Canto Difônico

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Canto difônico

O canto difónico (ou canto dos harmónicos) é o canto de dois ou


mais sons em simultâneo por uma única pessoa, que ao manipular os
espaços da cavidade bucal ressalta os harmónicos da própria voz. Essa
experiência conduz a novos planos de escuta e de emissão vocal. Em
certas culturas, é usado para a meditação.

Essa técnica é bastante popular na Ásia Central, de onde vem sua


origem entre mongóis e tuvanos. O amplo uso na música tradicional
também se verifica na África do Sul, entre as mulheres xhosa, em que
a técnica é frequentemente acompanhada por chamada e resposta. Na
América do Norte, seu uso tradicional está em grupos indígenas como
os inuítes, sendo praticado geralmente por mulheres. Por sua natureza
suave, esse canto era usado como cantiga de ninar. Também é usado
no Tibete entre lamas.

Cantoras harmônicas inuítes


Ásia
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Tuva Canto somente com sobretons

As formas tradicionais mais conhecidas do canto difônico se


originaram em Tuva, uma pequena república da Federação Russa,
sendo bastante remotas. Supõe-se que a popularidade entre aquele 0:00 / 0:00
povo surgiu como resultado da localização geográfica e da cultura. Canto somente com a garganta
A geografia aberta de Tuva permite que os sons percorram grandes
distâncias. Especialistas de canto descrevem khoomei como parte
integral do animismo pastoreio, ainda praticado. Frequentemente, os 0:00 / 0:00
cantores viajam para o interior à procura de rios, ou sobem os Canto com sobretons através da
montes para criar o ambiente apropriado para o canto difônico.[1] garganta

A visão animista do mundo desta região identifica a espiritualidade


dos objetos na natureza, não somente seu formato ou localização,
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mas seu som da mesma forma.[2] Portanto, a imitação humana dos
Canto Sygyt, de Tuva, somente com
sons da natureza é tida como a origem do canto difônico. De fato,
sobretons
as culturas dessa parte da Ásia desenvolveram vários instrumentos e
técnicas para imitar os sons de animais, do vento, da água. Ainda
que as culturas dessa região compartilhem a técnica do canto
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difônico, o estilo e o desenvolvimento varia.
Canto Kargyraa, com sobretons
Em resumo, são os sons harmônicos que as pessoas de tais povos conseguem produzir das partes mais
profundas de suas gargantas.[3] Geralmente, as melodias são criadas isolando-se as sextas, sétimas oitavas,
nonas, décimas e décimas segundas parciais de acordo com a série harmônica. A altura fica se encontra
geralmente em um G abaixo do C4.

A apresentação de Chirgilchin, grupo


musical de música tradicional de Tuva,
em 2007

Exemplo de série harmónica em notação musical

Os tuvanos possuem uma grande variedade de vocalizações de canto difônico, e existem diversas formas de
se classificar as variações. Numa delas, os três estilos básicos são khoomei, kargyraa e sygyt, enquanto os
subestilos incluem borbangnadyr, chylandyk, dumchuktaar, ezengileer e kanzip. Noutra classificação há
cinco estilos básicos: khoomei, sygyt, kargyraa, borbangnadyr e ezengileer. Os subestilos incluem
chylandyk, despeng borbang, opei khoomei, buga khoomei, kanzyp, khovu kargyraazy, kozhagar
kargyraazy, dag kargyraazy, Oidupaa kargyraazy, uyangylaar, damyraktaar, kishteer, serlennedyr e
byrlannadyr.[4]

Sygyt
Sygyt (em tuvano: Сыгыт) significa assovio, uma técnica que utiliza uma fundamental média e produz um
som bastante agudo, uma reminiscência harmônica do assovio. A técnica difere do khoomei pela
fundamental completamente atenuada, possuindo um som mais agudo. Os sons são claros e limpos.

Kargyraa
Kargyraa (em tuvano: Каргыраа) é uma técnica grave de subtom. As "falsas cordas vocais" são vibradas
para produzir um subtom na exata metade da frequência da fundamental, que por sua vez é produzida pelas
cordas vocais. A cavidade bucal é adequada para selecionar as harmônicas tanto da fundamental quanto do
subtom, produzindo de quatro a seis tons simultaneamente. Há dois estilos kargyraa principais, dag
kargyraa e khovu kargyraa. O primeiro, também chamado de kargyraa da montanha é o mais grave. Uma
mistura dos dois anteriores é o chylandyk (em tuvano: Чыландык). Ambos os estilos são cantados
simultaneamente, criando um som incomum de subtons misturados com assovios agudos.

Khoomei
Khoomei (em tuvano: Хөөмей) é uma técnica que foca os tons médios, formando as harmônicas entre uma
e duas oitavas acima. Entretanto, o termo também é usado genericamente para todas as técnicas de canto
difônico da região.

Dumchuktaar
Dumchuktaar (em tuvano: умчуктаар') é uma técnica em que se cria um som familiar ao do sygyt usando
somente o canal nasal. A boca não precisa ser fechada, mas para efeitos de demonstração isso é desejado.

Ezengileer
Ezengileer (em tuvano: Эзең гилээр) é um estilo pulsante, que tenta imitar o ritmo de um cavalo galopando.

Notas
1. Slobin 1992, pp 444-446
2. Levin, Theodore. When Rivers and Mountains Sing. Bloomington, IN. Indiana University
Press 2006.
3. Aksenov 1973, pp 7-18
4. International Scientific Centre "Khoomei" 2008

Referências
«Throat Singing» (http://www.smithsonianglobalsound.org/archives_08.aspx) (em inglês).
Smithsonian Global Sound. 2007. Consultado em 22 de julho de 2009
«International Scientific Centre "Khoomei" » (http://www.khoomei.narod.ru/khorekteereng.ht
ml). Khoomei.narod.ru. Consultado em 27 de novembro de 2008
Slobin, Mark. Ethnomusicology. Volume 36, nº 3, Special Issue: Music and the Public
Interest. (1992), pp 444-446.
Aksenov, A. N. Tuvan Folk Music. Asian Music, Vol. 4, nº 2 (1973), pp 7–18.

Ver também
Voz humana
Harmônica
Berimbau de boca
Huun-Huur-Tu (banda)

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