Projeto Final Terra Preta
Projeto Final Terra Preta
Projeto Final Terra Preta
IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
Por ser esta fronteira muito próxima da divisa do Brasil com o Paraguai, por lá entra
grande parte do contrabando de agrotóxicos de uso ilegal que abastece as grandes
propriedades da região. Esses produtos são transportados pelo vento e contaminam
as plantações de alimentos da comunidade - uma produção 100% orgânica, até então.
Além de ver a saúde do grupo comprometida, o problema está ameaçando a
certificação dos produtos da comunidade como “orgânicos”. Sem este selo, eles
deixariam de ser habilitados para venda através do programa de aquisição de
alimentos subsidiado pelo Governo Federal do qual participam. Como esta é a principal
fonte de renda e sobrevivência da comunidade, a tensão na região cresce dia a dia.
Não bastasse a questão da sobrevivência em si, há uma outra fronteira muito mais
próxima, aquela que os separa de suas raízes. Herdeiros de quilombolas que ali
viveram até a década de 1950, eles enfrentam dificuldades extremas para serem
reconhecidos como tal. A escassez de documentos comprobatórios de ancestralidade,
perdidos entre fugas durante o período escravocrata e entre as guerras que enfrentam
desde que decidiram voltar ao local, vem ameaçando a luta para que este povo consiga
assegurar definitivamente a condição de “quilombolas” e, consequentemente, terem
reconhecido o direito àquelas terras.
E há ainda uma terceira fronteira, uma complexa convivência entre este grupo e outras
comunidades em extrema vulnerabilidade social da região: os indígenas. A fronteira
entre os povos é atravessada corriqueiramente com trocas culturais cotidianas entre o
Quilombo e as sete aldeias da região. Isso por conta do “Programa de Aquisição de
Alimentos com Doação Simultânea”, ligado ao “Fome Zero” do governo federal. A
Horta Comunitária Quilombola fornece alimentos para as aldeias.
Esta parceria inusitada veem garantindo uma vida mais digna para aproximadamente
993 indígenas, o que configura uma rede de cooperação e fortalecimento inédita entre
diferentes grupos étnicos, ambos historicamente excluídos. Estas aldeias indígenas
sofrem com problemas muito semelhantes ao quilombo, terras e água contaminadas
por agrotóxicos, perseguição de fazendeiros, preconceito e conflitos pela demarcação
de território que é deles por direito. Cenário este agravado pela inundação do que
sobrou de suas terras na construção da Usina de Itaipu.
Podemos considerar ainda como “fronteira” a questão relacionada à etnia que lhes
determina uma pele de cor negra. Apesar desta característica conferir uma unidade
identitária às múltiplas personalidades e visões de mundo dentro da comunidade, os
discrimina ainda mais de seu entorno. A região, como praticamente todo o estado do
Paraná, é ocupada majoritariamente por brancos. No caso, descendentes de italianos
e alemães que se sentem donos da área e são, portanto, contrários ao reconhecimento
da comunidade. Grupos que promoveram um verdadeiro “Apartheid” nos ultimos
anos, desestimulando uma convivência pacífica.
Existe ainda a fronteira flutuante do limite de suas terras. A comunidade leva o nome
de seu líder histórico – Manoel Ciriaco dos Santos, que, segundo o novo laudo da
UFPR conseguiu comprovar, havia conseguido comprar aquelas terras legalmente com
seu trabalho. Com isso, entra em discussão a expansão do território quilombola, o que
almentou ainda mais o conflito, chegando ao ponto mais crítico quando funcionários
do INCRA foram feitos reféns por agricultores, como se pode verificar nesta
reportagem de 2009:
http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/servidores-do-incra-sao-feitos-
refens-por-agricultores-em-guaira-bx4kfclav48viimpsye9s5wem
Nesta ocasião a situação agravou-se ainda mais com o roubo do mapa contendo a
demarcação. Isto porque muitos moradores não souberam interpretá-lo e acreditaram
que o território pretendido era muito maior, o que resultou em uma verdadeira
campanha de ódio. Pessoas que empregavam quilombolas foram aterrorizadas e
carros que tentassem acesso ao Quilombo foram quebrados, até o isolamento total da
comunidade.
Esses homens, mulheres e crianças negros e negras também são trabalhadores rurais.
E, neste sentido, além das enormes dificuldades financeiras e do racismo, defrontam-
se com problemas de reconhecimento de sua terra e de seus direitos, e sofrem com a
perseguição dos fazendeiros e da mídia local. Nesse panorama, cabe aos canais
públicos transpassarem as fronteiras midiáticas hegemônicas que invisibilizam as
sociedades tradicionais, seus direitos e sua historia. Ao apoiar produções que expõem
o protagonismo politico de grupos historicamente marginalizados, colaboram para a
construção de uma identidade brasileira orgulhosa de todas as suas cores e vieses.
6. Público-Alvo do Projeto
(Identifique o público-alvo do projeto, incluindo referências etárias, culturais e sócio-econômicas
dos possíveis espectadores da obra).
A escolha desta linha de trabalho se deve aos principais desafios enfrentados pelos
membros da comunidade. Eles passam por uma necessidade de reelaboração da
memória coletiva, que precisa ser reinterpretada à luz da autoidentificação como
“quilombolas”. O aumento do círculo de interação do grupo com agentes externos, e a
consequente influência que este processo passou a ter em sua autoimagem, tornava
necessária a construção de um novo lugar de legitimidade para a sua história, na
medida em que esta se transformava no princípio de justificação das demandas do
presente.
O fenômeno natural do vento terá grande importância estética e simbólica, é ele que
traz os produtos químicos que contaminam a plantação, mas também liga os povos e
traz as memorias. Para isso teremos muitas imagens do vento na vegetação, chão de
terra, roupas no varal, nos cabelos, e carregando o lixo de um lado para o outro.
O documentário está dividido em três blocos – entendidos aqui como “atos”,
organização da narrativa, e não condicionados a “intervalos”, mas editados de forma a
permitir a quebra, se for o caso.
No segundo bloco tratamos mais especificamente das trajetórias coletivas dos grupos
a partir de sua recente inserção no âmbito políticos como sujeitos de direitos coletivos.
A inserção no campo de reivindicação dos direitos colocou-os novamente diante de
uma longa caminhada. Tanto quilombolas quanto indígenas, lutam para movimentar
as linhas que demarcam os limites de seu território, enquanto os colonos e fazendeiros
lutam para que isto não ocorra. Neste bloco os conflitos de interesses serão
evidenciados, os movimentos políticos recentes serão ilustrados a partir de uma
estética que permanecerá nos territórios de cada grupo desejando a conservação,
continuação e durabilidade daquele espaço como território de direito. Neste momento
a escolha das personagens passa para além dos atores do grupo, abarcando
contribuições de atores do cenário político, funcionários do INCRA, Ministério Público,
Polícia Federal e antropólogos, que participam ativamente das lutas e discussões, foco
deste documentário. Muitos dos quais, apesar dos descontentamentos e frustrações,
compraram a briga e continuam a alimentar a esperança das comunidades para uma
resolução futura que garanta a regularização destes territórios.
O retorno e encontro com o passado virá no terceiro bloco. Assim, não procuramos
mostrar o grupo quilombola e grupos indígenas no entorno como uma realidade
estática, mas buscamos compreender os fluxos e relações que perpassam esta
trajetória de movimento, conectando pessoas e experiências espalhadas por
diferentes locais. Para isso pretendemos levar os irmãos Adir e Geralda, filhos de
Manoel Ciriaco e também lideranças locais, até Santo Antônio do Itambé/MG,
passando por Presidente Prudente/SP. E assim, retraçar o caminho de seus ancestrais
no sentido inverso, encontrando os familiares que ficaram no caminho. A intensidade
das emoções despertadas por encontros entre parentes a muito tempo afastados,
permite situações que só poderiam ser geradas neste entrelaçamento de lugares,
tempos e pessoas, instaurando um regime de temporalidade especial, no qual o
presente, o passado e o futuro destas famílias ganham novos sentidos.]
8. Estratégias de Abordagem
(Detalhamento dos procedimentos narrativos e estratégias de abordagem - entrevistas,
reconstituições ficcionais, voz sobre imagem, efeitos etc. – através dos quais a equipe se
relacionará com os objetos definidos para a realização do documentário, incluindo possíveis
referências a outras obras audiovisuais ou artísticas).
[Como o documentário está pensado em três blocos, o movimento dos grupos entre
uma fronteira e outra pode ser aproveitado como linha condutora das narrativas. Num
primeiro bloco saímos da cidade Terra Roxa acompanhando Matheus, professor de
capoeira descendente de italianos. Durante o trajeto podemos perceber a mudança da
paisagem entre cidade, campo e quilombo. Neste bloco procuramos conhecer as
historias de migrações da comunidade quilombola, bem como das comunidades
indígenas em seu entorno, ao visita-las para distribuir os alimentos cultivados na horta.
No terceiro bloco faremos o caminho inverso de Manoel Ciriaco dos Santos em direção
a Minas Gerais, em busca de parentes perdidos. Terminando este bloco mostrando os
resultados desta busca para os moradores da comunidade.
Metodologia de trabalho
As filmagens serão realizadas com equipe reduzida composta por quatro pessoas, um
diretor de fotografia / câmera, que ficará responsável ainda pela função de logger; um
técnico de som direto; uma diretora e produtora executiva; e uma codiretora,
roteirista e diretora de produção. Todas as filmagens serão realizadas em uma única
viagem de três semanas, com alguns dias dedicados à edição de depoimentos para
serem exibidos ainda durante as gravações, afim de terem suas projeções
documentadas, conforme indica o roteiro.
A montagem do filme será realizada em oito semanas, das quais as três últimas serão
realizadas junto a uma montadora experiente e parceira da proponente para que ela
dê um corte final ao filme. Ela irá receber o material pré-editado por um outro
montador, afim de otimizar recursos por conta das limitações do projeto, sem
comprometer seu resultado.
A edição de som será realizada com base nos sons captados nas filmagens,
especialmente ventos diversos, sons percussivos emitidos pelos personagens em suas
atividades cotidianas, sons da natureza emitidos por animais e vegetação e outros de
natureza diversa. A trilha sonora será potencializada com a gravação de músicas locais,
cantorias, instrumentos rústicos e outras manifestações sonoras relacionadas à cultura
local.
9. Diretor/a
(Apresentação e currículo resumido do/a diretor/a da obra).
10.Roteirista
Nome/Apresentação: Juliana Fiori Vonière é diretora, montadora e roteirista iniciante,
graduada em Cinema pela Faculdade de Artes do Paraná. Entre seus filmes autorais
destacaram-se os curta-metragens documentais com foco em questões ambientais e
éticas pelos animais. “A Morte de um Cão”, escolhido pela audiência o melhor curta-
metragem na Mostra Internacional de Cinema pelos Animais em 2011, “Quanto custa” e
“Penso, logo não durmo”, premiados na mesma categoria nos anos 2012 e 2014
respectivamente. Em sua experiência no mercado alguns dos trabalhos mais marcantes
são o Musical "A um Passo do Natal", Especial de Natal Paço da Liberdade de 2014
(Curitiba/PR), atuando com assistente de produção; assistência de arte no longa
metragem "Uma Morte Qualquer", direção Juliana Sanson; direção de fotografia no
documentário "Ciclo-Urbanos", direção Solano Trento; e assistente de arte no longa
metragem "400 contra 1", direção Caco Souza.
11.Estrutura da Proponente
(Descreva a estrutura gerencial e as principais características da empresa proponente).
[A produtora conta com sala de trabalho, ilha de edição, câmera 5D Mark II, lentes, 02
câmeras GoPro Hero 4 – Black e Silver – com acessórios; gravador de som;
microfones; tripé e acessórios diversos.]
12.Acordos e Parcerias
(Relacione eventuais parcerias, convênios e acordos efetivados para o desenvolvimento e
realização do projeto, indicando valores, participações, objetivos e compromissos).
14.Riscos e Oportunidades
(Relacione os pontos críticos para a realização do projeto, indicando as soluções previstas para
a superação de desafios técnicos e/ou dos riscos artísticos/comerciais assumidos).
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
17.Elenco/ Entrevistados
(Relação dos entrevistados e de eventual elenco confirmado – dubladores, atores etc. - para o
documentário, se houver).
18.Equipe Técnica
(Relação de equipe técnica confirmada para a realização da obra cinematográfica. Indicar
nome, função, principais realizações e resultados profissionais dos membros da equipe
confirmados, se houver).
[Equipe
Consultores
Dandara dos Santos Damas Ribeiro – Antropóloga
Mestre em Antropologia pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da
UFPR (2013-2015). Graduada em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)
(2006-2010). Pesquisa atualmente sobre a importância dos processos de deslocamento
na elaboração identitária da Comunidade Quilombola Manoel Ciriaco dos Santos,
localizada em Guaíra/PR, fronteira com o Paraguai. Tem experiência na atuação com
comunidades tradicionais e segurança alimentar e nutricional e meio ambiente como
assessora jurídica do Ministério Público do Estado do Paraná - MPPR - Centro de Apoio
Direitos Humanos - 2011 a 2013 - e Centro de Apoio Meio Ambiente.