria palco de um tipo
em formas modernas. Por exemplo, a empregada doméstica
específico de racismo. Diferentemente do racismo explícito
(quase sempre negra, da periferia, com baixa escolaridade
praticado nos EUA por instituições da sociedade civil, como
e em posição de subalternidade demarcada pelos uniformes a Ku Klux Klan, e também pelas leis de segregação, como
que explicitam seu lugar de inferioridade social) seria uma as chamadas de Jim Crow, em vigor até a década de 1960,
forma moderna da ama de leite, a escrava antes incumbida o racismo no Brasil esteve majoritariamente disfarçado nas
de cuidar da casa do patrão branco. práticas sociais sob o véu de uma falsa “democracia racial”.
Com isso teríamos um racismo à brasileira, que não A data é um marco também para relembrar o assassinato
se proclama explicitamente, mas que está presente nas de 130 mulheres que faziam greve por melhores
diferenças de oportunidades de emprego, na reprodução condições de trabalho no interior de uma fábrica em
da pobreza, na discriminação, na desigualdade de acesso à Nova Iorque, em 1911. Os direitos das mulheres
justiça, no tratamento diferenciado nas abordagens policiais. envolveram lutas, sacrifícios e muita resistência por
Enfim, ainda que o brasileiro não se declare racista, nossa parte dos setores masculinos que estavam no poder. No
configuração de sociedade admite a manutenção de práticas Brasil, as mulheres só alcançaram direito pleno ao voto
racistas em várias instâncias da vida civil e da vida pública. com a Constituição de 1934, depois de muita pressão
No entanto, vários episódios recentes mostram que o interna e estrangeira.
racismo “latente” por vezes se manifesta de forma explícita. Na transição da Primeira para a Segunda Onda,
No futebol, os vários casos de racismo, como os gritos de encontra-se a obra O Segundo Sexo (1949), da filósofa
torcedores do Grêmio contra o goleiro Aranha do Santos, em francesa Simone de Beauvoir, que influenciou gera-
socIologIA
Porto Alegre, no ano de 2014, mostram que a discriminação ções de feministas posteriores a partir do diagnóstico
racial encontra-se naturalizada e ainda é um componente contundente sobre as várias relações de dominação
comum da vida social. Por isso, uma das bandeiras dos psicológica, cultural e política a que as mulheres
movimentos negros é a da intensificação da punição contra estavam sendo submetidas há tempos. Nesse livro,
crimes raciais. Embora a legislação brasileira já possua Beauvoir diz: “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”
instrumentos para punir com severidade, como é o caso da
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo – volume 2.
Lei nº 7.716, em vigor desde 1989, poucos foram os casos São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1967. p. 09.
de racismo julgados a partir dela, tendo sido, em sua maioria,
revertidos para o artigo 140 do Código Penal (Injúria),
Assim sendo, a distinção entre sexo e gênero passará,
que prevê penas muito mais brandas.
em seguida, a ser um dos princípios fundamentais dos
discursos feministas.
Questão de gênero Essa distinção considera que sexo corresponde
O termo gênero implica diretamente dois temas: a questão às características anatômicas, genéticas, biológicas
feminista e a questão da homossexualidade. Essas duas de um indivíduo quanto ao seu aparelho reprodutor,
questões estão intimamente associadas e se desenvolvem à enquanto gênero diz respeito ao amplo conjunto
medida que a discussão sobre a noção de gênero se constitui das características psicossociais que constituem
de forma mais aprofundada. A origem dessa discussão se dá a identidade individual e a expressão social dessa
com o surgimento do feminismo, que é geralmente dividido em individualidade. A partir de Beauvoir, muitos teó-
três fases históricas, marcadas pela predominância de certas ricos defenderão a tese de que o “sexo não define
concepções filosóficas, biológicas e sociais sobre o gênero. o gênero”, ou seja, a identidade de gênero não
é uma mera relação de causa e efeito determi-
• Primeira Onda do Feminismo nada pela anatomia. O órgão genital é um dos
A Primeira Onda do Feminismo se inicia com a componentes do gênero, mas não é seu definidor.
Revolução Francesa e se estende até meados do
século XX, sendo predominante nos EUA, na França
e na Inglaterra. Nesta extensa fase há o predomínio
da luta por direitos políticos iguais aos dos homens,
principalmente o direito ao voto. A britânica Mary
Wollstonecraft é um dos nomes mais importantes
na organização das sufragetes (organizações de
mulheres em prol do voto feminino) e na conquista
Maíra Damásio
A configuração de gênero seria muito mais complexa e envolveria muitos aspectos sociais,
psíquicos e culturais que vão além dos órgãos genitais. Ser homem e ser mulher, isto é,
os papéis sociais de homem e de mulher na sociedade não são dados instintivamente ou
geneticamente. Eles são construções sociais e históricas com enorme variação de cultura para
cultura e dentro de uma mesma sociedade ao longo do tempo.
O lema da segunda onda passa a ser “o pessoal é político”, indicando que, ao longo da
história, as mulheres tiveram seu próprio corpo e sua sexualidade dominados por uma moral
masculina e patriarcal. Assim, a dominação masculina não estaria presente somente no campo
político, mas todo o imaginário social em torno da sexualidade estaria impregnado de uma
visão que parte do gênero masculino e submete os demais gêneros à heteronormatividade
masculina (princípios e normas de orientação heterossexual masculina). Por isso, o corpo
é político, o sexo é político, o desejo é político, logo, as esferas da vida privada refletem
as estruturas de dominação que estão presentes na vida social.
Graças aos estudos efetuados, a partir da década de 1970, houve uma mudança
terminológica de homossexualismo (termo pejorativo, associado a distúrbio ou anormalidade)
para homossexualidade ou homoafetividade. Em 1973, a Associação Americana de
Psiquiatria retira a homossexualidade da lista de doenças psíquicas e em 1990 a Organização
Mundial de Saúde também deixa de considerá-la uma doença. No Brasil, desde 1985,
o Conselho Federal de Psicologia considera que “a homossexualidade não constitui doença,
nem distúrbio, nem perversão, constituindo-se numa alternativa natural e espontânea da
sexualidade humana”, e a resolução 001 de 1999 do mesmo Conselho Federal de Psicologia
ratifica a defesa da normalidade da homossexualidade e proíbe os psicólogos de “colaborar
com qualquer terapia que prometa curar ou tratar a homossexualidade como se fosse doença
ou distúrbio”.
A Terceira Onda do Feminismo desponta, na década de 1990, sob forte influência das filosofias
pós-modernas. Ela critica o essencialismo das duas ondas precedentes, que enxergavam o
gênero como uma identidade estática e imutável dos indivíduos, bem como o elitismo dos
feminismos anteriores, voltados especialmente para os interesses das mulheres brancas de
classe média e alta. Numa tentativa de democratizar a luta por direitos, a terceira onda passa a
ser composta de grande número de subdivisões e subgrupos que questionam a universalidade
de termos genéricos como “mulher”, “homossexual” e “gênero”. Surgem movimentos de
mulheres negras ((mulherismo) que reivindicam direitos específicos, considerando a situação
particular vivenciadas por esse segmento de mulheres, que não estava sendo contemplado
pelas principais artífices da segunda onda: mulheres brancas, europeias ou norte-americanas,
de classe média, escolarizadas.
Maíra Damásio
Para as teóricas da 3ª onda, como a filósofa Um dos desafios assumidos pela terceira onda
estadunidense Judith Butler (Problemas de Gênero, do feminismo é a da discussão sobre o sexismo /
1990), o gênero é uma construção discursiva, um machismo presente na linguagem comum. A língua
ato intencional que produz significados e que se seria a principal instituição social a materializar
sustenta a partir de performances que os indivíduos relações de poder, porque a cultura influencia na
desempenham continuamente como se fossem configuração da língua (tanto do ponto de vista
comportamentos naturais. A noção de gênero se valeria sintático quanto semântico), e, num círculo, a
de uma falsa sensação de estabilidade, em razão da linguagem influencia o desenvolvimento da cultura.
repetição de atos, gestos e signos, do âmbito cultural,
O fato de não existir gênero neutro na Língua Portu-
que reforçariam a construção dos corpos masculinos
guesa, mas somente dois – masculino e feminino –,
e femininos tais como nós os vemos atualmente.
já é sintoma de uma determinada concepção acerca
Literalmente, há técnicas para “ser homem” e
da sexualidade humana, cisgênero.
“ser mulher” que são normatizadas socialmente.
Por isso, para Butler e outras teóricas, não se A preponderância do masculino sobre o feminino
SOCIOLOGIA
deveria falar em identidade de gênero, mas sim em na linguagem (na formação do plural, por exemplo)
performance de gênero. A ideia de “performance” evidencia o machismo implícito na cultura e reforça
traduziria melhor a dinamicidade do gênero, seus valores sexistas, uma vez que a linguagem
compreendendo-o a partir de suas características comum “naturaliza” o costume, passando a impressão
linguísticas e expressivas. aos falantes de que as palavras são um espelho da
Uma das teorias propostas na terceira onda do realidade e vice-versa. Uma tentativa que tem sido
feminismo (ou no pós-feminismo, segundo algumas explorada é a de criar um gênero neutro, que evite
autoras) é a Teoria Queer, cujo foco se concentra a dicotomia masculino / feminino. Por exemplo,
no empoderamento das categorias de gênero “alun@s” ou “alunxs” para escapar ao determinismo
consideradas desviadas, anormais. O termo “queer” linguístico.
foi inicialmente utilizado de forma pejorativa e poderia
ser traduzido por “esquisito” ou similar. No entanto,
a partir dos estudos de Teresa de Lauretis e de O Processo Civilizador
Judith Butler, ele passou a assumir uma conotação
positiva, como uma afirmação social do gênero
de Norbert Elias
desviante. Criticando a lógica cisgênero, que é binária
Norbert Elias (1897-1990) foi um dos mais destacados
(homem / mulher) e disjuntiva (ou se é homem ou
sociólogos do século XX. De origem alemã, buscou uma
se é mulher, não há terceiro termo), a Teoria Queer
defende um modelo de gênero aberto, performático e síntese de teorias clássicas (como o funcionalismo de Émile
antiessencialista, incluindo todas as possíveis formas Durkheim e Talcott Parsons e a sociologia compreensiva de
de manifestação da sexualidade humana. Max Weber) com teorias modernas (como o estruturalismo
Dois movimentos que pretendem dar visibilidade da Antropologia de Claude Lévi-Strauss), visando
à causa de gênero são a já consagrada Parada do
Orgulho Gay (Gay Pride) e a Marcha das Vadias, ambos alargar nossa compreensão dos processos humanos e sociais
realizados em várias cidades ao redor do mundo. e adquirir uma base crescente de conhecimento mais sólido
Reunindo mulheres, transexuais, transgêneros, acerca desses processos.
homossexuais e outros atores de gênero não binários, ELIAS, Norbert. O processo civilizador – volume 1.
tais movimentos defendem uma leitura ampliada Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. p. 14. [Fragmento]
da sexualidade humana e denunciam as formas
restritivas e binárias de compreensão da sexualidade,
Porém, enquanto os teóricos funcionalistas e estruturalistas
bem como as violências sofridas por aqueles que não
compartilham de uma sexualidade hétero. tendem a enxergar estruturas objetivas e estáticas na
sociedade, que agem de forma coercitiva sobre os indivíduos,
Como resultado dos estudos aprofundados sobre o
tema, compreende-se que a sexualidade humana não os teóricos da sociologia compreensiva concedem, por
está restrita nem é determinada pela genética ou pela vezes, um valor excessivo ao indivíduo e à sua liberdade.
anatomia genital, o que não significa afirmar que a Todavia, Elias pensa a sociedade a partir de teias de
sexualidade seja escolhida de forma livre, espontânea interdependência que produzem configurações sociais de
e consciente pelo indivíduo. Por isso, não se deve falar
muitos tipos, por exemplo: família, aldeia, cidade, Estado
em “opção sexual”, mas sim em orientação sexual,
e nações. Essas configurações podem ser constituídas por
sabendo-se que a formação do desejo é um processo
psicossocial complexo que envolve múltiplos fatores, agrupamentos de diversos tamanhos e formas, marcados
mas que não está sob controle do indivíduo. por diferentes graus de interação social entre seus membros.
Sua sociologia depreende que o social é substancialmente Uma das contribuições da teoria de Bourdieu é a
o conjunto das redes de inter-relações dinâmicas entre os expansão da noção marxista de capital. Além do capital
indivíduos. Diferentemente de Durkheim, Elias compreende econômico, que diz respeito à propriedade dos meios de
que não existiria sociedade sem indivíduos, isto é, produção e à posse de dinheiro, Bourdieu identificou outras
a sociedade não é uma entidade supraorgânica. Paralelamente, formas de capital que definem as relações de dominação.
Elias também afirma a impossibilidade de os indivíduos O capital cultural corresponderia aos saberes e
existirem fora da sociedade. Ou seja, para Elias, não é conhecimentos socialmente aceitos e reconhecidos
plausível pensar a relação dos conceitos de indivíduo mediante títulos e diplomas; o capital simbólico seria
e sociedade de forma independente um do outro. composto pelo prestígio ou pela honra que se confere
O livro mais conhecido de Norbert Elias é O Processo a determinada pessoa ou função social; e o capital
Civilizador (1939), no qual o autor analisa a formação das social se referiria às relações sociais privilegiadas que
sociedades ocidentais ao longo da história. Ao contrário da podem ser convertidas em poder. Essas dimensões do
noção de progresso, que era afirmada pelos positivistas, e capital se encontram interligadas, pois geralmente quem
à noção de racionalização, defendida por Weber, Norbert advém de uma família abastada (capital econômico) e
Elias identifica que a vida civilizada não corresponde a uma influente (capital social / simbólico) tende a ter um acesso
maior racionalização da vida social porque não é efeito de privilegiado à educação (capital cultural), fato que reforça
ações conscientes, deliberadas e racionais realizadas por seu poder, ao mesmo tempo, econômico e social e, por
indivíduos isolados. O presente modelo de civilização não outro lado, reforça a posição de subalternidade daqueles
deve ser julgado a partir de juízos de valor como bom e grupos cujo o acesso a essas formas de capital é menor.
mau, positivo e negativo ou racional e irracional. A civilização O conjunto desses capitais seria compreendido a partir de
não é planejada, mas sim fruto de um processo que produz um sistema de disposições de cultura (nas suas dimensões
mudanças, em longo prazo, na conduta e nos sentimentos, material, simbólica e cultural, entre outras), denominado
a partir de complexas teias de interpendência que incluem por ele de habitus, que configura o repertório social de
forças políticas, econômicas, culturais e também o monopólio valores disponíveis para o indivíduo.
da violência física por parte das instituições de poder. O conceito de habitus é uma tentativa de Bourdieu para
Em outras palavras, a ideia de Elias, em O Processo fugir da dicotomia clássica entre indivíduo e sociedade.
Civilizador, tange à recuperação da percepção perdida do O habitus seria, então, um sistema aberto de ações,
processo civilizador, juntamente com a transformação do percepções e disposições adquiridos pelos indivíduos, com
comportamento humano e o entendimento de suas causas. o passar do tempo, em suas relações sociais. Ou ainda,
o habitus seria um sistema de esquemas individuais,
determinado pela posição do indivíduo, que permite que os
Violência Simbólica agentes pensem, sintam, vejam e ajam nas mais variadas
segundo Pierre Bourdieu funciona a cada momento como uma matriz de percepções,
de apreciações e de ações – e torna possível a realização de
O sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002)
tarefas infinitamente diferenciadas, graças às transferências
foi um dos mais importantes pensadores do século XX e
analógicas de esquemas.
não restringiu sua atuação somente às Ciências Sociais,
BOURDIEU, P. Esboço de uma teoria da prática.
transitando também pelas fronteiras das demais ciências
In: ORTIZ, Renato (Org.). Pierre Bourdieu: Sociologia.
humanas. Dono de um pensamento que reúne múltiplas São Paulo: Ática, 1983. p 65. [Fragmento]
referências, esforçou-se para tentar compreender as
formas de reprodução das desigualdades sociais. Para ele,
as relações de poder não são definidas somente pelo volume Portanto, o indivíduo não pode ser interpretado de forma
de dinheiro, mas também pela articulação complexa de isolada e independente dos grupos sociais a que pertence.
sentidos e elementos simbólicos que transitam na ordem da A família e a escola seriam duas instituições fundamentais
cultura e definem o status, o prestígio e o valor individual. para a aquisição desse habitus, fornecendo os parâmetros
A estrutura social é vista como um sistema hierarquizado básicos de saberes, gostos, valores e possibilidades ao
de poder e privilégio, determinado tanto pelas relações indivíduo. Bourdieu considera que o gosto e as práticas de
materiais e / ou econômicas como pelas relações simbólicas cultura de cada um de nós são resultados de um feixe de
e / ou culturais entre os indivíduos. condições específicas de socialização.
É na história das experiências de vida dos grupos e dos Uma das faces da violência simbólica é a violência de
indivíduos que podemos apreender a composição de gosto gênero, que
e compreender as vantagens e desvantagens materiais e
simbólicas que assumem. Em uma sociedade de massas,
na qual a mídia e a indústria cultural desempenham [...] se expressa com força nas nossas instituições sociais
(falamos então de violência institucional de gênero) e,
papel preponderante na economia e no entretenimento,
de maneira mais sutil, embora não menos constrangedora,
não se pode negar que os gostos individuais são fortemente
na nossa vida cultural, nos atacando (ou mesmo nos
pressionados por tendências de mercado e pelos ditames bombardeando) por todos os lados, sem que tenhamos
da moda. plena consciência disso. Diariamente, ouvimos piadinhas,
canções, poemas, ou vemo-nos diante de contos, novelas,
Porém, nem sempre o poder é visível. Há uma dimensão
comerciais, anúncios, ou mesmo livros didáticos (ditos
simbólica no poder (poder simbólico) que se encontra
científicos!), de toda uma produção cultural que dissemina
nas entrelinhas do discurso, das artes, da cultura, de vários
imagens e representações degradantes, ou que, de uma
SOCIOLOGIA
signos sociais que são aceitos socialmente e cumprem a forma ou de outra, nos diminuem enquanto mulheres. Essas
função de manter as desigualdades sociais, disfarçando-as imagens acabam sendo interiorizadas por nós [...], muitas
de construções naturais e imutáveis. Com isso, o poder vezes sem que nos demos conta disso. Elas contribuem
simbólico exerce uma violência simbólica – forma de sobremaneira na construção de nossas identidades /
violência que está implícita no discurso e que perpetua as subjetividades, diminuindo, inclusive, nossa autoestima. Isso
relações de dominação. Bourdieu investigou em seu livro tudo se constitui no que chamamos de violência simbólica
A dominação masculina (1992) vários mecanismos discursivos de gênero, uma forma de violência que é, indubitavelmente,
que reforçam e naturalizam as desigualdades de gênero uma das violências de gênero mais difíceis de detectarmos,
analisarmos e, por isso mesmo, combatermos.
nas sociedades ocidentais. As mulheres são submetidas a
uma socialização pautada, majoritariamente, pelos valores SARDENBERG. C. M. B. A violência simbólica de gênero e a lei
do grupo dominante (homens brancos) e acabam por “antibaixaria” na Bahia. Disponível em: <http://www.observe.
internalizar os valores que as subjugam. A própria linguagem ufba.br/noticias/exibir/344>. Acesso em: 03 set. 2018.
se incumbe de reforçar as desigualdades. Como a gramática
é considerada o “modo único e certo” de pronunciar a língua,
ela normatiza e prescreve as desigualdades como se fossem
naturais e determinadas por alguma ordem externa. Como A Modernidade Líquida,
afirma o sociólogo Roger Chartier:
segundo Zygmunt Bauman
A modernidade é um tema constante de reflexão das
[...] a construção da identidade feminina se enraíza na teorias sociológicas e objeto de muitos autores diferentes.
interiorização pelas mulheres, de normas enunciadas Um dos maiores nomes nessa discussão é o do sociólogo
pelos discursos masculinos. [...] Definir a submissão polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), autor de vasta
imposta às mulheres como uma violência simbólica ajuda obra sobre a modernidade. Seu livro mais famoso explicita
a compreender como a relação de dominação, que é uma sua tese básica: a Modernidade Líquida (2000). Na tentativa
relação histórica, cultural e linguisticamente construída, de interpretar o desenrolar histórico que ocorre após as
duas grandes guerras mundiais, Bauman identifica que
é sempre afirmada como uma diferença de natureza, radical,
muitas categorias sociais consideradas sólidas e estáveis
irredutível, universal.
ao longo da história da humanidade (nação, Estado,
CHARTIER, Roger. Diferenças entre os socialismo, mercado, indivíduo, consciência) revelaram-se
sexos e dominação simbólica (nota crítica). mais fluidas e voláteis do que se imaginava. Muitos
Cadernos Pagu, Campinas, n. 4, p. 40-42, 1995. princípios, valores, regras, crenças e métodos que orientam
as visões de mundo dos indivíduos se dissolveram e foram
desconstruídos, sendo substituídos por um sentimento
de incerteza e inconstância que tende a caracterizar a
Isto posto, este conceito de Bourdieu – violência simbó-
chamada pós-modernidade. Na frase do filósofo francês
lica – trata-se da dominação consentida, ou seja, a aceitação
Jean-Francois Lyotard (A condição pós-moderna, 1979),
de crenças e regras partilhadas como se fossem algo o século XX testemunhou o “fim das grandes metanarrativas”,
“natural”. Paralelamente, trata, também, da incapacidade de isto é, as teorias e doutrinas (religiosas, políticas,
perceber o caráter arbitrário dessas regras, crenças e códigos míticas) que antes fundamentavam a história sofreram
de conduta, que são impostos pelos agentes dominantes fortes abalos em razão dos próprios acontecimentos
no campo. trágicos presenciados ao longo do “século da civilização”.
A metáfora da liquidez é oportuna e se opõe à solidez e à que resulta em redução de direitos e garantias ao trabalhador)
segurança das metanarrativas anteriores. O que é líquido e até mesmo do sexo (o ato sexual sucumbe à lógica do
é fluido, não possui forma definida, é moldável conforme consumo, perdendo seu valor agregador e de relação íntima
diferentes pressões externas e pode se dissolver ou evaporar. para se tornar um mecanismo de satisfação individualista e
O imediatismo substitui o planejamento de longo prazo; egoísta, em que o outro é reduzido a mero objeto sexual).
a sobrevivência em uma sociedade competitiva e predatória
Ademais, o medo é fruto de uma incorporação social.
faz os valores individuais serem moldados às necessidades
Em sua obra Medo Líquido, Bauman apresenta três categorias
da conveniência e aos desejos individuais ditados pelo
de medo, derivadas da lógica predominante na modernidade
instante da moda e da mídia de massa.
líquida: primeiro, medo de não garantir trabalho ou se
Em uma sociedade cada vez mais complexa e com menos sustentar no futuro; segundo, medo de não conseguir “ser
referenciais comuns, há uma supervalorização do indivíduo alguém” na estrutura social, sendo relegado a posições de
(individualização), contudo isso não se traduz em maior menor prestígio ou subalternas; e, terceiro, medo quanto à
liberdade ao indivíduo. Ao contrário, o indivíduo se encontra, integridade física. Todas essas três formas fazem com que a
cada vez mais, submetido a forças externas (mídia, mercado, segurança seja substituída pela proteção. Enquanto segurança
consumo) que não fornecem a ele parâmetros sólidos de e insegurança são disposições psíquicas, interiores, proteção,
conduta e ação. O resultado é a criação de um sujeito que diz respeito a um conjunto de instrumentos para tentar
líquido, cuja identidade é frequentemente contraditória e garantir a segurança, é externa. A proteção envolve agentes
composta de fragmentos de discursos variados, sem que e instituições a quem se atribui a responsabilidade de garantir
haja necessariamente uma coesão interna. Da mesma forma, a integridade física e, principalmente, a propriedade privada.
as relações sociais tendem também a se liquefazer, sendo Na lógica da proteção, tudo o que é diferente e estranho é
marcadas pela superficialidade, pela instantaneidade e pela visto como uma possível ameaça, o que justificaria a tomada
falta de laços sólidos. As redes sociais contemporâneas são de medidas mais radicais para garantir o que se deseja
testemunhas dessa liquidez. proteger: aumentar os muros das casas, colocar grades
nas janelas, espalhar câmeras nos ambientes públicos e
E por isso Bauman falará de amor líquido para tematizar
privados, aumentar o policiamento, enfim, instituir uma
as mudanças nas relações afetivas que decorrem das
situação de vigilância permanente que tem a pretensão de
transformações experimentadas na história. Nas relações
se proteger do outro, do estranho, do diferente. Obviamente,
sociais predomina a lógica da conexão. Esse termo é
o próprio medo passa a constituir um importante elemento
relevante porque descreve relações frágeis e voláteis, nas
para subsidiar um tipo específico de consumo ligado à
quais o que conta é o número de conexões e não o seu
“indústria da segurança”. De acordo com dados da Associação
grau de profundidade. Ao mesmo tempo, o termo “conexão”
das Indústrias de Segurança do Brasil, tal mercado é
mostra a presença da “vantagem” de se poder desconectar
responsável por movimentar cerca de 1,8 bilhões de reais
sem que haja prejuízo ou custo.
e cresce aproximadamente 20% ao ano, somente no Brasil.
O pressuposto desse formato de relações é a transformação É interessante observar que tal mercado é, de certa maneira,
de sujeitos em mercadorias. Metaforicamente, as pessoas alimentado pelos jornais sensacionalistas e pelo reforço da
ficam à disposição em “prateleiras” para serem escolhidas insegurança patrimonial e física.
por sua aparência, para depois serem consumidas e
Por isso, uma das consequências da modernidade líquida é
dispensadas a qualquer momento. Mas, o vazio dessas
o crescimento de discursos fundamentalistas e reacionários.
relações entra em choque com as expectativas pessoais de
Tais discursos reagem à liquidez e buscam alguma fixidez
afeto, atenção e estabilidade, fazendo os sentimentos de
na obediência à tradição ou a textos sagrados, na força
frustração, insegurança e angústia cada vez mais comuns,
física, no nacionalismo exacerbado, na rejeição aos “de fora”.
especialmente em grandes centros urbanos, onde esses tipos
A sustentação simbólica que era garantida pelas “sólidas”
de liquidez se manifestam de forma mais intensa.
instituições sociais cede espaço para uma grande insegurança
As reflexões de Bauman se estendem por vários domínios psíquica e social, contra o que reagem algumas posições
da vida social, demonstrando como a lógica da liquidez conservadoras. Os discursos xenofóbicos e discriminatórios que
“contaminou” os modos de funcionamento da vivência têm se intensificado no mundo e no Brasil, em particular, tendem
em comunidade (o individualismo tende a suplantar a manifestar a sensação de insegurança social e econômica, que
a comunidade e desagregar a cultura tradicional), do é característica dessa fase da modernidade, e canalizá-la para
trabalho (o mercado competitivo “exige” maior flexibilidade, um alvo socialmente mais frágil e historicamente discriminado.
Bauman evita usar o termo pós-modernidade: poderia emergir na consciência a relação social de dominação que
está em sua base e que, por uma inversão completa de causas e
Uma das razões pelas quais passei a falar em “modernidade
efeitos, surge como uma aplicação entre outras, de um sistema
SOCIOLOGIA
líquida” em vez de “pós-modernidade” (meus trabalhos mais
recentes evitam esse termo) é que fiquei cansado de tentar de relações de sentido totalmente independente das relações
esclarecer uma confusão semântica que não distingue sociologia de força. O sistema mítico-ritual desempenha aqui um papel
pós-moderna de sociologia da pós-modernidade, entre “pós- equivalente ao que incumbe ao campo jurídico nas sociedades
-modernismo” e “pós-modernidade”. No meu vocabulário, diferenciadas: na medida em que os princípios de visão e divisão
“pós-modernidade” significa uma sociedade (ou, se se prefere, que ele propõe estão objetivamente ajustados às divisões
um tipo de condição humana), enquanto que “pós-modernismo” preexistentes, ele consagra a ordem estabelecida, trazendo-a à
se refere a uma visão de mundo que pode surgir, mas não existência conhecida e reconhecida, oficial.
necessariamente da condição pós-moderna.
A divisão entre os sexos parece estar “na ordem das coisas”,
Procurei sempre enfatizar que, do mesmo modo que ser um como se diz por vezes para falar do que é normal, natural,
ornitólogo não significa ser um pássaro, ser um sociólogo da
a ponto de ser inevitável: ela está presente, ao mesmo tempo,
pós-modernidade não significa ser um pós-modernista, o que
em estado objetivado nas coisas (na casa, por exemplo, cujas
definitivamente não sou. Ser um pós-modernista significa ter
partes são todas “sexuadas”), em todo o mundo social e, em
uma ideologia, uma percepção do mundo, uma determinada
estado incorporado, nos corpos e nos habitus dos agentes,
hierarquia de valores que, entre outras coisas, descarta a ideia
funcionando como sistemas de esquemas de percepção,
de um tipo de regulamentação normativa da comunidade
humana e assume que todos os tipos de vida humana se de pensamento e de ação. [...] É a concordância entre as estruturas
equivalem, que todas as sociedades são igualmente boas ou objetivas e as estruturas cognitivas, entre a conformação do ser e
más; enfim, uma ideologia que se recusa a fazer julgamentos as formas do conhecer, entre o curso do mundo e as expectativas
e a debater seriamente questões relativas a modos de vida a esse respeito, que tornam possível esta referência ao mundo
viciosos e virtuosos, pois, no limite, acredita que não há nada que Husserl descrevia com o nome de “atitude natural” ou de
a ser debatido. Isso é pós-modernismo. “experiência dóxica” – deixando, porém, de lembrar as condições
cima / embaixo, na frente / atrás, direita / esquerda, reto / curvo dos dois sexos, de seu local, seu momento, seus instrumentos; é a
(e falso), seco / úmido, duro / mole, temperado / insosso, claro / estrutura do espaço, opondo o lugar de assembleia ou de mercado,
escuro, fora (público) / dentro (privado), etc., que, para alguns, reservados aos homens, e a casa, reservada às mulheres; ou,
correspondem a movimentos do corpo (alto / baixo / subir / descer / no interior desta, entre a parte masculina, com o salão, e a parte
fora / dentro / sair / entrar). Semelhantes na diferença, tais oposições feminina, com o estábulo, a água e os vegetais; é a estrutura do
são suficientemente concordes para se sustentarem mutuamente, tempo, a jornada, o ano agrário ou o ciclo de vida, com momentos
no jogo e pelo jogo inesgotável de transferências práticas e de ruptura, masculinos e longos períodos de gestação, femininos.
metáforas; e também suficientemente divergentes para conferir,
a cada uma, uma espécie de espessura semântica, nascida da sobre BOURDIEU, P. A dominação masculina.
determinação pelas harmonias, conotações e correspondências. São Paulo: Bertand Brasil, 2012. p. 16-18.
Pesquisa mostra que Na época, o vereador Ricardo Nunes se referiu ao assunto como
“ideologia de gênero” e justificou a retirada do tema do PME com
presente em escolas de família que existem hoje. Algumas têm mulheres como chefes
de família, pais homossexuais ou heterossexuais, somente pai ou
Pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Carlos somente a mãe, avós como referência materna e paterna, entre
(UFSCar), no interior de São Paulo, mostrou que 32% dos outros casos. “Essas famílias precisam ser visibilizadas na escola,
homossexuais entrevistados afirmaram sofrer preconceito dentro porque refletem a realidade brasileira”, disse na ocasião.
das salas de aula e também que os educadores ainda não sabem Ela elencou ainda algumas mentiras, que estariam sendo
reagir apropriadamente diante das agressões, que podem ser disseminadas sobre a inclusão de gênero no PME, e disse que
físicas ou verbais, no ambiente escolar. a exclusão de banheiros separados, os professores ensinando
Os dados, segundo os pesquisadores, convergem com aqueles os alunos a serem transexuais e a destruição da família não
apresentados em pesquisa do Ministério da Educação que ouviu correspondem à realidade: “queremos discutir gênero nas escolas
8.283 estudantes na faixa etária de 15 a 29 anos, no ano letivo para garantir respeito à diversidade.” [...]
de 2013, em todo o país, e constatou que 20% dos alunos não
BOEHM, Camila. EBC – Agência Brasil. Disponível em:
quer colega de classe homossexual ou transexual.
<http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2016-03/
A professora do Departamento de Ciências Humanas e Educação pesquisa-mostra-que-discriminacao-contra-homossexuais-
(DCHE) da Ufscar, que é uma das autoras do estudo, Viviane esta-presente-em>. Acesso em: 03 set. 2018.
Melo de Mendonça, afirma que o entendimento desse cenário e a
O tema da educação para a diversidade foi bastante debatido de cotas raciais é apenas um dos tipos de ações afirmativas
no ano passado durante a formulação dos Planos Municipais atualmente em uso no Brasil.
de Educação (PME), projeto que tem o objetivo de nortear o Salientou que existem no país sistemas específicos para ingresso
planejamento da educação para a cidade nos próximos 10 anos. no ensino superior para estudantes de escolas públicas, negros,
Na capital paulista, após muitas discussões e protestos favoráveis indígenas, pessoas com deficiência, quilombolas, nativos do estado
e contrários, o projeto de lei que trata do PME foi aprovado pela em que se localiza a instituição de ensino, cidadãos de baixa renda,
Câmara Municipal de São Paulo, em agosto de 2015, mas o texto professores da rede pública, população de cidades do interior e até
não incluiu questões de gênero e sexualidade. para filhos de policiais e bombeiros mortos em serviço.
David Santos informou que 160 instituições públicas A diretora de Gestão Acadêmica da Universidade do
brasileiras de ensino superior já adotam algum tipo de ação Estado de Mato Grosso (Unemat), Elisângela Patrícia Moreira
afirmativa, totalizando cerca de 330 mil cotistas, 110 mil deles da Costa, afirmou que essa instituição já nasceu “com a marca
afrodescendentes. [...] da inclusão”, pois surgiu em 1978 no interior do estado como
Instituto de Ensino Superior de Cáceres, virando universidade
– Por que as cotas incomodam tanto? - questionou David
em 1993 e adotando o sistema de cotas a partir de 2004. [...]
Santos, ao lembrar que o projeto de lei que institui sistema de
cotas em todas as universidades públicas brasileiras já tramita Elisângela da Costa informou que a Unemat já percebeu grande
SOCIOLOGIA
acadêmico dos cotistas não é inferior ao dos não cotistas.
presentes na audiência pública puderam falar de suas experiências.
Ele acrescentou que estudo do Datafolha mostrou que 87% dos
Dentre eles, Solange Aparecida Ferreira de Campos falou de
brasileiros concordam com as ações afirmativas.
maneira emocionada e contundente. Militante do movimento negro,
A secretária de Políticas de Ações Afirmativas da Secretaria de Solange foi a primeira brasileira beneficiada com bolsa do Prouni,
Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Anhamona Silva de Brito, o que a ajudou a se formar em Gastronomia na Universidade
disse que o sistema de cotas vem ajudando na diminuição do racismo Anhembi Morumbi, uma instituição privada. Ela ingressou nessa
no país e também dos prejuízos que o racismo traz para a população. universidade quando já tinha 45 anos e formou-se em 2008.
Ela informou que a secretaria e o Instituto Nacional de Ciência Na opinião dela, não é favor, mas sim obrigação dos governantes
e Tecnologia de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa vêm brasileiros apoiarem o acesso à educação da população negra, pois
trabalhando em um “mapa da inclusão” sobre ações afirmativas. “nossos ancestrais negros deram o sangue por esse país”.
Anhamona Silva de Brito adiantou que a pesquisa vem – Se tivemos força para levar chibatadas nas costas, também
estudando 114 instituições de ensino superior que possuem algum temos força, competência e capacidade para ocupar qualquer cargo
tipo de ação afirmativa. De acordo com ela, os resultados mostram e exercer qualquer atividade e trabalho – afirmou.
que as cotas raciais correspondem a um percentual relativamente AGÊNCIA SENADO. Disponível em: <http://www12.senado.
baixo se comparadas às ações afirmativas destinadas a estudantes leg.br/noticias/materias/2011/09/19/cotas-10-anos-de-
oriundos de escolas públicas. inclusao-nas-universidades-publicas-brasileiras>.
Acesso em: 03 set. 2018.
“Universidade mais colorida”
Exercícios
O reitor da Universidade de Brasília (UnB), José Geraldo de
Sousa Júnior, classificou como vitoriosa a trajetória de dez anos
das cotas raciais no Brasil. Ele lembrou que a UnB foi uma das Propostos
primeiras a adotar o sistema por decisão própria e que atualmente
a instituição tem cotas para afrodescendentes (20% das vagas
01. (UERJ–2016) As comunidades quilombolas, que são
predominantemente constituídas por população negra,
vestibulares) e indígenas, além de unidades criadas em cidades
se autodefinem a partir das relações com a terra, do
do Distrito Federal com baixo Índice de Desenvolvimento Humano
parentesco, do território, da ancestralidade, das tradições
(IDH), que priorizam as populações locais, e também vagas
e das práticas culturais próprias. Estima-se que em todo o
específicas para educadores que atuam em assentamentos
país existam mais de três mil comunidades quilombolas.
da reforma agrária.
O Decreto Federal nº 4.887, de 20 de novembro de
Nos últimos dez anos, informou o reitor, 5.396 negros 2003, regulamenta o procedimento para identificação,
ingressaram na UnB por meio do sistema de cotas. Pelo sistema reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das
vestibular tradicional, outros 21.887 estudantes entraram na terras ocupadas por remanescentes das comunidades
UnB. José Geraldo afirmou que as cotas ajudaram a aumentar a dos quilombos.
proporção de negros na universidade, fazendo da entidade “uma Disponível em: <http://incra.gov.br> (Adaptação).
universidade mais colorida”. Ele também disse que a diferença
entre o desempenho acadêmico dos cotistas e dos não cotistas A demarcação de terras de comunidades quilombolas
é irrelevante e que a evasão entre os cotistas é menor. é fato recente nas práticas governamentais brasileiras.
02. (Unioeste-PR–2016) No dia 22 de junho de 2015, a Assem- Essa mudança de costumes expressa principalmente o
bleia Legislativa do Paraná colocou como pauta de discussão reconhecimento do seguinte princípio entre os direitos
o debate sobre a “ideologia de gênero” nas escolas do humanos:
Paraná. Sabe-se que o conceito de gênero é fundamental A) inclusão política C) uniformidade jurídica
para a compreensão das desigualdades entre homens e
mulheres e coloca em xeque as atribuições relacionais que B) diversidade cultural D) igualdade econômica
a sociedade constrói para homens e mulheres.
Dada a repercussão do tema e a relevância da temática, 05. (UERJ–2019)
7QGG
é correto afirmar sobre questões de gênero: O personagem “pantera negra”
A) O debate sobre gênero na educação interessa apenas
aos homens e às pessoas que só têm atração sexual
por pessoas do sexo oposto.
B) Nas concepções sobre gênero, o sexo biológico
corresponde a uma identidade cultural que se mantém
inalterada até o final da vida.
C) A identidade de gênero é determinada biologicamente
e não pode ser modificada pela cultura, pelo meio
social, pela educação nem por todas as relações
sociais que fazem parte da vida dos indivíduos.
D) A compreensão da temática de gênero perpassa
um sistema de relações de poder, baseadas em um
conjunto de papéis, identidade, comportamentos
e estereótipos atribuídos a mulheres e homens.
E) As relações de gênero não estão ligadas a contextos
de relações de poder e desigualdade, ao contrário
das relações travadas entre as classes sociais e os
grupos étnicos.
2005
2006
2009
2010
2012
2013
2014
2015
Ano
Estados Unidos
País
Nova Zelândia
Países Baixos
País de Gales
África do Sul
Luxemburgo
Dinamarca
Inglaterra
Argentina
Finlândia
Espanha
Noruega
Portugal
Islândia
Uruguai
Canadá
Escócia
Irlanda
Bélgica
México
França
Suécia
Brasil
Com mais de cinquenta anos de existência, o personagem 08. (Unioeste-PR) Segundo Cristina Costa, “chamamos de
“Pantera Negra” esteve associado a debates sobre as condições OPAF violência à agressão premeditada sistemática e por
de vida de populações afrodescendentes na sociedade norte- vezes mortal de um indivíduo ou um grupo sobre outro”.
-americana. Tendo em vista as transformações ocorridas Sobre o fenômeno da violência, é correto afirmar que
entre a década de 1960 e o momento atual, a comparação
entre as imagens aponta para a seguinte mudança acerca A) o desenvolvimento da indústria e a expansão dos
do protagonismo afrodescendente: padrões de vida e de acumulação existentes no
modo de produção capitalista não possuem nenhuma
A) equiparação do poder aquisitivo
relação com a ampliação dos níveis de violência
B) fortalecimento da inclusão social
visualizados no mundo contemporâneo.
C) reconhecimento dos direitos civis
B) a única maneira de controlar a explosão de
D) homogeneização das diferenças raciais
violência vivenciada na contemporaneidade é a
ampliação dos mecanismos de defesa existentes na
06. (Unioeste-PR) Segundo Zygmunt Bauman, a Sociologia é
sociedade. Assim, o aumento do policiamento e dos
constituída por um conjunto considerável de conhecimentos
estabelecimentos penais representa o único caminho
acumulados ao longo da história. Pode-se dizer que a sua
de superação das dificuldades encontradas.
SOCIOLOGIA
identidade forma-se na distinção com o chamado senso
comum. Considerando que a Sociologia estabelece diferenças C) o bullying é um fenômeno restrito ao universo escolar
com o senso comum e estabelece uma fronteira entre o e possui pouca relação com a banalização da violência
pensamento formal e o senso comum, é correto afirmar que existente nos dias atuais.
A) a Sociologia se distingue do senso comum por fazer D) a violência é instintiva, podendo ser considerada como
afirmações corroboradas por evidências não verificáveis, um mecanismo de autodefesa do indivíduo utilizado
baseadas em ideias não previstas e não testadas. nos momentos em que este se encontra inseguro
B) o pensar sociologicamente caracteriza-se pela descrença ou coagido.
na ciência e pouca fidedignidade de seus argumentos. E) a violência não se restringe à agressão física.
O senso comum, ao contrário, evita explicações imediatas Como observa Pierre Bourdieu, existem práticas de
ao conservar o rigor científico dos fenômenos sociais. violência simbólica presentes no cotidiano e que são
C) pensar sociologicamente é não ultrapassar o nível de caracterizadas pela tentativa de imposição de valores,
nossas preocupações diárias e expressões cotidianas, costumes e padrões de comportamento de um grupo
enquanto o senso comum preocupa-se com a a outro.
historicidade dos fenômenos sociais.
D) o pensamento sociológico se distingue do senso comum 09. (UEL-PR–2017) No pensamento sociológico clássico e
na explicação de alguns eventos e circunstâncias, ou contemporâneo, as dimensões igualdade, diferença
seja, enquanto o senso comum se preocupa em analisar e diversidade assumem importância para estudos
e cruzar diversos conhecimentos, a Sociologia se relacionados à questão das desigualdades sociais.
preocupa apenas com as visões particulares do mundo.
Com base nos conhecimentos sobre as perspectivas
E) um dos papéis centrais desempenhados pela Sociologia sociológicas que explicam a desigualdade social,
é a desnaturalização das concepções ou explicações dos no cotidiano das sociedades capitalistas, assinale a
fenômenos sociais, conservando o rigor original exigido alternativa correta.
no campo científico.
A) A sociologia weberiana, quando analisa as modernas
sociedades ocidentais, demonstra que os fatores
07. (UERJ–2019)
econômicos e os antagonismos entre as classes
A origem operária do 8 de março determinam as hierarquias de poder e os tipos de
Para muitos, o 8 de março é apenas um dia para dar dominação.
flores e fazer homenagens às mulheres. Mas, diferentemente
B) As análises de Marx defendem a ideia de que as
de outras datas comemorativas, esta não foi criada pelo
mudanças mais recentes na ordem mundial capitalista
comércio. Oficializado pela Organização das Nações Unidas em
alteraram a preeminência das classes na explicação
1975, o chamado Dia Internacional da Mulher era celebrado
das assimetrias sociais e diversidades culturais.
muito tempo antes, desde o início do século XX. E se hoje a
data é lembrada como um pedido de igualdade de gênero C) Na sociologia de Bourdieu, os fatores econômicos,
e com protestos ao redor do mundo, no passado nasceu simbólicos e culturais, a exemplo da renda, do
principalmente de uma raiz trabalhista. Foram as mulheres das prestígio e dos saberes, incorporados pelos agentes
fábricas nos Estados Unidos e em alguns países da Europa que em seu cotidiano e em sua trajetória de vida, são
começaram uma campanha dentro do movimento socialista responsáveis pela diferenciação de posições nos
para reivindicar seus direitos – as condições de trabalho delas campos sociais.
eram ainda piores do que as dos homens à época.
D) No pensamento funcionalista, a origem da desigual-
Disponível em: <bbc.com> (Adaptação). dade social encontra-se nas contradições econômicas
e políticas entre os agrupamentos, que mantêm re-
Com base na reportagem, a criação do Dia Internacional
da Mulher tem origem nas manifestações sociais em lações uns com os outros para produzir e reproduzir
defesa de: a estrutura social.
Texto 2
Zygmunt Bauman: Afastar-se da percepção de mundo
consumista e do tipo de atitude individualista contra o
mundo e as pessoas não é uma questão a ponderar,
mas uma obrigação determinada pelos limites de
sustentabilidade desse modelo da vida que pressupõe
a infinidade de crescimento econômico. Segundo esse Tradução: “As mulheres do futuro farão da lua um lugar
modelo, a felicidade está obrigatoriamente vinculada mais limpo para se viver”
ao acesso a lojas e ao consumo exacerbado.
Disponível em: <https://www.propagadashistoricas.com.br>.
Lojas são alívio a curto prazo, diz o sociólogo Zygmunt Bauman.
Acesso em: 16 out. 2015.
Disponível em: <www.mentecerebro.com.br> (Adaptação).
Texto II
Considerando os textos, é correto afirmar que
Metade da nova equipe da
A) para Bauman, as diretrizes liberais de crescimento NASA é composta por mulheres
econômico ilimitado prescindem de reflexão ética.
Até hoje, cerca de 350 astronautas americanos já estiveram
B) ambos tratam do irracionalismo subjacente aos no espaço, enquanto as mulheres não chegam a ser um
critérios de normalidade e de felicidade. terço desse número. Após o anúncio da turma composta
C) a “cultura do narcisismo” apresenta um estilo de vida por mulheres, alguns internautas escreveram comentários
incompatível com a mentalidade consumista. machistas e desrespeitosos sobre a escolha nas redes sociais.
D) a patologia narcísica analisada por Lasch é um Disponível em: <https://catracalivre.com.br>.
fenômeno restrito ao domínio psiquiátrico. Acesso em: 10 mar. 2016.
E) ambos abordam problemas historicamente superados
A comparação entre o anúncio publicitário de 1968 e a
pelas sociedades ocidentais modernas.
repercussão da notícia de 2016 mostra a
A) elitização da carreira científica.
seção enem B) qualificação da atividade doméstica.
C) ambição de indústrias patrocinadoras.
01. (Enem–2017) A Lei 11.340, de 7 de agosto de 2006,
D) manutenção de estereótipos de gênero.
representou uma ousada e necessária proposta de mudança
cultural e jurídica a ser implantada no ordenamento jurídico E) equiparação de papéis nas relações familiares.
brasileiro, a exemplo do que ocorreu em outros países,
objetivando a erradicação da contumaz violência praticada
principalmente por homens contra mulheres com quem gAbARIto meu aproveitamento
mantêm vínculos de natureza doméstica, familiar e afetiva.
Propostos Acertei ______ errei ______
SOUZA, S. R. Lei Maria da Penha comentada.
Curitiba: Juruá, 2013 (Adaptação). 01. B 05. C 09. C
02. D 06. E 10. B
A vigência dessa norma legal, de amplo conhecimento da
03. D 07. A
sociedade, revela a preocupação social com a
04. B 08. E
A) partilha dos bens comuns.
B) ruptura dos laços familiares. seção enem Acertei ______ errei ______
C) dignidade da pessoa humana.
01. C 02. D
D) integridade dos filhos menores.
E) conservação da moralidade pública. total dos meus acertos: _____ de _____ . ______ %