Carta-37-Cesit-Esperança e Mudança-PMDB-1982
Carta-37-Cesit-Esperança e Mudança-PMDB-1982
Carta-37-Cesit-Esperança e Mudança-PMDB-1982
CARTA SOCIAL
E DO
TRABALHO
37
Jan. / Jul. 2018
CARTA SOCIAL
TRABALHO
E DO
37
INSTITUTO DE ECONOMIA DA UNICAMP
Diretor
Paulo Sérgio Fracalanza
Conselho Editorial
Anselmo L. dos Santos
Apresentação ...................................................................... i
Carlos Alonso Barbosa de Oliveira
Carlos Salas Paez Artigo
Christoph Scherrer
“Esperança e Mudança”: uma estratégia democrática de
Clemente Ganz Lúcio
desenvolvimento nacional
Eugenia Troncoso Leone
Denis Maracci Gimenez ...................................................... 01
Frank Hoffer
Geraldo Di Giovanni
Documento histórico
Hugo Rodrigues Dias
José Carlos de Souza Braga Carta à nação e aos companheiros do PMDB
José Dari Krein Ulysses Guimarães, Henrique Santillo, Francisco Pinto e
José Ricardo Barbosa Gonçalves Milton Seligman .................................................................. 11
Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo
Magda Barros Biavaschi Visão geral
Marcio Pochmann Esperança e Mudança: proposta de governo para o Brasil .. 13
Paulo Eduardo de Andrade Baltar
Parte I
Waldir José de Quadros
O PMDB e a transformação democrática ............................ 20
Walter Barelli
Editoria Parte II
Marcelo Weishaupt Proni Uma nova estratégia de desenvolvimento social ................. 29
Maria Alice Pestana de Aguiar Remy
Parte III
Projeto visual e editoração eletrônica Diretrizes para uma nova política econômica ...................... 71
Célia Maria Passarelli
Parte IV
Endereço
A questão nacional ........................................................... 107
Instituto de Economia da Unicamp
Cidade Universitária Zeferino Vaz
Memória
Caixa Postal 6135
CEP 13083-970 – Campinas – SP Discurso do Presidente da Assembleia Nacional Constituinte
Telefone: 55 (19) 3521-5720 em 5 de outubro de 1988
E-mail: cesit@unicamp.br. Ulysses Guimarães ........................................................... 114
http://www.cesit.net.br/.
Apresentação
1 Agradecemos a Leon Souza de Oliveira e Matheus Aureliano Pereira da Silva pelo trabalho de
digitação do documento impresso.
2 Disponível em: http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/plenario/discursos/.
i
Ainda que a conjuntura histórica da década de 1980 seja muito diferente da
conjuntura atual, esses dois documentos podem estimular reflexões sobre questões bastante
relevantes que afetam a sociedade brasileira contemporânea.
Boa leitura!
Os editores
ii
Artigo
O forte ímpeto reformador que tomou conta das forças sociais que se colocavam
à frente nas lutas pela abertura democrática, desde o final da década de 1970, certamente
projetava um outro país e vislumbrava a democratização para as décadas vindouras.
Tal ímpeto pode ser caracterizado pela agenda construída nas fileiras do PMDB,
partido criado oficialmente em 30 de julho de 1981, que incorporou o principal núcleo de
oposição ao regime militar, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB); pode ser
identificado nas aspirações do novo sindicalismo, na criação da Central Única dos
Trabalhadores, do Partido dos Trabalhadores (PT), na força de movimentos setoriais, em
defesa de reformas sanitárias, na educação etc.
Um dos maiores manifestos reformadores dos anos 1980 fora, sem dúvida, o
documento “Esperança e Mudança: uma proposta de governo para o Brasil”, publicado em
outubro de 1982, que arrolava, de maneira ampla, um conjunto de reformas econômicas,
sociais e políticas para o país (PMDB, 1982, p. 5-6).
A lógica reformista do “Esperança e Mudança”, no que se refere à nova
estratégia de desenvolvimento social e suas diretrizes para a política econômica, traz
consigo uma característica essencial: aproximar crescimento econômico e desenvolvimento
social. Na verdade, a compreensão exposta no documento se traduz numa estratégia de
desenvolvimento social que somente seria viabilizada sob novas diretrizes para a política
econômica. Ao mesmo tempo, novas diretrizes para a política econômica só fariam sentido
se incorporassem uma ampla estratégia de desenvolvimento social.
O que se observa nessa “proposta de governo para o Brasil” é uma extensa
agenda de reformas dirigida ao desenvolvimento social. Política salarial, previdência social,
saúde, educação, abastecimento, habitação, saneamento, transporte, políticas de
desenvolvimento regional, entre outras. Mais do que isso, uma agenda que toca em todas
as áreas sensíveis ao enfrentamento da questão social no Brasil, para as quais o regime
militar escolhera caminhos que foram alvo de duras críticas por parte da oposição à
ditadura2.
1Elaborado a partir de GIMENEZ, Ordem liberal e a questão social no Brasil, LTr, 2008.
2Inclui-se, ainda, nessa agenda de reformas a questão agrária. Se o campo brasileiro já não tinha o
mesmo peso de outrora na estrutura econômica da oitava economia do mundo no início dos anos 80,
ainda era importante fonte de tensões, pobreza e atraso social. Em 1980, 32,4% da população total
estavam no campo, mais de 38,5 milhões de brasileiros (IBGE, Censo Demográfico). Por isso mesmo,
uma parte importante do documento é dedicada à questão agrária.
3Sobre o chamado “reformismo democrático” nos apoiamos na minuciosa análise sobre a agenda de
reformas nos anos 1980, setor a setor, feita por Fagnani (2005, p. 88 e seguintes).
O espírito da nova Carta está exposto já em seu Título II, sobre os Direitos e
Garantias Fundamentais, onde estão inscritos os Direitos Sociais (arts. 6º a 11º). É
consagrado um conjunto de direitos sociais relativos à educação, à saúde, ao trabalho, ao
lazer, à segurança, à previdência social, à proteção da maternidade e da infância, à
assistência aos desamparados (art. 6º). No tocante ao trabalho, o art. 7º prevê que são direitos
dos trabalhadores urbanos e rurais, a relação de emprego protegida contra a despedida
arbitrária ou sem justa causa, prevendo indenização compensatória.
Reafirma o seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário (criado
em 1986); o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), um salário mínimo fixado em
lei, nacional, capaz de atender às necessidades básicas do trabalhador e de sua família com
moradia, alimentação, lazer, educação, saúde, vestuário, higiene, transporte, previdência,
com reajustes periódicos que preservem o seu poder aquisitivo; a irredutibilidade e a
proteção dos salários, constituindo crime sua retenção dolosa; o repouso semanal
remunerado; a participação nos lucros ou resultados, desvinculada da remuneração, entre
outros direitos trabalhistas construídos desde a “Era Vargas”. A nova Carta ainda garantiu
a livre associação profissional ou sindical (art. 8º), o direito de greve (art. 9º) e a participação
dos trabalhadores e empregadores nos colegiados de órgãos públicos em que seus interesses
profissionais ou beneficiários fossem objetos de discussão ou deliberação (art. 10º).
O Título VIII – Da Ordem Social – é emblemático no que se refere ao espírito da
Nova Carta. Em sua disposição geral (art. 193), afirma a ordem social fundada no trabalho,
com o objetivo do bem-estar e da justiça social.
Dando os contornos concretos à sua disposição geral, a Constituição estrutura a
seguridade social, compreendida como um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
poderes públicos e da sociedade, destinada a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social (art. 194). Nesse sentido, a organização da seguridade
social brasileira, responde aos seguintes objetivos gerais:
órgãos responsáveis pela saúde, previdência social e assistência social, tendo em vista as
metas e prioridades estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)4.
Como parte da seguridade social, a saúde é afirmada como um direito de todos
e dever do Estado. A nova Carta consagra a universalidade e a equidade na promoção de
ações e acesso a serviços oferecidos, assim como a constituição de um Sistema Único de
Saúde, financiado com os recursos da Seguridade social, da União, dos estados, distrito
federal e municípios, além de outras fontes (art. 198). A previdência social, também
integrante da Seguridade social, passou a ser organizada sob a forma de Regime Geral, de
caráter contributivo e de filiação obrigatória (art. 201). A ela cabe a cobertura de eventos
como doenças, acidentes, invalidez, morte e idade avançada. Cabe-lhe a proteção à
maternidade, ao trabalhador em situação de desemprego involuntário, aos dependentes do
segurado de baixa renda e a garantia pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao
cônjuge ou companheiro e dependentes. Com efeito, a Carta consagra o direito à
aposentadoria no Regime Geral para homens com 35 anos de serviço e mulheres com 30
anos de contribuição, ou idade de 65 e 60 anos, respectivamente, reduzido em 5 anos o limite
para trabalhadores rurais de ambos os sexos, para os que exerçam atividades em regime de
economia familiar (produtor rural, garimpeiro e pescador artesanal), além de professores
que comprovem dedicação exclusiva ao magistério na educação infantil e no ensino
fundamental e médio (art. 201, § 7º). Cabe ressaltar ainda, que a Constituição passa a
garantir não somente o reajustamento do valor dos benefícios, para preservar-lhes, em
caráter permanente, o valor real (art. 201, § 4º), como que nenhum benefício poderá ser
inferior ao salário mínimo nacional vigente (art. 201, § 2º).
Também a Assistência Social integra a seguridade social brasileira conforme
previsto no art. 203 da Constituição da República. A ela compete prestar assistência a quem
necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, tendo por objetivos a
proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; o amparo às crianças
e adolescentes carentes; a promoção da integração ao mercado de trabalho; a habilitação e
reabilitação de pessoas portadoras de deficiência; a garantia de um salário mínimo mensal
à pessoa deficiente e ao idoso que comprove não possuir meios de prover a própria
manutenção, ou tê-la da família. O texto constitucional prevê que as ações no campo da
Assistência Social serão amparadas pelos recursos do Orçamento da Seguridade social, além
de outras fontes afins (art. 204). Para além das diretrizes da Seguridade social, a Constituição
consagra a educação como direito universal e dever do Estado, suas bases de financiamento,
suas prioridades; garante a todos o pleno exercício dos direitos culturais e prevê o incentivo
à cultura e o acesso às fontes da cultura nacional (art. 215).
4 Desde a Constituição de 1988, o Orçamento Geral da União (OGU) é formado pelo Orçamento Fiscal,
pelo Orçamento da Seguridade social e pelo Orçamento de Investimentos das Empresas Estatais. O
sistema de Planejamento e Orçamento, sob responsabilidade do executivo federal, prevê a confecção
do Programa Plurianual (PPA), que define as prioridades governamentais para um período de quatro
anos; a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que estabelece metas e prioridades para o exercício
subsequente; e por fim, o Orçamento Anual, que disciplina todos os gastos e receitas.
5Não só o desempenho do PMDB foi constrangedor. O candidato do Partido da Frente Liberal, outra
força da “Aliança Democrática”, Aureliano Chaves (Vice-Presidente do último governo militar)
obteve irrisórios 600.838 votos ou 0,83% do total, ocupando o 9º lugar entre os mais votados, conforme
os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Cf. www.tse.gov.br.
da vida pública e das instituições políticas, que faz avançar a degradação da ética do
trabalho, que desqualifica a educação como um valor republicano.
Fugindo-se de certos acontecimentos particulares estranhos ao sentido geral
dessa démarche brasileira nas últimas décadas, temos certa dimensão da distância entre a
sociedade inscrita no liberal-conservadorismo à brasileira desses tempos de globalização e
aspirações verdadeiramente democráticas e republicanas que inspiraram o “Esperança e
Mudança”. Uma dimensão daquilo que Celso Furtado afirmou com grande pesar e
propriedade em O longo amanhecer: “em nenhum momento de nossa história foi tão grande
a distância entre o que somos e o que esperávamos ser” (FURTADO, 1999, p. 26).
A ausência do desenvolvimento econômico vem impondo sacrifícios colossais à
maior parte da população, em meio a um processo claro de rebaixamento dos padrões
normativos de organização da sociedade brasileira e de colapso das instituições políticas
expresso na dramaticidade hodierna. Mesmo assim, nesse capitalismo selvagem, outrora
dinâmico, as migalhas distribuídas aparecem como dádivas aos desvalidos e como
indulgência para as classes dominantes globalizadas e cosmopolitas.
Referências bibliográficas
Esperança e Mudança:
uma proposta de governo para o Brasil
Não é verdade. O MDB, ontem, e o PMDB hoje, têm políticas definidas para os
vários setores e têm alternativas, de como sair da crise. Todavia, o PMDB não integra a
assessoria governamental para ter obrigações de dar "receitas de governo”.
No debate com a sociedade, temos colocado nossas alternativas e respostas.
Temos sempre enfatizado que não se pode consertar o Brasil sem antes resolver o problema
fundamental de seu pacto social, hoje amordaçado por uma Carta que não é fruto da
vontade constituinte da Nação.
Agradecemos aos homens de pensamento, militantes oposicionistas e
sindicalistas que se somaram no longo período de debates, elaboração e amadurecimento
do presente documento. E colocamos diante da opinião pública uma proposta que não tem
a pretensão de indicar um caminho definitivo ou um modelo de Sociedade Nacional.
Apenas, indica e discute caminhos para romper a barreira da crise, do endividamento e da
marginalização das camadas majoritárias e propõe a reorganização da Sociedade Nacional
para que esta possa, democraticamente, optar por seus projetos políticos, sociais,
econômicos, culturais e institucionais.
Brasília, agosto de 1982.
O Brasil atravessa uma fase crítica: a pior crise econômica e social desde os anos
30 coexiste com uma profunda crise institucional. As estruturas do Estado estão carcomidas
pela privatização do interesse público, a política econômica está imobilizada, o governo
carece de largueza de visão para enfrentar o estado de desagregação crescente. O mais
grave, porém, é a crise política — o divórcio profundo entre a sociedade e o Estado, a
ausência de confiança e de representatividade. A dívida externa sufoca. Obriga o governo a
curvar-se ante aos grandes interesses bancários. Desapareceu virtualmente a soberania
nacional na condução da política econômica. Campeia a corrupção, a imprevidência, a
desesperança.
O PMDB não se omite diante deste momento tão grave. Apresenta, com
responsabilidade — mas sem arrogância — uma proposta para enfrentar a grave situação
conjuntural e, também, para iniciar a construção do futuro. Uma proposta para o debate
amplo e livre.
O PMDB sabe que a crise nacional não encontrará solução sem mudanças
profundas. Mudanças que só poderão ter início com o fim do arbítrio e da exceção.
Mudanças que haverão de nascer do reencontro do povo com o poder político. A sociedade
brasileira anseia pela Democracia, luta por ela, sonha com ela. A sociedade repele o arbítrio
através de todas as suas formas de representação de interesses e de organização social:
partidos políticos, movimentos sociais, organizações comunitárias, Igrejas, sindicatos,
organizações patronais, profissionais, movimentos setoriais e culturais.
Democracia é Estado de Direito, é liberdade de pensamento e de organização
popular, é respeito à autonomia dos movimentos sociais e repousa na existência de partidos
políticos sólidos. Democracia significa voto direto e livre, significa restauração da dignidade
e das prerrogativas do Congresso e do Poder Judiciário, significa liberdade e autonomia
sindical, significa liberdade de informação e acesso democrático aos meios de comunicação
de massa. Democracia implica em democratização das estruturas do Estado, implica em
resgatar a soberania nacional, implica em redistribuição da renda, criação de empregos e em
bem-estar social crescente. A Assembleia Nacional Constituinte haverá de ser o berço de
tudo isso — o berço da Democracia — o berço pacífico e representativo dos anseios do povo.
Democracia é ruptura com o longo passado autoritário e elitista, é participação
autônoma dos movimentos sociais nas decisões nacionais através da representação legítima,
de meios modernos de consulta e informação e, da definição dos rumos de nosso
desenvolvimento através do planejamento democrático. As maiorias oprimidas da
Distribuição da renda começa com uma nova política salarial, começa com a
elevação da base dos salários, com o aumento real do salário mínimo, com uma reforma que
implante uma nova política justa para a previdência social. Distribuição de renda significa
salários dignos para os funcionários públicos, tão brutalmente escorchados nos últimos
líquida de empregos. O PMDB conta com a reforma agrária para diminuir o intenso fluxo
migratório campo-cidade e recomenda que todo o conjunto de políticas públicas confira
prioridade à geração de empregos. Entretanto, é inevitável que o emprego venha a se tornar
uma questão central no âmbito da política pública. O PMDB aceita este desafio e propõe que
a criação de empregos, a regulação da jornada de trabalho e as formas de ocupação sejam
encaradas como objeto de uma nova política social global.
Indústria
Agricultura
Mineração
Energia
Transportes
O PMDB cumpre o seu dever, como sempre o fez, mesmo nos tempos mais
terríveis do arbítrio, apontando os erros das políticas do regime autoritário, denunciando os
desgovernos e as omissões, apresentando alternativas e projetos responsáveis para a
construção de um novo Brasil. Um Brasil que anseia por reencontrar-se, por encontrar sua
identidade enquanto nação. Política nacionalista, soberania nacional, política independente
de relacionamento comercial e financeiro com o exterior, política externa pacifista e
independente, defesa da capacidade nacional de decisão de seus destinos, requerem
Democracia. Requerem democracia porque identidade cultural e capacidade de decisão
nacional só serão verdadeiramente possíveis a partir da organização consciente dos
interesses nacionais, isto é, dos interesses do povo, no seio de um Estado Democrático.
1. A crise nacional
O Brasil passa pela pior crise dos últimos cinquenta anos. Recessão, inflação de
100%, as mais altas taxas de juros reais do mundo, dívida externa sufocante, agricultura
desalentada, finanças públicas em estado caótico, isto basta para dar ideia da desordem
econômica em que vivemos.
O panorama social é desalentador. Nas cidades, há milhões de desempregados
e subempregados, os salários dos trabalhadores são insuficientes, há favelas por toda parte,
o transporte coletivo é caro e bissexto, a saúde e a educação transformaram-se em indústrias
lucrativas; o meio ambiente é agredido irracionalmente, as tarifas dos serviços de utilidade
pública são cada vez mais insuportáveis. No campo, há milhões de homens sem-terra, há
milhões de boias-frias errantes, sem trabalho permanente nem proteção legal, há milhões de
parceiros e rendeiros sujeitos à exploração mais selvagem.
Crise de um estilo de desenvolvimento econômico atrelado à internaciona-
lização da economia que necessariamente abre o país ao vendaval da crise internacional.
Crise de incompetência e falta de previsão dos que dirigiram o País sem implementar formas
de expansão econômica mais voltadas para nossos próprios recursos. Crise de uma
sociedade assentada no privilégio para poucos e na marginalização da maioria.
Mas, sobretudo, crise política. Falta a crença nos líderes; falta a instituciona-
lização da prática democrática; falta eficiência no Estado.
Impera a privatização do interesse público. Impera a corrupção. Impera o arbí-
trio dos poderosos. Impera o casuísmo legislativo para tentar transformar em vencedores
das eleições os grandes perdedores diante da Nação: os homens e o partido do governo.
Não obstante, o autoritarismo foi obrigado a recuar. O sindicalismo autêntico
luta para se impor, amparado numa classe operária ampla e moderna, cada vez mais
disposta à autonomia política e ao exercício pleno da cidadania. A oposição dos assalariados
de classe média ao despotismo e a aspiração de participação política são cada vez mais
fortes. Os pequenos e médios proprietários percebem que seus interesses são indissociáveis
do Estado Democrático. Lideranças empresariais nacionais de peso comprometeram-se com
a restauração do Estado de Direito. As igrejas fizeram uma firme opção pelos pobres e
ofendidos. A imprensa democrática defende as liberdades públicas. E por toda parte
surgiram, com força nas bases da sociedade, associações comunitárias, associações
profissionais, movimentos em defesa dos interesses dos estudantes, da mulher, do negro,
do índio, de minorias. Os partidos de oposição, superando manobras e casuísmos,
enraízam-se socialmente e se fortalecem.
Neste contexto, o PMDB se constituiu como o grande partido popular e
democrático capaz de criar saídas para o impasse político.
Não podemos negar que a crise mundial e o pesado ônus da dívida externa
antepõem sérias dificuldades para o Brasil. No entanto, cremos que mesmo diante destes
obstáculos o país dispõe de um futuro viável, e possivelmente brilhante, se conseguir
conciliar o desenvolvimento com a justiça social.
Diante das graves distorções e problemas acumulados durante os longos anos
de regime arbitrário, torna-se essencial e inadiável a tarefa de estabelecer uma Nova
Estratégia Econômica e de Desenvolvimento Social que responda aos desafios da crise
econômica e busque deliberadamente a distribuição cada vez mais igualitária de renda e
da riqueza. Em outras palavras, é urgente enfrentar o agravamento imediato e desagregador
da crise econômica, através de uma política alternativa de curto prazo que interrompa o
perigoso ciclo recessivo e inflacionário em que estamos metidos e que, ao mesmo tempo,
prepare as condições para uma retomada sólida e ordenada da expansão. Para isto, porém,
é indispensável contar com políticas estratégicas de reordenação do sistema produtivo, para
fazer frente aos desafios colocados pela crise mundial e, simultaneamente, dar suporte a um
novo projeto social.
O PMDB não aceita a falácia contumaz, de que existe uma “contradição” entre
o “econômico” e o “social”; falácia esta que deu origem à “teoria do bolo”, de triste memória,
de que primeiro ter-se-ia que cuidar do crescimento econômico para depois zelar para que
seus frutos fossem distribuídos. Portanto, embora para efeito de exposição constem do
presente documento, como títulos separados, a política econômica e a política social, isto
não deve fazer supor que se concebem essas duas grandes áreas de política pública como
compartimentos separáveis. É mister reconhecer, como ponto de partida, que as políticas
públicas são sociais, na medida em que, por omissão ou ação, dificultam ou facilitam a
realização de objetivos de promoção social.
será possível iniciar o processo de redistribuição da renda nacional. Além disso, o PMDB
está consciente de que Programa de Políticas Sociais de Longo Alcance, visando atacar, de
forma simultânea, todos os problemas sociais de vulto como a saúde pública, a educação, o
abastecimento alimentar com preços acessíveis, a habitação popular, o saneamento básico,
os transportes coletivos urbanos, a proteção ao meio ambiente, também não será possível
dar continuidade à distribuição da renda, em termos substantivos e irreversíveis.
A urgente implantação deste elenco de políticas de envergadura, decerto requer
um substancial incremento dos gastos sociais nos orçamentos e planos governamentais, com
a garantia assegurada de prioridade na alocação global de recursos através da instituição do
planejamento democrático, com a participação decisiva do poder legislativo.
Ao mesmo tempo, a alocação específica destes recursos deve ser
descentralizada e fixada democraticamente, no nível dos Estados e Municípios, enquanto
sua implementação deve ser posta sob supervisão de novos organismos de representação
dos interesses dos usuários, segmentos profissionais e setores assalariados diretamente
interessados.
A irreversibilidade de um processo de distribuição de renda teria que ser,
também, respaldada pela implementação de uma política global de emprego que busque
articular, em todos os níveis, a conciliação de critérios de crescimento máximo da
produtividade com a geração de empregos em escala adequada ao crescimento da força de
trabalho economicamente ativa.
De outro lado, não se pode deixar de ressaltar que a redistribuição da renda
implica, por si mesma, na redução progressiva das desigualdades regionais. Redistribuição
social da renda e riqueza entre as populações das diferentes regiões constitui um só e mesmo
processo. Por isso, o critério de regionalização de todas as políticas públicas deve
acompanhar explicitamente a política de redistribuição.
Finalmente, as políticas de reordenação do sistema produtivo devem oferecer
suporte de médio e longo prazos aos objetivos redistributivistas — ao ajustamento
estrutural da economia diante da crise mundial deve corresponder um processo simultâneo
de ajustamento estrutural na esfera social, que é o ponto de honra da estratégica alternativa
que o PMDB propõe ao País.
Propostas e diretrizes para o debate democrático de todas estas políticas são
apresentadas nas seções e capítulos seguintes.
do poder público — uma vergonha para o País — que pode e deve ser revertida e sanada
em menos de um decênio, se para tal for implantada uma política social firme e continuada.
O PMDB não aceita este estado de coisas — a pobreza absoluta pode e deve ser
erradicada da face do Brasil e para isso propõe-se o seguinte conjunto de políticas e
diretrizes sociais.
demonstra estar inteiramente falido, sustenta que não é possível combater eficazmente a
inflação através da recessão.
Pelo contrário, é justamente a recuperação ordenada do crescimento econômico
que tornará possível controlar a inflação galopante, conforme está exposto na proposta de
uma política alternativa de curto prazo, na parte III deste trabalho, e que recomenda entre
outras coisas:
1) a reimposição imediata e rigorosa dos controles de preços, com mecanismos anteci-
patórios de detecção dos aumentos de custo;
2) a adoção de uma política seletiva de crédito, com mecanismos penalizadores para as
empresas que ultrapassarem os tetos fixados;
3) a adoção de uma política de estímulo da oferta de alimentos e gêneros industriais básicos,
com controle das margens de lucro industriais e comerciais;
4) a redução firme e gradativa dos coeficientes de correção monetária e queda imediata da
taxa de juros.
O governo, ao contrário, acossado pela reaceleração da inflação corrente,
resultante de uma política econômica desgastada e gerida de forma incompetente, já planeja
abertamente a derrubada da atual lei salarial para depois das eleições de novembro. Esta lei,
adotada em fins de 1979, em função dos crescentes movimentos de luta reivindicatória dos
trabalhadores através de seus sindicatos, introduziu algumas melhorias em relação à
situação passada, sem, contudo, assegurar ganhos fundamentais. O seu aspecto mais
positivo, sem dúvida, foi o da semestralidade do reajuste, pois com a forte aceleração da
inflação a deterioração dos salários teria sido ainda mais violenta, se fosse mantido o
reajuste anual.
O reajuste semestral, contudo, não elevou o poder de compra dos salários, pois
os preços cresceram ainda mais rapidamente do que no passado. Os aumentos do custo de
vida passaram a ser da ordem de 90 a 110% ao ano. Isto significa que os salários são
corroídos em velocidade duas vezes mais rápida do que quando a inflação era de 40 ou 50%
ao ano. Portanto, os reajustes tornaram-se mais frequentes, mas, em compensação, os
salários foram perdendo o seu valor muito mais rapidamente.
A política conservadora deseja, porém, remover a semestralidade antes que a
inflação caia e sem qualquer garantia de que venha a cair. Querem que o peso da sua
“política” contra a inflação recaia inteiramente sobre os trabalhadores. A intenção é de
substituir os reajustes semestrais com base no INPC por ajustes muito menores, com base
na inflação “projetada” pelo governo. O PMDB denuncia esta manobra traiçoeira contra a
classe trabalhadora, que já vem pagando um preço elevado demais pela atual política inepta
e perigosa de recessão.
O PMDB propõe a substituição de toda esta “política” econômica por outra, que
conte com o apoio das classes assalariadas, para combater eficazmente a alta do custo de
vida e que permita estabelecer a unificação nacional e a reposição gradativa do poder real
de compra do salário mínimo. Esta reposição deveria ser feita através de reajustes sempre
superiores à inflação, visando duplicar o seu valor real num prazo o mais curto possível,
dentro do que for economicamente viável para o País.
Outra característica indesejável da atual política salarial diz respeito à forma
como busca “corrigir” as diferenças salariais, cortando abaixo da inflação os salários médios
e altos e elevando os salários baixos 10% acima do aumento do custo de vida (INPC).
Contudo, o principal com relação aos salários de base não foi tocado: o salário mínimo tem
sido reajustado apenas de acordo com o aumento do custo de vida. O PMDB, ao contrário,
entende que a elevação real da base salarial, através do aumento do salário mínimo acima
do INPC, conduziria a uma natural diminuição das diferenças salariais atualmente
existentes, não sendo necessário o violento achatamento dos salários médios e altos,
promovidos pela política atual.
Outro aspecto inaceitável da atual política salarial é a exclusão dos servidores
públicos dos benefícios da semestralidade do reajuste. Um imenso contingente de
trabalhadores, em geral das camadas médias da população, encontra-se assim indefeso ante
a brutal elevação do custo de vida. Além disso, os reajustes anuais concedidos ao
funcionalismo não têm igualado a evolução do custo de vida e, para cúmulo, são divididos
em duas parcelas, agravando ainda mais a perda do poder de compra real dos vencimentos.
O PMDB defende a justa reivindicação do funcionalismo de receber imediatamente reajustes
plenos e semestrais.
O PMDB reitera a denúncia contra as intenções do governo de promover uma
nova e violenta rodada de arrocho salarial, após as eleições de novembro. Esta medida, se
for adotada, atingirá brutalmente as classes assalariadas e agravará certamente a recessão,
pois os setores que produzem bens de amplo consumo popular logo serão afetados
negativamente. Os trabalhadores devem estar de sobreaviso e preparados para prevenir,
junto com as oposições, a mais este golpe contra o povo brasileiro.
O PMDB quer promover a descompressão salarial, quer garantir o crescimento
real dos salários de base e isto só será possível no contexto de uma nova política econômica,
que recupere o crescimento do emprego e enfrente eficazmente a carestia de vida. Uma nova
política salarial, dentro da alternativa de política econômica, teria um importante efeito
positivo sobre a recuperação da produção e o emprego. De fato, amplos setores da indústria,
da agricultura e dos serviços serão beneficiados pela maior demanda proveniente do
aumento de renda dos trabalhadores. Cabe às políticas industrial e agrícola garantir a maior
produção necessária para o atendimento dessa demanda, evitando a escassez de oferta e
prevenindo os aumentos de preços.
A política de arrocho salarial, com a queda real dos salários de base, foi em
grande parte realizada através do mecanismo da rotatividade da mão de obra. A criação do
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), em 1967, com mecanismo bastante
cômodo de demissão sem justa causa, permitiu que as empresas intensificassem fortemente
as dispensas dos trabalhadores pouco antes das datas-base dos dissídios. A facilidade em
dispensar os empregados tornou vantajoso para as empresas demitir uma boa parte de seus
trabalhadores, trocando-os por outros, com salários mais baixos, e eximindo-se, assim, de
ter que conceder plenamente até mesmo os aumentos oficiais. Este mecanismo perverso e
altamente injusto deve ser imediatamente interrompido para que seja possível estabelecer a
estabilidade.
A estabilidade no emprego é uma das mais justas aspirações dos trabalhadores
brasileiros. Mesmo antes da instituição do FGTS a situação era bastante insatisfatória, pois
a mesma era alcançada somente após 10 anos de serviço. É preciso estabelecer uma
legislação que assegure a verdadeira estabilidade, que não é incompatível com o Fundo de
Garantia. Trata-se, portanto, de suprimir os dispositivos do FGTS que facilitam a dispensa
injustificada, substituindo-os por outros que, ao contrário, a dificultem.
Um outro aspecto extremamente relevante de uma nova política trabalhista diz
respeito ao atual descaso e omissão com relação às condições de trabalho. A falta de
regulação e fiscalização das condições da salubridade e periculosidade do trabalho, a incúria
com relação à segurança, tem redundado em níveis altíssimos, pelos padrões internacionais,
de acidentes de trabalho de doenças induzidas. Por isso, é absolutamente necessário e
inadiável a implantação de normas de salubridade e segurança das condições de trabalho,
com a participação dos Sindicatos na sua fiscalização, através dos delegados ou comissões
de fábrica.
É hoje patente que o sistema previdenciário brasileiro vive uma grave crise. Esta
é mais uma manifestação da crise geral decorrente dos longos anos de arbítrio, agravada de
forma intolerável, recentemente, pela política econômica recessiva e antissocial. A crise
previdenciária é resultado da associação de problemas estruturais da própria Previdência
(despercebidos, antes, pela incompetência do governo e pela inexistência de controle social
sobre suas atividades), com os efeitos da recessão econômica que provoca, via desemprego,
queda das contribuições previdenciárias. Fator adicional de agravamento é a diminuição
das transferências da União para o sistema.
A resposta dada pelo governo a essa crise foi digna de seu passado consistente
de atos de discriminação contra a classe trabalhadora. Assim, coube outra vez aos
trabalhadores e aos aposentados o ônus de pagar a conta dos descalabros do Governo,
através do Decreto-lei nº 1.910/81, que aumentou contribuições e instituiu desconto sobre
proventos de aposentados e pensionistas. Estas medidas não eram necessárias, já que havia
alternativa para aumentar os recursos previdenciários sem penalizar aqueles que já são
oprimidos pelo sistema econômico como um todo. Assim, exigiu-se maior contribuição dos
trabalhadores, três meses depois do Presidente da República, de público, na televisão,
“repelir” tal solução. E pior, por se tratar de providência apressada de curto alcance, não
foram afetadas as causas da crise previdenciária que continua carente de solução.
Não foi, como sempre, por desconhecimento que o governo deixou de resolver
a crise, mas porque isto exige disposição política para atacar as causas verdadeiras, e apoio
para contrariar interesses minoritários na sociedade, mas dominantes no poder e no PDS.
Do ponto de vista do PMDB, antes de mais nada, é necessário refletir sobre a
natureza e a função social da Previdência, através de ampla discussão, de modo que as
reformulações a serem introduzidas sejam decorrência lógica do papel que a sociedade,
pelos seus interesses majoritários, quer reservar à Previdência na política social de um
governo democrático.
Assim, há que se determinar as prioridades da Previdência Social tanto em
termos da população a ser mais beneficiada, quanto da amplitude dos riscos a serem
cobertos.
A natureza de proteção social do seguro estatal deve levar a sua administração
à extrema parcimônia e rigor no uso dos recursos, já que o seu financiamento é
responsabilidade de toda a sociedade, onde por solidariedade, os trabalhadores ativos
respondem pela sobrevivência digna dos inativos e/ou seus dependentes.
Consequentemente, o seguro social deve ter prioridades claras.
No que concerne à população a ser mais beneficiada, a Previdência Social há que
dar ênfase aos trabalhadores de baixa renda, por serem estes e seus familiares os mais
expostos aos riscos que o seguro social visa cobrir. Tal prioridade traduz-se, nos lados das
contribuições, pela busca de critérios que onerem menos aos trabalhadores mais pobres e,
no lado da estrutura de benefícios, fazendo-a convergir, primordialmente, para o
atendimento às necessidades básicas dos grupos mais carentes.
Já quanto a amplitude dos benefícios, é decorrência do princípio anterior de que,
prioritariamente, a Previdência Social concentre recursos no atendimento aos riscos básicos
que podem atingir o trabalhador e sua família. Estes riscos básicos são morte, invalidez,
velhice, doença e acidente do trabalho. A dispersão de recursos em outras áreas de
benefícios deve ser subordinada ao atendimento razoável desses riscos e à prioridade antes
exposta — atendimento às famílias de baixa renda.
A obediência a tais definições deve orientar as propostas de reforma
previdenciária nas áreas específicas, a saber:
1. Benefícios em dinheiro
A estrutura dos benefícios em dinheiro que compreende aposentadorias,
pensões, auxílios, etc., dada a sua magnitude (corresponde a cerca de 65% da despesa total
da Previdência), precisa ser questionada amplamente, à luz dos critérios antes expostos.
É certamente possível aumentar o grau de progressividade e, portanto, de justiça
social, na despesa com esses benefícios. Isto pode ser obtido através de modificações na sua
concessão, tanto para restringir o acesso a alguns benefícios, quanto para ampliar o valor
dos benefícios pagos a segurados mais desfavorecidos. É indiscutivelmente urgente, por
exemplo, melhorar o padrão de rendimentos dos aposentados por invalidez. Por outro lado,
4. Reformulação institucional
Do ponto de vista institucional e administrativo a Previdência Social chegou à
situação calamitosa de hoje devido aos seguintes problemas; em primeiro lugar, a
dominância de interesses eleitorais sobre a impessoalidade e racionalidade, que deve
caracterizar a gestão pública, acarretou inacreditável incompetência administrativa;
inexistência de quadros técnicos com mínimo de estabilidade; e omissão frente a fraudes e
abusos. Em segundo lugar a ampliação não planejada das atividades da Previdência sem a
cobertura financeira e administrativa correspondente levou o sistema ao descontrole e
desperdício de recursos. Tal situação é agravada pela inexistência de controle externo sobre
a gestão previdenciária, salvo o do Tribunal de Contas da União, que é demasiadamente
formal e demorado.
Assim, no plano institucional propõe-se:
a) A instituição de mecanismos eficazes de controle social sobre a administração
previdenciária, com especial menção para a criação, nos níveis nacional, estadual e local, de
órgãos de controle, com representação de sindicatos de empregados e empregadores, do
governo local e federal para supervisionar as atividades da Previdência Social. Deve-se
cuidar, entretanto, de assegurar rotatividade e efetivo papel dos sindicatos nestes órgãos
para evitar repetir a absorção clientelística dos representantes, ocorrida no passado.
b) medidas para dotar a Previdência Social de quadros administrativos com
independência de influência político-eleitoral;
c) clara separação de funções do seguro social, assistência social e assistência
médica, com fontes de financiamento próprios e independentes.
justiça tributária e social, dando preferência para o nível municipal na prestação dos
serviços básicos de saúde;
— Definição das áreas de atuação do setor privado dependente de recursos oficiais, revendo:
critérios de financiamento subsidiado de sua expansão (Fundo de Assistência Social —
FAS, etc.); normas de atendimento e formas de remuneração que não estimulem a
corrupção (superfaturamento, falseamento de diagnósticos ou procedimentos) e práticas
inescrupulosas (realização de procedimentos desnecessários ou contenção
indiscriminada de atendimento, como forma de auferir maior rendimento);
— Política de valorização de recursos humanos através de implantação de plano de cargos
e salários que estimule a prática profissional em regime de tempo integral, a ascensão
funcional e a educação continuada, regularizando, adicionalmente, a situação dos
serviços precários e dos residentes;
— Política científico-tecnológica e de produção na área de vacinas, medicamentos e
equipamentos, com o objetivo de:
a. Desenvolver a indústria genuinamente nacional de insumos básicos para o setor;
b. Alcançar a autossuficiência na produção de medicamentos essenciais.
c. Política de vigilância sanitária de alimentos, medicamentos, saneantes e defensivos de
forma a proteger efetivamente o consumidor;
d. Política de saúde ocupacional, com ampla participação do trabalhador na sua formulação
e implementação, possibilitando a criação de instrumentos eficazes na luta pela melhoria
das condições de trabalho.
se, há muitos anos, as mesmas proporções de crianças fora da escola, e elas provêm
sobretudo das classes trabalhadoras. Além disso, e mesmo nas regiões avançadas, os índices
de repetência e evasão nas primeiras séries são alarmantes.
As crianças pobres são as grandes vítimas reveladas por estas cifras, visto que a
evasão e a repetência são decorrentes, por um lado, da sua miséria e subnutrição e, por
outro, da organização, estrutura, currículos e métodos da escola de primeiro grau, voltada
para as camadas privilegiadas da população. Os critérios sociais atualmente empregados
para a escolha e dosagem dos conteúdos curriculares consideram como anomalia — e não
como regra — os padrões de rendimento da maioria da população.
As escolas públicas de primeiro grau são mal equipadas, os prédios em geral são
mal aproveitados, usualmente precários e deteriorados. A merenda escolar, principalmente
nas regiões mais pobres da Nação, é insuficiente e desbalanceada, não atendendo às
necessidades dos alunos de baixa renda. A situação dos professores é grave não só pela má
remuneração, mas também pela intensa jornada de trabalho, fatores que acarretam falta de
condições financeiras e de tempo para atender a cursos de reciclagem. No magistério da
rede pública, onde predomina o sexo feminino, os salários aviltados resultam de uma
política educacional falida e de uma política social injusta, que não se preocupa com a
discriminação sexual no mercado de trabalho.
No segundo grau, a falta de recursos humanos adequadamente formados para
o ensino, nos termos da reforma educacional (Lei n° 5.692/71), a carência de recursos
materiais das escolas e o planejamento de um ensino profissionalizante desvinculado das
aspirações do alunado e das reais necessidades do mercado de trabalho acabaram levando
a um sensível rebaixamento da qualidade da educação neste nível. Falharam os cursos
profissionalizantes e os currículos foram reformados de maneira inadequada, sem a
participação do corpo docente, sem levar em consideração as especificidades regionais e em
prejuízo da necessária formação humanística.
A privatização resultou em mensalidades elevadíssimas na rede privada,
especialmente nos colégios de melhor qualidade, enquanto que o ensino público deteriorou-
se e a oferta de vagas ainda é insuficiente. Também neste nível os professores recebem
salários minguados e não dispõem de tempo e oportunidade de aperfeiçoamento.
Diante deste descalabro, o ingresso na universidade continua sendo um
verdadeiro tormento para aqueles que conseguiram atravessar o funil do sistema
educacional brasileiro. Tornou-se cada vez mais indispensável a frequência aos famosos
“cursinhos”, que denunciam a insuficiência e a má qualidade da educação oferecida ao
longo do sistema educacional e a desesperada competição por vagas nas melhores
universidades. Mais uma vez aqui se reproduz o fenômeno da desigualdade de
oportunidades.
O ensino superior encontra-se, também, em visível estado de crise. A rápida
criação de vagas (existem cerca de 1 milhão e 500 mil estudantes universitários) realizou-se
com privatização crescente, resultado das pressões sociais pela legítima aspiração de acesso
ao nível universitário, do descaso do governo para com o ensino público e gratuito e dos
subsídios por ele concedidos à rede particular, como, por exemplo, através do crédito
educativo. No bojo desta política educacional proliferaram, no ensino privado, os cursos
que exigem baixo investimento em instalações, equipamentos e corpo docente,
frequentemente assentados numa visão mercantil da educação, na qual a meta de reduzir
custos e aumentar lucros redundou no rebaixamento da qualidade da educação oferecida.
Paradoxalmente, foi sobretudo à rede privada e de ensino pago que puderam
ter acesso as camadas médias que não logravam ingresso na diminuta rede pública e
gratuita. No afunilamento antidemocrático do sistema educacional do País foram sobretudo
as camadas privilegiadas que vieram ocupar as vagas do ensino gratuito.
O desenvolvimento da educação superior como um todo não tem sido
suficientemente voltado para as necessidades da maioria da população nem para os
problemas vividos pelo país, tanto ao nível do ensino como da pesquisa. Isto é reflexo do
autoritarismo do regime, que se manifestou também nas relações de poder dentro da
universidade, onde o corpo docente e discente está alijado dos processos decisórios, o
magistério não tem remuneração justa e os alunos não dispõem de condições de estudo
adequadas.
O acesso ao saber, que ainda hoje é privilégio de uma minoria, é condição
fundamental da democratização da sociedade brasileira. Daí a importância atribuída ao
papel da educação na construção dessa sociedade, que requer algumas condições básicas:
1º Participação das entidades representativas dos diversos segmentos da sociedade civil no
processo de elaboração e condução da política educacional em todos os seus níveis
(municipal, estadual e federal), particularmente daquelas mais estreitamente vinculadas
à problemática da educação, seja por representarem camadas majoritárias da população,
seja por possuírem um envolvimento mais direto com o setor (como sindicatos de
trabalhadores e de educadores, associações de docentes dos diversos graus de ensino,
entidades do movimento estudantil e associações de educadores).
2º Elevação substancial da participação dos gastos educacionais no orçamento público,
inclusive fixando-se o percentual mínimo de 12% do Orçamento da União e de 20% dos
Orçamentos dos Municípios e Estados e transferindo-se automaticamente os recursos da
União.
3º Instituição de um planejamento educacional democrático e criterioso, que se norteie
fundamentalmente pela garantia de idênticas oportunidades de ingresso, permanência e
aproveitamento, no sistema educacional, das diferentes camadas e segmentos do povo
brasileiro. Os meios de comunicação social em geral e a televisão em particular devem
fazer parte deste planejamento, por constituírem importante veículo de educação não
formal.
4º Revisão ampla do conteúdo e dos métodos da educação — tanto formal, quanto informal
— assim como uma reformulação substantiva de seus objetivos e currículos, em interação
com a sociedade, para acolher, através de formas efetivas de participação, novos valores
éticos e sociais. No contexto desta revisão deve-se promover a preservação da memória
nacional e o apoio à cultura popular, garantindo-se o acesso aos recursos necessários para
a livre expressão da criatividade do povo.
Mediante tais condições será possível promover e executar a profunda mudança
que se faz urgentemente necessária na política educacional brasileira, consagrando o ensino
gratuito em todos os níveis, e baseando se em:
1. Adoção de uma verdadeira política de alfabetização, para erradicar efetivamente o
analfabetismo, associada ao conjunto das políticas sociais aqui propostas e à
redistribuição da renda. Uma verdadeira política de alfabetização exige também uma
diversificação dos conteúdos e uma mudança nos métodos, de modo a incorporar, no
processo educativo, as experiências de vida e a participação dos trabalhadores. E esta
política só é possível na medida em que se elevem os níveis de vida do povo e em que a
alfabetização seja transformada num instrumento de participação social e de exercício
pleno da cidadania.
2. Expansão ampla da pré-escola, oferecendo, às crianças de famílias de baixa renda,
educação adequada, alimentação gratuita e cuidados de saúde e higiene, com ênfase no
atendimento às periferias urbanas e valendo-se de modelos que visem à criança como
um fim de si mesma e não seu adestramento para o primeiro grau.
3. Forte crescimento do ensino fundamental público para realizar verdadeira democra-
tização, atendendo à criança brasileira, mediante:
a) Destinação de maiores recursos ao primeiro grau a fim de garantir, para todas as crianças,
condições de ingresso, permanência e aproveitamento na escola até a 8ª série.
b) Redefinição da organização, estrutura e currículos da escola básica de oito anos, com
ênfase na revisão dos critérios sociais para a escolha e dosagem dos conteúdos
curriculares, tornando-os compatíveis com as situações de vida e as condições de
aprendizagem da maioria da população.
c) Estímulo a experiências alternativas de ensino de primeiro grau, conduzidas pelas
populações de baixa renda e pelas classes trabalhadoras, através de seus organismos
representativos como sindicatos, associações de bairro e centros comunitários.
d) Adoção de critérios regionais, compensatórios para com os municípios mais carentes,
especialmente nas áreas rurais.
4. Expansão do ensino público de segundo grau, reformulando sua organização e
funcionamento, tornando-se opcional a profissionalização e dando-se ênfase a uma
formação geral voltada para a realidade brasileira.
5. Ampliação e democratização do ensino superior público, mediante:
a) Expansão das oportunidades de ensino público e gratuito em substituição à utilização de
verbas governamentais para subsidiar o crescimento e a manutenção do ensino privado.
b) Reestruturação da universidade brasileira, tendo em vista (1) adequá-la à busca e difusão
do saber em geral e sobretudo daquele voltado para as necessidades da maioria da
população brasileira e para um desenvolvimento autenticamente nacional e
às periferias urbanas e às zonas rurais pobres, com preços acessíveis. Entre as medidas
específicas para o abastecimento popular destacam-se: 1) o apoio público à comercialização
direta, viabilizando-se a organização cooperativa de pequenos varejistas, com planejamento
das áreas de mercado de baixa renda a serem atendidas prioritariamente; 2) suplementação
subsidiada da oferta de determinados produtos em fase de alta temporária, por agências
públicas de abastecimento popular (a serem organizadas pelos Estados da Federação)
apoiadas pela mobilização de excedentes de outras regiões ou dos estoques reguladores
públicos, sob a coordenação do Ministério da Agricultura, evitando-se a ocorrência tão
frequente de escassez localizada; 3) implantação de subsídios temporários diretos para
produtos essenciais, aplicados de forma a estimular o aumento de sua oferta, dentro das
diretrizes gerais da política agrícola; 4) a implementação de uma verdadeira política de
abastecimento popular de gêneros agrícolas requer uma profunda reforma de todo o
aparato público atualmente existente envolvendo a COBAL (Cia. Brasileira de Alimentos),
a CIBRAZEM (Cia. Brasileira de Armazenamento), a SUNAB (Superintendência Nacional
do Abastecimento), a rede de Centrais de Abastecimento e outros programas específicos de
financiamento existentes para esta área de política pública. O ajustamento desta estrutura
lerda e ineficiente é indispensável, junto com a criação de novos mecanismos e agências para
a comercialização varejista, a nível estadual, reformulando-se a rede SOMAR para que o
abastecimento chegue efetivamente às populações de baixa renda, evitando-se, por outro
lado, que seus benefícios sejam apropriados por setores sociais já privilegiados.
Finalmente, a implantação de controles sobre os preços (margens de lucros
industrial e de comercialização) através da Secretaria de Abastecimento e Preços (SEAP) e
sobre a qualidade dos produtos alimentícios industrializados e de outros produtos
industriais de subsistência básica deve ser efetuado, com a reativação eficiente de agências
de proteção do consumidor. Estes produtos industriais devem ser integrados à política de
abastecimento popular, fazendo parte da cesta básica de subsistência a ser garantida aos
setores de baixa renda.
indispensável, para que possam elaborar planos efetivos e executar programas eficazes,
dotados de recursos suficientes.
Programas regionais específicos são, porém, indispensáveis. Neles os seguintes
pontos são considerados essenciais:
1. Desconcentração do processo de inversões e acumulação. No caso da Amazônia e do
Nordeste, através de um programa de transferência substancial e firme para aplicação
em agricultura, mineração, indústria, serviços e infraestrutura, numa base não inferior à
que foi aprovada pelas Nações Unidas ou a que foi proposta pela Comissão Brandt para
o apoio dos países do Terceiro Mundo. Deve-se assegurar a preferência para o Norte e
Nordeste com relação a todas as oportunidades de localização desconcentrada
competitiva (inclusive das atividades exportadoras), ainda que requeiram um conjunto
de inversões e período de maturação de manutenção com incentivos especiais.
2. Pesquisa de recursos naturais e desenvolvimento científico-tecnológico, que: (a) descubra
oportunidades urbanas e rurais (minerais inclusive) desconcentradas; (b) ajuste os
projetos a natureza dos recursos naturais e humanos e a valorização da cultura regional;
(c) crie um “patrimônio universitário” com capacidade criadora, com alunado pelo
menos proporcional à população; (d) constitua um programa no setor quaternário em si
mesmo manejado como programa de desconcentração.
3. Reforma agrária regionalizada, condicionando a utilização dos recursos de irrigação para
programas de amplo benefício social, e utilização dos recursos energéticos e minerais em
beneficio regional.
4. Elevação dos salários dos trabalhadores no sentido de igualá-los gradativamente aos dos
trabalhadores do Sudeste e do Sul, a fim de evitar que a industrialização se baseie na
perpetuação dos baixos salários regionais.
Ao lado da redução do distanciamento econômico-social interregional, a política
proposta foi desenhada para também reduzir as tendências à concentração dentro da mesma
região.
A participação política desinibida e reivindicativa das regiões periféricas não só
é importante, como decisiva para a mudança política nacional. Uma verdadeira política
regional pressupõe que estas regiões influam nas grandes decisões nacionais, em seu
benefício.
1980 logo foi substituída pela brusca reversão da política econômica na direção
recessionista. Diante das vulnerabilidades latentes e dos graves problemas acumulados na
economia a recessão não demorou a se fazer sentir — de modo intenso e cumulativo. Do
ponto de vista social, o mais grave é que tais medidas foram adotadas sem que o Estado se
armasse sem qualquer instrumento capaz de oferecer aos desempregados um mínimo de
proteção.
Aliás, esse despreparo manifestou-se até mesmo pela incompetência na medição
do desemprego provocado. O IBGE iniciou em janeiro de 1980 uma pesquisa mensal em seis
áreas metropolitanas. A taxa média de desemprego aberto, registrada pela pesquisa, foi
crescendo com o agravamento da recessão até atingir 9% em janeiro de 1982. Pois bem, para
maio de 82, o IBGE divulgou uma taxa média de desemprego muito inferior, de 6,2%, sem
que tivessem surgido na economia fatos novos, capazes de explicar tal “melhoria” na
situação do mercado de trabalho. Ocorre que o IBGE alterou a metodologia da pesquisa sem
o devido esclarecimento ao público e à comunidade técnica e, com isso, todo o trabalho
anterior ficou prejudicado pela descontinuidade introduzida na série. Prova da deficiência
dos levantamentos oficiais refere-se à forma de medição da força de trabalho. Os
levantamentos indicam uma queda absoluta no número de trabalhadores nas áreas
metropolitanas pesquisadas nos últimos meses. Ora, tal queda é obviamente fictícia e não
se justifica por razões demográficas. Ao contrário, a força de trabalho total deve ter
aumentado. Entretanto, a metodologia utilizada falseia a realidade, pois não computa as
pessoas que — desesperançadas — desistem de procurar trabalho, após longos meses de
busca, resignando se a fazer “bicos”. Uma pesquisa séria teria que levar em conta aqueles
que, pela cruciante falta de oportunidade de emprego, desistiram de continuar procurando.
São brasileiros aptos, embora não qualificados, que fazem parte da força de trabalho
potencial — são mais que desempregados, são marginalizados. Se forem computados no
cálculo do desemprego, o nível atual não seria inferior a 13% — um nível dramático para
uma sociedade que não dispõe de seguro-desemprego. Este foi o nível verificado por uma
pesquisa criteriosa elaborada pelo DIEESE para a região metropolitana de São Paulo ainda
no 1º semestre de 1981.
Consciente de que a questão do emprego é complexa o PMDB rechaça as
propostas simplistas, que só fazem escamotear o problema. Não podemos ignorar o fato de
que, além das graves dificuldades da conjuntura recessiva, delineia-se para o futuro o início
de um processo de intensas mudanças tecnológicas, com a automação avançada dos
processos de produção na indústria e dos processos de trabalho no setor de serviços,
decorrente da utilização cada vez mais ampla de computadores e outros processadores
microeletrônicos. É possível que, pela primeira vez na história das inovações técnicas, o
aumento da produtividade seja tão intenso que não venha a ser compensado pelo aumento
geral da produção. Em outras palavras, é possível que os efeitos diretos e indiretos das
novas tecnologias, quanto à criação de setores e espaços econômicos novos, sejam
insuficientes para garantir a criação líquida de empregos. Assim, é de se esperar uma
crescente liberação de mão de obra em vários ramos de atividades, à medida que se
difundam as técnicas de automação avançada e de informática. Estas tendências do
progresso técnico, que certamente far-se-ão sentir a médio e longo prazo, são em grande
medida inexoráveis — e, até certo ponto, desejáveis. Será possível talvez liberar cada vez
mais o homem da necessidade do trabalho, especialmente do trabalho repetitivo, não
criativo. O rápido aumento da produtividade pode tornar-se um fator extremamente
positivo para o desenvolvimento social. Requer, contudo, que a questão do emprego (e da
distribuição da renda) passe a ser objeto central da política pública de forma a evitar os
efeitos disruptivos das inovações técnicas, maximizando-se seus benefícios.
É preciso, portanto, partir da hipótese de que, diante da intensidade da migração
campo-cidade e do impacto das futuras transformações tecnológicas a simples retomada do
crescimento econômico não resolverá o problema do emprego. O desafio de pensar o
emprego como uma questão estratégica coloca-se, pois, de forma inescapável.
A curto prazo, porém, a ampliação grave do desemprego, provocada pela
política recessionista, necessita de uma resposta imediata. Para isso, propõe-se (no capítulo
referente a uma política alternativa de curto prazo) medidas compensatórias de emergência.
Para os trabalhadores qualificados, do complexo metal-mecânico propõe-se a reativação da
produção e do emprego através de encomendas de equipamentos de transporte (ônibus,
utilitários, caminhões), material ferroviário, naval, elétrico, siderúrgico, etc. — de forma
compatível com as novas políticas setoriais e prioridades propostas para o ajustamento de
nosso sistema econômico. No que se refere aos trabalhadores não qualificados, propõe-se a
implementação ampla e progressiva de obras públicas e de outros programas na área social,
que possuam elevado efeito na geração de empregos e signifiquem benefício direto às
populações de baixa renda.
Estas medidas para aliviar a situação de desemprego agudo e aberto, inclusive
de chefes de família, não poderão, contudo, resolver os problemas estruturais —
principalmente para a grande massa de trabalhadores não-qualificados, cuja inserção no
mercado de trabalho é precária, instável, mal remunerada. Como já foi dito, o emprego como
questão estratégica requer medidas e políticas de grande alcance.
O PMDB entende que o emprego e a distribuição da renda são metas meio
indissociáveis da construção de uma sociedade substantivamente democrática. Para isso, o
conjunto de reformas sociais, institucionais e as políticas públicas na área econômica e social
aqui propostas devem tê-las como critério diretor. Isto requer, como pressuposto, que a
questão do emprego não seja — como agora o é — um assunto à margem do centro de
decisões de política econômica.
Em primeiro lugar, a diminuição do fluxo migratório campo-cidade depende da
reforma agrária. E inconcebível que um país com a disponibilidade de terras agricultáveis
como o Brasil não consiga ocupar produtivamente boa parte dos que se veem obrigados a
emigrar.
Em segundo lugar, todo o conjunto de políticas públicas que constituem o
suporte da Nova Estratégia de Desenvolvimento Social aqui proposta haverão de ser
pensadas na sua dimensão quanto à criação de empregos. E isto não é difícil: educação,
saúde, previdência (inclusive seguro-desemprego) são áreas de política pública que tem
apreciável efeito direto sobre o emprego e sobre o bem-estar das populações de baixa renda.
dólares exigiu das autoridades monetárias redobrado vigor na colocação de títulos públicos,
com o duplo objetivo de evitar a expansão “excessiva” do crédito interno e para financiar a
si próprias. A dívida pública interna acelerou, assim, o seu crescimento com uma
concomitante inchação do mercado secundário de títulos do tesouro que se converteu em
centro da atividade especulativa. De um lado, empresas e bancos ali despejavam seus
excessos de caixa, adquirindo títulos públicos com rentabilidade positiva e nenhum risco; e,
de outro lado, as empresas deficitárias e os agentes financeiros com problemas temporários
de liquidez ali se abasteciam de dinheiro. A continuidade deste processo foi sendo
assegurada pelo Banco Central, que se via obrigado, frequentemente, a aliviar ameaças de
insolvência, sancionando, assim, o circuito de ganhos especulativos que se tornou conhecido
como “ciranda financeira”.
É fácil perceber que o mecanismo adotado para assegurar o refinanciamento
externo, em escala crescente, trazia implícita uma imobilização progressiva da capacidade
de operar eficientemente a política monetária, creditícia e cambial. No que se refere à política
de câmbio, o estímulo ao crédito externo induziu o governo a manejar a correção cambial
de modo que fosse sempre ligeiramente inferior à correção monetária deduzida a inflação
externa, provocando uma progressiva sobrevalorização do cruzeiro. De outro lado, o
sensível encarecimento do crédito doméstico, forçado pela política de endividamento,
obrigou à abertura de linhas de crédito subsidiado para a agricultura — incapaz de
sobreviver com as altas taxas de juros prevalecentes — e para as exportações de
manufaturados, cuja competitividade precisava ser reforçada. Os subsídios creditícios e a
multiplicação de fundos especiais, criados ad hoc, foram ampliando as atribuições do
chamado “orçamento” monetário que, submetido ainda às pressões decorrentes do giro da
dívida interna, tornou-se o reflexo da desorganização do conjunto das finanças públicas.
sobreveio quase que imediatamente, iniciando-se, em janeiro de 1981, a mais grave crise
econômica para o País desde a grande depressão dos anos 1930.
A retração iniciou-se com uma forte queda na demanda de bens de consumo
duráveis, com efeitos negativos de propagação afetando um amplo conjunto de setores
produtores de bens intermediários. A situação da construção civil piorou sensivelmente e
agravou-se, ainda mais, o nível de capacidade ociosa no setor de bens de capital. O
mergulho recessivo processou-se ininterruptamente ao longo de 16 meses, alcançando os
primeiros meses de 1982. O desemprego urbano elevou-se brutalmente e as condições de
remuneração da força de trabalho foram se deteriorando, porquanto as empresas, além da
ameaça do desemprego, dispõem do expediente da rotatividade para rebaixar os salários.
O achatamento dos salários foi particularmente violento para os estratos médios e altos,
desprotegidos pelas mudanças introduzidas na lei salarial em fins de 1980.
A queda dos salários médios e altos, junto com a reinstituição de condições
favoráveis para as aplicações financeiras, implicaram em forte efeito negativo sobre a
demanda de bens duráveis. Paralelamente, a liquidação de estoques de mercadorias,
forçada pela elevadíssima taxa real de juros (entre 35 e 55% a.a.) comprimiu fortemente a
demanda por insumos e bens intermediários. O efeito conjugado e cumulativo dos cortes na
produção destes setores foi ampliando implacavelmente o desemprego e, com isso, todo o
amplo setor de bens de consumo de massa foi sendo também atingido pela recessão. Com
efeito, a queda na demanda de bens de consumo não duráveis só não foi mais intensa pelo
fato dos salários de base estarem relativamente protegidos por reajustes semestrais, com um
fator de incremento de 10% sobre o INPC.
eletroeletrônicos pela expectativa da Copa do Mundo, começou a se fazer sentir nos meses
de maio e junho.
A insubsistência deste processo de retomada do crescimento foi, porém,
rapidamente posta em evidência pela forte aceleração inflacionária e pelo modestíssimo
desempenho de nossa conta comercial no primeiro semestre de 1982. Premidas pela
manutenção do patamar elevadíssimo da taxa de juros e buscando acompanhar os
recorrentes reajustes “corretivos” dos preços e tarifas administradas pelo governo, as
empresas reaceleraram o ritmo dos seus ajustes de preços, diante da perspectiva de uma
moderada reativação das vendas, com o fito de recompor suas margens de rentabilidade.
Com o pico de 8% na taxa mensal de inflação em julho deste ano, de repente, tornou-se claro
que a taxa corrente de inflação havia subido novamente para um patamar muito elevado
(de 115% ao ano, no primeiro semestre de 1982, apenas ligeiramente inferior à taxa do
primeiro semestre de 1981). Por outro lado, as exportações brasileiras de manufaturados
foram penalizadas pela recessão mundial e pelo recrudescimento generalizado do
protecionismo, enquanto que as nossas exportações de produtos primários foram vitimadas
por cotações violentamente deprimidas de seus preços. Além disso, o conflito no Atlântico
Sul serviu, mais uma vez, para sublinhar a fragilidade e vulnerabilidade do fluxo de
financiamento das contas externas. A percepção inequívoca e cristalina de que o País não
dispõe de qualquer margem de manobra para conduzir a política econômica, dentro do
esquema atual, e que a diversidade da conjuntura internacional em pouco tempo reverteu
os “ganhos” penosamente obtidos com a recessão, em 1981, deixou os empresários e
autoridades perplexos e desorientados. Já se entrevê o espectro agourento de um novo
“round” de recessão para 1983 o que, certamente, significará uma crise econômico-social de
gravíssimas proporções, se vier a ocorrer.
praticamente nula, quando não negativa. Em resumo, os bancos operam com três tipos de
recursos (com “custos” distintos), porém, calculam as taxas de empréstimos para os clientes
apenas com base nos recursos que lhes “custam” mais caro (os recursos externos,
intermediados pela Resolução n° 63). Por esta razão, a margem efetiva de lucro total sobre
o conjunto de seu passivo é elevadíssima. Recentemente, uma conceituada publicação
estrangeira, analisando os balanços de bancos do mundo inteiro, constatou que as
instituições que operam no Brasil apresentaram, de longe, o mais elevado índice de
rentabilidade mundial em 1981.
O quadro acima descrito revela que é perfeitamente possível fazer com que se
reduza a real taxa de juros pelo menos para um nível praticamente igual à taxa real externa,
sem prejuízo para a captação de moeda estrangeira. Isto naturalmente implicaria em que o
elevadíssimo spread operacional do sistema bancário doméstico fosse substancialmente
reduzido, equiparando-se àqueles praticados pelo sistema financeiro internacional. Os
bancos decerto não tomarão a iniciativa de reduzir suas exorbitantes margens de lucro
voluntariamente. Novas regras de fixação das taxas de juros terão que ser impostas pelo
governo, para evitar a falência generalizada de nosso parque industrial.
Diversas propostas têm sido apresentadas nesta direção. A proposta que
apresenta menos inconveniente é a de vincular (através de um fator multiplicador) o volume
de operações de crédito dos bancos à captação prévia de recursos externos, com supressão
dos atuais limites quantitativos para a expansão creditícia de origem interna. Esta sugestão,
implica em que a margem operacional de lucro dos bancos seja controlada pelo Banco
Central e fixada com base no “custo” médio de captação de recursos (internos à vista e a
prazo, e externos). Ela apresenta a vantagem de eliminar as restrições à expansão creditícia
e de forçar a competição dentro do oligopólio bancário.
Por outro lado, embora produza uma queda considerável no nível atual da taxa
interna de juros (que é de 5 a 7 vezes mais elevado que o da taxa internacional) a proposta
acima não assegura que esta venha a ser fixada abaixo da taxa prevalecente no mercado
financeiro externo.
A queda da taxa interna de juros para um patamar inferior ao da taxa
internacional requereria outras medidas. Várias têm sido as sugestões neste sentido, todas
elas implicando na criação implícita ou explícita de uma taxa especial de câmbio para
transações financeiras. Isto significa que, de uma forma ou de outra, a taxa de câmbio das
operações financeiras deve ser calculada de modo a permitir a queda relativa da taxa interna
de juros. Esta nova taxa financeira pode ser criada através de diversos mecanismos (seguro
contra perdas cambiais inesperadas, subsídio explícito à diferença de câmbio etc.). Todas
estas formas possuem seus inconvenientes que, no entanto, são muito menos danosas para
o País do que a opção atual. Além disso, é preciso ressaltar que, no caso brasileiro, a
abrangência e tradição do controle das operações cambiais pelo Banco Central
minimizariam bastante os inconvenientes do câmbio duplo, dificultando as manobras de
burla possibilitadas pelo diferencial entre as taxas de câmbio comercial e financeira. Para
facilitar, ainda mais, a eficiência dessa sistemática, a internação de moeda estrangeira
poderia realizar-se com base numa taxa única de câmbio (a comercial), compensando-se o
o de recuperar a flexibilidade que hoje faz falta, de maneira crítica, aos instrumentos de
política econômica.
A conjugação das medidas relativas ao rebaixamento do patamar da taxa de
juros, com a redução gradativa e cuidadosa da correção monetária, permitiria que a
expansão do crédito se ajustasse às necessidades de recuperação e manutenção do
crescimento da economia, em condições satisfatórias de liquidez. Entretanto, para precaver-
se contra os perigos de reaceleração inflacionária seriam necessárias medidas
suplementares. Para evitar que as tensões inflacionárias atualmente reprimidas pela forte
recessão, encontrem na expansão creditícia (com juros reais baixos) um veículo apropriado
para se exprimir, é de toda conveniência a adoção dos seguintes controles:
a) Reativação do sistema CIP-SEAP (Comissão Interministerial de Preços – Secretaria
Especial de Abastecimento e Preços) com mecanismos antecipatórios de controle do
aumento dos preços. O conhecimento da estrutura de custos e das tendências correntes
dos preços das matérias-primas, peças, componentes, salários, permite que se faça
cálculo estimativo antecipado das pressões inflacionárias que atingem os diversos
setores. Com estas informações será possível estabelecer tetos para os aumentos de
preços, capazes de impedir a aceleração inflacionária.
b) O controle de preços não será efetivo sem o auxílio de mecanismos de sanção. Para isso,
a política creditícia pode ser usada de forma seletiva para evitar o comportamento
especulativo altista com estoques de mercadorias. Finalmente, a reaceleração da inflação
não deve ser estimulada por reajustes bruscos dos preços e tarifas do setor público,
devendo-se reajustá-las gradualmente.
ordenada do “giro” da dívida interna, evitando que os juros que sobre eles incidem sejam
remunerados com recursos orçamentários, tal como ocorre atualmente.
O lançamento de papéis públicos de longo prazo deve servir de reforço ao
BNDES, cujo orçamento também deve ser ampliado, para que seja possível oferecer crédito
aos projetos prioritários do programa de recuperação. Da mesma forma, o Banco do Brasil
deve atuar como instrumento decisivo de regulação das condições de crédito geral.
É por esta razão que o PMDB considera urgente a discussão democrática de uma verdadeira
estratégia econômica, que consulte os interesses sociais e prepare as condições para ajustar,
proteger e desenvolver a competitividade e potencialidades tecnológicas de nosso sistema
produtivo. Além disso, a reordenação dinâmica do sistema produtivo é absolutamente
indispensável para moldar um estilo de crescimento fundado na Justiça Social, ao mesmo
tempo em que se processam os ajustamentos necessários nos padrões de produção, que já
estão sendo (e serão) cada vez mais induzidos pelas grandes mudanças tecnológicas em
curso, nesta etapa de crise internacional.
É necessário, portanto, estabelecer políticas setoriais eficazes, com prioridades
claramente definidas, e que sejam integradas numa visão de conjunto.
Nesta parte, buscaremos, apenas, sugerir diretrizes básicas que deverão guiar as
políticas setoriais e revelar de que maneira estariam globalmente articuladas.
Por outro lado, não é possível estabelecer um plano estratégico para o setor
industrial, sem levar em consideração: a) a evolução previsível das condições do mercado
internacional; b) as condições de financiamento interno de longo prazo; c) as tendências
setoriais de mudança tecnológica e seus impactos sobre as nossas condições de
competitividade; d) as relações com o capital estrangeiro já instalado no País e com os
possíveis novos pretendentes à entrada em nossos mercados.
Quanto a este último aspecto, a orientação nacionalista que deve presidir a
política industrial implica em que as empresas nacionais públicas e privadas sejam
decididamente apoiadas por linhas de crédito em condições tais que as capacitem a
aproveitar as novas oportunidades de investimento, ampliando suas fatias de mercado. A
Reforma Financeira deverá, portanto, oferecer os recursos indispensáveis ao financiamento
de longo prazo para o setor nacional, privado e público. Os vultosos recursos ociosos que
hoje gravitam na circulação financeira, especulativa, devem ser redirecionados para a
acumulação produtiva de capital.
De outro lado, é fundamental desenvolver uma estratégia seletiva e vigorosa de
promoção tecnológica, visando habilitar as empresas nacionais a elevar seus níveis de
competitividade, para que possam enfrentar os competidores estrangeiros e os desafios do
comércio internacional. Nos setores de alta tecnologia, particularmente naqueles
estratégicos para o futuro de nosso parque industrial, deve-se aproveitar todas as brechas e
oportunidades de investimento, através de uma política intransigente de garantia de
mercado, com o objetivo de assegurar o desenvolvimento de empresas nacionais. Para isso,
afigura-se imprescindível o suporte financeiro privilegiado para as atividades de pesquisa
e desenvolvimento tecnológico realizadas por empresas nacionais, públicas e privadas.
Neste sentido, o apoio direto às empresas nacionais de engenharia e tecnologia deve ser
considerado prioritário, utilizando-se as grandes empresas públicas como contratantes
regulares de seus serviços técnicos. Paralelamente, é indispensável realizar esforços
permanentes de prospecção e atualização a respeito das tendências de progresso técnico,
em cada setor, a nível internacional, para que a política industrial esteja efetivamente
articulada a uma política científica e tecnológica eficiente.
Finalmente, a orientação nacionalista requer a adoção de mecanismos de
controle prévio da entrada e/ou das aquisições de estabelecimentos nacionais por empresas
estrangeiras, de modo a impedir as frequentes ameaças de desnacionalização total ou
parcial. A implantação destes mecanismos defensivos é necessária para garantir o aumento
da participação relativa da capacidade nacional de produção, com desenvolvimento técnico
endógeno, especialmente nos setores de maior densidade tecnológica.
O conjunto de medidas acima é essencial para estimular vários setores já
existentes e para viabilizar a internalização de outros novos, cuja peculiaridade de funcionar
como núcleos dinâmicos de progresso tecnológico são fundamentais para as condições de
competitividade do nosso sistema industrial, especialmente para o caso do setor de bens de
capital.
Ademais, é importante lembrar aqui outros pontos qualitativos fundamentais
de orientação para a política industrial:
PROJETO CARAJÁS
desenvolva uma efetiva política de estoques reguladores, de tal forma que seja possível
sustentar a renda dos produtores, evitando bruscas variações de preços devidas a manobras
especulativas, problemas climáticos ou a oscilação no mercado internacional que
desorganizam a oferta.
d) Crédito e seguro agrícola
O crédito rural deve ser encarado como instrumento de potencialização da
produção, na medida em que atue como uma alavanca do processo de transformação
agrícola e de suprimento das deficiências de capital dos produtores. Deve deixar de ser um
instrumento de poder, de especulação, de corrupção e de concentração de renda.
O crédito rural não pode ser encarado sob a ótica restrita do equilíbrio do
orçamento monetário, devendo se transformar em meio fundamental de indução do uso de
tecnologia adequada, da melhor organização da produção, visando ao incremento da
produtividade.
Deverão ser adotadas fórmulas que evitem que os pequenos agricultores sejam
preteridos pela deficiência da garantia.
Para que seja viável este elenco de medidas, propõe-se que o Banco do Brasil
assuma mais amplamente o seu papel no crédito rural, como agência do governo,
desdobrando seus programas de apoio e mecanismos de controle para evitar os desvios na
aplicação e eliminar as tendências de privatização do crédito. O Banco do Brasil deve apoiar
firmemente às organizações de produtores, favorecendo em especial os grupos de pequenos
produtores organizados.
O seguro rural deve passar a ser um instrumento efetivo de estabilidade da
renda dos produtores rurais, de maneira que o ressarcimento dos eventuais prejuízos
ocasionados por fatores aleatórios, não só atinjam o valor do débito, como também deem
cobertura mais ampla aos custos e à remuneração do trabalho.
e) Pesquisa, ensino, extensão
A adoção de uma política de desenvolvimento tecnológico com educação e
assistência técnica adequada, que respeite e renove o meio ambiente, é fundamentai. Esta
política deve buscar:
I) Técnicas mais adequadas às diversas regiões, dentro da preocupação de:
1. utilizar técnicas inovadoras e competitivas, que minimizem o desgaste do solo e tenham
baixo consumo energético, especialmente de petróleo, substituindo parte dos adubos
químicos e agrotóxicos e reciclando matérias disponíveis no próprio ecossistema;
2. utilização de técnicas que absorvam a força de trabalho disponível, de forma
economicamente viável;
3. pesquisa orientada não somente para a grande produção, mas, também, para os produtos
tradicionais de pequenas lavouras, para a definição de possibilidades nas várias zonas
ecológicas e para sistemas de cultivo que viabilizem a produção do pequeno agricultor.
II) Trabalho de extensão com o produtor e não para o produtor, de modo a mobilizar seu
potencial humano e material, dando ênfase à ação associativa.
III) Expansão e melhoria do ensino de ciências e técnicas agrícolas, enfatizando a orientação
mais integrada à realidade rural.
Política agrária
a) Organização dos produtores
A organização dos produtores é um objetivo essencial, tanto para fins de
produção e comercialização, quanto para a defesa de interesses comuns. Deve ser, portanto,
garantida a organização dos produtores e trabalhadores rurais e a livre defesa de seus
direitos. É essencial desenvolver as cooperativas de produtores, através da integração
produção — consumo — crédito, e os sindicatos de trabalhadores, bem como novas formas
de organização que a criatividade popular propuser. Essas organizações de trabalhadores
devem abranger tanto os assalariados permanentes e os parceiros, como os trabalhadores
temporários.
O Estado deve apoiar tais organizações e a luta democrática para suprir suas
deficiências, particularmente na defesa dos trabalhadores carentes de garantias, de
estabilidade e de remuneração adequada.
É fundamental estimular a formação e consolidação da produção cooperativada,
para que os produtores rurais possam se relacionar de forma não subordinada aos grandes
oligopólios que comercializam os insumos e os produtos agrícolas. O Estado deve apoiar as
cooperativas na implantação de agroindústrias de porte adequado a dimensão da produção
dos respectivos cooperados, ampliando-se assim o valor agregado e o controle sobre a
produção.
As entidades financeiras do governo, além do sistema educacional e dos serviços
de apoio agrícola direto, também devem dar prioridade especial às organizações dos
produtores e à utilização destas como instrumento de difusão e democratização na
assistência financeira.
Outras formas de organização associativista dos produtores tais como a
Cooperativa Integrada de Reforma Agrária, Propriedades Condominais, Sociedade por
Cotas de Produção, Propriedades Coletivas, deverão ter sua implantação incentivada.
Simultaneamente, deverá ser alterada a legislação cooperativista, de forma a atender os
interesses da maioria dos cooperados, particularmente no que tange à indiferenciação dos
sócios por tamanho de propriedade.
A participação social na condução da política agrícola requer a criação ou
reativação de conselhos consultivos, junto aos órgãos de caráter nacional que têm poder de
decisão sobre a política econômica que envolve a agricultura, com a efetiva participação dos
trabalhadores rurais, dos produtores e de outros segmentos da população envolvida,
destacando-se a entidade responsável pela reforma agrária.
como um Estado autoritário pode ser extremamente vulnerável às pressões dos grandes
interesses privados, exatamente pela ausência de qualquer forma de controle público.
Diante deste estado de coisas, propõe-se uma urgente reorganização da
sistemática orçamentária, com inclusão de todos os gastos públicos num orçamento fiscal
abrangente, sob a fiscalização do Congresso Nacional. Mais ainda, é essencial reverter a
“privatização” do Estado, com uma Reforma Administrativa que recoloque nos seus
devidos lugares uma grande parte dos organismos e funções que se elidiram da
administração direta, sem que haja qualquer perda de flexibilidade e eficiência,
restringindo-se o status de empresa pública, autarquia e fundação aos casos estritamente
justificados pela natureza intrínseca de suas atividades.
A verdadeira solução para esta situação desvirtuada e desequilibrada em que se
encontra todo o financiamento público não reside simplesmente na “unificação” dos
orçamentos o que, sem reformas de profundidade, apenas significará a soma de ficções
contábeis, persistindo o enfeudamento autoritário do controle dos recursos públicos.
Tampouco poder-se-á “equilibrar” as contas governamentais através de uma redução
drástica dos gastos — pois isto será contraproducente em função do seu desastroso efeito
recessivo.
A situação atual de desagregação do sistema de financiamento público requer,
sem sombra de dúvida, a execução de uma ampla Reforma Tributária, com vistas a
reaparelhar o Estado, financiando seus gastos de maneira não-inflacionária, tecnicamente
eficiente e socialmente justa.
Sem a Reforma Tributária de profundidade, que se preocupe em instituir a
progressividade fiscal em todos os níveis e que, simultaneamente, aporte recursos
adicionais para a sustentação dos gastos e inversões urgentes na área social, não será
possível realizar o objetivo de dotar a sociedade brasileira de serviços públicos essenciais,
em escala compatível com um mínimo de dignidade humana, no que se refere a saúde,
educação, habitação, saneamento, transportes coletivos, etc.
Mas, além da Reforma Tributária, coloca-se como tarefa imprescindível a
realização de uma Reforma Financeira. O funcionamento atual do sistema financeiro,
apoiado num mercado de curto prazo de títulos públicos, sem qualquer grau de risco,
representa uma verdadeira institucionalização da atividade especulativa, remunerada pelo
Tesouro Nacional. Como se não bastasse, o sistema atual redundou em séria
disfuncionalidade quanto ao manejo da política monetária, posto que o enorme volume de
giro de curto prazo dos papéis da dívida, para o seu simples refinanciamento, implica em
pressões altistas permanentes sobre a taxa de juros. Em consequência, a circulação financeira
hipertrofia-se, dificulta a capitalização das empresas, afasta-se de seu papel precípuo de
aportar recursos à acumulação produtiva de capital.
As diretrizes para uma Reforma Financeira devem, portanto, buscar estabelecer
formas viáveis de contribuir para o financiamento de longo prazo do setor empresarial,
particularmente, das empresas nacionais. Além disso, é certamente urgente recuperar o
papel histórico do PNDES enquanto agente financeiro estratégico, suplementando lacunas
é necessário que o BNDES assuma, de forma regulada e explicita, sua função de “cabeça”
do sistema de crédito de longo prazo, garantindo as operações do setor privado, tanto do
lado dos empréstimos quanto no que diz respeito à captação de recursos.
Do ponto de vista dos instrumentos de mobilização financeira é essencial que se
corrijam as distorções da estrutura atual, reordenando a rentabilidade dos títulos conforme
seus prazos de maturação sem o que é impossível a existência especializada de
intermediação financeira. É preciso privilegiar as aplicações de longa duração assegurando-
lhes proteção contra a desvalorização inflacionária e juros atraentes. Os títulos a curto prazo,
particularmente LTNs (Letras do Tesouro Nacional), deveriam ter sua rentabilidade efetiva
determinada, sistematicamente, em um patamar proporcionalmente inferior ao dos títulos
de longa maturação. O instrumento da correção monetária deverá ser manejado de forma
diferenciada para assegurar este objetivo se a diferenciação dos juros oferecidos não for
suficiente.
Dentro deste marco, recomenda-se a criação de um título-base de longo prazo,
a ser emitido pelos BNDES, a que podemos chamar de Obrigações Reajustáveis do
Desenvolvimento Econômico – ORDEs. A absorção destes títulos seria imediatamente
assegurada pela aplicação dos fundos de poupança compulsória (principalmente pelo PIS-
PASEP) e pela aplicação parcial dos saldos de poupança voluntária (caderneta de
poupança), companhias de seguros e fundos de pensão. O objetivo maior, porém, é forçar a
aplicação dos lucros e das reservas de depreciação das empresas nas ORDEs, de modo a
associá-la ao processo de ampliação e renovação da capacidade produtiva. A
negociabilidade destes papéis deve ser restringida ao âmbito do sistema de financiamento
de longo prazo. Esta aparente desvantagem (para as empresas) deve ser compensada pela
maior facilidade a ser concedida a obtenção de recursos de longo prazo para os detentores
das ORDEs, quer sob a forma de empréstimos ou lançamentos de debêntures.
Aos bancos de investimentos caberá não apenas o papel de operadores do
sistema, sendo-lhes facultado e incentivado o lançamento de seus próprios títulos que
estarão, por sua vez, amparados pelo sistema BNDES.
A montagem deste sistema não só confere maior poder de alavancagem às
empresas, particularmente às nacionais, sem os riscos de variações inesperadas do “custo
cambial” e juros como, também, permitirá a execução de uma verdadeira política industrial
que não se baseie apenas em favores e incentivos fiscais.
Quanto ao Sistema Financeiro da Habitação, o esquema atual é apenas
satisfatório para o financiamento de habitações de alto valor, devendo ser modificado para
dar forte prioridade à oferta de unidade para as classes de baixa renda. Um programa de
habitação popular de envergadura requer, obrigatoriamente, o concurso de amplas dotações
orçamentárias a fundo perdido, combinadas com uma parcela de recursos do FGTS.
Estas reformas, executadas no contexto da nova política monetária e creditícia,
permitirão reestruturar a dívida pública, favorecendo um significativo alongamento do seu
perfil de maturação temporal. As ORTNs (Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional)
deverão ser afirmadas como títulos de médio prazo, com níveis de rentabilidade efetiva
inferiores aos das ORDEs, de forma a atrair fundos livres das empresas, bancos e parte dos
fundos sociais, públicos e privados, sobretudo daqueles sujeitos a saques regulares. As
LTNs, por sua vez, devem ser aperfeiçoadas como instrumentos de regulação monetária e
do piso da taxa de juros — determinante da taxa interbancária de juros, — evitando-se a
inchação especulativa do mercado secundário.
O alongamento e reestruturação do perfil da dívida pública permitirão
transformá-la num poderoso instrumento auxiliar de financiamento do desenvolvimento
econômico, viabilizando os planos de crescimento com justiça social.
Quanto ao restante do sistema financeiro público e privado, a reforma financeira
aqui proposta recomenda as seguintes providências:
a) que o sistema de Bancos Estaduais e Regionais de Desenvolvimento associe-se ao sistema
BNDES na oferta de crédito de longo prazo, cuidando especialmente de dar suporte às
pequenas e médias empresas nacionais e aos programas regionais de desenvolvimento;
b) as caixas econômicas (Federal e Estaduais) devem continuar captando poupança
voluntária e funcionando como agentes financeiros dos programas habitacionais e outros
de ordem social, dentro das novas prioridades e, além disso, devem contribuir
subsidiariamente, para aportar fundos ao sistema de intermediação de longo prazo
através das ORDEs;
c) o Banco do Brasil deve ampliar e aperfeiçoar o seu papel não apenas enquanto grande
banco agrícola, desdobrando os seus programas, funcionando como agente regulador
das condições de crédito geral, influindo para regular a formação de estoques,
alcançando efetivamente o pequeno produtor através de mecanismos simplificados e
eficientes de crédito e assistência;
d) os bancos comerciais privados devem restringir-se às operações de crédito corrente
principalmente para os setores industrial e comercial, dentro da política creditícia anti-
inflacionária, atendendo seletivamente às prioridades definidas pela nova política
econômica, evitando que o crédito sirva para sustentar movimentos especulativos com
mercadorias ou papéis;
e) no caso das sociedades financeiras que perfazem a oferta de crédito ao consumidor é
preciso rigoroso controle das taxas de financiamento visando eliminar definitivamente
as condições de crédito escorchante para o consumidor, especialmente para as faixas de
média e baixa renda que não possuem informação e acesso a outras fontes creditícias.
Além destas, recomenda-se a implementação de verdadeiras medidas de democratização
do crédito, com a criação de um sistema de crédito cooperativo e popular, envolvendo
os bancos regionais, estaduais e o Banco do Brasil.
Ao conjunto de medidas acima deve-se acrescentar a reintrodução do princípio
do risco no sistema financeiro, vedando-se a utilização de recursos públicos para sanear
falências e liquidações “extrajudiciais”, o que permitiu no passado recente um grande
volume de fraudes e rapinagem financeira. Esta medida deve ser acompanhada de fortes
poderes de intervenção através do Banco Central, com o bloqueio de bens e cartas patentes
das instituições, que impossibilitem a evasão da riqueza dos infratores e de severa legislação
penal especifica. Não é mais possível tolerar a política de favoritismo e a corrupção na gestão
do crédito público.
A reforma financeira aqui proposta visa dotar o País de um sistema de
intermediação eficiente e regulado, que signifique um avanço importante para o processo
de internalização dos centros de decisão econômica, capaz de funcionar como um poderoso
instrumento de política industrial e de suporte a acumulação de capital. Visa-se, ao mesmo
tempo, que o Estado seja equipado com um sistema de dívida pública racional, habilitando-
o para as grandes tarefas do desenvolvimento social e econômico, especialmente para os
projetos de longo período de amortização.
A questão nacional
A atuação pública no setor cultural ampliou-se nos últimos anos por meio dos
organismos oficiais. Grande parte da produção cultural realizou-se com subvenções
públicas e foi gerida por instituições criadas pelo regime. O Estado, paralelamente,
fortaleceu-se como produtor. Contudo, a distribuição dos recursos orçamentários
desprezou as reais necessidades de nosso desenvolvimento cultural. Devido à ausência de
mecanismos que viabilizem a produção artística independente e que motivem o
investimento privado, a participação do setor público tornou-se marcante.
Dado o caráter autoritário do regime, incapaz de aceitar a livre manifestação de
ideias e o pluralismo, a dependência da produção cultural com relação ao Estado torna-se
problemática, especialmente em suas implicações ideológicas.
Ainda assim, a sociedade vem estruturando novas formas de organização e de
expressão cultural independente, gerando um quadro complexo de manifestações em
oposição ao dirigismo paternalista do Estado, ao autoritarismo e à intolerância do regime.
Quer o PMDB implementar um projeto nacional que, no campo da cultura, seja
expressão desse movimento pluralista da sociedade. Em contraposição à política cultural
autocrática exercida até aqui pelo Estado e, em contraposição à indústria cultural
oligopolista, deve-se buscar a prática de uma política cultural popular, democrática e,
portanto, participativa. Só assim, com o estímulo a liberdade de criação e manifestação com
o livre acesso aos meios de produção e difusão, com a garantia da presença dos conteúdos
Ulysses Guimarães
Exmo. Sr. Presidente da República, José Sarney; Exmo. Sr. Presidente do Senado Federal,
Humberto Lucena; Exmo. Sr. Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Rafael
Mayer; Srs. membros da Mesa da Assembleia Nacional Constituinte; eminente Relator
Bernardo Cabral; (palmas) preclaros Chefes do Poder Legislativo de nações amigas;
insignes Embaixadores, saudados no decano D. Carlo Furno; Exmos. Srs. Ministros de
Estado; Exmos. Srs. Governadores de Estado; Exmos. Srs. Presidentes de Assembleias
Legislativas; dignos Líderes partidários; autoridades civis, militares e religiosas,
registrando o comparecimento do Cardeal D. José Freire Falcão, Arcebispo de Brasília,
e de D. Luciano Mendes de Almeida, Presidente da CNBB; prestigiosos Srs. Presidentes
de confederações, Sras. e Srs. Constituintes.
só. O governo associativo e gregário é mais apto do que o solitário. Eis outro imperativo de
governabilidade: a coparticipação e a corresponsabilidade.
Cabe a indagação: instituiu-se no Brasil o tricameralismo ou fortaleceu-se o
unicameralismo, com as numerosas e fundamentais atribuições cometidas ao Congresso
Nacional? A resposta virá pela boca do tempo. Faço votos para que essa regência trina prove
bem.
Nós, os legisladores, ampliamos os nossos deveres. Teremos de honrá-los. A
Nação repudia a preguiça, a negligência e a inépcia. Soma-se à nossa atividade ordinária
bastante dilatada a edição de 56 leis complementares e 314 leis ordinárias. Não esquecemos
que na ausência da lei complementar os cidadãos poderão ter o provimento suplementar
pelo mandado de injunção.
A confiabilidade do Congresso Nacional permite que repita, pois tem
pertinência, o slogan: “Vamos votar, vamos votar”, (palmas) que integra o folclore de nossa
prática constituinte, reproduzido até em horas de diversão e em programas humorísticos.
Tem significado de diagnóstico a Constituição ter alargado o exercício da
democracia – em participativa, além de representativa. É o clarim da soberania popular e
direta, tocando no umbral da Constituição, para ordenar o avanço no campo das
necessidades sociais.
O povo passou a ter a iniciativa de leis. Mais do que isso, o povo é o
superlegislador, habilitado a rejeitar, pelo referendo, projetos aprovados pelo Parlamento.
A vida pública brasileira será também fiscalizada pelos cidadãos. Do Presidente
da República ao Prefeito, do Senador ao Vereador.
A moral é o cerne da Pátria. A corrupção é o cupim da República. República suja
pela corrupção impune toma nas mãos de demagogos, que a pretexto de salvá-la a
tiranizam. “Não roubar, não deixar roubar, pôr na cadeia quem roube” – eis o primeiro
mandamento da moral pública.
Pela Constituição, os cidadãos são poderosos e vigilantes agentes da
fiscalização, através do mandado de segurança coletivo; do direito de receber informações
dos órgãos públicos; da prerrogativa de petição aos poderes públicos, em defesa de direitos
contra ilegalidade ou abuso de poder; da obtenção de certidões para defesa de direitos; da
obtenção de certidões para defesa de direitos; da ação popular, que pode ser proposta por
qualquer cidadão, para anular ato lesivo ao patrimônio público, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico, isento de custas judiciais; da fiscalização das contas dos Municípios
por parte do contribuinte. Podem peticionar, reclamar, representar ou apresentar queixas
junto às comissões das Casas do Congresso Nacional.
Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato são partes legítimas
e poderão denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União,
do Estado ou do Município. A gratuidade facilita a efetividade dessa fiscalização.
A exposição panorâmica da lei fundamental que hoje passa a reger a Nação
permite conceituá-la, sinoticamente, como a “Constituição coragem”, a “Constituição