Casos Praticos Reais

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Casos Práticos - Reais

Direitos Reais (Universidade de Lisboa)

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Aulas Práticas - Reais 3º TAN [2022-2023] - Prof. Assistente: Tiago Henrique Sousa
Manual recomendado:
- Oliveira Ascensão - Direitos Reais. obs: alguns pontos estão desatualizados (ex.: arrendamento,
para ele é direito real de gozo, mas o regente acha direito pessoal de gozo).
- José Alberto Vieira - recomendado pelo assistente

AVULSO:
Menezes Leitão
José Luís Ramos
Menezes Cordeiro
Carvalho Fernandes (prof aconselha a parte do registo)
Santo Justo
Carlos Mota Pinto

Avaliação:
Casos Práticos em aula + Frequência

Contacto: email - tiagohenriquesousa.advogado@gmail.com

[FOCO DA CADEIRA] Direitos Reais de gozo: nomeadamente de propriedade.


Usufruto: o proprietário, ao abrigo do poder de oneração, vai constituir o usufruto a terceiro; que,
por sua vez, pode usar e usufruir da coisa e o proprietário vai deixar de ter os poderes que tinha =
fica despido de poder fruto e fruição.
Ex.: No terreno agrícola recentemente adquirido nas condições supramencionadas, fica o
usufrutuário com todas as maçãs, e não tem que dar nenhuma ao proprietário.
Uso: direito real menor incide sobre prédio rústico: o terceiro apenas tem a fruição de acordo com as
suas necessidades e com as da sua família.
Ex.: No terreno agrícola recentemente adquirido nas condições supramencionadas, pode o terceiro
tirar as maçãs de modo a preencher as suas necessidades e da sua família, mas as restantes maçãs
são entregues ao proprietário.

Existem ainda:
Direitos reais de garantia (permitem, e têm como objetivo, que haja o pontual cumprimento de um
direito de crédito - reforçam a garantia de crédito do titular). Na ordem jurídica, nomeadamente no
art.601º CC, perante o credor responde todo o património do devedor sujeito a penhora - é a
chamada garantia geral. Garantia real: o titular vê reforçado o seu direito de garantia.
1.º Ex.: o banco quando executar a hipoteca tem direito de preferência perante o imóvel, acima dos
outros credores - art.686º CC.

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2.º Ex.: o penhor - relativo a coisas móveis art.666º CC. Na falta do pagamento da coisa penhorada
no prazo estipulado, o proprietário pode vender o bem para ficar com o seu valor; não ficando com
a coisa em si.
- Direitos reais de aquisição.

Direitos pessoais de gozo ≠ Direitos Reais de gozo


Direitos reais: gozo de coisa corpórea. Têm eficácia erga omnes.
Direitos pessoais de gozo:não deixam de ser direito de crédito. Gozo de coisa corpórea sem
apropriamento.
Ex.: comodato (contrato de empréstimo): eu entrego a alguém uma coisa corpórea para que a
pessoa a use temporariamente. Mas, a pessoa goza a coisa no âmbito de uma situação obrigacional
= Existe o gozo da coisa MAS no âmbito de uma obrigação, no âmbito de um contrato, há uma
relação inter partes AO CONTRÁRIO dos direitos reais de gozo: fazemos o gozo sem qualquer
contrato ou intervenção de terceiro.
Ex.: arrendamento (obrigações contratuais tanto do senhorio como do arrendatário). O gozo da
coisa é regulado por contrato AO CONTRÁRIO dos direitos reais de gozo em que não há qualquer
intervenção no gozo].
Ex.: depósito.
NÃO CONFUNDIR USUFRUTO (ex.: usucapião) COM ARRENDAMENTO.

Caso Prático N.º 1

(Características e Princípios dos Direitos Reais)

I
António, proprietário de um imóvel em Lisboa, decide doá-lo, em Dezembro de 2015, a Bento, seu
primo, mediante celebração de escritura pública, não registando Bento o seu facto aquisitivo.
Entretanto, António vende a propriedade do mesmo imóvel a Berta, em Janeiro de 2016, que
regista.
Na escritura pública celebrada entre António e Bento é referido, numa das cláusulas, que Bento
não poderia alienar o imóvel a qualquer terceiro.
Bento, que residira no imóvel desde 2015, decide constituir um usufruto vitalício oneroso do imóvel
a favor a de Carlos, no ano de 2018, não tendo havido registo do facto aquisitivo.
Em janeiro de 2019, Carlos, que se deslocara à Suíça, vê o imóvel de Lisboa ser assaltado por
Dário, que arromba o imóvel, passando a residir no mesmo.
Carlos decide reagir judicialmente contra Dário, tendo este respondido que Carlos nada poderia
fazer para ele sair do imóvel, uma vez que não era o proprietário daquele imóvel.

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Resolução do professor:
Relativamente à doação:
O negócio celebrado entre António e Bento é caraterizado por doação, cujo regime está presente
nos artigos 940º e seguintes. Para esta ser válida deve respeitar a forma enunciada no art.947º/1,
pelo que, a existência de escritura pública preenche tal requisito. Sem mais informação no caso
concreto relativo aos sujeitos em causa, assumimos que a doação é válida.
Como um dos efeitos da doação encontramos a transmissão da propriedade e da coisa ou
titularidade do direito, enunciado na alinea a) do art.954º. Assim, a propriedade transferiu-se para
Bento, devido ao princípio da consensualidade associado ao sistema do título. A efetivação do
sistema do título seguido no nosso ordenamento jurídico está previso no art.408º/1, garantindo,
como regra-geral, que a constituição ou transferência de direitos reais sobre coisa determinada
dá-se por mero efeito do contrato.
Temos indicação que Bento não regista o facto aquisitivo. Ora, dispõe o Código do Registo Predial,
no seu art.2º/1/a) que estão sujeitos a registo os factos jurídicos que determinem, entre outros, a
aquisição, inclusive o art.8º-A indica a sua obrigatoriedade, a contrario. O art.5º/1 do mesmo
diploma, sublinha ainda que a eficácia erga omnes (contra terceiros) só se produz após a data do
registo supramencionado.
NOTA: É ERRADO DIZER QUE SE REGISTAM DIREITOS, MAS SIM FACTOS JURÍDICOS
AQUISITIVOS, MODIFICATIVOS OU EXTINTIVOS. A LEI OBRIGA QUE A TITULARIDADE SEJA
REGISTADA (8º-A).
Resumindo, António transmitiu a propriedade a Bento com a celebração do negócio jurídico da
doação, validamente celebrado. O facto de não ter registado não obsta a que ele seja considerado
proprietário do imóvel, pois os direitos transmitem-se por mero efeito do contrato do ordenamento
jurídico português.

NOTA: CV tem efeitos reais e obrigacionais (879º)

Relativamente à venda a Berta:


António já não é proprietário do imóvel, já o doou a Bento, por isso, estaria, à primeira vista, uma
venda de bem alheio prevista no art.892º). Contudo, o negócio celebrado entre António e Berta é
válido pois qualquer terceiro interessado que verifique o registo confirma que António está
registado como proprietário. O notário consulta o registo e como este não estava atualizado, é
António que consta, então é lavrado o ato de compra e venda. Apenas está de má-fé o António,
pois sabia da doação a Bento.
Resumindo, existem duas realidades em causa:
A realidade substantiva: em que Bento é proprietário como efeito da doação
A realidade registral: em que António ainda consta como proprietário no registo, na ausencia de
atualização por parte de Bento
Assim, estão dois direitos reais em conflito e recorremos ao princípio da prevalência cuja
regra-geral determina que persiste o direito real da ordem substantiva, neste caso o do António

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com Bento, sobrepondo-se à compra e venda que se seguiu , sendo o contrato entre António e
Berta nulo.
[EXPLICADA MAIS À FRENTE] Aquisição tabular: não podemos alienar um direito real que não
está na nossa esfera, mas por outro lado, não podemos prejudicar terceiro de boa-fé. Se não se
verificarem as regras de aquisição tabular (que protegem a Berta enquanto 3º de boa-fé) o que vai
acontecer é a prevalência do direito do Bento.
[NOTA] Prevalência dos direitos reais sobre os direitos de crédito (regra-geral) mas existem
situações em que subsiste o direito de crédito (ex.: arrendamento).

Relativamente à cláusula de probição de venda a 3º:


Então, esta disposição de António violava ou não o princípio da tipicidade?
Bom, dispõe o art.405º sobre a liberdade contratual, dando a opção às partes poderem recorrer aos
contratos típicos, a contratos mistos ou contratos atípicos, mas sempre dentro dos limites da lei.
Ora, o que limita as normas a que as partes podem se servir é o príncipio da tipicidade:
Princípio da tipicidade: em Portugal, os particulares não são admitidos a criar figuras com natureza
real que lhe aprouver, vendo a sua autonomia privada restringida à possibilidade de escolha de
direitos reais previsos na lei. Assim, há um numérico legalmente finito de direis reais e uma
consequente constituição de restrições ao direito de propriedade. Só são permitidos direitos típicos,
consagrados pelo legislador (art.1306º/1).
Recorrendo ao referido art.1306º, conseguimos extrair duas vertentes:
i) as partes não podem criar direito real ex novos, tem que estar dentro do catálogo real do
ordenamento jurídico;
ii) relevante para o caso: as partes não podem desrespeitar o conteúdo injuntivo típico de um direito
real.
Portanto, temos que confrontar os direitos reais: comprovar quais as normas injuntivas, ou seja, as
que não podem ser alteradas. Ver se a pretensão de A que Bento não alienasse a qualquer terceiro,
estaria ou não, a violar o princípio da tipicidade.
1305º - norma que consagra os poderes de uso, de fruição e disposição (transmissão da
propriedade mas também da sua constituição de direitos reais menores quer da constituição de
direitos reais de garantia) do proprietário.
Então, na nossa hipótese, como se tratava de direito de propriedade e a regra do 1305º é injuntiva,
estava a ser violada.
O que acontece a esta cláusula: como viola a tipicidade, acaba por se manter no contrato em si que
não padece de nulidade; mas oq acontece é q a cláusula terá apenas eficácia inter partes e não erga
omnes. Razão pela qual B pode vender a terceiro, o C fica protegido, mas B poderá sofrer com ação
de responsabilidade civil por parte de A.

Tipicidade: Vantagens VS. Desvantagens: Ver revista 3 e 4 2021 CIDP


Desvantagens: rigidez do tráfico jurídico imobiliário

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Oliveira ascensão: é contra o princípio da tipicidade

4º parágrafo:
O Bento não pode constituir direito real menor em termos da inter partes, mas em termos erga
omnes pode.
O usufruto está sujeito a registo enquanto direito real - base legal (2º/1/a) código registo predial).

5º parágrafo:
Direito de sequela
D não tinha razão, não era proprietário, mas gozava de tutela jurídico-real podia intentar uma acção
real de reivindicação pelo 1311º ex vi 1315º.
AV: nas ação reais tem que ser formulados 2 pedidos: i) reconhecimento de direito por parte do
titular - o tribunal reconhece o direito do autor da ação real ii) entrega da coisa por parte da coisa
de quem a tem
JAF: o autor não tem que formular os dois pedidos, a causa de pedir é complexa pois ao ser
reconhecido direito, obviamente que pode exigir a entrega da coisa (p. absolutidade).
C ainda podia intentar as ações de aquisição de posse (1263º).
Não há registo, mas o que há? Nas ações reais tende-se a exigir todas as cadeias que tivemos que
fazer até obter posse.
Quem tem o registo a seu favor, presume-se que é o titular do direito nos termos em que o registo
o define (art.7º CRP). Neste caso, C não tem registo. Mas podia provar de outra forma: escritura
pública ou registar o facto aquisitivo, e depois intentava a ação.
Característica da absolutista: eficácia erga omnes e não interpartes. Há doutrina que ligue isto ao
direito de sequela.

II
Carlos pretende constituir a favor de terceiros um direito real ex novo, relativo a um imóvel da sua
titularidade, por considerar que o catálogo legal não tutelava, integralmente, os seus interesses,
pedindo auxílio ao seu advogado para o fazer.

Não porque o princípio da tipicidade não permite a criação de direitos ex novos, não podem ser
criados direitos reais para além dos que estão na lei.

NOTA: o princípio da tipicidade é consagrado no nosso ordenamento jurídico. Mas, apesar de não
puderem ser criados direitos reais ex novo, a forma pelo qual o direito real é redigido é livre ou seja:
contrato misto, permuta, etc.
Lembrar sempre das duas vertentes: 1. ex novo 2. princípio disjuntivo ou injuntivo? típico.

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III
Carlos poderá transmitir, a favor de Daniela, o direito de propriedade de um prédio que irá construir
no Porto, em 2024?

Não porque não se pode vender uma coisa que vai ser construída em 2022, não há direito de
propriedade sobre coisas futuras, apenas direitos de crédito.
Nos termos do art 408º nº2 CC se a transferência respeitar a coisa futura, o direito de propriedade
só pode ser transferido quando a coisa for adquirida pelo alienante, neste caso por Carlos.
É possível constituir um direito real sobre coisas futuras, mas o direito real só nasce quando a coisa
nascer. Contrato de compra e venda de uma coisa futura -> derroga a regra geral do princípio da
especialidade

PROF: 880º/1, não se pode transmitir até se construir.

Caso Prático N.º 2

(Princípios dos Direitos Reais)

Considere a seguinte hipótese:


António constitui a favor de Bento, em Janeiro de 2001, um direito de superfície para que este
pudesse construir um parque de estacionamento subterrâneo, o qual regista o seu facto aquisitivo.
Bento acaba por não construir o parque de estacionamento, exigindo António, em Março de 2023,
que este abandone o terreno, o qual recusa, acabando por vender o direito de superfície a Carlos.

Quid juris?

De acordo com o Código Civil,, o direito de superfície é um direito real que confere ao seu titular o
direito de construir ou manter construções em terreno alheio, sendo que este direito pode ser
constituído por contrato ou por testamento, e é transmissível por sucessão ou por negócio jurídico
inter vivos.

No caso em questão, António constituiu um direito de superfície a favor de Bento em Janeiro de


2001, para construir um parque de estacionamento subterrâneo, o que foi registado. No entanto,
Bento não construiu o parque de estacionamento, o que constitui uma violação do contrato de
superfície.

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António, como titular do terreno, tem o direito de exigir a desocupação do terreno por parte de
Bento, o que fez em março de 2023. No entanto, Bento recusou-se a sair, e em vez disso vendeu o
direito de superfície a Carlos.

O Código Civil Português estabelece que o direito de superfície pode ser transmitido por negócio
jurídico inter vivos, e é possível que Bento tenha transferido o seu direito a Carlos de forma válida.
No entanto, como Bento violou o contrato original de superfície, António poderia ter direito a exigir
uma indemnização pelos danos sofridos, caso possa provar que sofreu prejuízos.

Em resumo, embora Bento possa ter transmitido o direito de superfície a Carlos, António ainda
pode ter o direito a uma indemnização pelos danos causados pela violação do contrato original de
superfície.

Art.1528º - princípio geral do direito de superfície


Princípio da elasticidade: os direitos aumentam e diminuem consoante o contrato em causa: dtos
reais podem ser onerados com dtos reais de gozo com duração variável
Nota: quando o direito real menor se extingue, os poderes do proprietário voltam ao início.

Os direitos reais de gozo podem ser onerados.

Art.1534º- transmissibilidade do direito de superfície


Nota: O princípio da transmissibilidade é defendido por alguns autores.

Art.1536º - Causa da extinção + 1/a) na falta da fixação, extingue-se o direito dentro do prazo de
10 anos.
A extinção tem que ser invocada por A, provando que não foi realizada obra no decurso de 20 anos
= extinção por não uso

Recapitulando:
Princípio da consensualidade - 408º - consenso pelo mero efeito do contrato.
Princípio da tipicidade - 2 vertentes
Princípio da causalidade - causa legítima para a transmissão/oneração/ etc : contratos de compra e
venda, etc.
Principio da publicidade - publicidade espontânea (que resulta da posse) e publicidade organizada
(por registo predial). O prof discorda com Antunes Varela, que mesmo sem registo existe
oponibilidade a terceiros, a partir do momento em que o contrato esteja validamente celebrado.
Princípio da elasticidade
Princípio da transmissibilidade
Princípio da especialidade: a determinação do objeto dos direitos reais (coisa corpórea, certa e
determinada). Ver - 1302º

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Princípio da inerência: NÃO CONFUNDIR COM O ANTERIOR. Ligação direta entre a coisa e o
direito real: não há direito real sem coisa nem coisa sem dto real.
Eficácia de erga omnes: ação real = 1311º ação de reivindicação. Prof.assistente: defende a
absolutidade.

T.P.C = POSSE
(mais claramente entre posse e detenção). Regra-geral aquele que tem o controle de uma coisa
corpórea é considerado possuidor excetuando se existir alguma norma que descaracterize a sua
posse. Á partida está prevista nas várias situações do 1253º .

PROF:
TEORIA DA CAUSA: NÃO responde às situações em que o sujeito adquire posse sem qualquer
título.
teoria subjetivista: maioria da jurisprudência: pq seguem pires limes e antunes varela (autores
subjetivistas - tbm RUI PINTO)
teoria objetivista: prescinde do animus (oliveira ascensão).
Possuidor: quem tem controlo da coisa corpórea é sempre possuidor, excetuando se existir uma
norma que descaracterize a minha posse.

A diferença entre posse e detenção:

A posse é o exercício de fato de um direito real. A pessoa que tem a posse de um bem tem o
controle físico do mesmo e pode usá-lo e fruí-lo como se fosse seu proprietário. A posse é uma
proteção legal contra a invasão do bem por terceiros e também é um meio para adquirir o direito de
propriedade por meio da usucapião.
Por outro lado, a detenção é o exercício precário da posse. A pessoa que detém um bem não tem o
direito de usá-lo e fruí-lo como se fosse seu proprietário, mas apenas tem o controle físico do
mesmo por vontade do proprietário. A detenção é uma situação transitória, uma vez que o detentor
deve devolver o bem ao proprietário quando este o exigir.

Antunes Varela VS. Oliveira Ascensão

Existem várias opiniões doutrinárias e de jurisprudência sobre esta distinção.


i) De acordo com Pedro Antunes Varela, a posse é caracterizada pela intenção de ser dono da coisa
e pelo poder de fato sobre ela. Já a detenção é uma relação em que o detentor exerce a posse em
nome de outrem, ou seja, em nome do proprietário. Assim, o detentor não age como se fosse o
dono da coisa, mas sim como um mero detentor que exerce a posse em nome de outro.

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ii) Oliveira Ascensão, por sua vez, afirma que a detenção é uma situação transitória, na qual o
detentor exerce a posse de forma precária, apenas até que o proprietário retome a posse da coisa.
Já a posse é uma situação mais duradoura, em que o possuidor exerce a posse com o intuito de ser
o dono da coisa e com a intenção de mantê-la por tempo indeterminado.
Parece então que ambos os autores partilham a convicção de que a diferença fundamental entre
posse e detenção está na intenção do possuidor ou detentor em relação à coisa.

Jurisprudência

Em geral, a jurisprudência considera que a detenção é uma situação de fato que não confere
proteção legal contra a invasão do bem por terceiros, enquanto que a posse é um direito real que
confere proteção legal contra a invasão do bem por terceiros.
Um exemplo de jurisprudência que distingue entre posse e detenção é um Acórdão do Tribunal da
Relação de Évora, que entendeu que a simples detenção de um imóvel não é suficiente para gerar a
usucapião, mas sim a posse, que deve ser exercida com animus domini, ou seja, com a intenção de
se comportar como proprietário do bem.

Artigo 1253º CC

O artigo 1253º do Código Civil trata dos direitos do proprietário de bens imóveis. O artigo é
composto por várias alíneas, que estabelecem as diferentes facetas do direito de propriedade.
• "Usar" - o proprietário tem o direito de utilizar o bem imóvel para o fim a que se destina. Por
exemplo, como habitação.
• "Gozar" - o proprietário tem o direito de usufruir do bem imóvel e de retirar dele os frutos,
produtos ou rendimentos que este possa gerar. Por exemplo, pode cultivar e colher no seu terreno.
• "Dispor" - o proprietário tem o direito de dispor do bem imóvel, dentro dos limites estabelecidos
por lei. Isso inclui o direito de alienar, doar, arrendar ou hipotecar o bem.
• "Reivindicar" - o proprietário tem o direito de reivindicar o seu bem imóvel em caso de perda ou
desapossamento. Por exemplo, se alguém tomar posse do terreno de um proprietário sem o seu
consentimento, este tem o direito de proceder com uma ação de reivindicação.

Exceções ao Artigo 1253º CC

Uma das principais exceções é a usucapião, uma vez que é o direito de adquirir a propriedade de
um bem imóvel por meio da posse prolongada e ininterrupta do mesmo. De acordo com o Artigo
1297º do Código Civil, a posse do bem por um período de 20 anos, de forma ininterrupta e sem
oposição do proprietário, pode levar à aquisição da propriedade do bem por usucapião.

Outra exceção importante é a hipoteca. O proprietário de um bem imóvel pode hipotecar o bem
para garantir um empréstimo, o que dá ao credor o direito de reter o bem como garantia. Em caso

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de incumprimento do proprietário, o credor pode executar a hipoteca e tomar posse do bem para
recuperar o valor disponibilizado.

Além disso, o Código Civil também prevê que certas propriedades são de interesse público e,
portanto, não podem ser objeto de propriedade privada.

No que diz respeito à jurisprudência, é importante destacar que as exceções ao direito de


propriedade previstas no Artigo 1253º do Código Civil português são interpretadas de forma
restritiva. Ou seja, a lei deve ser interpretada de maneira que limite as exceções ao máximo
possível e que proteja o direito de propriedade do proprietário.

A jurisprudência tem reforçado essa interpretação restritiva das exceções ao direito de propriedade.
Por exemplo, num caso julgado pelo Supremo Tribunal de Justiça de Portugal (Acórdão nº
118/03.3TBVNF.S1), o tribunal decidiu que a hipoteca não pode ser invocada como justificativa
para a posse ou detenção de um bem imóvel por terceiros que não sejam os credores hipotecários.

Caso Prático N.º 3

(Posse)
Considere as seguintes hipóteses:

I
António, proprietário de um imóvel em Braga, decide emprestá-lo ao seu irmão, Bento, em 1980,
para que este habitasse.
Bento reside no imóvel desde essa data, comportando-se como fosse seu proprietário.
António parte para o Brasil em 1980, regressando, em 2020, para gozar a sua reforma, pedindo a
sua devolução imediata.
Bento recusa, alegando que havia usucapido o direito de propriedade.
Quid juris ?

Foi celebrado contrato de comodato (1129º), um direito pessoal de gozo (direito crédito especial -
alicerçado com coisa real corpórea). 1137º/2. O B é um mero detentor. 1253º/c) num âmbito de um
direito pessoal de gozo + 1252º/1.

II
Abel era proprietário de uma herdade em Beja, com 500 hectares.
Bento, desde 1985, utiliza a referida herdade para dar de beber aos seus animais, uma vez que tal
nunca havia causado transtorno a Abel.

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Abel morre em 2020, tendo o seu filho, Carlos, de imediato, exigido a Bento que não mais levasse o
gado dele à herdade.
Bento não concorda, alegando que tem o direito de dar de beber ao seu gado, uma vez que o faz há
mais de 35 anos.

Quid juris ?

De acordo com o Código Civil Português, a utilização da herdade por Bento para dar de beber aos
seus animais pode ser considerada como um direito de passagem, que é um direito real de gozo.
Este direito confere a Bento o direito de passar pela herdade de Abel para dar de beber aos seus
animais.

O direito de passagem pode ser adquirido por usucapião, ou seja, pela posse pacífica e contínua,
durante certo tempo, com a intenção de possuir. Neste caso, Bento tem utilizado a herdade para dar
de beber aos seus animais desde 1985, sem qualquer impedimento por parte de Abel. Este uso
contínuo e pacífico da herdade durante mais de 35 anos pode ser considerado como usucapião.

Portanto, Bento pode alegar o seu direito de passagem, com base no uso contínuo e pacífico da
herdade durante mais de 35 anos. Carlos, filho de Abel, não pode impedir Bento de continuar a
utilizar a herdade para dar de beber aos seus animais, uma vez que este direito já foi adquirido por
usucapião.

Caso Prático N.º 5

(Modos de aquisição da posse)

Considere a seguinte hipótese:

António, usufrutuário, decide emprestar um apartamento a Berta para que esta resida durante a
frequência do seu curso de direito, tendo sido celebrado contrato escrito.
Berta passa a habitar no imóvel, a partir de Setembro de 2018, data em que ingressou na FDL.
Em Março de 2021, António envia uma carta a Berta, dizendo-lhe que precisava da casa.
Berta, responde a António, dizendo-lhe que não ia abandonar o apartamento.
Perante o comportamento de Berta, e atendendo à sua ingratidão, António decide arrombar o
apartamento e mudar a fechadura, impedindo Berta de entrar.
Berta reage judicialmente, no final de Março de 2021.

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Em Setembro de 2021, Berta, cansada de esperar pelo desfecho da acção, decide arrombar ela
própria a porta, enviando depois um sms a António, no qual disse que se considerava, a partir
daquela data, proprietária do apartamento.

Quid juris?

António enquanto usufrutuário:


O contrato de usufruto (artigos 1483º a 1523º do CC) é um negócio jurídico através do qual uma
pessoa, denominada usufrutuário, adquire o direito de usar e fruir de um bem, como se fosse o
proprietário, mas sem adquirir a propriedade do mesmo, ou seja, não pode alienar ou onerar o bem
sem o consentimento do proprietário. Neste caso, o proprietário ao imóvel em questão é pessoa
indeterminada e António ocupa a posição de usufrutuário.
Em regra, o usufrutuário não pode emprestar o imóvel que está sob a sua fruição, pois o mesmo
não é o proprietário do bem. Assim, o usufrutuário não pode ceder ou emprestar o imóvel sem a
autorização do proprietário, a não ser que tenha expressa autorização por parte do mesmo para o
fazer. Ainda que exista um contrato escrito de usufruto, é necessário que a autorização do
proprietário conste de forma expressa e clara, permitindo o empréstimo ou a cedência do imóvel.

No caso apresentado na questão, António é o usufrutuário do apartamento, mas não fica claro se
obteve a autorização do proprietário para emprestar o imóvel a Berta. No entanto, presume-se que,
se foi celebrado um contrato escrito de usufruto, as partes terão previamente acordado as suas
obrigações e deveres, bem como as condições para a cedência ou empréstimo do imóvel, se
autorizado pelo proprietário.

Contrato celebrado entre António e Berta:


António celebra contrato escrito com Berta, no qual, como usufrutuário, emprestou um
apartamento para que esta pudesse residir durante a frequência do seu curso de direito. Com as
informações disponíveis, observamos que no mencionado contrato não foram especificados os
termos e as condições, tais como, a obrigatoriedade de Berta sair do imóvel quando solicitado por
António; pelo contrário, o contrato findaria com a frequência no curso.

Carta enviada por António e resposta de Berta:


De acordo com o art.1082º CC, a notificação para saída deve ser realizada por meio de carta
registada com aviso de receção, mencionando o motivo e o prazo para desocupação do imóvel.
Como a carta enviada por António não cumpre esses requisitos, não produz qualquer efeito legal.
No mesmo sentido, a resposta de Berta à carta de António não tem relevância legal, uma vez que a
carta enviada por António não foi válida. Berta não está obrigada a sair do imóvel sem uma
notificação válida e, portanto, a sua resposta não constitui uma violação dos seus deveres legais.
Mencionando também que o motivo pelo qual António precisa do imóvel não está explícito.

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Mudança de fechadura por parte de António:


A atitude de António de arrombar a porta e mudar a fechadura é uma conduta ilícita e constitui um
crime de coação previsto no artigo 154º do Código Penal Português. António não tem o direito de
retirar Berta do imóvel à força e sem uma decisão judicial que o autorize a fazê-lo. Além disso, a
sua conduta pode dar origem a um pedido de indemnização por parte do verdadeiro proprietário
pelos danos causados ao imóvel.

Reacção judicial de Berta:


Berta pode reagir judicialmente contra António, pois a sua conduta viola os seus direitos enquanto
ocupante do imóvel. Assim, pode apresentar uma ação de reivindicação de propriedade ou uma
ação de restituição de posse para recuperar a sua posição anterior.

Mudança de fechadura por parte de Berta:


O último parágrafo não tem validade legal, pois o arrombamento da porta e a mudança de
fechadura por parte de Berta constitui também uma conduta ilícita e não lhe confere qualquer
direito de propriedade sobre o imóvel. Além disso, a sua conduta pode dar origem a um pedido de
indemnização por parte de António pelos danos causados ao imóvel. A única forma de Berta se
tornar proprietária do imóvel seria através de uma decisão judicial que reconhecesse a sua posse
prolongada e ininterrupta durante um determinado período de tempo, o que não se verifica neste
caso.

Todas estas questões seriam diferentes, caso o verdadeiro proprietário não tivesse autorizado que
António pudesse emprestar o imóvel:

Se António não tinha autorização para emprestar o apartamento a Berta, então a cedência do
imóvel por parte de António é considerada ilegítima. Neste caso, Berta não teria direito à posse do
apartamento, e a sua permanência no imóvel seria considerada uma situação irregular e ilegal.

Por sua vez, a atitude de António de arrombar a porta e mudar a fechadura do apartamento seria
ilegal e considerada uma violação das regras do usufruto. O usufrutuário tem o dever de conservar
o bem objeto do usufruto e não pode alterar a sua estrutura ou forma sem a autorização do
proprietário.

PROFESSOR:

Relativamente à questão da declaração negocial há autores que entendem que tem que haver
declaração de vontade. Contudo, e de em harmonia com o prof, a maior parte não acha necessário
pois a posse tem o elemento essencial corpus e a exteriorização de um direito, ora ao existir estes 2
elementos não é necessário exteriorização de vontade.

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Ato do 3º capaz de transferir a posse, 2º modalidade da inversão da posse: caso raro. Acontece
quando existe o ato que é idôneo a transmitir a posse e a doutrina jusrealista: o detentor passa a
possuidor. O prof discorda: o CCV não é idôneo a transferir a posse, mas sim a titularidade,
principalmente num contrato aferido de invalidade.

Oposição direita, 1º modalidade: detentor contra possuidor. Comportamento concludente de uma


vontade expressa dirigida ao sujeito, ou um que tenha capacidade suficiente que quer passar ?

Caso Prático N.º 6

(Modos de aquisição da posse)

Considere a seguinte hipótese:

Abel, proprietário de um apartamento, estando estava numa situação económica difícil, decide
vendê-lo ao seu amigo Bento, em 2002, sob a condição de puder continuar a residir no imóvel,
mediante o pagamento de uma renda e celebração de um contrato para o efeito, com a duração de
20 anos.
Bento aceita a compra e venda nestas condições, tendo a escritura pública sido celebrada, no ano
de 2005, e sido registado o facto aquisitivo.
Bento morre, em 2020, tendo o imóvel sido herdado pelo seu filho Carlos.
Carlos exige que Abel abandone o imóvel porque pretendia residir no mesmo, dizendo ainda ser
alheio ao negócio que este havia celebrado com o seu pai.
Abel opõe-se, dizendo que Carlos não era possuidor, nunca tendo tido o controlo material do
apartamento e que não iria abandonar o apartamento.

Quid juris ?

Resolução do prof + apontamentos pessoais referentes aos manuais indicados

Relativamente aos negócios celebrados entre A e B:


O contrato de compra e venda celebrado em 2002 entre Abel e Bento presume-se válido. A
condição determinada por A e posteriormente aceite por B origina um novo negócio jurídico na
esfera de ambos: o contrato de locação, previsto no art.1022ºCC.
Porque não um contrato compra e venda com reserva de usufruto? Enquanto o usufruto confere ao
usufrutuário um direito real sobre o bem, o contrato de locação confere apenas um direito pessoal
de uso e gozo temporário, mediante pagamento de renda.

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No contrato de locação celebrado entre A e B, permite que o último mantenha o direito real da
coisa enquanto que o primeiro mantém o controlo material e desfruta de um direito pessoal de
gozo.
Quando se verificam situações como o caso apresentado, estamos perante um constituto
possessório.
Este representa a ocasião em que o possuidor passa a detentor, continuando embora a ter a coisa
consigo - José Alberto Vieira [Direitos Reais]. Assim, estão aqui em causa dois atos: o principal, em
que se transmite o direito real, e o acessório, no qual se justifica que a detenção da posse por parte
do antigo possuidor, novo detentor.
Esta figura está sujeita ao regime específico do art.1264º CC que, por sua vez, determina três
requisitos:
- Um negócio jurídico de transmissão de um direito real de gozo - confirma-se, neste caso, havendo
um contrato de compra e venda entre A e B.
- Que o transmitente do direito real seja possuidor - A, que transmite o direito real, era o possuidor
- Uma causa jurídica para a detenção da coisa - o contrato de locação celebrado entre ambos
Assim sendo, e encontrando-se os preceitos do art. 12º/1/m do CRP (período igual ou superior a 6
está sujeito a registo) considera-se também válido o contrato de locação.

Relativamente à sucessão de C:
Se em causa estivesse um contrato de comodato (contrato intuitu personae) este extinguir-se-ia
com a morte do titular principal. Contudo, e de acordo com o regime do artigo 1057º CC, Carlos não
pode obrigar Abel a abandonar o imóvel.

Relativamente à argumentação de A:
A posse do sucessor é a posse do de cuius - José Alberto Vieira [Direitos Reais] . Uma vez que a
posse continua nos sucessores, a apreensão material desnecessária, por já ter sido consumada
anteriormente.

Posição da Regência, que defende que a posse se transmite solo consensus por constituto
possessório (artigos 1263.º, c) e 1264.º), nos mesmos termos que se dá a transmissão dos direitos
reais (v. artigo 408.º); C é, com efeito, possuidor do imóvel, mesmo não tendo o controlo material
sobre a coisa corpórea (fenómeno de desmaterialização do corpus possessório, que nos indica,
claramente, que a posse é uma questão de direito - desmaterialização do corpus prevista no
art.1255º - circunstância de regra geral, há posse mesmo sem controlo material da coisa, nos
mesmos termos do anterior proprietário).
Logo, Abel não tem razão no que diz, e Carlos é sim o legítimo possuidor do imóvel em questão.

Questão extra colocada pelo professor:

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Imagine que Carlos estava constamente a ligar a Abel, dizendo para abandonar o imóvel, inclusive
referindo que ia recorrer às autoridades para reaver o imóvel. O que aconselharia a Abel enquanto
seu cliente?

O comportamento de Carlos, para além de não sustentado pois Abel estava a agir conforme os
preceitos outrora contratados, configuram-se como uma figura de assédio.

Teríamos que recorrer ao capítulo V do CC que versa sobre a defesa da posse.


Nomeadamente importa distinguir esbulho de perturbação:
Esbulho: consiste na privação da coisa por intervenção de terceiro, contra a vontade do possuidor.
Este fica despido do corpus, sem controlo material da coisa. Uma das formas típicas de esbulho é a
inversão do título da posse.
Para este tipo de casos deve recorrer-se a uma ação de prevenção, prevista no art.1276º CC, pois
esta requer que não tenha havido ainda perturbação na posse da coisa.

Perturbação: quando já existem atos materiais praticados sobre a coisa que perturbaram o gozo
dela pelo possuidor.
Deve recorrer-se a uma ação de manutenção, prevista no art.1278º CC. Legitimidade: art.1281º e
Caducidade: art.1282º CC.

Caso Prático N.º 7

(Vicissitudes da posse, defesa possessória e frutos na posse)

Considere as seguintes hipóteses:

Abel, proprietário de um automóvel, é um fervoroso adepto de desporto, razão pela qual nunca
utiliza o mesmo, tendo-o estacionado numa praceta próxima de casa.
O carro vai ganhando pó na rua, altura em que Bento, julgando que ninguém queria o mesmo, o
arromba, em Fevereiro de 2023, passando-o a utilizar.
Abel, apercebendo-se de que o carro estava a ser utilizado, decide agir judicialmente no sentido de
voltar a ter o seu carro de volta.
Bento apresenta contestação, dizendo que era facto notório que o carro estava abandonado, não
sendo utilizado há mais de um ano e que, por essa razão, o poderia utilizar.

Quid juris ?

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José Alberto Vieira:


Existem diversas formas do possuidor perder a posse da coisa, uma delas é o abandono (1267º/a
CC).
O abandono consiste na perda voluntária do corpus pelo possuidor. Este quebra o controlo material
que tinha sobre a coisa por opção própria.
Menezes Cordeiro defende ser necessário que o abandono tenha um mínimo de publicidade,
assemelhando-se ao apossamento. Contudo, José Alberto Vieira discorda, dizendo que a
publicidade não se adequa à maioria das situações (ex.: televisor abandonado).
Determina-se portanto que o animus de não possuir é juridicamente irrelevante se o controlo
material da coisa (corpus) permanecer inalterado. E como, uma vez constituída a posse, ela se
conserva com a mera suscetibilidade de atuação material sobre a coisa (art.1257º/1), tem de haver
a quebra efetiva do domínio fático da coisa para que se possa falar de abandono.
Exemplo ilustrativo de José Alberto Vieira: o proprietário do veículo que o deixa na via pública sem
querer saber dele, mas que conserva consigo as chaves, podendo a todo o tempo retomar a
atuação sobre a coisa, mantém a sua posse (art.1257º/1).
Este exemplo encaixa perfeitamente no caso em questão. Abel não só não expressou qualquer
animus de abandonar o carro, como mantém domínio sobre o corpus; logo, não se poderia dizer que
houve abandono nesses termos.
A questão temporal suscitada por Bento:
Jurisprudência:
No entanto, a jurisprudência portuguesa tem entendido que, para se considerar um bem
abandonado, deve verificar-se a intenção inequívoca do proprietário em renunciar ao bem,
conjugada com a sua inutilidade e falta de utilização por um período de tempo significativo. Em
regra, um período de tempo superior a um ano de inatividade pode ser um indicador relevante para
avaliar se houve ou não abandono, mas não é um critério determinante.
Por exemplo, o Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra, processo nº 415/09.1TBLRA.C1, de 23
de março de 2010, estabeleceu que "o abandono pressupõe a intenção inequívoca do titular em
renunciar ao objeto abandonado, conjugada com a sua inutilidade e falta de utilização por período
de tempo suficientemente significativo", acrescentando que "a prova da existência de abandono
pode ser feita através de qualquer meio de prova admissível em direito". Por sua vez, o Acórdão do
Tribunal da Relação de Lisboa, processo nº 1915/09.8TJLSB.L1-3, de 15 de dezembro de 2009,
considerou que "a noção de abandono de um bem deve ser analisada à luz das circunstâncias de
cada caso concreto, sendo necessária a conjugação de fatores objetivos e subjetivos, tais como a
falta de utilização do bem, o estado do mesmo e a intenção do proprietário em renunciar ao
mesmo".

Antunes Varela:
Antunes Varela, na sua obra "Manual de Direito das Coisas", aborda o tema do abandono de
objetos e defende que, para que possa ser considerado abandono, é necessário que exista a

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vontade do proprietário em renunciar ao bem. Segundo Varela, "para que se possa considerar um
bem abandonado, é necessário que o proprietário tenha a intenção de o abandonar" (pág. 245, 9ª
edição).

O autor também refere que a falta de utilização do bem por um período de tempo pode ser um
indicador relevante para a caracterização do abandono, mas não é suficiente por si só. Para que se
possa concluir pela existência de abandono, é necessário que existam outras circunstâncias que
demonstrem a intenção inequívoca do proprietário em renunciar ao bem, como o estado de
conservação do objeto, a sua localização e as manifestações do proprietário.

Manuel de Andrade:
Manuel de Andrade, na obra "Noções Elementares de Direito Civil" defende que o abandono é uma
forma de extinção do direito de propriedade, que ocorre quando o proprietário deixa o objeto sem
uso e sem cuidados por um período de tempo significativo, com a intenção de se desfazer dele.

No entanto, Andrade faz a ressalva de que a mera falta de uso ou cuidado com o objeto não é
suficiente para caracterizar o abandono. É necessário que haja uma intenção inequívoca do
proprietário em renunciar ao bem, manifestada de forma clara e objetiva. Além disso, o autor
salienta que o abandono não é presumido, devendo ser provado pelo interessado.

Por isso e de acordo com o supramencionado, para se concluir se um automóvel ou outro bem foi
abandonado, é necessário analisar as circunstâncias específicas de cada caso, incluindo o tempo de
inatividade do bem, as manifestações do proprietário, a sua localização e estado de conservação,
entre outros fatores relevantes e o período temporal invocado por Bento não seria suficiente para
justificar as suas acções ilícitas.

[NOT SURE] Relativamente à ação de Bento para aceder ao automóvel:


Apossamento: 1263º CC:
- Prática de atos materiais: atos físicos necessários à apreensão da tomada de controlo da coisa.
Neste caso, Abel procedeu ao arrombamento da porta do veículo para se apoderar do mesmo.
- Reiteração da práticas de atos: JAV concorda com OA que a formulação do preceito induz
falsamente a necessidade de uma repetição de atuação material, quando o que está em causa é
somente a tomada de controlo material da coisa, que se pode consumar num ato único. O tempo
não é relevante para o apossamento, o que conta é a intensidade da atuação para criar o controlo
material da coisa pelo sujeito.
Aqui, Bento apenas precisou de arrombar a porta uma vez para ter total acesso ao automóvel.
- Publicidade dos atos materiais: Bento passa a utilizar o veículo como seu.

Assim sendo, deve Abel recorrer a uma ação de restituição, prevista no art.1278º/1. Isto porque
enquanto possuidor foi privado da coisa pelo esbulho (Bento). O corpus possessório é destruído

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pela intervenção de um terceiro, que concretiza um desapossamento da coisa, retirando-a da esfera


de poder do possuidor.
Tem Abel legitimidade para intentar a ação de restituição pelo artigo 1281º/2, e deverá ser
indemnizado por Bento nos termos do art.1284º.

Posse de B: não titulada, má-fé, pacífica, publica. Neste caso é também formal: o exercício
possessório não corresponde à titularidade do direito (VS. Causal: existe correspondência entre o
exercício possessório e a titularidade do direito). Efetiva: controlo material total da coisa (VS.
não-efetiva). Civil: confere a plenitude possessória VS. Interdial? não é verdadeira posse, é para a
tutela dos direitos pessoais de gozo. Posse Mediata: por exemplo, arrendamento VS Imediata: não
há intermediário

II

Antónia é usufrutuária de uma quinta em Sintra, usufruto que tinha sido constituído a seu favor
pelo seu viúvo, Bento, pai de Carlos e Dário, os quais herdaram a sua propriedade com a sua morte.
Carlos detestava a sua madrasta, decidindo começar a ligar-lhe, dizendo-lhe que ela tinha de
abandonar a quinta, tendo contratado vários marginais para rondar o local durante a noite, para
que Antónia temesse continuar a viver no local.
Antónia, apesar do medo com que ficou, continuou a viver no local, decidindo, porém, pedir
conselho ao seu Advogado como forma de lidar com a conduta de Carlos.
Meses depois, Dário, que tinha ainda maior ódio pela madrasta, decide invadir a quinta com os
capangas contratados pelo irmão, exigindo que esta saísse da casa, o que esta fez, temendo pela
sua integridade.
Recomposta do choque, Antónia contacta o seu Advogado, pedindo-lhe que este actue de
imediato para recuperar o acesso à casa.
Carlos e Dário decidiram, após a saída de António, vender toda a produção de maçãs da quinta a
Félix.
Quid juris ?

• O usufruto em causa é um direito real sobre uma quinta em Sintra que foi constituído a favor de
Antónia pelo seu viúvo, Bento. Segundo o Código Civil Português, o usufruto é o direito real de usar
e fruir temporariamente de uma coisa alheia, podendo ser constituído por contrato ou por
testamento (artigo 1440º). O usufrutuário tem o direito de usar e fruir a coisa como se fosse
proprietário, mas não pode dispor dela, nem alterar a sua substância (artigo 1439º).

• O comportamento de Carlos viola o direito de uso e fruição que foi concedido a Antónia pelo
usufruto. Os artigos 1439º e 1446º estabelecem que o usufrutuário tem o direito de usar e fruir da
coisa como se fosse proprietário, mas não pode dispor dela nem alterar a sua substância. Assim, o
comportamento de Carlos, ao ameaçar Antónia e tentar expulsá-la da quinta, configura uma

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violação do direito de uso e fruição concedido pelo usufruto, e pode dar lugar a uma ação judicial.
Como Carlos ainda não conseguiu impedir Antónia de ter acesso à quinta e à sua casa, mas está a
ameaçar fazê-lo, Antónia pode intentar uma ação de manutenção (1278º/1) na posse para garantir
que o seu direito de uso e fruição concedido pelo usufruto é respeitado e protegido. A ação de
manutenção na posse é uma ação judicial que visa proteger o possuidor de perturbações na posse
e na fruição do imóvel.

• O comportamento de Dário e dos seus capangas configura uma invasão da propriedade de


Antónia e uma perturbação grave e ilegítima da sua posse, o que pode dar origem a várias ações
judiciais. Antónia pode intentar uma ação de restituição na posse para recuperar o acesso à sua
propriedade, nos termos do artigo 1278º/2 CC. Esta ação visa restabelecer o possuidor na posse do
imóvel, quando este tenha sido indevidamente privado da posse por outra pessoa. Neste caso,
Antónia poderá alegar que foi expulsa da sua propriedade de forma violenta e ilegal por Dário e os
seus capangas.
• 1279º - esbulho violento -> não precisa de ir a audiência. CPC: medida cautelar (377º e 378º)

• O advogado de Antónia deve aconselhá-la a tomar medidas legais imediatas para recuperar o
acesso à quinta e à casa. Isto pode incluir a apresentação de uma queixa-crime contra Carlos e
Dário e seus capangas, uma ação de restituição de posse, uma ação de indemnização pelos danos
causados, bem como uma ação de proteção dos direitos fundamentais de Antónia.

• Esta venda pode configurar uma violação do usufruto de Antónia, uma vez que o usufrutuário tem
o direito de usar e fruir dos bens que constituem o objeto do usufruto.

Assim, o advogado de Antónia pode aconselhá-la a intentar uma ação de restituição de frutos
contra Carlos e Dário. Esta ação permite que Antónia seja restituída dos frutos da quinta que foram
colhidos e vendidos pelos seus enteados, incluindo o valor correspondente às maçãs vendidas a
Félix.

Além disso, Antónia pode também intentar uma ação de indemnização por danos e prejuízos
decorrentes da violação do usufruto. Esta ação permite que Antónia seja compensada pelos danos
materiais e morais que sofreu em virtude da venda ilegal dos frutos da quinta.

prof: ver tbm 1271º CC. Antonia pode exigir o valor pelos quais os frutos foram alienados e
indemnização pelos lucros cessantes (imaginando que há um contrato celebrado com uma
empresa, por exemplo)

Embargos de 3º: 1285º - proteger o titular do direito real ou pessoal de gozo de um ato de penhora
que coloque em causa o gozo pleno da coisa corpórea. Ex.: Imagine que A é proprietário, e adquiriu
o imovel ao banco e a este o paga. O banco vende-lhe a casa? Mas A tem contrato de

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arrendamento com B. O C quer o B fora. Como o direito pessoal de gozo do B é anterior à penhora,
no caso de C querer uma ação de reivindicação B pode invocar embargo de terceiro.

Caso Prático N.º 8

(Usucapião)

Considere a seguinte hipótese:


António era usufrutuário vitalício da Herdade do Repasto.
O prédio era da titularidade de Bento, que celebrara com António um usufruto, de natureza
vitalícia.
António deixou a Herdade do Repasto, rumo a Lisboa, em 1988, nunca mais tendo lá voltado.
Carlos, sabendo do negócio entre António e Bento, e que o primeiro deixara a Herdade do Repasto,
decide invadir, nesse mesmo ano, aquele prédio rústico, tendo passado aí a residir, utilizando,
ainda, as diversas máquinas agrícolas que aí se encontravam.
Entretanto, em 2018, Bento morre, tendo deixado ao seu filho Ernesto, no seu testamento, o direito
de propriedade sobre a herdade, o qual decide reivindicar, junto de Carlos, o direito que herdara de
seu pai.
Carlos, sabendo do sucedido, decide, de imediato, apresentar ação declarativa, invocando a
usucapião do direito de propriedade.
Na contestação desta acção, foi junto por Ernesto aos autos, duas notificações judiciais avulsas,
levadas a cabo pelo Advogado de António e Bento, e endereçadas a Carlos, respectivamente, no
ano de 2007 e 2016, nas quais solicitava o abandono imediato da Herdade do Repasto e afirmado
a titularidade daquele prédio rústico, nunca o tendo abandonado, tendo ambos sempre consigo as
chaves do imóvel.
Quid juris

Relativamente ao usufruto:
O usufruto, previsto no art. 1439º, tem um caráter pleno e temporário. O período pelo qual se
estende o usufruto tem como limite legal a vida do usufrutuário (art.1443º), implicando a sua
extinção (art.1476º/1/a). Não existe uma real enumeração de poderes do usufrutuário, logo
contamos com uma universalidade de gozo, neste caso, da coisa imóvel, a Herdade.
- Caracterizar a posse de B: titulada, pacífica, boa-fé, civil
- Caracterizar a posse de A: titulada (constituída com base no contrato de usufruto), de boa-fé,
pacífica(adquirida sem coação), pública, imediata, causal, efetiva (suscetibilidade da pessoa titular
do direito poder usar a coisa quando quiser), civil

Relativamente ao não uso:

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O aproveitamento compreendido no tipo legal do usufruto abrange, entre outros, o uso.


Neste caso, o usufruto foi celebrado em 1988 e temos a informação que A não retorna à Herdade.
Ora, dispõe o artigo 1476º/1/c) que o usufruto se extingue pelo seu não exercício durante 20 anos,
independentemente do motivo. Em 2018 completariam 30 anos desde da celebração do negócio
entre A e B, portanto A não seria mais considerado usufrutuário, e a Herdade seria devolvida a B.
*O USUFRUTO EXTINGUE-SE POR NÃO USO (297º e 298º) MAS TEM QUE SER INVOCADO
PELO NU PROPRIETÁRIO. Mas não é relevante para este caso. *

Apossamento:
1263º CC:
- Prática de atos materiais: atos físicos necessários à apreensão da tomada de controlo da coisa.
Neste caso, Carlos invade o prédio e apodera-se do mesmo.
- Reiteração da prática de atos: JAV concorda com OA que a formulação do preceito induz
falsamente a necessidade de uma repetição de atuação material, quando o que está em causa é
somente a tomada de controlo material da coisa, que se pode consumar num ato único. O tempo
não é relevante para o apossamento, o que conta é a intensidade da atuação para criar o controlo
material da coisa pelo sujeito.
Aqui, Carlos apenas precisou de arrombar o prédio uma vez para ter total acesso.
- Publicidade dos atos materiais: Carlos passa a utilizar a propriedade e as máquinas agrícolas
como suas.
Caracterizar a posse de C: titulada, má-fé, pacífica, publica. 1267º/1/d): B está sujeito a perder a
posse para C.

Sucessão de Ernesto:
Pelo artigo 1255º, Ernesto enquanto sucessor de Bento passa a possuidor com a sua morte.

Alegação de usucapião por parte de Carlos:


São 3 os requisitos estabelecidos legalmente para o usucapião:
- Uma posse "boa": a posse pública e pacífica referida no ar.1297º, e contínua e ininterrupta* (VER
326º EXCEÇÃO?), como retirado da expressão "mantida por certo lapso de tempo" do art.1287º.
- Fixação da duração da posse necessária: neste caso, não existe registo de título, logo aplicar-se-ia
o disposto no art. 1296º. Neste caso, e há luz do artigo 1260º/2, visto que a sua posse não era
titulada presume-se de má-fé e por isso, já teria ultrapassado o prazo maior de 20 anos para o
usucapião.
- Invocação pelo possuidor: 1292º + 303º.

Relativamente a 2007 e 2016:


*Notificação judicial avulsa: propósito de interromper a prescrição (o prazo); evita a prescrição e a
caducidade. Não podem ser contestadas. Interrupção instantânea.

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Interrupção da prescrição: 323º/1, 326º/1, 327º. O prazo começa logo a correr, no dia seguinte.
Caso diferente seria uma ação de defesa da posse: o prazo conta a partir do trânsito em julgado.
Em 2018, só teriam passado dois anos logo o C nao poderia invocar o usucapião.

Relativamente às máquinas agrícolas: 1298º/b), podia usucapir. Se fosse o 1299º, também podia,
pois passou o prazo. A notificação judicial avulsa não menciona as máquinas.

Dúvida para o professor:


Se a usucapião se refere ao direito de propriedade, porque a posse do usucapiente se exerceu nos
termos desse direito, a propriedade anterior que incidia sobre essa coisa, extingue-se no momento
em que a usucapião produz o seu efeito aquisitivo. Assim, verifica-se um efeito extintivo para B.
R.: O que aconteceria por exemplo no caso em questão, se não se verificassem notificações ou ação
de defesa da posse.

Quando o direito usucapido é um direito real menor (usufruto, superfície, servidão predial), a
usucapião não determina a extinção do direito de propriedade existente, mas apenas a sua
oneração.
R.: A título de exemplo: uma senhora que à 30 anos leva o seu gado a beber água (servidão) num
terreno vazio cujos donos não aparecem à décadas. Com a morte do proprietário, o filho que herda
dito terreno pretende impedir a senhora de utilizar a água. Ora, como a mesma andou anos
publicamente e pacificamente, continua e ininterruptamente a servir-se daquelas águas, pode
invocar a figura da usucapião da utilização das águas. Sem qualquer registo, a prova testemunhal
dos vizinhos que observam aquela senhora desde sempre chega para suportar a sua invocação.

NOTA:

REGISTO DE MERA POSSE - 1295º

Tem como função permitir ao indivíduo que tem o uso da coisa, o registo da sua posse, num limite
temporal menor que o usucapião.
Ex.: Abel invade terreno vazio pertencente a terceiro falecido sem herdeiros. O Estado ainda não se
apossou do bem. Abel, passado 5 anos, podia registar a sua mera posse (1295º/2 remissão para
116º do Código do Registo Predial).

Caso Prático N.º 9

(Acessão)

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Considere a seguinte hipótese:

António, camponês analfabeto, decide tentar a sua sorte em Lisboa, no ano de 2015.
Quando chega à capital, António fica instalado na moradia da sua tia, arranjando trabalho.
António, decide então construir, nesse mesmo ano de 2015, uma pequena casa improvisada em
tijolo para si, num terreno vazio que se situava ao lado da moradia da tia e que, segundo esta,
estava abandonado há mais de 30 anos.
Uma vez que o salário de António era parco, este decide plantar algumas árvores de frutos para
ajudar no seu sustento, utilizando sementes que surrupiou da sua tia, sem esta saber.
Aquando das escavações para fundar os alicerces da sua nova casa, António encontrou um saco
com diversas pepitas de ouros que vendeu, em seguida, num antiquário da Baixa de Lisboa,
aplicando, integralmente, o valor recebido na compra dos restantes materiais de construção da sua
nova casa.
Um ano depois, informado por vizinhos de António da nova construção, Bento dirigiu-se à casa
construída, munido da certidão do registo predial que comprovava ser ele legítimo proprietário do
terreno, dizendo a António que aquele terreno era seu, que tudo o que lá se encontrava lhe
pertencia, e que António teria que abandonar o imóvel de imediato.
António recusou-se a sair do imóvel, dizendo que aquele terreno estava claramente abandonado
quando iniciou a construção, que aquela casa fora construída com o seu suor e que era sua por
direito.

Quid juris ?
OURO - 1324º
1326º/1 - acessão industrial
1326º/2 + 1339º - acessão industrial imobiliária
Relativamente às árvores: 1342º
Relativamente à obra: 1340º

? Apossamento:
1263º CC:
- Prática de atos materiais: atos físicos necessários à apreensão da tomada de controlo da coisa.
Neste caso, António desenvolve plantações e construiu uma habitação no terreno.
- Reiteração da prática de atos: durante anos, António administra o terreno como seu.
- Publicidade dos atos materiais: António passa a utilizar a propriedade e os frutos das plantações
como seus.
Caracterizar a posse de A: não-titulada, má-fé (pois todas as posses não tituladas consideram-se
de má fé?) ou boa-fé?, pacífica (adquirida sem coação física ou psicológica), pública (os vizinhos e a
tia sabiam do uso que António fazia do terreno).

Acessão ou benfeitoria?

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A jurisprudência dominante segue a doutrina de Pires LIma/ Antunes Varela, na qual se afirma que
pese embora haja semelhança entre ambas figuram nomeadamente no benefício material para a
coisa; a benfeitoria verifica-se quando o melhoramento é feito por alguém com vínculo jurídico ou
relação com a coisa, ao passo que, a acessão é um fenómeno que vem do exterior, de uma pessoa
sem contacto jurídico com a coisa.

A acessão vem prevista no art.1317º/d) como um facto aquisitivo da propriedade, e pelo art.1325º
dá-se quando a coisa que é propriedade de alguém se une e incorpora outra coisa que não lhe
pertencia.
Para JAV, a acessão pressupõe em regra a verificação cumulativa de dois requisitos:
1º requisito: explícito no art. 1325º - a união ou mistura de duas (ou mais) coisas;
2º requisito: implícito - a inseparabilidade da coisa resultante da união ou mistura de duas (ou mais)
coisas autónomas.
Neste caso, caímos sobre a segunda parte do nº 1 do art.1326º, pelo que a acessão resultou por
facto de homem, sendo assim uma acessão industrial. Esta, conta com duas distinções pelo nº2 do
mesmo artigo, influenciada pela natureza das coisas em questão. Tanto a plantação feita por
António, como a habitação por si erguida pertencem à subseção IV, referente à acessão industrial
imobiliária.

Relativamente à boa ou má-fé de António face à titularidade do terreno:


A informação que temos relativamente a António é que é uma pessoa analfabeta, e por isso
presume-se com estudos insuficientes para duvidar da palavra da tia, uma fonte para ele de
confiança.
Acreditando este que o terreno estava realmente abandonado e que, por isso, disponível para
António usar como entendesse é possível averiguar que este não só tinha desconhecimento que o
terreno era alheio (requisito de boa-fé previsto no art.1340º/4) como este desconhecimento era
desculpável (requisito necessário pela doutrina de JAV e MC).

Relativamente à plantação:
António não só a faz em solo alheio como utiliza sementes de terceiro também, neste caso, da sua
tia. Ora, dispõe o art.1342º/1 que serão atribuidos ao donos das sementes os direitos conferidos ao
autor da incorporação previstos no 1340º, independemente da boa ou má-fé do último.
Assim, não sendo Antonio proprietário do terreno nem das sementes, não vai beneficiar dessa
acessão. Os direitos fornecidos à tia iam respeitar os termos do art. 1340º/1, pois a plantação
valorizou o terreno, que era outrora baldio.

Relativamente à habitação:
Relembrando que António estava de boa-fé, caímos novamente no escopo do art.1340º/1; sendo
que este deve pagar o valor do terreno a Bento que este tinha antes da habitação, mas não adquire
assim imediata propriedade do mesmo. Tal só acontece após a manifestação de vontade e após o

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pagamento de indemnização a Bento, ao contrário da acessão natural, em que o facto aquisitivo da


propriedade acontece automaticamente.
António, enquanto beneficiário da acessão, deve exercer o seu direito potestativo, se assim desejar,
e proceder ao pagamento da indemnização legal. Apenas aí passará a ser proprietário,
verificando-se o facto (1316º e 1317º/d).
Ora, tendo em conta que o terreno passa a ser seu, António pode pagar à tia o valor das sementes
bem como pagar indemnização caso haja lugar (que não penso que haja?) adquirindo assim os
materiais que usou, as sementes.

Relativamente ao ouro que António encontrou:


Na parte que toca ao saco com pepitas de ouro, podemos afirmar que estamos perante uma
aquisição de tesouro, prevista no art.1324º. Inseridas no artigo mencionado, distinguem-se duas
hipóteses, sendo que a relevante para a questão atual é aquela na qual o achador (António) não
tem como saber quem é o proprietário pois julga o terreno abandonado há mais de 30 anos.
Contudo, nesta situação importa diferenciar dois cenários, sendo o pertinente para este caso aquele
em que o achador julga o tesouro encontrado há mais de 20 anos. Ora, assim sendo, fica o achador
livre de seguir o determinado no art.1324/2 e com a apreensão material do ouro, dá-se a aquisição
automática por parte de António.

Dúvida para o prof::


Não há qualquer consequência pelo facto da habitação ter sido construída com materiais obtidos
pela venda do ouro encontrado? Não, os materiais que obteve são seus, e não de outrem.

Certidão predial:
Esta certidão, emitida em papel, faz prova da situação jurídica de um imóvel no momento em que é
emitida. Reúne e descreve os registos em vigor que dizem respeito àquele prédio.

A certidão de registo predial comprova, por exemplo, a quem pertence o imóvel e se existem
encargos sobre ele.

Caso Prático N.º 10

(Efeito Atributivo do Registo)


Considere as seguintes hipóteses:

I
António decide vender a sua moradia da Lapa a Bento, em Novembro de 1988, tendo sido lavrada
escritura pública.

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Bento era emigrante e apenas pretendia ir viver para a moradia, quando se reformasse, não tendo o
facto aquisitivo sido registado.
António decide constituir, em Dezembro de 1988, um usufruto oneroso a favor de Carlos,
relativamente à moradia da Lapa, tendo Carlos, por contrapartida, lhe dado uma tiara de
diamantes. Carlos regista o facto aquisitivo a seu favor, passando a residir no imóvel.
Em 2021, Bento regressa a Portugal para gozar a sua reforma, vendo que Carlos residia no imóvel,
decidindo, de imediato, intentar uma acção de reivindicação contra este.

1- Quid juris ?

O negócio celebrado entre António e Bento caracteriza-se como um contrato de compra e venda,
previsto no art. 874º CC. Dispõe o art. 875º CC que a validade do contrato em causa depende da
celebração de escritura pública ou documento particular autenticado. Temos indicação que tal
requisito se encontra verificado e de acordo com o art.879º/a), na realidade substantiva Bento é o
legítimo proprietário do direito real sobre o imóvel. Contudo, prevê o art.2º/1/a) do Código do
Registo Predial que estão sujeitos a registo, entre outros, os factos jurídicos de aquisição de
propriedade, o que não se verificou.
Um mês depois da celebração do negócio supramencionado, António celebra com Carlos um
usufruto oneroso (1439ºCC), e, como previsto pelo artigo 2º/1/a), regista o facto aquisitivo a que
este está sujeito.
A regra-geral abordada pelo professor José Alberto Vieira consagra que a ordem substantiva
prevalece sobre a ordem registral, o que significaria, à primeira vista, que o direito de Bento
prevaleceria.
Contudo, e em conformidade com o art.1º do Código do Registo Predial, a função do registo tem
como destino essencial publicitar a situação jurídica do prédio, conservando a segurança do
comércio jurídico imobiliário. Desta forma, há uma valorização da fé pública registral, protegendo
assim, por exemplo, um terceiro que confia na aparência suscitada pelo registo e vem
posteriormente a praticar um ato de aquisição de um direito real com quem afinal não é o titular.
Assim, dispõe o art.5º/1 que os factos sujeitos a registo só produzem efeitos contra terceiro depois
da data do respetivo registo, e, por sua vez, o nº4 do mesmo artigo define terceiros, para efeitos do
registo, aqueles que tenham adquirido de um autor comum direitos incompatíveis entre si. A este
fenónemo denomina-se de aquisição tabular, e contém quatro preceitos onde se pode verificar.
Relevante para este caso, é a situação já mencionada do artigo 5º do Código do Registo Predial,
que conta com alguns requisitos:
- Pré-existência de um registo desconforme à realidade substantiva (verificamos este requisito pois
sem o ato registral de Bento, é António que consta no registo);
- Ato de disposição praticado com base nesse mesmo registo (António, titular inscrito, e por isso
goza de presunção de titularidade pelo art.7º do Código do Registo Predial e de legitimidade
registral pelo 9º/1 do Código do Registo Predial);

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- Boa fé do terceiro (Desconhecendo outra realidade senão a do registo predial, acredita António
como titular legítimo do direito real do prédio);
- Caráter oneroso do negócio jurídico realizado com o terceiro (Carlos tem como contrapartida a
entrega de uma tiara de diamantes, e por isso, o negócio não é gratuito, como seria, por exemplo,
uma doação);
- Que o terceiro registe a sua aquisição antes do titular do direito real na ordem substantiva (Carlos
regista o facto posteriormente à celebração do contrato, e Bento nunca o faz).
Assim, estão reunidos todos os critérios para a aplicação da aquisição tabular com base no artigo 5º
do Código do Registo Predial, e Carlos adquire tabularmente o direito real em causa.
O que acontece então ao direito de Bento?
Menezes Cordeiro desenvolveu a teoria dos "direitos reais naturais", na qual direitos com natureza
real que, em determinadas circunstâncias, nomeadamente aquisição tabular, ficariam sem
oponibilidade. Ou seja, defende que o direito de Bento não se extinguiria e admitia-se uma situação
de inoponibilidade em sentido próprio.
José Alberto Vieira, por sua vez, não concorda com tal opinião pois acredita que vai contra certo
princípios dos direitos reais, tais como: o princípio da inerência (direitos reais são direitos inerentes
a uma coisa, ora se este se encontra atribuída ao adquirente tabular em termos de propriedade,
então explicar a inerência da propriedade inoponivel), da tipicidade (ficando todo o aproveitamento
da coisa suspenso, teríamos uma propriedade atípica) e da oponibilidade absoluta.
Assim, defende a extinção do direito real incompatível, aplicando-se a todos os casos em que o
direito adquirido tabularmente e o direito sacrificado tenham a mesma natureza. Por isso,
prevelaceria o direito de usufruto de Carlos mas a propriedade passaria a Bento, que

2- Por referência ao caso acima referenciado, imagine agora que Carlos tinha adquirido o imóvel
em venda executiva (depois da penhora da moradia em virtude das dívidas de Carlos). Qual seria a
sua resposta ao caso ?

Venda executiva: bem penhorado.


A realidade registral não plasma a realidade substantiva.

Na maioria da doutrina, não concordam que C é 3º porque não é autor comum, mas sim o tribunal.
Mas se o C for considerado desprotegido, só podia intentar responsabilidade civil contra B, que não
registou o facto aquisitivo.
A doutrina que o prof concorda: o tribunal é um veículo" para concretizar a venda mas do ponto
vista da transmissibilidade do direito, este é transmitido da esfera jurídica do A para o C, nunca
passando pelo estado. Autor deve ser entendido como transmitente. Negócio corporizado num
processo executivo.

3- Por referência ao caso acima referenciado, imagine agora que Bento sempre residira no imóvel
desde Novembro de 1988 e que Carlos registara, também o seu facto aquisitivo.

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Qual seria a sua resposta ao caso ?

Como B sempre residira no imóvel e já passaram 33 anos, podemos estar perante uma situação de
usucapião contra registo (usucapio contra tabulas) -> 5º/2??
Conclusão, 1296º usucapião prevalece sobre tudo, incluindo registo.

II
Abel, que cuidava de Berta, interditada por anomalia psíquica de 1990, decide levar a cabo uma
tramoia para passar a propriedade do palacete do Estoril a seu favor.
Para tal, decide ir ter com Carlota, notária em Cascais, que lavra uma escritura para o efeito, sem o
conhecimento de Berta, tendo o facto aquisitivo sido registado a favor de Bento.
Bento, em 2015, acaba por vender o imóvel a Daniel.
Em 2018, Berta morre, tendo deixado todos os bens a seu único sobrinho, Ernesto.
Ernesto, que nunca se dera com a sua tia, mas sabendo da existência do Palacete do Estoril, decide
investigar o que se passou, acabando por descobrir a tramoia perpetrada por Abel.
Ernesto, decide, de imediato, requer a nulidade do contrato de compra e venda entre Berta e Abel.

Quid juris ?
Registo de Bento é nulo, 16/a) CRP. Ernesto pode invocar quer o art.291ºCC quer o art.17º/2 CRP.

PROFESSOR:

O Regime do Registo Predial

Eu publicito a propriedade do meu computador utilizando-o -> publicidade espontânea, exercício


possessório.
VS. Publicidade organizada: resulta do registo predial. Como primeira noção de publicidade
podemos dizer que esta é operação, ato ou o efeito de tornar público ou dar a conhecer ao público
determinada situação jurídica ou ato com valor real (?). Existem várias situações sujeitas a registo:
pessoais (registo civil, por exemplo), reais (registo predial, automóvel, etc). Factos jurídicos que
constituem os direitos reais estão sujeitos a registo.
Objetivo: dar conhecimento aos terceiros interessados; situação jurídica real presente no registo ->
SEGURANÇA JURÍDICA (1º CRP). Assim sendo, ao consultar o registo conseguimos ver quais são
os direitos reais de gozo que incidem sobre determinado prédio. Ao consultarmos o registo somos
terceiros de boa-fé. Nem todas as coisas corpóreas são objeto de registo predial - 204ºCC. Por
motivos de segurança, algumas dessas mencionadas no artigo são sujeitas a regime próprio.
Bonifacio Ramos: regime das coisas móveis -> ideia mas não existe?

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Objeto do registo: constituído pela inscrição ou averbamento de factos jurídicos e não por situações
jurídicas, sendo certo que são os factos jurídicos concretos que dão origem à constituição,
modificação ou extinção dos direitos reais. NÃO SE REGISTAM DIREITOS, REGISTRAM-SE FACTOS
JURÍDICOS CONCRETOS.
Factos jurídicos sujeitos a registo: adquire a propriedade com facto jurídico (compra e venda,
doação, usucapião, testamento, dação em cumprimento, contrato permuta, expropriação). O registo
predial portugues é público e real, e não privado e pessoal, pois é organizado por uma entidade
pública e no que diz respeito à natureza do prédio resulta a sua inscrição pública (base real -> todo
o histórico de cada prédio, diz respeito ao prédio e não ao titular do predio).
3 MODALIDADES DE ATOS DE REGISTO:
- Descrição predial - tem como objetivo a identificação física, económica e fiscal dos prédios (79º/1
CRP). Ex.: área do prédio, rústico ou urbano. 79º/2 - descrição de cada prédio, com base numa ficha
de registo ordenada por freguesias acompanhada com a data de apresentação; cada facto registado
tem uma data de apresentação. Dependem de uma inscrição ou averbamento (art.80º), execuções
(81º)
- Inscrição - é o ato mais importante do registo, é a que vai permitir regular a situação jurídica do
predio (91º/1). pode ser definitiva (?) ou provisório (73º+92º).
- Averbamento - aˋinscição, servem para completar, restringir ou atualizar uma inscrição já
existente e são lançados na ? a que respeita (100º/1 e /4). Ex.: aumento de hectares de um prédio.
A inscrição predial é sempre alicerçada a factos jurídicos e para que seja promovido o registo deve
existir o título (43º). Ex.: contrato de doação, permuta, compra e venda, etc.
Legitimidade registral: 36º CRP. ex.: compradores do imovel, credores que sabe o devedor tem
móvel a sua titularidade que não registou para que este não fosse penhorado.
Princípios orientadores do CRP:
Legitimação registral: cabe-lhe o disponente a inscrição a nosso favor (9º CRP remete para o 54º/2
Código do notariado), caso haja transmissão sem inscrição prévia, não invalida logo o negócio
jurídico (OA).
Instância: contrapõe-se a um sistema de registo oficioso (41º) ou seja, regra geral o registo tem que
ser feito por uma parte.
Tem que ser articulado com o art.36º
Prioridade: 6º crp. Aplica-se a direitos reais de garantia (ex.: hipoteca) não se aplica a direitos reais
de gozo
? 9+7º crp. efeito presuntivo do registo
trato sucessivo: resulta do art.34º, e tem como objetivo o conservador e não o titular. consequência
da legitimação registral. impõe que haja uma retratação histórica do prédio (todas as inscrições e
averbamentos)
Escrita de justificação notarial: ?
obrigatoriedade: resulta do art.8º-A, e tem normas que não resultam da versão originária, mas da
reforma de 2008, em que os factos passaram a ser obrigatórios a registo, mas nao há consequência

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jurídica da ausência desse registo, mas sim o pagamento do valor em dobro o registo; ou entao
aquisição tabular caso se verifique.

Efeitos do crp:
1º enunciativo - inscrição do fato do registo e que dá ao seu inscritor a consolidação do seu direito
2º constitutivo - exceção: resulta de casos de direitos reais de garantia (hipoteca) tem que existir o
registo do facto aquisitivo para que a hipoteca nasça.
3º consolidativo - a nossa posição solidifica-se.
4º atributivo: aquisição tabular

3º para efeitos do registo:


teoria ampla de 3º: guilherme moreira - todos aqueles que tivessem adquirido um direito
incompatível independemente do autor ser ou não comum.
teoria restrita de 3º: manuel da andrade - para efeitos de registo, são todos os que adquirem o
direito incompatível de um autor comum. Acórdão uniformizador de jurisprudência: fixou o sentido
de um determinado conceito: 1º 1997 concordou com a ampla, depois 2º 1999 inverteu a posição
concordando com a restrita (aditamento do nº4 do art.5º CRP).

3º para efeitos do registo:


Carvalho Fernandes:
Defende que o 3º deve só estar de boa-fé, não sendo necessário onerosidade.

Escola de coimbra:
Entende que não é necessária onerosidade nem boa-fé, apenas registo prévio.

Santos Justo:
Parece inclinar-se para a tese da boa-fé.

Caso Prático N.º 11

(Propriedade)
Considere a seguinte hipótese:

I
António comprou um terreno urbano em Mértola a Bártolo com o objectivo de construir quatro
pequenas moradias que pretendia arrendar a terceiros, tendo o vendedor garantido a possibilidade
de construção nestes termos, uma vez que um funcionário da Câmara Municipal de Mértola lhe
havia transmitido essa informação.

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Para se salvaguardar António consagrou uma cláusula no contrato de compra e venda, no qual
previa que se a Câmara não deferisse o projecto de construção, o negócio ficava sem efeito.
Quando deu entrada do respectivo licenciamento, António apercebeu-se de que apenas podia
construir duas moradias, pretendendo reverter o negócio.
Entretanto a Câmara Municipal de Mértola decide expropriar, por utilidade pública, o terreno de
António, uma vez que os casos de Covid estavam a aumentar no município e necessitavam de um
espaço para albergar doentes.

Quid juris ?

II

Madalena, aproveitando que o seu marido Tiago não estava em causa, decide colocar no contentor
do lixo uma cadeira estilo Luís XIV, que esta detestava.
Bento, vizinho do casal que estava a passar no local, no momento em que Madalena se deslocou ao
mesmo, decide de imediato levar a cadeira consigo para casa.
Tiago, quando chegou a casa, verificou que não tinha a sua cadeira no escritório, pedindo
explicações à esposa, tendo Madalena referido que estava farta de antiguidades, que havia
colocado a cadeira no lixo e que a mesma já estava em casa de Bento.
Atendendo à explicação, Tiago pretende recuperar a sua cadeira, recusando Bento a devolução
daquele objecto, uma vez que havia encontrado a cadeira no lixo.

Quid juris ?

III

Abel, proprietário de uma indústria metalo-mecânica sita na Rua da Palma, n.º 2, labora,
diariamente, incomodando o vizinho do prédio da Rua da Palma, n.º 9, Bento, que em virtude de
padecer da síndrome do ouvido irritável, não consegue estar descansado em casa.
Bento, pede que Abel cesse de imediato aquela situação, o que Abel recusa dizendo que os
decibéis de ruído produzido estão dentro dos padrões legais e que ele tem licenciamento para o
efeito.

Quid juris ?

Caso Prático N.º 12

(Comunhão dos Direitos Reais)

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I
António, proprietário de um prédio rústico, decide constituir um usufruto gratuito e vitalício a favor
dos seus quatro netos: Beatriz, Carlos, Dário e Elisa, em Maio de 2017.
O prédio produziu, no final de Junho de 2017, uma tonelada de maçãs, que Beatriz destinou,
integralmente, à sua unidade de produção de sumos de fruta, sem o conhecimento dos demais
usufrutuários.
Em Agosto de 2017, dá-se uma reunião entre os usufrutuários, com o objectivo de decidir se o
muro do prédio deveria ser pintado.
Beatriz e Carlos queriam que o prédio sofresse tal obra, contrariamente a Dário e Elisa.
Beatriz diz que o prédio será pintado, em virtude de a sua quota no usufruto ser de 70%, conforme
resultara de uma carta escrita pelo Avó António, e que todos tinham conhecimento.
O prédio acabou por ser pintado.
Em Outubro de 2017, Beatriz, decide proibir Dário de entrar no prédio mudando a fechadura e
alegando que este não havia liquidado a sua parte nas despesas do IMI.
Posteriormente Elisa, que se pretendia “livrar” da família, decide alienar o prédio a Félix, forjando
três procurações de Beatriz, Carlos e Dário, nas quais lhe eram dados os poderes necessários para
vender o prédio.
O negócio é celebrado entre Elisa e Félix do Cartório Notarial do Campo Grande.
No mesmo do negócio acima indicado, Carlos decide ainda doar o seu direito real de gozo a favor
de Zacarias, seu filho, em segredo total.

Quid juris ?

Relativamente aos efeitos do usufruto:


A comunhão pode resultar dos mesmos factos jurídicos que desencadeiam a constituição dos vários
direitos reais, tais como por factos jurídicos negociais, incluindo o usufruto. António, ao constituir
usufruto a favor dos seus quatros netos, está a atribuir o mesmo direito real sobre a mesma coisa a
cada um deles, ou seja, cada comunheiro será titular de um direito independente dos demais, com a
particularidade deste direito partilhar o seu objeto com outros direitos reais da mesma espécie
(art.1403º/2 1ª parte e art.1405/1 1ª parte).

Relativamente às maçãs:
Cada comunheiro tem uma posição quantitativamente determinada na comunhão, denominada de
quota, à qual a lei associa certos efeitos, nomeadamente a posição do comunheiro. Na opinião de
José Alberto Vieira, Pires de Lima e Antunes Varela, a indicação do valor da quota não tem de ser
expressa, contudo, presumem-se quantitativamente iguais na falta de indicação em contrário no
título constitutivo (1403º/2 2ª parte). Não me parece que a carta em que o Avô escreveu que
atribuiu 70% a Beatriz seja válida pois não pertence ao título constitutivo. (PROF: se o usufruto
fosse oneroso, quem pagava mais ficava com maior quota).

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Frutos naturais - cíclicos da coisa. Beatriz não podia. Responsabilidade civil: danos sofridos e lucros
cessantes.
1405º - cada comunheiro tem direito aos frutos da proporção da sua quota. Beatriz deveria ter
informado os restantes comunheiros da sua pretensão.
Prof (concorda com o Mota Pinto):
Poderes individualizados: pode exercer sem autorização dos demais consortes
Poderes maioritários: consortes tem q decidir
Poderes unanimes: poderes que são concretizados através do acordo unânime de todos os
consortes (ex.: venda integral do bem).

Relativamente ao muro:
1407ª - não havia dupla maioria. Recorrer para o tribunal (nº2).
O muro poderia ter sido pintado? Não, mas foi. Qual consequência? Como não havia a maioria
necessária, os consortes que avançaram na pintura, deviam pagar a pintura, e não os que não
queriam, pois o contrato é nulo e não podia ser utilizado contra os outros consortes.

Proibição de Beatriz a Dário:


1406º - regra geral, todos os comunheiros tem uso comum da coisa.
Encargos e despesas: 1474º + 1405º/1 2ª parte. O Dário tem que pagar o IMI. Mas o facto de ele
não ter pago atribui a Beatriz legitimidade para o proibir? Não. A restrição do uso não é permitida,
mesmo que os comunheiros não estejam a cumprir as suas obrigações. O que Beatriz poderia
realmente fazer para Dário pagar? Se ela pagasse por ele, iria ter direito de regresso, podendo
penhorá-lo. Seria uma situação de esbulho, e Dária podia intentar uma acção de reivindicação ou
não sei que da possa?
Procurações forjadas de Elisa:
1408º - Elisa podia onerar a sua própria quota, mas os comunheiros gozam de direito de
preferência (1409º - prof: interpretação ampla: qualquer negócio jurídico oneroso). Segue o regime
da ação de preferência do art.1410º

Em relação ao Zacarias:
Negócio jurídico gratuito: não exige direito de preferência.

PROF:
A comunhão no nosso ordenamento jurídico é de transição e temporária. Ação de revisão de coisa
comum: regime do art.1412º que remete para ação especial prevista no CPC. Os comunheiros
podem a todo o tempo exigir a coisa, excetuando se tratar de coisa ?
Esta situação não significa que a coisa tenha que ser divisível. Licitação em tribunal: terreno dos
sobreiros, ou ? Direito de divisão.

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II

Distinga comunhão de matriz romana de comunhão de matriz germânica e indique concretas


situações em que este tipo de comunhão se verifica no tráfego jurídico português.

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