Resenha Descritiva Do Texto Cinco Lições de Psicanalise'

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Freud, S. Cinco lições de psicanálise.

In: Edição Standard Brasileira das Obras


Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XI). Rio de Janeiro: Imago,
1996.

A coleção de textos conhecida como As Cinco Lições da Psicanálise


apresenta o conteúdo de cinco palestras que Freud formulou quando apresentou
sua teoria pela primeira vez em 1910 nos Estados Unidos. Essa informação é
significativa porque indica que essa coleção de textos apresenta a Psicanálise de
forma introdutória e resumida, abordando sua história e as evoluções e
desenvolvimentos teóricos desde sua criação.
Nesses textos, Freud afirma que é essencial para o sujeito que busca
entender a Psicanálise compreender completamente seu caminho teórica – incluindo
erros, acertos e influências – para que seu raciocínio seja plenamente reconhecido,
em vez de apenas ser considerado uma crença. A razão pela qual ele relata tantas
de suas experiências clínicas é porque elas o inspiraram a desenvolver todas as
suas teorias.

PRIMEIRA LIÇÃO

Começa através do médico Breuer, que a usou primariamente para tratar uma
jovem histérica (1880-1882). Breuer e Freud publicaram este acontecimento em um
livro chamado Estudos Sobre a Histeria em 1895.
A paciente do Dr. Breuer, que era altamente inteligente, continha várias
perturbações físicas e psicológicas, bem como uma característica que a impedia de
beber. Desde o tempo da medicina grega, isso poderia ser considerado uma doença
grave era conhecido como histeria.
O cenário da paciente de Breuer assomou durante o tratamento de seu pai
doente, que acabou morrendo. A medicina acusa os histéricos falsos de exagero por
falta de conhecimento e impossibilidade de tratamento. Por causa das boas
qualidades da jovem, o Dr. Breuer não condenou sua paciente.
Observa-se que durante a absence, a doente murmurava frases que pareciam
estar ligadas ao que pensava. O Dr. Breuer anotou essas palavras e colocou a moça
em estado de hipnose para encorajar a paciente a fazer associações de ideias.
Deste modo, a paciente disse que suas fantasias iniciaram na cabeceira do pai
doente.
Depois de relatar sua história, a paciente voltou a viver sua vida cotidiana, o
que durou horas antes de uma nova absence que acabava com a
evidenciação destas abstrações. A excitação causada pelas fantasias extremamente
afetivas levou às mudanças psicológicas que ocorreram durante a absence.
A paciente, que só falava inglês durante a doença, chamou este tratamento
de "talking cure". Durante a hipnose, a paciente que se via incapaz de beber água,
apesar de ter uma grande sede, disse que uma vez foi ao quarto da sua
companheira e viu um cão bebendo água de um copo, o que a deixou com asco.
Após este informe, ela voltou a beber.
Como resultado, verificou-se que vivências emocionais deixavam resquícios,
que logo mais foram chamados de "traumas psíquicos"., pois o sintoma estava
relacionado ao evento traumático. Relacionando-se também que os sintomas eram
ocasionalmente causados por vários traumas, às vezes similares e contínuos, ao
invés de um único evento. Este decurso de lembranças deveria ser reproduzido em
ordem inversa e cronológica.
Os histéricos têm rememorações e memórias de eventos traumáticos. Eles
não apenas as lembram, mas também se prendem emocionalmente a elas,
tornando-os absortos ao que é real e ao presente. Apresentam um apego mental
nos traumas patogênicos. Na situação de sua aversão ao cãozinho que bebia água
e estava diante da cabeceira do pai para que não percebesse sua ansiedade, a
paciente de Breuer teve que subjugar uma forte emoção. A doente expressou sua
emoção contida diante do médico. É evidente que recordar tais eventos sem
expressar emoções era infrutífero. Assim, podemos supor que as emoções
comandavam tanto a doença quanto a cura. Quando essas emoções não tinham
uma exteriorização normal, tornavam-se patogênicas, sendo "trancadas" e em parte
desviando para sintomas físicos. Este fenômeno é chamado de "conversão histérica"
e representa uma exteriorização mais profunda das emoções, conduzidas por um
novo caminho.

SEGUNDA LIÇÃO

Na Segunda Lição, Freud fala sobre as influências de dois médicos franceses,


Jean-Martin Charcot e Pierre Janet, que trabalhavam com histeria no Hospital
Psiquiátrico de Salpêtrière. O primeiro a utilizar a técnica da hipnose para mostrar
que a histeria não era um delírio do paciente nem efeito de complicações nos órgãos
do doente foi Charcot. Os experimentos de Charcot demonstraram que ao longo da
hipnose, um órgão impactado foi capaz de retornar ao funcionamento normal através
do ato de sugestão. No entanto, quando a hipnose terminou, o sintoma
continuava de outras maneiras.
Freud baseou sua teoria na divisão da mente e na dissociação da
personalidade, seguindo o exemplo de Pierre Janet, que estudou os aspectos
psíquicos específicos da histeria.
Janet acreditava que a histeria era uma forma de doença degenerativa do
sistema nervoso que se exteriorizava pela fragilidade congênita do poder de síntese
psíquica, de acordo com as ideias predominantes na França para sua teoria. A
explicação para a dissociação psíquica seria que os histéricos não conseguem
manter a multiplicidade dos processos mentais. O ponto de vista de Freud sobre a
dissociação histérica, ou divisão da consciência, mudou quando ele continuou seus
estudos iniciados por Breuer.
O sistema catártico de Breuer demandava que o paciente fosse submetido
a uma hipnose profunda; apenas durante esse estado hipnótico, o paciente sabia
das ligações patogênicas, que normalmente escapavam. Freud abandonou a
hipnose porque achava que a prática era cansativa e ineficaz. Decidiu usar a técnica
catártica mantendo os pacientes em um estado normal. Ao pensar em como fazer o
doente contar algo que nem ele mesmo sabia, pensou em uma experiência de
Bernheim em que pessoas em um estado de sonambulismo hipnótico tinham feito
várias coisas, o que lhes permitia recordar o que aconteceu enquanto estavam em
consciência normal.
Freud agiu da mesma maneira com seus pacientes: quando afirmavam não
saber nada mais, ele insistia que sabia e ia mesmo dizer que a recordação exata
seria aquela que ele lhes apontaria quando colocava a mão sobre a face. No
entanto, com o passar do tempo, ficou claro que não era uma abordagem definitiva
correta.
Pode-se notar que o doente não tinha esquecido suas lembranças, mas que
havia uma força que as manteve no inconsciente. Quando tentava trazer as
lembranças subconscientes, percebia-se que estava em oposição à potência. Com
base nesta noção de resistência, Freud construiu sua compreensão da histeria. As
resistências foram eliminadas para restabelecer o doente.
Freud diz que a doença começa com as mesmas forças que hoje, conhecidas
como resistência, se objetam a que o esquecido retorne à consciência, afastando os
acidentes patogênicos correspondentes da consciência, o que ele chama de
"repressão".
Freud explica o mecanismo patogênico da histeria usando terapia catártica:
um desejo violento surge em discordância com os outros desejos da pessoa e não é
compatível com os anseios morais e estéticas da personalidade; esse desejo é
inconciliável, submete-se à repressão e fica no inconsciente. Portanto, a repressão,
que protegia a personalidade psíquica, era a incompatibilidade entre a ideia e o ego.
A concepção freudiana difere da de Janet porque explica a
separação psíquica pela dinâmica do combate de forças mentais diversas, em vez
de atribuir essa divisão a uma deficiência intrínseca de síntese de partes do corpo
mental. Os conflitos psicológicos ocorrem frequentemente, mas não resultam em
divisões psicológicas.
A área específica do cérebro é liberada pela hipnose, que encobre a
resistência. No entanto, sua fronteira acumula resistências e cria uma barreira
intransponível para o resto.
Devido ao fato de que o sintoma está resguardado contra as forças
defensivas do ego, o sintoma pode servir como um substituto para a ideia reprimida,
resultando em um grande sofrimento. O sintoma tem semelhanças com a noção
primitiva reprimida. Assim, o sintoma deve ser reconduzido pelo mesmo percurso até
a ideia reprimida.
Quando o médico consegue recriar a execução mental consciente do que foi
reprimido, assumindo que as resistências foram eliminadas, o resultado seria mais
eficaz do que a repressão. Isso ocorre quando o conflito mental que o doente
começou e quis evitar é resolvido.
O controle consciente do desejo é atingido quando o paciente se convence de
que rechaçara o desejo sem razão e o recebe; neste caso, o desejo é dirigido para
um alvo irrepreensível e mais elevado (conhecido como sublimação) ou reconhecido
como justo a repulsa, onde o dispositivo de repressão é escasso e é substituído por
um juízo de condenação.

TERCEIRA LIÇÃO
Ao corrigir um equívoco apenas nas primeiras vezes, a mera pressão de
Freud revelou exatamente o esquecido que descobria. Ao continuar a usar o
método, surgiram pensamentos insensatos.
Então, o uso de uma hipótese, cuja precisão científica foi confirmada por anos
depois por C. G. Jung, de Zurique e seus seguidores. No doente, havia duas forças
opostas. Uma era a luta para trazer o inconsciente à consciência, enquanto a outra
era a resistência, que impedia que o elemento reprimido chegasse à consciência. É
preciso admitir que a resistência do elemento procurado aumenta com a
deformação. A concepção do doente era exata ao sintoma, e o sintoma era menos
análogo quanto maior fosse a deformação causada pela resistência. O pensamento
deveria fazer uma alusão ao elemento reprimido ou usar palavras indiretas para
expressá-lo.
Um conjunto de componentes ideacionais interconectados, apresentando
catexia por energia afetiva, é chamado de "complexo". As chances de desvendar um
complexo reprimido aumentam quando o doente fornece suficientes associações
livres. O único método viável é pedir ao doente que expresse seus pensamentos, o
que depende indiretamente do complexo buscado. De vez em quando, o doente diz
que não tem mais nada a expressar, mas ideias livres não param de surgir. O
paciente é influenciado por sua resistência oculta a fazer julgamentos críticos sobre
o valor da ideia e a retém ou a afasta novamente. Assim, é pedido ao paciente que
expresse tudo o que lhe vem à mente sem distinção ou avaliação.
A base mais sólida da psicanálise é a interpretação dos sonhos, sendo o
caminho legítimo para a compreensão do inconsciente. Quando acordamos, existe o
hábito de tratar os sonhos com a mesma indiferença com que os doentes
recusam as ideias soltas que o psicanalista desperta. O descaso é baseado no
caráter exótico que é demonstrado pelos sonhos que parecem ter lógica e relação,
bem como pela imprudência e incoerência dos demais. Esta repulsa é causada
pelas inclinações imorais e menos íntegras que se manifestam em muitos deles.
Freud não acredita em possibilidades esotéricas. Ao contrário desta ideia, o
sonho seria a realização de desejos no dia em que o sonho foi apresentado. As
palavras são diferentes das que eram no sonho e aparecem distorcidas de sua
forma original. Deve saber distinguir o conteúdo latente de um sonho, que pertence
ao inconsciente, do conteúdo visível que se evoca no dia posterior.
Esta deformidade está presente no início dos sintomas histéricos, o que indica
que a mesma interatividade de forças mentais está envolvida na criação de sonhos e
sintomas. O conteúdo do sonho é representação distorcida dos pensamentos
subconscientes do sonho. Esta deformação é resultado das energias defensivas do
ego, ou seja, a resistência que o ego encontra durante a vigília para impedir que ele
passe para a consciência e os desejos reprimidos do inconsciente. Estas
resistências são tão fortes que podem ser toleradas enquanto dormem. Como
resultado, as pessoas que sonham têm dificuldade em entender o significado e as
relações entre seus sonhos e seus sintomas. O sonho mostrado que os adultos
conhecem por meio da rememoração pode ser caracterizado como a ação tácita de
desejos reprimidos.
O método de "elaboração onírica", no qual os pensamentos inconscientes de
um sonho se escondem sob o conteúdo visível, acontece entre dois
compostos diferentes do corpo psíquico, o consciente e o inconsciente. A
condensação e o deslocamento estão entre esses processos.
A análise dos sonhos revelou o papel crucial que os fatos e impressões do
início da infância desempenham no desenvolvimento humano. Mantendo todas as
características e aspirações, como o progresso de repressões, sublimações e
formações reativas, eles desempenham um papel importante no desenvolvimento
humano. Além disso, pode ser notado por meio da análise dos sonhos que o
inconsciente representa complexos sexuais com certo simbolismo, que varia
individualmente e é tipicamente fixo.
O surgimento de pesadelos contrasta com nossa perspectiva sobre o sonho
como a realização de desejos. A ansiedade que os conduz não é apenas resultado
do contento fantasioso; é uma resposta do ego a desejos violentos reprimidos.
Assim, é possível entender que a interpretação de sonhos, quando os obstáculos do
doente não interferem, leva ao conhecimento de desejos escondidos e reprimidos.
Será abordado o terceiro conjunto de fenômenos psicológicos, cuja análise se
tornou uma ferramenta técnica utilizada na psicanálise. A ocorrência em
foco consiste em pequenos desacertos que são comuns tanto aos sujeitos normais
quanto aos neuróticos, que normalmente é ignorado. Esses exemplos incluem
lapsos de coisas que deveriam saber e que às vezes realmente sabem (como o
esquecimento passageiro de nomes), lacunas da fala, escrita ou leitura em voz alta;
impasse em realizar ações, entre outros. Unem-se às ações ou atitudes que as
pessoas fazem sem perceber ou dar importância a eles. Por exemplo, cantar
músicas, manusear objetos, entre outros. Os atos falhos, como os sugestivos e
acidentais, expressam impulsos e desejos que devem permanecer encobertos à
própria consciência. Isso ocorre porque surgem dos desejos e complexos
reprimidos, que são responsáveis pela criação de sintomas e sonhos. Devem levar
em consideração os mesmos fatores que os sintomas e os sonhos, o que pode
resultar na descoberta de aspectos mais profundos da mente. Mesmo em uma
excelente saúde, eles demonstram a presença de repressão e substituição.
O psicanalista se destaca por sua forte crença na deliberação da vida mental.
As demonstrações psíquicas não têm nada de insignificante. Encontra uma razão
suficiente em todas as partes e está ordenado a receber várias razões para o
mesmo resultado. Por outro lado, nossa necessidade causal, que acreditamos ser
natural, é plenamente suficiente com singular razão psíquica.
Quando as ideias dos pacientes, seus sonhos, falhas e ações sintomáticas
são analisadas livremente, conclui-se de que o método é suficiente para executar o
proposto: levar a matéria psíquica patogênica à consciência e acabar com os
sintomas de substituição.

QUARTA LIÇÃO

Freud enfatiza que a vida sexual é a principal causa das neuroses,


demonstrando a importância da sexualidade nas patologias. Além disso, fala sobre
a desconformidade vida sexual versus sociedade, que está diretamente ligada às
origens das patologias.
Os anseios patogênicos são da ordem dos segmentos instintivos eróticos, e
as disfunções do erotismo possuem maior relevância entre as interferências que
causam perturbações em homens e mulheres.
Os doentes tentam esconder o assunto em vez de ajudá-lo a ser reconhecido.
Devido ao fato de que nenhum sujeito tem a capacidade de expressar livremente
seu erotismo, a sociedade moderna não é realmente adepta à prática sexual. Por
outro lado, quando os pacientes compreenderem que devem estar à vontade ao
longo do tratamento, eles se livrarão da mentira e só então estarão presentes para
tomar uma decisão sobre esta questão.
Para obter uma compreensão integral da investigação, é necessário retornar
à infância e adolescência do paciente. Estas são as únicas coisas que explicam a
sensibilidade do doente aos traumas futuros; só descobrindo isso e recuperando a
consciência é que se torna possível reduzir os sintomas. A criança tem intuição e
atividade sexual desde o nascimento. Ela os leva para o mundo e, depois de uma
extensa evolução, eles chegam à sexualidade normal do adulto. O autoerotismo,
que ocorre na primeira fase da vida sexual infantil, é quando a satisfação é
alcançada apenas em seu próprio corpo, evitando qualquer objeto externo. Os locais
do corpo que causam prazer sexual, como chupar o dedo ou succionar, são
chamados de zonas erógenas. Alguns exemplos de autoerotismo incluem uma zona
erógena separada. A excitação masturbatória dos órgãos genitais é outra satisfação
da mesma ordenação nessa idade, um fenômeno importante para o resto da vida
que muitos indivíduos nunca conseguem superar. Seguindo as atividades
autoeróticas, a criança mostra elementos do gozo sexual ou da libido que tem uma
pessoa estranha como objeto. Os dois grupos destes instintos são o oposto um do
outro, ativo e passivo. O prazer de causar sofrimento (sadismo), o prazer visual,
ativo ou passivo e o masoquismo, reverso do sadismo. A vontade de saber cresce
do prazer visual ativo, assim como do prazer visual passivo para os
simbolismos teatrais e artísticos. Neste período da vida infantil, a distinção de sexo
ainda não desempenha um papel significativo; todas as crianças podem ser
parcialmente homossexuais. Na vida erótica, os elementos do instinto sexual só
querem ser atendidos na pessoa amada, pois a seleção de objeto afasta o
autoerotismo. No entanto, não é aceito que todas as partes instintivas originais
sejam incorporadas a esta fixação imutável da vida sexual.
Um argumento da patologia geral diz que os germes de uma condição
patológica estão presentes em todo decurso da evolução e podem ser inibidos,
atrasados ou desenvolvidos de forma incompleta. Nem todos os impulsos parciais
estão sujeitos à autoridade da área genital; a perversão, que se tornou
independente, pode substituir a finalidade sexual normal.
A criança aceita os pais, especialmente aqueles que são alvo de seus
anseios eróticos. A maioria das vezes, o pai tem preferência pela filha, enquanto a
mãe tem preferência pelo filho. A criança deseja a posição do pai, caso menino; e se
tratando da filha, o lugar da mãe. Estas relações entre pais e filhos, bem como entre
irmãos, podem ter sentimentos positivos e negativos. Como resultado, o complexo é
pronto para ser reprimido, mas prossegue à ação do inconsciente com determinação
e insistência.
A criança dedica uma parte significativa de sua atividade intelectual às
inclinações sexuais quando seu complexo central ainda não reprimido está em
controle. Essa análise e as teorias sexuais infantis são indispensáveis para a
formação da personalidade da criança e para a capacidade da neurose posterior.
É completamente normal que uma criança considere seus pais como sua
primeira opção amorosa. A libido, por outro lado, não se fixa neste primeiro objeto;
ela o usará apenas como um exemplo mais tarde.

QUINTA LIÇÃO

Ao descobrir a sexualidade infantil e associá-la à neurose, Freud pode obter


algumas respostas singulares sobre a natureza e as características dos sintomas
neuróticos. Constatou-se que quando as pessoas não conseguem satisfazer suas
necessidades sexuais por causa de obstáculos externos ou falta de adaptação
interna, adoecem. Eles se refugiam na doença para encontrar uma satisfação
substituta. Deste modo, os sintomas mórbidos envolvem uma parte da vida sexual
ou da atividade sexual da pessoa. A resistência dos doentes à cura dependeria de
vários fatores. Além do ego do doente, que pode resistir à repressão através da qual
se desviou de suas condições originais, seu instinto sexual também pode resistir à
satisfação que este lhe oferece, enquanto há dúvida de que a realidade pode lhe
propor algo melhor.
Este prazer causado pela enfermidade ocorre durante a regressão às fases
iniciais da vida sexual em que antes não havia satisfação. Esta regressão é
apresentada em duas perspectivas. A primeira é temporal, pois a libido, em sua
demanda erótica, firma-se nos estados evolutivos mais distantes. O segundo é
formal, pois utiliza meios psicológicos primitivos e derivados para expressar a
mesma exigência. Ambos os aspectos da regressão se concentram na vida sexual
da infância.
É evidente a relação entre as neuroses e outras realizações da vida mental do
sujeito, que, devido às altas expectativas da nossa sociedade e à influência das
repressões pessoais, pensam a realidade como insatisfatória e, portanto, levam uma
vida de ilusões para compensar as disfunções da realidade e alcançar os desejos
almejados. Ao invés de abstrair-se ao período infantil, ainda há a chance de
transformar essas fantasias em algo real. Quando alguém é talentoso, suas
fantasias podem se transformar em trabalhos artísticos, evitando assim a neurose e
reconectando-se à realidade.
O estudo psicanalítico dos neuróticos pode levar à conclusão de que o
conteúdo psíquico destes pode ser descoberto nos sãos; eles sofrem dos mesmos
complexos que os sujeitos com boa saúde lutam. A luta pela saúde, a neurose ou a
sublimação compensadora determinarão a quantidade e a proporção das forças em
choque.
A vivência mais significativa descoberta durante o tratamento psicanalítico de
um paciente neurótico foi o fenômeno de "transferência": o doente expressa ao
médico emoções afetivas, muitas vezes misturados com hostilidade, que não são
explanados e que devem ter origem em fantasias inconscientes passadas; esses
sentimentos apenas podem se dissolver e se transformar em outras emoções.
A transferência ocorre naturalmente em todas as interações humanas, e no
caso do tratamento do doente com o médico, é geralmente o principal meio de
tratamento, agindo de forma ativa. Portanto, a psicanálise não a cria; ela apenas a
revela à consciência do sujeito e a usa para chegar ao objetivo.
Devemos levar em consideração dois obstáculos para a aceitação das ideias
psicanalíticas. O primeiro é a falta de hábito de reconhecer o rigoroso determinismo
da vida mental. O segundo é o desconhecimento das singularidades pelas quais os
processos mentais inconscientes diferem dos processos mentais conscientes com
os quais somos familiarizados. Neste contexto, é empregado o temor de que chamar
os impulsos sexuais reprimidos à tona do paciente, como se para apresentar riscos
à moralidade.

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