Resolução Exames (Inês Soares)
Resolução Exames (Inês Soares)
Resolução Exames (Inês Soares)
25/05/2020
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Inês de Oliveira Soares
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Inês de Oliveira Soares
II
Para responder à questão é essencial, desde logo, apurar se a dívida contraída por
António é uma dívida de responsabilidade de ambos os cônjuges ou se é uma dívida da
sua exclusiva responsabilidade. Neste sentido, veja-se o artigo 1691º. Nos termos do
nº2 do respetivo preceito, para se determinar a imputação de responsabilidade na
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Inês de Oliveira Soares
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Inês de Oliveira Soares
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Inês de Oliveira Soares
III
Sabendo que:
- Os bens próprios de Pedro somam 110.000 euros e os bens comuns do casal somam
40.000 euros;
- Pedro havia doado, em 2006, um lote de ações que levara para o casamento ao
neto Tiago, as quais valem 30.000 euros;
Nos termos do enunciado cumpre-nos realizar a partilha da herança de Pedro. Para tal,
importa desde logo indicar o quadro de pessoas sucessíveis e fazer o chamamento à
sucessão – vocação sucessória. Nos termos do artigo 2026º os títulos de vocação são a
lei, o testamento e o contrato. Ora, para que uma pessoa seja chamada à sucessão têm
que se verificar os pressupostos da vocação: titularidade da designação sucessória
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Inês de Oliveira Soares
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Inês de Oliveira Soares
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Inês de Oliveira Soares
generalidade dos efeitos, não podendo assim exigir a partilha nem será responsável
pelos encargos da herança.
A doação feita a Tiago não reúne os pressupostos para que este donatário fique sujeito
à colação, uma vez que não era presuntivo herdeiro legitimário na data da doação que
o avô lhe fez. Então, falha o requisito previsto no artigo 2105º in fine (requisito
positivo). Como tal, o valor desta doação (30.000 euros) será imputado na quota
disponível do autor da sucessão (50.000 euros) – artigo 2114º/1.
8/06/2020
João, casado com Maria, no regime supletivo, desde 2009, praticou os seguintes atos
e negócios, sem o consentimento desta (ou sem o seu conhecimento).
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Inês de Oliveira Soares
Pode Maria reagir contra estes atos, cuja prática tomou conhecimento na data em
que foram praticados por João? De que forma? Justifique (responda isoladamente às
duas questões).
a) João é casado com Maria no regime supletivo, ou seja, estão casados no regime de
comunhão de adquiridos que é, entre nós, o regime supletivo desde 31 de maio de
1967 (artigo 15º, DL 47344, de 25 de novembro de 1966). João doou, sem o
consentimento de Maria, um veículo automóvel à Santa Casa da Misericórdia de
Coimbra e João utilizava o automóvel como instrumento de trabalho. Além disso, o
automóvel foi comprado por João em 2010. Ora, João e Maria estão casados desde
2009. Como tal, o automóvel foi adquirido na constância do casamento, a título
oneroso. Com efeito, o automóvel – que é um bem móvel (artigo 205º CC) – é um
bem comum (artigo 1724º/b). Sendo um bem comum, em regra, a administração
deste bem é conjunta. No entanto, uma vez que o automóvel é utilizado como
instrumento de trabalho, a administração do automóvel cabe a João (artigo
1678º/2/e). Nos termos do artigo 1682º, quando um dos cônjuges, sem
consentimento do outro, alienar ou onerar por negócio gratuito, bens móveis
comuns de que tem administração, será o valor dos bens alienados ou a diminuição
de valor dos onerados levado em contra na sua meação, salvo tratando-se de
doação remuneratório ou de donativo conforme os usos sociais. Ora Maria tem
uma afetação fáctica com o automóvel (pois o automóvel é bem comum), embora
não tenha a sua administração. Vejamos: João, doou o automóvel à Santa Casa da
misericórdia e o automóvel é um bem comum, embora ele o utilize como
instrumento de trabalho, cabendo-lhe assim a sua administração. A doação de
bens móveis (mesmo sendo o automóvel um bem móvel sujeito a registo) não está
sujeita a uma forma específica. Este negócio é válido e não pode ser anulado. No
entanto, na partilha de bens comuns, metade do valor do automóvel será
subtraído aos bens comuns a que João teria direito. Estamos aqui perante uma
sanção que não gera invalidação do negócio, mas que se vai produzir em momento
posterior. Então, esta doação – que não é um mero donativo (ex: presente de
aniversário) não é nula nem anulável. Porém, por ocasião de futura partilha dos
bens comuns (ex: na sequência de morte ou divórcio) o valor dos bens alienados
por João será tomado em conta no cálculo da sua meação (artigo 1689º/1).
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Inês de Oliveira Soares
obrigação de entrada pode ser um dinheiro, mas também pode ser em espécie,
sendo que neste caso a obrigação de entrada consistiu na transferência da
propriedade do prédio urbano. Como sabemos, a sociedade é uma estrutura
associativa supra individual, ou seja, distingue-se da pessoa dos sócios. Como tal,
João transfere para o património da sociedade enquanto estrutura a propriedade
do imóvel, deixando este de pertencer ao seu património. Neste sentido, este ato
está ferido de ilegitimidade conjugal, pois foi efetuado sem o consentimento (e
sem dispensa deste consentimento) do cônjuge. Este consentimento é exigido no
artigo 1682º-A/1/a). Note-se que a ilegitimidade conjugal em nada se relaciona
com a capacidade de exercício de direitos. Na incapacidade, pretende-se proteger
a própria pessoa incapaz, enquanto que no âmbito das ilegitimidades conjugais,
pelo contrário, pretende-se a proteção de um cônjuge face ao outro, não estando
em causa os interesses do próprio titular, mas sim de terceiro. Assim sendo,
estabelece a respetiva norma que a alienação, oneração e arrendamento sobre
imóveis próprios ou comuns tem que ser feita por ambos os cônjuges ou por um
com o sentimento do outro (ou ainda por uma dispensa judicial do consentimento
do outro nos termos do artigo 1684º/3). Então, a transferência da propriedade do
imóvel para o património da sociedade é um ato ferido de ilegitimidade e João não
podia tê-lo feito. Por conseguinte, importa atender ao artigo 1687º, segundo o qual
o ato de João é anulável. Este negócio é anulável, mas o regime da anulação tem
singularidades que se afastam do regime geral (nº2 e nº3). Relativamente ao prazo,
este é de seis meses a contar da data em que o cônjuge que dispõe deste direito de
anulação tomou conhecimento do ato ou negócio jurídico. Além disso, este prazo
tem que ser conjugado com um limite absoluto de três anos a contar da data da
celebração de negócio ferido de ilegitimidade conjugal. Estes três anos estão
relacionados com o regime da anulabilidade em geral (artigo 291º/2). Assim sendo,
uma vez que Maria tomou conhecimento da prática do ato na data da sua prática,
tendo já sido ultrapassado o prazo de seis meses, Maria não pode requerer a sua
anulação.
II
Carlos, casado com Marta, no regime da separação de bens, desde 2004, contratou
uma trabalhadora doméstica, Paula, para limpar a casa, jardim e passar a ferro o
vestuário do casal, duas vezes por semana. Sucede, porém, que Paula sofreu um
acidente quando se preparava para limpar o sótão do apartamento, pois caiu das
escadas de acesso, em virtude de um dos degraus estar solto. Este facto, que era do
conhecimento de Carlos, não foi comunicado a Paula.
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Inês de Oliveira Soares
Quem é responsável por esta indemnização? Sabendo que Marta não tem bens,
poderá Paula executar um prédio de Carlos no valor de 30.000 euros? (5 Val.).
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Inês de Oliveira Soares
fundo, é necessário apurar se a dívida que foi contraída tendo em atenção o proveito
comum do casal, se o era também aos olhos de uma pessoa média, medianamente
diligente, segundo as regras da experiência e das probabilidades, se essa dívida podia
favorecer o casal. No caso sub judice a dívida resulta de responsabilidade meramente
civil mas este ato gerador de responsabilidade comum é considerado praticado no
horizonte do proveito comum. É fácil compreender que a contração de uma
trabalhadora doméstica favorecerá ambos os cônjuges. O enunciado confirma esta
mesmo solução quando nos diz que Paula tinha como trabalho limpar a casa, o jardim
e ainda passar a ferro o vestuário tanto de um como de outro. É ainda necessário
apurar se Carlos atuou ou não dentro dos limites de administração. Contratar uma
trabalhadora doméstica enquadra-se, sem margem para dúvidas, no agir dentro dos
limites dos seus poderes de administração relativo a tal bem – o ato não atinge de
modo nenhum a estrutura da coisa, é sim um ato de conservação e de frutificação
normal, que visam o melhor aproveitamento económica e jurídica e que visam evitar a
deterioração ou destruição do bem. Parece claro que além de pessoas sensatas e
equilibradas praticarem este ato, aos olhos também de pessoas médias a contratação
dos serviços de limpeza – do qual resultou o facto danoso suscetível de ser
indemnizado – é considerada proveito comum.
Carlos e marta estão casados no regime de separação de bens e como tal a
responsabilidade destes é parciária (artigo 1695º/2 CC), não solidária. Tal significa que
uma vez que é dívida decorrente da indemnização se enquadra no conceito comum, a
parte de cada cônjuge da dívida é, em princípio, de 50%. Assim, estando em causa uma
indemnização cujo valor corresponde a 20.000 euros, o dever de prestar de Carlos é
10.000 euros. Então, mesmo sendo o bem penhorado e objeto de venda executiva, a
responsabilidade patrimonial de Carlos era apenas de 10.000 euros, devendo-lhe ser
devolvido o remanescente da venda do referido automóvel.
III
Daniel faleceu em 1/04/2020. Os parentes mais próximos que lhe sobreviveram são
os seguintes: o cônjuge, Eduarda, com quem estava casado em separação de bens; e
os ascendentes, os pais dele, Filipe e Guida.
Sabendo que:
- Daniel doara ao sobrinho Hugo um prédio urbano, que vale 50.000 euros;
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Inês de Oliveira Soares
Desde logo, ocorre a abertura da sucessão, sendo que a sucessão se abre no momento
da morte do seu autor – Daniel – e no lugar do seu último domicílio (artigo 2031º).
Importa desde logo indicar o quadro de pessoas sucessíveis e fazer o chamamento à
sucessão – vocação sucessória. Nos termos do artigo 2026º os títulos de vocação são a
lei, o testamento e o contrato. Ora, para que uma pessoa seja chamada à sucessão têm
que se verificar os pressupostos da vocação: titularidade da designação sucessória
prevalente; existência do chamado e capacidade sucessória. Então, só quem reunir
estes requisitos cumulativos é que pode ser chamado à herança (artigo 2032º).
Imperativamente imposto por lei, vão ser primeiramente chamados à herança os
herdeiros legitimários. Tal significa que no topo da hierarquia estão os herdeiros
legitimários (artigo 2157º). Resulta do artigo 2157º que são herdeiros legitimários o
cônjuge, os descendentes e os ascendentes pela ordem e segundo as regras
estabelecidas para a sucessão legítima. Podemos afirmar que os herdeiros legitimários
são sempre herdeiros legítimos, mas nem todos os herdeiros legítimos são
legitimários. A este propósito importa aludir a um princípio essencial – princípio da
preferência de classes. Segundo o respetivo princípio, os herdeiros de classes superior
preferem aos de grau mais afastado (artigo 2134º). Nos termos do artigo 2133º na
primeira classe encontram-se o cônjuge e os descendentes. No nosso caso, Daniel não
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Inês de Oliveira Soares
Daniel deixou bens no valor de 140.000 euros, as dívidas da sua herança somam
10.000 euros, doou ao sobrinho Hugo um prédio urbano no valor de 50.000. Então, a
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Inês de Oliveira Soares
Daniel fez uma doação inter vivos ao seu sobrinho João, no valor de 50.000 euros. A
doação implica uma diminuição do património do doador à qual corresponde o
aumento patrimonial do donatário. Esta doação não está sujeita à colação, desde logo
porque o sobrinho não é descendente do doador. Não havendo colocação, a doação é
imputada na quota disponível (Artigo 2114º).
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Inês de Oliveira Soares
22/06/2020
Berta, que tomou hoje conhecimento destes atos, pretende saber se pode contra eles
reagir. Justifique (responda a cada alínea de forma autónoma).
a) António é casado com Berta no regime supletivo desde 2004. Tal significa que
estão casados no regime de comunhão de adquiridos que é, entre nós, o regime
supletivo desde 31 de meio de 1967 (artigo 15 DL 47344, de 25 de novembro de
1966 e artigo 1717º CC). No caso sub judice António vendeu à Cooperativa
Agrícola, pelo prelo de 4000 euros, a colheira de azeitonas de três olivais que Berta
herdou, em 2099, por morte dos pais desta. Os Olivais, tendo sido herdados por
Berta, são bens próprios desta (artigo 1722º/1/b). Todavia, os frutos de bens
próprios são considerados bens comuns (artigo 1728º/1; 1694º/2 e 1733º/2). No
nosso caso, a colheita de azeitonas traduz-se num fruto natural, pois provêm
diretamente da coisa (artigo 212º/1/2). Assim sendo, a colheita de azeitonas é um
bem comum. Quando aos bens comuns a regra é a da coadministração, isto é, os
dois cônjuges têm poderes de administração sobre o bem. No entanto, sendo um
bem comum, nos termos do artigo 1678º/3 e artigo 1682º/1 in fine, estabelece que
cada um dos cônjuges desfruta de poderes para praticar atos de administração
ordinária, precisando quanto aos atos de administração extraordinária do
consentimento do outro cônjuge. Como tal, é necessária apurar se a venda da
colheita de azeitonas é considerada um ato de administração ordinária. A venda da
colheita de azeitonas não atinge de modo nenhum a estrutura da coisa, sendo sim
um ato de frutificação normal, que visa o melhor aproveitamento económico e
jurídico do bem. Tal significa que a venda da colheira de azeitonas se insere na
frutificação normal de um bem imóvel frutífero (o olival). Por conseguinte, António
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Inês de Oliveira Soares
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Inês de Oliveira Soares
II
Sucede, ainda, que Berta não pagou nos últimos quatro anos o I.M.I. (Imposto
Municipal sobre Imóveis) relativo aos referidos três prédios rústicos (olivais), o que
perfaz, no total, a quantia de 1000 euros. Quem é responsável por esta dívida? Pode
a Autoridade Tributária penhorar uma parte do salário de António, que é
trabalhador dependente numa fábrica? Justifique (5 Val.)
O caso sub judice insere-se sobre a problemática das dívidas dos cônjuges. A
comunhão da vida conjugal pressupõe a partilha de recursos e a partilha de afetos.
Esta plena comunhão de vida e proximidade existencial em que se encontram os
cônjuges tem reflexo no regime das dívidas. No fundo, o estado de casado cria, em
virtude de comunhão de interesses patrimoniais – que implica a comunhão de vida – a
necessidade de ter regras especiais que se destinem a responder a esta plena
comunhão de vida (artigo 1577º). É inevitável que a contração de dívidas, embora livre
por qualquer um dos cônjuges, obedeça a um enquadramento jurídico diferente dos
restantes.
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Inês de Oliveira Soares
Para responder à questão é essencial, desde logo, apurar se a dívida contraída por
António é uma dívida de responsabilidade de ambos os cônjuges ou se é uma dívida da
sua exclusiva responsabilidade. Neste sentido, veja-se o artigo 1691º. Nos termos do
nº2 do respetivo preceito, para se determinar a imputação de responsabilidade na
contração da dívida a um ou a ambos importa ter em conta a data na qual o negócio
que gerou a dívida foi celebrado. O legislador optou por prever num só artigo a grande
maioria de situações mais comuns das quais resulta a corresponsabilidade. Somente
António contraiu a dívida.
III
- Carlos doara, ainda, em 2014, um outro prédio a Gustavo, que vale 15.000 euros.
- Por meio de testamento, Carlos deixou metade da sua quota disponível à esposa,
Daniela.
A personalidade jurídica extingue-se com a morte (artigo 68º/1). Como tal abre-se uma
crise nas relações jurídicas de que era titular. Com efeito, surge a necessidade de
encontrar uma solução para esta crise. Vejamos: com a morte as relações jurídicas
desligam-se do anterior sujeito, ficam sem sujeito. Como tal, é necessário que haja um
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Inês de Oliveira Soares
novo titular das relações jurídicas, pois não há relações sem sujeitos. Neste contexto,
assume especial importância o direito sucessório. O artigo 2024º dá-nos a noção de
sucessão por morte – chamamento de uma ou mais pessoas à titularidade das relações
patrimoniais de uma pessoa falecida e a consequente devolução dos bens que a esta
pertenciam. Nos termos do enunciado, cumpre-nos a realização da partilha da herança
de Carlos.
Desde logo, ocorre a abertura da sucessão, sendo que a sucessão de abre no momento
da morte do seu autor – Carlos – e no lugar do seu último domicílio (artigo 2031º).
Numa primeira fase é necessário indiciar o quadro de pessoas sucessíveis e fazer o
chamamento à sucessão – vocação sucessória. Nos termos do artigo 2026º os títulos
de vocação são a lei, o testamento e o contrato. Para que uma pessoa seja chamada à
sucessão, têm que se verificar os pressupostos da vocação sucessório: titularidade da
designação sucessória prevalente, existência do chamado e capacidade sucessória.
Então, só quem reunir estes requisitos cumulativos é que pode ser chamado à herança
(artigo 2032º). Imperativamente imposto por lei, vão ser primeiramente chamados à
herança os herdeiros legitimários. Tal significa que no topo da hierarquia estão os
herdeiros legitimários (artigo 2157º). Resulta do artigo 2157º que são herdeiros
legitimários o cônjuge, os descendentes e os ascendentes pela ordem e segundo as
regras estabelecidas para a sucessão legítima. Podemos afirmar que os herdeiros
legitimários são todos herdeiros legítimos, mas nem todos os herdeiros legítimos são
herdeiros legitimários. A este propósito importa aludir a um princípio essencial –
princípio da preferência de classes. Segundo o respetivo princípio, os herdeiros de
classe superior preferem aos de grau mais afastado (artigo 2134º). Nos termos do
artigo 2133º na primeira classe encontram-se o cônjuge e os descentes. No caso sub
judice, sobreviveram a Carlos o cônjuge Daniela (D), Gustavo e Hélder (descendentes)
e ainda o seu neto Eduardo, filho de Filipe que pré-faleceu em 2018. Então, ao
descendente Filipe falta um requisito para que haja vocação sucessória, desde logo,
existência. Na verdade, à data do falecimento de Carlos, Filipe já não existia. Então, irá
ocorrer uma vocação indireta – direito de representação. Nos termos do artigo 2039º
dá-se representação sucessória quando a lei chama descendente de um herdeiro ou
legatário a ocupar a posição daquele que não pôde ou não quis aceitar a herança ou
legado. No nosso caso, uma vez que já faleceu, Filipe não pôde aceitar a herança.
Então, Eduardo, que nunca seria chamado à herança do avô por força do princípio da
preferência de graus de parentesco (artigo 2135º), será chamado à herança de Carlos,
em representação do seu pai Filipe. O neto (2º grau de linha reta) que seria afastado
pelos filhos de Carlos (1º grau de linha) irá então suceder por meio de direito de
representação. Relativamente aos demais herdeiros legitimários verificam-se os
pressupostos para da vocação sucessória: designação sucessória prevalente; ser-se
existente; e têm capacidade sucessória. Relativamente à capacidade sucessória
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Inês de Oliveira Soares
Carlos deixou bens no valor de 85.000 euros, as dívidas da herança somam 10.000
euros e doou a Filipe um prédio de 30.000 euros e a Gustavo um prédio que vale
15.000 euros. Então, a massa da herança será o resultado do seguinte cálculo: 85.000 –
100.000 + 30.000 + 15.000 = 120.000. Assim, a massa da herança tem o valor de
120.000 euros. Sabendo qual é a massa da herança, podemos agora calcular a quota
indisponível e, por conseguinte, a legítima subjetiva. No caso sub judice concorrem à
sucessão o cônjuge e os descentes. Nos termos do artigo 2159º, a legítima do cônjuge
e dos filhos, em caso de concurso, é de dois terços da herança. Então, a quota
indisponível soma 80.000 euros (2/3 de 120.000) e a quota disponível do autor da
sucessão vale 40.000 euros. Assim sendo, as legitimas subjetivas – ou quinhoes
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Inês de Oliveira Soares
legitimários do cônjuge e dos descentes somam 20.000 euros cada uma – a partilha
entre o cônjuge e os filhos faz-se por cabeça (artigo 2139º).
A doação efetuada ao filho pré-falecido deverá ser sujeita à colação na medida em que
o representante deste (o neto Eduardo) pretende entrar na sucessão, mesmo que não
tenha tirado partido ou vantagem económica (direita ou indireta) desta doação (artigo
2106º). Na verdade, o donatário pré-falecido, Filipe, caso não tivesse morrido antes do
doador reunia todos os requisitos para ficar sujeito à obrigação de colação. Para haver
colação tem que haver uma doação direta ou indireta e tem que ter sido feita a um
descendente (requisitos positivos artigo 1205º). Além disso, não pode o doador tem
dispensado o donatário da colação (requisito negativo artigo 2113º). No nosso caso,
uma vez que nada foi dito, o regime da colação será o regime supletivo, ou seja, o
regime das doações omissões. Neste regime, o legislador presume que o autor da
sucessão não teve intenção de beneficiar nenhum dos herdeiros em relação aos
outros. O legislador parte assim do princípio que o de cujus, quando fez a doação em
benefício de um descendente, não o quis beneficiar relativamente aos outros
descendentes, pretendendo somente que este descendente tivesse um gozo
antecipado da sua quota hereditária. Por esse motivo, procede-se à igualação na
medida do possível. Neste sentido, veja-se o artigo 2108º/2, segundo o qual, não
havendo bens suficientes na herança para se proceder à igualação total, então esta
não opera e considera-se que o autor da sucessão se conformou com a possibilidade
de não haver igualação total entre os herdeiros. A doação a F teve o valor de 30.000.
Como tal, imputamos na quota indisponível de F esse valor e o remanescente
imputamos na quota disponível. Assim sendo, imputamos na quota disponível 10.000
euros. A doação efetuada pelo autor da sucessão ao filho Gustavo (no valor de 15.000
euros) também está sujeito ao regime supletivo da colação (regime das doações
omissas). Assim o valor desta doação imputa-se na legítima subjetiva e o valor da
diferença da doação e o cabimento máximo da sua legítima subjetiva terá que ser pago
a este legitimário (em princípio com bens deixados).
Aberta a sucessão testamentária – e não havendo dados que nos permitam concluir
pela invalidade do testamento por vício formal ou substancial e não existindo sucessão
contratual, o cônjuge sobrevivo e aceitante desta vocação sucessória (herdeira
testamentária) irá receber mais 20.000 euros (metade da quota disponível). Imputados
na quota disponível os 10.000 (resultado da colação) e os 20.000 euros (resultantes da
deixa testamentária) ainda há um remanescente de 10.000 euros na quota disponível.
Então, remanescem 10.000 euros para proceder à igualação da partilha em toda a
quota hereditária dos não donatários ao donatário descendente. Não se daria uma
igualação absoluta ou total por falta de bens na quota disponível. Feita a igualação da
partilha não se abriria sucessão legítima (artigo 2131º).
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Inês de Oliveira Soares
29/06/2020
Só hoje Benilde teve conhecimento da prática de tais atos, com os quais não
concorda. Poderá ainda Benilde reagir contra cada um dos atos praticados pelo
marido? Em caso afirmativo, a que título e de que modo?
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Inês de Oliveira Soares
estamos perante uma convenção sob condição, uma vez que o nascimento do
primeiro filho é um acontecimento futuro e incerto. No entanto, A e B celebraram
a convenção antenupcial por escrito particular e a lei exige no artigo 1710º que as
convenções antenupciais sejam celebradas por declaração prestada por ambos os
nubentes perante funcionário do registo civil ou por escritura pública. Então, a
convenção é nula por vício de forma (artigo 220º). Então, apesar de a regra geral
para os negócios jurídicos ser a liberdade de forma, se a lei exigir forma especial
será necessário respeitar a forma imposta por lei, sob pena de nulidade. Sendo a
convenção nula, o regime de bens que vigorara no casamento de A e B será o
regime da comunhão de adquiridos, que é o regime supletivo para casamentos
celebrados após 31 de Maio de 1967 (artigo 15º DL 47344, de 25 de novembro e
artigos 1717º e 1721º e ss).
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