Filosofia Moderna - 2024

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FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS


CURSO DE LICENCIATURA EM FILOSOFIA

História da Filosofia Moderna 2024


Docente: António Rungo Nhampossa

Aulas 1 – Introdução geral à reflexão filosófica


1. Preliminares
Filosofia: De Philos e Sophia
Atitude filosófica: aberta e problematizante
 Pai do termo Filosofia: Pitágoras
 Pai da Filosofia: Sócrates
Enquanto o cientista experimenta e o poeta imagina, o filósofo reflecte.
Filósofo: aquele que procura ser sábios.
 Primeiro filósofo da história: Tales
2. Significado de História da Filosofia
A História da Filosofia, enquanto História, é investigação, e, enquanto Filosofia, é
questionamento da evolução do pensamento, desde as suas primeiras manifestações.
3. Ponto de partida
 Ciência: Fórmulas já constituídas.
 Filosofia: Criação de novas fórmulas.

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Aulas 2
1. Filosofia Antiga
 Pré-socráticos: Parménides, Heráclito, Empédocles e Demócrito. Foram os
primeiros a questionar a autoridade do pensamento mítico.
 Sócrates: Figura emblemática da filosofia grega antiga; nasce por oposição aos
sofistas.
 Pós-socráticos: Platão e Aristóteles.
 Platão: autor da teoria das ideias, segundo a qual o caminho da verdade
é o intelecto.
 Aristóteles: embora o conhecimento verdadeiro seja abstracto, o
caminho para ele são as coisas concretas.
2. Filosofia Medieval
 Patrística: Agostinho de Hipona e outros (Deus e Alma).
Aproximação entre a religião então vigente na Europa e a fundamentação
filosófica.
 Escolástica: Tomás de Aquino (essência e existência).

Aulas 3 – Introdução à Filosofia Moderna


Depois dos horizontes da Physis e de Theós, temos o horizonte do LOGOS.
A Filosofia Moderna é a vigência do horizonte do Logos, e nasce em oposição à filosofia
medieval, que subordina a razão à fé.
Característica Geral: Distanciamento de teorias e concepções medievais e recuperação
de algum pensamento clássico.
 Filosofia Medieval: o homem vive voltado para Deus (teocentrismo); a Igreja é o
intermediário entre o Céu e a Terra e tem o poder de atar e desatar; a compreensão
da fé é o fim da especulação filosófica; a Filosofia é ancilla da Teologia.
 Filosofia Moderna: o centro das preocupações humanas deixa de ser Deus e passa
a ser o homem (antropocentrismo); supremacia da razão na procura da verdade;
autonomia de cada Estado, abrindo-se ao absolutismo; percepção do

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heliocentrismo; reforma religiosa.


A Filosofia Moderna é, sobretudo, teoria do conhecimento, que opõe o racionalismo ao
empirismo.
 Principais filósofos: Descartes, Bacon, Hobbes, Locke.
 Outros filósofos: Maquiavel, Montaigne, Iluministas e Romantistas.
 Iluministas: Kant, Voltaire e Rousseau. Enfatizam muito a razão.
 Romantistas: Schiller, Hilderlin e Hein. Opõem-se aos excessos da razão.
 Hegel marca o fim da filosofia moderna.

Aulas 4 e 5 – Filósofos renascentistas


Os filósofos da renascença, opondo-se a alguns princípios medievais, recuperam alguns
elementos da filosofia clássica: uns recuperam aspectos éticos e políticos, e outros estão
preocupados com a cosmologia; uns são humanistas e outros, naturalistas.
 Os filósofos humanistas não só recuperam, como também imitam.
 Os filósofos naturalistas recuperam para contestar.
Filósofos humanistas da renascença
1. Nicolau Maquiavel
Maquiavel traz para o mundo do pensamento uma nova concepção do Estado.
Em “O Príncipe”, Maquiavel afirma que os homens, geralmente, seguem as suas
paixões de forma cega. Por isso, quem governa a República e prepara as leis deve
pressupor que todos os homens são réus e que procedem com malícia em todas as
oportunidades que se apresentem.
O remédio mais eficaz contra a corrupção humana é o Estado, não como organismo
ético, mas como força.
O Príncipe é o Estado personificado, o Estado-indivíduo.
2. Marcílio Ficino
Ficino vê a filosofia platónica em perfeita harmonia com a fé cristã, o que lhe
confere superioridade em relação a todas as outras filosofias clássicas.
Outro dado importante é que, para Ficino, o homem é copula mundi (nexo do

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mundo), isto é, síntese de todas as maravilhas do Universo.


3. Erasmo de Roterdão
Erasmo de Roterdão foi considerado precursor de Lutero pelas críticas que dirigiu
à estrutura da Igreja. Contudo, mais tarde, opôs-se também a Lutero, sobre quem
escreveu De servo arbítrio. É que, enquanto Lutero fala da acção exclusiva da
graça no homem, Erasmo, que não anula a acção da graça, atribui ao homem
studium et conatus, isto é, a procura e o esforço. Nisto, também, não cai na
pretensão de Pelágio de absolutizar a procura e o esforço.
4. Thomas Morus
Deputado no parlamento britânico, Thomas Morus associa a actividade filosófica à
política. Este pensamento passou a ser característica dos filósofos ingleses.
Escreveu Utopia a criticar o sistema social e político inglês e a descrever o Estado
ideal.
O Estado ideal de Thomas Morus é uma ilha dividida em 54 cidades iguais
urbanística e arquitectonicamente.
Em tais cidades, a actividade principal dos habitantes é a agricultura.
A religião dos habitantes da cidade utópica funda-se na crença numa divindade
incognoscível, eterna e imensa, mediante culto de preferência de cada um.
5. Michel Montaigne
É conhecido por um novo traço de escrita filosófica: Ensaios.
Algumas de suas teses:
 Toda ideia nova é perigosa.
 Todos os homens devem ser respeitados.
 No domínio da educação, deve respeitar-se a personalidade da criança.
 A teologia é indefensável em bases racionais; ela só se pode justificar
mediante a fé.
Diferentemente de muitos humanistas, Montaigne não glorificava a racionalidade
humana, nem acreditava na superioridade do homem em relação aos outros
animais. É a razão humana que faz o homem inferior, causando guerras e outras

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destruições não presentes nos animais que são desprovidos da razão.


Filósofos naturalistas da renascença
Os filósofos renascentistas da natureza são precursores da filosofia e da ciência moderna.
1. Bernardino Telésio
Telésio sublinha a autonomia da Filosofia em relação à Teologia, e entende por
Filosofia, antes de mais, a Filosofia da natureza ou cosmologia.
De acordo com Telésio, a razão e a fé distinguem-se pelo objecto: o objecto da
razão é a verdade natural e o objecto da fé é a verdade sobrenatural.
2. Giordano Bruno
A realidade (o mundo) é constituída por dois princípios: o princípio activo, que é
a alma do mundo, e o princípio passivo, que é a matéria.
 A alma do mundo é imanente ao mundo, e age no mundo através das leis da
natureza.
 Acima do Deus imanente (Mens insita omnibus = Mente colocada em todas
as coisas), há que considerar o Deus transcendente (Mens super omnia =
Mente superior a todas as coisas), que é objecto da fé e, por isso,
inacessível à luz natural da razão.
Existem duas formas de conhecimento de Deus: o filosófico e o religioso.
 O conhecimento filosófico expressa-se na religião interior, que é própria do
filósofo, porque ele sabe que Deus está acima da nossa inteligência, sendo,
por isso, incognoscível.
 O conhecimento religioso expressa-se na religião positiva, que tem função
meramente pedagógica: instruir os povos rudes que devem ser
governados.
3. Tommaso Campanella
Campanella é exemplo de que nem todos os filósofos da renascença se opuseram à
fé, dado que ele tinha a pretensão de elaborar uma filosofia cristã, que fosse
plenamente de acordo com os princípios da Sagrada Escritura.
Campanella fala da teocracia papal, na qual concebe o mundo como um conjunto

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de Estados chefiados pelo Papa.

Filósofos renascentistas a serem vistos no domínio da ciência: Nicolau Copérnico,


Francis Bacon e Galileu Galilei.

Aulas 6 e 7
Reforma Religiosa
A Igreja de Cristo, quando se tornou Romana, distanciou-se do seu ser mais próprio, que
é ser una, santa, católica e apostólica. Os reformadores queriam voltar ao que é
propriamente eclesial.

A reforma religiosa, começada, mais abertamente, em 1517, tem sido apresentada como o
começo da época moderna.
Preocupação de fundo: curar as muitas e graves chagas que afligem a Igreja, Corpo
Místico de Cristo.
O QUE ACONTECIA?
A cúria romana, os cardeais e os bispos eram corruptos, e os Papas agiam como soberanos
terrenos, esquecendo-se da sua missão fundamental, que era de guias espirituais da
cristandade.
A reforma era uma necessidade urgente para todas as nações cristãs. Ela começou na
Alemanha e se estendeu somente aos povos de sangue teutónico/alemão. É que havia um
anseio geral por se libertar do jugo do papado e do império, por se subtrair ao predomínio
dos povos latinos e por se livrar dos “gravames”/impostos da cúria romana.
Comummente, diz-se que a reforma começou com a fixação, na Igreja de Wittenberg, de
95 teses contra os teólogos radicais e contra Leão X. No entanto, com rigor, a reforma
de Lutero é, apenas, o ponto culminante de um processo de contestação dos rumos da
Igreja Católica nos últimos séculos da Idade Média. Com rigor, ainda, a fé cristã, por
sua natureza, é uma força reformadora: nasce como reforma do judaísmo.
Qual era o propósito dos reformadores?

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 Era de tornar a Igreja Católica mais autêntica, mais fiel à visão dos profetas e
menos submisso a Roma.
 O grande cisma, encerrado com a realização do Concílio de Constança (1414-
18), era uma exigência de reforma, mas não bem sucedida.
 Muitos pregadores alemães defendiam a volta a um cristianismo mais simples e
mais espiritual.
 Na Inglaterra, Joahn Waycliffe (1320-84) pregou contra Roma, mantendo a
necessidade da pobreza do clero e criticando a hierarquia da Igreja. Além disso,
traduziu o Novo Testamento e parte do Antigo para o Inglês, algo proibido no
momento, o que lhe valeu a condenação. Um de seus tantos seguidores, Jan
Huss, que exerceu influência sobre Lutero, foi condenado à fogueira.
 A reforma nasce como movimento de oposição a Roma e difunde-se por Suíça
(Zuínglio) e Genebra (Calvino).
 Dois pontos fundamentais da reforma:
 A recusa, por Lutero, da autoridade institucional da Igreja (Papa e
Concílios).
 A valorização da consciência individual como dotada de autonomia e de
uma autoridade que toma o lugar da Igreja e da Tradição, por ser mais
autêntica.
 Filosoficamente, a reforma aparece como representante da defesa da
liberdade individual e daa consciência como lugar de certeza.

1. Martinho Lutero
 É conhecido como pai e principal artífice da reforma.
 Doutorou-se em teologia, tendo se especializado nas epístolas aos Romanos, aos
Gálatas e aos Hebreus. À luz destas cartas, foi percebendo, claramente, os erros da
Igreja Católica Romana. Portanto, era um homem de elevado intelecto e
consideráveis habilidades pessoais.
 Num momento em que a cristandade estava submersa a muitos males, Martinho

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Lutero volta para si e preocupa-se com a salvação da sua alma, com a sua conduta
interior.
 A pregação das indulgências, ordenada por Leão X para a construção da Basílica
de São Pedro, deu a Lutero oportunidade para a publicitação de suas convicções
pessoais. Para ele, venda das indulgências era, apenas, fábrica de dinheiro da
Igreja Católica Romana, sem qualquer orientação espiritual.
 Num certo dia, a ler a Carta aos Romanos (1: 17), chegou a uma nova fé, que
enfatiza a graça de Deus e a justificação do ímpio mediante a fé. Daí, percebeu que,
afinal, a salvação não é obra do Homem, mas, exclusivamente, graça de Deus.
 Em 1516, tornou-se Pároco da Igreja de Wittenberg, onde foi um pregador popular,
proclamando a sua nova fé e opondo-se à venda de indulgências, sob direcção de
João Tetzel, que, no seu entender, prejudicava o povo da sua congregação.
 Inspirado por vários motivos e em oposição à venda das indulgências, na noite
vespertina do Dia de Todos os Santos, 31 de Outubro de 1517, Lutero afixou, nas
portas laterais da Igreja de Wittenberg, 95 teses académicas contra as indulgências
e a estrutura da Igreja, com o título “Sobre o Poder das Indulgências”.
 A ruptura definitiva de Lutero com Roma deu-se em 1520.
 A 15 de Junho de 1520, a cúria romana, através da bula Exurge Domine (Levanta-
te, Senhor!), condena 41 teses de Lutero, por as considerar heréticas, falsas e
escandalosas, com ameaças de excomunhão, caso não se retractasse dentro de
sessenta dias.
 Lutero reage escrevendo “Contra a Bula do Anti-Cristo”, na qual falou da
influência do diabo na Igreja, dizendo que o Papa era o anticristo e o falso profeta,
selando, assim, a sua cisão com Roma, e queimando a bula de excomunhão na
praça de Wittenberg. Desta forma, Lutero recusou-se a retractar-se, dizendo que
sua consciência era cativa à Palavra de Deus, pelo que retractar-se não seria
correcto nem seguro, tendo concluído a defesa com as palavras: “Aqui estou. Não
posso fazer outra coisa. Que Deus me ajude. Amém!”
 Em retaliação, Carlos V, imperador do Santo Império Romano, mandou queimar

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publicamente os livros publicados de Lutero.


 Lutero ensinou o sacerdócio universal dos crentes, apresentando Cristo como o
único Mediador entre Deus e os Homens e a autoridade exclusiva das Escrituras,
em oposição à autoridade do Papa e dos Concílios.
 Em 1545, publicou um amargo livro, subordinado ao título “O Papado em Roma,
Fundado Pelo Diabo”.
 Lutero opôs-se a Erasmo de Roterdão, quando este lhe dirigiu alguma crítica,
dizendo que os escritos daquele humanista apenas serviam de papel higiénico.

2. Ulrich Zuínglio
 É conhecido como “terceiro homem da reforma protestante”, depois de Lutero e
Calvino.
 Sacerdote da Igreja Romana, critica, em suas pregações, a venda das indulgências e
comenta a Sagrada Escritura segundo o “Evangelho Puro”, inspirando-se nos
Escritos de Lutero. Mais tarde, atacou o celibato eclesiástico e o jejum e começou a
conviver com uma viúva, com a qual veio a casar em 1524.
 Por causa das suas tantas e duras críticas, o Bispo de Constança proibiu-o de
pregar, acusando-o de heresia.
 Tendo Zuínglio se defendido, o governo de Zurique apoiou-o e desobrigou-o da
obediência ao Bispo de Constança, introduziu a língua alemã no culto e aboliu o
celibato eclesiástico.
 Viu na Bíblia autoridade suficiente quanto às questões de fé e de prática,
desviando-se, assim, de raízes da Igreja Católica Romana.
 Numa publicação que fez em 1523, escreve que o Evangelho não está sujeito à
aprovação da Igreja, podendo operar separado da autoridade e das restrições
eclesiásticas.
 Outras posições de Zuínglio:
 A súmula do Evangelho é a reconciliação e a redenção realizadas por Jesus
Cristo, que é o Cabeça dos Crentes, constituindo, eles, colectivamente, o

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seu corpo místico.


 Todos os crentes são iguais entre si e nenhum deles merece o título de Pai,
como se fosse superior a seus irmãos.
Em Commentarius de Vera er Falsa Religione, Zuínglio sublinha o carácter simbólico
dos sacramentos e nega a presença real de Cristo, mantida por Lutero. Na mesma obra,
faz distinção entre Igreja visível e Igreja Católica mística e verdadeira, composta por
todos os regenerados.
LUTERO X ZUÍNGLIO
 Lutero: Incapacidade do homem e omnipotência de Deus: Deus e o Homem
estão separados por um abismo tão grande que nenhuma série de
intermediários pode transpor (razões fideístas).
 Zuínglio: O Homem é, essencialmente, bom. Por isso, para chegar a Deus,
que é excelência de bondade, não precisa de intermediários (razões
racionalistas e humanísticas).
ISTO É O MEU CORPO
 Lutero: Presença real de Cristo na Eucaristia.
 Zuínglio: Simbolização do Corpo de Cristo.

3. João Calvino
Doutrina: “Deus determinou alguns homens à salvação e outros à danação”.
Calvino elimina toda a hierarquia eclesiástica, embora aceite várias funções para
assegurar a boa organização da Igreja: Pastor, Mestre, Diácono e Ancião.
Tal como os que o precederam, Calvino reduz os sacramentos a dois: Baptismo e Ceia.
No entanto, se, apoiando-se em Zuínglio, não aceita a presença real de Cristo na
Eucaristia, aproximando-se de Lutero, reconhece a união profunda entre Cristo e o
cristão na Eucaristia, mediante a fé do cristão.

Posição de Calvino
 A revelação bíblica é progressiva. O Novo Testamento ultrapassa o Antigo, e não é

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homogéneo.
 Deus é a causa absoluta e não condicionada de todas as coisas.
 Deus revela a sua Mente no homem e na natureza.
 Dado que o homem se tornou cego pelo pecado, precisa de mais do que somente a
Palavra objectiva de Deus para orientá-lo na direcção correcta da sua vida: precisa
de iluminação espiritual.
 Deus ordena todas as coisas, mas sem fazer violência à liberdade de suas criaturas
inteligentes.
 O homem foi criado puro e segundo a Imagem de Deus, mas caiu e ficou
corrompido, mediante o abandono voluntário do bem. Contudo, permanece nele
uma parte da imagem de Deus, mas não é suficiente para se salvar a si mesmo.
 A ajuda de que o homem precisa para se salvar é Cristo, o Redentor.
 O homem depende de Deus quanto a uma dupla predestinação: ou para a salvação
ou para a perdição.
 Todos os crentes são iguais diante de Deus. As hierarquias criadas pelos homens
são prejudiciais à espiritualidade.
 As Escrituras, com exclusividade, são a nossa autoridade de fé e prática.
Ideias Gerais de João Calvino
 O Deus bíblico é eterno, misericordioso e justo, omnipotente, …
 A vontade de Deus é absolutamente soberana e fundamenta tudo o que existe.
 Embora a Criação e a Sagrada Escritura, os gentios e os judeus, digam que
Deusa é o Criador, apenas a Sagrada Escritura atesta com certeza que é o
Redentor.
 Embora Deus seja, indubitavelmente, transcendente e excelso, um Deus
escondido, é, também, aquele que, ao eleito, se revela como misericordioso e o
reveste com a justiça e os dons salvíficos de Cristo.
 Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, encarnado, unicamente,
para a redenção do homem (cf. Pedagogia divina da salvação: o lado maternal de

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Deus).
 Cristo é o único Mediador entre Deus e o homem. Para ser, verdadeiramente,
Mediador, deve ser perfeitamente divino e perfeitamente humano. É que, se
fosse unicamente divino, não teria sofrido a morte, e se fosse somente humano,
não a teria vencido.
 O Espírito Santo é de natureza divina.
 O Antigo e o Novo Testamentos são inspirados pelo Espírito Santo e têm a
pessoa de Cristo como centro focal. Por isso, as Escrituras devem ser lidas com a
ideia de descobrir Cristo nelas.
 Enquanto Palavra de Deus, as Escrituras comunicam ao crente o próprio Jesus e
seu dom de salvação.
 A Verdadeira Igreja Universal é constituída por todos os crentes de todo tempo e
lugar e é invisível. Seus membros são os eleitos que só Deus conhece.
 Os únicos sacramentos são o Baptismo e a Eucaristia, instituídos directamente
por Cristo, e que servem para tornar mais actual e visível a autêntica Palavra de
Deus. No entanto, eles só trazem ajuda e proveito se forem recebidos com fé.
 Antes de receber o dom da fé, o homem pertence à massa damnata (massa de
condenados). O homem sai dessa condição mediante o dom da fé.
 Já que a Vontade de Deus é causa de todas as coisas, é, também, causa de
salvação e de reprovação.
 A predestinação é o eterno decreto de Deus, no qual está estabelecido o fim de
todo homem: enquanto para uns foi preordenada a vida eterna, para outros
foi preordenada a condenação eterna.

4. Philipp Melanchton
 Princípio material: justificação sem as obras.
 Princípio formal: sola scriptura.
Diferentemente de Lutero, Melanchton afirma que a salvação do homem exige a sua
cooperação, mas não se pode falar de méritos. Portanto, a obra humana é concausa da

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salvação.

Contra-Reforma ou Reforma Católica


Bem antes de Lutero, alguns homens da Igreja, como Bernardino de Sena e Girolamo
Savonarola, pediram, em vão, uma solícita e profunda renovação da Igreja.
No início do séc. XVI, na tentativa de se encontrarem remédios contra os males da
Igreja, nascem os capuchinhos, os jesuítas, entre outros. No entanto, antes dos frutos,
surgem, contra a Igreja de Roma, Lutero e Calvino.
Lutero e Calvino negam ver no Papa, na cúria romana e em todas as outras estruturas
tradicionais, intermediários válidos entre o Homem e Deus.
Se, nos países de língua alemã, havia motivos para uma oposição política à Igreja de
Roma, nos países latinos não havia. No entanto, os países latinos queriam reformar a
Igreja a partir do seu interior. É daí que se convoca o Concílio de Trento, que fixa os
pontos fundamentais da fé católica: a necessidade dos sacramentos, da hierarquia e do
magistério da Igreja; o valor sacrifical da missa; a importância das boas obras; …
O Concílio de Trento entrou em defesa da dignidade humana e reconheceu ao homem
a capacidade de conhecer a verdade e de praticar o bem.
Pensadores da reforma católica: Tomás de Vio (Caetano), Francisco de Vitória,
Francisco Suarez e Tommaso Campanella.
1. Caetano (Tomás de Vio)
 Entrou para a ordem dos dominicanos e em 1494, com 26 anos, conseguiu a
cátedra de Metafísica Tomista.
 Foi enviado à Alemanha pelo Papa Leão X para discutir com Lutero o
problema das indulgências, não tendo tido bons resultados.
 É conhecido como comentador de São Tomás, mas comentou também
Aristóteles. Contudo, do ponto de vista teorético, a sua posição é mais próxima
da de Aristóteles.
2. Francisco de Vitória
 Da ordem dominicana.

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3. Francisco Suarez
 Da ordem dos jesuítas, é conhecido como o mais profundo e original pensador
da contra-reforma.
 Realiza uma síntese entre as posições de São Tomás e o pensamento moderno.
Nisto, renuncia a alguns pontos-chaves da filosofia do aquinate:
 Abandona o conceito de ser, entendido como perfeição absoluta, e
considera o ser como algo abstracto, não físico nem metafísico.
 Rejeita a distinção real entre essência e existência.
 Entende a matéria e a forma como existentes por si mesmas e não como
dois princípios essenciais da realidade material.
4. Tommaso Campanella
 Da ordem dominicana.
 Foi suspeito de heresia, por se ter aproximado da filosofia naturalista de
Bernardino Telésio.
 Viu no catolicismo a forma perfeita de religião.
 Disse: “Os cristãos souberam criar uma arte cristã, uma política cristã e uma
literatura cristã, mas não souberam elaborar uma filosofia cristã.
 Entre a fé e a filosofia, existe profunda harmonia, porque a verdade de fé e a
verdade filosófica são irradiações da mesma e única verdade. Esta harmonia foi
perturbada com a introdução do pensamento aristotélico na filosofia cristã por
Tomás de Aquino.
 Há necessidade de se elaborar uma filosofia nova, uma filosofia cristã.
 Um dos elementos mais interessantes dessa filosofia de Campanella é a
doutrina do conhecimento de si, do mundo e de Deus.
 O conhecimento de si precede e condiciona qualquer outro
conhecimento. É, por isso, inato.
 Sob o influxo das modificações sensoriais, o homem adquire também o
conhecimento das coisas. Neste conhecimento, torna-se oculto o
conhecimento de si. A sabedoria filosófica consiste em reaver o

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conhecimento de si, pondo em dúvida o conhecimento das coisas.


O conhecimento do mundo objectivo não é imediato.
Os homens conhecem todas as outras coisas conhecendo-se a si
mesmos, mudados e tornados semelhantes às coisas pelas quais foram
mudados.
 Do conhecimento de si mesmo e do mundo, chega-se ao conhecimento
de Deus por via da causalidade.
O conhecimento filosófico de Deus prepara o conhecimento revelado,
que nos faz sabermos que o Poder é o Pai, a Sabedoria é o Filho e o
Amor é o Espírito Santo.
Deus é o ser puro; as coisas são compostas de ser e não-ser. Por isso, as
coisas são limitadas e imperfeitas.
Resumo
Dois grandes acontecimentos caracterizam o séc. XVI:
 Os missionários levaram a Boa Nova de Jesus a África, América e Oceânia.
 Reforma Religiosa.
Reforma Religiosa
A época medieval foi um momento de muita fé e piedade; foi, igualmente, um
momento de muita ignorância religiosa.
Da ignorância religiosa, resultou que a Igreja estivesse demasiadamente ligada ao
poder temporal.
Em 1517, Martinho Lutero revoltou-se contra o Papa, afixando as 95 teses contra a
venda das indulgências na Igreja de Wittenberg.
A Lutero, juntaram-se Zuínglio e Calvino.
Alguns reis aproveitaram-se da fragilidade da estrutura eclesial para se afastarem do
poderio de Roma, criando Igrejas nacionais.
No mesmo período, homens como Inácio de Loyola, Carlos Borromeu e Pedro
Canísio lutaram por reformar a Igreja por dentro. Foi o que se chamou de contra-
reforma, que teve a sua maior expressão com a realização do Concílio de Trento, de

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1545 a 1563.
O Concílio de Trento expôs os fundamentos da Doutrina Cristã, reformando a Igreja
e eliminando os tantos abusos que existiam. No entanto, a acção levada a cabo pelo
Concílio de Trento não corrigiu, imediatamente, os problemas da Igreja, que
continuou durante muito tempo ligada ao poder temporal.

Aulas 8 e 9
Reforma Religiosa e Contra-Reforma - Resumo
A Igreja de Cristo, quando se tornou Romana, distanciou-se do seu ser mais próprio, que
é ser una, santa, católica e apostólica. Os reformadores queriam voltar ao que é
propriamente eclesial.

 A fé cristã nasce como uma reforma religiosa, voltada à purificação do judaísmo. Eis
por que Jesus parece ter entrado em conflito com alguns elementos da lei judaica (cf.
carne de porco).
 A Igreja de Cristo, que é una, santa, católica e apostólica, quando se tornou romana,
começou a estar mais ligada ao poder temporal.
 A Reforma da Igreja era um imperativo para as nações cristãs: as nações latinas
queriam reformar a Igreja sem se opor à centralidade de Roma; as nações
germânicas e outras queriam, também, se distanciar da influência romana.
 A prova da necessidade imperiosa da reforma é encontrada na fundação de algumas
ordens religiosas, no chamado grande cisma, em pregações soltas clamando por um
cristianismo mais simples e mais espiritual, na tradução da Bíblia para línguas
nacionais, na crítica à hierarquia da Igreja e ao modo de vida de alguns clérigos, …
 A necessidade da reforma é, assim, anterior à divisão, na Igreja de Cristo, entre os
fiéis a Roma e os opositores da supremacia romana. Desta forma, a acção de Lutero
é, apenas, o ponto culminante de um processo de contestação dos rumos da Igreja
Católica nos últimos séculos da Idade Média.
 A Reforma Religiosa, vista como movimento de oposição a Roma, ganha sua

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maior expressão com Lutero (Alemanha) e difunde-se por Suiça (Zuínglio) e


Genebra (Calvino). E, vista como purificação interna da Igreja sediada em
Roma, ganha sua maior expressão com o Concílio de Trento.
 Do ponto de vista filosófico, a reforma aparece como representante da defesa da
liberdade individual e da consciência, como lugar de certeza.
Contra-Reforma ou Reforma Católica
 Os clérigos fiéis a Roma lutaram pela centralidade de Roma. No entanto, sem se
distanciarem de Roma, reformaram a Igreja a partir de dentro.
 Da luta por reformar a Igreja, e em contraposição ao pensamento livre dos
reformadores, convoca-se o Concílio de Trento, que fixa os pontos fundamentais da
é católica: a necessidade dos sacramentos, da hierarquia e do magistério; o valor
sacrifical da Missa; a importância das boas obras; …
 São pensadores da reforma católica: Tomás de Vio (Caetano), Francisco de Vitória,
Francisco Suarez e Tommaso Campanella.
 Tommaso Campanella foi suspeito de heresia por se ter aproximado da filosofia
naturalista de Bernardino Telésio. Contudo, ele viu no catolicismo a forma perfeita
de religião. Disse: “Os cristãos souberam criar uma arte cristã, uma política cristã e
uma literatura cristã, mas não souberam elaborar uma filosofia cristã”.
 A filosofia cristã de Campanella está centrada no conhecimento de si, do mundo e de
Deus (cf. ciências humanas, naturais e religiosas): o conhecimento de si é inato; o
conhecimento das coisas não é imediato e é mediante o conhecimento de si; ao
conhecimento de Deus se chega por via de causalidade.
 O conhecimento filosófico de Deus prepara o conhecimento revelado, que
nos leva à percepção da trindade: poder, sabedoria e amor.
 Deus é o ser puro; as coisas são compostas de ser e não-ser. Por isso, as
coisas são limitadas.

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Aulas 10 e 11
Ciência Moderna
(Revolução Científica)
 A época moderna, além de registar autonomia do Estado em relação à Igreja e o
distanciamento de algumas nações cristãs em relação a Roma, regista, igualmente, a
autonomia da ciência em relação à Filosofia e à Teologia.
 Desde a antiguidade até ao fim dos medievos, a Filosofia abrangia a
Matemática, a Física e a Metafísica.
 Bernardino Telésio, além de sustentar a autonomia da Filosofia em relação à
Teologia, é um renascentista da natureza.
 Em Telésio, encontramos o germe da autonomia da pesquisa científica em relação à
Filosofia.
 A Bacon e Galileu atribui-se o mérito de terem assegurado plena autonomia da
ciência, tanto em relação à Filosofia, quanto em relação à Teologia.
 Não se pode, contudo, falar de revolução científica sem menção a Copérnico.
 Nicolau Copérnico é o ponto de partida da revolução científica moderna. Ele rompe
com o sistema geocêntrico formulado por Cláudio Ptolomeu e defende o
heliocentrismo.
 Além do sistema heliocêntrico, é, também, marco da revolução científica a
valorização da observação e do método experimental (oposição à ciência
contemplativa dos antigos).
 Giordano Bruno, um admirador de Copérnico, leva à superfície a ideia de um
universo infinito, o que faz com que seja queimado na fogueira como herege.
 Em 1616, a Inquisição condena a obra de Copérnico, apoiando-se em Josué 10: 12-
13.
Francis Bacon
 Nasceu em 1561, em Londres, onde morreu em 1626.
 Ocupou muitos cargos de relevo. Em 1621, foi acusado de suborno e condenado ao
pagamento de 40 mil libras. Disto, resultou que fosse impedido de exercer qualquer

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função pública. Passou os últimos anos da sua vida a escrever.


 Obra principal: Instauratio Magna. Esta obra, que está dividida em partes, tem a
segunda parte (Novum Organon) como principal.
 O Novum Organon tem duas subpartes, que Bacon chama de pars destruens, que é a
demolição dos obstáculos à pesquisa científica, e pars construens, que indica o
procedimento para chegar à verdade.
 Na parte destrutiva, Bacon fala da esterilidade do método dedutivo.
 Na parte construtiva, Bacon promove o método indutivo.
 De acordo com Bacon, para que seja possível a pesquisa científica, a mente deve ser
reduzida a tabula rasa, eliminando todos os preconceitos. Daí, a parte destrutiva do
Organon.
 Aos preconceitos, Bacon dá o nome de ídolos: idola tribus (ídolos da tribo), idola
specus (ídolos da caverna), idola fori (ídolos do mercado) e idola theatri

(ídolos do teatro).
 Na pesquisa científica, o comportamento a seguir não deve ser o da aranha, nem o da
formiga, mas o da abelha (contra os racionalistas e os empiristas).
 Existem três grupos de ciência: as que se baseiam na memória (história natural e
civil), as que se baseiam na fantasia (poesia) e as que se baseiam na razão (filosofia e
ciências experimentais).
 Nas quatro causas de Aristóteles, Bacon considera superficiais e inúteis a eficiente e
a final.
Galileu Galilei
 Nasceu em Pisa, em 1564, e morreu em Arcetri, em 1642.
 Em 1609, descobre o telescópio, que lhe permite observar novos satélites.
 Aceita a teoria heliocêntrica de Copérnico e abandona o geocentrismo de Ptolomeu.
 É acusado de heresia, por defender teorias opostas à Sagrada Escritura. Contudo,
esteve sempre sob protecção de Urbano VIII, que lhe era amigo e admirador.
 Faz uma distinção clara entre religião, filosofia e ciência, apoiando-se no objecto.

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 O objecto da religião é a verdade da fé.


 O objecto da filosofia é a verdade ontológica (essência das coisas).
 O objecto da ciência é a verdade natural (relações que ligam os fenómenos).
 A Sagrada Escritura e a Natureza procedem, ambas, do Verbo Divino: a Sagrada
Escritura como ditado do Espírito Santo e a Natureza como executora das ordens
divinas. No entanto, enquanto a Sagrada Escritura precisou de se adaptar ao limitado
entendimento dos homens aos quais se dirigia, a Natureza é inexaurível e imutável
(não se preocupa com a finitude do homem).
 A ciência distingue-se, igualmente, da filosofia e da religião pelo método: faz uso da
experiência e não do raciocínio, nem da lógica, nem da dialéctica.
 A experiência (o que sentimos/captamos) é a revelação directa da Natureza. Ela não
nos engana. O que nos engana é a razão que, por vezes, interpreta erradamente o
movimento.
 Enquanto o método baconiano é, essencialmente, indutivo, o método de Galileu é
indutivo-dedutivo, dado que a mera experiência não pode dar origem à ciência.

Aulas 12 e 13
A Redescoberta do Cepticismo
 Preliminar: A época moderna caracteriza-se:
 No campo político: pela autonomia do Estado em relação à Igreja.
 No campo religioso: pelo distanciamento de algumas nações cristãs em
relação a Roma.
 No campo científico: pela autonomia da pesquisa científica em relação à
Filosofia e à Teologia.
 Dado a acrescentar: A época moderna caracteriza-se, igualmente, pela redescoberta

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do cepticismo.
 Os cepticismos pirrónico e académico foram ignorados na época medieval.
 O renascimento é, portanto, a volta também ao cepticismo.
 Os cépticos foram os primeiros filósofos a questionar a possibilidade do
conhecimento.
 O filósofo mais importante da retomada e do desenvolvimento do cepticismo é
Michel Montaigne, que exerce influência sobre René Descartes.
 De acordo com Montaigne:
 Não temos argumentos racionais para a defesa da religião.
 Não havendo argumentos racionais em favor da religião, deve prevalecer a
fé, que não precisa de qualquer defesa racional.

Aulas 14 e 15
RENÉ DESCARTES
 Da antiguidade à época medieval, a Filosofia era, essencialmente, ontológica
(investigação da razão última das coisas).
 Com Descartes, a Filosofia passa a ser crítica e gnosiológica.
 Descartes é considerado Pai da Filosofia Moderna.
 Descartes combate o método e a física de Aristóteles, considerando-os responsáveis
pela falta de progresso das ciências.
 Preocupação de Descartes: “Reformar a ciência e procurar a verdade, apoiando-
se na razão”.
 Fez “Tratado sobre o Mundo”, que não o publicou por saber da condenação de
Galileu.
 Foi acusado de ateísmo por Boécio.
 O saber filosófico de Descartes está sintetizado em “Princípios da Filosofia”.
 Pensamento cartesiano
 Uns o consideram extensão da escolástica. Estes pensadores apresentam o

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pensamento cartesiano como uma fundamentação do pensamento católico


diante da nova ciência.
 Outros o consideram como “reforma na filosofia”, da mesma maneira que
houve, antes, “reforma no cristianismo”.
 Projecto filosófico de Descartes
 Defesa do novo modelo de ciência, inaugurado por Copérnico, Kepler e
Galileu, contra a concepção escolástica de inspiração aristotélica.
Conteúdo da defesa: a nova ciência está no caminho certo.
 O bom-senso, que é a racionalidade, é conatural ao homem. O erro resulta do
mau uso da razão, de sua aplicação incorrecta em nosso conhecimento do
mundo.
 O método existe para colocar a razão no bom caminho, evitando o erro.
O método é um caminho, um procedimento que visa garantir o sucesso da
elaboração de uma teoria científica.

René Descartes
 Filósofo francês, educado na Escola de La Flèche, dos
Jesuítas.
 Rebelou-se contra a educação tradicional.
 É tido como fundador da filosofia moderna.
 Aborda o conhecimento pela via racionalista.

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Aulas 16 e 17
RENÉ DESCARTES
1. Ideias Principais
 A investigação filosófica deve começar, não pelo estudo das coisas, mas pelo estudo
da mente.
 Grande número de homens ocupa-se com as coisas (costumes dos homens, plantas,
astros, metais, …).
 Ninguém dirige o pensamento para a mente recta.
 É possível obter certa dose de conhecimento. Contudo, a condição primária é
ultrapassar os limites do cepticismo.
 Método a ser usado
 Bacon e Galileu: Método essencialmente indutivo, indicado para as ciências
experimentais.
 Descartes: método totalmente dedutivo, indicado para matemática e geometria.
 Descartes procurou encontrar os primeiros princípios, dos quais emanam todos os
conhecimentos. Disso, resultou que concluísse que todo sistema assenta na
metafísica, cuja cúpula é a demonstração da presença de Deus: o método cartesiano
funda-se, não apenas num modelo matemático, mas, sobretudo, na metafísica.
 O sistema cartesiano parte da dúvida. Neste caso, a intuição (instinto
intelectual/razão natural) e a dedução não constituem, por si sós, algum método, mas
o método indica como se deve usar a intuição para não cair no erro, e como se deve
servir da dedução, para chegar ao conhecimento de todas as coisas.
 A dúvida cartesiana é a suspensão do espírito para alcançar a verdade e a certeza. É
diferente da dúvida céptica, que é adveniente da incapacidade da inteligência para
alcançar a verdade.
 Princípios fundamentais do método cartesiano (regras conducentes à verdade)
 Princípio de evidência: “Tomar como verdadeiro apenas o que é claro e distinto”.
Pascal e Vico opõem-se a Descartes, afirmando que o que à mente aparece como
claro e distinto é falso.

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 Princípio de análise: “Dividir cada dificuldade em tantas partes quantas as


necessárias”.
 Princípio da síntese: “Organizar os pensamentos, começando pelos mais simples”.
 Princípio de enumeração: “Fazer enumerações completas e revisões gerais até estar
certo de nada ter omitido, levando o cepticismo ao seu limite”.
2. Estabelecimento de Princípios Básicos
 Se há um processo de dúvida, deve haver alguém que duvide, de quem não se pode
duvidar, sob pena de matar a dúvida.
 Verdade fundamental: Cogito ergo Sum – Esta é uma posição inatacável, que resiste
a todos os assédios do cepticismo.
3. A Descoberta de Deus
 Tendo estabelecido uma proposição inatacável, Descartes passou a buscar outras
proposições. Ele percebeu que não podia encontrar explicação para as suas próprias
ideias e que a inteligência reveste-se de um certo mistério. A inteligência parece
ultrapassar a si mesma.
 Uma pessoa tem ideias inatas que surgem do seu interior. Uma dessas ideias é Deus,
que é fonte última das ideias.
 Existem três tipos de ideias: inatas, adventícias e
factícias. Destas, apenas as inatas representam
essências verdadeiras, imutáveis e eternas. Nelas,
encontramos Deus, os princípios lógico-matemáticos,
os princípios morais e outros.
 Deus é o fundamento de toda a verdade. Ele é o ser
perfeito, que justifica a nossa imperfeição e a
consequente atitude de dúvida. Deste modo, as ideias
de perfeito e infinito registam-se como as mais claras e
distintas.

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4. A Descoberta do Mundo Exterior


 Depois das duas ideias inatacáveis – Deus e o próprio eu –, podemos deduzir uma
terceira: a do mundo material/exterior.
Em Descartes, o conceito de substância predica-se, não só de
Deus, mas também de todos os seres criados.

5. O Dualismo
 A nossa razão segreda-nos que Deus é uma substância infinita e mental.
 A alma do homem deriva dessa substância infinita, sendo, por isso, res
cogitans (substância pensante).
 O mundo material/exterior é res extensa (substância extensa).
 A matéria é distinta da mente.
 A mente não pode exercer efeito sobre a matéria e a matéria não pode
exercer efeito sobre a mente. No entanto, elas interagem através da glândula
pineal.
 O problema do corpo-mente é uma das principais dificuldades enfrentadas
pela filosofia.
o O homem é, ao mesmo tempo, res cogitans e res extensa,
que estão unidas pela glândula pineal. Portanto, a sua
união não é tão profunda como achava Aristóteles, para
quem a alma e o corpo são uma única substância, mas
também não é tão superficial, como precisava Platão, que
via a sua relação como a de cavalo e cavaleiro.
o Os corpos, reduzidos à extensão, são governados pelos
princípios de inércia, da conservação do movimento e da
tendência a se moverem em linha recta. Neste caso, todo
calor e todos os movimentos que existem em nós, a não
dependerem do pensamento, pertencem, exclusivamente,
ao corpo.

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6. Se todos contam com ideias inatas que emanam de Deus, como um homem pode
errar naquilo que pensa? De acordo com Descartes, é por causa da vontade que,
sendo livre, pode correr mais que a razão.
7. As paixões da alma: As paixões são modos de expressão da substância pensante. Elas
estão em número de seis: admiração, amor, ódio, desejo/apetite, felicidade e tristeza.
8. O Problema do Mal: Se Deus é todo-poderoso, perfeito em seu conhecimento,
ilimitado em seu poder, como o mal penetrou no mundo? De acordo com Descartes,
penetrou através da vontade pervertida do homem.

A Filosofia Moderna é estudada em suas três principais divisões: Lógica,


Ética e Metafísica.

Aulas 18 e 19

Descartes na posteridade
1. Substancialidade dos seres finitos
 Descartes: Substância é o que existe por si. Esta definição aplica-se,
unicamente, a Deus, mas Descartes sustentou também a substancialidade
dos seres finitos.
 Baruch Spinoza: Só Deus é Substância (Panteísmo).
2. Relações corpo-alma
 Descartes: A res cogitans e a res extensa estão separadas uma da outra,
mas, no homem, estão unidas pela glândula pineal (dualismo
antropológico).
 Malebranche: As substâncias pensante e corpórea não se influenciam.
O que para nós é acção recíproca não passa de coincidência

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(Ocasionalismo).
3. Conhecimento do mundo físico
 Descartes: Todas as ideias são inatas e algumas representam o mundo
físico.
 Consequência do pensamento cartesiano: Desvalorização do
conhecimento sensitivo e desenvolvimento do racionalismo e do
idealismo.

NICOLAU DE MALEBRANCHE
 Filósofo francês.
 Estudou os escritos de Descartes.
 Ocupou-se com a relação corpo-mente, tendo concluído que não existe comunicação
entre eles. No seu entendimento, o corpo, quando recebe impressões, envia
mensagem a Deus que, por sua vez, a comunica à mente. Da mente para o corpo,
acontece o mesmo.
 Deus é a Única Causa de tudo e, por isso, causa também do mal, que não é, senão
um bem disfarçado.
 Os males aparentes surgiram quando o homem caiu na finitude e na
particularidade. É que o espírito humano está para o que é finito e universal.
 O ocasionalismo de Malebranche envolve mais do que a comunicação entre a
mente e o corpo por meio de Deus; envolve, também, a ideia de que Deus é
a única causa, pelo que a mente não movimenta o corpo.
 A tarefa moral do homem é aprender a retornar ao Universal, ao Espiritual, em vez
de continuar fascinado pelo que é material e particular.
 Os homens talvez não reconheçam, mas eles vêem todas as coisas através de Deus:
Deus é o mediador de toda forma de conhecimento, já que as ideias particulares
participam das ideias infinitas.
 A alma difere do corpo e da materialidade por ser possuidora de força e de liberdade,
e sobrevive à desintegração do corpo material, dado participar do Grande Intelecto

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com o qual tem afinidade, por ser intelecto.

BLAISE PASCAL
 Matemático e cientista francês, que reconstituiu as provas da geometria euclidiana
até à Proposição 32, com a idade de 11 anos, sem nunca ter lido Euclides.
 Deixou-se atrair muito por ideias religiosas, a ponto de, em 1654, ter uma
experiência mística durante duas horas. Disso, resultou que visse na fé cristã a
principal avenida para quem se quer aproximar da verdade.
 O meio para encontrar Deus/Verdade não é o racionalismo, mas a vereda mística,
onde o coraçao e a vontade são agentes importantes.
 Ideias de Pascal
 O homem sofre neste mundo. Ele é, apenas, uma cana esmagada.
 O homem é um anjo e uma fera, misturados em um só ser.
 Só a graça divina pode ser solução para a grande agonia do sofrimento
humano.
 O coração tem razões que a própria razão não compreende. Deus é muito
mais sentido pelo coração do que pela razão.
 As provas racionais da existência de Deus fracassam, porque são expressão
de um poder finito que procura descrever uma Entidade Infinita. Contudo,
elas não devem ser abandonadas, dado guiarem algumas pessoas.

BARUCH SPINOZA
 Filósofo judeu.
 Recebeu treinamento rabínico, mas foi desligado da sinagoga, acusado de ateísmo.
 Dava muito valor à solidão, à privacidade e ao isolamento.
 Defendia vigorosamente a liberdade de pensamento e de expressão.
 Disse “NÃO” a algumas tarefas bem remuneradas, por temer que lhe fossem
impostas limitações ao pensamento e às inquirições intelectuais e espirituais.
 Ideias de Spinoza

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 Há uma só substância, que é a totalidade da realidade.


 O Deus único é a Substância Única e Absoluta, a totalidade da realidade. Ele
existe de forma necessária e eterna.
 É causa própria de Deus a causa immanens e a causa sui.
 Deus é um Ser Infinito, com uma infinidade de atributos. Desses atributos, os
homens reconhecem apenas dois: o pensamento e a extensão.
o O pensamento fornece-nos as coisas espirituais/imateriais.
o A extensão fornece-nos a materialidade.
 O pensamento e a extensão não são coisas separadas e distintas, embora
assim pareçam para o homem, mas atributos da única essência (monismo).
 Sendo Deus e a Substância a mesma coisa, a inquirição filosófica e a fé
religiosa são a mesma coisa.
 O alvo de todo esforço humano é a obtenção do conhecimento, entendido
como amor intelectual a Deus.
 Deus: natura naturans (natureza naturante) e natura naturata (natureza
naturada).
 O homem está envolvido em um intenso conatus (esforço).
 O conatus busca a salvação intelectual (três estados do conatus):
o A vida intelectual começa na imaginação.
o A imaginação funde imagens mentais, formando universais. A ciência
resulta da formação de ideias universais.
o O homem intui ou sente qualidades universais (scientia intuitiva).
 A verdade torna-se disponível para o homem, porque o homem faz parte da
essência eterna de Deus.
 A Substância-Deus é absolutamente infinita e compreende, em si mesma,
todas as coisas.
 Todas as coisas são determinadas, mas o homem é livre por ser parte de
Deus.

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Aulas 20 – John Locke, Thomas Hobbes, David Hume e George Berkeley

JOHN LOCKE
 Nasceu na Grã-Bretanha, em 1632.
 Fez bacharelato e mestrado em Oxford, onde se tornou Professor de grego, retórica e
filosofia.
 Foi praticante de medicina, embora não tivesse terminado o curso.
 Durante vinte anos, escreveu sobre o entendimento humano, tendo publicado sua
obra em 1690.
 Por problemas políticos, mudou-se para perto de Paris e, depois, para Holanda, onde
usou um nome falso, a fim de se proteger de seus inimigos.
 Deposto o rei James II, John Locke retornou à Inglaterra, onde continuou a brilhar
na política.
 Foi-lhe oferecida a posição de embaixador em Brandeburgo, mas ele não
aceitou.
 Foi nomeado comissário do Comércio e da Agricultura e manteve o cargo
por quatro anos.
 Faleceu em 1704, com 72 anos.
Ideias de Locke
1. Ataque contra ideias inatas
 Nega que o homem tenha conhecimentos que transcendam os cinco sentidos.
 Nega que o homem possa ter conhecimentos com base na intuição inata ou na razão.
2. Tabula Rasa (ardósia limpa)
 O homem começa a viver neste mundo com a mente completamente vazia.
 É por meio da experiência que o homem começa a escrever sobre a referida tabula
rasa.
3. O homem combina ideias, produzindo ideias complexas a partir de ideias mais
simples.
4. Tipos de ideias complexas: modos, substâncias e relações.

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 Modos: são ideias cujos objectos não podem existir por si mesmos.
 Substâncias: são ideias de coisas que existem por si mesmas.
 Relações: são ideias que resultam de comparações.
 Ideias de Deus, infinitude, tempo, duração, substância resultam de nossas
comparações.
5. Substância. Por meio de inferências, chegamos a supor a existência de substâncias,
mas o que sabemos a respeito dessas substâncias são apenas suas qualidades e
poderes. Tais qualidades são por nós conhecidas através da percepção dos sentidos.
6. Qualidades: primárias, secundárias e terciárias.
 As qualidades primárias são as inseparáveis dos objectos e imprescindíveis para a
sua existência.
 As qualidades secundárias são as nossas avaliações mentais sobre alguma coisa e
não as qualidades que pertencem, necessariamente, às coisas.
 As qualidades terciárias são os valores que atribuímos às coisas.
Uma antiga fotografia tem a sua essência (qualidade); tem, também, textura e cor
(qualidade secundária); mas tem, igualmente, o valor que nos faz guardá-la,
preterindo alguma outra (qualidade terciária).

7. Tipos de conhecimento
 Temos um conhecimento intuitivo de Deus. Este conhecimento é imediato, embora a
Ideia de Deus não seja inata ao homem.
 Temos um conhecimento demonstrativo da existência de Deus, mediante nossos
processos de raciocínio.
 Temos um conhecimento sensível da existência de tudo o mais que cai dentro do
alcance da percepção de nossos sentidos.
8. A Ideia de Deus
 De acordo com Locke, sabemos que existimos, e que a razão nos mostra que viemos
de um ser eterno.
 Que nos reconheçamos como finitos, é suficiente para que percebamos a Infinitude

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que justifica a nossa condição.


9. A Ideia de Homem
 O verdadeiro homem é tão imaterial quanto Deus.
 Locke aceita a imortalidade da alma com base no acto da fé.

THOMAS HOBBES
 Filósofo inglês, nascido em 1588.
 Era amigo de Francis Bacon e conheceu Galileu em Florença, na Itália.
 Escreveu o Leviatã.
Ideias de Hobbes
 Todos os corpos são materiais e controlados por leis rígidas (materialismo).
 O mais ténue de todos os corpos é o éter.
 Qualquer ideia de espírito é absurda. Tudo é matéria e não existe uma matéria que
seja imaterial/espiritual.
 Em relação ao método científico, Hobbes pensa que devemos reduzir qualquer todo
às suas partes e procurarmos compreender o todo a partir das suas partes.
 As pessoas deixam-se governar por seus apetites, paixões, imaginações e emoções, e
existem causas físicas para tudo isso. Por isso, a liberdade do homem é apenas
aparente.
Veja-se o exemplo de água: ela corre livremente (segundo as aparências),
mas o seu destino (oceano) é seguro e previamente determinado.
 A percepção é a base de todo o conhecimento que temos. Ela é dada a nós através da
observação dos movimentos.
 Depois que um objecto observado é removido, o cérebro retém imagens sobre ele,
que são, apenas, sensações decadentes, fantasmas que dançam em torno do cérebro
e, gradualmente, vão desaparecendo. É assim como nossos pensamentos se formam,
sendo, por isso, menos seguros.
 O ser está sempre presente. O passado é apenas um fantasma contido na
memória e o futuro ainda não tem existência.

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 Nada mais importa para os homens do que o auto-interesse (a vida humana é apenas
uma longa e demorada exibição de auto-amor).
 Todos os actos aparentemente altruístas podem ser explicados como uma
demonstração de egoísmo, após a devida investigação.
 As primeiras características dos homens são o orgulho, a avareza, a ambição e o
temor da morte.
 Não existe alma, mas talvez haja ressurreição.
 O soberano de um Estado tem o direito de estabelecer e pôr em vigor uma religião
oficial. O impulso religioso é baseado no temor humano pelo desconhecido.
 A religião não é teologia nem filosofia, mas, antes, lei. Por isso, deve ser obedecida.
Embora fosse materialista, Hobbes tinha o conceito de Deus como uma
força cósmica que controla o universo e fonte de todos os movimentos
existentes na matéria.
 Somente um Estado forte como uma monarquia pode controlar uma criatura maligna
como o homem. No entanto, é para esse mesmo homem que o Estado existe.
 Um Estado tem o direito de fazer guerra, afim de preservar os seus interesses.
 Todas as virtudes morais derivam-se do desejo humano pela paz.
 Há uma lei que é absorvida nos contratos sociais; o direito individual subordina-se
ao direito comunitário.
 O único direito natural do homem é o de viver. Portanto, o homem tem o direito de
defender a sua própria vida, mesmo que, para isso, tenha de recorrer à força.

DAVID HUME
 Filósofo escocês, alcunhado pelos seus contemporâneos como tácito inglês.
 Ainda jovem, sentiu que havia necessidade de revolucionar a ética e as ciências
sociais, com base em conceitos científicos (o mesmo que Newton fez com a física).
 Escreveu “Sobre Natureza Humana”, que, como ele disse, saiu morto da impressora.
 Deixou a França e tentou Filosofia Moral na Universidade de Edemburgo, na
Escócia. Não tendo conseguido, reescreveu o seu tratado “Sobre a Natureza

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Humana”, conhecido, hoje, como “Investigação Sobre o Entendimento Humano”.


 Combinou o empirismo inglês e o cepticismo francês, tendo abalado o mundo
filosófico inteiro com suas ideias.
 Kant admitiu que boa parte de sua filosofia surgiu como tentativa de suavizar o
brutal cepticismo de Hume.
Ideias de Hume
 O conhecimento nasce das impressões, que são informações colhidas pelos nossos
cinco sentidos. É das impressões que nascem as ideias, que têm menos força que
aquelas da experiência presente.
 Não existem mundos material e espiritual; tudo é sensação.
 O eu, a alma, o mundo e outras substâncias racionais são uma colectânea de ideias.
Disse: “Quando penetro na intimidade do que chamo „EU‟, sempre tropeço em
alguma percepção particular, como o calor, o frio, a luz, a sombra, o amor, o ódio, a
dor e o prazer. Nunca consigo destacar a mim mesmo sem alguma percepção”.
 Existem dois tipos de conhecimento: a verdade verbal ou analítica (como as
tautologias da matemática e da lógica) e o conhecimento real (verdades alicerçadas
sobre as impressões).
 Todo conhecimento, seja como for, é empírico: está limitado ao mundo dos
fenómenos.
 A razão é – e deve ser – apenas escrava das paixões, e não deve pretender ocupar
outro ofício além do de servir e obedecer às paixões.
 O que é útil é aprovado pela sociedade; o que não tem utilidade é rejeitado pela
sociedade. É, por isso, considerado um dos precursores do utilitarismo.
 Em “Diálogos Sobre a Religião Natural”, assevera que tanto os cépticos quanto os
homens da fé sentem a incompreensibilidade da ideia de Deus.
David Hume foi o primeiro a distinguir entre julgamentos de valor e
declarações de facto.
Influência geral
 No campo da economia, converteu Adam Smith ao liberalismo económico.

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 No campo filosófico, exerceu muita influência sobre Kant, que o considerava quem
o despertou da sonolência dogmática.

GEORGE BERKELEY
 Bispo irlandês.
 Afirma que os filósofos criam problemas artificiais e promovem soluções para eles.
Disse: “Primeiramente, levantamos poera; depois, queixamo-nos de que não
podemos ver”.
Ideias de Berkeley
 Ser é ser percebido. Afinal, não há existência sem ideia (imaterialismo de Berkeley).
 Todas as ideias originam-se na percepção dos sentidos. Contudo, não temos
percepção imediata do mundo material.
 Antes, todas as nossas percepções são nossas ideias que impomos sobre uma
suposta existência exterior (idealismo subjectivo).
 Aquilo que existe independente de nossas ideias continua sendo ideia
(idealismo objectivo).
 A matéria, considerada como independente da mente, é autocontraditória. Tudo
quanto existe é ideia.

Aulas 21 e 22 – Leibniz e Vico; os Iluministas

GOTTFRIED LEIBNIZ
 Matemático de alto gabarito.
 Filósofo e homem de muitos ofícios. Lia, com o mesmo entusiasmo, Platão e
Aristóteles e Bacon, Campanella, Hobbes, Locke, Galileu e Descartes.
 Inventou uma máquina de calcular, que podia efectuar várias operações matemática,
incluindo a extracção da raiz quadrada.
 Teve a intenção de aplicar o método matemático à Filosofia.
 A Leibniz credita-se a origem do cálculo integral e diferencial.

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Ideias de Leibniz
 A filosofia de Leibniz é reacção ao dualismo cartesiano e ao empirismo inglês.
 Contra o dualismo cartesiano, Leibniz afirma que o ser é, essencialmente,
uno. Não existem duas substâncias, mas uma só, que é a substância
espiritual (metafísica da mónada).
 A divisão da realidade em pensamento e extensão não se justifica. A
extensão é, apenas, continuação da única substância.
 O elemento último que compõe os mundos do espírito e da extensão é a
mónada, cujas propriedades são a simplicidade, a incorruptibilidade e a
auto-suficiência.
o Deus é a Grande Mónada reflectida por todas as
outras mónadas.
o As mónadas não são iguais umas às outras.
 Contra o empirismo inglês, Leibniz afirma que o conhecimento intelectivo
não é simples reacção passiva às ideias dos sentidos, mas o desenvolvimento
de ideias inatas (epistemologia inatista).
 Opondo-se a John Locke, sublinha as ideias inatas avançadas por René
Descartes.
 Opondo-se a Descartes, sustenta que as ideias inatas são confusas e
obscuras.
 A mónada tornou-se o conceito mais importante da filosofia de Leibniz.
 Deus, que é a Grande Mónada, é omnisciente, omnipotente e omniprovidente.
 De Deus, nasce o universo por fulguração.
A perfeição das criaturas vem de Deus; a sua imperfeição, da limitação
que lhes caracteriza.
O que nasce por fulguração equivale à sombra platónica.
 A fulguração é o método pelo qual todas as coisas vieram à existência. Portanto, as
coisas não procedem do nada por criação.
 Todas as mónadas são fechadas em si mesmas. Por isso, não há interacção entre elas.

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 Dado que tudo procede da Mente Divina por fulguração, então tudo deve reflectir a
bondade e a justiça essenciais da Mente Divina.
 Este mundo é o melhor de todos os mundos possíveis.

GIANBATTISTA VICO
 Especialista em Filosofia da História.
 Estudou, especialmente, Platão, tendo concluído que ele não aplicara a doutrina das
ideias aos acontecimentos históricos. Segundo Vico, Platão ocupou-se com a
natureza e omitiu a história. Deste modo, resulta que aplique aos factos históricos a
Doutrina Platónica das Ideias.
De acordo com Vico, a História é racional.
Ideias de Vico
 O homem compreende melhor o que faz, que é a sua história.
 O homem alcança certeza em muitas coisas e verdade em poucas. Somente Deus
pode conhecer a verdade de todas as coisas, porque ele as faz.
 No homem, o conhecimento apresenta-se sob três aspectos:
 Sob o aspecto da teologia, em que a verdade é revelada e não estabelecida
por nós. Essa verdade é certa.
 Sob o aspecto das matemáticas, em que o conhecimento é uma construção
da mente (realização da unidade entre o verdadeiro e o facto).
 Sob o aspecto da física, em que o verdadeiro se separa do facto, dado que o
homem não é o criador da natureza.
 Embora seja defensor de ideias de Descartes, Vico demonstra que o cogito, ergo sum
não pode ser um argumento contra os cépticos, porque o céptico não duvida da sua
dúvida, contradizendo-se.
 Vico é conhecido pela constituição da “da ciência nova”, que é a ciência histórica.
 Antes de Vico, a História não era tida como ciência, mas como arte literária.
 Com Vico, a História fanha estatuto de verdadeira ciência, que satisfaz os
dois requisitos fundamentais do saber filosófico: a concretude e a

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universalidade.
Mais do que ciência, a ciência nova de Vico é filosofia do espírito
humano na sua história.
 Uma característica da ciência nova de Vico é a união necessária de Filosofia e
Filologia.
 A Filologia (Ciência da História) estabelece os factos.
 A Filosofia da História descobre, nos factos, a lei universal pela qual se dão.
O ILUMINISMO
 Do latim lumen, que significa LUZ.
 Duas são as principais características do iluminismo:
 A desintegração do mundo teocêntrico.
 A promoção da ciência e do método científico.
 Foi levado avante pelos enciclopedistas franceses Diderot e D‟Alembert, e, também,
por Montesquieu, Voltaire e Rousseau.
 De entre os domínios da vida penetrados pelo iluminismo, há que sublinhar o
religioso e o filosófico.
 Domínio religioso: desenvolvimento do deísmo e consequente fragmentação
das organizações religiosas.
 Domínio filosófico: ênfase sobre o cogito e o racionalismo.
 Muitos iluministas eram contra a religião instituída, mas não eram ateus. Eles
acreditavam na possibilidade de chegar a Deus mediante a razão.

1. Montesquieu
 Pensador de saber enciclopédico.
 É conhecido como pai do constitucionalismo liberal moderno.
 Em “O Espírito das Leis”, Montesquieu procura descobrir as leis naturais da vida
social.
 Avança como tipos sociológicos fundamentais do Estado a democracia, a
monarquia e o despotismo.

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 Defendeu a teoria da separação dos poderes em legislativo, executivo e judiciário.


 Grandes virtudes políticas: amor à lei e amor à pátria.
 Deus é o princípio supremo, fonte de todas as leis humanas e naturais; a fé cris, além
de civilizadora, é sobrenatural.
2. Voltaire
 Prodigioso trabalhador que, por isso, não se alimentava regularmente.
 Trabalha/escreve, mesmo quando se recolhe ao leito.
 A filosofia de Voltaire é uma mistura de racionalismo e empirismo. Segundo
Voltaire, separar o racionalismo e o empirismo é mutilá-los.
 Defende tolerância para todos. Diz: “Embora não concorde contigo, defenderei
até à morte o direito que tens de o dizeres”.
 Voltaire está convicto da existência de um ser supremo, que não o define, mas
abraça o deísmo. Segundo Voltaire, as leis da natureza é que determinam a nossa
vontade, embora o homem tenha liberdade para realizar os seus desejos.
 Nada prova a imortalidade da alma.
3. Rousseau
 Filósofo francês, nascido em Genebra.
 No campo filosófico, escreveu sobre política (Contrato Social) e educação (Emílio e
A Nova Eloísa).
 Falou sempre mal da sociedade e da cultura e defendeu o retorno à natureza.
Ideias de Rousseau
 O homem nasce livre e, em toda parte, está a ferros.
 O retorno à natureza resgata o homem de todas as coerções e violações sociais.
 Escreveu: “É bom tudo o que sai das mãos do Autor das coisas; tudo degenera entre
as mãos do homem”.
 Em “Contrato Social”, Rousseau imagina um estado inicial da humanidade, que é de
inocência, do qual os homens saíram pelo desejo, pela necessidade e pelo temor. A
base da reforma é o contrato social, em indivíduos livres e iguais se submetem a uma
disciplina, visando um bem maior para todos e para cada um.

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Aulas 23, 24 e 25 – Immanuel Kant (1724 – 1804)


1. Dados biográficos
 Filósofo alemão, nascido em Konigsberg.
 Foi Professor de Lógica e Metafísica na Universidade de Konigsberg.
 Foi homem de grande erudição.
 Despertava às 5h da madrugada e estudava durante duas horas; dava duas horas de
prelecções e retornava aos estudos até uma hora da tarde.
 Comia com frequência em restaurantes, trocando-os frequentemente, para não ser
alvo de olhares de curiosos.
 Uma parte de cada tarde era passada no preparo de suas prelecções.
 Recolhia-se ao leito às nove ou dez da noite.
 Obra-prima: Crítica da Razão Pura.
 Outras obras: Crítica da Razão Prática e Crítica do Juízo, entre outras.
 O racionalismo e o empirismo influenciaram o seu modo de pensar.
2. Ideias centrais de Kant
 O conhecimento deve ser universal e necessário.
 Com os racionalistas, acha que esse conhecimento deve girar em torno da
física e da matemática.
 Com os empiristas, pensa que o conhecimento nos chega através da
experiência adquirida pelos sentidos físicos.
 Com os empiristas, ainda, crê que só sabemos quando percebemos.
 Com os racionalistas, concorda que a verdade universal e necessária não
pode proceder do empirismo.
Kant ensina que, apesar de o conhecimento nos chegar através dos sentidos,
somos possuidores de uma mente que já possui todas as categorias do
conhecimento, do qual os sentidos são totalmente dependentes.
 Temos um conhecimento empírico a priori.
 A mente impõe à experiência os modos de pensar.
 O conhecimento é, ao mesmo tempo, a priori (analítico) e a posteriori (sintético).

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 Por meio da razão prática, que envolve o raciocínio, a intuição e as experiências


místicas, estabelecemos postulados que nos conferem um conhecimento metafísico
e moral.
 Existem dois tipos de juízos: o analítico, que a razão nos oferece sem qualquer
investigação empírica, e o sintético, que chega através da experiência, com o
acúmulo de informes dados pela percepção dos sentidos. O primeiro pertence ao
racionalismo; o segundo, ao empirismo. No entanto, em Kant, são unidos: todos os
juízos sintéticos originam-se das categorias analíticas da mente.
O conhecimento a priori impõe sobre o mundo os seus juízos a posteriori.
O conhecimento é juízo sintético a priori.
 O mundo é conhecido através das ideias e não através dos sentidos (idealismo).
 Idealismo subjectivo: é a ideia de que o mundo é a minha ideia. A minha
ideia é comprovada no mundo através da experiência; a minha ideia é
imposta sobre o mundo, conferindo-lhe a sua forma.
Um idoso rabino afirmou: “Não vemos as coisas como elas são,
mas como nós somos”.
 Idealismo metafísico: é a ideia de que a realidade consiste em mente-
substância, e não na substância material (a realidade é a extensão do
pensamento).
 Kant afirma que não podemos conhecer as coisas em sua verdadeira natureza.
 Em relação à existência de Deus, Kant desistiu dos argumentos tradicionais,
preferindo o moral: o verdadeiro Deus consiste na liberdade, posta ao serviço
do ideal.
 A religião, dentro dos limites da razão, consiste na moralidade, e o cristianismo,
excluídos os seus dogmas complexos, exprime a moralidade eterna.
 Na especulação metafísica, vemo-nos envolvidos em antinomias, que são quatro:
quantidade, qualidade, relação e modalidade.
 Antinomia da quantidade: o universo é uma quantidade, sem limites
quanto ao tempo e ao espaço, infinito e eterno. Ou seria limitado?

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 Antinomia da qualidade: a matéria compõe-se de elementos simples ou


átomos (chamados teses); a matéria é infinitamente divisível (o que se
chama antítese).
 Antinomia da relação: o que chamamos de mundo não é o mundo
propriamente dito, mas o que nos é imposto pela sensibilidade e pelo
pensamento.
 Antinomia da modalidade: no mundo e acima do mundo, existe um Ser
necessário, uma causa absoluta do universo.
 A antinomia consiste em duas proposições contraditórias, a tese e a antítese, cada
uma das quais pode ser provada como verdadeira.
 Quando tentamos ampliar nosso conhecimento para além do campo da experiência,
vemo-nos envolvidos na dialéctica, e essa dialéctica nos leva a contradições. As
quatro antinomias são o âmago das contradições para onde somos conduzidos.
3. Noções de ética
 A única coisa boa não qualificada é a boa vontade.
 Uma vontade é boa se segue o princípio da autonomia, isto é, se sua lei é
ela mesma apenas.
 Se, sobre a vontade, houver qualquer imposição externa, então ela será
heterónoma, ficando, assim, sacrificada a verdadeira moralidade.
 É a vontade divina (noumenal) que empresta à vontade humana a sua
qualidade. Portanto, Deus é a própria essência da vontade moral.
 O homem bom merece ser feliz, mas somente Deus pode garantir a conexão entre a
virtude e a felicidade.
 O homem jamais deve ser tratado como um mero meio: ele é um fim em si
mesmo, uma entidade que merece todo respeito.
 Acima dos imperativos práticos e hipotéticos, temos a regra áurea da acção
humana, com o nome de imperativo categórico. Essa é a grande lei moral que
deve governar todas as coisas.
 O poder do imperativo categórico consiste na sua universalidade.

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 Há três pontos a serem considerados:


 Devemos agir sempre de tal modo que possamos querer que aquilo que
fazemos se torne uma lei universal. Devemos agir de tal maneira que nossas
acções determinem o que todas as pessoas sempre devem fazer.
 Sempre tratemos a humanidade como um fim, e jamais como meio. É um
imperativo prático que constitui parte do primeiro.
 Sempre devemos agir como se fôssemos membros de um reino meramente
possível de fins, o que nos manterá sempre humildes.
4. Os três mundos de Kant
 Mundo da Mente: A mente impõe sobre a realidade exterior o que pode ser
conhecido. Temos, aqui, o idealismo subjectivo, que expressa um cepticismo
racional.
 Mundo fenomenal: É o mundo físico, conhecido pela percepção dos sentidos
(empirismo). É neste mundo que encontramos as proposições do conhecimento.
O conhecimento é limitado à percepção.
 Mundo noumenal: É a realidade última (Deus, Alma, Moralidade, Teologia). Este
mundo é postulado pela razão, pela intuição e pelo misticismo. Aqui, temos
postulados. Este mundo representa um cepticismo esperançoso. É deste mundo
que vem a ética.
 Somos cidadãos de dois mundos: o mundo fenomenal e o mundo noumenal.
 O mundo fenomenal é o lar do corpo, das experiências diárias e da
ciência. Enquanto cidadãos deste mundo, estamos sujeitos a erros e a
vicissitudes da experiência humana.
 O mundo noumenal é o lar do espírito enquanto legisladores, como o
próprio Deus.
5. Noções de estética
 O juízo estético (qual é o sentido das artes?) não está vinculado ao desejo.
 O juízo estético não é teórico e nem prático em seu carácter, mas um fenómeno que
repousa sobre uma base subjectiva.

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 O juízo estético (o que isto significa? o que isto comunica?) origina-se da


harmonização entre o objecto da arte e as nossas faculdades da vontade e do
entendimento. Quando há o senso de harmonia, então dizemos: “Isto é agradável”.
Quando um objecto de arte se adapta às nossas faculdades, dizemos: “Isto é belo”.
 Quando as nossas faculdades são forçadas a adaptar-se a algum objecto, devido à
sua grandiosidade, então experimentamos o sublime.
 A criação estética não é produto da regra ou da técnica, mas do génio.
 Os juízos estéticos não são morais nem práticos, mas subjectivos. Esses juízos são
desinteressados.
6. Influências e reacções contrárias
 É inegável que Kant foi um dos maiores filósofos de todas as épocas. Isso, porém,
não significa que reúna consensos: existe alguma oposição e críticas acerbas contra
ele.
 As ideias metafísicas de Kant eram contrárias às da Igreja Católica Romana,
segundo a concepção de Tomás de Aquino. Disso, resulta, embora de forma
exagerada, que se afirme que o que Tomás de Aquino é para a Igreja Católica
Romana, Kant é para os que se distanciam de Roma.
 Herder opôs-se ao dualismo kantiano das faculdades mentais, salientando a
unidade da vida-alma. No pensar de Herder, o pensamento e a vontade tem origem
na mesma fonte.
 Jacobi percebe que a Crítica da Razão Pura termina num idealismo subjectivo,
rejeitando, assim, todas as conclusões avançadas por Kant.
 Os moralistas cristãos preferem o ponto de vista heterónomo, que diz que Deus
impõe a sua vontade e as atitudes morais por meio da revelação, e não por meio da
vontade moral do homem.
 Os materialistas objectam ao truque de Kant de retirar todas as especulações sobre
Deus e a sua metafísica, em sua Crítica da Razão Pura, somente para restaura-las
em sua Crítica da Razão Prática.
 Os cientistas objectam às nebulosas categorias mentais de Kant, preferindo ficar

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com o empirismo simples ou sofisticado.

Aula 26 – Filosofia Moderna


 Itália: Humanismo (Maquiavel e Ficino).
 França: Racionalismo.
 Inglaterra: Empirismo.
 Alemanha: Kant.
 Kant expõe a hipótese fundamental do seu sistema: a dupla ordem da
realidade (fenómeno e númeno).
 O objecto da ciência é a natureza e o da filosofia é o homem.
 Filosofar, o que é? É responder à pergunta “Que é o Homem?”

Aula 27 – História da Filosofia em retrospectiva


1. Filosofia Pré-Socrática (sécs VII a V)
 Desejo de distinguir os elementos básicos do Universo (investigação materialista
ou pampsíquica, embora alguns filósofos vejam os dois elementos).
 Tales: Tudo está cheio de deuses.
 Xenófanes: Investigação de Deus e da ética social.
 Sofistas: Abandono da metafísica, fazendo da ética o alvo das suas investigações.
 Filósofos: Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Xenófanes, Heráclito, Parménides,
Anaxágoras, Empédocles, Demócrito e Protágoras.
2. Filosofia Clássica
 Filósofos: Sócrates, Platão e Aristóteles.
 É o período áureo da filosofia grega antiga.
 Durante este período, desenvolveram-se os seis sistemas tradicionais da Filosofia.
 Sócrates foi, sobretudo, filósofo ético.
 Platão foi, também, filósofo ético, mas adicionou a ontologia, a
gnosiologia, a política e a estética, e antecipou a lógica em sua dialéctica e

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nos elementos da sua gnosiologia.


 Aristóteles continuou a investigação de Platão, tendo adicionado a lógica
formal dedutiva.
3. Escolas éticas, cepticismo, eclecticismo e helenismo (350 a. C. até à era cristã).
 Com Aristóteles, terminaram os grandes sistemas especulativos da filosofia grega
clássica.
 A vida política e social dos gregos começa a ruir.
 A filosofia volta-se à busca pelos grandes mistérios para as preocupações
humanitárias.
 Alguns filósofos voltam-se para as religiões orientais, em busca de
definição do homem e de seu mundo.
 A Filosofia salienta a ética acima de tudo o mais.
 O cepticismo mostra-se forte e há degeneração nas filosofias de Platão e
Aristóteles.
 A Filosofia deixa de ser uma disciplina separada e refugia-se na religião, no
neoplatonismo, nas religiões orientais e no cristianismo.
 Escolas éticas: epicurismo e estoicismo.
 Cepticismo: quando as filosofias platónica e aristotélica degeneram,
assumem uma postura céptica.
 Eclecticismo: filosofia do bom-senso, onde os bons elementos são
escolhidos dentre vários sistemas e combinados para formarem uma síntese.
O eclecticismo debilitou o dogmatismo e encorajou o intelectualismo e o
livre pensamento.
4. A Filosofia refugia-se na Religião (350 a. C. até ao começo da era cristã)
 A filosofia deixou de ser uma disciplina distinta e tornou-se serva de sistemas
religiosos.
 As filosofias platónica e aristotélica influenciaram o judaísmo. Deste modo,
Filo é visto como Moisés a falar o grego ou Platão a falar o hebraico.
 O neopitagoreanismo é uma tentativa de criar uma religião mundial com

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base na doutrina de Pitágoras.


 O neoplatonismo tem três representações principais: Escola de Plotino,
Escola Síria e Escola Ateniense. Ele ensina que Deus é a fonte originária de
todas as coisas. De Deus, emanam o Pensamento, a Alma e o Corpo Físico.
5. Confrontação e amalgamento com o cristianismo (Patrística)
 Prosseguimento da filosofia ecléctica romana.
 Filósofos: Cícero (o ecléctico), Séneca, Epicteto e Marco Aurélio. Estes filósofos
enfatizam o estoicismo de maneira ecléctica.
 O neoplatonismo prosseguiu durante este período como um grande movimento.
 Os Pais Latinos da Igreja (Tertuliano, Arnóbio, Lactâncio e outros) rejeitam
a filosofia, considerando-a produto do paganismo.
 Os Pais Gregos da Igreja (Justino Mártir, Clemente de Alexandria,
Orígenes e vários cristãos neoplatónicos) pensam que os melhores aspectos
da filosofia grega agem como um mestre-escola, conduzindo os gentios
para Cristo, tal como a lei de Moisés fez com os judeus.
6. Filosofia Pré-Idade Média (350 – 900)
 Agostinho é o maior de todos os pais latinos da Igreja.
 Agostinho é a linha de separação entre a patrística e a escolástica.
 Não há ninguém igual a Agostinho, como filósofo-teólogo, desde Paulo até Tomás
de Aquino.
 Além de Agostinho, temos Boethius.
 John Scotus Erígena é precursor do escolasticismo.
7. Escolasticismo (do séc. VII a XV, tendo como apogeu os sécs. XII e XIII)
 Escolástica alude aos homens da escola, mestres universitários, filhos da Igreja
Católica, que controlavam o sistema educacional da Europa durante a Idade Média.
 O escolasticismo está alicerçado sobre o manuseio filosófico da fé cristã,
destacando-se, sobretudo, a lógica e a metafísica de Aristóteles.
 O maior filósofo da escolástica é Tomás de Aquino.
 Filósofos: Anselmo, Roscelino, Guilherme de Cjampeaux, Pedro Abelardo, Pedro

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Lombardo, Bernardo de Clairvaux, João de Salisbury, Alexandre de Hales, Alberto


Magno, Tomás de Aquino, Boaventura, Rogério Bacon, João Duns Scotus.
8. Prelúdio para a Filosofia Moderna (1400 – 1500)
 As filosofias de Rogério Bacon, Duns Scotus e Guilherme de Occam
possibilitaram o surgimento da filosofia moderna. Eles afirmam que a filosofia
deve ser uma inquirição livre e independente, e não mera serva da teologia.
 A Renascença e a Reforma Religiosa lançam alicerces para um novo pensamento e
para novas teorias e actividades políticas.
 Nicolau Maquiavel luta por uma Itália independente, livre da dominação da Igreja
Católica Romana nos domínios da política, da ciência e da religião. Surgem, assim,
novas teorias políticas, como de Hugo Grotius (doutrina do absolutismo dos
governantes com base no direito divino dos reis), Rousseau (ideais da democracia,
contra Hugo Grotius), Jean Bodin (o Estado repousa sobre a razão e a natureza
humana) e Althusius (alicerces para as monarquias e democracias constitucionais).
 A Renascença actua como período de transição entre a Idade Média e a História
Moderna. Este período foi dominado por um novo interesse pelos clássicos.
 A Reforma Religiosa foi um duro golpe ao monopólio da Igreja Católica Romana.
 Lutero e Calvino retrocederam à teologia e ao misticismo de Agostinho.
 Zuínglio foi influenciado pelo neoplatonismo.
 Herberto de Cherbury construiu uma filosofia da religião sobre a metafísica
natural e não sobre a metafísica sobrenatural.
 O humanismo ganhou terreno.
 O cepticismo e o empirismo foram ganhando poder.
 As filosofias naturais apareceram pela primeira vez na Itália (o berço da
erudição durante esse período), com Cadan e Telésio.
 A ciência obteve notável progresso diante dos estudos de homens como
Leonardo da Vinci, Copérnico, Galileu, Kepler e Newton.
 O tomismo tornou-se a posição filosófica oficial da Igreja Católica Romana, por
determinação do Papa Leão XIII, em parte a fim de fazer oposição ao naturalismo

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e ao cepticismo, que se impunham gradativamente.


9. Filosofia Moderna
 Giordano Bruno
 É considerado o pai da filosofia moderna. Ele fundamentou a sua filosofia
sobre o neoplatonismo, mas levou em consideração as novas teorias
científicas de Copérnico.
 Sua principal realização foi separar, finalmente, a filosofia da teologia.
 Identificava Deus com a Natureza. Por isso, foi acusado de heresia e
queimado na fogueira.
 Influenciou Leibniz e Hegel.
 Tomás Campanella
 Passou vinte e sete anos na prisão, por causa de suas ideias políticas.
 Advogava uma educação universal compulsória, com base na ciência e na
matermática.
10. Períodos da Filosofia Moderna
 Empirismo Inglês Primitivo
 Francis Bacon abandonou as especulações a priori e promoveu o
empirismo e o método científico.
 Fez oposição às antigas autoridades, como Aristóteles e os escolásticos,
referindo-se aos ídolos da mente, que aprisionam os homens.
 Racionalismo continental
 Descartes tem sido chamado por alguns de fundador da filosofia moderna.
Ele foi um racionalista, um epistemologista e um metafísico dualista.
Desenvolveu o método cartesiano, que consiste em deduções matemáticas
generalizadas, com ênfase sobre a auto-observação.
 Spinoza combinou o neoplatonismo com os princípios da Renascença e do
cartesianismo.
 Empirismo de Locke, Berkeley e Hume
 Locke, com a sua ideia de tabula rasa, denuncia o conceito de ideias inatas.

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 Berkeley (idealista) desenvolveu novas teorias do conhecimento.


 Hume sacudiu o mundo da filosofia com o seu ardente cepticismo.
 Racionalismo Alemão: Leibniz.
 Filosofia do Iluminismo
 O iluminismo é a glorificação do conhecimento, da ciência, das artes, da
civilização, do progresso e do humanismo.
 Thomas Paine, Guilherme Godwin, Leibniz, Wolff e Rousseau foram
importantes figuras da iluminação. No entanto, só Kant, Herder, Lessing e
Schiller atacaram o racionalismo do movimento.
 Kant
 Foi um idealista.
 Exerceu uma imensa influência sobre o mundo da filosofia.
 Procurando acomodar-se ao cepticismo de Hume, ultrapassou-o e
desenvolveu o seu sistema das proposições (do conhecimento) e dos
postulados (quanto à ética, à metafísica e à religião).
 Sucessores de Kant: Fichte, Schelling. Schleiermacher e Hegel.
 Schleiermacher foi o maior de todos os idealistas religiosos de sua época.
 Hegel foi o maior expositor do idealismo absoluto.
 Schopenhauer deu ao mundo uma forma clássica do pessimismo, em sua
filosofia da vontade.
 Positivismo
 Foi um resultado natural do empirismo.
 A metafísica foi completamente abandonada e desenvolveu-se uma
filosofia do método científico.
 Augusto Comte estava interessado em reformar a sociedade e, por essa
razão, trabalhou no tocante a uma ciência social positiva, tendo rejeitado o
pensamento da Idade Média como primitivo.
 Utilitarismo: a verdade é definida em termos de utilidade e o prazer torna-se algo
principal da actividade humana.

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 Filosofia da evolução
 Foi promovida por Charles Darwin.
 Herbert Spencer trabalhou em quatro áreas das ciências: a biologia, a
psicologia, a sociologia e a ética.
 Promove o agnosticismo, que faz o Absoluto incapaz de ser conhecido.
 Pragmatismo: Charles S. Peirce, William James e John Dewey.
 A verdade é definida em termos daquilo que funciona., que é prático,
dependendo dos resultados das acções.
 Qualquer conceito de verdade absoluta, perfeita e imutável é abandonado.
 Reavivamento do realismo: Brentano, Moore, Russell, Alexander e Whitehead,
entre outros.
 O mundo exterior é real, mesmo que nenhum agente o esteja percebendo.
 O idealismo supõe ou que o mundo é criação das nossas ideias ou que
aquilo que podemos saber a seu respeito vem apenas através das nossas
ideias.
 O neotomismo é um realismo católico romano.
 A fenomenologia é a ciência de todos os fenómenos reais ou, apenas,
aparentes.
 Existencialismo: Kierkegaard, Heidegger, Sartre e outros.
 Filosofias não ocidentais.

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