Estudos Eleitorais
Estudos Eleitorais
Estudos Eleitorais
ELEITORAIS
VOLUME 12 ̶ NÚMERO 3
SETEMBRO/DEZEMBRO 2017
BRASÍLIA ̶ 2018
EJE
Escola Judiciária Eleitoral
Tribunal Superior Eleitoral
VOLUME 12 – NÚMERO 3
SETEMBRO/DEZEMBRO 2017
ESTUDOS
ELEITORAIS
VOLUME 12 − NÚMERO 3
SETEMBRO/DEZEMBRO 2017
BRASÍLIA − 2018
EJE
Escola Judiciária Eleitoral
Tribunal Superior Eleitoral
1
© 2018 Tribunal Superior Eleitoral
Secretário-Geral da Presidência
Carlos Eduardo Frazão do Amaral
Diretor da EJE
Ministro Tarcisio Vieira de Carvalho Neto
Revisão e normalização
SGI: Edileide Rodrigues, Fernanda Gomes, Karla Santos (estagiária), Manuela Marla,
Thatiane Teles e Vanda Tourinho
EJE: Caroline Sant’ Ana Delfino e Geraldo Campetti Sobrinho
Impressão e acabamento
Seção de Serviços Gráficos (Segraf/Cedip/SGI)
Presidente
Ministro Luiz Fux
Vice-Presidente
Ministra Rosa Weber
Ministros
Ministro Luís Roberto Barroso
Ministro Napoleão Nunes Maia Filho
Ministro Jorge Mussi
Ministro Admar Gonzaga
Ministro Tarcisio Vieira de Carvalho Neto
Procuradora-Geral Eleitoral
Raquel Dodge
Conselho Editorial
Ministro Ricardo Lewandowski
Ministra Nancy Andrighi
Ministro Aldir Guimarães Passarinho Junior
Ministro Hamilton Carvalhido
Ministro Marcelo Ribeiro
Álvaro Ricardo de Souza Cruz
André Ramos Tavares
Antonio Carlos Marcato
Clèmerson Merlin Clève
Francisco de Queiroz Bezerra Cavalcanti
José Jairo Gomes
Luís Virgílio Afonso da Silva
Marcelo de Oliveira Fausto Figueiredo Santos
Marco Antônio Marques da Silva
Paulo Bonavides
Paulo Gustavo Gonet Branco
Paulo Hamilton Siqueira Junior
Walber de Moura Agra
Walter de Almeida Guilherme
COMPOSIÇÃO DA EJE
Diretor
Ministro Tarcisio Vieira de Carvalho Neto
Assessor-Chefe
Leonardo Campos Soares da Fonseca
Servidores
Ana Karina de Souza Castro
Fernanda de Carvalho Lage
Geraldo Campetti Sobrinho
Juarez Machado Júnior
Silvana Maria do Amaral Bobroff
Colaboradores
Caroline Sant’ Ana Delfino
Cristiane Sampaio de Oliveira
Keylla Cristina de Oliveira Ferreira
SUMÁRIO
Apresentação_______________________________________________________________________7
Estudos eleitorais
Justiça Eleitoral no processo de redemocratização no Brasil
MARIA TEREZA SADEK_______________________________________________________________11
O novo conceito de propaganda eleitoral antecipada: uma leitura à luz dos princípios
da liberdade e da legalidade
ANNA PAULA OLIVEIRA MENDES______________________________________________________23
RESUMO
ABSTRACT
11
as democratic if it provides competitive elections and guarantee the
result of the election as a faithful expression of the will of the elector.
When the political class discusses a political-party reform whose
future is unknown, the role of the Electoral Court becomes even
more important. It concludes that, since the 30s of the twentieth
century, it is a relevant political actor and plays a crucial role in the
political scenario, as well as in the quest to increase the degrees of
Brazilian democracy.
12
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pensar: que tipo de pleito; de que forma é controlado; qual é o tipo
de participação; quais são as regras?
14
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15
cujos resultados são falseados, não se tem a eleição como critério
fundamental. Apesar de se ter um eleitorado restrito, o pleito era
um jogo de cartas marcadas. A ideia do processo político é muito
incorporada na história política brasileira; no entanto, observa-se
que, na história do Brasil Colônia, Império e Primeira República,
que havia eleições com cartas marcadas e eleitorado restrito, este
recrutado com base no critério censitário. Durante o Império e a
República já não era censitário, porém só podia votar quem era
alfabetizado – a maior parte da população era excluída.
16
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17
A história só tem valor quando mostra o caminho e o que dele se
pode extrair. Quando a classe política discute uma reforma político-
partidária cujo futuro é desconhecido, o papel da Justiça Eleitoral se
torna ainda mais importante. Desde os anos 30 do século XX, ela se
constitui como ator político relevante e desempenha papel crucial
no cenário político, bem como na busca de aumentar os graus da
democracia brasileira.
18
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19
O NOVO CONCEITO DE
PROPAGANDA ELEITORAL
ANTECIPADA: UMA LEITURA À LUZ
DOS PRINCÍPIOS DA LIBERDADE E
DA LEGALIDADE
ANNA PAULA OLIVEIRA MENDES
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RESUMO
ABSTRACT
The electoral propaganda is only legal whether it takes place within the
period pre-established by this law, and the early propaganda practice
1
Artigo recebido em 21 de maio de 2017 e aprovado para publicação em 8 de outubro de 2017.
2
Mestranda em Direito da Cidade pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ),
bacharel em Direito também pela UERJ e advogada pública.
23
may give rise to a monetary penalty. The temporal prohibition on the
propaganda practice seeks to ensure equality between candidates,
but equality is not an absolute right, and shall not restrict freedom of
speech and information. The law 13.165/2015 tempted to equalize
the principles of freedom and equality and expanded the list of
behaviors that constitute personal promotion. The objective of this
study is to contribute to the doctrinal discussion about the new limits
of early propaganda, through doctrinal and jurisprudential research,
and conclude that the readings of controversial points should be
given under the light of the principles of freedom and legality.
24
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1 Introdução
A propaganda político-eleitoral está intrinsecamente ligada ao
ideal do Estado democrático de direito. A verdadeira observância
à pluralidade de opiniões políticas e à legitimidade de um governo
representativo pressupõe o enriquecimento do debate eleitoral e a
participação consciente dos cidadãos, o que se conquista também
mediante propaganda política, que fará, por sua vez, com que o
eleitor tenha acesso às ideologias e propostas do candidato. Em
contrapartida, o candidato depende da propaganda para se tornar
conhecido e, consequentemente, conquistar votos; assim, as
capacidades eleitorais ativa e passiva dependem da propagada
política para serem plenamente exercidas (ROLLO, 2012).
2 Propaganda eleitoral
25
Para Neves Filho, a propaganda política é o desdobramento do
direito fundamental de liberdade de expressão na esfera política
e, por isso, impõe a “abstenção dos destinatários passivos (Estado
e particulares), inclusive em editar normas legais e infralegais
que a limitem; como também autoriza a busca pelo cumprimento
efetivo dos direitos a prestações” (FILHO, 2012, p. 22). Entre
essas prestações, pode-se citar o direito de antena, consistente na
propaganda política gratuita no rádio e na televisão.
26
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disposta na lei. Entende-se que tudo que a lei não veda é livre”. No
mesmo diapasão, Jairo Gomes afirma que, “desde que se respeitem
os limites legais, há liberdade quanto à criação da mensagem a ser
veiculada na propaganda” (GOMES, 2016, p. 416).
3
José Jairo Gomes e Olivar Coneglian fazem distinção entre o conceito de publicidade e
propaganda. Enquanto a publicidade, para eles, sempre tem viés econômico, a propaganda
tem uma finalidade mais ampla.
4
Art. 17, § 3º: “Os partidos têm direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao
rádio e à televisão, na forma da lei”.
27
art. 45, I a IV, da Lei nº 9.096/1995, a chamada Lei dos Partidos
Políticos, cujo conteúdo taxativamente deve: i) difundir os programas
partidários; ii) transmitir mensagens aos filiados sobre a execução
do programa partidário, dos eventos com este relacionados e das
atividades congressuais do partido; iii) divulgar a opinião do partido
em relação a temas político-comunitários; e iv) promover e difundir
a participação feminina, dedicando às mulheres o tempo que será
fixado pelo órgão nacional de direção partidária, observado o mínimo
de 10% do programa e das inserções.
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5
Lei nº 9.096/1995, art. 49: Os partidos com pelo menos um representante em qualquer
das casas do Congresso Nacional têm assegurados os seguintes direitos relacionados à
propaganda partidária:
I – a realização de um programa a cada semestre, em cadeia nacional, com duração de:
a) cinco minutos cada, para os partidos que tenham eleito até quatro deputados federais;
b) dez minutos cada, para os partidos que tenham eleito cinco ou mais deputados federais;
II – a utilização, por semestre, para inserções de trinta segundos ou um minuto, nas redes
nacionais, e de igual tempo nas emissoras estaduais, do tempo total de:
a) dez minutos, para os partidos que tenham eleito até nove deputados federais;
b) vinte minutos, para os partidos que tenham eleito dez ou mais deputados federais.
29
com vistas à escolha do seu nome; sendo iii) vedado o uso de rádio,
televisão e outdoor. Ainda, o art. 36-A, III, da mesma lei engloba
a hipótese de “realização de prévias partidárias e sua divulgação
pelos instrumentos de comunicação intrapartidária”.
30
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6
Art. 36, Lei nº 9.054/1997: a propaganda eleitoral somente é permitida após o dia 15 de
agosto do ano da eleição.
31
A propaganda eleitoral pode ser classificada em relação à forma
de realização, ao sentido e ao momento em que é levada a efeito. A
forma de realização pode ser expressa ou subliminar. Em relação ao
sentido, pode ser positiva ou negativa: enquanto na negativa busca-
se a desqualificação dos candidatos oponentes, na positiva exalta-se
o candidato. Quanto ao momento, a propaganda pode ser tempestiva,
quando ocorrer dentro do período legalmente demarcado, ou
extemporânea, se feita fora desse período, deste modo, sujeitando
o beneficiário, quando demonstrado seu prévio conhecimento, à
sanção pecuniária prevista no art. 36, § 3º, da Lei nº 9.504/19977.
7
Art. 36, § 3º, da Lei nº 9.054/1997: a violação do disposto neste artigo sujeitará o responsável
pela divulgação da propaganda e, quando comprovado o seu prévio conhecimento, o
beneficiário à multa no valor de R$5.000,00 (cinco mil reais) a R$25.000,00 (vinte e cinco
mil reais), ou ao equivalente ao custo da propaganda, se este for maior.
32
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33
qual ela é permitida, de modo que tal definição coube ao Tribunal
Superior Eleitoral.
34
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35
amplas restrições e à insegurança gerada pela jurisprudência, todo
o debate político seja deixado para o período fixado em lei.
36
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10
Como exemplo, tem-se o pronunciamento do professor Alberto Rollo no sentido de que “não
existem pré-candidatos, nem candidatos a candidato” (ROLLO, 2004, p. 58).
37
3 O modelo de propaganda eleitoral
extemporânea inaugurado pela minirreforma
eleitoral de 2015
38
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[...]
§ 2o Nas hipóteses dos incisos I a VI do caput, são permitidos o
pedido de apoio político e a divulgação da pré-candidatura, das
ações políticas desenvolvidas e das que se pretende desenvolver.
§ 3o O disposto no § 2o não se aplica aos profissionais de comunicação
social no exercício da profissão.
11
Veja ROLLO, Arthur. Mudanças recentes na lei eleitoral geram inseguranças a operadores do
Direito. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2015-out-31/mudancas-lei-eleitoral-gera-
inseguranca-operadores-direito>. Acesso em: 14 jun. 2016.
12
Art. 36, § 3º: A violação do disposto neste artigo sujeitará o responsável pela divulgação da
propaganda e, quando comprovado o seu prévio conhecimento, o beneficiário à multa no
39
extemporânea era mero ato de promoção pessoal e, por conseguinte,
conduta legal.
valor de R$5.000,00 (cinco mil reais) a R$25.000,00 (vinte e cinco mil reais), ou ao equivalente
ao custo da propaganda, se este for maior (redação dada pela Lei nº 12.034/2009).
40
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41
Quanto ao “pedido de voto”, a vedação constante do caput do
art. 36-A abrange apenas a que ocorre de forma explícita, não,
porém, a que se dá de forma implícita, subjacente à comunicação.
42
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43
O que não deve ser tolerado é que qualquer conduta do pré-
candidato que implique um aporte financeiro seja proibida. Isso é
o que o legislador não proibiu e, por óbvio, não caberá ao Poder
Judiciário fazê-lo.
13
TRE/PE. RE nº 3-96.2016.6.17.0135, relator Des. Paulo Victor Vasconcellos de Almeida.
Julgado em 8.4.2016 e publicado no DJ 14.4.2016.
14
Art. 39, § 8º, da Lei nº 9.504/1997: “Na Internet, é vedada a veiculação de qualquer tipo de
propaganda eleitoral paga”.
44
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45
O legislador entendeu que a flexibilização dos atos de promoção
pessoal não fere a isonomia entre os postulantes a cargo público e
fez uma escolha pela liberdade de expressão e manifestação, que
deve, por isso, vir a ser respeitada no âmbito jurisprudencial.
5 Conclusão
A propaganda eleitoral, subespécie do gênero propaganda política,
difere das outras espécies por visar à obtenção do voto para pleito
eleitoral específico. Entretanto, além do objeto imediato da captação
do sufrágio, é inegável o seu viés informativo e educacional, que se
torna indispensável para o exercício pleno da capacidade eleitoral
ativa, pois leva ao eleitor à pluralidade de ideias e de propostas,
além de fomentar o debate cívico.
46
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SETEMBRO/DEZEMBRO 2017
Referências
GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2016.
47
ROLLO, Arthur Luis Mendonça. A importância ambiental da
propaganda eleitoral. Paraná Eleitoral, v. 1, 2012.
48
CANDIDATURA INDEPENDENTE NO
BRASIL: UMA PROPOSTA DE
APLICABILIDADE AO ÂMBITO LOCAL
PARA O CARGO DE VEREADOR
BRUNO FERREIRA DE OLIVEIRA
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RESUMO
ABSTRACT
51
politics. In Brazil, despite proposed amendments to the constitution,
opinions are well divided. This article aims to bring to light the
arguments put forward by defenders and opponents, based on
the analysis of the proposed amendments to the constitution (PEC
21/2006 and PEC 6/2015), as well as to demonstrate how this form
of participation is structured in some Neighboring countries (Chile,
Paraguay, Venezuela and Bolivia), without, of course, exhausting
this clash. It is recommended that municipal positions (councilmen)
be implemented in Brazil as a model so that, in the future, it can be
applied to other positions.
52
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1 Introdução
Consoante a Constituição Federal de 1988, a filiação partidária é
condição para o exercício da capacidade eleitoral passiva, ou seja,
o direito de ser votado. Sem o preenchimento dessa condição, ao
eleitor não se permite representar a sociedade no campo político,
seja no Legislativo, seja no Executivo.
53
Este artigo objetiva trazer à tona argumentos favoráveis e
contrários à tal implantação de participação política – sem esgotar
a discussão –, apresentando exemplos dos vizinhos sul-americanos
e proposta para adoção, no Brasil, de um sistema de representação
para candidaturas avulsas no âmbito local (municipal).
3
Partidos Políticos – Disponível em: <http://www.tse.jus.br/partidos/partidos-politicos/
registrados-no-tse>. Acesso em: 29 mar. 2017.
54
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4
Constituição Federal de 1988, art. 14, § 3º.
55
a um partido há no mínimo seis meses5 antes das eleições, prazo
este alterado pela Lei nº 13.165/2015.
5
Lei das Eleições (Lei nº 9.504/1997), Art. 9º.
6
Parties and Candidates: Independent candidates. Disponível em: <http://aceproject.org>.
Acesso em: 27 mar. 2017.
56
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7
Disponível em: <http://aceproject.org/epic-en/CDTable?view=country&question=PC008>.
Acesso em: 30 mar. 2017.
57
Constata-se assim que 55% dos 22 países latinos analisados
adotam candidaturas independentes em seus moldes legais e
constitucionais. Portanto, mais da metade já aplica, nas normas
eleitorais, a abertura da democracia para candidatos que não
querem ou que não podem filiar-se a partidos políticos. Desse
grupo 32% não consideram a hipótese de candidatura avulsa nas
respectivas legislações – Brasil, Argentina, Costa Rica, Guiana
Francesa, Guatemala, Nicarágua e Uruguai.
8
Constitucion Politica de la Republica de Chile, 1980. Disponível em: <http://www.leychile.
cl/Navegar?idNorma=242302>. Acesso em: 30 mar. 2017.
9
Ley Organica Constitucional sobre Votaciones Populares y Escrutinios. Disponível em: <http://
www.leychile.cl/Navegar?idNorma=30082&idParte=0>. Acesso em: 30 mar. 2017.
58
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59
como candidatos de movimentos políticos para todos os cargos eletivos,
segundo estabelece o art. 85 do Código Eleitoral paraguaio10.
10
Código Electoral Paraguayo. Disponível em: <http://pdba.georgetown.edu/Parties/
Paraguay/Leyes/codigoelectoral.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2017.
11
Ley Orgánica de Procesos Electorales. Disponível em: <http://www.cne.gov.ve/web/normativa_
electoral/ley_organica_procesos_electorales/titulo5.php>. Acesso em: 30 mar. 2017.
60
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12
Index Democracy 2016. Disponível em: <http://www.eiu.com/Handlers/WhitepaperHandler.
ashx?fi=Democracy-Index-2016.pdf&mode=wp&campaignid=DemocracyIndex2016>.
Acesso em: 30 mar. 2017.
61
Tabela 2 – Índice de democracia x Candidatos independentes
Pontuação:
Candidatos Ranking
País participação
independentes? geral
política
Norue-
ga Não, em nenhum caso 10 1º
Sim, em eleições
Islândia presidenciais 8,89 2º
Suécia Não, em nenhum caso 8,33 3º
Nova
Zelân- Sim, em eleições
dia legislativas 8,89 4º
Dina- Sim, em eleições
marca legislativas 8,33 5º
Sim, em eleições
Canadá legislativas 7,78 6º
Irlanda Sim, em ambas 7,78 7º
Suíça Sim, em ambas 7,78 8º
Finlân-
dia Sim, em ambas 7,78 9º
Austrá- Sim, em eleições
lia legislativas 7,78 10º
Brasil Não, em nenhum caso 5,56 51º
62
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13
PEC nº 21/2016. Disponível em: <http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/
materia/77650>. Acesso em: 4 abril 2017.
14
PEC nº 6/2015. Disponível em: <http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/
materia/119631>. Acesso em: 4 abr. 2017.
63
contar com o apoio e a assinatura de pelo menos 1% dos eleitores
aptos a votar na região (município, estado ou país, conforme o caso)
em que o concorrente disputará o pleito.
64
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15
Constituição Federal de 1988 – “Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção
de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o
pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana.”
65
5 Proposta de candidatura independente no
âmbito local (municipal) para vereadores
No Brasil, como constatado, é inerente ao cidadão que quiser se
candidatar a qualquer cargo eletivo ser filiado a um partido político
registrado no Tribunal Superior Eleitoral. Ao longo deste artigo,
citaram-se países que adotam a candidatura independente e, com
base na análise feita, propõe-se um modelo de candidatura avulsa,
no âmbito local (municipal), inicialmente, para as eleições ao cargo
de vereador. Partindo desse âmbito como modelo experimental,
avança-se, posteriormente, em uma discussão de aplicabilidade às
outras circunscrições (estaduais, federais e nacionais).
66
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16
Lei das Eleições – Art. 8o A escolha dos candidatos pelos partidos e a deliberação sobre
coligações deverão ser feitas no período de 20 de julho a 5 de agosto do ano em que se
realizarem as eleições, lavrando-se a respectiva ata em livro aberto, rubricado pela Justiça
Eleitoral, publicada em vinte e quatro horas em qualquer meio de comunicação.
67
5. Da publicação do deferimento, partido político, candidato,
coligação e Ministério Público teriam até 5 dias para propor
recurso, enquanto que, no caso de indeferimento, o pretenso
candidato teria o mesmo prazo, o que se assemelha à Ação
de Impugnação de Registro de Candidatura17.
Figura 1
Entrega da
Juiz eleitoral Após deferimento, Deferimento
manifestação
defere ou indefere abertura do prazo ou indeferimento Registro do
de Interesse
a manifestação para buscar apoio da manifestação candidato
para candidatura
independente mínimo de eleitores
17
Lei Complementar nº 64/90 – “Art. 3° Caberá a qualquer candidato, a partido político,
coligação ou ao Ministério Público, no prazo de 5 (cinco) dias, contados da publicação do
pedido de registro do candidato, impugná-lo em petição fundamentada.”
18
Lei das Eleições – Art. 28 – § 2º As prestações de contas dos candidatos às eleições
proporcionais serão feitas pelo próprio candidato.
68
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6 Conclusão
O processo de implantação das candidaturas independentes no
Brasil, devido à divergência de opiniões entre os grupos políticos e
sociais, não será fácil: dependerá de muitos debates e de análises
dos prós e contras no sistema eleitoral brasileiro. É cediço que a
regulação dessa modalidade de candidatura possui um elemento
positivo no acréscimo de participação cidadã e, como afirmam
Medina e Gilas (2014, 314),
69
De fato, reconhecer mais uma modalidade de participação cidadã,
sem respaldo dos partidos políticos, será um dos maiores desafios
da moderna legislação eleitoral brasileira, uma vez que o embate
entre as forças partidárias e a força individual cidadã não poderá ser
entrave para a renovação das normas eleitorais.
Referências
70
O PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO
MÍNIMA COMO CRITÉRIO DE
CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE DOS
CRIMES ELEITORAIS – ESTUDO DE
CASO DO ART. 299 DO CÓDIGO
ELEITORAL
CASSIANA LOPES VIANA
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RESUMO
ABSTRACT
73
criterion for controlling the constitutionality of electoral crimes, being
end with the case study of the conduct described in art. 299 of the
Electoral Code. The article adopted the dogmatic legal methodology.
The primary data were brought from the Constitution of 1988,
brazilian law and jurisprudence, and the secondary from specialized
doctrine. It concludes, in the end, by the incompatibility of art. 299
of the Electoral Code, with regard to active corruption, with the
Brazilian Constitution, suggesting to the Judiciary the declaration of
its partial unconstitutionality.
74
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1 Introdução
O presente artigo propõe a aplicação do princípio da intervenção
mínima – reinterpretado sob a perspectiva do Estado democrático
de direito – como critério de controle de constitucionalidade dos
crimes eleitorais, e apresenta, ao fim, estudo de caso da conduta
descrita no art. 299 do Código Eleitoral:
75
na esfera cível, a captação ilícita de sufrágio, também chamada de
compra de votos.
76
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6
A noção de bem jurídico penal surgiu contemporaneamente ao movimento iluminista,
com o objetivo de selecionar o conjunto de valores apto a legitimar a punibilidade dos
comportamentos que os ofendessem. Em decorrência de sua matriz liberal, identificou-se
o bem jurídico com os interesses fundamentais do indivíduo na sociedade, com destaque
à vida, ao corpo, à liberdade e ao patrimônio. O Direito Penal teria legitimidade para atuar,
então, com base na lesão a direitos subjetivos. Após essa etapa, seguiram diversas teorias,
e, por relevância científica, ressaltem-se nomes como Birnbaum, Binding e Franz Von Liszt
(PRADO, 2014; BECHARA, 2009).
77
Vislumbra-se também haver dificuldades, ainda hoje, quanto
à classificação das teorias sobre o bem jurídico penal. Luiz Regis
Prado (2014), por exemplo, divide as concepções de bem jurídico
em sociológicas – funcionalistas sistêmicas e interacionistas
simbólicas – e constitucionais. Juarez Tavares (2003), por sua vez,
as denomina modelo funcional estrutural, modelo funcional próprio
e modelo funcional impróprio.
78
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7
A principal referência no desenvolvimento do novo Direito Constitucional na Europa foi a Lei
Fundamental de Bonn (Constituição alemã), de 1949, sobretudo após a instalação do Tribunal
Constitucional Federal, ocorrida em 1951. A partir daí, teve início uma fecunda produção teórica
e jurisprudencial, responsável pela ascensão científica do Direito Constitucional no âmbito dos
países de tradição romano-germânica. A segunda referência de destaque é a Constituição
da Itália, de 1947, e a subsequente instalação da Corte Constitucional, em 1956. Ao longo
da década de 1970, a redemocratização e a reconstitucionalização de Portugal (1976) e da
Espanha (1978) agregaram valor e volume ao debate sobre o novo Direito Constitucional.
Esse novo constitucionalismo europeu caracterizou-se por reconhecer a força normativa das
normas constitucionais, rompendo com a tradição que tornava a Constituição documento
antes político que jurídico, subordinado às circunstâncias do Parlamento e da administração.
No caso brasileiro, o renascimento do Direito Constitucional se deu, igualmente, no ambiente
de reconstitucionalização do país, por ocasião da discussão prévia, convocação, elaboração e
promulgação da Constituição de 1988 (BARROSO, 2009, p. 247).
79
Os defensores dessa teoria ressaltam que “[...] o conceito de bem
jurídico deve ser inferido da Constituição, operando-se uma espécie
de normativização das diretivas político-criminais” (PRADO, 2014, p. 64).
80
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9
De acordo com Sarlet (2007), os direitos fundamentais dividem-se em duas perspectivas,
a saber: subjetivas e objetivas. A faceta subjetiva refere-se à possibilidade que tem o seu
titular de fazer valer judicialmente os poderes e liberdades que lhe foram consagrados.
81
Sarlet (2007), atualmente os direitos fundamentais não se limitam
ao aspecto subjetivo; também constituem decisões valorativas de
natureza jurídico-objetiva da Constituição, reconhecendo funções
autônomas aos direitos fundamentais com grande densidade
normativa e com eficácia em todo o ordenamento jurídico, bem
como fornecendo diretrizes para os órgãos legislativos, judiciários
e executivos. O âmbito objetivo fora concebido para reforçar a
juridicidade e efetividade das normas de direitos fundamentais,
propiciando que elas se realizem no plano fático, notadamente
porque a efetividade de aludidos direitos é condição necessária para
a própria promoção do indivíduo.
Têm a função precípua de serem direitos subjetivos de defesa do indivíduo contra atos do
poder público – pode-se afirmar que eles consolidam a proibição de excesso do Estado,
estabelecendo limites ao jus puniendi.
82
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SETEMBRO/DEZEMBRO 2017
83
podem ser traduzidos como proibições de proteção insuficiente
ou imperativos de tutela (Untermassverbote). Os mandatos
constitucionais de criminalização, portanto, impõem ao legislador,
para seu devido cumprimento, o dever de observância do
princípio da proporcionalidade como proibição de excesso e como
proibição de proteção insuficiente [...] (BRASIL, 2012).
84
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10
Ferrajoli ressalta que a “[...] história das penas é, sem dúvida, mais horrenda e infamante
para a humanidade do que a própria história dos delitos: porque mais cruéis e talvez mais
numerosas do que as violências produzidas pelos delitos têm sido as produzidas pelas penas
e porque, enquanto o delito costuma ser uma violência ocasional e às vezes impulsiva e
necessária, a violência imposta por meio da pena é sempre programada, consciente,
organizada por muitos contra um. Frente à artificial função de defesa social, não é arriscado
afirmar que o conjunto das penas cominadas na história tem produzido ao gênero humano
um custo de sangue, de vidas e de padecimentos incomparavelmente superior ao produzido
pela soma de todos os delitos” (FERRAJOLI, 2002, p. 310).
85
administrativas – ou qualquer outra que não a penal –, são essas as
medidas que devem ser utilizadas para reprimir o ilícito.
86
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11
Considerando que a norma é imputação e objetiva conformar a realidade.
87
[...] o magistrado, necessariamente, deve dar à norma geral
e abstrata aplicável ao caso concreto uma interpretação
conforme a Constituição, sobre ela exercendo o controle de
constitucionalidade se for necessário [...] (DIDIER, 2015, p. 158).
88
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12
Neisser defende a ampla liberdade de troca de ideias e informações durante o período pré-
eleitoral e eleitoral, contudo alerta que essa liberdade deve ser analisada conjuntamente
com a ideia de voto livre e, para tanto, defende também que deve ser coibida a divulgação
de informações falsas (NEISSER, 2016, p. 48 e 50).
89
Na sequência, ao se analisar o art. 41-A da Lei nº 9.504/1997,
conclui-se que as condutas configuradoras de captação ilícita de
sufrágio (doar, fornecer, prometer ou entregar) são idênticas às
descritas no crime de corrupção eleitoral ativa.
Por outro lado, o art. 41-A da Lei das Eleições comina como sanção
ao seu infrator a cassação do registro de candidatura e multa e,
90
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5 Conclusão
Iniciou-se este artigo com a premissa de que as normas penais
existem para proteger os bens que foram eleitos como os de maior
importância em determinada sociedade, para viabilizar a convivência
humana e proteger as liberdades individuais.
13
Art. 97-A. Nos termos do inciso LXXVIII do art. 5o da Constituição Federal, considera-se
duração razoável do processo que possa resultar em perda de mandato eletivo o período
máximo de 1 (um) ano, contado da sua apresentação à Justiça Eleitoral.
91
Ao se ressaltar que a noção de bem jurídico penal é importante
para limitar a atuação do jus puniendi estatal e selecionar quais
os bens devem ser protegidos, passou-se a abordar as teorias
contemporâneas para verificar qual delas se compatibilizaria com o
Estado democrático de direito, concluindo-se que essa seleção deve
encontrar seu fundamento de validade na Constituição da República,
que tem como princípio nuclear a dignidade da pessoa humana.
Referências
92
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SETEMBRO/DEZEMBRO 2017
93
MASSON, Cleber. Teoria constitucional do direito penal e os
mandados de criminalização. São Paulo, 2010. Disponível
em: <http://www.cartaforense.com.br/conteudo/artigos/
teoria-constitucional-do-direito-penal-e-os-mandados-de-
criminalizacao/5222>. Acesso em: 3 nov. 2016.
94
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SETEMBRO/DEZEMBRO 2017
95
O RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO
DE DIPLOMA E A RELATIVIZAÇÃO
DO PRINCÍPIO DA UNICIDADE DA
CHAPA: UMA ANÁLISE À LUZ DA
SUSPENSÃO DOS DIREITOS
POLÍTICOS
JAMILLY IZABELA DE BRITO SILVA
JOÃO DE JESUS ABDALA SIMÕES
VOLUME 12 – NÚMERO 3
SETEMBRO/DEZEMBRO 2017
RESUMO
1
Artigo recebido em 11 de agosto de 2017 e aprovado para publicação em 21 de setembro de 2017.
2
Assessora Jurídica da Corregedoria Regional Eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral do
Amazonas. Agente técnico-jurídico do Ministério Público do Estado do Amazonas. Pós-
graduada em Direito Civil, Direito Processual Civil e Direito Público pelo Centro Universitário
de Ensino Superior do Amazonas (Ciesa).
3
Vice-Presidente e Corregedor Regional Eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas
(biênio 2016-2018) e Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas (desde 2004).
Pós-graduado em Direito Privado pela Universidade Federal do Amazonas (1982) e em
Direito Processual Civil pela Fundação Getúlio Vargas (1999).
99
na hipótese proposta, especialmente se considerada a teleologia da
legislação eleitoral.
ABSTRACT
100
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1 Introdução
O microssistema eleitoral, se analisado a partir da edição do
Código Eleitoral de 1965 tinha como escopo principal proteger o
direito de votar e de ser votado (capacidade eleitoral ativa e passiva
stricto sensu). Todavia, com o passar do tempo e, principalmente,
com o advento da Constituição de 1988, é certo que tem se operado
uma transfiguração do valor maior que deve ser tutelado pela
legislação eleitoral.
101
bem como será explicitada, ainda que brevemente, a ratio do
microssistema eleitoral à luz da sanção de cassação de diploma. Por
fim, serão elencados os argumentos que subsidiam o temperamento
do referido princípio quando for analisada a teleologia do atual
arcabouço normativo eleitoral.
102
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5
No mesmo sentido: AgR-RO nº 4898, Calçoene/AP, rel. Min. Rosa Maria Weber Candiota
da Rosa, acórdão de 13.12.2016, publicado em sessão; e REspe nº 53288, Aparecida de
Goiânia/GO, rel. Min. João Otávio de Noronha, acórdão de 30.10.2014, DJE 3.12.2014.
103
INSIGNIFICÂNCIA. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA
Nº 282/STF. DESPROVIMENTO.
1. In casu, o registro de candidatura foi indeferido com arrimo no
art. 14, § 3º, II, da Constituição Federal, em razão da suspensão
dos direitos políticos do pretenso candidato, penalidade que lhe
foi aplicada em virtude de condenação por ato de improbidade
administrativa, já transitada em julgado. No entanto, o recorrente
aponta como violado o disposto no art. 1º, I, l, da Lei Complementar
nº 64/1990 [...].
3. Ausente condição de elegibilidade de status constitucional,
consistente na plenitude dos direitos políticos, não há como
reformar o acórdão para deferir o registro de candidatura.
4. O marco inicial para cumprimento das sanções de perda da
função pública e de suspensão dos direitos políticos é o trânsito em
julgado da sentença condenatória (art. 20 da Lei nº 8.429/1992).
Na espécie, o trânsito em julgado do acórdão que suspendeu os
direitos políticos do agravante, pelo prazo de cinco anos, ocorreu
em 15 de fevereiro de 2016, não havendo que se falar, portanto,
no término dos efeitos da condenação.
5. Modificar o entendimento adotado pela Corte Regional implicaria
no vedado reexame da matéria fático-probatória dos autos
(Súmula nº 24/TSE). [...]
7. Agravo regimental desprovido.
(AgR-REspe nº 24758, Mairiporã/SP, rel. Min. Luciana Christina
Guimarães Lóssio, acórdão de 11.10.2016, publicado em sessão)
(Grifos nossos)
104
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105
Recurso contra expedição de diploma – Prefeito – Perda de direitos
políticos – Condenação criminal – Trânsito em julgado posterior à
eleição – Condição de elegibilidade – Natureza pessoal – Eleição
não maculada – Validade da votação – Situação em que não há
litisconsórcio passivo necessário – Eleição reflexa do vice – Art. 15,
III, da Constituição da República – Art. 18 da LC nº 64/90.
1. As condições de elegibilidade e as causas de inelegibilidades
são aferidas com base na situação existente na data da eleição.
2. Por se tratar de questão de natureza pessoal, a suspensão dos
direitos políticos do titular do Executivo Municipal não macula
a legitimidade da eleição, sendo válida a votação porquanto a
perda de condição de elegibilidade ocorreu após a realização da
eleição, momento em que a chapa estava completa.
(REspe nº 21.273/SP, rel. Min. Fernando Neves, DJ 2.9.2005)
6
Cfr.: REspe nº 35.830/SP, DJE 4.12.2009.
106
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107
Ora, em se tratando de configuração de ilícito eleitoral apto
a cassar o diploma (item 2), a questão não comporta maiores
digressões: inexiste dúvida quanto a unicidade da chapa. Isso
porque, nesses casos, os votos recebidos pelos integrantes da
chapa (titular e vice) estão contaminados por conduta repreendida
pela legislação eleitoral (captação ilícita de recursos e/ou sufrágio,
condutas vedadas, abuso de poder e/ou uso indevido dos meios de
comunicação, corrupção ou fraude), sendo certo que ambos (titular
e vice) são beneficiários da conduta ilícita.
108
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109
De outra banda, quando se trata da cassação do diploma no
âmbito do RCED (item 3), a conclusão não parece ser a mesma,
considerando, inclusive, que, nessa fase processual, não mais se
permite a substituição do candidato impedido.
110
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111
elegibilidade já existente, ainda que possa fazê-lo na via do RCED,
deverá restringir a cassação do diploma ao integrante que não se
encontra no pleno gozo de seus direitos políticos.
112
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113
No mais, impende registrar que a hipótese não é de nulidade
da votação, porquanto os votos somente serão nulos se forem
dados a candidatos inelegíveis ou não registrados (art. 175, § 3º,
do Código Eleitoral8), sendo certo que também não é hipótese de
falsidade, fraude, coação, abuso de poder, emprego de processo de
propaganda ou captação de sufrágios (art. 222 do Código Eleitoral9).
8
Art. 175. Omissis. [...] § 3º Serão nulos, para todos os efeitos, os votos dados a candidatos
inelegíveis ou não registrados.
9
Art. 222. É também anulável a votação, quando viciada de falsidade, fraude, coação, uso
de meios de que trata o art. 237, ou emprego de processo de propaganda ou captação de
sufrágios vedado por lei.
10
Art. 224. Omissis. [...] § 3o A decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro,
a cassação do diploma ou a perda do mandato de candidato eleito em pleito majoritário
acarreta, após o trânsito em julgado, a realização de novas eleições, independentemente do
número de votos anulados.
11
Expressão cunhada pelo Ministro Humberto Gomes de Barros comumente citada pelo
Superior Tribunal de Justiça nos seguintes termos: “A questão trazida pela parte, em que
pese seu prévio conhecimento, fora propositadamente omitida e só suscitada no momento
tido por conveniente pela mesma, traduzindo-se em estratégia rechaçada por esta Corte
Superior (‘nulidade de algibeira’)” Cfr. AgInt nos EDcl no AREsp 539070/PE. Relatora: Min.
Maria Isabel Gallotti. Acórdão de 14.2.2017, DJE de 21.2.2017.
114
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3 Conclusão
Neste artigo, buscou-se desenvolver argumentos que subsidiem
a relativização do princípio da unicidade da chapa para os casos de
circunstâncias de natureza pessoal que ensejam o indeferimento do
registro e/ou a cassação do diploma que somente são arguidas por
ocasião do recurso contra expedição de diploma.
115
Ora, deve-se primar pela tutela do direito material em
detrimento da tutela do direito processual, e se o impedimento
de natureza pessoal somente foi trazido à baila quando a chapa
estava legitimamente registrada e eleita, não há que se falar em
desconsideração – ipso facto – dos dois integrantes que se elegeram
quando não há nenhuma circunstância que impeça o vice de exercer
o mandato (ou vice-versa).
116
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Referências
117
_____. _____. Recurso Especial Eleitoral nº. 22213/PB, Rel. Min.
GILSON LANGARO DIPP, DJe de 28.02.2014.
GOMES. José Jairo. Direito Eleitoral. 12. ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Atlas, 2016.
118
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119
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NA HISTÓRIA
ABSTRACT
1
Artigo recebido em 5 de junho de 2017 e aprovado para publicação em 8 de novembro de 2017.
2
Acadêmico do Curso de Direito da Faculdade Serra do Carmo (Fasec).
3
Professor do Curso de Direito da Fasec.
121
Code and Law nº 13.165/2015 of the electoral reform. In this bias,
aspects related to the financing of electoral campaigns in Brazil,
its historicity, capture of votes, costs, rendering of accounts
and disapproval of the campaign accounts, provided for in Law
nº 13.165/2015. Thus, this work supports the idea of a possible
openness and transparency as to the origin and destination of the
resources used to finance political campaigns, in order to reduce
the costs of electoral campaigns, and to tighten the regulation,
application and enforcement of the rules by the electoral courts.
122
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1 Introdução
A Lei nº 13.165, de 29 de setembro de 2015, sofreu alterações
referentes aos custos processuais eleitorais, e tal minirreforma traz
um novo modelo de financiamento de campanha eleitoral, que terá o
condão de reduzir o abuso do poder econômico no processo eleitoral.
123
e, depois de eleitos, uma plataforma de interesse do grupo
financiador entrava em ação, causando constante preocupação da
sociedade e repercutindo na ordem e no progresso.
124
VOLUME 12 – NÚMERO 3
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125
sobre os meios que podem ser utilizados para promover doações
de recursos para a agremiação. O intuito era oferecer mecanismos
legais para diminuir os custos das campanhas eleitorais e também
deixar mais rigorosas as regras sobre doações de campanha, de
modo a simplificar a administração e impor sanções ao infrator.
126
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127
é solidariamente responsável, com a pessoa por ele designada,
pela veracidade das informações financeiras e contábeis de sua
campanha, devendo ambos assinar a prestação de conta.
128
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129
nome e o número com que foi registrado; imunidade formal – não
ser preso desde 15 dias antes da data do pleito até 48 (quarenta
e oito) horas depois do encerramento da eleição, salvo se houver
flagrante delito ou em virtude de prisão cautelar decretada em
sentença penal condenatória por crime inafiançável; manifestar
livremente seu pensamento; conceder entrevistas em veículos de
mídia, ainda que virtuais. Entrevistas podem ser dadas ainda antes
do início do período eleitoral; realizar todo tipo de propaganda
eleitoral considerada lícita pela legislação; não ser impedido de
fazer propaganda, nem ter inutilizado, alterado ou perturbado
meio de propaganda devidamente empregado (CE, arts. 248,
331 e 332); promover e divulgar pesquisas eleitorais; fiscalizar
todo o processo eleitoral, inclusive os atos praticados pelos seus
concorrentes; acompanhar e fiscalizar a votação, apuração e
totalização de votos (GOMES, 2016 p. 392).
130
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131
devidamente identificados ou mecanismo disponível em sítio do
partido na Internet que permita, inclusive, o uso de cartão de crédito
ou de débito e que atenda aos requisitos de identificação do doador
e emissão obrigatória de recibo eleitoral para cada doação realizada.
Art. 5º [...]
I - para o primeiro turno das eleições, o limite será de:
a) 70% (setenta por cento) do maior gasto declarado para o
cargo, na circunscrição eleitoral em que houve apenas um turno;
b) 50% (cinquenta por cento) do maior gasto declarado para o
cargo, na circunscrição eleitoral em que houve dois turnos;
II - para o segundo turno das eleições, onde houver, o limite de
gastos será de 30% (trinta por cento) do valor previsto no inciso I.
Parágrafo único. Nos Municípios de até dez mil eleitores, o limite
de gastos será de R$100.000,00 (cem mil reais) para Prefeito e
de R$10.000,00 (dez mil reais) para Vereador, ou o estabelecido
no caput se for maior.
Art. 6º O limite de gastos nas campanhas eleitorais dos candidatos
às eleições para Senador, Deputado Federal, Deputado Estadual,
Deputado Distrital e Vereador será de 70% (setenta por cento)
132
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Nesse contexto, Severo (2015) afirma que o art. 32, § 3º, da Lei
nº 9.096/1995 (revogado pela reforma eleitoral de 2015) exigia que
“no ano em que ocorrem eleições, o partido deve enviar balancetes
mensais à Justiça Eleitoral, durante os quatro meses anteriores e
os dois meses posteriores ao pleito”. Assim, após lançadas tais
alterações, essa obrigação deixa de existir.
133
partido) e também dos relativos à cota do Fundo Partidário, dos
recursos próprios e das doações de pessoas físicas.
134
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135
conta bancária e de devolução dos recursos oriundos de fonte
vedada ou de origem não identificada, a obrigatoriedade de
abertura de conta bancária para os candidatos ao de cargo de
vereador em municípios com menos de vinte mil eleitores, desde
que haja agência bancária ou posto de atendimento bancário e a
ampliação do valor de R$ 50.000,00 para R$ 80.000,00 para as
doações estimáveis em dinheiro (WALDSCHMIDT, 2015).
136
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137
da Justiça Eleitoral, única competente para afirmar se há ou não
inelegibilidade.
138
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5 Conclusão
A reforma eleitoral, ocorrida mediante a Lei nº 13.165/2015,
requintou algumas demandas pelo Sistema Político Eleitoral
(político-empresarial), singularmente nas doações das campanhas
eleitorais, vedando-as por via de pessoa jurídica, permitindo receber
somente doações de pessoa física, que deverá ser de até 10% dos
rendimentos brutos auferidos no ano anterior ao da eleição.
139
Por conseguinte, poderá o candidato, também, nos termos do
art. 23, § 1º-A, da Lei das Eleições, acrescido pela supracitada lei, usar
recursos próprios em sua campanha até o limite de gastos delineado
pela legislação brasileira. A doação acima de tal limite sujeitará o
doador à multa de cinco a dez vezes o valor doado irregularmente,
sanção aplicada pela Justiça Eleitoral em ação jurisdicional movida
contra o infrator.
140
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141
na aplicação das medidas cabíveis aos violadores; e) criação de leis
mais rígidas, de modo que, seja punido criminalmente e civilmente;
f) fim do foro privilegiado; g) aposentadoria dos políticos nos modos
gerais e fim dos privilégios a ex-presidentes; e h) cessação dos
supersalários e de recebimento de gratificação nas sessões.
Referências
142
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SETEMBRO/DEZEMBRO 2017
<http://interessenacional.com/index.php/edicoes-revista/sobre-o-
enraizamento-dos-partidos-politicos-na-sociedade-brasileira-2/.>
Acesso em: 5 de jun. 2017.
GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2016.
143
NA HISTÓRIA
ANTONIO PAIM2
RESUMO
ABSTRACT
1
O artigo foi transcrito preservando-se a originalidade de seu conteúdo. A redação foi
atualizada em consonância com o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 2009,
e com as normas de publicação da revista Estudos Eleitorais.
2
Presidente do Conselho Acadêmico do Instituto de Humanidades e membro do Instituto
Brasileiro de Filosofia, da Academia Brasileira de Filosofia, do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, da Academia das Ciências de Lisboa e do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira
(Portugal). Professor auxiliar (UFRJ), adjunto (PUC-RJ), catedrático e livre docente
(Universidade Gama Filho) de 1960 a 1989.
147
research, leading to the understanding of its origin and principles
led and interfered in the directions of its trajectory.
148
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Lista fechada
A favor – 21
Contrários – 402
Abstenções – 2
149
Só então se verificou que Assis Brasil, com o seu modelo híbrido,
havia ido ao encontro de sentimento arraigado ao qual não se podia
renunciar: a escolha de um nome na hora do voto, como, afinal
de contas, era a maneira praticada no país desde que se aboliu a
monarquia absoluta em prol da constitucional.
150
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151
No discurso em apreço, publicado com o título de Ditadura,
parlamentarismo, democracia, Assis Brasil apresentou e justificou
as seguintes teses:
152
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153
A opinião expressa por Assis Brasil corresponde não à verdade dos
fatos, mas à sobrevivência de uma tese de cunho propagandístico,
posta em circulação nos primórdios da campanha republicana. A
distinção é a seguinte: no Império, sabia-se e proclamava-se que
a representação era de interesse; na República, perdeu-se de vista
essa evidência, despreocupando-se a nova elite da organização do
eleitorado, como forma de expressão da diversidade de interesses.
154
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155
3 Assis Brasil continua ativo
Assis Brasil sobreviveria à reforma constitucional de 1926,
que consagrou o princípio da proibição da reeleição do primeiro
mandatário, que, impunemente, violara-se no Rio Grande; à
ascensão de Getúlio Vargas ao governo rio-grandense, que obteve
uma trégua nas antigas disputas; e, finalmente, à Revolução de 1930
e à Constituinte de 1934, da qual foi membro, tendo renunciado ao
mandato antes de votada a Constituição.
156
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NA HISTÓRIA
NA HISTÓRIA
157
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NA HISTÓRIA
RESUMO
ABSTRACT
1
O artigo foi transcrito preservando-se a originalidade de seu conteúdo. A redação foi
atualizada em consonância com o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 2009 e
com as normas de publicação da revista Estudos Eleitorais.
2
Ministro do Tribunal Superior Eleitoral entre 1996 e 2001.
159
1. A primeira eleição que Joaquim Francisco de Assis Brasil
disputou foi no final do Império, em dezembro de 1883, para uma
cadeira na Assembleia Provincial do Rio Grande do Sul, em razão da
morte de um de seus membros.
3
Mas, nesse caso, sendo apenas dois os candidatos, e não computados os votos em branco, a
maioria absoluta seria sempre alcançada pelo vencedor. O artigo foi transcrito preservando-se
a originalidade de seu conteúdo. A redação foi atualizada em consonância com o Novo
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 2009 e com as normas de publicação da revista
Estudos Eleitorais
160
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Votos
Geraldo de Faria Correa 420
Assis Brasil 44
5
4
E era a primeira vez que se aplicava, no Brasil, o quociente eleitoral – a cifra que resulta
da divisão do número de votantes, em determinada circunscrição, pelo número de postos
a preencher. Curiosamente, ainda em uma eleição majoritária, de listas, mas com escolha
uninominal pelos votantes. O quociente voltou a ser empregado na Lei nº 153, de 14
de julho de 1913, proposta por Borges de Medeiros, com seu regime que instaurou, no
Estado do Rio Grande do Sul, o regime proporcional. Segundo Giusti Tavares, em sua tão
admirável introdução à obra de Assis (A Democracia representativa na república: antologia,
Brasília, Senado Federal, 1998, p. VI), Borges seguira na trilha aberta por Assis Brasil e Assis
introduzira, assim, uma cunha liberal no autoritarismo monolítico do adversário. No plano
nacional, o sistema proporcional foi, em definitivo, imposto pelo Código Eleitoral de 1932.
5
O Paiz, ed. n. 44, 21 fev. 1884.
6
Práticas parlamentaristas efetivamente contrárias à separação entre o Executivo e o
Legislativo, prevista na Constituição.
161
pleito, se pudesse, ou não, restaurar sua maioria no Congresso. E
a dissolução de 1844 foi a 9ª entre as 11 que o Império assistiu no
Segundo Reinado.
Votos
Egídio Barbosa Itaqui 731
Severino Ribeiro 716
Assis Brasil 148
8
7
LYRA, Heitor. História de D. Pedro II. Belo Horizonte: USP/Itatiaia, 1997. T. 3, p. 16.
8
A Federação, n. 285, 11 dez. 1884.
162
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SETEMBRO/DEZEMBRO 2017
Partidos Votos
Egídio Barbosa Itaqui PL 384
Severino Ribeiro PC 361
Propício Barreto Pinto PL 331
Francisco Azevedo e Souza PC 319
Assis Brasil PRR 277
Eduardo Lima PL 52
Jaime Couto - 3
9
Votos
Francisco Azevedo Souza 549
Propício Barreto Pinto 517
Assis Brasil 429
Eduardo Lima 272
11
9
SACCOL, Tassiana Maria Parcianello, Um propagandista da República: política, letras e família
na trajetória de Assis Brasil – Década de 1880. Porto Alegre: PUCRS, p.168.
10
SACCOL, Tassiana Maria Parcianello, ob. cit., p. 168.
11
A Federação, ed. n. 38, 16 fev. 1885.
163
Dos quatro candidatos que passaram para o 2º escrutínio,
somente Francisco Souza era conservador. Se os 361 eleitores
conservadores que votaram em Severino Ribeiro no 1º escrutínio
também tivessem votado em Francisco, ele teria somado 680
votos, mas não foi isto o que ocorreu, pois ele obteve apenas
549. Portanto, 131 conservadores não votaram no candidato
de seu próprio partido e decidiram apoiar outro. Ora, de 277
votos recebidos no 1º escrutínio, exclusivamente de eleitores
republicanos, Assis Brasil saltou para 429, conseguindo, portanto,
o apoio de 157 eleitores em poucos dias. Ao cruzar tais dados, é
possível inferir que eram votos de conservadores.12
12
SACCOL, Tassiana Maria Parcianello, ob. cit., p. 168.
13
A Federação, ed. 48, de 28 de fevereiro de 1885, cit. por SACCOL, Tassiana Maria Parccianello,
ob. cit., p. 174.
164
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SETEMBRO/DEZEMBRO 2017
Assis se candidata.
14
FRANCO, Sérgio da Costa, A Assembleia Provincial do Rio Grande do Sul (1835-1889). Porto
Alegre: CORAG, 2004. p. 75.
15
Atas do Conselho de Estado, Brasília: Senado Federal, v. XII, p. 44.
165
A eleição se deu em 15 de janeiro de 1886 e, em edição do dia 18
de janeiro, A Federação trazia o resultado conhecido do pleito, com
a seguinte distribuição de votos:
Votos
Severino Ribeiro 537
Egydio B. de Oliveira Itaquy 498 e 1 em sep.
Assis Brasil 120 e 1 em sep.
Em branco 1
O jornal acrescentava, no entanto, que um telegrama do candidato
Severino Ribeiro indicava como resultado final:
Votos
Severino Ribeiro 698
Egydio B. de Oliveira Itaquy 617
Assis Brasil 158
16
16
A Federação, ed. 14, 18 jan. 1886.
17
A Federação, ed. n. 73, 31 mar. 1886.
166
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O resultado:
Votos
Cons. Francisco Antunes Maciel 689 e 1 em sep.
Dr. João Pereira da Silva Borges Fortes 543 e 3 em sep.
José Bernardino da Cunha Bittencourt 211
Dr. Joaquim Francisco de Assis Brasil 207
18
Partidos Votos
Geraldo Faria Liberal 323
Pinto Dias Conservador 312
Borges Fortes Conservador 304
Assis Brasil Republicano 286
Albino Pinto Liberal 237
Bittencourt Conservador 92
Egídio Itaqui Federalista 91
Adriano Ribeiro Liberal 38
Hemetério Conservador 37
19
18
Relatório apresentado pelo Sr. Des. Henrique Pereira de Lucena, presidente da Província
do Rio Grande do Sul ao Ex.mo Sr. Marechal de Campo Manoel Deodoro da Fonseca, 1º
vice-presidente ao passar-lhe a administração da mesma província, em 8 de maio de 1886,
Porto Alegre: Officinas Typográficas do Conservador, 1886. p. 25 e 26.
19
A Federação, ed. n. 5, 7 jan. 1887.
167
Faltava, dizia-se na notícia, o resultado de Alegrete, “mas
afirma-se que, ali, não houve eleição”. O quociente necessário era
de 344 votos, que nenhum candidato atingiu, havendo, então, de
ser marcado um segundo escrutínio.
Votos
Albino Pinto 340
Borges Fortes 338
Pinto Dias 319
Assis Brasil 284
Geraldo Corrêa 254
Itaqui 40
Bittencourt 28
20
A Federação, ed. n. 53, 7 mar. 1887.
21
Atas do Conselho de Estado, ob. cit., vol. VII, p. 239.
168
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22
A Federação, n. 197, 30 ago. 1889.
23
A Federação, n. 200, 2 set. 1889.
24
O Paiz, ed. n. 1.791, 2 set. 1889.
169
8. Com a proclamação da República e o afastamento do Imperador
Pedro II, assumiu o poder Deodoro da Fonseca, como chefe do
Governo Provisório e, pelo Decreto nº 6, de 19 de novembro de
1889, dispôs que se consideravam eleitores, “para as câmaras
gerais, provinciais e municipais, todos os cidadãos brasileiros, no
gozo de seus direitos civis e políticos, que souberem ler e escrever”.
170
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171
Votos
Victorino Ribeiro 37.444
Pereira da Costa 36.807
Antão de Faria 36.788
Júlio de Castilhos 36.767
Ernesto Alves 36.601
Borges de Medeiros 36.486
Alcides Lima 36.007
Assis Brasil 35.646
Tenente Coronel Thomaz T. Flores 35.421
Vice Almirante Joaquim Francisco de 35.251
Abreu
Homero Baptista 35.234
General Manoel Luiz da Rocha Osório 35.065
Cassiano do Nascimento 35.096
Fernando Abott 34.981
Demétrio Ribeiro 32.847
Menna Barreto 30.635
25
25
O Paiz, ed. n. 3105, 25 out. 1890.
26
Annaes do Congresso Constituinte da República, 1890. Brasília: Câmara dos Deputados,
Biblioteca Digital, http://bd.camara.leg.br, p. 55.
27
Annaes, ob. cit., p. 99.
172
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28
Muito mais tarde, Assis contaria: “Recém entrado na casa dos trinta anos, fui chamado por
Deodoro Fonseca para Ministro de Estado, quando organizava o seu primeiro Conselho para
o período constitucional. Foi-me dada opção livre por qualquer das pastas. Assisti a mais de
uma reunião do ministério a ser constituído. Neguei o meu assentimento, pelos motivos que
então fiz públicos na imprensa e que não foram desmentidos”. (In BROSSARD, Paulo, ob. cit.,
vol. 3, p. 307)
173
não foi, espero que não me negarão a justiça de reconhecer que
agora, como sempre, fui superior a toda e qualquer consideração
que não fosse o bem da pátria e da República.29
29
Pharol, ed. 49, 27 fev. 1891.
30
BROSSARD, Paulo (org.), Ideias políticas de Assis Brasil. Brasília: Senado Federal; Rio de
Janeiro: Casa Rui Barbosa, 1989. p. 37. V. 1.
31
Manifesto do presidente da República aos brasileiros. In: Mensagens presidenciais – 1890 a
1010. Brasília: Câmara dos Deputados, 1978. p. 30.
32
A referência ao funcionário mostrava bem a indisposição de Deodoro para com Floriano,
chefe reconhecido da conspiração contra ele, na análise de José Maria Bello, em seu livro
História da República. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1940. p. 118.
174
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33
BROSSARD, Paulo, ob. cit., p. 156-7.
34
Gazeta de Notícias, ed. n. 211, 13 set. 1922.
35
Gazeta de Notícias, ed. n. 223, 22 set. 1922.
36
Gazeta de Notícias, ed. n. 232, 3 out. 1922.
175
E concluíra:
176
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40
O Paiz, ed. 13.916, 26 nov. 1922. p. 3.
177
Municípios Borges Assis Brasil
Encantado 1.093 51
Erechim 1.135 577
Garibaldi 834 195
Gravataí 896 216
Guaporé 2.696 128
Herval 386 223
Itaqui 643 256
Ijuí 2.564 81
Jaguarão 805 235
Julio de Castilhos 1.214 710
Jaguari 546 93
Lageado 2.346 242
Lagoa Vermelha 2.084 642
Lavras 410 150
Livramento 2.300 354
Montenegro 1.456 195
Palmeira 1.877 1.203
Passo Fundo 3.488 906
Pelotas 4.257 1.582
Piratini 416 467
Porto Alegre 8.175 3.607
Pinheiro Machado 419 404
Quaraí 793 410
Rio Grande 2.458 768
Rio Pardo 1.326 591
Rosário 951 296
Santa Cruz 1.422 357
Santa Maria 1.950 505
Santa Vitória 635 354
Santo Amaro 338 75
Santo Ângelo 2.311 449
S. Antônio da
2.382 650
Patrulha
São Borja 1.311 529
S. Francisco de
450 306
Assis
178
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SETEMBRO/DEZEMBRO 2017
179
Bernardes respondeu ao senador entregando-lhe carta em que disse
que não poderia aceitar o honroso convite
Contou Bernardes que igual resposta dera a Assis, que lhe fizera
idêntico pedido.
41
O Jornal, ed. n. 1213, 27 dez. 1922.
180
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E tudo se fez.
42
O Paiz, n. 50, 22 dez.1923.
43
O Brazil (RS), ed. n. 8, 23 fev.1924.
181
Vespúcio de Abreu Assis Brasil
Primeiro distrito 28.655 10.027
Segundo distrito 30.506 12.829
Terceiro distrito 20.635 14.732
Total 79.796 46.588
44
44
A Federação, n. 110, 12 maio 1924.
45
A Federação, ed. 30, 24 fev.1927.
182
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183
184
Carlos Edmundo Simões Luis Domingos Barbosa Assis Paulo
Municípios
Barbosa Berchon Lopes Osório Mascarenhas Gonçalves Brasil Labarth
Arroio Grande 504 ... 554 565 568 564 368 ...
Bagé 2.553 ... 2.553 2.553 2.553 2.553 3.000 ...
Caçapava 501 ... 489 489 489 489 1.900 ...
D. Pedrito 917 ... 917 917 917 917 2.192 250
Camaguam 971 ... 971 971 971 971 175 ...
Encruzilhada 730 ... 730 720 720 720 620 ...
Herval 186 ... 186 186 186 186 110 ...
Jaguarão 514 ... 514 512 512 514 380 ...
Lavras 339 ... 339 339 339 339 175 ...
Livramento 1.979 ... 1.837 1.837 1.837 1.837 160 1.538
Pelotas 4.385 ... 4.385 4.385 4.385 4.385 2.868 ...
P. Machado 405 ... 405 405 405 405 536 41
Piratiny 526 ... 527 527 527 527 1.440 ...
Rio Grande 3.119 ... 3.104 3.102 3.102 3.104 261 ...
Rosário 1.223 ... 1.222 1.222 1.222 1.222 156 168
S. Victoria 465 ... 465 465 465 165 560 ...
S. Gabriel 835 ... 811 831 831 838 1.896 ...
S. Jeronymo 1.182 106 1.182 1.182 1.182 1.182 382 8
Camaquam 534 ... 534 534 534 534 832 ...
S. J. do Norte 207 2 1.074 207 207 207 64 ...
S. Lourenço 1.074 ... 1.074 1.074 1.074 1.074 200 ...
S. Sepé 394 ... 394 394 394 394 793 70
46
A Federação, n. 51, 3 mar. 1927.
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SETEMBRO/DEZEMBRO 2017
47
Pelo primeiro distrito.
48
Pelo segundo distrito.
49
A Federação, n. 51, 3 mar. 1927.
50
A Federação, n. 50, 2 mar. 1927.
185
convulsionaram o meio oposicionista e o assassinato de João Pessoa
impeliu, afinal, para a revolução, em 3 de outubro de 1930, que
instalou Vargas no poder.
51
Segundo o Decreto nº 19.398, de 11 de novembro de 1930.
52
Decreto nº 21.402, de 14 de maio de 1932.
53
O trabalho da comissão, do mais elevado nível, nesse tipo de debate, em nossa história
constitucional, foi publicado no Diário Oficial e suas atas transcritas em livro do bacharel mineiro
José Affonso Mendonça de Azevedo, (Elaborando a Constituição Nacional, Belo Horizonte, (s.n.)
1993), depois republicado em edição fac-similar pelo Senado Federal, em 2004.
186
VOLUME 12 – NÚMERO 3
SETEMBRO/DEZEMBRO 2017
54
AZEVEDO, José Afonso de Mendonça Alencar, ob. cit., p. 1.028.
187
expendidos pelo relator e pelo procurador-geral e, principalmente,
por haverem os dois partidos feito uso de chapas desse material.
Candidatos sob a
Sba. S/ Sba.
legenda do Partido Soma S/Leg Soma
Leg. Leg. Leg.
Rep. Liberal
Heitor Annes Dias 105 25 130 172.056 6.226 138.282
Frederico J.
29 11 40 132.056 6.196 138.252
Wolffenbüttek
João Simplício A.
5 9 14 132.056 6.151 138.207
Carvalho
Renato Barbosa 3 1 4 132.056 6.096 138.152
Augusto Simões Lopes 67.329 146 67.475 132.056 6.090 138.146
Demétrio Mércio
43 31 74 132.056 6.082 138.138
Xavier
Victor Russomano 3 54 57 132.056 6.073 138.129
João Ascanio Moura
3 5 8 132.056 6.044 138.100
Tubino
Pedro Vergara 2 2 4 132.056 5.810 137.866
Frederico Dahne 339 522 861 132.056 5.308 137.364
João Fanfas Ribas 1 2 3 132.056 1.159 133.215
Carlos Marx P. dos
64.086 69 64.155 132.056 692 132.748
Santos
Argemiro Dornelles 9 33 42 132.056 536 132.592
Gaspar Saldanha 26 4 30 132.056 499 132.555
Raul Jobim Bittencourt 2 53 55 132.056 467 132.523
Adalberto Corrêa 67 1 68 132.056 295 132.351
Candidatos sob a
Sba. S/ Sba.
legenda Soma S/Leg Soma
Leg. Leg. Leg.
Frente Única
Joaquim Maurício
20.155 1.308 21.463 37.430 8.334 45.764
Cardoso
Sérgio Ulrich de
34 6 40 37.430 8.138 45.568
Oliveira
Adroaldo M. da Costa 366 5.550 5.916 37.430 8.030 45.460
Oswaldo Fernandes
0 9 9 37.430 7.914 45.344
Vergara
Joaquim Luiz Osório 92 10 102 37.430 3.731 41.161
188
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Candidatos sob a
Sba. S/ Sba.
legenda Soma S/Leg Soma
Leg. Leg. Leg.
Frente Única
João Gonçalves Vianna
10 9 19 37.430 3.551 40.981
Filho
Euclydes Minuano de
7 0 7 37.430 3.134 40.564
Moura
Bruno de Mendonça
220 85 305 37.430 3.113 40.443
Lima
Oscar Carneiro da
11 7 18 37.430 2.975 40.405
Fontoura
Edgar Luiz Schneider 9 13 22 37.430 2.924 40.354
Camillo Teixeira Mércio 105 49 154 37.430 2.925 40.359
Joaquim F. de Assis
16.422 1.583 17.006 37.430 2.760 40.190
Brasil
Candidatos sob a
Sba. S/ Sba. S/
legenda Soma Soma
Leg. Leg. Leg. Leg
Pro Estado Leigo
Manoel S. Gomes de
1.082 336 1.418 1.115 625 1.740
Freitas
Fernando Souza do Ó 18 159 177 1.115 581 1.696
Eduardo M. Barreto
1 31 32 1.115 568 1.683
Jayme
Lucídio Ramos 0 0 0 1.115 542 1.657
Agnello C. de
0 0 0 1.115 535 1.650
Albuquerque
Alcides F. das C.
0 0 0 1.115 533 1.648
Carvalho
Arthur Thompson 2 4 6 1.115 524 1.639
189
Por três vezes, naquele pleito, o TSE teve de fulminar escolhas
realizadas com o vício de antigas impudências, em Mato Grosso, no
Espírito Santo e em Santa Catarina.
II
55
O Paiz, ed. n. 16911, 28 fev. 1933.
190
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SETEMBRO/DEZEMBRO 2017
191
E continuava:
1º grupo em A e C.
2º grupo em C e B.
3º grupo em B e A.
192
VOLUME 12 – NÚMERO 3
SETEMBRO/DEZEMBRO 2017
Assis não pretendia justificar as medidas uma vez que não poderia
fazê-lo “nos curtos limites de um discurso. A Câmara teria as razões
com que procurava justificá-las, em um folheto que fará imprimir e
no jornal da Casa, onde o Sr. Presidente as mandaria publicar”.
62
BRASIL, Joaquim Francisco de Assis. Democracia representativa: do voto e do modo de votar.
3. ed. Paris: Guillard Aillaud, 1895.
193
§ 4º Não alcançando o número de eleitos no primeiro turno ao
número de deputados a eleger, considerar-se-ão eleitos os mais
votados no segundo turno, até o preenchimento de todas as
vagas do primeiro.
63
J. J. Rodrigues de Freitas Porto, nascido em janeiro de 1840 e falecido em julho de 1896 foi,
por quatro vezes, deputado à Assembleia portuguesa, e autor de livros como Notice sur le
portugal (1867), O Portugal contemporâneo do Sr. Oliveira Martins (1881) e Princípios de
economia política (1883).
64
BRASIL, J. F. de Assis, ob. cit., p. 335.
194
VOLUME 12 – NÚMERO 3
SETEMBRO/DEZEMBRO 2017
E continuou ele:
O livrinho que então não foi lido e do qual os jornais mais corteses
disseram apenas ‘recebemos e agradecemos’ acaba de suspirar
ao Senado um projeto de lei para regular as eleições municipais da
capital federal. Aprovado nessa Câmara, foi impugnado na outra.66
Art. 3º.
[...]
§ 1º Para a eleição, cada eleitor votará em cinco nomes escritos
em uma única cédula.
65
BRASIL, J. F. de Assis, ob. cit., p. 173.
66
BRASIL, J. F. de Assis, ob. cit., 3. ed., p. 9.
195
§ 2º O primeiro nome colocado no alto de cada cédula considera-se
votado em primeiro turno para ser eleito por quociente; os outros
nomes formarão segundo turno para serem eleitos por pluralidade
de votos.
§ 3º Consideram-se eleitos no primeiro turno todos os cidadãos
que conseguirem um número de votos correspondente ao
quociente que resultar da divisão por cinco das cédulas apuradas
nas diversas seções de cada distrito eleitoral, não se incluindo, no
cálculo, as cédulas em branco nem as que forem encontradas em
invólucro que contenha mais de uma.
§ 4º Para preencher os lugares que faltarem até o número de cinco
em cada distrito, por não atingirem ao quociente os cidadãos
votados, considerar-se-ão eleitos os mais votados do segundo
turno até o preenchimento de todas as vagas.
67
BRASIL, J. F. de Assis, ob. cit., p. 12.
68
Ideias políticas de Assis Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1990. v. 2, p. 530.
196
VOLUME 12 – NÚMERO 3
SETEMBRO/DEZEMBRO 2017
197
Brasil para intervir de qualquer maneira na elaboração da projetada
reforma eleitoral do Estado”.69
69
O Paiz, ed. n. 15.615, 22 jul. 1927.
70
BRASIL, J. F. de Assis, ob. cit., 3. ed., p. 93 e ss.
71
BRASIL, J. F. de Assis, ob. cit., 3. ed., p. 188 e ss.
198
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72
BRASIL, J. F. de Assis. Democracia representativa: do voto e do modo de votar. 3. ed. Paris:
Guillard Aillaud, 1895. p. 188-192.
73
CABRAL, João G. da Rocha, Código Eleitoral da República dos Estados Unidos do Brasil. 3. ed.
Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1934. p. 14-15.
74
Reconhecendo que o processo de dois turnos simultâneos era “invenção do Dr. Assis Brasil”,
Rocha Cabral esclarecia: “Chama-se de dois turnos simultâneos o Projeto Assis Brasil porque,
na mesma cédula, reúne as vantagens da votação uninominal e em lista, de apuração por
quociente no primeiro caso, ou turno, e da maioria relativa, no segundo”. Ver PORTO, Walter
Costa. 2. ed. O voto no Brasil: da Colônia à 6ª República. Rio de Janeiro: Topbooks, 2002.
p. 226 e ss.
199
Como explicava Domingos Vellasco, em seu livro Direito Eleitoral,
de 1935, seriam considerados para o primeiro turno:
75
VELLASCO, Domingos. Direito Eleitoral. Rio de Janeiro: Guanabara, 1935. p. 39 e ss.
76
Ideias políticas de Assis Brasil, ob. cit., p. 532.
200
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Segundo ele,
[...] diz o art. 58 que estão eleitos primeiro turno os que tiverem
obtido o quociente eleitoral e, na ordem da votação consignada,
tantos candidatos registrados sob a mesma legenda quantos
indicar o quociente partidário. Mais adiante, acrescenta
o artigo – contendo a cédula legenda registrada e nome estranho
à respectiva lista, considera-se inexistente a legenda. Verificamos,
assim que um partido cujo quociente for dois pode eleger o seu
77
PIRES, Juliano Machado. A invenção da lista aberta: o processo de implantação da
representação proporcional no Brasil. Rio de Janeiro: Iuperj, 2009.
78
Mas, segundo a imprensa, as mulheres, embora gozando da faculdade de alistar-se, “não
concorreram ao alistamento, em número considerável, por motivos que a nossa educação e
nossos hábitos facilmente justificam”. Jornal do Brasil, ed. 250, 19 out. 1934.
79
PIRES, Juliano Machado, ob. cit., p. 65.
80
Afonso Augusto Moreira Pena Junior era filho do ex-presidente Afonso Augusto Moreira Pena
(1906-1909) e foi professor da Universidade Federal de Minas Gerais, secretário do Interior,
do Estado, deputado estadual e ministro da Justiça.
201
candidato colocado em primeiro lugar e mais dois na ordem da
votação.
Vejamos o final. Há um distrito de dez cadeiras e compareceram
ao pleito 60.000 eleitores. O partido A levou às urnas 18.500
eleitores, o partido B, 9.400 eleitores, o partido C, 12.800, o
partido D, 8.250 e um candidato avulso, 6.100.
O partido A, conhecendo a sua força, distribuiu cédulas fazendo,
no primeiro lugar da lista, um rodízio de três nomes; e o partido C
fez o mesmo com dois nomes.
No momento da apuração, segundo a letra do art. 58, chegamos
a este resultado: termos que considerar eleitos no primeiro
turno três candidatos do partido A (letra a do artigo 58) e mais
três, conforme indica o quociente. O mesmo procedimento será
estendido ao partido C.
Qual o resultado ?
Partido A, três cadeiras no primeiro turno e mais três no segundo;
partido B, 1 e mais 1; partido C, 2 de mais 2; partido D, 1 e mais
1; e ainda há um candidato avulso com o quociente exigido.
No fim de tudo, encontraremos, como se está vendo, quinze
candidatos eleitos e as cadeiras são somente dez”.
81
Jornal do Brasil, ed. 64, 17 mar. 1932, p. 5.
82
Diário de Notícias, n. 61, 12 fev. 1932.
202
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83
Otto Prazeres era jornalista e autor de muitos livros como O Brasil na guerra: algumas notas
para a história. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1918; Curiosidades norte americanas,
Leite Ribeira Ed., 1922; A liga das nações. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1922
e A Presidência da República, Ed. O Norte, 1922.
203
O § 2º do artigo 49... observa:
“Serão considerados dados para o primeiro turno e serão
considerados para o segundo turno... etc.”
Quem considera os turnos ? O apurador.
Logo, o eleitor, quando votou, não designou os turnos, não
separou os turnos, não votou em dois turnos simultâneos. Estes
já estariam perfeitamente distintos.84
Daí vem uma das maiores confusões do Código.85
Ele diz que muito lamenta não estar presente aquele que, “no
momento, é, na matéria, a maior autoridade: o Dr. Assis Brasil”.
84
Barbosa Lima Sobrinho confirma: “[...] o chamado segundo turno, que não constituía um
novo pleito, mas tão somente uma segunda apuração, em que seriam somados os votos
avulsos, não computados na primeira apuração”. Boletim Eleitoral, abr. 1953, p. 339.
85
Jornal do Brasil, 30 abr. 1933, p. 16 e 18.
86
HOLLANDA, Cristina Buarque de. Modos de representação política: o experimento da Primeira
República brasileira. Belo Horizonte: UFMG; Rio de Janeiro: Iuperj, 2009. p. 251.
204
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87
Curioso é que, como relatamos, à frente do governo de Minas, Antonio Carlos, em 1927,
desprezara a colaboração de Assis para sua reforma eleitoral.
88
AZEVEDO, José Afonso de Mendonça Alencar. Elaborando a constituição nacional: atas da
Subcomissão elaboradora do anteprojeto 1932-1933. Brasília: Senado Federal, 2004. p. 198.
89
AZEVEDO, José Afonso de Mendonça Alencar, ob. cit., p. 259 e ss.
205
anos, mediante sistema proporcional e sufrágio direto, igual e
secreto, dos maiores de 18 anos, alistados na forma da lei”.90
90
Annaes da Assembleia Nacional Constituinte. v.1, p. 135.
91
Além de Assis, os Deputados Maurício Cardoso e Adroaldo Mesquita.
92
Annaes da Assembleia Nacional Constituinte, v. 3, 1933-1934, p. 90-101.
93
Annaes da Assembleia Nacional Constituinte, v. 3, 1933-1934, p. 101.
94
O livro foi editado em 1933, em Belo Horizonte e reeditado, em edição fac-similar, pelo
Senado, em 2004.
206
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95
Annaes da Assembleia Nacional Constituinte, v. 3, 1933-1934, p. 502-514.
207
E concluía Mangabeira:
96
A Noite, ed. 8251, 12 nov. 1934.
208
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97
A Federação, nº 263, 19 nov. 1934.
98
Revista da Faculdade de Direito de São Paulo, v. 30, n. 4, 1934.
99
Boletim Eleitoral
100
PORTO, Walter Costa Porto. Dicionário do voto, p. 334 e ss.
209
Como explicava Assis Brasil,
210
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211
candidatos que tivessem obtido o quociente eleitoral e aqueles, da
mesma legenda mais votados nominalmente, quantos indicarem o
quociente partidário (art. 90).
III
107
NICOLAU, Jairo, O Globo, 12 out. 1992.
212
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108
MEM DE SÁ. A politização do Rio Grande. Porto Alegre; São Paulo: Edições Tabajara, 1973.
p. 125.
213
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NO MUNDO
RECONCEITUANDO O POPULISMO:
CONSTRUINDO UM CONCEITO
MULTIFACETADO MAIS ESTRITO
DAVIDE VITTORI
Traduzido por:
ADISSON LEAL
215
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NO MUNDO
RECONCEITUANDO O POPULISMO:
CONSTRUINDO UM CONCEITO
MULTIFACETADO MAIS ESTRITO
RE-CONCEPTUALIZING POPULISM:
BRINGING A MULTIFACETED CONCEPT
WITHIN STRICTER BORDERS
DAVIDE VITTORI1
RESUMO
ABSTRACT
1
Doutorando na Universidade LUISS. Desenvolve pesquisa principalmente sobre partidos
políticos, movimentos partidários e organização partidária e populismo.
2
Assessor-chefe da Escola Judiciária Eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral, mestre em Direito
Constitucional, doutorando em Direito Civil pela Universidade de Lisboa e pesquisador
visitante da Ludwig-Maximilians-Universität München (Alemanha).
217
the adjective populist is used in a normative fashion in the public
debate to denigrate those movements or parties which contrast
the mainstream views. The aim of this paper is twofold: on the one
hand, I conduct a non-normative analysis to avoid a biased vision
of the concept. On the other hand, I advocate the understanding of
populism as a thin-centered ideology, according to which it is based
on two necessary features, namely, (a) an antielite(s) mindset and
(b) the criticism of representative politics.
218
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1 Introdução
O sucesso tanto de partidos de oposição quanto de partidos de
extrema direita no Oeste e no Leste Europeu despertou a atenção
de acadêmicos, da imprensa e de grupos de reflexão para o fenômeno
do populismo. Até o momento, a crescente literatura acadêmica
sobre populismo percorreu desde a ideologia e a organização de
partidos populistas (entre outros, BETZ e JOHNSON, 2004; MUDDE,
2007; STANLEY, 2008) até as atitudes do eleitorado (KROUWEL
and Abts, 2007; AKKERMAN et al. 2013). Também tratou de política
externa (SCHORI-LIANG, 2007; VEERBEK et al., 2014), da participação
de partidos populistas em governos de coalizão (AKKERMAN, 2012;
AKKERMAN e DE LANGE, 2012; MINKENBERG, 2001; HEINISCH, 2003;
FELLA y RUZZA, 2007) e de sua relação com a democracia (ARDITI,
2004; MENY e SUREL, 2000; CANOVAN, 2002; URBINATI, 2013).
219
partidária promoveu uma tendência de identificação automática do
populismo como um fenômeno perigoso para a democracia.
220
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221
referência a um termo demanda a reconstrução do significado do
conceito, porque o significado é a intermediação entre o “mundo
exterior”, isto é, os “objetos”, e a sequência de morfemas que
formam o termo (ou o “significante”). Nas palavras de Gerring,
“conceitos visam identificar as semelhanças, agrupando-as, e
contrastando-as com as diferenças”. Maçãs são maçãs, e laranjas
são laranjas” (2012, p. 125).
222
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223
políticos e, por essa razão, diversos atributos adicionais foram
atrelados a ele.
224
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225
outro, o liberalismo como ideologia nuclear já tem os seus opositores,
tais como o comunismo, o fascismo e assim por diante. É bastante
discutível se todas essas ideologias nucleares podem ser consideradas
populistas em razão da sua orientação não liberal.
226
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227
Ademais, de acordo com Jansen, movimentos populistas são
projetos políticos de massa ou de larga escala; no entanto, tal suposição
pressupõe que partidos de micro escala ou não institucionalizados
devam ser considerados não populistas. É desnecessário dizer que
alguns partidos políticos que são atualmente definidos como populistas
tiveram início como movimentos antissistema/antielite, que ganharam
projeção nacional apenas nas intenções (FPO e Northern League, mas
também os partidos progressistas na Noruega ou o National Front
na França, entre outros). No que diz respeito ao sucesso eleitoral, é
evidente que o populismo não pode ser definido pela parcela de votos
que um partido ou um movimento obtém nas eleições.
228
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229
considerada característica definidora do fenômeno populista, a não
ser que todos os movimentos sem liderança (tais como o Occupy
Wall Street; o Indignados, na Espanha e na Grécia; e o Popolo Viola,
na Itália) sejam tratados inicialmente como não populistas.
230
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231
da administração, que divide demandas que o populismo une,
conferindo um significado consistente a um significante vazio (ver
também Panizza, 2005). Assim,
232
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233
ser equiparada a um princípio transversal que influencia o modo
como são enquadradas outras questões que não são os argumentos
nucleares da ideologia rasa. Freeden identificou essa característica
na ideologia nacionalista, mas Mudde (2004) aplicou a mesma
interpretação ao populismo. Mais recentemente, Freeden contestou
esse entendimento. Em sua visão, o populismo “não falha apenas
em abrangência, mas também em especificidade contrastante
quanto àquilo que oferece. Vagueza e indeterminação podem
ser bens captadores de votos, mas o resultado é, na melhor das
hipóteses, uma ideologia fantasma” (FREEDEN, 2017, p. 10).
Assim, ele não pode ser considerado uma ideologia, a não ser que
se refira a correntes contrastantes: “(1) quando serve como um
marco conveniente que abarca demandas populares radicais que
clamam por legitimação, e (2) quando é utilizado para denunciar
tipos de xenofobia da direita” (FREEDEN, 2017, p. 11). Apesar de o
populismo ser mais indeterminado quanto “ao que oferece” do que
outras ideologias rasas, populistas, na interpretação aqui adotada,
podem articular programas políticos, amparando-se nos conceitos
eminentemente ideológicos do antielitismo e da crítica à democracia
representativa. Freeden parece subestimar que o uso do referendo,
por exemplo, é bom exemplo de instrumento de definição de políticas
que é crucial para a política representativa. Mesmo que o conteúdo
do referendo possa variar (de acordo com as ideologias nucleares
incorporadas por populistas), a estrutura crucial tanto das formas de
intermediação política quanto dos representantes da intermediação
é um traço ideológico particular.
234
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3 Classificação de atributos
As definições mínimas fornecidas até aqui se mostraram apenas
parcialmente satisfatórias para a reconstrução do conceito de
populismo. Portanto, deve-se focar na classificação de traços que
lhe são atribuídos pela literatura. Começando por aqueles que
foram identificados nas definições mínimas acima e adicionando
outros possíveis, serão listadas 10 características que têm sido
consideradas necessárias ao populismo em diferentes graus.
Dentre 12 características normalmente associadas ao tema,
Rooduijn extrai quatro mínimas: (1) ênfase na posição central do
povo; (2) crítica à elite; (3) concepção do povo como uma entidade
homogênea e (4) convicção de que se vive em um período de
séria crise (2014, p. 573). Semelhantemente, Taggart (2000,
p. 2) identifica 6 características populistas cruciais: (a) hostilidade
à política representativa; (b) idealização de uma “terra amada”;
(c) ausência de valores nucleares; (d) reação à crise; (e) existência
de dilemas fundamentais que tornam o populismo autolimitador; e
235
(f) fenômeno dependente de contexto. De acordo com Taguieff, o
tipo ideal de populismo nacionalista (o National Front, na França)
compreende 5 características: (I) o apelo pessoal ao povo; (II) o
apelo ao povo não pertencente a uma classe; (III) o apelo direto ao
povo autêntico, são, simples e honesto; (IV) o apelo por purificação
ou por ruptura redentora e (V) a discriminação entre indivíduos
em termos de origem étnica ou de características culturais (1995,
p. 27-32). Combinando os três conjuntos de características, é
plausível identificar 10 características básicas: (1) populismo como
uma ideologia sem valor nuclear; (2) antielitismo; (3) hostilidade à
política representativa; (4) mobilização contra o statu quo político
(ruptura); (5) apelo pessoal ao povo; (6) homogeneidade do povo;
(7) discriminação étnica e cultural; (8) idealização de uma “terra
amada”; (9) senso de crise visível; (10) fenômeno dependente de
contexto e autolimitador.
236
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grupo. Embora possa haver uma correlação entre populismo e “crise”
(Kriesi e Pappas, 2015), (9) o senso de “crise” que os populistas
têm em qualquer contexto político deve ser considerado mais como
um instrumento retórico usado também por outros partidos não
populistas do que uma pré-condição para que o populismo emerja.
238
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política, ambos os conceitos são ontologicamente diferentes e não
há automatismo entre eles.
240
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por meio da peculiar distinção de dois grupos, isto é, a elite e os
representantes políticos, por um lado, e o que os populistas definem
como o povo, por outro.
5 Conclusão
Neste artigo, o foco se deu primeiramente nas definições do
populismo fornecidas pela literatura. Foram identificadas cinco
categorias principais que abordam o fenômeno populista de cinco
modos diferentes: (1) o populismo como não liberalismo político,
(2) o populismo como instrumento de mobilização política;
(3) o populismo como movimento liderado, (4) o populismo como
instrumento discursivo/retórico e (5) o populismo como ideologia; e
discutiu-se tanto os pontos positivos quanto as possíveis armadilhas
dessas abordagens. Combinando essa revisão a outros atributos
mínimos do populismo identificados pela literatura, uma definição
mínima foi desenvolvida, buscando equilibrar a conveniência de
uma extensão adequada que cubra a ampla gama de fenômenos
políticos e a necessidade de definir limites precisos entre o polo
positivo (o que o populismo é) e o polo negativo (o que o populismo
não é). Seguindo a abordagem ideológica, o populismo foi definido
com uma ideologia rasa que incorpora dois atributos necessários: o
antielitismo e a crítica à representação política. Finalmente, foram
destacadas algumas implicações relevantes, tais como a natureza
não normativa do populismo, a sua vinculação a outras ideologias
nucleares ou rasas e o equilíbrio entre a amplitude e a profundidade
do conceito.
242
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NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
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ESTUDOS ELEITORIAS
ISSN 1414-5146
LINHA EDITORIAL
255
5. Será facultado ao autor apresentar novamente texto
anteriormente submetido e não aceito para publicação, desde que
realizadas as adaptações sugeridas no parecer anônimo enviado
pela EJE/TSE. Não serão admitidos recursos.
NORMAS DE SUBMISSÃO
256
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257
• a introdução deverá conter a justificativa e os objetivos do
trabalho, ressaltando a relevância do tema investigado;
15. Todo destaque que se queira dar ao texto deve ser feito com
o uso de itálico. Jamais deve ser usado o negrito ou a sublinha.
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Esta obra foi composta na fonte Deja Vu Sans, corpo 10,
entrelinhas de 18 pontos em papel Cartão Supremo 250g/m2 (capa)
e papel AP 75g/m2 (miolo).